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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA BUSCA DESESPERADA / Lynne Graham
UMA BUSCA DESESPERADA / Lynne Graham

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

UMA BUSCA DESESPERADA

 

Maxie, Darcy e Polly tinham que encontrar um marido.

A falecida Nancy Leeward  tinha legado a  cada uma de  suas  três  afilhadas  uma  parte  de  sua  fortuna, com a  condição  de  que  se casassem em um ano e permanecessem casadas pelo menos seis meses.

Maxie, por culpa do vício de jogo de seu pai, tinha que defrontar a uma dívida que não podia  assumir,  assim a herança de Nancy poderia ser a solução a  suas preces...

O milionário grego Angelos Petronides estava desejando dormir com ela a quase três anos,  portanto  poderiam  chegar  a  um  acordo... Ainda que ele cedo descobrisse que teria que lhe oferecer algo mais do que dinheiro para consegui-la...

 

- E como Leland  me deu carta branca  para levar  todos  seus assuntos, penso arrastar a essa pequena rameira ante os tribunais e  acabar  com  ela  - lhe  explicou  Jennifer Coulter,  vangloriando se ante sua vingança. 

Angelos Petronides ficou olhando à filha de sua falecida madrasta, dissimulando  seu  interesse atrás  de  uma  máscara  de  amável indiferença. Ninguém poderia ter adivinhado que, sem querer, Jennifer lhe tinha proporcionado uma  informação  pela que tivesse estado  disposto a  pagar qualquer  coisa.  Maxie  Kendall, a  modelo conhecida como a Rainha de  Gelo pelos jornalistas, e a única mulher que lhe tinha  dado mais de uma dor de cabeça, estava metida num sério problema

– Leland esbanjou uma fortuna com ela  -  continuou Jennifer ressentida.  - Terias que ter visto as faturas.  É  incrível o que gastou só  em  roupas de  marca! 

- Maxie Kendall é uma mulher ambiciosa.  Suponho que se propôs tirar de Leland o máximo possível - comentou Angelos tentando aplacá-la.

Quase podia  dizer-se  que  ele  era o único dos conhecidos do casal Coulter que  nunca  tinha se deixado  enganar a  respeito das verdadeiras razões da ruptura do casal,  três anos antes. Também não lhe tinham impressionado nunca  as queixas de  Jennifer. Aquela mulher tinha nascido na riqueza, e provavelmente morreria sendo ainda bem mais  rica. Sua  reconhecida avareza  era  motivo  a  mais  de uma anedota entre os membros da alta sociedade londrina.

- Todo esse dinheiro desperdiçado! - se lamentou Jennifer com os dentes apertados. - E agora me inteiro de que essa rameira conseguiu que Leland lhe  fizesse semelhante empréstimo! 

Rameira? Definitivamente, pensou Angelos, sua  irmã não tinha  nenhuma pitada de classe,  e muito menos de discernimento. Que um homem tivesse uma  amante  era  algo perfeitamente  normal,  mas não uma rameira.   No  entanto,   Leland  tinha  rompido  as  regras:  nenhum homem em seu juízo abandonava a  sua  esposa  para largar-se com sua amante.  Nenhum grego,  ao menos,  teria sido tão  inconsciente. Leland Coulter tinha se comportado como um estúpido,  levando a vergonha a  toda sua família. 

- Mas, ao final, conseguiste o que te  propunhas - interveio - teu marido regressou para casa. 

- Sim, efetivamente - replicou secamente  Jennifer, curvando os lábios  numa  cínica  careta.  - Mas só  depois  de  que lhe  desse  um enfarte do que demorará  meses  em recuperar-se,  e não  antes que essa vadia o abandonasse no hospital. Limitou-se a dizer ao médico  que  me avisasse,  e  depois  se  largou tão fresca como uma alface. - Mas o que me importa  agora  é  recuperar o dinheiro seja como for.  Já  dei  ordem  a  meus advogados  para  que lhe  enviem uma carta... 

- Jennifer, a mim me parece que, dadas as circunstâncias, estando Leland doente e tudo isso, tuas prioridades são outras.  Não creio que a teu  marido lhe  ajude ver-te  dar o espetáculo nos tribunais - Angelos viu que de  imediato a  mulher se punha rígida ao considerar a situação desse ponto de vista. - Permite-me que seja eu quem  me  encarregue  deste  assunto. Faço-me  responsável  de  que recuperes o dinheiro do empréstimo.

- O... que dizes é sério? - gaguejou Jennifer atônita. 

- Não somos parentes? -  perguntou  Angelos a sua vez docemente. 

Lenta, muito lentamente,  Jennifer assentiu, como hipnotizada pela cálida mirada do homem que tinha diante de si. 

Sem dúvida,Angelos Petronides, o autêntico cabeça da família, contava com o respeito de todos os membros do clã. Era um homem frio, implacável e enormemente seguro de  si  mesmo.

Ademais,era imensamente rico e poderoso. Conseguia atemorizar as pessoas só com sua presença.  Quando Leland rompeu seu casamento, Angelos  tinha  cortado de  raiz  as  queixas  e prantos de  Jennifer com  uma  simples mirada.  De  alguma forma, tinha-se  inteirado de  que  ela  lhe  tinha  sido  infiel  primeiro,  e,  implacável, assim  se  o comunicou. 

Desde então, Jennifer tinha evitado voltar a encontrar-se com ele. Só tinha conseguido superar o temor que lhe inspirava  para pedir-lhe  conselho  a  respeito  da  melhor  forma  de  gerir  a  rentável cadeia  de  cassinos de propriedade de  Leland. 

- Como  o  conseguirás?   -  perguntou  com  a  boca  seca,  sem compreender muito bem ainda como tinha sido capaz de  pôr-se  em  suas mãos. 

- Meus  métodos  são  coisa  minha  -  replicou Angelos cortante, dando por  concluída aquela conversa. 

A impenetrável  expressão de  seu  atraente rosto fez com que estremecer-se  de  pés a  cabeça. No entanto, sentia-se triunfante: Angelos lhe  tinha oferecido sua ajuda e aquela vadia muito cedo ia passá-lo muito mau. Só isso lhe  importava. 

Quando ficou só, Angelos fez algo completamente infreqüente nele: ordenou a  sua  surpresa  secretária  que  não  lhe  passasse nenhum telefonema  e  se  ajeitou  indolente  no   sua  poltrona  de  couro, contemplando a magnífica  vista da  cidade londrina que se estendia frente a  ele. Já não precisaria  mais de chuveiros  frios, pensou, ao mesmo tempo  em que  esboçava  um sensual sorriso. Não teria mais noites  solitárias. Seu sorriso se fez ainda  mais amplo: a  Rainha de  Gelo ia  ser sua. Depois de uma espera de mais de  três anos, estava a  ponto de  consegui-la. 

Que fosse uma reconhecida aventureira, não diminuía um ápice sua extraordinária beleza. Inclusive  mesmo Angelos,  acostumado a  tratar com as mulheres mais formosas,  tinha ficado sem fala ao vê-la  pela  primeira  vez.  Tinha-lhe  parecido  a Bela Adormecida dos contos de  fadas  inacessível,  intacta...  Seu sorriso se transformou numa amarga careta.  Tudo aquilo não eram mais do que tolices! Durante três anos, aquela mulher tinha sido a amante de  um homem tão velho que  podia ter sido seu avô. Não tinha  mesmo  nenhuma pitada de  inocência  nela. 

No entanto, decidiu que não a pressionaria com o empréstimo. Se portaria como um cavaleiro: lhe ajudaria a  solucionar todos os seus problemas econômicos, desse modo, ganharia primeiro sua gratidão e depois então sua lealdade. Não voltaria a  mostrar-se fria  e, em  agradecimento, ele estava disposto a rodeá-la de todos os luxos, a  dar-lhe  qualquer coisa  que  pudesse  precisar  ou  desejar. Já  não teria sequer que voltar a  trabalhar. 

 

Por sorte para ela,  Maxie não podia ser mais alheia aos planos que estavam forjando  para  seu futuro quando saiu do táxi. Cada um de seus movimentos  estava dotado  de  uma  elegância  especial, inata. Ficou de pé um momento olhando a casa de sua falecida madrinha, uma mansão georgiana que se alçava no meio de um bem cuidado jardim. 

Enquanto se acercava à porta, teve que fazer um grande esforço para conter as lágrimas. Recordou que o mesmo dia em  que fez sua primeira  aparição  pública  com Leland,  sua  madrinha lhe  tinha escrito que já não seria bem recebida naquela casa. No entanto mal quatro  meses  antes,  a  anciã  tinha  ido visitá-la  em Londres para reconciliar-se  com  ela, ainda  que  não lhe  tinha  dito  que  estava mortalmente enferma.  Maxie se inteirou de  sua morte quando já a tinham enterrado. 

Tinha sido convocada  à casa  para  a  leitura  do testamento de Nancy,  o  que dava a  entender que, definitivamente, sua madrinha lhe tinha  perdoado por seu  escandaloso proceder.

Para complicar as coisas, Maxie levava na bolsa uma carta que acabava de receber e comprometia  qualquer possibilidade de felicidade e liberdade futuras. Na mesma lhe recordava a dívida contraída  com  Leland,  e  que  ingenuamente  ela  tinha suposto que estava cancelada  desde o momento  em  que  decidiram  romper sua relação. Afinal de contas, ele tinha levado três anos de sua vida, durante os quais  Maxie tinha empregado cada centavo  que ganhava para  devolver-lhe o empréstimo. 

Talvez não lhe  parecia  suficiente?  Naqueles  momentos não só estava  praticamente  na  bancarrota, se não que suas possibilidades de seguir trabalhando estavam seriamente comprometidas pela má publicidade. Leland era um fardo, mas ela nunca pensou que fora má pessoa, e muito menos do que precisasse do dinheiro. Por que não lhe  dava um pouco mais de  tempo para recuperar-se? 

A governanta  lhe  abriu  a  porta  antes  de que  ela tocasse  à campainha. 

- Senhorita Kendall lhe cumprimentou friamente. A senhorita Johnson e a  senhorita  Fielding  a  esperam  na salinha de  desenho.  O senhor Hartley, o inventariante, virá em seguida. 

- Obrigada...  não  faz falta  que  me acompanhe. Recordo bem o caminho.

Temerosa do recebimento que iam dispensar-lhe as outras duas jovens, especialmente uma delas, deteve-se diante um dos janelões que dava  à roseira  que tinha  sido  o  orgulho e a  alegria de Nancy Leeward. Recordou as deliciosas merendas infantis preparadas para as três  meninas,  Maxie,  Darcy  e  Polly,  quem  se  esforçavam por  mostrar seus melhores modos diante Nancy, quem como nunca tinha tido filhos,  ela mantinha umas  idéias  bastante  antiquadas sobre a forma em  que estas deviam comportar-se. 

No entanto,  Maxie  nunca  tinha  se encaixado  naquele ambiente. Tanto Darcy como Polly  pertenciam  à  famílias  acomodadas,  e sempre que  iam  de  visita a  Gilbourne usavam preciosos vestidos, enquanto Maxie nunca tinha  nada decente que  se  pôr. Assim que, ano  após  ano,  Nancy  a  levava  às  compras;  que surpresa se teria ficado sua boa madrinha se tivesse inteirado de que o pai de  Maxie revendia  aqueles  custosos  vestidos  quanto  sua filha regressava a sua casa! 

Sua falecida mãe, Gwen, tinha trabalhado como senhorita de companhia  de  Nancy,  mas  esta  sempre  a tinha considerado como uma amiga em vez de uma empregada. No entanto, nunca lhe  tinha agradado o marido que tinha escolhido. 

Por desgraça, Russ Kendall tinha resultado ser um homem débil, egoísta e pouco digno de  confiança, mas também era o único pai que Maxie tinha tido, e só por isso lhe professava  uma  lealdade sem fissuras. Seu pai se tinha esforçado por levá-la adiante, e, a  seu modo, a amava muito. No entanto, a forma em que se comportava quando  ia  ver  a  Nancy  era  uma  cruz  que  a  Maxie  se lhe  fazia difícil suportar. 

 Invariavelmente, e apesar do evidente desgosto da dama, Russ se empenhava em  tirar-lhe um pouco de dinheiro.

 Maxie mal  podia reprimir um suspiro de  alívio quando por  fim se marchava;  só então  era  capaz de  tranqüilizar-se e divertir-se. 

 - Me tinha  parecido  ouvir um carro, mas devo ter-me equivocado - disse  em  voz alta  e  clara  uma voz feminina.  - Espero que Maxie venha cedo,  estou desejando vê-la. 

Ao acercar-se  um  pouco  mais  à  salinha  de  desenho,  Maxie identificou  a  voz  de  Polly, tão amável e doce como a recordava. 

- Pois a mim me dá o mesmo - replicou secamente outra mulher.  -  Maxie, a bonequinha falante...! 

- Darcy, não é culpa dela ser tão bonita - lhe reprovou Polly. 

Maxie não pôde evitar um estremecimento. Pelo visto, Darcy não lhe  tinha perdoado ainda o ocorrido três anos antes, apesar de  que não tivesse  sido  em  absoluto  culpa sua:  seu noivo a tinha deixado plantada no dia do casamento,  depois  de  confessar-lhe que tinha se apaixonado por uma das damas de honra... precisamente de  Maxie, quem  não  só  não  tinha  flertado  com o  noivo  em questão, senão que não tinha mostrado nunca o mínimo interesse por ele. 

- E talvez isso é uma desculpa para roubar o marido da  outra? - perguntou azedamente sua amiga. 

- Não creio que se possa escolher por quem nos apaixonamos - contestou  Polly  estranhamente emocionada. -  Maxie deve sentir-se muito mau agora que ele voltou com sua esposa. 

- Apaixonada? - estourou Darcy. - Maxie não lhe teria olhado  duas vezes se não fosse um homem tão rico. Já te  esqueceste de como era seu pai?  Essa garota leva a cobiça em seus genes. Não te lembras de como Russ lhe fazia a rosca a  Nancy para tirar-lhe os quartos? 

- Recordas muito bem que ele molestava a Maxie para que o fizesse - repôs Polly. 

Maxie sentiu que se lhe fazia um nó estômago. Nada, absolutamente nada tinha  mudado. Darcy era muito obstinada, e nada nem ninguém conseguiriam fazer–lhe mudar de opinião. Inesperadamente, foram se desvanecendo todas  as  esperanças  de  Maxie  de  que  o tempo tivesse curado todas as feridas.

- Não se pode negar que é toda uma beleza...,  não é estranho que tente aproveitar-se disso - continuou Darcy implacável sobretudo tendo  em  conta de  que  isso  é o único que tem. Nunca me pareceu muito inteligente na verdade... 

- Como podes dizer semelhante coisa? - lhe reprovou Polly. - Sabes muito bem que Maxie é disléxica. 

Maxie ficou lívida ao escutar aquela alusão a seu segredo melhor guardado.

- Olha - continuou Polly, - apesar  disso  conseguiu  ser  muito famosa. 

- Se tua  idéia da fama  é  sair nos anúncios  de  shampoo, suponho que tens razão - replicou Darcy cinicamente. 

Naquele momento Maxie decidiu que já tinha escutado suficiente, e com um enérgico giro se dirigiu para a estadia, esforçando-se por  esboçar um deslumbrante sorriso. 

- Maxie! - exclamou Polly embaraçada. 

Ela  ficou  sem fala  ao  ver  que  a  doce  e  morena  Polly  estava inequivocamente gestante. 

- Quando te  casaste? - perguntou surpresa. 

- Eu... - a jovem enrijeceu até a raiz do cabelo. -  Não... não o fiz. 

Atônita,  Maxie  recordou  que  o pai de  Polly  era  um homem muito restrito,  e que tinha  ensinado  a  sua  filha  um severo  conceito da moral. 

  - Bem,  isso  não  importa - replicou, tentando  tirar-lhe  ferro ao assunto para que a amiga não se sentisse ainda mais envergonhada. 

- Temo  que criar  um filho sem pai não é tão fácil no mundo no que se criou  Polly  como no teu  - interveio Darcy. A luz da tarde tirava reflexos avermelhados de sua curta cabeleira, enquanto seus olhos verdes chuviscavam de fúria.

Maxie recordou que Darcy também era mãe solteira, mas decidiu não dizer nada. 

- Polly sabe ao que me refiro. 

- Para valer...? - começou a  dizer Darcy. 

- Me estou enjoando - a interrompeu Polly abruptamente. 

Sem pensar, as duas jovens se dirigiram para ela. Maxie a obrigou a  sentar-se no cadeirão  mais próximo  e lhe  serviu  uma  xícara de  chá, instando-a a que se comesse uma bolacha. 

- Você deveria ver-te um médico - comentou Darcy preocupada. - A  verdade  é  que  quando  estava  gestante de  Zia,  jamais  estive enferma... 

- Estou bem... Fui ao médico  sábado passado – respondeu. - Estou um pouco cansada, nada mais. 

Justo naquele instante  entrou  Edward  Hartley,  o inventariante da  madrinha, quem  sem demasiada  cerimônia  se sentou e tirou um documento de  sua valise.

- Antes de começar a leitura do testamento – anunciou, - creio que meu dever é advertir-lhes que só poderão entrar em  posse de  seus respectivos  legados  se  cumprirem  escrupulosamente  as  condições estabelecidas por  minha cliente...

- Que quer dizer com isso?  - lhe interrompeu Darcy impaciente. 

O senhor Hartley  tirou os óculos com gesto de  cansaço. 

- Suponho que todas vocês sabem que a senhora Leeward teve um feliz,  ainda que desgraçadamente curto, casamento,  e que a morte prematura e trágica de seu esposo, foi uma fonte de contínuo pesar para ela. 

- Sim, sabemos  - assentiu Polly. . .  A  madrinha nos contou muitas coisas de  Robbie. 

- Morreu num acidente de carro, seis meses depois do casamento - adicionou Maxie.  - À  medida  que  passava  o  tempo, falava  dele como se  fosse  um  santo.  Parecia  pensar que o casamento era uma espécie de  Santo Grial,  a única  esperança  de  felicidade para uma mulher.

- Antes  de  morrer,  a senhora Leeward se propôs  visitar a  cada uma  de  vocês  e,  depois de fazê-lo,  decidiu  então  modificar seu testamento lhes  informou o senhor  Hartley.  - Adverti-lhe que as condições que pensava impor-lhes seriam muito difíceis de  cumprir, se não impossíveis. No entanto, a  senhora Leeward era uma  mulher muito obstinada. 

Produziu-se um tenso silêncio. Maxie se deu conta de que Polly não parecia entender muito bem o que ocorria, enquanto Darcy, incapaz de dissimular seus sentimentos, estava mortalmente preocupada.

O inventariante procedeu à leitura do testamento, segundo o qual Nancy Leeward  tinha  dividido  sua  considerável  fortuna  em  três partes  exatamente  iguais, que  a  cada  uma  delas receberia com a condição de  que  se tivessem casado no prazo de  um ano, e de que tivessem  permanecido  assim  ao menos durante  outros seis meses. Só então entrariam em posse de sua parte. Se alguma delas não o conseguia, esta herança passaria ao estado.

Quando Edward Hartley terminou a leitura, Maxie estava pálida como uma  difunta. Tinha rogado com toda sua alma  para que aquele testamento a livrasse da dívida que quase tinha destruído sua vida, e em mudança se encontrava com que, de  novo, a sorte lhe  dava as costas. Desde que sua  mãe  morreu quando  ela  era mal um bebê, fazia  quase vinte  e dois anos,  e devido ao vício ao jogo de  seu pai, nada  lhe  tinha resultado fácil na vida. 

- Deve estar caçoando! - estourou Darcy incrédula. 

- Nunca  poderei  consegui-lo – murmurou  Polly  assinalando sua barriga. 

Maxie  a  olhou  com  simpatia.  Evidentemente, a  pobre  garota tinha  sido  seduzida e abandonada. 

- Eu também não... - começou.

- Por  favor  Maxie!  Acredito  que  até farão fila  para casar-se contigo! - exclamou Darcy exasperada. 

- Com minha estupenda reputação?

- Bem - continuou Darcy,  - tudo o que  nos pede  é  um homem e um  anel  de  casamento.  Creio que poderei conseguí-lo se ponho um anúncio no jornal oferecendo parte da herança a  mudança. 

- Ainda  que  estou  seguro  de  que  o  diz  em  brincadeira ... interveio Hartley com severidade,  - então devo advertir-lhe que se utilizasse  uma  artimanha  semelhante,  imediatamente  se  veria eliminada do testamento. 

Maxie podia entender muito bem as razões de  sua madrinha para adotar semelhante postura: nos últimos  meses tinha  visitado ela  cada uma das  jovens,  e  o  que  tinha  visto  não  tinha  podido por menos que a decepcionar. 

Para começar, aparentemente Maxie estava vivendo em  pecado com um homem casado, enquanto Polly ia a caminho de  converter-se numa mãe solteira.  Quanto a  Darcy,  pensou  cheia de  arrependimentos, uns  meses depois  de  sua cruel  humilhação  na igreja tinha dado  a luz uma menina. Não era de estranhar que a impetuosa ruiva odiasse aos homens desde então. 

 

- É uma vergonha que tua madrinha vos tenha posto semelhantes condições para  receber o testamento - se lamentou Liz, a amiga de Maxie, enquanto as  duas  mulheres  examinavam  a  carta  enviada pelos  advogados de  Leland. - Se não o tivesse feito, todos teus problemas estariam resolvidos. 

- Talvez deveria ter-lhe contado a Nancy  a verdadeira razão pela que  estava vivendo  em  casa  de  Leland...  mas não queria dar-lhe a entender que precisava de ajuda. Não teria sido justo: detestava a meu pai, sabes?- replicou Maxie reflexivamente, mas sem pitada de  autocompaixão. Tinha  sofrido tantas  e tão amargas decepções  em  sua vida que já nem pensava nelas.

- Creio  que o que precisas é de um bom assessor legal. Afinal de contas, só tinhas dezenove anos quando assinaste o empréstimo, e o fizeste sob uma  pressão tremenda.  Realmente, temias pela vida de  teu pai - comentou Liz esperançosa. 

Do outro extremo da  mesa da cozinha,  Maxie ficou olhando a sardenta cara  de sua  amiga  que, literalmente,  a tinha  resgatado oferecendo-lhe  um teto  onde morar se pelo tempo que lhe  fizesse falta.  Liz Blake  era  a única pessoa na que confiava;  nunca se tinha deixado  enganar  pela  brilhante  aparência a que fazia  que  tantas mulheres  se  mostrassem invejosas quando não abertamente hostis para ela.  A mulher era cega  de  nascimento e  muito independente; ganhava-se  a  vida  trabalhando como  ceramista,  e tinha  muitos e bons amigos. 

- Assinei aquele papel com todas as conseqüências para salvar a  meu pai - lhe  recordou Maxie. - Desde então, não me voltou a  pedir dinheiro. 

- Maxie..., não lhe vê a três anos - pontualizou sua amiga. 

- Está realmente envergonhado, Liz, sente-se muito culpado. 

Liz levantou a  cabeça e  acariciou o lombo de  Bounce, seu cachorro lavrador, tombado a  seu lado. 

- Me pergunto  quem  vem  ver-nos.  Não  espero  a  ninguém... e ninguém exceto as pessoas de tua agência sabem que vives aqui - Liz se levantou  um  instante  antes de  que  soasse o timbre da porta, e reapareceu ao cabo de dois minutos.  - Tens uma visita: é um homem alto, moreno, com uma voz muito atraente. Diz que é amigo teu. 

- Amigo meu? - repetiu Maxie perplexa. 

Liz assentiu. 

- Deve ser sério para ter te encontrado aqui. Bounce  lhe  fez o reconhecimento habitual, e parece  que lhe deu o visto bom, assim que lhe  fiz  passar ao salão.  Escuta, atende-lhe enquanto eu vou ao estudo para  terminar o pedido que tenho pendente.

Maxie se perguntou a quem teria deixado passar Liz. Esperava que não fosse algum horrível jornalista. 

Quanto entrou na  pequena sala,  então ficou como pregada  no solo, incapaz de  enfrentar a situação que se lhe  vinha em cima. 

  - Maxie... como estás? - a saudou Angelos Petronides, estendendo uma mão para ela. 

Ela  deu um  passo atrás, como se defronte dela tivesse uma serpente; o  coração lhe  batia  a toda  velocidade. Como  era possível que Liz tivesse acreditado que se tratava de um amigo?

 - Senhor Petronides... 

- Chama-me Angelos - lhe pediu sorridente. 

Maxie piscou atônita.  Nunca o tinha visto sorrir antes. Nos últimos três anos tinham coincidido mal meia dúzia de vezes, e aquela era a primeira vez  que  ele  parecia  perceber a  sua  existência... Nas demais ocasiões, não só não lhe tinha dirigido a  palavra, senão que se  tinha  posto  a  falar  em  grego  quando  ela  tinha feito alguma tentativa para  entrar na conversa. 

No  entanto, plantado  adiante dela, parecia inclusive divertido ante sua evidente confusão. 

- Não entendo por que veio até aqui...  ou ainda como conseguiu encontrar-me - disse Maxie ao fim. 

- É que talvez te tenhas perdido? - repôs Angelos com voz rouca, percorrendo seu corpo  com a  mirada  de  uma forma  que a  ela lhe  pareceu insultante.  - A  mim  me parece  que sabes  muito bem para que vim.

- Não... não tenho a menor idéia - replicou Maxie com os olhos reluzentes de  ira como duas safiras. 

- Agora és uma mulher livre... 

«Isto não pode estar acontecendo a mim» pensou Maxie incrédula. Tentou  mostrar-se firme,  não  dar a  menor  mostra de  debilidade ante aquela mirada implacável. Recordou um instante, fazia uns seis meses: ele a tinha surpreendido olhando-o, e tomando-se como um convite, devolveu-lhe  uma mirada carregada de  charme e simples apetite sexual. Não tinha sido mas que um segundo, mas isso tinha bastado para que a Maxie lhe  revolvessem as entranhas. 

Mil  e  uma  vezes se tinha  dito que  não tinham sido mais do que imaginação sua. Que tudo o que aquele arrogante grego sentia por ela não era mais do que a pura indiferença. As  vezes  conseguia enfadá-la por sua descortesia, mas chegava a  entender semelhante comportamento, pois, diferente de Leland, Petronides nunca tivesse exibido a  uma mulher, por mais bonita que esta fosse, numa reunião de  negócios. 

- E por  isso - continuou Angelos com a segurança de  um homem que estava acostumado a conseguir o que desejava,  agora te  quero em  minha vida.

Era evidente que  nem  se propunha  que ela  fosse a  recusá-lo. Estava lhe demonstrando bem  às  claras  a  consideração  na que a tinha. Ao dar-se conta  de  seu  infinito  desprezo,  Maxie  esteve a  ponto de  perder o autocontrole. 

- Para valer crê que pode apresentar-se aqui e dizer-me...? 

- Sim - a cortou Angelos impaciente. - Deixa-te de joguinhos, já me dei conta de  que não te sou indiferente. 

Maxie sentiu que a percorria uma fúria surda da cabeça aos pés. Aquele tipo devia crer-se um deus. E no entanto, reconheceu que a primeira vez que o viu, tinha ficado fascinada  por ele. Poucas vezes tinha visto a um  homem  tão  atraente,  e  nunca  a  nenhum que ao mesmo tempo fosse tão inteligente, que emanasse semelhante aura de  poder.

No entanto, nunca  tinha  se sentido  atraída por  ele.  De fato, a maioria dos homens não lhe agradavam, pois era incapaz de confiar neles. Nunca nenhum homem a tinha visto como um ser humano, com emoções e sentimentos; normalmente a consideravam pouco mais do que um troféu do que alardear adiante de outros homens. 

Sempre tinha sido assim desde que era  uma adolescente, e Angelos Petronides  não  tinha  feito  mais que  se comportar  como todos os demais.  E,  no entanto,  não  podia  entender  de  onde  nascia  essa amarga desilusão que percorria seu ser. 

- Está tremendo... por que não te senta? - Angelos lhe assinalou uma cadeira. Como ela não se moveu, ele a olhou reprovadoramente. Tens  olheiras,  e perdeste  peso, ademais. Deverias cuidar-te mais. 

 Maxie se propôs não perder os nervos, não lhe dar a entender o humilhada e doída que se sentia. Esse homem não só se apresentava por bem na casa de Liz para dizer um montão de inconveniências, senão que ademais esperava do que ela se jogasse  agradecida a  seus pés. 

- Seu interesse por meu bem-estar é improcedente e desnecessário, senhor Petronides - replicou orgulhosamente. Decidiu sentar-se pois caso  contrário temia  não poder conter-se  e soltar-lhe um par de  merecidos bofetões  àquele insolente. 

Ele tomou assento frente a  ela, o  que resultou um alívio, já que sua estatura  resultava  imponente até  para  uma  mulher tão alta como Maxie. Para  ser um homem tão corpulento, movia-se com a ligeireza e a  graça de  um atleta.  Era  tão moreno como ela  era  loira, e seu atrativo não tinha  comparação possível:  seus  pômulos só podiam se qualificar como espetaculares,  o nariz era  de uma  perfeição quase insultante, os lábios eram cheios e sensuais. 

Mas o que realmente definia seu rosto eram os olhos de um dourado escuro. No entanto, naqueles  instantes,  não tinha  nenhum  sinal de  delicadeza ou emoção em  sua intensa mirada. 

- A mulher de Leland pensa levar-te ante os tribunais para que respondesse do empréstimo - disse suavemente. 

Maxie se sentou muito rígida, completamente estupefata. 

 - Como te  inteiraste do empréstimo? 

Angelos se limitou a encolher-se de ombros, como se estivesse desfrutando com aquela conversa. 

- Isso não  importa. O caso é que Jennifer já não vai fazê-lo, eu paguei o empréstimo em teu nome.  Incrédula, Maxie se adiantou um pouco. 

  - Como disse? - mal podia crer no que tinha ouvido.

 - Não queria que essa dívida te preocupasse, Maxie. Só pretendo mostrar-te minhas boas intenções.

 - Bo... boas  intenções?  - gaguejou  Maxie, incapaz  de  ocultar o terror que sentia. 

 - Claro - Angelos levantou uma mão para enfatizar suas palavras, evidentemente desfrutando o impacto que tinham tido suas palavras sobre a imperturbável  Rainha de  Gelo. - Nenhum homem decente chantagearia à mulher que deseja  levar-se à cama, não?

 

Maxie levantou a cabeça, vermelha de  ira. 

- Talvez pensa que sou uma completa  idiota?  -  quase gritou. 

Calmamente, Angelos  Petronides se levantou, divertido  ante semelhante arrebato. 

- Se temos em conta as decisões que foste tomando em tua vida, não sei  por que te  assusta  minha franqueza.

Maxie ficou com a boca aberta, respirava freneticamente, como se  estivesse  se afogando. De  um  sopro, aquele homem tinha  conseguido acabar com seu autodomínio. 

 - E não faz falta que te desculpes - continuou Angelos zombador. Sei muito bem como és na realidade. Primeiro te põe pálida e depois rígida.  Vi  os  esforços  que fazias cada  vez que Leland te  punha a mão em  público para não o recusar. Teria resultado muito divertido ver vocês na cama... 

Maxie conseguiu conter-se fazendo um enorme esforço de  vontade. Desejava  matar  àquele  homem...  mas  nem  sequer  era  capaz de articular uma palavra. Nunca antes tinha sentido semelhante fúria, pelo que não tinha nem idéia de  como manejar aquela situação. 

 - No  entanto,  creio  que  o que  mais agradava  a  Leland era presumir diante de suas amizades:  « Fixar-vos, tenho a  uma loira o dobro de  alta que eu e três vezes mais jovem » - continuou Angelos no mesmo tom.  - Não creio que fosse  demasiado  exigente na  cama, não é verdade?  Já não era nenhuma criança. 

- És... és o ser mais vil e desprezível que vi em minha vida - disse Maxie afastando a vista dele. 

 - E eu creio que posso ser-te muito útil.  Precisas de alguém como eu.  – Sem  prévio  aviso,  colocou-lhe  as  mãos  sobre seus  ombros, obrigando-a  a  olhá-lo.  

- Isso é  uma estupidez!  -  exclamou Maxie  esforçando-se para liberar-se dele.  - Tira as mãos de cima de mim! 

- Por que estás tão enfadada?  Já te  disse que me farei cargo do empréstimo - disse Angelos calmosamente.- Mas se tu não queres... Sei que os advogados de Coulters se puseram  em  contato contigo.

A só menção da  dívida foi como um  jorro de  água  fria para Maxie. 

- Não posso pagar esse dinheiro  - confessou  por fim. Estava tão pálida  como uma estátua  de  cera. - Nem sequer uma mínima parte. 

- Por que te preocupas tanto? – perguntou  Angelos. – Apresenta-te,  não  vá  a  ser que te  caias redonda.  Repito-te que não tenho a menor  intenção  de  passar-te  a conta. -  Na  verdade,  posso  te perguntar para que precisavas desse dinheiro? 

- Tive  alguns  problemas financeiros  - murmurou  evasivamente, protegendo uma vez mais a seu pai, como sempre tinha feito. 

Intuía que semelhante debilidade  por  parte de  seu progenitor não seria bem recebida por um homem tão forte. 

Exausta e envergonhada, voltou a  deixar-se cair na cadeira. 

Pela primeira vez se sentia autenticamente assustada ante Angelos Petronides. De certo modo, ele a possuía, tal e como Leland a tinha possuído uma vez, mas ao invés do ancião, Angelos esperava algo muito concreto a  mudança. Não se tinha deixado enganar por  suas palavras, nem por  sua suave voz: em  menos de  dez minutos a tinha convertido numa espécie de  fantoche. 

  - Não costumo falar de dinheiro com as mulheres - disse Angelos com suavidade,  -  e,  depois, é  um  pouco do que  não penso voltar a  falar contigo. 

Maxie se estremeceu incrédula ante aquela perfeita personificação do milionário cavalheiro. Recordava muito bem como  costumava comportar- se  nas reuniões de negócios com  os executivos que estavam a  suas ordens..! Parecia um poderoso  rei  entre  simples peões:  aqueles  homens, tão  bem  preparados  e  trajados,  suavam como condenados só com que  ele os olhasse, acatando todas  as suas ordens sem chiar e tremendo de medo se ele franzia o cenho. Indubitavelmente, não suportava  ter a  idiotas a  seu redor. Tinha uma  mente realmente brilhante,  mas ao  mesmo tempo tinha  uma personalidade malévola  e  manipuladora:  agradava-lhe controlar as pessoas.  Em comparação, Leland Coulter resultava absolutamente inofensivo, nem  sequer tinha pretendido simular que era seu único amigo num mundo hostil. Naquele  momento, no  entanto, sentia cair  sobre ela uma terrível ameaça. 

- Sei muito bem onde queres ir parar - se ouviu dizer a si mesma. 

Angelos baixou o olhar para ela. 

- Então, qual o motivo todo desta comédia? 

Maxie ficou  um tanto desconcertada. Não se esperava  que ele, simplesmente, reconhecesse que era o suficientemente pronta como para dar-se conta de suas artimanhas. Era como se a amassasse com uma mão de ferro envolta numa luva de veludo. 

- Vêem jantar comigo esta noite - continuou Angelos suavemente.  - Assim poderemos falar calmamente.  Agora  precisas  um pouco de tempo para pensar. 

- Nada disso  - replicou Maxie ao mesmo instante; quis devolver-lhe o olhar desafiante, mas o único que conseguiu foi uma estranha sensação,  como  se o solo  se desvanecesse sob seus pés. Sacudiu a cabeça para esclarecer um pouco suas idéias. - Não penso  ser tua amante - declarou. 

- Ainda não te pedi. 

Maxie riu cinicamente enquanto por fim conseguia pôr-se em  pé. 

- Não faz falta que o faças: nem por um momento imaginei que ias oferecer–me  algo  mais  respeitável.  De toda  forma,  não tenho a menor intenção de  seguir falando deste assunto  – afirmou, mas ao mesmo tempo tentou  desviar o olhar, - assim  que  muito  cedo se verá se tens bom ou mau perder... 

- Não perdi  – a  interrompeu Angelos  baixinho.  – Mas  posso ser muito insistente. Se  resistes, lamentarei o tempo que perca em  conseguir-te,  mas isso te  fará também mais desejável. 

Maxie se estremeceu sem saber muito bem por que. Uma espécie de quase imperceptíveis sinais de alarme lhe  percorreram a espinha dorsal.  Sem  poder  evitar, voltou  a cabeça para ficar sob o feitiço de sua malévola mirada. 

- E também me enfadarei muito contigo - continuou Angelos entre dentes, acercando-se ainda mais a ela. Tu não tiveste nenhuma compaixão  de  Leland,  assim  que, por que teria eu que a ter de ti? Ademais, penso tratar-te muito melhor do que ele:  sei o que agrada às mulheres. E  posso dar-te  o que  precisas para  sentir-te segura, feliz, e satisfeita... 

Maxie estava  pasma,  sentia-se como um menino  a  ponto de  cometer uma  terrível travessura. Notou  que lhe  acelerava o pulso, sentiu  o  sangue  que lhe  percorria  as  veias,  uma  corrente tal de  excitação e poder que quase a deixou paralisada. 

  - A... Angelos? - sussurrou, mais confundida do que nunca. 

 - Me agrada como dizes meu nome - murmurou. 

 Ela o  repetiu de  novo,  como se fosse uma  súplica. Angelos a olhou satisfeito,  seus  olhos convertidos  em  ouro líquido. Maxie se jogou a tremer, nunca em toda sua vida tinha sido tão consciente de  seu próprio corpo.  Notou como  se erguiam  seus seios embaixo da camiseta de  algodão, quase lhe  doíam os mamilos ao contato com o tecido. 

Justo então ouviram um golpe terrível numa das contraventanas. Assustada, Maxie deu um salto para trás. 

- Calma... foi só uma  bola,  -  disse  Angelos fazendo um gesto para a rua. - Veja, são esses dois meninos que estavam jogando. 

Mas Maxie  não  lhe escutava. De repente se deu conta de  que Angelos Petronides a  apertava  contra  ele com ambos braços e que tinha  estado muito perto de  beijá-la.  E o que  era  ainda  pior: não podia negar-se a  si mesma que tinha  desejado esse beijo com toda sua alma. 

Afastou-se de seu lado precipitadamente, levando-se as mãos a  suas ruborizadas bochechas. 

- Vá-te de aqui e não voltes nunca mais! - gritou. 

Angelos amaldiçoou  baixo em grego. 

 - Posso saber que é o que te passa? - perguntou acusadoramente. 

A pouca dignidade que àquelas alturas tinha ficado  a  Maxie se desvaneceu como por  encanto. 

Maldita seja: ela lhe tinha alentado e ele sabia. Aquele homem devia sentir-se  tão  frustrado e ansioso como ela mesma. Sentia-se presa de sentimentos contraditórios, a  ponto de  perder o controle de si mesma. 

 - Não tenho por que dar- te explicações  - disse, e  se precipitou para a porta principal.  - Quero que te vás e que não voltes nunca mais. Se o fizer, te  jogarei ao cachorro. 

Surpreendentemente, Angelos se jogou a rir naquele tom profundo e  escuro que lhe  era tão peculiar, olhando-a como  o  lobo  que espreita a  sua presa. 

- Me parece que esse cachorro  me matará a  lambidas...  e tu? - perguntou  levantando ironicamente as sobrancelhas. 

- Vá embora!  - gritou Maxie quase desesperada, ruborizando-se até a raiz do cabelo. 

- E tu?  - repetiu Angelos  enfatizando cada  sílaba. - Creio que por alguma estranha razão, o que acaba de suceder, ainda que a  mim me parece que não foi nada, a ti te pôs excessivamente nervosa... quase pareces aterrorizada. Maxie sentiu náuseas: nunca antes a tinham calado tão bem.  Sentia-se  observada  tão de perto como um inseto sob o microscópio. 

 - Por que permites que o que nada mais é do que desejo legítimo te envergonhe? – continuou  Angelos suavemente.  - Por que  não te permites sentir prazer?

 - Prazer? 

- A  mim me parece - respondeu olhando-a intensamente, a  ponto já  de  marchar-se -, que  quando a  ambição  e  o  desejo se unem, o resultado não pode ser mais prazeroso. 

Depois de deixar cair aquela  última ofensa,  saiu da casa e se encaminhou calmamente para a limusine. Os dois meninos que tinham estado  jogando  futebol tratavam  sem  sucesso de  entabular  uma conversa com o impassível motorista. Angelos se deteve a  bater um papo  com  eles  com  uma  naturalidade  que  a   Maxie  lhe  pareceu desconcertante. Turvada por  sua própria fascinação, bateu a porta com  força.  Ia regressar, disso  estava tão segura  como de  que ao dia seguinte voltaria a  sair o sol. Nervosa, pôs-se a  dar voltas pela casa até que chegou à cozinha, onde, para sua surpresa, Liz a estava esperando com expressão preocupada.

- Bounce começou  a  rosnar  no  estudo. Suponho que deve ter te ouvido gritar. Voltei à casa, mas ao dar-me conta de que estavam brigando, fiquei  fora – confessou. -  Por  desgraça, ouvi mais do que tivesse querido.  És  um  cachorro  muito  mau, Bounce:  foste muito tonto por não morder a esse Angelos Petronides. 

- Sabia quem ele era... ?        

- No princípio não, mas depois... falaste-me tantas vezes do tal Angelos. 

-Sim? - Maxie respirava agitadamente.  Liz sorriu. – Passavas horas criticando-lhe e queixando-te por seu comportamento, pelo que  em seguida  me dei  conta  de  que, em  certo modo, sentias-te muito atraída por ele.  Maxie soltou uma áspera gargalhada. 

  - Teria sido melhor de que me tivesse dito, assim, pelo menos, estaria preparada.  Meus hormônios enlouqueceram no momento menos  oportuno,  me sinto tão tonta! -  se lamentou com os olhos cheios de lágrimas.  - Está-me  dando  uma dor  de cabeça terrível... 

- Não é para menos -  murmurou Liz compassivamente. - Nunca te  tinha ouvido gritar desse modo. 

- É que nunca  odiei  a  ninguém  em  minha vida  como ódio a  esse maldito Angelos Petronides. Me agradaria matá-lo, Liz, to juro. Ainda  por  cima,  agora  estou  em  dívida  com  ele  em  vez de com Leland... 

- Me pareceu entender que não quer que lhe  d voltes o dinheiro... 

- Penso devolver-lhe  até  o último  centavo, ainda  que isso seja o último que faça - replicou Maxie com os olhos lacrimejantes. 

- Liz...! - a interrompeu Maxie doída. 

- Não  pensaste  que  pode  ser ele o tipo com  quem vá se  casar? continuou sua amiga zombadoramente. 

- Por Deus Santo, Liz!  É que te voltaste louca?  Como te  ocorreu semelhante coisa? 

- O testamento de  tua madrinha... 

- Esquece-te, Liz! A  mim me parece que o último no que pensaria esse homem é no casamento  - se deteve um instante para  pensar a melhor forma de  explicar-se a  sua ingênua amiga sem ferir demais sua sensibilidade...  Não tem o menor  interesse, digamos romântico, em  mim. Não é desse tipo de  homens:  é duro,  e frio como o gelo... 

- A  mim não pareceu  em absoluto. Sua  voz soava  muito amável. Te surpreenderia  saber a  quantidade de coisas  que posso advertir só pelo tom de  voz.

Em  muitos  aspectos,  Liz era bem  mais  inocente do que ela. Maxie não queria  dizer-lhe cruamente que  Angelos  Petronides a considerava um ser inferior, meramente um objeto preciso do que presumir e desfrutar. 

- Liz – começou  titubeante,-  creio que se sentiria ofendido só ao considerar  a  possibilidade  de  ter  uma  relação  normal  com  uma mulher que foi a amante de  outro homem... 

- Mas se tu não foste a amante de ninguém! 

Maxie  não  fez  o  menor comentário. Depois de  toda a publicidade negativa que lhe  tinham feito, ninguém acreditaria na  verdade. 

- Liz, tudo o que Angelos quer é dormir comigo - declarou.

- Oh! - Liz enrijeceu tão intensamente  que todas as suas sardas desapareceram.  - Querida!  Não deves deixar-te  arrastar  por  um homem semelhante! 

Aquela noite Maxie permaneceu estendida  na cama, escutando os ruídos do tráfico.  Não podia  perdoar-se ter-se sentido atraída por  um  homem  como Angelos Petronides, quem sem dúvida pensava que era uma aventureira desprezível, acostumada a vender seu corpo em   troca de luxos e riquezas. Parecia-lhe que o coração se ia partir-lhe  em  mil pedaços de  dor.  Como tinha  sido  capaz de  cair tão baixo? 

Quando a  escolheram  para  a campanha publicitária de  uma das marcas de  produtos para o cabelo mais populares do país, mal tinha dezoito anos. Ainda  que nunca  tinha querido ser modelo, deixou-se convencer  por seu pai, e muito cedo começou a  ganhar dinheiro aos  montes. 

No entanto, aos poucos começaram a  fartá-la a pressão à que a submetiam  e  a  superficialidade  do  mundo  da  moda.  Como tinha poupado  muito  dinheiro,  começou a  fazer  planos  para  mudar de  vida. 

Mas durante todo esse tempo seu pai não tinha deixado de jogar. Sem que ela  o  soubesse, cada  vez fazia  apostas  mais arriscadas, oferecendo a  fortuna  de  sua  filha  como  garantia  para cobrir as perdas. Por sorte, o diretor do casino de Leland lhe  tinha cortado o crédito quanto  suspeitou  que  o ancião  estava jogando muito acima de suas possibilidades. Maxie conheceu a  Leland Coulter quando foi ao cassino  pagar as dívidas de  seu pai. 

- Não  conseguirás  mudar-lhe,  Maxie - lhe  tinha  dito. - Seguiria apostando ainda  que se estivesse morrendo. Tem  que ser  ele o que decida mudar. 

Depois daquele humilhante episódio, seu pai lhe fez um montão de  promessas. Jurou-lhe que não voltaria  a  jogar, mas, como era de se esperar, rompeu sua  promessa.  Como já  não era  bem recebido nos cassinos, começou a  ir a  lugares mais perigosos; jogava  altas somas de dinheiro ao pôquer com homens de  péssima reputação, dispostos a  romper-lhe os  ossos a  quem ousasse eludir suas dívidas. Foi bem como a vida de  Maxie começou a cambalear-se. 

Russ contraiu uma enorme dívida da que sua filha não pôde fazer-se cargo, pois já tinha gastado suas poupanças; então uns valentões lhe  deram uma  terrível surra que  ele perdeu um  rim.  Confessou-lhe o ocorrido a  sua  filha na cama do hospital, entre soluços: tinham-lhe ameaçado com  que  se  não  devolvesse  o dinheiro a  tempo  eles  o matariam. 

Desesperada,  Maxie tinha  ido a  Leland Coulter em  procura de  conselho. Depois  de  escutá-la,  ele lhe  propôs um arranjo: cobriria todas as  perdas  de  seu pai a  condição de  que ela fosse viver com ele. Desde  o primeiro  momento tinha sido muito claro com respeito às condições do trato:  ele não queria sexo, somente presumir, levar uma  esplêndida  mulher no braço, que  esta  presidisse  os jantares que  organizava  e que lhe  acompanhasse onde queira que fosse. 

Tudo aquilo não  tinha parecido demais a  Maxie,  quem, ademais, estava-lhe realmente agradecida por  do que lhe tivesse prestado o dinheiro e salvado assim  a  seu pai.  Não se deu conta da armadilha em  que  se estava  metendo;  de fato, nem sequer sabia  que Leland era  casado até que  viu as manchetes  de  um jornal sensacionalista no que se arrastava sua até então intacta reputação pelo lodo. 

- Jennifer e eu rompemos porque ela teve uma aventura - admitiu Leland a  contra  gosto quando Maxie  lhe  jogou em sua cara ter-se ocultado. Ter-te a meu lado faz que não me sinta como um estúpido. 

E a  ela lhe tinha dado tanta  lástima que decidiu permanecer a  seu lado  enquanto o casamento  livrava  uma  encarniçada  batalha legal para  repartir-se  suas  propriedades.  Jennifer  e  Leland brigaram sem trégua  ante  os tribunais até que, justo  uma  semana  antes da vista do divórcio, a ele lhe desse um enfarte; e naquele momento de  crise, a  única  mulher na  que ele tinha pensado era  em  sua esposa. 

- Vê-te, deixa-me a sós - lhe  tinha  sussurrado pateticamente a  Maxie diante da cama do hospital. - Preciso de  Jennifer, Não quero que ela te veja aqui! 

Aquilo lhe  tinha doído,  pois,  por  insólito que  parecesse, sentia certo afeto  por  Leland. Não era  em  absoluto um  homem mau, tão só  egoísta, como  todos  os  que  tinha  conhecido  antes  que  ele, e esperava sinceramente que voltasse  a  ser  feliz com  seu Jennifer.    No entanto, tinha-a  usado  não  só para  curar sua vaidade ferida, o que  era  muito pior, como arma para castigar a  sua  mulher infiel. E isso Maxie não podia perdoar, como também não poderia perdoar-se a  si  mesma ter estado tão cega  como para  consenti-lo. Jurou a  si mesma que nunca, passasse o que passasse, voltaria a permitir que a utilizassem.

Quanto sua amiga se marchou, Maxie se encerrou no quarto balnear onde passou uma  hora maquilando-se cuidadosamente e vestindo-se com especial esmero. Ia dar-lhe a  Angelos Petronides uma lição que nunca esqueceria. 

A  meia  manhã procurou a  única jóia que lhe  pertencia. Tratava-se de  um  bracelete  vitoriano que tinha  encontrado aos onze anos, na caixa de costura de  sua mãe. Sem dúvida, tinha-o escondido aí para evitar  que  seu  marido,  que  sempre  andava  curto  de  dinheiro, o vendesse.  Depois  de fazê-lo  ele sempre  se  sentia  terrivelmente envergonhado,  mas  para  então  era  demasiado  tarde  como  para recuperar aquelas  humildes  jóias.  Maxie  o sabia muito bem, assim que manteve aquele bracelete bem escondido durante todos aqueles anos.

Por  isso é que  parecia ainda  mais terrível o que estava a  ponto de  fazer, uma autêntica traição à  memória  de sua mãe. Mas precisava desesperadamente  de  dinheiro  e  não possuía nada  mais de  valor.   Tinha que demonstrar fosse  como fosse  a Angelos  Petronides que ainda que se tivesse feito cargo da dívida, isso não lhe  dava nenhum direito sobre  ela.  E o  amargo  sacrifício da  única herança  de  sua mãe só contribuía a fazer mais firme aquela decisão.

Meia  hora  mais tarde subia  ao andar mais alto do arranha-céu que albergava  os escritórios centrais das empresas de Petronides.   Decidida, acercou-se à mesa da recepcionista. 

- Quero ver a  Angelos - anunciou. 

- Se... senhorita Kendall?  - a garota levantou com os olhos como pratos  ao reconhecê-la.  Maxie  se tinha  posto  um  vestido  de  um vermelho  furioso,  escandalosamente  cingido, e  se  tinha soltado a formosa cabeleira  loira  que caía como  uma  cascata  de  ouro até a cintura. Completavam o conjunto uns sapatos de  salto vertiginoso.

- Não se preocupe, já  sei onde fica seu escritório - disse, e sem mais preâmbulos se encaminhou para o corredor, deixando à empregada boquiaberta. 

Abriu a porta com decisão, mas, por desgraça, o  escritório tava vazio. Sem vacilar se  dirigiu à sala de  reuniões contígua, sem fazer caso  dos  espalhafatos  da  recepcionista,  a  que  tinha  conseguido chamar a atenção de  outras duas secretárias. 

Heureca!  Maxie irrompeu numa  habitação repleta de  homens de  negócios que ficaram sem fala diante sua súbita aparição. 

Angelos, que presidia  a  reunião, levantou-se, olhando-a  com uma terrível expressão. 

- Quero falar contigo agora  mesmo – lhe disse Maxie. Seus olhos relampejavam como duas safiras. 

- Pode  esperar  no  escritório  do  senhor  Petronides,  senhorita Kendall  - interveio  uma  mulher de  meia idade, provavelmente uma das secretárias. 

- Não, obrigada, não quero esperar - lhe  espetou  Maxie. Angelos lhe  lançou uma mirada carregada de fúria. Nunca ninguém lhe  tinha feito semelhante cena.  Maxie lhe  sorriu  docemente;  sabia que ele não podia fazer-lhe nenhum dano porque já não tinha absolutamente nada  que perder:  nem dinheiro, nem  emprego, só seu orgulho e seu bom juízo.  Custasse o que custasse, estava disposta  a  que Angelos pagasse pelo que lhe  tinha feito no dia anterior. 

Impetuosamente, Angelos se acercou a  ela e a pegou pelo braço. Maxie gemeu, como se lhe  tivesse feito muito dano. Ele a soltou de  imediato, mas a  mudança lhe  dirigiu uma  mirada  que tivesse feito tremer a  mulheres bem mais fortes do que ela. 

- Obrigado - disse Maxie, e como um cordeirinho se dirigiu para a  porta que comunicava  com o escritório. Sabia  que ele  a seguiria. Quanto estiveram a  sós, voltou ao ônus.- As visitas inesperadas que se  comportam de  forma pouco adequada são  mais do que maçante, não é verdade? - lhe  espetou ironicamente. 

- Estás louca - replicou Angelos, fazendo  um esforço visível para  conter-se. - A  que demônios crês que estás jogando? 

- Não vim jogar, senão a pagar - com um gesto dramático, alongou a  mão e depositou uns quantos bilhetes sobre a escrivaninha. - Isto é a conta do empréstimo. Não podes comprar-me como se fosse uma lata de feijão. 

- Como te atreveste a  interromper a minha reunião? - perguntou Angelos  irritado.  - Como foste capaz de  montar semelhante cena? 

Maxie se pôs tensa. Nunca tinha visto a  nenhum homem tão furioso. Apesar de sua tez bronzeada, estava muito pálido; sentiu que queria fuzilá-la com a mirada. 

- Tu  me  provocaste  – contestou. - Vieste ver-me sem que eu te  convidasse  e fizeste  que  me sentisse como o mais rasteiro. Vim te dizer que estavas muito equivocado!

- Esta é a famosa Rainha de Gelo? - replicou Angelos secamente. 

- Tu serias capaz de derreter os Pólos! Maxie, então  perguntando-se por que parecia tão calmo de repente. Inclusive estava recuperando sua cor natural. 

- Não será que tens dupla personalidade? 

- Talvez crês que me conheces muito bem só porque coincidimos meia  dúzia de vezes? -  Maxie sacudiu a cabeça, e não  pôde deixar  de se dar conta de que sua mirada parecia ficar presa ao movimento de  sua formosa  cabeleira.  Aquele desgraçado,  pensou,  estava tão cheio de  si mesmo que não podia tomar em sério a  uma mulher nem sequer cinco minutos. 

- Nunca vi que com Leland te comportasses deste modo. 

- Minha relação com ele não é assunto teu - lhe interrompeu. Creia-me:  ninguém me xingou nunca como tu o fizeste ontem. 

- Me resulta difícil de crer. 

Sem  querer,  Maxie começou  a  desanimar-se.  Ele alto e poderoso, imponente naquele  severo traje cinza, Angelos  a olhava sem deixar transparecer a mais mínima emoção. 

- Desde quando é um insulto que um homem admita que deseja a  uma mulher? - perguntou implacável. 

- Primeiro  me  disseste  que  tinhas  pago  o  empréstimo, então começaste  a  pressionar-me  com isso. És  um  manipulador, isso é o que és! - gritou Maxie, e, dando-se a volta, dirigiu-se para a porta. 

- Todas as saídas estão fechadas. Por enquanto, não podes sair - lhe informou Angelos com suavidade. 

Maxie pegou o trinco da porta e se pôs a forçar sem sucesso. 

- Abre essa porta! 

- Por que  deveria fazê-lo?  - se  recostou  no cadeirão, com uma expressão tão fria  e ameaçadora  ao  mesmo tempo  em  que  Maxie tivesse desejado estrangulá-lo.

- Pelo jeito,  vieste decidida  a  entreter me, e ainda que não me agrada que  me distraiam,  devo  reconhecer  que  tens  um  aspecto fabuloso com  esse vestido.  -  Entenderás que  eu queira  saber por que  reages  de uma  maneira  tão melodramática a  minha proposta. 

Maxie se deu a volta para enfrentar-se a  ele. 

- Assim que o admites? 

- Sim, desejo-te. É só uma questão de tempo - declarou Angelos calmamente. 

Maxie se estremeceu. 

- Já vejo que quando os afagos não funcionam passa diretamente às ameaças. 

- Não te estou ameaçando. Nunca tive que ameaçar a uma mulher para dormir -  me com ela. 

- Por  suposto.  - Com  semelhante  atraente,  seria  uma  tolice mostrar-se  modesto. Aquele homem, pensou com amargura, tinha-o tudo:  sex-appeal, mais dinheiro do que poderia gastar em  toda sua vida e uma mente privilegiada.

- Pensas  que és  um ser especial,  verdade?  Creste-te ia sentir tão afagada   que ia jogar-me  a  teus pés... Pois te  direi que não és muito  diferente aos  outros tipos  que foram  atrás de  mim. Tenho muita  prática  em  tratar com os de tua laia,  conheço-os desde que completei quatorze anos... 

- Me alegro de que nossos caminhos se tenham cruzado agora que já és maior de idade - a interrompeu Angelos cinicamente. 

Ante aquele comentário, Maxie saltou como uma tigresa. 

- Sei muito bem que para ti não sou nada mas que uma bonequinha tonta – replicou  amargamente. -  Pois  bem,  senhor  Petronides, lhe  direi algo: não  penso em ser o brinquedinho  de  ninguém. Se queres entretenimento, vá te à loja e compra-te um trem de  brinquedo. 

- A verdade, não podia nem imaginar-me  que por trás da fachada que  apresentas  em  público escondesses semelhante falta de  amor próprio... 

Maxie  se  deu conta de  que a  situação lhe fugia  das mãos, que lhe  faltavam argumentos para enfrentar-se àquele homem cruel. 

- Não digas estupidezes! – contra atacou nervosa.  - Sejam quais sejam os erros que tenha cometido no passado, asseguro-te que não estou disposta a repeti-los. E agora que já  sabes, abre essa maldita porta e deixa que me vá. 

- Se fosse tão fácil... - murmurou Angelos sem deixar de olhá-la. 

Mas quando Maxie  girou o trinco de  novo,  encontrou-se  com que a porta  estava  aberta.  Saiu ao fim, tão turvada  e dolorida  como se acabasse de  livrar uma terrível batalha.

 

Que demônios lhe  tinha passado? Maxie não deixava de  dar-lhe voltas  na  cabeça  ao sucedido enquanto regressava ao apartamento sob uma  fina  chuva que muito cedo a calou até os ossos. Estava tão alterada que quase agradeceu sua frescura. 

Algo  tinha  saído  muito  mau  naquele  escritório.  Angelos tinha conseguido devolver-lhe todos e cada um de  seus golpes; tal e como tinha ocorrido o dia anterior, quanto mais furiosa se punha ela, mais frio e controlado parecia  ele.  Aquele homem tinha um autocontrole formidável.

E sim, tinha  que reconhecer que se tinha comportado de  forma melodramática. Tinha-se  desbocado  como  um  cavalo enlouquecido, lançando  acusações  que  não tinha a  menor  intenção de  fazer,  se expondo  diante  seu pior  inimigo suas mais  íntimas  inseguranças e temores. 

Sem dúvida, tudo aquilo se devia à tensão dos últimos dias: a doença de  Leland, a  má  imprensa,  a  morte da  madrinha. A pressão à que estava  submetida a  tinham feito  perder  os papéis  diante daquele homem implacável. Falta de  amor próprio!  Como se tinha atrevido a  dizer-lhe semelhante coisa? 

Uma  limusine se  deteve a uns poucos metros  por  adiante dela. Angelos saiu do interior e ficou olhando-a.

- Olha por que andar desse modo sob a chuva!  - Vamos, entre no carro! 

Maxie se  deteve, retirando  as mechas de cabelo molhado da  cara. 

- Vá te ao inferno! - lhe  espetou desdenhosamente.

- Vais pôr-te a  pedir socorro se te  meto no carro?  - perguntou Angelos impaciente. 

Maxie  sentiu  que  lhe traspassava  uma onda  de raiva  como nunca antes tinha sentido. Plantou-se diante dele, com o vestido colado ao corpo, delineando cada uma de suas fabulosas curvas.

Sabia  que, ainda  que  o  estivesse  desejando, Angelos  não  faria o menor movimento para ela. 

- Por que me estás seguindo? 

- Não me fazem muita graça os trens de  brinquedo... demasiado calmos - admitiu Angelos. 

- Pois a  mim não me fazem nenhuma graça os tipos como tu, que pensam que me conhecem melhor do que eu mesma. 

Maxie  viu  que  ele  também  estava  se  molhando.  Finas  gotas  de  chuva reluziam em seu cabelo negro como o ébano. Por alguma razão misteriosa, agradou-lhe que ele se estivesse calando por  sua causa. 

- Se o que pretendes é que te diga que posso mudar, sinto muito, não vou fazê-lo. Eu sou como sou - declarou Angelos.

Seria muito tonta se não aproveitasse a  oportunidade de  que ele a levassem  a  casa, disse-se Maxie,  sobretudo tendo  em  conta que começava a sentir um pouco de frio. Desfrutando diante a perspectiva de deixar-lhe assombrado, subiu-se na limusine.

- Queria que te  enfadasses para que me deixasses só - lhe  disse quanto se puseram em  marcha.

- Então, por que não te mantiveste afastada? Por que te meteste no carro? - perguntou Angelos implacável. 

Por  toda  resposta, Maxie abriu a maçaneta da porta, mas antes de  que  pudesse sair do  carro,  Angelos lhe  segurou a  mão  com força para impedir-se. 

- Talvez queres suicidar-te? - perguntou. 

Ela se soltou com um gesto e ficou encolhida  em  silêncio. Sabia que ele tinha  razão:  se realmente tinha  querido evitá-lo, por que tinha subido ao carro?  Sem dúvida,  não por  algo tão trivial como a chuva ou a roupa molhada. 

Desde o outro  extremo do assento, Angelos estendeu  uma mão amistosamente. 

- Vêem aqui. 

Por toda resposta, ela se encolheu ainda mais no canto. Não sabia que  lhe  estava  passando, sentia-se  aterrorizada diante a onda de  sentimentos contraditórios que a presença daquele homem acordava nela. Angelos  Petronides era  um perigo letal para uma mulher como ela; o único sensato era evitar-lhe como se fosse uma praga. 

Com um longo suspiro, Angelos se despojou da jaqueta, e, sem mais preâmbulos, pegou-a pela mão e a  atraiu para si. Maxie se debateu com fúria para sair se de seu abraço. 

- Deixa-me!  Que fazes...? 

- Está-te quieta!  - exclamou Angelos; ao mesmo tempo em que a soltava  estendeu os braços, como que para demonstrar-lhe que não levava nenhum arma escondida. -  Não agüento  mulheres histéricas. 

- Não...  eu  não... eu não o sou  - sussurrou  Maxie envergonhada enquanto  ele  lhe colocava  a  jaqueta  por cima  dos ombros. Ainda notava o calor e o aroma de seu corpo na suave e cálida tela. Era um cheiro  nítido  e  masculino,  com  uma  pitada  de  limão.  Abaixou a cabeça e  aspirou profundamente, surpreendendo-se diante o que a comovia aquele gesto. 

- És tão renitente como meus cavalos de  carreiras: cada vez que me acerco, tu te afastas. 

- Ontem não o fiz - replicou Maxie acidamente. 

- Não tiveste oportunidade de  fazê-lo  - disse Angelos com toda intenção. Alongou  as mãos e  pegou as mangas da  jaqueta, atirando desse modo dela. 

- Não! Não! – suplicou Maxie com os olhos muito abertos. Para seu desespero,  o único que podia fazer  era estender as mãos  para seu peito. 

- Só  te  soltarei  se  me deres  um  beijo  - lhe  advertiu Angelos brincalhão. 

Só em tocá-lo  acima da  camisa lhe  resultava  já tão íntimo, que Maxie sentiu que um arrepio de culpa lhe percorria a espinha dorsal. Notou  os redemoinhos de  pêlos  por debaixo do tecido, e se sentiu absurdamente  excitada.  Costumava trabalhar com  modelos que se depilavam  o torso, e, por  contraste, sentia  um irreprimível desejo de desabotoar-lhe a camisa. 

- Pareces um menino a que lhe pilharam em falta lhe  interrompeu Angelos com um sorriso preguiçoso. 

Aquele gesto teve o poder de  deixá-la paralisada, como hipnotizada de novo. Fascinada, era incapaz de afastar a vista daquelas incríveis pestanas sedosas e da firme linha de sua mandíbula. 

- Não me convéns em  absoluto - disse, presa do pânico. 

- Demonstra-o  - replicou  Angelos com aquela  voz de  veludo que parecia  uma  carícia.  Passou-lhe  a  mão pelo cabelo, detendo-se na curva da nuca. - Demonstra-me por que não te convenho. 

Era tão  atraente que  Maxie  não podia  pensar  com  clareza. O coração lhe batia  com tal velocidade que parecia  que se ia  sair-lhe do  peito. Sentiu uma  onda  de  crescente  excitação percorrer seu corpo. Se  ruborizou ao dar-se conta  de  como  Angelos olhava seus seios, erguidos sob a  esticada tela do vestido. 

Lentamente ele deslizou as mãos por  suas costas, e  se agachou para ela, mas  em vez de beijar-lhe na  boca, beijou lhe num de seus mamilos. Surpresa, Maxie arqueou o pescoço e gemeu baixinho. 

Angelos  levantou  a  cabeça  e  ficou  olhando  com  uma  expressão selvagem. 

- Quase dói desejar isto tanto – disse. Não creio que conhecesses esta sensação... mas agora sim. 

Maxie se jogou a tremer; o puro medo se enroscava em  seu interior como  uma  serpente.  Angelos estava  jogando  com  ela, valendo-se para isso de seu incrível atrativo. 

- Não  me  toques!  -  exclamou,  e  antes  de  que  se desse conta  do que estava fazendo, cruzou-lhe a cara de  uma bofetada. Angelos lhe pegou a mão com um gesto e voltou a  sorrir-lhe. 

- Já vejo que a  frustração te  altera muito - disse, e sem deixar de olhá-la levou as mão aos lábios primeiro, e se agachou para beijá-la depois. 

Nunca antes a  tinham  beijado daquele modo. Automaticamente respondeu com a  mesma ânsia ao chamado daquela boca devoradora e sensual.  Se agarrou  a  Angelos, odiando-se ao  mesmo tempo pelo desejo que crescia dentro dela. 

De repente, tudo acabou. 

- Vamos - disse Angelos separando-se  um pouco, evidentemente orgulhoso do poder que exercia sobre ela. 

Maxie nem sequer se tinha dado conta  de que  o carro se tinha detido.  Ele se deteve  um instante para  colocar de  novo a  jaqueta sobre seus ombros.  Sentia-se tão desorientada  que recebeu  muito agradecida  as frescas gotas de  chuva; confusa, apoiou-se no braço que ele lhe  passou pela cintura. 

De repente, Angelos soltou um palavrão, atraindo-a  para si. No entanto,  Maxie ainda  pôde distinguir a  um fotógrafo que escapava correndo.  Imediatamente saíram depois dele dois guarda-costas de  um carro estacionado por trás da limusine. 

- Meus  homens conseguirão esse filme  – lhe  exclamou Angelos relaxando-se um pouco. 

Maxie estava sem fala. Muitas vezes tinha desejado poder evitar as câmaras dos paparazzi, mas nunca tinha  visto um despregue como o que  acabava de  fazer Angelos para proteger sua vida privada. 

Desde depois, pensou com amargura, estava claro que não o tinha feito por  ela. Intuía que ele faria tudo o possível por  não aparecer em  público a  seu lado. 

Ainda tremia quando ele a conduziu a  um luxuoso elevador. 

- Aonde vamos? - perguntou confusa enquanto subiam. 

As  portas  se abriram sem um ruído diante um enorme vestíbulo de  mármore.

- A  meu apartamento, onde se não? 

Imediatamente,  Maxie  se  pôs  alerta.  Se  aquele fotógrafo  tinha conseguido fugir, teria  uma foto  mais do que comprometedora; não lhe resultava difícil imaginar o que  pensaria as pessoas  ante aquela imagem. Como podia ter sido tão tonta? 

- Pensei...  que me levavas a casa de Liz - murmurou incômoda. 

- Nunca disse que fora a  fazê-lo - disse Angelos zombador, -, e depois do ocorrido no carro, a verdade é  que prefiro fazer-te amor em  minha própria cama. 

A  Maxie começaram a  tremer os dentes. 

Uma qualquer, isso é o que pareceria na foto, e assim era como ele a estava tratando. 

- Maxie... – percebendo-se de  sua turvação, Angelos mudou de  estratégia, -, Para  valer pensou que ia  respeitar-te mais porque me dissesses  que  querias  esperar  um  pouco  mais?  Não tenho tempo para estar-me com essas tolices... 

- Não, claro que não. 

- E não creio que teus sentimentos sejam muito diferentes.    Suponho que  estaremos  juntos ao menos seis meses – disse, - pode ser algo mais inclusive. Desejo-te como não desejei a nenhuma outra mulher em  muito tempo. 

- Pois tome um chuveiro frio - lhe  espetou Maxie, erguendo-se orgulhosa.  No entanto, tremia  tanto que a  jaqueta  se lhe deslizou dos ombros e ficou no solo feita um farrapo. - Não sou uma mesma à que possas levar à cama quando tu queiras. 

- A verdade é que, para começar só queria convidar-te a comer, mas ... - admitiu Angelos. 

- Sim,  para que perder o tempo, não? - lhe  interrompeu Maxie desagradada. - Encontrei-me com muitos homens sem escrúpulos em  minha vida, mas tu  superas a  todos. Talvez te  crês que um simples beijo te dá direito sobre mim? 

- O desejo que existe entre os dois é autêntico e muito forte - replicou arrogante. - Talvez me pedes que me desculpe por  algo que tu também  sentes e na  mesma  medida que eu? -  Não...  parece-me que tu não és dos que se desculpam - disse Maxie acovardada.

- Tens razão: és tu que primeiro fazes uma coisa e depois dizes outra,  não eu - disse  Angelos friamente.  - Faz muito tempo que eu deixei desses joguinhos.

Ainda que  cada  músculo das costas lhe  doía,  Maxie se propôs manter  fosse  como  fosse  a  mesma  atitude  de  rainha  ofendida. Tiraria forças da mesma vergonha que sentia por  ter permitido que ele a tocasse. 

- Não direi  que foi  um  prazer conhecer-te  porque  não  o foi, Angelos...  és asqueroso - disse, e dando-se a  volta se dirigiu para o elevador. 

- Maldita  seja !  - Não  podes  ir embora !  -  exclamou  Angelos acercando-se a  ela  de uma  passada.  - Quem tu pensas que és para falar-me nesse tom? 

- Basta !  -  Não quero ouvir nem uma palavra mais!

- Pois vais ter que me escutar - insistiu Angelos fechando-lhe o passo.  A ficou  olhando com feroz determinação.  - Talvez crês que não sei que foste viver com Leland de um dia pro outro?  Quase nem lhe conhecias, saíste do nada. - Se estava claro como a água que não sentias nada por  ele! 

- Eu... - sussurrou Maxie, surpreendida  ante aquela estratégia. 

- A verdade  é que Leland te aborrecia,  e tu não te molestavas o mínimo por  dissimulá-lo. Mal podias suportar que te  tocasse, mas agüentaste  a  seu lado três anos  inteiros.  Talvez  assim  é como se comporta uma mulher sensível e com princípios? Te vendeste por um armário de trajes de  marca ! 

- Não ! - Não é verdade! - protestou Maxie. 

- Não?  Talvez um dia te levantaste e te disseste: « Eu mereço algo  mais  do que  isto.  Não  quero seguir  vivendo desta  forma »? - Angelos estava sendo implacável. - Podes protestar o que queiras, mas eu vi com meus próprios olhos: não sentias absolutamente nada por  ele, simplesmente te  vendeste ao melhor concorrente. 

Maxie sentia crescer a náusea em  seu interior. 

- Não.., não... - se limitava a dizer enquanto voltava ao interior do apartamento. 

- E eu sou tão tonto, que, ainda sabendo-o, ainda te  desejo. Eu não quero  comprar-te...  digamos que  eu sou tão ingênuo como para pensar  que as  coisas  não têm  por que ser assim entre nós...  Como evidentemente te agrado, talvez  posso até  esquecer  de que minha imensa  riqueza  tenha  tido  algo que  ver  com que  estejas comigo. 

Maxie  parecia  uma  estátua;  não  se atrevia  nem a  mover-se  por  temor a  romper-se em  mil pedaços. 

- Nunca te  perdoarei por  isto - sussurrou, e era como se cada palavra abrisse uma nova ferida em seu maltratado coração.- Leland nunca foi meu amante, tínhamos feito um trato... 

Angelos a interrompeu com uma maldição em  grego. 

- Talvez me tomas por  tonto? 

Maxie se disse que tinha  sido uma completa estúpida ao tentar defender-se. Só tinha posto em  evidência sua própria debilidade ao pretender que aquele grego arrogante não pensasse mau dela. 

- Afasta-te de  mim, ou... 

- Me  parece que decidiste como  tinha  que ser tua  vida  muito antes  de  conhecer-me,  não ?  Que  é  o  que  queres ? - perguntou Angelos sem deixá-la terminar. 

Maxie lançou uma  gargalhada  histérica, lutando furiosamente por conter as lágrimas. 

- Só desejo o mesmo que todo mundo  - confessou, com os olhos brilhantes como duas estrelas. - E algum dia, quando tudo isto tenha passado, o terei. - Não vais conseguir-me,  Angelos, não penso fazer amor contigo a  não ser que me arrastes à  cama e me amarres, está claro?  -  Por mais que me desejes,  não  me  terás  nunca  - Angelos parecia incapaz de  afastar a  vista dela. - Más notícias  – continuou, eu sou a  que me marcho.  Mas, por  que teria  de  molestar-te isso? Afinal de contas  - concluiu sem poder reprimir-se, tu és um homem sem sentimentos. 

- Que é o que queres de  mim? - replicou Angelos selvajemente. Nunca poderia  amar a  uma mulher como tu. 

- Tanta sinceridade me comove! - exclamou Maxie tristemente, ainda que estava tremendo como uma folha. -  Mas, no entanto, isso não te  impede desejar-me, verdade? Sabes de uma coisa, Angelos? Alegro-me de saber,  muito  obrigado, fizeste  maravilhas por  meu maltratado amor próprio - se mofou. 

- És uma...  não me tinha  dado conta até  agora  - disse Angelos sem nenhuma emoção.  Cada uma de  suas palavras era tão corrosiva como o ácido. - Está bem: põe então o preço por  uma  noite. Quanto crês que mereces? 

Maxie se ergueu sem pensar-se dois segundos. 

- Não creio que tu possas pagá-lo  - disse  olhando-o de  frente.    Agora  quero bem  mais do que  um simples armário cheio de roupas. Já te disse que aprendi com meus erros, Angelos. O próximo homem com  quem eu viver será meu marido. 

Angelos ficou mortalmente pálido. 

- Se por  um só segundo chegaste a  pensar... 

- Por  suposto que não! - lhe interrompeu Maxie, - mas suponho que  agora  entenderás  por  que  não  posso  comer,  sair  ou dormir contigo. Não  quero que  me relacionem  com um milionário  grego de  duvidosa reputação. Tenho que cuidar minha nova imagem. 

- Terás que engolir estas palavras cada dia que passes comigo! - estourou Angelos. 

- Realmente, custas entender as coisas: não penso estar contigo nem  um  só  segundo Angelos...  e  sem adicionar nada  mais, saiu da habitação como uma tromba. 

Quando  já estava na rua, deu-se conta de  que tremia tanto que lhe  custava  inclusive andar.  Ainda  que  não podia  permitir-se, decidiu parar  um  táxi.  ....Sentia - se terrivelmente  confusa,  enquanto  as imagens do  que  ocorreu  davam  voltadas  ao  seu  redor como  num redemoinho. 

Como  era  possível  que  duas pessoas que mal se conheciam se tratassem daquele modo? 

Como tinha  podido de uma  forma  tão odiosa?  Se quase tinha desfrutado lançando-lhe todas  aquelas maldade !  Ao recordá-lo, se sentia quase fisicamente enferma, vazia... 

Angelos  Petronides  quase  tinha  acabado  com  ela...  mas , ao menos, disse-se para consolar-se, não voltaria  a  molestá-la. Era um homem demasiado orgulhoso para expor-se  a  que lhe  recusasse de  novo. E no entanto, por que tinha aquela terrível sensação de  perda? 

Ainda  se  atrevia  menos  ao  examinar  de  perto  seu  próprio comportamento.  Tinha  reagido como uma  completa estúpida, como uma adolescente inexperiente! 

O que  lhe  agradava  mais  do que  estava  disposta  a  admitir, mas  cega  e  obstinada  como  a  mais  ingênua  das menininhas, nem sequer se o tinha admitido a  si mesma até que tinha sido demasiado tarde. « Me dei conta de que não te resulto indiferente », tinha-lhe dito Angelos.  Envergonhada,  deu-se conta  de  que  tinha  estado a  ponto de  pôr-se  em  evidência,  não  podia  permitir-se  mais erros desse calibre. 

Por  suposto, ele não a tinha crido quando lhe  tinha contado a verdadeira natureza de  sua  relação com Leland.  Não o teria feito nem ainda  que lhe  tivesse ensinado um certificado  de  virgindade. Estava segura de  que ele a considerava como uma espécie de  prato preparado, barato e pronto para devorar, não para saboreá-lo. Nem por  um  momento acreditou que, ainda  aceitando sua oferta, ele se mantivesse a  seu lado nada menos que seis meses. 

- Os homens te prometerão a lua para conseguir que te dormes com eles - lhe  tinha advertido seu pai. - O único que valerá a pena é o que esteja  disposto a  esperar,  o que para  valer se preocupe por  teus sentimentos. 

Tinha recebido aquele conselho  quando precisamente começava a  enfrentar às conseqüências mais terríveis de sua  incrível beleza: as  noivas  dos  garotos  que  conhecia  a  odiavam;  homens  feitos e direitos a  acossavam para  que saísse com eles; inclusive os garotos de  sua  idade ,  que  normalmente  se  sentiam  intimidados  quando estavam  a  sós com ela, depois espalhavam toda  classe de  calúnias.   Tinham passado  oito anos  desde  então, e  ainda  estava esperando àquele homem ideal. 

Levava uma  hora em  casa de  Liz quando  soou  o telefone. Era Catriona  Ferguson , a  encarregada  da  agência  de  modelos  à  que pertencia desde que completou os dezoito anos. 

- Tenho más  notícias...  -  anunciou  sem  mais  preâmbulos.  - O departamento de  publicidade de  LFT Haircare  nos comunicou  que decidiram prescindir de  ti  para  a  próxima campanha. 

-  Já o esperava - se limitou a  dizer Maxie. 

- E  me  temo que não temos  nada  em  perspectiva  - continuou Catriona.  - A verdade, não  me surpreende, já  que tua imagem está demasiado sócia  a  seus produtos. Adverti-te  dos riscos  que tinha assinar  um  contrato  em  exclusiva;  agora  mesmo , tens  muito má imprensa. 

Fazia um  mês desde que  se mudasse de  casa de  Leland, e em  todo aquele tempo não tinha  trabalhado nem uma  só vez. Começava a resultar inquietante a necessidade de ganhar-se a vida por  outros meios , pois sua  conta  bancária  estava  praticamente  a  zero. Não podia  culpar a  Catriona do ocorrido; sempre lhe  tinha aconselhado que  se  decidisse a  trabalhar  em  desfiles de  modas , mas  com  a trepidante vida social de Leland e seu compromisso com ele, tinham lhe impedido aceitar qualquer compromisso.

Horas mais tarde , ainda  seguia sentada  na salinha da casa de  Liz, ao lado de  uma  estufa, tentando pôr suas idéias  em  ordem. O único bom que  lhe tinha acontecido tinha sido livrar-se  de Angelos. 

De repente notou uma coceira no braço; surpresa, fixou-se  em  que tinha  uma  espécie de  erupção na  pele.  Não cria  que se devesse a  que tivesse comido  algo  em  mau estado , pois  nos últimos dias mal tinha  sido capaz de comer nada. Ficou dormindo no cadeirão; porém quando acordou horas mais tarde, quase se arrastou até o quarto de  convidados, caindo de  imediato num profundo sonho. 

Na manhã seguinte se sentia ainda pior. Enquanto  se escovava os dentes  viu que tinha  outra  erupção  na  testa.  Parecia varicela, disse-se; de repente se lembrou que fazia um  par de  dias, uma dos vizinhas  tinha  deixado  ao  cuidado  de  Liz  a  um menino que tinha exatamente as mesmas marcas na cara. 

Apreensivamente  Maxie examinou o resto dos sintomas: tosse rouca, garganta ardente, febre...  Fosse o que fosse se sentia fatal, assim que se voltou à cama. No entanto, teve que se levantar em seguida para atender o telefone. 

- Alô ? - perguntou no meio de  um acesso de  tosse. 

- Sou Angelos, que é o que te  passa? 

- Tenho... estou resfriada – mentiu. - Que é o que queres? 

- Ver-te... 

- Nem  em  sonhos !  - exclamou, e pendurou o telefone. Poucos instantes  voltou  a  soar, mas ela  o desconectou. Também ignorou o timbre da porta. 

Permaneceu sonolenta o resto do dia, até que por  fim acordou. Custava-lhe muito respirar e lhe doía enormemente a cabeça. Começou a  pensar que precisava de um médico, e enquanto o fazia o timbre da porta não parava de  soar. 

Saiu da cama , mas as pernas lhe falharam e caiu ao solo. Se lhe  saltaram lágrimas  enquanto  se  arrastava , tentando recordar onde estava o telefone. AO longe ouviu como se algo se rompesse, cristal talvez, e depois o murmúrio de  umas vozes. Talvez se teria deixado a televisão ligada? Reuniu as poucas forças que  ficavam para seguir avançando, mas, de repente, foi como se o solo se desvanecesse.

 

OUVIU uma voz masculina que já lhe  era muito familiar dizer algo numa língua estrangeira, e viu um par de  pés a  seu lado. Sentiu que alguém a levantava e começava a sacudi-la. 

- Estás cheia de...  manchas ! – exclamou Angelos no cúmulo da incredulidade. 

- Vê-te... - murmurou Maxie.

- Tens umas pintas do mais raro. Eu achava  que só os meninos tinham varicela - comentou Angelos quase acusadoramente. 

- Deixa-me só...  começou a dizer Maxie, mas ficou sem forças para continuar. 

Sem fazê-la o menor caso, Angelos foi ao dormitório a procura do edredom e a envolveu nele. 

- O que  estás fazendo ?  – gemeu , incapaz  de  fazer  o menor movimento para impedir-se. 

- Ia a caminho do meu  sítio para passar o fim de  semana. Mas agora  me parece  que terei  que ficar na  cidade  e levar- te ao meu apartamento, -  disse  Angelos  sem  o  menor  entusiasmo  perante semelhante  perspectiva  e , sem  mais  preâmbulos , levantou-a  nos  braços. 

Ainda que estivesse muito débil , Maxie tinha tão arraigada em  seu cérebro a  idéia de  que não queria ter nada  que ver com aquele homem , que de imediato foi como se acendesse um sinal de  alarme em  seu interior. 

- Não... tenho que ficar aqui e cuidar da casa. 

- E a  mim me agradaria  que o fizesses , mas  não pode ser. 

- Se o prometi a Liz...  marchou-se e tem medo de que entrem a  roubar... baixa-me... 

- Não posso deixar- lhe só em  semelhante  estado - Angelos a olhou  como  estivesse  esperando que  se produzisse uma  milagrosa recuperação. 

Maxie enterrou o rosto em seu ombro, sentiu-se mortificada. Demasiado débil e enferma  para  resistir-se , mas não para odiá-lo. 

- Não quero ir a nenhuma parte contigo - insistiu entre tosses. 

- Pois não vi a  muitos  voluntários dispostos a  substituir-me... Por que estás choramingando desse modo ?  - perguntou impaciente. Deteve-se um  instante no recebedor  para  afastar-lhe o cabelo do rosto para  obrigá-la  a que o olhasse.  - Desviei-me de meu caminho porque sabia que estavas enferma. Sentia-me obrigado a  passar-me para ver se tudo ia bem. 

- Não estou choramingando - protestou Maxie. 

- Mas te  direi que  a verdadeira razão pela que queria vir era para devolver-te teu dinheiro e para dizer-te que não tinha a menor intenção de  insistir mais. 

- E por que não fizeste isso? 

- Porque estavas atirada no solo, delirando com mais manchas do que um dálmata.  Talvez é isso justo ? - O que passa é que eu não vou por  aí choramingando. 

- Eu também não - repetiu Maxie. 

Angelos  a levou  até a  limusine e a  deixou num dos assentos, como um enorme vulto com o que não tivesse a menor relação.

Maxie se deu  conta  que não  estava só:  defronte  viu a  uma formosa  ruiva , com  uma  linda  tiara  de  diamantes , vestindo num espetacular traje de  noite,  e que se lhe  ficou olhando perplexa. 

- Já tiveste  varicela, Natalie? - perguntou Angelos. 

Era  Natalie Cibaud , uma famosa  atriz francesa que acabava de  trabalhar numa superprodução americana. Pelo visto, a Angelos não lhe  tinha custado muito consolar-se, 

- Leve-me para casa ! – Natalie lhe  pediu com voz rouca. 

- Mantém- te à  margem - lhe gritou Angelos. - Tudo  isto não tem  nada  que  ver contigo:  nenhuma  mulher  me  controlou  nunca. 

Mas por desgraça para ele, aquela era uma batalha perdida. Quando resultou evidente que não ia dar resposta a  nenhuma das demandas de  Natalie, esta fez que a limusine se detivesse, e impetuosamente desceu , não sem antes dizer-lhe algo muito ferino em  sua língua. 

- Me imagino que te terá encantado ver esta cena - comentou Angelos gelidamente enquanto o carro arrancava a  toda velocidade. 

Mas  Maxie se  limitou a  olhar  inexpressivamente  o assento  vazio frente a  ela. 

- Não entendo o francês  – disse , fechando os olhos de  novo. 

Angelos murmurou uma maldição entre dentes e se dispôs a  chamar pelo telefone celular.  Apesar de  sua  debilidade,  Maxie  não  pôde reprimir  um  sentimento  de  triunfo...  ...aquele  arrogante  de  que desejavam quase todas as  mulheres da  cidade , tinha- se visto  ser chasqueado por  duas das  mais desejadas mulheres do momento em  menos de  quarenta e oito horas. Isso lhe  ensinaria uma lição. Pouco a pouco se sentiu incapaz de seguir pensando em  nada mais, até que chegou um momento em  que se sumiu numa inconsciência febril.

- Se sente um pouco melhor, senhorita Kendall?

Maxie piscou um pouco. Aquela cara lhe parecia vagamente familiar. Uma mulher com uma bata branca, evidentemente uma enfermeira, estava a  seu lado tomando-lhe o pulso. 

- O que aconteceu comigo?  - murmurou.  Mal recordava nada mais que os acessos de tosse , a dor aguda no peito e  a  dificuldade  para respirar. 

- Acaba  de passar uma pneumonia.  Não é comum, e pode ser bastante perigoso - lhe  explicou suave a  enfermeira. - Tem estado delirando há quase cinco dias. 

- Cinco  dias ?  - Maxie ficou olhando o espaçoso dormitório no que  se  encontrava.  Indubitavelmente , estava  no  apartamento de  Angelos. Ainda que os móveis fossem  elegantes  e muito caros , não tinha o menor toque feminino na decoração. 

- Teve muita sorte de  que o senhor Petronides a encontrasse a  tempo - continuou a enfermeira, sacando-a de sua distração. Pode-se dizer que a  salvou a  vida  ao dar-se conta  da  gravidade de  sua doença tão rápido. 

- Não quero dever-lhe nada mais !  - gemeu Maxie horrorizada. A jovem a olhou incrédula. 

- Como podes dizer isso depois  que o senhor Petronides tenha posto a  sua  disposição  aos melhores  especialistas do país e tenha contratado toda uma equipe de enfermeiras para atendê-la...? 

- A  senhorita  Kendall tem  estado muito  enferma , assim que pode  dizer o que queira – a  interrompeu Angelos desde a  porta da habitação. - Pode tomar-se um descanso, enfermeira, eu ficarei com a paciente. 

- Sim , senhor Petronides  –  ruborizando-se , a enfermeira se retirou a  toda pressa. 

Impulsivamente, Maxie se jogou o lençol acima da cabeça. 

- Vá ! Pelo que vejo a enferma está melhorando por momentos - comentou  Angelos quanto se teve fechado a  porta. - E segue sendo tão  ingrata  como  sempre...  - Não  sei por  que ,  mas  isso  não me surpreende. 

- Vá-te! - murmurou Maxie, repentinamente consciente de  que tinha o cabelo  muito sujo  e de  que , provavelmente , as manhas  se teriam multiplicado. 

- Estou  em  meu apartamento  - disse Angelos  secamente , - e não penso  marchar- me.  Te  direi que  vim ver- te todos estes dias para comprovar como estavas. 

- Não me importa. - Se eu estava tão enferma , por que não me levaste ao hospital? - perguntou Maxie embaixo do lençol. 

- O maior especialista  neste campo é muito grande amigo meu. Como respondeste muito bem ao tratamento , não viu a necessidade de mudar-te. 

- Ninguém me perguntou nada! - se queixou Maxie, e começou a  coçar-se no quadril. 

Sem prévio aviso, Angelos retirou o lençol. 

- Não se te ocorra coçar-te! Terás cicatrizes por todo o corpo se o fazes. Se voltou a  pilhar-te, te atarei as mãos para impedir-te - lhe ameaçou. 

- És um porco  lhe xingou Maxie, a ponto de perder os estribos ante aquela arrogância. Não tinhas nenhum direito a trazer-me aqui. 

- Não estás em  condições de  dizer-me o que tenho ou não que fazer, -  lhe  recordou  Angelos  brutalmente. -  Não  penso discutir enquanto sigas  convalescendo. -  Se te  serve de  consolo para a tua maldita vaidade te direi que essas manchas me acabaram parecendo ainda mais atraente... 

- Cala-te! - gritou Maxie, e ato seguido se desaprumou sobre os travesseiros esgotada pelo esforço. 

Apesar de  sua debilidade, Angelos lhe  tinha parecido tão atraente como lhe  recordava:  usava  um traje bege com uma  gravata cor de caramelo e uma  camisa  de  seda  a  jogo.  Aquelas cores tão suaves contrastavam  de  maravilha  com  sua  pele morena.  Por  contraste, Maxie se via mais desalinhada do que nunca; furiosa , deu-se a volta para não o ver. 

- Estarei em  Atenas por dez dias  - disse  Angelos conciliador rodeando  a  cama.  – Espero que  te recuperes  de  tudo em  minha ausência. 

- Não penso estar aqui quando regresse... - Oh, não!  A casa de  Liz se ficou vazia  todos estes dias ! - exclamou Maxie sentindo-se muito culpada. 

- Não, contratei a  uma pessoa para que vá cuidá-la. 

A  Maxie lhe deu um tombo o coração: aquele homem não só se tinha feito cargo do empréstimo de Leland, como tinha pago o tratamento médico que  estava  recebendo , e , para o cúmulo , também se tinha ocupado da  casa de  Liz. Não poderia  devolver- lhe tudo aquilo nem no que lhe  ficava de  vida. 

- Obrigada - murmurou secamente, ainda que só fora pelo favor que lhe  tinha feito a  sua amiga. 

- De  nada – replicou  ironicamente. - E  espero que estejas aqui quando eu voltar , pois , caso contrário , irei procurar-te... 

- Não te  ocorra falar-me como se fosses meu dono! - exclamou Maxie frenética. – Faz  só uns quantos dias  estavas com essa  atriz francesa...  e  me  disseste  que  nunca  mais  voltarias  a  chamar  a  minha porta.

- És tu a que chamou à minha... Ah  Referes-te a  isto... - disse, e tirou uma jóia de  ouro de  sua carteira, deixando ao lado da cama. 

Maxie ficou olhando atônita o bracelete que tinha empenhado. 

- A  manchete do  jornal dizia:  A Rainha  de  Gelo  no  Morro de  Piedade  – disse Angelos franzindo as sobrancelhas sardonicamente. Suponho que  o mesmo  dono chamou aos  jornalistas. Eu encontrei o recibo em  tua bolsa e pude recuperá-lo. Maxie o olhou boquiaberta. 

- Não terás que  suportar o acesso da  imprensa  enquanto tiver comigo - lhe  ofereceu  Angelos  muito seguro  de  si mesmo. - Eu te  protegerei. Também não terás que voltar a  empenhar nada. E muito menos voltar a fazer esses tontos anúncios nos que saías penteando te as tranças no meio de um prado alpino talher de  flores... 

Ela se limitou a  fechar os olhos, sem forças para brigar com ele.    Era como um tanque que o arrasasse tudo  a  seu passo. Só um míssil poderia detê-lo. 

- O silêncio te acenta bem - comentou satisfeito. 

- Te  odeio - murmurou Maxie. 

- O que odeias é desejar- me tanto – a  contradisse Angelos com ênfase. - E me parece justo , não crias: quando te  imagino tombada ao lado de  Leland, tão tesa como um bloco de  gelo , a  mim também não me faz graça a idéia de  desejar-te tanto. 

Maxie escondeu a cara entre os lençóis, morta de vergonha. 

- Limita-te a  comer bastante e  a  descansar - lhe  aconselhou Angelos agachando-se para ela. - Para quando volte da  Grécia tens que estar totalmente recuperada. 

Maxie deu uma mordida ao travesseiro, fervendo de  raiva. Naquele momento teria vendido sua alma ao diabo a  mudança de  poder dar-lhe uma  bofetada. Ao cabo de um momento se atreveu a  assomar a cabeça, supondo que já se tinha ido. No entanto, ele ainda estava na porta. 

- Na  verdade  -  lhe  disse antes de sair , - eu espero  que sejas discreta com a imprensa a respeito desta relação... 

- Não temos nenhuma relação! - lhe interrompeu. - Não admitiria ter estado em teu apartamento nem que os paparazzi submetessem me a tortura. 

Angelos  a  ficou olhando satisfeito  um instante antes de  marchar-se , deixando- a tão abatida  e acovardada  como um  ratinho que se acabava  de  escapar das garras de  um gato.

 

Por  fim acabou de  empacotar suas coisas. Enquanto jazia enferma, Angelos tinha  feito que lhe  levassem todas suas roupas da casa de  Liz. Tinha-se posto furiosa ao inteirar-se. Talvez pensava para valer que ficaria com ele depois de  curar-se? 

Durante os dois dias que  seguiram  a  saída de  Angelos , fez tudo o possível  por recuperar- se quanto  antes. Por  fim o especialista lhe  disse que  estava já curada , ainda que lhe recomendou que  tomasse as  coisas  com  calma.  Decidiu  que  o  melhor seria  ser  sensata  e aproveitar essa oportunidade que se lhe apresentava  de  descansar calmamente a casa de Angelos, atendida por seus serventes gregos. No entanto , decidiu marchar- se antes de  que voltasse Angelos , o mesmo dia em  que Liz tinha previsto regressar. 

Dois dos  guarda-costas de  Angelos  lhe  ficaram  olhando inquietos enquanto  amontoava  suas coisas  no vestíbulo.  Nenhum deles fez a menor tentativa por ajudá-la. 

- O senhor Petronides... – começou  a  dizer- lhe o mais veterano. 

- Será melhor do que se mantenha à margem disto - lhe advertiu Maxie enquanto chamava ao elevador. 

- O  senhor  Petronides  não  deseja  que vá  embora  , senhorita Kendall.  - Vai-se a  enfadar... 

- E? 

- Fará que a sigamos , senhorita... - confessou. 

- Não! -  Nada disso – murmurou  amavelmente  Maxie.  - Não me agradaria ter que avisar à polícia. Ademais , estou segura de  que os jornais dariam a notícia, e ao grande chefe não lhe agradaria nada a publicidade, não é verdade? 

O elevador  chegou por  fim e ela se apressou a  colocar suas malas. 

- Permita que lhe  de um conselho: o senhor Petronides pode ser um inimigo implacável. 

Maxie se disse  que não  era  de se estranhar que  aquele homem estivesse tão cheio de  si mesmo.  Sua riqueza  e ilimitado poder lhe  deviam tê-lo feito crer que era um semi deus, acostumado sempre a  obter tudo que  desejava. Jurou- se a  si mesma  que  a  ela  nunca a conseguiria: sua mente era só sua, o mesmo que seu corpo, e ele não poderia tê-la, jamais. 

Por  fim chegou a  casa de  Liz , da que , seguindo suas ordens, já se tinha ido a  pessoa  contratada  por Angelos. Exausta , preparou- se uma xícara de café e se pôs a revisar o correio, onde encontrou uma carta dirigida a  ela. 

A tinha  enviado uma  agência  imobiliária , e , devido  aos nervos e à dislexia, ao  princípio  lhe  custou um pouco entender o que dizia. Em  realidade, desejavam contatar a Russ , mas lhe tinha sido impossível encontrar sua  direção , pelo que se  dirigiam a  ela  como  pessoa de  contato. Solicitava instruções a respeito a  uma propriedade de  seu pai que tinha  ficado vaga. Pouco a  pouco , Maxie  foi  se lembrando.

Seus  avôs tinham morrido quando  seu pai era  ainda  um menino. Já então se lhe  considerava  a  ovelha negra da família , então só tinha ele  herdado uma  pequena  casa  e uma  correspondente parcela  em  Cambridgeshire. No entanto, não pôde ocupá-la nem vendê-la porque vivia nela uma antiga inquilina que não estava disposta a marchar-se.

Maxie telefonou de  imediato à agência. 

- Não  posso  dizer- lhes  onde está meu  pai  por  que não o sei - admitiu tristemente. - Faz muito tempo que não sei nada dele. 

- A anciã inquilina foi viver com uns parentes. Se seu pai deseja arrendar a  propriedade de  novo , terá que  fazer muitas reformas. No  entanto – continuou  o  agente , - a  propriedade está  num lugar ideal para edificar , e se seu pai o deseja , podemos encarregar-nos de  vendê-la. 

Maxie estava segura de  que isso precisamente seria que seu pai iria querer...para esbanjar o dinheiro nas corridas de cavalos ou no jogo. Respirou fundo e  perguntou se tinha  algum  problema  para que ela passasse a  procurar as  chaves e se fizesse  cargo da casa. Quando pendurou o telefone , era tal o redemoinho de  idéias  que fervia em  sua  cabeça  que teve que se sentar  para pensar com calma. O único verdadeiro era  que  precisava de  uma casa  e que sempre lhe  tinha agradado  viver  no campo. Se  tinha  a  valentia suficiente , poderia começar de  novo. Afinal de  contas , em  Londres só lhe  ficavam os miseráveis  restos de uma  carreira  de  modelo que  lhe  tinha dado mais dissabores do que alegrias. Supunha  que poderia encontrar um trabalho na comarca como garçonete ou vendedora , postos nos que, ademais, contava com certa experiência. 

Quando Liz regressou , Maxie estava já mais do que decidida, assim que se limitou a expor seus planos ante cada vez mais atônita amiga. 

- Se a casa está realmente mau , te custará uma fortuna pô-la em condições , Maxie lhe recordou preocupada. – Eu  não quero lhe desencorajar- te, mas me parece que...

- Liz, escuta: nunca quis ser modelo e, agora , ademais, não tenho nenhum trabalho - argumentou Maxie.  - Esta pode ser minha oportunidade para começar uma nova vida. Custe o que custar, quero  tentá-lo. - Deixarei o endereço na agência, pois se querem contratar-me para algo, mas o verdadeiro é que não posso permitir- me ficar- me sentada  sem fazer nada. Pelo menos, se conseguir ganhar um pouco de dinheiro , poderei começar a devolver-lhe o empréstimo a  Angelos. 

Maxie tivesse querido evitar ter que lhe  contar a  sua amiga que tinha  estado enferma , mas não lhe parecia  justo não lhe dizer que um  estranho tinha estado cuidando da  casa  durante sua  ausência. No entanto, Liz pareceu preocupar-se mais por  sua doença e o papel desempenhado nela por Angelos Petronides. 

- Juraria que esse homem está completamente apaixonado de  ti! - exclamou, sacudindo a cabeça. 

- Já !  Nem sequer sabe o que significa essa palavra! O que passa é que  ele faria  qualquer coisa  para  conseguir o  que  deseja. Deve crer que quantos mais favores me faça , mais obrigada me sentirei a  corresponder-lhe. 

- Maxie, se ele tivesse te deixado aqui só , provavelmente terias morrido. Não deverias estar agradecida?  - perguntou Liz incômoda.    - Podia ter-se limitado a  chamar a  uma ambulância. 

- E perder-se a oportunidade de ter-me em  suas garras? - replicou Maxie cinicamente. -  Nem pensar! Sei muito bem como funciona seu cérebro. 

- Talvez  tenhas bem  mais  em  comum do que  estás disposta  a  admitir - comentou sua amiga reflexivamente.

 

Maxie  chegou ao chalé dois dias depois. À luz do entardecer , tinha um aspecto um pouco sombrio , mas estava  situado num lugar muito formoso. Tinha  um  caminho  que chegava  até  a  porta  rodeado de  preciosas árvores. 

Tinha conseguido por  um pouco de dinheiro em  sua conta vendendo a maior parte de seu armário. 

Depois  de  explorar detidamente seu novo lar , seu  entusiasmo não decaiu um ápice. Ainda  que as paredes pediam  aos gritos uma  mão de  pintura, decidiu que as reparações das que lhe  tinham falado na agência imobiliária poderiam esperar. 

Encantou-lhe a pequena chaminé que alegrava o salão, ainda que não podia  dizer  o  mesmo  do  tanque  ou  do estado  dos  sanitários do quarto balnear. Mal tinha os móveis imprescindíveis, por isso que ela esperava  que lhe trouxessem a uma cama  nova  naquele mesmo dia. 

A casa estava a  uns dois quilômetros do povo mais próximo. Quanto lhe  trouxessem a cama , pensou , chamaria ao hotel para perguntar se podiam oferecer-lhe algum trabalho. Como já  estavam em  plena temporada alta , supôs que  não lhe  seria  muito  difícil conseguí-lo. 

Cinco  dias  mais tarde  Maxie  já  estava  em  seu  terceiro  dia  de  trabalho a  meia  jornada  como garçonete  no animado bar do hotel. Começava a  pensar  que aquele posto  não  era  tão estupendo como tinha suposto no princípio. 

Por que não lhes tinha perguntado se teria que servir comidas antes de  aceitar ?  Estava  acostumada a  servir bebidas, mas lhe custava muito anotar pedidos complicados a  toda velocidade. 

Maxie viu Angelos quanto este entrou no bar. Quanto sua imponente silhueta  se recortou na  porta , todo  mundo se  voltou para ele. Era como um gigante entre pigmeus. 

Usava um traje cinza  escuro ,  uma camisa de seda  e uma gravata a  jogo. Parecia  insultantemente  rico , quase um pouco fora  de  lugar inclusive. Maxie notou que o coração começava  a  bater- lhe a  toda velocidade; de repente , a estadia lhe  pareceu mais abarrotada que nunca, quase lhe faltava ar para respirar. 

Angelos  a ficou  olhando fixamente , fazendo que se sentisse como um coelhinho surpreso pelas luzes de  um carro. 

Com um  grande  esforço , conseguiu concentrar- se para  acabar de  tomar nota na  mesa  a que estava  atendendo. Pregueou  os menus e se dirigiu às cozinhas o  mais  rápido que pôde. Mas não o suficiente como para que Angelos não a interrompesse. 

- Pára um momento - lhe  ordenou baixinho. 

- Como me encontraste? 

- Catriona Ferguson , a diretora  da agência , não achou nenhum inconveniente em  dizer-me - disse. 

Com um rápido movimento, Maxie conseguiu eludi-lo,  continuar para a cozinha. Quando saiu  comprovou com surpresa  que Angelos  tinha sentado numa das mesas que lhe tocava atender. 

Ainda que se esforçou por  ignorá-lo , sabia que ele não tirava o olho de cima dela. Começaram a suar-lhe as mãos e a  tremer, a tal ponto que quase se derramou em cima uma das bebidas que ia servir. 

Por  fim se lhe  acercou Dennis , o chefe de  garçons. 

- Viste ao tipo da mesa seis ? - perguntou quase desculpando- se, olhando seu formoso rosto com expressão de carneiro degolado. - É estranho:  algo nele me  resulta familiar, mas não sei onde lhe  pude ver antes. Maxie  se obrigou a  acercar- se a  Angelos , que  parecia calmo tamborilando impaciente sobre a mesa. 

- Sim? - perguntou. 

- Esse uniforme que usas é tão curto que pareces uma garçonete francesa de opera - lhe  espetou. - Cada  vez que te  agachas, algum destes tipos baixa a cabeça  para ver melhor o panorama, inclusive o maitre! 

Maxie enrijeceu bruscamente. Efetivamente, o uniforme lhe  estava um pouco pequeno, mas já tinha esticado o máximo  possível. 

- Vais beber algo ou não? - insistiu secamente. 

- Primeiro me agradaria que me limpasses a mesa - disse Angelos assinalando com desgosto a  superfície de  madeira. - Depois trazes um brandy e te  sentas comigo. 

- Não  digas  bobagens! Eu estou trabalhando! - contestou Maxie afanando-se por deixar a mesa impecável. 

- Trabalhas agora para mim e se eu digo que quero que te sentes, senta-te - replicou Angelos dominante. Maxie ficou em reprovado. 

- Que queres dizer com isso de  que trabalho para ti? 

- Este  hotel  pertence  a  minha  corrente  – rosnou ele, - e ,por enquanto, não me está agradando nada do que vejo. 

Maxie ficou gelada.  Empilhou os pratos  sujos e se dirigiu à cozinha sentindo-se  enferma. Angelos fez um sinal a  Dennis e lhe  ordenou que se  sentasse  a  sua mesa. O jovem parecia  a  mesma imagem da desolação. 

Ainda que tenha  apressado para servir os pedidos , Maxie não pôde evitar que se elevasse um coro de  queixas entre os clientes. 

- Eu não pedi isto!  Lhe  disse que me trouxesse uma salada, não batatas fritas! 

- E eu as queria assadas! 

- Senhorita, este filet não está bem...! 

Desesperada , Maxie se deu conta de  que tinha misturado todos os pedidos. Fazendo-se cargo da situação, Angelos se levantou da mesa e lhe  pediu o bloco. 

- Que é isto? - perguntou  severamente. - Hierográficos egípcios talvez? Aqui não há quem entenda nada. 

Maxie estava mortalmente pálida. 

- Creio que me equivoquei  - se desculpou. Começaram a  tremer-lhe as pernas. – Sinto muito... 

- Não  se  preocupem - disse Angelos aos clientes , -  em seguida lhes serviremos o que pediram. Vamos, Maxie, move-te. 

Viu que Dennis chamava  a  alguém pelo telefone interno. Parecia um homem  superado  pelos acontecimentos. Ao pouco  entrou o diretor do  hotel , que de  imediato se  sentou  com Angelos , com a  mesma expressão de  um bezerro entrando no matadouro. 

Maxie então se deu conta de que era ela que tinha provocado aquele desastre, mas como ia saber que aquele hotel era de Angelos? Recordou – se da  imensa  lista  de  empresas  que  tinha no Edifício Petronides  de  Londres, na  que se  mencionavam desde companhias petrolíferas , até  indústrias de  telecomunicações , passando pelos seguros e outros serviços. 

- Maxie... digo , senhorita Kendall , por favor - a chamou Dennis humildemente...!  ...Perguntou- se o que  lhe teria  dito Angelos para amansá-lo até esse ponto. - O  senhor Petronides diz que pode tirar a tarde livre. 

- Não posso, estou trabalhando – replicou Maxie. 

- Mas... - Dennis estava pasmado. 

- Estou contratada para trabalhar esta  noite e preciso muito do dinheiro... – continuou  Maxie , e  levantando o  queixo desafiante se acercou à  mesa de Angelos para  servir-lhe o brandy. - Não és mais do que um presunçoso e um egoísta - lhe  gritou. 

Antes de  que  pudesse evitá-lo , ele lhe  pôs a  mão  no cotovelo e a obrigou a  permanecer a  seu lado. Lançou-a  uma mirada tão negra e ardente como o mesmíssimo inferno. 

- Se te desse uma pá, seguro que te  punhas a cavar a tua própria tumba tão contente. Vá-te  por teu casaco e vamos. 

- Não, este é meu trabalho e não penso... 

- Te  porei as coisas fáceis: estás despedida - disse Angelos com rudeza. 

Com a mão que tinha livre, Maxie pegou o copo de  brandy e  o jogou em cima das calças. Angelos se  jogou para atrás surpreso e furioso. 

- Se não podes suportar o fogo, será melhor do que te mantenhas afastado da  cozinha - murmurou Maxie, e levantando a  cabeça com a mesma arrogância que uma rainha, deu-se a volta.

 

Quando  Maxie  saiu  do  vestuário  do pessoal...  encontrou- se com  Dennis que a estava esperando. 

- Deves estar louca para tratar desse modo  Angelos Petronides. 

- Me importa o mínimo , já  não trabalho  aqui - replicou  Maxie sacudindo a cabeça. - Podes dar-me o meu pagamento, por favor? 

- Teu... teu pagamento?

- Sim, não entendeu ? - perguntou beligerante. Fez- se  um longo silêncio. 

- Está bem, te darei  - admitiu Dennis por  fim, - mas não sei que pensará o senhor Petronides... 

Quando saiu à rua, estava chovendo em abundância, e apesar de  que levava um guarda-chuva, Maxie se empapou dos  pés a cabeça. Quando mal tinha  caminhado uns passos , deteve- se  a  seu lado um fantástico carro esportivo. 

- Sobe - disse Angelos desde o interior. 

- Vai te catar!  Poderás tiranizar se queres a teus empregados, mas não a  mim. 

- Tiranizar?  - Angelos estava sinceramente surpreso. - Mas tu te fixaste bem em  que condições estava esse local ? - saiu do carro e se plantou de frente para  ela.  - O pessoal era  insuficiente e mau preparado, os clientes levavam horas  e horas  esperando a que lhes atendesse , as  mesas  estavam sujas...  Mas se até o tapete  estava feito um asco!  Se  o diretor não tomar as medidas oportunas, penso despedi-lo. 

Maxie ficou sem fala, não só por sua veemência mas também porque se  tinha  mudado de  roupa, e o ligeiro traje cinza  pálido que usava posto lhe sentava como uma  luva. O ficou olhando  enquanto notava correr a adrenalina por  suas veias. 

- Te  odeio por  ter-me seguido até aqui... - começou. 

- Mas se  estavas esperando que eu o fizesse !  - a interrompeu Angelos, e quanto o teve dito ela soube que era verdadeiro. 

- Vou para casa andando, não penso meter-me em teu carro - se fixou em que, uma vez mais ele estava calando-se por sua culpa. 

- Não quero  desperdiçar toda a noite esperando- te à porta de  tua casa - grunhiu. 

- Assim que já  sabes onde vivo ? - Maxie mal podia dar crédito ao que acabava de  ouvir.  - Pois  não te  molestes  em  ir até ali, não penso abrir-te a porta. 

- Não te dás conta  de que  podem agredir- te por algum desses caminhos tão solitários ? Talvez vale a pena ? 

Maxie  pegou  o  guarda  chuva  com força  e empreendeu o caminho com decisão. Não tinha  percorrido nem  uns dez metros quando viu  adiante dela um grupo de  jovens que a olhavam enviesamente.

Quando passou a  seu lado, começaram a  dizer-lhe grosserias que a fizeram acelerar o passo. 

Notou que uma mão se posava a suas costas, e antes de que pudesse soltar-se , os  acontecimentos se precipitaram:  Angelos apareceu a  seu lado e  soltou um  murro em  seu atacante; de  imediato, os seus companheiros foram  em  sua ajuda, pelo que cedo se organizou uma tremenda  briga.  Maxie se  pôs a  gritar com todas as  suas forças, absolutamente aterrorizada. 

- Soltem – o ! – gritava , ao  mesmo tempo em que proporcionava pontapés e guarda-chuvadas aos brigões, que se deram à fuga quanto começou a  ir gente dos bares próximos, alarmados pelo berreiro. 

Maxie  se  agachou ao  lado de Angelos , sustentando- lhe  a  cabeça molhada. 

- És um tonto! - repetia uma e outra vez. 

Por fim Angelos mexeu a cabeça muito lentamente; tinha uma ferida que sangrava numa das têmporas. 

- Eram cinco contra um - murmurou dolorido. 

- Sobe-te ao carro, não vá esperar que regressem - disse Maxie ajudando-lhe a  incorporar-se. - Podiam ter-te esmagado. 

- Bem, não creio que seja para tanto... - protestou Angelos. 

- Há uma delegacia justo ao final da rua... 

- Não penso pôr uma denúncia a  esses  brigões desfarrapados –grunhiu Angelos pondo-se em pé. – Todos eles já receberam um par de  bons murros... 

- Não tantos como tu  - falou Maxie ajudando- o a  acomodar-se no assento dianteiro. 

- Que é o que pretendes? 

- Não estás em  condições de dirigir. 

- E isso por que? 

- Por favor, Angelos ! - Estás sangrando , provavelmente estejas também desordenado. Por uma maldita vez em tua vida, faz o que te  dizem. 

Ele considerou durante uns instantes semelhante possibilidade, até que por  fim deu seu o braço a  torcer. 

- Sabes conduzir um Ferrari? 

- Por  suposto  - contestou  Maxie entre dentes enquanto punha em  marcha o carro. 

- As luzes ! - Lhe indicou Angelos  apreensivamente.  - Tens que acender as luzes... ou se o preferes, fecho os olhos...

- Cala-te ! - Estou tentando concentrar-me - Maxie deu por fim com o interruptor.  - É muito típico de ti isso de sacar faltas. Por  verdadeiro, a meu ver, onde estavam teus guarda-costas? 

- Como te atreves a dizer-me isso? - Angelos tentou incorporar-se um pouco, mas  o cinto de  segurança o impediu. - Posso cuidar de  mim mesmo. 

- Contra  cinco valentões ao mesmo tempo ? -  perguntou Maxie. Ainda se lhe  revolviam as  barrigas ao  recordar a briga;  sentia-se terrivelmente culpada pelo sucedido. - Te levarei ao hospital. 

- Não preciso nenhum médico, estou perfeitamente - se resistiu Angelos. 

- Eu não  quero ser responsável de que morras por uma contusão cerebral ou algo parecido - replicou Maxie inexorável. 

- Só tenho  uns  poucos arranhões e hematomas , o único que me faz  falta  é  descansar um pouco. - Depois pedirei que me levem um carro. 

Aquele era o autêntico Angelos: organizador, disposto a  levar a voz cantora. Maxie captou a indireta e conduziu em  direção a  sua casa provavelmente à velocidade mínima à que esse carro jamais tem ido. A chuva  tinha  aumentado, fazendo que se reduzisse a  visibilidade. 

- De  acordo , podes  vir para  casa comigo,  mas só ficarás uma hora por lá, lhe advertiu. 

- Que generosa que és! 

Maxie se ruborizou  ao recordar com interesse que se tinha tomado Angelos durante  sua doença para assegurar- se de  que estava bem atendida. No entanto, não tinha tido que se ocupar pessoalmente de  seu bem-estar, tinha-se limitado a  pagar a outra  pessoa para que a cuidassem. De fato, não podia imaginar Angelos sacrificando- se por  ninguém. De repente , notou que o caminho que levava a  casa estava completamente  enlameado ; alarmada , freou  inesperadamente, lhe provocando que  o carro  desse um brusco deslize. Sem que pudesse fazer nada por  evitá-lo, chocou inesperadamente contra o borde do caminho. 

- Ainda que parece que nosso anjo –da- guarda esteja de  férias, por  sorte ainda seguimos vivos - ironizou Angelos enquanto apagava o contato. 

- Agora  eu  suponho que te  dedicarás  a  fazer- me  um montão de comentários ofensivos sobre as  mulheres na direção, não ? – lhe sussurrou Maxie agarrando- se ainda ao volante. 

- Não me atrevo.  És tão gafe que  se agora saio do carro seguro que me afogo no ribeiro. 

- Mas se não é nada profundo! 

- Me tranqüiliza ouvir isso -  forcejou a porta até que conseguiu sair ao caminho embarrado. 

- Olha eu sinto muito! - se desculpou Maxie.- Assustei-me muito quando vi tanta água no caminho. 

- Mas se não é nada! Que farás quando veres o oceano então? 

- Pensei que o ribeiro se tinha extravasado , e que a correnteza nos arrastaria  na  escuridão , por  isso freei tão inesperadamente - tentou  explicar Maxie  enquanto se encaminhavam  a  casa. Por  fim abriu a porta principal e acendeu a luz. 

Angelos  teve que se  abaixar para entrar , e  ficou ali olhando a nua estadia  sem fazer o menor comentário. Maxie teve que reconhecer que quando o fogo  não estava acendido , parecia ainda mais triste e desolada. 

- O andar lá de cima  está  um pouco  melhor. Se  queres , podes dormir em  minha cama. 

- Não sei se mereço tanta amabilidade. Onde está o telefone? 

- Não tenho telefone - confessou Maxie.   

- Estás caçoando? 

- É tu não tens um celular? - replicou um pouco molesta. 

- Deve ter caído durante a briga - disse Angelos, e jurando pelo baixo em grego começou a subir as escadas cambaleando um pouco. 

- Teria que te  ver um médico - insistiu Maxie preocupada. 

-  Tolices! O único que preciso é descansar um pouco... 

- Cuidado com a cabeça ! - lhe advertiu Maxie justo um segundo antes de  que se chocasse com o dintel da porta. - Oh, não! - gemeu, correndo a  seu lado. Rapidamente  lhe  conduziu para  o interior do dormitório antes de  que se fizesse mais dano. 

- Há encharcos no solo - assinalou Angelos piscando confuso. 

- Não digas bobagens - disse Maxie , e  precisamente então lhe  caiu no nariz uma enorme gota de  água. 

Levantou a  cabeça  para o teto  coberto de  vigas de  madeira e, viu horrorizada , descobriu  um  montão de goteiras. De fato ,  o solo já estava quase completamente coberto de  água. 

- Isto parece uma choupana - disse Angelos. 

Maxie amaldiçoou entre dentes  e acercou a comprovar como estava a cama. Por  sorte , era o único na  casa que  estava  completamente seco. Angelos  se deixou cair  numa esquina do colchão. Quis colocar sua jaqueta  num dos  postes da cama , mas  não teve forças e  esta caiu de  cheio na poça d’água. 

- Não tinha que te  ter feito caso - se reprochou Maxie olhando a prenda feita um trapo.-- Tinha que te ter levado ao hospital. 

- Só me dói um pouco a  cabeça , nada mais  - protestou Angelos arrogante. - Deixa de tratar-me como a um menino. 

- Quantos dedos  tu  vês ?  - perguntou ansiosamente  plantando adiante dele o dedo gordo. Estava  tão nervosa que não foi capaz de  estender nenhum mais. 

- Vejo só teu dedo gordo  - contestou Angelos secamente. - Que tolice de pergunta é essa? 

Vermelha  como um  tomate , Maxie  deu um salto ao ver  que ele se tirava a gravata. 

- Vais tirar-te a roupa? 

- Sim, assim estarei mais cômodo. 

- E.. então melhor me marchar. De... de  todas formas tenho que procurar  cubos  para  o  água  - se  desculpou  Maxie cobardemente enquanto se precipitava para a porta. 

Só de imaginar- se o corpo semi-desnudo  de Angelos provocou que lhe  percorresse por  todo o corpo uma corrente de  excitação. Desculpou- se a  si mesma dizendo que aquela inesperada reação era produto da  tensão acumulada  nas últimas horas. Voltou  a lamentar não ter  levado  a  Angelos ao hospital , ainda  que sabia  que tivesse resultado inútil tentar convencer-lhe. 

Quando ia a  por o cubo e a fregona, lhe  ocorreu que o melhor seria procurar um anti-séptico para a ferida de Angelos. Temia que fosse  mais grave do que  parecia , pois quase estava  segura de  que, ainda que fosse por  uns  breves instantes , tinha perdido o conhecimento depois da briga; recordava muito bem que tinha ficado com os olhos fechados , pois aquelas  incríveis pestanas que tinha  quase roçavam os pômulos... Santo Céu! Que demônios lhe  estava passando?

Angelos já se tinha metido na cama quando ela voltou para o quarto. Parecia que tinha dormido. Quase sem atrever-se a  respirar, Maxie ficou  olhando– o  um  longo instante..., ...fascinada   pela  força  que emanava dele inclusive quando jazia imóvel. De repente se disse que seria melhor deixar-se de  bobagens e tentar acordar-lhe , não fora a  ser  que tivesse para  valer uma  comoção cerebral. Acercou- se à cama e sacudiu  ligeiramente o  seu ombro nu ; afastou então a  mão de imediato , como se  tivesse  queimado ao contato com aquela pele ardente. 

Angelos abriu por fim os olhos.

- Me manchaste de  sangue todo o travesseiro - conseguiu dizer Maxie. Tinha a garganta completamente seca. 

- Te  comprarei uma nova. 

- Não faz  falta que  me compres nada...  e está tão  quieto - lhe  comunicou, - quero ver como está a ferida.

Com um pano de cozinha, então tentando dissimular seu nervosismo, Maxie lhe  limpou o sangue da cara; de repente, ele levantou uma de  suas mãos e lhe  rodeou delicadamente o ombro. 

- Estás tremendo como uma folha. 

- Eles  podiam  ter te apunhalado ou  algo parecido... Ponho-me enferma  só de  pensar  nisso...  - Asseguro- te  que  poderia ter-me enfrentado a  esse garoto eu só... 

- A  mim parece que não. Todos eles podiam ter-te arrastado a  um beco escuro, e depois... 

- Não penso dar- te as graças pelo que fizeste: se me tivesses deixado em  paz, nada disto teria sucedido - afirmou Maxie energicamente. -  Tivesse-me ficado  no hotel  até acabar o turno e depois o garçom  me tivesse trazido  de carro para casa. Vive muito perto.

Maxie se soltou  bruscamente e voltou ao andar de baixo. Sabia que o  que tinha que fazer era procurar o pano de chão e enxugar o solo, mas o  verdadeiro é  que estava tremendo como um  pano. Em  parte era  pelo choque sofrido , mas  sobretudo  porque  durante  o tempo todo  que tinha  durado o curativo não  tinha  deixado de perguntar-se, como uma  tonta adolescente , que  usaria  Angelos embaixo dos lençóis. 

Minutos  mais tarde conseguiu recobrar- se  o suficiente como para subir  de  novo  ao  dormitório  com  um  montão  de  bacias  para as goteiras , o rodo  e  pano de chão.  Pôs-se  a  limpar  o  solo , furiosa consigo  mesma  por ter feito pouco  caso das  indicações do agente imobiliário;  era  evidente que teria  que retelhar toda  a casa antes de que chegasse o inverno, ainda que não tinha nem a menor idéia de  como ia custear semelhante obra. 

- Como te  encontras? - perguntou depois de  ter colocado todos os recipientes no solo. 

- Fenomenal !  - foi sua  irônica  resposta.  - A verdade é que não entendo por  que preferes afogar- te dentro destas quatro paredes em vez de vir comigo. 

- Pois já  vês: nada  do que faças ou digas conseguirá convencer-me. - Não tenho a menor intenção de  viver com nenhum homem... 

- Não estava  pedindo que  vivesses comigo  - a corrigiu Angelos. Agrada- me  ter meu próprio espaço.  Estava pensando mais bem em  comprar-te algo e ir ver-te de  vez em  quando... 

- Não estou a venda! - lhe  recordou Maxie furiosa. 

- Só virias se te oferecesse  um  anel de  compromisso, não? - a interrompeu  Angelos. - Pois te  direi  uma  coisa:  eu posso até está obsedado  por possuir  esse teu delicioso corpo , que treme de  puro desejo quanto estou perto, - murmurou apaixonadamente, ao mesmo tempo em  que  lhe pegava  delicadamente uma mão sem que ela  não pudesse opor a menor resistência, - em mudança estou disposta a te  dar tudo o  que desejes com sumo gosto , exceto isso precisamente, pethi mou. 

- Se  não tivesses essa  ferida  na  cabeça  eu  te esbofetearia - ameaçou Maxie. - Deixa-me em  paz de uma vez por todas! 

Soltando-lhe a mão, Angelos a ficou olhando com um sorriso irônico. 

- Depois de tudo que  te  fez Leland , não  me  estranha  que te  comportes assim. Sim,  já sei que te expulsou do hospital  e que fez chamar a  sua mulher, deixando-te tiragem até os centavo. Por  isso agora  pensas  que  é mais  seguro  conseguir  um  marido do que  um amante. Mas eu não sou Leland... 

Maxie estava  aterrorizada e fascinada ao mesmo tempo pelo poder daquele homem. Pressentia que era  mais do que capaz de  seduzi-la, pois a  cada  segundo que  passava em  sua companhia , mais terrível era a tentação de  ceder.  Odiava-lhe, mas também  o desejava, e se odiava a  si mesma por  ser tão débil.

- Venha, fique perto - lhe sussurrou Angelos.  Não ganhas nada com resistir. Prometo que nunca me aproveitarei de ti como fez Leland.

- Que é o que pretendes? - perguntou Maxie suspicaz. 

- Quero  convencer- te  de  que  confiar  em  mim  só  te  trará vantagens. Como vê, nem sequer te pus um dedo em cima - assinalou, como se considerasse tal coisa uma heroicidade.

O terrível do caso era  que ela  estava desejando que a tocasse. Por  fim ele levantou  o braço  e lhe  soltou a  fita do cabelo , afundou os dedos na sedosa cabeleira e, pouco a pouco, atraiu-a para si. 

- Talvez não seja  isto o que os dois desejamos? - lhe perguntou.

- Não...- se resistiu Maxie, ainda que sua pele ardia enquanto ele percorria o contorno de  seus lábios com a ponta do dedo. - Isto não significa nada para mim - insistiu desesperada. 

- Olha que és obstinada - se burlou Angelos. 

Ela pensou que se ele  seguisse  olhando-a com a mesma intensidade acabaria fundindo-se. 

- Não sou obstinada, só que...  se deteve sem saber como seguir, incapaz  também  de  reunir  as forças necessárias para  separar-se dele. 

- Te  agrada brigar, eh ?  - sussurrou  Angelos.  Maxie se sentia como numa  nuvem , ensurdecida  quase pelos latidos de  seu próprio coração. – És  uma  mulher por quem  vale a  pena  lutar. Seria muito melhor se não te  resistisses, se te  deixasses levar... 

- Mas... 

- Nada de mas... - a interrompeu Angelos colocando um dedo em  seus lábios para fazê-la calar... Precisas-me - insistiu, acercando-se ainda mais a  ela. 

- Não... - sussurrou. 

- Sim - disse  Angelos  antes de  beijá-la.  Separou-lhe os lábios delicadamente  com a  ponta da  língua  levando-a  um tal  estado de  excitação  que quase se deixou cair em cima dele. 

Aproveitando-se daquele momento de debilidade, Angelos estreitou a com mais força entre seus braços. 

- Não - gemeu Maxie de novo. 

Ele começou  a  acariciar-lhe um seio, e o prazer que isso a produziu foi tão  intenso e insuportável  que  só  com um  enorme  esforço ela conseguiu controlar-se. Levantou a cabeça para ver-lhe melhor, mas em vez de  aplacar seu desejo, só conseguiu avivá-lo ainda mais. 

- Não? - repetiu Angelos joguetonamente. 

Sentia-se atraída por sua irresistível virilidade como uma borboleta para a chama de  uma vela. 

Angelos se deu conta de que estava a ponto de render-se e sorrindo como um lobo no momento de atacar a sua presa, começou a beijá-la apaixonadamente. 

Estendeu-a  sobre o leito sem deixar de acariciá-la.  Maxie tremia dos  pés a  cabeça de  puro desejo, e quando ele introduziu uma mão por debaixo da  camiseta  para acariciá-la primeiro e beijá-la depois os seios  nus , acreditou  que se  derreteria  de  prazer. Durante um interminável  momento  o único que pôde  fazer foi acariciá-lo a  sua vez. De repente, Angelo levantou a cabeça alarmado.

- Que é isso? - perguntou.

- O que? - inquiriu Maxie piscando confusa.

- Alguém está chamando à porta. 

Só então pareceu dar- se conta  Maxie do que tinha estado a  ponto de  fazer; envergonhada, levantou-se da cama de  um salto. 

- És um porco! - lhe xingou enquanto se colocava a camiseta em  seu lugar e, sem esperar sua resposta, lançou-se escadas abaixo.

Quando  abriu a  porta  se encontrou com  Patrick  Devison , o seu vizinho mais próximo, ao que tinha conhecido no dia anterior.

- Sabes que há um Ferrari meio afundado no ribeiro  defronte? 

Ainda trêmula , Maxie se limitou a  assentir com a cabeça como uma marionete. Não podia acreditar no pouco que lhe  tinha faltado para deixar-se seduzir por  aquele miserável. 

- Eu vi quando voltava  para casa  - lhe explicou Patrick, um loiro e atraente veterinário. - Como eu sabia que estavas em  casa, decidi parar para ver se estavas bem, como estás? - insistiu preocupado. 

- O  motorista está  em cima, descansando  - conseguiu articular Maxie.

- Queres que lhe dê uma olhada? 

- Não é necessário - disse Maxie com respiração entre cortada.

- E  não  queres  chamar  um médico ?  - perguntou  Patrick  lhe oferecendo seu telefone móvel. 

- Te estaria muito agradecida se me deixasses fazer um telefonema. 

- Claro ! - assentiu o jovem. -. Te importa  se eu entrar? Está chovendo muito. 

- Por certo que não , perdoa. 

Maxie  jogou a  correr  escadas acima  e passou o celular a  Angelos. 

- Chama agora  mesmo para que venham te buscar se não queres que te  jogue a  pontapés eu mesma. 

Angelos pegou o telefone impassível , mas não  sem antes lançar-lhe uma  mirada  carregada  de  ódio.  Marcou  um número , deu algumas ordens em grego e, imediatamente saiu da cama.

Maxie ficou pasmada não tanto pela intensidade daquele olhar como pela visão  daquele homem nu e visivelmente excitado. Turvada, saiu a  toda pressa da habitação. 

- Obrigada - disse, devolvendo-lhe o telefone a  Patrick. 

- Se tinha  tomado um copo a  mais, não é verdade ? - perguntou assinalando  o  dormitório.  - É uma  pena  como ficou  o carro. É teu namorado ? - perguntou enquanto se dirigia para a porta. 

- Não, não  é. 

- Então, gostaria de jantar comigo amanhã? 

Maxie esteve a ponto de recusar seu convite, mas no último momento mudou de  idéia. 

- Por que não? - repôs. Sabia que Angelos estava escutando cada palavra desde o dormitório. 

- Estupendo! - exclamou Patrick comprazido. - Te parece bem às oito? 

- Sim, muito bem.

O ficou  olhando  enquanto ele subia todo o terreno , e não pôde por  menos do  que pensar  o singela  que devia ser a  vida  daquele jovem em  comparação com a  de  Angelos , tão manipulador e egocêntrico. Odiava àquele homem com toda sua alma. 

Cálidas  lágrimas rodaram  por  suas bochechas.  Detestava-lhe pela forma  em  que lhe  tinha feito  ver o tonta e débil que podia chegar a ser, por usar todas aquelas artimanhas com o único fim  de  fazer-lhe cair na tentação, por demonstrar-lhe que era  mais vulnerável do que pensava. 

Ao cabo de cinco minutos Angelos apareceu no salão completamente vestido. Sua fúria era tal que seus olhos pareciam cuspir chispas. 

- És uma vadia - murmurou entre dentes, em  tom baixo e rouco. Sua boca  se contraía  numa  espécie de  careta. - Primeiro quase te  metes na cama comigo e no  segundo te pões a  coquetear com outro homem praticamente adiante de  meus narizes. 

- Não estava na cama contigo!... ao menos não como tu crês - se defendeu. 

- Tu não desejas a  nenhum outro homem - lhe  espetou Angelos.   Só desejas a  mim! 

- Não penso ser tua  amante – disse , pálida  como um fantasma.   Te disse desde o primeiro momento. E ainda que me tivesse dormido contigo – adicionou, também te pediria que fosse embora. Enredar-me numa relação contigo só seria degradar-me a  mim mesma... 

- Como se eu fosse te seduzir a estas alturas! - disse Angelos. - Degradar-te disseste? - repetiu incrédulo. - Se o único estúpido aqui fui eu, ao tratar-te como se valesses a pena. 

- Já sei que não me crês, mas te repito que nunca fui amante de  Leland... - começou a  dizer. 

- Não, claro: tu dirias que fostes sua noiva - se burlou Angelos. 

- Não, eu... 

- Theos !  -  exclamou Angelos  fora  de  si... -  Que  cego  tenho estado! O único que  tens estado fazendo desde o princípio é tentar conseguir mais de  mim... e para seguir forçando as coisas, decidiste que o melhor é fazer-me sentir ciúmes de outro homem... 

- Não! -  quase gritou Maxie , incapaz de  suportar a imagem que Angelos se estava fazendo dela.

- Se  por  um  segundo  pensaste que  poderias obrigar- me a  te oferecer  um anel  de compromisso  em  troca  de  dormir  contigo é porque deves estar completamente louca. 

- Para valer ? - aquelas  duras palavras a  fizeram por fim reagir. Pois é uma lástima , porque  isso é a  única coisa que me faria mudar de idéia - declarou, disposta a  utilizar qualquer arma a  seu alcance para fazer-lhe dano.

Atônito  ao comprovar que  suas piores suspeitas eram verdadeiras, Angelos a ficou olhando sem  saber o que dizer.  - Se alguma vez me casar - declarou ao fim com  um fio de voz, - minha esposa será uma autêntica dama, educada e com uma reputação intocável. 

Maxie se encolheu acovardada;  ela  mesma  lhe tinha  dado a  corda com  que se estava enforcando.  No entanto , seu orgulho a ajudou a  enfrentar-se de  novo a  ele. 

- No entanto, isso não te impedirá de seguir tendo tuas amantes, não é verdade? 

- Por  suposto – replicou  Angelos cortante.  - Escolherei a  minha esposa com a cabeça, não com minha libido. 

Maxie fez  um  gesto de  repugnância  ante  semelhante declaração. Estava-lhe custando  muito manter-se calma  para poder enfrentar-se àquele formidável antagonista. 

- Me  parece que teu  lugar  está  no Museu de  Ciências, com os dinossauros - se mofou ela. 

- O único que  te digo é que  se eu  for embora , não regressarei nunca mais, que dizes a isso? 

- Que te  marches  já de  uma vez  - replicou Maxie ao instante. 

- Deus! Como me agradaria arrastar-te escadas aporta até essa cama e demonstrar-te o que estás perdendo... 

Surpresa , Maxie  o ficou  olhando sem saber o que dizer. Sentia-se como se estivesse ardendo num incêndio provocado por ela mesma. 

- Segue sonhando! - lhe  espetou por  fim  com todo o desprezo que foi capaz de  reunir, ainda que um tremor em  sua voz esteve a  ponto de traí-la. 

Então se  ouviu o motor de  um  carro que se acercava pelo caminho. Angelos fez um gesto com a cabeça para despedir-se, e se marchou.

 

Maxie passou  os seguintes cinco dias como  num transe. Vieram uns homens com uma grua para levar-se a Ferrari, e também lhe  pediu a  um construtor que  revisasse o telhado  e lhe  desse  um orçamento. Como já  temia, tinha  que retelhá-lo  completamente, o que , dado o estado  de  suas  finanças , pelo  momento lhe  resultava  impossível.

Saiu a  jantar com Patrick Devison , e fez o que pôde para sentir-se atraída  por  ele. Tratava- se de  um homem  atraente e simpático, e ainda que  consentiu em  que  a  beijasse , não sentiu absolutamente nada. Quando ele lhe  pediu outro encontro , ela  o recusou com uma desculpa  qualquer. Para  piorar  as  coisas, era  incapaz  de  dormir. Passava as noites imaginando que brigava com Angelos...ou que fazia amor com ele selvagemente, e aquilo era o mais humilhante de  tudo, que se casava com aquele grego odioso. Mal  reconhecia a  si mesma.

Uma  tarde  se  sentou  e  fez  uma  lista  de  todos  os  defeitos de  Angelos. Encheu duas páginas , e acabou chorando, amargamente em cima  delas. Detestava  àquela  espécie  de  Neanderthal,  mas ,  por  outra parte , sua  recordação a  obcecava a  tal ponto que mal podia comer ou pensar em  outra coisa. 

Como se tinha  deixado  levar até  esse ponto ?  Nunca pensou que a simples atração  sexual pudesse  ser tão devastadora. Sentia-se tão furiosa consigo mesma, e terrivelmente envergonhada demais. 

O quinto dia, ao meio da manhã, ouviu que um carro se acercava pelo caminho. Um porsche  prateado estacionou diante a sua porta e dele saiu a mesmíssima Catriona Ferguson. Maxie ficou pasma, pois nunca antes tinha tido a honra de  receber uma visita de  sua chefe, quem, ademais, odiava o campo. 

- Maxie, querida! - exclamou  quanto a  teve  diante dela. - Tenho grandes notícias!  - Vais ser a sensação da temporada! 

- Tens trabalho  para  mim ?  - perguntou a  jovem  no  cúmulo da surpresa. 

- Querida, parece que estás outra vez na crista da onda: passado amanhã terá um desfile de Dei Venci em  Londres..., creio que é uma gala  benéfica  ou algo parecido...  e é a oportunidade que estávamos esperando para que debutasses na passarela. 

- Na crista da onda disseste? - Maxie não chegava a entender a  conto de  que vinha aquela repentina mudança de  sorte. 

- As revistas  de fofocas estão que ardem  - comentou Catriona divertida  enquanto conferia  sua  agenda eletrônica. - Talvez não as tenha lido? 

- Não, não comprei nenhuma. 

- Bem , querida,  já  sabes que me agrada ser discreta: tua vida privada  é coisa  tua,  - apesar de  suas palavras, Catriona  mal podia reprimir sua  curiosidade. - No entanto , é tão emocionante o que te  passou...  Ele é nada menos que  um dos homens mais ricos do mundo! 

- Não tenho a menor idéia a que te  referes... 

- Pois ao homem  que relançou tua  carreira  de  forma  uma tão espetacular – replicou  Catriona levantando as sobrancelhas. - Ainda que lhe velaram o carrete, o fotógrafo que vos  surpreendeu contou por todas partes que os  viu... 

- Te  referes a  Angelos... 

- Te  posso  jurar que fiquei  pasmada  quando  veio  ver-me um cavaleiro que, segundo meus relatórios, está  muito relacionado com esse tubarão das finanças grego - tagarelou Catriona, cada vez mais entusiasmada.  – Assim  que , sem  duvidá-lo , dei-lhe teu  endereço. Disse-me  que  Angelos  Petronides  nunca  esquece  um favor... nem também um desaforo, se vamos a isso. 

- Eu... - Maxie se tinha posto mortalmente pálida. 

- Não  entendo o  tu  que  ainda  fazes  vegetando  neste lugar - continuou Catriona.  - Não sei o  que lhe  terás dado, querida , mas o  tens comendo em  tua mão; Até se comenta que esta mesma semana deixou  a  Natalie Cibaud!  E, tendo em conta sua péssima reputação - adicionou descaradamente, - é um autêntico peixe gordo, como um diamante de  vinte e quatro quilates! 

- Não há nada entre nós - pôde por fim declarar Maxie. A cabeça lhe dava voltas, incapaz de processar  aquela informação. 

- Ainda que se tenha terminado tudo , será melhor que não se o digas a  ninguém - lhe  aconselhou Catriona  tentando dissimular sua decepção. - Tua popularidade atual se a  deves a ele...  Maxie pensou que não deixava de  ser  irônico. Angelos devia estar furioso, seguro que ele  pensava que era  ela quem tinha ido com o sopro à imprensa. Catriona jogou uma olhada a  seu relógio. 

- Escuta, que achas de regressar comigo à cidade? Aconselho-te que  voltes  a  casa dessa  amiga tua. Todos os  jornalistas  estão te procurando  como loucos , e não nos  convém  que  te  encontrem tão cedo. Tua aparição na passarela tem que ser triunfal. 

Apesar de  que  sabia ao que se  enfrentava , Maxie  decidiu aceitar sua oferta porque precisava do dinheiro... e não só para consertar o telhado, senão para devolver-lhe o empréstimo a Angelos. Ainda que tivesse deixado  muito claro que o dinheiro não ia  dar- lhe nenhuma felicidade , sem  ele  jamais  conseguiria  ser  livre.  E o  que  Maxie desejava  mais do que  nada no mundo era  a  possibilidade de tomar suas próprias decisões. 

- Ora  bolas !  Deixe disso !  - exclamou  Catriona  ao  ver a  sua expressão de derrota. Mas que se passou à famosa Rainha de  Gelo? 

Enquanto fazia  a  bagagem,  Maxie  se disse que tinha  sido Angelos  quem  tinha  destruído  para  sempre aquela imagem...  ao obrigá-la a  enfrentar-se  a  emoções que até então lhe  eram desconhecidas... e dolorosas , mortificantes.  Desejava  com mais  afinco ainda  do  que Catrina, voltar a  ser de  gelo.

 

Maxie  abandonou  a  passarela  entre clamorosos  aplausos.  Estava desejando tirar- se aquele aparatoso  vestido que  lhe  apertava por  toda parte. Por fim tinha terminado tudo. Sentia-se tão aliviada que estava a ponto de jogar-se a tremer. Nunca em toda  sua vida  tinha passado pior situação. 

Antes que pudesse chegar ao camarim... tropeçou com  Manny Dei Venci, o desenhista, um homem enorme, completamente calvo. 

- Tens estado maravilhosa!  Não, não, não te mudes ainda, vêem comigo - lhe instou, levando-a através de um escuro corredor. - És a melhor relações públicas que jamais tive, assim que mereces seguir assim... linda no jantar  que te  espera. 

Seguramente, pensou , Catriona tinha planejado que ela passasse um  tempo com alguns VIPS que quereria impressionar. 

Saíram a  um beco onde esperava um carro com a porta aberta. Quando se sentou , deu-se conta de  que se tratava de  uma luxuosa limusine  com  os cristais  defumados. Viu que alguém tinha deixado num canto a sua bolsa com suas coisas. 

Sentia-se cada  vez mais incômoda  com aquele traje de cocktail  de  um azul intenso.  Não  usava  nada  embaixo do corpinho ajustado de  amplo decote, e a saia, além de  estreita, era excessivamente curta. Não  lhe  agradava  muito  tratar  com  algum  possível  cliente  com aquelas  pintas , mas se consolou pensando  que  aquela  situação não duraria para  sempre.  Quanto Angelos  aparecesse  em  público  em  companhia de  outra  mulher , ela  passaria  então  ao  esquecimento automaticamente. 

Quando  a  limusine se  deteve , Maxie  saiu no  que  parecia  ser um estacionamento subterrâneo. Horrorizada, começou  a  pensar que a tinham seqüestrada , até que reconheceu ao longe a  voz de  um  dos guarda-costas de Angelos, o que a fez sentir-se ainda pior. 

- Onde estou? -  lhe  perguntou ao  servente que a  esperava num dos elevadores. 

- O senhor  Petronides  a  espera  no último andar, Srta. Kendall. 

- Não sabia que a limusine a enviava a ele!  Isto é insultante! - se deu conta de  que  soava  bastante patética , então  mordeu o  lábio, tentando controlar-se. Tudo o ocorrido era  culpa sua, tinha que ter perguntado ao motorista aonde a levava. 

Um guarda-costas  bloqueou  a  porta  até que  chegaram  ao  último andar.  Maxie saiu a  uma grande estadia  octogonal. Não se tratava do apartamento que ela conhecia, o que não fez senão aumentar sua apreensão. Ao  outro extremo da  habitação  uma  porta  se abria  a  uma  espécie de  salão com amplos  janelões por  onde entrava a luz; outra porta comunicava com o que parecia ser um jardim. 

O coração lhe  batia  com força no peito. Temerosa e expectante ao mesmo tempo, dirigiu-se para o jardim a  procura de um pouco de ar fresco. Demasiado tarde se deu  conta de  que estava no terraço de  um arranha-céu; ficou fincada  diante a  balaustrada, incapaz de  se mover ou de  olhar para o solo. 

- Vá!  Não me digas que também tens vertigem... - disse uma voz a  suas costas. 

Maxie sentiu que umas mãos lhe pegavam com firmeza pelos ombros e a ajudavam a  retirar-se da balaustrada. 

- Não me tinha ocorrido, mas podia ter-te deixado no borda até convencer-te... Isso acontece por eu querer ser um homem honrado - disse Angelos levando-a outra vez ao interior do edifício. 

- Que demônios queres dizer com isso de honra?  Lhe perguntou Maxie quando conseguiu recuperar-se do susto. 

- Tenha um pouco de respeito: - para um grego isso é algo muito importante - lhe  advertiu Angelos. 

Maxie  o ficou  olhando surpresa;  ele lhe  devolveu uma fria mirada, que não retirou até que a  ela se fez insuportável.  Estava-lhe dando a  entender que ela  não era nada  para ele, e que não lhe  importava sequer se vivia ou morria. 

- Cada vez que nos vemos  te  encontro mais nervosa - assinalou Angelos  cruelmente.  - E mais pálida  e delgada  também. Ainda que segues sendo muito bonita,  não sei quanto tempo mais  vai agüentar o estresse a que te submetes. 

- As  vezes te  comportas como um autêntico... - replicou Maxie enquanto a cor voltava a  suas bochechas. 

- E o mais estranho de tudo é do que nunca antes me comportei assim  com  nenhuma  mulher - a  interrompeu  Angelos sem o menor arrependimento. 

O mais humilhante para Maxie é que lhe  seguia parecendo o homem mais atraente que  já tinha visto.  Não podia desviar  a  vista de seu rosto, nem  esquecer a  suavidade daquele  cabelo  tão negro como o ébano. Para  piorar as coisas, usava  um  traje cinza  prateado, a cor que melhor lhe  sentava, de  um corte impecável que não fazia senão ressaltar  seu  imponente físico. De  todo  seu  corpo  emanava  uma energia  quase visível , enquanto, para  sua desgraça , cada vez  mais resultava  evidente sua própria debilidade. 

- Calma.  Desta vez  quero te  fazer uma proposta  mais decente antes  de  que  nos  sentemos  para  comer  - comentou  Angelos lhe passando  um  braço  pelas  costas  para levá-la  para  o refeitório. - Confia em mim... Vais-te  sentir como se te tivesse ganho na loteria. 

- Por que não me deixas em  paz de  uma vez? - murmurou Maxie fixando-se numa mesa extraordinariamente disposta. 

- Porque tu não me deixas em paz? - Com essa maneira que tens de olhar-me...Angelos riu brevemente. - Realmente me sinto incapaz de atirar a toalha quando me olhas assim. 

- E como eu te olho? 

- Seguramente da mesma forma que eu a  ti - replicou enquanto pegava  uma  garrafa de  champanhe. -  com desejo e ressentimento ao mesmo tempo.  Mas  estou a  ponto  de  eliminar  o  segundo para sempre - disse enigmaticamente enquanto lhe  estendia um copo.  Esse  rumor odioso  segundo o qual  Angelos Petronides é incapaz de comprometer-se  é uma  completa  falsidade, e  penso demonstrá-lo. Tenho estado pensando muito tempo e  encontrei uma solução muito simples. 

- Não me digas que vais a... - se estremeceu Maxie.  

- Que é o casamento afinal de contas ?  Um contrato legal, nada mais...  - continuou frivolamente,  ainda  que Maxie sentiu que se lhe  gelava  o  sangue nas  veias.  -  Uma vez estabelecido  este princípio decidi fazer  um trato  contigo que  nos convenha  aos dois... - se tu assinar um contrato pré nupcial, eu me casarei contigo. 

- Re... repete isso - gaguejou Maxie alucinada.

Angelos parecia muito satisfeito consigo mesmo. 

- A condição  principal  é  que  não te aproveitarás  do prestígio social que  te  daria  ao converter-te  em  minha  esposa. Viveríamos separados a  maior parte do tempo. Quando  eu  vier a  Londres e te quiser a  meu  lado , ficarás  neste  apartamento. Todo  o  edifício é meu. O único lugar  onde compartilharemos  o mesmo teto  será  em  minha ilha na  Grécia. Que te parece? 

A  Maxie lhe  tremia tanto a mão que estava a ponto de  derramar o champanhe. Talvez lhe  estava pedindo que se casasse com ele? E se fosse assim , a  conto  de  que vinha  tudo aquilo  de  viver em  casas separadas e do prestígio social? 

Angelos lhe  tirou delicadamente o copo da mão e a conduziu até um sofá, sentando-se em seguida a  seu lado. 

- Se  o que precisas  para  sentir- te segura  e  aceitar a  dormir comigo  é um  certificado de  casamento , te darei um...  - lhe  disse amavelmente.  – Mas ,  como, evidentemente, nossa  relação  não vai durar para sempre, faremos uma espécie de  contrato privado entre nós dois. 

Maxie  fechou  os  olhos:  nunca  lhe  tinham  feito tanto dano  como naquele momento. Talvez sua  reputação era  tão má que nem sequer queria que a vissem ao seu lado? 

- Pensa  muito bem antes  de tomar uma  decisão - lhe advertiu Angelos ao observar sua  evidente perturbação.  - Parece-me  que é um trato justo e realista... 

- É uma brincadeira! - explodiu Maxie. 

E foi precisamente  naquele  momento terrível quando  se deu conta de  que,  provavelmente,  estava  apaixonada  por Angelos. Nunca se tinha  sentido pior do  que agora,  quando  por fim  entendeu como e por que tinha conseguido aquele homem ter semelhante poder sobre ela. Aquela revelação acabou com sua rebeldia. 

- Seja razoável: talvez acreditas  que posso apresentar a  minha família a  uma esposa que foi  a  amante de  Leland ? - perguntou ele  no  mesmo tom  que usaria  para  convencer  a  um menino obstinado.  Há  coisas  que , singelamente ,  não  podemos  fazer.  Como  vão me respeitar se faço  algo tão baixo ? Eles me  consideram um exemplo de  conduta. 

Maxie então manteve os olhos fechados; naquele momento entendeu porquê muitas  mulheres perdem a  cabeça e são capazes de  matar. Sentia- se cheia  de  dor e de  ira:  ele  estava- lhe  oferecendo  um casamento  que ninguém chegaria  a  saber nada porque sua conduta tinha  sido tão  escandalosa  que não merecia  ser compreendida  ou aceita pela extraordinária família Petronides. 

- Me sinto mal - murmurou ao fim. 

- Não, nada disso - a contradisse Angelos. 

- Me... sinto... muito mal . 

- O lavabo está  do outro lado  do hall  – lhe  exclamou Angelos desaprovadoramente.  -  Na verdade, eu  não esperava  esta reação. Posso entender que os detalhes do trato não te  façam muita graça, mas,  afinal  de  contas,  estou te  oferecendo  um  casamento legal. 

- Ah, sim? - se limitou a dizer Maxie sem dar-se a volta. 

Encontrou-se por fim  no lavabo,  onde um espelho  lhe devolveu uma imagem de  si  mesma  desconhecida, pálida  e desencantada  como a heroína de  uma  tragédia antiga.  Repetiu-se  mil e uma  vez que não amava  àquele porco , que a  única  coisa que sentia por  ele era pura atração animal. 

Desejava gritar, jogar-se a  chorar, quebrar coisas, mas se limitou a  passear frenética  de um  lado  para o outro, dando- lhe mil voltas à oferta de  Angelos: Tinha- lhe oferecido todo  um edifício , mas não queria viver com ela; desejava mais do que nada fazer amor com ela, mas não estava disposto a  apresentá-la em  público. Amor e ódio, as duas caras de  uma mesma moeda. 

E aquela  tinha sido sua  proposta  de casamento ?  Maxie se jogou a  rir  amargamente.  Só  o  que  Angelos  queria  era  utilizá-la , ele continuava  considerando- a  uma  espécie de  boneca  que  desejava conseguir a  qualquer preço... por mais alto que este fosse. 

Com um gesto de dor pensou nos dois homens que, antes de Angelos, tinham tido uma  grande influência  em  sua  vida:  seu pai  e  Leland. Pela  primeira  vez pensou em  seu pai sem sentimentalismos inúteis. 

Russ se tinha  jogado todo seu dinheiro e depois se tinha marchado, deixando que ela  enfrentasse só  as  suas dívidas. Leland não só lhe  tinha roubado três anos  de  sua  vida, como, tinha  destruído a  sua reputação....  ...Quantas vezes se tinha  repetido  que não  voltaria a  consentir que nenhum homem a utilizasse? 

Pela primeira vez lhe  veio à mente a  idéia de mudar os papéis. Que passaria se, para variar, fosse ela a manipuladora ? Também não lhe  fazia  falta  um marido para  herdar  uma  parte da  fortuna  de sua madrinha? Até aquele momento, a idéia de agarrar a um marido com tal fim lhe  tinha  parecido quase um crime. Curiosamente , nunca se tinha  sentido tão  bem. Aquela  mudança  devia  ser produto da  má influência  de  Angelos.  Não só a  tinha  humilhado e turvado até os extremos inimagináveis, como se tinha proposto, ademais, converter o sagrado vínculo do casamento numa  espécie de  brincadeira cruel. Seguro  que  se  tinha  proposto  que  o  seu  durasse  mal  o tempo necessário para cansar-se dela. 

Mas , que  aconteceria  se  ela  conseguisse trocar aquela  aparente humilhação num triunfo ? Poderia ao fim liberar- se  de  tudo  o que tinha contribuído a  arruinar sua vida nos últimos anos: da dívida, de  uma profissão que detestava  e do  mesmíssimo Angelos. Se reunia o valor suficiente, o conseguiria: se casaria  com ele para divorciar-se seis meses mais tarde. Imaginava a si mesma lançando um cheque na  cara de Angelos e dizendo- lhe de que não precisava para nada o seu dinheiro agora que tinha o seu próprio. Voltou a  olhar-se no espelho com uma expressão de  triunfo.  Não pensava  derramar nem uma só lágrima mais.

Ficou  muito  surpresa  ao  ver  que Angelos  a estava  esperando  no vestíbulo. 

- Estás bem? - lhe perguntou, como se para valer lhe  importasse. 

- Estava pensando em minhas condições - replicou com um sorriso desafiante. - Tenho que estar segura de  que nosso acordo me fará sentir  realmente como se  eu tivesse ganhado o prêmio gordo - lhe  disse. 

- Meus  advogados se encarregarão  de todos os detalhes  - disse Angelos franzindo o cenho. - Por que tens que ser tão grosseira?

Eu grosseira ?  Por  Deus Santo!  Que sensível  se tinha  voltado  de repente!  O que  não  queria , evidentemente, era  enfrentar- se aos detalhes mais sórdidos do trato  que ele mesmo lhe  tinha proposto. Não cabia dúvida de que estava disposto a ser mais do que generoso com ela, mas, como a  maior parte  dos mortais, desejava fazer-se a ilusão  de  que  lhe  queriam  por  si  mesmo.  Maxie  decidiu  que  já utilizaria mais adiante aquela surpreendente debilidade que acabava de  descobrir. 

Maxie abriu muito os olhos, simulando assombro. 

- Eu pensei que te  agradava dizer as coisas às claras... 

- Te trouxe até aqui para celebrar um simples e sensato acordo entre os dois, não para começar outra briga, levantou uma mão para retirar-lhe com um delicado gesto o cabelo da cara, e pouco a pouco a  baixou para  deter-se na  linha de  seu decote. Maxie quase podia ver  a  intensidade da  luxúria  com  que  a  olhava de  cima  a  baixo, detendo- se em  seus estreitos  quadris e aquelas incríveis pernas. - Não...  não  tenho  nenhuma  vontade de  brigar contigo - repetiu ele roucamente.

- Se tu estás pensando no que eu crio  para  celebrar o trato, a resposta  é não.  – Disse Maxie com  um  grande sorriso enquanto se servia outro copo de  champanhe. - Não irei para cama contigo até a noite de casamentos, nem um só minuto antes. E agora, tudo bem se comermos? 

- Comer? 

- Já  que não  podemos fazer  outra  coisa... - sugeriu  Maxie docemente. 

- Deus!  Vem aqui! - grunhiu  Angelos atraindo- a  para si. - Por que  te  empenhas  em deixar- me louco ? Qual o motivo esse afã de  contradizer-me continuamente?  Não é  assim que se  comportam as mulheres. Por que não podes dar-me por uma vez o que te  peço? 

- Suponho que porque não me agradas - admitiu Maxie. 

- Que significa tudo isso ?  - Angelos estava mais perplexo  que furioso. - Talvez não é o que se diz ao homem que acaba de pedir-te em  casamento? 

- Precisamente, a semana passada fiz uma lista de  duas páginas inteiras anotando as coisas que não me agradam de ti... Não entendo de que te surpreendes. Não tens o menor interesse em  mim, o único que desejas é o  meu corpo... 

- Estás  nervosa, assim  que não farei caso do que me disseste – a  interrompeu Angelos tentando controlar-se. - Vamos comer. 

- Uma coisa mais - disse Maxie docemente enquanto se sentava à mesa:- Tens pensando em compartilhar teus favores entre Natalie Cibaud e eu? 

- Talvez te  voltaste louca? 

- Isso não é uma resposta. 

Angelos  apertou o guardanapo com força,  olhando- a  com  os olhos brilhantes. 

- Por  suposto não penso enredar-me com nenhuma outra mulher enquanto estiver contigo - concedeu furioso. 

- Muito bem. E para quando planejaste o feliz acontecimento? 

- Te  referes  ao casamento ?  O  mais cedo possível.  Será  uma cerimônia muito íntima. 

- Me parece tão  bonito que não tenhas  a  menor dúvida de  que vou dizer do que sim - comentou Maxie malevolamente. 

- Te  advirto  que se o que  queres é que te  arraste à cama para fechar  essa  boquinha  que tens , vais por um  bom caminho - Maxie engoliu saliva, tentando controlar sua ânsia de atacá-lo ferozmente. - Disseste-me que a  única coisa  que te faria  mudar de  idéia  seria uma  proposta de  casamento. Já te fiz,  assim que  me  deixa calmo.

Maxie se esforçou por comer algo, mas não pôde. Tentou iniciar uma conversa, mas era  demasiado tarde,  já que Angelos  estava com um humor  péssimo. Evidentemente, tinha-se  imaginado  que tudo o que fariam seria beber champanhe até o momento em que a levasse para cama.

- Sabes que todos  esses rumores sobre nós  contribuíram para  relançar minha carreira? - Lhe perguntou ao fim. 

- Hoje foi teu último dia de sucesso. - Não quero que te  exibas meio nua  na  passarela,  nem também  que trabalhes - disse Angelos sucintamente.

- Oh - replicou Maxie. Estava desejando pôr-se a  gritar. 

- Seja  sensata:  pensa  que  tens que  estar  permanentemente disponível quando eu te  precise... 

- Como a escrava de uma harém...

- Maxie. 

- Escuta, eu já  estou com  uma  dor de cabeça terrível - Maxie afastou  seu prato e se  levantou de repente. - Quero voltar à  casa. 

- Muito breve, este será o teu lar - lhe  recordou secamente. 

- Não  me  agradam os  quadros,  nem o  piso de  mármore,  nem estas enormes habitações quase  vazias, com móveis tão feios... Não quero  viver com dez andares  vazios  por  debaixo deste - exclamou Maxie a  ponto de  jogar-se a  chorar. 

- Estás muito nervosa... 

- Como um de teus puro-sangue talvez? 

Reprimindo um  palavrão, Angelos  se  levantou e  se  acercou  a  ela, rodeando-a com seus braços. 

- Maxie,  por que te comportas de  repente como uma menina caprichosa? 

- Como te  atreves...? 

Calando sua resposta,  Angelos começou a beijá-la apaixonadamente até  que notou que  ela  se deixava  levar  e  começava  a  tremer de  puro desejo. Então, separou-se e a olhou longamente. 

- Avisarei ao motorista que te leve em casa - disse finalmente. - Te  chamarei bem cedo. Também perdi a vontade de comer. 

Maxie sentiu que ele a recusava, e de repente intuiu no difícil que ia resultar- lhe  seguir  adiante  com  aquele  funesto  pacto.  Mas  não consentiu que a  debilidade a  dominasse: de  uma forma ou de outra conseguiria sobreviver com o orgulho intacto. Aplacaria todo aquele insano desejo que sentia por  ele e continuaria adiante com sua vida.

 

- Ainda  que tenha  sido de uma forma  tão pouco convencional, Angelos te pediu  que  te  casasse com  ele - Liz suspirou satisfeita. 

- Só quando se deu conta de  que era  sua última oportunidade. 

- Pelo visto, muitos homens reagem da mesma forma. Ainda que esse Angelos já tenha trinta e três anos, parece que pensa que pode passar-se toda a  vida revoluteando de flor em flor, por assim dizê-lo.  - Espero que aprendas  um pouco desta experiência, e, se fosses um pouco realista, poderias ensinar-lhe um par de  coisas... 

- Por  exemplo? 

- Este casamento será como vocês desejam que seja. 

- Será que não me ouviste ?  - perguntou Maxie confusa. - Não é um casamento para valer, Liz. 

- O que se passa  é que estás muito enfadada  com Angelos. Não posso crer  que  sejas  capaz de  separar- te quanto  passar  os seis meses. 

- Eu o farei, Liz, te juro. 

- Agora mesmo  que não penso mais escutar-te  - disse sua amiga enfadada.  – E  pelo que  diz  respeito  a  Angelos ,  está  igualmente  equivocado se ele pensa que pode viver contigo, ainda que seja só de  vez em  quando, sem que as pessoas se inteire. 

- Não , Liz: ele sabe muito bem o que está fazendo. - Não espera que estejamos juntos muito tempo.  Liz apertou os lábios. 

- Só quero perguntar uma coisa:  por que não contas a  Angelos a verdade do que se  passou com Leland? 

- Nem sequer quis escutar-me quando tentei fazê-lo! 

- Podes obrigar-lhe a  que te  escute, não creio que te  dê tanto medo. 

- Para  valer que pensas que  Angelos vai acreditar que Leland se aproveitou de  mim  em  todos os  sentidos exceto  precisamente no que todo mundo dá por certo?  – contra atacou Maxie, surpreendida pela atitude de  sua amiga. 

- De que  não lhe tenhas dito nada define muito  bem tua relação com Angelos. Tenho  a  sensação de  que, no  fundo, não  queres que ele saiba a verdade. 

- E por que não, se pode saber? 

- Eu  acredito que  tu  estás  convicta  de que resultas  bem mais desejável com essa reputação de garota má que tu construíste - lhe  explicou Liz fazendo com que se ruborizasse. - Vais por  aí com essa atitude arrogante e  essa roupa  que te  faz parecer uma  mulher de  rompe e rasga, e as  pessoas crêem que realmente o és... 

- Liz, por favor... 

- Deixa- me terminar - insistiu sua  amiga : -  sei  muito  bem que essa é  a  forma que  encontraste de  enfrentar aos  que te fizeram dano; te escondes numa espécie de armadura, fingindo ser o que não és em  absoluto. Assim  que diga-me,  talvez é estranho que Angelos não saiba como és na realidade? - Mas se nunca o viu! 

Maxie se revolveu incômoda em  seu  assento. A ele a Maxie Kendall real, aquela  que nem sequer sabia ler e  escrever corretamente, lhe  resultaria mortalmente aborrecedora.  E para que falar sobre o que pensaria um homem tão experimentado como ele de  uma garota tão zonza e ingênua como ela, que nem sequer tinha  dormido nunca com ninguém. 

Liz começou a  preocupar-se ao vê-la tão calada. 

- Escuta, és o  mais parecido  a  uma  irmã que tenho na vida. Só quero que sejas feliz, e  temo  que se seguir mantendo esta atitude com Angelos, vais acabar fazendo muito dano a ti mesma. 

Com os  olhos cheios de  lágrimas, Maxie abraçou muito forte a  sua amiga. Reprovou-se ter sido tão franca e preocupá-la daquele modo. Daí  por adiante, propôs-se envergonhada,  guardaria  todos os seus pensamentos para si mesma.

Angelos a chamou naquela tarde, e  falou com ela no mesmo tom que utilizaria  com  algum de  seus empregados.  Comunicou-lhe  que  seu advogado iria vê-la com o contrato pré nupcial e que o casamento se celebraria na semana seguinte no norte da  Inglaterra. 

- Tão cedo? 

- Sim, vou solicitar uma permissão especial. 

- E por que temos que ir tão longe? 

- Se nos casarmos aqui, chamaríamos muita atenção. 

Maxie  mordeu o lábio com angústia. Evidentemente, Angelos ia usar sua  inteligência  e  riqueza  unidas  para  manter  no  maior segredo possível o casamento. 

- Iremos juntos? 

- Não, vamos  separado. Já nos encontraremos ali. 

- Oh... - pelo visto.. tinha-se ocupado até do mínimo detalhe. 

- Me temo que não poderemos ver-nos até esse mesmo dia. 

- E por que não?  - desejou ter mordido a língua antes de  fazer  aquela pergunta. 

- Por  suposto, que depois  do casamento me tomarei alguns dias livres  - lhe explicou  Angelos friamente,  - mas para  isso tenho que deixar alguns assuntos resolvidos.  Vou ao  Japão esta mesma tarde, e depois passarei na  Indonésia o resto da semana. 

- Vais estar esgotado. 

- Calma,  sobreviverei. Enquanto isso, sugiro-te que cancelas teu contrato com a agência. 

- Estava a  ponto de assinar um novo - confessou Maxie. 

- Muito bem, então só tens que lhes dizer que mudou de  idéia. 

 

Maxie ainda  não tinha se recuperado da tensa  reunião que acabava de  manter com Catriona  quando  recebeu  a  visita  do advogado de  Angelos. 

O jovem lhe pediu que lesse o documento em voz alta, para inteirar-se  bem de  todas as cláusulas. Se fosse  uma  mulher tão ambiciosa como Angelos  pensava que era,  teria ficado  extasiada: a  mudança de  sua discrição, o milionário lhe  oferecia uma quantiosa atribuição mensal,  além  de  pagar-lhe  todos  os gastos;  quando  o casamento acabasse, receberia uma grandiosa soma. 

Só quando  terminou se deu conta  de  que se tinha fincado as unhas com  tanta  força  que  quase  se  tinha  feito dano. Só  se  decidiu a  assinar ao pensar que ao cabo de  seis meses, toda  aquela amargura teria terminado por  fim  e  poderia atirar à  cara de Angelos aquele documento.

 

A igreja  estava  no cume de uma  colina de Yorkshire. Como  era um dia de trabalho, o povoado estava muito calmo. 

Maxie conferiu seu relógio por  enésima vez. Angelos já se atrasava mais de dez minutos. O sacerdote e sua esposa o esperavam ao  seu lado, sem saber muito bem que dizer. Não era possível que a tivesse deixado plantada, repetia-se uma e outra vez, não fazia sentido. 

Aquela amanhã  Angelos a tinha enviado um carro que a conduziu até o povoado.  E recordou que nos dias anteriores ao casamento a tinha telefonado um  par  de  vezes... ainda  que, disse-se  com  amargura, tivesse sido melhor do que não o fizesse. Toda possível naturalidade se tinha desvanecido como  por encanto ao  dar-se conta da  grande excitação que lhe  produzia o simples fato de  ouvir sua voz. 

« Hoje vou casar-me.  Este é o dia de  meu casamento »,  repetia-se incrédula. Não podia afastar àquele homem de seus pensamentos em  nenhum momento; quanto estava dormindo, sua imagem  vinha turvar seus sonhos.

Como no  fundo sabia que aquele casamento não era mais do que uma farsa, tinha  posto  seu  vestido  vermelho:  um  traje atrevido para uma mulher atrevida, tinha  dito a  si  mesma. Seguramente Angelos pensaria que era uma boa escolha.

Pouco depois, pôs-se tensa ao ouvir um carro. AOS poucos segundos apareceu um flamejante carro  no que ia Angelos, seguido de  outro carro.  Tinha-se posto para  a  ocasião um  traje azul  marinho, com uma  camisa  branca  de  seda e uma gravata a  jogo. Deteve-se  um instante para  esperar a seu advogado, quem desceu do outro carro. Como se tivesse o tempo todo do mundo!, pensou Maxie, enfurecida ante semelhante descortesia. 

Por  fim, Angelos  subiu os degraus  calmamente  até chegar ao seu lado. 

- Onde demônios  esteve?  – exclamou ela  - Por que demoraste tanto em chegar?

Angelos pareceu encontrar muito divertida semelhante pergunta. 

- Tivemos que  esperar  mais de  meia  hora  no aeroporto antes de aterrizar... não pude fazer nada para arrumá-lo, te asseguro. 

- Ah, bom - Maxie sentiu que lhe  ardiam as bochechas. 

- Obrigado por pôr-te  meu vestido favorito. Estás espetacular - lhe murmurou roucamente antes de  acercar-se a  estreitar a mão do sacerdote. 

Quando  começou ao  fim  a  cerimônia,  Maxie  olhou desolada  suas mãos vazias. Nem sequer tinha um ramo de  flores, e seu vestido lhe  parecia mais inadequado que nunca, por  contraste com a singeleza e o recolhimento daquela  antiga igreja.  Antes de  que pudesse evitá-lo, se lhe encheram os olhos de lágrimas, que lutou por reprimir com todas as suas forças. Então Angelos lhe  pôs um anel no dedo e tudo terminou.  Quando  o  noivo se  agachou  para  beijá-la , ela  fez  um rápido movimento para apresentar-lhe a bochecha. 

- Que é  o  que  te passa ?  - lhe  perguntou  enfadado enquanto desciam  os degraus. - A  conto de que vêem essas lágrimas? 

- Me  sinto  muito  culpada...  fizemos  umas  promessas que não pensamos manter... 

Sentou-se  rápido  no  carro  que,  pelo  visto , ia  conduzir  Angelos pessoalmente. O silêncio entre eles ia espessando-se por segundos. 

- Diga-me se há alguma possibilidade, por  pequena que seja, de  que mostres  um pouco  de  alegria  nupcial  - disse Angelos por fim sardonicamente. 

- Não me  sinto como uma  noiva - repôs Maxie. - Creio que isso te  agradaria.

Angelos se desviou por  um caminho secundário e deteve o carro. Maxie  tirou o cinto  de segurança, e  antes que pudesse perguntar-lhe para que tinham  parado, Angelos  se voltou para  ela  e a beijou nos lábios com toda  sua  alma. Ao  princípio, ela  tentou resistir-se, mas cedo sentiu que lhe  arrasava a mesma paixão arrebatadora.

A cabeça  começou a  dar-lhe voltas, as  batidas  de  seu coração se fizeram  cada  vez  mais  ensurdecedores  e , inconscientemente, rodeou-lhe o pescoço com seus braços. Quando Angelos introduziu a língua  em  sua  boca , quase  gemeu  de  puro  prazer , e  então , tão bruscamente como se tinha  lançado sobre  ela, ele se soltou de  seu abraço. 

- Agora não  temos tempo para  isto.  Não quero que tenham que nos esperar no aeroporto. 

Maxie  abaixou  a  cabeça  envergonhada ,  mas  quando  Angelos  se acomodou em  seu  assento e  pôs o  carro em  marcha, deu-se conta de  que  estava  visivelmente  excitado.  Ruborizando-se,  desviou  a mirada: só  então  começou  a  preocupar-se pelas  conseqüências de sua inexperiência. 

Par ser um homem de aparência tão sofisticada e controlada. Angelos  parecia  ter  estado a  ponto  de  perder  o controle. Se se  tinha posto assim só por  um beijo, como reagiria aquela noite?

Sem a menor dúvida, sairia à luz o seu temperamento grego, feroz e viril, disposto a  saciar sua paixão por  ela de  uma vez por  todas. Provavelmente, como suspeitava  que  ela  tinha tido vários amantes, não se entreteria  muito nas preliminares...  talvez até esperava que   ela se consumisse da mesma impaciência. 

Por  Deus Santo, disse-se exasperada: Angelos não era mais nenhum adolescente. O mais provável  é de que fosse um  amante consumado e delicado e de que nunca se inteirasse de que ela ainda  era virgem. Recordava ter lido numa revista que a maior parte dos homens eram incapazes de  ver  a diferença. 

Envergonhada de  si mesma,  decidiu que o melhor seria concentrar-se na paisagem. Notava que, à medida que passava  a tensão daquele dia, ia-se sentindo cada vez mais cansada. 

- Estás bem?  -  perguntou Angelos  preocupado por sua palidez quando chegaram ao aeroporto. 

- Só um  pouco cansada  - replicou evasivamente. Subiram a  seu avião privado que lhes conduziria diretamente  a  Grécia. Nada mais despegar lhes  serviram  um  extraordinário  almoço do que ela  mal provou. De  repente,  advertiu-se que  ainda  levava  posto o anel de  casamento.

E no  entanto, não queria  pensar em Angelos como  seu marido, pois era plenamente consciente de que ele não a considerava o  absoluto em sua esposa.  Com uma careta, tirou-se a jóia do dedo e a colocou na mesa, em frente a  Angelos. 

- Toma, te devolvo - lhe  disse descuidadamente. 

Angelos a olhou como se ela  o tivesse esbofeteado.

- Não há dúvida de  que és uma mulher muito formosa - começou a  dizer cheio de ira, - mas as vezes me dão vontades de  afogar-te. Por que tirou o anel agora que estamos a sós? 

- Porque não  me sinto cômoda com ele  - replicou,  e sem dar-lhe mais explicações, reclinou o assento e fechou os  olhos. Por mais que lhe ofendesse, não pensava em usar um anel que sabia que teria que tirar muito cedo. E com aquele convencimento ficou dormindo. 

Angelos a acordou pouco depois que o avião aterrizasse em  Atenas. 

- Não se pode dizer que sejas uma colega muito animada - bufou. 

- Eu sinto muito, estava completamente esgotada. 

- Sim, já me dei conta...

Transladaram-se a  um helicóptero que lhes levaria até a ilha. Quando  o  aparelho  começou  a  ganhar altura , Maxie  reprimiu um grito de  medo. Ficou olhando fixamente a nuca do piloto, disposta a  não deixar transparecer o pânico que sentia.

- Já  estamos quase chegando   - anunciou  Angelos. - Quero que vejas a ilha enquanto nos acercamos à baía - lhe  indicou, enquanto o helicóptero virava perigosamente.

Mas tudo  que ela  pôde fazer foi fechar os olhos com força e rezar entre dentes. 

- Tinha esquecido que tens muita vertigem - se desculpou quando por  fim  aterrizaram.  -  Sempre  venho a  Chymos  de  helicóptero, assim que daqui a  pouco te  acostumarás - Maxie o olhou espantada ante a  perspectiva de  passar  outra  vez por  um trago semelhante.  - O que a  ti te faz falta é um pouco de  prática - continuou Angelos convencido. - Como tenho carteira de piloto, te levarei todos os dias a  dar uma volta no helicóptero para que superes essa fobia.

Petrificada ao ouvir semelhante ameaça, Maxie o olhou atônita.

- Talvez crês que tua missão na vida é torturar-me desse modo? 

Angelos pareceu considerar por  um momento aquela pergunta; seus lábios se curvaram num sensual sorriso enquanto a  olhava com toda intenção. 

- Não, pethi mou, só quero matar-te de prazer,  em minha cama...

 

Pouco a  pouco,  Maxie foi recuperando a  cor. Já se podia ver a vila, reluzente no alto de uma colina. A  seus  pés se estendia  uma preciosa  praia  de  areia fina e  desde a  mesma se divisava uma série de  impressionantes  alcantilados que caíam sobre um  mar de azul  mais brilhante. 

- Nasci  em  Chymos - lhe  explicou  Angelos.  - Quando  eu  era pequeno  sempre  passava  aqui  as férias. Ainda  que sou filho único, nunca me senti só porque tenho uma multidão de  primos. Desde que morreu meu pai, venho à ilha quando quero retirar-me do mundo. Tens  muita  sorte ,  pethi  mou  -  lhe  disse  enquanto  a  guiava  ao interior da  vila, - nunca  até agora tinha vindo com nenhuma mulher.

O vestíbulo dava a  um confortável salão. Todas as paredes estavam cobertas de  fotos, e prateleiras com  livros;  tinha  vários sofás de  cômodo aspecto e cálidos tapetes cobriam o solo. 

- Não  se parece em  nada a  teu apartamento! - exclamou Maxie agradavelmente surpresa.

- A casa de  Londres foi decorada por uma de  minhas primas. 

Expliquei o  que  eu queria,  mas  a  verdade é que não a  vigiei muito enquanto  trabalhava - Angelos a  abraçou pelas costas. - Estamos a sós, dei férias aos empregados. 

Maxie se  pôs tensa. Angelos  a  beijou tão  delicadamente  justo ao lado da  orelha que se sentiu desfalecer;  ele riu brevemente, então levantando-a como se pesasse menos que uma pluma, levou-a através de um longo corredor.

- Angelos  - murmurou ela nervosa. Era  sua última oportunidade,   já sei que crês que eu dormir com...

- Não  quero  saber  nada  dos  homens  que  me  precederam - a interrompeu categórico. -  Por que vos  empenhareis as mulheres em  fazer semelhantes confissões nos momentos mais inoportunos?

Aquelas palavras a  reduziram a  um vasto silêncio até que chegaram a  um  formoso  dormitório.  Imediatamente  Maxie ficou  olhando a cama.

Como se  não pudesse  suportar  permanecer  um  segundo separado dela, Angelos a  abraçou de  novo e, muito pouco a pouco, começou a  baixar-lhe o zíper do vestido. Um sopro de ar frio lhe  percorreu as costas nuas enquanto ele se abaixava para  beijá-la. 

- De fato  - começou  Maxie de novo, -  o único que queria dizer-te é que não tenho muita experiência...

- Theos! -  Angelos  se  afastou como  se lhe  tivesse picado uma serpente.  Ficou frente  a  ela,  olhando-a tão ameaçadoramente que sentiu que se lhe gelava o sangue nas veias.

- Mas, o que se  passa...? 

- Por que  me fazes isto?  -  perguntou Angelos furioso enquanto tirava a gravata.  - A  que vêem tuas estúpidas mentiras? Talvez tu pensavas que ia acreditar?

Maxie se sentia como uma tonta, ali no meio do tapete, despenteada e com o vestido desabotoado. Se aquela era  sua reação ao inteirar-se de  que não era  uma mulher muito sofisticada, que teria feito se chegava a dizer-lhe que, em realidade, sua experiência era nula? Por  nada  do  mundo  queria   dormir  com  um  homem  que  parecia  tão enfadado.

- E seguro que agora começas a  contar uma série de  mentiras a respeito de  Leland...  Nem  te ocorra isso!  - lhe  advertiu  Angelos.  – Não tenho  a  menor vontade  de  saber  os  detalhes  de  tua  vida amorosa. Aceito-te e como és... afinal de contas, isso é a única coisa que posso fazer - Maxie começou a  subir-se o vestido timidamente. - E  por que  ficas aí  plantada  como uma  menina  à que  acabam de  castigar?

- É que te  vejo muito alterado... - começou a  dizer Maxie. 

- Frustrado queres dizer.  - Não fizeste mais do que me recusar desde que me casei contigo - a corrigiu Angelos impaciente. 

- E tu não pensaste em outra coisa senão  em dormir te comigo - replicou Maxie sem sentir o menor arrependimento. Como se atrevia a  dizer-lhe que parecia uma menina? Orgulhosamente, deixou cair o vestido a  seus pés. 

Angelos a ficou olhando como hipnotizado. Maxie exibia ante ele sua espetacular silhueta; só usava  umas minúsculas calcinhas  brancas e um sutiã de encaixe da mesma cor. Ante aquela visão ficou sem fala. Como se estivesse desfilando na passarela, dirigiu-se preguiçosamente para a cama e se estendeu nela. 

- O  que estás esperando? A  que saque uma  bandeira branca? - perguntou provocadoramente. 

- Esperava algo  menos preparado, mais cálido - admitiu Angelos tombando-se no outro lado da cama, devorando-a com a mirada. - Não tens nem idéia de  como me sinto, não é verdade? 

- Que queres dizer? perguntou Maxie, repentinamente incômoda. 

- Vais entendê-lo em  seguida -  se  limitou  a  responder Angelos enquanto se desabotoava a camisa. 

- É uma ameaça talvez? - lhe  perguntou Maxie com a  respiração entrecortada.

- É  medo  ou  desejo  isso  o  que  ouço?  -  com  uma  gargalhada carregada de  sensualidade, Angelos  se despojou da  camisa e ficou olhando-a.  – Só  ver a expressão de tua cara, valia a pena tudo isto.

Maxie então escondeu a cabeça, vermelha  de vergonha. Angelos se levantou de  novo, bem mais calmo depois de  conseguir recuperar o controle da situação. 

- E a  respeito disso que disseste, o que se passa?  - talvez não conheces aos homens?  Levo semanas sem dormir com ninguém.  Desejo-te faz muito tempo, e não estou acostumado a  esperar e a  brigar por  ninguém. Quando  se tem tudo , como é  meu caso, o que se custa a  ganhar adquire uma importância tremenda... 

- E suponho que  quando  por  fim  o consegues , perde todo seu interesse - interveio Maxie ironicamente. 

- Isso o dizes tu  - replicou Angelos  franzindo as sobrancelhas, como se não tivesse estado falando em nenhum momento deles dois. - Isso  quem decide é o tempo.  Eu sempre  vivo  no presente, e isso era o deverias fazer, pethi mou.

Acabou de despir-se rapidamente.  Maxie lhe contemplou fascinada; ainda que  desde a  noite do acidente a  imagem de  seu corpo nu se tinha  gravado  a  fogo  em  sua  mente , estremeceu- se  dos  pés a  cabeça ao comprovar novamente a fascinação que exercia sobre ela. Não tinha  visto nunca a  um homem tão formoso, voltou  a  dizer-se enquanto concentrava em  seus largos ombros, os esbeltos quadris e poderosas coxas. 

- Tens  estado tão  calada  desde  o  casamento...  e  agora , de repente,  jogas-te sobre minha  cama como uma formosa estátua de  pedra...  Estou  quase  pensando  que , por  mais  ridículo  que  possa parecer, tens medo de mim.

Maxie soltou então uma  áspera  gargalhada. Assombrava-lhe que se mostrasse nu  com tanta  tranqüilidade.  Angelos  se  tombou  a  seu lado e começou  a  acariciar-lhe lentamente  o cabelo; pegou-a pelos ombros obrigando-a  a  olhá-lo de  frente.

- Já  é hora  de que  cobrar a  minha  recompensa  – sussurrou. - Agora nada pode me impedir. 

- Angelos... - sentiu que se afogava  naqueles olhos que pareciam feitos de  ouro líquido. 

Mas ele começou a  acariciar os  seus lábios com a ponta da língua. 

- Estás gelada, peth mou, mas eu te derreterei - disse ele rouca mente  enquanto  lhe  desabotoava  o sutiã  com  mãos  experientes. 

Maxie sentia todo seu corpo preso de  uma deliciosa tensão. Fechou os olhos, deixando-se levar.  Cada beijo que ele lhe  dava aumentava aquele doce tormento. 

Angelos se colocou sobre ela, acariciando-lhe suavemente o seio. Sorriu  ao  ver  que  ela  se  arqueava,  incapaz  de  suportar  aquela tortura. 

- Me  encanta que te agrade  - sussurrou Angelos. -  Encanta-me ver como perdes o controle. 

- Não me agrada...! - protestou Maxie debilmente. 

- Te  agradará -  lhe interrompeu Angelos, e abaixando a cabeça começou  a  lamber-lhe  um  mamilo,  provocando que a  percorresse uma onda de  prazer ainda mais intensa.

- Não... – gemeu ela. 

- Não te resistas - Angelos continuou acariciando-a sabiamente. 

Ela estava a ponto de perder o controle de  seu corpo, mas já  não a importava. O único que desejava é que ele não deixasse de  acariciá-la. Sentia-se como intoxicada por uma droga poderosa. 

Sem querer, quase sem dar-se conta, chamou-o por  seu nome desde o fundo de  suas entranhas. 

Angelos  então  a  beijou  interminavelmente , e  quando  por  fim se deteve, a ficou olhando como se quisesse decifrar seus mais íntimos pensamentos. 

- Angelos...?  - levantou uma mão trêmula  para acariciar a linha de  seus lábios, mas ele torceu a cabeça. Desolada,  Maxie retirou a mão sem saber muito bem que fazer.

- Não fazias mais que  me olhar - lhe  recriminou Angelos, - mas quanto  eu  te  devolvia  a  mirada, sempre  fazias  como  se  não me tivesses visto... exceto aquela vez, faz sete meses. Então soube que algum dia serias completamente minha.

Maxie  desviou  a  mirada assombrada. Parecia-lhe  terrível  que ele tivesse descoberto em seu interior aquele ânsia, quando nem sequer ela mesma era capaz de admiti-la. 

- Esperei que tu fizesses  algum movimento - continuou Angelos, - mas tu  continuavas  com Leland.  Comecei a  perguntar-me  se não serias completamente tonta. 

- Mas se eu não... - começou a  protestar. 

- Oh, sim!  - Agora entendo  por que ficaste  com ele. Devias-lhe demasiado dinheiro.  Deve ter sido então  quando decidiste pôr-te a  venda... quando  penso nisso me  dar vontades de  quebrar as coisas. Aprendeste tão bem a lição que não paraste até conseguir de  mim o preço mais alto por  teus favores.

- Como te  atreves...? 

- Este casamento não é o que tive que pagar para conseguir-te?

- És... um... porco - sussurrou Maxie, sentindo que se afogava ao escutar aquela venenosa acusação. 

- Te deixarei de  lado quando começar a  resultar perigosa - lhe  jurou Angelos. 

- Começa por deixar-me sair desta cama! - lhe  rogou Maxie. 

- Nem o penses. Paguei um preço muito alto por este prazer. 

- Não! 

- Sabes muito bem que és incapaz de resistir - murmurou ele. Angelos  acercando sua  boca à dela. -  Convertes-te em  cera entre minhas mãos  quanto estou perto.  Esse é meu  único consolo por  me comportar como um imbecil com uma mulher como tu.  

- Como te  atreves! 

Mas por toda resposta Angelos se limitou a  pôr uma mão entre suas coxas  enquanto a  beijava  de  novo. Aquilo foi  suficiente para  que Maxie  sentisse  que  se desfazia, enquanto  ele esgotava  sobre sua pele todo seu extenso repertório de  carícias. Uma depois da  outra foram  caindo todas as  defesas que  tão  cuidadosamente ela  tinha levantado para proteger-se. 

Não pôde  reprimir  um gemido quando  ele começou a  acariciá-la na parte mais íntima de  seu  corpo, a  ponto quase de  suplicar-lhe que acabasse de  uma vez com aquela insuportável espera. Angelos ainda se fez de rogado  um  pouco mais, acariciando-a  e beijando-a, muito  satisfeito  sem  dúvida  ao  comprovar  o  imenso  poder que  exercia sobre ela. 

Quando por  fim  ele se  colocou por  cima dela, começou  a  tremer, tão excitada  que  por  um  momento pensou que estava  a  ponto de  desmaiar.  Por isso  não estava  preparada  em  absoluto para sentir aquela intensa dor, misturado com um prazer desconhecido para ela. Sem  podê-lo evitar, proferiu um  grito  e lhe  empurrou para que se afastasse  dela , ainda  que  Angelos  então já  tinha  se  detido e  a contemplava incrédulo. 

- Por que me olhas  dessa  forma?  - sussurrou, envergonhada de  que seu corpo tivesse podido traí-la até esse extremo. 

- Cristo! És...virgem! - conseguiu articular ao fim Angelos, pálido e sudoroso. Maxie desejou que a  terra a engolisse. -  Realmente te  fiz dano! – Angelos se fez a um lado sem deixar de olhá-la com a mesma expressão  assombrada. - Estás bem? Sem dizer palavra, Maxie se levantou da cama e fugiu ao quarto balnear. Santo Céu! Angelos devia sentir-se realmente enojado.

- Maxie!  Temos que falar disto imediatamente – grunhiu ele. 

Maxie fechou a  porta inesperadamente. Ali acabava sua carreira de  mulher fatal, pensou, completamente  humilhada.  Não se sentia com forças  para  suportar  suas  perguntas.  Com  os  olhos cheios  de  lágrimas,  recordou as  terríveis palavras que  ele lhe disse antes de  fazer amor com ela. 

- Maxie?- Angelos deu uns golpes na porta. - Saia agora mesmo! 

- Vai pro inferno! - exclamou,  rezando para que o água que caía na banheira dissimulasse o tremor de  sua voz. 

- Estás bem? 

- Por Deus Santo, Angelos! Só estou dando-me um banho, não vou afogar-me... ainda que com essa técnica tão estupenda entendo que te  preocupes... 

Antes mesmo de acabar  de  dizer aquelas terríveis palavras, Maxie se  lamentou  por tê-la  feita.  Sabia  que ele  não  tinha  pretendido fazer-lhe dano, que não tinha a menor culpa do ocorrido, e dizer-lhe semelhante  coisa só  em  vingança,  por  que  se  sentia humilhada e envergonhada, não tinha sido nada  justo. Produziu-se  um opressivo silêncio. 

Quando já estava na banheira, começou a  pensar que era uma tolice molestar-se pelo que Angelos lhe  tinha dito. Agora que já sabia que lhe  tinha  dito  a  verdade a  respeito de  sua  relação  com  Leland, seguramente a  olharia com outros olhos...  a  não  ser que estivesse horrorizado precisamente por  sua inocência.

Recordou aquela ocasião que Angelos tinha mencionado,  sete meses atrás, quando suas miradas se cruzaram na sala de  reuniões. Desde então ele  tinha  estado  esperando que deixasse  a  Leland; de fato, nem sequer podia suportar falar dele, o que demonstrava que aquela antiga relação com seu  ex cunhado lhe  importava  bem mais do que tinha  querido aparentar durante sua primeira visita  a  casa de  Liz. Os homens  eram seres  estranhos, disse-se,  e nenhum o  era tanto como Angelos. 

Demorou muito em  sair da banheira; quando o fez, pôs-se uma longa bata de  seda  e voltou ao dormitório que, para sua surpresa, estava vazio. Tombou-se na  cama, ainda que estava  demasiado tensa como para conciliar o sono, esperando que Angelos regressasse. Seguramente,  pensou  apreensivamente,  estaria furioso  depois do ocorrido.

 

Passou  um longo  momento, atormentada  pelo  arrependimento: não tinha sido justa com ele, repetia-se uma e outra vez,  Liz tinha toda a razão. Tinha-se  passado  de  lista aparentando  ser o que não era. Não deixava de  perguntar-se por que aquele homem tinha sobre ela uma influência que nenhum outro jamais tinha tido. 

De repente, abriu-se a  porta e Angelos apareceu no umbral. Estava descalço e despenteado, e a  olhava apertando a mandíbula com uma expressão feroz  que não lhe  tinha visto antes. Usava uns jeans  de  cor negra e uma folgada camisa branca desabotoada.

- Agora eu sei de tudo - murmurou  arrastando as palavras. - Por  desgraça, estou demasiado  bêbado como para pilotar o helicóptero. 

Maxie  se  incorporou  na  cama, à  defensiva.  Angelos tinha  bebido demasiado, e  isso lhe dava um ar desvalido que lhe chegou fundo ao coração. Levantou-se de  um salto, pegando-lhe pelo braço.

- Venha, deitar - lhe  rogou. 

- Não nessa cama! - replicou com  súbita  fúria. – Agora  mesmo a queimaria. 

Maxie se deu conta  de  que seu depreciativo comentário a  respeito de  seus  dotes como amante lhe tinha doído no mais fundo. <<Talvez era  essa  a  razão  pela  que  se tinha embebedado? », se perguntou enquanto atirava dele. 

- Dorme, por favor   - lhe gritou desesperada por sua obstinada resistência. 

Por  incrível que pudesse parecer, Angelos a obedeceu de  imediato, como se  lhe  tivesse  posto uma  pistola no peito. Tinha um aspecto lamentável, parecia  o exemplo vivente de  que, como rezava o velho provérbio, as mulheres eram o autêntico sexo forte.

Tinha-se derrubado por  completo  ao fracassar num terreno no que se orgulhava ser um maestro. 

Maxie se estendeu ao seu lado, disposta a  confortá-lo. 

- Tu estavas fazendo tudo muito bem justo até esse momento - o consolou.  – Não  pensava  em  sério  isso que te  disse. Não deves culpar-te... 

- O culpado é Leland! - a interrompeu Angelos.

- Le... Leland? - repetiu Maxie mais confusa do que nunca. Angelos soltou um palavrão em  grego.

- Fale inglês, por favor... 

- É uma  lesma!  - estourou,  enquanto tirava  do  bolso da  calça uma folha de  fax.

Maxie a  tirou das mãos, estendendo-a cuidadosamente. Forçando a vista, reconheceu sua  própria assinatura  ao pé daquele documento, ainda que a  luz era  tão escassa, por  não falar de  seu  nervosismo, que foi incapaz de  decifrá-lo. 

- Leland se aproveitou de tua estupidez... 

- Como dizes? -  perguntou Maxie com os olhos como pratos. 

- Só uma pessoa  realmente ignorante  em  questões financeiras poderia ter assinado um documento como esse... e nem sequer o pior dos  humanos teria  fixado  umas condições para  o  empréstimo tão draconianas como as que te  impôs esse bastardo. 

Por  fim Maxie entendeu que Angelos estava com uma  cópia do con- trato que tinha assinado três anos antes.

- Como o conseguiste?

- Isso não importa - respondeu evasivamente. 

- E por que pensas que sou tão estúpida? 

- Se tivesses que  cumprir as condições que se mencionam nesse documento, terias que estar pagando-lhe durante uns dez anos - lhe  explicou, entrando  de  cheio em  questões técnicas  sobre taxas de  interesse e prazos de  vencimento. 

Não podia  explicar-lhe que se tinha  deixado  enganar porque  tinha sido demasiado orgulhosa como para pedir a  alguém que lhe  lesse a letra pequena e lhe  explicasse os termos legais do documento. 

- Só tinhas dezenove anos - concluiu Angelos, - o assinaste justo um dia antes de  ir viver com Leland. -  É evidente que esse porco te  chantageou. 

- Não...  eu aceitei.  - Nunca me  pediu que dormisse com ele nem nada parecido, o único que queria  era  exibir-se em  público comigo. Não sabia  no  embrulho  em  que  me  estava  metendo  até  que  foi demasiado tarde - lhe  explicou Maxie amassando o fax. 

- O único que queria Leland era  devolver-lhe o golpe a Jennifer. 

Surpreendida  de  que ele  soubesse aquela sórdida história,  Maxie decidiu mostrar-se franca com ele. 

- Meu pai é um  viciado  em jogo, Angelos. - Meteu-se  num sério problema com  uns tipos muito  perigosos aos que não podia devolver o dinheiro que lhes devia. Eu quase não conhecia a  Leland, mas fui a  pedir-lhe conselho. Foi  então quando  me disse que  me emprestaria o dinheiro se eu fosse viver com ele.

- Como um cordeiro ao que se levam ao matadouro, eh? - grunhiu Angelos. - Disseste viciado em jogo? 

- Se pudesse,  meu pai  venderia  até esta cama em que estamos sem que nos déssemos conta. 

- E onde está agora essa jóia de homem?

- Não tenho a menor idéia.  - Separamo-nos  quando eu aceitei o empréstimo de  Leland para  pagar suas  dívidas.  Creio que se sente envergonhado por  isso. 

- Assim que teu maravilhoso pai consentiu  que fosses viver com Leland  para  saldar suas  dívidas  de  jogo ?  -  era evidente que lhe  custava crer no que ouvia. 

- Era  uma  questão  de  vida  ou morte, Angelos,  para valer - se defendeu Maxie. – Já lhe  tinham dado uma surra tremenda, e tinha medo de  que o matassem.  Leland se ofereceu a  dar-me o dinheiro, e isso salvou sua vida. 

- Não merecia que fizesses semelhante sacrifício por  ele... 

- Não te  atrevas a  meter-te com  meu  pai!  - Maxie  estava tão indignada. - Me sacou adiante ele só! 

- Sim claro, imagino  que muito cedo te  ensinou o caminho à casa de penhoras. - Tens que ter tido uma infância de  pesadelo...

- Eu fazia o que  podia. Nem todos tivemos a sorte de  nascer de  pé, como tu, sabes?  Tu és rico e egoísta, e meu pai pobre e também egoísta, mas, por desgraça  ele,  tinha  a  cabeça  cheia  de  grandes esperanças.

- E eu também, te asseguro! - replicou Angelos amargamente. - O único no que  não me  equivoquei foi em pensar que tu  precisavas, de mim porque tudo o demais que esperava de  ti... Esta noite eu recebi  o que merecia. 

Aquelas  palavras  fizeram que lhe  gelasse o sangue nas veias. Quis dizer-lhe que nunca lhe  tinha precisado, mas, a  ponto de  estourar em  lágrimas, não conseguiu articular as palavras. Uma fantasia? Só tinha sido isso para ele?  Aquilo era  inclusive  muito pior do que ser utilizada e exibida como um simples objeto. 

- A verdade - continuou Angelos cada vez mais deprimido, - é que quantas mais coisas sei de ti,  pior me sinto.  E me aborrece sentir-me culpado, não posso suportar. Como pude ser tão estúpido? 

- Pelo  sexo  suponho   – contestou  Maxie  abatida.   Angelos  se estremeceu  dos  pés  a  cabeça. – Talvez  isso  te  parece  tão mau? - perguntou surpresa. 

- Pior do que mal, sinto-me como um violador. 

- Não sejas tonto. Foi só uma questão de má sorte - lhe consolou Maxie à beira do pranto. 

- Deverias estar furiosa comigo... 

- Não vale a pena...  estás demasiado bêbado. Quase te  diria que me agradas mais assim do que sóbrio, és bem mais humano... 

- Christos!  Te  agrada  pôr o dedo na  ferida, eh? - mortalmente pálido, Angelos se recostou sobre o travesseiro.  - Pelo menos agora sei que tua  opinião sobre  mim  não  pode ser pior...  - murmurou ele incoerentemente. 

- Dorme - lhe  urgiu Maxie. 

- E quando um está no fundo do poço, só  cabe ir melhorando, não é  verdade? - perguntou esperançoso. 

O único bom de  tudo aquilo, pensou Maxie, era que ele , pelo menos, parecia ter-se esquecido de  pilotar  o helicóptero.  Sabia que teria que o  odiar  por  ter-lhe rompido o coração  com  aquela  insultante sinceridade, mas, e pesar da lista de defeitos que ainda conservava, a verdade é que o amava, e que o único que desejava era abraçá-lo e consolar-lhe. 

Pensou que tinha  demorado tanto tempo em  reconhecer quais eram seus  verdadeiros sentimentos  porque  estar apaixonada por ele lhe  doía  mais  do  que  qualquer  coisa  que tivesse  experimentado  até aquele momento. E pensar que tinha chegado a  crer que a reação de  Angelos se devia a  sua má atuação na cama...

A verdade era que, quanto tinha descoberto sem o menor gênero de  dúvidas  do que ele era  o primeiro  homem com  o que  dormia, tinha começado a  perguntar-se pela  verdadeira natureza de  sua relação com Leland.  Por  suposto, tinha sido então quando tinha começado a  pensar no empréstimo... o que lhe  tinha levado a  inteirar-se da pior forma possível do resto da história. 

Recordou com amargura  que Liz pensava que lhe  divertia aparentar que  era  uma  garota  má...  sem  considerar a  possibilidade de  que Angelos se  sentisse mais  excitado por  uma  delas do que por  uma virgem autêntica. 

 

Maxie se acordou no dia  seguinte  entre os braços de  Angelos. Era como estar  no céu. Entreabriu os  lábios  e  roçou com  a  língua seu  ombro nu.  Sabia a glória. Aspirou  seu  cálido aroma , enquanto  lhe acompanhava o ritmo de sua respiração à dele. 

No entanto, não podia se enganar Angelos estava ali só porque tinha ficado  dormindo.  Não se  tratava de  que aquela  noite  ele  tivesse perdido porque, na  realidade, nunca tinha sido seu.

O tinha  perseguido nela  uma quimera, uma imagem, e a  miragem se tinha rompido. 

Posou a  mão em  seu amplo peito e traçou com a  ponta  dos dedos a linha daqueles músculos poderosos.  Fascinada, alongou aquela suave carícia  até  chegar  à  parte  baixa  do  abdômen , e  ali  se  deteve subitamente ao  dar-se conta de  que , sem querer , estava  a  ponto de  acordá-lo. 

O que menos desejava no mundo era enfrentar-se com ele. Seguramente se poria furioso  ao  recordar  os  acontecimentos  da noite anterior. Ficou muito quieta  até  que notou que  ele  voltava a  relaxar-se. 

Se levantou muito devagar , reunindo suas roupas precipitadamente. A porta dava  a  outro dormitório onde encontrou sua mala ao pé da cama.  Amargamente  pensou  que aquilo resumia  exatamente a sua posição naquela casa: mal era  algo mais do que uma  visitante à  que se aloja na habitação de  hospedes. 

Pôs-se um  vestido ligeiro e  umas sandálias de  tiras, pois ainda que só eram as sete da manhã, já fazia bastante calor. Encaminhou-se à cozinha onde se serviu um copo de suco de  laranja, e depois saiu da casa. Não  desejava  enfrentar-se com  Angelos até meditar  bem  o que ia dizer-lhe . 

Para começar, sua noite de casamentos tinha resultado um completo desastre. Rezava  para  que Angelos não  recordasse  bem  todas as tolices que  lhe  tinha  dito e , sobretudo, para  que não  chegasse  a  descobrir que se tinha apaixonado dele. 

Durante um breve instante, ele a  tinha tratado como a  uma igual, e ela tinha tido que o estragar tudo  escolhendo  precisamente aquele instante para despojar-se de  sua armadura e mostrar-se diante ele tal  e  como  era:  uma  patética  fraude,  uma  virgem  tonta , em  definitiva, tão só uma  pobre, vítima  de  uma  chantagem  em vez da desejável  amante de  um homem rico. 

Mas o mais surpreendente tinha sido a insólita revelação de  do que, depois de  tudo,  Angelos tinha consciência:  não só  se tinha  ficado pasmado ao  descobrir a  verdade , senão que  se tinha compadecido de coração por sua triste infância. 

Mas Maxie não queria que a compadecesse, e muito menos do que se sentisse  culpado , e chegou  à  conclusão de  que a  única  forma  de  evitá-lo seria contando-lhe com detalhe as condições do testamento da  falecida  Nancy Leeward.  Quando Angelos visse  o pouco nobres que tinham  sido seus motivos para  casar-se  com ele , sem dúvida a veria com  outros olhos, e, pelo  menos, poderia  recuperar parte de  seu orgulho. 

Quando deu a volta a  um saliente rochoso, viu na praia dois meninos ajudando a  um ancião marinheiro a  arrastar as redes.

Era uma  cena tão bonita  que, inconscientemente , um amplo sorriso se desenhou em  seu rosto. 

- Nunca te tinha visto sorrir assim - disse uma voz a  suas costas. 

Surpresa, deu-se a volta em redondo. Angelos estava tão bonito que sentiu  que  se  lhe  saía  o  coração  do  peito ao  vê-lo.  Mas , quase instantaneamente, pôs-se  em  guarda para  ocultar-lhe como  fosse seus sentimentos. 

- Ainda que, o mais provável – continuou, é que nunca tenha feito nada para merecê-lo. 

Ela o ficou olhando, imóvel, tão bela como uma estátua, com o cabelo reluzindo sob  aquele sol  de  verão.  Angelos lhe  pegou  pela  mão e começou a  andar para a costa. 

- Desde  agora, desde este mesmo momento, tudo vai  ser muito diferente entre nós - lhe  prometeu. 

- Sim ? - Maxie começava a  pôr-se muito nervosa. 

- Deverias ter-me  dito a  verdade sobre tua relação com Leland desde o primeiro dia... 

- Não  terias acreditado.

- Tens razão  - assentiu  Angelos olhando  o mar que se estendia diante eles. - Só o que  aconteceu na noite passada me convenceu de  que não és a mulher que eu pensava que eras. 

- Pelo menos és sincero - sussurrou Maxie. 

- Considerando  todas as  coisas que  se disseram  sobre  ti  - se defendeu  Angelos, -  creio  que  tinha  todo  o  direito  do  mundo a  pensar mau, ainda  que não acredite,  não  me  orgulho precisamente de  meu  comportamento. Quando penso que  inclusive te  marchaste de  Londres para evitar-me...  Nunca me portei com nenhuma mulher tão mau como contigo; estou muito arrependido por  ter-te obrigado a  aceitar este casamento, pethi mou. 

Maxie ficou atônita  ante tão inesperada confissão, mas, sobretudo, não podia suportar que ele a compadecesse. 

- Escuta, quero dizer-te uma coisa - lhe interrompeu, soltando-se de sua mão. 

- Não, deixa que siga. Isto não está sendo nada fácil para mim, não estou acostumado a  mostrar deste modo meus sentimentos. 

- Tu não sentes nada por  mim - lhe  espetou Maxie sem pensar. 

- Pareces muito segura de  ti mesma... 

- Reconheça Angelos: as rochas desta  praia  seguramente têm mais sentimentos  do que tu - lhe  acusou  cinicamente. - Por  outra parte, por  que  deveria  importar-me de que  me usavas, quando eu estava  disposta  também  a  aproveitar-me da  situação. -  Não é o mesmo que  se  eu  estivesse  apaixonada  por  ti, ou  algo  parecido continuou , incapaz  de  deter-se.  -  Casei- me  contigo  porque  me convinha fazê-lo.  Precisava um marido pelo menos durante uns seis meses. 

Produziu-se um interminável silêncio entre eles. 

- Que  diabos  queres  dizer ?  - estourou  Angelos tencionando todos os músculos de  seu rosto. 

- Me  refiro  ao testamento  de  minha  madrinha - lhe  explicou Maxie impassível. - Era uma mulher muito rica, mas só podia herdar minha parte se me casasse. - Tudo o que queria casando-me contigo era conseguir meu próprio dinheiro, não o teu. 

- É uma  brincadeira, verdade?  - Angelos parecia ter-se ficado petrificado.  Maxie negou com a  cabeça,  incapaz  de articular uma palavra. - Te dás conta de que se isso que me dizes é verdade penso matar-te? 

- Não sei  por que !  - replicou  Maxie  com fingida  calma. - Este casamento é tão falso  para  ti como para  mim.  Me o propuseste só para dormir comigo, e  só  ias  mantê-lo até que te  aborrecesses de  mim, nem um minuto mais. - Por  isso, pareceu-me que o melhor seria ser igual de  franca contigo. 

Incapaz de  seguir, Maxie deu a volta, encaminhando-se para a casa. Aí terminava aquela  história, pensava, nunca  mais voltaria  a  vê-lo: passaria o  resto  de  sua vida na  pobreza  e sentindo falta daquele homem. 

- Maxie... 

Sumida em  seus pensamentos, não se tinha dado conta de  que ele a tinha seguido. Em duas passadas esteve a  seu lado. 

- Não te ocorreu que é possível que não me aborreça de ti nunca pethi mou? - perguntou abraçando-a. 

- Mas... 

Angelos  a  fez calar-se com  um apaixonado beijo que durou até que chegaram  ao  dormitório.  Uma  espécie  de  corrente  elétrica  lhe  percorreu dos  pés  a  cabeça  até  que ele  por fim se separou dela, estendendo-a sobre a cama. 

- Pensei... mas eu pensei que já não me querias... 

- E eu não  me  imaginava que fosses tão franca,  nem  tão aguda também não - replicou Angelos enquanto se tirava a roupa. 

- Que vais fazer? - perguntou sufocada. 

- O que deveria ter feito quando acordei esta manhã e te peguei acariciando- me  como  uma  mocinha...  E pensar  que  não  queria te envergonhar !  – exclamou.  -  Como  se tu soubesses  o que  é sentir  vergonha! Apesar de  tua carinha de anjo és mais dura do que  o aço. 

Maxie se  sentiu  afagada, mas não porque  ele tivesse  dito que  era franca, nem  aguda, senão  porque por fim  parecia  ter ganhado seu respeito.  Conhecia  Angelos  o suficiente como  para  entender que, desde a  noite anterior, tinha  ganho muitos pontos  em  sua estima. Intuiu então que  reagia  assim porque lhe agradavam os desafios, e semelhante revelação a deixou atônita.  

- Por que estás tão calma? – perguntou  Angelos suspicaz.  - Não me fio de ti quando estás assim. 

Maxie lhe  sorriu languidamente. 

- Suponho que não quererás divorciar-te precisamente agora... 

- Theos! Mas se nos casamos ontem! 

Era verdade, ainda  a  desejava..., por  incrível que pudesse parecer, inclusive  a  desejava  mais  do que  nunca. Quando  se  abaixou para beijá-la  de  novo , seu  próprio  desejo  voltou  a  atraí-la; desejava tocá-lo, abraçá-lo,  sem que por uma vez lhe importassem  as conseqüências. 

- Desta vez não te  farei dano, te prometo -  sussurrou Angelos roucamente enquanto lhe  tirava o vestido. - Ser o primeiro foi... um presente inesperado.  - Quase me voltaste louco contando-me essas ridículas histórias. - Talvez acreditas que não sei que tu também me desejas? Posso vê-lo em  teus olhos... 

Não tinha  acreditado numa  palavra do que lhe  tinha contado sobre o testamento.  Abriu a  boca  para  explicar-se  outra vez, mas ele a aplacou com um beijo, e ela lhe estreitou entre seus braços, rendida a  uma paixão que já não podia dissimular mais. 

- Por que te  empenhas em  brigar comigo? - murmurou Angelos tirando-lhe  o sutiã  e começando  a  acariciar-lhe  os  peitos de  tal forma que vibraram todas as fibras de  seu corpo. 

No mais fundo de  sua  consciência,  Maxie  sabia que tinha  algo que precisava  dizer-lhe , mas enquanto aqueles incríveis olhos dourados estivessem postos sobre ela, era incapaz até de recordar seu nome. Quando  Angelos  sorriu, foi  como  se  estivesse  estado esperando aquele  gesto  para  adiantar- se  a  beijá-lo;  nunca  tinha  desejado fazer algo com semelhante intensidade. 

Meio tombado sobre ela e sem deixar de beijá-la, Angelos lhe  tirou a calcinha e começou a acariciar-lhe doce, sabiamente. A  Maxie lhe  pareceu que uma corrente de  lava  ardente começava  a  derramar-se de  seu interior. 

Angelos  continuou  até  que se  deu  conta  de  que  ela  não poderia agüentá-lo bem mais , e só então a  possuiu. E enquanto ele a olhava, contendo  a  duras penas seu próprio desejo, desataram-se  em  seu corpo ondas sucessivas do mais intenso prazer. 

- Angelos! - gritou sem poder-se controlar. Ele se deteve então, até  que Maxie  lhe pediu  para  que  continuasse: não queria  que se detivesse, não enquanto não atingisse a cume do êxtase. Por  fim ele a conduziu até ali, fazendo-a sentir uma plenitude tão gloriosa como nunca tivesse imaginado. 

- Assim teria  que ter sido em  nossa  noite de  casamentos - lhe  disse Angelos sorrindo. 

Maxie mal podia crer o que acabava  de  suceder; se agarrava a  seu corpo, incapaz  de  separar-se,  ao mesmo tempo em  que lutava  por  conter as lágrimas. 

- Me parece que já é hora de  anunciar nosso casamento - disse Angelos  preguiçosamente.  Maxie  abriu  uns  olhos  como pratos ao pensar nos envolvimentos do que acabava de ouvir. - Que te parece? - lhe  perguntou, mas, sem esperar sua resposta, levantou-se de  um salto da  cama. - Primeiro um  chuveiro  e depois  o café da  manhã... Nunca em  minha vida tive tanta fome. 

Só então recordou  Maxie o que tinha dito antes de  fazer-lhe amor a respeito de  suas «ridículas histórias». 

- Angelos... -  ele se voltou para  olhá-la  com um amplo sorriso desenhada  em  seu rosto. - O que te contei antes... do testamento... é verdade... 

Angelos  a  ficou olhando com uma  expressão indecifrável enquanto ela  lhe contava  com  detalhe a  importância  que sua  madrinha  lhe  tinha  dado ao  casamento, seu  desgosto  ao  inteirar-se  de  que se tinha ido viver com Leland.  Ao princípio estava tão nervosa que nem sequer era capaz de  olhá-lo à cara. 

- Então,  bom... foi quando  me  propuseste  o casamento, e  me enfadei  tanto que  me ocorreu que  também  podia  utilizar-te para cumprir a  condição  imposta  no testamento - lhe  explicou  com voz cada vez mais trêmula.  Naquele momento  não podia entender como tinha  sido capaz  de  levar adiante uma idéia  tão peregrina. Ante a mirada de Angelos, aquele  plano que ao princípio lhe  tinha parecido algo tão singelo e  inteligente se convertia em  algo muito diferente. 

Fez-se  entre  eles  um silêncio que  podia cortar-se  com uma  faca. Sem saber muito bem como ia reagir, Maxie estendeu uma mão para ele. 

- És uma víbora - estourou Angelos ao ver aquele gesto.- Quando te pedi que te casasses comigo, o  fiz de coração, porque, diferente de ti, eu ainda mantenho alguns princípios... 

- Angelos, eu... - Maxie se tinha posto tão branca como o papel. 

- Cala-te!  Não quero seguir escutando-te!  Estou-me lembrando da generosa  quantidade que lembramos que receberias em  caso de  divórcio... E és tão avarenta  que também pretendes fazer-te com o dinheiro dessa pobre anciã... - Maxie notou que se lhe  inundavam os olhos  de  lágrimas , Angelos  a  olhava  como  se  ela  fosse  um  ser repugnante.  - Como foste  capaz de  manipular-me desta  maneira ?  lhe  reprovou amargamente. 

- Estás muito equivocado!  - se defendeu  Maxie, lamentando no mais fundo sua  torpeza. -  Não foi algo premeditado, só me ocorreu sobre a saída! Estava tão enfadada, sentia-me tão doída... 

- Quando um  homem te  oferece um  anel de casamentos, o faz para honrar-te, não para utilizar-te - disse Angelos entre dentes. 

- Bem,  isso  eu não  posso  saber:  só tive  a  suprema  honra de  usá-lo durante cinco minutos. 

- Tu o devolveste! 

- E tu o aceitaste! - lhe recordou Maxie implacável. E não quero que me devolvas,  nem quero que digas a  ninguém que nos casamos... não quero que se saiba que fui tão tonta  para casar-me contigo. 

- Isso me  parece  bem - admitiu  Angelos  torvamente. - Já me assegurarei  eu de desfazer-me  de ti antes  de que  se passem seis meses - anunciou antes de  meter-se no banho.

Maxie enterrou  a  cabeça  entre os travesseiros, golpeando-as com raiva e frustração.  Por  um breve  instante  se tinha  sentido  muito perto de Angelos, e em  menos de um segundo, aquela ilusão se tinha rompido em  mil pedaços... e a culpa era só sua, por ser imprudente. 

Ainda  que fosse verdadeiro que  mais cedo ou  mais tarde teria que lhe  ter falado  do  testamento, tinha  escolhido sem  dúvida  a  pior forma  de  fazê-lo. Tinha-o feito  tão  rematadamente  mau  que, ao princípio, Angelos  nem  sequer se o tinha acreditado, tomando suas palavras por  uma  tentativa  infantil  de  desafiá-lo. Estremeceu-se ao dar-se conta do bem que a conhecia aquele homem. 

Porque aquilo era exatamente o que tinha pretendido contando-lhe a história  de  sua herança  naqueles  termos  tão  ofensivos. Tinha se esquecido que  quem  semeia ventos,  colhe tempestades, e por  isso teria que se conformar com  os amargos frutos que ela mesma tinha plantado: ira, desilusão, rejeição...

Como poderia  explicar-lhe que o tinha feito porque desejava seguir casada com ele, e que para  isso precisava  de uma desculpa  que lhe  permitisse crer que ainda mantinha o controle?  Não podia dizer-lhe de  nenhum modo que se tinha apaixonado dele...

Quando  por fim  Angelos  saiu  do banheiro,  Maxie  o ficou olhando como um cachorro espancado. 

- Ouve Angelos, não pensava obrigar-te a cumprir o acordo pré nupcial... 

- Deverias dedicar-te  a escrever roteiros de ciência ou ficção - lhe  espetou Angelos no cúmulo da incredulidade.

- Antes reconheceste que te  equivocaste ao pré julgar-me! - insistiu Maxie. 

- Retiro o que disse - replicou, lançando-lhe uma gélida mirada. - Ah, E me marcho a  Londres um par de  dias. Tenho que me ocupar de  uns assuntos. 

Maxie não era  tonta.  Desolada, percebeu  que ele não  queria estar com ela nem um minuto mais. 

- Sempre és tão implacável com os que te rodeiam? - perguntou com o alma em brasas. 

- Te asseguro que me encanta essa voz tristonha que pões, mas não te  esforces, não acredito em nada. 

Cálidas  lágrimas  começaram  a  cair  por  suas  bochechas sem  que pudesse fazer outra coisa por  remediá-lo que secar-se com a borda do lençol. 

Angelos  acabou  de  pôr-se  um  elegante  traje  cinza.  Parecia  tão inacessível e frio como o Himalaia. No entanto , Maxie decidiu fazer uma última tentativa. 

- Te  juro que  nunca  quis  teu  dinheiro, Angelos - sussurrou, imprimindo a cada uma de suas palavras toda  a sinceridade da que foi capaz. 

Angelos  esboçou um sorriso que  bem parecia uma careta de  burla. 

- Ainda  que não se encaixes na  imagem que tenho da perfeita esposa, como amante és impagável. Não faz falta que dissimules teu interesse. Fizemos um trato: eu  desfruto de  teu corpo, tu de  meu dinheiro. - Afinal de contas, essas coisas  é o que mais acontece aos multimilionários vulgares como eu, não é verdade? 

Maxie sentiu que se lhe  gelava o sangue nas veias.  Com o mínimo de  lucidez que lhe  ficava  decidiu que se o que Angelos queria  era uma amante, isso era precisamente o que teria.

 

- Como é que Angelos não sabe onde estás ?  - Então  não lhe  disseste que voltaste a Londres? - perguntou Liz assombrada. 

- Vim direito do aeroporto; quero fazer-lhe uma surpresa - lhe  explicou sem faltar do tudo à verdade. 

- Claro , eu  entendo - disse sua  amiga  mais calma. - Que pena que os negócios  lhe tenham  obrigado a  interromper tão  cedo a lua de  mel! - Quando disse que se marchou Angelos da ilha? 

- Faz uns  dias - contestou  Maxie, mas  não  lhe confessou que ela  tinha embarcado no ferry mal  vinte e quatro  horas mais tarde, quanto recebeu os cartões  de  crédito e lhe  foi possível comprar o bilhete. Tinha-se sentido  mortificada ao ver que neles figurava seu nome de solteira. 

Aquilo a tinha induzido a  manter-se até suas últimas conseqüências no  papel de  amante  que lhe tinha  adjetivado Angelos, e  como tal, dedicou-se  a  esbanjar seu  dinheiro  a  mãos cheias. Primeiro tinha ido a Roma, e depois a Paris, investindo uma considerável quantidade de  tempo e dinheiro em  fazer-se com  um  impressionante armário. Quase  podia  empapelar aquele  quarto  com  todos  os  recibos que tinha  acumulando e que esperava  que  servissem para que  Angelos acreditasse que ainda estava no continente; deliberadamente, tinha utilizado dinheiro em  efetivo para pagar as faturas dos hotéis e os bilhetes de  avião. 

- És feliz? - lhe  perguntou Liz preocupada. 

- Muito feliz  - contestou.  Pelo  menos, disse, tudo o feliz que podia ser  tendo  em  conta  que fazia só seis dias, quatorze horas e trinta e sete minutos  que  Angelos se tinha  marchado do  seu lado. Consolou-se  pensando  que  a  alternativa , de  ficar  vegetando  em  Chymos até que ele voltasse, era muitíssimo pior.

- Crês que Angelos pode chegar a  amar-te? - insistiu Liz. 

Maxie não soube o que contestar. Tinha desejado isso, mas agora se dava conta  de  que era  um anseio impossível.  O único que podia lhe assegurar com certeza é que àquelas alturas ele devia estar furioso porque se tinha marchado da ilha sem dizer a  ninguém.

Ainda que, pensando bem, supunha-se que toda amante  que se apreciasse de  sério  devia  procurar-se  entretenimentos  enquanto  seu protetor se ocupava de  seus assuntos. Não era  ela  quem tinha que lhe  dizer quando estava disponível, senão mais bem ao invés. 

Maxie  tomou  o  chá  com  Liz e depois  chamou  um  táxi para que a conduzisse junto com sua  imensa bagagem ao edifício onde Angelos tinha  disposto a que vivesse.  Sentiu uma  apunhalada de apreensão, pois  não  estava  muito  segura  de  como ia  ser recebida, dado que Angelos nem sequer devia saber que tinha regressado a  Londres.

Mas  em  seguida  se deu  conta  de  que, uma  vez  mais, ela  o tinha  subestimado:  para começar, quanto chegou ao elevador, um guarda-costas se dirigiu a  ela. 

- Senhorita Kendall? 

- Sim, sou eu. Lhe importaria fazer-se cargo de minha bagagem? – respondeu, e  sem  esperar  sua  resposta  subiu  ao  apartamento. 

Quando as  portas  se abriram  pensou por um momento que se tinha equivocado de  andar. Tinham sido retirados todos aqueles horríveis móveis futuristas,   em seu lugar , tinham colocado preciosos móveis antigos  e  cálidos tapetes.  Na  sacada  tinham  instalado  barreiras protetoras e  ademais,  se ainda não se atrevesse  a  sair a  respirar ar fresco, tinham construído um amplo jardim de inverno. 

Ainda que era evidente que não se tinha consertado em  gastos para  redecorar aquele lugar a  seu gosto, longe de  sentir-se comprazida, Maxie  estava  a  ponto de  estourar  em  lágrimas. Angelos se tinha tomado tantas  moléstias  somente para  assegurar-se de  que, tal e como  tinha  disposto, viveriam  separados.  Aos  seus  olhos , aquele esplendor não bastava  para consolá-la de  semelhante  humilhação. 

A jovem passou o resto da tarde ordenando seu armário, e quando o  acabou, procurou as duas folhas com a lista de  defeitos de Angelos que se tinha  convertido numa espécie de  talismã. Quando se sentia furiosa, ou  lhe  sentia  falta, voltava  a  lê-la de  cabo  a  rabo  para recordar-se que, ainda que ela  estivesse longe de  ser perfeita, ele também  não o  era.  Surpreendentemente, fazendo  aquele  insólito exercício se sentia um pouco perto dele. 

Quanto  tempo se passaria  antes de  que  ele  se  inteirasse  de seu regresso?  reflexionou enquanto se relaxava num banho de  espuma. Desejava chamá-lo com todas as suas  forças, mas sabia que não era isso o que se esperava da perfeita amante, não podia ser indiscreta. Pôs-se uma  camisola  curta de  seda  azul e  se encostou na  enorme cama do dormitório principal. 

Ainda que não ouviu o ruído do  elevador, incorporou-se sobres-saltada ao escutar uns passos que se dirigiam ao dormitório. 

Se abriu a porta e Angelos apareceu no umbral. Estava tão atraente com  aquele smoking, a  gravata solta  e a camisa meio desabotoada que Maxie sentiu que o coração  lhe  paralisava. 

Angelos  ficou plantado no umbral, com  os punhos apertados. Respirando  agitadamente; ela  se  recostou  sobre  os travesseiros, olhando-o tão calma como se lhe  tivesse estado esperando. 

- Vieste ver-me  quanto  regressei ! -  lhe saudou  alegremente.   Mas que agradável surpresa! 

 

A  animada  saudação  de  Maxie  deixou a  Angelos  desconcertado. Piscou, como se  não acreditasse o  que estava vendo, para não falar do que acabava de  ouvir.

Maxie tinha aprendido dele valiosas lições, e as pôs em  prática. Inclinou-se para  frente, sacudiu sua  preciosa  cabeleira  loira  e se esticou, de modo que  nem um  só centímetro da  sedutora camisola, que marcava seus voluptuosas curvas, escapasse a  seus olhos. 

- Que te  parece?  - perguntou  animadamente. - Comprei-o em... 

Angelos não podia afastar a vista dela, incrédulo. 

- Onde demônios tens estado toda esta semana? - lhe espetou. - Sabia que voltei a  Chymos? Não sabia que tu  tinhas saído. 

- Oh, eu não sabia que ias voltar. 

- Por que então não me  chamaste para  dizer-me o que pensavas fazer? - perguntou Angelos com crueldade. - Podes ir-te as compras quando  te  dê  vontade  mas  não faz  falta  que  o faças quando nós poderíamos estar juntos. 

- Por  que  não  me  chamaste  para  dizer- me  que  voltavas? - replicou  Maxie, seus  olhos  brilhavam  como safiras. - Olha, eu não pude fazê-lo: Na vila  ninguém falava  uma  palavra  de  inglês eu não tinha teu número de  telefone... 

Angelos ficou de  pedra. 

- Como que não tens meu número de  telefone? 

- Bem, não estás na guia e estou segura de que teus empregados não deixam escapar  nenhuma informação privilegiada a qualquer um que...

- Diabos! - Tu não és qualquer um - exclamou Angelos, com raiva. - Quero saber onde estás a  cada minuto!  E o único que podia fazer era vigiar os gastos  de teu  cartão  de crédito enquanto  passeavas por  toda Europa. 

Aquelas palavras foram como música para Maxie. 

- Creio que o mais sensato da tua parte seria dar-me um número de contato - disse com suavidade. – Sinto muito, mas, sinceramente, não me tinha dado conta do possessivo que podias chegar a  ser. 

- Possessivo ? - disse  Angelos  dando  um suspiro.  –  Eu não sou possessivo, só queria saber onde estavas. 

- Em todas as horas?  - disse Maxie. - E como ia eu a  saber isso se não me dizias? 

Angelos passou as mãos nos cabelos. 

- Não  voltes  a  desaparecer  sem  dizer-me  aonde  vais...  está claro?  - disse, tirando  uma  caneta  de  ouro  do bolso  interior  do terno. 

E procedeu a  escrever algo no verso da  folha de  papel onde Maxie tinha enumerado seus defeitos. 

- Que fazes? - lhe  perguntou. 

- Vou escrever-te  todos  meus  números de  telefone, para que não voltes a  pôr-me a desculpa de que não sabias aonde chamar-me. O celular, a  linha privada, o andar, os dos carros e quando  estou no estrangeiro... 

E escreveu  e  escreveu  e  escreveu  enquanto  Maxie  o  observava fascinada. Tinha mais números que uma empresa de  comunicação. Felizmente, pensou, não lhe  ocorreu dar-lhe a volta ao papel. 

- Me inteirei de  que tinhas aparecido enquanto estava perdendo o tempo  com  um  grupo de  industriais japoneses - disse Angelos. - Tive que os  suportar durante toda a tarde antes de  poder vir aqui. 

- Se eu tivesse  sabido - disse Maxie com um suspiro, tratando de  conter a  imensa alegria  que  sentia. Angelos, ao comprovar  que ela não  era  um  mero  objeto  decorativo,   tinha  deixado  por  fim  de  mostrar-se tão duro e frio. 

Seguia escrevendo, mas  deteve por  um instante e   dirigiu a  Maxie uma mirada perspicaz. 

- Tens estado em  Roma... em  Paris... com quem? 

- Só - replicou Maxie, com toda a dignidade de  que foi capaz. 

Angelos  não  despregou  os  olhos  de  seu  rosto, mas  relaxou, era evidente. 

- Tenho estado muito enfadado contigo... 

Maxie  sabia  o que  isso significava.  Devia  ter  estado tão furioso como um vulcão ativo, esperando com  anseio o momento da erupção. 

- Te ofereceria  algo para beber, mas  os armários  estão vazios. 

- Claro... não esperava que viesses aqui. 

Maxie franziu o cenho. 

- Como podes dizer  isso quando  reformaram este andar só para que eu viesse viver nele? 

Angelo se esticou e a olhou intensamente. 

- Olha,  isso  foi antes  de  que  nos  casássemos...  talvez  não te  deste conta, mas desde então as coisas mudaram. 

Maxie ficou pálida. 

- Para valer? 

A formosa boca de Angelos se comprimiu. 

- Tenho estado pensando. - Creio que deverias vir a  casa comigo. Vou comunicar ao jornal a notícia de  nosso casamento. 

- Não, prefiro que as  coisas  fiquem  como estão – disse  Maxie. Nunca em sua vida lhe tinha custado tanto dizer algo, mas o orgulho lhe  impedia  aceitar o papel de  esposa se o ofereciam de  um modo tão tosco. - Encanta-me este andar e, como tu, agrada-me viver num espaço que eu  possa sentir como  meu.  E  não tem  nenhum  sentido convocar a  imprensa  para  dizer-lhes  que nos  casamos quando não creio que duremos juntos muito tempo.

Angelos não afastava  a  mirada  dela, escrutinando  até o mínimo de  seus  gestos.  Depois, subitamente, sua  mirada  se  tornou  tão fria, acirrada. 

- Muito bem, de  acordo, não  passa  nada. Creio que estás sendo muito sensata.

Maxie  sentiu  uma  apunhalada  no  estômago...  Angelos,  pelo visto, parecia aliviado ante aquela decisão, não encontrava  nenhuma razão para  que  tentassem  viver  como  um casal  normal. Evidentemente, seguia sem ver nenhum futuro em  comum para os dois. E no entanto ela  desejava  que  ele  se  jogasse  aos  seus  pés,  rogando-lhe  que compartilhassem o mesmo teto.

- Mas  te  agradeceria  que  me  desses uma  explicação  de  tua repentina fuga de  Chymos - disse Angelos. 

- Não sabia  quando  voltarias, e  como estavas  muito enfadado, pareceu-me que o melhor era deixar que passasse um pouco mais de  tempo até do que te tranqüilizasses. 

- Sabes por que voltei A  Londres? - disse Angelos, com o gesto concentrado. 

- Não tenho nem idéia. 

- Tinha que me ocupar de  Leland.

- De  Leland? - perguntou  Maxie com perplexidade. Com mirada ausente, Angelos  dobrou as folhas  de  papel que tinha  na mão e as meteu no bolso. Maxie observou o gesto com horror. 

- Tinha  que  o  fazer.  - Não  pensarias que  ia  deixá-lo escapar depois do que te  fez? Roubou-te parte de  tua vida e, não contente com isso, esmagou-te com esse empréstimo... 

- Angelos, Leland está enfermo... 

- Desde  que  lhe  tiraram  o  marcapasso  está  tão  bem  como qualquer um - alegou Angelos.- Mas se sente muito envergonhado de  si mesmo, o que não me estranha nada. 

- Falaste com ele? 

- Na  presença de  Jennifer.  Agora  que conhece a  verdadeira história  de  teus  tratos com  seu marido está  eufórica. Leland não tinha  nenhuma  intenção  de  confessar  a  verdade,  assim  que sua vaidade  humilhada  será  seu  castigo. Tinha-te  enganado  em  toda essa charada só para impressionar a  Jennifer. 

- Nunca  me  teria  passado  pela  cabeça  que  pudesses  odiá-lo tanto. 

- Agora  és minha  - disse  Angelos com frialdade. - E me agrada cuidar de  tudo o que me pertence. 

- Eu não te  pertenço... só passo por  tua vida...  - replicou Maxie ofendida.  Davam-lhe  vontades  de  bater-lhe , mas  só  apertou  os dentes  porque  sabia  que  se acercasse a  ele, se  derreteria entre seus braços como uma bola de  neve numa fogueira. Quase sete dias sem sua presença tinham suposto uma tortura que a tinha debilitado enormemente. 

Angelos, sentado à beira da cama, não deixava de olhá-la intensamente. 

- Ao ver Leland  e  Jennifer - disse com tranqüilidade, - refleti em  como nos  agrada  aos  adultos  jogar com  os  sentimentos. Que erro tão grave é subestimar a  teu oponente... 

Maxie se  estremeceu. Jogos ? Não, Angelos não podia dar-se conta do que tentava fazer. Ademais, ela não se propunha nenhum jogo, ou sim? 

- Não sei o que queres dizer... 

- Leland recusou sua mulher. Jennifer teve uma  breve estúpida aventura e não se desculpou. Leland se ofendeu e não a perdoou. Assim  se  passaram três longos  anos fazendo-se a  vida impossível, engajados  em  contínuas brigas, pensando no divórcio sem chegar a  fazer nada para levá-lo a cabo.  E em todo esse tempo não se deram nem um respiro. 

- Que loucura - sussurrou Maxie. 

- Verdade? - disse Angelos conferindo o relógio.- Me encantaria ficar-me, mas  prometi a  meu sobrinho  Demetrios que iria  à festa de  seu vigésimo primeiro aniversário... e já se faz tarde.

Maxie ficou sentada mais imóvel do que uma pedra. 

- Já  vais? - disse com um débil fio de  voz. 

- Tenho  uma  vida  social muito ativa. - Negócios, compromissos familiares, em  fim. Mas o tempo e a distância converterão em  algo maravilhoso os poucos momentos que podemos compartilhar.

- Os poucos momentos ? - repetiu  Maxie com temor. - E esperas que fique aqui sentada esperando tua próxima visita? 

- Maxie já começas a  falar como uma  verdadeira esposa - disse Angelos com um sorriso de satisfação. -  Bem, tenho que me ir, virei jantar amanhã. 

- Vou sair. 

- Maxie - disse Angelos com um tom exigente,  me agradaria que estivéssemos juntos quando eu tenho tempo livre para ti. 

- Quando tens tempo livre para mim? E daí que vou fazer o resto do dia?, esperar sentada? 

- Ir as compras – deixou  cair Angelos com aprumo. - Não é o que fizeste durante toda a semana passada? 

Maxie se pôs furiosa, mas o que dizia Angelos era verdadeiro, tinha gastado uma verdadeira fortuna. 

- Mas não me importa - disse Angelos, - posso permitir-me. 

Maxie ficou  muda.  Todos seus planos para pôr-lhe furioso jaziam a  seus pés, descartados, e ainda assim, não sabia o que tinha  passado exatamente.  Angelos se tinha  posto furioso ao princípio, mas tinha recobrado o bom humor em seguida. 

Durante aquele  breve momento de  distração, Angelos se acercou a  ela  para  estreitá-la  entre  seus  braços. Maxie  estava  rígida  até aquele instante, mas ao contato de Angelos, ao sentir seu calor, viu-se devorada pelo fogo da paixão, do desejo. 

- Se  não  fosse  por  essa  maldita  festa  - disse  Angelos, - eu ficaria. - Se apertava  contra ela, consciente da  sensação que tinha acordado em  Maxie, e presa  assim  mesmo dela. - Poderia jogar-te sobre a cama e fazer-te amor... 

- Sim - disse Maxie. 

- Mas seria um pecado provar um bocado da torta antes da hora de  um  banquete que  promete  ser  inesquecível...  - disse  Angelos, beijando  a  Maxie no  pescoço  apesar de  suas  ardentes palavras e deslizando o joelho entre suas pernas. - Tenho que me ir...

- Beija-me. 

- Não, não posso... não poderia parar...  - disse Angelos, e se afastou dela com uma mirada que refletia toda sua frustração. Parecia um alcoólico  resistindo-se a  cair no  que só podia significar sua perdição. – Meu Deus! És tão linda, e tão perfeita para mim -  murmurou. 

Maxie não podia pensar em  outra coisa que em  sua marcha. O único que lhe  importava no mundo era que se marchava e a deixaria ali só. Não  podia  separar-se  dele,  seria  demasiado doloroso.  Ao dar-se conta do que sentia  por  ele, atemorizou-se;  e pela primeira vez se tinha dado conta de  sua enorme vulnerabilidade. 

Angelos se marchou  e ela o esteve olhando até o último momento, e quando  deixou de  vê-lo se esforçou  por  ouvir seus  passos, que se afastavam irremediavelmente. Quando se fez o silêncio caiu sobre o tapete feito um mar de  lágrimas. Deus Santo, que idiota tinha sido, como se tinha atrevido a desafiar Angelos. De repente lhe  resultou impossível  acreditar  que  não tivesse  feito nada  por  arrumar seu casamento. E tudo por  seu maldito orgulho.

O que devia  fazer?  E  aquilo  era  tudo o  que desejava,  era  ser a melhor esposa para ele, mas  em vez disso lhe  tinha dado as costas, com a ingênua pretensão de  fazer-lhe compreender  que queria ser algo mais do que uma  amante para ele. No entanto, a  maneira como  se tinha comportado justo  antes de  que ele se marchasse, só tinha servido  para  demonstrar-lhe  que  não  era  mais  do que  o que ele queria do que fosse, exatamente o que o ele queria. 

Se  estremeceu. Angelos  só se tinha  casado com ela pelo sexo, por que se não  lhe  oferecia outra coisa  que seu tempo livre ?  Por  que  então  a tinha  deixado para ir-se a  uma  discoteca para  celebrar o aniversário de  seu sobrinho?

Depois de  soluçar durante um  bom  momento, dirigiu-se ao banho a  lavar seu  maltratado rosto com água  fria. Seu reflexo no espelho a assustou e voltou à cama para refugiar-se sob os lençóis. 

Aquela  noite tinha  feito muitas  coisas ruins , mas sua  decisão era acertada.  A  única  coisa  que  lhe  fazia  falta  era  energia ,  muita energia  para  combater  com Angelos.  Era  estranho , mas cada vez que pensava  que tinha  conseguido furar sua insultante posição, era ele quem conseguia que ela se sentisse mais e mais débil.

 

Ao sentir o calor de seu poderoso corpo masculino, acordou-se.

- Não queria acordar-te - murmurou Angelos. 

Maxie se deu a volta para ver-lhe a cara. Contra o pálido resplendor dos  lençóis,  Angelos não era  mais do  que uma  enigmática sombra. 

- Que fazes aqui? 

- O que tu achas ?  - disse  Angelos com  evidente  bom humor e rodou para Maxie, abraçando suas costas com força. - Supõe-se que a  antecipação  é o mais  excitante do sexo , mas não penso ficar-me com as vontades, agape mou -  disse Angelos  com voz grave. – Ainda  mais com a maldita  semana  tive...  sete dias perguntando-me se me tinhas me deixado e te tinhas ido com outro. 

Maxie se comoveu, porque não se lhe  tinha passado pela cabeça que Angelos pudesse interpretar sua partida nesse sentido. 

- E pensar - prosseguiu Angelos - que estavas por  aí... perdida. 

- Como que «perdida»? 

- O mundo está  cheio de  homens  como eu. -  Se  eu  visse uma beleza como tu andando  só por  aí, não sei o que faria para  estar a  seu lado. 

Maxie não sabia o que pensar daquele comentário. 

- Se alguma vez descobrir que me enganas, irei me embora...

- Te  irás?  Aonde?  - disse Angelos  comprazido pelos ciúmes de  Maxie e acariciando sua cintura. 

Maxie estremeceu e seu corpo respondeu cheio de vida, à excitação de  seu marido. No  entanto, não deixou de  falar, a infidelidade era um assunto que não se podia deixar de  lado. 

- Quem disse que quando a amante se converte em esposa se cria um esvaziamento que há que voltar a  encher? 

- Alguém que  não teve  a  sorte de conhecer-te  - lhe respondeu Angelos com satisfação. -  Tu não és como as outras mulheres. 

Maxie se ruborizou. 

- Tu passaste bem esta noite? 

- O que tu achas? - disse  Angelos beijando-a no lóbulo da orelha e estreitando-se contra  ela, de  modo que  Maxie  se  deu conta  de  que estava muito excitado.  – Estou assim por toda a noite, não pude deixar de  pensar em  ti... 

Maxie o beijou,  para  calá-lo. A estava  envergonhando. Mas o beijo só  conseguiu  aumentar  o  desejo  de  ambos.   Ao  cabo  de  alguns instantes, teve que se separar dele, precisava de ar. 

A Angelos, não  cabia  dúvida, pensava  demasiado no sexo, mas ela o adorava  igualmente. Sentia-se  como um  objeto sexual,  mas talvez isso fosse uma  boa base para  construir um casamento sólido, quem podia sabê-lo?

Angelos então voltou a  beijá-la e qualquer vislumbre de pensamento racional se dissipou...

 

Maxie se deslizou fora  da  cama e se  acercou de ponta de pé até a cadeira  onde  estava  dobrada  a  roupa  de  Angelos.  Propunha- se tirar-lhe a lista antes de  que a encontrasse. O último que lhe  fazia falta  a  sua  agitada  relação era  que  Angelos  encontrasse  aquela pulsante  relação de  defeitos.  Afinal  de  contas, a  lista era muito exaustiva, demasiado talvez, e suscetível. 

Mas se levou uma grande surpresa. A jaqueta que estava na  cadeira não era sua jaqueta de etiqueta. Antes de voltar a seu lado, Angelos devia ter-se passado em casa para mudado de  roupa... 

- Maxie... que fazes? 

Maxie se sobressaltou, tropeçando com a cadeira. 

- Nada.

- Que hora são? 

- Oito horas. 

- Volta para cama, agape mou. 

Maxie o fez num instante,  aliviada  ao dar-se conta  de  que ele não tivesse descoberto o que estava fazendo. 

Uma hora e meia depois estava no refeitório,  ante o extraordinário café da  manhã  servido por Nikos, um  dos empregados de  Angelos. Este  tinha  trazido  a  seus  próprios  criados  para  remediar o esvaziamento que sofriam os armários da cozinha.  Não cabia dúvida de  que era  um homem muito  eficaz, pensava Maxie vendo- o ler os jornais da manhã. 

Também  era  um  amante  fantástico ,  pensou.  Tão terno  e  tão... selvagem.  Tinha  dormido só duas horas  e devia de  estar portanto exausto, mas ali estava, tão calmo, emanando, como sempre, um aura de  energia positiva. «Nunca conseguirei estar a sua altura", pensou, com temor. 

 

"Preciso recuperar essa lista para reprogramar-me e deixar de  ser tão dependente dele». 

De  repente , Angelos  disse  algo  entre  dentes , em  grego ,  e  se levantou. Ágil, forte, como um urso. Correu para o telefone e discou um número. 

- Quem autorizou  esse artigo sobre Maxie Kendall ? - perguntou ao cabo de  uns  segundos. - Quero uma  nota  de  desculpas amanhã mesmo  e  depois  não quero  que volte  a aparecer nem uma  palavra sobre ela. Diga a essa imbecil que procure a outra com quem meter-se. 

Instantes depois  pendurou. Maxie  estava  boquiaberta,  sem saber o que dizer, só  Nikos,  evidentemente  ao tanto da  agitada  vida de  Angelos, parecia calmo.  E sabia  qual era  seu  papel, pois, depois de  servir outra xícara de  café, retirou-se discretamente. 

Angelos arrojou o jornal sobre a mesa. 

- Isto é o que passa quando te passeias por Paris por tua conta, disse. - Nem te deste conta de que te estavam tirando fotos, não é verdade? 

- Não - disse Maxie, ainda  impressionada pela demonstração de  proteção masculina. - Crês que o jornal vai fazer  o que pediu?  

- Esse  jornal  é  meu - replicou  Angelos. -  Olha  o que escreveu essa estúpida colunista! 

Maxie  inclinou a  cabeça  obedientemente e se  fixou  nas  linhas de  texto que tinha  junto à  foto, mas  as letras  apareciam  imprecisas diante sua  vista.  Nem sequer  podia concentrar-se  no  que  estava olhando com Angelos ali, em cima dela.

O silêncio era ensurdecedor. Angelos assinalou o pé de  foto. 

- Me refiro a  isso - disse. 

Maxie ficou branca, com um nó no estômago. 

- Não sei  que  tem aqui  – lhe disse, -  sou  muito  míope e não tenho os óculos aqui. 

O silêncio durou uma eternidade.  Maxie não se atrevia a  levantar a vista  para  comprovar se tinha  conseguido  enganar a  Angelos com aquela desesperada mentira. 

- Dá igual, não deverias ler um lixo como essa. 

Maxie sentiu arrepios. Como poderia dizer-se? Como podia dizer-lhe a  Angelos que  padecia  de  dislexia?  Como se  o tomaria um homem como  ele?  Talvez, como  muitas  pessoas,  nem  sequer  chegasse  a  crer que tal incapacidade existisse. Poderia pensar que tal nome não era mais do que um eufemismo que mascarava  uma  simples falta de  inteligência.  Maxie se  tinha  encontrado ao  longo de  sua  vida com muitas  pessoas  com  uma  idéia  parecida , e  cada  vez  que  tinha tentado explicar-se, só tinha conseguido mais e mais desprezo. 

- Maxie... – disse  Angelos, aclarando-se a  garganta. - Não creio que a tua vista  lhe  passe nada e me parece fatal que,  a esta altura de  nossa relação, finjas que sim. 

Maxie sentiu uma  grande humilhação. Aquele era seu pior pesadelo, Angelos  tinha  descoberto  seu  segredo. Não  lhe  teria importado que  outra  pessoa  descobrisse suas  desculpas, mas Angelos... Que terrível seria que ele examinasse suas aptidões para ler e escrever. Não podia mover-se, não podia olhá-lo. 

- Maxie, não quero te molestar mas não penso esquecer o assunto – disse  Angelos , sentando- se  frente  a  Maxie , e  agarrando  sua cadeira pelo respaldo, de  maneira que ela ficasse presa  entre seus braços. . És muito inteligente  assim que tem que ter uma  boa razão para  que  não  possas ler  dez linhas  de  jornal. E  me lembro muito bem do  caderno que  usavas quando eras garçonete...  parecia  mais taquigrafia em vez de  palavras. 

- Sou disléxica, tudo bem? - espetou Maxie,  sem poder suportar a tensão por  mais tempo. 

- Tudo bem. Queres mais café? respondeu Angelos, sem denotar nenhuma emoção. 

- Não, obrigada... Creio que querias falar disso. 

- Agora não, se tanto te  molesta - replicou Angelos. 

- Não estou molesta!  - Mas não me agrada que metam o nariz em  algo que só a  mim me afeta, está claro? 

Angelos sustentou sua mirada. 

- A dislexia  está  mais  estendida  do  que crês.  Demetrios, meu sobrinho, também  a  padece, mas  estuda  em  Oxford. Seus irmãos pequenos também a tinham.  - Não te  ajudaram no colégio? 

Maxie  relaxou, cruzou os braços e negou com a cabeça. 

- Estive numa dúzia de  colégios... 

- Numa dúzia? - perguntou Angelos com assombro. 

- Meu pai e eu nunca passávamos muito tempo no mesmo lugar, ele sempre  estava  devendo dinheiro  a  alguém, se  não  era ao caseiro, era à casa de  apostas, ou ao supermercado... 

- E tudo voltava a  começar outra vez, não? 

- Sim -  disse  Maxie  franzindo os lábios.  – Até  os dez  anos não encontrei a nenhum professor que pensasse que minhas dificuldades se deviam a algo mais do que à estupidez. Estava disposto a  dar-me classes  especiais,  mas  nos  mudamos  antes  de  começar,  -  disse Maxie,  abaixando a  cabeça.  - E chegamos  a  um  colégio no que me puseram na classe dos mais atrasados. 

Angelos estava perplexo.

- Quando deixaste de  ir ao colégio? 

- Aos dezesseis, o  mais  depressa  do que  pude  - admitiu Maxie, com amargura. - Como  disse uma  vez minha madrinha,  não se pode ser bonita e inteligente ao mesmo tempo. 

- Isso é uma tolice. 

- Minha  madrinha  só queria  ser amável, mas pensava que eu era muito  tonta  porque  lia  muito devagar...  – disse  Maxie, e  a  ponto de  jogar-se a  chorar, saiu correndo para o dormitório. 

Angelos chegou depois dela e se sentou a  seu lado. 

- E não tentes dizer-me que segues me vendo igual que antes! lhe  espetou. 

- Tens razão, não te  vejo igual. Vejo-te mais valente, por tudo o que  tiveste  que  suportar – disse  Angelos com suavidade. - E se eu tivesse sabido isto quando vi a  Leland, lhe  teria feito em pedaços... porque não  pudeste ler  as condições  daquele  maldito empréstimo, não é verdade? 

- Algo... pude ler... mas  demoro muito.  Não quis  que se burlasse de  mim, assim que assinei. 

- Demetrios teve muita sorte, detectaram seu problema quando era  menino  e lhe  prestaram toda  a  ajuda  possível,  mas  a  ti  te  deixaram sofrer sem ocupar-se de ti. Não deverias te envergonhar. 

Apertou-se contra suas costas e lhe  afastou o cabelo de  sua úmida bochecha,  com  delicadeza,  como  se  estivesse  consolando  a  uma menina  ofendida  e  sensível. Apesar da  rejeição  inicial  de  Maxie, ele voltou a insistir, e  fez uma vez mais quando Maxie, por  orgulho, negava-se a  aceitar  aquele  gesto de  consolo. Para ela, no entanto, nada podia ser mais reconfortante que a calidez de seus poderosos braços.

Por  fim se tranqüilizou. 

- Que dizia o jornal? - perguntou. 

- Que  os rumores de  uma  possível relação  entre  tu e  eu eram uma tolice, mas que dava  a  impressão, pelo que tu gastavas, de  que tinhas atraído a outro «amigo rico», sugerindo que era outro homem casado. 

- Pois não se  equivocava, não ?  - disse  Maxie  com  uma  risada involuntária. 

- A  mim não me faz tanta graça. 

Naquele  instante,  Maxie teve  a  coragem  de  perguntar - algo que estava intrigando-a toda a noite. 

- Por que já não estás enfadado comigo porque me tenha casado contigo pelo testamento de  minha madrinha? 

- Em  teu  lugar,  eu  teria  feito  o  mesmo. -  Eu  também teria combatido  o fogo  com o fogo  - admitiu Angelos.  -  No entanto, te  direi  que, com o tempo, essa  estratégia  se converte  num costume muito destrutivo... 

- Tratarei de não protestar de cada coisa que faças - prometeu Maxie. 

- E eu tratarei de  não te  dar motivos - jurou  Angelos. - Agora nos iremos à ilha para desfrutar de  um pouco de  intimidade.

 

- És uma cozinheira  fabulosa - comentou Angelos, enquanto ela fechava a cesta da comida, já vazia. 

Maxie tentou aparentar modéstia, mas não o conseguiu. Angelos não deixava  de  surpreendê-la  com  sua  amabilidade; ainda  que estava acostumado  a  viver  rodeado  de  criados,  e  a  comer  nos restaurantes mais  luxuosos do mundo, quase  diria que  tinha ficado muito comovido ao ver que ela era capaz de  cozinhar. 

- Com tuas habilidades, farias feliz a qualquer homem - lhe disse Angelos galantemente. 

Maxie  o  ficou  olhando,  comprazida  e  orgulhosa,  sem  acabar  de  crer-se que estivessem juntos. Angelos alongou a mão para acariciar - lhe o cabelo. 

- Quero perguntar-te uma coisa: chegaste a  confiar num homem alguma vez? 

- Não!  - respondeu Maxie incômoda. 

- Me  sinto  como  se  estivesse  me  pondo  a  prova. - Ainda que estamos  casados,  ainda  não  te  puseste  o  anel...  é  como  se  não quisesses que ninguém soubesse que és minha esposa. 

- Eu entendi que  eras tu  que não querias que se fizesse público - pontualizou Maxie. 

- Não sabes como me  arrependo. - As vezes penso que tu  estás se  vingando  de  mim  por  não  ter  feito  as  coisas  bem  desde um princípio - se lamentou Angelo doído.  - Sei que te fiz dano, e  sinto, mas creio que já é hora de  que avancemos em  outra direção. 

- Ainda  não  estou  preparada para isso  - declarou Maxie com a mirada perdida. 

- Muito obrigado pelo voto de  confiança - enfadado, Angelos se pôs em  pé e se marchou da praia. 

Maxie teve que fazer um grande esforço para controlar seu medo e a  vontade que  tinha  de  ir  por  trás dele.  Era  sua  primeira briga desde que  saíram de  Londres. Tinha-se passado todo aquele tempo torturando-se , temendo  não  ser capaz de  retê-lo.  Ela  não  podia suportar a  idéia de  que ele a  apresentasse como sua mulher e que, depois, perdesse o interesse por  ela e a abandonasse. 

No entanto, tinha que  reconhecer que até  aquele momento Angelos não tinha  dado  a  menor  mostra  de  aborrecer- se  com  ela.   Na  realidade, quando  estava  a  seu lado sentia  que  por  fim  alguém a considerava algo mais do que uma cara ou um corpo bonitos. 

No dia  anterior Angelos se tinha tido que ir a Atenas para resolver algumas questões de negócios; durante sua ausência, Maxie recebeu três  extraordinários  ramos de  lírios, sua  flor preferida, cada  um com o cartão correspondente, escrita de  seu punho e letra: Quero-te, dizia  o  primeiro;  Quero-te  ainda  mais  do  que antes,  dizia  o segundo;  Não  posso  querer-te  de  menos, declarava  por  fim  no terceiro. Não estava mal para um homem tão pouco romântico... 

Para  dizer a  verdade durante  os dez dias que  estavam na  Grécia, Angelos  não tinha  feito  senão  demonstrar-lhe  o  equivocada  que estava nos  qualificativos  que  lhe  tinha  colocado e que  figuravam naquela famosa lista. Estava quase segura de  que, por  sorte, devia ter-se perdido;  desde  depois, Angelos não  a  tinha  visto, pois não tinha feito o  menor comentário a  respeito. Tinha-lhe  presenteado um computador portátil com  um programa especial para  ajudá-la  a  soletrar  primeiro e  escrever depois corretamente. Ademais, todos os  dias  lia  os  jornais  com  ela. Era  tão carinhoso  e  paciente que Maxie sentia que sua confiança  em  si mesma aumentava  dia  a  dia. De  fato, seus  progressos  tinham  sido  espetaculares.  Como tinha sido  capaz de pensar  que era um homem egoísta e desconsiderado? Era o homem mais generoso que tinha conhecido, e suspeitava que o que desejava a  mudança de  suas desvelos era pura e simplesmente que  ela  chegasse  a  confiar nele.  Como  podia  ser  tão  covarde e egoísta?, reprovou a  si mesma. 

Maxie lhe  encontrou na sacada. 

- Confio em  ti - confessou ao fim, com os olhos reluzentes. 

Nada  mais ouvi-lo,  Angelos  lançou uma  exclamação  de  júbilo e se acercou a  ela em duas passadas para estreitá-la entre seus braços. 

- Christos !  Não me olhes assim, agape mou... e perdoa tudo o que te disse antes, não sou mais do que um maldito impaciente. 

- Me agradas tal e como és. 

- Há que ver o mentirosas que pode chegar a  ser as mulheres! - replicou Angelos ironicamente. 

- Não é mentira...

- Pode  ser  que  cedo consiga  que não  o seja  - a  interrompeu, e  abaixando-se selou aquela promessa com um beijo. 

Maxie sentiu  que a  terra tremia  sob  seus pés. Aquele era  o único aspecto  no que, sem  dúvida, Angelos não usava  a voz.  Ele o sabia e se  aproveitava  disso... e ela o aceitava  de  bom grau, porque  era a única  forma de  alimentar a paixão devoradora que crescia  em  seu interior. Também aquelas eram as únicas ocasiões nas que lhe  podia mostrar o carinho que sentia  por  ele, sem temor a  revelar o muito que o  amava.  Estava  agarrada, definitivamente unida  para sempre àquele homem;  e assim, quanto ele a  abraçou, abriu as comportas à emoção tanto tempo retida. E ele  não lhe  deu o  menor motivo para sentir-se  decepcionada, pois  respondeu  em  igual ou  maior medida do que ela.

Sem deixar de beijá-la, Angelos lhe  desabotoou a parte de  cima do biquíni, e começou a acariciar-lhe os mamilos, primeiro com as mãos, com os lábios depois. Maxie estava tão excitada que quase não podia respirar. Retirando-se um pouco, ele lhe  tirou a calcinha  do biquíni, contemplando extasiado seu corpo nu.

- Me encanta excitar-te - murmurou roucamente. Pouco a pouco a obrigou a deitar, sem deixar de acariciá-la, lenta, apaixonadamente. Quando se  deu conta  de  que Maxie não poderia resistir bem mais, levantou-a em  braços para levá-la ao dormitório.

Uma  vez ali, não  demorou  nem  um  segundo  em  despojar-se  dos calções. 

- Angelos... ! - lhe  urgiu Maxie em  voz  muito baixa. Atendendo a  seu pedido, ele a  possuiu intensa, vorazmente, assombrando-a como sempre com a força daquele desejo que parecia dominá-lo por  completo.  Quando  por fim atingiram  o êxtase  sentiu que lhe tinha dado até a última gota de  seu ser. 

- Tens  estado apaixonada  alguma vez ?  - lhe perguntou Angelos quando tudo estava terminado. 

Maxie ficou muito surpresa de que ele tirasse precisamente naquele momento semelhante conversa. 

- Sim - admitiu ao fim. 

- E daí passou? 

- Er... pois que ele não me queria - respondeu incômoda. - E tu? 

- Uma vez... 

- E? - Maxie estava mais do que intrigada. 

- Caí nas redes de uma  feminista  militante que  esperava demais dos homens. Pensava que eu era bom na cama, mas nada mais. 

- Que  tonta ela !  - exclamou  Maxie  impulsivamente.  Não podia suportar a idéia de que ele se tivesse apaixonado de  outra antes de  conhecê-la, e muito  menos do que a  mulher que tinha escolhido não lhe merecesse em  absoluto. 

- Não era nada tonta - replicou Angelos.  

- Eu  não sou  ciumenta  - mentiu  Maxie, e  recuperando  por  um instante os ares de  Rainha de Gelo  que tinha  abandonado naqueles dias, levantou-se de  um  salto da  cama. -  Creio que irei dar-me um chuveiro.

 

No vôo que lhes levou de regresso a  Londres, Maxie não deixava de  olhar a nova aliança de platina que reluzia em  seu dedo. Angelos lhe  tinha presenteado também com um anel com uma safira rodeada de  diamantes. 

- É uma anel de compromisso? - tinha perguntado assombrada. 

- É um presente – tinha sido a resposta de Angelos. 

Ainda que resultava mais evidente para quem visse  aquele dedo que estava  casada  e bem casada, Maxie  sentia  falta que tivesse feito alguma alusão a ter filhos ou algo pelo estilo...Então lhe ocorreu que talvez não quisesse tê-los  com ela ao recordar que tinha tomado as precauções necessárias para evitá-lo. 

Se separaram ao chegar ao aeroporto. Angelos se dirigiu ao Edifício Petronides  enquanto  ela  se  marchou  direto ao  apartamento. Mal teve  chegado  e foi direito a  seu  armário para  tentar encontrar a lista em  algum dos smooks ali guardados, mas não o conseguiu. 

Angelos a chamou à hora do jantar. 

- Surgiu  um imprevisto, assim  chegarei muito tarde esta noite. 

- Não  te  preocupes - lhe  tranqüilizou Maxie. - Já encontrarei algo com o que entreter-me. 

- Com que? - lhe perguntou Angelos de  imediato. 

- Não sei, já me ocorrerá algo - replicou joguetonamente. 

- Espero que não faças nada de que depois possas envergonhar-te... - lhe advertiu Angelos meio  em  sério meio em  brincadeira.

- Pensa  o  ladrão  que  todos  são  de  sua  condição  - continuou zombadora.

Maxie lhe  sentiu a falta bem  mais do que  queria, e se sentiu muito decepcionada quando se  acordou à manhã  seguinte e descobriu que ele não tinha regressado ainda. 

Quando se sentou para  tomar café da manhã, encontrou em cima da mesa um precioso ramo de  lírios. “Quero-te hoje mais do que ontem”, dizia o cartão.  Justo então soou seu telefone móvel. 

- Obrigada  pelas flores  - contestou,  pois sabia  que só Angelos tinha aquele número. - Onde estás? 

- No  escritório.  -  Ontem  à  noite tive  que  fazer  uma  viagem imprevista. Quando regressei era demasiado tarde... ou temporão, e não quis acordar-te. 

- A próxima vez, não deixes de chamar-me - lhe  pediu Maxie. 

- Que estás usando , agape mou? 

- Uma camisola curta  de seda rosa - sussurrou. Estou desejando que me tires dela. 

- Como queres que me concentre se me dizes essas coisas? - protestou Angelos. 

- Quero que sintas a minha falta.

- Te sinto muita falta, vale? 

- Vale, mas, quando vais vir? - perguntou mimosa. 

- Não se te ocorrer ir a nenhuma parte.  Passarei a  procurar-te às onze. Tenho-te preparada uma surpresa - anunciou. 

Maxie se entreteve folheando o jornal. Quando chegou às páginas de fofocas, imediatamente  viu aquela foto de  Angelos. Ao princípio só se lhe  ocorreu que era  muito fotogênico, quase  nem se fixou na mulher que aparecia a  seu lado... 

Pareceu como se o mundo se lhe viesse em cima quando se deu conta de  que se tratava daquela atriz francesa, Natalie Cibaud.

 

Ainda  que segundo os  últimos  rumores o  milionário  grego Angelos Petronides, nosso  rompe  corações  favorito,  estava  saindo com  a bela Maxie Kendall, foi visto jantando na noite passada com a menos deslumbrante atriz francesa Natalie Cibaud. Se terá cansado  já da famosa  modelo ?  Ou  estaremos  assistindo ao  nascimento de  uma amizade a três? 

A noite passada?  Com Natalie Cibaud? Maxie mal podia dar crédito ao  que  estava  lendo...  Agoniada  repassou  o  artigo  palavra  por  palavra; ao ver a  foto que o ilustrava, pôs-se tão enferma que teve que ir ao banheiro para  vomitar o café da manhã 

Quando  voltou  ao refeitório,  releu  o  cartão que  acompanhava às flores: Quero-te hoje  mais do que  ontem...  Evidentemente, não se podia confiar em  Angelos nem cinco minutos.

Sem pensar duas vezes,  chamou a  Nikos para que a esperasse com o carro, disposta a  não lhe  dar aquele miserável a oportunidade de  inventar-se alguma desculpa patética. 

Enquanto descia, soou  seu telefone móvel, mas não lhe  fez o menor caso; quando já estava na limusine, o apagou quanto voltou a  soar, e se negou a  contestar quando o motorista lhe  anunciou que tinha um telefonema  para  ela  no  telefone  do carro.  Pelo visto, Angelos se estava  pondo nervoso.  Ele já  teria  lido aquela  manchete e estaria temendo sua reação.  Por que lhe  tinha feito algo tão horrível? 

Até  então não  se tinha  percebido do  importante que  Angelos era para ela. Tinha confiado nele cegamente, e não entendia  por que lhe  tinha traído daquele modo quando estavam a  ponto de fazer público seu casamento. 

Maxie irrompeu furiosa  no Edifico Petronides fazendo que todas as cabeças se voltassem a  seu passo.

Angelos devia  ranger os dentes ao pensar que  todos seus esforços por  manter sua vida privada  à margem da imprensa tinham sido em  vão. Por  um segundo a  Maxie lhe passou pela  cabeça que talvez ele mesmo tinha  provocado  aquela  situação , que  ao  encontrar-se  de  novo  com  Natalie tinha  descoberto que  era  ela  a  mulher de  sua vida... 

Sem fazer  menor caso à  apressada recepcionista, atravessou como uma  bala  o corredor que  conduzia  para  o escritório de Angelos, e entrou sem chamar sequer, fechando a porta de  um golpe. 

De pé, no centro do escritório , ele  a  olhou com uma expressão de  desalento. 

- Vim para dizer-te um par de  coisas antes de  sair de  tua vida para sempre. 

- Maxie... - Angelos deu um passo para diante. 

- Não me interrompas quando estiver falando !  - E nem te ocorra voltar a  pronunciar meu nome!  Nem imaginas como me senti ao ver-te nessa maldita foto com Natalie Cibaud! 

- Sim, eu imagino, mas  tens que  saber que nos fotografaram faz três meses - replicou Angelos. 

- Não acredito! 

- Podes chamar  o meu advogado  se queres. - Acabo de falar com ele para ordenar-lhe que demande a  esse jornal.

A  Maxie começaram a  tremer-lhe  as pernas de  tal modo que teve que se apoiar na porta. 

- Me estás dizendo que não passaste a noite com Natalie Cibaud? - perguntou. 

- Maxie, asseguro-te  que não voltei  a  vê-la  desde  o dia  que te  puseste enferma...  Não acabamos precisamente como bons amigos, na verdade... 

- Mas eu supunha que a tinhas estado vendo depois...  - Maxie já estava tremendo dos  pés a  cabeça. 

- Pois te equivocaste. Nem sequer voltei a  falar com ela; de fato, creio que nem sequer está no país. Maxie,  deverias saber melhor do que  ninguém do  que, desde que  estou contigo, não voltei  a  olhar a  nenhuma  outra  mulher  - lhe  disse Angelos abraçando-a.  -  Não há nenhuma  que se  te  possa  comparar. Quase me voltei louco quando me dei conta de que ias  ver essa  foto; teria feito o que fosse para  evitar-te o desgosto, agape mou. - Maxie o ficou olhando extasiada. - Há tantas coisas que quero dizer-te... - continuou Angelos- mas há alguém que  está  desejando ver-te,  e não desejo fazer-lhe esperar mais: Maxie, está aqui o teu pai... 

- Meu... meu pai? - gaguejou incrédula. - Aqui?

- Contratei a  uns detetives para que o procurassem, e faz pouco me avisaram de  que lhe  tinham encontrado - lhe  explicou. – Se  me ocorreu  levar  lhe ontem  a  casa  para  fazer-te uma surpresa.    Carinhosamente, fez  que  se sentasse  num cadeirão para que fosse assimilando aquela inesperada notícia. 

- Angelos diga-me uma  coisa antes de continuar - lhe  perguntou ansiosamente, ele te pediu dinheiro? 

- Não, nada disso. Está realmente arrependido, Maxie. Encontrou um trabalho e está tentando refazer sua vida, ainda  que ele mesmo me confessou que ainda tem que fazer muito esforço para resistir a tentação de  voltar a  sua antiga vida. 

Se lhe encheram  os olhos  de  lágrimas ao ver  que seu pai aparecia na porta  enquanto  Angelos se retirava discretamente. Parecia mais velho do que recordava, e tinha perdido um pouco de peso. 

- Não sabia  como ias  receber-me  depois do que fiz  - lhe disse, visivelmente incômodo. - Isto é  muito duro para  mim... quando eras pequena te  decepcionei  muitas vezes, mas o pior de  tudo foi o que te fiz faz três anos, quando consenti que pagasses por meus erros... 

Comovida, Maxie lhe  estreitou entre seus braços. 

- Mas  tu  me  querias, disso  sempre  tenho  estado segura - lhe  confortou. 

- Não podia  suportar  ver-te ao  lado de Leland Coulter e saber que estavas com ele por minha  causa, que tinha caído então sob que te  tinha  arrastado  comigo ao fundo  do poço. Decidi  que o melhor seria afastar-me de  ti, de  tudo... 

- Angelos  me disse que  conseguiste  um trabalho - disse Maxie animando-lhe a  seguir. 

Seu pai lhe  contou que lhe  tinham  contratado como representante numa  empresa  de confecção. Estava a  um  ano e meio  sem jogar e todas as semanas ia a  sessões de  terapia de  grupo com outros ex-jogadores. 

Maxie lhe contou  da casinha de campo que por fim tinham herdado. Seu pai pareceu surpreso, e, um pouco nervoso, contou-lhe que tinha conhecido a  uma mulher com a que estava pensando casar-se. Disse-lhe que lhe  agradaria vender aquela casa e utilizar o dinheiro para contribuir na compra de outra. 

Maxie pensou que tinha  feito falta  que decorresse mais da metade de sua vida para que seu pai começasse a  desejar as mesmas coisas do que a maioria  das pessoas: segurança, amor próprio, ser amado e respeitado...  Quase  exatamente  o  mesmo  que  queria  para  ela mesma. Russ precisava que ela lhe perdoasse para começar de  novo, e ela tinha  que enterrar de  algum modo  as tristes recordações do passado para enfrentar-se ao futuro.

- Angelos  é  um  grande  homem  - comentou  seu  pai  antes  de  marchar-se,  -  mas  creio  que  me  agradaria  que  se  enfadasse comigo... 

Quando  Angelos  voltou  ao escritório, ela  quase nem  se  atreveu a  olhá-lo, ainda que seu coração transbordava de gratidão  por ele por  ter-lhe devolvido a  seu pai. 

- Que manhã tão agitada... - disse  embaraçada. – Obrigada  por  ter  encontrado  o  meu pai...  tiraste-me um  grande peso de  cima... mas, diga-me  uma  coisa, lhe  terias  feito  vir se ele  não se tivesse reformado? 

- Não - lhe  confessou  Angelos com total sinceridade. - Primeiro teria  tentado ajudá-lo.  - E também não creio que ele tivesse tido o valor suficiente para ver-te - lhe  pôs uma mão nas costas e a levou para a porta. - Vamos, tenho um helicóptero esperando. 

- Mas aonde demônios vamos agora? 

- Surpresa! 

- Eu pensei que a surpresa era meu pai... 

- Era só uma parte. 

Subiram  pelas  escadas  até  o  terraço  do  edifício.  

Ao  ver  que efetivamente um  helicóptero  lhes estavam esperando, Maxie lhe lançou uma mirada carregada de  reprovação. 

No entanto, o vôo não resultou tão terrível como temia pois Angelos segurou a  sua mão  o  tempo todo. Inclusive foi capaz de  olhar pela janela um par de  vezes. 

- Te portaste como uma campeã - a felicitou quanto aterrizaram. 

Mas Maxie contemplava admirada a imensa mansão que se levantava diante deles.  Viu outros três  helicópteros  nos  campos próximos e um montão de  luxuosos carros estacionados. 

- Onde estamos? - perguntou assombrada. 

- Já te disse uma  vez  que tinha  uma casa no campo - respondeu Angelos  com  um  sorriso  - Bem-vinda a  tua festa de  casamentos, senhora Petronides... 

- Como dizes? 

- Todos meus parentes  e meus amigos estão esperando-nos para conhecer-te  - confessou Angelos.  - Pensei  então que  seria melhor convidar-lhes  a almoçar , porque  assim  se terão  marchado  para a hora do jantar... 

- Vieram todos? 

- Estou preparando esta festa já faz tempo, e se não a celebrei antes é porque queria ter-te um tempo só para mim. Pedi-lhe a  teu pai  que  viesse, mas  ao final decidiu  que  seria  melhor do que não assistisse... 

- Por  isso te  marchaste ontem tão intempestivamente, para ir falar com ele? 

- Efetivamente.  – Fui  a  Manchester  para  procurá-lo e depois passei aqui a noite para supervisionar os preparativos - lhe  explicou distraidamente. Não parava de olhar para  o céu com uma expressão ansiosa.

- Que passa, Angelos? 

Desenhou-se um  sorriso  em  seu rosto  quando por  fim se ouviu ao longe o motor  de  uma avião. Abraçando-a, obrigou-a  a  que olhasse ela também. Quase se  lhe  saíram os  olhos  das  órbitas quando viu que começavam a  desenhar-se no céu umas letras de  cor rosa. 

- Isso é um T - soletrou Angelos, - depois uma E, depois uma A, e um M... 

- Posso ler  perfeitamente  umas letras tão grandes! - protestou Maxie, olhando aquela mensagem de  amor escrito entre as nuvens. 

- Queria  demonstrar-te que estou orgulhoso do que sinto por ti, Maxie, e esta é a melhor forma que se me ocorreu para fazê-lo. 

Nem em  seus  mais  loucos  sonhos  lhe  tivesse  acreditado  capaz Maxie de  fazer uma coisa tão insólita como aquela. 

- Para valer me queres? - perguntou emocionada. 

- Claro que sim! - Passei as últimas semanas fazendo o impossível para demonstrar-te. 

- E  por  que não  me  disseste  até  agora ?  - insistiu  com olhos brilhantes. 

- Não  estavas  preparada  para  ouví-lo. -  Recordo-te que tinhas muito má  opinião de  mim. - Fiquei  horrorizado ao  ler  o que tinhas escrito em  tua famosa lista - disse Angelos com uma cômica careta. 

- Encontraste minha lista? - Maxie estava pasmada. 

- Como foste capaz de  escrever semelhantes coisas de  mim? 

- E como  é que sabias  que me  referia a  ti ? - Não tinha nenhum nome que eu  recorde - Maxie ficou calada uns instantes, sem saber muito bem que  dizer-lhe. - Oh, Angelos! - murmurou  ao fim. – Teve que te sentir fatal... 

- Bem, na verdade é que me foi de  muita ajuda  para saber o que devia corrigir. Queria convencer-te de  que não era o homem que tu pensava que era. 

- A verdade é que melhoraste muito... 

Angelos a estreitou com mais força, beijando-a apaixonadamente. Maxie lhe respondeu na mesma  medida, e quando por fim se separaram, recostou a cabeça em  seu ombro. 

- Querido! - Que tonta fui ao crer que tudo o que pretendias de  mim era passar um bom momento na cama... 

Abraçados se  reuniram  a multidão de convidados que lhes estavam esperando. Maxie  ia  com a  cabeça  muito alta;  sentia-se tão feliz que prometeu a  si mesma  que jamais lhe confessaria  que o número  do avião lhe  tinha  parecido a  coisa mais cafona que tinha visto em  sua vida... sobretudo  tendo em  conta  o satisfeito que se sentia de  si mesmo porque que lhe tivesse ocorrido semelhante idéia. 

- Eu também te  amo  - lhe murmurou ao ouvido. - Não deveria te dizer, mas não tem nada que ver com o bondoso que te  voltaste... Já estava louca por ti antes inclusive de  escrever essa odiosa lista. 

- Como te atreves  a  dizer-me isto diante de  toda esta gente? - lhe  xingou  Angelos  zombadoramente.  No entanto, sorria-lhe ao mesmo tempo com uma imensa ternura. - Atenção todos, quero  lhes apresentar a  minha esposa - anunciou, com tal orgulho e prazer que Maxie se sentiu a  ponto de  estourar de  alegria.

Sua  felicidade não  se  viu embaraçada  sequer quando  viu  entre a multidão que se acercava  a  felicitá-los a  inconfundível  cabeça  de  Leland Coulter. 

- Eu lamento - murmurou envergonhado o ancião quando chegou a  sua altura. 

- Por  suposto que o lamenta - adicionou em  voz alta Jennifer. - Agora todo mundo sabe o que fez.  Eu me encarreguei de  que assim seja. 

-  Me  dá  um  pouco  de pena -  lhe  confessou  Maxie a  Angelos quando perdeu de  vista o infeliz casal. 

- Nem se te  ocorra dizer isso!  - replicou seu marido, implacável.  Por sua culpa perdemos três anos preciosos. 

- Me parece que então era demasiado jovem e imatura... 

- Eu te  tivesse ensinado rapidamente - grunhiu Angelos. 

Com imensa alegria, Maxie distinguiu entre os convidados a  sua boa amiga Liz, acompanhada de  Bounce. 

- Vieste! - exclamou. 

- Angelos  me  chamou  ontem  à noite. - Trouxeram-nos em  uma limusine, que te parece?  Bounce estava do mais impressionado –caçoou. - Bem, não te  tinha dito que este homem estava apaixonado de  ti? ...E nem, espero que não esteja escutando... 

- Me parece  que és  bem mais  intuitiva do que Maxie - interveio Angelos. - Tive que  alugar uma avião para que escrevesse no céu Te  amo só para convencê-la. 

- Vá!  - Que barbaridade!  E daí como se sente?  - lhe  perguntou Liz a  Maxie. 

- Bem... bom, foi algo... incrível, inesperado também... - improvisou Maxie.

- E cafona talvez? - adicionou Angelos. 

- Nada disso.  -  Nunca te  quis  mais do  que nesse  momento - respondeu com absoluta sinceridade, pois  com aquele gesto Angelos lhe  tinha demonstrado que, por  ela, podia abandonar seu orgulho. 

À hora  de  comer se  serviu  um  extraordinário  buffet no salão de  baile. Maxie se sentia como numa nuvem enquanto  Angelos a  levava de  um extremo a  outro da estadia apresentando-lhe ao que parecia ser um  número interminável  de  parentes  cujos nomes  muito cedo começaram a  dar-lhe voltas na cabeça. 

 

Depois tiveram  que  iniciar o baile;  Maxie se arrumou para não ter que dançar com ninguém que não fosse seu marido. 

- Espero que se comecem a  ir cedo... - lhe sussurrou esperançosa ao ouvido. Estava desejando ficar-se a  sós com ele. 

Nada mais  marchar-se o último  dos convidados, Angelos a conduziu ao andar de cima.

- Quando te  diste conta de  que me querias? - quis saber Maxie. 

- Quando  tiveste a  varicela - foi sua surpreendente resposta, - mas não  estava  disposto a  admiti-lo por nada desse mundo. Este é nosso dormitório - anunciou abrindo uma porta. 

- Que  bem  soa isso!  - Quase não  posso  crer-me  que  isto seja verdade. 

- Não terás tido que esperar  tanto para sabê-lo se tivesses sido mais paciente aquela  manhã na  praia - Angelos tomou seu surpreso rostinho entre as mãos. - Estive a  ponto de  dizer-te, mas tu... 

- Te tirei do testamento. Agora penso que entregarei minha parte dessa herança a  uma ONG. Tinha  que ter-te dito  de  outras forma – admitiu,  - mas  não  queria  que  soubesses o  muito  que te  queria... 

- Pequena tonta estás feita... 

- Te recordo que disseste que sou o amor de tua vida - continuou Maxie enquanto lhe  soltava a  gravata- e que tu és o amor da minha. 

Angelos a conduziu até a cama. 

- Bem, recordo-te o que anotaste em tua lista: machista, egoísta, pouco romântico, insensível, dominante. 

- Suponho que tenho direito a  mudar de  opinião, não? - lhe  interrompeu calorosamente. 

- Ainda que és preciosa - Angelos a olhava com olhos que pareciam de  ouro líquido, - definitivamente o que mais me agrada de ti é esse engenhoso talento teu, agape mou. 

- E  pensar que  cheguei  a  crer que eras  um  homem  muito frio! - exclamou, assombrada ante sua própria cegueira.

– Diga-me, Quantos meninos vamos ter? 

- Para valer queres ter um menino? - Angelos então lhe sorriu de  orelha a  orelha. 

Maxie assentiu. Aquela idéia a emocionava muitíssimo. 

- És formidável  - murmurou Angelos  roucamente, abaixando-se para beijá-la.

 

Dez meses mais  tarde, Maxie deu a  luz a  uma  menina que tinha os olhos tão  azuis  como  os  seus.  Quando  Angelos  a  viu, começou  a  adorá-la com todo seu coração. 

 

                                                                                            Lynne Graham

 

 

                      

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