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CRIMES EM LOS ANGELES / Jackie Collins
CRIMES EM LOS ANGELES / Jackie Collins

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

CRIMES EM LOS ANGELES

 

         LOS ANGELES - 1997

Era perto da meia-noite quando a reluzente limusina Mercedes azul parou em frente da livraria, àquela hora encerrada, no Farmer's Market, em Fairfax. Um motorista uniformizado - trajado todo de negro, incluindo luvas de cabedal e óculos-de-sol impenetráveis, ssaiu do carro e olhou em volta.

Por perto, uma rapariga bonita, sentada no seu Camaro, estacionado, despediu-se apressadamente da amiga, com quem estivera a conversar pelo telemóvel, e saiu do veículo, trancando-o.

- Olá - disse, aproximando-se do motorista de aspecto estranho.

- Sou a Kimberly. Veio por causa do Senhor X?

Ele anuiu e abriu-lhe a porta traseira. A rapariga entrou. O motorista fechou a porta e sentou-se no banco da frente.

- O Senhor pede-lhe que coloque uma venda - disse ele, sem se virar. - Encontrará uma no banco, ao seu lado.

Okay, pensou Kimberly. Este gosta de truques. Mas isto não é novidade para mim. " Kimberly (de verdadeiro nome Mary Ann Jones, nascida em Detroit), era uma rapariga de programa em Hollywood há dezoito meses e, nesse espaço de tempo, presenciara muita coisa. Usar uma venda sentada no banco traseiro de uma limusina não era nada em comparação com coisas que já lhe tinham pedido para fazer.

Colocou a suave venda de veludo e recostou-se, quase adormecendo, enquanto a limusina seguia velozmente para o seu destino.

Vinte minutos mais tarde, o veículo abrandou e Kimberly escutou o ranger de pesados portões a abrirem-se.

- Já posso tirar a venda? - inquiriu, inclinando-se para a frente.

- Agradeço-lhe que espere mais um pouco - respondeu o motorista.

Alguns minutos depois, a limusina parou. Kimberly ajustou o

vestido, um modelo curto que escolhera no armazém de Barney. De seguida, deu volume aos cabelos louros e encaracolados com os dedos.

O motorista abriu a porta.

- Saia! - ordenou.

Kimberly retirou a venda sem pedir e seguiu-o para a entrada de uma mansão enorme. Ele abriu a porta com uma chave e conduziu-a para o átrio sombrio.

- Caramba! - exclamou Kimberly, fitando um enorme lustre pendendo acima deles. - Não gostaria de estar por baixo daquilo num tremor de terra!

- Aqui está o seu pagamento - disse o motorista, entregando-Lhe um envelope cheio de dinheiro.

Ela pegou no envelope e guardou-o na mala ao ombro, em couro castanho - uma Coach original que adquirira na Century City, nesse mesmo dia.

- Onde está o Senhor X? - perguntou. - No quarto?

- Não - respondeu o motorista. - Lá fora.

- Como quiserem - disse ela, pondo em evidência os seios 36, copa C, adquiridos logo após chegar a Hollywood, depois de ter ganho um concurso de beleza na terra natal.

- Como quiserem - imitou o motorista, pegando-lhe no braço e conduzindo-a através de uma requintada sala de estar para umas portadas que os levou para uma piscina de fundo preto.

O homem segurava-lhe no braço com força - com demasiada força, para seu gosto. E como se atrevia ele a imitá-la, pensou. Onde raio estava o Senhor X? O que desejava era terminar aquele serviço rapidamente e regressar a casa para o namorado - uma espécie de modelo, traço artista porno, com músculos de aço.

- O Senhor gostaria de saber se sabe nadar - disse o motorista, parando junto da piscina.

- Não - respondeu, interrogando- se por que razão ele não acendia algumas luzes, aquele lugar estava realmente mergulhado na escuridão. - Embora esteja a pensar em ter umas lições.

- O melhor é começar já - disse o motorista. E, antes que se apercebesse do que se passava, atirou-a violentamente para a zona mais funda da piscina.

Kimberly mergulhou até ao fundo, emergindo à superfície alguns segundos depois, tossindo e sufocando, agitando freneticamente os braços no ar.

- Socorro! - gritou, tentando respirar. - Eu disse-lhe... que não sei... nadar.

O motorista permaneceu na beira da piscina, o pénis de fora e a mão direita movendo-se rápida.

- Ajude-me! - gritou Kimberly, debatendo-se desesperadamente antes de desaparecer pela segunda vez debaixo de água.

O homem prosseguiu com o que fazia, atingindo o clímax por cima da cabeça da rapariga quando esta emergiu de novo.

- Você é louco - gritou, antes de se afundar pela terceira vez. E, depois disso, tudo ficou negro.

 

         Um ano mais tarde

Madison Castelli não apreciava particularmente fazer a cobertura de histórias de Hollywood. Os estilos de vida dos ricos e decadentes não eram o seu forte - foi exactamente por isso que o seu editor, Victor Simons, insistira que ela era a pessoa certa para o trabalho. Você não está metida nessas tretas de Hollywood", dissera ele. Não pretende nada da assim denominada élite de poder, factor que a torna a jornalista perfeita para me conseguir a verdadeira história sobre o Mr. Superpoder, Freddie Leon. Além do mais, você é bonita, pelo que ele lhe prestará atenção. "

Ah!, pensou Madison com pesar ao embarcar num voo das American Airlines para L. A. Sou tão bonita que, há três meses atrás, David, o meu apaixonado de há dois anos, saiu para comprar um maço de cigarros e nunca mais regressou.

O que ele fez foi deixar um bilhete cobarde, onde dizia que não conseguia lidar com compromissos e que nunca a conseguiria fazer feliz. Cinco semanas mais tarde, descobriu que ele casara com a sua paixão de infância - uma loura insípida com seios enormes e um prazer especial pela comida.

Para quem queria evitar compromissos...

Madison tinha 29 anos e era extremamente atraente, embora não fizesse sobressair a sua beleza pelo facto de usar roupas funcionais e muito pouca maquilhagem. Mas, por muito que tentasse, nada conseguia disfarçar os seus olhos em forma de amêndoa, maçãs do rosto bem definidas, lábios sedutores, pele suave de oliva e cabelos negros desalinhados, que habitualmente usava puxados para trás num rabo-de-cavalo severo. Já para não mencionar o corpo ágil de um metro e setenta e sete, com seios volumosos, cintura fina e longas pernas de bailarina.

Madison não se considerava bonita. A pessoa que ela considerava ser detentora de uma verdadeira beleza era a mãe, Stella - uma loura de porte de estátua, cujos olhos sonhadores e lábios trémulos levavam a maioria das pessoas a associá-la a Marilyn Monroe.

Em termos de aparência, Madison saía ao pai, Michael, o homem de 58 anos mais atraente de Connecticut. Herdara também dele a determinação de aço e inegável encanto - duas qualidades admiráveis que não perturbaram a sua ascensão de sucesso como conceituada escritora, revelando os perfis dos ricos, notáveis e poderosos.

Madison adorava o que fazia - seguir o ângulo certo, descobrir os segredos ocultos de pessoas públicas. Os políticos e os homens de negócio super-ricos constituíam as suas entrevistas predilectas. Estrelas de cinema, personalidades do desporto e magnatas de Hollywood encontravam-se muito abaixo na sua lista. Não se considerava como uma matadora, embora escrevesse com uma honestidade cauterizante, por vezes perturbando a pessoa sobre quem escrevia, pessoa essa habitualmente protegida num envolvente casulo.

Era uma pena que não lhes agradasse; ela limitava-se a contar a verdade.

Instalando-se no seu lugar de primeira classe junto àjanela, olhou pela cabina, localizando Boy Deacon, um apresentador de televisão muito conhecido, com um vício em drogas igualmente bem conhecido. Ele não estava com bom aspecto; de rosto inchado e queixo descaído ainda conseguia adquirir vida quando as câmaras gravavam o seu popular programa da noite.

Madison desejou que o lugar ao seu lado permanecesse vazio mas tal não iria acontecer. No último instante, uma loura explosiva num microvestido de cabedal preto, foi escoltada a bordo por dois representantes adoradores de estrelas das linhas aéreas, que praticamente a transportaram para o lugar. Madison reconheceu a rapariga como sendo Salli T. Ibrner, a actual menina bonita dos tablóides. Salli era a estrela de Teach! um programa de televisão de meia hora semanal, no qual ela representava o papel de uma elegante professora de natação que visitava, em cada semana, uma diferente e requintada mansão, provocando estragos e salvando vidas.

- sempre vestida com um minúsculo fato de banho preto de borracha de uma só peça, que apenas servia para evidenciar os seus seios pneumáticos, a cintura de cinquenta centímetros e pernas intermináveis.

- Uau! - exclamou Salli, atirando- se para o assento e ajustando a juba de caracóis louros. - Consegui por um triz!

- Sente-se bem, Miss Turner? - perguntou o ansioso representante número um da linha aérea.

- Que lhe posso servir? - perguntou o ávido representante número dois da linha aérea.

Ambos estavam de olhos esbugalhados, fitando-lhe a ampla clivagem como se nunca antes tivessem visto nada assim. E é provável que não", pensou Madison.

- Está tudo bem, meus caros - disse Salli, oferecendo-lhes um sorriso largo. - O meu marido vai encontrar-se comigo em L. A. Se

tivesse perdido este voo, ele teria ficado extremamente chateado!

- Isso acredito - disse o representante número um da linha aérea, os olhos ainda esbugalhados.

- Também eu! - concordou o outro homem.

Madison enfiou a cabeça na Newsweek - a última coisa de que precisava era de uma conversa com aquela cabeça de vento. Ouviu vagamente o comissário de bordo pedir aos homens que saíssem para que se pudessem preparar para a descolagem; pouco depois, o grande avião começou a percorrer a pista.

Sem qualquer aviso, Salli agarrou-se subitamente ao braço de Madison, quase levando-a a deixar cair a revista.

- Detesto voar - guinchou Salli, os grandes olhos azuis pestanejando rapidamente. - Quero dizer, não é propriamente voar que detesto, é mais a possibilidade de nos podermos despenhar.

Cuidadosamente, Madison retirou os dedos da rapariga do seu braço.

- Feche os olhos, respire fundo e conte lentamente até dez aconselhou. - Dir-Lhe-ei quando já estivermos no ar.

- Puxa, obrigada - afirmou Salli, agradecida. - Nunca pensei fazer isso.

Madison franziu o sobrolho. Era óbvio que aquele ia ser um longo voo. Por que não lhe calhou alguém mais interessante?

Dobrou a revista e olhou pela janela enquanto o avião descolava.

Ao contrário de Salli, adorava voar. O movimento súbito de velocidade, aquela estimulante sensação de excitação quando as rodas abandonavam o solo, a ascensão inicial - era algo que sempre a emocionava, por muitas vezes que o fizesse.

5alli permanecia em silêncio ao lado dela, os olhos firmemente cerrados, os lábios formulando lentamente números.

Quando voltou a abrir os olhos, já se encontravam no ar.

- Merda radical! - exclamou Salli, voltando-se para Madison.

- Você é fantástica!

- Não foi nada de especial - murmurou Madison.

- Não, honestamente - insistiu Salli. - O seu conselho resultou efectivamente!

- Ainda bem - disse Madison, desejando que a Miss Fato de Borracha (assistira ao programa uma vez, não passava de puro lixo) mantivesse os olhos fechados durante toda a viagem.

A salvação chegou sob a forma de Bo Deacon, que se aproximou lentamente com um copo de uísque na mão.

- Salli, minha querida! - exclamou. - Está absolutamente incrível.

- Oh, olá, Bo - disse Salli, ingenuamente. - Viaja neste avião?

Pergunta inteligente, pensou Madison com ironia. É um verdadeiro prazer viajar com intelectuais.

- Olá, doçura, estou ali sentado - disse, gesticulando para a coxia. - Tenho uma velha sentada ao meu lado. E se tentássemos que ela trocasse de lugar?

Salli esvoaçou as longas pestanas falsas.

- Como estão os seus níveis de audiência? - perguntou ela, como se constituísse o factor decisivo para que trocasse de lugar.

- Nada que se compare com as suas, querida - respondeu, maliciosamente. - E se fosse pedir à velha que saísse de lá?

- Estou bastante confortável aqui - disse Salli.

- Não seja pateta - afirmou Bo. - Devemos ficar sentados juntos, para que possamos conversar sobre a sua próxima presença no meu programa. Da última vez que lá esteve, os nossos níveis foram mais altos do que os de Howard.

Salli deu umas risadinhas, satisfeita com o cumprimento.

- Participei no programa de Howard da TV por cabo, em Nova Iorque - disse ela, uma pequena língua rosa lambendo os lábios viscosos. - Ele é tãoooo rude, mas, ao mesmo tempo, tão engraçado.

- É a primeira rapariga que ouço chamar Howard Stern de engraçado - disse Bo, abanando a cabeça.

- Bom, mas é - afirmou Salli. - É assim grande e robusto, e está sempre a falar do seu pequeno pénis. Na minha opinião, deve ser bastante grande!

Madison apercebeu-se de que estava de facto sentada ao lado de um cliché real - a verdadeira loura de Hollywood. Se contasse esta troca de palavras com qualquer um dos seus amigos de Nova Iorque, não acreditariam nela.

- Sabe uma coisa? - disse Madison, inclinando-se para a frente e dirigindo-se directamente a Bo. - Se lhe for útil, posso trocar de lugar consigo.

Bo reparou nela pela primeira vez.

- Eia, minha senhora, é muito simpático da sua parte - disse, transparecendo na voz um tom que afirmava Sou uma grande estrela, mas consigo ser agradável para as pessoas vulgares,

Minha senhora? estaria ele a brincar?

- Com uma condição - interrompeu Salli.

- Qual, querida? - disse Bo.

- Tenho de estar sentada ao lado desta mulher quando aterrarmos. Ela é fenomenal. Conseguiu que eu ultrapassasse o medo da descolagem. Ela é como uma espécie, sabe? de curandeiro mágico.

Bo ergueu o sobrolho.

- Verdade? - afirmou, olhando de novo para Madison. – É uma dessas mulheres com poderes especiais, querida? Talvez você devesse ir ao meu programa.

- Obrigada pela oferta, Mr. Deacon - respondeu Madison friamente. - Tenho um palpite de que se devia manter com Max, o chimpanzé.

Bo piscou os olhos.

- Quer dizer que assiste ao programa, hem?

Quando não consigo dormir, apeteceu-lhe dizer. Quando já vi todos os filmes antigos e estão a dar repetições de Letterman e Leno, e estou absolutamente desesperada. "

- Por vezes - disse, com um sorriso agradável, reunindo as suas coisas, levantando-se e dirigindo-se ao lugar de Bo.

A mulher a quem ele se referira como velha era uma atraente mulher de negócios nos seus quarenta, trabalhando diligentemente no seu computador portátil.

- Olá - disse Madison. - Estou a trocar de lugar com Mr. Deacon. Importa-se?

A mulher ergueu os olhos.

- O prazer é todo meu - disse. - Cheguei a pensar que teria de falar com ele.

Ambas se riram.

Madison sorriu. Esta era mais o seu tipo de companheira de viagem.

 

- Estou-me marimbando - disse Freddie Leon, fitando com frieza o homem baixo de barba, sentado, desconfortável, numa cadeira Biedermeier do outro lado da enorme secretária de aço e vidro de Freddie.

- Estou a dizer-lhe, Freddie - disse o homem, algo agitado. A cabra não o quer fazer.

- Escute - repetiu Freddie. - Se eu digo que ela o fará, é porque é isso o que vai acontecer.

- Nesse caso, o melhor é falar com ela.

- Tenciono fazê-lo.

- E rapidamente.

- Cuidado com essa atitude, Sam.

A conduta de Freddie era tão fria quanto o membro de um esquimó. Não gostava que ninguém lhe chamasse a atenção. Não se tornara no mais poderoso superagente de Hollywood dando ouvidos a outras pessoas, sobretudo a um homem como Sam Lowski, um manager pessoal cuja única proclamação de fama efectiva era a sua grande cliente, Lucinda Bennett - grande diva, grande chata, grande talento.

Freddie Leon era um homem de fisionomia impassível, com 46 anos. Possuía umas feições cordiais, cabelo castanho vulgar, olhos igualmente castanhos e um sorriso rápido e brando que raramente lhe chegava aos olhos. Dirigente e parcialmente proprietário da poderosa A. A. I. - Agentes de Artistas Internacionais - tinha por alcunha o Cobra, porque deslizava habilmente para dentro e para fora de qualquer negócio. Nunca ninguém se atrevia a tratá-lo directamente por o Cobra. A sua mulher, Diana, fizera-o uma vez. Foi a única vez que ele lhe levantou a mão.

Sam levantou-se para sair. Freddie não o impediu - não tinha mais nada para dizer.

Assim que Sam saiu, Freddie aguardou um pouco e pegou no telefone, marcando rapidamente o número privado de Lucinda Bennett. Lucinda atendeu, com uma voz sonolenta.

- Como está a minha cliente preferida? - inquiriu Freddie, canalizando todo o charme que conseguiu para a sua voz fria e inexpressiva.

- A dormir - respondeu Lucinda, rabugenta.

- Sozinha? - perguntou Freddie.

Uma risada maliciosa.

- Isso não lhe diz respeito.

Freddie pigarreou.

- Que história é esta de você se estar a portar mal?

- Não me venha com esse tom de conversa para mim - disse Lucinda, a voz lânguida. - Sou demasiado velha e demasiado rica para essas tretas.

- Não estou a tentar insinuar nada - respondeu Freddie. Estou apenas a lembrar-lhe que o bom comportamento recompensa sempre.

- Deduzo que Sam foi ter consigo - disse Lucinda, a falta de respeito que sentia pelo seu manager pessoal colorindo-lhe o tom de voz.

- Exactamente - respondeu Freddie. - Disse-me que você não tenciona participar no filme de Kevin Page.

- Ele está absolutamente certo.

Freddie controlou a irritação. Permanecer de cabeça fria era um requisito da sua profissão.

- Por que quer fazer uma coisa dessas, se o negócio está já iniciado e vai receber doze milhões de dólares? - perguntou.

- Porque Kevin Page é demasiado novo para mim - respondeu Lucinda, rispidamente. - Não quero parecer uma velha no ecrã.

- Disse-lhe há três semanas atrás, Lucinda, está no seu contrato... eles contratarão o cinematógrafo da sua escolha. Pode parecer uma mulher de dezoito, se assim o quiser.

- Tenho quase quarenta, Freddie - afirmou. - Não tenho nenhum desejo de parecer dezoito.

Ele sabia de fonte segura que ela tinha, pelo menos, quarenta e cinco.

- Ohny - disse ele, calmamente. - Vinte e oito, trinta e oito... qualquer idade que lhe apetecer.

- Não tente apaziguar-me. Kevin Page é seu cliente. Fez dois filmes de sucesso e agora você crê que pode cimentar a carreira dele associando-o a mim.

- Não é verdade. Este negócio é baseado em si. É essencial que continue a chegar junto do público mais jovem. A demografia conta.

- Fez uma pausa antes de continuar. - Você é uma estrela enorme, Lucinda, não há ninguém como você. Mas tem de ter consciência que existem muitos jovens que nunca ouviram falar em si.

- Vá-se lixar, Freddie - respondeu, furiosamente. - Posso fazer o que me der na real gana.

- Não - afirmou Freddie, a voz endurecendo. - Não pode. Fará o que eu disser.

- E se recusar?

- Nesse caso, deixarei de ser o seu agente.

- Freddie, meu caro, fico por vezes com a sensação que não percebe - disse Lucinda, a voz gélida de diva perfurando o ouvido dele.

- Os agentes deviam-me beijar o dedo do pé esquerdo para me representarem.

- Se é isso o que deseja, Lucinda - disse, o tom perfeitamente frio.

- Talvez seja - disse ela, desafiando-o.

- Depois informe-me - respondeu. E depois lançou a suajogada de mestre. - Oh, a propósito... lembra-se daquela vez, há muito, muito tempo, quando me pediu para deitar as mãos a umas fotografias que o seu primeiro marido tirou, e que eu consegui?

- Sim.

- Algo estranho aconteceu - disse, lentamente. - No outro dia andei a remexer no meu cofre e parece que ainda possuo um conjunto de negativos.

A voz dela ergueu-se, quente de descrença.

- Está a chantagear-me, Freddie?

- Não - disse ele, impávido. - Estou meramente a tentar que assine um contrato que se encontra na sua secretária há mais de uma semana. Um contrato que lhe fará ganhar doze milhões de dólares, a levará a contracenar com o jovem actor mais célebre do país e a manter a sua carreira no topo, exactamente onde deve estar.

- Fez uma pausa, permitindo-lhe que digerisse tudo o que acabara de dizer. - Pense nisso, Lucinda, e informe-me antes do final do dia. - Antes que ela respondesse, pousou o auscultador.

Actrizes! Tiveram de fazer tantas mamadas durante a ascensão que, quando atingem o estrelato, tudo o que querem é arranjar sarilhos.

Mas ninguém causava sarilhos a Freddie Leon.

Ele detinha o poder e não se acanhava a utilizá-lo.

 

Natalie de Barge consultou o seu relógio Bulgará Swatch, um presente que dera a si mesma recentemente, e praguejou em voz baixa. Como é que o tempo passava tão rapidamente? Estava de novo atrasada, e isso deixava-a fula. Tinha tantas coisas para fazer antes de se encontrar com Madison, a sua melhor amiga e antiga companheira de quarto na faculdade, no aeroporto. E, ainda por cima, depois de ter ido ao LAX, teve de regressar ao estúdio a tempo para a sua intervenção no noticiário das seis horas, onde fazia de apresentadora numa estação de TV local. E, embora gostasse do que fazia, aspirava seguramente a algo mais do que apresentar conversas triviais e acontecimentos ainda mais triviais ligados ao espectáculo.

Natalie era uma jovem negra de 29 anos, extremamente vivaz, de pele reluzente, grandes olhos castanhos e um corpo curvilíneo. O grande trauma da sua vida era o facto de ter apenas um metro e sessenta de altura, o que realmente a chateava, porque teria adorado ter nascido alta e magra como Madison - a quem ansiava realmente ver. Falavam pelo menos duas vezes por semana, mas não era o mesmo do que viverem na mesma cidade. Recentemente, Natalie terminara a sua relação com o namorado, um artista desempregado, Denzl. Bastante conveniente, dado que Madison já não estava com David. Ah, sim, pensou Natalie, teriam muito para conversar.

Natalie já se convencera de que não sentia a mínima falta de Denzl, embora ele possuisse um corpo verdadeiramente bonito. A triste verdade era que, por vezes, um corpo bonito não era suficiente. Denzl vivera às custas dela durante mais de um ano e, quando ela deixou de pagar as contas, desapareceu a meio da noite com o seu caro equipamento de estéreo e toda a colecção de CDs de clássicos de soul. Sentia mais a falta de Marvin Gaye e Al Green do que dele.

- Eia - disse Jimmy Sica, o pivot dos noticiários da noite recentemente contratado, vindo de Denver. - Que raio de penteado é esse?

Natalie voltou-se, observando Jimmy. Tinha um metro e oitenta de altura e era extremamente atraente, o que não a impressionou em nada, porque não estava virada para as aparências perfeitas - preferia que os seus homens estivessem mais no meio termo.

- Cortei o cabelo - disse, tocando no penteado curto e lustroso.

- Agrada-te?

- Dá-te um ar de doze anos.

Ela sorriu.

- Puxa, obrigada! Penso que esse seja um cumprimento nesta cidade.

- Cabelo comprido, cabelo curto, ficas sempre com óptimo aspecto - disse Jimmy, sorrindo. Possuía um sorriso espectacular... e uma esposa espectacular de cabelos louros, cuja fotografia mantinha em lugar de destaque sobre a secretária.

- Obrigada, Jimmy - disse, com uma exagerada pronúncia do sul. - Nunca pensei que reparasses.

Jimmy exibiu o seu melhor sorriso de pivot, revelando dentes perfeitos e uma queixada forte.

- Todos os tipos aqui reparam em ti.

Estaria Jimmy Sica a atirar-se a ela? Nem pensar.

- Vou encontrar-me com a minha amiga mais tarde - disse Natalie, mudando rapidamente de assunto. - Vem de avião de Nova Iorque para fazer pesquisas para uma reportagem sobre Freddie Leon.

Jimmy ficou adequadamente impressionado.

- O agente?

- Há mais algum Freddie Leon?

- Parece-me um trabalho interessante.

- Madison é uma mulher interessante.

Jimmy fitou-a longamente.

- Se é tua amiga, tenho a certeza de que deve ser.

- Ah... talvez a traga ao estúdio um dia destes, para lhe mostrar as instalações.

- Tenho uma ideia melhor. Eu e a minha mulher vamos dar um pequenojantar no sábado em nossa casa... por que não trazes a tua amiga? O meu irmão acabou de chegar à cidade, bem como dois dos meus amigos de escola. Podemos fazer uma festa.

- Que tipo de festa tens em mente, Jimmy? - perguntou, algo tímida.

- Não esse tipo de festa, querida - disse, com uma gargalhada rápida. - Lamento desapontar-te, mas sou o rapaz mais sério da cidade.

- Eu sei - disse ela, insinuando-se um pouco apesar de ele não ser o seu tipo. - É isso que me agrada em ti.

Jimmy ergueu um expressivo sobrolho.

- Verdade?

- Sim, é verdade.

Trocaram sorrisos. Hum, pensou, não há dúvida de que se está a atirar a mim. " O que a fez sentir-se algo incomodada pelo facto de ser casado. Além do mais, era demasiado alto para ela.

- Vou falar com Madison e depois digo-te - respondeu.

- Óptimo - disse ele.

Sim, óptimo. Talvez o irmão dele acabasse por se tornar no grande amor da vida dela... o príncipe que há tanto buscava. Preto, branco, multicolorido... o tipo certo tinha de existir algures.

Claro. E John Kennedy, Jr. é homossexual. "

- Vou-me embora - disse ela, acenando-lhe com a mão. - Vemo- nos mais tarde.

Jimmy Sica revelou o seu brilhante sorriso.

- Podes ter a certeza de que ficarei ansioso por isso.

 

O telefone tocou no apartamento pêssego-pálido de Kristin Carr. Já passava do meio-dia e ela dormia. Numa vaga neblina, ouviu o tocar alto e esperou que Chiew atendesse. Para seu aborrecimento, a preguiçosa empregada não o fez.

Confusa, Kristin apercebeu-se de que devia ser a sua linha privada. Merda! Não se sentia muito bem. Demasiado Dom Perignon e cocaína na noite anterior, e mais dois Halcions para a ajudarem a dormir. Merda!

O seu longo braço branco serpenteou para fora dos lençóis de cetim pêssego-pálido, tacteando o auscultador.

- Sim? - murmurou, numa voz rouca.

- O Senhor gostaria de te ver - disse uma voz feminina.

- Oh, meu Deus, Darlene. Outra vez não! Disse-te que, depois da última vez, não estou interessada.

- Será que quatro mil em dinheiro vivo te fazem mudar de ideias?

- Porquê eu? - gemeu.

- Porque és a melhor.

Kristin pensou nos seus dois anteriores encontros com o Senhor X. Na primeira vez, encontraram-se num parque de estacionamento subterrâneo em Century City, tal como combinado. Ele conduzia uma carrinha escura sem matrícula visível e vestia-se todo de negro - incluindo óculos-de-sol opacos e um boné de basebol puxado para baixo. Sem deixar a carrinha, pediu-Lhe que se despisse totalmente na estrutura do parqueamento - que felizmente estava deserta, enquanto ela circulava de cu ao léu em redor da carrinha, ele ia-se masturbando. Quando ele terminou, entregou-lhe em silêncio um envelope pela janela contendo dois mil dólares, apressando-se depois a partir.

Na segunda vez, encontrou-se com ele numa fila por detrás de um cinema em Westwood, ao meio-dia. A sala escurecida estava deserta, passava no grande ecrã um filme de Eddie Murphy, e o Senhor estava de novo profundamente disfarçado. Sentara-se ao lado dela, pedira-lhe que despisse as cuecas e lhas entregasse, satisfez-se nas cuecas e devolveu- as com um envelope contendo dinheiro. Quando ela abandonou o cinema, ele partira há muito.

Fora o dinheiro mais fácil que jamais ganhara e também o mais estranho. O Senhor criava nela uma estranha sensação.

- Ele é anormal - disse.

- Esforça-te - disse Darlene.

- Está bem - respondeu, mal disposta, tentada pela exorbitante quantia de dinheiro, embora o instinto a alertasse para que dissesse que não.

- Não será assim tão mau.

- Como podes tu saber?

- Ele não te bate nem nada do género. De facto, da última vez até me disseste que nem te tocou.

- Preferia que tivesse tocado - afirmou Kristin, acalorada. Nesse caso, saberia que era humano.

- O dinheiro dele é humano. Isso devia ser o suficiente.

- Okay, okay - disse Kristin, suspirando fundo. - Em que espelunca tenho de me encontrar com ele desta vez?

- Hollywood Boulevard. Um motel depois de La Brea. Mando-te por fax o endereço exacto. Quer-te lá às sete. E vai de branco... incluindo sapatos, meias e óculos-de-sol.

- Isso significa que também vou receber um financiamento para roupa? - Kristin falou com sarcasmo.

- Quatro mil não é nada mau - salientou Darlene. - São mais mil do que da última vez.

- Grande negócio.

- Diverte-te.

Darlene é uma grande madame, pensou Kristin amargamente.

Tudo o que lhe interessa é o todo-poderoso dinheiro. Que se lixe a segurança.

Saiu da cama e seguiu para o duche. Kristin era a rapariga de ouro original - tudo era natural. Longos cabelos louros; feições denotando unicamente traços americanos; um corpo de medidas certas com seios grandes; e um emaranhado de fofos cabelos púbicos louros que transformavam homens adultos em rapazotes excitados.

Tinha o aspecto de um anjo. Mas possuía um coração de pedra e uma calculadora no cérebro.

Kristin tinha um plano. Assim que tivesse acumulado meio milhão de dólares em dinheiro no cofre do Banco abandonava o negócio. Quaisquer míseros quatro mil dólares ajudavam.

Mesmo assim... o Senhor outra vez, a segunda vez numa semana. Estremeceu perante o pensamento.

Estendendo a mão para um suave robe cor-de-rosa, envolveu-o em redor do glorioso corpo.

Bom, mais um dia. Mais um passo para a concretização do seu objectivo.

Mais cedo ou mais tarde, estaria livre.

 

- Que palhaço! - exclamou Salli T., os lábios rosa extremamente brilhantes descaindo nos cantos, assinalando a sua desaprovação.

- Perdão? - disse Madison. Acabara de se instalar no seu anterior lugar e pensava activamente na entrevista com Freddie Leon... entrevista que, se tudo corresse bem, teria lugar muito em breve. Victor prometera organizá-la através da sua ligação a um amigo comum, embora Freddie Leon fosse famoso por nunca falar para a Imprensa. Entretanto, Madison tencionava falar com os amigos dele, conhecidos, clientes e inimigos. De facto, qualquer pessoa que tivesse algo a dizer sobre o homem.

Salli aproximou-se dela, permitindo que Madison visse com nitidez as falsas pestanas, fortemente revestidas de rímel. Ela é demasiado bonita para esta maquilhagem tão pesada, pensou Madison. Por que será que ninguém lhe diz isso?

- Bo - disse Salli, num meio sussurro. - Não passa de um idiota excitado.

- Eu, ah... não o conheço - afirmou Madison, interrogando-se por que razão Salli teria decidido fazer-lhe confidências.

- Não é preciso - afirmou Salli em tom de gozo. - É homem, não é? E ainda por cima famoso. - Torceu o nariz arrebitado. Todos os homens famosos pensam que conseguem deitar as mãos a quem quiserem. Sabe o que ele me pediu para fazer?

- O quê? - perguntou Madison, a curiosidade natural excitada.

- Convidou-me para ir aos lavabos para o fazermos - murmurou Salli. - Mas não o expressou em termos agradáveis.

- Está a falar a sério?

- Palavra de escoteira - disse Salli. - Ah! Como se eu voltasse a fazê-lo com ele outra vez. Quer dizer, só porque tenho mamas grandes, cabelo louro e todos os apetrechos, os homens pensam que eu ando por aí, à espera deles.

- Deve ser um problema - murmurou Madison em tom de simpatia, questionando-se sobre o que Salli queria dizer com outra vez.

- Sei lidar com a situação - disse Salli, assumindo uma atitude de profissional. - Na verdade, gosto de despertar as atenções. Encolheu os ombros, puxando a curta saia de cabedal. - Isto é... sei que tenho o equipamento, mas isso não significa que seja parva.

- Tenho a certeza de que não é - respondeu Madison gentilmente.

- Não, estou a falar com franqueza - disse Salli, revelando alguma veemência. - Usei o que tenho para chegar onde estou hoje, porque foi a única forma de repararem em mim. Clint Eastwood usou o que ele tinha para se tornar numa estrela. Somos apenas diferentes, só isso.

Madison considerou que não era prudente salientar que Clint Eastwood estava naquele negócio há mais de trinta anos, e que produzira e realizara muitos filmes. Além do mais, possuía a sua própria companhia e uma impecável reputação profissional. Mas quem podia afirmar? Talvez daqui a trinta anos Salli possuísse o mesmo - já aconteceram coisas mais estranhas.

- A verdade é esta - disse Salli, aproximando-se ainda mais, fazendo com que Madison lhe sentisse o hálito com laivos a hortelã-pimenta. - As minhas mamas são de silicone, porque sei que mamas grandes excitam os homens. Mandei tirar toda a gordura das coxas e alguma foi bombeada para os lábios. Aclarei o cabelo e uso roupa sexy. Sou a prova de que tudo resulta. Consegui desta forma uma série de televisão e um marido sensacional. Espere só até conhecer o Bobby, vai estar no aeroporto.

- Será um prazer - disse Madison.

- É um verdadeiro garanhão! - gabou-se Salli. - Mataria Bo Deacon se soubesse como ele foi desrespeitoso para mim.

- Nesse caso, sugiro que não lhe conte.

Salli abriu muito os olhos.

- Não sou estúpida.

- Já conhecia Bo? - perguntou Madison.

- Há muito tempo... antes de conseguir - disse Salli. - Depois de me tornar famosa, estive no programa dele algumas vezes, e praticamente se atirou a mim diante das câmaras. Isso não tem nada de invulgar, eu insinuo-me com todos eles... Letterman, Leno, Howard. Toda a gente o faz... Pamela Anderson, Heather Locklear, até Julia Roberts. É assim que as coisas funcionam. É isso que se espera. - Pegou na bebida. - Agora sou casada, pelo que não devia atirar-se a mim. Não fica bem.

- Tem razão - concordou Madison.

- Bom - continuou Salli. - Acho que deve estar cansada de me ouvir falar de mim. Que faz você?

- Não vai gostar de saber - disse Madison, ironicamente, pensando que já o deveria ter mencionado.

- Porquê?

- Sou jornalista.

Salli deu umas risadas de garota.

- Oh, não! Uma bisbilhoteira! E eu aqui a fornecer-lhe informações. Agora suponho que vou aparecer na capa da Star ou da Enquirer: As verdadeiras confissões de uma rainha do sexo. Sou mesmo uma fala-barato!

- Não sou esse tipo de jornalista - afirmou Madison, rapidamente. - Escrevo para a Manhattan Style.

- Caramba! - respondeu Salli, os grandes olhos azuis cheios de surpresa. - Isso é coisa com classe. Nunca escreveriam sobre alguém menor como eu. - Uma curta pausa de esperança. - Pois não?

- Por que não? Você poderia resultar numa entrevista interessante.

- Pensa que sim? - disse Salli, ansiosa.

- Se estiver disposta a contar-me como funciona todo o negócio da máquina de sexo de Hollywood. Se respondesse com toda a veracidade, poderíamos obter um artigo intrigante. Tenho a certeza de que tem muitas histórias para contar.

- Devia ouvir algumas das minhas histórias - disse Salli, rolando os olhos. - Podia apresentar-lhe factos que lhe fariam doer as amígdalas! Os fulanos desta cidade... ah! Não há nada que eu não saiba.

- Talvez seja melhor eu falar com o meu editor.

- Uau! - disse Salli, enroscando-se no seu lugar. - Posso sair na capa?

- Temos doze capas por ano - explicou Madison. – Apenas quatro são atribuídas a pessoas ligadas ao mundo do espectáculo. É difícil lá chegar.

- Todas as revistas me querem na capa - afirmou Salli com sinceridade. - A verdade é que eu vendo revistas.

- Estou certa que sim. Mas o meu editor segue o seu próprio caminho.

- Lembra-se daquelas fotografias de Demi Moore na capa da Vanity Fair. toda nua e grávida? - perguntou Salli, animada. Ouvi dizer que explodiu a tiragem. E se for eu nua? Acha que o seu editor alinharia?

Madison abanou a cabeça.

- Isso é mais coisas para a Playboy do que para nós. Salli riu-se.

- Eu sei. Estava apenas a brincar. Já apareci na Playboy três vezes. Eles adoram-me. - Riu-se de novo. - Ou melhor, adoram as minhas mamas grandes!

- Imagino que é muito popular.

- Por que está a viajar para L. A. - inquiriu Salli.

- Vou entrevistar Freddie Leon, o agente. Por acaso não o conhece, pois não?

- Uau! Freddie Leon - suspirou Salli. - Ele é o homem.

- Assumo que ele se encontra numa posição de destaque na sua lista de pessoas importantes?

- Freddie Leon é apenas o agente mais poderoso de Hollywood

- disse Salli em tom de reverência, anuindo ao falar, os caracóis louros baloiçando. - A minha ambição é que, um dia, ele me represente.

- Alguma vez esteve com ele? - perguntou Madison com curiosidade.

Salli hesitou antes de responder.

- Bom - disse, hesitante -, uma vez... há algum tempo atrás.

- Sim? - encorajou Madison, sentindo uma história. - Que aconteceu?

- Eu não era do tipo dele - afirmou Salli, como se a recordação não lhe agradasse.

Madison sentiu uma história.

- Sexualmente? Ou como potencial cliente? - inquiriu. Salli agitou-se no assento.

- Um dia, forcei um encontro com ele no parque de estacionamento subterrâneo do escritório dele. Repudiou-me. - Franziu o sobrolho. - Talvez ele não esteja virado para o sexo, porque, acredite em mim... eu não recebo recusas... pode estar segura, nunca!

- Foi até lá para fazer sexo com ele? - perguntou Madison, surpreendida com a sua frontalidade.

- Não! - respondeu Salli, indignada. - Fui até lá para que ele me desse atenção. Na altura não era casada, a minha carreira não tinha um rumo, pelo que tentei.

Madison decidiu que a honestidade de Salli era bastante refrescante. Existia uma certa ingenuidade infantil sob o cabelo louro descolorado e os seios escandalosos.

- Estamos quase a chegar? - perguntou Salli, começando a ficar nervosa.

- Sim - respondeu Madison. - Está na hora de se preparar. Lembre-se do que eu lhe disse - feche os olhos, respire fundo e conte lentamente até cem. Dir-lhe-ei quando tivermos aterrado.

- Você é fantástica! - exclamou Salli. - Sabe, a verdade é que não tenho amigas, são todas umas invejosas. - Emitiu um sorriso pálido. - Não sei porquê... podiam ter o que eu tenho, por um determinado preço. Bom, não tudo - acrescentou, pensativamente.

- Não poderiam seguramente ter Bobby... é todo saboroso e todo meu!

- Há quanto tempo estão casados?

- Há exactamente seis meses, duas semanas, três dias e, se tivesse relógio, provavelmente diria trinta e três segundos. - Riu-se, algo embaraçada. - Não pareço demasiado apaixonada, pois não?

- Que faz o Bobby?

- É um tipo que se dedica a aventuras perigosas. Conduz motas e carros, coisas assim. Salta por cima de, digamos, quarenta e dois autocarros. Todas as coisas que alguém chamado Evel Knievel fez há muitos, muitos anos, nos tempos da minha avó.

- Oh, sim, já li coisas sobre ele. Bobby Skorch. O homem que coloca diariamente a vida em risco.

- É esse o meu Bobby - afirmou Salli com orgulho. - Você é casada?

Madison abanou a cabeça.

- É algo que me assusta demasiado - afirmou, pensando brevemente em David, que nunca lhe pedira. Foram inseparáveis durante dois anos; agora não passavam de estranhos um para o outro.

- Já tinha sido casada antes de Bobby - anunciou Salli. Com um actor filho-da-mãe de cabeça marada.

Madison riu-se.

- Diga-me o que sentia realmente.

Salli franziu de novo o sobrolho, pensando no ex-marido.

- Pôs um processo em tribunal para que eu lhe pagasse uma pensão de alimentos. Pode acreditar? Ele continua a acreditar que, um dia, o vou receber de volta. Grande palhaço!

- Quanto tempo estiveram casados?

- O tempo suficiente para que o filho-da-mãe me partisse o braço duas vezes. Para não falar de olhos negros, hematomas e coisas assim.

- Parece ser um homem encantador.

- Ele pensava que era.

Salli não voltou a falar até o avião aterrar. Abriu então os olhos e desapertou o cinto.

- Não custou nada! - exclamou. - Quer emprego como minha treinadora de voo?

Madison sorriu.

- Não creio - disse, levantando-se e espreguiçando-se.

- Se não tiver ninguém à sua espera, podemos dar-lhe uma boleia na nossa limusina - ofereceu Salli. - Bobby trouxe aquela muito comprida que tem ojacuzzi nas traseiras. É muito ao estilo de Hollywood, mas, como vimos ambos de cidades pequenas, diverte-nos muito!

- Não há problema - disse Madison, ainda sorrindo. - Tenho uma amiga à espera.

- Tem de me ir visitar - disse Salli, escrevinhando o número num menu e entregando-lhe. - Você é tãooo simpática... e muito bonita também, assim numa espécie de estilo normal.

Madison riu-se.

- Obrigada, penso!

- Estou a ser sincera - disse Salli com entusiasmo. - A nossa casa, em Palisades, é espantosa.

- Acredito.

- Oh, caramba! - disse Salli gemendo, com um estremecimento exagerado. - Lá vem o paspalho.

E Bo Deacon estava sobre elas, todo lavado e penteado - e encharcado numa colónia forte. Tentou dar o braço a Salli, mas ela foi demasiado rápida para ele, retrocedendo para junto de um entroncado homem de negócios que não podia estar mais radiante por ter oportunidade de tocar na deliciosa Salli T. Turner.

Um representante das linhas aéreas abriu caminho, ansioso por chegar junto das suas duas estrelas. Madison ouviu Bo dizer para Salli num murmúrio grosseiro:

- Que se passa, cabra? Estás a tentar esquecer-te de quem te conseguiu ascender onde estás hoje?

Madison abanou a cabeça e saiu do avião, atravessando o aeroporto para a zona de recolha da bagagem.

- Amiga! - gritou Natalie, aparecendo de lado nenhum. Chegaste!

Madison ficou encantada por a ver.

- Finalmente - disse com um sorriso largo. - Foi um longo voo.

Trocaram abraços calorosos.

- O trânsito estava horrível - disse Natalie. - Por pouco, não chegava a tempo.

- Salvaste-me de uma boleia de limusina.

- Como?

Madison indicou Salli T. Turner e Bobby Skorch dirigindo-se, num abraço forte, para a saída.

- Podia ter ido com eles.

- Não me digas - afirmou Natalie em descrença. - A deliciosa Salli T. Rainha da brigada dos sonhos húmidos.

- Podes crer que é verdade. Salli é a minha mais recente amiga. Natalie riu-se.

- Isso significa que trocaste o meu excelente cu preto por uma loura liberal?

- Sim, exactamente - afirmou Madison, secamente. Não me estás a ver a mim e Salli T. como amigas? Temos tanto em comum.

- Hmmm... - disse Natalie, observando-os. - O marido é um pedaço de mau caminho.

Madison olhou para Salli e Bobby, que caminhavam ainda para a saída, apesar de - ou talvez por causa de - vários repórteres.

- Tudo o que vejo é cabedal preto, cabelos compridos e tatuagens. Natalie libertou uma gargalhada maldosa.

- Por vezes gosto deles duros e coloridos.

Oh, Santo Deus, pensou. Hábitos da escola. Estamos juntas há apenas dois minutos e já estamos a falar sobre homens.

- Lá vem a minha mala - disse, retirando-a do tapete rolante.

- Vamos.

- Antes que reconsideres a boleia na limusina? - brincou Natalie.

- Não sejas ridícula! - respondeu Madison, rindo-se. Poucos minutos depois encontravam-se no carro de Natalie, em direcção às Colinas de Hollywood, onde Natalie partilhava uma pequena casa com o irmão, Cole, um treinador pessoal.

Madison olhou pela janela. Sol, palmeiras, restaurantes de fast food e estações de serviço. Ah, L. A. que lugar!

Apesar da sua desconfiança em relação a Hollywood e aos seus habitantes, sentia-se excitada com a tarefa em mãos. Freddie Leon era um destacado corretor de poder que conseguira manter uma posição de descrição no que respeitava à sua vida privada. Uma esposa. Dois filhos. Nenhum escândalo. No entanto, ali estava um homem que controlava os talentos mais importantes de Hollywood

- um homem que merecia a atenção de todos.

Estava determinada a descobrir tudo - revelar o verdadeiro homem por debaixo da imagem impenetrável.

Era um desafio.

Madison sempre encarara com entusiasmo um desafio.

 

- Vou-me embora agora - informou Freddie Leon à sua assistente executiva, Ria Santiago.

Ria levantou a cabeça da secretária quando Freddie passou por ela. Era uma atraente mulher hispânica, com cerca de 45 anos, que trabalhava com Freddie há pouco mais de dez anos. Conhecia-o tão bem quanto qualquer um - o que não significava muito, dado que Freddie era uma pessoa reservada, unicamente virado para os negócios.

- Quer que telefone a Mrs. Leon, informando-a de que vai a caminho? - inquiriu Ria, batendo com um lápis afiado sobre o tampo da secretária.

- Não - disse Freddie. - Vou ter de fazer uma paragem. Eu próprio lhe telefono do carro.

- Muito bem - respondeu Ria, sabendo que o melhor seria não lhe perguntar para onde ia.

Freddie entrou no elevador privado que partilhava com o seu sócio da A. A. I. Max Steele, e pressionou o botão para o estacionamento subterrâneo. Quando saiu do elevador, o seu Rolls castanho avermelhado aguardava-o, encerado e reluzente, facto que Lhe agradou, dado que era muito exigente com os carros - o mínimo dos arranhões ou mancha faziam- lhe perder a cabeça.

Willie, o empregado do estacionamento, colocou-se em sentido.

- O meteorologista diz que há possibilidades de haver chuva, Mr. Leon - disse Willie, calorosamente, tomando o cuidado de respirar na direcção oposta para que o uísque que acabara de beber da garrafa não fosse detectado por Freddie.

- O meteorologista está errado, Willie. Consigo detectar o cheiro a chuva quando vem a caminho.

- Com certeza, Mr. Leon - afirmou Willie, respeitosamente, afastando- se ainda mais. Sabia como lamber botas, melhor do que ninguém; esta atitude permitia-lhe ganhar uma gorjeta de quinhentos dólares todos os Natais.

Freddie meteu-se no carro e saiu cuidadosamente do edifício da A. A. I. - um encanto arquitectónico - percorrendo mentalmente os acontecimentos do dia, assegurando-se de que não se esquecia de nenhum detalhe. Quanto menos comprometido com papel melhor - essa era a filosofia de Freddie. Este seu procedimento revelara os seus frutos ao longo dos anos.

Desejou que Lucinda Bennett não lhe fosse criar problemas. Negociara para ela um contrato excelente - um montante como ela nunca antes recebera - e, com Kevin Page contracenando com ela, o filme antecipava um êxito. Agora Lucinda tentava dificultar- lhe as coisas, o que não podia ser - a observação quanto aos negativos no cofre deram-lhe seguramente motivos para pensar.

Que Hollywood era aquele hoje em que tinha de convencer uma actriz, cuja carreira estaria terminada em menos de cinco anos, a aceitar doze milhões de dólares?

Talentos. Constituíam uma raça à parte. Egoistas, ingratos e previsíveis. Era por isso que Freddie conseguia convencê-los de que estava sempre certo. Bem no fundo, não passavam de crianças que necessitavam de amor e forte liderança. Freddie dava-lhes exactamente o que eles queriam. Max era exactamente o oposto. Max era o Sr. Calmo. Divorciado e sempre em busca de novos talentos, Max cultivava a imagem de playboy - um Porsche veloz, fatos Brioni, um apartamento de cobertura em Wilshire e incontáveis mulheres bonitas. A diferença existente entre eles resultava. Freddie tratava das grandes superestrelas, Max cuidava dos famosos de nível levemente inferior.

Freddie sorriu para si, sorriso que não lhe alcançou os lábios. Max pensava que era o tipo mais esperto da cidade; na verdade, não passava de uma anedota - a fonte privada de divertimento de Freddie -, pois ninguém enganava Freddie Leon. E Freddie sabia, de fonte segura, que, nos últimos três meses, Max se envolvera em negociações secretas para assumir um elevado cargo num estúdio E, se conseguisse, abandonaria a A. A. I. e Freddie sem olhar para trás, vendendo as suas quotas da A. A. I. a quem desse a maior oferta.

Freddie tinha o seu próprio futuro com que se acautelar. Mas Steele era um traidor. E Freddie sabia, melhor do que ninguém como lidar com traidores.

Desconhecendo que Freddie Leon estava ao corrente das suas negociações, Max Steele concluía um longo almoço no Grill. A acompanhante era uma estonteante beleza, uma modelo sueca que possuía algo mais do que uma vaga parecença com a jovem Grace Kelly.

Inga Pretendia fazer a difícil transição de supermodelo a estrela de cinema.

Max Steele pretendia que ela vestisse uma roupa interior sexy e fornicá-la até à exaustão.

Ambos tinham as suas agendas.

- Como vê - disse Inga, enquanto saboreavam uns cappuccinos descafeínados, os longos dedos delicados brincando com a borda da chávena de café -, não pretendo fazer o que Cindy fez. Um papel principal será demasiado difícil para a minha primeira tentativa.

O ego destas raparigas era surpreendente, pensou Maxim. Por muito bonita que fosse, o que levava Inga Cruelle a imaginar que conseguiria chegar ao grande ecrã quando já existiam centenas de actrizes - raparigas que possuíam realmente o talento - que nem

sequer conseguiam prestar provas?

- É sensato da sua parte - disse. Max podia não ser uma beleza de uma estrela de cinema mas, nos seus 42anos, possuía em abundância um encanto de garoto, um cabelo forte castanho encaracolado, um corpo bem modulado e muito estilo. Para além de que a sua reputação como garanhão era legendária.

- Elle parece estar a seguir o caminho certo - brincou Inga, os dedos longos girando agora a colher de café. - Saiu-se bem no filme de Streisand.

Era o segundo almoço que tinham juntos, e Max desempenhara o seu papel na perfeição. Eram o agente e a potencial cliente. Nada mais. Nesta altura, Inga - que estava habituada a deixar os homens babados como idiotas - deveria interrogar-se por que razão ele não tentara avançar.

- Elle é uma rapariga esperta - disse ele, energicamente. Trabalha duramente.

- Eu também trabalharei duramente - afirmou Inga, o seu requintado rosto sem maquilhagem dolorosamente sério. - Terei

mesmo aulas de representação, se você achar que é necessário.

Não, querida. Por que há-de fazer isso? É uma modelo de sucesso.

Não se desgaste.

- Certo - respondeu. - É uma boa ideia.

- Você é tão compreensivo, Max, tão prestativo - disse Inga, pousando uma mão delicada sobre o braço dele.

Óptimo. Era ela a primeira a avançar.

- Escute - disse, com a máxima das sinceridades que conseguiu fingir. - Quero ajudá-la, Inga, por isso vou mandá-la ter com um

realizador meu amigo. Talvez se ele gostar de si, eu o consiga persuadir a fazer um teste.

- Um teste filmado?

- Sim, para ver como se comporta diante de uma câmara.

Inga riu-se, como se fosse a coisa mais ridícula que jamais ouvira.

- Já viu as minhas fotografias, Max - afirmou, sem falsas modéstias. - Sabe que a câmara me ama e me adora.

- Mesmo assim, as fotografias são coisas diferentes. A câmara de filmar possui uma mente própria - afirmou Max, maravilhado com a presunção dela. - Você falou em Cindy. Não há dúvida de que ela é um espanto, e revelou uma imagem fantástica no filme. Mas o grande problema foi que as emoções dela muito simplesmente não se traduziram. O resultado foi francamente pouco convincente.

- É exactamente por isso que não quero ser a actriz principal no meu primeiro filme - afirmou Inga, como se os produtores estivessem a fazer fila para a contratar.

- Também podia preparar algo ao nível social - disse Max de forma casual, lançando o engodo. - Talvez um jantar na casa dos Leon.

- O seu sócio?

- Os jantares de Freddie são uma verdadeira lenda.

- Muito bem - disse Inga. - Devo levar o meu noivo? Que história era aquela de um noivo? Era a primeira vez que ouvia falar nisso.

- Não sabia que estava comprometida? - disse, algo irritado.

- O meu noivo vive na Suécia - disse Inga, cuja pronúncia era um impedimento para uma carreira cinematográfica. - Chega amanhã para passar dois dias comigo no Hotel Bel Air e depois volta para casa.

- Ah, sim? - disse Max, ainda mais irritado. - Que faz ele?

- É um homem de negócios com muito sucesso - respondeu Inga. - Conhecemo-nos desde os tempos da escola.

Max não estava interessado nos detalhes.

- Quando vai regressar a Nova Iorque? - inquiriu, interrogando-se se ela daria muita luta.

- Talvez na próxima semana - disse Inga. - A minha agência está impaciente. No entanto, informei-os de como era importante que eu permanecesse aqui até ter tomado uma decisão quanto à minha participação em filmes.

- Por mim, tudo bem - disse Max, decidindo que ela deveria dar luta. As raparigas bonitas mostravam-se mais rebeldes do que as que não possuíam atributos de beleza. - No entanto, devo alertá-la - acrescentou. - Nada de noivos em reuniões de negócios. Deixe-o no hotel.

- Isso não será problema - afirmou Inga friamente. E Max estalou os dedos pedindo a conta, que o empregado trouxe de imediato à mesa.

Então, ela tem noivo, pensou. Andarei a desperdiçar o meu tempo?

Não, ela também tem aquele aspecto de esfomeada. O aspecto que todas estas moças têm quando querem ser estrelas de cinema.

- Está na hora de voltar ao trabalho - disse ele, assinando a conta e levantando-se.

Inga ergueu-se também. Trazia umas calças brancas e uma camisola de angora rosa-pálido, que gentilmente lhe cobria o inchaço dos seios pequenos e perfeitos. Ele sabia que eram perfeitos e não realçados com silicone, porque vira a reportagem que ela fizera nua para o famoso fotógrafo Helmut Newton, da Vogue. Oito páginas de Inga. Meias negras, cinto de ligas a condizer, saltos altos finos e um cão dinamarquês passivamente sentado aos seus pés. Com muita classe. Muito nua. Nada grosseira.

Max decidiu que chegara a altura de deitar as mãos àquela deliciosa sueca. Queria atirar-se a ela - a sua especialidade - da pior forma.

E rapidamente.

Com noivo ou sem noivo, não tinha dúvida de que estava no papo.

 

Kristin não possuía meias brancas, o que significava uma viagem ao Neiman Marcus. Não era tarefa que lhe custasse, dado que apreciava deambular pela luxuosa loja, adquirindo roupas de que não necessitava e pesquisando os tentadores balcões de maquilhagem. Fazer compras era terapêutico - libertava-lhe a mente de tudo, suspendendo-a numa terra de lingerie suave e sensual, carteiras de Judith Leiber e sapatos de Manolo Blahnik.

Recentemente, instalaram um enorme bar de martinis curvo no departamento de homens. Kristin sentia-se confortável aí sentada, bebericando um uodka-martini, sonhando acordada que era uma esposa perfeita de Hollywood, com duas queridas criancinhas e com um importante executivo de altos negócios como marido. Um marido de altos negócios fiel - porque todos aqueles que lhe apareciam na frente eram mulherengos mentirosos que atraiçoavam as mulheres sem pensarem duas vezes nas suas infidelidades. E Kristin bem o sabia - estivera com praticamente todos nestes três anos, desde que se tornara rapariga de programa em Hollywood.

Kristin e a sua irmã mais nova, Cherie, tinham chegado a L. A. há quatro anos, com a ambição de se tornarem estrelas de cinema.

Kristin tinha então dezanove, Cherie dezoito, e, à semelhança de centenas e milhares de adolescentes antes delas, pouparam o dinheiro, abandonaram a pequena cidade onde viveram toda a sua jovem vida e seguiram para oeste num velho Volkswagen.

Cherie era a verdadeira beldade da família - pelo menos era o que todos afirmavam. Kristin era apenas a irmã, uma pálida comparação. Mas as duas eram muito chegadas e faziam tudo juntas.

Assim que chegaram a L. A. alugaram um apartamento barato e ambas arranjaram trabalho num movimentado restaurante italiano, em Melrose. Cherie não demorou mais de uma semana a ser descoberta por um dos clientes - Howie Powers -, o filho mal comportado de um rico executivo de negócios.

Desde o início que Kristin percebeu que Howie não era flor que se cheirasse. Descobriu que ele era fortemente viciado em drogas, álcool e jogo. Descobriu igualmente que ele planeava ficar com o dinheiro do pai e estourá-lo em carros e em todas as mulheres que conseguisse deitar as mãos. Isto é, até encontrar Cherie e apaixonar-se.

Howie perseguiu Cherie sem descanso, levando-a aos melhores restaurantes e clubes, inundando-a com presentes caros, tratando-a como uma rainha. Não levou muito a persuadi- la a largar o emprego e a ir morar com ele. Kristin alertou-a para que não o fizesse, mas Cherie não quis dar-lhe ouvidos.

- Ele quer casar comigo - disse, os olhos transbordando de amor. - Casaremos depois de conhecer os pais dele.

- E quando acontecerá isso? - perguntou Kristin.

- Em breve - respondeu Cherie. - Vai levar-me a Palm Springs para os conhecer.

Kristin nunca acreditou nisso. Howie não era o tipo de homem para casar. Iludiria Cherie com promessas até se cansar dela e depois largava-a. Kristin conhecia o tipo - conhecera a síndroma do rapaz rico no liceu, quando abdicou da sua virgindade pelo capitão da equipa de futebol e ele se gabara perante toda a gente sobre a conquista. Quando ela se queixou, ele recusou-se a falar com ela de novo. Uma séria lição no tocante aos homens.

Kristin via Howie como o sórdido playboy que era - sobretudo quando uma dada ocasião se atirou a ela enquanto Cherie estava fora a fazer compras. Odiava-o mas, ao mesmo tempo, via-se forçada a suportá-lo por causa da irmã. Até à noite que descobriu que ele viciara Cherie na cocaína. Foi então que se enfureceu, lutando com os dois. Cherie disse-lhe que se afastasse e que se metesse na sua própria vida. E foi o que fez.

E duas semanas mais tarde recebeu um telefonema à meia-noite informando-a de que, quando seguiam para Palm Springs para conhecer os pais dele, Howie adormecera ao volante do Porsche, atravessara o separador da auto-estrada e embatera de frente com outro carro. O motorista do outro carro perecera, Howie estava apenas levemente ferido e Cherie em coma.

Tinham agora decorrido quatro anos, e Cherie encontrava-se numa clínica - virtualmente um vegetal - enquanto Kristin era uma das raparigas de programa de maior sucesso na cidade. Não teve alternativa; alguém tinha de pagar as contas do hospital e esse alguém não era seguramente Howie Powers - que desapareceu instantaneamente da vida delas.

- Perdão, importa-se de que me sente aqui?

Kristin olhou para cima. Um homem instalara-se no banco ao lado dela, apesar de haver muitos lugares livres. De certa forma, era um tipo jeitoso - nada ao tipo de Beverly Hills ou Bel Air. Trazia uma t-shirt branca, blusão à aviador de cabedal castanho, calças de caqui e ténis muito gastos.

- Faz favor - respondeu cautelosamente, questionando-se se alguma vez teria sido cliente dela. Muito pouco provável; não parecia o tipo de homem que tinha de pagar por isso.

- Não estou a tentar nada - disse, numa profunda voz rouca.

- Mas posso pedir-lhe um grande favor?

Nada de favores, amorzinho. Dinheiro à vista. Tenho contas para pagar. "

- O quê? - disse Kristin, brevemente.

- Sei que isto pode soar a uma tentativa - afirmou, sorrindo.

- Mas acredite em mim, não é. Sabe, tenho de ir ao casamento do meu pai, e há anos que não uso gravata, já para não mencionar o facto de que, no respeitante a roupas, não tenho gosto nenhum. Por isso... - Apresentou- Lhe duas gravatas. - Que lhe parece?

- O que me parece? - disse, lentamente.

- Sim. Preciso de outra opinião para além da minha. E tem aspecto de ser uma mulher com olho para o melhor.

- Por que não pergunta a um vendedor? - sugeriu.

- Porque não possuem a sua classe e estilo - disse, o sorriso alargando-se. - Você tornar-me-á no filho que o meu pai sempre desejou.

Há tanto tempo que ninguém se metia com ela de forma tão genuína que não resistiu a sorrir.

- Não é de L. A. pois não? - perguntou.

- Não - respondeu. - Do Arizona. Cheguei ontem de carro. O casamento é no domingo. Qual escolhia?

Kristin observou as duas gravatas, ambas maçadoramente conservadoras.

- Venha comigo - disse ela, levantando-se. - Tenho a certeza de que conseguimos algo melhor. - E, com estas palavras, conduziu-o ao sector das gravatas.

Uma hora mais tarde, com uma gravata Armani púrpura no saco das compras, conversavam ainda. Soube que ele se chamava Jack e que era fotógrafo profissional - para desgosto do seu pai banqueiro. Tinha 30 anos, solteiro, e mudara-se para L. A. devido a um novo emprego numa revista.

- O salário é óptimo - disse ele. - E será um autêntico desafio fotografar verdadeiros humanos em vez de animais e paisagens.

- Verdadeiros humanos? Aqui? - afirmou Kristin, bebericando o seu terceiro martini. - Sabe, com certeza, que está em L. A.

- Não fale nesse tom - disse -, não se adequa ao seu aspecto. Que raio estás a fazer? ", perguntou a si mesma, contrariada. Aqui sentada a namoriscar com um perfeito estranho. E, ainda por cima, estás a gostar. "

- Tenho de ir - disse Kristin abruptamente, erguendo-se.

- Porquê? - perguntou ele, erguendo-se também. - Há algum marido que eu deva tomar conhecimento?

Não, querido. Há uma carreira que não deves querer tomar conhecimento. Estou à venda. Mercadoria de primeira qualidade.

- Um... noivo - mentiu, fechando bem a porta atrás de si. - E é muito ciumento.

- Compreendo-o bem - disse Jack, mirando-a demoradamente. Kristin sentiu uma sensação de excitação inesperada e questionou-se como seria dormir com um homem que não fosse um cliente.

Nem penses sequer nisso. És uma prostituta... ganhas dinheiro. E é apenas nisso que estás interessada.

- Ah... boa sorte com o casamento - disse.

- É a quarta vez que se casa - afirmou Jack. - Tem 62 anos. A noiva vinte.

- Tenho a certeza de que a gravata fará sucesso.

- Também eu. Foi você quem a escolheu.

Trocaram mais um olhar antes de ela se forçar a seguir para a escada rolante.

No momento em que a pisou, ele veio atrás dela.

- Estou no Sunset Marquis - disse. - Gostaria que me ligasse, Seria um prazer fotografá-la um dia.

Ela anuiu. Nem pensar. "

- Adeus, Jack - disse.

Não podia chegar atrasada ao encontro com o Senhor X.

 

Madison estava ao telefone.

- Então? - disse, mantendo o auscultador afastado do ouvido porque o editor, Victor, falava sempre demasiado alto, numa voz estrondosa, capaz de rebentar os tímpanos. - Quando vou ter a minha entrevista com Freddie Leon?

- Acabou de chegar, não foi?

- Saí do avião há uma hora.

- Que se passa consigo? - disse Victor, alto. - Não consegue parar uns dois dias e descontrair-se como toda a gente?

- Não estou virada para a descontracção, Victor. Estou aqui para trabalhar.

- Só trabalho e nenhum prazer.

- Não me venha com esses clichés da treta - disse, rispidamente. - Além do que devia estar satisfeito por ser viciada em trabalho. - Uma pequena pausa para que ele pensasse nisso por instantes. - Então? - prosseguiu duramente. - Quando me vou encontrar com ele?

Victor suspirou.

- É uma mulher impossível.

- Nunca disse o contrário.

- O meu contacto está fora da cidade até amanhã.

- Maravilhosa programação.

- Ninguém é perfeito. Só você.

- Ainda bem que tem consciência disso.

- Okay, okay, amanhã trato de tudo. É uma promessa.

- Óptimo. - Hesitou um momento antes de continuar. - Ah... a propósito, Victor, esta é uma sugestão um pouco descabida...

- Fale.

- Bom, no avião vim sentada ao lado de Salli T. Turner.

- Que sorte a sua! - bramiu Victor.

- Não estava à espera que soubesse de quem estava a falar.

- O meu filho de 11 anos e eu assistimos a Teach todas as noites de terça-feira. Uma coisa entre homens.

- Que doçura.

- Não há nada de doce em Salli T. Turner - riu-se Victor, trans parecendo algo de lascivo, muito invulgar nele. - E o meu filho diria: Ela é boa como o milho!

- Victor!

- Peço desculpa - disse. - Excedi-me?

- Pode crer que sim - afirmou Madison, rindo-se. - Não é nada o seu género.

- O que me queria dizer a respeito dela?

- De facto, pensei que ela podia servir de base para uma boa entrevista.

- Você estaria preparada para entrevistar Salli Turner? perguntou Victor, mal conseguindo ocultar a surpresa.

- Por que não? Ela é refrescantemente honesta, e tenho a certeza de que estaria preparada para revelar muito sobre o que se passa em Hollywood quando se é uma raparigajovem, bonita, com... ah. bens surpreendentes. Seria um trabalho interessante do ponto de vista feminino. Que lhe parece?

- Penso que, se a ideia lhe agradou, a deve concretizar.

- Óptimo. Assim posso entreter-me enquanto espero por Mr. Leon.

- Pelo amor de Deus, Madison, pare de se queixar. Telefono-lhe assim que puder.

- Fico a aguardar - disse, pousando o auscultador com um sorriso.

- Que se passa? - perguntou Natalie, entregando-lhe um copo de sumo de maçã frio.

- Victor tem um fraquinho por Salli T. Podes imaginar? Victor nunca olha para outra mulher que não seja Evelyn.

- E Evelyn é...

- A mulher dele, é claro. Controla-o com um punho de ferro e chicote na mão.

Natalie riu-se.

- Queres dizer que ele gosta que lhe batam no poderoso cuzinho?

- Não é assim tão pequeno - respondeu Madison, sorrindo também. - Victor é como um grande urso de pelúcia. Não é seguramente um tubarão de L. A.

Natalie consultou o relógio.

- Raios! - disse, pegando no casaco. - Tenho de ir para o estúdio. Precisas de alguma coisa?

- Não te preocupes comigo - disse Madison, calmamente. Sou uma hóspede perfeita. Deixa-me perto de um telefone e fico contente.

- Cole não tardará a chegar.

- Há anos que não o vejo.

- Nesse caso, prepara-te para um choque - disse Natalie.

Deves recordar-te dele como um adolescente magricela conflituoso. Certo?

- Certo - concordou Madison, lembrando-se de como Nat andava sempre desesperada porque o irmão mais novo andava sempre metido em rap, bandos e drogas.

- Agora é o Mr. Compenetrado. De facto, é um dos preparadores físicos mais solicitados de L. A. Podes crer - acrescentou Natalie,

seguindo para a porta. - E virou ao inimigo. Até logo.

Cole virou ao inimigo? O pequeno Cole com a sua atitude de punk e ares superiores de macho. Madison abanou a cabeça... Quem teria adivinhado? Ela não, seguramente.

Aproximando-se do telefone, tentou o número que Salli lhe dera.

Ninguém atendeu pelo que, sem mais nada para fazer, foi para o pequeno quarto de hóspedes e desfez a única mala que trouxera.

podia ter ficado num hotel - Victor era bastante generoso no que respeitava a despesas -, mas Natalie teria ficado desapontada. Além do mais, desejava ficar com a melhor amiga, dado que era talvez a única oportunidade que teriam para estarem juntas nesse ano. E tinham seguramente muitos temas para pôr em dia. Madison estava ansiosa por uma conversa entre velhas amigas.

Às seis, ligou a TV para ver o espaço de entretenimento de Natalie nas notícias. Opivot do noticiário era impossivelmente bonito, senhor de um sorriso estonteante. A sua auxiliar era umajovem loura, uma Joan Lunden. O meteorologista era hispânico. E lá apareceu Natalie, com as suas notícias sobre o mundo do espectáculo, olhando com a sua particular marca de personalidade e encanto.

- Detesto ter de apresentar todos aqueles mexericos - confidenciara-lhe Natalie no carro no caminho do aeroporto. - Mas, ao menos, apareço na televisão e constitui uma boa experiência.

No preciso instante em que Natalie terminava a sua intervenção, Cole chegou. Pelo menos, Madison assumiu que se tratava de Cole, embora aquele sósia de Denzel Washington alto e musculado,

vestindo calções de treino e uma camisola dos Lakers não apresentasse nenhuma semelhança com o adolescente magricela e rebelde que vira pela última vez, quando ela e Natalie terminaram a faculdade, há sete anos atrás.

- Cole? - questionou.

- Madison? - respondeu ele.

E sorriram um para o outro, trocando: Estás com um aspecto fantástico! e Há tanto tempo!

Que desperdício, pensou Madison, observando-o. Por que seria que os tipos verdadeiramente espectaculares eram homossexuais?

- Tens tudo o que precisas? - perguntou Cole, bebendo de uma garrafa de plástico Evian.

- Tal como disse à tua irmã... dêem-me um telefone e fico feliz.

- Vens em trabalho?

- Trabalho para a Manhattan Style. Perfis de Poder.

- Quem é a tua vítima?

- Freddie Leon, o agente.

- Um tipo porreiro.

- Conheces-o?

- Dei uma sessão privada ao tipo quando o treinador regular dele esteve doente. Caramba, aguentava-se bem.

- Um desportista, hem?

- Competitivo, foi a sensação com que fiquei. - Mais um trago de Evian. - Sabes, treino o sócio dele, Max Steele.

- Não me digas! - exclamou Madison, sentindo uma porta a abrir-se. - Cole! Acho que te amo!

- Hem?

- Max Steele é o número um da lista de pessoas com quem preciso de falar. Para quando consegues arranjar-me uma hora para conversar com ele?

- Eia - disse Cole, rindo-se. - Calma aí. Disse que o treinava, não cuido da agenda dele.

- Tudo o que necessito é de uma meia hora rápida - disse Madison, os olhos reluzindo.

- Max é um tipo ocupado, sempre a correr de um lado para o outro.

- Claro que poderia conseguir a entrevista através da revista - brincou Madison. - Mas se tu a conseguires para mim, será muito mais rápido.

- Corremos na pista da UCLA todas as manhãs, às sete. Aparece por lá que eu apresento-te.

- É uma excelente ideia! Lá estarei.

- Sim... e leva algo sexy vestido, ele é doido por mulheres. Agora foi a vez de Madison rir-se.

- Quero falar com ele, não fornicá-lo!

Cole sorriu.

- Eia... nunca se sabe... ele joga no duro.

Madison franziu o sobrolho.

- Vê se te comportas. Conheço-te desde a altura em que não passavas de um delinquente excitado!

O sorriso de Cole rasgou-se ainda mais.

- Bom, não mudou muita coisa. Só que agora me excito no sentido oposto.

- Natalie contou-me.

Cole pegou numa maçã de cima do balcão.

- Isso é algo que a incomoda... sabes como é, o irmão... un maricas. Quando saímos os dois, fazemos apostas sobre os tipos que são normais e os que não são. Eu ganho sempre, porque os meus instintos não me enganam!

Depois de Cole ter ido tomar duche, Madison tentou de novo o número de Salli. Desta vez, ela atendeu o telefone, a voz ofegante.

- Olá - disse. - Fala Salli T.

- Recorda-se de mim? - disse Madison. - A sua treinadora de voo?

- Claro que sim - afirmou Salli, parecendo satisfeita. - Uau!

Está mesmo a telefonar-me. Não pensei que o fizesse.

- Falei com o meu editor. Adorou a ideia de uma entrevista.

- Foi rápido.

- Muito. Posso aparecer por aí amanhã a qualquer hora depois do meio-dia?

- Bem... - disse Salli, hesitante. - Na verdade, devia falar primeiro com o meu publicista. Ficará fulo comigo se avançar com alguma coisa por minha própria iniciativa.

- Os publicistas têm o hábito de estragar tudo - disse Madison, rapidamente, tentando desencorajá-la, porque lidar com publicistas não era pera doce. - Faça-o, se quiser, mas devo alertá-la, quando ele tiver tomado uma decisão, já terei partido há muito.

- Tem razão - concordou Salli. - E eu quero aparecer no Manhattan Style. Será como uma espécie de nova imagem para mim, certo?

- Vai ser divertido - prometeu Madison.

- Muito bem - afirmou Salli, como uma garotinha planeando alguma maldade. - Vou dar-lhe o meu endereço e vem almoçar comigo amanhã.

- Estou ansiosa por isso.

E estava realmente. Havia algo que a atraía em Salli T.

Apesar da óbvia apresentação de bomba sexual - grandes mamas e nuvens de cabelo descolorado - possuía uma certa doçura e vulnerabilidade. Uma espécie de qualidade da Marilyn Monroe inicial.

Madison utilizou o computador portátil para enviar uma mensagem por E-mail para Nova Iorque, solicitando um ficheiro de recortes de imprensa de Salli. Analisou de seguida as copiosas anotações sobre Freddie Leon, e, finalmente, descontraiu-se, adicionando um pouco de vodka ao seu monotonamente saudável sumo de maçã, enquanto se deitava diante da televisão, aguardando a chegada de Natalie.

  1. A. estava a revelar-se melhor do que ela pensara.

 

Sob impulso, Freddie Leon decidiu passar pela mansão de Lucinda Bennett, em Bel Air. Estava cansado de esperar pelos contra assinados, cansado de ser prisioneiro da vontade caprichosa; Muito raramente fazia visitas a casa dos clientes mas, atendendo que Lucinda estava a mostrar-se tão difícil, sentiu que devia pôr ordem na situação. Segura na mão de uma criança e podes conduzi-la para onde quiseres", dissera-Lhe o pai, quando tinha 13 anos, e nunca se esquecera disso. No entanto, estava na hora de pôr um fim àquele disparate, como só ele conseguiria.

Nellie, a fiel governanta das Baamas de Lucinda, abriu a porta.

- Mr. Leon, que faz aqui? - inquiriu Nellie, erguendo os braços como que para o repelir. - A senhora... não está à sua espera.

- Correcto, não está - concordou Freddie, entregando-lhe as dúzias de rosas que prudentemente comprara na Flower pelo caminho. - Ponha-as numajarra, Nellie, e vá entregá-las à patroa. Díga-lhe que estou à espera na sala.

- Ela está a fazer umas massagens aos pés - confidenciou Nellie.

- Estou certo de que a poderá interromper - respondeu Fred entrando na sala decorada com gosto, sobranceira a uma piscina azul e fria. Lucinda possuía diversas casas; esta em Bel Air era a sua favorita. Leon ficou junto da janela olhando para a paisagem, consciente de que tinha uma longa espera à sua frente. Conhecia Lucinda, sabia que ela teria de se recompor, verificar a maquilhagem, cabelo, roupa. Lucinda pertencia à antiquada raça de estrelas ao contrário dasjovens actrizes de hoje que apareciam no seu escritório com ares de quem tinham acabado de sair da cama de alguém. Musconni era a jovem estrela mais em voga no momento e, quando Max Steele a encontrou a semana passada a sair do escritório de Freddie, agarrou no braço do sócio e murmurou-lhe ao ouvido: deves estar a brincar! Eu não fornicava com ela nem com o pénis de outro! Max afirmava sempre aquilo que todos os outros pensavam. Anne parecia uma viciada em heroína, mas era uma excelente actriz.

Vinte e cinco minutos depois, Lucinda fez a sua entrada. Era uma mulher alta com feições dramáticas e suave cabelo de um ruivo-pálido, que usava curto acima dos ombros, corte que lhe assentava bem. Não era tradicionalmente bonita, mais impressionante devido ao nariz aquilino e olhos penetrantes, mas o seu talento era feito tal como os seus admiradores. Lucinda era uma estrela há quase vinte anos.

- Então, a que devo esta honra? - perguntou Lucinda, entrando na sala, resplandecente num fato calça em caxemira bege-pálido e saltos extremamente altos.

- Hoje estou a fazer de moço de recados - disse Freddie, beijando-a em ambas as faces.

As sobrancelhas dela, marcadas a lápis fino, ergueram-se. - Freddie Leon... moço de recados? Não acredito nisso.

- Acredite, minha querida. Sei como por vezes se sente insegura, pelo que vim pessoalmente buscar o contrato assinado. Os lábios finamente pintados de escarlate franziram-se dramaticamente.

- Verdade?

- Lucinda, meu amor, deve saber melhor do que ninguém que nunca a aconselharia a fazer algo que não fosse adequado para si. Lucinda atirou-se para uma cadeira demasiado almofadada, arremessando os sapatos como uma petulante criança de dez anos. - Não me estou a tornar difícil, Freddie - disse. - Simplesmente, não quero parecer... patética.

- Como seria possível você parecer patética? - perguntou Freddie, num esforço.

- Bom, Dmitri disse...

- Quem é Dmitri? - interrompeu.

- Alguém com quem me tenho encontrado - disse, mostrando-se invulgarmente tímida.

Oh, Santo Deus, agora entendia. Ela tinha outro homem na vida, tal como as legiões antes dele, queria dar-lhe a volta.

- Já conheci o Dmitri? - perguntou.

- Não - respondeu Lucinda, ainda tendendo para o lado tímido. - Mas há-de conhecer.

- Acredito - afirmou Freddie. - Anda por aí hoje?

- Está lá fora, na piscina - disse Lucinda. - É melhor não o incomodarmos, é provável que esteja a dormir.

Não, não é possível! pensou Freddie. É melhor não o incomodarmos, está a trabalhar para o bronze. Santo Deus! Onde será que estas mulheres descobrem estes homens?

- Já lhe disse como está espectacularmente bonita hoje? afirmou Freddie, aligeirando a sua estratégia.

- Não - respondeu Lucinda, algo atrapalhada. - Por sinal, vo- não disse.

- Bom, essa é a verdade. É a minha cliente mais importante e é por isso que aqui estou. - Começou a caminhar de um lado para o outro. - Assine o contrato, Lucinda. De outra forma, este negócio vai por água abaixo e não quero que isso lhe aconteça.

Ela hesitou. Freddie sentiu que estava quase nas suas mãos mas não totalmente.

- Mas Dmitri disse que, se eu contracenasse com Kevin Page, poderia dar-me um aspecto... mais velho.

- Você... mais velha? - Freddie abanou a cabeça. - Todos os rapazes da América irão desejar estar no lugar de Kevin Page.

- Sim?

- Venha daí, Lucinda, vamos para o seu escritório. Assina o contrato e eu posso prosseguir com o meu dia.

- Se tem realmente a certeza...

- Alguma vez lhe dei um mau conselho?

Quinze minutos mais tarde estava de volta ao carro com os contratos assinados no banco ao seu lado. Por vezes, tudo o que era necessário era um pouco de atenção pessoal. E, por um negócio de doze milhões de dólares, Freddie não se importava de desenvolver um esforço maior.

Os dois homens que jogavam racquetball faziam-no com uma atitude de não fazemos prisioneiros, Ambos tinham por volta de quarenta anos e óptimas condições físicas; apesar disso, o vigoroso esforço obrigava-os a transpirar profusamente.

Max Steele deu o último golpe com a raquete, decidindo o jogo.

- Cinquenta dólares! - gritou, triunfantemente. - E quero em dinheiro.

Howie Powers encostou-se à parede. Era um homem louro, com cerca de trinta anos, feições retorcidas, uma constituição forte e um bronzeado permanente.

- Merda, Max! - lamentou-se, irritado por ter sido vencido. Tens de ganhar tudo?

- Que tem isso de mal? - disse Max, radiante. - De que serve jogar, se não tencionamos ganhar?

Howie endireitou-se.

- Amanhã sou capaz de ir passar o dia a Vegas. Queres vir? ofereceu. - Podemos ir de boleia no avião do meu pai, que vai lá em negócios.

- Nunca trabalhas? - disse Max, pegando numa toalha enquanto seguiam para os balneários.

- Trabalho? Que é isso? - afirmou Howie, sorrindo de troça. Max abanou a cabeça.

- Não consigo entender por que acompanho com tipos como tu

- resmungou. - És um inútil.

- Por que haveria eu de querer trabalhar? - questionou Howie genuinamente intrigado. - Tenho dinheiro suficiente.

- Sim, donativos do velhote.

- Estás a esquecer-te do meu fideicomisso - disse Howie, com outro sorriso de satisfação. - Quem precisa de donativos? Só os aceito porque o meu velho insiste.

- Nunca te aborreces? - inquiriu Max, pensando como haveria de detestar não ter nada de substancial para fazer.

- Aborrecer-me? - disse Howie com uma gargalhada maníaca.

- Deves estar a gozar comigo. Não há horas suficientes no dia para cobrir tudo o que faço.

Max anuiu maliciosamente.

- Sim, como... ir para a pista, encontrar-te com os amigos, jogar póquer, fumar uma erva de primeira, engatar mulheres, jogar, um pouco de cocaína, sair e embebedares-te...

- Para mim, parece-me uma boa vida - afirmou Howie, o sorriso trocista regressando-lhe ao rosto.

- Eu gosto de trabalhar - disse Max, energicamente. - A minha satisfação advém do poder.

- Ib... tu tens aspirações altas - disse Howie. - Eu... gozo a vida enquanto o consigo levantar!

Max pensou para si que, se ele tivesse nascido com uma colher de prata enfiada no cu, era provável que também gozasse a boa vida. Mas ele teve de trabalhar para conseguir tudo o que tinha, iniciando-se na secção de correio da William Morris, onde se associara a Freddie. Uma união feliz, pois ambos ascenderam juntos: quando lhes surgiu a oportunidade, há dez anos atrás, iniciaram a sua própria agência. Agora, constituíam uma das três principais agências da cidade. Na verdade, naquele preciso momento, a A. A. I. representava as maiores estrelas, os mais célebres argumentistas e os melhores realizadores e produtores de Hollywood.

No entanto, apesar do sucesso bem merecido, há algum tempo que Max vinha a pensar em mudar. Ser agente era uma coisa, mas gerir um estúdio iria conceder-lhe muito mais poder, o que ele tanto ansiava. Ora, se tipos como Jon Peters conseguiam fazê-lo, ele era como um marinheiro numa sala cheia de prostitutas.

O único problema era participar a Freddie, que não fazia ideia de que ele pensava em desertar, e iria criar sérias dificuldades quando lhe contasse os seus planos. Mas isso não era nada com que Max não pudesse lidar.

Nem uma palavra até o negócio estar concluído. Só então pensaria na saída perfeita.

 

Natalie era toda sorrisos quando chegou do estúdio.

- Viste-me na televisão? - perguntou, entusiasmada. - Que tal a parte que fiz sobre Salli T. e Bo Deacon?

- Não vi essa parte - disse Madison. - Que disseste?

- Oh, disse algo assim: Adivinhem quem viajoujunto no mesmo voo para L. A. sabes como é, coscuvilhices provocadoras. O público adora.

- Eles não viajaram juntos - salientou Madison.

- Quem se importa? - disse Natalie, aereamente. - O que ambos querem é publicidade. Ficarão extasiados só de ouvirem mencionar os seus nomes.

- Se assim o dizes - murmurou Madison, não tão segura de que Salli ficaria assim tão entusiasmada.

- Sei que é assim - disse Natalie, confiante. - Devias ler algumas das cartas que recebo... tudo o que querem saber é os pormenores imundos.

- Isso é triste.

- Não. É simplesmente o modo como as coisas são.

- Se assim o dizes - murmurou Madison.

- Vamos - disse Natalie, cheia de energia. - Mexe-me esse rabo. Vou oferecer-te o jantar e saber tudo o que se passou entre ti e David.

- É uma história curta - afirmou Madison, decisivamente.

- Óptimo. Tu contas-me a tua história, eu conto-te a minha. Oh, chegaste a ver Cole?

- Claro que sim - disse Madison, pegando na bolsa. - Veio a casa, tomou um duche, saiu outra vez e pediu- me para te dizer que não vinha dormir a casa esta noite.

Natalie rolou os olhos em desaprovação.

- Conheceu um executivo qualquer importante do mundo do espectáculo... do tipo que engata um rapaz por mês. O problema é que Cole não me quer ouvir sobre esse tema, pois sabe que sou contra.

- Não és mãe dele. Não tentes governar a sua vida... sobretudo a vida amorosa dele.

- Como isso é verdade - suspirou Natalie, enquanto se dirigiam para a porta. - Mas conheço mais a vida do que ele, devia dar-me ouvidos.

- Ele disse-me que treina o sócio de Freddie Leon, Max Steele - disse Madison.

- Não te tinha já mencionado isso?

- Não. Mas Cole disse que, se eu fosse ter à pista de corrida da UCLAz às sete da manhã, ele apresenta-mo.

- Às sete! - gemeu Natalie, abrindo a porta do carro. - Querida, não contes comigo para te preparar o café.

Foram jantar ao Dan Tana's e sentaram-se num local confortável.

- Já te contei que vou fazer um trabalho para a revista sobre Salli T. - afirmou Madison, pedindo um vodka-martini porque lhe estava a apetecer e porque sabia que lhe iria garantir uma boa noite de sono.

- Sim. O velho Victor não ficou todo excitado quando mencionaste o nome dela? - disse Natalie, pedindo uma cerveja.

Madison anuiu.

- O meu objectivo é que ela fale sobre os homens que governam Hollywood... todos parecem ter uma predilecção por prostitutas e strippers com corações de ouro... sabes como é, a Julia não-sei-o-quê, que fez o Pretty Woman, aquela com os cabelos compridos. E Demi Moore, em Striptease. Quero que Salli siga por aí.

- Óptimo, podes dar-me todas as sobras - disse Natalie, estudando o menu. - Poderei usá-las no meu programa.

- Estás mesmo dedicada ao teu programa, não estás?

- Hmm - disse Natalie, fazendo uma careta. - Umas vezes estou, outras não. É tão previsível. Tantas pessoas a lançarem no mercado livros, filmes e os malditos vídeos de exercícios... e tenho de parecer que estou interessada.

- Que queres fazer?

- Ser o pivot do noticiário de uma estação, é claro.

- Soa-me a um plano.

- Sim? - disse Natalie com pesar. - Quantospivots de notícias negros vês?

- Esta é a minha filosofia - disse Madison. - Se desejas muito uma coisa, tens de lutar por ela.

- Vamos pedir - disse Natalie. - Aminha filosofia é... a comida resolve uma tonelada de problemas!

Depois de beber alguns tragos do seu martini, Madison começou a falar.

- Penso que amava genuinamente David - afirmou, com melancolia. - Mas a verdade é que ele se amedrontou.

- É típico! - interrompeu Natalie.

- Alguns homens afirmam que não têm problema em lidarem com mulheres fortes mas, quando isso realmente acontece, não conseguem suportar a pressão - prosseguiu Madison. Natalie anuiu, concordando. - Nunca falámos sobre casamento - acrescentou Madison. - Éramos felizes apenas por estarmos juntos. Até ao dia em que saiu para ir comprar cigarros e não regressou. - Fez uma pausa, lembrando-se, abanando a cabeça, porque a recordação era ainda penosa. - O que mais me doeu foi que, depois de se ir embora, se casou com a querida dos tempos do liceu. Isso foi o que mais me chateou.

- Podes crer, sei exactamente onde queres chegar - afirmou Natalie. - Denzl e eu tínhamos uma relação óptima até ao dia em que acordei de manhã e o filho-da-mãe não estava lá. Nem a minha colecção de C'Ds, o que, como podes imaginar, me deixou fula. Perdê-lo era uma coisa, mas perder Marvin Gaye?

Miraram-se, e, de repente, desataram à gargalhada.

- Quem havia de acreditar nisto - exclamou Natalie. - Duas raparigas espertas e com um aspecto fantástico como nós e fomos abandonadas!

- Pelo menos, conseguimos rir sobre isso agora.

- Talvez tu consigas.

- Tu não devias estar com Denzl - disse Madison com firmeza.

- E eu não devia estar com David. Alguém maior e melhor há-de aparecer.

- Hum... maior - disse Natalie, com uma risada maliciosa. Agrada-me! - Depois acrescentou rapidamente: - Não que esteja interessada em envolver-me de novo.

- Nem eu - concordou Madison. - Toda esta treta de só os homens poderem ter sexo sempre que desejarem não significa nada. Por que somos nós obrigadas a estarmos envolvidas num relacionamento?

- Certíssimo! - concordou Natalie. - Dêem-me um tipo giro com um grande corpo. Faríamos um óptimo sexo e, não me telefones, eu telefono-te.

- Sim! - disse Madison. - Desde que uses um preservativo. Não há dúvida de que as coisas mudaram desde os tempos da faculdade.

- Oh, a propósito - disse Natalie. - O pivot do meu programa convidou-nos para ir a casa dele amanhã à noite, para um jantar. Disse que sim. Por ti está bem?

- Espero que não me estejas a arranjar nada - disse Madison com suspeitas.

- Ele é casado.

- Nesse caso, tudo bem. Não estou com disposição para arranjinhos.

Um empregado aproximou-se da mesa.

- O cavalheiro no bar gostaria de pagar às senhoras uma garrafa de champanhe.

Ambas olharam. Umplayboy de certa idade, com um capachinho negro mal colocado no topo da cabeça, acenou alegremente.

- Diga ao cavalheiro que agradecemos, mas não - afirmou Madison.

- Exacto, sugira que poupe o dinheiro para a velhice - acrescentou Natalie. O empregado afastou-se. - a deixa de engate mais velha do mundo - disse Natalie, sorrindo. - Será que o pobre velhote não arranjava nada mais original?

- As deixas de engate são universais - afirmou Madison sabiamente. - Duram para sempre.

- Quanto queres apostar que ele se vai aproximar com outra deixa sentimentalista?

Madison abanou a cabeça.

- Não tem coragem - respondeu.

- Será um tapete que ele usa ou estarei a ver coisas? - disse Natalie, contendo uma gargalhada.

- Não estabelecer contacto visual - alertou Madison, contendo o seu próprio riso. - Se não, ele vem mesmo e ver-nos-emos forçadas a insultá- lo.

Dois minutos depois, o homem encontrava-se junto da mesa delas. tinha 72 anos e ainda se considerava um jogador.

- Não posso acreditar que duas jovens como vocês não bebam champanhe? - perguntou.

- Olá - disse Natalie, revelando uma voz sexy e doce. - Sou stripper na Body Shop, em Sunset. Esteja lá esta noite, por volta das dez. Por cinquenta dólares, farei uma dança especial só para si.

O homem retrocedeu. - Até mais tarde - disse Natalie, quase não conseguindo conter o riso. Aquele que queria jogar regressou apressadamente ao bar. - Calculo que ele não veja televisãoconcluiu Natalie.

- Gostei da tua resposta - brincou Madison. - Talvez eu a deva usar qualquer dia.

- Ah! - disse Natalie. - Quem iria acreditar que tu és uma stripper? Mas eu, negra e bonita... por que não?

- Oh, por favor! Não comeces com estereótipos raciais. Deixaste-me louca com essa treta na faculdade.

- Limito-me a afirmar o que é verdade - respondeu Natalie com teimosia. - és uma bonita mulher branca. Eu sou uma bem-parecida mulher negra. Os homens respeitam-te. Eles olham para mim e pensam... ela é negra, portanto, é fácil.

- Só dizes disparates.

- Vivo neste mundo - afirmou Natalie, o tom de voz elevando-se. - Sei que estou a falar verdade.

- E o que imaginas que se passa comigo, que moro numa torre de contos de fadas?

- Tu não és negra. Tu não entendes.

- Não acredito que estamos outra vez com esta conversa.

- Seja como for - disse Natalie. - Estou satisfeita por já não estares com David, porque, se te virou as costas, não valia nada.

- O mesmo se aplica a Denzl.

- O que devemos fazer é concentrarmo-nos nas nossas carreiras e tornarmo-nos famosas nos meios de comunicação. Tu podes ser proprietária da tua própria revista, e eu serei a primeira Barbara Walters negra. Que me dizes a este negócio?

- Estás bem lançada, rapariga.

- Adoro quando tentas falar à negro - disse Natalie, rindo-se.

- Que queres dizer?

- És demasiado formal para esse tipo de discurso.

- Eu Formal?

- Tens de te soltar... tens de arranjar alguma espécie de atitude.

- Que tipo de atitude?

- Assim, rapariga - disse Natalie, fazendo-Lhe uma careta. Assim.

E ambas começaram a gargalhar estrondosamente.

 

Kristin dava os últimos retoques à sua aparência quando o telefone tocou. Foi atender.

- Está?

- Mudança de planos - disse Darlene, num tom profissional.

- Amanhã, não hoje.

- Queres dizer que o Senhor está a cancelar?

- Não é propriamente a cancelar, meramente a adiar.

- Oh - disse Kristin, aliviada, e, apesar de tudo, desapontada, porque queria o dinheiro.

- Amanhã. À mesma hora, no mesmo lugar - afirmou Darlene.

- O que não interferirá com o teu almoço. Terás tempo suficiente para descansares entre os encontros.

- Fico muito agradecida - disse Kristin, sarcasticamente.

- Sei que não gostas de te encontrar com o Senhor - prosseguiu Darlene. - Mas por que não hás-de gostar? Não te toca e paga mais do que qualquer outro cliente.

- É exactamente isso que é estranho - disse Kristin. - Diga

Darlene... há algo de estranho nele.

- Oh, por favor - disse Darlene, desprezando os medos dela como se não importassem. - Tipos com fetiches... que tem isso de invulgar?

Kristin desligou o telefone sentindo-se deprimida. Queria acabar com aquilo rapidamente. Tinha-se preparado em termos psicológicos para outro encontro aberrante; agora enfrentava-se com uma longa noite pela frente, sem nada planeado.

Por momentos, a sua mente vagueou pelos acontecimentos do dia, e pensou em Jack, o fotógrafo com o problema da gravata. Ele não fazia ideia do que ela era nem do que fazia. Gostaria muito de Lhe tirar uma fotografia um dia destes, dissera. Por que não? Não iria seguramente dar em nada. Por que não podia fazer algo que ela apreciasse, para variar?

Num impulso, pegou no telefone e obteve o número do Sunset Marquis.

Quando a telefonista do hotel atendeu, apercebeu-se de que não fazia ideia do apelido dele.

- Ah... tem algum Jack aí hospedado? - disse. - É fotógrafo. Parece que me esqueci do apelido dele.

- Deixe-me ver - disse a telefonista solícita, e, alguns momentos depois, fez a ligação ao quarto dele.

Jack respondeu de imediato.

- Bunny? - disse.

- Não é Bunny - respondeu, questionando-se quem seria Bunny.

- Eia... Kristin - disse, parecendo satisfeito por ouvir a voz dela. - Que surpresa agradável. Por que me está a ligar?

Por que estava a ligar?

- Ah... eu menti - afirmou.

- Mentiu?

- Eu... não tenho noivo. O que tenho é um marido muito ciumento. - E estava ansiosa por me informar disso. - Estamos separados. - Isso é encorajador. e Uma longa pausa, durante a qual nenhum deles falou. Kristin acabou por romper o silêncio, surpreendendo-se a si mesma. - Está livre para jantarmos esta noite?

- Eu? - disse, obviamente protelando para ganhar tempo.

- Não. Mel Gibson - disse num ímpeto, lamentando ter feito a pergunta. - Ah... está a dizer que pode jantar comigo? - É exactamente o que estou a dizer. - A que horas quer que a vá buscar?

- Vou ao seu encontro - respondeu apressadamente, não querendo que ele soubesse onde ela morava.

- Okay - disse, lentamente. - E onde nos encontramos? A mente dela não queria funcionar. Não queria encontrar-se com ele onde pudesse haver pessoas que a conhecessem.

- Eu... eu irei ter ao seu hotel - disse.

Errado! Agora ele haveria de pensar que ela era fácil. Ah! Se ele soubesse como ela era fácil. Cara, mas todavia fácil.

- Se é isso que a faz feliz - disse. - A que horas devo esperá- la?

Há tanto tempo que não tinha um encontro normal que não sabia o que sugerir.

- Que tal sete e meia? - disse, pensando que assim disporia do tempo suficiente para trocar as imaculadas vestes brancas e vestir algo mais apropriado.

- Está combinado - disse.

- Tem a certeza de que pode fazer isto? - inquiriu Kristin, meio desejando que ele lhe dissesse que estava ocupado.

- Diria que sim se não pudesse?

- Não...

- Qual é o seu número no caso de precisar de contactar consigo?

- Não estou em casa - mentiu, desligando rapidamente o telefone para que não tivesse que responder à pergunta dele. Depois, ficou irada consigo própria. Que estás a fazer? pensou. Por que vais sair num estúpido encontro com um estúpido tipo que nem sequer conheces?

"Porque também tenho o direito de divertir-me, não tenho? Assiste-me o direito de me comportar como um ser humano normal.

"Não, não tens esse direito. Escolheste ser prostituta. Limita-te àquilo que sabes. "

Kristin chegou ao hotel a horas - a pontualidade era um prérequisito para uma rapariga de programa perfeita. Jake aguardava-a no átrio, ainda parecendo algo desmazelado com o blusão de cabedal castanho e cabelos compridos. Ela trocara de roupa por dez vezes, acabando por se decidir por um vestido preto simples e algumas peças de boajoalharia - que lhe foram oferecidas por um negociante de armas árabe. Mal o avistou, apercebeu-se de que vinha demasiado a rigor.

- Olá - disse, caminhando para ela. - Esta é realmente uma boa surpresa.

- É? - respondeu.

- Pode crer - disse, sorrindo. Ela retribuiu-Lhe o sorriso. Onde quer ir? - perguntou ele.

- Ah... onde você quiser ir.

- Acabei de chegar à cidade.

Kristin ponderou nas possibilidades. Os clientes levavam-na a todos os clubes e restaurantes dispendiosos. Alguns dos mestres de sala conheciam-na e sabiam a sua profissão.

- Que tal o... Hamburger Hamlet? - disse, pensando rapidamente.

- Está demasiado bonita para irmos a uma casa de hamburguers. - Não pense isso - disse. - Adoro hamburguers. - Se é isso que gosta. Gosto de ti", gritou-lhe uma voz na cabeça. Gosto de ti porque és normal, porque não me vais pagar. Porque não sabes o que faço, nem nada a meu respeito. Gosto de ti porque gostas de mim por aquilo que sou.

- No meu ou no seu carro? - disse, conduzindo-a para fora do hotel. - O seu é capaz de ser melhor, porque tudo o que tenho é o uma carrinha velha que, posso assegurar-lhe, já viu dias melhores. - Vamos no seu - disse, pensando que, naquela noite, queria sentir-se como uma rapariga normal num encontro normal. Não havia nada de errado nisso. - Então - disse Jake, quando entravam para a carrinha dele. o Que a fez mudar de ideias? s, - Em relação a quê?

- A sair comigo.

- Nunca me pediu isso. - Porque, quando subiu para a escada rolante hoje, não fazia tensões de me voltar a ver. - Por que diz isso?

- Consigo perceber as pessoas.

- Veja como estava errado.

- Ainda bem.

Seguiram para o Hamburger Hamlet, em Doheny, e sentaram-se num lugar tranquilo, lado a lado. Kristin pediu um hamburguer duplo de queijo e um batido de chocolate extra grosso. Sentia-se como se tivesse voltado atrás no tempo, à época do liceu, e estivesse num encontro amoroso. Jake tinha muito para dizer. Falou de fotografia e das pessoas que conhecera e com quem trabalhara. Contou-lhe dos seis meses que vivera em Nova Iorque e como detestara. Kristin ficou a saber que, apesar de ele ter sido galardoado com prémios como fotógrafo, e tivesse já efectuado diversas exposições de prestígio, não se levava muito a sério. Fê-la rir-se em relação ao pai já de alguma idade e à futura noiva do pai. Adorava ouvi-lo falar. Era interessante, engraçado, auto- implorante e inegavelmente atraente.

- Não fazia isto há anos - disse ela, desfrutando de cada momento, enquanto bebia o espesso batido de chocolate por uma palhinha.

- Isto o quê?

- Sair assim.

- Porquê?

Ela hesitou por momentos.

- O meu... ah... marido não frequenta locais como este.

- Deixe-me adivinhar - disse Jack, fitando-a intensamente. O seu marido é muito rico e muito mais velho do que você... certo?

Ela anuiu. Sim, Jake. São todos mais velhos do que eu, e todos ricos e libertinos e repugnantemente lascivos.

- É verdade - murmurou.

- É demasiado bonita para continuar num casamento infeliz - disse, os olhos castanhos genuinamente preocupados. - Encontra-se presa numa armadilha e devia sair enquanto pode.

- Eu sei - respondeu, pensando que o casamento era uma metáfora para a vida que realmente levava.

- Tem um bom advogado?

- O melhor - respondeu, elaborando mentalmente a imagem do melífluo Binden Masters, o homem que representava todas as raparigas de Darlene.

- Nesse caso, deve dizer-lhe que quer acabar com o casamento.

- Eu... tenciono fazê-lo - disse, estudando os lábios dele, questionando-se como seria beijá-lo, um verdadeiro beijo, não uma representação paga.

Ele viu-a a olhar e começou a fazer mais perguntas. Kristin tornou-se de imediato evasiva, não desejando contar-lhe mais nada. Jake começou a entender e deixou de questioná-la, pedindo a conta.

- Venha - disse ele, levantando-se. - É melhor levá-la ao seu carro. O dia tem sido difícil e começo a sentir os efeitos.

Um dia difícil? Escolher gravatas? Qual era o problema dele?

- Está bem - murmurou, fingindo não estar minimamente preocupada. - Também me sinto cansada.

Aquilo era inacreditável. Ele podia receber de graça aquilo que habitualmente ela cobrava uma exorbitância, e estava cansado Ou talvez tivesse um encontro com Bunny... quem quer que ela fosse.

Se era assim, muito bem. Não se importava.

Da próxima vez, haveria de pensar duas vezes antes de tentar experimentar a vida como uma pessoa normal.

 

A pista de corrida da UCLA não tinha muita gente. Madison ficou surpreendida; pensava que estaria apinhada. Mas tinha de considerar que era ainda cedo. Chegara pouco antes das sete e começou a saltitar no mesmo sítio porque estava frio. Olhou em redor para ver se avistava Cole e o seu cliente. Ainda não havia sinais deles.

Cole sugerira que ela vestisse algo sexy, mas o seu objectivo não era atrair Max com o seu suposto sex appel - tinha a certeza de que, a ele, não lhe faltariam todas as actrizes e modelos que desejasse. Pelo que vestiu um fato de treino quente e enfiou o longo cabelo negro por baixo de um boné vermelho de basebol.

Entretinha-se a fazer alongamentos de pernas quando Cole e Max finalmente apareceram à vista. Não havia dúvida de que Cole era um pedaço impressionante de carne masculina. Max Steele não se comparava em nada, embora fosse ainda atraente, muito ao estilo de Hollywood.

- Eia, Madison - disse Cole, acenando para ela. - Que fazes aqui?

- O que te parece que estou a fazer? - respondeu, tentando não estremecer. - A correr, obviamente. Pensas que nós, o pessoal de Nova Iorque, nunca vem para as pistas?

- Não sabia que te dedicavas a isso - disse Cole, desempenhando bem a sua parte.

- Oh, sim - mentiu. A verdade é que a actividade física não lhe agradava, e tinha de se forçar para frequentar o ginásio duas vezes por semana.

Max ocupava-se a estudá-la.

- Olá - disse, estendendo a mão. - Max Steele.

- Você é Max Steele? - afirmou Madison, fingindo surpresa. Que coincidência.

- Porquê?

- Max Steele, da Agência de Artistas Internacionais?

- Amenos que exista outro Max Steele por aí que eu não conheça.

- Sou Madison Castelli. Escrevo para a Manhattan Style. Estou em L. A. para fazer um trabalho sobre a vossa agência.

- Nesse caso, como é que não estou ao corrente disso? - afirmou Max, ainda avaliando-a e gostando do que via.

- Porque é suposto encontrar-me amanhã com Freddie Leon. Disseram- me que era com ele que deveria falar.

- Oh, disseram-lhe isso, foi? - respondeu Max, obviamente irritado. - Também lhe disseram que, por sinal, eu e Freddie somos sócios?

- Sei que é Freddie Leon quem dirige a agência, mas, é claro, já ouvi falar de si.

- Ainda bem - disse Max, sarcasticamente. - A verdade é que vai ouvir falar muito mais sobre mim.

- Ah, sim?

- Aposte o seu bonito rabo. - Ela franziu o sobrolho. Ele não pareceu reparar. - Quer correr connosco? - perguntou.

- Gostaria muito. - A segunda mentira do dia.

Começaram lentamente, Cole avançando para a frente enquanto Madison ficava atrás, ao lado de Max.

- Como se iniciou no negócio da agência? - perguntou Madison. Ele começou a falar, contando-lhe tudo sobre a secção de correio da William Morris, e como ele e Freddie se atreveram a sair e a iniciarem juntos a A. A.

Poucos minutos depois, ela já não tinha fôlego.

- Sabe uma coisa? - disse, respirando com dificuldade. - Há já algum tempo que não corria. Podemos ir tomar o pequeno-almoço a algum lado quando terminar?

- Nem sequer vi as suas credenciais - disse Max, fitando-a. Talvez não devesse falar consigo.

- As minhas credenciais? - disse, fingindo-se ofendida. Escrevo todos os meses o artigo Perfil de Poder. Telefone ao meu editor, se quiser. Victor Simons. Tenho a certeza de que ele lhe dará todas as informações de que precisa.

- Não é necessário - disse Max. - Pelo facto de que decidi confiar em si. Mas gostaria de ver alguns dos artigos que escreveu.

- Pedirei a Nova Iorque que lhe mande por E-mail as minhas entrevistas com Magic Johnson, John Kennedy, Jr. Henry Kissinger. Oh, sim, há também um artigo interessante que escrevi a respeito de Castro quando visitei Cuba.

- Okay, okay, estou impressionado - disse Max, rindo-se. - É demasiado atraente para ficar tão séria.

- E você é demasiado esperto para vir com essas deixas ultrapassadas.

- Alguma vez considerou a carreira de modelo?

- E você?

Ele riu-se de novo e voltou-se para Cole.

- Como é que conhece esta senhora?

- Andou na faculdade com a minha irmã.

- Que me diz? - interrompeu Madison. - Podemos encontrar-nos para o pequeno-almoço quando acabar de correr?

Max anuiu, tirando um pequeno telemóvel da algibeira das calças de treino.

- Anna - disse para o telefone. - Cancele o meu pequeno-almoço das nove horas e reserve-me uma mesa para dois no Peninsula.

Madison sorriu.

- Penso que isso significa que aceita.

O pequeno-almoço com Max correu bem. Regalou-a com histórias de todas as pessoas que descobriu e que, segundo defendia, transformara depois em grandes estrelas. Madison escutou atentamente. Era difícil extrair informações sobre Freddie Leon porque tudo o que Max realmente queria era falar sobre si próprio e os seus feitos. Madison obteve citações de realce; Max era tudo menos modesto.

Madison sabia que não estava a ser honesta com ele no que respeitava à entrevista, mas sentia que, se ele soubesse que o artigo era sobre Freddie Leon, terminaria de imediato aquele encontro. Tornava-se bastante óbvio que Max só se interessava por si.

Quando saíram, Max ofereceu-se para lhe fornecer algumas fotografias, sugerindo também que, mais para o fim da semana, ela deveria ir ao escritório dele para que pudessem continuar a conversa.

- Mais uma coisa - disse ele, quando se encontravam à porta do hotel, esperando que os empregados lhes trouxessem os carros estacionados.

- Que é? - perguntou.

- Não devia estar a dizer-Lhe isto - afirmou. - É estritamente confidencial e não pode ser repetido.

- Estou intrigada.

- Dentro de algumas semanas, farei uma comunicação que apanhará todos de surpresa.

- Isso é interessante. Se prometer que não escrevo nada até me dar luz verde, pode contar-me o que é?

Max arrastou os pés - bastante grandes e calçados com elegantes Nikes prateados e cinzentos - e depois olhou em volta, como se alguém pudesse estar a escutar.

- Eu... não posso dizer nada por agora.

- Bom... sabe onde encontrar-me. E, sim, gostaria muito de passar pelo seu escritório.

- Quando se vai encontrar com Freddie?

- A reunião está a ser preparada neste preciso momento.

- Quer que interceda junto dele sobre essa reunião?

- Seria simpático da sua parte.

- Mas lembre-se, necessita de uma estrela para o seu artigo, e, minha querida, está a olhar para ela.

- Certo - murmurou Madison, não apreciando nada o minha querida".

- Óptimo. - E entrou para o seu reluzente Maserati vermelho e arrancou.

 

- Não sei o que fez, mas tenho de me render... você é o melhor!

- Obrigado, Sam - respondeu Freddie, amaldiçoando a sorte por se ter cruzado com o reles gestor pessoal na área de estacionamento do edifício. Só a própria visão do homem baixo e barbudo o exasperava. - Com quem se veio encontrar?

- Consigo, é claro - respondeu Sam, afagando a barba grisalha enquanto seguia Freddie para o elevador privado.

- Desconhecia que tínhamos uma reunião marcada - disse Freddie, sabendo bem que não tinham.

- Não temos - respondeu Sam. - Vim, calculando que você teria um minuto ou dois disponíveis.

- Tenho uma manhã muito ocupada, Sam - afirmou Freddie, entrando para o elevador. - É melhor marcar uma hora com a minha assistente.

- Quem precisa de horas marcadas? - disse Sam, seguindo-o para o elevador. - Posso dizer o que pretendo enquanto subimos.

Não consigo escapar, pensou Freddie mal humorado. Que tem em mente, Sam?

assim - anunciou Sam, completamente convencido. Estou aqui para lhe fazer um favor, mas se não tem tempo para ouvir o que tenho para lhe dizer.

Freddie engoliu o seu aborrecimento.

- Fale - afirmou, sucintamente.

- Vou dar-lhe uma informação bombástica - disse Sam, falando pelo canto da boca como um personagem num filme de Damon ftunyon. - Max Steele está a planear vender as suas quotas na A. A. I. a quem apresentar a melhor oferta. Estes dados foram- me fornecidos por alguém muito chegado à fonte.

Freddie aprendera na vida sempre a escutar e a nunca fornecer informações voluntariamente. Por isso, em vez de afirmar, Já sabia isso, ficou em silêncio por instantes. Depois disse:

- Conte-me o que sabe.

- Bom - disse Sam, inchado com a sua própria importância. O seu sócio tem tido reuniões à porta fechada com Billy Cornelius

acerca dos Orpheus Studios. E, por aquilo que a minha fonte de muita confiança me contou, Billy está a planear nomear o seu Max como chefe de produção, com o objectivo de que ele assuma todo o negócio quando Billy despedir Ariel Shore.

- Interessante - disse Freddie, a sua expressão nada transmitindo.

- O que corre por aí é que estas negociações são tão secretas quanto a CIA - disse Sam, palitando os dentes com uma unha imunda. - Por isso disse para mim mesmo que tinha de alertar Freddie... no caso de ele não saber de nada.

Freddie lançou a Sam um longo e gélido olhar.

- Pensa que acontece alguma coisa nesta cidade que eu não esteja ao corrente? Pensa de facto isso, muito honestamente?

Sam acalmou-se.

- Quis apenas assegurar-me - disse, mexendo-se nervosamente, porque estar na companhia de Freddie Leon era o suficiente para agitar os nervos de qualquer um.

- Fico-lhe grato pela informação - afirmou Freddie, impávido.

- E eu fico-lhe grato por ter conseguido que aquela cabra assinasse o contrato - resmungou Sam. - Que flha-da-mãe!

Freddie gelou-o com um olhar.

- Nunca mais trate Lucinda dessa forma - disse, quando o elevador parou no seu piso. - É sua cliente, e deve-Lhe respeito. Fê-lo ganhar muito dinheiro ao longo dos anos. Seria sensato da sua parte lembrar-se disso.

- Eu... eu beijo-lhe o maldito rabo - disse o pequeno homem, enrubescendo.

Freddie lançou-lhe outro longo e gélido olhar, passou pela secretária de Ria, entrou no seu escritório e bateu com a porta. Samra wski não passava de escumalha; se não se tivesse agarrado a Lucinda no início da carreira dela, não teria nada agora. Mesmo assim, se não a tivesse como cliente, era menos do que nada, e Freddie

tinha horror a lidar com arraia-miúda. Mas aquela informação era correcta - confirmava o que Freddie já sabia.

Assistira à rápida ascensão dela ao poder e apreciara o sucesso dela, porque era uma mulher esperta e sabia como desenrolar o jogo melhor do que a maioria dos homens. Tal como ele, era um ás nos negócios, com modos encantadores e muito estilo.

Billy Cornelius era outra questão. Billy, um bilionário de 72anos, alto e de rosto corado, não era dono apenas do Orpheus, possuía um vasto grupo de companhias de entretenimento e empresas. Um rei dos meios de comunicação - era igualmente um filho-da-mãe, pronto a desferir uma punhalada nas costas mal nos virássemos.

No ano transacto, Max Steele formara uma aliança com Billy, Um duo sem afinidades, mas Freddie nunca se queixara, porque ter Billy Cornelius do lado da A. A. I. constituía seguramente uma mais-valia.

Ria ligou-lhe.

- Tem a sua mulher em linha.

Pegou no telefone.

- Sim - disse, para o auscultador.

- Estava a pensar - disse Diana hesitante. - Queres que te mande por fax a disposição dos lugares para logo à noite?

Raios! Esquecera-se. Iam dar outra daquelas pequenas festas maçadoras de Diana.

- Quem vai? - disse, sucintamente.

- As pessoas que aprovaste a semana passada - respondeu Diana, parecendo tensa. - Lembras-te? Elaborámos a lista em conjunto.

- Manda-me por fax a lista e a disposição dos lugares. Depois analiso.

- Eu poderia fazer um bom trabalho, se me permitisses - arriscou Diana.

- Não, Diana, deixa isso comigo - respondeu.

- Muito bem. - E desligou com força.

Freddie permaneceu sentado à secretária por momentos, questionando-se por que razão era sempre tão duro com a sua mulher. Sabia que a tratava com frieza e sem carinho, mas não conseguia proceder de outra forma. Era como se ressentisse o facto de serem casados. Pobre Diana. Em público, era a esposa perfeita - nunca o desapontava, sempre do seu lado, bem vestida, culta. Em casa, mostrava-se sempre disponível no quarto quando ele estava com disposição - o que não era frequente, porque perdera o interesse pelo sexo com a sua mulher. Estavam casados há mais de dez anos e já não existia aquela paixão sexual que sentira nos primeiros anos do relacionamento deles. Era também a mãe dos seus filhos; portanto, já não a podia encarar como um objecto sexual. Além do mais, o sexo esgotava as energias de um homem, e necessitava de todos os rasgos de energia para o seu trabalho. Graças a Deus que ela tinha as suas funções de caridade e as crianças para a manterem ocupada.

Considerou o facto de a notícia da deserção de Max Steele ser do domínio público. Se Sam Lowski sabia, toda a gente devia saber. Freddie decidiu que chegara a hora de tomar uma posição a esse respeito. Sim, iria tratar de Max como só ele sabia.

Ria bateu à porta e entrou no escritório com dois faxes de Diana.

que lhe entregou. A lista de convidados e a disposição dos lugares. Analisou primeiro a lista de convidados. Max Steele estava presente; iria acompanhado de Inga Cruelle. Freddie recordava-se vagamente de Max lhe falar sobre a estonteante supermodelo. A melhor coisa para se fornicar que jamais viste", fora a descrição de Max. Temos de a pôr em qualquer coisa.

Sim, temos, pensou Freddie. Vamos pô-la no meio da confrontação que vamos ter cara a cara, Max. Porque, se pensas que vais sair sem me dizeres nada, é melhor pensares duas vezes. "

Freddie continuou a estudar a lista. Lucinda e o seu novo namorado, Dmitri. Isso vai ser interessante. Kevin Page e a actual namorada, Angela Musconni - nada como novos jovens talentos para conferir alguma cor à noite. Os outros convidados eram um homem de negócios bilionário e a sua mulher, um financeiro de Nova Iorque e a sua amante de L. A. e o chefe de uma das estações televisivas. Uma boa combinação.

Freddie pousou a lista. Um convite para uma festa dos Leon, era algo que muitos cobiçavam - tinha de dar o crédito a Diana por criar noites que todos ambicionavam poder ser convidados.

Ligou para Ria.

- Telefone para Ariel Shore - disse, abruptamente. - E se ela não estiver no estúdio... localize-a. Preciso de falar com ela imediatamente.

 

Kristin tinha um cliente regular uma vez por mês que gostava de almoçar com ela antes de a ver em manobras como uma rapariga da escolha dele. Durante o almoço, obrigava-a a contar histórias sobre os clientes dela do mês anterior e ele, em troca, narrava-lhe situações inacreditáveis sobre estrelas de Hollywood. Não que ela estivesse interessada - pouco lhe importava quem fazia o quê e com quem. Como profissional, mantinha a boca fechada e executava o seu trabalho com a melhor das suas habilidades. Falar sobre os clientes era coisa que não fazia.

Por isso, em lugar de revelar a verdade, inventava histórias de escandalosos encontros sexuais, enquanto o seu cliente escutava com olhos reluzentes e um sorriso de satisfação.

Habitualmente, após a sua sessão com aquele particular cliente, visitava a irmã na clínica localizada logo após Palm Springs, onde - desde que Kristin pudesse pagar as contas - Cherie residia permanentemente. Hoje não podia ir devido à mudança de planos do Senhor X. Maldito Senhor X! Tudo nele lhe criava pele de galinha. Os disfarces dele, as suas exigências excêntricas. Era sinistro, talvez mesmo perigoso.

Vestiu-se para o almoço com um fato Armani simples, em bege- pálido. Por baixo do casaco, usava uma blusa creme decotada e sem soutien, para que o escuro dos mamilos se revelasse através do tecido fino. O cliente gostava que os outros homens no restaurante olhassem e cobiçassem. Mal ele sabia que alguns deles eram também clientes dela, que sabiam exactamente quem ela era e o que fazia.

Ele gostava de almoçar no Morton's, onde tinha uma mesa fixa. Kristin chegou primeiro e sentou-se, interrogando-se, como sempre fazia, qual era a tara deste tipo em particular. Era poderoso, algo atraente, com uma personalidade maníaca - era possível que conseguisse deitar as mãos à maioria das jovens actrizes e modelos de Hollywood, e, contudo, preferia almoçar com ela uma vez por mês, e depois pagar por sexo. De facto, não era assim tão estranho. Se ela fosse uma conquista, ele ver-se-ia forçado a manter conversação com ela, a enviar-lhe flores, comprar presentes, preparar o caminho para o momento final. Com ela, as coisas estavam seguras, ele pagava e ela iria para casa. Sem compromissos. Um negócio simples.

Além de que ela não se opunha a brincadeiras com outra rapariga - e Por que haveria de se opor? Era a sua profissão. Sabia que muitas das mulheres que faziam o que ela fazia eram lésbicas, tão desiludidas com os homens e com a forma como eles tratavam as mulheres que viraram ao inimigo. Embora Kristin soubesse como actuar nestas circunstâncias, não tinha nenhuma inclinação nesse sentido.

Observou o cliente quando ele entrou, sorrindo e dizendo piadas a diversas pessoas ao passar pelas mesas. Era um tipo simpático e Kristin não se importava com os seus encontros mensais. Era o facto de ter de ver o Senhor mais tarde que a estava a incomodar.

- Olá, Max - disse, quando ele se sentou à mesa.

- Olá, boneca - respondeu Max Steele, chamando o empregado e pedindo chá gelado. A mente dele rodopiava de um lado para o outro. Tanta coisa que se passava e, contudo, tudo em que conseguia pensar era no seu encontro logo à noite com Inga Cruelle. Ela estava a fazer-se difícil e isso agradava-lhe. Max considerava que a perseguição era tudo. Mal obtivesse o que queria, punha-se a milhas. Fora por isso que nunca casara e era por essa razão que gostava de se encontrar com Kristin uma vez por mês. Sem exigências, um encontro sensacional, e a fantasia das duas raparigas juntas com que sempre se babara perante as páginas centrais da Playboy desde os treze anos.

- Como tens passado, Max? - perguntou Kristin gentilmente.

- Bastante bem - respondeu ele. - Estou em forma, o negócio

corre sobre rodas, está tudo a acontecer, querida.

- Ainda solteiro? - inquiriu Kristin, não realmente interessada

mas sabia que ele gostava que ela demonstrasse interesse.

Ele soltou uma gargalhada.

- Já me conheces, querida... uma mulher nunca seria suficiente para mim. - Bebeu uns golos de chá gelado e inclinou-se ansioso na direcção dela. - Então, minha doçura, conta-me as novidades...

que se tem passado na terra das prostitutas?

- Bom - afirmou, brincando com o copo de vinho que prudentemente pedira, embora não bebesse habitualmente nos encontros. - Houve um político que chegou à cidade vindo de Washington, alguém com um posto muito alto no Senado.

Max inclinou-se ainda mais; era este o tipo de coisas que lhe agradavam. Se ao menos lhe conseguisse arrancar os nomes, mas ela era inflexível na revelação das identidades dos clientes. De certa forma, ainda bem... isso significava que nunca falava dele.

- Queres dar-me o nome dele? - perguntou, esperançoso como sempre.

Um sorriso enigmático.

- Sabes que não posso fazer isso.

Max passou a mão pelo cabelo louro e encaracolado dela.

- És muito especial, querida. Por que preferiste ser prostituta em vez de actriz ou modelo?

- perg untas-me sempre isso, Max.

- Qual é a resposta?

- Posso escolher com quem durmo. - Não é verdade, pensou.

Se podes escolher, por que te vais encontrar com o Senhor X, quando sabes que é um pervertido? " - As modelos e actrizes têm de agradar às pessoas, estão preocupadas com a próxima capa de revista, o próximo filme. Eu... eu nunca tenho de me preocupar com o próximo cliente, fazem fila.

- Vais dar-me o nome do político? - perguntou Max, ansioso, sedento de informação.

Kristin abanou a cabeça.

- Sabes que não.

- Okay, okay - disse Max, desistindo. - Mas podes, ao menos, contar-me o que ele fez... ou não fez... dependendo da tara dele.

- Bom... - começou Kristin, inventando uma fabulosa história erótica que fizeram os olhos de Max reluzir.

O ritual que seguiam era sempre igual. Um almoço de uma hora, durante o qual ela o alimentava com histórias sexys quejurava serem reais, o que era verdade em alguns dos casos. Depois seguia o carro dele até ao Hotel Century Plaza, onde Max tinha alugada uma suite na cobertura. Uma outra rapariga estaria à espera e, depois de consumirem um pouco de cocaína, os três seguiam para o quarto. Max sentava-se numa cadeira, observando e dando ordens, enquanto elas faziam tudo o que ele solicitava. Por vezes, Max participava também. Outras não. Depois pagava-lhes em dinheiro e todos seguiam para casa.

Há praticamente um ano que Kristin repetia este cenário com Max Steele, e a ordem dos acontecimentos nunca variava.

Kristin interrogou-se como ele reagiria se ela lhe dissesse que a única razão que a levava àquela vida era o facto de ter de manter a irmã, em estado de coma, numa clínica. Será que ele lhe ofereceria dinheiro e a ajudaria a sair daquela vida? Ou limitar-se-ia a terminar com os encontros mensais, porque o levaria a sentir-se culpado? Era difícil de saber.

Max consultou o seu Rolex de ouro. Hoje estivera quase para cancelar Kristin, pensando que assim se poupava para as actividades da noite. Mas depois ocorrera-lhe que seria melhor dar-se ao prazer de uma tarde de sexo. Dessa forma, não se sentiria demasiado ansioso com Inga. Estaria controlado, pelo que, se conseguisse dar a volta àquela coisinha sexy, estaria em condições de lhe dar o tratamento de grande amante pelo qual era famoso. Sexo com Kristin manteria o seu apetite em guarda. Ela era muito boa no que fazia.

Max observou-lhe o rosto enquanto ela bebericava o vinho. Era realmente atraente, de forma totalmente diferente de Inga. Loura, fresca e bonita, com um corpo de fazer crescer água na boca.

Max só estivera apaixonado uma vez, e fora por uma rapariga do liceu que o tratara mal, humilhando-o diante dos amigos. Nunca se esquecera dela, nem nunca lhe perdoara.

Era agradável estar com uma mulher que podia controlar durante cerca de uma hora.

Era gratificante ter o controlo nas mãos.

 

- Olá. - Salli T. veio pessoalmente abrir a porta da sua mansão em Pacific Palisades. Vinha descalça, trazendo um vestido simples que mal lhe cobria o cimo das coxas. O que mais sobressaía eram as longas e magras pernas bronzeadas, enormes seios siliconizados, cabelo branco-louro e uma abundância de maquilhagem. - Estou tão contente por a ver - disse, cheia de entusiasmo.

- Entre.

Madison entrou na vasta mansão, onde deparou de imediato com dois fofos cães brancos que lhe saltavam para os tornozelos, cheirando e ladrando.

- Estes são o Muffe e Snuff- disse Salli T. tentando afastá-los.

- Não são adoráveis? Bobby ofereceu-mos no dia do nosso casamento. Foram connosco na lua-de-mel e sujaram o quarto todo. Caramba... ele ficou furioso! Mas sabe uma coisa? Agora ele gosta tanto deles quanto eu. - Pegou num dos cãezitos que ladrava e esfregou o focinho felpudo no seu rosto. - Sinto-me tão feliz quando estou por perto de animais. Tem algum animal de estimação?

Madison abanou a cabeça.

- Não é fácil quando se vive num apartamento em Nova Iorque.

- Olhe - disse Salli T. radiante. - Se estes dois alguma vez tiverem filhotes, mando-lhe um. Uma vez li que se vivia mais dez anos quando se possuía um cão.

- Mais dez anos em relação a quê?

Salli T. guinchou a rir.

- É tão engraçada!

Madison olhou em redor. O átrio principal era todo carpetes de pêlo macio e paredes altas espelhadas. Mesmo na sua frente estava um retrato gigante de Salli T. de rabo à mostra, deitada de barriga para baixo sobre um tapete branco de pele de carneiro.

- Esta foi a minha primeira fotografia para a Playboy - disse Salli com orgulho. - Sei que pode parecer inadequado tê-la pendurada aqui no vestíbulo, mas não há dúvida de que desperta a atenção! - Riu-se. - Bobby adora-a. Traz todos os amigos cá só para darem uma olhada.

- Aposto que sim - murmurou Madison.

Um asiático com calças justas cor de laranja e um top branco apareceu no vestíbulo.

- Este é Froo - disse Salli, acenando na direcção dele. - Tudo o que desejar, é só pedir. Ele está a preparar-nos o almoço. Depois, se quiser uma massagem, ele também sabe dar.

- Não, obrigada - disse Madison rapidamente.

- Tem a certeza - afirmou Salli, e, passando pela sala de estar, conduziu-a para o exterior, para uma piscina olímpica, de um azul brilhante. - Se o deixar aproximar-se dos seus pés, é um orgasmo garantido!

Madison observou o oceano, que reluzia como um postal glorioso. - Podemos nadar depois do almoço - disse Salli. - Faz realmente bem aos seios... mantem-nos erguidos, sabe como é!

- Não me ocorreu trazer o fato de banho - disse Madison.

- Não faz mal, empresto-lhe qualquer coisa.

O pensamento da sua figura magra num dos escandalosos fatos de banho em borracha preta de Salli T. originou um sorriso nos lábios de Madison.

- Vamos comer junto da piscina - disse Salli. - Tão ao estilo de Hollywood. Mas, sabe, foi com isto que sonhei quando era miúda. Desejei viver num lugar como este. E o meu desejo concretizou-se. Tenho de me beliscar. não é de loucos?

- Sabe - disse Madison, sentindo que ia sair dali um artigo espectacular. - É exactamente sobre isso que gostaria de falar consigo. Os seus sonhos, como chegou aqui, a forma como as pessoas que conheceu durante a sua ascensão a trataram, os homens de Hollywood, esse género de coisas.

- Uau! - Salli riu-se. - Habitualmente, as pessoas só querem saber o tamanho dos meus seios.

- Bom, hoje - disse Madison -, será seguramente diferente.

 

Precisamente quando Kristin terminava de se vestir de branco para o encontro com o Senhor X, o telefone tocou. Atender ou não atender - essa era a questão. Podia ser o Senhor a cancelar de novo, ou talvez a clínica com notícias de Cherie. Não podia dar-se ao luxo de não atender o telefone, pelo que respondeu de imediato.

- Fala a rainha dos hamburguers? - disse uma voz masculina.

- Sou eu... Jack. Telefonei numa má altura?

Sob impulso, dera-lhe o número, mas nunca pensou que ele telefonasse. Apesar de tudo, sentiu um rasgo de excitação.

- Bem... - disse, hesitante.

Ele suspirou.

- Parece que sim.

- Não, não... - disse, apressadamente. - Posso falar.

- Compreendo que é um pouco em cima da hora - disse Jack -, mas vou a caminho da casa do meu irmão para uma refeição caseira. Pode vir?

Não, Jack, já estou comprometida com um homem repugnante e perverso.

- Adoraria ir, mas...

- Eu sei, eu sei - disse, pesarosamente. - É provável que tenha uma fila de rapazes à sua espera.

O que queria ele dizer com aquilo?

- Na verdade, tenho um encontro de negócios - respondeu, com voz dura.

- Estive a pensar - afirmou ele. - Com tanta conversa a noite passada sobre mim, nem tive oportunidade de lhe perguntar o que você faz.

Sou uma rapariga de programa, querido. Extremamente cara. Muito talentosa. Por isso, o melhor que tem a fazer é... manter-se afastado.

- Eu... ah... sou artista de maquilhagem - mentiu. - Vou a casa das pessoas e faço-lhes uma maquilhagem profissional.

- Não me diga?

- Sim. É o que faço.

- Eia - disse, animado. - Nesse caso, talvez a possa contratar.

- Perdão? - disse, franzindo o sobrolho.

- Fotógrafo. Artista de maquilhagem. Devíamos trabalhar juntos.

Uma parte dela queria continuar a conversar, mas a sanidade alertou-a para se manter afastada de qualquer relacionamento pessoal. Envolver-se só podia conduzir a grandes sarilhos.

Nesse caso, por que lhe deste o teu número?

Sei lá porquê.

- Ah... tenho de ir - disse, consciente de que parecia atrapalhada. - Está a fazer-se tarde para o meu compromisso.

- E se lhe der o endereço do meu irmão? Talvez possa passar por lá quando terminar? - Uma pausa significativa. - Gostaria muito de voltar a vê-la, Kristin.

Também gostava de o voltar a ver, Jake.

- Está bem - disse, pegando numa folha de papel e numa caneta.

Não tencionava ir - mas para o caso de mudar de ideias...

A caminho da casa de Jimmy Sica, em Valley, Madison contou a sua tarde com Salli T.

- Nunca pensei dizer isto - comentou. - Mas Salli é adorável. Se fosse um tipo, provavelmente, apaixonar-me-ia por ela... mesmo com seios de silicone e tudo.

- Oh, deixa-te disso - disse Natalie, não acreditando, conduzindo velozmente o carro pela auto-estrada. - Salli T. é o verdadeiro cliché de Hollywood. Mamas grandes e cabelos de boneca.

- Ela representa esse papel - explicou Madison. - É por essa razão que tem tanto sucesso. Mas estou aqui para te dizer que, por debaixo de todo aquele esplendor, oculta-se uma rapariga simpática que goza cada momento da vida. Acredita em mim... foi difícil para esta mulher chegar ao topo.

- Claro - disse Natalie, atirando a cabeça para trás. - Eu posso afirmar-te como é duro.

- Não sejas uma cabra tão mazinha.

- Não sou nenhuma cabra - objectou Natalie, indignada. Estou apenas a transmitir o que toda a gente pensa a respeito dela.

- Não, estás a ser preconceituosa. Se tivesses oportunidade de conhecê-la, prometo-te... haverias de gostar dela.

- Está bem, está bem, se assim o dizes - afirmou Natalie, quase embatendo num camião enorme ao passar. - E o marido giro? Conheceste-o?

- Está em Vegas - disse Madison, assegurando-se de que o cinto de segurança estava firmemente preso, porque a condução de Natalie era realmente desastrosa. - Telefonou dez vezes, e tiveram conversas muito amorosas. Foi uma doçura. Parecem realmente estar apaixonados.

Natalie fez uma careta.

- Acho que vou vomitar!

- És capaz de parar de ser tão cínica?

- A questão é que estou surpreendida contigo - afirmou Natalie, seguindo lado a lado com um Ferrari. - Apostaria contigo que o casamento deles não chega ao fim do ano.

- Não, Natalie - disse Madison, abanando a cabeça. - Estás enganada. O que têm entre eles é genuíno. Sabes, ambos são oriundos de pequenas cidades, ambos chegaram a L. A. determinados a subir na vida. Agora, as pessoas não os largam, dispostas a fazerem tudo o que eles quiserem, e estão a adorar esse facto. Digo- te, gosto muito dela, e tu também gostarias, se a conhecesses.

Natalie ainda não estava convencida.

- Por favor - disse.

- Contou-me histórias excelentes - sugeriu Madison. Isto mereceu a atenção de Natalie.

- Hum... - afirmou, os olhos reluzindo. - Conta-me tudo em detalhe.

- Não. Terás de ler tudo na revista, como todos os outros.

- Oh, então - lamentou-se Natalie, quase batendo nas traseiras de um Toyota branco. - Não me farias isso. sou a tua melhor amiga!

Madison colocou as mãos no tablier.

- Oh, faria sim.

- Vamos fazer um trato - disse Natalie, mudando tranquilamente de faixas. - Tu dás-me todos os detalhes sumarentos antes de a revista estar nas bancas, e eu preparo um programa inteiro sobre isso... sabes como é, fazer crescer água na boca, para que as pessoas corram a comprá-la.

- Detesto ter de te dizer isto - afirmou Madison -, mas as pessoas já correm para a comprar.

- Por que não podes ser como toda a gente e fazer algo diferente, para variar? - resmungou Natalie ao sair da auto-estrada, cortando o caminho de um homem num veículo desportivo que lhe fez um carrinho-de-mão.

- Na minha próxima vida - brincou Madison.

- Não tens graça nenhuma.

- Nunca disse que tinha.

Alguns minutos depois, Natalie fez uma paragem de arrepiar diante de uma modesta casa estilo campestre, numa tranquila rua lateral.

- Muito bem, é melhor que te dê algumas informações sobre Jimmy Sica.

- Que tem ele? - inquiriu Madison, soltando o cinto de segurança, aliviada por terem chegado inteiras.

- É inacreditavelmente bonito, tem uma esposa encantadora...

com a fotografia exposta com orgulho sobre a secretária. – Uma pausa sucinta. - E... penso que se anda a atirar a mim.

Madison ergueu o sobrolho.

- Que queres dizer com... pensas que se anda a atirar a ti? Ou anda ou não anda!

- Bem - afirmou Natalie, insegura. - Acho que sim, mas não consigo acreditar, pelo facto de ser casado com uma mulher tão bonita.

- Oh, como se tu não fosses bonita. É essa a tua nova mania?

Falta de auto-estima?

- Não sou o tipo dele.

- Talvez não seja um tipo que ele procure. Talvez uma mamada rápida Lhe seja suficiente.

- Limpa-me essa cabeça, rapariga!

Rindo-se, ambas saíram do carro.

- Sabes, és terrivelmente ingénua, Nat - disse Madison, enquanto se dirigiam para a casa. - Os homens casados são todos iguais... nenhum deles recusaria uma acçãozinha lateral.

- Quem está agora a ser cínica?

- Bom, é verdade - afirmou Madison na defensiva.

- Sim, sim, tu e as tuas verdades.

- Ouve, faz o que quiseres, mas devo dizer-te que não tenho respeito nenhum por homens casados infiéis.

- Vê se arranjas uma vida, rapariga. Isso não é nada realista.

- Suponho que não, sobretudo quando temos um presidente que está sempre a fazê-lo. - Abanou a cabeça. - Que raio aconteceu aos valores morais?

Natalie encolheu os ombros ao alcançarem a porta.

- Valores morais... que é isso?

- Não era algo em que costumávamos acreditar quando andávamos na faculdade? - disse Madison, secamente. - Lembras-te?

- Isso foi antes de aparecerem todos estes livros exaustivos revelando cada pequeno detalhe.

Madison franziu o sobrolho.

- Acho muito desanimador que todos os presidentes, a partir de Kennedy, andassem pela Sala Oval com o coiso na mão e um WD-forty na braguilha!

Natalie riu-se e tocou à campainha.

- Uma tusa de poder! Diz-me, por favor, onde posso encontrar uma?

Madison, sarcasticamente:

- Tal como disse... tenta na Casa Branca.

 

Kristin estava excitada, e não era com o pensamento de se ir encontrar outra vez com o Senhor X. Ao sentar- se ao volante do carro, seguindo para o seu destino, não conseguia deixar de pensar em Jake. De facto, era ridículo porque era demasiado esperta para deixar alguém intrometer-se entre ela e o seu objectivo de amealhar dinheiro suficiente para sair daquele negócio de rapariga de programa. E, se se permitisse deixar-se envolver, era exactamente isso o que aconteceria.

Esquece-te dele", alertou-a o seu lado frio e calculista. Não passa de mais um tipo que não pensa que tem de pagar.

No entanto... ele possuía uma sinceridade calorosa e descontraída - olhos amistosos e um sorriso que lhe derretia o coração.

Pela primeira vez desde que se dedicara àquele ofício, sentia realmente um profundo desejo sexual. Queria dormir com ele, ansiava por fazer sexo calma e longamente, sem receber dinheiro por isso, despertar de manhã e encontrar-se num abraço rodeada pelos fortes braços dele.

Cai na real.

"Porquê?

Parou num sinal vermelho e começou a bater os dedos nervosamente no volante. Chegava de pensamentos sobre Jake; o melhor era preparar-se para lidar com o Senhor e as suas extravagantes exigências.

Vestira-se toda de branco, tal como requerido, incluindo um vestido curto e óculos-de-sol Christian Dior, de armação branca. Darlene enviara-lhe por fax a morada do motel onde se iriam encontrar, devendo ela aguardar dentro do carro em frente da cabina seis até ser contactada.

Um carro paroujunto do dela e o condutor olhou maliciosamente pela janela. Ela fingiu não reparar e arrancou rapidamente.

O motel - ao fundo da Hollywood Boulevard - era um conjunto de instalações degradadas e mal cuidadas. Verificou automaticamente se a porta do carro estava trancada ao entrar para o pátio em ruínas e seguiu para a cabina seis.

Um homem embriagado saiu das sombras trazendo na mão uma garrafa meio vazia de um uísque reles. Piscou-lhe o olho, arrotando alto ao passar pelo carro.

Passaram-se dez minutos. Tentou permanecer calma, pensando apenas nos quatro mil dólares e como iriam servir para pagar as contas de hospital da irmã durante uns tempos.

QUEM ME DERA NÃO TER DE FAZER ISTO!

Ah, mas tens.

Uma mão enluvada bateu-lhe àjanela. Um homem com uniforme de motorista todo de negro - o boné com pala puxado para a fronte - óculos-de-sol opacos cobrindo-lhe completamente os olhos. Seria o Senhor X?

Não tinha a certeza.

- Deixe aqui o seu carro e venha comigo - disse, numa voz abafada.

Kristin respirou fundo e saiu do carro, trancando-o.

- Por aqui - murmurou o motorista, conduzindo-a para uma limusina de cor escura estacionada junto ao passeio.

Abriu a porta de trás e ela entrou obedientemente. O homem seguiu para a dianteira do carro e sentou-se ao volante.

- Onde vamos? - perguntou, um certo entorpecimento apoderando-se da sua mente.

- O Senhor pede-lhe que coloque uma venda - disse o motorista, sem se virar. - Encontrará uma no banco ao seu lado.

Apalpou o sumptuoso banco de couro, encontrou a venda e colocou-a sobre os olhos.

Quatro mil dólares. Em dinheiro. Pouco importava. Aquela seria a última vez que se encontraria com o Senhor X.

 

Diana Leon cumprimentou o marido na porta da sua mansão em Bel Air.

- Vens atrasado - disse, contrariada.

- Não sabia que tinha um horário para cumprir - disse Freddie, entrando na casa, que se encontrava agora cheia de pessoal contratado preparando a festa.

- Como me podes fazer isto? - disse, fitando-o.

- Fazer o quê? - perguntou, distraído e ofegante.

- Convidar, sem me avisares, mais duas pessoas.

- Consegues encaixá-los - afirmou, dirigindo-se apressadamente para as escadas.

- Não, não consigo - disse Diana, seguindo-o irritada. - A nossa mesa de jantar só pode acomodar dezasseis pessoas, e agora adicionaste mais duas.

- Ficamos um pouco mais apertados. Grande coisa.

- Por que não os puseste na nossa lista?

- Diana - disse, irado. - Eu digo- te como deves governar a casa?

- Não.

- Então, não me venhas dizer como governar o meu negócio - explodiu. - É extremamente importante que Ariel esteja presente esta noite.

- E o marido dela, que tu não suportas - salientou Diana, a voz ácida.

- Por vezes temos de suportar o tipo que está por detrás da mulher, ou sob a mulher, conforme o caso.

- Ariel esteve cá o mês passado - disse Diana, cruzando os braços.

- Então, vamos tê-la cá de novo.

Diana seguiu-o para o quarto.

- Por que deixaste isto para o último minuto?

- Oh, pelo amor de Deus! - disse, entrando no seu banho privado. - Tenho de tomar um duche. Deixa-me em paz. - E, com estas palavras, fechou-lhe a porta na cara.

Assim que se livrou de Diana, ficou diante do toucador de mármore e fitou, sem ver, o espelho de barbear. Foram necessários alguns momentos até conseguir tranquilizar a mente e começar a pensar com coerência. Continuava a não acreditar que Max seria

tão estúpido ao ponto de tentar vender a sua metade da A. A. I. sem o consultar primeiro. Será que ele fazia alguma ideia do que era Freddie Leon como inimigo?

Não, provavelmente Max Steele não fazia ideia, porque Max pensava a maior parte das vezes com o pénis - sobretudo quando lidava com clientes femininas -, mas, como qualquer idiota sabia, o cérebro suplantava em poder o pénis. O cérebro estava sempre activo.

- Olá, minhas senhoras - disse Jimmy Sica, abrindo totalmente a porta da sua casa e conduzindo-as para dentro.

- Olá - respondeu Madison, entrando na confortável casa. Natalie estava certa, Jimmy Sica era inacreditavelmente bonito, muito ao modo de sou um pivot de TV com um sorriso sensacional.

- Prazer em conhecê-la - disse Jimmy, apertando-Lhe a mão com um pouco de força de mais, quando uma loura surpreendente apareceu atrás dele. - Esta é a minha mulher, Bunny - acrescentou, contornando com o braço a estreita cintura de Bunny.

- Bunny? - questionou Madison.

- Eu sei - afirmou Bunny com um largo sorriso que se igualava ao do marido. - É um nome tão ridículo, toda a gente o diz. Habituaram-se a tratar-me por Bunny quando era miúda e foi ficando. Eu coleccionava coelhinhos, ainda o faço, só que Jimmy obriga-me a escondê-los num armário.

- Então, então - disse Jimmy, dando leves palmadinhas no rabo da mulher. - Não devemos revelar todos os nossos segredos. Madison é capaz de escrever sobre eles. É uma escritora célebre de Nova Iorque.

- Eu sei - respondeu Bunny, afastando-se dele. - Já me tinhas contado, Jimmy querido. - Deslumbrou Madison com um largo sorriso, revelando perfeitos dentes brancos de Chiclet. - Bem-vinda à nossa casa, Madison. Estamos tão excitados por a conhecer. Espero que todos nos tornemos bons amigos.

Oh, Santo Deus", pensou Madison. Por que concordei com isto? Estou perfeitamente bem só. Podia estar a escrever o meu artigo sobre Salli. Não necessito de estar com pessoas. Sobretudo estas pessoas.

Natalie seguira directamente para o bar, instalando-se num banco coberto de veludo.

- Que queres tomar? - disse Jimmy, correndo e colocando-se atrás do bar.

- Não está na hora de margaritas? - respondeu Natalie, insinuando-se mesmo contra sua vontade. - Sabes como preparar?

- Se sei preparar? - disse Jimmy, como se fosse a coisa mais ridícula que jamais ouvira. - Eu posso fazer qualquer coisa a que me predisponha. - Lançou-lhe um olhar que salientava o duplo sentido.

Natalie olhou rapidamente em redor para ver se Madison reparara, mas Bunny mostrava-lhe uma pintura que tinham adquirido recentemente, com dois coelhinhos sendo perseguidos por uma raposa de aspecto feroz.

- O que mais me agrada nesta pintura - explicou Bunny numa voz séria - é que a raposa malvada ainda não os capturou. Não é extraordinário?

- Ah-hum - concordou Madison, contendo um bocejo. Ouviu-se o som de uma descarga de um autoclismo ao longe e depois um homem negro, excepcionalmente grande, entrou na sala.

- Cumprimentem o meu colega de faculdade, Luther - disse Jimmy, conduzindo-o na direcção de Natalie. Luther assomou por cima dela. - Luther já jogou no Chicago Bears - informou Jimmy

- Isto é, até se ter lesionado no ombro.

- Uau! - disse Natalie, pensando que ali estava um grande e bom pedaço de homem. - Mas já está bom, não está?

- Ainda estou vivo, minha cara - afirmou Luther, com um sorriso enorme. - À conta disso, tenho agora um pequeno negócio de artigos eléctricos. Sempre é melhor do que passar o fim-de-semana a levar no focinho... perdoe a minha linguagem. Oh, sim, Jimmy contou-me que trabalha na televisão com ele.

- Não - disse Natalie. - Jimmy trabalha na televisão comigo.

- E sorriu docemente, apercebendo-se de que, se alguma vez fizessem sexo, ela era capaz de ficar esmagada.

- Kevin, meu querido - disse Lucinda com fingida efusão equilibrando um martini numa das mãos e uma pequena tosta com caviar na outra. - Estou emocionada por estarmos juntos neste projecto. Vi cada um dos seus filmes... três em dezoito meses. pobre rapaz, que excesso de trabalho, deve estar exausto.

Kevin endireitou-se de uma má postura.

- Obrigado - murmurou, pensando que deveria considerar dar uma palavrinha ao seu agente. Agora que vira Lucinda Bennett em carne e osso, apercebeu-se de que ela era demasiado velha para o papel, faria com que ele parecesse ridículo.

- Eia, Freddie - disse, virando- se na direcção do superagente.

- Temos de conversar.

- Mais tarde - disse Freddie, dispensando-o com um aceno de mão. Ariel acabava de chegar e precisava de falar com ela antes de Max aparecer.

Entretanto, Max deambulava furioso pelo seu apartamento de cobertura, tendo acabado de falar com Inga ao telefone. Vou chegar atrasada, Max, dissera, com a sua pronúncia sueca. Vá à sua festa. Eu tentarei ir também. "

Tentaria ir. Seria louca? Aquela era a sua grande noite, uma oportunidade para conhecer pessoas importantes na indústria, e aquela tola loura sueca estava a estragar tudo.

- Porquê? - perguntara. - Que está a fazer?

- É um assunto privado - limitara-se a responder. Cabra! Cabra! Cabra! Quem pensava ela que era?

- É melhor que se decida a ir, Inga - disse, esforçando-se por se manter calmo. - Se quer entrar para o mundo do cinema, não deve esperar muito.

- Veremos - afirmou ela. Max enfureceu-se ainda mais com a descontracção dela.

Agora tinha de ir sozinho. Merda! Se Max Steele levou uma tampa, amanhã ao meio-dia já toda a cidade estaria ao corrente. Merda!

 

Jimmy Sica andava de um lado para o outro, fazendo o papel de perfeito anfitrião, preparando margaritas, conversando, reluzindo o inacreditável sorriso. Enquanto Bunny se ocupava a mostrar fotografias dos filhos aos vizinhos do lado, que apareceram para tomar uma bebida, um casal chinês extremamente simpático, cujo domínio da língua inglesa era algo indescritível.

Madison podia constatar que Natalie se estava a dar muito bem com Luther. Quem me dera estar em casa, a escrever, pensou, pela vigésima vez. Que faço aqui? Este não é o meu tipo de noite.

Já tenho demasiados amigos casuais em Nova Iorque, não necessito de fazer mais. E conversas de crianças não é para mim.

Decidiu que, depois do jantar, pediria a Natalie que lhe emprestasse o carro e ir-se-ia embora. Seria seguramente um prazer para Luther levar Natalie a casa.

- E esta é a foto de Blackie - anunciou Bunny com orgulho. Blackie era o meu cão-de-água preto que morreu o ano passado. O seu lábio inferior estremeceu. - Ainda hoje sofro com a morte dele.

- Mais uma margarita - sugeriu Jimmy. - Estamos à espera do meu irmão, chega sempre atrasado.

- Está bem - disse Madison, seguindo-o para o bar.

- É a primeira vez que está em L. A. - perguntou Jimmy, pegando no copo vazio dela.

- Já cá estive por diversas vezes.

- Calculo que se farta de viajar - disse, ligando o misturador. Madison observou o líquido espumoso enquanto girava no recipiente de vidro.

- Madison disse-me que acabou de se mudar para cá, vindo de Denver - observou.

- Há seis meses - respondeu, enchendo-lhe de novo o copo e entregando-lhe. Fez uma pausa, lançando- lhe um longo e vagaroso olhar. - Sabe, Madison, tenho a certeza de que já lhe disseram isto muitas vezes.

- O quê?

Ele transmitiu o seu bonito sorriso de pivot, oferecendo-lhe outro olhar íntimo.

- É uma mulher poderosamente atractiva. Na verdade, faz-me recordar o meu primeiro grande amor.

Oh, vê se te enxergas, Jimmy Sica. Que deixa tão antiga. A seguir vais dizer-me que a tua mulher não te compreende.

- Obrigada - murmurou, sempre simpática. - Você também não está nada mal.

Isso fê-lo calar-se por momentos.

Bunny aproximou-se.

- Onde está... - começou.

Mas, antes que conseguisse terminar a frase, o irmão de Jimmy entrou.

- Aqui estou eu - disse com um sorriso torto, entregando-lhe um ramo de flores. - Atrasado, como de costume.

- Graças a Deus - exclamou Bunny, dando-lhe um forte abraço.

- Já estávamos a perder as esperanças que viesses.

- Eia... - disse, ainda sorrindo. - Nunca percam as esperanças em relação a mim, sabem que acabo sempre por chegar.

Madison virou-se para observar o recém-chegado. Era uma versão desalinhada do perfeito pivot da televisão, só que muito mais sexy; com olhos castanhos risonhos e cabelos castanhos algo compridos.

- Deixe-me apresentar-lhe o vadio do meu irmão, o fotógrafo - disse Jimmy, revelando genuíno afecto. - Jake, cumprimenta a Madison. Vocês os dois devem ter muito em comum... Madison é uma jornalista importante.

- Sim? - afirmou Jake, dando-lhe um firme aperto de mão.

Importante, hem?

- Não tão importante assim - respondeu Madison, decidindo que talvez a noite não se revelasse uma perda total. Jake tinha um aspecto que lhe agradava. E talvez um relacionamento rápido sem nenhuma responsabilidade fosse exactamente o que ela necessitava.

- Para quem trabalha? - perguntou.

- Para a Manhattan Style.

- Nada mal.

- Paga a renda.

- Aposto que sim.

- E você? - inquiriu.

-Trabalho sobretudo por conta própria.

- Verdade?

- Paga a renda.

Sorriram um para o outro e Natalie aproximou-se, dando a Madison um piscar de olhos nada subtil.

Jimmy pôs o braço por cima do ombro do irmão e acompanhou-o pela sala.

- Vês como sou bom para ti - disse, em voz baixa. - Não uma, mas duas belezas. É só escolheres, embora, pessoalmente, eu preferisse a jornalista... revela uma personalidade vincada. Muito sexy.

- Falas como um verdadeiro homem casado - disse Jake, rolando os olhos.

- Não me digas que não estás interessado?

- Conheci uma pessoa.

- Quem?

- Uma rapariga. Simpática. Bonita. Perfeita.

- Oh, merda - disse Jimmy, rompendo numa gargalhada. Pelo amor de Deus, não me digas que estás apaixonado?

- Não... - disse Jake, hesitando apenas por um instante. - Só que há algo de especial nela... algo que não consigo traduzir por palavras. Eia, não tardarás a ver pelos teus próprios olhos. Pedi-lhe que passasse por cá mais tarde.

- Fico ansioso.

- E, por favor, não te faças a ela - alertou Jake.

Agora foi a vez de Jimmy sorrir.

- Tal como disseste, sou um homem casado, irmão.

- Pois, eu sei.

E, juntos, regressaram ao bar.

 

A loura caiu com um baque repugnante - a afiada faca de mato cortando a artéria carótida como se cortasse manteiga. O sangue brotou dela como petróleo jorrando de um poço aberto.

A loura tentou gritar, os olhos esbugalhados devido ao medo e conhecimento do que se seguiria. Mas, quando abriu a boca, o sangue gorgolejou, derramando-se sobre o seu corpo e impregnando-lhe as roupas.

Depois, o assassino atacou de novo - a faca letal esfaqueando-lhe violentamente os seios.

Uma vez.

Duas vezes. Três vezes.

Ela suspirou. Um suspiro de morte horrível.

Poucos segundos depois, estava morta.

 

Os olhos verdes de Madison Castelli fitavam Jake Sica com um certo divertimento contido enquanto este entretinha os convidados do irmão com uma história hilariante sobre um recente safari fotográfico em que participara em África. Jake possuía uma espécie de entrega inexpressiva que realmente lhe despertava a atenção e a atraía para ele, embora não pretendesse envolver-se de novo. Sobretudo depois do seu último relacionamento desastroso - nem pensar.

Madison era bastante bonita, com os seus cabelos negros, pele de azeitona e corpo brando, mas menosprezava o seu aspecto exterior, preferindo ser conhecida mais pelo intelecto do que pela beleza.

Tenho 29 anos, sou uma escritora de sucesso, trabalho para a revista Manhattan Style e estou feliz por ser solteira, pensou Madison, continuando a observar Jake do outro lado da mesa de jantar. Por isso, por que estou sequer a pensar neste tipo? Sobretudo, atendendo ao facto de que acabei de o conhecer. Além de que não parece nada interessado por mim... por isso, qual é o meu problema?

Olhou para a melhor amiga, Natalie, que a trouxera para aquele jantar. Natalie e Jimmy Sica, o irmão de Jake e o anfitrião daquela festa trabalhavam na mesma estação televisiva. Jimmy, com a sua beleza clássica e cintilante sorriso, era o pivot dos noticiários, enquanto Natalie se encarregava de apresentar as notícias sobre o mundo do espectáculo. Ambas estavam a apreciar a noite - sobretudo Natalie, que parecia estar-se a dar muito bem com Luther, um ex-jogador de futebol enorme e antigo colega de faculdade de Jimmy.

- É um pão - disse Natalie para Jake, lançando um olhar de lado para Madison, insinuando por que não fazes nada em relação a ele?.

Madison não respondeu; não ia encorajar as tendências casamenteiras nada subtis de Natalie, embora achasse Jake realmente atraente.

- Adoro isto! - exclamou Bunny, a bonita esposa de Jimmy, batendo as palmas como uma rapariguinha excitada. - Em Detroit, recebíamos sempre pessoas com frequência. Como nos divertíamos!

- Isso é verdade - concordou Jimmy, exibindo o sorriso perfeito.

- E se fizéssemos um jogo de charadas mais tarde? - sugeriu Bunny, ainda entusiasmada como uma criança.

- E se não fizéssemos? - respondeu Jake, com um sorriso irónico.

- Concordo consigo - disse Madison. Não suportava jogos de salão, provavelmente porque não se considerava muito boa nesse tipo de coisas.

- Também eu - afirmou Luther, afastando a cadeira da mesa e espreguiçando-se. - Não gosto de perder tempo com esses jogos. Fico com a sensação de que já pertenço à terceira idade.

Bunny revelou uma expressão aborrecida.

- A festa é minha - disse, petulantemente. - Posso fazer o que bem entender.

- Querida! - disse Jimmy, algo embaraçado. - E se votássemos?

- Não quero - disse Bunny, franzindo os lábios rosa, as feições bonitas contorcendo-se numa careta.

- Amor... - começou Jimmy a dizer.

- Não me chateies a cabeça! - gritou Bunny, interrompendo-o, os olhos azul-bebé emitindo súbitos sinais de perigo.

- Oh, óptimo - murmurou Natalie, tentando aliviar o ambiente.

- Uma disputa familiar.

Subitamente, Bunny levantou-se da mesa num salto.

- Detesto-vos a todos! - guinchou, antes de sair a correr da sala.

Instalou-se um silêncio desconfortável.

O sorriso de Jimmy vacilou.

- Ela está só a brincar - afirmou, levantando-se e correndo atrás dela.

- Caramba - exclamou Natalie assim que Jimmy desapareceu de vista. - Que motivou aquilo?

Quer Luther quer Jake não pareciam afectados pela explosão de Bunny.

- Nada - respondeu Jake, com um sorriso largo e despreocupado. - É apenas a maneira de ser de Bunny. nada de especial.

- Sim - concordou Luther, estendendo a mão para uma garrafa de vinho tinto e voltando a encher os copos de todos. - Nada mudou.

- Ela costuma gritar assim com os convidados? – perguntou Madison, surpreendida com a reacção calma deles.

- Só faz estas cenas para chamar a atenção de Jimmy - explicou Jake. - É o seu método.

- Ainda bem para ela - disse Madison, rispidamente, afastando a cadeira da mesa. - Eu não preciso de ficar para assistir a isto.

- Não, não - disse Luther, rindo-se. - Não está a entender. Isto acontece desde os tempos da faculdade. Vão regressar dentro de alguns momentos todos felizes. É uma coisa deles.

- Bom, mas não é minha - disse Madison, erguendo-se. - Além do mais, tenho trabalho para fazer. - Fitou Natalie directamente, esperando que também ela se levantasse.

Natalie não se moveu.

- Penso que é melhor chamar um táxi - afirmou Madison, irritada, jurando a si mesma que amanhã haveria de alugar um carro para si... bastava de depender dos outros.

- Oh - disse Natalie inocentemente, como se apenas agora lhe tivesse ocorrido. - Vieste no meu carro, não foi?

- Sim, Natalie, vim - respondeu Madison, contendo a vontade de a estrangular.

Natalie não pretendia desistir de Luther.

- Talvez Jake vá na tua direcção - sugeriu.

Agora todos os olhos se centraram em Jake. Madison estava furiosa, sobretudo porque Jake não estava propriamente a pôr-se rapidamente de pé para Lhe oferecer boleia.

- Um táxi serve bem - afirmou Madison, de forma abafada.

- Eu vou chamar um - disse Jake. - Eu não me importava de a levar, mas... hum... mas estou à espera de uma pessoa.

Oh, óptimo, pensou Madison. Tem um encontro marcado para mais logo, e Natalie está a suplicar-lhe que me leve a casa. Isto não podia ser mais embaraçoso.

- Quem? - perguntou Luther, todo interessado.

- Ninguém que conheças - respondeu Jake, pegando no copo e bebendo um pouco de vinho.

Natalie acabou por responder.

- Penso que será melhor, também, ir-me embora - disse, esvoaçando as longas pestanas para Luther, esperando que ele a impedisse.

Este percebeu a mensagem.

- Não - disse suavemente, lançando-lhe um longo e acalorado olhar. - Ainda é demasiado cedo para se ir embora.

- Tenho de ir, por causa do meu sono de beleza - disse, fazendo de novo aquilo com as pestanas.

- Querida - disse Luther, entrando no jogo dela. - É tão perfeita que não necessita de um sono de beleza.

Oh, Santo Deus, pensou Madison, terei mesmo de ouvir tudo isto?

Foi então que o telefone tocou e a confusão se instalou.

 

Ariel Shore era uma esbelta morena de quarenta e muitos anos, com uma abundância de charme e uma conduta enganadoramente branda. Sob o largo e acolhedor sorriso ocultava-se uma astuta mulher que conhecia o negócio do cinema de dentro para fora, uma mulher que sabia conversar calmamente como ninguém e depois - se lhe apetecesse - terminar com uma negociação sem hesitações. Ariel iniciou a sua ilustre carreira em publicidade, passou para o marketing, produziu dois filmes de orçamentos baixos, e depois despertou a atenção de Billy Cornelius, que promovera a sua ascensão como dirigente do seu estúdio. Alguns diziam que Ariel e Billy eram amantes. Freddie Leon - o superagente - não acreditava nisso nem por sombras. Ariel era demasiado esperta para dormir com o patrão. Além do mais, a mulherzinha de Billy, Ethel, vigiava-o como um perdigueiro - desde que o marido esteve quase a abandoná-la por uma curvilínea actriz com grandes lábios enriquecidos com silicone e talento para se atrelar aos maridos das outras mulheres. Ethel só descansou quando a rapariga foi forçada a partir de Hollywood - obrigando-a a procurar emprego (e os maridos de outras mulheres) na Europa.

Para Ariel, a carreira era tudo, tal como acontecia com Freddie - razão pela qual ambos se davam tão bem. Conseguiam habitualmente almoçar juntos umas duas vezes por mês, altura em que trocavam informações - almoço que ambos desfrutavam, porque gostavam genuinamente um do outro.

Freddie foi recebê-la à porta da sua casa, abraçou-a, murmurando-lhe ao ouvido como estava satisfeito por ela ter vindo.

- Foi muito em cima da hora, Freddie - ralhou. - Só por ti.

- Eu sei, Ariel - respondeu, o rosto impassível como era habitual. - Fico-te grato.

- E deves ficar. Ficas em dívida para comigo, Freddie. E eu recebo sempre as minhas dívidas.

- Como se eu duvidasse disso - respondeu Freddie, pensando que, quando lhe contasse que Billy Cornelius planeava substituí-la pelo seu sócio, Max Steele, o pagamento seria suficiente. – Entra - acrescentou, colocando um braço em redor dos largos ombros vestidos de Armani.

Ariel anuiu e caminhou na frente dele. Era uma mulher assertiva, com completa confiança na sua capacidade de encantar e conquistar.

Enquanto Freddie a seguia para a sala de estar, interrogou-se como ficaria a confiança dela quando soubesse dos planos de Bill Cornelius para a substituir.

A esposa de Freddie, Diana, veio cumprimentar Ariel com um sorriso fraco. Embora Diana raramente expressasse em voz alta a sua opinião em relação aos associados de negócio do marido, Freddie sabia que ela não suportava Ariel, que considerava dominadora e autoritária. Sabia também que Diana suspeitava que ele se sentia atraído pela dirigente do estúdio, e chegara mesmo a acusá-lo disso. Ele rejeitara as suspeitas dela com fortes gargalhadas; Ariel era demasiado importante para ele para manchar o relacionamento deles com sexo.

- Olá, Ariel - disse Diana, com tanto entusiasmo quanto uma cobra morta.

Freddie estreitou os olhos. Ficava fulo quando Diana exibia aquela atitude.

- Minha querida - exclamou Diana, ignorando a frieza de Diana. - Foi muito simpático da sua parte ter-me incluído. - E, antes que Diana lhe pudesse responder, Ariel seguia na direcção do atraente, sexy e jovem estrela de cinema, Kevin Page.

- Pensei que tinhas dito que ela trazia o marido - sibilou Diana.

- Obviamente, não vem acompanhada - respondeu Freddie, demasiado preocupado para se incomodar com questões triviais.

- Isto vai arruinar a minha disposição de lugares à mesa - afirmou Diana, irritada, os lábios comprimidos.

- Resolve isso - disse Freddie, nada preocupado. Diana ofereceu-lhe um olhar repleto de ódio, que ele ignorou. Mais tarde, à mesa, tudo corria sobre rodas. Lucinda Bennett, a diva suprema, era o centro das atenções, contando histórias horríveis dos seus primeiros dias em Hollywood, altura em que todos os homens com duas pernas andavam atrás dela. Kevin participou com histórias hilariantes sobre um determinado realizador, sempre pedrado, com quem trabalhara recentemente. E Ariel contou anedotas das suas próprias experiências de tempos passados.

Freddie reparou que Max estava invulgarmente calado. Ou pensava naquele que ele considerava ser o seu futuro risonho, ou ainda não recuperara da óbvia tampa de Inga Cruelle, a lasciva supermodelo que era suposta ser a sua acompanhante no jantar. Não houvera um pedido de desculpas por telefone; limitou-se simplesmente a não aparecer.

Antes do jantar, Freddie falara com Ariel e informara-a dos planos de Max para ficar com o cargo dela. Ela sentiu-se genuinamente chocada.

- Não acredito que Billy fizesse uma jogada dessas sem me contar - dissera. - Está tudo a correr tão bem no estúdio. Tivemos dois êxitos enormes este ano.

- E alguns fracassos - recordou-lhe Freddie.

- Os êxitos compensaram os fracassos - respondera-lhe Ariel, não com o habitual tom agradável.

- Estou meramente a contar-te o que sei - dissera Freddie. Tenciono falar esta noite com Max, e quero que participes. Afinal, tu e eu estamos do mesmo lado.

Ariel anuíra, mas Freddie sabia que ela estava irritada, como seria de esperar.

Olhou pela mesa. Os outros convidados de Diana pareciam divertir-se. O homem de negócios bilionário e a sua esposa, e o financeiro de Nova Iorque e a sua amante de L. A. estavam encantados por se verem na companhia de estrelas. Óptimo, pensou Freddie, agora aqueles dois homens deviam-lhe favores - exactamente como ele gostava das coisas.

Brock Martin, dirigente de uma das estações televisivas, também se divertia. Estava de olho na acompanhante de Kevin Page, ajovem actriz Angela Musconni - de lábios salientes e olhos sedutores. Angie tinha apenas 19 anos, mas os seus olhos sabedores assinalavam promessas de uma extravagante experiência sensual, e Brock sentia que poderia ter uma oportunidade com ela.

- Não faço televisão - continuava a insistir Angie, enquanto Brock lhe oferecia uma mini-série, depois uma série semanal... ou, se preferisse, um acordo com possibilidades de desenvolvimento.

- Nem sequer para mim? - acabou por afirmar Brock, perplexo com a falta de interesse dela. Considerava-se um garanhão, tendo iniciado a carreira há muitos anos como actor, e não conseguia entender por que razão Angie não reagia com maior entusiasmo.

- Vamos combinar uma coisa - afirmou Angie, a pronúncia de Nova Iorque repercutindo pela mesa de jantar. - Se alguma veZ decidir fazer televisão, será apenas para si. Que tal?

Esta declaração pacificou-o e revelou um sorriso satisfeito. Ela ofereceu-lhe um sorriso sedutor, enquanto que, debaixo da mesa, a sua mãozinha de criança subia pela coxa de Kevin, em busca da braguilha, para que a pudesse abrir e investigar as possibilidades. Angie gostava de viver perigosamente.

Kevin afastou-lhe a mão; estava a divertir-se escutando Lucinda Bennett e não precisava de distracções. Freddie tinha-o persuadido a assinar o contrato para fazer um filme com Lucinda. Quase recusara o negócio, considerando que Lucinda era demasiado velha. Decidira agora que afinal não era demasiado velha e procedera bem.

- Então, Max - disse Freddie num tom de voz bastante alto. Não tens nada para me dizer?

Ariel sentou-se muito perfilada. Caiu um silêncio sobre a mesa, Max colocou-se em sentido.

- E o que seria? - inquiriu, questionando-se ainda onde raio estaria Inga Cruelle. Como se atrevera aquela cabra sueca a recusar o convite dele?

- Então, Max - disse Freddie, jogando com ele. - Nunca tivemos segredos um para o outro.

- Sim, Max - afirmou Ariel, participando, a voz revelando apenas um pouco de tensão. - Andam por aí alguns rumores.

- Rumores? - perguntou Max. - Onde raio queriam eles chegar?

- É verdade - disse Ariel, honrando-o com um dos seus sorrisos mais charmosos. - Rumores de que andas a querer ficar com o meu trabalho.

 

O detective Chuck tucci puxou para cima o cós das calças verde musgo, desconfortavelmente largas devido ao facto de, nos últimos seis meses, ter perdido cinco quilos - graças a Faye, a sua mulher, que, muito contra a sua vontade, o obrigara a submeter-se a uma rigorosa dieta. Ele não queria perder peso; tinha 49 anos, um metro e oitenta e dois de altura e era perfeitamente feliz com os seus cem quilos. Mas Faye insistira, chateando-o com o coração e níveis de colesterol, e todas as espécies de doenças ominosas. Por ele, não lhe teria prestado nenhuma atenção mas, quando ela afirmou que ele ficava demasiado pesado quando estava por cima dela quando faziam amor, decidira que o melhor era aquiescer. Daí a dieta. Daí as calças largas. Daí o mau humor.

A loura assassinada estava estendida diante dele numa poça expansiva de espesso sangue carmesim. Outro cadáver. Outro homicídio brutal. Só que, desta vez, as coisas eram diferentes. Desta vez, a vítima que jazia no solo era extremamente famosa.

Tucci fitou a outrora lindíssima mulher, o corpo meio nu vulnerável e exposto, as roupas rasgadas do seu corpo num frenesim de violência. Alguém a esquartejara até à morte, quase lhe cortando o seio direito - esfaqueando-a cruelmente pelo menos dezassete vezes.

O vestido branco que usava estava espalhado à volta dela, manchado de sangue. Não havia roupa interior à vista. Cabelos púbicos louros moldados na forma de um coração. Uma pequena tatuagem de um pássaro colorido pouco abaixo do umbigo com um piercing. Verniz azul metálico nas unhas das mãos e pés. Ela era uma beleza.

Enquanto anotava os detalhes, libertou um suspiro profundo e cansado. Este não era o seu primeiro assassinato violento - era o seu vigésimo sexto. No entanto, era o primeiro famoso. A caminho da sala de estar elegantemente decorada, com uma excelente vista através das enormes vidraças, passara por um retrato da vítima. Jovem, loura, bonita. Como uma boneca Barbie topo de gama, o corpo jovem e nu capturado num gigantesco retrato na parede.

Agora estava morta, tudo acabado, a sua imagem sexy para sempre captada no tempo.

O fotógrafo da Polícia chegou e começou a preparar a câmara e as luzes fortes. Anuiu para o detective e iniciou o seu horrível trabalho - fotografar o corpo da mulher de todos os ângulos possíveisenquanto vários polícias deambulavam pela casa, selando as áreas.

Tucci estava particularmente preocupado com a segurança no exterior da casa, pois sabia que, mal as notícias se espalhassem, as equipas da televisão e da Imprensa acorreriam de imediato, aglomerando-se como bandos de abutres esfomeados. As coisas já eram más quando a vítima não era famosa. Desta vez seria um circo, rivalizando com o episódio Nicole Simpson / Ron Goldman / O. J.

Salli T. Princesa pneumática do pequeno ecrã. A liberal loura de corpo surpreendente e sorriso doce, doce. A rapariga do fato de banho em borracha preta.

Rapariga adorável.

Rapariga morta.

Continuou a mirar o corpo sem vida e mutilado e suspirou mais uma vez. Por vezes, pensava que Faye tinha razão - estava na hora de se reformar e largar aquele mundo de violência de uma vez por todas.

Aquela era precisamente uma dessas ocasiões.

 

- Não posso acreditar! - afirmou Madison com dificuldade quase incapaz de absorver a chocante notícia. - É impossível. Estive com ela ainda há algumas horas. Tem de haver algum engano.

- Não há nenhum engano - disse Jimmy severamente, o rosto bonito exuberante perante a perspectiva de uma história sensacional.

- O nosso patrão nunca se engana - concordou Natalie, agitada, porque odiava violência e evitava sempre cobrir qualquer história que focasse esse tema. Agora não tinha saída, porque ela e Jimmy tinham sido chamados ao estúdio para tratar do caso.

Madison abanou a cabeça, tentando ainda reflectir na notícia horrível. Salli T. Tão viva, vibrante e doce. Parecia impossível que estivesse morta, brutalmente assassinada.

- Lamento - disse Natalie, calmamente. - Sei que gostavas dela.

- Gostava, sim - afirmou Madison em voz baixa. - Que se passou exactamente?

Jimmy encolheu os ombros.

- Tudo o que sabemos é que foi esfaqueada até à morte na casa dela.

- Já apareceu nas notícias?

- Quando lá chegarmos, já deverá estar no ar.

- Como é que a vossa gente descobriu?

- O nosso director de informação tem alguém no departamento da Polícia. Sabe de tudo com antecedência. - Voltou-se para Natalie.

- Vamos, garota, é melhor irmos andando.

Com relutância, Natalie pegou na carteira e seguiram todos para o átrio da entrada.

Bunny emergiu do quarto e ficou imóvel de braços cruzados, observando, em silêncio amuado, enquanto todos se preparavam para sair.

- É melhor levares o meu carro - disse Natalie para Madison.

- Isto é, se te sentes em condições de conduzir. Vou com Jimmy e vemo- nos mais tarde em casa.

- Não - respondeu Madison, rapidamente. - É melhor ir com vocês. Sou, provavelmente, uma das últimas pessoas que viu Salli com vida. Os detectives hão-de querer falar comigo.

- Ela tem razão - concordou Jimmy, ignorando os olhares malignos e tristes da mulher.

- Eia... - juntou-se Luther. - Que posso eu fazer?

- Pode ligar-me mais tarde - disse Natalie com pesar. - Vou precisar de palavras gentis. Neste momento, estou totalmente abalada.

- Também eu! - gritou Bunny, o lábio inferior estremecendo.

- Este estúpido assassinato arruinou por completo o nosso jantar. Madison e Natalie entreolharam-se. Jake abanou a cabeça. Jimmy lançou à mulher um olhar furioso, agarrou-lhe no braço e conduziu-a para o quarto. Todos conseguiram ouvir a repreensão irritada dele.

- Tens sempre que fazer de bobo da aldeia? Por que não ficas calada, ao menos uma vez?

O silêncio desconfortável no átrio foi interrompido pelo som da campainha da porta.

- Eu vou - disse Jake, abrindo a porta. E ali estava Kristin Carr, um sorriso hesitante e algo nervoso no rosto.

- Ah... olá - disse Jake, satisfeito por ver a mulher com quem só saíra uma vez, mas por quem estava definitivamente enamorado.

- Não pensei que viesses.

Kristin olhou para trás dele, observando o grupo de pessoas no hall, reparando de imediato em duas mulheres - uma muito atraente de cabelo escuro e uma bonita mulher negra que lhe pareceu familiar. Oh, Santo Deus", pensou, engolindo em seco. Espero que não sejam mulheres com quem já tenha trabalhado. Morrerei, se for o caso. Não poderia suportar a surpresa e eventual desapontamento de Jake, pois ele não fazia ideia de que ela era uma rapariga de programa com extremo sucesso e muita procura.

- Parece que cheguei atrasada - disse, permanecendo desajeitada na entrada.

- Nada disso - respondeu Jake, bloqueando-lhe a entrada para a casa, pensando que queria sair dali para que pudesse tê-la toda só para si. - Na verdade, vens mesmo a tempo para te levar a tomar uma bebida a qualquer lado.

- Mas pensei... - começou, interrogando-se por que motivo ele não a convidava a entrar.

- A situação alterou-se - interrompeu-a, falando rapidamente.

- Explico mais tarde.

- Está bem - respondeu ela, sentindo- se como se se tivesse metido numa situação desconfortável... exactamente o que não necessitava depois da árdua sessão com o Senhor X, um cliente particularmente exigente, com taras esquisitas. Suspirou, tentando varrer da memória a experiência de se despir por completo no banco de trás da limusina dele e fingir que se satisfazia a si própria de acordo com as instruções do motorista. É claro, o motorista era o Senhor X, disso não havia dúvida. Ele pagava quantias exorbitantes, e Kristin tinha de cuidar da irmã. De que outro modo podia pagar as exorbitantes contas do hospital?

- Vamos embora - disse Jake.

- Espera um pouco, companheiro - interrompeu Luther, passando à frente de Jake. - Não nos apresentas esta encantadora senhora?

- Claro que sim - disse Jake calmamente, sabendo que uma retirada rápida teria sido demasiado fácil.

Jimmy apareceu, vindo do quarto.

- Vamos embora - disse com brusquidão. Depois, também ele reparou em Kristin e estacou. - Ora... viva - disse, accionando o bem conhecido charme Sica.

Jake abriu caminho por entre eles, conhecendo bem o carácter lascivo de Jimmy.

- O meu irmão - disse. - Jimmy, esta é Kristin. Kristin retrocedeu um passo; os civis deixavam-na nervosa - sobretudo aquele grupo.

Jimmy estava ocupado, exibindo o seu perfeito sorriso de pivot.

- E onde tem o meu irmão andado a escondê-la?

Kristin reconheceu o tipo. Reconheceu também aquele homem dos noticiários da televisão, e isso deixou-a ainda mais nervosa.

- Ah... longe de si, calculo - murmurou, agarrando-se ao braço de Jake, desejando estar em qualquer outro lugar.

Madison observou a cena. Não era necessário ser-se génio para perceber que Jake estava fora do mercado. Definitivamente, só tinha olhos para aquela loura de cara fresca, toda vestida de branco.

- Vamos embora ou não? - perguntou com impaciência a Jimmy - A sua curiosidade jornalística tinha sido despertada e não estava interessada em mais nada a não ser descobrir o que acontecera a Salli. Não estava seguramente interessada em Jake Sica.

Jimmy desviou os olhos de Kristin e regressou à realidade.

- Tem razão, Madison - disse. - Vamos embora.

- Óptimo - afirmou. E, na companhia de Natalie, saíram da casa.

 

Não fora nada assim que Max planeara as coisas. Devia ter sabido que o seu karma estava mau quando Inga não o acompanhou. Agora tinha de levar com Ariel, com o seu sorriso artificial e leve pronúncia do sul. Outra cabra. A verdade é que eram todas umas cabras - a única mulher honesta que conhecia era a prostituta com quem se encontrava uma vez por mês - Kristin. Pelo menos, com ela, sabia sempre com o que podia contar. Dinheiro sobre a mesa e sexo inacreditável.

Decidiu fazer-se de desentendido. Encurralar Freddie e Ariel. Que se lixassem, não tinha de se justificar perante ninguém.

- O quê? - disse, com alguma rudeza, para que ambos percebessem bem que o estavam a chatear.

- Eu disse - repetiu Ariel, recusando-se a desistir - que correm para aí rumores que andas a candidatar-te ao meu cargo.

Merda! Alguém dera com a língua nos dentes. Billy Cornelius prometera-lhe segredo absoluto até estarem em condições de divulgarem o assunto. Simular bluff, decidiu, era a única forma de lidar com a situação.

- Sinto-me lisonjeado por pensares que poderia assumir o teu cargo - disse, calmamente. - A verdade é que... mal consigo lidar com o meu próprio trabalho. - Riso auto- implorante. Um olhar rápido para Freddie. A bola estava agora no campo do lado deles.

Diana, que desconhecia por completo o que se passava, não lhe agradou o sentido que a conversa levava. Pressentiu sarilhos e não queria que nada perturbasse o seu jantar.

- De que estão vocês a falar? - perguntou, impaciente. Freddie arremessou-lhe um olhar. Diana percebeu o desagrado dele e decidiu calar-se. Freddie não era agradável quando estava zangado; tinha um temperamento violento e descontrolado.

- Eu não sei - disse Max, encolhendo os ombros.

- Sabes, sim, Max - disse Ariel, a voz de gelo. - Eu sempre soube que Freddie era o fulcro central da A. A. I. Tu não passas do intermediário com quem as pessoas lidam quando não podem chegar até ele. - Uma pausa significativa. - É uma tristeza estar sempre em segundo lugar.

Os convidados sentados à mesa ficaram em silêncio. Até Lucinda ficou calada, preferindo escutar o drama que se desenrolava a continuar a encantar os presentes com as suas histórias fascinantes do Hollywood de outrora.

- Vai-te foder, Ariel - cuspiu Max, arrependendo-se das palavras mal estas lhe escaparam da boca. A calma era o essencial e acabara de estragar tudo.

- Já chega - interveio Freddie, irritado. - Esta não é a altura nem o local para entrar neste tipo de discussão.

- Que discussão? - rompeu Max, o rosto corado. - Queres que fique aqui sentado enquanto Ariel me acusa não sei de quê, e depois me insulta? Oh, não, Freddie, isso não vai acontecer.

Freddie ergueu-se da mesa. Estava na hora de pôr Max no seu devido lugar.

- Acompanha-me à biblioteca, Max - disse, o rosto impassível, - Falaremos em particular.

- Não tenho nada para conversar contigo - respondeu Max, detestando o tom lamurioso que escutava na sua própria voz.

Diana também se levantou. Maldito Freddie, pensou. tinha tudo isto planeado. Pretendia humilhar Max diante de todos para que as bocas de Hollywood comentassem como Max Steele era um parvalhão, e como Freddie o apanhara com as calças na mão.

Bom, ela não ia suportar isto. Max não o merecia. Sempre se revelara um bom amigo para ela e, apesar do gosto horrível no respeitante às mulheres com quem saía, Diana gostava genuinamente dele, e suspeitava que ele também gostava dela. Na verdade, se não fosse casada, era bastante possível que ela e Max tivessem acabado juntos.

Este pensamento trouxe-Lhe um rubor às faces. Abruptamente, abandonou a sala de jantar e marchou para a cozinha, onde o pessoal auxiliar e os fornecedores dos alimentos para a festa se encontravam reunidos em redor de um pequeno televisor portátil.

- Que se passa? - inquiriu, nada satisfeita com o facto de estarem parados com tanto trabalho por fazer.

Ronnie, o seu barman habitual, negro e competente - um veterano de meia-idade das festas mais famosas de Hollywood - colocou-se em sentido.

- Estamos a ver as notícias, Mrs. - disse, excitado. - Um grande homicídio em Palisades.

Diana franziu o sobrolho.

- Pouco me importa quem foi assassinado - disse, rispidamente.

- Temos um jantar a decorrer. Peço-vos o favor de regressarem ao trabalho. E é uma ordem.

 

O detective Tucci contemplava ainda o cadáver da actriz assassinada quando o agente Andy Flanagann se colocou furtivamente ao seu lado. O agente Flanagann fora a primeira pessoa a chegar ao local do crime - chamado por um vizinho que se queixou de cães a ladrar e de música alta. quando Tucci lá chegou, os cães estavam já trancados na cozinha e a música fora desligada. Nada mais fora tocado.

Tucci considerava que Flanagann era demasiado novo para aquele trabalho - apesar de tudo, era entusiasta e, pelo menos, parecia competente.

- É melhor vir comigo, detective - murmurou o agente Flanagann, evitando olhar para o corpo mutilado de Salli T.

- Que se passa agora? - inquiriu Tucci, o estômago fazendo ruídos.

- Outra vítima - disse o agente Flanagann, casualmente. parece Um homem. Com um tiro no rosto. O corpo foi descoberto no exterior da casa de hóspedes.

- Santo Deus! - explodiu Tucci, pensando. Lá se vai ojantar.

Um duplo homicídio representava sempre o dobro do trabalho e o dobro dos aborrecimentos... sobretudo quando ambos os assassinatos foram cometidos por métodos diferentes. Um esfaqueamento e um disparo. Perfeito.

- Lamento - murmurou o agente Flanagann, como se fosse culpa sua.

Tucci puxou de novo as calças para cima e, armado com uma lanterna, seguiu ojovem agente através do exuberante relvado verde, fortemente iluminado, que rodeava uma piscina azul-celeste. Salli T. deve ter trabalhado afincadamente para possuir dinheiro para uma mansão deste tipo, pensou. O caminho estava ponteado de gigantescas palmeiras, buganvílias envasadas e fragrantes pessegueiros e limoeiros. Algumas pessoas sabiam realmente como viver. Era uma pena que tivessem de morrer antes do tempo. Sobretudo daquela forma.

Para o jantar de hoje, Faye estava a preparar um rolo de carne de peru com o seu secreto molho de salsa - um regalo especial. Tucci esqueceu-se da dieta por momentos e imaginou-a a tirar o tabuleiro do forno e a deixá-lo arrefecer, enquanto o chamava para a cozinha para comer. Ah, sim, largaria os seus preciosos Lakers e correria para o lado dela. Faye era boa cozinheira e, aos 42 anos, era ainda uma mulher muito atraente. E fogosa também. O facto é que ela era meio hispânica, com cabelo preto-azeviche e um corpo pequeno de Vénus. Estavam casados há cinco anos; a sua primeira mulher morrera de cancro. Amava muito Faye.

- Parece uma única bala - disse o agente Flanagann. - Tudo indica que a vítima devia ir a caminho da casa principal para investigar o barulho.

Tucci anuiu. Os detectives amadores irritavam-no. O caso era dele, ele iria resolvê-lo, não precisava de ajuda.

A vítima masculina estava estendida de lado, meio sobre o passeio e meio sobre a relva, vinda da casa de hóspedes. Não tinha rosto - apenas uma feia amálgama de sangue e ossos.

Não era a primeira vez que Tucci via alguém com um tiro no rosto. Nunca era agradável de se ver. O estômago roncou - desta vez não por fome - e desejou encontrar-se em casa.

Apontando cuidadosamente a lanterna, estudou o corpo. Homem Franzino e magro. Vestido com calções psicadélicos e uma camisola branca curta. Umbigo com um piercing. Cabelos pretos-brilhantes por altura dos ombros. Cabelo oriental.

Tucci aproximou-se mais, a lanterna incidindo para cima e para baixo do corpo sem vida.

- Nenhuma arma à vista - disse o agente Flanagann, prestativo. - Já verifiquei o terreno circundante.

- Entrou na casa de hóspedes?

- Aporta estava aberta. Inspeccionei as instalações. Não parece ter ocorrido uma invasão na casa.

Tucci fitou o cadáver.

- Empregado de casa - disse, pensando alto. - Chame o fotógrafo para vir cá. E assegure-se de que ninguém toca em nada. Entendeu?

- Sim, detective - afirmou o agente Flanagann, colocando-se em sentido. - Não se preocupe. Eu trato de tudo.

 

Kristin estava sentada do lado de Jake no bar do Hotel Beverly Wilshire. Ele pedira uma cerveja e ela bebericava Evian. Ambos assumiam um comportamento cuidadoso.

- Estou francamente satisfeito por teres aparecido - disse Jake, esforçando-se por não a fitar, pois estava verdadeiramente fascinante. - Começava a interrogar-me se realmente virias.

- Pensaste que não iria? - perguntou, sentindo-se como há muito não se sentia, uma rapariga vulgar num encontro amoroso. A sensação agradava- lhe.

Jake encolheu os ombros.

- Não tinha a certeza - respondeu, honestamente. Kristin alisou a saia do vestido branco com as palmas das mãos.

- Posso perguntar-te uma coisa? - arriscou, estudando a forma como os olhos dele se enrugavam quando sorria.

- Podes perguntar-me tudo o que quiseres.

Kristin hesitou por momentos.

- Ah - começou, não propriamente embaraçada porque estava determinada a saber. - Reparei em duas atraentes mulheres no hall. Estava alguma delas contigo? - Por que lhe estou a perguntar isto? pensou. Mal o conheço. No entanto...

- Oh, claro - disse, rindo-se. - Como se te tivesse convidado para te juntares a mim e à minha família, e eu estivesse acompanhado. - Os seus olhos castanhos revelavam divertimento. Então, Kristin, que tipo de homem pensas que sou?

- Um homem simpático - respondeu, suavemente. Ele bebeu um pouco de cerveja.

- Agora estás a fazer com que eu pareça um tipo aborrecido.

- Não, não estou.

- Sim, estás.

Sorriram um para o outro. Jake ficou encantado por ela querer saber se estava acompanhado por Natalie ou Madison. Revelava que, talvez, se importasse.

- O teu irmão trabalha na televisão, não trabalha? - inquiriu Kristin, retirando cuidadosamente uma rodela de lima da bebida.

- Jimmy é pivot de noticiários.

- Reconheci-o.

- Ele ficaria satisfeito. O ego dele é maior do que o seu cérebro.

- Vocês odeiam-se? - perguntou, com curiosidade.

- Nada disso. Às vezes comporta-se como um verdadeiro idiota, mas não deixa de ser o meu irmão.

- E vão os dois assistir ao casamento do vosso pai?

- Não perderíamos esse acontecimento por nada deste mundo. O meu pai é muito importante para nós. - Ocorreu-lhe então. Eia... por que não vens também?

Kristin abanou a cabeça, o cabelo louro natural agitando-se em redor do rosto bonito.

- Penso que não.

- Porquê? - inquiriu, na esperança de a conseguir fazer aceitar. - Podíamos divertir-nos.

- Não estou habituada a divertir-me - disse, calmamente. Ele mirou- a, de forma interrogadora.

- Que significa isso?

- Estou sempre a trabalhar - disse, batendo com as unhas pintadas numa cor clara sobre a mesa. - Aminha irmã esteve envolvida num grave acidente de viação e... cuido dela... pago as contas. Há dois anos que está em coma.

Sob impulso, Jake pegou-lhe na mão.

- Coitada de ti.

- Não - respondeu Kristin, intensamente. - Coitada dela. Eu ainda consigo fazer a minha vida.

- Isso significa que tens de a sustentar?

- Não tenho de fazer nada - disse, a voz endurecendo, ao mesmo tempo que retirava a mão da dele.

- E o teu marido? Não te ajuda?

Um momento de silêncio.

- Eu... hum... não fui muito sincera contigo, Jake - mentiu, recordando-se do fictício marido rico que inventou para se proteger. - Deixei o meu marido há seis meses. Não me dá um centavo.

- Nesse caso és solteira?

- Separada.

Jake fixou-a com um longo olhar penetrante.

- Apraz-me ouvir isso.

- Porquê?

- Ora, não achas que é uma pergunta despropositada? - disse, em tom de brincadeira.

Kristin baixou o olhar. A forma como ele a fitava era demasiado desconfortável.

- Então... diz-me, Kristin - prosseguiu. - Estás actualmente envolvida com alguém?

Ela ficou de novo em silêncio. Será que dormir com uma variedade de homens suficientemente ricos para pagar os seus serviços exclusivos era a mesma coisa do que estar envolvida?

Não. Isso era negócio.

E os negócios e o prazer não se misturavam.

A dura lembrança de que não devia estar ali sentada com um homem que achava indiscutivelmente atraente.

- Eia - disse Jake, insistindo gentilmente. - Tenho direito a uma resposta?

- Eu... eu não tenho tempo para me envolver - disse. - Tenho de continuar a trabalhar para pagar as contas.

- Essa não é uma atitude saudável.

Kristin encolheu os ombros, estudando-lhe os lábios, interrogando-se como seria beijá-los.

- Eu sei - afirmou. - Mas que posso fazer?

- Para começar, passares mais tempo comigo - disse, em tom alegre - Sou novo na cidade. Preciso de uma guia turística, alguém que me mostre o que não devo fazer.

- Estou a passar tempo contigo.

Ele pegou-lhe de novo na mão e Kristin sentiu tremores de desejo há muito perdidos.

- Nunca conheci ninguém como tu, Kristin - disse, os olhos castanhos sinceros e inquisidores. - Sentes o mesmo que eu?

Ela anuiu, incapaz de se conter, embora sabendo que se aventurava num território perigoso.

- Nesse caso, por que não fazemos nada a esse respeito? sugeriu.

- Como o quê? - murmurou ela, sabendo bem ao que ele se referia.

- No meu hotel ou na tua casa? - disse, decidindo arriscar. A casa dela era o seu santuário; nunca levava clientes para lá. Só que Jake não era um cliente. Era um homem que desejava desesperadamente e, talvez, se dormisse com ele, ultrapassasse o desejo irresistível que sentia por ele e pudesse regressar à vida normal.

- Na minha casa - murmurou, ainda afogueada de excitação. Ele apertou-lhe a mão.

- Vou pedir a conta.

 

Quando Jimmy e Natalie chegaram à estação de TV, as notícias do assassinato de Salli Turner difundiam-se por L. A. como um fogo descontrolado, o que realmente aborreceu Jimmy, porque contava ser o primeiro a anunciar a notícia do homicídio. Madison seguiu-os para a sala da informação, ainda atordoada com aquela morte chocante. Não parava de pensar em Salli quando almoçaram naquele dia - tão vibrante e alegre. Agora, Salli estava morta, e não parecia possível.

Garth, o director da informação, um homem alto com feições angulares e escasso cabelo louro agarrado ao couro cabeludo, também não estava satisfeito.

- Por que diabo demorou tanto tempo? - gritou para Jimmy, ignorando quer Madison quer Natalie.

- Moro no maldito Valley, pelo amor de Deus - respondeu Jimmy, mal humorado. - Paguem-me melhor, que mudo para mais perto.

- Pouco importa - resmungou Garth. - Vai entrar numa emissão especial. Despache-se.

- Obrigado - respondeu Jimmy sarcasticamente, partindo para a sala da maquilhagem.

- Quanto a si, querida - disse Garth, voltando-se para Natalie -, prepare-me uma retrospectiva de elogio para as notícias das onze, Algo que corte o coração de todos e os mantenha sintonizados. Lambeu os lábios finos. - Vamos usar muitas sequências de Salli correndo pela praia no seu sexy fato de banho de borracha preto. Nada como um bom homicídio para garantir mega audiências.

- Estava a pensar - afirmou Natalie. - Talvez Madison devesse fazê-lo, esteve hoje com Salli.

Madison lançou um olhar perplexo a Natalie.

- Eu não vou aparecer na televisão - opôs-se. - O que te deu? Garth reparou pela primeira vez em Madison.

- Quem é você? - inquiriu, rudemente.

- Alguém com melhores modos do que você - retorquiu, nada satisfeita com a atitude brusca dele.

- Madison é minha amiga e jornalista em Nova Iorque - explicou Natalie, rapidamente. - Veio no mesmo avião que Salli. E hoje foi almoçar a casa dela.

O nariz longo e fino de Garth cheirou um exclusivo.

- Foi mesmo? - perguntou, praticamente salivando.

- É verdade - respondeu Madison, concisamente. - E posso assegurar-lhe de que não tenciono falar disso na televisão.

- Por que não? - inquiriu Garth.

Madison franziu o sobrolho. Que se passava com Natalie para sugerir que ela fosse para o ar? E quem era aquele idiota?

- Vocês não se incomodam pelo facto de uma rapariga jovem e bonita ter sido assassinada - dísse, furiosa. - Que significa isso para vocês? Apenas uma subida de audiência?

- Então, então - disse Garth gentilmente, apercebendo-se de que ela podia revelar-se útil. - Compreendo que esteja perturbada. Mas o público tem o direito de saber. Como jornalista, seguramente que entende isso.

- Lamento - disse Madison. - Penso que não têm direito a nada.

Garth coçou a cabeça. Não havia nada pior do que uma mulher teimosa - especialmente, uma jornalista teimosa.

- Quanto? - perguntou aborrecido, como se o dinheiro pudesse resolver qualquer problema.

- Quanto o quê? - disse, ainda franzindo o sobrolho.

- Dinheiro. Para que você vá para o ar.

Madison lançou-lhe um olhar gelado.

- Não consegue perceber, pois não?

- Não, querida - respondeu, em tom condescendente. - É você que não entende. Notícias são notícias e, se esteve com ela hoje, temos uma bomba nas mãos. Por isso, diga-me quanto é que vai ser necessário para a colocar diante de uma câmara.

Madison não podia acreditar como aquele homem era idiota.

- Nada que você tenha para oferecer - respondeu, lançando-lhe um olhar de repugnância.

- Pare com isso, Garth - disse Natalie, sentindo que Madison estava à beira de perder o controlo. - Foi uma ideia parva. Peço desculpa, Maddy.

- Não, querida - zombou Garth. - Pela primeira vez, disse uma coisa certa.

- Eia... - disse Madison, dirigindo a palavra a Natalie. - Vou-me embora. Tu trabalhas para este paspalho, eu não.

- A quem está você a chamar nomes? - disse Garth, uma mancha vermelha subindo-lhe pelo pescoço.

- Esqueça - disse Madison. - Digamos apenas que não foi um prazer.

- Maddy... - começou Natalie. Mas era tarde de mais. Madison seguia já para a saída.

Irritada, dirigiu-se à recepção e solicitou ao jovem de serviço que lhe chamasse um táxi. Depois usou o telemóvel para contactar o seu editor, Victor Simons, em Nova Iorque, onde era uma e meia da manhã.

- Escute-me, Victor - disse, as palavras atabalhoando-se quando foi acometida por um súbito ímpeto de adrenalina.

- Que se passa? - balbuciou Victor, meio adormecido e desorientado. - É bom que seja importante.

- É - afirmou Madison, tomando consciência finalmente que possuía de facto uma história importante e que seria melhor dar seguimento a ela. - Salli Turner foi assassinada esta noite. Esfaqueada até à morte.

- Tem a certeza?

- Muita certeza.

- Não ia hoje ter um almoço com ela? - inquiriu Victor, parecendo muito mais alerta.

- Sim. Estive de facto na casa dela.

- Então deve ter acontecido depois de eu sair - disse Madison, terminando a frase por ele.

- Deve.

- Não se preocupe, Victor, estou em cima do acontecimento. Estou precisamente a caminho do local do crime. Espere notícias minhas mais tarde.

 

Max Steele não estava disposto a receber sermões de fulanos do tipo de Freddie Leon - ou o Cobra, como todas as pessoas o tratavam pelas costas. laue Freddie que se lixasse. Que se lixassem todos. O estado de espírito de Max era odeio toda a gente.

A verdade pura e simples é que Ariel estava certa: as pessoas sempre consideraram Freddie como o sócio principal da A. A. I.

Steele vinha sempre em segundo lugar. Oh, sabia o que diziam: Se não conseguirem falar com Freddie, contentem-se com o velho Mac. Raios partam! Para ele chegava; ainda bem que ia sair. Quando fosse nomeado chefe do estúdio, seria o homem com quem se podia contar, não um mero agente. Depois, toda a gente haveria de beijar o chão que ele pisava.

Antes de sair, Freddie fizera uma tentativa de o chamar à biblioteca. Mas, em vez disso, Max saiu porta fora - não tinha nada para dizer até decidir exactamente o que iria afirmar.

Encontrava-se agora no seu Maserati vermelho, seguindo para Sunset, ouvindo as All Saints no seu leitor de CDs, questionando o que raio ia fazer para se acalmar.

Não devia ter insultado Ariel - disso tinha a certeza. Era uma filha-da-mãe - mas uma filha-da-mãe com relacionamentos.

Nada de maus karmas. Este era o seu novo lema. Preciso de snifar", pensou. Um toque do mágico pó branco para me acalmar e fazer-me sentir como veludo. "

Howie haveria de ter o que ele necessitava. Mas não tinha Howie mencionado que ia para Vegas com o velho dele?

Sim. Talvez. Com Howie nunca se tinha a certeza - era o protótipo de um perfeito degenerado, o filho típico de um homem abastado. O dinheiro não era problema, havia sempre mais de onde provinha. Nunca se manteve num emprego por mais de duas semanas. Nunca conheceu uma mulher bonita com quem não quisesse dormir. Nunca deparou com uma droga que não estivesse disposto a experimentar. Max considerava que o cérebro de Howie estava afectado por todos os seus excessos.

Apesar de tudo... uma pessoa conseguia descontrair-se com um tipo como Howie, dar umas sonoras gargalhadas. E, por vezes, Max precisava de libertar algumas gargalhadas quando o trabalho se tornava demasiado intenso.

Estacou o veículo em frente de Riptide, em Sunset, e entregou-o a um ansioso arrumador de carros. Max era conhecido na cidade pelas suas excelentes gorjetas.

Riptide era o local mais em voga - um restaurante-clube com boa comida, um bar cheio de muitas mulheres bonitas e disponíveis. Isso não significava que fosse difícil de encontrar em Hollywood mulheres bonitas e disponíveis. A verdade é que estavam por todo o lado - pretensas modelos e actrizes que inundavam a cidade na esperança de se transformarem na próxima Pamela Anderson ou Claudia Schiffer, e acabavam por pousar para a Playboy ou terem breves participações em filmes de um qualquer produtor sexualmente excitado. Havia depois as mulheres bem sucedidas nesse aspecto - as estrelas de televisão com as suas próprias séries, e as supermodelos com os seus lucrativos contratos de cosmética. E, acima de todas elas, estavam as mega-estrelas como Sharon Stone, Michelle Pfeiffer e Julia Roberts - mulheres talentosas que conseguiram chegar ao topo, apesar de tudo.

Max gostava de experimentar todos os níveis. Howie, habitualmente, contentava-se com as pretensas, defendendo que eram mais agradecidas.

Bianca, a mestre de sala brasileira do Riptide, saudou-o cordial mente, como seria de esperar - ele arranjara-lhe o emprego depois de uma noite de sexo interessante no iate de um amigo, na Marina. Manter favores em caixa era a especialidade de Max.

- Olá, Max. Vens juntar-te à mesa de Howie? - perguntou Bianca, argolas de ouro oscilando em orelhas excepcionalmente pequenas.

- Pensei que ele estivesse em Vegas - respondeu Max, dando-lhe uma palmada amigável no rabo coberto com cetim preto.

- Está cá - disse Bianca, conduzindo-o através do restaurante apinhado. - Sabes - disse, por cima do ombro -, mal posso acreditar nas notícias sobre Salli Turner. Vinha até cá muitas vezes com aquele estúpido marido dela. Não me surpreenderia se fosse ele o responsável.

- O responsável porquê? - perguntou Max, absorto, acenando para vários amigos e conhecidos enquanto seguia Bianca pela sala.

Ela estacou.

- Não sabes?

- O quê?

- Salli foi esfaqueada até à morte - disse Bianca, baixando a voz para um sussurro horrorizado. - Estão a dizer que, quem o fez, lhe cortou um dos seios.

Max estremeceu.

- Caramba!

- É tão horrível! Conhecias-a?

Max anuiu, recordando-se da ocasião em que Salli T. fora ao escritório com o propósito de falar com Freddie. Naturalmente, Freddie mostrou-se completamente desinteressado, pelo que Max acabou por ter pena dela e levou-a a tomar uma bebida no bar do Peninsula, onde lhe fornecera alguns conselhos quanto à carreira. Em retribuição, ela oferecera-lhe um broche. Ele rejeitara. Não era o tipo dele. Demasiado óbvia com as mamas falsas e a cascata de cabelos platina. Mas era uma doçura, de certa forma até ingénua.

- Quando aconteceu isso? - inquiriu.

- No início da noite - respondeu Bianca. - Eu vou arranjar uma arma. Se pode acontecer a ela, pode acontecer a qualquer um.

- Então, não fiques paranóica - disse Max, não mencionando que tinha um compartimento oculto especialmente instalado no seu Maserati que albergava uma Glock totalmente carregada.

- Por que não? - perguntou Bianca, os negros olhos brasileiros reluzindo. - É a verdade.

- Foi um arrombamento?

- Parece que ninguém sabe. A televisão não fala de outra coisa. Chegaram, então, ao local. E ali estava Howie, num fato Brilhante de três mil dólares, uma camisa Lorenzini de quatrocentos dólares e uma gravata Armani de cento e cinquenta dólares. Não havia nada barato em Howie - sobretudo quando gastava o dinheiro do pai.

Na mesa, diante dele, estava uma garrafa meio vazia de Cristal num balde de gelo prateado, com dois copos e um grande prato de vidro cheio até acima com o melhor caviar.

Instalada junto de Howie, nos confortáveis bancos de couro, estava Inga Cruelle, aquela que deveria ter acompanhado Max, um olhar inexpressivo no rosto perfeito de supermodelo.

- Com um raio! - explodiu Max.

Aquele não era, definitivamente, o seu dia perfeito.

 

Angela Musconni estava aborrecida. Sentia-se farta de observar

o que se passava na mesa dos adultos. Tinha 19anos, pelo amor de Deus, era demasiado nova para estar sentada com um grupo de velhos chatos.

Kevin Page convencera-a a acompanhá-lo.

- Vem, amor - persuadira-a, ainda impressionado com a sua

própria súbita fama. - Vão estar presentes pessoas importantes do mundo do espectáculo... devemos ir.

- Que me importa isso? - respondera com um encolher de omebros, manifestando o seu escasso interesse. Conhecera já demasiadas pessoas importantes desse meio durante a sua ascensão. Não constituíam grande surpresa, uns exibicionistas, todos eles.

Quando chegou a Hollywood, ninguém a quisera conhecer. Oh, o sim, um broche era aceitável para certos produtores que lhe prometiam tudo e depois se esqueciam do seu nome. Tirando isto, era tratada como se não existisse - uma miúda de rua parva.

Agora andavam todos atrás dela, incluindo Brock Martin, que pensava realmente que era merda quente numa travessa. É claro que Brock não se recordava da ocasião, há dois anos atrás, quando a tentara engatar no Farmer's Market, numa manhã de sábado, e lhe oferecera dinheiro para um trabalho de mãos. Pervertido! A engatar adolescentes quando tinha mulher e dois filhos em casa.

Nessa altura não tinha dinheiro e sentira-se bastante tentada; agora podia rejeitá-lo e gozar com as súplicas dele. Mas foi divertido durante cinco minutos; depois disso, perdeu a graça.

Não conseguia entender. Qual era a piada de estarem sentados à volta de uma extravagante mesa de jantar, com empregados a servir todo o género de tretas alimentares, quando ela e Kevin podiam andar a divertir-se, a comer pizza ou a passar pelos clubes?

E o que estava a dar a Kev para andar a derreter-se todo com Lucinda Bennett? Pelo amor de Deus, tinha idade para ser avó dele.

Angie suspirou. Por vezes, Kev parecia andar perdido. Embora fosse cinco anos mais velho do que ela, faltava-lhe a esperteza que ela possuía, adquirida nas ruas. Se planeava ficar com ele, teria de lhe ensinar a viver.

Inquieta, levantou-se da mesa.

- Vou à casa de banho - afirmou. Como se alguém quisesse saber. Kev não parecia minimamente interessado.

Passou pela requintada sala de estar, observando as molduras de prata com fotos assinadas de presidentes e estrelas de cinema. Analisou de seguida a dispendiosa arte que pendia nas paredes iluminadas com gosto. Aqui estava um Picasso, ali um Monet. Maçador.

O único lugar onde se ouviam sons era na cozinha, pelo que gravitou nessa direcção. Espreitando pela porta, ficou perplexa com as dimensões do aposento, tipo industrial. Com mil diabos! A merda da cozinha era maior do que todo o seu apartamento de Nova Iorque!

Uma série de pessoas estavam ocupadas, ocupadas, ocupadas. Ah, os empregados - o seu tipo de gente. Crescera em Nova Iorque, onde a mãe trabalhava como criada e o pai era motorista de um camião do sindicato. Há pouco tempo, ela mudara-os de Brooklyn para uma casa que lhes comprou em Paramus. Eles detestaram. Foi pena.

- Olá, pessoal - disse, entrando no espaço enorme cheio de fornos industriais, diversas máquinas de lavar louça, tábuas de madeira grossa para cortar e duas bancadas centrais. - Posso cravar um cigarro?

Ronnie, o empregado do bar, posicionado diante de uma televisão, afastou-se.

- Claro, Miss Musconni - disse, procurando na algibeira das calças um maço de Camels. - Mas não fume próximo de Mrs. Leon, ela não permite que se fume dentro de casa.

- Verdade? - disse Angie com um sorriso malicioso, retirando um cigarro do maço amarrotado. - Gostaria de vê-la a impedir-me!

- Agradava-lhe assumir aqueles ares de estrela de cinema, o que a excitava constantemente. - Eia - disse, aproximando-se da televisão. Que se passa?

- Um grande homicídio em Pacific Palisades - anunciou Ronnie,

- Um pouco acima da rua de Steven Spielberg. Estamos a assistir a uma intervenção em directo do exterior da casa.

- Não me diga - afirmou Angie, aproximando-se ainda mais do pequeno ecrã. - A quem limparam o sebo?

- Salli T. - respondeu Ronnie, virando a cabeça para assegurar de que Diana Leon não estava por perto. Mrs. Leon era a mais exigente das esposas de Hollywood; tinha o desagradável hábito de aparecer inesperadamente.

A mão de Angie cobriu-lhe a boca.

- Meu Deus, não! - exclamou. - Salli não!

- Conhecia-a?

- Sim - murmurou Angie, o rosto pálido.

- É pena - afirmou Ronnie.

- Quem... cometeu... isso?

- Não sabem, Miss Musconni.

- Eu sei - disse Angie, intensamente. - Ele sempre ameaçou que a havia de matar. Agora fê-lo mesmo.

- Quem? - perguntou Ronnie, na esperança de obter alguma informação importante que pudesse vender aos tablóides.

Mas Angie regressava já à sala de jantar.

Diana lançou a Angela um olhar furioso. Já não chegava o facto de Freddie ter tentado estragar-lhe o jantar discutindo com Max?

Agora aquela pretensa actriz irrompera na sala, informando toda a gente sobre o homicídio.

Diana sabia exactamente o que se iria seguir: ficariam todos ansiosos por regressar a casa e instalarem-se diante das televisões.

Raios! Por que não escolheu Salli T. outra noite para ser assassinada?

Angie anunciou as novidades, e depois arrastou Kevin de imediato, mal se despedindo.

Que desembaraço pensou Diana, amargamente.

Os restantes convidados não tardaram a conversar sobre o caso - revivendo o julgamento do assassinato mais mediático do século. Todos os que moravam em L. A. tinham uma opinião formada.

Mas a discussão não se prolongou por muito tempo porque, após a abrupta saída de Angie e Kevin - tal como Diana antecipara todos se quiseram ir embora. Brock Martin foi o primeiro a levantar-se, ansioso por correr para a sua estação televisiva. Seguiu-se a Lucinda, viciada como era pela televisão. E Ariel estava ansiosa por partir.

Freddie não ficou nada perturbado pelo facto de todos se quererem ir embora, mas Diana ficou danada, embora representasse bem o seu papel e se despedisse de todos com cordialidade.

Assim que a última pessoa partiu, voltou-se para Freddie.

- Não te exijo muito - disse, em tom firme. - Mas se há alguma coisa que espero quando recebemos gente é que te comportes como um cavalheiro. Os meus jantares são importantes para mim, e arruinaste o de hoje.

- De que estás a falar? - disse Freddie, sem disposição para aturar uma das explosões de Diana.

- Como te atreves a resolver os teus problemas com Max diante dos meus convidados? - afirmou Diana, o tom de voz elevando-se.

Ele ergueu o sobrolho.

- Os teus convidados, Diana?

Ela rectificou.

- Os nossos convidados - concedeu.

- Espero que não me estejas a dizer como devo gerir o meu negócio - disse Freddie, o rosto sorridente.

- Não... Mas Max é teu sócio, teu amigo...

- Tretas - disse Freddie, rispidamente. - Fui eu quem fez dele o que é hoje... e que ninguém se esqueça disso. Ele pensa que é capaz de gerir um estúdio. Ah! Qualquer idiota conseguia gerir um estúdio melhor do que ele.

- Vai aparecer amanhã na coluna de Army - disse Diana com impertinência. - Não vai ser bom para a tua imagem.

- Diana - disse Freddie, friamente. - Não te metas na minha vida empresarial.

- Com certeza - respondeu, virando- lhe as costas e correndo escadas acima, interrogando-se se alguém do pessoal escutara a discussão deles. Caramba! Era tudo o que precisava. Ronnie, o barman, percorrendo o circuito de Bel Air e Beverly Hills contando a toda a gente que os Leon tiveram uma forte discussão. Freddie possuía o mesmo estatuto elevado de qualquer estrela de cinema. O Sr. Superagente. O Sr. Poder. Era tão importante quanto Mike Ovitz fora outrora, antes do episódio da Disney.

Já no piso superior, Diana sentou-se diante do toucador e questionou-se o que Max estaria a fazer agora. Compreendia por que ele tinha de abandonar a agência; era devido ao facto de Freddie sempre o ter mantido na retaguarda - uma espécie de bobo da corte. Mas ela sabia a verdade. Debaixo da capa de homem duro de Max, havia um homem carinhoso e sensível. E um dia destes ela planeava descobrir quão carinhoso e sensível ele era.

O intercomunicador soou.

- Vou dar uma volta de carro - disse Freddie, num tom frio e insípido. - Não esperes por mim.

Não te preocupes", pensou Diana. Tenho coisas melhores com que passar o tempo. "

 

Jake seguiu Kristin para o apartamento dela, olhou em volta e soltou um longo assobio.

- Que lugar - disse, admirando a rica decoração.

- Ah... obrigada - respondeu, nervosa. Ele tinha razão, o apartamento era agradável. Outra coisa não seria de esperar; gastara bastante dinheiro com um decorador e o resultado revelou-se confortável e de bom gosto, exactamente o que ela pretendia. Considerava o apartamento como o seu refúgio, o único lugar onde podia estar só. Agora trazia Jake, virtualmente um desconhecido, para o seu domínio privado.

Estarei louca? ", pensou. Por que estou a fazer isto?

"Porque gostas dele.

Não, não gosto dele. Sinto-me apenas só. Preciso de sentir os braços de um homem que não me esteja a pagar. Será um crime?

"Sim, porque estás a preparar o terreno para saíres magoada disto.

- Queres tomar uma bebida? - inquiriu, sentindo-se ainda ridiculamente nervosa.

- Não me importava de beber uma cerveja. - Riu-se. - Aposto que isso é algo que não tens.

- Não é a minha bebida preferida, mas posso oferecer-te vodka ou vinho.

- Não és apreciadora de bebidas, hem?

- Eu nunca bebo.

- Nesse caso, és uma rapariga bem comportada - disse, em tom de brincadeira.

- Agora és tu que me fazes parecer aborrecida - contrapôs.

- Isso é coisa que não quero - disse, aproximando-se por detrás e abraçando levemente a cintura dela.

Kristin voltou-se no abraço dele e começou a dizer algo, mas ele calou-a com os lábios, e foram tão bons quanto ela sabia que seriam.

Beijou-a durante longos e lentos minutos. Kristin não se recordava da última vez em que fora beijada, porque o sexo pago não envolvia habitualmente esse tipo de intimidade. A sensação foi inacreditavelmente estonteante e, no entanto, repleta de perigo.

Por fim, forçou-se a afastá-lo.

- Preciso de uma bebida - murmurou ela.

- Também eu - concordou Jake. - Estamos ambos nervosos.

- Tu estás nervoso? - perguntou, surpreendida. - Porquê?

- Tu fazes-me sentir nervoso. Para ser franco - acrescentou, com um sorriso triste -, deixaste-me nervoso da primeira vez que te vi no Neiman's.

- Deixei?

- Acredita que sim. Lá estava eu, a cuidar da minha vida, procurando uma gravata. E lá estavas tu, sentada no bar, procurando despedaçar-me o coração.

- Isso não é verdade - objectou. - Se permites que te recorde... foste tu quem veio ter comigo.

- Não. Foste tu quem se aproximou e se sentou ao meu lado.

- Mentiroso! Mentiroso! - disse, apreciando ojogo. - Eujá me encontrava lá... foste tu quem se sentou ao meu lado.

- Fui?

- Foste.

- Nesse caso, devo ser mais esperto do que pensava. Kristin riu-se suavemente.

- És tão romântico.

- O teu marido era romântico?

- Por favor, não fales nele - disse, afastando-se apressadamente para uma mesa lateral onde tinha os copos, o vinho tinto e branco e uma garrafa de vodka. Não dispunha daqueles artigos porque recebesse visitas... eram puramente decorativos.

Jake aproximou-se por detrás dela mais uma vez.

- Eu faço de barman - disse, tirando-lhe a garrafa de vodhka das mãos dela.

- Se insistes - afirmou, estremecendo levemente. Serviu-lhes uma boa dose de bebida.

- Onde está o gelo?

- Na cozinha.

Kristin observou-o enquanto ele se dirigia à cozinha. Era muito vistoso, alto e magro, com largas passadas que ela achava irresistivelmente sexy. Ouviu o ruído dos cubos de gelo quando ele os tirou do congelador. Quando regressou, entregou-lhe um copo.

- Muito bem, o negócio é este - disse. - Vou propor um brinde.

- A quê?

- A ti. Porque és bonita... por dentro e por fora.

Oh, não, Jake, não digas coisas assim. A verdade é que sou feie e não quero que venhas jamais a descobrir isso.

- Sei que tudo isto se está a desenrolar rapidamente - prosseguiu. - Mas sinto que tenho de te dizer.

- Dizer o quê? - inquiriu ela, contendo a respiração. Jake fez uma pausa e depois:

- Isto pode parecer uma frase feita, mas corresponde à verdade.

Eu... ah... acho que nunca senti isto por ninguém.

Oh, meu Deus! Por favor, não te deixes levar por isto,

Aceita a situação por aquilo que é, uma noite de amor. Uma noite de amor longa, descansada e não paga. "

- E tu? - perguntou, fitando-a.

Ela foi protelando, fingindo que não compreendia.

- Eu o quê?

- Caramba! - disse ele, perplexo. - Estou a declarar toda a espécie de sentimentos verdadeiros e tu pareces estar na lua. Que se passa, Kris?

Ninguém a tratava por Kris, transmitia-lhe uma sensação de familiaridade e simpatia. Encolheu os ombros.

- Eu... não sei - murmurou. - Algo...

- Sim... algo - concordou. E beijou-a de novo, o corpo fortemente comprimido contra o dela, os lábios dele insistentes e intoxicantes.

Kristin sentiu-se dissolver por dentro. Aquilo era demasiado bom para deixar escapar. Uma noite. Não merecia ela uma noite de felicidade?

As mãos de Jake deslizaram-lhe pelo ombro em direcção aos seios e começaram a tactear os mamilos através do tecido fino do vestido branco - fazendo-a ficar sem respiração. Há tanto tempo que simulava excitação sexual que a verdadeira sensação era quase uma surpresa. Estremeceu em antecipação; era como se nunca tivesse sido ali tocada antes.

Lentamente, Jake começou a baixar o vestido do ombro. Ela inclinou-se para trás, tornando-o mais simples para ele.

Jake libertou-lhe os seios do material fino e inclinou-se para os beijar, rolando a língua em redor dos mamilos de um modo que a começou a enlouquecer. Suspirou alto, sabendo de certeza que não queria que ele parasse.

- Tu... és... tão... bonita - murmurou, a língua continuando a excitá-la. - Tão... tão... maravilhosa.

Sou uma profissional, Jake, tenho de me manter em forma.

- Obrigada - sussurrou, questionando se seria demasiado ousado abrir- lhe o cinto e puxar-lhe as calças para baixo.

- Há um ano que não estou com uma mulher - admitiu. Não me meto nisso, a menos que o sexo signifique alguma coisa.

Palavras que levavam qualquer pessoa a pensar.

- Eu... ah... posso compreender isso - afirmou, com dificuldade.

- A razão por que te estou a dizer isto é para que saibas que podes confiar em mim.

Confiar nele? Que queria ele dizer? Foi então que entendeu: estava a informá-la para que soubesse que não tinha SIDA nem nenhuma outra doença contagiosa.

Oh, cos diabos, agora ele queria que ela lhe fornecesse a história sexual dela.

Bom, Jake, é assim. Sou prostituta. Mas podes sentir-te seguro porque, se me tocam, insisto sempre que usem preservativo. E visito o meu ginecologista duas vezes por mês. E... oh, merda, por que me estou a iludir? Esta estúpida charada de me apaixonar não tem saída.

E, no entanto... "

- Não durmo com ninguém desde o meu marido - murmurou.

- Muito bem - disse, obviamente satisfeito com a resposta. Tu e eu estamos prestes a tornar esta noite inesquecível.

 

Madison seguiu de táxi para um estabelecimento de aluguer de viaturas aberto à noite, e encontrava-se agora sentada ao volante de um Ford Galaxy verde, em direcção à casa de Salli, em Pacific Palisades. Bastava de depender de outros para se movimentar pela cidade.

Tudo o que lhe vinha à mente era Salli, tentando recordar-se de todos os detalhes do almoço que tiveram juntas. Lembrava-se de entrar na luxuosa casa de Salli - da sensação que teve do que era viver, ao contrário do que se passava na cidade de Nova Iorque, em aposentos amplos e de tecto alto, com janelas que davam para frondosos jardins e uma piscina enorme. O sol brilhava e ouvia-se música de fundo. Era um rádio porque, ocasionalmente, um disk jockey anunciava as suas últimas três escolhas. Recordava-se dos cães, aquelas coizinhas felizes correndo por todo o lado.

São os meus bebés, dissera Salli, agarrando-os nos braços. E, mais tarde, Salli confidenciara que não podia ter filhos... algo relacionado com um aborto que fizera aos quinze anos. Eu era pobre, dissera com uma gargalhada triste. Por isso fui ter com o carniceiro da cidade.

Isso é confidencial ou posso usar? perguntara Madison, sendo honesta, porque não se queria aproveitar da abertura quase ingénua de Salli.

À vontade... para variar, que publiquem a verdade, respondera Salli, ousadamente. Estou farta de todas as mentiras. " E foi então que começou realmente a falar.

Como boajornalista que era, Madison tomara mentalmente notas em estenografia enquanto Salli divagava - embora o seu mini gravador estivesse a captar cada palavra, porque actualmente os advogados não permitiam a publicação de uma entrevista a menos que existisse uma gravação de apoio.

Sentada junto da piscina, mastigando uma cenoura, dado que estava numa dieta constante, Salli começou a desvendar as fases da sua vida.

Salli, uma rapariga oriunda de uma pequena cidade, engravidou, fez um aborto, ganhou um concurso de beleza local aos quinze anos, zangou-se com o pai viúvo, largou a escola e apanhou a camioneta para Hollywood, exactamente com cento e três dólares na sua deteriorada carteira de couro branco. Tinha cabelo castanho frisado, dentes ligeiramente salientes e era bastante gordinha. Mesmo assim, era suficientemente bonita para fazer as cabeças virarem-se.

Falsificou o bilhete de identidade e conseguiu de imediato trabalho como empregada de mesa num estabelecimento de strip, junto ao Aeroporto LAX, onde ficou tão impressionada com os antributos da maioria das strippers que decidiu fazer algo em relação ao seu modesto tamanho 34 B. Com esse objectivo em mente, começou a poupar dinheiro.

Enquanto esperava, um namorado, que era condutor de táxi, tirou uma polaroid dela nua e enviou-a para a Playboy. Oito semanas mais tarde, rejeitaram-na por ser demasiado magricela. Isto enfureceu Salli, que ficou de imediato determinada que, um dia, haveria de aparecer na capa da revista.

Seios novos tornaram-se mais importantes do que nunca. Arranjou um agente e começou a fazer horas extras. Naturalmente, o agente, um homem mais velho com filhos já crescidos, ficou perdido por ela. É evidente que não fazia ideia de que ela tinha apenas dezasseis anos. Resistiu a ir para a cama com ele até ele arranjar o dinheiro para os novos seios. Levou cerca de um ano porque, pelo facto de ser um bom homem de familia, sentia-se perturbado pela culpa. Acabou por deixar a mulher, pagou-lhe a operação e, na noite em que acabaram por dormirjuntos, faleceu em cima dela antes de consumar o acto. Tratou-se de uma experiência traumatizante, que Salli não esqueceria tão depressa.

Depois disto, começou a adquirir experiência - nunca permitia que nenhum homem se aproximasse demasiado, embora todos tentassem. Concentrou-se, sim, em tornar-se no melhor que Lhe era possível.

Os novos seios conferiram-Lhe um certo avanço; mudaram-lhe a vida. Em vez de servir às mesas, tornou-se numa dançarina exótica e começou a fazer dinheiro suficiente para continuar com a sua transformação de rainha de beleza de pequena cidade para uma estrela de Hollywood. Primeiropintou o cabelo castanho de um louroplatina à Marilyn Monroe. Tratou depois os dentes e conseguiu perder uns surpreendentes onze quilos. Com o seu novo aspecto esplendoroso - seiosgrandes, cintura fina e pernas longas - não tardou a arranjar um novo agente e começou a obter pequenos papéis em programas de televisão e em filmes. Se quisesse ter feito pornos, teria sido um sucesso, mas, sensatamente, não seguiu por esse caminho. Especializou-se em representar louras idiotas com corpos espectaculares. Tarefa fácil. O que não se revelava fácil era afastar os homens. Apareciam em rebanhos - incluindo casados famosos, todos com a mesma desculpa: A minha mulher não está virada para o sexo, por isso chupa-me o membro. Por vezes fazia-o, outras não. Tinha de gostar de um tipo antes de fazer fosse o que fosse.

A luta foi dificil, mas Salli conseguiu regressar à Playboy. Desta vez, não a largaram e não só conseguiu a capa como também quatro páginas de fotografias no interior e a página central.

Por fim, a fama. As suas fotos foram tão populares que, um ano mais tarde, voltou a aparecer Nessa altura, a sua carreira começou realmente em ascensão, culminando na sua própria série na TV, Teach! " e mais uma capa na Playboy.

Teach! tornou-se nas Marés Vivas dos anos 90, e Salli tornou-se na heroina dos rapazes adolescentes sexualmente excitados por todo o mundo.

Pelo caminho, casou com um actor, Eddie Stoner, divorciando-se dele dois anos mais tarde. E estava actualmente casada com o infame Bobby Skorch - um homem que arriscava regularmente a vida como forma de ganhar dinheiro.

Mais uma vez, Madison questionou-se sobre o que teria acontecido depois de ter saído. Salli parecia tão bem disposta, animada e entusiasmada com o seu futuro. Contou a Madison que planeava permanecer em Teach! por mais um ano, e depois arriscar na participação de um filme.

Agora, tudo estava acabado. E tinha de haver um motivo para isso.

Madison conduziu, determinada, o carro em direcção à casa de Salli.

 

- Não acredito nisto - disse Max, encolerizado.

- Olá, companheiro - disse Howie, não ligando à raiva do amigo.

- Quero apresentar-te Inga.

Max mirou furiosamente a requintada supermodelo sentada descontraída no banco de couro, num vestido negro muito reduzido.

- Que merda é esta? Que diabo está você a fazer aqui? - explodiu.

- Vocês conhecem-se? - perguntou Howie, obviamente surpreendido.

- Não só nos conhecemos - gritou Max - como Inga ia ser a minha acompanhante esta noite, e Inga afirmou não poder ir.

- Não seja tão absurdo, Max - disse Inga na sua precisa e enfurecedora pronúncia. - Não ia ser sua acompanhante. Tínhamos um encontro de negócios a que não pude comparecer. E, por favor, não utilize linguagem ordinária.

O famoso temperamento calmo de Max desvaneceu-se e o seu rosto contorceu-se com uma raiva frustrada. Aquela cabra sueca estava a gozar com ele, Max Steele. Nem pensar! E o que raio fazia ela com aquele paspalho de Howie, o seu suposto amigo?

- Estou no meio de alguma coisa? - inquiriu Howie, na sua pose de playboy inocente.

- Nem pensar - respondeu Inga, friamente.

- Tínhamos ou não tínhamos um encontro marcado? - perguntou Max.

- Uma combinação vaga, nada de definitivo - disse Inga, mergulhando dois dedos na taça de champanhe, e depois lambendo-os de uma forma altamente sugestiva.

- Eia - disse Howie, erguendo-se. - Estarei lá à frente se alguém precisar de mim.

Max sentou-se no banco de couro.

- Inga - disse, recuperando a compostura -, tinha combinado encontrar-se comigo na casa de Freddie Leon, recorda-se? Era um jantar sentado, importante, e tinha os lugares marcados. A sua ausência foi embaraçosa... para não dizer mesmo grosseira. Não pode pensar que se safa com um comportamento destes nesta cidade e consegue arranjar trabalho. - Olhou para ela, aguardando uma reacção. - Está a compreender-me?

Inga fitou-o por um longo e silencioso momento.

- Inga faz o que Inga quer - disse, por fim. - E, posso assegurar- lhe, Max, que, quando o projecto certo surgir, hão-de rogar para que Inga apareça.

Max estava perplexo. Quem pensava aquela miúda que era?

- Querida - afirmou. - Continue a acreditar nisso e pode ficar sentada à espera pela sua carreira cinematográfica que nunca ocorrerá. - Abruptamente, levantou-se da mesa. - Estou fora... arranje outro agente.

Howie encontrava-se nos lavabos dos homens snifando, uma linha de cocaína de cima do balcão de mármore verde-escuro. O empregado de serviço, depois de receber uma gorjeta de cinquenta dólares, olhava para o outro lado.

- Estás com sorte por eu não ser um polícia à paisana - disse Max, roubando uma boa dose do pó branco e esfregando-o nas gengivas.

- Nunca passariam pela porta - disse Howie com um riso maníaco. - Este local está protegido.

- Protegido uma ova! - respondeu Max.

Howie enfiou a pequena palhinha de plástico na algibeira e limpou a ponta do nariz, removendo qualquer vestígio do pó branco.

- Que se passa entre ti e a garota? - disse. - Ela faltou realmente a um encontro contigo?

- Ninguém falta a um encontro com Max Steele - afirmou este, duramente. - Tratava-se simplesmente de negócios e a estúpida cabra deitou tudo a perder.

- Eu tenho algo que gostaria que ela se entretivesse - riu-se Howie a bandeiras despregadas, agarrando nas partes baixas de forma exagerada.

- Onde a conheceste? - perguntou Max, ainda fumegando, mas ocultando-o bem.

- Há algumas horas, num cocktail no Cartier's. Lá estava ela com aquele ar de matadora, pelo que lhe comprei um berloque.

- Um berloque? - questionou Max.

Howie ria-se perdidamente.

- Está bem, foi um relógio de ouro. Grande coisa. Consegui que me acompanhasse e, tens de admitir... ela é um espectáculo. Põe Cindy a um canto.

- As modelos têm um aspecto mais impecável do que as actrizes

- admitiu Max, sentindo-se melhor quando a cocaína começou a fazer efeito. - Embora, não te devas esquecer, são também mais estúpidas.

Howie libertou uma gargalhada.

- Quero fornicar com ela, não ter uma aula de Física.

- Ouvi dizer que ela tinha gonorreia - afirmou Max, a sua maldade vindo ao de cima.

- Não me digas? - disse Howie, demasiado pedrado para se importar.

Quando regressaram à mesa, não encontraram Inga.

- Deve ter ido à casa de banho - disse Howie.

Com uma profunda sensação de satisfação, Max sabia que não era o caso. Dera uma tampa a Howie, tal como lhe dera a ele.

Supermodelos! Altas, bronzeadas, jovens e estúpidas. Servira-lhe de lição, para quando tentasse engatar outra.

 

- Por que tivemos de vir embora? - lamentou-se Kevin, enquanto Angie seguia velozmente no seu Ferrari preto ao longo da Sunset. - Estava a divertir-me.

- Se é esta a noção que tens de divertimento - troçou Angie -, então precisas de uma grande desintoxicação.

- Vai-te foder!

- Vai-te foder também! - respondeu, travando a fundo o poderoso carro num sinal luminoso. - Não estou para aturar aquilo. Se não fosses uma estrela de cinema, aquela gente não te dirigia palavra.

- E depois? - disse Kevin, agressivamente. - Sou uma estrela de cinema.

- Não és Leonardo DiCaprio.

- Nem queria ser - afirmou Kevin, sombriamente, pensando que estava na hora de largar Angie. Era demasiado mandona e, agora que tinha dois grandes êxitos de bilheteira, podia ter qualquer rapariga que desejasse. Angie não sabia, mas transformara-se numa verdadeira chata. - Onde vamos? - perguntou, reparando que ela passou velozmente pela rua onde tinham arranjado uma casa para morarem júntos.

- Preciso de material - disse, esfregando a testa. - Parece que estou atordoada.

Precisas de mudar a tua atitude, pensou ele. Angie consumia drogas pesadas e ele não. Já estivera metido nisso. No entanto, não desejava tornar-se no próximo Robert Downey Jr. ou Charlie Sheen. Aqueles tipos tinham idade suficiente para saberem onde se metiam.

- Não posso ir arranjar droga contigo. Não fica bem à minha imagem.

- Nunca fazes nada por mim - lamentou-se.

- Está na altura de abandonares essa cena das drogas - disse Kevin, pensando em Lucinda Bennett e no filme que iam fazer juntos.

- Não preciso de lições - respondeu Angie. - Acabei de perder uma boa amiga.

- Nunca te ouvi falar em Salli.

- Isso foi porque tivemos uma grande discussão antes de tu e eu nos conhecermos.

- Uma grande discussão sobre o quê?

- Quando tinha 16 anos, partilhámos um apartamento - disse Angie. - Até ela me roubar o namorado, que nem sequer valia a pena roubar. Era um filho-da-mãe. Aposto que foi ele quem a matou.

- De que estás a falar agora?

- Eddie Stoner.

- Eddie Stoner - repetiu Kevin. - O actor?

- Conheces?

- Penso que trabalhei uma vez com ele.

- Trabalhaste ou não trabalhaste?

- Quem se lembra?

- De qualquer forma, era um verdadeiro pulha, pelo que pensei, se Salli o queria assim tanto podia ficar com ele. Saí do apartamento e, algumas semanas mais tarde, ela e Eddie casaram-se em Vegas.

- Angie suspirou a sua repugnância. - Uma jogada parva. Tudo o que tinha a favor dele era uma gaita grande e uma bem marcada mão direita. Costumava dar-me grandes tareias e, mal se casaram, começou a bater nela. Pensei que, pelo facto de ser mais velha, conseguiria fazer-lhe frente. Mas não. Uma noite ela telefonou-me e estava histérica. Disse- lhe: Não venhas chorar no meu ombro. querias o filho da mãe, ficaste com ele. " E não a ajudei. Depois começou a ficar famosa e essas tretas todas. Acabou por se divorciar dele. Foi o bom e o bonito. Sei que teve de chamar a Polícia uma série de vezes por causa dele, que ameaçou matá- la. Eia... ameaçou matar-me quando andávamos juntos. Estou surpreendida por ele não me ter aparecido à frente, considerando que tive mais êxito do que ela. - Fez uma pausa e, depois, pensativamente, acrescentou:

- Talvez deva contar à Polícia o que sei.

- Não podes andar por aí a acusar pessoas - disse Kevin, franzindo o sobrolho. - Queres ver-nos aos dois arrastados pelos tablóides?

- Está bem, Kev - disse Angie, já pensando em outras coisas:

- Deixa-me arranjar uma grama ou duas de material e pensarei nisso.

- Tens de abandonar essa cena das drogas – repetiu severamente.

- Posso fazê-lo - respondeu ela, em tom desafiante. Em qualquer altura que o desejar.

- Claro.

- Sim, claro.

- És difícil, Angie, não ouves ninguém.

- Eu sei, já me disseste isso um milhão de vezes. Mas o que farias sem mim, Kev? Andarias de um lado para o outro nesta cidade com a gaita na mão e todas se ofereceriam para uma sessão de sonho. Certo?

- Se assim o dizes. - E questionou-se qual seria a melhor forma de a largar.

 

O detective tucci telefonou para a mulher e disse-lhe que, tal como já esperava, a área em redor da casa de Salli T. se estava a transformar num verdadeiro circo. Havia carrinhas da TV com os jornalistas dos noticiários, repórteres e uma multidão de pessoas concentrando-se na rua. Todos estavam a ser contidos por detrás de barreiras da Polícia, enquanto helicópteros pairavam por cima e, na casa, o telefone não parava de tocar. Embora fosse já tarde na noite, as notícias espalharam-se depressa.

Tucci praguejou em voz baixa. Não ia haver seguramente jantar esta noite, a não ser talvez umapizza de entrega, e detestava ter de fazer isso ao seu estômago.

Por volta da meia-noite, o fotógrafo da Polícia terminou o seu horrível trabalho, e o examinador médico ocupava-se agora da sua missão. Mais tarde, o corpo mutilado de Salli foi colocado numa maca e levado numa ambulância para a morgue, onde seria efectuada uma autópsia e recolhidas provas.

Quando o pessoal da ambulância colocou Salli no interior, as pessoas ficaram como loucas, gritando e berrando o nome dela. tucci não conseguiu evitar de pensar se o assassino estaria algures por ali, observando... esperando... gozando à brava.

Os factos que Tucci conhecia eram os seguintes: não havia sinais de arrombamento, o que significava que Salli conhecia obviamente o assassino e que provavelmente lhe abrira a porta da casa. Devia sentir- se à vontade com ele - se realmente se tratava de um homem - porque o levara para a sala de estar e para a piscina. No lava-louças por detrás do bar, Tucci encontrara dois copos lavados à pressa. Colocara-os de imediato num saco de plástico e remetera-os para o laboratório, para serem analisados.

Por isso, decidiu, quem quer que fosse o assassino, entrou pela porta da frente. Salli saudara a pessoa, beberam um copo juntos, saíram para o pátio e, depois, por razões desconhecidas, ele ou ela perdeu a cabeça e apunhalou-a até à morte.

Era provável que o empregado se tivesse dirigido à casa para verificar a causa do barulho porque, de acordo com os vizinhos, havia música a tocar extremamente alta e os cães não paravam de ladrar. A caminho da casa, Froo, o empregado asiático, deparara com o assassino, que disparou directamente na cara dele - o que indicava que Froo teria reconhecido o homem... ou mulher.

Nas duas últimas horas, Tucci tentara contactar o marido de Salli, Bobby Skorch. Aparentemente, vinha a caminho de carro, regressando de um trabalho em Vegas. O telemóvel estava desligado e parecia incomunicável.

Tucci interrogou-se se Bobby teria assassinado a mulher. Não seria a primeira vez que um marido era o responsável. Talvez Bobby Skorch tivesse vindo mais cedo, discutido com a mulher, esfaqueando-a, e, depois, regressasse ao carro, afastando-se, e aparecendo mais tarde como o marido inconsolável. Tratava-se de um cenário que não tinha nada de invulgar.

Tucci sentou-se à mesa da cozinha, tomando vários apontamentos. Era conhecido pela sua meticulosa forma de proceder e gostava de se assegurar de que não se esqueceria de uma única coisa.

Algures naquele puzzle residia uma resposta, e era sua intenção descobri-la.

 

Madison estacionou a alguns quarteirões da casa. Por todo o lado avistava equipas de televisão e repórteres e, obviamente, uma enorme multidão de mirones. A Polícia bloqueara já a área em redor da casa e pairava no ar uma atmosfera estranhamente festiva - como se as pessoas sentissem prazer com os acontecimentos.

Deixou o carro e dirigiu-se de imediato ao polícia mais perto.

- Quem é o detective encarregue deste caso? - perguntou, mostrando o passe de jornalista.

- Neste momento, não lhe posso dar qualquer informação - afirmou o agente, mal olhando para ela.

- Compreendo isso - respondeu Madison. - No entanto, acho que ele há-de querer falar comigo, por isso, faça-lhe chegar uma mensagem. O meu nome é Madison Castelli, sou jornalista de Nova Iorque e passei o dia com Miss Turner na casa dela.

- Verdade? - disse o polícia, em tom de descrença.

- Sim, é verdade - respondeu Madison.

- Pode provar isso?

- Como quer que lhe prove isso?

- Com o devido respeito, minha senhora, há muita gente a tentar entrar dentro de casa...

- Acredito que sim mas, se disser ao detective que estive com ela hoje, estou segura de que há-de querer ver-me.

- Já lhe disse, minha senhora... não posso fazer isso, há demasiada confusão.

- Escute - disse Madison, a pontos de perder a paciência. Trabalho para a Manhattan Style, o meu editor é Victor Simons. Entregou-lhe um cartão. - Este é o número dele. Se der isto ao detective encarregue do caso, ele pode falar com o meu editor e verificar a minha história. Tirando isto, não sei mais o que faça, mas sei que ele há-de querer falar comigo.

- Não esta noite. Talvez a receba amanhã. Deixe o seu nome e número e vá para casa.

- Posso ficar descansada que ele recebe o cartão? - disse, engolindo a irritação, pois sabia que de nada serviria perder a calma.

- Absolutamente, minha senhora.

- Tenho uma gravação áudio de Salli na minha casa. Fala de tudo o que se passa na vida dela. Tenho a certeza de que será útil.

O polícia olhou de novo para Madison. Talvez ela não lhe estivesse a vender uma história da treta, talvez estivesse a falar a sério.

- Espere aqui um pouco - disse. - Vou verificar.

- Obrigada.

Ficou a observar o polícia a entrar na casa. Onde estavam Natalie e Jimmy? Já lá deviam estar. Via bastantes repórteres na rua a fazerem intervenções em directo para as respectivas cadeias televisivas.

O polícia regressou após alguns minutos.

- O detective Tucci diz que fala consigo amanhã.

- Está a dizer-me que ele não quer falar comigo agora?

- Exactamente, minha senhora.

- Nesse caso, penso que vou escrever a história ao meu modo, mencionando que o detective encarregue do caso se recusou a receber-me. Tenho a certeza de que o L. A. Times estará interessado nesta notícia em primeira mão.

- Como quiser, minha senhora.

- Estou apenas a contar-lhe o que tenciono fazer, para que o transmita ao detective Tucci.

- Informá-lo-ei.

Madison regressou ao carro alugado, seguiu para a estação de serviço mais próxima, dirigiu-se à cabina telefónica e procurou o nome de Tucci na lista telefónica. Depois começou a fazer chamadas. À terceira, teve sorte.

- O detective Tucci está? - perguntou à mulher que atendeu.

- Lamento, mas não se encontra.

- Fala a esposa?

- Sim. Posso ajudá-la?

- Preciso de falar urgentemente com o seu marido. Possuo informações relativas ao caso em que ele está a trabalhar. Falei com um agente encarregue de controlar a multidão, e não tenho a certeza se ele entregou o meu recado ao detective Tucci. Trabalho para a revista Manhattan Style.

- Oh, conheço essa revista - interrompeu Mrs. Tucci. - Leio-a todos os meses.

- Fico satisfeita. Nesse caso, é provável que me conheça... Madison Castelli?

- Certamente, Miss Castelli, já li o seu trabalho. Agrada-me muito.

- Trate-me por Madison. E o seu nome é?

- Faye.

- Okay, Faye. Bom... diga ao seu marido que almocei hoje com Salli, tenho uma gravação da nossa entrevista e que gostaria realmente de poder falar com ele pessoalmente.

- Oh, assim farei - disse Faye, impressionada. - Pode contar comigo.

Madison deu o seu número de telefone a Faye e, depois, segura de ter cumprido o seu dever, meteu-se no carro e seguiu para casa de Natalie.

Cole, o irmão de Natalie, estava estendido no sofá diante da televisão, fitando o ecrã.

- Já sabes das notícias? - disse, quando ela entrou.

- Sim.

- Sabes, em tempos treinei Salli - disse, sombriamente.

- Treinaste?

- Há uns dois anos, quando estava casada com o primeiro marido, Eddie. Era um maníaco. Ela, boa como o milho.

Madison sentou-se na beira do sofá.

- Fala-me dele.

- Salli costumava conversar comigo sobre ele - disse Cole. Às outras pessoas, ela dizia que arranjara um olho negro ou nódoas negras por ter batido numa porta. Uma dada ocasião, ele partiu-lhe o braço e teve de a levar ao hospital. Ela chamou a Polícia por causa dele uma série de vezes, mas Eddie dava-lhes sempre a volta. Teve sorte em conseguir afastar-se dele.

- Estás a afirmar que foi ele o autor do crime?

- Não ficava surpreendido - disse Cole com um encolher de ombros. - Tinha um temperamento violento. Aquele gajo estava sempre lixado com qualquer coisa.

- Como, por exemplo?

- Sabes como é. Era um actor de segunda... trabalhava muito, mas nunca fez um papel de relevo. Isso tornou-o bastante azedo. Deixei de trabalhar com ela quando Eddie começou a ficar com ciúmes.

- De ti?

- Sim.

- Mas tu és homossexual.

Cole riu-se tristemente.

- Vá lá dizer isso a Eddie. Não a queria perto de nenhum homem com bom aspecto. Ele controlava, era tudo o que queria. Estou até surpreendido por ela ter conseguidu afastar-se dele; foi necessária muita força.

- Como se chamava ele?

- Eddie Stoner - disse Cole.

Madison levantou-se e foi para o seu computador portátil, onde inseriu um pedido de informações para Nova Iorque.

Eddie Stoner. Vamos então descobrir quem realmente tu és.

 

- Oh... Santo... Deus - murmurou Kristin, espreguiçando-se com luxúria. - Foi uma autêntica... maravilha.

Jake prendeu-Lhe os braços acima da cabeça, segurando-lhe os pulsos com firmeza por forma a que ela não se conseguisse mover.

- Não foi uma autêntica maravilha - disse, austero. - Foi sensacional, e sabes isso.

- Sim, claro que sei - disse, rindo-se suavemente. - Não precisas de me torturar para me fazeres falar.

- Que te faz pensar que te vou torturar? - perguntou, meio a brincar, meio a sério.

- Não sei, talvez faças amor comigo outra vez.

- E isso seria uma tortura?

- Oh, sim. Uma tortura linda, incrível e fantástica. Ele riu-se.

- Acho que me vejo obrigado a pedir-te que supliques.

- Não me digas - afirmou, tentando rolar debaixo dele.

- Podes crer - afirmou, decidido. - Vai ser necessário.

- Muito bem, como queres que suplique? - disse, apercebendo-se de que nunca se sentira tão descontraída, liberta e feliz como se sentia naquele momento.

- Tens de dizer, Por favor, Jake!

- Por favor, Jake - repetiu, incapaz de conter o riso.

- Agora diz, Suplico-te, Jake, dá-me mais".

- Não vou dizer isso.

- Não discutas. Estou a tentar ensinar-te.

- Querido Jake - disse, sorrindo. - Foi tão espectacular que te suplico que me dês mais.

Jake inclinou a cabeça para o mamilo esquerdo, percorrendo-o com a língua.

- Continua a suplicar - disse. - Gosto que o faças. Kristin sentiu a dureza dele contra a sua coxa nua e suspirou de prazer.

- Não está na altura de me suplicares a mim? - sugeriu Kristin, após alguns momentos de pura felicidade.

- Quero-te ouvir a ti a suplicares.

- Queres?

- Neste instante, soldado!

- Eia... - Um sorriso largo surgiu-lhe no rosto. - Até parece

que estamos juntos há anos.

Ela sorriu suavemente.

- Mas não estamos.

- Oh, grande surpresa - disse, em tom de brincadeira. – Mas vamos estar... certo?

Por que tinha ele de estragar tudo?

- Jake - começou, procurando as palavras correctas. – Não fui totalmente honesta contigo.

- Não quero saber isso agora. Podes ser totalmente honesta comigo amanhã ao almoço. Por agora, vamos apenas desfrutar o momento.

Kristin tentou de novo sair debaixo dele. Jake virou-a de novo para si e começou a chupar-lhe o lábio inferior.

- Nunca me tinha apercebido - disse ela com dificuldade - que beijar podia ser tão erótico.

- Nesse caso, tens muito que aprender.

- Ensinas-me, Jake?

- Queres?

- Sim.

- Bom, primeiro tens de acariciar gentilmente os lábios com a língua, muito, muito lentamente. Assim.

- Oh, és bom - disse ela, estremecendo.

- Já me tinham dito - respondeu, em tom de confidência.

- E quem te disse?

- Bom, disseste-me que não estavas com uma mulher há um ano - disse, curiosa. - Por isso, quem te disse?

Uma longa pausa antes de ele responder.

- A minha mulher - disse, por fim. - Morreu num acidente de viação há um ano atrás.

- Oh, desculpa... não sabia.

- Conheces o velho cliché... não há nada como o tempo para sarar. De qualquer forma, estávamos separados quando isso aconteceu.

- Estavam a divorciar-se?

- Ela andava com outro tipo. De facto, ia visitá-lo quando um camião surgiu de uma rua lateral e Lhe atingiu o carro. Nada pôde fazer.

- Estás a dizer-me que ela te deixou por outra pessoa?

- Sim, é exactamente isso. É por essa razão que nunca mais existiu ninguém. Porque, como posso confiar em alguém depois disso? Megan era minha colega de escola, e casámos mal terminámos o liceu. Pensava que tínhamos um bom casamento, e depois... - Calou-se.

- Jake, eu... lamento imenso.

- Quando alguém nos desaponta, é difícil confiar de novo. Mas depois vi-te sentada no Neiman Marcus, e revelavas uma tal qualidade luminosa, e soube que eras diferente. E agora, alguns dias depois, aqui estamos nós. Deus escreve por linhas tortas, hem?

Foi esmagada por um sentimento de culpa. Por que tinha aquilo que acontecer? Por que se foi apaixonar por um homem a quem nunca poderia contar a verdade? E, como ia ela sair daquela situação? Porque nem pensar em contar-lhe.

- Eia - disse Jake. - Isto não era suposto tornar-se num confessionário. Trata-se apenas de tu e eu a começarmos, não um relatar dos nossos passados. Mas, já que estamos neste tema, há alguma coisa que me queiras contar?

Muito, pensou ela, esmagada pela culpa. Mas nem penses que o vou fazer.

Pôs os braços em redor dele para ocultar a sua vergonha e abraçou-o com força. Ia seguramente transformar aquela noite em algo memorável porque, depois desta noite de paixão, decidiu que nunca mais o voltaria a ver.

- Então - disse Jake, sorrindo. - O que fiz para merecer tal afecto?

- Tudo - murmurou.

E depois ele beijava-a de novo. E, antes que ela se apercebesse, faziam amor pela segunda vez. E foi tão fantástico, tão diferente, tão gratificante.

Quando ela se preparava para atingir outro grande clímax, o telefone tocou, trazendo-a de volta à realidade.

- Ignora - disse Jake, ainda dentro dela, imobilizando-a sob o corpo dele, o contacto dele deixando-a louca.

Kristin interrogou-se quem poderia ser, mas não teve de se questionar por muito tempo porque, ao fim de três toques, o atendedor de chamadas foi accionado.

Oh, Santo Deus, pensou, em pânico. Esqueci-me de desligar a maldita máquina. "

Jake estava tão próximo do clímax que não tinha forma de se escapar e baixar o volume.

- Olá, Kristin, querida" - disse Darlene. - Caramba, o senhor está realmente pelo beicinho por ti. É como uma obsessão. Acreditas que te quer marcar outra vez esta noite e está disposto a largar mais cinco notas das grandes pelo privilégio. Duas vezes numa só noite. Querida, estás bem lançada, - Uma risada. - Qual é o teu segredo? Um pedacinho revestido a marta? Liga-me assim que puderes. O homem está à espera.

 

Madison acordou com Natalie a empurrar-lhe os ombros. - Que se passa? - murmurou.

- Está um detective Tucci ao telefone - disse Natalie, já vestida e preparada. - Não é o detective encarregado do caso de Salli Turner?

- É verdade - respondeu Madison, contendo um bocejo.

- Por que te está a ligar? - perguntou Natalie com curiosidade.

- Porque telefonei para casa dele a noite passada. Não me deixaram chegar até ele no local do crime e pensei que devia falar com ele sobre a gravação que tenho de Salli. - Inclinando-se para a frente, pegou no telefone. - Fala Madison Castelli.

- Miss Castelli - afirmou Tucci, o tom lento e contido. - Pelo que entendo, possui informações para me dar.

- Sim, possuo. Sabe, estive ontem com Salli. Concedeu-me uma entrevista pormenorizada para a minha revista. Tenho de facto a gravação, no caso de estar interessado.

- Estou, seguramente.

- Quer que vá à esquadra?

- É muito simpático da sua parte dispor-se a isso, Miss Castelli, mas estarei na casa de Pacific Palisades toda a manhã. Pode passar por lá?

- Certamente.

- Espero-a o mais breve possível.

- Estarei lá assim que puder.

- Até logo, então.

Madison pousou o auscultador.

- Lá vai ficar hoje Freddie Leon para trás - disse, ironicamente. Natalie deu-lhe uma chávena de café bem merecida.

- Que queres dizer?

- Se me vou encontrar com o detective, como posso falar hoje com Freddie? Estava a contar passar hoje pelo escritório da A. A. I. para visitar Max Steele.

- De qualquer forma não podias - salientou Natalie. - É domingo, estão encerrados.

- Oh, é verdade.

- E no que respeita a Max Steele - acrescentou Natalie. Vem uma história sobre ele no Times. Parece que vai sair da A. A. I. para ocupar um cargo de chefia nos Orpheus Studios.

- Estás a brincar?

- Vem na segunda página.

- Tens a certeza?

- Ficaste surpreendida?

- Ele disse-me que tinha novidades, só que nunca pensei que chegasse tão depressa ao domínio público. É melhor telefonar-lhe.

- É provável que esteja a dormir.

Madison pegou no robe e levantou-se da cama.

- O que se passou depois de me ter ido embora a noite passada?

- Oh, Garth mostrou-se o arrogante de sempre - disse Natalie.

- Estive na estação toda a noite, entrevistei toda e qualquer pessoa que a conheceu e elaborei uma retrospectiva. É uma altura frenética para a Imprensa, toda a gente fala do mesmo. E, assim que descobrirem que estiveste com ela, também tu serás uma sensação dos meios de comunicação.

- Muito agradecida - afirmou Madison, secamente. - Se não tivesses contado ao teu director de informação...

- Que pode ele fazer?

- Contar a outras pessoas, punindo-me pelo facto de eu não ter aparecido no programa de merda dele.

- Não é um programa de merda - afirmou Natalie na defensiva.

- Desculpa, não quis insinuar isso.

- Quiseste, sim!

Madison sentiu-se mal por ter insultado a amiga.

- Então, Nat - disse, calorosamente, - não vamos começar mal o dia. Já conseguiram contactar o marido de Salli?

- Sim, filmaram-no a entrar na casa com aspecto destroçado.

- E o ex dela, Eddie Stoner? Já foi interrogado?

- Andam à procura dele. Ninguém parece conhecer o seu paradeiro.

- Ele é o principal suspeito?

- Pode ser. Caramba! - exclamou Natalie. - Podes imaginar o que os tablóides vão fazer com a história dele?

Madison anuiu.

- Há-de acabar por se tornar num novo circo, tipo O. J. e Nicole.

- Exactamente - disse Natalie. - Só que, desta vez, não poderão jogar a carta da perseguição. Graças a Deus!

- Não, mas podes apostar que vão jogar a carta do sexo - afirmou Madison. - Sabes como é, loura sexy, grandes mamas, todas essas tretas sexistas... como se Salli estivesse a pedi-las.

- Achas que sim?

- Sei que será assim. Era bonita, rica, sexy e mulher. Demasiados atributos para ter direito a um tratamento justo. - Madison suspirou. - Tudo isto me deixa enojada. Ontem estava viva, hoje morta. Não consigo acreditar.

- Nem eu - disse Cole, entrando no quarto. - Ouvi no canal cinco que o pai de Salli apanhou um voo de Chicago para assistir a um funeral privado amanhã. Gostaria de estar presente.

- Isso vai ser difícil - disse Natalie. - Salli tinha muitos admiradores e todos hão-de querer presenciar.

- Mesmo assim, gostaria de ir - disse Cole.

- Também eu - concordou Madison. - Como podemos tratar disso?

- Vou ver o que consigo descobrir - disse Natalie. - Agora tenho de regressar ao estúdio. Depois, Luther quer levar-me a almoçar e, rapariga, não vou deixá-lo escapar.

Assim que Natalie saiu, Madison decidiu telefonar a Max Steele. TInha o número de casa, pelo que pegou no telefone e foi atendida de imediato.

- Olá, Max - disse. - Fala Madison... recorda-se? Pequeno-almoço. ontem?

Ele parecia grogue.

- Que se passa?

- Li as suas novidades.

- Novidades?

- Contou-me que tinha uma novidade para contar; no entanto não me disse que ia aparecer hoje.

- Que novidade? - disse Max, atirando para trás as cobertas da cama, apercebendo-se de que estava com uma terrível ressaca.

- É verdade que vai assumir o cargo de Ariel Shore no Orpheus?

- Merda! - disse, sentando-se. - Onde ouviu isso?

- Está no Times.

- Cristo! - exclamou. E percebeu logo o que se passou. Freddie abrira a porta antes de ele estar preparado para sair e correra com ele. No duro. Agora Billy Cornelius ficaria furioso e nada podia fazer a esse respeito.

- Só entre nós os dois - disse Madison. - Importa-se de me dar o número de casa de Freddie Leon?

- Porquê? - disse Max, suspeitando. - Quer falar com ele sobre isto?

- Não, não tem nada a ver consigo. Tento apenas descobrir tudo o que puder sobre ele. É por isso que vim até cá.

- Se quer saber coisas sujas sobre Freddie, fale com a secretária dele, Ria Santiago. Sabe coisas que mais ninguém sabe.

- Por acaso tem o número de telefone dela?

- Sim, eu dou-lhe os dois números. - Nada como uma pequena vingança", pensou Max.

Madison desligou e consultou o relógio. Era demasiado cedo para telefonar a mais alguém. Acordar Max era uma coisa, mas pensou que o melhor seria ser simpática e deixar os outros dormir mais uma hora, embora tivesse a certeza de que Freddie costumava levantar-se cedo - tinha esse tipo.

Enquanto aguardava, telefonou a Victor em Nova Iorque, onde eram três horas mais tarde.

- Tenho as rotativas à espera da sua história - disse Victor. Preciso dela para ontem.

- Vou falar com o detective encarregue do caso esta manhã. Assim que regressar, escrevo-a e envio-a por fax.

- Óptimo - disse Victor. - E talvez possa incluir o nome do assassino.

- Sim, claro, Victor - afirmou. - Por que não? Simples.

- Não é necessário ser sarcástica, Maddy. Falo depois consigo.

- Sim, Victor, depois.

 

Ariel Shore chegou a casa de Billy Cornelius às oito da manhã e insistiu em vê-lo. Ethel, a sua esposa, dormia ainda. O mordomo, um homem prudente, não acordou Ethel. Conduziu Ariel para a sala de estar, onde esta aguardou impacientemente por longos dez minutos.

Quando Billy finalmente apareceu, ela arremessou-Lhe o L. A. Times na cara.

- Que é isto? - disse, entre dentes cerrados, assomando acima dele.

Billy Cornelius fitou mal humorado o jornal.

- De que estás a falar? - disse, o olho esquerdo piscando.

- Desta ridícula história sobre Max Steele ir ficar com o meu posto de trabalho - disse Ariel. - Lê.

Billy deu uma vista de olhos pela notícia, com olhos salientes e vermelhos.

- Isto não passa de invenções - afirmou.

- É bom que seja - afirmou Ariel, severamente. - Porque tenho a certeza de que não queres que Ethel saiba sobre nós.

Billy enrugou o lábio.

- Não farias isso, Ariel.

- Pensa bem, Billy, podes crer que sim.

- Prometeste.

- Sei o que prometi - disse, andando de um lado para o outro,

- E sei o que tu prometeste. Se faltares à tua promessa, eu poderei fazer o mesmo. Afinal, que história é esta em relação a Max Steele?

- Contava informar-te - disse Billy - Pensei em admiti-lo como chefe de produção. Nada de definitivo.

Ela ergueu o sobrolho com repugnância.

- Sem me informares?

- Max poderia ser útil, conhece toda a gente.

Ariel plantou-se diante do seu, assim chamado, chefe.

- Escuta-me, Billy, e escuta atentamente. Sou eu quem dirige o estúdio. Não tomas decisões desse tipo sem que eu formule opinião. Max Steele não terá nada a ver com o Orpheus. Nada. Está perfeitamente claro? Porque, se não estiver, tenho a certeza de que Ethel tornará as coisas muito claras.

- Não tens que te preocupar - disse Billy, acalmando-se perante a fúria de Ariel.

- E, da próxima vez que agires por detrás das minhas costas - disse Ariel, os olhos reluzindo perigosamente -, é melhor teres cuidado. Quero que te retrates, e quero vê-lo no jornal de segunda-feira. Estamos entendidos, Billy?

Billy Cornelius anuiu. Podia ser um dos homens mais ricos da América mas, quando Ariel Shore gritava, ele saltava.

 

Quando Diana despertou na manhã de domingo, apercebeu-se de que Freddie não regressara a casa na noite anterior. Não era a primeira vez que ficava fora toda a noite.

Apesar de tudo, sentia-se furiosa. Como se atrevia ele a simples mente voltar as costas e não regressar?

E onde estaria ele exactamente? Não estava preocupada com a existência de outras mulheres - Freddie nunca fora um ser sexual. Mesmo no início do casamento, faziam amor com pouca frequência; alguns anos depois, deixaram por completo de fazer amor.

Não, não era outra mulher. Era a forma de Freddie a magoar. Primeiro estragou a festa, depois ficou fora toda a noite. Como conseguia ser um verdadeiro filho da mãe.

As crianças encontravam-se com a mãe dela, em Connecticut, pelo que a casa estava bastante tranquila. Levantou-se da cama e desceu as escadas para a cozinha. Os empregados fizeram um óptimo trabalho no que respeitava à limpeza.

Abrindo o frigorífico, observou as sobras, impecavelmente cobertas com película aderente. Sempre apreciara hors d'oeuvres frios, pelo que pegou num rolo de ovo e engoliu-o sem pensar. Andou depois pela casa, assegurando-se de que tudo se encontrava no devido lugar e que o pessoal externo de serviço à festa não roubara nada. Diana vivia com o medo que alguém a roubasse. Talvez devido ao facto de ter sido criada por pais extremamente rígidos em Utá, os quais suspeitavam de que toda a gente roubava. Nunca se esquecera da severa educação.

O L. A. Times de domingo encontrava-se impecavelmente disposto sobre a mesa da cozinha, ao lado do New York Times. Habitualmente, era Freddie quem lhes pegava primeiro; era fastidioso quanto aos jornais e não gostava que ninguém lhes tocasse antes dele. No entanto, hoje Diana sentia que era seu dever amarrotá-los um pouco antes de ele chegar a casa.

O título de um artigo na página dois chamou-lhe a atenção.

 

ARIEL SAI, MAX ENTRA.

MAX STEELE VAI DEIXAR A A. A. I. E JUNTAR-SE AO ORPHEUS

 

Como pôde aquela informação chegar tão depressa aos jornais? Alguém deve ter falado anteriormente, muito antes do confronto entre Freddie e Max.

Diana leu rapidamente a história e depois correu para o telefone. Max atendeu de imediato.

- Sim? - disse, num tom de voz muito pouco amigável.

- Max, fala Diana. Podemos encontrarmo-nos?

- Porquê? - perguntou, com suspeita.

- Há uma coisa que gostaria de falar contigo.

- É sobre Freddie?

- Ele não pode saber que nos encontrámos.

- Como quiseres, Diana.

- Às nove e meia no Four Seasons. Na sala de jantar.

- Lá estarei - respondeu Max.

- Óptimo - disse Diana. Sabia que ele não a deixaria ficar mal.

 

Eddie Stoner foi despertado de um sono induzido pelo álcool às seis da manhã de domingo por dois polícias corpulentos, que irromperam rudemente pelo apartamento e o informaram de que estava detido. Na altura estava sem namorada, pelo que não havia ninguém para impedir aquela forma de entrada dos agentes.

- Mas que merda é esta? - murmurou Eddie, quando o instruíram para que saísse da cama.

- Multas de estacionamento - disse o polícia número um. Tem um total de trinta e quatro, todas por liquidar. Está preso, companheiro, por isso, vamos embora.

- Multas de estacionamento! - disse Eddie Stoner, atirando o lençol para trás, sabendo que estava nu e não se importando. Os polícias que vissem bem o que eles não tinham.

- Sim, multas por pagar - disse o polícia número dois começando a ler-lhe os direitos.

- Santo Deus! - resmungou Eddie, estendendo as mãos para as calças. - Vocês não têm nada melhor para fazer?

- Onde arranjou esse arranhão no peito? - perguntou o polícia número um.

- Não sabia que o facto de ter multas de estacionamento significava ter de explicar o meu estado físico - respondeu ele, passando a mão pelos cabelos louros imundos. - Também tenho um no cu... querem ver? A minha namorada tem unhas terríveis.

- Vista-se! - disse o polícia número dois.

Eddie Stoner encolheu os ombros e vestiu uma t-shirt e uns ténis.

- Foda-se! - disse. - Vão prender-me por causa de multas de estacionamento. Quem havia de acreditar nisto?

 

Madison foi ouvindo a gravação ao conduzir o carro alugado em direcção à casa de Salli. Fazia realmente partir o coração escutar Salli a explicar a sua vida pelas suas próprias palavras - exactamente como Madison recordava. Achou particularmente interessante quando Salli falou sobre Eddie Stoner. Basicamente, Eddie é bom tipo, dissera Salli. Apenas frustrado, porque a mãe o deixou como louco. Nunca o largava nem por um minuto, e transmitiu-lhe um sentimento de culpa por o pai dele os ter abandonado quando Eddie tinha doze anos. Pelo que sempre se sentiu como que responsável por ela. E ela adorava rebaixá-lo... dizendo-lhe que era um vadio e que não prestava. Penso que ele Lhe queria provar o contrário. Ela odiava-me, achava que eu era uma vagabunda. Disse-mo na cara.

Bom, tenho de confessar... Eddie espancou-me uma série de vezes.

Mas a culpa não era dele e, mais tarde, mostrava-se tão simpático e carinhoso, rogando-me que lhe perdoasse. Apesar de tudo, tive de escapar, pois, de outro modo, ter-me-ia afundado com ele.

Madison escutava a voz dela na fita.

- Se bem me lembro, Salli, disse-me no avião que Eddie era um actor com problemas psíquicos, uma verdadeira nulidade, que a processou, exigindo pensão de alimentos. Disse-me também que ele ainda acredita que, um dia, o receberia de volta.

- Uau! - De novo a voz de Salli. - Você tem boa memória.

- Então, em que ficamos? Era um tipo amoroso? Ou um espancador de mulheres?

- Um pouco de ambas as coisas - disse Salli. Depois, melancolicamente... - Mas devo tê-lo amado em alguma altura.

Madison desligou a gravação. Desejava ter feito mais perguntas sobre Eddie Stoner. Agora, era tarde de mais.

- Agradeço-lhe ter vindo, Miss Castelli - afirmou o detective cumprimentando-a na entrada. Era um homem alto e robusto de cabelos castanhos e olhos azul-esbatidos. Algo atraente, pensou Madison, enquanto ele lhe dava o braço e a conduzia para o interior da casa. Passar pelo hall sem Salli para a saudar causou-Lhe uma sensação estranha. Automaticamente, olhou para o gigantesco retrato. Continuava lá, sorrindo para todos.

- Estou apenas a cumprir o meu dever - respondeu. – Quando sair daqui, vou escrever um artigo para a minha revista, e pensei que devia informá-lo do que tenho, no caso de se revelar útil para a sua investigação.

- Foi muito simpático da sua parte, Miss Castelli.

- Na gravação, Salli fala do ex-marido, Eddie Stoner. Quando viemos juntas no mesmo avião para L. A. há dois dias atrás, contou-me que ele sempre tivera a esperança de voltarem a ficar juntos.

Pensa que ele pode ter...

- Mr. Stoner encontra-se já em custódia por violação de multas de estacionamento - disse Tucci. - É claro que esta é uma informação não oficial, não para ser publicada. Posso confiar em si, não posso, Miss Castelli?

- Por favor, trate-me por Madison - disse, anuindo. – Falei com a sua esposa. Foi muito simpática ao telefone.

- Faye é uma boa mulher.

- Salli era uma rapariga fantástica! - disse Madison. – Você viu apenas a imagem pública, mas, conhecê-la, era verificar que possuía uma ternura intrínseca. Estou tão entristecida com esta tragédia horrível.

- Tal como todo o mundo - afirmou Tucci. - Existem já diversos sites na Internet para a discussão do assassinato dela.

- Posso imaginar.

- Posso ouvir a gravação no meu escritório? - disse Tucci.

Talvez depois possa fazer algumas perguntas a respeito dela.

- Fiz uma cópia para si.

- É muito organizada.

- Sou uma boa jornalista.

- Assim o disse a minha esposa. Fala com grande apreço do seu trabalho. Faye tem tempo para ler revistas, eu não.

Madison riu-se, cortesmente.

- Você é de cá? - inquiriu.

- De Nova Iorque - disse Madison. - Estou em L. A. para preparar uma história sobre Freddie Leon.

- Receio não saber quem é.

- Mas a sua mulher deve saber.

- Oh, sim, Faye... sabe tudo sobre o mundo do espectáculo.

Madison sorriu de novo. Gostava daquele homem; era caloroso e parecia preocupar-se. - Conheceu o empregado ontem? - perguntou tucci.

- Froo. Sim, conheci. Deduzo que é a outra vítima.

- Pensamos que ouviu barulho e veio investigar.

- Bom, detective, se houver algo que eu possa fazer, por favor, não hesite em telefonar-me.

- Diz que ela possuía uma certa doçura?

- É verdade.

- Gostaria de resolver este caso.

- Diga-me... acredita que possa ter sido o ex-marido? Tucci abanou a cabeça.

- Nunca me ponho a adivinhar. Hoje, com o ADN, poderemos descobrir rapidamente.

- Exactamente como fizeram com Nicole Simpson, certo? - disse Madison, incapaz de resistir à piada.

- Esse foi um caso mal conduzido.

- Tenho a certeza de que vocês não vão conduzir mal este. Acredito que farão justiça a Salli.

- É essa a minha intenção, Miss Castelli, essa é seguramente a minha intenção.

 

Max não conseguia acreditar no que lhe estava a acontecer. Num momento era sócio da agência de talentos de maior sucesso em Los Angeles, no seguinte estava a ponto de dirigir um estúdio, e, agora, Billy Cornelius acabara de Lhe ligar, dizendo-lhe que as coisas se tinham alterado e que não havia condições para trabalharem juntos.

- Mudaram como? - gritara Max.

- Nunca devias ter dado com a língua nos dentes - dissera Billy - Agora é tarde de mais. O acordo fica sem efeito.

Max estava furioso. Agora teria de rastejar para Freddie e dizer: Vamos esquecer e perdoar. " Só que Freddie não era do tipo de perdoar. Toda a gente sabia isso.

Max não conseguiu evitar de pensar em Inga Cruelle. Sempre tivera grande sucesso junto das mulheres. Como se atrevia ela a tratá-lo como um tipo vulgar?

Consultou o seu Rolex de ouro. Estava quase na hora de se encontrar com Diana. Antes disso, contudo, havia algo que tinha de fazer. Tinha um plano.

Dirigiu-se ao telefone e ligou para Kristin. Para seu aborrecimento, foi atendido pelo gravador de chamadas.

- Olá, fofinha - disse. - Fala Max Steele. Tomei uma decisão. Vou tirar-te dessa vida, querida. Tornar-te exclusiva. Dizes-me quanto vai custar isso e tratarei de tudo. - Fez uma breve pausa, bastante satisfeito consigo próprio. - Tenho andado a pensar. Quero que fiques comigo. Sabes, necessito de alguém como tu por perto, alguém que me mantenha no caminho certo. Posso apresentar-te pessoas, mudar-te a vida. Nunca ninguém saberá quem tu és, nem o que eras. Isto vai resultar, Kristin. - Outra pausa. - Tenho um encontro para o pequeno-almoço, por isso liga-me a qualquer hora depois do meio-dia para falarmos. Okay, querida?

E, quando desligou, estava convencido de que a tinha. A linda Kristin ao seu lado mudar-lhe-ia a sorte.

Diana preparava-se para sair de casa quando Freddie entrou. Vinha com a barba por fazer, os olhos brilhantes, a roupa amarrotada - muito pouco adequado para um homem tão meticuloso como Freddie Leon.

- Meu Deus! - disse Diana, fitando o marido, desalinhado. Parece que dormiste vestido. Que hotel te aceitou com esse aspecto?

- Diana, deixa-me em paz - disse Freddie, passando por ela para subir as escadas. No que lhe dizia respeito, Diana tinha mais inconveniências do que conveniências.

- Sim, Freddie, deixo-te - disse. E partiu para estabelecer o seu futuro com Max Steele.

 

Na praia de Malibu, dois adolescentes corriam para o mar, Usavam fatos de borracha pretos e tinham as pranchas de surf enfiadas debaixo dos braços.

- Grandes ondas, companheiro - disse um.

- Do melhor - concordou o segundo.

Quando se preparavam para entrar na água, repararam num emaranhado de cabelos louros compridos e num delicado braço preso nas algas.

Olharam um para o outro.

- Com mil diabos! Que é aquilo?

- Parece um corpo.

Juntos, removeram a forma sem vida da água e estenderam-na na areia.

O corpo era de uma mulher. Linda, loura e muito, muito nua.

Outro assassinato.

Outro lindo dia em L. A.

 

Os meios de comunicação estavam num autêntico frenesim. Uma bonita loura, um símbolo sexual, Salli T., estrela da série de TV Teach fora assassinada; e o circo estava numa roda-viva. A sua luxuosa mansão em Pacific Palisades estava cercada por carrinhas da televisão, pelas suas equipas, repórteres, e a população em geral era mantida por detrás de barreiras da Polícia.

A matança de Salli e do seu empregado, Froo, atingira já o estatuto das mortes de Nicole Simpson/Ron Goldman.

Nada agradava mais aos media do que um bom, sumarento e violento homicídio, e Salli Turner era a vítima perfeita. Uma deusa loura, era conhecida em todos os continentes como a rapariga do fato de borracha preto, graças ao sucesso a nível mundial do seu programa de televisão e das suas inúmeras fotos em numerosas revistas populares - incluindo três capas da Playboy.

Salli fora casada por duas vezes. O actual marido era Bobby Skorch, um duplo, cuja profissão era executar cenas perigosas. Quando Bobby regressou a casa, vindo de Vegas, às três da manhã, Tucci confrontara-o com as chocantes notícias. Bobby pareceu ficar tão destroçado que se trancou no quarto principal e se recusou a sair.

O anterior marido de Salli, Eddie Stoner, um actor de segunda, encontrava-se actualmente preso por violações de estacionamento. A detenção, contudo, tinha um objectivo - a Polícia queria tê-lo sob custódia para que pudessem interrogá-lo, e trinta e quatro multas por liquidar pareceram uma boa forma de o conseguir.

O detective Chuck Tucci estava encarregue do caso. Homem de boa compleição física e atraente, com quarenta e muitos anos, tivera duas horas de sono na noite anterior e sentia agora os efeitos. Tinha também consciência de que, muito em breve, teria de dar uma conferência de Imprensa, para satisfazer os meios de comunicação que pairavam no exterior da casa da estrela assassinada como abutres esfomeados, aguardando que algo lhes fosse atirado para as bocas abertas. O detective tucci sabia exactamente o que lhes gostaria de atirar - diversas granadas de mão.

Bem cedo de manhã, a sua compreensiva esposa, Faye, arranjara-lhe um pequeno lanche - uma lata de corned beef, uma sanduíche de alface e tomate, a sua favorita, e uma caixa com salada de repolho cru, preparada por ela, que sabia que ele adorava. Não fora jantar na noite anterior e, quando por fim chegou a casa, às tantas da madrugada, Faye estava a dormir. No entanto, assim que ele fez barulho suficiente para a acordar, Faye levantou-se e, apesar do facto de ele supostamente estar de dieta, apressou-se a ir à cozinha e a preparar-lhe um delicioso prato de ovos mexidos. Faye era uma boa mulher, e também muito atractiva; enérgica, com sangue hispânico, era uma Vénus pequena, com uma massa de cabelos negros e olhos castanhos gentis. O detective Tucci dava frequentemente graças pelo dia em que a conheceu; estava a investigar um homicídio em Malibu, e ela era a assistente social que fora enviada para recolher as duas crianças que habitavam na casa. Três meses mais tarde estavam casados.

A noite passada, engoliu o prato de ovos que ela lhe preparara e rogara por mais.

- Não podes comer mais nada a estas horas da noite - repreendera Faye, acenando-lhe um dedo de desaprovação. - Faz-te mal ao estômago.

Fazia-lhe mal ao estômago Se tivesse oportunidade, teria devorado tudo à vista, apesar de o facto de ter passado a noite com dois cadáveres - Salli Turner, esquartejada pelo louco assassino, e Froo, o empregado, com um tiro no rosto -, dois corpos cheios de sangue que tivera de inspeccionar e observar serem fotografados.

Por fim, quando os forenses terminaram, viu os cadáveres serem removidos para posterior autópsia e, de seguida, rondou pela casa, tomando copiosas notas no seu caderno de apontamentos gasto, de capa de couro azul. Depois disso conversou com os vizinhos, e, agora, ao sol da manhã, tudo o que restava eram as marcas a giz, revelando

onde exactamente as infelizes vítimas tinham caído.

O detective Tucci abanou a cabeça e tentou não pensar em comida. O lanche que trouxera encontrava-se na cozinha, onde permaneceria até se sentir desesperado. Aguardava agora a ocasião de conversar com Bobby Skorch. Há algumas horas atrás, o advogado de Bob, Marty Steiner, chegou à casa e seguiu directamente para o quartel, onde conferenciava com o seu cliente há duas horas. Marty era a personificação da calma, com o cabelo prateado penteado para cima, rosto convencido e dispendioso fato de treino. Era um homem obviamente determinado a aparecer nos jornais. Com um só olhar, tucci catalogou-o de imediato de advogado de Hollywood", e como tivesse prometido a si mesmo nunca fazer julgamentos precipitados, Confrontado com Marty Steiner, a tentação revelou-se irresistível.

Consultou o relógio, reparando que a correia castanha de couro estava gasta e que precisava de comprar outra. Talvez no próximo fim-de-semana ele e Faye fossem às compras. Faye adorava passear pela Third Street, vendo as lojas e, desde que parassem para comer um hamburguer ou um cachorro, ele não se opunha.

Agora que a sua mente estava voltada para a comida, a sua sanduíche, impecavelmente envolta em película aderente, depositada na cozinha, chamava por ele. Desistiu por fim e apressou-se a seguir para a cozinha.

Eppie, a roliça criada filipina de meia-idade de Salli Turner, estava sentada na extremidade de um longo balcão de mármore, chorando perante um copo de leite e um prato cheio de bolachas.

tucci questionara-a já; entre soluços, disse-lhe que não sabia de nada. Segundo Eppie, chegava a casa todas as manhãs às oito e saía às três da tarde. Quando saiu, ontem, Missy Salli - como chamava à patroa - estivera a almoçar feliz junto da piscina. Perguntou-lhe sobre Bobby Skorch.

- Eles muito apaixonados - respondera Eppie, chorosa. - Sempre rindo.

Bom, Bobby Skorch não ria agora, pensou Tucci, severamente. E também não falava. Não que fosse obrigado a fazê-lo... mas, se não o fizesse, levantaria fortes suspeitas sobre ele.

Os olhos de Tucci desviaram-se para a extremidade do balcão de mármore onde deixara a sanduíche. Desaparecera. Tal como a caixa de salada de repolho cru feita em casa.

- Eu... ah... deixei ali alguma comida - disse, tentando ignorar o estômago que protestava ruidosamente.

- O quê? - disse Eppie rudemente, como se não acreditasse que ele pensasse em comida numa altura daquelas.

- Uma sanduíche - disse, pigarreando. - E uma caixa com salada de repolho.

- Oh - respondeu Eppie vagamente, baixando os olhos vermelhos e inchados. - Não sabia que era seu. Comi tudo.

- Comeu tudo? - afirmou Tucci, incrédulo.

- Peço desculpa - disse Eppie, enfiando outra bolacha na boca.

- Foi apenas para calar o estômago. - Depois, apercebendo-se que o detective não ficara satisfeito, começou de novo a soluçar, quase se engasgando com a bolacha.

- Raios partam! - murmurou Tucci entre dentes, no preciso momento em que o seu parceiro, Lee Eccles, que fora chamado quando se encontrava de férias numa viagem de pescaria, chegou.

- Caramba! - exclamou Lee. - Aquilo lá fora parece um circo.

- Que raio se passou aqui?

 

Madison Castelli estava sentada diante do computador portátil na mesa da cozinha, tentando diligentemente compor uma história

sobre Salli Tuzrner. Não era fácil. Há alguns dias atrás apanhara um avião no local onde residia, Nova Iorque, para ficar com a sua companheira de quarto, a repórter de TV de programas de entretenimento Natalie DeBarge, e para realizar uma entrevista com o poderoso superagente Freddie Leon. No avião, sentara-se ao lado de Salli e começaram a conversar. No início, Madison considerara Salli como o protótipo das bonecas de Hollywood mas, passado algum tempo, a sua opinião alterou-se e deram-se muito bem. Mais tarde, quando Salli descobriu que Madison trabalhava para a revista de elevado prestígio, Manhattan Style, quis de imediato aparecer nela, pelo que combinaram encontrar-se para uma entrevista.

No dia do brutal assassinato de Salli, Madison almoçara com ela na sua sumptuosa mansão em Pacific Palisades, onde agiram como duas amigas, conversando sobre tudo e todos. Na verdade, fora Salli quem mais falara, limitando-se Madison a escutar - mas isso era o que faziam os bonsjornalistas, e não havia dúvida de que Salli tinha muito para contar.

Agora estava morta e Madison sentava-se diante do computador, fitando o ecrã. Fora já a casa de Salli e contara ao detective encarregue da investigação tudo o que sabia. Entregara-lhe também uma cópia da gravação áudio que fizera da entrevista com Salli. Ele dissera que a iria ouvir mais tarde e que lhe telefonaria se houvesse alguma coisa que quisesse discutir com ela.

Puxando para trás o longo cabelo negro, suspirou profundamente,

De certa forma, o melhor seria transpor tudo para o papel; contudo, por outro lado, estava tão perturbada com a morte de Salli que não

tinha a certeza se conseguiria escrever com absoluta isenção.

Batendo com os dedos sobre a mesa, interrogou-se sobre o que dizer sobre a mulher que todos pensavam conhecer mas que, de facto, não conheciam. Salli Turner, a estonteante loura-platinada aparecia regularmente no E. T. e Hard Copy, e em todos os tablóids - fotografada a entrar para festas, a emergir de clubes e discotecas, trajando reveladores vestidosjustos de borracha e sapatos de saltos excepcionalmente altos, a generosa clivagem sempre em destaque, parecia estar sempre a acenar e rindo, o largo sorriso iluminando a noite.

Apesar de tudo, sob os seios e abundância de cabelos louros, existia uma rapariga muito simples, uma rapariga muito amável. E, embora só se tivessem conhecido por pouco tempo, Madison gostara muito dela, pois Salli possuía uma ingenuidade e frescura surpreendentemente atractivas.

Fechou abruptamente o computador portátil. Não Lhe apetecia escrever; apetecia-lhe chorar. Aquele assassinato não fazia nenhum sentido. Por que acontecera? Que fizera Salli para merecer um tal ataque de violência?

Madison sabia o que devia fazer - esquecer-se dos homicídios e concentrar-se em Freddie Leon, dado que era o principal objectivo da sua viagem a L. A. e não fizera virtualmente nada para arranjar uma entrevista. É claro que o esquivo Freddie Leon era famoso por não conceder entrevistas, mas Victor Simons, o seu editor de Nova Iorque, assegurara-lhe que a conseguiria arranjar.

Sim, Victor, pensou, mal humurada. Para quando? A fim de desviar a mente de Salli, Madison decidiu ligar à secretária que trabalhava há muito para Freddie Leon, Ria Santiago

- cujo número privado conseguira obter através do antigo sócio de Freddie, Max Steele. Tinha de deixar de pensar em Salli; era tudo demasiado obscuro e deprimente, e estivera já suficientemente deprimida quando partiu para L. A. David, o seu namorado durante dois anos, largara-a e casara logo de seguida com a apaixonada de infância. Maldito David! Por que não foi honesto para com ela? Aquele cobarde saíra para comprar um maço de cigarros e não voltou mais. Oh, sim, deixara-lhe um estúpido bilhete onde afirmava que não conseguia lidar com compromissos, e, depois, cinco semanas mais tarde, casou!

Homens! Estava farta deles. Por que não conseguia encontrar um como o pai, Michael, que, aos 58 anos, era o homem com melhor aspecto e mais simpático que conhecia? Ele e a sua bonita mãe, Stella, tinham um casamento idílico. Estavam juntos há trinta anos e praticamente nunca ficaram uma noite separados. Madison sentia a falta deles desde que deixaram o elegante apartamento de Nova Iorque e se mudaram para Connecticut. Decorrera já demasiado tempo desde que passara um fim-de-semana com eles e, mal terminasse em L. A. era exactamente o que iria fazer.

Toda a gente dizia a Madison que ela era a versão feminina do pai, o que secretamente Lhe agradava, porque o adorava - era poderoso e encantador, duas qualidades que admirava especialmente. Além do mais, não desejava competir com a mãe, que era loura e deliciosamente feminina. Madison gostava de ser alta e encorpada, com uma pele suave cor de oliva, cabelos negros e olhos directos em forma de amêndoa. E os seus lábios - os homens apaixonavam-se pelos seus lábios, que eram cheios e sedutores, algo sobressaídos. No entanto, Madison não era uma rapariga tola, desprezando o aspecto físico a favor da esperteza. Adorava competir com rapazes e ganhar-lhes. Talvez fosse isso que assustou David, pensou, pesarosamente. Não suportou a competição.

Antes que conseguisse marcar o número de Ria Santiago, Cole, o irmão de Natalie, treinador físico, entrou na sala. Cole era homossexual, de forma intensamente masculina, e demasiado atraente para seu bem. Também conhecera Salli e, tal como todos em L. A. naquela tranquila manhã de domingo, pensava na morte violenta dela.

- Olá - disse, pegando na cafeteira do café.

- Olá - respondeu Madison.

- Foste falar com o detective? - perguntou Cole, servindo-se de uma caneca de café simples.

- Claro que sim.

- Algo de novo?

- Que eu saiba, nada.

- É uma merda - murmurou Cole, puxando uma cadeira e sentando-se. - Salli não merecia acabar assim.

- Eu sei - afirmou Madison, concordando sombriamente. Cole pegou no comando da televisão e ligou para o canal E, onde mostravam já uma retrospectiva montada rapidamente. Ali estava Salli de vermelho. Salli de azul. Salli com um vestido justo. Salli no seu famoso fato de banho preto em borracha. Apareceu depois a estrela masculina de Teach um actor que passara já os tempos de juventude e que ainda se considerava um garanhão.

- Toda a gente estava apaixonada por Salli, - disse o actor, todo ao estilo de Hollywood, com umas calças de linho e uma camisa de seda aberta no peito, os dentes descobertos captando a luz. Salli era uma pessoa muito especial.

Intervalo para publicidade.

- Não te importas de mudar para o canal de Natalie? – pediu Madison.

Cole satisfez-Lhe o pedido. Ali estava Natalie no ecrã, vibrantemente negra e bonita, trajando um casaco rosa-vivo e um vestido branco, curto.

- A Salli que todos conheciam e amavam era oriunda de uma pequena cidade nos arredores de Chicago" - dizia Natalie. descobrimos, através da família e amigos, que, desde que começou a dar os primeiros passos, queria ser actriz.

Apresentação de fotografias de Salli em bebé. Uma gorduchinha querida. E depois surgiu uma amiga da família" - uma mulher de rosto de pedra com cabelo ruivo mal pintado e um tique na pálpebra.

- Conhecia Salli desde os dois anos de idade, - crocitou a mulher, a voz num tom estridente impregnado de gim. - E conhecê-la era amá-la.

- Santo Deus! - murmurou Madison. - Hão-de aparecer de todo o lado.

- Quem? - perguntou Cole.

- Pessoas que a conheceram uma vez na vida. É a oportunidade de glória para eles.

- Acho que tens razão.

- Acontece sempre que alguém famoso morre.

- É - concordou Cole.

- Onde está a família dela? A mãe?

Cole esfregou o queixo com uma barba curta.

- Ela não te falou na mãe quando a entrevistaste?

- Esquivou-se... não quis forçar.

Cole respirou fundo, a fisionomia bonita francamente séria.

- A mãe de Salli foi assassinada quando ela tinha dez anos. Era o seu grande segredo.

Madison sentiu um arrepio frio percorrer-lhe a espinha.

- Como sabes isso? - inquiriu.

Cole ficou em silêncio por momentos antes de responder.

- Houve uma altura em que eu e Salli estivemos muito chegados - disse, recusando-se a estabelecer contacto visual. - Ela via-me como uma espécie de desafio... sabes como é, o gajo giro que não estava interessado em ter sexo com ela. Deixava-a louca. Salli gostava de pensar que podia ter qualquer homem que ela fixasse. Sexo era a sua grande validação, a zona de conforto.

Madison ergueu um sobrolho.

- E conseguiu ter-te?

- Uma vez - admitiu Cole, timidamente. - Pelo amor de Deus, não contes a Natalie.

- Claro que não.

- Foi antes de ela se tornar realmente famosa.

- Foi nessa altura que o marido de então, Eddie, ficou com ciúmes de ti?

- Suspeitava que algo se passava, embora soubesse que eu era homossexual. Por isso, obrigou-a a deixar-me como treinador.

- Não entendo - disse Madison, franzindo o sobrolho. - Se és totalmente homossexual, como conseguiu ela.

- Eia - disse Cole, erguendo o braço bem musculado. - Sou homossexual, não estou morto. E Salli sabia exactamente o que fazer para me excitar. Era perita em sexo. Era o jogo dela, e caramba. aquela rapariga jogava sempre para ganhar.

Madison anuiu, compreendendo. Nada a surpreendia realmente.

E Cole estava certo, o que mais agradava a Salli era ser o centro das atenções.

Cole levantou-se.

- Vou dar uma caminhada - disse. - Queres vir? Ela abanou a cabeça; toda a gente era tão enérgica em L. A. Não saberiam como descontrair?

- Hoje não - disse. - Estou a contar entrevistar a secretária de Freddie Leon.

- Eh, rapariga, não sabes o que perdes - disse Cole, dirigindo-se para a porta. - Não há nada que chegue a uma boa caminhada pelas colinas para nos ajudar a limpar a cabeça.

- Obrigada pela oferta - disse, pegando na cafeteira e voltando a encher a chávena. - Talvez noutra altura.

Mal ele partiu, Madison ligou para Ria Santiago, identificou-se e disse à secretária que estava a escrever um artigo sobre Freddie Leon para a Manhattan Style e gostaria de dispor da oportunidade para se encontrarem e conversarem.

A resposta de Ria foi fria.

- Mr. Leon sabe disto?

- Conto encontrar-me com ele amanhã.

- Duvido - respondeu Ria. - Mr. Leon não concede entrevistas.

- Estou certa de que fará uma excepção.

- Estou certa de que não o fará.

E a cabra desligou.

 

Kristin Carr estava sentada diante do espelho do toucador, fitando o seu reflexo louro e bonito. Sabia que, aos 23 anos, era inegavelmente linda, mas sabia igualmente que, o que se reflectia, era meramente a sua imagem exterior. Por dentro, era uma prostituta e estava segura de que toda a gente o sabia.

Prostituta, mulher da vida, rapariga de programa, puta. Todas designações que descreviam a sua profissão. Não que fosse uma profissão que tivesse deliberadamente escolhido. Não, fora um caminho que seguira porque era a única coisa que podia fazer para ganhar dinheiro suficiente para manter a irmã, Cherie, numa clínica privada, onde se encontrava em coma há três anos e meio - desde o acidente de viação que tivera com o suposto namorado dela, Howie Powers, o pior tipo de playboy de Hollywood. Howie safara-se do acidente frontal apenas com arranhões; Cherie nunca recuperara:

Vendo o corpo pelo todo-poderoso dólar, pensou Kristin, tristemente. Permito que os homens me usem à sua vontade. Sou carne. Eles devoram-me. E todos são felizes. Todos menos eu.

Veio-lhe à mente o sinistro Senhor e estremeceu. As suas exigências doentias ultrapassavam a mera tara, mas pagava bem pelo privilégio de a humilhar. E era por essa razão que a sua madame, Darlene, telefonara na noite anterior, deixando recado no atendedor, que o Senhor pedira para a ver de novo - mesmo depois de ter estado já com ele nessa noite.

O problema era que Kristin decidira ter vida própria - por muito que o seu íntimo a alertasse contra isso. Em lugar de dar ouvidos à sua sensatez, perdera-se de amores por Jake Sica - um premiado fotógrafo, que trabalhava por conta própria, que conhecera no Neiman Marcus. Depois de um encontro e meio, estavam juntos na cama. Na cama dela, quando, na noite anterior, surgiu o telefonema de Darlene - explícito com todas as letras no seu atendedor de chamadas.

A voz de Darlene estava divertida e excitada, porque o Senhor era um grande gastador - o que significava que Darlene recebia uma comissão alta.

Olá, Kristin, querida - disse Darlene. - Caramba, o Senhor está realmente pelo beicinho por ti. É como uma obsessão. Acreditas que te quer marcar outra vez esta noite, e está disposto a largar mais cinco notas das grandes pelo privilégio. Duas vezes numa só noite. Querida, estás bem lançada. - Uma risada. - Qual é o teu segredo? Um pedacinho revestido a marta? Liga-me assim que puderes. O homem está à espera.

E, deitada na cama, fazendo amor, Kristin sentira Jake murchar dentro dela antes de se afastar.

Não soubera o que dizer. Na verdade, nenhum deles disse uma palavra. Alguns instantes depois, Jake levantou-se da cama e correu para a casa de banho.

Punição, pensou Kristin. Punição por imaginares que poderias ter uma vida.

Estendera a mão para o robe de seda aos pés da cama, sentara-se e vestira-o. Jake permaneceu na casa de banho durante muito tempo. Quando voltou, estava vestido e pronto para ir-se embora.

- Esqueci-me - dissera, quase incapaz de olhar para ela. Estou à espera de uma chamada importante.

Sentira-se desapontada. Ele não ia sequer discutir aquilo? E depois? pensara, na defensiva. Talvez assim seja melhor. Que poderia ele dizer? Desculpa, Kristin, por que não me disseste que eras prostituta?

Desculpa, Jake, esqueci-me. "

- Ah, gostaria de explicar - aventurou-se, desejando ao menos a oportunidade de dizer algo -, nem que fosse apenas um pedido de desculpas.

- Não, Kristin, francamente - dissera, ansioso por partir. - Não tens nada para me explicar. Ah. a verdade é que. o teu estilo de vida e o meu. eles, hum. simplesmente não têm nada em comum.

Era assim? O cliente à borla ia-se embora?

- Compreendo - dissera duramente, pensando que, se não estava interessado em discutir o tema, era porque também ele não valia a pena. - Até um dia.

- Sim - respondera ele. - Penso que sim. - Parou então à porta, voltou-se e fitou-a de forma acusadora. - Gostaria que me tivesses dito - afirmou.

- Porquê? - dissera ela, cheia de dor.

- Porque não é justo não o teres feito. Teria usado um preservativo.

O golpe final. Como se atrevia ele a dizer-lhe aquilo, como se fosse uma vulgar prostituta de rua?

- Vai-te foder! - gritara, subitamente furiosa. - Vai-te foder!

- E levantou-se, correu para ele e atirou com a porta mal ele saiu. Foi então para o toucador e ficou ali sentada, mirando, mirando, mirando o seu reflexo.

Quando Max Steele, o seu cliente uma vez por mês, lhe telefonou de manhã, não atendera. Escutou o recado enquanto o atendedor de chamadas o gravava. Max nunca a prejudicara em nada - de facto, até gostava dele. Não sabia exactamente o que ele fazia, apenas que era gente importante de Hollywood.

- Olá, fofinha, - disse. - Fala Max Steele. Tomei uma decisão. Vou tirar-te dessa vida, querida. Tornar-te exclusiva. Dizes-me quanto vai custar isso e tratarei de tudo. - Uma longa pausa e depois: - Tenho andado a pensar. Quero que fiques comigo. Sabes, necessito de alguém como tu por perto. Alguém que me mantenha no caminho certo. Posso apresentar-te pessoas e mudar a tua vida. Nunca ninguém saberá quem tu és, nem o que eras. Isto vai resultar, Kristin. Confia em mim. - Outra longa pausa. - Tenho um encontro às onze, por isso liga-me a qualquer hora depois do meio-dia para falarmos. Okay, querida?

Okay, querido, pensou. Posso fazer isso. Se me quiseres pagar o tipo de dinheiro que o Senhor me paga, podes ficar comigo. Porque mais ninguém me quer. Sou mercadoria usada. Por isso, Max Steel sou toda tua. "

 

- Vens atrasado - disse o detective Tucci mal humorado para o parceiro, pelo facto de a criada Lhe ter devorado a sanduíche, já para não mencionar uma caixa cheia de salada de repolho cru preparada por Faye.

- Eia, companheiro, tenta tu regressar de uma pescaria no meio do nada - lamentou-se o detective Lee Eccles, franzindo o sobrolho. Era um homem alto, de ombros curvados, com um rosto marcado pelo tempo e mãos excepcionalmente grandes. - Não é fácil - resmungou. - Foi então que, quando passei pela esquadra, para minha grande sorte, fui convocado por causa de outro homicídio. Ou suicídio... quem raio sabe? Uma brasa loura que apareceu na costa de Malibu. Com pernas daqui até Cuba. Os forenses estão a examiná-la agora.

- Perdeste aqui um importante.

- De novo, a minha sorte. Conta-me os pormenores. Diz-me o que temos.

- Dois cadáveres. Uma mulher e um homem. A mulher foi esfaqueada por diversas vezes. O homem levou um tiro na cara. O marido da mulher chegou a casa às três da manhã. Dei-lhe a notícia e foi fechar-se no quarto. O advogado, Marty Steiner, chegou esta manhã, estão os dois lá fechados há duas horas.

- Esse merdas! - afirmou Lee com repugnância.

- Conheces o homem?

- Um parvalhão! - disse Lee, palitando os dentes com uma unha imunda. - Já tive de lidar com ele antes.

Lee Eccles e o detective Tucci eram parceiros há seis intranquilos meses. O anterior parceiro de Tucci era um detective veterano, agora reformado. Lee era bastante esperto, mas demasiado abrasivo para o gosto de Tucci. O seu passatempo favorito, quando não estava de serviço, era deambular por bares e clubes de striptease, e falava constantemente de mulheres em termos tão gráficos que ofendia a sensibilidade de Tucci, dado que as observações eram sexistas e depreciativas. Tucci queixara-se uma vez.

- Se és assim tão sensível, vai para a merda de um convento respondera Lee, com uma expressão mesquinha.

- Que raio queres dizer com isso? - resmungara Tucci, e quase se envolveram numa luta corpo a corpo.

Desde essa ocasião, toleravam-se um ao outro, mas não eram camaradas de peito.

- Não estás com bom aspecto - observou Lee.

- Não dormi nada - respondeu tucci. - E estou com fome.

- Estás sempre com fome - disse Lee, estalando impaciente os nós dos dedos. - Se deixasses de comer tanto, não terias uma barriga dessas.

- Estou de dieta - admitiu Tucci, ferido com a crítica.

Lee riu-se.

- Claro, até aparecer o próximo donut.

tucci não se incomodou a responder. A barriga não estava assim tão mal - Faye disse que adorava aconchegar-se a ele. És abraçável. dizia-lhe com frequência. Hum", pensou, seria agradável se ela mudasse a palavra para fornicável. Isso não significava que tivessem problemas nesse campo, embora lhe tivesse dito que estava a ficar demasiado pesado quando ele ficava por cima, fazendo amor com ela. Daí a dieta.

- Qual é o programa? - disse Lee com impaciência. - Vamos esperar que o marido decida sair do quarto e falar connosco? E se fôssemos bater à porta e lhe disséssemos que precisávamos de conversar com ele já?

Desta vez, Lee estava certo, pensou Tucci. Estava seguramente farto de estar ali sentado naquela casa de morte. Mesmo assim, tinha de seguir as regras.

- Bobby Skoreh não é obrigado a falar connosco - salientou. Sabes isso.

- Há-de falar. Para tua informação, quando passei pela esquadra, dei uma vista de olhos ao ex dela. O parvalhão está enfiado numa cela, com os nervos à flor da pele. Aparentemente, chamou o advogado, que não está exactamente a envidar todos os esforços para o tirar dali sob fiança.

- Não me digas! - afirmou tucci.

- Sim, e o melhor é levares esse teu rabo gordo lá fora e fazeres a merda de uma declaração aos media - disse Lee. - Os nativos estão a ficar excitados, quase deram cabo de mim quando cheguei E, já que vais lá fora, toma bem atenção no rabo daquela chinesa da canal quatro. Que material! Não me importava de atacar aquele suculento traseiro. - tucci lançou-lhe um olhar desaprovador e o outro riu-se desalmadamente. - Qual é o teu problema? Não o queres levantar com mais ninguém a não ser com Faye?

- Faz-me um favor - disse Tucci, cerrando os dentes esforçando-se por se manter calmo. - Deixa a minha mulher fora desta conversa.

- Oh, sim, sim. a tua mulher - disse Lee em tom de troça.

Faye é demasiado boa para ser mencionada. - Uma risada grosseira. - Confessa, tucci, ela guarda os teus tomates numa caixa e tem a tua gaita presa na mama esquerda.

- Já chega - disse Tucci, o rosto enrubescendo. Sabia que Faye e Lee tinham uma história qualquer. Saíra uma vez com Lee, muito antes de ela o conhecer, e Lee comportara-se mal. Ela nunca quis revelar os detalhes, mas era suficiente dizer que, sempre que o nome de Lee era referido, ela fazia uma expressão de repugnância.

- Está bem, está bem - disse Lee, estalando de novo os nós dos dedos. - Mostra-me então onde encontraste a miúda morta. Merda, foi pena esta garota me ter escapado. Não me importava de ter visto de perto aquelas mamas.

Tucci decidiu que estava farto. Mal lhe fosse possível, iria marcar uma reunião com o capitão Marsh e solicitaria um novo parceiro.

 

- Diana Leon parou o carro diante do Four Seasons, entregou as chaves ao arrumador, e entrou no hotel. Sentia-se estranhamente

apreensiva. Seria a primeira vez que se encontraria a sós com Max Steele. No entanto, qual era o problema? Max e Freddie trabalhavam juntos há muitos anos, e sempre tivera uma relação de amizade com o sócio do marido - embora, bem no fundo, soubesse que era mais do que isso, e chegara a hora de ambos conversarem sobre algo que se estava a tornar dolorosamente óbvio.

Sim, Max, contava ter coragem para lhe dizer. Estou casada com Freddie, mas é apenas um casamento de fachada. E, dado que não estás actualmente envolvido em nenhuma relação, e vais sair da A. A. I. a minha sugestão é eu deixar Freddie e ficar contigo.

Diana tinha 43anos e aquela era a decisão mais ousada que jamais tomara. Estava casada com Freddie há quinze anos. Agora,

e por fim, fazia algo por sua própria iniciativa sem obter a permissão de Freddie.

Riu-se nervosamente para si mesma, sentindo-se como uma adolescente. Se Max concordasse, conseguiria ela deixar Freddie?

Será que ela o deixaria? A situação estava nas mãos de Max; teria de verificar cautelosamente o rumo que as coisas tomariam.

- Mrs. Leon - cumprimentou calorosamente o mestre de sala.

- É um prazer recebê-la de novo no Four Seasons. Mr. Steele aguarda-a.

Oh, meu Deus! Ia tomar o pequeno-almoço com Max Steele, um famoso mulherengo. Que iriam as pessoas pensar?

Quando se aproximou da mesa, Max levantou-se para a cumprimentar. Sentiu um momento de verdadeiro pânico. Max era tão diferente de Freddie, que estava sempre a controlar. Max era uma pessoa imprevisível e excitava-a como ninguém.

- Olá, Diana - disse Max.

Diana reparou que o cabelo dele estava algo desalinhado, de forma atraente, e que o seu bronzeado, como sempre, reluzia. Estava todo vestido de branco, desde as calças pristinas à camisola de Verão em caxemira.

- Olá, Max - disse, esperando ter acertado na roupa que escolhera. As raparigas com quem ele andava apresentavam-se sempre de forma ousada, com minivestidos finos e tops praticamente inexistentes. Esta manhã, após muita deliberação, seleccionara um casaco azul Calvin Klein, por cima de uma camisa de seda azul-pálido e calças de linho beges. Informal, elegante e discreto - era o estilo que lhe assentava bem, e Diana sabia como tirar partido dele.

- Fiquei algo surpreendido quando recebi a tua chamada - disse Max.

- Bom - respondeu, escolhendo cuidadosamente as palavras ao sentar-se -, fiquei surpreendida e perturbada com os acontecimentos de ontem à noite.

Max anuiu.

- Sim. aquele teu marido - disse, pegando numa colher de café e batendo com ela sobre a mesa. - Não podia dizer o que tinha para dizer em privado. Tinha de o fazer diante daquela cabrona... perdão, diante de Ariel. Não é uma pessoa de quem eu goste.

- Nem eu - disse Diana, rapidamente. - De facto, se a decisão estivesse nas minhas mãos, não a receberia na minha casa. É uma falsa. Tenho a certeza de que chegou onde chegou dormindo com Billy Cornelius.

Max riu-se.

- Então, Diana - brincou. - Nunca te ouvi falar assim das pessoas. Sempre foste a Miss Direitinha.

- É isso o que pensas de mim, Max? - disse, fitando-o longamente.

Max não era parvo; captou os sinais. Diana Leon estava a atirar-se a ele.

- Ah. nunca pensei nisso a sério - afirmou, interrogando-se onde iria aquilo levar. O empregado aproximou-se e ficou imóvel junto da mesa, de bloco na mão. - Que queres comer, doçura? perguntou Max.

Diana gostava da forma como ele a tratava por doçura, Era informal e, simultaneamente, também íntimo.

- Talvez um pouco de chá.

- E umas torradas? Ovos? Waffles?

- Não, apenas chá. Earl Grey - disse, falando directamente com o empregado.

- A senhora deseja chá - disse Max. - Para mim traga-me outro sumo de laranja, dois ovos, uma fatia de bacon estaladiço, três tostas, sem estarem demasiado torradas, e mais café.

- Sim, Mr. Steele - disse o empregado.

- Então - disse Max, encostando-se para trás e observando a sala. - Que posso fazer por ti, Diana?

Podes arrebatar-me, desejou afirmar. Podes levar-me para a cama e fazeres comigo todas as coisas que fazes com as tuas inúmeras namoradas. E eu amar-te-ei, cuidarei de ti e serei a fiel mulher que terás para sempre ao teu lado.

- Queria dizer-te, Max, que, aconteça o que acontecer, terás todo o meu apoio.

- Fico satisfeito por ouvir isso - afirmou, os olhos irrequietos controlando uma bonita morena com longas pernas bronzeadas que abandonava a sala de jantar. - A verdade é que mudei de ideias.

- Mudaste de ideias? - repetiu, não sabendo bem em relação a que tema ele mudara de ideias.

- Eu e Freddie passámos já por tantas coisas juntos; não posso deixar a firma. Simplesmente, não consigo fazer-lhe isso.

O empregado regressou e voltou a encher a chávena de café de Max.

Diana esperou que ele se afastasse antes de falar.

- Tenho a certeza de que sabes que, no Times de hoje, vem um artigo referindo que vais assumir um cargo nos Orpheus Studios - disse.

- Não passa de histórias - afirmou Max, severamente. Escrevem estas coisas antes de estar algo assinado. Falei com Billy Cornelius esta manhã e disse-lhe que o negócio ficava sem efeito.

- Falaste?

- Sim, doçura. Sabes, quando reflecti sobre o assunto, percebi que devia estar a atravessar uma crise qualquer da meia-idade. Freddie há-de compreender.

- Mas, Max, se sentes que te podes realizar melhor noutro lado qualquer, devias mudar - disse, um leve tom de desespero surgindo-lhe na voz.

- Ei, hem. - disse Max, com um meio sorriso. - Não me encorajes.

- Estou a encorajar-te a seres tu próprio - disse Diana, de expressão séria.

- Foi Freddie quem te mandou? - perguntou, com curiosidade.

- Não, não mandou - respondeu, indignada. - Por sinal, Freddie esqueceu-se de voltar a casa a noite passada. Não faço ideia onde esteve. Chegou quando eu vinha a sair esta manhã, com um aspecto desmazelado.

Max fitou-a em descrença.

- Freddie, desmazelado?

- Sim, Freddie.

- Não me digas que tem uma miúda. quero dizer, sem desrespeito por ti, Diana.

- Não existe ninguém, Max - disse, em tom de confidência.

- Se assim o dizes.

- A verdade é que - inclinou-se para a frente, baixando a voz para um sussurro - Freddie não gosta de sexo.

- Não gosta de sexo, hem? - disse Max, armazenando aquela informação para futura utilização.

- Posso falar contigo, sabendo que não repetirás nada do que eu disse, não posso?

- Claro, querida - disse Max. Unir-se à mulher de Freddie seria um trunfo. Assim, poderia obter todas as informações de que necessitasse.

Diana questionou-se se teria falado de mais. Não. Por que não haveria ela de confiar em Max? Ele nunca a trairia.

- Freddie não é um ser sexual - afirmou. Uma longa e significativa pausa. - Mas eu sou.

Oh, Santo Deus. Estaria a atirar-se a ele? A esposa-modelo de Freddie? Nem pensar. No entanto. revelava aquele olhar predatório, um olhar que Max conhecia demasiado bem. Mulheres à caça... tivera tantas que nem queria lembrar-se. Habitualmente actrizes. Hem, não era culpa sua se era irresistível para as mulheres.

- Diana - disse, cuidadosamente. - Não creio que seja boa ideia estares aqui comigo.

Os olhos cinzentos dela fitaram-no ousadamente.

- Por que não?

- Porque. ah. - começou, pensando rapidamente, não querendo insultá-la, dizendo-lhe que não estava interessado. Porque eu. hum. bom, acho que estou muito atraído por ti - mentiu.

O rosto dela iluminou-se. Dissera a frase certa.

- Estás?

- Sim, Diana, minha doçura. Mas acredita em mim, esta não é a altura para nenhum de nós fazer nada a respeito disso.

- Por que não? - questionou, olhos de quarto materializando-se inesperadamente.

Oh, merda! Ela não ia desistir facilmente.

- Confias em mim. Não é?

Diana estendeu o braço, pousando gentilmente a mão sobre a dele.

- Esperei tanto tempo por este momento, Max. Algo me dizia que era inevitável.

Max retirou a mão debaixo da dela, indicando com as sobrancelhas o empregado que se aproximava.

- Tem calma, Diana - disse, em voz baixa. - Os jornais têm espiões por todo o lado. Tu és uma importante esposa de Hollywood. És notícia. Também eu o sou nesta altura. Nem sequer devíamos ser vistos assim.

- Eu sei - respondeu. - Mas, ao menos uma vez na vida, não quero fazer o que é correcto. Quero fazer o que me torna feliz.

A mulher de Freddie estava lançada. Santo Deus Que fizera para merecer aquilo?

- Diana - disse, esforçando um tom sério. - Tenho demasiada consideração e respeito por ti para permitir que prejudiques o teu futuro.

- Que queres dizer?

- Todos sabemos que Freddie é um homem vingativo. Se ele suspeitasse sequer que tinhas olhos para outro homem.

- Não me importo - afirmou, com teimosia.

- Importo-me eu. Estou a tentar proteger-te.

- Quando estou contigo, Max, não preciso de protecção. Este tipo de resposta era exactamente o que ele não necessitava.

- Podes pensar que não - disse, teimosamente. - Mas confia em mim, precisas.

Imaginou a cara de Freddie se Diana fosse ter com ele e informasse o marido que ia abandoná-lo por Max Steele. A explosão haveria de expandir-se de Beverly Hills a Bel Air. Cristo! Como escapar àquilo?

Foi então que lhe ocorreu. A solução perfeita.

- Diana - disse, com um rosto sério. - Penso que deves ser a primeira a saber. A noite passada fiquei noivo.

 

Freddie Leon considerava-se um homem controlado e sensato mas, atendendo ao que acontecera nas últimas vinte e quatro horas, não podia permanecer calmo. O seu leal sócio, Max Steele, traíra-o, e enfurecia Freddie o facto de Max o ter manipulado daquela forma. O filho-da-mãe desleal.

Freddie permanecia debaixo dos poderosos jactos do chuveiro, molhando o corpo. Depois de uma noite fora de casa, sentia necessidade de se limpar minuciosamente. Detestava quartos de hotel - por muito luxuosos que fossem. O falecido Howard Hughes tivera a ideia certa, cobrindo os sapatos com Kleenex e andando sempre com uma máscara de hospital tapando-lhe metade do rosto.

A noite passada, Freddie sabia que tinha de sair de casa. Não desejava estar deitado na cama ao lado de Diana, escutando as acusações dela por lhe ter arruinado a festa.

Através do ruído do chuveiro, ouviu o telefone a tocar e, para seu aborrecimento, ninguém atendeu. Saiu do duche e dirigiu-se ao telefone.

- Sim? - afirmou, interrogando-se por que motivo a secretária o incomodava a um domingo.

- Mr. Leon - disse Ria. - Tem conhecimento de que está na cidade uma mulher da revista Manhattan Style? Veio de Nova Iorque para escrever um artigo sobre si. De facto, ela está realmente a contar que lhe vá conceder uma entrevista.

- Como? - disse Freddie, irritado.

- Madison Castelli. Está cá para ter uma entrevista em exclusivo consigo.

- Porquê eu? - afirmou Freddie, franzindo o sobrolho.

- Você é gente graúda, Mr. Leon. - Como se lhe tivesse que explicar isso a ele. Freddie Leon sabia perfeitamente quanto era importante e poderoso. - Devo então presumir que não sabe nada a respeito disto?

- Não, não sei - respondeu, incomodado por ela achar adequado perturbá-lo em casa. - Como é que você soube?

- Foi Miss Castelli quem me telefonou.

- Onde arranjou ela o número?

- Não perguntei. Limitei-me a informá-la de que o senhor não estaria interessado.

- Certo. De mim não há-de ter cooperação pelo que, se for esperta, acabará por desistir.

- Com todo o respeito, Mr. Leon, não pode dizer à Imprensa o que pode e o que não pode fazer.

- Posso dizer-lhes o que me apetecer - rosnou Freddie, e desligou. - Diana - gritou. - Diana! - Não obteve resposta pelo que, envolvendo uma toalha à cintura, saiu da sua casa de banho para o quarto. Lembrou-se então; Diana saíra. - Raios! - murmurou entre dentes. Detestava quando a mulher exibia uma determinada atitude e não se encontrava por perto para Lhe satisfazer as necessidades. Sentou-se na beira da cama e decidiu telefonar a Ariel Shore.

Quando Ariel atendeu, revelou-se adequadamente fria, o que o aborreceu ainda mais. Tinha um bom relacionamento com Ariel e não queria que nada o estragasse.

- Penso que fomos os últimos a saber - afirmou Ariel, o tom gélido.

- Que queres dizer? - perguntou Freddie.

- Não viste o L. A. Times esta manhã?

- Ainda não li o jornal.

- Então lê. O teu sócio fez uma declaração, ou alguém fez uma declaração por ele.

- Como pode isso ter acontecido?

- Exactamente, Freddie - disse Ariel triunfantemente, como se o tivesse apanhado a fazer batota às cartas. - Como pode isso ter acontecido sem que nenhum dos dois o soubéssemos? E suposto ambos termos bons relacionamentos em Hollywood. É suposto, ambos termos conhecimento de tudo, semanas antes de algo acontecer.

- Ariel, eu.

- Seja como for - interrompeu, rudemente. - Fui falar com Billy esta manhã.

- Foste?

- Achei que já era hora de resolver este disparate.

- Que aconteceu?

- Disse a Billy que não podia contratar ninguém sem me consultar. E, se fores tão inteligente como sei que és, quando Max aparecer a rastejar, terminarás de imediato com a vossa sociedade.

- Não precisas de me dizer o que fazer, Ariel - disse Freddie, descontente por ela o ter tentado. - Esse já era o meu plano.

- Óptimo, porque o meu estúdio não aprecia estabelecer relações comerciais com qualquer pessoa que tenha algo a ver com Max Steele.

- Percebi a mensagem, Ariel - disse Freddie. No que lhe dizia respeito, aquele era o fim de Max Steele.

 

Madison terminara o artigo sobre Salli Turner. Não considerava que atingisse o seu padrão habitual, mas sabia que estava demasiado envolvida emocionalmente para conseguir melhor. Enviou por fax uma cópia do artigo a Victor, em Nova Iorque, e depois desejou de imediato não o ter feito. Victor respondeu rapidamente. Telefonou-lhe e disse que estava bom.

- Não está suficientemente bom - respondeu ela, perita em rebaixar-se. - Tenho tempo para rever o texto?

- Não - disse Victor, firmemente. - A história está excelente. Deixe de ser tão exigente.

Quando Cole regressou da caminhada, sugeriu levá-la a almoçar fora.

- Vamos comer uma salada Neil McCarthy no Hotel Beverly Hills - disse, tentando persuadi-la.

- Não sei - vacilou, sentindo-se culpada perante o pensamento de sair para almoçar enquanto Salli jazia num caixão, brutalmente assassinada. - Não estou com disposição.

- Vamos - insistiu Cole. - A mim far-me-ia bem sair. E, se Natalie estiver por aí, também a convido.

Madison levantou-se e espreguiçou-se.

- Natalie foi almoçar com Luther.

- Quem é Luther?

- Um ex jogador de futebol que conheceu ontem à noite em casa de Jimmy.

- Um tipo normal?

- Claro.

Cole sorriu.

- É uma pena!

Madison não conseguiu evitar de rir-se.

- Está bem - disse, decidindo que, afinal, era capaz de ser boa ideia sair. - Vamos a esse almoço. Conseguiste convencer-me.

- Não foi preciso grandes conversas - afirmou Cole com un sorriso amigável.

- Que fizeste então? - perguntou Jimmy Sica ao irmão.

acabara de Lhe contar o que acontecera entre ele e Kristin, na noite anterior.

- Fui-me embora - disse Jake. - Que terias tu feito nes mesmas circunstâncias?

- Caramba! - disse, abanando a cabeça. - Teria ficado extremamente chocado. E ela que parecia tão. espectacular.

- Espectacular era - disse Jake, severamente. - Espectacular... a cinco mil dólares a noite.

Encontravam-se no meio do bangaló do pai, no Hotel Beverly Hills, esperando que este emergisse do quarto para o acompanharem à sua cerimónia de casamento, que teria lugar nos frondosos jardins.

- Que situação! - exclamou Jimmy - Achas que ela estava a planear cobrar-te?

- Claro que não - afirmou Jake, lamentando já ter contado ao irmão. - Havia um bom clima entre nós.

- Pensas então que, se não tivesse acontecido a cena do telefone, nunca terias descoberto?

- Exactamente.

- Usaste um?

- Não.

- Bom, companheiro, é melhor ires fazer um teste rapidamente.

- Tenciono fazê-lo.

Jimmy atirou-se para cima do sofá, as pernas estendidas.

- Nunca poderias ter sabido. As prostitutas em L. A. são as mulheres mais bonitas na cidade.

- Como sabes tu isso?

- Anda por aí, irmãozinho.

Jake não conseguia parar de andar de um lado para o outro.

- Parecia tão querida - disse. - Inocente. distinta.

- Onde a conheceste exactamente?

- No departamento para homens do Neiman Marcus.

- Ah! - exclamou Jimmy - Isso deveria ter-te fornecido um indício. Que fazia ela lá?

- Estava sentada no bar. Fui eu quem meteu conversa com ela, não foi propriamente ela que veio ter comigo.

- Isso foi o que tu pensaste - murmurou Jimmy, sombriamente.

- Achas que tive uma reacção precipitada? - perguntou Jake.

- Estás a brincar comigo? - disse Jimmy, fazendo uma careta.

- Ela é uma prostituta, pelo amor de Deus.

- Espero que não estejas a falar da minha futura mulher - disse o pai deles, Cosmos, emergindo do quarto vestido num fato branco de três peças, estilo John Travolta em Febre de Sábado à Noite, e uma berrante gravata encarnada. Era um homem elegante, embora com trinta quilos a mais, pelo menos, o que fazia com que o fato inchasse em todos os locais errados.

- Nem pensar, pai - disse Jimmy, tentando dissimular o seu divertimento perante o extravagante trajo do pai.

Cosmos Sica tinha 62 anos de idade e cabelos prateados, bigode a condizer e um sorriso astuto. A mulher com quem ia casar era uma manicura de 20 anos, oriunda de San Diego, que iria ser a 157 sua quarta mulher. Jimmy e Jake estavam habituados ao enérgico pai e, no que lhes dizia respeito, o velho podia fazer o que bem entendesse - e era exactamente o que ele fazia. Cosmos era suficientemente esperto para os negócios, o que compensava a sua estupidez em relação às mulheres. E, se podia sustentá-las, por que não?

- Está com óptimo aspecto, pai - mentiu Jake, sabendo que o pai adorava elogios.

- também não estás nada mal, filho - disse Cosmos, admirando-se num espelho de parede. - Já não está na hora de arranjares uma mulher para casares?

- Já arranjou - disse Jimmy com um leve sorriso trocista.

- Óptimo - afirmou Cosmos em voz alta. - Não é saudável para um homem viver só. Necessitamos de um corpo quente para nos enroscarmos à noite.

- Ela não é propriamente uma pessoa com quem tencione passar o resto da vida - afirmou Jake, lançando a Jimmy um olhar de aviso.

- Achas que lhe conte? - disse Jimmy, começando a gargalhar.

- Nem penses - opôs-se Jake.

- Contar o quê? - perguntou Cosmos, escovando a ponta do bigode com os dedos. - Hoje é o dia do meu casamento... podes contar-me tudo o que quiseres.

- Apaixonou-se por uma prostituta - anunciou Jimmy, incapaz de se conter.

- Ele o quê? - gritou Cosmos.

- Ele pensava que era uma rapariga às direitas - disse Jimmy - Afinal, era mesmo uma rapariga às direitas... do tipo que se paga.

Cosmos riu-se desalmadamente.

- Não há nada de errado com uma rapariga que ganha a vida honestamente. É o que costumo dizer.

Jake fitou o irmão.

- Vê se deixas de tornar a minha vida do conhecimento público.

- Sou o teu pai, pelo amor de Deus - disse Cosmos. - Que coisa é essa de conhecimento público? Sabes que podes confiar em mim; não passará daqui.

Claro, pensou Jake, severamente, Se bem conheço o meu pai, no final do casamento, já todos estarão ao corrente. Maldito Jimmy e a sua boca grande. "

Jimmy içou-se do sofá.

- Estamos prontos? - disse.

Cosmos anuiu vigorosamente.

- Podes crer! - disse, quase fazendo saltar um botão do colete.

- Quatro é o número da sorte, não acham? Vamos, rapazes, estou impaciente por chegar à noite do meu casamento.

Apesar de um enorme e dispendioso levantamento facial, havia algo no átrio do Hotel Beverly Hills que gritava a Hollywood velho.

- Estou sempre à espera de deparar com Clark Gable ou Lana Turrner - brincou Madison, olhando em volta.

- Percebo onde queres chegar - disse Cole. - Este lugar tem história.

- Lá isso tem - concordou ela.

- Vamos - disse, dando-lhe o braço. - Vamos almoçar no terraço do Polo Lounge. Já alguma vez comeste uma salada Neil meCarthy

- Soa a algo vagamente comunista.

- A melhor salada cortada que jamais comeste.

- As coisas que tu sabes - brincou Madison. - E pensar que... eu e Natalie sempre tivemos a impressão de que acabarias por te tornar num membro de um gangue.

- Certo - disse Cole com dificuldade. - Em vez disso, sou um homossexual politicamente incorrecto que conhece os segredos de toda a gente.

- Conheces?

- Podes ter a certeza.

- Sabes mais algum segredo sobre Salli?

- Talvez - disse, em tom misterioso.

Madison parou por ali; sabia quando insistir e quando abandonar um assunto.

- Então, Cole - disse, em tom leve. - Como vai a tua vida amorosa? Andas com alguém especial?

- Não tive essa sorte... ainda - disse, com pesar. - Por isso, continuo a investigar o terreno. É claro que isto deixa Natalie como louca. Está convencida de que hei-de apanhar SIDA e que depois terá de cuidar de mim. E sabes como isso a deixaria lixada.

- Ela sempre te adorou, Cole. Quando andámos juntas na faculdade, estava sempre a falar de ti e preocupada contigo.

- Sim - riu-se. - Eu sei, eu sei. Não há dúvida de que ela ama o irmãozinho mais novo.

- Qual foi a reacção dela quando lhe contaste que eras homossexual?

- Portou-se bem. Os meus pais é que se passaram. E foi Nat quem lhes conseguiu dar a volta.

Enquanto seguiam pelo átrio, Madison avistou dois rostos vagamente familiares vindos na direcção dela. Ainda pensou em esquivar-se, mas era demasiado tarde. Jimmy Sica vira-a já.

- Madison! - disse, exibindo o seu perfeito sorriso de pivot. Que faz aqui?

- Poderia fazer-lhe a mesma pergunta.

- É o casamento do nosso pai - explicou Jimmy, gesticulando para Cosmos. - Permita-me que lhe apresente o homem em pessoa. Vamos a caminho da execução dele... a quarta.

Cosmos pegou-lhe na mão, apertando-a firmemente.

- É um enorme prazer conhecer uma senhora tão encantadora - disse, irradiando charme, antes de se virar para Jake e perguntar-lhe, sotto voce: - É esta a jovem de que nos falaste?

- Não - respondeu Jake, rapidamente. - Madison é jornalista de Nova Iorque.

- Adoro ser lisonjeada - disse Madison, com um aceno de cabeça na direcção dele. - Todos conhecem Cole, o irmão de Natalie?

- Então, é você o famoso guru do fitness - disse Jimmy, apertando a mão a Cole. - Natalie está sempre a dizer que você é o melhor da cidade.

- O melhor quê? - disse Cole, sorrindo abertamente.

- O melhor tipo para pôr os meus patéticos abdominais em forma - disse Jimmy, sorrindo também.

- Posso fazer isso - disse Cole.

- Pára de te atirares - ralhou Madison. - Nenhum deles é virado ao inimigo, pelo menos, penso que não. - Os seus olhos fitaram os de Jake. - Que tal correu o seu encontro de ontem à noite?

- Vulgar - respondeu. - Nada de sério.

- Por que não vêm assistir os dois ao casamento? – sugeriu Jimmy.

- Íamos precisamente almoçar - explicou Madison. - Além do mais, não estamos propriamente vestidos para um casamento.

- Para mim está óptima - disse Jake.

A atenção de Jimmy foi desviada para uma mulher, de fato de treino azul, que queria o autógrafo dele. Adorava ser reconhecido, sobretudo diante do pai, que ficou adequadamente impressionado:

- Eia, lamento que a noite passada, hum. tenha terminado de forma algo abrupta - disse Jake.

- Não tem importância - respondeu Madison, pensando que a primeira impressão da noite passada não estava errada; ele era muito atraente, numa forma sexy e desprendida. - Foi abrupta para todos nós.

- As más notícias em relação a Salli. Conhecia-a, não era?

- Sim, é tão triste. Era uma pessoa querida. Pode não ter consciência disso através da imagem pública que ela transmitia, mas era-o de facto.

- Será que está livre para jantar comigo logo à noite? - perguntou Jake sob impulso.

- Ah... - Tentou pensar numa desculpa, mas não encontrou nenhuma.

- Ela está livre - disse Cole, respondendo por ela.

- Bom, acho que sim - disse Madison, lançando a Cole um olhar de mete-te na tua vida.

- Vou buscá-la às sete? - disse Jake.

- Vamos embora - disse Cosmos. - Tenho de ir assistir a um casamento. E tornar uma noiva feliz!

- Muita sorte, Mr. Sica - disse Madison.

- Não é de sorte que preciso, linda senhora - afirmou Cosmos, desatando a rir de novo. - É de resistência. E muita!

Os três afastaram-se.

- Já tens programa para a noite - disse Cole, satisfeito consigo mesmo por ter interferido.

- Que te levou a pensar que eu queria sair com ele? - perguntou Madison, irritada.

- Pareceu-me um tipo fixe... vai em frente.

- O quê?

- Eia... se não posso ficar com ele, por que não hás-de tu tê-lo?

- Cole - disse ela, severamente. - Arrastaste-me para este encontro.

- Nem pensar.

- Arrastaste, sim - disse, em tom acusador. - Não fiquei bem certa de que ele queria mesmo convidar-me.

- Então, por que o fez?

- Oh, Santo Deus! Como posso sabê-lo?

- Maddy - interrompeu Cole. - Tu és uma mulher impecável.

Por isso vai. Diverte-te e deixa de te preocupar.

- Até pareces Natalie a falar.

Ele ergueu um sobrolho divertido.

- Há algo de errado nisso?

Madison deu-lhe o braço.

- Okay, casamenteiro, vamos almoçar. Estou esfomeada!

Exactamente ao meio-dia, Kristin pegou no telefone e ligou para Max.

Este atendeu de imediato.

- Na hora precisa - disse ele, com uma voz excessivamente alegre. - És uma mulher comprometida.

- Perdão? - disse, interrogando-se sobre qual seria agora a jogada dele.

- Não te preocupes - disse ele. - É um trabalho pago. Vais ser minha noiva por uns tempos. Que achas disso?

- Penso que és doido, Max - respondeu ela com um suspiro. Mas, por outro lado, não é novidade.

- A minha ideia não te agrada?

- Vou repetir o que acabei de dizer. És doido.

- Podes vir até cá?

Kristin nunca fora a casa dele mas, se ele queria que ela se mudasse para lá, tinha de ir controlar o ambiente.

- Onde moras?

- Vou dar-te o endereço. Está cá dentro de uma hora.

- Isso não é possível - disse, rapidamente. - Tenho onde ir primeiro. Posso estar aí por volta das quatro.

- Onde vais?

- Ainda não fechámos o negócio, Max - disse, firmemente. Por isso, não me questiones.

- Está bem, está bem - respondeu ele, acalmando-a com a voz.

- Mas, querida, acredita em mim, esta vai ser uma situação à maneira.

Kristin estava resignada quanto ao seu destino - fosse ele qual fosse.

- Se assim o dizes.

- Sei que sim - assegurou-lhe, e depois deu-lhe a morada em Bel Air. Kristin desligou e suspirou profundamente, questionando-se se estaria a tomar a decisão correcta. Que sabia ela, de facto, sobre Max Steele? Não passava de mais um cliente, apenas isso. Por que considerava sequer uma mudança tão radical?

Só conseguia pensar em Jake. A ligação entre eles fora tão estranha, ou assim pensara. E, depois, o estúpido atendedor de chamadas e a mensagem de Darlene arruinaram tudo.

Sempre soubera que o Senhor lhe estragaria a vida, de uma forma ou de outra.

Dirigiu-se ao roupeiro e escolheu a roupa mais simples que possuía. Apanhou depois o longo cabelo louro num rabo-de-cavalo e nem se incomodou a maquilhar-se.

Estava na hora de visitar a irmã.

A viagem até à clínica levou cerca de uma hora. Kristin gostava de ouvir livros gravados em fita, sobretudo biografias; forneciaalgo para conversar com os clientes virados para esse campo. Naquele momento, escutava a de Robert Evan, The Kid Stays in the Pic.

Tivera uma vida fascinante - homem de negócios, estrela de cinema, dirigente de um estúdio, grande produtor segundo a tradição de Hollywood. Kristin lera recentemente que ele tivera um ataque e que algumas semanas depois casara-se pela quarta vez. Depois, mandou anular aquele casamento! Sobreviventes de Hollywood uma raça à parte.

Interrogou-se sobre o que estaria Jake a fazer. Àquela hora devia estar no casamento do pai, usando a gravata que ela escolhera e

divertindo-se tanto que provavelmente já se esquecera dela. Não se conseguiu evitar de recordar as últimas palavras dele: Gostaria que me tivesses dito... teria usado um preservativo.

Como pôde ele afirmar algo que a magoasse tanto? Como se ela alguma vez o pusesse em risco!

Não conseguiu concentrar-se em Bob Evans, pelo que sintonizou o rádio. Um locutor falava sobre o homicídio de Salli Turner.

Kristin nunca a conhecera, embora se tivesse encontrado por diversas vezes com ela e o louco do marido, Bobby Skorch. Bobby era um famoso mulherengo, que adorava raparigas de programa.

Estivera presente em várias festas onde ele se comportara de forma bem explícita - mesmo todos sabendo que tinha uma mulher famosa em casa. Bobby gostava de se exibir e tinha muito para mostrar: era um dos homens mais bem fornecidos que Kristin jamais vira. Na verdade, tão bem fornecido que muitas das raparigas se recusavam a fazer sexo com ele - sendo Kristin uma delas.

Recordava-se da reprimenda que Darlene lhe dera no dia seguinte a uma determinada festa.

- Nunca recuses um cliente - dissera Darlene, frisando bem o seu aborrecimento. - É mau para o negócio.

- É um tarado com tatuagens - respondera Kristin. - E não sou obrigada a fazer nada que não queira.

Kristin não conseguia suportar ter de ouvir falar sobre o brutal assassinato de Salli Turner, pelo que mudou de canal. Um locutor falava sobre o presidente Clinton, Kenneth Starr e toda a agitação que decorria em Washington.

Hollywood era Washington - os homens de ambas as cidades ultrapassavam os limites da excitação sexual. Kristin tinha perfeita consciência de que se tratava tudo de poder e controlo. Os políticos e estrelas de cinema - estes homens tinham tanto que, por vezes, a única saída de que dispunham era renunciar a ambos.

Trocou de estação mais uma vez. Um jornalista relatava outro homicídio.

O corpo de uma jovem deu à costa de Malibu esta manhã.

Identidade desconhecida. A única descrição que existe até agora é que é caucasiana e loura. Os detectives estão a investigar. "

Dois homicídios. Duas louras. Outro domingo normal em L. A.

Quando Kristin chegou à clínica, foi calorosamente saudada pelas enfermeiras na recepção.

- Como está Cherie? - inquiriu, entregando um saco enorme cheio de doces, todas as revistas actualizadas e dois romances best-sellers. Tinha todas as vantagens em manter as enfermeiras felizes - desta forma, assegurava a Cherie uma atenção especial.

- Como sempre - respondeu Mariah, a enfermeira gorda, negra e simpática. - Sem alterações.

- Nunca se sabe - disse Kristin com esperanças. - Um dia destes, é capaz de abrir os olhos como a Bela Adormecida.

- Sim, querida - continue a pensar assim - disse Mariah, assomando o largo perfil por detrás do balcão da recepção.

- É por isso que cá venho todas as semanas - disse Kristin. A minha voz chega até ela. sei que chega. Tem de saber que alguém se importa com ela.

- Hoje está com um aspecto pálido - disse Mariah, estreitando os olhos. - Está tudo bem consigo, querida?

- Tudo bem - disse, rapidamente. - Houve demasiados doentes esta semana. - Antes dissera a todas as enfermeiras que trabalhava como assistente dentária.

- Coisa horrível! Não sei como consegue - disse Mariah. - Ver todas aquelas bocas estragadas. A mim, deixar-me-ia louca.

- Alguém tem de o fazer - disse Kristin, ansiosa por ver Cherie.

- Aposto que todos os seus doentes se apaixonam por si - disse Mariah, com malícia. - Não há dúvida de que é bonita.

- Estou lá para trabalhar, apenas isso - afirmou Kristin, pensando, como isso é verdade.

- Claro, claro - disse Mariah, pouco acreditando. - Já viu Arma Mortifera 4? Que filme! Adoro aquele Chris Rock. Magro e sexy! Não me importaria de passar uma noite na companhia dele.

Kristin lançou uma gargalhada.

- Sim, ele é giro - afirmou. Na verdade, não fazia ideia de quem era Chris Rock.

- Giro? - exclamou Mariah. - Querida, ele é um pedaço de mau caminho!

Kristin seguiu Mariah até ao quarto privado da irmã e olhou para Cherie - uma sombra da beleza que fora outrora, mantida viva através de uma máquina. Ficava com o coração despedaçado sempre que a via.

- Olá, amor - disse, sentando-se à beira da cama do hospitale pegando na mão da irmã, fria como o gelo. - É a Kristin. Como te sentes hoje?

Nenhuma resposta. Nunca obtinha uma resposta. Mas ficou durante uma hora e continuou sempre a falar.

Talvez um dia tivesse uma reacção. Tinha de continuar a tentar. Se desistisse, toda a esperança se perderia.

 

Marty Steiner saiu do quarto de Bobby Skorch ao meio-dia, desceu as escadas e confrontou os dois detectives no hall da entrada.

- Estamos prontos para fazer umas perguntas a Mr. Skorch disse o detective Tucci, na defensiva.

- Acredito que sim - respondeu Marty Steiner, tranquilo como uma cobra de um só olho. - A questão é que ele está demasiado perturbado para falar consigo agora. E tenho de vos pedir que abandonem a casa.

- Ainda temos coisas para fazer aqui - salientou Lucci. – Este é o local do crime.

- Penso que já dispuseram do tempo suficiente para recolher todas as provas de que necessitam - disse Marty Steiner. Mr. Skorch gostaria que o senhor e o seu parceiro saíssem imediatamente. Trata-se de uma altura extremamente difícil e Mr. Skorch não quer ver a sua casa invadida.

- Recordo-lhe mais uma vez... este é o local do crime – disse -, odiando o polido advogado e tudo o que ele representava.

- Sim - disse Lee, aproximando-se. - É a cena do crime, pelo amor de Deus. Pensa que queremos estar cá?

O rosto de Marty Steiner não esboçou o mais leve reconhecimento na direcção de Lee.

- Se desejarem ficar, precisam de um mandado - disse, calmamente. - Os corpos foram removidos. Tal como já afirmei, tiveram mais do que tempo para recolher as vossas provas. Agora, quero-vos fora daqui!

- Está a afirmar que Mr. Skorch não tem nada para nos dizer?

- inquiriu Lee, conflituoso como sempre.

- Exactamente, detective.

- Onde estava ele a noite passada? - inquiriu Lee, colocando-se mesmo em frente da cara do advogado.

- Em viagem de regresso para cá, vindo de Vegas.

- Só cá chegou às três - disse Lee, em tom acusador.

- Tenho a certeza de que sabe que se trata de uma viagem de carro de quatro a cinco horas.

- A mulher dele foi assassinada - disse Tucci. - Ele não nos quer perguntar nada?

- Mr. Skorch tem de tratar dos preparativos para o funeral disse Marty Steiner, a voz endurecendo. - Agora, a menos que tenham um mandado, insisto para que saiam de imediato.

Tucci e Lee entreolharam-se.

- Eu sabia que ele era um parvalhão - murmurou Lee entre dentes.

- Não podemos fazer nada - disse Tucci.

- Por que será que Skorch não quer falar connosco? - murmurou Lee. - Vou verificar o álibi dele. Quero saber exactamente a que horas deixou o hotel em Vegas, e quem vinha no carro com ele. O mais provável é ter chegado aqui mais cedo, encontrado a mulher com um tipo e perdido a cabeça.

- Se foi esse o caso - disse Tucci, sempre a voz da razão -, onde está o outro homem? Por que não se apresentou ele?

- Tu farias isso, dadas as circunstâncias? O fulano deve ter dado à sola.

- É melhor irmos embora - disse Tucci, pensando para consigo que talvez de regresso à esquadra pudesse parar num restaurante e comer qualquer coisa.

Lee encolheu os ombros.

- Por mim, tudo bem. Já cheguei tarde a este caso. Se eu estivesse presente quando ele chegou de Vegas, tê-lo-ia interrogado logo na altura.

- Ele estava ciente dos seus direitos - disse Lucci, preferindo ignorar o facto de Lee o estar a criticar. - Sabia que não era obrigado a falar comigo.

- O filho da mãe é culpado - murmurou Lee. - É culpado De regresso à esquadra, Tucci parou no Fatburger e devorou dois hamburguers com todos os ingredientes. Depois concedeu a si mesmo uma dose de batatas fritas e cebolas. Nunca haveria de confessar a Faye que devorara toda aquela comida - ela ficaria zangada. Era melhor mentir-lhe, dir-lhe-ia que comera uma salada.

Já na esquadra, recordou-se da gravação de Madison Casteli e decidiu ouvi-la. Achou que continha bastante informação, com Sally Turner falando da sua vida. Possuía uma voz encantadora e vibrante.

Os pensamentos de Tucci não paravam de se concentrar no cadáver dela, os terríveis cortes e lacerações, a fúria pura que o assassino infligira à vítima.

Ah, o preço da fama", pensou. Será que valia alguma coisa? Não para Salli Turner.

Mais tarde, dirigiu-se à morgue para inspeccionar o corpo da Misteriosa Loura de Malibu, como chamavam os media à última vítima. Os meios de comunicação estavam a ter um dia em cheio. Primeiro a célebre Salli Turner, e, agora, uma desconhecida e bonita loura que deu à costa de Malibu. Território de estrelas de cinema. Dois homicídios em dois dias. Os níveis de audiência disparavam. ce A loura misteriosa era jovem e encantadora. Não teria provavelmente mais de dezanove ou vinte anos, calculou Tucci. Que lhe terá acontecido para acabar morta? - Estamos a tentar localizar o registo dentário dela - informmaram-no. - amanhã já deveremos ter alguma coisa. Tucci abanou a cabeça. Existia tanta violência no mundo, tanta raiva. Pegou no telefone e ligou para Faye. - Vou chegar tarde logo à noite, querida - disse.

- Não fico surpreendida - disse. - A televisão só fala de Salli Turner. Que terrível tragédia. Estão a comparar a morte dela ao do assassinato de Nicole Simpson. - E estão correctos. - Não penses nisso - disse Faye. - Resolve o caso. - Tenciono fazê-lo - respondeu Tucci. - Gostaste da sanduíche? Não teve coragem para lhe dizer que a criada a comera. - Deliciosa! - mentiu. - E a salada de repolho cru? - Ainda mais deliciosa. Quase tão deliciosa quanto tu. - És um bajulador - disse, rindo-se feliz. - Encontraste-te com a mulher da Manhattan Style, Madison Castelli? - Sim. Trouxe-me uma cassete gravada com a entrevista de Salli. - Já a ouviste? - Estava a ouvi-la agora. - Alguma coisa útil? - Parece-me que Salli tinha um verdadeiro problema com o ex-marido. Vou interrogá-lo em breve. - Foi detido? - Sim. Trouxemo-lo sob a acusação de violação de estacionamento. - Tenho saudades tuas - disse Faye, melancolicamente. - Também eu - respondeu Tucci. - Posso preparar a tua massa favorita logo à noite - disse, ttentando-o. - Um tratamento especial por te estares a portar tão bem.

Os dois hamburguers deixaram-no desconfortavelmente cheio, já para não referir com um total sentimento de culpa.

- Seria óptimo - disse, não com o entusiasmo que Faye esperava dele. - Telefono-te mais tarde.

Lee apareceu, comendo um donut recheado, o doce pingando- lhe pelo queixo saliente.

- O capitão quer falar connosco - disse, limpando as mãos meladas nas calças. - Já. Tucci levantou-se da secretária e seguiu Lee para o gabinete do capitão.

O capitão Marsh era excepcionalmente alto, negro e com mau feitio. Fumava charutos baratos e necessitava urgentemente de tratamento dentário.

- O chefe da Polícia telefonou. Acabou de ser contactado pelo gabinete do presidente da Câmara - disse, indo directo ao assunto.

- Este homicídio da Salli Turner. Precisam de uma detenção e é para já. Esqueçam tudo o resto e dediquem-se apenas a este caso. Prometi ao chefe que teríamos alguém sob custódia dentro das próximas vinte e quatro horas. Se necessitarem de mais pessoal. informem-me. Fico a aguardar resultados imediatos.

Lá se vai o jantar, pensou Tucci. Nada como uma pequena pressão para que o dia nos corra bem. "

 

- Não acredito que vais sair com esse tal Jake - disse Natalie, rolando os olhos em desaprovação.

- Ontem à noite consideraste que era jeitoso – salientou Madison.

- Também pensei que estivesse disponível - afirmou Natalia rispidamente. - Disponível e jeitoso é uma coisa. Disponível e comprometido é outra.

- Quem disse que ele estava comprometido?

- Oh, então rapariga! - disse Natalie. - Bem o viste com esse ar ansioso por desaparecer com aquela loura ontem à noite. Estava louco por ela. Diria mesmo, pronto para ir para a cama com ela.

- Pelos vistos, não era propriamente o caso - respondeu Madison. - De qualquer forma, não foste tu que disseste que devia sair e divertir-me? Tirar da cabeça David, o palhaço?

- Sim, mas a intenção não é passares de um palhaço para outro

- respondeu Natalie. - Isso seria demasiado triste.

- É um encontro - disse Madison pacientemente. - Não vou viver com ele.

- Graças a Deus!

- Não me venhas com religião para mim.

- Se Jake for parecido com o irmão...

- Pensei que gostavas do irmão; arrastaste-me a noite passada para jantar na casa dele.

- Só porque eu e Jimmy trabalhamos juntos.

- De qualquer modo, vou encontrar-me com ele. Grande coisa.

Um simples jantar.

Natalie levantou as mãos.

- Pronto, pronto. Estou apenas a tentar cuidar de ti.

- Que tal correu o teu almoço com Luther?

O rosto bonito de Natalie rompeu-se num sorriso largo.

- Ele é um pão.

- Gostas dele, hem?

- É compreensível, rapariga. Ele é grande e muito sexy. Faz-me sentir protegida.

- Agora é a minha vez de agitar uma bandeira de alerta na tua cara. Não te esqueças também que acabaste de sair de uma péssima relação. Denzl... lembras-te? Por isso, não te entusiasmes.

Natalie riu-se.

- Que agitação! - disse. - Sinto-me como se tivéssemos regressado aos tempos da faculdade, sentadas a conversar sobre homens. Não achas que somos um pouco velhas para estas tretas?

- Sim - concordou Madison, sorrindo.

- Um destes dias - disse Natalie - gostaria de me ver casada e com dois filhos, a viver numa bonita casa junto ao mar, ter um óptimo marido que chegasse a casa ao mesmo tempo, e assistir a ópera!

- Esse é um mundo de sonho, Nat - disse Madison. Haverias de detestar perder uma vida activa. Adoras o que fazes.

- É verdade. Mas quero fazer mais do que apenas o mundo do espectáculo. Estou tão farta de falar sobre Salli Turner. Sim, era uma grande estrela de TV e muito bonita... para quem gosta de silicone. Mas a rapariga foi assassinada, e agora eu tenho de continuar sempre a elogiá-la. Já chega. Quero fazer reportagens de notícias reais, não de homicídios sensacionais em Hollywood.

- Compreendo - disse Madison. - Mas lembra-te, Sally não teve a culpa de ser morta.

- Sim, eu sei, é uma tragédia. A verdade é que... me traz recordações muito tristes.

Madison anuiu em tom de simpatia, recordando-se da noite na faculdade em que Natalie foi atacada e violada por um homem

que se descobriu ser um assassino responsável por vários crimes.

Apanharam o tipo, mas foi necessário um ano para que Natalie recuperasse e parasse de tremer.

- Que vais usar esta noite? - perguntou Natalie, apressando-se a mudar de assunto. - Algo sexy, espero.

- Não sou do tipo sexy - afirmou Madison, o rosto sério.

- Sabes o que seria realmente bom para ti?

- A que brilhante ideia chegaste agora?

- Usa-o como os tipos nos estão sempre a usar a nós. Mete uns preservativos na mala e passa uma noite de sexo louco.

- De que estás a falar?

- É o que os homens fazem sempre. E, na minha opinião pessoal, precisas de uma noite de sexo estonteante. Uma espécie de fornicação de vingança.

- Vingança de quê? - perguntou Madison, pacientemente.

- Da forma como David te tratou.

- Ele fez o que o tornou feliz. Além do mais, encontros de uma noite não são o meu estilo.

- Faz com que seja o teu estilo. E não vais usar um dos teus trajes convencionais. Eu tenho um vestido adequado para ti!

- Vestidos também não são comigo - contrapôs Madison.

Natalie não a ouvia.

- É vermelho, curto e muuiito sexy. Estava a guardá-lo para o teu aniversário... mas, já que cá estás, é perfeito! Oh, é verdade, e tens de usar o cabelo caído.

- Por que me estás a tentar transformar naquilo que não sou?

- inquiriu Madison, desesperada.

- Considera esta noite como uma aventura. Que tens a perder?

Mais tarde, quer Cole quer Natalie ficaram sentados a ver Madison preparar-se para o encontro. Tentou discutir mas conseguiu evitar de rir-se enquanto eles a iam instruindo. Cole era um mestre com os pincéis de maquilhagem; trabalhou nos olhos e lábios dela e depois afastou-se para admirar a sua obra.

- Kevyn Aucoin, rói-te de inveja! - exclamou.

- É a transformação de Madison! - gritou Natalie. - És como aquelas secretárias com carrapito e óculos.

- Não uso óculos.

- Sabes a que me refiro. Tira os óculos, liberta o cabelo e és a Sharon Stone!

- Nem sequer sou loura, Natalie. E sinto-me ridícula com este vestido.

- Mas estás explosiva, rapariga!

Cole entregou-lhe um pacote de preservativos.

- Não, obrigada - disse Madison, devolvendo-os.

- Mais vale ires prevenida - disse Natalie. - Talvez Jake te leve a dançar, e vês-te nos braços dele, e chega então o momento em que não se consegue parar. Se isso acontecer, hás-de lamentar não os ter contigo. Porque, sem preservativo. nada de amor.

- Agora é que me sinto mesmo como se tivesse regressado aos tempos da faculdade - afirmou Madison, rindo-se. - Vocês os dois são inacreditáveis.

- É, formamos um par engraçado - disse Natalie, abraçando Cole impulsivamente. - Habitua-te a nós porque, rapariga, ainda vamos ser famosos.

- Quais são os teus planos para esta noite, Cole? - perguntou Madison.

- Tenho um encontro especial.

- Com quem? - inquiriu Natalie.

- O teu favorito - disse Cole. - Mr. Mogul.

- Oh, Santo Deus - gemeu Natalie. - Ainda não entendeste? Esses tipos poderosos gostam de abusar de jovens como tu. São piores do que playboys que se fazem às mulheres.

- Gostaria que o conhecesses. É um tipo simpático.

- Um tipo simpático uma treta - resmungou Natalie. - É um tipo homossexual bilionário que te usará a seu bel-prazer.

- Estás a fazer julgamentos precipitados - disse Cole, estreitando os olhos. - Preferias que ficasse com um simpático contabilista chato.

- Não me importa o que fazes. O teu estilo de vida não me incomoda.

- Mentirosa! Gostavas que não fosse homossexual.

- Será que podiam parar de discutir - disse Madison, colocando as mãos sobre as esbeltas ancas, desejando poder cancelar o encontro com Jake.

Demasiado tarde. A campainha da porta soou e Cole e Natalie começaram a empurrá-la para a porta.

Agora não tinha saída.

 

- Por que razão estás tão mal disposta? - perguntou Freddie, irritado.

- Não estou - respondeu Diana, embora fosse evidente que estava.

- E onde foste esta manhã? - acrescentou ele, aborrecido pelo facto de ela não ter estado presente para lhe satisfazer todas as necessidades.

- Que te importa isso? - disse Diana, o rosto corando. - Eu não te perguntei onde tu estiveste a noite passada.

Ele lançou-lhe um olhar de aviso.

- Não te armes em engraçada comigo, Diana.

- Por que saíste? - prosseguiu ela, determinada a não se deixar intimidar. - Sabes que não gosto de ficar sozinha em casa.

- Não estavas sozinha. Tinhas dezenas de empregados da festa por aí.

- Oh, por favor!

- Fazes ideia de quanto me custam estas tuas festas?

- Como se te importasses - disse Diana, exasperada. - É tudo deduzível nos impostos. - Dirigiu-se à cozinha e serviu-se de uma chávena de café. Estava a ser difícil recompor- se do choque do noivado de Max. Apesar de tudo, continuava a não conseguir deixar de pensar nele. Freddie seguiu-a para a cozinha. Diana virou-se e enfrentou-o. - Que vais fazer em relação a Max? - inquiriu.

- Cortar todos os laços que nos prendem o mais depressa possível - respondeu Freddie, com a ausência de emoção que Lhe era característica. - Vou comprar a parte dele.

- Não podes fazer isso. É teu sócio - disse, recordando- o de algo que ele sabia perfeitamente.

- É verdade. No entanto, eu possuo cinquenta e um por cento, ele quarenta e nove. Passou à história.

- Podes estar a cometer um erro.

- Quantas vezes te disse para não te meteres nos meus negócios?

- A única coisa que sabes fazer é insultares-me - replicou ela, o rosto enrubescendo. - Quem esteve do teu lado enquanto cimentavas o negócio? Quem saía com estrelas de cinema maçadoras e as fazia sentir-se como valendo um milhão de dólares para que assinassem contratos contigo? Eu sempre te acompanhei e nunca te esqueças.

- Que raio te deu hoje? - perguntou, a voz erguendo- se. Diana bebeu um pouco de café e libertou toda a sua frustração.

- Quando foi a última vez que me tocaste, Freddie?

- Oh, Santo Deus! - resmungou ele. - Outra vez essa história não.

- Não te importas, pois não?

- Claro que me importo.

- Não, Freddie, tu nunca apreciaste muito fazer sexo e, últimos anos... - A sua voz apagou-se.

- Chega destes disparates - afirmou Freddie, duramente. Tenho coisas mais importantes para fazer.

A ira e frustração de Diana continuaram a aumentar.

- Quero um homem que me ame - afirmou. - Em todos os sentidos.

A resposta de Freddie foi completamente isenta de emoção.

- Que pretendes... um divórcio? - perguntou, friamente.

Ela abanou a cabeça, com medo de lhe dizer que sim - que era exactamente o que pretendia.

- Eu... eu não sei - gaguejou.

- Recompõe-te, Diana - disse Freddie, saindo da cozinha.

Ela seguiu-o para a biblioteca.

- Sabias que Max ficou noivo?

- Que estás para aí a dizer agora?

- Ele está noivo.

- Da modelo que o deixou pendurado ontem à noite?

- Não, alguém chamado Kristin... não faço ideia de quem ela seja.

- Como sabes?

- Max telefonou esta manhã.

- Oh, telefonou? Cheio de desculpas, quase de certeza. Mortinho por cair de novo nas minhas boas graças.

- Disse-me apenas que estava noivo.

- Por que não o anunciou a noite passada?

- Não teve oportunidade, depois da forma como tu e Ariel se atiraram a ele.

- Não tenciono continuar-me a repetir, Diana... não te metas nos meus negócios.

Diana fitou-o.

- Se assim o desejas. E, a propósito, se decidir divorciar-me de ti, Freddie, qual será a tua posição?

Freddie mirou-a perplexo pelo facto de ela considerar uma atitude tão drástica.

- Nem penses nisso. Somos perfeitamente felizes. Toda a gente sabe isso.

Ela abandonou o aposento. Freddie abanou a cabeça. Que raio se passava com ela? Devia estar a passar mais cedo pela mudança da vida. Santo Deus! Pobre Diana. Será que não se apercebia da sorte que tinha? Afinal, estava casada com um dos homens mais importantes da cidade.

 

Max deambulou pela casa dado que dispunha ainda de muito tempo antes da chegada de Kristin. Não queria desperdiçar o tempo sem fazer nada, pelo que ligou para Howie para saber por onde ele andava. Foi atendido pelo serviço de Howie. Max deixou o nome e depois decidiu dar um mergulho na sua luxuosa piscina e talvez trabalhar para o bronze durante cerca de uma hora. O melhor que tinha a fazer era apanhar uns raios, pensou, tomando tristemente consciência de que não tinha mais nada para fazer.

Amanhã enfrentaria Freddie; nem pensar lidar com esse pequeno problema hoje. Conhecia Freddie demasiado bem. Na verdade, conhecia-o como ninguém - o que, apercebeu-se, não tinha grande significado, porque ninguém conhecia realmente Freddie. Era um homem de mistérios - impossível de associar ao nível de homem para homem. Não apreciava jogos de bola, póquer, cavalos nem mulheres. Apenas trabalho.

Max foi para o exterior, despiu a camisa e calças e sentou-se numa espreguiçadeira. Estava feliz nas suas pequenas Calvins brancas - do tipo justo - que enfatizavam os seus consideráveis atributos.

Ao estender-se, a sua mente divagou brevemente para Inga Cruelle, a mulher que o deixara pendurado a noite passada. A cabra da supermodelo! Trocara-o por uma saída com Howie Powers, que engatara numa festa. Até onde podia chegar a estupidez de uma mulher? Howie era seu amigo, mas toda a gente sabia que era um idiota, um playboy rico sem nada mais a não ser o dinheiro do pai.

Sim, Inga estragara realmente tudo. Nem pensar em ajudá-la no que ela considerava a sua carreira no cínema; ela que arranjasse outro agente.

Quando apanhou sol suficiente, saltou para a piscina e nadou, como sempre exagerando. Max nunca fazia as coisas pela metade, tinha sempre que se superar - talvez porque, quando era criança, o pai lhe dava enormes tareias se não fosse o melhor em tudo o que tentasse. Depois de nadar, decidiu que estava com fome. Almoçar no The Ivy não lhe pareceu má ideia; o único problema é que comer sozinho não constava da sua agenda - dava ar de perdedor.

Talvez concedesse a Inga uma última oportunidade. Não, decidiu. Ela que se lixasse! Ninguém dava uma tampa em Max Steele e se safava.

Era evidente que existia uma longa lista de outras beldades a quem podia ligar, mas não estava com disposição para conversas, a maioria delas só falava das carreiras.

Actrizes. Estava farto de actrizes. Como seria agradável ter Kristin na sua vida. Uma beleza natural, sem ambições. E sem outros clientes a não ser ele.

Questionou-se quanto lhe custaria tê-la por uma semana. Hmm. Era provável que não fosse barato. Mas que lhe importava isso? Era dono de metade da A. A. I. e, independentemente do que acontecesse entre ele e Freddie, acabaria sempre com uma avultada quantia de dinheiro.

Em vez do almoço, decidiu ir ao Jhama Juice e tomar uma bebida saudável. Saltando para o seu Maserati, partiu. O sol brilhava; as coisas não eram assim tão más; amanhã resolveria os seus diferendos com Freddie.

Enquanto conduzia ao longo de San Vicente, pensou em Diana Leon e como era bizarro o facto de ela se ter atirado a ele. Se Freddie alguma vez descobrisse, sufocaria com a sua própria surpresa.

Dependendo do que iria acontecer entre ele e Freddie, interrogou-se se deveria talvez ter um caso com Diana, simplesmente para a ter do seu lado.

Não, era demasiado velha. Não se recordava da última vez que tivera uma mulher com mais de trinta. Será que existiam sequer em L. A? Não na sua mente.

Estacionou na estrutura subterrânea do bar, trancou o carro e começou a sair da estrutura em forma de túnel.

- Passa a merda do dinheiro, cabrão.

Oh, Santo Deus! Antes que se conseguisse voltar, sentiu uma arma apontada nas costas. Oh, Santo Deus!

- E tira a merda desse Rolex ou rebento-te com os miolos.

 

Van Morrison cantava Haue I Told You Lately That I Love You. Kristin escutava a comovente letra e apetecia-lhe chorar. Sempre que deixava Cherie, estava sempre muito emocionada. O médico que assistia Cherie duas vezes por semana dissera-lhe há muito que devia desligar a tomada, mas não conseguia dar esse passo. Enquanto a irmã respirasse, havia sempre a possibilidade de um milagre.

No seu íntimo, contudo, sabia que não estava a ser realista. No seu íntimo sabia que a sua querida irmã estava já morta.

A letra sentida da música envolveu-a enquanto seguia de carro pela auto-estrada. Deveria contar a Max sobre Cherie? Essa era a questão. Talvez se ele soubesse, não a quisesse. Pior para ele. Tinh uma nova forma de encarar a vida - a verdade acima de tudo. Se tivesse sido sincera com Jake, não se sentiria tão mal agora.

Afinal, qual seria a ideia de Max? Estava ansiosa por descobrir.

Primeiro teria de ir a casa, trocar de roupa e responder ao telefonema de Darlene. Era provável que esta estivesse enfurecida por não ter respondido à mensagem da noite anterior. Pouco Lhe importava.

Deixara de se preocupar com as outras pessoas.

O seu apartamento estava deliciosamente fresco e acolhedor.

Deixara o ar condicionado ligado no máximo porque estava um daqueles dias que os habitantes de L. A. afirmavam corresponder ao tempo de tremores de terra. Ela nunca sentira um tremor de terra, pois só chegou a L. A. depois do que ocorreu em 1994. Parecia impossível ser tão mau como as pessoas diziam mas, em todo o caso, tinha um armário especial cheio de comida enlatada, água engarrafada e lanternas. Se alguma vez ocorresse outro grande tremor de terra, meter-se-ia no carro e seguiria directa para a clínica.

Preocupava-lhe a possibilidade de eles não cuidarem adequadamente

de Cherie numa situação de emergência. Era por essa razão que a visitava todas as semanas, levando às enfermeiras presentes e doces, para se assegurar de que tratavam bem da irmã.

A primeira coisa que fez quando atravessou a porta foi verificar o atendedor de chamadas, para ver se Jake telefonara. Não que contasse que ele o fizesse, obviamente, e, muito honestamente, pouco se importava se nunca mais o ouvisse.

Nesse caso, por que lhe batia o coração tão desnorteado ao aproximar-se da máquina? Por que ansiava que a luz vermelha estivesse a piscar?

Aluz vermelha estava a piscar. Acendia uma vez. Uma mensagem.

Provavelmente, Darlene, querendo saber por que não respondera em relação ao Senhor X.

Pressionou o botão para rebobinar.

- Kristin" - disse uma voz masculina, não a de Jake. – Por que não vieste a noite passada? Não gosto de ser ignorado. Não é

bom para nenhum de nós. Esta noite. Às oito. Na extremidade do Cais de Santa Monica. Pago-te a dobrar. Aparece.

Estava chocada. Como conseguira o Senhor obter o seu número de casa? Teria sido Darlene quem lho deu? Aquilo era absolutamente inaceitável.

Furiosa, pegou no telefone para queixar-se a Darlene, mas a governanta desta informou-a de que tinha saído. Kristin deixou mensagem para que ela lhe ligasse e desligou, ainda ultrajada. O facto de o Senhor possuir o seu número de casa fazia-a sentirtotalmente vulnerável e algo intranquila. Ter o número ficava apenas a um passo de obter o seu endereço. Estremeceu perante o pensamento.

Talvez Max tenha aparecido no momento exacto. Pelo menos, se fosse viver com ele, estaria protegida. Quanto mais pensava nisso, maior certeza tinha de que era o passo mais adequado.

Dirigindo-se apressadamente ao roupeiro, trocou para um vestido simples amarelo e sandálias de salto alto. Maquilhou-se de seguida e partiu para fechar o negócio com Max.

 

Enquanto conduzia a carrinha para ir buscar Madison, Jake sentiu um forte desejo de telefonar a Kristin. Tomara algumas bebidas no casamento do pai e dispusera de tempo para ponderar sobre algumas coisas. Por que não exigira ele saber o que se passava?

Era um puzzle que não conseguia resolver. Afinal, que fazia Kristin na cama com ele? Não lhe pedira dinheiro nenhum. Qual seria o motivo dela? E, durante quanto tempo pretenderia ela esconder-lhe a sua profissão?

Pensara seriamente que tinham algo em conjunto, por isso, quando escutou a voz daquela mulher no atendedor de chamadas,

ficara em choque. Quanto a Kristin, permanecera deitada, sem dizer uma palavra em sua defesa. Santo Deus, deve ter pensado que ele era um perfeito idiota.

Agora sentia-se deprimido e um pouco embriagado e lamentava ter convidado Madison para jantar. Era uma mulher atraente, mas não era Kristin. Será que devia deixar de gostar de uma pessoa só porque ela era uma prostituta?

Mas como posso gostar de uma pessoa que nem sequer conheço? ", perguntou-se tristemente. Vira-a por três vezes e apaixonara-se.

HQue tal isto como exemplo de estupidez?

Estacionou a carrinha em frente da casa de Natalie, apeou-se e caminhou lentamente para a porta. Jimmy reservara-lhe uma mesa no The Palm.

- Leva-a lá, pede o bife e lagosta, embebeda-a, fornica com ela e esquece Kristin - dissera-lhe o irmão.

- Só pensas nisso com mulheres? Ires para a cama?

- Se tu estivesses casado com Bunny, só pensarias nisso. É uma verdadeira chata.

- Sempre foi. Já sabias isso antes de casares com ela.

- Já há algum tempo que estava para te contar - confidenciara Jimmy - Sabes que tenho outras mulheres?

Jake não queria ouvir sobre as escapadelas sexuais de Jimmy.

- Que é isto, hora de confissão? - dissera, abruptamente. Nem quero saber.

- Sou teu irmão - afirmara Jimmy, indignado. - Se não te posso contar a ti, a quem posso contar?

- Ao pai. É ele o mulherengo da família. Ao menos, ele casa com as conquistas dele.

Jake não desejara ouvir mais nada sobre a vida amorosa extra curricular do irmão. Bunny podia ser uma chata, mas não lhe parecia justo que Jimmy usasse esse facto como desculpa para ser infiel.

Tocou à campainha da casa de Natalie.

Cole veio abrir.

- Olá, companheiro - disse. - Que tal correu o casamento?

- Previsível - respondeu Jake, entrando na pequena casa. O meu pai tem 62 anos, a noiva 20. Penso que isso diz tudo.

- Vais tratá-la por mamã? - brincou Cole, conduzindo-o para a sala.

- Não vou sequer falar-lhe - disse Jake, secamente. - Fui ao casamento; já cumpri o meu dever este ano.

- Tu e o teu pai não se dão bem?

- Madison está por aí? - perguntou Jake, sentindo-se desconfortável com tantas perguntas por parte de Cole.

- Sim, vou chamá-la. Eia, Maddie! - gritou Cole. - O teu cavaleiro já chegou.

- Muito engraçado - disse Jake. - Dás-me um pouco de água?

- Claro. - Cole saiu da sala, regressando pouco depois com uma garrafa de Evian, que lhe entregou.

- Obrigado - disse Jake, bebendo da garrafa.

Alguns instantes depois, Madison entrou. Jake mirou-a intensamente. Sabia que era uma mulher atraente, mas não se apercebera de que tinha um corpo espectacular e que era tão extraordinariamente bonita. O rosto oval estava rodeado por uma nuvem de cabelos escuros que, até então, só vira apanhados. Os lábios sedutores estavam enfatizados por um bâton castanho-dourado, condizendo com a sombra subtil sobre os olhos alongados. Madison trazia um vestido vermelho de fazer cortar a respiração - decotado, curto e com alças finas. Estava fantástica.

- Olá - disse ela, sem consciência do impacte que causara. Jake regressara ao hotel depois do casamento e trocara o único fato que possuía por umas calças em caqui e uma camisa de algodão sem gravata.

- Sinto-me inadequadamente vestido - disse, apercebendo-se então que dissera praticamente o mesmo a Kristin na primeira vez que saíram.

- Quer que vá trocar de roupa? - inquiriu Madison. - Sinto-me meio despida.

- Está sensacional, e... se se sente confortável assim...

- Não - riu-se ela, encantada por ele não se ter incomodado em se vestir a rigor. - Asseguro-lhe que não. Isto foi ideia de Cole e de Natalie. Estão numa de transformar as pessoas, e eu deixei-me ir. Importa-se que vá trocar de roupa?

- O que a fizer feliz.

Ela sorriu.

- Isso far-me-á feliz.

Duas horas mais tarde, estavam envolvidos numa intensa conversa. Madison vestira uma camisola larga, jeans pretos e um casaco informal. Mas deixara os cabelos caídos e não retirara a maquilhagem. As cabeças dos homens voltavam-se. Era uma mulher que dava nas vistas.

Jake achava-a fascinante porque conseguia falar com ela de uma forma que não conseguia com a maioria das mulheres. Era decidida e inteligente e estava ao corrente de tudo o que se passava, sem ser contudo uma intelectual. Escutava atentamente o que ele tinha para dizer e possuía um riso gutural que ele achava bastante sedutor.

Tinham já discutido política, religião, o estado da indústria cinematográfica, publicações, pornografia na Internet e o assunto favorito dele - fotografia. Madison era uma estimulante conversadora.

- Onde nasceste? - perguntou, comendo uma garfada do melhor bife que jamais provara.

- Sou uma verdadeira nova-iorquina - disse. - Os meus pais ainda lá vivem. Bom, para ser franca, já não vivem... mudaram- se para Connecticut.

- Que faz o teu pai?

Madison ficou em silêncio por momentos.

- Uh... trabalha na Bolsa de mercadorias agrícolas e extractivas.

- Bolsa de mercadorias - disse Jake. - O mercado de valores?

- Uma espécie.

- Nunca entendi o mercado de valores - afirmou Jake. - Para mim, é como um jogo legalizado.

- Já alguma vez estiveste em Vegas?

- Nunca. Não quero lá ir.

- Raios! - disse Madison com um riso baixo e sexy. - Lá se vai o meu plano para te levar até lá para um longo fim-de-semana de luxúria desenfreada.

Jake sentou-se muito direito.

- Estava a brincar - disse, com um sorriso tentador. Jake estava confuso; em virtualmente nenhuma outra circunstância teria achado aquela mulher completamente irresistível. Mas tinha de ser honesto consigo mesmo e admitir que tinha ainda Kristin em mente. Toda a noite se interrogou sobre o que ela estaria a fazer e se pensaria nele.

- Por que não me falas dela - disse Madison, inclinando-se para a frente, os olhos reluzindo com genuíno interesse. - Sou óptima a escutar. Na verdade, faz parte do meu trabalho.

- De quem?

- Ouve - disse, pragmática. - Há três meses atrás, acabei a relação com o meu namorado. Ou melhor, ele acabou comigo. Acredita em mim, sei que leva tempo a ultrapassar uma coisa destas. Eu estou quase a conseguir; tu estás obviamente ainda a começar.

Jake considerou ainda negar mas, depois - por que não ser honesto? Ela era demasiado esperta e demasiado simpática para tentar fingir. Pelo que lhe começou a contar a história, enquanto Madison o escutava atentamente - interrompendo ocasionalmente com um comentário sensato.

- E é isto - disse, quando terminou a sua triste história. - E, como um idiota, contei ao parvo do meu irmão, que o anunciou a toda a gente no casamento do nosso pai. Agora, sinto-me o maior parvo deste mundo.

- Não te sintas - disse ela, abanando a cabeça. - A tua reacção foi perfeitamente compreensível. Sentiste-te descontrolado e traído.

- É exactamente isso! - disse ele, excitado. - Eia. já alguma vez foste ao psiquiatra?

- Não, mas escrevo histórias, pelo que conheço as pessoas. O meu pai ensinou-me a analisar as situações e a juntar os intervenientes. É um homem brilhante.

- Então. que devo fazer de seguida?

- Telefonar-Lhe, pedir-lhe desculpa por teres reagido daquela forma e marcar um encontro em território neutro.

- Tens a certeza?

- Sim. Tens de lhe dar oportunidade para explicar por que não te contou.

- Óptimo - disse, aliviado. - Estou ansioso por ouvir o que ela tem para dizer.

- Lembra-te - afirmou Madison, severamente. – Nada de acusações. Limita-te a ouvi-la.

- Assim farei - disse ele, terminando o bife.

- Vais ver que não lamentarás tê-lo feito - afirmou Madison, consultando o relógio. - Importas-te se nos formos embora? Quero ouvir o noticiário das dez, para ver se dizem alguma coisa sobre o assassinato de Salli.

- Tudo bem - disse, pedindo a conta. Fitou-a depois demoradamente. - Sabes, se esta fosse outra altura, outro lugar...

- Eu sei - respondeu ela, suavemente. - Não precisas de dizer uma palavra. Haveremos de nos juntar de novo, quando ambos nos sentirmos menos vulneráveis. Que tal?

Ele sorriu.

- És uma grande senhora.

Ela sorriu também.

- E tu um tipo impecável. Por isso, vamos embora daqui!

 

Dado que o capitão Marsh exigia uma detenção pelo assassinato de Salli Turner no prazo de vinte e quatro horas, o detective Lucci sabia que tinha de aproveitar bem o resto do dia. O facto de Bobby Skorch ter chamado o seu advogado e se ter recusado a falar com eles aumentara as suspeitas de Tucci. Se Bobby não tivesse nada a esconder, por que não autorizava ser interrogado? questionou-se. E por que não estava ansioso por se inteirar dos detalhes relacionados com o brutal assassinato da mulher?

Depois de falarem com o capitão Marsh, Lee decidiu que devia apanhar o próximo avião para Vegas, para que pudesse verificar detalhadamente cada passo de Bobby Skorch desde o dia anterior.

Enquanto Lee se ocupava dos assuntos em Vegas, Tucci interrogou Eddie Stoner, o ex-marido de Salli. As boas notícias eram que o advogado de Eddie ainda não chegara para o libertar sob fiança. As más notícias eram que Eddie estava com uma disposição violenta.

- Por que raio me estão a manter aqui preso? - quis saber Eddie, olhos raiados de sangue, disparando, furiosos, sentado na mesa de interrogatórios.

- Multas de estacionamento - disse Tucci, puxando uma cadeira. - Demasiadas.

- E onde está a merda do meu advogado?

- Já fez o telefonema a que tinha direito, Eddie.

- Bem - disse Eddie, truculento. - Exijo outro telefonema.

- Conhece as regras... uma chamada.

- Devem estar a brincar comigo - rosnou Eddie. - Vou contar ao meu sindicato sobre isto.

- Qual sindicato?

- Ao Grémio dos Actores de Cinema. Nem pense que eles vão permitir que os seus membros sejam tratados desta forma.

- Onde esteve a noite passada, Eddie?

- Quero um advogado presente antes de responder seja ao que for.

- Porquê? Tem alguma coisa a esconder?

- Preciso de um cigarro.

- Claro, Eddie. Vou arranjar-lhe um.

Tucci levantou-se e saiu da sala. Podia ver que Eddie Stoner estava numa pilha de nervos e não era apenas pela necessidade do cigarro - era óbvio que dependia de algo mais forte do que a nicotina, e começava a sentir a carência da substância.

Tucci pediu um cigarro ao sargento na recepção e voltou a entrar na sala de interrogatórios.

- Aqui tem.

- Obrigado - disse Eddie, pegando no cigarro e acendendo-o. Tucci estudou-o por alguns momentos. Eddie era atraente, numa forma debochada. Embora tivesse apenas 30 anos, tinha papos enormes sob os olhos, um longo emaranhado de cabelos louros imundos, olhos azuis-mortos e uma expressão mesquinha. Vestia uma velha t-shirt Nike, jeans que tinham já visto melhores dias e ténis gastos.

- Gostaria que fosse hoje para casa - disse Tucci. - Por isso, vamos tornar isto fácil para todos e diga-me onde esteve a noite passada.

- Deixe-me perguntar-lhe uma coisa - disse Eddie, fumando avidamente o cigarro. - O que importa onde estive a noite passada? Deteve-me por multas de estacionamento, não por um assassinato.

Tucci estudou-o. Aquela observação poderia levar a pensar que não estava ao corrente do homicídio de Salli TTurner. Ou talvez se estivesse a fazer de esperto.

- Por que não há-de responder? - inquiriu o detective.

- Porque não gosto de ser arrastado para fora da cama a meio da noite. Vocês têm uns tomates de aço.

- Fazemos apenas o nosso trabalho.

- Sim, pois, mas quando eu faço o meu trabalho, não molesto pessoas a meio da noite.

- Eu sei - respondeu Tucci. - Tirando esta pequena coisa, você é um bom actor. Já o vi a trabalhar em dois filmes. É uma pena nunca lhe ter surgido aquela grande oportunidade.

- Pode crer que é uma pena - disse Eddie, excitado. – Olho para os parvalhões que conseguem e digo para mim próprio: por que raio não me aconteceu a mim? Jean-Claude Van Damme: que tem eIe que eu não tenha? Sou mais bonito e sou seguramente melhor actor.

- Certo, Eddie - concordou Tucci. - Além de que é americano.

- Pode crer.

- Então, vamos fazer o seguinte, Eddie. Dado que o seu advogado

não respondeu, vou deixá-lo fazer outra chamada, se me disser onde esteve a noite passada.

Eddie percorreu uma mão pelo longo cabelo.

- Deixe-me pensar - disse. - Engatei duas miúdas num clube em Sunset. Fui para casa delas por volta da meia-noite e divertimo-nos à grande. Devo ter chegado a casa por volta das três.

- Quem eram as raparigas?

Eddie riu-se secamente.

- Pensa que lhes pergunto os nomes?

- Quer dizer que passou a noite com duas mulheres e não sabe quem são? - perguntou Tucci, sabendo que deveria estar a parecer um bota-de-elástico.

- Estamos em Hollywood, homem. Há mulheres por todo o lado.

Quem se importa como elas se chamam?

- Tente recordar- se, Eddie.

- Eia... não está a ouvir-me - afirmou Eddie, irritado. – Não sei quem elas eram. Engatei-as num clube. Elas estavam desejosas... o, eu estava desejoso. Satisfizemo-nos uns aos outros.

- Lembra-se qual era o clube?

- Antes estive no Viper Room. Talvez tivesse sido num sítio do chamado The Boss.

- O The Boss tem porteiro?

- Tem um segurança.

- Saberá ele quem eram as raparigas?

- Eia, homem, ele não está lá para identificar ninguém. Só lá está para receber uma gorjeta substancial.

- Okay, Eddie!

- Tenho direito à chamada?

- Tem. Mas não quero que saia da cidade. Oh, e a propósito.

- Que foi?

- A sua ex- mulher...

- Salli?

- Foi assassinada a noite passada.

- Oh, merda! - exclamou Eddie, o tronco descaindo sobre a mesa. - Oh, merda! Agora vai dizer-me que tenho alguma coisa a ver com isso?

- Não estou a dizer nada - disse Tucci. - Mas não saia da cidade. Estamos entendidos?

- Como aconteceu? - perguntou Eddie, sentando-se. - Foi o paspalho com quem ela casou? Bem a avisei de que ele representava sarilhos.

- Quando foi a última vez que a viu? - perguntou Tucci.

- Eia, homem - disse Eddie, erguendo as mãos. - Posso parecer estúpido, mas sei que chegou a altura de não responder a mais perguntas. Preciso de um advogado.

Tucci levantou-se e dirigiu-se para a porta, onde parou por breves momentos, estudando a expressão de Eddie.

- Foi esfaqueada até à morte - disse. - Por várias vezes. Vou tratar do necessário para que tenha direito à sua chamada.

 

Enquanto conduzia para a casa de Max em Bel Air, Kristin fez outra tentativa para escutar a biografia gravada de Bob Evans. De novo, não conseguiu concentrar-se e desligou-a. Tentou afastar os pensamentos de Jake, pensando antes em Cherie e na clínica. Hoje, a irmã parecia mais pálida do que era habitual. O médico que cuidava dela deixara uma mensagem com uma das enfermeiras de que gostaria de falar com ela. Uma vez que o Dr. Raine nunca se encontrava na clínica aos domingos, o seu único verdadeiro dia de folga, sabia que tinha de lhe ligar, mas ia sempre adiando; fosse o que fosse que ele tivesse para dizer, Kristin estava certa de que não seria bom. O Dr. Raine era boa pessoa, mas não entendia nada sobre milagres.

Pensava com frequência no dia em que ela e Cherie se meteram no velho carro e partiram para Los Angeles. Cherie estava tão excitada; de facto, fora ela quem instigara a viagem. Vamos ser actrizes famosas, prometera Cherie, o rosto bonito reluzindo em antecipação. Tu e eu. E nunca teremos ciúmes uma da outra. Nunca haverá entre nós aquela estúpida rivalidade.

Três meses depois de partirem de casa, os pais faleceram num desastre de comboio, por isso não tinham para onde regressar. A tragédia aproximara-as ainda mais, dado que não tinham ninguém a não ser uma à outra - pelo menos, até Howie Powers ter entrado nas suas vidas, um homem que Kristin odiava com ardente intensidade. Desde o acidente, nunca mais o vira nem ouvira.

Pelos vistos, pouco Lhe importava se Cherie estava viva ou morta.

Kristin questionou-se sobre o que Cherie pensaria do que ela fazia agora para ganhar a vida. Não tinha dúvidas de que a irmã não aprovaria, mas que outra alternativa lhe restava? As contas da clínica tinham de ser pagas e não poderia ganhar dinheiro como actriz - de longe uma profissão muito mais difícil. Além do mais, nunca estudara, nem nunca tivera ambições nesse sentido. A ambiciosa sempre fora Cherie. Cherie previra o estrelato para ambas.

Os portões para a casa de Max estavam fechados. Como era estranho que, nos bairros ricos de L. A. todos se rodeassem de portões de ferro, cães de guarda e intricados sistemas de alarme, pensou Kristin. Viviam em fortalezas. Quem estariam eles à espera que os fossem buscar?

Saiu do carro e tocou no comunicador exterior. Nenhuma resposta.

Tocou de novo e depois consultou o relógio. Eram quase cinco horas, e dissera-lhe que chegaria por volta das quatro. Será que ele nem se incomodou a esperar?

Tocou mais duas vezes. Nada.

Depois de tocar por mais dez minutos, apercebeu-se de que não estava ninguém em casa. Teria Max Steele mudado de ideias? Seria isso? Convidara uma prostituta para se mudar para a casa dele e depois reconsiderara.

Irritada, meteu-se de novo no carro. Por que seria que todos os homens que conhecia a desapontavam? Por que razão seriam todos

eles um grupo de filhos-da-mãe egoístas, maníacos por sexo e pervertidos?

Foi então que lhe ocorreu. Se ia lidar com filhos-da-mãe, o melhor seria ser paga para isso.

As palavras do Senhor vieram-lhe à mente. Pago-lhe a dobrar.

O dobro do pagamento era um bom negócio. No caso do Senhor X, o dobro significava muito dinheiro.

Quem precisa de ti, Max?

Que aconteceu à boa educação? "

Recuando o carro da entrada até à rua, seguiu para casa.

Quando a bala atingiu Max, foi como um agudo estremecer do inferno. Sentiu como se o ombro lhe estivesse a ser arrancado do corpo e gritou em pura agonia. Aquilo não era um filme. Era real. E não podia acreditar que lhe estivesse a acontecer a ele.

Dera o relógio ao pulha, por muito que lhe custasse. Também lhe entregara o dinheiro - todos os vinte dólares - que era tudo o que trazia consigo.

A escassa quantia deixara o tipo enfurecido.

- Conduzes a porcaria de um Maserati - rosnara o assaltante, uma máscara de esqui ocultando-lhe o rosto. - Uma merda de um Maserati e andas por aí com a porcaria de uns vinte dólares. Não tentes enganar-me, velhaco.

- É tudo o que tenho - respondera Max com um encolher de ombros.

- Vai-te lixar, seu porco rico! - gritou o assaltante. E depois disparara um tiro... sem mais nem menos.

Max caiu no chão. O ladrão não pareceu importar-se se ele estava vivo ou morto. Deu-lhe um pontapé na virilha com o bico pontiagudo da bota à cowboy antes de pegar nas chaves do Mazerati e partir, deixando Max numa poça de sangue.

Perdeu a consciência quase de imediato, até escutar, ao longe, a voz de uma criança a gritar:

- Mamã, mamã! Está ali um homem no chão. Mamã! Mamã! E a voz preocupada da mãe respondendo:

- Não olhes, querida. Afasta-te dele. Entra no carro e tranca a porta.

Oh, Santo Deus! O que pensavam que ele era? Um vagabundo embriagado? Tentou falar. Numa voz fraca, conseguiu pronunciar:

- Por favor. ajudem-me.

A mulher disse:

- Devia ter vergonha! - Depois, deve ter reparado na poça de sangue que alastrava, pois exclamou subitamente: - Oh, meu Deus! Foi alvejado!

- Chame. a. Polícia. - murmurou. - Peça ajuda. - E caiu para trás, interrogando-se se estaria a morrer.

A mulher saltou para o carro e telefonou à Polícia pelo telemóvel. Esperou mesmo que esta chegasse.

Max só se recordava depois de se encontrar numa ambulância que o conduzia rapidamente para as Urgências, as sirenes gritando.

Não podia acreditar. Ele, Max Steele, fora alvejado. Depois, tudo se apagou.

 

O telefonema de Lucinda apanhou Freddie de surpresa. Encontrava-se no seu escritório de casa, pensando na má disposição de Diana e no inconsciente comportamento de Max quando ela lhe disse:

- Querido - disse arrastadamente, como só uma superestrela do calibre de Lucinda conseguia. - Preciso desesperadamente de um favor.

- O quê? - inquiriu, suspeitando, como sempre, dos favores a estrelas de cinema.

- A Manhattan Style vai fazer um artigo de fundo sobre mim. O editor, Victor Simons, é um velho amigo, pelo que sei terá uma vertente positiva. No entanto, Victor pediu-me um favor pessoal que o envolve a si. - Uma pausa dramática. - Querido, a revista quer fazer um artigo sobre si.

- Lucinda, sabe que não faço publicidade - disse, mantendo a voz num tom simpático e regular.

- Sim, Freddie, querido, sei isso. Mas se fizer isto por mim, dar-lhe-ão o texto para que o possa rever, assim... que tem a perder?

- A minha privacidade - disse, severamente.

- Que privacidade? - replicou ela, como se fosse a coisa mais divertida que jamais tivesse ouvido. - É conhecido como o agente

mais famoso de Hollywood. Devia aceitar, Freddie. Afinal de contas, Sumner Redstone aparece em todos os meios de comunicação; tal como Michael Eisner.

- Sumner é dono do mundo, Michael dirige um estúdio salientou Freddie.

- Quem sabe - disse Lucinda. - Talvez seja o que você fará um destes dias.

- Mike Ovitzjá cometeu esse erro - disse, aborrecido pelo facto de saber que teria de dizer que sim. Há pouco tempo, persuadira

Lucinda a assinar um contrato para um filme que ela não desejava particularmente fazer. Tratava-se de um negócio de doze milhões de dólares... o que representava uma comissão de quase dois milhões para a agência. Como podia ele recusar-lhe o favor?

- Seja como for - disse Lucinda, aborrecida com a conversa. Gostaria de poder dizer que sim a Victor, que você receberá a jornalista dele amanhã às onze. Concede-me este pedido, Freddie...

por favor. Praticamente nunca lhe peço favores. Pode ser?

- Como se chama a jornalista? - perguntou, resignado.

- Madison qualquer coisa. Parece que é muito boa.

- Ela sabe que vou ter direito a rever o texto?

- Pouco importa se ela sabe ou não. O editor é Victor Simons.

- Só por si, Lucinda - disse Freddie, suspirando. - Peça a Victor que me envie um fax confirmando que posso rever e aprovar otexto e a manchete.

- Obrigada, querido - arrulhou. - Sabia que podia contar consigo.

Quando ela desligou, ocorreu-lhe que a mulher que Lucinda referiu devia ser a mesma jornalista de que Ria lhe falara. Era tudo o que precisava - uma entrevista com uma jornalista intrometida metendo-se na sua vida.

O telefone tocou de novo.

- Sim? - disse, com impaciência.

- Mr. Leon?

- Quem fala?

- Estou a ligar do Cedar Sinai.

Freddie sentiu o estômago virar-se. Por que estava a receber um telefonema de um hospital?

- Que se passa?

- Max Steele deu recentemente entrada aqui. Pensámos que o senhor devia ser informado de imediato.

- Deu entrada porquê?

- Mr. Steele foi alvejado no decorrer de um assalto.

Freddie ficou em silêncio. Não sabia como digerir aquela informação; parecia tão irreal.

- Qual é o estado dele? - perguntou, por fim.

- Crítico. Está nos Cuidados Intensivos.

- Vou já para aí - disse Freddie, desligando o telefone com força e saltando da cadeira. - Diana! - gritou. - Diana!

Esta encontrava-se sentada na sala de estar, lendo um livro sobre arte oriental, fingindo não lhe ligar.

- Não vais acreditar nisto - disse. - Temos de ir imediatamente para o Cedar. Max foi alvejado.

Diana saltou da cadeira.

- O quê? - exclamou, a cor drenando-se do seu rosto. - Como? Onde?

- Aparentemente, foi um assalto.

- É grave? - perguntou.

- Não sei. Vamos.

- Oh, meu Deus! - disse, o rosto enrugando-se. - Oh, meu Deus! - E, subitamente, rompeu a chorar.

- Recompõe-te - disse Freddie, friamente. - O histerismo não vai ajudar ninguém.

E, embora estivesse zangado com Max e se sentisse traído, Freddie estava em pânico perante a possibilidade de algo Lhe acontecer.

 

- Que tal correu? - inquiriu Cole assim que Madison entrou.

- Que estás a fazer aqui? - disse, surpreendida por o ver. Pensei que tinhas um encontro.

- Foi cancelado - respondeu.

- Natalie deve ter ficado muito satisfeita - disse, despindo o casaco.

- Podes dizer que ficou contente. Não aprova nada que me encontre com Mr. Mogul. - Indicou ojantar que se encontrava sobre a mesa de café. Pizza, um cartão de batatas fritas e uma Diet Coke de tamanho grande. - Queres um pedaço de pizza?

- Que aconteceu à tua alimentação saudável?

Cole sorriu, dando uma palmadinha no estômago musculado.

- Por vezes, temos de a esquecer.

Madison sentou-se no sofá.

- Que motivo deu ele para ter cancelado? - perguntou, roubando uma batata frita.

Cole fez um gesto de sei lá".

- Não sei. Não me importa - disse, vagamente.

Madison percebeu que ele estava magoado.

- Tenho a certeza de que foi por um forte motivo.

- Quem sabe - disse ele, pegando noutro pedaço de pizza. a propósito, um tipo qualquer chamado Victor quer que lhe ligues.

- O meu editor - disse ela, pegando no telefone e acordando Victor em Nova Iorque - o que parecia estar a transformar-se num hábito. - Que se passa, Victor? - perguntou.

- Já tem a sua entrevista com Freddie Leon - disse ele, parecendo satisfeito consigo mesmo. - Amanhã, às onze, no escritório dele. Não falte!

- Estou impressionada - afirmou, encantada por ele finalmente cumprir o prometido. - Como o conseguiu?

- Digamos apenas que os meus relacionamentos funcionaram.

- Quanto tempo me vai ele conceder?

- Use o seu encanto, Madison. Tenho a certeza de que lhe concederá todo o tempo de que necessitar. - Obrigada, Victor. Adoro quando cumpre as suas promessas. - Boas notícias? - perguntou Cole quando ela desligou o telefone.

- Excelentes - respondeu Madison. - Consegui a entrevista Com o esquivo Mr. Leon.

- Então, vamos lá - disse Cole. - Conta-me sobre a tua saída.

- Na verdade, foi bastante agradável - disse, sentando-se sobre as pernas. - Jake é um tipo impecável. Está também perdidamente apaixonado por outra pessoa, mas isso não o torna num mau tipo. Divertimo-nos bastante, falámos de tudo. Depois - dei-Lhe uns conselhos em relação à vida amorosa dele. Que tal?

- Para mim, não me parece nada romântico.

- Nem deve parecer - disse ela. - Podemos mudar de canal para ver as notícias? Gostaria de saber se há algum desenvolvimento sobre o assassinato de Salli Turner.

- Identificaram a loura que aqueles dois surfistas tiraram hoje do oceano.

- Ah, sim? Quem é?

- Uma miúda qualquer de Idaho.

- Verdade?

- O que dizem é que ela foi afogada numa piscina e depois atirada para o oceano. Que tal?

- Meu Deus, há realmente muitos tarados por aí - afirmou Madison, estremecendo. - Alguma novidade sobre Salli?

- A treta do costume. Num momento é a Virgem Maria, logo a seguir a maior vadia que jamais existiu, dependendo do canal a que assistimos.

O que Madison realmente desejava era meter-se na cama e ver televisão deitada, mas sentia a forte suspeita de que Cole desejava companhia.

- Nataliejá voltou? - inquiriu.

- Se bem conheço a minha irmã, não vai voltar a casa esta noite - disse Cole com um grande sorriso. - Observei Luther quando a veio buscar. Caramba, é um matulão.

- Sim... exactamente como Natalie gosta deles.

Ambos se riram.

- Eia, Maddie - disse Cole. - Ainda bem que te divertiste.

- Jake é um homem interessante - disse. - No entanto, posso prometer-te uma coisa: não estou com disposição para me envolver com ninguém agora. E, dado que ele já está envolvido, não há problema.

- Não estás virada para homens com quem só saíste uma vez, hem? - disse Cole, brincando.

- Não - respondeu Madison, firmemente. - E tu também não devias estar virado para isso. É demasiado perigoso.

- Questiono-me várias vezes como seria nos anos 60... quando sexo não nos podia matar. Quando se podia fazer tudo sem se ter de pagar com a vida.

- É verdade - disse ela. - Devia ter sido muito bom nessa altura. Foi quando os meus pais se juntaram.

- Falas muito do teu pai. Estás muito ligada a ele, não estás?

- Estou sim. É um homem maravilhoso.

- E a tua mãe?

- Também é, mas sempre fui mais chegada a Michael. Ensinou-me a sair por esse mundo e a lutar por aquilo que queria. Ensinou-me a ser justa e, acima de tudo, ensinou-me a seguir os meus sonhos.

- Michael parece ser um tipo às direitas.

- E é.

Luther era um romântico. Levou Natalie a um pequeno restaurante em Santa Monica, sobranceiro ao oceano. Por acaso ficava localizado no hotel onde ele estava hospedado - Shutters on the Beach. Obviamente, esqueceu-se de lhe dizer aquela vital informação enquanto a bombardeava com vinho tinto e elogios.

- Eu sei, querida - disse ele, numa voz baixa e galanteadora.

- Sinto que tu e eu... bem... como se fôssemos um acidente que tinha de acontecer.

Natalie inclinou-se sobre a mesa. Ela não expressaria as coisas naqueles termos, mas ele tinha razão. E estava já disposta a saltar para a cama com ele e iniciar o que, tinha a certeza, seria uma relação sexual mais do que gratificante. Embora Luther vivesse em Chicago, podia visitá-la regularmente, o que tornaria a situação ainda mais excitante.

Ele pegou-lhe na mão, pressionando os fortes dedos nos dela.

Natalie sentiu o calor e sorriu para si mesma. Ah, sim, ia ser definitivamente bom!

Foi então que o telemóvel dela tocou.

- Raios! - exclamou, vasculhando a mala para responder à maldita coisa. Era Garth, o dirigente da sua estação.

- Precisamos de si imediatamente - disse Garth de forma concisa. - Recebemos uma pista sobre a loura de Malibu. Parece que fazia parte de uma rede de raparigas de programa, daquelas que se pagam bem. Quero que venha já para elaborar uma história sobre ela.

- Já? - contrapôs Natalie. - Estou num encontro.

- Pode ir para a cama em qualquer altura - disse Garth rudemente. - Isto é importante.

- Importante até que ponto?

- Estava sempre a lamentar-se que queria fazer histórias reais.

Se fizer um bom trabalho, isto pode ser o início de uma reviravolta na sua carreira.

- Pivot de noticiário? - perguntou, sem respirar.

- Não se entusiasme.

- Vou já - disse, desligando o telefone. Subitamente, o lustre de Luther enfraqueceu. Era grande e sexy mas não passava, afinal de contas, de um homem.

- Ah... Luther - disse.

- Sim, querida?

- Sei que és um tipo compreensivo, pelo que, se te dissesse que tinha de ir trabalhar. podemos pegar onde deixámos, digamos, amanhã à noite?

- Mas, querida...

- Eu sei, eu sei - afirmou, suavemente. - É uma verdadeira chatice e vou sentir muito a tua falta.

Luther abanou a cabeça, como se não conseguisse acreditar que aquilo lhe estava a acontecer. Era, definitivamente, um homem não habituado a que as mulheres colocassem o trabalho antes dele.

- Compreende a minha situação, Luther - murmurou Natalie docemente. - E prometo que, amanhã, tornaremos a noite inesquecível.

Antes que ele pudesse reagir, Natalie levantou-se e saiu.

 

Angela Musconni, a famosa actriz de cinema de 19 anos viciada em droga, estava na cama com o actual namorado, Kevin Page, também famoso jovem actor de cinema, não viciado em drogas, quando o telefone tocou.

Tinham passado o dia na cama dado que se divertiram toda a noite e só foram dormir às cinco da manhã.

Angie esticou um longo braço nu, procurando o auscultador.

- Sim - murmurou. - Quem me está a acordar?

- Angeline - disse uma voz, ecoando do seu passado.

- Quem fala? - perguntou ela com suspeitas, embora um familiar nó no estômago lhe dissesse exactamente quem era.

- Sabes que sou o único que te trata por Angelina.

- Eddie? - perguntou. - És tu?

- Sim, o homem em pessoa.

- Que queres?

- Quero que me pagues a fiança para que saia da cadeia.

- De que estás a falar? - disse, esforçando-se por se endireitar.

- Estou metido em sarilhos, Angie. Não consigo contactar o meu advogado, e não sei a quem mais possa ligar que tenha dinheiro para pagar a fiança. Tenho de sair daquijá. Os polícias disseram que Salli foi assassinada e estão de olhos em mim.

- Não falo contigo há três anos - disse, em tom acusador, por fim ficando totalmente alerta. - Desde que me largaste e casaste com Salli.

- Eu sei, querida, mas, se as velhas amizades têm algum sigficado, tens de me vir buscar. Não consigo estar aqui trancado.

- Santo Deus! - disse Angie, completamente surpreendida por ele ter o descaramento de lhe ligar. - Foi por isso que te prenderam? Foste tu que o fizeste, seu filho-da-mãe?

- Nem pensar - respondeu, indignado. - Estou aqui por causa de umas tretas de umas multas de estacionamento por pagar.

- Estavas sempre a ameaçar-nos, Eddie - disse ela, recordando o passado. - A mim e a ela.

Kevin virou-se, meio a dormir.

- Quem é?

- Ninguém.

- Vens? - perguntou Eddie.

- Por que haveria de ir?

- Oh, Cristo! Preciso de ti, Angelina.

Angie estava indecisa; por um lado, sentia-se indignada por Eddie lhe telefonar passado tanto tempo e, por outro, sentia-se invadir pela curiosidade natural.

- Talvez - disse, mal humorada.

- Que quer dizer talvez? - exclamou Eddie. - Vens ou não?

- Logo vejo - disse, desligando o telefone e interrompendo a ligação. Fitou Kevin, que não se mexeu. Cuidadosamente, levantou-se da cama.

Kevin agarrou-lhe a perna nua, assustando-a.

- Onde vais? - murmurou ele.

- Tenho de sair - disse, bruscamente. - Uma emergência.

- Traz comida - disse ele, virando-se para o outro lado e adormecendo logo de seguida.

Angie correu para a casa de banho e vestiu umasjeans justas e uma camisola curta. Sabia que Kevin guardava sempre um monte

de notas por debaixo das t-shirts, pelo que se dirigiu à gaveta da cómoda e serviu-se de umas tantas.

Por que estou a fazer isto? ", questionou-se. Sim, em tempos amei Eddie, mas o parvalhão largou-me. Agora provavelmente fez a folha a Salli e vou ser eu a tirá-lo da prisão. Que se passa comigo?

Mas Angie sempre gostara de excitação e aquela era a coisa mais excitante que lhe acontecia desde há muito tempo. Ser estrela de cinema era demasiado seguro e previsível. Viver com risco - era o que ela apreciava.

E não havia ninguém como Eddie Stoner para nos levar para maus caminhos e nos conduzir ao próprio risco.

 

Desde os cabelos louros-escuros, chiques e bem penteados, às longas unhas perfeitamente arranjadas e pintadas de vermelho-sangue, Darlene La Porte era uma das mulheres mais bem cuidadas de Beverly Hills. Era necessário muito dinheiro para se ter o aspecto de Darlene - muitas notas grandes, considerando que tinha uma equipa de profissionais sempre a postos para cuidarem das suas necessidades em termos de aparência. Tinha uma cabeleireira que vinha a sua casa todas as manhãs. Tinha também uma manicura, dietista, artista de maquilhagem, estilista de roupa, instrutor de ioga e treinador pessoal. Eram todos pagos por Darlene. Não era estrela de cinema, mas cuidava melhor dela do que a maioria das actrizes.

Os resultados compensavam os gastos. Parecia ter 30 anos. Tinha, de facto.

Uma aparência jovem era extremamente importante para Darlene. Precisava de interagir e relacionar-se com as jovens que trabalhavam para ela. Todos os meses chegava um novo grupo de bonitas raparigas a Hollywood, com esperanças de se tornarem actrizes ou modelos. Quando os seus sonhos se desvaneciam - o que, invariavelmente, depressa acontecia - lá estava Darlene para as conduzir por outro caminho. Oferecia-lhes glamour divertimento e bom dinheiro. Oferecia-lhes estrelas de cinema, magnatas e intimidade com todos os homens que, de outra forma, não teriam oportunidade sequer de se aproximarem na vida real. Depois de serem exaustivamente iniciadas, mandava-as depois servir o resto da sua lista de clientes - aqueles homens com exigências caladas e perversões doentias. Homens como o Senhor X.

Darlene não fazia ideia de quem era o Senhor X. Sabia apenas que pagava muito acima da média, o que era suficiente para a deixar feliz. O único contacto que tivera com ele fora pelo telefone. A noite passada telefonara a reservar mais um encontro com Kristine, e Quando ele voltou a ligar uma hora depois, tivera de lhe dizer que não conseguira contactar Kristin. Ele Pareceu irritado. Perguntara se desejava outra rapariga. Ele disse que não. Cinco minutos depois, voltou a telefonar e disse que sim - mas apenas se ela tivesse um ar fresco e novo. Darlene pensou imediatamente em Hildie, uma bonita loura do Midwest, que se encontrava ao serviço apenas há dois dias. Ela e o Senhor trataram do local de encontro e Darlene telefonou a informar Hildie.

- Este tipo é um bocadinho esquisito - alertara-a, pensando nas queixas de Kristin. - Mas não é perigoso e estas são as boas notícias... paga realmente bem!

- Parece divertido! - dissera Hildie, com toda a confiança da juventude.

Agora, Darlene estava sentada diante da televisão, fitando uma fotografia de Hildie no noticiário, durante o baile de finalistas de liceu. Hildie aos dezasseis com aparelho nos dentes e cabelo frisado castanho. Não tinha nada a ver com a rapariga que Darlene enviara para um encontro com a morte. A Hildie que conhecia era loura e esbelta. Hollywood e quatro anos de experiência tinham-lhe conferido uma imagem totalmente nova e Agora estava morta. Afogada.

Não no oceano onde foi encontrada. Numa piscina.

E Darlene lembrava-se de outra das suas raparigas ter acabado no oceano. Há um ano atrás. Kimberly. Quando o corpo de Kimberly foi descoberto, já não restava muito para identificar.

Três semanas antes de o seu corpo ter dado à costa, Kimberly também saíra para um encontro com o Senhor X.

e Darlene preferiu não associar os dois acontecimentos. Kimberly era dada a loucuras - apreciava cocaína e heroína. Darlene imaginou que ela morrera em infelizes circunstâncias - talvez divertindo-se com amigos depois do encontro com o Senhor X. Darlene não chamara a Polícia.

Agora Hildie.

E Darlene sabia que, se fosse à Polícia, desta vez a publicidade tomaria tais proporções que, num abrir e fechar de olhos, se tornaria propriedade pública, tal como Heidi Fleiss. Depois disso, o seu lucrativo negócio de raparigas de programa iria por água abaixo.

Só havia uma forma de lidar com um acontecimento tão terrível.

Não voltar a mandar nenhuma das suas raparigas para um encontro com o Senhor X.

Sim, decidiu, embora isso significasse prescindir de uma avultada quantia de comissão, era exactamente o que iria fazer.

De consciência aliviada, começou a mudar de canais até encontrar um velho filme de Ava Gardner.

Que aconteceu ao glamour de Hollywood? "

Darlene sentou-se confortavelmente no sofá e, no espaço de poucos minutos, estava totalmente concentrada no filme.

 

Dado que o Senhor não estipulara que ela usasse nenhum traje nem cor em particular, Kristin optou pelo escarlate. Sentia-se ousada, ruim e vingativa - enquanto, intimamente, se sentia magoada, abandonada e inútil.

Jake não a queria.

Até Max Steele a rejeitara.

E Cherie estendida numa cama de uma clínica - sem revelar quaisquer melhoras - simplesmente deitada, definhandoesperando que ela puxasse a tomada.

De forma esporádica, Kristin consumia um pouco de cocaína para lhe aliviar a dor. Esta noite satisfez-se, snifando, o insidioso pó branco, ao mesmo tempo que se odiava por o fazer. Apesar de tudo, sabia que a faria sentir-se melhor, que a preparava para o encontro com o Senhor X. Afinal, ele merecia o melhor, não merecia? Porque o seu homem misterioso era o único que parecia lembrar-se dela.

Mais duas snifadas" e estava pronta.

Sempre que consumia cocaína, prometia solenemente a si mesma que era a última vez. No entanto, sempre que ficava sem provisões, telefonava a Darlene e preparava outra entrega.

Fitou o seu reflexo no espelho. Kristin. Uma soberba rapariga de programa. Uma prostituta indigna.

O vestido escarlate ficava-lhe sensacional. O cabelo louro enrolava-se em redor do fresco e bonito rosto.

Respirou fundo, pegou na mala e saiu do apartamento. Senhor X. aqui vou eu. E prometo-lhe... não ficará desapontado.

 

A rapariga pouco mais tinha do que 16 anos. As pupilas dos seus grandes olhos cor de amêndoa eram enormes. Tal como o seu apetite sexual.

Bobby Skorch fora buscá-la a Sunset assim que conseguiu sair de casa, o que se revelara difícil devido à confusão por causa da morte da sua mulher - a superestrela e símbolo sexual, Salli Turner - que fora assassinada na noite anterior.

Aquela Salli", pensou Bobby, a mente atolada numa neblina de drogas, nunca se sabe o que vai fazer a seguir, sempre cheia de surpresas.

Conseguiu finalmente esgueirar-se da casa, deitado no chão do carro da criada. Deixara-o num hotel onde tinha uma suite permanente na cobertura, em nome do seu manager.

Mais tarde, dera um passeio pela Sunset no seu Ferrari preto, que mantinha guardado na área de estacionamento na cave do hotel - também registado em nome do seu manager.

A rapariga andava de um lado para o outro junto à entrada de um clube e acompanhara-o voluntariamente para o hotel. Cavalgava-lhe agora o pénis como se competisse numa espécie de acontecimento equestre. Ele não precisava de fazer nada a não ser ficar deitado e tolerar a cavalgada, porque seguramente não estava a sentir prazer.

Esta rapariga não era Salli. Ninguém era Salli. Era única. As outras não passavam de pindéricas, mulheres da vida e prostitutas.

Não fazia ideia de como se chamava a rapariga, nem se tinha SIDA ou gonorreia - pouco lhe importava.

Bobby gostava de correr riscos. Assumira um grande risco ao casar com Salli, que muitos consideravam uma anedota com as grandes mamas falsas e cascatas de cabelo platina pintado.

Mas, por outro lado, muitos dos amigos dela tinham-no considerado a ele um risco. Bobby Skorch, o perigo em pessoa, com tatuagens por todo o lado, incluindo uma no famoso pénis.

Tudo o que sabia era que, juntos, constituíam uma visão de assombro. Adeuzinho, Pammy e Tommy, Heather e Richie. Agora os reis são os Skorches.

E amara-a com uma paixão ardente. Agora estava morta. A rapariga abriu ainda mais as pernas, praticamente equilibrando o seu peso pluma sobre o pénis dele. Depois gemeu - um prelúdio do êxtase.

Não para ele. Não estava nem perto. Estava duro, zangado e pedrado e sentia a dor mais difícil da sua vida.

Quando os gemidos da rapariga se transformaram em gritos de orgasmo e começou a sentir que se vinha, Bobby gritou a sua angústia tão alto que duas empregadas, que trabalhavam naquele piso, acorreram à porta da suite 206, os olhos salientes de medo e curiosidade.

Satisfeita e apenas ligeiramente alarmada, ajovem saiu de cima dele, apressando-se a vestir a roupa. Quando chegou à porta, olhou para trás para o homem, ainda estendido sobre a cama, ainda erecto.

Não existia libertação para Bobby Skorch. Estava no Inferno.

E nada podia fazer a esse respeito.

 

- O tipo come mulheres ao pequeno-almoço - disse o detective Lee Eccles, mastigando um palito velho.

- O quê? - disse o detective Tucci, distraído com a leitura das suas vastas anotações relativas ao assassinato de Salli T.

- O marido de Salli, Bobby Skorch. O pénis dele é maior do que o edifício do Empire State... e todas as gajas de Vegas o provaram.

Tucci tirou os óculos, olhou para o parceiro - de quem não gostava particularmente - e anuiu.

- Eu sei. Tem uma reputação e tanto.

A mulher de Tucci, Faye, informara-o a noite passada – quando chegou a casa, depois da meia-noite - que Bobby Skorch era o rei dos tablóides.

- Isso não quer dizer que leia esses disparates - apressou-se ela a assegurá-lo. - Só que por vezes não consigo evitar de ler quando estou na fila do mercado.

Claro, Faye", pensara, com afecto. Por que não admites que é o teu vício secreto? És como um adolescente que esconde as suas revistas da Playboy.

Mas também ele tinha os seus vícios secretos, sendo a comida um deles. Sobretudo desde que Faye o pusera a dieta rigorosa. Nada de gorduras. Nada de açúcares. Não valia a pena viver a vida.

Investigara já Bobby Skorch. Descobriu que o marido de Salli não valia um tostão furado. Duas detenções por conduzir sob o efeito do álcool; assalto com uma arma mortífera - sendo a arma uma garrafa de vodka partida, com a qual atacara um fotógrafo; posse ilegal de uma arma de fogo; condução com uma carta apreendida; e ataque sexual a uma adolescente. A lista de contravenções habituais das celebridades.

Tucci suspirou e olhou para Lee, que estava agora empoleirado na beira da sua secretária, limpando as unhas sujas com o palito de madeira.

- Que mais descobriste em Vegas? - inquiriu.

- Muita coisa - disse Lee, escavando fundo. - No sábado à tarde, o nosso rapaz efectuou um espectáculo de motorizada como duplo, saltando por cima de cento e três carros... uma loucura qualquer. Saiu sem um arranhão. Depois disso, foi para um clube

onde engatou três strippers e levou-as para o hotel. Depois, calculo que se tenha divertido por umas duas horas e, quando saiu, o porteiro disse-me que estava ainda acompanhado por duas das raparigas.

- Queres dizer que as trouxe para L. A. - perguntou Tucci, considerando as possibilidades.

- Estavam na limusina dele quando deixou o hotel. - Lee fez uma pausa para um efeito dramático. - Mas a questão é esta. Bobby não veio de carro para L. A. como Marty Steiner afirmou. Apanhou um avião particular. Por isso, por que razão o parvalhão do advogado nos disse que ele esteve a conduzir durante cinco horas? O idiota veio de avião. Já interroguei o piloto, disse-me que chegaram a L. A. às oito, o que lhe pode ter permitido dispor de tempo para ir a casa, matar a mulher, e sabe-se lá o que mais.

- As strippers estavam no avião?

- Estavam.

- Quem foi ao encontro deles no aeroporto?

- Uma limusina. Estou a tentar localizar o motorista. O idiota foi de férias. A companhia da limusina está a procurá-lo.

- E as strippers?

- Estou a investigar.

Aposto que estás, pensou Tucci. No que dizia respeito às mulheres, Lee era um cão desrespeitoso, dado a observações sexistas e depreciativas. Essa era uma das razões porque Tucci não podia com ele. Outra era por Lee ter saído uma vez com a mulher de Tucci - muito antes de se conhecerem -, mas isso ainda o perturbava, sobretudo porque Faye se recusava a falar sobre o assunto.

Decidira já que, assim que aquele caso estivesse resolvido, iria solicitar um novo parceiro.

- Alguma novidade nos relatórios do laboratório? - perguntou Lee.

- Teve sexo consensual pouco antes de morrer. Debateu-se quando começaram a esfaqueá-la. O laboratório está a analisar a pele que tem nas unhas e fibras encontradas no corpo dela. também há sangue que não é dela.

Lee anuiu, levantou-se da secretária de Tucci e dirigiu-se à máquina do café. Tucci observou-o a afastar-se. Durante todo o dia sentira uma sensação estranha. Investigara vinte e seis homicídios e este era o que lhe estava a ser mais difícil. Não conseguia deixar de pensar no corpo esquartejado de Salli, rodeado de uma poça de sangue. Salli T. Tão jovem, vibrante e bonita. Tão horrivel mente assassinada.

Salli T. era notícia, e não apenas nos tablóides. A imagem dela estava por todo o lado. A loura do dia. O Símbolo Sexual Assassinada. A rapariga do fato de banho preto de borracha. Estrela do êxito televisivo Teach e de uma centena de capas de revista.

Quem a assassinara de forma tão cruel e inconsciente? questionou-se. O público queria respostas. Tal como o capitão de Tucci, para não referir o presidente da Câmara. E o próprio Tucci não se importava de saber.

Os dois principais suspeitos eram o actual marido, Bobby e o ex-marido, Eddie Stoner. Ambos tinham propensão para comportamento violento - sobretudo no que dizia respeito às mulheres.

Eddie também não possuía uma folha limpa - incluindo detenções por posse de cocaína, ataque a um agente da Polícia e várias acusações por violência doméstica. Salli soubera realmente como escolher entre os piores.

Tucci inclinou-se sobre a secretária, concentrando-se nas anotações. Sempre fora de opinião que, quando se investigava um homicídio, era de vital importância anotar mesmo as coisas insignificantes enquanto os sinais estavam ainda frescos. Isso não significava que tivesse muitas provas sobre as quais pudia trabalhar. Não havia impressões digitais. Não havia testemunhas. Não havia a arma do crime.

Por onde deveria ele começar? Ah, sim, a bala extraída de junto da residência de Froo, o empregado. O infeliz homem encontrava-se no sítio errado à hora errada. Provavelmente, alarmado com a música alta e o ladrar frenético dos dois cães de Salli, saíra para investigar. Talvez a tivesse ouvido mesmo a gritar, embora nenhum dos vizinhos tivesse ouvido gritos - apenas a música e os cães. É claro que, no bairro de Salli, as casas eram tão grandes que estava surpreendido por terem ouvido alguma coisa. A bala que desfizera o rosto de Froo penetrara na parede. Tucci estava a investigar a existência de armas registadas no nome de Bobby ou Eddie.

Tinhajá decidido que ia interrogar de novo os vizinhos. Por vezes um intervalo de vinte e quatro horas permitia às pessoas recordarem-se de coisas que não consideraram antes importantes. Pormenores - estes eram a chave para a resolução de um homicídio. Pormenores.

O detective Tucci era conhecido pela sua forma minuciosa de trabalhar.

 

O edifício que alojava as instalações da A. A. I. era impressionante.

Projectado pelo moderno arquitecto, Richard Meier, o homem também responsável pelo esplêndido novo Museu Getty, as linhas direitas eram soberbas. Acres de mármore italiano e imaculadas paredes brancas apenas com a quantidade certa de vidro. Dominando tudo, uma pintura enorme de David Hockney, uma piscina, pendia no maciço átrio.

Madison Castelli observou tudo isto ao aproximar-se da recepção.

- Gostaria de falar com Mr. Leon - anunciou.

A mulher asiática na recepção olhou para cima.

- Tem hora marcada?

- Claro que sim - respondeu Madison.

- Por favor, sente-se e aguarde - disse a mulher.

Em vez de se ir sentar na área de espera, Madison caminhou pelo átrio e posicionou-se sob a pintura de Hockney, mirando a impressionante obra de arte. Como jornalista, adorava observar imagens visuais. Quem as conseguia capturar, conseguia prender os leitores. Considerava o trabalho de Hockney cativante e muito ao eestilo californiano - o que era interessante considerando que ele era inglês.

HBom, aqui estou eu no átrio da A. A. I. ", pensou, a mente trabalhando. Consultou o relógio, reparando que eram exactamente onze horas, hora marcada para a reunião. Interrogou-se sobre quanto tempo Freddie lhe iria conceder e se seria tão intimidante quanto a sua reputação.

Freddie Leon era conhecido como o agente mais importante da cidade. Era igualmente conhecido como o mais discreto, e fora difícil conseguir aquela entrevista. O seu editor, Victor Simons, pedira um favor e agora ali estava ela. Sentia-se intrigada perante a perspectiva de o conhecer, mas também ansiosa por concluir aquela missão. Queria sair dali a horas de assistir ao funeral de Salli T. que teria lugar à tarde.

Tanto que se passara desde que chegara a L. A. há três dias atrás. Durante a viagem de avião, sentara-se ao lado de Salli T. Começaram a falar, combinaram uma entrevista e, no dia do chocante assassinato, almoçara com Salli na casa dela. Nessa noite, enquanto jantava com amigos, ouvira as inacreditáveis notícias da morte de Salli.

Não fora assim que planeara a viagem mas, se havia algo que aprendera na vida, era que havia sempre alguma coisa ao virar da esquina para nos surpreender. Tal como o namorado com quem partilhara casa durante dois anos, David, que tinha saído para comprar um maço de tabaco um dado dia e não mais regressou. Para ser franca, isso já não a perturbava. De certa forma, estava satisfeita por David se ter ido embora. Talvez o tivesse amado por uns tempos; agora transformava-se numa recordação distante.

A noite passada, por insistência da velha amiga de faculdade, Natalie, em casa de quem se encontrava hospedada em L. A. saíra com Jake Sica, que por sinal era irmão de Jimmy Sica - o pivot da estação televisiva onde Natalie trabalhava como repórter do mundo do espectáculo. Jake era interessante e atraente e divertiram-se bastante. Mas, no decorrer da noite, ele confessara que estava envolvido com outra pessoa.

- Por que não estás com ela? - perguntara, dissimulando o seu desapontamento, porque pensara que ele poderia ter sido um competidor.

- Bem. - dissera ele, e depois contara-lhe a história de Kristin que, para choque dele, descobrira ser uma rapariga de programa bem remunerada.

Caramba! ", pensara Madison. Bom, ao menos temos algo comum... não sabemos avaliar as pessoas!

Decidira que, se Jake esquecesse Kristin, talvez se pudessem juntar de novo, porque era genuinamente uma boa pessoa, ao contrário do irmão, Jimmy, um perfeito convencido.

Olhou para a recepção. A mulher asiática estava ao telefone. Por experiência própria, sabia que, quanto mais importante era o assunto, menos nos deixavam à espera. Fez uma aposta que Freddie a chamaria ao escritório dentro de cinco minutos, e estava certa.

- Miss Castelli - chamou a mulher menos de dois minutos mais tarde. - Está a descer uma pessoa para a vir buscar.

- Obrigada - disse Madison.

Pouco depois, um jovem negro num elegante fato e óculos de armação cara, surgiu ao seu lado.

- Miss Castelli? - perguntou, educadamente.

- Sim, sou eu - respondeu.

- Por favor, acompanhe-me.

Seguiu-o para um elevador de paredes de vidro. Subiram três andares e depois caminharam por um longo corredor flanqueado por muitas portas de gabinetes abertas. Alcançaram finalmente a secretária de Ria Santiago, a assistente e sentinela de Freddie Leon.

- Bom dia, Miss Castelli - afirmou Ria. Era uma atraente mulher hispânica, com quarenta e tal anos e uma expressão severa.

- Bom dia, Mrs. Santiago - respondeu Madison. – Lamento tê-la incomodado quando liguei ontem para sua casa. Pensava que todos estavam ao corrente da minha visita.

- Aparentemente, agora todos já estão - disse Ria, com um leve sorriso. - Mr. Leon está à sua espera. Por favor, acompanhe-me.

Madison seguiu-a para um gabinete espaçoso com uma vista incrível sobre a Century City. O aposento estava decorado mais como uma biblioteca do que um gabinete de trabalho; havia sofás enormes de ambos os lados e arte cara nas paredes. No meio da sala estava o grande Freddie Leon, sentado a uma magnífica secretária em aço e vidro, mergulhado em papéis. Não levantou os olhos quando ela entrou.

- Sente-se, por favor - disse Ria Santiago, indicando uma cadeira Biedermeier ao lado da secretária dele.

Madison teve a sensação de que, se não se empenhasse de imediato, mandá-la-iam embora dentro de quinze minutos.

- Mr. Leon - disse Ria, em tom profissional. - A sua marcação para as onze e meia telefonou informando que chegariam cinco minutos atrasados. Aviso-o três minutos antes dessa hora.

Hmmm. pensou Madison. Será que ele pensa que vou ficar satisfeita com meia hora? Nem pensar.

Ria saiu. Freddie continuou a estudar os documentos sobre a secretária.

- Bom dia, Mr. Leon - disse Madison, determinada a fazer sentir a sua presença. - Fiquei muito felix por ter aceitado receber-me.

Freddie pousou a caneta e olhou para ela pela primeira vez.

Viu uma bonita e esbelta mulher, com cerca de vinte anos, com cabelo preto apanhado, olhos grandes e lábios cheios.

Ela mirou-o também, observando a aparência dele. Viu um homem de rosto austero com cerca de quarenta anos, com feições cordiais, cabelo castanho liso e um sorriso brando que, reparou, não se reflectia nos olhos.

- Bom dia, Miss Castelli - disse. - Como tenho a certeza de que foi informada, recebi-a como um favor. Habitualmente, não dou entrevistas.

- Compreendo, Mr. Leon. Já estive com muitas pessoas que habitualmente não dão entrevistas. Por vezes, essas pessoas consideram que se tratou de uma experiência agradável, outras detestaram. - Sorriu. - Vamos desejar que o senhor a considere agradável.

Ele retribuiu o sorriso - de novo o sorriso não lhe alcançando os olhos.

- Na verdade, sou uma pessoa extremamente aborrecida e muito regular - disse ele, batendo com o indicador no queixo.

- Isso não me compete a mim afirmar? - disse Madison, algo divertida.

- Depende. Que tipo de jornalista é você?

- Talvez fosse melhor perguntar isso aos meus outros entrevistados - respondeu calmamente. - Henry Kissinger, Fidel Castro, Margaret Tatcher, Sean Connery. É só escolher.

- Um grupo de eleição - afirmou. - Fiquei impressionado.

- Talvez não ficasse se tivesse lido os artigos.

- Gostaria de os ler.

- Nesse caso, pedirei que lhos enviem por fax esta tarde.

Freddie estudava-a, tentando decidir o que pensava dela.

- Antes que comece a bombardear-me com perguntas, devo informá-la de que não discuto o dinheiro que os meus clientes ganham. De facto, não discuto nada sobre os meus clientes.

Não falo da minha família, política, sexo nem dou a minha opinião pessoal sobre nada.

Madison soltou uma gargalhada.

- Caramba! Vai ser um artigo repleto de informação!

A Freddie agradava-Lhe o facto de ela não o temer; era diferente.

- Parece não entender, Miss Castelli... eu não quero aparecer na sua revista.

- Mr. Leon - disse ela, pacientemente. - Existe um interesse público sobre o que se passa em Hollywood, e o senhor é um verdadeiro detentor do poder. As pessoasjá ouviram falar em si e o seu nome é famoso. Por vezes, quando se atinge um estatuto elevado na vida, temos de abdicar da nossa privacidade.

- Eu não tenho de abdicar de nada, Miss Castelli.

- Gostaria que me tratasse por Madison.

Havia algo nos olhos dela que o cativava. Não era a normaljornalista abelhuda com que costumava deparar em aberturas e festas.

Esta era uma mulher inteligente que sabia o que queria e que não receava defender os seus objectivos. Por momentos, esqueceu-se de que ela era o inimigo.

- Posso oferecer-lhe uma bebida? Sumo de maçã, Diet Coke...

- E se eu lhe oferecer a si um café, algures, fora do seu escritório?

Freddie ergueu o sobrolho.

- Perdão?

- Oh, por favor - disse ela, jogando com ele. - Conheço o jogo.

A sua marcação para as onze e meia vai chegar cinco minutos atrasada... não me parece. Por que não saímos daqui, vamos a qualquer lado, tomamos um café e falamos sobre como entrou para o negócio?

As pessoas matariam por saber como se iniciou.

- Não sejamos tão dramáticos.

- Prometo que não me intrometo na sua vida pessoal. Desejo apenas retratá-lo como um ser humano vulgar que alcançou grande poder, não como um frio tubarão de Hollywood... que é a impressão que toda a gente tem de si.

Freddie não conseguiu evitar de rir, o que considerou um alívio, depois da tensão das últimas vinte e quatro horas.

- É muito persuasiva... Madison. Para lhe ser franco, não me importava de sair daqui, tem sido uma manhã terrível.

- Nesse caso, posso oferecer-lhe um café? - inquiriu ela, fitando-o com um olhar forte.

Era uma mulher bonita e inteligente, e a inteligência sempre o intrigara.

- Por que não? - disse, surpreendendo-se a si mesmo. - Suponho que posso viver perigosamente pelo menos uma vez.

Levantou-se da secretária e, juntos, saíram do gabinete.

Ria lançou-lhe um olhar de pedra.

- Mr. Leon - disse, a voz cheia de desaprovação. - E a sua marcação das onze e meia?

- Adie-a - respondeu ele. - Regresso dentro de uma hora. Miss Castelli persuadiu-me a dar uma volta.

Ria franziu o sobrolho. Não era próprio de Freddie Leon comportar-se daquela forma.

- Muito bem - disse, os lábios comprimidos. - Se tem absoluta certeza.

- Sim, tenho, Ria.

- E se ligarem do hospital?

- Tem os meus números de contacto.

 

Kristin não conseguia deixar de tremer. Estava nua e sozinha, trancada numa pequena casa de praia onde estivera cativa toda a noite.

Não estava com medo. Recusava-se a ter medo. Aquele era mais um dos doentios jogos sexuais do Senhor X, e, agora que havia luz lá fora, tinha a certeza de que ele não tardaria a regressar para a libertar.

Tal como combinado, encontrara-se com ele a noite passada na extremidade do cais de Santa Monica. Como era habitual, ele vinha vestido à motorista - todo de negro com um boné de basebol puxado para cima da testa, uns óculos oblíquos ocultando-lhe os olhos.

- Onde vamos? - perguntara, quando ele Lhe pegou na mão e a conduziu ao carro, uma limusina.

- Saberá quando lá chegarmos - dissera.

O Senhor era um homem de mistérios e, para mal dos seus pecados, ela começava a habituar-se aos seus estranhos procedimentos.

Kristin entrara para o banco de trás da limusina pensando que, por muito má que fosse a sua vida, pelo menos era mais afortunada do que a irmã, Cherie, que se encontrava em coma numa clínica privada, porque escolhera o tipo errado para se envolver sentimentalmente. Howie Powers - um traste de um playboy com demasiado dinheiro do papá.

- Ponha a venda - ordenara o Senhor X.

Kristin fizera como pedido, cobrindo os olhos com a máscara suave de veludo que se encontrava sobre o banco. Ao fazê-lo, disse para si mesma: Sou uma prostituta paga, mereço tudo isto. "

O Senhor seguira então a alta velocidade ao longo da auto-estrada da Pacific Coast durante cerca de vinte minutos, virando para o que lhe pareceu uma estrada de terra. Quando o carro finalmente parou, ele abriu a porta traseira e quase a arrastou para fora.

Kristin podia ouvir o barulho do mar e cheirar o ar frio da praia e, por momentos, sentiu medo.

- Posso tirar a venda?

- Não - respondeu ele, segurando-lhe rudemente o braço e começando a descê-la por uns perigosos degraus para o que ela

assumiu ser uma casa. Por diversas vezes quase caiu, mas ele segurou-a. Entraram finalmente na casa, que cheirava a mofo e humidade. Conduziu-a para uma cama, empurrou-a para ela e disse:

- Despe-te.

- O quê?

- Ouviste o que eu disse.

Aquela era a pior experiência com ele. O homem era realmente perverso - gozava com o medo dos outros.

- Primeiro quero o meu dinheiro - disse ela, censurando-se por não ter pedido antes.

- Falaste como uma verdadeira prostituta - disse ele, atirando-lhe um envelope cheio de notas. Apalpou o maço de dinheiro com as mãos e sentiu-se instantaneamente tranquilizada. Aquela quantia pagaria as contas da clínica da irmã durante meses.

- Despe-te - repetiu ele num tom monótono. - Lentamente.

Kristin ergueu-se e fez como pedido. Detestando-o a ele.

Detestando-se a si mesma.

Nua, sentiu-se vulnerável e exposta. Este homem, que lhe pedira para fazer uma série de coisas pervertidas, nunca uma só vez a tocara sexualmente. Iria ele finalmente fazer amor com ela?

Subitamente, ouviu a porta a fechar-se, seguido do estalar de uma pesada fechadura. Depois escutou uma risada estranha no exterior. De seguida, silêncio.

Esperou alguns minutos antes de tirar a venda. No quarto estava escuro como breu - não conseguia ver nada, não entrava nenhuma a luz.

Foi então que se apercebeu que se encontrava totalmente só.

Não entrou em pânico. Aquela era apenas mais uma forma de o Senhor se excitar.

Algum tempo depois, começou a procurar a roupa, descobrindo que o tipo doentio as tinha levado.

Avançou com cautela pelo pequeno quarto, sentindo o caminho com as mãos à frente. Primeiro tentou a porta; estava firmemente trancada. Ao lado existia uma janela que, depois de a observar, pareceu estar tapada com tábuas. Não podia sair dali até ele decidir regressar, pelo que se sentou na estreita cama, cobriu-se com o único fino lençol existente e tentou dormir.

Agora já era manhã, a luz penetrava através das pequenas fendas das sólidas tábuas que cobriam a janela, e o Senhor não tardaria a chegar para a libertar.

Independentemente do dinheiro que ele lhe oferecesse no futuro, aquele seria, definitivamente, o último encontro. Nunca mais voltaria a fazer negócio com ele.

 

Angela Musconni, a jovem e célebre actriz, sabia que não estava a proceder correctamente mas, por outro lado, Angie não chegara onde se encontrava hoje por via de procedimentos correctos. Por isso, embora contrariada, pagou a fiança do antigo namorado, Eddie Stoner, que poderia ser ou não um suspeito do violento assassinato da sua ex-mulher, Salli Turner.

Eddie fora detido por multas de estacionamento não pagas e o advogado abandonara-o - pelo que ligara a Angie e pedira-lhe a ela que lhe pagasse a fiança. Ela entregara a quantia necessária e tirara-o de lá em pouco tempo.

Eddie ficou encantado por a ver, e outra coisa não seria de esperar. Tinham decorrido três anos desde que ele a deixara e, nesses três anos, ela tornara-se numa rica estrela de cinema.

Obviamente, Angie ainda tinha sentimentos por Eddie - embora vivesse com Kevin Page, outro jovem e célebre actor de cinema -, de outra forma nunca teria concordado em pagar-lhe a fiança.

- Estás fenomenal, Angelina - disse Eddie, sentado no Ferrari dela enquanto Angie o conduzia ao apartamento dele.

- Outra coisa não seria de esperar - gabou-se ela, pensando que ele não estava tão atraente quanto ela se recordava. - Agora sou uma grande estrela de cinema.

- Ainda bem que um de nós teve essa sorte - afirmou Eddie, esfregando o queixo com barba por fazer.

- Ainda te pode acontecer a ti - disse Angie, conduzindo com imprudência. - Ainda não és demasiado velho. Quantos anos tens. vinte e nove?

- Trinta - afirmou ele, tristemente. - Trinta e sem sorte.

- Não pode ser tudo mau - disse ela.

- Ouve bem isto - disse ele, ultrajado. - Aqueles porcos imundos arrastaram-me para fora da cama a meio da noite e enfiaram-me na cadeia. Eles pensam que fui eu.

- Foste tu o quê? - perguntou, inocentemente.

- Quem matou Salli.

- E foste? - perguntou Angie, lançando-lhe um olhar de soslaio.

- Nem penses - disse, com veemência. - Como podes sequer pensar que faria uma coisa dessas?

- Costumavas dar-nos grandes sovas, Eddie - recordou-lhe. - A mim e a Salli. Não podes negar isso.

- Está bem, de vez em quando perdia a cabeça - disse ele, encolhendo os ombros.

Angie recordava-se de que as coisas não eram exactamente assim.

Eddie, com salientes olhos de raiva, não era uma visão agradável. Antes de Salli lhe roubar Eddie a ela, fora um violento filho-da-mãe, pronto a bater-lhe sempre que lhe apetecia.

- Perdeste a cabeça com Salli no sábado à noite? - perguntou ousadamente, segura que, pelo facto de ser agora famosa, ele não se atreveria a tocá-la.

- Quem és tu - disse ele, franzindo o sobrolho. - A merda de um polícia?

- Apenas perguntei. Não precisas de perder a calma.

- Vou dizer-te quem o fez - disse Eddie, abanando a cabeça. O palhaço do marido, Bobby, esse sim.

- Como sabes tu? - questionou Angie. - Deve ter sido algum perseguidor desvairado. Eu tenho muitos. Tenho a certeza de que Salli também tinha.

- Foi Bobby - repetiu Eddie. - É um doente mental pedrado, .. já o vi em acção.

- A fazer o quê?

- Tudo o que puder - afirmou Eddie, ominosamente. - Anda mais depressa - acrescentou. - Quero ver televisão, ver o que se está a passar. Os polícias disseram-me que foi esfaqueada. Que mais dizem?

- Não muita coisa.

Quando chegaram ao apartamento dele, uma coisa conduziu à outra e, antes que ela se apercebesse, Angie viu-se deitada na cama com ele. Sexo com Eddie era tudo o que se lembrava - e mais. Eddie podia não ser uma estrela no cinema, mas era seguramente um intérprete acima da média entre os lençóis. Um êxito de bilheteira sexual.

Quando terminaram, Angie sabia que se devia vestir e ir para junto de Kevin - que estava na cama à sua espera, aguardando que lhe levasse comida. Mas Eddie estava de volta na vida dela, e Eddie era a sua dependência - dependência que ela pensava ter terminado. Pelos vistos não.

- Por que me largaste e casaste com Salli? - perguntou, apoiada sobre um cotovelo e fitando-o de forma acusadora, deitados na cama. Eu não passava de uma criança. Tu trataste-me como se não fosse nada.

- Ainda és uma criança - disse Eddie, sorrindo, porque sabia bem que era o melhor amante que jamais existiu. As mulheres eram tão fáceis, era só dar-lhes por dez minutos e eram dele para sempre.

- E também rica, aposto.

- Isso podes crer - disse ela, rindo-se.

- Em que estás a empregar toda a tua massa? - perguntou, pegando num cigarro em cima da mesa-de-cabeceira.

- No que me apetece - respondeu Angie, atrevidamente.

- Andas com alguém? - perguntou ele, mantendo o tom de voz deliberadamente casual.

- Não lês as revistas dos fãs?

- Oh, claro - disse ele, sarcasticamente. - Como se as revistas dos fãs fosse o meu maior interesse.

- Vivo com Kevin Page.

- Kevin Page? - bufou. - Esse maricas.

- Ele não é maricas - respondeu ela, na defensiva.

- Arranja uma vida, queridinha - disse Eddie, atirando-lhe fumo para a cara. - Ele é maricas, tão certo quanto eu me chamar Eddie.

- Kevin não é maricas.

- Ah, não? - disse, afagando-lhe o seio esquerdo. - Aposto que não te faz como eu.

Isso era verdade. Kevin podia estar na capa de todas as revistas para adolescentes mas, como amante, tinha muito para aprender.

- És tão vaidoso - disse, com um suspiro, ansiando pelas mãos dele no seu corpo, já para não mencionar a língua onde lhe sabia melhor.

Eddie riu-se confiante.

- Conta-me algo que eu não saiba.

 

- Que conversa era aquela sobre o hospital? - perguntou Madison, sentada no banco ao lado de Freddie Leon, no seu reluzente Rolls-Royce castanho-avermelhado.

- Só entre os dois? - disse, energicamente.

- É claro.

- O meu sócio levou um tiro ontem à noite.

- Max Steele?

- Conhece-o?

- Sim, corremos juntos há uns dois dias atrás.

- Você está em todas.

- Ele está bem?

- A Imprensa ainda não descobriu - disse Freddie, olhando em frente ao conduzir pela Santa Monica Boulevard. - Neste momento encontra-se nos Cuidados Intensivos. Aminha mulher está de vigia à sua cabeceira.

- Que notícias horríveis.

- Foi por essa razão que concordei em sair do escritório, não conseguia concentrar-me. Sabe, desde a passada semana. bom, Max e eu não estávamos exactamente com o melhor dos relacionamentos.

- Santo Deus! Espero que ele fique bem.

- Também eu - afirmou Freddie, secamente. - Porque, se Max morrer, todos dirão que fui eu quem o mandou matar. Estaria de acordo com a minha reputação. Certo?

- Como pode ser tão cínico? - disse Madison, interrogando-se por que haveria ele de afirmar uma coisa daquelas.

- Vamos fazer um trato, Madison. A menos que eu lhe assinale que pode ligar o gravador, tudo o que eu disser fica entre nós. Concorda?

- Aceito.

- Excelente decisão.

Madison abanou a cabeça.

- Esta é uma cidade muito violenta.

- Onde vive?

- Em Nova Iorque.

- E suponho que Nova Iorque não é violenta?

- Estou cá há três dias, e Salli T. já foi assassinada, e agora Max Steele foi alvejado.

- Leia os jornais, algo acontece todos os dias.

- Ele estava em casa?

- Não, a Polícia afirma que foi um assalto num parque de estacionamento. Parece que alguém queria o Rolex dele. - Freddie suspirou. - Sabe quantas vezes o alertei para não andar por aí com um relógio de pulso em ouro, no valor de mil e setecentos dólares?

Madison quis responder: E então você, com o seu carro de duzentos e cinquenta mil dólares? Mas optou pela prudência e conteve-se.

- Conseguirá guardar segredo do assunto sem que os media descubram?

- Duvido.

- E diz que a sua mulher está no hospital com ele?

- Diana não reagiu bem. Nunca me tinha apercebido de que eram tão chegados.

Hum", pensou Madison, aqui está uma observação interessante.

- Peço-lhe que me desculpe - continuou Freddie. - Não tenho a cabeça bem no lugar. Quando deixei o hospital ontem à noite, dei um passeio pela praia. Temos lá uma pequena casa que ninguém utiliza. É o único sítio onde consigo descontrair. Gosto da solidão.

- Também eu.

- Um dia empresto-lhe as chaves.

- Sou capaz de aceitar. Adoro a praia - disse Madison, pensando que Freddie Leon não era nada parecido com a sua reputação. Este titã dos grandes negócios parecia solitário e quase vulnerável.

Seguiram em silêncio por alguns momentos.

- Sabe - disse Madison. - Aúltima coisa que quero é perturbá-lo. Por isso, se não for boa altura, não temos de conversar hoje... podemos encontrar-nos para a semana.

- Gosto de si - afirmou Freddie, ignorando a oferta. - Percebi isso no instante em que entrou no meu gabinete. Acredite... não digo isto a muitas pessoas.

- Sinto-me lisonjeada.

- Madison. nome interessante.

- Os meus pais conheceram-se na Madison Avenue - disse. A minha mãe andava às compras, e penso que o meu pai andava à procura.

- Os seus pais ainda são vivos?

- Vivem em Connecticut, deixaram a cidade o ano passado.

- Um passo inteligente. É exactamente o que tenciono fazer qualquer dia... comprar uma velha quinta em França e abandonar tudo isto.

- Abdicaria de todo o seu poder e deixaria L. A.

- Num abrir e piscar de olhos - disse, virando bruscamente para Melrose.

- Onde vamos? - perguntou Madison, espreitando pela janela,

- Para o meu lugar secreto - respondeu ele. - Só não é secreto para os turistas. É um local onde não tenho outros agentes e pro dutores rogando favores. Para além do mais, servem o melhor Danish da cidade.

- Onde fica isso?

- No Farmer's Market, em Fairfax.

Madison ergueu o sobrolho.

- No Farmer's Market?

- Vai adorar - assegurou-lhe.

- Acha que sim?

- Sim, Madison, vai adorar.

Madison recostou-se no banco. Aquela reunião estava a tornar-se muito mais interessante do que esperara.

 

Diana estava sentada junto da cama de Max Steele, no hospital. Ele continuava inconsciente e nos Cuidados Intensivos, mas os médicos informaram-na de que ele tinha boas hipóteses de sobreviver. Ela desejou e rezou para que isso fosse verdade porque, se ele sobrevivesse, decidira definitivamente que diria a Freddie que o iria deixar.

É claro, só havia um pequeno inconveniente. Quando ela e Max se encontraram para tomarem o pequeno-almoço juntos, Max revelara que acabara de ficar noivo, e ela - como uma idiota - partilhara essa notícia mais tarde com Freddie. Quando Freddie deixou o hospital a noite passada, instruíra-a para que contactasse de imediato a noiva de Max.

Não o fizera. Por que haveria de o fazer? Parecia-lhe desnecessário. Era com prazer que estava junto de Max, que cuidava dele. A última coisa de que precisava era de uma estúpida noiva no caminho. Por breves instantes, considerou a possibilidade de ligar para casa da secretária de Max e pedir-lhe o número da rapariga, mas, depois, pareceu-lhe mais sensato aguardar pelo dia seguinte.

Agora era segunda-feira de manhã e considerou que seria melhor telefonar para a rapariga, ou Freddie dar-lhe-ia cabo da cabeça. Tudo tinha de ser como ele queria. Isso irritava-a, mas não tinha alternativa.

Ligou à secretária de Max, Meg, que parecia totalmente arrasada.

- Quando posso ir ao hospital? - perguntou Meg, contendo as lágrimas.

- Ainda não, minha querida - respondeu Diana.

- Toda a gente aqui do escritório está muito preocupada - continuou Meg. - Mr. Leon reuniu todo o pessoal e contou-nos. Oh, Mrs. Leon, que choque. Que posso fazer?

- Preciso do número de uma amiga de Mr. Steele - afirmou Diana, incapaz de afirmar a palavra noiva.

- Claro, Mrs. Leon. Quem é?

- O nome dela é Kristin qualquer coisa. Não sei o apelido.

- Aguarde um pouco, vou consultar a agenda.

Diana esperou impacientemente. Era óbvio que Meg não estava ao corrente da existência de uma noiva. Óptimo.

Por fim, Meg regressou.

- Não encontro ninguém chamado Kristin na agenda de trabalho. Mas a agenda pessoal dele está na secretária. Quer que a consulte?

Por momentos, Diana sentiu-se tentada a dizer que não. Se não conseguia obter o número da rapariga, não a podia informar.

- Sim, por favor - disse, por fim.

Meg deixou-a de novo pendurada e regressou pouco depois.

- Dado que não dispomos do apelido, vou ver no nome - disse ela.

- Ah, sim, há uma Kristin. Kristin e, entre parênteses, Darlene e um número.

- Dê-me esse número - disse Diana, impacientemente.

- Sim, Mrs. Leon. Posso ajudar em mais alguma coisa? Talvez levar alguma roupa dele ao hospital? Ou passar pela casa dele?

- Boa ideia, Meg. Vá a casa dele e avise o zelador que, se alguém bater à porta, ele que não diga nada. Estamos a tentar que isto não se divulgue.

- Há espiões em todos os hospitais, Mrs. Leon - afirmou Meg.

Era uma ávida leitora de tablóides.

- Eu sei, querida. Foi por esse motivo que contratámos segurança.

Diana não telefonou logo, aguardando outra meia hora antes de, com relutância, ligar o número que Meg lhe dera.

Foi atendida por uma mulher com uma voz emproada.

- Fala Kristin? - disse Diana, igualmente emproada.

- Quem fala? - inquiriu a mulher, a voz estridente e irritada.

- Mrs. Freddie Leon - disse Diana com arrogância.

- Aqui não há nenhuma Kristin.

- É Darlene quem está ao telefone?

- Você é dos meios de comunicação?

- Desculpe?

- Não volte a incomodar-me, ligando para minha casa – gritou a mulher. - Ligue para o meu advogado. Vou processar todos vocês. Vocês enojam-me.

E, com estas palavras, a mulher desligou com força, deixando Diana perplexa.

 

Agora que o pai estava casado em segurança pela quarta vez, Jake Sica decidiu que cumprira o seu dever, assistindo ao casamento, e que chegara a hora de estabilizar a sua vida. Tantas coisas aconteceram desde que chegara a L. A. vindo do Arizona, há uma escassa semana atrás. Estivera tão preocupado que não fizera outra coisa senão arranjar um apartamento, não tendo ainda contactado a revista para a qual ia começar a tirar fotografias. O que era algo estúpido porque, até os informar que já se encontrava em L. A. e que estava pronto para trabalhar, não chegaria nenhum cheque de pagamento semanal. E, embora fosse um fotógrafo premiado, não nadava propriamente em dinheiro. Essa fora uma das razões porque decidira aceitar o trabalho bem pago nesta revista de L. A.

Estava sentado num café em Sunset, brincando com um pequeno-almoço tardio composto por bacon e ovos, ruminando o seu destino, e interrogando-se por que tivera a sorte de conhecer uma deliciosa e esbelta mulher - por quem se apaixonara instantaneamente, para não mencionar a luxúria - que descobriu depois ser uma rapariga de programa bem paga. Raios! Todo aquele cenário parecia pertencer a um mau filme.

A noite passada jantara com uma nova amiga, Madison, que o aconselhou a telefonar a Kristin e ouvir o que ela tinha para dizer. Assim fizera, mas Kristin não estava em casa, pelo que deixara uma longa mensagem no atendedor de chamadas. Até agora, ela não respondera.

Jake sentia que, muito provavelmente, Kristin se encontrava junto do atendedor e que o odiava por lhe ter virado as costas quando descobriu a terrível verdade.

Merda! Estragara tudo. Devia ter ficado o tempo suficiente para escutar o que ela tinha para dizer. Mas não. Saíra do apartamento dela como uma virgem insultada, gritando qualquer coisa como: Por que não me contaste? Teria usado um preservativo. "

Santo Deus! Que comportamento inadequado.

Depois de continuar a brincar com a chávena de café, acabou finalmente por se dirigir a uma cabina telefónica e, mais uma vez, tentou falar com Kristin.

Desta feita, foi atendido por uma voz feminina, só que não era Kristin - parecia mais uma empregada estrangeira.

- Kristin? - perguntou expectante, embora sabendo que não era ela.

- Não, falar Chiew. Ficar com mensagem?

- Ah. preciso de falar com a senhora para quem trabalha. Vai demorar a chegar?

- Não saber. A senhora não vir a casa noite passada. Oh, que óptimo. Estava provavelmente com um cliente cheio de dinheiro, fazendo sexo pago e desvairado.

- A que horas poderei encontrá-la?

- Não saber, desculpe.

Deu-lhe o número de telefone do hotel, frisando-lhe bem que era muito urgente que Kristin lhe ligasse mal chegasse. Não sabia o que mais fazer, mas sabia que era imperativo falar com ela o mais rápido possível, para que ele pudesse tentar remediar a situação entre eles.

Regressou à mesa, terminou o café, pagou a conta e saiu para o sol quente do meio-dia.

No seu gabinete na estação televisiva, Natalie DeBarge ocupava-se com aquela que poderia tornar-se na grande história da sua carreira, e não dizia respeito a Salli T. A pista fora-lhe fornecida pelo seu director de informação, Garth, que tinha um leal espião no departamento da Polícia. Pegara na pequena informação que ele lhe dera e saíra apressadamente.

Natalie tinha perfeita consciência que aquela constituía a sua grande oportunidade para largar a aborrecida coscuvilhice do mundo do espectáculo e penetrar no verdadeiro mundo das notícias. Aquela era a sua hipótese de brilhar com uma história real. Ela, Natalie DeBarge, estava prestes a tornar-se famosa.

Trabalhara no artigo toda a noite e tinha-o agora a postos para o noticiário do meio-dia.

Quando se encontrava a terminar o texto no computador, Jimmy Sica, o jeitoso pivot do noticiário com o sorriso estonteante, aproximou-se e ficou ao lado dela.

- Ouvi dizer que estás a trabalhar numa coisa quente, querida - disse, esfregando-lhe os ombros.

- É verdade, Jimmy - respondeu, afastando-lhe as mãos das costas.

- Eu sei - disse ele, com casualidade. - Garth e eu estivemos a conversar e, embora a tua história esteja relacionada com o mundo do espectáculo, ele acha que devo ser eu a apresentá-la.

Natalie virou-se e fitou-o.

- Deves estar a brincar. Esta história é minha, Jimmy! Minha.

Trabalhei nela toda a noite e toda a manhã, e não a vou entregara ninguém.

- Mas terá mais impacte vinda de mim - salientou Jimmy.

- Que sepassa com Garth? - afirmou Natalie, os olhos reluzindo com perigosos sinais. - Não teve tomates para me dizer isso em pessoa?

- Deve ter calculado que ficasses zangada - disse Jimmy.

- Ele que se lixe e tu também, Jimmy - disse, furiosa. – Vou para o ar com isto. Não te metas comigo.

- Não precisas de ficar mazinha - disse ele, retrocedendo, uma expressão magoada no rosto bonito.

- Se tu tivesses um grande exclusivo, não ficarias zangado?

- Estou apenas a tentar ajudar.

Natalie estreitou os olhos.

- De que forma?

- Não estás habituada a apresentar notícias explosivas. Fazes o trivial, quem dorme com quem, a treta de Leonardo DiCaprio e Gwyneth Paltrow.

- Com efeito. E é precisamente disso que estou a tentar sair. Esta é a minha oportunidade.

- Está bem, está bem, não precisas de ralhar mais - afirmou Jimmy, rapidamente afastando-se. - Eu vou dizer a Garth.

- Sim, e, já agora, diz-lhe que, da próxima vez que tiver algo para me dizer, que o faça pessoalmente.

Jimmy fez-lhe continência em brincadeira.

- Entendido.

Natalie fumegava. Deveria ter sabido que Garth queria que ela fizesse o trabalho para que Jimmy ficasse com toda a glória. Era sempre assim.

No entanto, desta vez, não se safavam. Aquela história era dela, e ponto final.

 

- Estou completamente desarmada - afirmou Madison, afastando uma madeixa de cabelos negros dos olhos.

Estavam sentados no exterior do Farmer's Market, comendo Danish e bebendo chá gelado.

Freddie inclinou-se sobre a pequena mesa.

- Que disse? - perguntou.

Ela riu-se.

- Disse que estou completamente desarmada consigo. Não corresponde nada à sua imagem pública.

- Sim, mas vamos manter isso entre nós, não é assim?

- Em tudo o que li acerca de si, surge sempre como um homem poderoso e frio, com um coração de pedra. Um homem apenas interessado em meganegócios. Tem consciência de que toda a gente o receia? No entanto, aqui estou eu, logo uma jornalista, acompanhada por si e divertindo-me bastante.

- Fico satisfeito por ouvir isso - disse ele, bebendo o seu chá gelado. - Como já lhe referi, apanhou-me num dia invulgar. - Fez uma pausa por momentos, olhando ao longe em reflexão. - Sabe, ontem pensava que não queria mais nada com Max Steele. E, hoje, não paro de pensar como ambos começámos, na nossa forte amizade, na forma como construímos a nossa agência a partir do nada. Max era a personalidade, eu o cérebro. Não estou a dizer que Max não seja um homem inteligente. Trabalha afincadamente e é esperto... qualidades que admiro.

- Não o conheço bem - disse Madison, recordando-se de Max a entrar para o seu imaculado Maserati vermelho com um grande

sorriso no rosto. - No entanto, devo dizer que gostei dele. E um egomaníaco, mas descarado... o que lhe confere um certo charme.

- Como o conheceu? - perguntou Freddie com curiosidade.

- O irmão de uma amiga, Cole, arranjou as coisas de forma a que nos cruzássemos um com o outro, correndo. Sabia que eu queria fazer perguntas a Max sobre si.

- E como é que Cole conhece Max?

- Cole é um treinador pessoal. Na verdade, penso que já teve umas sessões de treino consigo. Um tipo negro, muito bem-parecido.

- É Diana quem contrata os treinadores.

- Compreendo. A sua mulher gere a sua vida pessoal. Você o negócio.

Ele lançou-lhe um dos seus olhares frios.

- Posso assegurar-Lhe, Madison, que a minha vida pessoal é toda minha.

Hum, pensou, não posso exceder-me; é um homem interessante e complexo, e tenho de me acautelar. "

- Até agora, ainda não me autorizou a ligar o meu gravador - disse, na esperança que ele acedesse. - O que significa que não tenho nenhuma entrevista.

- Não faz mal - retorquiu Freddie, bebendo mais um pouco de chá gelado. - Tal como já lhe disse, temos que nos conhecer primeiro antes de eu me abrir.

- Mas isto seria tão perfeito para eu passar à escrita - disse, entusiasmada. - O verdadeiro Freddie Leon. O homem que sangra realmente quando se corta.

- Talvez seja a entrevista perfeita para si - afirmou ele, sem entusiasmo. - Não é contudo a imagem que pretendo apresentar ao mundo.

Madison fitou-o longamente.

- Quando vou poder começar a gravar?

- Talvez mais para o fim da semana a convide para almoçar e lhe dê a entrevista oficial, a tal que nunca dei antes.

- Por mim, tudo bem.

Freddie ofereceu a promessa de um sorriso.

- Vou contar-lhe como eu e Max começámos o negócio, os nossos primeiros clientes, as pessoas com quem lidámos ao longo dos anos,

Dar-lhe-ei uma boa entrevista. Mas hoje apetece-me esquecer tudo. Compreende-me, não é verdade?

- Para ser sincera, sei realmente como se sente - disse, anuindo vigorosamente. - Quando Salli T. foi assassinada, fiquei em estado de choque, e isso aconteceu apenas há dois dias.

- Era sua amiga?

- Conhecida. Vou mais tarde ao funeral dela. E você? Conhecia-a? Freddie abanou a cabeça.

- Não.

Madison recordava-se de Salli lhe ter dito que conhecera Freddie na garagem subterrânea do edifício dele. Talvez tivesse sido assediado por tantas pretensas actrizes que efectivamente não se recordasse.

- Onde é o funeral? - inquiriu ele.

- Em Westwood - respondeu. - Cole vai acompanhar-me, conhecia Salli bastante bem.

- Parece que Cole conhece toda a gente.

- Conhece, de facto. Tal como todos os seus segredos. Um pouco como você, só que a nível diferente. - Deu uma grande dentada no Dnnish; Freddie tinha razão, era delicioso. - Quem acha que assassinou Salli?

Freddie fez uma pausa antes de responder.

- É difícil conhecer estas raparigas - disse, lentamente. Chegam à cidade apenas com a sua beleza e muita ambição. Depois, se tiverem sorte, fazem algum dinheiro, alcançam um pouco de fama, e é então que escolhem o homem errado. São incapazes de saírem com alguém com substância. Já o vi acontecer um milhar de vezes. Temos uma rapariga na nossa agência, Angela Musconni. É uma excelente jovem actriz, mas há algo nela, algo que sei que há-de destruí-la, de uma ou outra forma.

- Deve ser difícil para si presenciar essas coisas. Podemos falar sobre isso?

- Não insista, Madison - respondeu ele, concisamente. Mas ela insistiu.

- Estava a pensar entrevistar a sua secretária, talvez a sua mulher e alguns dos seus amigos - disse. - Isso incomodá- lo-ia?

- Quando me sentir preparado, forneço-Lhe uma lista com o nome das pessoas com quem pode falar - disse ele, abruptamente.

- É muito controlador, Freddie.

- O segredo do meu sucesso, Madison.

- Muito bem - disse ela, suspirando. - As regras são suas, pelo que parece que tenho de jogar ao seu modo.

- Óptimo. Porque, de outra forma, seria expulsa do jogo. Uma hora mais tarde, deixou-a na garagem de estacionamento subterrânea no edifício dele.

- Telefone-me amanhã - disse ele.

- Conseguirei passar pela temível Ria?

- Se for persistente.

- Caramba, obrigada.

Foi buscar o carro e seguiu para casa.

- Ainda bem que chegaste - disse Cole, saudando-a à porta. Natalie telefonou. Vai apresentar uma história explosiva no noticiário do meio-dia e quer que grave. Fazes ideia de como funciona esta maldita máquina?

- Colocas uma cassete e carregas no botão GRAVAR.

- Não tenho que o preparar?

- Então, Cole. claro que não. Quando quiseres ver a gravação, é só andares com a fita para a frente.

- Hem. muito esperta.

- Qual é o tema da história de Nat? - inquiriu Madison, abrindo o frigorífico e tirando uma garrafa de Evian.

- O caso da tal loura de Malibu. Esteve a trabalhar toda a noite nisso.

- Que se passou com Luther? - perguntou Madison, bebendo da garrafa.

- Ela trocou-o pela história.

- Natalie pôs o trabalho à frente de um tipo? Que progresso. Ambos se riram. - A que horas devemos sair para o funeral de Salli?

- Logo que acabarmos de assistir à maninha. Convém chegar cedo.

- Óptimo.

- Que tal correu o encontro com Freddie?

- É um homem surpreendente - afirmou Madison, pensativamente. - Com muita integridade pessoal.

Cole ergueu um sobrolho.

- Nunca ouvi isso sobre Freddie Leon. Cá na cidade chamam-Lhe o Cobra... sabes como é, dá-te uma mordidela mal te vê.

- És um cínico, Cole!

- É preciso sê-lo para conhecê-lo - disse ele, ligando a televisão e remexendo no gravador.

- Tenho más notícias - disse Madison, sentando-se no sofá. - Ainda não se tornou público, mas Max Steele foi alvejado ontem durante um assalto.

- O quêêêê?

- Está nos Cuidados Intensivos. Não divulgues isto; deram-me essa informação em carácter confidencial.

- Podemos fazer alguma coisa?

- Creio que não.

Cole abanou a cabeça e aumentou o som da televisão quando Jimmy Sica surgiu no ecrã e começou a ler as notícias da actualidade.

- Jimmy é um tipo bem jeitoso - comentou Cole.

- E não virado ao inimigo - murmurou Madison, secamente.

- Um homem pode fantasiar, não pode?

- Pessoalmente, acho que o irmão Jake é mais atraente. Jake não se apercebe de como é sexy e bem-parecido. Jimmy tem consciência disso. Provavelmente, passa a maior parte da vida a admirar-se ao espelho.

- Isso é porque trabalha na TV - salientou Cole. - O fulano tem realmente uma boa aparência.

- Jake teria o meu voto em qualquer altura.

- Fico com a sensação de que estás virada para ele, hem? brincou Cole.

- Somos apenas amigos - afirmou Madison, na defensiva. Tal como te disse a noite passada, o homem já tem dona.

- Isso, fofinha, nunca me impediria - disse Cole com um sorriso.

- Eia, se um homem já está comprometido, por mim tudo bem. posso afastar-me.

Natalie apareceu no ecrã.

- A mana está com óptimo aspecto! - exclamou Cole com orgulho.

- Não há dúvida - concordou Madison, impressionada com a imagem profissional de Natalie: um fato preto Armani com uma camisa branca de seda, e sem jóias espampanantes... a habitual marca registada de Natalie.

- Boa tarde - disse Natalie, calma e controlada. - Convosco, Natalie De Barge. - Uma curta pausa dramática. - Hollywood. Terra de sonhos. Um paraíso de fantasia onde tudo pode acontecer e, por vezes, acontece. Ontem, o corpo de uma jovem deu à costa de Malibu. Fomos todos rápidos a baptizá-la de Loura Misteriosa de Malibu... afinal, estamos em L. A. terra dos ritmos rápidos, e nós, os meios de comunicação, acompanhamos sempre esse ritmo. Que poderia ser melhor? Uma bonita e jovem loura para saciar a nossa sede de notícias sensacionais. Mas a nossa Loura Misteriosa de Malibu possui um nome. Trata-se de Hildie Jane Livins, tinha 19 anos e era oriunda de Idaho. Hildie chegou a L. A. há três anos atrás, exactamente como milhares de outras jovens esperanças com olhos estrelados e sonhos de Hollywood.

A câmara focou a imagem média de uma mulher de rosto impassível e de vestido no exterior de uma quinta remota.

- Hilda era uma boa rapariga - disse a mulher. - Vivi na porta ao lado da família dela durante treze anos. Era muito bonitinha. Nunca deu preocupações a ninguém. Metia-se na sua vida e ajudava a mãe na lida da casa.

A câmara regressou a Natalie.

- Em Hollywood, Hilda tentou o sucesso no mundo do espectáculo. Arranjou trabalho num supermercado, tinha aulas de

representação, e dava-se com as amigas que seguiam o mesmo sonho.

Mavis Ann Fenwick foi companheira de quarto de Hildie durante dois anos.

A imagem de uma ruiva magra, com um rabo grande. Encontrava-se numa rua de Hollywood, vestida com uns calções e uma t-shirt.

- Hilda era fantástica, - disse Mavis Ann, pestanejando nervosamente. - Divertíamo-nos imenso e, quando as coisas não corriam bem, ela nunca se queixava. - Um riso maníaco. – Uma dada altura tivemos de recorrer à sopa dos pobres durante três semanas porque não tínhamos dinheiro.

Câmara de volta a Natalie, no estúdio.

- As tentações de Hollywood acabaram por lançar Hildie numa vida de decadência, - prosseguiu Natalie. - Esta jovem inocente conheceu uma sofisticada e bem-falante mulher, chamada Darlene La Porte. O verdadeiro nome de Darlene é Pat Smithins, uma antiga prostituta com cadastro, detida já por diversas vezes por proxenetismo. Segundo Mavis Ann e outras amigas de Hildie, Darlene prometeu a Hildie dinheiro e oportunidades para actuar se concordasse dormir com estrelas de cinema e homens abastados. Darlene transformou-se, de facto, na madame de Hildie. - Uma longa pausa. - Agora Hildie está morta, assassinada por afogamento e atirada para o oceano por forma a parecer um acidente. Quando tentámos contactar Darlene La Porte para que comentasse esta notícia, fomos informados de que não tinha nada para dizer. Que diga isso aos atormentados pais de Hildie. "

- Santo Deus - exclamou Cole, dando um salto. - Que te parece?

- Penso que é um excelente trabalho de investigação – disse Madison. - Só espero que possua factos concretos para apoiar essa história, porque essa tal Darlene vai pôr os advogados em acção.

Cole pegou no casaco.

- Vamos - disse. - Temos de ir a um funeral.

 

Kristin tentava desesperadamente manter-se controlada, mas começava a tornar-se difícil. Estava nua e sozinha, trancada num aposento sem casa de banho, não tinha comer nem água e, embora tentasse desesperadamente não entrar em pânico, já lhe ocorrera que era possível que o Senhor não regressasse.

Esse pensamento criava-lhe arrepios na espinha. Ninguém sabia onde ela estava nem com quem saíra. O Senhor marcara directamente o encontro e, como uma parva, dado que estava aborrecida e desapontada com a situação com Jake e por Max não se encontrar em casa para a receber - fora.

Estúpida prostituta. Tens o que mereces.

Tentou desligar a voz interior que gritava dentro da sua cabeça. A voz que falava sempre a verdade nua e crua.

A luz que penetrava através das tábuas que cobriam ajanela era agora mais forte. Já devia ser perto do meio-dia, pensou, e ainda nenhum sinal do Senhor X.

O filho-da-mãe depravado. Fora a ganância dela que a conduzira a ele. A ganância seria a responsável pela sua ruína. No entanto, tudo o que pretendia era que Cherie fosse bem cuidada. Seria isso assim tão terrível?

Cherie. Que lhe aconteceria se Kristin não existisse para pagar as contas? Oh, Santo Deus! Haveriam de desligar as máquinas que a mantinham viva. Oh, Santo Deus!

Num súbito ímpeto de força, Kristin atirou-se contra a porta como assistira a heróis fazer em filmes.

A porta não se moveu nem um centímetro. Ela não era nenhum herói. Nem sequer era uma heroína. Era apenas uma prostituta só, trancada num aposento, com um envelope cheio de dinheiro.

Vou morrer neste quarto. " O pensamento pareceu pairar por cima dela como uma mortalha negra.

Deixou-se cair no chão. E depois gritou... um grito longo e penetrante.

Mas não havia ninguém por perto para a ouvir.

 

O capitão Marsh gritava, devido à história difundida no noticiário sobre a Loura Misteriosa de Malibu.

- Onde arranjaram eles a informação? - gritava. - Ainda agora acabámos de identificar a rapariga. Como é que podem levar para o ar uma história completa antes de apresentarmos um depoimento oficial?

Tucci encolheu os ombros.

- Tenho de ir a um funeral, capitão. Podemos conversar sobre isto quando regressar?

- Não! - rosnou Marsh. - Onde está essa tal Darlene? Quero que seja já interrogada.

- Já contactámos o advogado dela. Concordou em trazê-la cá mais tarde para responder a algumas perguntas. Tivemos de exercer alguma pressão. Parece que ela... está bem relacionada.

- Que se lixe esta merda! - gritou Marsh. - Salli T. e,

Agora, isto. Preciso de algumas detenções.

Tucci conteve um bocejo.

- Sim, sir.

- Onde está Eccles?

- A interrogar as bailarinas que regressaram de avião com Bobby Skorch.

- Ainda bem - resmungou o capitão Marsh.

Tucci consultou o relógio.

- Não quero chegar atrasado...

- Ponha-se daqui para fora.

Foi com o maior dos prazeres que Tucci saiu. Sentia-se de rastos.

Esfomeado. Exausto. Cheio de trabalho. No mês anterior tinham ocorrido uma série de homicídios. Tivera a sorte de não ser destacado para nenhum deles... e agora isto.

Faye disse que era bom sinal.

- Tu hás-de resolvê-los - dissera-lhe, em tom confiante. - És o melhor.

Era bom ter uma mulher que acreditava piamente nele.

A caminho do funeral de Salli Turner parou num Winchell's comprou três donuts cobertos de chocolate. A expressão de desaprovação de Faye surgiu-lhe na mente. Caramba! Nem sequer tive tempo para almoçar. Os donuts iam substituir o almoço - um pobre substituto, mas seguramente melhor do que nada.

Entretanto, num luxuoso hotel em Sunset, Lee Eccles bateu à porta da suite 300e preparava-se para entrevistar as duas bailarinas/strippers que tinham vindo de avião para L. A. na companhia de Bobby Skorch. Localizara o motorista da limusina, que o informara onde deixara Bobby e as raparigas.

As duas mulheres vieram juntas à porta. Lee mostrou o distintivo

e informou-as de que se encontrava ali por motivos oficiais. Elas disseram que se preparavam para ir às compras mas, perante a insistência dele, regressaram com relutância à suite desarrumada e ele seguiu-as para dentro.

Chamavam-se Gospel e Tuscany, eram ambas louras e ambas altas. Gospel, vestida com um fato justo vermelho, diversas cruzes

de ouro ao pescoço e duas cruzes gigantescas pendendo das orelhas, possuía longos cabelos lisos até à cintura. Estava pedrada.

Tuscany, o corpo pneumático coberto com um vestido de pele de leopardo e sapatos à prostituta, tinha cabelo curto.

- Não vou demorar muito tempo - disse Lee, observando a espaçosa suite que estava a custar a alguém algum dinheiro. – Tenho apenas algumas perguntas.

- Não precisa de um mandado para fazer isto? - disse Tuscany, obviamente a mais esperta das duas.

- Querem que vá arranjar um? - afirmou Lee, lançando-lhe o seu melhor olhar: Sou um polícia... desaparece da minha frente.

- Se é por causa daquele velho em Vegas - interrompeu Gospel, fingindo-se ultrajada. - Não tive a culpa se ele teve um ataque cardíaco. Não sei por que é que a vaca da mulher me processou.

Você é da companhia de seguros?

- Não, ele não é da companhia de seguros - disse Tuscany, irritada. - É da Polícia. Não viste o distintivo dele?

- Polícia, companhia de seguros... para mim é tudo o mesmo disse Gospel, mexendo distraída no mamilo esquerdo através do fino tecido do fato justo.

- Afinal, o que quer? - inquiriu Tuscany, fitando-o nos olhos.

Lee não respondeu por momentos. Fantasiava como seriam as duas juntas na cama. Seria digno de se ver, se bem conhecia as mulheres. Sim, aquelas duas deviam ser dinamite.

- Vocês vieram de avião para L. A. no sábado à noite com Bobby

Skorch, não é verdade? - perguntou, fixando a ampla clivagem de spel.

- Quem lhe disse isso? - perguntou Tuscany com suspeitas, puxando para baixo a saia de leopardo.

- Os Serviços Secretos - respondeu Lee com sarcasmo.

- Bobby disse que não devíamos contar a ninguém - lamentou- se Gospel.

- Por que quer saber? - inquiriu Tuscany.

- Por rotina - disse Lee. - Bobby deu-lhes dinheiro?

- Quem pensa que somos? Prostitutas? - disse Gospel, visivelmente insultada.

- Nada disso - afirmou Lee com um sorriso. - Sei que são duas senhoras que ganham a vida a fazer strip-tease - certo? Ganham um dinheirinho aqui, outro ali. Por que não? Se são boas, há que mostrar.

- Somos boas naquilo que fazemos - disse Gospel na defensiva.

- Foi por isso que Bobby quis vir connosco para L. A. e não com as outras cabras.

- Depois de desembarcarem do avião no sábado à noite, que aconteceu? - perguntou Lee. O motorista da limusinajá lhe dissera que conduzira os três para o hotel, mas queria ouvir a versão delas.

Gospel riu-se.

- Que é que não aconteceu?

- Vieram directamente para o hotel?

- Sim, viemos directos para cá - disse Tuscany. - E depois?

- Sabem-me dizer a que horas chegaram?

- Não sei - disse Gospel, encolhendo os ombros. - Por volta das sete ou oito. Bebemos uns copos e depois Bobby teve de sair.

Tuscany lançou-lhe um olhar de alerta.

- Ele também nos pediu que não contássemos isso a ninguém

- acrescentou Gospel com pouca convicção. - Disse que devíamos afirmar que esteve connosco toda a noite.

- Não é suposto ler-nos uma deixa qualquer? - disse TUscany.

- Sabe, qualquer coisa do género tudo o que disser pode ser considerado como prova contra si, É o que os polícias fazem nos filmes.

- Só se estivesse a pensar prendê-las - afirmou Lee. - O que não é verdade.

- Ooh, óptimo, estou tão aliviada - afirmou Tuscany, sarcasticamente.

Parecia que nenhuma delas sabia o que se estava a passar.

- Estão ao corrente do assassinato? - disse ele, desesperado.

- Qual assassinato? - disse Gospel, os olhos alargando-se.

- De Salli Turner.

- Horrível! - guinchou Gospel. - Assistimos a algumas reportagens na televisão.

- E sabem que Salli era a mulher de Bobby Skorch? As duas mulheres ficaram perplexas.

- Isso não sabia - disse Tuscany.

- Nem eu - afirmou Gospel.

- Nem sabia que era casado - acrescentou Tuscany.

Aquelas raparigas eram realmente estúpidas mas, também, não estava à espera de Einsteins.

- Então, minhas senhoras - disse -, é melhor pensarem com muito cuidado no que me vão dizer e serem honestas. Porque, de outra forma, podem ver-se metidas em verdadeiros sarilhos. Compreenderam?

 

No exterior do cemitério, Pierce Brothers, em Westwood, estendia-se uma fila de limusinas ao longo de vários quarteirões. Era sempre assim no funeral de uma celebridade. Em Hollywood, os funerais de celebridades eram considerados um acontecimento - as pessoas iam assistir para serem vistas; validava a sua própria existência.

Tucci foi ultrapassando a fila, mostrando o distintivo aos seguranças, que lhe acenavam para passar. Devorara os três donuts durante o caminho e agora sentia-se empanturrado e culpado. Se Faye soubesse o que comera como almoço, matá- lo-ia. Talvez a morte seja melhor do que a privação", pensou com o rasgo de um sorriso.

Entrou, juntamente com os outros convidados, para a capela já apinhada de gente. Embora tivesse chegado cedo, só restavam mais alguns lugares livres. Reconheceu a jornalista que lhe entregara a gravação áudio de Salli. Estava sentada num banco dos fundos, pelo que se sentou rapidamente ao lado dela.

- Boa tarde, detective Tucci - disse Madison, virando-se para ele e olhando de novo em frente.

Ele acenou-lhe com a cabeça, incapaz de se recordar do nome dela - o que o enfureceu, porque era bom a recordar-se de nomes, embora isto Lhe tivesse acontecido algumas vezes nas últimas semanas. Há duas semanas atrás, queixara-se a Faye. A sua mulher dera-lhe umas breves palmadas no estômago e dissera, em tom de brincadeira:

- Doença de Alzheimer. Tens quase 50 anos, sabes. Quase 50 anos uma ova. Tinha 49, ainda lhe faltavam dez meses para fazer os cinquenta. Por vezes, Faye tinha uma veia de maldade que não Lhe assentava.

- Miss Castelli... Madison - quase gritou, tão contente que estava por se ter recordado subitamente do nome dela.

- Sim? - disse, surpreendida.

- Ah. que tal ficou o artigo que ia escrever sobre Salli?

- Já fiz melhores - respondeu com pesar.

- Tenho a certeza de que ficou excelente - respondeu ele. - A minha mulher é louca pelo seu trabalho. Lê todos os meses a sua revista.

- Obrigada - disse, com um sorriso de satisfação. Tucci considerava Madison Castelli uma mulher muito bonita, com os seus cabelos escuros e olhos em forma de amêndoa - já para não mencionar os lábios, que atribuíam à palavra sedução" todo um novo significado. Isso não queria dizer que estivesse interessado em outras mulheres, mas podia olhar e admirar, não podia?

Inclinou-se para a frente para ver quem a acompanhava.

- Eia, companheiro - disse Cole, reparando que estava a ser observado. - Como vai?

Tucci anuiu brevemente e recostou-se. Começou depois a observar a capela, reparando em diversos rostos famosos. Faye teria gostado de estar ali; adorava estrelas e falatório, o seu único defeito.

- Isto é tudo tão triste - suspirou Madison, abanando a cabeça. - Ainda não consigo acreditar.

- Eu sei - concordou ele.

- Tem alguma pista?

- Em breve faremos uma declaração.

- A minha gravação serviu para alguma coisa?

- Sim, minha senhora.

Subitamente, soou dos altifalantes o som alto e rouco de rock and roll dos velhos tempos, silenciando mais conversas. Mick Jagger. Metallica. Rod Stewart. Kiss.

Tucci pensou que os tímpanos lhe iam rebentar. Os funerais de hoje - não se podia confiar neles.

Eddie Stoner insistiu que deviam assistir ao funeral de Salli e Angie não discutiu. Afinal, estava de novo na cama dele, por isso, por que não haveria de satisfazer o pedido dele? Se estivesse a trabalhar, poderia ter evitado entrar de novo na vida dele, mas começaria a filmar o novo filme dentro de seis semanas, pelo que dispunha de muito tempo.

O seu problema imediato era Kevin. Que fazer quanto a ele? Naquela altura, já deveria ter percebido que algo se passava, dado que saíra a meio da noite. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria de lhe telefonar, e foi o que fez no carro, embora com relutância, a caminho do funeral.

- Ah... escuta, Kevin - disse animadamente quando ele atendeu. - Tive de tratar de uns assuntos.

- Onde raio tens estado? - explodiu Kevin; parecia que estivera à espera junto do telefone.

- Encontrei um velho amigo, e hum. vou chegar tarde.

- Tarde a que horas?

- Não sei - disse, evasivamente.

- Eia. - disse ele, furioso. - E se não te incomodasses a voltar nunca mais?

- Vai-te foder! - disse Angie, perdendo a paciência. - A casa também é minha. Paguei metade do dinheiro.

- Eu sei, Angie, isto não está a resultar para mim - disse Kevin tristemente.

- Não está a resultar para ti - disse, indignada. - Sou eu que vou sair.

- Oh, vais-te embora? Óptimo. Eu fico com a casa.

- Nem penses - contrapôs ela, a voz cada vez mais estridente.

- Comprámos juntos a casa, lembras-te?

- Ficamos assim - disse Kevin, aliviado por ver-se subitamente livre. - Vou telefonar ao meu advogado, e tu telefonas ao teu... eles

que tratem do assunto. Neste momento, não te quero ver aqui.

- Não estás a perceber - gritou Angie. - Eu é que não te quero a ti aí. Seja como for - acrescentou, baixando o tom de voz, recordando-se subitamente que Eddie estava sentado ao lado dela. Agora não posso falar sobre isso. Vou a caminho do funeral de Salli.

- Oh, a tua boa amiga Salli - zombou Kevin. - Não foi a rapariga que usaste e abusaste?

- Não consegues falar bem dos mortos? - disse Angie com desprezo.

- Adeus - disse Kevin, e desligou.

Eddie, que fingia estar concentrado na condução do Ferrari dela, olhava em frente.

- Problemas? - disse, afagando-lhe ojoelho.

- De qualquer modo, já estava a pensar largá-lo – murmurou Angie. - O ego dele está a transbordar. O parvalhão começa a só acreditar na sua própria publicidade. Idiota! Há pessoas que não sabem lidar com a fama.

- Não é o teu caso, pois não? - disse Eddie, atirando para trás ajuba de cabelo louro-sujo.

- Eu sei como agir - respondeuAngie. - Todos aqueles produtores doidos por sexo a tentarem saltar-me para cima. Não que eu seja propriamente a Miss Símbolo Sexual de 1998, mas são verdadeiros cães excitados... todos querem descobrir se ainda o conseguem levantar. Ah! Gente estúpida... tomam Viagra com o café da manhã. Pensam que assim conseguem ficar mais homens. - Então, então - disse Eddie, rindo-se para si. - Não fiques chateada.

Quando o carro virou para a Wilshire Boulevard, Eddie reparou de imediato na longa fila de limusinas na frente deles.

- Devíamos ter vindo com um carro e motorista - gemeu. Vai ser difícil lá chegar.

- Pensei que querias conduzir o Ferrari - retorquiu Angie, a mente ainda em Kevin.

- E queria - disse ele, abrindo a janela, metendo a cabeça de fora e atraindo a atenção de umjovem polícia de trânsito hispânico.

- Eia, por favor, amigo. Trago a Angela Musconni no carro. Está a tentar esquivar-se ao público e aos fotógrafos. Pode ajudar-nos?

- Claro, companheiro - disse o polícia, tentando espreitar para o banco dos passageiros e olhar de perto para Angie, que vira recentemente num filme onde aparecia meio despida. - Deixe aqui o carro. Peço a um empregado que o leve. Pode esgueirá-la pelas traseiras.

- Fico-lhe grato - disse Eddie.

- Bem pensado - disse Angie, apeando-se do carro.

- Bem, não vejo motivo para a minha querida ficar à espera - afirmou Eddie. Inclinou-se depois e beijou-a longa e lentamente.

Quando terminaram, Angie revelou um estúpido sorriso no rosto. Era uma maravilha ter voltado para Eddie, sobretudo agora que era ela quem se encontrava em posição de mandar.

 

- Vou processar cada um deles. Vou processar aquela cabra negra e a estação de televisão, tal como toda a gente que se atrever a meter-se comigo.

- Calma - disse o advogado de Darlene La Porte, Linden Maters, um homem alto de penetrantes olhos azuis e uma distinta barba branca. Linden possuía um ar de respeitabilidade, o que era apreciado pelos juízes, considerando que ele representava algumas das pessoas mais notáveis de Hollywood, incluindo Darlene, que viera ter com ele quando se cansou de usar advogados de preço baixo e se apercebeu de que, pagando ao melhor, obtinha os serviços que pretendia.

- Aquela cabra acusou-me praticamente de ter matado Hildie - fumegou Darlene. - Não sei nada sobre isso.

- É precisamente por isso que vamos mais tarde à esquadra da Polícia - afirmou Linden num tom de voz irritantemente calmo. Vamos dizer-lhes que você não sabe de nada e depois deixá-la-ão em paz. A cooperação é essencial. Se evitar falar com eles, Darlene, pensarão que tem alguma coisa a esconder.

- Que quer dizer? - perguntou, contrariada.

Linden mexeu na barba.

- Mandou Hildie para um encontro com um cliente?

- Não - disse Darlene, caminhando de um lado para o outro na sua luxuosa sala.

- Tem a certeza? Porque, se mandou, é bom que me diga. Como seu advogado, estou aqui para protegê-la. E se estiver a ocultar-me alguma coisa...

- Oh, Santo Deus, Linden! - disse, atirando-se para uma cadeira de braços. - Claro que não estou. - O que realmente queria dizer era: Sim mandei-a para um encontro com o único cliente que não conheço. Chama-se a ele próprio Senhor X. Falo com ele ocasionalmente. Paga bem. Sempre em dinheiro. As raparigas pensam que ele é estranho, mas nunca lhes fez mal. " Mas, obviamente, não disse nada disto.

- Óptimo - disse Linden.

Darlene pôs-se de pé e encaminhou-se para a enorme vidraça que dava para a Wilshire Boulevard. Olhou para fora, observando os carros que passavam a alta velocidade. Por momentos, a sua mente regressou há um ano atrás e a Kimberly. Arranjara um cliente a Kimberly. Esse cliente foi o Senhor X. Uma semana depois, o corpo da rapariga foi retirado do oceano.

Na sua mente, Darlene sempre se recusara a ligar os dois, imaginando que Kimberly saíra com os amigos depois do encontro com o Senhor X, e morrera ou fora morta numa das festas de droga a que habitualmente assistia. Agora isto.

- Eu ajudo estas raparigas - disse, falando rapidamente. Se eu não supervisasse as vidas delas, estariam na rua ou em combates na lama numa qualquer espelunca junto da auto-estrada. Eu salvo-as delas próprias. Graças a mim, vivem em bons apartamentos e vestem roupas bonitas. Sou boa para elas.

- Não precisa de me dizer isso - disse Linden, seguro de que Darlene acreditava nas suas próprias mentiras. Mas, desde que pagasse as suas exorbitantes contas, que lhe interessava isso?

- Que fará isto à minha reputação? - lamentou-se, voltando-se para ele. - Posso processar? Não pretendo tornar-me noutra Heidi Fleiss.

- Não há grandes hipóteses de isso acontecer - afirmou Linden.

- Apanharam Heidi em alegada evasão fiscal. Você paga os seus

impostos.

- Sim, sim. Sou uma boa cidadã - disse Darlene, convencendose de que era. - Sou dona de uma florista de sucesso, de onde provém o meu rendimento. E pago muitos impostos. Muitos. Agora, a minha reputação foi enxovalhada e quero retribuição.

- Não se preocupe - disse Linden. - Havemos de consegui-lo. Mas tem de se recordar, Darlene, tem efectivamente cadastro, e isso não joga a seu favor.

- Raios, Linden - explodiu. - Pago-lhe muito dinheiro para manter a minha reputação limpa.

- Virei buscá-la dentro de duas horas - disse Linden, ansioso por escapar à má disposição dela. - Entretanto, não fale com ninguém. Nada de comentários públicos. Peça aos seus serviços que tratem dos telefonemas.

- Muito bem.

Darlene acompanhou Linden à porta e seguiu para o quarto. Hildie era uma rapariga tão doce, brincalhona e, de certa forma, inocente. Por que a mandara para um encontro com o Senhor X? Sabia que o homem era um pervertido. Por que não escolhera uma das suas raparigas mais sofisticadas? Recordou-se, então, que ele solicitara Kristin.

Impulsivamente, dirigiu-se ao telefone e ligou o número de Kristin. A criada informou-a deque ela não estava.

- Preciso de falar com ela urgentemente, Chiew - disse Darlene.

- Lamentar - respondeu Chiew. - Miss Kristin não vir a casa noite passada. Eu preocupar. Nenhuma mensagem, nada.

- Não foi para casa? - disse Darlene, o pânico subitamente instalando-se. Não era próprio de Kristin desaparecer sem dizer para onde ia, tinha sempre o cuidado de estar contactável no caso de ocorrer uma emergência com a irmã. - Sabe onde ela foi? inquiriu Darlene, tentando manter-se calma.

- Não, minha senhora. Ligou um cavalheiro. Jake Sica. Quando ela voltar, quer que lhe telefone para hotel.

- Dê-me o número dele - disse Darlene, abruptamente. - E, quando ela regressar, que me ligue de imediato. Darlene olhou para o número ao pousar o auscultador. Estava com um mau pressentimento, um pressentimento muito mau. Quem era aquele Jake? Kristin só saía em negócios. Confidenciara a Darlene que não tinha necessidade de uma vida pessoal, tudo o que queria era ganhar dinheiro suficiente para cuidar da irmã. Pegando no telefone, Darlene ligou para o número. Era um hotel

- Jake Sica - disse, tentando concentrar-se no nome, que soava algo familiar.

Ele atendeu ao primeiro toque.

- Sei que anda à procura de Kristin - disse Darlene. Jake reconheceu de imediato a voz distinta da mulher do atendedor de chamadas.

- Quem fala? - perguntou.

- Não importa quem eu sou. Sabe onde está Kristin?

- É a madame dela, não é?

- Perdão?

- Eu estava lá quando lhe ligou para o atendedor de chamadas. Queria que ela se fosse encontrar com um tal Senhor X. Disse que ele lhe pagaria muito dinheiro.

- Quem diabo é você? - gritou Darlene, esquecendo-se da sua calma habitual.

- Alguém que se preocupa com ela.

- Se se preocupa tanto com ela, como é que não sabe onde ela esteve a noite passada?

- Não que seja da sua conta, mas discutimos por causa da sua mensagem. Agora também ando à procura dela.

Darlene desligou o telefone com força. Não queria envolver-se. Aquilo só podia conduzir a sarilhos.

Fora do quarto, Junia Ladd, a mais de tudo de Darlene, ouvira a conversa com o ouvido encostado à porta. Junia, uma rapariga de 18 anos, com delicada pele de marfim e cabelos louros encaracolados, vivia na casa de Darlene e era sua amante há dezoito meses, desde que Darlene a retirara de um centro de detenção juvenil.

A Junia agradava-lhe o luxo de viver com Darlene mas, por vezes, precisava de liberdade e, quando isso acontecia, necessitava de dinheiro extra. Ganhar algum às escondidas era o mais desejável, porque embora Darlene fosse generosa, tinha sempre de saber onde Junia gastava exactamente o dinheiro. Junia podia ir ao Sak's ou Neiman's e pedir o montante que desejasse mas, se Darlene suspeitasse que ela gastava dinheiro em erva ou coca, haveria uma forte discussão.

Quando pensava que podia fazê-lo sem levantar suspeitas, Junia roubava umas notas de cem da mala Prada de Darlene. Outras vezes tentava fazer favores a pessoas em troca de dinheiro. Por ter dado o número de telefone de Kristin ao Senhor X recebera quinhentos dólares. Felizmente, Darlene encontrava-se na casa de banho quando ela atendeu o telefone. Era o Senhor X à procura de Kristin. Deve ter sentido que podia manipular Junia, porque a primeira coisa que disse foi: Dê-me o telefone de casa de Kristin e pago-lhe quinhentos dólares. "

- Como é que sei que vai fazer isso? - dissera Junia, olhando para a porta da casa de banho, assegurando-se de que Darlene não estava prestes a aparecer.

- Vá lá abaixo dentro de uma hora. O porteiro terá um envelope com o seu nome escrito. O dinheiro estará lá. Deixe outro envelope com o número de Kristin. Marque-o com Mr. Smith.

- Está bem - dissera Junia. - Mas não se atreva a contar a Darlene.

O negócio realizara-se no sábado. Agora, com todas aquelas informações de Hildie ter sido assassinada e o Senhor estar envolvido e Kristin não ter voltado a casa a noite passada, Junia tremia por todos os lados. Questionou-se se deveria contar a Darlene o que fizera.

Não, não podia. Tinha demasiado medo. Darlene era uma mulher de mau feitio, e Junia não queria ser atirada de novo para a rua. Gostava das condições de que usufruía. Até gostava das acções homossexuais, embora não pudesse afirmar que apenas apreciava mulheres. Junia pendia para ambos os lados, considerando prudente manter uma das opções em aberto.

Depois pensou de novo em Kristin, de quem gostava realmente, porque Kristin era genuinamente uma boa pessoa, ao contrário das outras raparigas de Darlene, com as quais Junia não se dava.

Podia ouvir Darlene a deambular pelo quarto. Aquela não devia ser uma boa altura para lhe contar sobre o telefonema do Senhor X, mas Junia apercebeu-se de que tinha de fazer alguma coisa.

Entrou no quarto.

- Raios partam! - gritou Darlene. - Como se atreveu aquela filha-da-mãe a associar-me a uma investigação criminal. Vou processá-la e fazê-la desaparecer da televisão. Nunca mais a hão-de ver.

Darlene estava com um dos seus ataques de mau humor. Quando começava, só parava quando se satisfazia, de uma ou outra forma, Darlene, que apresentava uma imagem pública calma e sofisticada, não passava de uma cabra assanhada. No entanto, durante os dezoito meses que passaramjuntas, Junia aprendera a lidar com os estados de espírito dela.

- Não estou feliz - disse Darlene, preocupada. - E estou com péssimo aspecto. Vou trocar de roupa. - Seguiu para o vestiário.

Junia correu para o bloco junto do telefone. Darlene tinha o hábito de escrever tudo e, lá estava, a pessoa com quem estivera a conversar sobre Kristin - Jake Sica - e um número.

Junia não sabia o que fazer. Ela não era propriamente uma boa samaritana, mas como podia ficar de braços cruzados? Hildie fora assassinada e, indirectamente, talvez por culpa de Darlene. Tinha a certeza de que Darlene não se recordava mas, uma noite, há seis meses atrás, embebedara-se com uma garrafa de Cristal e, sob as cobertas, confidenciara a Junia a história de Kimberly e a sua ligação com o Senhor X.

Junia escutara e nada dissera. Na manhã seguinte, Darlene não pareceu recordar os acontecimentos da noite anterior e esse tema nunca mais foi mencionado.

Se Darlene fosse para a cadeia, será que isso significava que ela, Junia, poderia ficar no apartamento com todo o dinheiro, roupas e coisas assim?

Sim! Seria a administradora oficial enquanto Darlene estivesse detida. Uau! Nada mau como emprego.

Mas a realidade sobrepôs-se. Não seria assim. Não, seria posta na rua. Ficaria sem nada.

Sub-repticiamente, copiou o número de telefone de Jake e enfiou-o na algibeira das jeans.

- Eia, Darl - gritou para o vestiário. - Queres que vá à esquadra da Polícia contigo?

- Estás a falar a sério - disse Darlene, regressando ao quarto vestida com uma combinação de renda La Perla cor de bronze sobre o corpo bem modelado. - Tu, minha querida, vais ficar fora disto.

Não nos esqueçamos onde te encontrei. Por isso, sugiro que, nas próximas semanas, te mantenhas bem sossegada no teu canto. Mais, nem sequer quero que atendas o telefone. O serviço que faça isso.

- Até parece que tenho alguém que me telefone – resmungou Junia. - Não permites que tenha amigos.

- Isso não é justo da tua parte - disse Darlene com firmeza. Vives um estilo de vida diferente das outras pessoas. Estás feliz aPenas por estares comigo, não estás?

Junia quis dizer: Não, és vinte e três anos mais velha do que eu e não temos nada em comum.

Mas não disse. Sabia que tinha uma boa vida e não pretendia abdicar dela.

pelo menos até estar pronta para isso.

 

A família entrou, vinda de uma sala privada, e ocupou o primeiro banco. Eram encabeçados pelo marido enlutado, Bobby Skorch, sob o efeito de fortes sedativos ou talvez pedrado - mal conseguindo manter o equilíbrio. Bobby trajava um casaco preto de cabedal por altura dos tornozelos e óculos escuros; o seu longo cabelo negro e liso estava preso num rabo-de-cavalo. Fumava um cigarro.

Atrás dele vinha o pai de Salli, um homem baixo e corpulento, de cabelos cor de cenoura e um tique nervoso. Depois seguiam duas raparigas muito jovens de cabelos louros - bonitas, sem serem sofisticadas. Eram as meio-irmãs de Salli. A mãe, uma mulher com peso excessivo, demasiada maquilhagem e um inadequado vestido de festa em cetim azul, na retaguarda deles. E, por fim, o avô, um homem de idade com um andar manhoso, um fato castanho surrado e de dimensões pouco apropriadas.

A atenção de Tucci centrou-se em Bobby, o inconsolável marido, que fora localizado a noite passada engatando uma rapariga em Sunset, que depois levou para um hotel. Que marido inconsolável, pensou. Hmm. estava ansioso por ouvir o relato de Lee sobre as duas strippers.

Quanto mais pensava nisso, mais começava a considerar Bobby Skorch como o principal suspeito.

- Aquela é Angela Musconni com o ex de Salli - disse Cole, fazendo sinal a Madison.

Olhou para a jovem bonita que entrava por uma porta lateral, acompanhada por um tipo de aspecto extravagante com uma massa de cabelos louro-sujos. Era óbvio que Salli sempre tivera tendências por tipos que se assemelhavam a rock-n'rollers descontrolados.

- Então, aquele é Eddie - disse Madison em voz baixa. - Salli falou sobre ele na gravação, disse que ele lhe costumava bater.

- Já te tinha contado isso - afirmou Cole. - Eu próprio tive de a conduzir ao hospital umas duas vezes. Na verdade, eu e Eddie tivemos uma forte discussão um dia.

- Tiveram?

- Tivemos. Censurei a forma como ele tratava Salli e chamou-me maricas. Por isso dei-lhe uma tareia. - Cole riu-se perante a lembrança. - O tipo estava a pedi-las. Trata as mulheres como merda.

- Achas que ele a pode ter assassinado? - inquiriu Madison.

- Não me surpreendia.

Madison observou Eddie e Angela a sentarem-se, reparando que, mal se instalaram, Angela começou a percorrer as mãos nos cabelos de Eddie e a sussurrar-lhe ao ouvido. Não havia dúvida de que eram um casal.

Depois, a atenção de Madison foi desviada para o apresentador Bo Deacon, que conhecera durante o voo para L. A. Fora apenas há alguns dias, mas parecia que tinham decorrido meses. Bo fez uma entrada ruidosa, exigindo lugares na frente. Vinha com uma ruiva espampanante, com cerca de quarenta anos, que se agarrava ao braço dele como se estivesse à espera de que ele fugisse a qualquer momento.

- Bo estava a fazer-se a Salli no avião, ou a tentar - murmurou para Cole. - Mas Salli não foi na conversa dele.

- Outro escumalha - disse Cole.

- Conheces toda a gente.

- No meu trabalho, sim. Sou uma espécie de psiquiatra ou um barman... os meus clientes desabafam comigo.

- Treinaste Bo?

- Durante uns três meses. É um filho-da-mãe preguiçoso. Não queria esforçar-se e depois culpou-me por continuar a ganhar peso. Por isso despediu-me. Esse foi o dia mais sortudo da minha vida. Andava numa constante correria com mulheres e uma esposa. uma esposa ciumenta.

- Encantador.

- Costumava treiná-lo no vestiário dele, no estúdio. Era sempre um corrupio de internas a entrar e a sair. O negócio dele era fornicá-las e despedi-las.

Madison suspirou.

- Não haverá tipos impecáveis em Hollywood?

- Eu.

- Queria dizer tipos impecáveis hetero.

- Eia. não sabias? - disse Cole com um grande sorriso. - Os hetero são uma espécie em extinção.

- Obrigada!

- Por que viemos aqui? - perguntou Mrs. Bo Deacon. O seu nome era Olive, e em tempos fora corista.

- Por respeito - resmungou Bo, desejando que a sua mulher se calasse. Estava embriagada, como era habitual; apanhara- a a emborcar uísque puro por detrás do bar na casa deles antes de virem para o funeral. - Se eu não estivesse presente, as pessoas falariam. Salli esteve no meu programa por diversas vezes.

Aposto que não foi só aí que ela esteve, pensou Olive com um franzir de sobrolho dissimulado. Pensaria o aldrabão do marido que ela não sabia o que se passava? Se não fossem as crianças, e a glória de estar casada com um homem famoso, tê-lo-ia deixado há vários anos.

- Espero que não estejas à espera que eu vá à recepção - disse Olive, os lábios excessivamente pintados enrugando-se nos cantos. - Salli T. não passava de uma vagabunda.

- Como podes afirmar uma coisa dessas no funeral dela, pelo amor de Deus? - observou Bo, olhando em redor para se assegurar de que ninguém ouvira.

- Porque é verdade - silvou Olive. - E não vou transformá-la numa santa agora que morreu.

- És uma verdadeira cabra, Olive - disse ele, recebendo um bafo forte a uísque com a respiração dela.

- Sim, e tu adoras isso. Foi por essa razão que casaste comigo. Não, pensou ele, casei contigo porque tinhas mamas grandes e eras sexy, e, como um verdadeiro parvalhão, pensei que continuarias assim.

Infelizmente, Olive agora era tão sexy como um saco de velhos feijões. Além do mais, era uma autêntica esponja, e, por muitas vezes que lhe tivesse prometido deixar de beber, tal nunca aconteceu. Dois internamentos na Clínica Betty Ford e, mesmo assim, nunca aconteceu.

Ela murmurou-lhe qualquer coisa. Ele não a escutava; estava demasiado ocupado a acenar para alguém. Bo descobrira, nos quinze anos em que ele e Olive estavam casados, que a única forma de lidar com ela depois de beber era ignorá-la. Por vezes, até resultava.

Quando Natalie chegou a Westwood, era demasiado tarde para conseguir chegar perto do funeral. A multidão era enorme. Localizou a sua equipa de câmaras e tomou posição com eles por detrás das linhas. O truque era captar as celebridades de regresso aos carros. Alguns falariam com ela. Outros não. Afinal, aquela não era exactamente uma grande premiere de um filme. Era um funeral - um funeral importante.

Natalie estava extasiada. A história dela fora um êxito; até Garth ficara satisfeito. Podia ser o início de um novo caminho para ela, e tambémjá estava na hora. Sentia-se pronta. Sentia-se pronta desde a faculdade.

O viúvo do casaco de cabedal preto encostou-se ao duro banco de madeira e deixou as lágrimas rolarem ao escutar Mick Jagger gritando Satisfaction. Escolhera pessoalmente cada uma das faixas. Não eram as canções favoritas de Salli mas sim as dele. Fora ele quem ficara para trás. Era ele o maldito sobrevivente, por isso, ele podia escolher a música.

Ninguém lhe podia ver as lágrimas, porque os óculos escuros as ocultavam.

Passou uma mão pelas faces, destruindo qualquer prova de vulnerabilidade. Nas costas da mão estavam tatuadas três palavras num coração. Salli Para Sempre.

E, enquanto Mick Jagger continuava a berrar Satisfaction, Bobby continuou a gemer o seu grito silencioso de dor insuportável.

 

Esforçando-se por se manter controlada, Kristin decidiu que ficar deitada no chão a sentir pena de si mesma não a ia ajudar na situação em que se encontrava. Estava encurralada - isso era óbvio. Estava nua, o que a tornava ainda mais vulnerável. E estava determinada a sobreviver àquela penosa experiência. E felizmente que assim era, para bem de Cherie.

Levantou-se e respirou fundo. Dirigiu-se depois à pequena cama e arrancou freneticamente o único lençol. Esticando-o, fez-lhe um buraco com o punho e depois enfiou a cabeça pela abertura. Depois fez mais dois buracos para os braços e rasgou o fundo. Agora usava uma espécie de poncho, mas, ao menos, não estava nua.

Inspeccionou de seguida a cama de madeira, arrastando o velho colchão para o chão. A estrutura da cama elevava-se alguns centímetros do chão, apoiada por quatro pernas robustas. Usando todas as forças, conseguiu inclinar a estrutura. Inspeccionou atentamente as pernas. Sim! Estavam aparafusadas à base. Se conseguisse desmontar as pernas, poderia dispor de armas formidáveis para usar contra o Senhor quando este regressasse.

Necessitava de uma chave-de-fendas - mas onde ia conseguir arranj ar isso?

Fácil. Ainda tinha as jóias. Um anel. Pequenos brincos de rosca. Uma medalha de São Cristóvão que nunca tirava.

Desapertando a corrente do pingente, trabalhou com o pequeno círculo de ouro, lenta mas seguramente, desapertando a primeira perna.

A sensação de triunfo quando esta finalmente saiu foi intoxicante. Após alguns minutos de descanso, armada com uma pequena mas letal arma, passou para ajanela, batendo-lhe com força. O vidro estilhaçou - o que lhe fez realmente subir a adrenalina, de tal forma que mal sentiu o fragmento de vidro que lhe cortou o braço. A dor não significava nada. A determinação significava tudo.

Afastando os vidros partidos do caminho, foi tratar das tábuas que cobriam ajanela. Usando a perna de madeira como apoio, atacou a tábua do meio, recorrendo a toda a força que conseguiu reunir. Por momentos, pensou que não ia ceder, mas, após meia hora de marteladas, a tábua começou finalmente a ceder no meio, levando-a a intensificar o ataque, embora estivesse a pingar de transpiração e bastante exausta.

O pequeno aposento era como uma sauna com muito pouco ar. No exterior, podia ouvir o ruído do oceano. Onde estaria ela, interrogou-se.

E onde estava o Senhor X?

Qual seria o seu plano diabólico? Homicídio? Porque, se era esse o caso, escolhera a vítima errada.

 

A cerimónia fúnebre parecia nunca mais terminar. Muitas pessoas insistiam em falar, incluindo o agente de Salli, o seu manager, o seu publicista, o actor e actriz que contracenavam com ela na série de televisão, e, por fim, o pai - que murmurou algumas palavras quase imperceptíveis, tão intensa era a sua dor. Bobby Skorch nada disse.

Depois da cerimónia, criou-se um ar de frenesim. Todos se levantaram e começaram a conversar uns com os outros. A multidão no exterior era enorme e, à medida que as celebridades abandonavam a capela, ouviram-se os gritos dos fãs. Três ou quatro helicópteros pairavam por cima, fotógrafos equilibravam-se em árvores com lentes potentes, enquanto a Polícia se esforçava por conduzir toda a gente em segurança aos seus carros e limusinas e dali para fora.

Madison ficou no exterior com Cole, acotovelados por todos os lados.

- Mas que cena - comentou, olhando perplexa em redor.

- Podes crer - concordou Cole. - Quero sair daqui. No entanto, era mais fácil de dizer do que fazer, dado que foram apanhados numa torrente humana, quando todos tentavam chegar primeiro aos carros.

Alguém, acidentalmente, empurrou Madison pelas costas. Virou-se para protestar e deu de caras com Bo Deacon. Ele fitou-a como se a conhecesse, mas não soubesse de onde.

- Mr. Deacon - disse. - Madison Castelli. Recorda-se... conhecemo-nos no avião há alguns dias atrás? O senhor, eu e Salli.

- Que disse? - afirmou ele, tentando recuar, o que se revelou impossível devido ao ajuntamento de pessoas.

- No avião, na viagem de Nova Iorque.

Ele retrocedeu, a mulher avançou.

- Eu sou Mrs. Deacon - anunciou Olive, friamente. - Quem disse que era, querida?

- Madison Castelli. O seu marido e eu viemos juntos no mesmo avião de Nova Iorque. Quis sentar-se ao lado de Salli, pelo que troquei de lugar. É uma terrível tragédia, não é?

Olive lançou ao marido um olhar nojento.

- Querias sentar-te ao lado de Salli, hem? - disse com desdém, como se o tivesse apanhado a masturbar-se em Times Square.

- Por cinco minutos - irrompeu Bo. - Tinha assuntos a discutir com ela.

- Que tipo de assuntos?

- Nada de importante.

- Metes-me nojo.

- Cala-te, Olive! - disse Bo, gesticulando desesperadamente para o empregado. - Traga-me já o meu maldito carro. Não sabe quem eu sou?

Madison questionou-se sobre o que se passaria entre Bo e a mulher. Ele parecia estar extremamente agitado. E não havia dúvida de que ela estava embriagada. Um casal encantador.

Antes que pudesse tecer outras considerações, apareceu Bobby, rodeado pela família de Salli. As pessoas retrocederam, abrindo-lhe caminho por entre a multidão. As duas pequenas meio-irmãs de Salli choravam, dominadas pela emoção. A mãe não parava de lhes pedir que se calassem.

- Não deviam trazer crianças para coisas deste género - murmurou Cole. - Olha para elas, estão totalmente confusas. Provavelmente, nunca tinham saído de Idaho.

O pai de Salli soluçava intensamente, as lágrimas rolando-lhe pelo rosto.

Um fotógrafo isolado conseguiu passar pela segurança e começou a tirar fotografias à família.

Dois guardas avançaram e agarraram-no pelo ombro, atirando-lhe com a câmara para o chão.

- Seus idiotas! - gritou o fotógrafo. - Estou apenas a fazer o meu trabalho.

Madison voltou-se a tempo de ver Eddie Stoner a abrir caminho por entre as pessoas, arrastando Angela Musconni atrás de si. Eddie dirigia-se a Bobby, com um olhar determinado.

- Foste tu, não foste? - gritou em tom desafiante enquanto se aproximava. - Tu. meu grande, foste tu.

Bobby recusou-se a reagir à presença dele, mas todos os restantes ficaram de boca aberta.

- Vamos, admite! Grande hipócrita - gritou Eddie. - Mataste a minha Salli.

Bobby, finalmente, reagiu.

- Estás a falar comigo? - afirmou. - Seu monte de esterco cobarde.

- Sim, é contigo que estou a falar - respondeu Eddie, esticando o maxilar.

As duas meninas agarraram-se à mãe, aterrorizadas com os dois homens irados.

- Não façam isto - suplicou o pai de Salli, as lágrimas rolando-lhe pelas faces envelhecidas. - Por favor, não façam cenas.

- Fazer cenas? - gritou Eddie, amargamente. - Vou fazer a cara deste palhaço num bolo.

Angie agarrou-lhe no braço.

- Vamos embora daqui, Eddie - rogou. - Isto não será bom para ti.

Eddie estava com os nervos à flor da pele. Empurrou-a, quase a fazendo perder o equilibrio. Depois lançou um murro, cortando Bobby por cima do olho com o anel e derrubando-lhe os óculos escuros, que caíram no chão e se partiram.

Bobby soltou um grito de dor e fúria e respondeu com um soco. Antes que alguém pudesse intervir, os dois estavam envolvidos numa luta corpo-a-corpo.

Os paparazzi apareceram de todo o lado, disparando com as câmaras, acotovelando-se uns aos outros em busca do melhor ângulo. Os helicópteros por cima pairaram ainda mais baixo. Diversos guardas da segurança avançaram, tentando separar os dois homens - de tal forma que se esqueceram de controlar os meios de comunicação.

- Oh, meu Deus! Não suporto isto. Está a transformar-se num verdadeiro circo! - exclamou Madison.

- É melhor irmos embora - respondeu Cole, pegando-lhe no braço. - Mais tarde vimos buscar o carro.

Metade dela queria partir e outra metade ficar. Estava a desenrolar-se uma grande história na sua frente e sabia que tinha de fazer a cobertura.

- Não - disse. - Tenho de ver o que vai acontecer.

- Alguém vai ficar magoado, é isso o que vai acontecer - disse Cole, ainda tentando levá-la consigo.

Dois dos guardas agarraram em Eddie, com os braços atrás das costas.

Bobby aproveitou a oportunidade para esmurrar Eddie no rosto. Seguiu-se o som de dentes a partirem-se e, de seguida, o sangue começou a jorrar.

- Deixa-o em paz, seu estúpido! - gritou Angie, saltando para Bobby e batendo-lhe com os punhos cerrados. Bobby afastou-a e deu-lhe um soco no queixo. Ela caiu como uma pedra.

- Santo Deus! - gemeu Cole. - Agora, tenho de intervir. - E foi direito a Bobby, derrubando-o.

Gerou-se um pandemónio. As mulheres gritavam. Os homens berravam e praguejavam. Como um enxame de mosquitos, os fotógrafos invadiram tudo. E as equipas da televisão, sentindo o sangue, romperam fileiras e juntaram-se ao caos.

Quando tentava afastar-se do local, Bo Deacon foi acidentalmente atingido no rosto por um guarda da segurança.

- O meu nariz - gritou. - Grande idiota! Partiu-me a porcaria do nariz.

- Bem feito, por teres vindo aqui - murmurou Olive.

- Leva-me a um cirurgião plástico - gritou Bo. - E vê se te calas!

Não havia seguranças suficientes para controlar os acontecimentos. O restante funeral estava a tornar-se numa espécie de motim de celebridades.

E ninguém podia fazer absolutamente nada.

Quando Tucci chegou ao local da contenda, toda a gente estava envolvida. Observando rapidamente o que se passava, abriu caminho por entre a multidão de pessoas, afastou Cole de Bobby - que tinha agora o nariz ensanguentado, para além do corte por cima do olho esquerdo. Tucci solicitou ajuda a dois agentes.

Angie pôs-se de pé com dificuldade.

- Quero esse homem preso! - gritou, apontando um dedo acusador a Bobby. - Esse estúpido atacou-me. Quero-o preso.

- Vai-te foder, puta! - respondeu Bobby.

- Grande parvalhão! - berrou Angie. - Vê o que fizeste a Eddie. Olha para ele!

Eddie mal podia falar. Estava sentado no chão com o sangue a jorrar-lhe da boca; faltavam-lhe dois dos dentes dianteiros.

Tucci assumiu o controlo da situação.

- É melhor virem todos para a esquadra - disse. - Vamos resolver tudo lá.

- Pode crer que sim! - gritou Angie, apontando para Bobby - Vou processar esse canalha! Vamos apresentar queixa.

Entretanto, as câmaras captavam cada requintado e célebre momento.

 

- Você é o Jake? - disse Junia.

- Quem quer saber? - inquiriu Jake ao telefone.

- Está interessado em saber notícias de Kristin?

- Onde está ela? - perguntou, cheio de atenção.

- Tem dinheiro?

- Que é isto? Uma extorsão?

- Sei coisas sobre Kristin que vai querer ouvir. Mas tenho de ser paga pelas minhas informações porque, se não o fizer, terei de abandonar a cidade.

- Quanto dinheiro?

- Quanto tem?

- Esta conversa é estúpida... nem sequer sei quem é você.

- A sua namorada pode estar em perigo.

- Que tipo de perigo?

- Leu as notícias sobre a loura encontrada morta no oceano? Podia ter sido Kristin.

- Quem é você?

- Se tiver dez mil dólares, podemos encontrar-nos. Se não, esqueça.

- Onde vou eu arranjar dez mil dólares?

- O problema não é meu.

- Você parece doida.

- Os insultos dão-me vontade de desligar.

- Está bem, está bem, vou encontrar-me consigo - disse, decidindo que o passo certo era descobrir o que era aquilo. Afinal, se Kristin estava metida em sarilhos, queria ajudar.

- E levará o dinheiro?

- Sim - mentiu, impacientemente. - Onde nos vamos encontrar?

- Há um restaurante em Sunset Plaza, o Chin Chin. Estarei numa mesa cá fora. Esteja lá dentro de uma hora.

- Como a vou reconhecer?

- Trago vestida uma sweater laranja. E não estrague o negócio... se quer Kristin em segurança, é bom que traga o dinheiro.

Jake desligou o telefone, a mente acelerada. Que raio se passava? E o que podia ele fazer?

Primeiro que tudo, não trouxera praticamente nenhum dinheiro consigo para L. A. - seiscentos ou setecentos dólares, no máximo. O seu Banco ficava em Arizona, e nem pensar em conseguir fazer hoje um levantamento nesse montante. E quem era a pessoa misteriosa ao telefone? Não era seguramente a mulher que telefonara para o atendedor de chamadas de Kristin - esta mulher parecia muito mais nova.

Apercebendo-se rapidamente de que precisava de auxílio, pegou no telefone e ligou para o irmão, para a estação televisiva. Jimmy não estava, pelo que lhe ligou para casa e foi atendido pela mulher.

- Jakie. sentimos a tua falta - disse Bunny - Quando vens jantar de novo connosco? - Era óbvio que se esquecera do ataque de petulância que lhe dera da última vez que lá fora.

- Pede a Jimmy que me ligue assim que puder - disse, desligando e caminhando furiosamente de um lado para o outro no quarto.

Que fazer a seguir? interrogou-se. Subitamente, lembrou-se de Madison. Era uma mulher inteligente e umajornalista. Era também a única pessoa amiga que tinha em L. A. Na esperança de que ela pudesse ter alguma ideia, ligou-lhe.

- Olá, Jake - disse Madison, ofegante. - Acabei de chegar. Não vais acreditar no que se passou no funeral de Salli. Liga a televisão, tenho a certeza de que vai aparecer no noticiário das quatro.

- Há uma coisa urgente que preciso de falar contigo - disse. Posso passar por aí?

- Claro.

- Então, atéjá - disse, pegando no blusão de cabedal e correndo escadas abaixo, parando na recepção para os informar onde podia ser encontrado. Entrou depois para a carrinha e arrancou.

Madison abriu-lhe a porta.

- O assunto parece sério.

- E é - disse ele, gravemente.

- Entra e conta-me tudo. Lembras-te de Cole, não é verdade?

- Sim. Olá, Cole. Ah... Madison, isto é algo privado. Podemos conversar nalgum local tranquilo?

- Eia, companheiro, estava mesmo de saída - disse Cole. Tenho marcações atrasadas e está toda a gente a ficar chateada comigo, porque, desde que esta senhora chegou à cidade, nunca mais fiz nada. É mais divertido acompanhá-la.

- Não pretendi ser mal educado - disse Jake.

- Não há problema - disse Cole, beijando Madison no rosto. Ele vai contar-Lhe todas as peripécias do nosso funeral. É uma verdadeira história, companheiro.

- Queres alguma coisa para beber? - perguntou Madison assim que Cole saiu. - Seven-up Evian Pellegrino Temos de tudo.

Jake abanou a cabeça e sentou-se. Como sempre, Madison estava espectacular, e parecia não ter problemas na vida. Por que não a conheceu antes?

- Lembras-te de te falar da mulher com quem andava?

- Kristin, não era o nome dela?

- Sim, bem. Fiz o que sugeriste e tentei telefonar-lhe. Não estava e, segundo a criada, não passou a noite em casa. O que, calculei, considerando o trabalho dela, não era invulgar. No entanto, continua sem regressar a casa e, há poucos minutos atrás, recebi uma estranha chamada de uma rapariga que me informou que Kristin está em perigo e, se me encontrar com ela e lhe der dez mil dólares, conta-me tudo.

- Estás a brincar?

Ele encolheu os ombros.

- Não, embora eu pensasse que eIn estava. Foi exactamente isso o que senti. Sei que L. A. tem reputação de cidade louca, mas isto tem de ser uma piada sem graça, certo?

- Deixa-me ver se entendi bem - disse Madison, franzindo o sobrolho. - Kristin não voltou para casa a noite passada. Vocês não se voltaram a falar desde que lhe saíste pela porta fora. Agora tens esta pessoa a ligar-te, exigindo dinheiro.

- Resumidamente, é isso. Referiu qualquer coisa sobre uma loura morta no oceano.

- Oh, Santo Deus!

- Que foi?

- Por acaso viste Natalie no noticiário de hoje?

- Não.

- Ela desenvolveu uma história sobre a loura. Era uma rapariga de programa... trabalhava para uma mulher chamada Darlene. Esse nome diz-te alguma coisa?

- Darlene? Não.

- Espera um pouco - disse Madison, pensando rapidamente.

- Tens o número de Kristin?

- Tenho.

- Dá-me. Tenho uma ideia.

- Eia, não temos tempo. Tenho de me encontrar com a rapariga misteriosa no Chin Chin dentro de uma hora. o que quer dizer - afirmou, consultando o relógio - agora, dentro de meia hora.

- Deixa-me tentar isto primeiro - disse Madison, marcando o número. Chiew atendeu. - Queria falar com Kristin - disse Madison.

- A senhora não estar - disse Chiew.

- Ela está em casa de Darlene?

- Não - disse Chiew. - Não saber onde.

- Raios! - disse Madison. - Devo-lhe dinheiro. Qual é o número da Darlene? Está no meu carro e não o tenho comigo.

Chiew deu-lhe o número.

Madison desligou.

- Quero que vejas uma coisa - disse para Jake.

- Tenho de ir andando - disse ele, impaciente.

Madison enfiou a cassete de Natalie no vídeo e começou a passar a gravação.

- Penso que a tua namorada também trabalhava para Darlene

- afirmou. - E tenho a sensação de que a pessoa com quem te vais encontrar tem razão. Kristin é capaz de estar em apuros.

- Merda!

Madison pôs-se de pé.

- Vamos, Jake - disse, com firmeza. - Vou acompanhar-te. Havemos de descobrir exactamente o que se está a passar.

 

Mais tarde nesse dia, quando Max mostrou evidentes sinais de melhoria, Diana tratou para que fosse transferido dos Cuidados Intensivos para um quarto privado. Ele estava consciente e sabia que Diana estava sentada junto dele, segurando- lhe a mão.

- Como te sentes? - perguntou, ansiosa.

- Como se tivesse travado uma batalha com um rinoceronte - gemeu ele. - Que me aconteceu?

- Levaste um tiro.

- Um tiro? - disse, esboçando uma gargalhada. - Quem foi? Uma actriz insatisfeita?

- A Polícia quer que tentes identificar alguns indivíduos quando estiveres em condições.

Max suspirou.

- Oh, sim, sim, sinto-me realmente com vontade para isso. Sabes como é, identificar membros de um gang que depois me vêm tratar da saúde. Não me parece. - Esforçou-se por se sentar, gemendo de dor. - Eia, como é que estás aqui?

- Vim, mal soube. Passei aqui toda a noite.

- Foi simpático da tua parte.

- Foi mais do que simpatia, Max. Penso que deves saber como eu...

Antes que conseguisse terminar a frase, a porta abriu-se e Freddie entrou.

- Ora - disse este. - Em que situação é que te meteste desta vez?

- Já me aconteceram coisas piores, não foi? - disse Max, sorrindo fracamente.

Freddie libertou uma gargalhada seca.

- Muito piores. O importante é estares bem. Diana tem cuidado de ti?

- Ela é a maior - disse Max. - Obrigado pelo empréstimo.

- Com os meus cumprimentos - afirmou Max, enfurecendo Diana.

Uma atraente enfermeira negra entrou no quarto.

- Está tudo bem, Mr. Steele?

- Perfeito.

- Toque, se precisar de mim.

- Nada má - disse Max quando a enfermeira saiu.

- Parabéns - disse Freddie. - Diana contou-me que estavas noivo. Quem é a felizarda senhora?

Max esforçou-se por perceber sobre o que Freddie falava e foi então que se recordou. Kristin. Não lhe dissera para ir a casa dele? Oh, como ela se iria rir quando soubesse disto. Talvez um noivado não fosse afinal uma boa ideia, embora servisse para afastar Diana, que estava prestes a dizer algo íntimo quando Freddie chegou. Sim, havia toda a conveniência em confirmar a história.

- Estou noivo de uma bonita rapariga chamada Kristin - afirmou. - Ainda não a conheces, mas hás-de conhecer.

- Onde está ela? - disse Freddie, virando-se para Diana com uma expressão interrogadora.

- Tentei ligar-lhe - explicou Diana. - O telefone foi atendido por uma mulher chamada Darlene, que foi extremamente mal educada.

Max sabia exactamente o que se devia ter passado - Diana falara com a madame de Kristin. Conteve uma gargalhada. Graças a Deus que ela não associara as coisas.

- Oh, sim - murmurou. - Darlene é prima dela. Por vezes, fica em casa dela.

- Dá-me o número de Kristin que eu ligo-Lhe pessoalmente - disse Freddie. - Estou ansioso por conhecer a mulher que te conseguiu caçar.

- Não quero preocupá-la - disse Max.

- Deve estar preocupada, de qualquer forma - respondeu Freddie. - Não tem tido notícias tuas.

- Para ser franco - mentiu Max -, estava tão feliz por termos ficado noivos que foi visitar a família a San Diego. Penso que foi por isso que não conseguiste contactá-la, Diana. Vai regressar dentro de dias, por isso não nos vamos preocupar com ela agora.

- Se é assim que queres - disse Freddie.

- É assim. - disse Max, sentindo-se invadir pelo sono.

- Necessitas de alguma coisa da minha parte? - inquiriu Freddie.

- Sim - disse Max, sorrindo. - Diz-me que estou perdoado. Fui um idiota.

- Penso que ambos nos apercebemos de que constituímos uma equipa - disse Freddie, gravemente. - Vou tirar o resto do dia. Se precisares de alguma coisa, Ria pode contactar-me.

- Onde vais? - inquiriu Diana.

- Preciso de ficar só por algum tempo - respondeu Freddie. Vou até à casa da praia.

- A que horas vens para casa?

- Talvez passe lá a noite - disse ele, abruptamente. - Depois telefono-te.

- Por que não levas Diana contigo? - murmurou Max. - Tenho a certeza de que há por aí um grupo de enfermeiras jeitosas, e a tua mulher passou aqui a noite.

- Não - disse Diana com teimosia. - Quero ficar.

- Estás com ar cansado, Diana - disse Freddie. - Max está bem entregue. Deixo-te em casa.

Diana sentiu que aquele não era o momento nem a altura para uma tomada de decisão. Primeiro, tinha de tratar da situação da noiva; depois, quando Max tivesse alta do hospital, poderiam falar sobre o futuro dos dois.

- Muito bem - disse, profundamente desapontada. - Posso vir mais tarde, se quiseres, Max.

- Não - pronunciou, indistintamente, quase adormecido. Foste formidável, mas, por favor, preciso de dormir.

- Nesse caso, venho logo de manhã.

- Como quiseres.

- Queres que te traga alguma coisa?

- Sim, um monte de Playboys para me animar. - A boca dela formou uma linha de desaprovação. - Estava a brincar - disse. Qual é o problema? Não aprovas a Playboy?

- O nome diz tudo - afirmou Diana, afectadamente. - Não és um rapaz e não brincas.

- Então - disse Max. - Descontrai-te. - Fez-lhes um aceno fraco, esperou que eles abandonassem o quarto e depois tocou para chamar a enfermeira e pediu um telefone.

- Não Lhe é permitido fazer chamadas, Mr. Steele - disse a enfermeira. - Não se esqueça de que acabou de sair dos Cuidados Intensivos. Descanse e durma... é apenas isso que deve fazer.

- Já alguém lhe disse que tinha um grande. - Bocejou e deitou-se sobre a almofada. - Não. esqueça.

- Um grande quê, Mr. Steele?

- Estou a mudar de caminho - murmurou, e adormeceu num sono profundo.

 

Lee Eccles dirigiu-se a Tucci mal este entrou na esquadra.

- Que raio se está a passar? - perguntou, caminhando ao lado dele.

- Grandes desacatos no funeral - disse Tucci, puxando as calças para cima. - Mandei-os vir a todos. Todos querem apresentar queixa.

- De quem estás a falar?

- Bobby Skorch, Eddie Stoner... esses são os únicos que interessam. Se nos despacharmos, podemos fazer algumas perguntas antes de os advogados deles chegarem.

- Entendido - disse Lee. - Deixa-me ficar com Bobby.

- Que notícias trazes das strippers?

- Vieram no avião com ele, ele meteu-as num hotel, depois saiu por duas vezes... o que lhe concede a oportunidade. Como álibi, elas não valem nada.

- Quanto mais olho para ele, mais acho que pode ter sido ele - afirmou Tucci. - Tenho uma amostra de sangue... e também uma de Eddie.

- Como conseguiste isso?

- Estão ambos a sangrar. Fiz uma pequena limpeza com o lenço e o casaco. Bobby é o do lenço, Eddie o do casaco. Faye vai matar-me quando vir que estraguei o casaco favorito dela.

- Oh, sim, Faye - disse Lee com um sorriso. - Não podemos aborrecê-la.

Tucci atirou-lhe um olhar. Não queria ouvir o nome de Faye a sair da boca de Lee. Se não houvesse tanto para fazer haveria de descobrir o que Lee queria exactamente dizer quando falava da sua mulher.

No entanto, não havia tempo para nada. Eddie e Angie entraram desvairados na esquadra, Angie ainda gritando que exigia apresentar queixa por ataque. Eram seguidos de perto por Bobby, que queria Eddie detido. E depois Bo Deacon e a mulher.

Na retaguarda, vinham hordas de jornalistas, mas foram obrigados a permanecer no exterior, debatendo-se por posições, aguardando que os actores principais saíssem.

O capitão Marsh enfiou a cabeça fora do gabinete.

- Que raio se passa aqui? - inquiriu.

Foi esse o exacto momento que Darlene e o seu advogado escolheram para chegar.

- Por que o fez, Bobby?

Sentado numa cadeira na sala de interrogatórios, determinado a meter Eddie Stoner na cadeia, perturbado com o funeral, deprimido e com sentimentos suicidas por causa de Salli, Bobby Skorch fitava inexpressivamente o detective alto e de ombros largos, de rosto envelhecido e mãos excepcionalmente grandes.

- O quê? - disse, os olhos inexpressivos e vermelhos, sem óculos para ocultar do mundo a dor e o olho negro que piorava.

- Por que a matou? - perguntou Lee Eccles, inclinando-se sobre a mesa e lançando a Bobby um olhar feroz.

Bobby atirou a cabeça para trás.

- Com quem pensa que está a falar? - disse, numa voz baixa e irritada. - Que merda é esta?

- As duas lindas prendas que trouxe de avião de Vegas acabaram com o seu álibi - disse Lee, procurando no bolso do casaco um palito usado.

- Eia - disse Bobby, a realidade atingindo-lhe a mente através da neblina divergente de auto-ódio e euforia provocada pela droga. - Vá chamar a porcaria do meu advogado.

- A porcaria do seu advogado não está cá - disse Lee, sem tentar ocultar a repugnância que sentia pela pessoa famosa sentada na sua frente. Repugnava-o porque tinha tudo o que Lee não tinha... incluindo uma mulher símbolo sexual por quem qualquer americano de sangue quente daria o testículo esquerdo para fornicar. Perdão, pensou Lee, mastigando irritado o palito que acabara de encontrar. Mulher morta. Mulher assassinada. Mulher cortada aos pedaços.

- Está a sair da linha - disse Bobby, duramente. - Vim até cá para resolver uma situação. Não me pode acusar de nada.

- Só estou a perguntar, Bobby. Pensei que quisesse fazer uma confissão.

- Vá-se foder no cu. Quer saber quem matou Salli? Foi Eddie Stoner, e tem-no aqui agora... por isso, faça alguma coisa.

- Onde foi no sábado à noite quando regressou? Foi até casa e apanhou Salli com outro tipo? Foi isso o que aconteceu?

- Santo Deus! - gritou Bobby. - Não entende o que lhe estou a dizer? Eddie Stoner assassinou a minha mulher e quero-o na cadeia. Percebeu, idiota?

Sem saber o que se passava na sala ao lado, Tucci tentava acalmar Angela Musconni. Eddie Stoner sentou-se numa cadeira ao lado dela, comprimindo um kleenex ensopado de sangue contra a boca. Parecia que tinha perdido os dois testículos em conjunto com os dentes.

Angie, contudo, mais do que compensava o silêncio dele. Agia como uma gata brava, saltando para cima e para baixo, dando socos no ar para transmitir a sua mensagem.

- Tem de prender aquele filho-da-mãe! - gritava. - Eddie disse que foi Bobby quem o fez, e Eddie sabe o que está a dizer. E, se não o pode prender por causa do homicídio, pode seguramente prendê-lo por atacar uma pessoa. Partiu os dentes de Eddie e também me bateu. Fiquei estendida no chão, inconsciente! Quero apresentar queixa. Prenda o bandido! Exijo-o!

- Se o prendermos, Miss Musconni - disse Tucci, candida mente -, não ficará bem nem a si nem a nós. O homem ia a sair do funeral da mulher. Foi provocado para a luta. Há dezenas de testemunhas que viram exactamente o que se passou. O advogado dele há-de tirá-lo daqui imediatamente, e depois arrastar-se-á uma longa batalha nos tribunais com toda a inerente publicidade. Tem a certeza de que é isso que quer?

- Não! - conseguiu Eddie dizer, cuspindo mais sangue.

- Sim! - insistiu Angie.

Tucci olhou para os dois, tentando decidir quem detinha o poder na relação. Naquele momento, era provavelmente Angie - era seguramente a mais vocal. Mas se apresentasse queixa contra Bobby naquele momento em particular, iria complicar as coisas. Quando a altura chegasse, haveriam de deitar as mãos a Bobby Skorch, mas seria por homicídio, não por aquela ninharia.

- Posso ser franco com os dois? - disse Tucci. - Posso confiar em vocês?

- Hem? - disse Angie, a suspeita estreitando-lhe os olhos.

- Mr. Skorch é, de facto, suspeito no assassinato de Salli T., pelo que uma detenção por ataque nesta altura não serviria para nada a não ser complicar a nossa investigação.

- Porquê? - quis saber Angie.

- Porque, se o detivermos por uma ofensa menor, não nos ajudaria. - Observou-a atentamente; parecia estar a escutar, o que era bom sinal. - O que gostaria que fizessem é o seguinte - diss.

- O quê?

- Gostaria que fossem para casa, pensassem nisso e, se ainda desejarem apresentar queixa, podem fazê-lo amanhã. É justo?

Eddie anuiu vigorosamente. Angie ainda não estava convencida.

- Miss Musconni - afirmou Tucci, na voz mais persuasiva. Tome a decisão sensata. Prometo-lhe que não se vai arrepender.

- Leva-me a um cirurgião plástico - lamuriou Bo Deacon enquanto Olive conduzia irregularmente o Rolls pela Wilshire Boulevard.

- Vou levar-te às Urgências - disse Olive, nada aborrecida com o acidente do marido.

- Não quero ir às Urgências - gemeu. - Quero um cirurgião plástico.

- É uma pena a tua queridinha estar morta - afirmou Olive conduzindo ora por uma via ora pela outra. - Tenho a certeza de que era uma autêntica perita em cirurgiões plásticos. Vejamos, tinha mamas com silicone, lábios aumentados, maçãs-do-rosto falsas, um queixo novo... provavelmente, uma gatinha nova depois da acção que teve a anterior.

- Santo Deus, és uma cabra! - disse Bo, desejando estar em qualquer outro lugar. - Tinha vinte e dois anos, pelo amor de Deus. E está morta.

- óptimo - disse Olive.

- Óptimo? - repetiu Bo, não conseguindo acreditar que ela tivesse dito uma coisa assim.

- Fornicaste com ela? - inquiriu Olive, atirando o cabelo ruivo para trás.

- O quê?

- Fornicaste ou não?

- És doida! - disse, enojado.

- Fizeste com ela no avião, Bo Bo, foi?

- Caramba, Olive, já nem consigo falar contigo.

- Foste a casa dela, sei que foste.

- Estás louca!

- Oh, sim. No sábado. Estiveste lá, a meteres o nariz quando o marido estava ausente.

- Perdeste o juízo.

- Perdi?

- Estou com dores.

- Não me interessa - disse, com um sorriso embriagado, quase esmagando o precioso Rolls dele contra as traseiras de um camião.

- Estás bêbeda - disse ele, afirmando o óbvio. - Pára o carro e deixa-me conduzir.

- Estou bêbeda - cantarolou ela. - E tu tens andado a dar cambalhotas nas minhas costas. Qual de nós é o pior, Bo Bo? - Então, Olive, não agora.

- Quando? - quis saber, desviando os olhos da estrada e lançando-lhe um olhar longo e doloroso. - Quando é a minha altura?

- Tenho o nariz partido! - gritou. - Estou a avisar-te, Olive, não venhas agora com essa conversa!

- Odeio-te! - gritou ela, o rosto distorcido com fúria embriagada, acelerando ainda mais. - Odeio-te! Odeio-te! Odeio-te!

- Pelo amor de Deus, Olive!

E, antes que pudesse fazer algo para a impedir, Olive girou o volante do potente carro em direcção ao trânsito em sentido contrário e esmagaram-se de frente com um Mercedes dourado.

 

Levou horas mas, por fim, Kristin conseguiu retirar a tábua do meio da janela. Infelizmente, o espaço tinha apenas uns dez centímetros de alto e sessenta centímetros de largura, não suficientemente grande para que ela pudesse passar mas, ao menos, podia ficar com uma ideia onde se encontrava. Tanto quanto conseguia perceber, estava numa espécie de casa de vigia a meio caminho de um penhasco. A vegetação do penhasco era selvagem, o que a levou a pensar que nunca ninguém vinha àquele edifício. A algumas dezenas de metros abaixo estava o oceano e não pareciam existir outras propriedades à vista.

Tentou desesperadamente libertar as restantes tábuas dajanela mas, algum tempo depois, desistiu. Era impossível. As suas mãos estavam cortadas e sangravam e tinha um corte no braço. Tivera sorte em tirar a tábua do meio sem partir um osso.

Conseguir olhar para fora e ter alguma ideia onde se encontrava constituiu para ela um importante triunfo.

O que não conseguia entender era por que permitira ser conduzida por um perigoso penhasco de olhos vendados. Devia estar louca. Um passo em falso e teria caído para a morte certa.

O pequeno cordeiro segue tranquilamente para a matança. Afinal, que tipo de monstro era o Senhor X? questionou-se. Será que se excitava sexualmente com isto? Fosse como fosse, não havia dúvida que os seus motivos eram pura maldade. Ele era malévolo.

O importante é que ela já não se sentia como uma vítima. tinha um plano e uma arma e, embora tivesse fome e sede, estava determinada a permanecer forte.

Agora que tinha alguma luz, podia explorar adequadamente o aposento. Não que houvesse muito para explorar - tábuas de soalho, a cama, um lençol que usava agora e nada mais.

Pensara exaustivamente no que faria se o Senhor regressasse, e decidira, por fim, que a única coisa que podia fazer era apanhá-lo de surpresa, tentar derrubá-lo e escapar. Se conseguisse fazê-lo e chegar à auto-estrada, poderia pedir ajuda.

O pensamento de Cherie depender dela conferiu-lhe forças. A voz interior parara de gritar coisas infames na sua cabeça. Agora incitava-a a ser forte.

Não fiques amedrontada. Vais conseguir. És uma sobrevivente. Sim. Era. E haveria de sobreviver.

Disso tinha a certeza.

 

- Lá está ela - disse Madison, caminhando com confiança para a esplanada do restaurante.

- Como sabes? - disse Jake, observando a rapariga loura sentada sozinha, folheando um exemplar do Movieline.

- Primeiro, está sozinha. Segundo, traz uma sueater laranja. É fácil ser-se esperto, dadas as circunstâncias. Disse-te o nome?

- Não.

- Muito bem, vamos até lá.

Jake pôs-lhe uma mão no braço, fazendo-a parar.

- Está à espera que eu apareça sozinho. Está também à espera do dinheiro, que não tenho.

- Lidaremos com a situação - disse Madison. - Deixa-me ser eu a falar.

Jake não sabia ao certo se apreciava a nova atitude de liderança de Madison.

- Sabes ser uma verdadeira mandona - observou.

- Querias ajuda, não querias? - retorquiu Madison. - Vamos a isto.

Juntos, aproximaram-se da rapariga com a sueater laranja. Esta lia um artigo sobre Vince Vaughn, e só olhou para cima quando Madison disse: - Olá.

- Sim? - disse Junia, os olhos disparando de um lado para o outro.

- Este é Jake Sica - afirmou Madison. - Sou irmã dele.

- Irmã?

- Somos gémeos. Fazemos tudo em conjunto.

Junia franziu a testa. Que raio de história era aquela?

- Onde está o meu dinheiro? - perguntou, pousando a revista.

- Em local seguro - disse Madison. - Mas, como é óbvio, e como seguramente compreende, não lho podemos dar sem saber o que estamos a pagar.

- Eu disse-lhe a ele para trazer o dinheiro - afirmou Junia, batendo com o delicado punho sobre a mesa.

- E trouxe - afirmou Madison calmamente, puxando uma ca deira e sentando-se, gesticulando para que Jake fizesse o mesmo.

- O negócio é o seguinte. Para quê ficar por dez mil, se pode ganhar muito mais?

- Como? - perguntou Junia com suspeitas.

- Já alguma vez ouviu falar em Watergate?

- Que é isso, uma ponte?

- Não. Watergate foi um acontecimento histórico. As pessoas que detinham a informação certa ganharam muito dinheiro com o Watergate.

- Não entendo - disse Junia, apesar de tudo intrigada e começando a sentir-se algo importante.

- Trabalha para a Darlene? - perguntou Madison, pensando que aquela miúda tinha tudo menos aspecto de rapariga de programa.

- Se trabalho para ela? - exclamou Junia, como se fosse a coisa mais ridícula que jamais ouvira. - Nem pensar! Por acaso, vivo com ela. - Mal o afirmou, lamentou tê-lo feito. Não era suposto dizer nada sobre ela. Nem pensar. O seu plano era receber o dinheiro e pôr-se a milhas.

- Quer dizer que é namorada dela?

- Sim - afirmou Junia, anuindo vigorosamente.

- Platónica ou de outra forma?

- Que lhe parece? - disse Junia com um sorriso malicioso.

- Onde está Kristin? - disse Jake, ficando impaciente. Junia ignorou-o, mais interessada no que a mulher tinha para lhe dizer.

- Que quis dizer com eu poder ganhar mais dinheiro? - questionou.

- Tenho a certeza de que tem uma história muito interessante para contar - disse Madison. - E, se estiver disposta a contar pormenores sobre Darlene e sobre a forma como ela dirige o seu negócio, bom, penso que estaremos a falar em muito dinheiro.

Junia esbugalhou os olhos.

- Muito dinheiro, hem?

- Exactamente - prosseguiu Madison, silenciando Jake com um olhar de aviso. - Trabalho para a revista Manhattan Style. Se concordar em nos dar um exclusivo, tenho a certeza de que consigo com que o meu editor Lhe pague vinte mil dólares.

- Uau! - exclamou Junia com reverência.

- Aqui está o meu cartão - disse Madison, procurando na carteira.

Junia pegou no cartão gravado e estudou-o.

- Como posso ter a certeza de que não é treta? - inquiriu.

- Por que me daria eu a esse tipo de trabalho? - respondeu Madison. - Sabe, hájá algum tempo que planeava fazer um trabalho de fundo sobre a indústria das raparigas de programa. O meu irmão Jake é fotógrafo, é a participação dele. Ele ia tirar algumas fotos a Kristin para a revista.

- E ela estava a cooperar consigo? - perguntou Junia.

- Claro que sim - afirmou Jake, percebendo a linha de pensamento de Madison e associando-se. - É por essa razão que é tão perturbador o facto de ela ter desaparecido.

- Ainda bem que foi suficientemente esperta para sair enquanto podia - disse Madison, falando depressa. - Para sua protecção, podemos pô-la num hotel. Vou pedir à minha revista que me mande um contrato imediatamente. Só há uma coisa... tem de nos dizer como encontrar Kristin.

- Não sei onde ela está - disse Junia. - Mas sei que o Senhor conseguiu o número de telefone de casa dela, e que ele era o cliente que teve um encontro com Hildie. E. - Parou, apercebendo-se de que poderia estar a falar demasiado. - Há mais informação sobre ele, mas primeiro tenho de ver algum dinheiro.

- Quem é o Senhor X? - perguntou Jake, com alguma urgência na voz.

Junia encolheu os ombros.

- Ninguém sabe, nem sequer Darlene. Ele liga de vez em quando, sempre que quer uma rapariga.

- A companhia dos telefones - disse Jake. - Se ligou para Kristin, talvez tenham o número dele registado.

- Não creio que funcione dessa forma - disse Madison.

- Podemos tentar. É melhor do que não fazer nada. Madison voltou-se para Junia.

- Ouça - disse. - Não deve ir para casa. Vamos hospedá-la num hotel, com todas as despesas pagas.

- Por que nãoposso ir para casa? - lamentou-se Junia. - Darlene não sabe que vim falar convosco.

- Darlene está metida em sarilhos - disse Madison. - Já aparece em todos os canais de televisão. O melhor será esconder-se até termos a nossa história. E, lembre-se, é um exclusivo ou não há o cheque gordo.

- Bom, está bem - afirmou Junia com relutância. - Mas é bom que me paguem amanhã, ou o negócio fica sem efeito.

- Combinado - disse Madison.

Não havia nada que a excitasse mais do que uma boa história. E sentia que era o caso desta.

 

- Já estou à espera há quarenta e cinco minutos - disse Darlene, embora Linden a tivesse avisado de que não era sensato queixar-se.

- Quarenta e cinco minutos - repetiu gelidamente, sem se importar com o que era sensato ou não.

- Lamento, minha senhora - disse Tucci, educadamente, sentado em frente da mulher bem vestida e extremamente atraente e do seu advogado de Beverly Hills. - Surgiu uma situação de emergência.

- Fui obrigada a almoçar à pressa para chegar aqui a horas - disse Darlene.

Cristo! Ela queixava-se. O que ele comera todo o dia foram três miseráveis donuts e, pelo andar da carruagem, deveria trabalhar até ao jantar. tinha esperanças de que Faye lhe guardaria alguma coisa. Ultimamente, até sonhava de dia com o assado dela. O lado positivo era que, nos últimos dias, devia ter perdido uns cinco quilos. Adeus, dieta. Olá, comida.

- Tanto quanto sei, tem algumas perguntas que gostaria de fazer a Mrs. La Porte - disse Linden. - Por favor, vamos iniciar.

- Certamente - disse Tucci. Exigira-lhe algum tempo, mas finalmente conseguira convencer Angela Muscormi a não apresentar queixas contra Bobby Skorch. Fora-se embora com Eddie... relutantemente.

Entretanto, Lee conseguira aborrecer Bobby, que saíra da esquadra mal o seu advogado chegou. Marty Steiner não estava nada satisfeito, mesmo furioso por Bobby ter permanecido com eles durante uma hora. Marty teria ficado ainda mais furioso se soubesse que, naquele momento, o laboratório efectuava testes às amostras de sangue que poderiam possivelmente associar o seu cliente ao assassino de Salli.

Tucci não estava com disposição para questionar uma madame de Hollywood, que, provavelmente, tinha mais ligações do que um aspirador multi-usos. Sabia como funcionavam estas coisas. Estas mulheres tinham sempre clientes em posições de destaque que acabariam por pressionar para que as queixas fossem retiradas. Eles também não tinham concretamente nada contra Darlene Le Porte. Era uma madame conhecida mas, naquele momento, não possuíam provas concretas. As raparigas dela não falariam, nem os seus famosos clientes. Para deitar as mãos a Darlene, tinham de pôr um plano em acção. E agora não era a ocasião apropriada.

- Agradecemos o facto de ter vindo - disse Tucci.

- Pode agradecer o que quiser - disse Darlene, lançando-lhe um olhar altivo. - Quanto mais depressa sair daqui, melhor.

- Sim, minha senhora.

- E não me trate por minha senhora.

Madison estava em movimento. Na sua mente, visualizava a história que ia escrever sobre L. A. e isso fez-lhe subir a adrenalina.

Adiou temporariamente o artigo sobre Freddie Leon, porque decidira agora investigar o negócio das raparigas de programa. Possuía todos os ingredientes para uma história de sucesso. Poder. Obsessão.

Homicídio. Vingança: Exactamente o que ela gostava.

E Junia - a amante lésbica de Darlene La Porte, praticamente menor - estava pronta a fornecer todos os detalhes.

Tinham enfiado Junia num quarto no hotel de Jake, asseguraram-se de que ela dispunha de Spectravision e serviços de quarto; seguiram depois para o quarto de Jake, onde Madison se sentou na cama dele e ligou a Victor em Nova Iorque.

- Arranjei-lhe uma história fantástica! - gabou-se.

- Freddie Leon era assim tão interessante? - gritou Victor no seu embirrante tom de voz alto.

- Não se trata de Freddie - disse, excitada. - Mais e melhor.

Só que temos de arranjar de imediato um cheque de vinte mil dólares.

- Perdão?

- Tenho uma rapariga pronta a falar, que conhece os bastidores de uma operação exclusiva de raparigas de programa. E está disposta a contar tudo.

- Às vezes não entendo o que diz.

- - Não faz mal - respondeu. - Passe o cheque ao portador e envie-o de imediato para mim. Vamos ter uma história que vai ser um verdadeiro êxito editorial.

- Espere um pouco...

- Não posso esperar, Victor. E quero trabalhar com um grande fotógrafo que é capaz de estar disponível. - Piscou o olho a Jake que não conseguia acreditar que aquela era a mesma Madison a que estava habituado. - Não é barato, mas penso que devia ponderar seriamente em contratá-lo. O nome dele é Jake Sica. Depois informo-o se consegui convencê-lo a trabalhar para nós.

- Madison...

- Adeus, Victor. - Desligou e voltou-se para Jake. - Para quê trabalhar para uma revistinha qualquer se eu conseguir ligá-lo à Manhattan Style?

- Que te aconteceu? - disse, abanando a cabeça perante a metamorfose dela. - Estás toda acesa.

Ela reluziu.

- Sinto-me óptima. Na verdade, estou esplêndida. Estou de volta à acção. Esta história vai ser sensacional. Vamos contar as boas novidades a Junia.

- Preciso de encontrar Kristin - disse. - É a única coisa importante para mim.

Por momentos, Madison sentiu um rasgo de desapontamento.

Precisamente quando pensava que ela e Jake formavam uma excelente equipa...

- Desculpa - disse, rapidamente. - Tens razão, e tenho uma ideia.

- O quê?

- Devíamos passar no apartamento dela e ver o que conseguimos encontrar.

- A criada nunca nos deixará entrar.

- Jake - gabou-se. - Não sabes? Agora estás a trabalhar comigo e, quando quero, posso fazer tudo.

 

Na cama, assistindo aos acontecimentos inacreditáveis no funeral de Salli T. nos noticiários da televisão, Max Steele estava completamente confortável e sem dores graças aos milagres dos fármacos modernos. As enfermeiras eram todas suas fãs. Ora, quantas vezes tinham possibilidades de passar as mãos num genuíno solteirão de Bel Air? Entravam com frequência no seu quarto, duas de cada vez, para o ver e fazer-lhe uma ou duas perguntas, tais como, se conhecia Matt Damon. E Anne Heche era realmente lésbica ou andava apenas com Ellen pela publicidade? Perguntas normais que o público em geral gostava de fazer.

Max apreciava ser o centro das atenções. Tinha os olhos postos numa bonita enfermeira negra - ela possuía uma qualidade à Halle Berry, e ele gostava da personalidade dela, já para não mencionar os seios.

Sim, apesar de tudo, não foi assim tão mau ter sido alvejado, e agora Freddie já não estava zangado com ele, e ainda bem. Assim que recuperasse e passasse alguns dias no, digamos, Four Seasons, ou em Maui, tudo o que teria de fazer era regressar ao trabalho, como sempre.

Continuava a acordar e a adormecer constantemente, o que era bastante agradável. Tenho de ligar para a Kristin", pensou. Deve estar a perguntar-se o que aconteceu comigo. Tenho de Lhe ligar... "

Os seus olhos fecharam-se. Estava a dormir de novo, e foi assim que Inga Cruelle e Howie Powers o encontraram quando irromperam no quarto dele.

- Santo Deus, homem! - exclamou Howie, acordando-o. Meteste-nos um cagaço.

A nós? Isso significava que a deliciosa Inga e o seu velho amigo - o playboy sem miolos - eram um nós?

- Como souberam? - murmurou.

- A tua criada contou-me quando passei pela tua casa – disse Howie, tirando uns bagos de uva da mesinha-de-cabeceira. – Que coisa.

- Quando foi isso?

- Há cerca de uma hora, assim que voltámos de Vegas.

- Ganhaste?

Howie reluziu e pôs um braço em redor da cintura de Inga, puxando para si a requintada supermodelo sueca.

- Ganhei o melhor dos prémios. Inga deu-me a honra de se tornar minha mulher.

- O quuuêê - Max tentou sentar-se, mas as dores agudas não o permitiram. - Casaste?

Inga emitiu um sorriso de desdém - sorriso esse que aperfeiçoara em passarelas por todo o mundo.

- É verdade, Max querido. Howard e eu unimo-nos em matrimónio.

Max não conseguia acreditar no que ouvia. Howie Powers e Inga Cruelle casados? Impossível. Ele, Max Steele, nem sequer fornicara

com ela, e fora casar com um idiota como Howie. Que se passava no mundo? Isto era inacreditável.

- Mostra-lhe o anel, querida - pediu Howie.

Inga acenou a mão sob o nariz. No dedo anelar estava um diamante enorme, pelo menos com dez quilates.

- Parabéns - conseguiu dizer Max, as palavras quase colando-se-lhe à garganta. - Que aconteceu ao seu noivo, Inga? O tal tipo

sueco que disse ser seu namorado desde o liceu?

Ela encolheu os ombros.

- Howie é muito querido - disse. - E muito persuasivo. Veio ter comigo ontem à meia-noite. Tão comovente.

- Com o anel?

- Naturalmente.

- Sim - disse Howie, alegremente. - Pensei que já estava solteiro há demasiado tempo. Voámos para Vegas esta manhã, casámo-nos, e a primeira pessoa a quem viemos contar foi a ti, porque és o meu melhor amigo, companheiro.

Sim, claro", pensou Max. Vieste mostrar-me o teu prémio. Porque, pela primeira vez na vida, grande estúpido rico, conseguiste uma rapariga antes de mim. Bem, boa sorte, porque esta vai-te exigir muito mais do que apenas um anel de diamante. E, como parvo que és, aposto que não a fizeste assinar um acordo pré-nupcial.

- Não podia ficar mais feliz por ti - disse Max, cheio de sinceridade fingida.

- Howard - disse Inga, fitando o seu relógio de diamantes Patek Phillipe -, um presente de casamento que Howie lhe oferecera no voo de regresso. - Preciso ir.

- Tenho de ir levar a minha noiva ao aeroporto - disse Howie.

- Vai para Milão por causa das colecções.

- Tu não vais?

- Primeiro tenho de tratar de uns assuntos. Vou ter com ela dentro de dois dias.

Como se Howie, o estúpidoplayboy, tivesse assuntos para tratar. Tudo o que Howie fazia era ver crescer o seu dinheiro e pouco mais.

- Bem. - disse Max. - Obrigado por passarem por cá.

- A seguir és tu - disse Howie, piscando o olho.

Ah! ", pensou Max. Esperem só até ele ver Kristin. Ela faz com que Inga pareça uma versão escanzelada da verdadeira beleza. Não há comparação.

- Até um dia - disse.

Inga atirou-lhe um beijo. Simpático da parte dela. Howie piscou de novo o olho e formulou com a boca: Espectáculo, hem?

E foram-se embora.

Max esperou um pouco e chamou Halle Berry. A vida não era assim tão má.

 

Tucci estava sentado à secretária quando recebeu um telefonema, informando-o de que Bo Deacon falecera num horrível acidente de viação em Wilshire. A mulher dele, Olive, que conduzia na altura, fora transportada para o Cedars com cortes e ferimentos múltiplos, embora não se encontrasse em perigo de vida.

Estava consciente, histérica e insistia em falar com um dos detectives encarregues das investigações do homicídio de Salli T.

Dado que Lee saíra para voltar a falar com alguns dos vizinhos de Salli, Tucci calculou que teria de ser ele. Que dia aquele. Bo Deacon morto num acidente de carro. Era a isto que se chamava um mau karma. Sai-se de um funeral e vai-se ao encontro da própria morte.

Destino. As voltas e reviravoltas da vida. Nunca previsível.

Tucci deixou a esquadra e seguiu para o hospital, ligando para Faye do carro.

- Sentes a minha falta? - perguntou, melancolicamente.

- Sim, sinto a tua falta - respondeu ela. - Quando chegas a casa?

- Não tão depressa.

- Que tal correu o funeral?

- Agitado. Viste os noticiários?

- Vou ligar a televisão.

- Faye?

- Sim?

- Não quero voltar a fazer dieta.

- Porquê?

- A vida é demasiado curta. - Um compasso. - Em vez disso, achas que somos demasiado velhos para termos um bebé?

Ela riu-se suavemente.

- O que tem um bebé a ver com dieta?

- Pensei que podíamos engordar juntos.

- Sim.

- Sim?

- Sim.

- Amo-te. Posso comer assado ao jantar?

- Tudo o que quiseres.

Quando chegou ao hospital, tinha um grande sorriso no rosto. Por vezes, era agradável desalinhar, ter conversas despropositadas, apaixonar-se de novo pela mulher.

Havia um polícia uniformizado à porta do quarto de Olive Deacon.

- Que se passa? - inquiriu Tucci.

O polícia falou pelo canto da boca como se não quisesse que ninguém ouvisse.

- Está histérica, detective, e embriagada.

- E então?

- Então, está a confessar o assassinato de Salli T.

- Olá - disse Madison, à porta de Kristin. - Falei com Kristin e ela pediu-me para Lhe dizer que não tarda em voltar para casa.

Chiew, a criada de Kristin, fitou-a inexpressivamente, guardando a entrada para o apartamento da patroa com o robusto corpo.

- Pediu-me também que esperasse por ela aqui, mas, se prefere que eu não entre... - Madison encolheu os ombros, como se para

ela fosse indiferente.

Chiew fitou-a por mais alguns segundos e depois decidiu que ela tinha um ar honesto, pelo que seguramente não haveria problema

em dar-lhe acesso ao apartamento de Kristin. Sobretudo, porque Chiew precisava de sair cedo para visitar o namorado na prisão.

Mal a empregada saiu, Madison telefonou para Jake no carro e este subiu logo da garagem subterrânea. A primeira coisa que fizeram foi rebobinar o atendedor de chamadas. Tiveram êxito de imediato.

a segunda mensagem gravada era do Senhor X, solicitando que Kristin se encontrasse com ele na extremidade do Cais de Santa Monica, na noite do domingo.

- Vamos - disse Jake.

- Onde? - disse Madison. - Se ela realmente se encontrou com ele, é muito pouco provável que ainda lá estejam.

- Talvez alguém os tenha visto juntos.

- Nesse caso, precisamos de uma fotografia dela. Tiraste alguma?

- Não, mas há uma dela com a irmã numa moldura na sala.

- Vai buscá-la - disse Madison, ainda com a atitude de mandona, mas agora tão ansiosa quanto Jake para descobrir o que acontecera a Kristin. Mantinha a esperança de que não iriam ligar a televisão e descobrir que dera à costa outro corpo.

Enquanto Jake foi buscar a fotografia, Madison olhou rapidamente em redor. Nada de invulgar. Nenhuma pista. Nenhum apontamento que lhes pudesse fornecer mais informações.

Jake trouxe-lhe a fotografia. Kristin era realmente uma beleza

Madison vira-a apenas rapidamente quando ela passou pela casa de Jimmy para se encontrar com Jake, mas, honestamente, não se apercebera da beleza dela. Fresca e natural, com cascatas de cabelos louros e um sorriso resplandecente. Nunca ninguém, nem com a mais fértil das imaginações, diria que era uma rapariga de programa.

- Que fazemos? - inquiriu Jake.

- Telefonamos a Darlene - disse Madison. - Vamos ver o que é necessário para levá-la a cooperar.

 

Ele não vai voltar e nunca vou conseguir escapar deste quarto onde sou mantida prisioneira. "

As palavras surgiram na mente de Kristin enquanto permanecia deitada sobre o colchão no exíguo espaço, que agora mais parecia um forno. Tentava reservar as forças.

Estou cansada, esfomeada, sedenta, quente, desanimada exausta. Apesar de tudo, ainda estou viva. Tal como Cherie. Por ela tenho de sair daqui.

Mas se ele não voltar.

Se me deixou aqui para apodrecer.

Quanto tempo podia uma pessoa durar sem comida nem água? Seriam dias, semanas, meses? Quanto tempo?

Desejava gritar e berrar. Gritar por socorro.

Mas não. Não podia fazer isso. Tinha de permanecer forte para quando ELE chegasse.

O Senhor X.

E ele haveria de chegar.

Sabia que sim.

 

- Adeus, minha boneca.

- Adeus, Howard.

- Cuida bem do anel.

- Claro.

- Dá-me dois dias e estarei pronto para dar cabo de ti.

- Que romântico - disse Inga com um sorriso superior. A única pessoa que sairia acabada daquela relação seria Howie. Mantinha o verdadeiro noivo à espera enquanto reunia o maior número de peças de joalharia no mais curto espaço de tempo. Depois, anularia ocasamento. Howie era obviamente umplayboy... estava meramente a vingar-se de todas as mulheres de quem ele usara e abusara.

Howie fez uma tentativa para beijar a nova esposa nos lábios. Ela afastou-o, não com muita gentileza.

- Por favor, Howard, em público não - ralhou. - As pessoas estão sempre a observar-me.

Ele ergueu-lhe a mão onde o anel com o diamante de dez quilates reluzia. Dez quilates de zircónio cúbico. Depois de um ano de casados e, quando ela o presenteasse com um filho, comprar-Lhe-ia uma coisa a sério. As pessoas pensavam que ele era Howie Powers, umplayboy estúpido. Estavam enganadas. Havia muito mais em Howie do que isso.

Deixou o aeroporto e regressou à cidade. O trânsito estava infernal, mas Howie não se importou, tinha o restante do dia todo planeado.

Freddie Leon seguiu para Malibu, amaldiçoando o intenso trânsito. Primeiro deixara Diana em casa. Algo se passava com ela; não agia como era habitual nela. E o que era aquela súbita ligação que sentia em relação a Max?

Talvez considerasse conferir-lhe mais atenção. Colocava sempre os negócios primeiro e ela sabia isso.

E quando se queria descontrair. bem, não era para Diana que ele se voltava. Havia outra pessoa.

E hoje precisava desesperadamente de descontrair-se.

Olive Deacon ágarrou na mão de Tucci.

- Matei-o! - gemeu. - Morreu por minha causa! O forte hálito a álcool fê-lo dar um passo atrás.

- Aquem? - perguntou.

- Ao meu marido, quem queria que fosse? - soluçou.

- Mrs. Deacon, vou ler-lhe os seus direitos. Tudo o que disser pode ser usado contra si. Tem direito a um advogado. Se...

Enquanto prosseguia, ela desintegrou-se perante os seus olhos. O rosto enrugou-se, o rímel tingiu-Lhe as faces, o baton manchou-lhe os dentes.

- Mrs. Deacon - disse ele tranquilamente, sentindo pena dela.

- Quer contactar o seu advogado antes de falarmos?

- Não quero advogados - disse, entre soluços. - É por minha culpa que Bo está morto. Fui punida e tenho de contar tudo.

- Quer fazer um depoimento formal?

- Sim, quero.

- Muito bem.

E, antes que ele conseguisse tirar a caneta para fora, ela começou a falar.

 

No momento em que escutou o estalido da fechadura, Kristin estava a postos. Correu para a porta, posicionando-se atrás dela por forma a que, quando ele a abrisse, houvesse um elemento de surpresa. O coração batia-lhe desnorteado, mas sabia que, se não agarrasse aquela oportunidade, tudo estaria perdido.

Estava cheia de raiva ao colocar-se em posição. A raiva torná-la-ia forte. A raiva ajudá-la-ia a recuperar a liberdade.

O Senhor abriu a porta.

Ela ergueu os braços, segurando a perna da cama acima da cabeça - pronta a esmagá-la sobre ele -, pronta a correr. A luz inundou o pequeno aposento. Ele entrou.

Por momentos, Kristin ficou paralisada, incapaz de se mexer ou pensar. Então, como que em câmara lenta, lançou-se para a frente atingindo de lado a figura de preto com todas as forças - batendo ferozmente com a perna da cama em madeira.

Para seu espanto, ele não caiu. Nos filmes, quando alguém era atingido, caía sempre. Mas ele limitou-se a cambalear, soltando um grito furioso de surpresa.

Antes que ele tivesse hipóteses de reagir, Kristin atacou de novo. Desta vez, ele quase ficou derrubado. O boné de basebol caiu para o chão e os óculos-de-sol atingiram o solo e estilhaçaram-se. Aproveitando a oportunidade, Kristin passou por ele, atravessou a porta, correu para o desconhecido, buscando freneticamente a melhor saída para a liberdade.

Viu-se num caminho estreito e de vegetação alta. À sua esquerda, a dezenas de metros abaixo, estava o oceano. À frente havia degraus escavados na rocha, conduzindo a uma grande casa erguida muito acima.

Os degraus constituíam a sua única saída. Correu para eles, concentrando-se na sobrevivência, sem olhar para trás.

Quando alcançou o primeiro degrau, ouviu-o atrás de si. O Senhor agarrou-lhe uma perna. Ela deu um pontapé às cegas.

- Cabra! - rosnou ele.

- Deixa-me em paz, seu porco! - gritou ela, escalando desesperadamente os perigosos degraus.

Ele agarrou-a de novo, desta vez deitando as mãos ao vestido improvisado. O lençol rasgou-se. Meio nua, continuou a subir, determinada a que ele não a impedisse. Ninguém o conseguiria. Fosse como fosse, correria para a liberdade - não apenas para longe daquele homem mas também daquela vida.

- Não entendes? - gritou ele. - Tu pertences-me. Sempre me pertenceste. És a minha prostituta. A minha prostituta pessoal.

Havia algo na voz dele... algo que ela quase reconhecia. Não era a voz do Senhor X, o grunhido disfarçado. Aquele era o verdadeiro

homem a falar, e era... Oh, Santo Deus, E Era!

Por momentos, mal conseguiu respirar. Depois, como que em transe, parou de escalar e voltou-se.

O monstro encontrava-se a dois passos dela, sem boné de basebol e sem óculos. Um fio de sangue escorria-lhe pela face.

Fitou os olhos dele.

Ele sabia que ela o reconhecera.

Ficaram ambos imóveis, como dois grandes gatos no seu ambiente, mirando-se um ao outro, à espera de ver quem atacaria primeiro.

- Okay - disse ele por fim. - Sabes então quem eu sou. E não há nada que possas fazer. - E riu-se, aquela gargalhada tão narcisista que ela tão bem se recordava. - Tu e a estúpida da tua irmã...

são exactamente iguais - continuou. - Também ela era uma prostituta. Não merecia viver. Nem tu.

Num movimento lento, Kristin ergueu-se da sua posição defensiva, levou a perna atrás e lançou um pontapé com tamanha força que, quando a perna tocou no peito dele, o homem não teve oportunidade de corrigir o equilíbrio.

Caiu para trás, as mãos agarrando-se ao ar enquanto efectuava duas cambalhotas, desaparecendo então pela beira do penhasco com um longo e cortante grito.

Kristin viu-o cair, ouviu o ruído do corpo embater numa árvore a caminho das rochas e do oceano.

Não lamentava. Vingara finalmente a irmã. E era uma sensação de satisfação, como era suposto ser.

Howie Powers nunca mais se riria de ninguém.

 

         EPÍLOGO

Nove meses mais tarde

O detective Tucci andava agitado de um lado para o outro nos corredores do Cedars Sinai. Faye estava a dar à luz e, embora tivesse tentado ficar no quarto para Lhe dar a mão, a visão do sangue - do sangue da sua mulher - obrigou-o a sair.

A sua nova parceira, Wanda O'Donahue, passara pelo hospital para lhe fazer companhia. Trouxera também uma caixa de donuts e um frasco de café Starbucks. Havia muitas vantagens em ter-se um parceiro do sexo feminino, embora Faye não fosse da mesma opinião.

- Como estão a correr as coisas na sala de partos? - inquiriu Wanda, dando uma dentada num donut.

- É uma zona de guerra - disse ele, sorrindo. - Muito sangue, coragem e gritos.

- Hás-de sobreviver - disse Wanda, dando-lhe uma palmada amigável nas costas.

Sim, haveria de sobreviver.

Fora um ano e tanto. O assassinato de Salli T. invadira todos osjornais, sobretudo quando Mrs. Bo Deacon confessara, logo após o terrível acidente de viação que lhe matara o marido.

Tucci sentiu que a confissão dela não soava a verdadeira - embora os seus superiores estivessem numa de capturámos o assassino, e a Imprensa divulgasse de imediato esta informação. É que Olive não possuía os detalhes que o assassino deveria ter, embora tivesse apresentado a arma usada para matar Froo. Estava registada em nome de Bo Deacon.

Tucci permaneceu no caso, estabelecendo que Bobby Skorch fora a sua casa algumas horas antes dessa noite, fizera amor com a mulher, discutira com ela, e saíra, sentindo-se para sempre culpado por não ter ficado.

Bo Deacon chegara depois, sem se aperceber que Olive o seguia. Atirara-se a Salli, que lhe disse que não tinha hipóteses com ela. Desenrolara-se uma luta e ele matara-a num frenesim de frustração. Depois disparara contra o empregado e fugira. Olive observara tudo do local onde se encontrava escondida, uns arbustos junto à piscina.

Quando Olive matou Bo no acidente de carro, ficou com um tal sentimento de culpa que decidiu assumir a culpabilidade pelos homicídios e proteger a reputação, não tão imaculada, do marido. Pelo menos na morte, ele seria o seu herói.

Não fora Tucci e a sua preocupação pelos detalhes, ela teria sido condenada a prisão perpétua. Desta forma, Olive não tardou a regressar à sua mansão de Bel Air com um namorado de 25 anos, um negócio lucrativo e uma nova paixão pela vida.

Tucci bebeu um pouco de café. Estava óptimo. Nos últimos seis meses, dedicava-se ao spinning - uma forma exaustiva de exercício aeróbico numa bicicleta fixa. Resultara, o que significava o fim das dietas, dado que perdera uns doze quilos.

A médica de Faye aproximou-se dele, uma cordial mulher asiática com um sorriso muito cativante.

- A sua mulher gostaria de o ver, detective.

- Já terminou?

- Sim, já.

- E?

- É o pai orgulhoso de uma linda menina.

O sorriso dele praticamente iluminou todo o hospital.

O divórcio de Freddie Leon foi um dos mais dispendiosos divórcios de L. A. dos últimos anos. Diana recebeu metade de tudo - e tudo era muito. Freddie decidiu que valia a pena. Tinha a sua liberdade e nenhum preço era demasiado alto para obter isso. Além do mais, o negócio corria bem; podia pagar para se livrar de Diana.

Seis discretos meses depois da anulação final do casamento, Ria Santiago mudou-se para a casa de praia de Freddie - ele dera o mausoléu de Bel Air a Diana. Depois de uma relação de sete anos, ele e Ria podiam finalmente ser vistos juntos em público. Freddie sentiu que era o mínimo que podia fazer pela mulher mais leal que jamais conheceu.

Já com alta do hospital e em melhor forma do que nunca, Steele desfez-se de muitos dos seus bens materiais. Trocou o Maserati por um Hummer, Vendeu a casa e mudou-se para Wilshire, para uma casa que tinha arrendada. Não repôs o seu Rolex de ouro e, depois de tentar contactar Kristin por duas vezes sem sucesso, perdera-se de amores por Angela Musconni, embora fosse contra as regras, dado que a agência a representava. É claro que teve de persuadir Angie a largar o falhado com quem vivia, mas isso não se revelou muito difícil, pois, logo após se terem juntado, Eddie Stoner conseguiu uma série filmada no Havai.

Era surpreendente o que se conseguia quando se era um dos agentes mais poderosos da cidade.

Culpabilizando-se pela morte de Salli, Bobby Skorch perdeu todo o sentido de concentração. Quando tentava bater um recorde de salto de motorizada entre arranha-céus, em Nova Iorque, falhou e caiu para a morte.

Natalie DeBarge conseguiu a posição de pivot por que tanto ansiava. Todas as noites, sentada ao lado de Jimmy Sica, faziam um casal perfeito. Quando as câmaras não estavam em acção, ela praticamente tinha de o afastar com um pau, mas esse era apenas um dos riscos de ser um pivot mulher.

A sua vida amorosa foi delegada para segundo plano e desfrutou cada segundo da sua nova e revigorante carreira.

O irmão, Cole, mudou-se para casa do Sr. Mogul - que, até agora, o tratava como um príncipe. No entanto, para eterno alívio de Natalie, Cole foi suficientemente esperto para não largar o trabalho.

Junia pegou nos vinte mil dólares que recebeu por contar todos os segredos obscuros de Darlene e mudou-se para Nashville, onde conheceu uma loura e famosa cantora de country de seios enormes. Não tardaram a formar um casal. Junia começou a cantar. Não era má de todo.

Darlene acabou por ser apanhada pela infracção mais vulgar - evasão fiscal. O advogado, Linden Masters, ficou tão enfurecido quando descobriu que ela lhe escondia as coisas que se recusou a representá-la mais. Contratou um advogado ainda de maior renome do que Linden e, devido às suas poderosas relações, conseguiu safar-se com uma curta pena de prisão.

Quando saiu, mandou toda a cautela pela janela fora e encontrou um escritor desconhecido para colaborar num livro, citando nomes. O seu livro - dramaticamente intitulado Madame - estava prestes a sair.

Hollywood aguardava num estado de fascínio paranóico.

Kristin refez a sua vida, tal como a irmã. Encontrou-se com o médico de Cherie e, finalmente, ouviu o que ele tinha para dizer. Era um homem simpático de cabelos castanhos e olhos gentis.

- Não existem milagres, Kristin - informou-a. - O cérebro de Cherie está morto. A única razão porque está viva é porque você não permite que a máquina seja desligada.

- Desligue-a - disse, tranquilamente. - Compreendo.

- Tem a certeza?

- Sim, tenho.

Depois de escapar da casa da praia, seguira para casa e telefonara anonimamente para a Polícia - contando-lhes tudo o que sabia sobre o Senhor X, incluindo a morte dele e onde o poderiam encontrar.

Jake estava ansioso por a ver, pelo que concordara em almoçar com ele e ouvir tudo o que ele tinha para dizer. No entanto, não era suficiente - não havia forma de voltar atrás. Agora, ele fazia parte do seu passado, e ela ia seguir em frente.

Jake contou-lhe a história em que a amiga Madison Castelli estava a trabalhar.

- Faz-me um único favor, Jake, nunca menciones o meu nome.

- Podes ficar descansada - assegurou-lhe.

Uma semana mais tarde, deixou o apartamento luxuoso e mudou-se para uma casa mais simples.

Algumas semanas depois, o médico telefonou e convidou-a para jantar.

- O que vai fazer, agora que já não tem que pagar as contas da sua irmã? - perguntou ele.

- Vou regressar à escola - disse. - Quero licenciar-me em Psicologia Pediátrica e talvez... numa altura do futuro... trabalhar com crianças.

- Parece-me uma excelente ideia.

O médico não tinha uma vida esplendorosa nem conduzia um carro vistoso. Era um profissional trabalhador que realmente se dedicava às pessoas, e gostava genuinamente dela pela sua maneira de ser. Kristin sentia grande conforto com a presença dele. De tal forma que se casaram três meses mais tarde.

Jake Sica permaneceu em L. A. durante alguns meses, fotografando estrelas de cinema e de desportos, cantores e magnatas. Trabalhar para a Manhattan Style era interessante e pagava bem, mas, algum tempo depois, começou a sentir a falta das vastas extensões do Arizona.

Uma manhã acordou, olhou pela janela para o nevoeiro com fumo e decidiu que chegara a hora.

Ao meio-dia, tinha as malas prontas e pôs-se a caminho.

Madison escreveu o melhor artigo da sua carreira, sobre o negócio das raparigas de programa de Hollywood. Foi de tal forma excelente que Hollywood comprou os direitos cinematográficos por uma quantia astronómica e pediu-lhe que trabalhasse no guião.

Permaneceu em contacto com o bom amigo Jake. Era um tipo impecável, mas nunca se estabeleceu entre eles um relacionamento romântico. A ocasião não fora propícia.

Tirou uma semana de folga com os pais em Connecticut. Ficaram encantados por a ver, sobretudo o pai, Michael.

Seguiu depois para Hollywood, onde conheceu Alex Woods, um inquieto escritor/produtor/realizador incrivelmente talentoso inclinado para fazer filmes com sérias possibilidades de nomeação para os Oscares. Ele queria fazer o filme dela.

Pelo que Madison entrou na fase seguinte da sua vida com os olhos abertos e apetite pela emoção.

As coisas estavam a compor-se.

 

                                                                                 Jackie Collins  

 

                      

O melhor da literatura para todos os gostos e idades

 

 

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