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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


CELEBRAÇÃO SOMBRIA / Christine Feehan
CELEBRAÇÃO SOMBRIA / Christine Feehan

 

 

                                                                                                                                   

  

 

 

 

 

As estrelas brilhavam no céu noturno, e a lua, espalhava sua luz iluminando as árvores e transformando suas folhas em brilhante prata. Uma coruja fêmea passou roçando a canopia descendo lentamente para diminuir velocidade através do labirinto de árvores, antes de voltar a subir para evitar um grosso galho. Uma segunda coruja, bem maior, a perseguia, formando um grande círculo acima do bosque, na margem de uma clareira onde se assentava uma casa de pedra. A fêmea se lançou para o telhado, com as garras estendidas para a chaminé detendo no ultimo instante para escapar do macho, batendo as asas silenciosamente, o vento acariciando suas iridescentes plumas.

 

 

 

 

- Raven! - Mikhail Dubrinsky falou para sua companheira.- Estava muito perto.

- É estimulante.

- Raven, vai cansar. - Havia um toque de admoestação na voz de Mikhail, como se um lobo se escondesse dentro do corpo da coruja.

O sorriso dela borbulhou suave e cálido em sua mente, numa comunicação telepática.

- Já não sou uma novata, Mikhail e após todos estes anos, acredito que administro bem quando vôo. Eu adoro. É meu passatempo favorito. Alguma vez superará esse teu lado de ser tão superprotetor?

- Não acredito que seja superproteção vigiar à mulher de meu coração e de minha alma. Sempre se arrisca quando voa, bem do que deveria.

Ele podia estar certo, mas Raven não ia admitir. Uma vez no corpo de um ave, queria ficar assim durante longos períodos de tempo.

- Sinto-me tão livre.

Do momento de sua conversão, de humana a Cárpato, a única coisa que a tinha intrigado e enchido-a de alegria em sua nova vida, era a capacidade de voar. Podia se elevar muito acima da terra e ver milhas de preciosos bosques, de frios lagos e profusos campos de flores silvestres. A beleza a rodeava enquanto mantinha a forma de uma coruja, fazendo-a esquecer, pelos menos por alguns momentos, a maravilha e responsabilidade de ser a companheira do príncipe dos Cárpatos.

Fez um pequeno silêncio.

- Raven, você se sente livre quando está comigo? Nunca te enjaulei, apesar de que algumas vezes senti que seria o mais seguro.

A coruja fêmea se voltour marcando um círculo, para se situar sob a asa direita do macho. - É claro que não, tolo. Você não gosta de voar?O vento não te leva, enquanto o terreno embaixo parece tão mágico?

Havia um sussurro de amor em sua voz e em sua mente. Mikhail tinha chegado a depender de sua firmeza, da absoluta resolução de seu amor. – Sim. Se alguma vez se desesperar por minha natureza, queria que me fizesse saber isso. Sinto sua tristeza em algumas ocasiões, meu amor. Sinto a dor em seu coração.

- Não, Mikhail. Não por sua causa ou por nossa causa. Como qualquer mulher que encontrou seu verdadeiro companheiro, quero filhos. Não me queixo. Temos uma filha, Savannah, muito querida para nós dois e com mais dons que qualquer outra de nossas mulheres. Se nunca tivermos outra, terei sido o bastante feliz tendo uma filha do único homem que poderia me fazer feliz. Você e Savannah são suficiente para mim.

Mikhail desejou que estivessem em casa onde poderia abraçá-la e beijá-la. Morria de amor por ela mais do que lhe preocupava admitir e podia ouvir e sentir seu desejo de estreitar um bebê em seus braços. Esse era seu maior fracasso, não só por sua esposa, mas também por sua gente. Depois de centenas de anos, ainda não podia proteçõesr sua gente da maior ameaça, não dos vampiros ou da sociedade moderna, nem mesmo de sua a falta de emoções depois de duzentos anos e a ameaça da escuridão subindo por suas almas. Não podia protegê-los do que estava começando a parecer o princípio da extinção de sua espécie.

- Mikhail. - Raven sussurrou em sua mente. Um som suave transbordante de amor e compaixão. - Encontrará as repostas para nossa gente. Já conseguiu muito reunindo a todos esses peritos para que juntos solucionem o problema. E três bebês sobreviveram nos últimos anos. Conservamos Savannah. Francesca e Gabriel têm Tamara e agora a filho de Corrine e Dayan, Jennifer. Três meninas, meu amor. Ainda há esperança.

Mikhail estava quieto, desejando clamar de seu desespero aos céus. Três meninas quando muitos dos homens de sua espécie estavam desesperançados. Para sobreviver, para manter sua honra, não deveriam ter que escolher e encontrar uma mulher que completasse sua alma. Luz de sua escuridão. Sem uma mulher não restava mais que uma eternidade de existência vazia.

- Não é assim. - Negou Raven. - Alguns encontraram suas companheiras entre minha gente.

- Sorte, Raven. Porquê não posso encontrar a resposta quando tenho tantos grandes cérebros trabalhando no problema. Precisamos de mulheres e filhos ou nossa espécie deixará de existir.

Depois da tentativa de assassinato, Mikhail, mais que nenhum outro, temia seus inimigos e se dava conta do quanto frágil a raça dos Cárpatos se tornara. Com tanto a seu contrário, estava claro que a verdadeira vulnerabilidade da raça Cárpata estava na ausência de mulheres e filhos. Apesar de que todos os ataques haviam sido dirigidos contra os homens, antes ou depois, seus inimigos se dariam conta de que para eliminar sua espécie, somente deviam matar suas mulheres e filhos.

A idéia de que Raven, sua bem amada companheira ou sua preciosa filha Savannah, pudessem ser consideradas como objetivos, era muito mais do que podia suportar, apesar de ser inevitável. O inimigo estava se aliando com a magia negra e haviam encontrado uma forma de ocultar sua presença, fazendo duplamente perigoso. Nunca mas os Cárpatos poderiam confiar em sua capacidade para ler suas mentes e sentir a ameaça. Deveriam estar bem mais vigilantes que até agora. Mesmo neste momento ele estava escaneando o bosque com receio, incapaz de relaxar completamente.

- Mikhail, você fechou sua mente à minha.

Mikhail forçou seus pensamentos a voltar para a conversa. Já era suficientemente errado que não pudesse consolar sua companheira por perder um bebê, para deixá-la só no transcurso de tão importante conversa.

- Você vive conosco só cinqüenta anos e já sofreu a perda de um filho. Pode imaginar a grande tristeza em cem, duzentos anos? Nossas mulheres não sofrem essas perdas sem repercussões severas.

- Shea acredita que ela e Gary estão muito perto de encontrar a resposta. Gabrielle está lhes ajudando também. - Lembrou-lhe Raven. Gary era humano e Gabrielle também havia sido. Recentemente, para salvar sua vida, Gabrielle passara pela conversão, mas cvontinuava trabalhado incansavelmente, até mais que antes da mudança, para ajudar Shea a encontrar a causa pela qual as mulheres dos Cárpatos sofriam tantos abortos espontâneos. - Com toda a bagagem de Shea como médica humana e suas aptidões naturais como curadora Cárpato, é um recurso fantástico para nossa gente. Ela trabalha com Gabrielle, Gary e Gregori para encontrar a resposta do porquê de nossas mulheres não podem terimar uma gestação.

Os poucos bebês nascidos raramente sobreviviam a seu primeiro ano. Raven estava agradecida de ter tido um aborto e haver conseguido se livrar da terrível dor de dar uma vida, cuidar de um bebê durante um ano e depois perdê-lo.

- Shea já descobriu muitas coisas e desentranhará este mistério.

Mikhail acreditava que seria Shea quem descobriria o milagre. Ela havia provado sua tenacidade e coragem trazendo de volta o irmão de Mikhail, Jacques, de beira da loucura, mas também temia que as respostas chegassem muito tarde para sua gente. Seus inimigos estavam organizados, golpeando cada vez mas perto. O pior, parecia ser que seus mais antigos e cruéis inimigos ainda continuavam com vida. Xavier, o mago escuro e seu neto, Razvan, estavam ajudando o não-morto, com seu conhecimento ancestral.

Raven rompeu seu toque voando mais longe com seu costumado abandono, se aproximando muito da canopia de árvores. O coração de Mikhail quase para e lhe custou uma tremenda disciplina não ordenar que ela voltasse para seu lado onde estaria a salvo. Não poderia encadeá-la, como nenhum dos outros Cárpatos podia fazer com suas companheiras, mas a necessidade e o desejo estavam aí, pulsando nele com desumana tentação.

Mikhail se colocou em marcha, com um estalo de velocidade, alcançando à mulher que completava sua alma, com seus agudos olhos escaneando o terreno abaixo. Podia sentir a felicidade que irradiava dela e isso o ajudou a mitigar a carga que suportava seu coração.

- Sabe, meu amor, - Raven lhe falou, zombeteiramente, que terá que se vestir da Santa Claus, de Papai Noel, na festa de Natal para todos as crianças, não é?

Mikhail perdeu a imagem da coruja de sua mente pela primeira vez em centenas de anos. Seu corpo caiu como chumbo, por mais de vinte metros, quase chocando com as copas das árvores antes de se recuperar do choque. Mesmo dentro do corpo de coruja, estremeceu.

- Pode esquecer essa idéia de uma vez.

Raven voou em espiral, descendo graciosamente para seu lar, tomando terra a dois passos do caminho que conduzia ao alpendre, como se estivesse em sua natureza voar. Mikhail a seguiu aterrissando diretamente em frente a ela, detendo sua fuga. As linhas de seu rosto endureceram numa feroz olhar, tentando intimidá-la. - Esta conversa não terminou. – Ele não pôde evitar o pequeno calafrio que lhe percorreu o corpo. - Há coisas que nunca deveria pedir a um homem que faça.

Raven piscou.

- As crianças esperarão que Papai Noel faça sua aparição. Esta é nossa primeira grande festa de Natal, realmente a primeira e as mulheres concordaram em cozinhar, então os homens devem fazer sua parte. Você tem que fazer, Mikhail.

- Acredito que não. - Mikhail, replicou. Sua expressão podia amedrontar o mas perigoso dos vampiros ou caçadores de vampiros, mas certamente parecia não surtir efeito em sua companheira.

Raven, bateu pé no chão, exasperada.

- Não seja criança. Os homens humanos fazem sempre isso.Voce está com medo!

- Não tenho medo.

A sobrancelha dela se elevou, algo que sempre o intrigava, mas desta vez parecia suspeito. Era como se ela estivesse rindo dele.

- Oh! Tem sim. Parece aterrorizado e pálido.

- Estou pálido porque gastei energia voando sem ter me alimentado. Sou o príncipe dos Cárpatos, não Santa Claus ou Papai Noel... Ou, sei lá mais o quê..

- Isso não é uma desculpa. Como líder de nossa gente é seu dever participar como Papai Noel. É a tradição.

- Não uma tradição Cárpata. Não é digno, Raven.

- Mikhail recolheu o negro cabelo na parte baixa da nuca e o prendeu com uma estreita tira de couro. Seus olhos negros brilharam para ela, tentando intimidá-la, para submetê-la.

Ela estalou em gargalhadas, sem compaixão e certamente sem temor.

- Má sorte, Peixe-gordo. É seu trabalho. Seja tradição Cárpata ou não, você prometeu que teríamos uma grande festa de Natal para todos. Nossa gente veio dos Estados Unidos, da América do Sul e de muitos outros países para participar de nossa celebração. Não pode falhar com eles.

- Não falharei com ninguém, mas não faço essa coisa tão ridícula.

A risada dela se aprofundou num rico e sensual som que lhe percorreu a coluna e fez com que seu ventre se contraísse. Só Raven podia conseguir isso. Só Raven podia fazer com que ele fizesse de tudo no mundo, para agradá-la.

- Acredite Mikhail, a raça Cárpata inteira se verá defraudada se não poderem te ver no papel da Santa Claus. – Ela acariciou-lhe a face, com a ponta dos dedos. - Uma bonita barba. - Sua mão lhe percorreu o peito até o abdomem. - Uma bonita e arredondada barriga...

- Isto não tem graça, Raven. – Reclamou Mikhail, mas fez todo o possível para não gargalhar com ela.

- Você me prometeu que faria todo o possível para que nossa primeira reunião natalina fora um êxito.

- Não pensei no que dizia. Estava distraído. - Resmungou ele.

- Estava? - Perguntou Raven, fechando os olhos inocentemente. - Não recordo.

Mikhail estendeu os braços para Raven e a aproximou de seu corpo. Mordiscou-lhe o pescoço, notando sua pulsação, sentindo sua resposta cheia de excitação e sabendo que sempre seria desta forma para eles dois. Raven. Pensou que não poderia amá-la mais, pois cada dia a emoção se fazia mas forte. Algumas vezes, quando ela não estava olhando, podia sentir lágrimas de sangue lhe encher os olhos. Quem poderia acreditar que o poderoso príncipe dos Cárpatos pudesse estar tão apaixonado por sua mulher.

Havia nascido com as palavras rituais vinculantes impressas em sua mente como qualquer dos outros homens de sua espécie. Foi uma comoção descobrir que não só as mulheres humanas podiam se converter em companheiras, mas também podiam ser convertidas a sua espécie. Mais chocante que o completo assombro por tudo, foi o irrefreável amor e a paixão que sentia por sua esposa, que se tornava forte a cada momento que compartilhavam. Olhar para ela, podia lhe tirar o fôlego.

- Você sempre cheira tão bem.

Raven se inclinou para trás para lhe abraçar o pescoço, inclinando a cabeça para tráz, para poder beijá-lo. No mesmo momento que seus lábios tocaram os dela, o fogo explodiu em seu interior, percorrendo seu sistema até que seu sangue se espessou e sua pulsação ficou evidente. Pressionou seu corpo mas perto do dela para que ela sentisse a evidência de seu desejo.

Ela riu brandamente.

- Você sempre faz com que esqueça o que estou fazendo. Acredito que deveria estar cozinhando o peru. Faz já tanto tempo e quero estar segura de que não cometerei nenhum engano. Convidamos os Ostojics. Os outros convidados se hospedarão na estalagem. Precisamos de comida humana e já que tive a idéia, não posso deixar que o prato principal de nosso menu não esteja em seu ponto.

- Sim. Pode cuidar do peru. - A voz de Mikhail se tornou matreira, de repente.

Raven, passeou pelo escritório de seu companheiro, com uma expressão completamente inocente. - O que está acontecendo, Mikhail?

- Estou pensando como dever ser um simpático Santa Claus.

Raven colocou as mãos no quadril, moveu a cabeça e o olhou de soslaio. – Você está tramando alguma coisa muito errada. Posso sentir sua risada. O que é tão divertido?

- Me acaba de ocorrer que tenho um genro.

Lentamente, um amplo sorriso encheu o rosto de Raven, enquanto um grito afogado obstruía sua garganta e sua mão procurou-a.

- Ele não pode. Gregori não. Assustará as crianças. Ele não poderia parecer alegre mesmo que tentasse.

- Nós deixamos que ele levasse nossa filha. - Disse Mikhail. - Acredito que sendo seu sogro, ele passará um mau bocado tentando rechaçar a idéia.

- E você diz que eu tenho um malvado senso de humor. - Acusou-lhe Raven.

- E acha que eu tenho? - Disse Mikhail, com uma voz que beirava o suspiro.

A resposta familiar lhe formigou através da coluna. Raven adorava a forma em que cada toque de Mikhail parecia tão íntimo.

- Ele nunca aceitará. Nem em um milhão de anos e você ainda deverá fazê-lo, mas eu gostaria de ver sua cara quando você fizer o pedido.

- Não tenho intenção de lhe pedir. - Negou Mikhail, levantando. - Sou seu príncipe além de seu sogro e ele é o segundo homem depois de mim e é meu genro. É seu dever fazer estas coisas.

- Não pode lhe ordenar que seja Santa Claus. - Raven tentava desesperadamente ocultar a risada que teimava em sair. Gregori era um dos homens mas intimidantes que havia conhecido. A idéia de considerá-lo como Santa Claus era hilariante e absurda ao mesmo tempo.

- Acredito que posso, Raven. - Mikhail disse, solenemente. - Você me ordenou e eu sou o príncipe.

Raven sorriu. – Acredito que preferiria que me prostrasse a seus pés.

Suas mãos lhe emolduraram o rosto, se inclinando para tomar posse de sua boca. Adorava seus lábios, seu sabor... Sua resposta instantânea. – Eu poderia te beijar o tempo todo.

- Muito bem, já que você chutou, gritou e me arrastou a seu mundo. Raven fechou os olhos e se deixou arrastar pela magia de seus beijos. Rodeou-lhe o pescoço com os braços abandonando a ele, esperando sentir a forma de seu corpo tão real e vivo contra o seu.

Houvera muitas tentativas de assassinato contra Mikhail. Recentemente haviam perdido um de seus homens numa batalha feroz lutando contra as forças combinadas de Razvan, um mago e vampiros. Nunca se tinha ouvido dizer que vampiros se aliassem entre eles ou com outras espécies.

Assustava-lhe pensar que houvesse uma conspiração para matar Mikhail. Seu temor em lhe perder era em parte a razão de que tivesse sugerido uma enorme celebração natalina. Precisava de alguma coisa para afastar momentaneamente de sua mente os crescentes medos por sua segurança.

Mikhail levantou a cabeça, retendo a posse de seu rosto. - Não precisa temer por minha segurança, Raven.

O sorriso se escureceu em Raven, enquanto ela dava um passo para trás, afastando de seu companheiro. - Terá que se cuidar, Mikhail. – Ela olhou através do bosque, com um sobressalto. – Vem alguém.

- É somente uma jovenzinha Raven, ninguém se assustará dela. - Mikhail aproximou a mão dela dos lábios e beijou-a. - Nunca o vi tão nervosa.

- Estou tentando aceitar que nós não mudamos Mikhail, mas com o passar dos anos, o perigo para você aumentou. Tento viver a vida o mais normal possível, mas agora não posso, quando é imperativo te proteçõesr, superar repulsa de descansar na terra. Meu terror de ser enterrada viva nos faz mas vulneráveis que nunca. - Envergonhada, ela abaixou a cabeça, evitando seus olhos.

- Raven, meu amor. – Mikhail baixou a cabeça mais uma vez para ela e seus lábios roçaram os dela com uma ternura que encheu de lágrimas seus olhos. – Faço uma promessa a você e a manterei. Nunca mas terá que dormir sob a terra. A terra nos rejuvenesce em nossa casa não precisa sentir que de algum modo minha vida está em perigo. Você é minha vida. Não poderia nunca te colocar em perigo. Se acha que dormir em nossa casa é perigoso, encontrarei outro lugar.

Os olhos dela procuraram os seus e sua mente se estendeu até a dele ao mesmo tempo, procurando a verdade. Ela sabia que Mikhail havia levantado fortes proteções para protegê-los, mas ainda sentia medo por eles devido a sua aversão a ir para a terra.

O rumor das folhas no solo, do caminho de sua casa os alertou, Mikhail moveu sigilosamente seu corpo para ocultar sua companheira. Uma jovem emergiu do meio das árvores frondosas. Parecia assustada, mas decidida. Era proporcionalmente alta, com o cabelo negro despenteado e com mechas vermelhas. Tinha a pele de uma jovenzinha mas os olhos de alguém muito mais velha.

- Skyler. - Mikhail a identificou para Raven. Gabriel e Francesca a adotaram-na. Os dois, deram-lhe seu sangue.- Ela é humana, mas carga com uma poderosa linha de sangue. É uma psíquica muito poderosa.

Raven sorriu para a adolescente. – Ela está preocupada que os homens Cárpatos possam reclamá-la agora que tem dezesseis anos. É muito jovem para se preocupar com essas coisas.

—Você deve ser Skyler. Que bem que veio nos visitar. Possivelmente queira vir comigo e conversar enquanto comprovo o peru.

—Não vejo Gabriel com você. - Mikhail a saudou mordazmente. Esta garota representava a esperança de sua raça e estava passeando pelo bosque sem escolta.

- Mikhail! não a assuste.

- Há lobos no bosque assim como a possibilidade de inimigos.

Skyler parou abruptamente e seu olhar encontrou o de Mikhail. Por um momento seus olhos escuros chocaram desafiantes, com os olhos negros dele

- Gabriel confia em mim para vir a sua casa. Não sou uma menina.

- Posso notar. Eu sou Mikhail e esta é minha companheira Raven. Gabriel e Francesca falam de você freqüentemente, sinto-me como se a conhecesse. Me perdoe se me mostrei preocupado por uma jovenzinha a qual a vejo como parte de minha família.

Um breve sorriso saiu da boca de Skyler

—Tenho que admitir, Senhor Dubrinsky, isso deveria ter me feito sentir como um verme, mas não é assim. Estou aqui porque quero deixar absolutamente claro de que eu não sou uma companheira para ninguém.

Uma sombra passou acima da lua, ocultando brevemente a luz que se espalhava pelo bosque. Os morcegos revoavam, inundando num insalubre frenesi pelo céu noturno.

Mikhail permaneceu de pé, procurando no bosque de ao redor com seus sentidos sobrenaturais. Gesticulou imperiosamente para a porta que Raven mantinha aberta. Seguiram Skyler para dentro.

—Está segura disto?

O aroma do peru enchia a casa e Mikhail ocultou sua natural repulsão aos aromas da carne cozinhando. Os aromas do passado freqüentemente reconfortavam Raven. Aconteciam inconscientemente, mas ele sentia sua felicidade, como se o peru no forno fosse uma parte importante de sua vida, uma boa lembrança de sua infância, então ele tomava cuidado de não lhe arruinar essa ilusão. Raven lhe lançou um pequeno sorriso como se tivesse ouvido ou lido seus pensamentos, apesar de seu grosso escudo. Tinha que ficar esperto. As aptidões e poderes dela cresciam diariamente.

Skyler olhou aos altos tetos e o espaço aberto antes que seu olhar pousasse nas três enormes janelas de vidraças coloridas. Sua face se elevou e caminhou para elas.

- Este é um trabalho de Francesca, não são maravilhosas? Ajudei-a com esta. – Ela virou a cabeça para estudar as vibrantes cores. - Ainda não aprendi a colocar as salvaguardas no vidro. Posso fazê-las nas colchas, mas no vidro é muito mas complicado. —Olhou para Raven.

- Já permaneceram sob o sol do ocaso e sentido seu conforto?—Skyler se moveu uma polegada à esquerda. - Aqui mesmo. Se permanecerem aqui neste ponto, quando acontecem os últimos raios de luz, sentirão.

—É um trabalho precioso. - Disse Raven - Se pudesse, eu gostaria de ter cada janela com o trabalho de Francesca. Não sabia que você a ajudava.

—Tenho algum talento, nem de perto tão poderoso como o dela, mas ela está me ensinando a desenvolvê-lo. Espero ser sua colaboradora algum dia. - O sorriso a abandonou, deixando seus olhos sombrios. Ele colocou as mechas de seu cabelo negro para trás, revelando uma pequena e crescente cicatriz em sua têmpora e outras cicatrizes em suas mãos e antebraços. Skyler parecia ser consciente de seus nervosos movimentos e juntou as mãos. Seu queixo se elevou um pouco.

—Ouvi rumores de uma festa que acontecerá, onde os homens se reunirão para ver se conseguem ser compatíveis com alguma das mulheres...

—Não temos mulheres. – Particularizou, Mikhail. —Não há festas e não virão homens quando não há mulheres.

A boca de Skyler se fechou numa linha rebelde e ela seguiu o casal à cozinha.

—Gabriel e Francesca me tratam como se fosse da família.

Mikhail assentiu.

—Querem-na como se fosse sua filha. – Ele inalou profundamente, levando a fragrância dela a seus pulmões. – Você leva seu sangue através damor. Por sangue ou qualquer outro caso, você é filha deles.

—Ofereceram-me se converter quando estiver com vinte e um anos e estou considerando o caso, mas quero a segurança de que o Senhor não me obrigará a ficar com um homem... Com qualquer homem.

—Ninguém a forçará a nada. - Disse Raven. —Gabriel é um homem poderoso, não acha que ele possa te proteger?

—É obvio que me protegerá. Não quero que Gabriel ou Francesca tenham que me proteger. Se passo pela conversão não quero que ninguém tente me reclamar.

—É consciente da premente situação de nossa gente? De nossos homens? — Exigiu Mikhail.

Raven colocou uma mão em seu braço.

—Sente, Skyler. Vou traer alguma coisa de comer ou beber? Tenho suco na geladeira.

Sem romper o contato visual com o Mikhail, a adolescente se sentou em uma cadeira com um assentimento quase régio.

—Sim, obrigado. Suco estaria bem.

- Ela está aterrorizada, Mikhail, mas decidida que você a ouça.

Havia admiração... E advertência na suave mensagem de Raven a seu companheiro. Raven serviu um copo de suco de laranja e o colocou diante de Skyler.

A cabeça de Mikhail se elevou alerta e ele se aproximou da janela, seu olhar era inquieto enquanto buscava na escuridão. Sentia a presença de lobos e corujas que caçavam em busca de presas, mas nada disso causaria a intranqüilidade que sentia retorcer em suas vísceras. Baixou o olhar para a adolescente desafiante, provando gentilmente sua mente... E suas lembranças. Encontrou os escudos de Francesca e Gabriel que ajudavam a distanciar à garota da brutalidade de sua vida antes que estivesse a seu cargo, mas inclusive com esse amparo, as lembranças da maligna crueldade e violência contra Skyler o adoeceram.

Mikhail olhou fixamente para Raven e viu lágrimas brilhando em seus olhos quando compartilhou o passado de Skyler... quando sentiu sua dor e desespero... a absoluta desesperança de uma menina que não poderia escapar de um mundo adulto depravado. Raven foi apressadamente para o forno para comprovar o peru.

—Cheira bem. - Disse Skyler.

—Usei um recheio de arroz silvestre. - Disse Raven. – Lembro-me de minha infância. Levou um pouco de tempo acertar a receita, mas deve estar bem, embora há tempo que não cozinho nada.

—Francesca me deixa cozinhar sempre que quero. Ela confia em mim para que tome minhas próprias decisões. —Skyler olhou fixamente para Mikhail.

—É consciente do que acontece a um homem dos Cárpatos sem sua companheira? - Perguntou Mikhail, sua voz foi exigente.

Skyler assentiu.

—Gabriel e Francesca me explicaram isso. Perdem as cores e as emoções. Depois de centenas de anos a honra pode desaparecer e se tornam perigosos, especialmente os caçadores, qualquer que se cobre vidas. E finalmente se convertem em vampiros, a mais perversa das criaturas.

—E abandonaria seu companheiro a esse destino? Seria tão cruel e desumana? Deveria ele sofrer mais do que já sofreu, pelo que você faça?

- Mikhail! - Raven se voltou, com surpresa na face. - É uma menina. Como pôde? Entregar nossa filha a Gregori quando não era mais que uma principiante já foi bastante ruim, mas esta menina sofreu muito. E não temos forma de saber se é a companheira de algum de nossos homens.

- Ela é muito amadurecida para seus anos humanos, Raven. Deixe-a responder.

Skyler colocou cuidadosamente o copo na mesa e ficou em pé, cruzando os braços enquanto enfrentava Mikhail diretamente.

—Não, é claro que não. Não gostaria que ninguém sofresse, mas não posso me sobrepor a certas coisas de meu passado. – Ela manteve suas mãos trêmulasr ante ela. - Não me sinto cômoda na presença de homens. Não sou capaz de ser a companheira de ninguém e não gostaria ser forçada a uma posição onde não tenha escolha ou nada a dizer sobre minha vida. Não cheguei a esta conclusão rapidamente. Quero bem a Gabriel e indubitavelmente não gostaria de pensar nele morto ou sofrendo ou se convertendo em vampiro, mas sei que não posso voltar atrás, para ver-me impotente. Os homens dos Cárpatos são muito dominadores e eu me encontraria deslizando de volta a esse escuro lugar onde Francesca me encontrou pela primeira vez.

Mikhail franziu o cenho.

—Acrtedita que nossas mulheres precisam de poder? É assim como vê Francesca?

Skyler sacudiu a cabeça.

—Francesca é amada e corresponde esse amor. Ela pode fazer o que eu não posso... E nunca poderei fazer. Gabriel me prometeu... E Lucian também...Que nunca deixaria que ninguém forçasse minha conformidade, mas sei que um homem dos Cárpatos tem a capacidade de unir a ele, uma mulher dos Cárpatos. Quero ser completamente a filha de Gabriel e Francesca, mas não quero estar sujeita às leis de seu mundo.

- Ela não sabe que seu companheiro poderia uni-la a ele em seu estado humano.- Mikhail se estendeu para Raven, sem saber de repente o que fazer ou dizer a esta menina-mulher. - Por que Francesca e Gabriel e mesmo Lucian ocultaram dela esta informação?

- Skyler – ele disse em voz alta - um homem dos Cárpatos coloca sua companheira acima de tudo. Ele cuidará de suas necessidades e terá paciência contigo. É jovem ainda. Não tem nem idéia de como se sentirá daqui a algins anos.

— Eu sei.

—E sentenciaria um homem dos Cárpatos, um que entregou várias vidas de serviço à morte... Ou pior... A não-morte, por seu medo?

—Suas decisões não tem nada a ver comigo.

—E a raça dos Cárpatos? Nossa espécie está quase extinta. Não podemos continuar existindo sem mulheres e filhos. Uma mulher pode ser a diferença. Uma mulher pode salvar um homem e dar a luz a um filho.

—Vejo Francesca lutar para ser fiel a sua natureza e ela é uma mulher forte. Gabriel é muito protetor e se desgosta que ela vá a nenhum lugar sem ele.

Mikhail levantou de repente uma barreira em sua mente para impedir que Raven a lesse. Gabriel estava preocupado porque seus inimigos podiam agredir as mulheres, mas havia permitide Skyler andar nos bosques. Ou não?

—Você mencionou a abriel que vinha nos ver?

Skyler arrastou a ponta de sua bota sobre o assoalho da cozinha.

—Pode ser que eu tenha esquecido. Ele estava ocupado ajudando a Francesca a assar pão de gengibre para a casa que estamos fazendo para as crianças.

Raven removeu o peru em silêncio, dando voltas aos medos de Skyler, em sua mente.

—Contra o que luta Francesca, Skyler? —Perguntou.

Skyler encolheu os homens.

—Contra o que luta você?

Mikhail ficou ligeiramente surpreso pela réplica da adolescente humana. Soava muito amadurecida para sua idade e isso era um perigo que não havia considerado. Se Gabriel e Francesca tivessem pensado nos riscos potenciais antes de levar Skyler a sua terra natal, teriam mencionado sua maturidade a ele. Ela somente tinha dezesseis anos... Quase um bebê para seus padrões, mas suas experiências a fizeram crescer além de seus anos físicos. Parecia... E falava... Como uma adulta. Sua voz dispararia as terríveis necessidades dos homens dos Cárpatos? Se ela eraassim e restaurava a cor e a emoção para seu companheiro antes de poder enfrentar as necessidades deste, poderia ser perigoso para o homem, já que ela não estava pronta para ficar com ele. Com freqüência, ser um companheiro... E a intensa consciencia sexual e a necessidade... Vinham antes damor e mesmo do afeto.

Raven tocou sua mão... Um pequeno gesto, mas foi suficiente para aliviar seu espírito. Ela sorriu para a adolescente.

—Luto com a terrível carga de que tantas vidas que dependem de meu companheiro e com o conhecimento de tantos que o desejam morto. E luto com minha própria inépcia. Ainda há muitos aspectos da vida Cárpato que não posso aceitar e isso é um perigo a mais para meu companheiro.

Ela sorriu para Mikhail. O puramor que brilhava em seus olhos fez com que formasse um nó na garganta.

- Nunca, nenhuma só vez e em nenhum momento, me arrependi de ser a companheira deste homem. Acredito que você subestima suas próprias capacidades, Skyler. É uma jovenzinha muito valente. É muito jovem para contemplar e aceitar um homem dos Cárpatos, mas cedo ou tarde alcançará seu pleno poder e potencial. A maioria dos homens não têm idéia de em que irão se meter. – Ela piscou um olho à garota. - Leva tempo desenvolver habilidades e poder e a maioria de nós somos muito jovens, mas aprendemos rapidamente utilizando o vínculo mental.

Skyler assentiu.

—Gabriel e Francesca me ensinaram compartilhando informação telepáticamente e o acho bem mais detalhado que a conversa. Posso ver como aprenderia muito mais rapidamente.

—Como está o bebê? - Houve um sobressalto na voz de Raven e ela não se atreveu a olhar Mikhail. É obvio que ele notaria... Sempre o notava.

O olhar dele encontrou o seu... Agudo... Consciente, deslizando sobre seu corpo com muito conhecimento. Não lhe havia dito que poderia ficar grávida... o momento era ótimo e se deixavam passar a oportunidade poderiam acontecer anos antes que acontecesse novamente. Envergonhada por ter medo, pela dor e a culpa que acompanhava perder semelhante oportunidade, Raven afastou o olhar dele.

—E às vezes, Skyler, luto contra minha própria debilidade e meus medos, mas nunca... Nunca... Contra ser a companheira de Mikhail.

Skyler, obviamente empática, se aproximou de Raven, como se sua cercania pudesse reduzir a tristeza dela.

—Acho que todos nós fazemos isso, não é? - Ela olhou para Mikhail, em busca de confirmação.

Mikhail tocou o cabelo de Raven e seus dedos eram gentis. Raven, seu amor. Sua voz na mente dela foi imensamente terna. Todos os homens dos Cárpatos sabiam quando sua companheira podia conceber. - Você é tudo o que sempre desejei. Quando estiver preparada... Somente quando estiver preparada... Tentaremos novamente. – Ele sorriu a Skyler, enquanto seu olhar acariciava sua companheira.

—É uma jovenzinha muito sábia.

Nuvens escuras passaram sobre a lua, obscurecendo momentaneamente os céus e lançando sombras macabras ao interior da enorme cozinha. A silhueta de um grande lobo passou diante da janela, como se uma enorme criatura se arrastasse até o alpendre e passeasse lá fora.

Eles viraram instintivamente para a segunda janela que estava sobre a pia. Skyler soltou um gritamortecido quando uma grande cabeça de pelagem negra e olhos que brilhavam quase vermelhos, olhana para eles através do cristal.

—Fique aqui dentro. - Ordenou Mikhail, enquanto brilhava... Primeiro até a transparência... E depois dissolvendo em vapor, flutuando pela cozinha para deslizar sob a porta, até a noite.

O lobo desapareceu bruscamente deixando às duas mulheres olhando à escuridão.

—Pode ter side Gabriel ou Lucian me comprovando. - Aventurou Skyler. - Com freqüência tomam a forma de um lobo.

Raven sacudiu a cabeça.

—Teriam entrado na casa, falado com Mikhail e lhe teriam feito saber que estavam preocupados.

Skyler colocou-lhe uma mão consoladora no braço, algo difícil para ela que não gostava ser tocada ou tocar alguem.

—Há uma dúzia de homens dos Cárpatos nos arredores, se o príncipe precisar de ajuda, só tem que chamar.

Raven lhe sorriu, com uma mão na garganta.

—É claro que pode fazê-lo. O que está aí fora não me parece que seja uma ameaça. —Na forma de um animal, seria bastante fácil para um Cárpato hábil... Ou vampiro... Ocultar suas intenções, mas Raven não ia reconhecer isso ante Skyler. - Mikhail nos fará saber se algo está errado. Enquanto isso, tenho esse peru no forno. Alguma vez assou um peru? Faz muito tempo desde que fiz um parecido e você poderia me ser de boa ajuda.

Skyler riu.

—Temos um agovernanta. Ela quem cozinha, mas me deixa entrar por lá de vez em quando, mas na verdade, ela não gosta que ninguém se entremeta. Finge que não a incomoda, mas eu sei que sim.

—É claro que sabe. É empática, pode sentir o que ela sente. Isso deve ser um incômodo para você.

—Gabriel e Francesca estão me ensinando a aprender a isolar a mim mesma. Por ora não domino, mas acredito que cedo ou tarde serei bastante boa nisso. Francesca me ajuda a me proteçõesr quando está acordada.

—Por que quer que a convertam?

—Eles são minha família. Quero estar com eles.

—E ambos intercambiaram sangue contigo?

Skyler assentiu.

—Só precisará de um único intercâmbio de sangue para a conversão. Gabriel me explicou, mas ele quer que eu espere até que seja maior. Acredita que precido de mais tempo para pensar, mas eu sei o que quero. Enquanto o príncipe não insistir em que eu tome um homem dos Cárpatos como companheiro, seguirei tentando que Gabriel faça logo que seja possível.

—É difícil para seu corpo, Skyler. - Advertiu Raven. - Há uma muita dor contra a qual não podem te proteger.

—Posso sentir que está nervosa, Raven. Há algo que não me está contando.

Raven tinha sido completamente humana, igual a Skyler e possuia um forte talento psíquico. Podia sentir que o sangue Cárpato já aumentava a consciencia e os sentidos de Skyler. A garota era pronta e tinha poder com seus talentos psíquicos bem desenvolvidos. Raven ainda se lembrava desses dias, da sensação de alguém se impondo sobre as suas, aguda e terrível. Havia um ar de maldade e depravação e alguém tão empático como Skyler devia ser protegido do assalto contínuo. Não a surpreendia que Gabriel e Francesca tivessem dado seu sangue para ajudar a protegê-la.

—Acredito que já sabe o que não te estou contando, Skyler. Veio aqui não para pedir segurança a Mikhail, mas para lhe fazer consciente de suas fortes objeções. Francesca e Gabriel nunca tentariam te ocultar a verdade... Que seu autêntico companheiro pode te unir a ele seja humana ou Cárpato. Se for a outra metade de sua alma, pode uni-los para sempre. Sabia disso, não é?

Skyler se ruborizou enquanto assentia com a cabeça.

—Sinto muito, não deveria ter mentido. Às vezes aprendo mais fingindo ignorância. A maioria das pessoas não dá crédito a uma adolescente, quanto a inteligência ou maturidade. Posso pedir amparo contra ele, certo?

Raven estudou seus olhos muito velhos.

—Conheceu seu companheiro?

- Skyler sacudiu a cabeça e seu olhar se afastou, veloz.

—Tenho pesadelos. Às vezes ouço vozes e tenho medo. —Ela pensou. - Quando era pequena e os homens me faziam coisas, gritava e gritava em minha mente. Ouvia uma voz que me chamava. Às vezes simplesmente pensava que estava ficando louca. Mas, sei que ele está aí fora em alguma parte e está me procurando. – Ela esfregou o ponto entre os olhos. - Não queria vir às Montanhas dos Cárpatos porque estava medo de que ele pudesse estar aqui, mas Gabriel e Francesca não iriam me deixar para trás. Gabriel disse que eu precisava de amparo todo o tempo.

O coração de Raven saltou no peito.

—Ele disse isto?

Skyler assentiu.

—Ele se tornou estranho ultimamente e não quer que nem Francesca nem eu vamos a parte alguma sem ele. Posso ver que ela está irritada, mas não diz nada. Trabalha no hospital e em alguns dos refúgios e eu a acompanho com freqüência, mas ele já não gosta que ela vá.

Raven se ocupou do peru, virando-o outra vez, embora não havia necessidade.

—Quando começou a incomodar Gabriel, de vocês saírem sozinhas? —Ela manteve a voz casual, mas captou o olhar agudo da garota.

—Depois do ataque ao príncipe.

- Não há nada que temer aqui, Raven. Um dos homens estava dando uma volta pelo bosque, mas notou que tínhamos companhia. Vou ver meu irmão. Não deixe que Skyler volte para bosque sem uma escolta.

- Deveria me preocupar com algo, Mikhail?

Raven sentiu uma breve duvida. - Não sei. Estou intranqüilo mas não há razão real para estar.

- Tome cuidado, Mikhail. Se assegure. O que vai discutir com Jacques?

Raven sentiu a súbita diversão dele. A imagem de Gregori vestido de Santa Claus e rodeado de crianças.

 

Mikhail se inclinou para beijar a Shea Dubrinsky na face.

—Parece você um pouco grávida, senhora.

Sua cunhada soprou, afastando as mechas de brilhante cabelo vermelho do rosto.

—Você acha? Se não ter este bebê logo, juro que vou explodir.

—Também parece preocupada. Algo está errado? - Olhou ao redor procurando seu irmão. Jacques raramente se afastava do lado de sua companheira.

Um lento sorriso iluminou a face de Shea.

—Está na cozinha... Assando.

As sobrancelhas de Mikhail se elevaram, rapidamente.

—Acredito que não a ouvi claramente.

—É verdade. Minhas costas estiveram doendo intermitentemente toda a noite e estou tendo problemas com essa receita. O pior é que Raven, Corrine, e eu conseguimos a maior parte das receitas, para todo mundo. Eram as favoritas da infância de Raven e umas poucas que eu me lembrava. Corrine preencheu o resto e agora não posso com esssa. É um pouco humilhante admitir, mas pareço estar muito sensível. Acabei chorando assim Jacques se ocupou em assar.

Mikhail se engasgou e se virou para esclarecer cortesmente a garganta. - Jacques está cozinhando!!!

O sorriso dela se ampliou.

—Bem... Está tentando. Não tivemos muito êxito até o momento e acredito que ele está aprendendo novas palavras. – Ela inclinou a cabeça e o brilhante cabelo vermelho caiu ao redor de seu rosto, enfatizando sua estrutura óssea clássica. - Possivelmente poderia lhe dar uma mão. Vamos entre, ele se alegrará em te ver. —Ela ergueu os olhos, num gesto de enfado. - Sua Majestade está me dando instruções para que brinque um momento.

Mikhail lhe dedicou uma careta feroz.

—Então faça imediatamente, Shea. Não está em trabalho de parto, está? Chamarei Francesca e Gregori para que lhe examinem.

—Sou médica, Mikhail. – Lembrou-lhe, Shea. - Saberia se estivesse. Estou perto, possivelmente a ponto... Mas não está acontecendo ainda. —Ela ondeou a mão enquanto se aproximava da porta oculta que conduzia ao porão. - Te prometo que os chamarei se precisar. Nunca arriscaria que acontecesse algo a meu bebê. Só estou cansada.

Mikhail a observou desaparecer antes entrar na espaçosa casa, até a cozinha. Parou bruscamente na soleira da porta, para olhar seu irmão com surpresa. Uma nuvem de partículas brancas carregava o ar e caía no chão, como flocos de neve. O pó estava em todas partes, no chão, nos pratos, nas tigelas que cobriam os balcões e na pia. Jacques estava de pé ante o mostrador, com um avental sobre a roupa e uma fina camada de pó branco sobre o rosto, nas sobrancelhas, seus olhos e seu cabelo negro como a meia noite.

Mikhail estalou em gargalhadas. Mesmo com Raven, que constantemente o divertia, raramente soltava uma risada profunda, mas a visão de seu irmão normalmente anti-social coberto de farinha e suando muito foi demais para ele.

Jacques se voltou e seus olhos brilhavam com uma advertência ameaçadora... A fisionomia tão feroz que teria intimidado ao mais forte e valente dos guerreiros. Uma fina cicatriz branca rodeava sua garganta e marcava sua queixo e um dos lados da face, mostrando a evidência de seu passado. Era extremamente estranho ver cicatrizes num corpo Cárpato, já que se curavam facilmente, mas o corpo de Jacques mostrava a evidência de uma tortura brutal e provavelmente sempre teria. A fina cicatriz ao redor de sua garganta e a marca profunda em seu peito indicavam onde a estaca havia sido introduzida no interior de seu corpo.

—Não é divertido.

—É muito divertido. - Insistiu Mikhail. Era a primeira vez que Mikhail podia se lembrar de seu irmão com aspecto desconcertado. Shea não só havia lhe salvado a vida e a prudência, mas também o trazido de volta à vida, com sua alegria e humor. Mikhail compartilhou a imagem de seu irmão com Raven. S eu riso lhe encheu a mente e verteu sobre ele com amor. Ele possuía tanta intimidade com Raven, uma intimidade que sabia que seu irmão compartilhava com Shea... E isso havia salvado a vida de Jacques. Por isso Mikhail sempre apreciaria sua cunhada. – Até Raven está achando a situação divertida.

—Raven. Não pronuncie seu nome agora. Ela foi quem me meteu nisto. - Jacques soprou para cima com a esperança de tirar a farinha das pálpebras.

—Acredito que é a Shea que ela está ajudando. - Assinalou Mikhail, o sorriso se negava a abandonar seu rosto.

—Shea estava aqui chorando. Chorando, Mikhail. Estava sentada no meio do chão e chorando por uma estúpida receita de pão. —Jacques franziu o cenho e olhou ao redor, baixando a voz. - Não pude suportar vê-la assim.

Por um momento, Jacques pareceu completamente indefeso, em vez do perigoso caçador que Mikhail sabia que era.

—Quem pensaria que o pão pudesse explodir? A massa se elevou e se converteu num vulcão, derramando e cruzando o mostrador, até pensei que estava viva. - Jacques sacudiu uma parte de papel coberto de farinha. – É a receita e diz para cobrir com um pano de cozinha. O pano de cozinha não serve muito para conter essa horrível beberagem borbulhante.

Mikhail pressionou uma mão contra o lado. Não ria tanto há centenas de anos.

—Só posso dizer que me alegro de não ter visto.

—Deixe de rir e entre aqui para me ajudar.— Havia um fio de desespero na voz de Jacques. - Por alguma razão isto não tem para mim nenhum sentido e Shea está decidida a fazer este pão para a festa. Ela ao quer em barras e colocado no forno. Este é minha terceira tentativa. Eu acreditava que as pessoas iam às lojas e comprava esta coisa.

—Eu caço vampiros, Jacques. - Disse Mikhail. - Fazer de pão não pode ser tão difícil.

—Diz isso agora, porque não tentou fazer. Vêm aqui e feche a porta. - Jacques passou o braço pelo rosto, deixando mais farinha por toda parte. - Tenho que falar com você, mesmo. – Ele tocou a mente de Shea para se assegurar de que ela estava a distância. Seu olhar voltou para a massa, evitando os olhos penetrantes de seu irmão. - Shea esteve se correspondendo com uma mulher que acredita que pode ser uma parente longínqua.

O sorriso empalideceu o rosto de Mikhail.

—Desde quando?

—Perto de um ano. A mulher encontrou fotografias em seu apartamento e aparentemente está em sua genealogia. Escreveu a Shea lhe perguntando se poderiam ser aparentadas. Acredita que Shea é a neta de Maggie em vez de sua filha. Shea queria as fotos de sua mãe e lhe respondeu.

Mikhail afogou o gemido que ameaçava surgir.

—Jacques. Você é mais preparado que isso. Em primeiro lugar como ela encontrou Shea? Tomamos cuidado em não deixar rastro.

—Agora com os computadores não é difícil Mikhail e Shea precisa deles para investigar seus trabalhos. Os atalhos a levam a muitos lugares.

—Nunca deveria ter respondido ao contato.

—Eu sei. Não deveria ter permitido, mas ela renunciou a tanto para estar comigo. Eu não sou como o resto de vocês e nunca o serei. Sabe disso.— Ele afastou o olhar de seu irmão e a dor que ondeava no ar entre eles. - Ela merece algo melhor e eu quis lhe oferecer um pequeno presente. Escrever a alguém com quem poderia estar aparentada e que afirmava ter fotos de sua mãe... Como poderia resistir? E não pude me obrigar a negar-lhe.

—Sabe que é perigoso. Sabe que não podemos deixar rastros de papel. Qualquer contato com humanos é arriscado, especialmente um desse tipo. Coloca a todos nós em perigo. A todos.

Jacques golpeou a massa com força sobre o balcão.

—Shea esteve investigando por que perdemos bebês, mesmo enquanto está grávida de nosso filho. Ela investigou a morte de trinta crianças de menos de um ano. O que acha que lhe faz isso? - Seu punho se estrelou contra a massa. – Ela está a ponto de dar a luz e está amedrontada. Tenta ,e ocultar isso mas nunca fui capaz de lhe permitir sequer uma privacidade limitada. —A admissão de debilidade o envergonhava, mas Jacques queria que seu irmão soubesse a verdade. – Ela suporta a carga de minha prudência a cada momento de sua existência.

—Jacques, você ama Shea.

—Ela é minha vida, minha alma. E você sabe, disso Mikhail, mas isso não torna mais fácil viver comigo. Não posso suportar que outros homens se aproximem. Sempre sou uma sombra em sua mente e quase enlouqueço a nós dois, me preocupando com sua gravidez... Me preocupando com ela. Se algo lhe acontecer...

—Shea dará a luz e a criança será sadia. - Disse Mikhail, elevando uma prece silenciosa para que fosse verdade. - Francesca e Gregori se ocuparão de que Shea esteja bem de saúde. Tenho fé absoluta em que não permitirá que aconteça nada a sua companheira enquanto isso.

—Ele me suplicou que prometesse que ficaria no mundo e criaria nosso filho se algo ocorresse. —Jacques elevou seus olhos angustiados para seu irmão. – Após sua terrível infância, poderá entender por que precisa de semelhante tranqüilidade de mim. — Ele esfregou o rosto, com aspecto de estar cansado e afligido pela dor. - Sabe que não posso existir sem ela. Ela é minha prudência. É a único coisa que me pediu e não posso prometer com toda segurança, por mais que deseje reconfortá-la.

—O que sabe dessa mulher?

Era a única desculpa que Jacques podia dar a seu irmão. Ao permitir que Shea correspondesse com uma desconhecida, uma humana que não conhecia sua espécie, havia aberto a porta, colocando em perigo a toda a raça. A mulher, Eileen Fitzpatrick, havia enviado a Shea numerosas fotos de Maggie. A mãe de Shea e uma mulher que Eileen afirmava era meia irmã de Maggie. Aparentemente a meio irmã era a avó de Eileen.

—Como encontrou aShea?

Jacques se encolheu de ombros.

—Internet. Shea investiga genealogias todo o tempo.

A sobrancelha de Mikhail se elevou.

—Por que? Já não é mais humana, mas Cárpato.

—E aparentemente ainda precisa da genealogia para sua investigação, Mikhail. - Disse Jacques. - Não só a de Shea, mas a de Raven, Alexandra e Jaxon... De todas elas e de nossas famílias. Gregori e Francesca se ocupam da genealogia Cárpato necessária para a investigação das mortes de nossos filhos.

—E esta Eileen a encontrou através do lugar sobre genealogia no qual Shea estava trabalhando? —Animou Mikhail.

Jacques assentiu, totalmente consciente da contínua censura de Mikhail.

—Eileen nasceu na Irlanda, mas se mudou para os Estados Unidos. Pedi ao Aidan que desse uma olhada discretamente nela. Ela possui uma livraria em São Francisco e passa grande parte de seu tempo investigando a história de sua família na biblioteca, utilizando seus computadores.

—Pelo menos essa mulher está longe. —Enquanto falava, Mikhail franzia o cenho, suas sobrancelhas escuras se uniam e uma interrogação marcou sua face. Ele leu a verdade na face de Jacques. – Ela está aqui?

—Estará na estalagem esta noite. Eileen perguntou a Shea, o que ela faria no Natal e Shea pensou que era natural para um humano estar cozinhando para os filhos e celebrar uma festa de Natal, Então mencionou.

Mikhail observou Jacques passar pau de macarrão de madeira sobre a massa, para aplaná-la.

—Eu não gosto de nada desta festa. Deveria ter dito a Raven que não fizesse. Ultimamente tem me ocorrido, que uma hora ou outra nossos inimigos pegarão nossas mulheres e filhos. Que melhor momento que agora, com tantos de nos reunimos num só lugar?

—Raven tinha razão, Mikhail. Depois do último atentado contra sua vida, todos precisamos de alguma coisa que alivie nossos espíritos. Admitirei que estou mais intranqüilo que o normal, mas suspeito que seja porque Shea está a ponto de dar a luz.

—Possivelmente... —disse Mikhail. - Possivelmente.

—Não acredito que nossos inimigos sejam capazes de se congregar tão rapidamente para lançar outro ataque concentrado contra nós Mikhail, mas é claro tomaremos todas as precauções. —Jacques estirou a massa com mais entusiasmo que habilidade e atirou um punhado de farinha sobre ela, enviando outra nuvem de partículas brancas no ar.

Mikhail não podia afastar seu olhar fascinado do desastre que seu irmão parecia estar fazendo.

—Onde está Shea agora? — Ele baixou a voz.

—Deveria estar deitada. Não está se sentindo muito bem.

—É possível que os vampiros não possam se congregar, mas a sociedade que trabalha contra, sempre nos encontrou aqui nas montanhas. Têm espiões e é completamente possível que tenham ouvido falar desta reunião. Um ou mais dos habitantes da localidade têm que estar a seu serviço. E é claro, nunca podemos esquecer que o mago escuro ainda está vivo.

Os olhos negros de Jacques brilharam ameaçadores, frios como o gelo e perigosos, recordando a Mikhail que mesmo com Shea para lhe estabilizar, Jacques era um homem ameaçador e letal. A farinha branca que cobria sua face e suas pálpebras não fazia nada para suavizar a ameaça que emanava dele.

- Deveríamos fazer varreduras regulares pelo povoado e as áreas circundantes e ver o que podemos obter.

Mikhail inalou profundamente e imediatamente começou a tossir quando partículas de farinha entraram em seus pulmões. Gostava da maioria das pessoas do povoado, possuía amizade genuína com alguns deles e a idéia de invadir continuamente sua privacidade o repugnava, embora sabia que era necessário.

Jacques olhou para ele.

—Posso me ocupar disso.

—Sabe tão bem como eu que nossos inimigos foram capazes de encontrar uma forma de evitar que os detectemos. Escanear continuamente e tomar sangue deliberadamente para monitorá-los somente roubará de nossos vizinhos, a privacidade a que têm direito. Nós não desejaríamos semelhante invasão deliberada de nossa privacidade. - Era uma velha discussão, mas uma que sempre fazia recordar a si mesmo, o que estava bem e o que estava mau.

- Trata de algo mais que os direitos de um homem, temos o dever de proteger nossas crianças, Mikhail e eu não deveria ter que te dizer isto. Quase perde a Raven três vezes já.

Mikhail conteve a sua própria fera interior que já se elevava, não faria nenhum bem converter esta inútil discussão numa briga. Jacques tinha um argumento válido, igual a Mikhail e no final, fariam o que fosse necessário para proteçõesr de sua raça.

Mikhail estudou a face retorcida de seu irmão. Jacques estava a beira da loucura quando Shea o resgatou e depois de todos os anos passados com ela, os demônios ainda o espreitavam, bem perto da superfície. No menor indício de perigo para Shea, o monstro se elevava rapidamente e tudo o que estivesse perto de Jacques podia estar em perigo.

—Jacques?

Ambos se viraram, ao som da voz de Shea. Estava em pé na soleira da porta, seu cabelo vermelho brilhante caía ao redor de sua face, atraindo a atenção sobre seus olhos verde esmeralda e os círculos escuros sob eles. - Senti que precisava de mim. O que aconteceu, homem selvagem?- Ela soava gentilmente divertida, enquanto o envolvia em sua calma e amor.

Jacques respirou e acalmou sua mente, súbitamente consciente de que inadvertidamente tinha apertado sua garra sobre Shea. - A outras pessoas pareço muito cordato, embora ainda estou fragmentado sem você. Sinto ter te incomodado.- Sua voz era íntima e gentil. um fluxo de emoções enquanto acolhia amor de sua vida. Algo suavizou em seu interior, aliviando o rugido dos demônios que se elevavam e da profunda raiva que nunca o abandonava, não importasse o quanto lutasse para sobrepor a seu passado. Nunca ficaria cômodo em companhia de humanos, como seu irmão ficava e não podia suprimir de todo a idéia de que essa invasão da privacidade bem podia valer a pena não só por sua própria paz mental, mas também por sua necessidade de manter a esta mulher a salvo, por toda a eternidade.

—Você está bonito. - Disse ela.

Jacques piscou, evitando os olhos de seu irmão.

—Os homens dos Cárpatos não são bonitos, Shea. Somos perigosos. Pareço perigoso sempre.

—Não, céu. - Insistiu Shea, roçande Mikhail ao passar por ele, quando entrou na cozinha. - Parece muito bonito, eu gostaria de tirar uma foto e mostrar a todos outros para que vejam o quanto você é doce, na verdade.

Jacques virou para ela, pegando-a nos braços antes que ela pudesse protestar, atraindo-a, de forma que a farinha espalhou sobre ela, parecendo neve em seu brilhante cabelo, cobrindo sua roupa e lhe polvilhando o queixo. Escondeu o rosto em seu pescoço, roçando-a enquanto esfregava o nariz contra a maciez de sua pele nua, mordiscando-a.

Shea riu, seu braço envolveu seu pescoço, protestando mesmo enquanto o abraçava. A estatura bem maior de Jacques a diminuiu e seu cabelo longo preso na nuca, caía-lhe pelas costas. Ela enredou os dedos nele, numa suave caricia.

Mikhail sentiu a emoção prenchê-lo, estrangulando-o. Uma rajada de afeto, de genuíno respeito e amor, tomou Mikhail e ele compartilhou esse pequeno momento com Raven. Shea Ou'Halleran não só salvara a vida e a prudência de seu irmão, mas também com Gregori, havia salvade Raven e a sua filha. Shea parecia tão frágil, com seus pequenos e delicados traços e seu ventre arredondado, mas ele conhecia a absoluta coragem e compromisso, a vontade de ferro que vivia e respirava dentro dela. Como humana, ela fora uma renomada cirurgiã e investigadora. Uma mulher brilhante como humana, e agora, como Cárpato, investia todas as suas habilidades em seu empenho por tentar salvar a sua espécie da extinção.

—Para ser totalmente honesta Jacques, a farinha e o avental diminuem a imagem de predador perigoso. - Disse Mikhail, unindo forças com ela imediatamente, zombando de seu irmão mais novo, embora risos e brincadeiras eram estranhas entre eles nesses dias.

Jacques voltou as costas para seu irmão, bem mais relaxado do que estivera segundos antes. A influência calmante de Shea fazia com que as chamas vermelhas retrocedessem em seus olhos e a marca da fúria abandonasse seus lábios.

—Não a anime. – Ele protestou.

Mikhail piscou um olho para Shea. Ela permanecia nos braços de seu irmão, com a cabeça recostada contra seu peito, sem se preocupar com a farinha que os cobria.

—Não acredito que precise de ânimo. Disse Mikhail. - Deixarei você com seu pão e vou embora. Quero falar com Aidan e Julian.

- Vai comprovar a mulher que afirma ser parente de Shea.

Mikhail a penas inclinou a cabeça.

—Julian foi amigo de Dimitri uma vez, não foi?

—Várias centenas de anos atrás. – Respondeu Jacques, com olhos súbitamente alertas. - Por que?

Mikhail encolheu os ombros.

—Não vi Dimitri em sua autêntica forma, em décadas. Enquanto esteve aqui, permaneceu no corpo de um lobo. Muitos dos caçadores utilizam corpos de animais para se ajudar, quando estão perto de se converter.

- Você está nervoso

Jacques esfregava o nariz contra o pescoço de Shea e pressionava um beijo gentil sobre sua pulsação.

- Um pouco. Só estou sendo cuidadoso. Todos estamos um pouco nervosos com esta reunião inédita. Muitas de nossas mulheres e crianças num único lugar me faz sentir como se fôssemos todos vulneráveis. Quero que Julian fique em contato com ele, para restabelecer sua amizade.

- É difícil monitorar os amigos da infância

- Sim, demais. - Mikhail conbcordou, com um suave suspiro.

—Jacques! Nosso bebê está chutando muito forte. Estava tão tranqüilo ontem à noite, que cheguei a ficar preocupada.

Jacques colocou a palma da mão sobre o ventre arredondado, para sentir o bebê. Sorriu-lhe.

—é assombroso. Um pequeno milagre.

—Verdade? —Shea virou o rosto para a dele para um breve e terno beijo.— Não posso evitar me preocupar. Estive falando tanto com todos outros sobre o problema de nossa gente para manter vivos os bebês e todos temos teorias diferentes.

—Qual é sua teoria, Shea? — Perguntou Mikhail, seus olhos escuros pediam uma resposta.

Ela afastou o cabelo do rosto e virou a cabeça para olhar para ele. Sua fisionomia parecia cançada, de repente. A tensão se mostrava no fundo de seus olhos.

—Gregori e eu acreditam que uma combinação de coisas causam os abortos e as mortes. A terra é nosso suporte principal. Rejuvenesce-nos e nos cura e sem ela não podemos existir muito tempo. Temos que ficar nela, nos permitirmos ser enterrados completamente ou não. A composição da terra tem mudado ao longo dos anos. Neste lugar, menos que em outros, mas os produtos químicos e as toxinas diminuíram a riqueza de nosso mundo como aconteceu com outras espécies, acredito que isso está afetando a nossa capacidade de ter filhos.

Mikhail tentou não reagir. Terra. Sua gente não podia existir muito sem terra. Mesmo os que abandonavam as Montanhas dos Cárpatos procuravam o solo mais rico possível em outras terras, mas havia sentido. Os pássaros tinham problemas com seus filhotes por causa da contaminação, por que não os Cárpatos? Suprimiu um gemido... Ao se estender súbitamente para Raven. Queria que ela tentasse ter outro filho... Precisava tentar novamente... Para dar exemplo às mulheres que tanto haviam sofrido. O que não queria era desanimá-la, quando era uma vez mais capaz de conceber. O momento chegava tão raramente e uma oportunidade desperdiçada significava muitos anos perdidos.

—Esteve examinando nossa terra? —Ele perguntou.

Shea assentiu.

—Há poluentes mesmo aqui Mikhail, em nosso santuário. Examinamos cada um de nossos mais ricos depósitos para encontrar a melhor terra possível para nossas mulheres grávidas. E essa é somente um item de um problema muito complexo.

Ouvindo a nota de ansiedade em sua voz, a mão de Jacques subiu para enredar no cabelo de sua nuca.

—Fez assombrosos progressos, Shea. E encontrará as respostas.

—Acredito que sim. – Ela concordou, - mas não estou tão segura de que possamos fazer muito para rebater os problemas. E não estou segura de que possa juntar todas as peças do quebra-cabeças e as respostas, a tempo para nos fazer bem. —Sua mão descansou sobre o ventre.

Era a primeira vez que os homens viam Shea soar tão derrotada. Ela era muito decidida e muito analítica. Sempre determinada a seguir avançando, acreditando que a ciência proporcionaria respostas.

- Ela está cansada, Mikhail. Nunca se renderá.

Mikhail forçou um pequeno sorriso, decidindo que com a Shea tão perto do momento de ter seu filho, não seria boa idéia trazer a baila, o assunto sobre a taxa de mortalidade infantil. Precisava uma mudança para um assusnto seguro.

—Esqueci de mencionar um detalhe muito importante nas festividades de esta noite. Raven me informou que era meu.... Dever como príncipe de nossa gente representar Santa Claus.

Jacques se engasgou. Shea tossiu atrás de sua mão.

Mikhail assentiu.

—Exatamente. Não tenho intenção de colocar uma barba branca e um traje vermelho de elfo. Entretanto... — Ele sorriu malignamente.

—Do que está brincando, Mikhail? —Perguntou Jacques, alerta. —Porque se está pensando em passar essa desagradável tarefa a seu irmão...

O meneio de cabeça de Mikhail foi lenta e deliberada, seus olhos escuros dançavam, peraltas.

—Decidi que depois de tudo é tarefa para um genro. Informarei meu querido filho de seu dever de vestir o traje vermelho.

Jacques abriu a boca para falar, mas não saiu nada. Shea pressionou a mão com força contra os lábios, com os olhos totalmente abertos pela surpresa.

—Gregori, não. Ele assustará as crianças. – Ela sussurrou como se Gregori pudesse ouvi-la—. Na realidade, você não vai pedir a ele, vai? Nenhum dos irmãos Daratrazanoff pode ser Papai Noel. Seria... errado.

O sorriso de Jacques se ampliou e Mikhail sentiu o coração apertar com força em seu peito.

- O que está acontecendo, meu amor? Irei até você, se precisar. - A voz suave de Raven encheu a mente de Mikhail de ternura e calor.

- Nada, agora que me tocou. - Mikhail a tranqüilizou através de seu vínculo telepático.

—Quero ser um pequeno camundongo , bem no cantinho, observando quando pedir a ele, - decidiu Jacques. – Me avise quando for a sua casa.

Shea olhou fixamente a seu companheiro.

—Não o anime. Gregori é o homem do saco, dos Cárpatos. O bicho papão. Mesmo agora, as crianças sussurram seu nome e se escondem quando ele se aproxima. Não estou segura de ter visto esse homem sorrir.

—Eu não sorriria se estivesse usando um traje vermelho e uma barba branca. - Assinalou Mikhail.

—Mas você é amável, Mikhail, e Gregori é... — Shea franziu o cenho tentando encontrar uma palavra que não fosse considerada ofensiva.

—Gregori... – Ajudou-a, Jacques. - É uma idéia maravilhosa, Mikhail. Tem pensado contar a seus irmãos? Eles também gostarão de estar lá, quando falar a ele sobre o importante papel que fará nas atividades desta noite.

Shea ofegou.

—Não estão falando a sério? Brincar é uma coisa, mas Gregori como Papai Noel aturde a mente.

—Devo ter algum prazer com tudo isto, Shea. - Assinalou Mikhail. – Só de ver sua reação quando eu lhe disser que será sua tarefa vestir esse ridículo disfarce é suficiente para melhorar meu humor grandemente apesar das festividades.

Shea colocou as mãos nos quadris.

—Os homens dos Cárpatos são tão infantis.

- Vou ver o Aidan. - Anunciou Mikhail. - Boa sorte com o pão, Jacques. – Ele percorreu a cozinha com o olhar. - Confio em que não tenha que usar métodos humanos para limpar o desastre.

Shea riu e o despediu com a mão.

—O pão ficará maravilhoso. —Quande Mikhail deixou a casa, Shea se virou para enfrentar Jacques. Um lento sorriso iluminou sua face a travessura dançou em seus olhos.

— Você se diverte conversando os segredinhos viris Cárpatos com seu irmão? Porque sabe que vai me contar tudo o que ele disse, não vai?

—Seriamente? —Jacques a virou completamente nos braços. - Posso sentir o quanto está cansada e as costas ainda te dói. Deveria estar descansando. – Ele a mimou com pequenos beijos no rosto e no canto de sua boca. Tudo enquanto seu corpo a empurrava sutilmente fazendo com que ela retrocedesse para a porta da cozinha.

—Não vai se livrar de me contar, não importa o quanto tente ser encantador. – Ele advertiu. - E estou ficando branca. Como conseguiu salpicar toda essa farinha pela cozinha? Parece uma região de guerra.

—É uma região de guerra. – Jacques, queixou. - Não sei como as pessoas fazem isto regularmente. – Ele continuou empurrando-a gentilmente através do salão, para o quarto, preocupado pela forma em que seu corpo... E sua mente estavam esgotados.

—Prometi a Raven que teria o pão para a festa e o faria ao modo humano. – Ela lembrou. - Não posso decepcioná-la.

—Primeiro de tudo, pequena - Jacques a levantou nos braços, está a ponto de ter um bebê e Raven não se importaria que não pudesse assar o pão. Felizmente, você me tem e o farei. Nem que seja a última coisa que faço.

Shea sorriu ante a determinação de sua voz, relaxando contra ele.

—Você adora os desafios.

—Os humanos fazem este tipo de coisas todo dia. Eu deveria ser capaz de fazer, sem problema. – Ele se queixou e se moveu com velocidade através da casa, para o túnel que conduzia a câmara subterrânea.

A câmara era formosa, iluminada com a luz cintilante de cristais multicoloridos que cobriam as paredes. A terra era escura e rica, a melhor que haviam encontrado, importada de uma das cavernas de cura. Além de ter o chão de terra e um grande espaço para descansar nela, a o aposento parecia um dormitório normal. Havia velas nos candelabros das paredes que titilavam com dezenas de luzes, enchendo o quarto de uma fragrância consoladora.

Jacques flutuou à profunda depressão no chão e colocou Shea gentilmente na rica terra. Deitou-se junto a ela e se inclinou para beijar repetidamente, seu ventre arredondado. O bebê chutou sua boca e ele riu em voz alta.

Shea entesourava o som de sua risada, a ternura de seus olhos e amor nas pontas de seus dedos e seus lábios, quando animava o bebê a chutar mais vigorosamente. Seus dedos se enredaram no longo cabelo de Jacques quando ele pousou a cabeça contra seu ventre para falar com bebê, como fazia cada noite.

- Saia e se una a nós, filho. Esperamos o bastante.

—Mais que bastante. - Disse Shea. - Quero ter você aqui e poder lhe abraçar, tê-lo em meus braços. Quero te contar uma história noturna para você dormir.

Jacques beijou novamente a barriga boleada.

—Sua mãe diz que já é suficiente. Terá que aprender os códigos que as mulheres usam quando falam com os homens.

—Não temos códigos. - Protestou Shea com um pequeno sorriso. Fechou os olhos, saboreando a sensação da força de Jacques. Segundos depois, seu sorriso decaiu. - Realmente tenho medo. Seriamente. Não posso suportar a idéia de perdê-lo. Ele já é tão parte de mim, Jacques. E temo que seja eu que esteja atrasando o processo, não ele. Ele quer nascer e eu quero mantê-lo a salvo.

Jacques elevou a cabeça para fitá-la, esfregando o nariz contra seu corpo, respirando calidamente sobre suas mãos.

—Levou-o contigo quando pensávamos que era impossível. Ele quer sobreviver. Temos um vínculo forte com ele. Sabe que não podemos alimentar nossos filhos da forma em que faziam nossos ancestrais e desenvolveste uma fórmula que manteve à filha de Gabriel e Francesca viva, igual a à pequena de Dayan e Corrine. Fez grandes progressos, Shea.

Ela pressionou os dedos sobre os olhos.

—Eu acreditava que Raven estava sendo muito egoísta por não desejar tentar novamente, depois de perder seu bebê, mas agora a entendo. Nossos filhos se movem, chutam e mais ainda, sinto-o decifrar coisas. Podemos nos comunicar com ele. Não sabia que podíamos fazer isso... Chegar a lhe conhecer antes que nascesse. Ele nos conhece, igual nós a ele. Se o perdêssemos agora, seria tão difícil, Jacques... Tão difícil... Talvez insuportável, como sei que foi para Raven e todas a mulheres que vieram antes que nós.

—Não faça isto com você mesma. Nosso bebê nascerá sadio e sobreviverá.

Shea escondeu o rosto no peito de Jacques, fechando novamente os olhos contra a dor de seu coração.

—De verdade? Uma vez que abandone o refúgio de meu corpo, sobreviverá, Jacques? E se sobreviver, que tipo de futuro enfrentará?

—Tamara parece estar bastante bem, assim como Jennifer.

—E enquanto nós vamos para a terra, outra pessoa tem que cuidar de nossos filhos. Isso tem sentido para você? Por que nossos filhos não podem ir para a terra como deveriam? Mesmo que a terra contenha alguns tóxicos, não deveriam ser capazes de tolerar a mesma coisa da qual terão necessidade?

Jacques lhe jogou o cabelo para trás, sentindo o crescente medo nela. A dor persistente de suas costas lhe dizia que o nascimento se aproximava... Era inevitável.

Ela não poderia proteger seu filho, muito mais.

—Nossa gente espera com alegria esta ocasião, Shea. – Ele beijou sua suave pele, suas mãos eram ternas quando continuaram nos cabelos brilhantemente coloridos. - Cada Cárpato, perto ou longe, tem um único propósito neste momento... Cuidar da vida de nosso filho. Ele sobreviverá. O sangue da linhagem ancestral corre em suas veias.

Ela esfregou o rosto sobre o coração de Jacques.

—Eu sei. Cada dia penso em como você sobreviveu aqueles sete anos... Preso tão perto da terra que o teria salvado, faminto, torturado e tão sozinho... Mas se negou a sucumbir. – Ela elevou a cabeça, para olhar os olhos escuros e atormentados. - Ele tem seu sangue, meu amado homem selvagem. E sua vontade de ferro. Estou muito agradecida de que seja meu companheiro, Jacques. Se algo manterá nosso filho vivo, será porque você é seu pai. —Ele se virou de lado e lhe emoldurou o rosto com as mãos. – Sinto-o, nele.

Ele gemeu brandamente, um leve sorriso flertava em sua boca.

—Então que Deus nos ajude quando ele for adolescente, Shea. Alguma vez já te apresentaram a Josef?

—O sobrinho de Byron? O jovem raper?

—Esse mesmo. Temo que nos concedeu uma breve olhada a nosso futuro.

Shea riu, a preocupação abandonou seus olhos.

—Oh! Querido. Acredito que Josef esteve praticando para atuar esta noite.

—Será quase tão bom como ver a cara de Mikhail anunciando a Gregori que se espera que ele seja o Santa Claus de Raven.

Shea sacudiu a cabeça, seus olhos verdes brilhavam.

—Você é um homem muito mau, Jacques.

—E eu sigo dizendo isso, mas você insiste em pensar que sou bonito e brando.

O desejo e a fome em seus olhos lhe tirou o fôlego e Shea rodeou o pescoço dele com os braços e beijou o canto de sua boca. —Siga fingindo na frente dos outros, Jacques, se isso te faz sentir melhor, mas quando estivermos sozinhos terá que agüentar quando digo que você é extraordinariamente bonito e terno.

Ele soltou um suspiro e o riso a diversão apareceu nas profundezas de seus olhos.

—Não tenho nem idéia de como existi antes que entrasse em minha vida.

Seu sorriso em resposta lhe iluminou a face.

—Eu sinto o mesmo por você, Jacques. — Ela pousou a cabeça em seu peito sobre o coração. - Não seria capaz de passar por isso sem você. Nunca deixo de ter medo, mas você me estabiliza.

Ele acariciou a longa e sedosa cabeleira.

—E eu todo este tempo pensando que era ao contrário. —Sobre a cabeça dela, o sorriso empalideceu em seu rosto, deixando linhas profundas e seus olhos uma vez mais obscurecidos pela preocupação. - Esta mulher, a qual onheceremos esta noite, Shea... — Jacques pensou, tentando escolher suas palavras cuidadosamente. - Devemos ser muito, bem cuidadosos. Não podemos deixar que ela suspeite nem por um momento que você não é mais uma humana.

Shea virou, se afastando dele com uma pequena amostra de temperamento.

—Sabia Jacques, que nem todos os humanos são monstros. Olhe Slavica, Gary e Jubal. Por que ela iria suspeitar que não sou humana? Acha que a maior parte das pessoas andam por aí acreditando que há vampiros e Cárpatos no mundo? Eu acreditei ter uma estranha desordem sangüínea durante anos e sou médica.

Os dedos dele lhe moldaram o pescoço.

—Não se incomode, Shea. Tenho o dever de proteger nossa gente.

—Quer dizer que Mikhail não gostou que eu contatasse com ela.

—Quero dizer que eu não gostei. Possivelmente te tive para mim todos estes anos e a idéia de te compartilhar com uma desconhecida me faz rilhar os dentes.

Ela virou a cabeça a tempo para ver seus dentes brancos se apertarem, lembrando-a muito um lobo. Começou a rir novamente.

—Quero você demais, Jacques Dubrinsky. Seriamente. Ela acariciou seu rosto. – Você vai superar essa estúpida veia ciumenta?

—Isso é o que é? Eu acreditava que era a sensação de ser inadequado... De que poderia despertar de repente uma manhã e compreender que dou mais problemas do que valho. — Jacques virou a cabeça para roçar seus dedos com um beijo.

—Isso nunca acontecerá, Jacques. Nem em um milhão de anos. Não se preocupe por Eileen Fitzpatrick. Saberei se ela está me mentindo.

—Você deseja tanto uma família, Shea. Talvez não seja capaz de dizê-lo.

—Tenho uma família, Jacques. Você é minha família. Você e nosso filho, Mikhail e Raven e Gregori e Savannah. Não estou sozinha. E apesar de meus hormônios loucos, não colocarei em perigo as pessoas que amo por uma desconhecida, mesmo que seja uma parente. Tenho a esperança de que ela tenha histórias da infância de minha mãe, mas se não for assim, somente ficarei decepcionada, não devastada.

Jacques afastou o rosto. A alegria explodiu nele, como a inesperada erupção de um vulcão.

—Volte-se. – Ele instruiu bruscamente. – Vou massagear suas costas. —Não podia fitá-la, não podia enfrentá-la, quando sua vulnerabilidade estaria tão rigorosamente nua. Simplesmente os homens não deveriam depender tanto de suas mulheres. Squer os companheiros.

—Tenho uma bola de praia no ventre, Jacques. – Assinalou, Shea. - Não consigo me virar de costas.

—De lado então. – Ele, sugeriu.

Shea ficou em silêncio um longo momento antes de segurar seu rosto entre as mãos e lhe obrigar a fitá-la.

—Você também é minha vida, Jacques. Meu mundo. Todas essas coisas que sente por mim... Eu também sinto por ti.

—Mesmo que eu não possa me separar de você e sempre ser uma sombra em sua mente? —Jacques se obrigou a a fitá-la nos olhos... No coração... Para ler sua mente.

Encontrou amor incondicional.

—Especialmente porque você fica comigo. Entesouro isso em você. - Shea lhe acariciou os lábios com a ponta de um dedo. - Uma mulher gosta de ser amada, Jacques e você sabe como me amar.

 

—O que é esse terrível escândalo? —Disse Mikhail como saudação, quando Aidan Savage abriu a porta da grande cabana. Mikhail não o via há vários anos e não pôde evitar sorrir enquanto estreitava o antebraço de Aidan na saudação do guerreiro.

       Os olhos incomuns de Aidan brilhavam como duas antigas moedas de ouro.

—Sua presença é uma honra para nós, Mikhail.

—Por favor me diga que o sobrinho do Byron, Josef, não está já aqui de visita. — Mikhail parou na soleira da porta. As linhas de seu rosto se aprofundaram, com desaprovação.

—Este parece ser o lugar da reunião. Josh tem um novo videojogo que Alexandria desenhou e todo mundo quer jogá-lo. Josef está definitivamente aqui. - Acrescentou como advertência, enquanto retrocedia para permitir a entrada de Mikhail.

Mikhail parou, com um pé no alto.

—Talvez deveríamos fazer com que Byron o chamasse imediatamente.

       Aidan sorriu, abertamente.

—Você fala como se ele fosse um vampiro.

—Preferiria enfrentar um vampiro. Eu esperava que ele ficasse na Itália. Provavelmente Byron o trouxe como brincadeira pesada.

—É bastante divertido, quando ele deixa a um lado suas exuberantes maneiras. - Disse Aidan.

       As sobrancelhas escuras de Mikhail se uniram.

—Ele atrai a atenção sobre si mesmo e não pratica nem a mais básica de nossas habilidades.

—Vi ele descer do teto esta noite e quando mudou de forma, só o fez parcialmente.

—Parece divertido. – Falou Mikhail, com um suspiro. - Está com vinte anos. Já não podemos permitir que nossos filhos tomem tantos anos para crescer.

A    idan sacudiu a cabeça.

—Ele ainda é um adolescente para nossos anos, Mikhail. Vivemos tanto tempo no mundo dos humanos, que já começamos a pensar como eles. Nossos filhos merecem uma infância, Mikhail. Eu desfruto observando o jovem Joshua crescer. Josef é feliz e é sadio.

—Joshua é humano e Josef não. E o mundo se tornou bem mais perigoso para nossa raça, Aidan. – Assinalou, Mikhail. - Estamos rodeados de inimigos e nossas mulheres e crianças são os mais vulneráveis. Precisamos de Josef e para assegurar sua segurança, ele deve aprender os costumes de nossa gente. Sequer pode tecer suas próprias salvaguardas?

       Aidan assentiu.

—Tem razão, é obvio. Estive preocupado por causa do golpe concentrado contra nós, da tentativa de assassinato contra você... Porque nossos inimigos podem decidir golpear nossas mulheres e crianças. Falarei com Byron sobre o treinamento de Josef, assegurarei-me de que o ensine adequadamente para que esteja preparado, em caso de ataque.

—Me ocorreu que nossas mulheres devem ser preparadas também. —Mikhail baixou a voz, pegando Aidan pelo braço e o conduzindo-o a um canto separado da animação do salão. - Sempre protegemos às mulheres.

—Elas são da luz. – Falou Aidan. - Não têm a escuridão necessária para matar.

—Isso nós todos pensamos, mas a autoconservação e os caçadores cada vez mais diminuídos podem provocar novas necessidades. Os tempos mudam, Aidan e francamente, enfrentamos à extinção. Não podemos confiar nos velhos métodos. Temos que estar preparados para enfrentar os novos desafios com novas idéias.

—Os antigos pode não gostar de suas idéias progressistas.

       Um pequeno sorriso suavizou a dura linha da boca de Mikhail.

—Acredito que os antigos são muito mais progressistas e flexíveis em suas idéias, que nós. Entretanto, preocupa-me um pouco esta festa de Natal, que Raven insistiu.

—Alexandria também acredita que é boa idéia. - Disse Aidan. - Lhe dá a oportunidade de se reunir com as outras mulheres. Também está disposta a ajudar a Shea no parto. Com tantos de nós aqui, há mais possibilidades de que o criança sobreviva.

—Shea está perto. Será esta noite ou na seguinte. Raven, como Alexandria, pressente que a festa criará uma sensação de família entre os casais de Cárpatos e dará esperanças aos homens que restam, especialmente com as meninas e Shea tendo um parto bem-sucedido.

—Alexandria está na cozinha. Joshua e Josef inventaram uma batedeira de alta velocidade para ajudá-la a preparar o prato que está fazendo para o evento desta noite. Acredito que queriam se livrar de cortar batatas. Terá que entrar e conhecê-la, embora esteja com um pouco de medo de te conhecer.

—A mim? —Mikhail franziu o cenho. - Por que teria medo de me conhecer?

—Ouviu dizer que você pode ser intimidante. - Disse Aidan, com um pequeno sorriso.

       O sorriso de Mikhail foi lenta em aparecer.

—Estas mulheres. —Sacudiu a cabeça. Depois parou, olhando ao redor esperançado. - A menos que fosse Josef...

       Ele observou a furiosa batalha que estava acontecendo na tela da televisão. O irmão de Alexandria, Josh, cujos cachos inquietos saltavam em sua cabeça, enquanto utilizava um comando. Ele gargalhou quando seu personagem acertou o de Josef. Josef, dirigindo seu personagem com a mente, fez com que o homem se voltasse tão rápido que quase tropeçou com seus próprios pés.

—Alexandria ideou este jogo? É boa prática para Josef... Para muitos dos nossos. – Mikhail se pronunciou. - Como fez algo assim?

—Josh e nós gostamos de jogar videojogos e fazemos com que a pobre Alex nos observe o tempo todo. Ela ainda faz gráficos para uma companhia e quando compreendeu que eu podia dirigir aos personagens com a mente, ideou este jogo para Josh e para mim, como presente de Natal.

—É uma mulher muito inteligente. Está pensando em comercializar estes jogos?

—Sim. Assim muitos dos outros o verão e podem querer. Alexandria já tem idéias para mais alguns deles. Já que temos Josh, que é humano e Falcon e Sara tem as sete crianças que adotaram, ela está planejando preparar o jogo para que eles possam usar os comandos, se for necessário. Dá mais coisas com as quais interactuar e aparentar ser humano. Poderemos jogar online com outra pessoa também.

—É uma idéia maravilhosa. Com sorte, nos ajudará a se aproximar, já que vivemos tão longe. —Mikhail esfregou o queixo. - Tenho que falar com seu irmão, sobre Dimitri. Pelo que me lembro, Julian e Dimitri eram bastante amigos na juventude.

—Eram, sim. – Respondeu, Aidan. - Dimitri está aqui?

—Ele deixou os bosques da Rússia para se unir a nós, embora permaneça na forma de um lobo a maior parte do tempo e ronda pelo bosque. Se você ver Julian antes que eu, faça com que o contacte. Acredito que ele conhece Dimitri melhor que nenhum outro Cárpato. Podem ter compartilhado sangue e quero que ele o monitore enquanto está tão perto de nossas mulheres.

       A cabeça de Aidan se elevou, alerta.

—Se preocupa que Dimitri tenha se convertido?

—Já não podemos contar com a leitura das mentes e sinto a perturbação de poder e maldade. Os vampiros poderiam ter colocado um inimigo entre nós. Não acredito que Dimitri tenha se convertido, mas estou preocupado porque está lutando contra isso. Com tantas mulheres perto dele, é possível que tenha a esperança suficiente para continuar sua luta ou que o empurre na direção errada. É melhor ser cuidadoso.

—Ele lutou muito tempo contra os vampiros, só em sua região. – concordou, Aidan—. Tantas mortes às vezes afetam negativamente ao caçador.

       Mikhail suspirou.

—Não posso salvar a todos, Aidan.

—Não, mas faz o necessário para salvar nossa gente, Mikhail e isso é tudo o que pode pedir a si mesmo. Venha conhecer minha companheira.

       Mikhail seguiu Aidan pelo longo salão, para a cozinha.

—Raven me pediu que me vestisse de Santa Claus. Papai Noel. Já sabe. Aquele personagem do traje vermelho com a barba branca.

       Aidan parou tão bruscamente, que mesmo com seus fluidos e graciosos passos Mikhail, quase o derrubou.

—Vai fazer Santa Claus?

       Mikhail sacudiu a cabeça e um malicioso sorriso, cheio de diversão fez seus olhos brilharem .

—Isso eu deixo para meu genro.

—Gregori? —Os dentes brancos de Aidan brilharam. As nuvens se moveram e a luz da lua se espalhou sobre o Cárpato convertendo seu cabelo e seus olhos em ouro velho. - Tenho que estar lá quando você falar com ele.

—Suspeito que a casa estará infestada de aranhas, ratos e alguns pássaros. - Disse Mikhail com evidente satisfação. – E eu adorarei conhecer sua talentosa companheira. Abra caminho. A idéia de ver Gregori com esse ridículo disfarce aliviou meu humor grandemente. Alexandria não me achará intimidante de jeito nenhum.

       Aidan pensou.

—Alexandria conheceu nossa raça pela primeira vez através dos vampiros. Foi capturada junto com seu irmão. O vampiro a encadeou e se alimentou dela. Queria que ela matasse seu irmão e assim ambos se alimentariam dele. Ainda tem pesadelos. Capto ecos deles quando está entre o sonho e a vigília. Joshua já não se lembra, mas ela não quer lhe ocultar o que somos. E isso significa que tem que saber que estamos sendo perseguidos. Foi muito valente da parte dela vir aqui... Colocar de lado seus medos e conhecer as outras mulheres.

— Já conversaram sobre ter filhos?

       Aidan sacudiu a cabeça.

—Ela é bem consciente da taxa de mortalidade de nossos crianças.

       Mikhail assentiu.

—Gary mencionou que é possível que quanto mais próximo seja o nascimento da conversão, é menos provável que o percamos. Acredita que quanto mais tempo as mulheres são Cárpatos, mais provável é que ocorra o aborto e menas possibilidade do bebê ser uma menina. Mas sobre o por que não temos resposta, especialmente quando Francesca teve uma filha.

—Ao menos temos Joshua, que é mais um filho que um irmão para Alexandria. Até agora ela foi incapaz de conceber, então para nós não há outra escolha.

       Mikhail continuou olhando-o, diretamente nos olhos, numa ordem implacável e decidida. Aidan suspirou.

—Discutirei o assunto com ela.

—Faça-o. Nossa gente precisa de cada criança, de cada mulher que possamos conseguir. Nossos caçadores estão se desesperando, Aidan.

—Eu fui um dos desesperados, Mikhail. - Disse Aidan, tranqüilamente. - Conheço meu dever para com nossa gente.

—Aidan! —Joshua apareceu atrás dele e lhe segurou o braço. - Não vai jogar conosco? Josef colocou o jogo em pausa para que pudéssemos te esperar.

       Aidan revolveu afetuosamente o cabelo do criança.

—Num minuto, Josh. Alexandria não conheceu Mikhail ainda. Ele é o líder de nossa gente, um homem muito importante.

       Os olhos de Josh se abriram e ele levantou o olhar para o príncipe.

       Mikhail baixou a vista para o criança, com sua magra constituição e sua cabeça cheia de cachos, quando a mão de Aidan afastou um cacho teimoso que caía na pequena face e sentiu uma súbita dor no peito. Queria outro filho. Um que olhasse para ele como este criança estava olhando para Aidan. Queria uma casa cheia de crianças, com suas risadas e seus brilhantes olhos. Com a esperança reluzindo em seus rostinhos.

       Seu olhar descansou em Josef, que havia seguido Joshua e pela primeira vez sentiu amabilidade para com o moço. Josef havia ganhado alguns centímetros de altura, parecendo mais ao aspecto dos homens dos Cárpatos com seus ombros largos, mas ainda estava fraco, magro e com o cabelo negro cortado com pontas agudas. Ele parecia um estranho espantalho, com as pontas dos cabelos tingidas de azul.

—Olá, Josef. Encantado vê-lo, novamente.

       O criança pareceu assustado por um momento, mas depois forçou um sorriso arrogante.

—Eu também, Sua Alteza Real. Acha que temos que nos inclinar?

       Aidan cutucou no rapaz, com um baixo grunhido de advertência e Mikhail franziu o cenho. Seus olhos negros brilharam com repentina ameaça. A casa pulsou com súbita energia e as paredes se ondularam.

       Josh abriu de um empurrou a porta da cozinha e fugiu.

—Alex! Há alguém aqui.

       Ante o medo na voz de seu irmão e o perigo que cintilava na casa, Alexandria se voltou com velocidade sobrenatural. A batedeira de alta velocidade estava entre suas mãos, ainda ligada.

       Alho, queijo e purê de batatas salpicaram as paredes e o teto. Um emplastro golpeou Mikhail diretamente na face esquerda. Alexandria ofegou e ficou congelada, sujeitando a batedeira no alto... Enviando mais batatas pela cozinha. Seu olhar horrorizado permaneceu fixo no príncipe.

       Por um longo momento só existiu o som da batedeira e as batatas batendo nas superfícies, por toda a cozinha... E o peito do príncipe.

       Josh soltou uma pequeno sorriso. Josef deixou escapar uma tosse estrangulada. Logo, os dois se dobraram em risos. O som colocou Aidan em ação. Ele ondeou a mão para desligar o botão da batedeira e atravessou a cozinha com assombrosa velocidade, para tirar o aparelho das mãos de Alexandria, colocando-se entre sua companheira e seu príncipe.

       Por um momento se ouviu somente as risadas das crianças. Alexandria retorceu os dedos no bolso de atrás do jeans de Aidan.

-Não posso acreditar que fiz isto. O que ele estará pensando de mim?

       Era óbvio que ela estava tentando conter sua própria risada, embora estivesse mortificada.

       Aidan se virou ligeiramente para roçar os dedos gentilmente por seu rosto, enquanto mantinha um olho precavido sobre o príncipe. - Foi um pequeno acidente, nada mais. - Tranqüilizou-a. Podia sentir sua própria risada borbulhando. Era difícil ficar quieto e manter a fisionomia séria, com emplastros de batatas com queijo e alho sobre a roupa e a face esquerda do príncipe.

       A boca de Mikhail se retorceu e ele cobriu os lábios com a mão.

—É desnecessário que se coloque diante de sua companheira, como se eu pudesse incinerá-la no ato, por decorar minha roupa, Aidan.

—Isso é o que parece? —As sobrancelhas de Aidan se elevaram.

       Josh assentiu, ainda rindo.

—Como se fosse bater em alguém.

       Aidan sustentou a batedeira no alto, apontando para Josh.

—Eu estou pensando isso.

—Aponte para o Josef. – Sugeriu, Mikhail.

       Alexandria pigarreou, tentando soar sincera quando na verdade, queria gargalhar.

—Lamento terrivelmente. - Disse em voz alta para Mikhail. - A batedeira escapou de minha mão.

—Parece estar fazendo um grande trabalho com seu irmão —assinalou Mikhail enquanto tranqüilamente limpava as batatas do rosto e do peito. - Felizmente, sou Cárpato e estas coisas têm poucas conseqüências... Além de proporcionar diversão a nossas crianças. —Seus olhos negros se estreitaram, tornando-se perigosamente verde amarelados... Os olhos de um lobo, quando se olhar seu pousou em Josef. Um grunhido baixo retumbou através da cozinha, tornando impossível dizer de onde chegava, mas inconfundível de todos os modos.

       Josef engoliu a risada e se endireitou, afastando de Mikhail. O príncipe manteve o rosto sério como uma pedra, embora o riso ameaçasse explodir. Quanto tempo havia passado desde que ouvira som de uma risada infantil? Tinha que passar mais tempo com os filhos adotivos de Falcon e Sara. A juventude sempre proporcionava esperança e a capacidade de ver com tranquilidade o excitante mundo que os rodeava. Precisava de outra criança em sua casa, pendurado em sua perna e olhando-o como Joshua estava olhando para Alexandria.

- Mikhail. Skyler quer ir a casa. Você virá escoltá-la ou terei que ir? - A voz de Raven interrompeu seus pensamentos. Ele tinha muito que fazer, mas Raven também.

—Esperava poder conversar mais contigo, Aidan, mas Skyler está em nossa casa e precisa de escolta para voltar. Voltarei logo que me assegure de que está a salvo.

—Eu ia ver Desari. - Disse Alexandria, rapidamente. - Posso acompanhar Skyler até sua casa. Eu gostaria de tomar ar fresco. Sou uma péssima cozinheira.

       Joshua riu dissimuladamente.— Ela sempre foi ruim na cozinha. Queima tudo.

       Alexandria puxou um de seus cachos em represália, sorrindo brandamente.

—Tristemente certo. Sou uma terrível cozinheira, mas talvez Aidan e você possam resgatar as batatas.

       A mão de Mikhail parou ato de sacudir o último do emplastros de batatas.

—Eu? Cozinhar?

—Eu posso cozinhar. – Disse, Josef. - Estava desejando experimentar a batedeira. Olhe isto, Josh. — ele ondeou a mão e a travessa de purê de batatas se elevou no ar. A terrina se sacudiu, passou junto a Aidan para Josef e Mikhail, quase ao nível da cabeça do príncipe.

       Aidan a pegou antes que pudesse fazer algo mais que atravessar a metade da cozinha.

—Alexandria trabalhou duro nesta... Ah... Coisa.

—Coisa? —Repetiu Alexandria.— E se aacredita que eram Josh e Aidan que tinham que resgatar as batatas.

       Mikhail retrocedeu e se virou para olhar Josef.

—Espero que não estava pensando em deixar cair isso sobre minha cabeça.

       Joshua estalou em outro ataque de riso.

—Se foi Alex que fez. Coisa é boa palavra para chamá-la, Aidan.

—Hey, basta! —Alexandria lhe lançou outro olhar fingido. - Cale ou será você que vai para a cozinha.

- Eu posso escoltar a jovem Skyler de volta. - Ofereceu Aidan.

- Preciso de um pouco de paz. – Disse, Alexandria. - Adoro Josh, mas os videojogos, o purê de batatas e Josef são muito para mim. - Sua mente roçou a dele com amor e carinho. - Estou perfeitamente bem. - Não era completamente certo. Era impossível ocultar alguma coisa de seu companheiro e Aidan era bem consciente de que ela tinha esperado a chegada às Montanhas dos Cárpatos, com trepidação.

- Meu únicamor. Irei contigo.

- Você ficará e entreterá o príncipe. Realmente preciso de um pouco de tempo a sós. - Amava ao Aidan com todo seu coração, com cada célula de seu corpo e com sua alma, mas às vezes era difícil para ela aceitar que ele podia conhecer cada um de seus pensamentos. Já era bastante ruim se sentir inadequada às vezes e muito suspicaz para os outros Cárpatos. Isso a envergonhava. Odiava que Aidan soubesse dessas picuinhas.

- Não são picuinhas. Tem muita razão ao temer pela segurança de Joshua. Poucos foram capturados por um vampiro e sobreviveram. - Aidan se inclinou para beijar sua nuca. - Você é meu mundo.

- Como você o meu.

- Alexandria lançou um pequeno sorriso para o príncipe.

—Foi uma honra te conhecer... Mesmo coberto de purê de batata. Por favor fique e converse com Aidan. Há tempo ele estava esperando passar algum tempo contigo. Eu me ocuparei de que Skyler volte a salvo. - Antes que os homens pudessem protestar, ela sorriu brilhantemente para Josh. - Você gostaria de vir comigo? —Ela resistiu a urgência de lançar uma compulsão para que ele não aceitasse. Realmente precisava da tranqüilidade da noite.

—Josef e eu estamos jogando o novo jogo, Alex. - Disse Josh. - É realmente genial.

—Me alegro de que você goste, pensei que gostaria.

—Alexandria... —A voz de Aidan desvaneceu. Não queria envergonhá-la mais, protestando porque sairia sozinha. Era um curto passeio até a casa de Mikhail, e já que muitos Cárpatos haviam voltado e estavam escaneando continuamente em busca de inimigos, ela deveria estar a salvo mas... —Aidan suspirou. Não gostava que ela saísse de sua vista. - Não me importaria de passear contigo.

- Só preciso de um pouco de ar. Não sei por que estou tão nervosa ao redor de todo mundo, mas estou. Tenho que ajeitar as coisas por mim mesma desta vez...Por favor, Aidan...Entenda. - Alexandria lhe enviou um fluxo de cálida tranqüilidade.

       Amava ao Aidan com todo seu coração, mas sempre havia sido muito independente. Em São Francisco, ele tinha parecido mais tranquilo e fácil de levar, mas desde que tinham chegado a sua terra natal, ele estava só nervos. Joshua e Alexandria estavam tendo pesadelos. Josh em sonhos e Alexandria também quando estava acordada. Eram sonhos aterrorizantes que aumentavam seus próprios medos e isso estava excitando os instintos protetores de Aidan, fazendo-o tentar mantê-los mais perto. Saudou o príncipe com a cabeça, soprou um beijo a Aidan e rodeando as crianças, colocou sua caçadora e as luvas, apressando-se a sair pela porta antes que Aidan pudesse mudar de opinião.

       Alexandria respirou o ar frio e crespo e virou o rosto para os céus. Pequenos flocos de neve caíam revoando, flutuando em preguiçosos redemoinhos, tornando branco o céu e amortecendo os sons que os rodeavam. Estendeu as mãos e abriu a boca para deixar que os flocos caíssem sobre sua língua. A vida com Aidan era incrível. Ele tratava Josh como seu próprio filho e a ela como a uma rainha. Não fazia nem idéia do por que, mas desde que chegara a terra natal dele, sentia triste e inadequada.

       Pior que isso era seu crescente medo. Era tolo e muito impróprio dela, mas às vezes se encontrava procurando entre as sombras, com o coração palpitando de medo. Devia ser os pesadelos, a repulsão que sentia quando recordava a sensação do tato do vampiro, quando lembrava da língua dele lhe raspando a pele e a dor de seus dentes quando ele havia dilacerado seu pescoço. Pressionou a mão sobre o ponto que lhe ardia na garganta. Ele estava morto. Aidan o matara e ele nunca voltaria. Nem por Josh e nem por ela. Então por que lhe palpitava a garganta no ponto exato onde o vampiro a marcara?

       Alexandria sacudiu a cabeça para limpar a mente. Era Natal. E teriam um precioso Natal branco e Joshua estava emocionado por estar nas Montanhas dos Cárpatos. Havia conhecido a tantos dos homens, pelo computador, que não podia esperar vê-los em pessoa. Não iria arruinar a todos, por causa de alguns estúpidos pesadelos.

       Decidida, afastou as lembranças muito vívidas e começou a percorrer o atalho que conduzia à casa do príncipe. Conhecia o caminho, vira-o centenas de vezes na cabeça de Aidan e lembrava de cada passo. Ele queria que ela se sentisse cômoda em sua terra natal e havia compartilhado com ela cada lembrança, lhe proporcionando um mapa virtual para que pudesse se mover facilidade.

       O vento lhe tocou a face com dedos gentis, os flocos de neve cobriram seu cabelo. Deveria fazer colocado o capuz, mas se sentia livre, excitada por estar passeando na noite, rodeada pela espessa extensão do bosque e respirando o ar fresco e crispado. A paz se estabeleceu nela.

       Skyler estava esperando impacientemente no alpendre.

—Acho ridículo que Gabriel e Lucian não queiram que eu vá sozinha. – Ela disse. – Consegui chegar aqui por meus próprios meios, antes que ninguém notasse que havia saído. Ninguém faz Josef esperar uma escolta. – Ela envolveu o cachecol em volta do pescoço e atirou as pontas sobre seus ombros com um pequeno gesto dramático. - Não estou disposta a ter alguém me dizendo o que tenho que fazer todo o tempo. Gabriel e Lucian são horríveis!

       Alexandria franziu o cenho.

—Josef andou conversando contigo e zombou de você por isso, não foi?

—Chamou-me bebê. Cheguei até aqui por mim mesma e decisivamente posso voltar por mim mesma. – Ela passou uma mão pelo rosto.

—Josef pode ser bem irritante, não é? Acredito que deveria ser para você uma prioridade lhe pedir que lhe mostre como se converte em coruja.

       Skyler avaliou Alexandria com um olhar súbitamente pensativo.

—Seriamente? Acredita que acharei divertido?

       Alexandria assentiu.

—Acredito que te alegrará o dia.

       Um lento sorriso iluminou a face de Skyler.

—Obrigado pelo conselho. Raven manda um abraço a você. Acho que seu peru em molho não está saindo como ela queria.

—Tampouco meu purê de batatas. Neste momento, o príncipe está se limpando dele.

Skyler parou bruscamente e piscou para Alexandria.

—Você atirou batatas no príncipe? —Um lento sorriso transformou seu rosto. - Desejaria ter visto. Estar lá...

—Eu não queria ter estado lá, naquele momento. Josh correu para mim assustado e me voltei, esquecendo que tinha uma batedeira de alta velocidade nas mãos. Uma batedeira que Josh e Josef haviam acelerado para mim. As batatas salpicaram todas sobre Mikhail.

       Ela encontrou o olhar de Skyler e ambas estalaram em gargalhadas. O som foi à deriva pelo bosque, elevando-se para encontrar aos flocos de neve flutuantes. Em alguma parte uma coruja ululou e o som saiu solitário. Um lobo respondeu e o uivo durou muito tempo e se apagou, como se ele estivesse chamando uma alcatéia desaparecida.

—Alexandria... - Disse Skyler e bruscamente ficou em silêncio.

       Algo em sua voz captou imediatamente a atenção de Alexandria.

—O que acontece?

       Skyler tentou parecer casual.

—Uma pergunta estúpida, na realidade. Alguma vez você ouviu a terra gritar?

—Gritar? À terra? — Repetiu Alexandria.

—Sei que soa amalucado. Não deveria ter dito nada, mas às vezes... — Não ia admitir que com freqüência desde que estava nas Montanhas dos Cárpatos, ouvia. - Ouço a terra gritar.

       Alexandria sacudiu a cabeça.

—Nunca ouvi isso. Já falou com Francesca, disso?

Skyler encolheu os ombros.

—Provavelmente seja uma tolice. Acontece-me bastante este tipo de coisas. Reminiscências da infância.

       O lobo uivou outra vez e desta vez outro lhe respondeu. Soava como um desafio. Alexandria olhou para o interior escurecido do bosque e um pequeno estremecimento percorreu sua espinha. Começou a caminhar mais rápido.

—Joguei seu novo videojogo. - Disse Skyler. - Foi assombroso. Josh, Josef e eu jogamos online, já tarde da noite. Alguns dos homens se unem também. Sou tão rápida como Josef. Gabriel acredita que é porque ele e Francesca me deram seu sangue, mas eu acredito que é porque posso enfocar muito bem. Tenho a capacidade de me internar em minha mente e é assim como jogo. Josh me disse que você está trabalhando em algo especial para nós. Já está terminado?

       Alexandria pressionou uma mão sobre a ardente garganta. A ferida inexistente pulsava como se ainda estivesse fresca e o frio pudesse lhe afetar.

—Quase. Esperava dar a Josh pelo Natal, mas quis aperfeiçoá-lo um pouco mais. Os gráficos são quase reais. Acredito que posso baixar um pouco o tom. Joga com outros Cárpatos pela Internet? —Ela sabia que Joshua queria jogar também, mas ela não lhe permitia contactar com ninguém através da Internet, além dos Cárpatos que Aidan conhecia.

—Josef joga. Joga com pessoas do mundo todo. Tem um ranking realmente bom. É realmente bom com os computadores também. Pode hackear... Bem, ele diz que pode. Uma vez ele hackeou um lugar russo e jura que era uma central de mensagens para um grupo de assassinos.

       Alexandria franziu o cenho.—Ele está contando essas histórias a Josh?

—Provavelmente. Em realidade Josh o admira porque é muito bom com os videojogos.

—Genial. E isso é minha culpa.

       As folhas sussurravam e os ramos se batiam com um rangidamortecido. O som provocou um tremor em Alexandria. O atalho à casa onde Gabriel e Francesca estavam era pouco utilizado e muito mais longo que o atalho que conduzia à casa do príncipe. Alexandria tentava vigiar o bosque, mas havia rochas e grandes arbustos que tornavam o terreno irregular e traiçoeiro. Se Skyler não estivesse com ela, teria empreendido vôo e voltado para casa.

—Josef vai se meter em problemas. Aos hackers podem lhe rastrear.

—Eu já disse a ele. - Skyler pisou deliberadamente numa pequena poça de água, esmagando o fino gelo ficasse sob seu pé e se estendessem veias para o espaço de terra coberto de neve. Depois saltou sobre a seguinte salpicando gelo e terra sobre a neve. – Ele acredita que porque é Cárpato é invencível.

—Bem, não é. —Alexandria tentou não olhar para o barro salpicado sobre a neve antiga. Parecia muito a um longo braço sombrio estendido para ela... Procurado vítimas.Como em seus pesadelos. Respirou fundo, tentando esmagar o crescente medo que já lhe era familiar. Um movimento captou sua atenção e olhou uma vez mais para o bosque. Estava segura de que vira um grande lobo avançando paralelamente a elas.

—O que está acontecendo? —Perguntou Skyler, que súbitamente ficou em silêncio também e seu olhar percorreu o bosque como se também tivesse pressentido o inimigo.

—Não sei carinho, mas pegue minha mão.

       Skyler engoliu com força, olhando fixamente à mão enluvada.

—Sinto muito. Não posso. Nunca toco às pessoas. Sinto tudo o que eles estão sentindo e me sobrecarrego.

       Alexandria deixou cair o braço a seu lado.

—Sou eu quem sinto. Não pareça tão afligida. Deveria ter me lembrado. Fique perto de mim. Gabriel ou Francesca já voaram contigo alguma vez?

—É obvio. Isso não me dá medo. Eu gosto de voar. Viu alguma Coisa?

- Não estou segura, mas quero poder me lançar ao ar rapidamente.

       Skyler olhou cuidadosamente ao redor.

—Eu não vejo nada.

—Nem eu... Agora. - Aidan. Estou um pouco nervosa. Acredito que vi... Um lobo, mas não estou segura. Estou escoltando Skyler mas se reúna comigo na casa de Gabriel. Não quero voltar sozinha.

- Logo estarei lá. - A voz de Aidan foi suave e tranqüilizadora. - Não se arrisque, Alexandria. Gabriel ou Lucian irão encontrar-se contigo.

- Não os conheço. – Ela enviou seus sentidos sobrenaturis sobre o lugar, tentando descobrir algo que pudesse ser o aroma de um inimigo. Os lobos eram muitos no bosque, mas se mantinham longe dos Cárpatos. Muitos dos homens tinham preferência de se mudar em lobos. Ver um deles não deveria ser suficiente para disparar seu sistema de alarme, mas este estava incomodando.

—Desafiamos os homens para um jogo... – Começou Skyler, continuando avançando para a cabana. - Foi idéia de Josef e deveria ser divertido, mas Josh e eu não podemos mudar de forma e tampouco as outras crianças. Disse a Francesca que precisamos de regras. Como não mudar e não comunicar entre os homens. De outro modo, terão muita vantagem, não acha?

       As folhas sussurraram novamente. Somente um murmúrio. Um ramo quebrou e Alexandria virou a cabeça para o som.

—Não há vento. Algo ou alguém estava se movendo entre as árvores a nossa esquerda, Skyler. Acredito que deveríamos elevar vôo. Acredito ter visto novamente um lobo entre as árvores. Era bastante grande e se movia a nosso passo, mas pode ter sido minha imaginação.

—Bem, então nós duas estamos imaginando o mesmo. – Falou, Skyler, aproximando-se mais de Alexandria. - Algumas vezes posso sentir as coisas que estão perto. Deixe-me ver...

—Não! —Disse Alexandria, agudamente. - Não tem como saber se é um amigo... Ou um monstro. Se abrir sua mente, poderia lhe conduzir diretamente até você. Chamei Aidan e ele enviou Gabriel também. — Alexandria falava enquanto Skyler pisava em outra poça coberto de gelo. O rangido foi forte apesar dos flocos de neve e a água lamacenta salpicou num longo jorro.

       Uma sombra caiu sobre a neve. Uma mancha escura que a Alexandria pareceu bem familiar. Um braço procurando... Se estendendo obscenamente... Crescendo como se fosse de borracha. Insubstancial... Somente sombras, mas podia vê-lo avançar para Skyler, reptando sobre as rochas e os arbustos, como uma serpente. Se não estivesse nevando, nunca o tinha visto, mas com o fundo branco, os dedos da mão pareciam ossudos e nodosos, uma mão velha com garras no lugar das unhas.

       Para seu horror, a água suja moveu também, circundado uma árvore alta como um escuro nó corrediço, cortando o tronco como se fosse uma tocha.

—Skyler! —Alexandria saltou para frente, mas Skyler saltou instintivamente para trás. A árvore estilhaçou e rangeu, a terra se moveu sob elas. Alexandria poderia ter se dissolvido em vapor, mas se negava a deixar a adolescente exposta. Lançou-se para a garota, com intenção de usar sua velocidade, para se elevar com segurança, mas a terra se abriu, afastando Skyler de sua mão. O melhor que pôde fazer foi empurrar Skyler tão longe dela como foi possível, esperando evitar que fosse esmagada pela árvore que caía.

       Embora a árvore gemeu e a terra se moveu, houve um terrível som quando a árvore partiu pela metade, deixando cair a copa e dirigindo os grandes e pesadas galhos diretamente para elas.

       Alexandria sentiu o golpe em sua cabeça. O galho bateu nela e a jogou longe, com uma força alarmante. Por um momento acreditou ouvir vozes murmurando bastante perto, num idioma estrangeiro, mas não pôde captar o que diziam. Tentou virar a cabeça, para ver onde estava Skyler, mas o movimento provocou dor e uma neblina de estrelas que se desvaneceram e deixaram um negro e tremendo vazio.

—Alexandria? —Skyler tentou corajosamente controlar o tremor de sua voz. - Gabriel! Francesca! – Ela chamou sua família, com um grito destroçado que percorreu a noite.

- Estamos chegando.

       Ela estava sob um pesado galho e suas pernas estavam presas. Doía tanto que tinha que lutar contra as nauseias.

- Carinho. Já vamos. Agüenta, por favor. - Era Gabriel, sua voz era forte e vibrante, uma rocha em que se apoiar.

- Está ferida? - O tom de Francesca era amável e consolador. - Me diga se é grave.

       Eles estavam tentando tranqüilizá-la, distrai-la, mas Skyler sentia uma fome rodeando-a, pressionando para ela com uma presença sufocante. Sua perna estava sangrando, derramando se sangue vermelho sobre a neve. Quando se moveu, os ossos roçaram e ela sentiu uma dor execrável, irradiando através de seu corpo inteiro. Começou a suar.

       Algo moveu entre os arbustos, bastante perto dela. Não podia virar para ver o que se aproximava. Um hálito quente explodiu em sua nuca e ele gritou, tentando ficar fora de seu alcance. Uma pelagem roçou sua face, quando um lobo enorme abriu passo através do labirinto de galhos, para inspecionar sua ferida.

       Skyler ficou congelada, conteve a respiração quando o animal se virou para fitá-la. Os olhos eram de um brilhante azul gelado, cintilando no meio da espessa pelagem negra.

—Conheço você. – Ela sussurrou em voz alta, com o coração na garganta. – Já te vi antes, não é?

       O lobo mudou. O corpo peludo e musculado deu passo a um homem alto e de ombros largos, com brilhante cabelo negro caindo por suas costas. Sua fisionomia era severamente sensual. Uma escultura de pedra com linhas profundamente esculpidas, um forte queixo e uma boca profundamente masculina. Seus olhos eram tão azuis que pareciam arder sobre ela.

—Por que lhe deixaram sair sozinha? —Ele perguntou. - Foi estúpido de sua parte. Se não a protegerem melhor, não permitirei que fique com eles.

       Enquanto falava, seu olhar sustentava o dela, mas Skyler podia ver que ele já havia se separado de seu corpo, convertendo num forte espírito dominante. Sentiu sua presença no instante em que ele entrou em seu corpo. Quis gritar, evadir seu espírito, mas ele se moveu através dela com velocidade e propósito, reparando o ferimento em sua artéria, o osso e finalmente a carne de sua perna. Todo o momento ela compartilhou sua mente. Conhecia suas lembranças e sua implacável resolução.

       Dimitri. O incansável caçador de vampiro. Protetor dos lobos e companheiro... De Skyler.

—Não! —Sacudiu a cabeça vigorosamente, em negação. Não seria a companheira de ninguém e muito menos deste homem com seus ardentes olhos e sua natureza dominante. Não podia conceber estar com um homem tão duro e tão completamente seguro de si mesmo. As emoções se verteram sobre ela em cores vívidas e brilhantes, tão brilhantes que ela temeu ficar cega... Ou talvez fosse medo dele, de suas cores e de suas emoções. Não podia se separar dele. Era como se ele ao entrar em seu corpo para curá-la, tivesse se envolvido a seu redor. Enterrando-se profundamente até encontrar sua alma.

       A mente dele se abriu, compartilhando com ela centenas de anos de lidar com a morte, sem remorsos. Atuava veloz e violentamente... Com absoluta resolução. Se essas mortes eram parte de sua dolorosa solidão e terrível dor, ela não podia dizer. Este não era um homem em cujo caminho alguém atravessaria. Ele perseguia seus inimigos com tenacidade e persistência cruel. A violência era seu mundo e ela nunca... Nunca voltaria para esse tipo de vida. Não sobreviveria. Junto a tudo isso, justo roçando sua mente e encontrando a escuridão, estava o demônio enroscado à espera e disposto, para golpear. Era tão aterrador que ela desejou retroceder ao lugar seguro de seu interior aonde ninguém mais podia entrar.

—Não fará isso. - Ele decretou, saindo de seu corpo e voltando para – próprio. – Você precisa de sangue.

       Ela sacudiu a cabeça.

—Gabriel e Francesca me darão.

       Ele virou seus frios olhos azuis para ela. Seu olhar eram tão frio que lhe queimou a pele. Skyler estremeceu, incapaz de afastar o olhar dele, muito assustada. Do que... Não estava segura. De que este homem mudasse sua vida para sempre. De que a consumisse, de que a engolisse inteira. De que fosse rude e inquebrável, um homem sem compromisso. Skyler tinha lutado duro para pertencer a algum lugar, por voltar para a vida quando se retraira tão longe. Dimitri não era malvado, não como seu pai, mas era um homem de violentas e fortes emoções e paixões, embora capaz de apagá-las e não sentir nada, absolutamente.

       Voltou atrás afastando dele, quando ele se estendeu procurando sua mente. Skyler sentiu a pressão firme e implacável e tentou construir uma parede, grossa e feita de aço, impenetrável. Mas ele estava muito concentrado e era muito forte. Skyler elevou os braços defensivamente quando ele se estirou para aproximá-la dele. Um pequeno som de medo lhe escapou antes de sucumbir a seu controle.

       Dimitri a trouxe para seus braços, permitindo que a emoção estalasse através dele, em consolo e paz. Em centenas de anos, nunca havia esperado encontrá-la. A necessidade o tornara frio, brutal até, mas a calidez do corpo dela, o som de sua voz e a suavidade de sua pele trazia esperança quando já não havia nenhuma. Não podia mais ver, com as cores tão brilhantes... Não podia mais pensar com as emoções que não experimentava em séculos.

       Despiu seu peito e sussurrou uma ordem. Seu sangue substituiria o que ela havia perdido e ajudaria a uma rápida cura. Sentia os outros se aproximando rapidamente mas fechou os olhos e se entregou ao êxtase da boca dela movendo sobre sua pele, tomando o que lhe oferecia, forjando um vínculo mais forte entre eles. Já que tinha tão pouco tempo, inclinou a cabeça para seu pescoço e tomou o que era seu por direito... Não o suficiente para converter... Somente o necessário para encontrá-la sempre, para sempre ser capaz de alcançar sua mente.

Levantou a cabeça e olhou para os olhos de Gabriel Daratrazanoff. Uma Uma lenda. Rápido, desumano e assassino.

 

       Gabriel deixou escapar um longo e lento vaio de fúria.

—Como se atrave a tocá-la? É uma menina e está sob meu amparo.

       Dimitri mudou lentamente o peso de seu corpo, sussurrando uma ordem para que seu sangue deixasse de fluir para o interior de Skyler. Elevou-se em toda sua estatura, com sua companheira nos braços.

—Ela não é uma menina ou teria sido incapaz de restaurar cores e emoções em mim. É minha companheira e está sujeita às leis de nossa gente.

—É humana... Uma adolescente, não tem dezesseis anos. - Disse Francesca. - É certo que eles maturam mais rapidamente que nossas crianças, mas ela ainda é muito jovem. —Francesca roçou corpo de Gabriel com uma mão contenedora e estendeu os braços. – Dê-me ela, antes de tirá-la de seu encantamento. Não quero que desperte assustada.

       Gabriel se adiantou, seus olhos negros brilhavam com uma ameaça letal.

—Lembro-me de você. Era um moço que fugia de nós há longos anos.

       Dimitri virou a cabeça para olhar o legendário gêmeo. Seus olhos se chocaram com os negros, como punhais afiados.

—Já não sou um moço e não fujo de nada... Nem de ninguém.

       A terra se moveu, ondulando ligeiramente.

—Tome cuidado, Gabriel. - Exclamou Mikhail materializando com Aidan a seu lado. - Alexandria está presa sobre esses galhos. – Ele procurou freneticamente através dos galhos da árvore caída, para vislumbrar Alexandria.

       Aidan simplesmente irrompeu no labirinto, pulverizando a madeira até que a alcançou. Ela jazia imóvel e pálida, com a face voltada para ele. Gotejava sangue de sua têmpora, manchando seu cabelo loiro.

       O coração de Aidan quase deixou de pulsar. Por um momento se fez um silêncio, como se o próprio mundo tivesse deixado de respirar. Imagens de Alexandria encheram sua mente. Ela sorrindo, com o olhar cheia de amor, sua voz ao brincar com ele, o tato de seus dedos sobre a pele quando ele despertava primeiro e enfrentava o momento no que lembrava sua vida antes dela.

       Correu como um louco, atravessando os galhos como se não fossem mais que palitos, sua garganta estava apertada e seu coração palpitava fortemente. A pele de Alexandria parecia translúcida, fria, seus lábios estavam azuis e ela estava completamente imóvel, tanto que não podia detectar fôlego ou batimento de seu coração. Ela devia estar morta. Aidan parou bruscamente, com a mão sobre o próprio coração. Nenhum ar movia através de seus pulmões. Seu peito se negava a trabalhar. Seu coração gaguejou.

       Não podia seguir adiante sem ela. Não havia vida sem ela e nem felicidade. Nada exceto noites intermináveis que avançavam lentamente até um negro vazio interminável. Não podia fazer tudo novamente, voltar para lugar onde vivia antes de encontrá-la.

—Aidan! —Mikhail lhe segurou o braço e lhe deu uma pequena sacudidela. - Parece que está em transe. Temos que tirar de cima dela, os ramos mais pesados.

       Alexandria gemeu. O som foi apenas discernível, mas o suficiente para romper os medos gelados que enfeitiçavam Aidan. Ele saltou para frente, para abrir passo até seu lado, esperando por Mikhail para poder fazer flutuar facilmente os galhos que ainda estavam sobre o corpo.

       Agachando-se, Aidan moveu velozmente as mãos sobre ela, agradecendo que ela respondesse a seu toque, tentando abrir os olhos. Seus olhos se abriram de repente e ele se encontrou hipnotizado por seu olhar.

—Aidan. Eu sabia que viria. Skyler está a salvo? Tentei, mas... —Alexandria se interrompeu num tentativa de virar a cabeça para a adolescente, mas gemeu e suas pálpebras baixaram.

       Uma vez mais, o coração de Aidan reagiu, vacilando. Mais uma vez o ar ficou preso em seus pulmões.

—Ela tem uma contusão. - Disse Mikhail gentilmente, pousando uma mão tranqüilizadora sobre Aidan. O homem parecia a ponto de sofrer um ataque do coração. – Vamos curá-la facilmente, Aidan. Francesca está aqui conosco e é uma de nossas maiores curadoras, não deve ter problema. —Mikhail lutava evitando correr para Raven, seguro de que seus piores medos se viam confirmados. Seus inimigos estavam atacando a suas mulheres e crianças. Requereu-lhe a disciplina de séculos permanecer onde estava. Estava ligeiramente surpreso de que Francesca não se apressara até eles, oferecendo seus serviços como curadora, em vez de estar bloqueando o passo de Dimitri e tentando lhe tirar à garota.

       Aidan acariciou o cabelo de Alexandria. Não queria que nenhum outro a tocasse. Tinha falhado ao protegê-la. Ela, seu maior e mais prezado tesouro. Precisava fundir com ela e abraçá-la. Precisava observá-la mais atentamente e comprovar que nenhum mal lhe sobreviesse.

       Aidan olhou sobre a cabeça de Alexandria para os dois homens que estavam perto, o calor da discussão brilhavam no ar ao redor deles. Fechou os braços protetoramente ao redor de Alexandria e deixou que seu corpo deslizasse, deixando somente a branca e ardente energia, puro espírito altruísta. Andou através dela num exame rápido antes de encontrar o ferimento já inchando e o sangue pulsando e empurrando para atravessar. Reparou o mal, assegurando-se de que ela estava completamente curada antes de voltar uma vez mais a seu próprio corpo e à furiosa discussão que estava acontecendo tão perto dele.

       Aidan sujeitou Alexandria em seus braços, balançando-a gentilmente enquanto mantinha um olho precavido sobre os dois combatentes.

Gabriel deu outro passo agressivo para Dimitri.

—Poderia nos dizer exatamente como aconteceu isto e como é que estava aqui nesse momento?

       Dimitri despiu os dentes.

—Não empurre Gabriel ou a levarei comigo agora.

       A mão de Gabriel saiu disparada, seus dedos se fecharam ao redor da garganta de Dimitri.

—Não me ameace. Nem mim e nem a minha família.

       Dimitri não fez muito mais que uma careta. Seu olhar se concentrou na face de Skyler.

—É minha companheira. - Sua voz saiu rouca, mas saiu de todos os modos.

—Alto! Alto, Dimitri. Gabriel solte-o, agora mesmo. —Francesca segurou o braço de Gabriel. – Ele tem um vínculo de sangue. Antes que possa matá-lo, poderia levá-la com ele. Por favor, Gabriel. Mostre um pouco de sentido comum.

—Gabriel. - A voz de Mikhail era tranqüila. Ele estava em pé junto a Dimitri. - Libere o companheiro de sua filha. É obvio que se sente protetor com ela, mas este homem é a outra metade da alma de sua filha. Se matar, a condena a uma meia vida. Seja razoável.

       Gabriel não se sentia razoável. Queria destroçar a garganta de Dimitri. Este homem estava roubando a sua menina. O demônio se elevou rápido e veloz, rugindo para se liberar. Podia sentir a raiva crescente de Dimitri, em proporção direta à sua.

—Todos temos que nos acalmar. - Disse Francesca. – Dimitri, me entregue ela. Agora é minha filha e você não tem idéia das coisas que sofreu.

       A face de Dimitri se retorceu de angústia, de tortura, mas somente uma fração de segundo e depois, uma vez mais pareceu uma escultura de pedra.

—Sei exatamente o que ela passou. É minha outra metade e quando gritava de medo, de raiva e desespero, eu tentava seguir o caminho até ela, mas estava muito longe e ela era somente uma menina e não podia saber que eu estava tentando ajudá-la. Lutava contra mim, bloqueando cada um de meus esforços. Quando ela sofria, me acredite, eu era bem consciente do que estava sofrendo e minha tortura, minha humilhação era mais do que podia suportar, por ser incapaz de ajudá-la.

       Homens tocando-a. Abusando dela, lhe fazendo mal. Seu frágil espírito retraindo até que não pôde mais encontrá-la. As lembranças o perseguiriam por toda a eternidade, piores que qualquer morte que tivesse levado a cabo. Seu fracasso em protegê-la era seu único dever, seu privilégio. Tinha estado tão seguro de que Gabriel poderia ocupar da segurança de Skyler que se manteve afastado, assegurando-se de não disparar a necessidade do demônio de um reclamação tão logo, mas Gabriel tinha falhado em seu dever, também.

—Não a protegeu adequadamente. – Ele disse acusador.

Gabriel e Dimitri estavam rosto a rosto, com Skyler ainda nos braços de Dimitri, contra seu peito.

—O que aconteceu aqui? — Exigiu Gabriel.

—Acha que eu fiz isto? —Perguntou Dimitri.

—Não fez? —Contra-atacou Gabriel. Os ramos ao redor deles tremeram e o ar se espessou.

—Não. Ela quebrou a perna e estava perdendo muito sangue. Curei-a tão rapidamente como foi possível e estava lhe dando o sangue necessário para substituir o perdido... Não que te deva uma explicação.

—Por favor. - Francesca suplicou novamente, lutando para não chorar. Suas lágrimas tirariam Gabriel dos eixos, como nada mais poderia fazer. A situação era explosiva. - Dê minha filha.

—Não deixe que ela lhe peça novamente. – Disse, Gabriel.

       A face de Dimitri se obscureceu.

—Está pensando em mantê-la longe de mim?

       A terra voltou a ondear e as árvores em volta estremeceram. Pequenas chamas vermelhas começaram a titilar nos olhos de Gabriel.

—Ela escolhe não ficar contigo.

—É muito jovem para saber o que quer. Não é questão de escolha e você bem sabe disso. Se insistir, Gabriel, reclamarei o que é meu agora e a unirei a mim.

       Francesca ofegou.

—Dimitri, não. Ela não pode ir contigo agora e sofreria mais sem você. Não pode ser tão cruel.

—Não permitirei que a afastem de mim.

       Uma vez mais, a mão de Gabriel saiu disparada e rodeou o pescoço de Dimitri, seus dedos se apertaram em advertência.

—Entrega minha filha a sua mãe. — Cada palavra foi acompanhada de um vaio.

       Dimitri não soltou Skyler, mas a liberou do encantamento para que despertasse sob tumulto que a rodeava. Instantaneamente ela foi consciente de que acontecia.

—Basta! O que acontece com todo mundo? —Gritou Skyler. Ela esfregou a mão como se lhe doesse. - Ninguém pode senti-lo? Alexandria? Francesca? Há algo aqui conosco e posso sentir a onda de poder. Dimitri, desça-me.

Alexandria empurrou de repente Aidan para longe dela, Estava cambaleando e se repondo, com uma mão pressionada contra a cabeça palpitante.

—Skyler tem razão. Há algo aqui. —Olhou ao redor, para os homens com suas fisionomias sombrias e furiosas. - Ninguém pode sentir? Francesca?

Ainda gotejava sangue de um lado da cabeça de Alexandria quando esta escolheu seu caminho através dos ramos, para Francesca. Aidan permaneceu perto dela, mantendo um olho precavido sobre os outros. A postura de seu corpo eram mais que protetora e agressiva.

       Mikhail se abaixou para estudar a terra ao redor e logo se endireitou lentamente e elevou uma mão pedindo silêncio.

       A neve continuava caindo, suaves flocos flutuantes que os cobriam. Pequenos roedores faziam sussurrar as folhas ao passar por perto, num esforço de encontrar um lugar oculto. Não havia vento, mas os ramos das árvores a seu redor se balançavam sutilmente. Gabriel tomou posição imediatamente diante das mulheres, com Aidan e os outros do outro lado, para protegê-las. Dimitri ofereceu Skyler a Francesca, como se estivesse fazendo uma oferta de paz.

       Francesca baixou ao Skyler ao chão, abraçando-a para consolá-la. - Eu sinto também, Gabriel. É um poder sutil perturbando o fluxo natural da natureza a nosso redor.

—Meus pesadelos consistem somente numa coisa. A sombra de um braço com longas garras estendendo para mim. - Sussurrou Alexandria. – e eu o vi no chão, procurando Skyler.

       Dimitri se encurvou mais em reação e titilavam chamas em seus olhos. Lhe escapou um suave grunhido de advertência.

       Alexandria sacudiu a cabeça.

—Deve ser uma ilusão. O que mais eu temia. Sinto o poder nos alimentando, realçando nossos medos. Gabriel está furioso, como Dimitri e a energia está alimentando essa fúria.

       Francesca assentiu, lançando um olhar cauteloso ao redor.

—Eu posso senti-lo também. É muito sutil. Não posso rastreá-lo de volta. Você pode, Alexandria?

       Alexandria sacudiu a cabeça, com frustração.

—Sinto-o também. - Disse Gabriel. - Através de Francesca. Reconhecerei-o novamente se cruzar com ele.

—Poderia ser uma das crianças praticando? —Perguntou, Mikhail—. Acostumamos a cometer todo tipo de enganos sempre e os acidentes acontecem. Embora se for Josef, tenho intenção de lhe arrancar as orelhas.

       Fez um pequeno silêncio. Skyler respirou fundo e se abraçou mais forte a Francesca, enquanto esfregava a mão pela coxa.

—Estão bloqueando o sangue Cárpato. Isto é difícil porque levo o sangue, mas não sou completamente Cárpato. O fluxo chega da estalagem. – Ela se interrompeu, a cor desapareceu de sua face. – Eu sinto. Pegaram-me e parou. Deveria ter sido mais cuidadosa. Não sou nenhuma criança. estive fazendo isto toda a vida e posso lhes dizer que seja quem for, é muito bom nisso, mas não posso dizer se era homem ou mulher.

—Não pode notar a diferença normalmente? —Perguntou Aidan.

       Skyler assentiu.

—O toque é diferente, mas isto era muito sutil... Peculiar. – Skyler pensou. – Talvez mais de uma pessoa.

—Por que diz isso? —Perguntou Mikhail.

       Ela encolheu os ombros.

—Partes da onda se sentiam diferentes, como se mais de uma mão a tivesse tecido ou como se a pessoa estivesse dividida em mais de uma personalidade. Sinto muito, pilharam-me e não consegui suficiente informação, mas seja quem for é um poderoso psíquico e me tocaram. – Ela olhou fixamente para Gabriel. – Eles sabiam que eu estava ali.

       Gabriel proferiu uma maldição Cárpato, baixinho.

—Sabemos que nossos inimigos se uniram, magos e igualmente vampiros. E a sociedade dedicada a matar vampiros se estendeu por todo mundo.

—Puderam te identificar ? —Exigiu Dimitri de Skyler.

       Ela permaneceu em silêncio um longo momento, mas os frios olhos azuis queimavam seu interior, forçando uma resposta.

—Sim. – Ela retrocedeu afastando dele, seu pequeno corpo tremia. Elevou uma mão como autodefesa e as cicatrizes de toda uma vida de torturas ficaram a vista. As físicas e as mentais.

       A face de Dimitri se endureceu até formar uma máscara. somente seus olhos estavam vivos e brilhando com tanta intensidade que Skyler teve que afastar o olhar.

—Não faça isso. - Ele disse. Não há razão para me temer. Nossos inimigos nos rodeiam e você foi marcada, reconhecida, mas se volta contra a única pessoa que tem todo o direito de te proteger.

—Dimitri. —Francesca pronunciou seu nome alto, para conseguir sua atenção. - Agora não é momento para isto. É bem-vindo a visitar nossa casa conversar sobre essas coisas. Sei que tem uma grande reserva de lobos e que cuida de várias alcatéias. Skyler está muito interessada nos lobos e provavelmente desfrutará ouvindo alguma de suas histórias.

- Francesca! Este homem está ameaçando nos tirar nossa filha. - Gabriel se encrespou, embora na verdade, estava envergonhado por ter ficado tão preso em encantamento, quase havia matado um homem. E não a qualquer homem... Mas o companheiro de sua filha.

- E você não fez o mesmo para me unir a você? Está atuando por instinto. Ela disparou sua resposta e que mais pode fazer exceto tentar protegê-la e uni-la a ele? Não pode lhe proibir que a veja. Depois, ele será nosso genro.

       Gabriel respondeu. - Não se estiver morto. Se ele colocar uma mão nela, arrancarei-lhe o coração. - Agora era uma ameaça vazia e ele sabia. Na verdade não podia culpar Dimitri, embora não acreditasse que ninguém seria o bastante bom para sua filha.

       Francesca suspirou. - Deveríamos ter tido filhos homens. Ele é seu companheiro, Gabriel. Curou sua perna e lhe deu sangue quando precisava. Não a uniu a ele nem a tocou inapropiadamente. Deixe de tentar lhe intimidar.

       Gabriel lhe lançou um baixo e retumbante grunhido de advertência, mas permaneceu em silêncio.

—Não tem mais escolha que cancelar a celebração desta noite. - Disse Dimitri. - Skyler não pode ir à estalagem quando foi identificada. E cada uma de suas mulheres estariam em perigo.

—Mikhail. - Protestou Alexandria. - Não pode cancelar nosso Natal. As crianças estão muito excitados. Podemos tomar precauções. Vivemos sob ameaça cada dia de nossas vidas. Nem sequer sabemos o que é isto.

—Exatamente por issi. - Disse Dimitri. - Não sabemos.

       Mikhail sacudiu a cabeça.

—Temos que nos acalmar e pensar com claridade. Skyler, se esta pessoa ou pessoas usarem novamente seu talento psíquico, poderá notá-lo ou podem te bloquear agora que sabem que está perto?

—Duvido que possam evitar que sinta a perturbação na natureza, mas eu também levo o sangue Cárpato. Não senti nada estranho quando Alexandria e eu passeávamos pelo bosque. Ela soube que algo estava errado, antes que eu.

—Não exatamente. - Disse Alexandria. - Senti os efeitos e acreditei na ilusão que minha mente tinha criado, mas não compreendi que estava sendo manipulada.

—Skyler não pode se aproximar dessa estalagem. - Decretou Dimitri, olhando fixamente para Gabriel. A postura de seu corpo ameaçava claramente o outro homem.

       Antes que Gabriel pudesse responder, Mikhail elevou a mão.

—Enviarei ao Jubal à estalagem. É humano e um psíquico muito forte. Manolito Da Cruz irá com ele. Seus ferimentos já curaram e ele é um caçador muito poderoso. Juntos possivelmente, possam captar alguma sinal de traição. Todos estaremos em guarda. Quanto a Skyler, ela tem Lucian, Gabriel e você Dimitri, para se ocuparem dela. Duvido que com vocês três protegendo-a, alguém possa lhe fazer mal.

       Mikhail indicou a adolescente, que se aproximasse dele.

—Entende o perigo no qual está? Já que nossos inimigos poderiam ser capazes de te encontrar, todo mundo em sua casa está em perigo. Deve ser protegida todo o tempo. Francesca, sugiro que fale com ela do que sofre um homem dos Cárpatos quando está sozinho, sem sua outra metade. Deveria entender a situação. Dimitri, você aprenderá a conhecer esta jovenzinha, o que ela sofreu, o trauma de sua vida e também te virá bem o conhecimento de Raven sobre as crianças humanos. - Mikhail converteu numa ordem, enfatizando aquilo do que sabia que Dimitri era bem consciente. Dimitri tinha que entender que a garota era muito jovem e tinha passado por muito para que a unisse a ele agora. - Skyler tem frio e Alexandria precisa voltar para sua casa. Obrigado, Alexandria, por sua rápida reação ao empurrar Skyler. Ela seria bem ferida, o que é pior.

       O olhar de Alexandria foi para o rosto do príncipe.

—Como sabe?

       Ele assinalou à terra.

—Posso ler os sinais tão bem como qualquer um de vocês. Você a empurrou para longe dos ramos maiores.

—Obrigado, Alexandria. - Disse Gabriel. - Temos uma grande divida contigo.

—A dívida é com Dimitri. – Alexandria, reparou. – ele lhe salvou a vida detendo a hemorragia. —Ela se apoiou em Aidan, em busca de apoio. - Quem quer que seja capaz de me colocar a beira das lágrimas fez um bom trabalho, eu estava muito assustada.

—O que fez cair a árvore? —Perguntou Mikhail em voz alta.

—Houve um pequeno terremoto antes que a terra começasse a gritar. Senti a terra mover. - Disse Dimitri. - Não senti a onda de poder. Me pareceu natural, mas não posso saber com segurança.

—Eu estava tão assustada que acredito que imaginei a maioria das coisas. - Confessou Alexandria. - Estava segura de que um vampiro nos caçava, mas Skyler não o sentia. —Não pôde me conter, tinha que examinar a base da árvore. Não havia nenhum sinal de tocha, sombra ou nenhuma outra coisa. O tronco permanecia impoluto e sólido, a copa se gretou e caiu pelo frio. Levantou o olhar para Aidan. - Foi minha imaginação. Deveria ter reconhecido o fluxo de poder. Sinto-me tão tola.

       A mão dele se arrastou até sua nuca.

—Não há nada tolo em você. Gabriel e Dimitri quase se matam e nenhum deles reconheceu o fluxo de poder que alimentava sua fúria. E quando a vi estendida tão quieta e coberta pelos galhos, minhas emoções saíram fora de controle. Por um momento, quis procurar o amanhecer, pensando em me unir a você.

       A respiração dela ficou presa na garganta.

—Aidan. – Ela passou ponta de um dedo pelo rosto dele. Acreditou mesmo que estava morta?

—Esse é meu pior medo. – Ele admitiu, prendendo seu dedo na boca. - Sempre temo te perder.

—Bem, pois não perderá. Sou forte, Aidan e minhas habilidades crescem dia a dia. Me teria convertido em vapor, mas tinha que tirar Skyler do perigo. Parece que a empurrei a uma fratura múltipla.

—Se ela tivesse ficado onde estava, teria morrido. – Disse, Dimitri. - A parte mais pesada do tronco caiu diretamente sobre onde estava. Devo-te muito. – Ele se inclinou ligeiramente, para Francesca. - Me desculpe por te causar desassossego. Não senti a sutil perturbação na natureza e deveria ter sentido. Eu estava consumido pela necessidade de proteger Skyler.

—Não se pode colocar às mulheres em uma redoma de vidro, para protegê-las, Dimitri. - Assinalou Francesca. - Temos nossas vidas igual aos homens.

       Mikhail interrompeu quando Dimitri abria a boca, obviamente em outro protesto.

—Não podemos cancelar a festa de Natal. Se o fizermos nossos inimigos poderiam supor quem nesta região é humano e quem é Cárpato. Cozinhando e "comendo" comida, aparentaremos ser tão normais como outros que nos rodeiam. Agora que sabemos que há perigo ao alcance da mão, poderemos manter nossas amadas a salvo.

       As presas de Dimitri refulgiram quando ele despiu os dentes e deu um passo para Skyler.

—Ela já sofreu bastante nas mãos dos humanos. Não permitirei isto.

       Skyler se pressionou contra Francesca, reunindo coragem para desafiar um homem que parecia muito alto, muito forte e muito invencível com sua expressão dura e seus olhos frios.

- Não alimente a fúria de Gabriel contra Dimitri, Skyler. - Aconselhou Francesca. – Deixe-nos dirigir isto . Ela sorriu a Dimitri.

—Todos as crianças esperam uma celebração como esta. Certamente poderá vigiá-la conosco e conceder sua oportunidade de relaxar e desfrutar conhecendo outros, como tanto desejou. Precisa cada boa lembrança, cada oportunidade de rir e desfrutar da infância como pode ter. Lembre-se, Dimitri, que isso a roubou quando era jovem.

—Não há forma de que eu o esqueça. - Cuspiu ele, entre dentes. Voltou toda a intensidade de seus brilhantes olhos para Skyler. - É importante para você? Não é um ato de desafio porque seu companheiro não quer que vá?

       Ela respirou fundo, sentindo o impacto de seu olhar até os dedos dos pés. Nunca poderia estar com este homem. Desejou gritar sua negativa. Não seria a companheira de nenhum Cárpato e muito menos deste homem. Ele aterrorizava-a. O desespero a encheu de pânico.

       Ante o suave grunhido de advertência de Gabriel, Francesca lhe apertou o ombro.

       Skyler forçou ao ar a atravessar seus pulmões e segurou mais forte a mão de Francesca.

—Eu gostaria de muito ir. - Não pediria permissão. Já tinha tido de suplicar aos homens, o suficiente. De menina, havia realizado atos vis e asquerosos, por comida. Tinha que pedir permissão para dormir, para ir ao banheiro e mesmo para falar. Sua vida tinha sido um inferno e não voltaria para isso. Preferia estar morta.

- Isso nunca, pequena. - A voz de Francesca lhe sussurrou na mente. Uma promessa de amor puro e incondicional que sempre se manteria. - Ninguém nunca te voltará a fazer mal e viverá para contar. Agora eu sou sua mãe e te protegerei com cada fibra de meu ser. Dimitri parece cruel e insensível, mas na verdade, suas emoções estão a ponto de lhe fazer perder o controle, então, para se proteger joga seus sentimentos para o lado e se converte num rude guerreiro. Isso é o tudo o que sabe fazer.

- E quem é ele. - Disse Skyler. - É a violência personificada. Vi sua mente. Ele fundiu-se comigo e pude lhe ver matar sem pensar e sem remorso. Acha que pode me controlar, me obrigar fazer o que ele diz.

- Todo os homens dos Cárpatos pensam assim. São fora do controle. Mesmo nosso amado Gabriel. É muito jovem e embora todos os instintos dele lhe empurram ate tomar agora, ele está tentando se conter e te conceder... Seu tempo.

—Confessarei que eu não gosto, mas talvez esteja sendo superprotetor. Não posso suportar vê-la... Te sentir sofrer. —Dimitri se inclinou ligeiramente, num gesto antigo de cumprimento. - Então deve ir.

       Skyler engoliu sua réplica. Teria ido de todo o jeito. Não precisava que ele... Que um completo desconhecido, lhe dissesse o que podia ou não podia fazer.

—Estava a caminho para ver Julian. - Anunciou Mikhail, decidindo que era o momento de aliviar a óbvia tensão. - Sei que adora desfrutar de um bom momento e queria lhe alertar sobre a surpresa principal de esta noite.

—Há uma surpresa? —Gabriel soou pensativo.

—Raven quer que Santa Claus apareça, vestido de vermelho. - Disse Mikhail, com ar satisfeito. – As crianças estão esperando-o.

       Francesca mordeu o lábio, suprimindo um súbito sorriso quando Gabriel deu um passo atrás dela, realmente em busca de amparo. - Bebê grande.

- Mikhail está tramando alguma coisa. Eu não vou me vestir de malhas vermelhas.

       Francesca estalou em gargalhadas.

—Santa Claus não se veste de malhas vermelhas, tolinho.

       Mikhail lhe lançou um sorriso.

—Não acredito que Gregori saiba disso? Depois, ele é meu genro e tem o dever de fazer o que eu lhe peça. As malhas vermelhas poderiam lhe sentar muito bem.

 

—Não... Não o faria. - Disse Gabriel, um lento sorriso se estendia por seu rosto.

       Dimitri arqueou uma sobrancelha.

—Gregori? O bicho papão dos Cárpatos?

—Ele assustará as crianças, Mikhail. – Objetou, Francesca. - Não vai pedir a ele que seja Papai Noel, vai?

—É obvio que sim.e.

—Eu quero estar lá. Acredito que Lucian e eu temos que visitar nosso irmãozinho. - Disse Gabriel. - Assegure de me fazer saber quando vai a casa dele, quero estar lá.

—Isso é simplesmente mesquinho. – Arreliou, Francesca entre risos. - E não se atreva a lhe dizer que vista malhas vermelhas. Só a idéia de Gregori em malhas já é o bastante para assustar a qualquer um.

—Há benefícios em ser príncipe, depois de tudo. - Disse Mikhail.

       Skyler pigarreou.

—Isto é uma brincadeira... Não é?

Mikhail pareceu presumido.

—Uma boa brincadeira as custas de Gregori, pequena. Deveria ir. Tenho muitas coisas a fazer. Dimitri, enviei mensagens a todos os outros, de que nossas mulheres e crianças devem ser protegidos todo o tempo, especialmente nossa Skyler.

       Skyler jogou a cabeça para trás para olhar Dimitri. Apesar de tudo, tinha que admitir que ele era bonito, com rosto de um homem, não de um rapaz novo. Seus olhos estavam tão vivos e eram tão profundamente azuis que podiam queimar ou congelar. Ele elevou uma das mãos e passou pelo sedoso cabelo negro, afastando-o do rosto. Seus músculos se flexionaram e ondearam. Ele estava em pé e longe dela, mas Skyler sentia seus dedos, como se estivessem tocando seu próprio cabelo, deslizando através das sedosas mechas de forma lenta e íntima. Seu ventre deu um curioso salto. Na distância ouviu o uivo de um lobo. Dimitri virou a cabeça para o som.

—Soa tão triste... Tão solitário. - Murmurou Skyler. O triste uivo provocou sua instantânea simpatia. Desejou, quase precidou encontrar o animal e consolá-lo.

—Ele está sozinho. - Disse Dimitri. Depois, tirou um cordão negro do pescoço. Peço a você que ande com isto, Skyler. Por mim.

       Skyler deu um passo atrás, mas seu olhar caiu sobre o colar que ele oferecia. O diminuto lobo era lindo, com a cabeça arremessada para trás, a pelagem negra e brilhante e olhos de um profundo azul, como safiras resplandecendo para ela. Pensou somente um momento e sua mão moveu lentamente para a dele, até que as pontas de seus dedos se tocaram. O calor percorreu seu corpo, esquentando-a apesar do frio.

       Em vez de deixá-lo cair em sua mão, Dimitri passou o cordão por seu pescoço, levantando seu cabelo e deixando que ele caísse ao redor de seus ombros. O cordão ainda estava quente pela pele dele e o pequeno lobo descansou entre seus peitos. Dimitri estendeu a mão atrás dela, onde não ela pôde ver que fazia e imediatamente a envolveu em uma suave capa vermelha. O frio amainou, instantaneamente.

—Agora você parece a Pequena Chapeuzinho Vermelho. - Ele murmurou enquanto se inclinava para lhe colocar o capuz sobre o cabelo.

       Ela inalou sua fragrância, selvagem, masculina e inesperadamente familiar. Sentiu o contato de seus lábios sobre a face, que imediatamente deixou um rastro ardente descer para o canto de sua boca e seu corpo respondeu com um estranho formigamento, uma consciência intensificada, estendendo para ele. Enquanto ele estava ainda rodeando-a com seus braços, sentiu algo em seu interior elevando para ele. Antes que pudesse se liberar e responder, ele mudou, uma vez mais para lobo, afastando deles rapidamente, para se internar no fundo do bosque. Skyler pegou o pequeno pendente do lobo em sua mão e o apertou.

       Desejou segui-lo. Chamá-lo de volta. Seus pulmões se apertaram e seu coração gaguejou. Sabia que não queria um homem dos Cárpatos. Toda sua vida soubera o que as pessoas sentiam realmente, o que pensavam. E a maior parte disso não era bom. Gabriel e Francesca lhe proporcionavam uma pausa, um refúgio seguro, mas Dimitri lhe tiraria isso. Respirou fundo e se separou do caminho que ele havia tomado.

—Quero ir para casa, Francesca. - Disse brandamente, sentindo uma covarde. - Por favor me leve para casa.

—É claro, céu. - Francesca a abraçou com capa e tudo e elevou o vôo, deixando que Gabriel as defendesse dos olhos curiosos.

—Muito longe. - Murmurou Skyler. De volta a Paris. —Skyler levantou o rosto para a neve que caía em interminável silêncio. O mundo pareceu cheio de cintilantes pontas quando a luz da lua se abriu sobre os cristais de gelo e os flocos de neve. Ela se concentrou na copa das árvores e as antigas superfícies, enquanto voavam para casa, com o Gabriel seguindo-as de perto.

—O bebê sempre te consola. - Disse Gabriel. - Por que não vai ver como está? —Sua babá e a governanta de confiança tinha vindo com eles e ficava com a menina durante o dia. Manteve sua mão sobre Francesca para evitar que se afastasse dele.

       Skyler beijou os dois ainda envolta na capa, foi abraçar Tamara. Assim que saiu do aposento, Gabriel se virou para sua companheira, com impaciência.

—Viu isso? Viu como ele a beijou? Como a tocou? Não tocou simplesmente sua pele, deixou sua marca nela. Não vou agüentar isto, Francesca.

—Gabriel. – Ela acariciou o braço dele gentilmente. – Ele partiu.

—Não partiu, marcou-a, deu-lhe seu sangue, tomou o dela. Pode não ter sido um intercâmbio, mas você e eu sabemos que ele deixou uma advertência para que todos outros homens a deixem em paz.

—Como devia fazer. Como você ou qualquer outro homem teria feito com sua companheira.

       Gabriel franziu o cenho.

—Ela deveria ter uma infância completa. Ele pode esperar duzentos anos como todos os Cárpatos fizeram no passado. Ela tem dezesseis anos. Quem ouviu algo semelhante?

—Savannah tinha vinte e três quande Gregori a reclamou. – Lembrou-lhe Francesca. - É um mundo diferente e Skyler não é completamente Cárpato. Se Dimitri esperar duzentos anos, ela estaria morta.

       Gabriel franziu o cenho.

—A trará completamente a nosso mundo. É nossa filha.

—Dissemos-lhe que era sua decisão. Os intercâmbios de sangue a ajudaram a sobrepor ao trauma, não a privamos de sua escolha. Você soa tão mal, como Dimitri.

—Ela é nossa filha. Não vou deixar fazer uma estupidez por medo. Nego-me a perdê-la pelo envelhecimento humano ou por esse caipira, que, por certo, não é o bastante bom para ela. Ela é nossa, Francesca. Quero-a tanto como quero a Tamara e está sob meu amparo. Toda esta liberdade da qual você fala é ridícula. Todos vivemos sob certas regras,e Skyler também.

—Dimitri mostrou grande contenção não fazendo um intercâmbio completo com ela. Poderia ter aproveitado e não o fez. Nossas mulheres, até Savannah, não são sexualmente amadurecidas tão rapidamente. Ela é Gabriel, você goste ou não. —Francesca levantou a mão quando ele ia protestar. - É obvio que é muito jovem para se unir a ele, mas isso não significa que tecnicamente não pudesse acontecer. Tem que superar seu passado e quem sabe será capaz de fazê-lo. Tem cicatrizes na mente que nem sequer eu posso curar. Nem sequer posso encontrar as lembranças de sua infância antes que começassem as atrocidades. Ele tem que saber. Tem que estar preparado para ser gentil, amável e paciente com ela. É inevitável que estejam juntos, Gabriel.

       Ele se virou afastando-se dela, com os punhos apertados. Quando se voltou, Francesca captou o brilho de presas e como de repente ele abria as mãos e seus dedos se curvaram em garras letais. Gabriel jogou a cabeça para trás e rugiu de raiva. O som sacudiu a casa e no quarto ao lado, Tamara começou a chorar. Se voltou novamente para enfrentar a Francesca.

—Ela não vai ser forçada por este... Este homem lobo... A nada.

       Francesca ofegou ante o insulto.

—Está atuando como um louco, Gabriel. É assim que será com todas nossas filhas?

—Nenhuma filha minha vai ser forçada a nada. – ele deu as costas. Seus olhos negros flamejavam de fúria.

—Como fui eu? —Francesca lhe imobilizou com o olhar.

—Isso foi completamente diferente.

—Por que? Porque foi você? Gabriel, tem que ser razoável. Temos que dirigir isto muito bem, pelos dois. Skyler não vai ser capaz de lhe aceitar, especialmente se você se comporta como um pai louco mostrando as presas.

—Gabriel? Francesca? Tudo está bem? —Skyler entrou carregando o bebê nos braços. - Tamara está preocupada. Nunca antes tinha ouvido seu pai assim e eu tampouco. —Parecia a ponto de chorar. – Vocês estão brigando por mim? Vós nunca brigam. Nunca. Farei o que queiram que eu faça.

       Francesca foi imediatamente até ela e passou o braço ao redor dos ombros da garota, com bebê e tudo.

—É claro que discutimos, Skyler. Só que não em voz alta. Lamento que tenhamos lhe incomodado. Os adultos com freqüência têm diferenças de opiniões.

—Não teríamos se você não discutisse tudo o que digo. - Se queixou Gabriel.

       Francesca ergueu os olhos para Skyler e sorriu.

—Ignore-o. Eu sempre tenho razão e nós dois sabemos disso. E agora, temos coisas a fazer que têm a ver com diversão. Diversão, Gabriel. —Lançou-lhe um pequeno olhar de advertência. - Skyler, venha me ajudar a fazer essas casas de gengibre para o jantar desta noite. Gabriel vai nos ajudar.

       Gabriel deu uma profunda e tranqüilizadora respirada, obrigando o ar a mover através de seus pulmões, e eliminar a raiva que parecia ferver em suas veias e agitar suas vísceras. Deixou-o escapar e tentou encontrar seu centro. A última coisa que queria era alterar mais ainda Skyler ou fazer o bebê chorar.

—Isso é chantagem. - Se queixou, mas piscou os olhos para Skyler. Estendeu os braços para o bebê, pegando-a e se inclinando para beijar a cabeça de Skyler. - Não estávamos discutindo sobre você, pequena humana, mas sobre o que era melhor para você. E não era uma briga, simplesmente uma discussão acalorada. Ambos estamos de acordo. Nenhum homem vai ser o bastante bom para você e terá que ficar conosco para sempre.

       O olhar alarmado de Skyler empalideceu e ela estalou em gargalhadas.

—Sempre? Acredito que quando eu tiver oitocentos anos vai me querer jogar fora.

—Nunca, céu. – Tranqüilizou-a Francesca, afastando as mechas de cabelo da face de Skyler. Tocou uma das cicatrizes em forma de meia lua que somente havia empalidecido, mesmo com o sangue Cárpato, ao curar. E as piores cicatrizes de Skyler estavam onde ninguém podia vê-las. - Sempre será nossa amada filha.

—Quer lamber a tigela em vez de me dar isso, certo? —Zombou, Skyler

—Muita açúcar para você. Disse Francesca, sorrindo. - Vamos, não temos muito tempo para acabar com tudo. Espero que as instruções sejam fáceis. Na verdade nunca construí uma casa de gengibre antes e Raven quer várias para usá-las como centros das mesas.

—A pressão segue subindo. – Zombou, Gabriel. Beijou Tamara e lhe piscou os olhos um olho. - Vejamos como trabalham os membros femininos desta casa.

—Que consta que você vai nos ajudar. - Disse Skyler lhe pegando pela mão e puxando-o. - Vou pintar teu rosto enquanto faço as casas. Tamara adorará, não é, pequena?

       A fúria havia desaparecido, mas a apreensão ante o futuro havia tomado seu lugar. Gabriel fingiu relutância enquanto sua companheira e suas filhas o arrastavam para a cozinha. O riso borbulhava a seu redor e afastava um pouco o medo de perdê-las.

       Skyler entrou na cozinha, inalando o aroma do gengibre. As peças tinham já a forma das paredes e os tetos das casas. Somente precisava uni-las.

       Não houve nenhuma advertência, absolutamente. Enquanto tirava as tijelas de várias cores do refrigerador, uma dor devastadora quase a atirou de joelhos. Manteve a porta aberta para evitar que Francesca e Gabriel vissem as lágrimas que emanavam de seus olhos. A culpa era aguda e dolorosa, uma lâmina de faca que lhe atravessava o coração. Tinha a garganta torcida e a dor pareceu expandir e ocupar cada célula de seu corpo, até que desejou chorar incontrolavelmente. A raiva chegou pouco a pouco, escura e terrível, uma selvagem necessidade de vingança, necessidade jogar uma das tigelas, de fazê-la em pedaços.

—Skyler? —Francesca chegou num momento, envolvendo seus braços ao redor da cintura de Skyler e afastando-a do cristal.

       A tigela era vermelha e com pedaços de cristais incrustados. A Skyler pareceu neve sangrenta. Sentiu a urgência de correr à janela e comprovar que não havia ninguém ferido lá fora. Seu fôlego preso na garganta e ela pressionou uma mão sobre o dolorido coração. Ninguém não... Dimitri. Conectou-se a ele. Estava segura e estava sofrendo.

—Francesca? Tenho que encontrá-lo. Tenho que encontrar Dimitri. - Sua voz foi apenas um sussurro. Não fazia idéia de que corriam lágrimas por seu rosto, até que Francesca lhe tocou a face. - Está... É tão terrível. Não posso explicar. Tenho que ir com ele. Você tem que ir lá e aliviar seu sofrimento.

—Sinto muito, céu, somente posso aliviar o seu. Ele tem que encontrar a forma de viver com as emoções que agora está sentindo. Antes sabia, mas não podia sentir emoção. – Ela se inclinou aproximando-se de Skyler, para murmurar suavemente, para aliviar sua carga. - Posso te proporcionar distancia e isso ajudará.

       Skyler se afastou bruscamente.

—Não. — Ela sacudiu a cabeça. - Gabriel e você sempre me estão protegendo. Desta vez não. Se eu estou lhe fazendo isto, quero poder sentir também. Tenho que saber estas coisas Francesca. Sou realmente Cárpato em meu coração. Preciso do conhecimento, igual à emoção.

 

Mikhail fluiu através do bosque, num rastro de vapor branco camuflado pela neve que permanecia alto entre as árvores, enquanto rastreava o lobo que saltava no chão sob ele. Mikhail sabia que, apesar de tomar a forma de lobo, Dimitri tinha problemas. O lobo parava de vez em quando, cambaleando de dor, a espessa pelagem, normalmente brilhante e espessa, estava apagada e úmida pelo suor. Apesar da forma animal, ondas de dor emanavam do homem e para horror de Mikhail, pequenas gotas de sangue ficavam nos rastros das patas sobre a neve branca e pura.

Mikhail desceu através da canopia, para cair mais gentilmente com o sentido dos flocos de neve enquanto se aproximava do homem dos Cárpatos, cautelosamente. Dimitri havia suportado um inferno nos bosques da Rússia com seus amado lobos. Açoitado por vampiros e mortais, assediado por bandidos e gente supersticiosa, havia enfrentado séculos intermináveis para proteger os humanos e os lobos, sozinho. Não tinha o consolo de seu país natal, da terra ou de sua gente.

O lobo parou de correr, a cabeça para baixo e lágrimas vermelho sangue gotejando sobre a neve. De repente jogou a cabeça para trás e uivou sua interminável dor aos céus e a qualquer deidade que pudesse lhe ouvir. Quando as notas tristes se desvaneceram na noite, reassumiu sua própria forma. O lobo desapareceu para revelar o homem. Dimitri cobriu o rosto enquanto se sentava sobre uma rocha.

—Está sentindo sua dor . - Disse Mikhail, brandamente. - É de uma vez um milagre e uma maldição para você.

Dimitri se levantou de um salto, virando para enfrentar o príncipe, com as presas expostas num grunhido e os olhos brilhando com o resplendor vermelho de uma chama. Ficou de pé na postura de um guerreiro, com as mãos elevadas. O ar que os rodeava carregou de eletricidade e de perigo.

—Não tinha idéia de que não estava sozinho. - Disse Dimitri. - Não teria mostrado tanta emoção.

—Permita-me convocar Gregori. - Ofereceu Mikhail. - Poderia ajudar a aliviar este sofrimento.

—Ninguém aliviou a dela. – Resmungou, Dimitri. - Eu sabia quando pousavam suas mãos asquerosas sobre ela e sabia quando lhe faziam mal, quando a agrediam e a cortavam. Inclusive sabia quando a queimavam, mas nunca senti. Nem a dor, nem a raiva e nem seu desespero. Quando a toquei, quando a abracei e fundi meu espírito com o dela, ali estava, após as paredes que Francesca e Gabriel construíram para distanciá-la disso. Mas ali estava e desta vez, que Deus me ajude, Mikhail... Desta vez senti tudo. Cada agonia, cada humilhação e cada depravação. A raiva e a culpa e a ouvi suplicar, rogar que alguém a salvasse. E onde eu estava?

—Estava cumprindo com seu dever, Dimitri, como todos nós. Skyler é forte e se faz mais forte a cada dia. Não vou fingir entender por que alguns homens abusam brutalmente de mulheres e crianças. Nunca compreenderei algo semelhante, mas sei que é comum. Agora ela está a salvo e feliz. Gabriel e Francesca se ocupam de sua educação e finalmente a introduzirão completamente em nosso mundo.

Dimitri passou a mão pelo rosto.

—Quando a vi, parecia um anjo, Mikhail. Nunca soube o que queriam dizer quando ouvia a descrição, mas havia pureza e bondade nela. Preciso dela. A escuridão se fecha sobre mim e duvido de minha capacidade, para fazer o mais honorável.

—Todos temos momentos de fraqueza, Dimitri. Skyler é sua companheira e como tal, deve fazer o melhor para ela. Sobreviver e agüentar até ao momento em que seja capaz de vir a você. Trabalhe com Gabriel e Francesca, não contra eles. Raptá-la ou uni-la a você só fará mal aos dois e acredito que sabe disso. Ao menos tem esperanças quando tantos outros não têm nada.

—Esperanças? Quando é uma menina e devo voltar para vazio de minha existência? Quando sei que se ficar reclamarei? Quando posso sentir cada brutalidade que lhe infringiram e sou incapaz de apagar? — Dimitri sentou mais uma vez sobre a rocha e sacudiu a cabeça. - Estou perdido, Mikhail.

Mikhail se agachou a seu lado.

—Não pode se perder. Ela deve viver com o que lhe aconteceu e como seu companheiro, você também deve fazer.

—Envergonhado por toda a eternidade por não ter conseguido protegê-la?

—Você está sentindo raiva. Raiva impotente por você, não por ela. Deveria esquecer a vingança, renunciar à justiça, mas sendo a carga e as cicatrizes a única seqüela desses terríveis crimes, rabia aos céus por sua incapacidade para protegê-la. Ela era uma menina e você estava a milhares de quilômetros de distância. Não sabia de sua existência. É um caçador do vampiro e conhece o dever e a honra. Se comporte de forma honorável. Corteje-a como ela merece. Lhe permita se curar com Francesca e Gabriel para que venha a você completa e por sua própria vontade. Esse é o presente que pode lhe oferecer e é muito mais do que a maioria de nós fizemos por nossas companheiras.

Dimitri respirou fundo.

—Eu estava acostumado a olhar as estrelas cada noite e imaginar que ela estava em alguma parte do mundo olhando as mesmas estrelas. Tentava imaginá-la, construir uma imagem em minha mente, mas era muito elusiva. E então a vi com sua pele suave e seus formosos olhos e soube que nunca poderia tê-la invocado, por mais vívida que fosse minha imaginação.

—Permitirá que Gregori o ajude? —Repetiu Mikhail.

Dimitri passou as mãos pelo cabelo escuro e empapado de suor.

—Tenho que superar isto por mim mesmo, Mikhail. Até agora estive sozinho nove séculos e é difícil para mim interactuar com ninguém, nem sequer com minha própria gente. Passei muito tempo na forma de lobo, correndo livre com minha alcatéia.

—Há perigo nisso de aceitar a forma de vida selvagem.

Dimitri assentiu.

—Se a carga tivesse sido muita eu já teria procurado o Escuro. Não posso suportar estar longe dela enquanto estou aqui.

—Não provoque Gabriel.

—Ele não deveria provocar a mim. Já não sou a criança tímido que ele acredita que sou. Esse criança há muito que abandonou este mundo. - Dimitri estendeu as mãos e fechou as mãos em dois punhos apertados. - Sou um assassino e estou maldito para sempre. Ela viu isso em mim, sabe. Sentiu a escuridão e se retirou.

—Você é um caçador. Um dos melhores que tenho. - Corrigiu Mikhail. - Nunca pense nenhuma outra coisa. Skyler é agora sua responsabilidade e está presa a seu destino. Não pode procurar o amanhecer nem pode abraçar o mal. Deve agüentar até que ela seja maior e o bastante forte para aceitar sua reclamação. —Ele se endireitou e levantou o olhar para o céu. - Vou ver Julian Savage. Era um de seus amigos da infância. Possivelmente você gostaria de me acompanhar? —Seus dentes brilharam, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Podia sentir pela por Dimitri e tentar lhe ajudar, mas nunca esqueceria que Dimitri era um perigo e sempre seria até que se unisse a sua companheira. - Acredito que ele, entre todos os Cárpatos, será o que mais gostará de saber que tenho intenção de que Gregori vista o ridículo traje vermelho de Santa Claus.

—Julian sempre adorou uma boa brincadeira. – Admitiu, Dimitri. - Mas lhe visitarei depois, quando estiver mais controlado. Não é sua companheira parente de Gregori?

Mikhail assentiu.

—Desari é a irmã caçula de Gregori. Tem muito talento.

—Conhece o homem que os manteve vivos, quando pensávamos que havíamos perdido? —Perguntou Dimitri. - Deve ser um Cárpato poderoso.

Mikhail assentiu.

—Ah! Darius. Ele é elusivo, calado. Diz o que pensa. Poucos pensariam em cruzar em seu caminho. Parece muito a seus irmãos. Crédulo em suas habilidades e poderes. É interessante ver juntos os irmãos Daratrazanoff. Não há competência pela liderança. Cada um é seu próprio chefe, mas se dão bem uns com outros. É uma forte linhagem.

—Ouvi dizer que Dominic dos Caçadores de Dragões voltou.

—Estava gravemente ferido por causa de nossa última batalha com os vampiros e o mago, Razvan. Dominic ainda descansa na terra. Francesca e Gregori gostariam de muito celebrar uma sessão de cura com ele antes que ela vá para Paris.

Dimitri ficou em pé, quadrando os ombros.

—Diga a Julian que o verei logo, na festa. Patrulharei o bosque e tentarei captar a essência de nossos inimigos. Os lobos podem ter informação para mim.

—Tenha muito cuidado, Dimitri. Seguiram o rastro de energia de volta até Skyler, mas se o sangue os chama, lembre-se que você também leva a fragrância dela, como ela a tua. Também pode estar marcado.

A boca de Dimitri endureceu numa linha cruel.

—Agradecerei à oportunidade de conhecê-los. Não me encontrarão um objetivo tão fácil como Skyler.

Antes que Mikhail pudesse responder, Dimitri se virou e se afastou correndo, mudando para as quatro patas sem perder o passo. O movimento foi tão gracioso e fluídico, que Mikhail soube que ninguém podia lhe igualar. A onda de poder tirou seu fôlego,e Mikhail olhou o ponto onde Dimitri havia mudado sobre a neve. Num momento um homem e no seguinte, o lobo. A admiração o golpeou como acontecia com freqüência, mas como sempre, essa maravilha desapareceu sob a inevitável carga da responsabilidade.

- Meu amor. Você está preocupado. - Raven tocou sua mente. Logo uma onda de amor encheu sua mente lhe proporcionando consolo.

- Não é nada. Vou ver Julian e Desari. Gostaria de se unir a nós?

- Não posso. Eu não gosto do aspecto deste molho. Está... grudento.

       Mikhail se encontrou sorrindo, ante o mal-estar de sua voz.

       Se essa coisa não se comportasse Raven ia jogá-la fora e a usaria como alvo em suas práticas de tiro. A mulher não tinha muita paciência e aparentemente o ato de cozinhar não estava indo muito bem.

- Não acho sua diversão útil, no mínimo.

       - Diversão? - Mikhail elevou o vôo, seu corpo mudou à forma de uma coruja. Planejou sobre o bosque para a casa onde Julian estava hospedando. - Estou seguro de não me sentir o mínimo divertido por suas ameaças murmuradas ao molho humano que não vai consumir você mesma.

       Se fez um silêncio que durou em pulsar de coração. O alarme se estendeu através dele. - Raven? Não vai tentar consumir comida humana, vai?

- Estou considerando se isso ajudaria ou não à ilusão de que somos humanos. Alguns dos habitantes do povoado estarão lá, como um convidado ou dois.

       Mikhail inalou agudamente, suas asas batiam ferozmente enquanto se inundava entre as árvores, com flocos de neve sobre as plumas. – Você vai muito longe com estes teus estúpidos medos, mulher.

       Como represália a diversão dela o banhou, proporcionando-lhe um fluxo de calidez. Somente Raven zombava dele assim, inesperada e amorosamente, em meio a fúria do príncipe dos Cárpatos. Enviou-lhe a impressão de presas nuas, mas isso não a intimidou muito. Ela somente sorriu e voltou para seu molho grudento.

       Sob ele, Mikhail divisou Julian Savage correndo pela neve, com seu longo cabelo loiro como o de seu irmão Aidan, flutuando atrás dele. Levava alguma coisa sob o braço, enquanto uma mulher o perseguia e outro homem levantava a mão, gritando. Julian lançou o objeto no ar e o homem o pegou, ondeando-o triunfante sobre a cabeça. Mikhail aterrissou sobre o passamanes da casa de Julian e mudou a sua forma normal.

—Não tem graça, Julian. - Gritou a mulher com um pequeno grito de desdém. – É para o jantar de meia-noite. – Ela fulminou com o olhar o outro homem. - Barack, me dê isso agora mesmo.

—Ninguém poderia comer isso, coração. —Julian a rodeou, cuidando-se de manter fora de seu alcance, - A menos que planejem usá-lo como couro para sapatos.

       Barack lançou-lhe um sorriso.

—Poderíamos começar uma moda com esta coisa, Desari. Você faz o assado e nós fazemos as solas dos sapatos e depois de caminhar com eles um momento e prová-los, não terão mais fome.

—Eeeca! Isso é simplesmente asqueroso, Barack. Você esteve ao redor de Julian muito tempo.

—Sério, carinho, É bem melhor usar como bola.

—Não me venha com essa coração e Julian, - protestou, Desari. - Não posso deixar que as pessoas comam esse assado depois que você andou atirando-o por aí. —Ela fulminou os dois homens com o olhar, com as mãos nos quadris.

—Venha, mais um passe. - Dirigiu Barack a Julian.

       Julian se pôs a correr e Barack lançou o assado alto no ar. Julian saltou e o pegou, empurrando-o contra seu peito. Antes que pudesse aterrissar, Desari começou a cantar e as notas dançaram prateadas no ar ao redor de Julian, apanhando-o numa rede. Ele ricocheteou como se estivesse sobre um trampolim e caiu na terra, aterrissando com força, numa postura nada elegante.

       Barack se dobrou na risada, mas ileso, Julian elevou o assado seco sobre a cabeça, em sinal de triunfo.

—Touchdown!

       Desari cantou umas poucas notas mais. As notas prateadas e douradas dançaram engastando para formar um nó corrediço que deslizou sobre a cabeça de Julian. O fôlego de Mikhail ficou preso em sua garganta. Na escuridão, com a neve caindo, as notas musicais eram formosas, brilhavam e reluziam com vida e energia. Todo o tempo, a voz de Desari pulsava através de seu corpo, fazendo com que seu coração e sua mente brilhassem com calidez, felicidade e acima de tudo, com amor que sentia por seu companheiro.

       Desari virou a cabeça de repente e sorriu a Mikhail. Ela era linda e sua voz se desvaneceu na noite, como parte da natureza.

—Acho que não deveria estrangular meu companheiro diante do príncipe, não é? — Ela perguntou. Não havia vergonha em sua voz, só riso e boas vindas.

- Desari é uma autêntica Daratrazanoff. Exsuda confiança. - Compartilhou com Raven a imagem da mulher dos Cárpatos com seu cabelo flutuando, seus suaves traços e sua voz musical e as dançantes notas prateadas e douradas lançando um nó corrediço ao redor do pescoço de seu companheiro.

- Ela é formosa!

       Não havia fio no tom de Raven, mas Mikhail lhe sorriu através de seu vínculo telepático. - Possivelmente deveria vir e se unir a mim e deixar esse molho aos insetos, embora que envenenar a qualquer criatura nunca é boa coisa.

- Você é tão divertido, meu príncipe.

       Mikhail fez uma careta. Raven nunca se referia a ele como príncipe a menos que estivesse a ponto de se meter em problemas. Sorriu a Desari.

—Sempre quis estrangular Julian.

—Como meu irmão, Darius. - Disse Desari, caminhando até ele, cada um de seus movimentos era gracioso.

       Um lento sorriso suavizou a boca de Mikhail.

—Posso imaginar muito bem se Darius se parecer com Gregori. Julian estava acostumado a fazer com que Gregori subisse pelas paredes. Mesmo de moço, Julian tinha pouco medo. Seguia seu próprio caminho e se metia em mais problemas dos que a maioria de nossas crianças nunca pudesse conceber.

       Julian passou o braço ao redor da estreita cintura de Desari.

—Não lhe escute. Não era a criança má dos Cárpatos. Somente independente e por uma boa razão. Possuía um vampiro me usando como espião de nossa gente. Não podia estar sempre no meio deles.

—E depois que destruíste o vampiro? —Perguntou Mikhail.

       Julian assentiu.

—Eu o tinha lhe idealizado como se fosse muito poderoso. Como criança, para mim, parecia. Mas como a maioria dos monstros de nossas vidas, uma vez que me converti em adulto, resultou que não era tão poderoso como lhe recordava. Olhando para trás, deveria ter contado a um adulto e possivelmente eles poderiam ter lhe caçado e destruído, me devolvendo minha infância, mas pensei que faria mal a nossos caçadores.

       Mikhail encolheu os ombros.

—É fácil olhar para trás e dizer o que devíamos ter feito, mas é porque temos mais informação e, é claro, o conhecimento sempre muda nossas decisões.

       Julian lançou um débil sorriso.

—Teria desejado recuperar esses anos com Aidan. Ele os viveu muito bem, mas sei que o feriu, o fato de que estivéssemos separados.

       Desari estendeu a mão procurando a dele, como oferta de consolo.

—Agora lhe vemos com tanta freqüência como é possível, Julian. – Ela lhe recordou e depois afastou a mão para esfregá-la contra a coxa. - Está tudo engordurado.

—O infame assado. - Disse Julian, apresentando o grande pedaço de carne ressecado ante ela, com uma pequena reverência.

       Mikhail cobriu sua reação com uma pequena tosse, afastando o rosto, enquanto Desari olhava para seu companheiro.

—Está tudo mexido, Julian. Você arruinou meu assado. O que vou fazer agora? Tenho que contribuir com alguma coisa oara o jantar desta noite.

—Peça ajuda a Corrine. - Sugeriu Barack. – Ela disse ao Dayan que cozinhou muito antes que ele a reclamasse.

—Não há nada ruim nesse assado. - Protestou Julian. – Ele se converteu em couro.

       Desari lhe fez uma careta e depois ao assado.

—Coisa asquerosa. Acho que pedirei a Corrine que me ajude a fazer alguma outra coisa.

       Barack estendeu as mãos.

—Atire-o, Desari. Podemos terminar nossa partida.

       Mikhail sacudiu a cabeça.

—Queria lhes fazer saber que Alexandria e a jovem Skyler tiveram problemas há alguns minutos. Todos temos que estar alerta e proporcionar amparo extra a nossas mulheres e crianças.

—Syndil está em casa, acreditava que poderia preparar algo para a festa. Irei vê-la, saber como está. Se me estender a ela, simplesmente diz que está bem. —Barack esboçou uma pequena saudação e imediatamente elevou o vôo.

       O sorriso esmaeceu no rosto de Julian, que se aproximou mais de Desari.

—Que tipo de problemas? Aidan não enviou mensagem de que Alexandria estivesse ferida.

—Agora ela está bem, mas ela e Skyler sentiram a presença de um fluxo sutil de poder, realçando as emoções ao ponto da irracionalidade. Inclusive Gabriel se viu afetado, perdendo os nervos com Dimitri.

—Sabia que Dimitri tinha chegado. - Disse Julian. - Posso sentir a escuridão nele, crescendo a cada hora. Está instável e temos que encontrar uma forma de lhe manter a salvo. Gregori me encarregou de uma tarefa que me fez seguir adiante, quando eu já pensava em acabar com minha existência. Talvez se desse uma a Dimitri... —Julian suspirou. – Ele está sozinho, matando com mais freqüência do que deveria um caçador e isso está lhe destruindo lentamente.

—Skyler é sua companheira. - Declarou Mikhail.

       Desari ofegou.

—Oh! Céus! Ela ainda é um bebê. Está seguro?

—Restaurou as cores e as emoções em Dimitri.

—Isso não pode ser bom. – Falou, Julian. - No melhor dos casos pode ser difícil de dirigir e nesta situação quando se abusou tanto dela, ele deve estar passando um inferno. Deveria vê-lo. – Ele, acrescentou, - para ver o que posso fazer. Desari tem um poder assombroso com sua voz. Isso poderia lhe ajudar a passar por isso.

—Ele não pode uni-la a ele. - Protestou Desari, com a mão na garganta. - É jovem demais e pelo que diz Francesca, muito frágil. Foram necessários os esforços unidos de Gabriel e Francesca para distanciá-la-o suficiente de seu passado para lhe permitir sua mente funcionar com normalidade. Sabiam que ela não tinha lembranças da infância em sua mente, de onde pudessem tirar a luz para ajudá-la? Deve ser muito difícil para Dimitri sentir de repente todas essas coisas. Por um tempo, estará ferido e em carne viva com as velhas cicatrizes dela.

—É uma situação muito perigosa. – Concordou, Mikhail. Se Dimitri ficar perto dela, continuará lutando com sua necessidade de reclamá-la. Se escolher voltar para a Rússia, o perigo para ambos incrementará. —Ele esfregou as têmporas, sentindo-se de repente velho. A carga de suas responsabilidades pesava muito mais nestes dias escuros.

       Em meio a estação natalina, quando deveria estar sentido alegria e esperança, sentia cansado e a beira do desespero. Como salvaria-os? Duas ou três crianças não eram suficiente. Mesmo se Shea desse a luz uma menina e o bebê sobrevivesse, passariam anos antes que um homem pudesse ser salvo. Muito tempo para esperar na escuridão. Eram muitos homens e uma ou duas companheiras não evitariam a extinção da espécie, especialmente quando seus inimigos se aliavam e se ornavam mais e mais atrevidos em seus ataques.

—Tivemos vantagens durante muito tempo. - Murmurou em voz alta. - Podíamos escanear e conhecer os pensamentos de nossos inimigos, mas agora eles encontraram uma forma de nos bloquear. Podemos sentir o mau cheiro maligno do vampiro, sentir a presença de uma abominação semelhante, mas já não poderemos confiar em que nossos próprios sentidos nos guiem. —Ele estendeu os braços. - Antes, nunca teriam nos perseguido até aqui, temiam nosso poder, mas agora nos atacam quase que diariamente. Nossos inimigos nos ultrapassam em número e quanto mais nos debilitamos, mais eles se fortalecem.

       Desari olhou fixamente para Julian. Os olhos âmbar dele pareceram brilhar quando se adiantou para colocar sua mão sobre o ombro do príncipe. Parecia mais que nunca um guerreiro e ela não pôde evitar a pequena rajada de orgulho que sentiu por ele.

—Nos fortaleceremos também, Mikhail. Sob sua liderança, unimo-nos quando antes estávamos espalhados e distantes. Trabalhaste incansavelmente para conseguir notícias de cada um de nossos antigos e ainda continua procurando a qualquer um que esteja perdido, como Desari e outros.

—As mulheres estão relutantes em ficar grávidas e dar a luz. - Assinalou Mikhail, sacudindo a cabeça. - Sem crianças, Julian, não importa nossa longevidade, nossa espécie não sobreviverá.

       Desari lhe sorriu.

—Sobreviveremos, Mikhail. Onde está sua fé?

       Fez-se um pequeno silêncio. As linhas duras do rosto do príncipe se suavizaram.

—Possivelmente esta celebração de Raven é justo o que preciso para restaurar minha fé, Desari. Se Josef resolve nos oferecer sua interpretação de qualquer canção de Natal, por favor, se ofereça de voluntária para cantar. É possível que suas notas dançarinas possam amordaçar a criança.

—A reputação de Josef lhe precede. - Disse Desari com uma pequeno sorriso. - Tenho entendido que é bastante difícil.

—Digamos simplesmente que não invejo Byron e Antonietta por tentar vigiar a criança. Dizem que é bastante inteligente, mas não muito diligente quando se trata de dominar nossas práticas. Acredito que lhe mimaram muito e permitiram-lhe se misturar tanto com crianças humanas, que ele esqueceu seu dever para com sua gente.

       Julian lançou a Desari um sorriso secreto ante a severidade da voz de Mikhail. Quando criança, com freqüência ouvira o mesmo fio no tom dos homens adultos.

—Converterá-se num bom homem. —Tranqüilizou-o, Julian. - Possivelmente não num caçador, mas precisamos que nossa sociedade volte a progredir uma vez mais. Precisamos de homens que se ocupem dos negócios e das artes e especialmente das ciências.

—Não me resta dúvida de que Josef terá êxito em algo que faça. - Disse Mikhail, secamente. - Mas o resto de nós pode não sobreviver a sua juventude.

—Acredito me lembrar de Gregori dizendo o mesmo sobre mim., muitas vezes. —Julian lhe sorriu, seus olhos extranhamente coloridos, brilhavam como o ouro. - Esse homem necessita senso de humor. Agora, sou seu cunhado. O destino está acostumado a nos pregar pequenas brincadeiras.

       Um lento sorriso de resposta iluminou a face de Mikhail.

—Devo confessar, Julian, que não tinham pensado nisso, absolutamente. Seu cunhado. Também é meu genro e como seu Velho Pai, acredito é o momento de que ele se ocupe de alguns deveres familiares. Ele estará perfeito no papel da Santa Claus esta noite.

       As sobrancelhas de Julian se elevaram.

—Meu príncipe. —Ele se agachou numa reverência. - Reconheço que é o professor neste jogo que com freqüência jogamos com o Escuro.

       Desari olhou de um homem a outro.

—Não posso imaginá-lo pedindo a Gregori que seja o Papai Noel e se for Julian quem endossa o pedido, má coisa.

—Vejo que ela te conhece bem, Julian. - Observou Mikhail.

       Desari descansou a cabeça sobre o peito de Julian.

—Foi uma criança má enquanto crescia? Posso imaginar bem como deve ter sido.

       Mikhail sacudiu a cabeça.

—Independente e com uma boca solta. Adorava o conhecimento e tinha pouco medo. Mas não... – Ele, franziu o cenho. - Havia um jovem, poucos anos mais velho que Julian, que Gregori tinha que vigiar o tempo todo. Era muito pior do que Josef poderia ser. Sempre questionava a autoridade.

—Lembro-me dele. - Disse Julian. - Era assombroso com as armas apesar de tão jovem. Tiberius Bercovitz. Não ouvi e nem havia pensado nele em séculos. Será que ele virá à celebração? Era bom amigo de Dimitri.

       Não havia inflexão real na voz de Julian, mas Mikhail captou uma centelha de cautela nos olhos do caçador. O homem se moveu sutil mas protetoramente para sua companheira.

—Nisto se converteram nossas vidas. - Murmurou Mikhail em voz alta. - Não pomos confiar em nossos amigos, homens que dedicaram suas vidas à honra, a salvar a Cárpatos e humanos. Tratamos os nossos melhores caçadores com cautela.

—É a forma em que vivemos sempre. - Remarcou Julian.

       Mikhail sacudiu a cabeça.

—Houve um tempo, Julian, há muito, no que somente a natureza nos equilibrava. Havia harmonia e paz em nosso mundo e fazíamos celebrações como estas com freqüência.

—E temos uma esta noite. - Assinalou Desari. - Uma reunião com todos os Cárpatos convidados a participar, celebrando e fortalecendo nossa amizade com cada um dos outros, igual a cada um de nossos amigos humanos. Não temos feito algo assim em séculos. Isto envia a nossa gente, a mensagem de que uma vez mais estamos unidos e uma mensagem a nossos inimigos de que estamos fortemente unidos e continuaremos nos fortalecendo. É um princípio, não acha? Você nos proporcionou esse presente, Mikhail.

       Um pequeno sorriso brincou nos lábios do príncipe.

—Raven nos proporcionou este presente. Os Cárpatos nunca antes celebraram o Natal, mas ela usa esta época do ano como desculpa para nos reunir a todos. Eu acreditava que estava errada, mas vejo que eu é quem estava.

—Temos a oportunidade de conhecer uns aos outros. - Disse Desar. - Minha família, bom, não os Daratrazanoff ou meu companheiro Julian, quero dizer nossa banda, os Trovadores Escuros.... Se criou sem outros Cárpatos e esta é verdadeiramente uma oportunidade única. Nem sequer acostumamos a usar o mesmo vínculo mental comum, como todos outros Cárpatos.

—Seu irmão, Darius, tem que ser um trabalhador verdadeiramente milagroso para manter vivos a tantas crianças, quando ele mesmo era apenas um bebê. Shea e Gregori querem lhe conhecer e discutir que ervas e plantas ele usou, para lhes manter vivos.

       Desari assentiu.

—Os três estiveram se reunindo nas primeiras horas da manhã, desde que chegamos. Acredito que só fizeram uma pausa na investigação agora que Shea não está se sentindo bem. Deve estar muito assustada por ter um bebê quando nossa mortalidade infantil é tão alta.

       Desari lançou um rápido olhada a Julian, que tentou devolver-lhe, mas ela se negou a encontrar seu olhar. Julian estendeu a mão para pegar a dela, levando-a ao coração. - Se decidir não ficar grávida esta noite, que assim seja, Desari. Nunca te tiraria a escolha.

       Desari escondeu o rosto do príncipe e limpou as lágrimas esfregando a face contra o ombro de Julian. - Não sei se este ano é especial ou se está mudando nossa hora, causando um salto na fertilidade, mas muitas das mulheres podem ficar grávidas, embora poucas desejam tentar.

- Desari, teremos filhos quando você quiser que ocorra e acredito que acontecerá. Falo sério. – Julian lhe enviou uma onda de amor. - Assim será. Ele não era homem de se render.

       Desari não queria arriscar a lhe romper o coração por não cumprir com sua tarefa, nem decepcionar a sua gente. Sorriu para ele, pois sabia que ele nunca a empurraria. Amava-o ainda mais por sua paciência e fé nela.

—Julian, peço a você que se aproxime de Dimitri. Vou falar com Darius. Quero saber mais sobre como manteve a todos com vida.

       Julian assentiu e observou como Mikhail se tornava transparente e flutuava em direção à casa que Darius escolhera para se hospedar. Deixou cair a mão dos ombros de Desari lhe afastando o cabelo.

—Enfim, sós..

       Um lento sorriso curvou a boca dela.

—Sério? —Arqueou uma sobrancelha para ele. - Pode ser que estejamos sozinhos, mas já que arruinaste minha contribuição para o jantar desta noite, tenho que cozinhar. Ou melhor ainda, você deveria cozinhar.

       Os olhos dourados brilharam para ela.

—Faço o que quiser para lhe agradar. – Ele a abraçou, depois colocou-a sobre o ombro como se ela não pesasse mais que uma pluma e correu para a casa.

—Julian! Selvagem! —Ele se segurou em sua cintura enquanto ele passava sobre o corrimão e abria a porta, com um chute. – Deixe de se comportar como um homem das cavernas.

—Há, há, há —Ele passou a mão por seu traseiro que se retorcia enquanto atravessava casa a passos, para o quarto. - Pelo que me lembro, tecnicamente você também é uma Savage. Portanto, também uma selvagem.

       Ela sorriu e abraçou deliberadamente sua cintura, deslizando os dedos sobre a frente da calça jeans, numa carícia. A ação o distraiu imediatamente fazendo que quase tropeçasse em seus longos passos. Desari aproveitou a oportunidade para se dissolver, deixando-o abraçar o ar vazio, enquanto ela fluía através da casa, num cometa de cintilantes cores. Sua risada suave brincava com os sentidos dele, enquanto seus dedos pareciam lhe acariciar o rosto e descer por seu peito.

—Isso não está certo, Desari. - Objetou Julian, seguindo o prisma de cores, com um passo mais tranqüilo. – E foi definitivamente injusto.

- Para trás, peixe gordo. - Advertiu-lhe, tentando dar a impressão de um grunhido apesar de que o mesmo se convertera em risada. - Eu posso evitar que seja tão suscetível a um pequeno toque acidental?

—Acidental? Eu não acredito. —Ele elevou as mãos e teceu um complicado padrão no ar. O fluxo de cores se chocou contra uma rede sólida e imediatamente a forma natural de Desari aterrissou no chão. Ela sentou a seus pés ainda sorrindo, olhando-o sem se alterar, com o cabelo escuro esparramado em volta do rosto, tornando-a mais atraente que nunca.

       O coração de Julian se apertou no peito. A sensação foi tão forte que ele pressionou a mão sobre o peito dolorido, respirando fundo.

—Cada noite acordado, penso que não é possível te amar mais, Desari. E cada noite, quando você me olha, meu amor por ti aumenta ainda mais. Tanto que às vezes acredito que não poderei contê-lo.

       A brilhante risada desvaneceu quando ela estendeu a mão para ele, lhe permitindo levantá-la e aconchegá-la em seus braços.

       Ela emoldurou-lhe o rosto com as mãos. Desari era alta, mas ele era bem mais, obrigando-a a levantar o rosto para encontrar seu ardente olhar. Seus olhos haviam passado do âmbar ao ouro brunido, a fome que havia neles lhe tirou o fôlego.

—Você é meu amado, Julian. Sempre será meu amado.

—Quando a sinto assim, a salvo em meus braços, com seu corpo encaixando tão perfeitamente ao meu, - ele virou a cabeça, envergonhado pela emoção que não podia nunca controlar apesar de todos seus séculos de disciplina. – e canta para mim enquanto estamos deitados, não há nenhuma outra paz no mundo como a que você me dá.

       Ela respirou fundo. Amor a sacudiu com sua força.

—Quer um filho, Julian? Quer tentar, quando sabemos que o mais provável é que a dor nos espere? Está disposto a se arriscar ao major dos pesares... Que perder nosso filho ou filha... Nos tire o que temos? —Ela tinha que saber a verdade antes de tomar a decisão. Havia uma parte dela que desejava um filho, um criança com brilhantes cabelos loiros e olhos dourados. Uma criança que lhe faria brincadeiras e zomaria dela, recordando-lhe muito o homem que era sua outra metade. Mas o preço era muito alto. Muito alto.

—É nisso que acredita, Desari? Que se perdermos nosso filho, perderemos o que há entre nós? —Ele meneou a cabeça. - Nunca. É impossível.

—Nossamor é tão forte Julian, que as emoções são muito intensas. O pesar de perder um filho seria devastador. - O nó de sua garganta ameaçava estrangulá-la.

- Qualquer pai sabe que perder um filho é devastador. - Replicou Julian, gentilmente. – A dor seria grande, mas se está me perguntando se um risco desse pesar vale a pena pela oportunidade de ter um filho ou uma filha com seus olhos e seu sorriso, então tenho que dizer que para mim valeria a pena, sim. Mas a decisão é sua. Você é suficiente para minha felicidade. Um criança seria um milagre, mas sempre sobreviverei enquanto tiver você.

—Não sou uma covarde, Julian, - disse Desari, seus dedos se enredaram entre o cabelo dele e descansou seu corpo contra o dele, pousando a cabeça sobre seu coração, escutando seu ritmo firme. - Não duvido por ser uma covarde.

       Ele deixou uma carícia ao longo de seu brilhante cabelo negro.

—Nunca, nem por um momento, poderia pensar que é uma covarde, céu. Teremos um filho quando estivermos preparados, nem um segundo antes. Cumpri com meu dever com minha gente, por mais de mil vezes e não terei um filho por dever. Nosso filho será concebido por amor e desejado mais que por nenhum outro, por nós.

       Seu coração igualou o ritmo do dele. O sangue se esquentou em suas veias. Ela elevou o rosto para beijá-lo.

—Bem, então já que eu adoraria ter um bebê, digo que diante disso, tentaremos Julian e desfrutarei de cada momento da concepção e da gravidez e não deixarei que a preocupação nos domine. Nosso filho seria o presente de natal nosso, um para o outro.

       O corpo dele já se movia, seu sangue se esquentava para igualar o fogo do dela.

—Está segura, Desari?

       Sua boca tomou a dele, vertendamor junto com seu doce e aditivo sabor. Cada célula do corpo de Julian, lhe respondeu. Elevou-a nos braços sem interromper o beijo. - O natal realmente pode trazer milagres.

       A risada amada brincou com seus sentidos. - Não acha que isso o liberará de me ajudar a fazer alguma outra casa para a celebração desta noite.

- A celebração desta noite está acontecendo agora. – Ele lhe respondeu.

 

       Darius Daratrazanoff olhava encolerizado para sua companheira, enquanto ela certeiramente atirava várias bolas de neve em seu rosto e seu peito.

—Tempest, estou-te dando uma ordem direta. Volte aqui agora mesmo!

       Tempest amassou a seguinte bola apertada e a lançou.

—Você e suas estúpidas ordens diretas. – Ela jogou o cabelo para trás, num desafio e o olhou com desdém. - Honestamente Darius, não sou um de seus irmãos ou irmãs que fazem tudo o que você diz. Você zombou de mim, serpente. Só porque fiz o forno explodir não significa que não possa cozinhar. – Ela atirou outro míssil bem amassado e fugiu. – Retire o que disse.

- Não pode de cozinhar e a quem importa? Seguro que não a mim. O forno, entretanto, abriu um buraco bastante grande na casa e tenho que repará-lo. Então volte aqui onde eu possa te vigiar.

—Retire o que disse.

—Pelamor de Deus, céu! Você quase incendiou a casa! A cozinha inteira está negra. O que acreditava que estava fazendo?

—O forno não estava funcionando bem, então eu o arrumei.

       Darius se esquivou de outra bola de neve.

—Tempest, não está arrumado. Há um buraco do tamanho de nosso ônibus na parede e a cozinha está negra de fuligem. E aquela pegajosa beberagem púrpura que estava fazendo, agora está sobre o teto e as paredes.

—Concordo. —Ela levantou as mãos, com indignação na face. - Isso não foi de todo, minha culpa. O forno estava mal, abriu um buraco na panela e enviou sementes por todo o teto e as paredes. Não tive nada a ver com isso. E se me pergunta, talvez teve algo a ver com o aquecedor do forno que fundiu também. Então, retire-o. – Ela recolheu neve às pressas e a amassou em bolas. Suas armas.

—Se o forno foi para os ares, isso não tira o fato de que não sabe cozinhar. Nunca foi capaz de cozinhar. Nem quando se valia por si mesma. E se você continuar adiante e te perder de vista, se perderá instantaneamente. Sei que não tem nenhum sentido da direção. Absolutamente.

       As sobrancelhas vermelho-douradas se uniram, furiosas.

—Primeiro me acusa de fazer voar a casa e incendiar a cozinha. Depois me diz que não posso cozinhar e agora diz que não tenho nenhum sentido de orientação! Tenho um sentido de orientação perfeitamente afinado.

       Darius levantou o olhar para o céu, para ver se um relâmpago estava a ponto de cair sobre sua companheira. Quando nenhum se aproximou, soltou a respiração e mudou o assunto, temendo que se continuassem ela falaria mais embustes como o último. Teriam relâmpagos para toda uma vida.

—Para que era o molho púrpura que está sobre as paredes?

—Bolo de nozes. Fiz dez deles e todos voaram. – ela o olhou. - Não esteve rastreando o forno e nem disse a ninguém que o fizesse, certo?

—Não me aproximei da cozinha. Foi uma idéia ridícula. Disse que se você queria fazer essas estúpidas coisas, eu olharia a receita e a reproduziria para você.

—A idéia era cozinhar... Você sabe, como uma humana.

—Foi uma idéia estúpida, Tempest. – Ele disse, com persistente paciência—. Agora venha aqui, neste mesmo momento. —Ele estava começando a se sentir um pouco desesperado. Sua companheira parecia ser a única pessoa capaz de lhe fazer sentir assim. Havia vezes, como agora, em que enfrentaria um vampiro em vez de Tempest. Ela estava entre lágrimas e risos e isso nunca era boa coisa.

       Havia sido uma humana independente quase toda sua vida antes que ele a convertesse e ele tinha sido o comandante único, a maior parte da sua. Fora sempre o responsável pela segurança de sua família durante muito tempo, as urgências protetoras não podiam ser suprimidas. Na verdade, não teria desejado suprimir. Tinha um bom sistema de alarme e este estava gritando, agora mesmo. Tentou injetar gentileza em sua voz.

—Carinho, seriamente, importa tanto este jantar? Nem sequer vamos comer.

—Todas as mulheres levarão um prato. – ela gesticulou através da neve para a casa. —E acha que Barack e Julian vão guardar silêncio sobre este enorme desastre? Nunca deixarei de ouvir falar disso.

       Darius amaldiçoou, baixinho. Teria que tentar algo diferente e inesperado, para tomá-la completamente de surpresa e mudar seu humor. Rompeu a correr para ela, recolhendo neve enquanto corria, dando forma aos flocos em pequenos mísseis arredondados. Os olhos de Tempest se abriram enormemente, quando ele disparou sua munição. Mudou ainda correndo e sua pequena e compacta figura tomou a forma de um leopardo das neves. Suave pelagem cinza adornada com manchas negras cobriu o corpo compacto e a longa cauda.

—Tempest! O que está fazendo! —Darius a chamou bruscamente, antes de seu olhar negro se mover, inspecionando ao redor. Freqüentemente, quando escaneava, não podia encontrar perigo, mas não podia sacudir do todo a inquietação, a necessidade de manter perto sua companheira. Sua estúpida tentativa de brincar com ela, saíra pela culatra. O humor dela era mercurial ultimamente, passando de um extremo a outro, rapidamente.

       O leopardo olhou para trás e saiu correndo. As longas patas peludas deixavam ser fácil correr através da neve e pior ainda, com a forma que havia escolhido, poderosas patas a ajudaram a percorrer uma distância de dez metros ou mais com facilidade.

       Ele saltou no ar, já mudando e o leopardo das neves macho, aterrissou no lado mais pronunciado da costa longe das árvores, para seguir atentamente o rastro da fêmea. Era bem maior e ele utilizou seu tamanho para empurrá-la na direção pela qual queria que fosse.

       A fêmea grunhiu, mostrando seus dentes. Dentro do corpo do felino, Darius franziu o cenho. Poderia ter jurado que, apesar de que o leopardo mostrava se temperamento, profundamente em seu interior, ela estava chorando.

- Tempest, o que houve? Me conte. Certamente esses bolos não eram tão importantes, assim. Conte-me o que te deixa tão irritada. - Ele esfregou sua pelagem pela dela, enquanto mudava de volta a sua forma humana, sentando-se na neve, sujeitando o leopardo fêmea em seu colo. Os dentes estavam a poucos centímetros de sua garganta, quando a olhou nos olhos, distinguindo além do felino, sua companheira. - Você é minha vida. Tempest. Sabe que não suporto ver você assim. Isto não pode ir além de minha capacidade para arrumar. .

       O felino mudou entre seus braços. A quente pelagem deu passo a suave pele deslizando sobre a dele e os cabelos sedosos caíram sobre seu rosto. Tempest lhe rodeou o pescoço com seus braços esbeltos.

—Não sei, Darius. Não sei o que está errado, mas quero chorar todo o tempo.

       Ele sentiu um pequeno estremecimento descer por sua espinha e a abraçou mais forte, regulando automaticamente a temperatura de seus corpos, para que não sentissem o frio. Seus dedos se fecharam entre o cabelo vermelho.

—Desde quando acontece isto e por que eu não soube?

—Porque é uma estupidez, Darius. Nada está errado. —Ela esfregou o rosto contra o peito dele, como um felino, como se restos do animal ainda se aferrassem à mulher. - Não estou acostumada a estar com pessoas, então talvez só esteja nervosa.

       Darius tocou o rosto dela e notou as lágrimas. Seu coração se espremeu no peito. Respirou fundo.

—Vou dar uma olhada, Tempest. Não sabemos o que a conversão pode ter feito a seu corpo. Talvez esteja doente.

       Ela escondeu o rosto em seu pescoço.

—Possivelmente, sim. Não me sinto muito bem.

       Ele franziu o cenho e afastou o cabelo dela do rosto.

—Não quero que tome nada esta noite. Acredito que isto é por este jantar. Depois de todo este tempo, ainda te incomoda?

—Não quando estou contigo. – Ela admitiu. – Só estou cansada, isso é tudo. Cansada e deslocada, acredito.

—Não deveria ter tentado me ocultar isto. – Ele reclamou.

—Não quero que se preocupe por mim, como está fazendo agora. Todo este tempo você esteve olhando ao redor, procurando na terra, nos céus e nas árvores, como se esperasse problemas. Já tem preocupações demais se ocupando da segurança.

—Algo que a preocupe é sempre minha primeira prioridade, Tempest. -Sei que para você se ajustar a nossa forma de vida foi duro.

       Ela sacudiu a cabeça.

—Foi minha escolha, Darius. Queria estar com você. Escolhi a você e sua forma de vida, por mim mesma. Você teria escolhido outra coisa para mim, para nós. Gosto dos outros, Desari e Julian, Dayan e Corrine e Barack e Syndil. Estou me acostumando ver e tê-los por perto, mas isto. — Ela ondeou a mão para abranger as montanhas cobertas de neve e o bosque onde todas as casas ficavam ocultas de olhos curiosos. - Isto ultrapassa.

       Darius lhe acariciou o rosto, com a ponta do polegar.

—Não temos que participar, pequena. Podemos nos afastar disto, ir para longe e ficar juntos. Eu acreditava que queria vir.

—Eu queria... - seu lábio inferior tremeu e seus olhos se encheram de lágrimas. - Acreditava que queria.

       Ele inclinou a cabeça para capturar seus lábios.

—Não chore, Tempest. Preferiria sentir o calor de seu gênio. Suas lágrimas me rompem o coração.

       Ela tentou uma suave risada em meio a seu beijo.

—As lágrimas são normais.

—Não em você. É mais provável que me atire uma bola de neve muito dura e me lance insultos, que chorar. Não é de você.

       Ela beijou-a novamente e Tempest pôde saborear sua desesperada necessidade de consolá-la. Envergonhava-se de não poder deixar de desejar chorar e isso não era próprio dela. Queria esconder-se num buraco e jogar terra sobre sua cabeça. Queria se segurar em Darius, outro traço impróprio dela. Ele simplesmente a abraçou, balançando-a gentilmente como se ela fosse uma menina e quando levantou o olhar para seu rosto, os olhos negros se moviam inquietos e incessantes, em sua vigília, em busca do perigo a seu redor.

—Isto tudo é tão lindo, Darius. Não parece possível que estejamos em perigo. Gostaria que você pudesse relaxar e simplesmente desfrutar da vida, mesmo se for somente por um dia ou dois enquanto estamos aqui.

       Darius tocou uma lágrima errante com a ponta do dedo e a levou aos lábios. Tempest achou o gesto curiosamente sexy. Seu ventre deu uma curiosa contração, uma sensação a qual já estava se acostumando. Secretamente achava Darius o homem mais sexy e mais atraente do mundo, mas não ia deixar que ele soubesse. Não com seu jeito mandão.

—Estou tranquilo. Estar vigilante não significa não poder relaxar. Quero te examinar, Tempest. Não porque acho que algo está errado, mas para que nenhum dos dois se preocupe.

       Um lento sorriso substituiu às lágrimas.

—Quer dizer que você está preocupado. Adiante então. Eu não gosto que se preocupe por minha culpa. —Ele era o ser mais protetor que já conheceu em toda sua vida. Darius apenas suportava que ela se separasse de sua vista. Se tivesse algum tipo de estranha enfermidade, nunca teria um momento sem Darius a seu lado. Mesmo quando a banda tocava e ele estava trabalhando na segurança, mantinha-a sempre a seu lado. Se precisava aliviar sua mente examinando-a, por ela estava bem.

       Darius não perdeu o tempo, seu corpo simplesmente se separou de seu espírito, de forma que se moveu em completa liberdade, numa ardente luz de pura energia. Entrando nela facilmente, Darius demorou comprovando seu sangue, seu coração e seus pulmões, antes de se mover para baixo. Pela primeira vez em sua vida perdeu a concentração e se encontrou de volta em seu próprio corpo, suando e com o coração palpitando. Olhou-a, com pânico nos olhos.

—O que é?O que está errado?

       O coração lhe troava nos ouvidos. Ela parecia tão ansiosa, seus olhos estavam enormes, mas haviam neles tanta confiança que isso o tranqüilizou como nada mais podia fazer.

—Nada está errado. De fato tudo está bem. – Ele se roubou outro fôlego profundo e tranqüilizador, segurando suas mãos, sujeitando-a firmemente contra seu peito. - O que sabe sobre bebês?

—Bebês? —Tempest se retirou, sacudindo a cabeça em negativa, inflexível. - Absolutamente nada e assim vai continuar. Nunca sequer peguei um bebê. Darius, não tive exatamente pais que me ensinassem o que fazer, assim se sentir um desejo repentino de ter filhos vai ter que pensar em encontrar outra companheira. É claro, que eu começaria imediatamente a te arrancar partes do corpo. Mas que demônios! Não o o queria para outra mulher, não é?

—Nossas mulheres sempre sabem quando podem ficar grávidas...

       Às sobrancelhas dela se elevaram.

—Como?

       Ele encolheu os ombros, com aspecto confuso.

—Não sei. Acho que o comprovam. Deveria ter sido consciente de seu ciclo reprodutor.

—Ciclo reprodutor? —Havia horror no tom de Tempest. - Eu não tenho um ciclo reprodutor. Isso é simplesmente asqueroso. Os Cárpatos não praticam controle de natalidade? Achei que você podia controlar isso. Controla todo o resto.

—Se prestarmos atenção.

—Bem, pois começe a prestar atenção. Se pode controlar o tempo e chamar o relâmpago, indubitavelmente pode evitar que tenhamos bebês. Eu sou mecânica. Arrumo as coisas. Cada vez que Corrine vem com seu bebê, eu saio pela porta traseira ou não notou ainda?

       Darius parou para respirar novamente, o ar frio. Reafirmou seu abraço sobre o Tempest.

—Vivi durante séculos e em todo esse tempo nunca pensei uma só vez em nascimentos ou bebês. Uma vez que te encontrei, em tudo no qual podia pensar era no milagre que era para mim, não em comprovar ciclos.

       Foi a vez de Tempest encolher os ombros.

—Eu tampouco pensei nisso. Então agora seremos cuidadosos.

—É um pouco tarde para tomar cuidado.

       O silêncio foi total e rápido. Tempest se afastou ligeiramente para trás, para olhar os olhos escuros.

—O que está dizendo?

—Que você está grávida de nosso filho. – Anunciou, Darius.

       Ela o empurrou com força, saindo de seu colo, para se afastar cambaleando, lutando para ficar em pé. Depois, colocou as mãos nos quadris, olhando-o furiosa.

—Concordo. Isto não tem graça. Nada de bebês, Darius. E não estou de humor para que brinque sobre isso. – Ela apontou um dedo trêmulo para ele. - Nunca, nenhuma só vez, disse que queria filhos.

—Tempest, nunca me ocorreria brincar sobre algo tão importante. Você carreha nosso filho. Eu o vi em seu corpo, aconchegado, são e salvo, crescendo dia a dia. Deveria ter sido consciente instantaneamente, mas estive mais preocupado por nossa segurança e não considerei que algo semelhante pudesse acontecer.

       Ela retrocedeu, parecendo aterrada.

—Não posso ter um bebê, Darius. Seriamente. Não posso ser mãe. Sou um desastre. —Tempest sacudiu a cabeça. – Você está errado. Tem que estar equivocado, isso é tudo.

       Darius se sentou na neve avaliando-a com uma sobrancelha arqueada.

—Raramente cometo enganos Tempest, e certamente não desta magnitude. Surpreende-me não ter notado nunca o batimento de seu coração. É muito forte. Obviamente tenho que estar mais vigilante no que concerne a você.

—Isso é tudo o que tem a me dizer? Darius! Acha que as mulheres dos Cárpatos não ficam grávidas tão facilmente. Eu seria Cárpato depois de atravessar a conversão.

—Pequena... —Sua voz era baixa, uma tranqüilizadora carícia aveludada. - É obvio que você está grávida. Isso explica tudo.

—Tudo?

—Seu humor alterado, as lágrimas, o temperamento.Ouvi dizer que é fácil que aconteçam acidentes como o da cozinha.

—Oh! Darius, é verdade? —Ela apertou os dentes. – Mas vai haver outro acidente aqui, agora mesmo, Darius. Eu não tenho mudanças de humor. Quanto ao temperamento, você é mandão demais e isso torna fácil uma pessoa perder o juízo.

—Comprove você mesma.

       Seu tom tranqüilo e firme a fez rilhar os dentes. Somente por uma vez gostaria que ele estivesse errado e este era o momento perfeito para tanto. Precisava que ele estivesse equivocado. Certamente saberia se fosse ter um bebê, não? E ele teria sabido. Sempre sabia de tudo. Tempest respirou fundo e abandonou o mundo físico a seu redor.

       Lá estava. Um diminuto coração pulsando, pouco mais que isso, mas definitivamente uma nova vida. Tempest observou com total assombro e temor reverencial. Esta diminuta criatura vivia dentro dela. Era uma parte dela e uma parte de Darius.

—Como não soube?

       Era apenas consciente de que Darius estava a seu lado, envolvendo os braços a seu redor e sujeitando-a.

—Eu deveria ter sabido. - Disse ele, gentilmente. - Era minha responsabilidade cuidar de sua saúde, sempre. Estava muito ocupado me preocupando com nossos inimigos, não me ocorreu pensar em concepção, mas deveria ter feito.

       Tempest se apoiou nele, murmurando em voz alta, mais para si mesma que para ele.

—O que vamos fazer? Não tenho idéia de como cuidar de um bebê? —Olhou-o, temendo ser feliz, temendo amor e a alegria que já estavam crescendo dentro dela. – Você me conhece, Darius. Além de você, nunca me sentido apegada a ninguém.

—Isso não é completamente certo. Está apegada aos outros membros da banda. Posso sentir seu afeto por eles.

—Não é o mesmo que ter um filho. Poderia deixá-lo cair. E não tenho nem idéia de como ser uma Cárpato e menos uma mãe Cárpato. Isto é tão arrepiante. O que vamos fazer? —Ela segurou a mão dele, sentindo desesperada.

—Acho que vamos ter um bebê. – Ele encheu seu rosto de pequenos beijos. - Podemos fazer alguma coisa juntos, Tempest. Até que o bebê esteja conosco, podemos nos acostumar à idéia.

—Você não está assustado? Nem um pouquinho, Darius?

—Mantive viva Desari e Syndil. Cuidaremos bem dele.—Poucas coisas o assuatavam. A possibilidade de perder Tempest era a única coisa que podia pensar assim de improviso, que conseguiria. Nunca tinha pedido nenhuma só coisa em sua longa e difícil vida, até que ela chegou. Com seu brilho, era um milagre para ele. Estava tão viva, com seu humor mercurial. Seu riso, com freqüência contagioso. Não havia existência sem ela e não a perderia, nem por um inimigo, nem por acidentes e certamente não no parto.

       Ela estava tremendo.

—Acreditava que a conversão acabaria com tudo isso. Quero dizer, já não tenho a regra, então simplesmente deixei de pensar nisso. E parecia que ninguém nunca ficava incomodado. Corrine estava grávida antes de se converter na companheira de Dayan. E não há alguma espécie de carência para os novatos?

—Parece que não.

—Você sequer está nervoso ou irritado. – Ela acusou. - Você é o homem. O homem sempre se irrita quando a mulher fica grávida. É virtualmente uma tradição.

       O rosto dele sempre parecia esculpida em pedra, uma face rudemente sensual e sem expressão, com olhos que eram frios e duros e continham a promessa de morte, até que a olhavam. Tempest adorava o lento sorriso que ocasionalmente curvava seus lábios e iluminava seus olhos. Especialmente adorava a forma em que o via agora, com amor esquentando o frio e banhando a de ternura.

       Seus pulmões encontraram o ritmo dos dele. Seu coração pulsou em perfeita harmonia com o dele.

—Não tem medo mesmo, Darius?

       Ele sacudiu a cabeça.

—Será algo bom. Nosso filho crescerá com a filha de Dayan. Nunca estarão sozinhos. É importante, especialmente se for um homem, assim há alguém com quem pode contar, com quem tem um forte vínculo. Com o passar dos anos, algumas vezes só lembrança da amizade nos faz manter nossa honra quando estamos sem uma companheira.

—Não diga a ninguém que tenho tanto medo. Tem que haver livros sobre maternidade. Simplesmente me sentarei devorarei-os, todos.

       Ele levou suas mãos à boca e pressionou beijos ao longo de seus dedos.

—Está tremendo. Deveríamos voltar para a casa.

—Quer dizer antes que alguém note o enorme buraco na parede? — Tempest conseguiu formar um sorriso, separou dele e saiu correndo confiante, caminhando de volta em direção à casa, com os ombros retos, a cabeça no alto, decidida a compensar todos os seus defeitos. Se Darius podia direcionar como ter um bebê, então ela também. É claro que não ia tocar nele até que tivesse ao menos três anos de idade. Mordiscou nervosamente o lábio inferior e voltou o olhar para Darius. Ele estava em pé, sacudindo a cabeça.

—O que? Já está lendo meus pensamentos novamente? Disse a você que não fizesse isso nunca. Já é bastante ruim ter que seguir o fio de meus pensamentos. E é absolutamente justo que você dirija o bebê até que ele tenha três anos, depois eu me ocuparei dele.

—Seriamente? —Ele segurou-lhe a parte de atrás da caçadora e a fez se voltar. - A casa está na direção oposta. Esse caminho conduz ao fundo do bosque.

—Eu já sabia. Só estava assegurando de que você estava a par das coisas. —Sorriu-lhe abertamente. - A neve é um pouco desconcertante.

       Darius segurou sua mão e a conduziu na direção correta.

—Notei que você disse, "ele". Acha que teremos um menino?

—Se formos seguir com isto Darius, tem que ser um menino. Definitivamente eu não saberia o que fazer com uma garota. E a pobrezinha seria uma prisioneira. Nunca a deixaria afastar de sua vista e assustaria qualquer jovem que se aproximasse dela.

       Ele grunhiu e Tempest estalou em gargalhadas.

—Vê? Só a idéia já o irrita.

—Eu nunca me irrito. É uma completa perda de energia.

       Tempest se colocou diante dele, detendo-se tão bruscamente que seu corpo se chocou com o dela. Uma braço rodeou seu pescoço e ela pressionou seus seios contra o peito dele e elevou os lábios. Seu cabelo longo se espalhou sobre o braço dele, quando instantaneamente respondeu, fechando os dedos ao redor de sua nuca para firmá-la, aprofundando o beijo até que pensou que poderiam derreter toda a neve ao redor. Tempest se afastou, com os olhos faiscando para ele.

—Irrita-o.

       O coração do Darius batia com força no peito. Uma sensação que somente Tempest parecia provocar.

—Perto de você, possivelmente.

       Desta vez ela o esperou, tomando sua mão novamente, para que pudessem voltar a passear pela neve que caía, para a casa.

—Alguém se aproxima. - Anunciou Darius quando emergiam das árvores para a clareira onde estava a casa. Ele inalou profundamente. - É o príncipe. Fique atrás de mim, Tempest.

       Tempest ergueu os olhos para o alto, ante o que considerava um amparo desnecessário. Deslizou a mão no bolso traseiro de Darius. - Eu acreditava que o príncipe era o líder dos Cárpatos. Acha que devemos temê-lo

       O grunhido de advertência de Darius se fundiu com seu riso. Voltou o olhar para ela. - Não o conheço como outros e prefiro assegurar sua segurança. - Virou para saudar o príncipe, que parecia estar inspecionando a parede danificada da casa.

—Mikhail, estava a ponto de arrumar a casa.

       O príncipe arqueou uma sobrancelha negra.

—Deveria perguntar o que aconteceu?

—Melhor não. - Aconselhou Darius. - Algumas coisas é melhor que fiquem como mistérios. Me dê um minuto para reparar o dano e poderemos entrar, deixando a intempérie.

—O buraco parece maior do que me lembrava. - Tempest apareceu ao redor de Darius para franzir o cenho para a ruína enegrecida da cozinha. - Acredito que alguém esteve aqui aumentando os destroços. Não tinha este aspecto quando o deixamos. – Ela deu uma tentativa de sorriso para o príncipe. - A casa é realmente agradável. Obrigado por nos emprestá-la.

       Mikhail se virou para evitar que o casal visse o riso em seus olhos. A idéia de Raven de fazer com que os Cárpatos cozinhassem o jantar para os convidados da estalagem estava se tornando mais divertida do que havia esperado.

—Raven e eu estamos mais do que felizes de lhes emprestar uma de nossas casas. Espero que possam ficar para uma longa temporada e possivelmente ver este lugar como seu lar, quando não estiverem viajando.

—Obrigado. - Disse Darius cortesmente, sem se comprometer a nada.

       Com as mãos nos quadris, Mikhail olhou fixamente o buraco aberto na parede de uma de suas moradas mais adoradas. - Sempre desejei uma pequena abertura aqui. Acredito que a casa é muito quadrada e precisava de um lugar para uma conversa mais íntima.

       Darius assentiu.

—Acredito que tem razão e é muito fácil de fazer. É isto o que tinha em mente? — Ele ondeou as mãos e os lados da casa mudaram para uma série de curvas.

       Mikhail estudou a estrutura e assentiu.

—Algo assim. Mais nesta linha. —Ele aumentou as curvas, tornando-as mais serpentinas, fazendo com que a casa parecesse uma serpente gigante. - O que te parece?

       Tempest sacudiu a cabeça enquanto os dois homens remodelavam a cozinha. Estava parecendo mais uma competição que uma reparação. Suspirou e esfregou a mão sobre o ventre. A idéia de ter um filho nunca lhe tinha ocorrido. Após ter passado pela conversão e de que suas funções biológicas normais tivessem cessado, simplesmente não dedicou nem um pensamento ao controle de natalidade. Tinha sido um engano estúpido e um que não podia retirar.

       Darius parecia de acordo com a idéia, talvez atpe feliz, mas a ele nada surpreendia. Era um homem perigoso e letal, absolutamente crédulo em suas habilidades e a confiança era nascida da experiência. Ela vivera fugindo a maior parte de sua vida. Não tinha família e não sabia nada de crianças.

- Nos sairemos muito bem. - Darius roçou sua mente com as palavras, como dedos acariciantes. Sua voz era tão suave e cálida que o sentiu dentro dela.

- Não se continuarem mudando a casa. Está me enjoando. Isso para não mencionar que é feio. Deixe de competir e entre. Jesus! Parecem dois colegiais.

       Darius pigarreou.

—Tempest gostaria de entrar. Esta forma em particular não ficou boa, mas podemos viver com ela pelo breve tempo que passaremos aqui, se for isso o que deseja.

       Mikhail começou a rir.

—Está bem. Raven acreditaria que perdi a cabeça. Não pude resistir.

       Darius pegou a mão de Tempest e seu polegar deixou uma sutil carícia sobre a face interna, enquanto entravam na casa.

—Espero que não esteja aqui para comprovar como progride o ato de cozinhar. Não estamos de todo preparados para a celebração de esta noite.

—Não tenho interesse pela cozinha, embora acredite que os outros não estão muito melhor que vocês dois. Vim somente para saber sua opinião sobre algumas coisas.

       Darius dirigiu Mikhail para a cadeira mais confortável.

—O que posso fazer por você?

—Bem, antes que entremos em questões mais sérias, acredito que poderia gostar de saber que Raven decretou que alguém deve fazer Santa Claus.

       Darius se esticou, mas sua face permaneceu inexpressiva.

—O velhinho jovial de traje vermelho.

—Exatamente. Posso ver que sua reação se parece muito à minha. Felizmente, tenho um genro e sinto que é seu dever se ocupar desta.... —ele parou, procurando a palavra correta.

       Algo bem próximo à diversão titilou nas profundezas dos olhos de Darius.

—Honorável tarefa. – Ele acrescentou.

       Mikhail assentiu.

—Eu não poderia ter encontrado uma descrição melhor.

—Estarei mais do que feliz de te acompanhar quando for falar com meu irmão mais velho, que vai lhe outorgar tal privilégio.

—Embora pareça mentira, alguns dos outros querem estar lá também.

Tempest olhou de uma fisionomia solene, à outra.

— Os dois estão loucos? Esse homem assustaria até mesmo o diabo.

—Isso é o que dizem sobre mim.

—Bom, você também poderia. - Assinalou Tempest. - Mas ele... E você não vai fazer Santa Claus para um monte de crianças.

—E sinceramente agradeço. - Disse Darius. A diversão desapareceu de seus olhos quando continuou estudando o rosto de Mikhail. – Você está preocupado e não é porque meu irmão fará Santa Claus. O está acontecendo?

—Estou inquieto pela reunião de nossas mulheres, no mesmo lugar. Embora acredite que é boa idéia para todos nos reunir, me ocorreu que nossos inimigos saberão que não precisaria de muito esforço paravarrer a nossa espécie.

       Darius assentiu.

—Há bem poucas mulheres e crianças. Desfazer-se delas, os homens não terão mais esperança. Muito em breve o caos reinaria e muitos escolheriam viver como o não—morto. Á morte.

       Mikhail assentiu.

—É o que temo. Tivemos um incidente há pucos minutos nos bosques. Uma sutil influencia que nenhum de nós sentiu imediatamente. Skyler tentou seguir o caminho de volta para o remetente, mas notaram que ela ia atrás deles e suspenderam. Mas agora eles têm um caminho direto até ela.

—E as outras mulheres? — Darius já estava comprovando e advertindo Desari e Julian, Dayan e Corrine e por último, Barack e Syndil. Cada um respondeu com um rápido toque que lhe assegurou que não havia ameaça sobre eles nesse momento e que entendiam que teriam que serem mais cuidadosos e estar alerta.

—Não houve outros incidentes e enviei homens para averiguarem à estalagem, para espantar nossos inimigos, mas devemos estar vigilantes e manter nossas mulheres e crianças por perto e protegidos.

- Como se todos não o fizessem já? Genial, está se dando mais munição para que fique mandão.

       Darius a ignorou.

—A menina... Skyler. Ela está a salvo? Gabriel e Lucian são meus irmãos de sangue. Skyler é parente consangüínea.

—Todos nós nos ocuparemos de sua segurança. Provavelmente não se lembre de Dimitri. Ele era muito mais velho que você, mas voltou da Rússia e é o companheiro de Skyler. É uma complicação que não esperávamos.

—Gabriel se mostra protetor com ela.

- Sim, e muito. Como deveria ser. Ela é de valor incalculável para nós. - Mikhail se inclinou para ele. – Soube que esteve conversando com Gregori, Francesca e Shea sobre como manteve vivos as outras crianças após o massacre. Eram somente bebês. Você apenas estava com seis anos.

—Infelizmente, não me lembro muito. Foi faz séculos. Estávamos em outro continente, num mundo que não nos era familiar. Não recordava muito de minha terra natal além da guerra e a massacre. Inadvertidamente inspirei um medo nos outros, sobre estas montanhas e evitamos completamente a região.

       Mikhail assentiu.

—É compreensível, mas possivelmente não compreende o milagre que conseguiu. As maiores mentes, nossos curadores de mais talento, não são capazes de fazer o que você fez. Para que nossa espécie sobreviva, devemos encontrar as respostas do por que nossas mulheres sofrem abortos. Por que tantas de nossos crianças morrem em seu primeiro ano de vida. E por que temos uma percentagem tão alta de nascimentos de homens, sobre mulheres.

       Tempest ofegou e ficou completamente pálida.

—Darius? —Ela emoldurou-lhe o rosto com as mãos, obrigando-o a encontrar seu olhar aterrado. - É certo isso? Sabia disto?

—Sim. - Os companheiros não mentiam uns aos outros.

—Abortos? Crianças mortas no primeiro ano de vida? — Ela negava-se a afastar o olhar dele, negando lhe permitir afastar o olhar do dela. - Sabia todo o tempo?

—Nossa raça morre. - Disse Darius. - Temos poucas mulheres e menos crianças.

—Mas você disse... — Tempest se interrompeu, deixando cair as mãos como se tocar sua pele, a escaldasse. - Deveria ter me dito isso imediatamente.

—Que bem teria feito? A decisão se tomou por nós. Nosso filho cresce dentro de seu corpo. Já havíamos gerado uma vida. Não há alternativa para mim exceto assegurar que criança sobreviva. Nego-me a considerar outra possibilidade. —Sua voz era surda, sua face esculpida em pedra. Seus olhos negros não abandonaram os dela.

—Deveria ter me dito. – Ela repetiu.

—Várias de nossas mulheres deram a luz com êxito. —Disse Mikhail, ficando em pé. - Sempre há esperança. Especialmente agora. Terei que discutir isto mais a fundo contigo, Darius. – Ele acrescentou.

       Darius continuava sustentando o olhar ddeo Tempest.

—Sim, claro. Estou a sua disposição. —Ele esperou até que o príncipe saísse antes de passar a mão pela massa de brilhante cabelo vermelho.

—Não perderemos nosso filho.

—Porque você decreta?

—Se isso fizer a diferença. Minha vontade é inquebrável. Não perdi Desari, nem Syndil ou a Barack e Dayan. Eles vivem porque eu decretei, porque lutei por suas vidas e usei cada átomo de vontade e habilidade que possuía para assegurar sua sobrevivência. Acha que faria menos por meu próprio filho? Por nosso filho?

—Por isso todos têm tanta confiança em você. Por isso esperam tanto de você. Sem você, todos teriam morrido.

       Era a pura verdade. Estava somente com seis anos, mas seja o sangue Daratrazanoff já era forte nele e sua vontade cresceu até que se negou a admitir a derrota em sua mente, sem se importar com as probabilidades.

—Achei que queria ter um bebê, Darius. Agora, quando acredito que poderia perdê-lo, sei que o desejo desesperadamente. Shea deve estar muito assustada. Está perto de dar a luz. Se eu fosse ela, não queria deixar que o bebê abandonasse a segurança de meu corpo.

—Ela tem Jacques para lhes manter a salvo, Tempest. Você me tem .

       Tempest deslizou sobre seu regaço, apoiando a cabeça contra seu peito.

—Então não vou me preocupar.

       Ele a beijou gentilmente, amorosamente.

—Acreditarei nisso quando ver.

—Por isso, você pode assar você os bolos.

—Bolos?

—As coisas púrpuras e pegajosas. Você disse que faria qualquer coisa por mim e preciso que você assem esses bolos.

—Crie que não posso fazer isso.

—Acredito que será divertido vê-lo tentar. – ela se inclinou para outro beijo, a gargalhada começava a emanar, borbulhante.

 

       Com a forma de uma coruja, ele circundou a casa que estavam ocupando. Não parecia haver perturbação, mas sentia o coração na garganta. Pressentia que algo não estava bem. Estendeu por seu privado e muito íntimo vínculo telepático, mas ela não respondeu. Sentia sua presença, sentia sua concentração, sua absoluta concentração em algum outro lugar. Um bom sinal já que Syndil teria estado difundindo onda de medo se tivesse estado assustada.

       Baixou com rapidez, mudando de forma e quase beteu no alpendre, na pressa, precisando vê-la. Ela era ainda emocionalmente muito frágil e sua relação era muito dificil às vezes. Ela possuía a tendência de se retrair, inclusive dele. Do brutal ataque de Savon, um membro de confiança da família que se convertera em vampiro, ela tinha problemas com a confiança e especialmente com a intimidade.

—Syndyl! —Chamou-a, atravessando a passos rápidos, a pequena cabana.

       Não houve resposta, somente o som de seu próprio coração lhe trovejando nos ouvidos. Inalou agudamente, cheirando os dois leopardos. Se imobilizou, lutando para se tranqüilizar. Inalou novamente. Sangue. E não era qualquer sangue, mas o sangue do Syndil.

       Abriu abruptamente a porta do quarto, para encontrar os dois grandes felinos, Sasha e Forest, sobre a cama. Ambos elevaram as cabeças e lhe dirigiram uma longa e lenta avaliação. Sasha despiu seus dentes enquanto Forest grunhia abertamente. O coração de Barack saltou. Os leopardos sempre viajavam com a banda e nunca se mostravam agressivos para nenhum membro da mesma, nem quando estavam de mau humor.

       Devolveu-lhes o grunhido, fechando a porta e virando, correndo de volta para a noite. Inalou outra vez e encontrou a fragrância dela, a direção que havia tomado. Imediatamente mudou à carreira tomando o ar, mais veloz ainda e com o coração palpitando de medo. Seguiu a fragrância através do bosque até que chegou a uma clareira de terra queimada. As árvores estavam inclinadas e retorcidos, as folhas enrugadas e em certos lugares a terra estava marcada por queimaduras de ácido da mais malvada criatura, o não-morto. Captou a visão dela e o ar se imobilizou em seus pulmões.

       Barack observou à mulher ajoelhada sobre a terra enegrecida, com os braços totalmente abertos e as palmas das mãos revoando sobre a terra. A neve caía suavemente sobre ela, cobrindo seu cabelo e roupa fazendo com que ela parecesse faiscar. De seu ângulo de visão, podia ver a concentração em sua face, seus olhos fechados, as longas pálpebras que formavam duas espessas meia lua. Ela parecia serena, toda sua energia estava concentrada na tarefa. Parecia formosa, um pouco mágica, seu cabelo negro brilhava sob a capa de neve, com flocos sobre suas longas pálpebras e seus pecaminosamente perfeitos lábios que sussurrava uma canção de esperança e ânimo, à terra erma.

       Ficou em pé, com o coração palpitando no peito, o terror de não encontrá-la a salvo em sua casa se amainava, enquanto amor o assaltava até encher cada parte de seu coração e sua alma, que já não houve espaço para nenhuma outra emoção. Syndil. Sua companheira. É claro que ela estaria curando à terra. A ouvira gemer de dor, sentira o mal que se estendia lentamente através, envenenando e queimando todo ser vivente.

       Ela era a mulher mais formosa que já tinha visto, que nunca poderia imaginar. Sob suas mãos, a vegetação verde surgiu atravessando a neve. Pequenos arbustos e árvores abriram passo para a superfície, enquanto ela cantava suavemente, persuadindo-os a crescessem. Desari, com sua voz pura e incrível, proporcionava paz às pessoas. Somente com sua voz podia envolver uma audiência em lençóis acetinados e luz de velas e os fazia recordar velhos amores e esperanças perdidas. A voz de Syndil também possuía grande poder, mas a dela estava unida à terra. As terras marcadas e danificadas a chamavam. Ela nunca poderia ignorar suas chamadas. Poucos podiam ouvir os gritos e prantos como ela e menos ainda, podiam curar seus ferimentos e lesões que jaziam sobre a terra.

       Syndil o surpreendia com seu poder. Observou como ela se movia à esquerda, depois à direita, subindo a costa, tocando uma árvore gravemente prejudicada, incitando um novo broto, purgando os horrendos resultados que o não-morto tinha deixado na terra. Ficou em pé e se virou para o pequeno riacho onde a água já não corria, mas o leito estava ao máximo de sua capacidade. Escuras manchas marrons cobriam a superfície da água e estendiam tentáculos de uma bola de gelatina descolorida que alterava a composição da água. Milhares de diminutos parasitas volteavam pelo globo e muitos usavam os tentáculos como diminutas artérias e veias, movendo-se de onde o resto estava congelado numa grande massa.

       Elevando as mãos, Syndil começou a cantar, ignorando a presença de Barack, com toda concentração na terra danificada. Ele sempre sabia em que momento ela estava perto, mas ela não tinha a mais ligeira idéia de que seu companheiro estava nas cercanias. Isso deveria ter lhe incomodado, mas ele não podia evitar a onda de orgulho por ela. Quando ela se comprometia a curar a terra, estava total e inquestionavelmente concentrada e com freqüência gastando bem mais energia da qual podia se permitir. Igual a um curador de pessoas que ficava drenado e cambaleando de cansaço, Syndil também se sentia assim quando curava a terra.

       Sua voz se encheu de poder e os parasitas se retorceram de dor. A massa gelatinosa se sacudiu assustadoramente. Barack se moveu a uma melhor posição, para defender sua companheira. O ar estava saturado e o cheiro era tão nocivo apesar da neve que caía, que o horrendo odor quase o asfixiou. Barack se aproximou mais para olhar a massa congelada. As criaturas pareciam quase vermes, mas bem menores. O mau cheiro do mau permeaba a região inteira.

       Olhou ao redor, escaneando a área com cada um de seus sentidos, procurando sinais de um inimigo. Eram estas as seqüelas dos vampiros que haviam morrido durante a tentativa de assassinado do príncipe? Ou era outra ameaça, bem mais recente? Aproximou-se de Syndil, estirando a mão para ela, mas quando sua voz encheu a noite com sua força, os pequenos parasitas começaram a explodir, como pipocas de milho, sendo expelidos da bola de gelatina num esforço de se afastar dessa voz. Imediatamente ao se exporem ao ar, explodiam.

       A mão de Barack caiu para o lado. Olhou para as árvores, retorcidas, inclinadas e enegrecidas e para a seiva que fluía das numerosas lesões, congelada pelo mesmo gel marrom. Os parasitas explodiram em meia dúzia de árvores para cair sem vida no chão. Barack ondeou a mão para o céu. Imediatamente o vento se levantou e o ar mudou, rangendo e chispando. O látego de um relâmpago lambeu a capa de cadáveres sobre a neve, convertendo-os instantaneamente em cinzas negras. Com um uivo de fúria, o vento pulverizou os restos em todas as direções, enquanto a neve caía e cobria uma vez mais a terra com uma antiga manta branca.

       Pela primeira vez, Syndil virou a cabeça, seus grandes olhos escuros eram quase líquidos. O fantasma de um sorriso curvou sua boca, atraindo a atenção para a formosa forma de seus lábios e fazendo com que suas vísceras se contraíssem e se fechasse tão duramente sobre ele, que lhe fez mal. Em todos os anos que havia passado com ela, nenhuma só vez notara que ela incitava sua necessidade de sexo. Nenhuma só vez a tinha cuidado como nada mais que uma irmã de leite, embora todo esse tempo ela tinha mantido suas emoções a salvo. Não era surpreendente que nenhuma só vez ouvesse ficado satisfeito com outra mulher. Tornara-se ridículo com o passar dos séculos. Uma terrível necessidade o arranhava até que pensou que ficaria louco se não tocasse a pele de uma mulher, se não enterrava seu corpo profundamente numa delas. Houveram muitas e todas dispostas, mas ele estava preso numa espécie de tortura enlouquecida. Precisava delas, mas nenhuma podia saciar seus desejos.

       Às vezes, Syndil ainda sentia que a tinha traído, mas entendia o círculo interminável no qual estivera preso. Fitá-la, inalar sua fragrância, roçar seu cabelo ou um dedo convertia seu corpo numa dor pura que somente ela poderia aliviar. Estivera tão duro durante tantos anos que não podia contá-los e fitá-la somente fazia com que voltasse a acontecer novamente. Agora era dele e uma mulher amável e sexy que não merecia, mas que de algum modo conseguia lhe amar, de todos os modos.

—No que está pensando, Barack? Parece triste.

       Não mentia a sua companheira. Em qualquer caso, ela somente tinha que tocar sua mente para saber. – Eu me lembrava do momento preciso em que compreendi que era você que excitava meu corpo até semelhante estado de dor. Você estava de pé junto a um riacho, escovando o cabelo. Eu o achava mais fascinante a cada passada da escova e desejei poder sentir seu cabelo contra minha pele nua. Quis soltá-lo, eu mesmo e soube que tinha que ser você a mulher que tanto desejava. Você a mulher que tinha procurado entre tantas.

—Faz quanto tempo ?

—Estávamos na França.

—Isso foi a cinqüenta anos.

       Ele assentiu.

—Acreditei que o que sentia era errado. Crescemos juntos, como uma família. Parecia... De mau gosto. Temi estar corrompido de alguma forma. Observava-a depois disso e cada movimento me parecia sensual e sedutor. E odiava que os homens a observassem, que se aproximassem de você.

—Mas ainda assim esteve com outras mulheres.

       Ele sacudiu a cabeça.

—Mantinha a ilusão, mas na verdade já havia tido noites de insatisfação, suficientes. Do que serviam? As outras mulheres já não me atraíam. Averigüei o que estava acontecendo.

— Eu o vi. - Havia dor em sua voz, e isso o fez sobressaltar.

—Meu viu flertar e ir embora logo. Tomava sangue e as deixava com falsas lembranças. As noites eram um tortura, Syndil. Algumas vezes acreditava que estava no inferno. —Ele estendeu a mão para ela. - Possuia um terrível segredo e nunca ia poder compartilhá-lo com ninguém. Cobiçava-a a tal ponto que não podia deixar que se aproximasse de mim. Sempre temia que alguém descobrisse o que sentia por você. Naquela época teria dado tudo para que fosse somente luxúria, fácil de satisfazer. Era muito mais... É muito mais.

—Por que não me disse isso?

—Um homem dos Cárpatos sempre deveria controlar a si mesmo. Esgrimimos muito poder para controlar tudo, exceto nossos cérebros. Não podia controlar meu corpo nem meus pensamentos quando estava perto de você, Syndil. Você inclina a cabeça ligeiramente quando está pensando se participa ou não em uma conversa. Segura o lóbulo da orelha esquerda quando está preocupada. Tem o sorriso mais lindo que já vi. Sei que é muito frágil mas ao mesmo tempo, incrivelmente forte. — Um lento sorriso mudou seu semblante preocupado.— Sempre vou atrás de você no palco, quando estou sozinho e posso sentir o balanço de seus quadris e o toque de seu cabelo.

—Nunca me tinha contado isto.

       Ele se esfregou o queixo.

—É um pouco humilhante admitir que estive obcecado por você. E quando soube que já não podia agüentar mais, tive que admitir a verdade, mesmo que isso significasse abandonar nossa família. Mas você foi atacada pelo Savon, nosso irmão.

       Syndil afastou o olhar dele, voltando-o para o arroio. A água corria fria e limpa, todo rastro de veneno havia desaparecido. Barack seguiu seu olhar e como sempre, quando via os resultados de seu trabalho, sentiu-se humilde e orgulhoso dela.

—Syndil, não há ninguém neste mundo que possa fazer o que você faz. Tem a mínima idéia do quanto é admirável?

       Ela percorreu com o olha,r as enegrecidas ruínas da batalha e a terra marcada.

—Há muito o que fazer aqui. Nossos inimigos deixam seu veneno no solo, para abrir passo até a terra onde descansamos. Se puderem voltar a terra contra nós, ganharão.

       A cabeça de Barack se elevou alerta. Ela estava cansada. A energia necessária para curar grandes seções de terra destruída pelo fogo ou o pestilento vampiro era enorm, e ele tinha muito pouca idéia do que teria que pagar para aliviar o que o não-morto havia provocado com a extensão de semelhante devastação. Ela parecia pálida, seus olhos estavam enormes para seu rosto e pressionava as mãos contra o peito como se o coração lhe doesse.

—Syndil —Ele estendeu a mão para ela. – Venha aqui comigo.

       Esperou. Seu coração palpitava, uma pequena parte dele suplicava que ela desse um passo adiante, ansiando por seu contato, por sua ajuda, mas como sempre, ali estava o diminuto e breve momento de dúvida, a cautela em seus olhos e a sombra em sua mente que já não podia lhe ocultar. Ela atravessou a distância até ele, estendendo a mão. Seus dedos se fecharam ao redor dos dela e ele a atraiu para si, com deliciosa gentileza. A pesar do fato de que os Cárpatos podiam regular sua temperatura corporal, ela estava fria e tremia um pouco. Envolveu-a em seus braços, protegendo a da neve com sua figura maior e usando seu próprio calor corporal e energia, para esquentá-la. Atraiu a fragrância dela a seus pulmões e cheirou sangue.

—O que aconteceu? —Pegou seu braço, para , poder vê-lo.

       Ela franziu o cenho, seu corpo perdeu algo de sua rigidez, para entrar mais no dele.

—Sasha e Forest estavam comigo na cama, dóceis como sempre e então Sasha começou a se agitar. Em questão de minutos, Forest a seguiu. Começaram a passear, emitindo sinais de perigo. Escaneei, mas o mais que pude sentir foi um indício de poder no ar. Nem bom nem mau, simplesmente poder.

—Isso não explica estes arranhões, Syndil. São profundos. – Ele inclinou a cabeça para seu braço nu e seus lábios beijaram, ligeiros como plumas, acima e abaixo sobre as lacerações. Sua língua passeou sobre os ferimentos, afastando a dor com sua saliva curadora. Beijou-lhe o braço novamente e elevou a cabeça. Com uma das mão segurou seu queixo para que ela não pudesse afastar o olhar da censura de seus olhos. - Deveria ter me chamado imediatamente. Seu bem-estar está antes de todo o resto.

—Não havia nada que te contar. Com tantos Cárpatos reunidos num só lugar, há flutuações de poder no ar todo o tempo. Simplesmente assumi que os leopardos reagiram a uma sensação diferente. Estão acostumados a nós, mas não aos outros. Estavam bem comigo até que tentei abandonar a cabana. Sinto muito. Foi somente isso. Não pensava em nada mais que em me ocupar disto aqui. – Ela balançou a mão num arco gracioso, para abranger a terra enegrecida. – Ouvi os gritos da terra desde que despertei e já não podia ignorar mais a chamada. Sabia que seria difícil e exaustivo, mas não esperava... — Ela interrompeu e olhou sobre o ombro, para a enorme área destruída pela batalha com o não-morto. - É muito grande, Barack, muito mal.

       Havia lágrimas em sua voz e em sua mente.

—Só está cansada, coração. Tem que se alimentar. —Havia um sensual convite e uma ordem dominante em sua voz, de uma só vez.

       Tentava com força suprimir o lado rude de sua natureza, tanto como lhe era possível, particularmente quando vinha acompanhado de algo sexual com o Syndil. Ela estava com ele e isso era para ele, o bem mais importante do mundo. Não importava quanto tempo precisasse para desenvolver sua confiança nele. Anos, séculos, possivelmente mais, mas pouco importava. Poderia ter todo o tempo que precisasse, somente devia controlar a natureza dominante que tanto prevalecia nos homens de sua espécie. Não se arriscaria a arruinar a frágil confiança que estava se desenvolvendo entre eles.

       Abriu a camisa com uma só idéia e Syndil virou o rosto para pressioná-lo contra seu peito. O toque da pele suave contra a dele, a sensação de seus lábios movendo sobre seu coração, seu cabelo lhe roçando como seda, tudo se reuniu numa urgente necessidade que golpeou-o com força, para se acumular em seu interior, numa dolorosa sensação. Enredou os dedos entre seus cabelos e segurou sua cabeça no braço, seu corpo se enrijeceu em espera. Passou um batimento de seu coração... dois. E ela beijou seu peito, brincou com a língua, arranhou-o uma vez, duas vezes, com os dentes. O coração acelerou em seu peito. Seu corpo endureceu mais, vibrando com ânsia.

       Os dentes de Syndil cravaram profundamente em seu peito e a dor deu passagem instantemente ao prazer. Seu corpo flutuava em êxtase. Moveu-se para balançar o quadril contra o dela. O gesto inflamou mais seus sentidos. Inesperadamente Syndil, pela primeira vez sem que ele a animasse, fundiu sua mente com a dele, alimentando seu próprio desejo sexual, a labareda de calor, o sangue quente, as imagens eróticas dela inclinada sobre ele, o cabelo caindo sobre sua pele enquanto ela...

       Barack gemeu em voz alta. - Não pode me fazer isto e não esperar represálias.

       A risada dela foi baixa e sensual, um convite definitivo. Fechou os olhos, saboreando sua resposta a ele e o conhecimento de que ela o desejava. Simplesmente a levantou, embalando-a contra seu peito enquanto se alimentava e elevou o vôo.

       Syndil lhe lambeu o peito, fechando as diminutas aberturas e elevou a boca para o pescoço dele. Suas mãos se deslizaram dentro da camisa aberta.

—Aonde vai com tanta pressa? —Murmurou contra sua pele. - Sempre quis fazer amor na neve. Do que serve poder controlar nossa temperatura se não pudermos usá-lo para nossa diversão?

       A Barack não importava onde estivessem. Se ela queria neve, este era um lugar tão bom como qualquer outro e igualmente bem protegido dos elementos. Baixou-a com rapidez, sua boca já buscando dela, o fogo flamejando entre eles. Sua necessidade dela era sempre ardente, mas manteve as mãos gentis e sua agressão controlada, não querendo assustá-la. Ele entrava em pânico quando estava sob ele e por isso ele nunca tinha assumido uma posição sexual dominante.

       Syndil afastou sua camisa para um lado, baixando-a pelos braços como se sofresse um frenesi para lhe tirar a roupa, que tinha se esquecido que podia afastar o tecido ofensivo, somente com a mente. Observou como o desejo se elevava em sua face, a ardente intensidade de seus olhos quando estendeu beijos por seu peito, por sua garganta, capturando sua boca e voltando para seu peito com pequenas mordidas.

       Nunca havia agido assim com ele e Barack não pôde evitar a resposta de seu corpo. Seu próprio desejo cresceu mais rápido e mais quente que nunca. Syndil lhe desejando e iniciando o ato de amor era mais afrodisíaco do que nenhuma outra coisa podia ser. Ela nunca mostrava indícios da mesma urgente necessidade que ele sempre sentia quando a tocava.

- É claro que sinto. - Seus dentes mordiscaram sua orelha. Sua língua brincou e dançou sobre a pele dele. Passaria uma eternidade tentando eliminar a traição e a lembrança da violação de Savon e havia uma parte dele que nunca perdoaria a si mesmo por não estar lá para protegê-la.

- Demonstre-me então. – Ele colocou todo o feroz amor que tinha por ela em sua voz, em suas mãos que subiram até seu cabelo incrivelmente longo. Ele sempre o prendia no alto da cabeça e ele soltou as presilhas para deixá-lo cair livre. Seu cabelo era sensual e agora com sua boca lhe fazendo coisas pecaminosas no corpo, desejava a cálida seda de seu cabelo espalhado sobre ele. Não queria que ela parasse nunca mais, mas precisava lhe tirar a roupa.

- Então me tire isso.

       Sorriu ante a impaciência de sua voz. Sempre pedia permissão para não alarmá-la, mas possivelmente e com sorte, já o tinham superado. Ondeou a mão e a teve em pé ante ele, completamente nua exceto por seu longo cabelo. Uma capa sedosa que emoldurava a suave pele e o corpo delicioso. Como sempre, quando a olhava, seu coração palpitou e seus pulmões se apertaram. Barack sentiu lágrimas ardendo em seus olhos. Ninguém nunca seria mais formosa para ele. Jamais.

       Ela elevou a cabeça e a seguir lhe tirou a calça e os sapatos, lhe deixando nu na neve e rigorosamente excitado.

—Quero superar isso. – Ela sussurrou. - Te quero muito, Barack e preciso ser capaz de lhe demonstrar. Mais que isso, preciso que você me demonstre isso. Sei que tem que se conter e não quero isso para você, para nós, nunca mais.

       Seus dedos deslizaram sobre a grossa ereção e ele reteve o fôlego, numa rajada acalorada.

—Nunca quis começar algo que não pudesse terminar. - Beijou seu caminho para baixo, pelo ventre, suas mãos acariciaram até que Barack temeu perder a cabeça. - Entende o que quero dizer?

- Sempre a entendo, meu amor. Não há necessidade de me advertir.- Estava orgulhoso dela por sua intrepidez, mas temia não poder sobreviver a esta noite. Ela estava lendo sua mente, sentindo o fogo que crescia em suas vísceras e fechou a mão em volta de seu membro e inclinou a cabeça para respirar sobre ele.

       Era a visão mais linda que ele já vira. Seu corpo perfeito, seus seios cheios e o longo cabelo negro em contraste brusco com a branca neve.

       Quando notou suas intenções e viu a imagem erótica de sua mente, seu corpo endureceu mais ainda. Ondeou a mão para o alto e do céu caíram pétalas de rosa junto com a neve.

—Carinho, não tem que fazer isto.

       Mas ela fez. Desejava, quase tanto como ele, podia notar em seu rosto. Somente uma vez, queria-a assim, desfrutando dele. Desejando seu corpo tanto como ele desejava o dela. Não, mais que isso. Precisando dele, como ele a necessitava. Desesperada por lhe tocar, por lhe saborear, por sentir seu corpo movendo-se no dela, seu coração pulsando no mesmo ritmo. Precisava senti-lo em cada toque de suas mãos. Precisava ver ânsia e o desfrute quando a olhava.

       Somente esta vez. Era tudo o que pedia.

       Fechou os olhos brevemente enquanto as pontas dos dedos dela moldavam ligeiramente sua ereção, enviando pequenas descargas elétricas que atravessaram sua corrente sangüínea. Ela levantou o olhar e sorriu enquanto o acariciava com a língua, numa dança circular que elevou seus sentidos a um nível inteiramente novo. Um gemido lhe escapou quando ela o arranhou com as unhas pela parte interna de sua coxa. Antes de poder se controlar, estendeu as mãos e enredou os dedos no cabelo sedoso empurrando-a gentilmente pelos ombros. Baixar o olhar e vê-la ajoelhada ante ele, com esse pequeno sorriso inclinado na face e o olhar ardente, quase foi sua perdição.

       Acariciou-lhe os ombros suaves por um momento, aliviando a tensão de sua nuca e depois deslizando as mãos sobre seus seios, enquanto respirava profundamente para manter o controle. Seus polegares encontraram os mamilos endurecidos, acariciando-os reverentemente. As carícias arrancaram de Syndil um gemido de prazer. Segurou-lhe os seios com as mãos e seus dedos os acariciaram com perícia, conhecendo seu corpo.

       Syndil gritou de prazer quando as sensações a preencheram e como sempre ante o tato de suas mãos, estava ardendo. Sabia que ele podia destroçá-la, levá-la a um ponto febril com uma só caricia de sua boca ou de seus dentes. Ele sabia tudo sobre seu corpo, cada forma de lhe dar agradar e sempre o fazia desinteressada e incondicionalmente. Sempre colocava seu prazer antes do próprio. E não era justo. Desejava desesperadamente levá-lo ao mesmo ponto febril, lhe tomar com a mesma onda de paixão, proporcionar o tipo de êxtase que sempre ele lhe provocava.

       Enredou os dedos no cabelo dele. Sua boca e suas carícias enviavam vibrações que cantarolavam através de seu sangue e aceleravam seu pulso. Seu útero se contraiu e sentiu a familiar urgência acumular profundamente em seu sexo. Obrigou-se a voltar a controlar seu punho fechando-o sobre a dureza de sua ereção, esquentando deliberadamente o ar sobre ele, para distraí-lo.

       Para Barack, o ar ficou preso em sua garganta e se endireitou, jogando a cabeça para trás quando a boca de Syndil se fechou sobre ele. Sua língua deslizou traçando círculos em torno de seu membro, enquanto mantinha firme a sucção. Recompensou-a com um gemido, engrossando-se mais. ainda

       O prazer a atravessou. Mantinha a mente firmemente fundida com a dele, lendo cada um de seus pensamentos, vendo cada uma das imagem, ajustando-se para lhe provocar a um prazer ainda maior, até que lhe segurou firme o cabelo e meneou os quadris impotentemente e deixou escapar um gemido gutural de sua garganta.

       Sentiu como o corpo dele enrijecia e rajada de fogo se propagou dos dedos de seus pés, através de seu corpo, até o membro latejante. Tomou-o mais profundamente ainda, encontrando o ritmo perfeito que fez que estremecer e dissesse o que nunca antes ouvira ele dizer.

—Você está me matando. – Ele sussurrou, roucamente.

       No bom sentido, Syndil sabia. Seu corpo inteiro reagiu ante o conhecimento de que estava levando Barack ao limiar de seu controle. Queria destroçá-lo, fazer o que ele fazia a ela. O poder era incrível e a satisfação ainda mais. Estava quase eufórica de felicidade e subiu beijando seu ventre, subiu mais ainda até seu peito, depois sua garganta, urgindo-o frenética para senti-lo profundamente em seu interior, que não podia pensar em nada mais que em lhe agradar, em sentir e dar prazer a si mesma.

       Recostou na neve coberta de pétalas de rosas, levando-o com ela. Pele pressionada contra pele, corações pulsando ao mesmo ritmo. Sentiu o peso dele pousar sobre ela, suas mãos em seus quadris e seu joelho separando suas coxas. Ele penetrou-a com força, entrando em seu corpo e unindo-os com uma investida feroz e primitiva. Afundou as unhas em seus ombros. relâmpago atravessou seu corpo e sem se conter, gritou tomada de prazer afogado.

       Barack moveu-se dentro dela, em duras e seguras investidas, enchendo seu vazio até que Syndil se sentiu como se estivesse voando livre. O cabelo dele deslizou sobre sua pele, como seda sensual acariciando seus seios já hipersensíveis. Seu corpo se enrijeceu, os músculos se apertaram e o prenderam enquanto seus quadris se elevavam ao mesmo ritmo rápido dele. Moveu ligeiramente, ajustando sua posição e as mãos dele a seguraram com força, mantendo-a sob ele.

       No momento foi consciente do que a rodeava, do homem em cima dela. Syndil levantou o olhar ao rosto quase selvagem em seu desejo, chamas vermelhas titilavam nas profundezas de seus olhos negros. Podia ver seus dentes, já alongando-se e os músculos claramente definidos em seus braços.

Syndil tentou desesperadamente manter a paixão que sempre parecia encerrada em seu interior. Surgia em ocasiões, mas em alguma lugar e de algum modo, quando pensava qua havia conquistado seus medos, uma porta se fechava de repente e reprimia suas necessidades, seus desejos físicos, atrás de um muro de terror. Lutou contra o crescente pânico e a lembrança de dentes mordendo-a, mãos brutais fazendo mal a ela. Lembrou-se de algo obsceno e antinatural rasgando-a, tomando sua virgindade sem amor e sem pensar em sua inocência.

       Ele tivera uma família, alguém que o amava, mas a atacara rasgando sua garganta, agredindo-a, violando-a de cada forma possível. Lutara até que os ossos de suas mãos foram tão quebrados, que sua carne ficou cheia de sangue e pensou no que lhe faria.

       Este não era Savon, seu atacante. Este homem era Barack, o homem que amava cima de tudo. Mas não podia separar os dois. Barack cobria seu corpo com o dele e a sujeitava. Não podia respirar, não podia pensar, não podia ouvi-lo tentando lhe consolar, somente podia sentir o peso dele esmagando-a, sentir o aperto de suas mãos e o brilho das chamas vermelhas em seus olhos.

—Pare. - Sussurrou a palavra e começavam a formar lágrimas em seus olhos. Sua garganta inchou, ameaçando estrangulá-la. – Pare. Deus, Barack, você tem que parar. — Sua voz beirou a histeria quando seu controle se fez em pedaços, sua mente pareceu se fragmentar e já não conseguiu distinguir entre passado e presente. Começou a lutar mordendo com força, arranhando seu rosto e empurrando seu peito.

       Obteve seu sangue antes que lhe prendesse as mãos afastando-a, enquanto se inclinava. Barack sussurrou-lhe alguma coisa, mas ela não pôde lhe ouvir, presa mortalmente na ilusão da qual não parecia poder escapar.

       Barack gemeu e rodou afastando dela, para ficar de barriga para cima olhando os flocos enquanto estes caíam do céu. Colocou um braço sobre os olhos para ocultar sua expressão, defendendo sua mente para que ela não pudesse ver a angústia e a frustração que o enchiam. Queria rugir de raiva aos céus, mas ficou em silêncio, lutando para controlar seu corpo. Ouviu-a conter um soluço e virou a cabeça para ela.

       Lágrimas brilhavam como diamantes em seus olhos e rolavam por sua face até a neve que cobria o chão.

—Sinto muito, Barack. Sinto muito. O que acontece comigo? —Ela cobriu o rosto com as mãos e chorou como se seu coração estivesse rompendo.

—Syndil, não te acontece nada. —Barack ficou de joelhos e estendeu a mão procurando-a, mantendo seus movimentos lentos e gentis. – Venha aqui comigo, pequena. Deixe- me te abraçar.

       Ela pôde ver os arranhões em sua face e em seu peito, por seu antebraço e uma maior ainda em seu quadril. Diminutas gotas de sangue manchavam sua pele fazendo com que parecesse que ele tivesse sido atacado por um gato.

—O que fiz? —Envergonhada, tentou lutar, soltar seu braço. - Tenho que ir. Não podemos fazer isto. Deixe ir, Barack. Voltarei para a forma do leopardo e ficarei na terra até que isto passe.

—Não quero ouvir isso. Não vai me deixar. Você tem um dever com seu companheiro e não é o sexo. Ficará sobre terra comigo e em sua forma natural. Ouviu-me, Syndil? Não espero nada menos de você. - Desta vez ele não ocultou o homem dos Cárpatos. Deu uma ordem e despiu os dentes brancos para enfatizar que estava falando sério.

—Por que? Por que você me quer? Não posso continuar fazendo isto com você e viver comigo mesma. Quanto mais vai agüentar sua paciência? Quanto mais antes que se volte para outra mulher, para as coisas que eu não posso te dar?

—Outra mulher? —Ele repetiu, tão surpreso pela sugestão que o demonstrou. - Syndil, você fala sem sentido. Não há nenhuma outra mulher para mim. O que não está me dando? Faço amor com você o tempo todo.

—Você me faz amor. Eu deveria te corresponder.

—Você me corresponde. – Ele passou a mão pelo cabelo escuro, claramente agitado. – Somente tem um pequeno problema com... Com uma posição. Acha que isso me importa?

       Ela não respondeu, simplesmente sacudiu a cabeça, cobrindo o rosto firmemente com as duas mãos. As lágrimas desciam abundantes por seu rosto e seus ombros se agitaram enquanto ela lutava para respirar entre os soluços.

—Syndil, eu amo você. Você é minha vida. Temos anos, séculos para nos livrarmos disso. Você é que me importa, não o sexo. —Deu-lhe uma pequena sacudida. – Olhe para mim, Syndil. Se nunca me deixa me colocar sobre você, que assim seja. Por que é tão importante? Você não vê essa imagem em minha mente. Não me importa em que posição fazemos amor, nem agora, nem nunca. Demônios, olhe para mim.

       Segurou-lhe as mãos e a fez afastar do rosto, olhando-a nos olhos.

—Amo você mais que à vida. Então não podemos fazer amor comigo sobre você. Pronto. É uma espécie de medalha que te força a se colocar numa posição em que se sente ameaçada? Honestamente, por um momento, pensou que a posição é importante para mim?

- É para mim. - Sussurrou ela, baixando a cabeça.- Sinto-me envergonhada de não poder amar meu companheiro como ele merece. Posso curar a terra após a pior das batalhas, mas não posso curar a mim mesma. Não posso ser uma companheira decente para você. Tento tanto, Barack. Realmente te desejo. Adoro o modo em que me faz sentir como se eu fosse a única mulher do mundo. Como se ninguém mais pudesse te agradar, mas não posso fazê-lo.

       Barack pasou o braço pelos ombros dela e a puxou para ele.

—Você é uma tola, Syndil. Você me ama e isso é tudo o que importa. O resto são somente tolices. Faria amor com você até sobre minha cabeça se fosse o que quisesse de mim. – Ele segurou seu queixo, para obrigá-la a levantar a cabeça. - Realmente acha que não posso olhar em sua mente e ver o quanto me ama?

—Mas sempre tem que suprimir sua própria natureza, Barack.

       Ele estalou em gargalhadas.

—Ser dominante e controlador não é sempre o melhor, Syndil. Não acha que Darius suprimiu em várias ocasiões, esse seu lado, por Tempest e que ela poderia fazer que o quisesse um pouco mais? E Julian definitivamente tem trabalhando com Desari. O mesmo acontece com Dayan e Corinne. Está em nossa natureza dar ordens, mas vocês são a luz de nossa escuridão. A implacável dominação deve ser equilibrada por vocês.

—Mas você nunca é como Darius, Barack. Ele é mandão... —Ela interrompeu, mas havia esperança em seus olhos, quando Barack lhe emoldurou seu rosto com as mãos.

—Porque todos nós permitamos que Darius nos lidere, não significa que não tenhamos esses traços naturais. Não os vê em mim porque não compartilhamos nossas mentes. Darius é um forte curador. Contentamos-nos com sua liderança. — ele lançou-lhe brevemente um pequeno sorriso. - Ele faz a maior parte do trabalho e a mim isso parece bem. Mas ao final, todos temos os traços naturais que nos ditam. A questão, minha linda, é que você como minha companheira, me proporciona equilíbrio.

—Proporciono?

Ele inclinou a cabeça para dar um pequeno beijo em cada pálpebra.

—Sim. – Tranqüilizou-a, espalhando pequenos beijos por sua face, até o canto da boca. - E te agradeço. A escuridão se estende e lutamos contra ela a cada dia.

—Mas não está em você. Não como nos outros. - Disse Syndil.

—Por sua causa. Mesmo antes de estabelecer minha reclamação sobre você, já me proporcionava equilíbrio. Syndil, você não é somente minha companheira. É minha vida, meu único amor e meu mundo. Conheço-a desde bebê, vi você crescer até se converter numa mulher incrível com um talento considerável. Olhe o que faz com ele. Quem mais pode realizar um milagre semelhante? —Ele beijou-lhe a ponta do nariz e roçou os lábios contra os dela, deslizando a língua ao longo do canto de sua boca. - Já estava apaixonado por você muito antes de saber que era minha companheira.

—Está seguro disso, Barack? —Ainda havia lágrimas brilhando em seus olhos, mas seus lábios se moveram contra os dele. - Tem que estar seguro.

—Essa é a única coisa da qual estou seguro, Syndil. —Sua boca encontrou a dela e ele a levantou gentilmente, colocando-a sobre seu colo, esperando que ela se posicionasse sobre ele, como uma bainha sobre a espada.

       A respiração de Syndil ficou presa. Encaixava-se tão apertada a ele, que o delicioso atrito enviou fogo uma vez mais através de suas veias. Num momento estava chorando e no seguinte ele a elevava aos céus. Entrelaçou os dedos em sua nuca e jogou a cabeça para trás. Seu corpo se movia com um ritmo familiar quando começou a cavalgá-lo. Não podia imaginar como havia passado a vida sem ele. Barack podia fazê-la sentir-se tão formosa e extraordinária, quando estava segura de que não era.

—Eu te amo, Barack. – Ela voltou o tronco para frente, a fim de olhar os olhos negros. - Realmente amo você.

       A visão dela lhe roubou o fôlego. Seus seios cheios se moviam sensualmente, seus mamilos estavam rígidos num sexy convite. Sua pequena cintura e seus quadris arredondados, os olhos sonolentos e os lábios marcados por seus beijos.

—Eu sei. – Ele murmurou e beijou cada pálpebra. Mal podia falar com o crescente calor que se elevava tão rápido e tão ferozmente, que a cada investida de prazer, mais dominante era sua posição. Deliberadamente compartilhou sua mente, compartilhando o que ela fazia a seu corpo e a seu coração. – Você é minha vida, Syndil. Não quero que se esqueça novamente.

       Syndil moveu-se com ele, rebatendo cada impulso, conduzindo o prazer dos dois mais alto. Barack era seu mundo e sua aceitação significava tudo. Talvez não pudesse ficar sob seu corpo, mas podiam desfrutar de outras posições excitantes e ela podia fazer todas e cada uma delas.

       Os braços de Barack se fecharam possessivamente sobre ela e um pequeno calafrio o percorreu quando ela não protestou, nem se afastou. Seus músculos o prenderam, apertando-o como uma mão, tão escorregadia, quente e apertada que não pôde se conter um segundo mais. Jogou a cabeça para trás e gritou de alegria para a noite, sentindo o corpo dela estremecer de prazer em torno do dele. Por um momento nenhum dos dois conseguiu respirar corretamente, sequer falar... Somente sentir.

       Barack se recuperou primeiro, beijando-a.

—Amo você, Syndil.

—Estou começando a acreditar que realmente me ama. – Ela disse ela maciamente, enquanto se levantava com sua graça costumeira. Estendeu-lhe a mão e ele ficou em pé a seu lado. Um homem alto e forte que a amava o bastante para lhe dar espaço e tempo.

       Vestindo-se da à forma especial de sua gente, passearam de mãos dadas entre a neve, para a pequena cabana. Esta parecia um pouco íntima e acolhedora e Syndil acelerou o passo, levando-o com ela.

—Você me ajudará a cozinhar, não é? Corrine me assegurou que a receita que me deu é rápida e fácil.

—Tenho minhas dúvidas sobre isso. – Zombou, ele. - Mas estou disposto a tentar. .

       Enquanto percorriam o estreito atalho para a cabana, o sorriso desapareceu de sua face. Barack franziu o cenho e deu um olhar meticuloso ao redor. Rapidamente, sua nuca começara a picar, de inquietação. Parou antes de abrir a porta da pequena cabana, colocando Syndil atrás dele, com o braço.

—Eu não gosto da sensação que tenho. Este silêncio.

—Está nevando. Sempre há silêncio quando neva.

—Talvez. —Mas algo estava errado. Fechou a porta firmemente e a empurrou longe da cabana.

—Coloque-se a salvo, Syndil. Oculte-se no bosque até que eu averigúe o que está acontecendo.

—Os gatos estão bem? —Ela perguntou ansiosa.

—Estou a ponto de averiguar.

       Ela se segurou na na cintura da calça jeans dele, fechando seus dedos com força.

—Terei medo aqui fora sozinha. Vou entrar com ovce. Se alguma coisa nos espera aí dentro, prefiro estar contigo e saber o que está acontecendo.

       Ele se amaldiçoou por ser tão débil. Não podia negar nada, quando ela estava com medo.

—Fique atrás de mim, Syndil e faça exatamente o que eu falar.

       Ela assentiu e se aproximou mais ainda dele.

—Sente algum um vampiro?

       Ele sacudiu a cabeça. Sentia perigo. Problemas. Algo estava fora de sincronia.

—Não em harmonia. - Disse Syndil de repente, ficando quieta. Apertou a garra sobre ele. - Na casa. Os gatos. Busquei-os e estão enlouquecidos.

Ele se voltou, aproximando-a para tranqüilizá-la.

—Está bem, céu. - Sentia os leopardos rondando entre as paredes da cabana, encolerizados por alguma razão que ele não podia definir. Tentou alcançá-los como fazia desde que eram jovens, para acalmá-los, mas nenhum respondeu. Tinha que colocá-los na jaula, por sua segurança e pela de qualquer pessoa que entrasse em contato com eles, até que pudesse averiguar o que estava acontecendo.

       Deslizou para dentro por debaixo da porta, flutuando como vapor através dos aposentos, até que encontrou os felinos, consciente de que Syndil estava atrás dele e na mesma forma.

       Forest, o macho, esta sobre a cama, enquanto Sasha, a fêmea, passeava inquietamente. No momento em que entrou no dormitório, Sasha reagiu grunhindo, mostrando seus dentes e sacudindo a cauda enquanto passeava, seus olhos atravessaram o aposento quando ela detectou sua presença. Forest lançou seu corpo, passando de uma posição de ataque iminente a uma de ataque absoluto, arranhando o vapor insustancial num esforço de chegar até Barack.

       Ele se afastou, saindo de seu alcance, tentando empurrar a mente do felino de volta à prudência. Os leopardos eram famosos por seu gênio, mas este comportamento selvagem estava fora do caráter dos dois felinos. Os leopardos estavam com os Trovadores desde seu nascimento e nunca haviam se comportado assim. Sasha continuava olhando para a janela, como se pensasse que poderia atravessá-la, para escapar.

- Está acontecendo algo terrível. - Disse a Syndil.- Não posso controlá-los.

       Syndil permaneceu em silêncio, escutando à terra. - Há um fluxo sutil de poder, de energia. Ele altera aos leopardos. Há muitos Cárpatos aqui. A maioria provavelmente usa energia para mudar e para outras tarefas. Possivelmente os gatos são muito sensíveis para estarem aqui.

- Possivelmente. - Barack duvidava, mas ia enjaular os animais. - Vou fazer seguir para as jaulas. Não posso dirigi-los aqui dentro, então terei que enganá-los.

- Como vai fazer? - Havia medo em sua voz.

- Me servindo de isca.

       Syndil conteve o fôlego agudamente, lutando para conter o protesto que fluía. – Temia isso. Tome cuidado, Barack.

       Ele tocou-a mentalmente e seu vapor envolveu o dela um momento, como se pudesse tocá-la, para tranqüilizá-la. Barack brilhou tenuemente até sua forma humana, justo sob o nariz da fêmea, mudando outra vezm quase que imediatamente e flutuando através da casa, conduzindo os animais para o dormitório menor, onde guardavam as robustas jaulas de viagem.

       Estendeu o braço para abrir a porta da jaula, mudando somente alguns segundos para poder usar sua mão. Forest saltou, arranhando o braço de Barack antes que ele pudesse voltar a ser neblina. Ele flutuou para a parte de atrás da jaula, conduzindo para dentro os dois leopardos. Eles seguiram-lhe, arranhando-o.

       Depois, ele ondeou para fechar a porta. Ambos se lançaram contra os barrotes, grunhindo um protesto. Barack não esperou que se tranqüilizassem e enviou uma mensagem a Darius e aos outros membros da banda antes de tomar sua forma natural.

Syndil já estava se estendendo para ele, passando os dedos por seu braço, inclinando-se para usar sua saliva para curar os ferimentos.

—Devia ser mais rápido. – Ela lhe disse. Seus grandes olhos o castigavam.

       Um lento sorriso iluminou o escuro olhar dele.

—Não sei, coração. Então não teria sua linda e sexy boquinha sobre mim, não é? —Suas sobrancelhas arquearam.

—De fato, sim, talvez.

 

Mikhail voou baixo sobre o bosque, fazendo explorando a região num esforço em identificar qualquer perigo que pudesse espreitar sua gente. Tocava a mente de Raven com freqüência e podia sentir sua felicidade enquanto preparava o que estava fazendo para o jantar de celebração. Não sabia ou sentira que ela esivesse sentido falta de cozinhar e isso o envergonhava. Tinha sido seu companheiro durante anos, mas ainda estava descobrindo coisas dela. Desfrutava da preparação de uma comida, para a apresentação e o prazer de outros ao recebê-la.

Sentiu o toque mental dos dedos dela sobre sua pele. Sentiu seu sorriso e a calidez em seus olhos.

- Se, gosto de estar cozinhando para os outros, mas te asseguro que não é algo que necessite em minha vida, como você. Minha vida está completa, Mikhail e não me arrependo de nada.

Sua voz lhe encheu a mente de amor, mantendo a raia as lembranças da terrível solidão. Nenhum homem dos Cárpatos que tivesse perdido as emoções e a capacidade de ver em cores e depois tivesse recuperado tudo para encontrar sua companheira, a deixaria nunca. Nesse momento, doeu-lhe por dentro, de tanto amor por ela. Isso ajudava a aliviar a terrível carga, de saber que alguns dos guerreiros sem companheira que haviam voltado para a celebração, homens de honra e integridade, finalmente perderiam sua batalha com a escuridão.

- Está preocupado por Dimitri.

- Sinto-me... Inquieto. Há um problema no vento, mas não posso encontrá-lo. Dimitri não me preocupa. Nenhum de nós pode esquecer a solidão que sentíamos antes de encontrar nossas companheiras, mas ao mesmo tempo, também recordamos a escuridão que se estendia, tomando-nos, o demônio pedindo liberdade. - Havia preocupação e advertência em sua voz.

- Dimitri estará bem porque tem que ficar. Você não pode fazer muito, Mikhail. Outros têm responsabilidades também. Você não pode criar espécies.

- Não, mas deixaram minha gente em minhas mãos e tenho intenção de que floresçam. Nego-me a permitir que a natureza ou nossos inimigos ou mesmo nossa própria natureza triunfem sobre nós.

Raven seguiu em silencio por um momento, pensando. - Já o faz. Acha que os Cárpatos estão em vias de extinção simplesmente por um processo natural, não é? Porque o que causou isto não é natural.

Mikhail sorriu para si mesmo. Raven sempre apoiava ferozmente a ele e a sua gente. Mentalmente, passou-lhe os dedos meigamente pelo rosto enquanto voava alto sobre o bosque e começava a descer num círculo amplo e baixo. A neve caía, mais ligeira agora, mas ainda firmemente tornando a paisagem inteira de um resplandecente branco. Gostava da neve, sempre lhe recordava à luz do sol, empurrando a noite para que brevemente o mundo brilhasse de um formoso prata.

Mikhail sobrevoou a região de ruínas enegrecidas, agora coberta de neve, que uma vez havia sido as terras mais ricas. A batalha entre Cárpatos e vampiros tinha deixado o terreno prejudicado e cheio de cicatrizes. Ultimamente notava que quando o não-morto abandonava uma região, deixava para trás os princípios de uma árida devastação que às vezes parecia viva, avançando para destruir as áreas circundantes. Uma coisa mais da qual teria que se ocupar. E, muito em breve.

Os olhos atentos da coruja captaram algo, e ele desceu mais, para passar roçando entre as árvores e inspecionar o campo de batalha. Em uma seção, novos brotos diminutos haviam transpassado a neve que os cobria. As árvores já não estavam inclinadas e retorcidos, mas altas e orgulhosas, com seus galhos se elevando para o céu. Surpreso, Mikhail aterrissou brilhando até sua forma humana. Onde olhava via pequenos brotos verdes aparecendo, com caules saudáveis e que cresciam selvagens apesar da neve. Abaixou para examiná-los. Em vez da massa tóxica que havia, a terra estava escurecida pelos nutrientes. Virtualmente um milagre. O som da água captou sua atenção.

Clara fria e limpa. Correndo sobre as rochas uma vez mais. Sentou junto ao pequeno arroio, somente para ouvir o som da água. - Raven! - Não pôde ocultar a excitação em sua voz, o que a surpreendeu. – Isso me lembra de minha juventude. - Enviou-lhe a imagem. - Havia uma mulher em nosso povoado. Esquecemos os velhos costumes. Tínhamos uma sociedade de artesões, artistas e estudantes, igual de curadores. Não só tínhamos curadores para nossa gente, mas também havia uma mulher. Só a vi uma vez e eu era um jovem ainda. Lembro-me pouco, somente que o verdor brotava a seu redor por onde quer que fosse e estava presente em todos os nascimentos. Talvez Lucian possa me falar desta arte. Ele e Gabriel são os mais antigos entre nós. Poderiam se lembrar.

Houve uma pequena dúvida por parte de Raven. - Uma curadora da terra?

- Shea e Gregori parecem pensar que alguns dos problemas das mulheres e crianças começam na terra. Se tivéssemos uma curadora da terra entre nós, poderíamos proporcionar as nossas mulheres grávidas, um refúgio seguro para descansar? Para dar a luz?

- Era assim que se fazia no passado?

Ele esfregou as têmporas tentando acessar suas lembranças de infância. Tinha havia siso há tanto tempo e mesmo então, as coisas já estavam começando a mudar quanto aos costumes de sua raça. Ele era uma criança, mas estava seguro de ter visto a mulher. - A terra parece a mais rica que já vi. Quando afundo as mãos nela, posso sentir a diferença. – Ele tentou conter sua excitação.

- Quem será que fez isso?

- Não sei, mas tenho intenção de averiguar. .

-Mikhail. – Raven, pensou um pouco antes de falar. - Provavelmente soe tolo, mas ontem à noite quando umas poucas de nós mulheres nos reunimos nas cavernas dos charcos, nadamos juntas, lembras-se? Falei disso a você.

Ele se lembrava vagamente. Algumas das mulheres tinham se reunido em um esforço de conhecer umas às outras. - Disse que foi um bótimo momento.

- Vamos lá com freqüência. É lindo e a terra como à água é rica e rejuvenescedora, mas desta vez parecia bem mais. Eu me lembro de ter pensado que a caverna parecia renovada e a terra mais escura e rica. A água era fantástica, mas pensei que era só eu que notava, que talvez estava alegre por estar com todo mundo.

- E?- Ele animou-a, ouvindo seus pensamentos.

- Vai pensar que estou louca mas, quando despertei esta noite e soube que podia conceber, meu primeiro pensamento foi que deveria ter permanecido fora da água.

O coração de Mikhail saltou no peito. Estendeu-se para tocar um dos ramos em florações de uma árvore jovem que não estava ali horas antes. - Quem estava lá contigo?

- Savannah foi comigo. Desari, Syndil e Tempest estavam lá e também Corrine e Alexandria. Sara ficou, mas brevemente. No que está pensando?

- No impossível. - E porque precisava pensar mais antes de dar voz à esperança, mudou de assunto. - Como está indo tudo? - Sentia bem melhor sobre a celebração desta noite. Se pudesse encontrar uma mulher que pudesse curar a terra e aasim ajudar a proteger às mulheres grávidas e crianças, proporcionando aos curadores mais tempo para encontrar respostas, ficaria eternamente agradecido e sua espécie teria verdadeiramente algo a celebrar. E se... Só e se... Apenas atrevia a esperar que a água ou a terra tivessem animado às mulheres a serem capazes de conceber. Não se atrevia a ter esperança, mas de qualquer forma estava ali pela primeira vez há muito, muito tempo e se negava a ser suprimida.

- Agora, melhor. O Natal sempre parece trazer milagres. Só temos que buscá-los. Encontre essa pessoa, Mikhail. Se pode fazer o que diz, é mais valiosa do que nenhum de nós compreende.

Mikhail elevou o vôo uma vez mais, com o coração palpitando no peito. Longe, sob ele, captou um casal abraçado, ignorantes de tudo exceto um do outro. Uma vez mais escaneou rapidamente a região, precisando assegurar-se da segurança de todos e de cada um dos seus. Novamente, acreditou sentir a mesma sensação que continuava fazendo com que seu sistema de alarme o aguilhoasse. Não podia encontrar nada que indicasse que um inimigo estava tecendo uma armadilha. Enviou uma pequena advertência a seus homens, uma pequena espetada de censura para lhes lembrar que se mantivessem alerta em busca de inimigos e voou até que achou a pequena cabana remota que Lucian havia escolhido para sua estadia. Vários lobos uivaram numa advertência, quando mudou para sua forma natural e se aproximou do corrimão.

Lucian se materializou quase em seu nariz e ainda, depois de todos os anos de poder e liderança que pesavam sobre seus ombros, Mikhail se sentiu atemorizado pelo homem. O cabelo negro flutuava por suas costas e seus ombros estavam retos e seus olhos flamejavam com uma escura promessa de morte.

Lucian e Gabriel Daratrazanoff eram gêmeos, lendas na história dos Cárpatos e isso se mostrava nos ombros de Lucian e em fisionomia severa. Mikhail achava Gabriel bem mais acessível. Sempre achara divertido que outros Cárpatos temessem Gregori, o segundo ao comando de Mikhail, melhor amigo e genro, mas achava seus irmãos mais velhos tão acessíveis quando eram igualmente perigosos, se não mais ainda.

Lucian lhe segurou os antebraços na saudação do guerreiro. O irmão mais velho de Gregori parecia em forma e forte, seus olhos brilhavam, atravessande Mikhail diretamente até a alma, como se pudessem ler dentro de qualquer homem.

—É bom vê-lo novamente depois de todo este tempo, Mikhail. Converteu-se num líder poderoso desde a última vez que o vi. Seu pai ficaria orgulhoso.

Mikhail estreitou os braços do homem, sentindo a força sólida que havia ali.

—Já pode dizer a sua mulher que baixe sua arma.

Um lento sorriso esquentou os olhos frios e duros.

—Ela não gostará que a tenha divisado. É polícial e definitivamente está orgulhosa de suas habilidades. Ser Cárpato só aumentou suas capacidades.

—Na verdade não sei onde ela está. – Admitiu, Mikhail. – Só sei que está perto e me apontando uma arma. Ouvi dizer que ela não fica em casa, onde pertence.

Um som afogado surgiu sobre ele e uma jovem se materializou, com uma arma na mão, lançando adagas com os olhos, para Mikhail.

—Onde pertence?

Seu cabelo era da cor da platina e do ouro, um pouco mais curto que o normal na maioria das mulheres, mas atraente, emoldurando sua face de duende. Seus olhos eram escuros, um contraste surpreendente com sua pele e cabelo claros.

Lucian tirou casualmente a arma de sua mão e se inclinou para colocar a arma em sua bota.

—Não pode disparar no príncipe, Jaxon. Isso simplesmente não se faz.

—Não ia disparar nele. - Objetou ela e lançou a Mikhail um rápido e travesso sorriso. - A menos, se ele insistir em que as mulheres fiquem em casa enquanto os homens conseguem toda a diversão.

—Chama a tarefa de matar o vampiro, de diversão? —Perguntou Mikhail.

Ela encolheu os ombros.

—Se não são tarefas domésticas, é divertido. Eu gosto da ação, não de me sentar em casa esperando meu herói.

—Você gosta de se colocar em problemas. - Replicou Lucian, a diversão suavizava sua voz. - Mas ao menos admite que sou seu herói.

Mikhail havia se esquecido da assombrosa e poderosa arma que era a voz de Lucian. Tudo em Lucian parecia ser uma combinação de "compelidor" e "arma". A face do homem parecia ter sido esculpida em pedra, mas seus olhos eram mais vivos, mais intensos e mais letais do que Mikhail se lembrava.

—Alegra-me vê-lo novamente, Lucian. E me alegra que tenha encontrado sua companheira. —Ele se dobrou numa ligeira reverência para Jaxon. - Não pude resistir em brincar com você, já que ouvi dizer que é ferozmente protetora com Lucian, - Lhe disse. – Te agradecemos por isso. Ele é uma lenda entre nós.

—Ela insiste em me proteger. - Disse Lucian.

—Bom, é claro. Qualquer caçador Cárpato que é baleado depois de ser advertido repetidamente que tomasse cuidado, precisa de uma babá ou uma guarda-costas.

Lucian se inclinou para lhe roçar um beijo na cabeça.

— E nenhum respeito. - O profundo amor na fisionomia de Lucian se refletia na de Jaxon.

—Notei. – Reconheceu, Mikhail. A um nível profundo se alegrava pelo casal. Por tudo os casais,mas por este em particular. Lucian estivera sozinho muito tempo e havia lutado em muitas batalhas, se sacrificado muito. Este pequeno duende parecia frágil até que Mikhail olhou seus olhos escuros. Ela vivenciara muito, era sábia além de sua idade e tinha a mesma força que possuía seu companheiro.

Ela lançou um cálido sorriso a Mikhail, enquanto seus dedos se enredavam com aos de Lucian.

—Obrigado por nos deixar usar uma de suas casas. A casa de Lucian está muito entrada nas montanhas e teríamos passado todo o tempo voando daqui para lá e não teríamos conseguido fazer visitas.

—Por favor entre. - Lucian manteve a porta aberta, afastando-se para deixar que Mikhail o precedesse. - Temos muito que discutir, em primeiro lugar, quando ouvi falar da celebração pensei que era uma indulgência das mais estúpidas e muito arriscada, mas agora vejo o quanto bom foi ver todo mundo e estar em casa outra vez. Estive longe muito tempo e uma vez mais há uma sensação de comunidade.

—Espero que estejamos fazendo o certo. – Concordou, Mikhail entrando na pequena cabana.

Já havia passado anos desde que tinha entrara na velha casa pela ultima vez. As gretas na madeira que antes deixavam entrar o vento, foram reparadas. Lucian e Jaxon prepararam o interior deixando-o brilhante e acolhedor. Um fogo rangia no velho lar e a mobília era belíssima. Lucian lhe assinalou o sofá e Mikhail se sentou no assento oposto ao de Lucian.

Jaxon pensou brevemente, olhando para as janelas, a cautela se arrastava até sua expressão enquanto considerava se alguém poderia olhar para dentro facilmente e vê-los através dos cristais.

—Na verdade, eu não mordo. - Disse Mikhail e gesticulou para o extremo vazio do sofá que ocupava.

Jaxon se pendurou no braço da cadeira de Lucian, balançando um pé.

—Estou perfeitamente cômoda aqui, mas obrigado.

—Ela insiste em me proteger. - Explicou Lucian. – Pelo menos finge fazer. A autêntica razão é que não pode suportar ficar separada de mim.

O pé que balançava se arqueou um pouco mais e se deixou cair na perna de Lucian.

—Notei. - Disse Mikhail, secamente. - O certo é que Raven é igual. Repugna-lhe estar separada de mim. — Ele compartilhou a conversa com sua companheira. Imediatamente, sentiu o calor de seu riso roçando as paredes de sua mente. – E antes que me esqueça, acredito que você gostará de saber que precisamos de alguém para que se faça de Santa Claus para as crianças.

O sorriso desapareceu do rosto de Lucian, deixando seus olhos sombreados e precavidos. Junto a ele, Jaxon se remexeu e colocou a mão em sua coxa para evitar que ele falasse.

- Não se atreva a me oferecer de voluntário.

- Está com medo? São somente crianças.

- É um traje vermelho e barba.

- E estaria tão bonito e terno.

Mikhail o tirou de sua miséria. Recostou em sua cadeira, com um sorriso inclinado.

—Acredito que meu genro seria o melhor homem para o papel. Como é seu irmão mais novo, diga-me o que te parece.

Jaxon conteve um pequeno som, que poderia estar entre o riso e o horror. Quase caiu do braço da cadeira, mas a mão firme de Lucian evitou que ela aterrissasse no chão.

—Está brincando, não é? Gregori seria má escolha, assim como Lucian. Um olhar e as crianças fugirão como coelhos ou romperiam a chorar.

O polegar de Lucian deslizou sobre o dorso de sua mão numa pequena carícia.

—Nunca subestime a um Daratrazanoff, pequena. Podemos crescer se for necessário e estou seguro de que Gregori desfrutará do papel. – Ele lançou a Mikhail um sorriso de lobo. – Me avise quando for contar que esta honra está reservado a ele e eu adorarei te acompanhar.

—Oh! Vocês são maus. - Disse Jaxon. - Vocês gostam de brincadeiras. Gregori fará os dois pagarem por isso, sabiam?

O brilho de um sorriso percorreu os traços de Mikhail e despareceu.

—Valerá a pena.

Lucian assentiu e se estendeu para seu irmão gêmeo, compartilhando automaticamente a informação. Gabriel respondeu por seu vínculo mental privado. - Mikhail esteve aqui antes e não pude resistir a lhe deixar te dar a notícia. - Havia risos em sua voz. - Certamente decidiu estar presente quando nosso príncipe faz sua primeira exigência a seu genro.

Os dedos de Lucian se apertaram ao redor dos de Jaxon. Esse pequeno momento de diversão, de amor e de riso, devia a sua companheira. Fora privado de emoções durante muito tempo, amando seu irmão gêmeo mas sem sentir nunca de fato a emoção. Ao longo dos séculos as lembranças haviam começado a esmaecer e isso fora alarmante. Entrava na escuridão sem esperança, até que ela chegou a sua vida.

Jaxon se inclinou para roçar um beijo em sua cabeça, num estranho gesto público de afeto. Mesmo com seu padrasto morto, ainda não podia sobrepor à reticência que havia desenvolvido a mostrar carinho. Lucian era sempre o que fazia o primeiro movimento, que pegava sua mão, que a abraçava e seus instintos sempre a faziam olhar ao redor com olhos precavidos e se afastar. Lentamente ele a fazia superar e cada demonstração de afeto com outros por perto era um passo a frente.

Lucian esfregou o queixo.

—Acredito que deveríamos comemorar o evento com fotos. Seria bom ver semelhante documentação, lá adiante.

Mikhail se inclinou ligeiramente, seu pequeno sorriso suavizava as duras linhas de sua face.

—Certamente não está considerando... A chantagem.

—Bem, de fato sim. Poderíamos ter isto pendendo sobre sua cabeça durante séculos.

—Pobre Gregori. Não é justo que se conspirem assim contra ele. - Objetou Jaxon. - Embora se pode pensar que poderia merecer, por ser um macho chouvinista.

As sobrancelhas de Mikhail se arquearam.

—E Lucian não é?

O sorriso travesso dela iluminou novamente seus olhos.

—Desesperadamente, mas felizmente ele me tem para lhe endireitar.

—Que sorte tenho. - Disse Lucian, secamente.

Ela fez que seu pé balançar contra a perna dele, uma segunda vez.

—Ele tem sorte, sim. Não deixo de lhe dizer isso mas ele continua se esquecendo.

Lucian sorriu, tranquilamente. Mikhail nunca tinha visto o guerreiro rindo ou tranquilo e por alguma razão o som aliviou a carga de seus ombros um pouco mais. Estava acontecendo coisas boas a sua espécie. Talvez não estavam acontecendo tão rápido como ele queria, mas havia mudanças.

—Queria te perguntar algo que apenas me lembro, de séculos atrás. Eu era muito novo e me lembro pouco.

—Não posso prometer que me lembre, mas tentarei.

—Antigamente havia uma mulher que vivia no povoado. Nem sequer me lembro de seu companheiro ou se tinha um. Era muito jovem para que me preocupar com tais coisas. Ela curava a terra. Lembra?

Lucian franziu o cenho.

—Eu não ficava muito no povoado. Nem quando criança, Mikhail. Lembro-me de uma pessoa, uma mulher... —Ele sacudiu a cabeça. - Os aldeãos, especialmente as mulheres, evitavam Gabriel e a mim. Freqüentemente fugiam quando nos divisavam.

—Tente, Lucian. – Urgiu, Mikhail. - Ela não teria fugido com medo de vocês. Era poderosa por direito próprio. Caminhava e as flores e a erva cresciam sob seus pés. Poderia ser muito importante para nós.

Lucian assentiu lentamente e sua fisionomia se acentuou enquanto tentava acessar às antigas lembranças. A aldeia cheia de pessoas que viviam sua vidas. Uma vida que ele nunca pensara que pudesse ter. Famílias. Risos. Evitava isso, todo o possível.

A mão de Jaxon deslizou por seu cabelo, brincando com o cabelo longo de sua nuca, enviando um tremor de consciencia por sua espinha, estendendo calor através de seu corpo e seu coração.

Ele forçou a sua mente a voltar para os velhos tempos, procurando através de suas doces lembranças até que encontrou o povoado onde viveram os Dubrinsky. As crianças corriam em pequeno grupos. Muitos rostos sem nome que tentavam se afastar dele sem serem notadas. Uma rosto sereno sorrindo e assentindo, reconhecendo-o enquanto os crianças a perseguiam. Vida brotando de um nada sob seus pés, caules verdes, flores brilhantemente coloridas, uma rica cobertura se formava sobre o chão enquanto os pequenos olhavam com assombro.

—Provinha de uma linhagem estranha e muita respeitada. Havia poucos com seu talento. Era formosa, com cabelos longos e escuros e sempre andava ereta e olhava os homens nos olhos.

Jaxon deu um tapinha leve na parte de atrás da cabeça de Lucian.

—Duvido que Precise desses precisos detalhes. – Ela disse. - E por que não ia olhar você nos olhos?

Mikhail tentou ocultar sua surpresa. Todo Cárpato vivente tinha medo deste homem, mas sua companheira o tratava... Bem, exatamente como Raven tratava o príncipe dos Cárpatos. Ele engoliu o sorriso e afastou o olhar quando Lucian pegou-a pela cintura e a levantou do braço da cadeira e a colocou no colo. Ela lutou durante um minuto e depois se rendeu, deixando-se abraçar.

—Lembro-me de vê-la caminhar por um campo ermo. Em questão de minutos a folhagem brotava por toda parte a seu redor.

—Ela atendia nos partos? Ou tratava a terra antes que a criança nascesse... ou mesmo antes que fosse concebido? —Era um tiro no escuro, mas Mikhail já se aferrava a mínima possibilidade.

As sobrancelhas escuras de Lucian se arquearam.

—No que está pensando, Mikhail?

—Shea disse algo sobre a terra estar infestada de toxinas, antes desta mesma noite. Quando estava sobrevoando o campo de batalha devastado e envenenado pelo não-morto, notei que uma seção havia sido curada. A terra era a mais escura e mais rica que já tinha visto em séculos. E então Raven mencionou que ela e várias mulheres foram ontem à noite aos charcos minerais e a terra e a água pareciam diferentes. Esta noite ela é capaz de conceber. Ouvi dizer que outras mulheres experimentaram a mesmo coisa.

Os dois homens olharam para Jaxon. Ela elevou as duas mãos, com as Palmas para fora, sacudindo a cabeça inflexiblemente.

—Eu não. Nem sequer pensem e além disso, ainda estou me acostumado a esta coisa de companheiros. E no caso de acharem que posso curar a terra, pensem novamente, pois matei cada planta que tentei cultivar antes e depois da conversão. Não sou sua curadora da terra.

—Ouviu alguma coisa sobre isto, Jaxon? —Perguntou Lucian. Seus dedos se fecharam na nuca dela numa lenta massagem. - Alguma das mulheres mencionou alguma coisa?

—Não, mas posso perguntar a Francesca. Ela sempre parece saber de tudo. Não sei como consegue, com um bebê e uma adolescente para cuidar.

Mikhail passou a mão pelo rosto, com aspecto repentinamente cansado.

—Era um tiro no escuro, de todo modo. Não posso lembrar quem era a mulher ou sua linhagem, nem me lembro se ajudava nos partos.

—Perguntarei a meu irmão e aos outros antigos se por acaso se lembram mais alguma coisa desta mulher, mas na verdade, Mikhail, se houver semelhante mulher entre nós sozinho tem que lhe pedir que de um passo à frente.

—A resposta não pode ser tão simples.

—Possivelmente é uma peça do quebra-cabeças que devemos resolver. Uma peça muito importante.

—Se encontrarmos esta mulher e ela é tão importante como espero que seja, esta celebração seria o melhor que teríamos feito.

—Você está preocupado. É sobre o ataque a Skyler e Alexandria?

É claro que Gabriel teria mantido Lucian informado. Mikhail assentiu.

—Estou intranqüilo há várias noites. Isto definitivamente me leva ao limite.

—Nós saímos e demos uma olhada. - Disse Jaxon. - Alguém tinha vindo da estalagem num trenó e estava encoberto na neve. É uma pessoa inteligente. Deixou-o a meia milha de onde Skyler e Alexandria foram ferimentos. A sensação de poder permanecia, mas não parecia ser Cárpato. —Jaxon mordeu o lábio inferior.— Estive tentando seriamente conseguir uma sensação dos diferentes campos de energia. Isso é tudo o que é na realidade, a magia dos Cárpatos, uma manipulação de energia e para mim isto seria diferente.

Um pequeno sorriso iluminou brevemente os olhos de Lucian ante a surpresa na face de Mikhail.

—Mencionei que Jaxon é uma grande polícial? Rastreia quase tão bem como eu.

—Diz que sentiu algo diferente. – Animou-a, Mikhail. - Um vampiro?

—Havia uma mancha nociva nela. – Admitiu, Jaxon- Lucian o sentiu através de mim, mas não pôde por si mesmo e isso realmente me incomoda. Se tiverem encontrado uma forma de bloquear as identidades dos caçadores, todo vocês poderiam ter um autêntico problema.

—Estão fazendo há algum tempo. - Lhe lembrou Lucian. Suas mãos deslizaram pela coxa de Jaxon num pequeno gesto tranqüilizador.

—Não assim, Lucian. - Objetou ela. – Você sentiu a diferença. Não era completamente vampiro, mas ainda assim cheirava a maldade. - Havia preocupação em seu tom.

—Me ocorreu que se nossos inimigos investirem contra as mulheres e as crianças. – confiou, Mikhail— terão mais possibilidades de erradicar nossa espécie de uma vez. Não sei quanto sabe do grupo de humanos dedicado a acabar com nossa espécie. Sempre nos referimos a eles como a sociedade. Os vampiros os enganaram, infiltrando-se em suas filas e os utilizam como marionetes. O mago obscuro Xavier pode estar vivo também, assim como seu neto. Se for assim, Razvan seria o primeiro Caçador de Dragões que se converte e seria algo ao qual nunca enfrentamos. Sua irmã, Natalia me disse que ele era um brilhante estrategista quando se tratava de planejar batalhas. Não duvido de que já teria chegado à mesma conclusão que eu e esteja esperando a melhor oportunidade de lançar o golpe mais devastador contra nossa espécie.

       Lucian assentiu.

—Há algum tempo venho acreditando que é inevitável que comecem a se voltarem contra nossas mulheres.

—E ainda assim permite que sua companheira cace e destrua o vampiro.

       Os dedos de Lucian se apertaram ao redor dos de Jaxon com uma advertência, quando ela ia protestar.

—Que melhor forma de mantê-la a salvo, que lhe ensinando como sobreviver quando for atacada? Jaxon já tem habilidades e instinto natural. Seria um crime evitar que aprendesse como matar o não—morto. E antes que coloque objeções, não acredito que todas nossas mulheres devam caçar vampiros. Mas Jaxon é um caso especial, como Natalya e Destiny. Não pode suprimir seus instintos e deixar que suas habilidades se desperdicem, assim faço o que posso para prepará-la para a caça.

       Mikhail suspirou.

—Nos velhos tempos, os homens que tinham companheiras não caçavam vampiro. Agora é necessário.

—Eu estive caçando durante séculos, como a maior parte dos antigos e Gregori. Já não conhecemos outra forma de vida. É mais que uma necessidade. É quem sou.

—Por que ter companheira evitava que caçassem, se tinham mais experiência? —Perguntou Jaxon.

—Porque mesmo quando tínhamos mulheres e crianças, sabíamos o quanto eram preciosos. - Explicou Mikhail. - Se perdemos o homem, também perdemos à mulher e essa não era uma opção para nós. Agora pode ser que não tenhamos outra escolha que permitir que nossas mulheres lutem também.

—Não todas as mulheres, Mikhail. – Lembrou-lhe, Lucian. – Somente as que tenham as habilidades e o desejo de lutar. Mulheres como Jaxon e Destiny.

       Mikhail suspirou.

—E Natalya. Ela o viu de dentro. Contou-me que seu irmão gêmeo tivera vários filhos. Colby, a companheira de Raphael é uma de suas filhas.

—As mulheres dos Caçadores de Dragões sempre foram imprevisíveis. Sempre serão. Se Razvan tiver outras filhas além de Colby, temos que encontrá-las e proteger. Indicarei para Dominic que parta logo que esteja curado, para que procure seus parentes.

—Levará tempo para ele curar seus ferimentos. Mesmo com nossos melhores curadores foi difícil. Francesca tentará logo e se encontrarmos esta mulher que pode curar a terra, talvez ela possa nos ajudar a enriquecer a terra onde ele está.

       Mikhail ficou em pé.

—Devo ir. A celebração é daqui a algumas horas e ainda tenho várias visitas a fazer. Sei que não há necessidade de lembrar a vocês que fiquem alerta, mas ainda assim, sinto que seria um engano não fazê-lo.

       Lucian ficou de pé também e uma vez mais segurou os antebraços de Mikhail num gesto de respeito.

—Tem minha lealdade absoluta, Mikhail. Se houver necessidade, me chame. Lutarei a seu lado, sempre.

       Um breve sorriso não chegou a afastar as sombras dos olhos do príncipe.

—A família Daratrazanoff sempre esteve ao lado dos Dubrinsky. Lutamos como um só.

       Jaxon elevou uma mão para o líder dos Cárpatos quando este deixava a casa.

—Parece muito triste, Lucian. – Ela, disse. - Sinto-me a ponto de chorar. E eu nunca choro. —Ela pressionou a mão sobre seu coração. – A dor dele está feito ondas.

       Lucian a rodeou com seu braço.

—Você é sempre muito sensível aos sentimentos de outros. Mikhail tem uma pesada carga a suportar, como evitar a extinção de nossa espécie. Ainda lembra dos os velhos costumes, já desaparecidas para sempre. Naquela época nossa gente prosperava e viviam juntos numa sociedade. É sua responsabilidade nos guiar a uma nova vida, uma onde possamos sobreviver e viver em harmonia com as outras espécies que nos rodeiam. Como eu, ele não pode evitar olhar atrás para o que tínhamos e olhar logo ao futuro, com preocupação. Não invejo sua tarefa. É um peso terrível para levar sobre os ombros.

— Acredita seriamente que nossos inimigos atacarão as mulheres e as crianças? —Ela engoliu com força, fechando os olhos contra as lembranças que fluíam de seu próprio irmão assassinado por um homem mentalmente doente. Seu coração palpitou ante a idéia de encontrar a jovem Skyler ou a um dos pequenos brutalmente assassinados.

—Velaremos por eles.

—Mas já sabemos que Skyler é um objetivo. – Ela protestou. - Tento não me preocupar com ela, mas é impossível. É maravilhosa e tão jovem e velha ao mesmo tempo. Gabriel está preocupado porque Dimitri a quer e agora isto. – Ela passou a mão pelo cabelo, claramente agitada. - Sinto vontade de encerrá-la para mantê-la a salvo.

       Lucian rompeu a sorrir, levando a mão dela aos lábios.

—Agora já sabe como me sinto. Como se sentem todos os homens quanto a proteger a suas companheiras e filhos.

       Jaxon fez uma careta.

—Eu não preciso de amparo, Lucian. Sou capaz de cuidar de mim mesma. Skyler é uma adolescente. E se Dimitri tenta levar-lhe...

—Dimitri é um amparo a mais para Skyler. Não entendo como ela disparou seus instintos a tão curta idade, mas o fez e ele não pode fazer outra coisa que assegurar seu bem-estar, segurança e felicidade. O que pode ser difícil enquanto conquista o demônio, mas tenho fé em sua vontade.

—Por que?

—Dimitri sempre valorizou a honra e a responsabilidade. Sempre se inclinava ante as normas, mesmo de jovem. Pode desejar levar-lhe mas no final, a menos que aconteã algo terrível, fará o certo por ela. —Ele mudou-a de posição em seus braços, abraçando-a mais para reconfortá-la ao notar que suas lembranças eram frescas e inquietantes. - Por outro lado, sempre é melhor se assegurar.

       Ela inclinou a cabeça para olhar para ele. Lucian sempre a fazia se sentir segura. Nunca conhecera a sensação até que ele entrou em sua vida, indubitavelmente não quando menina nem como jovem. Lucian havia mudado toda sua vida e lhe devolvido a esperança e a promessa de sonhos. Deslizou os braços a seu redor.

—Quero para Skyler o que você me dá . Ela merece e precisa de felicidade e sorte.

       Lucian esfregou sua cabeça com o queixo.

—Eu sei, pequena. Com o Gabriel e Francesca cuidando dela e nós dois também, Skyler estará bem.

       Jaxon envolveu os braços ao redor de sua cintura, pressionando-se contra o firme batimento de seu coração.

—Eu já disse hoje que te amo?

—Ainda não, mas estava a ponto de perguntar. Um pequeno aviso de minha parte normalmente consegue resultados dos mais satisfatórios. – Ele inalou a fragrância feminina. Jaxon. A mulher da qual nunca poderia prescindir. Ela era tão pequena de aparência e tão frágil, mas com a força de seis homens e uma vontade de ferro.

—Bem, pois o faço. - Replicou ela.

—O que?

—Sabe muito bem o que.

       Lucian a levantou com facilidade, elevando-a até sua boca faminta.

—Diga que me ama e diga agora mesmo, mulher.

       Ela envolveu-lhe o pescoço com os braços e a cintura com as pernas.

—Ou o que? Está ameaçando me castigar de algum modo inqualificável?

       Os dentes dele mordiscaram a pulsação dela, enquanto sua língua dançava num ritmo sedutor.

—Diga, mulher teimosa.

—Sua cabeça já está muito cheia. —Ela acariciou-lhe os longos cabelos com os dedos. - Se uma pessoa mais o olhar como se eu fosse a bomba...

—A bomba? —Suas sobrancelhas se arquearam. - De onde tira semelhante coisa?

—Estou na moda, pequeno. Totalmente na onda. —Jaxon riu de sua expressão. - De fato, Skyler me disse que eu era a bomba e não podia esperar prová-lo contigo. —Seu sorriso se converteu numa careta. – Talvez devêssemos procurá-la, nos assegurar de que está realmente bem.

—Isso soa plano. Queria correr com os lobos de todo modo e se o fizermos, pode ser que tenhamos oportunidade de encontrar e conversar com Dimitri.

—Por que há um "mas primeiro" em seu tom?

       A roupa dela flutuou até o chão, deixando-a com os seios nus pressionados com força contra seu peito. Sua dura ereção estava pressionada contra sua entrada já escorregadia.

—Quero fazer amor com você.

—Você sempre quer me fazer amor. E fez esta noite, três vezes. Acredito que precisa de ajuda. É um sexomaniaco. Ela se retorceu pressionando seu sexo contra ele, esfregando-se lentamente para que ele a invadisse enquanto beijava sua garganta. Elevou seu corpo vários centímetros, para se colocar sobre ele.

—Você me atacou esta manhã- Assinalou ele.

—De verdade? Não me lembro. Bem, pode ser que sim. — Ela deslizou para baixo, sentando-se no membro rijo, sentindo-o lentamente, centímetro a centímetro, invadindo-a, preenchendo-a. Começou uma cavalgada sedutora, movendo sobre ele, com os músculos tensos e quentes, escorregadios de desejo.

       Ele segurou seus quadris entre as mãos e acelerou o passo, fazendo com que seus movimentos estivessem perfeitamente sincronizados enquanto se moviam como um só e o fogo agora familiar crescia entre eles. Jaxon elevou a cabeça, desejando seu beijo, a doce explosão de sua boca exigente tomando a sua, apertando cada músculo de seu corpo, enviando dardos de fogo a correr por seu sangue.

       Fazendo amor com o Lucian era uma das poucas ocasiões nas quais relaxava sua vigilância e sabia que era o mesmo quando ele a tocava. Seus dentes deslizaram sobre o lóbulo de sua orelha, enquanto a pressão crescia, o som de seus corações combinados era forte e a pesada respiração a penas era audível com o som da alegria que escapava da garganta de Lucian em forma de um gemido. Mas se ouvia. Ela sabia que ele ouvia. Os dedos dele se fecharam possessivamente quando ambos deslizaram a um mundo de pura paixão.

 

—Skyler estava sentada no corrimão do alpendre e olhava o mundo resplandecendo de branco. A dor vibrava através de seu corpo e sua alma, até que se sentiu tão esmagada por ela que não podia respirar. Dentro da casa podia ouvir Gabriel e Francesca rindo enquanto brincavam com o bebê, Tamara. De vez em quando sentia seu ligeiro toque, quando se asseguravam de que estava perto.

       Ela seassegurava de que somente tocassem a superfície que lhes apresentava, de uma adolescente num novo lugar, estranho e excitante e ansiosa pela celebração de Natal. O sangue Cárpato que haviam compartilhado com ela tornava mais fácil manter a mente fechada e toda uma vida de ocultar suas emoções a outros facilitavam ainda mais a tarefa. Mordeu com força o lábio inferior e estudou suas longas unhas. Mordia-as todo o tempo, mas elas voltavam a crescer rapidamente, mais fortes e mais bonitas. Agradecia sempre o sangue Cárpato que Gabriel e Francesca tinham compartilhado com ela. Ainda não podia tocar às pessoas sem ler suas emoções. Como se algo no sangue tivesse realçado suas habilidades e podia ser horrivelmente incômodo. Não gostava de ir à escola, preferia os tutores que Francesca lhe proporcionava, embora sabia que seus pais adotivos acreditavam que ela precisava da companhia de gente jovem. Não era assim. Precisava estar sozinha.

—Skyler? Você está bem?

       A voz masculina fez com que levantasse bruscamente a cabeça. Josef estava de pé diante do corrimão, com as mãos nos bolsos.

       Mordendo com força o lábio inferior, tomou cuidado de não deixar que a infelicidade se mostrasse em sua face. A dor estava fazendo com que lhe revolvesse o ventre. Até sua visão parecia rabiscada.

—Claro. —Respondeu logo que pôde conseguir soltar a palavra e não se incomodou em tentar lhe lançar um sorriso falso e alegre.

       Não era sua, a dor. Em algum lugar no bosque, o homem que reclamava ser seu companheiro estava sofrendo uma agonia. Queria ignorá-lo, mas não podia. A culpa arranhava suas vísceras. Sentia a dor e o desespero intimamente. Apesar de tudo, sentia-se intrigada pelo homem. Era muito velho, é claro. E muito dominador. Definitivamente esperaria que ela o obedecesse e esse não era seu estilo. Acomodava-se aos desejos de Francesca e Gabriel porque os queria bem, não porque tivesse que fazê-lo.

—Skyler. - A voz de Josef interrompeu novamente seus pensamentos. Ele saltou sobre o corrimão e se abaixou perto dela. – Olhe para mim.

—Por que?

       Ele tirou um lenço de seu bolso e limpou o rosto dela.

—Está com pequenas gotas de sangue na testa. — Fingiu não notar que se separara dele, negando-se a deixar que seus dedos roçassem sua pele. Ele a limpou, cuidando em não tocá-la e lançou um som no ar. – O que está acontecendo?

—Nada. —Como é que ele não podia sentir? Como podiam Francesca e Gabriel não sentir a dor e a pena que tanto pesavam no bosque? Os lobos sentiam. Podia ouvi-los na melodia dos uivos distantes que enchiam a noite de tristeza e desassossego. Josh tinha menos ouvido que os animais?

       Skyler passou a mão pelo rosto, como se pudesse se livrar da verdade. Esse homem, de aspecto tão invencível, tão severo, frio e duro, um homem com gelo nas veias e morte nos olhos, cuidadra-a diretamente e a tocara onde ninguém mais poderia ter feito. Se pressionasse a mão contra a cabeça dolorida, doía. Não deveria, mas a sensação era como um bisel fechando-a com uma firme e implacável pressão.

—Como é "nada" quando está suando sangue, Skyler. Somos amigos, não somos? Pode me contar o que acontece.

       Skyler não sabia se tinha amigos. Confiava em seus pais adotivos e em Lucian e Jaxon. Além disso, nunca se permitia estar a sós com ninguém. Francesca acreditava que o tempo a curaria, mas Skyler duvidava. Para preservar seu espírito e sua prudência, retraiu-se do mundo quando menina, e possivelmente ficara ali muito tempo. Não sabia como ser amiga ou colega.

—Sim. É claro que somos amigos. – Respondeu, obrigada. Com o correr dos anos se encontrou dizendo justamente o que a pessoa esperava ouvir e eles ficavam contentes e a deixavam em paz.

       Josef relaxou visivelmente.

—Por que não vem comigo a casa de Aidan para jogar o novo videojogo? É genial.

—Estava ajudando Francesca a fazer as casas de gengibre para esta noite. — Ela envolveu os braços ao redor de si mesma, protectoramente.

—Antonietta está fazendo algumas coisas geniais para o jantar desta noite. Deveria passar por lá e ajudar.

—Encontrei-a uma dúzia de vezes já e a conheço da internet, mas não conheci Antonietta pessoalmente. É intimidante pensar em conhecê-la. É tão famosa.

—Pode tocar piano. – Concordou, Josef. - Mas não é presunçosa ,nem nada. Era cega antes de ficar com Byron, mas não acredito que enxergue melhor, sequer agora. —Ele sorriu e dentes brancos brilharam contra a linha escura que ele usava ao redor dos lábios, para atrair a atenção para o piercing de sua boca e sobre o anel de seu lábio.

—Eu acreditava que quando se convertiam, uma a uma, todas as cicatrizes e imperfeições desapareciam. – Ela tocou a cicatriz em forma de meia lua que tinha na face. – E como pode usar piercings? Seu corpo não se cura sozinho?

       Josef suspirou.

—É uma autêntica luta. Não os uso a maior parte do tempo, porque os buracos sempre estão se fechando em questão de minutos, mas tenho que manter minha reputação, então me concentro nisso todo o tempo e posso manter os piercings sem problemas.

—Por isso a pele cresceu sobre o diamante de seu nariz? —Perguntou Skyler, esfregando o queixo sobre o alto dos joelhos erguidos. Olhou fixamente para o reluzente mundo branco. Parecia um conto de fadas, todo cristal e gelo. Frio, como ela estava. Fechou os olhos brevemente contra a dor que a esmagava, tentando ouvir aos lobos, tentando captar sua canção. Sempre adorara os lobos. Sempre tivera muita afinidade com eles e agora o som chamava algo solitário e primitivo nela.

       Josef se pressionou a mão sobre o nariz.

—Outra vez não! Espero que não foi quando o príncipe me viu. —Avaliou-a com um olhar semicerrado. – Você vem? Antonietta é realmente agradável. Byron também, mas não quer que eu saiba.

       Skyler sacudiu a cabeça.

—Agora não posso ir. Te pegarei mais tarde. —Precisava estar sozinha, para pensar nas coisas. Gostava de Josef, mas ele era uma distração e não fazia idéia de que ela estava irritada. Dimitri saberia. A idéia chegou inesperadamente e a encheu de vergonha e dor. De raiva.

—Vamos, Skyler, não seja bebê. Só porque seus pais acham que precisa de uma babá não significa que não possa vir comigo. Tenho mais de vinte e um anos.

       Ela olhou-o fixamente.

—Seriamente? Achei que você tinha a idade de Joshua. Não vai me convencer para que faça algo errado, Josef. —Algo que a fizesse sentir mais culpada. Ele podia não ser capaz de convencê-la, mas ela estava disposta a desobedecer seus pais. O terrível peso de seu peito aumentou e a dor quase a afogou. Tinha que fazer com que isto parasse... Fazer com que Dimitri entendesse que isto não ele ou de seu rechaço por ele. Não era pessoal. Teria rechaçado a qualquer outro. Tinha que ficar em movimento.

—Você está furiosa porque eu me divirto sem ter que esperar um adulto para sair de casa. – Ele, disse. – Estava brincando. Não há necessidade de se incomodar.

- Não sou um bebê. – Ela exclamou ela, pressionando as mãos sobre o ventre que se revolvia, de repente. Talvez, se vomitasse sobre Josef ele iria emvora. - Não precisa zombar de mim.

—Claro que preciso. Para isso são os amigos.

       A resposta a sobressaltou. Eram amigos e gostava de Josef. Mas não gostava de ficar a sós com ele, com um homem. Com ninguém. Skyler passou a mão pelo cabelo e tentou não chorar.

       Josef, lendo sua expressão, tentou-a novamente.

—O príncipe chegou enquanto eu estava em casa de Aidan e Alexandria e disse que ia fazer com que Gregori fosse o Santa Claus esta noite. Tio, isso assustará a todos as crianças. Acredito que será divertido.

—Assustar um monte crianças pequenas não é divertido, Josef. Especialmente quando se trata de Papai Noel. Poderia traumatizá-los.

—Está começando a soar mais como Francesca. —Eu não vou traumatizá-los. Será Gregori e eu não o escolhi. Foi o príncipe.

—Esta noite se assegure de não assustar as crianças, especialmente Tamara.

       Olharam-se fixamente durante um longo momento de silêncio. Quando Josef se afastou com uma expressão turva, ela pigarreou.

—Você pode mudar de forma?

       Ele estufou o peito.

—É obvio

       Skyler olhou para a casa.

—Acha que alguém que é somente parte de Cárpato pode mudar realmente de forma? —Ela evitou seu olhar esfregando o queixo pensativamente sobre os joelhos, como se estivesse em profunda contemplação. Josef podia agir como um tlo ao redor dos adultos, mas era tão agudo como um prego e poderia ser capaz de ler sua expressão.

—Bem... —Ele fez uma careta. - Essa é uma boa pergunta. Natalya se convertia em tigre, o que era como certo, mas nunca ouvi dizer que nenhum adulto mencionasse que ninguém mais pudesse mudar.

—Como mudar?

       Ele sacudiu a cabeça.

—Nem sequer pense, Skyler. Não é tão fácil. Eu pratico todo o tempo e ainda cometo enganos.

—Não pratica todo o tempo. Você joga a videojogos todo o tempo. —Com outro olhar de receoso para a casa, Skyler desceu do corrimão até a neve. Ao contrário de Josef, ela não podia regular sua temperatura corporal e estava tremendo por estar sentada fora de casa, no vento frio que se somava a seu calafrio. Pelo menos havia deixado de nevar. Ela levantou a vista para o céu ameaçador, carregado de nuvens pesadas.

 

Josef lhe franziu o cenho.

—Ey! Eu posso mudar. Olhe isto. – Ele retrocedeu poucos passos e ficou em pé, com os braços estendidos. Começaram a brotar plumas de seu corpo, sua face mudou várias vezes até que seus traços passaram do branco escuro ao cinza, bordeados de branco. Sua íris se tornaram de um brilhante amarelo ele e desenvolveu um bico cinza esverdeado, com penachos de plumas ao redor da base. Seu corpo se compactou, mudou, encolhendo-se, até que ficou sentado na neve com a forma de uma coruja pequena. O corpo da coruja era marrom cinzento com um intrincado padrão de raias e listas e até alguns pontos em certos lugares.. Skyler ficou quieta. - O corpo era tão pequeno que ela realmente respeitava como Josef o havia obtido. Os grandes olhos piscaram para ela.

       Skyler passeou ao redor da diminuta criatura.

—Assombroso, Josef. Como você acerta para ficar tão pequeno? Realmente pode voar? Ou só tem tudo isso por motivos ornamentais?

       A coruja emitiu uma nota chorada e saltou várias vezes, estendendo as asas e batendo-as até que levantou vôo torpemente. Josef voou ao redor dela várias vezes, elevando-se mais alto e voltando a descer, diretamente para sua cabeça.

       Skyler levantou as mãos e correu pela neve, pegando-a e lançando no errante pássaro.

—Basta! Não tem graça, Josef.

       O pássaro se elevou novamente e a rodeou, ganhando velocidade uma vez mais, para o ataque. Skyler correu de volta para casa, perto da estrutura, enquanto o pássaro a acossava. Ela se abaixou, cobrindo a cabeça justo quando Josef se equilibrava sobre ela. A pequena coruja bateu na lateral da casa e caiu como uma pedra no chão. O pássaro estava completamente imóvel, seus diminutos apontavam diretamente para cima, como nos desenhos animados.

       Skyler deixou escapar o fôlego num lento vaio de desagrado.

—Não tem graça, Josef. Levante. —Havia um silêncio detestável. Elevou a cabeça e deu um passo para ele. Se ele estava tentando assustá-la, como normalmente fazia, ia torcer-lhe o pescoço. O pequeno corpo permanecia imóvel, com as patas rígidas. Sua mão revoou ao redor de sua garganta, o medo começou a surgir. Temia se mover, temia examinar à pequena criatura.

—Josef! —Apressou até ele, deixando cair de joelhos na neve ao alcance da coruja. Na hora em que pegá-la, os enormes olhos se abriram de repente, o bico se abriu de repente e as asas revoaram.

—Peguei você! —Josef se sentou gargalhando.

       Skyler saltou sobre seus pés, com o coração palpitando. Queria jogar alguma coisa na cabeça dele, mas nunca tivera tendências violentas. Bem, quase nunca. Josef somente brincava com ela. Ele adorava as brincadeiras e ela parecia um objetivo genial.

—Muito divertido.

       O sorriso desapareceu na face dele.

—O que está acontecendo contigo ultimamente, Skyler? As corujas freqüentemente tropeçam contra coisas e se atordoam. As pessoas acreditam que estão mortas, mas somente estão nocauteadas. Li sobre isso uma vez e pensei que te faria sorrir. Honestamente, você não é divertida. Ele se levantou de um salto e retrocedeu, afastando dela. - Ainda não somos adultos. Não há nada mau em rir das coisas.

       E ele partiu sem olhar para trás.

       Ela disse a si mesma que se alegrava de em vê-lo partir, que Josef estava sendo ridículo, mas sua solidão crescia. Não sorria como as outros crianças, não sabia como fazê-lo. Quando estava online e conversava com Josef, ele podia ser diferente, ser algum outro. Ninguém podia vê-la ou tocá-la e ela podia simplesmente relaxar e se divertir. Mas aqui. todos estavam perto. Podia sentir cada emoção e isso lhe rasgava, arranhava seu coração até que se sentia em carne viva. Pensava que simplesmente deixaria de existir. Algumas vezes, mesmo a terra parecia gritar de dor para ela.

       Na distância, um lobo solitário uivou tristemente. A canção tinha uma nota apagada que a feriu. O lobo estava tão sozinho que ela desejou estender os braços e envolver os dedos ao redor do pingente entre seus seios. De repente ao fazê-lo, sentiu calor, em vez do frio, quase pulsando em sua mão. Sabia. Se meteria em problemas se Gabriel e Francesca descobrissem que havia saído, mas tinha que ir. Não podia se conter.

       Skyler pegou seu casado branca revestido de pele e saiu correndo na direção em que ouvira o lobo. Era Dimitri? Seu coração saltou ante a idéia. Seus olhos eram tão azuis, tão intensos e tão cheios de dor. Ela conhecia a dor intimamente. Conhecia às pessoas. Elas escondiam terríveis inclinações, terríveis segredos sob rostos falsamente sorridentes. Ela era melhor que os outros, deixando que o homem sofresse, porque estava com medo?

       Estremeceu sob o casaco. Gabriel ficaria furioso e ela não gostava quando ele se zangava seriamente. Normalmente ele lhe lançava um olhar severo, mas se ficasse furioso, insistia em castigá-la. Isso normalmente significava passar tempo com as outros crianças. Para outros teria sido fácil, mas para ela sempre era o mais temido dos castigos. Seus pés afundaram na neve e ela parou, olhando em direção à casa. Não podia ver ninguém e jpa havia entrado na linha das árvores O lobo uivou outra vez, numa nota chorosa, como se ele também procurasse respostas.

       Skyler ergueu os ombros e se colocou em caminho outra vez, abrindo passo através da neve que caía enquanto tentava seguir o atalho pouco usado que serpenteava perto do leito do rio. A ponta de seu nariz e suas orelhas esfriavam. Baixou mais o capuz, tentando evitar o frio. Era impossível. Tropeçou e quase caiu. A ação brusca a sacudiu o bastante para que erguesse a cabeça com força, tentando limpar os gritos lastimosos do lobo que simplesmente não a deixavam em paz.

       Durante muito tempo tinha pensado que sua resposta era viver no mundo dos Cárpatos, mas agora compreendia que não podia se relacionar com ninguém deles, melhor do que podia no mundo humano. Secou as lágrimas que deveria ter em seus olhos, mas não havia nenhuma. Sentia-as arder profundamente em seu interior, presas como suas lembranças. Somente Francesca e Gabriel pareciam ser capazes de aceitá-la com todas suas diferenças e com todos seus defeitos. Nunca iria se sobrepor a seu passado, a suas habilidades psíquicas. Podia ter mais controle do que acostumava, graças a seus pais adotivos, mas não era suficiente para lhe permitir ser como os outros.

       Tropeçou num galho coberto pela neve e e olhou ao redor surpreendida ao compreender que estivera caminhando todo o tempo e não fazia idéia de onde estava. Virou-se em círculo, franzindo o cenho. Em que direção estava a casa? Podia chamar Gabriel, mas ele se enfureceria com ela. Seria melhor encontrar seu próprio caminho de volta. Ainda assim ele se zangaria com ela quando soubesse, mas sua fúria estaria de algum modo moderada pelo fato de que estava a salvo.

       Um grito de agonia, quase humano, rompeu a noite enviando arrepios por sua espinha. O cabelo de sua nuca arrepirou e o sangue quase congelou em suas veias. Ofegou olhando ao redor. Era perto, tão perto que podia ouvir os grunhidos de um lobo. Impulsionada por alguma coisa, além dela mesma, Skyler correu, deixando que a reverberação da luta a guiasse.

       Sob uma árvore disforme, um enorme lobo macho de pelagem avermelhada, lutava com a armadilha que se fechava ao redor de sua pata. Havia sangue salpicado pela neve e o lobo mastigava sua própria pata num esforço para se liberar. Quando ela parou, a criatura se voltou para enfrentar à nova ameaça, com a boca retraídos num grunhido. Os olhos amarelos brilhavam com malícia, enquanto a advertia.

       Skyler retrocedeu, mantendo uma distância segura enquanto o animal se equilibrava para ela. A armadilha o reteve e ele mordeu a pata novamente, antes de se voltar para manter um olho precavido sobre ela. Seus corpo se moviam pesadamente e o suor tornava sua pelagem mais escura. Seu corpo estremecia. Podia sentir a dor percorrendo-o. Este não era Dimitri. O lobo não podia mudar ou teria liberado a si mesmo. Era um autêntico animal selvagem preso numa armadilha. Olhando em olhos, compreendeu que liberar-lhe era impossível mas seu espírito se negava a render. Grunhia para ela continuamente, mostrando seus dentes, com saliva gotejando de sua boca, e em todo esse tempo seus olhos amarelos nunca abandonaram sua face.

       Partiria realmente quando este magnífico animal lutava corajosamente? Quando estava disposto a cortar sua própria pata para assegurar sua liberdade. Skyler não podia dar as costas à fera, pois sua compaixão se elevou rapidamente. Levantou uma mão, com a palma para fora.

—Fique calmo. – Consolou-o, tentando acalmar o próprio coração que pulsava rapidamente.

       O gemido do lobo retumbou profundamente em sua garganta, mas ele deixou de grunhir, assentindo como se estivessem conversando.

—Isso. Está bem. —Às vezes podia conter um animal, mesmo um animal selvagem, enquanto curava seus ferimentos, mas nunca havia tentado sujeitar um lobo. Era uma união de dois espíritos e isso nunca era fácil na melhor das ocasiões.

       O lobo se aquietou, olhando-a com olhos intensos. Ela se aproximou mais, sentindo o quente retinir que sempre se estendia através de sua mente e seu corpo, antes de se conectar solidamente, concentrando-se no animal, chamando silenciosa e implacavelmente, à essência da fera. Em seu ventre se fez inesperadamente um nó e sua garganta queimou. Havia um sabor amargo em sua boca e uma sombra roçou seu espírito. Era algo oleoso, engatusador e maligno. Sua alma estremeceu e ela se afastou para atrás.

       Horrorizada, Skyler elevou a cabeça para olhar o lobo. Viu a pata mudar de forma, o corpo do animal se retorcer e o focinho se alongar numa horrenda cabeça com forma de bala assentada sobre algo meio humano e meio lobo. A boca se abriu na paródia de um sorriso que mostrou dentes afiados e manchados.

       O ar congelou em seus pulmões. Não podia se mover, não podia dar forma ao pensamento de chamar Francesca ou Gabriel. Só conseguiu ficar esperando que a morte viesse a ela.

       Um grande lobo negro irrompeu das árvores, executando saltos que cobriam vários metros de uma vez. O animal a golpeou no ombro, conduzindo-a longe do vampiro. Olhos de um azul forte queimaram com um frio glacial, quando o lobo se voltou no meio do ar e se lançou à garganta do vampiro que mudava. O lobo pesadamente musculoso lançou à criatura para trás antes que ela tivesse oportunidade de mudar completamente de uma forma a outra. Poderosas queixos se fecharam sobre a garganta exposta e a rasgaram.

- Olhe para outro lado.

       A ordem chegou clara e cristalina à mente de Skyler. Ela fechou os olhos com força, mas isso não eliminou os sons da carne rasgada, os gritos agudos e grunhidos e uivos do não—morto. A voz golpeou seu cérebro, cortando profundamente. Sentiu gotas como cinzas ardentes que queimaram sua pele através de suas luvas, até o osso. Foi impossível conter o pequeno grito de dor sobressaltada que lhe escapou

       Os grunhidos se fizeram mais altos, os chiados mais violentos e terríveis. Skyler cobriu o rosto com as mãos para evitar olhar, mas não pôde evitar o terror mórbido e abriu os dedos o bastante para olhar através deles. Dimitri era outra vez um homem, Não... não um homem. Era completamente um guerreiro dos Cárpatos, pois seus olhos flamejavam de fúria e sua boca estava reduzida a uma linha cruel e desumana. Os músculos ondearam em suas costas e se incharam em seus braços quando ela passou o punho fechado através do peito do vampiro e fechou os dedos ao redor do coração enegrecido e murcho. Fez-se um terrível som de sucção e o grito se fez mais alto. O sangue salpicou num arco negro. As mãos de Skyler lhe protegiam o rosto, mas esta vez o sangue salpicou o dorso de suas luvas, derretendo o tecido e a pele, imediatamente.

       Skyler ofegou de dor e colocou as mãos na neve vendo com horror como Dimitri extraía o coração e o lançava a certa distância do vampiro. O não—morto arranhava e mordia, lutando viciosamente, abrindo profundas lacerações na pele de Dimitri. O ácido veteaba o pescoço, o peito e os braços do caçador quando ele fez uma pausa e o relâmpago crepitou no alto.

       Um movimento captou sua atenção, e Skyler se separou da hipnótica visão do vampiro para ver o coração enegrecido arrastando pelo chão coberto de neve num esforço por voltar para seu amo. Rodou pelo atalho de volta para seu amo e se aproximou de onde suas mãos estavam enterradas na neve. Com um grito de terror ela tirou as mãos, virando com o ventre revolto ante semelhante abominação.

       O látego de um relâmpago caiu do céu para incinerar o coração. O relâmpago se separou no último momento, formando dois fios uma dos quais golpeou o vampiro enquanto o outro ia direto ao coração. Um odor nocivo encheu o ar e se elevou fumaça negra, quando o grito decaía junto com o vapor.

       No silêncio resultante, Skyler ouviu seu próprio coração trovejando forte nos ouvidos. Levantou o rosto, para encontrar o olhar de Dimitri e seu coração se saltou abruptamente um batimento. Ela parecia tão forte e invencível. Seus olhos eram tão frios, tão azuis, mas queimavam através dela até seus ossos, marcando-a. Ele se moveu e ela piscou, quebrado o feitiço hipnótico. Skyler se afastou dele, a fúria a tomadas em ondas. Sua força era tão poderoso que a afligia, quase pondo a de joelhos. Um som de desassossego lhe escapou da garganta, atraindo instantaneamente o olhar intenso dele.

       No momento a fúria dele desapareceu e ele lhe tendeu a mão.

—Venha aqui comigo. Você está ferida. Não tenha medo, Skyler. Não poderia te fazer mal, sem importar as circunstâncias.

       Ela engoliu com força e retrocedeu outro passo. Sua boca ficou seca quando ele encurvou um dedo para ela. Por que não podia gritar chamando Gabriel ou a Francesca? Eles eram sua âncora quando o terror a invadia e seu espírito se retraía. Fisicamente, era incapaz de fugir dele. Aprendera a muito, que toda resistência provocava uma rápida represália. Podiam agredi-la até a submissão física, mas sua mente iria aonde ninguém mais podia segui-la. Podia estar a salvo, esconder-se longe, num lugar dentro de sua mente.

       Dimitri pôde notar o medo extremo nos olhos de sua companheira. Todo vestígio de dor havia desaparecido de sua face, deixando-a tão pálida que sua pele parecia translúcida. A fúria que estava contendo amainou quando os instintos protetores que não sabia que possuía, se elevaram rápida e agudamente. Desejou abraçá-la, abrigá-la nos braços, mas já podia sentir a alma dela fugindo da necessidade selvagem que havia nele. Nunca teria imaginado que alguém pudesse ser tão frágil. Aproximar-se dela requeria uma delicadeza que não estava seguro de possuir.

—Ouça-me, pequena. – Ele fez um esforço supremo para suavizar sua voz. Raramente se aproximava das pessoas e sentia a garganta oxidada. - Não deveria ter presenciado isto. Matar um vampiro sempre é confuso e violento. Só quero curar as queimaduras de sua pele. Me deixará?

       Ela não respondeu, simplesmente olhou-o, aterrada.

       Seu coração se removeu no peito.

—Se tanto te assusta, chamarei Francesca. Ela é uma grande curadora, mas deve fazer isso rápido. O sangue do vampiro queima como ácido. Este havia se convertido recentemente ou não foi tão fácil de... — Ele pensou um pouco, tentando evitar a palavra "matar" - Destruir.

       Skyler engoliu várias vezes.

—Como? —A palavra surgiu, apenas num sussurro.

       Ele tocou sua mente, achando suas mãos palpitantes e ardentes. Ela parecia que desmaiaria, pois atá em sua mente, se sentia enjoada. - Não doerá. Serei bem cuidadoso.

       Sktler respirou fundo e elevou o queixo num esforço de se obrigar a dar um passo para ele. Seu corpo tremia visivelmente. Ele podia ver o esforço que lhe custava, mas estava orgulhoso dela, pela tentativa. Não cometeu o engano de ir até ela. Ele era muito alto, sobre a diminuta figura e sabia que somente a assustaria mais se saísse do lugar. Esperou, contendo a respiração, regulando tanto o batimento de seu coração como o dela, num esforço por mantê-lo firme. Ela deu um segundo passo e depois um terceiro, estendendo as duas mãos para que ele pudesse ver as queimadura do ácido, onde o sangue do vampiro havia derretido o tecido de suas luvas. Suas mãos tremiam quando as colocou abertas, nas dele.

—Preferiria que chamasse Francesca?

       Ela sacudiu a cabeça.

—Eles não sabem que segui a chamada do lobo. Se zangarão comigo. – Se decepcionarão.

       Sua chamada. Internamente, Dimitri se amaldiçoou. Ela ainda não estava unida a ele, mas seu sangue, seu coração e sua alma a chamavam. É obvio que ela havia respondido. Nenhuma companheira podia resistir à necessidade de sua outra metade. E ele precisava dela desesperadamente. Fechou seus dedos ao redor dos dela.

—Eu o farei então. Não posso chamar o relâmpago já que não é completamente Cárpato, então usarei meus próprios poderes curadores. Pode ser... Íntimo. Terá que confiar em que não me aproveitarei, em que farei somente o que é necessário.

       Baixou a cabeça, centímetro a centímetro, dando-lhe tempo suficiente para mudar de opinião. Seu olhar mantinha o dela cativo, negando-se permitir que ela afastasse os olhos do ato familiar que estava executando. Seus lábios se moveram ao longo das queimaduras, ligeiros como plumas, somente roçando pequenas carícias sobre elas. Sua língua acariciou suavemente e ela saltou e quase afastou a mão. Instintivamente, ele apertou os dedos, sujeitando sua mão contra os lábios.

- Certamente sabe que nossa saliva é curativa.

       Skyler assentiu, ainda incapaz de afastar o olhar das profundezas do dele. - Não é igual quando Francesca ou Gabriel me curam cortes. É... Intimo. - Muito íntimo. Sexy. Inclusive erótico. Um débil rubor apareceu em suas bochechas ante seus pensamentos, não pôde controlar a rajada de calor em seu sangue ou o como seu ventre se contraiu com espera, quando os lábios dele tocaram a pele queimada. Estava tão hipnotizada por ele, que sequer notou que havia utilizado a forma mais intima de todas, de se comunicar. Mente a mente, por um vínculo privado que somente eles dois compartilhavam.

       A língua dele acariciou, eliminado o ardor das queimaduras. Parecia uma sedução, era como se ele estivesse lhe tirando sigilosamente algo mais do que pretendia. Podia ver cada detalhe de seu rosto, o forte queixo e nariz, o formato de seus lábios e sobre tudo os glaciais olhos azuis dos quais não podia escapar. Suas pálpebras eram espessas e muito negras, tanto como o cabelo e as sobrancelhas. A cor de seus olhos sobressaía mais intensamente, em vivo em contraste. Skyler sentia quase aturdida, como se caísse em seu intenso olhar.

       Atraiu o ar para seus pulmões e encontrou a fragrância dele. Seu coração igualava o ritmo do dele. Sua mente relaxou realmente e sua guarda lhe permitiu deslizar para dentro. Sua alma roçou contra a dela, não empurrou, nem tomou, simplesmente a tocou, tão leve que logo que sentiu a fusão e sua alma se estendeu procurando instintivamente, desejando a dele, desejando ele.

       Quis afastar a mão, lhe dizer que faria que Francesca a ajudaria depois, mas não conseguiu. Nunca havia sentido nada tão certo em sua vida. Nesse breve momento não teve acontecido ou futuro, somente o momento e este homem.

       Dimitri encontrou cuidadosamente cada queimadura em sua pele, cada rastro que o sangue do vampiro havia deixado. Podiam ser como esporos, engendrando as coisas mais maléficas na corrente sanguinea, se não fossem erradicados. Felizmente, o vampiro se convertera recentemente e ainda não se entregara completamente ao poder do mal. Dimitri demorou, roçando a ponta do polegar ao longo da face interna d amão dela, saboreando a sensação de sua pele e o fato de que neste pequeno momento, ela relaxara um pouco com ele.

       Foi com grande relutância que elevou a cabeça e deixou que as mãos dela deslizassem entre seus dedos.

— Está bem, agora.

—E seus ferimentos? Posso te curar.

—Posso fazer isso, eu mesmo. —Mas não podia respirar sem ela. Afastou o olhar antes que ela lesse nele, a necessidade de pegá-la e levá-la para longe onde não tivesse outra escolha que lhe aceitar. A fera lutava para se elevar, exigindo sua companheira. Cruelmente, empurrou-a para baixo. Nada arruinaria este momento com ela.

—Quero vê-la novamente. Preciso falar contigo.

       Ele se inclinou ligeiramente pela cintura e estendeu a mão com a mesma lenta deliberação, lhe dando tempo suficiente para colocar suas objeções. Quando ela não o fez, colocou-lhe uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha.

—Estou a seu serviço.

       O sorriso dela foi uma tentativa.

—Preciso te dizer que não é você. Sou eu. Sei o que é uma companheira e isto é um engano. Eu sou defeituosa. Não posso ser como as outras mulheres, nunca. – Ela baixou a cabeça, evitando seu olhar. Os olhos dele pareciam tão vivos que quase queimavam sua pele, mas tão frios que a faziam estremecer.

- Requereu grande quantidade de coragem de sua parte, pequena, me dizer estas coisas. Agradeço-a por fazer o esforço. – Ele manteve a voz amável, resistindo a urgência de puxá-la para seus braços. Ela estava extremamente adorável ali, frente a ele, tentando lhe rechaçar sem ferir seus sentimentos. - Todos estavam errados. Francesca e Gabriel e até Mikhail. Ela não era muito jovem. Mesmo agora, quando deveria ter sido não mais que uma jovem adulta emergindo de sua infância, ele sabia que ela já era uma adulta. Sua alma havia roçado a dela. Lhe tinha arrancado sua infância e a jovem que havia ali era muito elusiva, simplesmente muito frágil. Muito maltratada, muito sensível por seu enorme talento psíquico, pelas atrocidades que foram cometidas contra ela e que tinham conduzido seu espírito tão profundamente e tão longe e era apenas capaz de permanecer no mundo. - O tempo esclarecerá isto por nós. Enquanto isso, me permita te escoltar de volta a sua casa.

—Não está zangado comigo?

—Por não estar pronta ainda para minha reclamação? —Segurou a mão dela entre seus dedos quentes e seguros, quando ela estava tão insegura. - É claro que não.

       Caiu neve da árvore mais próxima e os doisse viraram para o som. Os ramos balançaram e uma pequena coruja elevou o vôo estendendo as asas. Seu corpo bamboleou e ela se lançou diretamente para eles.

       Dimitri saltou colocando seu corpo entre a criatura e Skyler. Calculou seu ataque, dando um tapa no pássaro no ar, quando ela gritou e o pânico se fez evidente em sua voz.

—Não! É Josef. Tem que ser Josef. —Tentou rodear Dimitri, seu tom protetor fez arrepiar a pelagem do lobo, disparando a resposta de sua fera ante a idéia de que ela protegia outro homem. Moveu sem que parecesse, evitando que ela o rodeasse.

       A coruja se sacudiu e seu movimento eram bobos. Braços apareceram onde as asas estavam e ela caiu na neve e um jovem ficou esparramado no chão, todo braços e pernas, com aspecto ligeiramente surpreso e muito assustado mas decidido. Cambaleou até ficar em pé, apertando os punhos e fulminando Dimitri com o olhar.

—Deixe-a em paz.

       Dimitri podia ter sobreposto os instintos de sua espécie, mas sentiu a resposta de Skyler ao desconhecido e o relâmpago instantâneo de diversão tingido de admiração. Despiu os dentes e um grunhido retumbou profundamente em sua garganta, num desafio ao outro homem. Imediatamente a clareira se encheu de lobos, respondendo a seu grunhido com uma agitação e agressão que igualavam as dele. O fogo ardia em sua mente e em seu coração, rabiava em suas vísceras e isso se refletia em seus olhos, agora de um vermelho feroz.

       Skyler tentou lhe empurrar para o lado, mas ele a segurou pelo braço. Seu toque apertava como de aço.

—Quem é este homem para você?

—Meu amigo. Não se atreva a lhe fazer mal. —Lutaria por Josef já que não podia lutar por si mesma.

       Os lobos despiram os dentes, aproximando mais, estreitando o círculo. Skyler podia divisar os enormes animais peludos e todos saudáveis, todos concentrados em Josef.

—Você não precisa ter amigos masculinos. - Espetou Dimitri, seus fortes dentes brancos resplandeceram, mostrando um indício de seus caninos alongando-se iguais os incisivos. Seus músculos ondearam sob a pele, rangendo e avultando-se enquanto lutava com a mudança.

       Assustada, Skyler começou a retroceder afastando-se dele, sentindo a raiva selvagem que se elevava e o animal tomando o controle. Mas alguma coisa, talvez desespero, dor e pena, fez com que se detivesse. Tocou-o, com a mão aberta sobre seu peito, olhando-o nos olhos. Mesmo com a aparência de um lobo seus olhos eram sempre azuis e agora eram turbulentos e tormentosos.

—Dimitri. Ele é meu amigo. Não meu noivo. —Não deveria ter que desculpar mas não pôde evitar querer lhe consolar. A necessidade era bem mais urgente e forte que o desejo de fugir.

       Ele pegou sua mão, levando-a aos lábios e ondeou a mão para os lobos. O círculo se abriu contra vontande.

—Vá. Vá logo, - espetou - enquanto ainda tenha o controle.

—Sinto muito. – Ela sussurrou.

       Skyler e Josef correram, cuidando em não tocar um ao outro, Skyler com o coração pesado e a dor arranhando-a. Fugiu com lágrimas correndo por seu rosto e perguntando de onde vinham, sentindo-se inadequada e covarde. Fugiu da dor de Dimitri e de seus próprios medos. Alguma vez teria um refúgio seguro para ela?

 

       A música enchia os pequenos limites do aposento, espalhando-se pelos corredores e vagando para fora da casa. Antonietta Scarletti Justicano virou a cabeça para o som. Duas pessoas se aproximando. Cheirou o ar, distinguindo facilmente a fragrância familiar de Josef e a desconhecida, de seu acompanhante. Uma mulher jovem e muito alterada. Levou um segundo passar acima do medo que irradiava a garota, para sentir o alarme Josef. Elevou os dedos das teclas de marfim e se virou para eles.

—Josef? O que aconteceu?

       Skyler compreendeu instantaneamente que Antonietta não podia vê-los, realmente. Era quase impróprio de um Cárpato ter qualquer defeito físico. Tentou se lembrar do que sabia da tia de Josef. Ela havia sido uma famosa pianista antes que Byron a reclamasse e a convertesse. Fora cega a maior parte de sua vida. Skyler se aproximou mais dela, numa tentativa de ficar mais acessível.

—Sou Skyler Daratrazanoff, a filha de Francesca e Gabriel. —Não fazia a declaração com freqüência, mas adorava dizer em voz alta.

—Prazer em conhecê-lo, cara. - Disse Antonietta, sua voz era tão musical, como seus dedos. - Por favor me contem o que os alterou.

—Um vampiro atacou Skyler. - Explodiu Josef.

       Antonietta estendeu sua mão para ela. Instintivamente, antes de conseguir se conter, Skyler retrocedeu.

—Estou bem. Dimitri o matou.

—E depois a tocou. Lambeu-a. —Havia desgosto na voz de Josef. - Com muita dificuldade conseguimos sair vivos de lá. Tinha uma alcatéia de lobos com ele e os lobos queriam nos matar.

       Byron! Antonietta convocou seu companheiro imediatamente.

—Josef, algum de vocês está ferido? Chamou Gabriel?

—Não! —Protestou, Skyler. - Por favor, não o faça. Nenhum de nós está ferido. O sangue do vampiro me salpicou as mãos e me queimou através das luvas. Dimitri estava curando as queimaduras quando Josef o viu. Josef o interpretou mal.

—Não interpretei mal que ele me mostrasse seus dentes, Skyler. - Exclamou Josef. - Você não o viu. Havia morte em seus olhos quando me olhou.

—Ele salvou minha vida. - Declarou Skyler.

—Seu coração está palpitando muito rápido e alto. – Assinalou, Antonietta. - Acredito que está bem mais assustada do que quer admitir.

—Do vampiro. - Insistiu Skyler.

       Um homem alto e bonito entrou em passos na sala.

—Vampiro? – Ele olhou fixamente para seu sobrinho a sua companheira, e rodeou a cintura de Antonietta com seu braço.

       Imediatamente Antonietta pôde ver os ocupantes da sala. A maior parte do tempo, quando estava cansada, podia notar sombras e era o bastante para que seus outros sentidos amplificados soubessem quem e o que a rodeava, mas às vezes simplesmente não se incomodava. Estava acostumada a um mundo sem visão e à mãos que Byron lhe proporcionasse olhos, era difícil recordá-lo continuamente e manter sua visão. - Um vampiro atacou esta jovenzinha e Josef parece pensar que Dimitri, quem a resgatou, se comportou inapropiadamente depois, embora ela diga que ele estava curando suas mãos.

       Byron se estendeu imediatamente para os outros Cárpatos por seu vínculo telepático, espalhando a notícia do ataque de um vampiro. A resposta de Gabriel foi aguda e instantânea.

—Seu pai está a caminho. - Anunciou Byron em voz alta, enquanto estendia o braço em busca das mãos de Skyler, pegando seus dedos antes que ela se afastasse e os levantou para sua inspeção. Velhas cicatrizes cruzavam sua pele, subindo pelos antebraços no que obviamente eram ferimentos defensivos. A visão de semelhante abuso em uma jovem o adoeceu. No dorso de suas mãos haviam marcas mais novas, recentemente curadas, débeis, mas reveladoras.

       Skyler afastou as mãos de um puxão, tremendo visivelmente.

—Eu disse a vocês que ele curou minhas queimaduras. – Ele colocou as mãos nas costas, fora da vista de todos. - Foi horrível.

       Gabriel se materializou sem preâmbulos, estendendo a mão para ela, puxando-a contra ele e deslizando as mãos sobre ela procurando danos.

—Tem muito a que responder, Skyler Rose.

—Ela levou um susto terrível. - Disse Antonietta, intercedendo.

—Algum desconhecido estava sobre ela. - Disse Josef, franzindo o cenho com desaprovação. Ergueu-se em toda sua estatura. – Eu a segui porque atuava de forma divertida e um vampiro a atacou. Mas eu não pude fazer nada.

—Nada como me chamar? —Interrompeu Byron. - Não me lembro de chamadas ou gritos pedindo ajuda.

—Eu tampouco. - Disse Gabriel, retendo o abraço sobre sua filha. A ameaça de um vampiro colocando suas mãos sobre Skyler era o bastante para branquear seus cabelos. - O que estava fazendo fora de casa e desprotegida? Te adverti que estava em perigo, mas decidiu ignorar? Ignorou uma ordem direta de sua mãe e minha.

       Skyler se aferrou a ele. Em meio a um mundo tão caótico, ele era uma torre de força. Sempre e para sempre sua rocha.

—Sinto muito. – Ela, sussurrou. - Não pude evitar de ir a ele. Havia tanto dor. Eu conheço a dor e não podia ser a causa.

       Um lento vaio escapou ao Gabriel. Seus dedos a acariciaram enquanto a castigava com sua fúria paternal. Parte dele queria sacudi-la e a outra parte queria abraçá-la, consolá-la, mantê-la a salvo. - Não pensou em confiar em Francesca ou em mim? Poderia ter pedido ajuda para lidar com isto, Skyler.

       Havia dor em sua voz? Era seu destino fazer mal a todos os que lhe importavam?

—Sinto muito. - Disse uma segunda vez em voz alta. - Não podia pensar com claridade. —Era a verdade e a única desculpa que tinha para oferecer.

—Conte-nos exatamente o que aconteceu. - Disse outra voz. Skyler levantou o olhar para ver Mikhail e Lucian, perto. Ambos sombrios. - Se Dimitri te assaltou Skyler, deve contar-nos. - Acrescentou o príncipe.

—Não! – Ela gritou a palavra. Uma rajada de adrenalina atravessou sua corrente sangüínea. Todo mundo estava olhando-a, acossando-a. Não podia respirar, não podia falar. – Ele tentou me curar. Por que não me ouvem?

—Se valorizam suas vidas, - interrompeu outra voz – deixem em paz minha companheira. Pude sentir seu mal-estar irradiando do bosque e vocês estão afligindo-a, pressionando-a para que lhes conte o que deveria ser perguntado a um caçador. —Dimitri estava em pé, alto e ereto na soleira da porta aberta. Seu longo cabelo flutuava na ligeira brisa e alguns flocos de neve salpicavam sua cabeça e seus ombros.

       Gabriel empurrou Skyler para Antonietta. - Acredito que aceitarei sua explicação. - Disse a Dimitri entre os dentes apertados. - Antonietta, poderia levar minha filha a sua cozinha e se assegurar de que ela beba algo doce como um suco de laranja. Tem que ser natural.

—Gabriel. - Protestou Skyler.

- Vá com ela. É meu dever e privilégio assegurar sua segurança e tenho intenção de fazer isso mesmo. Discutiremos isto logo.

—Ele salvou-me a vida. - Disse Skyler desafiante, percorrendo com o olhar a sala cheia de caçadores Cárpatos. - Ele me salvou a vida.

       Antonietta ignorou a pequena resposta automática por parte de Skyler e colocou um braço ao redor da garota.

—Acredito que seu homem pode dirigir sozinho a este grupo. —Coloque-se de seu lado, Byron. Por favor. Ele parece muito sozinho. – Ela lançou um sorriso confiante para Skyler. - Posso ver quando me empenho. Não vou te dar algo como azeite de oliva para beber em vez de suco de laranja.

       Skyler foi com ela, mas parou no corredor que conduzia à cozinha. Olhou atrás e seu olhar preocupado se encontrou com o de Dimitri.

- Estarei bem, lyubofmaya, vá com a mulher e me deixe esclarecer as coisas com estes homens... E com seu pai.

- Por favor não faça mal a ninguém e nem deixe que lhe façam mal. Não poderia suportar. - Olhou fixamente para Gabriel. Ele estava observando-a, não a Dimitri. Ela estava-lhe desobedecendo outra vez. Skyler baixou a cabeça e se virou para seguir Antonietta.

- Seu pai e eu chegaremos a um entendimento, Skyler. Agradeço que me defenda. E fique longe do rapazinho. Ele está com ciúmes e é capaz de provocar problemas que não pode conceber.

       Skyler não soube o que dizer. Josef tinha atuado como se estivesse com ciume, mas não estava apaixonado por ela. Ela acreditava que era mais provável que se sentisse solitário, como ela e não queria perder a uma amiga.

       Estava escuro na cozinha e Antonietta esqueceu de acender as luzes, então Skyler tentou acendê-la, discretamente.

—Gabriel está realmente zangado comigo desta vez. Saí como uma idiota, mas minha mente estava nebulosa. Só podia pensar em chegar ao lobo.

       Antonietta tirou suco de laranja da geladeira.

—Ao lobo? Ou a Dimitri?

       Skyler franziu o cenho, esfregando as têmporas.

—Não sei. Acreditava que a Dimitri, mas segui o uivo do lobo.

—E Dimitri não era o lobo?

       Skyler estremeceu e sacudiu a cabeça.

—Não. O lobo parecia estar preso numa armadilha de aço e sua pata sangrava. Quis lhe ajudar, mas então ele mudou para algo horrendo e Dimitri chegou e lutou com ele.

—Deve ter sido terrível. - Antonietta comunicou a informação a Byron para que ele dissesse aos outros. - Isso não soa bem, —informou a Skyler. – Sente-se. Ainda está trêmula.

       Skyler puxou uma cadeira e se sentou, surpreendida de que suas pernas estivessem tão moles.

—Tentei resistir mas não chamei Gabriel ou Francesca pedindo ajuda e deveria ter feito.

       Antonietta se sentou frente a ela.

—Sonha um pouco a compulsão, não acha? Mas como o vampiro teria te escolhido? Teria que ter acesso a sua mente, a seus pensamentos, para te tender a armadilha com algo que te fosse familiar.

—Antes, tentei rastrear uma onda de poder. Chegava do hotel, então pensei que era alguém de lá, mas quem fosse que estivesse usando a energia, pegou-me e possivelmente tocaram minha mente o bastante para saber que eu adoro os lobos. —Ela mordeu o lábio. - E que estava preocupada com Dimitri.

- Não acreditam que se produziria um segundo ataque tão logo ou que fosse um vampiro. Acreditam que alguém da sociedade humana estava lhe tendendo uma armadilha. Pelo menos essa é a explicação que estão dando a seu companheiro. Ele está zangado e com razão. Tem direito a exigir que você esteja protegidao tempo todo, resguardada mais que nenhuma outra se lhe negarem seu direito de reclamá-la neste momento. Mikhail não tem outra escolha que acessar a seus desejos. - Byron trocou a informação com Antonietta, sabendo que ela não gostava que a mantivessem "na escuridão", sobre nada. Durante muito tempo sua família havia guardado segredos. dela. Ele se negava a fazer o mesmo. Sua companheira teria qualquer conhecimento que ele tivesse, sempre. Enviou-lhe ternura e amor, lhe assegurando que a menina não sofreria dano.

- Posso sentir como cresce seu medo, Byron. Todos têm que ser amáveis com ela. - Aproximou mais o copo de suco de laranja à mão de Skyler.

—Beba. Sentirá melhor.

       Skyler lhe lançou um pequeno sorriso.

—É fácil falar com você. Os outros gritam e não me ouvem. Josef foi valente ao interferir, mas não está dizendo exatamente a verdade. Não está mentindo, mas faz com que soe como se Dimitri fizesse algo errado.

       Profundamente em seu interior, Skyler estremeceu, lembrando-se da sensação dos lábios de Dimitri contra sua pele, sua língua deixando carícias sobre suas ferimentos. O calor se apressou através de suas veias, enviando consciencia a seu mais profundo e adormecido centro feminino. Diminutas faíscas de eletricidade deslizaram sobre sua pele e seus seios endureceram. Ela ruborizou, agradecendo que Antonietta não pudesse ver muito bem.

—Você gosta de Dimitri? —Perguntou Antonietta.

—Ele me confunde. Num momento parece o homem mais amável sobre a face da terra e ao seguinte é como um demônio perigoso e preparado para matar num instante.

—Quando estava lutando com o vampiro?

       Skyler sacudiu a cabeça.

—Acredito que poderia ter aceito isso, mas não, com o Josef. Josef é... Somente o Josef. É doce e divertido e bastante mais preparado do que a gente acredita. Teria lutado por mim e Dimitri é grande e forte. Você o viu. Ainda assim, Josef pensou em me resgatar.

—Ele deveria ter chamado Byron e você deveria ter chamado Gabriel. - Assinalou Antonietta.

—Eu sei.

—Josef está atravessando um período difícil de sua vida. Passa muito tempo em seus relacionandos com a Internet em vez das pessoas. Precisa melhorar suas habilidades sociais. Ao conhecer depois de tantos meses de comunicação contínua, é como se já fosse seu amigo.

       Skyler achava a Antonietta mais difícil de ler que à maioria das pessoas, mas estava segura de que a conversa era sobre ela e a forma em que se ocultava da vida igual a Josef.

—Bom, pelo menos não tenho que me preocupar com o vampiro. Agora está morto. Estou segura e todo mundo, mesmo Josef, pode respirar tranqüilo.—Esperava que o fato de que Dimitri tivesse destruído a ameaça sobre ela evitaria que Gabriel se zangasse tanto.

- Ela está muito segura de que a ameaça desapareceu. - Compartilhou Antonietta.

- Duvido muito. Definitivamente ela era o objetivo e esta é a segunda vez. Dimitri diz que o vampiro se converteu somente a um mês ou menos, que não havia dominado seus poderes. A maioria dos vampiros novatos são utilizados como peões por um muito mais poderoso. Sabemos que estão nesta região e nenhum novato o teria tentado com tantos Cárpatos por perto. Foi enviado por algum outro para comprovar as águas.

       A mão de Antonietta revoou graciosamente para sua garganta. - Então a jovem Skyler está mais em perigo que nunca. Certamente alguém dirá a ela. É injusto deixar acreditar que está a salvo. Seriamente, Byron, eu gostaria de saber.

       Não duvido de que contarão quando esta confusão se esclareçer. Eu não gostaria me opor a Lucian e Gabriel, especialmente quando estão unidos, mas Dimitri cresceu em força para deixar se intimidar. Ele enfrentou os irmãos Daratrazanoff invocado seus direitos. Não cederá absolutamente nem fará nenhuma concessão. Culpa a Gabriel por permitir que Skyler ficasse em perigo e na verdade, Antonietta, o que pode dizer Gabriel em resposta? É sua exclusiva responsabilidade mantê-la a salvo, como sua filha e certamente como companheira de Dimitri. O que qconteceu no passar dos séculos, converteu Dimitri num guerreiro forte e letal. Poderia forçar uma ordem de Mikhail ou levá-la com ele.

- É muito jovem e está muito ferida. Precisa de tempo para se curar, Byron.

- Acredito que Dimitri é consciente disso. Não está exigindo seu direito a uni-la a ele, somente que cumpram com cada um de seus desejos.

—Está falando com seu companheiro, não é? —Supôs Skyler, astutamente.

—Byron. – Respondeu, Antonietta. – Sim. Ele está compartilhando informação comigo. Temos uma sociedade. Ele me prometeu que sempre me trataria como uma igual e o faz, mesmo quando outros acreditam que não deveria. Estou acostumada a uma certa forma de vida e Byron nunca me pediu que a deixe.

—Ele te faz feliz?

—Muitíssimo. Não posso imaginar minha vida sem ele. Não teria vida sem ele.

—E o que está acontecendo lá? Estão todos bastante zangados. Nenhum deles está trabalhando muito em bloquear suas emoções. —Skyler elevou seu olhar até a de Antonietta. A mulher estava lhe devolvendo o olhar e vendo-a. Vendo mais do que Skyler queria que alguém a visse alguma vez. - É por mim, não é?

       O sorriso da Antonietta foi amável. Sacudiu a cabeça, atraindo a atenção para grossa trança de cabelo recolhimento intrincadamente.

—É porque são homens. Um vampiro atacou uma de suas mulheres e tudo deve ser esclarecido, para planejarem uma estratégia. Principalmente, por que são vários caçadores próximos uns dos outros. Deveriam te dizer simplesmente que tem que ser protegida a cada momento e apelar para seu bom julgamento para saber que têm razão.

—Mas, o vampiro não está morto? Vi Dimitri incinerar seu coração. —Seu pulso estava palpitando outra vez. Não enfrentaria outro vampiro.

—Aquele foi muito fácil de matar. Isso normalmente significa que outro o enviou como peão sacrificável. Se te pegar, perfeito, mas é uma distração para atrair nossa atenção longe do ataque real.

       Skyler tomou um pequeno gole do suco de laranja. Nunca era fácil comer ou beber. A coisas sempre cheiravam bem, mas seu ventre se rebelava com freqüência.

—Obrigado por não me tratar como uma menina. Terei muito cuidado. Mas já sabe que, embora tenham me atacado por duas vezes, poderia ser porque eu estava conveniente. Tinham um rastro até a mim. Sabiam que conseguiriam de mim uma resposta e a usaram. Todo mundo me ronda , mas poderiam ser pelo príncipe ou por algum outro importante.

- Da boca de um bebê. - Respondeu Byron quando Antonietta lhe relatou o comentário de Skyler.- Dobraremos a guarda sobre Mikhail. Não será fácil, pois ele não gostará.

—É duro saber que há tanta maldade no mundo. - Disse Antonietta. - Acredito que a maior parte dos adultos protegem seus filhos tanto como é possível dessa verdade.

       Skyler brincou com o copo, virando-o primeiro de um lado e depois do outro.

—Eu aprendi logo e não é como se pudesse voltar atrás e fingir que tudo desapareceu. Não quero fazer isto, esta coisa do Natal. Nunca tive um Natal.

—Com uma árvore e a chegada da Santa Claus? —Antonietta estava atônita. - É muito divertido. Uma razão maravilhosa para unir toda a família e celebrar a vida. Qualquer desculpa é genial e este é o momento perfeito do ano.

—Isso é o que diz Francesca. - Skyler apoiou o queixo na mão, com os cotovelos apoiados na mesa. - Gregori vai fazer Santa Claus. Conhece-o?

—Eu o vi poucas vezes. Byron e Jacques são bons amigos e Gregori visita Shea com freqüência. Ela vai ter seu bebê a qualquer momento e todo mundo está ansioso por isso. Não parece um candidato provável para fazer o papel.

—Essa é uma declaração comedida. - Um pequeno sorriso escapou pela primeira vez e Skyler fez uma pequena careta. - Espere até que Sara e Corrine ouçam que Gregori vai fazer o Papai Noel. Elas estiveram convencendo a todas as crianças para que se sentem no colo de Papai Noel.    Antonieta estalou em gargalhadas.

—Oh! , querida. Isso pode ser mau.

—Vai haver muitas crianças chorando esta noite. – Predisse, Skyler. Inalou profundamente e pela primeira vez se relaxou o bastante para notar o que a rodeava. – O que está cheirando assim? É maravilhoso.

—Minha governanta me deu a receita de um prato de massa cremosa maravilhoso. - Antonietta riu provocantemente. - Josef e Byron me ajudaram a prepará-lo. Deveria nos ter visto. Eu não podia ver realmente os ingredientes, então Byron os lia e Josef me alcançava as coisas.

—Oh! Não! - O sorriso de Skyler se mostrou novamente e desta vez, mais amplo, alcançando os olhos. - Provavelmente não sabia o que eram.

—Nem Byron tampouco. Não acreditei que o fato de que não soubessem para que eram os condimentos nem nenhuma outra coisa importasse muito. Nossa primeira tentativa terminou num buraco no pátio traseiro.

—Francesca e eu fizemos casas de gengibre e insistimos em que Gabriel nos ajudasse. Foi divertido vê-lo tão indefeso. Sempre é tão invencível.

—Isso é bom, Skyler. - Assinalou Antonietta. - Os homens terminaram com sua tranqüila e bem ordenada discussão.

       Houve um momento de silêncio e depois as mulheres começaram a sorrir. Skyler esperou um batimento de seu coração e Gabriel estava a seu lado, lhe oferecendo a mão e ela tomou imediatamente.

—Sinto muito, Gabriel. Seriamente não pude parar a mim mesma.

—Eu sei, pequena. Não está metida em nenhuma confusão, embora eu esteja pensando em te atar a meu lado. Francesca precisa vê-la. Está muito ansiosa.

Skyler assentiu.

—Onde está Dimitri? Não brigou com ele, brigou? Seriamente sabe que ele me salvou a vida?

—É difícil para um Cárpato enganar outro. Dimitri diz a verdade. Pensou que era melhor não te incomodar mais. —Gabriel lançou um sorriso para Antonietta, estendendo-se para lhe pegar a mão e inclinando sobre ela. - Antonietta, como sempre, foi um prazer vê-la. Obrigado por cuidar de minha filha.

—Foi um prazer. – Respondeu, Antonietta. – Será sempre bem-vinda.

—Vamos te ouvir tocar esta noite?

—Pediram-me que tocasse. Não estou segura de que as crianças gostarão, mas ouvi dizer que Gregori será Santa Claus e isto pode ser a única coisa que os console.

       Josef entrou correndo na cozinha, tentando escorregar até parar e esbarrando em Gabriel, que o pegou pelo peitilho da camisa e o estabilizou. Josef não pareceu notar. .

—Skyler! Temia que já tivesse ido. Paul e Ginny estão nos esperando em sua casa. Temos que nos apressar. Prometi a Sara que a ajudaria com os trajes.

—Skyler terá que se encontrar contigo lá. - Disse Gabriel, firmemente. – Eu a levarei. - Acrescentou antes que ninguém pudesse protestar. - Francesca quer vê-la.

       Josef franziu o cenho.

—Não acredita que possa cuidar dela?

—Ninguém tem que me cuidar. - Protestou Skyler, fulminando Josef com o olhar. - Não sou um bebê.

—Ele somente queria dizer te proteger de qualquer perigo. - Interveio Antonietta, apressadamente. - Josef, Skyler se encontrará contigo lá em uns minutos. Tome cuidado você também. —Sorriu para Byron quando este se materializou junto a ela, depois de ter escoltado os homens. Ele passou o braço ao redor de sua figura curvilínea e ultra feminina e beijou sua cabeça.

       Juntos, seguiram Gabriel e Skyler até a porta para se despedir. Byron puxou Antonietta a seus braços.

—O que é? Posso sentir como começa a se agitar, mas não posso ler o por que. —Suas mãos lhe emolduraram a face e os polegares deslizaram sobre a pele lisa. - Lamento que nossa casa fosse invadida justo quando estava compondo. Sei que é muito importante para você ter silêncio enquanto trabalha.

—Não é isso. E por outro lado, Josef nunca está calado. —O jovem Cárpato ficava com eles a maior parte do tempo. Desfrutava da Itália e do palácio onde residiam. Antonietta acreditava que ele admirava Byron e queria estar perto dele. Havia vezes em que tinha exatamente a mesma expressão no rosto e imitava os gestos de Byron. Byron lhe prestava atenção, trabalhava com ele em suas habilidades Cárpato e mostrava interesse.

- Exaspera-me demais.

- Você o ama e ele sente. Precisa de você.

       Byron desabafou com um grunhido nada elegante.

—Josef, se acreditar por um momento que sua vida está em perigo, chame-me e a todos outros homens dos arredores. Não tem sentido se ocupar de um vampiro com a sua idade. Tem coragem, mas ainda não habilidades. —Ele fitou o jovem com olhar severo. - Tenho sua palavra?

       Josef assentiu.

—Sim. —Começou a sair pela porta, mas se voltou para Byron com lágrimas brilhando em seus olhos por um breve momento antes de conseguir se controlar. - Quase faço com que a matem, não é? Deveria ter chamado você no minuto em que vi o lobo preso mudar. Tudo aconteceu tão rápido. —Ele baixou a cabeça. - Não pude me mover. Absolutamente. Não tenho coragem, Byron. Tive medo.

—Acha que tem que ter medo. Ninguém faz tudo bem em seu primeiro encontro com um vampiro. Dimitri é um caçador e um dos endemoniadamente bom. Esteve caçando durante séculos sem nenhuma ajuda, mas posso te assegurar que com seu primeiro vampiro, certamente ficou tão congelado como você.

—Você também?

       Um sorriso fugaz cruzou a face de Byron.

—Jacques e estávamos juntos e nos sentíamos bastante arrogantes até que essa coisa se materializou no ar e nos mostrou um bocado de dentes negros e afiados. Acredito que deu um ataque no coração de nós dois nesse momento. —Ele revolveu o cabelo de Josef. - Está bem. E fez o que pôde para protegê-la de Dimitri.

—Não só a estava curando-a. — Disse Josef. - Foi uma flagrante sedução.

—Ele é seu companheiro, Josef. Tem que respeitar isso.

       Josef franziu o cenho e fechou a porta de um golpe. Byron suspirou.

—Estou me fazendo de pai amável. Desejaria que minha irmã fizesse cargo desse criança.

—Não, não é certo. —Antonietta se inclinou para ele, fazendo com que seus seios roçassem o peito dele, movendo os dedos através de seu cabelo. - Está se saindo como um bom tio.

—Ele deixa-me louco. Não posso me lembrar ter sido assim.

       Antonietta entrelaçou os dedos com os dele enquanto se dirigiam de volta através da casa, até a acolhedora guarida onde desfrutavam juntos, de paz. Sua família na Itália era uma tremenda quantidade de responsabilidades. A família de Antonietta vivia com eles e era sempre um drama.

—Sinto o jaguar, Byron. - Confessou Antonietta sem olhar para ele, pressionnando a mão sobre o peito. - Profundamente dentro de mim, respondendo a algo no ar. Está-me arranhando. Minha visão é pior que o normal, mas posso ver com os olhos do jaguar.

       Byron sabia que a família Scarletti, os antepassados de Antonietta provinham de uma linha direta de pessoas jaguar. O felino sempre estaria nela. Inclinou-se para frente e pegou as mãos dela entre as suas, para levá-las aos lábios.

—Quando começou isto?

—Há algumas horas. A princípio só me senti inquieta e nervosa, mas agora parece mais como um humor caprichoso, um desejo de atacar, uma selvageria, não posso explicar adequadamente. Acreditava ter acabado com tudo isso.

—É Cárpato, Antonietta e o jaguar não é mau. Há algo que o faz assim, mas agora, o mais importante é averiguar o que está removendo o felino em você. – Ela olhou pela janela, para as nuvens tormentosas. - Faltam algumas para nos encontremos com os aldeãos para esta festa na estalagem. Temos que estar preparados para qualquer perigo que apareça em nosso caminho.

       Ela se passou uma mão pelo cabelo.

—Sempre fui capaz de controlar o jaguar, mas ele está lutando comigo, tentando escapar, e acredito... —Seu olhar encontrou o dele. - Acredito que é perigoso.

—Você nunca faria mal a ninguém, Antonietta. – Ele a tranqüilizou.

—Não entende. Está tentando me fazer mal .Não a deixo sair e está furiosa.

       Os olhos de Byron quase se fecharam e ele se sentou reto. Enviou cada sentido de noite, escaneando, lendo, tentando encontrar um rastro sutil de poder influenciando a parte da Antonietta que era o jaguar. Podia sentir uma pequena agitação no ar, mas com tantos Cárpatos juntos, era impossível dizer se a agitação estava manipulando o felino em sua companheira.

—ouvi rumores de que os Trovadores Escuros estão tendo problemas com os leopardos que estão com eles. – Disse. - Os felinos atacaram um membro da banda e ameaçaram a vários deles. Enjaularam-os. Nunca haviam ficado assim. Até Darius está tendo problemas para controlar o comportamento deles.

       Antonietta franziu o cenho.

—O que será isso? E outros? Um dos homens Cárpatos não tem uma mulher que é completamente jaguar? O que está acontecendo a ela?

—Sim, Julietta. Também Natalya, a mulher de Vikirnoff. O tigre é forte nela. - Byron puxou Antonietta para seus braços, para consolá-la. – Venha comigo.

—Aonde? —Ele se movia para a porta e seu coração revoou de medo. - Byron, não quero me arriscar.

—O felino saberá de onde chega o poder. Poderá rastreá-lo de volta a sua fonte.

—Mas não estou segura de ser o bastante forte para controlar o jaguar. —Em todos seus anos humanos com o felino dentro de si, sempre lutando para sair, nunca havia temido o animal até agora. Estremeceu. A neve estava começando a cair uma vez mais, mas era o medo mais que o frio o que a fazia estremecer.

—Podemos controlá-la juntos. Mantenha sua mente fundida a minha todo o tempo, mesmo se o felino resistir. – Ele disse.

       Por alguma razão, lembranças da conversão a assaltaram. Fora particularmente difícil e dolorosa e o jaguar tinha lutado com o sangue Cárpato. Rompeu a suar.

—Byron, está seguro?

—Se tiver medo de que não possamos controlá-la juntos, chamarei Jacques. Juntos, nada nos derrotará. Não podemos ir à festa sob uma influência da qual nada sabemos.

       Antonietta se estendeu para a mente de Byron com a própria, deslizando nela com facilidade. Era algo extremamente íntimo e como sempre seu corpo reagiu à cercania. Era suficiente mulher para desfrutar dos pensamentos e imagens eróticas, a forma em que ele via suas curvas com luxúria em vez de desejar uma mulher mais magra. Adorava seu cabelo, sua textura e cor. Desfrutava soltando a elaborada trança como acabava de fazer.

       Levou um segundo para ajustar as duas mentes igualando a supremacia para que se fundissem naturalmente e Antonietta se estendeu para abraçar o jaguar, permitindo-a se liberar. Brotaram garras em suas mãos, com uma caótica necessidade de saltar pelo prado coberto de árvores. Byron passeou facilmente junto a ela ignorando as advertências que saíam retumbando da fêmea. Não ia permitir que Antonietta saísse de sua vista.

       O jaguar fêmea reduziu o passo, colocando cada pata cuidadosamente na neve, mas entrando sem duvidas no fundo do bosque. Estavam se movendo na direção geral da estalagem que estava ainda a várias milhas de distância. Que Byron soubesse, somente havia um par de casas na direção em que estavam. A casa de Gregori estava alta nas montanhas, rodeada por um arvoredo e grandes rochas. Era protegida do clima e dos inimigos por três lados e mesmo um excursionista a quilômetros de distância podia ser divisado. Gregori tecera salvaguardas ao redor distorcendo a imagem para qualquer inimigo potencial.

       Jacques e Shea viviam na segunda casa. Esta também estava isolada. Jacques ainda precisava do espaço entre ele e o resto da população. Shea e Savannah eram boas amigas e visitavam uma à outra, mas suas casas estavam a milhas de distância. Jacques havia construído uma casa muito elegante quase no interior da montanha. Mesmo do ar era impossível vê-la.

       O felino elevou a cabeça e olisqueó o ar várias vezes. - Estou procurando um aroma em particular.

- O que é? - Byron podia sentir a urgente compulsão, mas não podia encontrar o fio condutor.

       Antonietta não lhe respondeu imediatamente e quando o fez mostrou certa relutância. - Está perseguindo sua presa.

       O jaguar fêmea se impulsionou com as patas e saltou sobre um lenho caído, detendo-se por um momento para olhar para as montanhas, para a casa de Gregori, e depois virou a cabeça em direção à outra casa.

       Profundamente no corpo de jaguar, Antonietta ofegou. - Byron! Sente essa onda? A ansiedade?

- O que persegue?

- O bebê. Vai pelo bebê de Shea. Isso significa que os leopardos de Darius estão sendo empurrados a atacar Shea. Quem quer que seja quem está fazendo isso, não sabe nada de mim. A compulsão está dirigida aos felinos.

       Byron se estendeu pelo vínculo privado que compartilhava com seu amigo da infância. – Jacques, me ouça. - Compartilhou a informação, os sentimentos que Antonietta tinha experimentado, igual a seus medos.- Temos que proporcionar esta informação a todos os Cárpatos, mas uma vez que o façamos, Shea ouvirá. Precisa de tempo para dar a noticia a notícia amavelmente a ela?

       Ao Byron desgostava aumentar o nível de estresse do casal. Ambos estavam aterrados pela cercania do parto e com razão. Agora tinham que se preocupar com um inimigo que podia manipular a animais e que o estava fazendo com a intenção específica de fazer mal a seu filho.

- Estenda a notícia, Byron. Devemos averiguar mais sobre inimigo antes que Shea dê a luz. Temo que será esta noite. - Houve um pequeno silêncio, e depois Jacques suspirou. - Ela já está lutando contra isso, desejando manter nosso filho a salvo dentro dela.

- Está seguro de que é uma criança?

- Sim. Tenho um filho. É forte e quer vir ao mundo, mas Shea está retendo-o e saber que um inimigo quer atacar especificamente a nosso filho, torna tudo mais difícil.

- Tem meu amparo também. Estarei a seu lado, preparado para lutar.

- Agradecemos-lhe isso, velho amigo. - Havia cansaço na voz de Jacques. - Por favor, agradeça Antonietta. Deve ter sido difícil conseguir que o felino lhe revele esta informação. Sem seu esforço não saberíamos que um inimigo está a ponto de atacar. Shea lhe envia seus agradecimentos também.

       Byron compartilhou a resposta com sua companheira enquanto ambos exerciam pressão sobre o jaguar para que ele voltasse para a casa.     Imediatamente, a advertência chegou a todos os Cárpatos pelo vínculo comum de comunicação e ele sentiu uma onda de orgulho por Antonietta.

       A fêmea grunhiu, resistindo à ordem. Byron se aproximou mais, e imediatamente Antonietta respondeu, captando seus pensamentos. Havia formas muito mais prazerosas de distrair o felino da luta. Byron mudou de forma rapidamente. O macho jaguar empurrou à fêmea, lhe roçando a mandibula pelo lombo e a fêmea se afastou correndo dele, lançando um olhar incitante sobre o ombro. Correram de volta à casa, o calor superava à necessidade de caçar.

       Quando mudaram de volta para suas próprias formas, estavam firmemente entrelaçados um com o outro, as bocas soldadas e as mãos dele desmanchando a intrincada trança de seu cabelo.

 

       Juliette Da Cruz passeava inquietamente daqui para lá pela cozinha azulejada. Sentia o corpo muito tenso em sua própria pele. Era impossível controlar sua mente que mudava de canal, saltando caóticamente de assunto em assunto. Não parecia poder se concentrar em nada absolutamente, nem sequer na salada de melão e fruta que estava fazendo para a celebração dessa noite.

       Sentia falta da sua irmã e sua prima. Este seria o primeiro natal sem elas. Convidara-as, mas como sempre, elas se negavam a ter alguma coisa a r com os homens Da Cruz. Não era que as culpasse, mas Juliette teria gostado de sua companhia. Fora da janela, os flocos de neve caíam, convertendo o mundo a seu redor num reino pacífico e tranqüilo, mas seu corpo e sua mente estavam fora de controle.

       Havia calor. Muito calor. Desabotoou a blusa e atou os extremos num nó sob seus generosos seios. recolheu os cabelos no alto da cabaça passeou novamente pela cozinha. - Se não vir para casa logo, vou correr. Preciso... – Estendeu-se para seu companheiro, mas não sabia o que precisava. Seu corpo desejava o dele, mas sempre o desejava. Simplesmente não podia se acalmar.

       Profundamente em seu interior, sentia o felino se movendo, lutando pela supremacia. Juliette era parte jaguar mesmo depois da conversão e seu felino era forte, mas sempre fora capaz de controlá-la. Agora, seu felino queria sair. Desejava a liberdade.

- Respire. - A palavra foi sussurrada em sua mente. Suave, intima e calma. - Sempre se esquece de respirar.

       Sabia que estava sozinha na cozinha. Seu amado companheiro, Riordan, tinha ido encontrar seus irmãos. Riordan e Juliette tinham viajado da América do Sul e chegaram nas primeiras horas da manhã. Riordan ainda não tinha tido oportunidade de ver seu irmão Manolito que havia sido ferido numa batalha.

- Estou respirando. Quero que venha aqui. - Havia um flagrante convite em sua voz. Riordan tinha sido muito hábil fazendo arder seu sangue com um sussurro de sua voz sedutora. - Estou fazendo salada de fruta. Acho que poderia me ajudar. Seus seios pareciam pesados e doloridos. Tinha uma figura cheia e curvilínea. Sua cintura era pequena, mas seus seios e quadris eram generosos e agora, cada centímetro de sua pele ardia. Desejava-o. Agora mesmo. Neste mesmo momento. Ele tinha que voltar logo ou ela teria que se lançar à neve para esfriar.

- Estou a caminho. Deixe-me despedir. Deve ser a salada que está fazendo. Acho que a fruta te anima.

- Só uma pessoa pode fazer isso. - Juliette riu, mas havia pouca diversão nela. Seu corpo estava muito tenso. Os irmãos Da Cruz pareciam criaturas muito sexuais e ela igualava as necessidades de Riordan, adorando cada criativa forma de fazer amor, mas nunca havia se sentido tão tensa, tão desesperada.

       Molhou-se com um pouco de água e deixando que esta gotejasse entre seus peitos enquanto olhava fixamente pela janela. Não havia ninguém lá fora. Estava completamente sozinha. Escaneava com freqüência como Riordan lhe ensinara, mas ainda assim sentia que alguém a estava observando. Juliette tentava sacudir a sensação, temendo que fosse a paranóia residual dos dias de raptos de mulheres, por parte dos homens jaguar. Nunca se sobreporia à necessidade constante de vigilância, para permanecer a salvo na selva.

       Olhando pela janela, escaneou novamente, só para se assegurar, tomando muito cuidado em rastrear cada movimento perto da cabana, inclusive de animais, mas não havia nada perto da casa.

- Juliette? Jacques envia mensagem de que alguém está tentando usar leopardos para atacar Shea e seu filho que vai nascer. Quem é que esteja fazendo isto não é consciente de que o jaguar corre forte em algumas das mulheres. É forte em você. Está tendo problemas?

       Juliette suspirou com alívio. Podia se arrumar com o jaguar se isso era o que estava deixando-a com um humor tão estranho, nervosa e paranóica. - Mas lido com meu felino toda a vida e posso controlá-la. - Quando seu felino se excitava, era especialmente difícil manter o controle e isso podia ser um problema inesperado. - Deveria ter pensado nisso.

- Tome cuidado, Juliette.

       Sorriu para si mesma enquanto recolhia os restos de melão. É claro que ele tinha que ter a última palavra, lhe dar alguma tipo de ordem. Ele havia passado muito tempo a sós com seus irmãos na América do Sul, ou talvez os irmãos Da Cruz eram simplesmente mandões com suas mulheres. Bem, com todos os que os rodeavam. Gostavam de mulheres submissas, embora nem ela nem Colby, a companheira de Rafael, eram submissas, absolutamente. De sua perspectiva pelo menos, o fato produzia uma fogosa e muito interessante relação sexual.

       Levantando a tijela com as cascas do melão, levou-a para fora, à do espesso arvoredo que rodeava a casa. No momento em que saiu no ar noturno, o felino nela se removeu, despindo as garras e levantando o olhar para as montanhas, para a residência de Jacques. Reprimiu o felino com um grunhido de advertência e o empurrou rudemente para dentro. O felino a tentou novamente, arranhando suas vísceras, estendendo um fogo que somente Riordan podia apagar.

- Então é assim. Estamos a muito tempo sem nosso companheiro.

       O cabelo lhe açoitou o rosto, com uma forte rajada de vento. Arrumou as espessas e escuras mechas e atirou as cascas do melão, fora. Tudo nela se congelou, o sorriso desapareceu bruscamente quando baixou o olhar e com horror notou os rastro na neve. Sua boca ficou seca enquanto lançava um olhar cauteloso ao redor. Seu coração começou a palpitar com força e por um horrível momento, suas pernas se tornaram de borracha.

- Riordan? Você ainda está longe?

- O que está acontecendo? - Ele sentia seu medo e já estava atravessando a passos rápidos, a casa de seu irmão, chamando o resto dos homens, preparando-se para elevar o vôo.

- Marcas de jaguar macho. Como pode ser? Eu estava atirando as cascas de melão fora e os rastros estão por toda parte ao redor da casa. Estava me olhando através da janela enquanto eu fazia a salada. - Juliette ficou quieta, quase temendo se mover, seu olhar esquadrinhou a região, prestando particular atenção às árvores.- Os Trovadores Escuros trouxeram seus leopardos, Juliette. - Sua voz era consoladora. - Possivelmente você se equivocou e um dos leopardos estava investigando nossa casa.

       Ela apertou os dentes num grunhido brusco. - Não me tome por tola, conheço a diferença! Rastreei o jaguar toda minha vida e não cometo enganos. Conheço os rastros de um jaguar e sei quando um homem jaguar está perto. Posso sentir seu cheiro, como ele o meu. Digo que um deles está aqui, nas montanhas e só há uma razão para que esteja aqui.

- Entre em casa. Estou a caminho, chegando já.

- Não, os rastros saem para longe da casa. Vou seguí-lo. Antonietta tem a habilidade de mudar para jaguar também. Não sei se alguma outra mulher também pode e poderiam estar muito mais em perigo que eu. Ainda resta a possibilidade de que várias delas tenham o sangue e possam mudar ou não e isso explicaria as fortes habilidades psíquicas.

- Juliette. – Ele colocou uma advertência em sua voz, com desagrado.

       Ela o ignorou como se não tivesse lhe ouvido. - Não posso acreditar que algum deles tenha vindo aqui com tantos Cárpatos perto. Devem estar desesperados. E se nos seguiram? E se trouxemos o perigo para esta gente?

- Não entre em pânico. Estarei aí logo. Entre em casa. – Repetiu ele e desta vez convertendo-a numa ordem. – Nem todos os homens jaguar pertencem ao grupo que rapta mulheres.

- Você e eu sabemos que se ele estava espreitando a casa está atrás de uma mulher que possa mudar. Não vou permitir que o que aconteceu a minha irmã possa acontecer com ninguém mais. Vou atrás dele.

       Ela já estava chamando o felino para a mudança. Antes de sua conversão a Cárpato, a mudança de humana para jaguar era lenta e dolorosa, mas agora era muito mais fácil. Antes podia chamar sua herança jaguar só durante curtos períodos de tempo e mudar, mas era sempre difícil e era ainda mais, manter por muito tempo a forma. Agora podia fazer sem esforço durante horas sem fim.

- Se alguém está influenciando os felinos para que tentem atacar Shea e seu filho, pode ser muito perigoso utilizar essa forma. Disse que estava tendo problemas. – Ele usou a desculpa que lhe ocorreu, para detê-la.

- Estou intranqüila e tensa e se meu jaguar está me arranhando para que a solte, nenhum homem jaguar poderia me influenciar assim.

- Pode ser psíquico.

- Eu saberia. passei a vida lutando com eles na selva, Riordan. Em qualquer caso, sou perfeitamente capaz de controlar meu felino. Fiz isso toda minha vida... Mesmo quando está tensa e precisava emparelhar.

- Será melhor que nunca a solte quando precisar emparelhar. A menos que venha para mim. Agora me espere.

       Ela se estendeu para seu lado selvagem, deixando que o jaguar tomasse completamente o controle de seu corpo. Uma pelagem pintalgada se estendeu por sua pele. Músculos e tendões se contraíram e estiraram, garras afiadas como estiletes surgiram de suas mãos curvadas e sua face se alargou para acomodar o focinho e os dentes do jaguar. Caiu sobre as quatro patas, já correndo facilmente. Os músculos tensos e uma espinha dorsal flexível permitiam que o musculoso jaguar saltasse uma rocha ou um tronco e até saltasse aos galhos das árvores quando era preciso.

- Eu a proíbo. - Riordan vociferou. O vaio de fúria entrou em sua mente com um negro redemoinho.

- Que bom então que não tem ninguém ao redor que possa me dar ordens. Juliette tinha lutado a maior parte de sua vida contra os homens jaguar. Eles raptavam mulheres com a habilidade para mudar e roubavam a qualquer criança resultante da união. Juliette havia permanecido no bosque, trabalhando com outras mulheres para tentar ajudar, mas no final tinha perdera sua mãe e sua tia para os jaguares e finalmente eles haviam capturado Jasmine, sua irmã caçula. Não podia permitir que nenhuma mulher caísse em suas mãos.

       Riordan era um homem forte dos Cárpatos e tinha vivido durante séculos na América do Sul, adotando a natureza possessiva e protetora latina, com as mulheres, o que combinava com os traços já dominantes de sua espécie. Sabia que ele estava furioso ante a idéia de que ficasse em perigo e ele não estivesse com ela e também estava zangado com ela por sua negativa de fazer o que lhe ordenava.

- Rafael está comigo. Nós encontraremos esse homem.

- Bem. Então terei reforços. Sugiro que se apressem.

       Lhe enviou um grunhido baixo e a impressão de estar estrangulando-a. Juliette o ignorou e correu pela neve tão ligeiramente como foi possível, cobrindo os rastros do macho, farejando o ar do bosque. Seu jaguar lutou com ela por um momento, tentando voltar em direção às montanhas, mas ela manteve o curso do felino, movendo rápido no esforço de alcançar o macho.

       Durante quanto tempo ele estivera fora da casa observando-a fazer a salada de fruta para a festa? Ela havia insistido que Riordan fosse visitar seu irmão, já que Manolito estava ferido. Nunca lhe tinha ocorrido que pudesse encontrar um homem jaguar nas Montanhas dos Cárpatos. Especialmente com tantos homens protetores rondando às mulheres e protegendo-as como se fossem apreciados tesouros.

- São todas apreciados tesouros Juliette, embora esteja considerando bater em você, até a submissão.

- Cortaria-o em pedacinhos enquanto dorme.

- Isso seria um problema. - Apesar da gravidade da situação a diversão fluiu entre eles.

       Juliette sentiu uma onda de amor. Nunca pensara que encontraria um homem, bem, pelo menos um tão dominante, ao qual pudesse amar e respeitar. Sua vida tinha consistido em lutar com os homens, mas Riordan a valorizava e a apreciava. Sempre a colocava primeiro lugar em sua vida, inclusive quando estava tentando lhe dar ordens. Em realidade, era agradável poder confiar em alguém. Riordan era totalmente de confiança. Viria e traria os outros.

       Moveu com confiança, permanecendo abaixo, consciente de que o jaguar poderia estar atraindo-a para uma armadilha. Onde havia um, com freqüência havia outros, especialmente se estavam atrás de uma mulher e isso era o mais provável. Ele virara para o sul, movendo rapidamente através de qualquer espaço aberto, tentando ficar na cobertura das árvores.

- Não posso lhe detectar quando escaneio.

       Riordan amaldiçoou. - Juliette, saia daí. Estou dizendo que abandone esse lugar e nos espere. Estamos muito perto, mas poderia te colocar numa armadilha.

- Não posso permitir que ele se aproxime das outras mulheres. Agora está virando e se dirigindo para a casa de Rafael. Volte Riordan. Colby tem seu irmão e irmã e seus amigos lá. - O pânico afiava sua voz. Ainda estava longe e estava quase segura de que Riordan e Rafael vinham ao encontro dela. Passariam por cima do macho jaguar e ele teria livre acesso às mulheres e adolescentes que estavam na casa.

- Colby protegerá as crianças. É consciente do perigo e está tomando precauções. Simplesmente fique onde está. - Rogou Riordan.

       Juliette duvidou. O que seria melhor para assegurar que o macho não pegasse ninguém? Virou ligeiramente, agachando-se mais, elevando a cabeça para farejar novamente o ar. Instantaneamente o aroma do macho encheu seus pulmões. Sua cabeça virou na outra direção, mas já era muito tarde. Ele foi simplesmente um borrão, lançando sobre ela a toda velocidade. O macho bem mais pesado a golpeou de lado e lhe rompeu as costelas derrubando-a. Estava sobre ela num segundo, já procurando sua garganta, lhe arranhando com as garras, abrindo lacerações. Ela tentou usar os dentes, afundá-los na pata do jaguar, mas por alguma razão, seus dentes não penetravam. Não podia lhe pegar. O sangue era quente e pegajoso e queimava dentro de sua boca e focinho.

       Já havia lutado com muitos machos, mas este era incrivelmente forte. Mesmo com sua assombrosa agilidade, não podia sair debaixo dele. Manteve a garganta protegida, mas ele lhe rasgou o peito, esmagando seu ventre com as patas traseiras. Tentou rodar, tirar seu corpo debaixo do dele, mas os dentes lhe sujeitavam com força o ombro, os longos caninos lhe atravessavam a pele rasgando o músculo.

- Me submeta a ele.- Riordan exclamou a ordem.

- Não! Nunca. – Ela forçou ao macho a matá-la primeiro. - Prefiro morrer que deixar que ele coloque suas asquerosas mãos sobre mim.

       Riordan amaldiçoou e aferrou a sua mente, tomando rudemente o controle. Era bem mais forte do que ela esperara e forçou sua obediência, a fêmea jaguar ficou estendida imóvel sob as garras e dentes do macho. – Olhe para ele. Olhe diretamente nos olhos.- Ele ordenou, obrigando-a a obedecer, ditando a seu cérebro o que queria que fizesse a fêmea jaguar.

       Juliette ficou estendida na neve, sangrando por dúzias de ferimentos, seus flancos moviam pesadamente e suas costelas queimavam, olhando os triunfantes olhos amarelos, do mal absoluto. Uma ardilosa inteligência lhe devolvia o olhar. Deixou que o terror submisso da fêmea jaguar se mostrasse em seus olhos, embora profundamente em seu interior sentia Riordan esperando o momento perfeito para atacar. Não estava sozinha, podia fazer isto. Riordan podia destruí-lo através dela. Um homem jaguar a menos para aterrorizar às fêmeas. Esperou que o macho a tocasse, estremecendo de asco, mas disposta ao sacrifício, se Riordan podia acabar com sua vida.

       O macho jaguar se aproximou mais, inclinando-se sobre ela. Sua cara se contorceu, o peito e os braços começaram a mudar. O focinho retrocedeu para ser substituído por uma cabeça em forma de bala, com a pele estirada sobre a caveira. A navalhada da boca se abriu de par em par revelando dentes manchados e afiados.

       O coração de Juliette se saltou no peito e começou a palpitar de puro terror. Sentiu a surpresa de Riordan, ouviu sua advertência dirigida aos outros Cárpatos. Não era um jaguar. Era um vampiro. Instantaneamente ela começou a mudar, levantando as pernas para golpear com força. Seus pés, no meio da mudança, golpearam o vampiro no peito. Não aconteceu nada. Ele sequer retrocedeu. Foi como bater em cimento armado e a sacudida reverberou em todo seu corpo. Tentou se dele afastar rodando, mas uma mão a segurou e garras afiadas atravessaram seu ombro como espinhos, sujeitando-a ao chão.

       Ele se elevou sobre ela, numa coisa escura e oleosa de pura maldade, sorrindo zombeteiramente de forma macabra. Um dedo se alongou até formar uma garra. A coisa respirou e se inclinou, enquanto sorria com deliberada maldade, cortando sua garganta. Sentiu o sangue correr por seu corpo e descer por seu peito. Depois começou o ardor, um ácido feroz invadiu sua pele, inflando tanta dor até a agonia. O vampiro se inclinou e começou a lhe lamber a garganta. Lambeu e depois mordeu com força, afundando os longos dentes em sua pele, grunhindo enquanto rasgava sua carne.

       A dor lhe nublou a visão, mas Juliette não afastou o olhar da cabeça de seu atacante. Era a única parte dele que podia ver enquanto ele se inclinava sobre ela. Podia sentir Riordan concentrando, enroscado e preparado para golpear. Sabia que havia outros perto, mas somente Riordan estava o bastante perto. Sentia a energia se acumulando, crescendo até que o ar a seu redor rangeu com ela. Sob ela a neve começou a derreter. O vampiro estava muito ocupado, alimentando-se do efusivo poço que havia aberto.

       Riordan atacou com tremenda força, num golpe duro e decisivo. O crânio do vampiro se abriu com longas linhas magras, dividindo-o com um terrível som de ruptura. Saíram vermes a torrentes e o vampiro gritou, saltando longe dela, com os olhos bordeados de vermelho e a face manchada pelo sangue de Juliette. Lançou-lhe uma cusparada enquanto se aproximava dela. Chutando seu corpo, enviou-a voando através do bosque. Ela bateu numa árvore e caiu como um fardo no chão. Não conseguia respirar e cada parte de seu corpo parecia queimar.

       Juliette tentou se levantar, sabendo que ele viria atrás dela. Não podia sentir as pernas, então tentou se afastar, arrastando-se para as árvores, quase sem discernimento.

       Mãos lhe tocaram a garganta. Empurrando alguma coisa contra o ferimento aberto. Levantou os olhos até o rosto de seu cunhado. Juliette não pôde conter as lágrimas. Mordeu o lábio inferior para evitar chorar enquanto Rafael a puxava para a segurança de seus braços.

—Tudo está bem agora, irmazinha. Riordan o destruirá.

       Levou-lhe um tremendo esforço virar a cabeça para o vampiro. Seu corpo e a garganta, a pesar do emplaste consolador que Rafael havia colocado, estavam ardendo, mas precisava ver o vampiro ser morto ou este a perseguiria em seus sonhos para sempre.

       Riordan se deixou cair do céu diretamente sobre o corpo do vampiro.

       A besta se elevou, grunhindo e lutando, um demônio vertiginoso de garras e dentes, arranhando pele e tentando romper ossos. Riordan estava longe de estar calmo. Fechou as pernas ao redor do pescoço do vampiro e golpeou com o punho abrindo um buraco nas costas dele, reto ao coração.

       O não-morto se contorceu, tentando se converter em névoa insubstancial, mas Riordan já estava sobre ele. O vampiro se lançou para trás, jogando Riordan ao chão, quase lhe rompendo o pescoço. Riordan não teve outra opção que se evaporar sob ele, flutuando e logo voltando a tomar forma enquanto afundava o punho no coração, desta vez atravessando o peito.

       O vampiro tomou represálias do mesmo modo, desesperado por escapar, golpeando a parede do peito do caçador, rompendo ossos, atravessando a pele.

       Juliette, unida a Riordan, sentiu o golpe em seu próprio corpo e a dor se estendeu com rapidez, lhe roubando o fôlego e a prudência. Bruscamente, cortou a conecção e ela já não estava mais unida a Riordan, mas sozinha com a agonia de seus próprios ferimentos e o medo por seu companheiro em primeiro lugar em sua mente.

       Chegou um segundo homem, depois um terceiro. Reconheceu os traços familiares e soube que um dos homens devia ser Manolito, o irmão de Riordan. O outro era definitivamente Mikhail Dubrinsky, príncipe dos Cárpatos. Tossiu, tentando falar.

—Ajudem-no. - Estava segura de conseguiria que as palavras atravessassem sua garganta rasgada, mas ninguém se apressou em ajudar Riordan. Pareciam mais preocupados com ela.

—Estamos lhe ajudando. – Consolou, Rafael. - Sua vida é muito importante para se arriscada e Riordan é bastante capaz de matar o vampiro.

—Precisamos da terra mais rica possível. - Disse Mikhail. - Alguém curou uma área de terra onde aconteceu recentemente a batalha. A terra lá é escura e rica em minerais. Consigam essa terra e a levem à caverna curadora. Se alguém pode localizar à mulher com talento para curar a terra, que a traga também. Enviei mensagem a Gregori e Francesca. Encontrarão conosco lá.

       Ninguém prestava atenção em Riordan e o vampiro. Juliette estava desesperada por lhe alcançar, por tocá-lo com sua mente. Já não podia ver seu companheiro, Rafael estava levando-a pelo ar a alguma caverna em que não queria estar. Por mais que tentasse, não pôde voltar a encontrar sua voz e não se atreveu a distrair Riordan usando seu vínculo telepático.

       Começaram a chegar Cárpatos, reunindo-se, respondendo à petição de ajuda de um dos seus. Era aterrador ver tantos estranhos... Tantos homens. Era culpa dela e de sua forte natureza. O vampiro tinha utilizado o pior de seus medos e ela caíra diretamente na armadilha. Tinha difundido seus sentimentos. Como ele soubera que ela seguiria um macho jaguar? E Riordan estava em perigo e ninguém parecia se importar. Empurrou Rafael, tentou lutar, mas seus braços pareciam de chumbo. Onde estava sua força? E por que sua visão era tão imprecisa? Tudo lhe parecia vago e longínquo.

—Juliette! —A voz de Rafael era aguda e exigente.

       Sempre pensara que seu cunhado era muito poderoso e arrogante e teria dito a ele, mas parecia estar à deriva, tudo se nublava.

—Juliette. - Ele vaiou seu nome. - Riordan precisa de você. Volte, agora!

       O chamado a avivou. É claro podia se concentrar em Riordan, mas por que Rafael estava retendo-a em vez de deixá-la ir até com seu companheiro?      Nada tinha sentido e a dor era muito grande. Fechou os olhos, desejando partir e se distanciar.

—Já a tenho. – Era a voz de Riordan. Reconheceu a segurança de seus braços, a calidez de seu corpo, a forma e o contorno de cada parte dele. Seu cabelo longo lhe roçou o rosto quando ele se inclinou sobre ela, o tato sensual que lhe era tão familiar. Cheirou seu sangue e o sentiu se sobressaltar, quando chegou mais perto.

- Parece um desastre. Tenho que me ocupar de seus ferimentos.- Ela Sussurrou-lhe o convite, virando a cabeça num esforço de examinar seu peito.

- O curador está aqui, meu amor. Ele cuidará disso para mim. Agora, fique unida a mim. - Riordan podia sentir como o espírito dela se afastava. Havia perdido muito sangue, mas Rafael tinha fechado a ferida e estavam preparando a cerimônia do ritual curador. Não estava acontecendo o rapidamente para ele. Ela estava muito pálida, sua mente estava confusa. Não parecia compreender que sua essência se afastava dele, debilitando-a mais e mais a cada minuto que passava.

—Se apressem, não temos muito tempo.

       Gregori chegou. Um homem alto de ombros largos e com longo cabelo flutuante. Não havia nenhum traço suave na face do homem.

       Ele se inclinou sobre Juliette sem preâmbulos e se voltou para olhar à mulher alta e esbelta que entrara na caverna atrás dele.

—Francesca. Se apresse. Ela já está longe de nós.

       Riordan quis protestar pela declaração, mas sabia que era certo. Estava sujeitando Juliette com pulso firme, enjaulando seu espírito quando este desejava escorrer junto com a tremenda quantidade de sangue perdido.

       Um ondeio da mão do curador e as velas aromáticas se acenderam ao redor deles. Riordan se sentou entre os dois curadores, com Juliette em seu colo, observando como o homem abandonava seu corpo e se convertia em luz branca. A energia era forte, Riordan teve que virar a cabeça. Quase imediatamente, Francesca fez o mesmo. Sentiu como entravam no corpo do Juliette, movendo-se rapidamente para seu pescoço e garganta, examinando as grandes rasgões nas veias localizadas ali.

- Ela perdeu muito sangue, Riordan e você mesmo tem que se curar. Tem seu irmão que pode doar o sangue. É um antigo e forte e seu sangue ajudará a acelerar o processo. - Opinou Gregori.

       Rafael se adiantou imediatamente e ofereceu a mão. Riordan não teve mais escolha que obrigar Juliette. Estava muito fraca para se alimentar por si mesma e duvidava que estivesse disposta a tomar sangue voluntariamente de nenhum outro homem, sequer de seu irmão.

       Raven, a companheira de Mikhail, começou a cantarolar suavemente e ao redor dele, os Cárpatos que enchiam a caverna de cura e os que não estavam presentes se uniram a ela, para ajudar ao Juliette. As palavras ancestrais eram formosas e as vozes se elevavam num cântico melodioso. Riordan sabia que os curadores estavam profundamente concentrados porque estavam utilizando o Grande Cântico Curador, feito para trazer de volta às almas perdidas que já avançavam para o outro mundo. Sentiu lágrimas nos olhos ao sentir o poder de todos, trabalhando unidos com um só propósito, de trazerem sua companheira de volta, trazerem sua irmã de volta. Sua voz se elevou com as outras, tantas agora, como nos velhos tempos, utilizando sua linguagem ancestral, uma linguagem secreta com rituais quase tão velhos como o tempo.

- Ot sisarm ainqjanak hany, come.

Me, ot sisarm kuntajanak, pirddak sisarm, gond é irgalom ture.

Ou pus wdkenkek, ot oma 'sarnank, é ot pus funk, dlnak ekdm

ainajanak, pitdnak sisarm ainajanak eldvd. Ot sisarm sielanak paid.

Ot ombo'c paldja juta alatt ou jiiti, kinta, is szelemek lamtijaknak.

Ot em mekem namar kulkedak otti ot sisarm omboce pdlajanak.

Rekature, saradak, tappadak, odam, k ou numa waram

avaa owe ou lewl mahoz. Ntak ou numa waram, é mozdulak, jomadak.

Piwtddak ot No Puwe tyvinak, ecidak alatt ou jiiti, kinta, is se mek lamtijaknak. Fdzak, fdzak não ou saro. Juttadak ot sisarm ou akarataban, ou sivaban, é ou sielaban. Ot sisarm sielanak kaqa engem. Kuledak é piwtddak ot sisarm. Sagedak é tuledak ot sisarm kulyanak. Nendm com; ou kuly torodak.

Ou kuly pel engem. Lejkkadak ou kagka salamaval. Molodak ot ainaja komakamal. Toja é moland. Hão ca8a.

Manedak ot sisarm sielanak. Alsdak ot sisarm sielanak ou komamban.

Alsdam ot sisarm numa waramra.

Piwtadak ot No Puwe tyvijanak ás sagedak jdlleen ot eldvd atmajaknak.

Ot sisarm l jalleen. Ot sisarm we'n'CA jalleen.

 

O corpo de minha irmã é um conglomerado de terra perto da morte.

Nós, o clã de minha irmã, rodeamos-la com cuidado e direção.

Nossa energia curadora, palavras ancestrais de magia e cura

cicatrizam o corpo de minha irmã, mantêm-na viva.

Mas a alma de minha irmã é somente a metade.

Sua outra metade vaga no mundo inferior. Meu grande propósito é este.

Viajo para encontrar a outra metade de minha irmã.

Dançamos, cantamos, sonhamos estáticamente,

para chamar a meu espírito e abrir a porta do outro mundo.

Monto meu pássaro espírito,

começamos a nos mover,

baixamos seguindo o tronco da grande Árvore,

caímos ao mundo inferior.

Está frio, muito frio.

Minha irmã e eu estamos unidos em mente, coração e alma.

A alma de minha irmã me chama.

Ouço-a e sigo seu rastro.

Encontro ao demônio que está devorando a alma de minha irmã.

Furioso, luto com o demônio.

Tem medo de mim.

Golpeio sua garganta com um relâmpago.

Rompo seu corpo com minhas mãos nuas.

Ele se inclina e cai.

Foge longe.

Levanto a alma de minha irmã na palma de minha mão.

Subo-a a meu pássaro espírito.

Subo pela grande Árvore, voltamos para a terra dos vivos.

Minha irmã vive novamente.

Está completa de novo.

 

       Francesca trabalhava em reparar os longos cortes das artérias e veias enquanto Gregori ia atrás do espírito do Juliette. Riordan era relutante a deixá-la a seu cargo, temendo que ela tomasse a direção oposta e escapasse de seu alcance para sempre.

- Ela teme outros homens. O oculta-o bem, mas seu passado a ensinou que os homens não são de confiança.

- Confia em mim?- Perguntou Gregori.

       Riordan se tornou atrás. Gregori. O Escuro. Segundo ao comando do príncipe. Era um assassino reconhecido, mas bom, não eram todos? Os irmãos Da Cruz sempre tinham questionado a autoridade, sempre lutando contra as restrições e eram homens poderosos e dominadores. Esperavam e recebiam deferência de todos os que lhes rodeavam e eram sempre um pouco mais duros com suas mulheres. Riordan sentia que fazia falta mulheres extraordinárias para suportar suas personalidades e fazia falta homens extraordinários para que os irmãos Da Cruz seguissem sua liderança. Gregori era esse tipo de homem.

- Tenho fé absoluta em você.

- Não lhe permitirei nenhuma possibilidade de resistência.

       Riordan não tinha problemas sendo rude. Deveria ter forçado sua obediência antes quando sabia que Juliette iria atrás do que ela acreditava ser um homem jaguar. Se o tivesse feito, ela não estaria agora às portas da morte.

       O espírito de Juliette se separou da forte personalidade de Gregori, da terrível luz branca e ardente que a iluminava fazendo-a voltar para dor e o sofrimento. Retraiu-se, mas Riordan estava ali, bloqueando seu passo ao outro mundo, obrigando-a a voltar para o curador. Tentou lutar contra Riordan, doía-lhe ver que ele se colocara do lado de um desconhecido, mas estava débil e era mais fácil ceder à força.

       A dor a golpeou. Golpeou ele. Um ardor cru e feroz que rasgou seu corpo. Gritou e gritou, suplicando a Riordan que parasse. Lutou contra ele, seu espírito lutou contra ele, mas ele agüentou embora lágrimas vermelho sangue rolavam por sua face enquanto Gregori e Francesca faziam seu trabalho tão rápido como era possível no corpo que resistia e lutava.

       O sangue deste vampiro não só levava o ácido, mas também parasitas que entraram nos ferimentos e aberturas de sua garganta depositando às horrendas criaturas em seu sangue. Imediatamente haviam se movido para invadir cada célula e cada órgão, num tentativa de destrui-la.

- Gregori. A voz normalmente tranqüila de Francesca estava cheia de alarme. - Olhe onde se concentrou o ataque.

       Riordan não podia ver, a luz era muito brilhante. Gregori amaldiçoou brandamente em seu idioma.

- Digam-me o que está errado. - Exigiu Riordan.

- Nossos inimigos estão se tornando mais sofisticados em seus ataques. Os parasitas estão indo para seus óvulos. - Gregori entregou a notícia aos Cárpatos pelo vínculo comum de comunicação.

       O canto decaiu quando a enormidade da notícia lhes golpeou. Os homens olharam uns aos outros e vários colocaram seus braços ao redor de suas companheiras.

—Podem salvar seus futuros filhos? —Perguntou Mikhail.

       Raven deslizou uma mão na de Mikhail esperando a resposta.

- Estamos tentando.

       Gregori deixou Francesca trabalhar nas costelas rotas e nas lacerações e queimaduras enquanto ele atacava os parasitas, conduzindo-os para longe de seu prêmio. Era aterrador ver o mal que deixavam a sua esteira. Podia notar que o sangue de Rafael fazia uma diferença, dava às células famintas uma possibilidade, enchendo tecidos e órgãos de força para ajudar a combater o veneno do vampiro. Trabalhou rápido, destruindo os parasitas onde os encontrava, perseguindo-os quando fugiam.

       Quande Gregori esteve seguro de ter matado o último deles, começou a trabalhar nos danos, primeiro reparando os ovários, assegurando de que não foram perfurados. Os parasitas se replicaram para se alimentar dos órgãos internos. Tinham um apetite voraz. Pareceram passar horas antes que Gregori pudesse recuperar seu próprio corpo, quando na verdade foi menos com os curadores trabalhando juntos. Conseguiram um milagre em tempo record.

—Ela precisa de mais sangue e terra rica. - Disse Gregori. - Mas ficará bem.—Ele inspecionou Riordan. - Você, entretanto, precisa de um pouco de ajuda.

—A terra me ajudará. - Disse Riordan. - Não posso lhes agradecer o bastante por salvar sua vida. Ela já estava longe de nós.

       Mikhail elevou a mão pedindo silêncio.

—Se há entre nós alguém capaz de curar a terra, dê um passo adiante?

       Os Cárpatos olharam uns para os outros. No canto onde os Trovadores Escuros se reuniram, Barack tomou a mão de Syndil e a conduziu para frente.

—Syndil é capaz de curar a terra.

       Mikhail deixou escapar o fôlego lentamente. A mulher era uma das meninas que Darius havia salvado e sua linhagem Cárpato era forte e autêntica. Parecia nervosa, mas estava em pé esperando tranqüilamente. Sorriu-lhe.

—Então é você nossa trabalhadora milagrosa. Vi a terra depois de que trabalhou nela.

       Ela estendeu as mãos para frente.

—É minha chamada. Um talento pequeno, mas forte.

       O príncipe sacudiu a cabeça.

—Eu não acredito que seja um talento pequeno. Entregaremos este casal à Mãe Terra para que se curem. Se pudesse escolher onde os colocaria?

—Aqui. - Syndil assinalou um ponto, sem titubear.

—A terra aqui é rica e sem toxinas?

       Ela franziu o cenho, mantendo as mãos sobre o ponto.

—É a melhor nas cavernas, mas posso melhorá-la. —Olhou fixamente para Riordan—. Se não se importa esperar.

—Absolutamente —Replicou Riordan. Gregori estava curando enquanto Mikhail observava à mulher preparar a terra. - Eu —. Lhe agradeço isso.

Syndil se ajoelhou e fechou os olhos, com as Palmas para a terra. Cantou brandamente, chamando à terra, animando aos minerais a multiplicar.

       Mikhail apertou seus dedos ao redor dos de Raven. - Meu Deus, Raven. É autêntico. Ela pode enriquecer a terra para nós.

- Cobra-lhe um preço. Olhe-a.

       Syndil cambaleou, pálida, como Francesca e Gregori, quando ficou em pé. Barack estendeu a mão para ela, lhe rodeando a cintura para estabilizá-la.

       Mikhail assentiu. – Nós a ajudaremos, o melhor que pudermos.

       Syndil retrocedeu e sorriu a Mikhail.

—Aqui. A terra está pronta para ajudar os dois.

       Riordan, levando Juliette com ele, flutuou até a cama de rica terra. Em torno deles, a terra os cobriu. Rafael se adiantou e começou a tecer salvaguardas enquanto os Cárpatos voltavam para suas casas.

Mikhail se inclinou para o Syndil.

—Se eu lhe pedisse, consideraria escolher o lugar do parto de Shea? Poderia a levar por aí e você inspecionaria vários lugares que estamos considerando. Sua opinião seria de grande valor.

—Eu não sei nada de partos.

—Mas sabe muito de terra.

       Syndil olhou para Barack, que assentiu.

—É claro, embora duvide que tenha tempo para fazer alguma coisa para o jantar desta noite.

—Acredite-me, isto é bem mais importante. - Assegurou Mikhail.

       Raven concordou.

—Tenho o jantar bem controlado. O parto de Shea é o mais importante e nossa maior razão para celebrar.

 

Acredito que esta mulher tão humilde é nossa maior razão para celebrar. - Declarou Mikhail.

 

—Para isso estamos aqui, Ginny. - Disse Colby Da Cruz com um pequeno suspiro enquanto trançava o cabelo de sua irmã. - Agora Rafael ficará louco. Mal me deixa me afasto de sua vista em seu atual estado. Além disso estava fazendo progressos. —Lançou um rápido olhar a Rafael, seu companheiro, que passeava furiosamente pela sala, lançando-lhe de vez em quando um olhar de advertência, vermelho vivo.

—Por que está tão molesto? —Perguntou Ginny.

—Sua Tia Juliette está      ferida.

       Rafael se voltou e seus olhos escuros a olharam com fúria.

—Sua Tia Juliette desobedeceu uma ordem direta de seu companheiro. Ignorou sua própria segurança e quase conseguiu que morressem os dois.

       Ginny ofegou, e se levou uma mão à boca.

—Eles estão bem, Rafael?

—Estão bem. - Respondeu Colby, fulminando seu companheiro com o olhar. - Não há necessidade de tentar assustá-la.

—Há muita necessidade, sim. - Declarou ele, estendendo uma mão para enredá-la na massa do cabelo vermelho dourado que rodeava a face de Colby. - E por certo a esses pirralhos... E esse menino que está aí? O que sabemos dele?

—Quer dizer Josef? —Perguntou Ginny. - É chato.

       A fisionomia de Rafael se aprofundou. - Não tem necessidade de pensar que esse menino é chato. Não a quero ao redor de meninos, absolutamente.

       Colby suspirou. - Ginny ainda não está na puberdade e é humana. Não acredito que Josef vá olhá-la desse modo.

- Eu olhei você desse modo.

- Eu sou uma mulher adulta e em qualquer caso, Paul está com Josef. Sabe que seu irmão nunca permitiria nada impróprio.

- Vou mostrar meus dentes a esse jovenzinho. Se souber o que lhe convém, irá para casa. Rafael saiu da sala. Seu rosto era uma máscara de linhas ásperas e um queixo teimoso. - E deixe o cabelo solto esta noite, para essa festa. Eu gosto dele assim.

       Colby ergueu os olhos para o alto, exasperada e depois olhou para Ginny.

—Esse homem tem muita testosterona. Vai assustar Josef.

—Por que?

—Porque Josef poderia te olhar errado. Que Deus nos ajude quando for uma moça feita e começar a namorar, Ginny. Acredito que que colocará guarda-costas e todas femininas, em volta de você.

—Todos osmeus amigos têm medo dele, mas ele sempre é doce comigo. E Paul passa muito tempo com Rafael.

—Ei sei pequena, ele é realmente genial, mas adora nos dar ordens.

—Não como seus irmãos. Bem, exceto pelo Tio Riordan. Ele é agradável, mas o resto deles me dá medo.

       O sorriso despareceu do rosto de Colby.

—Medo como? Nenhum deles te fez alguma coisa, fizeram? Eles juraram proteger a ti e Paul. Rafael me prometeu. —Era difícil integrar sua família humana com a Cárpato, mas Colby acreditava que tudo estava indo bastante bem. Infelizmente, Rafael tinha cinco irmãos e somente Riordan havia encontrado sua companheira. E isso fazia com que os outros três irmãos fossem extremamente perigosos. Manolito estava perto. Zacharias e Nicolas estavam no Brasil fiscalizando o rancho. Colby estava segura de que nenhum deles confiava em si mesmo com tantos outros perto. Estavam muito perto de se converterem.

—Não me fizeram nada. - Negou Ginny, apressadamente. - Simplesmente não fico muito tempo perto deles. Me assustam. É agradável ter vindo para cá porque eles não vieram conosco. Sempre estão me observando.

       Colby se sentou numa das cadeiras da mesa da cozinha.

—Pequena, sabe que se for infeliz somente tem que me dizer e iremos para casa, para nosso rancho nos Estados Unidos.

—Não! Eu adoro o Brasil. Já posso até falar um pouco do idioma. Paul está me ajudando e também meus tios. Eu adoro o rancho e o bosque e todos os animais. Na verdade não quero voltar.

—Hey, garotas. - Paul entrou e puxou o cabelo de sua irmã. - Por que se esconde aqui com a Colby? Todo mundo veio para nos conhecer.

—Estão se divertindo? —Perguntou Colby.

       Paul lhe sorriu.

—Bem, agora que Rafael foi espantar o palhaço do Josef, sim. Está afiando uma faca, mas Josef não está prestando atenção e todos os meninos o acham divertido.

—Oh, céus.

—Vou ver. - Disse Ginny alegremente e saiu correndo.

       Paul se sentou em frente a Colby. Ela estudou seu rosto. Algumas das linhas que não deveriam marcado o rosto do rapaz se alisaram novamente, mas ele ainda parecia muito velho para seus dezessete anos.

—O que acontece, carinho?

—Sabe o quanto mamãe era inteligente? Quero dizer realmente inteligente. Não com as coisas do rancho, mas com os livros. Química, física, esse tipo de coisa.

—Coisa que você claramente herdou dela.

—O que sabe de sua família? Há um homem aqui com o mesmo sobrenome que nossa mãe e se parece com ela. Bem, ela era mais bonita, mas realmente se parecem e dizem que é realmente inteligente. É humano Colby, como eu.

—Você acha ruim que eu seja Cárpato e você não? Rafael te permitiu conservar as lembranças porque isso era o que queria, mas se te faz sentir muito diferente... —ela se interrompeu. Não havia forma de que Paul se convertesse em Cárpato. Disso ela sabia. Ele não tinha habilidades psíquicas de nenhum tipo. Ginny não tinha mostrado nenhuma, tampouco. Colby tinha um pai diferente que provinha de uma linhagem direta de Cárpatos.

       Razvan. Não queria pensar nele, não queria sequer admitir que fosse seu pai biológico. Razvan era neto do mago escuro Xavier, mortal inimigo de todos os Cárpatos. Muito tempo atrás, Xavier, o mago mais poderoso, tomara uma estudante Cárpato muito dotada, Rhiannon. Havia assassinado seu companheiro, raptado-a e a fecundado, inflamando uma terrível guerra. Nasceram gêmeos. Soren e suas duas irmãs já perdidas. Razvan e Natalya eram os filhos de Soren. Razvan traíra seu sangue Cárpato, sangue dos famosos Caçadores de Dragões nada menos e traído sua irmã gêmea, sucumbido aos atrativos da magia negra, aliando-se com os vampiros e os conduzira num complô para assassinar o príncipe. Envergonhava-a pensar que carregava os gens de Razvan, especialmente agora que tinha vindo às Montanhas dos Cárpatos e conhecido tanto da gente de Rafael.

—Não, eu gosto que seja Cárpato, Colby, é bastante chato. —Paul passou a mão pelo cabelo. - E eu adoro onde vivemos e os irmãos de Papai, mas se este homem, Gary Jansen, for de algum modo parente de mamãe, quero lhe conhecer. E quero saber por que nunca soubemos dele.

—Andou perguntando por ele?

       Paul assentiu.

—Rafael me disse seu nome e disse que era amigo de Gregori. Aparentemente, ele está fazendo uma investigação cientifica. Você é mais velha que eu. Lembra que Mamãe tenha falado de sua família? Conheceu algum deles?

       Colby passou as mãos pela espessa cabeleira, com agitação.

—Lembro muito pouco Paul, e nada disso é bom.— Era doloroso recordar o passado, embora Colby pensasse que aqueles dias de sentir-se inadequada tinham passado para sempre, averiguar que Razvan era seu pai tinha provocado que tudo voltasse.

—Em que sentido? —Insistiu Paul.

       Rafael apareceu junto a Colby, alto e forte, sua face poderia ter sido cara esculpida de uma estátua, cinzelada com grande precisão ao redor de sua boca sensual. Cada noite quando despertava, quando o via assim, seu guerreiro e seu amante, sempre sentia uma intensa rajada de emoção. Rafael parecia olhar o mundo com olhos gelados e a ela com desejo e amor. Para uma mulher que nunca tinha se encaixado de tudo em nenhuma parte, isso parecia um milagre. Agora seus braços a envolviam, levantando-a da cadeira, sua figura maior engolindo a dela quando a puxou para o refúgio de seu corpo.

- Eu não gosto desses pensamentos. Você não fez nada errado e é melhor não pensar nessas coisas quando lhe provocam tanta dor.

- Paul tem direito a saber certas coisas.

       Sobre ela. Sobre seu pai. Sobre sua mãe. Apoiou a cabeça contra o peito de Rafael. Era tudo tão complicado e seus antecedentes eram bastante humilhantes. Não queria que Paul se envergonhasse.

       Fora ela que insistira que viessem às Montanhas dos Cárpatos para a grande celebração. Tinha acreditado que era importante conhecer outros Cárpatos e serem um pouco mais sociais. O rancho da América do Sul estava isolado. Era enorme e os irmãos Da Cruz eram tratados como a realeza. Eram temidos, mas ainda tratados com muita deferência. Colby tinha acreditado que seria bom levá-los aonde não eram os únicos no mundo com dons e deveres. Agora estavam se abrindo velhas ferimentos, justo quando começava a pensar que seu lugar na comunidade se solidificava. Tinha que recordar o passado e contar a Paul a verdade sobre a família de sua mãe.

       Rafael vaiou seu desagrado, em seu ouvido.

—Não tem que provar a ninguém que vale a pena que pertença a um lugar. Seu lugar é comigo.

—Sei disso. —Ela esfregou o rosto contra seu peito. - Só quero que Paul e Ginny se sintam aceitos.

       Rafael segurou seu queixo e lhe elevou o rosto.

—Sempre se sentirão aceitos. Você lhes proporcionou isso quando ninguém mais o fez. Deu-lhes um lar, amor e segurança. Poucos teriam feito o que você a tão curta idade, fez.

       Paul rodeou a mesa e abraçou os dois.

—Colby, desgostei você com minhas perguntas? Não estou procurando outra família. Quero a que tenho. Não entendo o que acontece com você, por que parece tão molesta e intranqüila nas últimas horas. Estive temendo te deixar. —Ele olhou Rafael procurando confirmação.

       Colby respirou fundo e pressionou as mãos contra o estômago revolto.

—Todo mundo tem segredos, Paul. Nunca quis que se sentissem diferentes. Procurei em você e no Ginny sinais de algo incomum, especialmente em você, mas ambos parecem muito normais, sem dons psíquicos e sem nenhuma habilidade para mudar.— Seus dedos aferraram a camisa de Rafael.

       Ele lhe massageou a nuca. Dedos firmes lhe aliviaram a tensão.

—Eu sempre pensei que mudar de forma era normal. – Ele disse.

—Bem, não para nós. - Comby estava a ponto de chorar. Paul tinha muito o que fazer ainda. Era um adolescente, mas tinha trabalhado num rancho quase toda sua vida. Um trabalho duro e ininterrupto. Perdera sua mãe e finalmente o pai num acidente e os três, sozinhos tinham mantido o rancho em funcionamento.

—Eu comecei a mostrar sinais de habilidade psíquica muito cedo. Podia sentir as coisas perigosas, especialmente se estava alterada. – Ela confessou rapidamente. - Mamãe admitiu que meu pai era "diferente". Isso foi tudo o que disse a princípio. Mas depois, quando eu tinha perto de treze anos, contou-me que eu também era "diferente". E que tínhamos que ser muito cuidadosos. Nunca podia deixar que ninguém soubéssemos o que podíamos fazer e sempre tinha que te vigiar Paul, para me assegurar de que não se comportasse irresponsavelmente.

—E isso significa o quê? —Exigiu Paul.

       Colby respirou fundo.

—Significa que temos o sangue do jaguar. Nossa família, há centenas de anos, mudam de forma. Os homens não ficavam com as mulheres e finalmente a espécie começou a morrer. Há poucos que possam mudar realmente para seu felino, mas muita gente leva os gens. Alguns homens que ainda têm a habilidade de mudar, caçam as mulheres para manter a linha tão pura como é possível. Não são homens muito agradáveis.

—E Mamãe acreditava que eu podia ser um desses? —Paul estava claramente ofendido. - Eu respeito às mulheres. Sempre sou respeitoso.

—Não queria dizer isso. Não estou explicando muito bem. Mamãe não estava casada com meu pai quando me teve. A família de seu pai não queria ter nada a ver com ela ou comigo, por causa disso. – Ela se interrompeu, bruscamente.

       Rafael assumiu o controle.

—Colby nunca se sentiu aceita por ninguém, Paul e não queria isso para você. Nem sua mãe. Sua mãe ocultou suas diferenças e Colby fez o mesmo. —Ele gesticulou a seu redor. - Aqui, ser atípico é normal.

—De verdade acreditam que alguém se sente normal? —Perguntou, Paul. - Não sabia nada de tudo isto. De que tenho sangue jaguar, embora isso seria genial especialmente agora. Mas olhem para Josef. É Cárpato, muda de forma e faz todo tipo de coisas geniais. É brilhante. Deveriam ver as coisas que ele pode fazer com um computador e é um freaky. Uma espécie que se dá bem com todo mundo. Não se sente bem consigo mesmo. Sabe que os adultos não gosta dele e se sente incômodo conosco, os adolescentes. Skyler é bonita mas se sente incômoda também. Ginny e eu somos os únicos normais e deveríamos ser os deslocados.

—Algumas vezes você é brilhante, Paul. – Exclamou, Colby.

—Não acredito que importa muito o que somos ou onde vamos, Colby. – Replicou, Paul. - Acredito que todos nós nos sentimos incômodos quando somos jovens.

—Eu não —disse Rafael.

       Colby bateu em seu peito.

—Você é tão arrogante.

—Não acredito que tenha sido jovem nunca, na realidade. - Disse Paul. - Estou seguro de que ninguém deu a luz a você. Te encontraram sob uma rocha.

       Rafael pegou Paul pelo pescoço e fingiu lhe estrangular. Colby observou os dois brincando e sentiu que a tensão desvanecia.

- Fez um grande trabalho com este menino. - Disse-lhe Rafael.

       Ela assentiu. – Ele é maravilhoso.

—Então acham que a maioria dos psíquicos são descendentes de pessoas que podiam mudar de forma? —Perguntou, Paul. - Poderia investigar. É claro que Josef me ajudaria.

       Rafael encolheu os ombros.

—É possível, mesmo inclusive provável, mas cada vez que se faz uma investigação se deixa um rastro que alguém mais pode seguir. Somos muito cuidadosos não deixando rastros que conduzam ao descobrimento de nossa espécie. E está me fazendo sentir culpado por este rapaz, o Josef.

       Paul lançou um sorriso a seu cunhado.

—Não se preocupe. Ele não notou que você estava afiando sua faca em seu benefício. Disse-lhe, que em situações sociais não tem idéia. —Esle etalou em gargalhadas quando Rafael pareceu desiludido. - Eu o notei e também Skyler e Josh. Todos pensamos que você era muito aterrorizante.

—Não soa convincente. - Se queixou Rafael.

       Colby sorriu brandamente.

—Deveria se alegrar de não ter assustado o menino.

—Quero conhecê-lo. - Disse Paul bruscamente, como se acabasse de reunir sua coragem. - Se Gary Jansen for meu tio, quero lhe conhecer.

—Não sabemos que seja. Muita gente tem o mesmo sobrenome. - Assinalou Colby e o sorriso desapareceu de seu rosto. Instintivamente, se aproximou mais de Rafael. Seu corpo roçou o dele.

—Mas é provável, Colby. Esta é uma comunidade pequena. Ele é parte dela. Bem poucas das mulheres daqui parecem ter o sangue jaguar. Possivelmente ele também tem e isso é o que lhe atraiu aqui, em primeiro lugar.

       Rafael lhe esfregou o braço num gesto consolador.

—Possivelmente. Concordo. Me dêm um pouco de tempo para terminar as coisas aqui primeiro. - Disse Colby.

       De repente, a cozinha era muito pequena. Precisava de espaço aberto e um bom cavalo para montar. Sua mãe sempre temera o sangue jaguar, temia ter um filho homem. Os homens jaguar nem sempre eram dos mais agradáveis e Colby não queria que Paul se expusesse a nenhum perigo moral ou rechaço. E certamente não queria que ninguém o influenciasse na direção errada. Definitivamente criar meninos não era fácil.

       Paul se inclinou para beijá-la, depois saiu, chamando Josef e Ginny.

—Não pode lhe proteger sempre. - Falou Rafael, amavelmente. Envolveu seus braços em volta dela, esfregando o queixo em sua cabeça.

—Diz isso, mas você tenta proteger a mim e a Ginny. É que não quero que ninguém lhe faça mal. Noto em seus olhos, às vezes. Não deixou que você nem Nicolas eliminassem suas lembranças e lembra como o vampiro tomou o controle dele e tentou utilizá-lo para me matar. Sei que ainda tem pesadelos sobre isso. Simplesmente não quero que aconteça nada de mau, Rafael. É um grande menino.

       Rafael ergueu o rosto dela para ele.

—É um grande menino e está bem. Nos ocuparemos dele, juntos.

       Seu olhar se afastou do dele.

—Não pude suportar lhe falar de mim, de Razvan. Acreditei que seria boa idéia vir aqui, conhecer todo mundo, mas agora não estou tão segura. Alguém vai lhe contar quem é meu pai biológico.

—Acha que a seu irmão importará isso? —Rafael olhou para ela. - Paul te quer por quem é, não por quem foi seu pai.

—Você não entende. Ele está perguntando por seu passado pela primeira vez e uma vez que comece a se aprofundar nele se inteirará sobre meu pai. Não poderia suportar que ele também me rechaçasse. E como poderia lhe culpar? Teve que confrontar muito por mim. Se não fosse por mim, Paul e Ginny teriam sido aceitos pela família Chevez e teriam se criado num rancho da América do Sul, nunca teriam sido expostos ao vampiro. Agora sabe do sangue jaguar e uma vez que averigue que não é tão chato, não estará muito contente com isso, tampouco. E alguém vai lhe falar de Razvan. – Ela estremeceu, olhando ao redor e baixando a voz quando pronunciou o nome. - Não posso enfrentar às pessoas e muito menos a Paul e Ginny quando averiguarem o quanto é aterrador meu pai.

       A mão de Rafael subiu para enterrar os dedos em seu cabelo.

—Você foi sua vítima igual foi a irmã dele. Não se envergonhe por quem é seu pai. Você tem a marca do Caçador de Dragões e essa é uma vantagem incrível. O clã dos Caçadores de Dragões é uma das linhagens Cárpatos mais reverenciadas e você é desta linhagem. Espero que cada um de nossos filhos leve sua marca. Deveria estar orgulhosa e não envergonhada.

—Meu pai provinha da mesma linhagem e tentou assassinar o príncipe. - Assinalou ela. - Traiu Natalya, sua irmã gêmea. Teve filhos, como eu, espalhados por todo mundo. Tentou nos utilizar como banco de sangue. Tenho família a qual não conheço, todos vítimas deste homem. Seu sangue corre por minhas veias. Realmente acha que quero que Paul ou algum outro saiba que estou aparentada com ele?

       Rafael a aproximou mais dele.

—Todos sabem que é parente dele. Os homens dos Cárpatos possivelmente entendem melhor aqueles que se convertem completamente ao mal. É um caminho que todos percorremos e no qual alguns avançam um pouco mais que outros. Antes que chegasse a minha vida Colby, nem sempre podia ver a diferença entre o bem e o mal.

—Razvan quase matou o príncipe. – Ela repetiu. - Tomou sangue de meninas pequenas. Por isso deixou grávida minha mãe em primeiro lugar, para utilizar meu sangue, para manter sua vida.

       Rafael podia ouvir o horror em sua voz. Colby ainda tinha problemas para aceitar o mal em seu mundo e ele a amava ainda mais por sua inocência. Tomo sua mão e puxou, levando-a da cozinha para as escadas que conduziam à privacidade de sua câmara subterrânea.

—Não podemos deixar as crianças. – Protestou, Colby.

—Sempre é tãoresponsável. Pedi a Paul que seja um bom anfitrião. Você precisa de alguns minutos sem todo esse barulho.

—Preciso de nosso rancho. Você não adoraria montar com toda esta neve?

—É isso o que você gostaria de fazer?

       Ela sacudiu a cabeça.

—Não temos tempo. O jantar é dentro de poucos momentos. E se acreditam que temos que entreter as crianças.

       Ele mudou de direção.

—Se quer montar...

—Está nevando, tolo. - Havia muito amor em sua voz. Rafael, com todas as suas maneiras dominadoras, sempre tentava lhe dar o que a fizesse feliz. - E os cavalos não vêem muito bem a noite.

       Ele sorriu e se inclinou para colocar os lábios contra seu ouvido.

—Sou Cárpato pequena, e posso proporcionar tudo o que queira. Venha comigo.

       Colby foi porque nunca podia resistir a Rafael ou à forma em que seus olhos negros ardiam com tanto desejo por ela. Quando saiu, ele a envolveu com um casaco de capuz de pele e botas. Fora, de pé junto ao alpendre, um cavalo a esperava, ansioso para correr. O animal tinha pelo menos dezessete palmos, com cascos feitos para correr pela neve. Rafael subiu em seu lombo nu e lhe ofereceu a mão.

—Esta é uma noite para montar, Colby e você adora correr.

       Ela segurou sua mão, permitindo que ele a colocasse diante dele.

—Vá rápido, Rafael. Esta noite quero voar sobre o solo.

       Enjaulou-a em seus braços e inclinou seu corpo protetoramente sobre o dela, sussurrando uma ordem ao animal. O cavalo o atendeu com seuspoderosos músculos se movendo quando saltou para frente. Após a primeira explosão de velocidade, o cavalo seguiu num galope rítmico e eles galoparam pelo campo aberto. A neve batia em seus rostos e o vento os açoitava. Giravam nuvens no alto e devia estar escuro, mas a neve tornava o mundo brilhante, reluzente como um lugar de sonho.

—Esta terra tira o fôlego da gente. - Disse Colby. – É linda!

—A princípio sim, mas estamos a tanto tempo no bosque pluvial, que o calor e a umidade são nossas casas. Isto é formoso e maravilhoso para vir visitar, mas já não o sinto como meu lar.

       Colby elevou o rosto para o céu noturno. Rafael adorava o bosque, mas teria renunciado a isso, renunciado a viver com seus irmãos em seu rancho, se ela tivesse desejado ficar nos Estados Unidos. Embora não o acreditara quando Rafael o assegurou a primeira vez, agora, conhecendo cada um de seus pensamentos, compreendia quando poder esgrimia quando se tratava de seu companheiro.

       Lhe oferecia aceitação total e amor incondicional. Pressionou as costas contra ele deixando que o ritmo do cavalo a consolasse.

       O animal conhecia o caminho e duas vezes saltou sem esforço sobre um tronco caído e salpicou no leito de um pequeno riacho. Reduzia a marcha quando se aproximava dos bosques e colinas, onde ela pôde ver samambaias e arbustos aparecendo através de vários centímetros da neve.

       O mundo estava em silêncio. Somente suas respirações podiam ser ouvidas na noite. Só existia a sensação dos braços de Rafael ao redor e o mundo de cristal com a neve caindo brandamente, quase surrealista.

—Não parece possível que o perigo possa estar espreitando tão perto, não é? —Sussurrou ela, temendo que se falava muito alto, romperia o feitiço.

—Só estamos nós dois, Colby. —Ele beijou-lhe a nuca. - Só nós, neste mundo. Nada perverso e nem vergonha, somente um homem que te ama acima de tudo, apesar de sua própria sensação de ser inadequado.

       Colby encaixou seu corpo mais perto do dele. Por que se sentia inadequada? Era como Paul havia dito? A maioria das pessoas se sentiam assim? Ou era o fato de que alguma vez tinha tido uma infância? Se repente se sentou mais ereta.

—Rafael, eu gosto de Josef.

       Ele soprou, começando a se afogar, engasgando e tossindo ao mesmo tempo.

Colby se virou para lhe olhar sobre o ombro.

—É sério. Nunca desenvolvi habilidades sociais. Trabalhava todo o tempo e tinha que ocultar quem era. Não nota? Ainda o faço. Não quero que ninguém saiba nada sobre Razvan, então que me oculto, me sentindo envergonhada. Não tenho que sair e conhecer toda essa gente. Gente a qual você conhece e com a que cresceu. Gente que temo poderia perguntar por que alguém com tanto talento e tão dotado como você escolheria estar com alguém como eu. Sou uma adolescente, lutando por encontrar a mim mesma. Isso é francamente penoso.

—Acredito que isto é toda uma conspiração para me fazer sentir mais culpado porque tentei assustar o menino. Não vou me desculpar com ele. Não deveria ficado olhando fixamente para Ginny.

—Estou segura de que ele não a olhava. Quer que sejam amigos.

—Os homens nunca querem ser amigos, Colby. —Suas mãos deslizaram sob o casaco dela, para lhe cobrir os seios e seus polegares esfregaram os mamilos. O cavalo virou de volta para a casa. - Nossas mentes estão muito ocupadas com coisas bem mais prazerosas que a amizade.

       Colby fechou os olhos e saboreou a sensação das mãos dele lhe acariciando o corpo. Ambos eram ativamente sexuais e Rafael raramente passava muito tempo sem deslizar as mãos possessivamente sobre seu corpo. Não passava perto dela sem que sua mão lhe acariciasse o traseiro ou roçasse seus seios. Algumas vezes, apoiava-se contra ele e se esfregava incitantemente como uma gata, adorando a sensação de seu corpo endurecendo-se como um rocha e sabendo que era por ela. Como agora.

       O movimento do cavalo criava um maravilhoso atrito entre suas pernas abertas. Seu olhar encontrou o dele e instantaneamente sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele estava olhando-a com um desejo urgente, tão intenso, que tudo em seu corpo se estendeu em resposta. Inclinou a cabeça para poder lhe mordiscar o queixo, provocando-o ainda mais.

       Para uma mulher que não tinha feito nada mais em sua vida que ser responsável, era maravilhoso não ter nenhuma inibição, ser capaz simplesmente de fazer o que desejasse quando estava com Rafael. Estendeu-se para trás e roçou deliberadamente o duro vulto que estava se formando na frente da calça dele.

       Talvez não estivesse tão segura de si mesmo como outras, mas não era esse o caso quando estava em sua própria casa. Rafael era um homem extremamente dominador, mas ela podia lhe fazer frente e sabia que sempre era amada e desejada. Tinha Ginny e Paul e ambos a queriam por ser quem era. Possivelmente era o momento de deixar de se esconder. Já não temia seu próprio poder. Sabia o que desejava e sabia que era o bastante forte e decidida para tanto. Razvan podia ter caído em desgraça, mas tinha passado um legado de poderes que ela não podia negar. E também tinha sua mãe. Tinha que dar a Paul e Ginny a oportunidade de abraçar esses dons e não fugir deles.

—Fará o que é certo. - Murmurou Rafael contra seu ouvido. - Sempre encontra a resposta certa para eles. Os traços jaguar não são tão maus e você quer que eles amem essa parte de si mesmos. Podem ter grandes dons e podemos ajudar a desenvolvê-los e se houver coisas com as quais seja difícil lidar, ambos sabemos delas também. Podemos guiá-los, Colby.

—Obrigado. – Ela disse, brandamente.

—Não tenho feito nada.

—É obvio que sim. Sabia que tinha que fazer o correto pelos meninos e para isso, tinha que acreditar em mim mesma.

—Proporcionei-te um passeio a cavalo.

—Deu-me um sonho.

       Ele ficou em silencio por um momento, urgindo o cavalo a voltar para casa, ouvindo os sons dos cascos dele esmagando a neve.

—Falando deste outro menino. Este Josef. Me conte sobre ele.

       Colby ocultou seu sorriso. Rafael gostava de ser um tipo duro, mas profundamente em seu interior era um doce.

       Ele se inclinou para frente. - Captei isso e vou fazer você pagar por ele.

       A excitação percorreu seu corpo e esquentou seu sangue.- Sempre desfruto muito de seus pequenos castigos. – Ela virou a cabeça para elevar seus lábios até os dele. Era ruim beijar sobre um cavalo, mas eles conseguiram e como sempre, um fogo líquido correu por suas veias e o amor pareceu fluir em sua mente até o ponto de dominá-la.

—Josef é o sobrinho de Byron. Parece jovem para sua idade. Acredito que mal está saindo da puberdade.

—É um bebê segundo nossos padrões. - Assinalou Rafael, seus dedos brincaram nos cabelos dela. - Onde Paul e Ginny conheceram?

—Online. Pela Internet. Todos se escrevem. Skyler, Paul, Ginny, Josh e Josef. Alguns dos adultos também jogam videojogo com eles, online. Estavam ansiando se conhecerem pessoalmente. Acredito que Josef está passando por um mau momento porque é um pouco maior, mas não maturou, embora todo mundo espera isso dele.

       Rafael suspirou.

—Acredito que não faria mal tentar conhecer alguma coisa sobre o menino.

—Você é realmente um doce. – Zombou ela, sabendo que ele se vingaria. Desejando, ansiando-o. Seu corpo de repente pulsava de energia e de desejo. Rafael exsudava sexo, sua boca era pecaminosamente sensual, sua atitude era maliciosamente masculina. Ela adorava a forma em que ele se vestia, seu duro abdomem e seus quadris. Seus olhos eram emoldurados por cílios espessos e negros como a noite, que continham sedução.

       Imediatamente se sentiu reaquecida e sensível, seu corpo se alagou de uma urgente necessidade. A mão dele lhe acariciou o pescoço, puxando suavemente sua cabeça para trás para reclamar sua boca. Estava sentada bem perto dele e sua ereção pressionava firmemente seu traseiro e ele estava com o braço sobre seus seios. Sua boca era esfomeada, sua língua um áspero veludo de excitação, acariciando e brincando, lambendo sua pele. Seus dentes mordiscavam gentilmente.

       Logo seu corpo respondeu, o calor se estendeu como ouro líquido através de suas veias. Desejava-o tanto que podia saboreá-lo.

- Eu a desejo também. Mas merece sofrer um pouquinho.

       Sob o casaco de pele, sua roupa desapareceu, deixando seu corpo exposto e vulnerável às mãos vagabundas dele. Deslizou-as dentro do casaco, guiando o cavalo com as pernas. A mão se deslizou ao longo de sua coxa e o fôlego ficou parado em sua garganta.

—O que está fazendo?

—O que quer que queira. —Sua voz se tornou áspera, quase rouca e o calor de seus dedos era um contraste direto com o frio do ar.

       O sangue lhe esquentou instantaneamente, seu sexo pulsava com excitação. Os dedos dele começaram um círculo lento e quase preguiçoso, roçando ocasionalmente seu ponto mais sensível. Um gemido baixo escapou de sua garganta. A pele dele deslizou sobre sua pele, sensibilizando suas terminações nervosas mais ainda. Rafael beijou-a novamente e elevou sua cabeça e manteve o rosto para ele com uma mão, enquanto que com a outra movia os dedos em seu sexo.

—Olhe para mim, querida. Continue me olhando. – Ele ordenou.

       Colby amava isso, dele. Queria que ela soubesse quem a possuía, quem a amava e quem a fazia perder a cabeça de prazer. E adorava olhar para ele e ver sua fome feroz, seu puro desejo por ela e as linhas de luxúria profundamente esculpidas em seu rosto e o ardor em seus olhos quando a tomava.

       Os dedos a penetraram profundamente, extraindo seu mel.

—Eu adoro quando você se põe tão molhadinha e pronta por mim. Sempre tão apertada, quente e úmida. —Ele lambeu o dedo, lenta e sedutoramente com a língua, sem afastar o olhar dela. Depois voltou enterrar os dedos profundamente no sexo ardente.

       O cavalo deixou de se mover. Simplesmente permaneceu imóvel enquanto Rafael empurrava seus dedos mais, enchendo-a tanto que Colby ofegou de prazer. Acariciou-a vezes seguidas, brincando com as apertadas dobras, acariciando o nó interno de terminações nervosas até que ela gemeu, pedindo a gritos o seu alivio, mas então os dedos malvados retrocederam. Ele pegou-a nos braços e desceu do cavalo. Colocou-a em pé e seu braço a mantinha junto a ele. Falou brandamente com animal e depois o enviou de volta. Observaram o cavalo galopar de volta às colinas.

       Colby piscou e olhou a seu redor, ainda deslumbrada e ainda pulsando com um terrível desejo. Desejava-o tanto que temia não poder dar um passo. Rafael simplesmente tomou-a em seus braços e se moveu com a assombrosa velocidade de sua raça através da casa, até sua câmara subterrânea.

       O coração palpitava forte em seu peito quando ele a soltou, Colby percorreu a câmara com o olhar. Ela fora arquitetada não só para dormir, mas também para brincar. Ela estava pé em meio a cãmara vestida somente com o casaco, já aberto para revelar seus seios cheios e os pelos vermelhos que escondiam seu sexo. Estava tão úmida, tão quente e precisando tando de Rafael, que mal podia respirar de desejo.

—Venha aqui, pequena. Já esperei muito por seu corpo. – Ele estendeu a mão para ela.

       Sempre se sentia hipnotizada por ele, tão disposta a fazer o que ele pedisse. Adorava a sensação de suas mãos sobre ela.

—Acredito que estou obcecada por você. – Ela colocou sua mão na dele, que a encostou contra a parede e prendendo-a entre seu corpo e a dura superfície.

—É bom que esteja obcecada. —Seus dedos desceram por sua face, pelo pescoço, para a garganta. As pontas de seus dedos brincaram com a pele nua, provocando pequenas chamas que dançavam por seu corpo.

Sem advertência, afastou o casaco de seu corpo, expondo a suave e cremosa carne sob ele.

—Sempre está com muita roupa.

       O coração começou a palpitar em resposta a sua intensidade. Sempre fazia assim. Acabar com seu equilíbrio quando se tratava de seus encontros sexuais.

—Você gostaria que ficasse nua com toda a companhia que temos?

       Ele grunhiu, despiu os dentes, depois se inclinou para frente e lhe mordeu gentilmente o mamilo e depois sugando-o até que ela gemeu.

—Se me saísse com as minhas, escolheria um momento na história em que pudesse simplesmente te encerrar, te manter a salvo e para mim mesmo, sem te compartilhar nunca. —Sujeitou-lhe as mãos sobre a cabeça. – Eu a manteria presa, encadeada a minha cama, completamente nua esperando por mim. Sempre me esperando.

       Suas mãos lhe acariciaram demoradamente os seios enquanto inclinava a cabeça para se perder neles. Sua boca estava já quente, sua língua a acariciava perversamente. A maior parte das vezes, ele cuidava em prestar atenção a cada matiz de sua mente, assegurando-se de que tudo o que fazia era exatamente do modo em que ela gostava. Mas às vezes, quando seus demônios e ciúmes mesquinhos o assaltavam era um mais duro, permitia-se a a liberdade de tomar seu corpo como queria. Rápido, duro e rude.

       A excitação sempre cruzava sua mente e talvez um pouco de medo. Ele nunca lhe faria mal, mas sempre exigia submissão. Sempre a dominava sexualmente. E estava ávido dela. Queria saber que a amaria acontecesse o que acontecesse, que daria tudo, que não se reservaria a nada. Mas no final, nada lhe importava tanto como seu prazer e sempre, sempre o dava multiplicado.

       Rafael se deixou cair de joelhos, suas mãos lhe separaram as coxas e puxaram seus quadris para frente, para que sua boca pudesse devorá-la. Sua língua apunhalou profundamente, extraiu e começou a sugar enquanto os quadris dela se empurravam contra sua boca e suas mãos se enredavam em seu cabelo. Gritou quando a primeira onda a alcançou. Os sons quase desesperados que ele fazia a fizeram transbordar o limite. Espasmo atrás de espasmo a percorreram.

       Ele a atirou à cama, seguindo-a, pele com pele, empurrando o joelho entre suas coxas para mantê-la aberta para ele. Penetrou-a com uma dura investida, enterrando-se profundamente nela, conduzindo-se através das dobras suaves. Inclinou-lhe os quadris, penetrando-a totalmente, profundamente, obrigando-a a tomá-lo todo. Ela gemeu quando seu corpo, tão apertado e quente, aferrou o dele, enviando línguas de fogo por seu corpo.       Rafael começou a conduzir seus quadris, profundamente no refúgio de seu corpo, celebrando a forma em que seus músculos o apertavam como uma mão firme, lhe sujeitando a ela.

       Tomou-a firmemente, uma e outra vez, ignorando as súplicas indefesas enquanto a levava mais e mais alto, aumentando o prazer até que a teve suplicando alívio, rogando que ele a levasse ao limite.

       Ela começou a jogar a cabeça de um lado para outro, lutando contra a terrível tensão sexual, mas ele a manteve imóvel, mergulhando seu corpo no dela, levando-os a um ponto de febril necessidade.

       Então ela gritou, seu corpo rompeu em volta do dele, enquanto jorros de calor a enchiam e seu útero se convulsionava com surpreendente prazer. Ele se estendeu através dela como um tornado, tomando seu corpo por surpresa, atritando suas paredes vaginais.

       Colby ficou estendida ofegando em busca de ar, olhando o homem que amava acima de tudo no mundo. Olhava ao homem que a amava e a aceitava por ser quem era.

       Com linhagem ou sem ela, Rafael amava a ela e isso era o bastante. Podia sentir confiança em si mesma, sem importar o que acontecesse. Ele a amava incondicionalmente.

 

       O vento ganhou força, soprando neve ao redor quando esta começava a cair com mais ardor. Mikhail pensou, fora da grande casa. Traian Trigovise havia desenhado e construído a casa, não só para sua companheira Joie, mas também para compartilhá-la com os irmãos desta, Jubal e Gabrielle. Agora que o vampiro que tinha tomado o sangue de Traian havia morrido, ele sentia que uma vez mais podia viver em companhia dos outros Cárpatos sem colocá-los em perigo.

- Está commedo! - Zombou, Raven.

- Os familiares da mulher Traian chegaram. E Gabrielle se elevou. Haverão perguntas e eu preferiria não ter que responder nesta ocasião.

- Porque ela está apaixonada por Gary Jansen.

- Não exatamente.- Mikhail sabia que estava pensando nos riscos. Não queria que Gabrielle e Gary estivessem apaixonados. Como humanos estava perfeitamente bem, mas agora que Gabrielle se convertera, sabia que haveria tremendos problemas. E com os pais de Gabrielle ali para celebrar o Natal, haveriam mais perguntas que o normal. - Estou pensando em pular esta visita.

- Mikhail Dubrinsky! Bata nessa porta. Como príncipe, seu dever é dar as boas vindas aos pais de Joie. E Gabrielle precisa de seu apoio também.

- Minhas obrigações como príncipe parecem crescer e tornar-se mais complicas ao passar do tempo. Talvez devesse passar este dever a meu imediato.

       Raven riu maciamente. - Não se atreva.

       Mikhail soltou um suspiro torturado e bateu na porta. Esta se abriu imediatamente e uma mulher de olhos brilhantes e sorriso disposto o saudou.

—Por favor, entre. Eu sou Marissa Sanders, a mãe de Joie, Jubal e Gabrielle.

—Mikhail Dubrinsky. – Ele se identificou e enviou a Raven uma imagem dele estrangulando-a. - Preferiria enfrentar um vampiro em vez de uma sogra. - A risada em resposta não foi nada simpática. - Vou ter que te explicar os por menores do assunto de companheiros. Parece estar perdendo isso.

       Ele se inclinou, ligeramente.

—Oh! O príncipe. —A senhora Sanders retrocedeu para lhe indicar que entrasse. – Estou encantada de lhe conhecer. Tenho muitas perguntas.

—Tentarei lhe responder na medida do possível.

       Ela se deteve no vestíbulo tão bruscamente que quase fez com que o príncipe tropeçasse com ela.

—Príncipe de que? Está no exílio? Todo mundo se refere a você simplesmente como o príncipe, mas nunca dizem de que país. Imagino que há muito poucos príncipes aos quais se despojara de sua realeza... —Ela parou bruscamente e depois voltou andar, para continuar percorrendo o vestíbulo.

       Mikhail quase gemeu em voz alta, mas conseguiu suprimi-lo. - Traian! Emitiu a convocatória agudamente,e nesse momento não lhe importou um ápice se a população inteira dos Cárpatos ouvisse o pânico em sua voz ou não. Não ia responder às perguntas da mulher.

       Ela o introduziu no enorme salão e imediatamente tomou a cadeira oposta a dele e se inclinou ansiosamente para frente.

—Venho da casa de Sara. Se alegrará em saber que as costureiras estão em marcha.

—Costureiras? —Ele repetiu, ligeiramente. - Que costureiras, Raven?

- Não faço idéia. Pergunte a ela.

       Mikhail assentiu, tentando parecer como tanto.

—Isso é bom, senhora Sanders. Uh... Er... E que costureiras seriam essas?

       Ela arqueou uma sobrancelha.

—Obviamente lhe caiu uma bola. Menos mal que eu estava lá para recolhê-la. Os meninos precisam de disfarces para o desfile.

—Disfarces? —Parecia estar repetindo suas palavras, mas não podia evitar. Passou-se um dedo pelo pescoço da camisa.

- Traian, venha logo aqui antes que faça algo... Como provocar um terremoto em sua casa.

—Esperava produzir os trajes por arte de magia?

—Suponho que assim era, sim.

- Mikhail! - A voz de Raven o repreendeu agudamente antes que pudesse falar. - Não se atreva a dizer outra palavra. Essa mulher tem duas filhas que agora são Cárpatos.Merece um pouco de respeito.

       Mikhail fechou os olhos brevemente. É obvio que merecia respeito, mas ele não teria que estar lidando com ela. Onde está meu genro? Seu trabalho é me proteger todo o tempo e me liberar destas tarefas ingratas.

       Gregori soltou um som zombeteiro. - Acredito que você é capaz de dirigir uma mulher dessas. Neste momento tenho as mãos ocupadas com sua filha.

       Mikhail lutou entre a autoconservação e a brincadeira. A brincadeira ganhou. Não ia mostrar suas cartas a seu genro. Podia dirigir esta mulher sem importar o que lhe lançasse. Valeria a pena ver Gregori dando saltos por ali num traje de Santa Claus.

—Típico de um homem. Ordena uma enorme celebração e depois espera que tudo se faça por si mesmo. —A senhora Sanders cruzou os braços sobre o peito e o avaliou com olhar severo. - O que aconteceu exatamente com minha filha Gabrielle? Joie e Traian disseram que ela estava com você. Indubitavelmente espero que não seja o tipo de príncipe que acredita em ter haréns porque e isto é sério. – Ela se inclinou para frente para lhe olhar nos olhos, inclinando-se intimidante sobre ele. - Não sou do tipo de mãe que agüentaria isso.

       Mikhail se afogou. Tossiu. - Traian! Estou te ordenando que entre nesta sala imediatamente.

- Sinto muito, Mikhail. Estou a caminho. Joie e eu estamos agora um pouco ocupados.

- Mikhail ouviu o riso de Raven ante a admissão. – Você não têm que estar desfrutando enquanto eu estou aqui com esta mulher.

- Possivelmente estejam fazendo um bebê. Seriamente quer lhes incomodar? - Raven respirou em seu ouvido, brincando com seus sentidos e despertando seu corpo.

- Sim! E deixe de me provocar. Agora preciso de meu cérebro funcionando com esta mulher por perto.

- Estamos ocupados com Gabrielle. - Esclareceu Joie apressadamente, claramente envergonhada.

- Mikhail suspirou. – Me perdoe. Deveria saber que estaria com sua irmã. - Não seria fácil para Gabrielle se elevar e saber que precisava de sangue para sobreviver. As recentemente converções Cárpatos sempre pareciam ter dificuldades com o conceito. Ele nunca entenderia qual era o grande problema. Os Cárpatos não eram carnívoros como os humanos e não matavam como o vampiro, mas elas se sentiam insultadas por sua necessidade de sangue.

—Não verei minha filha rebaixada ao status de uma... Uma... Concubina. Não permitirei. Sei que é você casado, então não se incomode em negar. Nem sequer tem um país pelo que posso ver.

       Mikhail deixou escapar o ar lentamente e se estendeu em busca da mente da mulher sem se preocupar com a cortesia. Podia fazê-la esquecer todo este sentido e simplesmente entrar na cozinha.

       Sua mente se chocou com a dele, como se ela se estendesse para ele no momento exato. O trovão soou. O relâmpago crepitou no céu e as nuvens se turvaram impresionantemente. As duas mentes impactaram, chocando-se uma contra a outra, golpeando as barreiras erguidas apressadamente. A senhora Sanders saltou sobre seus pés, com o rosto pálida e sujeitando-a cabeça com ambas as mãos, tomada pela dor.

       Perplexo, Mikhail se levantou também e inclinou-se ligeiramente.

—Me perdoe, senhora Sanders. —Levou-lhe um segundo para reconhecer os padrões cerebrais pouco familiares. Não lhe surpreendia que seus filhos fossem tão dotados e fossem psíquicos tão fenomenais, os três. - Você tem sangue não diluído do jaguar.

—E você é Cárpato. —Ela percorreu a casa com o olhar, respirando fundo e fechando os olhos por um momento. - É claro. Isso explica tudo. Traian é Cárpato, certo?

       Mikhail sentiu outra presença. O marido estava em pé silenciosamente na soleira da porta e sua mente tentava assimilar o que estava se falando ali. Obviamente a senhora Sanders era capaz de comunicação telepática. Suas habilidades psíquicas eram muito fortes e ela havia chamado seu marido em sua agitação. Mikhail continuou a conversa como se estivessem somente os dois.

—É essencial para os Cárpatos passarem por humanos, sempre.

       Ela se afundou numa cadeira.

—Alguma vez ouvi dizer que um humano possa se converter em Cárpato, Joie é, não é? Por isso parece diferente. Uma diferença sutil, mas está. E realmente iria fazer os disfarces por arte de magia.

       Ante o alarme de Mikhail, ela pareceu como se fosse chorar.

—Sinto muito, senhora Sanders. Acho que pode entender por que Traian não podia lhe dar simplesmente esta informação. É necessário proteger nossa espécie sempre. —Ele estudou sua face. – Você não havia revelado sua linhagem a seus filhos. Ele não têm idéia, certo?

       Ela sacudiu a cabeça.

—Não queria que soubessem. Temia por eles. Meu marido sabe, mas é muito protetor comigo. Quando preciso deixar sair o felino, ele vem comigo e ronda as pessoas pelas colinas. Ele fica perto para se assegurar-de que não ocorre nenhum acidente.

—Pode algum deles mudar de forma?

       Ela sacudiu a cabeça.

—Nunca os ensinei. Vi todos eles se tornarem caprichosos e inquietos às vezes, mas não queria que levassem essa carga. Não sei se fiz o correto ou não. Mas ter um filho e tentar lhe educar bem é uma grande responsabilidade quando ele é um jaguar. Seus instintos....

—Jubal é um bom homem. É muito protetor com suas irmãs. —Mikhail estendeu uma mão e a tocou.

       Imediatamente ela se acalmou, piscando para conter as lágrimas, recuperando o controle que acreditava perdido.

—Os homens jaguar são muito perigosos.

—Tenho séculos de idade, senhora Sanders. Admitirei que não tive muito contato com sua espécie já que residimos em partes diferentes do mundo, mas lembro-me que muitos dos homens eram pessoas maravilhosas. A necessidade e o medo com freqüência provocam que as pessoas façam coisas que normalmente não fariam. Jubal nasceu um bom homem e assim seguirá ao longo de toda sua vida. Se por acaso se ver miserável em circunstâncias extremas, acredito que superaria a ocasião com sua mente, sua força e os dons que lhe deram. Ele não cairia no primitivismo.

Ela tomou um profundo fôlego.

—Obrigado por isso. Esse é o pior de meus medos.

       Ela havia vislumbrado esse pequeno retalho de informação claramente, já que estivera em primeiro plano em sua mente antes que golpeasse a barreira.

—Tem filhos notáveis, senhora Sanders. Joie é um tesouro que todos nós procuramos proteger. Jubal esteve ajudando com uma investigação vital, igual a Gabrielle.

—Gabrielle conheceu um jovem, Gary Jansen. Disse que estava trabalhando com ele num grande projeto de investigação. Ele é Cárpato também?

       O meio sorriso desapareceu da face de Mikhail.

—Gary é humano. Um amigo sob o amparo de todos os Cárpatos. Sempre. —Se havia um humano no mundo pelo que os Cárpatos iriam à guerra, esse era Gary Jansen. Mas agora...

—O que aconteceu a Gabrielle? —Perguntou a senhora Sanders. - Sei que está acontecendo alguma coisa, mas Joie e Jubal se negaram a discutir comigo. —Ela sacudiu a cabeça. - Minha família tem muitos segredos, embora pareça que você os conhece todos. Gabrielle está viva, certo?

       Mikhail passou a mão pelo rosto, odiando se ver em semelhante posição. Este mulher merecia respostas. Merecia a verdade sobre suas filhas.

—Igual a Joie, ela foi convertida a nossa espécie porque senão teria morrido. Gabrielle também foi convertida.

       A senhora Sanders deixou escapar um pequeno som de desespero e se virou para encontrar o olhar de seu marido. Ele estava em pé na porta, alto e ereto. Sua face era uma máscara inexpressiva.

—Rory! Oh, carinho! Sinto muito. Isto é minha culpa. Tudo é minha culpa.

       Ele se apressou a seu lado, deixando cair sobre um joelho para lhe segurar as duas mãos.

—Não faça isso a sei mesma. Nada fez de errado.

—É tão difícil para você saber que suas filhas são Cárpatos? - Perguntou Mikhail. - Sempre serão entesouradas. Sempre as protegeremos.

—Joie sim, mas e Gabrielle? Ela é diferente, não é tão aventureira como Joie. Adora seu trabalho e a casa. Esta vida não é para ela.

—É vida, senhora Sanders. Teria morrido se não a tivéssemos iniciado a sua nova vida. Está presa a um homem Cárpato com companheira, Vikirnoff Von Schrieder e a mim. Sempre cuidaremos de sua felicidade e segurança.

       A senhora Sanders respirou fundo novamente e segurou a mão de seu marido.

—Pelo menos não tenho que me preocupar de que um homem jaguar coloque suas mãos sobre nenhuma de minhas filhas. Essa foi uma enorme carga, especialmente com Joie viajando tanto. —Ela tentou dar um pequeno sorriso para seu marido. - Não me importa Cárpato ou humano, mas não sangue jaguar.

—Acreditava que havia muito poucos.

—Puro sangue é claro, mas há muitos descendentes e não quero que nenhuma de minhas filhas se aproxime de um homem jaguar.

       Mikhail não assinalou que Jubal era um homem jaguar, ou que ele não tolerava nenhum prejuízo para nenhuma raça ou espécie. A mulher temia os homens jaguar e por boas razões. Tinha a impressão dela ter um passado que mantinha afastado. Mikhail estendeu a mão para o marido e apresentou a si mesmo enquanto Traian e Joie se apressavam para Mikhail, que lhes relatara a conversa com o casal, urgindo-os a vir rapidamente para aliviar as lágrimas da senhora Sanders.

—Mamãe! —Disse, Joie. - Sinto muito não ter te contado sobre Gabrielle. Queria contar, mas não sabia como.

       A senhora Sanders abraçou sua filha, firmemente.

—Você a viu? Ela está bem?

       Joie mordeu o lábio e lançou um rápido olhar para Traian.

—Ela sente-se apreensiva. E não é fácil para ela. Eu tive Traian para me guiar. E quando precisei me alimentar, ele proveu para mim e não foi tão terrível. Mas Gabrielle está apaixonada por alguém que não é Cárpato e ele não pode lhe dar o que precisa.

       As mãos da senhora Sanders revoaram para a garganta.

—Quem provê por ela?

—O homem que a salvou se chama Vikirnoff Von Schrieder. Ele e sua companheira Natalya, passaram muito tempo com o Gabrielle, conversando e trabalhando com ela no fato de aceitar sua nova vida. Não toma sangue de Traian nem de mim, mas o faz dois. São bons com ela, Mamãe. E ela está tentando.

—Quero vê-la.

—Nós dois queremos. - Disse o senhor Sanders, firmemente.

       Joie pensou.

—Mamãe, ela está muito emotiva. Sua vida inteira mudou. Felizmente, há uma mulher de visita aqui conosco. Seu nome é MaryAnn Delaney. É conselheira de mulheres maltratadas e também lidou com muitas vítimas de traumas. Gary está com ela e estão conversando com Gabrielle agora. Realmente acredito que é melhor deixar eles trabalharem com ela. Já conhece Gabby, ela é uma lutadora. É somente o choque inicial de despertar tão diferente.

—Sou sua mãe. Deveria estar com ela.

—Ela prometeu que viria aqui logo que fosse possível. —Joie levantou o olhar para Traian que passou o braço por seus ombros. O trauma de que sua irmã quase morrera tinha afetado negativamente a Joie. Adorava Gabrielle e a tinha prendido a esta vida, expondo-a a vampiros e Cárpatos e pesava sobre ela o fato de que Gabrielle tivesse sido convertida.

—Este homem Gary, é por ele que ela está tão louca? Pelo qual ficou aqui nas montanhas para estar perto dele? —Perguntou a senhora Sanders.

       Joie assentiu.

—Ela não fala muito de sua relação, mas obviamente se sentem atraídos um pelo outro. Gary ficou a seu lado nisto e foi a seu lugar de.. Estar perto dela diariamente desde que isto aconteceu.

       Mikhail se estendeu procurando o consolo de sua companheira. Preso a Gabrielle como estava, podia sentir sua dor. Nenhum deles considerara a questão global. Gabrielle era agora uma mulher dos Cárpatos por completo. Os outros homens estariam desesperados para que fosse a companheira de um deles. Os cuidados de Gary a ela não seriam bem vistos por nenhum deles. Era possível que Gabrielle fosse a companheira de um dos homens sem estar apaixonada. O afeto com freqüência vinha depois, depois do cru desejo sexual e a intimidade de ser companheiros. Era concebível que Gabrielle pudesse amar Gary e ainda assim ser companheira de um homem dos Cárpatos. Um problema potencialmente explosivo se forjasse dentro do mundo já complicado dos Cárpatos.

- Está apaixonada por ele. - A voz do Raven era gentil. - Ele se merece ser feliz depois de tudo o que tem feito por nós. Sabe que se ganhou um lugar em nosso mundo.

       Mikhail suspirou pesadamente. – Eu sei, mas a lógica não rege um homem perto do final de seu tempo. Se ela for uma companheira, deve se sobrepor a qualquer afeto que sinta por Gary e abraçar completamente sua nova vida.

Houve um pequeno silêncio. –Você obrigaria-a a escolher uma união sem amor? Isso está errado.

- Só existe um companheiro. Seu amor por Gary decairá com o tempo e se realmente der a sua nova vida uma oportunidade, encontrará a felicidade com seu autêntico companheiro.

       Raven bufou com exasperação. – Você não tem idéia do que fazer nesta situação, não é?

       Mikhail passou uma mão pelo cabelo. - Ele a ama muito. Cada vez que estou com ele, sinto. E falou com Gregori com freqüência de seus sentimentos por ela. Desde que quase morre, não abandonou seu lado, mantendo vigília até que ela despertou. Nenhum de nós conseguiu que se alimentasse. Isto vai ficar ruim, Raven.

       Raven lhe enviou consolo, camaradagem e um toque consolador de seus dedos lhe roçando a face. Queria deixar esta casa e todas as suas complicações e ir aonde havia alegria. Em meio a todos os problemas, com os inimigos chegando por todos lados, estava Raven e seu sorriso disposto, seu carinho e capacidade de proporcionar felicidade e riso a todos os que a rodeavam.

—Eles estão aqui! — Anunciou, Joie. - Mamãe, seja amável com ela. - Murmurou, segurando firmemente a mão de Traian.

—Não tem que me dizer isso —disse a senhora Sanders.

       Mikhail se levantou com a intenção de se desculpar quando Jubal entrou e lançou um longo olhar de advertência a sua mãe e seu pai e depois avançou para permitir que Gabrielle entrasse na sala. Ela estava formosa, alta, moréia com olhos cinzas e uma boca cheia. Sua pele estava pálida e ela tremia visivelmente, mas o homem que estava a seu lado deslizou o braço a seu redor para lhe proporcionar apóio.

—Mamãe, Papai. É maravilhoso vê-los.— As lágrimas embaçaram os grandes olhos de Gabrielle, tornando-os de carvão.

       Seus pais se levantaram, dando vários passos para sua filha. Então a senhora Sanders parou bruscamente e a cor desapareceu de sua face. Ela levantou o rosto e olisqueó várias vezes, provando o ar. Uma mão se elevou defensivamente e ela gritou, afastando-se do casal.

       A pele de Gabrielle se tornou de um branco mortal e ela escondeu o rosto contra o ombro de Gary ante o rechaço de sua mãe. Joie e Jubal correram a se colocar diante de sua irmã, lhe bloqueando a visão de seus pais. Mikhail se moveu com grande velocidade, colocando seu corpo entre a mãe histérica e sua filha. Gary puxou Gabrielle para seus braços, mantendo-a perto e Traian se colocou entre os pais de Joie e sua cunhada, protegendo-os com seu grande figura.

       A senhora Sanders caiu de joelhos, lançando um gemido que encheu a casa. O senhor Sanders tentou colocá-la em pé, mas ela lutou contra ele, sacudindo a cabeça de lado a lado, gemendo todo o tempo.

—Mamãe! Controle-se. - Exclamou Jubal. - É Gabrielle que precisa que seja forte, não se separe dela.

       Traian e Mikhail trocaram um olhar apreensivo. Joie elevou o queixo.

—Ela é como eu. Se não puder aceitar Gabrielle como Cárpato, será melhor que saiba que eu também o sou, igual a Traian. Nós estamos com Gabrielle.

       O comportamento inteiro da senhora Sanders mudou. Ela se elevou lentamente sobre os pés e seus olhos se tornaram opacos, seu corpo de repente era fluidico e felino. Sua cabeça desceu numa clássica atitude de espreita.

—Se afaste de minha filha. —Ela pronunciou cada palavra.

—Marissa! - Repreendeu duramente o senhor Sanders. Ela grunhiu e um vaio mortal acompanhou à advertência. Seus dedos começaram a se curvar e seu corpo se estirou, alargando o focinho. Os ossos rangeram e sua espinha se inclinou.

—Mamãe! —Joie soava horrorizada. - Mamãe, pare!

       Traian se colocou diante de sua companheira, seu corpo mais pesado a empurrou para trás. Ao mesmo tempo arrastou seu irmão atrás dele com um braço poderoso.

—Mamãe. —Jubal acrescentou sua súplica. - O que está fazendo?

       Mikhail avançou para se colocar junto a Traian. Os dois Cárpatos estavam de pé ombro a ombro enfrentando à ameaça.

—Senhora Sanders, —disse Mikhail tranqüilo, tentando alcançar a mente da mãe de Gabrielle.

       Encontrou uma vermelha neblina de fúria, um caldeirão de medo. As costuras do tecido se rasgaram. A pelagem estalou sobre a pele e ela já estava a quatro patas completando o focinho. O senhor Sanders tentou acalmá-la, mas ela o arranhou com suas afiadas garras.

       Traian deu um salto para frente, utilizando velocidade sobrenatural, um borrão de movimento, pegando o pai de Joie e empurrando-o para sua filha. O braço do senhor Sanders sangrava pelo longo e profundo arranhão e Joie soluçava quando estendeu o braço apressadamente para seu pai.

—Papai, que está acontecendo? Obviamente você sabe. Conte-nos.

—O que é ela?

—Jaguar. —Respondeu Traian, por ele. - É de uma linhagem pura jaguar.

       O felino se agachou, a cauda se retorcia com agitação, com os olhos sobre os homens dos Cárpatos que bloqueavam o caminho para seu objetivo.

- Mikhail, retroceda. - Advertiu Traian. - Está a ponto de atacar.

- É a mãe do Joie. - Recordou-lhe Mikhail. - Não podemos lhe fazer mal.

- Não há um nós. Retroceda. - Traian se adiantou num esforço de proteger a Mikhail, sua companheira e os outros.

—Alguma vez fez isso quando estávamos na escola e se zangava com nossos professores? - Disse Jubal. - Que demônios acontece, papai? Você sabe?

—Cale-se, Jubal. —Exclamou o senhor Sanders. - Não é momento para brincadeiras. Ela é muito perigosa.

—Você crie? Seu sangue goteja por todo o chão.

—O que provocou isto? —Perguntou Mikhail, tranqüilamente.

       O senhor Sanders sacudiu a cabeça.

—Não tenho nem idéia. Pareceu aceitar tudo o que lhe disse.

—Todos vocês saiam da sala. Vamos, Traian, senhor Sanders deixe que eu me ocupe disto. - Ordenou Mikhail.

- Estou a caminho, Mikhail. Me espere. - Gregori, como sempre, estava perfeitamente tranqüilo.

- Oh! Aagora quer ajudar, acredito que posso me ocupar de uma mulherzinha.

- Se conseguir que lhe fazer algo mais que um arranhão sua filha pedirá minha cabeça numa bandeja. Por outro lado... Você está ficando velho e lento.

       Quando Joie, Jubal, Gabrielle e Gary começaram lentamente a sair da sala, o felino ficou mais agitado, saltando e correndo por volta dos dois homens dos Cárpatos, com um rugido de raiva que sacudiu a casa. Seus filhos pararam.

       O jaguar entrou em ação, saltando sobre a mobília até golpear Traian diretamente no peito. Seu peso e a surpresa do ataque o fizeram cair para trás. O felino já procurava sua garganta, tentando cravar os dentes. Ele a segurou entre suas fortes mãos, mantendo a distancia, o felino que grunhia.

       Gabrielle gritou.

—Não lhe faça mal!

- Essa é minha mãe! – Joie chorava.

       Traian pensou e o felino lhe arranhou o peito com as patas traseiras, produzindo grandes lacerações, enquanto dirigia os dentes para sua garganta. De repente o felino mudou de tática. As garras arranharam o peito, afundando durante uma fração de segundo enquanto acumulava poder, empurrando-se com as patas traseiras para saltar sobre Gary. Golpeou forte e rápido, para matar.

       Mãos poderosas lhe rodearam o pescoço, mantendo-a a distância e ele se viu olhando nos olhos negros do príncipe. Mikhail movera-se com assombrosa velocidade, inserindo seu corpo entre o jaguar e sua presa.

—Mamãe! Pare! —Havia pânico na voz de Joie. - O que está fazendo?

       Traian não tinha escolha. Havia jurado, como todos os Cárpatos, em proteger seu príncipe. Rodeou o forte pescoço com uma chave, preparado para rompê-lo se ele insistisse em seu ataque a Mikhail.

       O jaguar lutou, utilizando sua espinha flexível, mas nenhum dos homens cedeu.

—Por favor, Traian, não. Não pode matá-la. - Suplicou Joie, apressando-se a lhe segurar o braço.

       Isso foi distração suficiente para que o jaguar se retorcesse, quase escapando de Traian e suas garras arranharam Mikhail.

—Chega! —A ordem trovejou através da sala enquanto um homem alto entrava a passos rápidos. Seus olhos prateados brilhavam com intenção letal. Ignorando as súplicas de Joie e Jubal, Gregori estendeu a mão passando junto a Traian e virando a cabeça do jaguar para lhe olhar nos olhos. – Eu disse chega. Se insistir nesta ação a matarei imediatamente. É bastante humana para me entender. Vá para outra sala e recupere o controle, agora. —Não houve compreensão nem compaixão. Não dedicou nenhum olhar aos outros ocupantes da sala. Simplesmente levantou o jaguar e o jogou para a porta.

       O felino aterrissou com força contra a parede, deslizando para baixo e ficando estendido um momento, seus flancos se moviam pesadamente. Houve um silêncio quebrado somente pela pesada respiração do jaguar. Então ele virou a cabeça e grunhiu.

       Gregori deixou escapar um longo e lento vaio, seus olhos brilhavam. Deu um passo ameaçador para o felino.

—Não vou voltar a lhe dizer. Você atacou meu príncipe e a pena por isso é a morte. Há três Cárpatos nesta sala e segundo todas as leis você deveria estar morta. Vá antes que eu perca a pouca paciência que tenho.

       O jaguar desapareceu e Gregori estendeu o braço para ajudar Mikhail a ficar em pé.

—A próxima vez que não protejer seu príncipe, responderá ante mim. Não me importa quem o ataque ou por que razão. Seu dever é se ocupar de sua segurança goste ele ou não. —Seus olhos pousaram em Traian pela primeira vez, depois em Joie e em Gabrielle. - Deixei perfeitamente claro? Porque se não for assim, entrarei lá e romperei o pescoço dela e lhes mostrarei o que aconteçe a quem se abstém de proteger meu príncipe de qualquer mal.

       Traian assentiu e estendeu a mão para Joie. Gabrielle manteve o rosto enterrado contra o ombro de Gary. O senhor Sanders se apressou a entrar na outra sala, para atender sua esposa.

—Estava a salvo, Gregori. - Disse Mikhail, tranqüilamente.

       Gregori se voltou para fulminar o príncipe com o olhar.

—Não me diga que estava a salvo. Ela ia diretamente a sua garganta. Acha que não pude ler sua mente? Tinha intenção de rasgá-la.

- Bonita forma de começar nossa celebração de Natal. Raven não há de estar muito contente.

- Raven não estaria muito contente se essa mulher tivesse acabado com sua garganta. Isto não acabou, Mikhai, e não tente liberar Traian e Joie porque têm muito pelo que responder. Posso desculpar Gabrielle mas não aos outros.

—Traian estava olhando por mim, Gregori. - Disse Joie. - Ela é minha mãe.

—Traian não precisa se ocultar sob suas saias, Joie. É um antigo. Sobre todo o resto, protegemos nosso príncipe. Sem ele nossa espécie morreria. Extinguiríamos-nos. Nossa primeira obrigação sempre, mas sempre é proteger o receptáculo vivente de nossa gente. Se Mikhail não matou sua mãe para salvar-se a si mesmo é porque está obrigado a manter nossa gente unida. Teria tentado com a diplomacia e ela teria aberto sua garganta. Era dever dos três Cárpatos que há nesta sala lhe proteger, mesmo de si mesmo. - Gregori virou a cabeça, atravessando Traian com seus olhos frios e peculiarmente coloridos. - Não é assim?

—É assim. Foi um mau julgamento de minha parte e não voltarei a falhar com o príncipe.

—E não voltará a falhar com nossa gente. - Insistiu Gregori. Depois olhou para as mulheres. - Devem lhes fazer à idéia de que queiram ou não, vivem como Cárpatos. Se não o fizerem, ocuparei-me de que não vivam absolutamente.

- Gregori. - A intervenção de Mikhail foi a calma no olho da tormenta. - Já é suficiente.

- Não é suficiente. Ou eles o protegerã ou responderão ante a mim.

—Por que o fez? —Perguntou Gary, empurrando osóculos para cima e esfregando a ponte do nariz. - Juraria que era por mim, não pelo Mikhail. Gregori, estou seguro de que ela tentou me matar. Mikhail se moveu tão rápido que eu não o vi e acredito que ela tampouco.

—Traian precisa de atenção. - Ordenou Gregori a Joie. – Se ocupe dos ferimentos de seu companheiro.

       O grunhido do Traian retumbou através da sala.

—Eu mereço sua reprimenda Gregori, mas não a estenda a minha companheira. Não permitirei.

       Mikhail elevou a mão para cortar qualquer enfrentamento.

—Todos esquecemos o que está em jogo aqui. A senhora Sanders está aqui para celebrar conosco o Natal e aceitou Gabrielle e Joie como Cárpatos. Temos que averiguar o que provocou o ataque do jaguar. — ele lançou a Gregori um olhar duro. - E depois todos vamos fazer as pazes porque nada e eu disse nada, vai arruinar esta noite de Raven.

       Gregori se inclinou ligeiramente.

—É claro. – Ele trocou o fantasma de um sorriso com Traian.

- Teme por ela.

- Ela tem-lhe enredado ao redor de seu dedo mindinho.

- E os dois podem ir para o inferno.

       Gabrielle se afundou no sofá com Gary de um lado e Jubal do outro. Joie e Traian compartilhavam uma cadeira. Mikhail estava de pé co canto mais próxima da porta e Gregori estava de pé, com os braços cruzados em seu amplo peito. Seu corpo entre o de Mikhail e o resto da sala.

       O senhor e a senhora Sanders saíram juntos. Ela estivera chorando e obviamente não queria enfrentar a todos. Quando viu as marcas no peito de Traian, um novo fluxo de lágrimas começou.

—Mamãe, você está bem? – Perguntou, Joie. - Por favor não chore mais. Nos diga que acontece e entenderemos.

—Sou eu? —Perguntou Gabrielle. - Não quero te alterar mais. É Véspera de natal e se supõe que temos que estar juntos como uma família. Não quero que se altere pelo que me aconteceu.

       A senhora Sanders sacudiu a cabeça.

—Você não. Você nunca, pequena. —Seu olhar pousou em Gary e se afastou. Aferrou mais forte a mão de seu marido. - É ele. —Mostou Gary. - Não é quem acha que é.

—Gary? —Gabrielle parecia surpreendida. Todo mundo olhou fixamente para Gary.

—Que quer dizer, senhora Sanders? —Perguntou, Mikhail.

—É jaguar. Posso cheirar seu sangue. O cheiro está tudo sobre ele. É um homem jaguar. São enganosos e capazes de grandes crueldades. Não o quero perto de minhas filhas. De nenhuma delas. —Ela elevou o queixo e de repente pareceu régia. - O que fiz foi errado, deveria ter controlado melhor o felino, mas foi a surpresa. Não encontrava com um homem jaguar em anos. Acreditava que essa porta estava firmemente fechada. Tomou-me de surpresa e me trouxe lembranças dolorosas, mas agora estou sob controle. Ele não pode se aproximar delas.

       Gabrielle segurou com força a camisa de Gary.

—Está errada, Mamãe. Gary é o homem mais doce que conheço. Amável, bom e brilhante. Não pode mudar de forma. É humano.

—É jaguar. - Disse a senhora Sanders, severamente. - E te enganou se te disse outra coisa. Eu sou jaguar puro e nenhum deles escapa a minha detecção.

—Gary? —Perguntou Mikhail, já testando a mente do homem.

       Gregori havia intercambiado sangue com Gary e podia ler seus pensamentos e o fazia com freqüência. Nunca tinha encontrado nenhuma evidência do jaguar. Olhou para Mikhail e sacudiu a cabeça.

—Senhora Sanders, é possível que Gary compartilhe uma ascendência. Muitas das mulheres daqui o fazem, incluindo suas filhas e seu filho. Mas ele não pode mudar e de fato, não conhece sua linhagem. Gregori compartilha sangue com ele e pode ler facilmente seus pensamentos e muitas vezes Gary se ofereceu de voluntário para me deixar fazer o mesmo. Não pode enganar um Cárpato que tomou seu sangue.

—Ele é um jaguar. - Insistiu a senhora Sanders. - Não é bem-vindo aqui e não pode estar perto de minhas filhas.

—Seu filho é jaguar. Deveríamos lhe desterrar também? —Perguntou Mikhail.

—Mamãe! Que te colocou isso na cabeça. – Exigiu, Jubal. - Papai, faça-a entrar na razão.

—Não tem nem idéia do que sua mãe sofreu nas mãos de um homem jaguar. - Replicou o senhor Sanders. - Não se atreva a julgá-la.

—Nem todos os homens jaguar são iguais. – Disse, Mikhail. - Não muito mais do que são os homens dos Cárpatos. Muitos de nossos homens se convertem em vampiros e muitos homens jaguar se voltam contra suas mulheres, mas não todos. Conheci a muitos homens jaguares honoráveis e seu próprio filho está entre eles. Seu sangue é bem mais pura que o de Gary. Dê a Gary uma oportunidade. Ele está com minha gente há algum tempo e está comprometido a nos ajudar. Gabrielle trabalhou com ele e conhece sua dedicação. Utilize este tempo para lhe conhecer como indivíduo.

       Antes que ela pudesse protestar, Gregori se moveu, atraindo para ele todos os olhos.

—É pouco o que o príncipe lhe pede, senhora Sanders. Você o atacou, assim como também danificou intencionadamente seu genro. Sua intenção era matar um dos nossos. Gary está sob meu amparo e é meu amigo. Eu serei responsável por seu comportamento. Tudo o que o príncipe lhe pediu é que lhe dê a oportunidade que deu a seu próprio comportamento, acredito que é uma petição razoável.

       A senhora Sanders respirou fundo.

—Tem razão, é claro. Me assustei muito quando o cheirei. Desculpem-me por meu comportamento.

       Gary apertou a mão do Gabrielle para evitar qualquer comentário.

—Obrigado, senhora Sanders. Honestamente não sei se o que diz você é certo, mas farei o que posso para averiguar. Por isso sei, não tenho nenhuma habilidade psíquica de nenhum tipo e certamente não posso mudar de forma. Entretanto, sempre me interessaram as lendas e os mitos e durante um tempo tentei provar que existiam criaturas como os vampiros. Possivelmente me sentia atraído por essas coisas porque como você diz, é minha herança.

—Possivelmente. – Concordou a senhora Sanders sem se comprometer.

       Mikhail tornou a se manifestar.

—Nossa celebração começará num par de horas. Confio em que façam o que possam para apresentar uma frente unida a nossos convidados. E Traian, se assegure sem lugar a dúvidas de que nossos segredos permaneçam a salvo, sempre. —Isso significava tomar o sangue dos pais de Joie, uma tarefa pouco prazerosa, mas necessária.

—Sim. É obvio.

       Gregori se virou deliberadamente para Gary, diante dos outros.

—Se precisar de mim é só me chamar em sua mente e te ouvirei. Tome precauções. Não sofrerei um segundo ataque sem represálias. Minha justiça é rápida e brutal como bem sabe. — Ele olhou para os outros ocupantes da sala. - Nada me dissuadirá de minha obrigação se fizesse mal a meu amigo. —Fez uma leve despedida e seguiu Mikhail para fora, em meio a nevasca.

—Você sabe sair com elegância. – Comentou, Mikhail.

—Juro-lhe, velho amigo. Se voltar a se colocar em perigo de algum modo vou te matar eu mesmo e feito estará.

—Eu gosto de te manter em forma. Passarei mais tarde para ver minha filha. Dirijo-me a conhecer Destiny. Eu gostaria de ouvir o que sua amiga Mary Ann tem a dizer sobre Gabrielle. E se realmente é tão boa como todo mundo diz, quero encontrar uma forma de reuni-la com a jovem Skyler. A menina é assombrosa, valente e pronta. Bem amadurecida para sua idade, mas tão frágil, Gregori. Podemos tê-la perdido e Dimitri está muito perto. Muito perto.

—Mantenho um olho nele. – Disse, Gregori. - Você gostará de Destiny e seu Nicolae. É uma mulher assombrosa e uma cçadora muito hábil. Francesca e eu a vigiamos de perto para nos assegurar de que eliminamos todos os parasitas de seu sangue. Conservei alguns somente no caso de encontramos um uso para eles. Uma hovenzinha assombrosa.

—Estou ansioso por conhecê-la.

       Gregori começou a brilhar até a transparência.

—Sabe que teremos problemas com Gabrielle e Gary agora que a converteu.

       Mikhail suspirou.

—Mesmo agora, quando nos reunimos pelo Natal, sempre parece haver problemas.

 

       A estalagem começava a se encher de gente. Manolito Da Cruz estava em pé a um canto observando a estranha cena que se desdobrava antes seus olhos. Caos e estupidez. Por que tanta gente se reunia portas a dentro e se sentia a salvo?

       A fome era aguda e terrível, dando pequenos golpes em suas vísceras, jogando duramente com ele,e o som de tantos corações, de sangue fluindo nas veias, só aumentava seu desconforto. As sombras se elevavam nele, o demônio clamava por sangue, por alguma pequena faísca de sentimento, uma rajada momentânea que o levaria de volta à vida. Somente uma vez. Quase podia imaginar à presa sob ele, o coração pulsando aceleradamente e a rajada de adrenalina amadurecendo o sangue e lhe proporcionando êxtase quando a consumisse.

       Ali entre as sombras escolheu sua presa. O homem musculoso e forte que crescia dizendo a todo mundo o que fazer. Manolito o deixaria vê-lo. Ver a morte em seus olhos, em seu coração e sua alma e cravaria profundamente seus dentes nele e sentiria sua luta por viver, sempre por viver. Uma vida que ele já não tinha e nunca recuperaria.

       A seu redor havia homens dos Cárpatos que haviam conseguido reclamar uma mulher, inclusive dois de seus irmãos. Ele ouvia suas risadas, sentia emoção através deles, mas não era suficiente. Muitos séculos haviam passado. Muitas batalhas e muitas mortes. Sentia sua vontade de se deslizar pelo escuro abismo do qual não podia arrancar a si mesmo. Havia lutado com os Cárpatos contra os vampiros e saíra ferido. Se curara, mas ao se elevar havia sentido a escuridão enroscada em seu interior, lhe sussurrando continuamente a cada momento, até que acreditou que ficaria louco, até que acreditou que daria as boas vindas à loucura.

       Seu olhar foi até à mulher. As mulheres sempre gostavam de seus cuidados. Podia atraí-las facilmente com seu escuro e sedutor olhar. Sabia o que ela sviam quando o olhavam. Viam um homem bonito, misterioso, sadio e muito sensual. Parecia o epítome do homem predador e as mulheres o seguiam suplicando que as levasse para a cama. Utilizava-as cruelmente, deixando para trás a impressão de uma potência sexual, marcando-as com seus dentes e aborrecido por sua disposição em lançar seus corpos para ele. Se soubessem que o que ele realmente queria era drenar cada gota de seu sangue. Deixá-las como uma concha murcha somente para poder sentir a momentânea rajada de vida.

       A tentação era assustadora, disparando uma resposta Seus incisivos se alongaram e cresceram, enchendo sua boca enquanto seu corpo desejava o poder da morte. Somente uma vez. Os sussurros se fizeram mais fortes afogando seus pensamentos de chamar seus irmãos pedindo ajuda. Uma só vez. Saborear a vida lhe daria algo mais de tempo. Somente uma vez. Quem saberia?

       Os batimentos dos corações se fizeram mais fortes até que trovejaram em seus ouvidos. Ouvia seu próprio coração pulsar e esperou que o rebanho que tinha a sua volta o seguisse. E eles o seguiram lentamente, um a um, acompanhando o ritmo.

       Desejava sangue quente entrando em torrentes em seu sistema. Desejava a sensação da pele de uma mulher, a emoção de um corpo submetendo-se ao dele. Mas não podia sentir, não na verdade. Seus irmãos o alimentavam com emoções, como se alimenta um menino com uma colher. Não era suficiente. A escuridão o chamava e ele tinha que responder. Quase podia saborear o poder em sua boca.

       Bruscamente, virou-se e saiu da estalagem para a noite onde poderia acalmar seu coração e tentar pensar com mais claridade. A fome o golpeava implacavelmente, numa escura obsessão que não podia sacudir. A noite não era o bastante escura para se ocultar nela. A neve cobria o chão e evitava que as sombras prevalecessem. Precisava do refúgio dos bosques. Manolito mudou de direção e entrou no fundo do bosque.

 

Nicolae, guerreiro, irmão, é bom ter você em casa. - Mikhail estreitou os antebraços do homem alto e antigo, de cabelos escuros, lhe saudando com a eterna tradição dos Cárpatos para dar as boas vindas a casa, a um amado guerreiro.

       Nicolae Von Schrieder estava de pé em frente a ele, olhando nos olhos de seu príncipe e a emoção quase o afogava. Era inesperado e surpreendente sentir o nó em sua garganta ante a admiração e genuína acolhida que lhe prestava Mikhail. Estava em casa e havia servido sua gente com honra e dignidade durante séculos.

—É bom estar em casa, Mikhail. Servi à vontade de meu príncipe, que é o receptáculo vivente de nossa gente e me comprometo lealmente com ele. —Ele ofereceu a antiga comemoração a seu príncipe.

       O sorriso de Mikhail foi genuíno.

—Já passou muito tempo desde que ouvi essas palavras e havia sinceridade nelas. É realmente bom ter você em casa. —Ele se virou para a mulher que estava junto a Nicolae. Ela parecia muito apreensiva e estava em algum lugar entre desejar fugir e lutar. Ela passara por muito e sua coragem e força tinham sido forjados no fogo do inferno.

       Ele estreitou seus antebraços, olhando diretamente nos sobressaltados olhos de água marinha e repetiu a antiga saudação, lhe oferecendo o mais alto respeito que podia lhe dar.

Destiny. Caçadora e irmã. É bom te ter em casa, também.

       Ela engoliu com força, olhando fixamente seu companheiro e assentindo, suas mãos apertaram os antebraços de Mikhail.

—É bom estar em casa. Também eu servi à vontade de meu príncipe e me comprometo lealmente com ele.

—Não tem que me oferecer sua lealdade, Destiny. - Disse Mikhail. - O serviço que já prestaste é mais do que ninguém poderia te pedir.

—Fico com meu companheiro e quero servir. – Ela replicou.

—Então aceito seu oferecimento pelo bem dos Cárpatos. —Ele deixou-a partir, afastando-se com um sorriso alegre. - Há muito desejava conhecer a mulher que deu e sofreu tanto por nossa gente. Obrigado por vir.

—Havia me esquecido da sensação de estar emnossa terra. —Murmurou Nicolae. - Não posso ter o bastante dela. Destiny diz que tudo o que faço é cair na cama, mas para mim é um milagre ter o luxo de semelhantes riquezas. —Abriu o caminho para a casa de sua família. Como sempre, outros Cárpatos haviam mantido a casa limpa e em boa forma. No momento em que ele havia voltado, modernizara-a e estava orgulhoso de mostrar as mudanças.

       Sentaram-se perto do fogo, coisa que Destiny adorava especialmente e Mikhail os informou dos fatos que estavam acontecendo, incluindo seu descobrimento mais importante. Syndil.

—Você se lembra de alguma coisa das antigas práticas, Nicolae? De uma mulher que podia curar a terra?

—É claro que sim. Era muito estranha, mas muito honrada. Ela atendia todos os nascimentos e curadores. A linhagem era antiga e só as mulheres que pertencia a essa linhagem tinha o dom de curar a terra. Syndil deve ser uma descendente.

—E a única que temos.

—Houve várias curadoras da terra com as quais cruzei quando era um jovem ainda. Poderia ter mais. Rhiannon era uma grande curadora. O dom chegou a ela através de sua mãe. Seu pai era um Caçador de Dragões. Ela tinha um talento incrível desde de menina. Foi uma grande perda para nossa gente quando foi assassinada.

Syndil não é uma Caçadora de Dragões, pelo menos não ouvi dizer que tenha a marca do dragão. É uma dos Trovadores Escuros, dos meninos perdidos que Darius conseguiu salvar. Mas temos à neta de Rhiannon, Natalya, a quem seu irmão reclamou como companheira.

       Nicolae sorriu.

—E Vikirnoff indubitavelmente tem as mãos ocupadas com ela.

—Voces dois encontraram mulheres extraordinárias. —Um breve sorriso flertou na boca de Mikhail. - Embora Natalya não herdasse o dom de sua mãe para curar a terra, é uma caçadora talentosa, acredito que desfrutará muito de sua companhia, Destiny. Já a conheceu? Ela se acostumou a ser caçadora.

       A língua de Destiny tocou seus lábios quando estes ficaram secos. Uma vez mais seu olhar foi a seu companheiro antes de falar.

—Ela é muito divertida. Encontro-me rindo o tempo inteiro quando estou com ela.

       Mikhail tinha a sensação de que Destiny não sorria muito. Olhou fixamente para Nicolae. Os dedos do antigo estava massageando a nuca dela, uma amostra sutil de apoio que Mikhail com freqüência empregava quando Raven estava numa situação pouco familiar e se sentia apreensiva. Lançou outro sorriso aberto à mulher.

—Ela adora citar velhos filmes. Disse a Raven que íamos ter que começar assisti-los, para que possamos ficar em dia.

       Destiny deu um pequeno e nervoso sorriso.

—Ela adora os velhos filmes. O pobre Vikirnoff não sabe o que está dizendo a maior parte do tempo, mas é bom para ele. —Ela deixou escapar lentamente a respiração.— Nunca antes estive perto de um príncipe. Não sei exatamente o que acho que devo fazer.

—A maior parte do tempo sou somente um homem, Destiny. – Confiou-lhe, Mikhail. Olhou ao redor e se inclinou para frente, baixando a voz até um sussurro conspirador, embora enviasse seu comentário ao segundo homem dos Cárpatos. - A menos que Gregori esteja por perto, então se acredita que todo mundo deve se inclinar e me fazer feliz.

       A vingança de Gregori foi rápida. O som de um trovão sacudiu a casa, fazendo tremer as janelas e a cadeira em que Mikhail estava sentado se moveu e corcoveou, quase o atirando ao chão.

       Nicolae rugiu numa gargalhada.

—Esse era definitivamente um grunhido Daratrazanoff.

—Essa não é forma de um genro tratar seu sogro. - Disse Mikhail. Um lento sorriso iluminou seus olhos. - Mas ele descobrirá que esta noite eu tenho a última palavra.

—Tem alguma coisa planejada... – Supôs, Nicolae.

—Precisamos de um Santa Claus e acredito que Gregori Daratrazanoff se encaixa perfeitamente no papel.

       Destiny olhou de um homem risonho, a outro.

—Gregori não vai se alegrar, não. Em todo o tempo que esteve comigo para me sanar, só o vi sorrir para Savannah. Bem, uma vez ele tentou sorrir para mim, mas foi uma amostra de dentes. A idéia de que ele entretenha um monte de crianças está além de minha imaginação.

—E da de todos outros, pelo que parece. - Disse Mikhail com evidente satisfação. - Como se sente? Sei que experimentou grande dor em cada sublevação com o sangue do vampiro em suas veias. Gregori foi capaz de curar os dois?

       Destiny assentiu.

—Cada sublevação me parece um milagre. Gregori guarda o sangue e disse que ele poderia ser utilizado para infectar um guerreiro e infiltrá-lo nas filas do não-morto. —Seu olhar encontrou a de Mikhail —Não lhe deixe fazer isso. Ter esse sangue em suas veias a cada momento de sua existência é o pior possa imaginar. É uma agonia, física e mental. Não posso imaginar o que isso faria a um guerreiro já perto da loucura.

—Nada se decidiu ainda. – Lhe assegurou Mikhail. - Quando voltarmos à normalidade, todos nos reuniremos. Sua contribuição é de grande valor para nós e esperamos que nos ajude.

       Destiny pareceu aliviada.

—Sim, é obvio.

       Nicolae deslizou o braço pelo respaldo do assento de Destiny.

Destiny não celebra o Natal há anos. Nós íamos sair e conseguir uma árvore. Você gostaria de se unir a nós?

       Mikhail sacudiu a cabeça com pesar.

—Tenho muitas paradas mais a fazer antes de me reunir com todos na estalagem. Esperava ter a oportunidade de falar com MaryAnn Delaney. Soube que ela se hospeda aqui.

—Sim, mas está com uma adolescente neste momento. Francesca a trouxe faz alguns minutos e pediu que MaryAnn conversasse com ela. Depôs a levaremos em sua casa.

—A jovem Skyler. A maior parte das vezes uma garota de sua idade não provoca uma resposta em seu companheiro, mas ela é amadurecida para sua idade e agora temos um homem não correspondido solto por aí e exigindo seus direitos. —Mikhail suspirou, brandamente. - Skyler precisa de amparo todo o tempo. Se falharmos outra vez, seu companheiro a unirá a ele e não estou seguro do que fará Gabriel, mas não será agradável.

—Francesca nos advertiu. – Disse, Nicolae. - Skyler disse que gostaria de se unir a nós quando formos procurar a árvore, então sairemos logo que MaryAnn tenha passado algum tempo com ela. Não antecipo nenhum problema, mas seremos cuidadosos. Destiny é uma caçadora hábil, então a jovem Skyler estará duplamente protegida.

—Não permitam que ela saia além de sua vista. - Advertiu Mikhail. – Ela tem tendência a vagar por aí. Às vezes me pergunto por que pressiono Raven para ter outro filho. Tinha me esquecido dos problemas que podem dar.

—Vê! —Destiny fez uma careta para Nicolae. - Disse que davam problemas.

Mikhail ficou em pé.

—Vou ver seu irmão. Quer lhe mandar algum recado?

—Só lhe diga que você vai pedir ao Gregori que faça o papel de Santa Claus. Vikirnoff gostará definitivamente da notícia. —Nicolae ficou em pé também, para acompanhar o príncipe à porta.

—Não tenho intenção de pedir-lhe Nicolae. Darei-lhe minha primeira ordem como seu sogro.

       Nicolae atraiu Destiny sob seu ombro.

—E quero estar lá quando você anunciar a Gregori que ele será o Santa Claus esta noite.

—Pois eu desejaria estar lá para ver a cara da Savannah. Ela tem um maravilhoso senso de humor. Nunca acreditei que ficaria amiga da filha de um príncipe. Embora, honestamente, acredito que ela simplesmente está feliz por ter conseguido lutar com um vampiro, então pode sustentar algo sobre a cabeça de Gregori.

       A face de Mikhail se obscureceu e todo humor abandonou seu rosto.

—No momento em que algo acontece a minha gente, em particular a minha filha, sou informado disso. Mas de algum modo, este pequeno detalhe parece ter sido omitido a mim. Nicolae, talvez você seria amável de me explicar isso já que meu genro falhou em fazê-lo. - Gregori, minha filha lutou com um vampiro? E por que não fui informado imediatamente? – Ele enviou um vaio de desagrado e a imagem de dentes despidos.

       A cor abandonou o rosto de Destiny, deixando-a muito pálida. Recorreu ao Nicolae em busca de tranqüilidade. – Fiz algo de errado?

- Não, é claro que não. - Disse Nicolae, consoladoramente.

       Mikhail recuperou imediatamente o controle, forçando um pequeno sorriso. A última coisa que queria era deixar Destiny incômoda. Lutar com vampiros era para ela tão natural como respirar. Ela passaria um mau pedaço tentando entender por que ele estava considerando matar Gregori.

- Tinha intenção de lhe contar, mas cheguei em meio a uma briga. Não acreditei que em meio a uma luta em que por certo me cortaram a mão fora seria um bom momento para contar. "Oh, e por certo, Savannah saiu a caçar vampiros".

- Estou considerando te arrancar a cabeça. Você me contará cada detalhe quando estivermos sozinhos. E não choramingue por sua mão, agora está perfeitamente boa.

- Aceita a responsabilidade pela forma em que educou sua filha cabeça dura. Eu faço o que posso para minimizar o mal que você e Raven fizeram com sua educação liberal e muito indulgente.

       Mikhail quase se afogou.

—Este meu genro vai aprender esta noite uma lição que nunca esquecerá. Liberal e indulgente? Eu? Fui firme com minha filha. —Mikhail ondeou uma saudação para Destiny e partiu com um sorriso satisfeito no rosto.

       Destiny franziu o cenho, tentando seguir o rumo da conversa.

—Entendeu algo disso?

—Acredito que ele estava discutindo com Gregori sobre se educou ou não Savannah apropiadamente. —Nicolae se virou quando MaryAnn Delaney e Skyler entraram na casa. Skyler estava com seu casaco forrado de pele e MaryAnn estirou a mão para seu próprio casaco. MaryAnn era alta e esbelta com pele cor de café com leite. Mesmo vestida com jeans, parecia muito sofisticada para os bosques Cárpatos. Pequenos diamantes cintilavam nos lóbulos de suas orelhas e uma fina corrente de ouro rodeava seu pescoço.

—Realmente vamos fazer isto? —Perguntou MaryAnn, seguindo os outros para fora. - Destruir uma árvore no meio do bosque?

—Vai comportar se como um bebê? Não faz tanto frio assim. - —Brincou Nicolae. - Alguma vez teve uma árvore de Natal lá em Seattle?

—É claro que tive, mas comprava minhas árvores de forma civilizada, pagando por ela. – Disse, MaryAnn. – E perto de minha casa. E de fato, entregavam-me uma a cada ano porque meu carro era muito pequeno para que a levasse para casa.

—Eles sempre são assim? —Perguntou Skyler a Destiny.

—Ficam pior. - Respondeu ela, fechando a porta atrás deles.

—E não se importa? Eu acreditava que os companheiros ficavam ciumentos todo o tempo.

       Destiny franziu o cenho enquanto abria passo pelo chão coberto de neve.

—Francesca fica ciumenta das amizades de Gabriel?

—Na verdade ele não tem amizades. Somente Lucian e Jaxon e ele trata Jaxon como uma irmã. Bem, ele é bom com nossa governanta, mas não como Francesca. Na verdade ele não gosta que tenha muitos homens por perto. —Ela encolheu os ombros. - Antes, eu estava com Dimitri e ele foi bem agradável comigo, mas então chegou Josef e ele mudou completamente. Temi por Josef.

—O ciúme não é um bom traço. - Dsse MaryAnn, colocando o capuz sobre seus cabelos. - Demonstra insegurança.

—Ah, mas às vezes, quando outros homens olham para minha mulher de forma inapropriada, - disse Nicolae, olhando de esguelha para Destiny, - merecem ser afugentados.

       MaryAnn lhe atirou uma bola de neve.

—Diz isso porque não se uniu ao mundo moderno.

—E tampouco quero. Eu gosto de ser o rei de meu castelo.

       Destiny gemeu e acrescentou sua bola de neve a de MaryAnn.

—Sei disso.

 

       Manolito se movia em absolutamente silencio através das árvores. Os corações eram mais ruidosos agora, trovões em seus ouvidos. Podia ouvir o sangue correndo, cruzando artérias diretamente para os corações. Sua boca se umedeceu e seus dentes se alongaram. Sua pulsação estava forte, enquanto se sintonizava com sua presa. O relâmpago parecia crepitar em suas veias. Tentou alcançar Rafael e Riordan, num último esforço de recuperar a honra e a prudência, mas não pôde fazer o esforço.

       Os corações pulsavam e um só som rompia o ritmo. Risos. Tilintavam no ar numa nota melodiosa que entrou em seus poros... Chamando à parte mais básica dele. Profundamente em seu interior, seu demônio rugiu, lutando por se liberar, rabiando e arranhando, exigindo que se entregasse. O som chegou novamente, levado pela ligeira brisa que passava entre os flocos de neve até lhe alcançar, para lhe convocar. Virou para esse som e se moveu com sigilo. Captou a fragrância outra vez. Três mulheres e um homem, só que não era qualquer homem, mas um caçador. Um guerreiro. Deveria se afastar, partir enquanto pudesse, mas seu demônio trovejava suas ordens, lhe sacudindo, exigindo que encontrasse uma presa.

       Gemeu. Seu corpo era leve e treinado. Era o corpo de um caçador ancestral que havia lutado muito contra o vampiro e era hábil no combate. Mmoveu-se com a queda da neve, parte da natureza, transparente e fluidico, tão silencioso como os flocos que caíam das nuvens.

 

       Skyler se apertou mais ao casaco e olhou para o fundo do bosque. O mundo era branco e resplandecente, a neve encurvava os ramos das árvores em todas as direções. Na distância podia ver a fumaça que chegava da direção à estalagem. Estremeceu-se sem razão alguma.

—Isto é lindo, não é—Assinalou, MaryAnn.

       Skyler assentiu.

—Muito formoso, porém perigoso.

—E frio. - Acrescentou MaryAnn. - Eu não sou como outros. Não posso regular minha temperatura corporal como eles. Mesmo você o faz melhor que eu. E não sou uma pessoa particularmente aventureira.

—Eu adoro o bosque e o frio. Tem algo a ver sabendo que há animais selvagens perto e que tudo a minha volta está em seu estado natural. —Mesmo enquanto admitia, o olhar do Skyler estava procurando no interior mais escuro do bosque.

       MaryAnn se estremeceu.

—Posso ver que você adora, menina, mas eu sou uma garota de cidade. E estou totalmente fora de meu elemento aqui. Tenho que admitir, que se algum destes homens Cárpatos fosse meu homem, bateria em sua cabeça. Sou uma mulher que não perdoa a violência.

       Skyler virou toda sua atenção de volta a MaryAnn, sorrindo.

—Acredito que é boa idéia. Vou dizer lhe a Francesca que é isso o que tem que fazer cada vez que Gabriel fica mandão.

—Isso é definitivamente o que tem que fazer Destiny com esse homem mandão ao qual está presa.

—Eu ouvi isso. - Disse Nicolae e lançou uma bola de neve em MaryAnn, com pontaria mortífera.

       Ela gargalhou quando esta salpicou contra seu ombro.

—Você é tão mau, Nicolae. Sabe que não posso me vingar porque minhas mãos estão congeladas.

—Oh, pequena flor de estufa. - Brincou Nicolae. - E não poderia me acertar, não. Sua única tentativa acertou a árvore que havia a minha esquerda.

—Só me chame de Orquídea. Prospero melhor no calor. Em quando a minha pontaria, nunca pude acertar nada, nem sequer no futebol quando era menina. E você, Skyler, faz esporte?

       Skyler sacudiu a cabeça.

—Não. Não sou muito boa com os outros. Francesca me ensina em casa.

—Eu podia acertar uma rocha com os olhos fechados quando era adolescente. Era o que jogávamos naqueles dias.

—Seriamente? —Skyler estava intrigada.

—Sim. Passávamos grande parte do tempo vendo quem poderia sentir chegar um ataque e desviá-lo antes que nos acertasse. Eu era endemoniadamente bom. Não mencionarei meu irmão, que era excelente e uma ou duas vezes me deixou ocasionalmente com um olho arroxeado.

—Todo este ato de bater virilmente no peito está me fazendo desfalecer. Voarei logo para casa, para minha formosa Seattle. - Disse Mary Ann, brincando.

       Destiny soltou um só som de desassossego e estendeu a mão para MaryAnn.

—Não pode me deixar.

—Você está bem, amiguinha. Sabe que está. Está intacta e inteira.

—Isso é levar muito longe? – Disse, Destiny. - Nunca serei como todos os outros.

—E ninguém quer que seja. Você é Destiny e é única, não é, Skyler? —   MaryAnn trouxe à garota para a conversa. - Não gostaríamos que Destiny fosse de outro modo.

—Eu gosto dela tal como é. - Admitiu Skyler, timidamente.

—Não sei como sou. - Sussurrou Destiny, segurando mais forte em MaryAnn, como se assim pudesse retê-la nas Montanhas dos Cárpatos.

—Você aceita às pessoas como são. - Disse Skyler, seu olhar era velho, as lembranças saíram à superfície antes que pudesse evitar. - Simplesmente aceita às pessoas.

       MaryAnn colocou a mão sobre o ombro de Skyler.

—Essa é nossa Destiny. Tem razão sobre você. Nunca pede nada a ninguém e não espera que sejam o que não são. É uma pessoa pormenorizada.

—Sou muito diferente de vocês duas. - Objetou Destiny.

       MaryAnn soprou um rastro de vapor branco e o observou desaparecer.

—Sim, você é. – Ela falou sem encontrar o olhar de sua amiga. - Eu nunca poderia fazer o que você faz. Tem o valor de aceitar um homem como Nicolae. Eu não posso fazer isso. Nunca faria. Tenho intenção de ficar sosinha toda minha vida em vez de me arriscar a estar com alguém que seja dominador e talvez destrutivo. —Ela estendeu as mãos. - Não quero um homem em minha vida e sempre os julgo muito duramente.

—Se algum homem bom saísse do bosque e a reclamasse, não o aceitaria? —Perguntou Skyler. - Sem importar o quanto bom fosse?

       MaryAnn sacudiu a cabeça.

—Não. E eu pegaria o primeiro avião de volta a Seattle.

—Os companheiros nem sempre lhe deixam fazer o que quer. - Murmurou Skyler.

—Gregori me prometeu seu amparo e me ocultaria em sua casa até que eu pudesse chegar a casa sã e salva. Nunca, sob nenhuma circunstância, viveria com um homem dos Cárpatos.

—Eu sinto o mesmo. - Disse Skyler e olhou para o bosque, piscando para conter as lágrimas que de repente estavam tão perto.

       O sorriso desapareceu do rosto de MaryAnn enquanto olhava à garota e realmente voltava atrás em sua conversa. Skyler estava lutando contra o puxão de seu companheiro e com tudo o que MaryAnn sabia da espécie, sabia que era difícil, mas impossível.

—Estava brincando, Skyler. – Ela falou, suavemente. - As coisas que acreditam ser para sempre, são com freqüência somente por um curto espaço de tempo. Não tenho idéia do que faria realmente se um homem dos Cárpatos saísse do bosque e me reclamasse. Como poderia saber, na verdade?

       Skyler sacudiu a cabeça e seus olhos se encheram de lágrimas apesar de seus esforços para mantê-las a raia.

—Coração. —A voz de MaryAnn foi imensamente amável. – Você se sente assim agora porque não solucionou todos seus problemas. Tem que averiguar quem é realmente e quanta força tem. Ninguém pode superar-se a si mesmo e tomar decisões quando não dão a si mesmos tempo para crescer. Tenha paciência. Dê-se tempo para crescer. Não há nenhuma pressa.

       Skyler abaixou a cabeça. Mas se havia pressa alguma, por que sentia semelhante sensação de urgência? Por que os bosques a chamavam cada vez que olhava para eles? A urgência de encontrar Dimitri era muito forte. Esperava que fosse para lhe dizer que não podia ser o que ele queria, mas temia que ele já os tivesse unido de algum modo. Não podia deixar de pensar nele e pior ainda, seu corpo reagia e ela detestava essa reação. O calor se estendia por suas veias, doíam-lhe os seios e mais embaixo, se sentia úmida e incômoda, a tensão se acumulava. Sentia a fome dele. Sua necessidade. Sentia sua chamada silenciosa, embora ele tentasse suprimir suas necessidades e manter uma barreira entre eles. Seu sangue a chamava. Sabia que era Dimitri. E não queria ter nada a ver com um homem ou com o que isso importaria.

—Há um candidato provável. - Disse Nicolae, assinalando para uma árvore particularmente frondosa. - Poderíamos nos arrumar com ela.

       A árvore estava mais internada no fundo do bosque e Skyler pensou em seguir quando os três adultos correram pela neve, lançando ocasionalmente bolas de neve uns nos outros. Estava cheia de medo quando olhava para as sombras. Algo os espreitava. Observando-os com olhos famintos. Observando e esperando um movimento errado. Podia sentir as ondas de ameaça e não entendia como Nicolae ou Destiny não podiam as senti-las também.

       Skyler desejava fugir para a segurança de casa, mas isso significava dizer aos outros ou ir sozinha. Se contasse aos outros e era Dimitri, haveria problemas entre ele e Gabriel outra vez e não poderia suportar isso. Já tinha causado muitos problemas aos dois. E voltar para a casa sosinha estava fora de questão. Apressou-se em ir atrás de Destiny e MaryAnn, dando olhadas ansiosas para o espesso arvoredo.

       Por um horrível momento acreditou ver o brilho feroz de olhos olhando-a fixamente, seguindo cada um de seus movimentos. Piscou e a ilusão desapareceu, mas havia algo ali. Estava segura disso. E estava observando-os com olhos famintos.

 

“Não. Eu pegaria o primeiro avião de volta a Seattle. Gregori me prometeu seu amparo e me ocultaria em sua casa até que pudesse chegar em casa sã e salva. Nunca, sob nenhuma circunstância, viveria com um homem dos Cárpatos.” A voz feminina lhe chegou com claridade, cada palavra era nítida. Levada pela noite.

       Ele ficou cego. Deslumbrado pelo brilhante branco da neve à vida, como uma chama do chão. Falharam-lhe os olhos e ele teve que cobri-los deixando-se cair de joelhos, para evitar gritar ante a inesperada dor de um brilho tão deslumbrante. A cor resplandeceu viva, fazendo com que ele tivesse que apertar as pálpebras, embora ainda estavam ali, absorvidos por sua mente. Vívidas e surpreendentes. Formosas.

       O ar falou em entrar em seus pulmões e depois entrou numa rajada. Tentou olhar novamente e seus dedos o ajudaram a se proteger contra o brilho para não ficar complemente cego. Havia cor nas árvores, não o cinza apagado e costumeiro, mas o verde aparecia sob a capa do reluzente branco da neve. Estava vendo cores. O júbilo o atravessou. Não era surpreendente que seu demônio estivesse rugindo para que seguisse o batimento desse coração, dessa risada melodiosa.

       A mulher o chamava. Enfim, após de séculos de espera. Ela havia sido criada para ele e estaria presa a ele. Ficou em pé, cambaleando pela força das emoções que o alagavam. Era assustador sentir tanta emoção, casa sentido intensamente vivo. Cada célula intensamente viva. Estava tudo ali, cada emoção que alguma vez havia desejado sentir. Do desejo à luxúria, enchendo sua mente, criando imagens eróticas e colocando a prova anos de sonhos e fantasias perdidos. Sua boca se umedeceu quando pensou no sabor dela, na textura de sua pele. Havia sonhado com ela, e enfim, ela estava a seu alcance.

       Enquanto se movia rapidamente para pegá-la, suas palavras o golpearam. Era protegida por Gregori. Um suave grunhido escapou de seus lábios. Ela tinha intenção de evitá-lo. De negar sua reclamação sobre ela. Tinha direito a ela por lei, por tudo o que seu mundo decretava e agüentara durante séculos. Séculos... Esperando por ela. Ninguém a separaria dele. Ninguém. A tomaria à força se fosse necessário e ao diabo com as conseqüências. Havia poucos caçadores que se igualassem a ele ou a seus irmãos e eles estariam de seu lado. Os irmãos Da Cruz sempre, sempre permaneciam unidos.

       Seus lábios se retraíram num grunhido e ele começou a abrir passo com mais cuidado para o pequeno grupo que se reunia ao redor de uma árvore. A jovenzinha se virou várias vezes para ele, com uma débil careta e uma vez o antigo elevou a cabeça para examinar a seu redor. Sentiu uma mente provando-o e manteve suas barreiras em alto, decidido a não ser descoberto. O antigo era bom, mas Manolito possuia séculos de experiência em ocultar sua presença ao que recorrer e evitou ser descoberto, simplesmente se convertendo na árvore mais próxima a ele.

       Arrastou-se mais perto até que pôde vê-la. Perdeu o fôlego. Ela era tudo o que alguma vez podia ter imaginado que uma companheira pudesse ser e mais. Alta, esbelta, com seios cheios feitos para ser acariciados, sugados, degustados e quadris arredondados para embalar seu corpo. Sua pele... Podia sentí-la inclusive à distância que estava. Ela possuia o tipo de pele que parecia tão suave que um homem podia passar a vida só tocando-a. Cor de café, incitante e cálida como o veludo. O capuz havia caído para trás e ele pôde ver os cabelos dela, numa profusão de cachos, caindo até os ombros, espessos e em longos e vertiginosos espirais suplicando a seus dedos que os tocassem. Os olhos eram grandes, de um escuro chocolate e sua boca era francamente pecaminosa. Definitivamente, estaria fantasiando com sua boca e as com coisas que esta faria a seu corpo.

       Dele. Ainda não podia captar a realidade disso nem quando ela estava de pé ali, sorrindo, com a face ruborizada e os olhos risonhos. Sentou-se e se permitiu respirar, enquanto seu cérebro trabalhava baralhando as opções que tinha. Se tomasse à força, como queria fazer, jogaria em cima de si a maior parte da sociedade Cárpato. Tinha direito a ela, mas ela podiria amparo e pelo que tinha ouvido, era justo o que faria. Precisava de um plano. E rápido. Nem poderia revelar a seus irmãos que havia encontrado sua companheira. Eles o ajudariam, mas se suas companheiras se inteirassem de suas intenções, se enfureceriam. Não estava disposto a arriscar que nenhuma delas o traísse.

       Primeiro, antes de mais nada, tinha que averiguar tudo o que pudesse sobre sua companheira, sem permitir que ninguém soubesse o que estava fazendo. E depois tinha que idear um plano para levá-la a América do Sul onde estaria fora do alcance de toda ajuda.

       Observou os três cortar a árvore e Nicolae arrastá-lo pela neve. A jovenzinha ainda lançou outro olhar astuto ao redor e quase imediatamente uma das mulheres escaneou a região em busca de inimigos. Fundiu-se novamente com o tronco, convertendo-se em parte da flora, até que o pequeno grupo caminhou de volta à casa.

       Seguiu-os, permanecendo invisível, mantendo-se contra o vento e fora da vista da mocinha. Ela possuia uma visão além do normal e a capacidade de sentir mesmo uma sombra de escuridão. Manolito estava ponto de atacar a perigosa tarefa de entrar na casa de um antigo e se a sombra da escuridão em seu interior crescesse o bastante, alertaria à garota.

       Esperou até que abriram a porta da casa num convite, se é que teria algum. O antigo lutava com a árvore. Este era grande e estava coberto de neve, que não encaixava no buraco aberto.

—Isso é tudo o que pode abri-la, MaryAnn? —Exigiu, Nicolae. - Porque aqui há muita árvore. Talvez devessemos diminui-lo durante um minuto ou dois. Somente o suficiente para que entre.

—Não se atreva, Nicolae. Você me prometeu que faríamos isto ao modo tradicional. Nada de armadilhas. Ajudarei você. Disse, Destiny.

       MaryAnn fez uma reverência enquanto empurrava a porta para abri-la todo o possível.

—Por favor entre.

       Junto a ela, Skyler ofegou quando uma brisa fria entrou na casa. Flocos de neve da árvore e do alpendre giraram num pequeno redemoinho e depois lentamente se assentaram.

       Nicolae e Destiny fizeram várias tentativas para conseguir que a frondosa árvore entrasse completamente na casa. A neve caiu por toda parte e ambos caíram, explodindo em gargalhadas.

Skyler! Ajude! - Chamou Destiny quando a copa da árvore bateu contra o sofá.

       Skyler saltou para levantá-lo por cima do móvel. MaryAnn fechou a porta e passou o ferrolho. Skyler acreditou que se sentiria muito mais segura, mas não. Nicolae ondeou uma mão e o fogo cresceu no lar, esquentando quase instantaneamente a sala. Skyler se afastou deles para olhar pela janela, para o bosque. Não tinha acontecido nada. Sua imaginação estava hiperativa? Por que não se sentia segura?

—Há água por todo o assoalho. - Disse MaryAnn. – Vou buscar uma toalha.

—Grande ideia. Skyler e eu ajudaremos Nicolae encontrar o melhor lugar para a árvore .

—O que quer dizer encontrando o melhor lugar para a árvore? —Exigiu Nicolae. – Só vou movê-lo uma vez se for ao modo humano.

—Está tirando toda a graça. - Protestou Destiny. - A metade da diversão é ver esse olhar de absoluto desespero em sua cara.

       MaryAnn riu de suas travessuras. Era muito bom ver Destiny feliz. Fazia com que valesse a pena ter deixado Seattle e viajado tão longe de casa. As montanhas eram remotas e ela sabia que ali onde estavam, era bem internada nelas, mas ver Destiny estabelecendo-se, feliz com Nicolae e confiante em si mesma, valia a pena cada momento longe de casa.

       Entrou no banheiro e se virou num lento círculo para admirar o trabalho dos azulejos. Para ser uma casa que não se usava nunca, Nicolae tinha prestado muita atenção aaa cada detalhe e ela era belíssima. Tirou duas toalhas grossas do cabideiro e se virou para a porta. Esta se fechou de repente e o ferrolho fechou-se em seu lugar.

       Quando estendia a mão para a porta, Manolito se materializou, com a boca em seu ouvido, sussurrando uma ordem, tomando o controle dela rapidamente e envolvendo-a em seu feitiço. Quando ela havia mantido a porta aberta para o outro homem que levava a árvore e dissera, "Por favor entre" sob sua gentil compulsão, havia convidado Manolito a entrar em sua casa também.

- MaryAnn, você é minha companheira e por conseguinte está sujeita a meus desejos. Tomará meu sangue para que eu possa te chamar sempre que tiver necessidade de você ou possa ouví-la quando tiver necessidade de mim.

       Seus dedos desceram pela perfeita pele de seu rosto. Fechou os olhos, saboreando a suavidade. Deslizou os dedos pelo decote da camisa dela, acariciando sua clavícula e abrindo os botões. Os seios se mostraram sobre o soutien de renda, num convite .

       Inclinou a cabeça e beijou o cantinho de seus lábios. Seu corpo já estava duro. Mas não era por sexo. Nunca tiraria de sua companheira algo que ela não estava preparada para lhe dar. Beijou sua garganta até a pulsação que freneticamente se sobressaia. Pegando-a nos braços, encaixou-a contra seu corpo e cravou os dentes em seu seio, permitindo que o êxtase erótico da primeira prova de seu sabor o sobressaltasse.

       O desejo o tomou com força, seu corpo inchou em reação e a dura dor de uma promessa. Sabia que ela era deliciosa. Nunca conhecera nada igual e tomou até se fartar e algo mais, desejando um autêntico intercâmbio. O primeiro. Não fingiu que ela sabia que seu companheiro a estava reclamando. Simplesmente tomou, ansioso pelo que era dele e se amaldiçoou por proceder assim. Mas isto os uniria o bastante para passar os dias escuros vindouros, evitando que se convertesse em vampiro. Suportaria a luxúria e o desejo até que pudesse levá-la com segurança a sua guarida.

       Quando se obrigou a se controlar, fechou as diminutas incisões, deixando marcas para trás. Sua marca. Uma que ela não poderia eliminar facilmente. Afastou a própria camisa e abriu o peito, forçando a cabeça dela para ele e exigiu que bebesse. No momento em que a boca dela moveu sobre sua pele e sentiu sua língua contra ele, quase se envergonhou de si mesmo. Seu membro se endureceu, saltando em resposta e pulsando pela necessidade de estar profundamente dentro dela.

MaryAnn? —Era Nicolae e havia suspeita em sua voz. Manolito sentiu o rápidamente o duro empurrão de uma prova mental e depois movimento na mente de MaryAnn. O antigo havia tomado seu sangue em alguma ocasião, atando-os. Manolito vaiou seu aborrecimento, mantendo os padrões cerebrais iguais ao de uma mulher usando o banheiro.

       Ainda assim, o antigo passeava de um lado a outro, além da porta.

       Com um suspiro de lamento, quando se sentiu seguro de ter tomado o suficiente para um autêntico intercâmbio, Manolito fechou o corte, soltando-a e colocando lembranças em sua mente, de utilizar o banheiro. Foi bastante fácil desaparecer, pulverizando suas moléculas pela casa, para que quando MaryAnn abrisse a porta e Nicolae aparecesse, não houvesse nada a ver e nem forma de lhe detectar.

—Você está bem? —Perguntou Nicolae.

       MaryAnn pressionou a mão contra o seio dolorido. Extranhamente, sentia-se excitada, mais que isso, em estado de sobrecarga sexual.

—Estou bem, Nicolae. Aqui estão as toalhas. - Estivera sonhando acordada? Por um momento, não pôde se lembrar de entrar no banheiro. Pensou somente num homem tocando sua pele, deslizando a boca por sua garganta, para seu seio. Queria abrir a blusa e examinar sua pele, tocar seu corpo, sentir as mãos sobre si. Mas Nicolae estava já percorrendo o corredor para o salão, lançando olhares suspicazes sobre o ombro,e recordando que ele podia ler seus pensamentos, seguiu-o apressadamente, obrigando-o a uma conversa absurda sobre árvores de Natal.

 

Natalya, que está fazendo com um spray e um acendedor? —Exigiu saber, Vikirnoff Von Schrieder. Ele apareceu pela janela da cozinha para o silencioso e reluzente branco que os rodeava. - Não há nenhum vampiro ao redor, certo?

—Não seja tolo. Estou aprendendo a chamar o relâmpago quando luto com um vampiro. Preciso de uma chama para o creme brulee. Olhe, diz aqui na receita. —Natalya se inclinou para frente para reler a receita que estava sobre o balcão de azulejos.

—Me dá isso. A estúpida receita não vale a quantidade de tempo que está investindo nela. —Vikirnoff chegou por trás e lhe rodeou a cintura com os braços, atraindo suas costas contra ele.

—Eu achei que você sempre havia desejado ver June Cleaver na cozinha com seu pequeno avental. - Brincou Natalya.

—Foi você quem mencionou June Cleaver, mas eu gosto do avental. – Ele admitiu, beijando-a na face. Suas mãos penetraram sob o tecido fino estirando-a para cobrir os seios firmes. - Se fizesse isto todo o tempo, poderia considerar provar uma destas estranhas beberagens que está tentando fazer. Ele mordiscou-lhe a nuca e deixou que suas mãos deslizassem do estômago plano até o sexo dela, sob o curto avental. Sua mão acariciou a penugem macia e subiu para cobrir a marca de nascimento com a forma de dragão. As pontas de seus dedos traçaram a forma familiar e depois moveram sobre seus quadris até o firme traseiro. - Ainaak Enyem, não tem nenhuma roupa baixo este avental.

       Ela se inclinou para frente um pouco mais para estudar a receita de sua beberagem. A ação fez com que seu traseiro se esfregasse contra o corpo dele, provocando uma pequena descarga elétrica.

—Não acredito que ninguém cozinhe realmente, vestido. É muito complicado. Troquei-me três vezes e acabei deixando.

       As mãos dele continuaram sua trajetória, moldando seus quadris e percorrendo seu traseiro para deslizar-se sobre as coxas. Sentiu seu estremecimento de excitação em resposta.

—Então os humanos cozinham completamente nus. - Uma vez mais suas mãos se moveram, alongando sua postura e acariciando a parte interna de suas coxas, subindo mais para que os dedos pudessem acariciar seu sexo.

—Estou segura disso —Disse, Natalya. – Descobri seu segredo. – Ela fechou os olhos, absorta na sensação da mãos dele sobre sua pele nua.

       Os lábios acariciavam seu pescoço e a língua deixava carícias sobre sua pulsação. Os dentes brincavam e mordiam.

—Perguntarei ao marido de Slavica se é por isso que ele passa tanto tempo na cozinha com ela. Perguntava-me o eles que faziam juntos naquela enorme cozinha.

       Os dentes cravaram profundamente em seu pescoço, unindo-os. Seu corpo maior inclinando o dela para frente, sujeitando-a entre o balcão e seu corpo. Sua roupa desapareceu e seu corpo já se mostrou duro e agressivo, seus dedos acariciaram lentamente, sedutoramente no corpo dela fazendo com que ela ofegasse e se empurrasse para trás contra ele, já úmida e pronta, quente. Vikirnoff adorou a rápida resposta e a forma em que o corpo dela começou a se esfregar em sua mão, ansiosamente.

       Mantendo-a imóvel, segurando-a pelo quadril evitando todo movimento, fez com que ela esperasse por seus cuidados, incapaz de agradar-se a si mesma.

—Você começou isto... - se queixou, Natalya.

       Ele não respondeu, desfrutando de seu sabor especial, da forma em que o corpo menor esperava pelo dele, aberto e preparado, vulnerável e disposto. Era uma sensação intoxicante ser capaz de tomar uma mulher guerreira, envolver seu corpo em torno do dela, quando sabia ela ser tão letal como formosa. Manteve-a abaixada, com uma mão em suas costas, aumentando o prazer, obrigando-a a esperar por ele sem fôlego e seus quadris tentando lhe incitar, seu corpo úmido e ansioso. Adorava especialmente quando ela ficava ansiosa e exigente, embora submetida a sua dominação, como agora.

       Vikirnoff passou a língua pelas marcas, esperando novamente. Esperando pelo batimento delator do coração dela para acelerar e penetrou-a com força, conduzindo-se profundamente dentro dela. Ela gritou, numa nota baixa de alegria quando se uniram. Natalya era apertada fechando-se ao redor de seu membro, quente e suave, escorregadia sua aceitação. Tomou-a forte e rápidamente, conduzindo-a à frente do limite sem preâmbulos fazendo com que seu corpo caísse e seu organismo paralisasse, percorrendo suas pernas, ondeando através de seu ventre e estalando em seu útero.

       Manteve o ritmo palpitante, movendo-se como um aficcionado, fazendo com que se unissem com calor e agressividade. Podia sentir as veias do relâmpago correndo através do sangue dela, acumulando-se, crescendo, a pressão implacável que depois da primeira rajada deu mais sensibilidade ao feixe de terminações nervosas, manteve-a equilibrada no limite, empurrando-a mais alto até que ela quase soluçou lhe pedindo alivio.

       Para ele, podia ficar ali todo o dia, com seu corpo enterrado profundamente em seda e fogo, entre os firmes músculos, com o corpo dela sujeito a suas demandas. O cabelo dela, espalhado a seu redor estava cheio de franjas coloridas, sua pele era suave e incitante e cada centímetro dela era seu, para fazer com ele o que gostasse.

       Sentia à tigresa perto, arranhando para sair, selvagem e abandonada, acrescentando combustível ao fogo, desejando que ele fosse rude, desejando que ele se igualasse ao felino que se elevava nela, com calor. Ela jogou a cabeça para trás, quase ficando nas pontas dos pés, enquanto ele penetrava-a arruda e seguidamente, fazendo com que o atrito de suas carnes fosse quase intolerável, um prazer que beirava a dor e que continuava porque ele assim queria. Porque o corpo dela era seu corpo quando se uniam. Natalya se entregava incondicionalmente, confiando em que ele lhe proporcionasse êxtase absoluto e era seu privilégio agradá-la. Porque precisava destes momentos mais que tudo, destas uniões quase violentas depois que ambos ficaram tanto tempo sozinhos.

       Ele murmurou-lhe brandamente em seu próprio idioma.

—Avio-te pdldfertiilam. Ainnak sivamet jutla. É minha companheira. Sempre a meu coração conectada e sempre minha.

       Ela respondeu com uma das poucas palavras do idioma ancestral que conhecia, com o coração na voz.

Sivamet. —Meu amor.

       Vikirnoff se inundou nela até que ver a respiração dela se converter em soluços e sem fôlego e seu próprio corpo arder numa espécie de fúria, até que a fome do um pelo outro foi tão aguda e terrível que não houve mais forma de contê-la. O sexo dela se apertou com duros espasmos que enviou fogo por sua espinha diretamente a seu membro. Seu corpo inteiro estremeceu e ele investiu uma vez mais. Era o duro aço penetrando a ardente seda, enquanto se esvaia profundamente dentro dela, unindo-os ainda mais.

       Depois ficou sobre ela, mantendo-a perto, lhe beijando as costas, esfregando o nariz contra seu pescoço, enquanto lutava para encontrar ar. Seus corações pulsavam ao mesmo ritmo, mas a fome roedora, tão insaciável, ainda estava ali. Podia sentir nela, se removendo e arranhando como o ansioso felino de seu interior e também nele, onde seu demônio rugia por sua companheira.

       Lentamente, contra vontade, separou seus corpos e deixou que ela se endireitasse. Manteve-se perto, sem lhe deixar espaço, deixando claras suas intenções com sua boca e mãos vagabundas.

—Sempre soube que você gostava dessa coisa de June Cleaver. Tem um fetiche secreto com a comida. – Natalya disse ela com um pequeno sorriso.

—Admito que tenho um fetiche, mas acredito que é por você. —Inclinou sua cabeça escura enquanto a puxava ainda mais perto, obrigando-a a se inclinar para trás para lhe oferecer os seios. sugou os mamilos sensibilizados, os dentes mordiscando, provocando tremores através de seu corpo.

Ainakka enyem, para sempre minha. – Sussurrou em meio ao êxtase que provocava. - Sabe que é meu coração e minha alma. Minha vida.

       Natalya adorava a forma em que o cabelo dele roçava sua pele, a forma em que sua boca estava tão ansiosa por ela. Podia se perder em seu corpo toda a noite, sem pensar nunca em nada e nem em ninguém mais. Ele a olhava e a desejava. Um toque de sua mão o fazia arder. Uma vez ele a tinha tomado diretamente no povoado, protegendo-os de olhos curiosos, mas o ato fora promiscuo. Ela o tentara deliberadamente, passando os dedos pela parte frontal de sua calça, esfregando-se contra ele, abrindo-a blusa para mostrar seus seio. E ele respondera como adorava. Empurrou-a contra uma parede e tomou-a ali mesmo, incapaz de esperar um segundo mais. Natalya gostava de brincar com ele, ver o calor crescer em seus olhos e ver a máscara severa desaparecer somente para ela.

       Vikirnoff sempre dizia o quanto a amava, o quando ela significava para ele. Já ela achava difícil expor suas emoções em palavras, temia que se tentasse dar voz à intensidade de suas emoções, estas de algum modo a abandonariam. Nunca tinha amado como amava Vikirnoff. Nem sabia que era possível.

       Vikirnoff abandonou contra vontade seus seios, roçando sua pele com beijos ligeiros como plumas antes de endireitar o corpo.

—Ouviu alguma coisa?

—Alguém nos bosques perto de nossa casa. —Natalya passou o um braço pelo pescoço dele e o atraiu novamente, sua boca fundindo-se provocantemente com a dele.

       O calor flamejou instantaneamente. Sua língua lutou com a dele, brincando e acariciando enquanto suas mãos deslizavam sobre o corpo de Vikirnoff. Seus dedos dançaram sobre a dura ereção, ronronando satisfeita quando ele cresceu ainda mais, grosso e duro. Envolveu a mão sobre o membro rijo e se abaixou

       Sua ereção saltou. Natalya o lambeu como um gato se lambe. O calor úmido da boca dela o engoliu, estendendo fogo por seu ventre. Vikirnoff esqueceu-se das visitas e acariciou o cabelo leonado arrastando-a mais perto enquanto deixava ser tomado com gula. Ela estava de joelhos, envolvendo os braços ao redor de seus quadris e tomando-o profundamente em sua garganta, apertando e mordiscando e lambendo-o, até que ele acreditou que enlouqueceria de tanto prazer.

       Natalya nunca fazia nada pela metade, abandonando-se à satisfação de lhe servir, tomando todo o poder através de seu desfrutável sexo. Ela não escondia que adorava lhe tocar e lhe saborear, de extrair cada gota de sua semente só para ver o quanto podia lhe fazer subir a um ponto febril.

       Formou-se um pequeno gemido ronronante em sua garganta que lhe enviou uma vibração através de seu membro e se estendeu por todo seu corpo. Cada terminação nervosa de seu corpo pareceu centrar-se em seu membro. A luxúria era aguda e a fome arranhava suas vísceras enquanto observava os lábios dela deslizar-se sobre sua ereção e sentia a ardente revoada de sua língua e o calor que acelerava seu coração que lhe provocava despir seus dentes.

—Mas forte. – Gemeu entre os dentes apertados. Ela estava perto de lhe engolir, fazendo algo fantástico com a língua e os músculos da garganta.

       Ela levantou o olhar para ele e haviam alegria em seus olhos. E por ele. Por sua capacidade de lhe oferecer o presente. Se é que era possível, ela apertou a garganta e o lambeu elevando-o sobre o limiar tão rápido e duro, como ele a levantara antes. O fogo se estendeu por seu sangue, destroçando seu corpo.

       Ela tomou-o com sua boca ardente. Seu corpo rompeu, dos dedos dos pés à cabeça, estalando em chamas enquanto o jorro de sua semente lhe era arrancado.

- Mulher, está me matando.

       E assim sentia, uma formosa morte. Colocou-a em pé, sem renunciar seus cabelos e sua boca encontrou os seios rijos, sentindo o desejo intensificado dela. Lambeu os mamilos endurecidos e arrepiados e sentiu o estremecimento correr através de seu corpo. Mordeu gentilmente, sentindo-a saltar e seu útero sofrer um espasmo.

—Eu adoro fazer isto com você. – Ela sussurrou. – Você sempre me deixa assim e sempre me dá o que quero. E quero mais, Vikirnoff. Quero muito, muito mais.

—Sempre estou disposto a te agradar.

       Natalya o envolveu com uma perna nua, esfregando-se contra sua coxa.

—Me manter feliz em um trabalho é tempo completo.

       Ele a levantou com uma força casual, virando-a para que ela pudesse descansar o traseiro sobre o balcão.

—Não tem para onde fugir, sivamet.

       Secretamente, uma de suas coisas favoritas era que Vikirnoff lhe falava em seu idioma ancestral e a chamava de seu amor. Seu sotaque era sexy e intrigante e suas palavras pareciam um mundo secreto que ninguém mais podia compartilhar.

—Estava fugindo? Estava na cozinha, rodeava de toda esta comida e esperava que você estivesse faminto.

       Vikirnoff sorriu e seus olhos se tornaram escuros como a meia-noite.

—Sempre estou faminto de você. – E ele lhe abriu as pernas, levantando-as sobre seus ombros e inclinou a cabeça para a doce fragrância de seu ardente centro. Lambeu-a como ela fizera, como um gato satisfeito. Conhecia intimamente cada ponto dela , cada segredo e o que podia lhe fazer. Desenhou preguiçosos círculos ao redor de seu sensível broto, torturando-a até que ela desejou gritar de prazer. Suas coxas tremiam impotentes, seus quadris se arqueavam para ele, que deslizou os dedos pelo ardente canal acrescentando-se à pressão que sua língua estava provocando, sugando e apunhalando-a com maliciosa habilidade.

       Vikirnoff fez exatamente o que ela queria, mas de uma forma que nunca poderia conceber. Ele literalmente a comeu. Devorou-a, usando sua língua tão efetivamente como usava sua ereção. Seus dedos acrescentavam a longa e deliciosa tortura, elevando-a além de seus limites, para outro reino.

       Natalya se empurrou contra sua boca, seu corpo rabiava pedindo alívio enquanto ele obrava sua magia. Sua cabeça se sacudia de um lado a outro. A pressão crescia rápida em seu corpo até que ela pensou que poderia explodir. E Vikirnoff a manteve afastada, empurrando-a mais à frente do que poderia ter, até que Natalya suplicou, soluçando, quase louca de excitação.

       Uma sensação em entre o prazer e a dor aferrou seu ventre ferozmente, contraindo seu útero e percorrendo seu corpo. O ar abandonou de repente seus pulmões e ela juraria que suas vísceras quase se convulsionaram. Estremeceu continuamente e onda sob onda a tomaram. Engoliram. E antes de ter a oportunidade de respirar, Vikirnoff a manteve, lhe sujeitando as pernas separadas e se internou entre as escorregadias dobras. Natalya gritou. Nada deteve o prazer quando seu corpo sentiu outro orgasmo chegar.

       Ele pressionou-se contra seu pequeno broto enquanto a tomava selvagemente, precisando ouvir os gritos, com o coração trabalhando convulsivamente e a sensação de seu corpo ondeando de prazer. Tomou-a duramente, aumentando a investida até que ela abriu a boca e os olhos e o fitou, totalmente tomada pela luxúria. Só então ele a levou mais à frente do limite.

       Natalya estava sob ele, segurando-se em seu ombro para recuperar o controle. Somente Vikirnoff podia destroçá-la assim e era o único momento em que se sentia totalmente livre, relaxando a responsabilidade que havia carregado por tanto tempo. Derretia-se com seus beijos. Adorava sua boca e tudo o que ele fazia com ela.

—Há alguém na porta. —Beijou-lhe os lábios e desceu até o peito largo.

—É meu irmão e pode esperar. - Vikirnoff acariciou novamente seus seios. - É dos mais inoportunos. – Para trás, Nicolae. Agora estou um pouco ocupado. Enviou a impressão de dentes despidos a ele, contendo sua diversão.

       A língua dela dançou sobre seu peito. Seus dentes mordiscaram provocantemente e o corpo inteiro de Vikirnoff se contraiu em espera.

       As batidas na porta continuaram.

Vikirnoff, abra.

       Ele deixou-a bruscamente, cruzando a casa a passos rápidos.

—Vista alguma coisa. – Ela o lembrou, com um sorriso travesso. - Pode precisar.

       Vikirnoff dar forma a uma camisa e uma calça jeans enquanto abria a porta de um puxão.

—Não ouviu mi... —Ele interrompeu-se, reconhecendo seu visitante. Com os dedos penteou o cabelo. Jogou um olhar para a cozinha e disse.— Mikhail.

- É obvio. Estava cuidando de você. -. Sua risada lhe endureceu o corpo outra vez. Ela inclusive lhe soprou ao ouvido.

- Estou pensando em te surrar.

- Da última vez gostei bastante. Vocês estava bastante selvagem essa noite.

       Seu corpo saltou novamente, inchando sob o tecido do jeans. Sua voz era sedutora, sugestiva, quase ronronante. Ele tentou formar um sorriso de boas vindas ao príncipe, agradecendo mentalmente por não estar com a camisa dentro das calças.

       Os olhos escuros de Mikhail deslizaram sobre ele, notando demais.

—Você falhou em seu escaneio. Deveria saber que era eu e não Nicolae.

—Minha mulher é muito boa me distraindo. - Admitiu Vikirnoff. - Estava pensando em outra coisa. — Ele retrocedeu para permitir a entrada de Mikhail. - Vou matar meu irmão. Provavelmente estará rindo como uma hiena agora. Deveria saber da visita e poderia ter me advertido.

—Bem-vindo ao clube. - Disse Mikhail, mas sacudiu a cabeça. - Requer grande quantidade de disciplina aprender a satisfazer suas necessidades ao mesmo tempo que cuidar de seu amparo.

- Suas necessidades? – Zombrou, Natalya. - Você não pode ficar duas horas sem sexo.

- Não aceito nenhuma responsabilidade por isso. É um vício.

       A suave risada de Natalya percorreu a mente de Vikirnoff brincando com seus sentidos.

—Só vim para me assegurar de que têm tudo o que precisam para esta noite. - Mikhail falou. - Tenho paradas mais a fazer antes de ir para casa e Raven está esperando.

—Estamos bem. Natalya está fazendo uma coisa estranha. — ele olhou nervosamente para a cozinha. - Infelizmente procura uma chama de algum tipo e sabe o que é criatividade. Podemos ter um incêndio aqui a qualquer momento.

—Ouvi o que disse —Gritou, Natalya. - Para sua informação, está funcionando. Bem, incendiei a cortina e há uma marca chamuscada ou duas na parede.

—Ele não está brincando, certo? —Disse Mikhail quando o cheiro de fumaça chegou até eles.

       Vikirnoff soltou um suspiro.

—Por desgraça, não.

—Deixarei-os então. Queria que Natalya soubesse que Gregori será Santa Claus esta noite. Ela estava preocupada em saber quem seroa e o havia apresentado como voluntário.

—Ela o quê? —Vikirnoff fez uma careta para a cozinha.

—E disse que se precisássemos de um elfo para o desfile você ficaria perfeito vestido em malhas. —Os traços de Mikhail eram completamente inexpressivos.

—Ela disse o quê? —Vou surrar seu pequeno traseiro nu.

- Promessas, promessas.

—Não estou seguro de que tenhamos necessidade de um elfo, mas vou comprovar com Sara e Corrine. São ela que prepararam juntas o desfile. Eu as farei saber que você se ofereceu.

       Vikirnoff esfregou a ponte do nariz.

Mikhail, sou plenamente consciente de que você é o príncipe e deve ser protegido sempre, mas se entregasse essa mensagem em particular a essas mulheres, me veria obrigado a cortar tua cabeça e isso seria algo desagradável.

       Mikhail assentiu, ainda sem expressão.

—Acredito que é uma reação justa e uma que eu mesmo poderia ter.

—Por outro lado, realmente deveria ordenar a Gregori que seja o Santa Claus e eu pediria um assento na primeira fila.

       Mikhail estendeu a mão.

—Feito.

- Vikirnoff. Preciso de você e de Natalya. - A voz preocupada de Nicolae encheu sua mente enquanto Vikirnoff estreitava a mão do príncipe.

       Ele esperou que Mikhail se dissolvesse em vapor e vagasse por entre as escassas árvores para a casa de Corrine e Dayan antes de responder a seu irmão. - Estamos a caminho.

Natalya, Nicolae nos chama imediatamente.

—Só estava dando os toques finais nesta coisa. Cheira de forma curiosa.

—É provável que seja o líquido do acendedor ou a laca para o cabelo. Imagino que saiba como cheira.

- Não deixe minha companheira notar que algo está errado. - Advertiu Nicolae. - Se Destiny achar por um momento que alguém ou algo tentou fazer mal a MaryAnn, ficará uma fera comigo. Não confia ainda em muita gente e MaryAnn para ela é parte da família.

       Vikirnoff se voltou e sua conduta preguiçosa e casual havia desaparecido. – Conte-me o que acha que aconteceu. – Ele compartilhou a informação com Natalya.

- Tenho um vínculo de sangue com MaryAnn e posso sentir se algo não está bem. Acredito que um vampiro entrou em minha casa e tomou seu sangue, mas não posso senti-lo. Talvez a marca de nascimento de Natalya ruja para nós e me deixe saber com segurança. MaryAnn não lembra de nada, mas parece perturbada e inquieta, definitivamente diferente. E sinto intranqüilidade em minha casa.

       Vikinoff estendeu o braço procurando a mão de Natalya enquanto ela se apressava a se unir a ele. Ambos se dissolveram, brilhando até se converter em gotas de vapor e flutuando portas afora, para a casa de Nicolae.

- É obvio.

- Algo lhe aconteceu aqui mesmo, em nossa casa. Se um vampiro penetrou nossas defesas, tenho que saber. - Houve um momento de dúvida. - E se um Cárpato a utilizou para se alimentar quando estava sob meu amparo e o de Gregori é uma ofensa mortal. Esta é uma situação muito perigosa.

       Vikirnoff não podia imaginar que Nicolae pudesse se equivocar. Se ele dizia que algo era assim, então não havia dúvida de que era. Que Cárpato se atreveria a se arriscar à fúria de dois guerreiros antigos e a do "Escuro"?

       Todo mundo sabia que Gregori era um executor. E não se arriscava com um homem assim. O atacante tinha que ser um vampiro, mas como um vampiro esteve junto a um antigo em sua própria casa?

       Vikirnoff e Natalya voltaram para suas formas normais fora da casa de Nicolae. Rodearam a casa por fora, procurando rastros, algum sinal de que havia um inimigo perto. Natalya colocou a mão sobre a marca de nascimento e sacudiu a cabeça.

—O dragão está em silêncio, Vikirnoff. Não há um vampiro nas cercanias, nem nenhuma evidência de que alguém esteve recentemente nas imediações.

—Mas algo está errado.

—Concordo, mas não posso averiguar exatamente o que.

      Ela inalou profundamente, seus olhos passaram do verde brilhante ao azul marinho e finalmente se tornaram opacos. Listas cruzaram seu cabelo, laranja, negro e branco. Ela deixou-se cair, a pelagem surgiu e a majestosa tigresa passeou ao redor da casa, usando seus sentidos felinos para tentar encontrar um inimigo.

       Vikirnoff seguiu ao tigre de volta aos bosques. Este passeou pacientemente através de arbustos e da neve, seguindo um aroma elusivo que não podia captar. Natalya recuperou sua forma natural a poucas jardas da casa.

—Alguém os observava daqui. – Ela assinalou uma árvore. - Não posso captar seu aroma. É muito ardiloso. Observou-os arrastar a árvore para casa e deve ter entrado nesse momento. Estavam distraídos com árvore de Natal e não prestaram atenção a algo como um vento ou um pequeno redemoinho de neve. Deve ter caído neve da árvore.

—Este é preparado. Um antigo muito hábil. Por que decidiria ir a MaryAnn quando está protegida?

—Pelo risco? Um desafio, possivelmente. Se esquivar de antigos que protegem MaryAnn? — Ela supôs.

—E a pena? Se o pegassem poderia ser a morte. Destiny o mataria. É extremamente protetora com MaryAnn. E não acredito que Nicolae permitisse semelhante insulto a sua casa. E se eles não o matassem, eu o faria. MaryAnn nos salvou. A mim e a Destiny. Devolveu a Destiny sua vida e com isso Nicolae. Não permitirei que seja usada.

—Tome cuidado com o que diz. – Lembrou-lhe, Natalya. - Destiny é muito suscetível quando se trata de Mary Ann.

       Ambos levaram a cabo um rápido exame do lugar.

—O que acha? Sinto muito, mas com todas minhas habilidades não posso encontrar o inimigo.

       MaryAnn os saudou na porta.

Vikirnoff, Natalya. Me alegro em vê-los. Estamos montando a árvore de Natal. Skyler está aqui, de visita. —Ela assinalou a jovem adolescente, que tinha os olhos fixos em Natalya.

       Vikirnoff tomou a mão de MaryAnn e fez uma reverência deixando que seus lábios lhe roçassem a pele. Inalou profundamente e a deixou cair.

—Você está maravilhosa.

       Natalya se aproximou e a abraçou, beijando-a.

—Está radiante.

- Está radiante. Sempre foi bonita mas agora há um atrativo perigoso nela. E um homem esteve perto dela. Muito perto. Seu aroma é elusivo mas minha tigresa pode captá-lo. Não serei capaz de rastreá-lo mas não é um vampiro. É Cárpato.

       MaryAnn sorriu.

—Claro. Os dois são muito amáveis comigo. Estávamos a ponto de levar Skyler para casa. Vocês gostariam de vir conosco?

       Natalya atravessou a sala, para a adolescente. A garota retrocedeu evitando o contato físico. Natalya lhe sorriu.

—Me alegro de te conhecer finalmente. Deve ter dons psíquicos difíceis. Pode ler às pessoas quando as toca?

Skyler assentiu.

—Eu não gosto.

—Tampouco eu. — Ela olhou sobre seu ombro e Vikirnoff atento, pegou ao MaryAnn pelo cotovelo e entrou com ela na cozinha, deixando Natalya com a jovem. - Parece um pouco nervosa. Também é sensível? Eu com freqüência tenho este medo que me toma quando há algum perigo perto .

       Skyler assentiu.

—Também odeio isso. Nunca seu se estou louca ou realmente há algo aí fora espreitando. —Olhou intranquilamente pela janela.

       Natalya assentiu.

—Já te digo. A gente acredita que é estranha, especialmente se não puderem ver ou encontrar nada ruim. E se não conta e aconteçe algo errado, sente-se como uma idiota por não ter contado.

—Também é assim com você? - Perguntou Skyler. - É difícil estar aqui porque há muita energia sendo utilizada todo o tempo e às vezes não posso ver a diferença.

—Sentiu algo antes, quando estava com Nicolae e Destiny conseguindo a árvore? —Ela evitou deliberadamente utilizar o nome de MaryAnn.

       Skyler assentiu lentamente.

—Não queria parecer estúpida. E nenhum deles disse nada. São Cárpatos. Antigos como Gabriel. Não teriam sabido se houvesse algo nos espreitando?

       Natalya permaneceu em silêncio um longo momento permitindo que a adolescente se retorcesse.

—Essa não é a autêntica razão. Por que não contou?

       Skyler piscou, com jeito de quem ia começar a chorar. Depois afastou-se, com as mãos nos bolsos.

—Acreditei que poderia ser Dimitri. – Ela admitiu em voz baixa. – E não queria lhe colocar em nenhum outro problema por minha culpa.

       Natalya suavizou a voz, tendo conhecimento dos problemas recentes através do vínculo comum Cárpato.

—Sei o que se sente desejando proteger alguém e sentindo que é a única causa de todos seus problemas. —Suspirou. - Ainda não sei como consegui me unir a Vikirnoff. Eu não sou absolutamente o que ele desejava. – Ela esperou até que Skyler voltou a fitá-la. - Parecia ele?

—Só parecia como se alguém estivesse nos observando. —Skyler franziu o cenho.

—Sente-o agora? Neste momento?

—Isso é o mais estranho. Dentro e fora. Como se estivesse aqui, mas depois desaparecesse. Poderia alguém fazer isso? Poderia estar me observando inclusive aqui na casa? —Ela estremeceu. - Quero ir para casa.

—Cuidaremos de você, céu. Vikirnoff, Nicolae, Destiny e eu somos todos muito capazes quando se trata de ataques de vampiros. Ninguém deixará que te aconteça nada.

—E se for Dimitri? —Sussurrou Skyler. - Ele tenta bloquear, mas posso sentir sua dor. Eu a causo. Dói-lhe muito mas eu não posso evitar. Não posso ser o que ele necessita que eu seja.

—É um homem dos Cárpatos, Skyler. Fará o que for necessário para que seja feliz.

—Não quero ser responsável por ele.

—Eu sei. —E que Deus a ajudasse, sabia. Natalya havia lutado com Vikirnoff a cada passo do caminho, não confiando em quem ou o que era ele. - Não tem que pensar nisso ainda. É uma menina. Dê-se uma pausa. Ouvi dezer que Francesca, pode te ajudar a superar isto e o tempo tem sua forma de arrumar as coisas.

       Os homens entraram, pegando as caçadoras.

—Está preparada, Skyler?

       A garota assentiu, lançando um olhar nervoso para casa. Destiny e MaryAnn saíram com Skyler entre elas e depois Nicolae as seguiu com Natalya, mas Vikirnoff fechou a porta de repente e ficou dentro da casa, com os sentidos flamejando num esforço de encontrar ao intruso. Como seu irmão, sentia algo, mas não podia encontrar o que era. O que permanecia na casa era um antigo muito poderoso e hábil.

       Ele virou-se bruscamente saindo e fechando a porta o bastante forte para fazer tremer as janelas. - Nicolae. Duvido que seja um vampiro. Tem que ser um homem que usou seu sangue. Há algum outro sinal de qualquer tipo de ataque sobre ela?

       A idéia de que um homem dos Cárpatos usasse uma mulher protegida, uma companheira potencial e que ela não fosse consciente disso, o desagradava.

       Nicolae suspirou. Muitos de nossos homens sem companheira estão na vizinhança. Não há forma de dizer quem é. Não pude conseguir seu aroma.

Acho que estamos lidando com um antigo muito hábil.

       Vikirnoff se aproximou mais de Natalya, escaneando. Não gostava da forma em que as nuvens no alto começavam a se obscurecer. O vento os açoitou, levantando a neve enquanto se moviam num apertado grupo para a casa onde se hospedava Gabriel. Skyler seguia lançando olhares ansiosos para o fundo do bosque.

—Alguma vez voou com Gabriel? —Perguntou-lhe, Nicolae.

—Ou deslocado com os lobos? —Acrescentou, Vikirnoff.

—Ou com uma tigresa? —Ofereceu, Natalya.

       O olhar de Skyler era enoeme em seu rosto.

—Eu adoro os animais. Especialmente os lobos. Mas sempre desejei estar perto de um tigre. É perigoso?

Ey, ey ey! —MaryAnn elevou a mão. - Sei que não farão nenhuma loucura aqui diante de mim. Voltarei para a casa. Meu coração não pode suportar tanto.

—Você não gostaria de voar, MaryAnn? —Persuadiu, Destiny. - Ou de ter como mascote um lobo ou um tigre? Somente uma vez, o que me diz?

       MaryAnn olhou para o rosto esperançado de Skyler. Suspirou.

—Está bem, se assim estiverem as coisas. Na verdade não sou nada aventureira. Sou uma autêntica garota de cidade, já sabiam disso. Boutiques, amigas fazendo compras, nada de domesticar lobos. Mas se realmente quer fazer isto menina, eu subirei numa dessas árvores e te observarei.

       Nicolae passou um braço ao redor de Skyler e outro em MaryAnn.

—Nós pensamos em que montasse no lombo de um dos lobos.

       O relâmpago atravessou o céu, tornando as nuvens escuras de um feroz laranja. Um látego se separou e golpeou o chão, sacudindo a terra e abrasando uma larga nervura na neve. O trovão ressonou diretamente no alto. Em meio ao ensurdecedor rugido, uma fera grunhiu uma advertência clara, fazendo comque o pêlo de suas nucas se arrepiassem.

       Skyler se afastou de Nicolae com aspecto ansioso.

—Isso era Dimitri? Não gosta que ninguém me toque.

       Vikirnoff e Nicolae trocaram um longo olhar.

—Não sei, céu. Mais tarde falaremos com ele sobre isso. Não posso vê-lo zangado porque um de nós se mostrou afetuoso. Temos companheiras.

—Ele sabe que me incomoda que me toquem. - Admitiu ela.

—Bom, se era ele, então estava em seu direito de protegê-la. Gostará de vê-la a salvo e feliz e se te incomoda um de nós te fazer se sentir incômoda, então é obvio que enviaria uma reprimenda.

       MaryAnn se aproximou mais de Destiny e uma mão subiu ao ponto sobre seus seios, que pulsava e ardia. Ela pressionou a mão com força, contendo a dor. Odiava ter medo e aqui, nestas montanhas, parecia ter perdido sua costumeira confiança. Numa cidade ela andaria pelas piores regiãos e se sentiria completamente controlada, mas aqui neste mundo, nada era o que parecia. E não queria ter nada a ver com animais selvagens e homens que podiam repreender os outros com violentas tormentas.

—Vamos levar Skyler a sua casa e voltemos. - Disse.

 

       A música enchia a pequena casa de Dayan, dos Trovadores Escuros, ocupada por sua família. Dois violões tocavam suaves enquanto a voz de Dayan se elevava numa canção de ninar. Bruscamente, Corinne deixou seu violão, inclinando-se sobre o corrimão do berço e sacudindo a cabeça.

—Ela não vai se dormir, Dayan. Sequer com esta bonita canção que fez para ela. Sabe que esta noite é Natal e quer participar.

       Dayan colocou seu violão a um lado e tentou parecer severo enquanto ficava de pé junto a sua companheira e sobre sua pequena filha. Era diminuta, mas lhes devolvia o olhar com muita inteligência e muito se temia que ela controlasse suas vidas. Era um milagre para os dois que tinham lutado duro por ela e ainda o faziam. Seu pequeno corpo era frágil, embora sua vontade fosse forte.

Jovenzinha. Acreditei que você ia tirar uma soneca. – Ele falou.

       Uma pequena mão ondeou para sua face. Seu coração bateu forte no peito, como acontecia sempre que olhava sua menina. Ela não parecia sonolenta e fazia gorjeios, animando-os com seus olhos totalmente abertos, para que ele a pegasse.

—Ela se parece com você. - Murmurou ele. - Nessa pequena veia teimosa. Muito boa para as palavras e desejando fazer as coisas a seu próprio modo. Mesmo quando não é bom para ela.

       Corinne lhe deu um leve empurrão, mas era muito tarde. O sorriso aparecera e o bebê o notou. Devolveu o sorriso aao Dayan e este se sentiu perdido. Estendeu os braços e a pegou, abraçando-a.

—Pequena Senhorita Jen. A senhora é desobediente. - Disse Corinne. - Estava a ponto de ir correr, antes que comece toda a loucura. Agora o que vou fazer contigo?

—Gosta de ir. Podemos colocá-la no canguru.

—Faz muito frio.

       Dayan se inclinou para acariciar sua filha a fim de regular sua temperatura corporal e esquentá-la.

—Levaremos ela para a estalagem depois. Ela quer ir, Corinne. Adora correr contigo.

       Corinne adorava correr. Sofrera do coração durante toda sua vida, o que evitara que fizesse qualquer atividade física e agora que era Cárpato, não podia correr o suficiente. Correr a fazia sentir livre e completa, feliz. Em casa, nos Estados Unidos, Jennifer em seu conhezinho, corria com ela, para que pudesse sentir a mesma felicidade, mas aqui nas montanhas da Romenia, o terreno era muito acidentado e ela temia as sacudidelas se utilizasse o canguru.

—Preciso correr e eu adoro levá-la comigo mas tenho que separar a mente e depois cozinhar e ajudar Sara com as crianças a fazer disfarces e ensaios. Definitivamente preciso de exercício. - Explicou Corinne.

—Pequena. – Dayan disse, abraçando-a a ele. Beijou-a, numa lenta e conscienciosa amostra de seu amor. - Não tem que me dar explicações. Se quer ir correr então iremos. Eu não gosto que vá sozinha e não nos importa ir com você. Não é Jen?

       O bebê sorriu para os dois, feliz.

—Eu não estaria sozinha. - Corinne tentou uma desculpa para evitar que a menina saísse no frio. - Escaneei e há vários Cárpatos por perto e eu ficaria perto deles. Vós podem ficar aqui, quentinhos.

—Iremos com você. – Ele disse, decidido. – Só nos levará alguns minutos trocar o bebê de roupa.

—Correr pela neve requer mais habilidade que o normal e também concentração para não escorregar. Praticarei minhas habilidades Cárpato.

—Mas você levará o canguru e terá que evitar que o bebê se mova muito.

—Está seguro de que quer fazê-lo?

—Sim. – Ele não ia deixá-la sair sozinha e queria as mãos livres para defendê-las.

       Corinne ajustou o canguru e esperou até que Dayan colocasse o bebê nele, assegurando-a e envolvendo-a numa diminuta manta com capuz.

—Com todos os Cárpatos que há na região, não acha que seria um suicido para um vampiro atacar um de nós? Olhe o que aconteceu ao que atacou Juliette Da Cruz. Acredito que deve ter desejado morrer. Os irmãos Da Cruz são francamente horripilantes.

—A família Da Cruz foi sempre muito poderosa, segundo Darius. Diz que são antigos, um pouco reservados e têm incríveis habilidades. Ele tem um grande respeito por seus poderes e vindo Darius, isso diz muito.

—E por que um vampiro escolheria como objetivo uma mulher Da Cruz? Eu digoque nada disto tem sentido. A maioria das mulheres que estão aqui são provavelmente descendentes da linhagem jaguar. Juliette definitivamente tem laços de sangue com essa linhagem, mais fortes que a maioria, mas ainda assim, o vampiro a atraiu, certo? Não foi específico com seus medos?

—Realmente não sei. Falou-se alguma coisa sobre isso, mas ninguém sabe realmente o que aconteceu. Mas esse foi o segundo ataque, Corinne. Lhe lembrou, Dayan. - Os vampiros menores são usados por outros bem mais poderosos. Não estou disposto a me arriscar. Acredito que temos um dando voltas por aí esperando uma oportunidade e não será com minha família.

—Ainda digo que seria completamente estúpido ficar por aqui com tantos caçadores Cárpatos reunidos no mesmo lugar. Por que o fariam?

       Dayan se encolheu de ombros.

—É uma velha tática de guerra. Acossar as linhas continuamente, finalmente as debilita. E agora estão definitivamente atacando nossas mulheres. — Ele olhou para o bebê. - E a nossos pequeninos.

- Então talvez não devêssemos ir. Posso ficar sem correr esta noite. Só me sentia enjaulada por estar tanto tempo com todos essas crianças. Não sei como Sara faz. Uma é suficiente para mim.

- A nossa vale por um punhado. - Dayan se inclinou para roçar um beijo na cabeça do bebê.

—Tomaremos precauções, Corinne. Não mudaremos nossas vidas. Quer ir correr, então iremos. E como você diz, é bom para você e quanto mais pratica os métodos Cárpatos, melhor é neles. Estaremos a salvo com outros também na região. Avançaremos para eles.

Falcon foi levar a maior parte da comida para a estalagem. - Disse Corinne enquanto abria a porta. - Ele e Sara estavam nos últimos ensaios com as crianças e elas estão muito excitadas. Eles adoram Falcon.

—Notei que Jen lhe responde igual. - Disse Dayan, voltando-se para acrescentar salvaguardas ao redor da casa. Não queria nenhuma surpresa quando voltassem. Corinne havia abraçado a vida Cárpato, sua forma de vida e nunca tinha voltado atrás. Parecia não haver arrependimentos, mas era importante para ele que nunca os houvesse. Estivera tão perto de perdê-la. De perder as duas, mãe e filha e queria que sua vida fosse a mais singela e feliz possível. Queria lhe dar tudo o que pudesse.

       Corinne colocou a mão sobre seu braço e lhe sorriu, com o coração nos olhos.

Falcon é amável como você e as crianças respondem a isso. Você é um poeta, Dayan.

       Ele gemeu, escondendo o fato de que estava secretamente feliz de que ela o visse assim.

—Não deixe que Darius a ouça dizer isso. Nunca me deixaria em paz.

       Ela sorriu enquanto começava uma marcha lenta, avançando sobre a neve, tentando conseguir a sensação de onde colocar o pé, para ficar na superfície.

—Todos têm muito medo de Darius. Alguma vez o observaste com Tempest? Está totalmente enfeitiçado. Não pode ser tão aterrador.

—Você diz isso de Gregori. - Assinalou Dayan, mantendo o passo.

—Ele foi maravilhoso comigo e com o bebê. Esse homem é um ursinho de pelúcia.

       Dayan sorriu.

—Já ouvi chamarem ele de várias coisas, mas ursinho de pelúcia não é uma delas.

       Ela lhe lançou um sorriso amoroso. Dayan sentiu seu coração derreter. Ela fazia isso tão facilmente. Um olhar. Um toque. E seu mundo voltava a ficar bem. Tantos anos sobre o palco e com tantas mulheres lançando-se sobre ele, sem realmente vê-lo, sem se preocupar de quem era. E depois Corinne lhe dera a vida.

—Você me deu isso. – Ela disse ela amorosamente, mostrando que estava tornando-se adepta a ser uma sombra em sua mente. - Você me deu a vida. - Por um momento ela estendeu o braço para lhe segurar a mão, conectando-os. Bebê, mãe e pai.

       O coração do Dayan inchou. Adorava ter uma família. Sempre adoraria.

       Corinne lançou um sorriso travesso para ele.

Mantenha o passo, músico. – Ela escapou, correndo como uma máquina, suave e fluídica sobre a neve. Seu corpo movia com facilidade, com o coração e os pulmões perfeitamente sincronizados. Dayan correu atrás dela porque o encantava vê-la correr. Era algo que ela desejava mais que tudo, algo que haviam lhe negado toda a vida. Outros procuravam nisso gratificação, mas Corinne desfrutava de cada passo que dava. Sempre podia sentir sua alegria e sabia que o bebê a sentia também. Jennifer adorava correr com sua mãe e Dayan sabia que eram com as onda de felicidade que saíam de Corinne, que os dois, ele e sua filha queriam se deleitar.

       Corinne era insensível ao frio, mas não a brilhante beleza a sua volta. As árvores estavam transformadas, os galhos estavam carregados de cristais brancos, fazendo com que cintilassem com milhões de pontas. Ela se sentia como se estivesse correndo num mundo de conto de fadas, com seu príncipe. Sua filha se aconchegava contra seu peito, balançando-se gentilmente, como fosse um berço, aumentando o efeito surrealista.

       Corinne estendeu os braços. - Eu adoro a vida! —Gritou ao céu e a felicidade estalara através dela até que não pôde contê-la.

       Dayan sorriu, enquanto escaneava a região que estavam, em busca de inimigos. Estavam perto de Nicolae e Destiny e o pequeno grupo de pessoas que estavam com eles. Podia ver que o casal e seus amigos caminhavam na direção da casa de Francesca e Gabriel, então a jovenzinha devia ser Skyler. Estava começando a conhecer os aromas individuais e isso ajudava a aliviar sua mente. Estava acostumado a viver numa família bem menor, a dos Trovadores Escuros. E esta tinha crescido recentemente quando cada um deles havia encontrado seu companheiro. Ele era o único dos Trovadores com um filho, mas esperava que isso mudasse logo e Jennifer crescesse com outras crianças a seu redor.

       Corinne ouvia o firme batimento de seu coração. Sempre a assombrava ouvir esse rítmo, sentir a força de seus braços e pernas e ser capaz de respirar facilmente, mesmo quando estava correndo. Deu um passo, expeliu ar e seu coração saltou. Perdera um batimento. Ouviu-o claramente e sentiu a invasiva debilidade deslizar por seu corpo. O ar abandonou seus pulmões numa rajada e ela vacilou, tropeçou. Seu coração perdeu outro batimento e ela deixou de correr, envolvendo os braços ao redor do bebê, abraçando-a. Sua mente correndo, o terror a aferrava.

       Era possível que seu coração fora tão prejudicado que sequer a conversão a Cárpato não pudesse mantê-lo em funcionamento? Ouvia-o claramente, o salto, dois pulsados, outro salto. Rápido. Lento. Virou-se para Dayan com os olhos totalmente abertos com surpresa.

—O que está acontecendo? —Ele deu um passo afastando-se dela, virando-se em um círculo, procurando algum inimigo.

—Pode ouvi-lo? —Sua voz tremia.

       Dayan escutou a noite, diferenciando os sons amortecidos pela neve. Podia ouvir vozes na distância, sabia que Nicolae e seu irmão estavam perto. – Alguma coisa está errada. - Enviou-lhes a mensagem pelo vínculo telepático comum.

       Houve um momento de silêncio. – Estamos chegando pelo sul. - Respondeu Nicolae. - Temos MaryAnn e Skyler para proteger.

- Nós estamos com o bebê.

       Dayan se sentia nervoso, preocupado, mas não podia encontrar o ponto em branco que poderia assinalar a um vampiro. Não estavam sozinhos, algo ou alguém estava observando, mas não podia precisar uma localização. Não parecia que a ameaça fosse um vampiro. Amaldiçoou baixinho, sobressaltando Corinne.

—Pode ouvi-lo?

       Não queria ouvi-lo. O bebê tinha um batimento de coração regular, mais rápido que o de um adulto, mas o ritmo cardíaco de Corinne era irregular. Mesmo quando colocou sua mão sobre o coração dela e tentou regulá-lo, ele estava totalmente desconjurado. Obrigou-se a se acalmar quando estava cheio de pânico. Não a perderia. Por nada e nem por ninguém.

—Acha que meu coração está falhando?

—Quero esperar que outros cheguem a nós antes de comprová-lo. Se entrar em seu corpo e formos atacados, o vampiro teria vantagem.

—Acha que seremos atacados? —Corinne apertou seu abraço sobre o bebê, envolvendo-a protetoramente. Olhou cuidadosamente ao redor, sobre as árvores e pelo solo coberto de neve. - Por que não posso sentir um vampiro se houver um perto? E como faria um vampiro para afetar meu coração? Deve estar falhando. Talvez a reparação pôde durar só alguns meses, Dayan.

       Ele manteve a mão sobre o coração do Corinne para manter seu coração pulsando no mesmo ritmo do dele.

—Isso não é certo, Corinne. Não sei o que está acontecendo, mas quando a conversão se completou, Gregori nos assegurou que seu coração estava inteiro e sadio.

       Nicolae e Destiny chegaram correndo entre as árvores. MaryAnn e Skyler estavam entre eles. Destiny estava à direita da jovem, a vários passos deles, seus olhos inquietos procuravam na terra enquanto Nicolae investigava a região. Sobre eles voavam duas corujas, rodeando os guerreiros, abrindo passo através da canopia para tentar divisar um inimigo, de acima.

       Nicolae alcançou Corinne e Dayan, seu olhar notou à forma protetora em que Dayan colocara a mão sobre o coração dela. No silêncio amortecido da neve, podiam ouvir o batimento do coração irregular, muito alto.

Vikirnoff e Natalya procuram de acima. O que aconteceu?

—Não sei. - Disse Dayan. - Sinto algo aqui Nicolae, mas não posso encontrá-lo. E seja o que for, o coração de Corinne está respondendo a isso.

       Vikirnoff e Natalya baixaram a terra voando em espiral, tomando suas formas naturais, Natalya estava vestida de couro e com armas por toda parte. Os guerreiros se desdobraram, mantendo MaryAnn, Skyler e Corinne com o bebê no centro. O coração de Corinne vacilou e suas pernas dobraram.

       MaryAnn a pegou antes que ela pudesse cair ao chão. Ajudou-a a se sentar e se ajoelhou a seu lado, protegendo com seu corpo o bebê, de algo que pudesse estar perto e tivesse intenção de fazer mal.

—Precisamos de Gregori. – Ela disse. - Que alguém o chame.

       Skyler elevou o rosto para o céu e deu voltas, com um olhar alarmado. MaryAnn estendeu um braço para contê-la quando ela começou a se mover saindo do círculo, mas Skyler evitou o contato e saiu para se colocar de frente para a estalagem.

—Está aqui novamente. Sinto muito. Uma corrente firme de energia. —Ela estremeceu e colocou os braços ao redor de seu estômago. O desagrado revoou em sua face e ela cruzou uma mão sobre a outra e a esfregou como se doesse.

       Vikirnoff franziu o cenho, observando-a, enquanto outros tentavam identificar o que a jovem estava sentindo.

—Deixe-me ver. Ele se estendeu para sua mão.

       Skyler gritou e retrocedeu, com puro terror na face. Colocou o braço para trás, virou-se e correu. Natalya assinalou aos homens que se afastassem e foi atrás da garota, movendo-se com assombrosa velocidade, pegando-a antes que Skyler pudesse se afastar do amparo dos guerreiros.

—O está que acontecendo? O que acha que Vikirnoff ia fazer? —Perguntou amavelmente.

       Skyler ficou quieta em seus braços, com o coração troando e a boca seca. Sacudiu a cabeça.

—Não sei. Não sei o que qconteceu.

       Natalya tocou sua mente ligeiramente, uma prova suave e encontrou vazio, um muro impenetrável de lembranças ocultas.

—Pode sentir? —Perguntou Skyler, seus olhos suplicavam a Natalya. - Não estou louca. Posso senti-lo perturbando o ar. É muito sutil.

       Natalya inalou profundamente, abrindo sua mente, utilizando mais que seus sentidos Cárpatos. Escavou, estendendo-se em busca de sua linhagem, a parte dela que era maga. O felino rugiu, despiu os dentes e se aproximou da superfície.

—Oh, sim carinho. Sinto muito. —Tranqüilizou-a Natalya. Vaiou deixando escapar um longo e lento som de desagrado, virando num amplo círculo, sentindo o ar. - Definitivamente o sinto.

—É o vampiro? - Perguntou Vikirnoff.

       Natalya sacudiu a cabeça, seu rosto empalideceu. Virou-se para olhar para Vikirnoff, com desespero. Retrocedeu afastando-se dos Cárpatos como se de repente não pudesse suportar estar em sua presença.

- Diga-me já! - Era uma ordem clara de seu companheiro.

       Natalya despiu os dentes, grunhindo e afastando-se. Vikirnoff olhava dela para adolescente, que estava uma vez mais esfregando-a mão como se lhe doesse.

       Vikirnoff se aproximou de Natalya com longos e decididos passos, colocando a mão com força sobre seu ombro. Fez ela se voltar, levantando a outra defensivamente para evitar o arranhão das garras.

—Diga-me.

       Natalya o olhou com absoluto desespero.

—Mago. - Sussurrou a palavra. - Acredito que Razvan está vivo. Este é o feitiço de um mago, por isso os Cárpatos o acham difícil de detectar. Um mago levando a cabo um feitiço de destruição. É sutil, mas posso sentir. Quem está esgrimindo a magia é muito hábil.

       Vikirnoff sentiu a dor e a devastação nela. Razvan era não só seu único irmão, mas também seu gêmeo. Fora ela que lançasse a espada que havia terminado com sua vida. Não recuperaram seu corpo e ninguém sabia com segurança se ele estava morto. Razvan era um terrível inimigo. Parte Cárpato, parte mago e agora vampiro também. Era capaz de fazer o que nenhum outro tinha feito. Formara uma aliança com os vampiros e tivera filhos quando se acreditava que era impossível.

       Vikirnoff levou sua mão à nuca da Natalya, unindo-os. - Não sabemos se é Razvan. Poderia ser Xavier, nosso mortal inimigo ou qualquer de seus seguidores. E se for Razvan, como Skyler o sentiria? Como detectaria o feitiço de um mago? Antes nos bosques reconheceu o fluxo de poder. Só então Alexandria foi capaz de sentir. Mikhail avisou a todos.

       Natalya respirou fundo e se virou para a adolescente. Ajoelhou-se diante dela, segurando suas mãos.

—Sei que é duro tocar os outros e lembrar seu passado Skyler, mas às vezes é necessário.

       Skyler sacudiu a cabeça e tentou retroceder.

—Não posso. Não quero.

- Pergunte por sua mão. Por que lhe dói quando sente a onda de magia escura.

       Natalya segurou Skyler firmemente, evitando que ela se movesse.

—Só me responda uma pergunta. Por que sua mão dói?

—A mão? —Skyler parecia confusa.

—Sim. Você a esfrega cada vez que diz sentir o poder no ar. Ela dói?

       Skyler franziu o cenho.

—Arde e pulsa como se... —Ela se interrompeu e embalou a mão contra o corpo, olhando nervosamente para Vikirnoff.

—Como se alguém a tivesse usado para se alimentar? —Insistiu Natalya.

       Skyler sacudiu a cabeça.

—Quero ir a casa. Agora. — Gabriel! Lucian! – Ela lutou contra o aperto de Natalya enquanto lágrimas lhe formavam nos olhos.

—Está bem, carinho. Vamos te levar para casa, mas errado está acontecendo com coração do Corinne. Não vai querer que ela morra, certo? —Insistiu Natalya. - Não se pudermos ajudá-la.

       Dayan amaldiçoou em voz alta.

—Chamei o curador. Corinne não pode manter sozinha seu coração. Eu o estou fazendo por ela. Que alguém pegue o bebê.

       Skyler afogou as lágrimas.

—Não sei como ajudá-la.

—Tem alguma marca de nascimento?

       Skyler conteve o fôlego bruscamente e sacudiu novamente a cabeça.

—Alguma marca? Como uma tatuagem? De um dragão possivelmente?

       Skyler explodiu em lágrimas, com vergonha.

—Como sabe? Ninguém sabe. Nunca contei a ninguém, sequer a Francesca. Empalidece a maior parte do tempo. Meu pai disse que havia me marcado porque eu era de sua propriedade, que me alugaria e assim todo mundo saberia que tinha que me devolver- Sua voz era tão baixa que era apenas audível.

       Natalya se sentou sobre os tornozelos, o tigre estava lutando pela supremacia enquanto sua fúria crescia. Seu cabelo se encheu de cores e seus olhos começaram a mudar também.

—Esse homem não era seu pai biológico Skyler e ele não te marcou. Asqueroso bastardo.

—Era sim. Sempre estava comigo. —Skyler quase gritou e desta vez, sacudindo-a mão para Natalya. – Ele era meu pai.

       Gabriel e Lucian se materializaram dos lados da garota e ela se lançou nos braços do Gabriel. Ele a abraçou e a manteve perto.

—Alguém quer me explicar o que está acontecendo?

       Vikirnoff o fez.- O que poderia tê-la traumatizado mais que a brutalidade de seu pai, que ela não se atreve a lembrar, Gabriel?

- Acha que Razvan é seu pai?

- Sabemos que estava vivo e que é o pai de Colby Jansen. Sabemos que tinha outros filhos e que os queria por seu sangue. Se ela tiver a marca do dragão, é uma Caçadora de Dragões. Isso explicaria muitas coisas.

- Mas por que não sentimos, Vikirnoff? Francesca e eu estivemos com freqüência em sua mente, distanciando- a da brutalidade de sua infância.

—Gabriel. —Skyler levantou o olhar para ele. - Sei que estão falando de mim. O que acontece? O que falam de mim?

       Ele afastou o cabelo dela do rosto.

—Acreditam que você provém de uma linhagem muito especial entre nossa gente. Por isso tem um talento tão estranho.

       Natalya ficou em pé, olhando para onde Gregori se materializara, junto a Corinne. A jovem estava deitada na neve, com o rosto pálido e gotas de suor em sua testa, enquanto lutava por respirar.

—Seu coração parece estar normal. – Disse, Gregori. - Embora não funcione como estivesse. Posso respirar por ela, mas é impossível reverter o que não está errado.

       Natalya se afastou de outros.

—Peguem Skyler. Deve ser protegida todo o tempo. Digam a Rafael que proteja Colby. Lutarei com este mago e veremos quem é o mais forte. —Havia determinação em sua face e ela se distanciou deles.

       Ela elevou as mãos e esboçou um sinal no ar. Imediatamente todos puderam ver um arco de luz pulsando no céu cheio de neve. Era fraco mas estava lá, um risco brilhante com veias por toda parte, espalhando-se pelo céu como uma rede gigante.

       Skyler sacudiu a cabeça.

—Não a deixem fazer isso. Pare! — Ela saiu dos braços de Gabriel e correu para Natalya. - Ele é consciente de nós. Se souber quem é e onde está, te encontrará. Sempre pode te encontrar.

—Eu sou consciente dele. – Disse, Natalya. - E posso lhe encontrar também. Não é bom viver sua vida com medo, Skyler. Tem que recuperar sua vida. É o bastante forte e tem Gabriel e Francesca para te guiar. Vá com Gabriel e confie em mim.

       Skyler pensou e depois sacudiu a cabeça.

—Se você o fizer, então também posso.

       Natalya lhe sorriu.

—Sou a neta do mago escuro. Levo o sangue do Caçador de Dragões em minhas veias e estou bem versada na magia dos velhos tempos. Mesmo se for Xavier, meu avô, posso me igualar a ele. Não tema por mim. —Ela evitou o olhar de seu companheiro. Ambos sabiam que era seu irmão gêmeo, poderia duvidar no momento equivocado. Sentiu Vikirnoff movendo-se nela, preparando-se em seu interior, no acaso de necessidade.

—Faça-o. - Ordenou Gregori. - Dayan e eu não podemos manter este coração para sempre.

       Natalya se virou para o alto e examinou as veias de luz que se estendia pelo céu. Cada uma era mais fraco que a anterior, mas podia seguir os fios, todas conduziam a uma mesma fonte. Uma fonte primária.

—São tecidos diferentes. – Assinalou, Skyler.

—Gabriel, - gritou Natalya. Seja Xavier ou Razvan, poderia me colocar em problemas e também Skyler. Não permita isto.

—Tenho que fazer isso. - Suplicou Skyler. - Tive medo a cada minuto de minha existência. Nem sei o por que a maior parte do tempo, mas está ligado a isto. —Ela esfregou a mão onde esta ardia e pulsava. – Tento me lembrar por que tenho medo, mas me dói a cabeça e não posso.

       Natalya se voltou.

Vikirnoff! —Seu nome era um grito de auxílio. - Foi Razvan. Isso é o que Xavier nos fez, oculta nossas lembranças dele atrás de um muro de dor. Razvan tomou o sangue de Skyler. Alimentou-se de sua própria filha. E de algum modo sua mãe fugiu e conseguiu se afastar dele com a menina e acabou por terminar nas mãos de um homem brutal. Outro monstro do qual não pôde escapar.

       Vikirnoff lhe rodeou a cintura, atraindo suas costas contra ele no esforço de consolá-la, mas ela se afastou, furiosa com seu gêmeo. Tão furiosa que seu tigre saltou para a superfície, todo garras e dentes, enchendo seu cabelo de listas e tornando seus olhos azuis e depois opacos.

       Natalya não esperou que outros se guardassem. Não esperou que Gabriel desse sua permissão para que sua filha adotiva participasse. Olhou para o céu, teceu uma resposta e a enviou através das nervuras de luz, estalando cada veia, destruindo a rede inteira.

       Faíscas de luz iluminaram o céu e caíram do alto. Um relâmpago bordeou as nuvens e açoitou o chão. A terra tremeu sob seus pés. Em alguma parte, longe, ouviram um grito de agonia. Em seguida se fez silêncio, enquanto se registrava a sacudida.

—Para trás. - Ordenou Natalya a seu companheiro. Realmente o empurrou com um braço, tentando colocar distância entre eles. Correu para sua esquerda e se abaixou, quando um relâmpago golpeava onde antes ela estava. O som foi ensurdecedor. Choveram flechas de gelo, golpeando a terra com um ritmo terrível.

       Os homens se apressaram para ela, mas Vikirnoff fez gestos para que retrocedessem.

—Se ocupem das outras. Ela é maga e pode derrotar nosso inimigo. Só a

estorvaremos.

       Natalya continou correndo, atraindo o fogo longe dos outros, enquanto suas mãos teciam um padrão complicado no céu. Imediatamente as flechas derreteram e gotas de água caíram inofensivas. Ela arrastou nuvens do céu, soprando ar quente e dando voltas nas palmas das mãos, enquanto sussurrava à Mãe Natureza. De repente, dando uma palmada, enviou-as para o céu. No instante uma nuvem tormentosa irrompeu no ar, disparando-se acima rapidamente, ganhando velocidade até que se converteu num vertiginoso vórtice, virando-se rapidamente e engendrando ventos cruéis e destrutivos.

       Natalya continuou tecendo seu feitiço, extraindo o frio amargo da neve, do gelo das árvores, fazendo-os girar juntos numa lança bastante sólida de gelo. Enviou-a para cima, diretamente para centro da raivosa nuvem tormentosa.

       O gemido de Skyler foi audível quando Natalya enviou o tornado, apontando precisamente, usando o fluxo de energia de seu inimigo.

—Acertou-lhe. – Ela sussurrou. – Eu senti. Golpeou-o com força. A lança de gelo estava no tornado e ele não a viu nem a esperava. Golpeou-o no centro. Sua influência desapareceu. Corinne está bem?

—Não terminou. - Advertiu Natalya, já mudando de posição. - Não pense que acabou, Skyler. - Vikirnoff, proteja os outros, ele se vingará.

       Os homens teceram apressadamente um escudo quando o fogo desceu do céu em brasas incandescentes que rangeram e vaiaram quando golpearam as árvores e aterrissaram na neve.

       Natalya sabia que seu inimigo estava em movimento. Estava ferido e simplesmente estava tentando ganhar tempo. Elevou vôo e Vikirnoff estava com ela. As asas batiam com força para tentar lhe encontrar antes que ele se enroscasse de volta no buraco de onde saíra.

—Eu quero fazer isso. - Disse Skyler com temor reverencial. - Posso fazer isso, Gabriel? Sou capaz de fazer isso?

—Se você for o que Natalya suspeita, então há muitas possibilidades de que tenha uma habilidade natural.

—Ela não tem medo dele. Pude notar em seu rosto e pude sentir o medo dele. Ele tem medo dela.

—Sim. Ele tem. – Concordou, Gabriel. - E com muita razão. —Não assinalou que era tão forte e poderoso como Natalya, nem que era seu maior inimigo. Em vez disso, passou o braço ao redor de sua filha. - Acredito que você vai ficar comigo cada segundo até que irmos à estalagem, para nossa celebração.

—Acredito que ele se hospeda na estalagem. – Disse, Skyler.

       Gabriel trocou um longo olhar com Lucian.

—Já comprovamos, carinho, mas faremos novamente. Lucian irá. Agora que Natalya o enfrentou, talvez seja mais fácil de identificar.

       Lucian brilhou imediatamente até a transparência, convertendo-se em névoa e flutuando em direção à estalagem.

       Gregori ajudou Corinne a ficar em pé.

—Examinei-a e seu coração está perfeito. Não há nenhuma necessidade de temer que pudesse estar doente novamente.

—Era realmente uma ilusão? O mago alimentando o pior de meus medos? —Perguntou Corinne. - Como ele podia saber?

—Ele desapareceu e não deixou para trás nada que o identifique. —Vikirnoff e Natalya voltaram, de mãos dadas, aproximando-se de Corinne.

—Na verdade ele não conhece o pior de seus medos. - Explicou Natalya. - O feitiço funciona de forma diferente com cada pessoa que touca. Seja qual for seu medo particular é isso o que acontece. No seu caso, temia que algo acontecesse a seu coração, então aconteceu. No caso de Alexandria, ela reviveu o ataque sobre ela e pensou que o vampiro ainda estava vivo e espreitando-a. Cada pessoa vê o que mais teme, pode se tornar bastante real para matar.

—O que deveríamos fazer no futuro se acontecer algo parecido? —Perguntou Corinne.

—Feitiços mágicos, especialmente se souberem o que estão fazendo. A metade das salvaguardas utilizadas são feitiços mágicos, mais da metade. - Explicou Natalya. - Felizmente, ao longo dos anos, da guerra com Xavier, mudaram bastante e se personalizaram o suficiente para que a maioria dos magos não possam tirar nada em claro se não os conhecerem, mas muitos de outros feitiços são bastante letais. Todos terão que o levar consideração agora, quando sofrerem um ataque. Começarei a trabalhar num feitiço reversível simples que funcionará até que possa ver contra o que nos enfrentamos. Mas é claro que os magos estão trabalhando com os vampiros.

—Realmente acha que sou como você? —Perguntou Skyler.

—Deixe que Francesca a examine. Mostre a marca, Skyler e não o temas. Se o dragão for uma marca de nascimento é um símbolo bom, não mau. Razvan foi um grande homem, uma vez. Algo que fez como vampiro, não era o autêntico homem.

—Por que há tantos monstros no mundo? —Exclamou Skyler. - Por que não pode todo mundo simplesmente deixar como está?

—Não tenho resposta para isso. - Disse Natalya, acariciando o cabelo da garota. – Você passou por muita coisa e a maior parte não foi boa, mas tem a oportunidade de se converter no que queira ser. Não deixe que o medo a detenha. Deixa que Gabriel e Francesca averigúem o que há atrás da parede de sua mente. Uma vez que saiba, ela já não poderá te fazer mal. Não é assim, MaryAnn? Não é melhor saber e simplesmente lidar com isso em vez de encerrá-lo e não entender por que se tem medo?

       MaryAnn beijou a testa do bebê e a colocou cuidadosamente no canguru para que ela pudesse se aconchegar contra o seio de sua mãe.

—Eu acredito que é melhor. Acredito em que quanto mais conhecimento se tem, mais poderoso se é. Acha que não tem valor Skyler, mas encontrou uma forma de sobreviver quando poucos poderiam ter conseguido.

—E não está sozinha. - Disse Destiny. - Há milhões de sobreviventes. Negamos a ser vítimas. Reconstruímos nossas vidas e possivelmente não somos o que se considera normais, mas estamos aqui e temos vidas felizes. Não deixe que o passado te tire isso.

—Nem pense que não tem um lugar . - Acrescentou Corinne. – Todos nós... —Ela gesticulou para abranger todo mundo - estamos juntos nisto. E seu lugar é aqui conosco.

       Gabriel a abraçou novamente.

—Francesca está ansiosa para vê-la. – Ele pegou-a nos braços e elevou vôo na noite.

—Vamos seguir adiante com a festa desta noite? —Perguntou Dayan.

—Será melhor que sim. - Disse Corinne. - Depois de todo o trabalho que tivemos. E as crianças estão realmente ansiosas. Não podemos decepcioná-los. Lutar contra vampiros e agora, ataques de magos é parte de nossas vidas, como te disse antes. Agora que sabemos o que está acontecendo podemos encontrar uma forma de acautelá-lo. Não quero que nos façam deixar de viver nossas vidas e mais ainda quando queremos que Skyler viva a sua.

       Dayan passou seu braço ao redor de Corinne e a aproximou dele. Agora que seu coração estava pulsando normalmente, o dele estava acelerado.

—Eu pensava por um momento, que poderia colocar às duas numa redoma de vidro para mantê-las a salvo. Obrigado, Gregori. Lamento ter interrompido sua noite.

—Foi uma charada interessante. - Disse Gregori. - Quero me reunir contigo logo Natalya, para que possamos começar a trabalhar juntos para evitar que aconteçam coisas semelhantes.

       Natalya assentiu.

—É claro. Agora me dirijo à estalagem para ver se posso ajudar Lucian a divisar qualquer possível candidato. Skyler estava muito segura de que viera dali. Queremos ter certeza de que esta festa seja segura para todos as crianças.

—Acredito que voltarei para a casa e me esconderei sob as cobertas. - Declarou MaryAnn. - Toda esta excitação é demais para mim.

—Nunca se acreditou ser valente, MaryAnn. – Admoestou, Gregori. - Mas sempre encontra coragem para acudir uma mulher necessitada, sem importar o custo para você.

       Ela lhe dirigiu um pequeno sorriso.

—Por minhas irmãs.

       Gregori virou a cabeça, olhando para as árvores, seus olhos prateados quase se fecharam enquanto examinava cuidadosamente a região a seu redor. MaryAnn estremeceu e pressionou a mão sobre o pequeno ponto sobre seu seio, que parecia doer por causa do frio.

—Você está bem? —Perguntou Destiny.

—Só um pouco cansada. —Confiou MaryAnn. - As últimas horas foram um pouco duras para esta humana aqui.

 

       Manolito Da Cruz se infiltrou entre as árvores numa lenta e firme corrente, cuidando em não perturbar o ar a seu redor. Havia algo de hilariante em estar tão perto de tantos caçadores e sua presa no meio do apertado círculo e que nenhum deles pudesse vê-lo. Não podia deixá-la, até se sentir seguro de que estava a salvo. Queria-a fora dos bosques e de volta ao refúgio da casa de Nicolae, até a festa. Os antigos se mostravam astutos, voltando-se várias vezes, tentando averiguar onde ele estava e e quem era.

       A euforia podia ser tão perigosa como não sentir absolutamente nada. Sentia-se vivo, olhando com temor as cores, absorvendo as emoções que pareciam bombardear todo seu sistema. Esperara tanto tempo, vivendo somente com suas lembranças, com a honra e agora esta mulher havia lhe devolvido sua vida. Não a tirariam dele, sem importar o custo. Vivera séculos arriscando sua vida e sua alma sem pedir nada em troca. Até agora. MaryAnn era dele e não renunciaria a ela.

- Manolito? Precisa de mim?

       A voz de seu irmão aquietou o selvagem caos de sua mente. Precisava estar sereno e concentrado, planejando sua campanha no mínimo detalhe, a cada passo do caminho. Mesmo enquanto sentia Rafael se estendendo para ele, sentiu a prova de Nicolae, empurrando com força num esforço por encontrar sua mente aberta para a invasão. Já passara séculos desde que fora capaz de se divertir, na verdade, de não sentir nada absolutamente. E brincar de esconde esconde era perigoso, mas lhe proporcionava uma rajada de adrenalina, uma poderosa sensação. Havia utilizado suas habilidades de caça, brincando de gato e rato com todos eles, sem deixar nada mais que um ligeiro aroma ou um fio de cabelo para zombar. Como homem dos Cárpatos sem companheira, estaria naturalmente sob suspeita, mas eram vários os que se reuniriam com os casais, para a celebração. Teria que aparentar indiferença, sem fazer muito mais que roçar nela, sem sequer notar que estava perto.

       - Manolito. Onde você está? Precisa de mim? - Rafael o chamou novamente e desta vez bem mais insistente, com alarme na voz. Seus irmãos sabiam o quanto estava perto de se converter, como a besta se enroscava e rugia e como escuridão se estendia cobrindo sua alma.

- Comprovei que não tem inimigos na estalagem e escaneei os bosques. Voltarei logo que me assegure de que Juliette e Riordan estão a salvo. Quero dobrar suas salvaguardas. - Manolito se assegurou de soar duro e inexpressivo. Era simplesmente um homem ocupando-se de seu dever. Seus irmãos, Rafael e Riordan, definitivamente o ajudariam a levar a cabo seu plano, mas expô-los muito, colocaria-os numa posição terrível com suas companheiras e ele não confiava que mulheres guardassem segredo. Nenhuma delas parecia entender que se tratava da salvação de uma alma, muito mais importante que uma vida.

       Rafael deixou escapar um pequeno suspiro. - Boa idéia. Juliette estava muito irritada porque sua irmã e sua prima se negaram a se unir a nós nestas férias. Nunca vêm a nenhuma das reuniões familiares. Colby diz que Juliette é muito infeliz. Riordan está considerando em deixar o rancho e ir para a selva onde Jasmine e Solange vivem, para que possam ficar perto delas.

       Manolito ficou em silêncio um momento, pensando se aproveitava ou não da oportunidade, para plantar uma semente. Aproveitou-a. - Que pena que não tenhamos uma conselheira como essa mulher que está com Nicolae e Destiny. Nicolae mencionou que ela tinha ajudado Destiny e a jovem, Skyler. Possivelmente Riordan deveria tentar encontrar alguém similar perto do rancho. – Ele manteve a voz como sempre, séria e despreocupada. Era somente uma sugestão para resolver um problema. Não traiu que seu coração estava acelerado e seus olhos quase cegos pelo brilho vívido do mundo a seu redor.

       Houve outro pequeno silêncio. – Saiba que é uma boa idéia. Não tinha pensado nisso. Ouvi dizer que Destiny estava quase perdida e esta mulher a trouxe de volta. Talvez a irmã de Juliette se beneficiaria de uma conselheira também. Vá ver Riordan e se for possível, volte antes da festa. Não sei se está prestando atenção, mas se estendeu a notícia de que há um mago trabalhando.

- Ouvi, sim. - Ele vira Natalya lutar e permanecera perto vigiando MaryAnn. Agora ela estava finalmente a salvo, de volta a casa de Nicolae e ele podia relaxar sua vigilância. Duas vezes vislumbrara um lobo negro e soube que Dimitri estava vigiando a jovem Skyler e sentiu simpatia pelo homem. Dimitri não tinha a escolha de arrancar à menina da segurança que ofereciam seus pais. Sequer ele, Manolito, atravessaria essa linha.

       Fez seu caminho de volta à estalagem, tentando conseguir uma sensação do mago que tinha atacado antes. Um feitiço mágico semelhante ao utilizado não funcionaria com um caçador sem companheira. Não possuiam emoções com as quais jogar. O feitiço estava dirigido para as mulheres. E isso significava que todas as mulheres estavam em grande perigo. A urgência o assaltou. Desejou simplesmente raptar MaryAnn e levá-la para seu rancho na América do Sul. Com seus quatro irmãos e os trabalhadores de seu rancho seriam capazes de cuidar de sua segurança, não havia possibilidade de que nada e nem ninguém lhe fizesse-lhe mal.

       Longe da casa de Nicolae e da tentação, Manolito mudou para névoa e flutuou através do bosque para o caverna de cura. Sabia que colocaram salvaguardas, mas com inimigos tão perto, queria tomar precauções extras. Talvez estivesse intranqüilo com tantos outros Cárpatos ao redor. A família Da Cruz estava acostumada a confiar uns nos outros e não se arriscaria com a vida de seu irmão caçula. Estava uma sensação fastidiosa que não desaparecia e ele nunca ignorava esses pressentimentos.

       Fluiu para o interior da caverna através de uma das estreitas aberturas e se deixou cair na câmara principal. Havia uma rede de câmaras e charcos, mas em vez de ir diretamente à câmara onde Riordan e Juliette descansavam, moveu-se lentamente através das demais, tentando sentir com cada sentido, desejando se livrar do persistente pressentimento de que algo não estava de todo, bem. O mago sabia que Juliette estava ferida. Fizera-a cair numa armadilha para que o vampiro a matasse e deveria saber que seu companheiro descansava com ela na terra curadora e se sabia onde estavam as cavernas que normalmente usavam, não seria esse o lugar perfeito para atacar? Isso era o que ele faria.

       Demorou em tomar seus cuidados, ocultando sua presença enquanto examinava cada câmara. Era perito em se ocultar e assumiu que seus inimigos seriam também. Olhou em busca de uma pequena anomalia, uma falha na harmonia natural, um pequeno sinal de malevolência. Para sua surpresa, quando entrou na câmara onde estava seu irmão, Mikhail Dubrinsky estava lá examinando as paredes e o solo da caverna, com a fisionomia séria. Ele virou a cabeça ante a aproximação de Manolito, colocando-se numa melhor posição defensiva.

       Manolito tomou sua forma humana e cruzando o chão da caverna, automaticamente comprovou seu irmão. Riordan parecia estar descansando pacificamente com Juliette.

—Não deveria estar aqui sozinho. – Disse, Manolito. Já se movendo para proteger o príncipe, estendendo-se para Rafael, preocupado por seu príncipe estar tão exposto. - Onde está seu segundo?

       Mikhail lhe lançou um débil sorriso.

—Não preciso de um guarda-costas para viajar por meu próprio território, Manolito.

—Não concordo e não posso imaginar que Gregori queira que viaje sozinho. O que está fazendo aqui, de todo modo?

—Comecei a me preocupar que Riordan e Juliette pudessem ser atacados enquanto estavam em seu lugar de descanso. —Mikhail passou a mão pelo cabelo escuro. – Acho que por um segundo dei a nosso inimigo muito crédito.

—Eu pensei o mesmo. Eu não gosto que o mago escuro tenha enviado um emissário ou vindo ele mesmo. Ele susa coisas contra as quais não temos as adequadas salvaguardas. —Manolito estudou a face do príncipe. Parecia mais velho do que Manolito lembrava, da semana anterior. Havia pesar em seus olhos e o efeito da luz fazia com que parecesse como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.

—Indubitavelmente temos que aprender a nos proteger enquantos estivermos clandestinos, igualmente sobre ela. Nossos lugares de descanso já não são mais os refúgios seguros que acreditávamos. – Concordou, Mikhail. - Como se sente? Sei que seus ferimentos foram bastante sérios. Gregori te examinou para assegurar que está completamente curado?

—Estou bem. Feriram-me muitas vezes e tornará a acontecer. —Manolito examinou as paredes da caverna. – Acha que Xavier foi capaz de unir aos vampiros contra nós?

—Seja quem for que uniu nossos inimigos ou sejam os irmãos Manilov ou Xavier e Razvan, na verdade não importa. Uniram-se e não temos mais escolha que lidar com eles. —Mikhail acrescentou um complicado tecido às salvaguardas que já protegiam o casal na terra. - Não posso encontrar nenhuma evidência aqui ou na rede de cavernas, de que nosso inimigo esteja nos espreitando. E você?

—Não. - Admitiu Manolito com um pouco de relutância enquanto acrescentava sua própria salvaguarda, peculiar e só para sua família, uma que seria difícil e lenta de desentranhar, com sérias conseqüências para quem mexesse inapropiadamente. Riordan reconheceria sua obra imediatamente.   Não havia encontrado nenhuma evidência, mas ainda não estava convencido de que seu irmão estivesse totalmente a salvo e isso não se encaixava bem com ele.

       Os dois caminharam juntos saindo da câmara e começaram a descer pela estreita passagem que conduzia de volta a superfície. Manolito tentou se colocar diante do príncipe, ainda intranqüilo, ainda sentindo-se inquieto, apesar de seu exame da caverna inteira.

—Tenho que ver Falcon e Sara e depois visitar o Gregori e minha filha. – Disse, Mikhail. - Me alegrarei quando esta noite acabar. Comprovou a estalagem? Skyler assinalou várias vezes que acredita que a onda de poder chega dessa direção.

—Sim, mas voltarei lá novamente. Falcon me disse que levaria as crianças para lá, em uma hora. Quero fazer outra passada antes que cheguem as mulheres e as crianças. - Replicou Manolito. – Quero me assegurar de que estejam a salvo.

       Seu olhar descontente moveu pelo chão, pela as paredes e o teto da caverna enquanto caminhavam rapidamente pela passagem. O som da água gotejando era implacável. Parecia excessivamente alto nas câmaras, o ritmo interminável bloqueava qualquer sussurro que pudesse ter alertado do perigo. Tentou atenuar o volume mas o som pareceu fazer-se mais alto, quase ressonando através das cavernas.

       Manolito parou, colocando seu corpo entre Mikhail e esta caverna.

—Isto eu não gosto.

—Não gostei nada também, quando entrei. - Respondeu Mikhail.

       Ambos estudaram a passagem. Estavam somente a alguns metros da entrada. A luz da neve e do gelo se alargava na abertura por vários metros, como se fosse um convite. Pequenas formações de gelo se formaram no teto da passagem em estreitas e afiadas lanças de várias cores.

Manolito sacudiu a cabeça, levantando a mão.

—Deixe-me ir primeiro. Espere aqui e observe se ativo uma armadilha ou provavelmente possamos atravessá-la como vapor e ver o que acontece.

—Se estiverem aqui, queremos sabê-lo. Seu irmão está dormindo com sua companheira. Uma de nossas mulheres está a ponto de dar a luz. Temos que saber se nossos inimigos invadiram nossas câmaras também.

       Manolito assentiu e deu vários passos cautelosos, mantendo um olho precavido nas lanças de gelo de acima. A cada passo que dava, o gelo de movia como se uma vibração o tivesse atravessado.

—Converta-se em névoa. - Instruiu Manolito ao príncipe, preocupado pela sombra em sua mente.

       A sujeira e o gelo foram jogados no ar aos pés do príncipe, um geiser de terra salpicou alto entre o caçador e o príncipe, abrindo a terra onde Mikhail estivera.

—Vamos! Saia daqui. - Ordenou Manolito, voltando atrás.

       O buraco se ampliou e se aprofundou com assombrosa velocidade e uma fenda abismal se abriu sob o príncipe enquanto este começava a dissolver-se em vapor. Uma mão com garras saiu do escuro buraco e segurou o tornozelo de Mikhail e as garras entraram profundamente na carne. O aperto evitou a mudança do príncipe e a criatura o puxou com força, decidida a arrastá-lo para as profundezas.

       Um gemido coletivo surgiu de todos os Cárpatos. Era Mikhail que conectava a todos. Era Mikhail quem proporcionava o vínculo comum de comunicação e era ele quem mantinha o passado e o futuro juntos com o presente, para os Cárpatos. Todos souberam o momento em que sofrera o ataque.

       O grito de preocupação de Raven só aumentou o alarme e a surpresa.

       Manolito ignorou tudo, dissolveu-se em vapor, deslizando-se através do geiser de terra até o outro lado. Mikhail lutava para sair do buraco aberto no chão do passagem. As garras abriram dois ferimentos em seus tornozelos. Ele podia sentir as pontas afiadas das garras do vampiro perfurar sua carne. A criatura engolia seu sangue e os dentes rasgavam sua carne em busca de mais, enquanto fazia horrendos sons, enquanto retorcia a perna de Mikhail num esforço de arrastá-lo a sua guarida.

- Vampiro, mas não de tudo. - Mikhail enviou a mensagem a Manolito.

       Manolito mergulhou diretamente na terra, apontando-se diretamente para a criatura, com um grande bico curvado, garras afiadas como navalhas, curvadas e malvadas. Foi diretamente nos olhos. Quando entrou na terra, para matar à criatura desconhecida, uma mistura de vampiro e um algo horrendamente perverso, pensou em MaryAnn. - Sinto muito.

       Por um breve momento sentiu a consciencia dela, desconcertada e assustada. Tocou sua mente, numa breve carícia e a deixou ir. Melhor não a ter encontrado, que levá-la com ele à cova. E entrar na toca de um inimigo desconhecido era um convite ao suicídio. O príncipe devia ser protegido e não houve duvida em sua parte. Se sua vida acabasse, sua gente ainda continuaria.

       A águia arranhou os olhos vermelhos do vampiro, rasgando a pele sobre sua garganta e o peito, lançando-se profundo e rápido num esforço por obrigar à criatura a soltar sua presa. Esta não teve escolha. Não se quisesse sobreviver. A abominação arrancou as garras do tornozelo de Mikhail e apunhalou viciosamente à águia.

- Vá. Saia daqui! - Gritou Manolito a Mikhail enquanto terra e rochas começavam a cair sobre sua cabeça. Uma rocha golpeou à águia com força, lançando-a de lado e quebrando-lhe uma asa. Manolito mudou de forma, tentando fazer um buraco na terra antes que esta se fechasse rapidamente sobre sua cabeça. Usou as mãos para agarrar-se às raízes e manter-se acima, enquanto chutava à raivosa criatura com o pé. A terra e os escombros choviam sobre sua cabeça, enchendo sua boca, fazendo com que cuspisse e fechasse os olhos, mudando uma vez mais, para permanecer vivo e escondido.

       Mikhail amaldiçoou quando o buraco se fechou, prendendo o caçador. Mudou seu corpo para o de um texugo e entrou através das camadas de terra, procurando Manolito, enquanto enviava onda de terremotos através da terra, esperando desorientar o monstro.

       Ambos, caçador e presa estavam cegos agora A águia obtivera seu objetivo. Manolito tentou utilizar os sentidos da toupeira gigante no qual se converteu, para encontrar seu caminho para cima. Ouviu o príncipe mergulhar, sentiu a terra sacudir e soube que Mikhail não o abandonara. Começou a cavar freneticamente, a seu encontro.

       Foi a toupeira que sentiu à criatura vir de atrás, mas Manolito ficou em silêncio, encolhendo à toupeira ao tamanho normal, esperando até que sentiu o fôlego sobre a cara da toupeira antes de atacar com força, saltando para frente, arranhando com suas próprias garras, num ataque selvagem com o que encontrou. Não podia vê-lo, mas podia sentir o sangue ardendo através de seu corpo, ouviu o horrível uivo de dor e de repente o inimigo desapareceu, afundando-se na terra até onde Manolito não tinha possibilidade de lhe seguir.

       A terra sobre ele quase havia desaparecido graças aos esforços de Mikhail. Trabalhou um poucomais e chegou a superfície, mudando uma vez mais, atirando-se ao chão em busca de ar fresco.

—Seu sangue ou o dele. - Exigiu Mikhail.

—Principalmente o dele. - Respondeu Manolito, tentando desesperadamente recuperar o controle. Não podia permitir que o príncipe compreendesse que tinha recuperado as emoções e pela primeira vez em sua vida havia experientado a claustrofobia.

—Parece sangue de vampiro, queima como ácido, mas aquilo não atuava como nenhum vampiro dos tipos que tenha conhecido. Não parecia experiente em uma briga real. — Manolito se sentou lentamente, ganhando algo mais de tempo. - Teceu uma grande armadilha, mas não pôde brigar, realmente. Confiava no veneno para nos deter, estava em suas garras.

Juliette e Riordan estão a salvo sob a superfície?

—Não acredito que possa chegar a eles. Não pode passar pelas salvaguardas. Não acha estranho? Pode fazer muito mal, mas na hora da verdade volta atrás.

—Temo que Razvan não morreu como tínhamos esperado. —Mikhail estendeu a mão e envolveu o tornozelo, inspecionando o dano. – Ele é bom planejando uma batalha, mas pelo que tenho entendido era incapaz de idear seus próprios feitiços e salvaguardas. Isso significaria que não pode desentranhá-las. —Estou cansado, Raven. Muito cansado.

- Gregori está chegando aí, meu amor. - Sua voz era uma carícia. - Houve muitas batalhas ultimamente. Isto é minha culpa. Não deveria ter insistido em juntar todo mundo. A responsabilidade de toda segurança pesa sobre você.

       Gregori chegou a passagem, numa nuvem tormentosa de vapor, já mudando. Aproximou-se a passos rápidos e seus olhos prateados flamejavam, seu longo cabelo flutuava atrás dele, sua face era uma máscara severa. Seus músculos era como aço sob sua pele e ele andava fluidicamente. Se inclinou e passou as mãos sobre Mikhail, examinando cada arranhão que pudesse ter aberto uma porta ao veneno.

—Nossa gente lhe agradece, Manolito. Não podemos agradecer o bastante por sua intervenção.

- Ah, velho amigo. Tem que me tratar como um menino diante dos meninos?

- Não faça brincadeiras. Quantas vezes nossos inimigos lhe colocaram armadilhas? Raven e Savannah estão preocupadas e chorando. Somente por isso eu poderia arrancar teu coração. - Suas mãos eram extraordinariamente gentis enquanto examinava ao príncipe.

Manolito tem várias queimaduras e marcas de garras. - Disse-lhe, Mikhail.

       Gregori observou seu príncipe, astutamente. Mikhail sempre respondia a suas escandalosas ameaças, mas desta vez sequer tentou uma brincadeira. Alarmado, Gregori repassou seu corpo uma segunda vez para se assegurar de que tinha avaliado o dano corretamente.

—Levarei você para casa, para que Savannah possa te curar o tornozelo, se não se importa, Mikhail. Fará bem ele te ver e eu poderei passar mais tempo me assegurando de que todo o veneno desapareceu.

—O que te pareçer melhor, Gregori.

       A sobrancelha escura de Gregori se elevou e uma vez mais seu penetrante olhar prateado comprovou o príncipe. Finalmente se virou para Manolito e limpou as queimaduras do sangue ácido, curando as poucas marcas de garras de sua face e seu peito. Depois voltou a comprovar, para se assegurar de que havia tirado todo o veneno de seu corpo.

—Deveria descansar. – Ele aconselhou.

—Irei à terra depois da celebração. Acredito que cada guerreiro deveria estar perto. - Disse Manolito.

       Gregori assentiu.

—Obrigado novamente por seu serviço a nossa gente.

—A lealdade da família Da Cruz foi sempre para nosso príncipe. – Respondeu, Manolito, que esboçou uma pequena saudação e os deixou sozinhos.

—Você está bem, Mikhail? Realmente bem? —Perguntou Gregori.

       Mikhail ficou em silêncio um momento.

—Sim. É obvio. Estou cansado de que tantos dos meus tenham que tomar a decisão de mudar suas vidas pela minha. É difícil viver com a gente mesmo depois de um tempo. —Ele não esperou que Gregori replicasse. Converteu-se em névoa e fluiu pelas cavernas para a casa de sua filha.

       Savannah esperava ansiosamente por eles, com o espesso cabelo negro azulado caindo pelas costas e a ansiedade em seus olhos intensamente azuis, quase violetas. Lançou os braços ao redor do pescoço de Mikhail e o abraçou firmemente.

—Papai, estávamos muito preocupados.

—Eu sei, csitri. - Replicou ele. – Sinto muito. Estou bem. É somente um arranhão.

—Sempre me chamava de pequena, mas agora que cresci, - Savannah estendeu o braço em busca de Gregori, segurando sua mão, - só o faz quando as coisas não estão muito bem. Qual gravidade de seu ferimento, pPapai? —Ela levantou o olhar para seu companheiro. - Gregori?

       Gregori lhe emoldurou o rosto com suas grandes mãos e seus polegares lhe acariciaram gentilmente os lábios.

—Sabe que nunca permitiria que acontecesse nada a seu pai. Tem um tornozelo machucado que agora vou dar uma boa olhada. - Seu olhar prateado deslizou sobre Mikhail.

—Não me olhe assim. - Exclamou Mikhail e baixou a mão para seu tornozelo. A dor era quase impossível de bloquear. - O que queria que eu fizesse? Ficar de um lado e ver morrer um homem que arriscava a vida por mim?

       Gregori ondeou a mão e uma cadeira acolchoada deslizou colocando-se diante de Mikhail.

—Sim. Isso era o que eu queria que fizesse. Não esperaria de você, mas teria preferido. Um destes dias, não vai sobreviver a estes ataques contínuos, Mikhail. Se não puder pensar em você mesmo ou em sua companheira, provavelmente deveria pensar no que aconteceria a nossa gente. —Sua voz era suave enquanto entregava o que definitivamente era uma reprimenda.

       Savannah baixou a cabeça, sobressaltando-se um pouco e seu protesto morrendo sob o olhar mordaz de Gregori. Acariciou o cabelo de seu pai com dedos gentis.

—Foi muito valente de sua parte, mas poderia ter morrido.

—E o caçador, Manolito Da Cruz, que arriscou tudo para me salvar? Entrou voluntariamente na toca, sabendo o que era, sabendo que provavelmente morreria. Ignoro isso? Não posso, Gregori. Não o farei.

       Gregori encolheu seus amplos ombros.

—Acho que não pode. Por isso você é o príncipe. Mas na realidade, Da Cruz cumpria com seu dever para com sua gente. Tem sua honra e pode viver com isso. Isso é o que fazemos todos, Mikhail e inclusive você tem que viver com as regras de nossa sociedade. Não podemos existir sem você.

—Tem Savannah.

—Não sabemos se ela é um receptáculo vivente para nossa gente. E é mulher. Tem que ter filhos. Se ela mandasse, não teríamos essa possibilidade. —Gregori se inclinou para examinar os ferimentos do tornozelo de Mikhail. - É um ataque similar ao do tornozelo de Natalya antes da grande batalha. Razvan a atacou de debaixo da terra e injetou-lhe um veneno usando as pontas de suas garras. Como se sente?

—Como se tivessem aberto um buraco em meu tornozelo até o osso . - Admitiu Mikhail. Quande Gregori continuou olhando-o, suspirou. - A perna está fraca e eu estou enjoado.

       Savannah limpou o sangue, usando um pano úmido.

—Isto deve ajudar um pouco com a dor. – Ela explicou. - Sabia que estava tendo dificuldades para controlá-lo e coloquei um tranqüilizador na água. - Antes que pudesse tocar seu pai, Gregori lhe segurou o braço e a afastou.

—Acredito que trataremos disto como se fosse um veneno.

       Savannah o olhou fixamente.

—Vai entrar em seu corpo e destruir o veneno, não é? Que importa, se ajudar a meu pai a se sentir um pouco melhor.

       Gregori parou e suas sobrancelhas negras dispararam para cima.

—É impróprio de você enfrentar seu companheiro, Savannah. Talvez esteja mais nervosa do que acredita, por que seu pai tenha saído ferido. E chorou sobre esse ridículo prato que sua mãe te pediu que fizesse.

       O rosto dela coloriu.

—Não chorei por ele. Eu lhe disse. — Ela fulminou-o com o olhar. Não diga isso a meu pai. Ele contará a minha mãe e ela se sentirá mal. E deixe de me dar ordens. Me sinto estranha hoje.

       Gregori a abraçou, fortemente.

—Está quase chorando outra vez. O que é? É o bebê? — Sua mão acariciou o cabelo dela, com deliciosa gentileza.

—Bebê? Que bebê? —Perguntou Mikhail, mudando de posição para poder ver o ventre de sua filha. Savannah era pequena como sua mãe. Agora que Gregori havia soltado a notícia, podia notar que ela estava definitivamente mais cheia. Se encontrou sorrindo apesar da dor.

Ela gemeu e bateu no ombro de Gregori com o punho fechado.

—Não era para você contar. Eu ia dizer.

—Por que? —Exigiu Gregori, beijando a palma da mão de Savannah. E depois lançou um olhar a Mikhail. - Posso apagar as lembranças de seu pai.

—Oh, eu gostaria de te ver tentar, Gregori. – Zombou, Mikhail. - E se está fazendo chorar minha pequena, vai ver o que um príncipe pode fazer quando se zanga.

—Estou grávida de gêmeos. – Anunciou, Savannah. - Meninas.

—Só ouvimos um batimento do coração, sentimos uma só vida. - Objetou Gregori, semicerrando o olhar. - É um bebê. Um menino.

—A outra estava escondida atrás de sua irmã. São duas meninas e vou ficar tão grande como uma casa. E você vai ficar horrível, me dando ordens todo o tempo. Se acha que ele exagera te dando ordens Papai, confia em mim, é pior comigo.

       Gregori sacudiu a cabeça.

—Meninas não, Savannah. Precisamos de filhos homens. Guerreiros Daratrazanoff que protejam o príncipe.

—Bem... Sinto te dizer isto, mas são definitivamente meninas. Nada de filhos. Duas filhas. Estou conectada com elas. Não há dúvida.

       Mikhail se recostou, com um sorriso satisfeito no rosto.

—Você merece isto, Gregori. Não pode imaginar o quanto vou desfrutar vendo você sobreviver, não a uma, mas duas filhinhas.

       Gregori simplesmente ficou em pé, olhando para eles, com aspecto tão surpreso como um Cárpato podia ter.

—Como pude não saber? Examinei eu mesmo. — Ele sacudiu a cabeça novamente. - Deve estar equivocada. Eu não posso me equivocar.

—Ela se escondeu.

       As sobrancelhas dele se uniram.

—Isso é inaceitável.

       Mikhail riu.

—Estou seguro de que suas filhas farão exatamente o que você ordenar, Gregori. E quando começarem a andar, realmente o escutassem.

Savannah, estou falando sério! Fale com elas. - Ordenou Gregori. - Não posso ter uma filha se escondendo de mim, quando me assegurar de que estão sadias.

—Você foi brusco e a assustou.

—Sou seu pai e não deveria me ter medo de mim.

       Mikhail suspirou.

—Estou sangrando e tenho que estar em boa forma em alguns minutos, então sugiro que supere sua surpresa porque no mundo nem tudo é como você dita e continue a me curar.

       Gregori se voltou, com fria elegância e perigo.

—Você a incitou a isto, não é, Mikhail?

—Incitá-lá? Se me tivesse ocorrido, teria feito, mas minha imaginação não se estende tão longe. —Mikhail moveu a perna e tentou não fazer uma careta.

       Imediatamente Gregori se empregou a fundo.

Savannah, fique longe do sangue, no caso de ser tão venenoso como acredito.— Ele abandonou rapidamente seu corpo, convertendo-se numa pura luz branca, numa energia brilhante que entrou no corpo de Mikhail e se moveu rapidamente para o ferimento. Como esperava, o veneno era um problema. Foi consciencioso, assegurando-se de apanhar cada gota, tirá-la do corpo de Mikhail e curar o tornozelo de dentro para fora.

—Pronto. Mas, você se sentirá fraco por um momento. Descanse tanto como seja possível até que possa ir para a terra e permitir que ela o rejuvenesça.

—É claro.

—Acho que não estará de acordo de se deitar por uma hora ou duas e pular uma pequena parte das festividades.

       Mikhail sentiu o ligeiro toque de Raven lhe roçar a mente. - Talvez deveria fazer o que ele diz. – Ela soava ansiosa.

—Não. stou bem, Raven. Somente um pouco cansado. Quero ir para casa e te abraçar um pouco. Isso me fará mais bem que ir à terra.

- Então vêm para casa.

- Ouviu as notícias? Savannah te contou? Está grávida de gêmeas.

- Ouvi. Ela está muito excitada. - Raven não acrescentou nada mais e ele soube que ela estava tentando parecer feliz e valente por sua filha. Ter filhos gêmeos seria bem mais difícil que um só menino e Raven era plenamente consciente disso. Não queria a dor de perder um filho, para sua filha.

—Tenho que para casa. – Disse, Mikhail. - Savannah, céu, como sempre você está preciosa. Acredito que a gravidez te faça bem. Guardou muito este segredo? Para saber que são meninas ou meninos deve estar de vários meses.

—Não queríamos dizer nada até que estivéssemos seguros de que havia boas probabilidades para a gravidez. – Ela sorriu para Gregori e uma vez mais ele se inclinou para beijá-la.

—Filho... Disse Mikhail maciamente, colocando a mão nas costas de Gregori.

       O Escuro se esticou e se voltou. Seus olhos pareciam prata fundida.

—Filho? — Ele repetiu. - Desde quando meu príncipe se dirige a seu segundo e mais velho amigo desta maneira?

       Os lábios de Mikhail se retorceram. Por dentro, onde só Raven podia ouvi-lo, ele estava gargalhando, mas tentou manter sua máscara inexpressiva.

—Você é da família, meu genro e penso em você como num filho em certas ocasiões. —Mikhail esfregava as têmporas como se lhe doessem, parecendo tão dolorido e cansado como conseguiu.

—Oh, sim? Sim? —Gregori cruzou os braços sobre o peito e lançou um olhar suspeito sobre a sala. Moscas e escaravelhos se aferravam às paredes e sobre os painéis das janelas. Alguns se arrastaram sob a porta para se unir aos outros. Olhou fixamente para os insetos voltando depois o olhar para seu sogro. - Parece haver uma quantidade desmesurada de insetos invadindo minha casa. Acredito que precisamos de um inseticida particularmente fulminante. Seu repentino sentimento paternal não terá nada a ver com os insetos, não é Mikhail?

       Mikhail gemeu, brandamente.

—Gregori! —Savannah franziu o cenho. - Meu pai está sofrendo uma terrível dor. Está te tratando como parte da família e você não está sendo muito amável. Consiga um travesseiro para as costas dele.

—Obrigado céu, mas de verdade não posso ficar. Tenho que checar os detalhes desta noite. Estou seguro de que o que fez está bem e se não for assim, haverá muitos outros pratos. - Mikhail voltou a baixar a perna ao chão e esperou um momento para que a dor diminuísse. Gregori tinha razão. Havia curado-o, o melhor que pode e eliminado o veneno, mas ela era nova e crua. Precisava ir para a terra, para completar o processo. Até a manhã seguinte teria que viver com a dor.

—Venha, papai. Disse Gregori, com pesado sarcasmo. – Deixe-me te ajudar a se levantar. Precisa de alguma coisa mais?

       Mikhail o deixou lhe ajudar a chegar até a porta.

—Agora que o mencionou, filho, sim. —Ele envolveu seu braço ao redor dos ombros de Savannah e a beijou no rosto. - Felicidades carinho. Espero ansioso por minhas netas. —Sorriu a Gregori. - Gostaria que fizesse Santa Claus para as crianças esta noite, Gregori. É uma grande responsabilidade e obviamente, você é a melhor escolha para o trabalho. – Ele tirou um gorro vermelho com uma orla branca como a neve do ar e o colocou na cabeça de Gregori. - Trouxe todo o disfarce, embora haja um pouco de controvérsia sobre ele não malhas vermelhas. — Mikhail ondeou as malhas sob o nariz de Gregori.

       Gregori arrancou as malhas da mão de Mikhail e o chapéu de sua cabeça.

Mikhail.... —Seus dentes se uniram num ruidoso estalo de advertência. – Você não se atreveria a me fazer isto. – Ele olhou em volta da sala, para os insetos que decoravam suas paredes. – Agora sei por que meus irmãos decidiram me visitar. – ele ondeou as mãos para criar um vento forte que soprou um ciclone através da sala.

       Os insetos vacilaram, mudando-se para homens, todos gargalhando ruidosamente. Lucian lhe deu tapinhas nas costas e Gabriel lhe alvoroçou o cabelo.

—Felicidades, irmãozinho. Você tirou a varinha mais curta.

—Todos vocês sabiam? —Exigiu, Gregori. Ele fez um gesto de pegar Mikhail, mas o príncipe já estava saindo pela porta com um alegre sorriso.

       Darius bateu a mão no ombro de Julian, os dois gargalhando abertamente um para o outro. Os outros enchiam a sala de risadas.

—Fora. – Ordenou, Gregori. – Todos e cada um de vocês caiam fora daqui.

—Não me importaria ver novamente o chapéu em sua cabeça, Gregori. —Darius rebolou os dedos como se Gregori devesse girar-se e desfilar para eles.

—Coloque as malhas. – Animou, Jacques.

—Fora... - Gregori pronunciou cada sílaba, claramente.

—Claro, estrela. – Bufou, Julian. – Nós o deixaremos para que pratique sua atuação desta noite.

       Outra onda de risadas encheu a casa, ameaçando arrancar o teto.       Gregori manteve a porta aberta e simplesmente assinalou para eles. Os homens saíram, com grandes sorrisos nos rostos.

       Gregori fechou a porta com um estrondo e se virou para sua companheira.

—Vou matar seu pai. Decidi que os Cárpatos podem viver muito bem sem ele.

       Savannah pressionou a mão firmemente sobre o ventre.

—Na realidade é uma honra, Gregori. —As palavras saíram amortecidas enquanto ela afogava a risada.

       Ele manteve a mão no alto.

—Não. Não diga nenhuma palavra mais.

       Ela a passou o braço ao redor da dele cintura e se apoiou em seu corpo.

—Realmente é tão terrível?

—Cada homem no território estará lá. Seu pai me jogou nisso.

       Savannah ficou em silêncio um momento.

—Então acho que teremos que encontrar uma forma de mudar isso, certo?

       Gregori envolveu uma mecha do cabelo na mão e olhou sua face, sempre tão amada para ele.

—No que está pensando exatamente?

       Um lento sorriso iluminou os olhos dela.

—Querem Santa Claus, não é? Sou maga, certo? Não sou a grande Savannah Dubrinsky? E você é Gregori, comandante da terra, do espírito, do fogo e da água. Controla o tempo e faz com que a terra trema. Santa Claus vai ser café pequeno. Oxalá nos tivessem dado mais de tempo para nos preparar. Mas lhes daremos o melhor Santa Claus que já viram. Nenhuma criança terá medo e você não vai falhar, como todos esperam.

—Está segura de que não seria mais singelo nos desfazer de seu pai e enterrar seu corpo em algum lugar dos bosques? —Gregori soava esperançado.

       Ela ficou nas pontas dos pés e lhe beijou.

—Você é tão sanguinário.

       Ele colocou a mão sobre seu ventre arredondado.

—Está realmente segura de que há duas pequenas crescendo em seu interior?

       Ela assentiu, colocando sua mão sobre a dele.

—Sim. Realmente o surpreendemos, não é?

—Sou um curador, Ma petite. Deveria saber o que está acontecendo dentro de seu corpo sempre. Do que outra forma a manterei saudável?

       Savannah levou sua mão à boca, lhe mordiscando os dedos.

—Eu gosto que ocasionalmente possamos te surpreender.

—Oh, sim Savannah. – Ele assegurou. - Sempre o faz.

 

Sara, não posso encontrar minhas asas. - disse a pequena Emma, correndo pelo salão, com seus cachos oscilando. – Já olhei por toda parte.

Travis pegou elas. – Ajudou, Chrissy. - Disse que Emma não era um anjo e que ia tirar suas asas. —Seus olhos muito grandes estavam solenes, desejando ver que terrível castigo atribuiriam os adultos, a semelhante crime.

       Sara ergueu os olhos para o alto, quando Emma começou a gemer.

—Sou um anjo! Eu sou! Travis é um menino mau, muito mau. Não é, Falcon?

       Falcon a levantou nos braços e a fez girar antes que seus gemidos pudessem se converter num pranto sério.

—Acredito que Travis é um menino travesso, não mau. O que poderia ter feito pensar que não é um anjo?

—Ele sempre quer comida e eu peguei seu sanduíche e dei para o cão da María. Travis não precisava do sanduíche tanto como o cão da Maria. Travis poderia simplesmente ir à cozinha a qualquer momento. Isso é o que disse Sara, Não é Sara?

—Então é, Emma. Concordou Sara. - Sempre há bastante comida para todos, mas não devia ter pegado o sanduíche de Travis. Se queria dar comida ao cão da Maria, deveria ter ido à cozinha a procurar alguma coisa.

       Falcon pigarreou. - Isso poderia ser francamente horripilante. Ela será capaz de dar ao cão um assado, da próxima vez.

—O que quero dizer Emma, é que pergunte a Slavica ou a María antes de pegar alguma coisa da cozinha. Elas sabem o que os cães comem.

       Emma tinha quatro anos e Sara estava bastante segura de que a discussão continuaria indefinidamente se não encontrasse uma forma de mudar de assunto.

—Temos que nos apressar e levar as crianças para a estalagem. Todo mundo espera para ver o espetáculo.

—Preciso de minhas asas, Falcon. – Declarou, Emma. - Não posso ser um anjo sem minhas asas. —Seu lábio inferior começou a tremer.

—Encontraremos suas asas, pequena. – Ele a tranqüilizou. Percorreu o aposento com o olhar e sorriu para Sara.

       Ela conseguira um milagre para estas crianças. Todos eles estavam com boa saúde e lentamente começando a acreditar que não tinham que roubar comida e que sempre teriam um teto sobre suas cabeças. Nunca era fácil. Sara havia resgatado sete crianãs que estavam vivendo nas bocas-de-lobo da Romênia e os levara para as Montanhas dos Cárpatos. Sara e Falcon se elevavam o quanto antes possível e ficavam acordados até tão tarde como podiam, para estar com eles. Tiveram bastante sorte encontrado várias mulheres humanas que estavam dispostas a trabalhar para eles, cuidando das crianças durante as horas nas quais não tinham mais remedeio, que dormir.

       Falcon nunca imaginara que poderia amar tanto, mas às vezes como agora, o amor parecia derramar fora dele e encher todos os espaços da sala. Abraçou Emma novamente, ignorando seus gemidos e conduziu o pequeno grupo à cadeira onde Travis estava tentando fulminar os outros com o olhar. Falcon piscou um olho para o menino e lhe ofereceu a mão.

—Vamos. Será um jantar de celebração e quanto mais rápido nos colocarmos a caminho, mais rápido comerá. Sei que Corinne e a senhora Sanders são cozinheiras fantásticas. Não gostará de perder a comida.

       Travis suspirou e ficou em pé, Tirando as asas debaixo de seu traseiro.

—Pelo menos eu não tenho que ser um anjo. - De repente ele sorriu para Falcon. - Consegui ser rei.

       Falcon colocou uma das mãos sobre o ombro do menino. Travis era o mais velho e estava com oito anos, tinha carregado com a responsabilidade dos outros, esvaziando bolsos, tentando conseguir comida para alimentá-los e sempre tentando protegê-los dos maiores, vivendo nas ruas e nas bocas-de-lobo. Era alto para sua idade e muito magro, com o cabelo escuro que se negava a cortar. Quando Falcon quisera insistir em que ele cortasse o cabelo, Sara dissera que o menino estava tentando imitá-lo, então o deixava solto e despenteado. Depois disso Falcon tinha passado tempo tentando dar ao menino alguns conselhos para manter seu cabelo longo brilhante. Nesta noite ele parecia ter feito um trabalho melhor do que o habitual. Nem Emma tinha nada a dizer sobre o cabelo de Travis.

—Esta noite será genial.

Sara disse que todo mundo vai da igreja à estalagem.

—Sim. Eles irão a missa e depois ao jantar. Querem ir a missa? —Olhou fixamente a Sara, tentando com força manter a cara séria.

       Travis lhe franziu o cenho.

—Eu não. Eu não vou.

—Não acreditei que quisesse, mas pensei que seria melhor perguntar, somente para manter suas opções abertas. Será melhor irmos ou chegaremos tarde.

Falcon, —perguntou Emma enquanto se dirigiam à porta. —Papai Noel realmente vai estar lá? Terá um presente para mim?

       Houve um repentino silêncio e ele compreendeu que sua resposta era importante para todos as crianças, quando baixou o olhar para os rostinhos esperançosos. Mesmo Travis parecia esperançado, embora tentasse aparentar indiferença.

       Eles nunca tiveram uma árvore de Natal ou comida suficiente. Sequer um teto sobre suas cabeças e muito menos um presente de Natal.

—Estou seguro de que está a caminho. - Disse Falcon. Um nó em sua garganta ameaçava lhe sufocar. Trocou outro olhar com Sara. Era fácil entender por que ela sentira necessidade de resgatar pelo menos a estas crianças. Só poderia salvar alguns e fizera o possível para lhes proporcionar uma boa casa.

—Venha, todo mundo, vamos. Esta noite andaremos num trenó . - Anunciou Sara. – Assegurem-se de ter seus chapéus, casacos e luvas.

—Como o trenó de Papai Noel? —Perguntou Chrissy. Aos cinco anos, ela era a maior das meninas e levava seu papel seriamente. Havia assombro em sua voz e Sara ficou instantaneamente agradecida a Falcon por ter pensado num passeio em trenó.

—Bom, teremos cavalos em vez de renas. - Disse Sara. – Mas, será divertido. Quando subirem, se enrolem nas mantas para ficarem quentinhos.

       Não podiam colocar os sete meninos num trenó, Então Sara foi com os quatro meninos para que pudesse "cuidar dela" enquanto Falcon se ocupava das três pequenas. Travis tomou as rédeas e com aspecto muito adulto, agilizou os cavalos. Jase, o menino menor, de três anos, segurou-se com força em Sara e gritou de deleite enquanto deslizavam pela neve, para a estalagem.

       Falcon escaneou a região ao redor. Sabia que aconteceram vários ataques sobre as mulheres e outro dirigido ao príncipe e sua apreensão cresceu quando entraram na parte mais espessa do bosque. Uma revoada no alto atraiu seu olhar para cima e viu vários mochos desdobrando as asas no alto. Os cavalos sopraram, expelindo nuvens de vapor no ar, mexendo as cabeças quando viram os lobos que passeavam junto a eles. O líder corria paralelo a eles e seus olhos azuis flamejavam.

—Nossa escolta. - Gritou Falcon, sorrindo. Guerreiros voando sobre eles, correndo junto a eles, vigiando os meninos e Sara. Ele saudou-os enquanto o trenó corria sobre a neve, deslizando facilmente.

       As campainhas do trenó tilintavam a cada passo que davam os cavalos. As bochechas das crianças estavam rosadas e eles estavam com os olhos totalmente abertos pela excitação e suas risadas eram música para seus ouvidos. – Amo você, Sara. Obrigado por me dar a vida.

- Eu também o amo, Falcon. Obrigado por ser você. Ninguém mais teria aceito estes meninos e os teria abraçado como você fez. É um homem extraordinário.

       A estalagem estava iluminada, luzes coloridas brilhavam do balcão e rodeavam a porta. Os cavalos se detiveram na entrada e Slavica, uma das mulheres que com freqüência cuidava deles, saiu a saudá-los. Abraçando a cada um, levou-os para o enorme restaurante onde haviam erguido o cenário. Falcon e Sara tomaram seus lugares, Sara segurou a mão dele com força, cruzando os dedos por que as crianças se divertissem, atuando para todos os adultos.

       A apresentação terminou com poucas dificuldades.Eles atuaram bem, embora o anjo deu um chute na tíbia do rei e este pulou pelo cenário durante um minuto antes de se lembrar que tinha audiência. Josef cantou uma comovedora canção rap, sua própria versão natalina do Gingue Bells, que na realidade foi bastante boa e a audiência o aplaudiu tanto que, em seu entusiasmo, ele quase caiu do palco improvisado.

       Falcon passou o braço ao redor dos ombros de Sara.

—Você é uma mulher incrível. Como conseguiu tudo isto? As crianças estão felizes. Olhe-os aí encima. São todos pequenos artistas.

       Mikhail assentiu com a cabeça.

—Uma atuação fantástica, Sara. Não fazia idéia. Deve ter passado muito tempo preparando-os. —Ele olhou a seu redor, para sua gente. Todos estavam sorridentes e os rostos cansados e sombrios de seus guerreiros estavam relaxados e felizes, a maior parte deles saudando os meninos com seu estrondoso aplauso.

—Não fizeram um trabalho maravilhoso? —Sara estava sorrindo a suas crianças. - O que te pareceu a versão de Josef de um canção de Natal rap? Ele realmente trabalhou duro nesse número. E Skyler cantou muito bem. Surpreendeu-me quando ouvi sua voz pela primeira vez. Paul e Ginny dançaram bem e é claro ninguém toca o piano como Antonietta. Estou muito satisfeita com tudo.

—E ter aos Trovadores Escuros cantando. – Acrescentou, Falcon. - Acredito que nossos convidados estão contentes com o espetáculo.

—Para ser totalmente honesto Sara, esperei muito desta produção. – Admitiu, Mikhail. - Quando teve tempo para fazer tudo isto? Sabia que estava praticando com as crianças e inclusive com os adolescentes, mas isto está realmente além do que nunca imaginei.

—Foi divertido, Mikhail. E as crianças realmente precisavam se sentir parte da ocasião. Não quero que se sintam diferentes. Nenhum deles. É importante que os adultos os vejam e reconheçam seus talentos.

—E não o fazem? —O sorriso desapareceu de sua face. Não faziam. Importante eram as crianças para eles, como entesourados e preciosos. O restante da comunidade Cárpato velava por sua saúde e segurança, mas não necessariamente por nada mais. Não sempre fora assim.

—Não são somente seus pais. – Disse, Sara. - Os homens dos Cárpatos lutaram sozinhos durante tanto tempo, sem famílias, que esqueceram como é tê-la. Sua vida é a guerra, não o lar, nem esposa e filhos. Esta é a educação, não só livros, mas lhes ensinar os costumes dos Cárpatos, como mudar de forma, as salvaguardas e inclusive lutar. Quem faz isso? Nunca decidimos. As crianãs são poucas e ninguém pensa em reuni-los assim para que todos possam conhecer uns aos outros, fazer amigos e ter a adultos que os aceitem.

       Mikhail recordou sua própria juventude, os guerreiros detendo-se para lhe dirigir uma palavra ou conselho aqui ou acolá, uma aldrava de pontas o levando às cavernas e lhe mostrando como fazia, outros trabalhando com ele em como de forma e mesmo em táticas de batalha. Sara tinha razão.

—Pensarei no que me disse, Sara. Tem sentido. As crianças parecem mais felizes do que nunca os vi. Visitei brevemente à mãe de Joie, a senhora Sanders e ela mencionou que você fez a mão as fantasias. Teria te proporcionado ajuda se tivesse pedido.

—Tive ajuda. Corinne costura também. E queríamos costurá-los a mão em vez do modo Cárpato, para mostrar aos meninos e meninas como podiam ser feitas. Falcon e eu tentamos integrar os dois mundos tanto como é possível. Colby Da Cruz me disse que ela e Rafael faziam o mesmo com Paul e Ginny.

Mikhail segurou a mão de Raven e a atraiu aos lábios. Seus dentes mordiscaram gentilmente os dedos dela.

—Parece haver muitas coisas que não considerei. Aprendemos muito com sua festa, Raven. Vários dos nossos tiveram que incorporar métodos humanos junto com os Cárpatos. Quantos mais de nossos guerreiros encontrar suas companheiras entre as mulheres humanas, com mais freqüência acontecerão. É melhor que aprendamos a integrar humanos nas famílias Cárpatos.

       Ela levou-a longe dos outros, para a grande árvore de Natal. Várias pessoas haviam feito adornos para pendurar nela e Slavica os trouxera de todos os povoados ao redor. Ele se inclinou para roçar um beijo nos lábios de Raven.

—Olhe a seu redor, Raven. Você fez isto. É a primeira vez em séculos que há tantos Cárpatos reunidos num mesmo lugar e com nossos vizinhos. As crianças estão sorrindo e correndo por aí, excitados. Os homens estão relaxados. Bem, — ele emendou — em alerta como deve ser, mas bem mais relaxados do que nunca vi. —Seu olhar pousou em Lucian. - Olhe, Raven. Esse homem passou sua vida inteira lutando, mas agora, está em paz.

       O sorriso de Ravem em resposta foi gentil e cheio de compreensão.

—E é claro você precisava ver isto. Te que se lembrar de vez em quando, por que está lutando, Mikhail. Todo o esforço que faz é por eles. Se nunca vir a recompensa, a carga começa a pesar demais.

       Ele sentiu uma dor na garganta quando olhou ao redor. Havia tantos deles, seus guerreiros, altos e eretos com seus distintos cabelos negros, olhos implacáveis, mas agora sorrindo. Olhou além deles os outros homens. Alguns no vestíbulo, uns poucos perto do palco e a maioria fora onde ele podia senti-los. No limite. Sem companheira que lhes arrancasse de sua vazia existência, quem os ajudaria? Quem lhes daria esperança? Ou a reunião só acentuaria sua solidão?

       Raven se apoiou nele, compartilhando o calor de seu corpo.

—Não somos somente gente, somos uma sociedade. Mas como podemos ser uma sociedade se raramente interactuamos uns com os outros? —Ela estendeu o braço para cima para lhe tocar a face, tão marcada pela preocupação. - Os velhos costumes desapareceram para sempre Mikhail, por mais triste que seja. Temos que encontrar uma forma de unir esta gente, com novas tradições. Agora temos que fazer nossa própria história. Temos inimigos, sim. Mas temos isto. — Num gesto largo ela abrangeu a todos. Cárpatos e seus amigos humanos. - Temos muito e você fez isto. Gregori estava acostumado a se queixar por sua amizade com seu sacerdote, Pai Hummer, mas agora um de seus melhores amigos é Gary Jansen.

       A menção de seu velho amigo, um sacerdote assassinado por membros da sociedade, por sua associação a ele, entristeceu-o. Obrigou sua mente a se afastar do passado.

Sara mencionou que lutamos em muitas batalhas e ficamos muito tempo sem crianças, que não lhes damos as ferramentas apropriadas que precisam. Acha que ela tem razão? —Os olhos negros de Mikhail descansaram sobre a face de Raven. Os companheiros não mentiam uns aos outros, Mesmo se o que teria que dizer fosse doloroso. Ele viu a resposta no rosto dela, na forma em que seus dedos se apertaram em torno dos dele e ela pareceu momentaneamente angustiada.

—Você não pode pensar em tudo, Mikhail.

—Não tenho escolha, Raven. É meu dever e minha responsabilidade. Estas crianças são todos Cárpatos e os que não são ainda, logo serão. Tem razão ao dizer que não só somos gente. Somos uma sociedade e temos que começar a atuar como tal. Nossos inimigos conseguiram nos manter enfocados neles, em vez de prestar atenção aos detalhes de nossas vidas que são importantes. Nossas crianças são tudo. Em vez de nos incomodar por suas travessuras, como estivemos fazendo com Josef, deveríamos todos estar lhes ajudando a aprender.

—Carinho —Disse ela, brandamente. - Josef acabaria com a paciência de um santo.

       Um pequeno sorriso flertou nos lábios dele.

—Concordo, concederei isso a você. Esse menino é muito velho em alguns aspectos e muito jovem em outros. Nenhum de nós teve que lidar com jovens, não em séculos e tentar encontrar a tolerância e paciência vai ter que ser uma prioridade, especialmente agora que algumas de nossas mulheres estão grávidas.

       Raven acotovelou Mikhail quando Jacques e Shea entraram.

—Parece tensa. Acha que jé e o parto?

—Jacques me disse que ela está lutando com isso. Pedi a Syndil que escolhesse um lugar para o parto e enriquecesse a terra para Shea e o bebê, esperando que isso a ajudaria a relaxar o bastante para dar a luz.

—Surpreende-me que tenha vindo.

—Tem que se encontrar com uma amiga da Internet aqui, esta noite. Uma hóspede, Eileen Fitzpatrick é seu nome. Conhece-a?

—Não, mas Slavica a mencionou. Aparentemente, acaba de sair de uma operação de cataratas e passa quase todo o tempo em seu quarto. Só veio para conhecer Shea. Já está em idade avançada e estava preocupada porque esta foi sua única oportunidade.

—Jacques me disse que Aidan a investigou. Aparentemente é inofensiva, mas quero tomar precauções extras com Shea. Tendo em conta os últimos acontecimentos não confio em ninguém, em se tratando dela. Sequer numa anciã inofensiva com cataratas.

       Shea e Jacques se abriram paasso lentamente através do restaurante, para Mikhail e Raven. Mikhail se adiantou para saudar sua cunhada com um beijo na face.

—Está segura de que não deveria estar descansando? —Perguntou-lhe, olhando para Jacques, com uma sobrancelha inquisitiva e arqueada.

—Estou definitivamente de parto. - Admitiu Shea. - O bebê decidiu vir esta noite, quer eu queira ou não. Será mais fácil e rápido se ficar em pé tanto tempo possível. Queria ver o espetáculo, mas me movo um pouco lenta.

       Raven a abraçou.

—Posso mostrá-lo em minha mente, cada detalhe, especialmente as partes divertidas. Os pequenos estavam tão bonitos e eu não tinha idéia de que os adolescentes tivessem tanto talento. Josef realmente tem uma boa voz e sempre é muito ocorrente.

—Josef cantou? E eu perdi isso? —Perguntou, Shea.

       Mikhail suspirou.

—Se chama cantar o que ele fez. Tem uma boa voz e não posso entender por que o menino não canta nenhuma só canção que se possa entender. E o que eram todos esses giros que ele estava fazendo lá encima?

—Giros? —Repetiu Jacques, olhando para Raven em busca de uma explicação.

—Parecia que estava tendo convulsões. – Explicou, Mikhail.

—Ele estava dançando. - Disse Raven, lançando a Mikhail um olhar reprensiva.

—Era isso? Eu não podia decidir se ele estava fazendo striptease sem se despir ou precisava de ajuda médica imediatamente. Como ninguém correu para lhe ajudar, fiquei em meu lugar. Girava no chão e se sacudia por toda parte como, uma larva.

Breakdance . - Interpretou Ravenpara a Shea.

—E o striptease? —Perguntou Shea.

—Esse seria a dança estranha, sem companheiro, acredito. - Disse Raven. - Eu não estou exatamente a par da modernidade, mas parecia como se ele estivesse... Er... Bom, já sabe.

—Não sei não. - Mikhail encolheu os ombros. – Ele quase caiu do palco nesse ponto.

       Shea sorriu, pressionando uma mão sobre o ventre.

—Eu sabia que deveria ter vindo antes, somente por isso.

—Foi digno de ver. – Concordou, Mikhail. - Embora não entendi nenhuma palavra do que ele disse, nem por que estava cuspindo e grunhindo enquanto cantava.

—Não está na moda . – Declarou, Jacques.

Raven e Shea riram juntos. Mikhail pareceu ferido.

—Como? Eu estou na onda. Acontece que sei que isso não é dançar. Paul e Ginny dançaram e Antonietta tocou autêntica música. Skyler cantou como um anjo. Os Trovadores cantaram várias baladas maravilhosas e nenhum deles, nem Barack, cuspiu enquanto cantavam.

       Jacques sacudiu a cabeça tristemente.

—Não há esperança de você se modernizar, irmão.

       Shea se pressionou uma mão sobre o ventre e estendeu a mão para Jacques.

—As contrações estão começando a ficarem mais fortes. Dar risada, piora.

       Os dois homens pareceram atacados pelo pânico. Raven teve que ocultar um sorriso.

—Você se sairá bem, Jacques. Está muito pálido. Alimentou-se esta noite, não é?

—Só se comporta como um bebê. – Disse, Shea. – Ele se alimentou. Queria estar preparado, se por acaso eu precisar de sangue. —Sorriu para ele. - Que não precisarei. Tudo vai dar certo.

—Não para mim. – Admitiu, Jacques. - Não imaginava o que se sentia ao dar a luz. Compartilhar a experiência é francamente aterrador.

       Mikhail assentiu, mas estava olhando seus guerreiros, os homens dos Cárpatos sem companheiras. Eles eram os guardiães da noite, já que com tanta freqüência estavam em terras estrangeiras e somente desta vez tinham a responsabilidade de proteger uma de suas mulheres durante o parto. Os homens se moveram atravessando o restaurante, escaneando e examinando as regiões circundantes em busca de inimigos.

—Na verdade estou muito excitada para conhecer uma das hóspedes que voou de São Francisco. Seu nome é Eileen Fitzpatrick e pode ser parente minha. Nós duas estamos interessadas na genealogia e já que não tenho realmente nenhum parente por meu lado, da família, realmente espero que sejamos parentes. - Disse Shea. Ela enviou-me mensagem através de Slavica de que não se sentia muito bem esta noite e queria me conhecer em seus aposentos. Então não teria que descer aqui com todo esse caos. Achei que seria uma boa idéia.

—Definitivamente, não. – Disse, Jacques.

—Não! —Mikhail foi inflexível.

       Shea fez uma careta.

—Não sou feita de porcelana. É uma senhora idosa, acaba de sair de uma operação e veio de longe. O menos que posso fazer é subir as escadas e ir vê-la.

—Sozinha não. Ela estará aqui mais de uma noite, Shea. - Persuadiu Jacques. - Não tem necessidade de vê-la esta noite. — ele colocou a mão sobre o ventre dela, que se ondeou uma vez mais numa contração. - Tem outras coisas a fazer esta noite. Raven, você seria amável em pedir a Slavica que a avise de que Shea está em trabalho de parto e que lhe fará uma visita num dia ou dois.

—Bem, não vou perder Gregori fazendo Santa Claus. - Disse Shea firmemente, consciente de que a postura teimosa do queixo de Jacques significava que ela não mudaria de opinião. – Então não acredite que pode me apressar a sair daqui.

- Gregori. - Apesar da gravidade da situação, com Shea tão perto de seu momento, Mikhail não pôde evitar a risada zombeteiroa em sua voz. - Shea está em trabalho de parto e quer vê-lo em seu alegre traje vermelho antes de ter seu bebê. Então adiante com o espetáculo, meu filho.

       Mikhail deu a ordem por seu vínculo mental privado estabelecido séculos antes através do vínculo de sangue.

- Não se pode apressar Santa Claus. Esta é uma noite ocupada para ele, Mikhail. Nem sequer você, meu príncipe, pode controlar sua chegada.

       Mikhail lançou um sorrisinho para Jacques e acariciou o longo cabelo de Raven.

—Tenho que falar com alguns de meus homens. Não demorarei muito. Você pode passear por aí com Shea e se ocupar de que se comporte.

—Como se eu pudesse fazer outra coisa. - Replicou Shea.

       Mikhail se afastou pausadamente, movendo-se entre os aldeãos, convidados e sua gente, para procurar o antigo ao qual havia divisado. Dimitri estava no bar, entre as sombras, seus olhos frios seguiam o processo de Skyler enquanto esta se movia de um lado a outro.

—Como está? —Perguntou, Mikhail.

—Melhor. Ela já não está tão aflita e isso ajuda. Vou me atormentar alguns minutos e depois voltar para minha patrulha. Se não puder fazer nada mais, pelo menos sei que posso mantê-la a salvo.

—Se for uma Caçadora de Dragões como Natalya suspeita, é muito mais que uma poderosa psíquica. Isso explicaria as coisas que Francesca diz que ela pode fazer.

—E também significa que sofreu bem mais traumas, do que já conhecemos.

       Mikhail bateu levemente nas costas de Dimitri.

—Você é um homem honorável, Dimitri e mais que merecedor de uma estranha jóia como sem dúvida será Skyler.

—Espero que tenha razão.

       Mikhail o deixou em paz, de pé nas sombras onde vivia a maior parte do tempo. A tristeza alagou o príncipe. Dor por seus guerreiros, tão sozinhos e a maioria sem muita esperança, mas vivendo suas vidas na medida de suas possibilidades.

       Manolito Da Cruz estava em pé na porta e Mikhail se aproximou dele.

—Suspeita que algum destes homens possa ser o mago? Você se aproximou dele, entrou em sua toca e possivelmente captou sua essência.

       Manolito encolheu os ombros.

—Não posso divisar nenhum homem que pudesse ser o mago que procuramos. Percorremos os quartos, escutado e escaneado, mas todos os convidados parecem ser legítimos.

—O que te diz seu instinto? — Perguntou, Mikhail.

—Que o inimigo está perto. – Respondeu, Manolito.

—O meu diz o mesmo. - Mikhail encolheu de ombros. – Continue procurando. E diga o mesmo aos outros. Não podemos nos permitir nenhum engano.

       Manolito assentiu e se abriu passo uma vez mais pelo restaurante, entregando a mensagem do príncipe verbalmente aos guerreiros presentes. Não confiava em que seu vínculo comum de comunicação não fosse ouvido, se o mago estava aliado a um vampiro. Quando se aproximou de Nicolae e Vikirnoff com suas companheiras, arriscou um rápido olhar para MaryAnn.   

       A visão dela lhe tirou o fôlego. Ela estava sentada numa mesa perto de Colby e Rafael, conversando com Ginny, Paul e Skyler, rindo de alguma coisa que eles estavam contando. Estava tão bonita que feria os olhos. Sua pele parecia brilhar e ele se sentia hipnotizado por sua boca e seus olhos. O som de sua voz jogou com sua libido, descendo por sua espinha. O desejo golpeou seu corpo, contraindo seus músculos e endurecendo seu membro fazendo com que parasse de andar e ficasse quieto, obrigando seu olhar a se afastar da tentação. Não deviam pegá-lo admirando-a ou sequer pensando nela. Teria que manter a mente fixa em seu objetivo e descobrir o mago escuro.

Mikhail pressente ainda que a ameaça é muito real com a mulher de Jacques tão perto do momento. Pede a todos que permaneçam alertas. – Ele entregou sua mensagem, mantendo sua mente em modo de batalha, sabendo que ambos estavam postos a prova. Estivera provando as mentes de muitos dos homens sem companheira, como pudera e várias vezes haviam tocado seus pensamentos.

       Colby levantou o olhar e lhe sorriu.

—Você está bem? Rafael me disse que você se feriu defendendo o príncipe.

—Não foi nada, irmãzinha. Um arranhão, nada mais. —Não havia sentido nada por esta mulher, além do que seu irmão passava, quando Rafael a havia trazido pela primeira vez em casa, mas agora podia se lembrar de todas as pequenas coisas que ela fizera por ele e por seus irmãos. Com freqüência compartilhava seus pensamentos quentes e risonhos com eles e as travessuras de Paul e Ginny, esperando fazer sua existência mais suportável. Agora podia sentir autêntico afeto por ela.

       Casualmente deixou cair a mão sobre o ombro de Colby.

—Comprovei Riordan e Juliette. Nada perturbou seu sonho. —Seu olhar revoou sobre Paul e Ginny. - Ao Juliette teria se encantado de vê-los dançar. Sempre menciona que sua irmã estava gostava muito de dançar. Com sorte terá oportunidade de voltar a vê-la dançar. — Ele olhou fixamente para MaryAnn, fez uma ligeira reverência e se afastou sem uma leve mudança na expressão de seu rosto.

       MaryAnn lhe olhou enquanto ele se afastava.

—Deus, isso é que é um homem bonito

       Colby assentiu.

—É, verdade? Todos os irmãos Da Cruz são homens belos. Há cinco deles e quando estão todos juntos são uma visão assombrosa. A maioria das mulheres babam ao redor deles.

       MaryAnn seguiu aoo homem com o olhar, sentindo-se um pouco ciumenta, pelo que Colby dissera. Manolito indubitavelmente tinha a atenção das mulheres solteiras da festa, mas não lhes dedicou mais de um simples olhar. Não era que ela desejasse um homem próprio, mas não teria se importado que ele a olhasse mais uma vez.

—O que ele quis dizer sobre a irmã de Juliette? Por que já não dança? —Ela se perguntou se Manolito alguma vez teria visto a irmã de Juliette dançar. E se perguntou por que se incomodava em pensar que possivelmente ele vira.

       Colby suspirou pesadamente.

—A irmã caçula de Juliette, Jasmine, foi raptada por um grupo de homens jaguar. Eles... —Ele se interrompeu, olhando para seus irmãos e sacudindo a cabeça. Fizeram coisas com ela. Agora não sai da selva e nem se aproxima do rancho. Nega-se inclusive a ver Juliette se ela estiver com Riordan. Juliette está tão angustiada que esteve falando em deixar o rancho, nosso lar, para tentar ajudar sua irmã. Rafael estava me dizendo que você ajudou Destiny muito e provavelmente poderíamos encontrar uma conselheira para Jasmine. Embora, onde vivemos, isso poderia ser muito difícil.

       MaryAnn se encontrou observando o alto Cárpato enquanto este andava em meio a festa com absoluta confiança estampada em cada linha de seu corpo. Era fluidico, quase elegante. O ponto sobre seu peito estava doendo novamente e ela pressionou a mão firmemente sobre ele. A sensação se estendeu, fazendo com que seus seios endurecessem e os mamilos se sensibilizassem. Um calor se propagou por seu baixo ventre. Engoliu com força, tentando arrancar seu olhar da boca sensual e da imagem desta movendo-se sobre seu corpo.

—Acredito que não há muitas conselheiras perto de seu rancho.

—Não. —Colby fez uma careta. - Pelo que conta Juliette, Jasmine nunca foi uma pessoa forte. E têm uma prima, Solange. Ela detesta os homens e Juliette não foi capaz de combater sua influência. É tudo muito triste.

—Possivelmente tenha uma palavra ou duas com Juliette quando ela se elevar. – Aventurou-se, MaryAnn.

—Você faria isso? Seria muito útil. Talvez poderia tentar lhe dar algum conselho sobre como se aproximar de Jasmine para que pelo menos aceite os homens de nossa família. Eles morreriam para protegê-la. Simplesmente são assim.

—Adorarei ajudar. - Disse MaryAnn, seu olhar uma vez mais vagava para o alto e bonito Cárpato que obviamente estava de guarda.

—Me perdoe, Colby. - Interrompeu Paul. - Mas você prometeu me apresentar a Gary Jansen. Ele poderia ser meu tio.

       Colby apertou a mão de Rafael.

—Vamos falar com ele e ver o que tem a dizer. —Ela conduziu seu irmão à mesa onde Gary Jansen estava sentado com Gabrielle Sanders, seu irmão Jubal e sua irmã Joie. O companheiro de Joie, Traian, levantou-se quando ela se aproximou, como fizeram os outros dois homens.

       Gary olhava fixamente para Colby, sacudindo a cabeça.

—Você se parece tanto com minha irmã que chega a ser assombroso. Era mais velha que eu muitos anos e abandonou nossa casa quando eu tinha dez anos. Nunca voltei a vê-la. Mas te juro que é igualzinha a ela.

       Colby se sentou na cadeira junto a ele depois de apresentar Paul. Notou que a mãe de Gabrielle se afastava rapidamente, com uma leve careta.

—Sinto muito. Nós a incomodamos?

—Não. Temo que ela não gosta de nenhum jaguar, embora para ser totalmente honesto, não acredito que eu seja. – Disse, Gary. - Nunca ouvi dizer que tivéssemos sangue jaguar. De fato, nunca havia ouvido falar da raça jaguar até que fiquei amigo de Gregori.

—Não se preocupe por mamãe. - Acrescentou Gabrielle. – Ela se acostumará. Tem que se acostumar a tudo isto.

       As portas duplas do restaurante que conduziam ao balcão, se abriram de repente e uma mulher pequena, vestida de elfo com orelhas pontiagudas e um lindo cabelo negro azulado se colocou no centro das portas abertas.

—Senhoras e cavalheiros, poderiam prestar atenção, por favor? Muitos podem não saber disto, mas aconteçe que sou maga. Venham comigo crianças. Podem virem aqui no balcão? Quero mostrar-lhes um dos maiores magos de todos os tempos. Ele é um segredo bem guardado.

       Todos as crianças, dos Cárpatos e dos aldeãos se empurraram para frente e os adultos se reuniram atrás deles. Paul elevou Emma sobre seus ombros e Skyler pegou à pequena Tamara enquanto Josef levantava o pequeno Jase. Travis segurava Chrissy pelos ombros e a mantinha perto, enquanto Ginny segurava as mãos de Sara e outros dois meninos as de Falcon. Josh, sentindo-se bastante maior, tinha a responsabilidade da última menina, a pequena Blythe.

       Enquanto a maga falava, pequenos pulsos de luzes coloridas tilintavam ao redor da mulher e a neve caía sem nunca tocá-la. O mundo a seu redor parecia deslumbrante e majestoso, redemoinhos de névoa lhe cobriam os pés enquanto ela dançava ao longo do corrimão do balcão, com suas pequenas botas de elfo. Seu cabelo se espalhava a seu redor como uma capa e sua face era mágica e prateada, a luz da lua.

       Os cristais pendurados nos beirais pulsavam com as mesmas cores, em vermelhos, verdes, azuis e amarelos, convertendo a noite num desdobramento de luz.

       Um ofego coletivo surgiu das crianças e Travis teve que segurar Emma quando esta se adiantou para o balcão, olhando com respeito às luzes. Savannah virou num pequeno círculo e saltou de volta ao chão, diante das crianãs.

—Oh, céus! Acredito que esqueci minha varinha. Precido dela para lhes revelar Papai Noel. —Sua voz baixou dramaticamente e ela olhou para a direita e para a esquerda, como se só confiasse neles. - Ele sempre vem sob a cobertura da noite usando tempestades como esta, para evitar que as crianças o vejam. — Ela olhou novamente a seu redor. – Mas só se tivesse minha varinha.

—Mas Savannah... —aventurou, Chrissy— ela está em sua mão.

—Sério? —Savannah pareceu surpreendida e elevou a brilhante varinha, fazendo-a girar num pequeno círculo. Choveu cintilante pó de duende por todo o balcão coberto de neve. - Oh! Legal, está funcionando. Deixe-me ver. Olhem para o céu e tentarei me lembrar como fazer isto. Só fiz uma vez, sabem, mas por voces, tentarei novamente.

       Savannah ondeou a varinha num gesto amplo enquanto dançava novamente pelo corrimão. A queda da neve se afastou como se fosse uma cortina. Um grande boneco de neve com olhos de carvão e um nariz de cenoura se voltou, com aspecto culpado e se afastou correndo pelo chão, até pessoado.

—Oh, céus! Saiu errado! Esse era o Homem de Neve. Deixem-me tentar outra vez. - disse Savannah.

       As crianças sorriram quando Savannah trouxe de volta a neve, fez outra vertiginosa dança e uma vez mais lançou pó de duende para o ar, enquanto abria a cortina de neve.

       As crianças e a maior parte dos adultos ofegaram novamente e alguns deles colocaram as mãos sobre os lábios, num esforço para permanecerem calados. Acima no céu, onde as estrelas tilintavam e a lua brilhava, um reluzente trenó atravessava a noite, puxado pelas renas. Um homem com uma barba branca vestido com uma roupa vermelha bordado de pele branca, conduzia às renas. No trenó havia uma enorme bolsa avultada por brinquedos. Os sinos do trenó repicavam suavemente e as luzes pulsantes que iluminavam a neve agora iluminavam o céu ao redor das renas que arrastavam o trenó, fazendo qcom ue por um momento a face alegre de Santa Claus pudesse ses vista claramente e em seguida fosse suavizada por uma luz prateada.

       Seus olhos pareciam ser tão negros como o carvão. Havia neve em sua barba, sobre as rédeas, nas cadeiras vermelhas com franjas prateadas e nas renas. O trenó voou em círculos sobre suas cabeças. Um silêncio caiu sobre a multidão quando as renas desceram mais num amplo círculo, para finalmente descerem no teto sobre eles. Ninguém se movia. Podiam ouvir o som dos cascos encabritando-se sobre suas cabeças. Silêncio. Então ouviram o som de pesadas botas, caminhando.

       Todo mundo virou a cabeça para ver Santa Claus junto à árvore, empilhando presentes por toda parte. Ele parou uma vez para pegar um punhado de bolachas que Sara fizera e também algumas cenouras, para as crianças deixarem para suas renas.

       Emma foi primeira a se mover. Se remexeu até que conseguiu que a baixassem para correr pelo aposento, para Santa Claus. Ela parou, balançando-se sobre as pontas dos pés, levantando o olhar para ele.

—Trouxe um presente para mim?

       Papai Noel rebuscou em sua bolsa.

—Acredito que sim. Onde estava? Elfo! Preciso que me ajude a encontrar o presente de Emma.     

       Savannah colocou um dedo nos lábios.

—Papai Noel acredita que sou um elfo de verdade. — Ela sussurrou para as crianças. - Será melhor que vá ajudar-lhe. —Atravessou nas pontas dos pés, em meio a multidão, com seu chapéu de elfo oscilando e suas botas verdes, sem fazer nenhum ruído sobre o chão.

       Papai Noel se sentou e fez gestos para que as crianças formassem uma fila. Quando a pequena Tamara foi colocada em seu colo tirou sua barba, ele lançou um olhar ardente para o elfo. – Te asseguro que esta eu devolvo a seu pai.

      

       Shea se apoiou contra Jacques, voltando as costas para a multidão reunida, para observar Papai Noel distribuir os presentes para as crianças. Seus dedos seguraram o braço de Jacques enquanto respirava através da contração.

—Sabe como podemos deixar de um lado a dor, a maior parte do tempo? Isto é como a conversão. Não há forma de asilar-se. Só pode seguir adiante com isso. Esperava que como mulher dos Cárpatos, seria um pouco mais fácil.

       Um estalo de risos captou sua atenção e ela se virou para ver a pequena Jennifer vomitar sobre a barba branca de Papai Noel. Por um momento os olhos negros como o carvão viraram prata, como os de um lobo e descansaram sobre Mikhail. Rapidamente Santa recuperou seu estado jovial e devolveu o bebê a Corinne.

       Shea sorriu para Jacques. - Não teria perdido isto por nada do mundo.

Se eu fosse Mikhail, estaria esperando que um relâmpago me golpeasse.

—vamos levar te a câmara do parto —disse Jacques em voz alta, lhe        Passando o braço pelas costas para lhe dar apóio, Jacques podia sentir a dor atravessando seu corpo, tornando-se mais forte a cada contração. Mais forte e de longa duração.

       Shea acariciou seu rosto.

—Não pareça tão ansioso. Milhões de mulheres têm filhos.

—Mas você não, pequena ruiva. – Ele sussurrou, inclinando-se para beijar a cabeça sedosa. - Nós não. Você é meu mundo, Shea.

—Nos sairemos bem. Olhe — Ela sssinalou à parte de atrás do restaurante com o queixo. - Fizeram bem em fazer este pequeno show para as crianças. Ninguém como Savannah sabe como ganhar uma multidão com sua magia. Antes que Gregori a reclamasse era uma professora da ilusão, percorrendo todo mundo com seu espetáculo de magia e indubitavelmente tinha que limitar suas habilidades. Ela tem à multidão na palma da mão. As crianças nunca acreditariam, nem por um só momento, que era Gregori que estava no trenó.

       Assim que "Papai Noel" terminou de oferecer os presentes, Gregori foi para a parte de atrás do aposento, olhando sua companheira.

—Por que demônios se vestiu assim? O que acha que estava fazendo?

       As crianças riram quando Savannah se voltou com um olhar culpado na face e sustentou um dedo sobre os lábios.

—Tenho que ir e terei que devolver a Papai Noel sua magia protetora. Não queremos revelar para o mundo inteiro.

       Papai Noel levantou seu saco e se apressou até o fogo. Embora as chamas ardessem com força, ele simplesmente desapareceu pela chaminé. Outro arquejar de respeito reverencial atravessou à multidão.

Savannah leva magia aonde quer que vá. – Disse, Jacques. – As crianças nunca esquecerão esta noite.

       Savannah ondeou sua varinha justo quando as ruidosas pegadas indicavam que Papai Noel estava voltando a subir em seu trenó. Balançou as botas negras expertamente pelo beiral do trenó e fez estalar o látego sobre as cabeças das renas. Todos notaram como o trenó e a bolsa de brinquedos, agora quase vazia, se elevaram no ar e se afastaram sob o som da risada de Santa Claus.

       Outra onda de dor deslizou maliciosamente através do corpo de Shea. Seus dedos se apertaram com força em volta dos de Jacques, enquanto respirava lentamente num esforço por controlá-lo. Desta vez a dor foi forte e durou o bastante para fazer com que outros Cárpatos fossem conscientes de que ela estava realmente em trabalho de parto. As cabeças se voltaram. Guerreiros, companheiras e até algumas das crianças voltaram sua atenção para ela.

       Shea tentou um pequeno sorriso e assentiu.

—É a hora. Onde está Slavica? Devo lhe agradecer esta maravilhosa noite. Estava cheia de deliciosas surpresas.

       Francesca e Mikhail com vários dos outros Cárpatos fecharam filas ao redor de Shea.

—Temos que levá-la a câmara de parto agora. – Declarou, Francesca. – Nós podemos com isto, não tenha medo.

—É ansiedade, não medo. Jacques não deixaria que nada nos acontecesse, não é? —Perguntou Shea, mantendo o olhar de seu companheiro.

—Nada. Este vai ser um nascimento lindo e inesquecível. – Ele lhe assegurou.

       Shea deu alguns poucos passos mais para a porta e parou, afastando o cabelo da testa com a mão, enquanto a dor esticava seu ventre e descia por suas costas.

—Você avisou-lhes que último relatório sobre como os bebês estão sendo expostos a uma terrível beberagem química, como aconteceu com animais e pássaros e que é isso está colocando tantas espécies em perigo de extinção?

Shea, - advertiu Jacques, - agora não é momento de pensar nisso.

—Não, Jacques. Todos temos que pensar nisso. — Ela ofegou quando a dor voltou a alagá-la, lhe roubando o fôlego. Apertou os dentes e falaou sobre as estatísticas. - O sangue do cordão umbilical reflete o que a mãe passa ao bebê através da placenta. De duzentos e oitenta e sete produtos químicos detectados no sangue do cordão umbilical, cento e oitenta deles são conhecidos por causar câncer em humanos ou animais, duzentos e dezessete são tóxicos para o cérebro e o sistema nervoso e duzentos e oito causam defeitos de nascimento ou desenvolvimento anormal em animais de laboratório. E estou citando um relatório realizado por um grupo meio-ambiental alheio a Washington- Acrescentou Shea, resprando quando a dor diminuiu.— Todo mundo deveria prestar mais atenção a isto. Entre os produtos químicos encontrados no sangue do cordão umbilical estão o methylmercurio, produzido pela queima de árvores para fazer carvão e certos processos industriais. Nós podemos respirá-los ou comê-los no fruto do mar e isso causa danos cerebrais e nervosos.

Shea, nosso bebê não vai ter dano cerebral ou nervoso.

—Você não leu esse relatório. Os investigadores também encontraram hidrocarbonetos poliaromáticos, ou PAH, que são produzidos por queimar gasolina e lixo, produtos químicos retardantes chamados polubrominato dibenzotoxinas e furans, pesticidas incluindo DDT e chlordane.

—Não sei o que são nem a metade dessas coisas. - Disse Jacques, tentando consolá-la. Passou a mão por seu braço, mas ela se encolheu afastando-se dele.

—Por isso exatamente é que ninguém escuta. Como não sabem o que é, figuram-se que não têm que prestar atenção. - O pânico enchia sua voz. - Eu sei o que esteve acontecendo a nossas crianças. Estão tão conectados à terra e a terra se tornou tão tóxica que agora estamos na lista de espécies em perigo de extinção também.

—Hora de partir. - Urgiu Jacques.

- Tire a daqui já. - Ordenou Mikhail a seu irmão. - Não podemos no permitir que os aldeãos a ouçam.

- É sua forma de confrontar a dor e o medo, Mikhail.

- Sou consciente disso, Jacques.

—Primeiro tenho que agradecer Slavica. - Insistiu Shea, lutando para conter outra onda de dor.

       Mikhail se inclinou para sussurrar a Raven.

—Encontre-a rápido. Temos que tirar Shea daqui antes que alguém averigúe o que está acontecendo.

—Ela está vindo e traz com ela à mulher de São Francisco. - Disse Raven, com alivio na voz.

       Mikhail moveu a mão para ajudar a apartar à multidão, tornando mais fácil que Slavica e a mulher chegassem até eles.

       Raven se apressou para elas.

Shea entrou em trabalho de parto e temos que levá-la para casa. Ela queria dizer adeus rapidamente e te agradecer esta encantadora noite, Slavica. E é obvio, uma saudação rápida para você, senhora Fitzpatick. Estava desejando conhecê-la.

—Só lhe desejarei boa sorte, então, querida. - Disse Eileen, apoiando-se pesadamente em Slavica, usando a força da mulher para medir seu caminho, com o corpo ligeiramente curvado enquanto coxeava para Shea e Jacques.

       Aidan atravessou o aposento, franzindo o cenho, quando a mulher parou diante de Shea e estendeu a mão para ela.

—Enfim. Me alegro muito em te conhecer querida e num momento tão importante. —Ela bateu a bengala no chão com força por duas vezes, julgando a distância entre elas. – Pena que tenho de usar estes terríveis óculos escuros e tenho problemas para vê-la. Esperava que tivesse uma inconfundível semelhança familiar.

- Guerreiros. - Utilizando o vínculo comum de comunicação, Aidan falou com outros e sua voz ressoava alarmada. - Isto não tem sentido. A mulher que conheci em São Francisco é esta mesma, mas diferente. Velha, mas nem tanto. Caminhava decididamente, mas absolutamente toda encurvada. – ele já estava se movendo, tentando utilizar sua velocidade para atravessar a multidão até Shea.

       Imediatamente houve uma agitação quando os homens se apressaram para a Shea.

       Jacques se colocou diante de sua companheira quando Eileen ergueu a bengala diretamente do chão, apunhalando o ventre arredondado de Shea. Manolito, que havia se colocado perto do casal, empurrou Jacques para o lado e aceitou a afiada adaga que havia na bengala, profundamente em seu abdômen. Ele ficou por um momento olhando senhora de aspecto inofensivo, Concientizando-se dos olhos quase cegos e da face retorcida. Por um momento ela vacilou ante seus olhos e ele pôde ver outra face. Uma que tinha longas marcas de arranhões e olhos destroçados por uma águia real.

- A criatura da toca. Está possuida. – Ofegou, Manolito. - O mago mora no mesmo corpo que a velha. - Seu corpo endureceu, a agonia o rasgou quando seu coração encolheu. Emanou sangue pela canto da boca e seus olhos ficaram opacos quando o ar imobilizou em seus pulmões e seu coração deixou de bater.

       Do outro lado do aposento, MaryAnn segurou o peito com as mãos para deter a súbita dor que se estendia por seu corpo. Suas pernas falharam e ela sentou bruscamente. Tão repentinamente como começou, a dor desapareceu, deixando-a com uma sensação de perda e vazio, mas por que, não sabia.

       Rafael encostou ao lado de seu irmão, agachando-se sobre o corpo inerte, procurando-o com seu espírito, para obrigar o ar a atravessar os pulmões e ao sangue a correr pelo pouco cooperativo coração.

       Mikhail e Jacques arrastaram Shea para trás, empurrando-a atrás deles. Outras mãos a pegaram e a empurraram ainda mais longe enquanto se formava um muro de guerreiros a seu redor. A bengala se apontou para Raven.

—Mãe! —Savannah gritou e se lançou para Raven.

       Gregori chegou primeiro, torcendo a bengala até arrancá-la da mão velha.

- Natalya! – Ele manteve seu corpo entre a velha, Raven e Mikhail.

       Natalya já estava tecendo um complicado sinal no ar, murmurando suave e insistentemente. Vikirnoff recolheu o encantamento de sua mente e acrescentou o poder de sua voz. Nicolae e Destiny se uniram a ele, vertendo sua força combinada em Natalya, através de Vikirnoff.

       Utilizaram o canto e um feitiço mágico, numa combinação de poder Cárpato e mágico. A boca de Eileen se retorceu num grunhido enquanto o mago lutava para manter seu escudo. Não podiam lhe atacar sem matar Eileen. Seu corpo se dobrou quase pela metade. Os guerreiros a rodearam, observando como sua face se contorcia, mostrando um bocado de dentes alongados e depois voltava a ser a de uma senhora educada.

       A dor da Shea atravessou todos os Cárpatos, quase paralisando os homens. - Jacques, leve-a para a câmara de parto. - Odenou Gregori. – Francesca e eu devemos ir. Está muito perto. Não podemos esperar.

       Mikhail pegou Syndil pelo cotovelo e a empurrou para Gregori. – Precisarão dela lá, também. Nos uniremos a voces logo que seja possível. Levem as crianças para casa. Os Von Schrieder se ocuparão deste mago.

- Eileen precisará de um curador. - Advertiu Gregori, enquanto se inclinava para levantar Manolito. Rafael estava mantendo o coração de seu irmão em funcionamento e permaneceu perto do professor curador enquanto todos entravam em ação.

- Eu me ocuparei dela, ofereceu-se Darius.

- Feito então. - Disse Mikhail enquanto Jacques pegava Shea no braços e saía da estalagem a passos rápidos, com Francesca a seu lado. Gregori e Rafael os seguia, com Manolito.

       A voz da Natalya se fez mais exigente, mais insistente. Assinalou o solo, ordenando ao mago que saísse do corpo e tornasse ao chão, arrastando-se como um cão.

       O corpo de Eileen se removeu com ansiedade, estirando-se e retorcendo-se até que pareceu se curvar. Sua garganta se avultou e ondulou enquanto inchava e aumentava o volume. A saliva gotejou por sua boca. Lentamente ele virou a cabeça e olhou diretamente para Natalya. Seus olhos eram profundos buracos, poços de ódio. O mago a olhou fixamente, sua boca ampla e deformada deu forma a uma palavra.

—Traidora. – Acusou. A voz era um trovão demoníaco.

       A voz de Natalya não vacilou. Vikirnoff colocou a mão em suas costas para reafirmá-la, num gesto de absoluta solidariedade.

       Uma sombra se separou do corpo de Eileen, numa substância escura e viscosa, insustancial, impossível de segurar na mão ou de matá-la. Vários guerreiros tentaram, cravando a sombra para tentar encontrar um coração, atravessando-a. Mas esta continuou deslizando pelo chão para a porta, Darius segurou a senhora idosa antes que ela caísse a levantou nos braços, levando-a escada acima, de volta a seu quarto.

- Como o mataremos? - Perguntou Vikirnoff a Natalya.

- Não sei. Não é um guerreiro da sombra então não podemos enviá-lo de volta ao reino dos mortos. É uma alma perdida levando a cabo a vontade do mago. Somente ele pode controlá-la, lhe dar paz ou enviá-la para longe. Nunca me vi com um feitiço para matar uma destas. Tentei alguns e talvez, com o tempo, possa inventar algum, mas esta vai voltar com seu amo.

       Dimitri voltou, após escoltar Gabriel com Tamara e Skyler de volta a sua casa.

—Eu posso tentar segui-la e ver se o mago está perto.

       Natalya assentiu.

—Não deixe que o vejam. O mago é forte e seu conhecimento é muito antigo. Lembro-me algum destes feitiços, mas empalideceram em minha memória.

       Natalya observou o homem dos Cárpatos mudar rapidamente. Uma mudança fácil e fluida quase no meio do ar. Nm momento estava caminhando e no seguinte correndo como um lobo negro e peludo.

—Boa sorte. – Ela sussurrou, pressionando uma mão sobre o estômago quando outra onda de dor golpeou a todos.— Será melhor irmos à câmara de parto se vamos ter alguma utilidade a Shea.

       Profundamente, na câmara mais amena da caverna, Syndil chamava à Terra, cantando amorosamente para enriquecê-la, preparando-a, enquanto Shea se deitava na suave cama da terra rica, com a cabeça recostada no colo de Jacques.

       A vários passos de distância, Gregori e Rafael trabalhavam com Manolito, tentando tirar o veneno de seu corpo e ao mesmo tempo, manter seu coração em funcionamento e seus pulmões trabalhando.

       Por toda parte a seu redor, as velas se acenderam e a suave e consoladora essência de ervas e especiarias encheu o ar. O grande canto curador aumentou de volume quando Cárpatos de todas as partes, incluindo a Shea e Jacques, cantavam para evitar que o grande guerreiro deslizasse para longe de seu lar, enquanto Gregori empreendia a viagem para recuperar seu espírito e lhe dar escolta de volta à terra dos vivos.

       Shea respirava através das contrações, usando ao Jacques como seu foco. Ela se aconchegou na mente dele e ficou ali quando as contrações aumentaram em força e duração. Enquanto isso cantava com outros, sentindo a camaradagem, sendo parte de algo grandioso, em harmonia com a terra que os rodeava. Irmãs e irmãos unidos como uma família para curar um de seus combatentes. Um guerreiro que voluntariamente havia devotado sua vida para manter a salvo Shea e seu filho.

       A cura era difícil e lenta, Gregori lutava contra um veneno que pretendia dar uma morte rápida. Duas vezes teve que parar, pálido e cambaleando de cansaço, para ser rejuvenescido por Rafael e depois por Lucian. Darius se uniu a eles, assinalando que Eileen estava dormindo confortavelmente. Vikirnoff e Nicolae, Destiny e Natalya, entraram na câmara, informando que Dimitri estava tentando seguir à sombra de volta a seu amo.

       Enquanto isso, Shea permanecia quieta entre os braços de Jacques, respirando através de cada contração até que gemeu e se segurou à mão de Francesca.

—Já está vindo. - Sussurrou.

—Estamos preparados. – Lhe tranqüilizou Francesca.

       O olhar de Shea foi para Gregori, já de volta no corpo do guerreiro. Francesca estendeu o braço para abranger a todos os Cárpatos dentro e fora da câmara.

—Você não está sozinha. Ajudará seu filho a entrar no mundo, assistido por nossa gente, bem-vindo e protegido por todos. Gregori se unirá a nós assim que possa. Deixe que seu bebê entre em nosso mundo, Shea.

       Shea assentiu e esperou a seguinte contração antes de empurrar.

       Gregori se afastou de Manolito.

—Ele precisa de sangue. – Anunciou. - Várias sublevações na terra, mas viverá.

       Foi Mikhail quem se adiantou para oferecer sangue a Manolito. Um oferecimento do príncipe, em respeito e honra ao sacrifício de Manolito. Foi Rafael quem abriu a terra para que recebesse seu irmão, tecendo salvaguardas para se assegurar que o descanso de Manolito não fora perturbado.

       Gregori passou a mão sobre a cabeça de Shea num gesto de afeto.

—Então, pequena. Até que enfim vai nos entregar seu filho.

—Esperava por você.

       Ele sorriu.

—Já estou aqui.

—Pode sentí-lo? Está tocando ele, se assegurando de que está bem para respirar sosinho? — ela olhava ansiosamente de Francesca a Gregori e suas mãos seguravam firmemente em Jacques.

       A seu redor podia ouvir o canto do nascimento e o formoso som quase apagava seus medos. Quase.

—Examinou-o em busca de poluentes, Gregori? Está seguro de que seu sangue é forte?

—Fiz tudo isso e está tudo bem. Entregue-nos ele e depois poderá descansar. Esteve se preocupando muito. Deixe-lhe vir para que possa lhe sustentar em seus braços.

       O olhar fixo dela manteve o olhar prateado, que lhe dirigiu outro assentimento de ânimo.

—Confia em mim, MA petite. Confie em nossa gente e em seu companheiro. Solte-o.

       Ela virou a cabeça e levantou o olhar para Jacques.

—Amo você. Aconteça o que acontecer, não importa. Amo você e nunca lamentei, nem um só momento.

       Ele piscou para conter as lágrimas e se moveu para que ela pudesse seguir olhando seus olhos. Mente a mente, estenderam-se para seu filho. Tomaram fôlego e ela empurrou, sem afastar o olhar de sua âncora, De Jacques, o amor de sua vida.

—Alto. Isso, está bem. Respira, Shea. Ele está olhando ao redor. Dê uma olhada. Está excitado para ver seu novo mundo. - Animou Francesca.

—Ainda não. Me diga que está respirando e que é sadio. - Ofegou Shea, ainda obstinada à mente de Jacques, temendo que se o soltasse, se derrubaria de medo por seu filho.

—Empurra novamente. - Instruiu Gregori.

       O bebê escorregou até suas mãos e ele embalou o menino contra ele, abandonando imediatamente seu próprio corpo para examinar conscientemente o menino à maneira de sua gente.

       Francesca pinçou o cordão umbilical e Jacques o cortou, separando a mãe de seu filho.

       O silêncio caiu na caverna. As chamas das velas titilavam sobre os rostos, enquanto todos permaneciam quietos, esperando.

       De repente, um chiado fendeu o ar.

       Gregori sorriu para Shea, segurando o bebê no alto, para o príncipe.

—Dêem as boas vindas a nosso mundo, a nosso membro mais recente. Um filho por todos apreciado.

       Mikhail se adiantou e pousou sua mão sobre a cabeça do menino.

—Um menino muito saudável. Não podia ser mais formoso. Bem-vindo, filho. Sobrinho e guerreiro. Sua vida está ligada a nossas vidas para sempre. Vivemos como um e morreremos do mesmo modo. Quando a gente nasce é causa de celebração para todos e quando um morte, todos sentimos a perda. É irmão. É Cárpato. É uma honra e um privilégio te dar as boas vindas.

       Gregori sustentou o menino sobre sua cabeça e uma alegria ensurdecedora atravessou a câmara de parto. Virou lenta e gentilmente e colocou o infante nos braços de sua mãe. Ela baixou o olhar para o rostinho de seu filho, com lágrimas nos olhos e uma mão obstinada a de Jacques.

—É tão lindo. Olhe-o, Jacques. Olhe o que fizemos.

       Jacques se inclinou para lhe beijar o rosto, provando suas lágrimas com os lábios. Lágrimas de felicidade.

—É perfeito, Shea.

       Mikhail abraçou Raven com o braço e percorreu a caverna com o olhar, observando os rostos felizes de sua gente. Mesmo Dimitri que havia voltado para conseguir dar uma olhada no bebê. Muitos dos guerreiros companheiras se estavam mais perto, desejando ver a causa do por que estavam a tantos séculos lutando. Estavam juntos novamente após tantos anos e tanta luta. Beijou sua companheira, a felicidade o atravessava.

—Temos muito a celebrar, Raven. E tudo está aqui mesmo, nesta câmara. Não só estamos celebrando a vida, mas também a esperança. Novamente há esperança para nossa gente.

 

 

                                                                                                    Christine Feehan

 

 

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