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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


MAIS QUE AMANTES / Heidi Betts
MAIS QUE AMANTES / Heidi Betts

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

5° livro - MAIS QUE AMANTES

 

 

Ela era sustentada por ele... Uma amante secreta que vivia na glamourosa Las Vegas. A situação era ideal. Até Misty descobrir que estava espe­rando um filho de Cullen Elliot. Misty não era o tipo de mulher que poderia se tornar a esposa de um milionário como Cullen. Seu passado escandaloso poderia colocar em risco a reputação imaculada da família dele. Ela não podia lhe contar a verdade! Cullen, porém, acabou descobrindo tudo e es­tava decidido a assumir o filho.

 

                                       O QUE ACONTECE PELA CIDADE

                                          Os Elliot atacam novamente!

 

A família mais rica de Manhattan ocupa mais uma vez as manchetes de todos os jornais, desta vez graças ao playboy Cullen Elliot.

Apesar de ser frequen­temente visto ao lado de algumas das mulheres mais bonitas da cidade, Cullen Elliot, o charmoso diretor de vendas da revis­ta Snap, vinha esconden­do um profundo e obscuro segredo: uma amante es­condida na conhecida Ci­dade do Pecado.

Fontes seguras afir­mam que o nome da amante secreta de Cullen é Misty Vale, uma ex-corista de pernas longas e olhos verdes, vinda diretamente dos cassinos de Las Vegas.

Ele a trouxe para Ma­nhattan para apresentá-la aos seus pais, o editor Da­niel e a advogada Amanda Elliot. Casamento à vista?

A sociedade de Nova York espera aflita para sa­ber a reação da respeitável família.

O boato tomou conta da Park Avenue, onde fica a sede do império editorial dos Elliot. Ao que parece, algo, ou alguém, teria con­vencido o nosso solteirão convicto a pedir a moça em casamento. Estaria a amante de Cullen carre­gando um futuro herdeiro em seu ventre?

Nós vamos continuar de olho...

 

 

 

 

Alô?

— Estou na cidade. Pensei em dar uma passadinha aí.

A voz de Cullen atravessou o fio e deslizou pela espinha de Misty como uma calda quente em um dia frio de inverno, penetrando em todas as frestas e can­tos do seu corpo.

— Está bem — respondeu ela suavemente. — Es­tarei esperando.

Misty desligou e começou a arrumar a sala apres­sadamente, ajeitando as revistas, endireitando as al­mofadas e diminuindo a luz antes de seguir para o quarto. Trocou o short de lycra e o top esportivo que usava por um corpete preto novo que Cullen certa­mente iria adorar.

Ela provavelmente jamais teria comprado tanta roupa íntima daquele tipo senão por ele. Cullen gos­tava de lingeries sensuais e ela gostava de usá-las para agradá-lo.

Misty soltou seu cabelo comprido e ondulado do rabo de cavalo e o escovou vigorosamente para dei­xá-lo mais esvoaçante.

A campainha tocou um segundo depois. Ela deu uma última olhada na sala para ter certeza de que es­tava tudo em ordem. Soltou a corrente, pôs a mão na maçaneta, girou-a e...

— Oi.

Ele estava apoiado no umbral da porta. Seu cabelo negro brilhava sob a luz da varanda e seus olhos azuis deixavam entrever um desejo mal contido. Ela engo­liu em seco.

— Oi. Entre — disse ela, dando um passo para trás para lhe dar passagem.

Misty fechou a porta e voltou-se novamente para ele. Cullen estava olhando para ela como um falcão fitando a presa antes de se precipitar sobre ela.

Ele estava vestido como um verdadeiro executivo. Calças cinza escuras e uma camisa branca, ambas um pouco amassadas por conta do longo dia de reuniões e da viagem de Nova York até Henderson. Sua grava­ta de seda estava frouxa, pendendo do colarinho já aberto, e seu paletó estava dobrado sobre um de seus braços.

Ele parecia cansado. Misty conteve o desejo de ar­rastá-lo diretamente para o quarto, achando que ele talvez quisesse relaxar um pouco antes.

— Você quer alguma coisa? — perguntou ela apontando para a cozinha. — Uma taça de vinho? Al­guma coisa para comer?

Num movimento rápido, ele jogou o paletó no chão e avançou até ela, cheio de más intenções.

— Depois — murmurou ele, enviando uma des­carga de erotismo a todas as partículas do corpo de Misty. Ele a envolveu em seus braços e cobriu a sua boca com a dele, um segundo depois. — Tudo o que quero agora é você.

O corpo de Misty se incendiou imediatamente, como sempre acontecia quando Cullen a beijava. Ela enterrou os dedos em sua nuca, enquanto ele sugava e mordiscava os lábios dela, para então penetrar em sua boca com a própria língua, lambendo-a e acari­ciando-a.

Os seios de Misty ficaram intumescidos sob a seda preta do corpete, pressionando o peito firme e muscu­loso de Cullen. Ele deslizou as mãos pelas costas dela, passando pela sua cintura até finalmente encon­trar suas nádegas. Puxou-a então mais para perto de si, para que ela pudesse sentir a intensidade de sua excitação. Misty gemeu, abraçando-o com mais força e ergueu uma perna para se enganchar em seu qua­dril.

Afastando a sua boca por um momento, ele disse ofegante:

— Para o quarto. Agora!

— Sim!

Cullen a tomou em seus braços e atravessou a sala com determinação. Ele conhecia o apartamento tão bem quanto ela, já que fora ele quem havia comprado o imóvel para Misty havia três anos, depois de ela ter sofrido uma lesão no joelho que deu fim à sua carreira de corista em Las Vegas. O estúdio de dança ficava no andar de baixo e ela morava em cima.

Cullen vivia em Nova York. Trabalhava na Snap, uma das diversas revistas de sucesso da editora de sua família, mas ia a Nevada com a maior frequência possível. Ele sempre passava a noite com ela quando estava na cidade... Mais exatamente na sua cama.

Ela esperava ansiosamente por essas noites, embo­ra todas as evidências insistissem em fazê-la pensar que aquilo não estava certo.

Ele era cinco anos mais novo do que ela. Sua famí­lia, os Elliot, era uma das mais ricas e proeminentes de Nova York. Duas pessoas nascidas em hemisfé­rios opostos não seriam tão diferentes quanto eles.

Ela, porém, havia sentido algo especial por ele desde o momento em que o havia visto na coxia, de­pois de uma de suas apresentações noturnas. E ela continuava sentindo a mesma atração de quatro anos atrás, não importando quantas vezes já tivesse dito a si mesma que precisava dar um fim àquele relaciona­mento tórrido.

Cullen se aproximou da borda da cama e a deitou sobre o colchão para depois cobri-la com o seu pró­prio corpo.

— Eu adoro isto — disse ele, passando os dedos pelo tecido negro que cobria o corpo de Misty — mas infelizmente vou ter que tirá-lo. Quero você nua.

— Você manda, chefe — disse ela com um sorriso maroto.

Os dedos de Cullen deslizaram sob as alças do cor-pete para em seguida baixá-las pelos ombros e braços de Misty. Ela se moveu para permitir que ele desco­brisse os seus seios e puxasse a lingerie pelos seus quadris até a altura de suas coxas.

Os belos olhos azuis de Cullen percorreram todo o corpo de Misty como feixes de raio laser. Ele admi­rou abertamente seus seios, sua barriga e a área trian­gular entre suas coxas ainda escondida por trás da renda negra.

Ela ergueu o corpo para que ele pudesse remover a peça completamente. Cullen jogou o corpete longe, voltando novamente a sua atenção para as curvas ge­nerosas de Misty.

Ela se agitou ansiosamente, desejando tocá-lo. Desejando que ele a tocasse.

— Você está usando muita roupa — disse ela, pu­xando-o pela ponta da gravata até seus narizes quase se tocarem.

Cullen arfava. Misty deslizou as mãos pelo seu peito largo até alcançar o nó da gravata, na altura de sua garganta. Ela a soltou e a fez deslizar pelo seu co­larinho, para então cuidar dos botões da camisa, abrindo-os um por um. Ao chegar ao último, ela pu­xou as pontas da camisa para fora da calça, expondo o peito liso e bronzeado de Cullen e seu abdómen bem definido.

Ela engoliu em seco, encantada com a perfeição do corpo tonificado de Cullen, seu tórax largo, sua barriga de tanque. Ele se exercitava várias vezes por se­mana na academia de ginástica da Editora Elliot, mas era Misty quem colhia os frutos do esforço.

Ela fez a camisa escorregar pelos ombros de Cul-len e a arremessou na mesma direção da lingerie já descartada. Depois desafivelou o cinto e o puxou pe­las presilhas das calças. Cullen teve de respirar fundo quando ela roçou a sua cintura com suas belas unhas pintadas de vermelho.

— Espero que você esteja se divertindo — disse ele, entre os dentes — porque pretendo fazer o mes­mo com você.

— Vou ter problemas, então, porque estou me di­vertindo muito.

Num movimento rápido, ela abriu o botão das cal­ças, ganhando mais espaço. O calor e a força que emanavam do âmago latejante do corpo de Cullen to­maram conta dela, infiltrando-se na sua pele e na sua alma.

Ela abriu caminho com as costas de seus dedos através dos poucos pêlos que iam do umbigo até lá embaixo. Com a base da mão, ela baixou lentamente o zíper da calça. O som do fecho se separando, dente a dente, parecia reverberar nos ossos de Cullen, nos seus músculos, no seu membro retesado.

Ele havia passado o dia inteiro excitado, esperan­do ansiosamente pelo momento em que poderia dei­xar o trabalho na Snap e correr para Vegas para deitar-se com Misty. Seu sangue fervia e sua cabeça pul­sava. Ele estava a ponto de explodir.

Ela era sempre surpreendente. O chão tremia cada vez que faziam amor. Cada encontro com ela era úni­co, vibrante, espetacular. Qualquer um a quem ele ousasse falar sobre o assunto, certamente diria que se devia ao fato de ela ter sido uma corista, mas o que havia entre eles ia muito além. O sexo era realmente explosivo, mas eles também se entendiam muito bem fora da cama. Ele tinha vontade de fazer sexo com ela tantas vezes quanto sua agenda e sua capacidade físi­ca permitissem, mas sentia também um imenso pra­zer de se sentar com ela no sofá para assistir a um fil­me ou pedir comida do restaurante chinês.

Ninguém jamais seria capaz de entender isso. Como, se ele mesmo não conseguia?

O zíper finalmente se abriu por inteiro e Misty pôde mergulhar por dentro de suas calças, de sua rou­pa de baixo, até fechar a mão em torno da sua ereção latejante. Cullen perdeu o fôlego. Misty o acariciou, apertou e provocou-o até ele querer gritar.

— Chega!

Antes que perdesse o controle, Cullen agarrou o pulso de Misty e arrancou a sua mão de dentro de suas calças.

Com alguns poucos movimentos abruptos, ele ti­rou seus sapatos, meias, calças e roupa de baixo. Já despido, ele pulou na cama novamente, deitando-a de costas e afastando suas coxas. Sustentando seu próprio peso em seus braços, ele se inclinou sobre ela e tomou a sua boca como havia fantasiado fazer duran­te todo o vôo de Nova York até ali.

Ela reagiu apaixonadamente, de corpo e alma. En­roscou os braços em torno do seu pescoço enquanto ele descia lentamente sobre ela, deleitando-se com o contatp de seus seios macios contra seu próprio peito.

Misty encontrou uma maneira de tirar as pernas de debaixo dele e as cruzou em suas costas, cravando os calcanhares em suas nádegas e as unhas em seus om­bros.

Ele gostava daquilo. Talvez até demais, embora, com Misty, nunca parecesse ter o suficiente.

Ele interrompeu aquele beijo avassalador, mordis­cando levemente o lábio inferior dela, para então tra­çar uma trilha quente e úmida de beijos por todo o corpo de Misty, deixando-a em brasa. Ele foi da base da sua garganta até a curva de um de seus seios, detendo-se para explorar o mamilo. Ele contornou a aréola com a língua para então fechar a boca sobre o bico rígido e começar a sugá-lo.

Misty se contorcia debaixo dele, soltando peque­nos gemidos que o deixavam maluco.

Ele havia passado o dia inteiro elocubrando fanta­sias sobre o que faria com ela assim que chegasse em seu apartamento... Pensando no que ela faria com ele. Ali, porém, com ambos nus, enlouquecidos e deses­perados, ele não conseguia se controlar para dar cabo de nenhuma delas. Tudo o que queria era mergulhar bem fundo dentro dela e permanecer lá para sempre. Ele ergueu a cabeça e olhou para ela, com o peito arfando e o sangue correndo pelas suas veias como as labaredas de uma floresta em chamas.

— Não consigo mais esperar — disse com a voz rouca. — Desculpe. Vou cuidar de você também. Eu prometo.

E então ele a penetrou, profunda e intensamente. A fricção alcançou uma intensidade quase insuportá­vel. Cullen e Misty gemeram quase em uníssono, completamente entregues à avalanche de sensações.

— Cullen — disse Misty ofegante, arranhando suas costas. — Nós esquecemos de usar proteção.

Aquelas palavras demoraram a fazer sentido na cabeça dele. Cullen mal podia ouvi-la com o sangue ecoando com força em seus ouvidos. A sensação de estar aninhado em seu corpo quente e úmido era ma­ravilhosa.

De repente ele compreendeu.

Ele havia esquecido a camisinha. Maldição!

Cullen afastou-se imediatamente, balançando a cabeça, sem acreditar.

— Sinto muito, Misty. Não sei o que há de errado comigo. Nunca fui tão descuidado. Juro.

Sorrindo, ela se esgueirou até sair de debaixo dele para ir até o criado-mudo.

— Tudo bem. Tenho certeza de que percebemos a tempo. Não há razão para nos preocuparmos.

Ele não respondeu, mas desejou ardentemente que ela estivesse certa. Não era de seu feitio esquecer algo tão importante.

Seus olhos permaneceram vidrados no lindo corpo desnudo de Misty, suas costas, nádegas e pernas, en­quanto ela remexia na gaveta à procura de um pacote de camisinhas.

Era de se esperar que esse contratempo esfriasse os ânimos, mas não foi o que aconteceu com Cullen. Sua boca ainda estava seca de desejo por ela.

Ela voltou para a cama e seguiu, de quatro, até a cabeceira, com o pequeno envelope entre os dedos.

— Achei — disse ela, com um sorriso triunfante nos lábios.

Ela rasgou a ponta da embalagem com os dentes, tirou o círculo de látex e jogou o plástico vazio no chão. Pegou então a camisinha com as duas mãos e com mestria a fez deslizar por toda a extensão rígida de Cullen, que mantinha os olhos cravados em seus dedos finos e longos.

Ele prendeu a respiração, com medo de perder o controle se não permanecesse completamente imó­vel. Seu corpo todo tremia, tomado pelo desejo de jogá-la sobre a cama e simplesmente tomá-la para si, violá-la.

Misty tinha o poder de fazer aflorar o animal den­tro dele. Ele teria tentado se controlar e conter os seus instintos com qualquer outra mulher, mas sabia que podia se soltar quando estava com Misty. Sabia que ela sempre se disporia a acompanhá-lo em qualquer loucura que inventasse. Sua paixão era a mesma que a dele e ela era suficientemente ousada para tentar tudo pelo menos uma vez.

— Dois segundos — disse ele irritado, apertando os punhos para não agarrá-la.

Ela franziu as sobrancelhas, confusa.

— É o tempo de que você dispõe antes que eu per­ca a paciência e assuma o comando.

— Vou tentar fazer o meu melhor com o tempo que ainda me resta.

Em vez de recuar, ela se aproximou ainda mais dele até seus corpos ficarem completamente gruda­dos. Ela beijou o queixo dele com a boca aberta, mor­discando suavemente os lábios ao se afastar.

— Hum — murmurou ela.

Misty fechou a mão em torno do membro de Cul­len e o apertou suavemente, fazendo uma corrente instantânea de prazer percorrer todas as células e ter­minais nervosos de Cullen.

— Dois.

Antes que ela pudesse contar até três ou fazê-lo perder o tontrole, ele tomou as mãos dela e as levou até o alto de sua cabeça, jogando o seu corpo sobre o dela, de modo que ambos caíram juntos, chegando mesmo a quicar sobre o colchão. Misty riu, conta­giando Cullen.

Ainda sorrindo, ele colou sua boca à dela, enquan­to acariciava todo o seu corpo; braços, seios, cintura, quadris. Concentrou-se então em suas coxas, afastan­do-as de modo a poder pairar exatamente sobre a fon­te do calor de Misty.

Ele a penetrou num único e preciso movimento e se deteve em seguida, permanecendo imóvel até que o efeito daquela estonteante sensação cedesse um pouco. Seu coração batia com força contra o peito, ameaçando romper o tórax.

Misty se contorceu debaixo dele e gemeu, arra­nhando suas costas. Ergueu os quadris na ânsia de fa­zer com que ele a penetrasse ainda mais fundo den­tro. Ele não acreditava que fosse possível, mas estava tendo muito prazer em deixá-la tentar.

Ela dobrou as pernas e se enroscou no tronco de Cullen. Ele começou a se mover lentamente, delei­tando-se na maravilhosa sensação de se sentir acolhi­do naquele calor úmido. Pouco depois, porém, não pôde mais se conter e começou a acelerar o próprio ritmo.

— Assim, Cullen, assim.

A voz suave de Misty, gemendo em seu ouvido, parecia uma labareda de fogo lambendo todo o seu corpo.

— Misty — murmurou ele ofegante, como se en­toasse uma prece, mordiscando a carne tenra entre o pescoço e o ombro dela.

O corpo de Misty agitou-se, descontrolado, toma­do por ondas de intenso prazer. Não podendo mais se conter, ela arqueou as costas e se agarrou a ele, gritando alto ao atingir o clímax. Cullen, enlouquecido, prosseguiu no movimento de vai-e-vem entre os qua­dris de Misty, cada vez com mais força, com mais ra­pidez.

E então houve a intensa explosão.

Cullen viu estrelas por trás de suas pálpebras fe­chadas e soltou um grunhido gutural.

— Tenho que ir.

Ainda aninhada nos braços de Cullen, Misty sentiu as palavras reverberarem em seu peito quando já es­tava quase adormecendo.

Contendo um suspiro, ela se sentou, cobrindo os seios com o lençol amarrotado, para observá-lo en­quanto ele começava a se mover pelo quarto à procu­ra de suas roupas.

Aquela era a pior hora de todas, a da partida. Não era sempre que ele tinha que ir embora depois de tão pouco tempo. Às vezes ele passava a noite toda lá e tomava o café-da-manhã com ela. De vez em quando, chegava até a ficar alguns dias, quando tinham opor­tunidade de fazer coisas quotidianas juntos, como ver televisão ou passear no parque.

Vê-lo partir, porém, fosse depois de algumas horas ou de alguns dias, era sempre um sofrimento, pois evidenciava o verdadeiro caráter do relacionamento.

Eles tinham um caso, esta era a verdade. Jamais terminariam juntos com uma casa, filhos e um carro na garagem. Isso não era para Misty.

Primeiro, porque ela era uma ex-corista com so­nhos maiores e um sabor mais refinado. Se não tives­se caído no palco e arruinado o seu joelho três anos atrás, ainda estaria dançando em um dos cassinos deslumbrantes da Avenida Las Vegas Boulevard.

O segundo motivo era que Cullen não era casa­menteiro. Ele tinha 27 anos e ela 32, mas mesmo que ele não fosse cinco anos mais novo, isso ainda estaria fora de cogitação. Ele pertencia a uma das famílias mais abastadas de Manhattan. A probabilidade de ele querer passar o resto de sua vida com uma mulher como ela, e da família dele permitir uma coisa dessas, ia de remota a nenhuma.

O que não a impedia de fantasiar e imaginar como seriam as coisas se ela não fosse uma ex-instrutora de coristas e ele não fosse um alto executivo de uma re­vista famosa. Se eles fossem pessoas normais que ti­vessem se encontrado num dia normal de uma manei­ra normal.

Mas Misty não queria desperdiçar seu tempo dese­jando o impossível. Ela era feliz com a vida que tinha e estava satisfeita com o que ela e Cullen tinham jun­tos, ainda que soubesse que não poderia durar muito tempo.

Aquilo lhe bastava, pelo menos por enquanto. Po­deria ser bem pior, considerando os rapazes que ha­via namorado no passado. Comparado a eles, Cullen era um verdadeiro Príncipe Encantado.

E num terno italiano sob medida.

Ele estava ao pé da cama, já vestido, com as mãos nos bolsos.

Misty se enfiou em seu robe de seda e amarrou o cinto.

— Vou levar você até a porta.

Ele fez um meneio quase imperceptível e eles atra­vessaram a sala juntos. Ela destrancou a fechadura, girou a maçaneta, mas antes que pudesse abrir a por­ta, Cullen a deteve passando uma mão pela sua cintu­ra. Ela ergueu a cabeça e encontrou o olhar ardente dele.

Inclinando-se na direção de Misty, ele afundou a mão nos seus cabelos, segurou-a pela nuca e lhe deu um beijo de tirar o fôlego. Logo em seguida afastou-se, obrigando-a a se segurar na porta para não cair aos pés dele.

— Se não tivesse que estar de manhã cedo em Nova York — murmurou ele suavemente, roçando a ponta de seu polegar sobre o lábio inferior de Misty — eu a arrastaria de volta para a cama e a manteria lá durante toda a semana.

— Se você não tivesse que voltar para Nova York — murmurou ela em seu ouvido — eu deixaria você fazer isso de bom grado.

Ele deixou os braços caírem e sorriu para ela ao cruzar a porta.

— Eu te ligo.

Ela fez um meneio e permaneceu no alto das esca­das, como sempre fazia, para vê-lo ir embora.

 

Quatro meses depois — meados de abril

Misty estava sentindo a música do aparelho de som reverberar em sua cabeça junto com a batida dos pés de seus alunos sobre o chão de madeira do estúdio de dança. Ela mal conseguia se manter de pé.

Ela já vinha lutando há quatro meses contra a ver­tigem, os enjoos e uma outra série interminável de sintomas associados aos primeiros estágios da gravi­dez. Pensara que começaria a se sentir melhor depois do primeiro trimestre, mas as coisas só fizeram piorar desde então.

O dia já tinha começado mal. Ela quase não havia conseguido sair da cama por conta da forte sensação de desorientação e da necessidade de descansar.

Mas ela tinha aulas para dar e não podia se deixar abater, caso contrário não conseguiria levar adiante seu plano de se tornar auto-suficiente e se sustentar com o estúdio de dança.

Cullen havia comprado e reformado aquele prédio para ela três anos atrás. A parte de baixo havia sido transformada num estúdio suficientemente grande para que ela pudesse dar aulas para adultos e crian­ças.

Por mais que odiasse aquela situação, a condição do seu joelho na época não lhe havia deixado escolha. Era aceitar a generosidade de Cullen ou se arriscar a virar uma sem-teto em poucas semanas.

Ela havia prometido a ele (e a si mesma) que lhe pagaria cada centavo depois que o estúdio começasse a dar lucro.

O que, infelizmente, ainda não havia acontecido. O dinheiro das aulas dava para as despesas menores como alimentação e eletricidade, mas era Cullen quem ainda garantia a manutenção do prédio e do es­túdio.

Ela detestava situação. Detestava ser sustentada por um homem. Detestava se sentir a amante de um homem rico, embora fosse exatamente o que ela era.

Não era o fato de eles terem um caso que a inco­modava, mas sim a questão financeira. Era como se ele lhe deixasse sempre um dinheirinho no criado-mudo pelos serviços prestados.

A única maneira de se livrar da dívida com Cullen era transformar o estúdio num sucesso, o que, com um bebê a caminho, havia se tornado mais importan­te do que nunca. Ainda mais porque Cullen não tinha ideia de que seria pai em cinco meses.

Misty pousou uma mão sobre seu abdómen leve­mente aumentado. Tentou dominar a vertigem que parecia acompanhá-la vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, sem falar no sentimento de cul­pa por esconder a gravidez de Cullen. Era melhor as­sim, lembrou ela a si mesma. Cullen iria querer assu­mir toda a responsabilidade e insistiria para que eles se casassem, apesar de ser a última coisa que ele que­ria na vida.

Ele havia sido criado para honrar seus compromis­sos e proteger o nome da família. Seu avô havia insis­tido para que seu pai se casasse com a sua mãe quan­do ela engravidou, de modo a dar um nome à criança e evitar que a reputação ilibada da família sofresse al­gum abalo.

Misty não queria colocá-lo na mesma situação. Não queria forçá-lo a tomar uma atitude cujas conse­quências o fariam odiá-la mais tarde e culpá-la pela sua infelicidade.

Não, era melhor assim. Ela o estava evitando havia meses, desde que o teste caseiro e, depois, o exame de sangue, haviam confirmado as suas suspeitas.

Se ela conseguisse evitá-lo por mais algum tempo, até que o estúdio começasse a se pagar, tudo ficaria em ordem. Ela poderia começar a devolver o dinheiro que Cullen havia investido nela e ele acabaria con­cluindo finalmente que o fato de ela não atender as suas ligações e nem retornar os seus recados signifi­cava simplesmente que ela não queria mais vê-lo.

Misty odiava ter de romper com ele daquela ma­neira abrupta, mas acreditava que seria o melhor para todo mundo.

Ele havia sido bom para ela. Melhor, pensava ela frequentemente, do que uma mulher como ela mere­cia. Por isto mesmo e por gostar realmente dele é que se recusava a fazê-lo prender-se a um filho que ele provavelmente não desejava e que jamais havia pla­nejado ter.

A música e o som dos passos dos alunos foram de­saparecendo. Misty se afastou da parede espelhada onde havia se apoiado até então. Ela não estava muito atenta à turma, mas sabia que a sequência tinha trans­corrido quase sem erros. Os adultos pegavam os pas­sos mais rapidamente que as crianças.

— Bom trabalho, gente — disse ela, batendo pal­mas. — Vamos repetir e, desta vez, quero que vocês acrescentem...

Suas palavras foram desaparecendo e a sala come­çou a rodar. Ela havia dado apenas um passo na dire-ção das mulheres que aguardavam suas instruções, mas seu coração estava batendo como se tivesse cor­rido uma maratona. Sua boca ficou repentinamente seca e sua cabeça parecia que ia explodir.

Sua visão se estreitou até que tudo ficou preto.

 

Cullen estava no Une Nuit, o restaurante de seu ir­mão, na mesa particular da família Elliot. O lugar era o orgulho de Bryan. Localizado na Nona Avenida en­tre as Ruas Oitenta e Seis e Oitenta e Sete da cidade de Nova York, o estabelecimento era o mais novo point da cidade, famoso pela fusão das cozinhas fran­cesa e asiática, frequentemente elogiada em resenhas e artigos de publicações especializadas em culinária. A iluminação vermelha e fraca dava um ar sedutor ao ambiente decorado com móveis de cobre estofados de camurça preta.

Cullen estava experimentando uma mistura de café com outras iguarias que Bryan estava testando naquela semana, enquanto esperava John Harlan para o almoço.

Eles eram amigos de longa data. Depois de perder para John no golfe, no último sábado, por 13 humi­lhantes tacadas, Cullen achou que poderia se abrir com o amigo e falar a respeito dos problemas que es­tava tendo com Misty.

O silêncio de Misty o estava deixando com os ner­vos à flor da pele. Um conselho de amigo poderia ser bem providencial.

Se não fosse pela maldita competição que o seu avô havia estabelecido entre os próprios filhos para decidir quem assumiria a presidência da Editora El-liot depois da sua aposentadoria, ele provavelmente já teria ido vê-la há muito tempo. Mas estava sendo tão requisitado no trabalho que mal havia tido chance sequer de sair do escritório nos últimos quatro meses, quanto mais de pegar um avião até Lás Vegas.

— Posso me juntar a vocês?

Ele se voltou na direção da voz e se surpreendeu ao encontrar a sua prima Scarlet ao lado de sua mesa. Ela estava vestindo um de seus costumeiros trajes exuberantes. As cores vibrantes e o design arrojado combinavam muito bem com sua personalidade.

— Estou esperando...

— Por mim.

Harlan apareceu, quase que por encanto, e Cullen não pôde deixar de notar o evidente nervosismo que tomou conta de sua prima.

— Serão três para o almoço? — perguntou Stach, o gerente do restaurante, no seu alegre sotaque fran­cês.

— Não — disse Scarlet, dando um passo para trás. Ela tropeçou em John e ele a segurou pelos cotove­los, permanecendo assim por um tempo um pouco maior do que aquilo que Cullen julgaria adequado para meros conhecidos.

Antes que Cullen pudesse perguntar ou especular sobre o que estava acontecendo entre os dois, seu ce­lular tocou. Ele olhou para o identificador de chama­das e sentiu um aperto no peito com o número na tela.

Era Misty, chamando do estúdio de dança.

Ele estava tentando encontrá-la havia meses. Já deixara dúzias de mensagens, sem nenhum retorno.

Aquilo era só um caso. Um caso que ele já tinha a intenção de romper havia anos. O fato de Misty tê-lo evitado, fazendo-o suspeitar de que ela estava que­rendo romper com ele, porém, o havia abalado.

Ele atendeu o celular antes que ele tocasse nova­mente.

— Alô?

— Senhor Elliot? — indagou uma voz hesitante do outro lado da linha.

— Sim — respondeu ele, franzindo a testa.

— Ahh...

A mulher pareceu ainda mais nervosa do que an­tes.

— Meu nome é Kendra. Sou aluna de dança de Misty.

— Sim? — disse ele novamente, ainda confuso.

— Bem, ahh... Misty passou mal e como o seu nú­mero foi o primeiro que localizei nas ligações recen­tes do celular dela... Nós não sabíamos para quem li­gar.

— O que aconteceu? — perguntou Cullen, elevan­do a voz e se apoiando na mesa.

— Ela desmaiou durante a aula e...

— Como ela está?

— Não sei ao certo. Chamamos uma ambulância, mas...

— Para onde a levaram?

— Hospital St. Rose Dominican.

— Eu estou indo para lá agora. Se tiver mais algu­ma notícia, ligue-me imediatamente neste número, compreendeu?

Cullen se despediu da mulher e desligou o celular, deixando a mesa apressadamente.

— Tenho que ir.

— O que aconteceu? — perguntou Scarlet. — Quem se machucou?

— Ninguém que você conheça.

Voltou-se então para John, a fim de se desculpar por tê-lo feito perder seu tempo.

— Sinto muito. Fiquei muito feliz que tenha vin­do, mas vou ter que ir a Las Vegas.

— Sem problemas. Há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?

— Darei notícias — respondeu Cullen com os lá­bios apertados, já a caminho da porta. — Obrigado.

 

Cullen seguiu para Henderson no jatinho particu­lar da família. O piloto notou seu desespero e se em­penhou em chegar o mais rápido possível. Cinco ho­ras depois do embarque, Cullen já estava no hospital.

Ele passou correndo pelos quartos da emergência, indo direto até o posto de enfermagem, onde pediu notícias sobre o estado de Misty e onde encontrá-la. A enfermeira de plantão, aparentemente acostumada ao nervosismo dos parentes e amigos dos pacientes, procurou o nome de Misty no computador, informou-lhe o número de seu quarto e apontou o caminho até os elevadores.

Ela havia sido transferida para um quarto normal, o que lhe pareceu um bom sinal. A enfermeira não havia feito nenhuma menção a UTI. Mas por que, en­tão, ela não havia sido liberada?

Cullen subiu até o terceiro andar, sentindo-se con­sumir pelo medo e apreensão. Saiu do elevado assim que as portas se abriram, interpelando uma enfermei­ra que passava pelo corredor.

— Misty Vale — pediu ele. — Estou procurando por Misty Vale.

A jovem morena sorriu e deu meia-volta, fazendo com que ele a seguisse.

— Acabei de vê-la. Ela está bem. Está descansan­do, pobrezinha. Ela se excedeu, só isso. Trabalhou demais sem descansar suficientemente. Uma mulher nas condições dela não pode fazer uma coisa dessas.

Cullen mal ouviu o que a enfermeira disse. Ele queria vê-la, saber se ela estava bem.

— Não se preocupe — respondeu a enfermeira, dando um tapinha em seu braço. — Ela e o bebê estão bem.

Ela se virou e retomou o seu caminho, deixando-o sozinho em frente ao quarto de Misty.

Bebê?

Sua cabeça disparou, sua boca ficou seca.

Bebe?

Sua respiração começou a ficar ofegante e as pal­mas de suas mãos começaram a suar.

Que bebê?

Sua cabeça parecia que ia explodir. Ao temor pela saúde de Misty se juntara a notícia do bebê.

O bebê de Misty.

O seu bebê?

Ele balançou a cabeça, sabendo que nada faria o menor sentido antes que pudesse vê-la com seus pró­prios olhos.

Ele entrou silenciosamente no quarto. Havia ape­nas uma luzinha fraca acesa sobre uma cama vazia. A cortina que separava os dois leitos estava fechada para que a luminosidade não incomodasse o sono de Misty.

Cullen se aproximou dela sem fazer barulho, até conseguir vê-la. Ela estava pálida. Seus cabelos cas­tanhos aloirados eram o único toque de cor naquele quarto branco. Havia um tubo de soro injetado em sua mão e diversos monitores que piscavam e bipa-vam, rastreando constantemente os seus sinais vitais.

O que realmente chamou a atenção de Cullen, po­rém, fazendo um arrepio percorrer a sua espinha, foi a leve protuberância do abdómen de Misty que se in­sinuava sob o lençol liso de algodão.

Ela e o bebê estão bem.

Ela e o bebê...

Meu Deus, Misty estava mesmo grávida!

Ele engoliu em seco, sem saber o que pensar, en­quanto se aproximava mais dela.

Parte dele queria ficar com raiva dela. Raiva por ela o ter evitado nos últimos três meses (o motivo fi­nalmente evidente). Raiva por ela não ter lhe contado tudo assim que descobriu que estava grávida, quer o filho fosse seu ou não. Mas era difícil persistir nesse sentimento ao vê-la tão pequena e vulnerável naquela cama de hospital.

Cullen pegou uma cadeira e se sentou ao seu lado, entrelaçando os dedos nos dela. Ele ficou apreciando seu rosto, seus olhos fechados e lábios suavemente apartados pelo sono. Seu olhar seguiu até os seios de Misty, aparentemente um pouco mais volumosos do que ele se lembrava e então para a sua barriga, onde estava o filho deles.

Ele na verdade nunca havia duvidado de que aque­le bebê fosse seu.

Eles mantinham uma relação aberta. Ele havia saí­do com outras mulheres e sabia que Misty também havia dado seus pulinhos, mas não acreditava que ela tivesse chegado a dormir com outro homem enquanto estiveram juntos. Misty teria lhe contado; afinal, ela sempre falava abertamente dos convites para jantar que recebia, e que por vezes aceitava.

Já Cullen não compartilhava suas proezas com ela, pelo simples fato de que elas não acabavam em sexo com a mesma frequência que ele deixava as pessoas acreditarem.

A família dele era rica. Qualquer um de seus mem­bros era facilmente reconhecido em Manhattan. Cul­len era o playboy do clã, sempre acompanhado de uma linda mulher. Já havia saído com todo o tipo de mulheres: modelos, atrizes, advogadas, executivas, exatamente como se esperava que ele agisse.

Ultimamente, porém, ele já não tinha mais tantas mulheres como se podia suspeitar. Cada vez mais fre­quentemente, ele se pegava distraído, pensando em Misty, desejando estar apenas com ela e ninguém mais.

Mantendo uma de suas mãos firme na dela, ele deslizou a outra por sobre o lençol que a cobria até pousá-la sobre a sua barriga.

Ele percebeu que ela havia se agitado com o seu toque e ergueu os olhos procurando os dela, mais es­curos do que o usual, nublados pela angústia.

— Cullen — ela sussurrou, com a voz rouca por ter passado muito tempo sem falar. — O que você está fazendo aqui?

— Soube que você não estava se sentindo bem. Pensei em dar uma passadinha e trazer uma canja.

Ela sorriu, mas a aura de preocupação não deixou o seu rosto.

— Como você está se sentindo? — ele perguntou, esperando distraí-la.

Ela pestanejou algumas vezes e desviou o olhar.

— Já estive melhor.

— Misty...

Ele esperou até ela voltar novamente a atenção para ele e flexionou os dedos sobre seu ventre, para que ela soubesse exatamente ao que ele estava se re­ferindo.

— Por que você não me contou?

Os olhos de Misty se encheram de lágrimas e seu lábio inferior tremeu. Cullen teve de se conter para não a pegar no colo. Ele só queria confortá-la, dizer que tudo ficaria bem, mas primeiro precisava ouvir a resposta dela. Precisava saber por que ela havia man­tido algo tão importante em segredo.

Sinto muito — disse ela. Sua voz tremeu e ela tentou se refazer um pouco antes de continuar. — Não sabia como contar. Não queria que você se sen­tisse obrigado a alguma coisa.

— Obrigado? — repetiu ele, esforçando-se para não demonstrar irritação. — É meu filho, não é?

Misty respirou fundo, erguendo um pouco o quei­xo.

— Sim.

Cullen já sabia. Não era preciso ter perguntado. Ele se ajeitou na cadeira. Havia muito mais que ele queria saber, mas ela não parecia estar em condições para um interrogatório.

— Tudo bem — disse ele, apertando seus dedos e passando a outra mão sobre as sobrancelhas e os ca­belos dela. — Conversaremos mais tarde. Você pre­cisa descansar.

Ela não pareceu muito convencida, mas não discu­tiu. Suas pálpebras fecharam-se logo em seguida.

Ele deixou-a dormir, grato por ela e o bebê esta­rem bem e tentando planejar o que faria a seguir.

A primeira coisa seria conversar com o médico que a havia atendido. Ele queria saber exatamente o que tinha acontecido e obter instruções a respeito do tratamento.

Em seguida, ele a levaria para sua casa, onde ela teria mais conforto.

Feito isso, teria que partir para a parte mais difícil do seu plano: convencer Misty a se casar com ele.

 

Dois dias haviam se passado. Misty entrou em seu apartamento, profundamente consciente do braço de Cullen em torno de sua cintura. Ele havia permaneci­do com ela praticamente desde que a encontrara no hospital, tendo sido extremamente solícito e atencio­so durante todo tempo.

Seu terno azul-escuro estava todo amarrotado. Ele mantinha algumas mudas de roupa extras em seu apartamento, mas, pelo visto, não a havia deixado so­zinha nem para passar em casa e trocar de roupa, o que levaria menos de meia hora. Ele havia feito todas as refeições no quarto com ela e, toda vez que ela abria os olhos no meio da noite, lá estava ele, mal ajeitado na desconfortável cadeira destinada aos acompanhantes, ainda cuidando dela, mesmo en­quanto ela dormia.

Misty ficou sensibilizada com a doçura e generosi­dade de Cullen, mesmo depois de tê-lo evitado nos últimos três meses e mentido para ele.

A culpa se apoderou dela, chegando a fazê-la tro­peçar. Cullen a segurou imediatamente, com seus braços fortes, sustentando-a pelos cotovelos.

— Calma — aconselhou ele com uma voz doce e cuidadosa enquanto a guiava até o sofá da sala.

Ele a acomodou e colocou a sacola com coisas de Misty sobre a mesinha de café.

Ela havia descoberto que ele tinha pago uma das enfermeiras para comprar roupas novas para Misty, para que ela não tivesse que sair do hospital vestindo a malha de dança com que havia sido internada.

— O médico disse que você precisava descansar — disse Cullen, tirando o paletó e jogando-o sobre o espaldar da cadeira mais próxima. — Quer dizerque você precisa ficar deitada, aqui ou na cama. Avise-me se precisar de alguma coisa. Qualquer coisa. En­tendido?

Ela sorriu. Ele devia agir assim na Snap: o execu­tivo confiante, o líder.

— Sim, senhor -— respondeu ela, batendo conti­nência.

— Está bem assim? — ele perguntou. Ela assentiu e ele deu um passo para trás.

— Do que mais você precisa? Está com fome? Gostaria de chá com torradas? Um copo de leite, talvez?

Ele estava agitado. Suas mãos estavam enfiadas nos bolsos de suas calças amarrotadas. Seu cabelo estava todo despenteado, irregularmente dividido como se ele tivesse passado os dedos diversas vezes pelos cachos escuros. E isso sem falar na barba, já há dois dias por fazer.

Ele havia ficado realmente preocupado e ela sabia que lhe devia uma explicação.

— Estou bem, mas você parece estar precisando de um bom banho e de uma troca de roupa. Por que não vai se refrescar? Eu vou ficar quietinha aqui até você acabar. Prometo.

Ele tirou as mãos dos bolsos e coçou distraidamen-te o peito.

— Tem certeza?

— Tenho — disse ela, encorajando-o.

— Então está bem.

Ele ainda hesitou por alguns segundos, mas aca­bou seguindo resolutamente até o banheiro para to­mar o seu banho.

Misty permaneceu deitada pelos vinte minutos se­guintes, apesar de ligeiramente ansiosa por não poder quebrar sua promessa e ter de permanecer onde esta­va até ele voltar.

Sua cabeça estava doendo e ela sabia que não era a exaustão que a levara ao hospital. Ela estava angus­tiada porque não tinha a menor ideia do que aconte­ceria com ela e Cullen em diante.

Ela não quisera que ele soubesse da gravidez por­que temia sua reação. Das duas uma: ou ele ficaria aterrorizado e sairia correndo, ou seu enorme senso de responsabilidade falaria mais alto e ele insistiria em cuidar dela e da criança, pelo menos financeira­mente.

Ela não tinha dúvidas de que ele tinha todas as condições de dar o melhor para o seu filho. As me­lhores roupas, a melhor educação, os melhores brin­quedos. Misty jamais poderia competir com ele neste aspecto com a modesta quantia arrecadada com o es­túdio de dança, isto se Cullen permitisse que ela o mantivesse.

Misty tinha que admitir que ele tinha dinheiro e poder suficientes para tirar o filho dela, se assim qui­sesse.

E se ele não quisesse mais ficar com ela, mas deci­disse lutar pela guarda do bebê?

E se ele quisesse criar o bebê em Nova York com toda a respeitabilidade e os privilégios que ele e a sua família podiam lhe conferir?

E se ele não visse problema algum no fato da mãe de seu filho ser uma ex-corista, mas sua família a re­chaçasse e insistisse para que ele trouxesse o bebê para casa... sem ela?

As possibilidades se sucediam em sua mente, cada uma pior que a outra.

Cullen era um bom homem, um dos melhores que ela havia conhecido. Ele não a tratava como ex-strip-per ou ex-prostituta, o que, para a maioria dos ho­mens era a mesma coisa que ex-corista.

O relacionamento deles, porém, nunca fora exatamente normal. A verdade nua e crua era que ele a sus­tentava.

Isso nunca a incomodara antes. Ela era suficiente­mente segura e autoconfiante para decidir ter um caso com ele e se tornar a sua amante.

O fato de ter engravidado, porém, mudara tudo. As regras não-escritas que haviam regido o relaciona­mento já não valiam mais.

Seu coração insistia em lhe dizer que Cullen era um homem decente, mas sua mente continuava a ad­verti-la de que ele era um Elliot e ela, uma qualquer.

Ela era a filha de uma corista que também acabou se tornando corista. Tudo o que ela sempre quisera, desde garotinha crescendo nos bastidores de alguns dos mais badalados cassinos da Avenida Las Vegas Boulevard, fora seguir os passos de sua mãe, calçan­do suas sapatilhas de lantejoulas.

O que ela nunca quis foi se casar e divorciar tantas vezes quanto sua mãe, então no quarto marido. Ela parecia feliz, mas Misty preferia não cultivar este há­bito.

Ela também não tinha nenhuma intenção de se tor­nar mãe solteira, mas ao que parecia, era o futuro que havia forjado para si mesma ao virar a amante de um homem e engravidar dele.

Ela resmungou em voz alta.

— O que aconteceu?

A voz profundamente preocupada de Cullen atrás dela a fez saltar e se virar no sofá.

Você me assustou — disse ela, com a mão so­bre o coração, que batia loucamente.

Você está bem? — perguntou ele, aproximan­do-se.

— Estou.

— Você gemeu.

— Tecnicamente — explicou ela — eu grunhi. Ajeitando-se até deitar completamente de costas,

ela olhou para baixo e pousou uma mão sobre a parte saliente de sua barriga, onde repousava seu filho. Ela já podia senti-lo se mexendo, lembrando-a que ali es­tava um ser vivo que logo estaria correndo e choran­do, precisando de todo seu cuidado e atenção.

— Eu estava pensando na confusão que arrumei. Vale um grunhido, não acha?

Ele se sentou mais perto, com os cabelos ainda pingando, vestindo um jeans confortável e uma cami­sa pólo marrom. Aquela era uma das suas roupas fa­voritas. Ele a usava frequentemente quando ficava com ela mais do que algumas poucas horas.

Era uma das favoritas dela também. Fazia com que ele parecesse uma pessoa normal de quem era possí­vel se aproximar sem maiores temores. Sempre que o via assim, ela sabia que teria mais tempo para desfru­tar da sua companhia.

— Não seja tão dura consigo mesma. Você não fez isso sozinha.

Ela baixou os olhos, sem saber ao certo o que di­zer.

— Acho que precisamos falar sobre isto, não acha? Você deve ter um monte de perguntas.

— Tenho sim. — Ele se inclinou para frente e abraçou as próprias pernas, entrelaçando as mãos. — Quantos meses?

— Dezesseis semanas.

Seus olhos semicerraram-se enquanto ele fazia as contas.

— Exatamente quatro meses. Mais ou menos o tempo que não nos vemos.

Ela engoliu em seco e baixou a cabeça, com medo de não conseguir falar direito. Ele continuou:

— Quando você descobriu?

— Cerca de um mês depois.

Ele permaneceu um momento em silêncio, pen­sando no que ela havia dito. Um leve pulsar em seu maxilar denunciava sua tensão.

— Acho que isso explica por que você deixou de atender as minhas ligações e nunca retornou minhas mensagens.

— Sinto muito.

Ela ergueu as costas, sentou-se, afofou a almofada e a apoiou no braço do sofá, para poder se recostar.

— Sei que foi horrível da minha parte, mas eu es­tava tão... confusa. No começo nem pude acreditar que tinha acontecido. Sempre fomos tão cuidadosos, exceto por aquela única vez que esquecemos de usar a camisinha. Todos os testes caseiros que fiz, porém, davam o mesmo resultado. Acho que continuei negando o que estava acontecendo mesmo depois de ir ao médico. Eu sabia que você ia perceber algo de er­rado comigo só pelo tom da minha voz.

Ela suspirou, entrelaçando os próprios dedos para conter os movimentos irrequietos das mãos.

— Não queria mentir e dizer que não estava acon­tecendo nada, por isso optei por ser covarde e não di­zer nada.

— Você estava me evitando?

— Estava — admitiu Misty, culpada.

— Não acha que eu tinha o direito de saber?

A raiva na pergunta a fez estremecer.

É claro que sim. Minha única desculpa é que es­tava com medo. Não sei se você acredita, mas queria protegê-lo.

— Proteger-me? — perguntou ele, em tom de iro­nia, erguendo-se e começando a zanzar pela sala, passando as mãos nervosamente pelos cabelos, antes de conseguir se acalmar e pousá-las nos quadris.

— Sim — disse ela, surpreendendo-se com o pró­prio ardor com que defendia seu ponto de vista. — Cullen, você só tem vinte e sete anos. Você é um Elliot, e diretor de uma das revistas de maior sucesso da sua família. Você é muito jovem para se amarrar a uma dançarina com um joelho em frangalhos e um fi­lho que nunca planejou ter. A sua família não ia ficar nada satisfeita com a repercussão negativa.

Ele se deteve e a fitou diretamente nos olhos. Um olhar implacável.

— Acha mesmo que eu me importo com as man­chetes?

— Talvez não agora — advertiu ela — mas como você se sentiria depois, quando sua família começas­se a acusá-lo do dano à sua reputação imaculada?

Cullen semicerrou os olhos e tentou descerrar os dentes antes que ficassem em pedaços. Ele estava profundamente aborrecido.

Odiava ouvi-la falar sobre si mesma daquele jeito, transformando a diferença de idade num problema gravíssimo e supondo que toda a sua família iria de­saprová-la simplesmente por ela ter sido corista na Avenida Las Vegas Boulevard.

Quanto a este último item, porém, era provável que ela tivesse razão. Seu avô, especialmente, ficaria lívido se ele aparecesse com uma amante corista e um filho ilegítimo.

Se bem que Patrick Elliot nunca ficava contente com o que quer que fosse. Nada do que qualquer um dos membros da família fazia parecia merecer a apro­vação do velho senhor. Cullen, de sua parte, já estava cansado de tentar.

— Alguém como você?

Seus dentes ainda estavam tão cerrados que chega­vam a doer. Se Misty observasse com atenção, sabe­ria que ele estava muito perto de explodir. Ela, po­rém, não pareceu perceber. Continuou simplesmente encarando-o com aqueles olhos verdes brilhantes e amendoados que o atraíam como uma lâmpada a uma mariposa.

— Sabemos que nunca fui mais que um passatem­po para você. — respondeu ela em voz baixa. — Nunca pretendemos transformar nosso relaciona­mento em permanente e não vou querer mudar as re­gras do jogo agora. Um... Dois...

Suas narinas se abriram quando ele tentou respirar fundo.

Três... Quatro... Para dentro. Para fora. Cinco... Seis... Inspira. Expira. Sete... Oito...

Se ele continuasse respirando e contando, talvez conseguisse dissipar a cortina vermelha que se agita­va em frente aos seus olhos e deixasse de sentir aque­la imensa urgência de esmurrar a parede mais próxi­ma.

Nove... Dez...

— Em primeiro lugar — disse ele, forçando-se a manter um tom de voz calmo e tranquilo — você nunca foi apenas um passatempo para mim. Admito que as coisas começaram de um jeito picante e que nos envolvemos principalmente por causa do sexo, mas posso muito bem conseguir sexo perto de casa. Não precisaria voar mil milhas todo mês só por uma boa transa.

Ela se encolheu ao ouvi-lo usar aquela linguagem rude, mas não o interrompeu. Fez bem, porque nem mesmo a dor das suas unhas cravadas nas palmas de suas mãos estava amenizando a fúria que ele sentia.

— Em segundo lugar; independente do que o nos­so relacionamento tenha sido ou deixado de ser, as regras efetivamente mudaram. Você está grávida do meu filho e, quer goste ou não, tudo muda. E, em ter­ceiro lugar; eu amo a minha família e nunca faria algo deliberadamente para magoá-los ou embaraçá-los, mas eles não determinam o rumo da minha vida. Eu tomo as minhas próprias decisões. Ficou claro?

Misty passou a língua pelos lábios rosados para umedecê-los e ele teve de se conter e sustentar sua raiva para não se enfiar no sofá com ela e beijá-la lou­camente como a sua libido caprichosa queria.

— Ficou claro? — repetiu ele incisivamente, ten­tando se concentrar.

Ela respondeu com um meneio. Não era exatamen-te um gesto cheio de convicção, mas bastava.

— Certo. — Ele abriu os punhos e flexionou os de­dos que já estavam formigando. — Porque já tomei a minha decisão. Não baseada no que a minha família espera ou deixa de esperar de mim e nem em nome da ética ou responsabilidade, mas naquilo que penso e quero para mim.

Ele se deteve por um momento e então disse em alto e bom som:

— Nós vamos nos casar.

Misty ficou ainda mais pálida do que quando havia sido internada.

Ela arfou e colocou uma mão sobre a garganta.

— Cullen...

— Não — disse ele, interrompendo-a. Ele cami­nhou até a cadeira que havia ocupado antes e se sen­tou bem na pontinha, inclinando-se na sua direção.

— Não discuta comigo, apenas ouça. Eu quero este bebê, Misty. Ele faz parte de mim tanto quanto de você. Já perdi os primeiros quatro meses da sua gra­videz e não quero perder mais nada. Quero participar de todas as etapas daqui para frente. Quero massa-gear seus pés quando os seus calcanhares incharem, trazer sorvete com picles às três da manhã para você e segurar sua mão durante o parto. Mas, acima de tudo, quero ver o bebê todo dia, e não só nos fins de semana, ou quando eu conseguir voar até Las Vegas, e a melhor maneira é casando com você.

— Cullen...

Ele viu o brilho das lágrimas brotando nos olhos de Misty. Seu coração vacilou em seu peito e sua boca ficou seca ao esperar pela sua resposta.

Quem poderia imaginar que fazer a coisa certa e reconhecer o próprio filho pudesse mexer tanto com os nervos de alguém?

Ele acompanhou todos os movimentos dos seus lá­bios, mas nada poderia tê-lo preparado para a respos­ta que finalmente veio.

— Sinto muito, Cullen, mas não posso.

 

O coração de Misty ficava cada vez mais partido ao ver o impacto de suas palavras sobre o homem à sua frente. Os lábios dele ficaram lisos e sua expressão, pétrea.

Ela o estava magoando, quando era a última coisa que queria fazer na vida. Será que ele não entendia? Será que não percebia que acabaria arruinando a pró­pria vida se insistisse em se casar com ela?              

Apesar de tudo que Cullen dissera, ela não acredi- tava que seu profundo senso de ética e responsabili­dade não tivesse nada a ver com sua decisão. Misty sabia muito bem que Bryan, o irmão mais velho de Cullen, era fruto de uma gravidez não planejada. Por causa disso, seus pais foram forçados pelo avô de Cullen a se casarem aos 18 anos. Doze anos e dois fi­lhos depois, porém, eles haviam se divorciado.

Misty não queria o mesmo destino para si ou para seu filho. Também não queria que Cullen sacrificasse sua felicidade e seu futuro por causa da culpa e da responsabilidade incutidas nele desde a infância.

Ela o olhou, praticamente implorando que ele re- conhecesse suas origens.

— Por favor, não fique com raiva de mim, Cullen.

É uma atitude muito bonita da sua parte e sei que está fazendo o que acha melhor, mas não vou me casar com você só porque a camisinha estourou ou porque nos descuidamos.

Com a mão ainda espalmada sobre a barriga, ela prosseguiu.

— Também quero este bebê. Vou ser uma boa mãe e não vou lhe negar nenhum dos seus direitos como pai.

Ele a observou durante algum tempo como a um inseto sob um microscópio. Misty sentiu o pulso ace­lerar ao ser escrutinada tão abertamente. Ela não ti­nha a menor ideia do que ele estava pensando, nem do que iria dizer a seguir.

— Você pensou por um momento sequer nas recomendações do médico? — perguntou ele final­mente, esforçando-se para controlar as suas emoções. — Se não se cuidar direito, vai acabar voltando para o hospital ou, pior, perdendo o bebê.

O simples pensamento fez um arrepio percorrer a espinha dela. Ela abraçou a pequena vida inocente que descansava em seu útero, curvando-se levemente sobre a própria barriga.

— Eu não vou perder este bebê — disse ela num misto de prece e de promessa.

— Mas vai acabar acontecendo se você se exceder novamente. O médico disse que você desmaiou de exaustão e desidratação. A aluna que me ligou contou que você dobrou o número de aulas e pôs anúncios extras nos jornais locais.

— Talvez eu tenha exagerado um pouco — admi­tiu ela — mas não vai acontecer novamente.

Os olhos azuis dele brilharam rapidamente como duas safiras.

— Por que você estava fazendo isso, afinal? Aquela era a pergunta-chave. Ela respirou fundo e expirou lentamente.

— Você sabe tão bem quanto eu que o estúdio não vai nada bem. Achei que com um bebê a caminho se­ria prudente acumular o máximo de dinheiro possí­vel, antes que tivesse que parar de dar aulas. Deus sabe que mal consigo me sustentar sozinha, que dirá quando chegar a criança. Não tenho nem dinheiro su­ficiente para pagar uma substituta que cubra a minha ausência até poder voltar a trabalhar.

— Você achou que eu não sustentaria meu próprio filho? — resmungou ele, arqueando as sobrancelhas numa expressão furiosa. — Eu a sustentei muito bem nos últimos três anos. Achou que eu ia acabar com tudo de repente só porque estava grávida?

Ela suspirou. Por mais que tivesse tentado evitar, ela havia acendido a ira dele.

Misty deslizou pelo sofá e seguiu de joelhos até o tapete bege ao lado de Cullen. Abraçou uma de suas pernas e pousou os dedos sobre a sua coxa forte.

— É claro que não — respondeu ela em voz baixa. — Não foi que eu quis dizer, Cullen, mas não posso permitir que você continue pagando minhas contas para sempre. Reconheço tudo o que você fez por mim. Deus sabe o que poderia ter me acontecido de­pois da minha lesão no joelho se não fosse sua ajuda. Mas eu lhe disse desde o começo que iria pagar cada centavo que você investisse no prédio. Sem falar no dinheiro que você deposita na minha conta todo mês, já que o estúdio ainda opera no vermelho — disse ela franzindo o cenho.

Aquela mesada a incomodava muito mais do que a implementação do estúdio de dança, pois deixava evidente que ela não era capaz de se sustentar sozinha e que dependia de um homem que pusesse um teto so­bre sua cabeça e comida na sua mesa.

Ela era a amante dele, e, para todos os propósitos, ele era seu benfeitor. Era uma verdade dura de engo­lir.

— Eu já lhe disse que você não tinha que me de­volver esse dinheiro. Não foi um empréstimo, foi um presente.

— Um presente e tanto — murmurou ela. Ela sabia que ele havia investido mais de cem mil dólares para montar o estúdio e mantê-lo funcionando, sem contar a generosa quantia em dinheiro na sua conta bancá­ria, rendendo juros.

— A questão é a seguinte: — continuou ele, enfa­tizando bem as palavras para que ela percebesse que ele estava mudando o rumo da conversa — você não vai poder continuar dando aulas por muito mais tempo. Na verdade, nem deveria mais estar trabalhando, a julgar pelo que aconteceu. E aí?

Ela abriu a boca para falar, mas ele ergueu a mão para detê-la e prosseguiu.

— Sinto muito, Misty, mas não tenho a menor in­tenção de ser pai à distância.

O coração de Misty começou a bater acelerado. Seu estômago começou a se revirar como uma roda-gigante.

— O que você quer, então?

Ele respirou fundo e pôs a mão em cima da que ela havia pousado em sua coxa. Seus dedos longos se en­trelaçaram aos dela, bem menores. O calor de sua palma se infiltrou na corrente sanguínea de Misty, aquecendo todas as partículas do seu corpo.

— Volte para Nova York comigo.

— O quê? — Ela se recostou, perplexa. Aquela era a última coisa que esperava ouvir.

— Volte para Nova York comigo. Você não pode manter o estúdio aberto se começar a cancelar aulas e não pode mais continuar com elas. Eu a conheço, Misty. Vai enlouquecer de tédio em menos de uma semana sem nada para fazer.

Ele apertou sua mão, enfatizando tudo o que havia acabado de lhe dizer.

— Venha para Nova York comigo. Vai ser bom para o bebê. Você precisa descansar e minha casa é tranquila e confortável. Além disso, vou estar à sua disposição.

Pela primeira vez, durante aquela conversa, ela foi capaz de brincar.

— À disposição, é?

Uma faísca sugestiva iluminou seus olhos. Ele passou os dedos por baixo da mão dela e virou sua palma para cima antes de levá-la até sua boca.

À sua disposição -— sussurrou ele, depositando um beijo bem no meio da sua mão.

Ele levou a ponta de um dos dedos dela até seus lá­bios. Uma onda de desejo se apoderou dela, fazendo-a tremer.

—Misty? — perguntou ele suavemente. — Você está me ouvindo?

Ela demorou um pouco para atentar ao que ele ha­via dito e outro tanto para recuperar a voz. Tudo o que conseguiu dizer, porém, foi um fraco:

— Hum-hum.

— Outra razão pela qual quero que você volte co­migo para Nova York é que eu quero apresentá-la aos meus pais, já que você vai ser a mãe do neto deles.

A névoa de desejo que estava ofuscando a visão de Misty começou a se desfazer lentamente. Ele queria que ela conhecesse os pais dele?

Meu Deus, ela já podia imaginar as apresentações. "Mãe, pai, esta é Misty, a ex-corista que é minha amante e está grávida". Eles iam ficar boquiabertos e de olhos arregalados até recuperarem as suas facul­dades mentais e começarem a hostilizá-la e a ad­moestar Cullen por misturar o sangue azul dos Elliot com o de uma dançarina de criação questionável e moral obviamente baixa.

Ela preferia mil vezes atravessar a Avenida Las Vegas Boulevard nua.

— Vamos, Misty — disse ele num tom lisonjeiro.

— Você me deve essa. Ela arregalou os olhos.

— É isso o que você espera em troca de tudo que fez por mim? — perguntou ela, incrédula.

— Eu quis dizer que você me deve uma considera­ção por ter mantido a gravidez em segredo nestes quatro meses.

Ele a pegara. Mas... conhecer seus pais? Não era um pouco excessivo?

— Além disso — prosseguiu ele — não precisa ser nada definitivo. Pense nisso como uma espécie de fé­rias. Você pode voltar quando quiser.

Cullen se ergueu, trazendo-a consigo, ainda de mãos dadas. Ele a puxou para perto e ela se deixou conduzir de bom grado, uma vez que era onde ela se sentia mais segura e mais confortável.

Estar nos braços dele era como mergulhar num ba­nho de espuma quente e perfumada depois de uma longa noite dançando sob holofotes abrasadores em cima de saltos de dez centímetros, usando um adere­ço de cabeça pesado, só que melhor.

— Nunca se sabe — murmurou ele em seu ouvido, enquanto acariciava a parte volumosa de sua cintura.

— Pode ser que conhecer onde moro e ser apresentada à minha família possa mudar sua ideia quanto à minha proposta.

Ela se inclinou para trás, encontrando o olhar es­perançoso de Cullen e tomou sua decisão. Pelo sim ou pelo não, ela lhe devia por ter mantido a gravidez em segredo por tanto tempo e por tudo o que ele havia feito por ela nos últimos anos, principalmente fazen­do-a se sentir protegida e especial.

—Eu vou com você para Nova York — disse ela,

sendo imediatamente recompensada por um amplo sorriso. — Mas não vou me casar com você — adver­tiu antes que ele se entusiasmasse demais. Ela pôs um dedo em riste sob o nariz dele para enfatizar o que dizia. — Isto não faz parte do acordo.

O comentário não tirou o sorriso dos lábios dele, que, em seguida, cobriram os seus.

— Vamos ver.

Cullen não tardou em botar mãos à obra.

Ele ligou para o piloto do seu jatinho particular para avisá-lo de que partiriam bem cedo na manhã se­guinte e conseguiu uma pessoa para assumir as aulas no estúdio. Depois carregou Misty até o quarto e a colocou na cama, com as costas apoiadas na cabecei­ra, sobre alguns travesseiros.

Ela protestou, dizendo que estava em condições de arrumar a própria bagagem, mas ele não lhe deu ou­vidos. Misty teve de ficar sentada, indicando-lhe o que pôr na mala que ele havia tirado do armário.

Ela não sabia se ria ou chorava ao ver o modo como ele enfiava tudo na mala, sem nem mesmo do­brar as peças, nem cuidar para que os saltos dos sapa­tos não rasgassem o tecido delicado de suas saias e blusas. Cullen até tentou se redimir quando ela cha­mou sua atenção, mas acabou desistindo, dizendo-lhe que substituiria qualquer coisa que sofresse dano.

Apesar da intimidade de quatro anos de relaciona­mento, Misty não pôde deixar de enrubescer ao vê-lo remexer em sua gaveta de lingeries. Cullen parecia estar tendo um imenso prazer em escolher os itens que seguiriam com eles para Nova York, arqueando as sobrancelhas e olhando-a cheio de más intenções, até ela se dobrar de tanto rir.

Ao terminar, ele guardou a mala e a ajudou a se trocar para dormir. Depois se deitou ao lado dela e a abraçou, acariciando os seus cabelos até ambos pega­rem no sono.

 

A viagem transcorreu com surpreendente facilida­de, mil vezes mais confortável e tranquila do que um vôo comercial. Cullen providenciou para que hou­vesse comida a bordo para que tivessem uma refeição antes de pousar.

Todas as benesses do elegante jatinho de Cullen e sua solicitude só serviram para fazê-la lembrar o quanto ela se sentiria deslocada no mundo dele. Ela nem precisava se dar ao trabalho de pensar em quanto conseguiria ficar na sua casa no Upper West Side.

Ele e a sua família provavelmente já estariam implo­rando para que ela fosse embora e se esquecesse de que alguma vez ouvira o nome dos Elliot em menos de uma semana. Ela tinha dormido no avião, por isso estava bem desperta e com os nervos à flor da pele quando chegaram na casa de Cullen.

Ele queria que ela conhecesse seus pais. Queria participar ativamente do restante de sua gravidez e da vida de seu filho. Tudo aquilo, no entanto, parecia um pouco doméstico demais para Misty. Era como se depois de botar os pés na vida pessoal de Cullen ela nunca mais conseguir sair.

Ela sabia que Cullen acabaria se tornando alvo de chacota em seu meio social e perderia todo o respeito de seus pares na editora caso se casasse com ela. Ela definitivamente não o poria em tal situação. Gostava demais dele para tanto.

Ele a ajudou a sair da luxuosa limusine que havia contratado para apanhá-los no aeroporto e a tomou no colo, carregando-a até as escadas da frente de sua casa.

Ele a pousou no chão, procurou as chaves no bolso da calça e então, dando-lhe a mão, conduziu-a para dentro, deixando a porta abeta para que o motorista os seguisse com as bagagens.

Ele se voltou para ela com um pequeno sorriso nos lábios e as mãos enfiadas nos bolsos do mesmo jeans que havia usado no apartamento dela.

— Gostei da sua casa — disse ela, olhando ao re­dor.

Era óbvio que aquela era a casa de alguém de pos­ses, mas não era tão opulento quanto ela havia imagi­nado. Tudo parecia muito útil e habitado.

O chão era de madeira encerada. O corredor dava para vários recintos diferentes de cada lado. Um de­les era uma sala de estar, completa, com uma grande TV de plasma, um sofá e poltronas de couro preto e um micro-system nas prateleiras ao longo da parede.

O outro recinto parecia um escritório. Havia uma mesa ao fundo com um computador, uma luminária e um telefone. As prateleiras estavam repletas de livros de diversos tipos e tamanhos. Havia ainda uma gran­de janela para a rua, sob a qual se podia ler numa tar­de chuvosa.

— Obrigado — disse Cullen, por trás dela, pou­sando as mãos em seu ombro. — Quero que conside­re esta casa sua também. Pode fuçar por aí à vontade para descobrir onde fica tudo. Não se acanhe em pe­dir, se precisar de alguma coisa.

Ela respondeu com um breve meneio, mas sabia que nunca deixaria de se sentir como uma visita.

— Você está cansada? — perguntou Cullen, mas-sageando sua nuca com seus dedos longos e fortes.

— Não exatamente — respondeu ela, embora não conseguisse evitar um bocejo. Sua cabeça pendeu para frente e seus olhos se fecharam lentamente.

— Por que não desfazemos as malas e nos instala­mos então? — sugeriu ele, baixando os braços e dan­do um passo para trás.

Ela se empertigou, soltando um gemido por conta da interrupção abrupta da massagem.

— Talvez então possamos ir para a cama.

— Eu já lhe disse que não estou muito cansada. Eu

dormi no avião.

Ele ergueu uma sobrancelha negra com um brilho diabólico em seus olhos azuis.

— E quem falou em dormir?

 

Cullen estava sentado aos pés da cama, atento aos sons vindos dos movimentos de Misty no banheiro, De tanto em tanto ele a via pela fresta da porta, colo­cando alguma coisa na pia ou rearrumando o armário para dar espaço aos seus potes e frascos.

Ele havia levado metade da noite para convencê-la a desfazer as malas completamente e se sentir em casa e não deixar os seus pertences na mala ou numa única gaveta como ela queria.

Misty estava guardando suas coisas onde elas esta­riam se morasse naquela casa, embora o fizesse com certa relutância.

Ele respirou fundo e massageou a própria testa, tentando desfazer as rugas de preocupação. Seria mais complicado do que havia imaginado.

Aquele era o lugar de Misty e do bebê. Ele os que­ria ao seu lado, em sua casa, em sua vida, mas queria que eles também desejassem estar lá e, a julgar pela expressão no rosto de Misty cada vez que ele fazia al­gum comentário a respeito, ela não parecia interes­sada.

Os sons dos seus movimentos na banheira foram desaparecendo aos poucos. Ele ergueu a cabeça para ver Misty de pé na porta do banheiro. Ela não se pa­recia em nada com aquela mulher que ele havia co­nhecido no cassino, em Las Vegas, quatro anos atrás.

Naquela época ela estava usando um figurino bas­tante reduzido, coberto de lantejoulas, que ressaltava todos seus atributos femininos.

Agora ela parecia uma mãe da Associação de Pais e Professores ou uma socialite de Manhattan, o tipo sexy que elevava a temperatura de todos os homens e afiava a língua de todas as mulheres. Ele conhecia muito bem os dois lados daquela moeda.

Ela estava redondamente enganada em acreditar que não se adequaria à sua família ou ao estilo de vida de Nova York. Misty poderia se adequar a qual­quer lugar do mundo. Ela, na verdade, era o tipo de mulher que forçava o mundo a se conformar a ela e não o contrário: ela era vibrante, bela e autoconfian-te. Exceto ali, quando parecia nervosa e insegura.

Ele se ergueu e deu dois passos na sua direção.

— Tudo bem?

Ela assentiu, mas os dentes mordiscando o seu lá­bio inferior a traíram.

— Acho que sim. Não sei se você vai gostar da ar­rumação que fiz. Tinha muita coisa para guardar e acabei tendo que mudar alguns objetos de lugar.

— Tenho certeza de que ficou bom.

Ela ficou com o olhar distante e Cullen revirou os olhos, decidindo que precisava fazer alguma coisa para ela não enlouquecer até o final da noite.

— Venha cá, Misty — disse ele suavemente. Sem fazer nenhuma pergunta, ela foi até ele. Seus chinelos rosa de salto baixo estavam quase desapare­cendo sob o pêlo grosso e alto do tapete do quarto.

Ele a envolveu num abraço, aconchegando-a con­tra o peito.

— Não fique nervosa — sussurrou ele contra o seu cabelo. — Seu lugar é aqui. Comigo.

Ela não respondeu, mas ele sentiu o tremor que percorreu todo o seu corpo. Ele beijou sua têmpora sua bochecha e então seus lábios, sentindo-se arder de prazer quando ela os abriu para recebê-lo.

Cullen passou os dedos pelo cabelo de Misty, se­gurando-a enquanto suas línguas exploravam uma à outra. Todos os hormônios até então adormecido vol­taram à vida, incendiando sua corrente sanguínea.

Quatro meses haviam se passado. Quatro longos meses de abstinência, durante os quais ele havia so­nhado constantemente com ela e fantasiado em levá-la para a cama, sem no entanto realizar seu desejo, já que ela o evitara para esconder a gravidez.

Sua mão deslizou pelo corpo dela, pousando sobre o monte de sua barriga. Sobre seu filho.

Ele ergueu a cabeça, respirando com dificuldade.

— Eu quero fazer amor com você, Misty, mas te­nho medo de machucá-la.

— Você não vai me machucar — disse ela com suavidade.

Ele manteve a mão esquerda sobre o ventre dela e. segurou seu rosto com a direita.

— Mas nunca fiz amor com você grávida e você acabou de sair do hospital...

Ela imitou a postura dele, colocando uma mão em seu peito e segurando o seu queixo com a outra.

— Eu fui parar no hospital porque não me cuidei direito, não porque havia algo de errado com o bebê. Eles me mantiveram lá até terem certeza de que eu estava recuperada e você tem cuidado muito bem de mim desde então. Você nem me deixa andar sozinha — acrescentou ela com um sorriso provocante. Estou bem e quero que você faça amor comigo.

Cullen perdeu o fôlego com o impacto daquelas palavras. Ela o havia feito se sentir o homem mais poderoso do mundo. Ela o havia tratado como a um herói, seu herói, e era exatamente o que ele desejava ser para ela.

Ele a soltou apenas tempo suficiente para dar a volta na cama, puxar as cobertas e diminuir as luzes. Voltou então para o seu lado, inclinou a cabeça dela para trás e a beijou, mostrando-lhe o quanto a desejava.

Eles começaram a despir um ao outro, lentamente. As mãos dele deslizaram por baixo da camiseta dela, deleitando-se na maciez sedosa da sua cintura ao puxá-la para cima. Os dedos dela brincavam com os botões da camisa dele, abrindo-os um por um.

Erguendo os seus braços, ela permitiu que ele pas­sasse a camiseta por cima de sua cabeça. Assim que se viu livre da peça de roupa, retribuiu o favor, cor­rendo as mãos pelo peito de Cullen e tirando a sua ca­misa pelos ombros. Seus dedos traçaram uma trilha de calor abrasador por onde passaram, deixando-o sem ar.

Ela beijou a base da garganta de Cullen. Ele teve de cerrar os punhos para se conter e não a jogar na cama imediatamente, tomando-a como um criminoso recém-saído da prisão.

Ele abriu a calça de Misty e a deslizou por suas pernas, deixando que ela se apoiasse em seus om­bros. Ajeitando-se mais uma vez, ele admirou toda a beleza e sensualidade dela. Ela era apenas poucos centímetros mais baixa do que ele e suas curvas já ha­viam feito muitos homens derraparem.

Aos quatro meses de gravidez, porém, ela estava decididamente de dar água na boca. Um misto de ma-dona e felina. Cullen ficou se perguntando o que teria feito para merecer tal presente.

Seus seios despontavam das taças de renda do seu sutiã recatado, bem maiores do que antes, mas foi a barriga dela que atraiu o seu olhar. Seu filho descan­sava dentro daquele monte firme do tamanho de meia bola de basquete.

Ajoelhando-se, ele colocou uma mão de cada lado da cintura de Misty e se inclinou para pressionar os lábios contra a pele esticada. Ele sentiu uma emergência repentina e insana de falar com a pequena vida do outro lado. Dar um alô e dizer ao seu filho que mal via a hora de conhecê-lo... ou conhecê-la. De prome­ter amor e proteção incondicionais.

Em vez disso, porém, ele ergueu a cabeça e encon­trou olhos cor de esmeralda.

— Como é estar grávida? — ele perguntou com suavidade. Por um momento achou que ela poderia rir de uma pergunta tão ridícula. Tolice. Ele deveria saber que Misty nunca faria pouco da emoção sincera de uma outra pessoa.

Ela olhou para ele e passou a ponta de seus dedos por seu cabelo enquanto um pequeno sorriso brinca­va em seus lábios.

— Que parte? Os enjoos matinais? Os seios maio­res e sensíveis? Ou os desejos bizarros no meio da noite?

— Tudo. Quero saber de tudo.

Ainda de joelhos, ele a virou até deitá-la de costas e então a ergueu para que ela sentasse na ponta do colchão. Não era fácil ficar onde ele estava, mas ele precisava ouvir aquilo, precisava saber o que havia perdido.

— Os enjoos matinais não foram nada divertidos. Eu sofri desde o momento em que acordava até o iní­cio da tarde nos primeiros três meses.

Ela fez uma careta que ergueu os cantos da boca de Cullen num pequeno sorriso.

— Meus seios estão maiores — disse ela, indican­do-os com o olhar — mas disso acho que você vai gostar. Estão mais sensíveis também, mas nada insu­portável. É só ter cuidado.

Ele acedeu. Ela não precisava se preocupar com isso. Já se sentia como uma bonequinha de porcelana nas grandes mãos dele. Ele jamais faria alguma coisa que a machucasse ou causasse desconforto.

— Os desejos foram interessantes. Sabia que eles ficariam cada vez mais complicados, mas ainda as­sim já me surpreendi louca por coisas como aspargos e cerejas marrasquino. — Ela baixou então o olhar e suas bochechas ganharam um leve tom rosado. — Houve uma vez em que fui até uma loja de conve­niências para comprar roscas com açúcar. Comprei todas as caixas, tanto do tamanho normal, quanto do mini, fui para casa e comi todas com seis copos de leite, assistindo às reprises de I Love Lucy.

Ele gargalhou, imaginando-a enroscada no sofá em meio a uma avalanche de pó branco e desejou ter compartilhado o momento com ela. Desejou ter sido ele a pessoa a sair correndo para a loja de conveniên­cias no meio da madrugada à procura da estranha iguaria que ela estivesse desejando.

— E o bebê? Como é a sensação de ter uma vida dentro de você?

Ela molhou os lábios e os seus seios se ergueram quando ela respirou profundamente.

— Você quer mesmo saber? — perguntou ela.

Mais do que qualquer outra coisa.

Claro.

— Aterrorizante.

Ele franziu as sobrancelhas. Não era a resposta que estava esperando.

— Todo dia, quando acordo, descubro uma nova mudança no meu corpo. Meus seios vão estar maio­res, meu estômago mais arredondado, minhas mãos e tornozelos inchados. Sem falar na ideia de como o bebê é pequenino.

Ela estendeu as mãos sobre a sua barriga cobrindo a de Cullen ainda pousada lá.

— Sei que ele está crescendo a cada dia, mas ainda é um serzinho minúsculo e completamente indefeso que depende de mim por nove longos meses. Eu me preocupo com tudo o que boto na boca. Com quanto durmo, com os sapatos que eu estou usando, se eu es­tou sentada muito perto da televisão...

A sua expressão ficou mais séria e ela apertou os punhos.

— Fui tão cuidadosa, de verdade,e veja o que aconteceu... acabei indo parar no hospital. Pode ima­ginar o que poderia ter acontecido se não estivesse prestando atenção a cada refeição que eu fizesse e a cada passo que desse?

Sua voz foi sumindo aos poucos e seus olhos se en­cheram de lágrimas. Ele estendeu a mão para secar a umidade.

— Você está fazendo um bom trabalho — assegu­rou Cullen. — Você só estava trabalhando demais e até isso era pelo bebê. — Seus lábios continuavam tremendo, por isso ele os cobriu com os seus pró­prios, esperando que seus beijos pudessem afastar qualquer dúvida sobre as suas habilidades como mãe. Ele deu vários beijos leves e reconfortantes, beberi-cando do néctar de sua boca em vez de devorá-la da maneira como sua libido exigia.

Quando ele se afastou um pouco para olhá-la, viu que a incerteza havia deixado seu rosto, substituída por uma paixão fervente que espelhava a dele.

— Já sentiu ele se mexer? — ele perguntou, sem se surpreender ao perceber que sua voz estava rouca e áspera.

Ela assentiu e o gesto enviou excitação diretamen-te para sua virilha.

— Você me avisa da próxima vez que acontecer? Eu gostaria de sentir com minhas próprias mãos.

— É claro — disse ela num sussurro.

Era suficiente. Agora que ele já havia obtido res­postas às suas perguntas, eles podiam seguir adiante e se envolver em tarefas mais prazerosas.

Lançando-lhe um olhar malicioso, ele se ergueu e a tomou nos braços, levando-a mais para o alto da cama. Ele se deitou sobre ela admirando a visão e pensando em tudo que queria fazer com ela. Talvez não conseguissem ir até o final da lista naquela noite, mas eles tinham tempo...

Com sorte, ainda teriam muito tempo juntos. Ele passou os dedos pelo cabelo dela, espalhando um halo castanho e dourado em torno de sua cabeça.

— Já lhe disse o quanto você é bonita? Ela sorriu.

— Não que me lembre.

Ele deslizou um dedo sob o alto do seu sutiã e len­tamente o puxou pelo seu braço.

— Você é muito bonita.

Ela arqueou o corpo um pouco para que ele pudes­se alcançar os colchetes da peça. As taças cheias de filigranas se soltaram da sua carne voluptuosa e ele tirou a peça toda de uma vez só, jogando-a por cima da cabeceira da cama.

— Penso isso desde a primeira vez em que a vi. Você estava no palco com todas as outras dançarinas. Todas muito atraentes, mas você se destacava.

Ela teve de respirar fundo quando os dedos dele e depois a língua encontraram o bico de um de seus seios e começaram a brincar com ele.

— Também notei você — disse ela com a voz sô­frega. — Cada vez que a luz se apagava, eu dava uma olhadinha e lá estava você.

Ela passou as unhas no bíceps dele e começou a ar­far quando ele começou a se alternar entre os bicos de seus seios. Ele se lembrou do que ela havia dito sobre a excessiva sensibilidade e foi muito cuidadoso, usando apenas a pressão adequada.

Ele acariciou todo o corpo dela, desde a barriga in­chada até os quadris, enganchando então os polega­res no alto de sua calcinha. Ela ergueu o corpo para ajudá-lo a puxar a lingerie pelas suas pernas até che­gar aos seus pés delicados de unhas cor-de-rosa.

— É a sua vez de tirar a roupa — disse ela, quando ele voltou a mordiscar seus lábios, roçando o jeans em seu joelho desnudo.

— Vou cuidar disso. Promete não sair daqui até eu voltar? — perguntou ele com um sorriso cheio de malícia. Ele sabia muito bem que a tinha na palma da mão.

— Vou tentar não fugir — respondeu retribuindo o sorriso.

Ele saltou da cama e começou a tirar apressada­mente os sapatos e as meias, arrancando depois as próprias calças. Misty se esgueirou até o alto no col­chão, afofou os travesseiros e se reclinou sobre eles assumindo a postura de uma princesa egípcia à espe­ra de seu servo.

Já despido, ele se enfiou na cama ao lado dela, como um grande felino perseguindo a presa. Ele não precisava de espelho para saber que o desejo trans­bordava de seus olhos. A excitação havia tomado conta de todo o seu ser, elevando sua temperatura, fa­zendo seu membro já vigorosamente ereto latejar ainda mais.

Ele se ajoelhou na frente dela e a puxou pelos pul­sos. Olhou-a fixamente por longos segundos, admirando o belo rosto em forma de coração, o brilho dos olhos esmeralda e os lábios macios e aveludados, in­chados pelos inúmeros beijos que já haviam trocado.

Cullen a segurou pela nuca e a beijou novamente, devorando sua boca, sugando sua língua. Ele poderia beijá-la para sempre, pensou, sem nunca se cansar da maciez de sua pele, do sabor da sua boca, do cheiro do seu corpo.

Com os lábios ainda presos aos dela, ele se ergueu lentamente para então se deitar de costas sobre o col­chão, trazendo Misty consigo. Os seios dela roçavam seu peito. Ela então montou sobre seus quadris, apro­ximando-se apenas o suficiente para que ele pudesse sentir o calor que vinha do fundo de seu corpo.

— Já faz tanto tempo... — disse ele, puxando-a para mais perto, praticamente implorando para que ela o acolhesse dentro do seu corpo antes que ele ex­plodisse.

— Eu sei.

Ela estendeu a mão por entre seus corpos e o aca­riciou, fazendo-o arfar e erguer os quadris, enlouque­cido de desejo. Ela então desceu lentamente sobre ele, envolvendo-o por inteiro. Ela se encaixava per­feitamente nele. Era delicioso sentir-se envolvido por aquele calor e aquela umidade.

Quatro meses haviam se passado desde a última vez em que ele havia provado da sua boca doce, des­de a última vez em que havia tomado seus seios fartos nas mãos, desde que a havia sentido apertá-lo daque­la maneira dentro de seu corpo.

Como havia sobrevivido tanto tempo sem ela? Como havia chegado a acreditar que alguma mulher poderia substituí-la ou suprir adequadamente suas necessidades entre uma viagem e outra a Las Vegas? Não era só sexo. Ele arqueou cabeça no travessei­ro e foi à loucura quando ela se ergueu e então desceu novamente, fazendo todo o seu corpo vibrar.

Sexo com ela era maravilhoso, não havia dúvida, mas havia algo mais do que somente atração física.

Ele a havia pedido em casamento por achar que era o certo, por ela e pelo bebê, mas naquele instante... Naquele instante ele também desejava aquilo por si mesmo.

Permanecer ligado a Misty pelo resto de sua vida não lhe parecia má ideia. Tê-la em sua cama, todas as noites, então, seria a cereja do bolo.

Ela apoiou suas mãos no peito de Cullen e come­çou a acelerar, varrendo qualquer pensamento racio­nal da cabeça dele. Ele agarrou os quadris dela, con­duzindo seus movimentos para cima e para baixo, para cima e para baixo, cada vez com mais força e mais intensidade. Os músculos internos dela se fe­charam em torno dele, obrigando-o a cerrar os dentes na tentativa de não perder o controle cedo demais.

— Cullen — gemeu ela, mordendo o lábio inferior e jogando a cabeça para trás, fazendo com que seu cabelo caísse em ondas brilhantes e multicoloridas so­bre seus ombros desnudos.

— Misty — retrucou ele com a mesma emoção. Ela soltou um som agudo que reverberou na pele de Cullen, nos seus ossos, na sua alma. Ela enterrou as unhas em seu peito e vibrou de prazer sobre seu corpo, gozando profunda e intensamente. Ele a se­guiu em direção ao êxtase, à felicidade... e ao futuro que teriam juntos.

Cullen a tomou nos braços, exausta, e deitou ao seu lado, de frente para ele, de modo que ela pudesse acomodar sua barriga.

— Bem — disse ela, com minúsculas gotas de suor sobre as bochechas rubras e sobrancelhas — esta foi certamente uma maneira muito impressionante de me dar as boas-vindas em sua casa.

Ele riu, abraçando-a com mais força, afastando al­gumas mechas de cabelo úmido de seu rosto.

— Isto não foi um sexo "bem-vinda à minha casa" — disse ele. — Foi um sexo "um-dos-muitos-prêmios-que-a-esperam-se-você-aceitar-se-casar-comigo".

Ele percebeu que ela havia ficado tensa antes mes­mo de encontrar seu olhar brilhante, mas não lhe deu tempo de responder.

— Case-se comigo, Misty. Diga que sim.

 

O adorável calor que corria pelas veias de Misty de­pois do amor congelou diante daquelas palavras.

Se ele soubesse o quanto ela desejava aceitar o pe­dido...

Como a maioria das menininhas, ela havia passado a maior parte de sua infância e adolescência imagi­nando como seria seu "Príncipe Encantado", com quem seguiria montada em um cavalo branco até um castelo distante onde seriam felizes para sempre.

Com o passar do tempo, porém, Misty foi perce­bendo que aqueles devaneios eram pura fantasia. Ha­via mais sapos do que príncipes no seu reino...

Cullen, definitivamente, era o mais príncipe de to­dos, mas não era preciso ser nenhum génio para saber que eles não combinavam. Ela simplesmente não era a princesa certa para ele.

Misty soltou um suspiro resignado enquanto dese­nhava com os dedos no peito desnudo de Cullen, evi­tando seu olhar.

— Já lhe disse, Cullen. Não posso me casar com você.

Ele deu de ombros.

—Bem, tenho o direito de tentar.

Apesar de não o ter aceito, Misty achara o pedido extremamente lisonjeiro. Ele querer dar ao seu filho uma verdadeira família e seu sobrenome influente só fez com que ela o respeitasse ainda mais.

—Não me peça de novo, por favor — pediu ela delicadamente. Era muito doloroso ser lembrada a todo instante do que não poderia ter, e ela sabia que seria cada vez mais difícil rejeitá-lo se ele insistisse no assunto.

— Sinto muito — respondeu ele astutamente, vi-rando-se até ficar em cima dela, suspendendo o pró­prio peso nos braços musculosos. — Não posso pro­meter isso.

Depois a beijou, fazendo-a esquecer todas as ra­zões que tinha para dizer não.

A manhã seguinte encontrou Misty com o coração acelerado, suando como se tivesse passado as últimas horas numa sauna. Seu estômago estava embrulhado. Um desavisado acharia que ela estava sofrendo nova­mente com os enjoos matinais.

Era terrível. Pura tortura. Como Cullen podia fazer aquilo com ela? Marcar um encontro com seus pais!

Ela o viu enfiar a cabeça na porta do quarto e teve ganas de atirar alguma coisa nele, mas, infelizmente, o único objeto à mão era uma gaveta repleta de rou­pas íntimas rendadas. Ele provavelmente ficaria mui­to feliz se ela jogasse uma delas na sua cara.

— Está pronta? — perguntou ele.

Ela olhou para si mesma, parada no meio do quar­to, apenas de calcinha e sutiã.

— Pareço pronta? — provocou ela, arrependendo-se logo depois.

Ele não tinha culpa de que ela estivesse à beira de um ataque de nervos, embora tivesse sido ideia dele o encontro com os seus pais.

A amante grávida trazida para casa para conhecer o papai e a mamãe.

Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela se vi­rou rapidamente, antes que ele pudesse notá-las. Mis-ty queria acreditar que estava com a sensibilidade exacerbada por causa da gravidez, mas sabia que ha­via muito mais em jogo.

Ela estava completamente aterrorizada com o que poderia acontecer nas próximas horas. Incêndios, en­chentes, epidemias... A lista em sua mente não para­va de crescer.

— Eii

A voz baixa e suave de Cullen a alcançou por trás de sua orelha esquerda, enquanto as mãos dele desli­zavam pelos seus ombros, seguindo pela extensão dos seus braços. Ela ficou toda arrepiada.

— O que há de errado?

Ela riu sarcasticamente. O que não estava errado?

— Não quero fazer isso — disse ela do fundo do coração. — Seus pais vão me odiar. Eles vão me cul­par por tê-lo corrompido, por tentar o golpe do baú e não sei o que vestir no meu próprio julgamento — disse ela num tom cada vez mais agudo, que denun­ciava o pânico que havia se infiltrado em suas pala­vras.

Cullen riu e tentou confortá-la.

— Você está se preocupando à toa, minha querida. Meus pais estão loucos para conhecê-la. Ninguém vai tratá-la mal. Eu jamais permitiria.

As palavras dele lhe trouxeram um pouco de alí­vio. Não deu um fim a todos os seus temores, mas certamente aliviou um pouco a pressão que sentia nos pulmões e diafragma.

— Longe de mim querer dar palpites na roupa de uma mulher, ainda mais quando o figurino atual é tão interessante, mas acho melhor você vestir mais algu­ma coisa antes de ser apresentada aos meus pais.

Misty soltou um gritinho ao perceber que ainda es­tava de roupa de baixo. Desvencilhou-se rapidamen­te dele e seguiu em disparada até o armário.

É claro que nada do que ela havia trazido parecia apropriado para a ocasião. Naquele exato momento, nem mesmo um hábito lhe pareceria suficientemente recatado.

— Não acredito que deixei você fazer minha mala — resmungou ela, novamente estressada. — Você só trouxe lingeries! Não posso conhecer seus pais deste jeito! O que é que você estava pensando?

— Estava pensando que você é muito sensual, não importa o que esteja vestindo.

Ele foi até ela para ajudá-la a escolher uma roupa. — O que acha disto? Não é uma peça de lingerie. Ela avaliou a saia e a blusa que ele segurava. Não eram exatamente recatadas, mas também não eram nada de muito terrível. Uma saia coral com um baba­do que chegava quase até os joelhos e uma blusa de estampa floral com um decote em V bem pronuncia­do e um tecido solto e enrugado nos ombros no lugar de mangas.

O decote era um pouco grande, mas talvez fosse possível dar um jeito com um alfinete de segurança. A estampa em rosa, vinho e marrom ajudaria a disfar­çar a barriga expandida.

— Combina até com o seu sutiã e a sua calcinha — anunciou Cullen orgulhosamente. — Não sou tão ruim assim em fazer malas, afinal.

Ela se enfiou na saia, ajeitando-a em torno da bar­riga, alinhando as costuras. Depois vestiu a blusa e saiu correndo para o banheiro para checar o resul­tado.

Ela não parecia uma puritana, mas também não se assemelhava ao estereótipo de uma ex-corista. Dava para o gasto.

Felizmente, ela havia orientado Cullen quanto aos sapatos e acessórios que ele deveria pôr na mala, de modo que pôde usar suas sandálias cor de chocolate e suas argolas de ouro para complementar o visual.

A campainha tocou exatamente quando ela estava terminando de colocar os brincos. Ela teve um so­bressalto. O som se repetiu.

— Devem ser eles — disse Cullen, entrando no ba­nheiro com ela.

Ele sorriu encorajadoramente para ela e lhe deu um beijo na bochecha.

— Você está linda. Respire fundo e relaxe. Desça quando estiver pronta, certo?

Ela engoliu em seco e respirou fundo como ele ha­via sugerido. A campainha tocou ainda uma terceira vez enquanto Cullen descia as escadas.

Misty sentiu o estômago revirar como se estivesse num carrossel, mas se conteve e deu os últimos reto­ques no cabelo, além de passar uma última camada de batom.

Ela poderia dar conta daquilo, repetia para si mes­ma. Tudo o que precisava fazer era colocar um pé na frente do outro e seguir até lá embaixo. Direto para a cova do leão.

Apesar de ter dito a Misty que não havia com o que se preocupar, Cullen tinha de admitir que também es­tava apreensivo.

Ele havia ligado para os seus pais, ainda do hospi­tal, assim que soube que Misty estava grávida, para anunciar que eles seriam avós. Como Daniel e Aman-da já haviam se divorciado havia muitos anos, foram necessárias duas ligações diferentes e duas confis­sões no mesmo dia.

Seu pai havia passado por uma situação semelhan­te. Aos dezoito anos, havia sido obrigado pelo seu pai antiquado e dominador, Patrick Elliot, a se casar. Cullen achou que ele lhe passaria um sermão, que lhe diria que ele deveria ter sido mais cuidadoso, que nunca deveria sequer ter se envolvido com uma co­rista, que ela provavelmente não passava de uma caça-dotes e que blá, blá, blá, mas que já que o estra­go estava feito, era preciso fazer a coisa certa.

Daniel, porém, foi muito simpático e compreensi­vo. Deu um único conselho a Cullen: "Faça o que achar certo."

Ele não queria que Cullen cometesse os mesmo er­ros que ele, sentindo-se culpado e permitindo que o forçassem a se casar simplesmente porque havia uma criança envolvida.

Cullen teve a sensação de que o pai aceitaria qual­quer decisão sua, fosse de se casar com Misty, ou ser um pai à distância.

O teor da conversa com a mãe havia sido pratica­mente o mesmo, embora num tom muito diferente. Amanda Elliot, a grande advogada, ficou com a voz imediatamente embargada assim que soube que seria avó. Ela implorou para que Cullen trouxesse Misty para Nova York tão logo ela estivesse em condições. Havia se disposto até mesmo a voar até Las Vegas para conhecê-la, caso Misty não pudesse viajar.

Ela não mencionou o assunto casamento, talvez por esperar que ele fizesse a coisa certa, ou então por­que simplesmente não fazia diferença para ela. A única coisa que lhe importava no momento era o neto a caminho.

Cullen havia telefonado para os dois na noite em que chegara a Nova York, enquanto Misty desfazia as malas, convidando-os para conhecerem a futura nora. Ele não havia dito nada sobre o pedido de casa­mento que havia feito a Misty, já que ela o havia re­jeitado por duas vezes.

Cullen abriu a porta vigorosamente antes que a campainha pudesse soar pela terceira vez. Aquilo já o estava enervando e ele podia imaginar o efeito sobre Misty.

Seus pais estavam do outro lado da porta. Não era muito frequente vê-los juntos depois do divórcio. Ele não pôde deixar de pensar que ainda formavam um belo par.

Eles já tinham se separado havia muitos anos, mas o menino dentro dele ainda desejava que eles pudes­sem ter se entendido. Que ele e Bryan não tivessem tido que sofrer todo aquele abalo emocional.

Ele não-queria o mesmo para seu filho. Se Misty finalmente aceitasse o pedido de casamento, ele mo­veria céus e terra para manter o matrimónio até o fim.

— Oi, pai. Oi, mãe.

Ele deu um passo para trás para dar passagem aos dois.

— Oh, Cullen — disse sua mãe já chorando, pas­sando os braços em torno do seu pescoço e abraçan­do-o com força. — Estou tão feliz por você! Sei que tudo aconteceu meio de surpresa, mas sei também que você vai ser um ótimo pai.

— Obrigado, mamãe.

Ela prosseguiu, com a mão sobre o coração, como se Cullen não tivesse aberto a boca.

— Eu finalmente vou ser avó.

Cullen voltou-se para o pai. Daniel estendeu a mão. para cumprimentá-lo e deu um tapinha em suas cos­tas, num gesto paternal de apoio.

— Onde está a jovem que viemos conhecer? Aquela carregando o nosso neto na barriga?

Não havia nenhuma espécie de censura em sua voz, apenas curiosidade.

— Lá em cima. Teve um pouco de dificuldade para decidir o que vestir, mas já está vindo.

— Conheço muito bem a sensação — retrucou a mãe com um sorriso.

— Escutem — disse ele, aproximando-se dos pais e baixando um pouco o tom de voz. — Misty está muito nervosa com a perspectiva de conhecer vocês, portanto tentem não a deixar ainda mais desconfortá­vel. Nada de perguntas embaraçosas ou comentários impróprios sobre sua antiga profissão, certo?

Um lampejo de mágoa cruzou o rosto de sua mãe.

— Nunca faríamos uma coisa dessas.

Ele soltou um suspiro e esfregou as palmas suadas sobre as pernas.

— Eu sei, só não quero que ela se estresse e acabe parando no hospital novamente.

Seu pai bateu em suas costas e lhe deu um sorriso cúmplice.

— Pare de se preocupar. Sua mãe e eu vamos nos comportar muito bem.

Enquanto ainda esperavam pela chegada de Misty, Amanda comentou:

— Já soube sobre a sua prima Scarlet e John Harlan? Cullen franziu as sobrancelhas.

— Não, o que aconteceu com eles?

— Estão noivos — completou Daniel.

— Não é maravilhoso? — perguntou Amanda.

— É. — Isso certamente explicava aquele com­portamento estranho que ele havia presenciado no UneNuit da última vez em que os encontrara. — Te­nho que ligar para eles para dar os parabéns. — Sem falar na bronca que daria no amigo por não ter conta­do nada a respeito.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Cul­len ouviu um som no alto das escadas. Era Misty, no final do corredor do segundo andar. Ela estava linda e ele se encheu de orgulho. Aquela era a mulher com quem ele pretendia se casar. A mãe do seu filho. A única mulher que ele quisera apresentar oficialmente aos seus pais.

Apesar de estar um pouco ansioso pelo resultado daquela pequena reunião matinal, ele não se sentia desconfortável ou embaraçado por causa de Misty.

— Querida, venha aqui embaixo conhecer os meus pais.

O coração dela batia acelerado. Suas mãos esta­vam suando. Ela ficou tão tonta que teve de se agarrar ao corrimão.

O fato de Cullen tê-la chamado de querida não ha­via ajudado em nada. Ele jamais havia usado aquela expressão antes na intimidade e agora o estava fazen­do na frente de seus pais.

Misty desceu as escadas lentamente, aproveitando para observar o casal.

Apenas alguns centímetros mais baixo do que o fi­lho, Daniel Elliot vestia um terno azul impecável. O paletó desabotoado lhe conferia um ar mais casual. Seu cabelo negro e os olhos azuis eram tão parecidos com os do filho que era óbvio que eram parentes, em­bora fosse difícil acreditar que Daniel tivesse idade para ser o pai de Cullen. Misty sabia que ele devia es­tar com pouco mais de quarenta, mas achou que ele parecia mais jovem.

Amanda tinha cabelos castanhos escuros que iam até a altura do seu queixo e olhos igualmente casta­nhos. Ela era um pouco mais baixa que o ex-marido e o filho e tinha um corpo cheio de curvas. Estava usando uma saia vermelha sofisticada e um blazer combinando.

Lá estavam os três Elliot observando-a descer as escadas com o que parecia ser um misto de avidez e ansiedade.

 

Ela não podia culpá-los. Se não fosse pelo sorriso encorajador de Cullen, ela já teria voltado correndo para cima há muito tempo e se trancado no banheiro.

Assim que ela chegou suficientemente perto, Cul­len estendeu a mão e a trouxe para o seu lado. Misty deixou-se levar de boa vontade, precisando de apoio físico e emocional. Ele manteve os seus dedos entre­laçados aos dela e passou o outro braço em torno da cintura dela, de forma que a palma da sua mão repou­sasse sobre a sua barriga de grávida.

— Mãe, pai — disse ele com orgulho — esta é Misty Vale.

Depois de um momento de completo silêncio, a mãe de Cullen se lançou nos braços de Misty e lhe deu um abraço entusiasmado.

—Seja bem-vinda à nossa família — disse ela. — Olhe só para você!

Ela colocou as duas mãos sobre a barriga protube-rante de Misty, circundando a massa firme e redonda. Misty enrijeceu, surpresa com a súbita intimidade, mas em seguida relaxou, ao lembrar que se tratava da mãe de Cullen... A avó de seu filho.

— Misty — disse o pai de Cullen, passando à fren­te da exuberante Amanda para lhe estender a mão. — Como Amanda já disse, seja bem-vinda à nossa famí­lia.

Ela ficou sensibilizada com a ternura dos dois e por um minuto chegou a se sentir uma Elliot. Como a verdadeira noiva de Cullen, não como sua amante grávida.

Ela pigarreou, rezando para que sua voz saísse di­reito.

— Obrigada, mas não sou realmente da família. Sou apenas...

Daniel a interrompeu antes que ela encontrasse a definição apropriada.

— Você está carregando meu neto na sua barriga, a próxima geração dos Elliot. Isto a torna parte de nossa família.

Lágrimas brotaram em seus olhos e o ar lhe faltou por um momento. Ela olhou para Cullen, apertando a sua mão com força, num pedido desesperado de so­corro, antes que ela desabasse em prantos.

— Por que não vamos até a cozinha — disse ele, apertando a mão dela para lhe passar confiança. — Misty e eu ainda não tomamos café. Vocês poderiam tomar uma xícara de café conosco enquanto conver­samos.

 

Cullen fez omeletes enquanto conversavam. Misty lhe disse que não estava com fome e na verdade ela ainda estava nervosa demais para comer, mas ele in­sistiu. Ela tinha que comer por dois, argumentara ele, sem esconder sua felicidade.

Ela tinha que admitir que a omelete estava delicio­sa As primeiras garfadas haviam sido dadas sem muita convicção, apenas para não magoar Cullen, mas o sabor havia despertado o seu apetite e a fizera perceber o quanto estava faminta.

Misty sabia que Daniel e Amanda eram divorcia­dos e que as coisas entre eles, pelo que Cullen havia contado, nem sempre haviam sido muito amigáveis, mas aquilo não transparecia da maneira pela qual se tratavam.

Daniel havia puxado a cadeira para Amanda e pas­sado o creme e o açúcar assim que Cullen os serviu, e ela agiu como se aquilo fosse absolutamente normal.

Misty achou melhor não dizer nada a Cullen, mas algo lhe dizia que havia alguma coisa renascendo en­tre os dois.

— Não é que eu não esteja feliz por você — disse o pai de Cullen, num tom reservado — mas você conhece seu avô. Ele vai querer se pronunciar a respeito e tenho certeza de que ele não terá nada de agradável para dizer.

Misty continuou mastigando cuidadosamente en­quanto observava os três trocarem olhares.

— Você sabe o que penso a respeito — respondeu Amanda, apertando a caneca com força. — Eu man­daria o velho para o inferno. O modo como você con­duz a sua vida não interessa a ninguém. A minha pró­pria vida teria seguido um rumo muito diferente se Patrick Elliot não tivesse sido tão tirânico conosco.

Apesar das palavras cáusticas, o tom de voz de Amanda não era hostil. Ela parecia apenas estar afir­mando os fatos e dizendo a seu filho para não deixar que a opinião do seu avô influenciasse as suas atitu­des. Foi o suficiente para fazer a omelete leve que Cullen havia preparado cair como uma pedra no estô­mago de Misty.

— Não posso controlar os pensamentos do vovô — disse Cullen aos seus pais, tensionando os lábios.

— Irei ao Texas para conversar com ele assim que ti­ver chance. Talvez ele consiga lidar melhor com a si­tuação se ouvir a notícia de mim.

Daniel fez apenas um meneio solene, enquanto Amanda continuou bebendo o café, abstendo-se de qualquer comentário.

Misty pousou o garfo no prato e cruzou as mãos sobre o colo. Seu apetite havia sumido. Aquilo era muito desconfortável. Eles estavam falando dela como se ela não estivesse presente.

—Você não tem de fazer isso — disse ela a Cullen — Não quero causar problemas a ninguém da sua família. Eu posso simplesmente ir embora e...

— Não — disse ele enfaticamente. — Você vai fi­car aqui! E não vai causar problema algum. Meu avô pode aceitar os fatos ou não, a escolha é dele, mas isso não nos afeta em nada.

— Cullen — tentou ela mais uma vez.

— Misty — disse ele sorrindo, para então lhe dar um beijo rápido e forte. — Não. Desista.

Ela não sabia ao certo como responder a ele sem dar início a uma discussão acalorada na frente dos pais dele.

Daniel checou o relógio e pigarreou para quebrar o silêncio, puxando o banco para trás.

— É melhor eu ir. A Snap não funciona sozinha. Você, porém, pode tirar uns dias de folga — acres­centou ele, com um olhar carinhoso para o filho.

— Oh, meu Deus, olha só que horas são — disse Amanda, num sobressalto, ajeitando o blazer. — Também tenho que ir. Tem um cliente à minha espe­ra. Misty, foi um prazer conhecê-la. Espero encontrá-la mais vezes enquanto estiver na cidade.

Ela deu a volta na mesa para dar um beijo na bo­checha do filho e então envolveu Misty num abraço sufocante.

— Divirtam-se e cuidem bem do meu neto. Misty teve um novo sobressalto quando a mão de

Amanda roçou novamente a sua barriga, mas conse­guiu aceder em resposta. A aceitação incondicional de Amanda a havia deixado sensibilizada.

— Vou acompanhar vocês até a porta — disse Cullen. Depois passou uma mão distraidamente pelo braço de Misty antes de seguir os seus pais. — Você fica aqui para terminar a omelete.

Misty notou a mão de Daniel pousada sobre o om­bro de Amanda quando ela parou para pegar a bolsa. Havia algo acontecendo entre os dois, pensou ela, o que, de certa forma, lhe proporcionou uma certa es­perança.

Saber que Daniel e Amanda haviam sido forçados a se casar por causa de uma gravidez inesperada e que, mesmo assim, ainda gostavam um do outro após tantos anos, fez com que ela chegasse a pensar que ela e Cullen poderiam ter alguma chance.

 

Cullen fez um último aceno para a mãe. Seu pai deteve-se ainda por um momento na entrada e se vol­tou para ele assim que Amanda sumiu de vista.

— Gostaria que você me contasse sobre a conver­sa com seu avô, se for mesmo falar com ele. Você tem razão quanto a não o deixar controlar sua vida, mas ele pode dificultar as coisas para você e Misty. Eu só queria alertá-lo.

O olhar sombrio de Daniel revelou mais sobre o próprio arrependimento dele do que suas palavras. Cullen não queria cometer os mesmos erros, mas ao que parecia, pelo menos até o momento, ele estava seguindo todos os passos do pai.

— Obrigado, papai. Sei que meu avô não vai ficar muito contente quando souber que engravidei uma ex-corista, mas espero que ele mude de ideia com o tempo.

— Espero que aconteça logo — concordou Daniel, sorrindo. — Filho, sei que isto não é da minha conta, mas você já pensou em fazer a coisa certa? Quero di­zer, casar com ela?

— Eu já a pedi em casamento, mas ela recusou. Seu pai arregalou os olhos, mas permaneceu em si­lêncio.

— Não se preocupe — acrescentou Cullen. — Es­tou determinado a fazê-la mudar de ideia.

Daniel pensou por um momento e então com um meneio de cabeça, disse ao filho:

— Tenho certeza que você vai conseguir. Daniel permaneceu ainda alguns segundos sem encarar o filho. Depois pigarreou e disse:

— Há mais uma coisa que queria lhe dizer. Meu casamento com Sharon finalmente terminou.

Cullen viu a tensão que havia no rosto de seu pai se desfazer depois da confidência. O divórcio de sua se­gunda mulher havia sido longo e extenuante. Sharon tinha feito de tudo para arrancar o máximo possível de Daniel.

Cullen apertou o braço de seu pai, num gesto de apoio.

— Fico feliz por você, pai.

Os dois se despediram e Cullen voltou para a cozi­nha. Misty não havia tocado mais na omelete, mas ti­nha bebido todo o copo de leite que ele havia lhe ser­vido.

Ele sabia que ela estava tomando vitaminas, mas queria se certificar de que estava cuidando da alimen­tação também.

— E então, o que achou dos meus pais? — pergun­tou ele, ajudando-a a sair do banco.

— Eles foram muito gentis. Maravilhosos, na verdade. — Ela mordeu o lábio inferior, pensativa. — Não esperava que eles aceitassem tudo tão bem assim.

— Eu disse a você. Minha mãe está enlouquecida com a perspectiva de se tornar avó, se é que você não percebeu — disse ele, lançando-lhe um largo sorriso.

Ela gargalhou e se enroscou em seu pescoço.

— E como! Acho que ninguém nunca demonstrou tanto interesse na minha barriga.

— Ah, é? — disse ele, tocando a barriga de Misty.

— Exceto você, é claro. Não desgruda dela nem quando está dormindo.

— É melhor ir acostumando. Tenho muitos mo­mentos perdidos para compensar.

Ele deslizou a mão pela cintura dela até alcançar suas costas, chegando até a curva das nádegas. Ela jo­gou a cabeça para trás com um gemido e cobriu seu pescoço de beijos.

— E então, o que me diz? — murmurou ele contra a sua pele quente. — Está pronta para se casar co­migo?

Ele sentiu os músculos dela se retesarem por um segundo e então relaxarem.

— Ainda não — respondeu ela, antes de voltar o rosto na direção dele para um beijo lento e demorado.

Talvez ela estivesse começando a mudar de ideia, pensou Cullen enquanto os seus dedos dançavam pelo seu braço e a língua dela começava a fazer coi­sas selvagens e sensuais no interior de sua boca.

Ainda não, afinal de contas, não queria dizer não...

Eles fizeram amor ali mesmo, na cozinha. Cullen a tratou como se ela fosse uma boneca de porcelana.

Eles se arrumaram e Cullen se ofereceu para mos­trar a cidade, já que havia tirado o dia de folga e ela nunca tinha ido a Nova York.

Eles pegaram um táxi até o Central Park, onde pas­saram a tarde ensolarada de maio passeando de mãos dadas, admirando as árvores, as fontes e as crianças que brincavam por lá.

Ele mostrou a ela a Estátua da Liberdade, o edifí­cio Empire State, o Radio City Music Hall e a guiou pela sede da Editora Elliot, na Park Avenue, entre as Ruas Cinquenta e Cinquenta e Um.

Só a entrada abrangia dois pisos inteiros, com ja­nelas altas e tantas árvores e plantas que mais parecia uma estufa.

Cullen parou numa das grandes cabines de segu­rança e pegou um crachá para ela. Aquilo provavel­mente não seria necessário, ele explicou, mas daque­la maneira ela não iria provocar perguntas ou preocu­pações, caso se separassem por algum motivo.

Ele usou o seu cartão de identidade para acionar o elevador.

O terceiro andar abrigava todo o serviço de correio e transporte do prédio. O refeitório ficava no quarto andar e a academia de ginástica no quinto. Ela sabia que Cullen passava um bom tempo nela, às voltas com pesos e aparelhos. Sentia o resultado de tanto es­forço na ponta de seus dedos, cada vez que faziam amor.

Eles pularam as partes entre o sexto e o décimo oi­tavo andar e entre o vigésimo e o vigésimo quarto, onde ficavam diversas salas de reunião e os escritó­rios das revistas, indo direto para a Snap no décimo nono.

Enquanto o elevador os conduzia silenciosamente para cima, ele lhe explicava quais revistas funciona­vam em que andares e do que cada uma delas tratava. Ela já estava familiarizada com o império Elliot, pois fizera uma pesquisa minuciosa sobre a editora pouco depois de começarem o relacionamento, sem que ele soubesse, mas nunca havia compartilhado o assunto com ele.

O décimo quinto andar, explicou ele, era dedicado à Casa & Estilo, que tratava de decoração de inte­riores. No décimo sétimo ficava a Charisma, revista de moda. A Snap ficava entre a Buzz, no décimo oita­vo, que tratava do showbiz, e a Pulse, no vigésimo, de notícias.

Ela estava um pouco tonta com tudo aquilo, mas continuou ouvindo-o com atenção e fazendo os devi­dos meneios nas direções certas. Ela achava aquilo realmente fascinante.

As portas do elevador se abriram e ele estendeu a mão. Ela se deteve e olhou ao redor.

— Oh, Cullen, é lindo. Ele deu um sorriso feliz.

— Nós gostamos muito.

O andar inteiro era decorado em preto e branco com motivos da antiga Hollywood. Fotos emoldura­das de Marilyn Monroe e James Caghney enfeitavam as paredes, junto com grandes impressões de algu­mas das capas mais famosas da Snap.

Aquilo a fez pensar nos filmes antigos em preto e branco sobre gângsteres e nas estrelas de respiração ofegante e corpos em forma de ampulhetas, como as mulheres de hoje em dia não podiam nem imaginar, e ela achou que aquela era exatamente a intenção de toda aquela ambientação.

Ele já havia descrito seu ambiente de trabalho an­tes, mas ela nunca havia imaginado nada parecido como o que via. Nunca mais poderia imaginá-lo em outro lugar. Aquilo combinava com ele.

Ele a apresentou à recepcionista da Snap antes de conduzi-la pela porta de vidro que dividia a recepção do resto do andar. Um misto de vozes, toques de tele­fone e sons característicos de um escritório em dia movimentado preenchiam o espaço enquanto eles ca­minhavam entre os diversos módulos até a sala de Cullen. Misty ficou impressionada com a quantidade de gente trabalhando na editora: os companheiros de trabalho de Cullen o cumprimentavam com um sorri­so e um aceno e pareciam mais do que dispostos a aceitá-la como uma das amigas pessoais dele.

Misty não sabia se eles tinham imaginado que ha­via algo mais entre eles. Não perguntaram nada e Cullen também não se manifestou. De todo modo, fo­ram todos muito calorosos, o que a fez sentir-se mais do que bem-vinda.

Ele abriu a porta onde se lia Cullen Elliot, Diretor de Vendas e a conduziu para dentro.

— Muito bonito — ela comentou, percebendo que a decoração combinava com a do resto do andar.

— Obrigado. — Ele soltou a mão dela e deu a vol­ta na mesa. — Vou checar umas coisinhas antes de continuarmos o passeio.

— Leve o tempo que precisar.

Ela zanzou pelo escritório, observando algumas das capas de revista emolduradas na parede, o diplo­ma e as fotos pessoais dele.

Ela se aproximou da mesa de Cullen e arriscou uma olhadela enquanto ele checava as mensagens te­lefónicas e os memorandos. Levou algum tempo até perceber que ele havia parado o que estava fazendo para olhar diretamente para ela.

— Desculpe.

As bochechas dela ficaram em chamas e ela deu um passo para trás, pronta para voltar a se entreter com a galeria de fotos.

— Não seja boba. Ele agarrou uma de suas mãos e a puxou para o seu colo. — Eu só estava pensando em como você é bonita e como eu desejaria nunca mais ter de voltar a trabalhar, para poder ficar 24 horas em casa e adorá-la como a deusa que você é.

—Cullen... — disse ela rindo e batendo em seu peito.

— Qual o problema? — retrucou ele, rindo também.—Você não acha que eu seria capaz?

— Não tenho dúvidas de que seria, mas...

— Beije-me.

— O quê?

— Beije-me. Dê-me alguma coisa para fantasiar quando eu estiver preso nesse escritório escuro e sombrio, trabalhando até me acabar.

Aquele lugar não lhe parecia nada sombrio, mas ela o beijou mesmo assim, desfrutando do calor dos seus lábios, mãos e costas.

— Olá...

Misty deu um salto ao ouvir a voz da mulher, des­vencilhando-se rapidamente do abraço de Cullen. Ela voltou a sua atenção para a loira alta e atraente que havia entrado no escritório, com a mão ainda na ma­çaneta.

— Olá, Bridget — disse Cullen, apesar de não pa­recer muito feliz com a visita.

— Desculpe, não queria interromper, mas soube que vocês estavam no prédio e resolvi dar uma passa-dinha para conhecer Misty.

Ela entrou, estendendo a mão para Misty, que res­pondeu ao seu gesto, deixando que a mulher apertas­se e sacudisse a sua mão efusivamente.

— Misty, esta é minha prima Bridget. Ela é a edi­tora fotográfica da Charisma, do décimo sétimo an­dar. Bridget, esta é Misty Vale.

— Prazer em conhecê-la — disse Misty.

— É realmente um prazer conhecer você — retru­cou Bridget, para então se jogar em uma das poltro­nas em frente à mesa de Cullen.

Ela estava usando uma saia preta justa e botas pre­tas. Sua blusa azul tinha mangas drapeadas, do estilo medieval e um decote profundo que exibia o colo. A moça realmente parecia entender de moda. Misty gostou dela quase que instantaneamente. Estava até pensando em lhe perguntar onde comprara aquela blusa. —Misty, você é o assunto mais quente entre os Elliot dos últimos anos. O vovô está furioso. "Nenhum neto meu vai se casar com uma stripper". — disse ela, imitando o tom mal-humorado do patriarca da fa­mília.

Bridget fez uma careta e revirou os olhos.

— Esta família está precisando de sangue novo para renovar a boa e velha árvore genealógica e nada melhor para isto do que uma ex-corista de Las Vegas —acrescentou ela com um sorriso.

Misty sentiu o sangue fugir de seu rosto e estendeu uma mão em direção à mesa para se apoiar.

— Bridget — resmungou Cullen tentando alertar a prima, aparentemente percebendo o estresse de Misty.

— Já o tio Daniel e a tia Amanda estão felicíssi­mos. Estão nas nuvens com a ideia de Cullen se casar e lhes dar um neto. Não me surpreenderia se tia Amanda já estivesse cuidando dos preparativos para o casamento.

— Bridget...

— Vocês precisam me contar como se conhece­ram! Quero ouvir a versão verdadeira. Tudo o que consegui até agora foram pedaços soltos e meras con­jecturas. Preferia ouvir a história da própria fonte, se é que vocês...

— Bridget!

Bridget piscou os seus olhos azuis e ficou boquia­berta.

— Sim?

— Cale a boca.

 

Bridget pestanejou novamente. O choque em seu rosto evidenciava que não tinha ideia do motivo pelo qual seu primo havia gritado com ela. Cullen respi­rou fundo e descerrou os dentes, tentando se acalmar.

— Não tive a intenção de gritar com você — ele explicou, calmamente — mas acho que você está dei­xando Misty pouco à vontade.

Bridget olhou para Misty, arregalando os olhos à medida em que compreendia o que estava acontecen­do. Ela se levantou da cadeira e foi abraçá-la, numa tentativa de se desculpar pelo que havia feito.

— Oh, meu Deus, sinto muito. Não tinha ideia de que... Ela retornou ao seu assento, carregando Misty consigo, até a poltrona ao seu lado.

— Não tive a intenção de ofendê-la. Estou tão ex­citada com o seu ingresso na família que acabei me descontrolando e falando mais que a boca.

— Como sempre — resmungou Cullen, piscando para a prima.

— Está tudo bem — disse Misty, passando a mão sobre a sua barriga para depois se agarrar com força aos braços de sua cadeira.

— Não está não. Eu não devia ter sido tão direta Você só está aqui há um dia. Nem deve ter desfeito as malas ainda e eu aqui me metendo na sua vida.

Ela balançou a cabeça, movendo o seu longo cabe­lo, antes de tomar uma das mãos de Misty nas suas.

— Perdoe-me. Eu gostaria muito que nos tornásse­mos amigas. Não queria que me achasse presunçosa.

Cullen ficou observando de longe enquanto as duas trocavam olhares. Misty abriu um sorriso e Bridget sorriu logo em seguida. O coração de Cullen voltou a bater e ele soltou um suspiro de alívio.

— O que você acha de eu ligar um dia desses para almoçarmos juntas e fazermos umas comprinhas?

Misty sorriu feliz.

— Eu gostaria muito.

— Ótimo. Agora é melhor eu voltar a trabalhar —-disse Bridget, dando um tapinha no joelho de Misty e se levantando logo em seguida — e deixar vocês re­tomarem de onde haviam parado.

Ela sorriu provocantemente para Cullen, agitando os dedos ao acenar um adeus. Cullen não pôde deixar de sorrir quando a porta se fechou atrás da prima.

— Caso você não tenha percebido, era a minha pri­ma Bridget.

Misty riu.

— Foi o que pensei. Ela é muito...

— É sim. Mas é uma garota e tanto. Acho que você deveria aceitar o convite dela para almoçar. Vocês vão se dar muito bem.

Ele foi até Misty, pegou as suas mãos e a puxou para si até que o seu corpo longo e gracioso descan­sasse por inteiro sobre o dele. Cullen se apoiou na mesa e trouxe Misty consigo.

— Onde estávamos mesmo? — perguntou ele, olhando profundamente em seus olhos esmeralda.

— Você estava checando suas mensagens — res­pondeu ela com inocência.

Ele sorriu.

— Até onde posso me lembrar, você estava senta­da no meu colo e eu estava pensando em convencê-la a fazer uma farrinha em pleno escritório.

— Mas, senhor Elliot — disse ela, fingindo-se ofendida —, isso poderá ser interpretado como assé­dio sexual.

— Só se você trabalhasse para mim, o que não é o caso, e não estivesse interessada também, o que du­vido.

Ela concordou, soltando um pequeno gemido en­quanto brincava com seus dedos na nuca de Cullen. Aquilo bastou para deixar seu corpo inteiro arrepia­do, fazendo com que uma sensação eletrizante per­corresse toda a sua espinha. Ele estava se preparando para beijá-la quando o telefone tocou.

— Filho da... — disse ele, querendo jogar o telefo­ne longe.

— Não vai atender?

Ele se levantou com cuidado para não a soltar abruptamente e correr o risco de fazê-la cair.

— Não. A secretária eletrônica pode atender Amanhã ouço o recado.

Ele arrumou algumas coisas sobre a mesa e então a conduziu até a porta.

— Vamos sair daqui antes que alguma coisa ou al­guém mais nos interrompa.

 

No caminho de volta para casa, Cullen disse ao ta­xista para pegar o caminho mais longo, cruzando a Broadway, para que Misty pudesse ver todos os le­treiros luminosos.

Ela nunca tinha visto um espetáculo da Broadway e ele prometeu levá-la para assistir a quantos ela qui­sesse. Para que tal acontecesse, porém, pensou Mis­ty, seria preciso que ela permanecesse em Manhat­tan, com ele, mas ela ainda não estava bem certa de que era o que queria.

Eles chegaram em casa no fínalzinho da tarde. Ela achou que ele retomaria as coisas do ponto em que haviam parado no escritório, ao chegar no quarto, mas ele insistiu para que ela descansasse um pouco. Misty não queria dormir, mas ele prometeu levá-la para jantar no Une Nuit, o restaurante de seu irmão, se ela quisesse.

Era uma oferta irrecusável. Assim que sua cabeça encostou no travesseiro ela se deu conta de que esta­va realmente exausta, caindo imediatamente no sono.

Quando ela abriu os olhos, várias horas depois, Cullen estava sentado na ponta da cama, sorrindo para ela. No começo ela ficou agitada e então se re­compôs e se sentou com as costas apoiadas na cabe­ceira da cama.

— Há quanto tempo você está aí me olhando dor­mir?

— Só alguns minutos.

Ela passou os dedos pelos cabelos, certa de que es­tavam uma bagunça e então esfregou a sua boca e o canto dos olhos.

—Eu estava ridícula? — quis saber Misty.

Ele riu.

— Não. Você é muito linda e feminina mesmo quando dorme.

— Graças a Deus. Já está na hora do jantar?

—Podemos ir assim que estiver pronta. Não pre­cisa se apressar. Bryan reservou a mesa da família para nós.

Ele havia trocado suas roupas informais por calças pretas feitas sob medida e um paletó, com uma cami­sa branca por baixo. Felizmente Misty havia trazido um vestido preto entrelaçado que seria bastante apro­priado para o jantar no restaurante chique do irmão de Cullen.

— Vou trocar de roupa — disse ela, jogando as co­bertas para longe e saindo da cama king size.

Ela achou que ele sairia do quarto enquanto ela se trocava, mas ele ficou exatamente onde estava, ob­servando cada movimento seu. Se ela não tivesse passado os últimos quatro anos andando nua, ou qua­se, na sua frente, teria ficado embaraçada.

Ela podia sentir o calor do olhar dele percorrendo sua pele enquanto ela tirava a saia e a blusa, calçava as meias pretas e vestia seu pretinho básico. O tecido era suficientemente elástico para cobrir a saliência de sua barriga, sem que fosse preciso lançar mão de ou­tros truques ou camuflagens adicionais.

Dez minutos depois, ela estava pronta. Eles saíram de mãos dadas e assim permaneceram enquanto per-corriam lentamente os dois quarteirões que os sepa­ravam do Une Nuit.

O restaurante estava lotado. Fregueses impecavel­mente vestidos sorriam e gargalhavam, enquanto a equipe de garçons transitava pelas mesas, anotando os pedidos e servindo os pratos.

Misty ficou muito impressionada com o ambiente As mesas tinham tampos de cobre e eram rodeadas por bancos e cadeiras estofados de camurça preta. 0 toque final ficava por conta das luzes suaves de cor vermelha. Misty estava acostumada a ambientes cla­ros e extravagantes, mas adorou o Une Nuit. Era ex­tremamente fashion, mas muito romântico também. Assim que os avistou, o mâitre sorriu e os condu­ziu pelo salão principal até a mesa particular reserva­da para os membros da família Elliot, caso eles resol­vessem passar por lá. Cullen sentou-se ao lado de Misty, roçando sua coxa na dela.

Ela estava tão distraída com tudo à sua volta que nem pensou em comer, mas Cullen se aproximou e lhe falou sobre os aperitivos e entradas do restaurante quais os que ele já havia experimentado, quais os seus favoritos, quais as especialidades da casa... Tudo lhe pareceu maravilhoso.

Depois de fazerem os pedidos, Cullen chegou mais perto dela e passou o braço em torno dos om­bros de Misty.

— O que acha? — perguntou ele, apontando o cen­tro da área de jantar com a cabeça.

— Se a comida for tão maravilhosa quanto a at­mosfera, seu irmão deve ser um génio. Este lugar é maravilhoso.

— Parece que você finalmente conseguiu agarrar uma mulher inteligente, irmãozinho!

Misty teve um sobressalto com a intromissão, mas Cullen apenas sorriu para o homem que se infiltrara por trás deles.

Então aquele era Bryan, pensou ela, enquanto ele dava a volta e se sentava à frente deles. Ele era alto e tinha o mesmo cabelo negro e os mesmos olhos azuis do irmão e do pai. A semelhança era tão grande que até mesmo alguém que não soubesse que eles perten­ciam à família Elliot saberia imediatamente que eram parentes.

— Misty — disse Cullen —, quero que conheça meu irmão Bryan. Ele é o proprietário deste belo es­tabelecimento e um chato de galocha.

—Que engraçado — notou Bryan —, era exatamente o que eu dizia de você quando éramos me­nores.

Misty não pôde deixar de sorrir.

Bryan estendeu a mão por sobte a decoração central da mesa, um belo recipiente de vidro repleto de água, com três velas cor de marfim, no formato de flores exóticas, boiando acesas sobre a água.

Misty retribuiu o cumprimento.

— É um prazer conhecê-la, Misty. Meu irmão a está tratando bem?

— Eu a estou tratando muito bem, certo? — res­pondeu Cullen. — Ao contrário de certos homens, sei como tratar uma mulher.

— Não deixe que ele a engane — disse Bryan, pis­cando divertidamente para ela. — Ele aprendeu tudo o que sabe com o irmão mais velho aqui.

Cullen fez uma careta e Misty não pôde deixar de sorrir.

— Como foi o dia de vocês? — perguntou Bryan, já mais sério, olhando especificamente para Misty. — Já recebeu as calorosas boas-vindas da família?

Ela brincou com a borda do seu copo, ficando re­pentinamente nervosa, como sempre ficava quando o assunto vinha à tona.

— Oh, sim, todos foram muito gentis.

— Até o vovô? — Seus olhos azuis seguiram dire-tamente na direção do irmão desta vez.

— Ele vai acabar mudando de ideia — respondeu Cullen sucintamente.

Algo chamou a atenção de Bryan.

— Desculpem, estão me chamando. O trabalho de um restaurante nunca acaba. Misty, adorei conhecê-la. Estou ansioso por me tornar seu cunhado. Peçam o que quiserem. É por conta da casa.

— Isso não é necessário — disse Cullen.

— Claro que é. Considere como o meu presente de noivado.

Ele acenou uma última vez antes de desaparecer em meio ao movimento do Une Nuit.

— Nosso noivado? — repetiu Misty, arqueando as sobrancelhas com interesse enquanto tomava o seu coquetel não-alcoólico.

Cullen pigarreou.

— Devo ter mencionado algo do tipo quando avi­sei que vinha j antar aqui.

— Mas não estamos noivos — pontuou ela.

— Estaríamos, se você aceitasse um dos meus inú­meros pedidos de casamento.

Ela conteve o sorriso que queria irromper em seu rosto. Ele havia dito aquilo como se ela o estivesse impedindo de ter algo que ele realmente queria mui­to. Era muito lisonjeiro e a aqueceu em lugares pro­fundos que somente Cullen parecia ser capaz de al­cançar.

Ela, porém, não tinha a intenção de brincar com aquele assunto, nem de fazê-lo acreditar que acabaria aceitando o seu pedido, independente do quanto de­sejasse fazê-lo.

— Sinto muito — foi tudo que ela conseguiu dizer A expressão em seu rosto manteve-se dura e fe­chada por algum tempo, mas pouco depois, seus olhos escurecidos retornaram à sua cor celeste habi­tual.

— Não se desculpe — disse ele. — Estou decidido a vencer pelo cansaço. Além do mais, não a trouxe até aqui para pedi-la novamente em casamento ou para fazê-la sentir-se culpada por dizer não. Eu a trouxe para impressioná-la, mostrando outro ramo da minha família, para que sentisse o gostinho daquilo que está à sua espera, caso diga sim. Você está devi­damente impressionada?

Seu sorriso era por demais adorável para que ela pudesse resistir.

— Eu estou muito impressionada — disse ela sua­vemente. — Obrigada.

A comida chegou e eles passaram a hora seguinte degustando seus pratos, conversando e flertando. Cullen lhe deu comida na boca para que ela experi­mentasse do seu prato e ela retribuiu o favor, até que a chama do desejo começou a arder com tanta inten­sidade entre os dois que Misty chegou a temer que eles pudessem atear fogo ao lugar.

Ela ficou arrepiada ao observar o movimento dos lábios dele enquanto ele mastigava. A pressão da coxa dele contra a sua debaixo da mesa quase fez o sangue de Misty ferver. A julgar pelo seu olhar, Cul­len parecia tão excitado quanto ela.

— Vamos embora — disse ele, pegando na mão dela e saindo da mesa assim que eles terminaram o creme brulée com sucos de manga e maracujá.

— E a conta?

— Acho que vou aceitar a oferta de Bryan.

Ele se deteve de repente, no meio do restaurante, quase fazendo-a esbarrar nele. Ele se virou para ela, puxou-a e a beijou como um homem perdido no de­serto que tivesse acabado de encontrar um oásis.

Ela correspondeu, esquecendo-se de que estavam no meio de um restaurante lotado. Todos os clientes haviam parado para observá-los, mas Misty não se importou.

Depois me acerto com ele — sussurrou ele em seu ouvido. — Tudo o que quero agora é levar você para casa, tirar sua roupa e fazer amor com você a noite inteira.

Com o coração batendo loucamente e as pernas bambas, ela fez um meneio de cabeça e disse a única palavra que o seu cérebro, já completamente tomado pela paixão, lhe permitiu pronunciar.

— Claro.

 

Por mais que lhe custasse, Cullen teve de voltar ao trabalho no dia seguinte. Por sorte, ele acordou pouco antes das 6hOO e pôde desligar o despertador antes que acordasse Misty. Tirando o braço dela de cima de sua barriga, ele saiu cuidadosamente da cama e co­meçou a se vestir.

Ele gostava da perspectiva de vê-la enroscada sob as cobertas todas as manhãs enquanto se preparava para trabalhar. Gostava de observá-la dormindo, sa­bendo que, se voltasse para a cama, ela o receberia de braços abertos e usaria suas mãos e boca para con­vencê-lo a ficar.

Sufocando um gemido, ele apertou a gravata e conteve sua libido, forçando-se a sair do quarto, dan­do ainda um último olhar cheio de desejo na direção de suas belas formas.

A manhã se arrastou e ele mal conseguiu se con­centrar nas tarefas à sua frente, até olhar para o seu relógio e se dar conta de que Misty já deveria ter saí­do da cama àquela altura.

Ele discou o número de sua casa. O telefone tou­cou muitas vezes até cair na secretária eletrônica.

Droga. Ele podia apostar que Misty não estava querendo atender o telefone porque sabia, ou supu­nha, que a ligação não era para ela.

Ele desligou e voltou a ligar imediatamente. Con­tinuaria tentando, até ela atender. Uma passadinha em casa não estava fora de cogitação.

Alô?

Sua voz estava hesitante, nervosa.

— Bom dia, moça bonita.

—Bom dia — respondeu ela, num tom ainda bai­xo, porém bem mais confiante. — Eu não sabia se de­via atender o telefone, mas como ele continuou a to­car, achei que podia ser importante.

— Para seu governo, você pode atender o meu te­lefone quando bem entender. Não se esqueça de que a Bridget pode ligar para você para convidá-la para sair. Se for qualquer outra pessoa, pode pegar o reca­do. E além do mais, esse telefonema é realmente im­portante. Eu estou com saudades.

Houve um longo silêncio antes que ela murmu­rasse:

— Também estou com saudades. Este lugar é ter­rivelmente grande e quieto sem você aqui.

Droga. Bastou ele pensar nela sozinha naquela casa enorme para ficar excitado. Imaginar que ela es­tava sentindo sua falta, querendo que ele estivesse com ela, transformou sua excitação num apelo late jante.

— Estou indo para casa — disse ele entre dentes com a garganta quase fechada de tanto desejo.

Ele ouviu o som alegre do seu riso do outro lado da linha.

— Não vai não! Você tem que trabalhar!

— O trabalho pode esperar. — Fazer amor com ela, não, pensou ele.

— Não seja bobo. Você já tirou muito tempo de folga para me paparicar. Além disso, ainda vou estar em casa quando você voltar.

Cullen não sabia o que havia mexido mais com ele: ouvi-la dizer que estaria "em casa" ou a ideia de encontrá-la à noite quando voltasse para lá. Ele sabia muito bem que ela podia pegar um avião e voltar para Nevada a qualquer momento.

— Pensei em fuçar as suas coisas, enquanto isso e remexer nas suas gavetas e armário — prosseguiu ela. — Você está escondendo algum segredo sórdido que não quer que eu descubra?

Seus lábios se ergueram num sorriso.

— Minha querida, para você sou um livro aberto.

— Hummmm. Parece muito interessante.

— Já que não vai me deixar voltar para casa para farrear com você, vou ter que voltar a trabalhar.

— Está bem, nos vemos à noite, então.

— Eu ligo se sair muito tarde daqui.

— Certo.

— Misty — disse ele antes de ela desligar.

— Sim?

— Quer casar comigo?

Ele quase pôde ver os seus olhos se arregalarem num pânico súbito e as veias saltando em seu pescoço.

— Hoje não — respondeu ela finalmente. — Mas obrigada por perguntar.

Apesar de ter sido rejeitado pela quinta ou sexta vez, ele se flagrou sorrindo.

Bem, acho que vou ter de perguntar novamente amanhã.

Cullen ligou para Misty no dia seguinte e em todos os dias depois, várias vezes ao dia, só para ouvir sua voz. Todas as vezes em que se falavam, ele repetia a mesma pergunta: "Quer casar comigo?"

A resposta permanecia inalterada, mas ele não dei­xou de tentar. A recusa dela só o deixava cada vez mais determinado. Como um guerreiro medieval, ele continuaria a atacar os muros do castelo até que eles desmoronassem e ela aceitasse o inevitável.

Uma semana depois, Cullen estava na academia de ginástica da Editora Elliot, com o irmão. Ele tentava se exercitar todo dia, por uma hora, e Bryan se junta­va a ele sempre que podia.

Cullen pegou um peso e Bryan o seguiu, começan­do a exercitar os braços.

—Como estão as coisas entre você e Misty? — quis saber o irmão.

— Ótimas — respondeu Cullen com sinceridade.

As coisas estavam realmente indo muito bem. 0 sexo era incrível e a companhia quase que constante dela o estava deixando muito mais feliz do que pode­ria imaginar. Ele nunca ficava entediado com ela bem mais do que ele podia dizer a respeito das outras mulheres com quem havia se relacionado. Se ela aceitasse um de seus incontáveis pedidos de casa­mento, a vida ficaria perfeita.

— Ela já disse sim?

Cullen ignorou o leve sorriso no rosto de Bryan.

— Não, mas estou investindo nisso. Ela vai acabar mudando de ideia.

— Você tem certeza de que quer que ela o faça? A pergunta do irmão o pegou de surpresa.

— O que quer dizer com isso?

— Ei... Não quero aborrecê-lo. Só estou pergun­tando se quer realmente se casar com ela ou se está fazendo isso só porque ela está grávida.

Qualquer outra pessoa que tivesse feito um co­mentário daqueles já teria levado um soco. Seu ir­mão, porém, era seu melhor amigo e confidente e ele sabia que ele só estava falando aquilo para o seu bem.

— Não sei direito — disse Cullen, dando voz aos seus verdadeiros sentimentos pela primeira vez. — Quero me casar com ela. Só não sei se é uma questão ética ou se realmente gosto dela.

— Você não acha que tem de descobrir antes de ir para o altar?

— Se fosse assim tão fácil... — respondeu ele, re­tomando o ritmo do exercício.

Bryan passou o peso para a outra mão e se sentou na prancha vazia ao lado de Cullen.

—Olhe, você não é o único aqui em quem incuti­ram esse enorme senso de responsabilidade desde criancinha...

Cullen arfou e disse:

— E vimos o que isso fez ao papai, não é? Ele foi forçado a se casar aos dezoito anos por conta da gra­videz da mamãe.

— E a sua situação não é igual?

É — retrucou ele relutantemente. — Por isto que não estou bem certo se quero realmente ficar com ela ou se estou apenas seguindo os passos do papai.

Cullen recolocou o peso no lugar e se recostou, limpando o suor da testa.

— Não quero meu filho crescendo sem pai, Bryan.

Não quero ser um pai de fim de semana, nem quero que Misty seja uma mãe solteira. Ela não teve as oportunidades que tivemos. Ela dá duro para se sus­tentar e não quero que passe o resto de sua vida se matando de trabalhar.

— Você nunca permitiria. Mesmo que decidisse não se envolver na criação do seu filho, você certa­mente providenciaria para que eles tivessem tudo que precisassem.

Seu irmão tinha razão. Ele jamais conseguiria se manter ausente, sabendo que seu filho estava precisando de alguma coisa que a riqueza dos Elliot pu­desse prover. Mas ele também queria cuidar do dia-a-dia de seu filho, trocar suas fraldas, alimentá-lo na hora certa. Queria ver seu primeiro sorriso, seus pri­meiros passos e, mais tarde, vê-lo entrar pela primei­ra vez no ônibus escolar.

— Você pode ser um bom pai sem se casar com a mãe do seu filho — disse Bryan quando o silêncio co­meçou a ficar excessivo. — Pode sustentar os dois e até convencer Misty a se mudar para Nova York, ou ainda ir até Nevada quantas vezes forem necessárias para estar com eles e ver o seu filho crescer.

Cullen manteve os olhos baixos.

— O que você faria no meu lugar?

Bryan pensou por um momento e então colocou o peso que estava usando no único lugar vazio na es­tante.

— Acho que ia depender do meu sentimento pela mãe do meu filho. Se não estivesse apaixonado por ela, faria tudo para que o meu filho soubesse que eu o amava e que ele podia contar comigo. Mas se eu esti­vesse...

Ele fez uma pausa para enfatizar o que iria dizer e olhou diretamente nos olhos de Cullen.

— Moveria céus e terras para ficar com ela. Cullen passou o resto do dia às voltas com as observações de Bryan.

Será que estava apaixonado por Misty ou estava querendo apenas ser um bom pai para o seu filho?

Ele ainda não havia chegado a uma conclusão quando voltou para casa. Sabia somente que seus ins­tintos lhe diziam para se casar com Misty, para tirar o máximo do que tinham juntos e apostar no que o fu­turo lhes reservava.

Misty o recebeu na porta, tão encantadora como sempre. Ela lhe contou que havia descoberto a lavan­deria e que poderia lavar suas roupas quando não ti­vesse mais uma peça limpa. Havia descoberto tam­bém que um short e uma camiseta de Cullen eram ideais para usar dentro de casa.

Ele aprovou a escolha com convicção. A gravidez só havia deixado as suas curvas mais exuberantes. O short de jeans abraçava suas nádegas e coxas bem-feitas e a camiseta cinza que ela havia amarrado na ponta evidenciava a elevação dos seus seios e a pro­tuberância de sua barriga.

Cullen a achou muito atraente vestida daquele jei­to, embora já a tivesse visto nua ou naqueles figuri­nos exíguos e brilhantes que ela usava para se apre­sentar.

— Como foi seu dia? — perguntou ela, pegando o paletó que ele tirava.

—Tudo bem. — Ele se curvou para dar um beijo casto em seus lábios. Como era bom voltar para casa ao final de um longo dia e encontrar seu rosto sorri­dente e sua boca quente. — E você?

— Resolvi seguir seu conselho e explorar um pou­co a cidade.

— Você chamou o serviço de carros de que falei?

— Sim. — Ela franziu um pouco a testa. — Eu não queria. Pensei em chamar um táxi ou coisa parecida mas aí me dei conta de que não tinha nenhum dinhei­ro comigo.

— A nossa família tem uma conta com esta com­panhia, por isso a mencionei.

— Eu sei. Foi por isso que acabei indo com eles.

Ele enlaçou a sua cintura e a trouxe mais para per­to de si.

— Então por que ainda está franzindo a testa? — perguntou ele beijando as linhas de preocupação em seu rosto.

— Porque não gosto de depender de você para cada centavo. Sei que era você quem pagava tudo em Henderson, mas pelo menos eu dava as minhas aulas e ganhava algum dinheiro.

— Você vai ser minha mulher — disse ele. — o que é meu é seu.

Aquilo fez as suas sobrancelhas se arquearem ain­da mais.

— Não vou ser a sua mulher e quero ser capaz de sustentar a mim e ao meu filho.

— Nosso filho — corrigiu ele com firmeza. — En­quanto você estiver em Nova York, será minha con­vidada — prosseguiu ele num tom mais brando. — Não quero que você se preocupe com este tipo de coi­sa. Se eu não tivesse que ir trabalhar, passaria o dia inteiro com você. Vou deixar algum dinheiro com você amanhã junto com alguns cartões de crédito e números de telefone. Se precisar de mais alguma coi­sa, basta ligar.

Ela o olhou de uma maneira reprovadora, a fim de fazê-lo compreender claramente que ele não havia entendido o espírito da coisa.

— Faça o que eu estou pedindo, por favor — pediu ele, dando de ombros. — Podemos discutir a divisão dos bens depois do casamento.

Felizmente ela deixou o assunto cair por terra. Ou­tra mulher talvez tivesse começado uma briga, mas não Misty. Quando a discussão valia a pena, ela ia até o fim, mas sabia que algumas coisas não valiam o es­forço.

— Está bem. O jantar está esfriando.

Ela o pegou pela mão e o conduziu até a cozinha.

— Você cozinhou? — perguntou ele realmente surpreso. —É claro. Que outro motivo eu teria para sair hoje? As panelas estavam fervendo sobre o fogão.

— Sente-se — disse ela, indicando os lugares que já havia arrumado na mesa da cozinha.

Ele tinha uma sala de jantar, que ela certamente já havia descoberto durante suas incursões pela casa, mas a cozinha era bem mais aconchegante e menos formal.

Você só tinha azeitonas e bolachas em casa. Ele fez uma careta.

— É verdade. Desculpe. Costumo tentar manter um estoque básico, mas andei meio distraído ultima­mente. Minha mãe vive me dizendo para pedir à em­pregada para fazer as compras, mas não vejo sentido nisso. Eu quase sempre como fora de casa ou trago alguma coisa da rua quando volto do trabalho.

— Não vá se animando muito. Não fiz nada muito elaborado.

— O cheiro está delicioso.

Ele ficou observando o fluxo suave dos seus movi­mentos enquanto ela mexia a comida e experimenta­va. Ela escorreu uma panela de macarrão e serviu porções generosas em dois pratos, cobrindo-as com um molho vermelho. Retornando à mesa da cozinha ela colocou um prato em cada um dos lugares já pos­tos, antes de se sentar.

Ela parecia tão ansiosa por saber a sua opinião a respeito de seus dotes culinários que ele pôs o guar­danapo de linho sobre o colo e deu logo uma boa gar-fada. Ela havia acrescentado camarões e cogumelos ao molho, fazendo os sabores explodirem ao longo das suas papilas gustativas.

— Mmm... — disse ele, apreciando a comida. — Muito bom!

Ela fez uma reverência em resposta ao elogio e en­tão começou a comer. Eles permaneceram em silên-io por algum tempo até Cullen a flagrar olhando ca-osamente para ele.

— O que foi? — perguntou ele, olhando para a sua camisa. — Eu me sujei?

— Não — disse ela quase rindo. — Eu só estava pensando... Você ia querer que eu ficasse em casa cuidando dos afazeres domésticos se nós nos casásse­mos? Eu quero dizer, você ia querer que eu limpasse a casa e botasse o jantar na mesa toda noite quando você voltasse do trabalho?

A pergunta foi feita num tom muito inocente, mas ele sentiu a seriedade que havia por trás daquelas pa­lavras. Aquela era a primeira vez que ela levantava a possibilidade de eles se casarem.

Ele pousou o garfo ao lado do prato e engoliu a co­mida, pensando seriamente na resposta.

— Eu não esperaria nada — disse ele sinceramen­te — Apenas gostaria que você fizesse exatamente aquilo que a deixasse feliz. Eu a apoiaria se decidisse ficar em casa para cuidar dos nossos filhos, assim como apoiaria se você quisesse passar o dia limpando a casa e cozinhando, mas tenho uma empregada e nós poderíamos contratar uma cozinheira também, se você quisesse, portanto, isso não seria nenhum pro­blema.

— E se eu quisesse trabalhar fora de casa?

— Concordaria também, Misty — disse ele, esten­dendo o seu braço até o outro lado da mesa para segu­rar a sua mão. — Eu concordaria com o que quer que você decidisse fazer da sua vida. Eu faria tudo ao meu alcance para conseguir um emprego na Editora Elliot, se fosse a sua vontade. Eu a apoiaria igual­mente se você quisesse dar aulas de dança na Julliard.

— Oh, sim, na Julliard — zombou ela, revirando os olhos. — Como se eles fossem querer uma ex-co-rista de Las Vegas na faculdade deles.

— Você é uma grande dançarina, Misty. Traba­lhou como corista, é verdade, mas nós dois sabemos que você é muito talentosa em outros estilos de dança também. Você poderia botar aquele pessoal da Jul­liard no chinelo, se quisesse.

Ela lhe fez uma reverência e ele sentiu toda aquela incerteza e desapontamento provocados pela sua re­jeição desaparecerem. Ele estava começando a com­preender, pelo menos em parte, por que ela continua­va rejeitando-o.

A ideia de se casar com ele a aterrorizava porque ela não se considerava suficientemente boa para um Elliot. Porque ela estava fora do seu ambiente.

Ele odiava vê-la se diminuindo daquela maneira. Se ela soubesse o quanto ele e a sua família precisa­vam dela para acrescentar um pouco de brilho e leve­za às suas vidas, amenizando um pouco a rigidez que Patrick Elliot havia instilado em todos eles desde a infância...

Ele se lembrou dos comentários de Bryan naquela tarde, na academia. Seu irmão estava certo. Ele tinha que descobrir se estava querendo se casar com Misty por amor ou por uma questão ética e moral.

Ele estava começando a apostar na primeira op­ção. Amor talvez fosse uma palavra muito forte. Afi­nal, ele nunca havia se apaixonado e não sabia exata-mente como era a sensação, mas sabia que gostava dela profundamente. Tanto que queria se casar com ela, criar o seu filho com ela e passar o resto da vida com ela.

Ele desejava aquilo tudo. Não estava simplesmen­te se oferecendo para assumir aquela responsabilida­de porque era a coisa certa a fazer.

Ao vê-la tirar a louça, Cullen limpou a sua boca com o guardanapo, sabendo que precisava perguntar mais uma vez.

— Ei, Misty?

Ela estava curvada, pondo os pratos na última pra­teleira da lavadora. Seu cabelo castanho com mechas aloiradas caía sobre costas e ombros. Ela reagiu ao chamado sem se virar para ele.

Cullen sentiu a garganta se fechar por um momen­to. As palavras ficaram presas em seu peito enquanto uma onda de inesperada emoção o varria por dentro. Ele já a havia pedido em casamento várias vezes an­tes, mas por alguma razão, suspeitava que daquela vez era diferente. Daquela vez a recusa poderia aca­bar com ele.

Ele engoliu em seco e apertou com força a ponta da mesa da cozinha.

— Quer se casar comigo?

Ela parou o que estava fazendo e se virou para en­contrar o seu olhar. Havia tristeza e arrependimento nos olhos de Misty e ele soube qual seria a resposta antes mesmo que ela falasse.

— Sinto muito, Cullen, mas a resposta ainda é não.

 

Dois dias se passaram. Misty estava rodando pela casa, à procura de alguma coisa interessante para fa­zer. Ela já havia arrumado a cozinha e o quarto, pas­seado pelos diversos canais de TV e lido as primeiras historinhas de um gibi que havia encontrado no escri­tório.

Ainda não era nem meio-dia, e ela já estava terri­velmente entediada.

Cullen havia lhe garantido que não esperava que ela se tornasse uma dona de casa ou uma mãe que cui­dasse somente dos afazeres domésticos e dos filhos. Ela poderia arranjar um emprego ou encontrar qual­quer outra atividade que lhe interessasse e a manti­vesse ocupada.

Se ela se casasse com ele. O que não aconteceria. Não podia acontecer, não importando o quanto o seu coração pudesse protestar contra essa decisão do seu bom senso.

Eles continuariam se vendo. Ele iria a Nevada para visitar o filho e com certeza pediria a ela para levá-lo a Nova York de tanto em tanto.

Talvez as coisas não continuassem iguais. O rela­cionamento provavelmente se transformaria em algo apenas amigável, mas pelo menos ele continuaria fa­zendo parte da sua vida.

Ela não precisava fazer os votos diante do padre para saber o que sentia por ele, mas não iria obrigá-lo a abrir um espaço em sua vida para ela e para um fi­lho quando tinha certeza de que era a última coisa que ele havia planejado para sua vida.

Não havia estado nos seus próprios planos tam­bém, mas seria muito mais fácil para ela assumir o papel de mãe solteira do que ele incorporar uma ex-corista grávida à sua vida.

Com um suspiro, ela se aboletou no sofá em frente à TV, para ver se havia começado alguma coisa inte­ressante. Ela podia sair. A tarde estava agradável, mas ela já havia explorado tudo o que podia sozinha.

Talvez devesse começar a pensar em voltar para Las Vegas. Para o seu estúdio de dança e a sua rotina. Ela não estava em condições de dar aulas como antes, mas poderia fazer alguns ajustes para que o estúdio permanecesse aberto. Alguns de seus alunos já esta­vam com ela havia muito tempo e poderiam demons­trar os passos e movimentos que ela não fosse capaz de fazer.

Não havia sentido em continuar seguindo lenta­mente rumo ao inevitável. Ela teria que voltar para casa, mais cedo ou mais tarde, e talvez fosse melhor fazê-lo logo, ainda mais depois da tensão que havia se instalado entre ela e Cullen desde aquela noite na cozinha, em que ele a pedira em casamento mais uma vez. A última vez, já que ele não havia mais falado no assunto.

Antes ele falava nisso várias vezes ao dia. Porém, muitos dias haviam se passado sem que o assunto voltasse. Eles ainda faziam amor toda noite e dor­miam um nos braços do outro. Ele ainda telefonava do trabalho para saber como ela estava, mas não a pe­dia mais em casamento de manhã, de tarde e de noite.

E ela sentia falta disso, reconheceu Misty sentindo um espasmo em seu baixo-ventre. Não tinha o direito de lamentar que ele tivesse parado de fazê-lo, depois de rejeitá-lo tantas vezes, mas ela se sentia assim em seu íntimo. Sentia falta da expectativa em suas veias cada vez que o telefone tocava ou que ele cruzava a porta.

Ela havia recusado os pedidos de casamento por achar que era o certo a fazer, mas era muito lisonjeiro ouvi-lo repetir o pedido tantas e tantas vezes, como se realmente quisesse passar o resto da vida ao seu lado.

A campainha tocou, fazendo seu coração saltar dentro do peito. Ela se levantou num sobressalto, pensando que poderia ser Cullen, mas logo se lem­brou que ele não tocaria a campainha.

Uma visita, de qualquer modo, seria uma distra-ção, ainda que fosse um vendedor querendo demonstrar o incrível poder de um novo aspirador de pó, ou um vizinho à procura do seu cachorrinho.

Qual não foi sua surpresa ao se deparar com Brid-get, a prima de Cullen. Misty não a havia encontrado desde aquele encontro no escritório de Cullen algu­mas semanas atrás. Bridget a cumprimentou com um amplo sorriso.

— Olá — disse ela entusiasticamente, jogando a bolsa verde-lima sobre o ombro. — Espero não estar atrapalhando.

Misty balançou a cabeça, mal tendo chance de di­zer olá. A jovem era um poço de energia e trouxe um sorriso aos lábios de Misty sem fazer esforço.

Ela estava usando uma blusa cor de laranja, sem mangas, com um pequeno broche prendendo os dois lados da gola em V. Sua saia rodada tinha uma estam­pa que incorporava as mesmas cores da sua blusa, bolsa e sapatos. Seu cabelo escuro estava preso dos lados com fivelas de strass que brilhavam sob o sol através da vidraça da frente.

— Estou tão feliz! Você ainda não tem planos para hoje, não é?

Misty balançou a cabeça novamente.

— Não, por quê?

— Porque vim pegá-la para almoçar.

— Como? —- Misty pestanejou, desconcertada.

— Almoço. Você sabe, aquela refeição entre o café da manhã e o jantar. Aquela atividade que permite que as mulheres se reunam para fofocar e tratar de assuntos femininos.

Ela voltou a sorrir e estendeu a mão para apertar o braço de Misty.

— Vamos lá. Eu sei que Cullen está trabalhando. Você deve estar ficando maluca, passando o dia intei­ro aqui, sozinha. Vamos sair, comer alguma coisa e eu vou botá-la a par de todas as fofocas do clã Elliot. Pode me perguntar o que fazer para agradar o meu avô, se é que existe alguma maneira de agradá-lo — acrescentou ela revirando os olhos. — E pode me perguntar como Cullen era quando criança.

Esta última proposta foi a cereja do bolo. Almoçar com Bridget poderia ser bem divertido. Misty estava mesmo à procura de algo para fazer e gostava muito dela. Mas a possibilidade de saber mais sobre a infân­cia de Cullen e sobre o homem que viria a ser o bisa­vô de seu filho a atiçou de vez.

— Só vou pegar a minha bolsa — disse ela, viran-do-se para subir as escadas. — Talvez seja melhor eu ligar para o Cullen, para avisá-lo de que não vou estar em casa por algum tempo.

— Ele já sabe — disse Bridget de longe. Misty parou no meio do caminho.

— Avisei-o que passaria aqui antes de sair. Ele disse para nos divertirmos e trazermos uma quenti-nha para ele. — Bridget cruzou os braços em frente ao peito. — Até parece. Ele que consiga a própria comida. Se passearmos tanto quanto eu estou esperan­do, só chegaremos em casa depois do jantar.

Misty gargalhou antes de seguir para o quarto para pegar a pequena bolsa de mão. Ao sair de casa, Misty notou que Bridget havia vindo numa limusine da mesma companhia que Cullen recomendara.

— Eu estou proibida de deixar você se exceder — disse Bridget, enquanto ambas se acomodavam no carro com ar condicionado.

— Eu estou bem — disse Misty, querendo tranqui­lizá-la.

— Tenho certeza, mas Cullen nos falou da sua es­tada no hospital. Ele envelheceu uns dez anos nessa brincadeira. Ele não quer que você adoeça, nem que ponha a vida do bebê em risco. Você tem sorte por ele não querer mantê-la de repouso na cama — disse ela, piscando para Misty. — Os Elliot são assim mesmo: obstinados, determinados e sabichões.

— Inclusive você? — perguntou Misty com um pequeno sorriso.

— É claro — respondeu Bridget, sem parecer ofendida com a pergunta. — Tenho muito orgulho de pertencer a esta família, apesar de às vezes odiar a ideia, especialmente por conta do meu avô. Outra fa­mília provavelmente já teria me amarrado num saco de estopa e me jogado no Rio Leste há muitos anos. Eles me consideram um demónio, mas na maioria das vezes, ficam só afastados, torcendo para eu pelo menos não carregar ninguém comigo se fizer alguma coisa realmente muito estúpida.

— Deve ser muito bom pertencer a uma família tão grande e unida.

É sim — respondeu Bridget sem hesitar. — Pode ser um saco também, mas sei que sempre posso recorrer a eles quando me meto em encrencas ou pre­ciso de alguma coisa.

Depois de um breve silêncio, Bridget prosseguiu:

— Você também poderá recorrer à família. Sabe disso, não é? Depois que você e Cullen se casarem, você se tornará uma Elliot como qualquer um de nós e poderá contar comigo ou com qualquer outro mem­bro da família sempre que precisar.

Misty pensou em protestar e dizer que ela e Cullen não se casariam, mas pensou melhor e resolveu se ca­lar. Ele provavelmente havia contado a toda a família e não haveria argumento da parte dela que fosse con­vencer Bridget do contrário.

Além disso, ela não queria incluir a prima de Cul­len na discussão. Todos perceberiam que não haveria casamento quando não houvesse plano nenhum em andamento e ela voltasse para Las Vegas.

Além disso, não lhe parecia tão óbvio que ela fosse se integrar à família e se tornar uma deles, só por se casar com Cullen. A própria Bridget havia dito que o seu avô, Patrick Elliot, declarara abertamente que "nenhum neto dele se casaria com uma ex-stripper."

Ela não era uma stripper, nem nunca fora, mas du­vidava que o velho patriarca soubesse a diferenciar uma stripper de uma corista. Muita gente pensava o mesmo. O que mais a incomodava era que ele havia formulado uma opinião sobre o relacionamento dela com Cullen antes mesmo de conhecê-la. Talvez ela mesma, na posição dele, tivesse a mesma reação.

Olhando de fora, ela certamente devia parecer uma golpista atrás do dinheiro dos Elliot. Uma ex-corista tentando sair de Las Vegas e ingressar numa das fa­mílias mais ricas e bem-sucedidas de Nova York. Pri­meiro, diriam eles, ela atraiu Cullen com suas habili­dades sexuais e então engravidou para se casar com ele.

Se pelo menos as pessoas, inclusive a família de Cullen, soubessem o quanto ela realmente gostava dele e o quanto a sua gravidez havia sido também um choque para ela... Ela pousou a mão sobre a pequena saliência em sua barriga, enquanto a limusine seguia pelo trânsito complicado de Manhattan.

Essa era outra razão pela qual ela não podia se ca­sar com Cullen. Ninguém acreditaria que ela não ha­via engravidado de propósito para botar a mão no di­nheiro dele.

Ela podia ser sustentada por Cullen, mas não era uma caça-dotes e não poderia conviver com pessoas que pensassem assim.

Algumas horas depois, Misty e Bridget estavam comendo tranquilamente numa delicatessen local.

Uma leve brisa agitava a barraca acima de suas ca­beças.

Elas poderiam ter chegado muito antes ao restau­rante se Bridget não as tivesse parado diversas vezes ao longo do caminho. Bridget havia decidido fazê-la provar daquilo que as mulheres da família Elliot cha­mavam de "comprinhas".

Ela levou Misty a diversas joalherias, encorajan­do-a a comprar alguma coisa em cada uma delas. Ela insistiu em dizer que Cullen não se importaria. Misty sabia que era verdade, mas não se sentia nem um pou­co à vontade para pedir que Cullen pagasse por algo além das suas necessidades básicas.

Aceitar que ele sustentasse o próprio filho era uma coisa, mas aceitar jóias e presentes supérfluos faria com que ela se sentisse como a prostituta que todos já pensavam que fosse.

Ela, porém, nada disse a Bridget, pois não estava bem certa de que ela conseguisse compreender o seu ponto de vista. Bridget simplesmente dava de ombros cada vez que Misty se recusava a fazer uma compra e acabou amealhando um chapéu e um par de botas de cano alto para si mesma.

Bridget passou a tarde enchendo os ouvidos de Misty com todo tipo de fofoca sobre os Elliot.

A mais interessante de todas, porém, foi a compe­tição que Patrick Elliot havia estabelecido entre os seus filhos para decidir quem assumiria a presidência da editora depois que ele se aposentasse. A revista que desse mais lucro ao longo do ano sairia vence­dora.

Misty não podia imaginar como alguém incitaria um irmão contra o outro. Ela sabia que o império dos Elliot era gigantesco, mas não deixava de ser uma companhia, um trabalho, ou seja, algo nem de longe tão importante quanto a família e os filhos, o amor e o respeito.

Saber que o futuro bisavô de seu filho era capaz de uma coisa dessas lhe causava um profundo mal-estar. Ela jurou para si mesma que protegeria o seu filho de Patrick Elliot e da sua personalidade manipuladora a qualquer preço.

— Ele não passa de um velho controlador, isto sim — disse Bridget, enquanto comia seu sanduíche. —. Eu fico louca com o modo como ele interfere na mi­nha vida e na do resto da família. Alguém tem que fazê-lo recuperar alguma lucidez ou lhe dizer para nos deixar em paz.

Misty tomou o seu suco de uva e acedeu. Nada ti­nha a acrescentar além dos próprios temores e Brid­get parecia satisfeita de ter uma audiência cativa en­quanto falava.

— Ele obrigou o tio Daniel a se casar com a tia Amanda assim que eles se formaram no segundo grau. Se bem que deveríamos ser gratos, caso contrá­rio, não teríamos nosso querido Cullen -— disse ela sorrindo deliberadamente para Misty. — Mas eles deveriam ter tido a liberdade de escolher como lidar com a situação. Talvez tivessem se casado do mesmo jeito e não tivessem se divorciado anos depois. Apos­to que o tio Daniel teria assumido toda a responsabi­lidade pelo filho e pela tia Amanda mesmo que não tivessem se casado. Ela engoliu o sanduíche com um gole de soda.

— Forçar a tia Finola a abrir mão do bebê quando ela engravidou aos 15 anos foi um grande erro, na mi­nha opinião. A pobre tia Finny nunca conseguiu se recuperar. Acabou deixando que o trabalho como editora-chefe da Charisma tomasse conta de toda a sua vida. Ela nunca mais namorou ninguém.

Recostando-se em sua cadeira, Bridget acrescen­tou:

— Não quero que a revista se sobreponha a meus outros interesses. Não mesmo.

Um segundo depois, ela voltou a se inclinar para frente e sussurrou num tom conspirador:

— Se eu contar uma coisa, você promete não falar para ninguém, nem para Cullen?

Misty permaneceu em silêncio por algum tempo, atónita. Ela se sentiu honrada por ser tomada como confidente pela prima de Cullen, sem, no entanto, se sentir à altura daquela confiança. Como não queria ferir a camaradagem que já haviam estabelecido, Misty apenas assentiu e se esticou por sobre o próprio prato para ouvir Bridget.

— Você jura? — insistiu Bridget.

— Juro — respondeu Misty, fazendo o gesto cor­respondente.

— Não me entenda mal, adoro o meu trabalho como editora fotográfica da Charisma, mas... Bem eu nunca disse isso a ninguém antes, mas venho tra­balhando num livro do tipo "A Verdadeira História dos Elliot". O vovô morreria se soubesse. Ele prova­velmente vai me matar quando descobrir, mas é algo que tem que ser feito. Alguém tem que fazer o mundo saber que tipo de homem é realmente Patrick Elliot e o que ele fez para chegar até onde chegou.

Antes que Misty tivesse tempo de digerir tudo que Bridget estava dizendo, a prima de Cullen passou de determinada a suave e insegura. Ela soltou um pro­fundo suspiro e engoliu uma porção de melão.

— Você acha que estou maluca? Acha que eu es­tou me arriscando a enfrentar não só a ira de meu avô como a rejeição de toda a família?

— Não sei — respondeu Misty honestamente. Ela não conhecia nenhum deles suficientemente bem, exceto Cullen, para prever como eles iriam reagir ao sa­ber das atividades clandestinas de Bridget ou à publi­cação de um livro que revelasse ao mundo o funcio­namento interno e os escândalos privados da dinastia Elliot.

— Eu acho... — Ela respirou fundo e então deu sua opinião sincera. — Acho que você tem que fazer o que acha certo. Você parece muito apaixonada pelo projeto, o que só pode ser bom sinal. Você não deve­ria desperdiçar a vida trabalhando em algo que não a recompensa.

Ela tomou mais um gole de suco antes de prosse­guir.

— O fato de escrever esse livro não quer dizer ne­cessariamente que terá de publicá-lo. Você pode fazê-lo para sua própria satisfação, sem que ninguém precise ficar sabendo.

A expressão de Bridget desmoronou. Era óbvio que a suas aspirações quanto ao livro-bomba iam muito além de um simples hobby.

— Mas se você não o publicar... Eu não sou uma Elliot, portanto talvez nem devesse estar dizendo isso, mas quem sabe se, lavando um pouco da roupa suja da família em público, você não consiga fazer o seu avô se dar conta de que tem controlado excessi­vamente a vida de seus filhos e netos?

— Sério? — Bridget estendeu a mão por cima da mesa de tampo de vidro e apertou a de Misty. — Oh, Misty, muito obrigada. Isso me faz sentir bem me­lhor. Pelo menos você me compreende. Alguém tem que ter coragem de contar a verdade sobre a família Elliot, não a verdade que Patrick Elliot inventou.

O resto do almoço transcorreu sem nenhuma outra grande revelação, mas Misty continuou se sentindo distante. Ela gostava muito de Bridget, mas sabia que não seria justo investir demais naquela amizade, uma vez que provavelmente não permaneceria muito mais tempo na cidade e talvez nunca mais regressasse a Nova York.

Quando o carro estacionou na frente da casa de Cullen, Bridget se inclinou imediatamente sobre o assento de Misty, para abraçá-la, antes que saísse do carro. Misty retribuiu o abraço, com os olhos mareja­dos ao perceber que finalmente havia encontrado al­guém com quem poderia realmente empreender uma verdadeira amizade. E que talvez nunca mais voltas­se a ver.

 

—Como foi o seu almoço com Bridget?

Misty estava sentada na mesa da cozinha, olhando para as palavras cruzadas do jornal, sem realmente tentar solucioná-las. Ela ergueu a cabeça ao ouvir a pergunta de Cullen, percebendo que não o havia ou­vido entrar. Não havia ouvido a porta da frente se abrir, os passos dele sobre o chão de madeira, nem as suas chaves sendo jogadas no aparador do corredor. Ele havia tirado o paletó e pousado a maleta, mas ela não havia testemunhado, nem ouvido nada.

Não era difícil imaginar o porquê. A tarde com Bridget havia enchido a cabeça de Misty de dúvidas quanto ao seu relacionamento com Cullen e se ela de­veria ou não se arriscar a permanecer com ele por mais tempo em Nova York.

Coçando a cabeça distraidamente, ela forjou um sorriso no rosto e se virou no banco.

— Muito boa. Gosto da sua prima — respondeu ela. — E você? Como foi seu dia?

— Bom.

Ele continuou a caminhar na direção dela até ficar exatamente na sua frente, obstruindo a passagem, a ponto de fazê-la sentir a sua respiração sobre as suas bochechas, pálpebras e lábios. Ele apoiou as mãos sobre a ponta da mesa da cozinha, uma de cada lado de Misty, e se inclinou sobre ela.

— Senti a sua falta. Estive pensando... — murmu­rou ele, roçando a boca em sua têmpora, seguindo en­tão pelo seu maxilar. — Você bem que poderia ir tra­balhar comigo amanhã. Assim, quando eu começar a sonhar acordado com você, você vai estar bem ali ao lado e não tão longe.

Ela sorriu, divertindo-se com o exagero a respeito da distância que separava o escritório da sua casa.

— Não acha que eu acabaria distraindo-o? — per guntou ela, passando os dedos pelos cabelos dele e deixando a cabeça pender para trás enquanto ele tra­çava um caminho de beijos pelo seu pescoço.

— Não tanto quanto me distrai querer você e não a ter ao alcance.

Seu coração saltou ao ouvi-lo falar assim.

Ela quis perguntar se ele havia sentido o mesmo naqueles últimos quatro anos, vivendo bem mais lon­ge dela, mas teve medo da resposta. Medo de que ele não tivesse pensado nela tanto, ao passo que ela havia pensado nele todos os dias.

Ele fungou no seu decote e mergulhou em seus seios, passando a língua sobre a sua pele, que se aqueceu instantaneamente. Ela fechou os olhos e sol­tou um gemido rouco do fundo da garganta.

— Vamos lá para cima — sussurrou Cullen.

Você não está com fome? Não prefere jantar primeiro?

Antes que ela pudesse adivinhar sua intenção, ele se empertigou e a pegou no colo, carregando-a pelo foyer.

A única fome que tenho no momento é de você. A comida pode esperar.

Ele subiu as escadas rápida, mas cuidadosamente, seguindo em direção ao quarto como um homem com uma missão a cumprir. Ao chegar à borda da cama, ele a pousou suavemente sobre o colchão e depois juntou-se a ela.

O olhar dele era intenso, possessivo, adorador. Era muito doloroso pensar em abrir mão de tudo aquilo. Misty ia sentir muita falta dele quando fosse embora, mas sabia que tinha que partir, embora esta fosse ser uma das coisas mais duras que ela já tinha feito na vida.

Porque ela o amava.

Lá no fundo da sua alma, ela sabia que sempre o havia amado. Todas as afirmações em contrário e a insistência em repetir que só tinha um caso com ele porque ele era um homem bom que a tratava melhor do que qualquer outro com quem já havia se relacio­nado não passavam de cortina de fumaça.

Ela o amava de uma maneira que não julgava pos­sível antes e, pela primeira vez, sentiu-se grata por Deus ter lhe dado a possibilidade de conceber um fi­lho dele. Talvez fosse egoísmo de sua parte pensar assim, mas ela achava que com o filho ao seu lado ela teria para sempre um pedaço de Cullen consigo, uma conexão eterna com ele, algo que ninguém jamais po­deria romper.

É claro que ela gostaria de se casar com ele e pas­sar o resto da vida a seu lado, mas para que fosse pos­sível, seria preciso que o seu relacionamento com Cullen tivesse começado de maneira totalmente dife­rente. Ela teria de estar exercendo outra profissão que não a de corista quando o conheceu e o relaciona­mento não poderia ter se caracterizado como um caso tórrido e secreto.

O fato de ele ser um Elliot também não ajudava muito. Talvez fosse um pouco mais fácil superar al­guns dos obstáculos entre eles se Cullen não perten­cesse a uma família tão poderosa. Seus olhos ficaram umedecidos. Ela mordeu o lábio inferior e pestanejou várias vezes tentando manter o controle das suas emoções. Se Cullen percebesse que estava a ponto de chorar, com certeza iria querer saber o que havia acontecido e não desistiria até arrancar uma resposta dela.

Mas como ela poderia dizer a ele que o estava dei­xando justamente porque o amava? Como poderia fazê-lo entender que era para o seu próprio bem?

Ela sabia que Cullen tentaria convencê-la a desis­tir. Ele era bem capaz de amarrá-la aos pés da cama até ela mudar de ideia.

Um sorriso se formou em seu rosto. Obstinação e simplicidade eram algumas das coisas que ela amava nele. Aquilo fazia com que ela se sentisse amparada e protegida. Porém, ela não poderia deixar que a arro­gância característica dos Elliot a impedisse de fazer o que ela sabia ser o certo.

Cullen passou os polegares sobre as sobrancelhas de Misty e olhou para ela, pressionando o seu corpo contra o dela.

— Você está tão séria — disse ele suavemente. — No que está pensando?

As palavras "Eu te amo" estavam na ponta da sua língua, mas ela não podia deixá-las escapar.

O amor não fazia parte do acordo que haviam esta­belecido quando começaram a dormir juntos. Não se­ria justo mudar as regras àquela altura.

Além disso, ela sabia que não suportaria se decla­rar a Cullen e não ouvi-lo dizer que a amava também. Ou pior, ver seu rosto assumir uma expressão som­bria ao tentar encontrar uma maneira de se livrar de uma amante que do dia para a noite havia resolvido ficar pegajosa e emotiva.

Estivesse ela grávida ou não, Misty não podia es­quecer que eles eram apenas amantes.

Ela balançou a cabeça e ergueu os braços para pas­sar os dedos nos cabelos sedosos de Cullen.

— Eu só estava pensando em como é bom servir de comida para alguém.

— Para alguém, não. Para mim.

Ele mordeu o seu pescoço na altura da jugular, com uma possessividade predatória.

O pulso dela acelerou, fazendo o sangue circular ainda mais rápido no lugar onde a sua língua quente e molhada serpenteava sobre a sua pele. Ela se contor­ceu por baixo dele, querendo senti-lo mais perto e mais intensamente.

Ele deixou sua garganta e seguiu até a sua boca, beijando-a com um calor e uma paixão que tirou o ar de seus pulmões e a deixou sem fôlego.

A língua dele se entrelaçava à dela enquanto suas mãos acariciavam seus braços, sua cintura, seus seios...

Suas roupas foram pouco a pouco caindo ao chão. Ela se movia para ajudá-lo a tirar as calças pretas e a blusa rosa-choque do seu corpo, deixando-a apenas de calcinha e sutiã.

Retribuindo o favor, ela soltou a gravata dele e a puxou pelo colarinho para então abrir, lentamente, cada um dos pequenos botões de sua camisa, até que ela se abrisse por inteiro, deixando o seu peito liso e largo à mostra para que ela o tocasse.

Ele respirou fundo. Seu abdómen enrijeceu quan­do ela passou as unhas pelas laterais do seu corpo, de-tendo-se no cós da calça. Ela puxou a lingiieta do zí-per com um movimento rápido do polegar e indica­dor, abrindo-o lentamente enquanto continuava a be­ber de seus lábios, apertando-os, lambendo, sugando.

Ela abriu caminho pela cueca de Cullen para tomar seu membro ereto nas mãos, mas ele se afastou num sobressalto, para se livrar dos seus sapatos e calças. Ele estava tão apressado que ela caiu na gargalhada. Ele então voltou para ela, completamente nu, e não perdeu tempo, libertando-a imediatamente de sua calcinha e sutiã.

Suas bocas se encontraram. Seus hálitos se mes­claram e os corpos se entrelaçaram enquanto eles se contorciam e rolavam sobre as cobertas. Ele a beijou no pescoço. Sugou o lóbulo de sua orelha e seguiu com os seus lábios até encontrar o bico de um de seus seios.

Ele desenhou pequenos círculos com a língua ao redor de seu mamilo intumescido antes de introduzi-lo em sua boca, usando ao mesmo tempo a ponta do seu polegar para atormentar o bico do outro seio.

Ela arqueou as costas, entregando-se de corpo e alma às sensações que ele havia despertado, ansiosa por obter alívio para toda aquela enorme pressão que crescia e pulsava dentro dela.

Misty ergueu as pernas e as enroscou no peito de Cullen. Ele deslizou para dentro dela num único e fluído movimento. Os músculos internos de Misty fecharam-se automaticamente em torno dele, fazendo-a arfar ao sucumbir de prazer. Era como se uma gran­de onda a estivesse arrastando em pleno oceano.

Seus dedos passeavam pelas costas, ombros e pei­to de Cullen. O maxilar dele enrijeceu, e as veias do seu pescoço saltaram, enquanto seus quadris se con­traíram, entrando e saindo de dentro dela uma, duas, muitas vezes.

O mundo de repente parou, encolhendo cada vez mais até se tornar um único pontinho no tempo e no espaço, onde somente eles existiam, naquele quarto, naquele momento. Todos os outros pensamentos e preocupações desapareceram. O espaço foi preenchi do pelos sons das respirações ofegantes e pelos gemi­dos de intenso prazer.

As mãos de Cullen deslizaram pelo corpo de Mis-ty. Uma delas pousou sobre seu quadril enquanto a outra começou a explorar as profundezas do seu sexo úmido e intumescido. Seu polegar encontrou o broto do seu desejo e o massageou, lançando ondas de puro êxtase a todos os poros e células do corpo dela.

Ela empurrou os calcanhares contra o corpo de Cullen, enterrou as unhas em seus ombros e curvou as costas, soltando um grito agudo de prazer ao atin­gir o clímax. Cullen intensificou os movimentos, para dentro e para fora, provocando-a, sem deixar de massageá-la, fazendo com que os espasmos que to­mavam conta do corpo dela se tornassem cada vez mais fortes. Seu corpo então se contraiu e ele gozou profundamente dentro dela, soltando um som gu­tural.

Quando o seu coração finalmente parou de bater contra o peito de Cullen como uma banda militar em plena parada, Misty abriu os olhos e o encontrou olhando diretamente para ela com aquele seu olhar de um profundo azul. Ele estava por cima dela, susten­tando o próprio peso nos braços, mantendo-se longe da sua barriga.

Ele sorriu para ela, inclinando-se na sua direção para depositar um beijo firme e satisfeito em sua boca antes de rolar para o lado.

— Não sei quanto a você, mas trocaria todas as mi­nhas refeições diárias por isto de bom grado.

Apesar de não poder vê-lo, por causa da posição, ela sorriu, concordando.

— Mmmm.

Ele puxou os lençóis e a colcha de debaixo deles e cobriu ambos até o peito, aconchegando-se a ela de­pois.

Eles estavam deitados de lado, ele aninhado por trás dela, com o braço ao redor da sua cintura e os lá­bios roçando seu pescoço e ombros.

Respirando fundo, ela tentou não deixar escapar o soluço quando expirou. Ela não queria que ele sou­besse que estava chorando. Se ele percebesse, iria querer saber o porquê e a pressionaria com perguntas às quais ela não queria responder.

Os dedos dele estavam brincando distraidamente sobre a pele nua da sua barriga protuberante, o que fez o coração de Misty vacilar e a sua garganta fechar de tanta emoção.

Ele era um homem tão bom... Não havia nada que ela quisesse mais no mundo do que se deitar ali com ele todas as noites pelo resto de suas vidas. Saber que * seu lugar era ali com ele, que havia um futuro bri­lhante à espera deles.

Mas ela sabia que não seria possível e que teria que tomar uma atitude, não importando o quanto po­deria lhe custar.

 

Ao voltar do trabalho, no dia seguinte, Cullen se fla­grou assobiando ao subir os degraus da entrada, de dois em dois.

O que uma boa mulher não era capaz de fazer por um homem, pensou ele. Deixá-lo assim saltitante, mesmo depois de um dia duro de trabalho. Deixá-lo louco para voltar para casa e fazer bem mais do que simplesmente enfiar um congelado no microondas ou se jogar na frente da TV durante algumas horas antes de subir para o quarto e se enfiar na cama.

Cullen estava incomodado por ela não querer se casar com ele. Se fosse honesto, teria que admitir que estava mesmo era arrasado.

Nunca havia pedido ninguém em casamento antes. Nunca havia gostado tanto de uma mulher a ponto de fazê-lo. Mas ele gostava muito de Misty e do seu fi­lho ainda por nascer. Queria que ela se tornasse a sua esposa, mas ela já havia rejeitado o seu pedido várias vezes.

Ele não sabia mais o que fazer para convencê-la. Pensara mesmo em jogá-la sobre os ombros e levá-la para algum lugar a fim de submetê-la a uma tortura chinesa até ela ceder.

A única opção era se ater ao que era possível no momento. Ela não havia concordado em se casar com ele, mas parecia bastante feliz em viver com ele em Nova York.

Então era assim que seria. Não era a solução ideal nem a que obteria a aprovação total de sua família, mas talvez funcionasse.

Eles podiam viver juntos e criar o bebê; formar uma grande família, mesmo sem as bênçãos da igreja.

Aquilo calou fundo dentro dele, fazendo-o apertar a maçaneta da porta com mais força.

Ele era o playboy da família, sempre com belas mulheres a tiracolo. Sua cama só havia permanecido vazia quando ele desejara.

Por que então havia se tornado tão imperativo para ele casar-se com Misty e não apenas divertir-se com ela como vinha acontecendo até então?

Só porque eles iam ter um filho?

Por que ele estava disposto a abrir mão de todas as outras mulheres por causa dela?

Ele sinceramente não sabia responder. Já havia se feito a mesma pergunta centenas de vezes, sem che­gar a nenhuma conclusão.

Eles poderiam fazer aquilo dar certo, com ou sem votos. Ele iria se esforçar para tanto.

Cullen abriu a porta, entrou em casa, e se pôs a procurar por Misty. Frequentemente a encontrava na cozinha preparando alguma coisa para o jantar, ou então na sala de estar, lendo um livro.

Ele pousou a maleta e tirou o paletó para então se­guir pelo corredor. Não havia nenhum cheiro vindo da cozinha, mas não queria dizer que ela não estava lá. Chegando lá, porém, Cullen notou que a cozinha estava vazia. Não havia panelas ferventes no fogão, nem mesa da cozinha posta.

Ele checou a sala e depois o escritório. Franziu a testa quando os primeiros sinais de preocupação co­meçaram a arrepiar a base da sua espinha.

Ele não queria ficar tão preocupado por Misty não o estar esperando lá embaixo quando ele chegou, mas não havia como evitar. Ela o havia feito todos os dias. Além disso, ela estava grávida e já tinha tido algumas complicações, o que o deixava ainda mais alarmado.

Cullen não conseguia deixar de se preocupar com ela nem por um momento, não importando onde esti­vesse. Ele se preocupava com a segurança e a saúde de Misty. Temia que lhe acontecesse alguma coisa e ela tivesse de ir novamente para o hospital.

Ele tentava sufocar essas preocupações diariamen­te, pois não queria que ela soubesse que a perspectiva de se tornar pai estava acabando com os seus nervos.

Não havia nada de errado com ela, repetia a si mes­mo, enquanto subia apressadamente os degraus até o segundo andar.

Ela podia estar tomando banho. Ou talvez tirando uma soneca. As mulheres grávidas costumavam se cansar mais facilmente e frequentemente precisavam de um descanso extra para renovar as forças.

Ele encontrou a porta do quarto parcialmente aber­ta e estendeu o braço rapidamente para abri-la por completo.

Misty não estava na cama. Estava de pé ao lado da cama king size, dobrando suas roupas e fazendo as malas.

Cullen deteve-se na porta, petrificado diante da­quela visão. O sangue congelou em suas veias. Seu cérebro esforçava-se para funcionar, mas sem su­cesso.

— Ei — forçou-se a dizer, sentindo a língua do­brar de tamanho dentro de sua boca.

Ela parou o que estava fazendo e se voltou para ele lentamente até encontrar o seu olhar. A tristeza no olhar de Misty atingiu-o em cheio. O que realmente lhe tirou o fôlego, porém, e fez o quarto começar a gi­rar foi a determinação que viu em seu rosto.

— O que você está fazendo? — perguntou ele, com medo de já saber a resposta.

Ela retomou a sua tarefa, terminando de dobrar um par de calças pretas.

— Estou fazendo as malas.

— Estou vendo. E para onde vamos? — perguntou ele, esforçando-se para manter a calma e rezando para que suas suspeitas não estivessem certas.

— Nós não vamos a lugar algum — disse ela. — Eu estou indo para casa.

Oh, meu Deus.

— Esta é a sua casa.

— Não, Cullen — disse ela suavemente. — Esta é a sua casa. A minha fica em Nevada.

Aquilo foi o suficiente para fazer o seu sangue vol­tar a correr e deixá-lo em pânico. Ele atravessou o quarto, alcançando-a com três longos passos e agar­rou o seu braço antes que ela pudesse pegar outra peça de roupa.

— Comigo você está sempre em casa — disse ele com firmeza. — O lugar onde moramos é irrelevante.

— Cullen...

Ele soltou o seu braço. Ela baixou os olhos por um momento para então voltar a encará-lo.

— Sinto muito, mas isso não vai dar certo. Reco­nheço tudo o que fez por mim e o que tentou fazer nestas últimas semanas, mas não dá mais.

Ela passou os dedos distraidamente pela ponta da mala enquanto se esforçava para sustentar o olhar.

— Você sabe que não vou tentar impedi-lo de ver o seu filho. Fora de cogitação. Mas não posso conti­nuar aqui fingindo ser o que eu não sou. Fingindo que somos o que na verdade não somos.

— Ninguém pediu que você fosse diferente de você mesma.

Ela sacudiu a cabeça, fazendo seu cabelo castanho aloirado balançar.

— Você quer que eu seja sua mulher, mas definiti­vamente não combino com o padrão Elliot. Seu avô gostaria que eu fosse uma socialite e não uma dança­rina, só que já passei da idade de ser moldada.

Gotas de suor brotaram no rosto e corpo de Cullen, deixando suas palmas molhadas de apreensão. Ele a estava sentindo deslizar por entre os dedos e não sa­bia como detê-la.

— Para o inferno com o meu avô! — disse ele com voz gutural. — Para o diabo com o que quero! O que você quer?

Ela inspirou profundamente e soltou um suspiro sentido.

— Quero que as coisas voltem a ser como eram. Não estou arrependida de ter engravidado — disse ela, pousando uma mão protetora sobre a sua barriga — mas você tem que admitir que complicou nossas vidas, e não quero complicar a sua ainda mais. É por isso que estou indo embora.

Complicar a sua vida? Será que ela não sabia que ela tornava a sua vida muito melhor? Que ela era o arco-íris depois da tempestade... Uma fogueira fla­mejante num dia frio de inverno... O lugar macio e seguro onde ele podia relaxar quando tudo à volta es­tivesse em turbilhão?

Ela era a única coisa constante em sua vida desde praticamente o momento em que a havia conhecido, sempre recebendo-o de braços abertos, pronta para ouvi-lo e aceitá-lo como ele era.

Como é que não havia se dado conta disso?

Como ela podia não ter percebido que ele a amava?

A revelação o atingiu em cheio, deixando-o sem respiração e com as pernas bambas.

Ele a amava. Era tão simples. Tão óbvio, que nem podia acreditar como ainda não havia se dado conta.

O que sentia por ela não era apenas atração física. Ele não estava querendo ficar com ela só por causa da gravidez.

Ele queria seu filho, mas queria a ela também. Queria-a como sua mulher, sua amante, sua parceira até o fim de seus dias.

Não era de surpreender que ele não tivesse sido ca­paz de romper com ela ao longo de todos esses anos. Muitas mulheres haviam passado pela sua vida desde que ele a conhecera. Muitas vezes ele havia dito a si mesmo que deveria romper com ela, mas nunca che­gara a fazê-lo, e agora sabia por quê.

Eleja estava apaixonado por ela havia muito tem­po. Uma paixão escondida num lugar muito fundo dentro dele, um lugar que nem ele mesmo sabia que existia.

— Misty.

O nome dela saltou de sua boca, mas ele não ficou embaraçado. Estava chocado, surpreso, estático. Ele queria agarrá-la e apertá-la com força contra si, rodo­piar e sair correndo com ela, contando a todo mundo o que acabara de descobrir.

Em vez disso, ele perguntou:

— Por que agora? Eu achei que você estava feliz aqui, que estávamos felizes juntos, e que você estava gostando de conhecer a minha família. O que a fez mudar de ideia?

Ela desviou o olhar e voltou a fazer as malas. Ele não tentou impedi-la, pois estava mais ansioso por ouvir a sua resposta do que por reter a sua atenção.

— Não aconteceu nada — disse ela. — Simples­mente me dei conta de que havia ficado aqui por mais tempo do que o planejado e precisava voltar para o estúdio e para as minhas aulas.

Ele não acreditou no que ela disse, mas decidiu não a pressionar. Não fazia diferença, na verdade.

— E se eu lhe dissesse que a amo? — soltou ele quase desesperadamente.

Ela se deteve com uma de suas calcinhas entre os dedos. Voltou-se para ele quase que em câmera lenta, fitando-o nos olhos mais uma vez. Seus próprios olhos estavam arregalados e os músculos de sua gar­ganta contraídos quando ela engoliu em seco.

— O que você disse?

Cullen deu um passo para frente. Ele tinha certeza de que o rosto estava iluminado por um sorriso ridí­culo. Aproximou-se dela e acariciou os braços, num gesto reconfortante.

— Eu amo você, Misty. Acho que sempre amei. — Ele ergueu uma mão e acariciou sua bochecha, seguindo depois pelos seus cabelos. — Você nunca foi apenas uma amante para mim. Eu soube que você era mais do que isso desde o momento em que a vi. Tal­vez eu tenha tido dificuldade de admitir na época, mas... — Ele riu. — Na verdade, quase não admiti agora, mas fiquei apavorado de perder você. — Ele a segurou com mais força e prosseguiu. — Eu não que­ro que você vá embora — disse ele de maneira direta — mas se você acha que tem mesmo de ir, que o seu lugar é realmente em Nevada, eu vou com você.

— Cullen...

— Posso deixar a editora se for preciso, ou achar alguma maneira de trabalhar com eles à distância. Não me importo, contanto que fiquemos juntos.

Ela balançou a cabeça, piscando rapidamente quando seus lindos olhos esmeralda ficaram umede-cidos com as lágrimas que ela teimava em não deixar correr.

— Não posso, Cullen — disse ela com a voz em­bargada de emoção. Duas lágrimas rolaram pela sua bochecha. — Eu também amo você, mas não quero correr o risco de me transformar no alvo do seu ódio mais tarde.

Ele ficou tão embevecido ao ouvir que ela também o amava, que quase não prestou atenção no restante da frase.

Após um momento, porém, ele caiu em si e voltou a sentir aquela estranha sensação em suas entranhas.

— Do que está falando? — perguntou ele, comple-tamente perplexo. Ele não podia pensar em nada que ela pudesse dizer ou levá-lo a odiá-la.

— Não sou a mulher certa para você. Você precisa de uma esposa de quem possa se orgulhar, que sua fa­mília aprove, não de uma amante com quem foi obri­gado a casar depois de engravidar.

Ela fungou e tentou bravamente limpar as lágri­mas que rolavam pelo seu rosto, mas outras vieram em seu lugar.

— Sei que você se sente responsável por mim e pelo bebê por conta de tudo o que aprendeu com seu pai e seu avô, mas não quero que eu ou o meu filho sejamos mais um dever que você se veja obrigado a cumprir.

Cullen só conseguiu ficar olhando para ela, atónito com suas palavras. Ele realmente encarava ela e o bebê como sua responsabilidade, mas porque os ama­va e não por se sentir obrigado. Ele não se sentia pre­so em uma armadilha, como ela parecia pensar. De onde será que ela tinha tirado aquela ideia?

Ele arqueou as suas sobrancelhas franzidas, er­guendo lentamente os lábios num sorriso sutil.

— Bridget — concluiu ele, sem saber ao certo se deveria ficar furioso ou se divertir com aquilo. Ele balançou a cabeça e prosseguiu: — Bridget encheu sua cabeça com histórias sobre a criação que eu e meu irmão recebemos do meu pai e do meu avô, não é? Ela provavelmente contou o quanto ele é manipu-lador e como sempre incutiu em nós a ideia de que um Elliot nunca foge às suas responsabilidades, cer­to?

Ela assentiu com um breve meneio de cabeça, mas, na verdade, ele nem precisava daquela confir­mação.

— Eu amo a minha prima, mas da próxima vez em que a vir, juro que vou torcer o pescoço dela — res­mungou Cullen. — Preste bem atenção, Misty. — Ele passou as mãos pelos seus braços e ombros até al­cançar o seu pescoço longo e delgado e incliná-lo, en­terrando os dedos em sua nuca e segurando o seu ma­xilar com os polegares. — Eu a amo. E amo nosso bebê. Você não é uma obrigação e nem um dever para mim. Você é um presente. Uma bênção que eu nem sabia do quanto precisava até que entrasse na minha vida. Algo pelo qual serei eternamente grato a Deus até o fim dos meus dias. E não quero passar nem mais um único momento sequer da minha vida sem você.

Ele fechou os olhos e baixou a cabeça até que suas testas se tocassem. Abriu então os olhos novamente e encarou no fundo daquelas profundas piscinas esme­ralda, torcendo para ser suficientemente abençoado e poder olhar para elas para o resto de sua vida.

— Case-se comigo, Misty. Podemos viver onde você quiser, fazer o que você quiser, mas case-se co­migo. Por favor.

Misty respirou profundamente. Seu coração batia com tanta força que ela teve certeza de que Cullen podia senti-lo em seu próprio peito também. As lágri­mas que continuavam a rolar pelo seu rosto eram já lágrimas de felicidade, não mais de tristeza e arre­pendimento.

Misty não teve dúvidas de que ele estava falando a verdade. Ela estava convencida de que ele realmente não a encarava como uma responsabilidade. E o mais importante de tudo: ele a amava. Tanto quanto ela a ele.

Ela pigarreou e abriu a boca, torcendo para que a sua voz funcionasse quando precisava dela mais do que nunca.

— Eu me lembro da noite em que nos conhece­mos, quando você foi até a coxia — disse ela suave­mente, tocando o seu cabelo, tão familiar, tão caro a ela, com a ponta de seus dedos. — Desde aquele mo­mento, eu soube que minha vida nunca mais seria a mesma.

Ela pressionou a boca na dele e fechou os olhos por um momento antes de abri-los novamente e sus­surrar contra os seus lábios.

— Eu aceito me casar com você.

Ele se afastou minimamente, apenas o suficiente para poder olhá-la, sorrindo de orelha a orelha, com a felicidade estampada no rosto.

— Finalmente — disse ele, soltando o ar e abra­çando-a com força.

— Você fez de mim um homem muito feliz — ele falou na orelha dela. — Prometo que não vai se arre­pender.

Ela pousou a bochecha em seu ombro, passando as unhas pelo paletó marrom.

— Tem certeza de que não se importa que eu seja cinco anos mais velha que você ou que todo mundo diga que você se casou com uma ex-corista?

— Está brincando? — replicou ele. Ele deu um amplo sorriso e piscou para ela, fazendo-a perder o fôlego. — Mulheres maduras são muito melhor amantes que garotinhas. Panela velha é que faz comi­da boa. Não é isso o que diz o ditado? Se alguém vier nie falar que você é uma ex-corista, vou simplesmen­te dizer que você é capaz de cruzar os calcanhares por trás da cabeça. Eles não só vão entender o que eu que­ro dizer, como vão implorar para que eu os apresente a algumas das suas amigas dançarinas.

Ambos sabiam que a situação era bem mais séria, mas ela enterrou o rosto em seu peito e riu mesmo as-' sim. O senso de humor dele era mais um dos traços que ela amava em Cullen.

— E seu avô? — arriscou ela.

— Ele vai ter que aceitá-la, ou pelo menos manter a boca fechada, caso contrário será impedido de co­nhecer o seu primeiro bisneto.

— Oh, não, Cullen...

Ele cobriu a sua boca com dois dedos.

— Não se preocupe — disse ele. — Vamos resol­ver isso. Seja como for, nós vamos dar conta juntos. Juntos, ouviu?

— Juntos — sussurrou ela, para depois selar o compromisso com um beijo.

 

Duas semanas depois

Cullen estava de pé, do outro lado do Tides, a es­plêndida propriedade dos Elliot em Hamptons, reme­xendo em sua gravata borboleta. O maldito acessório estava prendendo a circulação.

E o seu irmão, ainda por cima estava atrasado. Droga!

Todos os outros já estavam lá dentro. Os arranjos de flores já haviam sido colocados, o padre já havia chegado e sua família e os convidados já estavam acomodados. Somente Bryan, seu padrinho, ainda não havia aparecido.

Cullen parecia nervoso, o que, considerando que era o dia de seu casamento, era absolutamente natu­ral. Mas era uma falsa impressão. Sua gravata estava realmente apertada e ele estava começando a ficar aborrecido com a ausência do irmão, mas estava lon­ge de estar ansioso.

Eleja queria casar com Misty havia muito tempo, mais ainda do que percebera havia poucos dias, para pensar em mudar de ideia. Por ele, já estariam no altar, fazendo seus votos, bem mais perto do momento de fugir para a lua-de-mel.

Ele queria levá-la para algum lugar como Paris ou Grécia, mas como ela já estava com cinco meses de gravidez e havia tido complicações, voar longas dis­tâncias não era aconselhável.

O médico, na verdade, não havia colocado ne­nhum impedimento, mas Cullen rejeitou completa-mente a ideia. Ele podia não ser um noivo ansioso, mas era um futuro pai excepcionalmente zeloso e su-perprotetor.

Eles já tinham voado até Las Vegas para que ela pudesse pegar o restante dos seus pertences e resol­ver alguns assuntos relativos ao estúdio, mas ele não queria arriscar, deixando-a embarcar num outro vôo antes do bebê nascer.

Eles decidiram então passar uma longa semana sem interrupções no Carlyle, em Manhattan. Ela nun­ca havia estado lá e queria conhecer o luxuoso hotel por dentro.

Ela com certeza iria conhecê-lo bem por dentro, pensou Cullen, pois ele não planejava deixá-la sair da suíte nupcial, nem para fazer as refeições, por no mí­nimo 48 horas.

Ai de qualquer membro da família que ousasse perturbá-los. Eleja havia ameaçado a todos com con­sequências calamitosas se tentassem fazê-lo.

Ele bufou e olhou para o relógio para checar nova­mente as horas, voltando a caminhar de um lado para o outro na entrada do Tides.

Onde estava Bryan?

Seu irmão já deveria ter chegado há uma hora. Ele estava com as alianças. Eles teriam que já estar posi­cionados antes que Misty começasse a caminhar pelo corredor em direção ao altar.

Ele estava prestes a voltar para dentro da igreja e tentar encontrar Bryan pelo telefone, quando ouviu o barulho de um motor e os sons de pneus cantando. O Jaguar prateado de Bryan ziguezagueou pela entrada da mansão e estacionou a menos de um palmo do car­ro à sua frente.

Cullen revirou os olhos diante da entrada dramáti­ca do irmão e caminhou determinadamente na sua di­reção.

— Já não era sem tempo — disse Cullen para o ir­mão, quando Bryan abriu a porta do carro e saiu.

Ele vestia uma calça jeans surrada, aparentemente bem confortável, e uma camisa azul-clara. Havia um corte em seu lábio e ao vê-lo bater a porta e começar a caminhar, Cullen pôde perceber que ele mancava.

— O que aconteceu? — perguntou Cullen, na cola do irmão.

Bryan balançou a cabeça.

— Um acidente — disse ele casualmente. — Sabia que estava atrasado e acabei me descuidando na pres­sa. Ter de parar para trocar informações a respeito do seguro não ajudou muito.

Cullen desviou o olhar do corte que Bryan estava cutucando e pôs-se a avaliar o pára-choque do carro do irmão. Não havia um arranhão sequer à vista, na frente, atrás ou nas laterais. Cullen também estra­nhou que o ferimento no rosto de Bryan já estava ci­catrizando, apesar de ser tão recente.

Cullen franziu o cenho e abriu a boca para conti­nuar inquirindo o irmão, quando Bryan lhe deu um tapinha nas costas.

— Vamos lá, meu irmãozinho. Preciso vestir meu terno de pinguim e você se enforcar.

Cullen foi tomado por uma grande expectativa en­quanto seguiam em direção à casa. Tides era urna enorme estrutura de pedra de dois andares, comprada por Patrick Elliot quarenta anos atrás. A casa, locali­zada num penhasco acima do Atlântico, havia sido lindamente decorada com fotografias da família e ob-jetos de valor afetivo pela avó de Cullen, Maeve.

Preparar e organizar uma cerimónia de tal vulto com apenas duas semanas de prazo não havia sido uma tarefa nada simples, mas ninguém sequer aven­turou a possibilidade da cerimónia ocorrer em outro lugar que não a propriedade da família. A mãe de Cullen havia assumido a função de organizar o casa­mento e tinha levado seu papel a sério, esclarecendo todos os detalhes com o filho ou com Misty, mas sem deixar que a futura nora levantasse um dedo sequer. Ela estava muito excitada com a ideia de ver o seu ca­çula se casar e se tornar pai em apenas quatro meses.

Para surpresa de todos, Patrick havia disponibili-zado a propriedade para a realização do casamento, sem nenhuma objeção.

Cullen tinha esperado por uma visita ou um telefo­nema de seu avô desde que anunciara oficialmente o casamento. Achou que ele lhe passaria um sermão a respeito dos perigos de misturar o sangue nobre dos Elliot com o de uma corista qualquer. Que ele iria exigir que ele desistisse de tudo e escondesse Misty e o bebê do resto do mundo em algum lugar onde não pudessem causar nenhum embaraço à família.

Havia se preparado para tudo isso, pronto para de­fender sua futura esposa até o fim, caso necessário. Patrick, porém, não havia ligado, nem sequer passa­do pelo seu escritório na editora para confrontá-lo.

Cullen estava torcendo para que o silêncio do avô significasse que ele havia aceitado a integração de Misty à família Elliot, mas parte dele ainda esperava pelo inevitável.

Ele e Bryan atravessaram o foyer de mármore e a biblioteca até chegar à suíte master que os padrinhos estavam usando para trocar de roupa. Misty e suas madrinhas haviam ocupado os quartos de cima. Amanda tinha insistido na separação para evitar o ris­co do noivo ver acidentalmente a noiva vestida para o casamento antes da cerimónia.

Cullen não acreditava que nada pudesse arruinar seu dia, ou os vários anos gloriosos pela frente.

O casamento propriamente dito seria realizado do lado de fora, no belíssimo jardim nos fundos. Um te­cido cor-de-rosa escuro havia sido estendido sobre a grama, formando um imenso corredor, com cadeiras de cada lado, cobertas por um tecido rosa-claro. Ha­via uma treliça branca no fundo, repleta de rosas ver­melhas.

— Apresse-se — disse ele ao irmão, jogando uma bolsa com o último smoking que havia sobrado em seu peito. — Você já me segurou tempo demais. Não quero que Misty pense que eu amarelei.

— Sem chance — retrucou Bryan. — Você in­sistiu tanto nesse casamento que eu não sei como não acabou fugindo com ela quando foram para Las Vegas.

— Chegou a me passar pela cabeça, acredite — resmungou Cullen.

Aquilo com certeza teria poupado muitos proble­mas a todos e Misty, àquela altura, já estaria com a aliança no dedo e já seria a Senhora Cullen Elliot. Eles estariam em casa, enroscados na cama ou de mãos dadas por sobre a mesa do café da manhã, pen­sando nos possíveis nomes para o filho, e ele não es­taria mais aflito para chegar logo a hora de dizer "eu aceito".

Bryan desabotoou a camisa e se livrou dos sa­patos.

— Você teria que pegar uma hepatite daquelas para Misty achar que tinha amarelado e você sabe. Vocês dois são tão felizes juntos que todos ao redor de vocês precisam de insulina para não ficar diabéti­cos. Chega a enjoar.

Um pequeno sorriso atravessou o rosto de Cullen.

— É — concordou ele suavemente. — Eu sei. Cullen jogou o smoking preto na mão de seu irmão assim que ele tirou o jeans.

— Agora cale a boca e vista-se.

 

Misty ficou observando o seu reflexo no espelho de corpo inteiro e sentiu ou coração parar.

Ela mal podia acreditar que era o dia do seu casa­mento. Que em menos de meia hora estaria atraves­sando o jardim daquela casa imensa que tanto a inti­midava para chegar até Cullen, oferecer-lhe sua mão e se transformar, enfim, na sua esposa. Seu futuro esposo. O homem da sua vida. Apesar de já amá-lo em segredo durante todos aqueles anos em que haviam estado juntos, ela nunca realmente acreditara que poderiam acabar se casan­do. Naquele instante, porém, ela sabia que eles nunca mais se separariam.

Misty tinha certeza de que ele a amava, apesar de todas as diferenças que havia entre eles: idade, cria­ção, status social.

Ele havia se disposto a abrir mão de sua família, ou pelo menos do seu avô, e de sua vida em Nova York, para que pudessem ficar juntos. Abrir mão de seu es­túdio de dança em Henderson e se mudar para Ma­nhattan para ser a sra. Elliot parecia um preço muito pequeno a pagar.

Ela sabia que poderia ser feliz ali. Nem todos os membros da família Elliot deveriam estar felizes com o casamento, mas a maioria já a havia aceito e deixa­do bastante claro que apoiava a decisão de Cullen.

Ela não tinha intenção de se transformar numa dona de casa, nem de ser uma mãe o dia todo dentro de casa às voltas com os filhos. Estava feliz com a perspectiva de permanecer em casa, no Upper West Side, até o bebê nascer e talvez por algum tempo mais, mas ela e Cullen também haviam discutido a possibilidade de um trabalho como professora de dança em algum lugar ou talvez até abrir um novo es­túdio na cidade.

Ela ainda não estava certa do que queria fazer. Só sabia que não queria limitar as suas opções só porque havia concordado em se casar com um Elliot.

— Você está linda — disse Bridget, vindo por trás dela e entrando em seu campo de visão no espelho, interrompendo os devaneios de Misty.

O coração de Misty voltou a acelerar e ela teve de engolir em seco.

— Tem gente lá fora? — perguntou ela timida­mente.

— É claro — respondeu Bridget com uma garga­lhada. — Você está prestes a ingressar na estimada família Elliot. Ninguém realmente importante ousa­ria perder! O lugar está repleto de parentes das duas famílias e de todos os membros da imprensa que receberam, roubaram ou imploraram por um convite. Sua mãe não parou de chorar desde que chegou. O seu rosto e o de Cullen vão estar estampados na capa de todos os jornais e revistas da América na segunda-feira de manhã.

— Oh, meu Deus. — Misty teve de se conter para não se curvar e enfiar a cabeça entre os joelhos, até porque, a tal altura da gravidez, curvar-se não era ta­refa das mais fáceis.

— Relaxe — disse Bridget, dando um tapinha em suas costas e ajeitando as dobras do vestido branco de Misty.

Misty havia resistido a usar branco. Parecia im­próprio e até mesmo um pouco ridículo, consideran­do que já estava com cinco meses de gravidez e pare­cia ter engolido uma bola de vôlei. A mãe de Cullen, porém, havia insistido, e Misty finalmente concorda­ra depois de experimentar o vestido.

O vestido era todo feito do mesmo tecido de seda, mas o corpete liso e sem adornos acabava bem abaixo dos seus seios como os vestidos das antigas impera­trizes. Uma camada mais fina coberta com minúscu­las pérolas recobria o restante do traje até os tornoze­los, disfarçando quase completamente o volume de sua barriga.

— Você está incrível — prosseguiu Bridget, ten­tando aplacar seus temores. — Tudo o que precisa pensar é que este dia é seu e de Cullen, e de mais ninguém. Ao sair, finja que só existem vocês dois neste mundo. Mantenha os olhos nele e ignore todos as ou­tras pessoas.

Essa ideia ajudou Misty. Ela sentiu-se pronta para enfrentar a cerimónia sem maiores problemas, não importando quantos convidados estivessem encaran­do-a, nem quantos flashes espocassem em seu rosto. Ter olhos somente para Cullen era tão natural para ela quanto andar ou respirar.

Ela deu uma última olhada em seu reflexo, fez um meneio para si mesma e se virou para encarar a jo­vem que estava rapidamente se tornando sua melhor amiga.

Bridget vestia um dos vestidos lilás sem alças de madrinha que Amanda havia escolhido. Seu cabelo loiro estava preso num coque e enfeitado com ramos de flores de primavera.

— Obrigada por tudo. Não sei o que eu teria feito sem a sua ajuda esta manhã.

Bridget a havia pego na casa de Cullen, bem cedi-nho, e a arrastara para um verdadeiro Dia da Noiva. Ela tinha feito as unhas de Misty, o cabelo e cuidado da maquiagem. Até a ajudou a se vestir quando ficou patente que ela nem conseguia enxergar os próprios pés, que diria se enfiar em delicadas meias ou num vestido feito a mão de valor inestimável.

Bridget sorriu.

— É para isso que servem as madrinhas.

Elas estavam prestes a pegar o buque e se encami­nhar para as escadas quando ouviram uma leve batida na porta do quarto. Bridget se apressou, pronta para barrar o noivo, no caso de Cullen ter decidido desa­fiar a ira de sua mãe e dar uma olhadinha na noiva an­tes da cerimónia.

— Vovô! — disse ela enfaticamente, dando um passo para trás para dar passagem ao velho senhor.

Patrick Elliot era alto e tinha cabelos curtos e gri­salhos. Misty sabia que ele já tinha mais de setenta anos, mas julgou-o uns dez anos mais jovem. Seus olhos eram de um azul brilhante, deixando bastante claro quem havia passado aquela cor à maioria dos Elliot.

Ela só o havia visto uma única vez antes, numa pe­quena reunião familiar onde Cullen havia permaneci­do o tempo todo ao seu lado, protegendo-a. Patrick fora bem frio com ela, embora não tivesse parecido abertamente hostil.

Ele estava vestindo um terno cinza-escuro e pare­cia um pouco nervoso de entrar num aposento usado exclusivamente pelas mulheres para os preparativos.

— Apreciaria falar em particular com a noiva, se possível — disse ele.

Sua voz era profunda, mas não tão rude nem exi­gente como se poderia esperar pelas descrições.

Bridget cruzou os braços sobre o peito numa atitu­de beligerante.

— Eu não acho...

Misty, porém, a interrompeu.

— É claro.

Toda a ansiedade que as palavras de Bridget ha­viam conseguido acalmar voltaram à tona, transfor­mando-se numa terrível apreensão, mas ela jamais se recusaria a falar com o avô de Cullen. Nem mesmo achando que ele estava prestes a lhe fazer uma severa reprimenda.

Ele havia deixado muito claro, ainda que indireta-mente, que não a aprovava como futura esposa de seu neto. Nem a ela, nem à sua criação, a escolha da sua carreira, ou o seu envolvimento com Cullen. Mesmo assim, Misty estava prestes a se tornar seu parente, tanto por conta do casamento com Cullen quanto pe­los laços de sangue com o filho que ela esperava, seu bisneto. O mínimo que podia fazer era deixá-lo falar. O que quer que ele lhe dissesse, porém, não a impedi­ria de descer as escadas e trocar os votos com o ho­mem que ela amava.

— Tem certeza? — perguntou Bridget, preocupa­da, com uma expressão de preocupação e desagrado pela chegada do avô em seu rosto.

Misty forçou-se a sorrir e a demonstrar uma con­fiança que na verdade não estava sentindo.

— Tenho certeza.

Bridget abriu a porta relutante.

— Vou ficar bem aqui caso você precise.

Ela deu um último olhar desconfiado para o avô e desapareceu no corredor.

Patrick observou-a ir embora e então se voltou para Misty.

— Obrigado.

Ela apenas inclinou a cabeça. Sua boca estava seca demais para conseguir falar.

Ele olhou ao redor do quarto, avaliando todos os preparativos. Roupas e sapatos descartados, arranjos florais, maquiagens, esmalte e perfume. Seus olhos voltaram-se novamente para Misty, estudando-a dos pés à cabeça para então pousar sobre a barriga saliente.

— Pude notar uma mudança muito grande no meu neto desde que você e ele começaram a se envolver. — Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e pigarreou antes de prosseguir. — Eu já havia começado a per­ceber há alguns anos, quando vocês começaram o re­lacionamento, eu suponho, mas ficou mais óbvio des­de que você se mudou para Nova York.

O pulso de Misty estava tão acelerado que chegava a ecoar em seus ouvidos. Ela abriu a sua boca e de­pois a fechou, na esperança de criar saliva suficiente para poder falar.

— Sinto muito — disse ela. — Sei que o senhor não aprova nosso envolvimento, mas...

O velho balançou a cabeça, arqueou as sobrance­lhas e tensionou os lábios.

— Não foi o que quis dizer. O que estou tentando explicar é que Cullen parece mais feliz atualmente, mais à vontade. É evidente que ele a ama muito e que está muito contente com a perspectiva de ser pai.

Ele apontou o ventre de Misty com a cabeça e am­pliou o gesto com uma de suas mãos.

— Você tem feito muito bem a ele. Até mesmo uma mula teimosa como eu pode ver.

Ele pigarreou novamente, e Misty percebeu que ele estava nervoso. Patrick Elliot, o patriarca de uma das famílias mais ricas e influentes de Nova York não estava à vontade para falar com ela. Ela, uma ex-corista, com um passado humilde, que havia se torna­do a amante do seu neto. Deus do céu! Aquilo era quase inacreditável.

— Estou feliz por você estar se integrando à nossa família — disse ele com a voz rouca. — Tenho a im­pressão de que você vai fazer muito bem a todos nós.

Atónita, Misty não conseguiu fazer mais do que olhar para ele por um momento. Depois então, for­çou-se a dizer um débil e pouco convincente "obri­gada" .

— Bem... — Patrick deu um último olhar ao redor do quarto enquanto ele se dirigia à porta. — Na verda­de, é tudo o que eu queria lhe dizer. A propósito, você está muito bonita e tenho certeza de que Cullen está ansioso para dar início à cerimónia, por isso vou dei­xá-la, para que possa terminar o que estava fazendo.

Ele acenou na sua direção mais uma vez antes de desaparecer pelo mesmo caminho que Bridget havia tomado, deixando Misty boquiaberta. Bridget voltou dois segundos depois, olhando desconfiada pela fres­ta da porta para o seu avô, antes de fechá-la.

— O que ele queria? — perguntou Bridget num tom cínico.

Misty tentou se desfazer do choque causado pela declaração que Patrick havia se esforçado por fazer, mas parecia incapaz de se mover.

O avô de Cullen não havia se desculpado pelos co­mentários feitos sobre ela assim que ela se mudou para Nova York, os tais sobre um Elliot não se casar com uma stripper, mas tinha ido falar com ela em particular, sem que houvesse necessidade. A seu modo, ele havia dado as boas-vindas à família.

— É melhor ele não ter dito nada que a aborreces­se — rosnou Bridget protetoramente. — Se ele fez isso, eu juro que...

— Não. — Misty balançou a cabeça, pestanejando várias vezes, numa tentativa de desfazer a névoa que obscurecia o seu cérebro. — Você não vai acreditar, mas...

Um celular tocou ao longe.

— Droga, éomeu!

Bridget se precipitou sobre a cama, catando sua bolsa embaixo de uma montanha de roupas jogadas enquanto as madrinhas se trocavam. Ela achou o ce­lular e o abriu.

— Alô?

Misty observou Bridget remexer em sua bolsa à procura de um papel e uma caneta, fazendo anotações enquanto ouvia seu interlocutor.

— Certo. Obrigada.

Ela desligou o celular, jogou-o novamente na bol­sa e se virou de volta para Misty, enfiando alguns fios soltos do seu cabelo sob o arranjo de falsos bri­lhantes.

— Você não vai acreditar — disse Bridget quase sem fôlego. — Acabei de receber uma informação que pode ser uma bomba para a história do livro. Acho que vou ter que ir logo depois da recepção.

Misty franziu o cenho, preocupada.

— Onde você vai?

— Não quero dizer nada agora, mas prometo ligar assim que chegar lá para dizer que está tudo bem.

Ela deu um passo para trás e sorriu de maneira en-coraj adora.

— Agora diga-me o que o vovô lhe disse, para que eu possa saber se Cullen deve se entender com ele ou não.

Misty respirou profundamente e compartilhou com a amiga o acontecido.

— Ele disse que eu fazia muito bem para Cullen e que estava feliz por eu estar entrando para a família.

— O quê? Sério? — Os olhos azuis de Bridget ar­regalaram-se por um momento para em seguida semicerrarem-se, cheios de suspeita. — Não parece coisa do meu avô. Tem certeza de que ouviu direito?

Misty riu.

— Tenho, mas preciso admitir que fiquei tão cho­cada quanto você.

Bridget manteve a cara amarrada ainda por um momento. Depois desfez a careta, desanuviando a sua expressão e deu de ombros.

— Talvez ele esteja finalmente recuperando o bom senso. Estou feliz por você, seja qual for a razão dessa mudança. Todo o restante da família sempre soube que você seria uma bela aquisição para o clã. Cullen a ama, e é o que importa.

A menção do nome de Cullen e a lembrança do quanto ele a amava fizeram seus lábios se curvarem, num sorriso.

— Eu sei.

— Vamos descer e avisar a todos que estamos prontas?

Ela segurou o buque de rosas e margaridas com ti­ras de fitas cor de rosa pendendo até quase o chão.

— Vamos.

De mãos dadas com Bridget e um vazio no estô­mago, Misty deixou o quarto e caminhou pelo corre­dor, desceu as escadas até o andar de baixo da man­são e então seguiu até os fundos da casa, onde as ou­tras madrinhas a esperavam para precedê-la pelo cor­redor improvisado.                                      

Bridget deixou-a no fundo e correu para juntar cada uma das madrinhas, inclusive ela mesma, ao seu respectivo padrinho.

Daniel, o pai de Cullen, conduziria Misty pelo cor­redor. Ela pôde ver um brilho de emoção umedecen-do os seus olhos quando se aproximou. Já à beira das lágrimas, ela desviou rapidamente o olhar, dando-lhe o braço e ocupando-se com as dobras do seu vestido e as fitas do seu buque.

Quando todos estavam alinhados e prontos, Amanda fez o sinal para que a orquestra começasse a tocar a Marcha Nupcial. O coração de Misty saltou em seu peito aos primeiros acordes. Ela teve que di­zer diversas vezes a si mesma para respirar fundo e relaxar.

Ela podia não ter desejado sair e encontrar cente­nas de convidados olhando boquiabertos, mas certa­mente queria chegar até o final e se transformar na Senhora Cullen Elliot.

Assim que o viu, de pé, em frente à treliça coberta de flores na outra ponta do corredor cor-de-rosa, po­rém, ela se acalmou. Uma sensação de tranquilidade inundou todo o seu corpo e um suave sorriso aflorou em seu rosto.

Cullen sorriu de volta para ela e daquele momento em diante eles só tiveram olhos um para o outro.

Ao se aproximarem do padre, Daniel beijou-a na bochecha e a entregou a Cullen. Seus dedos se entre­laçaram e ele apertou suavemente a sua mão. Ela re­tribuiu o gesto, sem tirar os olhos do homem com quem estava prestes a se casar.

O padre falou de amor e compromisso e, antes que ela se desse conta, já havia chegado a hora dos votos. Cada um deles prometeu amar e respeitar um ao ou­tro. Misty sabia que jamais seria um problema para nenhum dos dois. O padre então disse a Cullen que ele podia beijar a noiva.

— Com todo prazer.

Tomando o rosto dela nas mãos, ele se inclinou para frente até suas respirações se mesclarem.

— Eu te amo — sussurrou ele, apenas para ela. Ela pestanejou rapidamente, emocionada. Seu co­ração já não cabia mais dentro do peito.

— Eu também te amo.

Depois ele a beijou respeitosamente, um encontro suave e casto de duas bocas que mesmo assim foi ca­paz de transmitir toda a paixão e devoção que um sentia pelo outro.

 

— Foi o sexo de recém-casados mais incrível que já vi — disse Cullen, afastando o cabelo de sua testa úmida, antes de traçar uma linha de beijos pela gar­ganta, colo e seios de Misty.

Eles estavam na suíte do Carlyle, felizes e sozi­nhos. A recepção do casamento havia se arrastado por uma eternidade (pelo menos foi assim que pare­ceu a Cullen) mas ele finalmente pôde fugir com Misty. Uma limusine os trouxera de volta para a cida­de e ele havia tido a honra de carregá-la, com toda a pompa e elegância de uma noiva, pelo saguão do ho­tel, no elevador e até a porta da suíte.

Ela protestou dizendo-se pesada demais para aqui­lo, mas, para ele, ela parecia leve como uma pena. Mesmo que não fosse verdade, a adrenalina em suas veias teria lhe permitido carregá-la até Manhattan.

A mãe de Cullen era do tipo que não se descuidava de nenhum detalhe. Ela havia providenciado para que o quarto estivesse repleto de flores frescas, chocola­tes finos e duas garrafas de champanhe gelada, uma normal e a outra não-alcoólica.

Era adorável. O quarto tinha tudo o que um casal recém-casado poderia desejar, mas Cullen mal havia olhado duas vezes para coisa alguma. Em vez disso, havia carregado a sua esposa direto para a cama king size e a despiu lentamente, tirando o vestido branco e puro do seu corpo delicioso, e amando-a pela primei­ra vez como seu marido, languidamente. A experiên­cia havia sido tão tocante, tão essencial, que ele até sentiu vontade de chorar.

Da segunda vez, ele havia se convencido definiti­vamente que Misty realmente pertencia a ele. Para sempre.

Ele era um homem de muita sorte.

— Se eu soubesse que seria assim — disse — eu já a teria arrastado para o altar há muito tempo.

Ela riu e aquele som o encheu de alegria. Ela aca­riciou a parte de trás da batata da sua perna com o arco do pé.

— Ainda não consigo acreditar que você estava usando uma meia arrastão por baixo do vestido de noiva.

Ele havia tido uma surpresa quando passou a mão por baixo do seu vestido e encontrou aquela peça sexy e reveladora cobrindo suas coxas bem tornea­das. Uma grata surpresa.

Uma surpresa deliciosa.

— Pareceu bastante apropriado — respondeu Mis­ty. — Como uma lembrança de que, apesar de você ter me transformado numa Elliot, serei sempre uma corista no coração.

— Amém! — murmurou ele com convicção.

Suas mãos então recomeçaram a vagar, acarician­do o monte estendido no meio do corpo dela, segui­das então pelos seus lábios.

— Já lhe disse que acho sua barriga de grávida muito sexy?

— Acho que não — disse ela rindo, passando os dedos pelo seu cabelo.

— Adoro tocar nela, sentir o bebê se mexendo lá dentro e saber que também sou responsável por ele estar lá.

— Ecomo!

— Agora vamos ter que pensar no parto, na troca de fraldas, nas amamentações no meio da madruga­da. Quem sabe alguns irmãozinhos?

Mantendo a mão sobre a barriga de Misty, ele tra­çou uma linha de beijos pelo caminho de volta até a sua boca.

— Você já pensou em algum nome?

— Não — respondeu ela, parecendo sonolenta e satisfeita, deitada nua sobre os lençóis de seda. — E você?

— Alguns. E tenho certeza de que a minha família vai querer fazer sugestões também.

Ele estava olhando para seus olhos brilhantes, es­meralda, por isso viu quando ela os fechou levemente ao ouvir a menção à sua família.

— Qual o problema? — perguntou ele.

Ela balançou a cabeça, mordiscando o lábio infe­rior. Uma pontada de preocupação tomou conta de Cullen.

— Diga — disse ele, parando de acariciá-la.

— Nada ruim, só não tive chance de contar antes do casamento.

Ela expirou e virou a cabeça no travesseiro, olhan­do-o diretamente nos olhos. Estendeu então o seu braço até encontrar a mão dele para entrelaçar os seus dedos.

— Seu avô foi lá em cima falar comigo antes da cerimónia.

Cullen se empertigou, profundamente chocado.

— O quê? O que foi que ele lhe disse? Ele a abor­receu? Ele a ameaçou? Ele lhe ofereceu dinheiro para você não se casar comigo?

— Não, não, não — assegurou ela rapidamente, passando a mão livre sobre o ombro dele para acal­má-lo. — Ele foi muito gentil comigo e me deu as boas-vindas para a família Elliot, acho.

Por alguns segundos, tudo o que ele foi capaz de fazer foi olhar para ela como se tivesse sido atingido entre os olhos com um tijolo.

— Meu Deus — disse ele, encontrando finalmente voz suficiente para murmurar. — Tenho de admitir que nunca achei que o vovô fosse realmente mudar de ideia. Mas estou muito feliz.

Ele ajeitou o cabelo dela para trás da sua orelha e beijou suavemente o canto de sua boca.

— Acredita em mim agora quando eu digo que você vai ser uma bela Elliot?

— Não sei. Mas certamente estou aliviada por sa­ber que seu avô não me odeia mais e que não vai aca­bar odiando você por extensão.

— Não faria diferença para mim — retrucou ele, confiante. — Você é minha mulher e não vou permitir que ninguém nos diga que não podemos ficar juntos.

Ela tirou a sua mão da nuca dele para erguê-la à sua frente, a mão esquerda, exibindo aquele anel obscenamente grande de ouro e diamantes que brilhava sob a luz do abajur do criado mudo.

— Isto é pelos quatro anos em que eu fui sua amante — murmurou ela — e pelo resto da minha vida como sua esposa.

— Vamos beber a isso — disse ele, antes de cobrir a boca de Misty com a própria. — Mais tarde.

 

                                                                                Heidi Betts 

 

 

                      

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