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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


ESPERANÇAS DE AMOR / Diana Palmer
ESPERANÇAS DE AMOR / Diana Palmer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

ESPERANÇAS DE AMOR

 

A esbelta mão amassou o telegrama. Uns olhos verdes observaram e não gostaram.

—São más notícias, mamãe?

A jovem e meiga voz fez com que a mulher angustiada voltasse para a realidade.

—O que você disse, querida? — perguntou com voz rouca. Limpou a garganta e, nervosa, apertou o telegrama que tinha na mão. —Más notícias? Bom... Sim.

Becky suspirou. Frequentemente Maggie pensava que a menina parecia ter mais do que os seis anos que tinha, devido a sua curta vida ter sido muito problemática. Estar em um internato a tinha deixado muito introvertida e tinha acentuado sua timidez.

—Trata-se de papai outra vez? – ela perguntou em voz baixa e leu a resposta nos olhos preocupados de sua mãe. Encolheu os ombros. — Bom, a tia Janet virá hoje — comentou com entusiasmo infantil e sorriu. — Isso fará com que se sinta melhor.

—Certo, mas não é sua tia. — Margaret Turner também sorriu porque os sorrisos de sua filha eram mágicos. — É minha madrinha e foi a melhor amiga de sua avó Turner. Foi uma agradável surpresa tê-la encontrado a semana passada. Não sabia que tenho você, que é uma surpresa maravilhosa.

Becky riu e foi um doce som que Maggie ouvia muito pouco ultimamente. Ela não gostava do internato, mas Maggie não tinha encontrado outra opção, porque precisava trabalhar. Não tinha ninguém que cuidasse de Becky depois do horário das aulas e às vezes tinha que trabalhar até tarde, inclusive aos sábados. Isso deixava a menina muito só e Dennis teria conseguido raptá-la e escondê-la em algum lugar.

Ele era capaz de qualquer coisa quando se tratava de dinheiro. O telegrama que acabara de receber a ameaçava de ir a julgamento para obter a custódia de Rebecca. Tinha dito a Maggie que acabava de dar instruções ao advogado para que fosse ao tribunal.

Maggie afastou uma mecha de seu escuro e curto cabelo do rosto.

Era esbelta e alta e tinha um corpo apropriado para usar a roupa da última moda. Mas ela não comprava roupa nova. Graças ao julgamento que Dennis tinha ganhado e ao fato de que seus advogados lhe custavam muito caro, a vida ficava mais difícil para ela a cada dia.

Restava pouco mais que o apartamento em que viviam e um carro relativamente novo. Seu pai nunca tinha dado seu consentimento para que se casasse com Dennis e a tinha deserdado para deixar tudo para Becky. Maggie não soube até que ele morreu e nunca esqueceria o escândalo que Dennis fez quando soube sobre o testamento. Ela já tinha o coração despedaçado, mas essa atitude dura e interessada acabou de abrir seus olhos. Depois do incidente, ela ficou muito deprimida, mas continuou lutando por Becky.

Dennis tentou em vão invalidar o testamento que continha certas cláusulas que permitiriam ao administrador vender e reaplicar as ações e os bônus. Maggie imaginou o que Dennis poderia fazer com esse tipo de controle; em pouco tempo esbanjaria todo o dinheiro e deixaria Becky na pobreza.

Maggie trabalhava muitas horas em uma livraria para poder arcar com seus gastos. Adorava os livros e o trabalho era interessante. Mas não ter a sua filha por perto era muito desagradável.

Rogava ao céu que Becky pudesse viver com ela sem o temor de que Dennis a raptasse. Por sorte, Maggie não levava uma vida social muito intensa, nem sequer quando sua família era rica e tinha tudo. Quando era menina era muito parecida com a filha: tímida e introvertida. Na verdade, continuava igual.

—Terei que viver com papai? – Becky perguntou temerosa.

—É obvio que não, querida! — Maggie abraçou à menina de longas e magras pernas e lhe acariciou o cabelo. Becky era tudo que restava de valor, de um casamento que tinha durado seis anos.

Fazia poucos meses que se atreveu a pedir o divórcio e tão logo foi concedido, havia voltado a usar seu sobrenome de solteira, Turner. Não desejava nada de Dennis nem sequer seu sobrenome.

—Nunca. — acrescentou distraída. — Não terá que viver com ele.

Isso possivelmente era uma mentira piedosa, pensou com tristeza enquanto abraçava sua filha. Todos sabiam que a única coisa que ele desejava eram as ações que Alvin Turner tinha deixado um pouco antes de morrer para sua neta. Quem fosse responsável pela menina teria acesso à fortuna.

Até esse momento, Maggie tinha conseguido manter a menina afastada de seu ex-marido. Já tinha sido informada de que ele pensava em se casar com a mulher com quem vivia desde o divórcio e o advogado dela temia que Dennis pudesse ganhar a custodia se pudesse oferecer a Rebecca um lar estável.

Estável! Dennis Blaine não tinha nada de estável. Ela não devia ter se casado com ele, mas se rebelou contra seu pai e não aceitou o conselho da tia Janet. Foi um noivado curto e faziam um belo casal: ela, uma tímida jovem de Santo Antonio e ele, um jovem vendedor com um brilhante futuro. Maggie não havia percebido a ambição dele por dinheiro, até que ficou grávida. Na verdade ele não tinha interesse em formar um lar feliz, gostava das mulheres e não bastava ter uma só. Três semanas depois do casamento, ele já estava vivendo uma aventura sentimental com outra mulher para vingar-se de Maggie por não ter aceitado seu plano de enriquecer logo.

Maggie suspirou em cima do sedoso cabelo de sua filha. Havia descoberto que Dennis era vingativo e essa característica aumentou com o tempo. Ele tinha mantido relações com muitas mulheres pelo que ela sabia, fazendo com que ela tivesse tentado abandoná-lo, foi ai então, que ele a agrediu pela primeira e última vez, porque ela ameaçou indo a policia. Chorando, Dennis tinha prometido que não voltaria a acontecer para não dar lugar a um escândalo. Mas a martirizou de outras maneiras, sobre tudo depois do nascimento da filha. Mais de uma vez a ameaçou de raptar a menina e escondê-la se não lhe desse o dinheiro que exigia.

Por fim, Maggie pediu o divórcio e abandonou o lar pelo bem de Becky. Dennis tinha levado uma de suas amantes para casa e pulava com ela na cama quando Becky chegou a casa inesperadamente e os viu. Dennis tinha ameaçado a menina, para que não contasse o que tinha visto, mas a menina teve coragem e contou. Nesse mesmo dia, Maggie se mudou com a menina para a velha casa da família situada em Santo Antonio.

Deu graças a Deus por seus pais não a terem vendido depois, que ela fora morar em Austin.

Enquanto isso, Dennis ficou na casa onde ele e Maggie tinham vivido durante os seis anos de seu desastroso casamento. Depois do divórcio, ele iniciou um triste julgamento ironicamente com o dinheiro de Maggie, e obteve o direito a visitar sua filha. Mas Maggie não abriria mão de sua filha para aquele oportunista ávido por dinheiro, e afirmava isso frequentemente. Entretanto, o segundo casamento dele, poderia causar problemas e ela não sabia o que fazer para enfrentar essa nova complicação.

—Não podemos fugir? — perguntou Becky ao afastar-se um pouco de sua mãe. — Podemos ir viver com a tia Janet e sua família. Ela tem um rancho e é muito agradável. Ela disse que depois que vier nos ver, nós poderemos ir até lá e montar a cavalo...

— Receio que não poderemos fazer isso. – ela respondeu ao mesmo tempo em que tentava apagar a imagem que tinha com desagradável intensidade de Gabriel Coleman.

Ele a atemorizava, e ainda enchia seus sonhos, embora fizesse anos que não o visse. Podia fechar os olhos e imaginá-lo: alto, esbelto, rude, todo um homem. Dennis não se atreveria a ameaçá-la na presença de Gabe, mas Maggie tinha muito medo dele para pedir sua proteção.

Era do conhecimento de todos que Janet e seu filho não se davam bem. Maggie já tinha problemas suficientes para acrescentar o antagonismo de Gabe. Ele não gostava dela, por achar que era uma menina rica chata e tonta. Prejulgou-a e deixou claro, através dos olhos frios. Ele nunca se voltou para olhá-la embora ela o tivesse desejado mais de uma vez. Mas depois do ocorrido com Dennis, ela tinha ficado muito machucada e não se sentia capaz de procurar outra relação com um homem, sobre tudo com um homem como Gabriel.

—Por que não podemos? — insistiu Becky com seus olhos verdes muito abertos.

—Porque tenho que trabalhar. – respondeu. — Bom, vou ter umas férias de um mês enquanto Trudie está na Europa. É a proprietária da livraria.

Trudie tinha decidido que Maggie também precisava descansar e que fecharia o negócio, apesar de que isso representasse um bom prejuízo nas vendas. Era uma das muitas razões pelas qual Maggie sentia muito carinho por sua amiga.

—Então, nós poderemos ir com a tia Janet? Por favor. – rogou saltando com entusiasmo.

—Não, e não deve pedir isso a ela, de todo jeito, ainda tem uma semana de aula, antes das férias. Tem que voltar para terminar o semestre.

—Sim, mamãe. — Becky suspirou e cedeu sem mais discutir.

—É uma boa menina. Por que não vai à cozinha para lembrar a Mary que serviremos bolo de maçã esta noite em honra a tia Janet? — sorriu.

—Sim, mamãe. – ela aceitou e correu para a cozinha.

A família de Maggie era proprietária da casa já há uns oitenta anos. Ali Dennis e ela tinham passado alguns finais de semana com sua mãe depois do ataque cardíaco que tinha acabado com a vida de seu pai. Teria sido muito triste perder esse lar, embora as lembranças nem sempre fossem agradáveis. Tocou o braço do sofá com carinho. Em dias mais felizes sua mãe se sentava ali para bordar depois que seu pai se acomodava na grande poltrona quando chegava em casa.

Durante os últimos anos de sua vida viveu pouco na casa porque era embaixador.

A mãe de Maggie viajou com ele até que sua precária saúde a obrigou a ficar no Texas. Morreu seis meses depois de ter sofrido a trágica perda do marido. Frequentemente, Maggie pensava que um amor como o de seus pais era estranho. Certamente, ela não o encontrou em seu casamento. Será que o encontraria alguma vez? Estava muito assustada para tentar outro casamento e o risco seria ainda maior para Becky.

Observou e aspirou ao sutil aroma de lavanda que estava impregnado como pó aos velhos móveis. Uma batida à porta a tirou de sua abstração. Não demorou a aparecer Janet Coleman.

—Querida, faz um calor infernal! Não sei por que tenho um apartamento em Santo Antonio já que poderia ter um em algum lugar mais fresco.

Janet a abraçou e suspirou.

—Você deve gostar muito desta cidade porque desde que me lembro, vive no mesmo apartamento. — Maggie sorriu e se voltou para trás para observar à mulher elegante de traje cinza.

—Que atrevimento o meu por me convidar para jantar com você! — Janet riu — Mas não pude resistir à tentação. Passaram muitos anos e não sabe que surpresa agradável encontrá-la no supermercado, sem mencionar que ignorava a existência de Becky! Casou-se e se divorciou... — moveu a cabeça. – Sinto muita falta de sua mãe. Já não tenho com quem conversar, porque, minhas filhas estão longe de casa e Gabe só se interessa pelo rancho. Além disso, vou pouco ao rancho, passei na Europa os últimos sete meses.

Maggie tinha estudado em um internato com as filhas de Janet: Audrey e Robin, e agora Becky estudava no mesmo lugar.

—Audrey vive com um homem em Chicago. — comentou Janet exasperada e se ruborizou quando Maggie ficou olhando. – Você não acha escandaloso? Sei que isso está na moda, mas tive que impedir que Gabriel pegasse o trem para Chicago. Estava decidido a dar um tiro no homem. Já conhece Gabe.

Maggie assentiu. Na verdade, essa atitude era típica de Gabe. Sua resposta a quase tudo era física. Estremeceu um pouco por reação a ele, era uma reação que sempre tinha tido e que nunca havia compreendido.

—Consegui convencê-lo de que não fizesse isso, mas continua furioso. – balançou a cabeça. —Espero que Audrey tenha o bom senso de manter-se afastada até que Gabe se acalme. Ele os ameaçaria com uma escopeta para que se casassem.

—Não duvido. Como está Robin? — perguntou por que sempre havia simpatizado com a filha caçula de Janet.

—Segue obstinada em construir poços de petróleo. — Janet moveu a cabeça. — Diz que quer se dedicar a isso.

—Os tempos mudaram Janet. — Maggie se pôs a rir. — As mulheres estão dominando o mundo.

—Por favor, não diga isso na frente de Gabe – ela murmurou. —Não gosta do mundo moderno.

—Às vezes, tampouco me agrada. — Maggie suspirou e olhou para Janet. – Ele continua cuidando do gado?

—De corpo e alma. É a época em que contam e marcam os animais, querida — Janet riu —Durante este período não fala com ninguém e quase nunca está em casa. Assiste a reuniões da mesa diretora, viaja para comprar e vender e participa de seminários e é membro de uma infinidade de mesas diretoras, conferências e bancos. Quando estou em casa nunca me escuta.

—Sabe que me casei e que tenho a Becky?

—Mencionei a sua mãe, mas não falei de você. É tão sensível quando falo de mulheres que deixei de falar. Levei uma linda garota ao rancho, para apresentar a ele. — Janet se ruborizou. — Foi terrível — moveu a cabeça. – Depois disso, decidi que é melhor que não me intrometa em sua vida. Já não menciono ninguém, sobre tudo as mulheres solteiras. — acrescentou rindo.

—Por mim não terá que se preocupar. Os homens já não me interessam!

—Compreendo você. — murmurou Janet. — Nunca gostei de seu ex-marido, ele sorria muito.

Era estranho que Janet dissesse isso porque seu filho parecia estar constantemente com raiva, mas Maggie não fez nenhum comentário a respeito. A ela não interessava esse tipo de homem. Já tinha sofrido muito com o domínio de Dennis e este se encarregou de que ela decidisse não dar uma oportunidade a nenhum outro homem.

—Como eu gostaria que Gabe se casasse! — disse Janet com melancolia. —Nunca teve a possibilidade de fazer o que costumam fazer os jovens. Às vezes, sinto-me responsável por isso.

Maggie se compadeceu dela porque conhecia a história de sua família. Janet e a mãe dela foram boas amigas, por isso ficou sabendo do que acontecia com a outra família, sobre tudo, o que fazia o filho mais velho, a quem tanto desejava esquecer.

As filhas dela foram muito mimadas e isso não ajudou em nada. Depois da morte de Jonathan Coleman, Audrey se dedicou a divertir-se e Robin foi para a universidade. Gabe ficou à frente do grande rancho sem ajuda da família porque os outros não sabiam nada de negócios.

Gabe suportou o peso e nunca se dobrou. Maggie o admirava por sua integridade e força únicas. Era um pioneiro com um espírito rude e uma incrível força de vontade.

—Aqui está minha Becky — anunciou Janet abrindo os braços à menina que imediatamente se jogou neles.

—Tia Janet, eu estou muito contente de que tenha vindo.

Becky tinha se afeiçoado à senhora desde que se conheceram inesperadamente e ao inteirar-se de que Janet era madrinha de sua mãe, adotou-a como tia. Maggie não colocou nenhuma objeção e Janet ficou encantada. A pobre menina não tinha parentes exceto seu pai e este a aterrorizava.

—Meu papai quer que eu vá morar com ele — Becky fechou os olhos e deu um forte abraço à senhora. – Eu disse à mamãe que deveríamos fugir, mas ela não quer.

Janet olhou para Maggie. Esta estava em pé e tinha o rosto avermelhado, encontravam-se na cozinha. Mary olhava o pequeno grupo enquanto preparava uns bolos. Mary trabalhava para a família desde que Maggie era menina. Agora não ia todos os dias, só quando necessitava de um pouco de dinheiro. Frequentemente, Maggie trabalhava horas extras para conseguir esse dinheiro e poder ajudar a mulher que tinha feito parte importante de sua infância.

—Quer dizer que esse assunto não terminou? — perguntou Janet com desdém. —Deveria permitir que eu pedisse a Gabriel que fale com Dennis. Ele não se incomodaria.

—Meus advogados se encarregam do assunto, mas obrigado pelo oferecimento — Maggie não pôde imaginar Gabriel fazendo algo por ela.

—Sinto-me culpada. Perdi o contato com vocês desde que vocês se mudaram para Austin. Se não fosse por ter nos encontrado no outro dia não estaria aqui.

—Sabe que sempre a receberemos com prazer. — brincou Maggie.

—Estive afastada muito tempo, não é verdade, querida? –Janet observou-lhe o rosto. – Deveria cuidar de você como uma tia — moveu a cabeça. — Mas estou perdendo o jeito e suponho que é por distração. Depois de que nos vimos recordei que minhas filhas nem sequer sabem que você tinha se casado; assim sou terrível.

—Me alegro muito de que esteja aqui. — levou Janet a sala de jantar e puxou uma cadeira para que ela se sentasse.

—Faz muito calor para ser primavera. Como suporta?

—Vou pegar o ventilador. — ofereceu Becky.

Abriu uma gaveta da cômoda e tirou um leque de madeira com uma paisagem primaveril em um lado. Janet sorriu agradecida à menina e começou a abanar-se com frenesi.

—É uma pena que não tenha ar condicionado. — moveu a cabeça. — Nós o instalamos faz dois anos porque o calor é mais insuportável a cada ano que passa.

Com decoro, Becky se sentou em uma cadeira, ao lado de Janet, enquanto Mary lhes servia os bolinhos e as xícaras com chá bem quente. Logo, Becky saiu para brincar e Mary se dirigiu à cozinha para terminar de preparar o jantar e poder observar a menina pela janela dos fundos.

—Agora, me conte tudo. — declarou Janet decidida, sem afastar os olhos de Maggie.

Maggie sabia que devia fazer isso, de modo que explicou sua triste historia sem omitir nenhum detalhe. Foi um alívio desabafar, porque fazia muito tempo que não tinha com quem conversar nem confiar.

Janet a escutou e fez uma ou outra pergunta. Quando Maggie terminou, a senhora observou sua xícara antes de falar.

—Venham comigo para o rancho. — levantou a cabeça. – Você precisa ficar longe daqui para pensar bem em sua situação. O rancho é o refúgio ideal e Dennis nunca iria buscar você lá.

Era certo. Dennis, igual à Maggie, tinha ouvido falar bastante a respeito de Gabriel Coleman e não era do tipo suicida.

—E Becky? — perguntou Maggie. — Não posso tirá-la agora da escola...

—Voltaremos pra buscá-la na semana que vem. — assegurou Janet. — Está no internato, querida, e não permitirão que Dennis a leve, a menos que apresente uma ordem judicial. Ela estará segura.

Suspirando, Maggie apertou a xícara. Parecia algo maravilhoso sair da cidade e poder meditar em um ambiente tranquilo. Mas lá estava Gabriel...

As lembranças que tinha dele tinham impregnado sua jovem vida durante anos. Ele estava gravado em sua mente como com tinta permanente.

Sabia muito dele. Recordava que tinha obrigado uns ladrões de gado a ficarem na sarjeta e os tinha ameaçado com um rifle até que um de seus homens levou a policia.

Também teve uma pomposa briga com um de seus homens em plena rua. Maggie a tinha presenciado. Às vezes se perguntava se não ocorreu por culpa dela. Na idade de dezesseis anos ela tinha ido passar umas semanas com as irmãs dele. As três tinham ido fazer compras no povoado e foram levadas por um dos homens, um tipo que as olhava com interesse exagerado e falava de maneira estranha, feito que divertiu a Robin e a Audrey, mas que aterrorizou Maggie. Gabe estava na loja de ferragens, ao lado da loja de armarinhos, onde Janet fazia suas compras.

Quando as garotas saíram, o homem colocou uma mão na cintura de Maggie e com insolência a deslizou, como uma carícia, para seu quadril.

Gabe saltou sobre um montão de pás e com incrível velocidade deu um murro no homem e o deixou sem sentidos. Depois o despediu sem se importar com o público que se acumulou e com uma linguagem que ruborizou Maggie.

Gabe tinha se aproximado dela, mas ela, temerosa, havia retrocedido uns passos. Gabe nunca disse o que pensou. Furioso, olhou para as garotas e perguntou o que olhavam. Ordenou que voltassem para o carro e se afastou acendendo um cigarro com tal calma que parecia que nada havia acontecido. As garotas disseram que o homem se colocou em uma confusão por maltratar um animal, mas Maggie sempre teve a dúvida de que possivelmente ela tivesse sido a causadora. Aquele episódio nunca se explicou.

Entretanto, tinha acontecido fazia muito tempo, embora... As lembranças eram uma coisa e outra, seria estar sob o mesmo teto. Sem duvida, preferia manter-se a uma distância segura de Gabe; a uma distância como a que havia entre Santo Antonio e o rancho Coleman.

No entanto, recusar o convite de Janet era como falar com uma parede e em poucos minutos, Maggie aceitava ir para o rancho.

 

Se Maggie acreditou que Janet voltaria para sua casa e a esperaria ali, se enganou. Janet a ajudou a fazer as malas e inclusive às levou ao internato, onde deixaram Becky e deram o novo endereço de Maggie.

A diretora, a senhora Haynes, era uma boa amiga da família.

Maggie estava tranquila porque sabia que a mulher estava inteirada de sua situação com Dennis e não permitiria que ele levasse a menina. Com tudo isso, inquietava-lhe deixar Becky, mas sabia que necessitava de tempo para fazer planos e atuar com presteza para que não tirassem sua filha.

—Eu não gosto de deixar você aqui. — disse para sua filha quando a abraçou. — Becky, eu prometo que logo que termine este semestre faremos planos para que esteja comigo todo o tempo.

—Não se preocupe mamãe. – ela declarou muito séria e falando como uma adulta. — Estarei bem. Mas quero que venha me buscar quando terminarem as aulas.

—Sim, querida. – ela prometeu com um sorriso. –Farei isso e você, seja boazinha.

Em poucos minutos, Maggie e Janet estavam a caminho do rancho Coleman. Este se encontrava ao norte de Santo Antonio, perto de Abilene. O povoado mais próximo era Junction, um lugar moderno com lojas suficientes para merecer uma agência de correios. Tinha inclusive, um aeroporto pequeno.

—Lamento não ter convencido Gabriel de que me trouxesse de avião — desculpou-se Janet enquanto percorriam a estrada dentro do elegante Lincoln Mark IV prateado que era o orgulho e alegria dela. — Mas está muito ocupado e não poderia se afastar; além disso, sou apenas sua mãe. Por que teria que me preferir ao gado? Nem sequer pagariam bem por mim porque sou velha!

Maggie conteve a risada. Janet tinha certo senso de humor e era uma companheira encantadora. Possivelmente essas férias fossem agradáveis e ela pudesse colocar Dennis e seu horrível passado na justa perspectiva para planejar a estratégia a seguir para manter Becky afastada das garras de seu ex-marido. Se pelo menos não estivesse Gabriel...

Fazia muito calor nessa região e a viagem foi cansativa, apesar do ar condicionado e a comodidade do carro, Janet teve que parar com frequência para colocar gasolina, beber algum refresco ou ir ao banheiro. Por fim, deixaram para trás a bela e ondulante campina, se aproximaram de Abilene e os campos se transformaram em terra plana cultivada.

—Temos dois aviões – ela comentou enquanto percorriam os últimos quilômetros. — Também um helicóptero — olhou para Maggie. —Está cansada?

—Não, — conseguiu rir. Fazia muito tempo que não tinha vontade de rir, mas a companhia dela tinha tranquilizado-a. – Vimos umas paisagens muito belas e me alegro de ter vindo de carro. Sem problemas, você sim deve estar cansada.

—Eu? —burlou-se. — Querida, em minha juventude domava cavalos selvagens, sou texana.

Maggie também era e uns anos antes teria se sentido na glória se tivesse tido a oportunidade de domar um cavalo selvagem. Mas tinham tirado quase toda sua vivacidade durante os últimos anos. Se não fosse por Becky não sabia quanto tempo teria durado devido ao tipo de pressão a que se viu submetida.

—Oxalá desfrute no rancho— murmurou Janet quando chegou a um caminho de cascalho que tinha um letreiro que dizia: Rancho Coleman, gado Santa Gertrudes puro-sangue.

—Sei que desfrutarei — prometeu. Sorriu ao ver os animais de pele avermelhada que pastavam atrás das rústicas cercas. — Santa Gertrudes é a única raça nativa norte-americana, não é verdade? Iniciou-se no Rancho King e agora é famosa em todo mundo. São animais muito belos. Quem me dera ter alguns próprios!

     —Ai, querida, pena que não a tenha trazido aqui antes... – suspirou. — Isto é irônico. Gabriel está obcecado com o gado e você teria sido a nora perfeita.

—Não tente me juntar com ninguém — advertiu-lhe Maggie sentindo que ficava tensa pelo temor. —Sem faltar com o respeito a seu filho, a última coisa que desejo é ter de novo um homem que me domine, de acordo?

—Está bem e quero que saiba que não faria isso. Você é muito especial.

— Você também é — olhou a grande casa Branca.

Tinha um leve aspecto colonial, mas faltavam as imensas colunas. Por toda parte havia cadeiras de vime, viu um balanço e muitas flores. A vista era espetacular.

—É mais ou menos do mesmo tamanho que a sua não é mesmo? — Janet riu. —Meu pai a construiu sem seguir nenhum estilo. Frequentemente fazem comentários a respeito.

—É linda — Maggie suspirou, mas franziu o cenho ao olhar para as cercas. — Imaginava as cercas brancas. — murmurou.

—Gabriel administra bem o dinheiro – brincou. — Temos centenas de acres e o cercado é muito custoso. Sobre tudo, as cercas elétricas que são as únicas que usa agora. Diminui os gastos onde pode e é um trabalho constante cuidar do gado e manter afastados os ladrões. Aqui só temos animais puros-sangues e quando um touro pode render tanto como meio milhão de dólares, compreenderá por que Gabriel põe tanta ênfase na segurança. Tem um homem contratado só para essa tarefa.

—Deus! — exclamou Maggie. — Ainda há ladrões de gado?

—Sim, vêm em grandes caminhões que também se modernizaram, mas o roubo continua sendo um problema.

—Eu nunca teria imaginado isso. — comentou Maggie quando Janet parou o carro junto aos degraus.

Maggie não percebeu que Janet ficava tensa nem que seus olhos se turvaram porque ela estava concentrada em observar o homem que se aproximava do carro.

Era alto, esbelto e ágil e andava com tanta arrogância que Maggie reagiu endireitando as costas. Vestia-se como um vaqueiro, e seu chapéu de abas largas impediu Maggie de ver sua expressão hostil.

Ele parou junto ao carro e Janet saiu gritando de felicidade para abraçá-lo com sua alegria inata. Mas ele deu um passo atrás.

—Não faça isso! —trovejou fazendo uma careta. Levou uma mão ao ombro e conteve o fôlego. – Fui mordido por uma cascavel e o braço ainda está inchado. Passarão dias antes que possa voltar a trabalhar como antes. Não necessito que me arrebentem!

—Sinto muito, querido... — murmurou Janet angustiada e ferida.

—Não posso montar, não posso viajar nos malditos caminhões e não posso pilotar o avião — olhou para Janet como se ela fosse a culpada de tudo. — Landers tem que me levar a todas as partes. Estive mais doente que um cão e me alimentaram exageradamente.

—Sinto muito, está muito pálido – ela murmurou preocupada. —Deve doer muito.

—Viverei — olhou para a mulher mais jovem, levantou o queixo e cerrou os olhos.

Pensativo, franziu o cenho quando Maggie saiu do carro e o olhou nos olhos.

Maggie teve vontade de dar a volta e sair correndo por causa da expressão que não lhe dava precisamente as boas vindas. Ele tinha uma parte do nariz um pouco afundada, como se a tivessem quebrado. As sobrancelhas negras eram tão cheias como o cabelo, e seus olhos eram tão penetrantes como só podem ser os olhos azuis. Não era bonito, embora seu rosto tivesse personalidade e seu corpo era tão sensual como o de um astro de cinema. Era o homem de seus sonhos, em carne e osso. Mas Maggie não se surpreendeu de que já tivesse trinta e oito anos e de que não tivesse se casado. Precisaria uma mulher forte, uma mulher corajosa para um homem como esse. Estremeceu ao pensar no que ele esperaria de uma mulher na intimidade.

O sentimento deve ter sido mútuo porque o olhar dele expressou muito. Maggie imaginou que ele a considerava muito da cidade pela roupa e as elegantes sandálias que usava. Devia ter vestido uma calça jeans como havia pensado a princípio. Por que tinha se arrumado tanto?

—Gabe, lembra-se da filha da Mary, Maggie Turner? – perguntou Janet.

—Lembro sim — respondeu com franco desinteresse e Maggie notou que ele arqueava as sobrancelhas um momento.

—Fico feliz... Em voltar a vê-lo — gaguejou ela.

Ele assentiu, mas não respondeu a sua saudação. Sem perder tempo, esqueceu-a e, impaciente, voltou-se para sua mãe quando um caminhão com o logotipo do rancho parou a poucos metros de distância.

—Espero uma ligação importante de Cheyenne. Se ligarem e eu não estiver, por favor, peça que liguem às cinco horas.

—É obvio querido. — assentiu Janet. – Sinto não ter vindo em um bom momento...

—Não faz isso sempre, mamãe? — perguntou sorrindo com frieza. — Não é melhor a Europa para você que o pó e o gado?

—Vim ver você. – ela disse com um toque de orgulho.

—Voltarei logo. — dirigiu-se para o caminhão e fez uma careta quando subiu ao veículo e fechou a porta sem aceitar a ajuda do vaqueiro. Afastaram-se rodeados de uma nuvem de pó.

—Jamais o compreenderei — murmurou Janet suspirando um pouco zangada. – Não o criei sem ensinar boas maneiras. Sinto muito, Maggie.

—Não tem por que se desculpar. Imagino que está muito dolorido.

—E está irritado por ter que ficar em casa quando há tanto trabalho no rancho. Esta época é muito dura para todos. Além disso, não gosta que eu venha e por isso devo confessar que necessitava de você ao meu lado tanto quanto você necessita de descanso. Eu não gosto de estar aqui sozinha. Mas asseguro que irá aproveitar sua estadia já que ele não estará muito tempo em casa — acrescentou esperançosa. — Assim que tenha melhorado do braço irá ao trabalho – calou-se para acrescentar com amargura: — Conheço meu filho e sei que demorará poucos dias porque nada o detém por muito tempo. Convencerá o médico de que os curativos fizeram milagres.

—Não é muito amável — murmurou Maggie.

—Irá antes que se dê conta. Vamos para que se instale — declarou Janet com firmeza. — Este também é meu lar, embora não me permitam vir frequentemente.

Maggie não respondeu. Não estava segura de ter feito o correto ao aceitar o convite. Gabriel era odioso e o tempo não havia diminuído o desagrado que lhe causava. O instinto lhe indicou que se Janet não estivesse junto, Gabe a teria enviado de volta a Santo Antonio.

Não era um bom princípio.

Dedicou às duas horas seguintes a percorrer a grande casa e conhecer a nova cozinheira e a governanta. Era uma mulher pequena, morena, alegre e Maggie ficou feliz assim que a viu.

Vestiu uma calça jeans e uma camisa amarela, escovou o curto cabelo com a esperança de que seu aspecto fosse aceitável quando descesse para o jantar. Gabe estava furioso, observou-a quando ela entrou na elegante e ampla sala de jantar. De fato, olhou-a de uma forma acusadora que ela se petrificou na soleira da porta, embora soubesse que não devia demonstrar temor nem fazer nenhum movimento brusco, recordou o que tinha lido em um manual para treinar cão não demonstrar temor nem fazer movimentos bruscos. Possivelmente daria resultado com esse vaqueiro meio civilizado.

—Venha querida — sugeriu Janet olhando de forma carinhosa. – Desculpe tê-los feito esperar — murmurou Maggie sentando-se ao lado de Janet para sentir-se protegida.

—O jantar é servido as seis em ponto — declarou o homem. – Em caso de que tenha esquecido, repito que eu não gosto que me façam esperar. —A garota quis responder, mas ele impediu levantando uma mão e ignorando o sinal que sua mãe fazia. — Não se esqueça senhorita Turner— acrescentou com um tom de diversão.

— Poderia ser por escrito? — perguntou Maggie rindo nervosamente. — Aqui o ar é fresco e limpo, não há contaminação por causa dos carros!

—É verdade — respondeu Gabe.

Voltou-se para trás com uma xícara de café na mão. Não estava muito limpo, porque usava a roupa de trabalho uma camisa da Associação Americana de Advogados, entreaberta e Maggie pôde ver seu bronzeado e peludo peito. Isso a tinha perturbado quando era adolescente, assim desviou os olhos e brincou com o guardanapo em seu colo.

— Não tive tempo de me trocar. – ele comentou, ao ter, interpretando equivocadamente a expressão de Maggie ao pensar que estava interessada. — Fui ver o médico depois de estar no curral e estou cansado.

—Senhor Coleman, esta é sua casa — levantou a cabeça e em seus olhos havia desculpa. — Não seria tão grosseira para criticar como se veste. —Ele ficou olhando para ela que teve que abaixar a cabeça. Por fim, ele estendeu o braço para o prato de carne e se serviu, fato que tranquilizou sua mãe.

—Como a serpente mordeu você, querido? — perguntou Janet.

—Quis levantar uma corda e não observei aonde colocava a mão.

—Deve ser muito doloroso — Janet mordeu o lábio. – Suponho que não poderá trabalhar durante uns dias.

—Acertou — olhou-a com frieza. — Se me sentisse um pouco mais forte poderia montar. Não há perigo, mas tenho o braço inchado e dolorido. Espero que não fique incapacitado muito tempo.

Janet ia fazer um comentário, mas se obrigou a calar porque nada obteria discutindo com seu filho.

—O que você faz agora? — perguntou a Maggie enquanto começava a cortar a carne.

—Trabalho em uma livraria — levantou e abaixou a cabeça porque sentiu que ruborizava. Gabriel causava um estranho efeito nela, inclusive depois de seu angustiante casamento.

—Trabalha? – estudou seus olhos. — Sua família tinha dinheiro.

—As coisas mudam — respondeu em voz baixa. — Eu não tenho dinheiro, sou uma mulher que precisa trabalhar para viver.

—Sirva-se de mais carne, querida — Janet tratou de interromper.

—Nota-se – ele comentou depois de deixar o pão e de observá-la com os olhos entreabertos. — Já não é a corajosa menina que foi quando brincava com minhas irmãs. O que aconteceu?

Maggie sentiu frio porque ele a observava como um gato observa um camundongo. Sentiu-se vulnerável e temerosa. Anos antes teria aceitado a provocação; já não podia fazer isso porque estava farta de lutar e discutir. Sua vivacidade estava baixa; tinha que ser assim pelo bem de Becky.

— Amadureci — respondeu depois de deixar o garfo sobre a mesa e olhar de frente para Gabe.

—Tinha fortuna e agora não tem. O que a trouxe aqui, senhorita Turner? Busca umas férias ou um homem que a mantenha?

—Gabriel! —Janet atirou seu guardanapo sobre a mesa. — Como se atreve?

—Sua mãe me convidou senhor Coleman — Maggie entrelaçou as mãos com força, debaixo da mesa e fingiu calma. – Necessitava me afastar durante um tempo, só isso. Terá que me desculpar por ser tão tola, mas não imaginei que necessitaria de sua permissão, além disso, sua mãe insistiu. Se desejar que vá... — começou a ficar em pé.

—Por Deus, sente-se! — trovejou atacando-a com seu frio olhar. — Só me faltava ter aqui a uma garota fina na época da recontagem e marca de animais, mas se mamãe a quer aqui, será bem recebida. Entretanto, procure ficar na casa e fora de meu caminho. — advertiu.

Deixou seu guardanapo e ignorou o furioso olhar de sua mãe.

—Não me colocarei em seu caminho — respondeu Maggie.

—Sério? — inclinou a cabeça para acender um cigarro, mas não deixou de observá-la. — Que diferente é da garota que me lembrava como uma potranquinha, sempre emocionada e ruborizada! Mudou muito, Maggie Turner.

—Você continua sendo o mesmo — disse surpreendida de suas próprias palavras. — É tão contundente, grosseiro e dominante como antes.

—E tenho o mesmo mau humor – sorriu. — Assim se cuide – comentou ficando em pé.

Gemeu ao mover-se e murmurou uma maldição.

—Posso ajudar em algo? —perguntou Janet preocupada.

—Não, obrigado — despediu-se das mulheres com um movimento de cabeça e muito sério.

—Sinto muito — murmurou Janet para Maggie. — Nesta época ele se põe de muito mau humor. Além disso, acredito que não gosta muito das mulheres.

—É melhor dizer que não gosta de mim — respondeu Maggie com os olhos fixos na toalha. — Sempre foi assim — sorriu com tristeza. — Sabia que quando eu era jovem estava apaixonada por ele? Graças a Deus, ele nunca percebeu e passou. Para mim, ele era todo o mundo.

—E agora? —perguntou Janet.

—Acredito que tenho um pouco de medo dele — Maggie mordeu o lábio inferior e riu nervosa. — Não estou certa de que tenha sido boa ideia vir.

—Engana-se. Estou certa de que tudo sairá bem, já verá, tenho tudo planejado.

Maggie não perguntou a que se referia, mas o homem que escutava do outro lado da porta fez uma significativa careta. Ele deu outro significado ao inocente comentário de Janet e ficou lívido pela fúria.

De modo que sua mãe tentava de novo de lhe arrumar uma mulher que ele conhecia, sem saber o que ele pensava dela. Pois bem, se Maggie acreditava que iria levá-lo ao altar, iria receber uma grande surpresa. Afastou-se com tanto sigilo que ninguém o ouviu.

—Estava certa de que Gabe não estaria em casa — Janet moveu a cabeça. – Está muito mal e por isso foi tão grosseiro.

—É igual com todas as mulheres? — perguntou.

—Algum dia, falarei com você sobre isso — Janet pegou seu garfo. Havia tristeza em seus olhos—. No momento, só direi que teve uma má experiência e eu tive a culpa. Após, tentei em vão compensá-lo por isso.

—Não pode falar com ele a respeito? — perguntou Maggie.

—Gabriel tem o costume de se afastar quando não quer escutar. –riu. — Uma vez tentei explicar o que aconteceu, mas me fez calar e foi para uma viagem de negócios em Oklahoma. Depois disso, suponho que perdi a coragem. Meu filho pode ser muito intimidador.

—Eu lembro.

—Pelo visto, você compreende — Janet sorriu para Maggie. – Nunca disse a ele que você tinha casado. Tinha uma forma estranha de me ignorar quando a mencionava, depois daquele verão que passou aqui. Recorda a briga que teve com aquele vaqueiro...?

—É obvio, não poderia esquecê-la — Maggie se ruborizou e não pôde ocultar sua confusão.

—Depois disso se negou a falar de você. Passou muito tempo preocupado e agia de forma estranha. Cobriu com terra a nossa piscina e não permitiu que ninguém montasse o Butterball...

Algo que recordava emergiu a superfície da mente de Maggie. Ele tinha dado o Butterball para que ela montasse e recordou o momento em que ele ajustava as rédeas. Então, ela o havia adorado, apesar do franco antagonismo que demonstrava. Aquilo foi inexplicável porque Gabe se dava muito bem com quase todas as mulheres.

Era atento e cortês com todas, menos com Maggie.

— Está aborrecido porque estou aqui – ela murmurou.

—Lembre-se que também é minha casa — Janet afirmou. — Me encanta ter você aqui. Sirva-se de mais carne, é de nosso gado.

—Puro sangue Santa Gertrudes? — perguntou Maggie horrorizada com a vista fixa no prato que Janet lhe oferecia.

—O que? —Janet riu ao compreender. — Ai, não querida. Gabriel também cria gado para comer. Puro sangue... Que engraçado! Gabriel antes comeria seu cavalo que é um de seus animais puro sangre.

Maggie pegou um pedaço, observou-o e não foi a primeira vez que se arrependeu de ter ido ao rancho. Gabriel parecia desejoso de derramar sangue e ela se perguntou se o rancho Coleman não se transformaria em uma área de combate.

 

Durante os primeiros dias, Maggie pensou que vivia vagamente como em uma área de guerra. Gabriel se mostrava impaciente e irritável devido ao braço e parecia odiar todo mundo. Não gostava de nada e muito menos da presença de Maggie. Tratava-a com fria formalidade e ela ficava arrepiada. Era evidente que ele a suportava só para agradar sua mãe. E se por acaso ela não tivesse percebido, o disse claramente durante o café da manhã do terceiro dia.

Gabe levantou a cabeça quando ela se sentou. Janet, que padecia de insônia ainda não tinha descido porque a noite anterior havia ficado conversando até tarde.

—Sinto muito, cheguei tarde? — perguntou dando a entender que içava a bandeira branca.

—Importa-se? —perguntou olhando-a com aborrecimento.

—Sei que desgosta de minha presença... —murmurou.

—Sua declaração é exageradamente modesta — girou o cigarro entre os dedos sem deixar de observá-la—. O que ela ofereceu a você, para que tenha vindo Margaret? —perguntou de repente e foi a primeira vez que usou seu nome.

—N-nada — gaguejou com os olhos bem abertos. — Eu necessitava de um descanso.

—Descanso do que? – insistiu. — Sempre foi esbelta, mas agora está muito magra. Além disso, está pálida e seu aspecto é de quem esteve doente. O que aconteceu, Margaret? Do que foge e por que se refugiou aqui? Conte-me.

—Não posso — ficou tensa.

—Na verdade não quer — corrigiu-a e sorriu de uma forma desagradável como se estivesse impaciente e zangado. — Não sou cego e conheço a minha mãe, sei como funciona sua mente. Suponho que você é o sacrifício. Está disposta?

—Não compreendo — murmurou aniquilada.

—Compreenderá — prometeu a modo de ameaça.

Ficou em pé com mais facilidade do que tinha feito três dias antes. Melhorava com rapidez.

—Vim para fazer companhia a Janet e não para chatear você, Gabriel — tentou explicar e odiou sua falta de ânimo.

Gabriel pareceu ficar petrificado. Era a primeira vez que ela pronunciava seu nome desde sua chegada. Olhou-a e sentiu que uma onda de calor, como um torvelinho, golpeava-lhe o peito. Achava estranho que sempre o tivesse turbado, mas parecendo ela tão vulnerável, era pior. Irritou-o vê-la assim sem saber a que se devia sua mudança. Fingia? Seria parte do plano que sua mãe tinha mencionado? Em qualquer caso, não lhe agradava a forma em que Maggie continuava perturbando-o depois de tantos anos.

—Para me fazer a vida impossível ou para compartilhar minha cama, Maggie? — premeditou provocá-la. – Você me desejava quando tinha dezesseis anos, sabia e sentia quando me olhava. Continua me desejando, querida?

O rosto dela ficou pálido e abaixou os olhos até a calça jeans para observar as mãos. A Maggie de então teria replicado, mas aquela adolescente tinha morrido por causa de um casamento com um homem cruel e brutal. Sentiu-se enojada.

—Cale-se — murmurou e fechou os olhos. – Cale-se.

—Olhe para mim! — observou-a até que ela obedeceu. — Nenhuma das duas tem possibilidades de conseguir –murmurou — Esqueçam seus planos porque não desejo ferir você. —Depois de falar de uma forma tão enigmática, voltou-se e saiu com expressão de aborrecimento.

Maggie não mencionou o enfrentamento a Janet e conseguiu manter-se afastada dele. Gabe a olhava como se odiasse sua presença, mas ela fingia não notar. Entretanto, diante de Janet, Gabe se mostrava cortês, embora indiferente.

Maggie se perguntou se tinha amado a alguém alguma vez e se alguém o teria amado. Parecia inalcançável e inclusive seus homens se mantinham a certa distância, a menos que tivessem algum assunto urgente que tratar com ele. Ele lhes falava pouco e menos ainda com sua mãe.

Parecia que a senhora lhe desagradava e tinha advertido a Maggie que não lhe causasse insônia.

—Mantém todos na linha, não é mesmo? — perguntou Maggie a Janet uma tarde enquanto passeavam. As duas mulheres acabavam de ver Gabriel afastar-se de um homem que tentava lhe fazer uma pergunta, perto do terraço de trás.

—Sempre foi igual — Janet o observou preocupada — Acredito que nunca me perdoou por me casar tão cedo, depois da morte de seu pai. O fato de que odiasse meu segundo marido criou mais problemas. Ele o tratou muito mal — confessou e mordeu o lábio – Os padrastos, inclusive os melhores, poucas vezes desejam encarregar-se dos filhos alheios. Audrey e Robin se davam muito bem com Ben porque eram meninas bonitas e não constituíam uma ameaça para ele. Mas Gabe era um moço adolescente que terminou lutando por sua autonomia. Ben o enviou a um internato e eu... Fiquei no meio dos dois. Amava aos dois, mas não achei a fórmula mágica para que vivessem em paz juntos. Assim foi até que Ben morreu e isso ocorreu quando Gabe acabava de terminar seu serviço na infantaria da marinha – encolheu os ombros — Voltou para o rancho e começou a unir os pedaços que restavam do rancho de seu pai. Eram poucos porque o meu segundo marido gostava mais de gastar dinheiro que ganhá-lo. Gabe estava e está amargurado por isso.

—Não é motivo para que seja tão frio — murmurou Maggie.

—É melhor que conte tudo a você — Janet olhou para o homem alto que selava um cavalo no curral. — Um ano antes da morte de Ben, Gabriel conheceu uma jovem que parecia lhe adorar. Trouxe-a para que a conhecêssemos e ela ficou aqui duas semanas. Durante sua estadia, Ben lhe deu muita atenção e conseguiu convencê-la de que ele controlava todas as finanças e o dinheiro —Janet fechou os olhos envergonhada – Ben estava morrendo de câncer; não viveria muito tempo mais, mas Gabe ignorava isso. Ben se sentiu muito envaidecido pelos cuidados da garota; depois de tudo era um homem e não podia lhe culpar. Mas Gabe a perdeu e culpou a Ben. Depois, eu tentei explicar, mas se negou a me escutar. Até a data ignora a verdade porque a causa da morte de Ben foi um ataque cardíaco. Minhas filhas tampouco sabem que Ben tinha câncer.

—Ai, Janet, sinto muito – tocou o ombro cansado da senhora – Eu sinto muito, não devia pensar mais nisso.

—Aconteceu faz muito tempo —murmurou a mulher tentando sorrir — Não preciso dizer que Gabe nunca esqueceu nem compreendeu por que não me separei de Ben. Depois da morte de Ben, Gabe voltou para ficar, mas nosso distanciamento foi duro. Às vezes penso que me odeia, tentei demonstrar o quanto o amo e que me arrependo de muitas coisas. Imagino que para lhe compensar tenho feito o papel de Cupido, mas nem com isso consegui nada.

—Ninguém guarda rancores por toda a vida – afirmou Maggie.

—Você acredita nisso? — Janet observava seu filho que estava montando em seu cavalo. Moveu a cabeça e riu — Quem sabe?

—Explicou a ele por que vim? — perguntou Maggie.

—Ainda não — confessou — Espero fazer isso no momento propício.

—Como ele não deseja que eu esteja aqui, deveria voltar para Santo Antonio.

—Não — declarou a mulher com firmeza — Este também é meu lar e tenho direito de convidar quem quiser. Gabe não me deterá, nem você.

—Janet, estou cansada de lutar...

—Nos manteremos afastadas dele — assegurou Janet — Logo voltará ao trabalho e teremos a casa só para nós.

Mas a senhora falou com a mesma incerteza que Maggie sentia.

E o medo dela aumentou quando na manhã seguinte, Janet titubeou ao perguntar a Gabe se tinha um cavalo que Maggie pudesse montar.

—Por favor, não preciso... — intercalou Maggie ao ver um olhar perigoso nos olhos dele.

—Não me sobram cavalos – ele respondeu olhando para Maggie com severidade — Estou tentando conseguir que marquem, cataloguem e vacinem os gados e tenho medo que os roubem nos pastos. Por outro lado, os novos trabalhadores me enlouquecem porque necessito conduzi-los como se fossem crianças. Além disso, tento ter as provisões sempre à mão porque o capataz está doente e já estou com uma semana de atraso na papelada porque minha secretária não pode fazer tudo sozinha... Como veem, não tenho tempo para entreter as turistas.

—Gabriel, não tem por que ser tão grosseiro — Janet falou nervosa.

—Ela é sua convidada, não minha. Se quiser distraí-la, faça você mesma.

Sem dizer outra palavra se afastou acendendo um cigarro.

—Uma pessoa poderia morrer de frio, sentada junto dele – murmurou Maggie estremecendo.

—Sinto muito — Janet moveu a cabeça e estendeu o braço para pegar sua xícara de café.

—Não é responsável por suas ações e agora compreendo melhor a situação — Maggie sorriu. — Não se preocupe e se não for inconveniente, gostaria muito de dar um passeio.

—Faça isso, mas se mantenha afastada dele, querida — advertiu.

—Pode estar certa de que farei isso! —Maggie riu. Vestiu uma jaqueta e saiu pela porta de trás. Estava fresco, mas o ambiente lhe agradou. Adorava a vida no campo. Era muito diferente de seu lar situado no centro de Santo Antonio. Embora a cidade fosse encantadora e havia muito que ver e fazer, de coração era uma garota do campo. Adorava por paixão a terra e apesar de estar na casa de um inimigo, não pôde conter a emoção de poder percorrer tanta terra.

Dirigiu-se para os estábulos e observou os poucos cavalos que restavam. Os homens que trabalhavam com o gado tinham levado quase todos.

Com saudade, observou um grande garanhão negro. Não tinha nenhuma mancha branca no corpo e parecia majestoso sob a luz da manhã. Agitou a crina e passeou como um puro sangue.

—Admirada?

A pergunta a surpreendeu. Voltou-se e viu que Gabriel Coleman estava apoiado em um dos grandes carvalhos do pátio de trás e que fumava um cigarro.

Maggie se moveu um pouco porque Gabriel lhe pareceu mais forte que nunca. Estava formidável com roupa de trabalho; muito diferente de Dennis, que sempre lhe pareceu um pouco afetado.

—Estou apenas observando — confessou.

—Chama-se Crow. Era um puro sangue com um grande futuro – apontou o animal com a cabeça — Mas matou um homem e pensaram em sacrificá-lo. Eu o comprei e o monto, mas ninguém mais deve fazer isso porque é o animal mais perigoso que temos. Não vá fazer uma tolice.

—Não me atreveria a montar nenhum cavalo sem pedir permissão antes — respondeu tranquila — Possivelmente esteja acostumado com as mulheres mais impetuosas. Eu sou prudente e não corro sem antes pensar.

—Então, por que está aqui? — entreabriu os olhos e aspirou a fumaça do tabaco.

—Sua mãe me convidou — respondeu.

—Por quê?

—Por que você acha? — perguntou por sua vez.

Gabe sorriu, mas não foi um gesto amistoso. Jogou o cigarro e se aproximou dela. O lugar estava deserto e os carvalhos e nogueiras ocultavam a casa.

Maggie, desde seu casamento, sofria pesadelos por causa da intimidade física, assim começou a afastar-se até que topou com a fria casca de outro carvalho.

—Está nervosa? — desafiou sem deixar de aproximar-se – De que tem medo? Ouvi o que mamãe disse a você na primeira noite e sei por que veio Maggie. Por que foge?

—Não compreendo... —sentiu que ficava tensa e com olhos arregalados viu que ele se aproximava mais ainda.

—Insiste em me dizer isso — apoiou as mãos em ambos os lados da cabeça dela para impedir que se movesse e Maggie percebeu o aroma de vento, pinheiro e couro que emanava dele.

—O que esta fazendo?

—É outro prêmio de consolação — respondeu sorrindo zombador— Mamãe acredita que tem culpa por eu ser tão solitário. Traz-me mulheres por dúzias, mas estou me cansando de que me sirvam às mulheres em bandejas de prata. Quando me casar, se chegar a fazer isso, eu mesmo escolherei a minha esposa. E vou querer uma mulher fresca, cálida e de doce perfume: uma garota do campo e não uma mariposa de sociedade.

Maggie abriu a boca para desforrar, mas ele a fez calar colocando um dedo sobre sua boca. Parecia ser um homem frio e indiferente, mas brincou com os lábios femininos com experiência, fato que surpreendeu Maggie, pelo que abriu muito os olhos. Depois de tantos anos era incrível estar assim com ele, vê-lo como um homem e não como um inimigo; sentir o impacto de sua masculinidade de uma forma diferente. Com certeza, ele tinha experiência. Via isso em seu olhar e Maggie perguntou-se como tinha podido pensar que fosse frio já que o simples toque de um dedo contra sua boca a enlouquecia.

—Gosta disto, não é verdade, Maggie? — murmurou com um sotaque de desdém — Não sabia quão sensível é sua boca, não é mesmo? Pode incitar-se até o ponto de fazer você desejar o contato de uma boca masculina — delineou o lábio superior com a ponta do polegar e notou que tremia — Assim — aumentou a pressão e viu que ela se ruborizava e, que sem querer, entreabria os lábios.

O corpo dela ficou mais tenso ainda e Gabe sorriu porque sabia a razão.

—Não, — soluçou, mas no ato se deu conta de que Gabe não prestava atenção.

Ele era muito forte e essa força a ameaçava, embora a calidez que emitia não fosse desagradável. Anos atrás, ela tinha sonhado com que ele a tocasse e beijasse. Tinha-o desejado e se inteirou de que ele sabia. Mas também tinha compreendido igual a ele, que sua relação estava proibida devido à idade dela. Então... A idade a tinha protegido.

Que tola foi pensar que ele era frio!

—Alguma vez se perguntou como se sentiria se colocasse minha boca junto à sua? —perguntou.

As lágrimas lhe produziam uma intensa ardência nos olhos. Era fascinante sentir-se assim com ele, lhe desejar fisicamente, apesar do que Dennis tinha feito. Sentiu que cravava as unhas nos fortes músculos dos braços e que se atirava a ele.

—Gabe — murmurou cedendo à tentação.

—O que minha mãe ofereceu a você, Maggie? — murmurou junto à boca dela.

—Me oferecer? —perguntou sem compreender.

—Trouxe você aqui para mim — aproximou-se mais — Já não me traz garotas mundanas, agora me trouxe velhas lembranças. Ela deseja que me case com você.

—Me casar com você? – continuava sem compreender.

—Não se faça de inocente — observou-a com severidade — Ouvi você na primeira noite que passou aqui, mas devo dizer que não estou disponível para o casamento, pequena Maggie. Entretanto, se deseja brincar um pouco, estou mais que disposto. Sempre me incitou...

Deixou de falar para voltar a beijá-la, mas a ternura que ela esperou não esteve presente. Gabe foi brusco, como se senti-la houvesse lhe descontrolado. Gabe gemeu quando a aproximou do braço inchado, mas não a soltou, ao contrário, foi mais ardente.

—Não! —exclamou ao sentir os fortes batimentos do coração e a força no peito dele e se aterrorizou — Assim não! —tentou afastar-se.

Gabe apertou seu quadril contra o dela e a empurrou contra a áspera casca da árvore.

—O que foi? — desafiou-a e deixou de beijá-la para observá-la – Precisa de uma promessa e de um anel para que esteja de acordo? —a voz zombadora soou estranha, e pareceu falar com dificuldade.

As lágrimas foram aos olhos fechados de Maggie. Pensou que todos os homens eram iguais e que a única coisa que desejavam era o sexo.

Recordou Dennis, que a tinha obrigado a ceder para sentir prazer e se pôs a chorar.

— É tão ruim assim? — perguntou com indiferença.

—Não o desejo — murmurou tremula — Não quero ninguém, só desejo que me deixem tranquila.

Gabe franziu o cenho e, ao que parecia, tinha compreendido que ela sofria pelo que ele estava fazendo. Teria jurado que a princípio sim, ela o desejava.

Mas nesse momento, estava muito assustada, muito tensa e completamente indiferente a ele. Soltou-a e ela cruzou os braços.

—Por que finge? —perguntou com tom frio – Minha mãe não disse a você porque a convidou para vir ao rancho?

Maggie se abraçou com força para proteger-se de uma repentina rajada.

—Me escute... — a reação fez que sua voz tremesse – vim procurando um pouco de tranquilidade e paz. Não desejo ser sua esposa nem sua amante... De fato, nem sequer ser sua amiga. Nada me daria mais gosto que não voltar a vê-lo!

—Então, porque veio? — insistiu.

—Estou fugindo — sorriu com tristeza – Estou tentando achar o caminho para que meu ex-marido não tire minha filha. Ela tem muito medo dele e eu também. Ele tornou a se casar e ficou com quase todo o dinheiro; tenho um acordo legal para que não me tirem a custódia de minha filha e é possível que a perca. Minha filha tem algumas ações e Dennis quer controlá-las.

—Ex-marido? — olhou-a como se tivesse sido golpeado.

Maggie assentiu.

—Quem pediu o divórcio, ele ou você? — perguntou com frieza.

—Eu — confessou.

—Pobre homem.

—Teve muitas mulheres que o consolaram, antes e depois — murmurou.

—Você é assim tão fria na cama? — levantou o queixo e a observou meio zangado e meio frustrado porque a desejava e tinha pensado que ela também o desejava.

Maggie o olhou sem piscar nem pensar até que ele se voltou como se sua pergunta o houvesse emocionado.

—Onde está sua filha?

Devagar, ela se afastou da árvore. Gabe acendeu outro cigarro.

—Em um internato de Santo Antonio. Janet disse que posso trazê-la aqui...

—Maldição! — quase gritou.

—Não se preocupe — declarou com o pouco de orgulho que ficava — Irei no próximo ônibus e Becky não virá, é uma promessa — estremeceu ao ver e sentir a força da masculinidade dele, inclusive a certa distância. Continuava sentindo o sabor masculino dos lábios – E se hoje não houver ônibus, pedirei que me levem.

—Tem medo de mim? — perguntou com os olhos entreabertos.

—Sim — disse a verdade.

—Como explicará a minha mãe sua decisão de ir? — aspirou a fumaça do cigarro.

—Pensarei em algo.

—Ela ficará zangada e eu já tenho muitos problemas, para que me acrescente um ataque de histeria.

—Não quero...

—Que idade tem a menina? — perguntou curioso.

—Somente seis anos.

—Que diabo faz em um internato? – exigiu — Que tipo de mãe é você?

—Preciso trabalhar para ganhar a vida — murmurou, a ponto de chorar – Tenho medo de deixá-la só em casa quando sai do colégio e aos sábados; poderiam raptá-la por ordens de Dennis. Ameaçou-me com isso. Está protegida no internato porque para tirá-la de lá ele necessitaria de uma ordem judicial.

—Que vida tão infame para uma menina tão nova — suspirou.

Maggie pensou que ele devia saber melhor que ninguém.

—Quando sai de férias? —insistiu.

—Na sexta-feira da semana que vem.

Gabe observou o cigarro um bom momento, antes de olhar para Maggie com frieza.

—Está bem, traga-a para cá, mas sempre se mantenham afastadas do meu caminho, está claro?

—Não quero ficar aqui...

—Ficará – afirmou — Já é tarde para que vá porque não desejo que minha mãe se zangue. Além disso, acredito que você não me seguirá como as demais convidadas.

—É injusto.

—Eu fiz algum mal a você, querida? — olhou-a sorrindo — Desejava beijar você quando tinha dezesseis anos. Não se escandalize porque então, você desejava o mesmo.

Maggie baixou a cabeça porque era verdade; Gabe tinha sido o homem de seus sonhos.

—Maggie.

—Diga? —levantou a cabeça e seus grandes e verdes olhos observaram o rosto sombrio.

Gabe se afastou da árvore e ao ver que ela retrocedia uns passos, entreabriu os olhos.

—Está bem — murmurou com um tom mais amável — Não voltarei a tocar em você. Agora, faz algo com seu lábio, feri você com o beijo.

Maggie o tocou com um dedo e achou um pouco de sangue. Não havia sentido, mas tampouco havia sentido tanto tormento emocional desde seu divórcio.

Gabe lhe ofereceu um lenço e notou que ela evitava lhe tocar quando o aceitou para levar ao lábio ferido.

—Ele a magoou muito, não foi? — perguntou de repente – A forçou sexualmente.

—Sim — tragou em seco.

—Então, por que diabos teve sua filha? — exigiu.

—Não tive outro jeito — escondeu o rosto.

Gabe acendeu outro cigarro sem afastar os olhos do fósforo de modo que ela não pôde vê-los.

—Isso já faz parte do passado, quero refazer minha vida e educar minha filha. Não o quero como marido, me acredite. Não quero voltar a ter nada com um homem. Manter-me-ei afastada de você com muito gosto, mas você deve fazer o mesmo.

—Não faço acordos, querida — levantou o queixo.

—Não sou sua querida — murmurou.

—Estava acostumado a dizer isso esqueceu? — perguntou com voz extremamente tranquila — Nunca pronuncio essas palavras sem motivo como fazem outros. Pena que não me tenha escutado. — antes de ter perguntado o que se referia, ele mudou de assunto — Tem um bom advogado?

—Suponho que sim.

—Vou procurar ter certeza de que seja antes que tenha que comparecer ante o juiz.

—Escuta Gabriel...

—Você foi à única que me chamou assim — murmurou fumando – Eu gosto.

—Não quero... – tentou de novo.

—Levarei você a Santo Antonio no avião e buscaremos a menina, me avise um dia antes para que me organize.

—Quer me escutar?

—O que quer me dizer?

—Posso me defender sozinha...

—Pois dissimula muito bem.

—Não pedi sua opinião!

—Que pena! Poderia aproveitar alguns conselhos. E antes que chegue a uma conclusão, prometo que não voltarei a brincar com você. Serei generoso e me retrato de tudo o que disse desde que você chegou — apertou os lábios ao ver que ela estava pasmada — É como uma virgem. Teme o contato sexual e fica nervosa com os homens...

—Terminou? – o rosto ficou mais vermelho e fechou os punhos com força.

—No momento — baixou um pouco mais o chapéu — Não se aproxime deste cavalo — repetiu a advertência.

Maggie o olhou com fúria. Aquele homem era dominador e arrogante.

Voltou a aproximar o lenço dos lábios e percebeu o aroma de sua colônia, mas não compreendeu por que seu coração palpitou com mais força.

Passou a noite inquieta porque não se decidia a voltar para Santo Antonio e a desistir de suas férias.

Boas férias seriam com Gabriel Coleman perseguindo e ameaçando dirigir sua vida! Certamente, ele teve que aceitar que estava enganado, em relação às intenções de sua mãe.

Sabia que as palavras de Janet, podiam ser interpretadas como se fosse um plano para levá-lo ao altar. Ela ficou vermelha ao lembrar-se que tinha confessado tê-lo amado quando era adolescente. Será que ele tinha ouvido? Gabe deve ter percebido, porque ela não conseguia afastar os olhos dele. As irmãs dele brincavam sobre isso e possivelmente houvessem dito a ele.

Gabe sempre tinha sido um homem difícil de tratar e ela havia sentido um pouco de medo. Mas debaixo da severa fachada, parecia existir um homem de fortes sentimentos. Ela pôde perceber e isso a enterneceu. Dennis nunca se mostrou amável com ela porque pegava tudo sem dar nada em troca. Entretanto, aos dezoito anos havia se sentido envolvida por seus cuidados encantadores e tinha desejado formar um lar com ele.

Fechou os olhos e pensou que era muito triste o fato de que o que mais se deseja nem sempre é o que traz a felicidade. Desejou ter sido mais cautelosa aos dezoito anos. Possivelmente se seus pais não tivessem se mudado para Austin; possivelmente se Gabriel realmente tivesse estado interessado por ela e a tivesse cortejado...

Demorou muito em dormir, mas despertou sentindo-se melhor. Ao que parecia, suas feridas não eram tão profundas como tinha acreditado porque do contrário não teria sonhado da forma em que o havia feito com Gabriel.

 

Maggie não falou com Janet sobre o encontro que tinha tido com Gabriel. E ele agora era um pouco mais amável com ela. Não havia voltado a tentar cortejá-la nem jogara indiretas. No entanto, seu comportamento no geral não tinha apresentado nenhuma mudança drástica.

Percebia-se que o braço continuava doendo, mas alguns dias mais tarde, ele montou em um cavalo, apesar das dores e foi ajudar no trabalho. Apesar de sua incapacidade física, mantinha-se ocupado com as diferentes raças de gado e trabalhava muitas horas. Janet parecia mais tranquila, entretanto, não dizia nada.

Maggie teve que esperar Gabe na noite da quinta-feira. Ele tinha prometido levá-la no avião para buscar Becky. Ou aceitava ou teria que pedir a Janet que a levasse a Santo Antonio. Maggie sorriu com tristeza quando pensou que no passado teria podido contratar um avião particular. Graças a Dennis e o seu costume de esbanjar dinheiro já não podia fazer isso. Desejou ter sido mais firme desde o começo e não ter se deixado dominar.

Por volta das nove, quando Janet subiu a escada, Gabe ainda não tinha chegado. Maggie estava lendo no sofá.

—Não vai se deitar? —perguntou Janet.

—Estou esperando o Gabe, porque prometeu me levar de avião para buscar Becky se o lembrasse. Quero me assegurar de que disse a sério.

—Meu filho nunca promete nada que não pensa em cumprir – respondeu Janet e pareceu tranquilizar-se. — Não sabia que tinha falado a ele sobre Becky, embora eu já imaginasse. Já não o incomoda tanto.

—É verdade — Maggie suspirou. — Eu disse e falei de ir de ônibus, mas ele insistiu. Não sei se poderá ir.

—Espere e saberá — Janet sorriu — Querida, não sabe como fico feliz com o fato de que tenha lhe prometido isso, embora não teria me incomodado levar você de carro...

—A viagem é cansativa – recordou — Foi muito amável ao me oferecer isso.

—Acredito que sente curiosidade por conhecer sua filha – murmurou — Não é fácil se dar bem com ele, mas adora crianças. Até certo ponto é uma tragédia que não tenha se casado, teria sido um magnífico pai.

Isso surpreendeu Maggie. Não parecia ser o tipo de homem que amava crianças, mas Maggie sabia que ela não era capaz de julgar os homens, não depois do brutal engano que tinha cometido.

Muito tempo depois, Maggie meditou a respeito do que Janet havia dito sobre seu filho. Era um enigma. E embora sua mãe pensasse que ele não atraía às mulheres, Maggie sabia que ele tinha experiência já que tinha sabido incitá-la no outro dia. Se não fosse por seu casamento fracassado, não teria receio de corresponder.

A boca dele tinha sido dura, cálida e muito experimentada e algo dentro dela tinha reagido loucamente ao saboreá-la. Saiu de sua abstração ao ouvir que a porta principal se abria. Deixou cair o livro aberto em seu colo e olhou para o corredor. O que viu de Gabriel Coleman nesse instante a fascinou. Ele não sabia que ela estava ali e não mostrava a cínica arrogância habitual. Parecia tranquilo e aparentava a idade que tinha. Atirou o chapéu sobre a mesinha do corredor e se espreguiçou. Seus fortes músculos estremeceram-se um pouco por causa da tensão que se viram expostos. Entretanto, ao ver Maggie o observando a dureza voltou a apoderar-se de suas feições e de seus penetrantes olhos.

—Não conseguiu dormir? — perguntou sorrindo zombador — Se busca o evidente remédio, sinto muito, estou muito cansado para te agradar.

Enquanto observava compreendeu que ele não falava a sério, esses comentários cortantes pareciam ser um amparo para que as mulheres não se aproximassem muito e não vissem o que havia debaixo da selvagem fachada. Devido a isso, esqueceu as palavras que tinha na ponta da língua.

—Disse que me levaria a Santo Antonio amanhã para buscar a Becky — falou tranquila — Eu não gostaria de pedir isso porque parece que está cansado.

— Eu me lembro — comentou, parecendo, desconcertado pela inesperada compaixão.

Maggie ficou em pé. Estava descalça porque odiava sapatos e os tinha deixado debaixo de alguma cadeira.

—Não sei se o trabalho permitirá isso, mas preciso saber para o caso de precisar fazer outros planos.

—Perdeu seus sapatos? — acabava de notar que Maggie estava descalça e foi difícil deixar de sorrir.

—Odeio sapatos — encolheu os dedos dos pés — Becky também se acostumou a andar descalça em casa e quando voltou para colégio deixaram-na sem recreio por esse hábito.

—Ela gosta do colégio? — perguntou de repente.

—Suponho que sim — Maggie titubeou — Não fala disso, é uma menina muito tímida —franziu o cenho — fica nervosa com facilidade assim que possivelmente seja melhor que eu volte para casa.

—Do que tem medo? — arqueou uma sobrancelha e acendeu um cigarro, sem deixar de observá-la—. Teme que eu faça algum mal a ela? Possivelmente se surpreenda ao ver como reage em minha presença, garota fina. As pessoas daqui não se intimidam por minha causa.

—Certamente — aceitou fingindo inocência — Por isso, a cada manhã, seus homens se escondem nos matagais até que desaparece de vista.

—As crianças são mais perspicazes que os adultos – respondeu esboçando um sorriso — Tenho que organizar algumas coisas antes de ir, mas sairemos por volta das nove.

—Tem certeza de que pode fazer isso?

—Não me esforço por ninguém, a menos que me convenha — replicou.

—Então, agradeço por isso e estarei preparada. Dispôs-se a sair, mas ele a deteve agarrando-a por um braço.

—Que idade você tem? — perguntou estudando seus olhos.

Maggie se turvou mais ao olhar a dura boca e recordar o excitante contato.

—Vinte... cinco — gaguejou.

—Eu tenho trinta e oito.

—Sei.

Os olhos dele sondaram os dela em um silêncio que começou a incomodar até que o mundo ficou reduzido ao espaço que ocupavam. Ele voltou-se e seu cigarro caiu no grande cinzeiro de modo que ficou com as duas mãos livres para mantê-la quieta. Maggie se estremeceu e Gabe moveu a cabeça.

—Não, — murmurou muito baixo. Era a primeira vez que ela percebia esse lento e tenro tom na voz grave. — Não serei rude com você, nunca mais.

Maggie sentiu que seu corpo vibrava enquanto o olhava sem compreender.

—Nunca fiz mal a uma mulher com premeditação – comentou — Mas me insinuaram tantas possíveis esposas... — deslizou as mãos pelos braços e ombros dela para acariciar seu rosto. —Eu não gosto que fuja de mim, Margaret — murmurou e se inclinou – Por isso demonstrarei como deve ser.

—Espere eu ho... — murmurou cambaleante.

—Pronuncie meu nome — segurou-a e a olhou com os olhos entreabertos.

—Gabe...

Gabe aspirou à sílaba com a boca. Os olhos dela estremeceram antes de se fecharem. Não era como a primeira vez. Os lábios masculinos foram duros e quentes, mas a incitaram, roçaram e saborearam sua doçura. Foi uma experiência que ela nunca havia vivido com outro homem.

— Assim — murmurou junto aos lábios entreabertos — Assim, me dê sua boca, não farei mal a você.

Um pequeno gemido escapou quando ela entreabriu os lábios para acariciar os dele de tal maneira que o corpo feminino experimentou novas e inesperadas sensações.

Maggie apoiou as mãos sobre a camisa dele para apalpar os músculos e o pelo que o tecido cobria. O coração pulsava com lentidão, a ritmo regular até que as unhas se contraíram e o peito dele ficou tenso.

Os dedos dele acariciaram o cabelo dela enquanto jogava sua cabeça para trás e insistia com a boca a um ritmo que a fez gemer de surpresa. Maggie sentiu que Gabe roçava sua bochecha com incrível ternura e incrustou as unhas no peito masculino.

—Gabriel.

Foi ela quem sussurrou o nome? Sem dar-se conta, tratou de aproximar-se mais dele para que a beijasse com mais paixão e de uma forma mais profunda.

Ele agiu com preguiçosa indulgência, e a obrigou a apoiar a cabeça em seu ombro, sem deixar de pressionar os lábios com os próprios. Maggie sentiu que lhe incitava os lábios com a língua, que roçava a brandura interior e seu corpo vibrou.

Uma mão masculina se deslizou pelo ombro para a suave camisa para descobrir que ela não usava sutiã. Encontrou o mamilo e se excitou sobremaneira. Deslizou a mão para baixo, da cintura ao quadril e à base da coluna vertebral. Aproximou o quadril dela ao dele e se encantou com o repentino tremor que provocou nela, quando ela se deu conta da excitação do corpo dele.

—Não, – ela rogou tentando voltar à cabeça — Não deve fazer isso.

Gabe não insistiu. Deslizou a mão até o rosto dela para afastar uma mecha e fez com que levantasse o queixo para poder ver seus olhos velados e surpreendidos e a boca torcida pelos beijos.

—Ele pôde incitar você até fazer com que o desejasse? — perguntou.

—Nunca assim — soluçou porque não tinha conseguido mentir.

—Não é motivo de vergonha – acariciou seu rosto — É quase uma novata, apesar de ter estado casada. Um homem com experiência sabe como conseguir que uma mulher o aceite.

Ela continuava tentando recuperar o fôlego.

—Você teve... relação com muitas mulheres — murmurou mirando seus olhos.

Gabe assentiu, olhou o corpo que lhe oferecia e fixou a vista nos lábios entreabertos.

—E com um pouco de insistência poderia ter você, mas não é isso o que desejo. Isto foi uma desculpa, nada mais. Não necessito praticar — antes que ela pudesse reagir, ele se afastou—. Deseja tomar alguma coisa? — perguntou como se acabassem de se conhecer.

—Um... conhaque.

—Sente-se, irei buscar.

Maggie se sentou em uma poltrona com o coração disparado. Seus olhos pareciam duas estrelas verdes em um rosto avermelhado pelo inesperado prazer.

Gabe serviu dois copos e entregou um a ela, antes de sentar-se no braço da poltrona. Maggie deu uns goles na bebida.

—Deveria ir para minha casa — pensou em voz alta.

— Por quê? Não vou seduzir você – levantou o queixo dela e notou que tinha o rosto avermelhado e que respirava com dificuldade — Poderia deixar você grávida — acrescentou divertido e sem irritação.

—Não é possível — respondeu com voz tremula — Tomo pílulas porque tive um leve desequilíbrio hormonal e o médico me receitou, para que regularizasse. Nesse aspecto, não sou vulnerável.

—Então, por que não se deita comigo? — arqueou as sobrancelhas e sorriu.

—Não acredito nesse tipo de aventura — respondeu imediatamente.

—Nega-se a manter relações sexuais sem casamento? É muito antiquada, senhorita Margaret.

—De todo jeito, o sexo não é tão maravilhoso para as mulheres — explicou olhando seu copo.

— Acredita mesmo nisso? — de novo ergueu o queixo dela para olhá-la nos olhos — Algumas mulheres me arranharam as costas e não foi precisamente porque as estivesse agredindo.

Maggie ficou ainda mais vermelha e não pôde respirar.

—Poderia fazer com que você também me arranhasse — murmurou junto a seus lábios. —Poderia fazer com que se retorcesse como uma criatura selvagem debaixo de meu corpo e que gritasse para que a possuísse.

—Não deve dizer essas coisas — balbuciou.

—Mais parece uma virgem e não uma mulher divorciada com uma filha. Você se deitou com mais homens?

—Não, só com ele.

—No que realmente conta é virgem – murmurou — É uma provocação de olhos verdes. Pena que não ignoramos os obstáculos que havia anos atrás, para obter o que desejávamos um do outro. Possivelmente teria partido seu coração, mas teria dado a você, integridade em outros sentidos. Entre nós existe uma forte reação química que sempre existiu.

Ela sabia, mas não gostou que ele reduzisse a uma linguagem prática.

—É melhor ir descansar, querida — comentou depois de terminar seu conhaque —Amanhã, faremos uma longa viagem.

—Sim, é obvio — ela também terminou a bebida e ficou em pé.

—Ele a amedrontou, não foi? — perguntou olhando-a de maneira calculista — Não é a mulher que recordava, desapareceu a doce ferocidade que estava acostumado a ver em você.

—Cansei de que me dobrasse – respondeu — Ele se vingava de mim... na cama.

—Ai, Deus!

—Você nunca seria cruel assim — sabia que era verdade – É mordaz com a língua, mas nunca seria cruel fisicamente. Inclusive aquele dia no pátio, não me fez mal.

—Sério? Machuquei seu lábio. —Parecia chateado por isso e ela colocou um dedo no lábio inferior dele, onde momento antes tinha mordido passionalmente. Ele se pôs tenso por causa do contato.

—Eu feri o seu — murmurou.

—Por paixão, não por aborrecimento — apertou a mandíbula.

—Nunca imaginei que seria capaz de sentir paixão — retirou a mão e se pôs a rir — boa noite — não notou que ele a observava com intenso desejo.

—Diga meu nome, garota desavergonhada – brincou — Anda, diz logo.

—Não, — sentiu uma emoção crescente.

—Diz — desafiou e a aproximou de seu corpo — Do contrário não pararei de beijar você.

—Gabriel — murmurou depois de respirar fundo.

—Boa noite — soltou-a esboçando um sorriso e se afastou.

É um enigma, pensou confusa. Nunca tinha conhecido a ninguém como Gabe. Sentiu que seu corpo desejava o dele. Não imaginava que esse tipo de complicação se apresentaria e não sabia o que fazer.

As nove em ponto da manhã seguinte, quando Maggie desceu vestida com um traje cinza, Gabe a esperava junto à porta da entrada. Ele também usava um traje cinza. Cheirava a colônia e sabão e ela se perguntou por que não podia tirar os olhos dele.

Pegou sua bolsa quando Janet chegou para despedir-se.

—Iria com vocês, mas estarão mais confortáveis sozinhos — disse.

—Cuidarei dela — murmurou Gabe e só olhou para sua mãe pouco antes de sair.

Durante o trajeto até a pista, Maggie falou pouco. Tinha curiosidade por conhecer muitos aspectos da personalidade dele. Desejava fazer perguntas, mas sabia que isso seria perigoso.

—Está nervosa? – ele perguntou aproximando o cigarro dos lábios.

—Não, não tenho medo de voar — murmurou.

—Não me referia a isso — saiu da estrada principal do rancho e tomou um caminho vicinal que conduzia à pista e ao grande hangar onde guardavam os dois aviões bimotores. Gabe explicou que usava um para o trabalho e o outro para as viagens de negócios.

—Alguma vez voa por prazer? — perguntou.

—Procuro o prazer com as mulheres quando já não aguento a necessidade — olhou-a — É a única distração que posso me permitir.

—É muito franco — olhou para fora porque estava envergonhada, apesar de sua idade e experiência.

—Não ando com rodeios a respeito de nada – respondeu — Acredito que sou muito sincero, embora até esta data não tenha conhecido a uma mulher que também seja.

—Sua mãe me disse que... — deixou de falar por compreender que tinha estado a ponto de divulgar uma confidência.

—Contou tudo ou você não foi tão privilegiada? – perguntou com amargura e sarcasmo.

—Sinto muito, é algo que não é de minha conta e não deveria ter mencionado.

—Deus! Já não existe nada sagrado? — aspirou ao sempre presente cigarro e acelerou.

—Janet pensou que possivelmente me ajudaria a compreender melhor as coisas — respondeu com voz fraca.

—Ajudou?

—Sim, tudo ficou explicado – sustentando o olhar.

—Eu o odiava — comentou e diminuiu a velocidade porque se aproximaram da pista – Odiava antes que aquilo tivesse ocorrido. Eu o conheci bem antes que ela, mas, apesar disso, mamãe se negou a abandoná-lo.

—Dizem que o amor encarcera as pessoas – ela murmurou.

—Amou seu marido? — sorriu zombador.

—Acreditei que sim – respondeu — Era encantador, muito encantador. Então, eu era tímida e me senti envaidecida pelo fato de que um homem tão bonito se interessasse por mim. Eu herdaria muito dinheiro.

—Eu me lembro — falou com amargura e fixou a vista no avião longínquo, vermelho e branco, marca Piper Navajo. Viu um mecânico que revisava o aparelho — Quando você era adolescente nossas propriedades foram muito desvalorizadas.

—Eu não sabia. Dennis tinha problemas econômicos. Eu tinha dezoito anos, era ingênua e cada vez que ele me beijava, eu ficava emocionada. Logo, depois de nos casar... –estremeceu — Deus, apesar de ter lido muito, não imaginei o que os homens esperavam de uma mulher na cama!

—O que foi exatamente o que ele pediu?

—Não posso dizer — Maggie se ruborizou.

—Não importa, acho que adivinho – cerrou os olhos.

Maggie não parava de observar as mãos entrelaçadas. Era incrível ter conseguido falar tão facilmente com ele sobre assuntos tão íntimos.

—Como fiquei petrificada, ele me acusou de ser frígida. Desde aquele momento, as coisas pioraram. Não me importou muito que ele saísse com outras mulheres; foi quase um alívio, embora meu orgulho tenha ficado muito ferido. Quis abandoná-lo, mas descobri que estava grávida.

—Você suportou muito tempo — comentou.

—Minha mãe ainda era viva – respondeu — Ela sempre havia organizado minha vida e eu tinha medo de fazer algo contra sua vontade. Disse que o divórcio produziria um escândalo e que ninguém na família tinha se divorciado. Não a desonrei. Quando ela morreu o assunto já não tinha importância. Já não tinha dinheiro nem amizades sociais que pudessem se escandalizar pelo que fizesse.

—Você disse que sua filha tem pavor dele — recordou-lhe.

—É fácil ferir Becky e ele a aterroriza. Dennis bebe muito – suspirou — A última vez que Becky o viu, ela fez algo que o irritou, e por isso ele bateu nela. Depois disso, ela ficou com muito medo.

Gabe resmungou algo que a coibiu e logo freou junto à pista.

—Iniciou um processo para obter o pátrio poder? – perguntou olhando-a.

—Sim.

—Quando chegarmos a Santo Antonio iremos falar com seu advogado – disse abrindo a porta do carro — E se não me parecer eficiente, contrataremos o meu.

—Espere um momento — começou Maggie quando ele se aproximou para ajudá-la a sair.

—Espere você — replicou depois de ajudá-la e mantê-la em frente a ele. —Se essa menina estiver em minha propriedade, à responsabilidade por seu bem estar é minha. De fato, também você é. E até que não vá embora do rancho, cuidarei das duas, embora você não goste disso!

—É um texano briguento! — acusou e seus olhos faiscaram como não fazia há muito tempo.

—Anda, discuta comigo — esboçou um sorriso — Faça uma cena e quando me irritar de verdade terá que assumir as consequências.

—Você é um machista — murmurou ao compreender o que ele estava pensando.

—Não resta a menor duvida de que sou um homem das cavernas – disse, sem se mostrar arrependido – Vamos querida, faça uma cena.

Parecia que isso o agradaria e Maggie recordou o que aconteceu no pátio do rancho quando a apoiou contra a árvore e a beijou, ruborizou-se.

—Isso é exatamente o que eu faria pequena dissimulada — os olhos dele brilharam de diversão — Mas iria mais longe, faria algo mais que só te beijar e não faria isso zangado nem de mau humor. Esgotaria você, a deitaria e quando terminasse me desejaria durante o resto de sua vida.

—Você é um asno presunçoso — falou com claridade.

—Sou? — sorriu — Ao que parece, senhorita Maggie, ficou bem claro como reage comigo. Sempre fica nervosa quando me aproximo inclusive aos dezesseis anos — olhou-a de cima a baixo – Eu sempre a achei muito linda, ainda mais, em traje de banho e com seu longo cabelo solto... Por que o cortou?

—Dava-me um aspecto muito juvenil para minha idade — suspirou e sorriu — Além disso, no verão, faz muito calor.

—Você se escandalizaria se soubesse que estava acostumado a sonhar com que enredava meus dedos nele? Também a imaginava deitada sobre ele, em uma das redes que tínhamos ao redor da piscina.

Maggie se ruborizou de novo, mas não desviou o rosto.

—Sério?

—Transformou-se em algo mais que perturbador, sobre tudo porque tinha em conta nossa diferença de idade – assentiu — Serei muito franco, Maggie, tranquilizei-me quando deixou de ir ver minhas irmãs. Causou-me algumas noites de insônia.

—Escutou o que eu disse a Janet, não? — perguntou de repente— Sabe que me fascinava.

—Sim, mas já sabia disso e era o que mais me preocupava. Olhava-me com olhos embriagados, cheios de desejo. Eu sabia que podia obter o que quisesse com você e que me permitiria isso. Isso me atormentava.

Era verdade, porque ela tinha sonhado que ele a beijava e a amava.

Sentiu uma pontada em seu coração, perguntou-se o que sentiria se fizessem amor.

—Será melhor que iniciemos a viagem — não percebeu a comoção refletida nos olhos dela –Vamos.

Ofereceu-lhe a mão e esperou a que ela a aceitasse. Maggie cedeu porque o conhecia muito bem. Ele morreria antes de dar seu braço a torcer.

Inclusive, admirava essa característica nele, estremecia-se quando se tocavam. Permitiu que segurasse sua mão enquanto se perguntava como conseguiria evitar que ele tomasse as rédeas de sua vida e da vida de sua filha. Ao aproximar-se do avião pensou que era estranho que se sentisse tão bem a seu lado...

Iniciaram o voo e Maggie deixou de pensar no assunto.

 

O internato onde Becky estudava fervia de atividade. Gabe olhou a seu redor com curiosidade quando umas meninas correram pelo corredor, em frente ao escritório onde Maggie e ele esperavam a menina.

—Margaret, graças a Deus! — exclamou a senhora Haynes quando se reuniu com eles e fechou a porta do escritório — Não sabia o que fazer. Ele já esta aqui há trinta minutos e eu sabia que viria, pois me avisou esta manhã...

—Dennis está aqui? Ai, senhora Haynes, espero que não tenha permitido ver Becky.

—É obvio que não, querida. Está em meu escritório.

Gabe deu um empurrãozinho em Maggie e se dirigiu para lá dando grandes passos. Maggie, ao pressagiar algo terrível, correu atrás dele.

Gabe abriu a porta e um homem mais jovem, mais baixo e de cabelo loiro, voltou-se. Ficou muito surpreso ao ver o forte vaqueiro.

—Maggie, querida... —Dennis riu nervoso ao ver Maggie atrás do intimidante corpo masculino. — Não a esperava tão cedo. Ia levar Becky para sua casa.

—Sem a menor duvida! —interveio Gabe com frieza — Mas economizarei seu trabalho porque eu levarei Maggie e a menina.

—Quem, é você? – ele perguntou olhando com aborrecimento.

—Gabriel Coleman.

Dennis se endireitou porque pareceu receber uma descarga com a curta resposta. Gabriel Coleman... Recordava tudo o que lhe haviam dito sobre aquele homem e ao vê-lo não foi difícil perceber de que era verdade. De modo que aquele era o rancheiro texano que o pai de Maggie desejava como marido para sua filha. Maggie possivelmente não sabia, mas ele sim porque o pai dela sempre tinha jogado isso em sua cara, cada vez que se encontravam em alguma reunião social. Sorriu.

—Então é assim que está a situação. Agora vive com seu antigo amante? Jane e eu nos casamos na segunda-feira, assim estou em vantagem. No tribunal civil não verão com bons olhos uma mãe tão inapta como você.

—Não pode dizer isso — gritou Maggie — O que realmente quer é o dinheiro!

—É minha filha — respondeu com arrogância — E casado, tenho mais direito a ela que você sozinha e vivendo com seu... amante — olhou com desdém para Gabriel — Não conseguiu esperar? Pois bem, ele também se dará conta de que é frígida...

Gabe que parecia imperturbável, levantou-o pelo colarinho apertando o pescoço e o tirou do escritório para levá-lo até o fundo do corredor.

—Por Deus, chega! – murmurou Gabe a Dennis — Não compreendo como ela pôde casar-se com um homem tão vil.

Becky chegou ao escritório antes da volta de Gabe e correu para os braços abertos de sua mãe.

—Mamãe — gemeu — Michelle me disse que papai está aqui — afastou-se um pouco e seus olhos bem abertos refletiam o pavor —Tenho que ir com ele?

—Não, querida — murmurou Maggie enquanto rogava ao céu que assim fosse depois que terminasse o julgamento. Sorrindo, inclinou-se para afastar umas mechas de cabelo de seu rosto pálido — Não terá que ir com ele.

—Quem é? — perguntou Becky com o cenho franzido ao ver Gabe.

—Gabriel Coleman — respondeu.

—Então, é o filho da tia Janet – o rosto da menina se iluminou e se aproximou do homem alto. Observou-lhe com franca admiração — A tia Janet me disse que tem um rancho com cavalos, vacas e muitos bois, igual ao cinema! Você mata índios?

Feito incrível, o duro rosto de Gabe se suavizou e foi o primeiro sorriso que Maggie viu nele. Ele se inclinou para ver melhor a Becky.

—Não mato — respondeu divertido — Mas uns comanches trabalham para mim.

—Tiram o couro cabeludo das pessoas? — insistiu a menina.

—Eu adoraria ouvir os contos que contaram a você — olhou para Maggie.

—Ela viu isso nos filmes — respondeu ruborizada.

—Vamos comigo ao rancho, Becky, para que veja com seus próprios olhos como é — declarou sério.

Becky titubeou. Havia temor em seus olhos. O mesmo temor que Gabe tinha visto nos olhos da mãe.

—Sua mãe estará com você – acrescentou — Juro pequena, que enquanto eu estiver lá, ninguém fará mal a você.

—Então acredito que posso ir — Becky esboçou um sorriso.

—Está preparada? — ficou em pé.

—Sim senhor aqui tenho minha mala.

Gabriel levantou a mala e olhou para Maggie por cima da cabeça da menina. Tinha uma expressão difícil de descrever.

Becky adorou o rancho. Durante a viagem se manteve calada, exceto quando viu o avião e se inteirou de que Gabe o pilotava.

—Não é lindo, mamãe? – perguntou muito contente a Maggie, ao ver o rancho — Quanto espaço, vacas e cavalos...!

Gabe abafou uma risadinha e não fez comentário algum enquanto fumava um cigarro.

—Posso montar? Por favor — rogou a menina.

—Não, — respondeu Maggie.

—Sim — contradisse Gabe desafiando Maggie com o olhar – Tem a idade suficiente. Eu tinha quatro anos quando meu pai me montou em um cavalo pela primeira vez. Não permitirei que se machuque – acrescentou ao ver que Maggie titubeava.

Maggie mordeu o lábio. Precisava comer alguma coisa, além do rápido café da manhã que tomou para poder lutar com Gabriel Coleman.

Janet se sentiu feliz ao ver a menina e começou a mimá-la, igual à governanta. Levaram-na a cozinha e depois ao primeiro andar para que conhecesse seu quarto. Todos estavam entusiasmados, exceto Maggie que não podia esquecer o que tinha visto no internato.

Pouco tinha faltado para que Dennis levasse a menina e, segundo a lei, quem a tivesse teria muitas probabilidades de ficar com ela. Se tivesse chegado um pouco mais tarde ou se Gabe não a houvesse acompanhado... Estremeceu-se ao pensar nas possíveis consequências.

E o pior era que Dennis a tinha acusado de ter um amante.

Como provar que era mentira? Possivelmente era a alavanca que Dennis necessitava para que lhe concedessem a custódia de Becky. Ocorreu-lhe que possivelmente tivesse que fugir. Olhou a Gabe e lhe pareceu magnífico. Seus pais sempre o tinham adorado. Possivelmente haviam dito algo a Dennis no inicio de seu casamento, algo que o fez recear. Dennis tinha uma imaginação muito ativa e era perito em deformar a verdade em seu proveito.

Gabe não deixou de observá-la durante o jantar, depois que deitaram a menina e de que Janet também subiu para seu quarto, Gabe levou Maggie a seu estúdio.

—Temos que conversar — declarou e apontou uma poltrona.

—Sobre o que? — perguntou hesitante depois de recusar um conhaque.

—Sobre a pequena — respondeu e se sentou em uma poltrona, em frente a ela — por que Becky tem pavor dos homens? O que aquele porco fez com ela?

—Quando Dennis está de mau humor pode aterrorizar até os adultos — respondeu angustiada enquanto observava o rosto severo dele — Mas é estranho que eu não tenha medo do seu mau humor, quero dizer, não mais — acrescentou esboçando um sorriso — Antes sim. Nunca esquecerei o dia em que bateu naquele vaqueiro na loja de armarinhos do povoado.

—Ele passou a mão em você — entreabriu os olhos – colocou as mãos em você e tive vontade de quebrar o pescoço dele.

—Não sabia se essa tinha sido a causa de sua ira — murmurou muito baixo.

—Não conhecia os homens — moveu-se na cadeira e deu um gole em seu conhaque — E eu não podia permitir que um de meus homens a assediasse.

—Sempre foi como um trator nivelador.

—Só quando desejava algo — aceitou e a olhou por cima da beira do copo – eu a desejava, mas tinha só dezesseis anos.

—Não me disse isso — ruborizou-se e o olhou nos olhos.

—Já expliquei por que. Você era muito jovem. Mas possivelmente teria me animado se não a tivessem enviado a um internato – sorriu –Teria sido o cúmulo tirar você dali diante dos olhos de suas companheiras com suas risadinhas tolas.

—Teria feito isso? — tremeram-lhe os lábios.

—Suponho que passado um tempo sim eu teria feito – encolheu os ombros – Você era uma garota linda. Continua sendo com seus olhos atormentados e todo o resto. Sei que não me teme fisicamente.

—É verdade — inquieta, o olhou. Gabe tinha tirado a jaqueta e o colete e tinha os primeiros botões desabotoados da camisa branca. Viu a pele escura e o pelo ainda mais escuro e se emocionou ao recordar que a tinha abraçado.

—Não fique nervosa — soltou uma gargalhada — Não vou atacar você.

—Imagino que nada o assuste. Entretanto, eu não sou forte fisicamente e tolerei anos de agressões mentais e físicas. Tenho cicatrizes profundas onde não se veem e o mesmo acontece a Becky.

Ele se recostou no encosto da poltrona.

—Becky é muito pequena e suas feridas irão sarar. As suas não, sem ajuda — olhou-a fixamente.

—Esta me oferecendo uma cura? — perguntou com amargura — Uma terapia sexual?

—Não sou tão altruísta — respondeu com uma sobrancelha arqueada — E não necessita de terapia. Não, querida — inclinou-se para cravar os olhos nela — Se fizesse amor com você, não seria como uma cura poderia transformar-se em dependente.

Maggie se ruborizou e dirigiu os olhos ao chão atapetado. Seu coração pulsou com mais rapidez ao pensar que ele podia tocá-la.

—É uma menina tímida — murmurou divertido – Olhe para mim, sua covarde.

—Pare de zombar de mim — levantou a cabeça embora odiasse seu rubor e sua vulnerabilidade.

—Estou fazendo isso? Acreditei que só flertava.

Maggie ficou em pé e ele a imitou para segurá-la pelo braço com a mão livre.

—No decorrer dos últimos anos tratei muito pouco com mulheres — falou em voz grave – Posso apenas recordar que não sou um menino bonito que sorri todo o tempo. Sou um homem do campo com ideias antiquadas e que nunca farei mal a você... Nem física nem emocionalmente.

—Esta tentando me dizer que não me seduzirá se sorrio para você? – perguntou pondo a prova algumas emoções que tinha reprimido durante seis anos.

Gabe não se moveu. A suavidade nos olhos verdes o tinha hipnotizado e não se deu conta de quão vulnerável ele mesmo era.

—Isso, mais ou menos. Intuo que não confia nos homens – ele tocou seu rosto com dedos hesitantes — Penso que nós dois somos cautelosos. Várias vezes acreditei que estava apaixonado, mas uma vez terminei muito ferido. Suponho que após isso, não confio nas mulheres.

—Somos pessoas feridas – ela murmurou enternecida como uma flor que se abre ao perceber a vulnerabilidade na voz dele.

Ele compreendeu e seu movimento de cabeça afirmativo foi mais eloquente que qualquer palavra. Tocou seus lábios com a ponta do dedo.

—Veem aqui e me beije.

Gabe se inclinou e Maggie, sem titubear, ficou nas pontas dos pés e obedeceu. Era a primeira vez que ela tomava a iniciativa com um homem, mas ele fazia com que tudo fosse fácil e normal. Maggie se sentiu como se ainda tivesse dezesseis anos.

—Gabe — murmurou obstinada a ele. Maggie sentiu que ele segurava sua cabeça e que a beijava nos lábios, mas de repente, ele se voltou e ela não pôde ver que efeito tinha causado nele. Entretanto, quando Gabe deixou o copo na mesinha para acender um cigarro, ela notou que as mãos dele não estavam muito firmes.

—É dinamite — comentou pasma.

—Você também — voltou-se e deixou vislumbrar deleite no olhar.

O sorriso dele foi genuíno, sem rastros de brincadeira ou sarcasmo.

Acendeu o cigarro e estudou seus olhos.

—Será franca comigo de agora em diante? – perguntou — Porque devo avisar que é perigoso.

—Dizer a verdade?

—Dizer a verdade sobre o que sente quando a toco – informou — Meu Deus, parece que vou estourar a seu lado, Maggie — acrescentou com ardor — Nunca imaginei que seria assim.

—Eu tampouco — murmurou enternecida — Estava acostumado a... – calou-se, percebendo o que tinha estado a ponto de revelar.

—Estava acostumada a que? — incitou-a ao aproximar-se dela — Estava acostumada a que, querida? — repetiu e tocou seus lábios com gentileza.

—Sonhar acordada com você — murmurou e baixou o olhar para o peito dele — Sonhava que me beijava.

—Não foi à única – levantou seu queixo — A realidade é devastadora. Imagino que não sentia o mesmo com seu ex-marido.

—Nunca o desejei fisicamente. Suponho que ele sabia... Os homens percebem? — perguntou com olhar melancólico.

—Eu sim me daria conta porque é difícil fingir tanto.

—Ele nunca conseguiu me excitar e isso piorou a situação. Dennis teve muitas amantes e, passado um tempo, tentei que isso não me importasse.

—Por que se casou com ele?

—Me divertia com ele – encolheu os ombros — Levava-me para passear e prestava atenção em mim — sorriu com tristeza — Nenhum homem tinha feito isso, ao menos, não dessa maneira.

—Eu poderia ter feito isso — falou muito baixo e sua expressão perturbou Maggie – Se não fosse tão jovem, querida...

—Você tinha quase trinta anos – recordou — Era um homem amadurecido, mas me fascinava.

—Sei — falou com emoção e tirou uma mecha da testa dela com dedos quentes e fortes—. Ficou assustada e por isso deixou de visitar minhas irmãs, não foi?

—Sim —confessou — Sabia que não podia ocultar meus sentimentos e tive medo de que notasse e risse de mim ou que se sentisse pressionado.

—Não teria feito nenhuma das duas últimas coisas – informou — Não sei como teria resolvido, mas teria feito sem ferir você. — apertou os lábios — Quando minhas irmãs terminaram seus estudos eu ignorava seu paradeiro. Pensei em buscar você, mas sua família tinha mudado para Austin.

—Acredito que foi o melhor porque teria querido mais do que eu poderia dar.

—Esta enganada – alisou seu cabelo – Teria respeitado sua inocência. Não teria pedido nada sem antes me comprometer com você. Maggie, você poderá manter uma nova relação física?

Maggie sentiu que o corpo se relaxava junto ao dele como uma reação necessitada ante a força masculina. Brincou com um botão da camisa e mordeu o lábio inferior ao ceder às velhas lembranças e aos renovados desejos.

—Não sei.

—Vamos descobrir? — esfregou-lhe a bochecha com a própria.

—Tenho medo — entreabriu os lábios.

—Não tem motivos — roçou-lhe a bochecha e a orelha com os lábios — Sou bem mais velho que você e não é fácil perder o controle. Não farei nada que não deseje — sorriu junto à fresca bochecha — Não será sexo, querida, só acariciarei um pouco.

—Desejo você – olhou para ele de frente para que percebesse seu desejo e medo.

—Lembre-se de quem sou — tocou-lhe o cabelo com os lábios – Sou Gabriel e nunca farei mal a você.

Ele se inclinou para levantá-la nos braços, mas fez uma careta e teve descê-la.

—Maldição! — gemeu e esfregou o braço rindo – Maldita serpente! Ainda me dói.

—Seu pobre braço — o acariciou com cuidado — Sinto muito.

—Eu também. — suspirou – me entorpeceu um pouco.

—No momento, eu até gosto disso.

—Vêm — estendeu o braço depois de sentar-se na poltrona – Mas tome cuidado.

—Dissimulado — acusou e riu.

Era a primeira vez em muito tempo que podia brincar. Gabe a sentou sobre suas fortes coxas e ela apoiou a cabeça no ombro dele. Mas em vez de beijá-la, Gabe se limitou a abraçá-la.

Começou a chover. O lugar estava levemente iluminado e era acolhedor. Maggie dirigiu a vista para a mesa de carvalho e o sofá de couro, a estante cheias de livros nas paredes e os quadros de animais. Era o ambiente de um homem, nada menos que de Gabe.

Mais perto, podia ouvir o batimento de seu coração lento e regular e sentiu o fôlego dele na testa. Acariciou-lhe o braço e gostou do contato dos dedos quentes.

—É muito agradável ter você em meus braços — cruzou uma perna e a aproximou ainda mais — Está confortável?

—Sim. —murmurou sonolenta e fechou as pálpebras. Deslizou a mão pelo amplo peito e o braço e apalpou através do fino tecido de sua camisa — Quanto tempo demorará a sarar?

—Espero que não muito mais. Fui um pouco tolo ao não olhar antes de estender o braço. Caiu uma corda onde trabalhávamos com uma pequena manada e não me fixei ao me inclinar. A cascavel me picou no braço.

—O que aconteceu com a serpente? — perguntou curiosa.

—Teve o mesmo destino que todas que se cruzam por meu caminho. Matei-a com meu rifle.

—Apesar de ter sido mordido?

—Tinha o rifle comigo – afirmou — E eu tinha fúria suficiente para fazer aquilo antes que o veneno surtisse efeito. Os homens me levaram ao hospital junto com a cabeça da serpente e me injetaram o antídoto. Não quero pensar em quão doente estive. Acabava de me levantar da cama quando chegou com mamãe.

—Para estragar sua convalescença — recordou e sorriu.

—Não diria isso — apoiou a bochecha no cabelo dela — Mas devo aceitar que iluminou o rancho. Não há nada melhor que uma mulher para que um homem se recomponha.

—Deveria ter se casado — murmurou.

Gabe lhe levantou a mão esquerda e viu que Maggie não usava aliança.

—O julgamento legal fará Becky sofrer — comentou enquanto acariciava seus dedos — Pelo que vi hoje, seu pai não se importa a quem destrói com a finalidade de se apoderar do dinheiro.

—Para ele, o dinheiro sempre foi o primordial. Cresceu muito pobre e a pobreza torceu seu caráter. Pensa só em si mesmo.

—Deixe de ter pena dele – brincou – As pessoas são responsáveis por seu próprio destino, não notou? A vida não torce às pessoas, Maggie, é o tipo de reação o que a transforma. Nesta vida a atitude é o mais importante.

—Me diz isso um homem cuja atitude é esmagar algo que atravesse em seu caminho? —perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

—Isso facilita as coisas — sorriu.

—Sempre foi muito homem para uma mulher comum. Pensava que nunca encontraria uma mulher o bastante corajosa para te aceitar como companheiro.

Gabe a observou um bom momento com curiosidade.

—Deve ter deduzido que muitas tentaram. Mamãe fez todo o possível por me proporcionar uma esposa.

—É porque deseja sua felicidade. Não gosta da ideia de que envelheça sozinho.

—Às vezes, tampouco eu gosto dessa ideia. Desejo filhos – confessou olhando-a de frente.

Maggie se excitou de maneira alucinada, mas disse a si mesma, que Gabe só estava fazendo uma declaração que expressava um desejo enterrado, embora, a forma como falou e a olhou a fez desejar ser a mãe dos filhos dele. Enterneceu-se ao ver que ele tinha adivinhado.

—Tinha pensado falar com seu advogado quando estivemos em San Antonio — comentou passado um momento — Mas pensei que era mais urgente afastar Becky daquele demente. Voarei à cidade na segunda-feira para tratar desse assunto.

—Mas...

—De nada servirá você protestar — comentou com lógica –Não sabe?                                              

—Não quero que dirija minha vida.

—Engana-se, querida – murmurou — E este é um bom momento para demonstrar isso.

—Gabri...

O resto do nome ficou enterrado debaixo da cálida e ardente boca masculina. Maggie suspirou e fechou as pálpebras para absorver sua força, calidez e masculinidade. Gabe a fazia sentir-se muito pequena e vulnerável, mas protegida. Nada de mal podia lhe ocorrer ao seu lado.

Os dedos dele se deslizaram pelo braço dela e, logo, introduziram-se dentro da camisa.

—Não, — murmurou Maggie segurando a mão dele.

—Permitiu que fizesse antes — beijou-a — Quer dizer que não esta gostando?

—Não é... correto — não encontrava as palavras adequadas para expressar o que sentia.

—Acha que pensarei que é de ter casos? Está enganada, Maggie Turner. Sei muito bem que viveu uma terrível experiência com seu ex-marido e que está tão temerosa como uma menina em um carnaval. Acha que sou tão insensível, para me aproveitar de você dadas às circunstâncias?

A pergunta a descontrolou porque não esperava tanta franqueza.

—Não, não é insensível — respondeu com a verdade.

—Então, solte minha mão, doçura, para que se dê conta do que sente quando acaricio sua pele — murmurou e se inclinou de novo para a boca dela.

Vagamente, Maggie se disse que Gabe tinha uma boca tão doce como o mel das montanhas. Entreabriu os lábios e permitiu que a língua dele se introduzisse em sua boca. Gabe notou que ela ficava tensa por causa dessa intimidade.

—Me dê uma oportunidade. Você deve se acostumar a este tipo de carícias. Permita que faça isso.

Maggie titubeou um momento, mas terminou cedendo. A repentina explosão de sensações que experimentou no corpo a assustou e voltou a ficar tensa, embora não tenha recusado a ele. Enquanto isso, uma mão dele acariciava suas costas. Maggie sentiu que desabotoava o sutiã. O mamilo se endureceu quando ele o acariciou.

Respirava de uma forma estranha porque o ar ficava obstruído na garganta antes que pudesse soltá-lo em pequenos sopros. Apesar da excitação, ele se deu conta disso.

—Como me incita! — murmurou e moldou os dois seios depois de levantar a cabeça para olhá-la nos olhos. Deslizou os polegares nos mamilos – Esta gostando? – perguntou rouco — Faz tempo que não acaricio uma mulher assim.

—Não, — murmurou rouca.

Gabe abaixou a vista e descobriu os pequenos e firmes seios.

—Sim — sussurrou com reverência — Assim a imaginei durante todos estes anos, com seus pequeninos seios quentes em minhas mãos...

—Gabriel! — exclamou emocionada pela descrição.

—Não se cubra — inclinou-se para os lábios entreabertos dela e acrescentou — Permita que a veja e toque. Nós dois somos adultos, Maggie e não fazemos mal a ninguém.

A voz sedosa e grave a hipnotizou. Maggie permaneceu quieta, mas se estremeceu quando Gabe lhe acariciou a boca com os lábios. Ele voltou a moldar os seios e se deleitou com sua suavidade.

Maggie arqueou o corpo para saborear as carícias esquecendo Dennis e suas desagradáveis lembranças.

—Sim — murmurou ao ver que o corpo dela rogava – Também desejo o mesmo, Maggie. Inclinou-se para levantá-la e lhe deu um fugaz beijo em um seio. Ela murmurou algo e enroscou os dedos no cabelo dele.

—Eu nunca desejei tanto a uma mulher.

Abriu a boca e cobriu um dos suaves seios. Maggie se arqueou mais para facilitar a posse enquanto Gabe saboreava sua suavidade. Ela foi invadida pela paixão e esqueceu a prudência. De repente, ele empurrou o quadril dela para o dele para que sentisse sua dignidade excitada.

Maggie abriu os olhos para observá-lo, estremeceu, mas não tentou se afastar.

—Quando isso acontecia com Dennis sentia ódio, por que é tão belo... com você? — murmurou chorosa.

Gabe não pôde responder. Limitou-se a inclinar-se para a doce boca para beijá-la de novo.

A pesar do braço dolorido, levantou-a e tirou a camisa para que ela sentisse seu peito nu contra seus seios.

Maggie gemeu emocionada pelo que sentiu. Com Dennis, jamais tinha sido assim. Desejava Gabe, desejava deitar-se e sentir o peso do corpo dele sobre o próprio, desejava que a união fosse completa. Parecia que o tempo tinha parado. Maggie chorava e quando retornou à realidade, Gabe começou a consolá-la com deliciosa ternura.

—Calma — murmurou junto a sua boca — Se acalme, tudo está bem — apoiou a ardente bochecha dela contra seu peito e a segurou acariciando suas costas e permitindo que a paixão se desvanecesse – Assim que eu gosto, fique tranquila.

—Sinto-me muito estranha — murmurou tremula.

—Eu também. — riu amável ela ocultou seu rosto vermelho.

—Ficou com medo com o que estava acontecendo? — acariciou o cabelo curto e se deleitou com sua sedosidade.

—Um pouco — aceitou.

—Saberei mais adiante — tocou-lhe a orelha e Maggie se estremeceu agradavelmente, tinha os nervos muito sensíveis.

—Saber... O que?

—Se é capaz de se entregar totalmente a mim — respondeu. Maggie sentiu que ele respirava agitadamente — este tipo de assunto pode nos escapar das mãos com rapidez, Maggie. Pelo bem de Becky não devemos manter uma relação ilícita. Espero que compreenda.

Tudo acontecia muito rápido. Maggie se levantou, fechou a camisa e olhou para ele.

—É muito cedo.

—Penso o contrário — ele permanecia sentado na cadeira com o peito peludo descoberto — E será melhor que mude de opinião. Necessitará de ajuda quando tiver que ir ao tribunal. Sobre tudo, agora que conhecemos a escandalosa opinião de seu ex-marido quanto a nossa relação.

—Eu negarei.

—Faça isso — sugeriu e arqueou uma sobrancelha ao pegar o copo de conhaque — O advogado dele fará você se sentar no banquinho e perguntará se compartilhamos intimidade. Você se ruborizará como uma menina e darão a custódia de Becky a ele.

     Maggie terminou de abotoar a blusa e o olhou com severidade.

—O que propõe fazer a respeito, se casar comigo? –perguntou com um toque de sarcasmo.                              

—Por que não? — respondeu e deu um gole em sua bebida – É bonita e franca, tem uma filha maravilhosa e eu sou um homem muito sozinho, você precisa de dinheiro, eu tenho. Somos um casal que se formou no céu.

—Não são bons motivos para que nos casemos — respondeu, mas sentiu-se como se tivessem tirado o chão onde pisava, ela o desejava, ao menos fisicamente, mas era possível que ficasse petrificada em seus braços. Gabe era forte, poderoso e rico e poderia cuidar de Becky. E na cama, lhe daria o que nunca havia tido com Dennis. Por que propunha casamento? Havia dito que não desejava se casar. Que vantagens ele teria com essa união? A desejava tanto que estava disposto a renunciar a sua liberdade com o objetivo de possuí-la?

A turbulência de seus pensamentos se refletiu em seu rosto.

—Não se atormente com perguntas — terminou de beber o conhaque — Ainda resta um pouco de tempo antes que possa tirá-la de você. — ficou em pé para aproximar-se dela — Mas lembre-se, querida sou um temível adversário. Não retrocederei em meu empenho nem cederei um único centímetro. Desejo você e a terei.

—Pela força? — perguntou com um pouco de sua vivacidade de antes

—Nunca contra sua vontade, linda mulher – respondeu antes de tocar sua boca com os lábios. — Quero cativar seus sentidos e não tomar nada que não queira me dar. O prazer físico deve se compartilhado para que não seja egoísmo.

—Pode ser compartilhado, Gabriel? – perguntou estudando os olhos dele.

—Só se as duas pessoas estão dispostas a dar mais do que esperam receber — respondeu de forma enigmática.

—Não tem que ser doloroso?

—Não – queimou seus olhos com o olhar — Não deve doer.

—Não sabia — abaixou os olhos para o peito descoberto —Nunca tive a quem perguntar isso, nem sequer a minha melhor amiga, Trudie porque não posso falar dessas coisas.

—Pois comigo pode sempre que for possível — murmurou pensativo e indulgente. Pegou a mão dela e acrescentou: — Sente-se. Ele se sentou no sofá e permitiu que ela se sentasse a seu lado antes de acender um cigarro.

—Espero que não tenha sono porque falarei um bom momento. Se ajudar, não me olhe. Falarei do que deve saber sobre o sexo, senhorita Turner. Acredito que já é hora, de acordo?

—Sei... — levantou a cabeça e se ruborizou.

—Não sabe nada — sorriu divertido — Mas quando eu terminar de falar, você saberá.

As palavras dele a fascinaram porque ele parecia um conferencista universitário ministrando um curso intensivo de educação sexual. Falou sem vulgaridade, com simplicidade, e Maggie não se escandalizou.

E quando terminou, sabia mais do que tinha aprendido durante todo seu casamento e sua maternidade.

—Não imaginei que seria tão complicado — murmurou.

—É um milagre – respondeu — Em todos os aspectos. E os milagres não devem ser torcidos para se transformarem em diversões banais. A vezes que compartilhei o sexo com mulheres também compartilhei algo emocional. Nunca pude rebaixar meu orgulho o suficiente para comprá-lo. Supunha-se que os homens são indiferentes aos sentimentos?

Fascinada, Maggie o observou.

—Aprendeu tudo isso... Com as mulheres?

—Nem tudo — as comissuras de sua boca se curvaram para cima — Queria ser médico depois de terminar o bacharelado. Fiz dois anos de medicina, mas logo decidi pela faculdade de veterinária. Aprendi muitas coisas interessantes a respeito dos corpos e de como funcionam.

—Percebi. — murmurou.

—O sexo é belo. — murmurou e lhe levantou o queixo — Em condições favoráveis é uma deliciosa expressão de amor e compromisso. Deus deve pensar assim porque permitiu que as crianças fossem uma consequência da união.

—Obrigada pela lição — sorriu. —Nunca pude falar com Dennis sobre isto – recordou – Não deixava de me acusar de ser a culpada de que não desfrutássemos dos prazeres sexuais.

Maggie levantou os olhos e entreabriu os lábios para formular uma pergunta, mas se acovardou e desviou os olhos.

— O que você deseja saber olhos grandes? Como me comporto na cama? – perguntou junto a seu ouvido.

—De maneira nenhuma! — exclamou.

Gabe lhe mordiscou o lóbulo da orelha para incitá-la e Maggie sentiu em todo o corpo, inclusive até nas pontas dos dedos dos pés.

— Sou lento, mas detalhista, e sei onde se encontram os nervos.

Maggie se afastou dele com os olhos brilhantes e o rosto vermelho pela inibição. Ele riu e se apoiou no encosto do sofá para observar a confusão dela.

—Já esta fugindo? Queria saber e eu expliquei.

—Para variar, foi muito amável, mas volta a ser cortante.

—Estou frustrado – respondeu – devia te explicar também o que é a frustração. Até os homens calmos, logo se transformam em ursos.

—Você nunca foi calmo – afastou o cabelo do rosto.

—Certo — aceitou e piscou um olho — Mas sou sensual.

—Suponho que é — aceitou inesperadamente

— Fico feliz, que esteja de acordo comigo – levantou uma sobrancelha – Vai me demonstrar isso em um futuro próximo?

—Não...

— Sua covarde – brincou –vá dormir, amanhã levarei Becky para que monte pela primeira vez e se quiser, poderá nos acompanhar.

—Gabe, ela ainda é muito pequena — protestou.

—Mas eu sou muito grande e cuidarei bem dela, assim como de sua mãe.

—Não posso evitar o desejo de protegê-la. — defendeu-se.

—Isso vai passar e eu ajudarei. Mas agora vá logo. Permita que me sirva de mais um conhaque para esquecer meu braço inchado e que só falta explodir.

—Eu fiz isso?

—Sim, quando tentou me seduzir — respondeu fingindo indignação – olhe para mim, por Deus! Quase rasgou minha camisa, tenho sinais de seus dedos em todo o peito e cheiro a seu perfume.

Maggie abriu muito os olhos ao perceber que ele estava brincando com ela e ela tinha pouca experiência nesse jogo.

—Você fez o mesmo comigo – respondeu — as mulheres tem direitos iguais.

Ele observou os seios femininos.

—Sabia que as antigas gregas andavam com os seios descobertos? Você teria levado o primeiro prêmio.

Ela sempre tinha acreditado que seus seios eram muito pequenos e que não atrairiam nenhum homem.

—De verdade?

—Sim. Maldição vá dormir. Quanto tempo acha que posso continuar falando com calma de seus seios sem que te dispa e a deite sobre o tapete?

—Isso seria pouco civilizado — comentou orgulhosa.

—Mas emocionante — seus olhos faiscaram com malícia — Se estivesse nua estaria sobre o tapete e meu corpo estaria por cima, com a porta aberta.

—Vou para a cama — voltou-se e conteve o fôlego.

—Adoraria te acompanhar — suspirou e levantou o copo — Maggie.

—Sim.

—Me dê uns dias para ver como Becky se adapta. E se gosta do rancho, você e eu manteremos uma longa conversa para decidir o que deveremos fazer.

—Não compreendo — notou que Gabe tinha os olhos entreabertos.

—Acredito que sim – sustentou seu olhar — Pelo que aconteceu hoje, acredito que sabe muito bem.

—É possível que não possa te dar o que quer — dominou seu nervosismo — Dennis... fez-me mudar. O que você e eu fizemos foi doce, gostei muito, mas...

—Mas não está certa de que possa se entregar? — perguntou com muita perspicácia.

—Sim — confessou muito triste.

—Maggie, eu devo dizer que não sou insensível ao que sente a respeito deste tipo de intimidade e possivelmente possa te ajudar dizendo que esqueceu um fator muito importante.

—Qual?

—Não sou seu ex-marido. Nunca farei mal a uma mulher com premeditação, porque não sou um sádico.

—Sei – assegurou — Sempre soube.

—Então, tenha um pouco de confiança em mim.

—Para mim é muito difícil confiar.

—Eu sabia disso –sorriu — Ou se esqueceu de que eu também sofri por causa do mesmo? Mamãe contou a você que me feriram, mas só eu sei quanto. Amava-a ou possivelmente pensava que a amava — acrescentou.

Aquilo pareceu muito longínquo por causa da bela e tentadora presença de Maggie.

—Sinto muito.

—Eu também sinto seus sofrimentos, querida, mas isso já faz parte do passado. Você e eu devemos pensar em Becky e se não fizermos algo, é possível que a perca.

—Sei.

—Não se preocupe porque aquele tipo terá que se ver comigo, seja no tribunal ou fora dele. Mas possivelmente haja outro caminho. Ocorreu-me algo e direi, assim que tiver certeza, boa noite.

—Não agradeci... Por tudo o que tem feito.

—Você acha? — observou sua boca.

Levantou o copo e sorriu quando Maggie lhe deu as costas para sair.

 

Becky mudou muito no rancho e Gabe, apesar de suas obrigações e o braço dolorido, encontrou tempo para ajudá-la a se acostumar ao novo ambiente.

No dia seguinte da chegada da menina, montou-a sobre um cavalo enquanto Maggie permanecia em pé, com as mãos entrelaçadas e rogando a Deus que cuidasse dela.

—Não se preocupe querida — disse Gabe à menina enquanto a ajudava a subir no pequeno animal e fazia uma careta porque qualquer esforço ainda produzia dor no braço — É velha e mansa. De fato, sua mãe estava acostumada montá-la — olhou para Maggie sorrindo —Lembra-se de Butterball?

—É Butterball? – perguntou — Gabe, deve ter vinte e cinco anos.

— Vinte e seis — corrigiu. Verificou a cela e colocou as rédeas nas mãos de Becky.

Depois a ensinou a sentar- se, a dominar o cavalo, a manter os joelhos e cotovelos na posição adequada e a dirigir o animal com uma leve pressão das pernas.

—Sabe muito sobre cavalos – ela comentou com acanhamento e admiração, antes de desviar os verdes olhos.

—trabalhei com eles toda minha vida – respondeu — Adoro os animais e estudei veterinária.

—Eu também adoro — comentou muito entusiasmada — Mas nunca tivemos nenhum — acrescentou com tristeza – Papai é alérgico e quando nos separamos dele, mamãe teve que trabalhar e eu tive que ir à escola. Na escola não permitem que tenhamos animais.

—Você gostaria de ter um cachorrinho? — perguntou ignorando os desesperados sinais de Maggie e o movimento de cabeça negativo — Bill, que mora perto daqui, tem vários cães collie. Se quiser pediremos um a ele.

—Faria isso? — murmurou fascinada.

Maggie calou. Permitiria que o cão dormisse em sua sala. Qualquer esforço valeria a pena só por ver essa alegria refletida no pequeno rosto. Não sabia que Becky desejava ter um animalzinho.

—É obvio — respondeu Gabe sorrindo — Mas só se sua mãe não se incomodar — acrescentou olhando a Maggie.

—A mãe não se incomodaria — murmurou Maggie.

—Supunha isso – riu — Dizem que de nada serve fechar a porta depois de que o cavalo escapou.

—Eu gosto dos cães.

—Eu também! — exclamou Becky e ao voltar-se para Gabe, se deu conta de que o cavalo se moveu. Estendeu um braço para lhe tocar, mas não chegou a fazer isso.                                                    

Maggie sentiu que as lágrimas causavam ardor em seus olhos, mais tarde, diria a Gabe que o gesto de Becky tinha sido um passo para frente, porque a menina evitava qualquer contato físico com gente que não conhecia, sobre tudo com os homens. O simples fato de ter desejado tocar em Gabe era importante. Mas Gabe parecia ter se dado conta, porque não ria quando se voltou para Maggie refletindo dor no olhar.

—Poderemos ir agora buscar o cachorrinho? — perguntou Becky emocionada — Vamos?

—Primeiro você monta, depois veremos.

—Está bem. — a menina suspirou.

—Becky, onde estão suas maneiras? – perguntou Maggie.

—Em meu bolso de trás — Becky sorriu — Quer ver?

Era maravilhoso ver a mudança que estava se operando na pequena. Parecia muito contente. Maggie sorriu para Gabe e a luz dos seus olhos adquiriu a cor da mata. Gabe lhe piscou um olho antes de entregar as rédeas do cavalo que ela iria montar.

—Pode subir sozinha? —perguntou com tom zombador.

—Sei montar — respondeu, fingindo indignação, mas desmentiu suas palavras ao não colocar o pé no estribo, depois de ajudá-la com um evidente sorriso de superioridade, ele pegou as rédeas de seu cavalo e montou.

—Não se afaste de mim, pequena – ele aconselhou a menina – Não se preocupe porque cuidarei de você.

—Muito bem – ela respondeu e o olhou de esguelha para assegurar-se de que seguia bem suas instruções. Ele assentiu com um movimento de cabeça.

Maggie admirava a beleza da paisagem deixando que o ar acariciasse seus cabelos. Anos atrás havia feito o mesmo quando montava em companhia das irmãs dele. Às vezes o encontravam inesperadamente e seu coração acelerava. Embora tivesse sido só uma paixão de adolescente, ela não tinha conseguido evitar sentir saudades quando deixou de vê-lo. Sem dar-se conta, o adorou com o olhar, admirou a força em seu corpo, seu belo porte e suas hábeis mãos que seguravam as rédeas. Era excepcional, sempre tinha sido. E era possível que se casassem...

Pensar nisso a perturbou porque com Dennis tinha se enganado. O que aconteceria se se enganasse com Gabe?

—Está muito calada, aconteceu alguma coisa — Gabe voltou a cabeça e a observou.

—Ela é sempre assim — informou Becky — Não fala muito.

—Antes falava sim – sorriu — De fato, quase nunca fechava a boca.

—Fazia isso, porque ficava nervosa — replicou e ao dar-se conta do que tinha confessado, limpou a garganta.

—Sua mamãe estava apaixonada por mim – ele declarou com audácia e o queixo levantado enquanto observava Maggie – Pensava que eu era o melhor deste mundo.

—Por que não se casou com minha mamãe, tio Gabe? – ela perguntou.

Maggie mordeu o lábio inferior enquanto Gabe a observava e apertava os lábios.

—Então, eu tive medo de que ela não fosse feliz com o que eu poderia oferecer — respondeu tranquilo — Nem sempre tivemos dinheiro, jovenzinha — acrescentou sorrindo — Tivemos dificuldades econômicas durante um tempo e nessa época foi quando perdi o contato com sua mãe.

Maggie o olhou fascinada. Estava contando uma mentira branda só pelo bem de Becky ou era verdade?

Ele notou o estudo de que era objeto e sorriu zombador.

—Por aqui — Gabe fez com que o animal mudasse de rumo — Quero te ensinar algo.

Dirigiram-se a um atalho que desembocava em um lago. Ali havia umas vacas com seus bezerros.

— Eu não tenho medo! — exclamou Becky — Posso acariciar uma?

—Não, Gabe, são vacas de chifres longos! — protestou Maggie porque uma vez tinha sido atacada por uma vaca que acabava de parir.

—Estas são mansas – ele respondeu e desmontou — Não irão machucar. Venha pequena — Gabe a desceu — Os bezerros só têm umas semanas — informou interpondo-se entre as vacas e a menina. — Pode ganhar o carinho de qualquer criatura se aproximar-se com cuidado e falar com voz baixa. Pergunte a sua mãe. — Maggie se ruborizou quando ele voltou à cabeça por cima do ombro e sorriu maliciosamente.

Por sorte, Becky não compreendeu o que ele havia dito por que tinha os olhos fixos nos bezerros. Aproximou-se de um e o tocou entre os olhos, onde a pele era mais sedosa. O bichinho tentou mordiscar sua mão e, rindo, ela a retirou.

—É linda — exclamou Becky repetindo o movimento.

—É macho — corrigiu Gabe — Esse jovenzinho crescerá bastante e será um touro magnífico.

—Não será cabeça de gado? — perguntou Maggie.

—Não, note em seu corpo – apontou o jovem animal – Esta ganhando peso de maneira extraordinária. Quero dedicá-lo a recria.

—Como pode controlar tanto gado? — perguntou Becky.

—No escritório tenho um computador – informou — Cada vaca e bezerro estão registrados nele. O gado está se adaptando ao século vinte. Já não usamos os antiquados livros de contabilidade.

—O que é isso?

Explicou-lhe como estavam acostumados a contar gado e falou de como os boiadeiros cuidavam dos animais durante a recontagem para evitar os roubos.

—Embora ainda existam alguns que continuam valendo-se desses métodos antiquados —acrescentou antes de acender um cigarro – Quando começamos a marcar os animais vem muita gente e ao terminar, oferecemos um churrasco para os vizinhos. Sempre nos ajudamos, embora tenhamos ranchos grandes como este.

—É verdade que usam aviões para reunir ao gado? –perguntou Maggie.

—É obvio e também helicópteros. Economiza muito tempo quando se trata de milhares de cabeças de gado — devagar percorreu o corpo de Maggie com os olhos.

Ela tinha posto um pulôver branco de manga curta e uma calça jeans que ressaltava seu quadril e suas longas e bem torneadas pernas.

— É um trabalho muito pesado, - murmurou inquieta pela insistência do olhar dele.

—Muito duro — olhou para Becky. Ela falava em voz baixa ao bezerro enquanto a mãe do animal a observava com indulgência e interesse — Nesta época do ano eu fico de mau humor.

—Já notei.

—É mesmo? — voltou-se e apagou o cigarro com o sapato.

Maggie deu um passo para trás. Gabe não se atreveria... Estando Becky ali.

Ele a encurralou contra um carvalho.

—O que quis dizer com isso de que já notou que estou de mau humor?

—Se não fosse por sua mãe, teria me enviado de volta a Santo Antonio — recordou-lhe.

—Está enganada — sorriu amável — Começou a me perturbar desde o primeiro dia. Possivelmente teria permitido que fizesse a mala, mas teria encontrado uma desculpa para que não fosse.

O coração dela se acelerou. Ele se aproximou um pouco mais e apoiou o braço são sobre a árvore, junto à cabeça dela. Maggie percebeu o aroma de tabaco dele e sentiu que os músculos das pernas e o peito ficavam tensos.

—Quase posso saborear o café em seu fôlego – ele murmurou observando a boca dela — E se Becky estivesse um pouco mais longe, iria me aproximar de seu corpo para que sentisse o efeito que me causa com essa calça justa.

—Gabriel!

—E não se faça de inocente — abaixou os olhos — Seu suéter revela seus sentimentos.

Maggie franziu o cenho e ao abaixar os olhos notou que seus mamilos marcavam apesar do sutiã.

—Deve saber que seu corpo reflete desejo — murmurou com os olhos bem abertos — por que acha que os homens se incitam tanto ao ver uma mulher sem sutiã?

—Eu estou usando.

—Mas não cobre bem — franziu o cenho — Não ande assim onde estiverem homens –acrescentou — Esta semana não posso me permitir o luxo de despedir ninguém.

—Mas... —arqueou as sobrancelhas.

—Seus seios são lindos — murmurou.

Maggie se estremeceu dos pés a cabeça. Os olhos dele a devoravam. Seu corpo ardia por dentro. Entreabriu os lábios e fez um leve movimento, quase imperceptível.

—Não deve me falar assim — murmurou.

—Não deve me permitir isso — murmurou — Se continuar me incitando, terei que amar você fisicamente.

—Não pode.

—Sim posso — esfregou o nariz com o dela – Você também não me incomodaria se dormisse comigo.

—Becky esta aqui.

—Becky é uma menina maravilhosa. Irá se adaptar bem ao rancho.

—Não falava disso – ela respondeu. Tocou-lhe o peito gostou de sentir os fortes músculos debaixo da camisa — Tem muito pelo — comentou e conteve o fôlego porque recordou o que havia sentido quando sua pele nua havia encostado ao peito dele.

—Sempre te atraí – murmurou — Ao menos, observava-me quando eu tirava a camisa para trabalhar.

—Tem... bom corpo – engoliu em seco.

—Você também.

Maggie sorriu para ele, sentindo-se animada, mas tímida.

Olharam-se nos olhos com curiosidade. A respiração dela se acelerou e notou que acontecia o mesmo com ele.

—Estou queimando — murmurou rouco — Desejo que me acaricie o corpo.

—Não estamos... Sozinhos – ela também o desejava.

—Que sorte tem! Porque se estivéssemos sozinhos, asseguro que a deitaria.

O corpo dela reagiu de uma forma amalucada ante a ameaça e em vão tratou de respirar fundo.

—Não diz nada? — perguntou — Não deseja fugir? Ou é porque já não te assusta a ideia de se deitar comigo?

—Teria que ser algo... Mais que isso — sussurrou.

—Mais do que imagina, querida. Você e eu nos acenderíamos em chamas se nos deitássemos juntos.

Maggie imaginou o longo corpo nu junto ao dela.

—Não me olhe assim! – ele avisou com rudeza e se estremeceu — Posso adivinhar seu pensamento!

—Seria maravilhoso — suspirou tremula.

Gabe pegou seu braço com ferocidade, mas Maggie não desgostou da reação.

Ela inclinou a cabeça e ofereceu seus lábios.

—Não posso beijar você, porque Becky está aqui — murmurou rouco — Não poderia me deter se começasse! Devoraria você.

—Eu permitiria isso, permitiria que me fizesse qualquer...

—Becky, quer ver flores silvestres? – ele gritou, depois de se mexer gemendo.

Sua voz não foi normal, mas a menina não notou. Com fascinação seguia acariciando o bezerro.

—Sim! — gritou rindo.

Maggie se afastou da árvore. As pernas fraquejavam. Não estava certa de como devia manejar essas novas e explosivas emoções.

Gabe a debilitava. Desejava-o mais do que quando era adolescente e não sabia o que era o melhor para ela. Já não estava certa de poder se afastar de seu lado.

—Vamos preguiçosa — gritou Gabe sorrindo, embora em seus olhos houvesse fogo — andando.

Maggie esperou a que ele a ajudasse a montar e voltou a sentir o calor de seu corpo.

—Tenho que fazer isso – ele murmurou quando Becky fez girar o cavalo — Só durante um segundo.

Com desejo e rudeza se apoderou de sua boca e Maggie entreabriu os lábios. Mas ele se afastou imediatamente.

—Ah... – soluçou.

—Meu Deus, eu estremeço como um garoto!

—Eu também — sorriu hesitante.

—Logo teremos que fazer algo a respeito, não posso conter mais o que sinto.

—Não estou segura... — ruborizou-se.

—Não pressionarei — interrompeu-a quando Becky chegou a seu lado — É uma garota pronta, já parece uma vaqueira — comentou.

—De verdade? — perguntou Becky entusiasmada.

—Sem a menor duvida – assegurou – Mostrarei a você muitas flores silvestres. Na primavera, as pradarias texanas parecem um país de fadas.

Não demoraram a ver diante deles um colorido campo que parecia pintado.

—Tudo isto era uma pradaria virgem — explicou com saudade — Estava cheia de búfalos. Pena que tenhamos tido que trocar isso em honra ao progresso.

— Os búfalos voltarão? – ela perguntou.

—Não, pequena. Já não estão aqui, tampouco os pioneiros nem os índios. Foram embora por causa da expansão do oeste.

—É um reacionário — acusou-o Maggie amável – Você gostaria de derrubar as cidades para recomeçar.

—Tem razão — sorriu—. Sou boiadeiro e eu gosto dos espaços grandes sem cercar.

—Você nasceu cem anos mais tarde.

—Sim — aceitou suspirando –Odeio ter que fazer isso, mas devo levá-las para casa para ir trabalhar. Becky, esta tarde iremos à casa do Dan para ver os cachorrinhos. Esta bem?

—É maravilhoso, tio Gabe.

—Você gosta do rancho? — perguntou muito sério.

—Muito — Becky suspirou e com o rosto radiante olhou a seu redor — Eu gostaria muito de poder viver aqui.

Gabe olhou para Maggie por cima da cabeça da menina, mas ela abaixou os olhos. Não sabia se poderia dar o que ele exigiria se casasse com ele. O casamento a aterrorizava e ele devia saber disso. Pediu mentalmente que ele não a abandonasse.

Gabe pareceu compreender os sentimentos dela porque não voltou a falar do assunto.

A partir desse dia, o tempo voou. Gabe encontrava sempre tempo livre para dedicar-se a Becky e a sua mãe. Comprou um cachorrinho para a menina e a convenceu de que deviam esperar que o desmamassem antes de levá-lo ao rancho. Seriam poucos dias e manteve a menina ocupada com todo tipo de aventuras.

Um dia encontrou um ninho para que ela o visse. Outro dia levou as duas no caminhão a um lago situado em meio de um caminho vicinal. Preparava muitas surpresas à menina. E Becky, como qualquer criança, correspondia com genuíno afeto. Conforme passava o tempo foi se tranquilizando e começou a confiar em Gabe. Para Maggie, cujos sentimentos tinham flutuado do aborrecimento ao afeto, era difícil adaptar-se a repentina mudança de atitude dele para com ela. Becky captava toda a atenção do homem. Gabe não tinha voltado a aproximar-se dela desde que tinham montado juntos. Parecia ter por método deixar que as coisas se esfriassem. Entretanto, era amável e a olhava com afeto. E embora, de certo modo, isso fosse um alívio, Maggie sentia-se decepcionada. Não compreendia.

Tudo estava bem até que chegou uma ligação telefônica um dia em que Janet e Gabe não estavam em casa. Era do advogado de Santo Antonio e queria informar que Dennis tinha iniciado o processo legal pela custódia da menina. Tal como Maggie temia, Dennis tinha declarado que Gabe era seu amante e que, portanto, considerava que não fosse uma mãe capaz de educar bem sua filha.

Maggie se sentiu desconsolada, não mencionou o assunto à família, mas Gabe pressentiu que algo estava errado. Com olhos sombrios e pensativos, observou-a quando foram buscar o cachorrinho de Becky.

—O processo já está em andamento? —perguntou.

—Sim — confessou angustiada. Voltou-se no assento do Lincoln para observar a alegre menina — não sei como dizer a Becky.

—Permita que eu diga, fique calma, senhorita Turner. Nada de ruim irá acontecer a vocês — começou a assobiar como se não houvesse nenhum problema.

Mas Maggie já o conhecia melhor e sabia que tramava algo.

Becky levou o cachorrinho para casa e com um interesse quase cômico, repetia a ele que não tivesse medo. Mostrou o animal a todo o pessoal da casa e ficou encantada quando Janet o segurou em seus braços para acariciá-lo.

Maggie pensava que as mudanças operadas em sua filha e em Gabe eram surpreendentes. O frio e taciturno homem e a tímida menina combinavam muito bem.

Quando chegou a hora de ir deitar, Becky se aproximou dele e o olhou com adoração.

—Oxalá fosse meu pai — falou com tanto sentimento que o rosto dele se enterneceu.

Titubeou enquanto observava com curiosidade à pequena. Olhou de relance para Maggie e pareceu ter tomado uma decisão. Ajoelhou-se para poder olhar nos olhos de Becky.

—Nem sempre estarei de bom humor — comentou como se falasse com um adulto — Tenho um temperamento difícil e nem sempre posso me dominar. Às vezes me impaciento com as pessoas e desejo estar sozinho. Possivelmente venha a ferir os sentimentos de vocês sem me dar conta e você poderia desejar não ter vindo.

—Eu também tenho dias ruins. — Becky assentiu abraçando o cachorrinho — Mas eu gosto de você, mesmo quando está zangado.

—Eu também gosto de você. Quer ficar aqui?

—Durante as férias?

—Não, para sempre — moveu a cabeça.

—Seria meu pai? — perguntou o olhando fixo.

Maggie conteve o fôlego.

—Sim. — Gabe apertou a mandíbula.

Becky mordeu o lábio inferior porque parecia temer, mas esse sentimento desapareceu e Maggie notou.

—Meu papai foi muito ruim comigo – murmurou – eu tenho muito medo dele, mas sei que você nunca me fará mal.

—Deus santo! —exclamou rouco — Não, jamais farei mal a você, prometo.

—Ai, tio Gabe, gosto muito de você! — Becky derramou umas lágrimas.

Estendeu o braço livre para rodear o pescoço dele e colou seu rosto ao dele. Gabe a abraçou, mas calou, embora não durante muito tempo.

—Cuidarei de você, Becky — assegurou com voz estranha — Também cuidarei de sua mamãe. Ninguém voltará a magoar vocês.

—Eu também cuidarei de você — Becky lhe deu um beijo na bochecha e sorriu antes de franzir o cenho — Tio Gabe, tem os olhos úmidos.

—É verdade – assentiu sem inibição e sorriu — Ninguém tem uma filha de repente e em um dia.

—Posso chamar você de papai? — perguntou.

—É claro.

—Podemos ficar com meu novo papai? — perguntou a sua mãe que também tinha os olhos úmidos.

—Sim — respondeu emocionada e olhando para o Gabe – com certeza.

—Mamãe! —gritou Gabe sem deixar de observar Maggie.

—O que foi? Estava vendo um filme na televisão – comentou Janet ao sair da sala.

—Maggie e eu decidimos nos casar — declarou sem preâmbulos. —Pode se encarregar dos acertos necessários?

—O que? — perguntou a mulher aturdida.

—vamos nos casar – ele repetiu.

—É verdade — assegurou Maggie sorrindo e se voltou para Becky — Querida, vá se deitar e logo subirei pra dizer boa noite. Ai, o cão...

—Não se preocupe – falou Janet — pedi a Jennie que colocasse uma caixa de madeira e uma manta junto à cama de Becky —sorriu com calidez – Becky serei sua avó!

—Gostarei muito. — prometeu a menina aproximando-se da avó – Vocês ficarão orgulhosos de mim.

—Sempre me senti orgulhosa de você — Janet riu e olhou primeiro para Maggie e depois para Gabe — Que grande surpresa!

—Para você não acredito que tenha sido tanto – ele disse com aborrecimento — Mas, como sempre manejou tudo a seu jeito — o cruel comentário diminuiu o prazer de Janet. —Falaremos depois. Vamos, Becky, subirei com você.

—Sim, senhor — respondeu Becky muito séria, mas logo sorriu com malícia. Abraçou o cachorrinho e riu quando o animal lhe lambeu a bochecha.

—Ai, Maggie, que felicidade — suspirou Janet ao abraçá-la – Sua mãe e eu ansiávamos ver este dia.

—Não é o que parece — respondeu Maggie amável – Faremos isso pela Becky. Gabe diz que eu não tenho possibilidades de ganhar o processo, do jeito que está à situação porque Dennis voltou a casar-se.

—Sei, mas te asseguro que tudo sairá bem. Oxalá meu filho me perdoe pelo passado —murmurou triste — Possivelmente algum dia faça isso.

—Estou segura de que assim será — assegurou Maggie — Janet, faço o correto? — perguntou enquanto subia a escada — Refiro-me ao bem-estar de Becky... Porque não amo o Gabe e ele tampouco me ama.

—Às vezes, o amor chega depois do casamento. Dê tempo ao tempo, querida.

Maggie assentiu, mas estava preocupada, e não só pelo futuro distante. Gabriel exigiria uma relação física e, apesar de desejá-lo, não estava certa de poder lhe agradar. Tentou distrair-se ligando para Trudie em Londres para dar a notícia.

Sua patroa ficou encantada, embora lamentasse perder a sua única empregada. Fez que Maggie prometesse que escreveria para explicar os detalhes antes de falar de sua viagem pela Europa. Acrescentou que deveria ser maravilhoso casar-se com um homem que permitia que sua noiva fizesse uma ligação tão cara.

Maggie esteve de acordo com ela, mas se dedicou a falar de como seria maravilhoso para Becky. Gabe tinha sido muito bom com as duas e merecia mais que gratidão. Merecia uma esposa que o amasse, cuidasse e fosse tudo o que ele necessitava na cama. Será que ela poderia cumprir com tudo isso ou ele se arrependeria de sua impulsiva proposta de casamento?

 

Gabe teve que ir com um de seus empregados para examinar um touro puro sangue doente. Ainda não havia voltado quando Janet subiu parra deitar-se, cantarolando de felicidade.

Maggie se sentou no sofá da sala e cobriu as pernas e os pés descalços com seu amplo vestido. Distraída, via televisão quando ele voltou.

—Desejava encontrar você acordada — comentou fechando a porta com chave e sorrindo com malícia. Percebeu a confusão dela — está nervosa por minha causa, Margaret?

—Um pouco — a garganta ficou seca quando viu que ele se aproximava.

Não pôde dissimular o sentimento, porque os pálidos olhos dele viam tudo.

—Porque fechou a porta com chave? Todos subiram para dormir — titubeou.

—Não quero que nos interrompam enquanto conversamos — deteve-se em frente a ela e observou seus olhos.

—Sobre o que temos que falar?

—Primeiro me dirá por que tem medo de mim — procurou um cigarro.

—São nervos, não temor — corrigiu.

—Geralmente é o mesmo — aproximou-se da televisão para desligar antes de sentar-se ao lado dela.

Fumou em silêncio e Maggie começou a tranquilizar-se ao dar-se conta de que ele não iria atacar. Até esse momento não se deu conta de como estava tensa.

—Assim está melhor – olhou-a de esguelha — Agora, me diga o que tanto perturba você.

—Dennis me acusou de ser uma mãe má... — uniu as mãos sobre seu colo e as olhou fixamente — Em sua demanda declarou que você é meu amante.

—Bem querida nós já sabíamos, não? — perguntou com lógica.

—Sim, mas ele já fez isso. Aparecerá nos jornais — tinha os olhos abertos pelo temor — Isso fará mal a Janet!

—Você exagera a capacidade de sofrer que tem minha mãe – endureceu o rosto.

—E você a minimiza – replicou — É muito sensível e parece que não está muito bem de saúde. Não desejo causar nenhum mal a ela. Becky é muito pequena e não o compreenderá, mas outros sim.

—Você se preocupa com o que as pessoas dizem? — observou a ponta do cigarro.

—Sei que não se importa, mas eu não sou homem.

—Graças a Deus — levou o cigarro aos lábios, fumou e se estirou com preguiça — Estou cansado e não tinha me dado conta de quanto me tornei preguiçoso depois de passar tanto tempo em casa.

—Você, preguiçoso? Bem que gostaria de ver isso.

Gabe estendeu um braço sobre o encosto do sofá e a observou. O movimento abriu sua camisa e revelou uma parte da pele bronzeada coberta de pelo escuro. Maggie desviou os olhos.

—Eu gosto de como reage a mim sem que possa dissimular. Quase posso ver como pulsa seu coração.

—É um homem muito atraente – dominou o pânico.

—Esta enganada, mas suponho que ache que o sou. Não me queixarei se seu interesse for só por mim. — apagou o cigarro e adotou uma postura mais cômoda.

—É verdade o que disse a Becky? — voltou à cabeça para olhar para ele.

—Claro. Ela necessita de um ambiente estável, uma família com quem crescer sem pressões. Aqui terá isso e posso lhe dar tudo o que desejar.

—Ela o ama muito — falou baixo.

—Sei e é uma grande responsabilidade aceitar esse amor – respondeu — Por isso fui franco com ela. Haverá momentos ruins como em todo tipo de relação e ela teve que decidir.

—Com você é muito diferente — Maggie ficou em pé – Sempre teve medo dos homens, mas aqui esqueceu seu acanhamento. Ri, brinca e já não parece à mesma menina que veio. Tudo isso aconteceu em pouco mais de uma semana.

—Não era feliz – ele respondeu – Ela me disse isso. Tinha medo de que seu pai a afastasse de seu lado, agora não tem mais – sorriu – Vou deixar explicado o que farei a esse infame se tenta fazer alguma coisa.

—Você contou a todos que vamos nos casar — estava muito mais tranquila.

—Sim — apoiou as costas no braço do sofá. Seus olhos se entreabriram e observou o esbelto corpo dela, coberto com o colorido vestido — Veem aqui.

Maggie titubeou porque Gabe era muito... Sensual e perigosamente másculo.

—Anda – incitou — Permitirei que brinque com meu peito.

—É o homem mais arrogante que conheço... — ruborizou—se. —Ainda não viu tudo — sorriu.

De repente, estendeu o braço são e a sentou em seu colo com uma força tão deliciosa que Maggie não pôde protestar. Segurou a cintura com as duas mãos e a impediu de se mover.

—Me solte — murmurou e ficou ofegante pela tentativa de soltar-se.

—Pare de se contorcer, Maggie — murmurou ao ouvido – Do contrário me verei obrigado a fazer algo drástico.

Quando o quadril dela roçou o dele, Maggie compreendeu o que ele havia dito. Ficou tensa, tentou se afastar, mas ele impediu colocando uma mão na base de sua coluna vertebral. Passado um momento, o olhou nos olhos e viu assentimento e orgulho.

—Sou mais homem com você do que com nenhuma outra mulher. Basta ver você andar para que me incite, não precisa que me toque.

—Isso não é normal... Em todos os homens? — perguntou com amargura.

—Em mim não – respondeu — tenho trinta e oito anos e, normalmente, a essa idade, a incitação não se apresenta de repente.

Maggie não se deu conta do giro íntimo que tomava a conversa até que Gabe disse o último, e mordeu o lábio inferior. Sentiu-se vagamente encantada, mas ficou com mais duvida em quanto a poder satisfazê-lo. As carícias preliminares eram uma coisa, e de fato, com ele desfrutava, mas isso não era sexo.

—Fique calma — deslizou os dedos por baixo da orelha e a fez estremecer — está tensa como uma mola. Comigo não tem que ficar na defensiva. Não faria amor com você nestas condições.

Maggie se ruborizou e voltou a sentir-se como uma adolescente de dezesseis anos. Gabe a segurou pelos ombros para mantê-la equilibrada.

— Calma, não sentirá dor se relaxar junto a mim.

—Está... — não pôde dizer o que pensava.

—Estou...? — brincou e mordiscou o lóbulo da orelha dela — estou excitado e você não quer sentir isso?

—Sim – tentou esconder o rosto no pescoço dele.

—Aceite, querida — falou com tom sedoso — calma, aproveite junto a mim e permita que escute os batimentos de seu coração.

—Gabrie...

Era sua voz a que parecia débil e necessitada?

—Assim — murmurou ao sentir que ela obedecia e que os seios se apoiavam em seu forte peito e que suas pernas pareciam seda em cima das suas.

Deslizou a mão à base da coluna e a aproximou de seu quadril para dar de presente o prazer do contato.

—Não deve... — sentiu que se queimava.

Gabe buscou seu rosto com o seu até que encontrou sua boca. No silêncio da sala só se ouvia a acelerada respiração dela e o esfregar da roupa dos dois enquanto ele a aproximava mais e introduzia a língua em sua boca.

Maggie já não pôde respirar, pensar nem lutar. Cedeu porque tinha a mente no limbo e seu corpo vibrava por causa das carícias. Gabe acariciava-a como nunca tinha feito, por todos os contornos do corpo; moldou-lhe os seios e levantou o vestido para tocar suas longas pernas.

—Gabriel — suspirou.

Ele mordeu sua língua com ternura e ela percebeu o fôlego quente junto aos lábios inchados.

—Não farei mal a você — murmurou colocando-a lentamente sob seu corpo.

Falou com paixão e a beijou lenta e apaixonadamente para que ela sentisse todo tipo de texturas.

Maggie sentiu que o corpo doía, mas foi algo novo, diferente das vezes anteriores em que se tinham beijado e acariciado. Sentiu uma espécie de excitação pulsando como se sua pele tivesse cobrado vida e estimulasse cada nervo.

—Seu corpo é lindo e desejo admirá-lo — olhou-a nos olhos.

—Tenho medo.

—Sei — inclinou-se para voltar a beijá-la com ternura — Não tem motivos para temer. Só nos amaremos fisicamente um pouco. Igual à outra vez.

Suas palavras a tranquilizaram. Confiava nele porque ele não a magoaria, não era como Dennis.

Maggie olhou a camisa e desejou tirar para colocar as mãos sobre o peito peludo e explorar sua dureza. Intrigada, arqueou as sobrancelhas. Nunca tinha desejado fazer o mesmo a nenhum outro homem.

—O que deseja? — iniciou o doce processo de tirar o vestido e a combinação.

—Tocar você — murmurou atordoada.

—Onde?

—Aqui — abaixou os olhos e apoiou as mãos na camisa.

—Tire para mim – murmurou rouco.

Tampouco já tinha feito isso, mas não foi difícil. Com dedos trêmulos e torpes a desabotoou. Conteve o fôlego ao ver a perfeição masculina.

Uma das pernas dele se encontrava entre as dela. Moveu-a um pouco e lhe descobriu o corpo até o quadril. Maggie deixou de respirar e tentou agarrar-se ao tecido, mas as fortes mãos lhe rodearam os braços e voltaram a deitá-la.

—Não lute – ele murmurou movendo a cabeça — Não dei motivo para que tenha medo de mim e jamais darei. Só quero beijar seus seios, Maggie.

O rosto dela ficou vermelho. Nunca teria imaginado que veria até paixão nos olhos azuis. Gabe sorriu ao inclinar a cabeça para o corpo dela; logo, abriu a boca para saborear a doçura de um seio.

Maggie estremeceu e conforme a magia sortia efeito, segurou a cabeça dele para aproximar ainda mais. Seu corpo começou a mover-se com desfaçatez. Arqueou-se um pouco.

Gabe levantou a cabeça e Maggie a dirigiu ao outro seio. A carícia a embriagou e a fez respirar com agitação.

Devagar, Gabe deslizou as mãos pela sedosa extensão do corpo feminino enquanto lhe beijava os ombros, pescoço e boca. Havia se tornado insistente e tirou o resto da roupa dela para acariciar de uma forma inesperada.

Maggie protestou, mas a boca dele a fez calar para explorar a dela com a língua. A garota gemeu e cravou as unhas nos ombros dele. Logo aspirou fundo e abriu os olhos. Gabe levantou a cabeça para observá-la cheio de admiração.

—Emite uns sons muito doces, Maggie querida – murmurou olhando-a nos olhos enquanto ela se contorcia por causa das carícias — assim, querida, permaneça deitada e deixa que te ensine não tente se afastar, não vou machucá-la, pequena, sei o que faço.

E era certo. Maggie quase mordeu o lábio inferior ao sentir um espasmo de prazer. Os olhos se encheram de lágrimas, olhou-o maravilhada e seu corpo se estremeceu por causa de uma febre ardente e intolerável.

—Suavemente, Maggie — inclinou-se e a beijou com deliciosa ternura.

O beijo ecoou as palavras e foi mais transcendente que a excitação sexual. Houve reverência e uma inesperada beleza na carícia.

Gabe ficou em pé e cada movimento foi calculado e lento, a observou tremendo enquanto acabava de se despir. Voltou-se para ficar totalmente nu.

Maggie o possuiu com os olhos. Embora estivesse emocionada de maneira deliciosa, devorou sua gloriosa masculinidade. Ele estava muito bronzeado e seus músculos se flexionavam com o mais leve movimento que fazia. Gabe aspirou fundo e se sentiu muito orgulhoso.

Maggie não protestou quando ele se deitou ao seu lado. Estendeu os braços para lhe acariciar o rosto e se aproximar para oferecer seu lábios, estremeceu quando as mãos dele renovaram as carícias para excitá-la como tinha feito momentos antes. Mas ele não se afastou. Colocou-se em cima dela, que sentiu todo o peso, antes que ele se apoiasse sobre os cotovelos. O braço ferido lhe doeu, mas não se importou.

O corpo vibrava porque desejava conquistar o dela. Foi angustiante aguentar-se para ir com lentidão, mas era preciso fazer isso assim para não assustá-la.

Afastou uma perna com a própria para poder apoiar o quadril no dela. Ao compreender o que ia acontecer, Maggie abriu os olhos e conteve o fôlego porque seus antigos temores voltaram para atormentá-la.

Gabe percebeu e segurou seu rosto para beijar as pálpebras fechadas.

—Deus criou o homem e à mulher para que se unissem desta forma – murmurou — Não com luxúria animal, mas sim para que compartilhem com amor. Desejo agradar você, me dê seu corpo e permita que eu te dê o meu.

—Gabe... Tenho medo! — soluçou, apesar de desejá-lo, estremecia por causa da ternura percebida na voz dele e da doçura com que a tratava.

—Não vou magoá-la – murmurou – olhe para mim, isso, olhe. Sinta meu corpo que se deleita no teu...

Com Dennis, Maggie nunca havia sentido nada tão delicioso. Dennis a tinha machucado ao obrigá-la a compartilhar sexo sem a menor consideração. Mas Gabe estava com ela, era o corpo dele que cobria o seu... E a penetrava.

Ela abriu a boca, e deixou de respirar quando o sentiu unido a ela.

Seus olhos refletiram assombro. Não tinha doído... Tinha sido... Gemeu e fechou os olhos. Tinha sido tenro e lento e Gabe a... enchia... entregava seu corpo ao dela, movia-se, parava e recomeçava...

Gabe deslizou a mão pelo corpo dela até chegar ao mamilo de um seio enquanto a beijava, adorava-a e o corpo realizava o milagre dessa inesperada intimidade. Respirava com a mesma dificuldade que ela, mas cada movimento era tenro, premeditado, altruísta. Ele afastou o cabelo úmido enquanto ela se estremecia e se agarrava a ele, emitindo gemidos de prazer.

—Parece que isto é puro sexo? — murmurou ao se ouvido

—Não — disse encantada — Ai, Gabe... não... é!

Gabe moveu o quadril de uma forma rítmica.

—Não grite quando... acontecer — murmurou com tom tremulo — me morda, me arranhe, mas não grite porque nos ouvirão.

—Gabriel — chorava sem saber por que.

Sentia que seu corpo era o de uma boneca que ele manipulava e possuía. Seguiu os movimentos com abandono e desespero, cega pela paixão. Arranhou, mordeu o ombro e saboreou o suor salgado. Foi repentino e lhe pareceu como um brilho, como granizo de verão. De repente, viu cores brilhantes como em uma corrente ardente e doce e arqueamento o corpo. Emitiu um som que não ouviu e seguiu os febris movimentos dele.

Mas, de repente, seu corpo explodiu em doces labaredas. Ouviu uma voz grave que continha um gemido e sentiu o corpo convulsionado e úmido e era difícil respirar. Os batimentos do coração a balançavam, igual a ele e se sentia muito cansada.

Rodeou-lhe o pescoço e começou a beijá-lo com ternura. Beijou o peito, os ombros, o queixo, onde alcançou. Os beijos foram apaixonados e breves e saboreou o sal, a colônia e o homem.

— Você fez amor comigo – ele murmurou com voz de extrema reverência. Moveu o corpo dela para colocar-se de barriga para cima – nunca foi assim, Maggie, em toda minha vida.

—Quase no final acreditei que iríamos morrer. — murmurou sonolenta.

— Foi muito violento, mas nascido da ternura — riu nervoso — Meu Deus adorei você —murmurou com ardor – Amo você com todo meu ser.

Maggie se estremeceu ao perceber uma intensa emoção na voz dele. Agarrou-se a ele e se pôs a chorar.

—Já não me importa.

—O que? — franziu o cenho.

—Que Dennis nos acuse de ser amantes — murmurou ao ouvido — tenho desejo de gritar aos quatro cantos e acrescentar que você é um amante maravilhoso.

—Mamãe se escandalizaria — mordiscou-lhe a orelha — não me educou para que seduzisse as mulheres em sua sala.

—Ai, Deus! — levantou a cabeça e olhou ao seu redor.

—É terrível, não é mesmo? — sorriu ao ver a roupa jogada pelo chão. Mas foi muito bom e nosso casamento também será.

—Não está obrigado a se casar comigo.

—Desejo estar ao seu lado, dia e noite. O que acabamos de compartilhar dará colorido a nossas vidas. Os amantes são muitos transparentes e aposto o que quiser de que ao nos ver todos na casa, exceto Becky, saberão o que ocorreu.

—Ai, não. — gemeu.

—Não se envergonhe — voltou a afastar seu cabelo — Não fica bem se envergonhar de algo tão belo. Agora é minha mulher, minha esposa. Cuidarei de você e de Becky enquanto viver. E nós dois faremos um bom lar.

—Que adote uma família já feita é muita imposição — murmurou.

—Eu gosto dessa família – riu — Becky tem muito espírito. Gostarei muito de ser seu pai igual ao outros filhos que tenhamos – levantou o rosto dela — quer ter filhos comigo?

Maggie abriu muito os olhos, embora parecesse natural que falassem desse assunto. A ideia não lhe agradou e não soube por que. Ela não o amava, só gostava e lhe atraía. Ele tampouco a amava, a desejava. Embora pela forma em que se uniram, devia ser amor.

—Sim, quero ser a mãe dos seus filhos.

Falou com tanta solenidade que Gabe se estremeceu. O movimento involuntário de seu corpo o emocionou e intrigou. O assunto saía das mãos. Ele a tinha desejado e a havia possuído, mas continuava desejando-a. Além disso, fizera a pergunta sem pensar, embora se emocionasse ao imaginar que a faria conceber. O coração acelerou.

Maggie notou, mas não compreendeu a reação dele e o olhou com curiosidade.

—O que acontece?

—Pensava em ver você grávida – explicou – isso me excita, você esta tomando pílula? —Ela sorriu encantada, porque o que acabava de ouvir era muito bom sinal.                      

—Não quis dizer que deseje formar uma família nesta mesma noite — Afogou a risada ao sentir que ela tremia.

— Devemos nos casar e acostumar a vivermos juntos, assim Becky se adaptará melhor a situação se não tiver que competir logo com um irmãozinho.

—Quando criança, você era como ela? — perguntou maravilhada pela perspicácia dele – tímido, solitário e triste.

—Sim — apertou a mandíbula.

— Perguntei por simples curiosidade.

—Não estou acostumado a compartilhar, sobre tudo minhas emoções — suspirou e lhe beijou a palma da mão — me dê tempo porque até agora estive muito só e levei uma vida muito solitária.

—Eu também — confessou e acariciou o corpo dele com os olhos – nunca vi Dennis nu— comentou atraída.

—Eu adoro seu rubor— a abraçou — Sentirei saudades

—Não tem uma cura para isso? —brincou

Gabe lhe deu um longo beijo e quando afastou a boca, a expressão em seu rosto era muito clara.

— Adoraria amar você de novo, mas acho que não seria uma boa ideia. —Ela ficou olhando a espera que lhe explicasse a razão, porque queria que isso acontecesse. Tocou-lhe a boca com o dedo.

— Só ia acariciar você, mas não pude me controlar. Queria que quando acontecesse fosse perfeito. Sinto-me como se tivesse seduzido uma virgem – estudou seus olhos — Mas será apenas desta vez, Margaret, não repetirei até que esteja de aliança. E acredito que, no fundo, você concorde.

Era verdade e Maggie o olhou com novos olhos. Via tanto que não emergia a superfície!

Ele pareceu ler seus pensamentos.

— Gostei muito do que compartilhamos — murmurou – E eu gostaria que ocorresse todas as noites depois do casamento.

— Não tem mais medo? — inclinou-se para beijá-la na boca com reverência.

—Como posso ter medo depois... disto? — moveu a cabeça

—Nem sempre serei tão calmo — comentou tranquilo — Passado um tempo vou querer mais. Desejarei algo mais amalucado e febril do que compartilhamos esta noite. Hoje foi em seu benefício e gostei muito, não me interprete mal, mas não é o que eu gosto.

—O que você gosta? — perguntou ruborizada.

—Direi quando estivermos casados.

Maggie voltou a sentir um pouco de temor porque se perguntou se Gabe seria exigente, cruel ou desejaria feri-la.

—Maldição! – ele trovejou soltando faíscas pelos olhos – Não será assim, falo de fazer amor e não de uma tortura oriental.

—Sinto muito, mas sei muito pouco — mordeu o lábio.

—Compreendo e também sinto, mas a desejo muito!

A fez voltar-se e, sem prestar atenção à pontada de dor no braço, a sentou em seu colo com o rosto em frente ao seu. — Me toque — murmurou rouco.

—Não devo...

—Deve sim — levantou-a e ficou em pé frustrado para pegar sua roupa.

Maggie o observou enquanto ela também se vestia.

—Eu gosto de ver você — comentou.

—Estou de mau humor – grunhiu — Não confie muito em sua sorte.

—Por quê? O que faria? — brincou sorrindo.

—Realmente deseja saber? — inclinou-se, com a camisa aberta e pegou os braços dela.

Para ela, ele estava muito sensual com o cabelo sobre a testa, a boca torcida e os olhos entreabertos.

— Sim — desafiou.

—Deitaria você no tapete — fingiu estar furioso — Você ficaria nua e a possuiria até que pedisse socorro.

—Demonstre isso, ou será na próxima vez – sorriu com malicia.

Gabe conteve o fôlego porque viu potencial nela. Havia paixão nela, mas a tinham esmagado. Ele poderia revivê-la e a faria arder de desejo.

—Assim — murmurou e a beijou na boca com os lábios entreabertos E a incitou com movimentos da língua e Maggie gemeu.

— Mas será na próxima vez — sorriu com malícia – ligaremos o radio para afogar seus gritos, você é escandalosa.

—Se sou é por sua culpa — respondeu rindo. Tinha o cabelo alvoroçado, não restava em seu rosto o menor rastro, de maquiagem, mas continuava sendo um prato muito apetecível. –Você me fez coisas muito emocionantes.

—Foi mesmo? — perguntou curioso.

—Me deu muito prazer — observou o peito sensual— foi maravilhoso, adorei cada instante, não acreditava que pudesse ser tão bom.

—Deus, seu ex-marido é um caso excepcional! —exclamou.

—Foi emocionalmente e continua sendo. Sinto pena de sua mulher — levantou a cabeça— Quando se inteirar de que Becky está aqui se enfurecerá e utilizará qualquer artimanha que pensar. E embora antes não houvesse nada entre nós, teve ciúmes de você. Meus pais o adoravam e falavam de você para ele.

—Eu também gostava deles. Deixe que eu me preocupe com o animal de seu ex-marido — levantou-a e a abraçou – limite-se a se preocupar comigo.

—Desejo que voltemos a nos amar — com paixão rodeou seu pescoço — Quero te dar tanto prazer como o que você me deu.

—Você já me deu bastante — comentou — Não se deu conta?

—Você ficou muito calado — ruborizou-se.

—Sempre estou — respondeu baixo — Mas isso não significa que não tenha sentido, embora você tenha chegado antes ao clímax — acrescentou amável — Imagino que não estava com a claridade suficiente na mente para notar o que me acontecia. Senti que seu corpo se estremecia...

—Chega — apertou-se mais a ele.

—Não deveria se envergonhar de falar disto — murmurou ao ouvido enquanto que alisava as costas do vestido.

—Vou me acostumar, mas, no momento, é algo novo para mim.

—É verdade — parecia que tudo era novo para ela.

Gabe fechou as pálpebras e apoiou a bochecha no cabelo dela que cheirava a flores, igual a ela toda. O corpo dela era suave e quente e ele voltou a excitar-se.

Maggie riu encantada ao dar-se conta.

—É uma bruxa! — exclamou rindo — Acreditava que fosse muito tímida para notar isso.

—Sim, acanhamento não insensibilidade — brincou e se aproximou mais — Gabe, eu adoro que isto aconteça e estou contente por ser mulher.

—Será melhor que nos separemos para que não volte a perder a cabeça — acreditava que seu peito fosse explodir. Levantou a cabeça e a olhou nos olhos – Se a obriguei a isto, sinto muito. Desejo me casar com você e não tinha premeditado te pressionar.

—Não me jogou em um canto, me deitou no sofá.

—Chega. — deu-lhe um beliscão.

—Sou uma garota bem grandinha e poderia me negar — desafiou com ousadia.

—Frescura, você estava meio louca. Eu devi...

—Frescura? —repetiu.

—Devemos pensar em Becky — desviou a cabeça — Não deve ouvir meu vocabulário habitual.

Maggie riu encantada. Gabe fazia que o sol brilhasse e a fazia sentir-se completa, livre e feliz.

—Ai, Gabe — murmurou e o abraçou — É maravilhoso.

Por instinto, Gabe sabia que, igual à Becky, Maggie evitava qualquer contato físico a maioria das vezes e se enterneceu ao compreender que ela tinha podido dar o primeiro passo.

—Me alegro de que pense assim — murmurou junto ao cabelo dela.

O alisou e admirou sua sedosidade — Nunca imaginei que tivesse esta textura — comentou distraído ao lhe esfregar a bochecha com o nariz.

—Quando você foi embora invadia todos meus sonhos. Então, tive que compreender...

— O que? — murmurou flutuando nas nuvens.

— Eu não quis falar o que pensava. Por isso procurei ignorar e tirá-la de minha mente, porque eu era muito mais velho que você, que era apenas uma adolescente. Depois apareceu outra pessoa... Nada de recordar o passado.

—Gabe foi igual com ela? —Dirigiu o olhar para a janela.

—Como?

—A mulher que amou.

Ele respirou fundo e titubeou. Não desejava falar do assunto.

—Não lhe deveria perguntar isso. —se deu conta de que lhe havia feito uma pergunta muito pessoal — Não tenho direito a fazer esse tipo de perguntas.

—Acha mesmo isso, apesar da intimidade que compartilhamos? — Ele acariciou-lhe o rosto com os dedos. – Maggie, nunca foi assim com ninguém, nem sequer com ela.

Maggie tinha florescido diante dele e seu rosto estava radiante.

Gabe não ficou nervoso e o surpreendeu sua atitude com ela. Inclinou-se para dar-lhe um beijo apaixonado.

—Vá se deitar. Falaremos pela manhã, em plena luz do sol, você é muito sedutora de noite e já cometemos um grave engano graças a minha falta de controle.  

—Foi maravilhoso — murmurou.

—Eu também achei — soltou-a – Vá agora, por favor, porque não posso me controlar se continuar me olhando assim.

—A gente pode ter ilusões, não? — suspirou de forma teatral e o olhou como um cãozinho desejoso de carinho.

—Boa noite.

Maggie não se dava conta de sua mudança de atitude, mas Gabe notou muito bem e seus olhos começaram a brilhar com uma nova luz. Sentiu a delícia da posse e foi agradável.

 

Becky se levantou de madrugada e saltou sobre a cama de sua mãe com o cachorrinho nos braços.

—Está acordada, mamãe? O sol já saiu! —exclamou contente.

—Diga a ele que se esconda — murmurou e cobriu a cabeça com o travesseiro.

—Tem que se levantar! — insistiu a menina.

—Por quê? — perguntou em baixo do travesseiro.

—Porque vamos pescar — respondeu uma voz masculina.

Tiraram os lençóis e o travesseiro e Maggie ficou indefesa. Olhou o rosto sorridente de Gabe.

—Pescar?

Gabe usava uma calça jeans e uma camisa xadrez. Tinha um aspecto fresco, descansado e vibrante. Mas Maggie se sentia um trapo.

—Sim, pescar — ele respondeu — Querida, vá até a cozinha e peça a Jennie que todos queremos um bom café da manhã e diga a sua avó que vamos sair antes que ela se levantar. De acordo?

—Muito bem — Becky saiu da cama com o cachorrinho.

—Estou muito cansada — gemeu Maggie.

Mas ao despertar bem compreendeu que não só estava cansada, mas também dolorida. Ruborizou-se ao recordar o motivo.

—É lógico – ele murmurou sorrindo com malícia. Sentou-se na beira da cama e se inclinou sobre ela – Você é muito bela quando acorda — murmurou enquanto observava o cabelo despenteado e o rosto avermelhado.

—Você também — respondeu admirada com os grandes olhos verdes bem abertos — bom dia.

—Bom dia, meu raio de sol — brincou e se inclinou para a boca dela.

Havia uma ternura nova nele. Maggie a notou encantada e aproximou o peito dele de seus seios.

—Isto é perigoso — murmurou junto a seus lábios – Você está quase nua e posso sentir seu corpo através do tecido.

—Eu também sinto o seu — pressionou a mão sobre o musculoso e amplo peito — Oxalá...

—O que? — perguntou amável.

—Oxalá pudéssemos passar umas horas a sós em uma ilha deserta – respondeu — Onde ninguém nos visse nem escutasse para que pudéssemos repetir o que aconteceu ontem à noite.

—Por aqui não há ilhas desertas — sorriu e afastou o cabelo do rosto dela – Embora, eu também gostasse disso porque é doce te amar.

O corpo dela se estremeceu por causa de suas palavras e se deu conta de que não tinha sido só luxúria. O sexo era uma união que proporcionava prazer momentâneo e eles tinham compartilhado algo mais profundo, algo quase... reverente.

Observou atentamente seus olhos azuis e viu as pequenas rugas e as longas pestanas. As sobrancelhas eram escuras e deslizou a ponta de um dedo sobre elas. Sentiu-se embriagada pelo contato e ele pareceu não se incomodar. Limitou-se a fechar as pálpebras.

—Anda, me explore, se é isso o que deseja — murmurou.

Maggie fez isso e achou emocionante deslizar os dedos sobre as bochechas, o ponto torcido onde estava o nariz quebrado, a esculpida linha da boca e o teimoso queixo. Gabe não era bonito, mas era atraente e sensual, que era mais importante. Suspirando, considerou que o corpo dele era magnífico.

—Eu gosto disto – ele murmurou quando lhe acariciou o pescoço — É uma delícia sentir seus dedos.

—Eu gosto de tocar em você — confessou e ele se maravilhou que fosse verdade — Nunca senti vontade de tocar em ninguém e é estranho que não possa deixar de fazer isso com você.

—Pelo visto, fala a sério – a olhou nos olhos.

—Você duvida? — sustentou-lhe o olhar — Mas não tem por que preocupar-se porque não me apaixonarei loucamente por você até o extremo de me transformar em sua sombra.

—Que alívio! – brincou — Odiaria o fato de que uma mulher apaixonada estivesse sempre colada em mim.

Maggie abaixou os olhos para o peito dele para que não visse quanto a tinha ferido aquele descuidado comentário.

—Como acabo de dizer, não há perigo de que isso aconteça — assegurou.

Gabe não soube por que o comentário dela o tinha irritado. Desejava que o amasse? Afastou-se levemente perturbado.

Maggie parecia triste, seu rosto tinha perdido a cor animada e estava tensa.

—O que foi? – perguntou, levantando o queixo dela para olhá-la de frente.

—Nada, mas já não sei se devemos nos casar — respondeu.

—É porque você não gosta de mim?

—Sim gosto e muito! — respondeu entusiasmada.

—Nós temos uma atração física muito bela e uma relação duradoura. Por que não devemos nos casar?

Maggie não conseguiu pensar em nenhum motivo para não fazer isso. Existia a possibilidade e esperança de que o amor chegasse com o tempo. Suspirou sem deixar de olhar para ele e pensando que era muito másculo e atraente. Gabe seria dela e nenhuma mulher o conheceria como ela. Seria seu companheiro. Teve desejo de possuí-lo, de que ele usasse uma aliança para que todos soubessem que pertencia a ela. Surpreendeu-se por seus atrevidos pensamentos. Observou o rosto duro e compreendeu que o amava há muito tempo.

Sentiu-se emocionada até a ponta dos pés. Na verdade, o amava com delírio porque do contrário não se entregaria como tinha feito na noite anterior, quando ainda tinha as cicatrizes que tinham ficado de seu primeiro casamento. Por que não tinha se dado conta disso antes? Uma união somente física não teria sido tão profunda.

—Está preocupada – ele comentou intrigado.

—Não! — sentou-se, afastou o cabelo do rosto e se obrigou a sorrir — Não estou, mas não sei se me lembrarei de como se pesca.

—Ensinarei isso e muito mais — prometeu e se inclinou para encostar seus lábios ao dela.

Maggie conteve o fôlego para saborear a carícia, gemeu e abriu a boca.

Gabe também deixou de respirar pela inesperada submissão dela. Seu coração começou a pulsar com violência e levantou a cabeça para observá-la.

Deslizou a alça da camisola e descobriu um formoso seio.

Maggie abriu mais os lábios, inclinou a cabeça para trás e excitada, observou e o desejou com os olhos.

—Me acaricie — murmurou rouca.

O coração dele acelerou, porque não tinha imaginado tanta sensualidade nela. Deslizou os dedos pelo ombro, o braço, para as costelas e para cima para incitá-la. Notou que o mamilo se endurecia e que ela respirava com dificuldade.

—Deseja minhas mãos ou minha boca? — murmurou junto aos lábios dela.

—O que for — necessitada, agarrou-se aos ombros dele — onde for — murmurou com voz rouca.

—Só um segundo — inclinou-se devagar — Neste momento não poderemos continuar.

Moldou-lhe o seio e saboreou o doce mamilo antes de excitá-lo com os lábios, língua e dentes. Maggie gemeu e o gemido o excitou de uma forma intolerável, mas era preciso controlar-se... Ele a deitou sobre os travesseiros e admirou todo seu corpo, com o rosto cheio de paixão e mantendo-a na mesma postura com as mãos.

—Continue – ela murmurou com os olhos bem abertos dando a entender que desejava a posse – Faça isso, eu o desafio.

Gabe se estremeceu por sua tentativa de se controlar. Maggie era uma sereia que o excitava com os olhos e o corpo e lhe prometia a glória.

Mas Becky voltaria a qualquer momento.

—Becky pode nos ver. — murmurou e soltou os punhos dela.

Maggie piscou como se não estivesse lúcida. Logo, conteve a respiração e o observou.

—Ah — compreendeu.

—Exato, ah — Gabe se levantou e a puxou, um pouco divertido, mas frustrado, igual a ela — Não fui o único que se deixou levar por seus sentimentos — insinuou com malícia – O que quer que eu faça, te amar aqui com a porta totalmente aberta?

Maggie se ruborizou. Gabe falou como se a posse tivesse sido uma aventura passageira e o odiou por isso. Não levou em conta que ele estava frustrado, só pensou que a tinha ferido.

—Sinto muito – tentou falar com indiferença — Havia esquecido, será melhor me vestir.

Gabe a soltou a contra gosto e viu como subia a alça da camisola. A vivacidade dela tinha desaparecido quando se dirigiu ao armário para tirar uma calça jeans e uma camisa verde de flores.

—Não se esconda dentro de uma concha — murmurou ele ficando e pé – Eu avisei, estou frustrado e você me surpreendeu.

Ela também se surpreendeu, mas acabava de compreender que o amava. Como aceitar que ele só ia se casar com ela pelo bem de Becky? Foi isso que ele havia dito. A atração física era só algo secundário porque ele não a amava, Gabe não desejava amar ninguém.

Obrigou-se a se mostrar indiferente e sorrir.

—Você também me surpreendeu — confessou com tom superficial.

—Não quis ferir seus sentimentos.

—Não o feriu — respondeu imediatamente – Vou me vestir, aonde vamos?

—Ao lago – respondeu – Ele esta repleto de peixes.

—Se usar lagartixas de verão como isca de peixe terá que mudar por vermes porque eu não gosto de lagartixas.

—Muito bem.

Maggie se voltou com a roupa nas mãos para olhar para ele e compreendeu a mensagem.

—irei preparar os arranjos – parou na porta e se voltou — quando estivermos casados não sairei do quarto. Os casais não devem se envergonhar de se vestir ou despir na presença do outro.

—Estou de acordo — aceitou tranquila — mas ainda não estamos casados.

—Nos casaremos na sexta-feira — declarou e saiu sem dizer uma palavra

Nesse momento Maggie se inteirou da data do casamento. Enquanto tomavam o café da manhã, Maggie ficou sabendo que pescariam com varas de cana em vez de varas de pescar carretel.

—O que é isto? — perguntou olhando o pau que Gabe oferecia. — Onde está a segurança? – perguntou olhando um gancho, uma corda e uma caixa de vermes.

—Pegue, esta corda aguenta quinze quilos.

Ela aceitou os vermes e o pau e ficou olhando.

—Este rancho vale uma fortuna e você não pode se permitir o luxo de comprar vara com carretel.

—Não faço isso por economia – ele explicou.

—Com o carretel é feito o fio de algodão — intercalou Becky dando-se importância – aprendi isso na escola.

—Esta enganada, querida, não é com carretel e sim com a roca — explicou Maggie — O carretel serve para que a corda não se solte.

—Garota de cidade é inteligente! — declarou Gabe com tom zombador— o que foi? Não quer ir pescar sem ter um arranjo caro? Suponho que também esteja acostumada às iscas de peixe aromáticas e aos artefatos eletrônicos que atraem os pobres peixes

—Não é isso! – gritou – eu também posso pescar com um pau.

—Demonstre então — e cruzou os braços.

— É justamente isso que farei!

Pegou o pau, saiu da casa e empreendeu o caminho para o lago, situado a poucos quilômetros de distância. Becky ria enquanto andava com o pau sobre o ombro, ao lado de Gabe, seguindo sua mãe.

—Mamãe ficou nervosa — informou Becky

—Percebi — Gabe sorriu ao ver as costas erguida de Maggie

—Será que ela sabe mesmo pescar?

—Não sei, mas acredito que sim. Logo saberemos não é mesmo, querida?

Ficaram sentados na beira do lago durante mais de duas horas. Quando voltaram para a casa, Becky levava um peixe e Gabe também. Maggie só molhou as calças e tinha quebrado a corda.

—Pobre, mamãe, sinto que não tenha pescado — Becky suspirou.

—Não tinha uma elegante vara de pescar — explicou Gabe muito sério.

Maggie se dispôs a dar um chute no traseiro dele, mas caiu sentada porque ele esquivou do golpe. A expressão dela foi cômica e ele sorriu ao lhe oferecer a mão para ajudá-la a ficar de pé.

—Da próxima vez, tente com menos ímpeto — murmurou contente por vê-la tão vivaz — Agora vai ser difícil para você montar – olhou para ela, fingindo inocência.

Maggie se ruborizou pela insinuação e começou a andar ao lado de Becky para ignorá-lo.

—Isto é muito divertido — comentou Becky e levantou seu peixe — parecemos uma família e me faz muito feliz a ideia de ficar aqui.

—Eu também — disse Gabe olhando para a menina — É muito agradável ter uma filha.

Maggie se sentiu contente, mas conhecia bem a Dennis e estava assustada. Embora Gabe fosse formidável, não poderia fazer grande coisa contra Dennis porque este era muito trapaceiro.

Estava preocupada porque não encontrava solução para o problema. Pensou em comentar sobre isso com Gabe, mas sabia que ele não faria conta. Nem sequer levava a sério o processo legal pela custódia, porque estava seguro de que ela ganharia. Maggie não estava tão segura e temia. Becky era todo seu mundo e faria qualquer coisa para que Dennis não se aproveitasse da menina para apoderar-se de suas ações.

Gabe pediu hora para as análises de sangue de Maggie e dele para o dia seguinte e depois de sair do laboratório solicitaram a permissão no tribunal civil. Com isso terminado, iniciou-se a espera.

Janet ajudou a convidar as pessoas por telefone porque não havia tempo para fazer isso, de uma forma mais formal.

—Tudo sairá bem, querida – assegurou a Maggie – convidaremos alguns amigos de Houston: John Durango e sua mulher, Madeline. Eles estão a quatro anos casados e têm dois meninos. A princípio acreditavam que fossem gêmeos idênticos, mas não se parecem em nada.

—Isso possivelmente seja uma bênção — comentou Maggie.

—Estou de acordo — Janet a observou – você quer ter filhos?

—Sim — respondeu sorrindo.

—Que alegria! — exclamou e seguiu fazendo as ligações.

—O que os Durango fazem? – perguntou — Maggie a Gabriel no dia seguinte antes que ele fosse continuar marcando os animais.

—Fazer? — ficou olhando — John é dono de uma companhia petroleira.

—Me desculpe por perguntar, mas não sou perita em ler pensamentos — murmurou irritada.

—E Madeline escreve novelas de mistério. De uma delas fizeram uma minissérie para a televisão — acrescentou.

—São meus livros favoritos! Verdade que conhece a autora?

—Sim, tem muito talento e sensibilidade, dedica-se a escrever, mas isso não influi em sua personalidade. Você perceberá o que estou dizendo quando a conhecer — apertou os lábios — Ela jogou um bolo no rosto de John e ainda lhe deu um banho com espaguetes; o deixou em um caminho vicinal com um carro avariado e ele teve sorte de sobreviver até que ela aceitou casar-se com ele.

—Pelo visto, foi um cortejo e tanto – ela comentou.

—Foi porque a deixou grávida. – murmurou — Ela tentou fugir porque acreditava que ele queria casar-se com ela só por responsabilidade.

—E ele fez por isso? — olhou de frente para ele.

—John já a amava há anos, mas ela o ignorava.

—Que final maravilhoso!

—Eles pensam o mesmo. Ela gostava de Donald, o irmão de John, mas com muito tato Donald foi para a França onde se casou com uma artista bonita e jovem. Têm uma filha – afastou o cabelo da testa dela — Procure não ficar no sol, para proteger sua pele.

—Olhe só quem fala — Maggie fez uma careta.

—Minha pele parece couro – sorriu – nem me queimo mais.

Maggie quis dar um beijo nele, mas recordou que Gabe não desejava seu amor. Não devia esquecer que iriam se casar só pela Becky.

—Verei você mais tarde – desarrumou carinhosamente os cabelos dela, antes de se afastar.

Ela adorava vê-lo andar porque fazia com vivacidade, segurança e graça. Era um homem muito viril e delicioso.

Maggie se voltou suspirando. Devia deixar de amá-lo com os olhos, para que ele não notasse, porque não era isso o que desejava dela.

No transcurso dos dias seguintes para Maggie pareceu que Gabe só desejava companheirismo. Maggie estava muito nervosa na véspera do casamento, que seria celebrado na igreja próxima. Gabe não tinha se aproximado dela, desde o dia em que foram pescar com Becky. Mostrava-se afetuoso e cortês, nada mais.

—Quando chegarão os Durango? –perguntou a ele depois do jantar.

—Pela manhã – informou — Virão e irão ao mesmo dia. John se encontra em meio de uma importante operação financeira. Sabe que o petróleo baixou muito de preço e teve que diversificar seus negócios.

—Que pena! – murmurou e deu um gole no café, sem prestar atenção ao olhar tranquilo que ele lhe dirigia.

—O que faria se algum dia eu perdesse tudo o que tenho? – perguntou de repente, apoiado no encosto da cadeira.

—Procuraria um trabalho, é claro — arqueou as sobrancelhas.

—Sempre sai com algo inesperado — riu e moveu a cabeça — procuraria um trabalho, mas, me abandonaria?

—Não, por que teria que fazer isso?

—Esqueça. Acho que estava pensando em voz alta — terminou de tomar o café e ficou em pé. – É melhor que vá dormir agora, porque amanhã será um dia muito agitado. Esta com os anéis?

Gabe os tinha entregado no dia anterior, um anel tinha um pequeno brilhante e o outro era uma aliança de ouro. Não eram chamativos e Maggie teve uma decepção porque Gabe se limitou a entregar o estojo e não tinha pedido que provasse o seu.

—Estou com eles — respondeu com tom indiferente.

—Espero que não tenha se arrependido, Maggie – parou junto à cadeira que ela ocupava.

—Não, e você?

—Ai, não, por que pergunta?

—Por curiosidade, porque parece que não... — titubeou e levantou a cabeça para olhar para ele. —Parece que não me deseja mais.

—Por que diz isso? — perguntou meio divertido e meio enfadado.

Maggie ficou envergonhada porque ele a olhava com expressão de adulto e vagamente superior. O que deveria dizer? Que como ele já não a cortejava ela pensava que tinha se arrependido de ter proposto o casamento?

—Por quê? – ele repetiu.

—Você não me toca mais — respondeu com o rosto tenso.

—Não deixei de fazer isso — disse.

—Não igual antes – ela murmurou.

—Não tem se mostrado muito disposta e pensei que não me desejasse.

—Desde quando minha atitude o inibiu? — levantou as mãos — Não me encurralou contra as árvores quando acabava de chegar ao rancho?

Gabe arqueou as sobrancelhas porque Maggie zangada ficava muito tentadora. Levantou o queixo e apertou os lábios enquanto a observava.

—Parece frustrada.

—Esta enganado — soltou o guardanapo e ficou em pé — Irei para a cama.

—A verdade é que ainda é cedo — comentou depois de consultar seu relógio.

—Preciso descansar para estar alerta amanhã — respondeu e se voltou.

—Maggie.

—O que foi? – parou dando as costas para ele.

Gabe se aproximou dela e embora não a tocasse, Maggie percebeu a calidez que emanava dele.

—Se me deseja, só tem que me dizer. Mas, nem sequer é necessário me dizer basta que me paquere, sorria, flerte comigo... Os homens necessitam de um pouco de estímulo, não adivinhamos o pensamento.

—Fiz de tudo, menos me despir na sua frente — falou entre dentes.

—Esta enganada. Ficou afastada de mim durante toda a semana. Não fui eu quem a evitou.

Maggie respirou fundo porque ele tinha razão, ela não havia se dado conta.

—Sinto muito, Gabe — murmurou— mas estou preocupada por causa de Dennis e fiquei a pensar se será certo nos casar... Muitas coisas têm me preocupado.

—Deseja falar sobre isso? — perguntou amável.

Maggie assentiu sem voltar-se.

—Então, vamos fazer isso. O gado sobreviverá sem mim durante um momento – segurou a mão dela e a conduziu ao escritório, onde fechou a porta – não vou trancar a porta – soltou a mão – Se sentirá mais segura assim?

—Não tenho medo de você — explicou, surpreendida de que ele acreditasse — não se parece em nada com Dennis.

—Suponho que isso é um elogio — murmurou sem tirar os olhos dela e sentindo uma corrente elétrica até a ponta dos pés.

Riu porque isso o tinha perturbado e se voltou para sentar-se na beira da mesa e acender um cigarro.

Gabe tinha tomado banho para o jantar, mas não tinha trocado de roupa. Parecia um homem do oeste e Maggie desejou acariciar seus cabelos.

Gabe também a observava.

—Cada dia que passa se parece mais com sua mãe, que também era muito bonita — comentou.

—Não sou bonita— murmurou avermelhada.

—Para mim é, eu adoro seu corpo.

—Obrigada. — sentou-se no sofá de couro.

—Sobre o que deseja falar?

—O que acontecerá se perdemos o julgamento?

—Não perderemos! — exclamou impaciente. —não permitirei que ele fique com Becky.

—Teremos que obedecer se o juiz der a custódia a ele.

—Não dará esse veredicto — levou o cigarro aos lábios.

—Não posso deixar de me preocupar – suspirou — Dennis nos tratou muito mal e nós duas estamos muito preocupadas.

—Eu não estou – informou — tudo está controlado e não preciso pensar mais no assunto.

—Esta certo, diz isso para mim, igual fala com os outros — ficou de pé e falou com fúria — É o Cavaleiro solitário, nada o preocupa porque pensa que pode vencer todos.

—Ao menos tento — aceitou sorrindo – Venha aqui, mulher apetecível. Está frustrada e tenho o remédio adequado.

—Qual? — perguntou o olhando com frieza.

—Essa doeu — arqueou as sobrancelhas — Parece que deseja morder.

—Odeio os homens — murmurou.

—Supunha que cedo ou tarde isso viria à superfície — apagou o cigarro, lenta e premeditadamente, levantou-se da mesa e se colocou em uma postura que acelerou os batimentos do coração dela.

—Não me toque — desafiou e deu um passo para trás — Não estou de humor para ser subjugada por um macho que se acha superior.

—Acontece justamente o contrário — sorriu com malícia e se aproximou dela.

Ela retrocedeu para o sofá, que acabava de abandonar.

—Deseja... Que demonstre que continuo desejando você.

—Não vou rogar para que preste atenção em mim!

—Tampouco eu permitiria isso — respondeu tranquilo — A gente não deve se colocar nessa posição – parou quando ela chegou ao sofá, a observou e começou a desabotoar a camisa com movimentos indolentes.

—O que esta fazendo? — perguntou quase sem fôlego.

—Ficando confortável – murmurou – Deite-se, Maggie.

—Você disse que não...

—E não faremos nada – prometeu — Mas penso que esta precisando ser tranquilizada e possivelmente eu precise do mesmo. O casamento é um passo muito importante.

—Sei.

—Vamos, se deite — pediu.

A segurou pela cintura e a deitou no amplo sofá antes de tirar a camisa.

Ao ver o amplo, moreno e peludo peito dele, Maggie recordou o que sentia quando o acariciava e quando o aproximava de seus seios. O prazer da lembrança à fez entreabrir os lábios.

Gabe notou e algo dentro dele começou a vibrar de uma forma deliciosa. Os olhos dela revelavam sensualidade e se deliciou ao ver que ela o devorava com o olhar. Os dois desejavam se acariciar.

—Venha, me toque — ele murmurou.

Maggie não precisou que ele repetisse o convite. Esticou-se, fixou os olhos nele e apoiou os dedos no peito. Conteve o fôlego ao sentir os músculos em baixo do pelo e a respiração entrecortada dele.

—Incita-me quando faz isto — murmurou em cima da cabeça dela — acho que não te dá conta do que revelam seus olhos quando me vê assim.

—Seu peito é muito sensual — murmurou.

—E você é muito doce.

Acariciou-lhe os mamilos através da camisa.

—Você gostaria de se deitar junto a mim sem a camisa, Maggie? — perguntou ao ouvido — Não deseja que seus seios sintam meu peito?

Maggie se estremeceu ante a sugestão. Desejava fazer isso, mas, por que temia aceitar?

Gabe riu como se tivesse adivinhado o pensamento.

—Desabotoe. —murmurou ao mesmo tempo em que deslizava as mãos até a cintura dela — será mais excitante se permitir que eu os veja.

Maggie se estremeceu ao ver o impacto que causou nos olhos dele ao ver o tecido sedoso se deslizando por seus ombros. Como não usava sutiã, ele pôde ver os firmes e rosados seios, um pouco inchados pela paixão.

—Assim? — murmurou porque precisava de seu apoio. Sentia-se entorpecida, graças a horrível experiência que tinha tido com Dennis. Mas Gabe não ria dela, acariciava-a com ternura.

—Não sei por que, mas sempre gostei das mulheres com seios pequenos como você —murmurou extasiado — É perfeita.

Maggie sentiu que se enchia, não só por orgulho, mas também por desejo. Arqueou um pouco as costas devido à voz e ao contato dele.

Aproximou-se mais para que ela sentisse sua excitação e rodeou a cintura com as duas mãos.

— Sentirei e absorverei você.

Fez isso sem deixar de observar onde se ocultava a carne rosada no escuro e denso véu de seu peito.

—O que sente? – ele murmurou.

—Algo delicioso — respondeu e arqueou as costas com a cabeça inclinada para ficar colada a ele.

—É isto o que deseja?

—Sim... — suspirou e segurou a cabeça dele — um pouco mais para baixo.

—Me diz onde — brincou com carinho.

—Sabe.

—fale ou não farei.

—Fará — riu e sentiu que ele também ria.

Logo, a úmida e cálida boca dele se deslizou por um braço, as costelas, a cintura e parou ao redor dos seios.

Maggie respirava com dificuldade. Sentia que se queimava e gemeu.

—Se deite para que possa fazer melhor. —a ajudou a se acomodar. Ajoelhou-se junto a ela e apoiou uma mão nas costas e a outra na cabeça. Depois, explorou o corpo com a boca. Ele fazia coisas com os lábios que ela nunca tinha experimentado, embora tivesse lido sobre isso. Gabe a estremecia, a queimava; exigia com a boca e respirava com a mesma intensidade que ela.

—Maggie — murmurou ao levantar-se um pouco para olhá-la nos olhos antes de unir o corpo ao dela.

Maggie se estremeceu porque Gabe estava extremamente excitado.

—Vamos F...? — perguntou necessitada porque se ele respondesse afirmativamente, o aceitaria... desejava-o com toda a alma.

—Não — respondeu rouco — Não antes de nos casarmos, agora só desejo sentir você junto a mim.

—Deseja-me — murmurou com ousadia — Sei.

—Seria difícil que não se desse conta. — aceitou divertido. Explorou o nariz e o queixo com a boca — Abra os lábios...

Ela obedeceu e encantada, aceitou o beijo sensual. Maggie se agarrou a ele e moveu a boca com cego prazer. Gabe era todo um homem e pertencia a ela. Ele era todo o mundo e tudo o que havia no mundo.

—Quero que nos amemos — moveu-se debaixo dele.

—Desejo o mesmo e por isso me mantive afastado de você – gemeu — Bobinha, não foi por falta de desejo, foi justamente o contrário. Não dormi em toda a semana e para que o corpo não doesse trabalhei muito.

—Meu Deus! — murmurou tremendo e o olhando de frente. —não sabia... Isso se deve ao fato de nunca ter sido desejada. Fui tomada a força com crueldade.

—Não posso acreditar que exista algum homem que não a deseje, Margaret — murmurou olhando o suave seio que segurava com uma mão. O acariciou com o polegar e Maggie suspirou — Você gosta?

—É delicioso... — riu.

—Amanhã à noite farei tudo o que desejar — aproximou o quadril do dela sem deixar de observá-la — Não dormiremos e quando por fim acontecer estaremos abraçados sem que nada interfira.

—Ai, Gabriel... Quase não posso esperar — conteve o lamento ao ver a paixão refletida nos olhos dele.

—Vista sua camisa — gemeu e, a contra gosto, ficou em pé; logo, olhou-a e se estremeceu.

— Será a causa de minha morte, Maggie.

—Espero que não, — murmurou se incorporando para fechar a camisa — Não pode morrer antes de nossa noite de núpcias.

Gabe voltou a gemer e vestiu a camisa que logo colocou dentro da calça. Quando terminou de se vestir, Maggie estava junto à porta.

—Se deseja ter um marido, me faça o favor de ir se deitar. — se aproximou dela.

—Desejo você — respondeu sorrindo com malícia — É todo um homem — acrescentou movendo os cílios.

—Por Deus, Maggie! — exclamou exasperado.

—Sei, já vou. Faça de mim uma mulher insensível e frígida... — pela primeira vez em muito tempo brincava.

E Gabe sabia. Com ternura, inclinou-se e a beijou.

—Não é frígida – murmurou — Amanhã à noite vou demonstrar isso para que esqueça suas dúvidas. Boa noite!

Sorrindo, Gabe passou por ela e Maggie, flutuando em uma nuvem, subiu para se deitar. A situação melhorava.

Na manhã seguinte, Janet e Becky se levantaram de madrugada e ajudaram Maggie a se preparar.

Usava um vestido de seda na cor marfim com saia ampla. O buque era feito de um ramo de lírios. Estava muito emocionada embora soubesse que a cerimônia seria simples.

—O que você vai usar? – tinha perguntado ao Gabe, no corredor quando o viu subir para se arrumar.

—Uma calça jeans e uma camiseta... — brincou.

—Gabriel!

—Bom, meu terno cinza — respondeu— Está bem?

—Estará muito bem com o terno cinza — respondeu sorrindo —Mas mesmo com calça jeans.

—Não está arrependida? — seus olhos se escureceram ao olhá-la.

—Não, e você? — moveu a cabeça.

Impassível, levantou sua mão e, devagar, tirou o anel de diamantes do dedo.

—O que esta fazendo? – ela perguntou.

—O que deveria ter feito quando o dei a você — respondeu, perturbado pelo sentimento de culpa.

Estava chateado por não ter feito aquilo antes, mas agora poderia consertar.

Deslizou o anel no dedo e o levou até seus lábios. Beijou-o suavemente e a olhou nos olhos.

—Assim deveria ter feito, Maggie – murmurou – Foi o que pensei em fazer, mas eu o dei como se não fosse importante.

—Não me incomodou — titubeou.

—Incomodou nós dois. Possivelmente não somos o casal mais apaixonado, mas tampouco se trata de um assunto de negócios — voltou a inclinar-se para tocar os lábios dela — vá se vestir , pequena. Logo começarão a chegar os convidados. Esta noite reiniciaremos o que deixamos sem terminar ontem à noite, em meu escritório.

—Teremos que esperar até esta noite! — sorriu.

Gabe sorriu, e piscou um olho e subiu. Maggie não tirou os olhos dele e também sorriu. Nada era como em seu primeiro casamento.

Gabe não a atemorizava; Becky o amava e ele seria o marido e pai ideal. Mas faltava algo...

Se ele pudesse amá-la...

 

Maggie não teve tempo de ficar nervosa antes da cerimônia de casamento. Os Durango tinham chegado cedo e ela teve tanto o que fazer que foi impossível pensar.

John Durango era um homem imenso, de amplos ombros, bigode e cabelos pretos, muito espessos. Seus olhos eram cinza escuro. Madeline era o contrário: esbelta, ruiva e usava o cabelo muito longo; seus olhos eram verdes pálidos e alegres. As crianças pareciam com o pai, mas tinham os olhos verdes da mãe e saltava à vista que os pais os adoravam.

—Este é Edward Donald – informou Madeline a Maggie ao apontar com a cabeça um menino gordinho vestido de marinheiro — E este outro é Cameron Miles — acrescentou apontando o outro filho, vestido com calça curta e camisa listrada — São gêmeos e graças a Deus não são idênticos.

—Quando tem tempo de escrever? — perguntou Maggie.

—Geralmente, à uma da manhã — Madeline sorriu –John e as crianças tentam me proteger durante as noites quando me impõem uma data limite de entrega e uma babá vem nos ajudar quando precisamos. E esta dando certo assim. De todo jeito passo algum tempo com os meninos. Agora escrevo menos que antes.

—Deve ser fascinante escrever — murmurou Maggie.

—É mais fascinante a maternidade — viu que Gabe apresentava a Becky a John Durango no corredor.

—A notícia do casamento de Gabe foi uma agradável surpresa — comentou Madeline enquanto observava o quadro — John tinha a idade de Gabe quando nos casamos. Agora tem quarenta e três e eu trinta e um. O tempo voa, não é mesmo?

—É claro que sim — aceitou Maggie — Becky o adora.

—É evidente — voltou-se para olhar de frente para Maggie – você o ama também.

—Gabe não sabe — comentou ruborizada e com a cabeça encurvada. —Acredita que me caso com ele pelo bem de Becky.

—Não deveria dizer a ele? —Ela perguntou intrigada. – É possível que ele a ame também.

—Ele me disse que não procura por amor — Maggie fez um movimento negativo com a cabeça. — Somos amigos e isso basta para ele.

—Eu também pensava assim – respondeu — Mas uma noite, durante uma tormenta perdi a cabeça e o aceitei em vez de me negar. Olhe o que aconteceu depois — suspirou contente olhando seus filhos. —são uma lembrança muito linda — levantou o olhar.

—Sim — Maggie riu.

—Gabe não falou muito de você, mas entendi que seu ex-marido esta causando problemas. —a observou com atenção.

—Muitos, deseja à menina ao seu lado só porque ela tem algumas ações.

—Descarado! — resmungou Madeline — Não se preocupe, Gabe se encarregará dele.

Em pé, ao lado de Gabe, na pequena igreja, Maggie repetiu os votos. Tentou não se trair chorando, mas foi difícil. Becky levava as flores e John Durango, o mais alto de todos, era o padrinho.

Janet atuou como dama de honra. Mais tarde ofereceram uma recepção no rancho e a emoção abalou os nervos de Maggie.

—Fique calma — aconselhou John Durango enquanto lhe servia um prato — Esta gente logo irá embora e você ficará sozinha com o Gabe... Edward, deixa de jogar bolo dentro da camisa de seu irmão! — gritou para um dos filhos.

—Parece que é mais difícil educar os meninos que as meninas. —comentou Maggie.

—Você acha? — sorriu de forma encantadora — Pois veja o que está fazendo sua filha.

Maggie se voltou e se horrorizou ao ver que Becky estava sentada no meio da sala com uma grande rã verde no colo de seu elegante vestido.

—Becky! — exclamou e cobriu a boca com as mãos.

—Onde diabos encontrou essa rã? — perguntou Gabe nas costas de Maggie.

—Eu dei para ela — comentou John Durango imperturbável – O bichinho estava no terraço comendo moscas e me pareceu muito sozinho. Ocorreu-me que precisava de uma amiga.

—Espere até que seus filhos tenham a idade de Becky — Gabe o olhou fingindo aborrecimento. — Conheço suas debilidades, de modo que tome cuidado.

—Não se atreveria —disse John.

—Não? — Gabe sorriu.

—Tire a rã dela – Madeline sugeriu ao seu marido.

—Seria uma crueldade – ele murmurou — olhe como a beija.

—Animal! — acusou Madeline e deu uma tapinha nele.

—Espera — intercalou Gabe e deteve Madeline — Espera um momento.

—Por quê? – ela perguntou.

—Quero ver o que ela pretende.

Maggie o olhou com severidade e se dirigiu a sua filha.

—Não é mesmo um encanto? — suspirou Becky — o senhor Durango me deu. Acha que gostará do Cuddies?

—Seu cachorrinho vai adorar, sobre tudo em molho de tomate – respondeu Maggie sorrindo – Ele vai comer a rã.

—Não vai — alegou a menina.

—Tenho umas moscas para a rã — intercalou Gabe para resolver o problema e se inclinou para pegar a rã – você a verá mais tarde.

—Ficarei com a vovó quando você e a mamãe forem em lua de mel? – ela perguntou.

—Querida, não será uma grande lua de mel – suspirou — De fato, iremos só uma noite e acredito que sua avó pegou um filme de desenhos animados para que veja no vídeo.

—Que filme é?

—Vá perguntar a ela — respondeu amável.

A menina saltou e esqueceu a rã. Gabe observou o animal e Maggie sorriu quando ele o deu.

—Já tenho o meu príncipe— murmurou ficando nas pontas dos pés para beijar o queixo de Gabe — De todo jeito, obrigado.

Ele sorriu e se afastou com a rã.

Essa noite, depois de que Madeline, John e os outros convidados se foram, eles se dirigiram de carro a Abilene e se hospedaram em um hotel de luxo, onde Gabe tinha reservado a suíte matrimonial. Gabe a segurou nos braços para cruzar a porta e, uma vez dentro, observou com malícia a imensa cama.

—Sem dúvida, será melhor que o sofá de nossa sala — comentou sorrindo — Ainda me dói as costas.

—É possível que a cama tenha um vibrador — sugeriu Maggie com acanhamento.

—Tem razão — assentiu depois de deixá-la no chão e ir inspecionar — Deseja experimentar? —perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

—Se você quiser — murmurou rouca no centro do quarto, vestida com o sóbrio vestido branco do casamento e fingindo uma experiência que não sentia.

—O que foi? — franziu o cenho. Maggie não podia deixar de admirá-lo vestido com seu terno cinza, estava muito bonito. –Tem medo de mim? —aproximou-se dela.

—Não estivemos muito tempo a sós e me parece estranho. —respondeu passado um momento e com a vista fixa no colete dele.

—Deviria ter notado, mas temia perder a cabeça com você ao meu lado — suspirou e a segurou pelo braço. — Suponho que tenha me ultrapassado no sofá.

—Nosso casamento dará certo? — perguntou muito preocupada o olhando com os olhos bem abertos e meigos.

—Sem a menor duvida — aproximou-a de seu corpo e experimentou uma sensação deliciosa ao perceber que ela se estremecia — Esta noite gastarei muito tempo com você – murmurou junto aos lábios – Não será nossa primeira noite, mas pensará que é.

Maggie lhe ofereceu os lábios e sentiu que a beijava com lentidão e que a penetrava com a língua. Estremeceu porque a paixão lenta era mais emocionante que a violência. Agarrou-se a ele e iniciou um movimento lento e rítmico.

O esbelto corpo dele vibrou com o contato. A respiração dele se acelerou e se inclinou para segurá-la nos braços sem deixar de observar seus olhos. A levou para a cama, deitou-a e se colocou ao seu lado.

As luzes estavam acesas, mas Maggie não notou. A cama era tão grande que lhes proporcionou todo o espaço que necessitaram.

Gabe se tornou insaciável; primeiro a cobriu e logo a colocou em cima dele sem deixar de acariciá-la e guiá-la. Maggie conheceu os quentes e duros contornos do musculoso e peludo corpo de uma forma diferente e ele se estremeceu.

—Venha, me toque — riu e a incitou quando ela se afastou. Pegou suas mãos e a olhou nos olhos—. Estamos casados, é correto.

—Sei, mas isto é novo para mim — murmurou.

—Espero que seja assim sempre — respondeu. Deslizou a boca por todo o corpo e sentiu que ela voltava a estremecer-se. Gabe demorou uma eternidade em excitá-la, mas conseguiu que ela gemesse e se contorcesse como uma criatura enlouquecida. Logo a possuiu, com muita paciência, apesar de seu ardente desejo, a um lento, profundo e exigente ritmo.

Maggie não teve medo, nem quando a ternura chegou ao clímax e ameaçou destroçá-la. Sentiu que o colchão se estremecia e escutou a torturada respiração dele. Sem dar-se conta, cravou as unhas em suas costas e se arqueou para rodear o quadril dele. As lágrimas deslizaram por suas bochechas enquanto se estremecia e gemia angustiada pelo prazer que sentia.

Gabe sentia o mesmo. Murmurou-lhe palavras ao ouvido enquanto a sacudia e agitava com o corpo. As mãos dele no quadril dela machucavam-na, mas foi uma dor muito doce.

Maggie o ouviu pronunciar seu nome com voz rouca antes que se tranquilizasse e apoiasse o úmido corpo sobre o seu.

Satisfeita e esgotada, tocou-lhe o cabelo. Pensou que parte dele a amava de tal forma que era doloroso. Fechou os olhos e o abraçou.

Ele sentiu sua demonstração de posse e voltou a excitar-se. Estava cansado, muito cansado, mas o corpo dela o atormentava com sua deliciosa suavidade e sua submissão, estremeceu-se e deslizou as mãos em baixo do quadril dela para unir ainda mais a ele.

—Gabe? – ela murmurou.

—Shhh — respondeu antes de beijá-la com infinita ternura — Shh, é correto — moveu-se e ela tremeu. Gabe levantou a cabeça para ver seus olhos – Gostaria de fazer de novo? Não vou machucar você?

—É obvio que não, — a consideração dele a fez chorar.

Tocou-lhe o rosto e o olhou com tanta ternura que ele teve que desviar os olhos.

Gabe não desejava gratidão e estava convencido de que isso era precisamente o que estava recebendo. Ele tinha salvado Becky. Possivelmente Maggie se sentisse atraída por ele, mas acima de tudo, estava realizando um sacrifício. Não era isso o que ele desejava.

—O que foi? – ela perguntou ao notar que a luz havia se apagado nele. – O que deseja que não tenha dado? Tem que me dizer, porque não sei nada disto.

—Acredito que sabe o que quero — murmurou com expressão severa — Mas parte de você tem medo de me dar.

Maggie observou seus olhos. Compreendeu que ele desejava mais paixão que submissão.

Permitiu que o instinto a guiasse e se obrigou a esquecer o medo, a violência que a tinha consumido durante muitos anos. Tocou no corpo dele, não o acariciou e se deu de presente com os estremecimentos que provocou.

—Posso ser o que quiser — murmurou e levantou as mãos ao rosto dele.

—o que quiser, Gabriel — entreabriu os lábios e introduziu a língua na boca dele enquanto se aproximava mais.

—Deus! – ele gemeu.

Foi à última coisa que pôde dizer, estremecia-se como um garoto e a apertou sem querer devido à paixão que ela tinha despertado nele. Abraçou-a, oprimiu-a e a possuiu de uma forma muito primitiva. E ela o acompanhou em cada passo do caminho, igualando os convulsivos movimentos do corpo dele e os famintos beijos da boca.

Enlouqueceu-o murmurando palavras doces. De repente, tudo explodiu em um espasmo de cor e de prazer, foi uma convulsão de alegria que fez com que ele gritasse e eclipsasse os sons que ela emitia. Ele viu, sentiu, escutou e não se deu conta de nada mais que do ensurdecedor choque do esquecimento. Pela primeira vez na vida esteve a ponto de desmaiar.

Gabe observava o teto quando o rosto dela se interpôs.

Ele a olhou com orgulho.

—Que expressão! — murmurou inibida — Acreditava que não seria capaz?

—Não, — respondeu seco, porque estava tentando normalizar sua respiração.

—Pois já sabe — inclinou-se e o beijou com suavidade – Estou morta de fome — suspirou e se espreguiçou, sem se dar conta de que ele a admirava — Pedirei um filé. Quer alguma coisa?

—Remédio... Para minhas doloridas costas — gemeu.

—Mais tarde farei uma massagem — sorriu e se levantou da cama.

Gabe se levantou e viu que ela abria a mala e tirava uma camisola e um roupão antes de desaparecer no banheiro. Sentia-se aturdido porque tinha esperado passar uma tranquila noite de amor e havia descoberto que compartilhava a cama com uma gata arisca. Que doce e inesperada surpresa! Com o cenho franzido observou a porta e sorriu.

O casamento se iniciava com pé direito. Acendeu um cigarro e descansou, porque necessitaria de todas suas forças antes que amanhecesse.

No banheiro, Maggie se sentia muito satisfeita de ter surpreendido Gabe. Muito bem, possivelmente assim ele ficasse meditando. Ela o amava com toda a alma e demonstraria. Talvez com o tempo ele pudesse corresponder.

Ao voltar para o rancho, Gabe se ocupou de seus negócios. Recebeu ligações telefônicas, fez viagens curtas e Maggie não pôde compartilhar nem perceber as muitas irritações que se apresentavam quase diariamente. Nos negócios, ele continuava sendo um estranho: frio, lógico e decidido.

Na cama, tudo era maravilhoso e melhorava com o tempo. Mas parecia que só se encontravam no quarto. E quando chegou o dia do julgamento legal, Maggie estava mais nervosa que nunca porque voltou a sentir-se sozinha.

Becky ficou com a avó para que os adultos fossem ao tribunal pela primeira vez.

—Não fique nervosa – ele sugeriu — Ele não ganhará, prometo que não darão a ele o pátrio poder sobre Becky.

Mas Maggie não se acalmou, amava Becky com delírio. A menina tinha florescido e mudado no rancho. Além disso, adorava seu novo papai. Adorava ir com ele na cidade ou em Abilene quando iam juntos fazer compras. E eram como uma família, embora Maggie se sentisse mais uma governanta que esposa. Gabe só compartilhava com ela o corpo. Era um corpo magnífico e juntos se proporcionavam prazer, mas ela desejava muito mais, desejava amor.

A juíza era uma negra muito bela e muito jovem. O coração de Maggie se encolheu porque se sentiria mais segura com uma pessoa mais velha, que possivelmente tivesse filhos.

O julgamento foi mais horrível do que imaginou. Dennis estava sentado ao lado de seu advogado e sorria para Maggie com aberto desprezo. Sua segunda esposa estava junto a ele, mais ocupada com seu esmalte de unhas que no caso. Dennis lhe deu uma cotovelada e a olhou com aborrecimento. Era loira e bela, mas continuou olhando as unhas com expressão aborrecida.

O advogado de Dennis acusou Maggie de ter iniciado uma aventura sentimental com Gabriel Coleman já fazia tempo. Acrescentou que apesar de casada, Maggie estava mais interessada em satisfazer suas necessidades sensuais do que no bem-estar de sua filha. Não deixou de mencionar que Becky tinha estado em um internato o que era suficiente evidencia de que Maggie não desejava ter sua filha consigo.

Maggie se sentiu muito mal. Era típico de Dennis deformar a verdade. Permaneceu sentada, sentindo-se morrer e alegrando-se de que Janet não tivesse insistido em acompanhá-los porque assim não ouviria tantas mentiras horríveis.

—Deixa de parecer tão aterrorizada — murmurou Gabe ao ouvido e sorriu. — Agora é nossa vez. Escuta e saberá o que verificamos a respeito desse asno.

Emocionada, Maggie levantou a cabeça. O advogado deles estava em pé; era um homem mais velho com voz de ator shakespeariano. Abriu a pasta que tinha na mão.

—Nós gostaríamos de dar a conhecer as mais recentes atividades do senhor Blaine — começou olhando de esguelha para Dennis, quem pareceu receoso. Logo, leu suas notas: — Na noite de 15 de março, sua mulher e ele ofereceram uma festa na qual chegaram dois policiais vestidos de civis. Prenderam o senhor Blaine e sua mulher por posse de cocaína. —acrescentou sorrindo em direção a Dennis — Na noite de 18 de março, o senhor e a senhora Blaine assistiram a outra festa, na casa de uns vizinhos. Viram que usavam cocaína e que participavam de... Como diremos, senhor Blaine, de uma orgia?

—Meritíssima. — interrompeu o outro advogado ficando em pé — isto não é mais que um intento premeditado por parte da acusada para sujar o nome de meu cliente. Acredito...

—Tenho a ordem de detenção aqui, Meritíssima — intercalou o advogado de Maggie.

— Também tenho um relatório detalhado a respeito das atividades do senhor Blaine durante todo o mês de março preparado por uma das agências de detetives mais sérias do Texas. —deu uns passos adiante. — Meritíssima, alegamos que para o senhor Blaine não interessa sua filha, mas sim o controle das ações de um milhão de dólares que o avô deixou para a menina. Podemos demonstrar, sem que fique a menor duvida, que o senhor Blaine sempre incorre em dívidas, que é apostador e que suas atividades sentimentais não se limitam ao lar, que usa drogas ilegais... Em poucas palavras, pensamos que se permitirem que a menina viva com ele a estará condenando a viver em um inferno todos os dias.

—Mentiras! — pálido Dennis ficou em pé — São mentiras. Ela esta tentando sujar meu bom nome!

Gabe quis ficar em pé com desejo de destroçar Dennis pelo que tinha feito a Maggie, a sua Maggie, mas a mão dela o deteve. A olhou de esguelha e se tranquilizou. Sentou-se, mas não soltou sua mão.

—Mais uma intervenção deste tipo, senhor Blaine, e considerarei desacato à autoridade. —declarou a juíza com dignidade. — Por favor, continue senhor Parmeter.

—Obrigado, excelência — assentiu o senhor Parmeter e continuou. Excelência, minha cliente, a senhora Coleman, casou-se não faz muito tempo com o senhor Gabriel Coleman. Ele é dono do rancho Coleman Santa Gertrudes e do C—Bar Cross, situado nos subúrbios de Abilene. Ele é bem conhecido nessa região como homem honrado, responsável e muito respeitado no meio dos negócios. Minha cliente e ele cuidam muito bem da menina e o senhor Coleman está disposto a adotá-la...

—Não consentirei! — trovejou Dennis.

—Sente-se, senhor Blaine – avisou a juíza.

Dennis obedeceu, mas olhou com fúria para Gabe e Maggie.

—... Logo que finalizem os trâmites — continuou o senhor Parmeter — Sua excelência, a única esperança que tem a menina de viver feliz está em suas mãos. Confiamos seu futuro.

O senhor Parmeter se sentou e Maggie, horrorizada, apertou a mão de Gabe.

A juíza examinou o documento que tinha a sua frente, logo levantou a cabeça e olhou para ambos os lados da sala do tribunal.

—Em geral, não sou a favor dos divórcios. Prefiro que os casais tratem de resolver seus problemas, sobre tudo quando há crianças.

Maggie fechou os olhos porque acreditou que a juíza se dispunha a dar o veredicto.

—Entretanto, neste caso, compreendo muito bem por que foi necessário a separação legal, —as palavras surpreenderam Maggie. — Senhor Blaine... — observou o homem que estava sentado junto à chamativa loira — depois de ler os documentos apresentados pelo advogado de defesa, acredito que lhe dar a custódia de sua filha seria um engano. Sua trajetória está cheia de enganos, egoísmo e libertinagem. Se obtiver o controle da herança de Rebecca a esbanjaria e deixaria de cuidar do bem-estar da menina. Falei com Becky — acrescentou e surpreendo a todos, menos a Gabe e ao senhor Parmeter.

—Perguntei-lhe onde seria mais feliz — olhou para Gabriel e sorriu. – Ela me disse que deseja viver com seu novo papai porque ele é o melhor homem do mundo, assim como sua mãe.

Gabe mordeu o lábio e desviou a cabeça. Maggie se apoiou no corpo dele e lhe apertou a mão com força.

—Por outro lado — continuou a juíza — quando mencionei que possivelmente tivesse que ir morar com seu pai, a menina ficou lívida e histérica. —Entreabriu os olhos e olhou ao pálido Dennis. —Falou-me bastante de você, senhor Blaine, inclusive me disse algumas coisas que não havia mencionado a sua mãe e devo recalcar que tem sorte de não ter sido acusado por maltratar uma menina. De fato, se os Coleman quiserem acusá-lo e começar outro julgamento, estariam em todo seu direito.

—Ao diabo, na realidade não queria a menina. —grunhiu Dennis de pé — Ofereceram-me um trabalho na América do Sul e iremos morar lá.

Com amargura, Maggie pensou que Dennis se dedicaria ao tráfico de drogas. Era seu estilo e sempre havia dito que era uma forma fácil de fazer dinheiro. Mas algum dia pagaria por sua maldade, Maggie estava certa disso.

—Eu concedo a custódia aos Coleman e lhes dou minha bênção. —anunciou a juíza — Dadas as circunstâncias, será negado ao pai natural os direitos de visita a sua filha. O caso está terminado.

—É minha! — murmurou Maggie e abraçou Gabe — É minha!

Gabe a observou durante um bom momento porque Maggie havia dito minha. Sentiu-se marginalizado, como se ele não importasse. Além disso, aquele loiro tolo o olhava com fúria do outro extremo da sala. De repente, não pôde conter o mau humor.

—Com permissão, Margaret, eu tenho um assunto pendente. — ficou de pé sem deixar de observar Dennis e com expressão que pressagiava problemas.

—Não. — suplicou Maggie. — Por favor, não faça isso.

—Preciso fazer — resmungou entre dentes – Quero quebrar o pescoço desse maldito!

Dennis viu a expressão de Gabe e agarrou a sua companheira pelo braço para tirá-la aos trancos da sala.

—Deve saber ler os movimentos dos lábios. —comentou o senhor Parmeter enquanto recolhia seus papéis. —teve sorte porque eu vi o olhar que Gabe lhe dirigiu.

—Não o teria matado. — murmurou Gabe furioso — Mas teria gostado de quebrar um braço dele.

—A agência de detetives fez um trabalho excelente. —comentou o senhor Parmeter— fico feliz de termos podido nos permitir esse luxo!

—Eu também — estreitou a mão do homem — obrigado.

—Muitíssimo obrigada. — acrescentou Maggie com ardor e abraçou o advogado.

—Foi um prazer e o digo a sério. Desejo-lhes muitas felicidades – piscou um olho antes de abandonar a sala.

Maggie o observou sair e se perguntou se ele não se dava conta de como seria difícil ser feliz. Gabe tinha se transformado em gelo. E o pior era que ela ignorava o motivo.

Janet e Becky os esperavam em pé no terraço, nervosas por conhecer o resultado.

—Ganhamos! — gritou Maggie ao abrir a porta do carro — ganhamos!

Becky começou a chorar e correu para o casal, mas primeiro se aproximou de Gabe e ele a segurou nos braços. Riu encantado e a abraçou com afeto.

—Como está minha menina? — perguntou contente — Já é minha menina.

—Muito bem! — Becky também riu — Papai, sabia que ganharia!

Gabe lhe deu um quente beijo. Janet se aproximou para abraçar Maggie que se sentiu abandonada.

—Estou muito contente pelos dois. —suspirou Janet – Estávamos aterrorizadas.

—Eu também — murmurou Maggie — Mas Gabe conseguiu. Contratou uma agência de detetives particulares. —acusou-o com os olhos — e como é seu costume, não havia me falado nada.

—Não me perguntou. — arqueou uma sobrancelha.

—Ganhamos Becky querida — murmurou Maggie estendendo os braços.

Becky também a abraçou e lhe deu um beijo na bochecha.

—Estou muito contente. – suspirou — estava muito assustada, mamãe.

—Sei como se sentia. — beijou a cabecinha — quer bolo? Estou com fome, e você?

—Muita. — respondeu Becky segurando a mão de sua mãe e de Janet.

Essa noite, Maggie decidiu que era hora de derreter o gelo entre Gabe e ela. Ele quase não tinha falado com ela na volta para casa. Não sabia que ele havia se sentido ofendido ao pensar que ela havia se aproveitado dele quando comentou que Becky era dela. Gabe tinha voltado a suspeitar que Maggie se casou com ele só pelo bem-estar de Becky.

Depois de que todos foram se deitar, Maggie vestiu uma bonita camisola de seda e esperou Gabe no quarto, mas ele demorou muito para subir. Por fim, depois de meia-noite, Maggie ouviu seus passos na escada.

Gabe abriu a porta e parou ao vê-la com uma postura provocativa sobre a cama.

—Do que se trata, chegou o momento do pagamento? – perguntou com sarcasmo e sorrindo de uma forma enigmática.

Fechou a porta com força. Parecia cansado, como se tivesse trabalhado até o esgotamento.

—Não compreendo. — Maggie se incorporou e piscou.

—Consegui que ganhasse o julgamento. Sacrificará seu corpo para me pagar?

—Gabriel! — gritou horrorizada—. Nunca foi assim e deve saber disso.

—Você acha? — tirou o chapéu e as luvas e os jogou em uma cadeira antes de passar uma mão pelo cabelo. — Preciso tomar um banho e descansar — olhou-a com frieza. — Obrigado por seu oferecimento, mas agora, Becky também é minha. Não preciso de sua gratidão.

Entrou no banheiro e fechou a porta com chave; Maggie ficou arrasada e muda. Durante um bom momento não ouviu mais que a água que caía enquanto permanecia quieta na cama e sua mente trabalhava.

Realmente Gabe acreditava que ela se vendeu para que ele a ajudasse a ficar com Becky? Ao que parecia, sim. Então recordou o que havia dito na sala do tribunal. De fato, Becky era dos dois... Ficou passeando pelo quarto, enquanto pensava no que fazer e como convencê-lo de que estava enganado. Recordou outras pequenas coisas. O aborrecimento dele na frente de Dennis, a forma cuidadosa em que tinha protegido os sentimentos dela, sua generosidade na cama. Possivelmente ele não sabia, mas com certeza a amava. Tinha que ser assim porque, do contrário, não teria se ofendido com seu comentário. E pensava que ela havia se aproveitado dele. Era quase cômico já que o amava com delírio.

Como podia convencê-lo de seu amor? Passeou um pouco mais e a água deixou de cair. Restavam poucos segundos. Se ela permitisse que o muro de gelo se interpusesse entre os dois possivelmente nunca poderia eliminá-lo. Não seria fácil convencer Gabriel.

Achou a solução perfeita e a melhor por ser a mais carinhosa.

Sorrindo com ternura, aproximou-se do estojo de joias e tirou uma caixinha redonda de pílulas. Apertou-a com uma mão e se voltou para olhar para ele de frente quando saísse do banho.

Gabe saiu envolto em uma toalha. Seu cabelo estava úmido e despenteado. Tinha o rosto sombrio. Quando a olhou com severidade, ela viu o antigo Gabe, os intimidantes olhos e sentiu saudades de sua adolescência, do homem frio que nunca sorria. Parecia desumano, mas ela não se acovardaria. De novo se sentiu animada porque o temor havia desaparecido. Nessa ocasião, Gabe não seria o vencedor.

—Sabe o que é isto? — abriu a mão.

—Suas pílulas anticoncepcionais. —respondeu depois de inclinar a cabeça e entreabrir os olhos.

—Exato. Aproximou-se do cesto de papéis e, sem deixar de olhá-lo, deixou-as cair.

Maggie se sentiu triunfante porque estava segura de que sua ação não concordava com a teoria daquele homem.

 

Quando Maggie jogou as pílulas, Gabe pareceu não pode respirar bem. Muito rígido, observou-a.

—Por que fez isso? — perguntou seco — É outra forma de me demonstrar sua gratidão, me dar a entender que deseja conceber meus filhos? Não precisa chegar a esses extremos. Agradeço sua gratidão, não basta?

Maggie titubeou e ele tirou a toalha; começou a secar os cabelos com o secador. Pelo espelho, ele viu que ela o observava, mas pareceu não se importar.

Maggie o adorou com os olhos, Gabe era todo um espetáculo: musculoso e muito másculo. Sorriu e o observou com sentimento de posse, do escuro cabelo até os pés.

—Será melhor fazer uma foto. — murmurou porque o olhar dela começava a lhe irritar.

Desejou não ter tirado a toalha porque ela o admirava abertamente com fascinação.

—Hora, hora – cruzou os braços. — Acreditava que já não se interessava – ela sorriu.

—Basta. –olhou fixo para ela — Supõe-se que as mulheres não devem notar estas coisas.

—Então, se cubra — sorriu.

—Estou me preparando para me colocar na cama — deixou o secador e pegou um pente.

—Eu percebi.

Gabe deixou o pente e tirou uma calça de pijama de uma gaveta. Vestiu com economia de movimentos e o fechou.

—Dissimulado – ela murmurou.

—Que diabos você tem? – continuava olhando para ela com aborrecimento.

Maggie se aproximou dele com sinuosa graça e notou que seus seios estavam duros pela excitação e que o atraíam. O tecido da camisola era tão fino que ele podia ver através dela.

—Desejo você — murmurou sorrindo com modéstia – Não notou?

—Pois eu não desejo você. – replicou — Não assim.

—Para um homem desinteressado, seu problema é muito visível — arqueou as sobrancelhas.

—Basta! — gemeu ruborizado — Por Deus, Maggie!

—O que foi? — estalou a língua — Sinto muito, mas pensei que gostaria que fosse mais agressiva.

—Sim. — franziu o cenho e o coração começou a pulsar com força.

Ela pôde ver os batimentos do coração debaixo do peito.

—Mas não quero sua gratidão e sei que é a única coisa que pode me dar.

—Parece que é o único que deseja de mim — murmurou sorrindo marota porque notou a emoção na voz dele.

—Já não sei o que quero — passou os dedos pelos cabelos e suspirou de frustração. — Tudo me parecia controlado: casaríamos, ficaríamos com Becky e eu cuidaria das duas. Seríamos... amigos. – levantou a cabeça e em seus olhos havia um emocionante reflexo de posse. – Mas não fazemos amor como amigos Maggie. O que me ocorre quando nos amamos... Não é só sexo e não quero que seja só uma experiência física — respirou fundo. — Acreditava que um casamento de conveniência bastaria, mas hoje, na sala do tribunal, quando disse que Becky era sua me senti marginalizado.

—Agora compreendo, mas não disse com essa intenção. Sinto ter magoado você — aproximou-se dele até que sentiu o calor e força do corpo dele — E voltei a fazer isso ao dizer a Janet que não havia me falado nada a respeito da agência de detetives, embora isso seja verdade. Não compartilha nada comigo, exceto seu corpo. Não quer que me aproxime, alem da conta.

—Não sabe o quanto a quero perto. — entreabriu os olhos e falou com muita emoção. — Não tem a menor ideia.

—Você acha mesmo isso? — entreabriu os lábios e deslizou a camisola por seus ombros. Notou que ele a observava.

—Nada de sexo. —trovejou.

—Não será, prometo – murmurou — Me observe, Gabriel.

Deslizou as alças da camisola por seus braços e lenta e sedutoramente a tirou pelo pescoço. Gabe quis tocá-la, mas o deteve fazendo um movimento negativo com a cabeça.

—Shh – murmurou — Preciso demonstrar... Que estou inteira novamente. Acredito que necessita de uma prova.

Enquanto ele continha o fôlego, as mãos dela desabotoaram a calça dele, para que se deslizasse pelas longas pernas. Aproximou-se mais e permitiu que ele sentisse a textura de sua pele.

—Maggie — gemeu com os olhos fechados.

—Desejo tudo de você — beijou-lhe o peito enquanto deslizava as mãos pelas sedosas costas e quadril, ao redor do ventre e as coxas.

Gabe conteve um gemido e seus músculos se esticaram, mas não tentou detê-la.

—Ai, Gabriel — murmurou junto à pele dele, com os olhos fechados, encantada pela liberdade de poder tocá-lo como sempre havia sonhado.

—Permite que me deite antes que meus joelhos fraquejem – ele murmurou.

Dirigiu-se à cama e se deitou cheio de desejo sensual e com os olhos abertos.

—Venha — murmurou com os olhos brilhantes e desafiadores – Faça tudo.

Já havia a convidado uma vez com as mesmas palavras e nesse momento ela aceitou o convite dele. Tudo o que Gabe lhe tinha feito, ela fez a ele. Explorou, tocou e acariciou com as pontas dos dedos até que Gabe começou a emitir sons estranhos e roucos.

—E você diz que eu sou uma amante ruidosa. — brincou junto aos lábios dele enquanto se colocava em cima dele – Você também é ruidoso.

Gabe a olhou com olhos cheios de amor e compreendeu sem necessidade de palavras. Deslizou as mãos ao quadril dela para aproximá-la mais de seu corpo.

—Você tomou a pílula hoje?

—Não. – sorriu — E se não se toma uma vez... — inclinou-se para entreabrir a boca — pode ser extremamente perigoso — mordeu-lhe o lábio inferior — Sinto-me muito primitiva e quero te morder.

—Sente-se. —murmurou depois de rir encantado e cheio de paixão, mas sem lhe soltar o quadril. —ajudarei você.

—Não sei como — respondeu.

—Shh —sentou-se, apoiado na cabeceira e a puxou para que se sentasse em cima dele. Viu que ela entreabria a boca quando ele fez o mais profundo contato íntimo.

Maggie deslizou os dedos de forma sensual pelos amplos ombros. Olhou nos olhos dele enquanto subia e descia e tremeu um pouco pelo que estavam compartilhando.

—Nunca fiz isto com premeditação, quer dizer, pensando que poderia conceber um filho.

—Eu também. — respondeu em voz baixa antes de conter o fôlego por causa da grande emoção que vislumbrou nos olhos dele. — Becky gostará... Ter um bebê em casa.

—Isso pode esperar — colocou o quadril dela sobre o próprio.

—Às vezes demoram meses ou anos.

—Eu gostarei, e você?

—Quieta, posso machucar você — estremeceu-se quando ela voltou a mover-se e lhe cravou as unhas.

—Não me importo — murmuro junto a seus lábios — Já não temo a paixão, com você não.

—Me convença de que não é outra forma de me agradecer por Becky — respirou fundo antes de mover-se com mais rapidez.

—Eu asseguro que não. — observou o rosto dele que ficava tenso por causa dos rítmicos movimentos. —é apenas uma nova forma de... demonstrar... quanto eu te amo — murmurou antes de encontrar a boca dele e mover-se de novo.

A mente dele explodiu. Quis que ela repetisse, mas não foi necessário porque já estava dizendo tudo o que sentia com o corpo.

Gabe gemeu e pensou que suas costas não toleraria o frenesi dos espasmos convulsivos. Gritou algo que não ouviu porque o sangue o golpeava nos ouvidos. Só ficou vagamente consciente da voz dela antes que o mundo escurecesse e tremesse. Escondeu o rosto no pescoço dela e estremeceu.

—Amo você – ela murmurou junto ao ombro dele. Beijou-lhe o rosto, os olhos fechados e a boca. – Amo você, amo você...

—Não deixe de dizer isso — murmurou débil e cansado – Fale até que eu morra, quero ouvir durante toda minha vida.

—Você também me ama. – sorriu junto aos lábios do homem amado. – Você falou antes que seu corpo enlouquecesse. Eu ouvi.

—Falei? Deus, gritei! – a abraçou com delírio — não sabia antes de hoje. Sempre a desejei, mas não sabia que te amava até que aquele idiota começou a difamar você. Quis matá-lo porque você é minha Maggie e ele estava fazendo mal a você.

—Eu soube desde aquela noite em que me amou no sofá. —sorriu porque tinha o coração cheio de felicidade — Então, me dei conta do porque tinha permitido. Se não o amasse não teria permitido.

—Eu não pensei nisso, procurei não pensar em você porque me perturbava muito. Depois, cada vez que entrava na sala imaginava seu corpo deitado em deliciosas posturas, sobre as almofadas e me dobrava de dor.

—O mesmo me acontecia. — riu e olhou para ele com encantamento.

—Acreditava que minhas pernas não me suportariam quando jogou as pílulas no lixo. —acariciou-lhe o corpo e a adorou com o olhar.

—As minhas estiveram a ponto de dobrar-se. Quase não pude andar para te despir. E você permaneceu quieto sem protestar — inclinou a cabeça — pensava que nunca me permitiria te amar assim.

—Não a teria parado, apesar de ter acreditado que havia se aproveitado de mim — abafou uma risada. — Excitou-me tanto que meu coração até parou por um momento.

—Realmente não se importou? — perguntou com os olhos bem abertos.

—Querida, o amor físico é dar e receber – explicou — É tão emocionante para um homem como para uma mulher. Não me sinto menos homem por ter permitido esse tipo de liberdades com meu corpo — riu com malícia. — De fato, sinto-me como um homem com um harém particular que deseja o prazer e eu adoro.

—Me alegro, mas de agora em diante teremos que nos alternar.

Gabe a deitou na cama, mas continuava com o corpo unido ao dela. Colocou-se em cima dela e se apoiou sobre os cotovelos para olhá-la nos olhos.

—Acha que poderemos superar o que fizemos?

—Não sei. — respondeu emocionada e rouca.

—Vejamos. — moveu o quadril e inclinou a cabeça.

Maggie fechou os olhos e esboçou um sorriso. Levantou os braços porque sentia que o céu estava muito próximo.

No dia seguinte, enquanto Becky brincava com os patos, perto do lago, Maggie decidiu que era o momento para que Gabriel se inteirasse da verdade sobre seu padrasto. Janet tinha se mantido calada desde o casamento e só falava em voltar para a Europa. Gabe não havia protestado, inclusive se mostrava mais indiferente com sua mãe. A senhora sentia o coração destroçado e Maggie, mais que nada, desejava ajudar para que desaparecesse a barreira que existia entre mãe e filho.

—Quero falar com você. — murmurou entre os braços dele, debaixo do imenso carvalho.

—Está grávida? — sorriu.

—Seria um milagre se não estiver, depois de ontem à noite. Mas não se trata disso — acariciou os lábios dele com os dedos – Desejo falar algo a respeito de seu padrasto.

—Não quero ouvir.

Tentou afastá-la, mas ela se agarrou a ele.

—Você vai escutar, nem que eu tenha que me sentar em cima de você! – declarou decidida.

—Que ousadia! — arqueou as sobrancelhas.

—Ficaremos mais ousados a cada minuto que passar porque sabemos que nos amamos, estamos felizes e seguros – respondeu – assim, tome cuidado vaqueiro, porque dentro de pouco tempo, acredito que serei uma bruxa sensual. Mas me escute. Seu padrasto tinha câncer e estava morrendo. Sua mãe sabia e por isso não o abandonou quando ele teve aquela experiência com sua querida mercenária.

—O que? — endireitou-se e pouco faltou para que a empurrasse — por que minha mãe não me disse isso?

—Como sempre, você se recusou a escutá-la, apesar de ela ter tentado.

—Maldição! —respirou fundo e soltou o ar— estou a anos culpando-a e a odiei por ter protegido ele. Ela me disse que tinha morrido por causa de um ataque cardíaco.

—Por sorte, foi isso mesmo. Ele tinha câncer nos ossos. Não restava muito tempo de vida e quando aquela mulher prestou atenção nele, ele reviveu. E foi melhor assim, porque você não gostaria de estar unido a uma jovenzinha com sinais de dólares nos olhos.

—Amém. — falou rouco e olhou com amor para ela. – Acho que estava cego.

—por que não diz isso a sua mãe?

—Ela não espera que seja amável com ela porque se sentiria ferida em seu amor próprio.

—Gabriel. — interveio.

—Está bem, farei as pazes com ela —fez uma careta – Agora posso me permitir o luxo de ser generoso porque tenho uma família nova.

—E esta parte da família o adora com delírio. — ofereceu os lábios — eu adorarei voltar a demonstrar isso, mas estou sem forças.

—Servirei a você, duas porções de cada prato durante o jantar – riu junto aos trêmulos lábios dela.

—Será melhor fazer o mesmo – sorriu — volto a me sentir primitiva...

Gabe a beijava com paixão quando ouviram uma voz emocionada que rompeu a ilusão de estarem sozinhos.

—Papai, mamãe! — gritou Becky com as mãos apoiadas nos quadris e indignada – Chega de beijos e venham agora mesmo! Os patos puseram um ovo! Vocês precisam ver, é muito mais divertido do que o que estão fazendo. Não entendo por que as pessoas gostam de se beijar.

Gabriel ficou em pé tentando conter a risada. Maggie o imitou.

—Asseguro que eu não beijarei nenhum menino – ela murmurou, voltando-se para os arbustos onde os patos tinham feito um ninho.

—Por Deus, se contagiarão com os micróbios!

Isso bastou para que Gabe e Maggie não pudessem conter-se mais. Gabe segurou a mão de Maggie e a levou aos lábios.

—É algo muito contagioso! — brincou enquanto seguiam sua filha. — Já estou doente por você e espero não sarar nunca!

—Se sarar, garanto que voltará a se contagiar. —Maggie se apertou ao corpo dele, mais contente do que teria imaginado ser possível.

Becky estava ajoelhada em frente a um ninho e, fascinada, observava dois grandes ovos. A felicidade parecia existir em qualquer parte. Olhou o rosto dele e descobriu que ele a observava com ternura e amor.

Recordou algo que ele havia dito quando olharam os verdes vales que se estendiam por todo o horizonte. Era algo a respeito dos pioneiros que chegaram e que se apoderaram do novo território com paixão. Voltou os olhos para Gabe e ao senti-lo em todo seu corpo, sorriu.

 

                                                                                Diana Palmer  

 

                      

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