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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


AO ENCONTRO DE UMA NOVA ERA / Anne Rice
AO ENCONTRO DE UMA NOVA ERA / Anne Rice

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

AO ENCONTRO DE UMA NOVA ERA

 

A fabricação e utilização de bombas atômicas são assuntos de flagrante atualidade. As discussões nas Assembléias das Nações Unidas têm despertado geral atenção. A atitude do Racionalismo Cristão em face dum problema da tão terríveis conseqüências, capaz de esterilizar o solo ou exterminar a vida em determinado ponto do planeta, é exposta no capitulo ENERGIA NUCLEAR, desta obra, de maneira clara, simples e constitui também uma advertência.

O átomo, esse elemento básico da matéria, contém, na sua estrutura, um potencial de força extraordinária. A energia nuclear, subtraída dos átomos, para os efeitos da bomba atômica, corresponde a uma parte de força liberada de cada átomo, e não à liberação da sua potência total.

Com a desintegração da energia atômica, nas experiências nucleares, desprende-se uma enorme radioatividade, que paira nas camadas altas de atmosfera, daí descendo, depois, principalmente pelas chuvas.

Essa radioatividade é altamente nociva, não só porque esteriliza a terra a aumenta o calor atmosférico, como ainda porque, em se tornando cada vez mais densa, pode chegar a um limite, não muito distante, de eliminar a vida no planeta, pela sua influência direta.

O hidrogênio é o mais leve dos gases e, por Isso, se encontra, praticamente puro na periferia da camada de ar, ocupando uma faixa; ele é grandemente inflamável e, em conseqüência das explosões das bombas de hidrogênio a grandes altitudes, é possível dar‑se uma explosão, com uma incandescência tal desse gás e decorrente de temperatura elevadíssima, que produzirá a morte de todos os seres viventes do planeta.

Resumindo, pode ser reafirmado que, quanto ao prosseguimento das explosões atômicas, duas reações podem dar‑se: ou a explosão do hidrogênio, na parte superior da atmosfera, e conseqüente destruição de toda a vida, na superfície do globo, ou ficar a atmosfera fortemente densificada de radioatividade, o que produziria um resultado igualmente fatal, com a diferença que, no primeiro caso, a morte sobreviria de maneira muito mais rápida do que no segundo.

O desenvolvimento científico precisa ser feito, concomitantemente, com o espiritual, caso contrário, a humanidade fica exposta ao desaparecimento. Por esse risco passa presentemente a Terra, se as experiências e utilização das bombas atômicas não forem suspensas.

Por aí se conclui que a continuação das experiências atômicas representa um risco, sob mais de um aspecto, e que motivos de ordem científica o espiritual prevalecem, de forma bastante nítida, para que não surjam dúvidas quanto ao desfecho das perigosas explosões. Esta advertência, aqui registrada, visa alertar os que ainda puderem revogar as disposições destruidoras de que se acham dominados.

 

 

Todos os estudantes do Racionalismo Cristão estão empenhados em absorver os seus ensinos, pondo‑os em prática onde quer que se encontrem. Igualarem‑se a sectaristas não seria possível, pois, se o fizessem, onde estariam os conhecimentos espirituais adquiridos?

Quem se esclareceu, quem sentiu a força da vida fora da matéria, quem percebeu a realidade dos fatos nos planos astrais, não pode mais encaixar o seu raciocínio nas reduzidas expressões materialistas adotadas por vários credos, e retroceder.

O mundo está repleto de indivíduos que só crêem naquilo que podem apalpar e ver com os olhos da carne. Para estes, só há um caminho capaz de os conduzir dentro dos limites de uma relativa e insegura consciência moralista, que é o que as seitas apontam.

E uma ilusão pensar que todos estão preparados para conhecer a Verdade nua e crua, na sua singeleza ou rudez. Na realidade, todos marcham, implacavelmente, para ela, ou na sua direção, mas como a estrada é longa, uns seguem mais à frente, enquanto outros retardam, desnecessariamente, a caminhada.

Ninguém poderia acreditar na realidade das invenções ‑ que hoje são corriqueiras ‑ se elas não fossem apresentadas. Assim são os sectaristas incrédulos quanto ao que lhes informam os espiritualistas, por se encontrarem ainda distanciados do ponto chave do despertar espiritual. E como têm preguiça de investigar por si mesmos, seguram‑se, vigorosamente, ao sacerdote, como ponto de apoio, e este, por sua vez, lhes mostra a cartilha milenar ortodoxa, como única saída.

Diante desse quadro, o Racionalismo Cristão é tolerante e compreensivo. De maneira nenhuma deseja incutir no espírito de alguém os seus Princípios. Não há esse afã de procurar "salvar" o próximo. Salvar por que, se não existe condenação eterna? O livre arbítrio é um direito que a todos assiste e, então, se preferirem dar, nesta e em vidas subseqüentes, milhares de voltas, em lugar de seguir em linha reta, é assunto que somente a eles diz respeito. Logo, não há razão para ninguém ter receio de ser assediado, envolvido, catequizado, instado para fazer parte do Racionalismo Cristão, por ser tal procedimento contrário, inteiramente, aos preceitos doutrinários.

Quem não tiver o espírito amadurecido para receber, espontaneamente, o Racionalismo Cristão ou a síntese das normas da Vida que ele proclama, nada tem nele que aprender nem dará valor ao que ouvir ou ler dos seus ensinos. Ninguém dará também maior atenção a isso, por saber que as leis naturais são imutáveis e a natureza não dá saltos.

No entanto, os que podem sentir o Racionalismo Cristão, encontram nele beleza, ensinamentos morais da mais alta concepção e reverência aos postulados espiritualistas que elevam e fortalecem o espírito.

O lema democrático e cristão "liberdade, igualdade e fraternidade", é esposado, dignamente, pela valiosa substância que encerra. O Racionalismo Cristão vê na liberdade o direito de pensar, de escrever, de ensinar, sempre com o alto propósito de beneficiar, esclarecer e remodelar hábitos e costumes, no rigor da moral cristã; vê, na igualdade, o ser como partícula da Inteligência Universal igual perante o Todo, não fazendo, por isso, distinção de raças e nacionalidades, de pobres e ricos, de nobres e plebeus, mas a todos considerando como almas em evolução, merecedoras de apoio espiritual, e vendo na fraternidade a união de todos numa só família que marcha na Vida com um objetivo comum, que é o de alcançar a derradeira etapa da evolução.

Além desse lema, empenha‑se o Racionalismo Cristão pela ordem, a moralidade, a decência, a virtude e o amor ao próximo. A ordem compreende o método, a disciplina diária, que fazem com que as obrigações sejam executadas em tempo e as pessoas estejam sempre nos seus postos ou nas posições em que os deveres reclamem a sua presença, de maneira consciente, a moralidade, compreende o respeito que o indivíduo deve a si mesmo, a dignidade pessoal, a honorabilidade em todos os atos, a retidão nos empreendimentos e compromissos assumidos, a discrição nos julgamentos e o respeito aos direitos alheios; a decência, compreende a limpeza moral e física, a nobreza de atitudes, a superioridade em desculpar e a habilidade em reerguer o humilhado; a virtude, compreende a ação filantrópica, o espírito de renúncia e a capacidade de sacrifício; o amor ao próximo, compreende o interesse ativo em favor do semelhante, o valor que se souber dar à amizade, cultivando‑a, dedicadamente, e o sentimento cristalino da solidariedade.

O mundo está infestado de sensualismo, de hipocrisia. de egoísmo, de falsidade, de indivíduos que não possuem o menor escrúpulo, que traem, prevaricam, lesam, difamam e escondem debaixo da máscara de bondade todas essas misérias.

Sempre houve na Terra seres de tal espécie, mas o seu número tem aumentado consideravelmente. Na época atual, há muito mais ensejo para desfrutar a riqueza, e a multiplicidade de gozos que o mundo oferece é avidamente disputada pelas criaturas mundanas, sôfregas de prazeres terrenos. Vem daí o aviltamento do caráter, que se corrompe diante da ânsia incontida de fazer fortuna para poder atirar‑se às orgias, ao luxo, à ostentação, à superexcitação das emoções vibrantes de sabor sensualista.

Eis porque se mantém o Racionalismo Cristão como um farol aceso, para que ao seu encontro venham os que não querem naufragar, os que buscam a paz, os que não desejam viver atribuladamente, sem rumo, sem orientação. No meio corrupto da humanidade, há os que, embora poucos, relativamente, desejam outro viver, outro meio, outras companhias. Esses são os que, dia mais, dia menos aportarão ao Racionalismo Cristão para regozijo e esclarecimento de seus espíritos.

Quando se chega a compreender que além da luz solar, há uma outra luz, muito mais brilhante, que os olhos físicos não vêem, então o aspecto da vida muda de paisagem e os seus horizontes se dilatam.

Os capítulos que compõem este livro são desdobramentos da Doutrina Racionalista Cristã focalizados com o objetivo de enfatizar, com argumentos mais amplos, os Princípios exarados na obra básica.

Muito a propósito foi o Racionalismo Cristão lançado à Terra neste século vinte, pelo Astral Superior. Nada é feito por acaso, e tudo tem a sua razão de ser. O progresso vertiginoso do século está arrastando as massas humanas para o mais agudo materialismo. As religiões não possuem recursos espirituais para conter a avalanche do mal contaminante.

Era preciso, pois, imperiosamente preciso, que surgisse uma Doutrina revolucionária no sentindo moral, para advertir o mundo do perigo que corre. Essa Doutrina é o Racionalismo Cristão, que vem edificando, com a mais absoluta solidez, os seus alicerces.

A missão do Racionalismo Cristão vem sendo cumprida com método e regularidade. De ano para ano, novos progressos são registrados. Uma obra dessa envergadura não é feita de improviso, nem caminha aos pulos, pois segue a sua rota com ritmo e segurança.

Lutas vem tendo, e muitas, mas estas só têm servido para dar‑lhe maior fortalecimento e mais vigoroso impulso.

Assim se confirma que as Forças do Bem são inabaláveis, e que à grandeza dos ideais correspondem os êxitos alcançados. Será de vitória em vitória que a expansão da Doutrina se fará, e muitos milhões de seres hão de ser atingidos, nesta geração, pelos salutares benefícios que o poder da Verdade distribui.

Como não é o Racionalismo Cristão uma criação dos homens, a sua Pátria é o Universo, pois a concepção fraternalista do seu Código tem tamanha amplitude que abrange todo o Universo. Isto é natural. Os que já despertaram para a Luz da Vida, encontram nessa elevada ordem de pensamentos e concepções, um grande conforto espiritual.

O Racionalismo Cristão não é uma Doutrina estanque, em que a criatura se satura e pode dizer que não tem mais o que aprender. Ela cada dia apresenta lições novas, nas experiências que cada um tem de colher.

Os desdobramentos dos ensinos podem ser desenvolvidos em várias direções, e em cada uma delas novas paisagens são oferecidas. Por isso, o adepto do Racionalismo Cristão é um discípulo permanente que nunca chega a ser diplomado, porque os conhecimentos a adquirir estão muito além dos limites da imaginação humana.

A corrente racionalista cristã não se restringe ao orbe terráqueo, estendendo‑se pelos Planos Superiores, onde se acham em atividade constante, em favor dessa mesma corrente, muitos milhões de espíritos iluminados. Assim, o trabalho dos racionalistas cristãos não termina com a desencarnação, mas continua, depois, no Espaço Superior, ainda com maior intensidade.

O cultivo da inteligência faz‑se com o estudo. É preciso estudar muito, e sempre. O Racionalismo Cristão oferece a oportunidade de conduzir o discípulo ao estudo, à meditação sobre o que ouve e lê, para gravar, no subconsciente, o resumo concentrado do conhecimento.

Aquele que pára de estudar, pensando que já sabe tudo, marca passo e não progride. As obras racionalistas cristãs precisam ser relidas e meditadas. O estudo e a prática constituem um meio eficaz e simples de fazer desabrochar as faculdades intelectuais.

Convém ponderar que a vida terrena vale pelo que pode dar de experiência bem aproveitada; de acordes disciplinares, de espírito de renúncia; de hábitos de simplicidade; de desinteresse pelas coisas vãs e sem objetividade. A paz, a alegria, a felicidade, o encantamento pela Vida, representam um estado que será desfrutado, cada vez mais e melhor, por aqueles que tiverem adquirido o saber e o sentir na prática dos verdadeiros conhecimentos espiritualistas.

O desdobramento dos Princípios racionalistas cristãos, apresentado nesta obra é mais uma contribuição no sentido de facilitar aos estudiosos o desvendamento dos segredos da vida. Decisão e firmeza não deverão faltar nunca aos que quiserem vencer, aos que pretenderem apoderar‑se das rédeas de comando do ego rebelde o incontrolado, que pode ser contido pela força de vontade.

 

                   Ao Encontro de Uma Nova Era

O mundo, por certo, não continuará mergulhado, por muito mais tempo, nesse oceano de materialismo.

As convulsões que se notam e as agitações de inconformismo que se vêm observando, externam um estado de alma rebelado contra o excesso de materialismo a que a esmagadora maioria se entrega.

Registram‑se desequilíbrios nos orçamentos, desigualdades no trato humano e desorientação flagrante na aplicação dos recursos morais.

O progresso material toma um curso vertiginoso, determinando avanços em determinados setores que descontrolam o ritmo do conjunto.

Sente‑se a falta de normas espiritualistas para acompanharem a marcha progressiva dos fatos cotidianos da esfera física.

A luta pela sobrevivência está se tomando uma obsessão avassaladora. Nesse afã, não se olham os meios para atingir os fins. Todos os golpes são válidos! Salve‑se quem puder!

Esse panorama, que traduz uma ilusória configuração na compreensão da vida, exterioriza o apogeu de uma era de falsas conjeturas humanas, com base numa afeição desordenada pelas quiméricas atrações terrenas.

Como não há mal que sempre dure, este, que se observa no sistema da atual vivência, está para alcançar os seus dias finais, diante das novas forças que se levantam.

Jesus, dotado de prodigiosa clarividência, já previa, há dois mil anos, que o mundo, antes de findar o segundo milênio, iria passar por fundamentais transformações.

Uma nova era, desde então, se anunciava. A vinda de Jesus deu‑se no início da era que ora se finda, e é sabido que de dois em dois mil anos, no transcurso de cada grande era, um acontecimento de marcante profundidade, assinala a passagem do ciclo.

Outra observação de um fenômeno sistemático reside no fato de serem as grandes borrascas precedidas de eufóricas bonanças.

Verificam‑se, no correr do século presente, extraordinários preparativos para o encontro da nova era.

A semente do espiritualismo está plantada em área fértil, no campo do século XX, e, se bem pesquisados forem os fatos que se desdobram, nenhuma dúvida deverá restar sobre a expansão do movimento, no sentido da evolução do espírito.

Há os que desejam orientar‑se para acompanhar os sucessos que se aproximam, e para facilitar‑lhes essa orientação, pretendeu-se realçar, nos capítulos deste estudo, alguns princípios práticos da imensa faina espiritualista.

A adoção deles e de outros, em diferentes trabalhos difundidos, permitirão situar a criatura num ângulo favorável da vida, do qual divisará reais particularidades construtivas.

O maior empenho está em alertar o viajante para os sinais da estrada a percorrer, toda ela pontilhada das luminosas advertências que os Mestres sabem registrar.

Tudo quanto contém este livro em análise, comentário e ponderação, tem a finalidade de contribuir, com uma pequena parcela de adestramento, para o bom aproveitamento da jornada terrena.

Nós, que nos encontramos encarnados, pertencemos às últimas gerações de uma era que se extingue, para dar começo à outra que se aproxima, plena de esperanças, de conquistas espirituais e de conseqüentes bem‑aventuranças.

Cada qual terá de fazer a sua parte no plano renovador da vida no planeta, instituindo, em seu modo de viver, os princípios da moral cristã esteados na Doutrina deixada pelo Mestre Nazareno e ressurgida neste século, último do segundo milênio.

Não se poderá ir ao encontro da nova era, sem ter preparado a bagagem adequada para ele. Tal bagagem terá de ser constituída do acervo espiritual acumulado nesta existência física, através da conduta escorreita, do exemplo edificante e de provas de salubridade moral.

Os que não quiserem submeter‑se à marcha para tal encontro, por lhes faltarem os elementos promotores, terão de servir‑se das experiências que lhes serão reservadas em plano físico, bem mais árduas, até ficarem habilitados, em oportunidades futuras, a concorrer ao acesso que nesta hora está sendo propiciado aos que amadureceram os seus espíritos para a renovação que se opera.

Cientistas estão registrando, em várias partes do mundo, a ocorrência de fenômenos físicos na Terra, que se não explicam sem o reconhecimento de interferências de forças estranhas, extraterrenas, as quais se subordinam a outras leis, que são as dos planos cósmicos que mantêm o Universo em equilíbrio.

Estudos da maior transcendência feitos por reconhecidas sumidades no trato da evolução da Terra, penetram no passado, por numerosíssimos séculos, servindo‑se da própria matéria terráquea submetida a averiguações das mais remotas e complexas ações geológicas, para chegarem ao ponto de confirmar, com segurança, muitos dos fenômenos que o planeta suportou, com o suceder das eras que se foram.

Esses estudos, no plano da ciência, autorizam a esperar‑se o próximo evento de uma nova era, plena de vibrações espiritualizadas.

A mudança de uma era para outra tem sido assinalada com a reconhecida degradação de uma civilização por atos de corrupção e sórdida vilania, para surgimento de outra, com bases em maior elevação moral.

Observando‑se a caótica posição moral do mundo, nos dias que correm, e, por outro lado, o aparecimento de um movimento espiritual que se firma com a mais decidida disposição, nota‑se real analogia com as transformações verificadas na contextura morfológica da Terra, em consonância com a interpretação de reveladores hieróglifos que remontam à era imediatamente posterior ao desaparecimento da Atlântida.

Os ciclos se fecham em rigorosa obediência a leis da Suprema Sabedoria, e não haverá dúvida de que o que envolve o panorama atual da vida terrena, está com os seus dias contados.

A evolução, que é obrigatória, faz parte de leis imutáveis e irrevogáveis, não sendo as partículas em progresso espiritual neste mundo físico que se hão de opor ao império dessas leis.

Uma vez que a evolução terá de processar‑se a qualquer custo, sem contemplações, vale a pena tomar‑se a criatura disciplinada, submetendo‑se àquilo que determinam as imponderáveis Forças do Astral Superior.

O objetivo deste e de outros escritos da mesma natureza, é mostrar de que modo se deverão aplicar as normas, verdadeiramente cristãs, de vivência diária, na trajetória terrena.

Em assim procedendo, tudo se resolverá bem, a existência será melhor aproveitada, os deveres cumpridos, a consciência se manterá em paz e todos marcharão ao feliz encontro de uma nova era, de maior progressos espiritual.

Ninguém, em sã consciência, há de querer ficar para trás nesta jornada em que se procura atingir um alvo seguro, situado na área do espiritualismo.

Se assim é, somente os desprevenidos, os negligentes, os seres mundanos, entorpecidos pelos gozos terrenos, deixarão de alinhar-se ao lado daqueles que podem antever os resultados venturosos que se delineiam, com a adoção de um comportamento alicerçado nos temas que se vêm expondo.

Há um convite ao comodismo no mundo, que deve ser repelido, pelos males a que conduz. O momento é de sacrifício e de renúncia, e são estes os meios pelos quais cada um deve chegar ao ponto de partida, para uma nova era.

Os temas desenvolvidos nesta coletânea, são parte de outros que se encontram nos livros A Felicidade Existe e A Morte não Interrompe a Vida, concebidos com o propósito de oferecer subsídios capazes de auxiliarem aqueles que desejam encontrar o caminho que milhares de indivíduos já percorrem, em direção àquela meta que constitui o tema. deste Capítulo.

Na verdade, o cotidiano apresenta casos que podem ser atendidos de várias maneiras, mas o que se precisa é a fórmula ideal para escolher a maneira de agir, condizente com as regras da espiritualidade. Só assim se agirá corretamente e se procederá como convém, evitando‑se, deste modo, a possibilidade ingrata de se arrolarem débitos na vida espiritual.

Daí a importância de dar‑se o devido e alto valor aos critérios espiritualistas, cuja finalidade é conduzir a criatura pelas seguras veredas do bem. Uma vez adotado esse sistema de vida, todos os recursos convergem para elevar o ser às condições mais propícias à sua evolução.

Da Terra, cada vez que se desencarna, outra coisa não se leva, de útil, que não sejam as obras construtivas ou o procedimento correto, com os seus resultados, representados pelo pecúlio que será somado ao acervo conquistado em outras vidas. E de esperar‑se, então, que aqueles que desejarem aumentar o seu patrimônio espiritual, encontrem, nesta leitura, algo que possa contribuir para firmar a sua conduta nos melhores moldes de atuação.

Com este comportamento, contribuirá, cada qual, com a sua parcela, para se melhorarem as condições morais da coletividade, que representará, na tomada de contas da consciência, no Além, um crédito favorável a figurar no cômputo das conquistas positivas.

Não deve ser desprezada uma perspectiva tão animadora que possibilita a obtenção de vantagens de tão alto valor para a composição dos tesouros do espírito.

Todos precisam navegar neste mar tormentoso da vida terrena, munidos de bússola e sextante, para não perderem o rumo, e tais meios, aqui simbolizados, correspondem aos que se obtêm de normas estribadas em princípios espiritualistas que, de maneira objetiva, podem alertar os espíritos vigilantes.

Assim como, presentemente, todos se precisam adestrar para as funções profissionais, certo é que tal necessidade continuará sendo imperativa no transcorrer da nova era, ocasião em que em tal adestramento hão de figurar as formas relativamente mais elevadas das florações espiritualistas.

Não é por acaso que se encontram, na pauta das atividades humanas dos dias que correm, lições apuradas de procedimento cristão, principalmente ao alcance daqueles que têm a responsabilidade moral de se prepararem para as tarefas que lhes terão de ser confiadas.

Seria doloroso que tais criaturas estivessem ausentes na hora precisa da seleção, esquecidas das suas reservas, afastadas do caminho, adormecidas no macio acolchoado das próprias ilusões!

Este e outros escritos de idêntica natureza contêm matéria com que se poderá contar, para conduzir aos portais da nova era, os que, bem intencionados, para lá se queiram dirigir.

Terminada esta exposição, espera‑se que em boa terra tenham caído as sementes lançadas por este e por numerosos outros lavradores da obra cristã, que não medirão esforços para alertar almas predispostas a uma nova vida que desponta, nos horizontes, de forma promissora, como que a anunciar uma Nova Era de resplendor espiritual.

 

                   O Poder do Pensamento

A manifestação do pensamento provém da ação vibratória do espírito. De um modo geral, quanto mais desenvolvidos estiverem os atributos espirituais de cada ser, maior é o poder do seu pensamento.

A capacidade de concentração é dom valioso, por meio do qual, com maior ou menor intensidade, se exterioriza a força atuante do pensamento, que se apresenta à visão astral deformado e impreciso, ou bem delineado e nítido, consoante a capacidade de concentração do agente.

Diz‑se também que pensar é atrair. Por isso, pensar em uma moléstia, temendo contraí‑la, é formar campo aberto para que ela se revele.

O pensamento pode transformar, pelo seu poder, qualquer composição material, por serem todas elas por ele criadas.

Os Seres do Astral Superior, em hierarquia espiritual ascendente, rumo ao Poder Total, transformam a matéria, com o poder do pensamento, em toda e qualquer composição, sem restrições, sempre que essa transformação obedeça a injunções da Mecânica Universal, ditadas pelas leis da evolução.

Em sua camada atmosférica e, fora dela, em estado gasoso e etéreo, o mundo Terra contém substâncias volatizadas e fluídicas, de que ele é, em forma densa, composto.

O uso dessas substâncias exige a associação de todos os seus elementos, para os fins preestabelecidos.

Mais tarde, todos os seres terrenos irão saber como operar com o pensamento, para que ele exerça sobre a matéria todo o domínio e poder. Só se poderá chegar lá, entretanto, muito depois de haver-se ingressado no caminho da espiritualidade.

Nenhuma idealização material se consuma, sem ter antes sido delineada, em todos os seus pormenores, pela força do pensamento.

Verifica‑se, por esta análise, quão necessário e útil é, para o desenvolvimento espiritual, dar atenção à ordenação dos pensamentos, como meio eficaz de educá‑los para a conquista dos melhores resultados.

Os pensamentos devem ter orientação construtiva voltada para o bem geral da humanidade, e conter substância espiritualista para poderem encontrar reforço indispensável nas Altas Esferas da confraternização.

Isto posto, firme‑se cada um na disciplina básica da Doutrina Racionalista Cristã, que oferece os melhores princípios para a efetivação de todos os nobres ideais.

Convergindo‑se os pensamentos para essa finalidade, todos os esforços se somarão para o alcance dos mais altos objetivos. São estas as perspectivas que podem ser apresentadas para que o êxito seja completo.

A força do pensamento, convenientemente educada, atinge os seus fins, muito embora leve algum tempo. Nem sempre é possível realizar um ideal na exata ocasião em que se deseja. Os arranjos para que a oportunidade seja encaixada na fórmula correspondente, exigem, muitas vezes, que se aguarde, com paciência e confiança, o momento propício, que pode não estar à vista.

Métodos de concentração devem ser postos em prática para afastar da mente os pensamentos vulgares que a assaltam.

Isso pode parecer difícil, a princípio, mas à custa de esforço, deliberação e vontade, pouco a pouco a indisciplina irá cedendo lugar ao comando do espírito.

Nada se consegue sem esforço, deliberação e vontade; assim, esses três atributos, sempre bem trabalhados, levarão o indivíduo, nas questões que envolvem as suas atribuições normais, ao pleno uso do poder do pensamento.

É por meio dessa Força, aplicada com fins elevados, que a criatura se toma uma peça valiosa na estrutura da comunidade, ao contribuir, com a sua parcela de trabalho, de ação honesta e de dedicação e eficiência, para o conjunto humano a que pertence.

Os que se enquadram na rotativa desse engenho de ação positiva, estão automaticamente envolvidos pelas Forças do Bem, e a sua produção na esfera física, é incomparavelmente maior.

É fortalecendo o espírito com educação adequada, que o pensamento se torna uma força poderosa e capaz de submeter os atos da vida à disciplina, à pontualidade, ao fiel cumprimento das obrigações, ao respeito próprio, e para com o semelhante, à cordialidade, às boas maneiras, ao afeto fraternal, à solidariedade humana, à prestimosidade, à tolerância racional, ao zelo pela palavra empenhada e à boa educação.

Para manter esses requisitos em ordem, muitas coisas são necessárias, entre essas a força de vontade, a atenção, o cuidado, a vigilância, a disposição, o entendimento, o critério, a contenção de impulsos, o desejo de evoluir, e, sobretudo, encontrar‑se a criatura a trilhar o caminho da espiritualidade.

O poder do pensamento desenvolvido em seres ainda não portadores de valores morais, constitui um risco, pois quando por trás de um pensamento forte está um sentimento inferior, como de inveja, ódio, vingança, malquerença, de destruição, enfim, os resultados se constituem em débitos da maior gravidade, proporcionais ao poder desenvolvido, em favor do mal.

Assim, o poder do pensamento lembra uma lâmina, de dois gumes que, enquanto de um lado é fonte de poderosos recursos para a promoção do bem, do progresso, da evolução e da felicidade, de outro pode dar origem às mais funestas conseqüências, quando o agente for movido pelo sentimento do mal.

Mas o poder do pensamento que se deseja recomendar, é aquele que pode ser exercido pelo adepto do espiritualismo, por aquele que está seguro de seu papel na orquestração harmônica do Universo.

Muitos aplicam, inconscientemente, o poder do pensamento, sem o reconhecimento real do que ele representa; esses agem irrefletidamente, não produzindo maiores prejuízos, por ser emitido confusamente, sem disciplina, e bom é que assim seja, enquanto ausentes ainda estiveram aqueles Princípios que norteiam a correta aplicação desse Poder.

Vitimas dos seus próprios pensamentos são aqueles que sofrem desgraças na lei do retorno ou de causa e efeito, por mau uso do livre arbítrio, alheios ao implacável curso das correntes conseqüentes.

O bom comportamento em todos os atos da vida, é o reflexo de pensamentos bem instruídos e tratados por pessoa que marcha em sentido ascendente.

Não se deve esquecer que a evolução e a sua marcha no planeta são acompanhadas pelo Astral Superior, que não se descuida, um só instante, das atribuições que lhe estão afetas.

À medida que a humanidade se for esclarecendo, espiritualmente, determinados dons irão se manifestando, dentre os quais o poder consciente do pensamento.

Se todos pudessem perceber as magníficas paragens que existem no campo astral, aguardando a chegada dos seres que se serviram da luz da verdade para orientar‑se, outro rumo dariam à sua vida.

Quando a força do pensamento é inteligentemente orientada com fundamento no acumulado tesouro espiritual, todos os problemas de aspecto aflitivo se dissolvem, diluídos no esplendor dessa força grandiosa.

As opulências incomparáveis que se situam no campo espiritual das regiões classificadas do Além, estão destinadas àqueles que primam, na Terra, por lapidar as falhas do seu espírito, adotando normas que induzam a dar bom trato ao pensamento.

A locomoção individual, em Plano Astral, denominada volição, é feita pela força do pensamento. A transmissão de pensamentos de um para outro ser, separados por distâncias consideráveis, é realizada em Plano Astral, numa insignificante fração de tempo, pelo Poder do Pensamento. É o que se denomina telepatia. São, ambos, vocábulos de uso corrente, associados à ação do pensamento.

Sendo, como é, o pensamento uma emanação do espírito, o qual desenvolve constante ou permanente atividade, urge prepará‑lo, em condições tais de apuro e burilamento, que o pensamento produzido seja de molde a recomendar o indivíduo como, portador das melhores virtudes.

O pensamento é o recurso existente para o exercício das atividades no campo astral, sempre limitadas ao desenvolvimento adquirido em plano físico, com que cada um se apresentar.

Não se deve perder de vista que a Terra, Mundo‑Escola, é o lugar onde o espírito pode melhor desenvolver as suas qualidades intrínsecas, e é para isso que existe o sistema reencarnatório, com o fim de facilitar o correspondente processo de evolução.

Toda essa organização, sistemática é obra do pensamento poderoso da Alta Hierarquia espiritual.

Todos, gradativamente, terão de desenvolver a força do pensamento, porque o seu uso ou emprego será cada vez mais necessário nas operações de alta categoria espiritual, na medida do adiantamento obtido.

Esse adiantamento ocorrerá, também paulatinamente, com esforço constante e permanente no âmbito da espiritualidade, para que os dons espirituais se desenvolvam, de modo conjugado e equivalente, dentro de condições de equilíbrio.

Com a espiritualidade em desabrochamento, numa seqüência uniforme e racional, ninguém fará uso do poder do pensamento senão para o bem comum.

À medida que for crescendo o pensamento, irá demonstrando a força prodigiosa de que é dotado, que terá, por isso, de ser dirigida, sabiamente, através de recursos espirituais próprios, de elevada natureza, conquistados numa seriação de reencarnações bem aproveitadas.

O espírito é uma fonte perene de dons e recursos que aguardam oportunidade e condições para se manifestarem dependentes do próprio indivíduo, que precisa esmerar‑se para a obtenção de conhecimentos espiritualizadores.

O pensamento, com o seu magnífico poder, opera magistralmente na composição e na mecânica do Universo, sendo responsável pela manifestação de tudo aquilo que os olhos vêem no campo material, físico ou fluídico.

O Pensamento é um Poder da Inteligência Universal multipartido entre os seres, por onde se constata a filiação que existe entre a partícula e o Todo.

Essa prova passa desapercebida entre os que desconhecem o valor do pensamento. Todas as criaturas humanas manifestam esse atributo espiritual, que varia entre elas na proporção do seu desenvolvimento; no Plano Astral Superior, porém, ele se revela em grandes amplitudes.

O pensamento é exercitado na Terra toda vez que se idealiza alguma coisa, que se formula um programa, que se põe em prática uma idéia, que se toma uma iniciativa, que se executa uma obra, que se cumpre um dever, que se resolve um problema, que se aprende uma lição. Quanto mais exercitado for, mais se fortalece, mais se realiza, mais se alcança.

É necessário que cada um saiba exercitar e desenvolver o seu pensamento, por ser ele uma força saturada de poder.

 

                   A Iniciativa

A iniciativa está intimamente ligada ao engenho criador de cada indivíduo. O espírito é a imagem da Força Criadora, e, portanto, tem em desenvolvimento os seus atributos criadores.

A iniciativa é um impulso da Força Criadora, latente na criatura, que se manifesta em cada indivíduo com maior ou menor intensidade, consoante o grau de afloramento dessa Força.

Os espíritos encarnados, faltos de iniciativa, não têm feito uso adequado, no pretérito, desse poder latente adormecido no seu “eu”, poder que, quando estimulado, incentiva o progresso, atua no seu desenvolvimento positivo, cria novas situações de bem‑estar, sempre que conduzido com elevação espiritual.

A iniciativa exige ação, movimento, intercâmbio e frutificação ‑ condição dinâmica imposta pela vida nas operações cotidianas ‑ pois o Universo não pára o seu movimento um só instante. Assim também a mente trabalha constantemente, apenas sendo necessário coordenar o seu trabalho, orientando‑o, dando‑lhe um salutar sentido e fazendo‑o convergir para as iniciativas.

A iniciativa promove a circulação dos bens, do dinheiro, das utilidades, das idéias, dos conhecimentos, das ilustrações e das leis da verdade libertadora. Reter a circulação dos bens, é dificultar a evolução espiritual. Cumpre observar a parte que a cada um toca na ação conjunta de movimentar a riqueza, seja ela material ou espiritual

Somente os dorminhocos não manifestam iniciativas. Estão, de algum modo, paralisados à margem do caminha da Vida, sem se aperceberem do cenário que passa e o tempo leva.

A iniciativa traz, não raro, aumento de encargos, maior trabalho, mais intensa atividade. Mas é sempre reconfortante vê‑la produzir os seus frutos e alcançar os objetivos em mira. A coroação de um êxito é uma vitória, e as vitórias fortalecem o espírito.

Os grandes empreendedores chegaram a ser o que são pela soma de vitórias alcançadas desde um passado remoto, reproduzidas numerosas vezes. Logo, é necessário que a criatura ponha em prática as suas iniciativas, sem cruzar os braços diante delas, mas impulsionando‑as, dando‑lhes vida e ação, sempre que a sua finalidade for ao bem comum.

A iniciativa bem planejada conta com probabilidade de sucesso, mas se uma ou outra não atingir o resultado esperado, não deve ser motivo de desânimo, pois as experiências também têm o seu preço. A arte de planejar depende dos recursos da experiência.

Na partilha das funções terrenas, cabe a cada um tomar iniciativas em ocasiões propícias, fazendo‑se, previamente, o necessário exame das conjunturas, para se verificar se a iniciativa é ou não viável. Não é necessário que se corram riscos demasiados, visto ser muito importante o fator segurança.

A ciência da Vida estabelece que as oportunidades que se apresentam devem ser aproveitadas, levando‑se em conta que muitas delas se revelam através das iniciativas.

A Natureza, com suas transformações, aponta uma sucessão de iniciativas reveladas no "eu" espiritual dos seres humanos. Tanto a Natureza, expressão máxima da Força Criadora, como a partícula dessa Força ¾ o espírito ¾ são produtores de iniciativas, cada qual na sua esfera de ação.

As iniciativas quebram a rotina estagnante, para imprimir novas forças ao cenário da vida, articulando esforços, desenvolvendo atividades e encorajando as operações humanas.

O espírito esclarecido está sempre pronto a dar de si o que tiver de melhor e, neste caso, convém conceder o devido apreço ao valor das iniciativas que ele possa produzir, desde que se volte para o lado nascente das realizações úteis.

A iniciativa deverá estribar‑se nos recursos da possibilidade, para que não se venha a dar o caso de se perderem numa inoportunidade, numa imprudência, os melhores impulsos renovadores.

Não é possível conceber a evolução, sem se reconhecer, por trás dela, acionando‑a, a mola da iniciativa. Muito se perde quando não se transmite à iniciativa o calor que ela precisa ter. Pela indolência, iniciativas de grande valor perdem a sua força realizadora.

A vida reclama um movimento dos valores concretos ou abstratos, como meio de fazer chegar ao alcance de todos os recursos adequados que cada alma aspira. Este desenrolar de atividades mais se acentua, com um maior fomento das iniciativas.

Seres de iniciativa são os que mais prosperam nas especialidades que escolheram. Em cada iniciativa que criam, nasce uma força que alimenta um novo campo de ação. Campos de ação são campos de cultivo, são áreas impregnadas de energia vital que, quanto mais extensas, mais prodigiosas se apresentam os seus resultados em favor da comunidade. Esta realidade tanto se enquadra na regência da matéria, como na do espírito.

Qualquer um demonstra ter alguma iniciativa, mas não é a iniciativa envolvida com atos rotineiros que se destaca; iniciativas como sinônimo de providências, são as que mais se acham ligadas às ações diárias. Um chamado do pronto‑socorro, por exemplo, é uma providência, mais do que uma iniciativa, que surge com a cena do momento. Não é essa espécie de iniciativa, adotada para um recurso imediato, que se deseja realçar neste tema.

A iniciativa pode tomar‑se fonte de inspiração para outras, não só objetivando o melhoramento da primeira, como dando origem a derivações da mais variada espécie. Por isso, a repercussão da primeira iniciativa pode perpetuar‑se de geração em geração, criando novas formas, diferentes aspectos e, de algum modo, promovendo a evolução.

As grandes iniciativas só podem partir de seres que tenham larga folha de serviços executados em numerosas vidas do passado; seres experimentados na solução de dificuldades, no aproveitamento de idéias; seres que já tenham posto em prática, com êxito, as mais aplaudidas iniciativas; seres que adquiriram confiança em si mesmos; seres cuja estrutura espiritual tenha sido enrijecida nas batalhas da vida.

Há os que se queixam dos revezes, das injustiças sofridas, das incompreensões humanas, das agruras por que passam, das dificuldades, das insuficiências e de todas as aflições que sucedem, sem levarem em conta que é por meio desse rigor nas condições terrenas, que a alma se retempera e se entrega, mais tarde, aos mais elevados empreendimentos.

Sem cabedal não há fundos para a criação de iniciativas fecundas, e certo é que esse cabedal é formado com esforço, dedicação e bom aproveitamento das vidas, ano após ano, existência após existência, quando se acumulam os créditos de cada uma delas.

O poder da iniciativa pode não atestar um grau de espiritualidade desenvolvido, porque esta envolve atributos como a honradez, a retidão, a sensibilidade afetiva, o caráter bem formado e numerosos outros, mas sendo a iniciativa, como é, um poder criador na órbita da relatividade, emana do espírito adestrado e reflete o vigor da natureza espiritual.

Vícios de negligência, indolência, ócio, irresponsabilidade, egolatria, inércia, apatia, paralisam o dom da iniciativa. O indivíduo afetado por qualquer dessas fraquezas, adota um regime parasitário e está a margem da dinâmica da vida, não comparticipando da evolução dos atos empreendedores da missão constituída.

Cumpre não adormecer diante de uma boa iniciativa que se haja formulado para o bem comum, para o estímulo de outras da mesma espécie e para a elevação do nível social. O espaço está impregnado de boas idéias, emitidas por mentes esclarecidas, que se forem captadas e convertidas em iniciativas, devem florescer e frutificar para regozijo da coletividade. Cumpre, no entanto, não exagerar as virtudes da inspiração, para nunca atribuir a forças externas as suas próprias idéias.

Com respeito a iniciativas, há, ainda, os que se fanatizam por uma novidade qualquer e passam a perseguir as pessoas conhecidas, com o desejo de envolvê‑las na sua rede de pensamentos obsedantes, para arrastá‑las ao cometimento do que engendram. São criaturas que necessitam de tratamento psíquico, na maioria dos casos instrumentos do astral inferior.

Os seres humanos possuem a mediunidade intuitiva; uns a têm mais desenvolvida do que outros, mas ela é comum a todos os indivíduos. As iniciativas afloram, não raro, através dessa mediunidade, apoiando‑se na capacidade operante do seu agente.

A iniciativa tem de ser sempre orientada, racionalmente, para o bem. Uma iniciativa que redunde em alterar os bons costumes, em perverter o meio social, é profundamente negativa e causadora de danos morais para o seu executor, na proporção dos males conseqüentes.

Realizações ou empreendimentos exigem iniciativas, pois sem elas a evolução seria estacionária. Cada indivíduo normal é uma peça do grande conjunto universal, em que as transformações se operam no sistema evolutivo. Logo, cabe a cada um, em particular, fazer a sua parte no lançamento de iniciativas harmoniosas, fertilizantes, construtivas.

A evolução de um povo depende da qualidade e da quantidade das iniciativas emanantes em seu meio. Com boas iniciativas, o padrão de vida adquire condições superiores, a abundância cobre todas as áreas, o bem‑estar torna‑se lugar‑comum e o espírito alimenta alegria e bom‑humor.

A presença da iniciativa vem revelar um exercício espiritual em ação. A tendência de quem exercita esse dom é de multiplicar as suas iniciativas, que passam a ocorrer, mais amiudadamente, face aos problemas que surgem.

As iniciativas não se originam em mentes ociosas, em quem se entrega ao desleixo, à negligência, como um indolente. Enquadrados nesse negativismo, muitos seres se desviam da rota, para a sua inferiorização.

A iniciativa nasceu com o livro arbítrio. Ela se projeta com a liberdade do pensamento. Cabe, no entanto, não só fazer bom uso do livre arbítrio, como imprimir, em todas iniciativas, o cunho de superioridade que elas requerem, para se tomarem, como devem, um sustentáculo da evolução.

 

                   Espiritualismo

É sempre um perigo para o homem andar fora da lei. As leis do mundo podem ser encontradas nos Códigos, mas as leis espirituais somente se aprendem com o estudo do espiritualismo. Por qualquer ângulo que se observem os males sociais, as conclusões são sempre as mesmas: falta de espiritualidade.

Dentro das regras da espiritualidade, encontram‑se os seguintes preceitos:

 

1‑ Não lesar nunca o semelhante, muito menos em benefício próprio.

2‑ Não contribuir para o encarecimento da vida, por meio de lucros escorchantes;

3‑ Procurar sentir‑se membro da família humana, como elemento cooperativista;

4‑ Ser apóstolo do trabalho, realizando‑o com fraterna compreensão;

5‑ Pugnar pela moralidade dos hábitos e costumes;

6‑ Elevar o conceito da família ao mais alto grau;

7‑ Manter‑se em dia com as suas obrigações e deveres, não exorbitando da sua autoridade;

8‑ Conservar ativos todos os seus atributos morais superiores, procurando dar‑lhes uma expansão cada vez maior,

9‑ Converter o mal em bem, na maior proporção dos recursos pessoais;

10‑ Viver em cada dia, distintamente, material e espiritualmente, sendo fiel cumpridor das leis eternas de Amor, Harmonia e Paz;

11‑ Revigorar, com esforço constante, a sua posição junto às correntes do Astral Superior;

12‑ Certificar‑se da sua unidade com o Todo, através do estudo, do raciocínio e da meditação.

 

Nada adianta o indivíduo eximir‑se de participar do concerto espiritual, uma vez que ele próprio é espírito, e não pode renegar a sua natureza. Logo, não há razão para iludir‑se, agarrando‑se às quiméricas oferendas terrenas, cujo valor se esvai com a sua passagem rápida pela Terra, em cada existência. O homem terreno luta sem obter nada de efetivo, enquanto o espiritualizado trabalha pelos tesouros do espírito, que são eternos e se acumulam com o perpassar do tempo.

O preceito de "não lesar nunca o semelhante, muito menos em benefício próprio", resulta da necessidade de vencer o egoísmo cego, que leva a criatura à prática de atos vergonhosos de espoliação, de usurpação e outros, com o intuito de beneficiar‑se. Benefício louco é esse assim conquistado, que se converterá em malefício, para a desgraça do agente, que terá em condições lastimáveis, de devolver tudo quanto usurpou, em dias futuros, ou, mais propriamente, em encarnações futuras.

Ele não poderá jamais levantar os olhos perante a sua consciência enquanto, não saldar, a peso de ouro, o último centavo do seu débito malfadado.

Quem espolia o semelhante, espolia a si mesmo, porque terá de sentir na própria carne o efeito da espoliação causada a outro, por onde se confirma que quem mal faz, para si o faz.

Os ignorantes da Verdade, que desconhecem a Vida espiritual, não acreditam na lei de causa e efeito, enquanto ela não despencar sobre as suas cabeças. Na realidade, ao receberem a carga de retorno dos males que praticam, não saberão atinar com a causa, mas depois da desencarnação, quando forem conduzidos ao mundo próprio, verão ali, com todas as cores, a conseqüência desastrosa dos seus crimes.

Aquele segundo preceito de não contribuir para o encarecimento da vida, por meio de lucros escorchantes, visa chamar a atenção dos organizadores de trustes, especuladores desalmados que costumam arrematar nas fontes produtoras, por preços regateados, gêneros alimentícios de primeira necessidade, conservando‑os em depósito até que se esgote o estoque da praça, para, então, como senhores absolutos do mercado, liberarem o artigo por preços exagerados. Ganham, por meio desse processo indecoroso, rios de dinheiro à custa da pobreza daqueles que enfrentam os maiores sacrifícios, para manter a família.

Esses indivíduos, conhecidos na gíria por tubarões, são criminosos que imporão a si mesmos, depois de ascenderem aos seus mundos de luz e verificarem, horrorizados, todo o mal que fizeram, uma vida de penúria, nas próximas encarnações. Se esses infelizes soubessem que triste futuro estão preparando com esse tipo de desonestidade, por certo enveredariam por outro caminho.

Ao sentir‑se o indivíduo membro da família humana, como elemento cooperativista, estará dando um passo decisivo no reconhecimento da sua posição no Universo como parte integrante do Todo, partícula da Inteligência Universal. Esta compreensão faz o ser mudar o seu modo de sentir e de viver, elevando‑se.

Todo trabalho, na Terra como no Espaço, tem caráter cooperativista. Ninguém pode trabalhar só para si, e o importante é reconhecer essa verdade. Quando a criatura se convencer de que está trabalhando, continuamente, para outros, e que estes, de igual modo, trabalham para ela, começará a perceber que o Trabalho é uma Unidade, e que cada um faz uma pequena parcela dele.

Essa idéia real mostra claramente o espírito cooperativista do trabalho e o papel que todo ser deve desempenhar, como membro de uma grande família humana que, se fosse esclarecida, seria fraterna e solidária.

Ser apóstolo do trabalho, realizando‑o com fraterna compreensão, é sentir a missão de que todos estão revestidos. O encargo mais humilde pode ser entendido como uma missão, uma tarefa reservada, uma atribuição especial que precisa ser feita por aquele indivíduo a quem foi destinada, para um fim expresso e, quase sempre, oculto, mas o bem.

Ser apóstolo do trabalho, é reconhecer nele o seu fado edificante e tornar‑se exemplar na sua execução, e defensor e propagador dos seus méritos, concorrendo para o enobrecimento do espírito.

Realizá‑lo com fraterna compreensão, é tratá‑lo com valor igual na sua distribuição pelos seres, para que cada um contribua, com a sua parte, com a sua habilidade, num esforço comum.

Numa orquestra em que tantos instrumentos diferentes tocam juntos para produzir uma combinação harmônica de sons, nenhum músico pode desafinar sem prejuízo do conjunto, e todos eles ficam atentos, solidários, empenhados na boa execução da peça musical, fraternalmente unidos para um mesmo fim, e dependentes uns dos outros. Na orquestração da vida, repete‑se o fenômeno.

Pugnar pela moralidade dos hábitos e costumes, significação vigilante e doutrinária, em que têm assento os bons conselhos, a boa conduta, e devam sempre imperar os princípios da moral cristã. É fazendo uso da palavra, da pena e dos exemplos, que se pugna pela moralidade dos hábitos e costumes, cujos reflexos edificantes atingem diretamente os lares.

Se todos se dispusessem a pautar o seu viver pela moralidade ampla, a transformação do mundo se operaria, prontamente, para a felicidade de seus habitantes, pois é a falta do senso da moral que conduz homens e mulheres aos despenhadeiros da vida.

A maioria não faz o menor esforço para reformar os maus hábitos, preferindo prosseguir na inconsciência dos insucessos que arma, caminhando à maneira das reses que seguem para o matadouro.

Impera, realmente, o animalismo por toda parte, pois o que se vê muito de perto é a preocupação única pelo corpo físico e suas solicitações aguçadas, pouco se importando as criaturas como o que é principal e fundamental: ¾ a vida do espírito.

Elevar o conceito da família ao mais alto grau, é desenvolver o patrimônio moral do País. Para elevar esse conceito é preciso que todos os seus membros se compenetrem da importância da Família no seio da coletividade. A Família é um agrupamento espiritual de seres que se completam para um mesmo fim. É no lar ¾ habitação da Família ¾ que se forjam os caracteres, que se formam as personalidades, que se preparam homens e mulheres para todos os momentos da vida.

É preciso que essa célula energética, a Família, seja bem constituída, sadia, uniforme, respeitadora e respeitada. Cada membro dela deverá dar o seu quinhão de valor para a sua elevação. Todos unidos, irmanados, ligados por sentimentos afins, devem defendê‑la, intransigentemente, contra quaisquer investidas que tentem diminuí-la.

Para isso, deverão servir‑se da força moral, do passado limpo, dos exemplos merecedores de alto crédito e da conduta modelar. Eleva, o conceito e a estrutura da Família, é uma obrigação imperiosa que pai, mãe e filhos, indistintamente, devem cumprir. A prática de espiritualidade inicia‑se no meio familiar e desenvolve‑se no ambiente social.

Manter‑se em dia com as obrigações e deveres, não exorbitando da sua autoridade é lembrar‑se daquele ditado: "não deixes para amanhã o que puderes fazer hoje" Além disso, é ser pontual nos seus horários, nos pagamentos e demais compromissos, e estar atento para não deixar faltar o necessário na vida de relação, tanto no lar como no trabalho; é ter disciplina, ordem e método, e saber controlar as suas atividades, despesas e saúde; é viver em harmonia, criando um clima saudável ao seu redor, pelo bom‑humor, a serenidade e a prudência.

Não exorbitar da autoridade, é não se prevalecer da sua eventual superioridade terrena, para fazê‑la sentir aos que estiverem em posição inferior.

A autoridade mantém‑se pelo valor pessoal, pelos exemplos e pela ação criteriosa. As feições carregadas podem infundir temor, mas não respeito, consideração e amizade, como é de desejar‑se. Ao ser verdadeiro e sincero, estará o indivíduo enquadrado neste lema, e adotando normas básicas para a fiel observância da vida espiritual.

Quanto se recomenda conservar ativos todos os seus atributos morais superiores, dando‑lhes, quanto possível, maior expansão, reconhece‑se que todo ser tem, em potencial, atributos morais elevados, que já se revelaram, em parte, ou hão de revelar‑se.

O que se aconselha é que se faça o possível para eles se revelarem e expandirem com a maior brevidade, para não se constatarem retardamentos prejudiciais.

Uma vez que esses atributos precisam ser despertados e estimulados, convém que se dê inicio, quanto antes, a esse processamento, para evitar que tenham de ser acordados da sonolência pelo sofrimento. O fato de serem conservados ativos, indica que se tornarão vigorosos pelo exercício continuado.

Converter um mal em bem, na maior proporção dos recursos pessoais, é, como ensinou Jesus, pagar o mal com o bem, não alimentar ódios, malquerenças nem ressentimentos.

O ser que pratica o mal, conscientemente, vive ainda no primitivismo da vida, em estado de grande ignorância espiritual, e se puder ser ajudado para livrar‑se das trevas por onde anda, será um grande benefício para quem o ajuda e para ele mesmo. Uma vez que todos fazem parte da grande família humana, é racional que esse membro dessa família, embora atrasado, receba lição afetuosa e oportuna que o auxilie a encontrar o caminho do progresso.

Viver, em cada dia, distintamente, material e espiritualmente, como fiei cumpridor das leis eternas do Amor, Harmonia e Paz, significa que havendo horas para tudo, não se misturem os afazeres materiais com os espirituais, nunca mercadejando com as coisas do espírito.

As leis eternas que regulam a Vida Universal, são naturais e imutáveis, e contrariá‑las é errar, é ferir‑se, é provocar sofrimento, é retardar a evolução obrigatória.

O amor, a harmonia e a paz são dons que se cultivam e desenvolvem culminando com a felicidade, e integram‑se nas leis da Sabedoria. Para ter amor, harmonia e paz na alma, é indispensável que o ser aprenda a viver também no plano da espiritualidade.

A maneira de a criatura revigorar, em esforço constante, a sua posição junto às correntes do Astral Superior, é saber irradiar a ele, em horas próprias, ajustando‑se ao contato com essas Forças do Bem.

Essa prática é indispensável a quem se dedica a viver menos para a matéria e mais para o espírito. Ninguém deve julgar, dentro da sua simplicidade, que nada vale, e que no Astral Superior não haverá quem se interesse por ele.

É um engano pensar assim. Os encarnados já fizeram parte de milhares de famílias, nas milhares de encarnações passadas, e nem todos os componentes dessas famílias estão encarnados; além disso, se no mundo há regras e disciplinas a que todos estão sujeitos, no Plano Astral essas regras e disciplinas são mais apuradas. Assim, nenhum ser vive isoladamente, mas ligado não só à família terrena, como à grande Família Astral.

Certificar‑se da sua unidade com o Todo através do estudo, do raciocínio e da meditação, é reconhecer‑se como Força e Matéria, os dois elementos de que se compõe o Universo. Uma vez realizada essa concepção, a idéia de Deus se confunde com a da Inteligência Universal, não havendo mais possibilidade de visualizá‑la na figura vulgar de um ser humano.

 

Todos possuem a mediunidade intuitiva, e esta se desenvolve com o desabrochar da espiritualização. E por meio dessa faculdade que se estabelece o contato espiritual com as Forças Superiores, e se recebe aquilo que se chama inspiração ou intuição.

O Espaço está impregnado de pensamentos emitidos pelos incontáveis Espíritos que o ocupam, e como os pensamentos afins se atraem, tem o ser a possibilidade de, por meio da intuição, pôr‑se em ligação com os pensamentos de idêntica vibração, e receber a solução para os seus problemas, com a ajuda do raciocínio.

Poder‑se‑ia dizer que a humanidade sofre porque quer, uma vez que se dedicasse à espiritualidade, a maioria dos sofrimentos nela não encontraria guarida.

Mas há de reconhecer‑se que as seitas materialistas iludiram, por tal forma, as massas de crentes e fiéis, que se torna difícil a estes abandonarem as esperanças fagueiras que lhes são acenadas, para aceitar a Verdade crua e nua da espiritualidade. Por isso se fazem surdos e esconjuram quando o que se diz não afina com as afirmações dogmáticas estabelecidas.

A espiritualização não pode ficar restrita a palavras. Ela exige ação, seja pelo exercício, seja pelo estudo ou pelo exemplo, e sempre haverá alguma forma de praticá‑la ou externá‑la. No Racionalismo Cristão existe essa prática, à qual se dedicam os estudiosos da Doutrina, que é efetuada em complemento aos seus ensinos.

Quando se fala em espiritualização, alguns pensam que se trata de invocação de espíritos, por associarem a palavra espírito à espiritualização. Ignoram esses, lamentavelmente, que são, como os demais, apenas espíritos, e que a aparência física passageira não pertence à estrutura espiritual.

Espiritualização é um estado da alma cada vez mais propenso a reconhecer, segundo o progressivo desenvolvimento, o seu verdadeiro "eu" espiritual, a natureza real do ser. Espiritualizar‑se é procurar encontrar a Verdade por trás de todas as ilusões.

Diante desta linguagem leal e confraternizadora, não há como pretender alguém desviar o verdadeiro sentido desta exposição para esquivar‑se de reconhecer a verdade exposta. Não tem a Doutrina Racionalista Cristã o menor interesse em dizer uma coisa por outra, porque não busca nenhuma vantagem para si nem precisa de coisa alguma por via de solicitações. Com esta independência moral, tem autoridade para apresentar os seus ensinamentos liberalmente, sem esperar retribuições.

 

                   A Verdade

A Verdade diz o que é real, o que é certo, puro e autêntico, o que é genuíno, fiel, sincero e leal. O Grande Foco abrange toda a Verdade. Onde ela está, não pode permanecer a ilusão, o fictício, o simulacro.

Neste mundo de ilusões e fantasias, onde a Verdade tem de ser procurada, predominam as falsas aparências, o que é quimérico, passando o indivíduo a viver no mar tumultuoso da dúvida e incerteza.

Ninguém pode conhecer toda a Verdade, por envolver ela a Ciência Total, em qualquer sentido, mas cada um pode conhecer parcelas importantes dela, na medida do seu entendimento, do seu saber, da sua capacidade espiritual de absorção.

O conhecimento da Verdade não é negado a ninguém que o procure, porque ela é o mais profundo manancial da Vida. Na marcha evolutiva todos vão ganhando, dia a dia, maior conhecimento da Verdade, na proporção do progresso espiritual que for manifestado.

O Racionalismo Cristão sendo, como é, uma Doutrina essencialmente espiritualista, expõe a Verdade claramente, sem subterfúgios, na divulgação dos seus ensinos. Alguns podem, de início, sentir‑se um pouco chocados com a dureza da realidade mas, diante da sinceridade dos argumentos, acabam se familiarizando com ela, e tornam‑se, por fim, fervorosos anelantes do seu conhecimento.

Diz‑se por aí que a Verdade nua e crua dói, quando é apontada, embora para fins corretivos. É assim, realmente. Mas essa dor é benéfica, cicatrizante, balsâmica, e vale a pena suportá‑la, pelo bem que faz.

Houve um tempo em que se acreditava que a Terra seria chata e que o Sol girava em seu redor. Quando a verdade resplandeceu mostrando que a Terra é quase esférica e gira em tomo do Sol, estabeleceu‑se pânico na igreja ditatorial da época. Era a Verdade contrariada e perseguida pela própria igreja!

A teoria verdadeira desse movimento, descoberta por Copérnico, foi condenada pelo "infalível" Papa Paulo V, que a declarou contrária ao texto das Escrituras Sagradas. Mais tarde Galileu, também baseado em estudos científicos, confirmou a Verdade demonstrada, anos antes, por Copérnico, e tão graves foram consideradas as suas declarações verdadeiras, que lhe valeram as maiores perseguições do clero dominante.

Em 1632, Galileu reuniu, num livro, todas as provas da Verdade encontradas no sistema de Copérnico e foi, por essa razão, condenado à fogueira pela "Santa Inquisição", só escapando desse martírio por sujeitar‑se a, de joelhos, abjurar, perante o Tribunal Inquisitorial, a sua pretendida "heresia"! Não contentes com isso, mantiveram‑no cativo, ou sob rigorosa vigilância, até o fim de sua existência terrena.

Assim registra a história a maneira pela qual tem sido perseguida a Verdade por aqueles que se diziam, ou dizem, mensageiros de Jesus!

Ainda hoje não faltam fanáticos que, como no tempo de Galileu, gostariam de poder levar à fogueira todos aqueles que denunciam a Verdade verdadeiríssima da lei das reencarnações, da inexistência de céu e inferno, da nulidade do perdão, da inverídica condenação eterna, da imutável lei de causa e efeito e de muitas outras que ofuscam a vista dos ilusionistas do sacerdócio.

Aos que gostam de sofismar, poderá parecer combate o que se acaba de relatar, mas é a história que registra o fato, e que a história revela, é para ser conhecido de todos os que desejam ilustrar o espírito sobre acontecimentos reais do passado. E lamentável que o clero se haja envolvido em casos de tão flagrante injustiça, ao condenar cientistas que revelaram a Verdade, sendo esta, como já se disse, a encampadora de toda Ciência, no sentido geral.

Neste mundo de vaidosos, presunçosos, atrevidos, déspotas, fanáticos, mal‑educados, perseguidores e perturbados, não se pode dizer sempre tudo o que interessa à Verdade com a alma aberta, porque pela falta de compreensão, ilustração espiritual e entendimento, o ódio aflora em almas aparentemente dóceis, e faz delas joguetes do astral inferior.

Uma das grandes manchas que ficaram na História, com respeito às atrocidades do clero, foi haverem queimado viva, numa fogueira, a inocente Joana d'Arc, que, segundo os clérigos, havia cometido o crime de dizer a Verdade ao revelar‑se médium auditivo e vidente, fenômeno comum na Ciência da Vida que os ignorantes tomaram como obra de feitiço.

Ninguém poderá apagar essa mácula que ficou registrada, em letras de fogo, no grande livro da vida humana. Joana d’Arc foi, apenas, um instrumento das Forças Superiores, que dela se serviram para empregar a força dirigida com o fim de solucionar um certo problema, assim como o cirurgião aplica o bisturi para resolver o caso patológico de um órgão do corpo em decomposição ou em vésperas de contaminação.

A Verdade, pois, tem sido causa de espantosas deflagrações do espírito humano, quando fortemente escudados nas suas convicções interesseiras, estribadas em nulos conhecimentos espirituais.

Nestas circunstâncias, a criatura costuma fazer um esforço desesperado para manter a capa que abriga o seu ponto‑de‑vista, e apela para todos os processos, inclusive os indecorosos, a fim de resguardar‑se na posição que lhe agrade.

As seitas e religiões poderiam dispor ‑ e já não seria sem tempo ‑ de uma parcela maior da Verdade, se os seus dirigentes estivessem dispostos a despojar‑se de muitas influências que estimulam a vaidade e lhes dão uma falsa posição na vida que lhes parece cômoda.

Assim, tais dirigentes, atendendo ao seu gosto, desfrutam, com certo aparato, de hierarquia terrena e de uma ascendência moral sobre as "ovelhas", que os colocam num enganoso pedestal de autoridade. No entanto, a Verdade é simples, despretensiosa, e, como a água cristalina, mata a sede, por igual, dos que dela se socorrem.

Ninguém pode conhecer a Verdade somente por ouvir dizer onde ela está. A verdade se revela, por si mesma, a cada um, de acordo com o anseio purificante da alma, e o esforço que fizer para alcançá‑la. Há, para isso, que ser sincero, leal, verdadeiro consigo mesmo, e de manter o desejo de encontrá‑la, para cultivar a sua espiritualização.

No Racionalismo Cristão apela‑se para o emprego do raciocínio como meio de encontrar o caminho certo, à luz da Verdade. Os ensinamentos ali divulgados são submetidos, fraternalmente, à razão criteriosa, com o objetivo de fazer com que cada um veja, com os olhos da alma, a realidade dos fatos.

A Verdade sente‑se, interiormente, com o poder da lógica, e reflete‑se, na vida por estar em toda parte, inclusive nas leis da relatividade, pois que ela própria é a manifestação dessa e das demais leis.

A Verdade Sublimada, a Verdade Universal exprime um conceito Superior, que se encontra irmanado ao Supremo Grau da Inteligência. Contrariar essa Verdade, pode não ser mentir, vulgarmente falando, porém, mais do que isso, é violar uma lei, contrapondo‑se aos seus desígnios superiores.

Quando, com novas demonstrações científicas, uma parcela maior da Verdade for publicamente revelada, de forma insofismável, os incrédulos de hoje se verão obrigados a recuar da sua pirrônica resistência, idêntica à do apóstolo Tomé, e a aceitar a vida, no seu verdadeiro aspecto.

Estão neste caso também os religiosos que se dizem cristãos e que, apegados a textos vetustos, de origem duvidosa, se recusam a participar dos novos surtos de espiritualidade.

É a verdade que, revelando novos painéis que focalizam a vida espiritual, liberta o ser das peias do materialismo. O indivíduo, nesses quadros, contempla, com a realidade desejada, o panorama que convém seja conhecido, para o seu maior desenvolvimento, sendo necessário, no entanto, não fechar as janelas da alma a essa luz, para que a sombra do desconhecimento seja removida.

Tudo quando é material tem duração efêmera, por ter de passar pelo processo das transformações, de onde se conclui que estreitar os laços do materialismo, para se prender a eles, é propositalmente deixar‑se levar pelas vagas embriagadoras da irrealidade.

A Verdade, que é eterna, está sempre em campo oposto ao do materialismo, e procurá‑la é elevar‑se acima dos gozos entorpecentes, para atingir o estado apropriado, que é o espiritual.

Na tarefa de apontar o rumo da Verdade, emprega o Racionalismo Cristão o melhor dos seus esforços, sem diminuir nem censurar ninguém por não ter seguido o curso que nas Casas Racionalistas Cristãs é ministrado. Nelas são oferecidos exemplos, argumentos, ilustrações, fatos históricos, lições oportunas e demais elementos indispensáveis ao esclarecimento.

O trabalho tem de ser lento e perseverante, e muitos são aqueles que só aos poucos, e com muito custo, poderão despir‑se das roupagens milenares do convencionalismo e do conservadorismo decadentes, pejadas de adornos condecorativos e nobiliárquicos, para se recomporem com uma leve e simples túnica branca, simbolizadora das virtudes excelsas, em que se reflete a pureza da Verdade, consubstanciada nos ensinos realmente cristãos.

 

                   Moral Cristã

Entende‑se por moral, no sentido amplo, a observância dos bons hábitos e costumes na vida humana de relação, em que sobressaem as atitudes de decência, honestidade, pudor, justiça e eqüidade.

Varia o conceito da moral entre os povos, segundo a tradição, o temperamento, a étnica, a posição geográfica e os fundamentos religiosos.

O que constitui preceito moral para uns, nem sempre está de acordo com o entendimento de outros, conforme aquela variação conceitual exposta. Como exemplo, vale citar o caso da poligamia, da existência de haréns, do senso acerca do nudismo e da mercantilização do casamento.

Os países cristãos têm a sua moral baseada nos ensinamentos de Jesus, denominada moral cristã.

Essa moral é seguida pelo Racionalismo Cristão, em toda a linha, por reconhecer nela que o respeito ao próximo, a igualdade de direitos e a ampla consagração fraterna, são esteios que se aprofundam na firmeza da justiça emanante, e na grandiosidade do amor espiritual.

A moral cristã é o poderoso sustentáculo da constituição da família ‑ núcleo respeitável que representa a pedra angular da espiritualização de um povo ‑ pois ali é que germinam as idéias sadias, os conselhos construtivos, as diretrizes da evolução.

Se o sentido da moral cristã fosse melhor compreendido e cumprido, a humanidade estaria desfrutando todas as dádivas espirituais cabíveis, e o mundo seria um pouso refrigerante para as almas encarnadas.

Para processar‑se a evolução dos seres, não seria preciso que a Terra oferecesse os amargurantes meios que se constatam, pela precária aplicação da moral cristã nos atos da vida. A evolução tem de efetuar‑se seja por bem ou por mal. Infelizmente, a humanidade prefere que seja por mal.

A moral cristã é a bandeira sob a qual devem perfilar‑se aqueles que realmente querem evoluir pelo caminho do bem.

Os estudiosos do Racionalismo Cristão têm a convicção de se haverem colocado sob essa bandeira, e fraternalmente acenam para os seus semelhantes, transviados ou não, para que se aproximem desse estandarte e assumam o compromisso de viver no rigor das normas espiritualistas da moral cristã.

Dizer‑se alguém cristão e permanecer contrariamente aos preceitos instituídos por Jesus, é proceder levianamente de maneira irresponsável, muito embora pretenda parecer um cavalheiro de respeitável aspecto. A sua verdadeira expressão será revelada no Plano Astral, onde não há meios de esconder‑se ou camuflar a realidade dos fatos.

A moral cristã está periclitante na coletividade humana, não obstante se vangloriarem os representantes das oito mil e tantas seitas existentes, dos numerosos asseclas que possuem, o que vem testemunhar a pouca ou nenhuma eficiência das mesmas, no âmbito espiritual.

Passe‑se uma vista de olhos pelos magnatas, pelos "tubarões" da economia popular, pelos que enriquecem da noite para o dia, pelos açambarcadores, pelos contrabandistas e especuladores de toda espécie, e veja‑se se não estão todos, ou quase todos, filiados, direta ou indiretamente, a uma das numerosas seitas ou religiões.

A tais indivíduos não interessa saber da moral cristã que estorva os seus planos inconfessáveis, a sua ânsia desenfreada de se aproveitarem da posição e da oportunidade.

É a falta de espiritualidade que domina o ambiente terreno, em que a grande maioria dos fiéis por conveniência, e de cristãos pró-forma, se entrega, de corpo e alma, à vida material desregrada, sem o menor respeito pela moral cristã.

Em algumas seitas ainda se vigia a conduta do ser pastoreado, mas noutras a liberdade é franca, ou as restrições são muito dilatadas. O resultado de tal frouxidão é fornecido pela imprensa diária, ao serem revelados escabrosos acontecimentos.

Grande é a responsabilidade daqueles que, ao se arvorarem em guias messiânicos, consentem que os seus guiados menosprezem os ensinos do Nazareno e salpiquem de lama os princípios da moral cristã.

É bem certo que para andar firme dentro desses princípios, muita renúncia há que se fazer, mas que importam as vantagens terrenas, se as espirituais são muito maiores? A criatura nada perde com seus atos de renúncia, porque esta vida no planeta é relativamente curta, enquanto que o patrimônio espiritual será desfrutado num período eterno.

Logo, vale a pena ser realista para compreender a verdade dos fatos e não se deixar levar pelo papel de tolo, como a criança que chora por um brinquedo ou um pedaço de doce, por não saber renunciar.

Uma das condições de conseguir‑se progresso espiritual, é saber renunciar, é não ter apego às coisas terrenas, pois assim é que se não cometerá o erro, a falta grave de assaltar ou corroer os bens alheios, dolosamente, para multiplicar os próprios.

A vida feliz, pujante, limpa, farta, esclarecida, plena de regozijos e satisfações, conseguida pelo esforço e elevação espiritual, é oferecida nos Planos Superiores, para onde terão de ir aqueles que lealmente fizeram boa aplicação dos Princípios da moral cristã.

Jesus, o grande Mestre não teria descido à Terra com tanto sacrifício e sofrimento, se não fosse para regalar os bem intencionados e propensos à retidão do caráter, com uma nova vida que merecesse ser disputada, com empenho, por meio da conduta irrepreensível ministrada pelos seus ensinos. Deu a todos a chave para essa conquista, que se encontra bem acondicionada no interior desses Princípios.

Não é outra a missão do Racionalismo Cristão senão favorecer espiritualmente aqueles que se sintam preparados para viver com dignidade, recusando riquezas materiais que não lhes venham às mãos por meios honestos e legítimos; aqueles que estejam dispostos a cerrar fileiras ao lado dos que defendem a instituição da família, com todo o ardor, aqueles, enfim, que desejam tomar posição defensiva contra todas as investidas perniciosas intentadas contra o patrimônio moral ou material da coletividade.

A moral cristã envolve tais dispositivos e alonga‑se em outros pormenores sempre avivados na consciência dos justos.

Tenha‑se em conta que o estabelecimento da moral cristã foi feito com o mais alto critério e implantado pelo Mestre de todos os Mestres. A obra que o Racionalismo Cristão faz hoje, seria desnecessária se não tivesse havido, desde o início da era cristã, o descaso daqueles que tinham o dever de sustentá‑la.

Hoje, após cerca de dois mil anos, as afirmativas racionalistas cristãs aí estão, ao alcance de todos, reproduzindo o que ficou esquecido no correr dos séculos passados, mas melhor apoiados, desta vez, os ensinos pelo Astral Superior, que a si tomou o encargo de manter na Terra a organização Redentorista Cristã, sediada no Rio de Janeiro, fonte inesgotável daqueles preciosos ensinamentos.

Com civismo, fraternalmente oferecendo as melhores contribuições espirituais aos dirigentes das Nações e à administração de todos os países, faz o Racionalismo Cristão, no âmbito internacional, trabalho silencioso e anônimo, como convém, em benefício da coletividade. Os seus esforços culminam no desejo de ver inculcados em todos os lares os princípios da moral cristã, na certeza de que, uma vez obtido esse resultado, no todo ou em grande parte, estarão assegurados os meios mais eficazes para se alcançar o alertamento dos seres para a vida espiritual.

 

                   Espiritismo Racional e Científico Cristão

Espiritismo, deveria ser uma expressão acatada pelo que contém em matéria de grau científico. Conhecer a vida do espírito, penetrando no âmago da questão, é realmente uma ciência.

Acontece, porém, que tem ele sido encarado sob um outro aspecto, que não é o que mais se recomenda, quando a ação científica foi relegada a segundo plano, para ocorrer a sua manifestação através da exploração mediúnica.

É sabido que os espíritos obsessores são os que mais têm abusado do espiritismo para a prática do mal. Por isso, e com razão, muitos têm aversão aos tratos com os espíritos, pelo conhecimento que possuem das manifestações, das obsessões e dos trabalhos das macumbas. Realmente, todo cuidado é pouco, em se tratando de não se deixar envolver alguém por correntes que conduzem à desgraça.

Quando o Racionalismo Cristão foi lançado, e durante os primeiros anos, teve necessidade de valer‑se da mediunidade existente, para poder firmar na Terra as bases da nova Doutrina. Nessa primeira fase, serviu‑se do título: Espiritismo Racional e Científico Cristão.

Foram, então empregados os melhores meios para demonstrar‑se o lado científico do Espiritismo, o qual trata da vida espiritual do ser, pois todos são espíritos, embora revestidos de corpo físico.

Passo a passo, foi o Astral Superior consolidando as suas correntes na Terra, apurando a sensibilidade dos esteios em quem se firmou, foi expandindo as suas redes de influência psíquica, com a abertura de novas Filiais e, por este meio, dispõe, presentemente, de todo um organismo perfeitamente articulado e solidamente implantado em terreno firme.

Aos poucos foi a Doutrina, num processo natural de evolução, alargando as suas perspectivas, recodificando os seus princípios, atualizando as suas prédicas pelo espontâneo desenvolvimento espiritual dos seus servidores terrenos até que chegasse o momento de receber a oportuna designação, mais consentânea com a sua verdadeira composição, de Racionalismo Cristão.

Conserva, no entanto, a Doutrina, a base fundamental, estruturada, com a sua instalação, pelos Mestres que a instituíram e que, permanentemente, dirigem, no Espaço Superior, a sua ação na Terra.

Hoje, avançando o Racionalismo Cristão, gloriosamente, no espaço e no tempo, conta com o seu bem definido Código Doutrinário, pelo qual pautam o seu viver muitos milhares de adeptos e afeiçoados, e distancia‑se, na sua rota evolutiva, das normas esposadas por aqueles que não constroem os alicerces da vida com os elementos da espiritualidade.

Espiritismo nem sempre quer dizer espiritualização, enquanto que a Doutrina Racionalista Cristã cuida, exclusivamente, da evolução humana, com seguro apoio no espiritualismo, por meio de ação prática, proveitosa e consciente.

Espiritualismo é o movimento que conduz o ser ao Astral Superior, pelo aperfeiçoamento da sua natureza espiritual, quando consegue reformar a sua diretriz na vida, enquadrando‑se nos padrões de uma conduta sã, limpa, apurada, tolerante, compreensiva e renunciante.

Muitos há que são espiritualistas, sem terem podido filiar‑se ao Racionalismo Cristão, por circunstâncias eventuais, mas seguem os seus preceitos de retidão e de caráter, e se sobressaem no mundo, pelas suas atuações elevadas e criteriosas.

Reconhecendo tal evidência, proclama o Racionalismo Cristão que não pretende que só os que estão alistados em suas fileiras sejam espiritualistas, mas todos aqueles que tiverem independência espiritual para aceitar os Princípios verdadeiramente cristãos, à luz da Verdade, pondo‑os em prática.

Pelas suas obras os conhecereis ‑ afirmou o grande Nazareno. Esta afirmativa tanto serve para assinalar os espiritualistas, como os que o aparentam ser e não são.

O Espiritualismo é revelado muito mais por obras do que por palavras; e neste caso, quando se diz obras diz‑se ação bem intencionada, procedimento modelar nas horas difíceis, conduta superior no desempenho das responsabilidades.

O Espiritismo Racional e Científico Cristão sempre se manteve dentro dessa linha disciplinar, e se depois, na segunda etapa da sua evolução, e como Racionalismo Cristão, reuniu mais amplo cabedal espiritualista, fornecido pelo Astral Superior, após cerca de quarenta anos de ativa participação na vida espiritual do planeta, foi para fazer uso desse patrimônio com o melhor aproveitamento, em favor da coletividade.

Perante o mundo, o Racionalismo Cristão ainda é uma força relativamente desconhecida, porque a sua ação é silenciosa e desapercebida, mas, por trás dele, está todo o poder do Astral Superior. Em marcha lenta e segura, vai estendendo os seus benefícios, e muitos dos que os recebem, ignoram a sua origem.

Nada se faz no Racionalismo Cristão com o fim de receber aplausos, homenagens, agradecimentos; a ordem é de cumprir o dever e aprender a levar de vencida os obstáculos da vida. Estudar a sua história é, por um lado, tomar conhecimento das lutas e dificuldades que teve de enfrentar, e por outro, constatar a sua progressiva projeção espiritualista, no cenário humano.

A tarefa desta Doutrina tem objetivos muito distantes, os quais serão alcançados com o poder que lhe assiste, e, ainda, com base na firmeza dos seus dirigentes terrenos que se submetem ao comando das Forças Superiores, a quem cabe assegurar todo o êxito desse insuperado movimento cristão.

A humanidade terá de espiritualizar‑se, porque a evolução é medida que se impõe. Não adianta a reação contrária, uma vez que há de sempre prevalecer o Bem sobre o mal, a Justiça sobre a injustiça, a Verdade sobre a falsidade, a Força sobre a fraqueza. A Força é a mola do Universo; é Vida, Inteligência e Poder ‑ três importantes atributos espirituais.

 

                   A Imprensa

A imprensa reflete o estado de sanidade de uma coletividade. O povo será são, moralmente, se a imprensa for limpa, sadia, construtiva e arejada. Ao contrário, se o povo, especialmente o pensante, o intelectualmente desenvolvido, prima pela falta de caráter, de decência, de honestidade, a imprensa que o representa se revela pelas características apontadas.

É doloroso constatar‑se que, entre labutantes da imprensa, alguns rebaixem as suas elevadas funções para se entregarem à faina comercialista e inglória de enriquecer à custa da desonra, da intriga, da falsidade, da exploração, da calúnia, dos golpes aventureiros, da extorsão e da corrupção dos costumes implantados pela moral cristã.

Jornalistas espúrios, sem qualificativo abonador, acuados pela necessidade de pão para o seu sustento, encontram guarida em certa imprensa, para transudar fluido maligno, acumulado na alma desprovida dos mais elementares conhecimentos de ordem espiritual.

O jornalismo ainda é profissão mal compreendida. Falta‑lhe, em muitos casos, a Escola de Princípios para valorizar a classe. Fazer jornalismo, não é atacar, ofender, denegrir, apunhalar com a pena de escrever, mas pugnar pela verdade, com espírito sereno e construtivo; é animar e incentivar iniciativas progressistas; é esclarecer e ensinar; é revelar a evolução das artes e ciências; é discutir problemas com a finalidade de solucioná‑los em favor do bem comum; é pôr a humanidade a par daquilo que com ela ocorre, e com o que deve solidarizar‑se para fins altruísticos.

Não é possível desvirtuar a imprensa dessa diretriz, sem que os responsáveis intencionais tenham de sofrer os conseqüentes rudes golpes da adversidade. A implacável lei de causa e efeito não pode ser alterada pelos homens e nem mesmo pela Inteligência Universal, detentora da Consciência Absoluta.

Nada vale ir à igreja rezar, orar e ouvir missa, para depois, sem qualquer despertamento espiritualista, revelar‑se, na luta pela vida, o mais indigno dos infiéis, ao servir‑se da pena para, de público, pela imprensa, forjar inimigos, insultá‑los, acirrá‑los, neles estimulando sentimentos inferiores de ódio e vingança!

Numerosos crimes têm origem na imprensa sensacionalista e desclassificada, por falta clamorosa de dirigentes de fundo moral apurado que conheçam um pouco mais do que a cartilha das relações sociais.

Oxalá a massa humana que se diz religiosa e dispõe de proporcional representação na imprensa viciada nos mais reprováveis manejos, pudesse ver um pouco além dos seus reduzidos horizontes do plano espiritual, para que a sua representação não se portasse de maneira tão condenável!

Nota‑se uma verdadeira indiferença pelas coisas do espírito, como se todos os habitantes da Terra não fossem realmente espíritos, em essência, acima de qualquer outra expressão. O que se procura, de um modo geral, e como se isso fosse tudo, é a satisfação oferecida pelas quiméricas emoções terrenas, que pouco ou nada significam na orquestração universal.

Negando a evolução, as religiões não evoluem e conservam um deplorável estado primitivo de concepções materialistas. Não fosse Jesus o maior evolucionista de todos os tempos, estariam as religiões ainda escravizadas aos ensinos de Moisés: ‑ "olho por olho, dente por dente".

Quanto mais ao pé da letra quiserem os religiosos interpretar os textos, por eles denominados sagrados, tanto mais se afundam no mar das confusões, do que dão, largo testemunho pelas numerosas seitas existentes, todas com fundamento nos mesmos textos. Essa confusão tem enfraquecido a autoridade religiosa e dado, como resultado, a periclitante convicção de que se pode ser religioso e ao mesmo tempo operar na imprensa despido de qualquer escrúpulo.

Esses deturpadores da ética profissional, esses criminosos da imprensa, ao serviço do mal, encontram, mediante preços ajustados, a tolerância da igreja, que os batiza, confessa, casa, crisma, abençoa e encomenda as suas almas pestilentas ao paraíso celeste! Tal benignidade e complacência os encoraja a piorar cada vez mais, os seus sentimentos para com o semelhante, servindo‑se da imprensa como meio eficaz de dar curso e expansão aos instintos animalizados que os dominam.

Se a turba de malfeitores da imprensa encontrasse, por parte das organizações religiosas, a repulsa que merece, certamente não vingaria nem prosperaria, como geralmente acontece. Infelizmente, no seio de tais organizações, fala muito alto o metal sonante da pecúnia, que aceitam sem reservas, sem se importarem com a origem. Venha de onde vier, é sempre bem‑vindo e melhor aceito.

Já se tem dito que a imprensa pode representar o quarto poder na vida de uma nação. E assim é, pois deveria, até mesmo, nortear a ação do Poder Executivo, oferecendo soluções práticas e patrióticas à atuação governamental e alertando a sua atenção para assuntos de imediata e imperativa execução; pode inspirar o Poder Legislativo a estudar anteprojetos de lei que facilitem a administração geral do país, para que entrem em uso medidas de maior oportunidade, em benefício da coletividade; pode corroborar com o Poder Judiciário por meio de jornalistas bacharéis em Direito que, peritos em questões jurídicas, muita luz poderão levar aos tribunais, apoiados nos seus conhecimentos, na sua inteligência e na sua capacidade de penetrar, com entendimento especializado, no âmago das teses disputadas.

Se algum jornalista da corrente dos religiosos materialistas tomar conhecimento destas palavras, não veja nelas senão um apelo, uma exortação, um anelo demonstrados, com sinceridade, com o objetivo elevado de unificar todos os profissionais da Imprensa sob uma mesma bandeira ‑ a da lealdade, da fraternidade, da compreensão humana e da tolerância cristã.

Os erros corrigem‑se, doutrinariamente, mas não com golpes e lancetadas. Nunca se deve fazer uso da pena para atassalhar a honra alheia ou por espírito de vingança. Vale mais acumular tesouros com procedimentos dignos e humanitários, do que cavar abismos com baixezas e corrupções.

O mundo precisa ter a sua IMPRENSA com letra maiúscula, aquela que lhe dará sempre novas forças, novas energias e novas oportunidades. Para tal fim, nunca se deverá explorar as camadas humanas menos desenvolvidas, calcando‑as mais para baixo, nem satisfazer‑lhes os instintos inferiores com a apresentação de notícias, relatos e estampas que sugiram a prática do crime.

A imprensa destrutiva não se cansa de mostrar ao ladrão e ao assassino, ambos em potencial, através de noticiários contraproducentes e inescrupulosos, os meios mais eficientes de perpetrarem as suas delinqüências.

As crianças abandonadas e as predispostas ao crime, também gostam de arquitetar planos semelhantes àqueles que os jornais ilustram com as mais vivas cores do escândalo.

Por aí se vê a falta que faz a apuração de valores morais para a composição de equipes da imprensa. O jornalista precisaria ser considerado tão respeitável, na hierarquia funcional, quanto um juiz íntegro, tal o conceito a que deveria fazer jus.

Cabe à imprensa ser defensora da boa causa e instrumento da verdade, a fim de que o seu comportamento se faça sentir na índole do povo, modificando‑a para melhor. É assim que a imprensa se precisa conduzir, para cumprir a sua elevada missão. Para isso é que ela foi criada. Os que nasceram para ser jornalistas e se desviam do bom caminho, são transviados conscientes da trajetória evolutiva.

Ninguém desceu à terra tomando a forma física, para ser um traidor, um vilão, um achacador, um vigarista, um injuriador ou portador de qualquer outro atributo negativo; muito menos se deveriam apresentar os militantes da imprensa como tipos dessa ordem, porque os que têm consciência da sua missão, sabem que o dever imposto é o de portar‑se com dignidade, honestamente, e com intransigente respeito ao semelhante.

O jornalista que se curva, vergonhosamente, ao suborno, o que explora a sua profissão extorquindo do próximo proveitos indecorosos, por meio de coação, é indivíduo que desce ao poço da lama, para impregnar a sua alma das manchas mais corrosivas.

É importante que saiba que tais manchas, gravadas no corpo etéreo, só poderão desaparecer na encarnação seguinte, ou em outras vidas futuras, pela abundante prática de ações meritórias, não isentas de sofrimento.

Desse modo, o jornalista que prefira manter‑se alheio à vida espiritual e aos seus deveres superiores, julgando‑se muito poderoso por poder servir‑se da pena para denegrir os seus desafetos, está, com isso, preparando um pesado infortúnio, em dias muito amargos que hão de vir.

Eis, pois, a falta que faz o esclarecimento aos homens da imprensa. Não é possível que sabedores da realidade do que lhes virá a suceder ao pretenderem saciar os seus instintos inferiores, por meio da pena, não abram os olhos, enquanto é tempo, e evitem encontrar‑se, no futuro, em deploráveis condições morais.

 

                     O Que É Sagrado

O Racionalismo Cristão interpreta, a seu modo, o vocábulo "sagrado". No sentido comum, religioso, sagrado é o que se não pode tocar. Como sagrado, no entanto, deve ser compreendido aquilo que terá de ser tratado ou conservado na sua integridade moral. O lar e a família são sagrados, como sagrados são o trabalho, o dever, a honra, a palavra empenhada, a dignidade pessoal, os direitos adquiridos, a manutenção da vida.

A criatura está na Terra para promover a sua evolução, sendo, portanto, sagrado tudo quanto concorra para ela.

Simples objetos materiais não podem ser sagrados, por faltar-lhes a Substância Perpétua para imprimir‑lhes uma tal significação. Também não há lugares sagrados, em face da precária estabilidade e permanência deles. Poderão existir lugares em que o respeito tenha de ser observado na sua máxima expressão, mas isso não autoriza a dar‑se‑lhes o cunho de sagrados, a não ser simbolicamente.

Deve‑se ser, pois, elevado o sentido da palavra sagrado ao supremo nível, no sentido espiritual, nunca confundindo essa concepção com formas físicas transitórias.

A Bíblia é por muitos considerada sagrada, e por isso, para esses que assim a consideram, nada nela pode ser alterado nem subtraído. Por esse mal são as seitas e religiões denominadas cristãs conduzidas, através de seus membros, às mais pungentes decepções, pelo erro de considerarem sagrado um livro de onde se poderão extrair, depois de bem escoimado de impropriedades, algumas lições úteis à humanidade, sem que a isso se imponha qualquer consagração.

A tendência humana de fazer consagração a objetos vem de longe, como prática primitiva que encontra receptividade nas almas de índole profundamente adorativa. Assim, todos começam a trajetória evolucionária, mas pena é que existam tantos retardatários repetindo, indefinidamente, as encarnações, como o aluno vadio que repisa, ano após ano, a primeira série escolar.

Se a evolução se processasse isoladamente, tendo em vista apenas o indivíduo, seria admissível deixá‑lo para trás a unir‑se com outros também tardios, mas o caso é que a evolução se faz por grandes grupos, em que os mais adiantados precisam zelar pela evolução dos mais atrasados do seu grupo, dentro de um certo limite de tolerância.

Ultrapassado este, o que se dá, realmente, é a transferência do renitente retrógrado para outro grupo mais atrasado, em épocas próprias. Os que dão à consagração dos seus propósitos um sentido real e puro, evidentemente estão marchando na vanguarda do espiritualismo.

Não vai também neste estudo a mais leve nota de censura àqueles que vêem na Bíblia motivos para considerá‑la sagrada. No Racionalismo Cristão não se trata de impor idéias, apenas se cogita de oferecer esclarecimentos, de dar informações que possam ser úteis.

Os que não as apreciarem, ponham‑nas de lado e sigam o seu caminho. No entanto, vale a pena meditar sobre o que aqui se expõe, pois é possível que da meditação algo surja que recompense. Como não há condenação eterna e terão todos de chegar à iluminação espiritual pelo esforço próprio, com o correr dos séculos ou dos milênios, estas palavras não estarão perdidas porque, como são verdadeiras, podem, ainda assim, não servir para alguns, por enquanto, mas serão valiosas a muitos que se apresentam amadurecidos para estas revelações.

 

                   A Força de Vontade

Não há seres privilegiados. Ninguém faz alguma coisa que outro não possa chegar a fazer. Os que demonstram força de vontade, provam a existência dessa força no espírito, os quais; a desenvolveram e dela fazem uso.

O espírito, como todos sabem, é uma partícula da inteligência Universal, e contém, de modo latente, todos os atributos dessa inteligência, os quais precisam desabrochar, manifestar‑se, o que só se dá com a evolução.

Ninguém pode duvidar de que a Vontade seja uma Força absoluta, quando emanante do Grande Foco, da Força Criadora, da Inteligência Universal, onde se encontra completamente desenvolvida ou evoluída.

Com esta lógica entende‑se que a força de vontade mais se revela na medida em que a criatura se espiritualiza. Assim é realmente. Veja‑se a força de vontade como se manifestou, poderosa, em seres espiritualizados como Luiz de Mattos, Luiz Alves Thomaz e Antônio Vieira.

É de notar‑se, no entanto, que os atributos do espírito podem desenvolver‑se sem que a criatura se espiritualize, podendo alguém revelar uma potente força de vontade sem aplicá‑la para o bem, para a cristianização da humanidade.

Os faquires, na índia, fazem demonstrações públicas, até mercenariamente, do poder desenvolvido da força de vontade, sem com isso demonstrarem qualquer dose de espiritualização. Essa prática é condenada pelo Astral Superior, pois que ninguém deve fazer propaganda ou explorar comercialmente dons espirituais.

Jesus, sempre que prestava um benefício a alguém, recomendava que se guardasse em sigilo a dádiva recebida. São dele estas palavras: "Não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita". A recomendação desse grande Mestre foi dada no sentido de nunca se fazer alarde dos bens praticados, pois ninguém deve nem precisa saber quais os recursos que cada qual possui para a prática do bem.

O pensamento idealiza, e a força de vontade executa. O pensamento criador está envolvido pela força de vontade, e saturado dela. Assim, a imagem concebida pelo Grande Foco, revela‑se automaticamente.

Relativamente ao espírito em evolução, a força de vontade se manifesta, progressivamente, na proporção do exercício realizado. É um atributo que precisa ser despertado do seu sono milenar, no âmago da alma. Em cada encarnação deve o ser fazer um certo progresso na exteriorização dessa força de vontade, a fim de alcançar, cada vez melhor, os seus objetivos cristãos.

A força de vontade contém a chave do êxito. Nenhum empreendimento se concretiza, de maneira ideal, sem a sua ação coordenada e insistente.

Para fazer‑se bom uso dessa força, é indispensável que se saiba bem o que se quer. Afastem‑se as idéias confusas, e guarde‑se uma imagem nítida e pormenorizada daquilo que se pretende. Alinhavado o projeto, estudem‑se os contornos e ponha‑se em ação a força de vontade para a sua fiel execução.

Uma vontade fraca, produzida por um espírito indolente, sem confiança em si, pessimista, medroso, aliado às forças inferiores, não conduz a nenhum resultado satisfatório. Cada um deve examinar‑se, interiormente, para descobrir as suas fraquezas e dominá-las, do contrário será sempre um vencido.

O espírito de vontade forte vence as dificuldades ou contorna-as, para sair vitorioso. Qualquer idéia posta em prática, encontra, comumente, muitos entraves no caminho, esbarrando, freqüentemente, com obstáculos que parecem intransponíveis, mas com persistência, ânimo forte e força de vontade, fazem‑se cair as barreiras, na maioria dos casos, e os planos se concretizam.

Onde melhor se educa a força de vontade, é no trabalho cotidiano, procurando realizá‑lo bem, embora com aumento de esforço. Um trabalho mal executado, revela uma vontade defeituosa.

Aplica‑se a força de vontade no exercício da pontualidade, em que a criatura a si mesma impõe a condição de precaver‑se contra os imprevistos, para honrar o compromisso de horário assumido.

A força de vontade se exerce ao contrariar um desejo subalterno, uma inclinação viciosa, uma tendência a negligenciar, a desleixar, a desperdiçar valores, inclusive o tempo.

A força de vontade que for desenvolvida numa encarnação, soma‑se à que foi adquirida nas encarnações anteriores, formando assim um cabedal mais forte e mais rico para as vidas futuras.

O que se consegue em evolução, nunca mais se perde, passa a fazer parte integrante do patrimônio espiritual e é o recurso com que sempre se deve contar para alcançar novos acessos no caminho da espiritualização.

O indivíduo que desenvolve a força de vontade sem levar em conta o desenvolvimento espiritual, encontra‑se na vida em posição perigosa, pois dirigindo‑a para fins ilícitos, estará armazenando pesados débitos cujo resgate se estenderá por longas e cruciantes jornadas. Os açambarcadores, os dominadores do mercado, os chamados "tubarões" da economia popular, são criaturas de vontade forte, que fazem mau uso dela, para depois serem torturados com o poder da força reversiva.

A força de vontade é um recurso prodigioso, quando aplicada para o bem. Todos os que desejam espiritualizar‑se precisam cultivá‑la, com empenho, pois terão em suas mãos um grande poder para os ajudar e uma porta aberta para o sucesso. É um dom que se desenvolve, aos poucos, com perseverança, esforço e decisão. Tudo quanto venha a fazer parte do acervo espiritual, tem de ser obtido com muita abnegação e firmeza de propósitos, porquanto o que tem excepcional valor é difícil de conquistar‑se.

Todos terão de decidir‑se e desenvolver a força de vontade para o bem, porque sendo, como é, obrigatória a evolução, essa decisão terá de ser tomada, dia mais, dia menos, século mais, século menos, irrevogavelmente. Logo não há razão para retardar, inutilmente, a marcha ascensional da vida, quando as vantagens auferíveis pela espiritualização não se fazem esperar.

A força de vontade se impõe na repulsa a todas as tentações, e cada vez que ela supera um convite traiçoeiro, mais se fortifica, mais vigorosa se toma. Não há outro meio de fortalecê‑la, senão o, de entrar em combate contra os acenos convidativos do mal, oferecendo‑lhes tenaz resistência e subjugando‑os. De vitória em vitória, a força de vontade irá se constituindo em fortaleza inexpugnável.

Quem possui essa vontade pouco desenvolvida, ao invés de desanimar, deve valer‑se de todos os recursos morais para aumentá‑la, com a certeza de que está ao seu alcance, dentro de si, aguardando o momento para revelar‑se.

Urge, portanto, entrar em ação apelando para as suas próprias forças, decidir‑se, remodelar os seus hábitos rotineiros que encerram, certamente, o germe da fraqueza, da apatia, do comodismo vicioso e da desesperança.

Há que reagir, energicamente, sabendo que não é inferior a ninguém, que é constituído espiritualmente dos mesmos elementos de que são formados todos os outros seres, e que tem as mesmas possibilidades de êxito, de triunfo, de sentir‑se feliz, de alcançar todas as suas aspirações na vida.

Pode ser que tais aspirações estejam muito no alto, mas se delas não desistir em troca de outras, hão de se cumprir, e se não se der o cumprimento nesta encarnação, há de ser nas seguintes; mais depressa, entretanto, serão realizadas, quanto maior importância se der ao desenvolvimento da força de vontade.

Precisam aprender os seres a demonstrar paciência, moderação naquilo que aspiram, não querer o impossível, reconhecer o que é razoável e se satisfazerem com o que possuem, embora desejem mais e melhor. Para isso, conte‑se com a força de vontade como elemento principal na consecução dos objetivos.

Não esmoreçam os seres na busca de dias melhores. Estes virão com a espiritualização dos povos, mas para esta não seja retardada, é necessário que cada um faça a sua parte sem estar a fiscalizar o semelhante, para não perder tempo, entregando‑se, de corpo e alma, aos misteres que lhe estiverem afetos, com o fim de exercê-los da maneira mais correta possível.

Adotando esse critério, estarão, sem sentir, desenvolvendo a força de vontade e participando da vida espiritual, de forma recompensável.

 

                   Esferas de Ação

O espírito, quando encarna, traz, ao menos, uma vocação. O que deve fazer, então é aperfeiçoá‑la, no correr da existência. É fato notório que o indivíduo sente prazer em trabalhar dentro de sua especialidade. Todos devem trabalhar contentes com a sua profissão, porque assim vivem melhor e mais alegres. O bom‑humor, todos o sabem, é fator de saúde.

Às vezes o indivíduo tenta mudar de profissão, com a idéia de ganhar mais, seduzido pela prosperidade material alheia, supondo que a riqueza monetária traz felicidade.

O dinheiro é uma armadilha terrível para enredar os incautos. Pobres dos que se deixam inebriar pelo engodo dos deleites mundanos oferecidos pelo dinheiro, irremediavelmente contaminado pelo vírus entorpecente dos convites da matéria! Tão prejudicial quanto o vício arrasante do fumo, do álcool, do ópio, da maconha, do jogo, é o vício do apego ao dinheiro, pelo qual tudo faz e sacrifica o mísero ser dominado por ele. O dinheiro pode levar de roldão a honra, o caráter, a dignidade, a moral do indivíduo, fazendo‑o perder um bem precioso, que é a encarnação.

Os vícios citados podem ser abandonados, e são conhecidos muitos casos de recuperação, mas o escravo do dinheiro, o ególatra, o sovina, o armazenador argentário que o quer só para si, egoisticamente, a fim de usufruí‑lo, desfrutá‑lo nababesca e criminosamente, ou para gozá‑lo de forma doentia, no seu volume acumulado, este é realmente um caso perdido, um infeliz que encontrou o seu deus ‑ matéria ‑, e o há de sorver, inapelável mente, até o último segundo da existência.

Abandonar, pois, a vocação, para correr atrás do dinheiro, pode ser um erro de clamorosas conseqüências. Mais vale o pouco e produtivo, no sentido da evolução, do que o muito e destrutivo.

A vocação, de um modo geral, se manifesta como resultado da atividade exercida pelo espírito nas encarnações mais recentes. O espírito que tenha sido cientista, manifesta vocação para a ciência, como o artista, para a arte, o eletricista, para a eletricidade, e assim por diante. Em cada existência, mais experiência ele adquire e, pois, mais se aperfeiçoa na atividade a que se vem entregando.

O mundo está organizado para oferecer esferas de ação numerosíssimas a todas as vocações. Estas são necessárias, não só para quem as possui, como para aqueles que por elas são beneficiadas.

Assim, para exemplificar, o alfaiate artífice tanto colhe experiências e proventos com a sua profissão, como os seus clientes se beneficiam de uma obra que não sabem executar.

Como as peças de um relógio, cada indivíduo tem de assumir o seu lugar na vida e procurar fazer, do melhor modo possível, a sua tarefa vocacional.

Todos, quando encarnam, trazem a sua vocação. É a ambição desmedida que, muitas vezes, põe de lado o esforço orientado no sentido reto da vocação, para forçar a caminhada por outra vereda, aparentemente mais lucrativa. Daí registrarem‑se os grandes fracassos, cujas origens ficam para trás, na sombra de atos imprudentes do passado.

A inteligência Universal está presente em toda parte, e cada ser se move no seu oceano de Sabedoria, com uma trajetória definida. Se o mau uso do livre arbítrio não opuser dificuldades a que o espírito prossiga, serenamente, na sua jornada, pode considerar‑se vitoriosa a encarnação consumada, e novos horizontes serão descortinados na vida espiritual.

Encontram‑se pessoas que possuem várias vocações, o que lhes permite escolher uma ou mais delas para a sua profissão. As vocações são atributos do espírito oriundos do seu próprio merecimento, conquistados pelo seu esforço na cadeia imensa de suas reencarnações.

A vocação revelada na existência terrena não é a única que o espírito possui, mas foi aquela que ele, por conveniência, gravou no plano astral em seu subconsciente, para manifestar‑se após a reencarnação.

Há tarefas no mundo muito mais árduas umas do que as outras, e os que se encontram em situações desfavoráveis, costumam revoltar‑se com elas por falta de esclarecimento. Reconhecendo que cada um tem o que merece, o papel do Racionalismo Cristão não é apagar as falhas que produziram o imerecimento, coisa impossível, face às leis imutáveis, mas aconselhar novas práticas no viver de cada dia, para que o futuro seja coroado das melhores perspectivas.

A vocação convida o indivíduo a situar‑se numa esfera de ação em que poderá colher os frutos espirituais mais rendosos na sua experiência terrena.

As vocações podem ser desvirtuadas, quando fortes tendências individuais dominem a força de vontade. Quando essas tendências pendem para o lado mau, surgem, como exemplo, os habilidosos batedores de carteira, os técnicos do roubo, os engenhosos planos usurpadores, a ciência do crime.

Todos os espíritos encarnam para praticar o bem, para serem bons; fora disso estão deslocados da sua esfera de ação, submersos no lado das mazelas terrenas e agravando a sua situação moral.

Viver, todos vivem; o difícil é saber viver. Viver em prejuízo próprio, acarretando sofrimentos para o futuro, é uma, insensatez. No entanto, a grande maioria vive como louca, num estado de semi‑inconsciência, praticando, a cada passo, os atos mais desatinados e abomináveis.

A maioria das pessoas tem medo de conhecer a Verdade, para não entrar em choque com a própria consciência, tão certa está de andar praticando o mal. Mas da Verdade ninguém escapa, e em dias que virão nesta existência física ou, depois, na Astral, ela resplandecerá, sem qualquer possibilidade de ficar oculta. O desinteresse pelo seu conhecimento somente servirá para a prática de novos erros.

Limitar‑se o indivíduo à sua vocação, não significa estar ele imune de incorrer em alguma falta derivada do uso do livre arbítrio, mas esse critério poderá servir para cumprir a sua missão terrena com as melhores perspectivas de êxito.

Forçoso é reconhecer que as probabilidades que tem o indivíduo de descambar pela falência moral, durante a trajetória terrena, são muito maiores do que as de sucesso. Isso porque a tendência da criatura encarnada é a de materializar‑se, cada vez mais, se não tiver um acervo espiritual valioso.

Os convites da matéria são inúmeros e fascinantes, e se apresentam bastante dominadores para quem não disponha dos recursos de defesa. Esses recursos se encontram nos ensinos espiritualistas e, mais ou menos adormecidos, na contextura do próprio espírito, os quais precisam ser vivificados pelo trabalho diário na esfera de ação de cada indivíduo.

A influência materialista está presente nas mentes de quase todos os encarnados, com a ajuda das religiões, que primam em apresentar imagens palpáveis para serem adoradas.

Na esfera de ação de cada um, não estão incluídos os atos que aberrem contra a Verdade, e se se manifestam, é porque a mente materializada ainda os conserva.

Os afins se atraem. Deste modo, os que pensam materializadamente achegam‑se uns aos outros e formam comunidades poderosas, cujos erros só em séculos podem ser desfeitos, séculos de dores, de experiências duras, colhidas nos desvios da contraprudência.

Para cada esfera de ação, a criatura se prepara no Plano Astral respectivo, de maneira a nela operar‑se, de modo salutar e construtivo, o desenvolvimento de atividades úteis, para o benefício geral.

Se, em lugar disso, a criatura age em sentido contrário, movida por interesses subalternos, escusos e corruptores, está procedendo insensata, leviana e dolosamente, em detrimento da evolução.

Urge compreender bem esse fato, para que não se incida, conscientemente, em erro. Deve haver um sentido de alerta permanente para não se errar. A mente precisa estar sempre preparada para reagir contra os maus pensamentos, os de fraqueza, os de negligência, os desabonadores da conduta.

As pessoas no mundo estão cercadas de perigos e ciladas, tornando‑se, por isso, indispensável que se previnam contra os assaltos imprevistos, os ataques sorrateiros, as picadas venenosas. Se bem que se encontrem almas esclarecidas no torvelinho da vida, a realidade é que a maldade predomina nos conglomerados humanos, em que a maioria corre atrás, avidamente, do açambarcamento, dominada pela ânsia de aumentar haveres, sem escrúpulos, sem olhar se lesa ou deixa de lesar.

Evidentemente ninguém vem encarnar, para proceder dessa condenável forma, mas, em aqui chegando, a maioria dá expansão aos atributos negativos da alma, rejeita idéias evolutivas que lhe pareçam pouco práticas, e se atira, sofregamente, às conquistas terrenas, completamente cega da visão espiritual.

Esse quadro, porém, não representa uma contingência imperativa de um curso inevitável. Se assim fosse, de nada adiantaria o preparo feito no Plano Astral para que a criatura encarne perfeitamente munida dos elementos morais que, com esforço, a farão triunfar em sua esfera de ação, triunfar espiritualmente, não deturpando a preparação recebida, não esmorecendo diante das dificuldades interpostas, não se deixando aniquilar em face do sofrimento.

Neste alambique depurador, todos terão de carregar, em sentido simbólico, a sua cruz. Para uns é mais leve do que para outros, mas também é fácil entender que uns tivessem praticado menos erros no passado do que outros.

Todas essas cruzes simbólicas poderão ser leves, no futuro, se cada um procurar viver contente no seu campo de ação com a sua profissão, desejoso de esmerar‑se nela, agindo sempre com honestidade, consciente de que é um ser ativo ao serviço de uma Causa, cumprindo a lei da Evolução Universal.

 

                   O Amor

Os epicuristas venalizaram o sentido da palavra amor. Levaram-no para o campo da materialidade. Conspurcaram‑no. Tornaram-no na vida mundana, uma expressão vulgar, despida de sublimação. Isto porque a espiritualidade anda muito escassa neste mundo de ostentações e de enganos. Serviram‑se desse vocábulo para exprimir o desejo, a satisfação desfrutada nos laços da carne. Esse é um sentimento interesseiro, efêmero, passional.

Ao contrário disso, o verdadeiro amor é desinteressado, eterno, espiritual. De nenhum modo o mesmo termo deveria servir para registrar concepções tão distantes uma da outra. Mas o certo é que um significado se une à corrente material, enquanto o outro pertence ao domínio do espírito.

Jesus foi quem elevou a expressão ao seu alto grau, revestindo-a de pureza e de luminosidade.

Ninguém pode amar fora da espiritualidade, porque uma vez solto desse plano, o ser só o encontra no reino da matéria.

O amor mundano é interesseiro, porque visa a posse, a embriaguez dos sentidos físicos, sempre passageira e ilusória, anseia pela obtenção de um prazer pessoal e egoísta, efêmero, porque vive, apenas, durante a estação do viço, enquanto alguns encantos das imagens da fantasia não fenecem. É passional, porque sofre as influências apaixonantes dos espíritos do astral inferior.

Do outro lado, nobilitante, o Amor é desinteressado, porque se alia ao sacrifício; nada pede, nada reclama, nada exige e tudo oferece, desprendidamente; neste estado, a alma se sente feliz de poder ser útil, de notar válidos os seus préstimos, de reconhecer‑se parcela do Todo, que é todo amor. É eterno porque, uma vez revelado, nunca mais se perde, não diminui; não acaba e acompanha o ser na rota para a eternidade. É espiritual, porque é atributo do espírito, nada influindo nela a matéria.

Há exemplos desse Amor sublime na Terra, porque o espírito, embora encarnado, é sempre espírito, e por isso, quando não sempre, vez por outra, confirma a sua natureza; vemo‑lo na alma das mães, dos pais, dos avós e, menos intensamente, na dos parentes afins.

Há amigos que também o sabem cultivar. O afeto, a estima profunda, a amizade verdadeira, são manifestações do amor. Todos os possuem inato em sua alma, em potencial, e a sua presença se fará sentir, cada vez mais notória, na medida da crescente espiritualização.

No estudo que o Racionalismo Cristão faz dos atributos espirituais, sempre fica evidenciada a necessidade premente e imperiosa dos seres humanos promoverem a sua espiritualização. A humanidade só poderá viver feliz, depois de espiritualizada, quando os seus componentes puserem em prática as suas virtudes enclausuradas pela ignorância das coisas do espírito.

Os ensinos de Jesus, revelados há cerca de dois mil anos, não encontraram a receptividade desejada e, ainda hoje, expostos pelo Racionalismo Cristão, acham‑se cerceados pelas barreiras trevosas da religiosidade materialista.

Pouco a pouco, no entanto, essas barreiras irão se rompendo, a luz da verdade se projetando de maneira convincente, e os que uma vez a sentiram, jamais retrocederão, porque se identificaram com ela.

As vibrações da Inteligência Universal enchem o Espaço Infinito, atravessam e saturam todos os corpos, conduzindo, na sua essência, o amor supremo, de que também se constituem.

Desde que, pelo desenvolvimento da espiritualidade, se estabeleça a sintonização daquelas vibrações com as das partículas individuais, que são os espíritos, não só a inteligência alcança os mais altos afinamentos, como o amor se desabrocha com as suas aprimoradas refulgências. O caminho da espiritualidade é esse de atingir‑se a sincronização das vibrações dos seres com as do Grande Foco, o que se alcançará, com mais propriedade, no Plano Astral, mas que deve ter início ou ponto de partida nas diretrizes adotadas na vida terrena, em que se amoldam e se revelam as predisposições espirituais.

A espiritualização começa a ser promovida na Terra, e só então poderá prosseguir no Espaço. Assim, enquanto os habitantes deste orbe não derem início à ação espiritualizadora, terão de reencarnar, tantas vezes quantas forem necessárias, até resolverem dar esse passo. Esta advertência não representa, de modo algum, uma ameaça, mas tão‑somente uma informação fraterna que poderá interessar a alguém, e que é oferecida como uma dádiva de amor.

Aqueles que adquiriram tal convicção por meios espirituais, estão no dever de divulgar o que aprenderam, e assim fazem também os Espíritos do Astral Superior que, empenhados na espiritualização do planeta, distribuem amor através dos ensinos do Racionalismo Cristão e por via de outras ações diretas.

A ciência reconhece que estão agrupados, neste mundo depurador, seres da mesma índole, com afinidades idênticas, formando coletividades à margem umas das outras, segundo as inclinações comuns que cada uma delas revela.

Isso comprova que a evolução se faz por grandes grupos, no interior dos quais se encontram espíritos que, através de milhares de reencarnações, estabeleceram, entre si, pontos-de‑vista análogos, compromissos de ordem moral, débitos por saldar e outras ligações, como as de família, de sociedade, de empreendimentos que os unem indissoluvelmente, formando raças, sub‑raças ou regionalistas implacáveis.

Daí ressalta a razão de muitos se ajudarem mutuamente, no sentido de uma grande família. Esse aspecto se reproduz no âmbito do espírito, em que se devotam os seres pela colaboração, pelo desprendimento, pelo desejo de ajudar, à tarefa de levar aos demais, com amor, a obra de espiritualização.

Realizar o amor na vida terrena, com toda a sua sublimidade, é tarefa assaz difícil, mas não há ninguém que a tenha realizado de um dia para o outro. Essa realização se dá com o desenvolvimento da espiritualidade, paulatinamente, e com o esforço que for empregado, e culmina quando o ser for capaz de amar aqueles que o odeiam.

Neste caso, a espiritualidade já está tão aflorada, que a criatura, em tal estado, não precisa mais da Terra para prosseguir na sua evolução, e se a ela voltar, será para desempenhar missão especial.

O espírito que emite vibrações de ódio é infelicíssimo, e precisa ser prontamente ajudado, por encontrar‑se à beira de um abismo. Quem por ele se interessar, poderá oferecer‑lhe solidariedade afetuosa, vibrações fraternais feitas com serenidade e interesse, de maneira a que uma certa dose de amor possa valer‑lhe.

Aqueles que se dispõem a algo fazer por alguém que o mereça, passam, automaticamente, a receber boa assistência do Plano Astral daqueles que ali possuem fonte de amor e se servem de todas as oportunidades para praticar o bem.

O Amor é força que pode operar grandes prodígios por meio de quem dela dispõe e a sabe aplicar, todos os seres, indistintamente, chegarão a tê‑la desenvolvida, mesmo os que se obstinam, por enquanto, a não abandonar as crendices anestesiantes do espírito. São as crendices que tolhem o movimento da espiritualidade, e sem esta não pode haver Amor.

Quando se puder entronizar no mundo ‑ e esse dia chegará ‑ o império do amor, não haverá mais guerras, nem revoluções, nem dissidências. Quanto mais esclarecida for a criatura, tanto menos divergirá, em igualdade de condições, do seu semelhante.

A verdade sendo, como é, uma só, não pode ser entendida de várias maneiras, nem haver discordância no seu conhecimento. Todos hão de chegar a um ponto de evolução em que não há de haver duas modalidades; distintas e separadas de aceitar um conceito.

As conclusões serão positivas e convergentes, e, assim, bem se entenderão os indivíduos e os povos na marcha unida, cada vez mais para cima. Será quando não só o intelecto demonstrará a razão e a lógica dos fatos, com união de vistas, mas, mais ainda, o amor, com a sua contribuição inseparável.

Todos os acordes da orquestração espiritualista afinam com o tom harmonizante do conjunto das vibrações excelsas do amor.

 

                   As Oportunidades

O aproveitamento das oportunidades é que traz às criaturas o ensejo de prosperar. Elas se apresentam, em maior ou menor número de vezes, a todos os seres. Para não as deixar escapar, é preciso alertamento, especialmente quando se mostram de modo sutil.

O importante, para que se saiba reconhecê‑las, é dispor o indivíduo da necessária sensibilidade. Todos possuem a mediunidade intuitiva, graças à qual é possível bem orientar os passos na vida.

Por intuição, pode‑se perceber a aproximação das oportunidades e tirar o melhor partido da situação, sempre de maneira digna, honesta e leal. Se a aparente oportunidade implicar adoção de medidas que não sejam de ordem elevada, não é oportunidade.

Muitos há que, empolgados por falsas oportunidades, se atiram a elas, fechando os olhos aos meios, para atingir os fins; estes, por essa forma, estão confundindo oportunidades com usurpação, e levarão a pior parte, na hora das apurações. Caem nesse logro os afoitos, os que desconhecem as leis espirituais.

Em qualquer circunstância da atividade terrena, é indispensável pôr em uso os conhecimentos espiritualistas. Quem os não tiver, estará sujeito aos maiores dissabores, aos mais tristes desfechos na vida de relação.

Pode o indivíduo conseguir prosperidade material, forçando oportunidades com golpes aventureiros, com atuações ilícitas e manobras escabrosas, mas a posição adquirida por tal caminho agravará a sua conta devedora para com a evolução, e o resgate terá de ser feito, a qualquer preço.

As oportunidades que devem ser aproveitadas são aquelas que se encaixam, perfeitamente bem, nos recursos individuais, e surgem como dádivas espontâneas, em retribuição ao esforço unido ao merecimento.

Se as oportunidades não oferecem grandes recompensas, nem por isso deverá a criatura alterar o seu estado de conformação. Os espiritualistas são conhecedores das leis de causa e efeito, e sabem que os efeitos, sejam eles quais forem, são o resultado de uma causa.

Por isso recebem os efeitos, desde que lhes pertençam, sem amargura nem reclamações, certos de que eles terão uma duração correspondente e o seu fim. Os efeitos terão de ser anulados pela sua absorção, pela sua transformação em dor, quando tiverem origem no erro.

O espiritualista nada deve procurar fazer para que efeitos dolorosos se produzam, aplicando‑se ao bom uso do livre arbítrio, e só se servindo das oportunidades que venham ao seu encontro para o seu progresso espiritual e conforto moral.

Em toda análise que se fizer do viver terreno, há de se chegar à conclusão de que nenhuma ventura poderá tornar‑se efetiva, sem que a espiritualidade seja o seu agente. Portanto, ser espiritualista deveria constituir o objetivo máximo de toda criatura sensata.

É do que cogita o Racionalismo Cristão na sua tarefa meritória de despertar as almas encarnadas para a sua própria natureza espiritual, sem o que ninguém poderá viver com a superioridade desejada e cumprir a sua missão, tal como foi estabelecida.

Há uma falsa concepção de que ser espiritualista é viver alheio às contingências terrenas. Nada mais errado. O espiritualista toma parte ativa em todas as obrigações materiais que lhe estiverem afetas, executando‑as com exata noção dos seus deveres espirituais.

Ele é uma criatura que não se locupleta com o patrimônio estranho, não extorque, não subjuga, não humilha, a todos tratando com urbanidade, consideração, respeito e cristãmente.

As oportunidades de que se serve, quando valiosas, não lhe alteram os hábitos, não lhe modificam as atitudes, não o envaidecem. São seres conscientes e esclarecidos. Sabem que a sua passagem pelo mundo, tantas vezes quantas forem necessárias, obedece a um plano construtivo de valorização e de crescimento espiritual.

 

                   A Renúncia

A falta de renúncia no indivíduo dá testemunho de que as atrações terrenas estão ainda falando alto no seu íntimo. Os renunciados são aqueles para quem os prazeres mundanos estão sepultados. Para estes, nenhum temor os atinge. O renunciado consciente não é um desiludido, um apático, um indiferente, mas um convicto na vida eterna, no poder supremo, na evolução da alma. Sabe distinguir o efêmero do permanente, o ilusório do realismo, a vida espiritual da material.

A crosta da Terra está em constante transformação. Rios mudam o seu curso; terras emergem, enquanto outras descem para o fundo dás águas; cidades desaparecem corroídas por influências telúricas, ou soterradas por tremores sísmicos; os seres deixam os seus corpos físicos para que estes sejam transformados em pó, e de cada indivíduo milhares desses corpos sofreram essa decomposição.

No entanto, ninguém sente apego por eles, porque a sua memória está apagada na voragem dos tempos que foram; portanto, nada justifica o apego às coisas passageiras, que são todas de ordem material. O renunciante venceu o apego, por saber que não vale a pena prender‑se às coisas que hoje são, e amanhã deixam de ser.

Isto mostra a precariedade das posses terrenas. Não se deve, pois, ter apego ao que é precário, ao que é da Terra e na Terra fica. A alma do renunciante está voltada para o que não perece nunca, para o tesouro do espírito, para a grandeza da evolução universal.

Somente aqueles que possuem pleno espírito de renúncia, estão habilitados a prosseguir na sua evolução, sem necessidade de reencarnar neste planeta. Ao contrário, os que sentem que a Terra ainda lhes pode oferecer algo que desejam experimentar, estão ligados ao sentimento de apego e deverão voltar para satisfazer tal anseio.

O desejo é uma força que pede consumação , e os que estão apegados a alguma ansiedade terrena, desejam viver na Terra até se saturarem dela. Daí a necessidade de haver reencarnações, para que todos se possam saturar das ilusórias oferendas que a Terra tem para distribuir.

Nessa saturação entram em jogo o egoísmo, a vaidade, a presunção, a pretensiosidade, o orgulho, a ostentação, a prepotência e demais atributos negativos, até que todos sejam queimados no cadinho do sofrimento. O renunciado passou por toda essa prova e superou esse estado de inferioridade espiritual em que se encontram os apegados.

Para saber‑se se o indivíduo ainda é candidato, por muitas encarnações, ao retomo à Terra, um dos meios é examinar ele o seu interior, para verificar se lá, escondido, não se encontra um desejo ou uma atração terrena na dependência de serem satisfeitos.

Uns querem viver, ainda, num palácio; outros desejam cargos importantes; há os que anelam receber ovações das platéias; o sentido da ostentação predomina em muitos, e a vaidade, noutros, desperta ansiedades não correspondidas.

Estes, por não terem atingido o estado da renúncia, devem voltar à Terra, talvez muitas vezes, para esgotar nela as quiméricas aspirações.

Há os que fazem uma renúncia forçada em protesto a desilusões mundanas mas esta, espécie de renúncia não dá testemunho de libertação. Ela deve ser espontânea, natural, conscienciosa, traduzindo um verdadeiro reflexo de amadurecimento espiritual.

O renunciante sente, no seu íntimo, que a verdadeira felicidade repousa em motivos eternos, e não nos acontecimentos efêmeros, passageiros e ilusórios.

O ser mundano está sempre correndo atrás da felicidade, sem nunca atingi‑la, porque ela não reside nas encenações fortuitas dos painéis terrestres, mas na aura espiritual, que é a vibração cósmica universal. A entonação da partícula inteligente, com tal vibração, renova o estado d'alma e dá‑lhe a conhecer, por sentimento, a natureza astral ou o verdadeiro sentido da vida.

A renúncia atesta um estado de evolução superior àquele dos que a não possuem ou a demonstram em menor parcela.

Jesus, por ter oferecido, além das palavras, exemplos, foi um renunciado pleno das ofertas do mundo. Podendo, pela sua inteligência e saber, conquistar tudo quanto dispõe o poder temporal, deixou-se ficar, com a sua túnica e as suas sandálias, na companhia de humildes pescadores.

É que ele veio, apenas, dar esclarecimento aos homens, sem se importar com o que a Terra lhe pudesse oferecer. Apresentou, assim, um alto padrão da renúncia, para que todos a possam reconhecer.

Não significa esse exemplo que os que seguem os seus ensinos, revividos pelo Racionalismo Cristão, devam andar de túnicas e sandálias, rodeados de pescadores. O panorama daquela época não é o de hoje. Dois mil anos nos separam daquelas paisagens. O que não sofreu alteração, e nem pode sofrer, é o espírito de renúncia, que é abstrato e íntimo. Esse espírito acompanha o seu possuidor, como atributo indestacável da sua natureza espiritual.

Jesus, se hoje estivesse em corpo físico, neste ambiente terráqueo, teria que vestir‑se como qualquer outro, usar o trem, o automóvel ou o avião para a sua locomoção, e habitaria onde, e como melhor lhe conviesse, uma tenda ou um palácio, sem abdicar, em hipótese alguma, do seu imanente espírito de renúncia.

Os atributos espirituais conquistados o foram para a eternidade, não havendo a menor possibilidade de perdê‑los. Por isso, o renunciante, depois que adquiriu esse tesouro, que é a renúncia, terá tal riqueza ao seu dispor, por todo o sempre.

O valor da renúncia só o conhece quem o possui porque não é gênero que se possa dar a saborear.

Renuncia, na vida terrena, quem deixa altruisticamente o melhor para o seu semelhante; quem sacrifica o seu bem‑estar em favor de quem dele mereça e mais precise, sem fazer‑se de mártir: o pai que restringe os seus benefícios em prol da saúde e melhor educação dos seus entes; a mãe que moureja ao lado dos seus rebentos, para que nada lhes falte ou de mal aconteça; renuncia aquele que se priva do bem que merece para atender a um labor de aproveitamento coletivo; aquele que venceu, totalmente, o apego às coisas da Terra; aquele que põe de lado as suas conveniências, quando considera maiores as da comunidade; aquele que se sente satisfeito com o que tem, sem deixar, contudo, de se esforçar por melhorar e progredir em todos os terrenos; aquele que não sente mossa na alma pelo que os outros possuem de melhor; aquele que sabe que não pertence a este mundo.

A renúncia retempera a alma diante dos sucessos ou insucessos. O renunciante encara a vida com serenidade, não exagerando os fatos. Olha para o futuro, sem temor, porque as perdas materiais têm, para ele, valor relativo. A sua estrutura espiritual é vigorosa e ativa; é um ser esclarecido.

Almas renunciadas do Astral Superior trabalham em corpo astral, junto do orbe, e somente encarnam em missões especiais. As vibrações do mundo não produzem nelas o menor atrativo, não se comprazendo com os gozos terrenos, visto como, além da própria índole, mantêm contato permanente com esferas mais altas, de onde lhes vêm influências para maior apuração dos sentidos.

As almas hoje renunciadas obtiveram o espírito de renúncia neste mundo‑escola, de encarnação em encarnação, aos poucos, com paciência e perseverança.

Muitos há na Terra que se encontram, já, com bom acervo desse predicado, enquanto outros se mostram pobres dele; é que os primeiros mais próximos se acham de uma vida nova, em outro mundo melhor, enquanto que os segundos precisam estagiar, por mais tempo, nesta oficina terrena.

O objetivo do Racionalismo Cristão é apontar o caminho; e revelar os pontos que deverão ser atingidos na senda da espiritualidade. A renúncia é uma dessas metas. Quanto mais for dado realce

a esse aspecto do problema, tanto melhor será ele encarado e resolvido. Muitos custarão a despojar‑se das teias que os amarram às idéias de posse, mas o importante é reconhecer o estado do seu próprio espírito, e caminhar, com segurança, sobre a rota da emancipação.

Todos estão na Terra para se espiritualizarem, e se ela não estivesse preparada para fornecer os meios para esse fim, então seria uma estultícia virem os espíritos a encarnar nela, onde perderiam tempo. Mas como não há nada mal feito no Universo, e tudo obedece a leis sábias, é debaixo dessa ordem que os seres vêm à Terra para se espiritualizarem. Entre as várias matérias que o curso terreno oferece para a criatura alcançar aquele resultado, está o aprendizado da renúncia. Logo, quanto mais depressa for absorvida a lição, tanto melhor.

O Racionalismo Cristão é como que um facho de luz que ilumina, graciosamente, a estrada. Os seus servidores deixam de lado as diversões, o comodismo, o bem‑estar, para servir à Causa e, abnegadamente, ajudar os que querem ver com os olhos da alma as realidades da vida, numa sincera e honesta demonstração de renúncia.

 

                   A Inquietude

Há pessoas que se sentem sob a pressão de uma inquietude constante. Em parte, essa inquietude provém da sensibilidade muito aflorada, quando a sua natureza se sincroniza, facilmente, com as vibrações do ambiente, mais ou menos carregado, de inquietude.

Nota‑se grande apreensão pelo mundo, com perspectivas de guerra, com a instabilidade da vida econômica não só das nações, como também individual. Verificam‑se prejuízos enormes com a queda brusca de valores e com a inflação e a desvalorização da moeda. Todos esses conflitos produzem a inquietação por que passa a humanidade, neste momento agudo da história.

As almas encarnadas não encontram tranqüilidade nos meios sociais em que vivem, buscando, muitas vezes, desafogo e distrações forçadas, num desejo asfixiante de encontrar solução para o seu desassossego, e procuram abafar a inquietude no esforço de afogá‑la numa atividade exagerada e mal aproveitada. Com isso, dispersam‑se energias preciosas. Esse panorama envolve milhões de seres deste mundo desajustado.

As perspectivas de serem utilizadas, para fins belicosos, as inovações da ciência, cobrem de angústia aquelas comunidades mais visadas pela eventual destruição. Eis o aspecto do mundo materializado de hoje, malgrado o número avultado de seitas religiosas.

Veja‑se em que época agitada surge o Racionalismo Cristão, para participar efetivamente, dos acontecimentos presentes e futuros, em ação puramente espiritualizadora. Missão espinhosa, árdua, e mal compreendida em face da obstinação das criaturas, fortemente aferradas aos seus interesses pessoais, sem desejar, de modo algum, afastar o pensamento dessas conveniências subalternas.

Está chegando o mundo a um ponto em que, para sobreviver aos sobressaltos, é preciso retroagir nos processos egocêntricos, para ingressar nas regiões amenas da espiritualidade, onde os problemas da vida são encarados com fraternidade cristã.

Falta espírito de solidariedade, de humanidade, de confraternização no trato dos homens, pela posição egoísta em que se colocam, cada qual pugnando pela sua causa em detrimento da do seu semelhante. Não há o devido respeito, não existe a educada consideração pelo próximo, mas uma avidez incontrolada de passar para adiante, visando os fins, sem levar em conta os meios.

Os espíritos do Astral Superior observam essa inconsciência humana, em que as virtudes, os atributos morais, estão desaparecendo na voragem indômita das paixões, da ganância, dos atropelos, da falta de escrúpulos.

A inquietação conturba a vida, produz males físicos, desânimo, e atrai má assistência astral. Ela não resolve nenhum problema; ao contrário, agrava qualquer situação embaraçosa. Oferece, no entanto, a oportunidade de exercitar o domínio próprio, a força de vontade, com o fim de impor‑se a criatura a esse estado, e fazê‑lo desaparecer.

A fortaleza espiritual vem daí, desse treinamento que todos estão obrigados a fazer, se quiserem revigorar as qualidades do espírito. Não há outro meio de conseguir‑se fortalecimento moral, que não seja o de passar pelas agruras da vida, vencendo as experiências ásperas que se apresentarem.

 

                   A Liberdade

Liberdade, têm‑na os animais inferiores, nas selvas. No gênero humano, no caso do silvícola, essa liberdade começa a diminuir quando é obrigado a prestar obediência a um chefe, o qual, por sua vez, também dá submissão, como exemplo, aos preceitos estabelecidos.

À medida que o ser passa, de grau em grau, a subir a escala da evolução, vai se submetendo aos princípios da moral, deixando de fazer o que não convém, para seguir a voz da consciência, cada vez mais nítida e imperativa.

O cerceio da liberdade é um bem, sempre que usado no sentido de conter o mal. E por mal se compreende tudo aquilo que contraria as boas normas de viver, pautadas pelas leis Supremas e Universais.

Todos devem, por isto, satisfazer‑se com a liberdade relativa que possuem, procurando viver uma existência controlada e pacífica. As leis foram criadas, precipuamente, para regular a liberdade, para impedir que qualquer um tome o freio dela e pratique o que quiser. Um mundo sem leis, seria um mundo selvagem. Logo, uma vez que as leis são indispensáveis, a liberdade tem de ser dosada e limitada nas suas manifestações.

Há um estado de elevação espiritual em que as leis terrenas seriam dispensáveis ao indivíduo, em virtude de tal equilíbrio moral já haver conquistado e tal poder de consciência adquirido. Para esse, essas leis poderiam ser consideradas como supérfluas, mas, já aí, ele obedece a outras leis, leis cósmicas, que se aplicam nos planos siderais e que precisam ser rigorosamente observadas, para que o Universo se mantenha na sua marcha normal: são as leis da espiritualidade.

Nessa circunstância, o anseio do ser é de tal forma consciente, que a sua liberdade de ação coincide, rigorosamente, com a necessidade, não havendo, pois, desejos contrariados, contenções ou limitações.

Enquanto, porém, estiverem os seres sujeitos à evolução terrena, precisam conformar‑se com a liberdade relativa que desfrutam. Ela será usufruída por cada pessoa, na medida do seu adiantamento espiritual, da sua capacidade de realização, do seu merecimento e das condições previstas para a sua evolução.

As esposas e mães têm a sua liberdade grandemente cerceada, mas em holocausto a uma missão dignificante. Do mesmo modo, as crianças têm a liberdade também limitada, em favor de uma melhor educação e maior estabilidade. Sem exceção, os chefes de família, no seu devotamento ao lar e ao trabalho, subjugam toda e qualquer idéia de liberdade que prejudique essa dedicação.

Assim, os seres em evolução na Terra só poderão alcançar uma parcela de liberdade no decorrer da existência, e deverão julgar‑se felizes por estarem sujeitos a essa restrição redentora, que opera em favor da coletividade e, particularmente, em benefício de cada um.

A opressão é uma medida violenta de supressão da liberdade, e é preciso que um povo tenha errado muito para, ainda que transitoriamente, merecer essa cota de sacrifício. Os erros desse povo não podem ser contados, apenas, pelas ocorrências da encarnação em que se manifestou o fenômeno, mas pelo acúmulo deles, carreados de vidas passadas. Os governos de opressão, despóticos ou ditatoriais, atuam como cataclismos.

Ninguém poderá vangloriar‑se de que é livre para fazer o que bem entenda, porque essa liberdade mal empregada, ou lhe custará muito cara, ou será reduzida, mais tarde, a expressões mínimas., se não se der o caso de ter de passar pelas duas experiências, concomitantemente.

Muito cuidado é necessário tomar com fanfarronices, com jactâncias, porque tudo quanto pensarmos ou dissermos, fica gravado no éter, sem possibilidade de se apagar. Desse modo, o que se disser não poderá ser desdito, e há sempre responsabilidade nas afirmações e nos pensamentos emitidos.

Quem tem contas a saldar na Terra ‑ e todos as têm, maiores ou menores ‑ não poderá gabar‑se de ser livre ou de gozar de plena liberdade, porque o tempo se incumbirá de provar o contrário.

O Racionalismo Cristão ensina que todos deverão ser ponderados e comedidos para não se externarem de modo leviano, e terem de sofrer as conseqüências.

Refreando a liberdade, é indispensável que os estudantes desta Doutrina aprendam a dominar principalmente estes três dons: ‑ o da vista, o da audição e o da fala. Às vezes é conveniente, ver e não ver; ouvir e não ouvir; conhecer mas não falar, pois quantas vezes "o silêncio é de ouro", como diz o aforismo!

A liberdade plena não faz falta a quem sabe conduzir‑se com elevação, entendimento e amor cristão. Todos trazem planejadas as linhas mestras da sua trajetória terrena, da qual não faz parte essa liberdade.

Os seres dependem todos uns dos outros e, se assim não fosse, não haveria necessidade da presença no mundo de alfaiates, costureiras, padeiros, agricultores e de toda essa ordem inumerável de artífices, cada qual fazendo a sua parte no serviço da coletividade; se há dependência, não existe liberdade ampla.

A falsa idéia da liberdade, faz com que o ser se coloque um pouco à parte do conjunto humano; essa idéia desenvolve uma percentagem de egoísmo, uma certa superioridade que não pode existir.

A simplicidade deve ser adotada como lema. De preferência, estimule‑se a simpatia por aqueles que possuem dose menor na parcela de liberdade, por estarem suportando uma carga mais pesada.

Embora seja contida a liberdade nos limites de uma parcela, todo esforço deve ser empregado para dilatar esses limites, adquirindo o ser o preparo espiritual que o fará merecedor desse prêmio. O raciocínio leva sempre a reconhecer que a chave do progresso e o segredo do êxito estão na espiritualização. Nenhuma oportunidade deverá ser perdida para alcançar essa conquista. O Racionalismo Cristão foi trazido à Terra com a finalidade de oferecer esse ensejo àqueles que o desejarem e tiverem o espírito amadurecido para participar dessa oportunidade.

Quanto mais se aproxima o indivíduo do estado de perfeição, que é a sua meta, tanto mais consciente vai se tomando do verdadeiro sentido da vida, e menos capaz se revela de cometer um ato fora da lei que não esteja sob seu completo controle, sem levar em nenhuma conta o princípio da liberdade.

O ser humano possui a liberdade identicamente ao livre arbítrio, para aprender a não fazer uso dela fora de limitadas condições, e essa aprendizagem é obra de milênios. Por isso, o conceito de liberdade relativa ou absoluta precisa estar sempre presente nas mentes humanas, para que nunca se excedam as pessoas na satisfação dos seus desejos.

 

                   As Afinidades

A afinidade entre as pessoas decorre da igualdade de sentimentos, de idêntica forma de pensar e raciocinar. São criaturas que tiveram longo curso de experiências semelhantes, por via das quais chegaram a conclusões mais ou menos idênticas.

Elas dão‑se bem umas com as outras, estimam‑se mutuamente e têm prazer em encontrarem‑se e ficarem juntas.

O ideal seria que marido, mulher e filhos tivessem afinidade plena, para que o entendimento entre eles fosse completo, sem discrepância, irrestrito. Essa ventura pode ser desfrutada em Planos Superiores.

No entanto, neste laboratório terreno, as condições são outras, e marido, mulher e filhos têm de se conformar com as diferenças de gênio, de temperamento, de gosto e de ideais, que imperam no seio da família.

O Racionalismo Cristão assegura ser a família constituída de seres oriundos de planos diversos de evolução, justamente para que sejam exercitadas a tolerância, a necessidade de saber ceder ou não ceder, quando for o caso, a cooperação com índoles desiguais, a obrigação de se ajustarem para uma vida em comum e unida.

Muito se tem de aprender com essa disparidade sentimental em que cada um está sempre pronto para puxar na direção oposta. O ideal é haver uma força de contenção para pôr o grupo em equilíbrio, e todos precisam colaborar para que essa força não desapareça.

O que fortalece tal força, é a conduta dos pais, a capacidade de compreensão posta em relevo, a oportunidade de se oferecerem conselhos e exemplos para o cultivo da espiritualidade.

Por esse meio, as diferenças tendem a desaparecer, porque imperando o bom‑senso, o critério, a boa‑vontade, a autoridade e o amor, as almas acabam por entender‑se, reconhecendo onde está a razão, aceitando‑a e, com isso, promovendo o estabelecimento de uma afinidade que tenderá a desenvolver‑se.

A afinidade dos seres, de uns para os outros, será completa em graus superiores da jornada eterna, e já se podem considerar felizes os que a sentirem na Terra, embora com as suas limitações.

A afinidade e a amizade andam sempre juntas, e se esta é um dom espiritual em cultivo, aquela também não deixa de o ser. Daí a sabedoria superior que orienta a constituição do lar na base dessa verificada carência de afinidade, para que ali se estabeleçam correntes afins, através do afeto, da dedicação, do reconhecimento, da proteção e do auxilio, com o que muito se conseguirá no sentido do fortalecimento da afinidade.

Como se vê, a afinidade tem a sua participação na conquista da felicidade, uma vez que os que se estimam e se sentem unidos por sentimentos afins, experimentam uma dose de felicidade quando se aproximam, e juntos podem conviver.

Como todos aspiram a felicidade, não se deverão descurar dos seus fatores, dentre os quais a afinidade é um dos mais importantes. Assim, cumpre a cada um velar pelos seus interesses legítimos e, com sabedoria, tirar proveito dos ensinos que os podem levar a realizar os seus superiores intentos.

No esforço para firmar os laços da afinidade, está um dos mais hábeis roteiros para processar‑se o desenvolvimento de atributos espirituais que concorram, não só para a felicidade, conforme foi acentuado, como ainda para se alcançarem outros poderes dominantes do espírito, que manifestam a sua virtude no desenrolar de atividades socorristas, no mundo das relações humanas e no plano dos ideais espiritualistas.

Fora do campo da espiritualidade também se encontra afinidade entre pessoas que alimentam os mesmos vícios, erros e inclinações: “diz‑me com quem andas, e te direi quem és" ‑ eis uma afirmativa popular criada para denunciar os prevaricadores de todas as espécies, quando querem passar por aquilo que não são. Este gênero de afinidade é um reflexo, no plano inferior, do que existe no superior.

A afinidade vai se apurando à medida que a evolução se processa até atingir o ponto que é comum a todas as criaturas. A verdade, o poder e o saber se unificam. Por isso a afinidade torna‑se comum quando a alma alcança o estado de pureza e perfeição. E para lá que todos caminham.

 

                   Os Deveres

Os espíritos encarnados aqui se encontram investidos de deveres intransferíveis; cada qual tem o seu, com o fim de servir‑lhe de depuração para a alma. Na maioria das vezes não são os deveres agradáveis de cumprir, podem ser sumamente pesados, difíceis, estafantes, que exijam uma dose forte de sacrifício, de renúncia e de resignação.

Compenetre‑se, porém, a criatura de que eles não foram traçados para agradar, mas para amoldar o ser a determinadas injunções da vida, para lapidar o caráter, para desenvolver o senso da responsabilidade, para ensinar a dirigir, a lidar com o próximo de temperamento desigual, para fazer trabalhar o raciocínio, para aceitar a vida com ela é, e para cada um saber tirar do dever imposto a lição que ele encerra.

Pode‑se considerar a humanidade dividida, economicamente, em três classes, a pobre, a média ou remediada, e a rica.

Na classe pobre, impera, quase sempre, o trabalho manual ou braçal, mais ou menos rude, que exige energia física, renúncia de conforto e severo controle da economia privada. Os deveres que se impõem a esta classe, perfeitamente definidos, como nas demais, asseguram a especialização dos ofícios, na sua grande variedade, habilitam os seres a praticar o socorro mútuo, pela ação direta, tornando‑se responsáveis pelo suprimento das utilidades, inclusive os produtos alimentícios, ao consumo comum, e entre os consumidores se incluem todas as classes: pobre, média e rica.

A classe pobre suporta, em regra geral, o rigor da carência, às vezes com estoicismo, outras com exemplos de resignação. Poucos são os infelizes que se revoltam com a natureza humilde dos deveres, e procuram, em vão, sacudir o jugo das limitações a que estão sujeitos.

Evidentemente é uma classe indispensável à vida, tanto quanto as outras, e por essa indispensabilidade, forçoso se toma que os seus representantes tenham paciência nos seus postos, pois se neles bem cumprirem os seus deveres, na volta à Terra terão oportunidades muito melhores.

O fato importante a registrar são as proveitosas lições recebidas nessa classe. Assim, os que nela trabalham, estão empregando muito bem o seu tempo e preparando‑se para novos empreendimentos futuros. Nem todos os seus componentes são pessoas que se estão iniciando na vida espiritual; muitos são espíritos que já fizeram as suas incursões pelas outras classes, mas que tiveram de voltar a ela pelo mau uso feito do livre arbítrio. Para estes, a adaptação ao meio já é mais penosa.

Com respeito à classe média, vale dizer que os seus integrantes sustentam também as suas fases delicadas. Precisam, muitas vezes, participar da vida em meio abastado, com a obrigação de exercer misteres próprios da gente pobre. Os recursos são quase sempre escassos, em face do preço das aparências. As donas de casa são as mais sacrificadas em seu meio, pois os afazeres domésticos, na realidade, as obrigam, por serem almas mais polidas do que as da classe anterior, a uma abnegação excepcional, para agüentarem a rudeza do labor.

Dispondo, comumente, de corpos físicos mais delicados, comparativamente, têm de suportar uma carga de serviço que pode parecer superior às forças em reserva. Neste ambiente dão‑se muitos desastres morais, pela falta de compreensão e espiritualidade. Vencem aquelas criaturas que trouxeram valioso acervo de lutas anteriores e possuem a alma curtida pelas experiências passadas, muitas vezes repetidas.

A vida nesta classe oferece perigos maiores do que na primeira enunciada, por ser onde se marca passo, até por centenas de encarnações. Aí se encontra o maior número de pessoas revoltadas, inconformadas e desajustadas. As folganças na vida da classe rica são objeto de aspiração dessa classe que, não estando espiritualmente preparada para compreender a realidade dos fatos, exaspera-se, comete desatinos e perturba‑se. No entanto, muitos há que compreendem a situação pelo aspecto da vida espiritual, e seguem os seus caminhos, serenamente, na certeza de darem por bem aproveitado o tempo aplicado nos deveres que lhes tocam.

Na classe dos ricos se encontram aqueles que, em maior proporção, estão acumulando débitos. Andam pelo terreno das futilidades. Pagam a servidores para não trabalhar. O dinheiro cobre todas as necessidades. Os deveres ficam para os outros. O ambiente de luxúria é o que predomina. Gastos supérfluos são feitos a todo momento. O desperdício é hábito rotineiro. A desgraça alheia fica muito distante. Exercitam a falsa caridade e os atos chamados piedosos se misturam com as pompas sociais.

A vaidade, o orgulho, a presunção, a ostentação de grandezas, a arrogância, o enfatuamento, são, ordinariamente, os alimentos viciosos do espírito. A maioria deles, na volta à Terra, irá para a classe dos pobres. O dinheiro é o veículo mais apropriado para o indivíduo pôr à mostra uma série de defeitos morais; com dinheiro farto, ele dificilmente se contém; dá expansão franca e plena aos seus instintos, às suas ânsias insatisfeitas, à sua grande e falsa oportunidade. Então farta‑se de semear o joio, sem se preocupar com a colheita.

Nem todos, porém, se perderam nesse caminho ilusório, visto que pela sensibilidade espiritualista, têm consciência da Vida e procedem como criaturas seguras da sua posição.

Muitos outros penetram nessa classe provindos das outras duas por processos ilegítimos baseados na usurpação, no assalto, na especulação desonesta. Estes são autênticas vítimas de si mesmos, cabendo‑lhes devolver em dobro tudo quanto subtraíram dolosamente do seu semelhante.

Os cavilosos, os ludibriadores, os mistificadores são dos que muito perdem nesta vida e serão, por largo tempo, perseguidos pelo reflexo das suas más ações. Terão de suportar o retomo impiedoso de suas tramas criminosas. A lei da causa e efeito não falha e não tem sensibilidade, por ser simplesmente lei. Na classe dos ricos estão os poderosos, os que exorbitam da sua autoridade e posição, os que mandam com o dinheiro na mão. Querem ver a sua vontade satisfeita, e não falta quem se sirva a prestar os seus serviços, por interesse, a elementos voluntariosos, déspotas e desalmados. É, por isso, uma classe muito carregada de débitos, que começarão a ser cobrados, sem tardança, quando não antes, da encarnação seguinte em diante.

Não há quem nasça sem deveres a cumprir. Todos os têm, e ai de quem se descurar deles! Na classe pobre, enquanto o chefe da família busca, no trabalho, a manutenção dos seus, a esposa e companheira lava e passa, cozinha e arruma, costura e limpa, mantendo o lar em ordem, sadio e alegre.

Na classe média, a dona da casa, embora mais aliviada dos serviços pesados, tem as mesmas obrigações e deveres, mais se esmerando na educação dos filhos. Na classe rica, tem a dona da casa a liderança de todos os serviços, controlando e dirigindo os afazeres dos serventes, mantendo bem conservados os pertences, zelando pela economia dos gastos, pela boa aplicação dos recursos, pela alimentação adequada e sobretudo pela mais completa educação e instrução dos filhos.

Essa tarefa das mães ricas é de grande responsabilidade, pois não lhes faltam os meios, que as das outras classes não têm, para preparar os homens e mulheres de amanhã, para quem passam os cargos ou as posições de maior relevo.

Os espíritos que encarnam com o fim de se elevarem, depois, acima do meio, para realizarem algo de extraordinário, missionariamente, podem nascer na classe que bem entendam, porque por si mesmos se elevarão ao ponto que desejarem.

São almas possuidoras de rico manancial de força de vontade, inteligência e energia, que não terão dificuldade em erguer‑se à sua própria custa. A maioria, porém precisa do preparo inicial dado pelos pais, especialmente pela mãe, que com eles convive mais de perto, auscultando‑lhes as tendências e aptidões para cultivá‑las, ao serviço do bem.

As mulheres e, principalmente, as mães, têm um papel importantíssimo na vida, em nada inferior aos dos homens. Estes devem muito das suas realizações às mulheres, com quem participam da vida, sejam mães, sejam esposas.

Logo, a mulher tem, entre os seus deveres, a missão de consagrar‑se ao trabalho educativo ministrando aos entes ao seu cuidado, a ilustração precisa, a orientação sadia, a concepção espiritualista da vida, para que se tornem os futuros condutores da coletividade, seres esclarecidos, controlados, empreendedores, honrados, justos, enérgicos e serenos, nobres de alma, capazes, seguros e respeitadores.

Os homens, no cumprimento normal dos seus deveres, devem dar o exemplo de operosidade, de retidão, de esmero, de esforço, de dedicação, de honestidade e de disciplina, num sistema de colaboração e entendimento, para que os resultados sejam sempre os melhores.

Os deveres não devem ser tomados como uma imposição forçada; antes precisam ser compreendidos como um prêmio conferido ao direito de viver. Os que se eximem, por conta própria, de tomar conhecimento dos seus deveres, deixando‑os por fazer, cometem falta grave, pela qual responderão mais cedo ou mais tarde.

Os animais inferiores cumprem, instintivamente, os seus deveres. Os que estudam a vida das abelhas e das formigas, fornecem pormenores abundantes sobre a maneira pela qual, no seu trabalho organizado e eficiente, cumprem os seus deveres. Os cães, segundo as raças, cumprem, de várias maneiras, as suas obrigações, seja o São Bernardo, salvando vidas, seja o Policial, dando caça aos criminosos, o Pastor ou o Guarda, todos cumprem as suas tarefas. Ora se, de maneira rudimentar, o dever já se esboça nessa classe animal, mais nítido, desenvolvido, bem especificado, há de apresentar‑se o senso do dever no homem!

Numa fábrica, numa usina, num escritório, numa empresa, numa companhia, que prejuízo pode causar o displicente que descumpre os seus deveres! Em nenhuma atividade é tolerado o indivíduo irresponsável.

Assim como um complicado mecanismo deixa de funcionar ou funciona mal se uma das suas peças estiver desajustada ou imperfeita, também na vida de relação, embora nem sempre se perceba, há um desequilíbrio, uma falha, quando um elemento humano deixa de participar, eficientemente, do funcionamento normal da vida.

É preciso não esquecer que tudo quanto se faz ou se deixa de fazer na ordenação dos deveres, fica perenemente gravado no quadro fluídico das obras de cada espírito.

A ignorância é fonte de erros, de desgraças, de sofrimentos e de infelicidade. Espancar as trevas da ignorância, é o que procura fazer o Racionalismo Cristão, com os seus ensinamentos; desejam os que nele militam que todos conheçam a Verdade sobre a vida, para eliminarem de seus procedimentos erros lamentáveis, que os levem a criar penalizantes situações futuras.

Por esta razão, atente‑se para a obrigação de fazer cada um a tarefa que lhe compete, sem recusa, sem fugir dela, sem se lastimar, porque tudo muda de uma existência para outra, e essa mudança será para melhor, se os deveres não forem descuidados.

Aqueles que estiverem suportando uma cruz pesada, não esmoreçam, prossigam firmes na jornada, confiando em dias melhores que virão, na certa. Tudo depende da própria pessoa, de não desanimar, não se revoltar, não se lamuriar, pois sabendo que fez jus ao que está recebendo, não se lembrará de recriminar ninguém, antes se conformará e procurará cuidar de preparar um futuro menos atribulado.

Espíritos que hoje são felicíssimos, encarnados ou desencarnados, deixaram para trás vidas angustiadas, momentos amargurados, existências repassadas das maiores torturas morais. No entanto, palmilhando pelo caminho da evolução, os horizontes se dilataram, os conhecimentos assomaram, e a felicidade tornou‑se presente, a todo o instante.

Uma vez sabendo isso, quem não terá coragem de prosseguir, enfrentando os obstáculos? Se alguém vai com sede pelo caminho e sabe que mais adiante encontrará água cristalina para se dessedentar, não se senta à espera de que a água venha ao seu encontro, mais vai ao encontro dela, reanimado, até alcançá‑la.

Assim também na vida espiritual todas as almas têm sede de saber, de conhecer a Verdade, de encontrar a felicidade, e ao invés de interromper a marcha à espera de que caiam do céu os objetos dos seus anseios, seguem a sua jornada, valorosamente, na certeza de que indo pela senda da honra e do dever, sob a tocha da espiritualidade, hão de encontrar o que aspiram, e regozijar‑se da sua conquista.

O objetivo da vida não é estar a criatura a passar pelas mais duras provas da dor. A Vida tem um fim superior e edificante, ao qual todos devem procurar atingir o mais depressa possível. E depressa, quer dizer não fazer em dez mil anos, por hipótese, o que poderá fazer apenas em mil. Trata‑se de economizar nove mil anos de vidas torturadas.

O caminho está assegurado para aqueles que desejarem seguí‑lo. Depende de cada um querer livrar‑se de mentalidade entorpecida pelas seduções mundanas. A verdadeira vida é espiritual, visto que todos são espíritos, embora encarnados, enquanto que a matéria é ilusória, passageira, de duração relativamente efêmera e de valor secundário. Saiba‑se diferençar a vida espiritual da material, e tenha‑se por certo que o fiel cumprimento dos deveres terrenos repercute no desenvolvimento espiritual.

O ser, na sua formação espiritual, está fadado a usufruir de todas as satisfações e alegrias da vida, num estado vibratório de tal modo superiorizado, que nenhuma vibração inferior, como a de tristeza, de amargura, de sofrimento, de angústia, de preocupação, de dúvida e de desespero o pode atingir, por falta absoluta de sincronização.

Esse é o estado que todos precisam alcançar, e só assim se pode compreender a vida no seu aspecto eterno. Os seres, no mundo Terra, estão sendo polidos, limados, brunidos, amoldados, plasmados, para tomarem a forma perfeita que lhes compete e a que têm direito. Essas operações doem, sentindo‑se o indivíduo, figurativamente, ralado, moído, cinzelado, comprimido, para que o fim possa ser consumado.

O que importa é que não sejam criadas dificuldades a essas; operações, furtando‑se a criatura a submeter‑se a elas; evitem‑nas, no entanto, de maneira simples, fazendo bom uso do livre arbítrio, dando ouvidos à voz da consciência ao cumprir os seus deveres, ao desejar encontrar a Verdade, com sinceridade, sem prevenções descabidas, sem pirronismo doentio, sem querer sustentar falsas posições e falsos pontos‑de‑vista, só para alimentar vaidade, defender interesses subalternos, entregar‑se a crendices rendosas e saturar-se de enganosas visões mundanas, refletidas pela inalação do ópio embriagante dessas absorventes e atraentes seduções.

Na classificação dos deveres que tocam a cada um, já estão incluídas as escalas de ascensão aos postos administrativos que devem ser ocupados com a razão clarividente de quem faz um trabalho, conscientemente, não para exaltar‑se com ele, mas para dignificá‑lo e enaltecê‑lo. Em qualquer posto, o indivíduo precisa conservar a simplicidade, a singeleza, a expressão solidária e fraternal, visto que a confiança do Astral Superior só recai naqueles que souberem manifestar a compreensão espiritualista nos seus atos e pensamentos.

A ascensão aos postos chaves de direção de determinados indivíduos, astralmente preparados para isso, nem sempre se confirma, em face de interposições, diante da interferência do livre arbítrio e pela quebra na uniformidade do cumprimento dos deveres. Esses perdem a confiança e o apoio do Astral Superior por efeito de compromissos traídos, por fraqueza moral ou por se deixarem arrastar pelas forças inferiores.

Aqueles que trazem a incumbência de missões mais destacadas, estudaram‑nas em seus mundos, antes de encarnar, para contornar os riscos a que se iriam expor na Terra, de modo que os que vêm errando não foram apanhados de surpresa no torvelinho da vida, mas deixaram‑se vencer pelas tentações, afogando‑se, conscientemente, no mar das seduções.

Não fosse essa queda dos homens, acontecimento tão comum, com evidente mutilação dos deveres, o mundo seria outro e a geração presente poderia prevalecer‑se dos recursos espirituais para lograr uma vida de bem‑aventurança, de equilíbrio, de confraternização e de felicidade.

 

                   A Maledicência

Vício dos mais perniciosos é o da maledicência, que imperceptível e sorrateiramente penetra na alma humana. Ele nasce da falta de solidariedade e do desamor entre as criaturas. A ausência de uma boa ocupação é também causa predisponente. A pobreza de assunto conduz à conversação ociosa, que vai da futilidade à maledicência.

A vibração mental que emite a maledicência, produz uma forma de pensamento derrotista, cuja influência poderá atingir a vítima descuidada, por ser o pensamento uma força poderosa.

Na maioria dos casos, a maledicência esconde, por baixo da capa, o sentimento de inveja, do despeito, da ingratidão. É um modo diverso de exercer a vingança. O indivíduo vinga‑se falando mal, desmoralizando, ferindo, sem que o acusado se possa defender. Há criaturas que abraçam, apunhalando pelas costas, à maneira dos tamanduás.

Aconselha‑se o maior cuidado com os maledicentes, que são facilmente reconhecíveis; aos olhos perscrutadores, a sua amizade não merece crédito. Dia mais, dia menos, inesperadamente, são capazes de causar dolorosas decepções. Não conhecem a lealdade, na sua forma expressiva. O maledicente não é um cristão, pouco ou nada valendo a sua filiação a qualquer classe de idéias.

Ele deve ser tratado com reserva, pois anda na linha dos intrigantes e dos traidores, e é um associado das forças do astral inferior. Os que injuriam e difamam, começaram a sua carreira criminosa como maldizentes e foram se corrompendo, nesse vício, até atingir as formas mais penosas da indignidade humana.

Cabe aos pais e aos professores combater o germe da maledicência que se manifesta na infância. As crianças precisam, por isso ter preceptores vigilantes. Nessa primeira fase da existência, a correção aos males que surgem é menos difícil. Mais tarde, depois de criarem raízes profundas, a extirpação dos males oferece resistência muito mais pronunciada, e quase sempre se tomam eles crônicos e incuráveis. O efeito mais provável é a perda da encarnação.

Muitos dão pouca importância ao vício da maledicência, não só por ignorarem o lado espiritual da vida e nada saberem sobre a força do pensamento, como por desconhecerem tudo acerca do astral inferior. Portanto, o vício da maledicência é um produto da ignorância provocada pela falta de espiritualização.

O esforço que deve ser empregado para impedir o florescimento da maledicência é da consagração espiritual, obra de grande merecimento pelo bem que promove. Só o fato de a criatura entender a razão pela qual não deve ser maledicente, já é motivo rejubilante, porque é prova de que se inicia no esclarecimento espiritual.

Num dos pontos altos do sistema educativo adotado pelo Racionalismo Cristão, está o enérgico propósito de subjugar a maledicência pelos melhores meios. No combate a todos os vícios que ali se faz, não poderia esse ficar à margem.

Em se tratando de um vício, como realmente é, a maledicência corrói a alma do seu agente, causando‑lhe um estrago ainda maior do que aquele que provoca em sua vítima.

O prejuízo oriundo da maledicência, que é todo de ordem Moral, não aparece à luz dos olhos físicos, mas infiltra‑se na estrutura invisível e atinge o cerne vital. Daí exigir cura ou restauração, e esta só se consegue numa futura volta ao mundo, em processo reencarnatório, quando uma experiência muito mais dura estará reservada ao atuante maledicente, que, por certo, perderá, então, o malfadado vicio, se a experiência for bem aproveitada.

Não poderá ninguém dizer, honestamente que advertências como esta visem qualquer interesse secundário; este panorama é apresentado com lealdade, com o intuito de alertar, ajudar e contribuir para uma melhor aprendizagem na vida terrena.

A evolução é Processada por camadas humanas, tomando‑se necessário que os integrantes menos cuidadosos de cada camada se apresentem no sentido do desenvolvimento espiritual, para não terem os mais aplicados de esperar, embora em meio mais ameno, pelo progresso dos retardatários, até o ponto de serem estes banidos e descerem os pirrônicos, caso a outra camada de menor evolução não se esforce por acompanhar os demais da sua classe.

Guardem os maledicentes este aviso, na certeza de que todos os atos dos seres não escapam à percepção espiritual e quem mal faz para si o faz.

Os que mal procedem estão sujeitos aos mais cruéis sofrimentos, sem que as suas lamentações produzam a menor influência na seqüência dos fatos preestabelecidos. A situação moral dos maledicentes é muito mais grave do que aparentemente pode ser considerada, em face do que deve esse vício ser encarado com o rigor de uma repulsa formal.

 

                     A Hierarquia

A hierarquia espiritual é um derivativo da sistemática da evolução. Há 33 planos de evolução, dos quais faz parte o planeta Terra. Os espíritos que fazem a sua evolução na dependência da reencarnação neste mundo físico, pertencem aos primeiros planos, e os que processam o seu desenvolvimento espiritual independentemente de estágios terrenos, distribuem‑se pelos demais.

Há então, com tal divisão, 33 graus de hierarquia espiritual, que correspondem, exatamente, aos 33 planos mencionados.

Esses planos são esferas concêntricas, envolventes, sucessivamente, que conservam grau de distância entre si.

No primeiro plano, estão os espíritos desencarnados de menor visão espiritual, que se sentem muito ligados à vida material. Os seus corpos astrais são densos, de acordo com a constituição do seu próprio plano, e a vida ali assemelha‑se à terrena, com ligeiras variações. As suas crenças são, como aqui na Terra, igualmente materializadas, sendo auxiliados no preparo para a reencarnação por espíritos mais adiantados, de planos mais elevados, que ali prestam serviço.

No segundo plano a matéria é mais diáfana, e assim vai ela ficando cada vez mais tênue, de plano em plano, até o 33, onde se encontram os espíritos de luz puríssima, da natureza de Jesus.

Os espíritos do primeiro plano a ninguém podem esclarecer em face dos minguados recursos que possuem, enquanto que os do segundo plano já podem prestar concurso espiritual ao primeiro, e assim por diante. Da escala ascensional, até à última, os espíritos têm ação esclarecedora sobre todos aqueles que se encontrem nos planos abaixo do seu.

Nesse encadeamento não faltam elementos para ensinar nem aprender. Todos os planos contêm numerosos espíritos que emprestam auxílio aos que estão abaixo, e recebem recursos dos que estão acima. Assim são todos assistidos, beneficiados e esclarecidos de conformidade com a sua capacidade de apreensão, e preparados., convenientemente, para a reencarnação, conforme o caso.

Todos obedecem a essa hierarquia espiritual sem o menor constrangimento, pois ninguém põe em dúvida que o espírito do plano acima do seu esteja realmente mais capacitado, porque essa promoção de um plano para o outro imediatamente superior, não é feita, como aqui na Terra, às vezes, por apadrinhamento, mas por uma realização espiritual, em que a estrutura individual adquire uma vibração condizente com a do plano acima do seu.

Esse esforço consiste em viver honradamente, procurando desenvolver os atributos espirituais latentes por meio de um conduta retilínea de um viver sadio, operoso, compenetrado, consciente, proveitoso, humano, justo, equilibrado, compreensivo e construtivo.

O espaço que envolve a superfície da Terra é o que se denomina "astral inferior" Também aí há hierarquia exercida pelos chefes de falanges.

A hierarquia neste mundo difere, consideravelmente, da dos Planos Astrais. Aqui não se conhece a que plano cada qual pertence, e não raro indivíduos de planos inferiores são chefes de outros de planos mais elevados.

Esta hierarquia terrena obedece a outro fim, qual seja o de resgatar faltas cometidas nas encarnações anteriores. Na realidade, é quase sempre um sofrimento para a alma ter de cumprir uma ordem quase absurda, contraproducente, transmitida por um ser menos esclarecido, mas poderoso, em função do dinheiro ou da posição social.

Misturam‑se aqui criaturas da série reencarnante dos primeiros planos, para aprenderem a ser simples, obedientes, disciplinadas, respeitadoras, conformadas, renunciantes e submissas.

Cada qual precisa aceitar a sua condição sem revolta, sem protesto, sem se lamuriar, muito embora lute para melhorar a sua situação. Mas se a mudança retardar ou não se fizer tão completa como desejada, não deve isso ser motivo para desânimo, para increpar contra ninguém, para atribuir a terceiros, como é comum, a causa dos seus sofrimentos.

Esses terceiros podem ser instrumentos, mas não a causa. Cada qual recebe de acordo com o seu merecimento. As dificuldades, as lutas, os sofrimentos, são acidentes da vida necessários ao desenvolvimento espiritual e ao anulamento dos débitos pessoais.

A hierarquia faz parte da organização da vida, tanto espiritual como material. Por isso não pode haver independência absoluta no caminho da evolução, porque, pela hierarquia, todos estão ligados e recebem instruções ou ficam jungidos a imposições próprias da existência.

Ela tem de ser respeitada e reconhecida, muito embora muitos pareçam deslocados na posição que ocupam ou que por ela estejam favorecidos, mas o certo é que estão plantando naqueles postos para colherem depois, e é nessa colheita que receberão as lições de que mais necessitam.

Todos, de um modo geral, já fizeram mau uso da sua hierarquia e sofrem, por isso, aquilo que outros sofreram ontem, e ainda o que outros sofrerão amanhã. As lições são semelhantes, igualmente distribuídas e aplicadas, razão pela qual vale a pena serem as criaturas conformadas e compreensivas, certas de que não existem, nem existirão, injustiças na direção do Universo, em que os seres se encontram e vivem.

A hierarquia terrena está quase sempre ligada ao dinheiro, como instrumento, e oferece ao indivíduo boa oportunidade de elevar o seu débito, pois que não estando à altura da posição que ocupa, faz o triste papel de déspota, de importante e perde a noção da igualdade para valorizar‑se muito acima dos seus méritos.

Mas para a criatura lançar para fora as mazelas que tem escondidas na alma, é preciso dar‑lhe oportunidade para evitar que fiquem incrustadas lá dentro e, com isso, retida a marcha da evolução. Este é um mundo‑escola, penoso, portanto, e aqui as criaturas têm de lavar a roupa usada, malcheirosa, e converter o mal em bem. Essa roupa menos limpa são as vestes da alma, que se exibem, em circunstâncias adequadas, no cometimento de erros pelo abuso do dinheiro, de posições e da hierarquia.

Encarando, friamente, os fatos, pode‑se considerar a hierarquia terrena como uma armadilha, uma cilada para muitos, assim como o dinheiro e as posições, pois mal sabem que estes servem para enredinhá‑los em seu interior, obrigando‑os a expelir os atributos negativos encubados que, uma vez expostos, agem como corrosivos, provocadores de chagas difíceis de sarar.

Se na vida terrena não existissem tais armadilhas, tais ciladas, não teria o espírito renitente ao esclarecimento meios para expulsar os agentes corrosivos e virulentos de que precisa libertar‑se.

Assim, há dois caminhos na vida que podem ser escolhidos: o da virtude, por via do qual a criatura se espiritualiza e evita passar por espinhosa classe de sofrimentos, ou o do gozo materialista em que se faz a evolução, com grande perda de tempo, à custa de dores, das mais cruciantes.

Esta é a situação de fato. A maioria prefere o segundo caminho, não por sabedoria, mas por ignorância, por amor ao vício, por indolência, por indiferença aos apelos da própria consciência.

A hierarquia faz parte da vida no Universo. Alguns sabem usá-la. A maioria, não. Ela continua, no entanto, prestando o seu serviço valioso e indispensável. A vida terrena foi organizada com perfeição, mas é necessário entendê‑la e procurar compreender que nela nada há de insondável, ao contrário do que dizem os religiosos; tudo nela tem a sua explicação racional e coerente. O astral Superior, que a preside, não faz mistérios da sua obra; apenas elucida a cada um, na proporção do seu desejo e da sua disposição espiritualista.

No Racionalismo Cristão procede‑se à mais fraternal das hierarquias; os seus laboriosos auxiliares são companheiros a serviço de uma Causa; entendem‑se, estimam‑se e trabalham sem remuneração material, como se faz nos Planos Superiores. A linguagem da cordialidade impera, e o respeito ao semelhante é um lema acatado com a maior elevação.

 

                   A Carência

Um dos cuidados que todos precisam ter, é o de não desperdiçar, não dilapidar, não esbanjar riquezas, numa vida perdulária. Todos os valores de que disponha o indivíduo devem ser usados com a necessária atenção. As sobras aproveitáveis não devem ser atiradas fora, mas, em lugar disso, transferidas a quem delas precisar.

O temperamento excessivamente pródigo provém de não saber a criatura dar valor aos bens que lhe são confiados com o objetivo de fazer deles adequado uso.

Geralmente só dão valor a um bem quando sentem falta dele, quando é almejado para um determinado fim. Quanto mais difícil for a sua aquisição, maior deverá ser o valor que há de representar.

Por aí se vê que a maneira de fazer‑se com que cada um estime o que possui, pela sua utilidade, e não o despreze, é estabelecer a situação de carência.

Os que vivem, presentemente, nesse estado, sem conseguir sair dele, apesar dos esforços empregados, são aqueles que, num passado próximo ou distante, foram insensatos, esbanjadores. Assim também os perdulários de hoje serão os carentes de amanhã.

Os valores materiais não pertencem ao indivíduo. A eles chegam, por empréstimo, no correr da existência terrena. São parte integrante do mundo. Amanhã esses mesmos bens passarão a outras mãos, e assim por diante sucessivamente. Eles têm as suas funções, o seu emprego certo, e devem ser aplicados segundo essa natureza. Dar‑lhes um curso contrário, em que se revele mau aproveitamento, é demonstrar‑se um certo nível de inconsciência.

É indispensável que este aspecto da vida seja considerado atentamente. Na lei das conseqüências, tal procedimento tem o seu registro bem marcado.

Por outro lado, deve o indivíduo não se tomar avaro, mesquinho e egoísta, a ponto de armazenar as sobras não utilizáveis, pelo prazer doentio de vê‑las acumuladas. A virtude está a meia distância dos extremos, razão por que todos devem procurar esse louvável meio‑termo para nele orientar a sua conduta.

Nunca se deverão menosprezar os que se encontram em estado lastimável de carência, pois que a dor deve sempre inspirar compreensão e respeito.

Os que andam por aí levando a vida folgada, não estão com os débitos de encarnações pretéritas resgatados. Muitas vezes, essa existência desatribulada é para se desafogarem, um pouco, das outras consumidas sob o peso de terríveis provas. Depois desse lapso de relativo repouso em uma vida terrena de certo modo amena, nova série de tributos pode ser exigida, para completar o resgate de suas cargas armazenadas.

A criatura mal orientada e com a alma impregnada de maus instintos, pode praticar, em uma encarnação, males que levem muitas vidas terrenas a propiciar‑lhe o resgate.

Os meios mais apropriados para formar débitos são os da riqueza e da folgança, e os melhor indicados para o pagamento deles são, especialmente, os da carência, com a sua pluralidade de acessórias modalidades.

Neste mundo‑escola em que se faz a aprendizagem espiritualista à custa dos mais dolorosos recursos, é a carência a condição mais empregada para fazer surtir os efeitos desejados. Pela carência a criatura aprende a ser humilde, a dar valor à recompensa, a apurar o sentido da gratidão, a aplicar, racionalmente, os bens de que dispuser, e predispõe, com isso, a sua alma a elevar‑se, a ir ao encontro de regiões de mais pura vibração espiritual.

Não deve ser esquecido que o mundo foi preparado para que as almas nele encarnadas encontrem todas as possibilidades de colher experiências justas e adequadas aos seus casos. A carência oferece uma profusão de combinações articuladas no sentido de dar a cada um a oportunidade de curar a sua chaga com o bisturi cauterizador.

O Racionalismo Cristão não faz o impossível para livrar da carência os que precisam dela, mas concede o benefício de conduzir o indivíduo, pelo esclarecimento, a não precisar passar por essa dura prova no futuro, como conseqüência da vida que levar durante a sua realização espiritual.

 

                   O Trabalho

É máxima corrente que "a ociosidade é mãe de todos os vícios." Daí poder‑se considerar o trabalho como uma necessidade higiênica. Trabalhar é viver. Na realidade, sentindo e observando o movimento contínuo do Universo, não é difícil concluir que o trabalho e a vida se situam paralelamente.

Os seres humanos dispõem para a sua subsistência, do ar, da água e de substâncias nutrientes. O ar nada custa, pela água paga‑se, apenas, a sua adução, mas os alimentos têm de ser pagos e consomem uma parcela importante do orçamento doméstico. A civilização trouxe, ainda, uma série enorme de despesas, que aumentam, na medida do desenvolvimento e do aspecto material da vida.

Tal sistema obriga a trabalhar, mesmo os que não amam o trabalho. Os que se furtarem a essa norma, sofrerão as conseqüências, pois a Inteligência Universal não cessa um instante de trabalhar para manter a sua organização sideral e cósmica em pleno funcionamento; do mesmo modo as suas partículas, representadas pelos indivíduos, terão de ser ativas, operosas, diligentes, e hão de conservar‑se, forçosamente, em contínua vibração.

Durante o sono, é a matéria que descansa, que se refaz dos desgastes físicos produzidos pela ação das toxinas, mas o espírito, que nessa ocasião se afasta do corpo denso material, permanece alerta, vigilante, sem necessidade de repouso.

O trabalho é uma dádiva da natureza que habilita o ser a praticar o bem, a beneficiar o próximo, a concorrer para o progresso geral. O trabalho fortalece o espírito e o engrandece. É por meio dele que as criaturas produzem, amparam, constroem. A missão ou a tarefa é bem cumprida quando o trabalho é bem feito. Ele traz satisfação, alegria, contentamento. Enquanto se trabalha, a mente concentra‑se e a concentração é dom que se desenvolve.

É pelo trabalho que se adquire experiência, disciplina, senso de responsabilidade e se desperta a noção dos deveres. Ele nos dá paciência e tolerância, além do conceito da transigência, pela necessidade de harmonizar, acomodar interesses, de atender às conveniências de terceiros.

Quem trabalha, frutifica, dá exemplos, ensina e prepara novos trabalhadores. Estes produzem a riqueza, o conforto, o bem‑estar e as facilidades de comunicação entre os seres, para fins culturais, para os intercâmbios, para as regalias terrenas.

Os que não trabalham são parasitas sociais, são elementos nocivos, espúrios da ordem geral. Sofrem de insatisfação, de tédio, de ceticismo, provocados pelo vazio interior. Esses, além de não ajudarem a puxar o carro da vida, são arrastados como peso morto. Não colaboram com a coletividade, apenas se servem dela. É uma condição penosa que se mantém pela falta de esclarecimento, de compreensão, de espiritualidade.

O trabalho honesto é sempre honroso, seja de que natureza for. Ele é necessário e útil para a comunidade, que precisa que cada um se coloque no seu posto, conscientemente, na certeza de que está cumprindo tarefa de valor.

Uns ganham menos, outros mais, na programação funcional das atividades, por ser indispensável estabelecer, na vida de relação, planos diferentes para diferentes misteres, mas no fundo todos os trabalhos têm um valor intrínseco equivalente, do ponto-de-vista ideal. Naturalmente os trabalhos desonestos que produzem a alimentação de vícios e a corrupção, não estão incluídos nesta ordem.

Nada adianta ao cientista tentar pôr em prática os seus conhecimentos, se ele não tiver quem lhe ponha em ordem os instrumentos, quem lhe faça as roupas, quem lhe prepare os alimentos. Como se vê, os tipos de trabalho estão na dependência uns dos outros, donde ressalta a equivalência dos mesmos.

A civilização cria uma falsa concepção com respeito aos ganhos, por via da qual os mais bem remunerados se julgam melhores do que os outros, na classificação do trabalho. Há por certo, necessidade de chefes e subordinados, o que não significa, de modo algum, diminuição no alternado desempenho de cada um, pois o chefe nada teria que fazer se não dispusesse dos seus subordinados. Assim, o trabalho deve ser encarado com superioridade, de um plano elevado, sabendo‑se que ele é tão necessário aos homens, como a luz do Sol.

Em cada setor de trabalho o indivíduo colhe determinadas experiências, havendo necessidade, portanto, com o correr das reencarnações, de variar de trabalho, o que se dá, realmente, com os sucessivos renascimentos, para que as experiências se multipliquem, se renovem e ampliem.

Deste modo, com o tempo, elas se somam, apuram o adestramento, habilitam e aumentam a capacidade produtiva dos seres. Sem trabalho, tal desenvolvimento se torna impossível, razão por que tem ele de fazer parte integrante da vida.

O trabalho, praticado com honestidade, lapida o caráter, enobrece as atitudes, desenvolve o fator confiança, revigora a força moral e torna o indivíduo respeitado no meio em que vive. É preciso ter amor ao trabalho, por ser ele um gerador de virtudes, um estimulante de iniciativas, um motivo de apreciação para os conviventes.

A religião da humanidade deveria ser a religião do trabalho, que, bem cultivada, bem compreendida e executada, daria ao mundo mais êxito na formação espiritual dos povos, isto por ser o trabalho uma fonte permanente de inspirações, pelo seu paralelismo com a vida.

O trabalho honesto, disciplinado, construtivo, proveitoso, é um dos lemas do Racionalismo Cristão, que vê nesse exercício um processo hábil de desenvolvimento da espiritualidade. Tudo quanto se fizer para promover o progresso espiritual, tem nessa Doutrina o mais completo e seguro apoio. Ao contrário disso, nenhum endosso moral pode ela emprestar ao fomento do mercantilismo religioso, à materialidade dos procedimentos provenientes da ausência da consciência espiritualizada.

O mundo não se salvará da desordem, da ruína moral, dos conchavos interesseiros, dos golpes da aventura, da exploração das massas, das guerras fratricidas geradas por países que se consideram cristãos, enquanto a espiritualidade não imperar no seio da humanidade, coisa que não têm podido realizar as religiões materialistas que se vangloriam dos seus milhões de adeptos.

Esse estado anormal do mundo tem por princípio o trabalho empregado no mau sentido, quando os seus agentes, em lugar de ajustá‑lo à organização sonora das vibrações Astrais, prefere, animalizadamente deixar‑se atrair pelo magnetismo terreno, tirar partido das confusões, locupletar‑se do alheio, sem que as entidades religiosas, mal preparadas espiritualmente, disponham de meios para pôr cobro a semelhante situação.

Falta nas religiões um Código de Princípios, em que apareça o trabalho colocado em primeiro plano, de modo que sintam todos os seus asseclas; a verdadeira importância da sua aplicação racional na vida.

Já que são contadas, por milhares, as seitas e religiões; já que se ufanam de possuir milhões de "ovelhas"; grande responsabilidade repousa sobre os seus dirigentes por não modificarem a orientação dessas almas pastoreadas, consentindo que continuem a corroborar com os que avaliam o sentido do trabalho.

O esforço tem de ser comum entre todos os que, sinceramente, almejam a transformação moral dos habitantes da Terra, os quais, no momento, estão entregues, na sua maioria, ao desregramento, fazendo do trabalho um meio de corrupção e desvirtuando‑o da sua verdadeira finalidade.

De bandeira desfraldada está o Racionalismo Cristão empenhado na campanha de moralização de hábitos e costumes, de recuperação do caráter defraudado, de reposição dos preceitos deturpados de Jesus na sua natural elevação, em que o trabalho honrado, eficiente, útil e prestimoso tenha a sua consagração devida e perene, na nova estruturação por que há de passar a humanidade, em dias que estão para chegar, com o advento desses Princípios.

 

                   A Tranqüilidade

A tranqüilidade não é, no campo espiritual, ausência de trabalho ou de obrigações. Ao contrário, pode haver intensa atividade física e mental, ao mesmo tempo em que a alma se sinta tranqüila pelo normal exercício das suas atribuições.

A tranqüilidade espiritual provém da confiança em si, como resultado da certeza de estar a criatura agindo na vida corretamente, cumprindo os seus deveres com eficiência, fazendo o melhor que pode para dar conta da tarefa que lhe estiver confiada.

A tranqüilidade sintetiza‑se na paz de espírito que todos almejam para poderem desfrutar a felicidade. Para isso, torna‑se imprescindível que o indivíduo não cometa atos de que se tenha de arrepender, nunca agindo precipitadamente, quando essa condição não for a única. Calma e raciocínio ajudam a resolver os casos difíceis que a todos se apresentam. Muitos são os que têm a lamentar as resoluções tomadas impensadamente, de um momento para outro, sem antes refletirem o bastante para as idéias se acomodarem.

Vale sempre a pena meditar, antes de tomar qualquer direção no caminho da vida. O raciocínio, que é um processo de elucidação, trabalha com muito maior segurança, quando sob um clima de tranqüilidade espiritual.

À medida que o ser se espiritualiza, o fator tranqüilidade aumenta, proporcionalmente. É que a espiritualidade dá ao ser o sentido da eternidade, da recompensa pelas boas ações praticadas e da evolução espiritual, quando então novos horizontes oferecem perspectivas alvissareiras.

Quem perde a serenidade expõe‑se a ser injusto, excita os nervos, o controle desaparece e o astral inferior aproveita‑se da ocasião para atuar maleficamente. Esta compreensão só podem ter os que estudam espiritualismo, os que conhecem, embora rudimentarmente, a vida fora da matéria, e sabem que o indivíduo é uma força controlável.

Os nervosos, que a todo momento dão expansão, livremente, ao seu gênio irritável, são criaturas descontroladas que tornam a sua vida e a dos outros que as cercam, quase insuportável.

Elas precisam, para a sua cura, conquistar a tranqüilidade interior, à custa da força de vontade. Exercitando o domínio próprio, a prática da tolerância razoável e firmando o propósito inabalável de não se exasperarem por nenhum motivo, estarão lentamente formando o hábito de tranqüilidade, com a modificação, por completo, das suas atitudes.

Sem esforço não se consegue nenhuma vitória, e todos os bens de natureza moral somente são adquiridos a poder de lutas decisivas. Assim, a conquista da tranqüilidade ou da paz espiritual será atingida, se o ser a isso se dispuser, com verdadeiro ardor.

Todos têm em suas almas o cabedal indispensável para se tornarem serenos, havendo necessidade de subjugar a indisciplina, que favorece o desenvolvimento de debilidades, já que a falta de domínio ou controle não passa de uma debilidade.

Os débeis são presas fáceis do astral inferior. Compreendendo essa realidade, não há como poder justificar‑se a falta de reação a tendências reveladoras; de desequilíbrios psíquicos, quando a criatura se abandona, indolentemente, ao descontrole dos nervos.

O empenho em estabelecer‑se um estado de tranqüilidade espiritual deve ser alimentado por todas as criaturas, não para ficarem só no desejo, mas para entrarem, decididamente, em ação. Integrados todos os indivíduos nesse estado, o mundo mudará de aspecto e o reino da espiritualidade passará a ser, automaticamente, uma revelação natural.

O alcance da tranqüilidade é, pois, um problema de educação espiritual que precisa ser enfrentado e resolvido, merecendo todas as atenções daqueles que têm consciência da vida e desejam tirar dela os melhores resultados.

 

                   A Negligência

A negligência é uma falha espiritual que, quando muito acentuada, pode provir de existências passadas. É um mal adquirido pelo ócio, pelo hábito de ser servido, oriundo de má educação e do fato de ter tido sempre quem resolvesse os seus problemas.

O negligente é preguiçoso, indolente, comodista, indisciplinado e egoísta. Terá muito que lutar nesta e nas vidas futuras para libertar‑se dessa moleza, da vontade fraca e do pouco interesse pela atividade comum.

Deixa‑se o negligente arrastar pelos outros, está sempre atrasado não gosta de horários, de ordem, vive no desmazelo, faltam‑lhe brio e amor próprio, dá maus exemplos, é displicente, aprende com baixo rendimento, e as advertências causam‑lhe, leve ou nenhum efeito.

Ter um negligente na família não deixa de ser motivo de apreensões para os demais, visto que se trata de um ser atacado de moléstias psíquicas que não podem ser resolvidas com paliativos.

O negligente anda sempre associado com os espíritos do astral inferior, que nele vêem um instrumento dócil aos seus intentos, manobrável e de vibrações afins. Por isso, o primeiro passo para eliminar a negligência é cortar a ligação mantida com o astral inferior, que dá ao ser alimento para sustentar tão pernicioso vício. Desconhecer esse pormenor, é revelar‑se inibido de tomar a providência preliminar.

O negligente é candidato à obsessão, dependente da corrente astral inferior que o cerca; na melhor das hipóteses, não deixa de ser um perturbado, enquanto não reage, de motu próprio contra esse estado doentio em que se encontra. A gravidade do mal é proporcional ao tempo contado, desde quando se originou, e aos vestígios desagregadores mais ou menos. profundos produzidos pela ação dos espíritos inferiores.

A negligência estabelece uma índole que a caracteriza, definidora do espírito. Modificar essa índole é obra ingente, que nem sempre se consegue numa só encarnação. Mas é preciso enfrentar o problema com energia e decisão, na certeza de que, quanto mais para diante, mais difícil a restauração.

Muitos olham a negligência com despreocupação, parecendo-lhes um defeito de pouca importância. Grande engano! A negligência enraíza-se fortemente na alma, tomando‑se um entrave para a espiritualização.

O negligente continua negligente, em potencial, depois da morte do corpo físico, porque o mal é da alma e não do corpo, e, uma vez no Espaço, não será aproveitado como poderia ser, por causa dessa grave lacuna, restando‑lhe, apenas, preparar a sua volta à Terra, o quanto antes, em meio propício ao combate ao mal.

Erros cometidos na vida material são o produto de falhas do espírito, e estas não são corrigidas no Espaço, mas sim, obrigatoriamente, neste mundo.

Alguns pensam que depois da desencarnação ficam perfeitos, angélicos, perdem todas as deficiências e se purificam. Nada disso, acontece. O indivíduo, depois da desencarnação, continua com todas as falhas e imperfeições espirituais que possui, apenas não podendo, no seu mundo próprio, apresentar os efeitos delas, por ser esse fenômeno condicionado ao mundo físico, através de um Planejamento Astral subordinado a leis naturais e imutáveis.

Os defeitos da alma são a causa, e os erros terrenos o efeito, cumprindo‑se, deste modo, a Lei de Causa‑e‑Efeito, (Lei das Conseqüências) motivo das reencarnações. Somente pela espiritualização deixará a alma de praticar erros.

Os adeptos das seitas e religiões desconhecem este importantíssimo detalhe, razão porque vivem iludidos quanto ao que os espera do outro lado da vida.

O Racionalismo Cristão não tem nenhum interesse em dizer uma coisa por outra, visto que a sua missão é a de espalhar a Verdade acessível ao entendimento dos espíritos encarnados.

Reconhecendo‑se, pois, o negligente como um doente da alma, atingido pelo vício do ócio adquirido, por vezes num passado distante, e desenvolvido com o passar das encarnações, o que se tem a fazer, como dever cristão, é esclarecê‑lo, é fortificá‑lo espiritualmente, para que lhe dê combate e vença o mal. Essa vitória terá de ser conquistada aqui na Terra, nesta ou em qualquer reencarnação futura.

Como, porém, ninguém pode dispensar a oportunidade de praticar um bem, quando um negligente estiver debaixo de uma ação preceptora, cumpra‑se, conscientemente, o dever de dar‑lhe o apoio, o estímulo, a irradiação enérgica e fraternal que o possam ajudar. O negligente precisa desse auxílio, embora não o reconheça, mas ao benfeitor cristão pouco importa esse reconhecimento.

Ninguém pode avaliar quantos desastres ocorrem motivados pela negligência; quantos valores se perdem, quantas vidas são prematuramente ceifadas, quantos desvios morais na educação da mocidade, quantos desmoronamentos de lares, quanta infelicidade, miséria e sofrimento!

Por aí se vê que o elemento ruinoso que pode ser o negligente, considerado, até, quando responsável por uma calamidade, como um verdadeiro flagelo!

Todos devem estar atentos, para que o germe da negligência não encontre guarida em nenhuma alma bem formada, conhecendo e reconhecendo a sua nefasta presença. O dinheiro, a vida folgada, o excesso de conforto, são, muitas vezes, os fatores responsáveis pela intromissão sorrateira desse vírus altamente pernicioso.

Todos precisam andar vigilantes, auscultando as ansiedades da própria alma para verificar como se estão expandindo os sentimentos, as tendências e as predisposições. De nada vale conquistar o indivíduo valiosas dádivas terrenas, para perder, com elas, a preciosa encarnação, ou parte dela.

É necessário que todos se convençam de que a vida não deve ser encarada, no espaço estreito de uma encarnação, mas com a amplitude que abrange não só as outras encarnações, como o período intermediário entre elas, em que a criatura, no Plano Astral, presta o seu concurso maior ou menor ao Universo, consoante o cabedal componente do seu acervo espiritual. Tudo deve fazer de maneira que, para uma inevitável pobreza desse acervo, não constem as máculas da negligência.

Com grande sabedoria ficam as vidas anteriores encobertas pelo véu do esquecimento, para que ninguém se torture com as lembranças de passagens angustiosas, e também para que os inimigos de outrora possam tomar‑se amigos de hoje. Pelas boas e más qualidades de cada um, pelas experiências por que cada qual está passando, por outras observações, assim como pelo grau de negligência revelado, pode‑se deduzir, aproximadamente, o que teria sido possível esperar de cada um na última passagem pela Terra.

Aqueles que nesta vida são inimigos figadais entre si, terão de voltar à Terra, futuramente, em condições tais, que venham a tornar-se bons companheiros e amigos. Assim também o negligente que deixou de prestar os serviços que lhe cabiam no meio em que viveu, terá de voltar para cumprir o que se eximiu de fazer na encarnação anterior. O negligente provoca, com o seu descaso e descuido no trabalho, um estado de animosidade que o prejudica, pelos atritos que provoca. O negligente amarra‑se, por débitos morais, a várias pessoas, a quem precisa, depois, em outras vidas, fazer reparações, em encontros obrigatórios.

Todos os seres fazem parte de uma grande rede, em cujos; nós cada um se encontra, sempre ligado a outros por deveres, por sentimentos afins, por correlações funcionais, por idealismo, por comunhão de pensamentos, por laços de afeto, por natureza emotiva, por formação moral. O negligente não pode viver no meio de seus iguais porque, mergulhados na inércia, todos soçobrariam. Por isso, precisa viver no meio dos ativos, dos poderosos, dos enérgicos, para se recuperar. Cabe a estes suportar a carga, remodelando‑a, transformando‑a, atidos a uma espinhosa missão cristã.

 

                   O Equilíbrio

O Universo encontra‑se em absoluto estado de equilíbrio, não obstante se acharem os corpos que dele participam em movimento constante, a partir dos infinitesimais da natureza do átomo.

Daí se constata que o equilíbrio é a posição ideal em qualquer condição da vida.

As nações necessitam de equilíbrio econômico, social e administrativo, e o indivíduo, como unidade dessa expressão coletiva, precisa externar, antecipadamente, idênticos preceitos, pois o desequilíbrio no sistema estrutural de um povo, provém do desequilíbrio individual dos seus componentes, razão pela qual o trabalho espiritualista tem de partir da periferia para o centro, ou seja da parcela para o conjunto, das unidades para o todo.

Falta de equilíbrio nas exteriorizações da vida, significa ausência de espiritualidade. Um dos objetivos do Racionalismo Cristão é demonstrar que é pela falta de espiritualidade que as irregularidades ocorrem, os indivíduos se desmandam e cada qual age desarticuladamente, sem perceber a desarmonia que causa no conjunto Universal.

Em todos os temas aplicáveis à vida, ressalta‑se o valor da espiritualidade e a essencialidade no trato dos mais variados assuntos. Assim, o Racionalismo Cristão se ocupa da ciência da vida ao abordar os problemas absorventes que a todos afetam, e precisam ser, por isso, resolvidos racionalmente, com entendimento cristão.

Entre tantos outros temas focalizados, está o do equilíbrio; como um dos mais merecedores de apreciação. Os seres equilibrados são conselheiros prudentes, habilidosos que não se deixam enrascar nas malhas da confusão e gostam de analisar fatos, ponderar sobre as hipóteses, e concluir acertadamente.

Somente pode ser equilibrado o indivíduo que sabe pensar livre das influências do astral inferior. Para conseguir essa libertação, tem de conhecer o indispensável sobre as atuações desse astral, e suas conseqüências. Este é, pelo que contém de útil, um esclarecimento necessário.

Fora do Racionalismo Cristão não se dá a assunto de tamanha magnitude a importância que ele tem, razão por que o equilíbrio nos indivíduos não é tão comum. Uma das causas mais acentuadas de desequilíbrio mental dos seres, é, sem dúvida, a ação oculta das forças inferiores.

Os espíritos do Astral Superior, sempre atentos ao desdobramento da vida material, prestam aos dirigentes das Nações, que tanto necessitam de equilíbrio mental para os atos governativos, notável concurso, através das correntes racionalistas cristãs. É um serviço anônimo que tem contribuído para evitar falhas e erros, quando os elementos humanos visados formam, embora inconscientemente, ambiente favorável à atuação benéfica dessas Forças Superiores.

Os bem intencionados, aqueles que se esforçam por contribuir, com humildade, para o bem geral dos seres, contam com a boa assistência astral, e sempre que a sua natureza penda para a posição de equilíbrio, aí estarão as Forças do Astral Superior concorrendo, com os seus poderes, para a efetivação dos nobres ideais.

A maioria da humanidade não aprendeu, ainda, a buscar na espiritualidade todos os recursos do sucesso, todos os meios de abrilhantar as suas ações no convívio social e funcional. Conquistar a orientação de equilíbrio, é cercar‑se o ser de uma firme estabilidade com a qual poderá contrapor‑se, eficientemente, aos embates destruidores do contra‑senso, da indisciplina e da imoralidade.

Não se pode deixar de levar em consideração que umas pessoas nascem com maior senso de equilíbrio do que outras, em função do acervo adquirido em vidas pregressas, mas todos podem possuir as mesmas riquezas morais por serem as oportunidades igualmente distribuídas no conjunto das reencarnações. O senso de equilíbrio consegue‑se, aos poucos, com esforço, desejando‑o pela consciência que se fizer do seu valor. É atributo do espírito, e, portanto, eterno. A parcela que for incorporada ao patrimônio moral de cada um, nunca mais será perdida e sim reforçada pelas outras que lhes forem aduzindo. No fim de certo tempo, sobressaem‑se as criaturas portadoras do senso de equilíbrio acumulado por parcelas cuidadosamente agregadas no correr de várias existências.

 

                   Seitas e Religiões

Tal é a diversidade de temperamentos, sentimentos, intelectualidade, aspirações, sensibilidade, inclinações e concepções na criatura humana, que chega a ser possível manterem‑se, na Terra, mais de oito mil seitas e religiões.

Essa diversidade na textura individual de cada ser, origina‑se da soma das experiências adquiridas nas lutas travadas nas milhares de encarnações por que passou.

Nessas lutas uns se fortaleceram espiritualmente e conquistaram independência moral, sabendo ganhar e perder e, vencendo a covardia, exercitaram os valores pessoais que todos possuem em estado latente; outros, de índole menos intrépida, deixaram‑se abater pelos impactos da vida, aterrorizaram-se, recuaram, tornaram‑se pessimistas e criaram, com isso, um estado de inibição, de defesa permanente, de nervosismo.

Os que tiveram maior número de vitórias, graças ao domínio pessoal, foram os que melhor fizeram uso do raciocínio e do livre arbítrio, com o que adquiriram desafogo moral e fortaleza espiritual.

Os demais, que seguiram por outras veredas, tornaram‑se vítimas das suas próprias fraquezas, e numerosas vezes se arruinaram.

Os primeiros, enquadraram‑se sob uma bandeira que tem por lema o valor, a confiança em si, o respeito ao próximo, a firmeza de caráter, o amor ao trabalho, a consciência do dever, a honradez e a disciplina; estes encontram no Racionalismo Cristão um clima ideal.

Os segundos, os temerosos e vacilantes, caminham sob o domínio da dúvida e da incerteza, pedem apoio, precisam escorar-se, não têm segurança, vêem no futuro uma incógnita sombria, e o único consolo que lhes resta é o abrigo que lhes oferecem as oito mil e muitas seitas e religiões reinantes preparadas para recebê‑los, de conformidade com o estado de fraqueza moral de cada um.

Dentre essas numerosas seitas e religiões, algumas são baseadas na Bíblia, transformada, por lhe atribuírem dom divino, em livro sagrado, como se fora a palavra de Deus.

A Bíblia é um livro repleto de lendas, narrativas e profecias, que se prestou a favorecer a criação de seitas e religiões que se degladiam, ao invés de se unirem fraternalmente.

Os degladiadores bíblicos apegam‑se a bagatelas, para se defrontarem. Os sabatistas e os adventistas do sétimo dia, acham que se Deus fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo, como diz a Bíblia, esse sétimo dia tem de ser o sábado e não o domingo, e, por isso, Deus pode tachar de indisciplinados os que guardam um dia em lugar do outro.

É, sem dúvida, uma interpretação dada ao pé da letra, sem levarem em conta os intérpretes o simbolismo da lenda. É de notar‑se que outras seitas bíblicas que levam a ferro e fogo a interpretação do chamado livro sagrado, não dão importância a esse fato.

Os Mórmons, de Bíblia na mão, dão grande ênfase aos versículos bíblicos que afirmam que Deus tem um corpo físico igual ao humano. Os batistas dizem que a Bíblia manda batizar por imersão, mas os presbiterianos discordam disso e batizam por aspersão; os católicos fazem imagens para adorar, como dizem os protestantes, contra o texto de um dos dez mandamentos da lei de Deus, mas defendem‑se dessa acusação dizendo que não são adoradas as imagens e, sim, venerados os santos que elas representam, o que a estes não convence.

Enfim, atacam de um lado, defendem‑se do outro, sempre de Bíblia na mão, tornando‑se ela um pomo de discórdia. Os militantes dessas seitas dizem‑se cristãos, seguidores dos ensinamentos de Jesus, e, no entanto, cada uma delas proclama que é a única a conduzir o seu rebanho ao reino dos céus. Evidentemente alguma coisa está errada nesse raciocínio.

O erro reside no fato de nenhuma dessas seitas explicar o que é Deus. Para compreender Deus é preciso lançar a vista para o Universo e não a restringir ao mundo Terra, esta insignificante partícula de pó, se comparada com o macrocosmo.

A Terra é um planeta diminuto pertencente a um dos menores sistemas solares da galáxia. Os sistemas solares estão agrupados em galáxias, e aquela a que pertence o nosso sistema solar, é formada de milhares de milhões de sistemas solares. A Força Criadora, que a palavra "Deus” deveria representar, é quem preside a Vida em todo o Universo, no qual revoluteia incontável número de galáxias.

Ao invés de procurarem dilatar a compreensão de Deus, para senti‑lo, tanto quanto possível, através do Infinito, levam as ovelhas das múltiplas seitas e religiões, especialmente as chamadas cristãs, a comprimi‑lo dentro dessa ínfima partícula de pó, que é o mundo Terra, e ainda querem os Mórmons confiná‑lo num corpo humano!

Quando foi escrito o Velho Testamento, no correr de algumas centenas de. anos, antes da era cristã, os conhecimentos científicos eram reduzidíssimos. Naqueles tempos não se sabia que forma tinha a Terra, que girava em tomo de si mesma, e do Sol. Pensava-se no Universo com as dimensões proporcionalmente limitadas ao saber de então e, com uma concepção primária, formaram uma imagem de Deus realmente primitiva.

Essa imagem é a que os crentes bíblicos querem sustentar nos dias de hoje, com o espírito amarrado àquelas priscas eras. Os credos religiosos falam de um Deus "pessoa”, sentado num trono, tendo ao seu lado direito o filho unigênito, que ali fica à espera do dia em que há de vir a julgar os vivos e os mortos deste minúsculo planeta.

Essa idéia de Deus, tão comprometedora da civilização atual, tem como responsáveis os dirigentes dessas seitas e religiões que estão vivendo com retardamento voluntário, em matéria religiosa, de umas duzentas gerações.

A Inteligência Universal, como um Grande Foco Irradiante, abrange o Espaço Integral com as suas vibrações cósmicas. O Espaço está cheio dessas vibrações, ou Força, não havendo um só ponto vazio. Todos os astros flutuam no interior dessa Força, que os envolve e penetra até o âmago, saturando‑os dela.

A Força Criadora é incorpórea, é Luz, é Inteligência, é Poder. Só neste sentido a palavra “Deus" poderia ser aceita, mas nunca como um ser bíblico, materializado, vingativo, partidário, guerreiro, iracundo e capaz de desempenhar o papel de ignorante que na Bíblia lhe querem atribuir.

Todas as criações espirituais obedecem ao regime da evolução, enquanto as materiais ao da transformação. O Universo está repleto de vida, representada por partículas em evolução, e é a matéria que fornece os meios para essas partículas evoluírem. Assim é que na Terra os Espíritos evoluem de posse de corpos físicos. Não fosse essa a sistemática implantada pela Força Criadora, e não haveria necessidade de mundos físicos como este que habitamos.

Como não é o Racionalismo Cristão nem seita nem religião, não procura tomar o lugar de nenhuma ordem religiosa, e recebe em suas Casas a todos, cortesmente, a ninguém perguntando se é católico ou protestante, ateu ou espírita, judeu ou livre‑pensador. O bom acolhimento é oferecido, indistintamente a todas as classes, raças e religiões, porque todos são considerados iguais, espiritualmente falando. Num ambiente de respeito, silêncio e concentração, todos os presentes são beneficiados, obtendo a iluminação que aspirarem.

Mesmo que os adeptos das seitas e religiões encontrem, nas suas visitas às Casas Racionalistas Cristãs, esclarecimentos para as suas dúvidas e melhor compreensão para os acontecimentos da vida, não são convidados a se desligarem das suas correntes religiosas, porque a sua adesão moral ao Racionalismo Cristão não implica nenhuma obrigação. Tanto melhor, no entanto, se puderem contribuir para a espiritualização das agremiações a que pertencerem.

O mundo precisa de espiritualização, e não seria demais que as seitas e religiões reestruturassem as suas organizações, de modo a poderem prestar à humanidade essa valiosa contribuição. Elas não podem permanecer com as suas práticas e ensinos inteiramente desatualizados perante os sucessos da vida moderna. Tudo prospera, tudo se transforma e evolui, e não há nada que possa permanecer eternamente numa posição irredutível.

O Racionalismo Cristão é Doutrina esclarecedora. não devendo os professos das seitas e religiões, por um só instante, abrigar a idéia de que ele, apontando falhas que realmente conhece nas estruturas dessas seitas, o faz com espírito de crítica. A missão desta Doutrina está muito acima das profligações estéreis e condenáveis. Ela é pela união dos esforços dos bem intencionados; é pela elevação da alma nos planos do espírito; pela harmonia e a unificação dos seres capazes de assimilar as verdades contidas nas leis cósmicas, naturais e imutáveis, ao alcance do raciocínio humano.

Caso queiram e possam as seitas e religiões amoldar as suas organizações ao conceito corrente, pondo de parte as velharias incompatíveis com as luzes do século, prestarão serviço incalculável, que poderá contribuir para modificar a mentalidade egoísta, materializada e gozadora de grande parte da coletividade em que operam.

O Racionalismo Cristão tem por dever chamar a atenção para aquilo que sabe estar certo, e o faz sem segundas intenções, movido somente pelo desejo honesto de repartir com aqueles que o desejarem os ensinos corretos sobre a vida espiritual, transmitidos, pelo Astral Superior. Aqueles que os não quiserem aceitar, não serão recriminados por isso; cada um segue o caminho que preferir, de acordo com o estado de alma forjado no transcurso das encarnações pregressas.

Não há perdição eterna, e como ninguém escapa da evolução obrigatória, pode, apenas, retardá‑la, mas em seu próprio prejuízo. Quanto mais evoluído estiver o ser, menos erros comete, menos males pratica, e menores serão os resgates. Se cada resgate representa um sofrimento mais ou menos longo e intenso, nada mais racional que se elimine a possibilidade de adquirir débitos, para que não tenham de ser resgatados.

As ilusões que as seitas e religiões alimentam têm efeito causticante no futuro, e é contra as ilusões que o Racionalismo Cristão interpõe a chama luminosa dos seus ensinamentos.

É bem certo que esta Doutrina não pode, ainda, ser estendida a todos os lares, não só porque é relativamente recente, como também porque é preciso que a busquem. Jesus dizia que, para achar, era preciso procurar. Por outro lado, sabido é que somente os que não encontram mais conforto moral para a alma nas seitas e religiões, começam a despertar para as coisas do espírito.

Nessa ocasião o Racionalismo Cristão é a meta desejada. Se não o encontrarem nesta encarnação, terão maiores probabilidades de o acharem na seguinte, porque no preparo da volta à Terra, esse pormenor entrará nas cogitações. Tudo quanto a criatura desejar intensa, permanente e racionalmente, o conseguirá, muito embora custe a chegar a vez.

A ansiedade de uma conquista espiritual, é como uma sede que a alma tem e que precisa ser satisfeita. Os componentes das seitas e religiões estão ali saciando essa sede, que acaba quando a causa desaparece. E essa causa desaparece com a expansão dos anseios espirituais. Essa expansão se verifica com a prática do bem, com o bom uso do raciocínio, com a moderação nos atos da vida, com a prestimosidade e a renúncia. Muitos destes exercícios são reconhecidamente praticados nas seitas e religiões, o que muito valerá aos seus adeptos para, mais tarde, ingressarem nas escalas mais elevadas do espírito.

 

                   Os Milagres

A crença popular admite, como milagre, um fato sobrenatural, oposto às leis da natureza. Ora, essas leis da natureza são invioláveis. O milagre é expressão que decorre de um sentido irreal, místico, fantasioso.

Há fatos que se manifestam sem que a ciência tenha ainda penetrado na sua causa ou origem, mas mais dia menos dia, com o progredir da própria ciência, todos os fatos passam a ter a sua explicação, dentro, rigorosamente, das leis naturais e imutáveis.

A inteligência Universal é a Ciência Total. Fora dela não há saber nem ciência; as manifestações da inteligência emanam de uma fonte inexaurível, à qual todos estão ligados: a Fonte Eterna da Força Criadora. A Natureza é uma manifestação do Grande Foco, mantida por leis, e coisa alguma pode opor‑se a essas leis, a menos que absurdamente se pretenda admitir duas Forças Criadoras antagônicas. A sustentação da idéia do milagre é proveniente da falta de raciocínio e de esclarecimento. O milagre, da maneira como é concebido, apenas prevalece onde a espiritualidade é nula ou incipiente.

Aquilo que possa parecer milagre não é mais do que um acontecimento situado na lei de causa‑e‑efeito, ou promovido pelo funcionamento regular de leis eternas. Os cientistas terrenos conhecem, apenas, reduzido número de leis da natureza, muitas terão ainda de ser descobertas, e inúmeras outras têm a sua aplicação nos planos astrais. Exemplificando, pode‑se dizer que as materializações, de certo modo, poderiam provocar a idéia do milagre, e, no entanto, não passam de fenômeno perfeitamente controlado por leis da natureza.

À medida que os seres se espiritualizarem, a concepção do milagre irá desaparecendo, até extinguir‑se. Note‑se que os indivíduos rudes e ignorantes são os que mais se apaixonam pela mística do milagre.

Nem mesmo a Inteligência Universal pode quebrar as suas próprias leis para operar o milagre. Os Espíritos do Astral Superior, da mesma forma, somente agem de acordo com essas leis. Logo, não tem nenhum significado a expressão “milagre", para que seja sustentada.

O fato de escapar alguém da morte, de maneira surpreendente, não tem qualquer ligação com o sentido do milagre, enquadrando-se, antes, na lei de causa‑e‑efeito.

A boa assistência astral provém da vida correta que o indivíduo leva, e de saber irradiar ou vibrar, unissonamente, com o Astral Superior, contando com lastro positivo, ou de merecimento, para o apoio que vier a receber. Poucos são aqueles que se vêem contemplados com a ajuda oportuna em momentos fatais, porque realmente reduzido é o número daqueles que se encontram em condições de receber, no momento crítico, o auxílio merecido.

As curas chamadas milagrosas correm, na maioria dos casos, por conta da auto‑sugestão. A medicina terrena conhece a força da sugestão e os seus resultados. Quando se diz força de sugestão, deseja‑se dar ênfase à força do pensamento que produz a sugestão. Assim como numerosos seres adoecem por sugestão, por se convencerem de que estão doentes, também há os que se curam ou são curados pelo mesmo processo. A psicanálise baseia o seu método no poder da sugestão ou na força do pensamento.

Pode‑se ainda considerar o caso de indivíduos adestrados nas conhecidas forças ocultas desenvolverem determinados exercícios mentais que os levam a realizar curas. São práticas perigosas e desaconselháveis.

O impossível perde a sua expressão na medida em que os conhecimentos espiritualistas evoluem, quando o impossível vai decrescendo, até desaparecer. Por isso, o que é impossível para uns menos evoluídos, não é para outros, mais evoluídos. A idéia do milagre vem dos menos evoluídos verem os mais evoluídos fazer o que eles não podem.

Em resumo, tanto o milagre como o sobrenatural são duas fantasias da criatura pouco versada nas coisas do espírito. Há de chegar o dia em que ela porá de lado tal crença, quando a sua mente for melhor iluminada pelos raios fulgurantes do esclarecimento espiritual.

 

                   Rezas e Orações

As irradiações proferidas nas Casas Racionalistas Cristãs, que devem ser feitas em horas próprias, por todos os que delas tiverem conhecimento, não são rezas nem orações.

As rezas e orações partem do pressuposto de ser Deus um ente que se. encontra ouvindo os pedidos dos fiéis, e que os atende ou não, consoante o fervor com que são realizadas.

Em A Vida Fora da Matéria, obra do Racionalismo Cristão, encontram‑se estampas de várias formas astrais de Espíritos evoluídos do Astral Superior. O ser depois de certo grau de evolução, quando não mais encarna na Terra, prossegue no seu desenvolvimento em mundos de luz, onde se revela em formas astrais que simbolizam conceitos espirituais.

Sem que se considere a Vida em outras regiões do Espaço, cujo conhecimento escapa aos seres humanos, são os Espíritos do Astral Superior que superintendem a evolução deste mundo, encontrando‑se Jesus na camada mais elevada desse Astral Superior, onde atua como líder de uma plêiade de Espíritos do mesmo Plano, que com ele ajustam todas as medidas evolucionistas; que são introduzidas na Terra.

Várias são as camadas, planos ou esferas, como melhor se queiram chamar, que compõem o Astral Superior, pois também ali há evolução. Os Espíritos que não mais precisam encarnar. para evoluir no âmbito terreno ingressam no Astral Superior, nas camadas menos luminosas, e depois, progressivamente, de acordo com o adiantamento espiritual verificado, vão ascendendo ao plano imediatamente superior.

São múltiplas as tarefas no Astral Superior e, dentre elas, a que zela pelo movimento Racionalista Cristão, que está aos cuidados e sob a Chefia de Luiz de Mattos.

As irradiações se constituem num ato de higiene mental, e são uma forma de sintonizar o pensamento com as correntes do bem, das quais somente benefícios podem resultar para quem sabe irradiar com firmeza e convicção.

Os que desconhecem o Racionalismo Cristão, rezam e oram, no desejo de se porem em contato com o Criador; esse contato é uma necessidade pela sua ação purificadora. No entanto, teria de ser feito de maneira racional, sem peditórios, sem cegueira e sem interferir nos desígnios planejados para o bem. De certo modo, algum proveito pode ser tirado dessa união através dos pensamentos da partícula individual inteligente sintonizados com o Todo, dada a correlação espiritual existente.

O trabalho bem conduzido, os deveres bem cumpridos, a mente bem higienizada, são hinos valiosos e harmonizantes. Oxalá que os que não saibam irradiar, orem, nos momentos próprios, com dignidade e valor, ajudando a construir um mundo melhor com a pureza das suas intenções e com a honestidade de suas ações.

Por ocasião das irradiações, quando estas são puras, os Espíritos do Astral Superior se põem em contato espiritual com os que irradiam, e sentem tudo quanto se passa com eles. Como são solidários com os transes difíceis que cada um eventualmente enfrenta, fazem o que podem em seu benefício, sempre dentro do que permitam as leis de causa‑e‑efeito.

As irradiações, ao contrário das rezas e orações, nada imploram e, sim reafirmam o propósito da criatura de melhorar o seu estado psíquico, inteirando‑se dos seus erros para os corrigir e não repetir, elas reavivam a concepção da inteligência Universal ‑ Força Criadora, Vida do Universo, conscientizando‑se a criatura de que as ligações espirituais devem ser feitas com as Forças Superiores, que são os Espíritos do Astral Superior.

De um modo geral, o ser procura libertar‑se da dor produzida, na maioria dos casos, pelo mau uso do livre arbítrio. Por isso os pedidos contidos nas rezas e orações, sem que o ser remova a causa do mal, voltam‑se para concessões impossíveis ou prejudiciais às condições de evolução.

Ao se processarem as irradiações, estão os seres vivendo instantes de espiritualização e agindo racionalmente, ora para aumentar a fortaleza espiritual que lhes dará forças para suportar o peso do fardo da vida, ora para receber efluviações que favoreçam um melhor discernimento, na apreciação dos problemas vitais.

As irradiações representam vibrações do pensamento e, fortalecidas por ação do Astral Superior, servem de meio para o arrebatamento de espíritos obsessores e respectiva limpeza psíquica, coisa que não se dá, por falta de corrente adequada, com as rezas e orações, as quais comumente são revestidas de um sentimento de fraqueza, ou pronunciadas maquinalmente.

Como a instituição do Racionalismo Cristão é obra do Astral Superior, as irradiações foram estabelecidas em lugar das rezas e orações, por motivos de ordem disciplinar e condizentes com a boa forma de promover‑se a evolução dos seres. Evidentemente, os que não conhecem esta disciplina, não a podem praticar. A comunhão com a Inteligência Universal, no entanto, estabelece contato com os Espíritos Superiores.

 

                   Desencarnações Prematuras

Uma existência terrena completa abrange quatro períodos, a saber: o da infância, o da mocidade, o da madureza e o da velhice.

Quando as desencarnações se dão nos primeiros períodos, são consideradas prematuras. Ordinariamente, todos deverão alcançar o último período, como regra geral, mas como não há regra sem exceção, cumpre considerar o caso das desencarnações prematuras.

Os suicidas desencarnam prematuramente, mas estes estão manifestamente fora da lei. Há também os que cometem o suicídio lento, conforme demonstração feita em outra parte desta obra, fato que lhes proporciona uma grande responsabilidade na desencarnação prematura.

Nas guerras, nos desastres, nas epidemias, nas hecatombes, nos cataclismos, desencarnam em massa indivíduos na flor da idade, vítimas na quase totalidade, da ignorância da vida espiritual.

Os erros que a humanidade comete são inúmeros e idênticos uns aos outros, provocados pelo egoísmo, pela ganância e falta de amor fraternal inexorável. Esses erros terão a sua conseqüência fatal e atingindo, não raro, a grupos ou comunidades.

A mortandade infantil é também numerosa, maior nalguns países que noutros. A maioria das crianças desencarna pela imprevidência ou descuido dos pais, pela carência de recursos e pela imperativa seqüência dos fatos da vida.

Os reparos das faltas graves cometidas, são todos plasmados à base de profundos sacrifícios, dos quais os espíritos têm plena consciência, nos seus mundos de luz, antes de encarnar.

A morte é um fantasma que aterroriza somente os encarnados que desconhecem as leis da evolução. Para os esclarecidos, é um fenômeno simples, que não lhes causa a menor dor ou inquietação, por verem nela um motivo de aperfeiçoamento espiritual, quando não transgredidas as leis naturais.

 

                   Resenhas

         I – Concentração

Nenhum trabalho pode ser bem executado, sem que se centralize nele o poder de concentração. Assim, no Racionalismo Cristão não se pode prescindir de uma boa concentração e de silêncio nos momentos adequados.

Os que nunca fizeram exercícios de concentração encontram certa dificuldade em manter o pensamento enfocado em determinado assunto. Mas, com treinamento, a dificuldade vai, aos poucos, diminuindo. Uma vez desenvolvida, tira dela o indivíduo grande proveito, podendo sempre chegar a conclusões mais corretas.

A concentração ajuda o raciocínio não só a trabalhar bem, como a penetrar, mais profundamente, no âmago das questões, das teses, dos temas.

Além disso, a boa concentração feita nas Casas Racionalistas Cristãs, com a alma elevada, estabelece contato dos seres com as correntes do bem, do Astral Superior, e por esse meio, todos os presentes são beneficiados, livram‑se dos fluidos deletérios, desenvolvem o fenômeno da intuição e preparam‑se, cada vez melhor, para enfrentar as lutas do dia.

Nas horas vagas, como exercício, recomenda‑se não deixar o pensamento vadio, voar de um lado para outro, errante, sem objetivo; antes convém retê‑lo firme na apreciação de um estudo, de um fato, de um problema, de uma análise, de uma crítica, de um comentário, com o fim de educá‑lo, tomando‑o obediente ao poder da vontade.

Os que souberem concentrar‑se, aprenderão mais depressa e adquirirão o dom de se aprofundar mais no exame de todos os assuntos.

 

         II – Fé

Esta expressão "fé", muito usada entre os religiosos, merece muitas restrições. Ela não é o resultado de um estudo, de uma conclusão, de um conhecimento, do trabalho do intelecto, Quando é aplicada para exprimir confiança, como quem diz "eu tenho fé em mim", então pode ser admitida.

Prefere‑se, no Racionalismo Cristão, adotar o termo convicção, em lugar de, "fé", porque quem tem convicção chegou a ela após esforço e compreensão. A convicção é uma conseqüência da lógica, tem base, representa firmeza, enquanto que a fé pode estar envolvida no manto da dúvida, a menos que seja absoluta, mas os seres humanos estão num mundo de relatividade.

A convicção é que marca o rumo, que leva à decisão, que orienta. Quem puder absorver, profundamente, os Princípios Racionalistas Cristãos, não adquire fé, mas convicção. Em lugar de ficar na expectativa de prováveis resultados da fé, sabe em que terreno pisa, o que faz, o que quer e o que pode conseguir.

A convicção, passando por cima da fé, vai além, na direção dos seus objetivos. É por meio da convicção que as bases do Racionalismo Cristão foram levantadas e constituem um monumento de firmeza e solidez para exemplo e identificação dos seus postulados. Quem tem convicção tem fé, e quem tem apenas fé, pode não ter convicção. Logo, a convicção é mais forte do que a fé.

 

         III – Superstição

A superstição resulta de um erro de educação. O astral inferior aproveita‑se do medo que domina o supersticioso para tirar partido. Presta‑se a superstição ao divertimento dos obsessores. Os supersticiosos estão por eles marcados e servem‑se deles em momentos asados, quando julgarem oportuna uma intromissão maldosa, antecipadamente preparada.

Os supersticiosos dizem que isto ou aquilo dá azar. Mas como não existem sortes e azares, a superstição também racionalmente não tem razão de ser.

Realmente há muita gente supersticiosa. Este fato traz as suas conseqüências. As correntes afins se atraem, e todos aqueles que pensam da mesma maneira, acabam formando faixas vibratórias intensas, que exercem a sua influência no ambiente terráqueo. Esta circunstância, e a colaboração do astral inferior, constituem a força negativa que sustenta a superstição na face da Terra.

O supersticioso é um indivíduo inclinado a ser tolhido, limitado, imbuído de restrições. Torna‑se vitima de si mesmo, um desassossegado, um inquieto. Vale a pena quebrar esse tabu e libertar‑se das algemas da superstição, antes que ela se torne obsessão, sob a influência maléfica do astral inferior.

Além do mais, os que desejam a espiritualidade não podem ou não devem deixar de combater os hábitos prejudiciais, como esse de alimentar pensamentos perniciosos e aterrorizantes. A superstição não encontra outro apoio senão numa idéia negativa, A criatura adquire a idéia de que tal ou qual fato nocivo vai acontecer, motivado por uma supersticiosa ocorrência.

O melhor que se tem a fazer é não tomar conhecimento das superstições, e não pensar nelas.

É medida salutar alijar do pensamento idéias de superstição, por serem estas molestantes e doentias. Pensar nelas é revigorar a sua permanência na Terra e contribuir para o enfraquecimento moral de almas que precisam fortalecer‑se. Há necessidade de auxílio mútuo entre as criaturas humanas, e por isso cabe a cada um, dentro desse princípio, ao menos nada fazer que prejudique a ordem geral da saúde, paz, segurança psíquica e estabilidade mental da coletividade, Eis porque, no caso das difundidas superstições, cumpre‑se um dever ao propiciar‑se o seu desaparecimento.

 

         IV – Dúvidas

A dúvida provém da ignorância sobre o fato de que se duvida. Os que menos souberem sobre a vida espiritual, encontram‑se num estado de dúvida muito maior do que aqueles que percorrem a senda da espiritualização.

Manter‑se a criatura, sem necessidade, numa triste condição de dúvida, é lamentável. A dúvida não deixa de existir, sob vários aspectos, neste mundo, porque, na realidade, os conhecimentos aqui são muito limitados, mas aquilo que se puder conhecer, por achar‑se ao alcance de todos, deve ser procurado, sem protelação.

Assim acontece com muitos assuntos revelados, de âmbito espiritual, e que, no entanto, constituem objeto de dúvida para um grande número de pessoas que não se dispõem a passar do plano da ilusão para o da realidade. Todos os principais pontos espirituais que a dúvida pode mortificar, já estão afastados pelos conhecimentos divulgados pelo Racionalismo Cristão. Os demais, que porventura se apresentem, não são fundamentais, não devem trazer preocupações nem constituem óbices à ação evolutiva.

Sem dúvida nenhuma, o discípulo do Racionalismo Cristão sabe de onde veio e para onde vai, de que se constitui espiritualmente, o que veio fazer na Terra, como deve viver, quando deixará de reencarnar, o que é o sofrimento e o que vale, como se processa a evolução, e tem numerosos outros conhecimentos que todo habitante deste orbe precisa ter, para que a humanidade possa sair do caos em que se encontra.

Os que se acham submersos em dúvidas, pensam que os outros se encontram nas mesmas condições e, por isso, dão de ombros, imaginando ser impossível sair dessa obscuridade. Não é por acaso que se revelam, nessa situação, mas por falta de acervo espiritual que os capacite a subir um pouco mais na escala da espiritualidade, de onde, ao descortinar um horizonte mais amplo, possam também ver mais adiante.

Os conhecimentos, como a luz espiritual, não vêm ao encontro da pessoa, em procura dela; ao contrário, a criatura é que tem de ir buscar, com empenho, a sabedoria espiritual, por ser esta um acervo, dissipador de todas as dúvidas. Na vida não se pode cruzar os braços, negligentemente, porque o tempo corre, e é preciso acompanhá‑lo.

Aquilo que, por indolência, se deixar de aprender hoje, fará muita falta amanhã, e em conseqüência, os frutos da dor logo se manifestam. Muitos sofrem exclusivamente porque não dispõem dos recursos espirituais que deixaram, preguiçosamente, de colher no curso da vida ou de vidas passadas. As oportunidades vêm para todos, mas os sonolentos não as percebem, e deixam‑nas passar intactas.

Quem desconhecer esta Doutrina e tiver nas mãos uma de suas obras, está com uma oportunidade diante de si; se for aproveitada, pode‑se afirmar que adquiriu um tesouro imperecível. Esta declaração é baseada na experiência dos que souberam tirar dela a sua substância espiritual.

 

         V – Ressentimentos

Quase todas as pessoas são suscetíveis de se ressentirem com alguém, por via da mágoa. Quem magoa, erra, mas a atingida pela mágoa deve procurar não se ressentir. Trata‑se, por vezes, de amizade antiga que se rompe por pouca coisa.

Por isso é que no Racionalismo Cristão a atenção é chamada para a tolerância e o bom entendimento. Todos precisam ser tolerantes. Acontece que uma frase ou uma palavra pronunciadas, inadvertidamente, por não haver ocorrido, na ocasião, uma expressão mais sociável, faz surgir uma mágoa que perdura, se a ofendida não puser uma pedra em cima.

Acontece também que a pessoa que se descuidou e feriu, contra a sua vontade, o seu amigo, sendo um tanto orgulhosa não se desculpa, convenientemente, com receio de se humilhar. Não há humilhação nenhuma em a pessoa se retratar, quando a falha à reconhecidamente sua; ao contrário, há, no caso, uma exaltação, uma sublimação, conforme sentem claramente os que possuem a sensibilidade verdadeiramente cristã.

É fundamental que os descuidos sejam prontamente reparados e as mágoas se diluam nas águas límpidas e refrigerantes da tolerância e da confraternização. A criatura que falha, embora involuntariamente, coloca‑se imediatamente numa condição de inferioridade moral e deve ser olhada com simpatia, porque naquele momento ela está precisando de irradiações fortificantes e restauradoras.

Há pessoas que gostam de mostrar‑se vítimas, e então se apegam, apaixonadamente, à pequena ofensa, para que os outros se compadeçam delas pela injustiça que receberam. Eis uma forma doentia de proceder. Embora venha alguém a ser vítima, ninguém deve, como tal, se julgar, pois a piedade só interessa aos mendigos e aos pobres de espírito.

As pessoas que procedem mal, conscientemente, devem ser afastadas do convívio e do contato social, por um dever de higienização, mas nenhum sentimento inferior deve ser alimentado contra elas. A alma deve conservar‑se sempre livre de ressentimentos. Os que procedem mal, fazem‑no por degeneração psíquica, e devem ser esquecidos, assim como as suas degenerescências.

O ressentimento prejudica aquele que o conservar, e não há nenhum motivo que justifique o ato prejudicial. Logo, o certo é combatê‑lo, não permitindo que se aloje na alma para entristecê‑la, sob qualquer pretexto.

 

                   As Forças Ocultas

O espírito possui um potencial de forças em estado latente, visto ser partícula da Força Inteligente, do Poder Criador.

O ser encarnado é constituído de Força e Matéria, mas em seu estado essencial, desencarnado, é, apenas, Força.

As forças não manifestadas pelo espírito encarnado estão ocultas, e a elas se fazem muitas referências em tratados sobre o assunto.

Muitas podem, realmente, ser desenvolvidas, em exercícios próprios, com obstinação; constitui, porém, um grande perigo procurar alguém desenvolvê‑las, sem estar, para isso, preparado. Os seres encarnados são imperfeitos, possuidores de falhas, e, pela ordem natural, se o emprego dessas forças não lhes foi facultado, é porque algo deverá ser respeitado no seu emprego.

Ninguém deve fazer uso de forças chamadas ocultas em proveito próprio, e os que procuram desenvolvê‑las, o fazem, geralmente, para se servirem delas, em seu benefício. Elas serão, em futuro distante, convenientemente desenvolvidas, para que seu uso seja feito em favor da coletividade e para dar mais força ao despertamento espiritual do indivíduo.

Assim como não se deixa uma criança pegar em arma de fogo, carregada, pelo risco, por ela desconhecido, que corre, também os discípulos deste mundo‑escola não devem querer penetrar num terreno que para os ignorantes da vida espiritual é inteiramente desconhecido e, pois, perigoso.

Para levantar, do materialismo em que se encontram, as massas, não se empregam forças ocultas, mas doutrinações apropriadas e esclarecimento espiritual, único meio de reformar as criaturas.

Quando a humanidade se dispuser a abrir os olhos do espírito, a cultivar o sentimento da fraternidade e souber repelir e dominar os maus pensamentos, contribuindo para a segurança e estabilidade do mundo, em obediência às leis espirituais, então a vida terrena se transformará e todos alcançarão os seus ideais, favorecidos pelas correntes externas da harmonia, da paz, da conciliação, do entendimento e da afetividade.

Cumpre a cada um fazer a sua parte, esmeradamente, e outra coisa não deseja o Racionalismo Cristão, senão que todos se congreguem em torno desse propósito de moralizar a vida em todos os seus aspectos, e de fazer com que cada qual se eleve perante sua própria consciência.

 

                   A Infidelidade

Grave débito é o contraído pela infidelidade, especialmente quando é conjugal. No sentido amplo do vocábulo, infidelidade é o ato de ser infiel. A criatura pode ser infiel faltando com a palavra, traindo o seu amigo, usando de hipocrisia, murmurando falsidades, dando falso testemunho.

A infidelidade se manifesta no indivíduo desprovido de sãos princípios e de sólida moral. Ela é praticada intencionalmente, sabendo a criatura o mal que está fazendo. Trata‑se, portanto, de maldade consciente. O mal praticado fria e deliberadamente, carrega consigo todas as agravantes da culpabilidade.

Os que não têm sequer noções ‑ e são muitos ‑ de como se processa a vida fora da matéria, entregam‑se à infidelidade, apoiados ou no falso perdão, ou na incredulidade das conseqüências futuras. Ora ‑ dizem ‑ se tudo acaba aqui na Terra, vamos aproveitar todas as vantagens que ela oferece, enquanto é tempo, pouco importando os meios, conquanto se consigam os fins.

Pensando dessa forma, e assim agindo, é que se vêm formando no astral inferior, com a desencarnação sucessiva desses infelizes delinqüentes, as numerosas falanges de perturbadores e obsessores.

Todo aquele que tenha sido infiel é um delinqüente, e está, implacavelmente, sujeito às sanções da lei de causa e efeito. As contas serão computadas no Plano Astral, e ajustadas ou cobradas aqui na Terra.

Tão grave é o crime da prevaricação, da infidelidade, que o próprio Jesus, embora tolerante, o admitia como razão suficiente para se desfazerem os laços matrimoniais. Ele não exigia, não impunha essa medida, mas reconhecia o demérito do descalabro.

Na realidade, o núcleo familiar não pode ser mantido sadio, tendo como seu integrante um elemento conspurcado, prostituído, moralmente aniquilado. A desgraça desce sobre o lar corrompido pelo adultério, e cabe ao cônjuge traído, proceder da maneira mais cristã possível, não agravando a situação dos filhos nem os expondo a um sofrimento maior. O futuro também deve ser preservado das conseqüências daquele mal, evitando‑se atitudes drásticas ou violentas, sempre prejudiciais.

Ninguém deve cuidar de aplicar penas para justiçar, porque essa competência é das leis eternas de causa e efeito, que agem no devido tempo, não para castigar, mas para corrigir, instruir e edificar.

A delinqüência poderá ser humanamente compreendida dentro do critério cristão, mas a compreensão não lava o crime, e depois dos laços rompidos ou esfacelados, não há mais meios de os recompor.

Há falhas de tal modo destruidoras, que na mesma encarnação em que se verificaram, não podem ser reparadas; está no caso a infidelidade conjugal, cujas conseqüências virão, fatalmente, nas existências seguintes. A delinqüência pela prevaricação faz uma série de vítimas, a partir do cônjuge atingido pela lama, passando pelos filhos, pelos parentes e indo alcançar os amigos da família.

Todos ficam abalados com o ferimento causado no seio da coletividade em que ele ocorreu, do mesmo modo que um veneno estende a sua ação maligna a todos os órgãos de um corpo. O adultério é um atentado contra a família, que é uma instituição básica, onde se forja o caráter do indivíduo, para o fortalecimento moral do país. Somente um louco, um cego proposital, um ignorante das coisas do espírito, é capaz de incorrer nesse funesto ato de violação.

A dialética animalesca procura justificar as incursões sensualistas delituosas, mas o faz embebida na sensação terrena de gozos impudentes. O Mestre máximo do Cristianismo esclareceu a mulher adúltera para que não prevaricasse mais, exigindo dela não o absurdo, mas o normal. Esse proceder normal é justamente o mesmo que todos têm o dever de sustentar, em qualquer circunstância, por constituir rotina da moral cristã.

Os animais inferiores unem‑se, apenas, para a procriação. O homem, vítima da herança que recebeu dos desregramentos milenares de uma civilização dedicada à luxúria, dispõe, pelas leis do atavismo, de uma organização física constituída nos moldes daqueles hábitos licenciosos de outrora, razão por que apresenta, ainda hoje, disposições instintivas por demais afloradas, mas perfeitamente corrigíveis e controláveis.

Cumpre, pois, retroagir, dentro do possível, no campo da moderação, pela força de vontade, pela ação do pensamento, pelo exercício mental dirigido, pelo regime alimentício, pela ginástica corporal, pelos divertimentos ao ar livre e, sobretudo, pela espiritualização.

O mundo está cheio de tentações para quem se sinta inclinado a elas, e aí estão para serem vencidas, e não abraçadas acolhedoramente. Vencendo as tentações é que o espírito se fortifica. Para se promover a espiritualização é preciso lutar contra todos os atrativos mundanos no sentido de não se deixar dominar por eles, com a convicção de que são ilusórios, superficiais e passageiros.

Convém meditar sobre este assunto. O objetivo deverá ser sempre o de desenvolver as qualidades espirituais que nos oferecerão, na marcha dos acontecimentos, vida mais agradável, maiores alegrias, faculdades inatas ampliadas, encarnações prósperas, convivência num círculo maior de relações afetuosas, trabalho condizente com as predileções, liberdade de bem querer superiormente, campo de ação mais extenso e consciência do bom aproveitamento dos frutos no labor cotidiano.

Quem anda pelo caminho da infidelidade está palmilhando por veredas opostas, dirigindo‑se a regiões tenebrosas, onde ficam arregimentados os criminosos, para efeito de recuperação, após os mais duros e cruéis sofrimentos, em período dilatado.

os réus da infidelidade não só amargurarão a sua vida terrena futura em ambientes detestáveis, como ainda nos intervalos das encarnações, terão trabalho astral da pior espécie, em que assistirão a dolorosas experiências daqueles que, ainda encarnados, sofrem as conseqüências de idênticas mazelas.

Ser infiel e traidor é mergulhar no pântano da desgraça, sorver, aos goles, o fel da vida, e experimentar o fogo da dor no âmago da alma. Responsabilidade muito séria é essa de atrever‑se alguém a destruir ou adulterar uma instituição que se pode conceber como das mais sérias, que é a família, e que deve ser sustentada com o rigor de Princípios da moral cristã.

Todos quantos trabalham em prol da moralidade ampla, estejam ou não filiados a qualquer ordem religiosa, estarão construindo para o futuro, e levando ao seu crédito um valioso acervo. Os seres que manifestam tendências para a infidelidade precisam ser ajudados pelos fortes, que lhes devem transmitir irradiações de força para a repulsa a tão deplorável mal.

Espíritos que em encarnações passadas, entregues às forças inferiores, rolaram pelo abismo da infidelidade, reencarnam em meio que disponha de alguém, parente ou não, que os possa sacudir com exortações oportunas, para alertá‑los.

Alguns se salvam por esse modo e enveredam por outros rumos, enquanto outros descambam, novamente, fazendo ouvidos moucos aos bons conselhos. Notem como é difícil afastar alguém do mau caminho! Como se revoltam, quase sempre, contra o seu benfeitor! Ligados aos obsessores do plano astral inferior, casam‑se com os seus sentimentos, pela lei da atração e da afinidade, e como escravos dessas forças inferiores, dão expansão aos baixos instintos, num estado de entorpecência deplorável.

 

                   O Suicídio

Ninguém vem ao mundo para suicidar‑se. Todos os seres humanos têm a sua missão na Terra. Isto não quer dizer que sejam espíritos missionários, pois esta expressão está sendo aplicada com outro fim.

Missão aqui tem o sentido de tarefa, labor, encargo, trabalho devocional. Logo, se todos têm a sua missão, é tratar, cada um, de cumpri‑la sem queixumes, porque, conscientemente, ninguém há de querer ser um mau servidor da coletividade.

Aqui na Terra, nada do que é material é propriedade de alguém; tudo é emprestado e pertence à Terra. Nem o "nosso" corpo físico é realmente nosso, pois também ele é do mundo que habitamos. Então não poderemos sacrificar aquilo que não nos pertence. As riquezas não são para ser sacrificadas, dilapidadas, destruídas, mas aproveitadas na produção do trabalho e manutenção da vida.

Assim, o corpo físico é um veículo idealizado para nele firmar‑se cada espírito que tenha de fazer o seu estágio na Terra, necessário à sua evolução. Possuir, pois, um corpo físico, para tal fim, é um privilégio; se o recebemos, foi porque se impunha a sua concessão, caso contrário teríamos de estacionar na senda do progresso em plano astral, por tempo mais dilatado.

Mas a verdade é que as leis naturais foram criadas para serem obedecidas e nunca contrariadas. Elas exigem que cada ser evolua, e dá a cada um os meios para isso. Um deles é este planeta, com todas as suas alternativas, e outro meio é a dádiva do corpo físico para ele adaptado. Com a vinda a este planeta, e aqui recebendo o corpo físico correspondente, o espírito está habilitado a colher os frutos maus ou bons da sua produção, conforme o uso que fizer do seu livre arbítrio.

Antes da encarnação, prepara‑se o espírito para seguir uma determinação da rota na Terra, por meio da qual terá oportunidade de aprender lições adequadas ao seu progresso.

Evidentemente a jornada é dura e espinhosa, por determinarem leis sábias que a lapidação do espírito só se faz através de trabalho, lutas, sofrimento e dor.

Não fosse o mau uso do livre arbítrio, o relaxamento das convicções trazidas do plano astral, o abandono aos gozos materiais e o religamento às forças do astral inferior, nenhum fracasso se verificaria em qualquer dos navegantes deste mar revolto, denominado Terra.

Mas o sexo e a luxúria, estas duas hidras tentaculares, estão sempre à beira do caminho e, ao menor descuido, são as vítimas colhidas e arrebatadas. Só os fortes vencem a batalha, e todos, sem exceção, terão de ser fortes, custe o que custar, leve o tempo que levar, em múltiplas encarnações.

Este mundo‑escola está repleto de tentações; cada vez que o espírito vence uma, dá um passo à frente e adquire mais poder. Assim, também cada vez que se deixa levar ao sabor de uma tentação, dá um passo atrás, e torna‑se mais fraco. Aquele que vencer a tentação que surgir em seu caminho, vencerá a seguinte, com mais facilidade, porque conta, então, com o fortalecimento da primeira investida vitoriosa, enquanto que aquele que se deixar vencer por negligência, terá de lutar, em dobro, quando a tentação vier pela segunda vez, e assim sucessivamente.

O suicida é um vencido pela fraqueza acumulada por várias derrotas morais. Sentiu‑se impotente para safar‑se das influências maléficas do astral inferior, que se casaram, facilmente, com a sua fraqueza moral. Logo, os suicidas são doentes mentais carecedores, em tempo, de receber socorro recuperador. O primeiro passo é afastar do candidato ao suicídio os obsessores que o dominam, a fim de que possa ele reagir por si, com o auxilio psíquico de quem puder ministrar‑lhe a reação restauradora.

O suicida, de modo geral, antes de consumar a tragédia da sua exterminação, vem alimentando a idéia funesta, por meses e até durante anos. E que todo ser, por sentimento inato, tem normalmente repulsa de contrariar uma lei da natureza, e leva travando luta com o astral inferior, que o intui para a autodestruição, até que vence ou é vencido. O suicida torna‑se, pois, um autômato, um indivíduo que perdeu o controle de si mesmo, um joguete ao sabor de forças do astral inferior.

São imensas as responsabilidades que pesam sobre o gênero humano, em virtude da faculdade do livre arbítrio de que dispõe, faculdade que lhe dá a opção de fazer dela bom ou mau uso.

Se, através dela, escolher o caminho do bem, marchará, triunfalmente, desfrutando benefícios, colhendo alegrias e semeando felicidade; se preferir a senda do mal, cercar‑se‑á de forças que o levarão ao fracasso espiritual, como, no caso, o suicídio, entre outras desgraças.

Os espíritos do astral inferior aproximam‑se daqueles que revelam angústias, torturas, e inquietude; o suicida em potencial começa a maquinar a sua própria eliminação, atuado, em conseqüência do estado espiritual que demonstra, de grande agitação moral. O seu gesto tresloucado não pode ser atribuído só aos espíritos atuantes do astral inferior, por ter sido ele o imã da atração, o verdadeiro chamariz dos obsessores para a consumação da desgraça e da infelicidade.

O suicida é tão assassino como outro criminoso qualquer. Cortar a vida humana é um crime, sejam quais forem os motivos pessoais. Logo, a condição do suicida, ao penetrar no plano astral, é a mais precária possível.

Não haverá desculpas para o seu ato, do qual é o único responsável, e o doloroso arrependimento que se seguir não resolverá mais nada, pois não o pode livrar do sofrimento decorrente. Nenhuma Entidade Superior interferirá no seu desespero; não poderá, no plano astral, cometer um segundo suicídio, pensando em fugir ao maior sofrimento ali encontrado, e terá de enfrentar, sozinho, todo o drama subseqüente, em que os minutos parecerão séculos.

Todo espírito, ao encarnar, vem comprometido a viver um determinado número de anos correspondente à velhice física, em que terá de colher certas experiências que são sumamente necessárias ao seu desenvolvimento.

As oficinas precisam ter operários habilitados; os hospitais, médicos e enfermeiros competentes; os laboratórios, técnicos capazes, e assim por diante. Do mesmo modo, como o Universo é máquina, que não pára, acionada por todos os seres, cada qual tem tarefas de aperfeiçoamento próprio, a que não se pode eximir de executar, e é indispensável que ocupe o seu devido lugar, com a eficiência determinada. Logo, o papel do suicida, diante desse quadro, só pode ser o mais funesto, desconcertante e prejudicial à planificação estabelecida.

Assim como, aqui na Terra cada qual faz a sua tarefa para proveito comum, também no plano astral cada ser tem a sua função específica a cumprir em beneficio geral, num Universo que se mantém em movimento permanente.

O suicida tem de voltar à Terra para percorrer o mesmo caminho traçado para a encarnação anterior. A experiência dolorosa do suicida é difícil de apagar. Não se recordará do fato quando voltar ao plano físico, mas as feridas não cicatrizadas do sofrimento terrificante fá‑lo‑ão afastar‑se da idéia do suicídio, se ela apresentar‑se novamente, na prova seguinte. Tremenda luta terá de sustentar para vencer a situação, e não haverá outro recurso senão lutar e vencer sozinho.

As criaturas precisam aprender que a vida terrena não é de gozos e passatempos, e, sim, de trabalho, ação e movimento. Todos levam a vida que merecem, a vida a que fizeram jus, e por isso não há queixas a fazer nem sofrimentos a lastimar. Se o presente não é como seria de desejar, é porque o passado foi mal vivido. Então faça‑se o possível para preparar, no presente, um futuro que não seja insuportável.

Grande mal fazem os "Credos" em esconder a realidade sobre a lei das reencarnações, pois os suicidas ou os candidatos ao suicídio, integrantes de várias seitas religiosas, nunca chegariam a acalentar essa idéia, se conhecessem a verdade, se soubessem que voltarão a reencarnar em situação mais difícil e para enfrentar a mesma prova, se não vivessem iludidos, julgando, ignorantemente, que, depois da morte trágica, virá para eles o descanso, o sossego, a paz, a cessação dos sofrimentos!

A presença, neste planeta, dos que nele se encontram, é atestado vivo de que cada um precisa corrigir falhas e defeitos de ordem moral que os impedem de ingressar em vida superior a esta. Os habitantes deste mundo são imperfeitos, em grau maior ou menor, e aqui estão para aprimorar o seu estado espiritual, ou seja, para evoluir. O suicídio produz um agravo na soma das falhas existentes, e exigirá maior esforço de recuperação. Os agravos desta natureza são crimes que representam desrespeitos às leis naturais.

O candidato ao suicídio precisa receber apoio amigo e compreensivo de quem, já espiritualizado, conheça os meios de afastar dele os obsessores intransigentes. Precisa de receber esclarecimento da vida, como ela é realmente, para não alimentar ilusões quanto aos resultados futuros do seu gesto absurdo e doentio.

Há a necessidade de ser tratado como doente mental, como um ser desequilibrado, sem domínio próprio, sujeito à influência de uma força estranha, dominante, que martela, que incute e impõe. Pode a vítima da idéia do suicídio parecer normal e serena, mas, no fundo está procurando sufocar um vulcão de uma vigorosa intuição suicida. É a obsessão em movimento, em marcha, que conduz ao ato final, ao auto‑assassinato.

Pode o indivíduo sacrificar a sua vida em benefício de outras vidas, sem que tal gesto signifique suicídio. Certa vez, um grupo de alunos do Curso Militar fazia experiência de granadas de mão, quando, por descuido, o dispositivo que produz a explosão desarmou em uma delas; o engenho mortífero foi lançado ao solo, a curta distância, sem tempo de se pôr o grupo a salvo dos efeitos da detonação, quando um dos alunos, em rápida decisão, certo de que iriam todos ser sacrificados, num gesto de renúncia, atirou‑se sobre a bomba, para salvar os companheiros da morte certa. Teve o corpo esfacelado, mas o ato heróico, cheio de abnegação passou à história. Não houve suicídio e, sim, um nobre exemplo de desprendimento, de valor, de heroísmo e de grandeza espiritual.

Um outro aspecto de suicídio é o decorrente dos maus tratos que se dão ao corpo físico, abreviando‑se, com isso, o período da encarnação. Os espíritos, quando encarnam, trazem traçados o rumo da sua trajetória terrena e a duração da mesma, não lhes competindo nem desviar a rota, nem encurtá‑la.

Ninguém nasce para ser um farrista, um perdulário, um jogador que troca a noite pelo dia, um viciado no álcool, em excessos sexuais, em opíparos manjares ou em qualquer sorte de abusos. Até mesmo com o trabalho é preciso haver certas limitações. É fazendo vida irregular que o corpo físico perde as suas reservas, adoece com mais facilidade e se depaupera.

Andam por aí moços com aspecto de velhos, gastos pelo esbanjamento, pela incontinência e pela indisciplina. Sempre que se der ao corpo mais uso do que o normal, ele sofre as conseqüências, porque não foi constituído para suportar um esforço superior às suas possibilidades. O corpo físico é uma máquina como outra qualquer, que precisa de lubrificação, limpeza, descanso e trato, para que se possam manter regulados todos os órgãos, carregada a sua bateria magnética e ritmados os movimentos vibratórios internos. Não havendo cuidado e zelo na sua conservação, acontece o que se dá com todo o maquinismo maltratado que, prematuramente, se inutiliza.

Os que encurtam a sua permanência na Terra, por força do descuido, do desmazelo, da indiferença, da ânsia de desfrutar gozos materiais, em prejuízo do seu corpo físico, cometem um suicídio lento e desencarnam antes do tempo, por sua própria culpa. Vale a pena, pois, conhecer a verdade das coisas, evitando cometer leviandades e falhas, para depois não terem muito do que se arrepender.

No suicídio lento ainda pode o indivíduo trabalhar no período em que o comete, em favor da coletividade a que pertence, no que encontrará atenuantes que suavizarão um pouco o seu crime, ao passo que no caso do suicídio instantâneo, cessam, de um golpe, todas as oportunidades. É assim este último um gesto trágico da mais funda e penosa repercussão na marcha dos acontecimentos futuros. É um procedimento insensato, ruinoso, destrutivo, que importa num retardamento considerável no mecanismo da evolução.

O suicídio de origem passional é o mais comum, levado a efeito, quase sempre, por jovens inexperientes, que trazem a mente carregada de ilusões e fantasias. Pensam que não podendo consumar a sua união na Terra, irão realizá‑la no "céu", embalados pelos cânticos de uma imaginação doentia. É a ignorância em atividade. Deixam‑se enlevar por uma paixão mórbida, que é uma das formas de obsessão.

Nesse estado, a razão não se revela, o raciocínio não trabalha, o espírito fica toldado, envolto em névoa, cego, incapaz de discernir a figura realista dos fatos. Pensa o dia inteiro no mesmo caso, fanaticamente, como um desvairado. Que melhor campo de atuação para os espíritos malévolos do astral inferior? Eis aí um dos caminhos para o suicídio, quando os objetivos acalentados são contrariados, e muitos têm sido os que enveredam por ele.

É indispensável que os jovens que amam nunca se deixem apaixonar. É preciso exercer controle sobre o sentimento. Quem perder o controle de si mesmo, entrega‑o, automaticamente, ao astral inferior, que se apodera dele, de bom grado, para promover a desgraça, em qualquer dos seus aspectos. Toda vigilância é recomendável, Passar do delicado amor dadivoso e afável para a paixão desnorteante, é só uma questão de descuido, de abandono e de imprevidência.

O espírito precisa receber, diariamente, treino de fortalecimento, para estar na vida sempre preparado para defender‑se de qualquer enleamento por forças adversas, como as que geram a paixão. Esta é uma doença psíquica perigosa, traiçoeira, arrasante. Geralmente a paixão se manifesta quando os pares encontram embaraços intransponíveis para a união. A paixão é um sentimento irmanado ao ciúme, o qual provém da dúvida e da desconfiança, e é acompanhado pelo egoísmo com a sua soma de derivativos de inferior classificação.

Mesmo que a união se consume, como resultado da paixão, ainda assim perduram os perigos de não se poder conservar intangível, por achar‑se envolvida pela chama revelada de desconfiança e egoísmo, conservando‑se sempre sob a ação nefasta das entidades perturbadoras.

Os que se sentirem acometidos pela idéia fixa do suicídio, em estado moral desesperador, precisam convencer‑se de que estão sendo dominados pelo astral inferior, do qual devem libertar‑se a qualquer custo, urgentemente. São as práticas racionalistas cristãs que promovem o afastamento desses infelizes obsessores, e oferecem o bálsamo restaurador do equilíbrio mental.

 

                   Critérios

         I – Louvores

No Racionalismo Cristão evitam‑se os louvores. A vaidade é uma das últimas falhas que abandonam a criatura. Ela é terrivelmente enraizada no gênero humano. Há quem ostente a simplicidade pela vaidade de ser simples. A vaidade esconde‑se, traiçoeiramente, nos recônditos da alma, e os seus tentáculos se aprofundam de forma desconhecida. Por isso nada deve ser feito ou dito que alimente esse inimigo perigoso, quando não se sabe se está inteiramente morto.

Na medida do esclarecimento, o indivíduo toma ciência do que vale, conhece‑se a si mesmo e se acanha de ser elogiado, de passar pelo que não é, de ver alguém atribuir‑lhe virtudes que talvez não possua e privilégios que lhe pareçam estar acima dos seus merecimentos.

Há certas ocasiões em que o louvor pode ser aplicado como um estímulo, como reconhecimento de uma ação meritória, como meio de encorajar e realçar o exemplo, mas é preciso cuidado para não baratear o elogio, não desvalorizá‑lo, não se o empregando bajulatória e inexpressivamente.

Quanto mais espiritualizado for o ser, menos elogios deseja receber porque os estímulos e os encorajamentos lhe vão sendo desnecessários, cumpre o seu dever de maneira consciente e da melhor forma possível, sabendo que é sua obrigação proceder da melhor maneira possível, que não faz favor nenhum e, portanto, não precisa ser aplaudido.

A falsa modéstia é outra forma errada de agir, pois com ela o que às vezes se procura é a contestação, para provocar o elogio.

Nesta demonstração faz‑se o alertamento para que se abram os olhos da alma e se reflita sobre o assunto que constitui um ponto importante nos exercícios mentais de espiritualização.

 

         II – Agradecimento

O agradecimento é um gesto afetuoso de demonstrar gratidão pelo favor ou atenção recebidos. O sentimento de gratidão é um dos elevados valores da alma. Uma criatura grata e reconhecida, atesta sentimentos apurados, compreensão humana; emociona‑se com a bondade alheia, tem em alta conta o sentido da solidariedade e está sempre pronta a seguir o exemplo daqueles que se fazem, espontaneamente, credores de reconhecimento.

Entretanto, focalizando o aspecto do agradecimento por outro ângulo, é de reconhecer‑se que a criatura, quando faz um bem de ordem espiritual, não deseja receber por ele agradecimento, porque se apenas serviu de veículo ou de instrumento para a concretização do benefício, evidentemente o sentimento de gratidão deverá ter outro rumo. Por este motivo, não se recebem, no Racionalismo Cristão, agradecimentos pelos benefícios espirituais que são distribuídos, por intermédio dos auxiliares, no cumprimento dos seus deveres.

 

         III – Natal

O Natal, dia 25 de dezembro, é a data convencionada, por ser desconhecida a autêntica, para comemorar o nascimento de Jesus. Essa comemoração não se faz, entretanto, nas Casas Racionalistas Cristãs, pois para festejar a memória de Jesus não há dia especial, ou melhor dizendo, todos os dias são especiais para tal fim.

O que a Jesus importa, como um dos dirigentes, em Plano Astral, da evolução espiritual do mundo, sem intervir no livre arbítrio de quem quer que seja, é que todos, sem exceção, se espiritualizem, adotando, diariamente, um viver correto, retilíneo, honrado, de acordo com a moral cristã ou seus verdadeiros ensinos.

Andar a criatura, o ano inteiro, a fazer tolices, a prejudicar o próximo, a cuidar só da matéria e, depois, num único dia do ano, o de Natal, pretender rememorar a figura do sublime aniversariante, do modo como se constata, é um gesto desconcertante, de nenhuma repercussão espiritual.

O Natal vem sendo comemorado de maneira protocolar, como se fosse uma formalidade rotineira. Procura‑se, nesse dia, fartar o estômago com guloseimas, comidas e bebidas, num atestado bem flagrante de materialidade, ocasião em que menos se medita na obra grandiosa do Mestre.

O Racionalismo Cristão não comunga com essa espécie de festividade, a qual não encontra reflexo favorável no Astral Superior, que muito zela pela distinção que se deva imprimir às coisas puramente do espírito.

O Natal, como está sendo festejado em meio a desregramentos gastronômicos, não é festa recomendável para se comemorar o aniversário de um dos expoentes máximos da espiritualidade. Os atos de todos os seres deverão ter um sentido adequado, oportuno, condizente, e a elevação de nossos pensamentos a Jesus deverá ser feita, sempre, através de manifestações de respeito, comedimento e de reverência.

 

         IV – Diversões

Na Terra, não é só cuidar de trabalho, dos estudos e dos deveres normais; é lícito também, e recomendável, divertir‑se a criatura com distrações que desenvolvam o bom‑humor, o intercâmbio social e o arejamento das idéias.

Estão aí, para serem aproveitados, os escolhidos programas do rádio e da televisão, os filmes cinematográficos de primeira classe, as peças de teatro, sejam líricas, dramáticas ou de motivos leves e artísticos, os concertos musicais, as conferências instrutivas, os clubes bem organizados e bem dirigidos, de cunho familiar, as reuniões sociais, as. festas escolares e esportivas, as excursões pelo campo, as estações de veraneio, terapêuticas e climáticas, as viagens de recreio e os passeios repousantes.

Os chefes de família precisam procurar conhecer os lugares de diversão freqüentados pelos jovens, ouvindo o que se diz do ambiente, o que há de inconveniente nele, para poderem orientar os filhos, tanto as moças como os rapazes.

O chefe de família esclarecido, para a sua posterior ação educadora, pode penetrar, investigadoramente, em qualquer lugar, sem que nada lhe aconteça, nada o prejudique, porque embora possa ser um ponto de ocorrência de espíritos do astral inferior, terá, irradiando mentalmente às Forças Superiores, toda a segurança e garantia durante o tempo em que ali estiver, sem se identificar com as vibrações prevalecentes.

De posse das observações efetuadas, estará em condições de bem aconselhar os seus filhos, orientando‑os, esclarecendo‑os e livrando‑os, assim, de más companhias, da má escolha das diversões e das conseqüências que poderiam ocasionar danos irreparáveis.

Nas Casas Racionalistas Cristãs não há reuniões na segunda feira de carnaval, não porque se queira dar liberdade aos estudantes da Doutrina de entrar na pândega carnavalesca, mas unicamente por causa da grande dificuldade de se obter condução e para evitar que a grande massa humana que assiste às reuniões, tenha de se misturar, nas ruas, com os foliões impregnados de sensualismo e de cargas do astral inferior. Nas grandes cidades esse aspecto toma feições que inspiram a maior cautela.

Os seres possuidores de mediunidade vidente, constatam, nas orgias carnavalescas, a atuação desenfreada de espíritos obsessores que, às centenas, investem por todos os lados, incitando e contribuindo para a satisfação dos baixos instintos, já que as mulheres se despem e os homens as acompanham num mesmo anseio bestial dominante.

Verifica‑se no carnaval, quando a criatura se despoja dos recalques controladores e expande a sua natureza animal, que o estado moral da coletividade se revela, infelizmente, muito abaixo do que deveria ser, em conseqüência do descaso criminoso pela espiritualidade. As diversões próprias, para serem desfrutadas, não incluem nenhum ato condenável, nenhuma intenção perniciosa, nenhuma atitude despudorada.

É preciso manter o respeito e a dignidade acima de qualquer condição, para poder conservar‑se limpo o caráter, que é um predicado indispensável na vida de um espiritualista. Este é o critério que o Racionalismo Cristão adota na prática dos seus ensinos, na certeza de que a sua aplicação constituirá um bem, de efeito imperecível.

Há coerência nesta ordem de idéias, porque se visa um só fim, que é a felicidade relativa que o mundo pode oferecer aos seus habitantes, desde que espiritualmente se ajustem à disciplina racional, apresentada, de maneira tão clara e simples, pelo Racionalismo Cristão. Esta afirmativa é feita com apoio na realidade dos fatos.

 

                   Sorte e Azar

Sorte e azar são duas expressões comumente empregadas num sentido que não é verdadeiro. Ninguém tem sorte e nem azar. Cada um recebe o que merece dentro de leis da compensação. Quem faz jus ao bem, recebe o bem em troca, e quem mal faz, pode esperar o mal em retomo.

Se assim não fosse, a criatura de sorte seria um ser privilegiado, e a de azar, um ser renegado. Mas, diante das leis eternas, não há privilégios nem desprezos, porque são todos iguais perante a Força Criadora.

Quando se diz que houve sorte para o indivíduo que alcançou uma situação especial, procura‑se erroneamente, dar a entender que aquela pessoa foi bafejada por um favor extraordinário.

É geral a impressão de que quem recebe ou ganha muito dinheiro tem sorte, e os contrários têm azar.

O aspecto ilusório do mundo faz crer aos incautos que o dinheiro é o supremo bem, e que os que o possuem são felizes, gozam a vida, têm o poder do mando, olham de cima, satisfazem todos os desejos, não precisam de ninguém e dão de ombros às atribulações alheias, porque estão revestidos da capa protetora e impermeabilizante dos haveres.

Mas Jesus, na sua sabedoria altruísta, dizia que era mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no Plano Espiritual. Essa figura não pode ser tomada ao pé da letra, porque Jesus não repudiava os ricos nem a riqueza. O espiritualista José de Arimatéia, um de seus melhores amigos, em cujo solar, em Jerusalém, passou parte da sua vida de adolescente e de quem recebeu grande apoio material e espiritual, era um homem rico.

Jesus quis chamar a atenção para o fato, com cores vivas, de que a riqueza leva, quase sempre, os homens à ruína moral, à perda da encarnação.

Não pode haver sorte nas mãos do nababo egoísta que se locupleta com a sua fortuna, que ganha rios de dinheiro, sem esforço, mas que deste mundo não leva nem um centavo sequer, e sim o peso de uma consciência esmagada pelo remorso de haver vivido uma existência vazia e vã.

É sabido que os ricos, que não tiverem preparo ou lastro espiritual, estão exatamente no caso do camelo que não passa pelo fundo da agulha, porque estes, de modo algum, penetrarão, ao lado daqueles de alma limpa, nos Planos Superiores, após a desencarnação.

O dinheiro só pode ser bem manipulado por pessoas que tenham acervo de espiritualidade, caso contrário serve somente para desenvolver as qualidades negativas do indivíduo, colocando‑o em deplorável posição moral. Deste modo, a palavra sorte, empregada em favor destes seres, tem um resultado inverso do sentido que se lhe pretende dar.

No campo oposto, tudo se repete com respeito ao termo azar. Aquilo que acontece de modo contrário aos interesses aparentes, pode ser um bem.

Todos os acontecimentos do Universo estão subordinados a Leis Naturais e Imutáveis, dentre as quais se destaca a de causa e efeito.

Na realidade ela existe por força do hábito herdado de um passado remoto, quando os assuntos de ordem espiritual eram menos conhecidos. Hoje, porém, com o advento do Racionalismo Cristão, que se propõe a desvendar as dúvidas porventura inquietantes de termos mal aplicados ou sem significado positivo, tudo se esclarece, se coordena, recebe a explicação devida e se coloca em seus lugares próprios.

Ninguém precisa atemorizar‑se com os azares, na expectativa de que algo lhe possa acontecer por obra do acaso. Não há ninguém exposto, ocasionalmente, aos efeitos de uma causa, sem que para ela tenha concorrido, de maneira direta ou indireta. Mas convém não esquecer que os efeitos que forem provocados têm endereço certo de ida e volta, quer sejam bons ou maus, o que não será sorte nem azar, mas cumprimento de leis irrevogáveis.

Sorte e azar são termos muito empregados nas casas de jogo, onde têm significação superficial e fictícia, pois ali, sob a ação do astral inferior, todos perdem, todos se aniquilam moralmente, todos se confundem, de mistura com o vício; nesses antros as duas expressões se igualam e se anulam, para só subsistir a degradação e os seus efeitos.

Não se justifica que ande alguém atrás da sorte ou a fugir do azar. A vida presente de todos os seres, é o resultado da vida passada; do mesmo modo, a vida futura será o resultado da presente. Se não nos considerarmos hoje tão felizes como desejaríamos ser, a causa está atrás, e reside na falta de cuidado dispensada às coisas do espírito. Assim também todos os que, no presente, atentam, apenas, para as diversões e procuram usufruir o máximo dos gozos terrenos, sem a menor preocupação com a vida espiritual, podem esperar dias de sofrimento, de carência de utilidades essenciais e de atribulações, e talvez queiram, depois, dizer que são vítimas do azar.

Os que se voltam para a espiritualidade, ao contrário, sabem onde pisam, não contam nem com sorte nem com azar, mas tratam de viver em cada dia o melhor possível, alicerçando o presente e construindo para o futuro. Não podem, por isso, no dia de amanhã, ficar sujeitos a surpresas desagradáveis, porque não perderão a boa assistência Astral nem os ensinos espirituais que forem bem absorvidos.

Felizes os que se mantiverem nesse caminho, os que encontraram o Racionalismo Cristão, pois esta Doutrina esclarecedora não só serve de diretriz segura aos que militam nas suas fileiras, como oferece novo e rico campo de atividades aos que passarem deste plano físico para o Astral, em tempo próprio.

No incessante transpor de uma para outra experiência, ocorre ao indivíduo ver‑se, da noite para o dia, ou em pouco tempo eventualmente, senhor de fortuna, seja provinda de herança, seja pela conquista de prêmios.

De posse de uma riqueza que surgiu, momentaneamente, várias reações atingem o indivíduo, para provocar o seu estado psíquico. É de se ver, então, como se porta ele. Infelizmente, na maioria dos casos, dá‑se uma mudança na personalidade para pior, quando se constata, mais uma vez, que o dinheiro abundante, sem espiritualidade, tem ação funesta nas mãos do seu detentor.

De qualquer maneira, cada qual tem de sentir, no âmago da alma, a fortuna que ocasiona a falta de espiritualidade, e é por esse meio que cada vez mais se firma no caráter individual bem formado a predisposição de afastar‑se das vibrações materialistas, como solução única para a conquista dos predicados do espírito.

No interregno de uma encarnação para a seguinte, no Espaço, no mundo próprio é que o espírito pode assinalar bem os efeitos da incapacidade de conduzir‑se na Terra de maneira correta, sem estar preparado, convenientemente, para tal fim, coisa que só se dá após exercícios consecutivos de aprimoramento da alma. Ali verá também que a versão de sorte e azar é produto da ignorância humana, atestando um estado de incompreensão.

O Racionalismo Cristão ministra os seus ensinos pelo saber emanado dos Planos Superiores, em que os panoramas terrestres são apreciados de modo real. As falhas na interpretação dos fatos além de prejudiciais, encaminham os seres encarnados, nelas envolvidos, aos labirintos da confusão. Procuremos, pois, ser claros, absorvendo das palavras, dos atos, das expressões, o seu verdadeiro sentido.

 

                   O Destino

Quando o indivíduo prepara a sua reencarnação, o faz em decorrência de um estudo sobre o seu passado; naturalmente é ajudado por espíritos mais evoluídos, que aconselham, orientam e indicam o melhor caminho a seguir, levando em conta os erros cometidos, para impedir a reprodução das falhas registradas.

No entanto, conta o ser com livre arbítrio, faculdade inata que tanto pode servir , se bem aplicada, para que se cumpra na Terra a rota preestabelecida no Astral, como pode prestar‑se, se mal aplicada, para desviá‑lo dessa rota e entregar‑se o ser ao gozo efêmero das atrações terrenas.

Os indivíduos que andam por aí a alimentar vícios, entregues à ociosidade, malbaratando, em orgias, tempo e dinheiro, de modo algum estão cumprindo o compromisso assumido quando no Plano Astral, e é evidente o mau uso que fazem do livre arbítrio.

Tendo a criatura plena liberdade de usar o seu livre arbítrio para o bem ou o mal, coerentemente, ninguém poderá dizer que o que lhe acontece de mau na vida seja obra do destino.

O Planejamento da trajetória terrena, adredemente preparado no Plano Astral, não tem nem pode ter formas rígidas, por isso que está sujeito ao livre arbítrio, faculdade de efeitos variáveis, como atestam suas manifestações, pois que depende ela da força de vontade, da apuração do caráter, da fortaleza espiritual de cada um e do meio ambiente.

Espíritos que não possuem força de vontade, caráter e fortaleza espiritual, fazem constantemente mau uso do livre arbítrio, deixando, assim, de cumprir a sua verdadeira missão na Terra. São estes, geralmente, os que dizem não poderem contrapor‑se à força do destino.

Mas o destino, como sina inexorável, não prevalece. Não há lógica que o possa sustentar diante das leis do livre arbítrio e de causa e efeito, pois se não se der causa ao efeito este será nenhum, e é o livre arbítrio que dá ou deixa de dar causa ao efeito. Logo, o agente é a criatura, e nunca o destino.

O ser que disser que é vítima do destino, o está admitindo como causa, e incorrendo em falhas.

Todos são vítimas de si mesmos, da própria inconsciência ou da maldade consciente; a lei de causa e efeito tem aí a sua ação preponderante, a qual é, por sua vez, controlada pelo livre arbítrio.

A palavra destino é também empregada, na linguagem comum, para designar o lugar para onde se vai ou fim a que certo objeto serve, como: ‑ "qual é o seu destino?", "qual o destino desse objeto?" Neste sentido, a palavra destino encontra o seu lugar acertado, porque não intervém, como sentido adulterado, nas leis do livre arbítrio e de causa e efeito.

Há seitas religiosas que crêem na predestinação. Acham que tudo quanto acontece ao ser humano é por efeito da predestinação. Para essas seitas, Deus traçou a vida de cada um como bem entendeu, e assim ninguém pode livrar‑se do que lhe venha a suceder. Esses que assim pensam e crêem, desconhecem a lei das reencarnações e a das conseqüências. Por tal desconhecimento aceitam a predestinação como fatalidade do destino.

Os religiosos dessas seitas julgam‑se, sem modéstia, os predestinados do Senhor para, depois da morte, viverem com ele no reino dos céus!

Os demais teriam sido predestinados a ir para o inferno! A predestinação, em contraposição à lei de causa e efeito, aberra de todas as normas espiritualistas.

É com erros de concepção como esses que, em geral, as seitas se acomodam em seus regimentos e fazem com que muitos andem descrentes até da própria vida. Certo número de adeptos aceita, maquinalmente, tais preceitos, mas os que estão de fora, com liberdade de analisar, repelem‑nos, por falta de amparo na lógica e na razão.

Grande serviço está prestando à humanidade o Racionalismo Cristão, esclarecendo‑a, levando‑lhe o conhecimento da Verdade, apontando‑lhes os erros que são esposados por uma coletividade jungida ao misticismo e que não está em condições de predicar sobre a Vida Superior, por faltar‑lhe o conhecimento real para tanto.

Como desconhecem os religiosos a verdade da vida depois da desencarnação, estão, dentro de cada seita, auto‑sugestionados de que são os únicos que se acham em posição privilegiada perante Deus, e por isso não admitem, no seu pensar completamente ilusório, que qualquer outro de fora da sua seita, esteja habilitado a demonstrar maiores conhecimentos espirituais.

Essa posição lamentavelmente falsa em que se encontram, produz um estado de consciência impermeável a novas idéias e a novos ensinos, os quais são prejulgados, antes de qualquer análise sadia, como inspirados pelo gênio do mal.

Assim, os que crêem no destino, como sina implacável, e na predestinação, como uma providência divina, fecham‑se dentro desse círculo e não espraiam as suas vistas a outras direções.

O Racionalismo Cristão prefere as situações claras, afasta as confusões, procura apreciar as coisas com realismo, esforça‑se por manter a Verdade acima das conjecturas, uma vez que ela possa ser expressa e definida.

Com este objetivo apresenta estas considerações sobre a falsa concepção do destino, servindo‑se do ensejo para mostrar que o livre arbítrio pode alterar qualquer rumo, presente ou futuro, conforme for empregado; que os acontecimentos do presente são a conseqüência da aplicação do livre arbítrio no passado, assim como a trajetória da vida no futuro terá as variações correspondentes ao uso atual dessa liberdade de ação.

Este esclarecimento deverá dar aos bem intencionados uma visão mais ampla do processamento da Vida, circunstância indispensável ao êxito dos empreendimentos e ao equilíbrio das relações sociais.

Em tratados de filosofia, sina e destino são palavras substituídas por determinismo. Realmente, há um certo determinismo na vida. Desde que todos, ao virem este mundo, trazem uma rota a ser percorrida, ficam sujeitos a um plano geral de ação, dentro do qual se nota uma parcela de determinismo que se alia à sua vocação.

Assim, exemplificando, o que nasceu para ser comerciante segue uma linha determinada, diferente daquela que norteia o advogado. Essa linha poderá, em certos casos, determinar as rotas de cada um, baseadas, principalmente, na vocação.

Fatos que se sucedem na vida, coordenadamente, são lances que se apresentam, de maneira flexível, em plena concordância com a lei de causa e efeito.

Os sofrimentos se processam de modo equivalente, variável, consentâneo e sempre em torno de uma orientação determinada. Se o indivíduo deixa de ser industrial para ser banqueiro, a sua vida tomará novos rumos em conseqüência da sua nova orientação, sem que as leis de causa e efeito, aplicadas ao seu caso, deixem de exprimir‑se com normalidade.

O determinismo, encarado espiritualmente, não é fatalismo. A falta de conhecimento de alguns filósofos sobre as leis de reencarnação e a maneira de preparar‑se o retorno do espírito à Terra, em novo corpo físico, levou‑os a pensar que era Deus quem enviava os seres à via terrena com esta ou aquela vocação, com este ou aquele destino, fato que os induziu a acreditar que o determinismo fosse rota determinada ou imposta por Deus, inexoravelmente. Só a ausência de ilustração espiritualista os poderia conduzir a tal conclusão.

A idéia errônea de pensar que na vida impera o destino, a sina, o fatalismo, leva os seres a não se esforçarem por mudar o curso dos acontecimentos, julgando ser inútil o esforço desenvolvido nesse sentido. Se não houver repressão à consumação de atos condenáveis, confundindo 'predisposição com fatalismo ou destino, os débitos morais do indivíduo se avolumam, consideravelmente.

Qualquer situação ilusória, falsa, inverídica, é perniciosa e deve ser eliminada, sem tardança. Caso contrário, a vida de sofrimentos se prolonga, com a multiplicação de reencarnações reparadoras. Cumpre, pois, abrir os olhos, encarar serenamente a realidade dos fatos, alimentar o desejo são de harmonizar‑se com a Verdade, por muito que contrarie os arraigados preceitos sem fundamento nela.

 

                   Humanidade e Humanismo

Há um falso sentido da caridade originário da compaixão que fere a sensibilidade da vida. O indivíduo que se situa em condições de ficar na dependência de esmola para viver, desceu a um baixo grau da existência terrena e, moralmente, não passa de um farrapo humano.

Conhecido filantropo americano, como observador profundo da filosofia da vida, entendia que dar esmola a alguém, constituía um ato de certo modo aviltante. Um esmoler é um elemento pernicioso à sociedade, um marginal, um ser desclassificado, sem alusão pejorativa.

Diante desse conceito, dar, pura e simplesmente, esmola, é contribuir para maior degradação moral do mendigo, é ajudar a acomodá‑lo na sua miserabilidade, é dar‑lhe força para continuar a pedir, e talvez a convicção de que a prática da mendicância seja um expediente profissional de manutenção normal.

Assim, sustentar o indivíduo, parasitariamente, não é praticar o bem; logo, não é ato de caridade, pois esta não se compreende dissociada da ação benfeitora.

O mendigo é uma chaga no seio da coletividade. Um povo que se vê contaminado pela exibição vexatória, humilhante e desoladora, de trapos humanos, tem de reconhecer a sua inferioridade, no campo espiritual.

O mendigo, quase sempre por indolência e comodismo, busca, através do seu estado de miséria, impressionar, comover e disso tirar partido. Teria de ser segregado para a devida recuperação, pois é um ser desajustado e negativo.

A solidariedade humana, encarada como virtude, é construtiva, e como tal deve ser superiorizada na sua conceituação. Ela é benevolência, é ação sigilosa no sentido do bem, e para a elevação do ser humano. Auxiliá‑lo a desvencilhar‑se das peias que, momentaneamente, o impedem de seguir o seu verdadeiro rumo, é humanismo, ao passo que dar esmolas a esmo é martirizar o mendigo, até torná‑lo insensível ao sentimento do brio.

Há gente muito pobre que tem vergonha de pedir esmolas. Em se tratando, pois, de um ato que produz vergonha, nenhuma razão há para estimular‑se alguém a praticá‑lo.

Jesus não distribuía esmolas e, no entanto, só fazia o bem. Não lhe faltariam meios de conseguir moedas, se as quisesse distribuir. Homens de trabalho rude, foram seus discípulos. A pesca fornecia-lhes sustento farto. A ajuda que distribuiu aos homens, foi para que pudessem trabalhar honestamente, por considerar o trabalho a maior dádiva da vida. E se bem analisados os fatos, todos verão que o trabalho está na essência da Vida, tanto no micro, como no macrocosmo. A Inteligência Universal trabalha, incessantemente, sem trégua de uma fração de segundo.

Logo, dar‑se algo a alguém para que, podendo trabalhar não trabalhe, é alimentar‑se nesse alguém um estado vicioso, é deturpar‑se o sentido da humanidade, é violar‑se a lei da natureza.

As instituições que procuram promover a recuperação do homem marginal, sem segundas intenções, praticam o mais elevado dos atos humanísticos, e são merecedoras de apoio material, moral e espiritual.

Demonstram, ainda, possuir um alto sentimento de humanismo aqueles que, não possuindo filhos, criam e educam seres subtraídos aos ambientes miseráveis e nocivos; os que distribuem, de suas sobras, roupas e agasalhos aos orfanatos e asilos; os que socorrem os enfermos, abnegadamente, com o anseio de vê‑los restituídos ao trabalho; os que, renunciam a oferendas que a vida dá em beneficio de terceiros que precisam de ajuda para vencer, e, finalmente, os que auxiliam a elevar o estado espiritual do próximo.

A prática do bem exige ação, prestimosidade, renúncia e compreensão; é um dom espiritual, e não pode ser comercializado em nenhum sentido; constitui um crime explorá‑lo.

O necessitado, no seu estado de profunda carência material, deve ser olhado com entendimento, compreendendo‑se a razão daquele estado, sem se procurar penetrar no seu âmago para sofrer, com ele, dolorosamente uma falsa interpretação da solidariedade humana. O sofrimento é uma necessidade da vida. E o meio de se resgatarem dívidas que ficaram no passado à espera dessa oportunidade de serem saldadas, e, portanto, pagá‑las deve constituir uma satisfação, um desafogo, uma libertação. Sem essa compreensão, o sofrimento torna‑se um peso muito maior.

A lei de causa e efeito é natural e imutável. O processo das reencarnações está intimamente ligado a essa lei. Por tal razão, a reencarnação, dando ensejo a que os seres paguem as suas dívidas do passado, na existência presente, os coloca dentro da lei. Diante disso, o humanismo consiste não tanto em eliminar o sofrimento, como em amparar o ser, para enfrentá‑lo com valor, e o superar. São pois, as reencarnações que limpam e purificam a alma.

Se não fosse uma realidade a lei das reencarnações, e uma grande impostura a absolvição, seria o caso de estigmatizar a Força Criadora por permitir que milhões de espíritos permaneçam num estado de agonia, sob o peso dos seus erros.

E quem não erra, se todos os terrícolas são imperfeitos? Uma grande injustiça se observa quando muitos indivíduos querem atribuir à Inteligência Universal a razão das suas próprias dores.

O humanismo, pelo modo por que é entendido o vocábulo, cria deveres recíprocos do ser humano para com a humanidade. Ele é amor ao próximo, é esforço de colaboração, é solidariedade operante, é harmonização espiritual, em busca de equilíbrio. Quem pode ser humanista sem amor ao próximo, e, no caso inverso, quem pode ter amor ao próximo, sem ser humano? Humanismo é um interesse emanante pelo bem comum; é um sentido de felicidade contaminante, em que a coletividade sã procura manter sadio o seu agrupamento. E o socorro mútuo, na defesa do bem contra o mal. O sentimento de humanismo estabelece a coesão dos indivíduos em torno de um objetivo elevado. Ele congrega, vitaliza, constrói; é o antídoto do egoísmo, porque enquanto este faz convergir a atenção para si, aquele se volta exclusivamente, para o semelhante. O espírito de humanidade revela que o indivíduo não é um todo, mas uma partícula do Todo, cooperadora, ativa, operosa e participante da atividade cósmica.

Ser humanista é ter a alma sensível aos problemas alheios, procurando compreendê‑los, para dar‑lhes o medicamento adequado. Tais problemas são, quase sempre, formados pela ação psíquica. Há, por isso, necessidade de conhecer‑se psiquismo, para se poder praticar o verdadeiro sentimento de humanidade. Todos quantos se encontram desarvorados na vida, desnorteados, desajustados, estão precisando de orientação esclarecedora e devem ser encaminhados para os estudos psíquicos do Racionalismo Cristão.

Não pode haver ação mais nobre do que arrancar um indivíduo do vício, da malandragem, da intratabilidade no meio social ou familiar, transformando‑o em outro ser, e vê‑lo, depois, consciente das suas obrigações, a cultivar a moral cristã e a produzir para a coletividade.

O Racionalismo Cristão é uma escola onde se pratica todo bem, no verdadeiro sentido; o trabalho ali desenvolvido, para esse fim, é o que redunda na recuperação individual, na regeneração de hábitos e costumes, na disposição inabalável, por conhecimento de causa, de tornar‑se o ser, outrora desviado do bom caminho, um novo elemento de formação plenamente consciente, pronto a exercer as suas funções normais na oficina da vida.

Este aspecto que o Racionalismo Cristão apresenta do humanismo, é o que vem sendo demonstrado, através de numerosos ensinos largamente divulgados.

O indivíduo que se sente desamparado, ao receber uma dádiva, de qualquer espécie, que o venha reabilitar no meio em que vive, terá ocasião de verificar a sua participação na Vida Total, da qual é uma partícula componente. Nesse caso, o enobrecido bem recebido não é uma humilhação, mas um estímulo, uma renovação, uma integração no seu verdadeiro posto.

O sentido comum da bondade é uma desvirtualização cabal da essência do vocábulo. São as seitas materialistas as responsáveis por essa degradação. São elas que estendem as sacolas e pedem esmolas, por "caridade". São elas que dão o mau exemplo e, por esse meio, favorecem a formação de falanges de pedintes, que se sustentam, parasitariamente, ferindo todos os princípios de elevação moral com o óbolo recebido por uma falsa forma de caridade, responsável pela indolência dos seres por ela servidos; responsável pela ociosidade decorrente, mãe de todos os vícios, de decadências, de crimes e perversões.

A falsa caridade é, pois, um flagelo, é uma fonte geradora de males sociais, é uma prática de resultados negativos. Todo indivíduo deve encontrar retribuição no trabalho, e não se acomodar com outra situação.

O ser, qualquer que seja, é uma partícula da Inteligência Universal. Portanto, se a Inteligência Universal trabalha, incessantemente, em todo o Universo, como é fácil de constatar, nenhuma de suas partículas, sem quebra das leis naturais, pode manter‑se inativa, ociosa, indiferente, improdutiva, a sugar a energia alheia, sem que lhe advenham funestos resultados.

Contribuir para que tais criaturas permaneçam nesse estado, é entrar em conivência com elas e arcar com as responsabilidades decorrentes. Há ocasiões em que a esmola oferecida pode levar o pedinte, assistido com palavras evocativas de estímulo e fortalecimento, a aproveitar a oportunidade de gravar, no subconsciente, uma semente de iluminação espiritual.

Muito tempo se passará antes que o mundo compreenda o verdadeiro significado dos gestos de altruísmo e solidariedade. Seria uma ilusão pensar que de um dia para o outro a humanidade modifique o seu entendimento, trabalhado, por séculos, pela classe sacerdotal. Mas este registro não se perderá.

Aqui fica denunciada a diferença entre o falso e o verdadeiro. Com o tempo, a luz se fará em todo o mundo. A Verdade terá sempre que resplandecer, embora custe, mas nenhum entrave poderá impedir o seu progresso.

 

                   Energia Nuclear

Como todos sabem, a matéria é constituída pela união de átomos. A que contém átomos de uma única espécie, é considerada matéria básica; estão no caso o ouro, a prata, a platina, etc., numa variedade que se aproxima de uma centena. A matéria restante é composta da associação de átomos diferentes; assim, dois átomos de hidrogênio, associados a um de oxigênio, compõem uma molécula de água. A água, pois, não é matéria básica e, sim, composta. Estas associações atômicas, formando a matéria composta, são inumeráveis.

O átomo, elemento básico da matéria, contém, na sua estrutura, um potencial de força extraordinária. A energia nuclear[1], subtraída dos átomos para efeitos da bomba atômica, corresponde a uma parte de força liberada de cada átomo, e não à liberação da sua potência total.

Com a desintegração da energia atômica nas experiências nucleares, desprende‑se uma enorme radioatividade, que paira nas camadas altas da atmosfera, daí descendo, depois, principalmente conduzida pelas chuvas.

Essa radioatividade é altamente nociva, não só porque esteriliza a terra e aumenta o calor atmosférico, como ainda porque, tornando‑se cada vez mais densa, pode chegar a um limite, não muito distante, de eliminar a vida no planeta, pela sua influência direta.

O hidrogênio é o mais leve dos gases, e por isso se encontra praticamente puro na periferia da camada de ar, ocupando uma faixa; ele é grandemente inflamável e, em conseqüência das explosões das bombas de hidrogênio a grandes altitudes, é possível dar-se uma explosão com uma incandescência tal desse gás, e tão elevada temperatura, que poderá produzir a morte de todos os seres viventes do Planeta, se as nações responsáveis por tais explosões não se negarem, peremptoriamente, a dar a sua participação na fabricação de bombas atômicas.

Esses engenhos mortíferos têm por fim matar o homem. A sua idealização e conseqüente fabricação, não obedecem ao menor sentimento cristão ou de humanidade, e revelam a ausência de princípios espirituais dos seus autores.

O desenvolvimento científico precisa ser feito concomitantemente com o espiritual, para a humanidade não ficar exposta ao desaparecimento. Por esse risco passa, presentemente, a Terra, se as experiências e utilização das bombas atômicas não forem suspensas.

Há numerosos meios de aplicação da energia nuclear em fins pacíficos, que grandes benefícios poderão trazer à humanidade; cabendo aos homens de boa índole a utilizarem somente para isso.

É necessário cultivar o sentimento contrário a toda atividade que não tenha por objetivo a segurança, a tranqüilidade e a evolução das comunidades que precisam de paz e sossego para cuidarem de seus trabalhos cotidianos e do seu desenvolvimento espiritual.

Testemunhando a loucura que predomina no espírito dos fabricantes de bombas atômicas, o Racionalismo Cristão exalta a necessidade de espiritualização, que as religiões não promovem eficientemente, e incentiva todos os espíritos bem formados a cerrarem fileiras em torno dos princípios cristãos, únicos capazes de anular a febricitante corrida às armas atômicas.

Resumindo, pode ser reafirmado que, quanto ao prosseguimento das explosões atômicas, duas reações podem dar‑se: ou a queima do hidrogênio na parte superior da atmosfera e a conseqüente destruição de toda a vida na superfície do globo, ou ficar a atmosfera fortemente densificada de radioatividade, o que produziria um resultado igualmente fatal, com a diferença que, no primeiro caso, a morte sobreviria de maneira muito mais rápida do que, no segundo.

Está, pois, a humanidade na dependência do bom uso do livre arbítrio que farão ou não os responsáveis principais pela direção das Nações detentoras das armas atômicas. Para que raciocinem com melhor nitidez, cumpre ao Racionalismo Cristão a humaníssima tarefa de promover a Limpeza Psíquica à distância, para beneficiar os seres envolvidos nessa trama atômica.

Podem ser sempre encontradas soluções pacíficas para os casos mais intrincados, desde que as criaturas raciocinem com prudência, com independência de espírito e estejam movidas por sentimento realmente cristão.

No dia em que todos puderem compreender a vida sob este aspecto, os principais dirigentes humanos sentir‑se‑ão envergonhados por haverem preparado engenhos mortíferos tão danificadores, capazes até de destruir a humanidade!

Nesta exposição fica registrada, não só uma advertência, mas um apelo ao bom‑senso, ao senso de responsabilidade espiritual dos dirigentes humanos, uma vez que nada de bom, se consegue com a destruição, que somente serve para agravar o estado geral da evolução.

As Forças Superiores estão atentas a tudo quanto se passa no Planeta e, naturalmente, os desmandos dos homens, a sua cegueira espiritual, o desejo de sufocar a concorrência na disputa egoísta de primazia, a falta de ética na conquista de vantagens partidárias, são ações pejadas de opróbrio que essas Forças assinalam, conhecendo, de antemão, as funestas conseqüências que acarretam.

Esse afã demonstrado por certas potências de persistirem em experiências atômicas, fazendo ouvidos moucos aos ponderados avisos da ciência, é uma prova de perturbação mental de que os maiorais se acham possuídos. Qualquer catástrofe que se desencadeie sobre a humanidade, ou parte dela, em decorrência dos desmandos do homem, que venha a frustrar os planejamentos efetuados para a evolução, pode ocasionar indescritíveis sofrimentos.

Por aí se conclui que a continuação das experiências atômicas representa um risco, sob mais de um aspecto, e que motivos de ordem científica e espiritual prevalecem, de forma bastante nítida, para que não surjam dúvidas quanto ao desacerto das perigosas explosões. Esta advertência aqui registrada, visa alertar os que ainda puderem revogar as disposições destrutivas de que se acham dominados.

 

Como vêem os leitores, esta obra foi escrita para aqueles que se acham no caminho da espiritualidade. Os temas que compõem o texto, interessam a todos que se encontram em atividade física neste planeta. São temas que convidam à meditação.

Não há o propósito de catequese. Todos são livres para pensar e agir como entenderem. No entanto, o bem faz apresentarem‑se os problemas da vida sob o aspecto encarado pelo Racionalismo Cristão, uma vez que muitos são aqueles que se comprazem em averiguar, pesquisar e submeter os assuntos à luz da razão e do bom senso.

O grande objetivo do Racionalismo Cristão é melhorar as condições da vida, do ponto‑de‑vista material, moral e espiritual. Todos sabem ou sentem que o mundo está permanentemente numa fase crítica com relação aos preceitos de estabilidade humana, devido à geral imperfeição dos seres. O único meio de modificar‑se esse estado, é sacudir as almas, despertando‑as para o caminho da espiritualidade.

Urge acordar as criaturas que dormem o sono da inconsciência. Essa providência mais cabe em proveito dos que estão prontos a seguir este novo rumo, quando apenas lhes falta tomar uma decisão. Para esses, as palavras deste livro terão uma ressonância especial, pois, encontrarão nelas um convite fraternal, uma advertência amiga, um aceno cristão.

Neste mundo interesseiro e mercenário, é muito difícil encontrar um convite como este que não visa o benefício da Instituição ou dos membros dela integrantes, mas tão‑somente o bem do semelhante, a sua prosperidade, a sua felicidade e a sua participação harmoniosa, pacífica e construtiva na composição Universal.

Os principias básicos do cristianismo, representados pelo amor fraternal, estão presentes nesta obra, na qual, acima de tudo, se deseja que cada um faça a sua parte na consumação desse grande bem, que é o bem comum. Na escala da espiritualidade a moeda corrente é o merecimento, e este só se revela através de boas ações, de ótima conduta, de exemplos edificantes.

No Racionalismo Cristão não há a menor prevenção contra as criaturas bem intencionadas, tenham elas a crença que tiverem, usem as cores partidárias que entenderem. Os aplausos são estendidos a todos os que operam condigna e honestamente, confiantes na vitória das causas justas.

Os que alimentam sublimes ideais, que desejam, sinceramente, acertar em todos os lances salutares da vida, que se esforçam por ser elementos úteis à coletividade, granjeiam a simpatia do Racionalismo Cristão, e as Forças Superiores estarão ao seu lado, para estímulo, encorajamento e final coroamento dos propósitos.

O Racionalismo Cristão está cumprindo especial missão na Terra, onde foi implantado pelas Forças Superiores que o dirigem. Os seus instrumentos humanos cumprem determinações do Alto Poder, na certeza de que nada mais fazem do que os seus deveres exigem. É uma Doutrina que aí está para ajudar, para nortear, para esclarecer.

O que muito falta ao ser humano, é orientação, segurança, descortino. Mas, aprendendo a pensar melhor, mantendo higienizado o seu espírito, está apto a bem discernir, a ponderar com iluminação e a realizar os bons intentos.

O que importa é o indivíduo capacitar‑se de que precisa viver espiritualmente, introduzindo, em todos os atos e decisões, as normas espirituais condizentes, para que impere sempre a ação elevada, nobre e equânime.

Nos temas aqui apresentados em desdobramento dos princípios Racionalistas Cristãos, ficou acentuado o valor do espiritualismo em todos os tempos da vida. Os erros, os desajustes, os desmandos assomam onde não há espiritualidade. É condição fundamental do bom aproveitamento da existência não descurar o ser terreno, um só instante, desse preceito. Enquanto esta verdade não for reconhecida pela maioria, as dores e os sofrimentos, as lutas inglórias e os padecimentos aniquilantes, não abandonarão o mundo.

Uma vez que todos detestam para si o mal, a desgraça, o abatimento moral, a doença deformante, a miséria, a loucura, e nada faz a maioria para varrer da face da Terra tão indesejáveis tormentos, é porque a ignorância em assuntos espirituais campeia por toda parte, com o seu rastro sinistro. Oxalá encontre o leitor nestas páginas, soluções adequadas para os seus problemas, no campo da espiritualidade.

É certo que as luzes do Racionalismo Cristão aos poucos irão cobrindo a Terra numa ação contínua e eficaz, mas muito se poderia abreviar a chegada desse dia aspirado de paz e bem‑aventurança, se houvesse real colaboração por parte dos seres aptos ao esclarecimento, que se mostram esquecidos das suas verdadeiras tarefas e entregues aos convidativos apelos que a enganosa vida material oferece.

Luiz de Mattos, Luiz Thomaz e Antonio Vieira são três Entidades Supremas do Racionalismo Cristão. São os patrocinadores espirituais deste desdobramento. São os seus ensinos, aplicados aos diferentes temas aqui tratados, que podem servir de guia para elucidação dos problemas cotidianos. É necessário estabelecer uma linha de conduta na vida, e esta pode ser conseguida por meio do raciocínio bem trabalhado e com amparo na lógica dos argumentos expostos neste trabalho. Firmeza e meditação são duas disciplinas imprescindíveis ao bom êxito das iniciativas e maior aproveitamento das sugestões emanantes destes escritos.

Os três Mestres citados empenham‑se, nos seus mundos de luz, para que as dúvidas que se observam no espírito dos estudiosos do Racionalismo Cristão sejam dissipadas, e daí a maior razão deste desdobramento. Por isso, sabe‑se que muitos são os que encontrarão aqui respostas às suas perguntas mentais. Além disso não será demais conhecer a disposição do Racionalismo Cristão perante convenções mundanas e religiosas.

Ficou então evidenciado o respeito que o Racionalismo Cristão rende ao livre arbítrio de cada um, aos direitos do pensamento, às inclinações sectaristas. Com o desdobramento deste princípio doutrinário, explica‑se a atuação discreta que os membros das Casas Racionalistas Cristãs mantêm com referência aos pontos‑de‑vista alheios, perfeitamente compreensíveis. Neste sistema não há propaganda comercialista, nem discussões quase sempre estéreis, nem ressentimentos, especialmente por antagonismos.

Se as normas doutrinárias diferem daquelas comumente observadas nas seitas e religiões, nada há que estranhar‑se, pois o Racionalismo Cristão não é religião; daí poderem os religiosos aproximar‑se dele, examiná‑lo, perscrutar os seus ensinos, sem se comprometerem. É uma Doutrina liberal, confraternizante, que se propõe a apresentar ao mundo novas diretrizes pautadas na moral cristã, sem dogmas, mitos, liturgias e artifícios.

Uma vez que os homens sentem a vida diferentemente, de acordo com o seu passado recente ou remoto, não haverá, com isso, motivo para que se desunam, se combatam, se ofendam, se desprezem, quebrando assim a lei fundamental do amor fraterno.

Os que não aceitam essa verdade, apenas demonstram que não são cristãos. Porque ser cristão não é manter‑se filiado o indivíduo a esta ou aquela seita ou religião, e sim dar provas concretas e cabais de que os ensinos de Jesus estão realmente no seu interior, e deles faz bom e oportuno uso.

Isso não quer dizer que deve a criatura confraternizar-se com sicários e malfeitores; estes, enquanto se revelarem distantes da civilização, precisam viver segregados dela, como os animais bravios, até chegar o seu dia de recuperação moral. No entanto, deve esse estado ser compreendido com superioridade e encarado normalmente, sob o aspecto das leis naturais. Assim não se perderá de vista o princípio de que todos são partículas da Inteligência Universal, e que pelo caminho obrigatório da evolução, ninguém deixará de atingir a meta final.

Na organização fraternal dos povos não deveria ficar fora de cogitações o estabelecimento de um único idioma, de uma só moeda circulante e as linhas demarcatórias dos territórios deveriam ser interpretadas como linhas de união, e nunca de separação. Um governo central manteria o equilíbrio dos interesses regionais. As somas fabulosas destinadas a armamentos e a manter a integridade física das Nações, seriam utilizadas na educação, nas obras de bem-estar coletivo e de aperfeiçoamento moral e espiritual das raças. Este quadro ajusta‑se perfeitamente aos postulados cristãos.

Logo, assimilar o cristianismo é defender proposições desta natureza, em que o amor fraternal vitalizante seja a principal força dos ideais humanos.

Fosse este um mundo cristão, e não haveria nele ódios nem malquerenças, egoísmos, nem usurpações. O permanente estado de inquietação das coletividades, a obsessão armamentista, a desconfiança mútua, a desleal concorrência nos negócios, o desejo de destruição alheia para a locupletação própria, e toda uma série de operações ilícitas, atestam ausência, quase completa, do espírito cristão.

Em matéria de cristianização está quase tudo por fazer no mundo. É indispensável, pois, que se cuide da espiritualização dos povos, com o maior empenho, favorecendo, pela prédica e pela leitura, difusão de ensinos apropriados que despertem a mente e induzam o indivíduo a ajustar‑se à linha do Bem.

O Racionalismo Cristão obedece, fielmente, a esse programa de ação, conclamando as consciências à razão. Este livro representa mais um esforço empregado nesse bom sentido, em atenção a uma certa ansiedade que paira no espaço, e com ele dá‑se por cumprida mais uma tarefa cristã.

Não significa o aparecimento desta obra que o livro básico da Doutrina, Racionalismo Cristão, não seja suficientemente claro e preciso, como realmente é; contém ele substância concentrada, e está, por isso, em condições de oferecer desdobramentos para vários livros. Neste mesmo, as exposições foram regularmente sintetizadas, para que se pudesse abranger maior número de temas.

O Racionalismo Cristão não deixa margem a dúbias interpretações, porque a linguagem franca e verdadeira, simples e concisa, conduz a um só entendimento. Por isso, os seus adeptos e discípulos estudiosos estão unificados no pensamento comum, que a todos leva ao mesmo fim. Onde estiver a Verdade, não podem existir divergências ou discordâncias, porque ela é Una e Única.

Em síntese, o Racionalismo Cristão reconhece e aplaude o esforço de todos aqueles que operam para o bem, sem que à sua Doutrina estejam filiados. Há explicação racional para as atividades de todos os credos, uma vez que cada indivíduo é o que é, em função do que foi em vidas anteriores. As inclinações, as tendências firmam‑se no correr de muitas existências, e somente são modificadas lentamente, pelo esclarecimento, no decorrer de outras tantas vidas.

Assim se explica porque certas pessoas só se sentem bem irmanadas a determinadas seitas, enquanto outras, não; é uma questão de formação moral, peculiar a grupos de indivíduos. Ninguém se convence, de um modo geral, que a sua religião não seja a melhor, e por isso há crentes e fiéis. E se estes se sentem felizes com as suas crenças, não há razão para demovê‑los de suas idéias. Convém que desfrutem dessa felicidade relativa até o fim, isto é, até quando, pela dilatação do espírito ou pela ampliação dos conhecimentos espirituais, procurem, num plano mais elevado, a felicidade desaparecida.

Este é o processo natural da evolução. Uma vez que se reconheça que já atravessaram os seres o período correspondente a milhares de vidas físicas, é evidente que cada qual as tenha aproveitado, a seu modo, com maior ou menor rendimento, segundo a boa ou má aplicação feita do livre arbítrio. Essa variação e que permite o agrupamento dos indivíduos, de conformidade com as falhas cometidas ou conquistas espirituais consumadas e a competente distribuição futura pelas diversas seitas e religiões, pelas agremiações filosóficas, pelas instituições de estudos psíquicos e pelo Racionalismo Cristão.

Os religiosos procurarão o plano da espiritualidade quando puderem abolir o conceito de Deus representado por um ancião, estilo Pai Noel, para senti-lo sem forma física, verdadeiramente, como Grande Foco, Força Criadora, Inteligência Universal, e quando puderem dissipar a imagem ilusória de céu e inferno, para reconhecer a Verdade da lei inexorável das reencarnações.

Só então lhes será possível cooperar dentro da área espiritualista, com alto rendimento, na transformação da maledicência em imaculada confraternização, da soberbia em humildade, da falsidade em sinceridade, da vaidade em singeleza, do egoísmo em generosidade, da maldade em bondade, da prevaricação em fidelidade, da avareza em dádiva, da mesquinharia em altruísmo, da desonra em sentimento de nobreza, da desonestidade em correção.

O Racionalismo Cristão encontra-se na vanguarda do movimento espiritualizador do mundo, e pretende, com os estudos apresentados neste livro, contribuir, com mais uma parcela de esclarecimento, para a renovação Cristã das realidades espirituais.

 

 

[1] A fabricação e utilização de bombas atômicas é assunto de flagrante atualidade. As discussões nas Assembléias das Nações Unidas, têm despertado geral atenção. A atitude do Racionalismo Cristão, em face dum problema de tão terríveis conseqüências, capaz de esterilizar o solo ou exterminar a vida em determinado ponto do Planeta, é exposta, neste capítulo, de maneira clara, simples, e constitui também uma advertência (Nota dos Editores.)

 

 

                                                                                Anne Rice  

 

                      

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