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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


EXISTIU OUTRA HUMANIDADE / J. J. Benitez
EXISTIU OUTRA HUMANIDADE / J. J. Benitez

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

EXISTIU OUTRA HUMANIDADE

 

Até agora o homem só tinha conseguido sonhar, nada mais, com remotas civilizações. No máximo — e depois de não poucos esforços —, alguns estudiosos se encontraram com esporádicas e tímidas provas da existência de outros homens, de outras culturas e impérios que nunca se remontaram na História além dos 10.000 ou 15.000 anos.

Intencionalmente quis passar por cima dos últimos achados da Paleontologia. Até hoje, o «homem do Leakey» — última surpresa para os que sempre amarraram ao ser humano a uma idade máxima de um milhão de anos — constitui tão somente um fato isolado. Transcendental, isso sim, mas perdido. Único. Sem mais companhia — ao menos no momento — que a velhice do ravina africano do Olduvai, onde Leakey desenterrou com emoção o crânio de um «australopithecus» que caminhou por aquelas terras da Tanzânia faz já uns três milhões de anos.

“É a mais antiga relíquia” — disseram os sábios — do primeiro fazedor de utilidades, do Homo habilis».

Estes paleontologistas ignoravam então — e possivelmente também hoje — que em algum lugar do Peru, em um deserto branco e pedregoso da Região da Ica, um médico peruano tinha descoberto a mais estremecedora, terminante e completa prova da existência de outra civilização — de outra Humanidade diria eu — que povoou o planeta, não faz milhares de anos, a não ser possivelmente milhões.

Desta vez não se tratava de simples ou complicadas teorias sobre a existência de homens remotos. Desta vez não eram especulações. Nem tampouco fantasias de visionários.

Desta vez — e para assombro de quantos tivemos a grande fortuna de ver e tocar aquele tesouro — se tratava de provas materiais. Milhares de provas.

Porque o doutor Javier Cabrera Darquea tinha conseguido reunir e salvar em sua casa da praça de Armas da cidade de Ica até um total de 11.000 pedras nas quais aparece gravado a mais revolucionária e antiqüíssima «mensagem» de que temos notícia.

Onze mil pedras de todos os tamanhos onde outra Humanidade distinta e distante recolheu a essência de sua experiência e sabedoria.

Onze mil pedras gravadas com conhecimentos de Medicina, Zoologia, Astronomia, Astronáutica, Biologia, Geografia, Religiões, Direito, etc., que têm feito empalidecer nossa soberba civilização.

Este, simplesmente, é o objetivo a que me propus na hora de pôr em ordem minhas entrevistas e investigações com o descobridor e máximo conhecedor desta «biblioteca» em pedra: tratar de cooperar, na medida de minhas possibilidades, à máxima difusão de um achado que, no momento e só no momento, está iniciando sua caminhada com o passo lento de todos os grandes e revolucionários descobrimentos desta Humanidade.

Conheci o doutor Cabrera em agosto de 1974. Ali, em minha primeira viagem ao Peru como enviado especial de meu periódico, e enquanto trabalhava em outras reportagens, tive a imensa fortuna de apertar um dia a mão de Javier Cabrera Darquea, assim como de receber o choque da surpresa ao contemplar a meu redor a referida «biblioteca» de pedra.

As explicações de Javier Cabrera Darquea e a esmagadora realidade daquelas milhares de pedras redondas me apaixonaram. E durante todo o tempo que seguiu à publicação daquelas minhas primeiras reportagens sobre as pedras gravadas de Ica — em outubro do dito ano —, procurei seguir com detalhes as investigações e progressivos descobrimentos que o médico icano veio realizando sobre a imensa «enciclopédia pré-histórica».

A transcendência do achado me levou de novo a viajar ao Peru. E durante inesquecíveis e apertados dias de janeiro de 1975 pude conversar de novo com o investigador, enriquecendo meu espírito com este testemunho único no mundo e que —sinceramente — não duvido em qualificar como o mais importante descobrimento desta Humanidade que, a partir de agora, já não poderá considerar-se como a primeira que povoou o planeta chamado Terra.

Tudo que nestas páginas se detalha, insisto, não está respaldado pela imaginação ou por especulações sem base. Tudo que em minhas numerosas horas de conversação com Javier Cabrera Darquea ficou gravado em meu gravador - tem por trás — nada mais e nada menos que a presença de milhares e milhares de pedras que foram gravadas pela mão de seres cujas figuras se assemelham às do homem.

Tudo neste trabalho tem os alicerces que proporcionam esses 11.000 «livros» em pedra que, ao longo de nove anos, resgatou Cabrera do esquecimento ou da destruição.

É, portanto, a primeira vez que o ser humano dispõe de provas suficientes para afirmar, rotundamente, que alguém, antes que ele, conheceu dos segredos da cirurgia, dos vôos espaciais, da caça e destruição dos animais que lhe ameaçavam, dos continentes que constituíam o mundo, da flora e da fauna que lhe deram companhia então e, enfim, das estrelas que davam vida a aquele firmamento que, possivelmente, resultasse tão belo como o nosso...

Tudo isto e muito mais, ainda por descobrir, está aí, em um deserto peruano chamado Ocucaje, na região de Ica. Tudo isto e muito mais está a disposição do mundo inteiro, que tremeu já ante o que a dita «mensagem» pode significar.

 

                           ISTO É A «BIBLIOTECA» PRÉ-HISTÓRICA

 

Mas não posso esperar. Minha impaciência por mostrar o que em realidade abrange a «biblioteca» lítica é tal que não quis submeter ao leitor ao lento descobrimento da mesma, através das páginas deste livro. Por isso fiz este resumo prévio. Por isso desejaria agora ter a magia da imagem e lhes oferecer de um só golpe — em um abrir e fechar de olhos — o que encerra e supõe esta arrepiante mensagem.

Embora a coleção que conseguiu reunir o professor Cabrera Darquea há nove anos soma a considerável cifra de 11.000 pedras, o número real destes «livros» pré-históricos que constituem a formidável «biblioteca» é incalculável.

O próprio doutor icano me assegurou que, nestes momentos — e espalhadas por todo o Peru e outros países — poderíamos contabilizar outras 40.000 pedras mais.

Mas, necessariamente, só posso me referir agora a essas 11.000 provas, que não é pouco...

Depois de longos anos de investigação, Javier Cabrera conseguiu descobrir que a «biblioteca» se encontra dividida por serial ou «seções», formadas por sua vez por distintos volumes de pedras. E eis aqui as mais importantes:

 

                         SÉRIE QUE MOSTRA CONHECIMENTOS DE MEDICINA

Ante meu assombro, pude comprovar como aquela remota Humanidade deixou gravados múltiplos conhecimentos de cirurgia.

Ali, no centro de estudo da praça de Armas de Ica, Javier Cabrera Darquea reuniu dezenas de pedras — de todos os tamanhos — em que se «explica» como uma civilização praticava «transplantes» de coração, de cérebro, rim, fígado...

Ali pude ver como a Humanidade «gliptolítica» — como assim o qualifica Javier Cabrera — havia resolvido o problema da rejeição nos transplantes de órgãos.

Ali pude contemplar, estarrecido, gravações onde apareciam cesáreas e partos com acupuntura.

Ali contemplei, desconcertado, como os homens que deixaram esta «mensagem» sabiam do «transplante», das chaves genéticas e da conservação dos corpos, uma vez consumadas as operações de «transplante».

Ali escutei, enfim, as explicações do investigador icano sobre os sistemas eletrônicos que controlavam as mais vitais funções biológicas do homem, enquanto este permanecia na mesa de operações.

 

                     SÉRIE DEDICADA À ASTRONOMIA

Se era alucinante a «seção» da «biblioteca» destinada à Medicina, não o é menos a que esta Humanidade reservou para seus conhecimentos do Universo.

Em uma das mais fascinantes pedras que conserva Javier Cabrera Darquea — obtida por ele em 1970 —, estes seres que povoaram o planeta muito antes que nós, tinham gravado já as treze constelações conhecidas hoje pelo homem.

Mas havia mais, muito mais, em dita pedra de trezentos quilogramas.

Ali soube como mediam seu tempo os homens «gliptolíticos».

Ali me mostrou o professor Cabrera os lugares de nosso firmamento onde — segundo esta remota Humanidade — existia VIDA vegetal, animal ou inteligente...

E ali, especialmente, conhecia outro feito que me paralisou: aquela civilização tinha gravado o caminho de um cometa que — muitos milhões de anos depois — ia ser visto também pelo ser humano: o chamado hoje Kohoutek.

 

                     SÉRIE SOBRE ASTRONÁUTICA

Mas as surpresas não têm feito a não ser começar. Porque, como podiam conhecer ditos seres que existia VIDA em longínquos astros e nebulosas?

Simplesmente, sua tecnologia lhes tinha permitido sair ao espaço. E assim o vi em centenas de pedras em que estavam gravados os «pássaros mecânicos» a cujos lombos sulcavam os ares estes seres.

Nesta «biblioteca» alucinante conheci igualmente os sistemas empregados pelo homem de então para vencer a gravidade, para sair ao Cosmos sem necessidade do combustível e da força que hoje precisam nossos foguetes.

Ali estava — OH grande surpresa! — a explicação dos desenhos e pistas de Nasca.

Nesta série, além disso, pude me deter agradavelmente em duas grandes pedras onde — segundo as investigações de Javier Cabrera — tinham sido gravados os hemisférios de um planeta que não era a Terra. Um planeta em que existiu e possivelmente existe ainda VIDA. Um planeta que guarda a resposta a mais antiga e profunda pergunta do homem de nossa Era...

Mas, não adiantemos acontecimentos.

 

                         SÉRIE SOBRE ANIMAIS PRÉ-HISTÓRICOS JÁ DESAPARECIDOS

Mas nessas pedras onde Cabrera me mostrou os «pássaros mecânicos» havia também algo mais.

Homens providos de aparelhos que recordam nossas lunetas e que aparecem montados sobre o lombo de ditos e singulares «pássaros», «procuram» os grandes sáurios que a Paleontologia deu por desaparecidos faz mais de sessenta milhões de anos.

E nessas e outras pedras pude ver as figuras destes homens de grandes crânios e pequena estatura que perseguem e matam os mais diversos tipos de dinossauros: stegosaurus, triceratops, iguanodontes, etc.

São pedras nas quais o homem CONVIVE com os grandes sáurios...

São pedras onde se mostram os «ciclos biológicos» destes monstros pré-históricos...

São pedras que, precisamente, dão a solução a essa formidável incógnita que paira ainda sobre nossa Ciência: por que desapareceram súbita e totalmente da face da Terra estes enormes e resistentes animais?

 

                           SÉRIE DEDICADA AOS ANTIGOS CONTINENTES

Todas as pedras e todas as séries estão vinculadas entre si. E boa prova disso era esta nova «seção», que refletia os hemisférios oriental e ocidental do Planeta, gravados em duas pesadas pedras circulares.

Hemisférios onde apenas se podem reconhecer quão moderados hoje habitamos.

Hemisférios que constituíam o globo terrestre... faz milhões de anos.

Assim me detalhou o médico e descobridor.

Mas nessas pedras dos velhos moderados me aguardavam várias e desconcertantes surpresas: ali apareciam gravados os continentes hoje desaparecidos e que chamamos de Atlântida e Mu.

E em várias massas continentais, as raças que os povoaram...

 

                               SÉRIE QUE DESCREVE A SAÍDA DO HOMEM DA TERRA

Estreitamente vinculada ao «capítulo» dos «pássaros mecânicos», o professor Cabrera me mostrou também as grandes pedras lavradas onde o homem do Mesozóico deixou testemunho de sua grande marcha ou saída do planeta.

Em pedras de grande peso, aquela civilização esquecida gravou a partida da Terra das elites cognitivas, rumo a um planeta concreto do que então era considerado como mais uma constelação: Plêiades.

Mas, por que essa fuga do planeta? E por que tão somente as elites cognitivas?

 

                              SÉRIE QUE PREDIZ O GRANDE CATACLISMO

As perguntas anteriores estão igualmente relacionadas com outras pedras lavradas onde aquele “filum” humano anunciou a proximidade de um formidável cataclismo, fruto de um desequilíbrio que provocaria a sorte da Humanidade.

Duas das três Luas que aparecem em muitas das gravuras caíram sobre a Terra, originando o caos e a destruição do homem «gliptolítico».

Mas, como pôde produzir-se semelhante desequilíbrio? A resposta se encontra também nas pedras de Ica.

Ali, ante meu desconcerto, descobri pirâmides. Pirâmides em toda a extensão do Equador terrestre. Pirâmides que foram construídas não para enterrar reis, a não ser para captar, transformar e distribuir a energia eletromagnética que rodeava e rodeia nosso mundo.

E aí, precisamente, estava a chave da destruição desta Humanidade...

 

                           SÉRIES QUE ABRANGEM CONHECIMENTOS DE

                           FLORA, FAUNA E RAÇAS DO PLANETA

Às anteriores terá que acrescentar outras centenas de pedras — de todos os tamanhos — onde a Humanidade da Era Secundária gravou seus conhecimentos sobre evolução, ciclos biológicos, etc., dos animais que povoavam a Terra naqueles tempos.

Assim, pude ter em minhas mãos dezenas de pedras onde apareciam animais desconhecidos para o homem de hoje, e outros — tais como cangurus — que não são oriundos do continente sul-americano. Mas, o que faziam então estes animais na «biblioteca» de pedra?

O professor Cabrera Darquea me assinalou deste modo outros muitos cantos das pedras em que tinham sido gravados dezenas de novelos e flores, hoje extintas.

O homem «gliptolítico», além disso, tinha um conhecimento completo do planeta. Por isso nas pedras lavradas encontramos também as distintas raças humanas que existiam naquele remoto passado.

A estas «séries» teríamos que acrescentar muitas outras sobre «Direito», «Religiões», «Esporte», etc., que ainda se encontram em fase de investigação por parte do doutor Cabrera.

Entretanto — e apesar do muito que tudo isto representa —, a «biblioteca» de pedra do Peru está virtualmente por desvelar.

 

 

                           UM «PESO DE PAPÉIS» DE 140 MILHÕES DE ANOS

Tudo começou com um «peso de papéis». Ou, melhor dizendo, com o que um amigo do doutor Cabrera Darquea considerou que poderia servir como «peso de papéis».

Aquilo ocorreu por volta de 1966.

Um dia como tantos outros, o médico da cidade peruana de Ica, dom Javier Cabrera Darquea, recebeu, como digo, das mãos de um concidadão, uma pequena pedra de cor parda em que aparecia gravado um estranho pássaro.

Ao princípio, o médico icano não reparou no chamado gravado. Entretanto, pouco tempo depois de que a pequena pedra fora depositada sobre sua mesa de despacho, o médico do Hospital Operário de Ica e professor de Biologia — homem curioso e inquieto — tomou de novo em suas mãos o «peso de papéis» e ficou profundamente sentido saudades. Aquela gravura não representava uma ave conhecida pelo homem de hoje. E Javier Cabrera investigou.

Os resultados foram ainda muito mais desconcertantes. Aquele «pássaro» era um pterosáurio. Em outras palavras, um réptil voador, uma ave pré-histórica já extinta e que, segundo a Paleontologia, tinha vivido nos períodos Jurássico e Cretácio. Quer dizer, faz mais de 140 milhões de anos...

«Como é possível? —perguntou-se, desconcertado, o doutor Cabrera —. Quem pôde gravar com tanta precisão um réptil pré-histórico já desaparecido...?»

Estas perguntas empurraram o nosso protagonista a interessar-se vivamente por pedras. E interrogou ao amigo que a tinha trazido...

— Asseguraram-me que há aos milhares — respondeu este —. Muitas delas, inclusive, de grande peso e beleza. Tenho entendido que as gravam os camponeses do povoado do Ocucaje...

Javier Cabrera, conhecedor do dito povoado, assim como das humildes e singelas pessoas que o povoam — não em vão era médico do Hospital Operário de Ica —, não conseguia entender. O mistério, longe de esclarecer-se, obscureceu-se muito mais. E a curiosidade insaciável de Cabrera lhe impulsionou a seguir o «rastro» da diminuta pedra do réptil-voador.

Foi assim como o médico da Ica ia encontrar-se com o mais fantástico descobrimento de todos os tempos: a «biblioteca» lítica de uma civilização, de uma Humanidade esquecida que povoou nosso mundo na mais tenebrosa noite dos tempos.

Quando conheci Javier Cabrera Darquea, a investigação iniciada por ele por volta de 1966 se encontrava já — por sorte para mim — francamente avançada. Tinham sido oito longos, intensos e silenciosos anos de trabalho, de esforços e de constantes gastos por parte do professor peruano. Todas e cada uma daquelas 11.000 pedras lavradas que tinha conseguido reunir em seu antigo consultório médico da praça de Armas de Ica foram religiosamente abonadas aos camponeses do Ocucaje, que tinham encontrado no doutor Cabrera o mais fiel comprador das pedras redondas. Um destes camponeses — Basilio Uchuyafue — possivelmente o maior «fornecedor».

Mas, como cheguei ao conhecimento da existência desta «biblioteca» de pedra que com tanto zelo tinha reunido e estudado Javier Cabrera?

Em realidade, nunca me expliquei em relação a isso tudo. Naquela época — agosto de 1974 — eu viajei ao Peru como enviado especial de meu periódico — A Gazeta do Norte —, a fim de trabalhar em uma série de reportagens que, até certo ponto, ia se ver ligada com a formidável «biblioteca» do deserto peruano. Refiro-me à notícia dada em Lima a respeito de estranhos e insólitos «contatos» telepáticos e físicos entre membros do chamado Instituto Peruano de Relações Interplanetárias (IPRI) e seres extraterrestres, tripulantes dos OVNIS.

Quando me encontrava investigando e trabalhando em dita notícia, dois membros deste Instituto — Ernesto Aisa e Tiberio Petro Leão —, conhecedores e interessados no achado de Cabrera Darquea, falaram-me do mesmo.

Alguns dias depois — acredito recordar que em 31 de agosto — conhecia pela primeira vez a Javier Cabrera Darquea e suas 11.000 pedras.

Nunca esquecerei minha primeira impressão ao entrar no museu central onde o investigador conserva seus «livros» de pedra. Acredito que faria mal se passasse por cima daquela sensação, aquele choque que percorre-nos até os últimos rincões da alma ao enfrentar-se pela primeira vez com milhares e milhares de pedras lavradas...

Essa sensação — de tanto valor para mim— é algo que, como assinalava ao começo deste livro, só pode ser compreendida quando se está frente à «biblioteca» lítica. Só assim.

E essa sensação, esse tremendo choque, faz-lhe intuir a um — e não sei bem por que - quando se encontra ante «algo» distinto, desconcertante, estremecedor, desconhecido...

Poucos minutos depois de ter escutado as primeiras e apressadas explicações de Cabrera e de ter explorado algumas poucas das milhares de pedras gravadas da coleção, comecei a suspeitar que «aquilo» dificilmente podia ser obra de camponeses... Ali havia algo mais. Algo grande.

Lembro-me que aquela minha primeira estadia no museu central de Javier Cabrera foi mais breve que nunca. Ardia em desejos de conhecer esses camponeses do povoado do Ocucaje, a escassos quilômetros da cidade de Ica. Precisava limpar totalmente de meu espírito uma incógnita que apenas se podia sustentar-se.

Como era possível que tivessem atribuído semelhante obra de gravação, semelhantes conhecimentos, à camponeses que habitavam em casas de tijolo cru e palha e que, na maior parte dos casos, não sabiam ler nem escrever?... E enquanto viajávamos pelo branco deserto, rumo ao Ocucaje, recordei alguns dos momentos de minha primeira entrevista com Cabrera...

— ...Quando descobri que a pedra que me tinham oferecido como «peso de papéis» continha a gravação de um réptil-voador que tinha existido faz milhões de anos, dediquei a uma intensa busca de pedras. Pus-me em contato com camponeses que as vendiam, e comecei às adquirir. Assim descobri um dia que todas aquelas pedras podiam «seriar-se».

Cada «tema» aparecia gravado, não em uma, a não ser em várias pedras. Às vezes, em dezenas delas... Meu interesse cresceu e cresceu, até que um dia, estando eu trabalhando no Hospital Operário, tropecei com o Basilio Uchuya. O bom camponês que levava um pacote sob o braço. Um pacote que continha pedras gravadas e que tinham sido compradas pelo diretor do Hospital.

E assim, desta forma, conheci a Uchuya. A partir desse dia, o homem me foi proporcionando pedras...

Mas meus pensamentos se viram interrompidos ante a súbita aparição — ao fundo do poeirento deserto — das oito ou dez choças de tijolo cru que constituem o muito humilde lugar. Ao descer do veículo, um grupo de meninos descalços, quase nus e com o profundo acanhamento de que nada tem, rodeou-nos, nos solicitando sem cessar alguns sóis. Aquilo fez que meus olhos se abrissem de tudo.

Ali não havia mais que pobreza e miséria. Pó, choças tostadas pelo sol do deserto e camponeses singelos e silenciosos que nos observavam da escuridão de seus barracões.

Os amigos que me acompanhavam —Tito e Tibério— me assinalaram uma daquelas choças cinzas, no meio do areal.

— É a casa do Basílio Uchuya — comentaram —. Os arqueólogos do país afirmam que todas estas milhares de pedras foram gravadas, integralmente, por ele...

 

                             «NÓS AS TIRAMOS»

Naquela minha primeira visita ao Ocucaje ia produzir um fato que só meses depois — ao realizar minha segunda viagem ao Peru — percebi em toda sua importância. Basílio Uchuya, homem receoso, conhecia meus dois amigos fazia já meses. Havia-os visto numerosas vezes pelo Ocucaje, e sempre terminavam por adquirir algumas das pedras gravadas que armazenava o camponês sobre o piso de terra de sua casa. Daí que existia uma certa amizade entre o tal Uchuya e meus acompanhantes.

Basílio nos levou então até um dos rincões da choça e nos mostrou entre vinte e quarenta pedras gravadas, cujos pesos podiam oscilar entre 200 ou 300 gramas e 15 ou 20 quilogramas.

O sol se pôs depois das colinas vulcânicas do Ocucaje e foi preciso que Uchuya aproximasse uma vela para poder distinguir as gravações que apareciam nas pedras.

Aqueles cantos redondos — essa foi minha impressão — eram idênticos a muitos dos que tinha visto poucas horas antes no museu de Javier Cabrera. Só houve algo que me fez ficar cismado. Depois de percorrer duas ou três choças mais e de examinar «a mercadoria» que em todas elas tinham preparadas para a venda, não consegui descobrir nenhuma só pedra lavrada de grande volume — tal e como tinha visto no centro de trabalho do doutor Cabrera — nem tampouco com os formosos alto-relevos que apareciam em muitas das que eu tinha podido contemplar na Ica.

— Bom — responderam os camponeses quando lhes interroguei sobre este particular—, as pedras grandes custam muito a tirar... E se não houver um comprador fixo...

Aquela palavra —«a tirar»— passou quase inadvertidamente para mim. Mas não para meus amigos, que tomaram nota dela.

Naquele instante, Tito Aisa pressionou habilmente a Pedro Huamán, que era o camponês com quem conversávamos naquele instante.

— E em que lugar diz você que as «tirou»...?

— Há vários — respondeu aquele —. Há colinas de onde todos tiramos... Aí mesmo, nas colinas próximas.

Aquela conversação, insisto, ia ter uma grande importância meses depois, quando a polêmica sobre a autenticidade das pedras gravadas do doutor Cabrera adquiriu impressões espetaculares.

Meses depois, já em janeiro de 1975, aqueles mesmos camponeses com os que eu tinha conversado sobre suas choças do Ocucaje declarariam publicamente que as pedras lavradas eram «trabalhadas» por eles mesmos, não «tiradas»... A razão era tão elementar como compreensível e até desculpável. A Lei protege os tesouros arqueológicos e proíbe categoricamente a extração e venda clandestina dos mesmos.

Se alguém no Peru é descoberto desenterrando restos arqueológicos ou reconhece que comercializou com eles, pode ser multado ou encerrado na prisão.

É muito lógico, portanto, que os camponeses do Ocucaje, sabedores desta questão, não reconheçam jamais — oficialmente — que essas milhares de pedras gravadas que foram retiradas à vontade do país, assim como no estrangeiro, foram desenterradas ou extraídas no deserto onde habitam.

Mas, voltaremos sobre esse assunto mais tarde. De momento, minha curiosidade tinha ficado satisfeita. Aquele primeiro contato direto com os habitantes do Ocucaje, aquelas conversações com o Basílio Uchuya, Pedro Huamán, Aparício Aparcana e outros, confirmaram-me o que, cada vez com mais força, ia ganhando terreno em meu cérebro: «Nenhum camponês do mundo poderia conceber e desdobrar semelhante amontoado de conhecimentos científicos...»

Mas houve um novo detalhe que me deixou perplexo.

Na hora de tratar de adquirir algumas das pedras gravadas que guardavam Uchuya e companhia em seus lares, observei que o preço das pedras mais volumosas e, por conseguinte, mais caras, era absurdo. Irrisório.

Qualquer daquelas gravações — apesar de que o tamanho das pedras maiores era ínfimo se o comparávamos com muitas das que tinha visto na Ica — deveria ter sido vendida a um preço alto, digno do inegável trabalho, esforço e arte que saltavam à vista. Mas não.

Quando perguntamos aos camponeses qual era o preço, estes fixaram as pedras mais formosas em 150, 200 ou, como muito, 250 sóis. Quer dizer, naquela época corresponderia entre 200 e 400 pesetas...

Mas este era o preço, repito, das pedras maiores e pesadas. A maior parte, muito mais reduzidas, custava entre 20 e 100 pesetas.

E me perguntei novamente por que; a que se devia que tão formosos «trabalhos» fossem vendidos por tão poucos sóis...

Qualquer daquelas pedras do tamanho médio levaria à um artista com experiência um mínimo de um mês de trabalho. Em minha segunda viagem ao Peru, e ao visitar de novo o povoado, Tito Aisa e Tibério me assinalariam uma das pedras que tinha sido depositada no curral da casa de Aparício Aparcana.

— Esta pedra — comentaram — está aqui há quatro meses. E, como vê, está sem terminar.

A pedra, efetivamente, reproduzia — e muito grosseiramente por certo — alguns dos motivos que eu tinha visto em outros gliptolitos da coleção de Javier Cabrera. Mas estava sem concluir...

— Leva quatro meses trabalhando sobre a pedra — prosseguiu Tito —. Sabemos porque cada semana acudimos fielmente ao povoado e damos uma olhada.

O problema, uma vez mais, aparecia com claridade. Se um daqueles camponeses fazia quatro meses que tratava de terminar uma só pedra, quanto tempo se teria necessitado para «fabricar» essas 50.000 que na atualidade existem dentro e fora do Peru?

Naquele instante eu ignorava também que, quatro anos antes de que Javier Cabrera Darquea começasse seus estudos sobre as pedras lavradas, outras personalidades do país — entre elas o ex-reitor da Universidade de Engenharia de Lima, dom Santiago Agurto Calvo — tinham tido já em suas mãos muitas destas pedras gravadas. Alguns, inclusive, como no caso do arquiteto, senhor Agurto, levaram a cabo uma séria investigação, localizando vários destes cantos gravados no fundo de tumbas pré-hispânicas. Mas possivelmente estes pontos devem esperar. Ao sair do Ocucaje, com direção a Ica, meus pensamentos —mais tranqüilos depois da observação direta dos camponeses — tinham retornado à misteriosa «biblioteca» do médico icano. Quantos segredos encerravam aqueles milhares de gliptolitos? Quanta sabedoria? Quantos conhecimentos que nem sequer o homem de hoje conseguiu alcançar?

As perguntas se empurravam umas a outras em minha mente. Mas o professor Cabrera, com tanta paciência como amabilidade, foi-as limpando uma atrás de outra.

Tenho que dizê-lo desde o começo. Javier Cabrera nunca se opôs a conversar sobre qualquer dos múltiplos «capítulos» que abrange a grande «biblioteca» lítica. Sempre escutou minhas perguntas, meus raciocínios, e sempre respondeu a eles, embora — em alguns casos e por motivos que tratarei de me explicar — rogou prudência na hora de dá-lo a conhecer.

Quero dizer com isto que as portas de Javier Cabrera permaneceram e permanecerão sempre abertas para todos aqueles que, de boa fé, aproximem-se até sua casa.

Mas minha primeira pergunta estava já no ar. E Cabrera, depois de refletir uns segundos, tratando de sintetizar esses oito anos de estudo, começou a falar:

— Como cheguei à conclusão de que esta «biblioteca» lítica foi deixada por uma Humanidade que viveu faz milhões de anos? Bem, do primeiro momento em que comecei a adquirir estas pedras me dava conta que se tratava de uma «biblioteca». Qualquer um teria visto... O que era então importante?: conseguir um máximo de pedras ou «livros», a fim de chegar a um conhecimento mais exato e profundo do que aqui nos estava tratando de comunicar.

E assim o fiz. Durante meses e meses comprei e consegui quantas pedras pude. Nenhuma gravação era igual a outra. Nunca se repetiam. Era fascinante...! Era como se fôssemos reunindo as páginas de um livro e os distintos volumes de toda uma gigantesca biblioteca. Repito, podia seriar-se. E comecei a descobrir, depois de não poucos estudos, que tudo parecia ter um sentido. Ali estava-se explicando algo...

É obvio, desprezei a idéia de que se tratasse de uma simples manifestação artística de Deus de alguma cultura ou civilização.

Depois de obter várias centenas destas pedras — de todos os tamanhos —cheguei a uma conclusão: aquelas gravações e alto-relevos constituíam ideografias. Serviam para representar algo. Mas, Deus santo!, o que era aquilo em realidade...?

Passei milhares de horas investigando, analisando e sopesando cada uma das pedras que me tinham chegando. Meses depois de iniciar este trabalho, toda minha obsessão estava centrada em encontrar alguma pedra através da qual pudesse conhecer a antiguidade da civilização que tinha trabalhado semelhante biblioteca.

Mas o tempo foi passando com lentidão e essa pedra não chegava. Eu tinha descoberto então cavalos, cangurus, camelos e outros animais que, entretanto, não me assinalavam com claridade a antiguidade destes livros de pedra.

Até que um dia — finalmente — apareceu uma com a figura do que resultou ser um dinossauro...

Era a nítida reprodução de um stegosaurus. E depois chegaram outras muitas pedras nas que fui reconhecendo outros animais antediluvianos como o triceratops, tyrannosaurio, etcétera.

Estes grandes sáurios — assim o diz a Paleontologia — tinham povoado o planeta faz milhões de anos... Como era possível então que tivessem sido gravados pelo homem ou por figuras que, ao menos, tinham aspecto humano? Porque naquelas pedras, em dezenas e dezenas delas, repetia-se constantemente a presença do homem junto à estes animais pré-históricos. E isso é, ao menos, o que a Ciência sempre nos ensinou — não admite a existência do ser humano com milhões de anos...

Aquilo me maravilhou. Entretanto, não podia me deixar levar pela imaginação. Era certo que em muitas das pedras que me tinham sido trazido, o homem convivia com os gigantescos sáurios da Era Secundária ou Mesozóica. Era certo que as gravuras reproduziam com grande exatidão anatômica estes animais desaparecidos. Mas era necessário assegurar-se por completo. Podia tratar-se da imaginação criativa de uns homens que jamais conheceram ou souberam destes animais? Logicamente, não. Mas, insisto, terei que considerar todos os dados... terei que procurar uma relação mais positiva.

Eu, francamente, não podia acreditar que o sentido artístico ou a imaginação de uns homens pudesse coincidir tão exatamente com os restos de tantos fósseis que conhecemos na atualidade. É francamente difícil...

Então, como podia chegar a essa prova definitiva que vinculasse ao ser humano com os grandes sáurios da Era Mesozóica? Só através, logicamente, de conhecimentos da biologia e fisiologia destes animais. Só se conseguíssemos encontrar pedras onde aquela Humanidade descrevesse, por exemplo, os ciclos biológicos dos sáurios gigantes...

— Mas, por que? — interrompi a Javier Cabrera.

— Quem poderia descrever o ciclo biológico ou a fisiologia de um animal? Unicamente quem pôde observá-lo e conhecê-lo. Unicamente quem conviveu com ele. Só alguém que devia lutar permanentemente contra estes monstros porque, simplesmente, eram seus grandes e mais ferozes inimigos.

E essa pedra chegou. Demorou meses, mas, ao fim, um dos camponeses a pôs ante meus olhos...

Aquela pedra era tão fascinante, aquele alto-relevo significava tanto em minhas investigações, que se tivesse tido 100.000 sóis, 100.000 sóis teria dado àquele camponês...

Mas, o que encerrava aquela pedra? Por que o doutor Cabrera lhe tinha concedido semelhante importância?

Não demorei para compreendê-lo. Ali, ante meus olhos, colocada sobre uma mesa especial, separada ex-professo, estava uma das mais formosas pedras lavradas da coleção do médico e investigador.

Só aquele exemplar — igual ao que acontece com outras das pedras que pude contemplar – já merecia um livro.

 

                               O HOMEM CONVIVEU COM OS SÁURIOS

— Não havia possibilidade de engano. Estudei esta pedra várias vezes. Comparei-a com o resto, com a «série» que mostrava os grandes sáurios pré-históricos... Tudo coincidia.

Ali estava o ciclo biológico e a forma de destruir ao stegosaurus, um monstro pré-histórico pertencente ao ramo dos dinossauros armados ou blindados e que viveu no período Jurássico.

Mas, observa...

Javier Cabrera me assinalou no alto-relevo da amarelada pedra as placas ósseas verticais que se estendiam em todo o comprimento do lombo do animal. E comentou, entusiasmado:

— Neste magnífico relevo se pode ver com claridade a fila dobrada de placas que protegia a este dinossauro. E também vemos em sua cauda uma série de pontas agudas, que lhe servia como arma defensiva.

Pois bem, esta civilização gravou o ciclo biológico do stegosaurus não só para oferecer um conhecimento de Zoologia, mas também, principalmente, para fazer ver que a única forma de exterminar a este inimigo era destruindo-o desde suas formas mais primitivas.

E aqui, junto à fêmea do stegosaurus, que se diferencia do macho por seu pescoço mais largo, o homem gliptolítico deixou gravado também o processo, a metamorfose, que sofriam as larvas...

Duvidei um instante, mas recordei que a Paleontologia ensina que os répteis pré-históricos não experimentavam metamorfose. Os novos sáurios nasciam de um ovo, sim, mas já com sua forma definitiva.

— Isto não encaixa com o que ensina a Ciência atual — insinuei à Cabrera.

— Com efeito. Isto não concorda com o que a Paleontologia assegura...

Fiquei perplexo. E observei os alto-relevos daquela desconcertante pedra com muito mais intensidade.

— Aqui pode ver — continuou o médico icano que, junto ao stegosaurus adulto, também gravaram as primeiras larvas sem patas. Continuando, com as duas patas anteriores; depois, a larva com as patas posteriores... Isto, querido amigo espanhol, chama-se metamorfose.

Até agora tínhamos acreditado que os répteis pré-históricos nasciam já dos ovos com suas formas completas. Mas isto nos está mostrando o contrário. E isto é uma observação direta! Ninguém poderia refletir um conhecimento tão exato do ciclo biológico de um animal se não o tivesse observado meticulosamente.

— Mas na pedra, como vê, há outros elementos — prosseguiu Javier Cabrera —. Vários homens levam armas e estão atacando o animal.

Assim era, efetivamente.

— Por que? Porque estes monstros ameaçavam a vida daquela Humanidade. Durante a Era Secundária, milhares de espécies destes enormes sáurios se estenderam por todos os continentes e mares. E o homem «gliptolítico» não teve mais remédio que lhes declarar a «guerra».

Por isso nestas pedras, quando aparecem cenas de caça de dinossauros, sempre se estendem as matanças até as larvas dos monstros antediluvianos. Desta forma, com a morte do macho e da fêmea e a destruição dos ovos e as larvas, conseguiam um extermínio virtualmente completo. Rompiam o ciclo biológico.

— E quantas pedras similares encontrou você agora?

— Cheguei a reunir as «séries» dos «ciclos biológicos» do triceratops, tyrannosaurio, megaquiróptero ou morcego gigante, stegosaurus e agnato. Destes animais disponho dos «ciclos biológicos» completos. De outros, só consegui reunir parcialmente as respectivas «séries».

O doutor me conduziu até uma das estantes onde guarda centenas de pedras gravadas de todos os tamanhos.

— Aqui tem, por exemplo, o do agnato. Seu «ciclo biológico» está formado por mais de 100 pedras...

Era surpreendente. Havia pedras de todos os tamanhos. Desde algumas muito reduzidas, de apenas 50 ou 100 gramas, até outras de 40 e mais quilogramas. E em todas elas pude comprovar a evolução, a clara metamorfose deste peixe pré-histórico que viveu em nossos oceanos no período Devônico (Era Primária ou Paleozóica) e ao que lhe assinala, portanto, há mais de 320 milhões de anos.

(Conforme indica a Paleontologia, estes peixes sem mandíbulas são os primeiros vertebrados conhecidos. Os ostracodermos não tinham desenvolvido as mandíbulas ósseas ou os pares de aletas que possuem todos os peixes posteriores a eles. Seus restos se encontram já no período Silúrico, mas são comuns só durante o referido período Devônico. Alguns — segue afirmando a Paleontologia — viveram no mar, e outros, em água doce. A maior parte dispunha de um «casco» ósseo ao redor da cabeça e parte frontal do tronco, assim como grossas escamas também ósseas sobre o resto do corpo.)

— Mas entre todas estas pedras — continuou Javier Cabrera — encontrei também algumas que davam uma nova dimensão destes peixes pré-históricos. Estes agnatos eram gigantes...

Cabrera me assinalou várias pedras de grande peso, separadas do centenar que constituía a «série» do «ciclo biológico». Observei gravações deste mesmo tipo de peixe sem mandíbulas, mas, com uma sensacional diferença em relação às anteriores pedras. Neste caso, o agnato aparecia devorando uma perna humana...

— O que significa? — interroguei ao investigador.

— Que estes peixes eram gigantescos... Em certa ocasião me visitou um professor e me assinalou que a única espécie de agnato conhecida na atualidade foi encontrada no Vietnam. Mas eram muito pequenos. Quer dizer, com estes peixes pré-históricos aconteceu exatamente igual com os grandes répteis da Pré-história. Os «descendentes» atuais — os escassos «parentes» daqueles — viram-se reduzidos seu tamanho a extremos insuspeitados.

Mas voltemos de novo para a pedra que tinha dado a chave da antiguidade ao investigador da Ica.

Aquele fascinante exemplar, com forma de «ovo» gigantesco, «mostrava» muito mais. Como se se tratasse de um «filme», os alto-relevos foram percorrendo a superfície da pedra, explicando primeiro o chamado «ciclo biológico» do stegosaurus para passar a seguir a outra «seqüência» tão desconcertante ou mais que a primeira. Dois homens de estranhas caras se situaram sobre o lombo do animal. E pareciam atacar ao grande sáurio...

Javier Cabrero me explicou assim o significado daquela «seqüência»:

— O stegosaurus media uns seis metros de altura. E embora pareça ser que se alimentava de vegetação branda, eu comprovei nas pedras que também atacava ao homem. Pois bem, esta era uma das razões pelas quais a Humanidade pré-histórica empreendeu também a «guerra» contra o stegosaurus.

Este enorme animal tinha na cabeça um osso tão débil que com um golpe lhe podia matar. Mas, como arrumavam estes caçadores para chegar até o crânio? Aqui tem explicado...

E Cabrera me assinalou novamente aos dois seres que pareciam «caminhar» sobre o lombo do monstro pré-histórico.

— ...O stegosaurus, como outros répteis, dispunha de um cérebro normal e de um gânglio pélvico que regia o automatismo da parte posterior do corpo do animal.

Isto foi reconhecido pela Ciência atual. Daí que lhes tenha chamado também de cérebro duplo. Em sua coluna vertebral se produzia uma dilatação, muito superior, inclusive, ao do cérebro propriamente dito, e que tinha por finalidade, como disse, o controle dessa zona posterior do grande sáurio.

Pois bem, o caçador subia pela cauda — concretamente pelo estreito corredor que ficava entre as duas fileiras de placas ósseas — e chegava até a altura da cintura escapular. Essa dependência era fatal para o animal, posto que fazia insensível sua cauda... E isto sabiam os homens das pedras gravadas.

Subiam pelo monstro até que este sentia algo sobre a zona do referido gânglio pélvico. Nesse instante, o stegosaurus voltava a cabeça e o caçador lhe rompia o crânio de um golpe.

Não tinha saído de meu assombro quando Javier Cabrera me pediu que lhe acompanhasse até outro lugar de seu museu. Ali, em outras enormes pedras, havia também gravações e alto-relevos com novos tipos de dinossauros.

— Com o stegosaurus — prosseguiu Javier — não havia quase perigo. Entretanto, não acontecia o mesmo com este outro: com o chamado tyrannosaurio.

Este formidável monstro carnívoro tinha o pescoço curto e robusto e a cabeça provida com poderosas mandíbulas. A Paleontologia assegura que fez sua aparição no final do período Cretácio, quer dizer, faz mais de 65 milhões de anos. Tinha quinze metros de comprimento e seis de altura, e suas patas dianteiras eram tão curtas que, conforme parece, não podiam chegar até a boca.

O tyrannosaurio — conforme pude comprovar com o estudo dos gliptolitos— era um dos mais terroríficos e implacáveis inimigos desta Humanidade. E contra ele foi dirigida grande parte desta operação de «limpeza».

Mas, logicamente, a tática para exterminá-lo não podia ser idêntica à empregada no caso do stegosaurus.

Javier centrou minha atenção em uma pedra concreta. Ali se reproduzia a figura de um destes ferozes monstros do Cretácio. E junto a ele, outros homens que levavam também armas.

— O tyrannosaurio era um animal extremamente perigoso. O que faziam então os caçadores? Em primeiro lugar — tal e como vê na pedra — lhe deixavam cego. Desta forma, outro caçador podia subir pela cauda e lombo do animal, lhe golpeando na cabeça. Mas, olha!, não em qualquer ponto do crânio... Como vê, a arma que leva o homem gliptolítico tem uma espécie de rajado. E na cabeça do tyrannosaurio gravaram também outro ponto, com um rajado idêntico ao da arma. Pois bem, isso significava que deviam golpear ao monstro pré-histórico em uma zona muito específica do crânio.

Estas noções precisas da anatomia de um tyrannosaurio, de um stegosaurus, de um triceratops, etc., e de seus ciclos biológicos, só podem revelar um conhecimento profundo da fauna. Um conhecimento que só poderia produzir-se se tivesse coexistido com ditos seres.

Mas aquele «capítulo» da «guerra» aos monstros antediluvianos ia culminar com outra insólita pedra lavrada. Em minha opinião, a mais espetacular de quantas consegui ver na coleção do professor Cabrera.

Aquele «livro» de 70 ou 80 quilogramas, perfeitamente arredondado e com um alto-relevo desconcertante, tinha sido doado pelo também amigo do doutor icano, Tito Aisa. Eu tinha admirado aquela fascinante pedra na casa deste último, em Lima. Mas em minha segunda viagem ao Peru, o magnífico exemplar se encontrava já no museu de Javier Cabrera Darquea.

Distribuídos à perfeição entre as duas faces da pedra, pude ver um enorme «pássaro mecânico» sobre o qual voavam dois seres que levavam um telescópio e com o que olhavam para a terra. Mas, o que «procuravam» aqueles homens desconhecidos? A resposta estava também no «livro» lítico.

De ambos os lados da pedra, e coincidindo precisamente com sua parte inferior, apareciam as gravuras em alto-relevo de dois dinossauros. Um terceiro homem, idêntico aos que se encontravam sobre o «pássaro mecânico», tinha descido até o lombo de um dos dinossauros e, enquanto se sujeitava à «nave» com uma espécie de «cordão umbilical», com a outra mão afundava uma faca no corpo do animal.

Naquela gravura havia também outros três elementos para os que Cabrera guardava uma não menos sensacional revelação. Tratava-se de três Luas situadas em distintas posições no céu ou firmamento no que se movia o grande «pássaro mecânico».

— Estes seres — começou o médico peruano — tinham vencido a força da gravidade e dispunham de aparelhos voadores que aqui, nas pedras, aparecem «ideografados» como «pássaros mecânicos». Pois bem, essas máquinas voadoras lhes permitiram estender sua «guerra» contra os animais pré-históricos a todo o planeta.

Estudando as pedras soube que, em muitos casos, como no do tyrannosaurio, cegavam ou atordoavam ao animal, lançando uma descarga sobre o mesmo. Isto lhes permitia descer de seus aparelhos voadores para rematar ao monstro ou subir até sua cabeça pela cauda e o lombo.

Era simplesmente desconcertante.

Permaneci largas horas contemplando, analisando e refletindo sobre aquele alto-relevo de 40 centímetros de largura, 70 de altura e pouco mais de 20 de longitude. Era a mais fantástica pedra da grande «biblioteca». O documento mais sensacional e definitivo que mostrava a existência de outra Humanidade, mais tecnificada, inclusive, que a nossa. Até o momento, como apontava ao começo desta reportagem, nenhuma das teorias esgrimidas em prol de possíveis e remotas «supercivilizações» se encontravam sustentadas por provas concretas, por dados físicos visíveis...

Mas isto era distinto. Tão distinto e revolucionário, que todo o anterior ficava eclipsado, esfumado.

— Os paleontologistas se seguem perguntando por que estes animais pré-históricos tão numerosos e resistentes desapareceram subitamente da face da Terra. Como pode explicar-se este singular feito?

A colocação de Cabrera me tirou de novo de meus pensamentos. A repentina extinção destes milhões de gigantescos sáurios que dominavam os antigos continentes do planeta era, em efeito, uma incógnita fascinante.

Era difícil pensar que a ferocidade de uns pudesse terminar com a totalidade do resto, e de maneira tão súbita. Não é precisamente o sistema eleito pela Natureza em seu constante processo de seleção natural das espécies. Muitos desses gigantescos sáurios teriam permanecido ou se teriam transformado, adequando-se às novas necessidades de seus hábitats. Mas nada disso ocorreu.

Outros paleontologistas levantaram também a possibilidade de que este estranho fenômeno tivesse sua origem em um esfriamento do clima do período Cretácio — grande marco no que se moveram boa parte destes animais antediluvianos — que deu ao traste com aquela fabulosa fauna. Como se sabe, os dinossauros parece ser que se valiam de seu enorme tamanho para regular a temperatura do corpo. Ao não dispor de um envoltório isolante, de um casaco de pluma, cabelo ou lã, estes monstros pré-históricos foram perecendo. Esta teoria, entretanto, resisto também estrepitosamente...

De ter ocorrido assim, o lógico é que muitos destes dinossauros tivessem sobrevivido durante a Era Terciária ou Cenozóica. Ao menos, durante uma parte da mesma e nas zonas mais quentes do mundo...

Nenhuma destas hipóteses resolveu satisfatoriamente o problema. Por que tantos e tão diversos grupos de animais antediluvianos foram apagados do planeta de forma tão simultânea e entristecedora?

Javier Cabrera Darquea o tinha descoberto naquela incrível «biblioteca» do passado deste velho nosso mundo.

E me explicou isso com estas singelas e, ao mesmo tempo, estremecedoras palavras:

— Uma grande catástrofe, um cataclismo de proporções insuspeitadas, teve lugar na Terra faz milhões de anos. Pois bem, essa tremenda destruição, essa convulsão maciça do planeta terminou com a existência desses milhões de répteis gigantescos que tinham povoado o mundo desde tempos muito remotos. Só isso, e a metódica e maciça «guerra» que aquela Humanidade sustentou com os grandes sáurios, pode explicar o desaparecimento destes animais.

O homem «gliptolítico» lutou intensamente contra os dinossauros e demais répteis. Foi uma «guerra» de toda a Humanidade contra estes monstros... Assim se reflete em centenas de pedras gravadas. Foi uma «guerra» — e isto é importante — em que participou toda a civilização que então habitava a Terra. Uma guerra de morte. Sem trégua. Uma «guerra» que foi mais à frente, inclusive, da simples matança dos sáurios, posto que a Humanidade rompeu o «ciclo biológico» destes monstros pré-históricos, anulando assim a sobrevivência das espécies.

Estas matanças maciças e constantes e o formidável cataclismo — que também contribuiu à anulação do mecanismo reprodutor dos répteis — explicam essa súbita extinção dos mais fantásticos e resistentes animais que jamais tenham povoado a Terra. Se não fosse por isto, possivelmente hoje muitos deles seguissem povoando o planeta...

Entretanto, em outro capítulo deste livro falarei mais extensamente da catástrofe mencionada pelo professor Cabrera Darquea. Quero expor agora — e a título de simples orientação — a origem do cataclismo que acabava de comentar o investigador das pedras lavradas.

— Naqueles tempos — me explicou Javier—, e tal e como decifrei nos gliptolitos que formam esta «biblioteca» pré-histórica, ao redor de nosso mundo giravam três Luas ou satélites naturais.

Uma formidável defasagem entre a tecnologia utilizada por aquela Humanidade e o magnetismo natural da Terra foi provocando um desajuste nas órbitas de duas destas Luas, que terminaram por cair sobre o Planeta. Este impacto terrifico convulsionou os continentes e oceanos, provocando a indescritível catástrofe...

Mas deixemos aqui o relato do cientista peruano. Naquele instante, enquanto Cabrera me explicava sobre as pedras lavradas do deserto do Ocucaje o apocalíptico choque daquelas Luas contra nosso mundo, recordei uma das muitas teorias que sobre este formidável cataclismo mundial se escreveu. Uma das que, possivelmente por sua plasticidade e verossimilhança, mais me tinham impressionado até o momento de conhecer as pedras gravadas de Ica. Dizia assim:

Sibéria norte-oriental, 5 de junho do ano 8496 antes de Cristo. São 12:53 (hora local). Sete minutos antes da colisão do planetóide com a Terra.

O Sol está alto no céu, e junto a ele se acham, invisíveis no claro azul, o planeta Vênus e a Lua nova. As árvores confinadas da selva virgem projetam sombras breves sobre o chão. O musgo verde escuro cresce viçoso sob os altos troncos de pinheiros, abetos e alerces. O rio, saindo da selva, corre, murmurando e gorgolejando, através de uma clareira. É uma espaçosa clareira com erva fina, suculenta, rico em samambaias e flores junto à borda.

De repente retumba uma pisadela entre os arbustos junto ao bordo da esplanada, os ramos se rompem crepitando e as copas das árvores começam a arquear-se. Uma manada de elefantes se aproxima do rio...

Às 14:47 dois elefantes param bruscamente. Uma força invisível os tem obstinado, e sua fúria se desvaneceu de repente. Deve ter ocorrido algo espantoso...

A catástrofe aconteceu. A sacudida provocada pela colisão empregou uma hora e quarenta e sete minutos para chegar à terra dos tunguses. A terra é percorrida por um tremor: primeiro é só uma débil vibração, quase imperceptível, mas logo se faz sensível, violenta. Da selva chega um gemido; um pinheiro gigantesco se dobra, rangendo, para a clareira, abatendo-se com fragor entre os elefantes. Alguns pássaros, espavoridos, levantam vôo.

O disco do Sol parece ter saltado de sua sede, cambaleia-se no céu, logo se detém, desliza-se lentamente para baixo, para o horizonte, volta a deter-se...

As sombras dos grandes animais, das árvores e dos arbustos se agitam convulsas sobre a clareira, alargam-se, enquanto o rio corre mais fortemente. As sombras permanecem alargadas, e o Sol já não esquenta.

Quando o tremor remete, a manada de elefantes fica em movimento. Inquietos, os grandes proboscidios pisoteiam a erva, balançam a maciça cabeça, removem o terreno com as patas... E a calma renasce muito lentamente.

Transcorrem horas sem que aconteça nada. Faz frio. Os elefantes faz muito que já se puseram a comer de novo.

São 20:53. Sete horas e cinqüenta minutos depois da catástrofe. A manada segue na clareira. Os animais arrancam ramos das árvores jovens e bebem no rio. O Sol do entardecer é amarelado, mortiço. De improviso se eleva à distância um ruído surdo, que cresce. Aproxima-se com fulminante velocidade, e logo cobre o barulho do rio, o canto dos pássaros e estala como um trovão interminável.

O chefe da manada eleva a tromba, mas seu barrito é afogado pelo enorme fragor. Com todas as suas forças inicia a carreira, e os companheiros lhe seguem. Estando acostumado a retumba sob centenas de patas titânicas, mas o ruído não afoga o que procede do céu. Pela primeira vez em sua vida, uma das mais potentes criaturas do globo é presa de pânico e corre cegamente pela selva, derrubando arbustos e árvores.

Mas, aos poucos passos, a carreira termina. O chefe da manada desaba como fulminado por um raio e morre antes que seu corpo toque o chão. Com ele, no mesmo segundo, morrem também outros. Com ele morrem todas as formas de vida da Sibéria setentrional: milhares e milhares de elefantes, de rinocerontes lanzudos e de tigres das neves, de raposas, de martas, de aves e répteis...

O que tinha ocorrido?

A 10.000 quilômetros daquela clareira siberiana, aquele 5 de junho de 8496 antes de J.C., às 13 horas, um corpo celeste caiu com violência incalculável na região sudo-ocidental do Atlântico setentrional. Aquele planetóide com seus 18 quilômetros de diâmetro era pequeno em comparação com nosso planeta. Mas as conseqüências de sua queda foram terríveis: rompeu a crosta terrestre e provocou a maior catástrofe que jamais castigou à Humanidade.

Esta e outras muitas narrações e lendas que se conservaram vivas nos corações dos povos da Terra denotam um fato único e terrifico na História do planeta. Um fato que, apesar da erosão dos séculos, transmitiu-se de civilização em civilização, de raça em raça e de continente em continente. Faz milhares ou possivelmente milhões de anos, algum astro, com efeito, chocou-se com a Terra, semeando a morte e a desolação. E essa tragédia apocalíptica ficou gravada no espírito do ser humano e transmitida de uns homens a outros.

Mas, quando teve lugar realmente esse cataclismo?

As pedras gravadas que formam a «biblioteca» lítica do doutor Cabrera têm a resposta. Uma resposta que não se move indecisa na noite dos tempos. É uma resposta concreta. Gravada em pedra.

Mas, como digo, reservemos os detalhes de tão tremenda destruição para a «série» de pedras que, precisamente, «fala» da dita tragédia.

Antes de dar por terminado este «capítulo» ou «seção» da «biblioteca» gliptolítica, em que a esquecida Humanidade do Mesozóico plasmou seus conhecimentos e lutas contra os enormes sáurios pré-históricos, Javier Cabrera me indicou um detalhe fundamental na hora de valorar as pedras lavradas.

— O volume e trabalho das mesmas — explicou — está em proporção direta à importância do tema que se «relata» nas pedras. Comprovei este importante detalhe em centenas de gliptolitos...

Isto queria dizer que, quanto mais pesada fora a pedra e quanto mais trabalho e esforço se empregou na hora da gravação, mais transcendental era a «ideografia» que aquela Humanidade tinha querido expor. Desde aí, portanto, que os alto-relevos — por término geral — assinalassem sempre conhecimentos muito mais decisivos que as simples gravuras.

Este era o caso, por exemplo, da formosa e pesada pedra — em alto-relevo — que Cabrera acabava de me mostrar e em que se «narrava» o «ciclo biológico» do stegosaurus, assim como a forma de exterminar a dito animal.

Assim acontecia igualmente com outra formidável pedra de meia tonelada em que o investigador me mostrou toda uma «matança» de homens, por parte dos dinossauros...

Quando contemplei aquela pedra descomunal, meu assombro voltou a disparar-se. Lavrados em uns alto-relevos muito finos, animais pré-históricos de vários tipos devoravam e atacavam a homens gliptolíticos.

— Mas, por que? — interroguei a meu anfitrião.

Você já viu outras pedras onde estes homens gravaram também cervos, cavalos e toda uma extensa gama de animais que conheceram. Entretanto, todos eles aparecem gravados em pedras mais ou menos pequenas. Aqui não. Com os monstros pré-históricos, com os grandes répteis, não ocorre o mesmo. Quase todos estão gravados em pedras de grande tamanho e peso. Quase todos em alto-relevos...

Por que?, perguntas. Porque nestes casos — quando se toca o tema dos dinossauros — não se trata já de caçadas mais ou menos esportivas. É a guerra de toda a Humanidade contra seus mortais inimigos. Por isso plasmavam estas cenas em pedras maiores, com alto-relevos...

E esta mole que tem ante seus olhos é outra viva amostra do que te digo. O homem não devia aproximar-se nem entrar neste lugar que assinala a rocha lavrada. Se o fazia, podia morrer. Nesta pedra está se assinalando uma área onde viviam dinossauros adultos e as formas intermediárias destes. Eram terrenos de domínio dos grandes sáurios...

Uma e outra vez me perguntava como podia o doutor Cabrera Darquea ter chegado a estas conclusões. Uma vez explicadas por ele, as «ideografias» pareciam singelas, tremendamente claras. Mas, como poder decifrar esses conhecimentos?

— Existe uma chave — concretizou o investigador —. Uma chave que, depois de muitas horas de estudo, permitiu-me ter, ao menos, 75 por cento do conhecimento da gravura. Sem essa percentagem mínima, ninguém poderia desentranhar com exatidão as gravações dos gliptolitos.

Sem essa chave, por exemplo, resultaria pouco menos que impossível averiguar que nesta outra pedra, um destes homens tem em suas mãos um coração bilobular, recém extraído de um pelicosaurio...

O professor da Ica me indicou outra das pedras gravadas. Ali observei a figura de um homem que, efetivamente, sustentava um estranho coração. E junto ao homem gliptolítico, este réptil pré-histórico de grande aleta dorsal e que — segundo a Paleontologia — apareceu no Carbonífero Superior, subsistindo até o período Pérmico Médio. Quer dizer, em plena Era Paleozóica ou Primária.

— Esta gravação de grande valor científico — prosseguiu Cabrera —, está nos revelando uma vez mais, o profundo conhecimento que tinha esta Humanidade da fisiologia e anatomia de seus inumeráveis inimigos.

Embora o doutor Cabrera me falasse ao longo de nossas numerosas entrevistas de múltiplos detalhes relacionados com essa «chave», a verdade é que em nenhum momento obtive que me fizesse uma exposição completa e exaustiva da mesma. Sempre que o insinuei me encontrei com a mesma resposta:

— Só farei pública essa «chave» quando responder a todos os ataques de que sou objeto há anos. E essa «resposta» já está em preparação. Breve será editado um trabalho no que detalho todas as minhas investigações e descobrimentos em torno desta «biblioteca».

Desde esse instante me abstive, portanto, de seguir interrogando a Javier Cabrera — ao menos de forma direta — sobre a «chave». Naquele momento, entusiasmado pelo sem-fim de conhecimentos que tinha a meu alcance, considerei mais oportuno aprender a fundo das «ideografias» e gravações que podia ver e tocar.

Aquela «série» dedicada aos animais pré-históricos e em que tinha podido descobrir nada mais e nada menos que 37 tipos de grandes sáurios, perfeitamente classificados pela Paleontologia, assim como outros muitos, desconhecidos ainda para a Ciência moderna, tinha-me aberto já novos e indescritíveis horizontes.

Seria possível, então, que o ser humano tivesse CONVIVIDO com os monstros antediluvianos?

A prova estava em centenas de pedras gravadas. Mas o próprio Javier Cabrera ia me relatar um descobrimento acontecido não faz muito no vizinho país da Colômbia e que devia ratificar todas suas afirmações.

 

                               SENSACIONAL ACHADO NA COLÔMBIA

Lembro que cada vez que expus este tema ante arqueólogos e antropólogos me senti como o herege que, irremediavelmente, termina condenado e desprezado.

Mas, homem de Deus!, como lhe ocorre pensar que o ser humano pôde conhecer e conviver com os grandes répteis e monstros pré-históricos...

Os sábios consagrados da Paleontologia aos que tive o atrevimento de consultar sobre as pedras gravadas da Ica terminavam sempre por entoar estas frases com tanta indulgência como brincadeira...

É lamentável e incrível que você possa desprezar desta forma —rematavam sempre — os milhares de volumes de tantos e tantos especialistas do mundo inteiro muito mais peritos e preparados...

Está demonstrado e claro — dogmatizam outros — que o homem fez sua aparição na Terra recentemente a mais ou menos um milhão de anos...

Todos sabemos — concluíam as máximas autoridades em Paleontologia — que esses animais antediluvianos existiram no mundo faz milhões de anos. Como podemos então aventurar semelhante desatino?

E um, que não é perito em nada, terminava por guardar suas audazes hipóteses e teorias e desaparecer da vista furiosa e indignada dos «supremos sacerdotes» da Ciência...

Mas «algo» seguia me dizendo que aquele radicalismo, que aquela intransigência, não podiam estar em posse absoluta da verdade...

Nas gravações da «biblioteca» lítica do Peru podia comprovar-se com toda claridade como o ser humano «convivia» com estes formidáveis e extintos sáurios de eras remotas. Mas, para estes arqueólogos, não era suficiente...

Possivelmente algum dia — pensei—, quando o homem possa desenterrar com suas próprias mãos os restos fossilizados destes monstros arcaicos e, a seu lado, os de um ser humano, tudo possa mudar...

Mas estava equivocado uma vez mais.

Porque esse descobrimento se produziu já faz tempo. O próprio doutor Cebrera me assinalou isso:

— O antropólogo Henao Marín encontrou recentemente em um lugar da Colômbia, denominado A Anchova, os restos fossilizados de um monstro pré-histórico: um iguanodonte.

Este achado não teria tido maior importância se não tivesse vindo acompanhado por outro fantástico descobrimento.

Henao Marín desenterrou também — e no mesmo estrato geológico! — os ossos de um homem...

— Um ser humano — continuou Javier Cabrera com entusiasmo — que, conforme parece, pertenceu ao tipo do Neandertal.

O que significa isto? Que o homem conviveu com os grandes sáurios pré-históricos.

Henao Marín, conforme tenho entendido, comunicou seu sensacional achado a outros cientistas dos Estados Unidos. Entretanto, até agora se silenciou...

Esta importante e irrefutável prova se encontra também à vista de quantos especialistas e cientistas desejem ratificá-la. Basta dirigir-se à Universidade colombiana do Quindio, na Tolima, onde Romero Henao Marín exerce na atualidade. A cabeça do dito iguanodonte se encontra depositada na mencionada Universidade.

(O iguanodonte — conforme reza a Ciência moderna — viveu no Cretácio Inferior. Quer dizer, faz mais de 65 milhões de anos. Em 1887 foram descobertos os esqueletos de vinte destes dinossauros, enquanto se trabalhava em uma mina de carvão. Os adultos mediam uns nove metros de longitude. Suas patas dianteiras não eram de grande tamanho, e dispunham de unhas como ganchos. Os dedos polegares formavam uma espécie de largo e agudo espinho que deveu constituir uma arma defensiva muito efetiva. Embora os primeiros ornitópodos possuíam uma só fila de dentes em cada mandíbula, o iguanodonte tinha uma bateria de várias fileiras, de modo que continuamente lhe saíam dentes novos, enquanto os velhos se gastavam e caíam.)

Entretanto, embora espetacular e decisivo, este achado da Colômbia não foi o único.

— Nas próprias terras peruanas do Ayacucho —assinalou Javier Cabrera — se descobriu também restos fossilizados de megatérios. E, junto a eles, utensílios e instrumentos! Isto ratificava, uma vez mais, que o homem povoou o planeta em épocas muito mais remotas do que a Paleontologia testemunha...

Entretanto, sabe quantos anos lhe outorgaram os paleontologistas e ilustres homens de ciência a esses restos humanos que apareceram junto aos utensílios e ossos do megatério?

Esperei a resposta de Cabrera Darquea. E o investigador, com amargura, respondeu:

— Vinte mil anos...! Ou seja, que o próprio descobridor lhe nega valor a seu descobrimento.

— Em que época fixa a Paleontologia a presença dos megatérios sobre a Terra?

— Os primeiros se remontam aos começos da Era Terciária. Quer dizer, faz mais de 60 milhões de anos.

E os últimos?

— A Ciência assegura que deixaram de existir bem antes do começo da Era Quaternária. Segundo isto, devemos nos remontar mais à frente do milhão de anos. Mas, então, volto a perguntar: por que Maclnnes fixa a idade desses restos em 20.000 anos?

(A Paleontologia assegura, com efeito, que, junto aos ungulados primitivos da América do Sul viveu outro grupo placentário rudimentar — os desdentados — do que os tatus, ursos formigueiros e preguiças são os únicos sobreviventes. Os tatus onívoros se conhecem já do Paleoceno — começo do Terciário —, embora os atuais são comparativamente pequenos. Um dos gêneros do Pleistoceno, por exemplo, foi tão grande como um rinoceronte. As preguiças arbóreos são desconhecidas como fósseis, embora seus parentes extintos — as preguiças terrícolas — resultaram muito notáveis. São conhecidas já do período Oligoceno, nutriam-se de folhas das árvores e arbustos cujos ramos inclinavam para baixo com suas fortes garras. As preguiças primitivas mediam somente poucos centímetros, embora o megatério — de seis metros e localizado no período Pleistoceno — era grande como um elefante, alcançando, inclusive, várias toneladas de peso.)

— Mas, há mais. Por que cala também a Paleontologia — me sublinhou o investigador icano — ante os formidáveis descobrimentos dos soviéticos?

Em certa ocasião visitou o Peru o acadêmico Suppov. E se aproximou até a Ica. Tinha grandes desejos de conhecer as pedras gravadas. Foi nessa ocasião quando me confessou que seu compatriota Gravoski defendia também o fato de que tinham existido outras Humanidades no remoto passado da Terra...

Pois bem, Suppov tinha pronunciado algumas conferências no Peru — igual em outras partes do mundo — detalhando como antropólogos hindus tinham facilitado informação a seus colegas russos sobre a existência de ossos humanos, englobados em rochas mesozóicas. Rochas que têm mais de 65 milhões de anos!

Mas, naturalmente, isto não interessa aos arqueólogos e antropólogos do mundo. Isto desequilibra e decompõe suas teorias, seus cânones tradicionais. Admitir estes fatos indisputáveis significaria para eles um reajuste absoluto em seus ensinos, em seus esquemas mentais, em seus livros...

O achado do Henao Marín não interessa porque não é convencional. Porque lança por terra o que já conhecíamos e dávamos por infalível... Porque nos expõe uma panorâmica distinta, difícil, revolucionária, fora de todo molde ou convencionalismo.

O homem surgiu no Quaternário —dizem os paleontologistas e antropólogos —. O homem não soube jamais do dinossauro. Aí começa e aí termina nosso mundo... Mas, e esses 4.999 milhões de anos que faltam...?

Javier Cabrera jogou mão do pacote de cigarros. Tínhamos chegado a um ponto duro, espinhoso. Carregado de escuridão para Javier, carregado de perdas...

Tratei de centrar o problema e perguntei ao médico de leoa:

— Entretanto, doutor, tem que reconhecer comigo que o «salto» no tempo (desde essa Humanidade do Mesozóico até nossos dias) é enorme, quase inconcebível. Excessivo...

— Essa mesma objeção fizeram ao Mellino. Quando este encontrou um homem no Mioceno — faz 29 milhões de anos —Paul Rivet afirmou que não podia admitir tal coisa, que resultava impossível que o homem tivesse permanecido na Idade da Pedra após o Mioceno até a chegada dos conquistadores espanhóis. Mas isto é uma barbaridade.

Quando os espanhóis chegaram a Sudamérica não encontraram a Idade de Pedra. Nem muito menos... Existia uma organização social. Uma cultura. O império incaico, por exemplo, era teocrático-socialista. Dispunha de uma organização fantástica.

Mas, sabe onde aprendeu o homem inca essas e outras muitas coisas? Nestas pedras. Na mensagem gliptolítico. Porque estas pedras eram conhecidas já na época dos conquistadores. Há testemunhos de jesuítas que acompanharam aos espanhóis na colonização onde se especifica que estas pedras eram conhecidas já pelos índios. Cieza de Leão afirma em seus escritos que as denominavam pedras Maneta.

Mas, voltemos para sua colocação. É certo que existe um grande vazio entre a Humanidade de mais de 65 milhões de anos e nós. Entretanto isso não tem por que significar que dito período fora estéril, que não existissem outras civilizações, outras Humanidades no planeta. Não sabemos em realidade quantas vezes o homem se viu obrigado a começar de novo...

O fato de ter encontrado em distintos estratos geológicos ao homem do Neandertal, do CroMagnon e agora o do Leakey é algo puramente acidental, que nunca poderá nos dar uma idéia global e absoluta das raças e civilizações que povoavam a Terra.

São estas pedras gravadas, na realidade, o primeiro grande testemunho da existência de uma dessas Humanidades. Se não as tivéssemos encontrado seguiríamos pensando que nosso filum era o primeiro, o único.

Seguiríamos acreditando que nossa civilização arrancou com os sumérios, faz 7.000 anos. Porque além dos sumérios, o que sabemos na realidade? Só feitos isolados: Cro-Magnon, Leakey, etc.

Faltaram-nos descobrimentos que completem a História das distintas civilizações.

É possível que essas 40.000 tabuletas sumérias constituam outra mensagem. Mas tampouco foram estudadas suficientemente. Se nas escassas tabuletas submetidas a investigação encontramos que aquele homem conhecia já a letra de mudança, a Medicina, a Matemática, etc., o que conterá realmente a totalidade dessa formidável biblioteca que constituem as 40.000 tabuletas de cera?

E, entretanto, aí estão. Esperando que os cientistas do mundo as investiguem em profundidade.

Nossa Humanidade — temos que reconhecê-lo — não começou sequer a estudar o que tem a seu redor. Como podemos falar então, como podemos dar por feito que somos os primeiros? O que sabemos realmente, o que ocultam outros estratos geológicos mais profundos? Aí temos a Richard Leakey... Com um só achado tem alterado todas as teorias da Paleontologia. Seu homem do Olduvai, com esses dois milhões e pouco de anos, jogou pelos chãos as hipóteses tradicionais sobre o nascimento e aparição do homem sobre a Terra...

As pedras gravadas da Ica constituem tão somente o começo de uma nova era para a Ciência. Uma era que nos exige e exigirá cada vez mais mentes abertas, capazes de compreender e aceitar que nossos princípios e conhecimentos não têm por que serem definitivos.

Estas palavras de Javier Cabrera, pronunciadas ante a pasmosa realidade daquelas 11.000 pedras gravadas, fariam-me refletir durante muito tempo.

Ao retornar a Espanha e publicar estes novos descobrimentos do professor Javier Cabrera ia encontrar-me com outra sensacional notícia, que devia consolidar as gravuras das pedras da Ica.

Na província espanhola da Soria se encontrou outro testemunho da convivência entre o homem e os dinossauros.

Na localidade do Navalsaz — e conforme me revelaria o vizcaíno dom Rafael Brancas — foram descobertas mais de 500 rastros de tyrannosaurio. E junto a esses rastros petrificados em lastra de rocha calcária compacta, o rastro, também petrificada, pelo que indubitavelmente parece um pé humano!

O descobrimento é simplesmente transcendental.

Estes rastros de tyrannosaurio — segundo os estudos realizados na zona — se encontram em um terreno que corresponde ao período Cretácio, último dos da Era Mesozóica ou Secundária. Naquela época — faz mais de 70 milhões de anos —, a dita zona devia encontrar-se coberta pelas águas do mar. Os grandes animais pré-históricos passariam possivelmente pelo lugar, deixando seus rastros na lama que formavam as argilas plásticas.

Inundações posteriores foram recobrindo os rastros. Produziu-se um plegamento, formando uma capa superior de xistos ou ardósia menos sólidas, capa que foi desaparecendo posteriormente por efeito da erosão, ficando a descoberto seus rastros perenes, solidificadas ao haver-se convertido os arrastos em calcária.

Mas, o que pode significar esse rastro petrificado de um pé humano, na mesma zona onde foram contabilizadas mais de 500 pisadas de sáurios pré-históricos?

Entretanto, as dúvidas que expor um descobrimento como o da «biblioteca» lítica não eram poucas. E depois de sair de umas, sempre se levantavam outras, como se se tratasse de um fluxo eterno...

Uma das máximas autoridades espanholas em Arqueologia me tinha posto em um verdadeiro beco sem saída quando lhe falei da existência da grande «enciclopédia» lítica do Peru.

E me diga — tinha perguntado o catedrático da Universidade de Madrid —, se os Andes se levantaram na Era Terciária, como me explica você que essas pedras tenham gravações que refletem animais da Era Secundária?...

 

                         OCUCAJE: MAIS DE 500 MILHÕES DE ANOS

Aquela pergunta do catedrático da Universidade de Madrid, máxima autoridade na Espanha no que se refere a Pré-história sul-americana, desconcertou-me durante uma boa temporada. Ante tais argumentos, eu só podia guardar silêncio.

Por isso, ao voltar para o Peru e iniciar minhas entrevistas com Javier Cabrera, uma de minhas primeiras perguntas foi esta:

— Se os Andes se levantaram no Terciário, como demônios foram gravadas nessas pedras motivos e «ideografias» de uma era anterior? Porque os arqueólogos — disse ao médico da Ica — afirmam que esta zona da costa do continente é «terciária».

Cabrera sorriu e moveu sua cabeça com gesto cansado. Acudiu uma vez mais aos arquivos e estendeu sobre sua mesa um amplo e detalhado plano geológico. E pediu que me aproximasse.

Você não podia responder nesse momento porque não tinha em seu poder este plano geológico que confeccionaram os engenheiros e especialistas do Governo do Peru.

O coração me deu um tombo.

— ... A chamada «Revolução da Montanha» se produziu —conforme diz a Ciência— na Era Secundária. Ao final de dita etapa — pouco mais ou menos faz 65 milhões de anos — se registrou um formidável cataclismo, saltando a maioria das montanhas do planeta. E aparecem os Apeninos, Montanhas Rochosas, Alpes, Himalaia, Alto Atlas e, é obvio, os Andes.

Mas, o fato de que a cordilheira andina se levantasse nesses tempos não significa que o resto da costa peruana, e concretamente, o departamento da Ica, nascesse com ela...

E aqui está a prova. Os técnicos peruanos riscaram este mapa geológico da Ica. E o que vemos nele? Que Ocucaje pertence à Era Paleozóica! Quer dizer, surgiu muito antes que os Andes.

O terreno onde se encontram as pedras gravadas corresponde, portanto, a uma era muito anterior aos Andes. E junto às zonas do Paleozóico, os geólogos têm descoberto também outras áreas do Mesozóico e do Terciário e — como não! — do Quaternário... Ocucaje é uma pura e constante surpresa nesse sentido. No departamento da Ica se encontraram, inclusive, diatomeas, que correspondem ao Precâmbrico. E em superfície! Isso nos remonta já a tempos anteriores à Era Primária, faz mais de 500 milhões de anos.

Entretanto, empenhamo-nos em afirmar que esta zona da costa de sudamérica se levantou única e exclusivamente quando o fizeram os Andes…

Mas dispomos de um segundo dado, vital para completar este aspecto do problema. Porque uma das placas tectônicas do globo se encontra precisamente aqui, em Nasca. E abrange não só a citada área de Nasca, mas também os departamentos da Ica, Ayacucho e muito mais. Então, se a placa tectônica de Nasca é muito mais antiga que os Andes e as pedras gravadas foram encontradas em dita placa tectônica, por que os arqueólogos seguem teimados em que esta biblioteca não pode ser anterior ao surgimento dos Andes?

Eu lhes peço novamente que se aproximem da Ica, que estudem as pedras, que analisem os terrenos...

— Segundo isto, que idade poderiam ter as gravuras e alto-relevos das pedras?

— Ninguém pode averiguá-lo realmente. Poderiam ser de finais do Mesozóico, com mais de 65 milhões de anos. Ou do começo, com mais de 200 milhões... E quem sabe se muito mais...!

Observa o plano geológico e te dará conta de outro detalhe extraordinário. O verdadeiro arqueólogo desta zona do Ocucaje foi o rio Ica...

Ele tem aberto os estratos. Ele os deixou ao descoberto. E aqui vê zonas que pertenceram ao Paleozóico... O rio nos está mostrando uma verdade incontestável.

Mas estamos falando de milhões de anos... Todo mundo dirige estas cifras com a maior naturalidade, como se realmente pudéssemos demonstrar que o tempo geológico e cósmico é similar ao humano...

Aquilo me intrigou. O que queria insinuar Javier Cabrera?

— Temos, por exemplo, o Carbono-14... — insinuei.

— Não, não nos pode servir. Mas, querido amigo, o que é em realidade o tempo? Como podemos medi-lo? Eu só sei que o tempo é uma noção biológica consciente. Sou eu quem elaboro e «fabrico» o tempo… Podemos nos remontar possivelmente até 7.000 ou 10.000 anos. Mas, e depois? Que prova temos, como podemos estabelecer uma conexão através dos tempos?

O homem do Cro-Magnon tem 40.000 anos. Isso dizem os paleontologistas. Mas, como posso estar seguro dessa afirmação? É que o procedimento do Carbono-14 é válido? Infalível?

Todos conhecemos a forma em que o carbono se faz radiativo na atmosfera. Combina-se com o oxigênio e a água e através da folha vegetal passa a ser parte da matéria orgânica. Ao perder sua radiatividade deve marcar 40.000 anos...

Se eu encontrar uma peça que tem 50 por cento de radioatividade que era constante, essa peça deverá ter — segundo este procedimento — 20.000 anos. Mas, que segurança tenho eu do momento em que aconteceu C-12 a C-14? É que tenho a segurança absoluta de que essa matéria orgânica não se poluiu com algo radioativo, desfigurando assim a verdadeira antiguidade?

Muitas das matérias que analisamos através do Carbono-14 são mudas à dita medida. Como medir então? Devemos compreender que todos estes métodos para tratar de averiguar a antiguidade podem ser incorretos. E, entretanto, demos-lhes uma validez quase absoluta...

Quando referimos a milhões de anos estamos falando de algo que escapa a nossas possibilidades de concepção. Fora de nós mesmos o tempo não existe. Por isso te dizia antes que o tempo geológico e cósmico está separado do tempo humano. Encontramos fósseis, sim, em distintos estratos. Mas, como medir sua antiguidade com precisão?

Esta biblioteca sim nos está oferecendo, em troca, a primeira possibilidade de fazer uma medição real do tempo. Estas pedras nos estão mostrando o tempo de outra Humanidade. Um tempo distinto ao nosso...

O sistema mais utilizado até o momento para averiguar a antiguidade das matérias orgânicas é o chamado de Carbono-14 ou C-14. Para seu emprego se parte da base de que em nossa atmosfera existe o isótopo radioativo do carbono (C), de peso atômico 14, em uma quantidade que permaneceu invariável através do tempo. Dito isótopo é absorvido por todas as novelos, que o contêm na mesma quantidade, tanto se se trata de árvores como de raízes ou folhas ou simples erva. Por outra parte, todo organismo vivente absorve - de uma ou outra forma - substâncias vegetais, ou seja, que também o organismo humano e animal contém C-14. Entretanto, as substâncias radioativas têm um determinado período de desintegração, sempre e quando não se introduzirem novas substâncias do mesmo caráter. Este período de desintegração se inicia com a morte, no caso do homem e dos animais, e nas novelos, com o recolhimento da colheita ou a queima das mesmas. Para o isótopo do C-14 se acredita que existe um término médio, cujo valor é de 5.600 anos. Isto significa que 5.600 anos depois da morte de um organismo se encontra ainda nele a metade da quantidade original de C-14. depois de 11.200 anos, só uma quarta parte. Aos 22.400 anos, uma oitava parte, aos 44.800 anos, uma dezesseis avos parte, etc. O conteúdo em C-14 de uma substância orgânica fóssil se pode saber por meio de um complicado procedimento de laboratório, já que se conhece a quantidade original de C-14 existente na atmosfera. E sabendo que em nossa atmosfera é constante o conteúdo em C-14, pode-se determinar a idade de um osso ou de um pedaço de madeira, por exemplo.

Mas, eis aqui um ponto realmente significativo que apóia as teorias do Javier Cabrera. Se se encontra, por exemplo, erva ou matagal ao lado de uma estrada, queima-se e se submete ao procedimento do C-14, a cinza destes novelos nos revela uma idade de milhares de anos! Por que? Todos os dias, esse novelo absorvem grandes quantidades de carbono procedente dos escapamentos dos carros que passam. Este carbono procede do petróleo, e este, ao mesmo tempo, do material orgânico que faz milhões de anos deixou de absorver C- 14 da atmosfera. Deste modo, uma árvore talhada perto de um distrito industrial pode dar uma idade de 50 anos pelos anéis de sua casca e de milhares de anos se empregássemos o referido sistema do Carbono-14.

Naquele instante não consegui captar o que Javier Cabrera tratava de me dizer. Foi algum tempo depois — ao referir-se à pedra denominada do cometa Kohoutek — quando comecei a compreender.

— Você mesmo te referiste faz um momento aos estratos geológicos — intervim—. É que estes não constituem um aceitável «calendário» para o homem?

— Os estudos geológicos nos dizem que este ou aquele estrato pertenceram ao Paleozóico ou Mesozóico. Entretanto, isso é puramente convencional. Como ter segurança absoluta na hora de fixar as idades de ditos estratos? Só o conseguiríamos se pudéssemos «nos comunicar» com as rochas...

Sim, é certo que há um sistema para tentar estabelecer essa conexão com as rochas. É certo que se pode obter mediante os relógios atômicos. Sei que, através das curvas de integração dos átomos radioativos que encontramos nas rochas, podemos tentar esse difícil passo. Sei que, através da quantidade de chumbo que fica como resíduo da desintegração de um átomo que foi rádio, tório ou urânio, poderíamos procurar a antiguidade da rocha...

Mas, repito, quem nos assegura que essa radiaotividade residual é exata? Transcorreu muito tempo. Como sabemos que não foi alterada com o passar do tempo? Como averiguar se uma capa foi primeira ou segunda? Quem pode dizer a ciência certa o número de vezes que trocou a casca terrestre?

Podemos estar seguros disso?

Javier Cabrera retornou a sua poltrona e, assinalando os livros que se alinhavam nas estantes de seu escritório, prosseguiu:

— O que ocorre é que damos como certos — dogmaticamente — uma série de conhecimentos...

Assim é, dizemos. Assim está aceito.... Mas, o que quer dizer assim está aceito? Direi-lhe isso: que convencionalmente chegamos a isso. conviemos que assim sejam as coisas, nada mais.

»E voltamos para o de antes. É que há alguém neste mundo que possa demonstrar que o tempo existe em realidade? me diga, o que é o tempo...?

»O tempo existe porque existimos nós. O tempo é uma noção. Sabemos que nem sequer em nosso próprio mundo —quando duas pessoas se encontram em hemisférios diferentes— podem sincronizar seus relógios. E o que ocorre se sairmos do Sistema Solar? O que nos acontecerá o dia que o homem cruze o Cosmos à velocidade da luz? É que esse tempo será o mesmo da Terra?

Ninguém pode precisar a antiguidade de algo que está tão afastado de nós.

Esta Humanidade que temos descoberto através das pedras gravadas da Ica viveu em outro espaço-tempo. E o mesmo nos acontece , esta Humanidade que agora está realizando-se. E o mesmo deveu lhes ocorrer a outras civilizações ou Humanidades que um dia apareceram sobre o Planeta. Porque estou convencido de que o homem gliptolítico não foi tampouco o primeiro na realização global do chamado gênero humano.

Estas afirmações do Javier Pastora estavam respaldadas por um achado —também nas pedras gravadas da Ica— que algum dia, quando o homem se encontre preparado para encaixá-lo, jogará sobre o mundo toda a luz que hoje falta, em torno do maior dos mistérios que sempre se expôs o ser humano. Um achado, uma «série» de pedras lavradas, que Javier Pastora mantém separada do resto da coleção, e que só mostra a pessoas de sua inteira confiança.

Esse «quarto secreto» será insone algum dia pelo investigador da Ica. Mas, enquanto ele não o faça, enquanto não seja estudado e comprovado meticulosamente, deverá permanecer fechado.

Possivelmente algum dia, não muito longínquo, sinta-me com forças para empreender a divulgação dessa «Primeira Maravilha do Mundo», que encerra o referido «quarto secreto» da «biblioteca» pré-histórica.

Mas voltemos para resto da coleção.

depois de vários dias de estadia no Peru, e enquanto punha em ordem meus primeiros bate-papos com Javier Pastora , tive a oportunidade de conhecer uma personalidade que ia contribuir com novos e substanciosos dados sobre a «biblioteca» de pedra. Um homem que tinha conhecido as pedras lavradas quatro anos antes que Pastora !

 

                                     «NÃO SÃO RECENTES»

                                     (JUÍZO DA UNIVERSIDADE DE BONN)

Foi uma surpresa para mim. Sempre acreditei que as pedras gravadas do deserto do Ocucaje tinham sido descobertas por volta de 1966, quando os camponeses de dita zona começaram às dispersar por meio o Peru.

Mas não. Alguém de grande prestígio em Lima ia tirar me de meu engano. E me alegrei profundamente de que não fora o próprio Javier Pastora Darquea quem me falasse desta importante prova em pró da legitimidade da «biblioteca» lítica.

Dom Santiago Agurto Calvo, arquiteto e ex-reitor da Universidade de Engenharia de Lima, tem em seu lar várias centenas de pedras gravadas, idênticas às que eu tinha examinado no museu central de Ica.

OH, surpresa! Ali, no pátio da casa do arquiteto, observei também alto-relevos e gravações de animais Pré-históricos, em convivência com o homem...

Dom Santiago Agurto —homem repousado e equânime— me resumiu assim suas interessantes experiências e conhecimentos, em relação com a «biblioteca» de pedra:

—Faz aproximadamente quatro anos —por volta de 1962— começaram a aparecer nos arredores da Fazenda Ocucaje, no departamento de leoa, umas estranhas pedras que, segundo os «huaqueros»* do lugar, achavam-se nas tumbas dos ricos e abundantes cemitérios pré-hispânicos de lugares como Colina Branca, A Banda, Paraya, Chiquerillo, Cayango, etc.

* A palavra «huaquero» faz referência, no Peru, a quem se dedica à busca —geralmente de forma ilegal e clandestina— de «huacos», que é a denominação dada a determinadas vasilhas de cerâmica, assim como de múmias e todo tipo de restos e peças arqueológicas.

»De acordo com a versão mais freqüente, as pedras se encontravam nos enterros correspondentes às culturas Paracas, Ica e Tiahuanaco, embora alguns huaqueros sustentavam que também as havia em restos Nasça e, inclusive, Inca.

»Sortes pedras, aparentemente cantos rodados de variado tamanho e cor, apresentavam a particularidade de estar lavradas —grosseiramente as umas e primorosamente as outras— representando imagens ou desenhos inidentificables: insetos, peixes, aves, felinos, figuras fabulosas e seres humanos. Umas vezes apareciam individualizadas, e outras, mescladas em elaboradas e fantasiosas composições.

»A fins de 1962, como digo, tive a oportunidade de conhecer estas pedras e de adquirir algumas aos huaqueros do Ocucaje.

»Estes as vendiam a preços que flutuavam entre os 10 sóis para as mais garotas e os 120 para as maiores.

»A surpresa ao encontrar um material arqueológico inédito na costa peruana e a extraordinária beleza de algumas das pedras, como você compreenderá, fizeram que me interessasse em todo o concernente a elas.

»Pude reunir assim, por boca de huaqueros, uma série de dados, provavelmente não sempre verídicos e até contraditórios às vezes, mas que me proporcionavam um marco provisório de referência à história das pedras.

»Com posterioridade, conversei a respeito com estudiosos e colecionadores, quem afirmou que pouco ou quase nada era o que se conhecia em relação às pedras, que havia dúvidas sobre sua autenticidade e que, provavelmente, não fossem a não ser obra de alguns falsificadores locais de peças arqueológicas.

—E que razões esgrimiam?

—Em primeiro lugar, que nunca antes de 1962 se encontraram tais pedras, apesar de que a zona tinha sido abundantemente escavada.

»Segunda: que os achados tinham sido feitos por pessoas às que não lhes podia dar maior crédito.

»Terceira: que para lavrar as pedras em forma tão nítida e precisa era necessário possuir, dada a dureza da matéria, metais e ferramentas que não conheceram os antigos peruanos.

»E, por último, que em algumas das pedras havia motivos que não correspondiam às culturas locais e que, em outras, mesclavam-se motivos de culturas diferentes.

»As opiniões expostas —como pode você ver— não resultavam de tudo convincentes, salvo a relativa ao tipo de metal necessário para realizar o trabalho. Evidentemente, se o lavrado das pedras requeria um metal não conhecido pelos antigos peruanos, ditos objetos não podiam ser pré-hispânicos...

»Por isso, e a fim de iniciar uma investigação sobre o particular, o mais conveniente consistia em determinar se o grau de dureza das pedras era tal que seu esculpido obrigasse ao emprego de um metal desconhecido no antigo o Peru. O resultado, em caso positivo, determinaria definitivamente que as pedras não eram de origem pré-hispânica. Mas, em caso contrário, abriria a possibilidade de que tal origem fora o autêntico, o qual justificaria prosseguir a investigação.

»Com tal finalidade recorri à Faculdade de Minas da Universidade Nacional de Engenharia, em cujos laboratórios, os engenheiros Fernando das Casas e César Sotillo levaram a cabo um consciencioso estudo...

Pela primeira vez em todo o processo de investigação das pedras gravadas da Ica me encontrava ante um documento oficial, ante uma prova autenticamente imparcial. E escutei com profunda atenção.

—Esta análise dizia assim, em suas partes essenciais:

 

« 1.° Todas as pedras são andecitas fortemente carbonatizadas, apesar de que por sua coloração e textura externas parecem ser entre si de distinta natureza.

»2.° As pedras procedem de capas de fluxos vulcânicos correspondentes a séries do Mesozoico, características da zona.

»3.° A ação do intemperismo atacou a superfície das pedras, trocando os feldespatos em argila, debilitando portanto seu grau de dureza externa e formando uma espécie de casca que rodeia a parte interior.

»4.° A dureza exterior corresponde em média ao grau 3 da escala do Mohs, chegando a ser de até 4,5 graus na parte interna não atacada pelo intemperismo.

»5.° As pedras podem ser trabalhadas virtualmente com qualquer material duro, como ossos, conchas, obsidianas, etc., e, naturalmente, com qualquer instrumento metálico pré-hispânico.»

 

A dureza de um mineral se determina por sua capacidade para raiar ou ser rajado por outros, de acordo com a escala de dureza chamada «escala do Mohs», segundo o mineralogista que a propôs faz mais de um século. Dita escala é a seguinte: 1 para o talco; 2 para gesso; 3 para calcita; 4 para fluorita; 5 para apatita; 6 para ortoclasa; 7 para quartzo; 8 para topázio; 9 para rindón e 10 para o diamante.

—Conforme vejo, as pedras foram catalogadas como procedentes de fluxos vulcânicos da Era Mesozóica...

—Assim é. Essa era abrangeu dos 65 ou 70 milhões de anos, até os duzentos e pico, conforme tenho entendido.

Tudo ia encaixando. E recordei as palavras do Javier Pastora sobre o terreno de onde eram extraídas as pedras gravadas:

«... O plano geológico —havia dito o médico iqueño— confirma que Ocucaje é Paleozoico e Mesozoico... »

Mas as coincidências não tinham feito a não ser começar. Roguei ao Santiago Agurto que continuasse seu relato. E o arquiteto prosseguiu:

—Por fim, as provas que se fizeram com utensílios de osso e de pedra das distintas culturas iqueñas demonstraram que estes eram perfeitamente capazes de deixar nas pedras os mesmos rastros, sulcos e traços que conformavam seus lavrados.

»Como estes resultados permitiam supor a origem pré-hispânica das pedras, continuei com as investigações.

»E observei, por exemplo, que a forma das pedras era, em geral, a de cantos rodados, embora aquelas apresentavam distintos graus de rolamento. O tamanho variava desde muito pequeno —3 por 2,5 por 1,5 centímetros— até o de 40 por 25 e por 20 centímetros nos exemplares maiores que eu pude conhecer.

»Em meu estudo averigüei também que as pedras tinham sido trabalhadas adequando a decoração a sua forma. Em alguns casos é muito notável o uso escultórico da forma básica, quão mesma foi habilmente complementada para obter o efeito desejado.

—Acredito que analisou você também as incisões...

—Assim é. As figuras que decoram as pedras que eu tive a oportunidade de estudar tinham sido trabalhadas mediante incisões de fundo acanalado, mediante planos que produzem a impressão de falsos relevos ou mediante o procedimento de rebaixar a superfície que rodeia às figuras, para obter um autêntico alto-relevo. Em algumas pedras encontrei só uma destas técnicas, mas, em muitas delas, é freqüente o uso de dois e até dos três sistemas.

»Quanto às ferramentas empregadas, parece como se as tivessem utilizado a maneira de buris e cinzéis. Em todos os trabalhos se nota que as incisões e rebajos afetam só à casca intemperizada, o qual explica a viabilidade do trabalho e da perfeição obtida nele.

»A investigação exposta era extremamente interessante e, pouco a pouco, foram obtendo dados que favoreciam a atribuição de uma origem pré-hispânica para as pedras. Mas, logicamente, o meio mais efetivo de limpar as dúvidas consistia em comprovar convincentemente sua presença em restos arqueológicos.

»Foi assim como, depois de ter visitado repetidas vezes a zona do Ocucaje, recolhido abundante informação a respeito, conhecido grande parte das coleções de pedras existentes e efetuado os estudos preparatórios, julguei chegado o momento de realizar trabalhos de campo...

»Pois bem. depois de vários e frustrados intentos, em 20 de agosto de 1966 tive a sorte de achar uma pedra lavrada em uma tumba de um cemitério pré-hispânico do setor chamado Tomaluz, na Fazenda Cayango do departamento da Ica».

Dom Santiago Agurto se incorporou e abandonou o pátio onde nos encontrávamos. Aos poucos instantes retornava com um «huaco» de cor terra entre suas mãos. Mas não mostrou seu conteúdo até passado um bom momento...

—O cemitério, situado em uma zona arqueológica profusamente escavada desde fazia tempo —prosseguiu—, acabava de ser descoberto. Pertencia, conforme parece, a um pequeno setor de um grande complexo necrológico.

»A tumba em questão se encontrava na parte superior, orientada Norte-Sul segundo seu eixo longitudinal.

»Ao escavar sorte tumba encontramos restos humanos, cerâmicos, e dentro de um destes, uma pedra lavrada.

Naquele instante, o arquiteto colocou a mão no pequeno «huaco», tirando junto com uma parte de tecido áspero e de vários e diminutos restos nos fuja, uma pedra gravada que pude ver uma espécie de Pássaro que levava um «choclo» entre suas patas.

—As cerâmicas achadas tinham a forma, cores e decoração características da chamada cultura Huari Tiahuanaco, que se dá no departamento da Ica, por isso a origem das peças não oferecia lugar a dúvidas, estimando sua idade entre 600 e 900 anos aproximadamente...

»Esta pedra que você vê aqui —continuou o ex-reitor— é um pequeno canto rodado achatado, de 5,5 por 4 e por 2 centímetros. Tem, como vê, uma cor parda e sua textura é algo rugosa.

»O lavrado se levou a cabo mediante incisões e rebajos achaflanados que produzem a impressão de alto-relevo. O desenho é forte e seguro. Belamente esboçado.

—E o que fez você?

—Informei do fato ao diretor do Museu Regional da Ica, senhor Bermúdez, e ao conservador do mesmo, o arqueólogo Alejandro Pezzia. interessaram-se vivamente nele, confirmaram a classificação dos restos encontrados e acordaram comigo a forma e oportunidade mais conveniente para dar a conhecer o descobrimento.

»E em 10 de setembro desse mesmo ano, esta vez em companhia do doutor Pezzia, voltamos para deserto do Ocucaje, trabalhando durante todo um dia no cemitério do Tomaluz. Mas, apesar de ter encontrado abundante material arqueológico tiahuanaco, não conseguimos achar nenhuma só pedra mais...

»Ao dia seguinte nos dirigimos ao setor chamado A Banda, na Fazenda do Ocucaje, e escolhemos como sítio de trabalho o cemitério chamado Max Uhle, em memória deste famoso arqueólogo.

»Ali, depois de um trabalho intenso, encontramos em outra tumba uma nova pedra lavrada.

»Naquela segunda ocasião, a tumba, localizada-se na parte inferior do cemitério, correspondia à cultura Paracas, que também se dá no Ocucaje.

»Esta segunda pedra «mágica» —como eu as chamo— era um canto rodado, igualmente com forma achatada e textura semirrugosa.

»Em uma das caras tem uma figura representada estrelada quase simétrica, que bem poderia ser a estilização de uma flor. A gravura consiste provavelmente em um burilado que desenha a forma a base de incisões de distinta grossura e profundidade.

»O desenho era elegante e preciso, com refinamento em certos detalhes e bom uso da cara superior da pedra.

»De acordo também com as evidências que se encontraram junto a ela, a pedra corresponde à cultura Paracas-Cavernas do Ocucaje, e sua idade poderia estimar-se entre os 1.500 e 2.300 anos...

Santiago Agurto tomou entre suas esta mãos segunda pedra e me rogou que a examinasse. Era algo mais irregular que a primeira. Media 7 por 6 e por 2 centímetros.

Mas, embora o senhor Agurto Calvo tinha contribuído a minha investigação um ponto chave em pró da autenticidade das pedras da «biblioteca» lítica da Ica, em minha opinião havia duas questões que não resultavam nítidas e cortantes.

Em primeiro lugar, o fato de que as pedras fossem encontradas em tumbas pré-hispânicas, com 600, 900 ou 2.300 anos de antiguidade, não tem por que significar que sortes pedras lavradas —ou melhor dizendo, as incisões— tenham essa mesma idade.

por que tinham sido colocadas em sortes tumbas? por que o homem daquela cultura Paracas ou Tiahuanaco se feito enterrar junto com um «huaco» de argila repleto de milho e com estas pedras lavradas?

Só cabe uma explicação. Aquele homem —que possivelmente tinha a idade assinalada pelo Agurto— acreditava em uma «viagem» a outra vida. Sua religião e crenças lhe diziam que, depois da morte, acontecia com uma nova e enigmática existência. E em sua ignorância, procurava rodear-se de mantimentos (milho) e de «algo» que lhe ajudasse a ser reconhecido pelos deuses... E esse «algo» —neste caso concreto— eram as pedras «mágicas» gravadas por alguém —muito anterior a ele— e que o pobre e rudimentar homem das cavernas ou do deserto pré-hispânico não entendia e relacionava portanto com alguém superior: possivelmente, com os «deuses»...

O funesto costume da Arqueologia de «associar» os restos humanos ou fossilizados com o que encontram nas tumbas ou junto a ditos restos serviu até agora, mais que como motivo de esclarecimento, como semeia de permanente confusão e engano.

por que uma pedra lavrada ou qualquer outro objeto inorgânico tem que ter a mesma idade dos ossos que achamos em uma tumba?

Mas, ponhamos um exemplo revelador.

Em minha primeira viagem ao Peru conheci outro feito desconcertante e que seria, por si mesmo, motivo de toda uma profunda investigação.

O Ministério de Turismo do Peru distribuiu por todo mundo um «pôster» que corresponde a um muito belo e multicolorido manto desenterrado em uma das tumbas da zona chamada Paracas. No pôster ou «póster» se reproduz um estranho e, a primeira vista, complicado desenho. Ninguém sabia do que se tratava. Ninguém soube me explicar aquela magnífica amostra do antigo artesanato peruana...

Mas, hei aqui que um dia, em uma de minhas visitas ao museu do doutor Javier Pastora , observei dito «pôster» em uma das paredes do centro de investigação do médico icano. E comentei com ele o curioso feito de que ninguém no Peru parecia conhecer ou preocupar-se com o conteúdo de dito «pôster».

Javier Pastora —que para então tinha muito adiantada sua investigação sobre as pedras gravadas— tomou um ponteiro e me anunciou:

—...Entretanto, já vê, tem ante seus olhos um manto que poderia ser prêmio Nobel.

Javier Pastora , ajudado pela «chave» das pedras gravadas da Ica, tinha desentranhado também o significado de dito manto.

—Escuta —me pediu o professor—. Este manto constitui toda uma «lição» de Genética. Este manto —desenterrado faz 45 anos em uma tumba situada no Paracas, ao sul de Lima— nos «explica» a enfermidade conhecida hoje como sindactilia ou falta do dedo polegar...

—Mas, não entendo... Como chegaste a essas conclusões?

Javier Pastora começou sua explicação.

(Tenho que advertir que, a fim de compreender a exposição do investigador peruano, o leitor deverá seguir os sucessivos passados do cientista sobre as gravuras que, previamente, foram numerados e que oferecemos fora de texto.)

—Os arqueólogos que o tiraram da tumba onde se encontrava, junto com os restos de um homem de faz 3.000 anos, só elogiaram seu extraordinário colorido —inexplicavelmente vivo durante milhares de anos—, assim como seu elevado número de fios por centímetro quadrado, que revela já uma tecnologia têxtil...

»Mas tudo ficou aí. É que este desenho não quer dizer nada mais? É que foi feito porque sim?

»Não, claro que não. E aqui está o maravilhoso e enigmático do manto.

»Esta é uma mulher... Uma mulher que tem cinco dedos nos pés e quatro em cada mão. Vê estas raias negras? Marcam precisamente as diferenças entre as extremidades inferiores e superiores.

»O manto vai se encarregar de explicar esta anormalidade, precisamente através dos desenhos. trata-se, como te dizia, de uma anormalidade conhecida hoje como sindactilia ou impotência do dedo polegar. Uma anormalidade que também se dá hoje em dia e para a que a Ciência não encontrou ainda uma explicação...

»Esta enfermidade congênita —tal e como revela o manto— é transmitida pelo homem e atualizada pela mulher. E aí, como assinalo, está revelado a origem dessa má formação congênita.

»Esta —prosseguiu Pastora assinalando outras partes do enigmático desenho— é uma célula que se encontra no testículo. E esta outra, no ovário...

»Isso se chama espermatogonia, espermatozóide de primeira ordem, de segunda ordem e espermátides... Pênis, ovogonia, ovocito de primeira ordem, de segunda ordem, óvulo, vagina e espermatozóide.

»Com o pênis, introduzido na vagina, o óvulo é fecundado pelos espermatozóides. O óvulo, uma vez fecundado, reunirá o material cromossômico. Quer dizer, os materiais dos núcleos do espermatozóide e do óvulo, respectivamente. Ambos os elementos cromossômicos estão aqui fundidos. E ao cabo de nove meses, esse novo ser que mica sofrerá também a sindactilia.

»Mas, como se demonstra que a enfermidade é congênita? Porque, simplesmente, podemos ver como as cores que estão no núcleo da linha masculina se encontram também nas células que representam a união da célula masculina e feminina. E me estou referindo à cor negra. Este se encontra no espermatozóide. portanto, como te dizia, o homem é geneticamente responsável. E a mulher a atualiza. Mas sabemos mais:

»O manto indica que essa enfermidade será herdada ao longo de três gerações. Esta cinta que se vê aqui revela que a enfermidade vai ser atualizada durante essas três gerações.

»Vê agora a cor branca dos dedos? Isso significa que a chamado cor branca está separando o corpo da mulher da linha sexual feminina. Isso quer dizer que a enfermidade é independente da mulher. A enfermidade, insisto, depende do homem.

»Como comprovar a existência desta enfermidade durante três gerações? A explicação está nesses três rins. Aí tem o ureter, a pélvis, medula e a casca renal.

»Se levarmos as células renais ao microscópio observaremos o cromossomo responsável pela enfermidade.

»Pois bem. Esta enfermidade da sindactilia —que não figura ainda em nenhum livro de Medicina— se encontra, entretanto, em um manto extraído em uma tumba do Paracas. E eu pergunto: como é Possível que um fato científico que revela a mais avançada tecnologia no campo da Genética esteja considerado simplesmente como um pôster?

»A este manto terei que lhe conceder o prêmio Nobel!

»Mas, que antiguidade lhe deram os arqueólogos? Três mil anos...! por que? Porque foi encontrado junto a um homem que, possivelmente, tinha essa idade... Mas, se esse homem que se encontrou mumificado em cuclillas se achava junto a um cântaro rude e tosco e a um punhado de milho —posto que estava convencido de que depois de morto ia se comer dito milho—, como acreditar que pôde ser o autor deste manto?

»Este é nosso engano. Acreditam que o homem do Paracas foi o autor desta maravilha. Mas, não!

»Ele, possivelmente, encontrou-o ou o doaram seus antepassados e, ao não compreendê-lo, atribuiu-o possivelmente aos deuses. E quis que o enterrassem com ele. Desejava levar nesse viagem eterna algo que tivesse sido feito pelos deuses...

»É igual a se os homens do futuro, ao descobrir um ataúde de um camponês de 1975, atribuíram-no a elaboração do crucifixo de bronze que foi parecido na caixa e que hoje todos sabemos foi realizado possivelmente por toda uma avançada indústria da que o camponês possivelmente nem ouviu falar jamais...

»É por isso —concluiu Javier Pastora — pelo que o manto do Paracas nos está demonstrando, uma vez mais, toda uma defasagem entre os homens primitivos e muitas das obras que lhes atribuímos. Em outras palavras: este manto é uma irrefutável prova de que na Terra houve outras civilizações anteriores a todas as conhecidas e que superava com muito nosso próprio nível tecnológico e científico.

Uma vez concluída a exposição do investigador permaneci comprido tempo contemplando aquele manto de cores muito vivas e que ofereciam, em todo o Peru como —simplesmente— uma «amostra mais da imaginação do homem pré-histórico»...

Como confiar então nessa convencional forma que tem a Arqueologia de medir a antiguidade?

Tenho que reconhecer que desde esse instante minha já débil confiança no sistema de «associação» dos arqueólogos se viu muito mais comprometida.

Mas não quero esquecer um segundo ponto —esgrimido em muitas ocasiões por arqueólogos profissionais— com o que tampouco estou de acordo.

«Muitas destas pedras da coleção de Pastora têm em suas gravações motivos característicos das chamadas culturas Huari Tiahuanaco, Paracas, isto Etc. demonstra claramente —concluíam ditos arqueólogos— que as pedras são falsas ou, no máximo, pré-hispânicas... »

Este argumento, entretanto, não tem consistência. E voltamos quase para assunto do manto do Paracas. por que as pedras gravadas da Ica —que efetivamente dispõem de ditos motivos ou desenhos das citadas culturas— têm que ser necessariamente simultâneas ou posteriores a sortes culturas pré-hispânicas? por que não pode acontecer justamente o contrário? por que não pode ocorrer que essas culturas ou povos pré-hispânicos tenham assimilado ou copiado esses rasgos e características que conheceram, precisamente, nas pedras gravadas e que existiam muito antes que todas essas culturas?

Na «biblioteca» lítica aparecem constantemente motivos e «ideografias» muito anteriores no tempo à existência dos homens do Huari Tiahuanaco ou Paracas.

Na «biblioteca» de pedra se deixou perseverança de centenas de conhecimentos com os que não podiam sequer sonhar as culturas de faz 5.000 ou 6.000 anos.

Os próprios religiosos e cronistas que acompanharam aos conquistadores hispanos pelo Peru relatam que os índios conheciam estas pedras desde antigo e que eram denominadas por eles «pedras Maneta»...

Mas vou muito mais à frente. Os índios pré-hispânicos sabiam da existência destas pedras. Conheciam o lugar onde se encontravam enterradas. e alguns deles, os sacerdotes geralmente, interpretaram-nas e decifraram na medida de suas possibilidades. Do contrário, como explicar o sistema teocrático-socialista do povo inca?

Como entender que as lendas de quão índios encontraram os espanhóis falassem já de cavalos e de navios...?

Lembrança que Javier Pastora me falou disto pouco tempo depois:

—Os homens antigos do Peru —me diria— conheceram estas pedras, sim. E as souberam guardar e respeitar porque as consideravam feitas pelos «deuses». Ali souberam os incas da existência de cavalos, de navios, de monstros, etc.

»Por isso, quando os espanhóis desembarcaram no Peru, os índios tomaram pelos deuses que retornavam, tal e como tinham visto nestas pedras gravadas. Porque, de não ser assim, como explicar tantas e tantas lendas inexplicáveis? Tantos e tantos feitos que teriam lugar muito depois?

—Mas, se não tocaram essas pedras, como se explica que fossem encontradas também em tumbas?

—Só algumas pedras muito pequenas foram achadas nos cemitérios pré-hispânicos. As gigantes, as pedras grandes, nunca foram tiradas do lugar onde atualmente seguem... Foi ali, no grande depósito, onde puderam ser consultadas possivelmente pelos únicos homens que tiveram acesso a dito conhecimento gliptolítico: os sacerdotes e feiticeiros. E só umas poucas coisas, insisto, conseguiram entender. O resto, a maior parte da «mensagem», passou inadvertido. Não dispunham de conceitos para assimilar o que ali se estava revelando...

Resulta, enfim, muito mais lógico pensar que as culturas pré-hispânicas conheceram este tesouro e fizeram seus muitos motivos e características que apareciam nas «ideografias» e gravações.

Mas não queria concluir este capítulo sem me referir a outro estudo que considero de grande importância e que se refere diretamente à antiguidade das incisões.

Quando ao começo de minhas conversações com Pastora lhe expus se dispunha de análise ou estudos científicos que ratificassem essa antiguidade a que ele fazia alusão, o professor respondeu afirmativamente. E começou por me mostrar alguns documentos nos que o engenheiro Erich Wolf, da Seção de Minas da importante companhia mineira Hochschild, assinalava ao Javier Pastora que —depois de analisar os espécimes que este lhe tinha proporcionado para levar a cabo tal investigação— «tinha podido comprovar que as pedras —petrológicamente— podiam classificar-se como milonitas andesíticas. As milonitas são rochas cujos componentes foram afetados mecanicamente por causa de altas pressões com simultânea transformação química. Neste caso —se refere às pedras que lhe enviasse Javier Pastora — ficam patenteiem os efeitos de uma intensa sericitación ou transformação do feldespato em sericita. Este processo incrementou a densidade e o peso específico, criando por outra parte a suavidade que os antigos artistas sabiam apreciar na execução de suas obras».

As Pedras, em efeito, têm um grande peso, embora, em muitos casos, seu tamanho e volume não são excessivos...

Mas a carta do engenheiro afirmava também:

«... Cabe mencionar que as pedras estão envoltas por uma fina pátina de oxidação natural que cobre por igual as incisões das gravuras, circunstância que permite deduzir sua antiguidade.»

Este último extremo era importante na verdade. Para que sorte capa de pátina cubra por igual as gravuras e o resto da superfície da pedra, é preciso que tenha transcorrido um tempo muito considerável...

Se esses gravados ou incisões fossem recentes, a pátina não cobriria por igual a totalidade da pedra, tal e como assinalavam os informe do engenheiro.

Mas, tanto Pastora como Wolf, desejosos de obter o máximo de garantias da autenticidade das pedras que formam a «biblioteca» pré-histórica, acudiram, inclusive, a universidades da Argentina e Alemanha.

Nesta última, o professor Trimborn —de Bonn—, uma das grandes autoridades mundiais em etnologia indígena do Peru e Bolívia, analisou três destas pedras lavradas. Uma delas, precisamente, com a figura de um destes desconcertantes sáurios da Era Secundária.

E qual foi o resultado?

A Universidade de Bonn respondeu:

«Não se pode determinar a idade do sulco, nem a era em que se preencheu a gravura. (Estas incisões se encontram sempre cheias de terra.) Nem acreditam que haja ninguém no mundo que possa testemunhar com exatidão a antiguidade exata destas gravações. A oxidação, efetivamente, cobre a totalidade da pedra. Entretanto, repetimos, não se pode determinar sua antiguidade. Entretanto, as gravuras ou incisões NÃO SÃO RECENTES.»

Aquilo era mais que suficiente para o Javier Pastora . E a verdade é que —se tivermos que considerar o achado friamente, sem paixões—, o mero feito de que o investigador da Ica se preocupou tão intensamente pela análise e estudo destas pedras, enviando exemplares destes gliptolitos a distintas Universidades e centros especializados, diz já muito em favor da autenticidade de ditos «livros» de pedra...

Se compararmos os dictámenes dos anteriormente citados centros onde se levou a cabo, de momento, uma investigação mais intensa —Universidade de Engenharia de Lima, Universidade de Bonn e Seção de Minas da empresa Hochschild— observaremos que, nos três casos, há uma coincidência quanto à oxidação que cobre a pedra por completo e que denota já uma grande antiguidade.

Mas o professor Cabrera tinha novamente razão. Embora as análise petrológicos têm um grande valor e cobrem uma das etapas no necessário processo de investigação da «biblioteca», o verdadeiramente valioso e decisivo —e ao que os arqueólogos fecham seus olhos— está no estudo das «ideografias» que há nas pedras.

—É a «linguagem gliptolítico» —me repetiu Javier Pastora muitas vezes— o que nos vai comunicar a «mensagem»...

»nos dever ler as pedras. Aí está o segredo de sua verdadeira antiguidade. E você vais conhecer agora duas novas provas da remota origem desta biblioteca. Posso te adiantar que um destes dois testemunhos me sumiu durante muitas semanas na confusão e a insônia...

 

                             O COMETA KOHOUTEK, GRAVADO NAS PEDRAS

Tinha visto aquela enorme pedra em setembro de 1974. Um se fixa nela quase sem querer. Pastora a situou faz cinco anos frente a sua mesa de despacho, no gabinete de trabalho que dispôs em seu centro de estudo da praça de Armas da cidade da Ica.

É uma pedra de grande tamanho, embora não das maiores. Javier Pastora estimava seu peso em 300 quilogramas.

Aquela mole negra e de mais do meio metro de altura ia ser o centro de nossas conversações ao longo de muitas horas.

Em minha primeira viagem a Ica no já mencionado mês de setembro de 1974, Javier Pastora me falou daquele gliptolito. Mas o fez possivelmente por prudência me facilitando tão somente uma mínima parte da «informação» que realmente reunia a pedra.

Em parte, aquela versão «convencional» da pedra dos «três astrônomos» —como Javier Pastora a denominava então— estava mais que justificada. O médico da Ica não tinha concluído suas investigações, e boa parte de quão gravados ali aparecem se encontravam em pleno processo de estudo. Daí que Pastora Darquea não se decidisse a me expor a totalidade de seus descobrimentos.

Naquela ocasião, e quando lhe perguntei sobre a «mensagem» da pedra, Javier me comentou:

—Acredito que se trata de uma «visão telescópica» do Cosmos. Aqui pode ver três homens que olham ao céu com aparelhos que se assemelham a nossos «telescópios»...

Em duas das caras laterais da rocha pude ver, efetivamente, três seres —idênticos em sua fisionomia aos que apareciam nas restantes pedras gravadas— que levavam sendo «lunetas» e que olhavam para a parte superior da pedra. Mas, o que tinha gravado em dita zona da grande pedra?

Ali, antes que Pastora se adiantasse a me explicar os detalhes das gravações, identifiquei «estrelas», cometas, nebulosas e toda uma série de signos, conhecidos já por mim através de livros que falam das constelações.

Javier Pastora me diria naquela ocasião:

—Estamos ante uma perfeita representação das treze constelações que eles conheceram. Treze constelações que são conhecidas hoje também por nossos astrofísicos.

—Entretanto, acredito recordar que nós só contabilizamos doze constelações...

—Sim, assim é —respondeu o científico icano—. Esta Humanidade pré-histórica considerava a Plêiades como uma constelação mais. Nós não. Nós a definimos como um «amontoado estelar aberto»...

Javier Pastora foi me assinalando, uma atrás de outra, as treze constelações. Não cabia a menor duvida. aqueles três «astrônomos» observavam a «abóbada celeste», perfeitamente gravada na parte superior da pedra.

Plêiades —segundo Isaac Asimov— é considerado como um pequeno amontoado de estrelas de brilho moderado da constelação de Touro. Nove das estrelas do amontoado são suficientemente brilhantes para poder ser observadas a simples vista, embora algumas delas se encontram muito juntas e é difícil as discernir por separado. Um homem de vista normal pode distinguir seis ou sete. (Este amontoado foi denominado em algumas ocasione «Sete Irmãs».)

Quando em 1610 enfocou Galileu seu telescópio para as Plêiades, comprovou que podia contar sem esforço algum 36 estrelas em dito grupo. Os métodos fotográficos modernos revelam 250 como mínimo e o número total ascende provavelmente a perto de 750.

As Plêiades constituem uma associação autêntica de estrelas; não se trata da imagem acidental de uma série de estrelas situadas a distâncias variáveis, mas todas elas perto de uma mesma linha visual. Isto ficou já demonstrado em 1840 quando Bessel comprovou que o movimento próprio de todos os membros deste amontoado era de 5,5 segundos de arco por século na mesma direção. Se se tratasse de estrelas independentes, seria muita coincidência que todas elas se movessem na mesma direção e à mesma velocidade.

Os astrônomos estimaram que a distância medeia entre as estrelas do amontoado das Pleyades equivale só a um terço da separação interestelar medeia nas proximidades de nosso sistema solar. Hoje se sabe que o grupo inteiro se encontra a 400 anos-luz de nós e que abrange uma região do espaço de 70 anos-luz de diâmetro.

Mesmo que as Pléyades são o amontoado mais grandioso de quantos se podem observar a simples vista, não constituem a não ser uma amostra extremamente pálida dos espetáculos que nos oferecem através do telescópio.

—Mas, note —tinha prosseguido o médico— aqui, neste firmamento, está gravado também nosso Sistema Solar.

E Pastora dirigiu seu dedo para outros signos que ele interpretou como o Sol e os planetas.

—Mas você me dirá como era possível que estes seres pudessem ver as constelações com lunetas ou telescópios tão elementares...

»Em realidade —e ao igual ao resto isto mensagem é uma ideografia. Estes seres nos estão indicando, simplesmente, que olham ao Cosmos, que observam os astros...

»Efetivamente, teria sido impossível observar constelações que estão tão afastadas da Terra com simples lunetas. Esta Humanidade nos está assinalando que tinham visão telescópica, que podiam dirigir seus aparelhos de astronomia a aqueles lugares do Universo que desejassem, escrutinando assim as maravilhas do espaço.

»Em outras palavras: que os telescópios que empregavam não tinham por que ser necessariamente assim...

»Mas nesta fantástica pedra —prosseguiu Javier Pastora naquela oportunidade— tenho descoberto algo mais. depois de estudá-la durante meses, vi como em muitas das gravações se repetem uns símbolos que constituem parte da chave de leitura das pedras. Esses símbolos são estas hojitas... Se as encontra gravadas em uma determinada posição, significam vida. Se tiverem sido colocadas em posição contrária, morte. Pois bem, este elemento se encontra também repartido aqui e lá, entre as distintas constelações e astros que ficaram gravados nesta abóbada celeste...

Fixei-me com mais parada. Assim era. Umas diminutas folhas raiadas, assim como estranhos rombos E cuadraditos, apareciam gravados também nas distintas figuras que representavam as nebulosas e planetas.

—E qual é seu significado?

—Que estes seres tinham conhecimento da VIDA que existia no espaço exterior.

Fiquei atônito.

—...Estes «astrônomos» —continuou— estão observando se houver vida no firmamento. E qual foi o resultado de seus estudos e conhecimentos? Aqui tem alguns: nesta «constelação» —no Pleyades— há VIDA inteligente.

Segui a direção do índice do doutor Pastora e comprovei, em efeito, a presença de uma «hojita» —em posição de «vida»— na citada constelação ou amontoado estelar.

Eu não saía de meu assombro. Era superior a minhas forças...

—Mas —interrompi de novo ao doutor—, como pudeste chegar a decifrar isto?

—Dizem-no as mesmas pedras. Nessa «chave» de que te falava se relaciona sempre a «vida inteligente ou consciente» com um rajado em forma de quadrados. De tal forma que ali onde se encontra sorte «chave», ali, sempre, existe «vida inteligente». E o Podemos ver em outras centenas de pedras e em temas totalmente distintos a este de Astronomia.

»Na constelação de Câncer, por exemplo, as Pedras explicam que só há vida animal... Como Pode ver, gravaram rombos. Este signo sempre expressa o mesmo nas ideografias.

Na constelação de Virgem está começando a vida.

'Mas não deve esquecer um detalhe importante. Isto pôde ser faz milhões de anos... Não sabemos se na atualidade ocorre o mesmo. Não sabemos se hoje segue havendo vida animal nesses planetas ou se se iniciou já a vida inteligente. Poderia ter ocorrido também o contrário: que a vida consciente tenha desaparecido...

Até aqui a versão que Javier Cabrera me proporcionou em setembro de 1974. Repito que ele não tinha completado seus estudos sobre a então chamada pedra dos «três astrônomos».

Ao retornar ao Peru em janeiro de 1975 e me deter ante aquela mesma pedra, Javier Cabrera pôs sua mão sobre meu ombro e me anunciou:

—Recorda como durante muito tempo eu defendi a teoria de que esta pedra representava uma «visão telescópica» do Universo?

Assenti.

—...Só tinha compreendido uma mínima parte da «ideografia» —murmurou Javier com uma crescente excitação—. depois de completar a investigação, fiquei atônito. Aterrorizado.

—Mas, por que? O que encerra essa pedra? —perguntei impaciente.

—Quando falamos da idade do terreno onde se extraíram estas pedras, recordará que Ocucaje e Nasça pertencem a uma das placas velhas do planeta. Sua antiguidade, portanto, seria francamente difícil de precisar. Possivelmente 200, 300, 400 ou até 500 milhões de anos... Quem pode averiguá-lo realmente?

»Em realidade, e falando corretamente, a idade em que viveu esta civilização que gravou as pedras poderia ser contabilizada, mais que por anos, por ciclos revestir...

Javier Cabrera descobriu a incompreensão em rosto e se apressou a acrescentar:

—antes de chegar a investigação, como dizia antes, eu defendi durante meses que esta pedra representava uma «visão telescópica» do firmamento. Eu via aqui três «astrônomos» que olhavam o céu com suas «lunetas», e na parte superior da pedra, uma série de elementos celestes que —segundo aquela primeira minha investigação— conformavam uma «visão planetária». Contei ditos elementos celestes e, ao ver que eram treze, deduzi que se tratava das treze constelações conhecidas hoje. tratava-se, portanto, de um zodíaco...

»Mas, onde começaram meus novos descobrimentos?

»No estudo das pedras eu tinha tido a ocasião de ratificar que esta Humanidade contava o tempo em meses de 28 dias. Quer dizer, apoiavam-se no ciclo menstrual da mulher.

»Ao multiplicar esses 28 dias por 13, obtive assim 364 dias! Este era o ano pelo que se regiam estes homens. E assim aparecia gravado nas pedras. A Terra empregava em tempos daquela Humanidade um total de 364 dias para cobrir uma volta completa em torno do Sol.

»Mas, por que 364 dias? E por que nosso mundo dá hoje 365,25 dias em completar essa mesma órbita?

»Esta era primeira das transcendentais prova que me estava oferecendo esta pedra sobre a antiguidade da Humanidade que a gravou...

Não terminava de entender ao médico icano. E assim o fiz saber.

É simples —respondeu—. Nós chamamos «ano» ao tempo que a Terra necessita em dar uma volta completa ao redor do Sol. E segundo os mais avançados cálculos astronômicos, esse movimento de translação se cobre em 365 dias mais umas poucas horas.

—Não te perguntaste o porquê dessa diferencia entre o «ano» daquela Humanidade gliptolítica —com 364 dias— e o nosso, com 365,25 dias?

Javier Cabrera guardou silêncio uns minutos. e esperou nossas respostas. Mas ninguém soube o que responder...

Naqueles momentos recordo que chegou até o centro-museo do Javier Cabrera o embaixador italiano no Peru. Acompanhava-lhe sua esposa e alguns familiares. O senhor embaixador, ao igual a outras muitas pessoas inquietas pelos grandes e revolucionários descobrimentos, tinha querido conhecer in situ a coleção de pedras lavradas do popular médico de leoa.

E assistiu vivamente interessado às exposições de Pastora .

—...Está demonstrado que o Sol perde matéria —prosseguiu o investigador—. E está demonstrado também que essa perda de matéria —embora mínima— tem uns efeitos concretos sobre os planetas que giram ao redor do astro rei. Ao perder matéria, a atração exercida pelo Sol sobre os astros que se movem em seu torno é ligeiramente menor.

»Isto provoca um alongamento da elipse que desenha a Terra em sua órbita ao redor do Sol. E o que acontece quando a elipse da Terra se alarga? Logicamente, que o ano também se alarga...

»Então, não será que esse dia e essas horas de mais nos estão medindo realmente o tempo transcorrido entre o homem que gravou estas pedras e nós?

»Se levarmos estes raciocínios a cifras matemática sabemos que cada 100 séculos se produz um segundo de diferença. Ou, o que é o mesmo, 840 milhões de anos!

—Insinua, doutor, que esta Humanidade pôde viver, inclusive, faz 840 milhões de anos?

—Quão único posso te dizer é que este “filum” humano viveu em outro tempo-espaço. Nós, nossa Humanidade, está vivendo seu próprio tempo-espaço. E este “filum” gliptolítico teve o seu. Quando? As pedras nos estão repetindo isso constantemente...

»As pedras nos estão quantificando o tempo transcorrido entre aquela Humanidade e a nossa. Podemos percebê-lo através da fauna já extinta, dos continentes que desapareceram e pela própria diferença da morfologia daqueles homens...

»Mas, se fizer tantos milhões de anos houve outro filum humano, quantas civilizações —ainda desconhecidas e esquecidas— povoaram igualmente nosso mundo entre o “filum” gliptolítico e nós? Ou é que vamos seguir pensando que somos os primeiros?

Nenhum dos pressente se atreveu a responder.

—Entretanto, a maior e mais arrepiante prova da antiguidade destas pedras a descobri aqui...

E Javier Cabrera assinalou com seu dedo um dos signos que apareciam gravados na «abóbada celeste» da pedra dos «três Aquilo astrônomos era um corneta...

Sem saber por que pressenti que me encontrava ante algo muito mais profundo e transcendental que o anterior. E me dispus a seguir as explicações do investigador com toda a atenção de que era capaz.

—«Isto» que agora vou explicar lhes constituiu mim motivo de sofrimento, de insônia e de terrível duvida durante meses...

»Como apontava antes, eu tinha considerado esta ideografia como uma visão cósmica do firmamento, como uma representação das constelações e da vida existente nas mesmas.

Isto sabia eu em 1971. Sabia que aqui se gravou um zodíaco, com treze constelações.

Mas nessa exaustiva investigação da pedra descobri outro elemento que ia dar a chave do mais impressionante achado encontrado até o momento nesta biblioteca lítica: a nebulosa Cabeça de Cavalo.

Pastora assinalou para outro dos pontos daquela «abóbada celeste» em pedra. E ali se encontrava —não cabia dúvida— a nebulosa Cabeça de cavalo, denominada assim, precisamente, por sua semelhança com a cabeça do cavalo... Uma nebulosa que a Astronomia qualifica como «escura» e que se encontra situada nas proximidades de uma das estrelas do cinturão do Orión.

Entretanto, eu resisti durante muito tempo. Como podia demonstrar que aquela gravura era, efetivamente, citada-a nebulosa? por que não podia tratar-se de uma coincidência...?

»Alguns meses depois, a imprensa do mundo inteiro arejou uma notícia que me abriu os olhos: Um cometa singular —o Kohoutek— se aproximava da Terra a grande velocidade. Em julho de 1973, os astrônomos localizaram dito cometa entre as estrelas Sírio e Régulo. E asseguraram além que o passado do cometa coincidiria com uma clara visão dos planetas Vênus e Júpiter. Todos estes elementos estavam na pedra. O cometa, tal e como podem observar na gravação, encontra-se entre duas estrelas. E os planetas Vênus e Júpiter aparecem igualmente na posição que assinalaram os astrônomos...

»Por outra parte, os astrônomos disseram em um princípio que o cometa do século tinha uma órbita de 10.000 anos. Pouco depois retificaram e a incrementaram até os 40.000. Por último deixaram sentado que a órbita do Kohoutek era parabólica e que, portanto, não retornaria jamais... Se recordarem, alguns astrônomos baralharam, inclusive, cifras de milhões de anos.

Todo aquilo me empurrou ainda com mais força a seguir investigando em tão enigmática pedra.

Ali, além das constelações, do cometa já chamado, dos planetas e da nebulosa Cabeça de cavalo havia outros elementos. E um deles parecia um eclipse anular de Sol...

O doutor Pastora nos assinalou o novo elemento. Aquele signo —evidentemente o Sol— estava «talher» por uma espécie de anel...

—Este novo fator —continuou Javier— me despistou ao princípio. Os astrônomos não tinham famoso que o «passado» do cometa Kohoutek fora a coincidir também com um eclipse anular de Sol...

»Entretanto, ante meu assombro, em 2 de novembro de 1973, a imprensa fez público outro dado relacionado com o Kohoutek: haveria também um eclipse...! Como poderia lhes descrever minha emoção? Como lhes explicar minhas largas horas de insônia, investigando, investigando, investigando sem cessar...?

»Os astrônomos tinham previsto o avistamento do cometa do século para em 24 de dezembro desse ano: 1973. Pois bem, em setembro desse mesmo ano —e quando eu tinha já muito avançado o descobrimento— veio a me visitar o coronel Omar Chioino, diretor do Museu Aeronáutico do Peru. Eu tinha doado mais de sessenta pedras gravadas ao museu e me quis agradecer isso »—Omar —disse—, têm fundadas suspeitas de que nesta pedra foi gravado a órbita do cometa Kohoutek.... há milhões de anos!

—Omar —lhe disse—, tenho suspeitas fundadas de que nesta pedra foi gravado o passado do cometa Kohoutek.... faz milhões de anos!

O coronel, logicamente, aceitou a hipótese com mais cepticismo que convicção. E era natural...

Mas eu segui trabalhando nisso. Estava convencido de que me encontrava ante algo extraordinário. Aquela Humanidade soube do passo e da existência deste mesmo cometa. Esta idéia ia ganhando terreno, dia a dia, em minha mente.

Mas, como era possível? Só cabia esperar a que chegasse em 24 de dezembro de 1973. Se o passado do Kohoutek coincidia com todos aqueles fenômenos siderais —eclipse anular de Sol, visão de Vênus e Júpiter e posição da nebulosa Cabeça de cavalo—, não cabia a menor duvida de que nos encontrávamos com a gravação de um fato que já tinha tido lugar em outra época e que agora se repetia ...

Mas Javier Cabrera, aniquilado pela imensidão de seu descobrimento, quis advertir do fato ao presidente da República, general Velasco. E muito antes do «passado» do cometa lhe escrevia:

«...Se chegasse, como penso, a comprovar que o que vamos observar é o cometa pré-histórico, ou seja, o Kohoutek, teremos demonstrado não só que se trata do mesmo cometa, mas também os gliptolitos ou livros de pedra da biblioteca pré-histórica da Ica registraram conhecimentos do saber universal que têm uma exatidão tão assombrosa como o demonstra o cumprimento da matemática newtoniana, ao provar a realidade da passagem do cometa, da produção do eclipse e do cortejo cósmico de planetas, estrelas e nebulosas que se encontrarão juntos em um lugar da abóbada celeste durante alguns minutos, apesar de haver partido de seus lugares de origem há 100 milhões de anos para voltar novamente para constituir o espetáculo que assombre outra vez mais, não já a nós, a não ser à próxima e remota Humanidade do futuro... »

Javier Cabrera deixou a cópia da carta sobre a mesa e comentou:

—É obvio, esta carta não chegou nunca à mãos do presidente Velasco. Ele o tivesse compreendido. Mas os que lhe rodeavam não souberam captar a transcendência de dita comunicação...

»Mas há mais —acrescentou Cabrera—. Consciente do achado, consciente do que tinha entre minhas mãos, coloquei-o em conhecimento também de meu amigo e jornalista Francisco Miroquesada, diretor do Comércio de Lima. E respondeu aos poucos dias que não o publicava por prudência...

Javier Cabrera, entretanto, não se rendeu. E em 11 de dezembro de 1973 —e duas semanas antes do passado do Kohoutek— enviava uma carta a Paris. Uma carta da que deu fé o notário da Ica, por rápido desejo do professor Cabrera Darquea.

Aquela missiva, dirigida ao escritor francês Robert Charroux, que também tinha conhecido a «biblioteca» lítica, devia ser entregue por este ao Observatório Astronômico de Paris. E assim se fez. Mas, o que continha aquela carta notarial que tinha escrito o investigador da Ica? Ele mesmo, tirando uma cópia de seus arquivos, leu-nos isso:

Era preciso atar todos os cabos. Por isso formulei ao Observatório as seguintes pergunta:

1ª É ou não periódico o cometa Kohoutek?

2ª É certo que o eclipse anular de Sol do 24 dezembro de 1973 voltará a produzir-se dentro de 100 milhões de anos?

3ª É igualmente correto que o eclipse será visível na Centro-América?

4ª É correto —e aqui vem o mais importante— que em 24 de dezembro, ao produzir o chamado eclipse, estará presente a nebulosa Cabeça de cavalo ao oposto do Sol?

5ª Os planetas Vênus e Júpiter estarão em uma posição de 45 graus em relação ao Sol?».

Ficamos todos em suspense. Por fim, o embaixador italiano perguntou:

—E qual foi a resposta do Observatório de Paris?

—Meu amigo Charroux me tinha comunicado que os astrônomos precisavam deixar acontecer alguns meses do momento que se produzia a máxima aproximação de um cometa à Terra, a fim de realizar melhor seus cálculos, especialmente no que à órbita do mesmo se refere...

»E em 31 de julho de 1974 me chegou a resposta do chamado Observatório. Escutem:

»O cometa Kohoutek —diziam os astrofísicos de Paris— não é periódico.

»Maravilhoso, queridos amigos! Com isto, o Observatório tinha respondido já ao mais importante... Mas sigamos:

» ... A forma de sua órbita —dizia o Observatório— é uma parábola; ligeiramente uma hipérbole.

»Eu não lhe posso assegurar se o eclipse de 24 de dezembro se produzirá dentro de 100 milhões de anos. Nem há pessoa alguma que o possa afirmar. Isso é matematicamente impossível de predizer.

»No que concerne à posição da nebulosa Cabeça de cavalo, de Vênus e do Júpiter, suas informações são corretas.

Todos os assistentes à leitura daquela carta tínhamos ficado como paralisados. Eu seguia com os olhos fixos nas gravuras da pedra, forçando minha mente ao máximo...

«O Observatório de Paris ratificou a posição da nebulosa Cabeça de cavalo!», repetia-me mesmo uma e outra vez. Mas, então, a informação astronômica daquela pedra de 300 quilogramas era exata...

Tive que me sentar. Mas as emoções não tinham concluído ainda.

—Sim —prosseguiu Javier Cabrera ante a surpresa dos assistentes a aquela histórica entrevista—, estas gravuras eram corretas. Mas eu tinha cometido um grave engano em minha carta ao presidente da República. Qual? Muito singelo. Tinha-me deixado influir pela forma convencional de estudar os eclipses e lhe falei com o Velasco de «mecânica newtoniana»...

»Entretanto, o Observatório Astronômico de Paris esclareceu que a órbita do cometa não era uma elipse, a não ser uma parábola, com tendência à hipérbole. E todos sabemos que na parábola, ao igual a na hipérbole, os ramos tendem ao infinito...

»E se forem ao infinito, é impossível saber quando se repetirá seu passo pela Terra. Então, eu pergunto:

»Se não haver forma de trabalhar com uma noção que se chame infinito, quem fez esta pedra? »

De novo reinou o silêncio. Sem nos dar conta tínhamos chegado a um dos pontos culminantes da conversação.

Aquele 24 de dezembro de 1973 —tal e como recolheu toda a imprensa do mundo— o cometa do «século» esteve mais perto que nunca da Terra em sua viagem Pelo Cosmos.

E Se registrou igualmente o eclipse anular de Sol.

A Lua se colocou durante uns segundos ante o disco solar, formando um majestoso «anel». E Vênus e Júpiter se situaram na posição assinalada pelos astrônomos... e pela formidável gravura da pedra que Javier Pastora tinha em seu poder desde 1970...

Eram, pois, 13 elementos zodiacais, 2 planetas, a Lua, o Sol, a nebulosa Cabeça de cavalo e o cometa, coincidindo com a mais absoluta precisão. Em total, 19 fatores. Terei que descartar, necessariamente, a coincidência. Os seres que tinham gravado aquela pedra tinham tido conhecimento da existência deste cometa...

—Mas —voltou a perguntar Pastora —, se nós não sabemos trabalhar com uma noção que se chame «infinito», quem pôde gravar esta pedra?

Javier Cabrera se dirigiu para mim e comentou:

—Grava isto em seu magnetófono, porque a Espanha vai ou seja considerá-lo...! Esta pedra foi gravada por uma energia superior, cognitiva, livre de espaço e tempo...! Isto é o que dizem estas pedras.

—Mas, como pode traduzir-se isso? —expu-lhe.

-Não posso traduzi-lo. A essa «energia cognitiva», se quiser, lhe ponha os adjetivos que queira...

Foi então quando interveio novamente o embaixador italiano. E perguntou:

—Deus?

Javier Cabrera respondeu rotundamente:

—Claro, querido embaixador...! Felicito-o!

—Mas —prosseguiu o embaixador—, eu não acredito que Deus tenha feito esta pedra...

—E você o que é? —interveio imediatamente Javier Cabrera—. Você que coisa é?

—Eu sou um homem de Deus, senhor...

—Olhe, os descobrimentos que eu estou recolhendo não se podem lançar de qualquer jeito.

—Eu não posso dizer —lhes ensinando estas pedras— que essa «energia superior» ou essa forma sublime da «energia» seja ou não tal coisa... Como tampouco posso lhe dizer a você que o homem é increado. Porque você não o entende...

—Increado? —perguntei muito surpreso.

—Isso. Há pedras nesta «biblioteca» nas que se mostra a verdadeira «origem» do homem...

Mas Javier Cabrera não desejava estender-se sobre este tema. E se limitou a comentar:

—Ao descobrir a verdadeira «mensagem» desta pedra troquei totalmente minhas colocações. Já não podíamos situar ao homem na Era Secundária ou Mesozóica. Com a pedra do Kohoutek se demonstra que o ser humano não tem «teto»... Rompeu a barreira do tempo. Só Teilhard do Chardin se aproximou...»

—A Terra foi sempre nosso «lar»?

—Não, nosso «lar» é o Cosmos. O «fenômeno humano» se dá na Terra e em qualquer astro que tenha condições para albergar a VIDA. Mas não poderíamos assinalar a origem do homem aqui ou lá. O homem, repito, é do Cosmos... Assim está nas pedras.

»Quando todo o filum humano se concretize, se desmaterializa, espiritualize-se e se dirija a um ponto da galáxia, poderemos dizer que se realizou a missão desta Humanidade... Exatamente igual como já aconteceu com outros fila humanos, aqui neste planeta e em outros astros...

»Enquanto isso não ocorra, enquanto a totalidade do filum desta civilização, não se desmaterialize, teremos guerras, divisões e calamidades.

—Se não ter entendido mal —insisti—, esta pedra do foi gravada então por uma mente superior, livre do espaço e livre do tempo...

—Exato. Essa é a grande diferencia entre a Humanidade que deixou a «mensagem» gliptolítico e a nossa. O homem daquele “filum” não era matemático. Era conceptual. Chegava aos mesmos lucros que nós, mas sem necessidade de cálculos matemáticos. Era conceptual. Isso se repete sem cessar em toda a «biblioteca».

»Como podemos explicar se não que gravassem nesta pedra um fato que aconteceu faz milhões de anos e que eles sabiam ia se voltar a repetir? Se o Observatório de Paris e o da República Democrática Alemã me confirmaram que o Kohoutek não é periódico, que sua órbita se perde no infinito, como poderíamos saber nós quando vai retornar? Só se fôssemos lhes conceituem... Essa era a grande diferencia entre aquela Humanidade e nós.

»E eu cometi o grande engano de me pegar ao tradicional, ao convencional. A mecânica newtoniana já não serve neste caso... Só poderíamos compreendê-lo com as noções do Einstein: Se eu Miro o horizonte —dizia—, vejo-me a nuca...

»O infinito é uma curva como a parábola. Se Miro o infinito, vejo-me a nuca. A questão estriba em saber quando... A reta é uma curva de rádio infinito. Então, esse móvel que descreve uma trajetória parabólica deve retornar. O problema, repito, está em averiguar quando. Se o Kohoutek for um cometa de trajetória parabólica, tal e como acabamos de dizer, isso significa que agora há retornado do infinito. Em outras palavras, esta maravilhosa pedra nos está mostrando como é realmente o Universo!

Terei que fazer um constante esforço para seguir os raciocínios do investigador. Entretanto, uma atrás de outra, suas deduções —todas apoiadas pelas gravações das pedras— terminavam por encaixar nos cérebros arrasando quantas barreiras mais ou menos convencionais podiam obstaculizar seu asso.

—...Esta gravação —continuou— nos está dizendo que o Universo é curvo e limitado. Não é ilimitado e incomensurável.

»Todas as teorias, como vêem, vão superando pouco a pouco…»

O professor Cabrera Darquea acendeu um cigarro e deixou que seus assombrados visitantes seguissem refletindo sobre o que acabavam de ver e ouvir.

—E o tempo? —perguntou de novo o embaixador—. Está explicado também nestas pedras?

—Aquela Humanidade dispunha também de seu próprio «tempo». Mas era «seu» tempo. Nós, agora, estamos «fazendo» nosso próprio tempo. Se todos os seres da Terra desaparecessem, haveria tempo...?

»Aquele filum gliptolítico tomou como base para medir-se ao próprio homem. Nós não. A Humanidade das pedras gravadas computava seu tempo em apóie ao ciclo menstrual da mulher; em apóie a períodos de 28 dias. Como assinalava antes, ao multiplicar esse período pelas 13 constelações —que é o tempo empregado por nosso planeta em dar uma volta completa ao redor do Sol— se obtém um ano de 364 dias. Nós não estabelecemos esse sistema.

Mas, segundo isto, ambos os «fila» estão em relação com o Sol. Este é o verdadeiro regulador do tempo, não o homem...

Bom, o fato de que eu compute o tempo com um ciclo solar não quer dizer que este seja a essência do tempo. Não define ao tempo. É um puro ponto convencional. Hoje, a mulher segue tendo um ciclo menstrual de 28 dias... Isto não trocou. Sim o tem feito, entretanto, o Sol e a própria Lua. O primeiro, ao perder matéria, alarga as elipses de seus planetas. E à Lua acontece o mesmo. Já não gira em torno do planeta em 28 dias, a não ser em 27 e algumas horas. por que? Como conseqüência também dessa perda de matéria do astro rei. Ao não exercer a mesma atração, a Lua se vê afetada da mesma forma que a Terra. E excursão mais depressa ao redor de nosso mundo. Mas este processo continuará. E a Lua chegará a dar uma volta à Terra em 24 dias e nosso próprio mundo empregará 370 dias em completar seu movimento de translação... Mas o ciclo menstrual da mulher seguirá inalterável. Quer dizer, o tempo humano está divorciado do tempo geológico e cósmico. A única forma de estabelecer uma relação é através do fenômeno humano.

»Só o homem é constante. Se o fenômeno humano existiu naquele tempo e existe também agora, isso nos permite estabelecer duas noções que —tanto naquele filum como no nosso— demos em chamar tempo. Só o conhecimento de sortes noções nos está demonstrando que houve um lapso entre ambas as Humanidades...

»Mas, fora de ditos fila, é que existe o tempo? Só terá existido na medida que outras Humanidades, que outros fila, hajam talher esse lapso entre o homem gliptolítico e nós.

Tratei de entrar naquele outro ponto que Javier Cabrera tinha deixado em suspense: a verdadeira origem do homem. Mas minha pergunta correu idêntica sorte que a anterior...

—Dizia você, professor; que o homem é increado. Pergunto-me o que aconteceria se, de repente, encontrasse você nesta «biblioteca» a explicação a dita origem...

Javier Cabrera cruzou um olhar de cumplicidade com Gustín Figueroa, seu editor, que também assistia a interessante conversa, e respondeu.

—Em um dos capítulos desta obra que estou preparando encontrará um fato que te surpreenderá. Um fato que respalda esta minha afirmação sobre a não criação do homem. Mas, no momento, não posso falar disso.

Permanecemos de novo em silêncio até que um dos acompanhantes do embaixador italiano perguntou a Pastora :

—Não compreendo por que foi gravado precisamente o «passo» deste cometa. Qual é seu significado real?

—Transcendente. A chegada do cometa teve uma significação para aquele “filum”. Por isso o gravou na pedra. Mas isto se deduz com a contemplação e o estudo de muitas pedras. Porque, como sabem, todas estão relacionadas de algum jeito. Formam «séries». Aquele “filum” humano recebeu a um ser que procedia de outro lugar do Cosmos e do que nós também tivemos notícias... Mas os rogo que não me perguntem mais sobre este tema. Está em pleno processo de investigação e não desejaria falar sobre isso até que o estudo se encontre concluído...

Como o leitor terá adivinhado, possivelmente esta afirmação do doutor Javier Cabrera Darquea se encontrava intimamente vinculada ao formidável achado que ele —com tanta sabedoria como prudência— tinha isolado ao chamado «quarto secreto». Mas, quem era aquele ser? De onde procedia em realidade? por que tinha coincidido com este cometa? Qual era sua missão na Terra? por que Pastora nos tinha indicado que nós também tínhamos tido notícias de sua existência? E o que era mais importante para mim, por que e como sabiam os seres daquela remota Humanidade que o cometa retornaria uma vez mais...?

Javier Cabrera, com o passo dos dias, respondeu a estes interrogantes. Em alguns casos, como apontava em outro capítulo deste livro-reportagem, bastou-me a simples contemplação daquelas pedras «secretas» para compreender...

Mas prometi solenemente ao Javier Cabrera não divulgar esta parte da «biblioteca», ao menos até que o estudo das mesmas se viu concluído em sua totalidade. Desde não fazê-lo assim, o impacto seria de tal calibre que —em vez de obter um efeito positivo que enriqueça muito mais nosso próprio sentido da existência— sumiria a muitas pessoas na confusão. Mas essa revelação —estou seguro— chegará no momento adequado.

Para mim, aquela tarde no museu da praça de Armas da Ica, em companhia do Javier Cabrera, do embaixador italiano e de quantos lhe acompanhavam, teve uma transcendência insuspeitada. E possivelmente após tenha visto sumido meu espírito em uma crise permanente, da que com muita dificuldade estou saindo...

Aquela pedra —chamada agora pelo investigador icano como do Kohoutek— devia transtornar, a desequilibrar, todos meus esquemas mentais. Era, não cabia dúvida, uma prova irrefutável. Aquela pedra estava no estudo do Javier desde 1970, data em que o bom do Basilio Uchuya a tinha extraído do fundo do deserto do Ocucaje. Aquela pedra tinha sido vista, analisada e fotografada antes da chegada do cometa Kohoutek por dezenas de pessoas.

Aquela pedra desconcertante, enfim, tinha sido exposta por Pastora em 1971 no Congresso Internacional de Cirurgia, celebrado no Peru.

Ao me retirar aquela noite ao hotel compreendi as palavras do investigador, quando, ao pôr suas mãos sobre a «abóbada celeste» daquela singular pedra, adiantou-nos:

—Minha emoção ao descobrir isto foi tremenda. E demorei muitas noites em poder conciliar o sonho...

Mas minha investigação apenas se tinha começado. Ficavam ainda outras muitas surpresas. Como aquela que tinha saltado também ao longo de minha última visita ao centro-museo das 11.000 pedras gravadas: os «planos» dos antigos continentes do planeta…

 

                                       «ATLÂNTIDA É A EUROPA»

Em uma das salas onde se apertam os milhares e milhares de pedras gravadas do doutor Cabrera Darquea ia ter a oportunidade —uma vez mais de ficar atônito. Fulminado pela primeira surpresa e pela incredulidade depois.

Em duas pedras de grande peso e com formas ambas de «meia laranja», o doutor Cabrera tinha descoberto também o que ele considera os «planos» de quão moderados formavam a Terra faz milhões de anos.

Quando Javier Cabrera me fez esta revelação esqueci o resto da «biblioteca» e permaneci comprido tempo contemplando aqueles «hemisférios» desconhecidos, remotos...

Em um deles —o que Pastora tinha famoso como «ocidental»— apareciam gravados os contornos de quatro moderados.

No «oriental», que correspondia à segunda grande Pedra, pude ver outras quatro gravações, pertencentes —segundo o investigador da Ica— a outras tantas massas continentais do planeta.

E Javier Cabrera procedeu a me explicar seu significado:

—Nesta pedra —a que corresponde ao «hemisfério ocidental»— consegui identificar o que faz milhões de anos era a América do Norte. Como vê, encontrava-se já unida a isto outro, que era Sudamérica. E a ambos os lados destes dois moderados, Mu! e Atlântida!...

Por um momento acreditei não ter escutado bem ao Javier Cabrera...

—Há dito Atlântida?

O médico sorriu divertido. Observou minha confusão e sublinhou:

—Sim, hei dito Atlântida, o continente desaparecido e que tantos cientistas investigam na atualidade.

—Não é possível! —comentei entre dentes.

—Pois aqui está... Esta massa continental que se estende à direita de ambas as Américas era Atlântida. Mas hoje, efetivamente, já não está aí. Isto foi gravado faz milhões de anos, não o esqueça. Mas, me permita que te enumere os restantes continentes que aparecem no outro «hemisfério».

Javier Cabrera se dirigiu à segunda pedra e assinalou:

—Isto, depois de concluir minhas investigações, cheguei à conclusão de que é a África. E a seu lado —unidas como acontece com a América do Norte e do Sul—, Arábia e Austrália. Por último, o quarto moderado que foi gravado à direita e acima é Lemúria...

—Mas, por que sabe que se trata dos antigos continentes?

Entre as pedras que tenho estudadas há quatro que —a simples vista— parecem «hemisférios». Comecei a investigar e observei que duas destas pedras não podiam ser identificadas como «hemisférios» terrestres... Eram os «planos» de outro mundo, de outro planeta.

»Os dois restantes —estes que tem ante sua vista— sim podiam ser identificados como de nosso planeta. Havia algumas zonas já conhecidas, e um comprido e posterior estudo assim me ratificaria isso. Estes hemisférios eram os da Terra..., faz milhões de anos. Precisamente na era em que a Humanidade gliptolítica povoava possivelmente o mundo.

»Mas não todas as massas continentais de então —as que você vê agora gravadas aqui— eram idênticas às que hoje conhecemos. Por isso muitas pessoas, ao examinar estes hemisférios confundem alguns continentes com outros. E é natural. A Terra trocou muito em milhões de anos.

»E neste documento excepcional, possivelmente único no mundo, estão-nos mostrando como era realmente o planeta.

—Muitas das teorias atuais sobre «deriva» de continentes apontam para o fato, quase seguro, de que, em tempos remotos, América do Sul e África estiveram unidas. Pode demonstrar-se isto nas pedras?

Com o passar do estudo realizado sobre estas duas Pedras pude comprovar que, uma vez recortados os distintos continentes, podiam ajustar-se formando um só bloco. Como sabe, ao princípio, todos os continentes formavam uma única massa de terra. Uma massa continental, que se fragmentou em dois e posteriormente deu lugar a novas fraturas e, por conseguinte, a novos continentes.

As teorias da expansão dos recursos marinhos e da tectônica de placas levaram aos cientistas atuais à velha teoria da «deriva» de moderados, formulada já entre 1912 e 1915 pelo geofísico Wegener. Este sustentava que as massas continentais que conhecemos hoje procedem da fragmentação de um único bloco de terras. A partir de uma formidável e primitiva fratura, as peças desse «macrorrompecabeças» se foram separando entre si, começando com isso a chamada «deriva» dos continentes.

Wegener confeccionou sua teoria apoiando-se fundamentalmente nas semelhanças de linhas das costas de certos oceanos, como no caso do Atlântico. Por outro lado, as faunas e floras da Era Primária ou Paleozóica nos continentes meridionais —a África, América do Sul, Índia e Austrália— eram muito semelhantes. Isto só podia ter uma explicação: ditos continentes tinham permanecido unidos em alguma e remota época da Terra. O mesmo acontecia com o que hoje é a América do Norte e Eurásia.

Pelo contrário, comparando as faunas e floras fósseis dos continentes setentrionais com os das massas continentais do Sul, as semelhanças são muito escassas.)

Mas estas hipótese e teorias dos cientistas sobre os antigos continentes não são compartilhadas de tudo pelo Javier Cabrera. Nas pedras gravadas embora se deduz também a primitiva existência de um bloco único, aparecem continentes dos que só se tinham notícia através de lendas e narrações mais ou menos verossímeis.

Por exemplo, Mu. Por exemplo, Atlântida. Por exemplo, Lemúria...

Como explicava o médico icano a presença —a insólita presença— destas massas continentais nas gravuras das pedras?

Hei aqui a fascinante explicação do investigador:

—Este continente que vê a esquerda do que hoje é Sudamérica era Mu. Atualmente, entretanto, esta massa continental já não existe frente a nossas costas. por que?

»Em razão da deriva dos continentes, Mu foi deslocando-se para o Ocidente. E com o transcurso de milhões de anos se chocou com a Índia, Arábia e parte da Europa, formando o que hoje é a Ásia. Mu, portanto, deveríamos buscá-lo na atualidade na zona asiática...

»Mas esse lento deslocamento do Mu através do que hoje chamamos oceano Pacífico provocou o nascimento de dezenas de arquipélagos e milhares de ilhas que ficaram desprendidos da primitiva massa continental...

Aquilo me fez acudir rapidamente a um dos mapa-múndis que Javier Cabrera tinha pendurado de uma das paredes do museu. Meus olhos procuraram frente às costas do Chile.

«Sim —me disse mesmo—, ali estava. Mas, como era possível? É que aquele deslocamento poderia ter alguma relação com a misteriosa e enigmática ilha de Páscoa?»

Ao retornar frente à pedra onde Javier Cabrera me tinha famoso o chamado continente Mu, perguntei-lhe sem rodeios:

—Que relação pode haver então entre este desaparecido moderada e Páscoa?

—Tudo.

Olhei ao investigador com incredulidade.

—Tudo, repito. Como te digo, a «deriva» do continente Mu deixou um «rastro» de ilhas a todo o comprido do oceano Pacífico. Em muitos casos, esse desgajamento da massa continental coincidiu com zonas onde existia uma florescente cultura, tal e como se reflete nestes milhares de pedras gravadas.

»E Páscoa foi um destes exemplos. A Polinésia, repito, não é outra coisa que o reguero deixado pelo continente Mu em seu caminho por volta do que hoje constitui a Ásia. Mas as gente que puderam ficar nesses arquipélagos e ilhas terminaram por mesclar-se. E também os habitantes do Mu —uma vez que o continente formou definitivamente a Ásia— se viram submetidos a constantes mudanças. Nessa nova área do globo, o meio ambiente resultava totalmente distinto.

Durante minhas viagens por diversas zonas do Peru tinha observado um fato para o que não tinha explicação. Em numerosos povoados e cidades —especialmente naquela região da Ica— os indígenas ofereciam aos turistas as mais variadas talhas de madeira. Talhas que, em um princípio, eu considerei produto do artesanato local. Mas um fato posterior, ocorrido no deserto do Ocucaje, assim como os testemunhos de numerosos peruanos —peritos na matéria—, fizeram-me compreender que muitas daquelas talhas de madeira negra e desconhecida tinham uma grande antiguidade. Os indígenas e camponeses —conforme pude comprovar no chamado deserto do Ocucaje— dedicavam boa parte de seu tempo a «huaquear» ou rastrear as zonas arqueológicas, desenterrando muitas destas Milhas entre os restos das tumbas pré-hispânicas.

O próprio professor Pastora Darquea dispunha de uma formidável coleção destas figuras de madeira.

Mas o que verdadeiramente me chamou a atenção de um princípio nas citadas talhas foi a entristecedora semelhança com os gigantescos «moais» da referida ilha de Páscoa. Muitos daqueles ídolos tinham um claro perfil «pascoense». Mas, como podia ser?

Meu assombro chegou ao máximo em uma clara amanhã do inverno peruano quando, enquanto visitava o Museu Regional da Ica, um de meus acompanhantes me assinalou um arcaico e artístico remo de madeira. Em um de seus extremos tinham lavrado oito figurinhas que me recordaram imediatamente as mencionadas estátuas gigantes da enigmática ilha de Páscoa. Aquelas figuras encontradas por azar em um remo incaico, possivelmente anterior à chegada dos conquistadores espanhóis, tocavam-se, inclusive, com os mesmos gorros ou chapéus que ainda luzem alguns dos «moais».

Como se sabe, em um princípio parece ser que a totalidade destas formidáveis estatua de pedra dispunha dos citados gorros. Na atualidade, e possivelmente como conseqüência de movimentos sísmicos ou de sucessivas catástrofes, esses adornos de pedra aparecem arrancados das cabeças das estátuas e pulverizados pelas proximidades dos «moais».

Mil vezes me formulei a mesma pergunta: A que se devia aquele parecido, aquela semelhança, entre estas talhas de madeira encontradas a milhares nas terras Peruanas e os fantásticos e desconhecidos seres que ficaram representados nas estátuas de Páscoa?

Agora, ao escutar ao professor Pastora , para ouvir que o desaparecido continente Mu foi deixando um extenso «rastro» de ilhas em seu caminho por volta do que hoje é a Ásia, tudo parecia mais claro.

É que esta podia ser a explicação a desconcertante ilha do Pacífico?

—Estas talhas encontradas no Peru —expus ao Javier Pastora — e as estátuas da ilha de Páscoa têm uma profunda semelhança. por que?

—Não esqueça que esta muito remoto civilização que deixou as pedras gravadas cobria e se estendia por todo o planeta. Havia uma intercomunicação. As talhas encontradas nos desertos e tumbas do Peru são muito similares, em efeito, às estátuas da ilha de Páscoa. Entretanto, por que os «moais» não são similares aos habitantes atuais de dita ilha? Não lhe perguntaste isso? A razão confirma uma vez mais a grande antiguidade desta civilização. Os homens representados nas estátuas de Páscoa não se parecem com os atuais «pascoenses» porque o tempo transcorrido entre ambos é enorme. Entretanto, os «moais» sim são idênticos aos seres representados no altiplano peruano do Marcahuasi.

»Ambos os som homens de foi remotas do planeta. E ao igual a acontece com os animais, também as distintas Humanidades que foram povoando o mundo foram trocando. O homem do Tiahuanaco, por exemplo, era redondo, de grande cabeça, pernas curtas, braços largos e quatro dedos em cada mão. Muito parecido, portanto, ao homem gliptolítico. Mas, que raça atual se assemelha a esse homem do Tiahuanaco ou ao das pedras gravadas?

»Isto, necessariamente, remonta a um passado da Terra de que desconhecíamos quase tudo.

»Agora, com a aparição desta biblioteca, a mente do homem de nosso filum trocará».

—E como interpretaste os restantes continentes?

—América do Norte e do Sul, que estiveram positivamente divididas, aparecem já unidas. Esta «ponte» que agora denominamos Centroamérica coincidiu com o levantamento das montanhas... mas, onde estava aqui a Europa?

Pastora tinha reservado intencionalmente para o final seu descobrimento sobre «a Atlântida». Assinalou o continente que se encontrava à direita das duas as Américas e prosseguiu:

—Este continente que faz milhões de anos se encontrava em metade do oceano Atlântico foi derivando também para o Este. Mas o grande cataclismo de que falávamos precipitou os acontecimentos. E a queda das Luas sobre a Atlântida afundou parte do continente, deslocando o resto para o Oriente. Como conseqüência desse deslocamento, Atlântida se converteria na Europa e Norte da África...

»Em outras palavras: vocês, os espanhóis, e boa parte do resto da Europa, são a Atlântida!»

Recordei então um dos parágrafos das sugeridas obra de Platão —Timeu e Critias—, nas que se faz menção deste continente perdido. Nelas há uma crônica sobre o desaparecido moderado. A atribuem a Solón, legislador da antiga Hélade, que viajou ao Egito por volta do ano 560 antes de Cristo.

conta-se que a assembléia de sacerdotes da deusa Neith do Sais, protetora das ciências, revelou ao Solón que seus arquivos se remontavam a milhares de anos e que se falava neles de um continente situado além das Colunas do Hércules e engolido pelas águas por volta de em 9.560 antes do J. C.

Platão não cometeu o engano de confundir Atlântida com a América. Diz claramente que «existia outro continente ao oeste da Atlântida». E falou de um oceano que se estendia mais à frente do estreito de Gibraltar. O Mediterrâneo —afirmava— não é mais que um porto.»

Neste oceano —o Atlântico— situou uma ilha-moderada mais extensa que a Ásia Menor e Líbia juntas. Conta Platão que no centro do Atlântico existia uma fértil planície protegida dos ventos setentrionais por altas montanhas.

O clima era subtropical e seus habitantes podiam recolher duas colheitas ao ano. O país era rico em minerais, metais e produtos agrícolas.

Na Atlântida floresciam a indústria, os ofícios e as ciências. O país se orgulhava de seus numerosos portos, canais e estaleiros. E ao mencionar suas relações comerciais com o mundo exterior, Platão sugere o emprego de navios capazes de atravessar o oceano...

—As distintas lendas dos povos —comentei— falam de uma catástrofe que aconteceu faz milhares de anos. Um cataclismo que sepultou sob as águas a estas terras ignoradas hoje. Mas Platão, em sua obra... não se remonta a milhões de anos. Fala de apenas 10.000 anos...

Javier Cabrera captou imediatamente a intenção de minha colocação.

—Essa catástrofe, assim é, está no coração dos povos, das narrações dos livros históricos. E se trata, não me cabe dúvida, da mesma destruição mundial a que se refere a «biblioteca» lítica.

»Mas, vamos ao fundo de sua pergunta. Ocorreu faz 10.000 anos ou mais de 60 milhões de anos? Eu te volto a expor o problema que analisávamos dias passados. O que significavam 10.000 anos para o Platão ou para a assembléia de sacerdotes da deusa Neith? É que acaso podiam medir algo que ficava fora de seu tempo-espaço? O cataclismo foi de tal magnitude que as Humanidades posteriores a do homem gliptolítico conservaram sempre o rastro do desastre. Assim soubemos —através do passo desses posteriores fila humanos— a essência daquela horrível destruição que arrasou moderados e sumiu à Humanidade no mais penoso de seus períodos. Mas, como podiam determinar Solón ou Platão a era em que aconteceu isto se eles estavam vivendo em um espaço-tempo absolutamente distinto daquele?

»Nós sim pudemos averiguá-lo agora porque tivemos a fortuna de encontrar esta biblioteca.

»Os sacerdotes egípcios e Platão só dispunham de testemunhos ou relatos que, a sua vez, procediam ou se apoiavam em outros relatos e lendas. E estes, em outros, e assim sucessivamente...

»O conhecimento da gigantesca destruição que ia sofrer aquela Humanidade foi precisamente, como já te indiquei em outras ocasiões, o que moveu a dito filum gliptolítico a deixar este mensagem.

Fixei-me novamente nos «hemisférios» e observei que o que Pastora denominava a Arábia e Austrália se encontravam unidas. Aquilo sentiu saudades também.

—Esse grande cataclismo —comentou— deveu romper a «ponte» que unia ambas as massas continentais. Malásia, precisamente, sim concorda com a fauna da Arábia. por que? Porque, no cataclismo, a fratura de dita «ponte» provocaria o nascimento do que hoje conhecemos como a Malásia...

Mas Javier Cabrera —além de me mostrar as Pedras gravadas nas que aparecem os antigos continentes do globo terrestre— me pôs em antecedentes de uma recente investigação científica que reforçava sua hipótese sobre a forma e situação das velhas massas de terra.

—feito-se uma amostragem a nível mundial —explicou— e se comprovou que o tipo comum de sangre na Europa é o chamado A. Na Ásia, o B, na América é o «zero» ou Universal. Austrália tem também sangre «zero». E o mesmo acontece com a África.

»A percentagem maior de sangue zero ou universal o tem a América, que chega aos cem por cem. Seguem-lhe a África e Austrália.

»Mas a tese atual vigente é que o homem da América entrou pelo estreito de Bering. Quer dizer, que, do ponto de vista racial, os americanos procedem do homem asiático.

»Mas isso não pode ser... A amostragem assinalou com claridade que a Ásia tem um tipo comum de sangue: B. Então, se o maior índice de sangue zero o arroja a América, como pode dizer-se que o homem da América descende do asiático? É impossível.

»Mas bem deveríamos ser descendentes dos negros, que também têm sangue zero. Mas é evidente que não ocorre assim. Nem os espanhóis encontraram negros ao desembarcar na América...

»O que podemos pensar então? Que os homens são nativos de cada continente».

—Nos distintos continentes que aparecem gravados nas pedras observei figuras que se diferenciam entre si, precisamente por seus rasgos faciais. Tem isto algo que ver com a primitiva localização das raças?

—É obvio que sim. Essa é outra das grandes maravilhas destas pedras. Cada continente tem perfeitamente famoso o tipo de raça que o povoava. E assim vê negróides, brancos e mongolóides nos distintos continentes. Estes eram os três grupos puros iniciais da Terra.

Segundo isto, Mu tinha sangue B, posto que foi engrossar o moderado asiático. Atlântida seria do tipo A, tal e como acontece e se demonstra hoje na Europa e África, no outro hemisfério, com sangue zero. Tudo concorda.

—Se tinham capacidade para viajar por todo o planeta, como é que não se produziu uma mescla?

—Também agora temos capacidade para viajar e, entretanto, já vê, nesta recente amostragem seguiam preponderando uns tipos concretos de sangue como moderado...

Aproximei-me de novo às pedras dos «hemisférios» e comprovei, em efeito, as afirmações de Cabrera. No que ele assinalava como a antiga a África tinham gravado umas figuras «negróides». No Mu, entretanto, os rostos tinham claros perfis «mongólicos». Por último, no resto das massas continentais, aqueles homens «gliptolíticos» se assemelhavam ao hoje chamado homem «branco»...

Como podia ser? É que realmente me encontrava ante os «hemisférios» de uma Terra perdida na nebulosa de milhões de anos? Minha mente —o reconheço— resistia em múltiplos ocasione a aceitá-lo. Era excessivo...

Naquele instante, enquanto contemplava os traços seguros e profundos daqueles gravados, passou veloz por meu cérebro um pensamento que ia dar pé a uma das afirmações mais audazes por parte do Javier Cabrera Darquea:

—O que teria pensado Darwin se tivesse conhecido esta «biblioteca»? Acredito que não se teria atrevido a lançar sua teoria sobre a evolução...

—Mas, é que o homem não se viu submetido a esse Processo inevitável da evolução?

—A evolução —tal e como tenho descoberto nestas Pedras— não é natural no caso do ser humano, do fenômeno humano. É dirigida!

»Ao Darwin ocorreu quão mesmo ao espectador que só vê a metade do filme...

»Se Darwin tivesse conhecido e investigado estas pedras não teria desenvolvido sua célebre teoria evolucionista. Como tampouco o teria feito se tivesse conhecido as teorias do Mendel...

—Mas Mendel —repus— foi anterior ao Darwin...

—Sim, querido amigo. Mas se esquece que era capuchino... E seu descobrimento permaneceu oculto muito tempo em seu convento. Se os inimigos do Darwin tivessem conhecido as leis do Mendel, o teriam destroçado.

Aquela afirmação do Javier Cabrera sobre a «evolução dirigida» do ser humano foi ganhando terreno em meu coração e quase ia dizer que em meu cérebro. Não era a primeira vez tampouco que escutava algo similar. Hoje um bom punhado de cientistas e estudiosos está convencido de que o fenômeno humano nasceu na Terra como conseqüência de uma «intervenção» direta de outros seres do espaço.

Para ser mais exatos, como resultado de uma ação perfeitamente programada e meditada por outros seres inteligentes —possivelmente pertencentes à mesma «família» a que nós pertencemos— que «pulverizam» pelo Universo a «semente» disto que nós demos em chamar «fenômeno humano».

Essa «intervenção» direta pôde efetuar-se em algum momento determinado em que as distintas formas «pré-humanas» —chamem-se hominídeos, póngidos, etc.— povoavam já o planeta. O «salto» dessa situação «não inteligente» a outra em que o cérebro começa a desdobrar uma ação que nenhuma das espécies animais alcançou em tantos milhões de anos só poderia explicar-se —afirmam muitos destes investigadores— mediante essa «intervenção de outros membros da imensa «família humana» que se estende pela galáxia.

A «evolução», neste caso, passaria, indubitavelmente, da chamada fase natural à dirigida. Uma «evolução» que poderia ser, inclusive, controlada durante seus começos por esses seres de outros mundos.

Esta hipótese, como digo, não é nova. foi esgrimida já por alguns autores, embora sempre teve que ser apoiada em simples teorias.

Agora, em troca, o fato de uma «evolução dirigida» aparecia neste documento único no mundo: as milhares de pedras gravadas da Ica.

Pastora , entretanto, como já mencionei em ocasiões anteriores, resistiu uma vez mais a prosseguir em tão fascinante assunto.

—É preciso esperar. As investigações não concluíram...

 

                   UM TESTEMUNHO DESCONCERTANTE:

                 «PÁSSAROS MECÂNICOS» E RÉPTEIS VOADORES «TRIPULADOS»

Penso eu que qualquer que pudesse contemplar aqueles «hemisférios» terrestres de faz milhões de anos, gravados em duas enormes pedras, faria-se a mesma pergunta:

«Como chegou a conhecer aquela remota Humanidade as formas e contornos dos continentes?».

Mas antes de passar a te apaixonem «serie» dos «pássaros mecânicos» —peça fundamental para decifrar o mistério do traçado destes «mapas»— quis me deter primeiro em outros famosos e revolucionários «mapas» dos continentes do planeta. Uns «mapas» que nestes momentos ratificam de forma decisiva essa convicção do Javier Cabrera sobre a existência de outras Humanidades que, há milhões de anos, vieram acontecendo-se na História real do planeta: os mapas do Piri Reis.

Louis Pauwels e Jacques Bergier os denominam os «mapas impossíveis». Hei aqui, em síntese, a assombrosa realidade destes documentos:

Os mapas chamados hoje do Piri Reis» foram desempoeirados, e até certo ponto «descobertos», em 9 de novembro de 1929, quando o diretor dos Museus Nacionais turcos, Malil Edhem, procedia ao inventário e à classificação de tudo o que reunia o conhecido museu Topkapi do Estambul.

Malil Edhem se encontrou de repente com dois mapas nos que se reproduzia parte do mundo. Dois mapas que os peritos turcos davam como perdidos e que o famoso navegante turco Piri Reis havia descrito em seu livro de memórias Bahriye, no século XVI.

Piri Reis tinha sido um piloto notável. Pertenceu a uma família de navegantes turcos de grande raizame e proporcionou ao Império turco dias de grande glorifica ao estender a supremacia naval de dito povo por todo o Mediterrâneo e mares vizinhos. Piri Reis conhecia a perfeição as costas daquele Mediterrâneo e se especializou na difícil técnica do traçado de cartas e mapas marinhos.

No prólogo de sua obra —Bahriye— fala já prontamente de seu primeiro mapa, esboçado em sua cidade natal, Gelibolu, entre em 9 de março e em 7 de abril de 1513. Em dito prólogo, Piri Reis expressa que, para riscá-lo, cotejou todos os mapas que conhecia —aproximadamente uma vintena—alguns deles muito secretos e muito antigos, compreendidos certos mapas orientais que, ao parecer, ninguém mais possuía na Europa.

Seu conhecimento do grego, do italiano, do espanhol e do português lhe ajudou extraordinariamente na hora de tirar o maior partido possível das indicações contidas em todos os mapas que consultou. Por outra parte, Piri Reis dispunha de uma caria confeccionada pelo próprio Cristóvão Colombo E que tinha chegado a seu poder mercê a um dos membros da tripulação do célebre genovês. Este marinho tinha sido feito prisioneiro pelo Kemal Reis, tio do Piri Reis, e pôde por isso completar pessoalmente os conhecimentos do cartógrafo turco.

Graças a estas informações, Piri Reis chegou a umas substanciosas conclusões, que refletiu em um dos capítulos de seu livro. Ao referir-se ao «Mar Ocidental» —como se denominava antigamente ao oceano Atlântico—, Piri Reis conta:

«Um infiel chamado Colón, e que era genovês, foi quem descobriu estas terras. Um livro chegou às mãos de Colón, o qual viu que se dizia no livro que, ao outro lado do mar ocidental, precisamente para o Oeste, havia costas e ilhas e toda classe de metais, assim como pedras preciosas. Colón, depois de estudar longamente o livro, foi suplicar, um após o outro, a todos os notáveis da Gênova, lhes dizendo: me dêem dois navios para ir lá e descobrir essas terras. Eles lhe responderam: OH, homem vão! Como pode encontrar um limite ao mar ocidental? Este se perde na névoa e na noite.

Colón viu que nada tiraria dos genoveses e se apressou a ir ao encontro do rei da Espanha, para lhe contar detalhadamente a história. Responderam-lhe quão mesmo na Gênova. Mas suplicou durante tanto tempo aos espanhóis, que seu rei acabou por lhe dar dois navios, muito bem providos, e lhe disse: OH, Colón! Se acontecer o que você diz, farei-te Governador daquele país. Dito o qual, o rei enviou ao Colón ao mar ocidental».

Aquele livro que encontraria Cristóvão Colombo data conforme figura na obra do Piri Reis da época Alexandre Magno...

Segundo isto, existia já —muito antes que Cristóvão Colombo desembarcasse na América— um conhecimento de dito lugar. Mas as surpresas não terminam aí. Porque, entre os 215 mapas que Piri Reis incluiu em seu livro, havia vários que —quatro séculos depois— foram a emocionar ao mundo.

Em realidade, só se possuem fragmentos destes mapas. Mas neles figura a totalidade do Atlântico e suas costas americanas, européias, africanas, árticas e antárticas. Aparecem riscados sobre pergaminho de cor, iluminados e enriquecidos com numerosas ilustrações os retratos dos soberanos do Portugal, de Marrocos e da Guinéia. Na África se vêem um elefante e uma avestruz. Na América do Sul, uma chama e um puma. No oceano, e junto às costas, navios... e nas ilhas, pássaros.

Os pés das ilustrações estão escritos em turco. As montanhas aparecem assinaladas com seu perfil, e os rios, com linhas grosas.

Para as paragens rochosas, o autor ou autores daqueles mapas empregaram a cor negra. As águas arenosas e pouco profundas foram assinaladas com pontos vermelhos, e os escolhos ocultos sob a superfície do mar, com cruzes.

Mas o achado não ia cobrar sua verdadeira dimensão até que em 1953, um oficial da Marinha turca enviou uma cópia ao engenheiro chefe do escritório Hidrográfico da Marinha dos Estados Unidos. Este, interessado pelos estranhos mapas, mostraria-os a um perito em mapas antigos: Arlington H. Mallery. E nesse instante começou a desvelar o tremendo mistério.

Mallery, engenheiro de profissão, dedicou-se totalmente ao estudo dos singulares mapas. E suas largas investigações foram se ver coroadas pelo êxito. Um êxito que ia fazer tremer toda a História de nossa civilização...

Segundo Mallery, a porção do mapa compreendida entre a Terranova e o sul do Brasil, à margem de sua exatidão, verdadeiramente assombrosa para aquela época, não expôs muitos problemas na hora de decifrá-la. No que respeita ao norte e sul do mapa —e uma vez «traduzidas» as indicações à linguagem cartográfica moderna— Mallery compreendeu que Piri Reis tinha esboçado as costas da Antártida! Mas isso não era tudo. Mallery observou que, tanto Groenlândia como o continente antártico, tinham sido desenhados antes da glaciação dos pólos...

Aquele revolucionário e inquietante descobrimento foi defendido com grande vigor e não menos valor pelo engenheiro e «tradutor» dos mapas do Piri Reis na Universidade de Georgetown.

«A Groenlândia que Piri Reis levou aos mapas —afirmou Mallery— correspondia às linhas de relevo descobertas pelas expedições polares francesas. Quanto à costa que prolonga em grande maneira a da América do Sul, não se tratava de outra coisa que a da Antártida... »

Mallery trabalhou intensamente no achado. Seguiu milímetro a milímetro o mapa, comparando-o constantemente com as cartas modernas. Os resultados foram tão surpreendentes como criticados.

O engenheiro descobriu, por exemplo, que as ilhas indicadas pelo Piri Reis frente às costas coincidem com os que parecem ser picos montanhosos sub-glaciais descobertos pela expedição antártica norueguês-britânica na Terra da Rainha Maud e cujo esboçado foi publicado no Geographic Journal de junho de 1954.

Entretanto, os cientistas soviéticos que investigaram igualmente os mapas não se mostraram de tudo de acordo com as teorias do Mallery. Apoiando-se em seus próprios trabalhos de transposição chegaram à conclusão de que o traçado do Piri Reis não correspondia à a Antártida, a não ser ao extremo sul da Patagônia e da Terra de Fogo.

Esta hipótese —longe de reduzir o valor de ditos mapas— reafirmou no fundo a autenticidade dos mesmos. por que? Muito singelo: estas regiões não começaram a ser oficialmente conhecidas até 1520!

Seja como for, a realidade é que Piri Reis tinha sobre o continente americano dados anteriores ao «descobrimento» do Cristóvão Colombo.

Alguns autores apontaram a possibilidade de que ditos dados procedessem dos vikings. Entretanto, esta teoria não pôde sustentar-se muito tempo. Os vikings só conheceram —conforme consta em numerosos relatos— uma diminuta zona da América do Norte. Como explicar neste caso os traçados do continente sul-americano e da Antártida?

Quem e como pôde riscar então estes insólitos mapas?

Citado os autores —Louis Pauwels e Jacques Bergier— respondem assim a este interrogante:

«Segundo Mallery, Piri Reis, herdeiro de uma larga série de tradições secretas, deveu ter conhecimento de dados geográficos que, no referente a Groenlândia e à a Antártida, datavam de antes da glaciação. Mas, quando se produziu sorte glaciação?

»O Ano Geofísico Internacional deu vivo impulso entre outras, a estas investigações. Em 1957, os trabalhos convergentes do doutor J. L. Hough, da Universidade de Illinois, por meio de sondagens, e do doutor W. D. Hurry, dos laboratórios de geofísica do Instituto Carnegie, pelo método do rádio-carbono, começaram a delimitar o problema: o período de glaciação atual dos pólos começou entre 6.000 e 15.000 anos atrás. Esta margem de incerteza foi posteriormente muito reduzido. Os especialistas e em particular Claude Lorius,        —chefe glaciólogo das expedições polares francesas— fixam o começo do período glacial entre 9.000 e 10.000 anos atrás. Além disso, estão de acordo em que acaba de começar um período de desglaciação. Parece, pois, possível que, faz uns dez milênios, Groenlândia e a Antártida tivessem a configuração que se observa nos mapas do Piri Reis.

»Seu relevo se manifesta livremente; uma parte das terras atualmente cobertas pelo gelo ou inundadas era então visível.

»Em vista disto, parece que se poderia concluir dizendo que os conhecimentos que serviram para o traçado destes mapas datam de 10.000 anos atrás.

»depois de tudo o que acabamos de dizer, esta conclusão é inevitável; mas contradiz todas as teorias clássicas atuais sobre a história da civilização e deve ser considerada com grande cautela. O que dizem os manuais de Pré-história? Faz dez mil anos reinava —se podemos nos expressar assim— o homem do Cro-Magnon, ao qual se atribuem as pinturas do Lascaux, mas que não conhecia o trabalho dos metais, nem o cultivo da terra, nem a domesticação dos animais.

»Agora bem, Arlington H. Mallery o grande especialista, diz dos mapas do Piri Reis: Na época em que se confeccionou o mapa, não era somente preciso que houvesse exploradores, mas também técnicos em hidrografia particularmente competentes e organizados

Pois não se pode desenhar o mapa de moderados ou territórios tão extensos como a Antártida, Groenlândia ou América, como pelo visto se desenhou faz alguns milênios, se não se for mais que um simples indivíduo ou, inclusive, um pequeno grupo de exploradores. necessitam-se técnicos experimentados, conhecedores da astronomia, assim como dos métodos necessários para o traçado de mapas.

»Arlington Mallery vai ainda mais longe: Não compreendemos —diz— como puderam confeccionar-se esses mapas sem a ajuda da aviação. Além disso, as longitudes são absolutamente exatas, coisa que nós mesmos só sabemos fazer há apenas dois séculos.

»Terei que proceder —concluem seu relato Pauwels e Bergier— a uma revisão dilaceradora de nossos conceitos referentes à história da Humanidade. Que conjeturas podemos fazer sobre uma civilização desenvolvida que teria existido faz uns dez mil anos?»

Só admitindo, em definitiva, que em outras épocas do planeta se desenvolveram civilizações de um grande nível técnico e científico poderíamos compreender e encaixar a formidável realidade dos mapas do Piri Reis.

É a mesma conclusão a que alguém chega sem querer depois de conhecer e investigar a «biblioteca» gliptolítica do deserto peruano.

O engenheiro Arlington Mallery expressava precisamente sua estranheza ao não entender como tinham podido ser riscados estes mapas, sem a ajuda da aviação...

Essa mesma interrogante surgiu em minha mente enquanto examinava as pedras dos «hemisférios».

Mas, neste sentido, eu ia ter mais fortuna que Arlington Mallery. Porque em outras muitas pedras da coleção do doutor Pastora estava, precisamente, a resposta a sorte pergunta.

—Aquela civilização dominava a navegação aérea —me respondeu Javier Cabrera me assinalando várias pedras nas que apareciam estranhos «pássaros» de aparência mecânica, assim como outras aves que pertenciam, indubitavelmente, a diversos tipos de répteis voadores de foi muito pretéritas do planeta.

—Que diferença existe entre estes gravados nos que se representam «pássaros mecânicos» e aqueles nos que o homem parece «cavalgar» sobre grandes aves pré-históricas?

—Esses que você chama «pássaros mecânicos» são o mais belo e evidente símbolo de que aquela Humanidade perdida no tempo e o espaço podia dominar a navegação aérea... por que quiseram gravar estes «pássaros» que não são naturais? Tudo neles denota tecnologia. São, indubitavelmente, «mecânicos». Quer dizer, estão-nos mostrando —através de uma «ideografia»— que podiam sulcar os espaços...

O mais arrepiante, o mais lhe sugiram daquele «capítulo» ou «seção» da «biblioteca» era que o número de pedras descoberto, onde apareciam estes «aparelhos voadores», era muito elevado. Entretanto, como acontece em quase todas as «séries», não todos os gliptolitos estão investigados em profundidade. Muitos deles, dezenas, permanecem ignorados.

—Não consigo aceitar —comentei ao Javier Cabrera— que uma Humanidade tão anterior à nossa tenha podido conhecer a aviação. Isso resulta fácil de compreender.

—Todos vivemos e seguimos fazendo-o sob o influxo de uns ensinos e uma ciência que rechaça quanto não se ajusta a esses moldes preconcebidos e convencionais. Quem tem sido os piores inimigos da Humanidade? Os homens que pensaram em profundidade. Os que não se deixaram arrastar ou lutaram contra «o tradicional» e aceito.

»Esta Humanidade gliptolítica nos maravilhará com seus conhecimentos. Já o está obtendo.

»Porque estes seres chegaram a sair ao espaço, é obvio. E o obtiveram, não através de nossos sistemas matemáticos ou de cálculo. Eles, como já te comentei em outras ocasiões, eram lhes conceituem. Chegavam a esses conhecimentos quase instantaneamente... Sua mente estava preparada para isso. O que nos ocorre hoje? Saímos do colégio ou da Universidade com a mente quadriculada, dividida. Não temos uma preparação integral do conhecimento».

—Está também nas pedras o sistema que empregavam para sair da Terra?

—Naturalmente.

Javier Cabrera retornou a sua mesa de despacho e extraiu da caixa forte um «huaco» de cor terra a cujo ao redor apareciam desenhados uns estranhos símbolos. Algo assim como um «pássaro». Sim, tratava-se de um «pássaro» idêntico ao que eu acabava de ver nas gravuras das pedras...

—Como pode ser? —interroguei ao professor.

—É bem simples. Esta civilização deixou sua «mensagem», não só nas pedras, mas também em outros muitos objetos que hoje, para nós, só constituem motivos de «artesanato» ou —no máximo— de manifestação artística de outras culturas incas ou pré-incas... Recorda o manto do Paracas? Recorda as talhas de madeira das que falamos quando tocamos o tema da ilha de Páscoa?

»Todas essas manifestações tinham um significado muito mais profundo que a mera decoração ou sentimento artístico. Aquela Humanidade deixou seus conhecimentos na biblioteca de pedra, sim, mas os gliptolitos não foram seu único rastro.

»Como poderíamos explicar, se não, essas construções megalíticas do Tiahuanaco, do Sacsahuamán, do mesmo Machu Picchu, da grande pirâmide do Keops, dos gigantes de Páscoa, etc.? A Humanidade gliptolítica dominou a totalidade do planeta. Seus restos, portanto, estendem-se em qualquer parte. O que ocorre é que não queremos reconhecê-lo, não queremos abrir os olhos...

»Tampouco devemos esquecer que entre aquela Humanidade pré-histórica e nosso filum puderam existir outras civilizações que possivelmente alcançaram elevadas metam nos distintos campos do conhecimento. E seu rastro se mesclou também com a daquele homem gliptolítico.

Pastora guardou silêncio uns instantes e me mostrou aquela pequena vasilha de barro. Fez-a girar lentamente sobre a mesa e assinalou:

—Este «huaco» nos está mostrando também o sistema que utilizavam para sair ao espaço.

»Estes seres conseguiram vencer a força da gravidade. E suas máquinas voadoras escapavam à atração terrestre sem necessidade dessas potentes carrega de combustível que hoje exigem nossos foguetes portadores. A Humanidade gliptolítica anulava a gravidade, e era o planeta o que realmente abandonava à nave. Não ao reverso, tal e como acontece na atualidade com nossos vôos espaciais.

»Ao produzir-se essa anulação da gravidade, os aparelhos voadores daquela Humanidade eram virtualmente catapultados ao exterior a uma velocidade equivalente a que leva nosso mundo em sua viagem através do Cosmos: 29,6 quilômetros por segundo.

»Essa velocidade de escapamento era mais que suficiente para situar-se em órbita terrestre ou para seguir rumo a outros astros da galáxia.

Na atualidade se calculou em 11,2 quilômetros por segundo a velocidade mínima para que um foguete possa escapar do campo gravitacional terrestre. Esta velocidade é chamada também de «escapamento» ou «fuga».

»Para vencer a força da gravidade —tal e como decifrei nos gliptolitos e neste esplêndido huaco—, aquela civilização usava da força eletromagnética que captava do exterior da Terra através das Pirâmides.

»Compreende agora como puderam riscar os hemisférios da Terra?

»Era singelo. Seus pássaros mecânicos —suas avançadíssimas astronaves— podiam elevar-se sobre os continentes e abandonar, inclusive, o planeta.

Possivelmente neste capítulo da «biblioteca» —mais que em nenhum outro— resulta vital o exame das gravuras e alto-relevos das pedras da Ica.

E de novo voltei a me situar frente a aquele muito belo lavrado onde nos mostrava um grande «pássaro mecânico» sobre o que navegavam dois daqueles seres esquecidos. Dois homens «gliptolíticos» que observavam a terra em busca dos mortais inimigos da Humanidade pré-histórica: os grandes sáurios.

Ali, melhor que em nenhuma outra pedra, meu espírito pôde sentir a proximidade do mistério. E a imaginação terminou por transbordar-se, incapaz de resignar-se a uma realidade como a nossa, tão convencional como limitada.

Mas tão remota civilização não só utilizou «pássaros mecânicos».

Também minha imaginação tremeu ao me deter ante dezenas de pedras onde homens «gliptolíticos» voavam a lombos de enormes e estranhas aves.

Aquelas eram aves de carne e osso. Disso não cabia a menor duvida. A diferença com os «pássaros mecânicos» era evidente. Alguns daqueles répteis voadores —assim os qualificou Javier Cabrera — resultavam hoje desconhecidos, inclusive, para a Paleontologia.

Algumas daquelas formas de animais antediluvianos me recordaram, por exemplo, ao pteranodom, com seu crânio em forma de martelo. Entretanto, como podiam transportar estes estranhos «pássaros» aos homens «gliptolíticos»? Se não recordava mau, e apesar de seus nove metros de envergadura, estes répteis voadores —como em toda a «família» dos pterosaurios— apenas se podiam remontar o vôo. Nem os músculos de suas asas nem as débeis patas traseiras eram capazes de levantar do chão. A Paleontologia assegura que deveu viver possivelmente nos escarpados, onde as correntes de ar lhe ajudariam a elevar-se...

Quando expus este dilema ao Javier Cabrera, respondeu-me:

—Muitos destes animais pré-históricos estão sem classificar. Ignoramo-lo tudo deles. Não poderíamos nos pronunciar sobre suas possibilidades para transportar aos seres daquela Humanidade sobre os ares...

»HOJE, nossa civilização aproveita e se serviu até não poder mais dos grandes paquidermes, dos camelos e dromedários e até dos golfinhos.

»por que não puderam fazer o mesmo os homens de então animais que resultavam dóceis ou fáceis de domesticar? Hoje não temos possibilidade de comprová-lo porque carecemos de grandes répteis voadores ou, simplesmente, de aves das dimensões daquelas. Mas, o que teria ocorrido se os tivéssemos tido? Não os tivéssemos utilizado?»

A colocação do médico e investigador da «biblioteca» lítica da Ica não carecia de base. Além disso, o que significavam a não ser aquelas pedras gravadas onde pareciam representar-se cenas de lutas, de exploração, de caça e até de observação de cometas?

Por indicação de Pastora —e em uma de minhas visitas à capital peruana— visitei o Museu Aeronáutico. Ali, o diretor do mesmo, o já mencionado coronel Omar Chioino, mostrou-me amavelmente o que em realidade constitui a mais insólita e remota manifestação da «navegação aérea», se é que me permite esta expressão.

Javier Cabrera, amigo do coronel Chioino, tinha doado, fazia já tempo, ao chamado Museu de Lima mais de sessenta pedras de todos os tamanhos e pesos, exclusivamente gravadas com grandes «pássaros mecânicos» ou répteis voadores sobre os que, como assinalava anteriormente, viajavam homens «gliptolíticos».

Ali fiquei maravilhado uma vez mais com as gravuras e alto-relevos que formavam o que demos em chamar o «capítulo» dos «pássaros mecânicos».

Conscientes do espetacular daquela coleção, o Museu tinha solicitado de peritos desenhistas do Exército do Ar o traslado ao papel de cada um de quão gravados figuravam nas sessenta e tantas pedras. A laboriosa tarefa tinha sido Já concluída e os visitantes podiam apreciar de uma só olhada a cena que se representava em cada pedra. Este procedimento —utilizado já pelo Javier Cabrera para outras muitas pedras— dava sempre um resultado magnífico. Um dos grandes obstáculos com que, precisamente, tropeçam quantos contemplam os gliptolitos é a dificuldade para precaver-se com rapidez das imagens contidas nas rochas. A curvatura das mesmas faz impossível contemplar a totalidade do alto-relevo ou gravura a um mesmo tempo. Daí que os desenhos desenvolvidos sempre constituam um eficaz sistema de compreensão do «gliptolito».

À vista daquela esplêndida «série» —com todo tipo de «pássaros mecânicos» e de répteis voadores antediluvianos—, a gente não podia esquecer-se daquele outro não menos profundo mistério que se estende a 200 quilômetros ao sul da cidade da Ica e que todos conhecemos já como as «pistas» de Nasça.

Essas enigmáticas figuras de centenas de metros de longitude e, inclusive, até quilômetros, que nos recordaram sempre as pistas de decolagem e aterrissagem de nossos aeroportos.

Que relação podia ter a «biblioteca» encontrada no deserto do Ocucaje com o pampa onde se entrecruzam gigantescos desenhos de uma aranha, um macaco, pássaros, figuras geométricas e um sem-fim de linhas retas?

Javier Cabrera conhecia o segredo. Tinha-o decifrado através das pedras gravadas. Não cabia dúvida, portanto, de que existia uma vinculação direta entre os seres que gravaram a «biblioteca» lítica e os que deixaram impressas no pampa nazqueña aqueles misteriosos rastros.

E qual era essa vinculação? —tratava-se dos mesmos homens «gliptolíticos» — me comentou Pastora quando começamos a conversar sobre tão apaixonante tema tenho descoberto nestas pedras a explicação das figuras e pistas de Nasca. Estão para cá!

Ardia em desejos de conhecer essa «explicação».

—Como te comentei antes, esta Humanidade conseguiu anular a gravidade, procurando-se assim um insuperável sistema de saída para espaço. Um sistema que nem sequer nossos cientistas conseguiram ainda.

»Nasça, com seu pampa, era um desses espaçoportos. por ali entravam e saíam da Terra e por ali se catapultavam em suas viagens pelo planeta.

»Como o obtinham?

»Na atualidade sabemos que baixo grande parte do Peru e do continente sul-americano existe um gigantesco filão de ferro. Essa jazida vai nasça até o Paracas, alcançando também Machu Picchu.

»Pois bem, segundo meus descobrimentos —todos eles apoiados nas pedras gravadas e nos huacos—, a Humanidade pré-histórica construiu sobre dito filão de ferro seu espaçoporto. Que razão tinham para levar ali semelhante obra? Nós sabemos hoje que o ferro concentra o campo magnético. E o que aconteceria se eletrizássemos a zona? Contando sempre com a existência do campo magnético próprio do planeta, aquele lugar se transformaria automaticamente em um eletroímã: um gigantesco eletroímã.

»Isso foi o que aconteceu. Estes seres conheciam a existência do grande filão de ferro e construíram seu espaçoporto sobre o pampa de Nasça.

»As pistas e alguns dos desenhos foram submetidos a sistemas de eletrificação que lhes permitiam ingressar ou sair da Terra quando o desejavam.

»Bastava regular esse campo magnético para aterrissar ou separar. O mecanismo era singelo.

»Existia um lugar de embarque e uma zona inicial de percorrido —a base de motores eletromagnéticos— que concluía em uma queda livre, aproveitando o desnível do terreno. Em um terceiro lance, as naves eram aceleradas mediante um almofada magnética e os motores lineares. Por último, em uma plataforma angular se levava a cabo a deflexão, incrementando a velocidade».

Numa manhã tórrida me decidi a comprovar por mim mesmo a magnificência daquelas figuras e pistas do pampa de Nasça. depois de quase 200 quilômetros pela estrada Pan-americana, consegui divisar o Vale do Engenho. Ali, e sobre um «tecido» de terra arenosa e semeada de calhaus marrons e negros, estendiam-se 50 quilômetros de mistério. Ali, depois de caminhar durante horas sobre o pampa, sentei-me a esperar o crepúsculo. Um crepúsculo que se produziria com a mesma pureza e cor durante milhões de anos. Ali, enfim, compreendi com desolação que nosso passado é algo tão escuro como nosso futuro.

O que representavam na verdade aquelas simétricas —atormentadoramente simétricas— figuras de centenas de metros, de quilômetros, que se perdiam no horizonte? Meus pensamentos estavam confundidos. Recordava as palavras do Javier Cabrera, e minhas dúvidas pareciam crescer.. Se aquilo tinha sido um «espaçoporto» no passado, o que tinha sido de tanta grandeza?

Lembrança bem como minha confusão se viu mesclada com a impaciência quando, ao princípio, ao começar a caminhar pela torrado pampa de nasça, as famosas pistas e figuras pareciam haver-se esfumado. Demorei horas em compreender. Era impossível precaver-se de ali abaixo da presença das linhas. O «guia» me advertiu: «É preciso subir em avião para divisar as figuras em toda sua dimensão... »

Mas antes de seguir os conselhos do nazqueño me aproximei de uma pequena colina de não mais de 15 metros de altura. Ao chegar ao mais alto do penhasco comprovei assombrado que tinha estado caminhando durante horas sobre as mesmas linhas que formam os desenhos gigantes. Mas eu não o tinha notado do chão!

Um total de 50 linhas retas nasciam daquela rocha e se perdiam em todas direções, rumo ao horizonte.

Senti uma curiosidade infinita. E quase de um salto me situei sobre uma daquelas linhas que arrancavam do penhasco. Examinei-a com atenção. Recolhi terra e alguns pequenos calhaus...

Em realidade, nada parecia distinto. Só um detalhe me chamou poderosamente a atenção. Retornei novamente ao alto da colina a fim de me precaver, e comprovei que minhas deduções eram acertadas. O pampa, como comentava anteriormente, encontrava-se coberta quase por completo de calhaus de pequeno e médio tamanho. Entretanto, nenhuma das linhas apresentava o mesmo número de calhaus que o resto do pampa.

Era como se um jorro gigantesco de ire a pressão tivesse ido separando do traçado de cada figura os milhares ou milhões de calhaus negros e parduscos que em boa lógica deveriam cobrir também as figuras e as pistas. Como podiam ter desaparecido tantos milhares de pedras de cada uma das superfícies que formavam as largas raias?

Ao retornar a Ica comentei com Pastora este fato e a circunstância de que as figuras não tivessem sido apagadas em tantos séculos, apesar de que aquelas planícies foram até faz muito poucos anos passo obrigado de grandes manadas de mulas e cavalos.

O professor foi direto ao grão:

—Aquela Humanidade nos deixou com estas figuras de Nasça a infra-estrutura, o esquema, de toda uma tecnologia. Essas figuras —como no caso do mononos— estão revelando o mecanismo que impulsionava a uma nave a sair da Terra.

Entretanto, não todos os estudiosos e cientistas do pampa de Nasça opinam como o professor Cabrera.

Maria Reiche —a chamada «bruxa do deserto», que leva mais de trinta anos estudando as pistas e figuras— assegura que aquela formidável obra pudesse ser um «calendário astronômico». O maior e ambicioso de quantos construiu o ser humano.

E defende sua teoria apoiando-se no fato de que a civilização que riscou as linhas —é obvio desde terra e valendo-se de cordas— estava profundamente interessada em conhecer com exatidão a entrada e saída das distintas estações do ano.

«Isto —opina a alemã— era vital para suas colheitas.»

Mas a hipótese da Maria Reiche —embora, em efeito, o Sol coincida em seu caso com algumas das raias— não é suficiente para sustentar esse amontoado de enigmáticas e gigantescas figuras.

Para o Javier Cabrera, entretanto, o mistério dispõe tempo que está resolvido. E o está porque ele põe do muito valioso documento que representam 11.000 pedras gravadas pela mesma Humanidade que, ao parecer, construiu as pistas do pampa.

—Se a gente estudar ao homem pré-histórico com o critério convencional ou tradicional da Arqueologia —acrescentou o investigador— jamais encontrará nada de valor...

»Com estas figuras do pampa nazqueña acontece o mesmo. Terá que ser muito ingênuo ou ignorante para pensar que um desenho tão complicado podia ser obra de um homem pré-histórico. E, já vê, entretanto, podemos reconhecer nele valiosos elementos de física.

»Mas há algo mais que os arqueólogos não querem compreender. Se estes desenhos foram executados faz 3.000 anos pelos povos pré-incaicos, por que não se apagaram ainda?

»Porque segue vigente a infra-estrutura de sempre. A alemã acredita que as linhas se mantêm vivas porque passa sua vassoura de vez em quando sobre elas. Mas Maria Reiche chegou a Nasça faz trinta anos e as linhas —segundo ela, inclusive— têm 3.000...»

O que queria dizer Javier Cabrera com a afirmação de que seguia vigente a infra-estrutura das pistas e figuras de Nasca? É que se procedêssemos a uma sistemática escavação encontraríamos algo fantástico?

Javier Cabrera sorriu maliciosamente e preferiu me deixar com a dúvida. Tinha chegado sua hora de entrada, como médico, no Hospital Operário da Ica.

—Esta sim é uma grande tragédia para mim —concluiu, enquanto nos despedíamos da porta de seu museu—. Eu tenho que seguir no Hospital, e todas essas horas que dedico a minha profissão as resto desta urgente e transcendental investigação... Por isso estou constantemente pedindo que chegue até a Ica uma comissão oficial de cientistas.

—Por certo —lhe perguntei no último instante— sabe Maria Reiche que as pistas e figuras de Nasça estão nas pedras gravadas da Ica?

É obvio que sabe. Por isso seus ataques são mais furiosos... Mas o importante, de cara à opinião mundial, é contribuir com provas. E eu as estou mostrando...

Disso não havia a menor duvida. Pastora me tinha deixado sem fôlego depois de me mostrar a mais sensacional e remota coleção de «pássaros mecânicos» do mundo. «Pássaros mecânicos» de faz milhões de anos!

Alguns dias depois daquele último bate-papo, Javier Cabrera poria ante meus olhos outras pedras que completavam o fascinante «capítulo» da grande catástrofe e da posterior fuga do planeta por parte de algumas minorias...

 

                                                 FUGIRAM PARA AS PLEYADES

«Faz 10.000 anos — afirma Much —, a Terra sofreu um dos mais espantosos bombardeios cósmicos de sua história.»

—Segundo as lendas, a queda de um grande meteorito —tal e como fazia referência no terceiro capítulo— provocou a desolação e a morte ao longo e largo do planeta. O impacto do asteróide foi tão violento, tão dilacerador, que aquela alucinante destruição ficou como prisioneira no espírito e na memória coletiva dos escassos povos que sobreviveram. E se transmitiu com força de umas raças a outras, a pesar do impressionante lapso de tempo transcorrido.

Essa catástrofe, como digo, segue em pé hoje no fundo dos livros chamados sagrados ou Santos. No fundo dos livros das culturas do mundo e no fundo do «corpo» redondo e azul da própria «vítima»: a Terra.

Sigamos, por exemplo, documentadas afirmações do mencionado Much, recolhidas com detalhe pelo P. Kolosim.

«O asteróide —afirmou Much contribuindo uma imponente documentação astronômica e geológica— se apresentou pelo Noroeste, penetrando na capa atmosférica a uma velocidade de 15 a 20 quilômetros por segundo.

»A 400 quilômetros da Terra começou a avermelhar, para voltar-se logo, a causa do roce com o ar, tão incandescente para cegar a quem o tivesse cuidadoso.

»A pouca distância do Atlântico, superada uma temperatura de 20.000 graus, o corpo celeste estalou. Primeiro voou, feita pedacinhos, sua parte exterior, que, reduzida a um enxame de gigantescos meteoros, abateu-se sobre a América setentrional; depois, o núcleo se partiu em dois, golpeando a nosso globo com um peso de meio trilhão de toneladas, perto dos 30 graus oeste e 40 graus Norte, no centro do arco formado pela Florida e as Antilhas. A zona diretamente afetada pode ser identificada com um lance do chamado Dorso Atlântico, onde abundam os vulcões submarinos e a espessura da casca terrestre se reduz a 15-20 quilômetros, quando em qualquer outro lugar mede de 40 a 50 quilômetros. O fundo oceânico se afundou desde Porto Rico até a Islândia e se desencadeou o pandemônio.

»Com um estrondo apocalíptico —prossegue Much—, uma coluna de fogo brotou da ferida para o céu, conduzindo gases venenosos, cinzas vulcânicas e magma ardente. Tudo ardeu ou ficou incandescente em milhares de quilômetros. O oceano começou a ferver. Inimagináveis massas de água se converteram em vapor mescladas com pó e cinzas, foram transportadas pelos ventos ocidentais sobre o Atlântico.

»Depois de um terrível dia e uma terrível noite, a ilha moderada dos atlantes se afundou...»

«Não passou muito tempo —escreve o cientista austríaco— antes que a ferida de nosso planeta se estancasse com uma crosta negra e dura. O terrível dia e a terrível noite de que fala Platão em suas obras tinham bastado, entretanto, para extinguir completamente a vida da Terra. Pois antes que as massas de água se movessem em forma de nuvens, as explosões de magma transtornaram a atmosfera e propagaram os gases venenosos que, invisíveis, matavam rapidamente e sem dor.»

Mas retornemos por uns instantes à cena que tinha lugar na Sibéria norte-ocidental e que deixamos em suspense no referido terceiro capítulo.

Quase sessenta horas depois da queda do meteoro, os grandes cadáveres dos elefantes jazem na clareira e entre as árvores destroçadas da selva. O vendaval agita suas pelagens e o Sol ilumina em forma estranha: leitoso e opaco. O gorgolejar do rio e o uivo da tempestade que empurra às densas nuvens são os únicos ruídos que dominam a paisagem morta.

Pouco a pouco, o pano de fundo de nuvens oculta o Sol, e o estrépito do furacão se aplaca. Durante dois, três segundos, reina o silêncio. Depois, começa o dilúvio. A água, mesclada com lama e cinzas, precipita-se do céu, e em poucos minutos a carniça dos elefantes fica coberta por uma viscosa massa cinza escura. Esta cresce ininterrumpidamente, inunda a clareira, obstrui o rio, desarraiga troncos gigantescos—. Durante seis dias e seis noites chove água, cinza e lama sobre os corpos dos animais mortos, sobre as novelo moribundas. Chove a correntes escuras até que a zona fica inundada.

E com a chuva veio o frio. A violência da colisão tinha aproximado Sibéria ao Pólo quase 3.500 quilômetros. As massas de água ficaram geladas, com centenas de elefantes e rinocerontes lanzudos mortos...

Se a Atlântida foi literalmente engolida —afirma Kolosimo— pelo abismo aberto entre a América e Europa, Mu pôde ser desintegrado facilmente pela erupção de todos os vulcões que albergava e que a tradição estima muito numerosos (a região do Pacífico conta ainda hoje com 336 em atividade entre os 430 do mundo inteiro).

As crateras de todo o planeta deveram ter vomitado o inferno a conseqüência do gigantesco maremoto originado pela queda do corpo celeste. Depois, as cinzas eruptivas se foram amassando até envolver o globo em uma entupida capa de nuvens, tampando o Sol e dando lugar a furiosas chuvas. calcula-se que tão somente na Europa e Ásia setentrional caíram em seis dias mais de vinte mil trilhões de toneladas de água e três bilhões de toneladas de cinzas. O nível meio das precipitações foi, pois, de 30 metros...

quis me estender no relato do Much porque, embora suas teorias sobre o formidável cataclismo que sofreu a Terra são compartilhadas por numerosos autores, em sua hipótese falta algo essencial. «Algo» que, logicamente, o cientista austríaco não pôde conhecer naquele momento: «algo» que está na «biblioteca» de pedra encontrada no Peru.

Nas pedras da Ica —tal e como assinalava ao princípio desta obra— se manifestou a proximidade de um apocalíptico cataclismo. Uma destruição que pôde ser muito similar à descrita pelo Much, mas que —segundo se manifesta na «biblioteca» lítica— teve uma origem e um tempo diferentes. Hei aqui a explicação que sobre dita destruição me proporcionou Javier Cabrera Darquea frente a várias centenas de pedras relacionadas com este cataclismo:

—A Humanidade que faz milhões de anos povoava o planeta tinha um elevado nível tecnológico. Isso o vimos já em muitas das «séries» de pedras que tenho analisadas.

Esta civilização perdida no tempo tinha vencido a força da gravidade, voava ao espaço, conhecia os mais profundos segredos da Astronomia, etc. E sabia também que o planeta dispunha a seu ao redor de um «cinturão» eletromagnético, que hoje nós acabamos quase de descobrir e batizar com o nome de «Vão Allen». Esse cinturão podia ser «utilizado» para uso industrial e tecnológico e a Humanidade «gliptolítica» o fez. Mas, como?

»Nas pedras —em muitas delas— há pirâmides. Pirâmides que se levantavam na zona do Equador terrestre. Um Equador que não coincidia de tudo com o atual. por que estavam ali essas pirâmides?

As pedras o detalham.

»A civilização pré-histórica que gravou estas pedras construiu sortes pirâmides para captar e transformar essa energia eletromagnética que rodeava a Terra.

—Dita energia —uma vez convertida em elétrica— se distribuía a todos os continentes, tal e como mostram as pedras gravadas. A Humanidade pré-histórica conhecia também a eletricidade. Entretanto, com o passo dos séculos, o uso excessivo desta fonte de energia ia dar lugar a mais tremenda destruição de que se tenha conhecimento.

»Como terá apreciado em muitas das pedras fabricadas —continuou Javier Cabrera— nosso planeta tinha naquelas épocas remotas três Luas ou satélites naturais. Duas delas, possivelmente, eram menores que a que hoje conservamos.

»Pois bem, ao chegar-se a um consumo extremo da citada energia eletromagnética, o planeta, lentamente, foi aumentando seu magnetismo natural, de tal forma que —progressivamente— foi rompendo o equilíbrio entre as luas mais próximas ao globo e nosso mundo.

»Mas este fato não se produziu subitamente. A maior força de atração do planeta constituiu um fato gradual e lento. Entretanto, aqueles homens o descobriram. E compreenderam o alcance do inevitável desastre.

»Possivelmente passaram séculos antes que uma ou duas daquelas Luas —as mais próximas e de menor diâmetro— se aproximassem tanto à Terra para cair violentamente sobre nosso mundo.

»O fato incontrovertível é que esses astros se precipitaram um dia sobre o planeta. E provocaram a mais espantosa das destruições que jamais recorde o gênero humano.

»quebrado-se o equilíbrio natural, e a civilização humana —uma vez mais— se auto-destruiu.

»A queda do satélite ou satélites afundou parte dos continentes, gretou a casca terrestre e desencadeou possivelmente um interminável dilúvio. Mas esse dilúvio não se formou de maneira súbita. A Terra —conforme se aprecia nas pedras— carecia então de pólos. E a relação terra-água não era a atual.

Havia então muita mais terra que oceanos. por que? O planeta tinha experiente um comprido aquecimento. E este processo de aquecimento, fazendo que boa parte das águas se evaporassem, concentrando-se na atmosfera. Naquela era, a Terra devia apresentar do exterior um aspecto muito similar ao que hoje tem Vênus. As nuvens eram extremamente densas cobriam quase por completo a superfície do globo.

»Aquele fato provocaria indubitavelmente um dilúvio universal como uma conseqüência mais do grande choque dos astros com nosso mundo.

»O que então era Atlântida —e que tinha ido derivando já em direção Este— fazia muito tempo se afundou só em parte. O resto ficou deslocado violentamente, formando o que hoje conhecemos pela Europa e norte da África.

»Mas Mu não se afundou então, tal e como pretendem muitos autores. O continente tinha ido viajando também para o Oeste, deixando detrás de si —a todo o comprido do Pacífico— um rastro de ilhas e arquipélagos que hoje existem ainda em boa parte. Mu chegaria a formar a Ásia, tal e como já te expliquei...

Como vemos, a diferença em relação às teorias do Much sobre a origem da catástrofe é ampla.

E não o é menos na hora de analisar o tempo transcorrido após.

Para o Much, a queda do asteróide sobre o Atlântico pôde ocorrer faz aproximadamente 10.000 anos.

«Isto explicaria —afirma o cientista— a mudança de clima em grande parte da Europa e o desaparecimento da capa de gelo que cobria por aquelas datas, além da Escandinávia, Grã-Bretanha e Irlanda, quase a totalidade do continente europeu. E isto aconteceu —prossegue Much— porque, ao desaparecer Atlântida do centro do oceano, a chamada corrente do Golfo teve aconteço franco para as costas da Europa. E a cálida corrente fez mais benigno o clima».

Por outra parte Much apóia esta teoria na existência no fundo do Atlântico —junto a Porto Rico—, assim corno na América centro-meridional, Geórgia, Virginia e Carolina, de vastas crateras abertas faz 10.000 ou 12.000 anos por enormes meteoritos.

Por último, afirma que os citados bólidos celestes caíram precisamente na época em que um indescritível sismo formou as cataratas do Niágara e elevou os Andes até convertê-los em uma das mais imponentes cordilheiras do globo.

Dificilmente podemos fixar o processo de desglaciação 10.000 anos atrás, posto que —segundo os últimos estudos, já referidos em outra passagem deste livro— os cientistas, entre eles Claude Lorius, fixam o começo do último período glacial entre 9.000 e 10.000 anos atrás... É agora, precisamente, quando acaba de começar a desglaciação.

A teoria, portanto, da mudança de clima na Europa, como conseqüência da «atracação» da corrente do Golfo até as costas européias não resulta muito lógica. Mas existem mais contradições nas hipótese do Much.

Essas crateras que foram descobertos no fundo do Atlântico puderam ser provocados, em efeito, por uma chuva de grandes meteoritos. Entretanto, tampouco podemos esquecer que a Terra, em sua constante viagem pelo espaço, «cruzamento» de vez em quando verdadeiros «rios» ou «correntes» de asteróides que seguem um curso definido no Universo. O planeta, ao atravessar ditos «rios» de pedras, faz que muitas delas caiam sobre sua superfície, formando o que nas noites estivais estão acostumado a denominar «estrelas fugazes». Muito regularmente, cada ano, a Terra atravessa vários de ditos «Isto foi o que ocorreu por exemplo, entre o 9 e em 17 de agosto de 1902, com um máximo de «estrelas fugazes» na noite do 12 do referido mês. Aquela entrada de nosso «casco de navio sideral» —a Terra— no «leito» de pedras que viajavam também pelo Cosmos produziu um espetáculo indescritível. Muito belo. Como se milhares de estrelas errantes caíssem a um mesmo tempo e sobre uma mesma zona. Os astrônomos denominaram aqueles «fogos de artifício» com o nome de «perseidas», posto que as «estrelas fugazes» procediam da constelação do Perseu. Naquela ocasião —e segundo cálculos dos observadores soviéticos— os meteoritos que se precipitaram sobre a atmosfera terrestre apenas se pesavam uma fração de grama.

Mas não sempre essas «chuvas» de pedras siderais constituíram um inofensivo espetáculo. Em tempos remotos, outros meteoritos gigantescos caíram sobre a superfície do mundo, abrindo crateras, sim, de até 100 quilômetros de diâmetro, como aconteceu faz duzentos milhões de anos na África do Sul. Naquele violento me choque com a Terra, o asteróide afundou a crosta sólida do globo e fez brotar o magma pastoso do que os vulcões nos oferecem algumas mostra na lava.

Mas, até reconhecendo esta possibilidade, em relação com as crateras existentes no fundo do oceano Atlântico, mais provável parece, não obstante, que os mesmos tivessem sua origem na sublevação da cordilheira que divide dito oceano em duas partes quase simétricas.

Por último, a cordilheira andina não se levantou faz 10.000 anos, tal e como afirma Kolosimo. Precisamente a «revolução da montanha» —que daria origem às grandes cordilheiras do planeta— terá que centrá-la nos começos da Era Terciária. Faz, portanto, mais de 60 milhões de anos...

Dificilmente em soma, podemos fixar esse formidável cataclismo 10.000 anos atrás.

Mas isto, além disso, encontra nas pedras gravadas da Ica uma prova decisiva. Na grande «biblioteca» não se está falando de 10.000 anos. Nem sequer de 100.000 ou de um milhão.

As «séries» que aparecem gravadas nas pedras —todas unidas e vinculadas entre si— nos remontam muito mais atrás: às foi dos formidáveis répteis voadores, dos dinossauros, dos agnatos...

Quer dizer, a um tempo que teve lugar faz milhões de anos.

Aquela Humanidade, como dizia anteriormente, soube com antecipação a proximidade do cataclismo que ela mesma tinha engendrado. E se apressou a deixar uma «mensagem», uma «biblioteca», em que se mostrasse a possíveis civilizações ou Humanidades posteriores todo seu conhecimento, experiência e sabedoria. Aquela Humanidade deixou um legado, tal e como hoje estão levando a cabo já os cientistas norte-americanos, ante a possibilidade de uma nova auto-destruição termonuclear.

Hoje, esses homens de ciência —apoiados pelo Governo dos Estados Unidos— estão enterrando todos os conhecimentos desta Humanidade em microfilmes que encerram em tubos ao vazio. Mas, o que acontecerá se algum dia são encontrados por um novo homem primitivo? Logicamente os utilizará para acender fogo e esquentar-se. Não compreenderá o que aquilo significa. E possivelmente o destruirá...

Essa é a diferença com esta outra «mensagem», gravado em pedras, que permaneceram enterradas durante milhões de anos e que nunca poderiam ser jogadas no fogo para esquentar a homens primitivos

—Mas, por que precisamente em pedra? —perguntei ao Javier Cabrera.

—É que conhece algum material mais idôneo? É que os metais poderiam suportar o passo de milhões de anos? Só a pedra pode obtê-lo e só se se encontrar, como neste caso, protegida.

Aquela palavra —«protegida»— encerrava um significado tão lhe apaixonem como estremecedor.

Dias depois, Javier Cabrera me explicaria seu sentido real.

Agora, nossa conversação tinha entrado em outra fase não menos interessante que as anteriores.

A presença de pirâmides naquelas pedras me tinha desconcertado desde o começo. Examinei uma e outra vez as pedras gravadas e cheguei à conclusão de que «aquilo», efetivamente, eram pirâmides.

Mas, então, por que as consideramos nós como tumbas faraônicas?

Pastora sorriu. E me expôs seus argumentos, em parte compartilhados por outros muitos cientistas do mundo:

—Uma civilização como a egípcia, ponhamos por caso, apesar de seu desenvolvimento e conhecimento das Ciências, carecia dos necessários meios técnicos para mover e levantar uma obra como a grande pirâmide do Keops. Cálculos modernos concretizaram que, só para transladar a pedra até pé de obra, requereram-se mais de 600 anos. E nos valendo de nossos meios atuais!

—Mas, quem construiu então as pirâmides?

—A Humanidade «gliptolítica». Assim está gravado nas pedras que constituem sua «mensagem». Estas pirâmides eram utilizadas para captar a energia eletromagnética, já o havemos dito...

»O que ocorre é que, milhões de anos depois, os faraós, ao dar-se conta da magnificência desta obra, quiseram que os enterrassem em seu interior. Converteram-nas em tumbas. E inclusive trataram de imitar sua construção. Mas a primeira finalidade, o motivo real pelo que foram construídas, não foi esse.

»A Humanidade gliptolítica construiu pirâmides a todo o comprido do Equador terrestre. Hoje ficam alguns vestígios dessa formidável obra no Egito, América e Ásia. Muitas outras resultaram destruídas pelo grande cataclismo ou por posteriores desastres. E possivelmente algum dia encontremos seus restos...

Uma nova pergunta me queimava nos lábios.

—Em certa ocasião afirmou que não todos os seres desta Humanidade pré-histórica pereceram ou ficaram no planeta. «Uma minoria —comentou— saiu da Terra». Mas, para onde?

O médico icano não respondeu. Mas me rogou lhe seguisse até a entrada de seu centro-museo.

Ali se inclinou sobre uma pedra de grande tamanho e me respondeu com firmeza:

—As elites viajaram ao Pleyades. Concretamente, a um dos planetas de dito amontoado estelar.

Outra vez Pleyades. Mas, por que este lugar do firmamento? Lembrei-me então de uma das entrevistas anteriores. Javier tinha falado de duas pedras nas que apareciam gravados uns «hemisférios» que não pareciam corresponder à Terra.

«São de outro mundo», havia dito o investigador.

Minha mente, não sei bem por que, vinculou-o a esta fuga das elites para um estranho planeta. E acertei. Javier Cabrera se incorporou e me assinalou as duas pedras que eu tinha visto já naquela ocasião

—Partiram ali —me respondeu com a voz tremente pela emoção—. Nesse planeta, nesses «hemisférios» desconhecidos para nós, hospedaram-se.

—Mas, por que escolheram precisamente esse?

Aguardei a resposta com espera. Mas Pastora , encerrando-se uma vez mais em si mesmo, murmurou tão somente:

—Acredito que o mundo se assustaria se soubesse. Eu não pude conciliar o sonho em muitos dias. Este achado trocou, inclusive, minha vida...

»Só posso te dizer no momento que aquela Humanidade tinha já conhecimento da existência de tal planeta no Pleyades... Não o escolheram porque sim».

—Está relacionado com essas dezenas de pedras do «quarto secreto»?

Javier Cabrera me olhou fixamente e, ao comprovar que me aproximava da realidade, limitou-se a me dar uma palmada nas costas, caindo desse instante em um mutismo absoluto. Profundo. Quase aterrador.

Tivemos que trocar o rumo da entrevista. E retornamos à primeira pedra: a que mostrava todo um «acoplamento» de duas naves espaciais em pleno vôo.

Mais sereno, Javier Cabrera me explicou assim o significado daquela transcendental «ideografia»:

—Aqui vê, em efeito, duas naves, dois «pássaros mecânicos» simbólicos, que estão realizando todo um «acoplamento» espacial. Exatamente igual a nossos astronautas.

»Um dos humanóides realiza o acoplamento...»

Assim era, efetivamente. Assim aparecia naquelas gravações.

A nave principal —continuou Cabrera— é dirigida por este homem, que ostenta a chefia da expedição. Ele representa a energia cognitiva e de mando.

Um daqueles homens «gliptolíticos», em efeito parecia «dirigir» ao grande «pássaro mecânico». Sobre a segunda nave, outros 2 seres «obedeciam» ordens do comandante da expedição.

—Estas naves —segundo minhas investigações— levavam em seu interior todo um «carregamento» de vida.

Eram as elites do planeta que abandonavam a Terra antes que esta sofresse a grande catástrofe.

»Para então, para quando essas elites decidiram sair do globo, tudo se dava já por perdido.

—E o que aconteceu com os que ficaram no planeta?

—Pereceram em sua maioria. O cataclismo sumiu a Terra na mais absoluta desolação. É possível que os que chegassem a sobreviver tivessem que começar de novo...

»Inclino-me a pensar que o choque foi de tal calibre, de tal transcendência, que esses poucos seres que puderam salvar-se encontraram virtualmente a zero. E com o desaparecimento daquele filum humano pôde começar sua caminhada uma nova Humanidade. Outra Humanidade que arrancava possivelmente das cavernas...»

Ocorreu realmente assim? Desapareceu por completo aquela Humanidade misteriosa? Ficaram homens «gliptolíticos» pulverizados pela Terra? Quanto tempo deveu acontecer até que uma nova civilização alcançou as mesmas metas da Humanidade que acabava de ser arrasada do globo?

Possivelmente nunca saibamos. O certo, o evidente, é que o homem «gliptolítico» quis deixar perseverança de seu passo pelo mundo. E um dia, por acaso, alguém encontrou toda uma «mensagem». Uma «mensagem» —isso sim— de «sobrevivência». E nenhuma «série» da «biblioteca» lítica o demonstra melhor que nada ao mostrar os revolucionários conhecimentos de Medicina que tinha alcançado aquela civilização.

Uns conhecimentos que fazem empalidecer, inclusive, os de nossos melhores cirurgiões e especialistas.

 

                             «TRANSPLANTES» FAZ MILHÕES DE ANOS

Quando Javier Cabrera me mostrou as numerosas pedras da chamada «série» de Medicina tivesse desejado deter o tempo.

Não sei bem quantas vezes acariciei aquelas moles de centenas de quilogramas. Não sei bem o número de ocasiões em que meus dedos se deslizaram sobre as gravuras, tratando de me certificar, possivelmente, de que não estava em pleno pesadelo.

Tinha ante meus olhos estranhos «cirurgiões» que «operavam» sobre seres que jaziam em não menos insólitas «mesas de sala de cirurgia».

Tinha frente a mim —e em dezenas de grandes pedras— as sucessivas «seqüências» qualquer um teria identificado com «transplantes» dos mais diversos órgãos humanos: coração, rim, fígado, cérebro...

Javier Cabrera se sentia orgulhoso, profundamente orgulhoso, com aquele achado. Era possivelmente uma das «seções» ou «capítulos» mais intrigantes da gigantesca «biblioteca de pedra. E ele o tinha desentranhado.      

Honestamente, era muito para mim. Levava sobre as costas de minha mente muitas emoções, muitos sobressaltos, muitas surpresas. E aquela parte da «biblioteca» terminou por me derrubar...

Neguei-me em redondo durante muitas horas a aceitar o que jamais acreditei que pudesse ver ou escutar. Neguei-me quase instintivamente. Entretanto, conforme o Javier Cabrera foi detalhando os pormenores daquela «série» de pedras, a realidade se foi impondo. Uma realidade lhe esmaguem. Com todo luxo de detalhes. Desconcertante.

O investigador da Ica tinha procurado separar cada uma daquelas «operações» ou temas médicos em distintos ângulos de seu centro-museo. A operação, indubitavelmente, tinha sido árdua, posto que muitas das rochas alcançavam com facilidade os 100 e 150 quilogramas. Mas a idéia do professor facilitava extraordinariamente a compreensão de cada «transplante», cujas partes ou passos mais importantes tinham sido gravados em pedras distintas, como se se tratasse de «seqüências» de uma mesma «cena».

Desta forma pude contar até quatorze pedras relacionadas com o «transplante» de coração: mais de dez com o de cérebro; outras tantas para os de rim, etc.

Aquilo era quase alucinante. Se os primeiros «transplantes» que levou a cabo nossa civilização os praticou o cirurgião sul-africano Barnard, em 1967, que explicação podíamos lhe dar a umas pedra gravadas —encontradas por volta de 1962— e nas que, precisamente, detalha-se todo um «transplante» de coração?

Mas não um «transplante» como o que, durante muito tempo, praticou o famoso cirurgião. Não. Nas pedras da «biblioteca» da Ica se transplantava o coração de forma íntegra. Barnard, em seus primeiros intentos, limitou-se tão somente a transplantar parte do coração humano. Mas nas pedras gravadas não ocorre assim. Aqueles «cirurgiões» de enormes crânios e seus «ajudantes» dirigiam corações completos...

Ali, indubitavelmente, havia muito que aprender. Javier Cabrera me ia ratificar isso aos poucos minutos, quando começou a me descrever as distintas fases seguidas pelo homem «gliptolítico» em dita operação de «transplante» de coração.

—Na primeira pedra desta «série» dedicada à operação de mudança de um coração doente por outro são, pode ver como o «cirurgião» que dirige o «transplante» —e que se distingue do resto dos médicos ajudantes por seu «chapéu»— começa por apalpar o peito onde se encontra o coração que vai extrair. Este «paciente» era sem dúvida o «doador», tal e como nós o chamamos hoje. Ao outro lado da pedra se encontra o «receptor»...

Aquilo não podia estar mais claro.

—...Pois bem, em síntese, posto que o estudo desta operação nos levaria horas, o que se estava preparando era o passo de um coração são ao corpo de outro indivíduo cujo órgão motor se encontrava prejudicado. Nessa mesma pedra pode observar como um dos «ajudantes» prepara junto à «mesa de operações» todo um instrumental cirúrgico.

Na pedra em questão podiam apreciar-se numerosos detalhes que um não podia por menos que relacionar com os clássicos aparelhos que se utilizam sempre nos mais modernos salas de cirurgia.

Em outra das pedras —e como continuação da primeira—, o cirurgião» abre o peito do «doador» tira o coração, unido ainda ao organismo através da veia aorta. Para abrir o peito do homem, aquele «médico» pré-histórico tinha utilizado um instrumento de aparência cortante e que qualquer relacionaria automaticamente com nossos modernos bisturis.

—O «instrumental» —apontei ao Javier Cabrera— parece, entretanto, muito rudimentar. Como podiam verificar semelhantes operações com estas «facas» tão ásperas?

—Não eram «facas ásperas» como você crie. Não esqueça que todas estas pedras representam «ideografias». Isto não significa que aqueles cirurgiões praticassem tão complexas operações com este «instrumental» tão aparentemente primitivo. trata-se de mostrar a essência do que tinham obtido. E a forma mais elementar de transmiti-lo, com a segurança de que outros seres pudessem entendê-lo, é assim, através das «ideografias» ou símbolos. Se eles tivessem gravado nas pedras o verdadeiro aspecto de suas «salas de cirurgia», «telescópios», etc., possivelmente não o tivéssemos compreendido.

»O que temos feito nós com a placa ou mensagem que viaja nestes momentos a bordo da sonda espacial Pioneer X? Nossa civilização gravou ali as figuras de um homem e de uma mulher, nus! Tal e como somos. Não ocorreu aos cientistas da Nasa gravar um homem vestido com gravata e levando um guarda-chuva na mão. É que se outra civilização extraterrestre encontrasse uma gravura semelhante teria sabido que aquilo era um simples objeto para vestir ou um objeto para proteger-se da chuva? Logicamente, não. Essa Humanidade —a pouco que fora inteligente— os tivesse vinculado necessariamente à própria forma ou estrutura desses seres que enviavam a sonda espacial.

O mesmo acontece com estas pedras.

Javier Cabrera prosseguiu sua explicação sobre o fantástico «transplante» de coração:

—Uma vez que o coração foi extraído totalmente, como vê nesta outra pedra, o «cirurgião» procede a sua limpeza e adequação para sua imediata entrada no tórax do «receptor», que espera sobre outra mesa de operações nesse outro ângulo da pedra.

O investigador se aproximou de uma nova e enorme pedra gravada e, pondo suas mãos sobre a «ideografia», continuou:

—E esta, querido amigo espanhol, é possivelmente uma das «lições» professoras desta «biblioteca». O que é o que vê neste gravado?

Centrei minha atenção e respondi que aquele novo ser que entrava em cena parecia uma mulher...

—Efetivamente —prosseguiu o científico peruano—. Uma mulher grávida a que se está extraindo sangue.

Observei com mais atenção a gravura e descobri a outro «cirurgião» que sujeitava uma espécie de bomba com a que se aspirava o sangue daquela grávida. A boneca da mulher parecia enfaixada e uma fina agulha cravada na veia radial permitia o passo do sangue do corpo da «doadora» até a citada bomba. isso sangue estava claro como a luz era aspirada e armazenada em outro recipiente.

—Mas, para que? Que papel desempenha esta de «transplante» de coração?

—Vital. «Transfusão» de sangue em meio de uma operação. Esta Humanidade tinha descoberto a solução contra o «rechaço». Hoje sabemos que os «transplante» de órgãos tropeçam sempre com um «fantasma» para o que a Medicina moderna não encontrou ainda solução: o rechaço dos corpos estranhos por parte do «receptor». Colocar um coração ou um rim ou um fígado ou um cérebro em outro corpo significa a introdução de um elemento estranho nesse organismo. E o órgão em questão termina sempre por ser rechaçado.

»Pois bem, o homem gliptolítico tinha remontado esse obstáculo. Aqui tem a prova...»

Inclinei-me sobre a pedra onde se mostrava a referida «transfusão» de sangue, mas, por mais voltas que lhe dava, não terminava de compreendê-lo.

Javier Cabrera continuou seu apaixonante relato:

—A Humanidade que deixou esta «mensagem» —um legado no que goteja a chamada à «sobrevivência»— tinha descoberto o que pudéssemos qualificar como «hormônio anti-rejeição». E tinha conseguido isolá-la no sangue da mulher grávida.

»Se examinarmos com serenidade o assunto, observaremos que, em efeito, a grávida é o único ser humano que não só não rechaça um corpo estranho, mas também o assimila e o faz dele. O espermatozóide masculino constitui um elemento estranho para a mulher. E, entretanto, é recebido e cresce em seu interior. Em boa lógica deveria terminar por ser igualmente rechaçado, tal e como ocorre com qualquer outro órgão que se transplanta.

»Mas, por que não acontece assim? Porque a Natureza —que é tremendamente sábia— proporcionou ao sangue da mulher um hormônio que evita esse rechaço.

»E isso souberam os seres da Humanidade pré-histórica que nos deixou este maravilhoso mensagem.

»Por isso em cada transplante proporcionavam ao receptor do órgão sangre de uma mulher que se encontrava entre o terceiro e quinto mês de gestação.

Isso impedia que o órgão estranho fora rechaçado com o passado do tempo.

»Nós —já vê você—, nem sequer desenvolvemos esta técnica. E os cirurgiões do mundo inteiro lutam denodadamente por encontrar essa solução contra o grande fantasma da Medicina moderna.

»Compreende, uma vez mais, por que solicito a gritos que uma comissão de peritos do mundo inteiro deva estudar esta biblioteca?»

Ao retornar a Espanha encontrei com uma boa surpresa. Um biólogo da Universidade da Sorbone, o professor Bohn, tinha arrojado já em 1944 uma tese que produziu hilaridade entre os meios científicos da época, passando depois ao mais absoluto esquecimento. O chamado professor tinha apresentado uma tese segundo a qual, ao princípio da gestação, o organismo da mulher tem tendência a rechaçar o corpo estranho no que a metade dos gens provêm do pai.

Dita tese do professor Bohn foi confirmada de forma terminante e clara pelos trabalhos do Instituto Pasteur.

Os professores Francois Jacob e Robert Fauve chegaram a descobrir que existiam mecanismos comuns que permitiam ao mesmo tempo a implantação do ovo fecundado no útero, a tolerância pela mãe do gen estranho que é seu filho e a resistência das células cancerosas às defesas naturais do organismo.

Entretanto —insisti—, como sabe que se trata de uma mulher grávida? Poderia tratar-se de uma simples transfusão, realizada sobre o corpo de uma Mulher.

—Não. por que digo e sustento que se trata de uma grávida? Porque seu ventre apresenta os sintomas típicos do embaraço? Não, absolutamente. Olhe bem. Aqui se vê o esôfago, o estômago, o duodeno, o intestino magro, etc. Se vêem também os mamilos turgentes e os seios hipertrofiados. O diagnóstico do embaraço não o faço porque esta mulher presente uma figura mais ou menos grosa. Todos os médicos sabem que uma mulher pode estar grávida e, não obstante, apresentar um ventre mais ou menos volumoso.

»O que na verdade caracteriza o estado de gestação são os mamilos e a glândula mamária hipertrofiada. Por isso digo que está grávida.

»Lembrança que os que me atacam perguntaram no povoado do Ocucaje a quão camponesa assegura ter gravado estas pedras se ela, em efeito, era a autora desta ideografia. Sabe o que respondeu, a pobre cholita?

»—Sim —disse—, essa foi uma pedra em que a senhora me ‘saiu’ um pouco gorda».

Nem Javier Cabrera nem eu fizemos comentário algum.

—É que uma «lição» tão profunda como esta —continuou o investigador— pode ser obra de alguém que nem sequer sabe ler nem escrever? Por Deus, senhores...!

»Se examinarmos o sangue de uma mulher grávida —insisto—, poderíamos chegar a descobrir essa hormônio anti-rejeição.

Pastora fez uma pausa e me deixou assimilar o que, agora, parecia lógico e natural ante minha mente.

Depois, prosseguiu com as pedras do «transplante» de coração:

—Neste outro «gliptolito» vemos precisamente como o sangue dessa mulher grávida é injetada já no «receptor».  

Mediante uma agulha, o sangue que em outra pedras tinha sido pré-elevada, era agora trasvasada até o «receptor» através de uma das veias de sua boneca.

Senti calafrios.

Sobre o coração do «doente», o homem que gravou esta pedra assinalou, inclusive, a zona afetada pelo mal.

Um pequeno círculo, efetivamente, ressaltava com uma espécie de rajado dentro do coração.

—E qual era o problema de dito coração?

—Neste caso, miocarditis.

Pastora me assinalou uma nova pedra. E prosseguiu:

—Nesta, o coração do «doador» é irrigado constantemente pelo sangue da mulher grávida...

»Aqui, neste novo gliptolito —manifestou, indicando outra enorme pedra gravada que se encontrava junto às anteriores—, o cirurgião procede à abertura da caixa torácica do doente. Tudo está a ponto para o transplante do órgão.

»Procede, como vê, à extração do coração prejudicado, junto com a totalidade de seus copos arterio-venosos ao completo, enquanto outro cirurgião sustenta em suas mãos —sempre providas de luvas— o segundo coração, o do doador.

Pastora havia tornado a passar a outras novas pedras. A «cena» prosseguia com todo luxo de detalhes. O segundo coração, efetivamente, esperava nas mãos de outro «médico», enquanto um complexo sistema de tubos e aparelhos o mantinha constantemente irrigado.

A emoção ia subindo por segundos em meu pobre coração, que saltava violenta e rapidamente dentro de meu corpo.

Nova pedra: o coração é introduzido no tórax do «receptor», sempre irrigado com o sangue que contém o «hormônio anti-rejeição», extraída da mulher grávida.

»Os cirurgiões colocam o novo órgão em seu lugar e, por último, nesta nova ideografia, o médico procede a costurar e fechar a parede torácica e abdominal. O transplante concluiu.

»Outro ajudante procede a introduzir na boca do paciente o oxigênio necessário.

»Naquela pedra, um dos cirurgiões escuta os batimentos do coração do novo coração.

Dava um salto. Aquilo era «algo» similar a nossos estetoscópios! Pastora sorriu quando observou minha surpresa.

—Essa pedra pertence ao que nós chamaríamos «cuidados pós-operatórios». O médico está controlando o bom funcionamento do órgão recém «transplantado»...

Por último, e como final daquela «operação pré-histórica», outro dos «cirurgiões», de grande crânio e insólita figura, procedia a desenganchar todos os sistemas que tinham ajudado à realização do «transplante».

—A «operação» —concluiu Cabrera— tinha sido um êxito.

Estava desconcertado. E acredito que minha reação era do todo lógica e normal. Custava o seu aceitar que uma civilização pré-histórica —às que sempre consideramos como primitivas e incultas— tivesse podido alcançar semelhante nível científico e tecnológico.

Possivelmente influenciado por este forte choque não emprestei muita importância aos «transplantes» de rim, de fígado ou pulmão que também observei fugazmente ente as numerosas pedras.

Envolto já por completo naquele torvelinho de emoções, Pastora me conduziu até outro dos extremos da grande nave onde se amontoavam milhares de pedras e me assinalou várias, alinhadas sobre uma das estantes de madeira.

Eram órgãos humanos perfeitamente detalhados! Corações, rins, pulmões, etc.

—Sem um profundo conhecimento da anatomia, estas pedras não poderiam ter sido gravadas —comentou.

Antes que tivesse podido me recrear com aquele fantástico espetáculo, Javier me indicou outras grandes pedras que se alinhavam no chão da sala. Por um instante acreditei que me encontrava ante outra operação de «transplante». Mas o investigador me rogou que não me precipitasse, que observasse com mais atenção.

Uns segundos mais tarde levantei a vista para o médico peruano e murmurei com toda a estranheza de que era capaz:

—Isto parece um parto...

—Não —corrigiu Cabrera—, trata-se de uma cesárea...

Fiquei em silêncio. Aniquilado. Ali, a meus pés, tinha um completo «quadro médico» no que se mostrava o sistema de extração de um menino, mediante o processo conhecido hoje como cesárea.

Um dos médicos tirava o bebê pelos pés, enquanto, com uma espécie de comprido tubo, mantinha-o conectado com sua própria boca...

Desta forma —particularizou Pastora — o «cirurgião» praticava uma espécie de respiração «boca a boca» com o pequeno. E evitava que pudesse falecer durante a operação.

Em algumas daquelas pedras dedicadas às «cesáreas», o investigador me mostrou detalhes que assinalavam, inclusive, se o menino ia nascer vivo ou morto. De acordo com parte daquela «chave» que Pastora não queria revelar ainda, podia saber-se se o bebê se encontrava com vida no momento de praticar a cesárea à mãe.

Um determinado símbolo, situado geralmente ao pé da gravação, assinalava com precisão a idade exata do pequeno. Em algumas das pedras, por exemplo, Pastora contou o número de «triângulos» ou «placas» que apareciam em dito símbolo, confirmando se o bebê estava vivo ou morto.

—Neste caso, por exemplo, o bebê será extraído sem vida. A «chave» manifesta que permaneceu mais de onze meses no ventre da mãe.

»Por outra parte, além disso, esta afirmação vem corroborada com o signo inequívoco que expressa vida ou morte: a folha.

E ali estava, efetivamente, aludida-a «folha», colocada na posição que —segundo a «chave» descoberta pelo investigador— indicava «vida» ou «morte»...

Em outras pedras contigüas, o homem «gliptolítico» tinha gravado «partos» completos. Em alguns deles, a mulher era «anestesiada» mediante sistemas de acupuntura.

Em outra pedra negra e redonda como um balão de futebol, Pastora me mostrou uma nova e insólita «operação». Outro «cirurgião» com um «chapéu» de várias pontas —símbolo de sua profissão e, inclusive, de seu grau e competência dentro de dita profissão— «operava» sobre um grande coração similar aos anteriores.

A diferença, esta vez, estava em que dito coração tinha sido isolado do corpo ao que pertenceu e era submetido a algum processo de «reparação», que ainda não tinha sido decifrado pelo Javier Cabrera.

Muitas das pedras —comentou com desalento— estão pulverizadas pelo país e pelo resto do mundo. Como sabe, todas formam parte de «séries» que completam o conhecimento que —sobre esse tema concreto— quis nos legar a Humanidade «gliptolítica». Por desgraça, muitas destas «séries» jamais poderão ser completadas. E este é o caso desta pedra em que um dos «cirurgiões» trabalha sobre a mencionada víscera cardíaca.

O que pretendeu nos dizer com ela a Humanidade pré-histórica?

Aquele fato —comprovado por mim em numerosas ocasiões, especialmente quando visitei o povoado do Ocucaje—, produzia um agudo desalento no investigador. Quantos milhares de pedras gravadas, quantas e transcendentais «séries», perderam-se já...?

Aquela pedra, a única de sua «série» que tinha sido recuperada pelo investigador peruano, era como um permanente grito de alerta para o professor. Aquilo significava um constante estímulo para seguir na luta e na busca de novas pedras.

Precisamente aquela tenacidade do Javier Cabrera tinha feito possível que entre suas 11.000 pedras gravadas se encontrasse uma das «séries» mais audazes sem dúvida da «biblioteca».

Acredito recordar que pude contar mais de 18 pedras dedicadas à operação de «transplante» de cérebro.

Nem a mais avançada cirurgia atual tivesse podido chamar àquela perfeita e sistemática intervenção, em que o cérebro de um homem era substituído pelo de outro.

Ao ver as pedras de dito «transplante» me vieram à memória outras gravações que tinha tido oportunidade de contemplar em algumas das pedras que integram a pequena mas também interessante coleção de meu amigo Tito Aisa, em Lima.

E notei uma clara variante. Enquanto em umas pedras se praticava o «transplante» com o «receptor e «doador» colocados «de barriga para baixo» sobre a mesa de operações, em outras, em troca, aquela postura variava. E os «pacientes» tinham sido gravados «de barriga para cima» sobre as mesmas mesas da «sala de cirurgia».

A que podia obedecer esta diferencia na posição dos «receptores» e «doadores»?

Sem sabê-lo tinha formulado uma pergunta essencial. Uma pergunta que ia abrir me outro fascinante horizonte.

—Quando o «paciente» se encontra de barriga para cima sobre a mesa de operações —começou a explicar isso Pastora indica que a «série» nos está mostrando um «transplante» de chaves cognitivas. No caso contrário, a operação corresponde a uma mudança da totalidade do cérebro.

Fiquei apavorado. Pastora —eu não sei se pela força do costume ou pelos muitos anos que leva já investigando estes «documentos» em pedra— tinha pronunciado aquelas frases com a mais absoluta das normalidades.

—«Transplante» de chaves cognitivas? Mas, sabe o que isso significa?

—Certamente que sim.

—Mas isso não poderia ser —sublinhei—. Seria como fazer «viver» a dois indivíduos em um só corpo...—. Neguei-me a aceitar aquilo. Mas Javier Cabrera insistiu:

—Sim, assim aconteceria se tratássemos de aplicar este «transplante» aos indivíduos que formam nossa Humanidade, mas não ocorreria o mesmo com os homens gliptolíticos .

Não entendia aonde queria ir parar o investigador

—Aquela Humanidade podia efetuar a mudança de chaves cognitivas porque todos os seres eram iguais entre si. Essa era outra das grandes diferencia com nossa civilização. Nós somos distintos. Cada homem constitui um mundo. E não entendemos que possa ter existido uma Humanidade onde todos os seres sejam idênticos entre si. Mas isto o pude decifrar ao longo destes muitos anos de estudo da «biblioteca».

»As chaves cognitivas passavam do cérebro de um homem ao de outro, e isso não representava choque ou contraposição de personalidades. Era do todo impossível, posto que nenhum ser era distinto a outro. Muito ao contrário, as mentes experimentavam uma soma de conhecimentos ou uma multiplicação cognitiva. Porque o trasvase de chaves podia verificar-se em número ilimitado. Quer dizer, em um só cérebro podiam ser encaixados os conhecimentos de outros homens.

O homem gliptolítico —tal e como se desprende a todo o comprido do estudo da biblioteca lítica— não era pessoal. Não existia o atual conceito de propriedade. Não estava sujeito ao egoísmo. Sua finalidade era única: o conhecimento.

Mas, cada vez que estudava esta série de pedras terminava por me fazer a mesma pergunta:

Onde vai parar o corpo, uma vez concluído o transplante de cérebro ou de chaves cognitivas? Não conseguia averiguá-lo. Não figurava por nenhuma parte o símbolo da morte ou destruição para aquele corpo que constituía o doador do cérebro...

Até que um dia consegui decifrá-lo. A Humanidade pré-histórica que deixou esta mensagem tinha obtido também a técnica da conservação dos corpos. O que representava isto?

Algo incomensurável.

Ao poder manter com vida esses corpos, as distintas chaves cognitivas que tinham sido multiplicadas ou fundidas em um único cérebro podiam seguir vivendo ininterrumpidamente.

»Bastava as voltando para transplantar a cada um destes corpos, conforme o anterior —o que lhe servia de suporte— se ia degradando com o passado do tempo.

»Desta forma não se perdia o conhecimento. Ao contrário, era sustenido e enriquecido sem cessar.

»Hoje sabemos já, por exemplo, que um indivíduo é o que é precisamente sua chave de conhecimento. E isso existe fisicamente. É algo real. Cada um de nós poderia ser reduzido na atualidade a nossa chave genética ou de conhecimento. Seria nosso conhecimento transformado em matéria.

»Essa chave foi expressa por nossos cientistas em ácidos nucléicos.

»Pois bem, isso era o que o homem gliptolítico derivava de um cérebro a outro, multiplicando e incrementando o poder mental».

Resultava difícil de compreender. Entretanto, os mais avançados especialistas em genética —entre eles o professor Severo Oito— demonstraram que dita chave de conhecimento é visível, inclusive, ao microscópio.

Quando um menino nasce, por exemplo, seu cérebro começa a crescer. O que ocorre então? Simplesmente, que o neurônio começa a assimilar matéria. Uma matéria que, a sua vez, servirá para «inscrever» no sistema nervoso cada uma das vivencias que experimente. E isso tem um nome: proteínas. A celulose nervosa, portanto, «inscreve» em um código proteínico o que realmente é o indivíduo.

Javier Cabrera acrescentou:

—Se conseguimos isolar todo esse sistema proteínico que é e representa o conhecimento de um indivíduo e os «transplantamos» ao cérebro de outro homem, este o assimilará, incrementando assim seu poder cognitivo.

»E isso foi o que fez o homem gliptolítico. Mas isto, insisto, não poderia ser efetuado na atualidade. Nossa Humanidade é basicamente distinta daquela.

»Nos homens que deixaram gravadas as pedras não existia essa possibilidade de choque de duas ou mais personalidades. Eram mentes cujo único objetivo era o conhecimento. Não estavam orientadas à execução, tal e como acontece conosco. Não eram matemáticos.

»Possivelmente a finalidade de nosso filum esteja precisamente aí. E já parece que tendemos a uma progressiva despersonalização, a um domínio do grupo e da sociedade sobre o líder ou o individualismo. Possivelmente nosso filum esteja chegando a uma última fase, onde a vinculação com aquela Humanidade e com todas as que puderam povoar o planeta seja evidente e obrigada. Possivelmente nossa Humanidade esteja perto de sua autêntica realização.

Há algo, entretanto, que esta Humanidade nossa não conseguiu. Algo que era essencial para a civilização gliptolítica: o respeito à Vida, por cima de qualquer outra coisa. Esta mensagem é uma mensagem de sobrevivência. Em cada pedra, em cada série o homem de então nos grita que amemos a Vida, que a conservemos. E se nota, inclusive, até nos mínimos detalhes da biblioteca.

Em cada uma destas operações de transplante por exemplo, o indivíduo que aparece convexo sobre a mesa da sala de cirurgia era submetido a um complexo sistema que controlava até suas últimas funções biológicas».

Javier Cabrera me mostrou as zonas de contato do nariz, boca, coração, sistema nervoso, circulação sangüínea, etc., do doente com a mencionada «mesa» de operações. Em cada um daqueles pontos tinha gravado um rajado que Pastora identificou como «sistemas de controles eletrônicos» de cada uma destas funções vitais.

—Qualquer que veja ou examine estas «mesas de operações» não observará nelas nada de particular. Possivelmente, inclusive, considere-as primitivas e ásperas. Mas não é assim. Estas «mesas» nos estão revelando todo um processo de vigilância no doente. Não só lhe está praticando um «transplante» de cérebro, mas também, ao mesmo tempo, controlam-se todas suas funções vitais: respiração, alimentação, sistema neuro-vegetativo, coração, etc.

»Quer dizer, o homem não entrava na sala de cirurgia, como pode parecer aqui, de uma forma tosca, sem cuidados. Nada disso.

»Não podia haver paralisia respiratória nem cardíaca... Tudo era controlado.

»Ocorre hoje o mesmo? Não. Na maior parte dos casos, nossos pacientes são operados sem esse necessário e absoluto controle de suas funções biológicas. E o doente pode morrer em plena operação. Mas, por que? Porque nossa Humanidade não aprendeu a respeitar a Vida. Porque não lhe demos valor .

Sim o temos feito, em troca, com um foguete que viaja à Lua. Tudo nele está controlado e fiscalizado. Não escapa um só detalhe.

Crie que se o homem atual tivesse outorgado à vida toda a atenção que merece, haveria um só ser humano que perecesse de fome?

Para nosso filum é mais transcendental o poder. E a morte ocupou o lugar que corresponde à Vida...

Compreende agora por que desejo que os cientistas do mundo inteiro conheçam esta biblioteca? Compreende por que desejo que este descobrimento se propague aos quatro ventos?

—É que considera que a esta Humanidade pode lhe interessar deixar o que sabe e possui para aproximar-se deste descobrimento e aprender dele?

—Possivelmente minha confiança esteja posta na juventude. Só aqueles cuja mente não está intoxicada ou bloqueada pelos prejuízos podem entender o alcance desta «mensagem». Hoje resulta ridículo e absurdo considerar-se em posse absoluta da Verdade.

antes de fechar este capítulo dedicado à Medicina na grande «biblioteca» lítica do deserto peruano, acredito que conviria fazer menção também do próprio aspecto morfológico que apresentava aquele sem fim de figuras de aparência humana gravadas nas rochas. Seu aspecto físico me tinha chamado a atenção de um princípio. Resultava realmente curioso observar como a totalidade dos homens e mulheres gravados nas pedras eram idênticos entre si. Entretanto, a diferença com o homem de nossa humanidade era evidente. E interroguei a Pastora sobre isso.

—Se se tratava de uma raça nativa do planeta, como penso, por que tinha que ser necessariamente igual ao homem do século XX de nossa era? Queira o homem do Neandertal ou do Cro-Magnon com seus 150.000 e 40.000 anos, respectivamente, são iguais a nós. O que podíamos esperar então uma Humanidade que viveu faz tantos milhões de anos? É que os «moais» da ilha de Páscoa são iguais aos homens de nosso tempo? Nem sequer os habitantes atuais de dita ilha se assemelham aos seres representados em tais estátuas.

»Através de meus estudos pude deduzir que o homem gliptolítico possuía um tremendo crânio, índice inequívoco de seu alto nível mental. Nós, a seu lado, seríamos microcéfalos.

»Por outro lado, seus braços eram extremamente largos e careciam —tal e como se aprecia em quase todas as pedras— de polegares. Suas mãos dispunham de cinco, quatro ou três dedos largos, mas sempre sem dedo polegar.

— No manto do Paracas —me recordou Javier Cabrera—, aquela civilização explicou o porquê desta anomalia.

Lembro que em certa ocasião —e conversando sobre este tema com médicos meus companheiros no Hospital Operário da Ica—, expor-me a tremenda dificuldade que tem que supor para um ser humano carecer do dedo polegar. Eles faziam insistência na absoluta necessidade da oponibilidade, a fim de poder utilizar livremente a mão.

Entretanto, pouco tempo depois desta discussão tive a grande fortuna de poder lhes demonstrar que estavam equivocados.

Um dia chegou até minha consulta no Hospital uma cholita muito jovem que tinha certa doença. constantemente com grande acanhamento, ocultava constantemente suas mãos aos olhares dos que a rodeávamos e lhe perguntei por que. A cholita resistia e, ao tomar suas mãos entre as minhas, observei com grande surpresa que só tinha três dedos largos em cada ânus

Compreendi imediatamente que minhas deduções em relação à Humanidade das pedras tinham, inclusive, uma base real e demonstrável hoje em dia. Assim pedi imediatamente tesouras, agulha e fio e roguei a jovem a Índia que me cortasse as unhas e costurasse um botão.

E ante os atônitos olhos de médicos e enfermeiras, aquela cholita levou a cabo a tarefa com tanta rapidez como precisão.

Ficava demonstrado, pois, que o dedo polegar não é absolutamente necessário para um normal desenvolvimento das mãos».

Javier Cabrera, satisfeito por esta ratificação de suas investigações em relação com os homens «gliptolíticos», mandou tirar fotografias das mãos da jovem, assim como das diversas operações que podia levar a cabo.

Eu mesmo pude ver sortes diapositivas.

—E por que aquela civilização tinha umas mãos tão estranhas?

—O homem constitui um dos grupos de mamíferos que experimentou maiores mudanças em suas extremidades superiores. E cem milhões de anos são muitos anos...

Javier prosseguiu sua explicação sobre as características físicas destes seres.

As pernas, ao contrário que os braços, eram curtas. E o tórax e abdômen, mas bem globulosos.

»Sua altura medeia não acredito que fora superior a um metro quinze ou um metro vinte centímetros. Hoje os tivéssemos qualificado como humanóides.

«Humanóides?», pensei. Pastora tinha exposto claramente que não compartilhava o critério de que aquela civilização supertecnificada e estranha tivesse chegado do exterior.

Entretanto, as perguntas em torno deste lhe apaixonem ponto começaram a bulir em meu cérebro.

Se tinham conseguido fugir do planeta antes de sua destruição, podiam ter retornado milhões de anos depois? Que relação podiam ter os atuais OVNIS com esta Humanidade desaparecida do globo?

Estas e outras muitas interrogantes, simplesmente fascinantes, foram expor se em um jantar que nunca esquecerei e que ia ter lugar aquela noite no tranqüilo jardim da casa do Javier Cabrera.

 

                             OS INCAS CONHECERAM AS PEDRAS

Tenho que me acusar disso. Cismado com aquelas milhares de pedras, apenas prestei atenção à pessoa do doutor Javier Cabrera. E desejei mil vezes poder retornar de novo ao Peru para entrar muito mais na personalidade deste homem que luta só contra todos.

Possivelmente um dos momentos em que mais perto me encontrei de sua realidade pessoal e familiar foi ao longo de um jantar íntimo, no jardim de sua casa de leoa.

depois de uma jornada exaustiva, em que Javier Pastora Darquea nos tinha falado durante mais de sete horas de seus últimos achados, tive a oportunidade —imemorável, é obvio— de assistir a uma nova conversa. Mas, esta vez, sem a tensão da precisão da investigação. Sem a concentração e a responsabilidade do trabalho. Só com a paz de uma amizade. Com o respaldo de uma lua branca que fazia brilhar o ouro das dunas. Com meus amigos...

Não sei bem quantos nos reunimos aquela noite cálida do verão sul-americano em torno da figura batalhadora do Javier. Lembro as notas de uma canção entoada com acanhamento por sua esposa Paulina, o tinido do gelo em seu me choque com o Pesco e o ir e vir serviçal de alguns dos oito filhos de Pastora .

Lembro uma primeira pergunta, lançada ao azar e que não foi esquivada, nem muito menos, pelo investigador da «biblioteca» de pedra:

—Faz uns meses, o maior Donald Keyhoe, da Armada norte-americana, lançava aos quatro ventos um relatório que —até o momento— tinha sido considerado como «alto segredo militar». Dizia assim:

Segundo os cientistas e oficiais da Inteligência da Força Aérea dos EUA, os OVNIS são naves espaciais de algum mundo mais avançado, que estão dedicados a uma extensa observação de nosso planeta.

Se nas pedras gravadas se plasmou a saída da Terra das elites daquela Humanidade, cabe a possibilidade de que estes OVNIS que hoje nos observam possam pertencer aos descendentes daquela civilização que partiu do globo faz milhões de anos?

Javier Cabrera, como digo, não esquivou a questão. E se enfrentou, valente, a tão sugestiva hipótese:

—Pudessem ser eles, sim. Ou pudessem ser outros...

Quão único posso te dizer é que a Humanidade se está preparando para um dos mais transcendentais momentos de sua História: o de seu enfrentamento —cara a cara— com homens de outros astros.

Não observastes o tremendo giro que está experimentando nossa civilização nesse sentido?

Não notastes a grande mudança das pessoas quando se trata o tema do Universo e da Vida no espaço? Se fizer cinco anos nos tivéssemos reunido neste mesmo jardim, a dialogar sobre a possibilidade de um contato ou de uma comunicação com habitantes de outros mundos, todos nos teriam tachado de loucos ou psicopatas.

Hoje, pelo contrário, a todos preocupa este tema. Intuímos algo. No fundo de nossos corações sentimos a presença de outras civilizações extraterrestres. Civilizações que são superiores à nossa. Humanidades, a fim de contas, que possivelmente estejam mais perto que nós da Verdade. Homens ou seres inteligentes que chegaram a metas nem sequer sonhadas por nós.

—O que poderia ocorrer se um dia —possivelmente não muito longínquo—, o homem da Terra se encontrasse frente a outro «homem» da galáxia?

—É possível que esse seja o começo da verdadeira unidade deste “filum” humano. até agora só fomos tribos, países, impérios, individualismos, egoísmo, doutrinas, guerras, divisões e morte.

Possivelmente nesse instante histórico nossa Humanidade compreenda que só a unidade profunda, sem credos, sem religiões, sem partidos, sem nações, sem diferenças, pode conduzir à realização autêntica do homem que forma esta Humanidade concreta. E só haverá uma civilização. Um único fim: a integração no Cosmos.

Tem descoberto na «biblioteca» lítica alguma forma de vida inteligente que não seja o homem? Não, por agora, não. Os seres daquela Humanidade «gliptolítica» pertenciam ao chamado «gênero humano». Só um dos personagens das pedras gravadas não era deste planeta. Mas esse também pertencia a dito «gênero humano». Sua aparência física era muito similar a dos homens «gliptolíticos», mas procedia de outro lugar do Cosmos.

Aquilo me intrigou extraordinariamente. Javier Cabrera, feliz junto aos seus, parecia disposto a revelar alguns dos mistérios que —indubitavelmente— conhecia e que, entretanto, ninguém tinha escutado ainda.

—Quem era? —perguntei.

—Você o conhece, posto que o identificaste no que você chama «quarto secreto»...

Isso foi tudo o que pude lhe surrupiar ao Javier. E não era pouco...

O jantar prosseguia, animada com a presença de novos amigos do Javier Cabrera e com o sabor picante do «cebiche».

—Algumas pessoas sentem saudades ao ver nas pedras objetos que pertencem a nossa civilização...

—Por exemplo? —perguntou a sua vez o investigador.

—Tesouras, lupas, facas...

—Me diga uma coisa. Se um homem tivesse que cortar algo agora e na Pré-história, como crie que o faria? Com uma faca diferente ou com um igual? Se você deseja cortar algo deve procurar um objeto cortante, não é assim? E como seria esse objeto?

Não devemos esquecer que este filum humano que deixou a mensagem alcançou algo que nós ainda não imaginamos sequer: concretizou-se em um cem por cem, através de sua evolução, em seu espaço-tempo. E nesse cem por cem de seu espaço-tempo realizou tudo o que o homem de hoje está tratando de conseguir.

Você reconheceste, por exemplo, uma coisa nova em algo velho. Você viu facas, lupas, tesouras etc., mas também viu coisas desconhecidas. Transplantes» de cérebro, de chaves genéticas, em algo velho...

É a figura contrária.

Por que? Porque cada Humanidade, cada filum, tem que realizar o que, em certo modo, está predeterminado. Você fará quão mesmo já fez outro homem. E não é precisamente uma casualidade ou uma loteria que você —agora— esteja ocupando o lugar desse outro homem...

—O que quer dizer?

—Quão mesmo já repeti em anteriores oportunidades. A investigação da «biblioteca» de pedra me demonstrou que o homem é increado. Pertencemos ao «gênero humano», e esse gênero ocupa e significa no Cosmos muito mais do que nossa curta mente pode imaginar.

»Por isso dizia faz um momento que o encontro deste filum com outro homem da galáxia será vital».

Às vezes era realmente difícil seguir as explicações do médico da Ica. Alguém se encontrava desarmado, sem o espírito o suficientemente espaçoso para deixar entrar a luz daquelas novas afirmações. A gente pressentia que Javier Cabrera tinha chegado ao fundo de múltiplos problemas, precisamente através daquela lhe apaixonem investigação. Mas o professor peruano resistia —possivelmente por prudência— a esvaziar sua mente.

—É possivelmente este —o «capítulo» da antropologia do homem «gliptolítico»— o mais difícil?

—Não é que seja o mais difícil —respondeu Pastora —. Possivelmente o que acontece é que se trata de um dos mais transcendentais. Mas o revelarei ao seu devido tempo Quando o mundo inteiro saiba que existe esta grande «biblioteca».

»Não é fácil, reconheço-o, trocar da noite para o dia os esquemas mentais de toda uma vida e de toda uma educação. Por isso desejo dar tempo ao tempo.

—Crie que haverá algum outro lugar com o mundo onde possuam algo semelhante a esta formidável «biblioteca»?

—Possivelmente no Tibet. Os famosos «discos» de pedra do Baian Kara Ula poderiam ser outro documento legado por alguma Humanidade remota...

(Conforme se diz, na fronteira chinês-tibetana, o arqueólogo Chi-Apodreci-tei descobriu em 1938 um total de 716 «pratos» ou discos de granito de dois centímetros de espessura. No centro apresentavam um buraco do qual parte em espiral uma escritura a dobro sulco até o bordo do prato. Ditos «pires» do Baian Kara Ula são muito semelhantes a nossos atuais discos microsurco. Durante anos trabalharam os especialistas tratando de decifrar o mistério dos mencionados pratos de granito, até que em 1962, o professor Tsum Um Nui, da Academia de Pré-história de Pequim, conseguiu decifrar uma parte importante da escritura acanalada. As análise revelaram importantes quantidades de cobalto, e os físicos comprovaram que as peças tinham um elevado ritmo vibratório, o que faz supor que em algum momento estiveram expostos a altas tensões elétricas. Os descobrimentos do Baian Kara Ula causaram sensação quando o filólogo soviético, doutor Viacheslav Saizev, publicou textos decifrados dos pratos de granito. Neles se afirmava que «faz uns doze mil anos, um grupo de seres de procedência desconhecida chegou a parar ao terceiro planeta, mas seu veículo espacial não tinha energia suficiente para abandonar este mundo estranho».

Javier Cabrera apurou seu copo de uísque.

—Depois de encontrar esta «biblioteca» em pedra, não tenho a menor duvida: ao menos, do homem «gliptolítico», a Terra foi povoada também por outras civilizações. Todas elas hão talher uma fase da história do planeta e do próprio «gênero humano».

E é muito possível que, ao final de seus dias, ou possivelmente muito antes, algumas dessas Humanidades pretéritas descobrissem igualmente a existência de outras civilizações anteriores a elas mesmas. E inclusive soubessem da Vida no Universo.

Por que teimar em ser os primeiros e os mais tecnificados de toda a história do mundo? A Terra tem milhares de milhões de anos de existência... Como podemos pretender semelhante disparate? O que sabemos de nosso próprio passado? Faz 10.000 anos foi ontem...»

Aquelas palavras de Cabrera me transportaram até as páginas de um livro que acabava de ler. Um livro que deixou um profundo rastro em meu espírito. Nele, seu autor, o célebre Hoimar von Ditfurth, professor de Psiquiatria e Neurologia da Universidade do Heidelberg, falava também de quão incomensurável é em realidade o Cosmos. E punha um exemplo que poderia aplicar-se perfeitamente a este comprido passado da Terra.

Dizia Von Ditfurth: Não podemos imaginar o que representam 3.000 milhões de anos. Mas vamos a uma dessas muletas que permitirá a nossa imaginação aproximar-se da verdadeira magnitude do término expresso:

A razão de um número por segundo, podemos contar até 1.000 em um quarto de hora, pouco mais ou menos.

Para alcançar o milhão, pressupondo uma jornada de oito horas, necessitaria-se todo um mês, contando nas mesmas condições.

E para chegar aos 1.000 milhões, seria necessária toda uma vida, dedicando oito horas cada dia e contando um número por segundo. Teríamos que alcançar, além disso, uma idade aproximada de 80 anos para conseguir este empenho.

Como podemos, portanto, acreditar que nossa Humanidade é a única?

—Disse você, professor, em certa ocasião —interveio outro dos assistentes ao jantar—, que o achado e posterior investigação desta «biblioteca» de pedra tinha trocado sua vida. Mas, fundamentalmente, por que?

—Possivelmente pelo simples feito de ter compreendido que a mente humana deve estar permanentemente preparada para a mudança, para o novo.

»No Universo, nada é absoluto. E terá que senti-lo suficientemente humilde para aceitar que podemos estar equivocados. Equivocados, inclusive, no que consideramos como mais sagrado».

—A que horas estuda, professor?

—Ai, filho!, quando posso. Meu trabalho no Hospital não me dá muito margem. Essa é uma de minhas grandes amarguras. Eu desejaria derrubar todo meu tempo e todo meu esforço nesta investigação. Mas tenho oito filhos e devo lhes dar de comer.

—Por certo, quanto dinheiro tem gasto nestas pedras?

Javier Cabrera sorriu e fez um gesto de impotência:

—Nem eu mesmo lhe poderia dizer isso São nove anos comprando pedras aos camponeses. Aqui deixei parte de minha vida...

—Todos vimos que esta biblioteca integrada por «séries» de pedras. Como conseguiu reunir sortes séries? Procurava, pedia pedras concretas aos camponeses do Ocucaje ou as foi acumulando conforme chegavam?

—Não, eu comprava sempre as que me traziam. Qualquer se tivesse dado conta de um princípio de que aquilo era uma «biblioteca». portanto, o importante era reunir um máximo de «livros» ou pedras.

O que nunca imaginei foi que ali ia encontrar me com capítulos como o do cometa Kohoutek...

Alguém se dirigiu então a jovem algema de Pastora e pediu sua opinião sobre as pedras.

—Eu fui um dos mais inflamados inimigos destas pedras —comentou ante a surpresa de todos—. Durante os três primeiros anos as considerei uma simples coleção, uma perda de tempo, quase um jogo do Javier. Até que um dia compreendi quão equivocada estava.

—Ela e minha mãe, precisamente —acrescentou Javier Cabrera—, foram as que, em um princípio, mais se opuseram a que eu prosseguisse minha investigação...

—E o resto do povo da Ica?

—Você o vê. Ninguém é profeta em sua terra. E eu tampouco. As críticas me assaltam por toda parte. Nos periódicos me tacham de louco. burlam-se de mim e da «biblioteca». Mas não importa. Essa crítica é minha melhor aliada. Obriga-me a fazer um alto no caminho e a serenar a mente. É que estarei equivocado? —penso em alguns momentos—. É que tudo será uma perda de tempo?

»Mas não. depois desses instantes de repouso espiritual, minha vontade se vê fortalecida. Sei que esta investigação é autêntica e que algum dia dará os frutos desejados. Além disso, é que não compreendem? Estas pedras sobreviverão a todos. E outros seguirão o estudo».

—Pergunto-me o que teria acontecido se, em lugar de em pleno século XX, esta «biblioteca» tivesse sido desenterrada faz séculos...

—Foi encontrada e conhecida pelos remotos índios incas do Peru. Assim consta nas crônicas de alguns jesuítas que acompanharam aos conquistadores espanhóis em 1550. Denominavam-nas «pedras Maneta». E quem sabe se não foram conhecidas muito antes?

—Mas, se os incas tiveram conhecimento de sua existência, como é que não as tocaram? Como é que não aprenderam delas?

—Consideravam-nas «coisa dos deuses», já lhe disse isso. E, no máximo, tocaram algumas pequenas. Nunca se encontrou uma pedra grande junto a uma múmia inca.

Quanto à segunda parte de sua pergunta, de onde crie que aprenderam os incas seu perfeito sistema teocrático-socialista? Os grandes sacerdotes daquele império que nem sequer conhecia a roda, tiveram acesso ao lugar onde se achava a biblioteca e durante anos conseguiram decifrar e entender determinados aspectos das gravações. Eles também eram inteligentes, embora não podiam compreender, logicamente, muitas das ideografias de tipo técnico e cientista dos gliptolitos.

Por que e como sabiam quão índios os homens brancos chegariam em navios através dos grandes mares? Quem tinha falado aos incas da existência dos cavalos, antes que os conquistadores hispanos os levassem a América? Por que crie que um império tão capitalista como o incaico se deixou dominar tão facilmente por um simples punhado de espanhóis? Os índios tinham visto os navios e os cavalos e até ao próprio homem branco nas gravações das pedras. Você mesmo o comprovaste. Os incas sabiam que existiam e não sentiram saudades quando os viram aparecer em suas praias e montanhas. Tomaram por «deuses»!

Mas não sei se te deu conta de um detalhe quando observávamos as pedras onde aparecem cavalos.

Tratei de recordar algo que me tivesse chamado a atenção.

—Sim —repus—, aqueles cavalos não eram normais... Tinham dedos em lugar de cascos.

—E por que? —expôs novamente o investigador.

—Acredito que, dentro do processo evolutivo deste animal, houve uma época remota em que suas patas terminavam em dedos.

—Exato. Mas isso foi faz milhões de anos. por que lhe representou então nas pedras com dedos em lugar de cascos? Os cavalos que chegaram com os espanhóis não tinham dedos...

Ou é que poderíamos atribuí-lo —como dizem muitos arqueólogos— à imaginação e sentido artístico dos camponeses do Ocucaje?

Em realidade, poucos comentários podiam fazer-se a aquela observação.

—Dessas 11.000 ou 15.000 pedras que possui na Praça de Armas, quantas foram estudadas totalmente?

Bom, nunca se pode dizer que uma investigação tenha concluído de tudo. Sempre surgem novos elementos, novos achados. Mas, penso que possivelmente quinhentas estão já muito bem analisadas...

—Só quinhentas?

—E não é pouco —sublinhou Cabrera—. Um homem só não pode levar adiante esta investigação. Necessita do apoio, da ajuda, da colaboração de toda uma equipe de especialistas. É preciso que estas pedras sejam estudadas por matemáticos, físicos, engenheiros, médicos, arqueólogos, antropólogos, juristas, zoólogos, astrônomos, etc., etc.

—E religiosos?

—Também.

—Se só decifrou umas quinhentas pedras, quanto tempo calcula que levaria estudar essas 10.500 restantes?

—Se o trabalho fora realizado por uma comissão, muitos menos anos dos que acreditam. O caminho está já aberto. Meus nove anos de investigação não foram infrutíferos. Mas é preciso que venham a Ica. Este descobrimento é patrimônio do mundo inteiro.

Uma última pergunta ia pôr ponto final a aquela conversa no jardim da casa do médico peruano:

—Suponho que também se encontrará em sortes pedras a motivação que impulsionou a aquela Humanidade a deixar a «mensagem».

—Naturalmente. Mas disso, repito, só poderemos falar quando o mundo inteiro tenha conhecido primeiro a existência da «biblioteca». Não antes.

 

                                   A OPINIÃO DOS ARQUEÓLOGOS OFICIAIS

Apesar da evidência, das múltiplas prova de sua autenticidade e de meu próprio convencimento, quis submeter o tema também ao julgamento da Arqueologia oficial do Peru.

No fundo precisava conhecer a opinião dos máximos peritos nesta matéria. Um pensamento me tinha atormentado a alma desde que tive conhecimento da grande «biblioteca» do deserto peruano: por que os arqueólogos do país não tinham feito público este sensacional achado?

Pastora me tinha pontudo já a resposta ao longo de nossas numerosas entrevistas. Entretanto precisava escutá-lo pessoalmente.

E durante minha segunda viagem, entrevistei-me com um dos arqueólogos e porta-voz do máximo organismo Peruano de cultura: dom Roger Ravínez, membro do Instituto Nacional de Cultura.

Suas palavras ficaram gravadas em meu magnetófono, enquanto conversamos ao pé de uma das «huaqueras» ou escavação arqueológica existente nas proximidades de Lima. O arqueólogo senhor Ravínez se encontrava trabalhando naqueles dias na restauração de um velho «templo» pré-hispânico, encontrado, como digo, nos arredores da capital do Peru.

É obvio, nossa conversação não teve desperdício. E escutei o que verdadeiramente já tinha imaginado e Javier Cabrera me tinha adiantado.

O senhor Ravínez, especialista em culturas líticas —fundamentalmente no Paleolítico Superior— foi direto ao assunto:

—Olhe, só conheço uma pedra gravada que pode ser autêntica. O resto, todos esses milhares e milhares, são falsas. Além disso, estivemos muitas vezes nas casas dos indígenas do Ocucaje e lhes vimos trabalhar as pedras...

—Quer dizer, vocês, os arqueólogos sustentam que as pedras não são autênticas... —É obvio.

—Mas, por que? Quais são as razões?

—Do ponto de vista estilístico não têm nenhum sentido. Ali se mesclam coisas de Nasça com a Mochica, Tiahuanaco, etc. Além disso, não há nenhuma associação...

Sem querer recordei as palavras do Javier Cabrera e o caso do manto do Paracas. Mas não quis interromper ao arqueólogo.

—... E você sabe que um resto sem associação é impossível de datar. Pastora nunca quis mostrar o depósito ou jazida de onde procedem estas pedras. Se o fizesse, possivelmente pudéssemos averiguar a verdade e, pelos possíveis restos que houvesse na zona, datar a antiguidade das gravuras.

Não saía de meu assombro.

—...Por outra parte —continuou Ravínez—, fizemos microfotografías das incisões dessa única pedra que considero autêntica e são distintas das incisões que aparecem nas pedras de Cabrera.

—Desculpe, mas a que pedra se refere?

—A uma que descobriu o grande arqueólogo Max Uhle. Tem um animal gravado. Acredito que uma chama...

—E onde a descobriu?

—No Ocucaje, no departamento da Ica.

—Então, você acredita que, à exceção da que encontrou Uhle, as demais são falsas...

—Sim, concretamente as faz um camponês chamado Basilio Uchuya e outra mulher, também do Ocucaje.

—Sabe você que nestes momentos se têm contabilizadas mais de 50.000 pedras gravadas —algumas de grande volume— e que se encontram dispersadas pelo Peru e boa parte do estrangeiro?

—Sim, isso dizem.

—E você crie verdadeiramente que essas 50.000 pedras as gravaram Uchuya e uma mulher?

—Se você conhecesse o norte do Peru, daria-se conta da grande quantidade de falsificações que se produzem. Nos «huacos», por exemplo, dão-se a milhares.

—me diga uma coisa. Quantas pedras viu gravar pessoalmente?

—A única vez que estive no Ocucaje havia seis ou sete. A mesma mulher que as grava —uma tal Irma me confessou que não demorava nenhuma hora nas trabalhar.

—me responda a outra questão. O que ocorreria a quem fora descoberto desenterrando ou traficando com Peças arqueológicas?

Temos uma Lei —o 6634— sobre Amparo de Monumentos Arqueológicos...

—Mas, o que lhe aconteceria?

—Seria condenado a ir ao cárcere ou a pagar uma multa. Depende.

—Então, você crie que os humildes camponeses do Ocucaje vão expor se a essas penas, lhes confessando que as tiram de um lugar secreto? Não é mais lógico e humano que se protejam, «gravando» em suas casas —à vista de todos— algumas pedras?

—Olhe —repôs o arqueólogo—, eu considero que este problema das pedras gravadas da Ica é antes policial que cientista.

—Há outro ponto que me intriga. Você viu as pedras gravadas da coleção do doutor Javier Cabrera, claro.

—Sim, de passada...

—E bem. Acredita que esses gravados tão complexos e de tão alto nível científico podem estar feitos por um camponês como Uchuya?

—Eu penso que tudo é imaginação. Como pode você desprezar a investigação de centenas de especialistas do mundo inteiro?

—O que ocorreria se algum dia se demonstrasse definitivamente que essas pedras são autênticas?, que foram gravadas e lavradas por uma civilização muito remota?

—Mas isso é impossível. O homem mais primitivo surgiu na América do Sul faz 23.000 ou 25.000 anos...

—Está bem. Concedamos então que essa civilização que gravou as pedras só tinha 25.000 anos. O que suporia para vocês, os arqueólogos?

—Unicamente se conseguiria demonstrar que há um estilo relacionado com qualquer época da cerâmica, com apóie em Nasça.

—Nada mais?

—Nada mais. A investigação faz trocar, mas terá que ter evidências. Provas concretas, não conjetura.

—Chama você «conjetura» a 11.000 pedras gravadas?

—Já lhe disse que essas foram feitas pela Uchuya e Inna.

Estive tentado de cortar ali nossa entrevista. Mas quis chegar até o final.

—Sabe você que há análise de oxidação e petrológicos dessas pedras? Análise realizadas por Universidades e organismos competentes...

O arqueólogo me olhou com ironia e se apressou a responder:

—Eu gostaria de vê-los... Se alguém me demonstrar que essas pedras são autenticam, estou disposto a aceitá-lo. Mas, tal e como vejo as coisas, nego-me rotundamente.

—Diz você que viu as pedras do Javier Cabrera. Que impressão lhe produziu quando descobriu aquela enorme massa de rochas gravadas?

—Que estava ante uma falsificação. E que Cabrera delirava.

—Sabia você que nas pedras aparecem animais pré-históricos junto a seres humanos?

—Sim, e já lhe hei dito que me parecem produto da imaginação dos referidos camponeses do Ocucaje.

—Também a descrição dos ciclos biológicos?

—É obvio.

—Mas, se esses camponeses logo que sabem ler...

O senhor Ravínez fez um gesto de cansaço. Ao Parecer, não lhe agradava aquela conversação.

—Sabia você que as pedras gravadas foram encontradas em terrenos da Era Primária e Secundaria, precisamente?

—Não sei..., eu não sou geólogo.

—Eu gostaria de acreditar que vocês, os arqueólogos estariam dispostos a trocar seus esquemas mentais se chegasse o caso...

—E o estamos. Todos os arqueólogos trocam, por muito conservadores que sejam. Além disso, o repito, a coisa é bem simples: que Pastora nos mostre a jazida.

—Você falou com ele?

—Não, Por Deus. Eu não falo de Arqueologia com alguém que não é arqueólogo...

A verdade é que aquela última frase me tinha dado o segredo, a verdadeira razão pela que os arqueólogos oficiais do Peru não queriam colaborar com o Javier Cabrera na apaixonada investigação das pedras gravadas.

Não me senti com forças para lhe falar com aquele representante da Arqueologia peruana sobre os estudos efetuados pelas Universidades de Bonn ou de Engenharia de Lima. Nem das pedras gravadas encontradas pelo arquiteto senhor Agurto, quatro anos antes que Javier Cabrera se interessasse pelos gliptolitos. Nem das ratificações dos Observatórios Astronômicos de Paris e Alemanha Oriental em relação com as gravuras de uma das pedras da «biblioteca». Nem das manifestações dos próprios camponeses do Ocucaje naquela minha primeira visita ao povoado.

Não merecia a pena.

Por fortuna, não todos os arqueólogos do formoso país dos incas opinavam do mesmo modo que o porta-voz do Instituto Nacional de Cultura.

Durante minha estadia no Peru pude recolher algumas manifestações a favor da autenticidade das pedras, expostas por um grupo de professores e estudantes da Universidade São Luis Gonzaga da mesma cidade da Ica. Algumas destas opiniões foram recolhidas posteriormente pela imprensa de Lima.

Estes professores se somaram à defesa das discutidas pedras gravadas do Ocucaje, assinalando também que cabe a possibilidade de que existam abundantes pedras falsificadas, especialmente a partir dos últimos meses de 1974, data em que o achado transcendeu a todos os níveis do país.

O doutor Nimio Antezana Galegos, professor da referida Universidade iqueña, acrescentou, inclusive, que não só no Ocucaje, mas também em outras regiões peruanas, tinha tido conhecimento das pedras gravadas.

Tanto em Apalpa como na Llauta —expressou— tive a oportunidade das ver. Inclusive conservo algumas delas. E é mais, vários amigos meus também as adquiriram. Em nenhum caso há relação nem com o doutor Cabrera nem com as encontradas no Ocucaje».

Mas em suas declarações, o chamado professor Antezana Galegos ia mais à frente. E senti uma profunda alegria ao comprovar que suas apreciações coincidiam basicamente com as minhas.

Ao referir-se às pedras trabalhadas pelo Basilio Uchuya, Antezana Galegos dizia:

«Essas pedras que grava o camponês do Ocucaje nada têm que fazer frente às que são consideradas autênticas. Os desenhos das poucas pedras que possui Uchuya são simples e torpes, frente aos complexos símbolos e ideogramas das outras. Até um menino se daria conta da tremenda diferença».

Naquelas declarações, o professor da Ica concluía:

«Não há razão para silenciar e pôr travas a um trabalho de investigação em favor da cultura peruana».

Por sua parte, outros professores peruanos —canoa dá Velázquez Carrión e Edda Floresça da Cruz— afirmavam também publicamente, através das páginas do periódico limenho A Imprensa:

Ao estudar com atenção os gliptolitos do doutor Cabrera Darquea se encontra muita similitude com os rastros do chamado Cosmódromo de Nasça, assim como figuras e símbolos que jamais conheceram nem os incas nem as demais culturas das que se tem informação real.

»Ao observar-se estes vestígios, que mostram homens e animais antediluvianos em diversas atitudes, distingue-se que alguns desses indivíduos possuíam características antropológicas muito diferentes às do homem de hoje. Assim, por exemplo, tinham uma grande cabeça e mãos com cinco dedos, todos do mesmo tamanho, tão perfeitamente gravados que resulta impossível imitar na atualidade.»

depois daquela um tanto amarga e desencorajadora entrevista com um representante da Arqueologia oficial do Peru, preparei uma nova visita ao povoado do deserto do Ocucaje. Nesta minha segunda viagem ao Peru tinha deixado intencionalmente para o final a investigação entre os camponeses.

Em uma de minhas primeiras visitas ao Ocucaje —em setembro de 1974—, alguns dos indígenas nos tinham confessado que as pedras de grande volume e peso custava muito trabalho as tirar». Por isso, precisamente, só foram a por elas quando eram encarregadas previamente. E este era o caso dos múltiplos moles que tinha ido Javier Cabrera com o passo desses nove anos.

Agora, meses depois daquele primeiro contato com estes singelos camponeses, tudo ia ser distinto.

Ao chegar a Lima impressionou o auge que tinha adquirido o tema da «biblioteca» lítica nos periódicos e revistas peruanos. Meses antes, em minha primeira visita a Ica, ninguém falava do assunto. Nem um só jornal se precaveu da transcendência do achado. Tudo era calma.

Muito ao contrário, nesta segunda ocasião, e mercê às notícias que procediam da Europa respeito ao sensacional descobrimento, a imprensa e médios informativos peruanos tomaram cartas no assunto, dando lugar a uma curiosa e espetacular polêmica.

Enquanto alguns rotativos e revistas atacavam sem piedade não só as pedras gravadas, mas também a própria pessoa do doutor Cabrera, outros defendiam a ambos com o mesmo paixão.

Os primeiros, por exemplo, apoiavam seus ataques nas declarações feitas pelo tal Basilio Uchuya.

«Eu tenho feito as 11.000 pedras do doutor Javier Cabrera», afirmava o camponês em ditos periódicos.

«Minha técnica —prosseguia, com todo luxo tipográfico— se apóia em gravar as pedras depois das haver esquentado com esterco de burro ou de cavalo.»

Aquilo, francamente, era digno de análise. E me prometi isso felizes quando voltasse a ver meu amigo Uchuya.

Dias antes de viajar até o Ocucaje me puseram em antecedentes de um fato que considero importante, na hora de compreender por que o camponês se emprestou a fazer aquelas declarações.

—Possivelmente ante a aparência que foram tomando os acontecimentos —foi visitado e interrogado pela P.I.P. (Polícia de Investigação Peruana)—. E é de supor que o humilde aldeão —assustado pelo alcance de um assunto que até esse momento só lhe tinha proporcionado módicas mas fáceis e repousadas lucros— decidiu cobrir suas costas e as de seus filhos com aquelas afirmações. Como já comentei em outra oportunidade, reconhecer que as pedras eram extraídas de alguma jazida ou depósito, assim como das tumbas, teria significado o cárcere para ele e a ruína para sua família.

Eram, portanto, absolutamente desculpável as declarações do «cholo» do Ocucaje.

Mas possivelmente o mais saboroso daquelas explosivas manifestações contra a autenticidade da «biblioteca» lítica era a «técnica» empregada pela Uchuya.

Segundo ele, todas as pedras que possuía Javier Cabrera tinham sido gravadas com suas próprias mãos. Não vou examinar este ponto. Nem sequer um povo completo, com centenas de «uchuyas» providos de modernas furadeiras e ferramentas, poderia gravar a metade daquelas 50.000 pedras que hoje circulam pelo mundo.

O que realmente não tinha desperdício era sua afirmação sobre o aquecimento das pedras a base de esterco de cavalarias...

Para começar, o que Uchuya logicamente ignorava é que uma pedra submetida ao fogo termina por rachar-se.

Além disso, calculam o tremendo número de toneladas de esterco necessário para esquentar 50.000 pedras?

Não imagino ao bom do Basilio Uchuya compilando 10.000, 20.000 ou 30.000 toneladas de excrementos de burro e cavalo, a fim de proporcionar a suas gravuras um «toque de qualidade». Todo, claro, para depois vender as pedras a cem pesetas... por outra parte, onde estavam os fornos necessários para tamanha operação?

Em todas minhas visitas ao povoado —e por mais que esquadrinhei entre as choças de tijolo cru e canos— jamais descobri o menor vestígio.

Aquelas famílias —sumidas em um lamentável analfabetismo— não estavam em condições de compreender sequer os «tesouros» científicos que albergavam aquelas pedras que extraíam do deserto. Mas eu mesmo terminava por me reprovar esta absurda insistência, tratando de demonstrar que os camponeses do Ocucaje não eram os autores das pedras gravadas. Nunca poderiam sê-lo.

Daí que minha última visita ao povoado fora mais breve que nenhuma outra. Basilio Uchuya nos recebeu com muito mais receio e desconfiança que nunca. Lhe notava aborrecimento.

Quando perguntamos se podia nos mostrar alguma pedra gravada, desculpou-se dizendo que apenas se ficavam...

Tivemos que ir a outras choças, a fim de localizar algumas destas pedras. Todas elas eram de pequeno tamanho. A maior apenas se transbordaria os 500 gramas.

Todas menos uma, claro. Todas menos a que, desde fazia meses, empenhava-se em gravar a senhora Irma, outra das camponesas do Ocucaje. Em metade do curral, a aldeã nos mostrou a enorme pedra onde —como Deus lhe dava a entender— ia gravando algumas estrelas e uma figura que tratava de parecer-se com as dos famosos «pássaros mecânicos» que eu tinha visto na coleção do Javier Cabrera. Ao examinar a pedra os ali reunidos nos olhamos em silêncio. Era evidente a diferença de traçado, de estilo e, inclusive, da mesma rocha utilizada para a gravação.

Irma, ao igual a Uchuya e o resto das famílias que habita Ocucaje, levava muitos anos —possivelmente desde 1962— vendo as pedras que saíam do fundo do deserto. Isto podia explicar perfeitamente que os motivos escolhidos por ela para «gravar» a pedra depositada sobre a areia de seu curral fossem parecidos —ou tratassem de parecer-se, para falar corretamente— com os das autênticas «ideografias» da coleção de Javier Cabrera.

Em realidade —e conforme me confessou minutos depois Tito Aisa—, o verdadeiro objetivo da velha Irma não era precisamente vender a pedra, a não ser «proteger-se» daqueles que realmente podiam colocá-la em apuros. Tito se referia, é obvio, aos policiais ou arqueólogos oficiais. Aquela pedra ao meio gravar era a melhor prova de que ela «trabalhava» os cantos rodados...

Quando entramos na casa do camponês chamado Aparcana tive a oportunidade de assistir a um fato que, por sua significação, resisto agora a passá-lo por alto.

Semanas antes daquela visita, um de meus acompanhantes tinha pedido à esposa de dito camponês que —posto que eles se reconheciam «autores» de ditas gravuras— lhe proporcionasse uma pedra em que aparecesse seu carro, com o número da matrícula. Se assim o faziam, meu amigo saberia pagar esplendidamente dita pedra.

E hei aqui que na referida visita, meu companheiro recordou o fato a Aparcana. Ao pouco, a mulher de este aparecia à entrada da choça com um pequeno canto rodado no que —efetivamente— tinha sido gravada a silhueta de um carro.

Aquilo foi definitivo. A gravura do veículo —com traços imprecisos e ásperos— tinha sido realizado pela única cara que ficava sem gravar na pedra. Ao reverso do «carro» de meu amigo podia ver-se um animal pré-histórico que sim correspondia a uma gravação autêntica. A diferença de traços, como digo, era brutal.

Mas a sorte estava aquele dia de nosso lado, porque meu amigo, ao comprovar a fraude, negou-se a aceitar a pedra. Imediatamente, a esposa do camponês exclamou:

—E o que faço eu agora com esta pedra? Já se malogrou!

por que dizia a mulher que se malogrou?

É obvio, aquela pedra, com a gravação do carro de meu amigo, foi adquirida —e com todas as honras— por nossa pequena expedição.

Era a primeira pedra onde se alternavam uma gravura original e autêntica com outra descaradamente falsa...

Antes de nos retirar do povoado não pude por menos de voltar para a casa do Basilio Uchuya. E com toda a seriedade de que era capaz lhe perguntei:

— Olhe, Basilio, poderia lhe fazer um pedido?

O «cholo» me olhou com desconfiança e perguntou entre dentes do que se tratava.

—Desejaria que me gravasse em uma pedra uma «vasectomia». Não tem que preocupar-se com o preço. Abonarei-lhe o que peça...

Observei a expressão de dúvida e confusão do humilde camponês.

—Bom —me respondeu—, agora estou ocupado, mas possivelmente...

Não quis me enfurecer mais.

Ao voltar para a Ica e comentar com o Javier Cabrera o acontecido no Ocucaje, o médico comentou:

—Há uma prova muito mais elementar e segura para saber, em definitiva, se nos encontrarmos ante uma pedra autêntica ou ante uma falsificação.

Javier Cabrera tirou de uma das estantes uma pedra de regular tamanho e nos pediu que lhe acompanhássemos à porta da rua. Ali lançou a rocha ao ar e deixou que se estrelasse com estrépito contra o pavimento. A pedra não sofreu o menor dano.

Tomou novamente o canto rodado entre suas mãos e afirmou:

—Esta, amigos, é uma pedra falsa.

Todos ficamos perplexos. por que?

—Se tivesse sido uma das pedras pré-históricas se teria despedaçado. A raiz do último terremoto, algumas das pedras que tinha situadas nas partes mais altas das estantes caíram ao chão, fraturando-se.

Mas, por que não se rompem os cantos rodados que são falsos? Muito fácil de compreender. Um canto rodado se forma, precisamente, pelo choque e roçar com outras pedras e rochas. E vai fragmentando-se, até que fica a parte mais dura da pedra. Por isso ao lançá-lo ao ar não se quebrado. Com as pedras gravadas autênticas não acontece assim porque sua natureza petrológica é muito diferente a destes cantos rodados que se empregam para a falsificação de gravuras.

—Está claro, portanto —comentei— que existem pedras «falsas»...

—Ah, é obvio, amigo!

Javier Cabrera falava com toda a sinceridade de que era capaz.

—...É agora, desde que o descobrimento está tomando auge, quando indubitavelmente começaram a «fabricar» algumas dessas gravações. Mas posso te assegurar que não passarão de vinte ou quarenta. E todas elas estão em mãos de pessoas conhecidas. Em todas, além disso, adivinha-se imediatamente que a gravura é falsa. Mas, notem-se bem —apontou o doutor— eu não culpo ao pobre Uchuya do que está ocorrendo. Ele faz o que, no fundo, faríamos todos se nos víssemos em suas circunstâncias.

—Ele afirma que todas as pedras que você tem as gravou em sua choça do Ocucaje...

—E o que outra coisa pode dizer? Que as foi tirando de um lugar do deserto para me vender isso. Não é lógico nem humano. E eu lhe entendo.

Mas isso não é o pior. Muito pior é ver como pessoas como Santiago Agurto —que também comprou pedras a Uchuya— segue calado.

Eu poderia te dizer, inclusive, de algumas pessoas da Ica que, carregadas de má fé, chegaram a encarregar, inclusive, aos camponeses que falsificassem várias destas pedras e que logo me trouxessem isso, a fim de me confundir e me pilhar na armadilha. Mas posso te assegurar que já resulta difícil me enganar. São muitos anos vendo pedras e estudando suas ideografias...

Este, possivelmente, era um dos problemas mais desagradáveis com que devia enfrentar o investigador icano. Todos quantos lhe conheciam na Ica, todos quantos lhe tinham visto crescer, todos quantos reconheciam nele um cidadão mais se perguntavam agora como podia ser que aquele médico pudesse sair nos periódicos e ter realizado semelhante descobrimento.

E muitos —possivelmente os que nunca lhe apreciaram de verdade— terminavam por burlar-se de suas investigações e de sua própria pessoa.

Mas isto, insisto, não fazia trinca no ânimo do doutor. Justamente o contrário. Seu espírito saía robustecido da prova.

—Aceito e aceitarei sempre a crítica responsável —dizia ele quando tratávamos esta questão—, porque até agora me tem feito mas bem que mau. Ajuda-me a serenar a alma. E os que me atacam só terão minha resposta quando der por concluídas minhas investigações. Às vezes me pergunto por que o ser humano tem esta tendência a ridicularizar ao homem de ciência...

»Que vontade com isso?»

Aquela ia ser minha última entrevista com o Javier Cabrera. Em minha mente, entretanto, ficavam centenas de perguntas, centenas de dúvidas.

Mas todas foram ver-se eclipsadas ante uma das revelações do médico peruano.

Algo que multiplicava o interesse do descobrimento. Algo que dava à «biblioteca» uma nova e fascinante dimensão.

 

                          MAIS DE UM MILHÃO DE PEDRAS?

De todas as objeções que me tinha enumerado o arqueólogo senhor Ravínez só uma —em honra à verdade— tinha enraizado em minha mente.

Por que Cabrera não assinala a jazida de onde afirma que extraem as pedras gravadas?»

Aquele interrogante —para mim quase uma provocação— chegou a converter-se, em meus últimos dias no Peru, em uma obsessão. De onde se tiravam realmente tantos milhares e milhares de rochas gravadas? Havia algum depósito secreto no deserto do Ocucaje, ao que tinha chegado Javier Cabrera em suas investigações ao longo destes anos?

E o que era mais intrigante, por que não terminar com todas aquelas críticas, especulações e polêmicas revelando de uma vez por todas a jazida onde se ocultava a grande «biblioteca»?

Até agora se sabia que muitas das pedras gravadas procediam das tumbas pré-hispânicas, do fundo do deserto do Ocucaje e de suas suaves colinas vulcânicas.

Sabíamos que os camponeses as tinham tirado de sortes zonas durante muitos anos.

Mas, apesar de tudo, resultava pouco menos que impossível conceber que mais de 50.000 pedras —muitas delas com um peso superior aos 200 quilogramas— tivessem podido aparecer sob a areia da Fazenda do Ocucaje. Não era lógico.

E meus pensamentos, como os de quase todas as pessoas interessadas em desvelar o mistério, foram e vinham atrás de todas as hipótese e possibilidades, pendentes da que oferecesse mais reflexos de realidade.

A ponto estivemos meu companheiro Fernando Múgica e eu de iniciar uma expedição de busca no deserto do Ocucaje, em companhia de outros dois peruanos, entusiasmados também com a idéia de localizar aquele sancta sanctórum do mais remoto testemunho da presença do ser humano sobre a Terra.

Só a falta de tempo —devíamos retornar a Espanha em breves dias— nos obrigou a desistir de tão sugestivo projeto. Tudo tinha sido pensado meticulosamente.

Nossa permanência entre as dunas e colinas amarelas do Ocucaje não poderia ser inferior a 20 ou 30 dias. Providos de uma equipe adequada, nossa missão básica consistiria no seguimento, mediante prismáticos de comprimento alcance, das diversas famílias do povoado, das que tínhamos suspeitas fundadas seguiam extraindo pedras gravadas de algum escondido lugar do deserto.

Até agora, como terá deduzido o leitor, citando os indígenas da Fazenda do Ocucaje se negaram em redondo a facilitar qualquer tipo de informação sobre o referido depósito. Em um princípio todos pensamos que a razão podia estar no desejo dos índios de seguir «explorando» aquela jazida em forma privada. Se o tivessem revelado, seus lucros teriam desaparecido irremediavelmente. Tampouco havia que esquecer que a localização de dito depósito por arqueólogos profissionais ou membros do Governo teria levado possivelmente ao cárcere a bom número destes camponeses.

Suas constantes negativas, portanto, a proporcionar informação sobre a zona exata onde se encontravam as pedras gravadas era até certo ponto desculpável.

Mas havia algo mais. Havia razões mais profundas e escuras que eu não tinha visto naqueles meus primeiros contatos com o Ocucaje e com os que traficavam com elas. ia ser Javier Cabrera quem —durante nosso último bate-papo na Ica, em uma brilhante manhã de janeiro— nos abrisse os olhos. Tinha aquela dúvida cravada no mais fundo, e assim que tive a menor oportunidade a deixei cair ante Cabrera:

—Os arqueólogos —lhe disse— se perguntam por que não assinala o lugar ou jazida de onde se tiram tantos milhares de pedras gravadas. E têm razão, penso. Isso esclareceria situação e faria progredir a investigação sensivelmente...

Sempre tive a impressão de que Javier Cabrera esperava aquela pergunta final. E não saberia precisar até que ponto nos relatou tudo o que realmente conhecia nesse momento.

—Sempre que solicitei permissão para realizar escavações —respondeu Cabrera Darquea muito sério— me negou. Já sei que não sou arqueólogo. Mas, é que acaso não se estão concedendo essas licenças a pessoas que tampouco o são?

Eu tenho feito um estudo. Disponho de um plano e tenho, logicamente, informação que me poria na pista desse depósito em menos de um mês.

Aquilo me deixou atônito. Por um lado, Javier Cabrera reconhecia a existência dessa jazida ou depósito. Mas, por outra parte, parecia querer nos dizer que ele não tinha entrado em dito lugar...

—Mas, olha! —prosseguiu—, eu não farei público jamais essa dita jazida arqueológica enquanto não tenha a segurança de que o Exército o controla e protege.

—O Exército? —perguntei com estranheza e por que precisamente o Exercito?

Javier Cabrera me olhou em silêncio e fez um esforço para não seguir falando. Foi precisamente naquele instante quando eu tive sabor de ciência certa que o doutor tinha estado no grande depósito, que tinha visto o que realmente continha e que —por isso— exigia a salvaguarda do Exército.

Mas outros detalhes surtos ao longo daquele bate-papo foram ratificar também estas minhas deduções.

—Ai, querido amigo! —exclamou Cabrera—. Você é muito jovem. Parece não te dar conta da ambição humana...

Se eu exigir o amparo prévio das Forças Armadas é porque ali, nesse lugar, existe um tesouro que é patrimônio não só do Peru, mas também de toda a Humanidade. E não pode ser roubado. Nem ninguém, por muito arqueólogo que seja, pode protegê-lo por si mesmo. Débito e tem que ser o Exército quem passa os laços a zona e converta aquilo em um recinto proibido para traficantes, huaqueros ou contrabandistas.

E eu sei que o presidente da República, quando souber verdadeiramente o que é o que encerra o chão da Ica, nos proporcionará todo seu apoio.

Aquelas palavras do Javier Cabrera começavam a ser inteligíveis para mim. Dias antes, e em várias conversações sustentadas com professores universitários e peritos em Arqueologia, tinha tido a oportunidade de contemplar a singular panorâmica arqueológica de dito país.

Peru encerra em cada rincão de suas montanhas, de sua costa e, inclusive, de suas selvas, inumeráveis restos arqueológicos de profundo interesse. Basta escavar para tropeçar com tumbas pré-incaicas, com culturas desaparecidas, com autênticos tesouros...

E isto sabem os «huaqueros». Sabem e o exploram há muitos anos.

Os resultados são fáceis de adivinhar: centenas de milhares de objetos de grande valor arqueológico e histórico saem clandestinamente do país cada ano, rumo a negociados europeus ou americanos. Ali são bem remunerados. Esplendidamente remunerados...

Mas essa «indústria» adquiriu nos últimos anos tal auge que a Máfia —autêntica coordenadora nestes momentos do lucrativo «negócio»— foi mais longe que nunca. E chegou a montar aeroportos clandestinos em diversas partes do país, a fim de tirar durante a noite milhares e milhares de «huacos», peças de ouro e outros incontáveis tesouros arqueológicos de incalculável valor.

E os «huaqueros» —a milhares por todo o Peru— terminaram trabalhando para dita Máfia.

Por isso, agora, as palavras do Javier Cabrera não resultavam tão estranhas em meus ouvidos. E começava a descobrir essas outras escuras e nada desprezíveis raciocine que empurravam também aos «huaqueros» e camponeses do Ocucaje a seguir em silêncio.

Mas é que a Máfia sabia já a existência das pedras gravadas da Ica? Indubitavelmente que sim. Mas, ao longo de nossas conversações, chegamos a uma conclusão realmente interessante.

Era quase seguro que a Máfia «huaquera» tinha conhecimento, não só da existência das pedras gravadas do Ocucaje, mas também —e isto era o mais importante— do lugar onde se ocultava o grande legado e de «algo» mais que se encontrava junto com as pedras gravadas.

O desejo, portanto, de Pastora de solicitar o amparo do Exército não era vão...

Entretanto, quantas vezes interrogamos ao Javier Cabrera sobre este particular, tantas evasivas obtivemos por parte do investigador.

Não cabia dúvida de que Javier se deu conta também do profundamente perigoso que se estava voltando aquele assunto.

—...É que posso ir ao deserto com o único amparo de meus filhos? —tinha comentado o doutor em um momento de nossa entrevista.

—O que lhe pareceria —comentou um de nossos amigos— se nos dedicamos a procurar essa jazida?

Javier Cabrera nos olhou com manifesta preocupação. E se limitou a responder: —Tem filhos?

—Sim —acrescentou nosso acompanhante.

—Pois então, vê armado...

Aquelas palavras de Cabrera —pronunciadas com toda a sinceridade e espontaneidade de que era capaz— foram definitivas. A Máfia estava detrás.

Mas, se à Máfia não interessavam as pedras gravadas —e prova disso era que milhares destes «gliptolitos» se encontravam dispersados por todo o país e o estrangeiro, sendo vendidos a preços irrisórios—, por que sua presença ali?

—É que a jazida oculta algo mais? interrogamos a Cabrera.

Javier voltou a guardar silêncio. Um silêncio tenso. Carregado de dramatismo.

—É que há também ouro, tal e como suspeitamos todos?

Cabrera se limitou a esboçar um significativo e eloqüente sorriso.

—Sabemos que você estiveste no depósito —insistimos—. E imaginamos que esse lugar é precisamente um túnel. Um túnel que foi construído também por essa Humanidade gliptolítica e que já foi famoso em mapas muito antigos pelos conquistadores espanhóis. Mas, o que não entendemos é por que não se levaram já o ouro...

Aquela pequena estratagema deu resultado. E Javier Cabrera comentou:

—Muito simples. Parte desse túnel onde se encontram as pedras sofreu os efeitos de um movimento sísmico e ficou inclinado. A maior parte das pedras que constituem a «biblioteca» gliptolítica rodaram e ocultaram grande parte do que acompanhava às pedras gravadas...

Nossas suspeitas, portanto, não eram infundadas.

—Quantas pedras gravadas podem ficar ali dentro?

—Mais de um milhão.

Fiquei sem fôlego.

—Quer dizer —insinuei—, quase toda a «biblioteca»!

—Em efeito. Virtualmente, o «corpo» geral da «mensagem». Imagina quantos secretos encerrará esse milhão comprido de pedras gravadas? até agora, quão camponeses um dia descobriram a forma de entrar no túnel— foram tirando as pedras menores, posto que são as mais fáceis de transportar. Mas as mais volumosas, e portanto, mais valiosas e importantes, seguem ali dentro.

Naquele instante recordei uma frase do Javier Cabrera, pronunciada enquanto contemplávamos a grande pedra de 500 quilogramas em que foi gravada uma matança de homens por parte dos dinossauros.

«Para tirar e transportar esta pedra foram necessários dez homens...»

O lugar onde se encontrava aquela gigantesca pedra tinha que ser necessariamente espaçoso. Do contrário, como podiam ter chegado até ela os dez homens mencionados pelo investigador?

Não tinha a menor duvida: Javier Cabrera Darquea —embora se empenhava em demonstrar o contrário— conhecia o lugar onde se encontrava o gigantesco depósito de pedras gravadas. E era quase seguro também que o tinha visitado em mais de uma ocasião.

Entretanto, ele seguiu negando-o.

—Mas, nem sequer a curiosidade pôde te empurrar a entrar na jazida?

—Curiosidade não me falta. Quem pode desejar mais que eu contemplar e investigar todas essas pedras que ficam por tirar?

Mas se deve saber sempre até onde se pode e até onde não se pode chegar. Muitas vezes, um ato imediato anula toda uma vida. Agora me encontro em uma etapa prévia. Tenho mais que suficiente com a investigação desses milhares de pedras.

Apesar daquelas palavras, minhas suspeitas seguiam crescendo. Javier Cabrera conhecia a localização exata do depósito ou túnel onde se encontrava o grande «coração» da «biblioteca» pré-histórica. Razões de segurança, possivelmente, impediam-lhe de momento fazê-lo público.

Mas, o que tinha que certo naquela história do antiquíssimo túnel onde, ao parecer, encontrava-se oculto mais de um milhão de pedras gravadas?

Eu tinha tido notícias já da existência de dito grande túnel. Tinham-me chegado por distintos condutos. Todas minhas informações coincidiam em algo: o túnel era conhecido em tempos dos incas, embora resultava difícil acreditar que tivesse sido construído por dito povo.

Investigações relativamente recentes demonstraram que sob o chão do Equador, Peru e possivelmente parte do Chile existe toda uma rede de túneis e galerias.

Em 1971, a revista Bild der Wissenchaft informava sobre uma expedição que tinha querido explorar as covas descritas já pelo Francisco Pizarro e que se encontravam sobre a montanha inca do Huascarán, a mais de 6.700 metros sobre o nível do mar.

A 62 metros clandestinamente, os cientistas que formavam aquela expedição se encontraram com algo fora de série. Ao final da cova tropeçaram subitamente com umas comportas formadas por gigantescas lajes de pedra de oito metros de altura por cinco de largura e dois e meio metros de espessura. Aquelas formidáveis comportas — apesar do extraordinário peso— foram movidas por quatro homens. Como? As enormes lajes descansavam sobre um sistema de rolamentos com bolas de pedra!

Citada a revista informava assim sobre o desconcertante descobrimento: detrás das seis portas partem grandes túneis que fariam empalidecer de inveja a nossos modernos engenheiros civis. Estes túneis conduzem, com um declive de 14 por cento em alguns trechos, para a costa, em trajetória oblíqua. O estou acostumado a está talher com ladrilhos semeados e acanaladuras transversais que impedem a derrapagem. Se hoje em dia for uma aventura internar-se por esta via de transporte de 90 a 105 quilômetros para chegar finalmente a um nível de 25 metros sob o nível do mar, quais não seriam as dificuldades então, no século XIV ou XV, para transportar mercadorias a fim das pôr fora do alcance do Pizarro e os viscondes espanhóis!

Ao final das vias subterrâneas do Guanape, assim chamadas pela ilha que há frente à costa peruana —já que se supõe que em outra época os túneis conduziam a dita ilha por debaixo do mar—, aparece o oceano. depois de muitas ascensões e descidas na mais completa escuridão, começa a escutar um rumor e o fluxo com um singular timbre de vazio. À luz dos refletores, termina a última pendente ao bordo de uma corrente escura que resulta ser água do mar. Aqui começa a atual costa. Era antes outra coisa?

Mas algo ainda muito mais surpreendente foi descoberto em terras do Equador pelo Juan Moricz em 1965.

Conforme consta em uma escritura legalizada, o senhor Moricz tinha localizado na região oriental do país —na província da Morona-Santiago— a entrada a todo um labirinto de túneis, escavados a muitos metros de profundidade.

Estes túneis foram investigados e fotografados posteriormente, tirando o chapéu que estão formados por grandes blocos de pedra, perfeitamente cortados em esquadro e que em muitos lugares apresentam um claro aspecto «vidrado».

Conforme parece, estes túneis se prolongam quilômetros e quilômetros sob a superfície equatoriana, enlaçando, inclusive, com outra ciclópea rede de galerias que percorre o Peru. Túneis similares se descoberto na atualidade sob o Cuzco e Machu Picchu.

Pois bem, um antiquíssimo plano que se remonta à mencionada época dos conquistadores espanhóis e que, conforme parece, foi confeccionado com informações proporcionadas pelos incas, estabelece uma clara conexão entre estes túneis do Equador e Peru. e, casualmente, essa formidável obra de infra-estrutura passa pela região da Ica!

Não era, pois, descabelada a possibilidade de que o fabuloso «tesouro» deixado por aquela Humanidade «gliptolítica» se encontrasse nesse túnel que atravessava a região da Ica e do Ocucaje.

Era muito possível também que parte do túnel —fraturado por algum movimento sísmico— tivesse ficado isolado do resto da rede, oscilando, inclusive, e dando lugar a que a maior parte da «biblioteca» pré-histórica rodasse para o fundo, ocultando o que pudesse acompanhar aos gliptolitos.

E todo isso sabia Javier Cabrera. Mas ele aguardava o momento oportuno para declarar publicamente o lugar onde tinha sido localizada sorte «biblioteca» lítica.

Quando chegará esse transcendental instante?

O investigador respondeu assim a esta última e importante questão:

—Só no momento em que me conste que o Exército vai proteger e proteger o que eu considero o mais formidável descobrimento de todos os tempos. E esse instante está muito próximo.

 

Muitos interrogantes —estou seguro— terão ficado no ar. O achado em si é de tal calibre que teriam sido necessários tantos anos como tem dedicados o próprio professor Javier Cabrera Darquea para nos situar tão somente na soleira da «biblioteca» lítica.

Como deixei perseverança ao iniciar esta sucessão de entrevistas e vivencias pessoais em torno das pedras gravadas da Ica, minha intenção básica era dar a conhecer o achado. Divulgá-lo ao máximo.

Muito fica por fazer. Em realidade, quase tudo. Se o grande depósito onde, ao parecer, se oculta o «coração» desta «mensagem» se faz público breve prazo, os cientistas do mundo terão ante si o mais te apaixonem desafio arrojado jamais contra a Ciência moderna.

Seja como for, a existência nestes momentos dessas 11.000 pedras gravadas que possui o doutor Cabrera, mais as outras 40.000 que, aproximadamente, encontram-se dispersadas pelo mundo, são já um fascinante motivo de investigação e estudo.  

Lentamente, com o acanhamento e desconfiança que sempre suscitam estes assuntos, cientistas de todos os países se vão aproximando da cidade de Ica, e conversam com o homem que soube lutar contra todos os ventos e todas as marés do cepticismo, da inveja ou do empecilho cultural.

Algum dia lhe será reconhecido seu grande mérito ao Javier Cabrera Darquea. Possivelmente ocorra como com o grande geólogo alemão Wegener que, em 1921, teve a «ousadia» de anunciar em seus livros que os «continentes se moviam». Quando os cientistas do mundo inteiro souberam da tese lançada pelo Wegener se rasgaram igualmente as vestimentas e o condenaram ao ridículo e ao esquecimento. Cinqüenta anos depois —no ano Geofísico Internacional—, os geólogos deste velho planeta levantaram sua voz com humildade e tiveram que reconhecer que o sábio germano tinha razão, que nossos continentes «derivam»...

Mas não desejo concluir esta livre-reportagem sem fazer antes um breve balanço de tudo o que acabo de expor e que considero digno de menção na hora de valorizar o achado.

Hei aqui ditos pontos:

Primeiro. - O doutor Javier Cabrera Darquea dispõe em seu centro de estudo da praça de Armas, na cidade peruana de Ica, de mais de 11.000 pedras gravadas, reunidas ao longo de uns nove anos.

além desta impressionante coleção de «gliptolitos», calcula que há outras 40.000 pedras gravadas, dispersadas pelo Peru e numerosos países.

Segundo. - Estas pedras se encontram «seriadas», segundo os temas desenvolvidos pelos autores da «biblioteca» lítica. Dessas 11.000 pedras citadas, o doutor Cabrera tem investigadas a fundo 500.

Terceiro. – A maior parte das «séries» de pedras analisadas até o momento se encontram vinculadas entre si.

Quarto. - Nenhuma destas pedras tem um caráter «profético», tal e como afirmaram determinadas pessoas que não conhecem a fundo a «mensagem». Todos os conhecimentos e feitos refletidos nos milhares de rochas lavradas formam parte de algo que ocorreu em outra era.

Quinto. - Através das «ideografias» que aparecem em muitos destes «gliptolitos», o homem que deixou este legado conheceu e conviveu com animais pré-históricos, desaparecidos —segundo a Paleontologia— faz milhões de anos.

Sexto. - As formas físicas dos seres que formavam esta Humanidade desconhecida e remota eram sensivelmente distintas às do homem de hoje.

Sétimo. - Dita «mensagem» demonstra uma série de conhecimentos científicos e tecnológicos não alcançados, inclusive, por nossa própria civilização.

Oitavo. - As rochas onde se encontram gravadas as «ideografias» correspondem a fluxos vulcânicos da Era Mesozóica (faz mais de 65 milhões de anos).

Nono. - Os terrenos onde apareceram sortes pedras foram reconhecidos como das Foi Primária ou Paleozóica e Secundária ou Mesozóica.

Décimo. - A Universidade de Bonn —depois de uma análise de três destas pedras— manifestou que, «embora ninguém pode determinar sua antiguidade, as incisões NÃO SÃO RECENTES».

Décimo primeiro. - A Universidade de Engenharia de Lima estudou também as pedras gravadas, expondo que —tanto a pedra como as incisões— aparecem recobertas por uma pátina que denota uma grande antiguidade.

Décimo segundo. - Quatro anos antes que Cabrera iniciasse suas investigações, outras pessoas tinham conhecimento destas pedras e chegaram, inclusive, às encontrar em tumbas pré-hispânicas.

Décimo terceiro. - Ao parecer, existe um depósito ou jazida onde se conservam mais de um milhão de pedras gravadas, similares às já conhecidas, e que constituem o «coração» desta formidável «biblioteca».

Décimo quarto. - Apesar das múltiplas chamadas do doutor peruano, nenhuma comissão oficial de cientistas foi até a cidade de Ica, a fim de conhecer as pedras gravadas e iniciar um estudo em profundidade.

Só o tempo, penso eu, poderá dar ao descobrimento do Javier Cabrera sua verdadeira dimensão.

 

                                                                                J. J. Benitez  

 

                      

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