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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


DEPOIS DA MEIA NOITE / Cheryl Bolen
DEPOIS DA MEIA NOITE / Cheryl Bolen

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

DEPOIS DA MEIA NOITE

 

Quando Edward começava a adormecer em seus aposentos, sua mente sonolenta foi despertada pelo som de vozes femininas. Mas sua própria consciência assegurava-o da impossibilidade de tal ocorrência. Afinal, ele não tinha esposa, irmã, nem mesmo mãe, para invadir seus domínios masculinos. Virou-se, então, com a firme intenção de voltar a dormir.

Porém uma voz feminina aguda o despertou, e desta vez não importava o que dizia sua mente, ele se deu conta de que ela estava dentro da Mansão Warwick.

Edward pulou da cama para ouvir e apesar de as palavras serem indistinguíveis, elas com certeza eram articuladas por uma ou duas mulheres. Edward vestiu uma calça e correu para a escada, para verificar o que estava acontecendo em sua casa.

Do alto da escadaria, ele pôde observar o tumulto que estava ocorrendo lá embaixo. Ele permaneceu paralisado, estático. A mulher mais linda que eleja vira estava dando ordens para seus criados como se fosse a proprietária da casa. Assombrado, Edward se deu conta de que uma das ordens era para carregarem os baús para os aposentos da "condessa".

Com um breve olhar, ele contou catorze baús. Somando-se à arrogância da recém-chegada, havia uma versão mais jovem dela usando óculos, uma mulher idosa com trajes de serviçal e o gato mais gordo que ele já havia visto, todas falando ao mesmo tempo, com exceção do gato.

Edward pigarreou, mas ninguém percebeu sua presença. Ele começou a descer a escada e pigarreou mais alto. Desta vez as intrusas olharam.

Sem se dar conta de que estava sem camisa, ele perguntou:

- O que significa isso?

A que parecia liderar o grupo deu um passo à frente, e Edward não conseguia parar de admirar os olhos escuros que contrastavam com a pele alva. Depois de estudar as faces rosadas, Edward avaliou o corpo gracioso que o elegante vestido azul-cobalto que ela usava parecia realçar.

- Quem é este senhor? - ela perguntou, então embaraçada, levou a mão à boca.

- Gostaria de fazer a mesma pergunta quanto à senhora retrucou Edward.

- Esta é a Mansão Warwick, não é? -- ela indagou.

- Sim, é - ele concordou, descendo a escada. Ela ergueu a cabeça e falou:

- Caro senhor, eu sou lady Warwick, e esta é a minha casa.

- E eu, milady, sou lorde Warwick e saberia com certeza se Vossa Senhoria fosse minha esposa!

Por uma fração de segundos, ele considerou a remota possibilidade de o falecido lorde ter se casado em segredo, mas os movimentos de seu antecessor, incluindo a aversão a mulheres, eram bem conhecidos por Edward.

Ele observou-a, esperando por sinais de rendição, mas a orgulhosa mulher não demonstrou nenhum.

- Há quanto tempo, milorde, o senhor sucedeu? - ela desafiou.

Quem lhe dera o direito de questioná-lo daquela forma?

- Há um ano e meio.

Então toda a compostura da moça se desfez, e ela desabou no piso de mármore, a saia do vestido se esparramando, e o gato agarrado a seu pescoço.

Chorando, ela erguia o delicado punho cerrado e dizia palavras vulgares, aparentemente dirigidas a um homem a quem ela se referia como o "salafrário".

A visão de uma bela mulher chorando amoleceu Edward.

-Não chore, minha senhora! - Edward confortou-a, andando em sua direção.

- Como eu pude acreditar nele? - ela lamentou. - Eu sabia que ele era mau, conspirador, mentiroso, um salafrário de-testááá-vel!

Seus ombros balançavam a cada soluço, e Edward olhava-a, confuso, sem saber o que fazer para acalmá-la.

- O inferno é bom demais para o vil, mentiroso, desprezível salafrário! - ela continuou.

Era óbvio que o homem que ela abominava era um salafrário.

- A quem a senhora está se referindo? - Edward perguntou, gentilmente pousando uma das mãos sobre o ombro da dama agitada, quando aquele maldito gato, com as garras para fora, arranhou a mão dele!

Colocando um dedo sangrando em sua boca, Edward se deu conta de que sabia quem era o "salafrário". Ele lembrou-se que Lawrence Henshaw havia se passado por lorde Warwick, quando conseguira fugir da Inglaterra, bem debaixo das barbas do carrasco.

- Meu falecido marido - ela respondeu.

Henshaw estava morto? Como a Inglaterra podia ter tanta sorte?!

- Eu lhe imploro que pare de chorar, milady. - Edward usou o título para acalmá-la, apesar de saber que ela não era condessa.

- Vamos passar para a sala onde poderemos discutir a situação.

Maldito Henshaw! Ele sempre tivera os olhos voltados para as mulheres e era óbvio que havia ludibriado aquela, usando o título de lorde.

A jovem, que Edward presumiu ser a irmã mais nova da "condessa", apanhou um lenço em sua bolsinha e estendeu-o à beldade chorosa, que enxugou as lágrimas e em seguida ofereceu a mão a Edward. Ele estava muito feliz por poder ajudá-la, especialmente por ela ter parado de chorar. Porém, quando ele tocou na mão dela, aquele maldito gato cinzento o atacou novamente. Mas desta vez ele conseguiu evitar o ataque.

- Pare com isso, Tubby! - ela disse ao enorme gato. - Sinto muito, milorde, Tubby tem medo de estranhos.

Eles se dirigiram para a sala onde Wiggins, o sempre eficiente mordomo, já havia acendido as velas e iluminado o salão esverdeado.

- Por aqui, milady - disse Edward, colocando, sem resistir, o braço em volta da angustiada viúva. - Sente-se, por favor.

Assim que ela se acomodou no canapé listrado de verde e dourado, Edward veio e se sentou a seu lado. Ele tinha de saber se Henshaw estava mesmo morto.

- Sobre seu falecido marido, seria ele um homem com uma vasta cabeleira negra, uns dez ou quinze centímetros mais baixo que eu? Talvez com a minha idade?

Ela o olhou por inteiro e em especial seu peito desnudo.

Foi quando Edward percebeu sua falta de recato, por estar sentado ali com o peito à mostra ao lado de duas damas. Ele se levantou para buscar uma camisa, quando Wiggins entrou na sala com uma camisa bem passada e uma sobrecasaca cinza.

A viúva e sua acompanhante tiveram a decência de virar o rosto enquanto Edward se vestia.

Quando terminou, Wiggins perguntou:

- O lorde desejaria que eu acendesse a lareira?

- Não se incomode, Wiggins - Edward respondeu -, não nos demoraremos muito aqui.

De volta a seu assento, ele continuou.

- Agora, onde nós estávamos?

- Acredito que o senhor acabou de descrever meu falecido marido - ela disse. - O senhor o conheceu?

- Creio que sim.

Da última vez que ele ouvira falar de Henshaw este estava a bordo de um navio que se dirigia às colónias, portanto a beldade era provavelmente uma norte-americana.

- A senhora é norte-americana?

- Sim, nasci na Virgínia, mas meus pais eram ingleses. Por isso é difícil me considerar uma norte-americana, apesar de supor que é o que sou.

Do canto dos olhos Edward viu que a jovem, que ele supunha ser a irmã mais nova da beldade, tinha se acomodado em uma poltrona Luís XIV e estava perdida nas páginas de um livro.

Em seguida, sua atenção se voltou para a bela. Isso o fez pensar que Henshaw teria abusado da tão doce criatura. Ele esperava que Henshaw estivesse ardendo no inferno. Porém, o salafrário seria capaz de forjar até mesmo a própria morte.

- Quando seu marido faleceu?

- Há quatro meses.

- De morte natural?

Ela ficou visivelmente tensa.

- Eu não gostaria de falar sobre este assunto.

A beldade estava escondendo algo, e ele podia apostar que o maldito Henshaw havia forçado-a a tomar parte de seus planos baixos.

- O que eu gostaria de saber, milady, é se a senhora viu o corpo.

Acenando de forma solene, ela disse:

- Felizmente, haviam vestido suas roupas antes de trazê-lo a mim.

O que ela queria dizer com isso?

A jovem olhou por cima de seu livro e falou:

- O que minha irmã quer dizer é que seu falecido marido encontrou seu fim em um bordel.

Agora Edward estava convencido de que o falecido era de fato Lawrence Henshaw.

- Traição? - ele perguntou à viúva.

- Não de fato - ela respondeu -, Lawrence estava embriagado e sentindo-se invencível, após um encontro amoroso a três, ele saltou despido de um terraço, do terceiro andar.

- E a senhora tem certeza de que o corpo era o dele? Afinal, após uma queda dessas, os ferimentos fatais poderiam ter desfigurado a aparência dele.

Exibindo o mais belo sorriso que Edward já havia visto, ela respondeu:

- Eu me questionei sobre a mesma coisa. Sabendo como funcionava a mente doentia dele, abri sua camisa em busca de uma prova.

- E que prova seria esta?

com as faces ligeiramente rosadas, ela disse:

- Seus pêlos do peito compunham um formato hexagonal.

- E o corpo era sem dúvida de seu marido?

- com certeza. - Seus doces lábios se contraíram.

- Vejo que a senhora escolheu não trajar luto.

- Fazer isso seria hipocrisia, milorde. Nós estávamos vivendo separados na época de sua morte, e eu não tinha intenção de voltar a viver com o salafrário.

Ele questionava o motivo de ela ter-se casado com o homem, uma vez que o considerava tão desprezível. Mas Edward sabia o quanto encantador Lawrence Henshaw poderia ser, até conseguir o que pretendia. Sabia também o quanto ele poderia ser destrutivo. Edward cerrou os punhos com raiva do falecido salafrário.

- Parece-me então, milady, que a senhora está correta em seu julgamento. Seu marido quase não escapa da Inglaterra com vida.

- Eu deveria ter esperado por coisa parecida. Quando ele me fez a corte, prometeu-me trazer a Londres e oferecer à minha irmã um grande debut, mas após o casamento, o salafrário mudou seu discurso. Ele sempre dava alguma desculpa para evitar a nossa vinda à Inglaterra. Logo suas histórias começaram a entrar em conflito, e percebi que era tudo conversa fiada. Até imaginei se ele não teria uma esposa na Inglaterra. - Ela o questionava com aqueles grandes olhos castanhos.

- Ele não tinha esposa - Edward assegurou.

- Então qual era seu verdadeiro nome?

- Lawrence Henshaw.

- Eu preferia ser lady Warwick. Sra. Henshaw soa tão... tão mundano, e tenho de admitir que Lawrence não era mundano. O salafrário!

- Suponho que não.

- Teria sido ele um ladrão? - ela perguntou. - Isso explicaria o motivo de ele ter chegado na Virgínia com uma grande quantia em dinheiro.

- Ele era um traidor. Usou sua posição no Ministério das Relações Exteriores para fornecer informações importantes aos franceses. Essas informações custaram milhares de vidas de soldados ingleses.

- E para isto ele foi muito bem remunerado - ela comentou.

- Estou feliz que o dinheiro já não exista mais, pois detestaria viver de dinheiro sujo de sangue.

Todo aquele dinheiro acabado? Então como esta mulher iria retornar para a América?

- Por que a senhora resolveu vir para Londres?

- Para ser franca, milorde, eu me iludi, pensando que poderia morar aqui nesta casa e proporcionar uma espetacular temporada para minha irmã. Pretendia também entrar em contato com o procurador de lorde Warwick para notificá-lo da morte de Lawrence. Esperava que, uma vez que soubessem da morte do lorde Warwick, sua herdeira teria direito a tudo isso. Sendo otimista, esperava também, durante este período, que Rebecca pudesse ficar noiva de um homem de posses. Ela olhou para sua jovem irmã.

- E... - Rebecca entrou na conversa - ...Maggie sabia que durante este tempo sua beleza conquistaria muitos corações. As maçãs do rosto da beldade tingiram-se de vermelho.

- Eu não imaginei tal coisa! - ela repreendeu a irmã.

- Ainda bem que não terei temporada. Não desejo me casar

- completou Rebecca.

Após o casamento desastroso de sua irmã, Edward podia compreender a aversão de Rebecca ao matrimónio. Além disso, ela aparentava não ter idade suficiente.

- Qual a sua idade, senhorita...

- Peabody - Rebecca respondeu. - Completarei dezoito no mês que vem.

Ele se recostou no canapé, olhando para as duas. Edward precisava tirá-las de sua casa.

- Bem! Chamarei uma carruagem para conduzi-las ao Hotel Claridge.

Este anúncio fez com que a beldade caísse em lágrimas novamente. Chocá-la assim fez com que ele se sentisse um bruto.

- Veja bem, milady, com certeza a senhora se deu conta de que esta casa não é sua.

- Oh! Sei disso - ela disse soluçando. - É que não tenho dinheiro para pagar um hotel.

Ou para a passagem de volta para a América, ele podia adivinhar. O que ele iria fazer? Qualquer coisa para cessar aquelas lágrimas.

- Então sugiro às senhoras que fiquem aqui por esta noite. Sei que devem estar cansadas da longa viagem. Amanhã, quando estiverem descansadas, veremos o que podemos fazer com relação ao vosso retorno à América.

Edward estava satisfeito com a solução. Ainda que estivesse preso a estas duas damas e a um gato gordo, isto seria somente por uma noite e com certeza não iria aborrecer Fiona.

Entre grandes soluços, a bela o contemplou com outro de seus belos sorrisos.

- O senhor é muito gentil, milorde.

Todos se levantaram, e ele solicitou à governanta para que preparasse quartos para as visitantes, mas Wiggins já havia se antecipado, e as acomodações já estavam prontas.

Edward subiu a escada com elas, feliz por ter conseguido conter as lágrimas da beldade.

- Existe uma lady Warwick? - ela perguntou, pousando a mão no braço estendido de Edward.

- Não ainda - ele respondeu -, estou comprometido com lady Fiona Hollingsworth, mas ainda não é oficial, devido à inesperada morte de sua mãe.

- Pobre mulher. - Maggie se compadeceu. - A morte de nossa querida mãe foi ainda mais dolorosa do que a morte de papai, não foi Rebecca?

A viciada em livros, Rebecca Peabody, havia aperfeiçoado o dom de andar e ler ao mesmo tempo.

- O quê? - ela perguntou, aborrecida por ter sido interrompida em sua leitura.

- Ah, esqueça! - Maggie disse. - Olhe para os degraus, ou você irá cair e se quebrar em milhões de pedaços.

O primeiro quarto, no segundo andar, era para a srta. Peabody. Ela nem mesmo desviou o olhar do livro, enquanto dizia boa-noite a eles e entrava no quarto.

O próximo era o aposento da "condessa".

- Na verdade, uma condessa não ocupa este aposento há pelo menos cinquenta anos - ele disse -, pois meu tio, o falecido lorde, nunca se casou. Planejo redecorá-lo, antes de me casar com lady Fiona.

Edward apressou-se para abrir a porta. Dentro do quarto, duas criadas colocavam lençóis de linho na cama, e a criada da beldade estava abrindo a valise de sua senhora. Era como se ele tivesse visto o quarto escarlate pela primeira vez. O quarto não estava somente fora de moda, estava se desfazendo e algumas cortinas estavam tão frágeis que poderiam se rasgar a qualquer momento.

- Parecesse limpo, e isso é tudo o que importa, milorde Maggie disse, estendendo sua mão a ele. - Minha irmã e eu estamos em débito com o senhor por sua generosidade.

- Isso não é nada - ele murmurou, enquanto se dirigia a seu próprio aposento.

Maggie esperou até ouvir a porta do lorde se fechar e correu para o quarto de sua irmã. Apesar de ser menor do que o dela, o quarto era decorado com móveis elegantes de marfim e ouro e com uma estonteante cama dourada. Ainda lendo seu livro, Rebecca olhou para sua irmã sobre os aros de seus óculos.

- Você deveria se envergonhar, Maggie.

- De quê? - ela perguntou, enquanto se sentava sobre a colcha de seda.

- Por abusar de seu dom de chorar por qualquer coisa.

- Ah, isso.

Era mesmo muito esquisito que ela possuísse a habilidade de chorar por nada, mas quando ela estava realmente aflita, por exemplo, quando seu pai morreu, nenhuma lágrima foi derramada. Ela julgava que suas lágrimas, tal como sua beleza, eram dons dados a ela para fazer com que homens grandes e robustos caíssem em suas mãos.

E lorde Warwick era com certeza um homem grande e robusto. A suposta condessa quase perdeu o fôlego quando, aos pés da escada, viu aquela belíssima criatura, sem camisa, olhando para ela. É claro que ela ficou envergonhada por ter deixado escapar sua admiração, um embaraçoso hábito que ela possuía. A lembrança daquela pele macia, do corpo bem torneado e um rosto moreno e bonito a fez palpitar novamente.

- Você reparou como o lorde Warwick é bonito? - Maggie perguntou de forma casual.

- Pena que ele esteja comprometido - falou Rebecca, sem mover os olhos de seu livro.

- Minha querida irmã, comprometido não é o mesmo que estar casado. Este é provavelmente um daqueles casamentos arranjados há muito tempo entre famílias. Ouso dizer que lady Fiona deve ter uma cara de cavalo e que lorde Warwick mal pode suportá-la.

- Meu Deus, você não quer dizer que está querendo agarrá-lo! Como você poderia depois de seu desastroso casamento?

- Ora, ora, pequena. Não se exalte. Não decidi agarrá-lo. Depois do último fiasco, você pode ter certeza de que eu não me casarei antes de conhecer, de verdade, um homem.

O que ela omitiu da irmã é que um casamento destes poderia livrá-las da pobreza. Maggie estava desesperada. Antes de encontrar sua derradeira hora, o salafrário conseguiu desperdiçar quase toda a sua fortuna ilícita.

Maggie já havia quebrado a cabeça, tentando encontrar uma maneira de poder continuar a vida, junto de sua irmã, com modéstia e dignidade, mas nenhuma possibilidade havia surgido. Ser governanta estava fora de questão, pois ela teria de deixar Rebecca para trás, e sua irmã mais nova ainda não era auto-suficiente. Ser costureira, impossível. Seus bordados não eram os melhores, e por que deveriam ser, afinal? Ela pensou até mesmo em escrever, mas, meus Deus, ela não tinha talento para isso, também.

A conclusão a que chegou é que tinha somente um talento: a habilidade de atrair os homens. Era notório que os homens ficavam como bobos em sua presença.

Uma pena que ela tivesse desperdiçado seu charme com o salafrário.

- Eu deveria ter desconfiado que Lawrence não era lorde Maggie disse. - Estou envergonhada de mim mesma! Sabia que ele estava mentindo, tramando, e que era um perfeito e odioso salafrário.

- O verdadeiro lorde Warwick vai mandar-nos embora amanhã - alertou Rebecca.

- Você tem de me ajudar a pensar em uma maneira de ficarmos aqui. Lorde Warwick deve conhecer vários homens qualificados, homens cujo caráter ele pode garantir. Um mês deve ser suficiente para encontrar um pretendente - Maggie disse com uma expressão de preocupação estampada em seu rosto.

- Suponho que uma de nós deva fingir uma doença - Rebecca falou, revirando os olhos.

- Isso mesmo! - Maggie concordou. - Mas eu não poderia ser a doente. Pois como poderia cortejar?

- Então qual a doença que terei? - perguntou uma resignada Rebecca.

Maggie pensou.

- Deixe-me ouvir sua tosse. Rebecca tossiu.

- Você pode fazer melhor que isso?

Sua irmã tentou novamente, desta vez uma tosse profunda e sonora.

Maggie tampou os ouvidos.

- Não, isso não irá funcionar. Você deve fingir que está com febre. Não se preocupe, pequena, trarei vários livros para você ler.

- E se lorde Warwick chamar um médico? Ele saberia que não estou com febre.

- Deixe-me pensar melhor sobre isso.

Maggie se levantou com seu gato no colo, cruzou o quarto e foi até a poltrona onde sua irmã estava e beijou-a na testa.

- Não leia a noite toda. Você irá cansar ainda mais seus olhos.

Quando Maggie retornou ao seu aposento, Sarah estava recostada em trajes de dormir e coberta com uma colcha vermelha. Maggie se comoveu ao ver a idosa criada. Parecia ter sido ontem que os cabelos de Sarah eram pretos e seus passos eram rápidos. Durante toda a sua vida. Sarah se dedicou à família Peabody. Nada poderia deixar Maggie mais feliz do que ver Sarah livre de todo aquele fardo e abrigada com conforto junto dela e de Rebecca.

- Você não deveria ter esperado por mim acordada - disse Maggie. - Sei que você está cansada da longa viagem de hoje.

-Eu preferi ficar aqui a ficar rolando em minha cama. Quando se está velha o sono demora a chegar.

Por mais que Maggie desejasse que isso não fosse verdade, Sarah estava velha. Maggie permitiu que Sarah a ajudasse com os lençóis e então segurou nas frágeis mãos de sua criada e ordenou que ela fosse para cama.

- E não ouse se apresentar em meu quarto antes das dez da manhã.

Sarah precisava de uma boa noite de sono depois da exaustiva jornada.

Maggie apagou a vela e se deitou na cama antiga. Era tão bom estar numa cama de verdade após tantas semanas dormindo em uma cama estreita no navio. Não importava que sua presença não era bem-vinda ao anfitrião. Por esta noite, ela se daria ao direito de um descanso descente.

No dia seguinte, ela encararia seus demónios.

Enquanto estava deitada, perdida em seus pensamentos, Tubby ronronando a seu lado, ela visualizou o poder emanado do maravilhoso corpo de lorde Warwick.

Por favor, meu Deus, não permita que ele seja outro salafrário!, ela pensou.

Na manhã seguinte, Edward teve dificuldade para sair da cama. Mas obrigou-se a fazê-lo, pois a importante missão de decodificar documentos franceses o aguardava no Ministério das Relações Exteriores. No dia anterior, ele já havia despendido treze horas na cansativa tarefa e retornara para casa em verdadeiro estado de exaustão. Estava tão cansado que nem mesmo comera e adormecera assim que sua cabeça tocara o travesseiro, para então ser despertado pela chegada da viúva de Henshaw.

No entanto, mesmo depois de suas hóspedes terem se acomodado, ele não conseguira dormir, temendo ter exposto ou revelado algo sobre o ministério, enquanto tentava descobrir sobre a morte de Henshaw. Ela poderia ser uma espiã francesa. Ou Henshaw poderia ainda estar vivo e usando sua amável esposa em algum plano diabólico.

Porém, o instinto de Edward o levava a confiar nela, a acreditar que ela não tinha conhecimentos prévios sobre a verdadeira identidade de seu marido. Sua confiança nela não tinha nada a ver com o fato de ser uma linda mulher. Fora a irmã mais nova que o levara a confiar na sinceridade da falsa condessa. As semelhanças entre as duas indicavam que realmente eram irmãs, e a mais nova havia confirmado a morte de Henshaw.

Enquanto Wiggins o barbeava, Edward estava sentado em total estado de inércia. Mas seus pensamentos eram dominados pela beldade. Não porque estivesse atraído por ela. Longe disso. Edward só tinha olhos para lady Fiona, e para Ele não era justo com sua querida Fiona que ele mantivesse a beldade como sua hóspede. Precisava dar um jeito de tirar aquelas mulheres de sua casa. Se alguma palavra chegasse aos ouvidos de Fiona, seu noivado estaria em risco. Em especial, se ela visse a beleza de Maggie Peabody-Henshaw, suposta lady Warwick.

Naquela manhã, Maggie estava determinada a não perder o lorde de vista. Por isso vestiu-se e penteou-se rapidamente, sem a ajuda de Sarah.

Já pronta, permaneceu sentada em seu quarto, atenta a qualquer ruído ou movimento do lado de fora.

Às nove horas, ouviu os passos dele, descendo a escada. Abriu a porta, e ele voltou-se para olhá-la.

- bom dia... milady. Não imaginei que estivesse acordada tão cedo.

- Esperava falar com o senhor antes que se fosse. Ele lhe ofereceu o braço.

- Então me acompanhe no café da manhã.

Durante a refeição matinal, Maggie observava as feições perfeitas de lorde Warwick, que assim como seu corpo atlético, esbanjavam masculinidade. O formato

do queixo, o nariz aristocrático, os olhos penetrantes, cada traço realçando seu poder e masculinidade.

Enquanto ela criava coragem para falar, ele pigarreou e disse:

- Como posso lhe ser útil, milady?

- Eu gostaria que o senhor me ajudasse a encontrar um marido

- ela respondeu, após um suspiro profundo. Edward olhou-a surpreso.

- Sei que o senhor não tem nenhuma obrigação com a minha pessoa. Mas o senhor me parece ser um cavalheiro de respeito.

- Ela parou para enxugar as lágrimas em um lencinho bordado.

- É que estamos tão sozinhas aqui em Londres... Não tenho marido e nem um pai para me ajudar a encontrar um pretendente.

- Por favor - ele suplicou -, não chore. Pensaremos em algo.

- Por mais que eu odeie mentir, e nunca contaria uma mentira a menos que fosse para ajudar uma pessoa que amo... mas... nós não poderíamos dizer que sou sua prima? Eu não gostaria de colocá-lo em uma situação complicada com lady Fiona.

Não posso dizer que a senhora é minha prima! - Edward

exclamou.

- Imploro que o senhor olhe para mim como se olhasse para um cavalo de leilão. - Ela completou: - Acredito que em um curto espaço de tempo posso atrair um marido. Um homem cuja integridade o senhor possa garantir.

Edward a encarava com expressão de surpresa.

- Eu tenho certeza de que seria fácil para a senhora.

O sorriso que surgiu em sua face apagou todos os sinais das lágrimas recentes.

- Então irá me ajudar?

- Eu não disse isso. Cabisbaixa, ela falou:

- Claro, entendo que o senhor deve ser um homem que não toma decisões apressadas. Apenas imaginei que poderia ajudar uma viúva sem dinheiro. É claro que devo dar um tempo ao senhor para considerar melhor a questão.

Enquanto continuava comendo, Maggie o observava. Era uma pena que estivesse comprometido com outra mulher, ainda mais, uma mulher que não condizia em nada com ele.

Lorde Warwick terminou logo seu café da manhã e pediu licença para se retirar, pois ele tinha alguns assuntos a resolver. Porém, antes de sair, ele disse para Maggie que elas podiam ficar durante o tempo que fosse necessário.

Pelo menos ele não as tinha mandado embora.

A caminho do ministério ele amaldiçoou a maravilhosa Maggie Peabody-Henshaw-Warwick por ter-lhe pedido que desempenhasse o papel de alcoviteiro.

Mas como ele poderia se livrar dela? Talvez lorde Carrington o ajudasse com essa questão.

Quando chegou ao escritório, Harry Lyle já estava trabalhando na sala que ambos partilhavam. Edward olhou para a- mesa de Harry, coberta de papéis, e em seguida para a sua, perfeitamente limpa e organizada, exatamente como ele a havia deixado na véspera.

Harry fitou Edward e perguntou: - Você não parece bem, meu amigo. Qual o problema? Decifrar códigos lhe tira o sono?

Edward jogou-se na própria cadeira.

- Ontem à noite, eu estava muito cansado para pensar em códigos. Meu sono foi interrompido por uma intromissão... peculiar.

Harry levantou uma sobrancelha.

- A viúva de Lawrence Henshaw invadiu minha casa, depois da meia-noite - disse Edward, entre bocejos.

- Como? - Harry perguntou, incrédulo.

- Parece que Henshaw morreu na Virgínia. Ele se casou, passando-se por lorde Warwick. O salafrário - Edward sorriu intimamente ao se lembrar do modo como Maggie falava.

- Meu Deus! - exclamou Harry. - Então a pobre mulher pensa que é condessa!

- Isso mesmo. Henshaw escolheu bem... Não conheço nenhum outro nobre que seja tão recluso como o verdadeiro lorde Warwick era. Poucas pessoas tiveram oportunidade de conhecê-lo ou até mesmo de identificá-lo.

- E o que você fará com a viúva?

- Esse é o problema. Ela continua em minha casa, junto de sua irmã, uma criada, catorze baús e um gato gordo.

- Você não poderia mandá-las para o Hotel Claridge?

- Tentei. A mulher ficou histérica. Parece que ela não tem dinheiro.

- Será melhor para você que lady Fiona não saiba disso. -Eu não tenho culpa. Mas é melhor que ela não fique sabendo.

Pensei em pagar pela hospedagem delas, mas Fiona não gostaria de saber que tenho duas mulheres solteiras sob minha proteção. E por mais discretos que sejam no Hotel Claridge, poderiam deixar escapar uma palavra e...

- Que situação difícil em que você se encontra! Isso sem mencionar que a viúva de Henshaw, se for uma viúva, pode estar mentindo para você sobre a morte dele. Ela pode até mesmo ser uma espiã.

- Já pensei sobre isso também.

- É melhor que você discuta isso com lorde Carrington.

- É exatamente o que estou indo fazer.

O secretário de lorde Carrington, Charles Kingsbury, informou que o lorde não se encontrava no escritório. O que não surpreendeu Edward, uma vez que um homem tão rico e bem relacionado como lorde Carrington poderia fazer exatamente o que quisesse. O homem recusou até mesmo um salário para servir ao governo.

- Lamentável - Edward disse ao funcionário público, que era uns dois anos mais velho do que ele. - Eu queria contar-lhe sobre a visita da viúva de Henshaw.

Kingsbury arregalou os olhos.

- Henshaw está morto?

- Parece que sim.

- Que boa notícia! Mas o que a viúva dele poderia querer com você?

- A senhora pensava ser a lady Warwick.

- Então o enganador não mudou. - Kingsbury contraiu seus lábios finos.

- Pelo jeito, não.

- Lorde Carrington, com certeza, gostará de saber de todos os detalhes. Por que você não tenta encontrá-lo na Bekerly Square?

Enquanto Edward esperava na sala de estar da luxuosa mansão de Carrington, ele pensava em como gostaria de ter conhecido Carrington quando jovem. Sendo um dos homens mais ricos da Inglaterra, Carrington foi também o favorito na corte francesa e acumulou um espetacular tesouro em obras de arte e esculturas, e mulheres bonitas, durante sua viagem pelo continente por volta de trinta e cinco anos atrás. Uma pena ele nunca ter-se casado e não ter herdeiros para quem deixar tudo isso.

De repente lorde Carrington entrou na sala, elegante e bem vestido como cabia a um nobre.

- Ora, ora, Warwick, o que o traz aqui tão cedo?-Carrington perguntou, enquanto se acomodava em uma poltrona à frente de Edward.

- A viúva de Lawrence Henshaw apareceu em minha casa na noite passada.

- Henshaw está morto? - Carrington empalideceu.

- É o que parece. Estou inclinado a acreditar na viúva.

- E o que ela poderia querer com você?

- Ela não estava interessada em mim. Ela pensou que a minha casa fosse dela.

As sobrancelhas cerradas de lorde Carrington se encontraram.

- Um engano estranho!

- Permita-me explicar - disse Edward. E prosseguiu narrando todos os eventos da noite anterior, sem omitir nenhum detalhe.

- Apesar de eu não confiar em Henshaw, acredito que a viúva esteja dizendo a verdade.

- O que o torna tão confiante?

- A irmã mais nova. A semelhança entre as duas não nega o parentesco. A garota tem somente dezessete anos e é uma leitora compulsiva. Ela confirmou que Henshaw morreu, e de alguma forma acredito que não foi coagida a fazê-lo.

- Você acredita mesmo que a viúva veio aqui somente para atrair um marido para ela e sua irmã, e por estar desamparada?

- Não sei o que pensar. É por isso que estou aqui.

- Temos de descobrir se ela sabia sobre as atividades do marido, seus contatos com os franceses. Ela pode nos levar ao homem que pagou Henshaw para trair o país.

- Acho improvável que ele tenha contado algo a ela sobre seus negócios escusos.

Lorde Carrington permaneceu calado por um momento.

- Você pode estar certo, Warwick, mas não podemos nos arriscar a presumir que a mulher seja inocente. Precisamos mante-la em Londres e vigiá-la o tempo todo.

- O que o senhor está sugerindo?

- Não estou sugerindo nada. Estou ordenando que você hospede a mulher em sua casa. Sua missão será descobrir qualquer informação que ela possa ter sobre o marido. Ela pode saber de algo valioso para nós.

- Mas senhor, não posso hospedar duas mulheres solteiras. Sou comprometido e não quero correr o risco de perder a mão de lady Fiona Hollingsworth.

- Tem de haver uma saída - Carrington murmurou. - Já sei! Diremos que o falecido lorde Warwick casou-se em segredo antes de morrer. Ela pode fingir que é a condessa Warwick. Como cavalheiro que é, o senhor será obrigado a prover a viúva de seu tio.

- Então poderei mandá-las para o Hotel Claridge?

- Você não fará isso! É vital que você a vigie o tempo todo. Quando não puder fazê-lo, Harry Lyle ou Charles Kingsbury o substituirão.

Era fácil para lorde Carrington falar... Ele não tinha visto a mulher.

- Não acredito que lady Fiona irá aprovar.

- Por quê? Ela não tem motivos para não acreditar que a mulher seja a viúva de seu tio.

- Acontece que a viúva é jovem e extremamente bela. Uma fagulha brilhou nos olhos do velho homem.

- Qual a idade dela?

- Eu diria que ela tem aproximadamente vinte e cinco anos.

- Ah, meu caro! Desculpe-me, mas você terá de lidar com isso, em nome do rei e da coroa. - O toque de humor na voz do velho senhor não soou solidário.

- E o que devo dizer a ela?-perguntou Edward, desanimado.

- Diga que compreende a situação em que ela se encontra e que pretende ajudá-la a encontrar um marido. Pense nisso, Warwick! Que melhor forma de assegurar que você estará com ela o tempo todo? Você pode levá-la ao Almack, ao teatro e a vários bailes. Durante o dia, você pode lhe mostrar a cidade. Ninguém que o visse com a beldade poderia acreditar que eles tinham um relacionamento platónico. Quanto tempo levaria para Fiona ficar sabendo e se rebelar?

- Por que não podemos dizer que ela é prima de Harry? Deixe-o lidar com a situação. Ele não é comprometido.

- Não sabemos com quantas pessoas ela pode ter conversado a caminho de Londres, pessoas que já sabem que ela é a viúva de lorde Warwick. Também é importante que o outro lado a associe a Henshaw. Todos nós sabemos, incluindo os franceses, que Henshaw usou o título de Warwick para fugir da Inglaterra.

Lorde Carrington tinha razão.

 

Naquela tarde, quando Edward retornou para casa, mais cedo que de costume, Maggie estava saindo do quarto de sua irmã com uma expressão apreensiva no rosto.

- Oh, milorde - ela disse -, sinto informar que minha irmã se encontra enferma.

Maggie segurava aquele maldito gato em seus braços. Ela nunca ia a lugar algum sem aquele gato?

- Lamentável. Esperava que ela pudesse nos acompanhar, enquanto apresento a senhora à sociedade londrina. - Edward falou muito sério.

Um espectro de emoções passou pelo seu belo rosto. Então ela sorriu e disse:

- Talvez ela não esteja tão doente assim.

- A senhora poderia me acompanhar até minha biblioteca? Gostaria de conversar com a senhora em particular.

Minutos depois, eles estavam entrando em seu santuário, uma sala de modestas proporções e cheia de livros. Por ser um cómodo não muito grande e por Edward jamais permitir que o fogo da lareira se extinguisse, a sala era incrivelmente confortável e ele adorava ficar lá. Ela se sentou em uma cadeira de frente para a escrivaninha dele. Um raio de sol refletia na face dela, e ele notou que este fazia uma sombra embaixo de seus longos cílios.

- A srta. Peabody está muito doente? - ele perguntou.

- Não. Na verdade, receio dizer que estava mentindo.

- Mas achei que a senhora detestasse mentir?

-E detesto, mas eu lhe falei também que abro exceção quando isso é usado para proteger aqueles que amo.

- Mas não vejo como a mentira sobre a doença de sua irmã pode contribuir para o bem-estar daqueles que a senhora ama.

Os olhos dela brilharam, e pela primeira vez ele percebeu que eles eram grandes e amendoados.

- Esperava que isso prolongasse a nossa estada em sua casa, milorde. - A voz de Maggie era quase um sussurro. - Estamos à beira do desespero.

Edward estava preparado para não gostar dela. Ele detestava a ideia de tê-la sob seu teto. A mulher já havia, até mesmo, admitido ser uma mentirosa! Mas o mais estranho é que ela estava dizendo a verdade agora. Como deveria ser difícil para uma mulher, que foi criada como uma verdadeira dama, ter de se rebaixar diante de um estranho. Isso o comoveu.

- Milady, pensei sobre o que conversamos nesta manhã e decidi que irei ajudá-la.

Maggie permaneceu paralisada e perguntou perplexa:

- Mas por quê, milorde?

Ela não era tão ingénua assim para acreditar que a ajuda dele estava sendo oferecida por puro cavalheirismo. Devido à sua aparência, a beldade já estava acostumada a repelir as diversas investidas masculinas.

- A senhora já deve ter suspeitado da minha conexão com o Ministério das Relações Exteriores?

- Eu suspeitava.

- Acreditamos que seu marido possa ter dito algo à senhora, algo que nos ajude a descobrir a quem ele se reportava.

- Se soubesse de alguma coisa teria o maior prazer em contar-lhe, mas o salafrário só me disse mentiras.

- Talvez a senhora se lembre de algum detalhe. Alguma palavra ou alguma ação de Henshaw que possa ser relevante. Enquanto isso eu me encarregarei de apresentá-la à sociedade londrina.

- E que nome usarei?

Lady Warwick.

Maggie ficou surpresa.

Devemos dizer que a senhora se casou em segredo com meu tio, pouco antes de ele falecer. E devido ao fato de ninguém conhecê-lo, nenhuma pessoa poderá contestar a sua história.

- Então foi por isso que o salafrário pôde se passar pelo lorde . ela disse como se estivesse pensando alto.

- Sim. Todos sabiam que o falecido lorde era um recluso que não tinha nenhum interesse pela vida social.

O rosto dela se iluminou.

- Então eu poderei dizer que sou a lady Warwick? Que delícia! - Em seguida, ela falou com seriedade: - Mas eu terei de contar a verdade ao meu futuro marido.

- Claro. - Edward pegou-se pensando em quem seria o felizardo de se casar com tão linda mulher.

- Contudo, receio que ouvi-lo chamar-me de lady Warwick irá deixar-me constrangida. Por isso devemos pensar em algo para o senhor me chamar quando estivermos a sós. - Sua expressão se contorceu. - Mas por favor, não me chame de sra. Henshaw!

- Mas o que deveria ser então?

- Não vejo por que o senhor não pode me chamar de Maggie. Afinal, suponho que sou sua tia. - Entre risos.

- Seria impossível para mim encará-la como minha tia. Eu devo ser cinco ou seis anos mais velho que a senhora.

- Eu tenho vinte e quatro anos. - Naquele momento, enquanto o olhava, ela não aparentava ter mais do que dezoito anos.

- Eu tenho trinta.

- Talvez eu deva chamá-lo de tio - ela disse em tom de brincadeira. - Milorde, sempre lhe serei grata por nos acolher em sua casa. - Ela fez uma pausa.-Eu detestaria que pensassem que sou uma mercenária por ter-me casado com o falecido lorde.

- Isso quer dizer que a senhora não considera a ideia de se casar com um nobre idoso e com os dias contados?

- Espero não ter de fazê-lo. Apesar de ter-me machucado, casando por amor com o salafrário, eu ainda sou uma romântica tola.

- Não seja tão severa consigo mesma. - Ele a consolou. Muitas mulheres caíram na conversa de Henshaw.

- Por isso preciso de sua ajuda. O Senhor pode me indicar quais são os homens que devo confiar. E gostaria de dizer ainda, milorde, que meu futuro marido não precisa ser rico. Tudo que espero é poder viver com um certo conforto, junto de minha irmã e Sarah.

Ele concluiu que Sarah deveria ser a velha criada. Que bondosa!

- Quando começaremos? - ela perguntou animada. Apesar de toda a decepção que Maggie havia sofrido, ela ainda tinha um entusiasmo infantil estampando em seu rosto.

- Hoje à noite, devemos ir ao teatro. Convidei alguns cavalheiros para dividirem o meu camarote conosco.

Que Deus o ajudasse, evitando que Fiona não descobrisse nada sobre tudo isso. Ele iria escrever imediatamente para ela e esclarecer que a esposa de seu tio havia aparecido inusitadamente. Depois de tudo resolvido, ele contaria a ela toda a verdade.

- É imprescindível que a srta. Peabody nos acompanhe.

- Claro - ela disse. - Eu compreendo. O senhor é um homem comprometido.

- A senhora possui roupas adequadas?

- Acredito que sim. O salafrário, quando nos casamos, insistiu que eu renovasse todo o meu guarda-roupa. Espero que o estilo não seja muito provinciano.

Henshaw deve ter sido generoso ao se dispor do dinheiro que ganhou de forma

desonesta.

Edward se lembrou do quanto ela estava adorável na noite anterior, usando aquele vestido azul.

- Há quanto tempo a senhora se casou?

- Nós nos casamos há dois anos.

- E quanto tempo depois se separaram?

- Seis meses depois de nos casarmos, eu o deixei e fui viver com meu meio-irmão. Esta foi a temporada mais desagradável de minha vida. Caso papai não tivesse morrido antes de meu casamento, ele teria dividido sua herança entre nós três. Mas ele faleceu depois, pensando que eu estava bem amparada e poderia cuidar de Rebecca também.

- E acreditando nisso, ele deixou tudo para o seu meio-irmão?

- Sim - ela concordou. - Filho dele de seu primeiro casamento.

- A senhora não se entende com seu meio-irmão?

-James, meu meio-irmão, ressentiu-se por papai ter-se casado após a morte da mãe dele, e seu ressentimento se estendeu a Rebecca e a mim. Meu meio-irmão e sua esposa tornaram as nossas vidas insuportáveis e, é claro, eles desaprovaram o fato de eu ter-me separado de um lorde inglês.

Então a pobre Maggie não tinha mesmo a quem recorrer.

- Espero que a senhora consiga refazer a sua vida na Inglaterra.

- com um homem honesto! - ela adicionou entre risos. Edward se levantou.

- Jantaremos às seis e quinze e após o jantar iremos ao teatro.

Edward decidiu convidar Harry Lyle para ir com eles ao teatro, uma vez que ele seria convocado para vigiar Maggie, quando Edward estivesse impossibilitado de fazê-lo. Para completar o grupo ele convidou também lorde Aynsley, um viúvo que era uns dez anos mais velho que Edward. O grupo de Edward saiu um pouco atrasado de casa, pois tiveram de esperar a srta. Peabody encontrar seus óculos. Ao chegarem ao teatro, os dois cavalheiros convidados já os aguardavam no camarote.

Edward apresentou Maggie, como a viúva de seu falecido tio.

- Espero que os senhores possam me ajudar a tornar a estada de lady Warwick em Londres o mais agradável possível.

Então os dois convidados quase se estapearam na disputa pelas atenções de Maggie. Edward sentiu-se aliviado quando os dois se sentaram um de cada lado de Maggie, isso o livraria de comentários comprometedores que pudessem chegar aos ouvidos de Fiona.

O teatro estava lotado quando as cortinas se abriram. Edward tentava se concentrar na peça, mas ele estava impossibilitado de fazê-lo. Sentado logo atrás de Maggie, ele não conseguia desviar os olhos de seu pescoço alvo e elegante. Ao mesmo tempo, Harry e lorde Aynsley comportavam-se como dois colegiais. A senhora está com frio, milady? Gostaria que eu apanhasse seu xale? Edward estava convencido de que nenhum dos dois homens tinha conseguido prestar atenção a nenhuma palavra da peça.

Quanto a Maggie, ela estava usando todo o seu charme. Por que ela tinha de mostrar tanto interesse na dupla de bajuladores? Chegava ser provocativo o modo como ela falava com aquela voz melodiosa.

- Estou apaixonado pela condessa - Harry sussurrou ao ouvido de Edward, durante o intervalo.

Edward respondeu em voz baixa: - Ela precisa de um marido, e você, meu amigo, com certeza, não está em condições financeiras de assumir a responsabilidade de uma esposa e de sua irmã mais nova.

Harry olhou furioso.

- Tenho guardado algum dinheiro. Momentos depois Harry perguntou:

- Deixe-me acompanhá-los ao Museu Britânico amanhã?

- Você não pode tirar folga - Edward vociferou. - agora que tem de executar a minha função também.

- Seu felizardo, cruel! - disse Harry.

Na carruagem de volta para casa, Edward perguntou às duas damas:

- As senhoras gostaram da peça?

- Nunca apreciei tanto algo! - disse Rebecca. - Obrigada por tudo, milorde.

Ele ergueu os olhos e encontrou os olhos de Maggie fitando-o.

E a senhora?

- Eu amei - ela disse. - Esta noite foi maravilhosa, e seus amigos são muito gentis.

Rebecca franziu a testa.

- Os homens sempre são gentis com você, Maggie.

- Você não deveria dizer tais coisas na presença de lorde Warwick. Eu lhe peço, pequena, você me deixa encabulada.

- Acho que a senhora conquistou dois admiradores: lorde Aynsley e Harry Lyle - disse Edward.

- Eles são muito amáveis - observou Maggie.

- E são homens honestos. Lorde Aynsley é um viúvo que está à procura de uma mãe para seus sete filhos, e Harry Lyle trabalha comigo no ministério.

Lamentável a aparência dos dois homens não se comparar à de lorde Warwick, que era infinitamente mais bonito.

- Ele não me contou que tem sete filhos - ela refletiu. Qual a idade deles?

- Como posso saber? - lorde Warwick disse agitado. Creio que o mais velho está em Eton e os outros devem morar em casa ainda.

Lorde Warwick estava mal-humorado, e Maggie se sentia responsável por isso. Estava claro que ele não havia apreciado o passeio, e era indiscutível que ele não estava gostando de ter de bancar o cicerone das duas.

- Uma vez que lorde Aynsley se prontificou para nos acompanhar ao passeio de amanhã eu gostaria de dizer que o senhor não precisa fazê-lo - disse Maggie. - O senhor deve ter coisas muito mais importantes para fazer.

- Eu irei - ele resmungou. - A senhora e sua irmã estão sob minha responsabilidade, e eu não confiarei a senhora a um bufão como aquele.

- Milorde, o senhor não deveria falar assim de seu amigo. Ele é um homem fino e educado. Ter-se portado de forma tão amável não faz dele um bufão.

- A senhora tem razão. Lorde Aynsley é um homem fino. E a senhora irá conhecer outros amanhã à noite no Almack. Espero receber os convites amanhã de manhã.

- Convites?

- Sim - Edward respondeu. - Ninguém pode entrar no Almack se não for aprovado pelos seus temidos patronos, todos aristocratas.

- E o senhor conseguiu convites para nós? - ela perguntou admirada.

- Na verdade, meu amigo lorde Carrington foi quem o fez.

- Quanta gentileza da parte dele.

Quando chegaram em casa, os três subiram direto para seus aposentos de dormir, pois o que eles precisavam mesmo era de uma boa noite de sono. Lorde Warwick desejou boa noite para as damas e se recolheu. Porém, um grito agudo o fez sair de seu quarto em disparada.

- O que foi isso? - Edward falou, enquanto corria para o quarto de Maggie.

A porta do quarto dela se encontrava aberta, e Maggie estava trémula, parada no lugar, olhando para a gigantesca desordem em seu quarto.

- Reviraram os meus pertences - ela disse com a voz agitada. As roupas de cama estavam espalhadas pelo chão, todos os vestidos dela estavam jogados como se um ciclone tivesse passado por ali. Os perfumes estavam derramados sobre o toucador, e as gavetas abertas e reviradas.

Edward examinou o quarto adjacente de vestir, esperando encontrar o responsável por isso ainda escondido por lá.

- Maldição! - ele xingou.

Quando retornou ao dormitório de Maggie, a velha criada dela já estava lá, tentando acalmá-la, e ao mesmo tempo em que a srta. Peabody entrava no quarto. Edward correu para a janela e abiu as cortinas na esperança de avistar alguém à espreita lá fora. Mas não havia ninguém.

Em seguida, Edward se dirigiu para a cama e espiou embaixo desta.

Ai! - ele vociferou, tirando a mão.

Maggie correu para junto dele, tremendo. . O que houve?

- Creio que seu gato me odeia.

Maggie se ajoelhou e abaixou a cabeça para olhar embaixo da cama.

- Pobre Tubs - ela sussurrou. - O homem mau assustou você, foi?

- Não sou um homem mau. O seu gato é o malvado aqui. Edward estava ultrajado.

- Desculpe-me, não quis dizer que o senhor é mau. Estava me referindo ao intruso. Ele deve ter assustado Tubby - ela disse, depois de pegar o gato no colo.

Foi com surpresa que Edward se deu conta de que nenhuma lágrima estava sendo derramada por Maggie, apesar de ela estar muito nervosa.

- Maggie verifique se as pérolas da mamãe desapareceram

- Rebecca instruiu a irmã. - E tente lembrar-se de suas jóias para saber se está faltando alguma.

Segurando o gato, Maggie procurou em uma gaveta do toucador, onde encontrou as pérolas e todas as suas jóias.

O papel das irmãs se inverteu, ele pensou. Enquanto a irmã mais velha estava trémula e em estado de choque, a mais nova mantinha a calma e a cabeça no lugar.

Edward colocou a mão no ombro de Maggie.

- A senhora não tem nada a temer - ele disse numa voz carinhosa. - Descanse tranquila, colocarei uma sentinela guardando a porta de seu quarto durante todas as noites. Sente-se, recomponha-se e tente se lembrar se está faltando algo.

Maggie se sentou em uma cadeira de frente para o toucador e começou a examinar as suas jóias com mais cuidado. Mas, apesar de não possuir muitas jóias de grande valor, as poucas que ela tinha estavam lá.

Edward concluiu que alguém estava atrás de algo que Henshaw pudesse ter dado a Maggie. com muita calma, ele falou:

- Alguém, com certeza, acredita que seu falecido marido possa ter deixado aos seus cuidados algo de muito valor. Algo valioso para o Ministério das Relações Exteriores ou para os franceses - disse Edward.

Estava claro também que esse alguém sabia que a viúva de Henshaw estava em Londres, hospedada na Mansão Warwick, e sabia também que eles haviam ido ao teatro naquela noite.

Maggie estava correndo perigo.

Depois de Rebecca, Maggie e Sarah terem realizado uma busca completa por algo que tivesse desaparecido, a única conclusão a que chegaram era que nada estava faltando.

Edward solicitou que uma criada da casa ajudasse Sarah a arrumar a cama para Maggie, e então chamou Wiggins.

- Alguém entrou na casa nesta noite com a intenção de roubar algo pertencente a lady Warwick - ele contou ao mordomo. Você ou algum empregado viu ou ouviu algo de estranho?

- Não, milorde, e já questionei o guarda da entrada. Hawkins estava em serviço hoje na entrada principal, e ele jura que não dormiu. Ninguém subiu pela escada principal.

- E pela entrada de serviço? - Edward perguntou.

- Depois das dez da noite, quando já estávamos em nossas camas, ninguém ouviu nenhuma agitação nos fundos da casa. Quem quer que tenha feito isso deve ter adentrado em silêncio e depois de já estarmos dormindo - respondeu Wiggins.

- Por favor, Wiggins, interrogue todos os empregados e avise-me se descobrir algo.

A arrumação já havia terminado, e Edward dispensou as serviçais.

Maggie estava sentada de frente para o toucador, a luz da vela refletindo em seus cabelos acastanhados, e sua mão acariciava, sem perceber, o gato em seu colo.

- Quer a senhora lembre-se ou não - Edward disse -, seu marido deve ter-lhe contado algo. Algo que alguém aqui em Londres pode até estar disposto a matar para conseguir. Pense, Maggie. Henshaw não lhe deu nada para guardar em segurança?

Do lugar onde Edward estava, ele podia olhá-la de cima e ver que o corpete de seu vestido mal conseguia acomodar os seios fartos.

com os olhos brilhando, Maggie se levantou da cadeira e correu até o quarto de vestir, Edward logo atrás dela.

- Desapareceram! - ela falou.

- O que desapareceu?

- As coisas do salafrário. Guardei alguns pertences dele em uma pequena pasta de couro.

Edward deu uma olhada em todo o cómodo.

- Que coisas?

- Um anel, dois diamantes brutos, uma carta de um homem de Greenwich, um livro de Fielding... hum... - mordendo os lábios - havia mais alguma coisa... ah, sim! Um mapa.

- Um mapa, de onde?

- Alguma cidade da Inglaterra. O nome começava com a letra "H" - ela disse em dúvida.

- Hampshire? Hertfordshire?

- Hertfordshire - ela respondeu.

- Havia alguma marca no mapa? Ela acenou a cabeça, negando.

- E o livro de Fielding? Havia alguma marca nele? Maggie pensou por um momento.

- Não havia nada - ela respondeu. - Mas me recordo do nome do homem de Greenwich. Era Andrew Bibble.

O nome não significava nada para Edward.

- O que dizia a carta? Ela se concentrou.

- Tinha somente uma ou duas linhas. Parecia que o sr. Bibble havia ido a um funeral de um amigo comum aos dois.

- Qual era o nome do amigo?

- O nome não estava escrito, milorde.

- Tem certeza?

- Sim. Como disse, a carta era breve. - Em seguida, ela acrescentou. - Estou aborrecida comigo mesma.

- Por quê? - ele perguntou.

- Conhecendo o salafrário como eu conhecia, eu deveria ter percebido que ele não era um nobre. Um verdadeiro nobre possuiria um anel de sinete e o endereço de um procurador. Eu estava tão cega!

- Não seja tão dura. É natural acreditar que alguém está dizendo a verdade sobre seu próprio nome. - Ele estendeu a mão para Maggie e sentiu uma imensa vontade de abraçá-la. Em vez disso, Edward a conduziu ao aposento de dormir.

- Gostaria, milorde, de poder contribuir de alguma forma para reparar o mal que meu falecido marido fez.

- Você já o fez - ele disse, enquanto se dirigia à porta. Enviarei uma carta a Aynsley, cancelando o passeio de amanhã.

Ela o olhava com uma expressão de surpresa.

- Eu preferia que a senhora ficasse aqui até eu descobrir algo mais. Terei mais condições de protegê-la aqui do que nas ruas de Londres.

- Então, espero que o senhor possa descobrir logo, milorde. Estou ansiosa para conhecer Londres.

- E arrumar um marido, suponho - ele disse com um sorriso

- Quanto antes eu o fizer, mais cedo o senhor ficará livre dê

mim e de toda a confusão que eu trouxe para o seu lar.

Agora ela o fez sentir-se um mesquinho.

- Rogo para que não imagine que está me incomodando. Sua presença aqui está sendo de grande utilidade para meu trabalho.

- Boa noite, milorde. Espero que os acontecimentos de hoje à noite não lhe tirem o sono.

- Desejo o mesmo para a senhora, Maggie - Edward respondeu numa voz carinhosa.

Minutos depois, Edward já estava em sua biblioteca. Algo mais significativo do que havia acontecido o preocupava. Alguém do ministério era um traidor. Minutos atrás ele tentara apagar de sua mente tais acusações. Mas quanto mais ele pensava sobre o assunto, mais forte se tornava a sua convicção.

por que ninguém havia tentado encontrar os documentos de Henshaw desde sua morte? Isso só aconteceu depois que Edward contou a lorde Carrington, Harry Lyle e Charles Kingsbury sobre a viúva de Henshaw. Ele se sentia responsável por ela.

Edward queria acreditar que o intruso desta noite atuou a mando dos franceses, ávidos para conseguirem algum tipo de documento que identificasse o espião de Napoleão, agindo na Inglaterra. Mas por que esperaram Maggie vir até Londres? Seria muito mais fácil abordar uma mulher desprotegida nas ruas de Portsmouth. O fato de o terem feito somente depois de ela estar sob a proteção de Edward indicava que eles não sabiam de sua existência, até Edward tê-la revelado aos seus confiáveis companheiros naquela manhã.

Ele tinha de descobrir se algum dos três homens havia contado a mais alguém sobre Maggie.

Ou então, um dos três era um traidor.

Quem seria o responsável pela invasão de hoje? com certeza não era lorde Carrington. Ele era muito patriota. Além do mais, o que os franceses poderiam lhe oferecer que eleja não possuísse? E o culpado tão pouco poderia ser Harry, ele era o amigo mais próximo de Edward e o melhor homem que eleja havia conhecido. Edward estava mais inclinado a acreditar que o traidor era Charles Kingsbury, um solitário que não era muito querido, apesar de sua intensa paixão por seu trabalho sempre o ter impressionado.

Edward escreveu a carta para Aynsley e se dirigiu para seu quarto. Já passava das três. Outra noite maldormida. Ele precisava ir para a cama.

Wiggins estava esperando no quarto de Edward.

- Esta carta tem de ser entregue a lorde Aynsley amanhã, bem cedo - Edward disse, entregando-o ao mordomo.

O mordomo ajudou Edward a vestir os trajes de dormir e se retirou, desejando boa noite.

 

Lá vem o felizardo - Harry saudou Edward.

- Não tem nada de felizardo quem tem sua casa invadida e vasculhada - respondeu Edward. - Alguém invadiu o quarto da condessa.

Harry se assustou e se levantou de maneira abrupta.

- Como ela está, ela foi...?

-Ela está bem - Edward assegurou a seu amigo preocupado.

- Só está assustada com o que aconteceu.

- Quando foi que entraram?

- Em algum momento, entre o descanso dos serviçais e a nossa volta do teatro, na noite passada.

- Então você não viu o criminoso? - Harry disse com uma voz de alívio.

- Não. - Edward agradeceu a Deus pela invasão ter ocorrido durante o tempo em que eles estavam fora. Ele detestava imaginar o que teria acontecido a Maggie caso ela estivesse em seu quarto.

- E o que foi levado?

- Uma pasta, contendo alguns pertences de Henshaw.

- Eles vasculharam em outros aposentos?

- Não. Somente no quarto dela - Edward disse com preocupação.

Harry murmurou uma maldição.

- Você sabe o que isso significa?

- Claro que sei. Significa que ninguém sabia da existência da lady até eu ter compartilhado com vocês daqui do ministério ontem - respondeu Edward.

- E a quantas pessoas você contou?

- Somente a você, lorde Carrington e Kingsbury. Harry franziu o cenho.

- Você desconfia que um de nós possa ser o responsável por isso?

- Esta é uma possibilidade bem provável - Edward disse ao se sentar em sua cadeira. - Você falou sobre a viúva para alguém?

- Não! - Harry disse num tom calmo. - E não fui eu quem fez isso.

- Eu sei, caro amigo.

- Deve ter sido Kingsbury. Deus sabe do que ele seria capaz por uma renda extra - acusou Harry.

- Não vamos tirar conclusões precipitadas. Talvez Kingsbury ou lorde Carrington tenham contado a alguém sobre a existência de Maggie, e esse alguém pode ser o ladrão.

- Que Deus nos ajude se algum deles não o fez - Harry resmungou. - Você não a deixou sozinha na Curzon Street, deixou?

- Não, meus criados receberam ordens de não a perderem de vista. Estarei fora somente por um curto espaço de tempo. O suficiente para contar a lorde Carrington sobre os acontecimentos da noite passada.

Minutos depois, Edward já estava na sala de lorde Carrington, narrando os eventos ocorridos.

- O senhor, milorde, teria mencionado a alguém sobre a viúva? - Edward indagou.

Lorde Carrington pensou por alguns segundos, antes de negar com um aceno de cabeça.

- A quem mais você contou sobre ela? - perguntou lorde Carrington.

- Somente a Lyle e Kingsbury, e Lyle já disse que não contou a mais ninguém.

O lorde chamou seu secretário e, quando o esquelético homem entrou, perguntou-lhe se ele havia mencionado algo a alguém sobre a viúva de Henshaw. Kingsbury garantiu que não, dizendo que informações profissionais ele mantinha sob absoluto sigilo.

Lorde Carrington então disse ao secretário que era só e que ele podia se retirar.

Assim que o homem saiu, Carrington falou em um tom grave:

- Ou algum de meus mais confiáveis homens é um traidor, ou o inimigo possui meios extraordinários de espionagem.

- Espero que a última opção seja a correta, apesar de não estar muito confiante - observou Edward.

Carrington passou a mão em seus cabelos grisalhos e concordou com Edward.

Edward contou ao lorde sobre o desaparecimento da pasta de couro com os pertences de Henshaw e sobre a carta.

- O senhor já ouviu falar de Andrew Bibble?

- Não, mas tentarei descobrir algo. E o que mais havia entre os pertences de Henshaw?

- Somente um par de diamantes brutos, um anel, um mapa e um livro.

- Isso se pudermos acreditar na viúva - Carrington falou com desconfiança.

O primeiro instinto de Edward era de defendê-la, mas em vez disso ele respondeu:

- Sim, se pudermos.

com um certo tom de preocupação na voz, Carrington mandou Edward retornar para a Curzon Street e disse que ele não deveria perder Maggie de vista.

Quando chegou em casa, Edward foi informado, pelo mordomo, que a "condessa" não havia deixado seus aposentos por nenhum instante. Ele sentiu um cheiro de perfume muito forte e saiu à procura, quando se deparou com não mais que cinco buques de rosas.

- O que significa isto tudo de rosas?

Estas rosas são para milady, milorde. O sr. Lyle e lorde Aynsley as enviaram.

Quem eles pensam que são para transformarem minha casa em um jardim - Edward berrou. - Estarei na biblioteca.

Ele precisava enviar uma carta para Fiona. Porém, antes de conseguir completar a primeira frase, alguém bateu à porta.

- Pois não?

A porta pesada de madeira se abriu, e Maggie entrou.

- Estou incomodando, milorde?

- De forma alguma, entre - Edward respondeu. Ele tinha o dia todo para escrever a tal carta.

Enquanto Maggie adentrava, Edward não conseguia tirar os olhos dela. Ela estava resplandecente em um lindo vestido verde, e se movia em sua direção com graça e delicadeza.

Maggie se sentou em uma cadeira, de frente para a escrivaninha.

- Senhor, estou aqui para lhe oferecer minha ajuda.

- Como a senhora poderia me ajudar?

"Para começar, usando um vestido menos decotado, talvez", Edward pensou.

- Gostaria de ajudá-lo a prender o responsável pelo ocorrido da noite anterior.

- Nunca imaginei que a senhora pudesse ter tais habilidades, milady.

- Não quero dizer que pudesse fazê-lo em pessoa. O que estou tentando dizer é que pretendo auxiliá-lo a descobrir a identidade do culpado. Estou determinada a reparar todo e qualquer transtorno que minha presença nesta casa possa estar lhe causando. O senhor está sendo obrigado a hospedar duas mulheres solteiras e sei que o senhor teme que isso possa lhe causar problemas com a sua noiva cara de cavalo. - Ela parou de repente, com as faces ruborizadas.

- Minha o quê?

- Perdoe-me, milorde, eu nunca deveria ter deixado escapar meus mais profundos pensamentos.

- E qual foi o motivo que levou a senhora a imaginar que minha noiva tem cara de cavalo.

- O senhor a conhece por toda a sua vida?

- Sim, mas o que isso tem a ver com a aparência dela?

- Imaginei que os casamentos entre famílias aristocratas fossem arranjados entre os pais dos noivos. Desde o nascimento dos filhos. Concluo, então, que o senhor tenha sido obrigado a se casar com uma mulher da classe social de lady Fiona.

- Naturalmente.

- Não sendo, então, permitido ao senhor se casar com alguém que pertença a um outro meio.

- Isso mesmo, pois a diversidade não faz bons companheiros.

- O senhor percebe? A necessidade de realizar um casamento assim está enraizada no senhor.

- Não vejo aí a conexão com cavalo ou aonde quer que a senhora pretenda chegar.

- Não entendo por que o senhor está falando em cavalos.

- Não fui eu quem começou a falar de cavalos! A senhora abordou o assunto quando disse que minha noiva tem cara de cavalo.

- É, eu disse.

- E então?

- E então o quê, milorde?

- Então explique o motivo que a levou a dizer tal coisa de minha noiva.

- Como eu poderia saber qual é a aparência de lady Fiona. Eu nunca a vi! O senhor tem um

retrato dela?

- Não. - Edward percebeu a irrelevância de levar adiante aquela discussão.

- Como estava dizendo, milorde, minha presença nesta casa só está lhe trazendo aborrecimentos. Resumindo, quero reparar isso de alguma maneira.

Maggie às vezes agia de maneira infantil. E como a senhora pretende fazer isso?

- Ajudando-o a descobrir a identidade do criminoso. Para isso, nós precisamos formar um time. O senhor e eu - ela falou com vigor. - Sinto dizer, milorde, mas acredito que o invasor seja alguém de suas relações que ficou sabendo de minha presença nesta casa por intermédio do senhor.

- Isto já me ocorreu, milady.

- Vê como formamos um time! O senhor já tem alguma pista sobre quem é Andrew Bibble?

- Não, nenhuma.

- Então sugiro que o senhor e eu devamos viajar até Greenwich para localizar o homem. Talvez ele saiba algo que possa nos ajudar.

- Se eu fosse viajar para Greenwich certamente não seria em sua companhia.

- O senhor ainda está preocupado comigo? Tenho certeza de que o intruso não tinha intenção de me causar nenhum mal. Ele queria somente os pertences do salafrário.

A lógica dela fazia algum sentido. Quem sabe ela não estivesse mesmo correndo perigo. E Edward tinha de admitir que ele estava pensando mesmo em ir a Greenwich, mas não com Maggie. Porém, de acordo com as ordens de Carrington, ele não podia perdê-la de vista.

- Diga-me, milady, como sua presença poderia me ser útil em Greenwich?

- Se pudesse falar com esse sr. Bibble, talvez viesse a me recordar de algo que o salafrário tenha me contado - ela respondeu com firmeza.

O otimismo de Maggie era contagioso.

- Pois bem, a senhora terá sua chance amanhã.

- Ótimo, milorde! Porém, gostaria de pedir que não levássemos Rebecca. Ela está envolvida na leitura de um livro e acredito que ficará mais feliz em casa. E, uma vez que sou uma viúva, não vejo nada que nos impeça de viajarmos acompanhados.

Edward estava maravilhado e não conseguia tirar os olhos da bela mulher.

- A srta. Peabody não tem nenhum outro interesse além da leitura?

- Somente a leitura. Ela é apaixonada por livros.

- Romances?

- Rebecca se interessa por todos os tipos de livros. Ela até já leu os Diálogos de Platão. O livro mais cansativo que já li. Quando eu já estava na página vinte e dois, percebi que prefíria ler Shakespeare. Os romances dele são bem mais interessantes.

Ele sorriu.

- Platão escreve sobre ideias, e Shakespeare sobre pessoas.

- E as pessoas são bem mais interessantes que classificações. A tentativa de Maggie de depreciar sua própria inteligência

não funcionou. Edward não conhecia nenhuma mulher que ao menos tivesse uma vaga ideia do que era filosofia.

- Feche este livro! - Maggie disse a Rebecca, enquanto fechava a porta do quarto de sua irmã e se sentava na cama.

- Estou precisando de um ouvido amigo.

Rebecca fechou o livro e ficou olhando para a irmã atentamente, aguardando o que ela tinha a dizer.

-Acabei de fazer papel de boba na presença de lorde Warwick

- Maggie falou envergonhada. - Deixei escapar em voz alta um pensamento estúpido.

- Você não disse a ele o que você pensa sobre a beleza de deus grego dele?

- Seria melhor se tivesse dito isso. Rebecca olhava apreensiva.

- Diga-me logo, o que foi que você disse?

- Eu disse que a noiva dele deve ter uma cara de cavalo. A jovem ficou boquiaberta.

- Mas o que levou você a dizer tal coisa?

- Eu não sei. Você me conhece. Sabe dessa minha maldita propensão de dizer tudo o que penso.

E o que foi que o lorde disse?

- Ele ficou ultrajado e queria saber o motivo de eu estar descrevendo sua amada Fiona de tal maneira. Então, eu não sabia o que dizer e comecei a tropeçar nas palavras, e tenho certeza de que ele não entendeu nada do que eu estava tentando dizer.

- Eu já lhe disse milhares de vezes - Rebecca repreendeu.

Pense antes de falar. Se você o fizer terá tempo de formular melhor as suas frases.

- Isso é fácil para você que não tem uma vida social tão ativa quanto a minha.

Rebecca se movimentava pelo quarto, enquanto discutia com Maggie.

- E lorde Warwick está bravo com você? Maggie pensou por um momento antes de responder.

- Por mais estranho que pareça, acredito que não.

- Ah! Entendo. Ele devia estar distraído, olhando para o seu decote ou algo assim.

- Por favor, Rebecca. Você acha que todos os homens são iguais ao salafrário que só queria tirar proveito das mulheres. Lorde Warwick tem-se portado como um perfeito cavalheiro, e isso prova que nem todos os homens são iguais.

- Fico feliz por ouvir isso de você - disse Rebecca. - Isso me ajuda ainda mais a mudar de opinião.

Maggie fitou a irmã com estranhamento.

- E o que mais a fez mudar de opinião?

Rebecca apertou seu livro contra o peito, com ares de sonhadora.

- Foi o sr. Darcy.

- E quem é esse sr. Darcy?

- É o herói de Orgulho e Preconceito.

- Então é esse o título do grosso volume que você está lendo?

- Você não deveria se referir dessa forma ao romance mais lindo que já li em toda a minha vida.

- Se você, com toda a sua experiência literária, refere-se a esse livro dessa maneira, suponho que eu deva lê-lo o quanto antes.

- Você poderá fazê-lo amanhã, uma vez que não conseguirei dormir até ter lido a última palavra.

- Infelizmente terei de deixar para outro dia a leitura de seu precioso romance. Amanhã, bem cedo, lorde Warwick e eu iremos para Greenwich.

Rebecca lançou a Maggie um olhar de reprovação.

- Sem acompanhante?

- Por favor, Rebecca! Eu não sou mais uma mulher casta e com uma reputação a resguardar. Eu já fui casada, lembra-se?

- Para mim, não me parece correto um homem solteiro convidar uma viúva para viajar com ele.

- Na verdade, eu me convidei para ir com ele - Maggie falou em um tom sereno.

- E por quê?

- Porque o salafrário tinha uma carta e nela constava o nome de um homem de Greenwich. Carta essa que foi roubada na noite passada.

- Ainda não entendo o motivo de sua ida a Greenwich.

- Eu não tenho certeza - Maggie disse, mordendo os lábios.

- Mas imagino que se conseguir falar com o tal homem talvez eu venha me lembrar de algo que o salafrário tenha mencionado, algo que possa ajudar o lorde Warwick a descobrir quem foi o responsável pela invasão da noite passada.

- Eu não sei o que é pior, o salafrário ter traído seu país ou o dom dele de se meter com mulheres de má conduta, com exceção de você Maggie, é claro.

- Ser um traidor, com certeza! A traição dele custou a vida de muitos soldados ingleses.

- O sr. Darcy não faria isso!!! - disse Rebecca, suspirando. Maggie questionou o mesmo sobre lorde Warwick. Ele parecia

ser muito correto para trair seu país e muito digno para se envolver com mulheres mundanas. Porém, ela não podia se esquecer que ele era um homem. Sem perceber, Maggie deixou seus pensamentos se perderem na lembrança da primeira vez em que viu Edward, parado sem camisa no alto da escada, seu corpo alto e atlético, seU semblante emitindo poder. A visão repentina dele deitado sob o corpo nu dela acendeu uma chama que atravessou todo o seu corpo. Ela estava possuída pelo sentimento ímpar de estar flutuando nas nuvens.

Maggie caminhou em direção à saída do quarto de Rebecca e disse:

- Nós nos vemos, daqui a pouco, no jantar.

Lorde Warwick não estava de bom humor no jantar.

- Milady - ele disse a Maggie num tom áspero, assim que ela se sentou à mesa. - A senhora poderia me explicar por que seu gato elegeu minha biblioteca como sua... sua sala do trono?

Maggie não gostava que ninguém falasse dessa maneira sobre seu gato. Ela ficou fora de si.

- Ele tem um nome.

- Tubby! - o lorde vociferou. - Cada móvel de minha biblioteca que tem a função de servir como acento está coberto de pêlo acinzentado de gato, e a besta resolveu eleger o peitoril da janela, que fica próximo à minha escrivaninha, como seu local preferido.

- Tubby não é uma besta.

- De acordo com a definição etimológica da palavra - Rebecca interferiu - os gatos se enquadram nessa categoria.

- Obrigado - Edward agradeceu a Rebecca. Maggie lançou um olhar de ira para a irmã.

- Besta, os senhores têm de admitir, tem uma conotação negativa.

Rebecca balançou os ombros. Lorde Warwick prosseguiu.

- Gostaria de saber por que seu animal escolheu passar seus dias na minha sagrada biblioteca.

- Perdoe-me, milorde, eu não sabia que sua biblioteca era sagrada. O senhor tem lá algum relicário que eu, talvez, não tenha visto? - Maggie arrepiou-se.

- A senhora sabe o que quero dizer - ele respondeu em voz alta.

- Milorde - Rebecca disse com calma-minha irmã se ofende muito fácil quando censuram seu gato. - Ela olhou brava para Maggie. - Sua raiva inadequada ultrapassou sua mais profunda gratidão para com o senhor, devido a sua gentil hospitalidade.

- Desculpe-me, milorde-Maggie disse com humildade, pois ela sabia que Rebecca tinha razão.

- Sem dúvida não é culpa da senhora que seu animal tenha resolvido destruir minha biblioteca - reconheceu o lorde.

- Eu lhe asseguro, milorde, que os pêlos poderão ser facilmente removidos de seus móveis.

Já mais calmo, Edward respondeu com um sorriso, e o restante do jantar transcorreu de maneira mais agradável. Eles conversaram amigavelmente, e ele contou a elas que os convites para o Almack haviam chegado, mas que devido à preocupação dele para com a segurança de Maggie, eles deveriam esperar até a próxima semana para irem. Os três seguiram falando sobre livros e autores preferidos. Edward contou que em janeiro ele havia enfrentado o mais rigoroso inverno já visto por ele em Londres. Maggie comentou que estava feliz por não ter vindo para Londres em fevereiro, uma vez que janeiro já estava demasiado frio para ela.

Quando terminaram o jantar, lorde Warwick convidou-as para um jogo de cartas. Rebecca educadamente recusou e explicou que preferia terminar a leitura de seu livro.

- A senhora gostaria de jogar gamão ou xadrez? - Edward perguntou a Maggie.

- Prefiro xadrez - Maggie disse, pousando a mão no braço estendido dele.

- Então, finalmente, concordamos em algo - Edward respondeu enquanto entravam na sala. - Suponho que sua opinião não seja dividida com as outras mulheres. Tenho observado que a maioria delas não gosta de xadrez.

Os três se acomodaram na sala. Rebecca logo se instalou em um confortável sofá, próximo à lareira, e se dedicou à leitura de seu livro.

Edward preparou o tabuleiro de xadrez, e em seguida deram início ao jogo. A princípio ambos estavam concentrados no jogo, mas, enquanto Maggie estava lá, sentada, observando o semblante meditativo de Edward, durante o jogo, algo tocou fundo em seu coração. Maggie imaginou o quanto Edward poderia estar odiando aquela situação, sendo obrigado a acolher duas mulheres e um gato. Ele estava sendo um perfeito cavalheiro. Ela sentia-se culpada por toda a situação. Porém, a imunidade dele ao charme dela era o que mais a irritava, e isso era devido ao amor dele por lady Fiona. Maggie a invejava cada vez mais.

- Milorde? - ela disse.

Os olhares deles se encontraram.

- Gostaria de dizer que sinto muito pelo comportamento inoportuno de Tubby. Cuidarei para que ele se afaste de sua biblioteca. - Era o mínimo que ela poderia fazer em retribuição a toda a gentileza dele.

- Agora a senhora me fez sentir como um ogro.

- O senhor não é um ogro - ela disse num tom sussurrante -, o senhor é... - ela não terminou.

Edward já não olhava mais para a face de Maggie, e sim para o colo perfeito dela. Ele respirou fundo e em seguida moveu um peão.

Maggie admirava o jogo dele e sabia que estava quase derrotada. Após duas horas e meia de jogo lorde Warwick se deu conta de que o jogo poderia perdurar por muito mais tempo ainda.

- Precisamos acordar cedo manhã - ele disse. - Se quisermos ir para Greenwich, sugiro que prossigamos o jogo na próxima noite.

- Concordo, milorde, acredito que merecemos uma boa noite de sono.

Ambos se levantaram, e Maggie convidou Rebecca para irem se deitar. Lorde Warwick ofereceu o braço a Maggie e os três subiram a escada.

Assim que atingiram o alto da escada, Edward disse:

- Gostaria de cumprimentá-la pelo seu jogo.

- Obrigada, milorde, mas infelizmente o senhor é muito melhor.

- O resultado final do jogo ainda é desconhecido.

Eles disseram boa-noite, enquanto Rebecca entrava em seu quarto.

Nos aposentos de Maggie, Tubby já se encontrava acomodado na cama, esperando por ela.

- Seu garoto malvado - Maggie disse ao gato, enquanto trocava de roupa.

Ela se deitou na cama ao lado dele e o abraçou.

- Oh, Tubby - ela disse suspirando - detesto aquela lady Fiona cara de cavalo.

Tubby ronronou, concordando.

 

O dia de hoje será úmido e frio - Edward disse, olhando para o céu acinzentado -, mas eu lhe asseguro que não irá chover.

Maggie o olhava com assombro, enquanto ele a ajudava a subir no cabriole.

-Diga-me, milorde, o senhor tem contato direto com o serviço de meteorologia?

- Minhas previsões meteorológicas são baseadas em anos de estudos e observações.

- E qual o motivo de seu interesse?

Maggie estava muito atraente em seu casaco vermelho com uma aplicação de pele de arminho no capuz. Sua face estava rosada de frio, não de ruge. O que chamou a atenção dele, uma vez que Edward detestava mulheres artificiais. E para ele não havia nada de artificial em Maggie, Nada em sua aparência, nada em seu corpo perfeito, nada em seu comportamento.

- Eu costumava ser louco por pesca e caça. Por isso procurei conhecer e entender as nuvens.

- E o senhor não se interessa mais por essas atividades?

- Desde que as tropas inglesas desembarcaram em Portugal, eu não tive mais tempo.

- O senhor deveria tirar umas férias.

- Todas as vezes que tento fazê-lo, algo importante acontece

- Algo como salvar vidas e trazer um final a esta guerra sangrenta?

- Eu não pretendia exagerar na minha importância - ele respondeu.

- Não há nada de presunçoso em ter consciência de seus deveres. Um homem de honra põe as obrigações em primeiro lugar.

O elogio dela fê-lo sentir-se desconfortável. Quando eles cruzaram a ponte Westminster, Maggie observou com interesse as barcaças e os barcos ao longo do escuro Tamisa.

- Pensei que o caminho mais rápido para Greenwich fosse ao longo do rio Tamisa - Maggie indagou.

- A senhora está certa. Ao contrário da maioria das mulheres, a senhora é capaz de entender os mapas.

- O senhor, milorde, tem uma opinião equivocada sobre as mulheres. As mulheres podem entender de mapas. As mulheres podem jogar xadrez. Se o senhor pensa que somos, tão limitadas, é uma pena que esteja condenado a passar o restante de sua vida com uma de nós. - Ela colocou as mãos na cintura e o olhou zombeteira.

Fiona. Fiona não jogava xadrez. Fiona não entendia os mapas. Fiona não tinha ideia do que era filosofia. Na verdade ele estava preparado para envelhecer ao lado dela, apesar de terem tão pouco em comum.

Mudando de assunto, Maggie perguntou:

- Por que, milorde, não estamos indo para Greenwich de barco?

Ele preferiu não contar a ela o verdadeiro motivo.

- Meu cavalo precisa de exercício.

- Então o senhor está aumentando o tempo de sua viagem em três por cento para exercitar seu cavalo?

Maldição. Ela sabia aritmética, também!

- Navegar me deixa enjoado - ele disse por entre os dentes. Maggie teve a audácia de rir dele!

- O que a senhora acha tão engraçado?

Perdoe-me, milorde - ela disse, soluçando - mas isso não

é coerente com um homem grande e forte como o senhor.

Não há nada engraçado em ficar enjoado.

Não há. Desculpe-me.

Agora ela o fez sentir-se um idiota.

Durante a viagem a caminho de Greenwich, Maggie olhava para todos os lados com muita curiosidade. Então, Edward lembrou-se que ela nunca havia estado em uma cidade tão populosa como Londres, a capital do mundo.

Quando estavam chegando na área rural, o céu escureceu, e ela disse:

- O senhor estava enganado sobre a chuva.

- Nunca me engano sobre a chuva.

- Mas está desta vez.

- O que a faz pensar que irá chover? - Ele fitou o céu.

- Posso sentir no ar.

- Milady, se a senhora olhar para as nuvens, irá ver que aquelas são nuvens cirrus, e este tipo de nuvem não produz chuva.

Maggie olhou para cima, e o capuz de seu casaco caiu de sua cabeça. Edward achou que ela parecia um anjo, a pele de arminho circulando os cabelos castanhos como uma auréola.

- Eu não sei que tipo de nuvens são - ela disse - só sei que vai chover.

- Acho melhor a senhora colocar seu capuz de volta ou irá ficar com dor de cabeça por causa do frio.

Edward bateu a mão no bolso onde guardava uma pistola. Talvez ele não pudesse protegê-la do frio, mas ele poderia lutar contra qualquer um que tentasse algo contra Maggie.

- Está muito frio - ela comentou. - Acho até que pode nevar.

- Não vai nevar. Ela começou a rir.

- Ficaria grato se a senhora me contasse o que a faz rir agora.

- O senhor é teimoso demais.

Nenhuma mulher havia falado daquela maneira com ele.

Quando ele estava quase achando que ela não era tão censurável assim, ela o surpreendia, dizendo coisas ultrajantes sobre ele. Ou sobre Fiona.

Edward preferiu não discutir.

- com frio? - ele perguntou.

- Muito.

- Eu não deveria ter trazido a senhora.

- De forma alguma. Prefiro um passeio neste frio a ficar em casa solitária. Minha irmã só faz companhia para seus livros.

- Acredito que seus admiradores adorariam fazer-lhe companhia.

Os únicos dois homens que tinham conhecido Maggie, em Londres, pareciam estar completamente fascinados por ela. Mas Edward achava que nenhum deles fosse o homem ideal para ela.

- Talvez, mas não tenho tanta certeza - ela respondeu.

- Quem sabe no Almack a senhora conheça o homem ideal. Edward fitava o horizonte e pensava que tipo de homem poderia conquistar Maggie.

- Que qualidades, além de, claro, caráter e integridade, a senhora espera encontrar em um pretendente?

- Eu poderia enumerar uma série de atributos, mas eu rejeitaria qualquer homem que tivesse todos eles, caso não houvesse uma faísca.

- Faísca?

- A que o senhor sente por lady Fiona.

- Ah, claro - ele engoliu a seco. - E algum dos dois homens que a senhora conheceu no teatro atende a suas exigências?

- Em primeiro lugar, eu não possuo exigências específicas. E quanto aos dois cavalheiros, eles me pareceram homens honrados e de bem. Não tenho nenhuma objeção contra eles.

- E a senhora não se importaria de se casar com um homem que já possui muitos filhos?

- Claro que não. Adoro crianças.

Edward franziu o cenho. Lorde Aynsley com certeza iria pedi-la em casamento. O coração dele se apertou mediante a simples ideia.

Não que Aynsley não fosse um homem de bem. Mas os dois não combinavam. Aynsley poderia querer mantê-la em Shropshire, somente para cuidar de sua prole e continuar procriando. Pensar em Maggie, carregando a semente de Aynsley, produziu uma reação física em Edward. Seu estômago se contorceu, e sua pulsação acelerou. Esta possibilidade despertou um estranho ciúme em Edward.

Edward não poderia se permitir pensar em Maggie daquela maneira. Ele tentou se lembrar da beleza loira de Fiona, tentou se lembrar do som doce de sua voz, mas ele não conseguia. A única voz que ele ouvia era a de Maggie, o rosto que ele via era o dela, com seus cabelos acastanhados, o pescoço alvo e os seios fartos.

O que havia de errado com ele? Edward estava obcecado para saber qual seria o marido ideal para ela? Por que ele se importava com isso?

- O título a atrai, então? O rosto dela se iluminou.

- De forma alguma, milorde. O par ideal deve ser gentil, inteligente, sensível e honrado. - Ela mordeu os lábios. - com relação ao seu físico, ele deve ser alto e bonito. E se for rico...!

- A senhora admite então que o título e a riqueza a atraem.

- Se eu tivesse o tempo ao meu lado, poderia me dar ao luxo de esperar por um verdadeiro amor, mas infelizmente não o tenho - ela respondeu em um tom grave e sério.

Edward desejava muito poder oferecer a Maggie e a sua irmã proteção durante o tempo que fosse necessário para ela encontrar o homem certo. Mas ele sabia que havia Fiona e que ela não aceitaria a presença das duas em sua casa.

- A senhora não precisa se preocupar com o tempo. Minha casa está a sua disposição o tempo que for necessário.

- Quando o senhor irá se casar, milorde?

- Não marcamos a data, mas espero que seja o quanto antes.

- Lady Fiona tem muita sorte.

- Por que a senhora diz isso? Ela deu um sorriso falso.

- O senhor não percebeu que possui todos os atributos que acabei de descrever em um homem ideal?

Edward ficou paralisado. A mulher mais bela que eleja havia conhecido acabara de dizer que ele era o homem ideal. Ele deveria estar extasiado de prazer, mas as emoções que surgiram eram totalmente opostas. O que ele sentia, na verdade, era uma aflição terrível.

Ele pertencia a Fiona. Depois de tê-la conhecido, Edward nunca mais olhou para outra mulher com segundas intenções. Fiona era a mulher com quem ele queria passar o restante de sua vida. Ele soube que suas vidas estariam entrelaçadas desde os tempos do colégio, quando estudava com o irmão dela.

Fiona havia rejeitado duques e nobres para dedicar todo o seu amor a ele, e isso o deixava lisonjeado. Edward com frequência tentava avaliar a profunda afeição que ele sentia por ela. Não era somente a sua beleza loira que o atraía, ou o seu título, ou sua doçura. Ele não podia ficar sem ela, não podia lembrar de sua doce voz sem experimentar um profundo sentimento de bem-estar.

Desde que Maggie invadiu sua casa, na segunda-feira à noite, nada era mais como antes. Era como se todos os elementos de sua vida, previsível e bem organizada, tivessem sido jogados dentro de uma caixa e chacoalhados com força.

Recuperando o juízo, ele percebeu que a afirmação da lady precisava de uma resposta.

- Acredito que é devido ao título - ele disse. - Se a senhora tivesse me conhecido há oito meses, eu seria apenas um homem comum e com uma pequena fortuna.

- com todos esses atributos físicos, o senhor jamais seria um homem comum.

Por que esta mulher tinha de dizer tudo o que vinha a sua cabeça?

- Não posso negar que o fato de ser alto faz alguma diferença. Talvez tenha sido isso que a impressionou. - Meu Deus, ele falava como um janota presunçoso.

- Tenho certeza de que lady Fiona compartilha de minha opinião. Ela tem muita sorte.

- Eu é que tenho sorte de estar com ela.

Ela permaneceu quieta por um momento e então disse:

- Gostaria de conhecê-la algum dia.

Eles não falaram mais nada até chegarem perto de Greenwich. Quando começou a chover.

Eles estavam encharcados quando entraram na Estalagem Cão Caça para se abrigarem da chuva.

- Venha Maggie, sente-se perto da lareira - ele disse numa voz gentil, enquanto se acomodavam em uma sala privativa da estalagem.

Ela estava tremendo. Edward sentia-se culpado pelo desconforto dela, primeiro por trazê-la num dia chuvoso como aquele e segundo por não terem vindo de barco. Se eles tivessem vindo de barco, já teriam resolvido tudo e retornado a Londres antes da tempestade.

Ele a ajudou a tirar o casaco e se sentiu aliviado quando viu que o vestido estava seco.

- Perdoe-me por ter sido tão teimoso - ele disse. Ela o olhou com ternura.

- Não é sua culpa que está chovendo, bobo! - Maggie batia os dentes e estava ficando roxa de frio.

Quando a esposa do dono da estalagem entrou, Edward solicitou que ela providenciasse um xale para a "esposa" dele.

Minutos depois a mulher entrava novamente na sala com um belo xale branco, feito à mão, que Edward colocou sobre os ombros de Maggie.

Ela o olhou agradecida.

Depois de terem bebido um pouco de conhaque, o tremor de Maggie passou.

Então um trovão estourou. E Maggie gritou. Ele correu para junto dela e viu o medo estampado em sua face. Depois de alguns segundos, apenas, Edward percebeu que a tempestade a aterrorizava. Edward colocou as mãos firmes sobre os ombros trémulos dela, tentando acalmá-la. Ele nunca havia visto uma pessoa adulta, sentindo tanto pavor de tempestade.

Maggie então, para espanto dele, deu uma gargalhada.

- O que é tão engraçado? - Edward perguntou.

- O senhor tem aversão a viagens de barco; eu tenho horror a trovões.

- Nós formamos uma bela dupla - ele disse entre risos. Os trovões continuavam e parecia que Maggie ia sair do próprio

corpo, a qualquer momento. Edward a abraçava com a intenção de protegê-la.

- Não tenha medo - ele falava com uma voz gentil.

- Eu sei que não tenho nada a temer - ela disse num tom de voz trémulo e frágil -, mas meu medo é irracional.

- A senhora sabe o motivo desse medo?

- Durante anos eu não compreendia, mas agora que sou adulta consegui identificar a verdadeira razão - ela respondeu de maneira solene.

- E qual é a razão?

- Na noite em que Rebecca nasceu, havia uma tremenda tempestade. Eu tinha somente sete anos e não podia entrar nos aposentos de minha mãe. - Ela suspirou. - O parto foi difícil, e mamãe gritou durante toda a noite. Eu queria ficar com ela, mas não me deixavam entrar.

- Sua mãe morreu?

- Não, ela faleceu depois de muitos anos, mas sempre que tem uma tempestade sinto que algo horrível poderá acontecer com minha mãe, ou a alguém que amo. Eu sei o quanto é ridículo, mas não consigo me controlar.

- Pelo menos você pôde identificar o motivo desse medo. Um trovão estalou novamente, e Maggie estremeceu.

A esposa do estalajadeiro bateu à porta e entrou na sala, segurando uma bandeja com comida quente. A forma como a mulher olhou para os dois, abraçados em frente à lareira, mostrava que ela estava imaginando que ambos fossem recém-casados.

- A senhora conhece um senhor chamado Andrew Bibble? Edward perguntou à mulher.

- Sim, ele costuma frequentar o nosso bar à noite - ela respondeu -, apesar de não ter aparecido na noite passada. Ele costuma deixar a cidade para viagens de negócios.

- Para Londres, eu suponho - disse Edward.

- Eu não poderia afirmar. O sr. Bibble não fala muito sobre sua vida.

- A senhora sabe onde fica a residência dele?

- O senhor segue por esta rua e passa o cais, em seguida vire à direita na próxima rua. A casa dele fica logo à direita e tem uma porta verde.

- Eu agradeço - Edward disse, levantando-se e oferecendo a mão a Maggie. - Venha, querida, vamos comer algo para nos aquecer.

Os trovões e os relâmpagos já haviam ido embora, era um alívio para Maggie.

Depois de comerem e terem pago a conta, os dois se dirigiram para a casa do sr. Bibble. Uma névoa suave tinha substituído a chuva, mas ainda fazia muito frio.

Edward ajudou Maggie a descer do cabriole, e os dois caminharam juntos em direção à casa. Edward bateu à porta com vigor. Eles esperaram por um momento, mas ninguém respondeu.

A única resposta que tiveram foi o latido de um cachorro.

Edward já estava batendo à porta por mais de dois minutos quando resolveu tentar a maçaneta. Ao entrarem Maggie deu um grande grito de horror.

Os dois se depararam com a casa em completa desordem. Eles continuaram entrando e perceberam que a casa havia sido vasculhada. Isto explicava os livros jogados no chão e os objetos dos armários todos espalhados. O coração de Edward disparou. Ele não deveria ter trazido Maggie.

Edward foi o primeiro a ver o sangue. Então ele viu o cadáver do homem que ele supunha ser Andrew Bibble.

 

Maggie gritou novamente.

- Saia, depressa! - Edward ordenava, enquanto se aproximava do cadáver. - A pessoa que fez isto ainda pode estar por aqui.

Em vez de sair, a mulher enlouquecida empurrou o braço estendido dele.

- Estamos seguros - ela disse numa voz trémula. - Isso deve ter ocorrido na noite passada.

Edward se lembrou de ter ouvido a esposa do estalajadeiro contar que o sr. Bibble não havia aparecido em seu bar. Õ lorde se ajoelhou em uma das pernas e pegou o braço do homem para sentir o pulso. O braço estava rígido e frio. Procurar a pulsação foi inútil, mas Edward ainda tentou.

Havia muito sangue embaixo do homem. Edward desvirou o corpo rígido. O cabo de uma longa faca projetava-se da barriga da vítima, a camisa e o casaco estavam tingidos de vermelho. Edward sentiu náusea.

Segurando o fôlego, Maggie virou o rosto a fim de não olhar mais para a cena mórbida.

- Uma pena nós não sabermos de fato como era a aparência desse tal sr. Bibble - ele disse, estudando a face do cadáver. Edward achava que o homem poderia ter a mesma idade dele.

- Tem de ser ele. - A voz de Maggie estava ainda mais solene, enquanto ela se virava para ver o cão que batia na barra de seu vestido. - Pobre cãozinho - ela disse numa voz doce.

- Eu me sinto responsável por isto. Seu dono estava seguro, mas, quando cheguei à Inglaterra e os pertences do salafrário foram roubados, o pobre sr. Bibble foi assassinado. - Ela fitou Edward.

- Isso não foi coincidência.

- Eu aposto que não - Edward disse, olhando nos olhos assustados dela. - Não desperdice seu remorso com este sujeito. Se ele era importante para Henshaw, então não era boa coisa.

O olhar dela se desviou do cão para verificar a desordem do recinto. Maggie tinha certeza de que a pessoa que fizera aquilo fora a mesma que invadira seu quarto.

Os dois resolveram dar uma olhada no andar de cima da casa. Edward estava atento, tentando ouvir ruídos.

No andar de cima, os dois quartos haviam sido vasculhados e estavam em total desordem. Os lençóis e as cobertas das camas haviam sido jogados, e as penas dos travesseiros cobriam o chão.

Edward sentia um tremor em imaginar que o assassino de Bibble poderia ser a mesma pessoa que invadiu o quarto de Maggie. E pior, ele poderia ter feito o mesmo com ela.

- É melhor nós sairmos daqui - ele disse.

- Não podemos ir embora até fazermos uma busca mais detalhada. O assassino procurava aqui por algo que não encontrou entre os meus pertences.

Claro que ela estava certa. A busca desenfreada do assassino demonstrava que ele ainda não havia encontrado o que procurava entre as coisas de Maggie.

- E se ele voltar? - Edward disse com preocupação.

- Ele não voltará - ela respondeu com segurança.

- Como pode ter tanta certeza?

- Ele deve ter feito isto na noite passada. Tenho absoluta certeza de que o assassino não é de Greenwich. Portanto, ele foi embora daqui depois de ter terminado seu serviço sujo e com certeza planejava estar bem longe daqui quando o corpo fosse encontrado.

Fazia sentido o que ela dizia.

- Esta bem - Edward finalmente concordou. - A senhora estará bem olhando aqui em cima, enquanto eu olho lá embaixo? Maggie concordou com um aceno de cabeça.

A casa era pequena, e a busca não demoraria muito. Edward estava convencido de que o assassino procurava por algum documento. Em cima de uma mesa, havia uma caixa de madeira vazia e ao lado dela vários papéis estavam espalhados. O lorde examinou cada pedaço de papel com minúcia. Havia uma carta de um procurador de Bloomsbury referente à venda dos bens da mãe de Bibble, um recibo de ações de uma fábrica em Birmingham, um poema escrito em letra feminina e um contrato de aluguel da casa em Greenwich.

Ele ouviu os passos de Maggie, descendo a escada.

- Olhe isto! - ela exclamou, mostrando alguns anéis masculinos e abotoaduras de ouro. - Isso mostra que o assassino não tinha interesse em jóias.

Isso também mostrava a honestidade de Maggie. Desesperada como ela estava por dinheiro, poderia ter escondido as jóias em sua bolsinha e as vendido em Londres por uma boa quantia em libras.

- Isto é assustador - ela continuou. - Seria menos se estivéssemos atrás de um simples ladrão.

- A senhora tem razão.

Maggie olhou para os papéis nas mãos dele.

- O senhor encontrou algo?

- Nada de importante.

- Não lhe parece estranho que um homem que possui jóias tão valiosas vivia de maneira tão modesta? - ela perguntou.

- Eu estava pensando o mesmo. Esquecemos de perguntar se o sr. Bibble tinha um meio de vida aqui em Greenwich. Parece que ele herdou uma pequena soma de sua mãe e possuía algumas ações que, presumo, lhe rendiam algo.

Ela estava parada a uns cinco passos do corpo, olhando desconfiada para ele.

- Que idade o senhor acha que ele tinha?

- Acho que era da minha idade.

- Que era a mesma idade do salafrário. Gostaria de saber a quantos anos ele tinha negócios com meu falecido marido.

Poderia ela estar imaginando que os dois tivessem frequentado a escola juntos? Edward começou a examinar alguns livros que estavam espalhados. O falecido lia sir Oliver Goldsmith, Walter Scott, Thomas Paine e Fielding.

- Algo mais? - ela perguntou.

- Acho que é só, acho que não encontraremos mais nada de importante.

- Concordo. O que faremos com o corpo?

- Sugiro que retomemos à Estalagem Cão Caça - ele disse, estendendo a mão a ela. - Lá pediremos para o estalajadeiro avisar a polícia.

Foi então que ele percebeu que o céu estava escurecendo novamente. Quando saíram, o som de um trovão soou a distância. Maggie ficou paralisada. O trovão soou mais alto. E, como uma boneca de pano, ela se jogou nos braços dele.

Maggie mostrava medo em seus olhos e todo o seu corpo tremia. Ela parecia tão frágil que Edward sentia vontade de protegê-la. Sem perceber o que estava fazendo, ele passou a mão delicadamente no rosto dela.

A rua estava encharcada, e Edward, num gesto de cavalheirismo, ergueu Maggie em seus braços para colocá-la no cabriole.

Minutos depois, eles já estavam na estalagem, e Edward dava ordens para cuidarem de seu cavalo, enquanto levava Maggie para dentro.

A tempestade piorava, e os trovões e relâmpagos estouravam no céu.

Ela gritou, enterrou o rosto no peito dele, e Edward a abraçou com força. Ele a conduziu à mesma sala onde eles haviam estado pouco antes. Mas Maggie continuava abraçada a ele, e seu corpo tremia sem parar.

Os dois se sentaram, e ele continuou abraçado a ela. Ele fazia carinho nas costas trémulas dela.

Quando a mulher do estalajadeiro entrou na sala e se deparou com a cena de ternura em frente à lareira, ela disse:

- Pobre lady! Está molhada como um passarinho! Ela precisa de roupas secas.

- Era exatamente o que eu pensava - Edward disse com um sorriso de agradecimento estampado em seu rosto.

- Eu já preparei um quarto, e os senhores não retornarão a Londres hoje com esta tempestade.

Edward concordou e conduziu Maggie ao quarto. com a porta ainda aberta, ele levou Maggie até a cama.

- Aqui está melhor? - ele perguntou com carinho.

Então uma luz intensa invadiu o quarto, e um estrondo fez com que todo o cómodo tremesse.

Maggie puxou a mão dele e falou numa voz assustada:

- Na verdade, não.

A estalajadeira voltou com uma vela e colocou-a sobre uma mesinha.

- Quando a senhora tirar estas roupas úmidas irá se sentir melhor. - A mulher saiu do quarto e fechou a porta.

Edward sentou-se na cama ao lado de Maggie e começou tirar-lhe o casaco molhado. Foi quando ele percebeu que o vestido também estava encharcado.

O quarto tremeu novamente e ficou iluminado pelo clarão do relâmpago. Maggie se aninhou nos braços de Edward, e assim permanecerem por um longo tempo, ouvindo a chuva bater na janela. Até que, tomado pela ânsia de protegê-la, Edward inclinou-se sobre ela, capturando-lhe os lábios no que pretendia que fosse um beijo inocente, mas que foi correspondido ardentemente por Maggie.

Ambos perderam toda a noção de tempo e espaço à medida que se entregavam um ao outro naquele momento mágico.

Algum tempo depois, Edward afastou os cabelos úmidos do rosto de Maggie, que dormia aconchegada a ele.

Na penumbra do quarto, ele tentava analisar o que acabara de acontecer. Claro que agora teria de pedi-la em casamento.

Um desagradável calafrio percorreu-lhe a espinha. E Fiona? Oh, em que situação fora se meter?

Edward saiu da cama devagar para não acordar Maggie. Sem fazer barulho, vestiu-se e saiu para denunciar um assassinato.

A chuva suave ainda caía lá fora quando os olhos de Maggie se abriram lentamente, e ela viu que o quarto estava escuro, salvo pela vela acesa ao lado da cama. Ela mal sabia onde estava. Maggie estava tomada por uma profunda sensação de prazer. Ela se espreguiçou languidamente e então percebeu que estava nua. com um movimento rápido, ela puxou a coberta para cobrir seus seios desnudos.

Naquele momento, a lembrança de ter feito amor com lorde Warwick a assaltou. Ela ficou ruborizada e se recriminava enquanto se levantava da cama e vestia suas roupas. Como pudera ter-se portado de maneira tão leviana?

Quando já estava vestida, Maggie começou a andar pelo quarto de um lado para outro, tentando prever o que lorde Warwick estaria pensando sobre o que acontecera entre eles. Ele a dispensaria como um cavalheiro dispensava uma mulher vulgar? Ou ele a pediria em casamento?

O simples pensamento de vir a pertencer ao homem que acabara de fazer amor com ela de forma tão intensa e arrebatadora a encheu de satisfação. A doce lembrança das mãos dele, tocando cada curva de seu corpo, fê-la suspirar.

Havia também o fato de ela ter ficado atraída por ele desde a primeira vez que o vira parado no alto da escada, sem camisa.

Maggie repreendeu-se em seguida pelo rumo de seus pensamentos. Não era certo interessar-se por um homem que estava comprometido com outra mulher. E lorde Warwick não fazia segredo sobre a devoção que tinha por aquela infeliz Fiona Hollingsworth.

Uma batida suave soou à porta. Maggie sabia quem era e respondeu que ele podia entrar, prendendo o fôlego ao ter de encarar o homem que acabara de conhecer todo o seu corpo de maneira tão íntima.

O coração dela derreteu-se ao ver o lorde, entrando no quarto com uma bandeja nas mãos.

- Eu trouxe o seu jantar, minha querida - ele disse depois de fechar a porta. - Você está bem?

- Sim.

- Descansada?

- Sim.

- Ótimo.

- E agora que a tempestade passou - ela disse com um falso tom de calma em sua voz -, sei que o senhor ficará feliz em saber que estou em meu estado normal.

Ela pegou um pedaço de pão da bandeja e começou a morder pequenos pedaços, com a intenção de disfarçar o seu tremor.

- Fico feliz em ouvir isso.

Maggie preparou seu prato e sentou-se ao lado de Edward, junto à lareira.

Ela comeu os nabos primeiro, colocando pequenos pedaços na boca. Maggie esperava que ele dissesse algo sobre o encontro amoroso deles. Ele pediria desculpa? Faria o pedido? Mas Edward olhava apenas para as chamas da lareira, calado.

Maggie começou a comer a torta de carne, e ele continuava mudo. Ela deveria abordar o assunto? Ela enrubesceu só de pensar.

Então ele a fitou com um olhar terno e falou numa voz suave:

- Eu me casarei com você, é claro.

Arrogante, maluco, extremamente lindo, nobre! Uma pena que ele não a amava. Ela criou coragem e falou:

- O senhor não irá. Ele a olhou com espanto.

- É claro que irei! Eu me aproveitei de um momento de fraqueza seu. Eu comprometi a reputação de uma lady.

Maggie perdeu o apetite e colocou o prato em cima da mesa.

O senhor só teve o que lhe ofereci com prazer.-Ela baixou

os olhos e falou lentamente. - Perdoe-me por ter-me portado como uma tola.

- Imploro que você me perdoe. Fui eu quem agiu sem pensar no decoro.

- O senhor agiu como qualquer homem agiria. - Ela mal podia acreditar que estava se humilhando daquela maneira.

- Eu pretendo me casar com você - ele insistiu.

- Mas eu não pretendo me casar com o senhor! Os olhos brilhantes dele encontraram os dela.

- Por quê?

- Porque estou determinada a me casar por amor e eu não o amo, e o senhor não me ama.

Ela sentia-se desconfortável enquanto ele a encarava.

- Pode ser que ainda não haja um verdadeiro amor entre nós

- ele disse -, mas o que aconteceu neste quarto hoje é algo que tenho certeza de que muitos casais nunca experimentarão.

Maggie sentiu um aperto no coração. O mais triste era que ele tinha razão. Mesmo nos primeiros tempos de seu casamento, quando ela pensava estar loucamente apaixonada por seu marido, a atividade sexual deles nunca foi tão ardente ou gloriosa como a que ela e lorde Warwick haviam compartilhado naquele quarto.

Ela buscou por todas as suas forças, pois seria necessário ter muita coragem para negar um pedido de casamento daquele homem maravilhoso.

- Imploro que o senhor não fale mais sobre o que aconteceu entre nós. Quero que o senhor esqueça.

- Você pode esquecer isso, mas eu lhe garanto que eu não esquecerei! - Ele não podia acreditar.

Edward olhava para o fogo da lareira novamente. Então, sem desviar o olhar do fogo, ele disse:

- E se... se você descobrir que está esperando um filho meu? O coração dela disparou, e Maggie respondeu com a voz

trémula:

- Então, e somente por isso, eu me casaria com o senhor.

Maggie rezou em silêncio para que isso não acontecesse. Lorde Warwick pertencia a sua preciosa Fiona, e Maggie detestava a ideia de atrapalhar isso.

Ainda olhando para o fogo, ele concordou.

- Como a senhora desejar, milady. - Então ele se levantou e se moveu em direção à porta. - Retornarei para o bar. Parece que estamos presos aqui por esta noite. - Ele tocou na maçaneta.

- Por nossos anfitriões acreditarem que somos casados, retornarei para este mesmo quarto depois que a senhora já estiver dormindo. - Ele olhou para o tapete. - Dormirei no chão.

- O senhor não fará tal coisa! O senhor dormirá na cama. Eu dormirei no chão.

- A senhora não irá!

O olhar dela era desafiante.

- Então dormiremos juntos na cama. - A voz dela era suave.

- Prometo que não encostarei um dedo no senhor, milorde. Ele saiu do quarto resmungando.

- Tenho certeza de que o senhor está aliviado depois da polícia ter confirmado que o cadáver era mesmo o sr. Bibble Maggie disse para Edward no caminho de volta a Londres, na manhã seguinte.

Não tão aliviado quanto ele ficou quando a encontrou dormindo, na noite anterior, quando retornou ao quarto. Assim como foi um alívio ele estar tão bêbado que dormiu logo que encostou a cabeça no travesseiro. Agora eles estavam a uns quarenta minutos distantes de Greenwich e havia poucas nuvens no céu. Os dois estavam calados, e Edward tentava afastar Maggie de seus pensamentos.

À medida que continuavam ao longo da estrada, ainda lamacenta, Edward olhou para as nuvens. Cumulus naquele dia. O que o fez se lembrar de sua arrogância no dia anterior.

- Eu não deveria ter trazido a senhora - ele disse, olhando para as faces de Maggie, avermelhadas pelo frio.

- Não me importo com o frio. Tenho medo somente de tempestade.

Além do mais, foi bom que alguém o acompanhava quando o senhor encontrou o corpo do sr. Bibble.

Ela não tinha nenhuma lembrança de ter estado deitada em seus braços, de tê-lo ao seu lado?

- O que tem de tão bom em tropeçar em um cadáver? - Ele a encarou.

- Nada de bom, intrigante talvez! Além disso, eu jamais ficaria satisfeita se não tivesse tido a oportunidade de procurar pessoalmente por pistas.

Edward se lembrou daquela manhã, em sua biblioteca, quando Maggie se ofereceu para ajudá-lo a descobrir a identidade do invasor. Ela disse que eles formariam um

time. Como eles poderiam adivinhar que ficariam tão próximos? Ele não conseguia parar de pensar nos momentos de amor intensos vividos por eles. A lembrança daqueles

momentos fez seu sangue fervilhar dentro das veias.

Ele tinha de parar de pensar nisso. Maggie não o queria. Ela havia dito isto. E ainda havia a doce Fiona. Destruir o precioso amor que Fiona sentia por ele significava destruir algo dentro dele também.

Para mudar um pouco de assunto, Maggie perguntou a Edward se ele já havia escrito uma carta para sua noiva, contando sobre a presença dela.

- Enviei uma carta no dia anterior a nossa partida - ele respondeu.

- O senhor contou a ela sobre a viúva de seu tio?

- Eu tive de fazê-lo, pelo menos por enquanto.

- Se ela é a criatura doce e gentil que o senhor vive dizendo, então irá entender.

- Contanto que ela não veja o quanto a senhora é bonita. Edward não queria ter dito isso. Será que a propensão de Maggie de dizer tudo o que pensava era contagiosa?

A expressão de Maggie era uma mistura de alegria com embaraço.

Já era quase noite quando eles chegaram na Curzon Street. Ele havia agido como um tolo ao escolher um cabriole para sair num dia chuvoso como o anterior. Em especial porque ele possuía uma maravilhosa carruagem e com um cocheiro à disposição. Mas um desejo incontrolável de usar o cabriole se apoderou dele. Teria ele inconscientemente desejado excluir a srta. Peabody do passeio? Até mesmo sua mente estava confusa com a presença de Maggie.

Ele se lamentava pelo dia escuro e nebuloso que tiveram. Mostrar para uma norte-americana os campos verdes da Inglaterra teria lhe dado muito prazer. No próximo mês, os prados já teriam mudado de cor, as árvores estariam verdes. Os narcisos silvestres estariam ao longo de todo o caminho desde Londres até a Escócia. Onde Maggie estará quando a primavera substituir o inverno cinzento? Será que irá compartilhar com outro inglês a vista maravilhosa desses campos?

Maggie permanecia quieta, solene. Ela resolveu quebrar o silêncio.

- O senhor deveria convidar o sr. Lyle para jantar conosco. Depois do jantar nós poderíamos jogar cartas. Acho que será agradável.

Ele não sabia que não havia nada de agradável em assistir a Harry fazendo a corte a ela? E ainda pior era vê-la retribuindo com sorrisos. Mesmo de mau humor, Edward concordou dizendo que enviaria um bilhete ao sr. Lyle.

 

Harry Lyle compareceu para o jantar com muito prazer e um sorriso estampado no rosto. Edward o aguardava em sua biblioteca para uma conversa particular.

- Você parece distante, meditativo - Harry disse, sentandose em uma poltrona.

- Tenho razões para estar assim. Lyle ergueu uma das sobrancelhas.

- Ontem, encontrei o cadáver do cúmplice de Henshaw. Foi horrível, e o pior é que não pude evitar que Maggie presenciasse a cena sangrenta do crime.

- Onde foi que isso aconteceu?

- Em Greenwich.

- Como você pôde expor lady Warwick ao perigo, sendo o responsável pela segurança dela? - Os olhos verdes de Harry faiscavam de fúria.

- Fui instruído a não perdê-la de vista e não, exatamente, cuidar da segurança dela. E de qualquer maneira, eu estava armado e alerta.

Harry fixou os olhos nele.

- Desde a invasão de terça-feira à noite, você já sabia que ela estava correndo perigo. Como você pôde expô-la, mesmo assim?

Edward sabia que Harry estava certo. Ele não deveria ter levado Maggie para Greenwich.

- Fomos tolos em imaginar que o ladrão já havia encontrado o que procurava, depois de ter roubado os pertences de Henshaw. Imaginamos também que se ela pudesse falar com o sr. Bibble talvez se lembrasse de algo que o salafrário tivesse dito, algo que nos ajudasse a descobrir a identidade do ladrão. - Ele continuou solene. - O ladrão que agora parece ser um assassino também.

- O salafrário ? Imagino que você esteja se referindo a Henshaw.

- É assim que sua viúva se refere a ele. O sr. Lyle recostou-se na cadeira.

- Conte-me sobre esse homem de Greenwich.

Edward contou tudo sobre a carta de Bibble para Henshaw que havia sido roubada.

- Parece-me que o assassino está desesperado para encontrar algum documento, uma vez que em nenhuma das duas ocasiões ele levou jóias ou objetos de valor - Harry concluiu.

- Se o tal documento não estava com Bibble - Edward disse num tom grave - temo que ele volte a procurar Maggie.

- Eu nunca permitirei que isso aconteça! - Harry falou, esbravejando. - Eu daria a minha vida por ela.

- Eu a protegerei! - Edward disse ultrajado. - Afinal, ela pertence a minha família. Ou está se passando pela viúva de meu tio. E eu tomarei conta da minha família.

- Você não percebeu o quanto ridículo você soa? Acho que a beleza dela afetou o seu raciocínio.

com certeza ela havia afetado isso e algo mais na vida de Edward.

- Farei o que for necessário para garantir a segurança da lady

- Edward disse, levantando-se. - Agora precisamos jantar.

Antes do jantar, enquanto Sarah arrumava os cabelos de Maggie, esta se policiava para não deixar seus pensamentos escaparem em voz alta durante o jantar. Esse hábito foi fonte de grande humilhação para ela, durante a viagem a Greenwich.

Afinal, já havia sido desagradável o suficiente o fato de Maggie ter confessado a lorde Warwick que ela o considerava o marido ideal. E para piorar um pouco mais, quando Edward deu-lhe a perfeita desculpa para a fonte de sua admiração, ela insistiu, dizendo que ele era extraordinariamente lindo!

- Ao diabo com ele! - Maggie pensou alto.

- O que a senhora disse? - perguntou Sarah.

- Meu Deus! Eu estava pensando alto novamente. Rezo para que isso não aconteça durante o jantar.

Rebecca bateu à porta de Maggie e entrou.

Maggie a viu pelo espelho do toucador e disse carinhosamente:

- Você fica linda de lilás, pequena.

- Não tanto quanto você - Rebecca respondeu, sentando-se ao lado da irmã. - Aposto que lorde Warwick não vai conseguir tirar os olhos de você durante o jantar.

Maggie sorriu sem graça.

- A propósito - Rebecca disse - pensei em algo que você pode fazer para evitar que seus pensamentos escapem.

- Vamos, fale logo - Maggie perguntou ansiosa.

- Você deve colocar um pouco de comida em sua boca, assim que sentir vontade de falar algo. Enquanto estiver mastigando, você pode formular com calma a sua frase.

Em seguida, Rebecca entregou a Maggie uma latinha cheia de confeitos e instruiu a irmã para que ela usasse os confeitos após o jantar, todas as vezes que ela quisesse dizer algo. Maggie achou o plano de Rebecca fantástico.

Lorde Warwick e Harry Lyle aguardavam por elas na sala de estar. Quando se encontraram, lorde Warwick acompanhou Maggie até a sala de jantar, onde ela se sentou à direita dele. Ela mal se lembrava da regra de etiqueta que dizia que o convidado de honra devia se sentar à direita do anfitrião. Ela quase riu por isso e decidiu colocar um pedacinho de pão na boca.

- Uma pena que o tempo estava ruim, durante a sua visita a Greenwich - Harry disse a Maggie.

Maggie olhou para lorde Warwick, que tinha concordado em não contar para Rebecca sobre a morte do sr. Bibble.

Edward acenou com a cabeça.

Maggie colocou outro pedaço de pão na boca. Quando ela estava acabando de mastigar, disse:

- Eu não teria sentido tanto medo se não tivéssemos sido apanhados por uma tempestade.

- Meu Deus! - Rebecca lançou um olhar de preocupação para lorde Warwick. - Minhas condolências ao senhor, lorde Warwick, por ter sido exposto ao medo irracional que minha irmã sente por tempestades. Espero que ela não tenha ficado muito histérica.

Maggie colocou outro pedaço de pão na boca. Edward respondeu com uma voz macia e suave.

- Não há nada de irracional no medo de sua irmã.

- Eu me comportei como qualquer criança de seis anos de idade teria se comportado - Maggie disse, sorrindo e imaginado que uma criança de seis anos não deixaria um homem tirar a roupa dela.

- Eu é que não deveria tê-la exposto à chuva - disse Edward.

- Deveria, pelo menos, ter pegado a carruagem. O cabriole oferece pouco abrigo da chuva.. Sinto-me responsável se a senhora pegar uma pneumonia.

- Peço-lhe que não se preocupe com isso - Maggie disse.

- Eu não adoeço facilmente.

O criado de libré começou a servir o segundo prato. Maggie olhou para as ervilhas, pensando no quanto elas lhe seriam úteis para manter sua boca ocupada.

A conversa durante o jantar seguiu amena, e Maggie observava o sr. Lyle com mais atenção. Se ele não estivesse tão próximo de Edward, ele até poderia ser considerado bonito. Ele não era tão alto quanto Edward, mas era mais magro. Os cabelos do sr. Lyle eram de um tom castanho mais claro que os de Edward, mas os dois homens tinham muito em comum, além de suas raízes privilegiadas e o fato de trabalharem juntos. Ambos eram homens bem vestidos, ambos a tratavam com muita delicadeza, e ambos esbanjavam charme e confiança.

Maggie percebeu que a delicadeza do sr. Lyle para com ela era acompanhada de devoção, devoção esta expressa em um poema que ele havia escrito para ela e mandado entregar-lhe, naquela tarde, junto com um buque de rosas.

Depois do jantar, o sr. Lyle implorou para que Maggie fosse sua parceria no jogo de cartas. Os dois formaram uma boa dupla. Ela era melhor jogadora do que Rebecca, e Edward era melhor que Harry, o que deu um certo equilíbrio ao jogo.

Maggie colocou sua latinha de confeitos em cima da mesa de jogos.

- Eu não sabia que a senhora gostava tanto de confeitos Edward falou para Maggie.

- Minha irmã está usando os confeitos - disse Rebecca.

- E pão e ervilhas - completou Maggie.

- Para evitar que ela diga as coisas sem pensar - finalizou Rebecca.

Maggie enrubesceu. Edward a encarava, e ela não conseguia desviar os olhos dele. Apesar de ela ter sido extremamente franca no dia anterior, negando o pedido de casamento de Edward, não dava para negar que agora existia uma intimidade entre eles que não havia antes. Ela desviou o olhar e abriu a lata de confeitos. Isso a ajudaria a manter a boca fechada.

- Quando você está pensando em levar as ladies ao Almack?

- Harry perguntou a Edward.

- Na próxima quarta-feira. Harry olhou para Maggie.

- Espero que a senhora me permita ser seu parceiro para a primeira dança.

- Será um prazer, sr. Lyle. - Ela olhava para Edward com o canto dos olhos.

Ele estava pensativo novamente.

Na tarde do dia seguinte, Harry Lyle trouxe alguns documentos para Edward e outro buque para Maggie.

- Que gentileza a sua, sr. Lyle - ela disse, enquanto pedia a uma criada que colocasse as rosas num vaso. - Acho melhor colocar estas na mesa do hall de entrada para que todos possam apreciá-las.

O cheiro dos vários buques que ela já havia recebido estava impregnando seu quarto, e levar mais um seria intolerável, mas ela não iria magoar o sr. Lyle.

- O senhor tem tempo para um chá? - ela perguntou a Harry.

- Eu sempre tenho tempo para a senhora - ele respondeu com um olhar gentil.

Maggie mandou chamarem Rebecca para se juntar a eles no salão de chá.

Harry se sentou em uma poltrona de cetim que fazia par com a poltrona onde Maggie estava sentada.

Em seguida, Rebecca entrou no salão, usando um lindo vestido lilás. Antes de se sentar, ela gentilmente cumprimentou o sr. Lyle.

Wiggins trouxe a bandeja de chá e a colocou em frente de Maggie, que serviu a todos.

- Li no jornal - Maggie disse, entregando a Harry uma delicada xícara de porcelana - que lorde Carrington é o ministro das Relações Exteriores. Ele foi muito gentil em conseguir convites para minha irmã e eu entrarmos no Almack.

-Lorde Carrington é um homem muito importante, e ninguém seria capaz de negar-lhe um favor.

- Acho que preciso conhecê-lo - disse Maggie.

- Eu não me surpreenderia se ele aparecesse de surpresa para visitar Warwick - comentou Harry.

Maggie concordou. Pobre lorde Warwick estava negligenciando suas obrigações por causa dela. Ela não gostava de sentir-se responsável pela confusão que se estabelecera na vida de Edward, em especial porque toda a desordem o deixava extremamente mal-humorado. Se ao menos ela e Rebecca tivessem outro lugar onde pudessem ficar. Se ela pudesse ao menos encontrar um bom partido.

Um bom partido. De repente, ocorreu-lhe que o homem a sua frente preenchia todos os requisitos. Antes ela não o havia considerado qualificado, mais devido ao fato de ele não ser um homem de grandes posses se comparado a lorde Warwick, mas lorde Warwick estava fora de seu alcance! Ela precisa esquecer como Edward ficava maravilhoso sem camisa, ou como seu coração se derretia quando ela olhava para aquele rosto lindo e, em especial, esquecer a maneira extraordinária como ele fez amor com ela. Ele amava Fiona. Fim da história. Não teria mais desejos secretos.

Maggie respirou fundo para disfarçar seus pensamentos, quando Tubby entrou na sala e seguiu direto na direção do sr. Lyle. Depois de rodear as botas de Harry, o gato pulou no colo dele.

Para a surpresa de Maggie o sr. Lyle começou a acariciar os pêlos macios do gato e a conversar com ele como se estivesse falando com um bebé.

- Mas que gracinha de menina, qual é o seu nome?

- Ela é ele - Rebecca corrigiu. - E seu nome é Tubby. com um largo sorriso no rosto, Harry falou:

- Então você gosta de comer, não é? - ele falava carinhosamente com o gato.

Harry nem se importava com o fato de suas roupas estarem ficando cobertas de pêlos de gato. Maggie estava encantada.

- É tão agradável ver um homem demonstrando afeição a um felino - ela disse. - Isto é muito raro. Em geral os homens preferem cachorros.

O sr. Lyle fazia cócegas no pescoço de Tubby.

- Isso acontecesse, gosto de cachorros também. Na verdade, amo animais. Talvez seja porque eu não tive irmãos. Os animaizinhos de estimação eram meus companheiros quando eu era criança - disse Harry com afeição.

- Então o senhor foi filho único - Maggie falou. - O senhor precisa me contar mais sobre a sua vida, sr. Lyle.

Os olhos dela brilhavam, e Maggie estava cheia de curiosidade para saber mais sobre a vida deste próspero pretendente.

Antes que o sr. Lyle pudesse dizer algo, Wiggins anunciou que lorde Aynsley pedia licença para fazer uma visita à "condessa". Para a insatisfação de Harry, Maggie disse ao mordomo que o mandasse entrar.

Quando lorde Aynsley entrou na sala, carregando mais flores para Maggie, o sr. Lyle colocou Tubby no tapete e se levantou a fim de cumprimentar o nobre.

Ela cheirou as flores e as colocou sobre a mesa de chá. Lorde Aynsley cumprimentou a srta. Peabody e sentou-se na mesma poltrona em que Harry estava.

- Estou muito preocupado com a sua saúde, milady - lorde Aynsley disse para Maggie.

Maggie se sentiu lisonjeada pelas atenções voltadas a ela.

- Por quê? - ela perguntou.

Ela observa a elegância do nobre em suas roupas bem cortadas que disfarçavam a verdadeira idade dele. Se não fossem pelos cabelos um pouco grisalhos, ele passaria por trinta anos em lugar dos quarenta. Seu rosto tinha feições gentis, e ele estava sempre sorrindo. Talvez ele fosse melhor partido que o sr. Lyle. Agora ela tinha dúvidas sobre qual dos dois ela deveria escolher.

- Porque lorde Warwick enviou-me um bilhete, informando que, devido ao rigoroso inverno e à sua facilidade para pegar gripes, a senhora estava impedida de sair de casa.

Neste momento ela desejou que lorde Warwick tivesse primeiro combinado com ela sobre quais desculpas ele ira usar.

- Tenho de admitir que desde que cheguei a Londres o frio está insuportável.

- Mas a senhora está bem?

Ela arrumou o xale em volta de seu ombro, enquanto se lembrava do abraço acolhedor que Edward lhe dera em Greenwich. Era uma tortura para ela relembrar aqueles momentos de puro afeto entre eles.

- Apesar da umidade, tenho conseguido manter-me aquecida Maggie disse. - Lorde Warwick prometeu que, se o tempo melhorar, na próxima quarta-feira iremos ao Almack.

- Peço que a senhora me conceda a honra da primeira dança disse lorde Aynsley.

O sr. Lyle lançou um olhar frio ao seu oponente.

- Sinto informar-lhe que a lady já me concedeu esta honra - informou Harry.

- Então ficarei grato se me conceder a segunda.

- Ficarei feliz em fazê-lo, milorde.

Sem perceber, Maggie mentalmente fazia uma comparação entre os dois homens. Ambos eram muito amáveis. Ambos eram charmosos e elegantes. Ambos tinham a aprovação de lorde Warwick. E ambos pareciam estar apaixonados por ela. Mas tudo isso não conseguia fazer com que Maggie tirasse Edward de seus pensamentos mais profundos.

Naquele instante, lorde Warwick entrou no salão de chá acompanhado de um distinto senhor de aproximadamente cinquenta anos. Edward deu uma olhada nos dois homens e os cumprimentou.

-Lorde Carrington - disse Edward-deixe-me apresentá-lo à condessa Warwick.

Lorde Carrington se curvou elegantemente.

- Permita-me dizer, milady, que a senhora é ainda mais bela do que Warwick havia dito?

Maggie estava envaidecida. Ela evitou estabelecer contato visual com lorde Warwick.

-É muita gentileza de sua parte, milorde-respondeu Maggie.

O olhar dela passou pelos cabelos grisalhos de lorde Carrington, seguiu para os olhos azuis e para a face aristocrática, finalizando no corpo bem-feito e nos trajes elegantes.

- Por favor, junte-se a nós para o chá, milorde - ela disse a Carrington.

Lorde Carrington cumprimentou os dois outros cavalheiros e foi apresentado à srta. Peabody, sentando-se em seguida em uma cadeira próxima a de lorde Warwick.

- Pensei que você tivesse trabalho para fazer - Harry disse a Edward.

Lorde Warwick encarou seu companheiro de trabalho com uma expressão sisuda.

- Pensei o mesmo sobre você.

Meu Deus! Maggie pôde perceber que lorde Warwick estava de mau humor.

Para completar, Tubby resolveu que queria se sentar no colo dele. E quando o gato estava querendo se acomodar, o lorde ergueu a bola de pêlos e a atirou no tapete.

- Já é inoportuno o suficiente o fato de minha casa ter-se transformado em um mercado, onde homens entram e saem o dia todo, mas para piorar ainda mais as coisas, este felino superalimentado decidiu que meu colo está a sua disposição. - Ele dirigiu o olhar a Maggie. - Pensei que a senhora fosse manter seu gato fora de minha biblioteca.

- Tubby tem perturbado seu trabalho, milorde? - Maggie perguntou.

- Na verdade, sim!

- Sinto muito - ela disse. - Não deixarei que ele o incomode mais.

- Relaxe, Warwick - disse o sr. Lyle. - Você deveria se sentir honrado por Tubby gostar de você. - Ele se abaixou e pegou o gato. - Você é um amorzinho, não é, Tubby? - sr. Lyle disse numa voz doce.

- O sr. Lyle e Tubby se dão muito bem - Maggie disse, franzindo a testa para lorde Warwick. - Ele aprecia a natureza dócil de Tubby.

- Se ao menos ele fosse um cachorro - disse Edward. Um cachorro grande.

- Acho que o senhor está sendo muito ca... - Maggie pegou um confeito e depois de ter mastigado e engolido, ela terminou.

- Carinhoso, aguentando os transtornos que lhe temos causado.

Ela voltou sua atenção a lorde Carrington, a quem ela temia estar negligenciando.

- Conte-me, lorde Carrington, sobre sua família. O senhor tem filhos?

- Nunca tive o prazer, uma vez que não me casei.

Como tal partido pôde escapar do mercado de casamento durante todos estes anos, ela pensou. Maggie podia imaginar o quanto ele devia ter sido bonito uns trinta anos atrás, uma vez que ainda era muito bem-apessoado. E o que ela iria dizer agora? Ela não podia lamentar o desperdício de seu título e a falta de um herdeiro. Não podia expressar a sua tristeza pela extinção da linhagem dele. Ela abriu a lata de confeitos e comeu um.

- Esperemos, milorde, que a condessa perfeita para o senhor esteja mais próximo do que o senhor imagina - Maggie falou.

A maneira como lorde Carrington a fitou por inteiro causou-lhe um certo desconforto.

- Desculpe-me, Warwick, se minha presença o está incomodando - disse lorde Aynsley -, mas não vim para lhe fazer uma visita. Desejava assegurar-me de que a condessa passa bem de saúde.

- Como o senhor pode ver ela está muito bem - disse lorde Warwick.

- Não foi o que imaginei, de acordo com o bilhete que você me enviou.

- Entendo - lorde Warwick comentou. - Mas a reclusão dela é para proteger seus delicados pulmões.

Para disfarçar, Edward mudou o rumo da conversa.

- Como vão seus filhos, Aynsley?

- Acho que estão bem. Eles estão em Dunton Hall.

- Você ainda está tendo problemas para manter uma governanta? - Edward perguntou. - Pelo que me lembro, seus filhos gostam de colocar criaturas rastejantes nas camas das pobres senhoras.

Lorde Aynsley se contorceu em seu assento.

- Devido a esse acontecimento, eu ainda procuro por uma nova governanta.

Maggie teve pena de lorde Aynsley.

- Parece-me que seus queridos filhos sentem falta do amor de uma mãe.

- Concordo com a senhora, milady. Os garotos, no fundo, são boas pessoas. - O rosto dele se iluminou.

- Gostaria de conhecê-los - disse Maggie.

- Ficaria honrado com sua visita. Lorde Warwick limpou a garganta.

- Acredito que lady Warwick não gostaria de enfrentar o tempo úmido de Shropshire. Não seria bom para a sua frágil saúde.

Realmente, lorde Warwick estava agindo como um ogro! Maggie olhou para os convidados, e todos estavam desconfortáveis.

- Bem - lorde Aynsley disse, levantando-se - acho melhor eu ir andando. - Ele fez uma reverência a Maggie. - Poderia lhe fazer uma visita amanhã?

- Ficaria encantada.

O sr. Lyle levantou-se também.

- Acho melhor eu retornar para o meu trabalho.

- Eu a acompanho Lyle - Lorde Carrington disse e voltou seu olhar para Maggie. - Foi um prazer conhecê-la, milady. Eu poderia visitá-la novamente?

- Seria um imenso prazer, milorde.

Assim que os cavalheiros se retiraram Maggie colocou um confeito em sua boca. Se ela não o tivesse feito, teria despejado todo o seu mau humor em Edward por ter sido tão rude com seus visitantes. Mas ela não tinha o direito de criticá-lo, a casa era dele. Era uma pena que ela, seu gato e seus visitantes acionavam a ira de lorde Warwick.

- Eu só estava tentando ser agradável com os visitantes ela disse a Edward - para tentar atrair um marido, a fim de livrá-lo de minha presença inoportuna.

Os olhares deles se encontraram.

- Eu já lhe falei, sua presença não é inoportuna.

Então, desviando o olhar, ele se levantou e deixou o salão de chá.

 

Naquela noite, lorde Warwick não teve convidados para o jantar. Maggie havia pensado que ele tinha gostado de jogar cartas na noite anterior, mas ele parecia não gostar de nada naquela noite.

Edward nem mesmo a olhava ou lhe dirigia a palavra. Aquele olhar perdido e distante estava de volta.

Durante o jantar, ela tentava imaginar um modo de agradar-lhe. Se ao menos houvesse algo que ela pudesse fazer em sinal de retribuição à hospitalidade dele. Mesmo se ela tivesse dinheiro, o que comprar para um homem que já tem tudo o que deseja? Ela teria de se contentar em ser uma oponente a altura dele no xadrez.

Ao longo do jantar, ele só falou com Rebecca. O que a srta. Peabody estava lendo? Quem era o poeta favorito dela?

Maggie não gostava de ser ignorada.

- Estou lendo Orgulho e Preconceito - Maggie informou aos seus companheiros de jantar.

- E a senhora está gostando tanto quanto a srta. Peabody gostou? -ele perguntou, olhando para o peixe em seu prato, evitando estabelecer contato visual com ela.

- Uma vez que só li até a metade do livro, ainda não posso afirmar que é o melhor romance que já li, mas estou gostando muito. - Ela olhou para Rebecca. - Você acha que a autora quis imprimir um certo tom cómico no livro? Rebecca sorriu.

- A autora é muito talentosa, e acredito que ela tinha a intenção de retratar o sr. Bingsley e o sr. Collins com um toque cómico.

Lorde Warwick começou a rir.

- Tenho de reconhecer que o sr. Collins é muito engraçado por ser tão distraído e superficial.

Ainda bem que lorde Warwick estava rindo. A tensão que tomava conta de seu corpo, passou enquanto ela apreciava a risada dele. Se ao menos ela pudesse se lembrar de outro personagem engraçado.

- Juro que nunca apreciei tanto um personagem, com exceção dos de Shakespeare, é claro - Maggie disse. - Acho que A Megera Domada é a minha peça favorita, por ser tão leve. Olhando para Edward, ela continuou. - Acredito que, por ser homem, o senhor prefira as tragédias ou as peças históricas.

- As históricas - ele respondeu.

- E qual a sua favorita? Ele pensou por um momento.

- E difícil escolher entre Ricardo in e Júlio César.

- Imaginei que a história de seu país interessasse mais a um inglês - comentou Maggie.

- Mas César está intrinsecamente ligado à história da GrãBretanha. Não seríamos o país que somos, se as tropas dele não tivessem chegado até aqui.

- É quase inacreditável pensar que os soldados romanos, que viveram aqui há oitocentos anos, deixaram um legado que ainda é tão evidente nos dias atuais - Maggie concluiu.

Edward colocou sua taça de vinho na mesa.

- A ocupação romana é mais evidente em Bath do que em qualquer outra parte da Inglaterra. A senhora precisa ir até lá, algum dia.

- Há muitos lugares que desejo conhecer na Inglaterra, assim que ficar livre de minha clausura.

Edward olhou-a compadecido. Ele sentiu um calafrio ao ver aqueles olhos penetrantes.

Isso não será para sempre - Edward disse.

Quando o jantar já estava chegando ao fim, Maggie falou a sua irmã.

- Você se importaria, pequena, se lorde Warwick e eu terminássemos nosso jogo de xadrez?

Maggie estava determinada a proporcionar alguma atividade que fosse agradável ao seu anfitrião.

- De forma alguma. Tenho um livro para terminar de ler respondeu Rebecca.

-Não será possível terminarmos aquele jogo-disse Edward.

- Meus empregados guardaram todas as peças.

- Mas eu me lembro de onde elas estavam. Um sorriso surgiu nos lábios dele.

- Mas como poderei confiar que a senhora não irá arrumar o tabuleiro em seu benefício próprio.

- Muito bem, milorde - ela disse num tom zombeteiro. Começaremos um novo jogo, se isso o agrada.

Enquanto Edward arrumava as peças no tabuleiro, ele pensava admirado sobre a capacidade de memorização de Maggie. Era incrível o fato de ela poder se lembrar do exato lugar onde as peças estavam a três noites atrás.

Melhor admirar a memória do que ficar admirando a beleza incomparável dela. Quando estavam sentados lado a lado à mesa do jantar, ele teve de se conter a fim de não ficar olhando para Maggie o tempo todo. Sua beleza estonteante naquele vestido da cor do mar fazia a pulsação de Edward disparar. Ela estava mais linda do que nunca.

À medida que ele dispunha as peças no tabuleiro, ele tentava se lembrar das doces feições de Fiona, mas somente uma vaga lembrança dos cabelos loiros surgiu em sua mente. Droga! Já fazia muito tempo que tinham se visto pela última vez. Antes da chegada de Maggie tudo o que ele queria era estar com Fiona, ouvir sua voz doce, abraçá-la, casar-se com ela e amá-la para sempre.

Agora, era Maggie quem invadia os sonhos eróticos dele, mesmo sendo Fiona, e somente Fiona, a única mulher que ele amava e sempre iria amar.

Uma pena ele não poder jogar xadrez com os olhos vendados.

Maggie fez o primeiro movimento no jogo.

- Quem a ensinou a jogar? - Edward perguntou.

- Meu pai. Ele deve ter tido muita paciência quando começou a me ensinar, pois eu tinha somente oito anos de idade.

- O seu início precoce explica a sua habilidade. Ela sorriu.

- O senhor acha mesmo? Ou eu simplesmente jogo bem para uma mulher?

- Já joguei com vários homens que eram muito bons. Mas o seu jogo é infinitamente superior ao de qualquer oponente que conheci.

Maggie moveu uma peça rapidamente.

- E o seu meio-irmão? Seu pai jogava xadrez com ele também? - perguntou o lorde.

- Acho que papai e James jogavam xadrez quando James era mais jovem. Quando eu nasci meu meio-irmão já era adulto e, até o ano passado, nós nunca havíamos vivido sob o mesmo teto.

Ela devia estar mesmo desesperada a fim de se livrar de Henshaw para ter de implorar pela caridade de seu meio-irmão insensível.

- A senhora jogava xadrez com o seu marido? - Edward tinha uma imensa curiosidade sobre o relacionamento dela com Henshaw.

- Algumas vezes - ela respondeu sem graça.

- E ele era um oponente a sua altura? Maggie deu um sorriso triste.

- Acho que o salafrário era uma pessoa muito impaciente para se dedicar a qualquer tipo de atividade que exigisse uma extrema devoção. - Ela desviou o olhar para o tabuleiro. - Antes eu tivesse tido o bom senso de jogar xadrez com ele antes de me casar.

- Se isso lhe serve de consolo - ele disse numa voz suave. eu também fui enganado por ele. Passamos bons momentos juntos, e eu o considerava o melhor dos companheiros.

- Assim era Lawrence - ela disse - sempre pronto para a farra. Talvez seja por isso que o xadrez o entediasse tanto. A vida dele era perseguir o divertimento. Pena que o divertimento para ele estava relacionado à bebida e a mulheres fáceis.

Quanto mais Edward estava com Maggie, mais certeza ele tinha de que ela não estava fingindo sobre a repulsa que ela tinha de Henshaw. Edward podia apostar toda a sua fortuna na inocência de Maggie. Na manhã seguinte, ele planejava compartilhar sua opinião com lorde Carrington.

- Por favor, podemos mudar de assunto? - ela pediu.

Ele desejava atender ao pedido dela, mas ao mesmo tempo ele queria saber mais sobre o casamento dela.

- Como a senhora desejar, milady.

Edward, então, olhou para a srta. Peabody, que estava sentada a uns cinco passos deles, lendo. Era impressionante a semelhança que havia entre as duas. Além das feições muito parecidas, tinham o mesmo tom de cabelo e a mesma pela alva, apesar de a beleza de Maggie ser infinitamente superior. O olhar dele desviou para o colo rosáceo de Maggie, antes de ele voltar seu olhar para o tabuleiro de xadrez, desejando ter uma venda.

- E quem lhe ensinou a jogar xadrez, milorde?

- Foi meu irmão mais velho - ele respondeu, evitando olhar nos olhos dela.

Maggie ficou quieta por um momento.

- Mas como foi possível o senhor suceder ao título se o senhor tem um irmão mais velho?

Ele permaneceu estático, sem palavras. Olhou primeiro para os confeitos dela, enquanto pensava. Parecia que o ar havia fugido.

- Meu irmão está morto - ele respondeu solenemente.

- Sinto muito pelo senhor - ela disse gentilmente. Pois dá para perceber que os senhores eram muito próximos.

- Sim. - Ele estremeceu.

Maggie o fitou, mas não fez mais comentários.

Edward voltou sua atenção para o jogo, não que o jogo conseguisse prender totalmente sua atenção quando Maggie estava ao seu lado.

Após duas horas e meia de jogo, ele percebeu que estava apreciando aqueles momentos agradáveis. Não somente pelo fato de poder jogar com um oponente realmente desafiador, mas por estar se sentindo muito bem ao lado de Maggie.

Maggie já estava mostrando sinais de cansaço, e ele pôde perceber que seria impossível terminar o jogo naquela noite.

- A senhora não dormiu bem na noite passada, dormiu?

- Como o senhor sabe?

- A senhora está bocejando.

- É difícil pegar no sono quando se tem a sensação de que o peso do mundo está todo sobre suas costas, ainda que eu saiba que existem outras pessoas menos afortunadas do que eu e têm problemas bem mais graves dos que os meus.

- E o que está lhe tirando o sono?

- A necessidade de encontrar um marido, o medo da pobreza, de ser forçada a deixar Rebecca. - O olhar solene dela se encontrou com o dele.

Ele respirou fundo.

- Eu teria me casado com a senhora, considerando certos acontecimentos que ocorreram recentemente-ele falou baixinho para a srta. Peabody não escutar.

- É muita gentileza do senhor, mas quero me casar por amor. Edward temia que ela se casasse com outro homem, devido à pressão que as circunstâncias estavam exercendo sobre ela. Um homem que não a merecesse como ele. O coração do lorde disparou.

- A senhora não precisa se precipitar, casando-se com um homem que não a mereça. - Nem Harry ou lorde Aynsley a mereciam. - Sou um homem rico. Posso cuidar de suas necessidades até que a senhora encontre um marido merecedor. Não importa o tempo que isso leve.

Maggie o encarou com o fundo da alma e isso acertou diretamente em seu coração.

- O senhor não sabe o quanto é difícil para mim ter de aceitar a sua caridade. Em especial, porque sei que não terei como retribuir.

- Acredito que aceitar a minha oferta seja mais fácil do que ter de voltar a morar com o seu meio-irmão. Depois tenho certeza de que compreendo os motivos que levaram o seu casamento ao fracasso. Fato que seu meio-irmão não aceitou. - Edward podia perceber, pelas reações dela, que as palavras dele não a estavam acalmando. - E gostaria que a senhora parasse de me pedir desculpas. Eu não fiz nada para merecer a sua gratidão. A senhora é uma hóspede em minha casa, porque meu superior ordenou que eu não tirasse os olhos da senhora.

Maldição! Não tinha a intenção de contar isso a ela. Se ela estivesse tomando parte de algum esquema de traição o que ele havia acabado de revelar equivalia também a uma traição. Em seus dez anos de trabalho no Ministério das Relações Exteriores, ele jamais havia deixado escapar um segredo profissional. Até neste dia. Até Maggie ter invadido os seus domínios dele. Seus sonhos. Seus pensamentos.

Ele viu o desprezo estampado no rosto dela.

- Então parece-me que devo meus agradecimentos a lorde Carrington. Por ele pensar que sou uma espiã e uma traidora do país de meus pais - ela disse de maneira amarga, deixando a sala correndo.

Nos dias que se seguiram, Maggie permaneceu confinada em seus aposentos ou no quarto de sua irmã. Ela não desejava ver ou falar com lorde Warwick. As únicas vezes em que deixava seu retiro era para receber seus visitantes: sr. Lyle, lorde Aynsley e lorde Carrington. As refeições, que ela mal tocava, eram feitas em seu quarto.

Com uma única declaração lorde Warwick havia puxado o tapete debaixo dos pés dela, mostrando com muita clareza o quanto ela estava enganada sobre ele. Maggie estava furiosa consigo por ter afirmado inúmeras vezes a sua irmã que as atitudes de Edward para com ela eram de pura gentileza. Gentileza decerto! Que tola ela havia sido. Ele só a estava suportando porque havia recebido ordens de seu superior.

Para completar a sua desilusão, ela estava ultrajada pelas suspeitas que lorde Warwick e lorde Carrington tinham sobre ela.

Nas primeiras horas que se seguiram à revelação de Edward, ela desejou deixar a residência dele imediatamente. E se ela não tivesse de pensar por outros, ela teria partido naquela noite mesmo. Mas não seria justo privar Rebecca de uma cama quente e de comida.

Então, com o coração pesado e uma determinação ferrenha, ela jurou se entregar a um dos homens que disputavam seu amor. Maggie precisava se ver livre do detestável lorde Warwick. Mesmo que isso significasse se casar sem amor. Pelo menos seus pretendentes eram homens de bem. Exceto por lorde Carrington, cujo único interesse por ela era devido ao fato de ele pensar que ela era uma espiã.

Mas qual deles ela escolheria? Escolher entre o sr. Lyle e lorde Aynsley não era tarefa das mais fáceis.

Durante horas, Maggie esteve sentada junto à escrivaninha que havia nos aposentos da "condessa", fazendo uma lista com as qualidades e os defeitos dos dois cavalheiros. Ambos eram amáveis. Ambos eram muito educados, apesar de o título de lorde Aynsley lhe conferir uma certa distinção. Ambos eram bem-apessoados. Então na coluna das qualidades do sr. Lyle, ela marcou um ponto pela beleza dele. Afinal de contas, ele era uns dez anos mais jovem do que lorde Aynsley. E ele era mais alto, também. O sr. Lyle ganhou mais um ponto por ser mais saudável. Pois o fato de lorde Aynsley ser uns quinze anos mais velho que ela representava uma possibilidade de viuvez a curto prazo, e ela não desejava isso. Lorde Aynsley, contudo, era mais rico do que o sr. Lyle- com relação aos filhos de lorde Aynsley, Maggie decidiu não marcar isso em nenhuma das colunas por achar injusto. Assim como ela achou injusto marcar a ausência de fortuna do sr. Lyle. Porém, este ganhou um ponto por sua inteligência. Não que lorde Aynsley não fosse inteligente também. A verdade era que o sr. Lyle tinha raciocínio rápido e uma vasta gama de interesses. Lorde Aynsley gostava em demasia de falar sobre esportes, assunto que ele acabava levando muito além das expectativas dela.

Lorde Aynsley teve um ponto a menos por sua falta de ocupação, ainda que ela soubesse que os homens da classe social dele não tinham de trabalhar. Ela apreciava a devoção do sr. Lyle ao seu trabalho no ministério.

Seu anfitrião, que só por diversão fora incluído na lista, recebeu uma marca no quesito mau humor. Quanto à personalidade, a de lorde Aynsley era extremamente monótona se comparada a do sr. Lyle.

Quando ela terminou, percebeu que se tivesse de passar o restante de sua vida com um deles, deveria ser com o sr. Lyle. com o tempo, ela poderia aprender a amá-lo.

O pedido de lorde Aynsley veio primeiro. Maggie suspeitava que ele já quisesse fazê-lo havia alguns dias, mas não conseguia porque o sr. Lyle estava sempre junto deles.

No dia do pedido, lorde Aynsley chegou mais cedo e não fez nada para esconder a sua alegria pela ausência do sr. Lyle. Ele olhou para Rebecca, que estava lendo um livro perto da janela e convidou Maggie para dar um passeio pelo jardim, pois ele queria ter uma conversa em particular com ela.

Maggie ficou sem fôlego e suas pernas tremiam.

Os dois seguiram para o jardim que ficava atrás da Mansão Warwick. Apesar do frio, o sol brilhava. O coração dela estava disparado.

- A senhora deve estar se perguntando qual o motivo desta conversa, milady?

O olhar dela encontrou os olhos esverdeados de lorde Aynsley.

- Se o senhor deseja me pedir em casamento, milorde, devo dizer-lhe que meus sentimentos estão voltados para outra pessoa.

A expressão de entusiasmo dele desapareceu no mesmo instante.

Maggie sentiu pena dele.

- É pelo sr. Lyle? - ele perguntou. - Ele não tem dinheiro.

- Espero não ser tão superficial a ponto de me interessar por um homem somente por sua fortuna. - Ela o olhava de frente.

- Estou lisonjeada por seu interesse por mim. O senhor é um homem muito digno, e espero que o senhor encontre uma mulher que corresponda ao seu amor.

Maggie sentia por ter dado esperanças a ele e também por dispensar um pretendente como ele.

- O sr. Lyle já lhe fez o pedido?

- Não - ela sussurrou.

- Ele fará.

Então lorde Aynsley despediu-se dela.

Edward lastimava a noite em que aquela mulher insana havia invadido a sua casa. Se alguém tivesse contado a ele, uma semana atrás, que ele poderia trair as suas obrigações numa conversa tola, ele jamais acreditaria. Naquela noite, ele contou a ela o verdadeiro motivo que o levou a acolhê-la em sua casa. Se ela estivesse envolvida em alguma trama maldosa, ele havia acabado de desperdiçar qualquer chance de apanhá-la em uma armadilha. Mas, depois de analisar por uns dias a sua distração, Edward concluiu que isso não iria causar nenhum dano. Mas, pelo contrário, o fato só serviria para dar mais trabalho a ela e a seu possível comparsa para conseguirem o que pretendiam.

Por mais aborrecido que ele estivesse por Maggie o estar evitando, ele não podia culpá-la. Afinal, ele a havia humilhado.

Edward tentava se convencer de que no fundo a reclusão de Maggie estava sendo benéfica para ele. Na noite anterior, ele nem sonhara com ela. O que já era um bom sinal. Edward estava se odiando por não ter sido forte o suficiente para resistir ao charme dela. Agora ele podia redirecionar todos aqueles pensamentos luxuriosos para a mulher com quem ele iria compartilhar o restante de sua vida, sua querida Fiona.

Por que, então, ele se sentia tão mal? Claro ele havia traído Fiona e mesmo que ela nunca soubesse, ele saberia. E não era só isso, ele havia tirado vantagem da fragilidade emocional de Maggie.

Apesar da aversão que ela, agora, nutria por ele, Edward sentia-se na obrigação de permanecer em casa e guardar pela segurança dela.

Edward detestava ter de admitir que estava sentindo falta de Maggie. Ele sentia falta das noites agradáveis, em frente da lareira, jogando xadrez.

Naquele momento, Edward sentia vontade de procurá-la e dizer a ela quais eram os seus verdadeiros sentimentos. Sentimentos estes, bem distintos dos que ele nutria por Fiona.

De repente, a porta de sua biblioteca se abiu lentamente. O coração de Edward acelerou ao imaginar o rosto jovial de Maggie entrando.

Mas não foi ela quem entrou. Foi Wiggins, trazendo a correspondência.

Edward examinava as cartas, quando reconheceu a maravilhosa caligrafia de Fiona e rasgou o envelope na ânsia de ler a carta.

Meu querido lorde,

Minhas palavras não são suficientes para expressar a falta que me faz uma carta sua, para atenuar a solidão que sinto, desde a morte de minha querida mãe. Foi com grande alegria que, finalmente, recebi uma carta sua, e o simples fato de saber que foi escrita pelas mãos daquele que amo, fez-me sentir confortada.

Meu coração se compadece pela viúva de seu tio. É muita bondade de sua parte oferecer sua hospitalidade para alguém que já perdeu tanto. E por não possuir uma irmã, desejo conceder todo o meu afeto à querida condessa como a uma irmã. Por favor faça sua tia saber que será sempre bem-vinda em Windmere Abbey.

Devido a nossa dolorosa perda, os dias aqui têm sido muito austeros. As únicas coisas que me trariam alguma felicidade seriam ver o seu querido rosto e ouvir a sua voz que há tanto tempo não ouço.

Desculpe-me pelo tom sentimental desta carta, meu querido lorde Warwick. Mas meu espírito está tomado pela tristeza, tristeza esta que só pode ser apagada pela presença de uma única pessoa.

Com carinho, Fiona

Se não tivesse de cuidar de Maggie, Edward sairia correndo para Fiona naquele instante. Desejava poder levar um pouco de consolo para sua amada.

Ele sentia-se pronto para se libertar de Maggie, para assumir sua antiga rotina, para casar-se com a doce Fiona. Mas, primeiro, Maggie tinha de encontrar um bom marido.

O que ele poderia fazer para apressar as coisas? Levá-la ao Almack. Esta era a solução, afinal, ela já havia passado horas e horas com aqueles dois pretendentes e parecia que nenhum deles servia. Era quarta-feira e à noite a nata da sociedade londrina estaria no Almack.

Ele chamou Wiggins, e minutos depois o mordomo já estava na biblioteca.

- Pois não, milorde?

- Por favor, avise a sita. Peabody e a condessa que nós iremos ao Almack hoje à noite.

- Está bem, milorde.

 

Após tantos dias de confinamento, Maggie estava ansiosa para sair de casa, mesmo que isso significasse ter de dividir uma carruagem com o odioso lorde Warwick. A perspectiva de conhecer a elegância da noite londrina e poder dançar com cavalheiros bem-nascidos deixou Maggie muito animada. Em especial, por Rebecca. Ainda que a irmã não se sentisse pronta para o casamento, Maggie desejava expandir os interesses limitados da irmã, desejava que ela conhecesse mais sobre a vida que existia além das páginas dos livros.

Maggie se empenhou em arrumar a irmã para o baile. E seus esforços foram recompensados. Rebecca trajava um vestido marfim, drapeado nos ombros. Seus cabelos estavam presos ao estilo romano e adornados com pequenos e delicados botões de rosa, da mesma cor do vestido. A senhorita estava estonteante, e sem óculos.

- Rebecca, querida, você está linda! - Maggie disse à irmã. Rebeca olhou-se no espelho.

- Nunca imaginei que poderia ficar assim. Espero que eu não tropece a noite toda, pois fico quase cega sem meus óculos.

- Eu não me preocuparia com isso, pequena. Tenho certeza de que não lhe faltarão braços masculinos a fim de ampará-la. - Maggie estava orgulhosa da irmã. - Acho melhor nós não fazermos o ogro esperar muito.

- Como você pode chamar nosso anfitrião de ogro, quando ele tem sido tão gentil conosco?

- Ele só está sendo gentil porque recebeu ordens do igualmente odioso lorde Carrington. A dupla pensa que sou uma espiã.

- E para quem eles pensam que você está trabalhando? perguntou Rebecca, de olhos arregalados.

- Para os franceses, eu acho.

Apesar de Maggie tentar se convencer de que ela não se importava com o que o odioso lorde Warwick pensava, isso na verdade lhe incomodava muito. Ao descer a escada ao lado de Rebecca, a pulsação dela acelerou. E quando ela o viu parado e lançando-lhe o olhar com aquelas íris penetrantes, as batidas de seu coração dispararam.

- A sita. Peabody está adorável - Edward elogiou.

"E eu?", pensou Maggie. O homem por acaso não a vira? Ele não iria falar com ela?

- Se ela não dançar a noite toda - disse Maggie - terei de declarar que todos os ingleses são cegos.

Maggie havia quebrado o gelo. Agora ele falaria com ela?

- Concordo - ele respondeu. - Não acredito que haja moça mais bonita em Londres.

Então para a total humilhação de Maggie, ele ofereceu o braço a Rebecca.

Apesar de tudo, Maggie estava feliz por lorde Warwick estar se empenhando em deixar Rebecca mais à vontade na noite de seu primeiro baile em Londres. Se o lorde convidasse Rebecca para a primeira dança, a aceitação de sua irmã seria certa. Ele era rico, bonito e nobre. Todos os presentes notariam o belo casal.

Maggie tentava não olhar para Edward, pois ele estava maravilhoso em seu fraque preto. Não havia dúvidas de que todas as mulheres iriam suspirar por ele detrás de seus leques.

Na sala de recepção do Almack, lorde Warwick apresentou Maggie aos patronos do clube. Para alívio dela, o sr. Lyle logo apareceu e convidou-a para a primeira dança, uma alegre quadrilha. Durante a dança ela podia observar lorde Warwick caminhando com Rebecca pelo salão, apresentando-a aos jovens cavalheiros que provavelmente nem se barbeavam ainda.

Maggie não pôde deixar de perceber que praticamente todos os olhos femininos estavam voltados para Edward.

Ela resolveu fixar o olhar em seu parceiro de dança. Pelo menos o sr. Lyle era alto. Maggie preferia dançar com homens altos.

- Devo lhe confessar, milady, que a sua beleza me deixa sem fôlego - disse o sr. Lyle.

Maggie sorriu.

- Sr. Lyle, se o senhor estivesse realmente sem fôlego como conseguiria falar.

Maggie e Rebecca foram convidadas para todas as danças. Maggie conseguia se lembrar apenas da metade dos nomes dos cavalheiros que lhe pediram permissão para visitá-la na Mansão Warwick, no dia seguinte. Havia um tal de sir Percival que era um janota de Kelly Green, um sr. Brighton que era um homem de meia-idade, o promissor lorde Helfington, um sr. Campbell da Escócia e outros tantos que caíram no esquecimento.

Uma hora depois de o baile ter-se iniciado, lorde Carrington entrou no salão sob vários murmúrios. Maggie estava dançando com o sr. Lyle e perguntou a ele:

- Por que lorde Carrington atrai tanta atenção?

- Porque ele nunca vem ao Almack. As senhoritas que acabaram de sair da escola não fazem o seu estilo.

Assim que aquela dança terminou, lorde Carrington se apressou para ir ao encontro de Maggie.

- Lady Warwick, permita-me dizer que a senhora está maravilhosa.

Ela lhe ofereceu a mão, e ele beijou-a.

- Obrigada, milorde.

- Peço que a senhora me conceda a honra da próxima dança. Vendo que lorde Warwick se aproximava deles, ela deu um grande sorriso para lorde Carrington e aceitou o convite.

Lorde Carrington era um exímio dançarino, ele tinha uma postura de nobre e os passos leves.

- A senhora sabe algo sobre o trabalho de lorde Warwick?

- Lorde Carrington perguntou.

- Tenho uma vaga ideia, pois o lorde não compartilha nenhuma informação comigo por pensar que sou uma espiã.

- Mas a senhora não é mais suspeita de ser uma espiã. Na verdade, gostaria que a senhora prestasse um serviço ao nosso governo.

- Milorde - ela disse com um certo espanto -, mas que tipo de serviço eu poderia prestar?

- Há um traidor no Ministério das Relações Exteriores - ele sussurrou.

- E quem seria?

- Somos quatro, no ministério: eu, lorde Warwick, Lyle e Kingsbury. Todos sabiam da sua chegada a Londres. Um deles é o traidor.

Ele falou um pouco mais alto.

- Gostaria que a senhora observasse todas as atividades do lorde Warwick.

Maggie tinha a sensação de que lorde Carrington havia enterrado um punhal em seu peito. O traidor não podia ser lorde Warwick! Apesar de seu recente desafeto por ele, ela reconhecia o valor de seu caráter. Ele jamais trairia seu país.

Ela permaneceu muda, por alguns instantes. com certeza lorde Carrington iria rir e dizer que suas acusações não passavam de uma brincadeira.

- Sei que a senhora está passando por dificuldades financeiras

- ele disse. - Pagarei uma boa quantia por qualquer informação que possa me dar, revelando algo sobre a cumplicidade de Warwick com seu falecido marido, ou qualquer documento que ele possa ter. com duzentas mil libras por ano para o restante de sua vida, acredito que não sentirá pressa de encontrar um noivo.

Agora, Maggie compreendia! Lorde Carrington ainda pensava que ela era uma espiã, mas agora ele queria pagar pelos seus serviços.

De acordo com o raciocínio de lorde Carrington, ela aceitaria o dinheiro dos ingleses, assim como o dos franceses. Por que ele estava dizendo aqueles absurdos?

As acusações contra o lorde VVarwick faziam parte de um plano?

Lorde Carrington falou novamente, e desta vez o que ele disse a abalou ainda mais.

- Acabei de descobrir que o homem que conhecemos como Warwick é um impostor.

- O que o senhor quer dizer com isso?

- O verdadeiro lorde Warwick morreu há dezoito meses e não deixou herdeiros.

- Não pode ser! Ele era o tio do lorde Warwick.

- Isto foi o que o homem que conhecemos como lorde Warwick disse. O falecido nobre era um recluso, e ninguém sabia nada sobre ele. Quando Edward reivindicou o título, foi natural que todos acreditassem nele.

A desilusão que Maggie havia sofrido poucas noites antes, ao saber o motivo que levara Edward a permitir que ela permanecesse em sua casa, não se comparava a esta nova revelação. Como pudera se enganar daquela maneira?

- Se me permite, milorde - ela disse ofegante-poderíamos tomar um refresco?

Enquanto lorde Carrington entregava um copo de limonada para a trémula Maggie, Edward veio ao encontro deles. Assim que se aproximou, percebeu que algo a perturbava.

- A senhora está bem, milady?

Não havia dúvidas de que ela parecia estar tão assustada como na noite da tempestade.

- Sim, só estou um pouco cansada.

- Ainda tem tido problemas para dormir?-Edward perguntou.

- Meus hábitos noturnos não interessam ao senhor, milorde. Edward ficou um pouco constrangido.

- Não esperava que estivesse tão zangada comigo. Acho que nesse caso a senhora não me concederia a honra da próxima dança.

Maggie percebeu lorde Carrington acenar com a cabeça, numa ordem silenciosa para que ela fosse agradável com lorde Warwick.

- Como eu poderia recusar uma dança a um cavalheiro que tem sido um anfitrião tão gentil? - ela disse com sarcasmo, estendendo a mão para ele.

Enquanto dançavam uma valsa, Edward falou com voz terna:

- O que está acontecendo, Maggie? O coração dela disparou.

- Por que acha que está acontecendo alguma coisa?

- Não acho. Eu sei. Você está com o mesmo rosto assustado que estava no dia da tempestade.

Ele a conhecia muito bem.

- Eu lhe asseguro que não estou com medo de nada. Acho que meu desconforto é devido ao calor que está fazendo aqui.

- Gostaria de tomar outra limonada? Nós poderíamos parar perto de uma das janelas abertas.

- Eu ficarei bem. Acho que estou um pouco cansada. Como naquele dia, na pousada, Edward a estava tratando com extrema cortesia. Maldito... Nenhum homem prestava. Como ela pôde entregar seu coração por duas vezes a dois homens que não valiam nada?

Durante todo o baile, Edward só dançou com Maggie e com a srta. Peabody. Torturou-se durante a noite toda, olhando para Maggie, enquanto uma fila de cavalheiros lhe fazia a corte. Ela tinha de dançar tão perto de lorde Helfington? Precisava sorrir para todos eles com tanta graça?

Edward apertou a mão de Maggie e a trouxe para mais perto.

- Ando preocupado desde aquela noite, quando você abandonou o jogo de xadrez - ele disse. - Tenho tentado me desculpar há dias, mas você tem me evitado.

- Está desculpado. Agora podemos esquecer esse assunto?

- Não, não podemos. Não acredito que você seja uma espiã. Desde a noite em que nos conhecemos, nunca achei que você fosse uma espiã, e tenho tentado expressar minha opinião sobre este assunto com lorde Carrington.

Quanta gentileza, milorde! Agora o senhor está feliz?

Por favor, Maggie - pediu Edward, pressionando a mão em sua cintura e puxando-a para mais perto.

Contrafeito, não falou mais nada durante o restante da valsa. Quando a conduziu para fora da pista de dança, pelo menos meia dúzia de cavalheiros a abordaram.

Quando a noite estava chegando ao fim, Edward encontrou Maggie e Rebecca pegando seus xales. Olhou para Maggie e em silêncio ofereceu-lhe o braço, conduzindo ambas para fora a fim de esperarem pela carruagem.

Quando já estavam na carruagem por uma hora e meia, Edward dirigiu-se a Rebecca.

- A senhorita foi um sucesso. Não tenho dúvida de que amanhã a Mansão Warwick estará repleta de flores enviadas por seus admiradores.

- E para Maggie também - ela disse com voz vibrante.

- Você gostou do Almack, pequena? - Maggie perguntou.

- Achei que não iria, mas gostei. É muito bom ter vários cavalheiros nos cortejando, não é, Maggie?

- Não sou uma autoridade neste assunto - ela disse com falsa modéstia.

Edward riu.

- O que o senhor acha tão engraçado? - perguntou Maggie.

- A senhora poderia dar aulas a todas as mulheres daquele baile de como seduzir os homens.

De repente, o cocheiro parou. Eles ouviram vozes de homens cercando a carruagem, e em seguida a porta foi aberta por um sujeito grande e forte, usando um tapa-olho. Outro homem, sem um dos dentes da frente, ordenou que todos saíssem da carruagem. Havia ainda um terceiro, de estatura baixa, todos armados com punhais longos e de lâminas brilhantes.

- Não se movam - Edward falou em voz baixa para elas.

- Não permitirei que o senhor dê ordens a estas senhoras - ele falou ao homem.

O homem riu alto. Então ele olhou para Maggie e Rebecca.

- Qual das duas é Maggie, a condessa de Warwick? O coração de Edward quase parou.

- O senhor pegou a carruagem errada - Edward falou sem dar chance a Maggie de responder. - Nenhuma delas é a lady Warwick.

Então a outra porta da carruagem se abriu, e o homem baixo entrou e tentou puxar Maggie para fora.

- Esta aqui é a condessa, ela está usando um vestido branco com detalhes prateados.

Edward acertou um soco certeiro no queixo do homem que caiu para trás, já com todo o peso de Edward em cima dele. Os esforços do homem para tentar escapar foram inúteis. com mais alguns golpes, Edward facilmente deixou-o desacordado.

Então Edward ouviu Maggie gritando por seu nome para alertá-lo sobre os outros dois que estavam prontos para atacá-lo, agitando um punhal. A pulsação de Edward acelerou, ele sabia que não seria páreo para os dois mesmo que estivesse armado. Ele recuou, insultando-os.

- Os senhores são uns covardes. Sou apenas um contra vocês dois!

As palavras dele não causaram nenhum efeito nas consciências deles. Como uma onda feroz, eles vieram para cima. Quando o homem que estava mais próximo de Edward se aproximou ainda mais com um golpe ligeiro, Edward derrubou o punhal dele. Em seguida, ele se abaixou rapidamente e pegou o punhal, ao mesmo tempo o maior deles pulou em cima de Edward, tentando desarmá-lo.

O homem tinha uma força incrível, e Edward sabia que não conseguiria aguentar por muito tempo. Ele tentou se esquivar, mas o outro deles estava logo ao lado, já tentando segurá-lo também.

Quando as forças dele já estavam desvanecendo, Edward fingiu estar derrotado, fechando os olhos e virando o rosto.

Então quando o bruto relaxou, Edward cravou o punhal no ombro do homem. Este gritou e deu um pulo para trás, colocando a mão sobre o ferimento que sangrava muito.

Em seguida, Edward ouviu o estrondo de um tiro. Um dos homens xingou e caiu no chão. O outro começou a correr. Edward girou e viu que seu cocheiro havia encontrado o rifle que estava guardado embaixo de seu acento.

- Rápido! - Edward gritou. - Vamos tirar estas mulheres daqui.

Edward se sentou ao lado do cocheiro, segurando o rifle, enquanto este já estava segurando as rédeas.

Logo eles estavam na Curzon Street. Edward se culpava por ter tirado Maggie de casa.

Ele ficou pensando se um dos três homens que os atacaram seria o assassino do sr. Bibble. A visão do cadáver do homem surgiu em sua mente, e ele tentou apagá-la. Aquilo poderia ter acontecido com Maggie.

Assim que pararam em frente à mansão, Edward tomou uma decisão. Ele disse ao cocheiro que pegasse tudo o que fosse necessário para uma viagem e que estivesse pronto em uma hora.

Edward desceu rapidamente da carruagem e abriu a porta para as damas.

- As senhoras estão feridas?

- Não, graças ao senhor, milorde - respondeu Rebecca. Os olhares de Edward e Maggie se encontraram, e os olhos dela pareciam que iam saltar. Ela tremia muito, e ele a ajudou a descer da carruagem. Em seguida, foi a vez da sita. Peabody receber assistência.

Quando já estavam dentro da casa, ele pediu que elas fossem para a biblioteca.

A sala estava gelada. Ele fechou a porta e encarou as duas.

- Gostaria que as senhoras arrumassem suas malas. Vamos viajar para o interior - ele disse com firmeza na voz. - Partiremos hoje à noite e não revelaremos nosso destino a ninguém. Nem mesmo aos nossos empregados.

Edward sabia que eles não poderiam confiar em ninguém. Como um dos agressores sabia que o vestido de Maggie era branco com detalhes prateados? Isso significava que alguém próximo a Maggie a havia traído. No mesmo instante, ele se lembrou que Harry Lyle e lorde Carrington estavam presentes no Almack. Um deles poderia ser o traidor.

Porém no dia seguinte, quando tentassem descobrir o paradeiro de Maggie, eles já estariam longe e a salvo.

- Para onde vamos, milorde? - Maggie perguntou.

- Contarei quando estivermos na carruagem.

- Posso levar Sarah? - Maggie perguntou novamente.

- Infelizmente, não. - Sabendo que Maggie era muito ligada à mulher, ele completou: - Deixarei instruções aos meus empregados para que a tratam com toda a solicitude.

- Obrigada - Maggie respondeu. - Milorde, posso levar Tubby?

Ele franziu a testa.

- Creio que a senhora terá de deixá-lo com Sarah. Graças a Deus que Maggie aceitou suas ordens em silêncio. Menos de uma hora depois, com um sabre em sua cintura, Edward conduzia as damas para a carruagem. Antes de entrar, ele perguntou ao cocheiro:

- Algo suspeito?

- Não, milorde - o cocheiro respondeu. - Nenhuma alma passou pela rua.

- Ótimo. - Edward subiu na carruagem sentando-se ao lado de Maggie, que estava trajando um vestido de lã com seu casaco vermelho por cima. - As senhoras estão confortáveis? Irão precisar de outro cobertor?

- Estamos bem - Maggie respondeu - apesar de ainda estarmos atordoadas.

- Não tenho dúvidas quanto a isso - ele disse.

- Eu tremo apenas em imaginar o que aqueles monstros poderiam ter feito a Maggie - comentou Rebecca. - Serei sempre grata ao senhor, milorde, por salvar a vida de minha irmã.

- Sim, milorde - Maggie completou. - Estarei sempre em débito com o senhor.

- Era meu dever defender a senhora.

Após terem se afastado um pouco de Londres, Rebecca perguntou:

- Gostaria de saber, milorde, para onde estamos indo?

- Para Yorkshire.

- É lá que fica a sua residência de campo, milorde?-Maggie perguntou.

- Não. As pessoas que estão atrás de nós sabem onde ficam as minhas propriedades de campo e com certeza serão estes os lugares onde irão procurar primeiro.

Edward sugeriu às damas que tentassem dormir um pouco, pois eles só parariam em uma estalagem quando estivessem mais distantes de Londres.

De lá Edward poderia escrever para Fiona para avisá-la da iminente visita.

Quanto mais se afastavam de Londres menos barulho havia, e o único som que eles ouviam eram os ruídos das rodas da própria carruagem deles.

A srta. Peabody caiu em sono profundo.

- Eu acho - ele disse a Maggie - que a senhora terá de contar para sua irmã a verdade sobre Andrew Bibble. Ela precisa estar bem informada sobre o tipo de perigo que está correndo.

- Sim - Maggie concordou - ela precisa saber. O senhor acha que na ânsia de me pegarem eles poderiam ter ferido Rebecca também?

- Acredito que não, mas é uma possibilidade.

O silêncio se estabeleceu entre eles novamente. Edward observava, através de sua janela, a noite escura.

- Nós estamos indo para a residência de lady Fiona? - Maggie finalmente perguntou.

- Como a senhora sabe?

- Acredito que o senhor mencionou que ela mora em Yorkshire.

- A senhora estará segura lá.

- Achei que o senhor não queria que eu a conhecesse. Para ser mais preciso, ele havia dito a Maggie que não queria que Fiona visse o quanto ela era bonita.

-Tive de mudar de ideia. A última carta que recebi dela falava da senhora. Ela expressou o desejo de conhecer a pobre condessa que já havia perdido tanto.

Maggie riu.

Como Fiona poderia ver Maggie, e não ficar tomada de ciúme? Fiona enxergaria nos olhos dele o desejo voraz que ele sentia por Maggie? Edward esperava que, quando visse a beleza doce de Fiona novamente, conseguisse superar todo aquele desejo ardente que ele sentia por Maggie.

Maggie imaginava que Fiona poderia querer arrancar os seus olhos! O que Maggie podia entender muito bem era que ela mesma nutria uma verdadeira aversão por Fiona, apesar de nunca tê-la visto.

Mas ela não podia pensar sobre Fiona agora. Seus pensamentos estavam voltados para as acusações feitas por lorde Carrington. Como poderia um traidor ter arriscado a .própria vida daquela maneira? Ele era um homem honrado, e apesar das acusações de lorde Carrington, lorde Warwick merecia todo o seu respeito.

Na verdade, as suspeitas levantadas por lorde Carrington, sobre a falsa identidade de lorde Warwick, já haviam passado pela cabeça de Maggie. Ela achou estranho que ele tivesse sucedido ao título sendo o segundo filho, e quando ele contou a ela que o irmão dele havia morrido, ela teve a sensação de que ele estava escondendo algo. Agora, ela sabia o motivo.

Enquanto a carruagem sacolejava ao longo da estrada empoeirada, ela foi tomada por um pensamento terrível. E se lorde Warwick estava se afastando com ela de Londres para pôr em prática seus propósitos maléficos? E se a cena daquela noite foi encenada a mando dele com o intuito de conquistar a confiança dela. Então ela descartou seus pensamentos lunáticos, achando-os ridículos.

Embora Edward fosse um homem muito irritadiço, ele nunca havia feito nada que pudesse depor contra ele. Maggie confiava nele.

Uma certeza ela tinha: o responsável pelo acontecimento daquela noite com certeza estivera também no Almack. Ambos Harry Lyle e lorde Carrington estiveram lá. Claro que poderia ser qualquer outra pessoa, talvez alguém que ela nunca havia conhecido.

Devido à amabilidade de Harry, ela não acreditava que poderia ser ele o culpado. Muito menos lorde Carrington, que parecia ser apaixonado por seu precioso Ministério das Relações Exteriores. Além do mais, um sangue azul com uma tradição de gerações na Inglaterra e que tinha mais dinheiro do que ele podia gastar, não tinha motivos para trair seu próprio país.

Maggie bocejou.

- Cansada? - Edward perguntou num tom suave. Ela concordou com um aceno.

- Esta noite não está sendo fácil.

- Estaremos em St. Albans em pouco tempo - ele disse. Pararemos lá por algumas horas para descansar.

Maggie recostou-se na janela da carruagem. Duas horas depois, eles pararam numa estalagem em St. Albans.

 

Antes de se recolher para dormir, Edward escreveu uma carta para Fiona.

Querida Fiona,

A profunda melancolia que percebi em sua última carta causou-me grande pesar. Espero que a visita do cavalheiro, que você honrou de maneira tão especial, conforte-a em seu doloroso período de luto.

Perdoe-me por estar lhe enviando tão poucas linhas, mas gostaria de avisar que receberá uma visita minha antes que esta semana termine. Por razões que irei esclarecer quando estivermos juntos, peço-lhe que não comente com ninguém sobre este próximo encontro.

Sempre seu, Warwick

P.S.: Devido ao seu gentil convite, a viúva de meu tio e sua irmã me acompanharão.

Antes de enviar a carta, Edward releu-a. A maneira casual como havia mencionado Maggie o deixou satisfeito.

Em seguida, ele tirou as botas e se jogou na cama macia. Somente naquele momento, ele percebeu como estava dolorido.

Algum músculo de seu ombro havia se distendido durante a briga. A dor era tão intensa que ele mal conseguia se mover para tirar a própria camisa ou para qualquer outra coisa. Ele tinha certeza de que havia um imenso ferimento em seu braço esquerdo. Edward estremeceu de dor na tentativa de se acomodar numa posição mais confortável.

Apesar do imenso cansaço que Edward sentia, ele não conseguia dormir. Em parte pela intensa dor que sentia, porém mais pela preocupação com a segurança de Maggie.

Edward, então, saiu de seu quarto e se dirigiu até a porta do quarto de Maggie e da srta. Peabody. Os passos dele eram leves como os de um gato, ele parou em frente à porta do quarto e prestou muita atenção para tentar ouvir algum ruído estranho. Estava tudo quieto. Ele sorriu aliviado e jurou proteger a vida das damas com sua própria vida. Ele não poderia baixar a guarda até a chegada deles em Windmere Abbey.

Em seguida, ele desceu a escada para o andar térreo onde ouviu alguns sons abafados que vinham da cozinha. Quando o estalajadeiro viu Edward, ele cruzou a sala para cumprimentá-lo.

- O senhor despertou muito cedo, milorde.

- Sim, mas vou aguardar pelos outros até às nove. Os cavalos precisam estar bem descansados para o restante da viagem, e meu cocheiro tem de dormir um pouco, pois ele terá de nos conduzir durante o todo o dia e noite também.

- O senhor deve chegar logo ao seu destino?

Edward fez uma pausa para pensar. Que destino ele iria falar que estava seguindo?

- Na verdade ainda falta muito, estamos indo para Shropshire. Após a breve conversa, Edward resolveu voltar para seu quarto.

Lá ele tomou um chá e tentou descansar um pouco.

Quando já eram quase nove horas, ele se levantou, vestiu uma camisa limpa e se aprontou para descer. Em seguida, ele se dirigiu para o quarto das damas. Ele bateu na porta uma vez. Nada. Bateu novamente, então ouviu o som inconfundível de vozes femininas.

- Quem está aí? - Era Maggie perguntando.

- Warwick - ele respondeu. - As senhoras conseguiriam descer em vinte minutos para o café da manhã?

- Creio que precisaremos de bem menos do que isso, milorde. Afinal não estamos indo para um baile - Maggie respondeu.

A presença dele parecia não despertar uma grande preocupação para com a elegância de Maggie. A mulher não tinha nenhum interesse nele. Se o tivesse, ela não teria dispensado o pedido de casamento dele.

- Quantos quilómetros o senhor acredita que poderemos avançar hoje? - Maggie perguntou, quando já estavam sentados à mesa para o café da manhã.

- Espero que Rufus consiga conduzir durante mais umas duas horas ao entardecer, uma vez que nesta época do ano escurece cedo. Se tudo correr bem, estaremos em Cambridgeshire à noite.

- Ele mudou o tom de voz. - Acredito que não preciso avisar que nosso destino não deve ser revelado a ninguém. Eu disse ao estalajadeiro que estamos indo para Shropshire.

- Minha irmã já sabe de tudo - Maggie disse. - E sabe da importância de nossa viagem.

- Ótimo.

com um certo espanto na voz, Maggie falou a Edward:

- Quando penso em Shropshire, lembro-me do pobre lorde Aynsley.

- Por falar em Aynsley, fiquei chocado por não encontrá-lo no Almack na noite passada. Será que ele recebeu algum chamado urgente? Se o homem estivesse em Londres, nada o impediria de ir ao baile para dançar com a senhora e cuidar para que o sr. Lyle ficasse o mais distante possível da senhora!

com uma expressão de arrependimento, Maggie disse:

- Temo que não voltarei a vê-lo tão cedo.

A sala caiu num silêncio mortal por um momento.

- A senhora disse não à proposta de casamento dele?

- Como o senhor sabia?

- O homem é um livro aberto.

Enquanto lorde Warwick encarava Maggie, ela sentia-se como um cavalo sendo exibido em um leilão.

.- Então um título não significa muito para a senhora?

- Aparentemente não - Maggie respondeu.

- Isso significa que a senhora já se decidiu com quem irá se casar?

Aquilo certamente não era problema dele.

- Na verdade, sim; já escolhi.

- Eu poderia saber quem foi o escolhido?

-Fiz uma lista com os atributos do sr. Lyle e do lorde Aynsley, assinalando as qualidades e os defeitos de cada um deles.

- Isso significa que o sr. Lyle possui mais qualidades do que lorde Aynsley?

- Sim, ele tem.

- Eu poderia saber quais são as qualidades do sr. Lyle? Edward estava cheio de curiosidade.

Maggie o encarou.

- Aprecio o fato de ele não ser um homem idoso, de ter um bom senso de humor e por ele não permitir que o senhor fale de maneira áspera com ele, mesmo sendo o senhor um nobre.

Por que lorde Warwick não reagia ao que ela acabara de dizer? O homem estava sentado lá, olhando para ela com uma expressão de calma estampada no rosto.

- Então devo felicitá-la?

- Não ainda - ela retorquiu. - O sr. Lyle não fez o pedido. Eu nem mesmo sei se ele se encontra em posição de fazê-lo, mas se o fizer eu aceitarei.

Pelo menos era o que ela havia planejado, antes de o sr. Lyle se tornar um suspeito.

Lorde Warwick balançou a cabeça.

- Então a senhora está planejando passar o restante de sua vida com um homem cuja melhor qualidade é se impor contra o malvado lorde Warwick?

- Eu nunca disse que o senhor era malvado. - Ela olhou para Rebecca, que estava sentada, lendo um livro. - Por favor, Rebecca. Você ainda não tocou no seu café da manhã.

Sem nem mesmo olhar para Maggie, Rebecca pegou um pedaço de pão e colocou na boca.

Então a atenção de Maggie se voltou para Edward.

- Acho que minha irmã quer ler o máximo que puder antes que entremos na carruagem.

- Suponho que ela fique nauseada quando lê dentro de um veículo em movimento? - ele perguntou.

- O senhor sofre da mesma enfermidade? - Maggie inquiriu.

- Por que a senhora pergunta?

- Devido ao seu enjoo em navegar. Rebecca também o tem. Maggie pôde perceber uma certa ira no rosto dele. Não havia dúvidas de que ele pensava que enjoo não era coisa de homem.

- Eu simplesmente não gosto de barcos. Maggie estampava um sorriso sapeca no rosto.

- Não tem nada de embaraçoso em sentir indisposição estomacal!

- Eu nunca disse que tenho indisposição nenhuma! - ele protestou.

- Apesar de nossa breve familiaridade, acredito que eu já o conheça bem.

Maggie sentiu o calor subindo pelo seu rosto ao se lembrar do quanto ela o conhecia bem.

- Assim como eu a conheço, Maggie - ele falou num suspiro rouco.

Será que ele também se lembrava de seus corpos úmidos e nus, sob as cobertas da cama da estalagem?

Quando terminaram de comer, Edward pediu gentilmente que o estalajadeiro embalasse um pouco de comida para a viagem.

Já na carruagem Maggie perguntou a Edward quantos dias duraria a .viagem. Ele respondeu que se o tempo continuasse bom eles chegariam em Windmere Abbey em quatro dias.

Maggie não sabia se rezava para chover ou não. Assim como ela não apreciava o tédio de viajar por horas a fio em uma dêsconfortável carruagem e se hospedar em estalagens igualmente desconfortáveis, ela gostava ainda menos da perspectiva de ficar cara a cara com a tal lady Fiona Hollingsworth.

Desta vez Edward decidiu se sentar ao lado da srta. Peabody. A proximidade de Maggie era inquietante. Entretanto, ele não havia calculado o quanto era difícil ficar de frente para aquele belo rosto, observando aquela pele de porcelana, o encanto daqueles olhos castanhos, as curvas de seu maravilhoso corpo.

- O senhor não dormiu, não foi? - Maggie perguntou numa voz macia.

- Como a senhora sabe?

Edward realmente sentia-se muito cansado.

-Eu já lhe disse. Estou conhecendo o senhor cada vez melhor.

Por que cada palavra que ela pronunciava precisava soar tão sedutora?

Edward tentou recostar na carruagem, mas quando seu ombro tocou a lateral, ele estremeceu.

- O senhor está ferido! - ela disse.

- Não é nada.

- Aposto que ele se machucou durante a briga - Rebecca falou.

- Damas não apostam - Maggie disse, então se dirigiu a Edward. - O senhor está muito ferido?

- Estou só um pouco dolorido.

Maggie viu uma expressão de dor no rosto dele.

- Eu me sinto tão culpada pelo senhor ter-se ferido, quando estava lutando para me proteger.

- Eu já lhe disse, não é nada.

- Onde mais o senhor sente dor? - Maggie perguntou apreensiva.

- Estou com um braço contundido e o ombro sensível.

- Quando estivermos na estalagem à noite, o senhor terá de deixar que eu examine o seu ombro - disse Maggie.

- Maggie tem muita habilidade para curar as pessoas - Rebecca assegurou.

Edward, entretanto, não estava gostando da ideia de deixar Maggie tocar em seu ombro nu, novamente.

- Isso não será necessário - ele respondeu. Maldita mulher!

Edward tentou recostar. Apesar de seu extremo desconforto, ele conseguiu dormir um pouco durante as três horas seguintes.

Ao entardecer, quando o sol já estava se pondo, Edward já estava sentindo uma fome voraz, apesar de eles terem comido a refeição que o estalajadeiro havia embalado.

Ele havia dito para Rufus não parar até chegarem a Market Deeping, mas Edward já não tinha certeza se ele aguentaria mais uma hora naquela maldita carruagem.

- O senhor deve pedir que o cocheiro pare na próxima cidade para procurarmos por uma taverna - disse Maggie.

- Por que a senhora diz isso? - ele perguntou.

- Porque é obvio que o senhor está morrendo de fome, milorde.

- Maldita mulher! - ele resmungou. Mas seguiu a sugestão dela.

Quando lorde Warwick estendeu o braço esquerdo para ajudála a descer da carruagem, Maggie viu que ele recuou, então ofereceu o braço direito.

- Não me importa o quanto o senhor diz que seu ferimento é insignificante - ela ralhou, pegando a mão direita dele -, sei que o senhor está realmente ferido.

- Estarei bem em um ou dois dias - ele disse, enquanto ajudava Rebecca.

Eles haviam chegado a uma pequena estalagem em Burymeade, onde o estalajadeiro estava muito feliz por receber pessoas tão finas em sua pequena estalagem.

Após retirar seu pesado casaco de lã, Maggie caminhou em direção à lareira e parou em frente ao fogo.

- É muito bom poder esticar as minhas pernas, após um longo dia de viagem.

Edward se aproximou de Maggie e Rebecca e se sentou em uma cadeira, próximo às damas.

- Ainda são seis horas, teremos tempo suficiente para descansarmos - observou Edward.

- A que horas partiremos pela manhã? - Maggie perguntou.

- Gostaria que tomássemos o café da manhã às cinco. Assim poderemos encarar mais doze horas de viagem.

A porta se abriu e uma matrona de avental entrou, segurando uma bandeja com comida quente. Os três acomodaram-se junto a uma mesa iluminada por uma única vela.

Edward já estava de muito bom humor, e Maggie imaginou que a comida pudesse estar colaborando. Por precaução, mais tarde, ela pediu para a mulher da estalagem que preparasse uma cesta com queijo e pães para a viagem do dia seguinte.

Maggie então dirigiu a palavra a sua irmã, que finalmente havia deixado o livro de lado.

- De todos os cavalheiros que você conheceu no Almack, qual deles a agradou mais?

Rebecca hesitou por um breve momento.

- Acho que foi o cavalheiro que estava estudando religião, após ter terminado seus estudos em Oxford. Não consigo me lembrar do nome dele, mas tenho certeza de que ele não era um nobre.

- Então a senhorita compartilha da mesma falta de interesse de sua irmã pelos títulos aristocráticos? - perguntou Edward. A senhorita já deve estar sabendo que sua irmã não aceitou a proposta de casamento de lorde Aynsley?

- Eu havia me esquecido - Rebecca disse -, mas agora que o senhor mencionou, eu me lembrei.

- Você, Becky, é a única moça que conheço que não se interessa por assuntos amorosos - observou Maggie.

- Acho este assunto muito enfadonho - respondeu Rebecca. Maggie começou a rir e encarou Edward.

- Tenho certeza de que ela mudará de ideia muito em breve. Ao se permitir encarar Edward tão de frente, Maggie se pegou admirando as curvas sensuais do rosto másculo dele, aquela boca sensual e aquele sorriso devastador. Ela se lembrou, então, do toque suave das mãos dele em seu corpo nu, e esta simples lembrança lhe causou uma dor muito profunda. Maggie precisava desviar seus pensamentos.

Mesmo depois de os pratos já terem sido retirados Maggie não sentia vontade de se recolher em seu quarto. Afinal, ainda não eram nem sete e meia.

- Agora que já terminamos o jantar e que tivemos uma conversa muito agradável à mesa, posso me retirar para o meu quarto e voltar a minha leitura? - Rebecca perguntou a Maggie.

- Nós não nos importamos que a senhorita leia aqui - comentou Edward.

Rebecca lançou um olhar para Maggie.

- Mas é que eu preferia poder ler acomodada em minha aconchegante cama.

- Nesse caso, acho que a senhorita tem razão-disse Edward. Maggie franziu a testa.

- Estarei lá, assim que fizer um curativo nos ferimentos do lorde Warwick.

Antes que Edward pudesse protestar, Rebecca falou à irmã com uma expressão de espanto em seu rosto.

- Você não pode ir ao quarto de um cavalheiro desacompanhada! A srta. Broom disse que até mesmo o mais educado dos cavalheiros pode perder a cabeça quando sozinho com uma mulher em um quarto. - Ela olhou para lorde Warwick. - Sem ofensas, milorde, mas o senhor é um homem solteiro.

- Nós não precisamos ouvir o que a santa srta. Broom colocou em sua cabeça - disse Maggie. - A srta. Broom era a governanta de minha irmã. - Ela explicou, desculpando-se com lorde Warwick.

Rebecca estava parada com as mãos na cintura.

- Eu lhe farei companhia no quarto do lorde Warwick.

- Você não fará tal coisa! Você já viu um homem sem camisa?

- Na verdade, sim! Maggie olhou-a assombrada.

- Na noite em que conhecemos o lorde Warwick.

- Ah, aquela ocasião não conta - disse Maggie com alívio.

- Você, agora, não verá um homem sem camisa até o dia em que se casar. Eu, porém, já fui casada. Portanto, não há nenhum problema que eu veja um homem sem camisa. Ainda mais se tratando de lorde Warwick, pois tenho certeza de que ele não irá me faltar com o respeito.

- A sita. Broom disse que todos os homens tentarão entrar em baixo de nossas saias.

Maggie falou muito séria com a irmã.

- Nós não queremos ouvir nem mais uma palavra sobre o que a srta. Broom lhe disse. Vá para o seu quarto. Minha pureza, se ainda tenho alguma, permanecerá intacta com lorde Warwick.

Pelo menos naquela noite, Maggie não podia contar à irmã que ela já havia perdido toda e qualquer pureza em companhia do lindo lorde.

- Eu prometo à senhorita que sua irmã não sofrerá nenhum ataque - Edward disse a Rebecca. - Apesar de já ter dito a Maggie que não vejo necessidade de ela cuidar de nenhum ferimento. Eu estou muito bem.

- O senhor não está bem! - Maggie disse com firmeza. O movimento de seu braço está mais restrito do que estava ontem. O senhor não pode negar isso?

Ele balançou a cabeça, resignado.

Então os três subiram a escada mal iluminada que levava aos quartos. Maggie entrou no quarto que estava compartilhando com sua irmã para pegar seu estojo de primeiros socorros. Em seguida, ela se dirigiu ao quarto de Edward.

Dentro do quarto, Maggie adotou uma postura autoritária.

- O senhor terá de tirar a camisa, milorde. Eu lhe ajudo com a manga esquerda, pois posso perceber que o senhor tem dificuldade de mover o braço esquerdo.

Nada escapava ao olhar atento dela? Ela parou pensativa.

- O senhor tem um pouco de morfina?

- Nunca usei isso. Vicia muito fácil.

- Talvez seja melhor usarmos conhaque - ela disse, virando-se para descer a escada em busca.

Ela retornou com uma garrafa de conhaque e duas taças.

- Por que duas taças? - ele perguntou.

- Porque foi o que me deram - ela respondeu. - Depois, acho que vou lhe acompanhar com uma taça.

- Então sugiro que bebamos antes de eu me despir, para dar um tempo ao conhaque de fazer efeito.

- Uma ótima ideia-ela disse, abrindo a garrafa e despejando o líquido âmbar nas taças.

Edward observava todos os movimentos de Maggie.

- Bebida forte esta? - ela comentou ao tomar um gole do conhaque.

- Acho que eles destilaram a bebida aqui mesmo. Edward percebeu que ele já estava se sentindo muito à vontade ao lado de Maggie, novamente. Quanto antes ele chegasse a Windmere Abbey, melhor seria. Um único olhar em sua querida Fiona seria o suficiente para apagar Maggie de sua memória. Seria? Ele tomou outro gole, fazendo careta.

- A julgar pelo teto baixo feito de madeira, este lugar deve datar do período elizabetano - ele comentou, observando a arquitetura do local.

Maggie sorriu. Os olhos dela brilhavam. Suas faces estavam rosadas. Edward pensou que ele nunca havia visto criatura mais bela em toda a sua vida. Pelo menos uma vez, ele já havia tocado o corpo nu daquela bela mulher. Naquele dia, em Greenwich, quando seus corpos se uniram intensamente.

- Acho melhor eu não tomar mais nenhuma dose, ou estarei impossibilitada de cuidar de meu paciente.

- Eu não sou seu paciente! E onde foi que a senhora aprendeu sobre curativos e doenças?

- Aprendi com minha mãe, quando ainda era uma criança. Ela atendia a todos os nossos vizinhos. Sempre obtendo ótimos resultados. Quando ela morreu, encontrei seu diário onde ela anotava os remédios e o histórico de todos os seus pacientes. Então resolvi dar continuidade ao seu trabalho.

- Quantos anos a senhora tinha?

- Treze. Agora, onze anos depois, eu já não preciso mais consultar o diário de minha mãe. - Ela bateu com a ponta dos dedos na própria cabeça. - Está tudo aqui dentro.

Edward pôde perceber que nada iria detê-la.

- Agora, o senhor deve tirar a camisa. Não precisa tirar a calça também. - Ela sorriu. - Uma vez que não há nenhuma tempestade lá fora, o senhor pode ter certeza de que não irei implorar para que o senhor faça amor comigo.

Ele sentiu vontade de lhe perguntar se ela caiu em seus braços somente devido à tempestade, mas ele não podia se permitir a fazer tal coisa. Era melhor deixar as coisas como estavam. Em dois dias ele estaria com Fiona, e a lembrança de Maggie junto dele numa estalagem em Greenwich ficaria para trás, ainda que fosse uma lembrança que ele não conseguia esquecer.

Ele se levantou e começou a tirar o casaco, mas Maggie se apressou para ajudá-lo.

Ao ver o ferimento dele, Maggie franziu o cenho.

- Oh, milorde! Nós deveríamos ter tratado isso antes. Pareceme que está infeccionado.

com um toque gentil contra o peito dele, ela o recostou na cadeira.

- Trarei a vela para mais perto - ela disse -, assim poderei examinar melhor.

Maggie ergueu o castiçal para enxergar melhor o ferimento. A proximidade dela transportou-o para aquela tarde gloriosa em Greenwich. Ele se esforçava para desviar os olhos dos seios dela. Se ele soubesse que seu ferimento iria piorar tanto, teria permitido que ela o examinasse antes. Agora estava daquele jeito, do tamanho de uma batata. Aquilo não estava tão ruim na noite anterior.

- Ainda bem que eu trouxe uma decocção de morrião - ela disse.

Então Maggie pediu que Edward segurasse a vela, e em seguida ela abriu um frasco e umedeceu um pequeno pedaço de linho limpo que foi usado para colocar em cima do ferimento. Ele sentia muita dor.

- Sinto muito, milorde - ela disse gentilmente -, mas o senhor terá de ficar parado. Prometo que irei terminar o mais rápido possível.

Ele virou a cabeça para não ver o que ela estava fazendo. Após um minuto, ela colocou o frasco na mesa e serviu outra dose de conhaque para ele.

- Vamos, beba mais um pouco disso. Talvez ajude a conter a dor.

Ele tomou de uma vez.

- A senhora já está quase acabando?

- Sim, só falta colocar as ataduras.

Ela rasgou um pedaço de linho em várias tiras, então começou a passar envolta do braço dele.

- Não aperte tanto! - ele reclamou.

- Será necessário repetir o curativo todos os dias - ela contou a ele enquanto terminava.

Como ele poderia ficar tão próximo dela e conseguir resistir à imensa vontade de carregá-la para a cama e fazer amor com ela a noite toda? Ele teria de ter o autocontrole de um monge. O que ele definitivamente não era. Edward fechou os olhos. Chega de noites como estas.

- Agora que já vi como tem de ser feito, acredito que estou apto a fazer meus próximos curativos.

- Não se incomode, milorde. Eu não sou tão escrupulosa quanto Rebecca. - Ela recolheu todo o material, então se virou para ele. - O senhor conseguirá se despir sozinho?

- Claro que sim - ele respondeu rápido.

- Então eu lhe desejo uma boa noite. Talvez uma noite de sono lhe ajude a se recuperar mais rápido.

Depois que Maggie deixou o quarto, ele começou a tirar uma perna da calça de cada vez, amaldiçoando Maggie. A dor era intemsa, mas contar com a ajuda dela seria um risco que ele não pretendia correr. Ccaiu na cama e dormiu em seguida. Durante a noite, ele sonhou com Maggie, despindo-o peça por peça.

 

Na manhã seguinte, quando já estavam seguindo viagem, Maggie observava atentamente seu paciente, em busca de algum sinal de melhora.

- Como o senhor passou a noite? - Maggie perguntou ao lorde.

- Não foi de todo mal. Porém, o ferimento sangrou um pouco.

- Talvez tenhamos que trocar as ataduras duas vezes ao dia. Ele a olhou com um certo pesar e perguntou:

- Isso só irá fazer com que sangre ainda mais. Não podemos esperar até a noite?

Lorde Warwick abriu seu mapa e começou a estudá-lo. Maggie estava começando a odiar o pedaço de papel por estar roubando tanto da atenção dele. Verdade seja dita, ela estava começando a odiar o tédio do confínamento na carruagem, durante horas ao longo do dia, sem ter nada para fazer. Logo no primeiro dia de viagem, ela já havia terminado de ler Orgulho e Preconceito.

Ela tampouco desejava chegar logo em Windmere Abbey. Quanto mais tempo demorasse para conhecer Fiona Hollingsworth melhor seria. Porém, tais pensamentos sobre Fiona lhe causavam certo remorso.

- Milorde? - disse Maggie. Edward espiou por cima do mapa.

- Se o tempo estiver bom e se já estivermos adiantados em nossa viagem, poderíamos parar um pouco à tarde para esticarmos as pernas e fazermos um piquenique?

- E eu poderia ler um pouco enquanto vocês caminham Rebecca completou.

- Se o tempo continuar assim - ele respondeu - e se não acontecer nada que impeça o nosso progresso, poderemos roubar meia hora de nossa viagem.

Maggie sorriu e afastou a cortina ao seu lado para estudar as nuvens. Como alguém poderia saber a diferença entre uma cumulus e uma cirrusl Não que ela acreditasse nas bobagens sobre nuvens que Edward dizia ao fazer a previsão do tempo; Edward a observava.

- A senhora está estudando as nuvens?

- Eu estaria se soubesse como fazê-lo.

Ele fechou o mapa e olhou para fora da janela.

- Aquelas são nuvens do tipo cumulus. Observe, elas são baixas e arredondadas. A brancura delas indica que hoje não irá chover.

- Então se elas são arredondadas, não irá chover? - concluiu Maggie.

- Eu não disse isso! A chuva pode vir de nuvens arredondas, porém não das completamente brancas.

Eles seguiram a viagem, falando sobre nuvens, chuvas e tempestades.

Uma hora depois, a carruagem subiu uma colina. Edward olhou pela janela e avistou um belo e tranquilo vale, por onde corria um pequeno rio. Ele então anunciou que iriam fazer uma parada naquele local para o tal piquenique.

Minutos depois, eles estavam desembarcando da carruagem e descobrindo que eram os únicos ocupantes do vale, exceto por alguns pássaros. Maggie se ocupou com os preparativos para o piquenique, enquanto Rebecca pegou um tapete e seu livro e se sentou sob a sombra de uma frondosa árvore.

Maggie e Edward decidiram fazer uma caminhada antes de comerem, mas quando estavam saindo a srta. Peabody olhou por cima do livro e falou:

- Se o lorde tentar tomar alguma liberdade com você, Maggie, grite que eu correrei em seu socorro. - Então ela ainda teve a audácia de completar. - Não leve isso como uma ofensa pessoal, milorde, os seres de sua espécie não são muito confiáveis. A srta. Broom diz que os homens se transformam em animais quando estão sozinhos com uma mulher.

- Rebecca! - Maggie gritou. - Não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre a srta. Broom! E você certamente deve um pedido de desculpas ao lorde Warwick.

- Mas eu não disse que o lorde Warwick é um animal! Maggie falou enérgica:

- Peça desculpas!

A srta. Peabody folheou algumas páginas de seu livro e de olhos baixos falou:

- Perdoe-me, milorde. Edward respondeu com gentileza.

- Estou tomado por um profundo desejo de estrangular a srta. Broom, caso um dia eu tenha a oportunidade de conhecê-la ele disse, oferecendo o braço para Maggie.

A temperatura ainda era muito fria e o vento batia forte, mas o céu estava muito azul e o sol brilhava com intensidade. Ele deu uma olhada em Maggie e viu seu lindo rosto emoldurado pelo capuz adornado com pele de arminho.

- Vamos caminhar até aquelas árvores mais distantes? Ela deixou escapar um belo sorriso.

- O que é tão engraçado? - ele perguntou.

- Eu estava pensando o mesmo. O senhor já percebeu que quanto mais tempo passamos juntos, mais parecidos nossos pensamentos se tornam?

Ele já havia percebido isso também. Durante toda a manhã, na carruagem, ele havia pensando sobre como Maggie já o conhecia. Ela sabia de coisas sobre ele que ninguém mais sabia, algumas coisas que até mesmo ele estava descobrindo por intermédio dela. Como por exemplo: o mau humor da fome. Ele nunca havia analisado isso antes. Mas Maggie percebeu. Ela sabia que ele estava com fome antes que ele mesmo soubesse.

Edward também já estava conhecendo-a melhor também. Ele já sabia que quando Maggie realmente estava nervosa, ela não derrubava nenhuma lágrima. Ele sabia também o quanto ela ficava emocionalmente perturbada durante uma tempestade. E sabia que apesar dos episódios tristes do passado, ela ainda se mantinha otimista e de cabeça erguida. Ele conhecia o sabor dos lábios dela... Não, ele não podia pensar mais sobre aqueles momentos.

Quando eles pararam de caminhar, Maggie entrelaçou os braços com os dele de maneira tão inocente que parecia uma criança esperando por um beijo na testa.

Edward suspeitava de que ela tinha consciência do poder de sua sensualidade.

- Eu estava pensando se o sr. Lyle veio me visitar na quinta-feira? - ela disse.

Edward se lembrou que Maggie estava prestes a aceitar o pedido de seu melhor amigo. E se Harry fosse a pessoa que enviara os agressores para atacar Maggie?

- Eu tinha certeza de que o sr. Lyle iria me pedir em casamento, mas agora já não sei mais se devo aceitar.

- Acho melhor esperar um pouco, até que as coisas se esclareçam.

Esclarecer o quê? Talvez eles nunca soubessem quem era o verdadeiro culpado por tudo que estava acontecendo. A única certeza que Edward tinha era de que ele não podia confiar em ninguém naquele momento.

- Creio que a senhora deveria retornar para a América.

- Mas eu não tenho dinheiro, tampouco tenho uma casa para me instalar lá.

- Pagarei pela sua viagem e lhe enviarei uma pensão até que a senhora se case novamente.

A expressão de Maggie era sóbria.

- Eu não posso dizer que não esteja assustada após os últimos acontecimentos. Há dias que temo que alguém esteja nos seguindo. Não tenho nem mesmo dormido bem com receio de acabar como o sr. Bibble. Mas não posso aceitar a sua caridade. Se o senhor tem tanta pressa em me ver fora de sua vida, então o senhor pode se casar com sua preciosa Fiona, eu prometo que me casarei em breve.

- Mas que droga, Maggie! Não foi isso eu quis dizer!

Uma estranha raiva se misturava com paixão, e as mais profundas emoções que Edward já havia experimentado tomaram conta dele, fazendo com que ele puxasse Maggie para mais perto e apertasse seus lábios contra os dela. As mãos dela se colocaram contra o peito dele em sinal de protesto, então sem oferecer resistência ela o abraçou e seus lábios se abriam para ele. Edward estava intoxicado pelo gosto dela e pelo perfume de rosas que ela emanava. Quando ele ouviu um suave protesto, pensou que poderia enlouquecer de tanto desejo, desejo que ela também não conseguia esconder. Mesmo que ela não o quisesse.

Segurando-a o mais próximo que ele conseguia, ele murmurou:

- Me preocupo tanto por você...

Naquele instante, Edward soube que, se algo acontecesse a Maggie, ele perderia todo o prazer de viver. Mas ela não lhe pertencia. Nem mesmo o queria. Ia se casar com outro homem muito em breve. E Edward não podia suportar a ideia de vê-la nos braços de outro.

Por outro lado, havia Fiona, com quem ele tinha um compromisso ao qual não podia esquivar-se.

- Perdoe-me - ele disse com a voz embargada pela emoção.

- Eu não tenho o direito de beijá-la.

- Talvez eu deva mesmo voltar para a América - ela disse num murmúrio.

Por que, então, ele estava levando Maggie para Yorkshire? Por que ele não teve o bom senso de colocá-la num navio de volta para a América? Seria muito doloroso para ele imaginar que nunca mais a veria?

Edward concordou com ela, então ele se levantou e ofereceulhe ajuda. No caminho de volta, Maggie não falou nada e nem mesmo pegou no braço dele.

Naquele dia, eles ainda viajaram até às seis da tarde, quando chegaram em Dorkington, onde passaram a noite. Lorde Warwick mostrou um grande interesse em estudar seu mapa durante o restante da viagem. Quanto a Maggie, ela não conseguia se esquecer do beijo daquele último beijo. Não conseguia se esquecer daquela tarde em Greenwich, quando ele a pediu em casamento. Era inegável a paixão avassaladora que surgiu entre eles. Bastava que ele a tocasse para que o corpo dela se abrisse como uma flor, criando um profundo vazio que somente Edward podia preencher.

Será que outro homem iria conseguir despertar as mesmas emoções em Maggie? Ela tentava se convencer de que ela não o amava. Afinal, ela nem mesmo sabia quem ele realmente era. O próprio superior dele acreditava na possibilidade de ele ser um traidor. E para completar ele estava apaixonado por outra mulher.

Por que, então, a perspectiva de nunca mais voltar a vê-lo a fazia mergulhar em tamanho desespero?

Retornar para a América seria uma boa solução para todos. Ela não conseguiria suportar vê-lo se casar com Fiona.

Maggie precisava se casar o quanto antes.

Durante toda a viagem, eles nunca foram forçados a compartilhar uma sala em uma estalagem com algum estranho. Esta boa sorte Edward atribuiu ao fato de ninguém ousar fazer uma viagem na direção norte durante o inverno. Viajar em janeiro e fevereiro era sempre arriscado devido ao mau tempo.

Edward não se permitia encarar Maggie de frente. Seus atos, naquela tarde, haviam sido imperdoáveis. Um cavalheiro não poderia tomar tais liberdades com uma mulher com quem ele não tivesse a intenção de se casar.

Para desviar seus pensamentos de Maggie, Edward resolveu conversar com a sita. Peabody, que tinha nas mãos um grosso volume.

- Vejo que a senhorita está lendo The Wanderer da srta. Burney - disse ele.

Ela concordou com um aceno de cabeça tão intenso que seus óculos escorregaram para a ponta de seu nariz.

- Sou-lhe muito grata por ter permitido que eu tenha acesso livre a sua biblioteca, pois, se eu tivesse de comprar os últimos romances da srta. Burney eu jamais poderia lê-los. Eles custam muito caro.

- Fico muito feliz por compartilhar a minha biblioteca. A senhorita está gostando desse livro?

- Eu já li o primeiro volume e confesso que estou um pouco desapontada. Ele não é tão bom quanto Evelina, romance que li quando era bem mais jovem.

Edward queria rir, dezessete parecia ser muito jovem para ele.

- Acredito que a sua opinião é igual à de muitas pessoas que leram este último livro.

- Becky sabe muito sobre literatura - Maggie disse com orgulho. - Ela leu Paraíso Perdido quando tinha apenas cinco anos.

Edward discutiria literatura com a srta. Peabody durante dias, se isso mantivesse seu olhar e seus pensamentos afastados de Maggie.

- Se a senhorita me permitir dar uma sugestão. Eu recomendo a leitura de Waverley de sir Walter Scott - disse Edward.

- Mas eu não o vi em sua biblioteca.

- Acho que a senhorita já está conhecendo minha biblioteca mais do que eu - Edward mencionou. - Apesar de eu já ter lido o livro, a senhorita não o encontrou porque ele ainda esta em minha mesa de cabeceira.

O jantar foi muito agradável, e, assim que eles terminaram, a srta. Peabody pediu licença para se recolher em seus aposentos, onde poderia prosseguir com sua leitura.

Maggie concordou, então olhou para Edward.

- Acho melhor nós subirmos também para eu trocar as suas ataduras. Sei que ainda é cedo, mas estou muito cansada. Acho que este cansaço é devido ao grande número

de dias que já passamos em uma carruagem.

- E às tantas noites que a senhora sentiu medo de dormir. Mordendo de leve os lábios, ela o encarou.

- Coloque suas preocupações em meus ombros - ele disse com carinho. - Eles são maiores do que os seus.

- Eu adoraria conseguir transferir minhas preocupações para outra pessoa!

Edward pegou no braço dela e disse:

- Eu mesmo trocarei as minhas ataduras. Ela o encarou incrédula.

- com um braço só? Acho que o senhor não vai conseguir! Edward percebeu que nada iria detê-la. Ele saiu resmungando

à procura de uma garrafa de conhaque, e minutos depois encontraram-se em seu quarto.

Ela já havia feito os preparativos para o curativo.

- Acho melhor eu não tomar nenhum gole desta bebida forte

- ela disse quando viu as duas taças nas mãos dele.

- Mas eu vou! - ele respondeu já se servindo de uma generosa dose.

Maggie se aproximou dele tão suavemente que ele mal ouviu seus passos.

- Deixe-me ajudá-lo com sua camisa.

Ela estava tão perto que Edward podia sentir seu perfume de rosas.

Respirou fundo e tentou levantar os braços, mas ele não conseguia erguer o braço esquerdo.

Depois de conseguir tirar a manga direita da camisa, Maggie gentilmente o ajudou a tirar a outra. A dor era intensa, mas ele não iria agir como um covarde diante de um simples ferimento.

Maggie o mandou se sentar. Quando ela se aproximou, Edward fechou os olhos para poder suportar tamanha proximidade.

- Segure a vela próxima ao seu braço esquerdo, por favor ela pediu.

- O ferimento lhe parece melhor?

- Não melhorou, mas também não piorou.

Ele manteve seus olhos fechados, estremecendo de dor.

- O seu irmão está mesmo morto? - ela perguntou como se perguntasse do tempo.

Edward não esperava por aquela pergunta. Afinal, seu irmão estava são e salvo, e morando na índia com esposa e filhos.

Estabeleceu-se um silêncio absoluto no aposento, salvo pelo vento que batia com força na janela. Enquanto Edward tentava ganhar tempo para formular a sua resposta, Maggie não tirava os olhos dele em busca de uma reação. Ele não deveria ter mentido para Maggie. Ela era muito inteligente.

Ela o conhecia mesmo!

- Por favor, qual é o seu verdadeiro nome? - ela perguntou, enquanto cobria o ferimento com as bandagens novas.

- Edward Stanfield.

- Eu sabia!

com uma expressão muito séria, ele disse:

- Meu pai era sir Perry Stanfield. Meu irmão é agora um barão, desde a morte de meu pai há três anos. Nós não tínhamos nenhum parentesco com o lorde Warwick. O título dele deveria ser extinto.

- E lady Fiona sabe que o senhor não é um nobre?

- Sim. Eu não poderia me comprometer com ela antes de lhe contar tudo. Fiona é a única pessoa que sabe da verdade, e eu lhe peço que não conte nada a sua irmã.

Maggie se sentou em outra cadeira.

- E como devo lhe chamar?

- Continue usando lorde Warwick.

- Mas quando estivermos a sós eu não conseguirei.

- Quando estivermos a sós - ele respondeu - você pode me chamar de Edward.

Maggie permaneceu em silêncio por um momento.

Então, quando lady Fiona aceitou se casar com o senhor, ela sabia que não iria desposar um nobre, sabia que iria se casar com um homem que não tem esperanças de suceder a um título?

Sim, é isso mesmo. Se ela quisesse, poderia se casar com um duque. Mas acho que por não conhecê-la a senhora está formando uma opinião equivocada sobre ela, talvez esteja pensando que ela é uma fidalga arrogante que grita com seus criados e não se mistura com pessoas que não tenham sangue azul. Mas eu lhe asseguro que a senhora está completamente enganada.

- Talvez eu esteja mesmo enganada sobre o caráter de lady Fiona. Mas e quanto à fraude que o senhor tem propagado.

- A senhora deve compreender que sempre há um motivo por trás de todas as fraudes.

- E qual é o seu motivo?

Enquanto Maggie o encarava, ele pôde ver um sinal de desilusão no rosto triste dela. Ele sabia que acabara de perder algo que nunca mais poderia recuperar.

- Não posso lhe contar, jurei segredo.

- A quem? À honra do lorde Warwick ou devo dizer Edward Stanfield? - Havia um amargor na voz dela.

- O que devo fazer para que a senhora recupere a confiança em minha palavra de cavalheiro?

- Tal cavalheiro nem mesmo pensou em sua amada Fiona quando me pediu em casamento, porque era isso que um cavalheiro deveria fazer, dadas as circunstâncias.

-Não estou orgulhoso do que fiz à senhora.-Ele se levantou e se serviu de uma dose do abominável conhaque. - O mais triste disso tudo é que eu faria tudo novamente. Até mesmo o último beijo.

Edward olhava para Maggie, pegando seu xale e o colocando em volta do ombro.

- Então é melhor que eu vá para o meu quarto.

- Sim - ele respondeu, enquanto ela saía. - É melhor.

Durante todas as noites em que Maggie esteve deitada em sua cama, ouvindo o vento que batia na janela e se lembrando do corpo inerte de Andrew Bibble, ela sentiu medo de dormir, medo de baixar a guarda e ter o mesmo fim do sr. Bibble. Mas naquele dia, ela havia baixado a guarda com Edward, e a lembrança do beijo a mantinha acordada.

Ela estava aborrecida por não ter oferecido nenhuma resistência quando a boca dele tocou a dela. Edward estava pensando que ela era uma meretriz!

Maggie não sabia exatamente o que ela queria que Edward pensasse sobre ela. Nunca em toda a sua vida ela esteve tão confusa. Ela havia confiado sua vida a ele. Por que um homem honrado cometeria tal fraude? Estaria ele envolvido com o governo francês?

Estariam certas as suspeitas de lorde Carrington? Se Edward estivesse traindo a Inglaterra, Maggie não teria outra opção senão trair Edward, ainda que ele tivesse salvado a vida dela. Ela não simpatizava com as agressões de Napoleão, ou com a sua megalomania. Porém, ela não conseguia acreditar que Edward fosse um traidor.

O fogo da lareira já havia se extinguido havia tempo, um restante de carvão queimava tentando afastar o frio da noite. Ela puxou a coberta e ouviu o chirrear de uma coruja solitária. Será que Edward estava ouvindo também? Ah, como invejava Fiona.

Na manhã seguinte, durante o café da manhã, Edward informou que aquele seria o último dia de viagem e que, se não houvesse nenhum imprevisto, eles chegariam em Windmere Abbey ao entardecer.

Maggie se perguntava se Edward estaria triste como ela pela viagem estar chegando ao fim. Pois eles nunca mais teriam outra oportunidade como aquela para ficarem tão próximos como estiveram.

- O senhor acredita, milorde, que Harry Lyle seja o responsável pelo ataque que sofri? - Maggie perguntou.

- Infelizmente, não tenho certeza de nada - ele respondeu.

Por acaso lady Fiona tem um irmão?

- Ela tem - ele respondeu com um olhar frio como a neve.

- Ele é casado?

Nenhum dos irmãos dela é casado. Por quê? A senhora

prefere se envolver com o irmão que tem vinte e nove anos ou com o que tem somente vinte e ainda estuda em Cambridge?

Maggie queria convencê-lo de que era uma mulher calculista.

- Acho que com o mais velho. Pois o mais novo não está na linha de sucessão ao título.

Muito aborrecido, Edward tirou seu mapa do bolso e começou a estudá-lo.

Todas as vezes que a carruagem passava por um buraco, Maggie via a dor nos olhos de Edward.

Finalmente a falsa condessa havia mostrado suas verdadeiras cores, Edward concluiu com amargura. Assim que Maggie descobriu que ele não era um nobre, ela perdeu o interesse por ele. Teria ela se casado com o salafrário somente pelo título? Edward tentava se convencer de que ele ficaria muito melhor sem ela.

De agora em diante, ele poderia esquecer a sua culpa e voltar a amar sua querida Fiona. Em poucas horas, ele estaria com ela. Ele até poderia roubar um beijo dela. Duas semanas atrás, só de pensar nos beijos de Fiona, o coração de Edward já disparava incontido. Mas agora ele já não sentia o mesmo.

Naquele momento, a única pessoa que ele queria beijar era Maggie, a raposa fria, calculista e sedutora.

A paisagem campestre ao redor de Windmere era muito familiar a Edward. Ele havia visitado o local pela primeira vez na companhia de Randolph, o irmão mais velho de Fiona, quando inha apenas doze anos. Eles estavam a alguns minutos de Windmere Abbey, e ele sentia uma imensa vontade de levar Maggie para outro lugar. Então ele se amaldiçoou pela tolice.

 

Finalmente Windmere Abbey, Maggie pensou ao olhar através da janela da carruagem. Ela esperava encontrar uma mansão gótica, mas o estilo da construção era o romano. Suas colunas e seu frontão triangular eram dispostos numa perfeita simetria neoclássica, ornamentada por uma fachada de pedras arenosas que refletiam um brilho dourado à luz do entardecer. As famílias que ali viveram por várias gerações, provavelmente deixaram suas marcas nas páginas da história da Inglaterra.

Maggie deixou a cortina se fechar. Durante os minutos que se seguiram, ela ficou extremamente nervosa. Qual seria a atitude de Edward diante de sua amada? Maggie suportaria a dor ao vê-los juntos?

- Chegamos - disse Edward, assim que a carruagem parou.

Maggie pôde perceber a alegria estampada no rosto dele.

Edward ajudou Maggie e Rebecca a descerem da carruagem. Maggie prendeu a respiração e se aproximou do imenso pórtico de entrada de Windmere Abbey.

A porta abriu-se e dela surgiu uma alegre dama que vinha darlhes boas-víndas. A princípio, Maggie duvidou que a mulher fosse Fiona. A amável criatura aparentava ter apenas uns dezoito anos, e Maggie sabia que Fiona era um pouco mais velha do que ela. Talvez fosse o corpo delicado e esguio que lhe conferisse uma aparência mais jovem. Maggie ficou observando Edward pegar a delicada mão de Fiona e se curvar para beijá-la. Os olhos da dama brilhavam ao contemplar Edward.

Ela era Fiona. Maggie sentia um aperto no peito ao ver de perto os cachos dourados que pediam em seu rosto suave, adornado por lindos e brilhantes olhos azuis. Apesar de estar trajando luto, seu vestido era muito elegante e caiu como uma luva sobre seu corpo bem-feito.

Fiona Hollingsworth era a mulher mais elegante e bonita que Maggie já vira.

- Permita-me apresentá-la à condessa Warwick e sua irmã, a srta. Peabody - Edward disse a sua noiva.

Os olhos de Maggie e de Fiona se encontraram, e, por uma fração de segundo, Fiona lançou um olhar frio sobre Maggie. Em seguida, ela se recuperou, e um sorriso amável surgiu em seu rosto.

- Fiquei tão feliz por sua vinda a Windmere Abbey. Tenho sentido muita falta de companhia feminina.

- Espero que nossa presença lhe agrade - respondeu Maggie

com uma mesura.

Antes de entrarem na mansão, eles foram recepcionados pelo pai de Fiona, um homem elegante, com quase sessenta anos, e que se vestia de acordo com sua classe social e distinção.

- Warwick - ele disse a Edward, muito amável - mal posso dizer-lhe o quanto ansiamos por uma visita sua. - Em seguida o olhar dele se voltou para Maggie e Rebecca.

-Lorde Agar, permita-me apresentar-lhe lady Warwick e srta. Peabody - disse Edward.

Lorde Agar foi muito cortês ao beijar as mãos enluvadas das duas damas.

- Vamos entrar, precisamos tirar as damas do frio.

- Pobres criaturas - Fiona disse ao entrarem no fabuloso hall de entrada com seu piso de mármore e candelabros brilhantes

- tenho certeza de que vocês devem estar morrendo de frio. Vocês precisam é de um lugar quente. Providenciei para que as lareiras de seus quartos fossem acesas logo cedo.

Não havia dúvidas de que Fiona mal podia esperar para se livrar delas e ficar a sós com Edward.

- Quanta gentileza sua - disse Maggie.

O coração dela afundou quando viu Fiona entrelaçar o braço no de Edward ao subirem a escada.

Lorde Agar permaneceu ao pé da escada e se despediu, dizendo que eles se encontrariam durante o jantar.

Maggie e Rebecca caminhavam logo atrás de Fiona e Edward, próximas o suficiente para ouvirem toda a conversa.

- Você ficará em seu antigo quarto - Fiona disse a Edward.

- As damas ficarão na mesma ala.

Edward concordou, então perguntou:

- Randolph está aqui?

- Ele está numa caçada na Escócia, mas deverá chegar na próxima semana.

Maggie presumiu que Randolph era o irmão mais velho de Fiona.

Quando chegaram ao segundo andar, Fiona olhou para Maggie com um sorriso radiante em seu rosto.

- Este primeiro quarto será o seu, milady. - Ela abriu a porta para Maggie.

- A senhora irá descansar um pouco antes do jantar? - Fiona perguntou. - O jantar será servido às seis. A senhora trouxe uma criada?

- Não.

- A senhora gostaria que eu enviasse uma criada para lhe ajudar a desfazer as malas?

- Eu o farei sozinha - Maggie respondeu, fechando a porta.

Apesar do dia cinzento, a luz era abundante no quarto. As cortinas eram de uma cor creme, quase branca. As paredes tinham um tom azulado pálido, e a cama era emoldurada por uma cabeceira revestida de seda, no mesmo tom das paredes.

Antes mesmo que ela pudesse remover suas luvas, um criado trouxe a sua valise. Enquanto desfazia a mala, Maggie sentia uma imensa tristeza. Ela não estava preparada o suficiente para encarar Fiona e Edward juntos.

Não havia dúvidas de que Edward amava Fiona. Quem não se apaixonaria por aquela beleza frágil, ou pela sua delicadeza e sua linhagem? Ela não era exatamente como Maggie imaginara. Maggie sabia que era loira, mas esperava que fosse mais robusta. Em vez disso lady Fiona era do tipo pálida, magra e de uma delicadeza tal que qualquer homem sentiria vontade de protegê-la. Edward talvez gostasse disso, Maggie reconheceu com dor no coração.

Quando eles chegaram à porta do quarto de Edward, Fiona segurou as duas mãos dele e deu um passo para trás para olhá-lo de frente.

- Ah, meu querido Edward, tenho sentido tanto a sua falta. Ele havia se esquecido do quanto ela era pequena e extremamente frágil.

- Imagino como os últimos cinco meses têm sido duros para você - ele disse, sua voz era gentil.

- Estou sendo muito egoísta. Sei o quanto você deve estar fatigado pela longa viagem. Sei que você deve estar precisando se refrescar e descansar, mas eu não posso suportar a ideia de me separar de você. Há tantas coisas que gostaria de saber.

Fiona queria ficar a sós com ele, mas aquela era a primeira vez que ele não desejava ficar a sós com ela.

- Eu lhe asseguro de que posso deixar o sono para a noite. Após uma jornada tão tediosa, a única coisa que preciso neste momento é de um lugar para esticar as minhas pernas. Para onde poderíamos ir?

Um sorriso encantador tomou conta do rosto dela.

- Podemos ir para a sala de visitas - ela disse. - Lá tem uma lareira aconchegante.

Minutos depois Fiona estava fechando a porta da sala decorada com objetos dourados e de marfim.

-Por favor, Edward, abrace-me.-Fiona parecia uma criança desprotegida. - Já faz tanto tempo.

Edward deu dois passos e puxou-a para perto dele, os braços delicados dela o envolviam com força. Ele sentia-se abraçando um garoto de treze anos. A verdade é que ele nunca percebeu a ausência de seios dela. Então ela levantou o rosto, e Edward pensou: "Ela quer que eu a beije". Mas ele só conseguia se lembrar dos beijos ardentes trocados com Maggie. Edward podia até mesmo sentir a língua macia dela se misturando à dele, beijando-o com uma paixão que não existia nos beijos castos de Fiona. Então ele sentiu os lábios de Fiona tocando os dele. O beijo durou alguns segundos. Ele nunca havia ansiado tanto pelo fim de um beijo.

E Fiona nunca o havia beijado com tanta paixão.

Após o beijo, ela recostou-se no peito dele e sorriu.

- Ah, meu querido, tenho sentido tanto a sua falta! Quantas foram as vezes que desejei que tivéssemos nos casado antes da morte de mamãe...

- As coisas se encaminham sempre para o melhor. Eu lhe asseguro de que sua companhia foi um grande conforto para seu pai.

- Pobre papa, ele tem estado muito triste, nestes dias de luto.

- Talvez receber visitas seja bom para ele.

- Sim, será! Ele tem ansiado por receber a sua visita. - Os olhos dela brilharam.

Fiona ergueu a cabeça e o encarou.

- A sua visita ainda tem de ser mantida em segredo? Fiona podia até ter uma aparência angelical, mas ela era uma mulher acima de tudo. Ela não conseguiu esperar por nem mesmo uma hora para exigir uma explicação sobre a visita secreta de seu futuro marido.

- Está bem, eu vou lhe contar. Mas você não poderá contar para ninguém. Nem mesmo para o seu pai.

Fiona arregalou os olhos e concordou.

- Alguém vem espionado a condessa. Alguém muito mau. Na noite em que fugimos de Londres, três homens armados tentaram atacá-la.

- E quem faria isso?

- Não sabemos.

- Talvez seja um apaixonado rejeitado. A beleza da mulher é de tirar o fôlego. Estou morrendo de ciúme por você ter passado tanto tempo ao lado de uma criatura tão extraordinária.

Edward sentiu um frio no estômago. Fiona não tinha ideia do quanto Maggie era extraordinária. Ele até mesmo já lamentava o final da viagem deles, o final da intimidade com ela.

- Estou comprometido com a mulher mais linda deste mundo - ele disse, com um sorriso. - Pergunte aos vários homens interessados em você.

Ela sorriu, corada.

Fiona não tirava os olhos dele.

- Tenho certeza de que você se machucou tentando salvar a vida dela?

- O que a faz pensar que eu seria tão tolo assim? A pequena boca dela se abriu num belo sorriso.

- Eu já o conheço, Edward Stanfield, há muito tempo. Você é... você é o homem mais galante que conheço.

Era embaraçosa a maneira como aquela mulher ainda o admirava.

- Tudo aconteceu muito rápido - ele disse. - Quando vi já estava envolvido.

- Seu braço está ferido, não está?

- Como você percebeu?

- Senti pelos seus movimentos contidos ao me abraçar. - A voz dela era doce. - Ah, meu querido, você está muito ferido?

- Não muito.

- Pedirei que minha ama cuide disso. Ela sabe tudo sobre doenças, ferimentos, ossos quebrados e coisas do tipo.

"Não tanto quanto Maggie", ele pensou.

- Você gostaria de beber algo? Deus, precisava mesmo de uma bebida.

- Uma taça de vinho Madeira cairia bem. Ela se levantou e serviu uma taça de vinho.

- Agora que você chegou, poderá me ajudar com papai ela disse. - Ele anda muito apreensivo.

- Mas por quê?

- Ele está preocupado com nosso noivado. Tenho implorado para que ele faça os proclamas, mas ele se recusa. Alguém até poderia imaginar que ele não o aprova. Quando na verdade sei que ele gosta muito de você.

- E que diferença faz para você fazermos os proclamas agora? Não poderemos nos casar enquanto você estiver de luto.

- Ficarei muito orgulhosa de poder anunciar ao mundo todo que você pertence a mim. - Os olhos dela brilharam. - Além do mais, você não pode imaginar o quanto meus pretendentes têm se aproveitado da perda de minha querida mãe para me darem as condolências e assim tentarem garantir um lugar em meu coração. Quanto antes eu puder me livrar deles, melhor.

Um mês antes ele poderia ter dizimado a longa fila de pretendentes de Fiona, mas agora ele estava indiferente.

- E por que seu pai diz que não quer fazer os proclamas?

- Ele não explica! Ele tem sido muito vago. Já falei com Randy e Stephen sobre isso, e eles acham que papai está transferindo todo o amor que ele sentia por mamãe para mim, por isso ele não quer me deixar partir.

- Parece que seus irmãos têm razão. Sugiro que você faça a vontade de seu pai até o final de seu período de luto, quando será mais fácil para ele aceitar o seu casamento.

- Sei que você está certo e que eu estou sendo egoísta. Você acha que... - Ela segurou nas mãos dele. - Que conseguiria uma licença especial para nos casarmos um dia após o término de meu luto?

Edward enrijeceu.

- Se é isso que você quer.

- Fiona contou-me que a senhora se casou com o falecido lorde Warwick um pouco antes de ele falecer - lorde Agar disse a Maggie durante o jantar.

Maggie estava sentada à direita de lorde Agar e a filha dele estava na ponta oposta da mesa, com Edward sentado à direita dela. com diamantes brilhando em seus cabelos

dourados e com um maravilhoso vestido, Fiona parecia uma princesa de contos de fada, pelo menos de acordo com a imagem que Maggie fazia de uma princesa de contos de fada.

Maggie estava tensa. Esperava que lorde Agar não perguntasse muito sobre o falecido nobre, pois não sabia muito sobre ele.

- É verdade - respondeu, sentindo-se culpada.

- Permita-me dizer que o falecido teve muito bom gosto na escolha da esposa - elogiou lorde Agar.

- É muita gentileza sua, milorde.

Maggie achou estranha a maneira como lorde Agar estava agindo, afinal ele parecia se esquecer que estava de luto.

- Nunca pude entender por que o falecido lorde Warwick era tão recluso. Ele já era um solitário até mesmo quando ainda era jovem. O último ano dele em Oxford foi o meu primeiro. O sujeito já havia sucedido ao título e era muito rico, mesmo assim quase nunca saía de seu quarto para se socializar com os outros. Nem mesmo... bem, creio que não devo abordar este tipo de assunto na presença das damas. Para resumir, ele pensava que não precisava de ninguém.

- Sim - Maggie concordou. - Meu falecido marido era muito solitário quando o conheci.

- Ele a roubou do berço! - disse lorde Agar. - Acredito que a senhora é mais jovem do que a minha Fiona.

- Eu tenho vinte e quatro anos - Maggie respondeu sorrindo.

- Viu! - ele bradou. - A senhora é mais jovem do que minha filha.

- Creio que meu marido às vezes me via mais como uma filha do que como uma esposa. - Maggie odiava mentir, apesar de ter um talento natural para isso.

- Por quanto tempo a senhora esteve casada? - perguntou lorde Agar.

Pensando em seu casamento com o salafrário, ela respondeu:

- Por dois anos.

- E não tiveram filhos? Maggie ficou corada.

- Papai! - Fiona disse exasperada. - Deixe a lady em paz. Não faça tantas perguntas. - Sorrindo para Maggie, Fiona disse:

- Peço desculpas pela curiosidade de meu pai.

- Não há nada do que se desculpar - respondeu Maggie.

- Papai, o senhor deve deixar que lady Warwick nos conte sobre a América. Foi lá que ela nasceu.

- É mesmo? - lorde Agar indagou. - Na América?

- Nasci na Virgínia, mas meus pais eram ingleses.

- E de que parte da Inglaterra eles eram?

- De Bristol.

Lorde Agar balançou a cabeça.

- Não conheço nenhum Peabody de Bristol. - Ele serviu-se de um pouco de comida e continuou a discussão. - Soube que os peles-vermelhas estão furiosos na América.

Maggie mal conseguiu conter o riso.

- Na verdade, eu nunca vi um.

- É mesmo? Acredito então que a senhora possua um grande número de escravos.

Ela não gostava de ter de admitir a verdade cruel.

- Meu pai e todos os fazendeiros da Virgínia possuem escravos.

- Eu sempre quis visitar a América - Fiona disse, retomando o assunto da conversa. - Mas vocês duas me fizeram mudar de ideia.

- Por quê? - Maggie perguntou.

- Porque eu me sentiria muito feia. Todas as mulheres na América são tão bonitas como vocês? - perguntou Fiona, sorrindo.

Maggie sentiu que Edward estava olhando para ela, mas assim que ela o olhou ele desviou o olhar.

- Na verdade - disse Maggie - eu estava me perguntando se todas as damas de Yorkshire são tão amáveis como você?

- Bem, Agar - Edward disse - acho que somos os homens mais afortunados da Inglaterra por estarmos jantando com tão belas e adoráveis damas.

Você tem toda a razão - concordou Agar.

Maggie estava satisfeita por ter optado por seu vestido azulcobalto, que realçava os ombros graciosos e favorecia as curvas de seu corpo. Até mesmo os esforços de Rebecca para prender os cabelos de Maggie ao estilo de uma deusa grega foram razoavelmente bem-sucedidos. Tudo isso servia para dar mais confiança a Maggie, mas não o suficiente para compensar a inferioridade que ela sentiu quando viu sua anfitriã.

- Caro lorde Agar-Maggie disse - devo dizer que o senhor tem uma linda casa.

- Obrigado - ele respondeu, sorrindo. - Meu bisavô a construiu, e meu pai a reformou no final do século, adicionando o estilo paladiano.

- O senhor tem uma biblioteca? - Rebecca perguntou ao lorde Agar.

- Sim. Meu pai a construiu. Edward sorriu para Rebecca.

- Se a senhorita já gostou de minha modesta biblioteca, então irá se apaixonar pela biblioteca de lorde Agar.

Os olhos de Rebecca brilharam.

- Oh, lorde Agar, o senhor me daria permissão para entrar em sua biblioteca?

- Eu ficaria honrado.

- O senhor poderia me levar até lá depois do jantar? - ela perguntou.

- Lady Fiona pode ter outros planos para a nossa noite, Rebecca! - Maggie repreendeu a irmã.

- Não se preocupem. Os interesses de meus hóspedes são prioridade - respondeu Fiona com delicadeza.

A bela Fiona não tinha defeitos? Ela era linda, delicada, gentil.

Após o jantar lorde Agar estava muito feliz por mostrar a sua esplendida biblioteca para Rebecca. O cómodo tinha dimensões grandiosas. A sala tinha dois andares, e a leste havia imensas janelas que permitiam que a luz natural iluminasse o ambiente de leitura. Outro traço importante era a passarela que circundava o segundo andar. O revestimento de madeira escura, o tom escuro dos tapetes persas cor-de-vinho sobre o piso de tábuas e a imensa lareira proporcionavam aconchego, apesar da grandiosidade do local.

- Meu Deus! - Rebecca exclamou em voz alta. - Quantos livros! Quantos volumes o senhor tem?

- Trinta mil - ele respondeu.

Rebecca caminhou na direção de uma parede repleta de livros e examinou com cuidado os títulos.

- Lorde Agar! - ela disse.

- Sim, minha querida?

- Seria muito incomodo se eu requisitasse o sofá perto da janela como meu local de leitura?

- Ficarei muito satisfeito em lhe conceder o sofá durante o tempo que for necessário.

Lorde Agar estendeu o braço para Maggie e falou:

- O que os senhores acham de um jogo de cartas? Vamos passar para a sala de estar? - convidou o lorde. - A senhora joga, não joga?

- A condessa é uma ótima jogadora - Edward interveio.

- Neste caso, peço que a senhora seja a minha parceira disse lorde Agar.

Maggie sorriu, concordando.

Edward se arrependeu por ter alardeado sobre as qualidades de jogadora de Maggie. Ele nunca havia feito nenhum elogio do tipo sobre Fiona. Apesar de ela ser uma perfeita dama e não deixar transparecer o ciúme, havia um leve sinal em seu rosto e isso o aborreceu.

Eles se acomodaram junto à mesa de jogos, Fiona se sentou do lado oposto de Edward, e Maggie estava à direita dele. Foi durante a primeira partida que o olhar de Edward se dirigiu ao gracioso ombro de Maggie, que estava exposto pelo lindo vestido azul-cobalto, o mesmo que ela usava no dia em que eles se conheceram. Ele nunca iria se esquecer o quanto ela estava bela naquela noite, parada aos pés da escadaria, dando ordens aos empregados dele. Naquele momento, Edward teve a sensação de que ela era a criatura mais bela que ele já vira.

Edward desviou seu olhar para Fiona, que sorriu para ele e voltou sua atenção para as cartas. Fiona continuava tão bela quanto da última vez em que se encontraram.

Ela ainda exibia a mesma beleza elegante e frágil que conquistou o coração dele.

Era Edward quem tinha mudado.

- Estou tão feliz pela sua chegada, milady - disse Fiona a Maggie. - Sua visita tem sido fonte de grande alegria para meu pai. Desde a morte de mamãe que eu não o via tão animado.

"Meu Deus!", Edward pensou. "Seria possível que Fiona estivesse imaginando que Maggie pudesse estar interessada em lorde Agar? Talvez, Fiona e seu pai estivessem imaginando que Maggie preferia homens mais velhos. Edward sentiu uma certa repugnância só de imaginar Maggie e Agar juntos. Por que ela era tão... tão o que?", ele se perguntou. Edward a princípio pensou que ela não se interessava por títulos de nobreza. Afinal ela tinha dispensado lorde Aynsley. Mas agora eleja não sabia mais o que pensar, após o comportamento dela na carruagem na manhã anterior. Ela provavelmente era uma mercenária!

- O que você acha do castelo Hogarth? - Fiona perguntou a Maggie.

Edward pôde ver a palidez se instalando no rosto de Maggie. com certeza ela não sabia que o tal castelo era a propriedade de campo do lorde Warwick.

- Acredito que a condessa prefira Londres - Edward antecipou-se.

Maggie respirou aliviada.

- Sim, é verdade. Mas devido ao meu luto, que terminou recentemente, tenho saído pouco de casa.

- Então você não tem sido um bom anfitrião - Fiona repreendeu Edward. - Você não levou a condessa ao teatro?

- Nós assistimos à Tempestade - ele respondeu.

- E vocês foram até Richmond?-Fiona perguntou a Maggie.

- Não, mas nós fomos até Greenwich - Maggie contou com a maior naturalidade.

Que Deus ajudasse! Já estava sendo duro o bastante ter de sentar-se tão próximo de Maggie, sentindo a perna dela roçando a dele, vendo aqueles seios maravilhosos, sem ter de se lembrar de Greenwich e do melhor encontro amoroso que ele já havia tido em toda a sua vida. Edward suava frio.

- Você conheceu Greenwich - Fiona comentou. - Eu nunca estive lá. Você recomendaria uma visita?

- É difícil dizer, pois o tempo estava terrível quando estivemos lá.

- Mas vocês conseguiram voltar para Londres no mesmo dia?

- Fiona perguntou, com as sobrancelhas erguidas.

Edward queria desaparecer.

- Quase que não conseguimos retornar - Maggie disse com a maior calma.

Fiona era muito esperta.

- O pior foi o medo que a condessa sentiu devido à forte tempestade - Edward comentou.

Fiona olhou para Maggie com ares de preocupação.

- Que horror deve ter sido para você!

- Sim, e foi muito inconveniente. Pois se estou em casa posso me esconder embaixo das cobertas durante a tempestade Maggie disse entre risos -, se estou longe de casa, meus medos acabam se tornando um grande fardo para quem está me acompanhando.

- A senhora nunca foi um fardo - disse Edward; havia carinho em sua voz.

Quando o olhar dele cruzou a mesa, o olhar assombrado de Fiona o perturbou. Ela sabia!

 

Quando Hollingsworth retornou a Windmere Abbey, na tarde do dia seguinte. Dizer que ele ficou cego de paixão por Maggie quando a viu, seria suavizar demais a situação, Edward refletiu amargamente. Se Harry Lyle já atraíra Maggie, não havia dúvidas de que ela iria se encantar por Hollingsworth. Ao contrário dos outros membros da família, Randolph Hollingsworth era alto e corpulento. Porém, como sua irmã, ele tinha cabelos loiros e era muito bem-educado.

Edward sempre gostou muito de Randolph, e este era seu amigo mais antigo. Porém, Edward não tolerava muito o comportamento do amigo quando o assunto era mulheres, pois Hollingsworth era um paquerador incorrigível, muito popular com as mulheres. Incluindo Maggie.

Hollingsworth estava fascinado por Maggie. Os dois faziam longas caminhadas, e ele olhava para ela com adoração. Durante o jantar, insistia sempre para sentar-se ao lado dela e, agindo com egoísmo, ele a elegeu sua parceira para o jogo de cartas, obrigando seu pobre e idoso pai a se juntar à srta. Peabody na biblioteca, noite após noite. É claro que Fiona ofereceu seu lugar e sua parceria com Edward ao pai, mas este se recusou, dizendo que ele deixaria o jogo para os jovens.

Tudo isso deixou Edward muito mal-humorado.

Ele ficou muito feliz com o final de fevereiro. com março vieram as temperaturas mais amenas, o céu azul e o ressurgimento do verde, o que possibilitava belos e longos passeios ao ar livre. Exceto para a srta. Peabody, que deixava a biblioteca somente para as refeições e para dormir.

Aproveitando as temperaturas mais amenas, Edward e Fiona resolveram acompanhar Randolph e Maggie em um passeio pela propriedade. Os quatros saíram numa carruagem aberta para melhor apreciarem o dia.

O humor de Fiona parecia mudado também. Nos últimos dias, ela estava cada vez mais calada. Edward tinha certeza de que ela suspeitava sobre o passado de Maggie, mas ele não tinha certeza do quanto Fiona estava correta em suas suspeitas. Será que ela suspeitava sobre os momentos íntimos compartilhados por ele e Maggie? Seria por isso que Fiona sorria cada vez menos?

Edward sentia-se culpado pelas mudanças que vinham acometendo Fiona. Uma das coisas que ele amava nela era a sua natureza dócil e o seu senso de humor.

- Estou surpreso, velho amigo - Hollingsworth disse para Edward - que o ministério consiga sobreviver sem você, por tanto tempo?

- Após tantos anos de pura dedicação, lorde Warwick merece alguma recompensa - Maggie respondeu em tom zombeteiro.

-Já é hora de você tirar umas férias - Fiona falou, segurando a mão de Edward. - Por quanto tempo teremos você por aqui?

Se ele pudesse prever o futuro! Naquela altura dos acontecimentos, os inimigos dele já teriam visitado todas as suas propriedades rurais e portanto já sabiam que eles não estavam em nenhuma delas. O que significava que a próxima parada deles seria em Windmere Abbey. Edward não podia se dar ao luxo de relaxar, mas para onde ele levaria Maggie?

- Preciso planejar nossa partida.

- Mas sem a condessa - protestou Hollingsworth. - Você não pode esperar que ela faça uma viagem tão árdua em um espaço de tempo tão curto?

Fiona olhou preocupada para Edward e em seguida para o irmão. Eu jurei segredo, mas tenho certeza de que Edward tinha a intenção de informá-lo sobre o perigo que a condessa corre.

O que você quer dizer com condessa corre perigo – Uma expressão de raiva surgiu no rosto de Hollingsworth.

Fiona parecia uma criança assustada. Edward segurou a mão dela.

- Está tudo bem, querida. Não tenho segredos com seu irmão. - Ele olhou então para Hollingsworth. - Na noite em que fugimos de Londres, três homens armados tentaram atacar a condessa.

- Meu Deus! - disse Hollingsworth, olhando para Maggie.

- A senhora se feriu?

- Não, mas lorde Warwick sim. - Ela olhou com doçura para Edward. - Como está o ferimento em seu braço, milorde?

- Posso dizer que já estou quase curado, e isso foi graças à senhora e à enfermeira da família Hollingsworth.

- A condessa cuidou de seu ferimento? - perguntou Fiona, desviando seu olhar para Maggie. Ela não parecia nada agradecida.

Como, Edward se perguntava, poderia alguém cuidar dos ferimentos no braço de um homem sem que este tirasse a camisa? Fiona estava descobrindo muitas coisas que ele preferia que ela nunca soubesse.

- Aprendi algo sobre medicina com minha mãe - Maggie disse.

- Então, sou muito grata por você estar junto de Edward quando ele se feriu. - Fiona sorriu para Maggie.

- Não tão grata quanto eu, por ele estar comigo quando aqueles homens me atacaram. Lorde Warwick teve muita coragem, lutando de mãos vazias contra três homens.

- Então você enfrentou os homens de mãos vazias? - Hollingsworth falou com admiração.

Edward balançou os ombros.

- No final recebi ajuda.

- Após já ter ferido dois deles - Maggie elogiou.

- Já que o assunto da partida foi abordado - disse Edward

- Gostaria que você, Randolph viesse para Londres conosco para me ajudar a cuidar da segurança de Mag... da condessa até que ela esteja fora de perigo.

Edward sentiu um aperto no coração ao ver Hollingsworth dando um sorriso radiante para Maggie.

- Farei qualquer coisa pela condessa - disse Randolph. Edward sabia que poderia confiar em Hollingsworth e que deveria lhe contar tudo sobre os últimos acontecimentos.

Ao se aproximarem de um lago, eles desceram da carruagem para fazer uma caminhada. Maggie e Randolph iam à frente e logo atrás vinham Edward e Fiona. O vento estava forte e a paisagem era maravilhosa. Maggie usava o xale que Edward lhe dera em Greenwich, e isso lhe trazia muitas recordações.

- Como é lindo aqui! - comentou Maggie.

Edward imaginou que Maggie iria se encantar com os campos ingleses, mas ele não imaginou que Hollingsworth iria se aproveitar da situação em benefício próprio. O homem estava agindo como se ele tivesse providenciado a chegada da primavera!

Fiona puxou o braço de Edward.

- Por favor, deixe que eles sigam - ela disse. -- Gostaria de ficar a sós com você.

- Estou sob seu comando - ele respondeu, dando meia-volta para caminharem na direção oposta.

- O que o está preocupando, querido? Ele sentiu um nó no estômago.

- Nada, além do desagradável assunto que me aguarda em Londres.

- Era para eu ter mudado durante estes últimos quatro meses, mas quem mudou foi você Edward. - Fiona deu um falso sorriso.

Fiona estava certa, mas ele não podia contar toda a verdade a ela: "Eu estive com outra mulher, a mulher que roubou seu lugar em meu coração", Edward imaginou que ao se encontrar com Fiona tudo iria voltar a ser com antes. Mas tudo mudara, e para pior. Ele nunca se sentira tão infeliz. Edward estava prestes a se casar com uma mulher que já não amava. Essa mulher estava mergulhada numa melancolia tão profunda, que ele nem mesmo a reconhecia mais. Ele desejava Maggie, uma mulher que não o amava e tampouco o queria, uma mulher que colecionava corações de homens apaixonados.

É sobre o ministério - Edward disse. - O que eu disser deve permanecer em segredo.

- Não se preocupe - ela respondeu.

- Tenho quase certeza de que um de meus companheiros de trabalho é um traidor, mas não sei qual deles.

- com certeza não é o Harry.

- Não sei, posso até estar errado, mas acredito que o espião pode ser tanto Lyle como lorde Carrington.

- Mas com certeza não pode ser lorde Carrington, também

- Fiona falou, expressando preocupação.

- Agora você entende o motivo de meu mau humor? Fiona se aproximou dele, e os dois ficaram bem próximos, os braços dele roçavam os pequenos seios dela.

- Gostaria de saber se há algo que eu possa fazer para lhe ajudar?

Edward acariciou as mãos dela.

- Você não deve se preocupar com esse assunto.

O vento soprava tão forte que derrubou o capuz do casaco de Fiona para trás. Colocá-lo de volta era perda de tempo. Edward olhou para os lados e não avistou Maggie e Hollingsworth.

Edward e Fiona estavam próximos de uma velha cabana abandonada. Para a surpresa de Edward, Fiona o levou para dentro da cabana. Ele então olhou para ela confuso.

- Gostaria que você me beijasse - ela disse com sua voz melodiosa.

Do fundo de seu coração, Edward queria amá-la como antes. Talvez se ele a beijasse, o calor daquela paixão voltaria. Ele deu dois passos à frente e colocou as mãos sobre os ombros dela, em seguida os seus lábios tocaram os dela. O corpo elegante de Fiona escorregou contra o dele, a respiração dela estava ofegante, e Fiona o abraçava com força. Ela nunca o havia desejado com tanta intensidade, e Edward nunca havia sentido tanta indiferença.

Edward permaneceu imóvel, mas ela continuava agarrada a ele.

- Quero fazer amor com você. Aqui e agora - ela disse. Deus do céu! O que havia feito à mulher mais pura e fina que conhecia?

- Você não sabe o que está dizendo, você é uma dama.

- Uma dama que está loucamente apaixonada.

Edward tinha a sensação de que um buraco havia se aberto sob seus pés. Segurou com firmeza os braços de Fiona e a afastou.

- Não farei amor com você antes de nos casarmos.

A melancolia tomou conta do rosto dela, e ele sentia-se um monstro.

Maggie e Hollingsworth caminhavam já fazia um bom tempo, quando Maggie se deu conta do quanto distantes eles já estavam. O coração dela disparou, e ela se lembrou da cena do assassinato de Andrew Bibble. O terror tomou conta de Maggie e tudo o que ela queria era retornar para Windmere Abbey.

O relacionamento dos dois progredira muito nos últimos dias e Maggie estava muito ligada a Randolph, ela sentia-se cada vez mais à vontade ao lado dele. Maggie até mesmo já havia feito uma lista das qualidades que ele possuía, seu passatempo preferido. A conclusão que ela chegou foi a de que ele possuía todas as boas qualidades para se tornar um bom marido, e ela tinha certeza de que ele faria o pedido a qualquer momento.

Os dois continuavam o passeio quando Randolph falou:

- Não gosto da ideia de ver Warwick levando-a para longe. A senhora é a primeira mulher a despertar em mim o desejo de me casar.

O coração dela disparou. Aquilo era um pedido! Ele se aproximou ainda mais dela.

- A senhora me concederia a honra de se casar comigo?

- Sou eu quem se sente honrada, mas devo confessar que existem várias coisas que o senhor não sabe sobre mim. Talvez, depois que ouvir as minhas revelações, o senhor não queira mais se casar comigo.

Ele segurou as mãos dela e beijou-as com delicadeza.

-- Não acredito que haja nada que a senhora possa me contar que me faça mudar de ideia. A senhora me enfeitiçou. Penso na senhora o tempo todo, da hora em que me levanto até a hora em que me deito.

- Sinto-me lisonjeada - ela disse, soltando as mãos dele. Mas vou precisar de um tempo para pensar sobre o seu pedido.

A postura dele pareceu desmoronar.

Maggie tinha de discutir isso com Edward. Apesar de ela não gostar de mentir sobre sua verdadeira posição para o sr. Hollingsworth, ela precisava primeiro pedir permissão a Edward para revelar toda a verdade.

- É melhor nós voltarmos - ela sugeriu.

Naquela noite, antes do jantar, Maggie esperou por Edward no corredor em frente à porta do quarto dele. Quando ele saiu e se deparou com ela, ali parada e trajando um lindo vestido azul, os olhos dele brilharam.

- Gostaria de ter urria conversa em particular com o senhor.

- Podemos ir para a estufa - ele sugeriu.

A estufa ficava distante o suficiente para eles terem certeza de que nenhum dos Hollingsworth iria interrompê-los. Edward precisava ficar a sós com Maggie. Ele não sabia direito por quê, e tão pouco sabia ao certo o que ira dizer a ela, mas ele sabia que desejava estar com ela sem a intromissão de Fiona ou de Randolph.

Já era noite e estava frio dentro da construção de vidro, que já não contava mais com calor do sol para aquecê-la. As rosas emanavam perfume. "O perfume de Maggie", ele pensou. E, à medida que Edward se recordava daqueles momentos doces que eles desfrutaram juntos em Greenwich, o coração dele palpitava dentro do peito. A sombra da luz do luar refletia sobre os cabelos castanhos dela; alguns cachos pendiam sobre o rosto delicado, completando a bela moldura. O olhar dele se desviou para as faces rosadas e desceu para o pescoço, parando na pele acetinada do colo onde ele já havia beijado com extremo ardor. Deus, queria mergulhar nos braços dela, mas a indiferença de Maggie confirmava as suspeitas de que ela não gostaria.

- Quero lhe dizer - introduziu Maggie - que não gosto de mentir. O senhor não acha que tanto o sr. Hollingsworth como lady Fiona são confiáveis o suficiente para saberem sobre meu passado?

Edward ficou decepcionado. Então era por isso que Maggie queria ficar a sós com ele? Para discutir sobre seu mais novo pretendente.

- Tenho pensado o mesmo. O problema é Fiona. Temo pela reação dela quando souber que não somos parentes.

- Acredito que ela não ficará muito feliz, e eu não gostaria de ser o motivo dessa infelicidade, uma vez que a considero muito.

Edward concordou.

- Acho melhor esperar até que estejamos mais próximos de nossas bodas, mas quanto ao irmão dela, creio que devemos revelar toda a verdade o quanto antes.

- Esperava que o senhor fosse dizer exatamente isso. "Maldição", ele pensou. Isso significava que ela e Randolph estavam em vias de ficarem noivos? Que ela queria contar toda a verdade ao homem com quem pretendia se casar? Se, naquele momento, Edward tivesse recebido a notícia da morte de um parente, a dor não seria comparável à que ele estava sentindo. A boca dele secou. Seu coração disparou.

- Ele... ele já lhe pediu em casamento?

- Na verdade, sim.

Uma dor profunda dilacerou o coração dele. Edward precisou de alguns instantes para se recompor e responder algo.

- Por favor aceite os meus cumprimentos. Hollingsworth é um bom homem.

- Mas eu ainda não respondi que aceito me casar. Uma sensação de alívio tomou conta dele.

- Ainda! - ela disse, esmagando as esperanças dele. - Pois como posso conceder minha mão a um homem que não sabe a quem ela pertence? Oh, Deus, estou confundindo as coisas. O senhor me entendeu? - Os olhares deles se encontraram.

- Sim - ele respondeu. - Antes de aceitar o pedido dele a senhora deseja revelar a sua verdadeira identidade.

- Exatamente! E acho que ele precisa saber também o quanto pode ser perigoso estar ao meu lado.

- Concordo com a senhora. Mas tenho certeza de que Hollingsworth não é do tipo que se acovarda. Se a senhora não tiver nenhuma objeção, eu gostaria de contar toda a verdade a ele. Gostaria também que ele fosse para Londres para tentar descobrir algo e nos avisar quando poderemos retornar em segurança.

- Acho a sua ideia excelente. Edward estendeu o braço a ela.

- Creio que seja melhor nós entrarmos agora. Falarei em particular com ele após o jantar.

- Tem mais uma coisa que gostaria de lhe contar - ela disse, muito sóbria.

"Deus me dê forças!", Edward pedia em pensamento. Estava sendo muito difícil para ele resistir à tentação de toma-la em seus braços.

Ela o olhou com ternura.

- Gostaria de tranquilizá-lo, para que o senhor possa se casar em paz com lady Fiona. - Ela deu uma pausa, sem o encarar.

- Naquela noite, na Estalagem Cão Caça, eu lhe disse que caso descobrisse que estava esperando uma criança eu aceitaria me casar com o senhor.

Edward concordou. Ele mal podia respirar ou raciocinar. O coração dele se encheu de esperanças.

- Acredito que o senhor ficará feliz em saber que não estou esperando um filho.

- A senhora acabou de destruir a minha última esperança ele murmurou.

Maggie não conseguia parar de tremer durante o jantar. Ela tentava ser agradável para com Randolph, que se mostrou preocupado com o estado dela.

- Acho que estou com frio - ela disse para acalmá-lo.

Os nervos de Maggie estavam tão abalados que até parecia um milagre ela conseguir tomar parte da conversa. O que Edward queria dizer com "última esperança"? O desejo dele de ter um filho seria tão grande que ele abria mão de se casar com lady Fiona?

Maggie suspirou. Seria possível que ele quisesse que ela estivesse esperando um filho? Seria possível... Ela respirou fundo. Seria possível que ele desejasse se casar com ela? Então, ela olhou para Fiona e sentiu-se culpada por querer roubar-lhe o amor de sua vida.

Mas era isso o que Maggie desejava. Ela não se importava se Edward era uma fraude. Não se importava se ele fosse um traidor. Não importava que ele estivesse comprometido com uma mulher que não merecia ser traída. Estava claro para Maggie que ela não se importava com nada daquilo. A única coisa que importava para ela era Edward e o quanto ele a amava.

Maggie olhou para a comida em seu prato e perdeu o apetite. De frente para ela à mesa, estava Rebecca, conversando com lorde Agar.

- O senhor tem certeza de que sua biblioteca não está catalogada? - perguntou Rebecca.

- Sei que deveria estar. Mas confesso que não - respondeu o lorde.

Rebecca arregalou os olhos.

- Tenho uma ótima ideia!

Lorde Agar colocou sua mão sobre a de Rebecca.

- Posso saber do que se trata essa ideia?

- Gostaria de me encarregar do trabalho de catalogar a sua biblioteca - ela disse, muito empolgada.

- A senhorita não pode estar falando serio! Esse trabalho pode levar meses para ser concluído, sem mencionar que essa missão deveria ser conduzida por um empregado, e não por uma hóspede - respondeu o lorde perplexo.

- Acho que o senhor deveria me dar permissão - ela disse.

O primeiro motivo seria o meu grande interesse pelo desafio, e o segundo é que seria uma agradável maneira de eu retribuir a sua hospitalidade.

- Não sei o que dizer - hesitou Lorde Àgar. - O que a senhorita está propondo lhe dará muito trabalho.

- Trabalharei com muito carinho - insistiu Rebecca.

- Mas eu não poderia lhe pagar pelo trabalho.

- O senhor já me pagou, permitindo que eu me hospede em sua casa e ainda possa usufruir de sua maravilhosa biblioteca.

- Papai - disse Fiona -, acho que a proposta da srta. Peabody tem mérito, e se ela já afirmou não se importa, o senhor deveria permitir.

Lorde Agar olhou para Rebecca meio encabulado.

- A senhorita realmente não se importa?

- Realmente.

- Então ficarei honrado se a senhorita catalogar meus livros.

- Mas nós não podemos simplesmente nos mudar para a casa destas pessoas tão amáveis - Maggie disse, olhando com austeridade para Rebecca.

Na verdade Maggie não sabia por quanto tempo ela ainda poderia suporta ver Edward junto de Fiona.

- Eu não quis dizer que você tem de ficar - Rebecca respondeu. - Você está livre para partir quando quiser. Eu não sou mais uma criança, você não precisa mais se preocupar tanto comigo.

De repente, ocorreu a Maggie que talvez fosse melhor deixar Rebecca em segurança em Windmere Abbey, quando ela precisasse partir.

- É verdade, você não é mais uma criança - admitiu Maggie. Após o jantar, as ladies e lorde Agar dirigiram-se à sala onde estava o piano para cantar e se divertir um pouco. Os jovens cavalheiros se ausentaram, pois Edward pediu a Randolph que lhe mostrasse o seu novo sabre. Somente Maggie sabia sobre o assunto que Edward iria tratar com Randolph.

- Não entendi por que você quer tanto ver o meu novo sabre?

- Randolph reclamava, enquanto os dois caminhavam ao longo do comprido corredor da ala leste da mansão. - Ele se parece com qualquer outro sabre que você já viu.

- Querido amigo, não lhe ocorreu que pretendo falar em particular com você?

Randolph parou.

- É sobre o assunto em Londres, não é? Edward concordou.

- Acredito que a condessa tenha lhe dito que não pode aceitar o seu pedido antes de lhe contar sobre a sua verdadeira identidade.

- Que negócios são esses que você pode ter em comum com a mulher que amo? E eu não gostei de você estar sabendo de detalhes da nossa intimidade, mesmo sendo o meu melhor amigo.

- Os olhos azuis dele brilhavam. - E o que você quer dizer com a verdadeira identidade dela? Você está tentando me dizer que ela não é uma condessa?

- É exatamente o que estou tentando lhe contar.

- Mas... ela não era casada com seu tio? Edward negou com um aceno de cabeça.

- Ela era casada. Mas não com meu tio. Você conheceu um sujeito chamado Lawrence Henshaw?

Um sorriso surgiu no rosto de Randolph.

- Claro. Ele era o melhor dos companheiros. Na verdade, o mais bêbado que conheci. - Ele parou. - Você não pode estar querendo dizer que Henshaw foi marido dela. Ele não era do tipo de se acomodar.

- Vamos - Edward disse. - Precisamos tomar algo e conversar.

Minutos depois, taças de conhaque nas mãos, os dois estavam sentados ao lado da lareira, na aconchegante biblioteca.

- Então? - perguntou Randolph.

Quando Maggie veio para Londres, em busca de sua herança, ela imaginava que fosse uma condessa devido à história que Henshaw havia lhe contado.

Ele não trabalhava com você no ministério?

- Trabalhava - a voz de Edward vacilou. - Ele traiu a Inglaterra, fornecendo informações aos franceses.

- Maldito!

- Ele foi para a América, dizendo ser o lorde Warwick, e conquistou a mão de Maggie.

- Perceba: eu não gosto que a chame pelo nome de batismo! Ela não está comprometida com você.

Edward deu um sorriso amargo.

- Ela não está comprometida com você também. Randolph fez uma careta.

- Ela se casou mesmo com Henshaw?

- Sim, mas ele está morto agora.

- Isso é tudo?

- A princípio, achei que sim. Aparentemente ele morreu após uma queda. Para encurtar a conversa, Maggie na falta de outro nome que eu possa usar para me referir a ela, veio para a Inglaterra com a irmã para tomar posse da Mansão Warwick.

- E por que você não a enxotou?

- Pensei em fazê-lo. Mas ela chorou. Então lorde Carrington achou melhor eu não tirar os olhos dela, ele pensou que ela pudesse ter informações valiosas, como um documento que pudesse ter estado em poder de seu falecido marido.

- E ela tem algo? Edward negou.

- Mas em sua segunda noite em Londres, após eu ter contado a três homens do ministério sobre sua chegada, seu quarto foi invadido, e alguns pertences de Henshaw desapareceram.

- Meu Deus! Ela estava no quarto?

- Graças a Deus, não.

- Quem eram os homens do ministério que souberam sobre ela?

- Lorde Carrington, Harry Lyle e um sujeito chamado Charles Kingsbury.

- Não conheço esse tal de Kingsbury. - Ele ponderou por um momento sobre o que Edward havia lhe contado. - Um dos três pode ser o responsável pela invasão.

- Eu sei.

- E o que foi levado?

- Uma breve carta de um homem de Greenwich chamado Andrew Bibble, um mapa sem nenhuma marca e um livro.

- E o que estava escrito na carta?

- Algo sobre terem de ir a um funeral de um amigo em comum.

- Isso é tudo?

- Não, tem mais. - Edward fez uma pausa. - Na noite após a invasão ao quarto de Maggie, Andrew Bibble foi assassinado, e a casa dele em Greenwich foi vasculhada.

- Meu Deus! - Randolph se admirou. - Tem certeza de que o assassino não é a mesma pessoa que invadiu o quarto de Maggie?

Edward estava muito sério.

- Creio que sim, e pelo jeito ele ainda não encontrou o que procurava em Greenwich também.

- Então ele ainda pensa que ela pode estar com o tal documento?

- Aparentemente?

- Mas ela não está, está?

- Perguntei-me sobre o mesmo. Mas ela jura que não, e eu acredito. Apesar de ela poder estar de posse de algo que nem mesmo saiba a importância que isso possa ter.

Randolph tomou um grande gole de conhaque.

- Então pelo que parece, um dos três homens do ministério matou o tal Bibble e pode tentar matar Maggie?

- É possível. - Edward contou sobre o ataque à carruagem, quando eles voltavam do Almack, e concluiu informando Randolph que o traidor tinha dito aos homens que os atacaram que Maggie trajava um vestido branco com detalhes prateados, e que dos três suspeitos do ministério, somente Kingsbury não esteve no Almack, naquela noite.

- Então as suspeitas recaem sobre Carrington e Lyle - concluiu Randolph.

- Fiquei tão preocupado naquela noite que decidi vir para cá no mesmo instante. Eu sabia que não poderia me dirigir a nenhuma de minhas propriedades, pois seria muito óbvio.

- Agora eles já devem ter tido tempo suficiente para checarem suas propriedades. - Randolph estava tenso. - Por Deus, eles virão para cá!

- Isso é o que mais temo. Meu desejo era enviá-la para a América.

Randolph concordou.

- Ela estava segura lá.

- Como você pode perceber preciso que você vá até Londres. Você é amigo de Lyle. Veja o que consegue descobrir. Aguardarei aqui por notícias suas.

- Partirei amanhã, logo cedo - prometeu Randolph. - Mas não gosto da ideia de Maggie ficar por aqui por muito mais tempo. Tanto Carrington como Lyle sabem sobre você e Fiona. Eles podem estar prestes a aparecer por aqui.

- Talvez seja melhor partirmos todos com você.

- Não quero que ela vá para Londres - vociferou Randolph.

- Mas nós poderíamos ficar perto de Londres. O seu pai não tem uma fazenda perto de Londres?

- Na verdade a propriedade está à venda, pois meu pai necessita do dinheiro para saldar algumas dívidas, mas ela ainda pertence a ele.

- Ficaremos lá então.

 

Na manhã seguinte, havia uma névoa cinzenta enquanto lady Fiona e a srta. Peabody reuniram-se junto deles, em frente de Windmere Abbey, para esperar pela carruagem da família Hollingsworth. O semblante de Maggie era de muita tristeza ao se despedir da irmã.

- Se algo me acontecer - Maggie disse ao abraçar a irmã

- você fica com as minhas jóias.

A srta. Peabody chorava compulsivamente. Edward queria muito alegrar a pobre jovem.

- Eu lhe garanto, srta. Peabody, que enquanto sua irmã estiver comigo a segurança dela estará garantida.

Era querer muito que a tristeza das irmãs não contagiasse Fiona. Ela correu para Edward e o abraçou com força, lágrimas rolavam daqueles belos olhos azuis.

- Meu querido, você irá tomar cuidado?

- Você acha que eu não iria? - ele respondeu, tentando amenizar a situação.

Randolph Hollingsworth despediu-se de sua irmã, beijando-a na face, e disse:

- Chegaremos ainda hoje em Broadmeadows, mas não conte isso a ninguém.

Em seguida, Randolph ajudou Maggie a subir na carruagem. Fiona segurava as mãos de Edward com força.

- Você poderia falar comigo em particular, por um segundo? ela perguntou.

- Não posso negar nada a você - Edward respondeu carinhosamente.

Ele a seguiu à medida que ela se afastava da carruagem.

- Eu lhe farei apenas uma pergunta e espero que sua resposta seja honesta.

Nervoso, ele concordou. Será que ela queria antecipar a data do casamento? Ele sentiu um aperto no peito.

- Você está apaixonado pela condessa?

A pergunta dela o deixou tonto. Será que ele não teria tratado Fiona com o respeito e cortesia de sempre? Desde que chegaram a Windmere Abbey ele não havia dado nenhum tipo de atenção especial a Maggie. Ele pensou que havia conseguido disfarçar a forte atração que sentia pela beldade de cachos acastanhados.

Mas a atuação dele não fora tão convincente quanto ele imaginara.

- Não aconteceu nada entre nós que possa me impedir de honrar meu compromisso com você.

- Não foi isso que perguntei - ela disse muito séria. - Você está apaixonado pela condessa?

- Sim, estou!

Por fora, Fiona parecia calma, mas sua voz estava trémula quando ela respondeu.

- Vá com Deus, Edward. Tenho de refletir sobre isso. Então ela virou as costas para ele e subiu a escadaria que levava

para casa.

Por que ela não o liberou? Será que ela ainda queria se casar com ele, mesmo sabendo que ele já não a amava mais? Edward se lembrou de todos aqueles que ele conhecera que se casaram apenas em função da família e do dinheiro. Após algum tempo de casados, o amor acabava surgindo entre eles. Seria isso que Fiona esperava?

Edward ficou olhando para ela entrando na casa. Seria esta a despedida deles, sem ele saber o que o futuro reservava? Ele sentiu vontade de correr atrás dela. Mas Fiona precisava de tempo para refletir sobre tudo aquilo.

Uma chuva leve começou a cair, e Edward se dirigiu à carruagem, dando uma última olhada nas nuvens antes de se juntar a Maggie e Hollingsworth.

Maggie, sentada ao lado de Randolph, já havia se recuperado.

- Qual a sua previsão do tempo para hoje? - ela perguntou a Edward com um belo sorriso no rosto.

Ele não estava para brincadeiras.

- Chuva - ele resmungou. Em seguida, abriu seu mapa. Este estava se rasgando nas marcas de dobras, mas ele não se importava. A única utilidade do mapa era a de servir como desculpa para não ter de conversar com os outros.

Randolph ergueu uma das sobrancelhas e observou Edward.

- Você sabe exatamente onde fica Broadmeadows? - ele perguntou a Edward.

- Não precisamente.

- Deixe-me mostrá-lo.

Edward entregou o frágil mapa com relutância.

- Onde fica Broadmeadows? - perguntou Maggie.

- Broadmeadows é o nome de uma fazenda que pertence ao lorde Agar e localiza-se nas cercanias de Londres - respondeu Edward.

- É para lá que vamos? - ela perguntou.

- A senhora e Warwick ficarão lá - Randolph disse, apontando no mapa o local onde a propriedade se localizava.

Maggie e Edward se aproximaram do mapa ao mesmo tempo. Ele pôde sentir o perfume de rosas que ela exalava. E imediatamente veio à lembrança o quarto aconchegante da Estalagem Cão Caça. Edward puxou o mapa das mãos de Randolph e o guardou.

- Acho que foi uma ótima ideia a sua - Maggie disse para Hollingsworth - deixar a carruagem de lorde Warwick para trás.

- Na verdade a ideia foi do próprio Warwick - disse Randolph.

- Ele mencionou que aparecer com a carruagem dele seria o mesmo que pendurar um alvo no pescoço.

Maggie percebeu que Edward estava ficando de mau humor; ela se abaixou para apanhar uma cesta que continha carne fria e ovos cozidos. Enquanto ela os servia, Edward desviou rapidamente o seu olhar dos seios dela, que saltavam do decote.

- Lorde Warwick fica como um ogro quando está com fome - comentou Maggie.

- Talvez tivesse sido melhor se nós tivéssemos tomado o café da manhã antes de partirmos - disse Randolph, endereçando um olhar hostil para Edward.

- Acho que o lorde está certo. Ao deixarmos para tomar o café da manhã dentro da carruagem nós economizamos meia hora de viagem - observou Maggie.

- Neste caso sou obrigado a concordar com vocês, pois sou capaz de fazer qualquer coisa para encurtar a viagem. Não há nada que eu odeie mais do que uma longa jornada dentro de uma carruagem. - Randolph tirou do bolso um maço de cartas. A senhora gostaria de jogar cartas, quando terminar o seu café, milady?

- Talvez o lorde Warwick prefira jogar com o senhor. Sei que ele também não gosta de longas viagens de carruagem. Eu, por outro lado, posso me divertir somente com a paisagem lá de fora.

Gotas de chuva batiam suaves sobre o teto da carruagem. Se a chuva piorasse, com certeza Maggie iria sentir medo. Ela precisava mais de diversão do que ele.

- Não, vocês dois podem jogar - disse Edward.

Porém, meia hora depois, ele já estava se arrependendo de sua decisão. Não somente por estar entediado, mas, mais especificamente, devido à maneira provocativa como Hollingsworth colocou o tabuleiro para o jogo sobre suas protuberantes coxas e se virou para Maggie com os joelhos se encostando aos dela. "Maldito!" Edward pensou. E como se isso já não bastasse, o embriagado de amor Hollingsworth tentava espiar por cima das cartas dela, obtendo uma bela visão de seus seios.

Edward conseguiu fingir interesse pelo mapa por um longo período. Depois de algum tempo, ele o dobrou e o guardou no bolso, então se encostou e sem perceber ficou olhando para o casal.

- Harry Lyle disse que os olhos da condessa são cativantes, como os de Ana Bolena no cadafalso, antes de ser enforcada disse Edward. Ele queria que Randolph soubesse que não era o único admirador de Maggie.

- Devo confessar que considero isso um elogio - comentou Maggie. - Apesar de não me lembrar muito se os olhos de Ana Bolena, que vemos nas pinturas, têm o mesmo formato dos meus. Eu sempre desejei ter olhos azuis como os seus, sr. Hollingsworth. O senhor já percebeu que mais da metade da população da terra tem olhos castanhos? Olhos azuis não são comuns.

- Acho que Átila, o Bárbaro, tinha olhos azuis - comentou Edward.

- É preciso lembrá-lo de que os olhos de Fiona também o são - disse Randolph, encarando Edward. Em seguida, ele olhou para Maggie novamente. - Que história é essa sobre Harry Lyle? Estou com ciúme.

- Lyle é um dos vários admiradores da lady - disse Edward.

- No dia de nossa partida, ela esperava receber um pedido de casamento dele.

A expressão de Randolph se transformou.

- De hoje em diante, eu deixarei de considerar Lyle como um de meus melhores amigos. O rato.

- Eu não gostaria que o senhor amaldiçoasse o sr. Lyle disse Maggie, lançando um olhar de reprovação para Edward. Ele é um homem bom, a menos que... - Ela olhou para Edward novamente.

- Hollingsworth sabe de tudo - Edward consentiu.

- Tudo? - ela perguntou. Edward concordou.

- Até mesmo sobre o salafrário?

- O salafrário? - perguntou Randolph.

- O homem com quem, lamentavelmente, casei-me - completou Maggie. - O homem cuja morte não me fez derramar nem mesmo uma única lágrima.

- Apesar de a condessa não derramar lágrimas quando realmente está triste - comentou Edward.

Randolph olhou desconfiado para Maggie e Edward.

- Vocês têm certeza de que só se conheceram há apenas algumas semanas?

Parecia impossível para Edward o fato de eles terem se conhecido apenas um mês antes. Como ela conseguiu invadir sua mente e seu coração, até mesmo sua alma, em tão pouco tempo?

- Acredito que lorde Warwick gostaria de poder voltar o relógio para o tempo em que ele ainda não me conhecia - Maggie disse com uma risadinha.

Será que ele o faria, se pudesse? Como as coisas seriam menos complicadas se Maggie não tivesse invadido e desestabilizado a previsível vida que ele levava. Mas se pudesse reorganizar a sua vida, ele não mudaria nada. Nem mesmo à noite em Greenwich. Nem mesmo seu desejo ardente por Maggie.

- Não diga isso, milady - Edward disse com profundo pesar

em sua voz.

Quanto mais eles rumavam para o sul, mais azulado o céu se tornava. Edward estava feliz por Maggie. Ele não queria imaginar o que aconteceria se ela ficasse com medo e perdesse o controle. Especialmente quando ele não poderia confortá-la.

Naquela noite, na estalagem, Maggie pediu licença para se retirar logo após o jantar. Influenciada pela irmã, ela disse que desejava se enrolar numa coberta e ler um bom livro em sua cama.

Ao entrar no quarto, Maggie removeu o xale das costas e o colocou com carinho sobre o espaldar de uma cadeira. Então ela se despiu, vestiu uma camisola de lã e entrou embaixo das cobertas.

Após ter apagado a vela, ela ficou deitada na escuridão, ouvindo o som do vento e o chiado do fogo que ardia em seu coração.

Ela então decidiu que iria dar esperanças para Randolph Hollingsworth.

Seria a melhor opção tanto para ela como para Edward. Ela pediu a Deus em suas preces para ser uma boa esposa para o sr. Hollingsworth.

- O senhor gosta de gatos, sr. Holiingsworth? - Maggie perguntou no dia seguinte.

Para ativar ainda mais o sentimento de ciúme de Edward, Maggie e Randolph sentavam lado a lado na carruagem novamente. Edward não entendia por que Randolph não podia se sentar ao lado dele e deixar para a lady todo o assento.

Randolph respondeu com uma careta:

- Não consigo tolerar este animal. Por que a pergunta?

- Oh, Deus, o senhor compartilha do mesmo sentimento de lorde Warwick. Ele não gosta do meu gato.

- Quanto mais tempo passei ao lado do animal - Edward concluiu -, menos objeções eu tive com relação a ele.

- Então por que o senhor não me permitiu que o trouxesse comigo? - ponderou Maggie.

- Se nós pudéssemos nos dar ao luxo de trazer uma carruagem adicional, o gato poderia ter viajado junto dos empregados, pois a senhora tem de admitir que viajar com um animal é muito complicado.

- Não com Tubby. Ele se comportou muito bem durante a nossa travessia pelo Atlântico. Ele é um animal muito carinhoso e estou sentindo muita falta dele. - Maggie olhou para Randolph.

- Eu nunca viveria sem o meu gato.

"Meu Deus, ela estava planejando se casar com Hollingsworth, então?", Edward concluiu em seus pensamentos. Randolph tocou na mão dela.

- Tenho certeza de que seu gato é muito encantador.

- Oh, ele é! - ela disse alegremente. - E ele possui uma personalidade adorável.

Edward não havia percebido nenhum sinal da adorável personalidade do gato, durante o seu convívio com o felino. Mas ele não queria discordar de Maggie para não provocar a sua ira.

- Demorei para perceber que os gatos têm personalidade disse Randolph -, mas com cachorros é diferente. Os meus são muito inteligentes. É impossível que a senhora não se afeiçoe a eles, milady.

- Mas eles são tão... grandes! - ela disse. - Prefiro um animalzinho que possa ficar bem junto a mim quando estou dormindo.

A visão de Maggie, Tubby e Hollingsworth deitados numa cama estava além do que Edward podia suportar. Hollingsworth franziu a testa e murmurou:

- Não sei como alguém pode dormir com um animal. Apesar de Edward compartilhar da mesma opinião, naquele momento ele compartilharia a cama até mesmo com um gorila se isso fosse requisito para dormir com Maggie.

Mas ele não podia permitir que seus pensamentos fossem tão longe. Ele lançou uma carta de baralho.

- Podemos continuar o jogo?

Edward tinha de admitir que jogar cartas fazia com que o tempo passasse mais rápido.

Durante os dias que se passaram, eles jogaram todos os jogos possíveis de serem jogados a três, e isso fez com que o tempo voasse.

O clima favorável também acelerou o avanço deles, e conseguiram chegar em Broadmeadows um dia antes do previsto.

A tarde estava apenas começando quando a carruagem de seu pai estacionou em frente à casa de pedras em Broadmeadows, e por mais que ele detestasse deixar Maggie, Randolph despediu-se deles e seguiu para Londres. Ele já havia discutido com Warwick sobre qual seria o seu procedimento em Londres assim que chegasse lá.

Cavalgar pelas colinas era muito agradável, especialmente após ter estado por dias preso em uma carruagem. A temperatura estava muito agradável e olhar para o céu azul era um deleite.

Randolph chegou ao ministério por volta das quatro horas da tarde e procurou direto por Harry Lyle. O homem estava debruçado sobre um mapa, quando ele entrou em sua sala.

- Onde está Warwick? - perguntou Randolph. Lyle virou-se, reconhecendo o amigo imediatamente.

- Esperava que você pudesse me informar. Você veio de Yorkshire?

- Sim.

- E Warwick não estava lá?

- Claro que não! Por que eu estaria procurando por ele? Lyle levantou os ombros.

- Tenho me preocupado muito com eles. Mas como vai você, amigo?

- vou bem - respondeu Randolph. - Mas ouvi você dizer eles!

-Warwick foi visto pela última vez com a condessa Warwick, uma mulher extremamente bela.

Randolph teve de se conter para não alardear sobre seu iminente noivado com a bela.

- Condessa? Mas Warwick está comprometido com minha irmã! Ainda não é oficial, é claro. Ele não pode ter fugido e se casado com outra.

- Não, não! Esta condessa é a... viúva do falecido tio dele.

- Mas achei que o falecido lorde morreu solteiro. Lyle negou, acenando com a cabeça.

- O excêntrico se casou com ela pouco antes de morrer.

- É mesmo? E quando poderei conhecer a tal bela?

- Aí está o problema. Ela está desaparecida, assim como Warwick. Temo que eles tenham sido assassinados.

- Meu Deus! O que o faz pensar que isso possa ter acontecido?

Ele observou atentamente a reação de Harry. O homem parecia muito preocupado.

- Ninguém mais os viu desde a última aparição deles, no Almack, há algumas semanas.

Um homem magro entrou na sala e parou próxima à porta, ouvindo a conversa deles. Harry a princípio não percebeu a presença dele. Randolph lançou um olhar desconfiado para o intruso.

- Em que posso lhe ajudar? - Harry perguntou de maneira severa.

O homem gaguejou.

- Eu... eu gostaria de pedir emprestado o seu livro de códigos. Acho que esqueci o meu em casa. Pegarei o de Warwick. A propósito, alguma notícia dele?

- Não, infelizmente - respondeu Harry. Randolph levantou e se apresentou ao intruso.

- Desculpe-me - disse Harry. - Sr. Hollingsworth, permita-me apresentar-lhe o sr. Kingsbury. Charles Kingsbury.

- Ao seu dispor - Randolph disse, inclinando o corpo. Eles esperaram até Kingsbury sair da sala para retomarem a conversa.

- Ele é confiável? - perguntou Randolph.

- Infelizmente não tenho certeza.

- Você procurou por Warwick no castelo Hogarth?

- Procuramos por ele em todas as propriedades dele e planejávamos procurá-lo em Windmere Abbey.

- Nós?

- Lorde Carrington está tão preocupado quanto eu. Tememos que Warwick e a condessa tenham sido raptados. Carrington se culpa por não ter requisitado a guarda real montada para protegê-los.

- E por que um civil seria merecedor da proteção da guarda real?

- Suspeitava-se de que a condessa estivesse de posse de documentos importantes que seriam do interesse dos nossos inimigos.

- Então parece que o inimigo capturou o lorde e a condessa.

- Sim, é o que parece. Malditos! - O homem estava prestes a derramar lágrimas.

- Este é Randolph Hollingsworth?

Randolph olhou para ver quem perguntava e viu que se tratava de lorde Carrington, então ele se levantou e fez uma reverência.

- Ao seu dispor, milorde.

- O senhor veio de Yorkshire?

- Sim, mas Warwick não está lá. Lyle estava me contando sobre o desaparecimento.

Lorde Carrington também parecia muito preocupado.

- Se algo acontecer a eles, eu nunca me perdoarei. Eu deveria ter providenciado para que eles estivessem protegidos.

Randolph se perguntava se lorde Carrington também estivera enamorado por Maggie. Será que nenhum homem estaria imune ao charme dela? Ele supunha que Warwick estava, uma vez que ele estava comprometido com Fiona, mas mesmo assim Randolph suspeitava um pouco dele também.

- Se eles retornarem, cuidarei para que eles não fiquem mais sem proteção - disse lorde Carrington.

Não era isso o que Warwick esperava? Poder retornar a Londres em segurança?

- Situação terrível - comentou Randolph.

- Sim, é mesmo - concordou lorde Carrington. - Mas ainda temos esperança.

Harry caminhou na direção deles.

- Eles estão vivos!

- Acredito que eles estejam - disse lorde Carrington. Acabei de chegar da prisão Newgate onde falei com um bando de canalhas que confessaram serem os autores do ataque à condessa, na noite em que ela esteve no Almack. Não consegui o nome do homem que os contratou, mas soube que ele se vestia como um cavalheiro e que tinha sotaque francês.

- O que o senhor quer dizer com ataque à condessa? - perguntou Harry. - Ela conseguiu escapar?

- Aparentemente sim - respondeu lorde Carrington.

Graças a Deus! - exclamou Lyle. Em seguida, como se estivesse pensando em voz alta, ele falou. - E, temendo pela segurança dela, Warwick naturalmente se escondeu com ela!

Harry Lyle talvez não conhecesse Maggie por muito tempo, mas estava óbvio para Randolph que este era mais um dos apaixonados pela condessa.

- Aonde a senhora pensa que vai? - Edward perguntou a Maggie, que já estava parada na porta de Broadmeadows, preparando-se para sair.

-vou dar um passeio. O dia está muito lindo para ficar dentro de casa.

Como ela podia ser tão descuidada com sua própria segurança? - vou acompanhá-la então.

- O senhor acha que corro algum risco de ser atacada aqui em Broadmeadows?!

- A única coisa que sei é que devemos estar preparados para o pior.

Ela esperou enquanto ele embainhava seu sabre, então os dois deixaram a casa, ela de braços dados com ele. Aquecidos pelo sol, eles caminhavam pelos belos prados atrás da casa de pedra.

- O que a senhora está achando de Broadmeadows? - ele perguntou.

- Estou amando este lugar. Quem me dera se Rebecca e eu tivéssemos um lugar pequeno e agradável como esse, então eu não precisaria ter tanta pressa para me casar. O mais triste disto tudo é que, se eu não tivesse me casado com o salafrário, meu pai poderia ter-nos deixado o suficiente para comprarmos uma propriedade parecida com essa.

- Ele era tão próspero assim?

- Não imensamente rico, mas ele tinha o suficiente.

- Então não entendo por que seu meio-irmão não foi mais generoso com a senhora e sua irmã.

- O senhor não entende porque é uma pessoa generosa. Mas James não é. É muito triste que ele não tenha herdado a benevolência de nosso pai. Acredito que ele tenha saído à mãe dele. Maggie fez uma pausa. - Estou sendo muito severa ao falar desta maneira de meu próprio meio-irmão, sangue do meu sangue.

- A senhora não tem de se desculpar por dizer a verdade. Eles chegaram a um imenso pomar de pêssegos, onde puderam caminhar sobre a sombra das árvores. Um pouco mais adiante, a propriedade terminava num belo lago azulado que brilhava como safiras sob os raios do sol. Eles vinham calados por alguns minutos. Edward não tinha certeza se queria conversar com ela. Ele não queria ouvir Maggie tecendo elogios sobre Hollingsworth. No silêncio que os cercava como uma concha, ele podia se esquecer que estava comprometido com Fiona e que Maggie não lhe pertencia. Maggie suspirou.

- O dia está tão lindo. Não entendo como alguém possa preferir ficar em casa a sair para passear. Não há nenhuma nuvem no céu, e o vento não está soprando. - Ela levantou o rosto sorridente e o olhou. - Acho que para seu desgosto.

- A senhora está enganada se pensa que sou apegado às nuvens. Eu lhe asseguro que um dia como o de hoje é tudo que desejo. com ou sem nuvens.

- Maggie - ele falou um minuto depois com a voz rouca. Ela o olhou dentro dos olhos, as sobrancelhas erguidas.

- Lorde Agar está vendendo Broadmeadows. Deixe-me comprá-la para a senhora e sua irmã. Gostaria que a senhora se casasse por amor e não por necessidade.

Havia uma profunda suavidade em seus olhos e um inconfundível tom de remorso em sua voz, quando ela respondeu:

- Percebe o que eu quis dizer sobre sua generosidade? Eu agradeço pela sua oferta, mas não posso aceitá-la. Além do mais, o senhor deve levar em consideração os sentimento de lady Fiona. Por mais caridosa e bondosa que ela seja, o senhor não pode esperar que ela fique calada, enquanto o senhor gasta uma verdadeira fortuna com uma mulher solteira.

Ele franziu o cenho.

- Eu não gosto de imaginar que a senhora tem pressa para se casar com Hollingsworth. Desta vez seu casamento será para sempre, e eu não gostaria que a senhora se comprometesse com alguém e se arrependesse no futuro.

- Considero o sr. Hollingsworth um perfeito cavalheiro.

- Ele é mesmo. A senhora está se apaixonando por ele? Seu coração batia forte e tambores soavam em seus ouvidos.

Maggie não respondeu por um momento. Ela estava sem fôlego.

- O senhor está sendo indiscreto ao fazer uma pergunta tão pessoal - ela respondeu.

- Perdoe-me. Eu não tenho esse direito.

Naquele momento, eles já haviam deixado o pomar e estavam caminhando à margem do lago.

- O senhor sabe se lorde Agar está passando por alguma dificuldade financeira? - ela perguntou.

- Não até esta última visita, quando soube que ele iria vender Broadmeadows.

- Soube que ele perdeu uma quantia significante em uma mina de ouro na África - ela comentou.

- Não foi somente isso - Edward continuou - ele também perdeu muito dinheiro na bolsa de valores.

Será que Maggie estava imaginando que caso se casasse com Hollingsworth, a fortuna do pai dele já teria acabado antes de ele a herdar? Tal atitude não combinava com o caráter de Maggie. Além do mais, ela acabara de recusar a oferta dele sobre a compra de Broadmeadows.

- Sinto uma grande tristeza por lorde Agar - ela disse. Ele ainda padece da perda da esposa, e agora isso. Uma pena. Se ganharmos a guerra, o senhor acha que a bolsa irá se recuperar?

- Sem dúvida.

"Ganharmos a guerra, somente uma patriota poderia dizer algo assim", pensou Edward.

Ao retornarem para a casa Edward estava tomado por uma profunda melancolia. Apesar de o dia estar maravilhoso. Apesar de a mulher que ele amava estar ao seu lado. Ele temia que o Todo-Poderoso estava lhe concedendo todas aquelas maravilhas somente para lembrá-lo de que ele não a teria pelo resto de sua vida. Aquela poderia ser a última oportunidade que ele teria de ficar a sós com Maggie, a última vez que ele poderia sentir o braço dela no dele. Edward sentia-se como se estivesse sangrando por dentro.

Quando eles entraram na casa, a governanta informou que uma carta para lorde Warwick acabara de ser entregue. Edward correu para o aparador do hall de entrada e viu uma carta endereçada a ele com a caligrafia de Fiona.

 

O coração dele disparou quando ele desviou o olhar da carta em sua mão para Maggie. Ela estava parada no terceiro degrau da escada, sua mão apoiada no corrimão de madeira e o xale branco sobre seu ombro. Os raios de sol incidiam em seus cabelos, realçando o brilho dourado. Suas faces estavam rosadas, e ela estava incrivelmente bela.

- vou subir para o meu quarto a fim de tomar um banho e me preparar para o jantar - ela disse.

Edward esperou por um momento antes de subir para o seu quarto, que ficava próximo ao dela. Após fechar a porta de seu aposento, ele se dirigiu à janela, abriu as cortinas e deixou que a luz da tarde invadisse o ambiente. Então ele se sentou em uma cadeira e abriu a carta.

Querido lorde Warwick,

Uma vez que me parece um tanto impossível que o senhor repita a terrível jornada para o norte em um curto espaço de tempo, tomei a decisão covarde de findar nosso compromisso por meio desta carta. Eu deveria tê-lo feito antes que o senhor deixasse Windmere Abbey, mas devido às circunstâncias eu estava muito agitada para raciocinar com clareza.

Foi uma sorte não termos anunciado publicamente o nosso noivado. Nenhum de nós tem motivos para sentir-se culpado pelo julgamento erróneo que resultou no compromisso secreto.

Como o senhor deve saber, não desejo me casar com um homem cujo coração não me pertence, apesar de confessar que cheguei a considerar a situação.

Se o senhor realmente ama a bela condessa, deve se declarar a ela antes que ela aceite o pedido de meu irmão. Acredito do fundo do meu coração que vocês foram feitos um para o outro. F.

As mãos de Edward tremiam, enquanto ele dobrava a carta. Após carregar uma imensa culpa durante várias semanas, finalmente podia sentir-se aliviado. Estranhamente, no entanto, não se sentia aliviado. Sentia-se culpado por ter causado tanta dor a Fiona. Ela merecia um homem que a amasse acima de tudo, mas será que aquele coração frágil poderia confiar em alguém novamente?

Apesar de Edward amar Maggie do fundo de sua alma, ele tinha razões para crer que ela não o amasse. Afinal, ela já não havia recusado o pedido de casamento dele? Ela não estava prestes a aceitar o pedido de Hollingsworth?

Edward sentia os ombros pesados. Ele não tinha esperanças. Ele tinha certeza de que Maggie aceitaria o pedido de Hollingsworth.

Uma dor profunda e estarrecedora tomou conta dele. Como alguém poderia viver quando seu coração havia sido arrancado?

Eles já haviam quase acabado o segundo prato quando o sr. Hollingsworth, trajando roupas de montaria empoeiradas, adentrou a sala de jantar naquela noite. Maggie ficou muito feliz pela interrupção. Edward estava mal-humorado e quase não havia falado durante o jantar.

- Por que o senhor não se senta? - disse Maggie. Randolph acenou com a cabeça.

- Preciso tirar essas roupas.

- Então prepararei um prato para o senhor e o levarei à sala de estar a fim de que possa comer um pouco, enquanto nos conta tudo sobre a sua viagem - ela disse.

Uma hora depois, Randolph já havia trocado as roupas, e os três estavam acomodados na sala de estar. Edward e Maggie bebiam um conhaque, enquanto Randolph comia com o prato em seu colo.

- Uma vez que você retornou tão rápido, presumo que tenha descoberto algo - disse Edward com uma voz grave.

Randolph, que terminava de mastigar um pedaço de peixe, concordou.

- Acredito que você possa retornar com segurança para a sua casa.

O olhar de Maggie se fixou em Edward.

- Não vou expor Maggie a nenhum perigo somente porque você acha que estaremos em segurança. É melhor que você tenha algo mais forte do que isso.

- Lorde Carrington prometeu que colocará a guarda real montada ao redor da Mansão Warwick para garantir a segurança da lady - disse Randolph. - Ele lamenta por não tê-lo feito antes.

- Assim como eu - completou Edward.

O tom grave de Edward cortou o coração dela. Uma mecha de cabelo caiu sobre a testa dele, e ela sentiu uma imensa vontade de colocá-lo de volta em seu devido lugar, de deslizar nos braços dele e aliviar-lhe todas as preocupações, preocupações que ela havia lhe colocado sobre os generosos ombros.

- Há ainda mais uma coisa - adicionou Randolph, acomodando seu garfo no prato. - Carrington contou que os culpados pelo ataque à condessa estão presos em Newgate.

- Estou tão aliviado - disse Edward. - Ele descobriu quem os contratou?

- Carrington ainda não descobriu o nome, mas os culpados dizem que o homem tem um sotaque francês.

Um sorriso brotou nos lábios de Maggie.

- Então podemos tirar a suposta culpa do lorde Carrington e do sr. Lyle?

- É o que parece - disse Randolph.

- Por mais que acreditemos que eles sejam inocentes, precisamos agir com cautela - interveio Edward.

Randolph lançou um olhar terno para Maggie.

- Você está coberto de razão Edward, mas acredito que a lady já esteja cansada de ter de se esconder.

- Eu não sou a única que está levando uma vida de reclusão

- interveio Maggie.

O sr. Hollingsworth terminou de comer, colocou seu prato em cima de uma mesa de apoio e serviu-se de uma taça de conhaque.

- Eis o que tenho a propor - ele disse, enquanto se sentava

- vocês dois retornam para a Mansão Warwick, onde contarão com um segurança armado esperando. Então, quando Maggie estiver oculta e segura, você informa ao lorde Carrington sobre o retorno da condessa e solicita a proteção da guarda real montada.

- Faz sentido o seu plano - disse Edward. - Ninguém deve estar esperando que cheguemos durante o dia na Curzon Street, na carruagem de seu pai. Parecesse-me seguro. - Ele olhou para Maggie. - Este plano lhe agrada?

Maggie sentia muito medo, somente de pensar que teria de retomar a Londres. Foi lá que homens armados com facas a atacaram, homens que possivelmente mataram o sr. Bibble. Ela ainda tinha muito viva na memória a lembrança do cadáver do sr. Bibble. Ela ficaria muito feliz se tivesse de passar o resto de sua vida em Broadmeadows. Mas esta não era uma opção. Ela respirou fundo.

- Se o retorno a Londres significa que as coisas voltarão ao normal, então que seja.

- A senhora está com medo? - Edward olhou-a com ternura.

- Nunca deixei de sentir medo - ela respondeu com um tom de nervosismo na voz. - Desde aquela noite terrível, quando fugimos de Londres.

- A senhora irá se sentir mais segura aqui em Broadmeadows?

- Edward perguntou de maneira carinhosa.

- Acho que não me sentirei totalmente segura até que os documentos do salafrário, ou seja lá o que procuram, sejam encontrados.

- Isso talvez nunca seja encontrado - ele respondeu.

- Um dia isso irá aparecer - ela disse. - Talvez não estejamos mais vivos para saber. - Ela soltou um riso nervoso.

- Achei que a senhora quisesse voltar para Londres - disse Randolph.

Uma pena que Randolph Hollingsworth não a entendesse como Edward, uma vez que ela estava pensando em passar o resto de sua vida ao lado do sr. Hollingsworth.

Uma pena que ele não era Edward.

- Não gosto de ter ninguém me vigiando - ela comentou de ter de me preocupar se estou sendo seguida ou se estarei viva no dia seguinte. - Ela olhou dentro de sua taça e girou o líquido âmbar que estava dentro.

-Ficaremos em Broadmeadows. -Edward apertou os lábios.

- Pense no que você está dizendo, Warwick! - disse Randolph. - Você está preparado para deixar sua vida de lado a fim de garantir a segurança da condessa? Ela se sentirá totalmente segura caminhando pelos campos, ou pelo pomar, ou ao redor do lago?

- Ele tem razão - ela disse. - Nós devemos retornar a Londres.

- Gostaria de lembrá-la, milady, das consequências de se tomar uma decisão apressada - interveio Edward.

Ele estava se referindo ao casamento desastroso que ela já havia feito.

- Se isto servir de alívio para os seus temores - ela disse prometo pensar no assunto durante esta noite. Se acordar com a mesma intenção amanhã, então devemos retomar para Curzon Street.

Os olhos de Edward brilhavam de raiva.

- Como a senhora desejar.

- Vocês gostariam de jogar cartas? - perguntou Randolph com um sorriso.

- O dia de hoje foi muito cansativo - respondeu Maggie.

Se não se importarem vou para a cama. Sugiro que o senhor jogue xadrez com o lorde Warwick. Ele é um exímio jogador.

Edward recusou o convite para o jogo. Ele, então, pegou um cigarro, vestiu um sobretudo, e saiu para um passeio. Caminhou pelo amplo e extenso jardim ornamentado, que não recebia cuidados já havia um bom tempo. A luz alaranjada da brasa de seu cigarro aceso brilhava na noite como uma estrela no céu sem luar, as doces canções de ninar dos rouxinóis penetravam nos ouvidos silenciosos da noite.

Ele não parava de pensar no último parágrafo da carta de Fiona. Se ele desejava conseguir a mão de Maggie, era melhor tomar logo uma atitude.

Em seguida, com a mesma rapidez com que ele havia se enchido de esperança, caiu em desespero. Se ela ao menos tivesse lhe dado um único sinal, ou um sorriso de flerte

como os que ela dava para Hollingsworth, ele poderia se expor ao risco da rejeição. Mas, salvo aquele dia em Greenwich, quando ela estava aterrorizada pela tempestade, ela nunca e de nenhuma maneira havia expressado o mínimo desejo por ele.

Então a lembrança daquele beijo que eles trocaram durante o passeio perto do rio na viagem ao norte deu a ele um raio de esperança. Ela não ficou ultrajada, quando ele puxou-a para seus braços e beijou-a com intensa paixão.

Deus, mas eles eram muito bons juntos, ele e Maggie. Um homem poderia passar por toda a sua vida sem experimentar um encontro amoroso tão sublime como o que eles compartilharam naquele dia.

Estava ficando claro para Edward que a súbita intromissão de Maggie naquela noite na Mansão Warwick fora obra do destino. Ele não percebeu isso naquela noite, talvez até não tivesse total consciência naquele exato momento, mas ele tinha absoluta certeza de que suas vidas estavam predestinadas a se cruzarem e a se unirem por toda a eternidade.

E ele não podia correr o risco de deixá-la escapar.

Edward esmagou o cigarro no pavimento de pedra e retornou a casa.

Após carregar sua valise escada abaixo, sem nenhuma ajuda, Maggie encontrou Edward e Randolph que retornavam de uma caminhada matinal.

O olhar triste de Edward pousou sobre a valise e os trajes de viajem dela.

- Parece-me, milady, que a senhora tomou uma decisão. Ela concordou.

- Quanto tempo será necessário para os cavalheiros ficarem prontos a fim de partirmos?

- Somente alguns minutos para colocarmos as roupas na mala - respondeu Randolph.

Minutos depois eles estavam na carruagem, onde o sr. Hollingsworth mais uma vez insistiu em se sentar ao lado de Maggie. Ela sentia-se culpada por estar com tanta pressa. Edward imaginara que, naquela manhã, Maggie teria a oportunidade perfeita para dizer não ao pedido do sr. Hollingsworth e, finalmente, aceitar o seu pedido. Por que ela não o fez então?

Maggie ainda não havia dito "não" ao sr. Hollingsworth, justamente por causa de Edward. Pois ele iria se casar com Fiona, e, por Maggie gostar muito dela, as chances de ela aceitar o afeto de Edward eram praticamente nulas, apesar de ela o amar profundamente.

Maggie não conseguia tirar da memória a imagem de Edward dizendo: "Estas eram minhas últimas esperanças". Talvez ele se importasse com ela, pelo menos um pouco. Aceitar qualquer outro homem que não fosse Edward seria o mesmo que fechar as portas de seu coração. O problema era que ela não estava pronta para se entregar a uma vida sem amor.

A medida que a carruagem prosseguia, Maggie observava Edward olhando pela janela. Ele era tão másculo. Não era somente o sabre ao seu lado ou as botas de montaria e a calça de couro, que realçavam seus músculos, que o faziam parecer tão austero. Sua virilidade ia muito além daqueles detalhes. A sombra escura da barba que cobria seu rosto, os ossos pronunciados de sua face. realçados pelos olhos, os lábios fechados com vigor, a postura confiante de seus ombros, todos esses detalhes se juntavam para compor o homem mais desejável que ela já havia conhecido.

Poucas horas depois, ao entrarem em Mayfair, o sr. Hollingsworth e Edward puxaram suas espadas. E quando o cocheiro virou na Curzon Street, Edward guardou o lado direito da carruagem e Randolph o esquerdo.

Em seguida, eles já estavam seguros dentro da Mansão Warwick, e Tubby estava olhando entediado para Maggie, que fazia festa para ele. Ela pegou o gato no colo e subiu até o terceiro andar à procura de Sarah, mas ela não a encontrou lá.

- A senhora irá encontrar a sita. Sarah, tomando chá com o sr. Wiggins na cozinha - informou a Maggie uma criada. - Os dois se tornaram muito íntimos após a partida de milady.

Quanta gentileza do mordomo!

Mas assim que Maggie os encontrou, sentados na cozinha, tomando chá, ela pôde perceber que o mordomo não estava sendo somente gentil. A maneira como o idoso homem olhava para Sarah convenceu Maggie de que ele estava atraído por ela!

- Uma fina governanta como a senhora-ele dizia para Sarah - não deveria sentir-se culpada por não ajudar com a arrumação e a cozinha. Isso tudo estragaria as suas delicadas mãos.

Sem que percebessem a sua presença, Maggie continuou observando a cena. Sua leal criada parecia ter remoçado uns dez anos. Cruzar o oceano foi melhor do que Maggie imaginava. Agora que Sarah já havia descansado por algumas semanas, sua face estava rosada novamente e seus olhos azuis brilhavam, enquanto ela olhava para o sr. Wiggins.

Wiggins viu Maggie primeiro. Ele se levantou e começou a se desculpar por não tê-los recebido pessoalmente.

- Não tem problema, Wiggins - disse Maggie. - Além do mais, o lorde já foi para o ministério. Por favor, termine o seu chá. Eu só queria avisar Sarah sobre minha chegada.

Sarah se levantou.

- Subirei agora mesmo para desfazer as malas da senhora e da srta. Becky.

Maggie colocou as mãos no ombro da senhora e sorriu.

- Você não precisa fazer isso agora! Rebecca ficou em Yorkshire, e eu não tenho pressa para desfazer as malas. Por favor, termine o seu chá.

- Meu Deus! - exclamou o sr. Lyle ao ver Edward. - Por onde você andou?

O tom de alívio em sua voz e o sorriso sincero convenceram Edward de que o amigo realmente estava feliz por vê-lo.

- Ainda me sinto totalmente seguro - respondeu Edward.

- Soube que vocês foram atacados quando voltavam do Almack?

- Sim, fomos. Mas, felizmente, conseguimos escapar.

- Não entendo por que você fugiu sem me avisar. Você não imagina o quanto me preocupei.

"Preocupado com Maggie", pensou Edward, colocando a mão no ombro do amigo.

- Desculpe-me, velho amigo.

- Eu planejava pedir a mão da condessa no dia em que vocês desapareceram.

Edward sentiu um aperto no peito.

- Ela está bem? - perguntou Harry.

- Está.

- Ela voltou para Londres com você?

- Ela está em minha casa. Vim para pedir pela proteção dela.

- Lorde Carrington prometeu colocar a guarda real montada à disposição de vocês.

- Quero que eles estejam lá ainda hoje.

- Você precisará acertar isso com o lorde Carrington.

- Ele está aqui?

Harry fez um gesto positivo.

Em seguida, Edward já estava entrando na sala de seu superior.

- Como é bom vê-lo, meu bom homem! - exclamou lorde Carrington. Apesar de sua conduta ser tão amigável quanto à de Harry, ele pareceu menos surpreso. - Procuramos por você em todos os lugares. Soube, somente ontem, que vocês conseguiram escapar dos homens que os atacaram, e eu lhe asseguro de que eles estão recebendo o tratamento que merecem.

- O senhor falou com eles?

- com um deles. Eles estão presos em Newgate. Apesar de ele ter-me dito que vocês conseguiram fugir, cheguei a duvidar de que ele estivesse dizendo a verdade. Não se pode confiar em homens como aqueles. A viúva de Henshaw está em segurança?

- Sim, ela está. Gostaria que o senhor enviasse imediatamente a guarda real montada para protegê-la.

Lorde Carrington deu um leve sorriso.

- Então você já falou com o sr. Lyle?

- Brevemente. Eu estava ansioso por vê-lo, para garantir a guarda da viúva.

- É claro, terei um imenso prazer em atender ao seu pedido, ainda que os suposto criminosos ainda estejam na prisão.

- Mas o homem que os contratou não está! - Edward salientou.

- Você tem razão. Falei com o duque de York, e ele me garantiu que poderei contar com um pequeno contingente de guardas.

- Ótimo.

- Agora, sente-se e conte-me tudo.

Quando lorde Carrington veio visitá-los, naquela tarde, dois homens, trajando uniformes da guarda real montada, guardavam os fundos da mansão, enquanto quatro deles guardavam a entrada.

- O lorde Warwick encontra-se na biblioteca - informou Wiggins.

Eu não desejo ver o lorde. Por favor, avise a condessa que

lorde Carrington está à espera dela.

Wiggins conduziu-o à sala de estar, em seguida foi chamar Maggie Que entrou na sala alguns minutos depois.

Lorde Carrington se levantou e cruzou a sala, fazendo uma reverência para ela, pegando com firmeza a sua mão estendida, e beijou-a em seguida.

- Mal posso dizer-lhe o quanto me preocupei com a senhora, milady.

- Mal posso dizer-lhe o quanto tenho me preocupado comigo mesma! - ela disse com um leve sorriso. - Por favor sente-se, milorde. Estou em dívida com o senhor, milorde, por ter colocado a guarda real montada a minha disposição.

- Eu deveria tê-lo feito antes, mas não se pode chorar sobre o leite derramado. Espero que de agora em diante o acontecimento daquela noite não se repita.

- Fico muito agradecida.

Maggie se perguntava por que lorde Carrington parecia mais jovem do que era. Ela achava que ele pudesse ter entre cinquenta e sessenta anos, e apesar da idade o lorde era um homem muito bem-apessoado. Seu corpo era esguio, e ele vestia-se com muita elegância. Ele a estava encarando de uma maneira que a deixava extremamente desconfortável.

- Conte-me, milady, a senhora descobriu algo desde a nossa última conversa?

Ela se lembrou, então, que ele queria que ela vigiasse Edward.

- Nada, milorde. Nada sobre meu falecido marido. Nada que desabone lorde Warwick.

- Entendo. - Ele continuava encarando-a.

- O senhor aceitaria um chá?

- Não, obrigado. Não devo me demorar. Tenho de confessar, milady, eu estava com pressa de me encontrar com a senhora, antes que seus pretendentes soubessem de seu retorno. Eu gostaria de pedir a sua mão em casamento.

com certeza ela não havia escutado direito! O lorde nunca demonstrara nenhum sinal de afeto para com ela.

- Perdão!?

- Acho que meu pedido foi uma surpresa.

- Então eu ouvi direito! Ele riu.

- Eu também me surpreendi quando me dei conta de meus sentimentos para com a senhora, milady. Após o seu desaparecimento, eu percebi o quanto lhe quero bem.

- Mas, milorde, nós estivemos juntos apenas algumas poucas vezes! O senhor não me conhece o suficiente para desejar se casar comigo.

- Para ser honesto, eu nunca imaginei que iria querer me casar, mas estou com cinquenta e cinco anos e de repente me arrependi de não ter um herdeiro. Foi somente há alguns meses que tomei a decisão de procurar por uma jovem noiva, de boa família. Quando a conheci, comecei a imaginar que talvez a senhora fosse a mulher por quem tenho esperado durante toda a minha vida.

Maggie estava atordoada.

Apesar de ela estar pronta a aceitar o sr. Hollingsworth ou o sr. Lyle, se ele tivesse feito o pedido, ela sentiu-se extremamente culpada por usar aqueles homens apaixonados, pois, no fundo, ela sabia que nunca poderia retribuir a afeição deles.

Mas tal problema não existia com lorde Carrington, uma vez que ela não acreditava que ele estivesse apaixonado por ela. Sendo assim, ela não poderia feri-lo.

Era tudo como um grande negócio. Ele desejava um herdeiro e uma esposa bonita para servir de ornamento, e ela queria sentirse segura.

- Estou lisonjeada, milorde, mas o senhor deve saber que me surpreendeu. vou precisar de um tempo para pensar.

- Claro, minha querida. Porém, espero por uma confirmação, ainda hoje.

- Confirmação de quê? - perguntou Edward, ao entrar na sala.

O coração de Maggie disparou.

Lorde Carrington se levantou e olhou para Edward.

- É um assunto particular.

Edward olhou desconfiado para os dois.

- Eu já estava de saída - disse lorde Carrington. Em seguida, ele se dirigiu até Maggie, que ofereceu a mão. Ele beijou-a, Permita-me dizer o quanto estou feliz pelo seu retorno, milady.

- Permita-me dizer o quanto agradeço pela guarda real montada - ela agradeceu, sorrindo.

Depois que o lorde já havia se retirado, Edward lançou um olhar frio para Maggie.

- Agora a senhora enfeitiçou o lorde Carrington?

- O que o senhor quer dizer com isso?

- Lorde Carrington pediu a sua mão?

- Na verdade, sim.

 

Uma fúria desenfreada pulsava nas veias de Edward. Era um verdadeiro desplante lorde Càrrington fazer uso de seu título e de sua vasta fortuna para atrair Maggie! E por que Maggie tinha de ficar tão sedutora naquele vestido verde-água que mal cobria seus seios? A fúria dele se voltou para ela.

- Parece-me que foi bom para a senhora ter esperado, milady? Ela lançou-lhe um olhar desafiador.

- O que faz o senhor pensar que eu aceitarei a oferta dele?

- Que mulher não gostaria de se tornar uma condessa milionária?

Edward podia perceber a raiva que havia nos olhos dela.

- Eu não imaginava que lorde Càrrington fosse tão rico assim! - ela respondeu friamente.

Ele sentia vontade de esmurrar a parede, mas em vez disso, ele serviu-se de uma dose de vinho Madeira.

- Como eu ia dizendo, milady, foi bom para a senhora ter esperado.

- Eu imaginei que o senhor ficaria feliz por eu dispensar o sr. Hollingsworth, pois assim o senhor não terá de aturar a minha presença quando participar das reuniões familiares de lady Fiona.

Ele serviu-se de outra dose e virou-se para encará-la, os olhos dele brilhavam de raiva.

- Eu não estarei mais presente nas reuniões familiares dos Collingsworth. Lady Fiona rompeu o nosso compromisso.

Maggie ficou pálida. Ela começou a tremer, então se sentou no sofá de seda.

- Quando isso aconteceu?

- Recebi uma carta ontem.

A respiração dela era ofegante.

- Sinto muito pelo senhor, sei o quanto o senhor a ama.

- Então a senhora não me conhece tão bem quanto lady Fiona.

- O que o senhor quer dizer com isso?

Um aceno grave com a cabeça foi a única resposta dele. Na noite anterior, ele havia planejado correr o risco da humilhação, se declarando para Maggie. Edward temia ouvir um não como resposta se a pedisse em casamento.

Ele virou-se de costas, para ela com a intenção de servir-se de mais uma dose de vinho, quando ele ouviu o pranto dela. Maggie não fazia nenhum esforço para conter as lágrimas que rolavam sem parar por sua delicada face. Edward já a conhecia o suficiente para saber que aquelas lágrimas eram verdadeiras, só não conseguia entender o que a tinha aborrecido a ponto de fazê-la perder o controle das emoções.

Sua vontade era correr para ela, abraçá-la e murmurar em seus ouvidos palavras de conforto. Em vez disso, fortaleceu-se e voltou-se para ela.

- Mas que tipo de manobra é esta, milady? Maggie chorou ainda mais.

Edward não podia suportar mais. Para o inferno, seu orgulho! Ele correu até ela, apoiou-se em um dos joelhos e colocou suas mãos sobre os ombros trémulos dela.

- Qual o problema Maggie? - ele perguntou amavelmente. Maggie se jogou contra o peito dele. Ela chorava muito e suas lágrimas encharcaram a camisa dele. Ele a abraçou com força e murmurou:

- O que foi, meu amor? Por que o choro? Maggie o abraçava com força também.

- Eu s-s-s-sou uma fraca - ela tentou falar entre soluços. Eu o amei, m-m-m-mesmo sabendo que você era comprometido com Fiona.

Naquele instante, ele experimentou uma felicidade tão profunda, tão completa que ele poderia voar de tanto prazer. Os olhos dele brilharam, enquanto ele a abraçava com tanta força que até temia machucá-la.

- Meu Deus, Maggie, como você não percebeu o quanto eu a amo? Fiona percebeu.

Maggie se afastou para olhar dentro dos olhos dele.

- É verdade, Edward, você realmente me ama? Lágrimas desenfreadas rolavam daqueles olhos castanhos, e Edward achou que ela estava ainda mais bela.

- Eu a amo tanto que gostaria de matar Harry Lyle, Randolph Hollingsworth e lorde Carrington.

- Oh, Edward, meu querido! - A voz dela era suave. Como eu poderia desejar qualquer um deles, quando meu coração já lhe pertencia.

Edward segurou as duas mãos dela e beijou-as carinhosamente. O som da respiração da bela mulher era um afrodisíaco. Ele se aproximou e comprimiu os seus lábios contra os dela.

Sem perceber direito o que estava acontecendo, Maggie escorregou do sofá, ficou de joelhos e seu corpo se fundiu ao dele. Edward puxava-a para ainda mais perto, pressionando-a contra seu corpo trémulo.

Daquele momento em diante, ele se esqueceu do mundo, esqueceu que ainda era dia claro, que um criado poderia entrar a qualquer momento. O amor por Maggie o consumia, o desejo suplantava tudo o mais.

Ele sentiu pena por vê-la chorar.

- O que eu fiz com você? - perguntou, a voz tomada de emoção.

Maggie enxugou uma lágrima que rolava e respirou fundo. Em seguida, tocou gentilmente os lábios dele com o dedo indicador.

- Continue o que estava fazendo - ela disse sem fôlego. Não pare. Preciso sentir seu corpo contra o meu, dentro de mim.

Edward voltou a si quando percebeu que estava prestes a deixá-la nua, num local onde qualquer um poderia ver, e ele a amava muito para permitir que algo assim pudesse acontecer.

- Você me acompanharia até meu quarto? Maggie respondeu acenando com a cabeça.

Ele se levantou, ofereceu-lhe a mão, e juntos deixaram a sala e subiram a escada.

Maggie queria subir a escada devagar, para manter o mínimo de dignidade, mas percebeu que não tinha forças para controlar saas ações. Agarrou-se aos braços de Edward e pisou com firmeza em cada um dos degraus da escada, que parecia não ter fim.

Finalmente chegaram ao segundo andar, passaram pelo quarto de Maggie e Rebecca, e chegaram ao quarto de Edward. Tão impaciente quanto ela, ele a tomou nos braços tão logo puseram os pés dentro do quarto, enquanto fechava a porta com um pé.

- Você será minha - ele murmurou, conduzindo-a em direção à cama.

Maggie estremeceu quando Edward começou a amá-la, perdendo todo e qualquer comando sobre si mesma. Estava feliz por ser dia claro, pois assim ela podia ver aquele homem que ela amava tão intensamente, deslizando sobre seu corpo.

Enquanto o observava, Maggie se deu conta de que não estava mais separada dele. A partir daquele momento, as tristezas de Edward seriam suas, o prazer dele seria seu. Ambos estremeceram ao mesmo tempo com as ondas de prazer que os invadiam, uma após a outra.

Edward finalmente desabou de costas na cama, ofegante. Maggie aninhou-se no peito dele, sentindo os batimentos acelerados do coração.

- Perdoe-me por ter-me precipitado - Edward disse, ofegante. - Você se casará comigo, não aceitarei um "não" como resposta, Maggie.

- Eu me casarei. Na verdade - ela continuou -, sou capaz de segui-lo até o fim do mundo sem me importar com mais nada, nem mesmo com o nome que você está usando.

- Acho que devo uma explicação a você sobre esta história de Warwick.

- Você não tem de me contar nada. Meu amor por você é cego e sem fronteiras.

- De qualquer forma, eu devo lhe contar. - Ele deu um beijo no alto da testa dela. - Primeiro vou lhe contar sobre o falecido lorde Warwick. O pai e o avô dele dedicaram as suas vidas ao rei, prestando serviços secretos. O nobre que foi meu antecessor, dedicou a sua vida ao rei George. Enquanto todos pensavam que o lorde Warwick estava se escondendo em seu castelo, ele na verdade desfilava pelo país desempenhando seus serviços ao rei, sempre sob falsa identidade. Ele foi o agente secreto que conseguiu se infiltrar com mais sucesso entre os franceses. Infelizmente, eles o descobriam.

- Eles o mataram?

- Não. Ele foi mais esperto. O lorde disse a eles que mesmo se o matassem, as informações que ele havia conseguido sobre agentes duplos ainda seriam reveladas a Napoleão. Isso era um blefe, mas funcionou.

Ela se apoio em um dos braços e o olhou confusa.

- Não vejo onde você se encaixa nesta história.

- Quando o lorde Warwick morreu, aos sessenta anos e de causas naturais, lorde Carrington, que estava a par das atividades do falecido lorde, recomendou que eu assumisse o papel de herdeiro do lorde Warwick. Ele acreditava que os franceses poderiam imaginar que meu suposto tio pudesse ter confiado a mini alguma informação sobre os agentes duplos, informações que os inimigos da Inglaterra poderiam estar desesperados para consegui-las,

- Esta artimanha me parece perigosa.

- Eu sabia do perigo quando aceitei, mas eu sabia também que poderia apanhar algum agente duplo. Pareceu-me que o risco era compensador. Como o verdadeiro lorde Warwick, eu era solteiro e não iria por em risco uma família.

- Parece-me que o detestável lorde Carrington pintou um alvo em você.

- De certa forma, acho que sim.

Então Maggie se lembrou das suspeitas que lorde Carrington havia levantado sobre Edward.

- Mas lorde Carrington me contou, antes de nossa viagem para o norte que ele havia acabado de descobrir sobre a sua falsa identidade. Ele até mesmo levantou suspeitas sobre o seu caráter.

- Então ele estava tentando me lesar por este ângulo também? Esta é a cruz que devo carregar por estar apaixonado pela mulher mais requisitada de Londres.

Será que lorde Carrington teria mesmo se apaixonado por Maggie, antes de eles viajarem para Yorkshire?

- E sobre o blefe do falecido lorde? Algum espião francês se aproximou de você?

- O mais estranho é que não. Durante estes nove meses em que assumi minha falsa identidade, nenhum espião francês se aproximou.

- Você acha que eles perceberam que o verdadeiro lorde Warwick estava mentindo? - As mãos dela tocaram o peito de Edward.

- Eu não sei o que pensar.

- Talvez os franceses tenham infiltrado um espião em sua casa. Você tem algum empregado francês?

- Não.

Ela colocou a cabeça sobre o peito dele novamente.

- Os seus criados já serviam ao falecido lorde Warwick?

- Não. Ele nunca ficou na Mansão Warwick e em poucas ocasiões esteve no castelo Hogarth. Seus antigos criados estão em Hogarth.

- Então todos os seus criados daqui foram contratados após a sua ascensão?

- Todos eles - ele respondeu.

- Oh, meu querido, é tudo muito complicado. Você não pode simplesmente voltar a ser o st. Stanfield? O sr. Stanfield que não tem um alvo pintado no peito. Ele rolou na cama com ela.

- Diante das circunstâncias, eu com certeza preferia ser a sra. Stanfield - ela murmurou.

Aquela era a Maggie por quem ele havia se apaixonado. Ela não se importava com títulos ou riqueza. Ela o amava, Edward Stanfield.

Naquele exato momento, ele lastimava por todas as semanas de tortura que havia deixado para trás, ressentia-se por tudo o que havia mantido Maggie afastada dele. Mas agora ele sabia que aquelas semanas haviam alimentado a semente da paixão que foi germinada naquele dia em Greenwich, permitindo que eles tivessem a oportunidade de se conhecerem melhor, em um nível distante do físico. O amor deles tinha raízes profundas.

- Eu gostaria de me tornar o sr. Stanfield novamente, pegar a minha preciosa esposa e fugir de todo o perigo para protegê-la e amá-la até o fim de meus dias.

- Nós poderíamos ir para a América - ela disse cheia de esperanças.

Edward a abraçou com força.

- Sim, poderíamos, mas nós nunca ficaríamos livres até descobrirmos quem é o vilão que está estragando a nossa felicidade.

Os lábios dele tocaram os dela. Ele sentiu seu corpo se enrijecendo novamente, então ele traçou um caminho de beijos que passou pelo pescoço e desceu delicadamente até os seios dela. Ele segurou um deles e beijou-o com paixão enquanto ela murmurava e se entregava às suas carícias.

Sob o toque dele o corpo dela, tornou-se um fino instrumento, e ele um músico cujas mãos talentosas podiam fazê-lo tocar.

Outra vez ele a tocou. Dessa vez, ele a amou com um único e preciso movimento. E mais uma vez ela o conduziu a um lugar que nenhuma mulher o havia levado antes.

Após um longo tempo, ela se encontrava deitada nos braços dele.

- Você não imagina o quanto eu quis aceitar o seu pedido em Greenwich.

- Então por que você não aceitou? Achei que você estava me odiando.

- E eu achei que você amasse Fiona, e que eu não passava de um corpo que havia se submetido a você.

- Você é muito mais do que isso. Mesmo antes daquele dia

- ele disse com um sorriso amargo. - Você já havia expulsado Fiona de minha mente. Eu fiquei obcecado por você.

- Mas... acreditei que havia algo entre vocês, pois creio que ela o amava muito.

- Sinto muito por toda a dor que eu possa ter causado a ela.

- Ele respirou fundo. - Especialmente quando contei a ela que amava você.

- Então foi por isso que ela terminou tudo?

Ele concordou, puxando-a para perto de seu peito. As mãos dela traçavam círculos nas costas dele.

- Espero poder retribuir por toda a ansiedade que eu lhe causei.

- Você já o fez - ele murmurou. Alguém bateu à porta do quarto.

- Quem está aí? - ele resmungou, sem se mover.

- O sr. Hollingsworth está à procura da condessa, e eu não consigo encontrá-la - disse Wiggins.

- Ela saiu! - Edward respondeu. - E não estará de volta até o jantar.

- Muito bem, milorde.

- E, Wiggins?

- Sim, milorde?

- Eu também não estou em casa.

As batidas à porta do quarto de Edward acordaram Maggie, na manhã seguinte.

- Quem está aí? - esbravejou Edward, apoiando-se no cotovelo para conseguir enxergar a porta.

- A srta. Sarah está muito preocupada, milorde - disse Wiggins. - Lady Warwick não dormiu em casa.

- Acho que acabei de arruinar a sua reputação - Edward falou para Maggie, com um sorriso maroto.

- Diga a srta. Sarah para não se preocupar - Edward gritou para o mordomo. - Lady Warwick esteve selando um acordo de casamento com seu futuro marido.

- Está bem, milorde.

- Mais uma coisa, Wiggins.

- Sim, milorde.

- O tal futuro marido é por acaso seu patrão.

- Está bem, milorde.

Dando risadinhas, Maggie largou-se nos braços de Edward. As mãos dele passeavam por seu corpo nu, acendendo pequenas faíscas onde quer que tocassem. Eles permaneceram na cama por mais de doze horas. Não havia nenhuma parte do corpo dela que ele não houvesse tocado ou beijado.

- Você nunca irá escapar de mim, minha querida, não até eu partir para o sono eterno, sete palmos debaixo da terra - disse Edward, trazendo-a para mais perto.

Maggie recostou-se no peito dele, pensativa, pois alguma coisa revolvia em sua memória, uma lembrança que estivera profundamente enterrada e que agora ressurgia.

Partir para o sono eterno... partir... para sempre... jaz para sempre... em casulo... As palavras se associavam, como que formando uma imagem, fazendo sentido...

- Edward! Eu me lembrei!

- Lembrou-se de quê?

- A pista que o salafrário deixou... Oh, como não me lembrei antes!?

- Do que está falando, querida?

- O poema!

- Que poema?

- Os versos que o salafrário me fez memorizar.

- Oh... mas diga, então, do que se trata?

- Logo que nos casamos, ele fez questão que eu decorasse uma estrofe de um poema, versos que me pareciam um tanto mórbidos, mas para agradar meu marido, eu memorizei...

- E você ainda se lembra?

- Sim, tenho uma memória excelente.

- Gostaria que você o escrevesse então.

Ela se levantou da cama, sem parecer embaraçada por estar despida, e caminhou até a escrivaninha. Sentou-se, pegou uma pena e começou a escrever:

Sob as velhas árvores deformadas

Que sombreiam as colinas relvadas

Jaz para sempre em casulo próprio cada um que partiu

No abandonado cemitério de Rufton MUI

- Parece-me familiar - disse Edward, com as mãos nos ombros de Maggie.

- Pensei o mesmo - ela disse, sorrindo. - Este poema sempre me pareceu familiar, mas nunca consegui descobrir por quê, nem o significado dos versos, menos ainda a importância que tinham para meu marido... Será que eles contêm alguma mensagem codificada?

- Uma vez que Henshaw era criptógrafo, é uma hipótese bastante provável.

Após se levantar, Maggie cuidou de vestir o seu vestido amarrotado, enquanto Edward tomou o seu lugar junto à escrivaninha e colocou-se a examinar o poema. Maggie o observava, substituindo consoantes por vogais e assim por diante.

- Eu poderia ajudar se tivesse alguma noção de como proceder - ela disse.

- Você pode me ajudar, escrevendo para Hollingsworth ele sugeriu.

Maggie fitou-o com estranheza.

- Você quer que eu responda ao pedido dele? É

- Sim, quero.

- Devo contar-lhe que vou me casar com você?

- Gostaria que você colocasse um anúncio na primeira página do Times para informar a todos os homens que já se apaixonaram por você que de agora em diante você me pertence.

- Você não está falando a sério, está?

- Não, não estou, mas não sei direito como devo proceder com Carrington. Não posso acreditar no pedido dele. Não que você não seja a mulher mais bela, amável, inteligente e desejável que já pisou na face da terra, mas a repentina devoção dele por você não me convenceu.

- Tenho a mesma desconfiança.

- Vamos pensar melhor sobre o assunto por mais alguns dias. Maggie puxou outra cadeira para perto de Edward e começou a escrever a carta para Hollingsworth.

- Não sei o que fazer com Harry Lyle - disse Edward. Ele também planejava pedir você em casamento.

Maggie também não queria magoar o pobre sr. Lyle. Maggie concentrou-se na carta:

Caro sr. Hollingsworth,

Gostaria que soubesse o quanto me sinto lisonjeada por seu pedido de casamento. A mulher que se casar com o senhor será bem-aventurada. Porém, não posso ser esta mulher. Sinto por não ter agido de maneira mais honesta consigo. Eu deveria ter-lhe contado que já estava apaixonada por outra pessoa, alguém cuja afeição eu não tinha esperança de que fosse retribuída, e por este motivo considerei seriamente a possibilidade de me casar consigo. As circunstâncias, contudo, mudaram, e aquela porta mágica que estava fechada para mim agora se encontra aberta.

Após ter terminado a carta, Maggie ficou observando Edward encher quatro páginas com colunas, então ele se recostou e estudou cuidadosamente todas as páginas. Ao terminar, porém, ele as amaldiçoou, amassou as folhas e jogou-as no lixo.

- vou precisar do meu livro de códigos - ele disse.

- E ele está no ministério?

- Sim, está - ele respondeu já se levantando.

- Depois que você sair, vou entrar sorrateiramente em meu quarto e me trocar.

Os olhos de Edward brilhavam, e seus lábios tocaram gentilmente os de Maggie.

Sarah aguardava no quarto já ensolarado de Maggie.

- Preocupei-me com a senhora durante a noite toda, e a senhora estava sobre este mesmo teto e no quarto com o lorde e senhor desta casa!

- Desculpe-me - Maggie respondeu sorrindo, apenas.

- Eu sabia, logo que chegamos aqui, que o lorde Warwick era o homem certo para a senhora, mas a senhora nem sempre sabe fazer boas escolhas-confessou Sarah com um sorriso largo.

- Então você está dizendo que escolhi bem desta vez?

- Acredito que sim.

- Venha me ajudar com o meu vestido azul. O lorde pediu que eu o vista especialmente para ele.

Enquanto Sarah a ajudava, Maggie a observava pelo espelho.

- Que sorte a sua eu me casar com o lorde Warwick! Agora você não precisará deixar o sr. Wiggins.

Sarah ficou corada.

Sorrindo, Maggie se inclinou na cadeira para que Sarah arrumasse seu cabelo.

- O vestido azul é o meu favorito também - disse Sarah.

- É uma pena que eu não possa vesti-lo todos os dias! Um momento depois, Sarah perguntou:

- A srta. Becky voltará logo?

- Acredito que não. Ela se ofereceu para catalogar a biblioteca de lorde Agar, e acho que isso levará um bom tempo.

- Gostaria de saber o que devo fazer com alguns livros que pertencem à biblioteca de lorde Warwick e que ainda estão no quarto dela.

- Traga-os para mim, estou mesmo querendo ler algo.

- Dois cavalheiros procuraram pela senhora ontem - disse Sarah.

- Quem, além do sr. Hollingsworth?

- O sr. Lyle.

- Oh, meu Deus!

- O que foi? Maggie suspirou.

- O sr. Lyle deseja me pedir em casamento. E por falar em casamento, preciso que você envie uma carta ao sr. Hollingsworth.

- Acredito que a carta para o sr. Hollingsworth seja para dizer não ao pedido dele?

Maggie concordou timidamente.

Uma hora depois, Harry Lyle já havia aparecido e ido embora. Maggie estava satisfeita por ter conseguido dizer "não" ao pedido dele de maneira gentil. Ela lhe dissera que seja não tivesse planos de se casar com outra pessoa, aceitaria com alegria o pedido dele.

Harry ficou curioso para saber quem era o afortunado cavalheiro, mas Maggie respondeu que precisava acertar alguns detalhes antes de poder revelar.

Após a saída do sr. Lyle, Maggie sentou-se ao piano e começou a dedilhar algumas notas, quando Sarah entrou na sala, carregando alguns livros.

- Aqui estão os livros que a srta. Becky estava lendo.

Maggie se levantou e começou a examiná-los. Um grosso volume de poesia parecia ser exatamente o que ela desejava ler naquele dia. Ela o pegou e sentou-se perto da janela para lê-lo.

O primeiro poema que lhe chamou a atenção foi Elegia Escrita num Cemitério de Aldeia, de Thomas Gray. Ela se recostou e começou a lê-lo. Quando chegou à quarta estrofe, sobressaltou-se.

Era uma versão do poema do salafrário! Mas, sabendo que o poema havia sido escrito antes de o salafrário ter nascido, Maggie concluiu portanto que ele é quem havia feito uma adaptação do original.

A mudança mais significativa estava no último verso. Onde na adaptação aparecia Rufton Mill. Seria este o nome de um lugar? O lugar onde o salafrário havia escondido algum documento?

Maggie correu para a biblioteca de Edward em busca de um mapa da Inglaterra.

Era lá que ela se encontrava quando lorde Carrington chegou.

- Oh, milorde, que sorte que o senhor apareceu! Talvez eu tenha acabado de descobrir onde meu falecido marido escondeu seja lá o que for que ele tinha. - Ela prosseguiu, contando a ele sobre o poema.

- A senhora poderia escrever o poema? - ele pediu. Maggie sentou-se junto à escrivaninha e então escreveu o poema para o lorde.

Os olhos dele brilhavam de excitação.

- O senhor conhece um lugar chamado Rufton Mill? - ela perguntou.

- Conheço, milady. Não fica muito distante daqui. Vamos até lá?

- Nós não deveríamos esperar por Ed... pelo lorde Warwick?

- Estaremos de volta antes do retorno dele.

- Permita-me vestir uma pelerine e um gorro - ela disse. Sarah e Wiggins estavam conversando no hall de entrada, quando Maggie passou por eles.

- Se o lorde Warwick chegar antes de mim - ela falou aos dois - diga a ele que fui para-Rufton Mill com lorde Carrington.

 

Que droga!" Edward pensou ao atirar longe seu livro de códigos. Somente quatro versos, e ele não conseguia decifrar o código.

Uma pena que Harry não estivesse lá. Afinal era um mestre da criptografia.

Um pensamento suspeito o perturbava, mas ele não conseguia dar forma substancial a isso. A única certeza que tinha era que a suspeita era sobre lorde Carrington.

Colocando o poema no bolso, Edward deixou o escritório.

Na Mansão Warwick, ele se dirigiu direto à sala de estar, esperando encontrar Maggie junto de alguns de seus admiradores. Mas ela não estava. Um livro aberto sobre o piano chamou sua atenção. Pegando-o, começou a ler o poema de Thomas Gray, que estava à mostra.

Mesmo antes de chegar à quarta estrofe já havia percebido a semelhança com o poema de Henshaw. Quando percebeu a troca da última palavra por Rufton Mill, ele correu para sua biblioteca em busca de um mapa. "Rufton Mill tem de ser um lugar! O lugar onde Henshaw escondeu o seu maldito documento", pensou.

Edward estava muito aborrecido consigo mesmo por não ter percebido antes que Rufton Mill era o nome de um lugar. Apesar de nunca ter estado lá, já havia ouvido falar antes.

Durante meia hora, Edward procurou inutilmente no mapa. Então aquela vaga lembrança que pairava em sua memória emergiu, e ele se lembrou que Rufton Mill era o local onde o falecido lorde Warwick estava enterrado.

Em uma das gavetas de sua escrivaninha, encontrou o papel que estava procurando. Rufton Mill localizava-se em Kent, próximo ao Castelo Hogarth.

Edward ajudou seu cavalariço a selar um cavalo. Em seguida, seguiu para a prisão Newgate, onde foi recebido por um oficial que o reconheceu imediatamente.

- Boa tarde, lorde Warwick - disse o homem.

- Preciso falar imediatamente com os prisioneiros que lorde Carrington interrogou ontem.

- Mas, milorde, lorde Carrington não esteve aqui - respondeu o homem com uma expressão confusa.

- Você esteve aqui todos os dias? - perguntou Edward com o coração disparado.

- Todos os dias.

-Existe outra pessoa que possa ter recebido lorde Carrington?

- Não, milorde.

Edward deixou o lugar em disparada. Seu coração batia tão forte quanto o galope de seu cavalo. E se Carrington estiver com Maggie? O que será que o homem poderia estar tramando?

Fazia já uma hora que lorde Carrington e Maggie haviam deixado Londres. Ela já estava sentindo-se desconfortável.

- Ainda estamos muito longe, milorde?

- Não, querida.

- Mas o senhor disse que estaríamos de volta antes de Edward.

- Maggie já estava tão sem paciência com lorde Carrington que nem se importou por se referir a Edward pelo seu nome de batísmo.

- E estaremos.

- Eu gostaria de retornar agora mesmo. - Ela desconfiava que o lorde estava mentindo. - Mas estamos perto, milady.

- Isto foi o que o senhor me disse há meia hora. – Maggie mantinha-se em um canto da carruagem, o mais distante possível de lorde Carrington.

- Na verdade, o lugar fica em Kent.

- Em Kent! Posso não conhecer muito da geografia da Inglaterra, mas sei que Kent fica bem ao sul de Londres! Acredito, milorde, que o senhor esteja mentindo para mim.

- Só um pouquinho, minha querida. A senhora não pode me culpar por eu querer passar algum tempo com a mulher com quem pretendo me casar.

- Acho que não desejo me casar com um homem que mente para mim - ela respondeu, cruzando os braços.

Ignorando-a, Carrington abriu a cortina para ver a paisagem.

- Por favor, milorde, quanto falta para chegarmos? - Ela não gostava de imaginar que Edward poderia ficar preocupado.

- Na verdade, chegaremos lá ao anoitecer - ele respondeu com um olhar frio.

- Ao anoitecer! Mas isso significa mais duas horas pela frente! Como o senhor pôde me dizer que não iríamos muito longe? Pensei que estávamos indo a algum lugar distante somente algumas milhas de Mayfair.

- A senhora não pode me culpar pelo seu erro de interpretação

- respondeu secamente.

Maggie estava prestes a esbofetear aquele homem detestável. Mas, em vez disso, ela encolheu-se ainda mais em seu canto, recusando-se a dirigir a palavra a ele.

Já estava escurecendo quando o cocheiro parou a carruagem em um enorme cemitério. Sem esperar por ninguém, Maggie abriu a porta da carruagem e pisou na terra fofa.

Olhou para os três homens que estavam montados em cavalos, logo atrás da carruagem do lorde. Seu coração disparou quando viu um homem usando um tapa-olho e um outro que tinha um dente da frente faltando.

Quando seu cavalo parou em frente à Mansão Warwick, Edward respirou aliviado. Deu graças a Deus que a carruagem de Carrington não estava estacionada lá. Ele desceu do cavalo e o entregou ao cavalariço, então subiu os degraus e encontrou com Wiggins abrindo a porta de entrada da casa.

- Onde posso encontrar a minha futura condessa, Wiggins?

- Edward mal conseguia disfarçar a alegria por estar prestes a se casar com Maggie.

- Ela saiu com o lorde Carrington, milorde.

Era como se Edward tivesse sido atingido por uma bala de canhão. Tudo o que conseguiu articular foi um "Meu Deus!".

- Há algo de errado, milorde? - Wiggins perguntou preocupado.

- Ela falou para onde estavam indo?

- Deixe-me ver, acho que era para Ruffon Mill ou Rufton MUI, não tenho muita certeza.

A expressão de Edward estava transtornada. Ele correu para a biblioteca onde guardava as suas pistolas. Pegou uma delas e colocou-a no bolso, em seguida apanhou seu sabre e deixou sua casa correndo. Quando já estava chegando perto da porta, ele quase trombou com Randolph Hollingsworth.

- Para onde você vai com tanta pressa? - Randolph quis saber.

- Carrington pegou Maggie - ele disse com pressa - e ele é o culpado.

- Eu vou com você - respondeu Randolph.

- Temos de correr - disse Edward, olhando para a espada de Randolph.

Assim que Maggie pôs os olhos nos três vilões ela entendeu tudo. Que lorde Carrington havia inventado toda a história sobre a prisão Newgate. Que ele mesmo havia mandado matar o sr. Bibble. Que lorde Carrington, por razões totalmente desconhecidas por ela, havia traído seu país. Agora podia entender os motivos que o levaram a levantar suspeitas sobre Edward.

Paralisada, com uma expressão de puro medo, ela indagou ao lorde:

- Por que o senhor me trouxe para cá? - Já imaginava o motivo. Ele iria matá-la. - Eu não sou a única que sabe sobre o poema-falou, antes de perceber que isso poderia custar a vida de Edward também.

- A senhora contou para Warwick? - Carrington perguntou.

- Não, foi para outra pessoa.

- Você trouxe uma pá? - Ele perguntou ao homem do tapaolho.

Eles iriam matá-la e enterrá-la ali mesmo, e ninguém jamais saberia o que tinha acontecido. Atónita, olhou ao redor para certificar-se se não havia nenhuma casa próxima, mas as copas das árvores obstruíam a sua visão.

- Amarre-a! - ordenou lorde Carrington.

Maggie ergueu um pouco a saia e saiu correndo pelo cemitério. Correu entre lápides de túmulos desgastadas pelo tempo, pisando sobre moitas de ervas daninhas. Então tropeçou numa raiz e caiu sobre o túmulo mais próximo.

Ao cair ela deu de cara com a seguinte inscrição na lápide: "Lorde Warwick in, 1751-1811". Tentou se levantar, mas um dos homens já estava segurando-a pelos pulsos. Maggie sentiu uma forte dor nos braços à medida que o homem a levantava, torcendo seus pulsos com brutalidade. Em seguida, outro deles se aproximou e começou a amarrá-la com as mãos para trás.

- Onde está Logan? - perguntou o lorde. - Já deveria estar aqui com a pá!

No mesmo instante, o homem de um olho só, retornou, carregando uma pá. Lorde Carrington, então, ordenou que ele começasse a cavar.

- Comece cavando perto da lápide - disse o lorde. Assim que o homem enfiou a pá no solo, eles ouviram um estrépito metálico. No minuto seguinte, uma caixa de metal havia sido desenterrada.

- Isto está mais leve do que uma pena - disse o homem. Aposto que não tem nenhum tesouro dentro dela.

- Vocês sabem ler? - lorde Carrington perguntou aos homens, sem tirar os olhos da caixa.

- Por que a pergunta? - perguntou um deles. - Nós nunca fomos ricos o suficiente para sentar em um banco de escola.

- Foi só uma pergunta - lorde Carrington respondeu de maneira grosseira. - Gostaria que vocês se afastassem por alguns minutos.

Os três homens recuaram uns dez passos.

- Voltem para os cavalos! - gritou lorde Carrington. Quando já estavam distantes o suficiente, o lorde abriu a caixa e pegou um documento lacrado com o selo real.

- Meus olhos já não são mais os mesmos - ele disse, olhando para Maggie. - A senhora poderia ler para mim?

- Se o senhor soltar as minhas mãos!

- Acho que não. Eu seguro para a senhora. Aproximando-se, abriu o documento e o colocou perto dos olhos de Maggie. Ela viu que estava escrito em francês, com letras em negrito. Seu olhar foi direto para a assinatura. Napoleão Bonaparte, imperador da França.

- Leia logo! - ele gritou. Ela traduziu, enquanto lia:

No dia doze de agosto do ano de mil oitocentos e sete, ficou acordado que em pagamento pelos valiosos serviços prestados e pela lealdade devotada ao imperador da França. Albert Black, lorde Carrington IV, subirá ao trono assim que as Ilhas Britânicas estiverem sob o domínio francês.

- O senhor é o demónio em pessoa - ela falou com ódio nos olhos.

- E o diabo, milady, era o seu falecido marido. Ele me roubou este documento. Henshaw era tão culpado quanto eu por ajudar o governo francês, a diferença é que ele não foi tão esperto. Warwick descobriu tudo sobre Henshaw, mas enquanto ele estivesse em posse deste documento eu precisava cuidar para que não o mostrasse a ninguém.

- Então foi por isso que o senhor insistiu que eu permanecesse em Londres! O senhor sabia que eu acabaria trazendo-o até o documento.

- E a senhora me trouxe - disse com um ar presunçoso. Agora me diga, quem mais sabe sobre o poema.

- Três homens me procuraram ontem à tarde após a sua visita, e eu contei aos três sobre o poema.

- E para Warwick? - Havia muita raiva nos olhos dele.

- Claro que contei tudo a ele também.

- Eu não acredito na senhora. Acho que ninguém mais sabe sobre o poema.

- O senhor está errado! Além do mais, eu escrevi o poema e enviei para várias pessoas importantes.

Ele deu um soco no rosto de Maggie. Os olhos dela se encheram de lágrimas e um filete de sangue começou a escorrer de seu nariz.

De repente, ocorreu-lhe que o lorde não queria que seus capangas soubessem sobre o documento. Ela olhou para o homem do tapa-olho e gritou:

- Você não terá mais de trabalhar em toda a sua vida, se conseguir roubar esta caixa.

Lorde Carrington desferiu outro soco nela. Em seguida, mais um e mais um.

Então o homem de um olho só se aproximou e afastou o lorde dela.

- Talvez seja melhor nós ficarmos com esta caixa, milorde. Carrington tirou uma pistola do bolso e apontou para eles.

Edward e Randolph corriam o mais rápido que podiam. Trocaram seus cavalos por outros mais descansados, por duas vezes. Lorde Carrington viajava numa carruagem extremamente luxuosa e a única esperança de Edward era conseguir correr o suficiente para alcançá-los e resgatar Maggie com vida. Mas esse era um grande desafio para ele e Randolph.

Enquanto trocavam de cavalos na primeira estalagem, Randolph encarou Edward e perguntou:

- Suponho que você tenha rompido o compromisso com minha irmã.

Então Randolph sabia que Edward amava Maggie.

- Na verdade, foi a sua irmã quem rompeu comigo. Um lance de extrema inteligência dela.

- Inteligência, você está apaixonado por outra mulher.

- Eu não quero mais viver se algo acontecer a Maggie. Edward baixou olhar. Em seguida, montou em seu cavalo e saiu em disparada.

Edward se culpava por ter vacilado. O alívio por saber que os homens que haviam atacado Maggie estavam atrás das grades fez com que deixasse de lado sua costumeira precaução. Por que ele não foi ver os homens logo que soube da prisão?

Ele projetou sua fúria no cavalo que já estava dando tudo o que podia. Pobre criatura. À medida que se aproximavam do castelo Hogarth ele punia-se por não conhecer melhor os arredores do castelo. Onde ficaria Rufton Mill? Parece que Carrington sabia.

A distância, viu as torres de Hogarth e sentiu um tremor. Rezava para que não fosse tarde demais. Edward adentrou as terras pertencentes ao castelo, procurando desesperadamente pela luxuosa carruagem de Carrington. Logo ele a avistou e junto dela três cavalos. Ele e Randolph se aproximaram.

Então Edward a viu. Naquele mesmo instante, sentiu-se aliviado por Maggie estar viva, mas, quando viu que as mãos dela estavam amarradas, o sangue subiu-lhe. Ao lado dela estava o sujeito com o tapa-olho e Carrington a alguns passos, segurando uma pistola.

Edward saltou com seu cavalo sobre a cerca que rodeava o cemitério e parou bem próximo a eles, fazendo com que as atenções se desviassem de Maggie.

Ao se aproximar, saltou do cavalo ainda em movimento.

Carrington, então, apontou sua pistola para Edward.

Uma bala passou de raspão por uma de suas orelhas, quando ele vinha para cima de Carrington, desembainhando seu sabre. Carrington jogou a pistola, que ainda soltava fumaça.

- Peguem este homem! - gritou Carrington para seus capangas.

Mas ninguém se moveu.

Edward deu uma estocada na direção de Carrington, que deu alguns passos para trás, temendo tirar os olhos de seu inimigo. Ele, então, tropeçou e caiu de costas, enquanto Edward apontava seu sabre, espetando a terra macia em vez de perfurar a carne de Carrington. Logo atrás de Edward, Randolph já havia rendido os outros três homens que não foram estúpidos o bastante para tentarem resistir a um homem armado. Mas naquele momento, Edward só pensava em matar Carrington.

Os olhos azuis de Carrington brilhavam de ódio, e não de medo.

- Faça-me o favor de enterrar seu sabre no meu coração suplicou Carrington. - Está tudo perdido.

Edward desviou seu olhar do sabre para o rosto desesperado do lorde. Ele não falou nada, nem se moveu. Edward lembrou-se de Andrew Bibble e foi consumido pelo imenso desejo de fazer com Carrington o mesmo que ele havia feito com o sr. Bibble. Empunhou com força o cabo de seu sabre e desviou-o para outra direção, sem tirar os olhos de Carrington. Em seguida, Edward afundou sua bota na lama e chutou o rosto de Carrington.

Girando seu sabre para a direção de um dos três homens, Edward ordenou que desamarrasse Maggie. Ao ver o rosto espancado de sua amada, o coração de Edward se comoveu. com olhos frios, ele observava o homem soltando as cordas dos pulsos dela que estavam feridos.

- Agora amarre lorde Carrington - ordenou Edward.

Mas antes que o homem pudesse fazê-lo, Carrington tirou uma adaga de seu bolso e enterrou-a em seu coração.

Maggie soltou um grito de horror. Apesar de Edward sentir

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vontade de ampará-la em seus braços, não podia soltar seu sabre. Não enquanto os três homens estivessem prontos para atacá-lo.

- É, acabou. Já vai tarde!

- Ajude-me, amarrando estes três - Edward pediu a Randolph. Somente quando eles estavam devidamente amarrados, Edward

baixou seu sabre e correu para os braços de Maggie.

 

Maggie havia perdido o controle de suas emoções. Se ao menos aquelas nuvens negras não tivessem surgido. Mas elas estavam lá, pairando sobre eles, enquanto aguardavam Randolph retornar com um policial. A chuva, os trovões e todos aqueles elementos que a faziam agir como uma tola, esperaram até o exato momento em que o sr. Hollingsworth retornou para, então, explodirem sobre o cemitério.

Quando um trovão estrondoso fez com que o solo tremesse e uma luz brilhante piscasse no céu negro, Maggie soltou um grito que era uma mistura de medo e pavor.

Edward abriu seu casaco e aproximou-a para perto de seu corpo.

Ele encarregou o sr. Hollingsworth de fornecer todas as devidas explicações ao oficial sobre lorde Carrington e os três homens que ali se encontravam. Em seguida, Edward ordenou ao cocheiro , de lorde Carrington que os levasse para Greenwich.

- Greenwich? - perguntou, surpresa.

- Estamos voltando para a Cão Caça - ele respondeu, acolhendo Maggie em seus braços.

Ela nunca havia se sentido tão próxima a alguém como estava se sentindo naquele momento. Quem mais poderia adivinhar o seu desejo de estar, naquele momento, no aconchego da cama da Cão de Caça?

Apesar de a chuva continuar caindo torrencialmente, Edward estava obtendo sucesso com seus truques para distrair a atenção de Maggie. Estes se resumiam em beijos, apertos, abraços, tudo que resultava em imenso prazer.

Quando chegaram à hospedaria, o vestido dela estava muito amassado, os cabelos estavam numa completa desordem, e havia uma mancha de umidade no vestido bem na parte que cobria seu seio, onde a boca de Edward havia se deliciado de prazer. Ela ficou feliz por ter trazido a sua pelerine.

O estalajadeiro e sua esposa sorriram quando os dois entraram.

- Eu acabei de dizer a minha esposa que foi uma grande sorte termos recebido pessoas nobres como os senhores aqui em nossa humilde estalagem. E hoje chove como da última vez!

- Não existe lugar melhor para se estar num dia chuvoso respondeu Edward, seus olhos refletiam travessuras. - Eu ficaria muito agradecido se o senhor nos colocasse no mesmo quarto.

A mulher os conduziu ao aposento.

- Os senhores desejam chá?

- Sim, mais tarde - disse Edward. - No momento tudo o que precisamos é de um lugar quente para descansarmos.

Maggie ficou feliz por ele ter despistado a mulher. Ela não precisava de chá quando tinha Edward para aquecê-la.

Após a mulher fechar a porta, ele tocou no rosto de Maggie com as duas mãos e falou com voz rouca:

- Você não imagina o quanto eu desejei estar aqui com você novamente.

Maggie puxou a camisa dele de dentro da calça, enquanto ele a acariciava. Segundos depois ambos estavam nus e ofegantes, as roupas espalhadas no chão. Maggie contemplou o olhar devorador de Edward sobre seu corpo.

- Você não poderia estar mais bela do que está agora - observou Edward.

Maggie achou que ele estava maravilhoso também. Seu olhar passou pelo peito musculoso e ficou sem fôlego quando contemplou a imensa excitação dele. Então ela olhou para as pernas musculosas e cobertas de pêlos de Edward. Sua respiração era ofegante.

Os olhares deles se encontraram, então os dois se abraçaram intensamente na cama, Edward ficou preso entre as pernas de Maggie, enquanto ela olhava para a expressão provocante em seu rosto. Ele a beijou demoradamente e com muita ternura.

O ritmo de sua respiração aumentava à medida que os lábios dele passeavam pelo seu pescoço e descia para os seios, fazendo-a contorcer-se de prazer. Uma onda de calor profunda tomou conta dos dois à medida que as suas mentes voavam para outro lugar, um lugar onde ela e Edward formavam um só ser.

Após um suspiro final, os dois permitiram que seus corpos caíssem na cama. Quando a cama cedeu e o colchão tocou o piso de madeira, ambos riram.

- Eu acredito que a cama do lorde Warwick seja mais resistente do que esta - ele disse. - A primeira coisa que farei amanhã será tirar uma licença especial. Tenho um compromisso urgente que é me casar com você, minha querida.

- Eu também tenho um compromisso urgente, que é me tornar a sra. Edward Stanfield.

 

                   Seis meses depois

Maggie não se tornou a sra. Stanfield. Quando o príncipe regente soube do papel desempenhado por Edward em desmascarar a traição de lorde Carrington, ele cuidou para que Edward fosse condecorado com todas as honras possíveis, elevando o seu posto no Ministério das Relações Exteriores para a posição antes ocupada por lorde Carrington e concedendo a ele o título e as terras, antes pertencentes ao falecido lorde Warwick.

Edward deu a aposentadoria a Wiggins que agora vivia com Sarah, sua nova esposa, num chalé próximo ao Castelo Hogarth.

A srta. Peabody retornou para a Mansão Warwick e deu início ao árduo trabalho de catalogar a biblioteca de Edward.

Uma vez que o título foi oficialmente transferido a Edward, ele pousou a mão sobre o ventre de sua esposa e, acariciando-o, disse:

- Minha querida, você carrega em seu ventre o pequeno lorde Warwick V.

- Se não for desta vez, querido, talvez tenhamos um menino na próxima. Temos muitos anos pela frente, e fazer bebés é bastante divertido!

O coração de Edward inflava de emoção sempre que ele estava ao lado de Maggie. Ela já o amava incondicionalmente mesmo quando ele ainda não tinha perspectiva de se tornar um nobre. Nenhum homem poderia sentir-se mais amado do que ele... Nenhuma mulher amava mais do que ela.

- Deste dia em diante, você não é mais a minha falsa condessa - disse Edward e em seguida beijou-a.

 

                                                                                Cheryl Bolen  

 

                      

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