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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A TROCA / Emma Wildes
A TROCA / Emma Wildes

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio "SEBO"

 

 

 

  

                                   Capítulo 1

Por Deus, chegou, este era o dia. Abrindo os olhos, Jacqueline Ross viu a suave luz do sol cruzando seu quarto, o céu visto através de sua janela era de um profundo tom de azul.

Sentando-se, sacudiu seus longos cabelos para trás e reprimiu uma onda de excitação enquanto tocava a campainha. Já estava trêmula e excitada, pensou com pesar, e a cerimônia aconteceria somente no final da tarde. Então se tornaria Lady Trevor, a esposa do sexto conde de Hallworth. Era incrível que tivesse a sorte de se casar por amor, quando tantas de suas amigas e conhecidas eram obrigadas a casar-se por conveniência, por razões financeiras e sociais. O fato de que seu futuro marido fosse maravilhosamente atraente, tremendamente gentil, e o solteiro mais cobiçado da sociedade, tornava tudo ainda mais romântico. Como nas fabulas onde a princesa encontrava seu belo e heroico príncipe e viviam felizes para sempre…

Esta noite, pensou ruborizando, seria sua esposa em todos os sentidos.

—Bom dia, senhorita — sua donzela, Mary, entrou carregando uma bandeja, seu rosto sorridente mostrando a mesma alegria que o de sua patroa— É um magnífico dia para um casamento, se me permite dizer.

Recostando-se nos travesseiros, Jackie assentiu com olhos sonhadores.

—É um sonho que se tornou realidade.

 

 

—Sinto como se estivesse em um maldito pesadelo.

Adam Trevor admitiu em tom crispado, caminhando através de seu escritório até parar em frente à janela e olhar fixamente e com ironia o esplendoroso céu. Sem nenhuma nuvem, pensou cinicamente, quando o apropriado para seu estado de espírito seria um pesado aguaceiro derramando cascatas de água do céu.

— É o maldito dia do meu casamento! Pelo amor de Deus.

Seu irmão, sentado atrás dele, contemplava-o mudo de assombro. Adam quase podia sentir como Alex procurava algo para dizer, qualquer coisa. Mas o que se diz a um homem que acaba de confessar um segredo tão devastador? Sim, se fosse o contrário, ele também estaria estupefato. Finalmente Alex murmurou com a voz rouca.

—Acredito que já procurou um medico, não?

Sem voltar-se, Adam respondeu cansadamente.

—É obvio, embora não é nada agradável contar, nem sequer a um médico, que tem problemas para funcionar como homem. Também não quero que ninguém mais saiba, estou certo de que compreende — lentamente Adam sentiu que o rubor de uma ridícula vergonha subia por seu pescoço—. Todos dizem o mesmo, que quando me machuquei no acidente que sofri há seis semanas, os danos ocasionados nos músculos da virilha restringiram o fluxo sanguíneo nesse local —seu sorriso, uma retorcida paródia de sua risada habitual—. Tudo o que sei é que quando tomo Jacqueline em meus braços, sinto o mesmo ardente desejo, mas meu corpo não responde como antes. Não fico… duro. A princípio não pude acreditar, sempre tentei ser cuidadoso para que ela não notasse como reagia meu corpo quando a tocava, e acredite, reagia como qualquer homem faria nestes casos.

—Estou certo, é uma mulher muito bonita, mas como o cavalheiro que é, sabe que ainda não pode tocá-la e possivelmente seu corpo também sabe. Tentou com alguém mais?

—Sim —Adam sentiu que seu rosto se contraia sem poder evitar—. Com uma das melhores amigas de Eleanor… uma cortesã morena e sedutora com inegável talento. Foi humilhante e infrutífero. Aparentemente isso acontece com alguns homens de vez em quando, e parece que não deu maior importância. Fingi ter tomado uma grande quantidade de vinho e ela rindo, deixou-me sozinho. Não é necessário dizer que isso nunca me aconteceu, e foi quando comecei a me preocupar realmente.

— Jacqueline sabe deste…. deste problema?

—Ela é inocente, é obvio, e não tem nem ideia de que algo está errado. Demônios é ultima pessoa a quem contaria—Adam acrescentou com severidade e honestamente—. Você é meu irmão, e não pode negar que somos mais unidos que quaisquer irmãos que conheço. Ainda assim incomoda demais meu orgulho ter que admitir isso para você, e muito mais diante da mulher que amo.

—Jesus —levantando-se de repente, Alex cruzou o aposento em busca da garrafa de brandy—. Não importa se é cedo, preciso de um gole.

—Eu também —resmungou Adam—. Deus sabe que preciso de um para abordar o resto de nossa conserva.

Alex serviu duas generosas taças de brandy, cruzou o aposento, arqueando uma sobrancelha e ofereceu uma a seu irmão.

— O resto? Por favor, me diga que os médicos acreditam em sua recuperação.

O brandy queimou sua garganta e golpeou seu estomago vazio e tomando outro bom gole pigarreou e respondeu gravemente.

—Acreditam.

Afundando-se na cadeira, suas longas pernas escancaradas e mexendo descuidadamente a taça com seus elegantes dedos, seu irmão perguntou com cautela.

— Só acreditam?

—Não asseguram, ainda está muito inchado, e os danos nos músculos levam algum tempo para curar. Esse pode ser o problema, ou ao menos, assim pensam. Quando a inflamação diminuir não obstruirá os vasos sanguíneos necessários para uma ereção normal —Adam tomou outro profundo gole da tonificante bebida e tentou sonar realista—. Mas... também é possível que não possa ter uma ereção nunca mais.

Adam pensou que dizer era pior que ouvir. Ouvir aquilo dos médicos foi como se cravassem uma faca em seu coração.

Passando as mãos despreocupadamente por seu abundante cabelo Alex o olhou com masculina consternação, e o entendimento de sua desesperada situação refletiu-se em seus olhos.

—Infernos, Adam O que vai fazer? Como você disse, este é o maldito dia de seu casamento.

Levantando as sobrancelhas respondeu causticamente.

— Pensa que não sei? Por que demônios pensa que estou contando algo tão pessoal?

Alex sempre foi sincero, mas também audacioso, encantador, e sem dúvida nenhuma um dos mais famosos libertinos da Inglaterra. Mas sempre foi franco. E com toda a sinceridade disse.

— É justo com sua encantadora noiva que se case com ela sabendo que talvez nunca seja capaz de ser um verdadeiro marido ou lhe dar filhos?

Esse era o horrível dilema moral com o qual lutava desde que compreendeu, depois do acidente, que tinha um problema.

—Quero Jaqueline —disse Adam, movendo-se para sentar na cadeira atrás de sua mesa, colocando a bengala a seu lado—. Apaixonadamente, completamente, com cada fibra de meu ser. Farei tudo para que seja minha esposa. De fato acho que estou a ponto de demonstrar isso.

Perplexo e desconcertado, Alex arqueou suas loiras sobrancelhas.

— Quer deixar de rodeios? Isto é um problema, e ainda não contou a sua inexperiente noiva algo que afetaria seriamente seu futuro. Você não é assim Adam, você é totalmente responsável… Eu sou o selvagem, lembra? O que vai contar a sua preciosa esposa esta noite quando não consumar sua união? Postergar não é a solução.

—Poderia ser, se me recuperar. Ela não tem porque saber.

—Isso é uma falsa ilusão — murmurou Alex com incredulidade—. E não estou sendo cruel porque é meu irmão e não possa imaginar como se sente, mas admiro minha futura cunhada e isto não parece muito justo com ela.

Apoiando os braços na mesa, Adam perguntou sem alterar-se.

— O quanto a admira?

— O que? —exclamou Alex com a taça de brandy nos lábios.

Eles sempre tiveram a habilidade, talvez pelos nove meses que passaram no ventre de sua mãe, de adivinhar os pensamentos um do outro com grande precisão. Adam se endireitou e o olhou resolutamente, notando imediatamente quando seu irmão compreendeu o que o estava propondo.

—Pode fazer— disse suave e rapidamente antes que seu irmão pudesse protestar—. Pense. Sim, ela me conhece, mas com pouca luz e na cama, onde Jackie não tem nenhuma experiência, não notaria. É virgem e estará nervosa e a última coisa que suspeitaria seria de que é você e não eu quem se deita com ela. De fato, a ideia pareceria ridícula. Você e eu somos muito unidos, mas quem no mundo poderia pensar que eu permitiria a meu irmão deitar-se com minha mulher?

—Ninguém, porque é uma loucura—disse Alex com voz áspera estreitando os olhos e totalmente incrédulo—-Está me pedindo para foder com Jacqueline em seu lugar?

Adam observou os cabelos loiros de seu irmão. As maçãs do rosto altas e os azuis olhos rodeados de espessos cílios. Era tão familiar como olhar-se em um espelho e disse friamente.

—Somos gêmeos idênticos, Alex, e enganamos as pessoas muitas vezes, incluindo a nossa mãe. De fato a maioria não pode nos distinguir, mesmo aqueles que nos conhecem há anos. Engane Jackie e estarei em dívida com você para sempre.

—Não pode querer isso —o tom selvagem na voz de Alex refletia uma mistura de incredulidade e compreensão do quanto lhe custava sugerir semelhante loucura— Como demônios suportaria, Adam? Quer a jovem. Acaba de dizer, sei que é verdade… e para falar com franqueza o invejo por isso, porque nunca amei uma mulher de outra maneira que não seja fisicamente.

— Sim. Se isso significa que posso conservá-la, ser seu marido, sorrir por cima da mesa enquanto tomamos o café da manhã, levá-la à ópera e às festas, para que todos saibam que é minha… isso me fará conseguir suportar.

Era a pura verdade. Sentou-se e pesando todos os seus sentimentos, achou que arriscar-se a perdê-la não era uma opção.

—Não quero que ela saiba nada do meu estado, e esta é a única maneira. Felizmente você vendeu a casa da cidade e ficará conosco em Hallworth. Assim será mais fácil para trocarmos e para que você esteja com ela.

—Cristo, não está falando de uma só noite, não é? —Alex sacudiu a cabeça, parecia nervoso, coisa estranha nele, substituindo o sofisticado e suave encanto pelo qual era conhecido por incerteza—. Não acredito que possamos conseguir, Adam. Sim, somos exatamente iguais, reconheço, mas nossa personalidade é muito diferente. Não estou certo de poder agir como o sério e responsável conde, especialmente no assunto ao qual nos referimos.

—Não precisa fazê-lo, ela percebe, como mulher, que sinto uma intensa paixão por ela. Na cama todo mundo se permite ser diferente. Ela nunca teve um amante e não vai estranhar que eu aja diferente durante o dia —com a garganta de repente oprimida, Adam observou sua taça já vazia e disse com gravidade— Embora peça que faça isto, o risco é inteiramente meu, irmão. É minha felicidade que está em jogo, e o que mais valorizo neste mundo, mais que o titulo e a riqueza. E se ela descobrir, eu explicarei.

—Suspeito que a verdade seja outra —Disse Alex com energia—. E justamente por isso está fazendo dela uma adultera sem saber e em relação a mim, não estou certo em que posição quer me colocar.

—Esta situação requer medidas desesperadas.

—Suponho que sim.

—Então… está de acordo?

Alex esteve ali sentado durante um longo momento com o cenho franzido e em silêncio. Então ergueu seu copo em uma saudação zombeteira, bebeu e disse intensamente.

—É meu irmão, duvidou mesmo que o faria?

 

A mansão em Mayfair estava cheia de luzes e pessoas, a música envolvia o ambiente e a pista de baile reluzia com centenas de convidados enquanto a orquestra tocava uma popular valsa.

O salão de baile estava resplandecente com milhares de flores, comida, e o champanha fluía como se fosse água, por todos os lados haviam convidados bebendo, rindo e celebrando as bodas. Festejando o casamento entre o conde de Hallworth e sua radiante noiva.

Na verdade, pensou Alex enquanto olhava seu irmão tentar um torpe e lento bailar com uma sorridente Jacqueline em seus braços, eram um belo casal. Era incrível, mas seu irmão conseguiu estar durante toda a cerimônia completamente sereno, nem um gesto ou um olhar que dessem uma pista de sua agonia. Alto e loiro, olhava a sua nova esposa com completa e aberta admiração. A bengala, que teve que usar desde o acidente que quase o deixou aleijado, em uma mão, e seu outro braço ao redor da delicada cintura de Jacqueline.

A noiva de Adam estava sempre deslumbrante, mas particularmente esta noite, com seu vestido de noiva de seda azul pálido salpicado com centenas de diminutas pérolas e seu brilhante cabelo cor castanho preso em uma cascata de reluzentes cachos que caíam sobre seus brancos e magros ombros. Seu corpo faria muitas mulheres morreram de inveja, seios cheios enfatizando uma delgada cintura e graciosos quadris, sua pele de marfim contrastando com seu abundante cabelo, seus olhos com longos cílios de um tom tão pouco comum que pareciam prateados. Intensamente feminina e delicada, desde seu début na sociedade Jacqueline Ross capturou os olhares da maioria dos jovens da sociedade, mas pelo que Alex pôde ver, ela se apaixonou quase que imediatamente por seu irmão e seu afeto não tinha nada a ver com o titulo ou a riqueza que este lhe oferecia.

Caralho, estavam apaixonados e era ridículo que o destino se intrometesse de forma tão desumana em sua felicidade. Usando a ele como um instrumento do diabo, ou como o lascivo amante que teria que fazer desta noite algo que uma jovem inocente pudesse recordar por toda a vida.

De uma bandeja que passava Alex agarrou um copo de vinho, o aproximou dos lábios e tomou-o com um gole. Para sua consternação ouviu como o imenso relógio do hall de entrada começava a repicar mesmo através da música da orquestra, o claro som metálico dos sinos do relógio anunciando a meia noite. E pela primeira vez em sua vida, lembrou com sarcasmo, não desejava foder com uma bela mulher. Sua reputação de lascivo libertino foi ganha com justiça… desfrutava das mulheres e tinha um grande apetite sexual, que saciava sempre que possível. Mas nesta noite não aconteceria uma trepada com alguma jovem e aborrecida esposa de um velho baronete, ou um quente encontro com a bela e voluptuosa atriz que enfeitava os cenários londrinos. Esta noite ao fazer amor com a linda esposa de seu irmão iria cometer a pior traição que poderia imaginar.

Era a hora marcada. Saiu dissimuladamente e subiu pelas escadas, como tinham combinado, sabendo que os criados estariam ocupados atendendo a tantos convidados.

Uma vez em seu próprio quarto, lançou um olhar ao relógio, tirou o lenço. Segundo as instruções de Adam deveria esperar trinta minutos e sair do quarto levando uma garrafa de um excelente brandy francês.

O jovem que ajudava os hóspedes abriu à porta, e erguendo a garrafa com um sorriso zombeteiro Alex disse jocosamente.

—Um último gole antes que se renda a prisão do casamento, Harper. Não é todos os dias que se casa meu único irmão.

—É obvio senhor, o conde disse que poderia passar por aqui antes que se retirasse.

Adam já estava despido de cintura para cima, com uma perfeita calma e arqueando uma sobrancelha, observou Harper e disse.

—Obrigado Harper, já pode ir, e por motivos óbvios, duvido que precise de você amanhã cedo.

O jovem ruborizou-se ligeiramente diante da alusão à noite e fazendo uma pequena reverência saiu fechando a porta atrás dele.

Quase imediatamente Adam disse:

—Me dê sua jaqueta e sua camisa… Nossas calças são parecidas. Aqui está meu pijama, dispa-se e o coloque. Jackie disse que me concederia meia hora.

Olhando fixamente nos olhos de seu irmão, Alex disse com voz embargada.

— Tem certeza? Não é muito tarde para contar tudo… Ela o ama, é fácil ver isso, inclusive para um libertino como eu, e entenderá a situação.

—Maldição, não. Não posso suportar a ideia de que ela saiba — o rosto de Adam se retorceu com horror quando se calou e seus olhos escureceram com um profundo desespero—. Tomará cuidado com ela, eu sei! —Passando as mãos sobre o rosto acrescentou. — É quase insuportável, mas não tanto quanto seria se descobrisse que não sou um homem. Tem ideia do quanto a quero?

O conceito de amor não era algo no qual Alex estivesse muito versado, mas esteve no altar ao lado de seu irmão e viu o olhar em seu rosto enquanto recitava os votos diante de Deus e de todos os presentes. Disse brandamente.

—Sim, acredito que sim.

—Pegue —Adam disse, tirando a aliança de casamento —. Tem que usar isto… Com certeza ela espera que use. Aconselho que fale o mínimo possível, somente quando for necessário que ela… entenda o que está fazendo, não quero que fique assustada.

— Se tem certeza, prometo que terei todo o cuidado do mundo com a bela condessa.

— Sabe o que é, para mim, a pior parte disto? —disse Adam com um cínico sorriso enquanto deslizava os braços na camisa que estendia a Alex—. O fato de que quero que ela desfrute desta noite, que experimente a gratificação sexual de um glorioso orgasmo com a sua experiência, adquirida na cama de muitas damas —e acrescentou brandamente—. E isso demonstra até que ponto eu a quero.

Sem saber o que dizer, Alex amarrou o cinto do pijama de seda e ficou em silêncio.

Devagar seu irmão mais velho lhe deu a bengala que usava para aliviar a dor de seus ferimentos.

—Embora não a use sempre, deve levá-la, e lembre-se de coxear. Trocaremos de lugar quando tiver certeza de que adormeceu —murmurou Adam fazendo uma careta—.Volte aqui e não se preocupe com a hora, estarei acordado.

Isso era algo que Alex não duvidava.

 

                               Capítulo 2

Um pouco de temor era normal, é obvio, sua mãe disse, justamente antes de iniciar uma entrecortada e quase incoerente explicação, a respeito das necessidades masculinas. Teria que deitar-se muito quieta, e rapidamente tudo estaria acabado.

De qualquer forma, Jackie pensava que deveria haver algo mais na vida de casada do que isso, especialmente com Adam, que era intrigantemente atraente em todos os sentidos.

Mas tudo era um pouco assustador, e isso sem mencionar que o quarto não era familiar, o mobiliário muito rebuscado para seu gosto, com cortinas de veludo e móveis pesados. Havia inclusive querubins com pouca roupa, mostrando seus redondos traseiros e um sorriso malicioso no rosto, pintados em uma espécie de afresco no teto. Adam lhe deu carta branca se por acaso quisesse redecorar a casa, e possivelmente o fizesse, mas agora era simplesmente uma noiva muito nervosa e o suntuoso quarto da condessa de Hallworth era sua última preocupação.

A batida na porta foi suave, mas seu marido não esperou sua permissão. Abriu a porta e entrou hesitante no quarto. Acostumada a vê-lo sempre com roupa formal, Jacqueline sentiu-se um pouco agitada ao ver um vislumbre de seu largo e nu peito através da gola aberta de sua camisa. Sentada primorosamente na beira da cama, engasgou-se e murmurou.

—Milord.

—Madame.

Alex torceu a boca diante da formalidade de sua saudação.

Tão alto, com o cabelo de uma bela cor dourado escuro, suas feições tão puras e masculinas e seu esbelto e musculoso corpo, era a personificação dos sonhos de toda a jovem… ou não tão jovem senhorita. Também era uma década mais velho do que ela e isso se traduzia em uma grande diferença de experiência. A última coisa que queria era decepcioná-lo de qualquer maneira. Com todas as responsabilidades que tinha ao ser o irmão mais velho, Adam nem se aproximava da reputação de sedutor de seu irmão gêmeo. Mas ela imaginava que com sua boa aparência e seu titulo, com certeza esteve com muitas mulheres no passado. Apertando suas mãos entrelaçadas Jackie esboçou o que esperava que fosse um tentador sorriso, desejando que o tremor em seus lábios não fosse perceptível.

Em resposta, ele devolveu-lhe um sorriso tão impressionante, sombrio e um pouco malicioso, que o fez parecer completamente diferente do homem sereno e seguro de si mesmo que ela conhecia.

—Por todos os demônios. O que está usando? —disse Alex com tom divertido—. Deixe-me ver, vou adivinhar. Foi escolhido por sua mãe, não?

Piscando surpresa, já que nunca amaldiçoou diante dela, Jackie mordeu o lábio e assentiu. Era verdade, ela poderia ser ingênua em muitas coisas, mas sabia o suficiente para intuir que usar uma camisola abotoada até o pescoço não era a maneira normal de dar as boas-vindas a seu marido na noite de núpcias.

—Acho que pensou que o dissuadiria de exercer seus direitos conjugais.

—Nada pode me dissuadir disso — observou ele movendo-se para a cama. —E agora, tire essa coisa rapidamente. Estamos comprometidos há meses. Preciso vê-la.

Impaciência não era exatamente o que Jackie esperava, mas uma vez mais, não estava certa do que esperar. Ruborizando, permitiu que a ajudasse. Agora tudo era diferente entre eles, notou enquanto se inundava na cálida e brilhante profundidade de seus olhos profundamente azuis.

Adam sempre a tocou com ternura, mas o que via agora nos olhos desse homem que tão distraidamente desabotoava sua camisola era algo totalmente diferente.

Suas mãos eram cálidas enquanto deslizava a camisola sobre seus ombros até que caiu formando redemoinhos aos seus pés. De repente se encontrou totalmente nua e o calor abrasou suas faces quando ele deu um passo para trás e deliberadamente percorreu-a de acima abaixo com o olhar. Nenhum dos criados diminuiu a iluminação do quarto, como sua mãe assegurou que fariam, portanto via tudo, desde seus expostos seios até o triangulo do sedoso e escuro pêlo púbico na junção de suas coxas. Justamente no momento que pensou que morreria de vergonha se ele não dissesse algo, seu marido murmurou.

—É de uma beleza impressionante, tão perfeita como imaginava.

Ela precisou de toda a sua coragem para não recolher sua camisola e colocá-la diante dela, mas queria Adam, e lembrou-se que todas as mulheres casadas com as quais falou a respeito de seu casamento próximo, tinham-lhe sussurrado como era importante este aspecto do casamento para seu marido.

—Me alegro que goste, Milord — conseguiu murmurar ficando ainda mas vermelha.

—Eu também — murmurou ele, aproximando-se tanto que Jackie pôde sentir o calor de seu alto corpo sobre sua pele nua. Colocando um dedo em seu queixo ergueu seu rosto e olhando-a fixamente disse.

— Sabe que deixamos para trás o tempo dos castos beijos e os inocentes abraços? Não tenho nem ideia do que lhe contou sua mãe, mas se for algum absurdo conselho para que se deite e me deixe fazer o que quiser, pode ir esquecendo, carinho. Quero adorar seu maravilhoso corpo com o meu e que fazer amor seja prazeroso para ambos. Mas tem que relaxar e aceitar o prazer, e deve acreditar quando digo que nada do que vamos fazer é impróprio.

Com um tímido sorriso Jackie ergueu a mão e lhe acariciou brandamente a mandíbula.

— Se há algo que desejo neste mundo, é você, Adam.

Algo relampejou nos olhos de Adam e com um grunhido deslizou os braços rodeando sua cintura e a abraçou com força contra seu corpo, lhe cobrindo a boca com a dele.

Adam tinha razão pensou Jackie, não havia nada de casto na forma de beijá-la, deslizando a língua profundamente entre seus lábios entreabertos até enroscarem suas línguas em um delicioso balé. Sentia-se decadente, com seu corpo nu tão apertado contra ele e ouvindo os fortes batimentos de seu coração através da fina seda da bata. Um pequeno grito escapou de seus lábios quando ele ergueu a cabeça e tomando-a em seus braços a colocou na cama. Não se tirou o pijama, o que a aliviou um pouco. Em vez de tirar a roupa, estendeu-se a seu lado e apoiando-se em seu cotovelo, acariciou seu ombro, se inclinou sobre ela para beijar suas sobrancelhas, sua têmpora e um sensível ponto abaixo de sua orelha.

—Cheira a flores — murmurou tão sedutoramente que sentiu um arrepiou descer pelas costas—, como a promessa do paraíso. Sempre gostei da cor de seu cabelo, como a cor das folhas no outono, e tem a suavidade do cetim em minhas mãos.

—Me beije outra vez.

Jackie suspirou fechando os olhos enquanto ele empreendia outra selvagem incursão com sua língua e sua boca. Ela sempre gostou dos beijos de Adam e notava o férreo controle que exercia sobre si mesmo quando a tomava em seus braços, mas isto não era igual, era um instinto primário, mais de posse do que de sedução, seu longo e esbelto corpo sustentando-se sobre ela era grande, masculino...

Libertando sua boca, os lábios deslizaram por seu pescoço até chegar onde seu pulso batia frenético, e seguiram escorregando até roçar sua clavícula. Ela não pôde reprimir um pequeno grito quando sua mão cobriu um de seus seios, e uma estranha tensão se estendeu por todo seu corpo. Seu marido disse com um inusitado e zombeteiro sorriso.

—Não posso imaginar um par de seios mais esplêndidos, Milady, cheios e firmes, e mesmo assim, suaves... como se fossem criados para minhas mãos e minha boca,feitos especialmente para mim —disse com os olhos entreabertos e fixos nessa parte de sua anatomia.

Insegura do que deveria fazer, Jackie estava deitada, combatendo a incredulidade ao ver como Adam acariciava e brincava tão escandalosamente com essa parte de seu corpo que ela sabia que os homens olhavam e admiravam e que nunca tinha entendido o porquê até agora. Seus polegares roçavam as suaves pontas, e a sensação foi tão intensa e extraordinária que teve que sufocar um grito, e quando ele inclinou a cabeça e tomou um mamilo na boca começando a sugá-lo, não pôde evitar deixar escapar um gemido e suas mãos deslizaram pela suavidade de seu espesso e loiro cabelo.

Isto era paixão? Jackie se perguntou enquanto o calor que sentia pelo que estavam fazendo era substituído lentamente por um lânguido prazer. Sentia-se tão estranha como uma boneca a qual estivessem dando corda, a antecipação rivalizava com o medo inato do desconhecido, que era este ato desconcertante e proibido até esta noite.

Ele continuou acariciando e chupando, lambendo a parte inferior de seus seios e explorando o vale entre eles, agora tensos, com sua boca e sua língua, até que seus mamilos estavam duros e seu corpo inteiro parecia pesado e cheio de uma desconhecida necessidade. Quando ele se moveu para beijá-la na boca, lhe rodeou o pescoço com os braços e retribuiu o beijo com um abandono que surpreendeu a ambos.

—Seu corpo não só é belo, mas também receptivo — sussurrou contra seus lábios, abraçando-a mais forte— Pode imaginar o que sinto quando a beijo? Estou tão duro que dói, Jackie.

Podia sentir, notou com um sobressalto, algo longo e duro pressionava-se contra sua coxa, e embora não houvesse tirado a calça, o calor e o tamanho que sentia através do tecido era intrigante.

— Vai tirar a roupa? —pergunto-lhe timidamente esfregando as mãos sobre seus largos ombros e tocando o fino tecido—. Você já me viu e… tenho curiosidade, admito.

—Eu adoraria, se acha que está pronta. Estou fazendo tudo o que posso para não assustá-la, carinho.

Ela assentiu, entreabrindo os olhos e olhando enquanto se levantava e rapidamente se desfazia da roupa. Jackie pensou que embora a achasse bela, ele também era de uma maneira totalmente masculina. Seu corpo era musculoso e magro, o peito largo que se estreitava para um estomago firme, quadris estreitos e umas pernas longas e fortes. Com uma elegante estrutura óssea e aqueles cabelos loiros, parecia um Deus grego, possivelmente Apolo, tão atraente como o pecado e maravilhosamente masculino. Não tendo a menor ideia de como era em seu estado normal, seu ereto membro parecia enorme e escuro, pulsando contra seu estomago. Sobressaía-se em uma audaz declaração do quanto a desejava. Sentiu-se feliz, com uma mistura de medo e orgulho ao ver quanto o excitava. De algum modo, se supunha que aquilo teria que ser introduzido dentro dela, mas parecia impossível.

Quando ele voltou para a cama, Jackie instintivamente se afastou dessa formidável e ereta vara, fazendo-o sorrir brandamente.

—Não se alarme, não vou fazer nada sem avisá-la. Venha aqui Jackie, quero fazer amor com você.

Esse rouco sussurro foi tão persuasivo como o modo como ele se deitou na cama e a olhou. Um intenso calor começou a crescer entre suas pernas deixando-a estranhamente sem fôlego, e não resistiu quando a montou outra vez, suas mãos percorrendo toda a longitude de seu corpo, os ombros, os firmes seios, seus quadris, os joelhos, e a parte interior de suas coxas. Seus dedos encaminharam-se para os pêlos entre suas pernas, acariciando-a brandamente, abrindo as coxas com gentil insistência, deslizando seus dedos para tocá-la em seu lugar mais íntimo. Ela não esperava a sensação de prazer que sentiu quando seus dedos roçaram seu sexo e a escandalosa pressão deles procurando e encontrando cada segredo de seus lábios úmidos.

—Já está um pouco úmida —mencionou Adam, com os olhos obscurecidos e um sorriso desenhando-se em sua boca—, mas não o suficiente, carinho. Diga-me: quanto me deseja? Até que ponto foi sincera hoje quando fez seus votos de obediência?

—Fiz com todo meu coração —respondeu sem fôlego—. Você sabe que te quero.

Durante um segundo ele pareceu paralisado, como se suas palavras o tivessem perturbado, então arqueando uma sobrancelha disse.

—Muito bem, esta é a primeira prova. Separe suas pernas, carinho, porque quero prová-la.

— Aí?...—perguntou com a voz estrangulada pelo assombro e incapaz de ocultar como estava escandalizada.

—OH, sim.

E queria dizer exatamente isso, descobriu ela momentos depois, quando viu sua dourada cabeça entre suas pernas e sentiu o primeiro golpe de sua língua em sua fenda, Jacqueline deu um grito afogado e começou a gemer enquanto ele começava uma implacável e doce tortura pressionando com a boca sobre seu exposto sexo. Seu corpo se arqueou em resposta sem poder evitar. Segurando-a com as mãos, ele impediu seus esforços de escapar, mantendo-a em seu lugar, enquanto insistentemente usava sua boca para elevá-la a uma febril altura que nunca escalou. Era perverso, e incrivelmente tentador, todos os pensamentos conscientes voaram de sua cabeça diante desse audaz beijo. Suas mãos lhe seguraram os quadris e a ergueram enquanto mordiscava e lambia entre suas pernas, e qualquer vergonha foi rapidamente substituída por algo inexplicável, uma inegável fome de algo inalcançável.

Seu corpo precisava… liberação.

E quando isso ocorreu Jackie sentiu como se o mundo se rompesse em mil pedaços, o prazer foi tão intenso que gritou sem reservas, sacudindo-se diante da invasão e um maravilhoso êxtase sacudiu seu corpo outra vez até que não suportou mais.

Adam finalmente ergueu a cabeça e movendo-se com agilidade colocou seu corpo sobre ela e murmurou.

—Passou na prova, carinho. E obedeceu docemente. Agora me deixe fazê-la mulher no verdadeiro sentido da palavra.

 

Isto foi mais que suficiente para sacudir seu mundo, para fazer com que alguém tão acostumado aos casos superficiais, alguém que sempre foi um perito em evitar qualquer compromisso, se questionasse sobre a promiscuidade de sua existência.

Debaixo dele, a encantadora e completamente inocente esposa de seu irmão, que acabava de experimentar seu primeiro orgasmo, abriu as pernas para aceitar a possante insistência de seu pau. Seu olhar prateado desejando-o e suas pequenas mãos descansando em seus ombros. Emoldurado por seu brilhante cabelo, seu exuberante corpo estava delicadamente ruborizado, os olhos ocultos por seus longos cílios, seus perfeitos seios se moviam velozmente com antecipação, e talvez, com medo reprimido diante da iminente consumação.

Iria deflorá-la, ambos sabiam, ela nem sequer resistiu quando mediu sua apertada abertura e embora ansiasse por se aliviar, como um faminto diante de um suntuoso banquete, hesitou, incapaz de renunciar ao momento, ao amor brilhando nos olhos de Jackie como uma revelação.

Maldição, nunca invejou o fato de Adam ter vindo ao mundo quinze minutos antes dele. Nem que herdasse o título, mas neste momento invejava o brilho nos preciosos olhos cinzentos de Jacqueline, e embora fosse ele e não seu irmano o que a via, não era justo para nenhum dos dois, e muito menos para ela.

—Quero ser delicado, me diga se machucá-la.

—Se entendi bem, tem que me machucar. — Respondeu ela, com os cílios baixos e com seu esplêndido cabelo espalhado em sedosa desordem sobre os claros almofadões, — Não é assim?

—Tenho que romper sua virgindade — admitiu, empurrando um pouquinho a ponta de sua ereção dentro de sua acolhedora, suave e cálida boceta. Era uma mulher quente e tentadora e acabava com seu controle.

—Haverá um pouco de dor, nada horrível e possivelmente, algumas gotas de sangue, depois desta primeira vez nunca voltará a doer.

— Será igual ao que acaba de acontecer? —perguntou com voz rouca— OH Adam!…Foi maravilhoso, nunca havia sentido nada assim.

—Sentirá — Alex prometeu com ardor, e a beijou, saboreando profundamente uma vez mais a doçura e a suavidade de sua boca. Foi avançando pouco a pouco cada vez mais profundo, até que sentiu o momento no qual sua progressão foi detida, pelas unhas de Jackie que se cravaram em seus ombros e a barreira de sua virgindade que se interpunha entre ele e o êxtase.

— Está preparada? —perguntou ele.

Sua última experiência com uma virgem foi há mais de uma década, e quase tinha esquecido como um homem deveria ser cuidadoso com uma mulher inexperiente, mas estava tentando.

—Cristo, carinho, é tão apertada e está tão úmida e quente.

—Faça — Jacqueline gemeu em seu ouvido, a ordem dada em um sussurro tão sensual que sentiu um arrepio percorrer suas costas.

Uma vez que o fizesse, pensou de repente, tudo mudaria. Não só sua relação com seu irmão, mas toda a sua vida. Sempre gostou de foder com mulheres e às mulheres gostavam de foder com ele, não havia dúvida. Agora tudo seria mais complicado, porque uma vez que fizesse amor, pensou, olhando fixamente os olhos de Jaqueline, nada voltaria a ser o mesmo.

Isso o assustava, e aqui estava, quase dentro dela, enquanto respirava forçadamente e combatia a onda de pânico.

Jackie ergueu a mão e lhe tocou brandamente a face, seus dedos acariciando brandamente sua mandíbula e disse.

—Querido, não se preocupe por mim, quero você. Um pouquinho de dor não é nada comparado com isto, e quero mais que tudo neste mundo agradá-lo.

—Você me agrada —disse ele com crua honestidade—. Na realidade, muito, Segure-se, carinho.

Seu brusco impulso se encontrou com uma leve resistência. Ela fechou os olhos, mas não emitiu nenhum som, e rapidamente se introduziu tão dentro do corpo macio quanto pôde, enterrando seu rígido pênis em seu interior. A sensação era deliciosa. Com os quadris colocados entre suas esbeltas pernas, esperou um momento antes de começar a mover-se, deixando-a acostumar-se a sua penetração. Ela gemeu quando começou a mover-se, algo que o surpreendeu em alguém tão inexperiente, mas guiada por uma inata sensualidade, inclinou sua pélvis em um infalível instinto feminino de tomá-lo mais profundamente, enquanto ele deslizava dentro dela outra vez.

Embora se sentisse vibrante e quase selvagem, Alex se controlou e começou a mover-se dentro e fora de sua apertada vagina, com cuidado de não ir muito longe e machucá-la.

A recente perda de sua virgindade não se evidenciava na forma como ela o estreitava e fechava os olhos evidentemente desfrutando de cada investida, seus suaves tecidos internos apertando apaixonadamente seu pênis enquanto ele se movia, surpreso pelo fato de que ela obviamente se aproximava do orgasmo outra vez. Acelerou o ritmo e foi recompensado quando depois de alguns momentos seu corpo tencionou-se de repente, seus joelhos apertaram seus quadris enquanto deixava escapar um pequeno grito, arqueando as costas, seus adoráveis seios tremendo enquanto alcançava o clímax em um erótico abandono.

Deus do céu, pensou enquanto seu corpo perdia o controle e ejaculava com tanta intensidade que um forte gemido saiu de sua garganta. Seu clímax foi repentino e imprevisto, algo incomum para alguém tão acostumado aos jogos sexuais, alguém que podia retardar seu prazer durante horas. A resistência de Alex era o resultado da pratica e sua longa experiência, assim ficou dentro do delicioso corpo de Jackie estremecendo de prazer até que seu pau esvaziou-se e começou a ficar flácido.

Jacqueline estava paralisada a seu lado, úmida, sem fôlego, e aturdida. Envolveu à preciosa esposa de seu irmão em seus braços e se perguntou se haveria algo mais maravilhoso sobre a face da terra do que o terrível ardil que prepararam. E se os três estariam condenados.

 

                                 Capítulo 3

Ainda restavam alguns hóspedes alojados na casa e um grupo de serventes se ocupava de recolher os restos da festa de casamento que foi celebrada na noite anterior, por isso Adam ordenou que servissem um café da manhã em um quarto ao lado do jardim.

Jackie desceu tarde, usando um belo vestido branco bordado com delicadas rosas e verdes folhas, e o rubor em seu rosto quando olhou para ele dizia muito do que aconteceu em seu novo quarto, o que agora ocupava como a condessa de Hallworth.

Sentando-se à mesa no espaçoso aposento enquanto ele educadamente puxava-lhe a cadeira, Jacqueline deu a Adam um tímido sorriso. Sua beleza sempre cativou seus sentidos, sua pele cremosa e perfeita, o escuro tom de seu cabelo, e seus esplêndidos olhos prateados rodeados por longos cílios. Hoje havia algo mais, percebeu enquanto se sentava e levantava sua taça com a mão trêmula. Certa aura que substituía a inocência de uma menina pelo intenso sentimento de se tornar mulher.

Queria matar seu irmão com suas próprias mãos, e também lhe agradecer do fundo de seu coração.

—Bom dia querida —disse em voz baixa—. Sinto não a ter despertado, mas parecia dormir profundamente.

Ele abriu cautelosamente a porta entre seus quartos, com o coração oprimido ao vê-la dormindo em meio dos revoltos lençóis, com os ombros nus. Tudo indicava o que tinha acontecido na noite passada, e rapidamente saiu. Só de olhar e quase morreu de ciúmes.

—Pergunto-me por que —respondeu ela ruborizando ainda mais—. Reconheço que estava… um pouco cansada.

Merda.

—Sim —Adam concordou, enquanto fazia o possível para parecer relaxado, mas trincava os dentes —. Desculpe-me por deixá-la dormir até tão tarde, mas pensei que depois de um dia tão estressante seria o melhor.

Soou lamentável até para seus próprios ouvidos, e certamente aos de Jackie também, que soltou uma repentina risada enquanto tapava a boca graciosamente com sua mão para cobrir sua descontrolada euforia.

—Não se desculpe, Milord — murmurou de maneira significativa, enquanto um criado entrava com uma bandeja de comida—. Certamente, não é necessário.

Não ia obter nada se continuasse insistindo em saber os detalhes do que aconteceu entre Alex e sua esposa, por isso e com esforço, sorriu e ignorou sua indireta.

—Desejaria que pudéssemos passar o dia juntos, mas sinto dizer que tenho duas reuniões que não pude cancelar, nem sequer sendo um homem recém-casado. Talvez possamos dar um passeio pelo parque esta tarde.

Servindo um chá, Jaqueline disse.

—Não tem que me entreter, Adam, sei que é um homem muito ocupado, e tenho uma ideia do que se espera da nova condessa de Hallworth… Sua mãe se ocupou de me instruir a respeito de meus deveres.

—É um pouco autoritária, eu sei, mas se acostumará. É uma sorte que prefira o campo e tenha partido esta manhã bem cedo —comentou secamente—. Mas não se preocupe, os criados são muito eficientes e não será necessário que controle os menus ou fiscalize as donzelas, pode fazer o que a agradar e deixar o resto com eles. Casei-me com você para desfrutar de sua companhia, nada mais, tesouro.

—E para que eu lhe desse um herdeiro —disse ela com um leve sorriso brincalhão,—. Não esqueça que esse é meu primeiro dever, antes de vigiar menus ou donzelas, milord.

—É obvio — acrescentou com indiferença, tomando um gole de chá, e incapaz de responder a seu alegre e brincalhão comentário.

—Embora pensando bem, acredito sinceramente que é dever de ambos —continuou alegremente sua esposa, mordiscando sua torrada—. Não acredito que pudesse fazê-lo sozinha.

Já que era Alex que tinha todas as possibilidades de deixá-la grávida, ou que possivelmente já tinha feito, uma vez que uma só noite era suficiente, era duro digerir o pensamento da chegada de uma criança e mudando de assunto disse.

— Quanto tempo ficará Lady Kelton em Londres, querida?

—Indefinidamente — Jacqueline parecia satisfeita —. Poderia ir visitá-la esta tarde, já que vai estar ocupado… Não tive quase tempo de falar com ela. Desejaria que Alex não estivesse tão distraído na noite passada. Tentei apresentá-la a ele e praticamente a ignorou. Não é próprio de Alex ignorar una mulher tão atraente como ela, e virtualmente fugiu.

Em nome de Deus, Adam pensou amargamente. Porque cada momento de sua conversa tinha de lembrar-lhe o que tinha acontecido na noite anterior? Havia uma boa razão para que Alex estivesse distraído, iria servir de garanhão para sua nova cunhada.

—Provavelmente pensou que tentava dar uma de casamenteira, e se há algo que faz fugir meu irmão, é ser exibido como um garanhão diante de uma mulher calculista.

Uma faísca de surpresa e indignação brilhou nos prateados olhos da mulher que se sentava frente a ele.

— A última palavra que eu usaria para descrever Cara, é calculista. Olhou-a bem, Milord? Pode ter qualquer homem que desejar, e eu somente pensei que Alex apreciaria sua inteligência.

Ofender sua esposa não era certamente sua intenção, certamente não estava se comportando bem.

—Todas as mulheres empalidecem em comparação com você, querida, mas certamente Lady Kelton é bela —disse desculpando-se e agarrando sua mão. Seus dedos estavam quentes e delicados—. Mas já conhece Alex, sem dúvida se assustou ao pensar que era uma solitária viúva em busca de um novo marido e ele sente uma legendária aversão ao casamento, assim será melhor que esqueça o assunto — Adam arqueou a sobrancelha—. Acredito que começamos muito cedo com o brandy, e para falar a verdade, acredito que estava um pouco confuso. Retirou-se cedo, e ele e eu compartilhamos um último e fraternal brinde por meu casamento.

—OH — Jaqueline o olhou sem dissimular seu carinho, lhe apertando os dedos—. Temo que sou culpada por querer que todos sejam tão felizes como nós. Mas está enganado, Cara não teve um bom casamento e certamente não está procurando um novo marido. Assim Alex pode relaxar quanto a isso. Entretanto, ter um homem atraente rondando-a a agradaria, e estou certa de que Alex é encantador. Ela passou o ano de luto, e como sua amiga de toda uma vida quero que tenha um pouco de alegria. É tudo o que Alex procura, encantadora, sofisticada e…

—Disponível—disse Adam ironicamente—. E isso é o mais importante para a bem conhecida fama de meu gêmeo. De qualquer maneira, se ela ficar em Londres uma temporada, estou certo de que se encontrarão, cedo ou tarde.

Levantando-se levou a mão de sua esposa aos lábios, e inalando seu delicado aroma a beijou docemente.

—Sinto muito, mas tenho que ir. Verei-a na hora do jantar, meu amor.

 

O aposento estava parcialmente mobiliado, mas o restante chegaria logo. Cara se sentou e examinou os móveis com um sorriso satisfeito. Vender a casa de Bath não foi fácil, apreciava o encanto que os banhos romanos davam à cidade, e Londres era um lugar completamente diferente, agitado e ruidoso, mas ela precisava de uma mudança.

A morte de Nigel não foi um duro golpe, ao contrário já que ele foi mais que um cansativo chato. Mas guardava um pouco de gratidão a seu falecido marido por lhe haver deixado uma modesta fortuna que permitiria que vivesse com independência. Agora somente precisava de um amante, um com muito talento, que fizesse algo mais que procurar seu sexo na escuridão debaixo de suas saias.

—A condessa de Hallworth, Madame.

Erguendo os olhos, Cara, observou seu mordomo recém-contratado, agitando as mãos com genuíno prazer.

— De verdade? Por favor, faça-a passar.

Jaqueline resplandecia, percebeu, quando sua amiga entrou no aposento, tão bela como sempre, mas havia algo mais. Estar apaixonada lhe caia bem, e considerando que seu marido não só era rico, mas também devastadoramente bonito, não era necessário perguntar por que parecia irradiar felicidade, envolta em uma aura de bem-estar.

—Boa tarde, Condessa —disse Cara com deferência, fazendo uma pequena reverencia—. Bem-vinda a minha humilde casa.

—Cara —Jaqueline lhe deu um rápido abraço—. É uma casa maravilhosa e só a poucas ruas da nossa. Não sabe quanto me alegra que tenha comprado uma casa em Londres

—Eu também senti falta de você, e espero que tenha tempo para mim, agora que é uma mulher casada. A festa de casamento foi maravilhosa. Estou surpresa que você e o conde não tenham partido em viagem.

Jaqueline meneou a cabeça e deu-lhe um sorriso compungido.

— Na temporada de sessões do parlamento? Adam nem sonharia em fazer isso. É o presidente de algum tipo de comitê que tem a ver com o departamento de guerra, talvez mais adiante possamos ir à Itália ou algum lugar quente, mas por agora, não. Não me importa ficar aqui, e sempre podemos ir ao campo se Londres se tornar muito cansativa, embora… sua mãe está ali.

—OH, sim, com um marido, não importa o quanto seja bonito e encantador, sempre vem uma sogra. Felizmente para mim, a mãe de Nigel não quis saber de mim quando viu que não ficava grávida.

Se havia uma coisa no mundo pela qual estava agradecida, era por não ter tido filhos,

Foi à oportunidade de cortar todos os laços com a família Kelton, embora ela houvesse sonhado com uma criança.

Diante da menção de crianças, uma das mãos de Jaqueline pousou em seu estomago pressionando por um momento o suave tecido de seu vestido.

—Parece incrível que algo assim possa acontecer comigo. Adam e eu podemos ter concebido um filho esta noite.

Ela disse, parecendo ainda mais bela, com um sorriso sonhador e nostálgico em sua boca.

Carla sentiu uma pontinha de inveja. Era difícil não sentir, embora gostasse de Jackie como de uma irmã. Foram vizinhas em Kent, e cresceram juntas. As propriedades de seus pais estavam tão perto que se criaram como irmãs, compartilhando os mesmos tutores e frequentando à mesma escola, por isso, embora estivesse um pouco invejosa, não lhe desejava nenhum mal.

—Venha cá, sente-se e vamos pedir um chá.

Sentadas em uma poltrona próxima as largas janelas que se abriam sobre o jardim, Carla baixou a voz e sussurrou.

—Já que sempre compartilhamos tudo e nunca houve segredos entre nós, diga, Jackie, como foi?

A nova Condessa de Hallworth ruborizou-se de repente.

— Minha noite de núpcias?

—É obvio, carinho. Que outra coisa me faria sussurrar? —Carla riu, desfrutando da cálida e doce brisa que agitava as cortinas e a familiar companhia de Jaqueline—. Só não podemos fofocar sobre homens. O que poderia fazer duas mulheres com uma tarde livre e uma taça de chá? Conte-me, o Conde de Hallworth é um bom amante?

Jacqueline ruborizou ainda mais.

—Suponho que sim, embora não tenha com quem compará-lo… admito que gostei muitíssimo, mas foi um pouco escandaloso. Nunca imaginei que os homens e as mulheres fizessem essas coisas.

Cara suspirou.

—Se antes não estava com ciúmes, agora estou, garota sortuda. Não tenho ninguém com quem comparar, mas Nigel era um incapaz na cama e detestava cada minuto que passávamos ali. Felizmente bebia tanto que não acontecia frequentemente, nunca me preocupei muito por não ter concebido um filho, porque francamente, houve poucas oportunidades.

E isso era algo que não poderia admitir diante de ninguém que não fosse sua amiga de toda uma vida.

—Sabia que não tinha sido feliz —disse Jaqueline com compaixão nos olhos—, e posso imaginar, agora que entendo a…mecânica do ato, que a relação sexual não deve ser agradável se não está completamente apaixonada pelo homem que a toca de maneira tão intima.

—Espero que esteja enganada nesse ponto, querida Jack —disse Cara brandamente, sentindo uma estranha inquietação e excitação quando considerava a ideia de ter um amante.

— Perdão?

Jaqueline parecia um pouco desconcertada, suas elegantes sobrancelhas avermelhadas arqueadas, e seu adorável rosto com uma expressão confusa.

—Quero dizer que espero que estar louca de desejo também sirva, e vou descobrir o mais rápido possível.

Jaqueline nunca foi lenta de entendimento e a compreendeu rapidamente,

— Vai ter uma aventura? Com quem?

Cara arrumou as saias com um lânguido movimento, pensando como apresentar delicadamente seu pedido.

—Bem, tenho que dizer que você está aparentada com um dos libertinos mais famosos da Inglaterra, um homem conhecido por suas conquistas sexuais e experiência amorosa, se todos os rumores forem corretos. E tive a ideia à noite passada quando nos apresentou.

— Alex?

—Não quero outro marido, somente um amante, um que possa me ensinar isso que seu belo marido obviamente lhe mostrou. Tenho que admitir que meu casamento me deixou um pouco desapontada como mulher.

—Posso entender, e Alex é sem dúvida, encantador… e é obvio —murmurou Jackie e uma covinha apareceu em sua bochecha enquanto sorria maliciosamente—, muito atraente, já que é exatamente igual a Adam. Posso jurar que quase não consigo distingui-los quando estão juntos.

—Não estava certa de como se sentiria a respeito disto —confessou Cara—. Sempre compartilhamos tudo, mas neste caso, parece como se fôssemos compartilhar o mesmo homem.

—Enquanto não compartilharmos o mesmo homem realmente, não me importa —disse Jackie serenamente.

 

A casa não era agradável, com as nuas paredes do vestíbulo e o pobre ladrilho do chão, a mulher também era pequena, com um vestido cinza e o cabelo castanho preso em um coque na nuca. Seus olhos, sérios e de um pálido azul o inspecionaram em uma calma avaliação e seu sorriso foi pouco mais que uma insinuação.

—Lorde Hallworth, sou Olga Henning. O doutor Trenton parece acreditar que posso ajudá-lo. Por favor, me siga.

Adam quis, por óbvias razões, usar um nome falso, mas o doutor havia insistido em que a mulher era de confiança e muito seletiva na hora de escolher pacientes e em seu desespero aceitou marcar um encontro com ela. Depois da agonia de esperar que Alex retornasse do quarto de sua esposa na passada noite, descobriu que se havia algo que pudesse ajudá-lo, estava disposto a tentar.

O quarto para onde o levou estava quase vazio, exceto por uma alta maca no centro coberta por um imaculado e branco lençol. As cortinas estavam fechadas, e a luz consistia em lamparinas de azeite.

Fechando a porta atrás dela, Olga disse com calma.

—Recebi do doutor uma carta explicando seu acidente e os danos recebidos, mas tenho que examiná-lo antes de começar com qualquer tratamento. Por favor, dispa-se completamente e saiba, que cada vez que vier aqui, terá que fazê-lo. Meus métodos de cura dependem da confiança e a conexão com o paciente. Se quiser que o ajude não haverá discussão sobre qualquer coisa que eu lhe pergunte. Seu titulo e sua fortuna aqui não significam nada, entendeu?

Não estando acostumado a essa falta de deferência, Adam vacilou por um momento, inseguro quanto a essa mulher que o doutor chamou de "nada convencional, mas surpreendentemente efetiva", era realmente a resposta a seu problema. Certamente permanecer completamente nu diante de uma mulher que não conhecia era perturbador.

O adorável rosto de Jaqueline lhe veio à mente, e a imagem de seu corpo nu enroscado nos lençóis da cama cravou-se em seu coração como uma adaga. Então suas mãos começaram a desabotoar a jaqueta, Olga agarrou cada objeto que tirava e dobrando-o cuidadosamente, ia deixando-os em uma pilha sobre uma cadeira que havia no quarto. Sentando-se, não pôde evitar um pequeno grunhido de dor ao tentar levantar a perna direita para tirar a bota.

— Isso dói? —perguntou a mulher.

—Dói —afirmou o com gravidade—.Dói pra diabo.

—Não usava bengala quando chegou, entretanto mancava.

Levantando-se para desabotoar as calças, Adam explicou.

—Estou tentando andar sem ela, não parece ajudar muito no processo de cura nem diminuir a dor.

—Mas tampouco quer se machucar outra vez —murmurou ela, olhando-o com neutralidade enquanto ele tirava as calças—. Já veremos se deve continuar usando-a ou não. Agora se deite na maca.

Fez o que lhe pediu, achando a superfície bastante confortável, devido sem dúvida a algum tipo de colchão. Umas das mãos frias apalparam a parte superior de sua coxa direita e subiram até sua virilha, justamente até a união do quadril com a perna.

—Me conte como foi o acidente —disse Olga com sua voz impessoal—. Preciso saber como aconteceu exatamente.

Estar deitado em um quarto, completamente nu e com as mãos de uma desconhecida em cima dele, era muito estranho. Adam engoliu suas dúvidas e concordou.

—Estava treinando meu cavalo, estávamos chegando a uma cerca, insignificante para ele, já que era um saltador magnífico e justamente quando ia saltar, colocou a pata em uma fossa —o cavalo era mais do que valioso, foi um animal esplendido, e prosseguiu com a voz rouca—. Ainda ouço o som do osso de sua pata ao quebrar. Caímos sobre a cerca, e quando chegamos ao chão eu fique parcialmente debaixo de seu corpo. Na realidade poderia ser muito pior.

—E você lamenta a perda do animal, não é assim, Milord?

—Certamente.

—Deve esquecer, não foi culpa de nenhum dos dois. Foi um acidente, compreende? Posso sentir sua culpa e quero que esqueça. O que aconteceu depois?

Olga lhe perguntou com um tom de voz baixo e relaxante, as mãos imóveis.

—Acho que tentei me levantar… estava aturdido e não parecia ter nada quebrado, mas quando fiquei de pé, quase me dobrei em dois pela dor. Estava cavalgando sozinho e passaram-se horas antes que alguém viesse. Sacrificaram Ulysses, e me levaram de volta para casa em uma maca. Não pude caminhar durante duas semanas, mas gradualmente fui melhorando.

— Quando notou pela primeira vez a disfunção sexual?

Tentando não estremecer diante dessa frase tão precisa, Adam murmurou.

—Duas semanas antes de meu casamento, estava no jardim com minha prometida. É bela e a desejo profundamente. Antes, quando a beijava, não podia evitar ter uma… ereção. Nessa noite tomei-a em meus braços e fique atônito ao notar que embora apreciasse o abraço, meu corpo não respondia como sempre.

— Vocês eram amantes?

—Não, é obvio que não, é uma dama. Estava disposto a esperar por ela.

—Entendo.

Para seu completo desgosto, Olga moveu a mão, deslizando-a entre suas pernas para segurar seus testículos na palma de sua mão.

—Seu corpo funciona normalmente, já que eles estão cheios. Milord. Diga-me dói? É capaz de satisfazer a si mesmo com estimulação manual?

Inseguro de como responder a uma pergunta tão tremendamente pessoal, Adam permaneceu em silêncio. Ficou totalmente perplexo quando ela riu, um som que ressoou brandamente no quarto.

—Todos os homens fazem — informou ela com satisfação—. Estou certa de que você sabe. Homens costumam dar prazer a si mesmos, a menos que sejam muito ativos sexualmente. Então tentou?

—Sim, admito —inquieto pela calidez das mãos que seguravam suas bolas.

—E nada?

—Foi há semanas, justamente depois de descobrir o problema, e não, nada.

Sua cortante resposta não pareceu ofendê-la.

—E está muito assustado para tentar outra vez… suponho que pode sentir minha mão não? Não há perda de sensibilidade?

—Não.

—Excelente —ela o soltou, e sorriu—. Acredito que posso ajudá-lo, milord.

—Deus, tomara.

 

                                     Capítulo 4

Dando as costas a sua donzela para que pudesse lhe desabotoar o vestido, Jaqueline olhava pensativa a porta que conectava seu quarto com o de seu marido, enquanto se desfazia do vestido, tirando distraidamente os grampos que prendiam seu cabelo e deixando que os espessos fios lhe caíssem sobre os ombros e as costas.

Estava pensando em convidar Cara para jantar. Não foi como ela havia planejado, embora sua amiga estivesse adorável num vestido cor de marfim, seu cabelo loiro claro preso em um coque que deixava a descoberto seu esbelto pescoço e sua pele sedosa, Alex apenas manteve uma banal conversa de cortesia enquanto jantavam, sem mostrar nada de seu usual e atrevido encanto. De fato, e por alguma razão, embora Alex e Adam quase sempre sintonizassem mais do que outros irmãos que ela conhecesse, havia certa tensão no ar, não muito evidente, e por outro lado, Adam também se comportou de um modo um pouco estranho durante o café da manhã. Não parecia o mesmo amante brincalhão da noite, mas desde o acidente ela imaginava que teria muitas dores, possivelmente, pensou ruborizando levemente, machucou-o ou algo assim enquanto faziam amor.

Certamente foi fisicamente vigoroso, e gloriosamente prazeroso. Seu corpo estremeceu enquanto lembrava-se da sensação de senti-lo deslizar para dentro e para fora dela, grande e duro.

— Precisa de algo mais, Milady?

Saindo de sua abstração, Jacqueline sorriu.

—Nada mais por esta noite, obrigado, Mary.

A garota fez uma reverência e saiu. Jacqueline voltou a olhar outra vez para a porta, perguntando-se se iria se abrir esta noite, ou passaria a noite sozinha.

Parada ali de pé, vestida unicamente com sua camisola, considerou ironicamente essas pequenas sutilezas do casamento a respeito dos quais não sabia nada. Por exemplo, era correto que ela fosse até ele? Todos falavam a respeito dos privilégios do casamento, certamente as esposas tinham algo a dizer a respeito de querer ou não fazer amor. Não?

É obvio que os homens às vezes eram criaturas enigmáticas e depois da noite passada a última coisa que queria era que seu marido pensasse que se casou com uma desavergonhada. Não tinha feito nada para esconder o prazer que sentiu em sua primeira experiência sexual, gemeu intensamente e gritou seu prazer. Ele parecia satisfeito de sua resposta às investidas de seu corpo, mas se perguntava se isso faria dela uma prostituta.

Parada no meio do quarto, mordendo os lábios com incerteza, com os pés descalços e meio nua, perguntava-se se todas as noivas sentiam esse desejo tão intenso por seus maridos.

Teve que lançar mão de toda a sua coragem para cruzar o aposento e agarrar a maçaneta da porta que conectava os quartos. Dizendo-se a si mesma que se ele se sobressaltasse por seu comportamento, simplesmente lhe perguntaria por seu acidente.

Para sua consternação a porta estava fechada com chave.

Não havia duvidas, a maçaneta girava, mas a porta estava totalmente trancada do outro lado. Insegura do porque seu marido precisar trancar-se e totalmente confusa, bateu na porta brandamente.

— Adam?

—Estou aqui.

Seu irmão lhe jogou sua jaqueta limpamente e foi mancando até o vestíbulo. No ultimo momento disse entre dentes.

—Em seu quarto. Maldição, Alex, não deixe que ela entre aqui, não quero ficar aqui enquanto se deita com ela.

Colocando a jaqueta de Adam, e sem incomodar-se em fechar os botões com o escudo de Hallworth cruzou o quarto rapidamente até a porta que os ligava. Abriu-a, amaldiçoando-se enquanto tentava encontrar uma explicação do por que a porta estava fechada, e perguntando-se com um traiçoeiro sentimento de antecipação se esta noite seria tão assombrosamente prazerosa como a noite passada. Já estava meio duro somente pensando nisso, e quando abriu a porta e viu Jacqueline parada, vestida unicamente com uma camisola de renda, ficou completamente duro.

— Milady?

Seu olhar piscava em total desconcerto e balbuciou de uma maneira encantadora.

—Só queria perguntar… bem, queria me assegurar de que seus ferimentos não doem. Esteve muito silencioso durante o jantar.

Deus do céu era uma mulher bela, esbelta, mas coberta de tentadoras curvas, uma fantasia feita realidade, pelo menos para ele… Alex desviou o olhar para seus exuberantes e sedosos seios que quase saltavam pelo decote da camisola, contemplou intensamente sua perfeição e a insinuação dos mamilos duros sob o tecido. Com um preguiçoso sorriso, estendeu a mão e deslizou os dedos entre o vale de seus seios, cobrindo um deles com a mão, fazendo com que ela tomasse fôlego com rapidez.

—A dor pode ser algo relativo — disse evasivamente. Sabia que Adam havia visitado um novo medico à tarde—. Neste instante, neste momento tudo o que sinto é desejo. Por que não tira isto? —moveu a mão e soltou as tiras do sutiã, plenamente consciente de que Adam provavelmente podia escutá-los do vestíbulo e enviando uma silenciosa prece para que escutar às escondidas não fosse uma experiência terrível — E deite-se na cama?

—Não estava certa de que quisesse…

—Quero.

Foi um alívio que ela aceitasse e ele pudesse entrar no quarto e fechar a porta, dando liberdade a seu irmão para sair de seu esconderijo e não ter que estar na saleta contigua enquanto sua esposa fazia amor com outro homem.

Olhando enquanto ela deixava cair timidamente sua camisola no chão, ficou sem fôlego, maravilhando-se diante do esplendor de seu corpo, e a inocente paixão da noite passada ressurgiu em sua memória. O triangulo de escuros pêlos no vértice de suas esbeltas pernas brilhava, convidando-o. Seus exuberantes seios, altos e firmes e essa magnífica cascata de cachos avermelhados que caía sobre seus ombros e descia por suas costas até a cintura, era o contraste perfeito para sua pele clara.

—Jesus —murmurou sem fôlego ficando completamente ereto, seu pênis apertando-se nas calças com uma urgência quase dolorosa.

Todas as suas amantes eram belas, mas havia algo na delicada feminilidade de Jacqueline que o cativava, fazendo-o perder o controle de sua bem treinada libido. Ele brincava com o sexo, percebeu, enquanto estava ali parado desejando-a com uma fome poderosa e perturbadora, e as mulheres que levava a cama brincavam com ele. Era uma de suas regras, não foder com ninguém que desejasse algo mais além de um prazeroso interlúdio. E estava totalmente certo de que estava rompendo todas as suas regras naquele momento. Jacqueline não via com indiferença o que estava a ponto de acontecer entre eles, queria fazer amor com seu marido, oferecer seu corpo com o apaixonado e completo ardor que era comprometer sua vida com outra pessoa.

Isso o comoveu. Se não gostasse e respeitasse seu irmão com aquela lealdade que cresceu entre eles mesmos antes de nascerem, teria contado a verdade nesse mesmo instante. Infelizmente enquanto ele olhava, ela subiu na cama, seu gracioso corpo nu iluminado tentadoramente pela tênue iluminação de uma lamparina, e recordou bruscamente que aceitou este maldito acordo. Era somente uma peça, não um jogador, e era o casamento de seu irmão que corria perigo. Por isso Adam era o único que podia tomar decisões a respeito de seu deslumbrante esposa. Enquanto isso não acontecia, Alex ia saciar seu intenso apetite carnal por ela.

Tirou a jaqueta e quase se esqueceu de mancar, enquanto a seguia à cama. Jacqueline estava deitada de barriga para cima e claramente excitada sobre os lençóis, sua respiração agitada se evidenciava no estremecimento de seus seios nus. Tirando as botas e a calça se aproximou dela e a tomou imediatamente em seus braços, acariciando com a boca seu esbelto pescoço.

— Está dolorida? —perguntou, lhe beijando a elegante linha da face.

Um ofego lhe mostrou que ela sentia o palpitar de sua dura vara contra o estomago.

—Esta manhã um pouco, quando me banhei senti certo desconforto —confessou brandamente rodeando-o com os braços e lhe devolvendo o abraço—. Suponho que é normal não?

—Não preciso penetrá-la — disse lhe roçando os lábios com os dele—. Há alternativas, maneiras de agradarmos um ao outro sem necessidade de penetração.

— Há? —moveu-se em seus braços, pressionando-se contra ele, o peso de seus seios contra seu peito fez com que seu pau endurecesse ainda mais— Suponho que sou uma completa ingênua, deve me achar um pouco… aborrecida.

—Nada disso —grunhiu Alex, capturando sua boca com um ardente beijo. Quando ergueu a cabeça esfregou-se contra ela, deslizando seu rígido eixo sobre a brandura de seu ventre—. Acredito que ingênua ou não, pode comprovar que certa parte da minha anatomia não esta nada aborrecida, senhora. Por outro lado não existe homem vivo que não deseje que sua noiva chegue a ele pura e sem experiência.

Havia uma inocente excitação em seus olhos cinzentos, um ingênuo e feminino ardor que quase o empurrou ao clímax.

—Prometo ser uma boa pupila, se é isso que quer… dar-me aulas particulares. OH Adam, gostei tanto do que fizemos na outra noite, e quero fazer outra vez, Isso me transforma em uma prostituta?

—Absolutamente, não — disse com a voz rouca, olhando-a nos olhos com sinceridade—. Isso a torna a mulher mais excitante que já toquei, carinho. Mas nos asseguremos que não está muito sensível.

Ele observou seu rosto,enquanto descia a mão por seu estomago, encontrando os suaves cachos entre suas coxas. Suas pernas se separaram encantadas diante de sua intima carícia, e Alex acariciou seu sexo lentamente, deslizando os dedos pelos lábios, escutando seus suaves gemidos de prazer enquanto acariciava-a, demoradamente e se excitava somente tocando-a.

Sua boceta aqueceu-se sob suas carícias e se umedeceu ligeiramente evidenciando sua excitação. Sondando entre as úmidas dobras, procurou a entrada de sua vagina, pequena e deliciosamente estreita, e cuidadosamente deslizou um dedo dentro das doces e apertadas paredes, explorando-as delicadamente.

—O corpo da mulher é um milagre —disse com voz rouca—, não há nada mais maravilhoso neste mundo do que o que estou tocando agora. É como seda úmida e quente por dentro, carinho.

Estendida debaixo dele, Jacqueline suspirou e baixou os cílios.

— Como se sente? —perguntou-lhe com um sussurro, sentindo que estava a ponto de ejacular pelo simples fato de tocá-la.

—Maravilhosa.

Suas pernas se separaram um pouco fazendo com que seu dedo deslizasse mais fundo.

— E agora?

Tirou o dedo quase totalmente e acrescentou outro, penetrando-a com os dois em uma imitação do ato sexual.

—Sim.

Seus olhos se fecharam e suas pernas se abriram totalmente, para dar a Alex um melhor acesso enquanto a estimulava com a mão, deslizando para dentro e para fora, com seus longos dedos tocando a entrada de seu útero. Sua umidade cobriu sua mão gradualmente à medida que continuava provocando-a, e não havia dúvida que se antes estava dolorida, agora somente se rendia ao prazer, seus suspiros entrecortados se tornaram gemidos e ofegos. Inclinando para beijá-la, levou-a a clímax com uma ligeira e perita pressão de seu polegar em seu clitóris. O corpo da jovem se contraiu ao redor de seus dedos e ele sentiu cada parte de seu prazer, com a boca cobrindo a dela e sua mão pressionando entre suas pernas abertas enquanto sua boceta estremecia em pequenas e eróticas pulsações. Esperou até que ela relaxasse debaixo dele, retirou seus molhados dedos e sorriu perversamente diante de seu rosto ruborizado.

—É uma pupila muito aplicada, carinho. Acho que sua primeira lição foi muito bem. Não acha?

 

Seu marido estava de costas, com seus fortes braços atrás da cabeça e um malicioso sorriso em seu rosto.

—Me tome em sua mão, não se preocupe, não dói.

De joelhos, olhando a enorme ereção, sentiu-se intimidada por sua inexperiência, mas considerando que seu corpo ainda estava quente e satisfeito depois de suas recentes carícias, não queria decepcioná-lo. Colocou os dedos ao redor de seu escuro e cheio membro, que se erguia sobre seu estomago e se sentiu recompensada quando ele fechou os olhos brevemente e soltou uma maldição em voz baixa.

—É tão… duro.

Estava maravilhada diante da maneira como se sentia enquanto o percorria de cima abaixo com os dedos, descobrindo uma assombrosa parte da vida que nem imaginava que existia. É obvio que sabia que os homens eram diferentes das mulheres, e viu quadros de homens nus, mas nenhum mostrava o tamanho de um pênis excitado. Era suave como a seda, mas incrivelmente cheio e vivo, coberto de veias até a ponta, o proeminente topo estava coroado por uma visível fenda que nesse momento segregava um líquido claro e pegajoso.

—Certamente que está duro, mas é culpa sua —seu marido disse entre dentes enquanto ela recolhia uma gota de sua secreção e a esfregava sobre a ponta de seu pênis.

—Não deveria ser tão adorável e apaixonada, carinho, estou a ponto de explodir.

— E quer… explodir?

Perguntou insinuante, e embora fosse uma novata na arte do amor, reconhecia a necessidade em seu corpo e em sua voz. Acariciando brandamente toda a longitude de sua dura ereção observou o rosto de seu marido.

—Me diga o que tenho que fazer.

—Me toque, mova a mão de cima para baixo, Jesus… assim, estou muito perto, não vai demorar muito.

Estava certo, Jacqueline obedeceu e em instantes, a ponta começou a palpitar e a rígida ereção que segurava em sua mão jorrou uma substância quente e cremosa, que caiu sobre o estomago e o peito dele. Quando finalmente abriu os olhos seu intenso olhar azul era indecifrável.

Olhando o esperma sobre seu musculoso peito, Jacqueline murmurou.

—Não imaginava… isto é… é assombroso.

O sorriso que lhe dedicou mostrava um arrependimento encantador.

—Desta forma é um pouco sujo, mas certamente atinge o objetivo. Há um lenço em minhas calças. Pode alcançá-lo?

Ela concordou amavelmente e procurou o lenço enquanto meneava a cabeça, ajoelho-se a seu lado e limpando o pegajoso esperma de seu corpo. Era algo muito erótico poder tocá-lo enquanto estava deitado, quieto, e sorriu enquanto esfregava o tecido sobre a dura superfície de seu peito.

—Não pensei que praticar sexo seria tão… elementar, milord.

—É —disse ele olhando-a intensamente com seus azuis olhos—. Os machos humanos são como os animais, exceto que nós fazemos amor por prazer e não simplesmente para procriar.

—Mal posso esperar para ficar grávida de seu filho —disse sinceramente, olhando seu marido sem esconder a profunda emoção que sentia—. E não simplesmente para lhe dar um herdeiro que ostente seu título e herde sua fortuna, Adam, mas sim por que te quero, e nem imagino a felicidade que seria ter nosso filho em meus braços. Talvez até já concebemos um.

Para sua surpresa, ele não pareceu satisfeito e sua expressão se tornou hermética. Tomou-a de repente em seus braços e a colocou sobre seu peito.

—Sobre isso não temos nenhum controle —murmurou sobre seu cabelo com a voz áspera, até um pouco desdenhosa—. Deus, isso é tão bom, é tão suave e feminina. Seduz-me, Jackie, seduziria qualquer homem.

Aconchegando-se satisfeita a seu lado, saboreando seu terno contato ela comentou em voz baixa.

—Alex possivelmente, não.

— O que?

A reação de seu marido ao comentário foi súbita e inconfundível, seus braços se esticaram dolorosamente.

— Que demônios quer dizer com isso? O que tem a ver meu irmão com tudo isto?

—Parecia surpreendentemente indiferente com Cara esta noite, embora ela flertasse descaradamente com ele durante o jantar. Para um homem com fama de libertino e com um desavergonhado apetite por mulheres encantadoras, ele certamente parecia imune as suas claras insinuações. Estará envolvido seriamente com alguém e não sabemos?

Seu abraço se afrouxou ligeiramente.

— Alex? Bem, suponho que é possível, mas duvido.

—Ela se sente muito atraída por ele. Pergunto-me se você poderia falar com Alex, descobrir se há alguém, mas.

— Não! —a resposta foi terminante e seca.

Inclinando sua cabeça para ele, Jacqueline franziu o cenho.

—Não estou pedindo que se intrometa em seus assuntos pessoais.

—Bom, porque não farei, esqueça-se de meu irmão — ordenou com uma inusitada e severa autoridade—. Nesta cama só estamos nós dois —se moveu ligeiramente, virando-se e levando-a com ele, e sua boca procurou a dela com uma evidente ânsia. Era um pouco surpreendente sentir tanto desejo já que os dois obtiveram prazer pouco antes, mas suas mãos pousaram em seus ombros enquanto correspondia a seu beijo.

Talvez, algo andasse mal entre seu marido e seu irmão gêmeo, pensou com uma ponta de inquietação, mas tudo foi banido de sua mente quando suas mãos cravaram-se em seus seios e seus polegares rolaram sobre os bicos duros. Obviamente ele não desejava fazer confidências, mas por outro lado, estava claro que queria algo dela, algo erótico e carnal.

E ela também.

 

                             Capítulo 5

Adam olhou o relógio no suporte da lareira, observando o tempo. Era um dia de verão cinzento, uma chuva suave envolvia toda a Londres, o céu nublado não deixava passar a luz do sol. A janela de seu escritório estava embaçada e soava com o ritmo suave da chuva, mas não se sentia entorpecido. Em vez disso, sentia-se... Esperançoso. Em seu encontro com Olga no dia anterior, fez alguns progressos significativos. Estava ansioso para ver o que poderia ocorrer hoje. E mais, a técnica de usar a massagem para tratar os músculos danificados de sua virilha funcionava, já que estava mais fácil caminhar, descartou sua bengala completamente e sua claudicação era cada vez menos pronunciada.

Tinha casado há uma semana e não tocou sua bela mulher salvo com superficiais gestos de afeto. Com sorte, a angustiosa situação ia mudar logo.

A chamada foi tão superficial que Alex entrou antes que pudesse responder, fechando a porta atrás dele e sacudindo a umidade de seu cabelo. Tinha saído a cavalo, mesmo com aquele tempo, as gotas de água brilhavam sobre suas polidas botas e sua jaqueta estava úmida, mas ele parecia não se importar, enquanto caminhava para a garrafa de brandy que estava sobre uma pequena mesa e disse com dureza:

—Isto não está funcionando, Adam. E por mais que não queira discutir, vamos a fazê-lo agora mesmo.

Seu irmão tinha razão, ele não queria falar com ele sobre nada do que acontecia no quarto de Jacqueline, mas talvez fosse necessário esclarecer as coisas. Afinal, a única razão pela qual Alex ia até ela a cada noite foi porque ele mesmo havia pedido, por isso seus ciúmes eram irracionais. Da maneira mais neutra possível, respondeu.

—Muito bem, embora eu não veja motivos para esta conversa. Jacqueline não suspeita de nada.

Jogando o pálido líquido de cor âmbar em um copo, Alex lhe lançou um olhar e tomou um gole.

—Está enganado, irmão. Não, ela não pensa nem por um momento que sou eu e não você quem está em sua cama, mas percebe que há uma repentina tensão entre nós e tentou me perguntar a respeito disso. E se quer saber a verdade, faço o melhor que posso, e falo o mínimo possível, para que não cometamos equívocos sobre conversas das quais se supõe que deva saber, ou pior ainda, das quais eu não tenho porque saber, mas é impossível evitar por completo que conversemos.

Já que seu irmão desaparecia durante várias horas depois de trocarem de lugar, Adam teve que aceitar a ideia de prolongadas relações sexuais como um gole amargo.

—Este novo tratamento está me ajudando mais do que esperava, Alex. Tudo vai terminar logo.

Os olhos azuis de seu irmão, mantiveram-se estáveis.

—Racionalmente, é obvio, isso é o que quero. Para voltar para minha antiga vida, e inclusive dar à tentadora Lady Kelton a trepada que deseja, como o libertino lascivo que tenho fama de ser.

Conheciam-se muito bem, e Alex parecia muito sério. Adam sentiu uma sombria consternação.

— E irracionalmente?

—Irracionalmente, poderia estar gostar e muito de meu papel. É completamente diferente quando a mulher que está em seus braços está profundamente apaixonada por você. Sobretudo quando ela é tão bela e sensual como Jacqueline. Não tem ideia do que está perdendo e para seu bem, espero que descubra logo. Por meu lado, egoistamente, espero que não muito logo.

Já que Adam contou com a capacidade de seu irmão de levar as relações sexuais com seu costumeiro desapego emocional, este não foi um problema que tivesse antecipado.

— Está me dizendo que está se apaixonando por minha esposa? —perguntou entre dentes.

Seu irmão não respondeu, mas se moveu para olhar melancolicamente pela janela.

—A pior parte é quando de vez em quando me menciona. É como se eu fosse um irmão, que ela na realidade, nem percebe, mas ao qual, entretanto, aprecia. A seus olhos, eu sou frívolo e irresponsável, e estou começando a me perguntar se ela não tem razão. Você passa cada minuto do dia administrando as propriedades e ocupando seu banco na Câmara de Lordes, enquanto eu passo meu tempo em corridas de cavalos e me divirto com mulheres cuja moral é tão devassa como a minha. Não dilapidei minha herança, mas tampouco ergui um dedo para aumentá-la. Somente me deixei levar. Você e eu temos a mesma idade, e somos fisicamente iguais, mas olhe para você: com uma bela esposa, que não só o adora, mas também o admira como homem. Tem um lugar na sociedade, uma influência respeitada em nosso governo, e o patrimônio Hallworth cresceu sob seu cuidado. Logo, sem dúvida, terá uma família também, porque Jackie mal pode esperar para ficar grávida e lhe dar um filho.

Era uma curiosa virada dos acontecimentos ter finalmente esta conversa, com seu irmão, e se as circunstâncias não fossem tão pessoalmente angustiantes, Adam ficaria encantado de escutar Alex despertar por fim e perceber que havia mais na vida do que as festas, jogo e amantes sofisticadas.

—Pode ter tudo o que eu tenho —disse com ênfase—, exceto, é obvio, Jackie.Com um pouco de esforço, pode começar a investir sua fortuna, e sem dúvida sempre precisam mais homens leais e com educação no Parlamento, e quanto a uma esposa e família, há um monte de mulheres jovens, belas e respeitáveis aí fora. Estou seguro de que poderia fazer sua escolha, Alex.

—Talvez, mas de novo, temo que esteja estragado por sua bela e apaixonada condessa, irmão. Não estou certo de que haja outra mulher como ela —afastando o olhar dos empapados jardins, Alex arqueou uma sobrancelha loira, em um gesto irônico—. Sinto-me indigno de tocar sequer em sua mão, mas não se preocupe: continuarei com esta farsa se deseja. Entretanto, tome cuidado, complica-se cada vez mais.

—Sou muito consciente disso —murmurou Adam—. Em primeiro lugar foi meu temor de perdê-la que me fez pedir-lhe que participasse deste atroz engano, mas é muito tarde para voltar atrás —de pé, olhou sombriamente o relógio de novo—. Tenho outra consulta esta tarde. Espero que saia ainda melhor que ontem. A terapia é pouco ortodoxa, mas a perna já não me dói tanto e parece que a cura vai ser rápida. Deseje-me sorte, irmão.

 

De pé somente com a camisola e as finas meias de seda, Jacqueline franziu o cenho com indecisão. O cetim verde era muito vivo, pensou Jacqueline, embora a costureira tentasse persuadi-la. Sabia que uma mulher casada tinha mais liberdade com a cor e o estilo de seu vestuário, mas no fundo era bastante conservadora.

—O rosa —disse finalmente—, e o brocado marfim.

—E deve levar esta divina peça prateada, Jack — informou Cara com firmeza—, coincide exatamente com seus olhos, e não seja tão pudica sobre o decote do sutiã. Nem todas temos... Tão generosos encantos. Permita que Madame Isolda tenha carta branca neste assunto pelo menos. Seu marido cairá de joelhos quando a vir.

—Vamos estar em público, por isso duvido —murmurou Jackie—, mas suponho que cederei diante de seus conhecimentos sobre moda. Muito bem, o prateado também.

Não havia dúvidas de que Adam lhe tinha dado uma generosa quantia para comprar roupas e que ela precisava de vestidos de festa novos.

Uma vez que as duas assistentes da costureira a ajudaram a vestir-se e se preparavam para partir, Cara murmurou enquanto alisava seu vestido.

—Parece muito pensativa hoje. É o tempo?

—Não exatamente —admitiu, apesar de que a persistente chuva não ajudava em nada—. Há um salão de chá virando a esquina, Quer ir até lá? Sei que faz calor lá fora, mas me sinto gelada.

Já que se conheciam bem, Cara não se deixou enganar.

—Sim, o chá cairia bem. E depois me diga o que a preocupa. Está casada só há uma semana, certamente nada pode estar mau, verdade?

—Provavelmente não —disse Jacqueline com evasivas, mas apressou-se em atravessar a rua até o interior do pequeno salão de chá e uma vez que se acomodou em um local acolhedor, sentindo o embriagador aroma dos bolos de groselha no ar, sentiu que não podia manter o olhar de sua amiga.

Cara nunca foi mulher que evitasse conversas desagradáveis.

—A semana passada —disse com ênfase—, estava resplandecente de felicidade.

—A semana passada, não percebia que ia ser desta maneira —disse Jackie na defensiva.

— De que maneira?

Cara, bela como sempre em um vestido azul pálido que coincidia exatamente com seus olhos claros, arqueou as sobrancelhas brandamente. Não estava segura de como responder sua pergunta,

Jackie vacilou e logo disse rapidamente.

—Pensei que conhecia Adam. Mas agora que realmente o conheço, as coisas entre nós não são mais as mesmas. Ele costumava me tocar a cada oportunidade: minha mão, minha face, se ficávamos sozinhos por um momento me roubava um beijo... Mas agora é como se fôssemos amantes à noite, e corteses conhecidos durante o dia. A mudança é sutil, mas existe, embora talvez as coisas sejam assim e eu estou sendo muito suscetível. Achei que ele seria mais carinhoso, não menos.

Pegando um pedaço de pão-doce e beliscando-o, Cara disse pensativamente.

—Ele não tem por que cortejá-la mais. Você é dele, e já que parece que exerce seus direitos de marido com regularidade, suas necessidades poderiam estar suficientemente satisfeitas a ponto de abandonar os gestos românticos. Aposto que se surpreenderia se lhe contasse inquietações.

—Os homens — concordou Jacqueline com uma melancolia igual a do céu que garoava lá fora—, são muito difíceis de entender. Alex tornou-se tão desconcertante… estou certa de que a acha atraente, mas ainda assim não faz nada, embora esteja segura de que é suficientemente mundano para perceber seu interesse.

Cara negou com a cabeça, com seu cabelo loiro claro, preso na nuca e um pequeno sorriso triste em sua boca.

—Temo que não seja suficientemente sofisticada para ele. Sim, sou viúva, mas estive casada muito pouco tempo, e Nigel não me ensinou virtualmente nada sobre a parte amorosa do casamento. Sem dúvida, um homem como ele, que pelo que se diz desfruta de lascivos prazeres, pode notar minha... Falta de experiência.

—Não acredito — Jackie tomou seu chá, provou-o e descobriu que se esqueceu de acrescentar açúcar. Alcançando o pote, acrescentou—. Parece distraído, como Adam. Depois da noite do jantar, esteve ausente durante o dia e a maioria das noites, embora segundo minha donzela, chega em casa muito antes do que costumava, uma notável mudança em seu comportamento pelo que me contou. Se há alguma disputa entre meu marido e seu irmão, Adam não quer falar disso. Quando perguntei, e o fiz, distraiu-me imediatamente.

A lembrança da distração aqueceu seu rosto, e Cara reconhecendo seu rubor, riu ligeiramente.

—Querida Jack, está se adaptando a uma nova vida, e acho que está se preocupando muito com a incompreensível natureza dos homens. Seu novo marido é rico e bonito, um ardente amante, e você provavelmente é uma das mulheres mais invejadas de Londres. Quanto a Alex Trevor e sua merecida reputação, bom, suponho que há muitas possibilidades de que esteja simplesmente muito cansado para me notar, se for verdade o que dizem sobre suas façanhas sexuais.

Diante dessa despreocupada e travessa especulação, Jacqueline se pôs a rir as gargalhadas.

—Conhecendo Alex —disse, tomando um pedaço de um bolo da bandeja—, isso pode ser possível.

 

—Me diga, como se sente hoje?

A voz fria e tranquila era suave, como o interior da pequena sala com as janelas fechadas. Estendido de costas, Adam murmurou.

—Subi as escadas mais rápido esta manhã e não senti virtualmente dor, o que é incrivelmente alentador.

—Concordo, está fazendo grandes progressos, milord —Olga massageava sua coxa direito justamente debaixo do quadril, a pressão não tão terrível como era antes—. Também em sua mente, reconhece agora a possibilidade de que seu problema se resolverá logo?

Era um homem prático, não estava tão seguro como ela, que acreditava que uma pessoa poderia mudar fisicamente segundo como se sentisse, mas ela era a curandeira e algo estava funcionando... Por isso honestamente respondeu.

—Despertei esta manhã e imediatamente tive vontade de que chegasse a hora de nossa sessão, com a esperança de que progredíssemos ainda mais.

A mulher que lhe tocava com suas mãos, trabalhando com hábeis movimentos, sorriu.

—É uma excelente atitude. Vejamos, certo? Vou tentar fazer uma experiência, mas você tem que participar completamente, e não será do tipo que se costuma fazer.

Já que nada podia ser menos típico que se deitar totalmente nu sobre uma mesa em uma deprimente casinha em alguma parte de um bairro menos limpo ainda, deixando que esta enigmática mulher massageasse sua virilha, Adam afogou uma risada cínica.

—Não estou certo de que nos conheçamos o suficiente, Madame Henning, para que você saiba o que é típico em mim.

—Nem tanto — suas mãos apertaram mais forte, massageando os duros músculos, que não cooperavam—. Deixe-me dizer o que vejo, e podemos discutir o quanto me aproximei. Para começar, você não é um homem controlador no sentido de tentar dominar outros, mas gosta do controle, milord. Estou certa? —sem esperar que respondesse, continuou — No fundo, acho que você é um romântico, muito apaixonado por sua jovem e bonita esposa, o que admitiu para mim, mas não estou certa de que disse isso a ela. Parte desta reticência vem do fato de ter assumido uma grande responsabilidade quando era muito jovem. Que idade tinha quando morreu seu pai?

—Treze anos —reconheceu.

—Ah, transformar-se em um cavalheiro com um título tão importante em um momento tão delicado de sua vida não deve ter sido fácil. Mostrar debilidade não é a forma de administrar propriedades e encarregar-se dos problemas. Estava acostumado a que tudo ocorra como você quer, e trabalhava duramente antes deste acidente. Diria que sua vida era muito estável. Entretanto, seu cavalo o lançou contra uma cerca e o feriu gravemente, o que não estava em seus planos e balançou seu ordenado mundo, milord.

Nunca havia pensado dessa maneira. Adam piscou surpreso com sua intuitiva avaliação.

—Suponho —disse lentamente—, que é verdade. Desgosta-me que as coisas não transcorram tal e como eu quero, e normalmente estou preparado para as eventualidades.

—Mas não podemos nos preparar para um acidente, como bem sugere a mesma definição do termo. Deve permitir que sua mente aceite isto para se curar.

Com um pouco de tensão, Adam disse secamente.

—O problema não está em minha mente, mas em meu corpo.

—Talvez a princípio. Ontem experimentou uma pequena reação física à estimulação manual. Vamos tentar algo um pouco diferente. Acredito que está preparado.

Com seu habitual e simples vestido cinza que não a favorecia em nada, Olga Henning cruzou o quarto, para pegar uma pequena bolsa. Estendido como uma oferenda para o sacrifício, Adam esperava, já não tão desconfortável por estar nu diante desta estranha, mas amável curandeira, e sim temendo os resultados desta prova. Parte do que ela dizia era verdadeiro, na medida em que sabia que o nervosismo por fracassar estava debilitando-o.

Querido Deus, rezou, fechando os olhos, quero ser capaz de conservar minha esposa e amá-la não só com meu coração, mas também com meu corpo. Um peso fresco pousou no centro de seu peito, e abriu os olhos, vendo ali uma pequena pirâmide de cristal, de só uma ou duas polegadas de altura, gravada com estranhos símbolos que não reconhecia.

—Isto lhe ajudará a canalizar sua energia —disse Olga com uma suave explicação—. Deve acreditar nela, para que funcione. Agora, quero que feche os olhos e relaxe.

Fechando os olhos, percebeu que, de fato, havia uma estranha sensação de zumbido no objeto que descansava sobre seu corpo.

—Em primeiro lugar limpe sua mente, milord, e depois imagine o que mais quer neste mundo.

Com facilidade, o belo rosto de Jacqueline lhe veio à mente.

—Como a quero.

—Está me dizendo que deseja sua esposa da maneira física como um homem deseja a uma mulher.

—É obvio.

—Descreva-me isso O que lhe atrai nessa mulher em particular mais do que de qualquer outra, para que você a escolhesse?

Em sua mente, podia ver o cabelo brilhante de sua esposa, seus encantadores e frágeis traços e, é obvio, as curvas opulentas de seu glorioso corpo.

—Há muitas coisas, seu senso de humor, seu espírito generoso, sua inegável inteligência... Mas temo que seja um homem típico e a primeira coisa que me atraiu nela foi sua beleza. No geral, prefiro as loiras, mas ela é impressionante. Quando fez seu début na sociedade, os homens tropeçavam uns nos outros para cortejá-la. No momento em que nos apresentaram, ambos percebemos que havia um verdadeiro fogo entre nós. Em um mês, estávamos comprometidos.

—Mas ainda não consumaram esse amor... Isso vai mudar logo. Imagine-a, milord. Todo mundo tem fantasias, desfrute da sua agora. Seus braços ao seu redor, seus lábios contra os seus, suas pernas abertas para convidá-lo ao prazer. Você sabe que ela vai estar quente e úmida e muito apertada... Pode imaginar como será bom penetrar nesse calor e escutar seus suspiros à medida que a possuir?

Havia algo de hipnotizante na voz suave de Olga, ou talvez fosse o estranho cristal, mas Adam quase podia sentir a fricção do ato sexual, e sentir o doce aroma do delicado perfume de Jacqueline. Sua pele, sabia, seria macia e sem imperfeições, e seria perfeita entre as pernas, seus lábios rosados e carnudos, suas coxas esbeltas e pálidas.

E seus seios... Tão duros e erguidos, firmes dentro de seus vestidos... Ele sabia como seriam em suas mãos. Quase podia saborear seus doces mamilos, senti-los em sua boca enquanto os sugava e lambia, enquanto a montava...

Ia ter uma ereção, notou vagamente, nem um pouco disposto a deixar de lado sua fantasia assombrosamente viva. Retiraria-se pouco a pouco e depois deslizaria novamente tão fundo que poderia sentir o tremor em seu ventre, estendendo-se por seu interior. Esses sensíveis e pequenos músculos internos apertando seu pau, agarrando-o e ordenhando-o, e seria tão bom, que mal poderia aguentar. Quando ela alcançasse seu clímax, seria capaz de sentir suas unhas afundarem-se em seus ombros, seus testículos apertados, preparados para derramar sua semente em seu ardente corpo quando ela alcançasse o orgasmo e se arqueasse debaixo dele, chamando por seu nome...

—Jesus —murmurou, consciente de repente da vibração em suas bolas e sua respiração irregular. Viu que não estava completamente duro, mas definitivamente havia uma melhora desde o dia anterior. O suor empapava seu cabelo nas têmporas e uma gota correu pelo pescoço.

—É suficiente, acredito, e foi bem. É doloroso?

Olga perguntou placidamente, retirando o cristal e retomando sua hábil técnica de manipulação dos músculos que se esticaram durante seu pequeno exercício de excitação.

—Não tive liberação sexual em quase dois meses —Adam disse com voz rouca, e sentindo-se fraco pela esperança e pelo que acaba de experimentar—. Para ser sincero, Madame Henning, meu corpo anseia, mesmo quando parece que não pode obtê-la.

—Mas conseguirá —sua confiança era inconfundível e reconfortante—. Se apenas pensar em sua esposa, pode provocar tal excitação e resposta sexual, imagine como será participar realmente do ato sexual. De fato, esse é meu conselho. Pratique pensando nela sempre que puder encontrar um pouco de intimidade e relax, e veja se pode chegar até o final. Uma vez que aconteça e você saiba que pode ejacular, milord, será o momento de levá-la para a cama.

—Praticar a auto-estimulação —murmurou com humor sardônico e pouco disposto—, a ironia desta situação é enorme. Tive mulheres em minha cama desde que tinha quinze anos. A masturbação não é algo que eu pensasse que ia precisar estando casado com a mulher mais bela da Inglaterra.

—Logo —prometeu Olga—, não precisará. E acredito, milord, que tem um tamanho impressionante. Ela será uma dama de muita sorte.

 

                                   Capítulo 6

A lua iluminava o quarto e as janelas francesas se abriam sobre o balcão deixando entrar o aroma da terra úmida do jardim. Uma rajada de ar frio acariciou sua pele nua enquanto Jacqueline erguia seus quadris, a deliciosa sensação diante da cálida retirada à fez gritar. Separo os joelhos quando o homem sobre ela afundou firmemente em sua boceta lhe permitindo uma maior penetração, um baixo gemido de puro gozo escapou de sua garganta, uma febril necessidade se estendeu por seu corpo, da cabeça aos pés enquanto ele cravava sua dura e insistente vara em seu faminto corpo, uma e outra vez.

—Sim —sussurrou com uma agonizante necessidade—. OH Adam… sim —suas mãos foram freneticamente até a parte baixa de suas costas, como se pudesse obrigá-lo a ir mas fundo.

Em resposta seu marido se inclinou para beijá-la, deslizando a língua na boca tão desenfreadamente como deslizava dentro de seu corpo, com seu duro peito acariciando seus seios.

—Goze para mim —disse com um malicioso e sugestivo sussurro—. Deixe-me levá-la ao paraíso, carinho.

Enquanto falava aconteceu. Jackie sentiu, sem poder evitar, sua boceta apertar-se ao redor da ereção de Adam, a liquida sensação e todos seus nervos explodiram em um profundo prazer, suas mãos de fecharam sobre a parte superior de seus musculosos braços e se agarrou fortemente, seus olhos se fecharam enquanto ela gritava com incontrolado prazer. Sua vagina se transformou no centro do universo nesse glorioso momento, Adam também ficou rígido e deixou de mover-se, seu prazer deixando-se notar pela quente inundação que ocorreu dentro dela, enchendo sua boceta, enquanto derramava seu esperma. Ficou quieto e suspenso sobre ela, e quando Jackie ergueu finalmente os olhos encontrou-se com seus olhos azuis.

—Humm —murmurou Jacqueline, deslizando os dedos pela mandíbula do marido—. Obrigado, meu senhor, pelo paraíso…

—Graças a você —respondeu ele brandamente—, por ser tão deliciosamente generosa na paixão, carinho —seu beijo foi tão terno, seus lábios tocaram gentilmente os dela, sua boca ainda guardavam um ligeiro sabor de brandy.

Jacqueline lhe devolveu o beijo deslizando os braços ao redor de seu pescoço. A maneira como ele a abraçava depois do sexo era uma das coisas que mais gostava do ato que proporcionava inúmeros prazeres. Seu abraço parecia quase reverente, como se não acreditasse que ela estava em seus braços.

Ia retirar-se quando ela o segurou e disse contra sua boca.

—Não vá, eu gosto de tê-lo dentro de mim.

—Como quiser, vivo para agradá-la, minha senhora —parecia um garoto brincalhão diante de seu pedido, incrivelmente atraente, com os cabelos loiros despenteados e seu elegante rosto iluminado com aquele sorriso encantadoramente pecaminoso que ela somente via quando estavam juntos na cama. Apoiou-se sobre os cotovelos para manter seu peso e manteve o corpo intimamente entrelaçado com o dela, enquanto se acomodava entre suas pernas abertas. Adam era normalmente tão reservado e cortes, que gostava de explorar esta parte dele que Jackie não tinha nem ideia que existia.

Saciada, mas saboreando a sensação de seu longo e magro corpo sobre o dela, Jackie esfregou sua mão sobre um de seus largos ombros e suspirou com satisfação.

—Devo admitir que ouvi várias criticas sobre este aspecto do casamento, mas eu o acho… satisfatório.

Arqueando uma sobrancelha, ele baixou a cabeça e a beijou na ponta do nariz.

— Somente satisfatório?

Ela riu.

—Muito satisfatório. Que tal assim?

A risada retumbou baixinho no peito de seu marido, que passou os dedos brandamente através de seu longo e alvoroçado cabelo, e disse.

—Esse elogio é uma lição de humildade para mim, madame, embora notasse que aprende muito rápido, justamente como prometeu.

—Acredito que tenho um professor excelente.

— Acha? A boa notícia é que nossa lição acaba de começar.

—Que ideia tão deliciosa.

Através de seus cílios ela estudou seu rosto, cada familiar traço, embora sempre parecesse um pouco diferente quando estavam juntos assim, tão tranquilos, sem a restrição que impunha a presença dos criados ao seu redor, e as inúmeras responsabilidades diárias que absorviam sua mente. Mesmo temendo arruinar sua compenetração, Jacqueline disse tremulamente.

—Gostaria que pudéssemos passar mais tempo juntos durante o dia, mas sabendo como é ocupado, estar com você aqui é muito especial para mim, Adam, não sabe o quanto.

—Eu também gosto muito, minha dama.

—Estou muito apaixonada, amo você com todo meu coração.

Essa veemente frase pareceu confrangê-lo, mas seu olhar se adoçou.

—Faz com que me sinta humilde outra vez —sussurrou com uma voz que não se parecia com sua suave maneira de falar—. Qualquer homem se sentiria abençoado pelos deuses se pudesse provar sua doce boca, tocar seu sedutor corpo e sentir isto —se moveu dentro dela, somente uma leve pressão dos quadris entre suas coxas—. É como tocar o céu. Em seus braços encontrei o verdadeiro significado de fazer amor.

Não correspondeu totalmente aos sentimentos que ela expressou em voz alta, mas uma vez mais, os homens eram diferentes das mulheres, e Adam nunca foi dado a expressar seus sentimentos por ela. Somente no dia que lhe propôs matrimônio tinha notado a profundidade de seus sentimentos, e esse momento seria uma preciosa lembrança para sempre. Nos seis meses de seu compromisso raramente disse que a amava.

—Também para mim —respondeu ela brincalhona, erguendo a cabeça para poder lamber seu lábio inferior— Quanto tempo acha que demora para?…Bom, estamos na posição correta e…

Sua risada foi quase um grunhido e o terno olhar foi instantaneamente substituído por um brilho de luxúria.

—Já estou a meio caminho… Jesus, Jackie me faz arder. Não tenho dezoito anos, mas consegue me deixar duro em um minuto.

Dizia a verdade, ela sentia a sensação de sua ereção engrossando de novo, enchendo e oprimindo sua boceta, as suaves e sensíveis paredes ainda escorregadias por sua ejaculação. Sentia-se maravilhosa e suspirou com deleite, sorrindo para seu amante.

—Poderíamos fazer isto toda a noite —sugeriu ele.

E não estava brincando. A ideia de fazer amor várias vezes lhe dava um sentimento de completa satisfação, colocando-o a prova. Balançou sua pélvis e essa ligeira fricção fez com que ela umedecesse e seu sexo pulsasse ainda mais.

—Acho que eu gostaria, E você?

—Demônios, sim.

Ele grunhiu e a beijou no pescoço, e quando começou a acariciar e tocar seus seios quase chegou ao clímax. Sua recém-descoberta sensualidade era algo novo e maravilhoso, o mais maravilhoso dos presentes.

Suas dúvidas eram tolices, disse a si mesma, afogando-se em um puro e autentico prazer sob a pressão dos dedos de seu marido. Nada estava errado, nem em seu casamento, nem com seu marido. De fato tudo era… perfeito.

 

— Que diabos, o que esteve fazendo?

Adam cuspiu sem poder evitar, estava quase amanhecendo e Deus sabia que haviam criados acordados e rondando por aí.

Alex lhe lançou a camisa. Usando somente as calças parecia lascivamente exausto, e com um pequeno e sombrio sorriso no rosto disse serenamente.

—É engraçado que me pergunte isso.

—Por Deus Alex, cale-se, não é divertido. Que aconteceu, ficou dormindo? Cristo é quase dia. O que acontecerá se alguém me ver indo para o quarto?

Seu irmão arqueou uma sobrancelha.

—Não, não fiquei dormindo. Quer mais detalhe? Se for assim o agradarei. Por outro lado, estou tremendamente cansado.

Toda a noite? Sentiu-se quase doente com a onda de ciúmes que percorreu seu corpo.

Adam fechou os punhos involuntariamente e por um momento pensou em apagar aquele olhar de satisfação do rosto de seu irmão. No entanto, o bom senso o advertiu que guardasse aquela fúria para si, uma briga a esta hora da manhã no quarto de Alex seria provavelmente o fim do plano, e também de seu casamento. Tomando um longo fôlego disse roucamente.

—Sem detalhes, obrigado. E eu, como você, estive acordado toda a noite, e penso que não pela mesma razão. Estive aqui imaginando-o com a minha esposa e depois das quatro horas, não estava certo se não tinha ficado louco, e depois das seis, estava caminhando tão rápido que é um milagre não ter reaberto meu ferimento.

—Maldição, você começou isto.

Alex pareceu esticar-se de repente, seu sorriso zombeteiro deu lugar a algo que poderia ser interpretado como... Dor.

—Ao menos ela é sua, Adam. Eu não me vou ficar com nada que não seja descontentamento e o sabor de algo que nunca foi meu. Mesmo se a deixei grávida, terei que ver este filho como seu.

Inseguro de como responder a isso, tremendamente cansado e ressentido, Adam colocou a camisa.

—Neste momento é muito difícil para mim sentir pena de você —resmungou.

—E é muito difícil para mim senti-la por você também — Alex respondeu com aspereza. Ali de pé com o peito nu e seus olhos azuis duros como diamantes—. E por falar nisso: qual é a diferença se foder com ela uma vez ou fizer a noite toda? Essa é outra maldita razão pela qual não pulo de alegria por ter concordado com esta pecaminosa farsa. Sua preciosa esposa adora o sexo, irmão. Tem um talento inato, tão quente que pode tornar qualquer homem um selvagem. Talvez tenha passado uma longa noite imaginando nós dois juntos, mas eu vou passar o resto de minha vida imaginando que você desfruta de seu delicioso e apaixonado corpo cada vez que desejar. E suspeito que será frequente, a não ser que seja um completo idiota.

Era muito fácil imaginar Jackie, considerando sua vibrante personalidade, abraçando o lado primitivo da vida. Afinal, tinha um professor experiente, guiando-a no mundo do erotismo e das experiências sexuais. Adam apertou a mandíbula, reprimiu outro violento impulso e disse cortante.

—Nenhum dos dois precisa discutir isto agora.

Cruzou o macio tapete do quarto de seu irmão até a porta. A pequena dor que sentia em seu quadril e sua coxa direita contrastava com a verdadeira dor que sentia ao alcançar a porta. Voltou-se rigidamente e vendo que Alex desabou em uma cadeira e que passava os dedos pelo cabelo com evidente frustração, Adam disse em voz baixa.

—Uns poucos dias mais, acredito, e tudo terá acabado. Estou melhorando depressa, e espero ser capaz de assumir meu legítimo papel, não só como seu marido, mas também como seu amante. Pense no que lhe disse ontem à tarde: há alguém aí fora para você, uma mulher que não somente vai esquentar sua cama, mas também seu coração. Talvez esta horrível farsa traga algo maravilhoso para a sua vida.

Erguendo a cabeça Alex sorriu cansado.

—Até certo ponto, já trouxe. Esse é o problema. Estou muito resistente a renunciar a isso.

Adam sempre foi o sério, o responsável, e seu gêmeo o encantador e despreocupado malicioso. Quando eram crianças, Alex foi o peralta, um carismático garoto que evitava os castigos com um sorriso brincalhão e uma explicação superficial. Enquanto se tornavam homens, dirigiu sua vida do mesmo modo, usando de maneira despreocupada seu olhar e sua lábia para seduzir todas as mulheres que quis, desde donzelas até as mais nobres damas.

—O problema é que embora tenha jogado Jacqueline em seu colo, e não tento fazer um trocadilho, você não a cortejou. Não ficou horas decidindo que anel escolher para seu compromisso; não suou diante do mero fato de pensar em como lhe faria a proposta. Apaixonei-me por ela na primeira vez em que a vi, um sentimento que foi uma revelação para alguém como eu, sempre muito reservado. Resolvi me casar com ela, convencê-la para que me aceitasse. Trabalhei para conquistá-la e milagrosamente aceitou tornar-se minha esposa. Entre nós há mais do que paixão, há verdadeiro respeito e consideração.

Com um olhar enigmático, Alex grunhiu.

—Não preciso de um sermão.

—Em resumo, não queira o que eu tenho. Em vez disso, busque sua própria felicidade, Alex, ninguém lhe dará isso de presente. Tem que procurá-la.

—Obrigado pelo conselho, mas para um homem que tem tudo, estou certo de que é muito fácil ser tão petulante e pretensioso.

O comentário foi cáustico e gotejava um subjacente descontente.

Adam abriu a porta e murmurou, depois de observar que o vestíbulo estava deserto.

—Não tenho nada mais a acrescentar.

 

Era um pouco vergonhoso dormir até o meio-dia. Embora Jacqueline fosse consciente de que as damas da sociedade o faziam habitualmente depois de uma longa noite de festas e bailes, deitou-se cedo e seu marido também. Não havia a mínima duvida da causa de sua fadiga…

—Parece que vai fazer uma bela tarde, Milady.

Sua donzela, Mary, uma gordinha e bondosa garota só um ano ou dois mais jovem que ela dizia alegremente, enquanto abria as grandes cortinas.

—Tanta chuva me deixa doente, por isso estou encantada de ver o sol. Ah sim, sua excelência pediu-me que a lembre de que esta noite é o baile dos Cowles e que a senhora havia aceitado o convite.

Adam lembrava-se, é obvio que sim. Era muito cuidadoso com o calendário social. Pigarreando Jacqueline murmurou:

—Obrigado, Mary. Poderia me trazer água quente e um pequeno café da manhã?

— Agora mesmo, Milady.

Ali deitada, esperando que trouxessem a água virou-se, estirando seu luxurioso corpo nu sobre os lençóis e sorriu ao lembrar-se do surpreendente vigor e a duradoura paixão de seu marido. A pegajosa umidade entre suas coxas era a evidência do que aconteceu entre eles uma vez atrás da outra, e ela se orgulhou de saber que podia lhe dar tanto prazer. Ele foi um amante ardente, lhe sussurrando malvadas e sensuais insinuações no ouvido, beijando-a profundamente e abraçando-a depois de cada glorioso orgasmo.

E quando se foi, como em todas as noites anteriores, Jacqueline percebeu sua partida, sentindo o mover do colchão enquanto ele deslizava cuidadosamente para fora da cama. Pelos olhos entreabertos, viu como Adam recolhia suas roupas e saia. Não estava certa do porque, mas lhe doía um pouco notar que na realidade não queria dormir com ela, e que ia a sua cama com um único propósito. É verdade que tinham quartos separados, como a maioria dos casais. As casas eram construídas dessa maneira, mas isso não significava que não ansiasse o simples prazer de ouvir sua respiração na escuridão ou despertar ao seu lado pela manhã.

De fato sua felicidade diminuiu notavelmente enquanto lembrava-se que não lhe perguntou por que a cada noite sentia a necessidade de fechar a porta que ligava seus quartos enquanto se despia. Eram amantes, assim dificilmente podia ser por modéstia, por outro lado Adam era um homem atraente, experiente e seguro de si mesmo e verdadeiramente não parecia se preocupar com sua própria nudez… Porque se ocultaria de sua própria esposa? Não fazia sentido.

Franzindo o cenho, olhou pela janela o brilhante céu azul.

 

Passar a manhã bebendo não era certamente a melhor opção, já que quase não havia dormido, mas nas presentes circunstâncias Alex estava certo de que podia se permitir essa pequena indulgência. Ergueu o copo de uísque vazio e alcançou a garrafa para servir-se de mais. Do camarote privado dos Hallworth podia ver os cavalos preparados para a próxima corrida, Os jóqueis pareciam diminutos sobre os enormes cavalos, suas cores, negro e prateado brilhavam a luz do sol. Rajah tinha a oportunidade de lutar para ganhar a corrida. Olhou os bruscos movimentos da cabeça do cavalo com olhos experientes, avaliando sua atitude inclusive a esta distância. O garanhão era uma beleza, um esbelto animal, mas muito temperamental e imprevisível na pista. Enquanto o selavam atacou e feriu um dos garotos que o preparavam.

Se ganhasse, decidiu Alex cinicamente enquanto se colocavam na linha de saída, o venderia. Estava farto de mimar aquele animal. Poderia pegar o dinheiro e investi-lo na nova empresa de transporte que Adam recomendou. Seu irmão era extremamente ardiloso no que se referia ao dinheiro e tinha um indubitável toque de Midas.

E no que se referia a mulheres também era inegavelmente perspicaz. Recordar a doce e feroz resposta do voluptuoso corpo de Jaqueline fez com que se amaldiçoasse interiormente. Sua penetrante lembrança era algo que o invadia como uma droga.

A deliciosa esposa de seu irmão se entregava com um delicioso e inesperado entusiasmo para alguém tão inexperiente, embora com algumas noites mais como a que passaram, não poderia ser considerada uma novata. Ela alcançou o clímax em seus braços tantas vezes que havia perdido a conta, e o surpreendeu com o grau e a duração de seus próprios excessos sexuais.

— Importa-se se me unir a você?

 

Não percebeu que alguém havia entrado no camarote. Alex ergueu o olhar, e o dirigiu à mulher que estava quieta e de pé diante da mesa. Estava certo de que não era boa companhia para ninguém, muito menos para uma mulher que sabia estar interessada nele sexualmente. Suprimiu um grunhido impróprio para um cavalheiro e tentou dar um sorriso enquanto se levantava cortesmente.

—Lady Kelton, estou encantado de vê-la. Sente-se, por favor.

—Obrigado.

Sentou-se com graça e um sorriso reservado na cadeira em frente a ele.

—Estou sendo um pouco atrevida, sei… mas vi que tinha um cavalo inscrito e imaginei que estaria aqui. Jacqueline me contou que é aficionado às corridas, assim suponho que temos algo em comum.

—Estou encantado. Gostaria de tomar uma taça, Milady?

Soou o sinal para que os cavalos se colocassem em posição enquanto ele fez um gesto para pegar a garrafa de sherry e um copo para servir a sua inesperada hóspede. Alex focou sua atenção no circuito. Abaixo deles, o local estava cheio por causa do esplêndido tempo e o murmúrio da multidão crescia enquanto Rajah resistia a colocar-se em seu lugar, seu jóquei amaldiçoando abertamente enquanto lutava para dominá-lo.

—Bastardo desobediente —disse entre dentes, esquecendo-se por um momento que havia uma dama presente. Culpa do uísque sem dúvida, e murmurou imediatamente—, Minhas desculpas, Milady.

Ouviu uma pequena e musical risada e Cara Kelton disse sorrindo.

—Não é necessário, não sou uma debutante. Este animal parece um pouco teimoso demais. Conte-me, tem outros cavalos?

—Sim. Habitualmente menos de dez, algumas vezes mais.

—Estive pensando em comprar um ou dois, por capricho. Talvez pudesse me recomendar um treinador.

—Forsythe —disse distraidamente, aliviado quando soou o disparo que iniciava a corrida e o animal saiu disparado como um demônio—. É honrado, e isso vale muito. O observei com meus cavalos, sua paixão é genuína, posso assegurar. Nunca há lugares vazios em seu estábulo, somente aceita cavalos se tiver uma recomendação.

—Muito amável de sua parte. Aceitarei sua palavra, já que parece que seu cavalo está ganhando. Poderá manter a liderança? O garanhão negro de Johnson é um pouco menor, mas tem sangue árabe. Na próxima volta vai alcançá-lo e na reta final seu cavalo pode se ver com um problema.

Pela primeira vez, com esse comentário, a amiga de Jacqueline atraiu sua atenção. A observou, distraído por um momento da corrida. Vestida de seda rosa, que realçava sua frágil e pálida beleza, ela o olhou com a inteligência brilhando claramente em seus olhos. Quase delicadamente esbelta, era muito feminina, obviamente refinada, e não se parecia com as mulheres lânguidas que sempre se moviam ao seu redor.

—Entende de corridas —disse sem rodeios, um pouco intrigado—, é interessante.

Sua boca era suave e se curvou ironicamente quando sorriu.

—Suponho que se refere a todas essas mulheres que se aproximam de você com subterfúgios e tentativas de sedução.

Bom Deus! Certamente hoje não era seu dia. Mas ela também era francamente perturbadora.

—Isso acontece —admitiu francamente, lhe lançando um olhar avaliador—, mas por favor, não quero dizer que você está nessa categoria. Mal nos conhecemos.

—Mas eu estou nessa categoria. Jaqueline não é boa guardando segredos, é muito honesta. Deve ter contado ao seu marido sobre meu interesse… e ele deve ter falado imediatamente com você —seu sorriso se tornou mas profundo e se formou uma covinha na bochecha—, E, não olhe agora, mas acho que seu cavalo vai ganhar.

Ela estava certa, descobriu quando se voltou. Rajah tinha focado sua considerável energia e deixado os competidores comendo poeira. Alex sempre gostou das corridas e ainda mais quando ganhar era parte da equação, assim abriu um grande sorriso e procurando a garrafa de uísque, ofereceu:

—Isto requer um brinde.

Assombrado por ter desaparecido seu sombrio humor de alguns minutos atrás, sentiu-se quase jovial.

—Certamente —Cara Kelton ergueu seu copo com os olhos faiscantes—, Ganhar é o prazer final.

—Não exatamente —replicou ele brandamente, a insinuação lhe escapou sem poder evitar.

—Isso —disse ela serenamente—, é o que ouvi. Meu problema é que, embora tenha estado casada, não consigo acreditar. Os rumores dizem que você pode me ajudar com isso.

Alex reagiu a suas palavras um pouco sobressaltado. Apesar de sua experiência com damas atrevidas, e apesar do que Jacqueline contou-lhe, acreditando que era Adam, era indiscutível a atração de lady Kelton por ele.

Não seria justo para com a dama em questão. Mas, apesar disso, a deliciosa Cara era mais interessante do que pensava a principio. Somente esteve perto dela quando sua cunhada estava presente, e correto ou não, a presença de Jacqueline em um aposento o distraía completamente.

—Em outra ocasião —começou diplomaticamente—, poderia ser…

— Receptivo? —seu sorriso se apagou um pouco e o copo de sherry tremeu ligeiramente em sua mão— Jackie pensou que poderia existir outra mulher, embora ninguém fale sobre isso.

Jesus, esperava que não, considerando que a outra era sua cunhada.

—Eu gostaria de pensar que sei ser discreto —disse —. Há alguém… especial. Mas está casada. Felizmente casada.

—OH —lady Kelton pareceu confusa— Mas então por que…?

Nesse momento ele notou que tinha falado demais. Esboçou um sorriso encantador e a interrompeu.

—Isso não significa que não possamos ser amigos e nos encontrar nas corridas. Sabe que lorde Halpin compete com uma jovem potranca na quinta? Ouvi dizer que é como um relâmpago e tão obediente que deixa que sua jovem filha a léguas de distância.

Aparentemente, lady Kelton era educada até a medula, capaz de reconhecer uma deliberada mudança de assunto, embora houvesse um indício de curiosidade em seu olhar quando murmurou.

— Mesmo?

 

                                       Capítulo 7

A multidão se movia como se estivesse viva, abarrotando todos os cantos do enorme salão de baile. Os casais elegantemente vestidos, giravam na pista de baile e as portas francesas se abriam sobre o terraço para aliviar o ambiente, deixando que os convidados pudessem escapar do sufocante calor, sempre falando, rindo.

Afastando-se das garras do ligeiramente lascivo e velho Lorde Bowman com um cortês sorriso de despedida quando a música terminou, Jacqueline navegou entre o mar de corpos, em busca de seu marido, que por razões compreensíveis, não podia dançar.

Com várias centenas de pessoas amontoadas, foi difícil encontrá-lo, mas finalmente o avistou junto a outro grupo de homens bem vestidos. Sua altura, e o incomum dourado de seu espesso cabelo ajudaram. Ele se voltou como se sentisse sua aproximação, e arqueou uma sobrancelha com um leve sorriso em sua bem formada boca, tomando-a pela mão quando se aproximou o suficiente.

—Olá, querida. Aviso que estamos falando de política. Cavalheiros, todos conhecem a minha encantadora esposa.

Jacqueline retribuiu a saudação com um sorriso amável para todos, e logo fez uma careta.

—Não deixem que os interrompa. Digam-me, o que acontece a nosso querido amigo Bonaparte? A última coisa que soube, foi que Lorde Wellington entrou na Espanha.

O jovem Lorde Wittcomb disse com entusiasmo.

—Depois da Talavera e sua vitória em Badajoz, Lorde Wellington demonstrou que não está para brincadeiras. Já verão como os empurra de volta a França, e logo marcharemos pelas ruas de Paris.

—Ele é um comandante muito capaz, estou certa —comentou Jackie neutra.

Wellington tinha um monte de críticas de ambos os lados, do Parlamento ao Regimento de Cavalaria. Ela aprendeu o suficiente com Adam para manter seus comentários inócuos quando estava entre eles.

—Milady, ele é brilhante —Lorde Wittcomb era obviamente um fã.

—Seu entusiasmo e confiança são enormes, Andrew, mas por que uma bela dama quer falar da guerra?

O som das frias e arrastadas palavras atrás dela fez com que Jacqueline olhasse o homem que estava justamente atrás de seu ombro esquerdo. Seu cunhado lhe ofereceu uma pequena e cortês reverencia e um preguiçoso sorriso.

—Boa noite, Jacqueline. Está deslumbrante, como sempre. Olá, Adam, ouviu sobre Rajah esta tarde?

Seu marido assentiu com a cabeça, seus olhos azuis se estreitaram ligeiramente.

—Sim. Felicitações. Ouvi dizer que foi uma corrida impressionante.

—Foi.

—Está chegando tarde, e cheiro o brandy daqui, assim presumo que esteve celebrando.

—É obvio.

O sorriso de Alex não era de arrependimento, e ficou ali com seu elegante traje de noite feito sob medida, como um reflexo do homem ao seu lado, mas imensamente diferente na expressão e no comportamento, enquanto recebia do resto do grupo saudações e apertos de mãos.

Ele se voltou para ela.

—Minha boa sorte continuaria se a nova condessa de Hallworth consentisse em dançar comigo. Importa-se?

Estava ali novamente, pensou Jackie. Ali de pé com os dedos ligeiramente apoiados no braço de seu marido, notou algo no ar, algo que não estava bem entre os dois gêmeos, que foram muito amigos ao longo de suas vidas. Adam ficou um pouco tenso, embora fosse perfeitamente aceitável que seu cunhado dançasse com ela e anteriormente o fez com frequência.

Seu marido demorou um longo momento antes de dizer,

—É obvio que não.

—Serei seu substituto enquanto estiver incapacitado. - disse Alex, tomando-a pela mão, seus olhos azuis brilhando com seu habitual e imprudente encanto.

—Que amável de sua parte —murmurou Adam, e havia um inconfundível tom em sua voz que Jacqueline esperava que não tivesse sido captado por nenhum de seus amigos tão facilmente quanto foi por ela.

Somente quando já estavam na pista de baile, girando entre os outros convidados em uma animada valsa, que Jacqueline perguntou em voz baixa.

—Adam não respondeu a esta pergunta, mas talvez você o faça, Alex. Vocês dois tem discutido?

Se seu cunhado estava bêbado, não dava nenhum sinal disso, movendo-se com uma magnífica e ágil graça, guiando-a com facilidade e sem esforço pelos casais.

— O que a faz pensar isso?

A evasiva resposta à fez suspirar, olhando-o no rosto.

—Sinto apenas —explicou—. Os dois sempre concordavam. Davam-se tão bem, mesmo sendo tão diferentes. Eu não gostaria de pensar que nosso casamento está afetando esse vínculo, mas me parece que foi quando começou esta tensão.

Olhando-a, com os olhos entreabertos, Alex não respondeu em seguida, e Jacqueline sentiu um ridículo rubor em sua face. Era incrível como era parecido com Adam, pensou enquanto se moviam com a etérea música, sobretudo com esse cintilante e quase lascivo sorriso em seus lábios. Seu cunhado era célebre por seu encanto, mas ao que parecia os dois irmãos poderiam ostentar essa expressão que fazia com que o coração de uma mulher pulsasse mais rápido quando estava em seus braços. Só que Adam, até onde ela sabia, reservava-a somente ao quarto.

Alex finalmente murmurou.

—O casamento de meu afortunado irmão, me fez reconsiderar alguns pontos de minha vida. Além disso, milady, não posso dizer nada. Se ele não quer falar disso com você, certo como o inferno que não me agradecerá que o faça.

Jackie ficou ligeiramente sem respiração diante de sua linguagem, porque Alex poderia ser um conquistador, mas sempre se comportou como um cavalheiro com ela, e os cavalheiros não amaldiçoavam diante das damas.

Por outro lado, percebeu desconcertada, Adam o fazia de vez em quando... Mas também reservava isso para o quarto. Sem alterar sua voz ela disse.

—Muito bem, compreendo que é algo entre os dois, embora seja o que for, deve ser esclarecido. Pelo que percebo, Adam não está contente com isso e tudo o que desejo neste mundo é que seja feliz. Fale com ele, Alex, e estou certa de que poderá arrumar as coisas com seu irmão. Ele é um homem razoável e inteligente, e vocês dois compartilham muitas coisas.

—OH, carinho, não tem nem ideia —disse cinicamente, enquanto sua mão apertava sua cintura, com uma breve risada.

Estavam dançando muito perto, Jacqueline pensou incômoda por um momento. Quando seus seios roçaram sua jaqueta, pôde sentir também o brandi misturado com o aroma do linho limpo e a masculina colônia. Pior ainda, notou em seguida a quase escandalosa pressão de seu abraço, dançando com uma cômoda intimidade, como se ele, e não Adam fosse seu amante...

OH, carinho, não tem nem ideia…

Meu Deus! Pensou com um súbito e horrorizado estremecimento, uma insidiosa ideia lançando-se em sua mente. Tropeçou ao errar um passo, e se manteve de pé sustentada por seu hábil cunhado, em um firme aperto.

Não podia ser possível...

Podia?

 

Quando tivesse a oportunidade de colocar as mãos no pescoço de seu irmão, adoraria estrangulá-lo. Adam estava se remexendo no assento da carruagem, com suas longas pernas estendidas, e uma forte e aguda dor no quadril lhe indicava que ainda não estava preparado para valsas românticas, outra das coisas que seu irmão tinha desfrutado com sua bela e jovem esposa antes dele.

Maldito Alex do inferno.

—É uma noite quente —murmurou Jacqueline, sentada em frente a ele, com seu rosto ainda um pouco pálido—, talvez por isso me senti mal tão de repente. Obrigado por abandonar a festa cedo.

—Querida, não seja ridícula. Não há necessidade de me agradecer. Seu bem-estar é o mais importante.

Seus olhos, tão intensamente encantadores e prateados, estavam enormes, emoldurados por longos e espessos cílios. Com um vestido azul escuro que contrastava com sua pele de marfim e ressaltava os reflexos avermelhados de seu brilhante cabelo, parecia um sonho transformado em realidade. Tão impressionante que teve que conter-se para não atravessar o espaço da carruagem e tomá-la em seus braços. O decote não era provocante, mas suficientemente sugestivo para que as deliciosas curvas de seus seios chamassem a atenção de mais de um homem no baile. O que não importou até que Alex chegou. Geralmente, seu irmão podia aguentar o álcool com uma resistência assombrosa, e Adam só o viu verdadeiramente bêbado uma ou duas vezes, mas esta noite estava no limite. Não pôde evitar que sua esposa e seu irmão dançassem, mas soube que não era uma boa ideia no mesmo momento em que viu aquele olhar desafiante e despreocupadamente insolente no rosto de seu gêmeo. Era uma expressão que reconhecia, e que normalmente prenunciava algum tipo de problema.

Olhá-los dançar a valsa foi uma lição de autocontrole, sobretudo quando Alex segurou descaradamente próximo a Jacqueline, enquanto se moviam. Ambos atraentes, o espetacular colorido e a sedutora beleza dela como complemento da beleza de seu libertino irmão. Adam captou vários olhares especulativos e sobrancelhas arqueadas enquanto o baile continuava, e foi providencial o fato de Jackie se sentir mal e pedir para ir para casa. Por sorte, parecia que estava um pouco melhor agora, apesar de que estava indubitavelmente tremendo quando a ajudou a subir na carruagem.

—Acredito que seria melhor que fosse para a cama —sugeriu brandamente—, e que tenha um sonho reparador. Esteve acordada até muito tarde na noite passada —tentou não engasgar enquanto dizia as palavras e mantinha sua expressão neutra—, e isso juntamente com a temperatura opressiva do salão são, sem dúvida, os culpados de sua indisposição.

—Talvez —ela o olhou, seus olhos meio ocultos pelos longos cílios— E você? ...Levantou-se antes de mim. Está cansado, milord?

Satisfeito ao sentir que estavam diminuindo a velocidade à medida que se aproximavam da mansão, Adam disse brandamente.

—Estou acostumado a dormir tarde e me levantar cedo. Confie em mim, meu amor, se sentirá melhor com um pouco de descanso.

—Alex talvez tenha uma dor de cabeça pela manhã —falou, alisando suas saias—. Não parecia bem.

Incerto se referia-se ao comportamento escandaloso de seu irmão, disse com cautela.

—Rajah é imprevisível, e suas corridas são sempre uma questão de sorte. Com duas vitórias como a de hoje, Alex, provavelmente possa vendê-lo. Perdoe sua embriaguez.

— Você perdoou?

Essa pergunta o pegou de surpresa, justamente no momento em que a porta da carruagem se abria e se preparava para sair.

—Peço que o perdoe.

— Perdão? Acredito que estava te provocando ao me abraçar deliberadamente de maneira tão escandalosa.

Tinha razão, é obvio, mas era mais que isso, e a situação real fazia com que a pergunta fosse muito difícil de responder. Havia momentos em que a considerável inteligência de sua esposa era um inconveniente. Saindo da carruagem e ignorando a dor no quadril e na coxa, Adam tomou sua mulher pela cintura e a desceu com educada cortesia.

—Pode ser.

Olhando-o com seu belo rosto iluminado pela luz da lua, Jacqueline perguntou em voz baixa.

— Pode ser que o perdoe, ou pode ser que estava deliberadamente provocando-o?

Sucintamente, Adam admitiu:

—Ambos.

Para seu alívio, ela não disse nada mais enquanto subia os degraus e entrava na enorme e bem iluminada casa. Escoltando-a até o andar de cima, advertiu sua criada.

—Sua senhoria não se sente bem. Por favor, assegure-se de que se deite imediatamente.

A garota se aproximou imediatamente abrindo completamente seus olhos castanhos, com preocupação.

—Sim, milord, é obvio. Aqui estou, Milady, deixe que a ajude a despir-se.

Deixando sua esposa com um sorriso e um ligeiro roçar de sua boca contra o dorso de sua fria mão, Adam voltou a descer, sentindo que sua necessidade de um brandy era intensa. Seu escritório estava mal ventilado e abriu as janelas, deixando entrar uma brisa leve e abafada. Tirou a jaqueta, jogou o líquido em um copo e tomou um longo e revigorante gole.

Com Jacqueline indisposta, ao menos não existiria o problema de pensar em um bêbado Alex fazendo amor com ela.

—Jesus —murmurou Adam em voz alta, lembrando-se do olhar intenso e direto nos olhos de seu irmão enquanto dançava com ela no baile.

A situação era insustentável e tinha que mudar. Tudo o que precisava era um pouco mais de tempo...

 

Apesar de o sol estar brilhando, Jacqueline sentiu que lhe tremiam as mãos ao levantar o pequeno copo de Xerez.

—Olhe para mim, estou tremendo.

—Estou vendo —Cara olhou profundamente preocupada— Meu Deus, por favor, me diga o que é! Estou a ponto de morrer de curiosidade.

—Isto deve ficar só entre nós.

—É obvio. Você me conhece bem.

—Não vai acreditar —disse Jackie, e bebeu um gole numa quantidade imprópria para uma dama—, Eu mesma não acredito, embora no fundo, saiba que é verdade.

— Saber que é verdade o que?... Jackie, não seja tão misteriosa. Diga-me por que está aqui e tão desesperadamente preocupada. Chega aqui nervosa e me diz que precisa falar comigo, e agora não quer falar!

Poderia dizer em voz alta? Olhou ao redor da refinada sala de estar de sua amiga, o relógio marcando cada segundo, a nogueira brilhante da mesa frente a ela, sobre a qual havia uma bandeja, o intrincado desenho das suaves cores dos tapetes orientais que cobriam o chão...

Jacqueline se perguntou uma vez mais se simplesmente estava perdendo a cabeça.

Engolindo em seco, fechou os olhos brevemente e relembrou aquele sombrio, sensual e encantador sorriso, tão diferente do de Adam...

—Acredito que jamais dormi com meu marido —disse cruamente.

O rosto de Cara ficou pálido por um momento, e a confusão tomou seus olhos azuis.

— O que?

Ela esclareceu sem rodeios:

—Estou convencida de que nunca, nenhuma só vez nas quase duas semanas que estive casada, tive relações sexuais com... Adam.

A garganta lhe fechou enquanto falava, e tomou um trêmulo gole de xerez.

—Mas... Minha querida Jackie, o que está dizendo? Admito, não estou entendendo. Você me contou que foi maravilhoso e o quanto teve prazer.

Com um triste e pequeno sorriso, Jackie interrompeu.

—Disse. Digo. Francamente, a parte sexual de meu casamento é maravilhosa.

—Dizer que está me confundindo é pouco. Como pode chegar aqui e dizer que nunca fez algo, e a seguir, dizer que o fez e que foi maravilhoso?

—Disse que nunca fiz com meu marido. Ele e Alex são tão parecidos que é difícil distingui-los.

Aquela frase fez Cara congelar, sua expressão confusa e atônita.

— O que?

Incapaz de continuar sentada, Jacqueline ficou de pé, caminhando pela sala com inquieto desassossego.

—Não tenho a menor ideia do por que qualquer um dos dois faria isso, mas acredito que trocaram de lugar. Há tantas provas de que tenho razão que nem sequer posso enumerá-las para você. Mas a mais convincente aconteceu à noite passada, quando dancei com Alex no baile dos Cowes. Sem saber por que, senti-me muito a vontade em seus braços, até perceber que me segurava escandalosamente perto. Estou certa de que ao nos ver dançar, qualquer pensaria que eu estava com meu marido—- Acrescentou com um suspiro— E os que sabiam que não estava, pensaram o mesmo que estou pensando agora: que meu cunhado e eu somos amantes.

—Você... você não pode estar falando sério-exclamou Cara.

— Não posso? —Jacqueline voltou-se, agarrando-se a parte superior do sofá— Vamos ver. Na noite passada, Alex me chamou casualmente de carinho. Adam nunca me chama assim, exceto, é obvio, na cama. Ele me chama "querida" quando usa expressões carinhosas. Quando estamos intimamente juntos, na cama, de vez em quando meu marido deixa escapar uma maldição... Que Alex, também disse na minha frente na noite passada. E mais, o homem que vem para mim a cada noite, tem um determinado sorriso, não posso descrevê-lo, mas é claramente reconhecível, e posso dizer que embora Adam nunca me sorriu dessa maneira, Alex o fez ontem à noite com certeza.

Ainda havia mais, coisas muito difíceis de colocar em palavras, como o fato de que Adam agora nunca a tocava durante o dia. A tensão entre os dois irmãos, até mesmo o aroma do forte e masculino corpo de Alex junto a ela enquanto dançavam, evocando uma sutil excitação física. Sua boceta umedeceu-se um pouco enquanto a abraçava, seus seios endurecendo diante do reconhecimento de seu toque.

—Fecha a porta entre nossos quartos quando se retira —acrescentou em voz baixa—. Suponho que para que não descubra um deles, indo ou vindo. Pareceu inexplicável quando descobri, mas agora faz muito sentido.

Com um vestido verde, e com seu esbelto corpo mostrando sua incredulidade através da tensa postura, Cara sacudiu a cabeça com força.

—Sorrisos, uma porta fechada, uma maldição... Essas não são provas suficientes. Certamente não pode acreditar que seu marido pudesse permitir que seu próprio irmão se deitasse com você... OH, Meu Deus.

Levou a mão à garganta, com seu rosto de repente paralisado.

Qualquer que fosse a lembrança que teve sua amiga, Jacqueline não estava certa de querer saber. Esperou, observando, sua mente dando voltas diante da ideia que não podia assimilar.

—Alex me disse ontem que estava envolvido em segredo com alguém casado —disse Cara muito lentamente—. De fato, disse-me que a mulher estava felizmente casada, o que me fez perguntar logicamente, por que iria ter uma aventura se fosse o caso. Não acredito que fosse sua intenção contar, mas estava um pouco bêbado.

Sentindo-se de repente, como se suas pernas não a sustentassem, Jacqueline se apoiou no respaldo do sofá e sussurrou.

—Se estiver enganada, me vou sentir como a maior idiota da terra. E se não, sentirei-me ainda mais cega e estúpida. Minha única defesa é que eu estava tão nervosa e insegura naquela primeira noite... E, é obvio, lembro que pensei como Adam ficava diferente quando deixava para trás sua habitual reserva, como foi ardente e experiente enquanto fazíamos amor.

—Seu marido, caso suas suspeitas não sejam corretas, é provavelmente muito experiente, Jackie. Tem quase trinta anos e sem dúvida é um dos homens mais bonitos da Inglaterra. O fato de que seja um pouco mais discreto que seu insensato e atraente irmão não quer dizer que não seja um bom amante. Não pode se guiar pelo que experimentou em seus braços, ou por que foi diferente do que você esperava na cama. Não, deve ter provas que respaldem esta acusação.

Rodeando com pernas trêmulas o sofá para afundar-se de novo nele e alcançar seu abandonado Xerez, Jacqueline disse com voz fraca.

—Não há nenhuma acusação. Como poderia acusar o homem que amo desta terrível farsa? Sinto-me como se tivesse caído pelas escadas e não conseguisse respirar, por isso precisava falar com alguém. Contar a Adam minhas suspeitas, está fora de questão.

—Não posso imaginar o que ele faria se estivesse enganada —concordou Cara, brincando com seu copo, seu olhar profundo e grave—. E, querida Jackie, deve estar enganada.

—Qualquer mulher esperaria isso, mas não acredito que seja o caso... Há tantas pequenas coisas... É humilhante como fui facilmente enganada. Será que ele pensava que nunca perceberia esta macabra farsa?

— Ele, qual deles? Qual dos dois? —Cara recolheu a garrafa de xerez e voltou para encher seus dois copos— Se você for à mulher que está deixando Alex Trevor fora de circulação, ele está contente com a farsa. Ao menos essa é a impressão que tive de nossa conversa ontem.

Provavelmente estava muito cansado para ir para a cama com outra mulher, Jacqueline pensou com uma martirizante vergonha, lembrando-se de suas febris e prolongadas relações sexuais. O jogo do amor foi ao mesmo tempo terno e ardentemente apaixonado, e ao recordar algumas das posições que tinham usado... Suas faces arderam e agarrou sua taça de vinho com os dedos apertados.

—Estou falando de meu marido, é obvio —fazendo uma breve pausa para reunir coragem, perguntou com voz entrecortada— Acha que Adam tem uma amante que o mantém tão satisfeito que simplesmente não está interessado em mim?

Sentada no sofá em frente, Cara sacudiu imediatamente a cabeça.

—Não... Que ridículo. Olhe para você, que homem não estaria interessado? E, além disso, por que se casaria?

— Ora —seus piores temores ao longo de uma segunda noite sem dormir, saíram atropeladamente com incoerente pressa—, simplesmente sou perfeita para ser sua condessa, e ela não é?Afinal, meu pai é um conde, minha árvore genealógica remonta aos Plantagenet, e tinha um considerável dote. Não que Adam precisasse do meu dinheiro, mas talvez somente quisesse fazer um bom casamento e ter um herdeiro... E decidiu deixar que seu irmão gêmeo fizesse isso por ele. E se amar essa outra mulher?

—Que nem sequer existe —interrompeu Cara incondicionalmente—. Sua imaginação está transbordando, Jack. Vi como a olha. Acha que não saberia se ele a ama ou não?

—Penso que sim — lembrar-se do brilho nos olhos de seu marido quando recitou seus votos há quatorze dias à fez sentir-se um pouco melhor. Ou foi completamente sincero ou deveria ter se dedicado ao mundo do teatro.

—Acredito que sim —Cara ordenou secamente—. Agora, beba seu xerez e vamos pensar em algum tipo de plano para comprovar esta absurda hipótese... OH, querida! O que vai fazer na próxima vez que anoitecer e ele…er...seja quem for, venha até você?

—Já pensei nesse problema —admitiu Jacqueline—. Ontem à noite fingi estar doente, embora a verdade seja que estava doente mesmo. Assim não menti. Não sei o que fazer esta noite... Mas não posso lhe negar seus direitos de marido. O fato de que suspeito de algo seria evidente, já que até agora fui... Muito entusiasmada com esse aspecto da vida matrimonial.

Sua amiga se deteve, e perguntou com um tom afetado.

— É tão bom, Jack?

Escorregadio e ardente, o glorioso sentimento de posse e a penetração, a força e o vigor de seu corpo sobre ela enquanto empurrava entre suas pernas abertas... E a maravilha ao chegar juntos ao orgasmo, os corpos fundidos em um, o compartilhar supremo do elementar prazer físico.

—Sim —admitiu em voz baixa, ruborizando.

 

                                   Capítulo 8

A cabeça lhe doía como o próprio inferno e tinha a boca seca. Apoiando-se em um cotovelo. Alex gemeu em voz alta e tentou focar o que o rodeava. O quarto era familiar, mas certamente que não era o seu. De bom gosto, mas com as cortinas da cama de seda em cor rosa e uma enorme penteadeira com um espelho dourado. Os lençóis cheiravam vagamente a essência de rosas

—Bem… olhe quem ressuscitou. Como está, carinho?

Vivian, pensou Alex relaxando ligeiramente e deixando-se cair no colchão diante do som divertido de sua voz. Começou a lembrar-se pouco a pouco da noite anterior.

A celebração no hipódromo, o glorioso tempo, o jantar no clube para celebrar a vitória de Rajah. Enrugou a fronte, certamente fez algo mais.

—Sinto-me como se tivessem golpeado minha cabeça com uma garrafa de brandy —admitiu. Voltou-se para olhar o outro lado da enorme cama. Sua antiga amante se apoiava ao seu lado sobre uma pilha de travesseiros de seda, sua boca cor de cereja se curvava em um sorriso brincalhão. Vestida com um negligé transparente e o cabelo solto sobre seus ombros, parecia uma pequena pecadora, uma sedutora feiticeira, com todas as curvas em sua rosada pele.

—Foi golpeado por um garrafa de brandy —disse com um malicioso e zombeteiro tom de simpatia—, e não esqueçamos o clarete e a champanha, querido Alex. Deveria saber, nunca bebe muito.

Deveria saber, mas isso não aliviava seu atual mal-estar.

—Devo ter esquecido como se sente um dia depois —murmurou tapando os olhos— Jesus! Pode fechar as cortinas? Há muita luz.

—As cortinas estão fechadas e minha cozinheira está preparando seu remédio especial, já o provou antes…não é muito agradável, mas faz milagres.

—Não há duvida de que preciso —abrindo um olho perguntou— Como demônios acabei aqui? Não lembro de nenhuma maldita coisa.

—Tropeçamos um com o outro no baile —Vivian Maxwell pigarreou ligeiramente—, e pensei que precisava de uma amiga que se assegurasse de que não fizesse algo imprudente. Então, o trouxe para cá. Não podia levá-lo a sua casa de maneira nenhuma, já que seu irmão não sentiria nenhuma compaixão por sua condição.

Considerando que estava nu Alex perguntou.

— Nós…isto…?

— Fodemos? —continuou Vivian arqueando sua bem desenhada sobrancelha. A vulgar expressão não surpreendia em uma mulher que adorava desafiar as convençoes. Levar para casa um antigo amante bêbado encaixava-se perfeitamente em seu caráter— Não, sinto dizê-lo, mas começou a roncar pesadamente no momento em que tirei sua roupa.

E era tremendamente irônico, Alex soube, pois se sentiu aliviado, como se tivesse que ser fiel a Jaqueline.

Jacqueline, maldição. Lembrou-se de ter dançado com ela no baile…uma visão de sua perfeita e branca pele e um vestido azul escuro veio a sua mente. Estava uma beleza, com aqueles exuberantes seios, que conhecia tão intimamente aparecendo pelo decote de seu vestido, seus prateados olhos abertos e cheios de inquietação enquanto lhe perguntava porque ele e Adam pareciam querer estrangular um a outro…E ainda pior, lembrou-se de como a tinha abraçado, como um amante, tão perto que podia sentir seu elegante corpo enquanto se movia e cheirar o delicado aroma floral que emanava de seu brilhante cabelo.

— Merda! —murmurou.

Adam pediria, sem sombra de dúvidas, sua cabeça em uma bandeja, e neste momento não estava certo de não merecer esse destino. Deixando seus incontroláveis desejos de lado, não queria arruinar a relação com seu irmão gêmeo. Era uma das coisas que mais valorizava neste mundo.

Vivian esticou o corpo sinuosamente e o movimento fez com que seus abundantes seios se erguessem provocantes.

—E agora, me diga, carinho.Ficará somente entre nós dois, é obvio. Há algo entre você e a preciosa e jovem esposa de seu irmão?Admito que é atraente, se você gostar das mulheres esbeltas e com cabelos de um tom tão incomum, nem completamente vermelho nem castanho…não estou certa de como o descreveria.

—Mogno —disse sem pensar, recordando o sedoso peso em suas mãos,e o batimento do coração em suas têmporas tornou-se doloroso—, E não, é obvio que não, Jacqueline está muito apaixonada por meu irmão.

—Não vi o fatídico baile, mas as pessoas murmuravam que não a segurava exatamente de um modo fraternal e a olhava como se estivesse um pouco…

—Olhe, Vivian —A interrompeu, a profunda culpa não ajudava absolutamente sua dor de cabeça—, estava bêbado, nem sequer me lembro de ter dançado com minha cunhada — mentiu—, E se a segurei muito estreitamente, foi provavelmente para manter o equilíbrio. Sinta-se a vontade para desestimular qualquer um que mencione que há algo mais que afeto entre a condessa de Hallworth e eu.

—Quanta veemência, é obvio que acredito, mas sua reputação fará as pessoas especularem… Já conhece a aborrecida alta sociedade, querido.

Seu sorriso era angelical, embora Vivian não tivesse nada de inocente. Mas era verdade, a sociedade tendia a farejar qualquer rastro de escândalo como um cão atrás de um osso, e embora por um tempo tentasse ignorar, Alex suspeitava que nem Adam nem Jacqueline gostariam de serem alvos de conjecturas deste tipo.

—Não pretendia assistir ao baile, e agora desejaria ter escutado essa vozinha em minha cabeça e ter ido dormir depois dos meus entretenimentos da tarde.

Sua risada soou, leve e musical.

—Nunca notei que tivesse uma "vozinha" Alex. Minhas lembranças incluem licenciosos excessos sexuais, e uma infinidade de lascivos prazeres. De fato tem muito talento, querido, conhecido por várias mulheres em Londres, e suspeito que também em outros lugares. Certamente nunca foi prudente, um homem não obtém sua reputação de sedutor escutando a voz interior que pede precaução —Vivian suspirou teatralmente—. Senti falta de você, sabia? Não percebi até que aterrissou nu em minha cama. Ninguém tem sua resistência, nem um pau tão glorioso.

—Terá que me perdoar, minha querida Vivian —disse Alex—, o sexo seria um milagre em meu atual estado.

Inclinando-se para ele e esfregando com a mão seu peito nu enquanto o olhava nos olhos lhe disse ronronando.

— Mas pensará nisso?

***

—Sua Senhoria ainda não chegou, Milady, e lorde Alex ainda não retornou para casa.

Assentiu com a cabeça. Jacqueline sabia que era uma covarde ao sentir-se aliviada por não ter que enfrentar nenhum dos dois, já que suas emoções ainda eram uma mistura de incredulidade e suspeita. Se Cara estivesse certa e Adam a amava, por que demônios teria deixado Alex ir para sua cama em seu lugar? E se estava enganada e realmente Adam não a quisesse e estivesse vendo outra mulher, morreria com o coração partido, estava certa disso.

—OH madame, quase esqueço. Esta carta chegou enquanto estava fora.

Tomando a carta, agradeceu.

—Obrigado, Maxim.

Subiu com certo mal-estar as escadas para ir para seu quarto. Esperou até estar dentro dele para abri-la, com um pouco de curiosidade, já que não tinha selo e o papel era grosseiro. A carta estava escrita com uma letra estranha e a leu com o coração apertado, e um nó na garganta.

Sentada na cama e lutando contra as lagrimas se perguntou quem poderia ser Olga Henning e por que queria encontrar-se com ela. Por que não queria que mencionasse a carta ou o encontro ao seu marido?

Lançando um olhar ao dourado relógio do suporte da lareira, viu que eram quase quatro horas, embora as instruções pedissem especificamente que não fosse antes. Erguendo os ombros disse a si mesma que se essa mulher tinha algo a ver com a farsa perpetrada por Alex e Adam, precisava ir. Dirigiu-se ao espelho e prendeu os cabelos em um coque. Pensou em trocar o vestido de seda azul claro que usava, mas decidiu que era suficientemente apropriado.

Não havia mulher na face da terra, reconheceu ironicamente, que quisesse encontrar-se com a amante de seu marido e não estar vestida da melhor maneira que pudesse. Descendo as escadas esperou que trouxessem a carruagem outra vez, deu o endereço ao condutor e sentou-se, pensando que estava em um sonho.

Sua vida foi um conto de fadas até pouco tempo. Casou-se com o homem de seus sonhos, um cavalheiro com títulos de dia, e um atraente e viril amante à noite. Livre e apaixonadamente, ela se entregou por inteiro, de corpo e alma e pensava que seu marido fazia o mesmo. Uma ilusão. Tudo.

Eram exatamente cinco em ponto quando desceu da carruagem. Seu condutor observou com receio a fileira de lúgubres casas e a rua cheia de barro.

—Este é o endereço, Milady, mas está certa de que deve entrar sem acompanhante?

—Estarei bem —respondeu Jacqueline, esperando soar mais serena do que realmente se sentia. Era estranho ver que a casa para a qual se dirigia era tão pequena e comum, com a pintura descascada e as janelas brancas e quadradas. Subindo os degraus, hesitou um momento antes de dar um golpe seco na porta.

Sua confusão cresceu quando a mulher que a abriu não se parecia em nada com a sereia que imaginou. Em seu lugar havia uma mulher de meia idade e muito comum, sua roupa fora de moda e muito gasta. Não havia nada interessante nela, exceto seus claros e inteligentes olhos azuis.

— Olga Henning?—perguntou, sem poder esconder por completo o tremor de sua voz.

—Sou eu. Lady Hallworth, por favor, entre.

Aceitou desconcertada, seguindo à estranha mulher ao triste interior da casa, notando distraída que embora estivesse escassamente mobiliada, era escrupulosamente limpa e que a cozinha para onde a conduziu sua misteriosa anfitriã cheirava a pão recém-feito.

—Como pode ver, Milady, não tenho um grande salão para receber damas aristocráticas, não preciso em minha profissão, e penso que estaremos mais confortáveis aqui. Por favor, sente-se.

O espaço era pequeno e não tinha nada além de uma mesa, duas cadeiras e um pequeno fogão.

— E qual é exatamente sua profissão? —Jacqueline perguntou vacilante, sentando-se em uma das duas cadeiras— Deve me perdoar, mas estou curiosa para saber por que me enviou uma carta solicitando este encontro.

Olga Henning arqueou as sobrancelhas, sentando-se na cadeira em frente à Jackie.

—E para saber porque lhe pedi que guardasse o segredo. Estou certa?

—Sim.

Inclinando a cabeça e sem responder, a mulher a estudou abertamente, e um pequeno sorriso curvou-se em se boca,

—Seu marido me contou que era a mulher mais bela da Inglaterra. Devo dizer que pensei que seu profundo afeto por você influía em sua opinião, mas agora que a vejo, sou obrigada a concordar. É muito bela, Lady Hallworth.

Não era como os elogios que costumava receber, mas nunca os sentiu tão sinceros e disse com gravidade.

—Obrigado… Adam falou de mim com você?

—Você é a razão por ele e eu termos nos conhecido, Milady, e certamente se não estivesse tão desesperadamente apaixonado por você, não teria solicitado meus serviços.

Dizer que estava transbordando de alegria por ouvir isso, dito com tanto pragmatismo era pouco. Seus olhos se encheram de lágrimas, com a mente ainda confusa com a suspeita da farsa, o alívio deu lugar à aterradora angústia que lhe produzia a possível infidelidade de Adam. A mulher não parecia uma candidata a amante. Piscando para afastar as lágrimas, perguntou:

— Que serviços?

—Posso sentir como está angustiada, e me perguntei muitas vezes como aguentava a situação. Diga-me, sabia que seu marido procurou ajuda pouco convencional para sua situação?

Olga Hennins se inclinou para frente, concentrada e com evidente simpatia em seus olhos, parecendo uma bruxa benigna com o vestido cinzento e seu enrugado rosto.

—Sou uma curandeira, e embora meus métodos não sejam sempre respaldados pela comunidade médica, o médico de seu marido o enviou para mim.

Em vez de a explicação esclarecer as coisas, Jaqueline se sentiu cada vez mais perplexa.

— Que situação?

—A impotência resultante de seu recente acidente, é obvio.

— Impotência?—arqueando a sobrancelha Jacqueline repetiu a palavra, não muito certa de tudo o que queria dizer a mulher.

Olga Henning entrecerrou os olhos.

—Agora estou confusa. De acordo com seu marido, está casada há quase duas semanas. Não se perguntou por que ele não vai a sua cama?

Uma espécie de revelação atravessou a mente de Jackie então, como um raio de luz em um túnel negro.

—OH, Deus do céu! Está me dizendo que por causa de seus ferimentos ele não pode… isto… não…

As mãos de Jacqueline voaram a sua face e tudo pareceu se encaixar. O porquê de seu marido ter permitido que Alex o substituísse em sua cama.

—Impotente, sim. Ou ao menos estava —um assentimento confirmou suas conclusões,e olhando-a com curiosidade, madame Henning disse— Não sabia?

— Como poderia saber? Especialmente quando ele… OH, Deus —sentiu sua garganta fechar, sua primeira reação foi um profundo aborrecimento.

— Quando ele… o que, Milady?

—Que tremendo idiota —a admissão foi um furioso murmúrio—, os homens são tão difíceis de entender…suponho que não queria que eu descobrisse, pensando que poderia achá-lo menos homem.

Então, erguendo os olhos e percebendo que a mulher já sabia quase tudo de seu extraordinário problema, Jacqueline explicou trêmula.

—Ele tem um irmão, um gêmeo idêntico. Nunca suspeitei de nada até a noite passada. Senti-me morrer após descobrir, me perguntando por que diabos Alex e ele trocaram de lugar, imaginando que estava ficando louca ao pensar em semelhante coisa.

— Substituir a seu irmão na cama? Isso é uma solução um tanto excepcional.

A mulher disse, e acrescentou brandamente.

—Deve amá-la muito para sacrificar esse tempo com você e dá-lo a outro.

— O que?

Jacqueline virtualmente gritou, sabendo que se agora mesmo enfrentasse qualquer um dos dois estaria encantada de trespassá-los com uma estaca.

— Mentiu e me enganou!

—Sim.

— E você aprova isso?

—Não, mas entendo… muito bem, sim.

Algo a respeito dessa calma e prática observação fez com que seu aborrecimento se aplacasse levemente. Olga tinha razão, Adam não faria algo assim sem uma boa razão. Controlando-se se acalmou para dizer razoavelmente.

—Não posso entender porque simplesmente não me disse isso.

—Orgulho. Seu marido, Milady, é um homem capaz e inteligente, e não está acostumado a não ser capaz de fazer algo ao qual se propõe. Não concorda?

Isso certamente descrevia Adam e Jacqueline assentiu com rigidez.

— Pode imaginar que humilhante ter que dizer à mulher que ama que não pode realizar o ato sexual? Para qualquer homem seria devastador, para um homem que cortejou e conseguiu a mulher que amava, seria terrível. Como esperava recuperar-se logo, suponho que pensou que a farsa valeria a pena se fosse capaz de conservá-la.

—Amo Adam —declarou Jacqueline com ferocidade, a ira ainda lutando com sua perplexidade agora que entendia o porquê de tudo aquilo —, É um idiota se pensa que meu amor por ele está baseado somente na atração física.Esperaria até que se recuperasse.

—É um idiota doente de amor, certamente, porque somente um homem desesperado permitiria que outro homem tocasse sua esposa —Olga sorriu, com um brilho de compreensão—. E você deve entender o problema real, que é seu profundo medo de não recuperar-se jamais. Seu corpo está recuperado e acredito que pode desenvolver sem problemas um nível normal de excitação sexual e completar o ato. Mas é o medo em sua mente que o faz fracassar. Esse medo é mais debilitante que seus ferimentos. Por isso mandei chamá-la.

—Madame Henning, acredito que não desejo contar a Adam que estou à par de tudo, isso. Certamente não ajudaria, embora admita que não me ocorra outra maneira, é tudo tão…

—A solução é simples, lady Hallworth. Fiz tudo o que pude para curar seu corpo, o resto é com você. Deve seduzir seu marido.

Desabando na desmantelada cadeira da cozinha, enrugou a fronte com um ar de frustração.

—Se não vai a minha cama, não vejo como isso pode ser possível.

Olga riu brandamente.

—Percebo que é recém-casada, e muito jovem, mas as pessoas fazem amor em outros lugares além do quarto. Você é uma bela mulher, Milady, e não há dúvidas de que Sua Senhoria sente uma intensa paixão pela esposa. Tente-o, não lhe dê a oportunidade de escapar. Faça com que a toque, a beije. Acredito que pode conseguir excitá-lo para que esqueça todas as suas dúvidas em sua ardente necessidade de possuí-la. E uma vez que o faça com êxito uma vez, estou certa de que todos os problemas ficaram para trás.

Nem todos, pensou Jacqueline com inquietação, lembrando-se do possessivo abraço de Alex enquanto dançavam na noite anterior, mas certamente valia a pena tentar.

 

                                      Capítulo 9

—O jantar não foi precisamente confortável —disse Alex em voz baixa, ainda um pouco pálido e com expressão cansada, enquanto caminhava pela saleta, obviamente, inquieto e infeliz—, Se quer ouvir, lamento terrivelmente.

O problema era que, apesar de que na noite anterior estivesse tão zangado, Adam acreditava que seu irmão gêmeo não teve a intenção de ser tão imprudente em público e que estava realmente arrependido. Alex não era assim. Sem dúvida era um cavalheiro e lamentaria qualquer rumor que pudesse arruinar a reputação de Jacqueline. Adam disse com voz neutra.

—Foi uma sorte que Vivian o arrastasse com ela até sua casa. Não posso dizer como teria reagido se tivesse voltado para casa. Jackie disse que se sentia enjoada pelo calor, mas acredito que a envergonhou.

—Talvez tenha envergonhado a mim mesmo, se isso é possível. Se consegui escandalizar Vivian Maxwell, então, sem dúvida, cruzei a linha do bom senso.

—Imagino.

—Lamento dizer, mas Jacqueline não se afastou precisamente —comentou Alex, desabando em uma cadeira, seu corpo alto e magro descuidadamente esticado— Por que imagina que foi assim?

Muito friamente, Adam disse.

— O que está dizendo?

A noite era fresca, e o ar quase frio e úmido se misturava com o aroma dos mofados livros. A saleta estava iluminada por duas lamparinas, e de fora chegava o canto de um pássaro noturno e o ruído de uma carruagem que passava.

Alex expôs lentamente.

—Consciente ou inconscientemente me reconheceu. Seu corpo respondeu as minhas carícias. Talvez por isso estivesse tão alterada. Como a mulher inteligente que é, agora estará se perguntando por que se sentiu assim em meus braços. Acho que nossa pequena farsa foi descoberta, e parou aqui, irmão.

—E por isso, esse maldito baile foi tão má ideia —Adam ficou de pé e olhou para a porta parcialmente aberta, embora a maioria dos criados já houvessem se retirado para dormir—. E faça a gentileza de baixar a voz, certo?

— O que quer que faça esta noite?

A tranquila pergunta era quase humilde em seu irmão sempre tão seguro de si.

Adam caminhou para a porta do escritório e a fechou.

—Disse a ela que tinha muito trabalho a fazer, o que não é mentira, e que estava cansado. Ela não me espera.

—Nesse caso —o sorriso de Alex era fraco quando ficou de pé—, Vou ao clube. Ainda não tomei uma decisão sobre Rajah, mas tive várias ofertas. Os conhecidos devem estar ali. Tenha a certeza de que reconhecerei meu comportamento grosseiro diante de todos, exonerando sua condessa.

Depois de que seu irmão se foi, Adam sentou-se atrás da mesa de seu escritório, mas não pôde concentrar-se. Depois de uma hora, deu-se por vencido, conformando-se com uma taça de brandy em vez de livros de contabilidade e contas bancários. Sentiu-se um pouco esgotado, a tensão das últimas duas semanas estava se fazendo notar, embora seu ferimento mal doesse o dia todo. Só algumas pontadas aqui e ali, que lhe recordavam o que causou tantos estragos em sua vida.

Não só na sua, reconheceu com ironia, mas também na de Jackie e Alex. Reconhecer que foi muito egoísta com seu obstinado orgulho, ao pedir a seu irmão que sacrificasse sua honra, e sem sequer contar a sua esposa a verdade.

Tinha pensado, maldição, que seria simples. E a pior parte de tudo era que se sentia muito melhor, mas ainda não estava disposto a arriscar-se e fracassar ao levar Jacqueline para a cama.

— Milord?

— Sim? —Nem sequer depois de ouvir que a porta de seu escritório se abria Adam se endireitou em sua cadeira. Sua esposa, vestida com uma espécie de bata de seda, entrou e fechou a porta atrás dela. Mesmo com a inadequada iluminação ressaltava as tentadoras formas de seu esbelto corpo, envolto como estava no apertado tecido. Engolindo em seco, perguntou-lhe com uma acreditável e tranquila voz— Algum problema? Pensei que estava dormindo.

—Não posso dormir sem você — com suas pernas longas, e incrivelmente sedutoras e seu brilhante cabelo solto sobre os ombros e as costas, caminhou através da saleta. Com os olhos entrecerrados, olhou-o do outro lado de seu escritório— Quando acabará?

Merda.

Ela estava mais que bela, mais nua do que jamais esteve na frente dele.

De fato, percebeu sobressaltado, que ela estava nua debaixo de sua bata, o cinturão descuidadamente amarrado à cintura mal mantinha a parte da frente adequadamente fechada, e deixava entrever a curva de um perfeito e pálido seio e a escura insinuação do mamilo.

E ele respondeu. A parte inferior de seu corpo se esticou, seu olhar se centrou em cheio no exuberante relevo.

—Ainda não —conseguiu dizer Adam, esforçando-se para olhá-la no rosto —. Volte para a cama, carinho.

— Tenho mesmo que ir? —Disse, arqueando uma sobrancelha sugestivamente enquanto rodeava a mesa, e antes de notar suas intenções, acomodou-se em seu colo, passando um braço ao redor de seu pescoço enquanto se apertava contra ele. Sua boca roçou a dele— Me permita... Distraí-lo, Adam.

Ela era toda doçura, feminina e tentadora. A suavidade de suas nádegas contra suas duras coxas enviou uma onda de luxúria através de todo seu corpo, seu feminino aroma flutuava no ar. De forma inconsciente, seus braços rodearam sua esbelta cintura, aproximando-a enquanto murmurava em tom de recriminação.

—Estamos em meu escritório, Jacqueline.

— E? —a língua de Jackie traçou ligeiramente o contorno de sua mandíbula.

—Não é um lugar… muito confortável para este tipo de atividade.

— Não está... Confortável?

Se ela não se movesse um pouco fazendo com que sua bata se abrisse um pouco mais, poderia ser capaz de responder a essa pergunta. Naquela posição, sentia tudo, seu ligeiro aperto ao redor de seu pescoço, o peso de seus seios em seu peito através de sua bata de linho, para não mencionar o calor de seu traseiro roçando contra sua crescente ereção.

—Talvez um pouco —admitiu ele e a beijou.

Nunca a beijou assim. Durante seu compromisso tentou refrear suas necessidades carnais e proteger sua inocência, sem dar rédea solta a seus urgentes desejos.

Entretanto, quando seus lábios se separaram tentadoramente, não pôde deixar de saquear sua boca, sua língua inundando-se profundamente, procurando cada recôndito.

Ela retribuiu o beijo também, agarrando-se a ele com um abandono encantador.

Quando finalmente Adam levantou a cabeça e olhou os encantadores olhos cinzentos de sua esposa, sentiu-se sem forças para ignorar, muito menos resistir, a aberta paixão em seu olhar.

E quando ela soltou rapidamente o cinturão de sua bata e esta deslizou sobre seus ombros para formar redemoinhos ao redor de seus quadris e seus joelhos, não pôde evitar ficar fascinado por sua sensual e elegante beleza. Ela era tudo o que um homem poderia desejar: exuberante, perfumada, devastadoramente feminina e disponível.

— E agora? —Jacqueline enroscou mais forte seus braços e se esfregou contra ele como um gato, seus seios suntuosos e nus roçando sua camisa— Só está um pouco... confortável?

Foi como se algo se acendesse dentro dele, um fogo que o arrasou por completo e respondeu a seu canto de sereia, com uma necessidade primitiva pela aberta e generosa oferta de seu magnífico corpo.

Quase sem sentir, Adam moveu-se e a ergueu em seus braços sem esforço. Deitou-a sobre o grosso tapete junto à lareira, toda noção de dor se apagou e foi substituída por um ardente desejo. Sem incomodar-se em fazer nada além de desabotoar as calças, sua agora palpitante ereção se libertou e ele separou-lhe os joelhos sem nenhuma delicadeza e colocando-se entre suas esbeltas pernas, enterrou profundamente seu duro pau em seu suave, quente e úmido interior. Debaixo dele, nua e receptiva, Jacqueline se arqueou com um grito suave e baixo, e por um momento, pensou que a tinha machucado, até que ela se agarrou a ele e gemeu com aberta satisfação.

Não esperando este tipo de resposta carnal, ele gemeu em resposta, seu corpo— tão privado nos últimos meses— o empurrava para uma rápida consumação forçando-o a terminar rápido. Adam começou a mover-se com impetuosa necessidade, retirando-se e deslizando para frente com rápidas e duras investidas, notando que a mulher debaixo dele dava as boas-vindas a seu corpo. Ela estava molhada, era estreita, e estava tão quente que todas as suas terminações nervosas ardiam em um crescente êxtase erótico.

Quase não pôde acreditar quando sentiu que ela começava a estremecer e se arqueava em seu orgasmo. Seu clímax foi tão rápido e tão selvagem que se não estivesse tão egoistamente concentrado em sua pessoa, teria se maravilhado. Entretanto, sentindo que seu próprio clímax estava a ponto de chegar, não pôde fazer nada mais além de estreitá-la mais forte enquanto se afundava nela. No último momento do êxtase, derramou seu ardente sêmen dentro de sua boceta com tal força que seu corpo se sacudiu sob suas mãos implorantes, um fino suor empapava sua camisa de linho, e suas botas apoiavam-se com força no chão.

Tudo ficou em silêncio, exceto por sua própria respiração agitada, seu rosto enterrado no abundante cabelo de sua esposa, seus braços ligeiramente entrelaçados ao redor de seus ombros...

E o ardente prazer zumbia em cada poro de seu corpo. Voltando a cabeça uma vez que teve a força necessária, Adam sentiu uma umidade estranha em seu rosto, surpreso ao notar que eram suas próprias lágrimas. Sussurrando a sua esposa, disse.

—Amo você, Jacqueline... Muito, muitíssimo.

 

Fizeram amor pela segunda vez em sua cama. A união foi mais lenta, uma exploração de sensações, e embora ele não imaginasse, Jackie sabia que era uma viagem de descobrimento; nesse momento, estava cego por seu próprio alívio sobre a nova virada em sua relação. Depois da segunda vez que alcançou o clímax dentro dela, Jacqueline abraçou estreitamente seu marido, desfrutando da força de seu corpo e da suavidade de seu cabelo sob seus dedos, o aroma masculino de sua pele umedecida pelo suor. Ele adormeceu em seus braços, deslizando quase esgotado em um sono tão profundo, inconsciente, e rápido, que se perguntou se teria dormido mais de duas horas seguidas nos últimos dois meses.

Afastando-se um pouco e levantando-se sobre um cotovelo, viu a luz da lua deslizar sobre seu rosto tranquilo, observando as delicadas linhas de sua elegante boca, os cílios longos em suas maçãs do rosto, a protuberância dos músculos nos braços que a seguraram com força e necessidade absoluta. Seu largo peito era duro e musculoso, seu estômago liso... E embora fosse parecido com Alex em todos os aspectos físicos, não havia nada nem remotamente parecido neles quando faziam amor.

E apesar da farsa, percebeu a ternura e a generosidade que vem de amar alguém totalmente, que tudo era perdoado.

Não tinha sido fácil para ele, não a tinha traído, e na verdade, tampouco acreditava que Alex a tomou de forma egoísta. Isso, mais do que qualquer outra coisa, foi o que a enganou, o fato de que o homem que fazia amor com ela parecer tanto emocional como fisicamente comprometido.

Ela, de fato, foi abençoada de certa forma, por ter conhecido dois homens maravilhosos, no sentido mais íntimo. Sua vida era com Adam, não havia dúvida disso, e nunca houve, apesar de suas preocupações e inseguranças. Mas Alex tocou sua alma. Ofereceu a uma mulher inocente seu primeiro prazer carnal, conseguiu iniciá-la com terna habilidade, e fez, com seu senso de humor e seu encanto, que a viagem fosse estimulante e maravilhosa.

Pela manhã, Jacqueline pensou enquanto se aconchegava junto ao grande corpo de Adam, teria que abordar esta questão. Mas agora estava muito feliz. Seus cílios baixaram, e ela suspirou enquanto se abandonava ao sono.

 

Os estábulos estavam tranquilos naquela hora do dia, e era o momento favorito de Alex para visitá-los. Entregando seu último torrão de açúcar a uma elegante égua, acariciou seu focinho enquanto ela comia em sua mão. Deu-lhe uma palmadinha e sacudiu a poeira de sua mão.

—Bom dia.

Surpreso diante do som da familiar voz feminina voltou-se para ver Jacqueline de pé atrás dele. Usando um vestido rosa claro, o cabelo brilhante preso em um coque, estava bonita e feminina. Sem esconder sua surpresa, disse,

—Bom dia... O que está fazendo aqui, Jackie?

—Preciso falar com você. Maxim me disse que saiu para ver seus cavalos, assim fiz com que Robert me trouxesse.

—Sei... —havia algo em sua expressão que o fez desconfiar, um brilho nos preciosos olhos prateados. Alex perguntou —. Suponho que é suficientemente importante para que me persiga por meia Londres até me encontrar. Acho que o escritório está deserto a esta hora. Vamos até lá?

—A privacidade seria melhor —ela assentiu com frieza.

—Assim será então, Milady.

Sentindo certa resignação sombria, Alex a escoltou entre as fileiras de cercas do prado, os curiosos olhos equinos observando seu avanço. O escritório era uma pequena sala, parcialmente mobiliada que o treinador mantinha para falar com os donos de cavalos. Uma grande janela dava para o pátio, e havia duas poltronas, uma mesa pequena com várias jarras, e alguns retratos de seus cavalos mais famosos. Alex ofereceu uma das poltronas a Jacqueline, e sentou-se na outra.

Arqueando uma sobrancelha, perguntou.

— E bem, o que é tão urgente?

Seus cílios baixaram por uma fração, e ela se acomodou, com a mão cuidadosamente dobrada em seu colo.

—Desde ontem à noite, Adam —disse tranquilamente—, está recuperado.

—Maldição —murmurou involuntariamente, tentando ignorar a pontada de ciúmes e olhando-a consternado— Sabe de tudo?

—Na noite do baile, descobri com bastante facilidade —um ligeiro rubor aflorou em sua face, mas seu olhar era direto—. Senti-me como uma tola, se quer saber, por ser tão ingênua. Mas quem poderia imaginar que era você, e não ele, que estava em... Em minha cama? Nunca suspeitei de tal coisa até que sorriu enquanto dançávamos.

Sem incomodar-se em tentar sequer negar, perguntou timidamente.

— Chegou a essa conclusão por um sorriso?

Sua boca se torceu ligeiramente, e intensificou-se seu rubor.

—Talvez não perceba, Alex, mas tem uma maneira de sorrir para uma mulher que é muito... Digamos, insinuante quando quer demonstrar que tem interesse em determinada atividade a qual, ao que parece, nos dedicamos frequentemente.

—Lembro-me —disse em voz baixa—, muito bem. E embora saiba que tanto Adam como eu lhe devemos uma desculpa... Se isso for suficiente para uma farsa como essa, por favor, deve saber que nenhum dos dois saiu ileso. Ele terá que viver sabendo que eu fui seu amante... E eu terei que viver sabendo que ele será seu amante.

—Não quero uma desculpa. De fato, eu não quero que ele saiba que descobri tudo. Embora —acrescentou secamente—, surpreende-me ver como dois homens tão sofisticados e experientes possam ser tão ingênuos para pensar que eu não descobriria quando voltassem a trocar seus papéis. É realmente algo que me surpreende. Vocês são incrivelmente parecidos, mas, francamente, na cama são totalmente diferentes.

Como não queria pensar nela e em seu irmão entrelaçados na cama, Alex tentou afastar a imagem, e perguntou,

— Em primeiro lugar, como diabos descobriu a razão pela qual ocorreu este plano de loucos? Ninguém mais sabia exceto seu médico e eu.

Ela sacudiu a cabeça, alguns cachos do suave cabelo acariciando seu esbelto pescoço.

—Não posso dizer como soube, mas estou muito feliz de tê-lo feito. Fui muito infeliz nos últimos dois dias, me perguntando por que motivos Adam pediu a você que fizesse amor comigo em seu lugar. Não entendo muito do corpo masculino, e nunca me ocorreu que alguém pudesse ter um problema semelhante. Pensei que ele tinha uma amante.

—Duvido que meu irmão sequer note que existe outra mulher nesta terra agora que a tem, Jacqueline —as palavras foram ditas com sinceridade—. Ele é um homem muito afortunado.

—Obrigado —sua resposta foi quase inaudível, e sua expressão se suavizou—. OH, Alex, obrigado por tudo. Foi um… professor muito bom. De fato, não me arrependo do que aconteceu conosco, por estranho que pareça. Você foi muito terno, e embora não tenha nem ideia de como seria minha noite de núpcias com Adam, não me arrependo de nada do que tive com você.

Alex sentiu um nó na garganta diante de suas generosas palavras, tão sinceras como sua inata sensualidade, e disse com voz rouca.

—Essa lembrança me perseguirá também. Alguma vez conhecerei alguém como você? Deus, Jacqueline, se serve de consolo, você fez com que eu percebesse que estou descontente com minha preguiçosa e superficial existência. Sempre evitei a palavra casamento como se fosse uma maldição, mas se fosse livre, casaria-me com você hoje mesmo.

Seus lábios tremeram ligeiramente enquanto sorria, mas a pequena sacudida de sua cabeça foi de negação.

—Alex, você não me ama. Você gosta de mim, e imagino que interpretar o papel de marido amoroso foi algo único em sua experiência com as mulheres. Mas sei que Adam me ama. Sempre me perguntei por que quando estávamos na intimidade e eu expressava meus sentimentos, você somente dizia o quanto me desejava. Pensei que fosse simplesmente à personalidade conservadora de Adam, mas agora que sei a verdade, faz sentido... Não podia dizer por que não sentia.

Olhando-a, perguntou em voz baixa.

— E ele disse ontem de noite?

—OH, sim.

Seus olhos brilhavam, seu rosto suavizou-se imediatamente com a lembrança.

—Estou com ciúmes — admitiu com tristeza—, mas espero que passe logo. Para ser honesto, não sei se estou com ciúmes de que a tenha, embora, em parte sim, mas o que estou certo é de que estou com ciúmes do que têm juntos.

Um pequeno sorriso de compreensão passou entre eles, o reconhecimento de que o segredo e os momentos compartilhados não seriam esquecidos.

Jacqueline falou, rompendo o silêncio.

—Tenho que voltar... Adam e eu vamos dar um passeio pelo parque. Só queria falar com você, para que não houvesse nenhum tipo de desconforto entre nós.

Sua cunhada se levantou para partir, mas parou de repente, serenamente bela. Olhou-o, e ficou subitamente séria.

—Ela está lá fora... Tudo o que tem a fazer é abrir seu coração.

E foi incrível, mas Alex, o libertino, e anteriormente indiferente à ideia de romance, exceto na mais física das formas, realmente acreditou.

 

                               Epílogo

Adam jogou seu copo sobre a mesa.

—Vou subir pelo caramanchão, juro Por Deus. Se entrar de supetão pela janela, não poderão me deter.

Falava sério, sua frustrada ansiedade o deixava suficientemente louco para fazê-lo.

Olhando divertido sua incomum agitação, Alex riu em voz alta.

—Eu gostaria de ver isso. O eminente e correto conde de Hallworth escalando os muros de seu castelo para visitar sua dama. Mas por outro lado, é seu marido. Exija que o permitam entrar pela porta de forma habitual.

—A parteira está convencida de que vou atrapalhar e que serei uma distração. Na verdade, ela tem medo de que eu desmaie e deixe Jacqueline angustiada, pelo amor de Deus! E insiste em dizer que acontece de vez em quando se os maridos estão presentes no momento do parto. Assim não me deixa entrar. A maldita porta está fechada para mim.

Andando de cima abaixo pela sala, murmurou sombriamente:

—Raios e trovões, pensei que teriam a decência de mandar uma criada ou a alguém para descer e me informar o que está acontecendo.

—Não acredito que as mulheres entendam muito de nosso medo sobre este tipo de coisas. Além disso, Jacqueline está fazendo a parte difícil, assim é normal que concentrem sua atenção nela. Solidarizo-me com você, eu estou assustado. Relaxe, irmão, dar a luz é algo que as mulheres fizeram durante... deixe-me ver, desde o começo dos tempos? Ela está tendo um parto normal, e lhe dará um filho sadio.

Por favor, permita que seja verdade! Adam orou, esperando que chegasse aos poderes que controlavam este tipo de coisas—uma criança sadia e sua esposa dando a luz sem complicações. O coração de Adam se apertava cada vez que imaginava que poderia perdê-la.

—Ela deseja tanto este bebê... Nós dois desejamos —disse finalmente, pegando novamente seu copo de conhaque—. Mas nunca imaginei que sentiria tanto medo por ela.

—Sua esposa é uma mulher muito especial —concordou Alex, a alegria desaparecendo de seu rosto por um momento, mostrando uma sombra de introspecção.

Apesar de terem chegado a um acordo de que a farsa tinha ficado para trás, Adam não pôde evitar dizer em voz baixa.

—Nós dois sabemos que este bebê poderia ser seu. Não me diga que não está pensando nisso. —Pela data da concepção, poderia ser de qualquer um dos dois.

Alex sacudiu a cabeça, dizendo com firmeza.

—É seu, de qualquer maneira, Adam, direitos legais à parte, é o resultado de seu amor por Jacqueline.

Olhando sob uma ótica totalmente diferente, era verdade, e se sentiu um pouco aliviado, sabendo que Alex pensava desta maneira. Com uma pequena risada, comentou secamente.

—Ao menos sei que será parecido comigo.

—É verdade —seu irmão riu entre dentes, e logo acrescentou—. E espero que seja uma menina.

— Para você continuar sendo meu herdeiro? —perguntou Adam com ironia— Ou porque as meninas dão mais problemas que uma caixa de gatos furiosos?

—Adivinhe —Alex arqueou uma sobrancelha, rindo—. Nunca desejei ser o velho e aborrecido conde, assim diria que a segunda opção é mais viável.

— Milord? —Uma suave voz falou da porta.

Voltando-se, Adam viu uma jovem donzela com o rosto ostentando um tímido sorriso.

—Sua senhoria solicita sua presença.

— Já? —Perguntou com medo— Me diga, está bem?

—Ela me disse que não falasse nada, exceto que quer vê-lo, senhor.

Nem sequer lembrava-se como seus pés tocaram as escadas, mas de algum modo se encontrou junto à porta de seu quarto, ouvindo o débil pranto de uma nova e bem-vinda voz com uma felicidade que paralisou seu coração. Sua mão tremia enquanto abria a porta.

Em qualquer outro momento, Adam tomaria cuidado de não demonstrar abertamente sua emoções, mas ao ver sua esposa, desalinhada, úmida pelo pegajoso suor, e ainda assim incrivelmente bela, ardentes lágrimas vieram a seus olhos.

A criança em seus braços estava quieta, e cruzou o quarto para cair de joelhos junto à cama, agarrando a mão de Jackie sem conseguir dizer nada.

—Querida —disse com a voz rouca.

—Adam —a voz de Jacqueline também soava estranha, com uma mistura de esgotamento e alegria, seu rosto pálido emoldurado por um halo de cabelos castanhos e revoltos—. Espero que não fique decepcionado, mas temos uma filha. E é linda.

Maldito Alex, pensou com diversão, por acertar novamente. Mas na verdade, quando imaginava uma Jacqueline em miniatura, toda sorrisos, atraente e de alvoroçados cachos castanhos, não sentia outra coisa além de euforia.

Levantando-se para beijar brandamente sua esposa na boca, sorriu e lhe disse com sinceridade.

— Por que ficaria decepcionado? Uma menina é perfeito.

    

                                                                                Emma Wildes

 

 

                      

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