Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


O ÚLTIMO HOMEM INDOMADO / Carole Mortimer
O ÚLTIMO HOMEM INDOMADO / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Há apenas um único St. Claire solteiro e convicto... Mas por quanto tempo?

A vida de Gideon St. Claire era do jeito que ele gostava: somente trabalho. Ele achava que coman­dava suas emoções, e as mulheres com quem se relacionava jamais sabiam sobre o que acontecia em sua vida fora do caminho entre as escadas e o quarto. Segura, divertida e com o dom de excitar Gideon, Joey McKinley era o tipo de mulher que ele evitava. Como lidar com tanto entusiasmo? Mas quando um velho inimigo de Joey busca vingança, Gideon viu-se forçado a vigiá-la dia e noite...

Três aristocratas audaciosos e prontos para o casamento!

 

 

 

 

— Então, você vai ficar parado aí a manhã inteira, me olhando com esse ar superior, ou vai fazer alguma coisa útil e se oferecer para levar uma destas caixas no elevador para mim?

Gideon fechou os olhos. Contou até dez. Devagar. Res­pirou fundo. Então novamente. Até mesmo mais devagar. Antes de abrir os olhos mais uma vez.

Não, Joey McKinley ainda estava lá. Na verdade, ela havia endireitado o corpo depois de se inclinar sobre o porta-malas de seu carro, parado a duas vagas de distância da vaga privativa de Gideon no estacionamento subsolo, e estava agora batendo um único salto de sapato no chão de concreto. Ele sabia que aquela mulher se tornaria o carma de sua existência pelas próximas quatro semanas, se aquela situação continuasse.

Joey McKinley... 28 anos, 1,65m, cabelos ruivos curtos que emolduravam o lindo rosto em forma de coração, olhos verdes desafiadores, pele clara, com delicadas sardas salpicadas sobre o narizinho, lábios carnudos e sensuais. O corpo, obviamente em forma, estava coberto per um con­junto de saia e blazer, e uma blusa de seda do mesmo tom de verde-jade de seus olhos.

— Então? — ela o desafiou as batidas impacientes do sapato contra o concreto aumentando, enquanto o olhava com sobrancelhas castanhas arqueadas.

Gideon respirou fundo novamente enquanto considerava as inúmeras maneiras de vingar-se de seu irmão mais velho, Lucan, por tê-lo colocado naquela situação terrível. Não uma vingança que causasse sérios danos, é claro. Mas um pequeno sofrimento! Gideon não tinha escrúpulos quanto a isso. Lucan obviamente não se preocupara muito com o bem-estar de Gideon, tendo imposto esta mulher a ele sem pensar duas vezes.

Aquilo era algo que Gideon vinha contemplando pelas últimas 36 horas, na verdade. Desde que Lucan o informa­ra na sua recepção de casamento no sábado à noite, que, quando Gideon assumisse como diretor-geral temporário da Corporação St. Claire pelo mês que seu irmão e Lexie esti­vessem viajando em lua de mel, Joey McKinley assumiria o cargo de Gideon, como representante legal da empresa.

Os argumentos de Gideon de que era perfeitamente ca­paz de exercer as duas funções não tiveram nenhum im­pacto sobre seu irmão mais velho. Lucan também ignorara Gideon quando ele confessara que tinha suas dúvidas se ele e Joey McKinley seriam capazes de trabalhar juntos.

Gideon respeitava a mulher como advogada, tendo ou­vido apenas comentários positivos dos outros colegas em relação à habilidade dela num tribunal, mas, em todos os outros aspectos, ela o enfurecia.

Aqueles cabelos vermelhos eram como um farol brilhan­te em todos os cômodos que Joey estava, e ela possuía uma risada sensual que, quando liberada, fazia todas as cabeças masculinas se virarem em sua direção. Estivera usando um vestido das últimas duas vezes em que Gideon a encontra­ra... Primeiramente, um vestido verde longo de madrinha no casamento da irmã de Joey, Stephanie, e seu irmão, Jordan, quase dois meses atrás, e um vestido vermelho na al­tura dos joelhos no casamento de Lucan e Lexie no sábado. O último enfatizara as mechas naturais douradas e cor de canela nos cabelos cor de cobre.

O conjunto que ela estava usando hoje deveria ter lhe dado uma aparência séria e profissional, mas, de alguma maneira... Não dava. O blazer era curto e justo, e os três primeiros botões abertos na blusa verde exibiam o alto dos seios. A saia até a altura dos joelhos revelava as longas per­nas bem torneadas.

Em outras palavras, Joey McKinley era...

— Sabe, eu já vi tinta secar em menos tempo do que você parece ser capaz de tomar uma decisão — disse ela.

... Insuportável!

Ele inalou profundamente, num esforço para relaxar a tensão de seu corpo.

— Você sempre tem de ser tão abrasiva? — Pergun­ta tola; ele a conhecia bem o bastante agora para saber que Joey sempre falava o que passava por sua cabeça no momento. Algo que Gideon, um homem que sempre media as palavras cuidadosamente antes de falar, achava perturbador.

O próximo comentário dela foi um exemplo daquela ousadia.

— Talvez eu não sentisse a necessidade, se você ocasio­nalmente abandonasse esse seu ar superior e se juntasse ao resto de nós, mortais, no mundo real.

Gideon ficou tenso. Os dois tinham se encontrado quatro vezes no total. Mais recentemente, dois dias atrás, no casa­mento de Lucan e Lexie, e antes disso, nove meses atrás, quando ele a conhecera no escritório de Joey, em Pickard, Pickard e Wright, depois de ter ido informá-la de que tinha conseguido livrar a irmã gêmea dela, Stephanie, de uma situação legal embaraçosa. Duas semanas depois, Gideon a encontrara no ensaio de casamento de seu irmão gêmeo, Jordan, com Stephanie, e então a vira de novo no casamen­to deles uma semana depois.

Gideon franziu o cenho agora, ao se lembrar de seu espan­to durante a cerimônia de casamento de Jordan e Stephanie. Tudo transcorrera tranqüilamente até o momento do casa­mento, e Gideon, como padrinho de seu irmão, chegara à igreja com Jordan um bom tempo antes da cerimônia. Ele até mesmo sentira um nó de emoção na garganta por seu irmão, no momento em que Stephanie caminhara pela igreja com todo o seu esplendor. Até que Joey o olhara com uma ex­pressão zombeteira de onde estava, atrás de sua irmã gêmea.

Não que aquilo fosse algo incomum; os dois pareciam ter desgostado um do outro desde a primeira vez em que haviam se encontrado. Não, o motivo do espanto de Gideon viera mais tarde na cerimônia, quando todos estavam sen­tados, Jordan e Stephanie assinavam o registro, e ele ouvira um anjo cantando.

Uma única voz subira aos céus de forma sublime, preen­chendo a igreja... Uma voz tão doce e clara quanto à melo­dia de um sino tocando.

Ele nunca ouvira nada tão maravilhoso quanto aquela voz... Um tom tão lastimoso e mágico que mexera profun­damente com suas emoções. Gideon se sentira tão atordo­ado, seus sentidos cativados pela pureza daquela voz, que levara um tempo para perceber que todos os convidados olhavam para o lado direito da igreja... E foi quando ele percebeu que o "anjo" que cantava não era ninguém menos que Joey McKinley!

Joey não tinha idéia de por que Gideon St. Claire desper­tava o pior que havia nela... Ao ponto de fazê-la sempre querer provocá-lo para tentar abalar aquela arrogância in­suportável. Talvez fosse a atitude superior que a irritava. Ou o fato de que, com um jeito frio e reservado, ele pare­cesse tão emocionalmente insensível. Tudo sobre Gideon era contido, desde o estilo curto dos cabelos lindamente dourados até os ternos impecáveis e o sedan cinza metáli­co caro, porém discreto, que ele dirigia. Se Joey fosse rica como a família St. Claire dirigiria uma Ferrari esporte vermelha!

Ou, talvez, seu ressentimento decorresse do fato de que, alguns meses atrás, Gideon St. Claire tivesse aparecido e resolvido um delicado problema legal para sua irmã, o qual Joey vinha tentando solucionar — sem sucesso — por semanas.

Certamente não tinha nada a ver com o fato de que, pon­do sua indiferença de lado, o homem era bonito como o pecado, mas dava a impressão de nem notar que Joey era mulher, muito menos uma mulher atraente!

Os cabelos dele, muito curtos para o gosto dela, eram da cor e textura de fios de ouro. Os olhos eram castanho-escuros e penetrantes e, se isso não bastasse, a natureza o pre­senteara com maçãs do rosto salientes, feições esculpidas e um maxilar quadrado arrogante.

Tendo estudado Gideon sob cílios baixos no segundo en­contro deles — ela estivera muito impressionada tanto pela reputação dele quanto pela arrogância no primeiro encontro dos dois em seu escritório —, Joey não tinha dúvidas, ape­nas pelo jeito predatório como ele se movia, de que o corpo sob os ternos impecáveis era perfeito e musculoso.

Com cabelos dourados, olhos cor de chocolate, feições sensuais e um corpo másculo, Gideon St. Claire era muito ardente... Com "A" maiúsculo.

Considerando toda aquela sensualidade, Joey ficara in­trigada por ele não levar uma mulher aos casamentos dos irmãos. Isso, combinado com o fato de Gideon não parecer notá-la como mulher, levara Joey a questionar sua irmã se Gideon era homossexual. Depois que Stephanie rira por cinco minutos sem parar, Joey assumira que a resposta era um ressonante não.

Então, o senhor "Arrogantemente Reservado e Alta­mente Sensual" obviamente gostava de mulheres... Mas não de Joey!

Bem, sem problemas para ela... Gideon St. Claire podia ser o homem mais atraente que Joey já conhecera, mas a falta de interesse que ele sempre mostrara com relação a ela apenas conseguia colocá-la na defensiva e, com mais freqüência do que pretendia a fazia tentar chocá-lo.

— Você está sofrendo de laringite, ou não é uma pessoa matinal? — perguntou Joey alegremente.

— Talvez se você parasse de falar um pouco, eu poderia lhe responder? — disse ele naquela voz: grave e sexy, sem fazer nenhum movimento para diminuir a distância entre os dois carros estacionados deles. — Senhorita McKinley...

— Joey.

As narinas dele se dilataram com óbvio desgosto.

— Você se importaria se eu a chamasse de Josephine?

— De maneira alguma... Contanto que você não se im­porte que eu reaja do mesmo jeito que reagi da última vez em que alguém tentou fazer isso. Ele acabou com um olho roxo — murmurou ela com um sorriso, enquanto Gideon arqueava as sobrancelhas loiras.

— Você não gosta do nome Josephine?

— E claro que não.

Aquilo não estava indo bem, reconheceu Gideon. Ele chegara à conclusão, durante as horas desde que falara com Lucan, no sábado à noite, que a única solução para aquele problema era explicar para Joey, calma e logicamente, por que achava que eles não poderiam trabalhar juntos, antes de acenar-lhe um adeus alegre e continuar com seu papel de diretor-geral da Corporação St. Claire. Afinal de contas, ela também devia estar ciente das diferenças deles em aborda­gens e em... Bem, em tudo.

Um plano lógico e bem elaborado, ele acreditara na oca­sião. Até que havia se deparado com a mulher abrasivamente franca. Os poucos minutos de conversa com ela tinham sido o bastante para lhe mostrar que sua conclusão estivera correta. Todavia, também percebia que qualquer sugestão de sua parte para que ela desistisse de trabalhar com ele por um mês provavelmente resultaria em Joey McKinley fazendo exatamente o oposto.

Pela primeira vez em sua vida bem organizada, Gi­deon não sabia o que fazer ou o que dizer para alcançar seu objetivo da melhor forma. Só sabia que não podia trabalhar com aquela mulher por quatro - semanas e per­manecer são!

Mesmo que ela tivesse a voz de um anjo ao cantar...

O fato de que Lucan anunciara que tiraria um mês de férias para sua lua de mel, durante a qual pretendia ficar incomunicável, exceto para verdadeiras emergências, era extraordinário em si mesmo.

Não que Gideon devesse estar surpreso... Seus dois ir­mãos vinham se comportando de maneira totalmente im­previsível desde que haviam conhecido e se casado sem de­mora com as mulheres por quem se apaixonaram. Gideon gostava de Stephanie e Lexie, mas achava desconcertante a mudança em seus dois irmãos.

Jordan, um excelente ator, que tinha apreciado inúmeros relacionamentos com lindas atrizes e modelos durante os últimos dez anos, apaixonara-se por sua fisioterapeuta dois meses atrás, e parecia continuar totalmente apaixonado por Stephanie, agora que eles estavam casados. Ao ponto de a filmagem atual dele ser agendada de acordo com as horas em que Stephanie trabalhava na clínica que abrira quando se mudara para Los Angeles.

E, até que Lucan tivesse conhecido e se apaixonado por Lexie, ele nunca ficara mais que alguns dias longe da empresa, que transformara numa das mais bem sucedidas do mundo. Motivado era a palavra que melhor definia seu irmão mais ve­lho, até que Lexie entrara em sua vida poucas semanas atrás.

Era uma palavra que podia ser associada aos três irmãos St. Claire desde que tinham alcançado a idade adulta e abraçado suas profissões escolhidas: Gideon em Direito, Jordan como ator, e Lucan no mundo dos negócios.

Tudo isso mudara nos últimos dois meses e, como um homem que preferia ordem e continuidade, Gideon ainda estava tentando aceitar aquilo. Algo que provavelmente não faria com a irritante Joey McKinley perseguindo-o em todas as suas horas de trabalho!

— Muito bem, Joey, então. — Ele deu um suspiro quase imperceptível. — Tenho certeza de que Pickard, Pickard e Wright... Jason Pickard, em particular... Lamentaram a sua saída.

— Saída para onde exatamente?

Gideon a olhou com impaciência. Realmente, nada que ouvira sobre aquela mulher lhe dera razão para questionar a inteligência dela.

— Para cá, é claro. Joey pareceu perplexa.

— Desculpe, mas você terá de explicar o que quer dizer. Especialmente a observação "Jason Pickard em particular" — acrescentou ela friamente.

Gideon não estava gostando de ter essa conversa pessoal no meio de um estacionamento, onde algum funcionário da empresa poderia chegar a qualquer momento. Na verdade, passava pouco das 8h da manhã, e a maioria dos emprega­dos da Corporação St. Claire não chegava antes das 9h, mas não seria nada profissional se alguém chegasse mais cedo e visse o diretor-geral com uma mulher desconhecida no estacionamento.

Gideon reduziu a distância entre eles em três longos pas­sos, parando a poucos centímetros de Joey, e instantanea­mente sentiu o perfume que ela usava. A escolha do perfu­me foi uma surpresa; Gideon teria pensado, considerando a personalidade forte de Joey, que ela usasse um daqueles perfumes que convidada todos a notarem sua presença. O tipo de perfume que lhe dava dor de cabeça no momento em que ele o inalava. Em vez disso, era uma fragrância suave e sensual, que o fez reagir de uma maneira que ele pretendia ignorar.

— Eu estava apenas tentando expressar como achei in­sensato o pedido de Lucan para que você desistisse de sua posição em Pickard, Pickard e Wright a fim de trabalhar aqui por somente quatro semanas.

Joey encontrou-se momentaneamente distraída, enquan­to observava Gideon se mover com a graça predatória de um tigre.

Mais uma vez, pensou que o homem não era apenas ar­rogantemente lindo, mas também devastador para qualquer mulher com sangue nas veias.

Se ele apenas deixasse os cabelos crescerem um pouqui­nho, pareceria-mais jovem, e também mais sexy. O mesmo podia ser dito sobre aqueles ternos conservadores que ele sempre usava. Vestisse-o numa calça jeans desbotada e numa camiseta preta justa, mostrando o peito e os braços fortes, e qualquer mulher teria um orgasmo só de olhar para ele!

Joey sorriu para si mesma, imaginando a expressão de horror que Gideon certamente faria se adivinhasse seus pensamentos inapropriados sobre ele.

— Você está achando alguma coisa divertida?

Era divertido imaginar um Gideon St. Claire mais sexy e mais relaxado, enquanto ele tentava defender-se da aten­ção de todas aquelas mulheres ofegantes! Mas não era tão divertido que Joey tivesse consciência de quão mais peri­gosamente atraente aquele homem poderia ser se relaxasse um pouco...

Joey sacudiu-se mentalmente enquanto olhava para aquele rosto desaprovador; o homem não era seu tipo. Ela preferia homens com ousadia e energia para experimentar coisas novas. Gideon dava a impressão de que a última coi­sa nova que experimentara era usar meias pretas, em vez de cinzas!

Ela suspirou.

— Oh, mas eu não desisti de meu cargo em Pickard, Pickard e Wright; os sócios mais velhos ficaram contentes em me dar um mês de licença, de modo que eu possa ajudar Lucan.

Algo que devia ter levado algum tempo para ser arranja­do, pensou Gideon com impaciência crescente.

— Exatamente quando Lucan fez todos esses arranjos?

— Três semanas atrás... — Joey parou para fitá-lo com olhos estreitos. — Quando Lucan deu a má notícia para você!

— Eu não me recordo de ter dito que essa era uma má notícia.

— Você deixou implícito — replicou ela. — Então... Quando?

O maxilar de Gideon enrijeceu.

— Eu realmente não entendo...

— Ele só lhe contou sábado no casamento, não foi? — percebeu Joey.

Gideon não sabia por que sempre se sentia menos no controle da situação quando estava perto daquela mulher em particular. Durante seus anos numa sala de tribunal, ele adquirira a reputação de ser formidável. Agora, como advo­gado corporativo das vastas empresas de Lucan ao redor do mundo, sabia que não era considerado menos implacável que seu irmão mais velho. Todavia, uma simples conver­sa com a imprevisível Joey McKinley era o bastante para deixá-lo nervoso.

— Foi isso, não foi? — perguntou Joey com satisfação, os olhos verdes agora rindo abertamente dele. — A notícia deve ter arruinado o resto de seu fim de semana, também.

Os dedos de Gideon se apertaram ao redor da alça de sua pasta preta.

— Meu fim de semana foi muito agradável, obrigado — mentiu ele. — Na verdade, eu almocei com Stephanie e Jordan ontem, uma vez que eles voaram de volta para Los Angeles esta manhã.

— E eu tomei café da manhã com eles, antes de levá-los ao aeroporto, e nenhum dos dois mencionou que você tinha pedido o número de meu telefone. O que acho que teria fei­to se quisesse ter esta conversa comigo mais cedo. — Joey meneou a cabeça.

Na verdade, Gideon pensara em pedir a Stephanie o nú­mero do telefone privado da irmã, mas então decidira não envolver a família no que era, afinal de contas, um conflito particular de personalidades.

— Ou talvez você não quisesse que nenhum deles tirasse conclusões erradas?

Ele fez uma careta de desgosto. — Perdão?

— Pedindo o telefone de minha casa. Tenho certeza de que você não quis dar a Jordan e Steph à impressão de estar pes­soalmente interessado em mim — respondeu ela com ironia.

Gideon respirou fundo para se acalmar... Um exercício inútil pensou com irritação. Não podia lembrar-se da últi­ma vez em que se sentira tão nervoso.

— Creio que isso seja muito improvável.

— Você crê?

Era sua imaginação, ou Joey estava mais perto do que alguns segundos atrás? Tão perto que Gideon podia ver o inchaço dos seios acima do sutiã de renda, e a pulsação batendo acelerada na base do pescoço delicado.

Deus amado...

— Certamente você reconhece, por esta conversa, que nós não poderíamos trabalhar juntos?

Joey endireitou o corpo, e subitamente encarnou a pro­fissional de novo.

— Meu acordo é com Lucan, Gideon... Não com você. E eu me certifico de nunca decepcionar as pessoas quando combino alguma coisa. Um traço de caráter que acredito que você compartilha certo?

Aparentemente, Joey também o conhecia um pouco, listou certo que Pickard, Pickard e Wright precisam mais de suas habilidades profissionais do que eu — apon­tou ele suavemente.

— Pelo contrário, eles estão felizes em atender ao pedi­do de Lucan.

E claro que estavam, pensou Gideon. Sem dúvida, Pickard, Pickard e Wright tinham ciência do prestígio de permitir que um de seus associados trabalhasse com a Corporação St. Claire por um mês.

— Então, Gideon, Lucan está feliz com o acordo, Pickard, Pickard e Wright estão felizes com o acordo, e eu estou feliz com o acordo. Parece que você é o único que não está. — Ela o encarou em desafio.

Gideon retornou o olhar friamente.

— Eu não me recordo de ter dito que estava infeliz com isso.

— Não?

— Não.

— Então parece que esse pequeno problema foi resolvi­do, para a satisfação de todos, certo?

Nunca! Na opinião de Gideon, ter Joey no prédio St. Claire pelas próximas quatro semanas era totalmente inaceitável.

Ela interrompeu seus pensamentos com outro assunto desagradável:

— Talvez agora você possa explicar o que quis dizer com o comentário de que "Jason Pickard, em particular" lamentaria me ver sair da firma?

Gideon percebeu que Joey não estava mais sendo deliberadamente provocante. As emoções dela estavam ago­ra muito mais sutis. Por fora, ela parecia agradavelmente interessada, mas ele reconheceu a raiva queimando sob a superfície. Estava lá, no brilho dos olhos verdes e no rubor das faces alvas. Todavia, Gideon não tinha idéia de por que ela se sentiria dessa maneira. Todos na comunidade fecha­da de advogados sabiam que ela estava envolvida com o Pickard júnior pelos últimos seis meses.

Ele deu de ombros.

— É de conhecimento público que vocês dois são amigos.

— É exatamente o que somos... Amigos — declarou ela. — Nada mais; nada menos.

— Perdoe-me se eu pisei nos seus calos pessoais.

— Acabei de dizer que você não fez isso. Gideon comprimiu os lábios.

— Não quero discutir sobre uma observação inocente pela qual eu já me desculpei.

— Alguém ousa discutir com você, Gideon? — Joey McKinley o olhou com frustração.

— Obviamente — respondeu ele, dando-lhe um olhar significativo.

— Isso não é uma discussão, Gideon, é um diálogo. Ele meneou a cabeça.

— Eu realmente não tenho tempo para isso, então, se você não se importa...

— Mas eu me importo Gideon. — Subitamente, Joey estava muito perto de novo. Tão perto que ele podia sentir o calor da respiração dela em seu queixo, uma vez que os saltos altíssimos deixavam o topo da cabeça raiva no nível dos seus olhos.

Gideon desejou que nunca tivesse começado aquela con­versa. Que tivesse pegado uma das caixas do porta-malas do carro vermelho da mulher e subido no elevador com ela, antes de fechar-se na sala de Lucan pelo resto do dia.

Ele tinha 34 anos, era bem-sucedido em sua carreira e os casos amorosos que tinha ocasionalmente mal ficavam registrados na escala de suas emoções. Além da afeição que sentia por seus dois irmãos e sua mãe, Gideon preferia man­ter distância física e emocional do resto da humanidade.

Era difícil fazer isso perto da impetuosa Joey McKinley. Especialmente quando ela estava tão perto que ele podia sentir o cheiro de limão do xampu nos cabelos vermelhos com mechas douradas e cor de canela. Uma cor incomum, que Gideon sabia que era natural, porque a irmã gêmea de Joey possuía os cabelos ruivos com as mesmas mechas lindas.

Como seria a sensação de tocar naqueles cabelos? Se­riam sedosos e macios como pareciam?

Gideon deu um passo abrupto atrás, reprimindo seus pensamentos ao perceber o que estava fazendo.

— Joey, eu entendo que o fato de sua irmã estar casada com o meu irmão nos coloca numa posição de quase pa­rentes: — Quase sendo a palavra operativa. — Mas quero deixar claro que não tenho nenhum interesse em saber qual­quer coisa sobre sua vida sexual.

Joey arregalou os olhos diante da veemência que ouviu no tom de Gideon. Não tinha dúvidas de que ele apreciava e respeitava sua irmã, e que aprovara o casamento de Stephanie com Jordan. Então, por que decidira que desgostava de Joey desde o primeiro encontro deles?

Talvez ele a tivesse desaprovado antes do primeiro en­contro, se o que presumia sobre sua amizade com Jason Pickard fosse alguma indicação. Joey sabia dos rumores que vinham circulando sobre ela e o sócio mais novo de Pickard, Pickard e Wright pelos últimos seis meses. Rumo­res falsos!

Oh, Jason era muito bonito, e os dois jantavam fora pelo menos uma vez por semana. Joey sempre se divertia nessas noites, e gostava da companhia de Jason. Mas a amizade deles não era baseada em atração sexual ou amor.

Na verdade, Jason era apaixonado por um homem que conhecera na faculdade, e com quem morava pelos últimos dez anos. Infelizmente, seus pais, Pickard pai e Gloria, não sabiam que o relacionamento dele com o outro homem era mais que amizade, e teriam desaprovado veementemente se soubessem.

Joey tinha ficado radiante na primeira vez em que Jason a convidara para sair... Afinal de contas, ele era o segundo Pickard da firma de advocacia. Mas não demorara a per­ceber que Jason não estava interessado nela sexualmente. Com seu jeito sempre franco, ela fizera perguntas diretas, e recebera respostas igualmente diretas. A revelação sobre a sexualidade de Jason não mudara nada para Joey. Ela gostava dele... O bastante para concordar com jantares fre­qüentes. E por que não, quando pouca coisa acontecia em sua vida no momento? E, então, o mito de que eles tinham um relacionamento nascera, um mito do qual até mesmo o distante Gideon St. Claire tinha conhecimento.

Joey deu-lhe um sorriso frio.

— Então, por que ainda estamos parados aqui, discutin­do minha vida sexual?

— Você... — Gideon parou em óbvia frustração, tentan­do exercer seu controle rígido. — Vamos levar suas coisas para cima e começar a trabalhar? — Ele moveu-se para pe­gar uma das caixas do porta-malas do carro dela, antes de dirigir-se ao elevador privado.

Joey pegou a outra caixa, então fechou o porta-malas e trancou o carro, um sorriso de satisfação curvando seus lábios enquanto ela o seguia.

As próximas quatro semanas — se ela conseguisse der­rubar a pose arrogante e indiferente de Gideon St. Claire — prometiam ser muito divertidas. Ao menos para ela...

 

— Aonde você vai? — questionou Gideon ao se virar e ver que, em vez de segui-lo ao longo do corredor para sua própria sala, Joey tinha parado do lado de fora do escritório geralmente reservado para a assistente particular de Lucan. Não estava ocupado no momento, porque Lexie se tornara a assistente de Lucan três semanas atrás, e os dois estavam agora em lua de mel numa ilha do Caribe.

Olhos verdes zombeteiros encontraram os seus.

— Acredito que foi uma tentativa de diplomacia da parte de Lucan quando ele sugeriu que eu poderia usar a sala vaga de Lexie, em vez de o seu escritório.

— E como você sabia que esta sala em particular era o escritório de Lexie?

— Você quer dizer, fora o fato de o nome dela estar gra­vado sobre a porta?

Gideon cerrou os dentes diante do óbvio sarcasmo.

— Fora isso, sim. Joey deu de ombros.

— Eu vim aqui na quinta-feira à tarde, de modo que Lu­can pudesse explicar exatamente o que quer que eu faça enquanto ele e Lexie estão fora.

Quinta-feira. A única tarde da semana que Gideon não trabalhava na Corporação St. Claire, mas ia ao pequeno es­critório que mantinha do outro lado da cidade, a fim de lidar com assuntos legais particulares que exigiam sua atenção. Um fato do qual Lucan tinha ciência!

— E o que exatamente ele quer que você faça enquanto estiver viajando com Lexie? — Além de atrapalhar a vida de Gideon, é claro.

Joey deu de ombros.

— Bem, Lucan parece saber que você não vai liberar muito do trabalho legal para mim. — Os olhos verdes bri­lharam. — Mas eu ficarei contente em preencher a lacuna. Há também o fato de que, com Lexie fora, vocês estão sem uma assistente particular.

— Minha secretária...

— É agora minha secretária — ela o relembrou auda­ciosamente.

Droga, aquela situação estava piorando... Mais ainda pelo lato de que ele suspeitava que Lucan e Lexie estivessem ago­ra numa ilha privada do Caribe, rindo às suas custas. Apaixo­nar-se não tornara seu irmão mais velho apenas imprevisível; também despertara um senso de humor negro nele!

— Se você preferir, eu posso usar seu escritório em vez deste — disse Joey, mais uma vez batendo um pé no chão para demonstrar sua impaciência. — Pode decidir-se rapi­damente, Gideon? Esta caixa está ficando pesada!

Ele deu um suspiro frustrado. Sempre pensara no escri­tório no fim do corredor como sendo seu próprio espaço pessoal; paredes com painéis de madeira, prateleiras do chão ao teto contendo seus livros sobre Direito, todos em ordem alfabética. E o topo de sua mesa de madeira estava sempre vazio ao fim de cada dia, sem itens pessoais que muitas pessoas pareciam espalhar durante as horas de tra­balho.

As duas caixas pesadas que eles tinham carregado para cima implicavam que Joey espalharia itens pessoais sobre a mesa pelas próximas quatro semanas. Não, ele não gostava da idéia de ter seu escritório personalizado por aquela mu­lher. Mas saber da presença perturbadora de Joey McKinley na sala ao lado também seria inaceitável...

— Tarde demais — anunciou Joey decidida, e usou o co­tovelo para abaixar a maçaneta do escritório de Lexie antes de entrar. — Muito bom.

Gideon a seguiu relutantemente para dentro da sala que Lucan tinha decorado antes que Lexie se tornasse sua assis­tente particular, três semanas atrás, vendo novamente que a mesa de pinho, as paredes cor de creme e o tapete em tons de dourado criavam um contraste perfeito para os longos cabelos pretos de Lexie.

Mas ele não pôde deixar de notar que o ambiente tam­bém combinava com os cabelos ruivos e olhos verde-jade de Joey...

— O que você tem aqui dentro... Pedras? — perguntou Gideon mal-humorado enquanto atravessava a sala para pôr a caixa que estava carregando sobre a mesa, ao lado da caixa de Joey.

— Não exatamente — retrucou ela, erguendo as abas de uma das caixas para começar a remover os objetos e desembrulhá-los do jornal.

As bugigangas previsíveis reconheceu Gideon. O diplo­ma em Direito. Duas fotografias emolduradas... Uma dos pais, a outra de Stephanie e Jordan no casamento deles. Um peso de papel com uma rosa amarela dentro. Um dragão dourado.

Um dragão dourado?

— Sim? — Joey continuou segurando o pequeno orna­mento dourado quase de modo defensivo, enquanto se vi­rava para fitá-lo.

Aquela foi à primeira indicação de que ele fizera alguma exclamação em voz alta. Mas... Um dragão. Mesmo um bonito como aquele — com o corpo escamoso lindamente entalhado em ouro, suas asas abertas como se ele estivesse prestes a levantar voo, e duas pequenas safiras amarelas incrustadas no lugar dos olhos — não combinava com a imagem abrasiva que ele formara de Joey

Não mais do que a voz que cantava como um anjo, ele lembrou subitamente.

Joey o olhou e franziu a testa, notando a expressão de puro desgosto no rosto dele.

— Stephanie mandou fazer isto para mim quando eu me formei em Direito.

Sua gêmea sempre soubera que dragões tinham um sig­nificado para Joey. Um dragão dourado aparecia nos seus sonhos desde que ela estava com sete anos de idade. Toda vez que Joey tinha um problema — dificuldades na escola, ou com amigas —, e quando ela e Stephanie tinham dez anos e se envolveram num acidente de carro que deixou sua gêmea sem andar por dois anos, Joey sonhara com seu dra­gão dourado, e instantaneamente se sentira segura de que tudo iria dar certo.

Por conseguinte, para onde ela ia, este dragão a acom­panhava.

Ela o posicionou firmemente no centro da mesa vazia.

— Ele tem grande valor sentimental.

— Se foi presente de Stephanie, então tenho certeza de que sim — reconheceu Gideon suavemente.

Joey o estudou, procurando a frieza usual em Gideon. Em vez disso, sentiu quase uma afinidade.

— Você sente falta de Jordan? A pergunta o deixou atônito.

— Não houve muito tempo para isso, já que ele partiu esta manhã.

— Eu quis dizer antes disso, é claro — explicou Joey impacientemente. — Há quanto tempo ele está em Los An­geles agora?

— Dez anos.

Stephanie só estava longe por dois meses, mas Joey es­tava profundamente ciente do vazio que sua irmã gêmea deixara em sua vida.

— Você sentiu a falta de Jordan quando ele foi embora pela primeira vez?

— Você ainda está sentindo a falta de Stephanie?

— Não precisa parecer tão surpreso, Gideon — disse ela. Gideon estava surpreso; entretanto, sabia que não deveria estar. Somente porque Joey gostava de provocá-lo em cada oportunidade não significava que ela não tivesse a mesma conexão profunda com sua irmã que ele tinha com Jordan.

— Sim, eu senti muito a falta de Jordan logo que ele foi para Los Angeles — admitiu ele, então acrescentou: — Mas com o tempo fica mais fácil.

Os dois se entreolharam por longos minutos, como se cada um reconhecesse alguma coisa no outro que não en­xergara antes. Uma suavidade. Uma rachadura em suas ar­maduras. Uma vulnerabilidade.

Embora Gideon achasse esse insight nas emoções de Joey perturbador, achou ainda mais perturbadora sua pró­pria atitude. Revelar vulnerabilidade não era algo que ele fazia. Nunca.

— O dragão é muito lindo — disse ele, querendo mudar de assunto. — Mas, pessoalmente, prefiro acreditar nas coisas que posso ver e tocar.

— Talvez esse seja o seu problema — murmurou Joey, virando-se para continuar a desembrulhar o conteúdo da caixa.

O maxilar de Gideon enrijeceu.

— Eu não sabia que eu tinha um problema.

Joey arqueou as sobrancelhas castanhas enquanto se sentava na beirada da mesa, a saia justa erguendo-se de leve no processo, expondo mais das pernas delgadas.

— Não acha que o fato de você não ter imaginação algu­ma seja um problema?

Gideon desviou o olhar das belas pernas para o rosto em forma de coração.

— Sempre acreditei que basear minhas opiniões na rea­lidade dura e fria fosse à melhor opção.

— Não quer dizer a opção mais tediosa e sem imaginação? — provocou ela.

— Acredito que me conheço bem o bastante para saber o que eu quis dizer, Joey.

Joey tinha se arrependido de lhe contar que ainda sentia falta de Stephanie assim que iniciara a conversa. Mas ficara surpresa quando Gideon admitira também sentir a falta do irmão gêmeo.

Ele dava a nítida impressão de ser auto-contido. De ser um homem frio e impassível. Imaginá-lo sentindo o mesmo tipo de dor da solidão pelo irmão que ela sentia por Stephanie de repente o fez parecer muito humano.

Mas talvez ele sentisse o mesmo com relação a ela? A idéia subitamente pareceu muito íntima.

— Não há necessidade de você esconder suas cuecas, Gideon — provocou ela para disfarçar seu desconforto.

— Não entendi.

— Neste caso, suas cuecas significando seus sentimen­tos — Joey explicou a expressão que ouvira uma vez.

— Eu preferiria não discutir minhas roupas de baixo... Ou meus sentimentos... Se você não se importa. — Ele meneou a cabeça. — Você é a mulher mais irritante que já conheci.

— Verdade? — Joey sorriu. Gideon a olhou em exasperação.

— Isso não foi um elogio.

— Eu não pensei que fosse — replicou ela, secamente. — Mas não posso evitar sentir-me honrada por ter o frio e distante Gideon St. Claire baixado seus olhos castanhos aristocráticos o bastante não apenas para notar a minha existência, como também para formar uma opinião a meu respeito.

Gideon percebeu que era essa impulsividade da mulher que o perturbava tanto, deixando-o inseguro e cauteloso com relação ao que ela faria ou diria a seguir. Aquela não era uma admissão confortável para um homem que manti­nha um controle rígido sobre suas emoções.

Sua boca se comprimiu numa linha dura.

— Agora, quem está sendo insultante?

— Eu estava? — questionou ela. — Mas você tem olhos castanhos. E é um aristocrata. Lorde Gideon St. Claire, para ser exata — adicionou ela.

Nem ele nem seus dois irmãos usavam os títulos. Na verdade, quase ninguém sabia que Lucan era o atual duque de Stourbridge, ou que seus dois irmãos mais novos eram lordes. Um fato do qual Joey estava bem ciente.

Em vez de responder, consultou seu relógio de ouro.

— Lamento, mas não tenho mais tempo para perder com isso. Tenho Um cliente às 9h.

Ela sorriu descaradamente.

— Isso significa que o discurso de boas-vindas... O usual bom ter você conosco, não hesite se precisar de alguma coisa acabou?

Gideon deu um suspiro exasperado.

— Certamente, a essa altura, você sabe que eu ficaria mais feliz se não a tivesse trabalhando aqui — respondeu ele com honestidade.

— A vida pode ser cruel às vezes, não é? — disse ela, linda sorrindo.

Gideon deu-lhe uma última olhada antes de se virar e ir para a sala adjacente, controlando-se para não bater a porta com toda sua força.

Uma vez sozinha na sala de Lexie, Joey suspirou alivia­da. Aquela conversa sobre as cuecas de Gideon sem dúvida reforçara a opinião que ele tivera a seu respeito antes que ela cometesse o lapso de admitir que sentia a falta de Stephanie.

Joey sabia o que as pessoas pensavam dela como advo­gada: agressiva, eficiente, muito direta. Ela era um tubarão cercando sua presa quando defendia um cliente num tribu­nal... E aquela era reputação que deliberadamente cultivava.

Não muitas pessoas podiam ver a verdadeira Joey por baixo da profissional, como Gideon vira quando ela havia falado sobre a saudade que sentia de sua irmã.

Joey construíra sua dureza profissional alguns anos atrás, depois de entrar numa carreira dominada por ho­mens, e depois que muitos homens menos capazes que ela tinham conseguido empregos por causa de seu gênero, e não de suas habilidades. Na terceira vez em que perdera um emprego dessa forma, Joey decidira que, se não podia derrotá-los, então iria juntar-se a eles e derrotá-los em seus próprios jogos.

Conseqüentemente, antes que fosse para sua entrevista em Pickard, Pickard e Wright, dois anos atrás, Joey havia saído e comprado trajes profissionais quase masculinos, cortado os cabelos curtos e adotado uma personalidade abrasiva e agressiva para combinar com seu visual. As mu­danças se provaram bem-sucedidas, e ela conseguira o em­prego naquela prestigiosa firma de advogados.

Uma vez no emprego, suavizara um pouco sua atitude e sua aparência, reconhecendo que, em algumas circunstâncias, a feminilidade podia ser tão efetiva quanto à agressividade.

Mas não se sentia inteiramente confortável com o fato de que sua personagem altamente profissional escorre­gara de leve quando conversara com Gideon St. Claire.

— Vou "tirar um intervalo agora, e ir ao Café no fim da rua, buscar um chocolate quente. Você quer alguma coisa de lá?

Gideon mostrou sua irritação quando olhou da tela do computador para onde Joey estava à porta que conectava as duas salas; a porta que ela abrira sem a cortesia de bater antes.

— Certamente há uma cafeteira na sala de Lexie.

— Eu não bebo café.

— Há máquinas de refrigerantes em todos os andares, e um restaurante da empresa no oitavo andar. Sem dúvida, eles têm chocolate quente lá.

— Mas não com chantili no topo, ou servido por um rapagão de vinte anos com ombros largos e cabelos loiros, suponho.

Gideon franziu o cenho ao pensar nas três mulheres rechonchudas de meia-idade que trabalhavam no restaurante dois andares abaixo.

— Bem... Não.

— Então é isso.

— Presumo que este "rapagão" trabalha no café da es­quina?

— Oh, sim. — Ela sorriu-lhe. — Então, você quer algu­ma coisa? Uma bebida, um brioche, um pão doce?

— Não, obrigado.

— Eles têm um delicioso brioche de limão...

— Eu disse não. — Gideon estava ficando cada vez mais irritado. Se quisesse café, tinha sua própria cafeteira e, se quisesse comer, mandaria sua secretária — a secretária de Lucan, agora que Joey McKinley tinha confiscado a sua -- ao restaurante para lhe buscar alguma coisa.

Joey continuou ali, parecendo inabalada por sua irritação.

— Diga-me, Gideon, você já foi a um café?

— Não.

— E numa lanchonete?

— Se você se refere aos restaurantes Fast Food, então a resposta é não. Também nunca patinei, voei de asa-delta ou mergulhei... E não sinto mais vontade de fazer nenhuma dessas coisas do que sinto de ir ao café no fim da rua!

— Eu também nunca mergulhei... Nunca tive certe­za do que se esconde nas profundezas — contou Joey com um pequeno tremor. — Mas já patinei e voei de asa-delta, e amei as duas atividades. Quando aos restau­rantes Fast Food e ao café... Você não tem idéia do que está perdendo!

— No caso do café, aparentemente um garoto de vinte anos, como ombros largos e cabelos loiros. — Ele fez uma careta. — Que obviamente não é meu tipo. E ele não é um pouco jovem demais para você! — acrescentou Gideon com desdém.

— Homens mais novos estão na última moda. — Joey arqueou sobrancelhas sugestivas para ele. — Deve ser porque eles têm mais vigor na cama do que homens mais velhos.

Gideon enrijeceu. Quem tinha conversas como essa? Joey McKinley, aparentemente! Apesar de não estar gos­tando nem um pouco daquela conversa, ele não pôde deixar de imaginar se, ao falar de homens mais velhos, ela se refe­rira a homens da sua idade!

Ele recostou-se em sua cadeira e fitou-a com olhos estreitos.

— Eu teria pensado que experiência venceria vigor, nes­se caso.

Joey quase gritou sim, por ter conseguido engajar o re­servado Gideon St. Claire nessa conversa obscena. A atitu­de indiferente dele era como um pano vermelho para um touro, para Joey. Ela queria falar coisas absurdas apenas para chocá-lo.

Com o sol fraco de fevereiro brilhando através da enor­me janela atrás dele, os cabelos de Gideon eram da cor de ouro puro. E pareciam suaves e sedosos ao toque. Os olhos escuros eram enigmáticos, e um pequeno sorriso curvava os lábios sensuais... Como se ele estivesse apreciando a conversa, mesmo contra sua vontade.

Joey fechou as mãos para resistir à vontade de atravessar a sala e ver se aqueles cabelos seriam suaves e sedosos ao toque. Aquele era Gideon St. Claire lembrou-se. O homem que ela acreditara, até mais cedo naquela manhã, ser imune a todo tipo de sentimento emocional.

— Não subestime vigor até que você tenha experimen­tado — provocou Joey.

— O que você, obviamente, fez. Na verdade, não...

Oh, Joey sabia que passava uma imagem de quem sedu­zia homens de todas as idades, e que a maioria das pessoas assumia que ela morava sozinha e era solteira por escolha. Mas a realidade era que Joey estivera muito focada em ob­ter sua graduação em Direito entre 18 e 22 anos para que lhe sobrasse tempo para relacionamentos. Na verdade, não linha tempo algum para isso. Houvera ocasionais encontros românticos, é claro... O mais recente com Jason Pickard, seis meses atrás. E que resultado esse último encontro tive­ra! Mas ela nunca vivenciara um relacionamento de longa duração, pelo qual ansiava. Seus pais eram felizes no casa­mento por mais de trinta anos, e Joey decidira muito cedo que não iria se contentar com menos.

Infelizmente, a imagem indiferente que deliberadamente adotara tendia a oprimir os homens fracos, e os fortes se Nontiam ameaçados por ela. Provavelmente por isso, aos 28 anos, a motivada e abrasiva Joey McKinley não conseguira encontrar um homem que pudesse amar completamente, e que a amasse da mesma maneira.  

Pelo mesmo motivo, ela ainda era virgem...

Algo que o cínico Gideon St. Claire acharia muito difícil de acreditar.

— Ainda não... Mas eu ficarei contente em lhe contar quando eu experimentar — replicou ela.

Gideon inclinou-se para frente e apoiou os cotovelos so­bre a mesa.

— Existe alguma conexão sexual entre o creme chantili e o rapagão de vinte anos?

Os olhos verdes se arregalaram e, por um instante, Gideon podia jurar ter visto um leve rubor naquelas faces alvas. Como se a extrovertida Joey McKinley estivesse embaraçada por seu comentário. Ele ficou intrigado com a idéia...

—Acho que estou tendo uma onda de calor, só de pensar nisso! — Ela abanou uma mão na frente do rosto.

Gideon suspirou.

— Se você já terminou de interromper minha manhã, tenho uma reunião em cinco minutos, seguida por um com­promisso de almoço.

O sorriso provocante foi instantaneamente substituído pelo interesse profissional.

— Você precisa de mim para alguma dessas duas coisas?

— Não. — Ele a assegurou com firmeza. — A reu­nião não deve durar muito, e o compromisso de almoço é pessoal;

— Tudo bem. — Ela o estudou especulativamente. En­tão deu de ombros. — Você sabe onde me encontrar se pre­cisar de mim.

— Na sala ao lado, ou no café da esquina, tendo fanta­sias sobre chantili e jovens atraentes — murmurou Gideon com sarcasmo.

— Ei, acho que você está começando a apreciar meu senso de humor!

— Senhor, espero que não — disse ele com sentimento. Joey deu uma gargalhada rouca, antes de se virar para voltar à sua própria sala e fechar a porta suavemente.

Gideon respirou fundo. Três semanas, quatro dias, seis horas e meia... Para que Joey McKinley estivesse fora do edifício da Corporação St. Claire.

Fora do escritório na porta ao lado.

Totalmente fora de sua vida...

 

Joey ainda estava tão perturbada pela observação de Gideon sobre o creme chantili que se esqueceu de pedir chantili no chocolate quente... E nem sequer notou que havia uma garota servindo hoje, em vez do rapaz de cabelos dourados!

Talvez Gideon não fosse tão conservador assim, se po­dia fazer referências sexuais como aquela. Afinal de contas, Stephanie não tinha conseguido parar de rir quando Joey perguntara se Gideon era homossexual. Somente porque Joey nunca o vira com uma mulher não significava que ele não tinha uma em sua vida. Talvez Gideon tivesse alguém, mas não quisesse levar essa pessoa ao casamento de um membro da família.

Para seu imenso desconforto, apenas se imaginar deita­da sobre lençóis brancos de seda, tendo a língua quente de Gideon lambendo chantili de seus seios foi o bastante para enrijecer seus mamilos dentro do sutiã.

Não uma boa idéia...

— Deseja mais alguma coisa?

Joey olhou para a garota atrás do balcão, enrubescendo ao perceber que seu chocolate quente já estava à sua frente, e que havia uma fila de pessoas atrás, esperando para serem atendidas.

— Não, obrigada — murmurou Joey, pegando o cho­colate quente e virando-se abruptamente, colidindo com o homem barbado atrás dela. — Desculpe.

— Não foi nada — replicou ele.

Joey apressou-se para fora do café antes que fizesse al­guma coisa para embaraçar a si mesma, respirando fundo uma vez na calçada, grata pelo vento frio de fevereiro re­frescando seu rosto quente. Estava ciente do leve tremor nas mãos enquanto segurava o copo descartável de choco­late quente.

O que estava errado com ela? Bem... Sabia o que estava errado... Ficara excitada por uma fantasia sexual sobre Gi­deon St. Claire e creme chantili no meio do café! Ele era a última pessoa com quem Joey deveria fantasiar... Especialmente considerando que eles iriam trabalhar juntos pelas próximas quatro semanas.

Gideon nem mesmo gostava dela e, com certeza, não a aprovava, então o que...

— Você está se sentindo bem?

Joey ergueu os olhos para ver o homem barbado do café parado ao seu lado na calçada.

— Você parece um pouco febril — continuou o homem. — Talvez tenha pegado uma gripe. É esse tempo louco, um dia frio, o outro quente.

— Sim, provavelmente — respondeu Joey, olhando para 0 homem pela primeira vez.

Ele devia ter cerca de quarenta anos, e era bonito, pelo que ela podia ver através da barba escura-que lhe escondia a parte inferior do rosto. Os olhos eram azul-brilhante. Ele parecia vagamente familiar.

— Eu conheço você? — perguntou ela.

— Estou certo de que eu teria me lembrado se tivésse­mos nos encontrado antes. — Ele deu um sorriso breve.

Joey aceitou o elogio.

— Desculpe por ter segurado a fila lá dentro. Minha ca­beça estava longe. — Numa cama com lençóis de seda, com Gideon... Não! Precisava parar de pensar sobre isso!

— Sem problemas — respondeu o homem. — Você tra­balha por aqui?

Joey franziu o cenho. Não estava disposta a contar para um completo estranho onde trabalhava. Um estranho que ainda lhe parecia familiar, apesar da negação dele.

— Sim. E está na hora de eu voltar. — Com um sorriso, ela virou-se e começou a andar.

— Aprecie seu chocolate quente — disse ele.

— Obrigada. — Joey sentiu-se desconcertada por saber que o homem notara o que ela havia pedido ao balcão. E podia sentir os olhos azuis a seguindo enquanto andava ao longo da rua.

Estava se tornando paranóica. O homem só estava sen­do educado, pelo amor de Deus! Ela provavelmente estava sensível demais por causa de sua fantasia sensual.

Provavelmente? Com certeza, estava sensível demais. E em todos os lugares errados, também.

— Seu almoço foi bom?

Gideon tinha acabado de voltar para seu escritório, e suspirou ao se virar e ver Joey, mais uma vez parada junto à porta de conexão entre as duas salas.

— Acho que precisamos estabelecer algumas regras bá­sicas, Joey — disse ele, enquanto removia o paletó antes de se sentar atrás da imponente mesa de Lucan. — A primeira sendo que, no futuro, eu gostaria que você batesse à porta antes de invadir meu escritório.

— Por quê?

Ele cerrou os dentes.

— Porque eu prefiro assim. Ela o estudou.

— Você vai fazer alguma coisa... Privada aqui, que não quer que eu entre e atrapalhe?

Três semanas, seis dias, duas horas...

— Eu apenas não a quero entrando aqui sem ser anun­ciada.

Joey havia decidido, durante as três horas desde a última vez em que vira Gideon, que a melhor maneira de lidar com ou lapso de mergulhar em fantasias era encarando a situação de frente. Encará-lo de frente.

Olhando-o agora, sentado atrás da mesa de Lucan, os cabelos dourados levemente despenteados pela brisa do Indo de fora, sem paletó, com os músculos do peito e dos ombros claramente visíveis sob a camisa branca, ela não teve tanta certeza...

Oh, pare com isso, Joey, instruiu a si mesma. Então tive­ra uma fantasia sexual com o homem. E daí? Sim, Gideon era maravilhoso, mas acabara de voltar de um almoço de duas horas com outra mulher. Sem dúvida, uma mulher feliz em servi-lo de suas preferências sexuais, quaisquer que essas fossem...

— Minha mãe mandou lembranças, a propósito. Joey piscou.

— Sua mãe?

Gideon deu um sorriso zombeteiro... Quase como se sou­besse no que ela estivera pensando.

— Eu almocei com mamãe, antes que ela pegasse o trem da tarde de volta para Edinburgh.

A linda e graciosa Molly St. Claire. Duquesa de Stourbridge agora, depois do casamento de Lucan com Lexie no sábado. E, aparentemente, a mulher com quem Gideon compartilhara um almoço de duas horas.

Era alívio o que Joey estava sentindo? Se fosse, então isso era totalmente ridículo, uma vez que Gideon deixara claro que ela era a última mulher por quem ele se sentiria atraído.

E ela estava atraída por ele?

Bem, era uma mulher com sangue nas veias, não era?

Sim, mas não era estúpida. Permitir-se sentir atração por Gideon — um homem que não mostrava interesse por ela, e nenhuma emoção por ninguém, exceto pela família mais próxima — seria uma grande estupidez de sua parte.

Ela podia escolher apresentar um exterior de sofistica­ção, mas, por dentro, Joey era suave... Tão emotiva e vul­nerável quanto sua irmã gêmea. E não estava disposta a ter seu coração partido, apaixonando-se pelo frio e inacessível Gideon St. Claire.

— Que filho atencioso você é — comentou ela. Gideon enrijeceu visivelmente.

— Talvez você não saiba, mas o casamento no sábado foi um momento difícil para minha mãe.

Joey instantaneamente se sentiu culpada com o lembrete de que o casamento de Lucan e Lexie devia ter sido difícil para Molly St. Claire; Lexie era neta de San Thomas... A mulher por quem o marido de Molly, Alexander St. Claire, o ex-duque de Stourbridge, tinha deixado Molly 25 anos atrás.

Algum tipo de trégua tinha sido estabelecido no passado entre as duas mulheres mais velhas antes do casamento de Lucan e Lexie no sábado, mas, mesmo assim, não podia ter sido uma situação fácil para a mãe de Gideon.

— Estou ciente disso. — Joey fez uma careta em reco­nhecimento de seu lapso. — Sinto muito.

Gideon continuou olhando-a friamente por diversos se­gundos, antes de assentir com a cabeça.

— Vamos prosseguir certo? O que você queria aqui? O que ela queria lá? Oh, sim.

— Jordan ligou enquanto você estava fora; ele e Steph chegaram bem em Los Angeles.

Gideon assentiu.

— Ele deixou um recado no meu celular.

Ainda lhe parecia estranho que ele e esta mulher fossem conectados pelo casamento de seus irmãos. Não que Gide­on e Jordan fossem gêmeos idênticos. Mas Joey è Stephanie eram... Mesmo se escolhessem ser completamente dis­tintas em estilo. Gideon sempre achara Stephanie carinhosa e charmosa, enquanto a irmã possuía a suavidade de um ouriço. Uma impressão que havia sido abalada nessa manhã, quando ele ouvira a solidão na voz de Joey ao admitir o quanto sentia a falta de sua gêmea...

Na verdade, Gideon pegara-se pensando em Joey duran­te o almoço, enquanto ele e a mãe comiam as sobremesas. Bem, tinha sido a sobremesa de sua mãe que ativara a me­mória... Morangos com chantili. Para seu horror e descon­forto, ele se descobrira imaginando Joey deitada em lençóis de seda vermelhos... Vermelhos, porque ele já sabia como a cor exótica daqueles cabelos ruivos ficava linda contra o vermelho... Enquanto ele lambia sensualmente creme chan­tili do corpo dela.

A imagem tinha sido tão vivida que Gideon se sentira enrijecer, sua ereção dolorida debaixo da mesa onde estava almoçando com sua mãe!

— Como foi sua visita ao café da esquina, mais cedo? Joey não conseguiu impedir o rubor que esquentou suas faces quando a pergunta a fez lembrar-se da fanta­sia que nutrira mais cedo. Seus seios se tornaram mais cheios, os mamilos rijos e sensíveis roçando na renda preta do sutiã.

Ela umedeceu os lábios.

— Foi... Boa, obrigada. Gideon deu-lhe um sorriso tenso.

— Alguma sorte com o rapagão loiro?

— Ainda estou trabalhando nisso — respondeu ela sem olhá-lo, então se virando para sair.

Gideon se levantou e cruzou a distância entre os dois em passos determinados. Ela virou-se novamente quando ele falou com a voz rouca:

— Obrigado por me passar o recado de que Jordan e Stephanie chegaram bem em Los Angeles.

— Um recado desnecessário, na verdade — comentou ela, muito ciente da proximidade de Gideon.

— Mas você não sabia disso — apontou ele. — E, ape­sar dos comentários que fiz mais cedo, apreciei que você veio falar comigo assim que eu retornei do almoço.

Joey sorriu.

— Mesmo que eu tenha invadido seu escritório?

— Mesmo assim — concedeu Gideon, percebendo como ela era pequenina; seus modos sempre tão zombeteiros e o temperamento independente de alguma maneira a tinham feito parecer maior.

A admissão de Joey de que sentia a falta de Stephanie levara Gideon a vê-la com outros olhos... Indicando que aquela independência exagerada era mais uma defesa do que uma parte da natureza dela. Talvez um mecanismo de defesa para esconder a vulnerabilidade... A mesma vulnera­bilidade que a capacitara a cantar com tanta beleza e emo­ção no casamento de Jordan e Stephanie?

Joey era mais baixa do que Gideon pensara, o topo da cabeça chegando somente até seu queixo... Mas, como? Naquela manhã, no estacionamento, ele lembrava distinta­mente que os olhos verdes haviam estado no nível de sua boca enquanto eles conversavam.

Gideon deu um passo atrás para lhe estudar os pés.

— Você está descalça...

Até mesmo os pés de Joey eram bonitos... Os tornozelos bem formados, os dedos graciosos, com as unhas pintadas de cor-de-rosa.

— Tenho o hábito de tirar os sapatos sempre que eu me dento — admitiu Joey.

— Isso não é muito... Ortodoxo quando você está no trabalho. — Aquilo também dava uma intimidade à situação tio que ele não gostava.

Ela inclinou a cabeça em desafio.

— Você ainda não notou? Eu não sou ortodoxa!

Gideon notara muitas coisas sobre aquela mulher hoje, como a maciez dos cabelos ruivos. A cremosidade da pele alva. O volume dos seios sob a blusa de seda. As deliciosas curvas dos quadris e do traseiro. A leve vulnerabilidade da­queles lábios sensuais...

Joey estava muito consciente da súbita tensão que cer­cava os dois. Também tinha ciência, estando tão perto dele, de que o peito largo parecia tão sólido e musculoso como ela imaginara que seria, e que seus sentidos estavam sendo bombardeados pelo calor e pelo cheiro do corpo de Gideon.

Ela quase sentia medo de respirar, & resistiu ao impulso de aproximar-se mais, circular-lhe a cintura com os braços e sentir os músculos poderosos sob a camisa branca, en­quanto suas palmas descansavam nas costas dele...

Era um impulso perigoso... Especialmente depois dos pensamentos eróticos que tivera sobre ele mais cedo. To­davia, ela não conseguia se afastar. Não conseguia tirar os olhos daquelas feições duras e esculpidas. Exceto que elas não pareciam duras agora. A boca de Gideon estava rela­xada... Os lábios levemente entreabertos, a respiração, uma carícia quente contra suas sobrancelhas... E os olhos casta­nhos... Oh, Deus, aqueles olhos...

Não eram mais apenas cor de chocolate, mas tinham agora fragmentos dourados saindo das pupilas. O dourado se aprofundou quando o olhar dele desceu para os lábios entreabertos de Joey. Como se Gideon também estivesse imaginando como seria se eles se beijassem...

Uma batida suave soou à porta externa, antes que essa fosse imediatamente aberta.

— Gideon, eu... Oh!

A secretária de Lucan, May Randall, parou desajeitada­mente, os olhos arregalados enquanto olhava para os dois parados tão juntos perto da porta.

— Eu... Eu voltarei mais tarde! — Ela estava rubra quan­do se virou e fechou a porta.

A interrupção inesperada de May teve o mesmo efeito de um banho frio sobre Gideon, tornando-o consciente do que estava fazendo... E do que estivera prestes a fazer.

Estivera prestes a beijar Joey McKinley. Joey McKinley, pelo amor de Deus!

Ela era tudo que Gideon desgostava numa mulher.

As mulheres que tinham um lugar breve em sua vida eram escolhidas por possuírem as mesmas qualidades de seu favorito vinho branco: frio e revigorante, com apenas um toque de sedução para provocar os sentidos. Joey tinha todas as qualidades de um vinho tinto rico: forte e saborosa, com uma impetuosidade que atacava os sentidos, em vez de provocá-los de forma sutil.

Joey teve somente de dar uma olhada para o rosto ex­pressivo de Gideon para saber que ele se arrependia da aproximação que parecera inevitável entre os dois. Estava nos olhos dele, nos ombros rígidos, nos punhos cerra­dos nas laterais do corpo; enquanto ela ainda estava com o coração disparado pela intensidade de emoções que tinha visto queimando nos olhos dele. Olhos que, subitamente, haviam se tornado da mesma cor de seu dragão adorado, adornando o topo de sua mesa...

 

— E como você sugere que expliquemos essa pequena cena tocante para May? — perguntou Gideon.

De maneira fria. Dura. Desaprovadora. Típica!

A ternura que Joey pensara ter visto nas profundezas dos olhos dourados tinha sido uma ilusão, disse a si mesma, fitando agora os frios olhos castanhos.

— O que há para explicar? — questionou ela. — Nós estávamos apenas conversando.

— Obviamente estávamos muito perto para discutir con­tratos profissionais.

Para seu desgosto, Gideon percebeu que, após uma úni­ca manhã trabalhando com Joey, eleja começava a perder o juízo. Que explicação poderia haver para até mesmo pensar em beijá-la? Pensar? Ele não estivera raciocinando enquan­to estudava aqueles lábios carnudos entreabertos!

— Pessoalmente, acho que é melhor esquecermos o as­sunto — disse Joey. — Em minha experiência, as pessoas continuarão pensando o que quiserem ao seu respeito, não importa o que você tenha a dizer sobre o assunto; portanto, é melhor nem se incomodar em oferecer explicações.

Gideon franziu o cenho ao ouvir o cinismo disfarçado na voz dela. Joey teria essa atitude de "pensem o que quiserem sobre mim" porque a maioria das pessoas, inclusive ele, tendia a julgá-la? Bem, Gideon era culpado por ter forma­do uma opinião sobre ela antes de realmente conhecê-la. E teria de sustentar tal opinião se quisesse manter defesas contra a atração que agora sentia por ela... Que talvez sem­pre tivesse sentido?

— Talvez você não se importe com o que as pessoas pensam a seu respeito, Joey, mas eu me importo — mur­murou ele. — Principalmente pessoas com quem tenho de trabalhar diariamente.

Um rubor de raiva coloriu as faces de Joey.

— Você está trabalhando comigo diariamente no mo­mento, Gideon... Talvez tenha interesse em saber o que eu penso de você?

Não, ele realmente não queria ouvir a opinião de Joey a seu respeito!

Ela deixara óbvio desde o primeiro encontro deles, dois meses atrás, que não gostava de atitudes arrogantes, ou dele... Que, na verdade, ressentia-se da interferência de Gideon para resolver o problema de Stephanie, que fora in­justamente acusada de ser "a outra" no divórcio de Richard Newman, um de seus clientes. Uma acusação que Newman, por suas próprias razões, havia permitido que continuasse.

Gideon só tinha interferido a pedido de Jordan, quan­do seu irmão passara a se preocupar com a estabilidade mental da esposa de Richard Newman, Rosalind, que chegara perigosamente perto de causar danos físicos em Stephanie, em seu desespero por causa do divórcio. Talvez Gideon pudesse ter tido um pouco mais de tato para re­solver a situação. Talvez devesse ter consultado Joey, que, na ocasião, estivera agindo em nome de Stephanie, antes de instruir um investigador particular para seguir Richard Newman e descobrir quem era a amante do homem. O fato de que a mulher em questão era a esposa do chefe de Richard explicava a relutância do homem em isentar Stephanie de culpa!

Gideon não hesitara em usar tal conhecimento para li­vrar Stephanie de todo envolvimento no divórcio, e não se sentira culpado quando Richard Newman merecidamente perdera o emprego, assim como a esposa e a família.

Sim, Gideon aceitava que talvez pudesse ter lidado com a situação com mais tato, incluindo Joey no que estava fa­zendo, mas apreciava e respeitava Stephanie, sabia o quan­to Jordan a amava e, na época, não pensara em como Joey interpretaria seu comportamento. Estivera apenas empe­nhado em tirar Stephanie de uma situação que se tornara perigosa.

Percebia agora que, embora Joey obviamente tenha fi­cado aliviada ao ver a irmã livre de falsas acusações, ela possuía todos os motivos para se ressentir da intervenção arrogante de Gideon. E demonstrara tal ressentimento todas as vezes que eles haviam se encontrado desde então.

Ele lhe devia um pedido de desculpas, reconheceu. Um pedido que não ousaria oferecer neste momento, quando emoções haviam falado tão altas entre eles alguns minutos atrás.

— Somente se eu puder retornar o favor e lhe dizer o que penso de você também — respondeu ele.

Talvez não, pensou Joey. Apesar de suas fantasias de es­tar nos braços de Gideon, eles obviamente não gostavam um do outro.

— Eu passo, obrigada — replicou ela numa voz entediada.

— Então, talvez devêssemos voltar ao trabalho? — Ele arqueou as sobrancelhas.

Não, eles definitivamente não se gostavam!

— Sim, senhor! — Ela fez uma saudação zombeteira antes de se virar para retornar à sua própria sala.

— Joey?

Ela olhou para trás.

— Sim?

— Calce seus sapatos. Trabalhar descalça pode dar um mau exemplo para as funcionárias!

A gargalhada de Joey foi completamente espontânea, antes que ela meneasse a cabeça e voltasse a ficar séria.

— Cuidado, Gideon... Você pode começar a desenvolver aquele senso de humor, afinal!

Ele deu um sorriso irônico.

— Duvido, quando eu tenho aquele ar de superioridade. Ela pareceu envergonhada.

— Eu não devia ter lhe dito isso.

Gideon deu de ombros. - Por que não? Se for o que você realmente pensa.

Joey não tinha mais certeza do que pensava sobre ele. Talvez houvesse razões para que Gideon fosse tão fechado funcionalmente. Uma impressão que ela tivera mais cedo, ao ouvi-lo admitir que sentia falta do irmão gêmeo tanto quanto Joey sentia de sua irmã.

A separação dos pais quando Gideon estava com dez anos de idade não devia ter sido uma experiência agradável. Stephanie lhe contara que o fato de Alexander St. Claire ter abandonado a esposa e três filhos 25 anos atrás tinha afetado a opinião de Jordan sobre relacionamentos de longa duração. Talvez Gideon tivesse problemas similares? Talvez fosse por isso...

Bom Deus... Ela não podia realmente estar dando descul­pas para a frieza do homem, podia?

— Você pode sair Joey, e me deixar trabalhar? — mur­murou ele, enquanto ia se sentar atrás da mesa.

Não, Joey respondeu a própria pergunta. Certamente não ia dar desculpas para Gideon; ele era frio, arrogante e superior!

Gideon observou através de olhos estreitos quando Joey finalmente saiu de seu escritório, esperando até que a por­ta estivesse fechada antes de se recostar e dar um suspiro profundo.

Tinha se movido tão rapidamente para se sentar atrás da mesa de Lucan porque mais uma vez estava excitado por conta de pensamentos de beijar Joey McKinley... E queria fazer muito mais do que apenas beijá-la!

Três semanas, seis dias e uma hora e meia daquela tor­tura pela frente...

— Precisa de alguma ajuda?

Joey fechou os olhos e desejou estar em qualquer lugar, exceto ajoelhada no chão do estacionamento da Corpora­ção St. Claire; com Gideon agigantando-se sobre ela, en­quanto ela tentava trocar o pneu que tinha esvaziado desde que deixara seu carro parado lá naquela manhã.

Ela saíra de seu escritório um pouco antes das 18h, con­vencida, pelo silêncio na sala ao lado, de que Gideon já havia ido embora pelo dia... Até que tinha chegado ao es­tacionamento subsolo e visto que os carros deles eram os únicos ainda parados lá. Mesmo assim, tivera a esperança de escapar antes que Gideon descesse no elevador.

Uma esperança que desaparecera no momento em que ela se aproximara de seu carro e vira um dos pneus da frente completamente vazio. Motivo pelo qual, após tentar enchê-lo, sem sucesso, Joey estava agora ajoelhada sobre o cobertor que estendera no chão de concreto, tentando tro­car o pneu furado pelo step. Ouvira o elevador descendo, e então Gideon andando na sua direção.

— Posso lidar com isso — ela o assegurou, lutando com o último parafuso da roda.

— Gostaria que eu...

— Não!

Gideon reprimiu um sorriso diante da veemência de Joey, ciente da razão daquilo, sabendo que ela não gostava de parecer em desvantagem.

— Talvez eu pudesse...

— Talvez você pudesse entrar no seu carro, sumir daqui e me deixar com isso! — ralhou ela, erguendo a cabeça para olhá-lo.

Talvez ele tivesse feito exatamente isso, se achasse que Joey conseguiria tirar o pneu danificado e substituí-lo. Ou talvez não; uma coisa que Molly St. Claire ensinara os três filhos era que um cavalheiro sempre ajudava uma moça em apuros. E Joey, gostasse disso ou não, estava em apuros.

Ademais, ele não tinha intenção de ir embora e deixar minha mulher sozinha num estacionamento deserto, às 18h30 numa noite escura de inverno.

— Dê-me isso — instruiu ele com firmeza, ajoelhando-se ao lado dela sobre o cobertor e tirando-lhe a chave inglesa da mão. Ou, pelo menos, tentando fazer isso, por­que os dedos dela instantaneamente se apertaram ao redor da ferramenta de metal, recusando-se a soltá-la.

— Joey, pare de ser infantil e dê-me a chave inglesa! — Gideon deu-lhe um olhar autoritário.

   Olhos verde-jade o encararam de volta.

— Eu não estou sendo infantil. Apenas me recuso a ser tratada como uma mulher indefesa por você, grande ho­mem forte!

Gideon riu suavemente.

—Ajudaria saber que eu a considero tão indefesa quanto um tanque de guerra?

Joey fez uma careta perante a descrição que viera pouco depois do comentário que ele fizera mais cedo sobre "as funcionárias".

— Nós não estamos numa zona de guerra, sabia Gideon?

— Não? — Ele arqueou as sobrancelhas loiras.

— Não.

— Então, pare de ser tão teimosamente independente e dê-me a chave inglesa. — Ele a fitou com expressão desafiadora.

Joey lentamente soltou a ferramenta na mão dele, e se sentou sobre os calcanhares para vê-lo liberar o último pa­rafuso traiçoeiro antes de soltar a roda completamente. Gi­deon levantou-se para guardar o pneu vazio no porta-malas e trazer o step.

— Você não detesta quando isso acontece? — murmurou Joey, enquanto endireitava o corpo.

Gideon sorriu da irritação dela.

— O fato de que o último parafuso estava um pouco enferrujado prova que você não é tão inepta quanto pensa.

Talvez não fosse, mas Joey detestava parecer incapaz de lidar com seus próprios problemas.

— Não parecia haver nenhum problema com o pneu esta manhã. — Ela andou até o porta-malas do carro para ins­pecioná-lo, mas não pôde ver nenhum motivo para o furo. — Tanto faz. Irei comprar um pneu novo amanhã na hora do almoço. — Virou-se para ver Gideon terminar de pôr o step e guardar as ferramentas na caixa, antes de dobrar o cobertor.

O terno e a camisa branca continuavam impecáveis como Sempre, mas havia uma pequena mancha de óleo no canto da boca de Gideon, o que significava que ele provavelmente tinha óleo nas mãos, também.

— Aqui está. — Ele colocou o kit de ferramentas e o cobertor dobrado no porta-malas, ao lado do pneu furado.

Joey engoliu em seco.

— Eu... Obrigada pela ajuda.

— Sem problemas.

— Foi muita gentileza sua.

Os lábios dele se curvaram num sorriso irônico.

— Considerando que você não ficou muito grata logo que eu ofereci?

Joey franziu a testa. — Eu não me lembro de você ter oferecido. Como sem­pre, você simplesmente assume o comando.

— Do jeito que eu assumi o comando do caso Newman alguns meses atrás?

Joey o fitou por um longo momento, surpresa pela pergunta inesperada.

— Sim — respondeu ela. — Exatamente do jeito que você assumiu o controle do caso Newman.

— Eu lhe devo uma explicação e um pedido de descul­pas por isso.

A incerteza de Joey aumentou. Seu ressentimento em re­lação à intervenção arrogante de Gideon dois meses atrás era a base sobre a qual ela depositara todas as suas intera­ções futuras com ele. Se Gideon explicasse e se desculpas­se agora, ela não teria defesas contra a atração crescente que sentia por ele. Por um homem que mostrava claramente que, no máximo, tolerava-a...

— Joey?

Ela o olhou então, e sentiu um leve rubor subir ao rosto.

— Estou certa de que você teve seus motivos para fazer isso.

Ele assentiu.

— Porque eu gostei de Stephanie desde o começo, e Jordan me pediu para intervir e ajudá-la. Mas percebo ago­ra que eu deveria ter considerado seus sentimentos antes de agir.

Por mais que Joey apreciasse saber que Gideon gostava de sua irmã gêmea o bastante para querer ajudá-la, ela não sabia se podia lidar com o pedido de desculpas dele agora. O dia já tinha sido tão estranho... Principalmente por perce­ber que sua atração por Gideon estava abalando as barreiras que ela mantinha ao redor de suas emoções.

— Você tem uma mancha de óleo ao lado de sua boca — Joey deliberadamente mudou de assunto.

— Tenho? — Gideon ergueu uma mão e limpou a face errada.  

— Lado errado.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Talvez você devesse fazer isso para mim?

Joey tremeu com o pensamento de tocá-lo tão intima­mente, quando já estava muito consciente dele. Talvez não devesse ter mencionado a mancha de óleo!

— Eu tenho lenços umedecidos na minha bolsa. — Ela apressou-se em abrir a porta do carro, e abaixou-se para pegar os lenços de dentro da bolsa, a qual pusera sobre o banco do passageiro antes de tentar trocar o pneu, esperan­do que o calor em seu rosto tivesse passado no momento em que endireitasse o corpo.

— Aqui. — Joey lhe entregou o tubo com lenços ume­decidos.

— Seria mais fácil se você tivesse limpado a mancha para mim.

Não para Joey!

— Você é um garoto crescido, Gideon, e perfeitamente capaz de limpar seu próprio rosto — murmurou ela, adotan­do um tom irritado para esconder seu nervosismo. — Use um dos espelhos laterais de meu carro — sugeriu quando ele não se moveu.

Gideon podia ver o reflexo de Joey no espelho enquanto ela estava parada atrás dele, ciente de que ela não apenas tinha se recusado a discutir o caso Newman, mas também dispensara sua tentativa de se desculpar.

O que não era bom, considerando que eles continuariam trabalhando juntos pelas próximas quatro semanas.

Ele amassou o lenço umedecido na mão antes de se virar para encará-la.

— Ouça Joey, parece que nós tivemos um começo turbulento...

— Fizemos isso alguns meses atrás.

— E eu acabei de tentar me desculpar por aquilo — Gideon a relembrou gentilmente. — Porque não vamos a algum lugar, tomamos uma taça de vinho e discutimos mais o assunto?

Joey não queria "ir a algum lugar" e tomar qualquer coi­sa com Gideon St. Claire! Não se isso significasse que a atração física que vinha sentindo por ele o dia inteiro corria d risco de se aprofundar.

Alguma coisa mudara, ela percebeu... Em relação às opiniões que eles tinham um do outro. E aquela era uma mudança com a qual Joey não estava muito à vontade. Bri­gar verbalmente com Gideon era uma coisa; sentir qualquer outra coisa por ele, que rejeitava emoções suaves na vida, era outra, completamente distinta.

Ademais, talvez a oferta dele se devesse a um sentimen­to de pena por ela ter admitido mais cedo que sentia a falta de Stephanie.

— Tenho muitos amigos com quem posso tomar vi­nho se eu sentir necessidade de companhia. Obrigada, Gideon. Na verdade — ela olhou para seu relógio —, tenho um encontro esta noite, então preciso ir, se não quiser me atrasar.

Gideon apertou os lábios.

— Com Jason Pickard?

— Por acaso, sim. Você tem algum problema com isso? — Ela encontrou os olhos escuros na cabeça erguida.

— Nenhum — negou Gideon, obviamente se arrepen­dendo do impulso que o fizera convidá-la. — Espero que vocês dois tenham uma boa noite.

— Oh, nós teremos — provocou Joey. — Jason é uma companhia maravilhosa.

Quando ele não estava angustiado, isto é, porque Jason e Trevor discutiam com freqüência... Geralmente porque Ja­son ainda não contara aos pais sobre os dois!

— Sem dúvida — murmurou Gideon, com óbvia falta de interesse. — Você provavelmente não deveria esperar até a hora do almoço para substituir seu pneu amanhã, portanto eu entenderei se chegar um pouco atrasada pela manhã.

— Isso é uma sugestão ou uma ordem? — Joey arqueou sobrancelhas zombeteiras.

Ele estreitou os olhos.

— Eu disse que entenderei se você chegar atrasada al­guns minutos. Talvez tenha de esperar até que a borracharia abra para trocar o pneu.

Estranho como, apesar das palavras gentis, aquilo ainda parecia uma ordem.

Ou talvez Joey estivesse exageradamente sensível no que dizia respeito àquele homem? Se a oferta tivesse vin­do de qualquer outra pessoa, ela a teria considerado gentil. Gentileza não era uma emoção que Joey associava ao frio e reservado Gideon St. Claire.

Todavia, ele admitira que seu apreço por Stephanie e leu amor por Jordan o haviam instigado a interferir no caso Newman. E também demonstrara hoje que tinha senso de humor. E o brilho dourado nos olhos escuros revelara ainda Outra emoção, embora Joey não pudesse definir essa últi­ma...

— Nesse caso, eu aceitarei sua sugestão. Obrigada.

— De nada — replicou Gideon, ciente do quanto aquele "abrigada" custara a ela.

Talvez fosse melhor que Joey tivesse recusado seu convi­te; passar parte da noite tentando explicar inutilmente os motivos de sua interferência dois meses atrás não era a maneira mais agradável de desfrutar de seu precioso tempo livre.

Ele não sabia o que faria naquela noite. Estar com sua família durante o fim de semana — seu irmão gêmeo, es­pecialmente — o deixara se sentindo irrequieto, agora que todos haviam retornado para seus respectivos lares.

Talvez apenas passasse uma noite tranqüila em seu apar­tamento? Ou talvez ligasse para Valerie Temple; ela parece­ra receptiva ao seu convite para jantar quando eles tinham se conhecido numa exposição de arte, algumas semanas atrás.

Qualquer coisa que decidisse fazer, Gideon não pôde deixar de notar que Joey recusara seu convite porque ia encontrar o homem com quem dizia não estar romanticamente envolvida, e ele estava enfurecido com seu próprio interesse pelo assunto.

— Aprecie sua noite — murmurou ele, virando-se.

— Você também — respondeu Joey, observando-o andar em direção ao próprio carro.

Certamente não era desapontamento que estava sentindo porque ele não insistira para que ela pelo menos o acom­panhasse numa taça de vinho antes de seu encontro com Jason?

Não podia ser!

Podia?

 

— Por acaso, você sabe alguma coisa sobre os dois pneus do meu carro que foram esvaziados?

Joey o olhou em perplexidade, quando Gideon entrou em sua sala sem ser anunciado no fim da tarde de quarta-feira, o semblante acusador enquanto lhe fazia a pergunta.

Os últimos dois dias trabalhando na Corporação St. Claire tinham sido basicamente iguais ao primeiro. Bem, Sem Joey o encontrando logo cedo no estacionamento. Ou «em conversas sobre o rapagão do café. Ou sem discussões Verbais. Oh, e sem Gideon convidando-a para uma taça de vinho depois do trabalho, porque queria se desculpar pelo seu comportamento dois meses atrás...

A não ser por essas coisas, terça e quarta haviam sido basicamente iguais à segunda!

Na verdade, Joey mal vira Gideon nas últimas 48 horas. 0 carro dele estava sempre parado na mesma vaga quando ela chegava pelas manhãs, e já encontrava trabalho esperando-a em sua mesa.

A porta de conexão entre as duas salas permanecera fir­memente fechada. Agora, isso...

— O que você quer dizer? — perguntou Joey com incre­dulidade.

— Pare de bancar a inocente, Joey. — Gideon come­çou a andar, impacientemente. — Eu devia ter adivinhado que esses dois dias de relativa paz eram apenas a calmaria antes da tempestade. Você estava ganhando tempo, não é? Conduzindo-me a uma falsa sensação de segurança antes de atacar!

— Eu não tenho a menor idéia do que você está falando, Gideon. — Joey lhe informou, enquanto se levantava. — Por que diabos acha que eu esvaziei os pneus de seu carro?

— Quem sabe como sua mente funciona? — questionou ele, erguendo as mãos no ar. — Talvez porque eu tenha mostrado abertamente minha aversão a permitir que você trabalhasse aqui...

— Vamos deixar uma coisa clara, Gideon... Você não me permite fazer nada — interrompeu ela com ferocidade. — Como eu já lhe falei, meu acordo é com Lucan... E não tem absolutamente nada a ver com você. Seus sentimentos so­bre o assunto não são de meu interesse.

— Aconselho-a a torná-los de seu interesse.

— Eu não me importo com você — disse Joey.

— Ah, você se importa, sim — discordou Gideon sedosamente. — Obviamente se importa muito.

Joey piscou, enquanto se perguntava se de alguma ma­neira tinha revelado sua atração física por aquele homem.

— Eu me importo com você? Acho que não! — zombou ela.

— Não comigo pessoalmente — explicou Gideon, e Joey deu um suspiro silencioso de alívio. — Mas, embora não tenha admitido na segunda-feira, acredito que você se importe muito com o fato de que eu deveria tê-la consulta­do sobre o caso Newman. E também acha que, uma vez que eu me conscientizei do que Newman estava tentando fazer, eu deveria ter lhe informado e a deixado resolver o proble­ma, em vez de lidar com aquilo pessoalmente.

Joey inclinou a cabeça para um lado.

— É claro que eu me importo com isso. No mínimo, você deveria ter feito ambas as coisas por cortesia profissional!

— Eu tentei explicar e me desculpar na segunda-feira...

— Dois meses depois! — O tom de voz de Joey aumen­tou. Sabia que a tensão sexual que vinha se construindo em seu interior durante os últimos dois dias era tão responsável por seu descontrole emocional quanto todo o resto. — O fato de que você não considerou meus sentimentos na épo­ca indica que sua incapacidade de sentir emoções o torna cego para os sentimentos de outras pessoas.

— O que exatamente você quer dizer com isso? — per­guntou ele, perigosamente calmo.

— Ora, Gideon — Joey riu —, ambos sabemos que, se minha habilidade de demonstrar emoções fosse comparada a de um iceberg, o iceberg venceria!

Gideon a olhou através de pálpebras baixas, notando a suavidade dos cabelos ruivos. A blusa vermelha que ela usava hoje realçava as mechas loiras e cor de canela, e os seios pareciam cheios e firmes sob o tecido de seda. Quanto ao modo com que a saia preta até os joelhos lhe moldava a curva dos quadris e o traseiro perfeito... Bem, o que Joey diria sobre sua falta de emoções se soubesse quantas vezes somente pensar nela nos últimos dias tinha feito seu corpo enrijecer e pulsar?

Como estava acontecendo agora...

Gideon aproximou-se, fitando-a com olhos estreitos.

— Isso é realmente o que você pensa de mim? Que eu sou incapaz de sentir emoções?

Joey deu diversos passos atrás quando Gideon subita­mente voltou a parecer um predador... Tendo-a como presa. E percebeu, tarde demais, que era o controle rígido dele sobre as emoções que o fazia parecer frio, em vez da falta de emoções. Gideon não estava mais se esforçando para esconder suas emoções agora, enquanto o foco de sua raiva e seu desejo se centrava em Joey.

Ela parou abruptamente ao sentir a janela atrás de si, percebendo que se afastara o máximo possível. Estava ago­ra presa entre a janela fria e o corpo quente de Gideon, quando ele parou a meros centímetros.

Joey umedeceu os lábios, nervosamente.

— Talvez eu tenha me precipitado um pouco quando fiz aquela declaração...

— Talvez? — perguntou ele suavemente, o olhar dou­rado prendendo o seu, enquanto dava o último passo, que uniria os corpos dos dois.

Oh, Senhor!

Joey arfou no momento em que o calor do peito de Gide­on contra seus seios causou o enrijecimento de seus bicos. Ela arregalou os olhos quando sentiu uma pulsação entre as coxas, enquanto ele deliberadamente pressionava a exten­são viril ali:

— Ainda acha que eu não tenho emoções? — perguntou Gideon, apreciando exibir a exigência de seu próprio dese­jo e observá-la arregalar ainda mais os olhos.

Então, capturou-lhe ambas as mãos em uma das suas, antes de erguê-las acima da cabeça de Joey e pressioná-las contra a janela. Ao mesmo tempo, levou sua outra mão para os botões da blusa dela.

— Eu... O que você está fazendo? — protestou Joey com fraqueza. Gideon estava desabotoando sua blusa, devagar, Um botão de cada vez, até que terminou e abriu-a nas la­terais, para revelar seus seios cobertos por um sutiã preto.

— Eu imagino que seja óbvio — zombou ele, enquanto prendia os olhos de Joey com os seus, antes baixar o olhar para os seios magníficos, os bicos salientes facilmente discerníveis sob a renda fina do sutiã.

— Bem... Sim... Mas...

— Sem "mas", Joey — disse ele com a voz rouca, e baixou a cabeça para provar o pescoço elegante com lá­bios e língua.

Joey não podia raciocinar, quando o corpo de Gideon estava tão intimamente pressionado contra o seu... Quando podia sentir a ereção rija aninhada entre suas coxas.

Ela gemeu baixinho enquanto aquela boca quente via­java para a curva de seus seios. Uma mão grande estava por baixo de sua blusa aberta, acariciando-lhe as costas. A língua trilhou sobre a renda preta, primeiro para circular o mamilo, depois para tomá-lo na boca.

Os joelhos de Joey tremeram com a intensidade do prazer que a consumia, enquanto Gideon continuava provocando seus mamilos sensíveis. Ela começou a ofegar sen­tindo o clímax se construir em seu interior, clamando por liberação.

Gideon somente pretendera lhe mostrar como Joey estivera errada em acusá-lo de insensível. Mas sua demonstração logo tinha se transformado em outra coisa — algo mais básico, mais primitivo —, e ele sabia que queria que aquele prazer continuasse. Precisava ver Joey quando ela desmoronasse em seus braços no momento do clímax.

E para onde eles iriam dali? A voz da razão soou em sua cabeça. O que aconteceria depois que Joey tivesse atingi­do o clímax? Os dois se despiriam completamente então, antes que ele a deitasse sobre a mesa e se enterrasse entre suas coxas?

Por mais que quisesse fazer isso, Gideon sabia que não poderia. Já permitira que aquilo fosse mais longe do que pretendera. Estava mais excitado apenas por beijar e aca­riciar Joey do que quando fazia amor completo com outra mulher. De alguma maneira, tinha abandonado todas as suas defesas e se sentido vulnerável de um jeito que nunca se sentira antes.

E certamente não queria sentir isso com Joey McKinley!

Joey sentiu-se desorientada, desolada, quando Gideon subitamente afastou-se, deixando o desejo ainda pulsando em seu corpo. Um desejo que logo se transformou em hu­milhação, no momento em que ele a fitou com olhos enig­máticos, antes de se virar, atravessar a sala e parar de costas para ela.

Joey sentiu seu embaraço aumentar ao perceber o que acabara de permitir que acontecesse. O que mais poderia ter acontecido naquele lugar público se Gideon não tivesse brecado os avanços?

Ela rapidamente uniu as duas laterais da blusa, e come­çou a abotoá-la com dedos trêmulos, as faces queimando de humilhação.

Sábia exatamente por que Gideon tinha feito aquilo: ele quisera lhe dar uma lição por ela tê-lo acusado de não sentir emoções. Mas como Joey podia ter deixado as coisas che­garem tão longe? Por quê? E justo com Gideon St. Claire!

— Ponto provado, acredito?

Joey o olhou, aliviada por sua blusa já estar abotoada, quando viu que ele havia se virado para encará-la.

— Nós estabelecemos que você seja capaz de uma reação física, pelo menos... Se for isso que quer dizer? — Joey congratulou-se silenciosamente por conseguir responder ao desafio naqueles olhos escuros.

Gideon teve de admirar a rápida recuperação de Joey do que tinha sido uma situação perigosa para ambos.

— Assim como você também obviamente é. Joey enrubesceu.

— Eu não acho que minhas emoções algum dia foram questionadas!

— Bem, não mais — murmurou Gideon, aceitando que eslava se comportando mal, mas ciente de que precisava estabelecer a distância entre eles. Logo! — Infelizmente, dada disso nos oferece respostas de como dois dos pneus do meu carro apareceram furados ao mesmo tempo — ele relembrou.

Olhos verde-jade brilharam com raiva mais uma vez. Eu já lhe disse que não sei nada sobre isso.

Sim... E Gideon acreditava nela. Ora, tinha acreditado na primeira vez em que ela negara, e nem mesmo sabia por ele chegara a sugerir que Joey pudesse ter feito aquilo.

A simples proximidade dela naqueles dias estava prejudicando sua capacidade de raciocinar, reconheceu. Mesmo quando a evitava — o que tentara fazer nos últimos dois dias —, ainda estava muito consciente de Joey. Tan­to que tinha sido fácil culpá-la pelos pneus furados que encontrara em seu carro no estacionamento. De maneira impulsiva. Irracional. Algo que não combinava com sua personalidade. Ele assentiu.

— Estou inclinado a acreditar em você...

— Quanta gentileza sua — interrompeu ela com sarcasmo. Gideon ignorou-a.

— Estou também me questionando se isso e o seu pneu furado na segunda-feira não estão conectados de alguma maneira.

Joey ficou tensa.

— O que você está sugerindo exatamente?

Gideon deu de ombros.

— Você pode tentar não considerar isso mais um defei­to de meu caráter quando eu disser que não acredito em coincidências?

Joey também não acreditava. E quais eram as chances de duas pessoas que trabalhavam no mesmo edifício e pa­ravam seus carros no mesmo estacionamento encontrarem seus pneus furados dentro do espaço de dois dias?

— Mais alguém que trabalha aqui teve um problema similar?

— Não que eu saiba... E poupe-me de um comentário afirmando o quanto seria improvável, com minha atitude superior, que os empregados de St. Claire me contassem se tivessem um problema — avisou Gideon ao ver uma ex­pressão cética nos olhos verdes.

Ele estava ciente de que Joey se tornara popular com os outros membros da equipe durante os últimos três dias.

Sua própria secretária sempre a elogiava, assim como May Randall. Aparentemente, ele era o único que tinha um pro­blema com ela.

— Apenas aceite que eu teria ouvido falar se algo assim tivesse acontecido.

— Tudo bem. — Ela deu de ombros. — Talvez só uma coincidência, afinal?

— Duvido. — Gideon fez uma careta. — O pessoal da borracharia deu algum motivo para o seu pneu ter se esva­ziado quando você levou o carro lá, ontem?

— Eles nem se incomodaram em olhar — revelou Joey relutantemente. — Eu mandei substituir os quatro pneus depois que o mecânico me disse que eles não passariam num teste de segurança. Eu andava sem tempo, certo? — defendeu-se ela quando Gideon lhe deu um olhar de desa­provação. — Duvido que possamos checar agora. A essa altura, os quatro pneus devem ter sido consignados a um cemitério de pneus.

— Sem dúvida — concordou Gideon. Joey meneou a cabeça, intrigada.

— Por que sabotar nós dois, você acha?

— É só uma suposição até agora...

— Isso não é um tribunal, Gideon — murmurou ela gentilmente. — Eu prometo não escrever nada que você diga e usar como evidência contra você!

— Muito engraçado.

Não realmente. — Mas Joey não estava confortável perto daquele homem, quando zombava dele por uma razão ou por outra... E não queria pensar mais sobre o jeito que ele desabotoara sua blusa minutos atrás e beijara seus seios com uma paixão que lhe roubara o fôlego.

— Há coisas bem mais engraçadas por vir — murmurou ela.

— Tenho certeza que sim. — Gideon suspirou. — Mas isso não está nos ajudando a resolver o quebra-cabeça, está?

— Talvez tenha sido obra de vândalos. Crianças entediadas, procurando travessuras?

— Talvez — disse ele, não parecendo convencido. — Mas acho que isso deve ser investigado, de qualquer forma.

— E como você sugere que façamos isso? O olhar de Gideon se intensificou.

— Eu não estava sugerindo que nós fizéssemos isso.

— Espero que esse não seja outro caso do grande ho­mem forte protegendo a pequena mulher indefesa.

— Apesar de me sentir lisonjeado por você pensar em mim como um "grande homem forte", Joey, seu papel como mulher indefesa é altamente duvidoso.

— Ótimo — murmurou Joey com veemência. — Então, como você sugere que nós procedamos?

— Eu não quero você envolvida, Joey — insistiu ele.

— Não é um pouco tarde demais para isso?

— Mais envolvida do que já está — corrigiu ele. — A coisa mais sensata que você pode fazer é ir para casa e me deixar aqui, investigando.

Gideon não tinha idéia do que estava acontecendo e, até que soubesse, ficaria mais feliz se Joey estivesse segura em casa.

Ela arqueou as sobrancelhas castanhas.

— Você não tem um encontro romântico esta noite?

— Não — admitiu ele. — Você?

— Não.

— Espero que seu acordo para trabalhar aqui por um mês não esteja afetando sua... Amizade com Jason Pickard?

Na verdade, Jason finalmente contara aos pais a verdade sobre ele e Trevor. Os Pickard mais velhos não tinham fica­do radiantes com a notícia — especialmente ao perceberem que nunca teriam netos —, mas, segundo Jason, estavam se acostumando aos poucos com a idéia.

O que, é claro, significava que não havia mais motivo para Joey ir jantar fora com Jason.

— Não seria mais sensato se eu ficasse e o ajudas­se a investigar? — sugeriu Joey alegremente. — Dessa forma, eu poderia lhe dar uma carona para casa quando terminarmos.

— Desnecessário — replicou Gideon. — Eu já telefonei para o meu mecânico, ele está mandando um carro reserva, e levarão o meu para consertar.

Obviamente, havia benefícios em ser o lorde Gideon St. Claire pensou Joey. O máximo que seu mecânico já fizera por ela tinha sido lhe apresentar uma conta!

— Eu ainda poderia ficar e ajudar...

— Joey, eu já sugeri que você está longe de ser indefesa, mas isso não significa que eu ainda não pretenda protegê-la — disse ele. — De você mesma, se necessário.

— Você é muito chauvinista, não é? — acusou Joey. Ele sorriu.

— Você não pulou a palavra porco da sua declaração?

— Ronc — ela imitou o grunhido de um porco. Gideon reprimiu uma risada, enquanto se perguntava como Joey conseguia mudar seu humor tão facilmente... Divertindo-o ou enfurecendo-o. Além de lhe despertar ou­tras emoções que ele não queria analisar agora. Como o ciúme de qualquer amizade que ela pudesse ter com Jason Pickard.

— Vá para casa, Joey — disse ele, muito sério novamente. Ela ergueu o queixo em desafio.

— E o que exatamente você vai fazer para investigar? Ele deu de ombros.

— Verificar algumas coisas.

— Como o quê?

— Que tal se eu lhe contar isso amanhã cedo?

Joey fitou-o com cautela, incerta se podia confiar nele para fazer isso, mas não vendo nenhum tipo de hesitação nos olhos escuros que encontraram os seus.

Aqueles mesmos olhos tinham se tornado dourados quando ele olhara para seus seios seminus minutos atrás. Bem, agora Joey tinha a resposta para aquela questão em particular: os olhos de Gideon se tornavam dourados quan­do ele estava excitado!

— Certo — ela assentiu. — Mas eu esperarei um relató­rio completo seu pela manhã.

— Sim, senhora! — Gideon imitou a saudação zombeteira que Joey lhe fizera dois dias atrás.

De alguma maneira, aquele era um gesto intimamente compartilhado, e Joey estava sem graça quando se virou para pegar seu casaco do espaldar da cadeira, mantendo-se de costas para Gideon enquanto o vestia.

Ela o acusara de insensível, mas, ao mesmo tempo, nunca sentira suas próprias emoções tão em desequilíbrio até que o conhecesse. Excitada num minuto, divertida no mi­nuto seguinte. Com ambas as emoções geralmente acom­panhadas de raiva. Mas esse constrangimento era novo...

Sua expressão era deliberadamente neutra quando se vi­rou para encará-lo.

— Boa noite, então.

— Boa noite.

Joey pegou sua bolsa e virou-se para sair, ansiosa para fugir agora. Fugir das memórias de estar nos braços dele...

— E, Joey? Ela virou-se.

— Sim?

— Peço desculpas pelo que aconteceu mais cedo. Aquilo não estava acontecendo. Realmente não estava! Não era humilhante o bastante que os dois tivessem as lembranças da intimidade compartilhada, sem que Gideon se desculpasse por isso? Ele balançou a cabeça.

— Foi ridículo de minha parte acusá-la de vandalizar meu carro.

Joey deu um suspiro controlado de alívio. Ele não estava se desculpando por beijá-la e acariciá-la...

— Esqueça Gideon — respondeu ela. —Afinal de con­tas, você não pode evitar ser um tolo preconceituoso!

Gideon pegou-se rindo. Ninguém, absolutamente nin­guém, falava-lhe do modo irreverente como Joey o fazia.

— Sabe talvez algum dia você diga alguma coisa boa sobre mim.

— Você acha?

— Eu posso sonhar, não posso?

— Eu não contaria com isso, se fosse você.

Aqueles olhos verdes lhe sorriram por vários segundos, antes que ela se virasse e saísse da sala com um último sorriso triunfante.

Gideon moveu-se para se sentar na lateral da mesa, um sorriso divertido nos lábios. Joey McKinley era tão impossível como ele sempre imaginara.

Era também tão desejável quanto ele imaginara.

Seu sorriso desapareceu quando Gideon pensou naque­les minutos intensamente prazerosos com Joey. Tinha sido como segurar uma chama viva em seus braços. Sensual­mente sedutora. Ferozmente ardente. Com a possibilidade real de que aquela chama saísse de controle e o consumisse.

Joey era tão imprevisível e volátil quanto aquela chama. Na verdade, ela representava todas as emoções imprevisí­veis que ele vinha tentando banir de sua vida bem ordenada pelos últimos vinte anos...

 

— Gideon? — exclamou Joey, completamente surpresa ao atender a porta de seu apartamento por volta das 9h da­quela noite e encontrar Gideon parado do lado de fora!

Ele estava menos formal do que ela costumava ver, num suéter preto de cashmere que moldava os músculos do pei­to largo e o estômago reto, sobre uma calça preta de linho. Os cabelos dourados contrastavam com a roupa preta, dan­do-lhe uma aparência devastadoramente bonita, e deixando Joey sem fala por diversos segundos.

Ele não devia ter ido lá, percebeu Gideon quando viu a expressão chocada no rosto de Joey, antes que ela substitu­ísse a emoção por um semblante confuso.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou Joey, seus dedos agarrando a extremidade da porta, como se es­tivesse preparada para batê-la no rosto dele se não gostasse da resposta!

Não, ele realmente não deveria ter ido lá, pensou Gide­on ao ver a cautela retornar aos expressivos olhos verdes.

Olhos da mesma cor da blusa justa que Joey estava usando sobre o jeans. O rosto estava limpo da maquiagem que ela usava durante o dia, fazendo-a parecer mais jovem que seus 28 anos.

— Obviamente, visitando você — respondeu ele.

— Como você sabia onde eu morava? Ele deu de ombros.

—- Eu olhei na sua ficha. Joey arqueou as sobrancelhas.

— Eu tenho uma ficha?

— Todos os funcionários da St. Claire tem uma ficha — respondeu ele secamente. — Mesmo aqueles empregados por nós por quatro semanas.

— Oh.

— Você está descalça de novo. — Ele olhou para os gra­ciosos pés.

Ela deu de ombros.

— Eu gosto de andar descalça sempre que posso. Ele assentiu.

— Gideon, por que você está aqui? — Joey repetiu a pergunta.

Gideon fez uma careta.

— Essa foi uma má idéia, não foi?

Ela mordeu o lábio inferior nervosamente. — Depende...

— Do quê?

— Depende do motivo pelo qual você veio — replicou Joey. Uma coisa era provocar e discutir com Gideon no es­critório, onde eles estavam em solo neutro, outra bem dife­rente era ele ir à sua casa assim. Especialmente depois das intimidades que eles haviam compartilhado mais cedo.

Todavia, se Gideon tivesse aparecido para continuar de onde eles tinham parado, ficaria desapontado, por mais que seu corpo traidor desejasse exatamente isso.

Era muito fácil para Gideon ver a direção que os pen­samentos de Joey haviam tomado. Pelo súbito rubor nas faces, seguido pelo brilho de determinação nos olhos, ela estava pensando em como ele a beijara e a tocara.

Aqueles mesmos pensamentos vinham mantendo Gide­on num estado de excitação pelas últimas três horas!

Essa era a verdadeira motivação por trás de sua decisão de ter ido ao apartamento de Joey naquela noite? Oh, ele dissera a si mesmo que o único motivo para ir lá era para que eles pudessem discutir em privacidade o que estava acontecendo com o vandalismo nos carros deles... Estava mais convencido do que nunca de que os dois incidentes tinham conexão. Mas, vendo Joey agora, e tornando-se ciente do ciúme que sentira ao pensar na amizade dela com Jason Pickard, ele não estava mais tão certo de que seus motivos haviam sido tão inocentes.

— Eu estou aqui para discutir o fato de que os dois me­cânicos que foram buscar meu carro checaram os furos an­tes de carregarem o veículo no guincho, e descobriram que uma faca, ou alguma coisa similarmente afiada, foi usada para rasgar o interior dos pneus.

Os olhos de Joey se arregalaram em alarme.

— Foi deliberado, então? Gideon assentiu.

— Sem dúvida.

Ela umedeceu os lábios com a língua.

— E quanto ao meu carro?

— O mesmo, provavelmente. Depois que você saiu, eu decidi ver a filmagem de hoje na câmera de seguran­ça do estacionamento. Não pude ver nada incomum, então pedi que a firma de segurança fizesse cópias em DVD, e pensei que poderíamos poupar algum tempo se assistísse­mos a eles esta noite. Talvez você veja alguma coisa... Ou alguém... Que eu não vi. — Gideon ergueu os DVDs que levara. — Você disse mais cedo que não ia sair então eu pensei... — Ele parou e meneou a cabeça. — Eu não deve­ria ter vindo. Isso pode esperar.

— Não! Não, tudo bem. Entre, por favor. — Joey abriu mais a porta, sabendo que estava se comportando como uma virgem nervosa, mantendo-o parado ali na soleira.

Bem... Ela era uma virgem nervosa. Mas não precisava se comportar como uma... Muito menos na frente do obvia­mente experiente Gideon St. Claire!

— Eu só estava assistindo a um seriado de detetive na tevê, de qualquer forma. — Joey fechou a porta e seguiu Gideon para a sala de estar, desligando a televisão antes de se virar para olhá-lo. — Posso lhe pegar um chá ou um café antes de começarmos... A ver os DVDs?

Gideon arqueou sobrancelhas curiosas.

— Achei que você não bebesse café. Ela deu de ombros graciosamente.

— Eu não bebo, mas isso não significa que não tenha um pouco para servir para minhas visitas. — Também ajudaria ficar alguns minutos sozinha preparando o café, enquanto se recompunha. — Você comeu, ou... Quer al­guma coisa?

— Você sabe cozinhar também?

— Não realmente. — Ela sorriu. — Stephanie é a cozi­nheira de nossa família. Eu estava oferecendo torradas, ou algo assim, se você ainda não tivesse jantado.

Gideon deu um sorriso.

— Somente café seria ótimo, obrigado.

Ele observou Joey se mover para cozinha, apreciando o jeito como o traseiro arredondado balançava de um lado para o outro numa provocação inconsciente, antes de se vi­rar para olhar a sala na qual estava.

De alguma maneira, tinha esperado que o apartamento de Joey fosse moderno como a mulher, com arte e móveis mais voltados para a moda do que para o conforto. Em vez disso, Gideon encontrou-se num cômodo em que as cores do outono predominavam: paredes pintadas de amarelo, sofá e poltronas em terracota avermelhada, com almofadas em tons de amarelo e laranja, e tapetes igualmente coloridos sobre o piso de madeira polida. Os quadros nas paredes também eram inesperados... Campos de papoulas, e mulheres em vestidos longos flutuantes passeando em imensos jardins floridos.

Seria possível que a abrasiva e irritadiça Joey McKinley fosse secretamente uma romântica?

Joey não tinha certeza se gostava da expressão especula­tiva no rosto de Gideon quando ela voltou da cozinha, car­regando uma bandeja com chá, café, leite, creme e açúcar.

— Você pode se sentar sabe? — convidou ela, pondo a bandeja sobre a mesinha de centro antes de se sentar no meio do sofá de três lugares... Uma indireta para que Gide­on escolhesse uma das duas poltronas.

Gideon hesitou.

— Tem certeza de que eu não estou atrapalhando?

— Mesmo se estiver, Você vai tomar o café, agora que eu o fiz — disse ela, servindo o líquido aromático numa das xícaras.

O apartamento podia ter sido uma surpresa para Gideon, mas era tranqüilizador saber que o temperamento de Joey podia ser tão irritadiço ali quanto no escritório!

— Preto obrigado — aceitou ele, e pegou a xícara da mão dela antes de se sentar na poltrona ao lado do aqueci­mento a gás. — Você mora aqui há muito tempo?

Joey recostou-se no sofá e deu um gole em seu chá.

— Cerca de dois anos.

— Sempre viveu em Londres?

— Steph e eu compartilhávamos um pequeno aparta­mento aqui quando estávamos na faculdade.

— Onde você estudou Direito?

— Obviamente.

— Sua voz foi treinada profissionalmente para o canto? — Gideon fez a pergunta que o vinha intrigando desde que ouvira aquela voz angelical no casamento de Stephanie e Jordan.

— Sim.

— Eu não imaginava que você tivesse uma voz tão fan­tástica até que a ouvi cantar no casamento.

— Aquela foi uma ocasião especial — replicou ela va­gamente.

— Você nunca pensou em...

— Gideon, você veio aqui para me fazer perguntas pes­soais, ou para que víssemos os DVDs? — interrompeu ela de modo ríspido.

Ele a olhou intrigado, então deu um gole no café.

— Eu só estava curioso para entender por que você não perseguiu uma carreira de cantora.

— Talvez minha voz não seja boa o bastante?

— Ambos sabemos que é.

— Isso é um assunto pessoal, certo? — disse Joey.

— Você não gosta de falar sobre si mesma, não é?

— Olhe quem fala! Gideon sorriu.

— Você já sabe que eu tenho um irmão gêmeo, e outro ir­mão dois anos mais velho. Minha mãe mora em Edinburgh...

— Nenhuma dessas coisas são sobre você... São igual­mente verdadeiras para Jordan — apontou ela.

— Verdade — Gideon assentiu, e deu mais um gole. — O café está bom, a propósito.

— É também uma boa tática para evitar falar de si mes­mo. — Joey lhe deu um olhar zombeteiro.

— Olhe quem fala! — devolveu ele com um brilho de divertimento nos olhos.

Joey deu de ombros.

— Suponho que nós dois valorizamos nossa privacidade. Gideon franziu o cenho de leve.

— E eu invadi a sua, aparecendo aqui inesperadamente esta noite?

— Pare de se preocupar com isso, Gideon. Talvez eu possa procurar seu endereço em sua ficha e devolver a vi­sita uma noite!

Gideon imaginou o que Joey acharia de seu apartamen­to, que, apesar da decoração moderna e dos móveis caros, não era muito confortável. Soube instintivamente que ela o detestaria.

O que não tinha a menor relevância, uma vez que ele não pretendia permitir que ela o visitasse lá; seu apartamento era um espaço pessoal, para onde Gideon convidava so­mente a família imediata.

— Talvez você tenha razão. Vamos ver os DVDs agora — sugeriu ele, inclinando-se para pôr a xícara vazia sobre a bandeja.

— Tudo bem — respondeu Joey, percebendo que havia tocado num assunto delicado.

Não que pretendesse ir à casa de Gideon sem ser convi­dada, mas a reação adversa dele era intrigante. Talvez por­que ele nem sempre ficasse sozinho lá, e urna visita inespe­rada pudesse se provar embaraçosa para todos?

Ou talvez Gideon valorizasse sua privacidade ainda mais do que ela?

Qualquer que fosse o motivo, a relutância dele em re­ceber alguém em seu apartamento era óbvia! Tão óbvia quanto a sua própria aversão em discutir por que ela não perseguira uma carreira como cantora...

— Dê-me os DVDs. — Joey se levantou para pegá-los de Gideon, atravessando a sala para onde seu DVD player estava, e ajoelhando-se para ligá-lo, assim como para ligar a televisão, antes de inserir o primeiro DVD.

— As câmeras são ativadas por movimentos, então não é tão ruim quanto parece — disse ele, depois que eles as­sistiram ao primeiro DVD, mostrando muitos dos funcio­nários da St. Claire chegando pela manhã para estacionar seus carros.

Levou quase duas horas, enquanto esvaziavam os bules de café e chá, antes que eles vissem os quatro DVDs. Como Gi­deon, Joey não viu nada de extraordinário em nenhum deles.

— Nada? — perguntou ele quando o último DVD che­gou ao fim.

— Lamento, mas, não. — Joey levantou-se, devolvendo-lhe os quatro DVDs. —Você gostaria de um café fresco?

— Está ficando tarde. Você não quer ir para cama... — Gideon parou abruptamente, vendo que ela enrubescera e estava evitando seu olhar.

Quando mais tempo passava em sua companhia, mais ele percebia como Joey era um enigma... Num minuto, a mulher sofisticada; no outro, a adolescente que corava diante de unia observação inocente.

Uma observação que não parecia mais tão inocente...

— Joey?

Ela olhou para o centro do peito dele.

— Você tem razão. Está tarde... E nós dois temos de tra­balhar amanhã...

— Olhe para mim, Joey — interrompeu Gideon com firmeza.

Joey estava olhando para ele. E gostando... Muito... Do que via! Sempre achara que Gideon seria magro e forte por baixo daqueles ternos formais, e estivera muito ciente du­rante esta noite de como ele estava sexy naquele suéter de cashmere preto.

Para seu horror, novamente sentiu seus mamilos enri­jeceram contra a blusa, e a menos óbvia pulsação entre as coxas. Não ousou olhá-lo agora, sabendo que, se reconhecesse consciência na expressão dele, estaria perdida.

— Lamento por não ter podido ajudar, Gideon... — Ela arfou em pânico quando subitamente foi puxada para os braços dele, sua expressão alarmada quando o olhou.

Oh, socorro...

Os olhos de Gideon eram como ouro derretido enquanto lhe estudavam o rosto. E aqueles lábios... Aqueles lábios sensualmente esculpidos e deliciosos... Estavam entreabertos, como se ele estivesse prestes a beijá-la.

Gideon estaria mentindo para si mesmo, assim como para Joey, se dissesse que não soubera, desde o momento em que chegara ao apartamento dela, que isso iria aconte­cer. Durante todo o tempo em que eles tinham assistindo aos DVDs, ele a observara sob pálpebras baixas. Esperan­do. Sua ereção se tornando uma dor pulsante conforme os minutos passavam.

Ele queria Joey McKinley.

Ora, não apenas a queria. Seu desejo por ela alcançara um ponto em que precisava tê-la!

Havia tantas complicações, lembrou-se cautelosamente. Seu irmão gêmeo era casado com a irmã gêmea de Joey. Am­bas as famílias eram conectadas por aquele casamento. Um caso entre os dois seria um problema... Especialmente quan­do terminasse. Por um bom tempo, eles se sentiriam descon­fortáveis quando se encontrassem em reuniões familiares.

Infelizmente, nada disso importava agora, quando Gi­deon queimava de desejo de levá-la para cama e amá-la de todas as maneiras possíveis.

E a resposta de Joey mais cedo já lhe mostrara que ela também o desejava, pelo menos.

Talvez o desejo fosse à base real do desgosto que sen­tiam um pelo outro. Talvez, se fizessem amor, a tensão en­tre os dois diminuísse.

A quem estava tentando enganar? Naquele momento, não podia se importar menos com o que aconteceria depois que ele e Joey fizessem amor, contanto que fizessem.

Ele prendeu-lhe o olhar com o seu.

— Em alguns momentos, eu irei remover todas as peças de roupa do seu corpo, então pedir que você faça o mesmo comigo, antes de eu carregá-la para seu quarto, onde fare­mos amor. Se isso não é o que você quer também, então é melhor falar agora.

Joey o estudou, sabendo que aquelas palavras declara­vam intenções, e não sentimentos. Oh, havia desejo, é cla­ro... Ela sabia exatamente qual era a emoção que deixava os olhos dele dourados. Mas isso era tudo. Um desejo de fazer amor com ela.

Era o mesmo desejo que ela sentia por Gideon?

Talvez. Não... Não talvez. Ela realmente o desejava. Mais do que já desejara qualquer outro homem. Mas sem­pre acreditara que, quando fizesse amor pela primeira vez, seria com um homem que a amasse, e a quem Joey amasse em retorno. Queria isso mais ainda, agora que vira a felici­dade que sua irmã gêmea tinha encontrado ao amar Jordan e ser correspondida. O compromisso entre Stephanie e Jor­dan era absoluto.

Ela e Gideon não tinham nada disso.

O que tinham... E sempre teriam... Era uma conexão fa­miliar através do casamento de Stephanie e Jordan. Assim como o compromisso de Joey de trabalhar na St. Claire pe­las próximas três semanas e meia, é claro!

Ela afastou-se um pouco para estudar os olhos reserva­dos de Gideon.

— Essa abordagem direta geralmente funciona para você?

— Eu sempre acreditei na honestidade nos meus relacionamentos pessoais, sim.

Joey deu de ombros.

— Existe honestidade, e então existe lógica dura e fria. Tenho certeza de que, em outras circunstâncias, a primeira é recomendável — disse ela secamente. — Mas tenho de lhe dizer que lógica dura e fria vinda de um amante em potencial não é nada atraente.

O maxilar de Gideon enrijeceu.

— Ora, Joey, posso ver o quanto você me quer! — Ele olhou para onde os bicos dos seios eram revelados contra a blusa.

Ela ergueu o queixo e fitou os lindos olhos dourados.

— Nem sempre é sábio agir com relação a algo que você quer. — Joey saiu dos braços dele e afastou-se. — Acredite, Gideon, quando você acordar sozinho em sua cama ama­nhã, irá me agradecer por ter dito "não" esta noite.

Ele duvidava muito disso! Também duvidava que seu constante estado de ereção, sempre que estava na compa­nhia dela, fosse desaparecer em breve.

Mas, talvez, por todos os motivos que ele já dissera a si mesmo, Joey estivesse certa em negar um envolvimento mais profundo entre os dois.

Gideon enfiou as mãos nos bolsos da calça.

— Você tem razão, é claro.

— Tenho? — ela tentou brincar. — Essa deve ser a pri­meira vez que você me dá razão. Eu deveria anotar isso no meu diário...

— Não provoque Joey. Ela sorriu-lhe.

— Você quer café, ou precisa ir agora? A ironia brilhou nos olhos dele.

— O que você acha?

— Eu acho que o verei pela manhã.

— Na verdade, não. — Gideon meneou a cabeça. — Essa foi outra razão pela qual eu decidi vir aqui esta noite. Eu tinha esquecido que irei dirigir para Oxford, para uma reunião, às 10h da manhã, com o dono de um hotel admi­nistrado por uma família lá, que Lucan está considerando incluir em nossa cadeia de hotéis.

— Oh. — Joey assentiu. Aquele era o assunto mais sério da St. Claire que Gideon lhe contava nos últimos três dias. — Precisa que eu vá com você?

— Não neste estágio.

— Eu o vejo mais tarde amanhã, então? Mais uma vez, Gideon meneou a cabeça.

— Eu não trabalho em St Claire nas quintas à tarde.

— Não?

— Este é um acordo que fiz com Lucan. Joey o fitou de maneira especulativa.

— O que você faz nas quintas à tarde? Ou eu não deveria perguntar?

O olhar de Gideon foi tão direto quanto à pergunta dela.

— Você não deveria perguntar.

A observação de Joey havia sido para provocar, mas ob­viamente ele a tomara literalmente, Agora ela estava curio­sa... O que ele fazia de tão secreto nas quintas à tarde?

Joey ficou tão intrigada por aquilo que, muito depois que ele foi embora, ela tentou adivinhar que tipo de incentivo poderia tirá-lo da St. Claire toda semana.

Com qualquer outro homem, ela teria dito que era uma mulher, talvez casada, que só podia encontrá-lo as quintas, quando o marido estava fora. Mas, de alguma maneira, Joey não acreditava que essa fosse à explicação para Gideon.

Para começar, ele era workaholic, sua vida pessoal e suas emoções estando em segundo lugar. Tirar uma tarde de folga do trabalho para passá-la na cama com uma mulher casada não combinava com um homem como ele.

Além disso, o casamento dos pais de Gideon tinha aca­bado por causa do relacionamento do pai dele com outra mulher, deixando cicatrizes emocionais nos três irmãos St. Claire. Mesmo se ele sentisse atração por uma mulher casa­da, provavelmente não agiria sobre tal atração.

Joey estava tão intrigada pelo mistério do que ele fazia nas quintas-feiras que não foi capaz de relaxar até depois que se deitou na cama e dormiu, quando uma possível res­posta para o quebra-cabeça do vandalismo dos carros lite­ralmente lhe veio num sonho...

 

Joey estava literalmente pulando em frustração no momen­to em que Gideon chegou a St. Claire por volta das 8h30 da sexta-feira... Parecendo frio e distante como sempre, num terno cinza-chumbo, camisa branca e gravata cinza-claro, e não como um homem que tinha passado à tarde anterior na cama com sua amante casada!

Era uma onda de alívio que Joey estava sentindo?

Se fosse, então isso era totalmente inapropriado. Ela ti­vera sua chance de ir para cama com Gideon na quarta-feira à noite, de modo que era ridículo sentir ciúme de onde ele ia às quintas-feiras.

O que não a impedira de tentar descobrir se May sabia qual era o destino de Gideon nas quintas...

Ou a mulher não sabia, ou não estava disposta a compar­tilhar a informação!

Gideon parou junto à porta assim que viu Joey, de pé ao lado da mesa no escritório de Lucan.

— Pensei que seu escritório fosse à porta ao lado.

Ela deu um suspiro impaciente.

— Eu precisava lhe falar assim que você chegasse. Gideon adentrou mais a sala para pôr sua pasta ao lado da mesa, antes de se virar para olhá-la.

— O que pode ser tão urgente que você precisou me esperar dentro da minha sala? — Ele inclinou-se contra a mesa. O dia anterior tinha sido longo e cansativo... Principalmente por causa do fim insatisfatório da noite, sendo obrigado a reprimir o desejo que sentia por Joey.

Um desejo que voltara assim que pusera os olhos nela agora...

Joey estava especialmente atraente hoje, num conjunto vermelho de saia e blazer, com uma blusa de seda branca. As pernas eram longas e sedosas abaixo da saia curta, e ela usava sapatos de salto alto.

Por que essa mulher? Gideon se perguntou pela milési­ma vez. Por que somente olhar para Joey McKinley o fazia pensar em corpos nus estendidos em lençóis vermelhos de seda? O que quer que fosse Gideon tinha todas as inten­ções de dominar o sentimento.

Os olhos verde-jade brilharam com excitação reprimida.

— Eu acho que sei quem danificou nossos carros. Bem, não sei o nome dele, mas sei como é sua aparência. — Ela fez uma breve pausa. — Eu perguntei ao redor do prédio, e ninguém parecia saber de quem eu estava falando, en­tão consegui andar casualmente por cada andar do edifício, para ver se eu poderia localizá-lo trabalhando em algum dos escritórios, mas não o encontrei, então...

— Joey, você pode respirar fundo algumas vezes, depois recomeçar? Do princípio, se possível? — disse Gideon, interrompendo o fluxo de palavras. — Nada está fazendo muito sentido até agora — acrescentou, quando ela o olhou com irritação.

Ela estivera tagarelando, reconheceu Joey, respirando fundo para se acalmar. Antes que expusesse sua suspeita, perguntou:

— Você já foi buscar seu carro na oficina? Gideon assentiu.

— Ontem à noite.

— Isso é bom. E os DVDs que assistimos na outra noite? Estão em seu poder agora?

Joey tinha ido pessoalmente à firma de segurança e pe­dido para ver os DVDs de novo, mas o supervisor não lhe deixara fazer isso sem a permissão de Gideon. Era com­preensível, mas teria ajudado muito se ela pudesse ter uma fotografia impressa para mostrar ao redor e verificar se al­guém reconhecia a pessoa capturada pela câmera.

Gideon franziu o cenho.

— Eles ainda estão em minha pasta. Por quê?

— Porque talvez eu saiba... — Joey parou determinada a começar pelo princípio. Com calma. De maneira lógica. — Como você sabe, fui ao café da esquina na segunda-feira de manhã.

— Para ver o rapagão de cabelos dourados... Sim, eu lembro.

Joey lhe deu um olhar reprovador.

— Pode esquecer ele?

— Não sou eu quem é obcecado por ele!

Nem ela, realmente; na ocasião, aquilo tinha sido apenas outra maneira de provocar Gideon.

— Esqueça o rapaz, certo? — disse ela irritadamente. — Li sobre o outro homem que conheci na segunda-feira que quero falar...

— Meu Deus, Joey, quantos homens estão envolvidos em sua chamada "vida social"? — Gideon levantou-se e foi se sentar atrás da mesa, observando-a com olhos es­treitos. — Você sai regularmente com Jason Pickard, fan­tasia com a potência do jovem de cabelos dourados que lhe serve chocolate quente. — Ele meneou a cabeça com desgosto. — Aparentemente, há outro homem para adicio­nar à lista.

Todos eles podiam ser descartados... Porque ela não es­tava envolvida emocionalmente com nenhum.

— Acredito que você deixou a si mesmo fora da lista — retrucou ela com sarcasmo.

— Talvez assim seja melhor.

— Sem dúvida — murmurou Joey. — É o seguinte, eu me lembro de ter visto esse homem em particular num da­queles DVDs que assistimos na quarta à noite. Por volta da hora do almoço, entrando a pé no estacionamento — acres­centou, enquanto Gideon abria a pasta para pegar os DVDs. — Talvez não seja nada disso, mas, quando ele falou co­migo na segunda, eu achei que o homem era vagamente familiar.

— Esse homem falou com você? — Gideon fechou a pasta com mais força que o necessário, os olhos escuros com desaprovação.

Ela fez uma careta.

— Eu falei com ele primeiro, para me desculpar por ter prendido a fila.

— Sem dúvida, você estava distraída na ocasião, baban­do sobre...

— Gideon, eu juro, se você mencionar o garoto de vinte anos mais uma vez, eu terei de me tornar violenta! — Joey sabia que tinha sido Gideon, de 34 anos, o responsável por sua distração na segunda-feira! A expressão dele foi sarcástica.

— Eu esquecerei ele se você esquecer.

— Considere-o esquecido! — disse ela entre dentes cer­rados. — Então, eu me desculpei com esse homem por ter atrasado a fila, e saí, mas eu ainda estava parada na calçada do lado de fora quando ele apareceu e falou comigo...

— Compreensível — interrompeu Gideon. — Você lhe dera uma abertura mais cedo, e é uma linda mulher. — Ele deu de ombros quando Joey o olhou com uma expressão interrogativa. — Bem, você é.

Joey o olhou duvidosa.

— Você nem sempre pareceu pensar assim. O maxilar dele enrijeceu.

— Eu nunca neguei que você é uma mulher linda, Joey.

— Apenas não uma por quem algum homem saudável devesse se sentir atraído?

— Se esse é o caso, então parece que eu entrei para a classificação dos insanos.

E Joey, tendo mudado sua opinião sobre Gideon ser um aristocrata frio e arrogante, também devia estar louca!

— Talvez devêssemos esquecer isso também? — suge­riu ela.

Ele arqueou as sobrancelhas loiras.

— Pelo momento? Ou indefinidamente?

— Gideon, você está sendo irritante de propósito, ou es­tou imaginando isso? — Ela lhe dirigiu um olhar frustrado.

Não, pensou ele, ela não estava imaginando nada. Gideon tinha sido abalado pela força de sua reação protetora ao saber que algum estranho obviamente tentara seduzi-la.

Era porque Joey era irmã de Stephanie, disse a si mesmo. Uma conexão que a tornava "família" e, coma tal, sob a pro­teção dos St. Claire. Não tinha nada a ver com sua atração por ela. Absolutamente nada...

— Desculpe — disse ele, ciente de que ela ainda estava esperando uma resposta. — Então, esse homem falou com você?

— Pareceu algo natural na ocasião — replicou ela. — Como a mudança de tempo estava causando gripes, esse tipo de coisa. Mas ele também me perguntou se eu traba­lhava por aqui...

— Você não contou a ele, contou?

— Gideon, não acha que eu tenho alguma inteligência?

— Desculpe — murmurou ele novamente.

— É claro que não contei a ele onde eu trabalhava — continuou Joey calmamente. — Mas recordo-me de ter fei­to um esforço consciente para não contar. Quase como se eu soubesse que não deveria. Eu dei uma desculpa e saí ra­pidamente, mas, enquanto andava, senti que ele me obser­vava. O que foi agora? — perguntou ela ao ver a expressão irônica no rosto de Gideon.

— Estou surpreso que você ache tal comportamento es­tranho. Qualquer homem com sangue nas veias sentiria a mesma tentação em observá-la andando nesses saltos altos sexies. — Ele recostou-se. — E você tem idéia de como pa­rece minha mãe quando fala com essa sua voz de professora?

— Provavelmente porque, como sua mãe, eu fico ten­tada a socá-lo cada vez que você faz ou diz alguma coisa irritante!

Gideon sorriu.

— Minha mãe nunca bateu em nenhum dos filhos.

— O que provavelmente explica por que você, pelo me­nos, se tornou um adulto tão enervante.

Gideon pegou-se rindo suavemente.

— Qual é a sua desculpa?

— Oh, minha habilidade de irritar vem naturalmente — disse ela.

Gideon riu alto desta vez. Algo que parecia fazer muito quando estava perto de Joey, percebeu.

— Bem, pelo menos eu sei quando estou sendo irritante — defendeu-se Joey.

— Diferentemente de algumas pessoas?

— Exatamente!

— No seu caso, você faz isso sem se preocupar — acu­sou Gideon.

Ela sorriu.

— É claro.

— Principalmente no que diz respeito a mim.

— Oh, sim — concordou Joey. — É tão irresistível, uma vez que é tão fácil provocar você.

Ele inclinou a cabeça para um lado. —A maioria das pessoas nem mesmo ousaria tentar uma coisa dessas.

Joey deu de ombros.

— Eu já lhe disse... Não sou a maioria das pessoas.

Não, ela certamente não era. Joey McKinley era diferen­te de todo mundo... Sem dúvida, de qualquer outra mulher que Gideon já conhecera.

— Talvez devêssemos ver o DVD na hora do almoço? Ele pegou seu notebook para colocá-lo sobre a mesa e ligá-lo.

Joey ficou surpresa pela súbita mudança de assunto, em­bora não devesse; Gideon já provara diversas vezes que era afeito a evitar assuntos sobre os quais não queria falar.

Falando nisso...

— Você fez alguma coisa interessante na sua tarde de folga ontem? — Joey manteve o tom leve, não pretendendo deixá-lo ver como estava curiosa sobre o paradeiro dele.

Gideon a olhou sobre o topo do notebook, a expressão inescrutável quando respondeu:

— Eu fiz o que geralmente faço nas quintas à tarde.

— Que é...? — Joey não conseguia imaginá-lo tirando uma tarde da semana para visitar uma amante... Ou talvez esse fosse um pensamento desejoso de sua parte? Uma aver­são pela imagem de Gideon na cama com outra mulher?

O que era estupidez, considerando que ela podia ter dor­mido com ele na quarta-feira à noite. Um pensamento que ainda lhe causava arrepios na coluna...

— Por que o interesse? — questionou Gideon direta­mente.

Ela deu de ombros.

— Isso parece... Não combinar com sua personalidade, e me intriga.

— Verdade?

— Certo... Tudo bem. — Joey ergueu as mãos em rendi­ção. — Se quer que eu continue pensando que você passa as tardes de quinta na cama com sua amante casada...

— O quê? — interrompeu ele com incredulidade.

Ela enrubesceu. Se precisasse de uma prova de que tal amante não existia, estava ali, na expressão incrédula de Gideon. — Foi só uma idéia...

— Não sei se eu deveria sentir-me insultado ou lisonjeado — murmurou ele. — Talvez, como precaução contra sua imaginação fértil demais, eu deva lhe contar que lido com... Outros assuntos legais nas quintas-feiras à tarde.

Joey piscou. Aquilo certamente não estivera em sua lis­ta de possibilidades quando considerara as atividades de Gideon nas quintas.

— Eu não sabia que você ainda exercia o ofício de ad­vogado.

O maxilar de Gideon enrijeceu.

— Eu não exerço.

— Então eu não entendo.

Ele deu um suspiro exasperado.

— Você realmente precisa entender?

— Eu acho que sim.

Gideon continuou olhando-há por diversos segundos an­tes de ceder:

— Unicamente com o objetivo de mantê-la calada, eu lhe contarei. Ajudo a administrar um consultório de acon­selhamento legal gratuito na cidade há alguns anos. — Ele deu de ombros. — Viu... Nenhum grande segredo. E nenhu­ma amante... Casada ou solteira!

— Oh. — Surpresa por aquilo, Joey não sabia o que dizer. — Sim... Oh — Gideon ecoou secamente. — Agora, po­demos parar de perder tempo e ver o DVD certo?

— Em outras palavras, fim do assunto. Joey entendeu aqui­lo e, rodeando a mesa, parou ao lado dele. Mas não foi capaz de parar de pensar. De perceber que mais uma vez o Julgam erroneamente.

Estava tão perto de Gideon agora que podia sentir a mistura do cheiro másculo com um toque sutil de alguma colônia pós-barba. Perto o bastante para se tornar muito ciente do calor do corpo dele; de como o menor movimento da parte de um deles faria com que se tocassem...

Pare com isso, Joey, instruiu a si mesma com firmeza, enquanto se afastava de Gideon o máximo possível, mas de modo que ainda enxergasse a tela do notebook. O que havia de errado com ela? Perguntou-se. Ela e Gideon não tinham absolutamente nada em comum. Bem... Isso não era verda­de, era? Os dois eram gêmeos. Ambos valorizavam a famí­lia. Assim como a independência. Ambos eram focados em seus trabalhos... Ao ponto de Gideon ajudar a administrar gratuitamente um escritório de advocacia, algo que Joey admirava muito.

Só aquelas quatro coisas eram mais do que alguns casais juntos por anos possuíam em comum!

— Joey, você está prestando atenção?

Ela teve um sobressalto ao perceber que o DVD já esta­va passando na tela.

— É claro, estou prestando atenção — mentiu Joey. — Eu lhe direi quando chegarmos à parte relevante... Agora! — gritou com empolgação quando a imagem apareceu na tela. Instintivamente, suas mãos se moveram para os om­bros de Gideon, mas ela recolheu-as assim que percebeu seu ato. — Desculpe — murmurou, sem graça.

Gideon a olhou com curiosidade, surpreso ao ver o rubor no rosto de Joey, e o jeito com que ela evitou encontrar-lhe os olhos. Quase como se...

— Joey, se você quiser repensar a sua decisão de quar­ta-feira à noite... E, apesar da loucura de sua imaginação mais cedo... Eu ainda estou aberto à idéia. — Ele girou a cadeira de modo que ela agora estava de pé entre suas pernas abertas Joey arregalou os olhos, os seios se movimentando sob a blusa branca em função da respiração acelerada.

— Pensei que tivéssemos concordado que não é uma boa idéia nos envolvermos?

Eles tinham. E não era. Não dois dias atrás. Não agora.

Exceto que Gideon só precisara dar uma olhada para Joey novamente naquela manhã para que todo o desejo dos últimos dias voltasse a atacar cada um de seus sentidos. Ora, estaria enganando a si mesmo se não admitisse que passara 36 horas ansiando por fazer amor com ela.

Ele prendeu-lhe o olhar, e circulou-lhe a cintura com os braços, puxando-a para si até que os corpos de ambos se tocassem seus lábios a meros centímetros de distância.

— Eu quero tomá-la aqui e agora — murmurou ele com a voz rouca.

Joey umedeceu os lábios subitamente secos, suas mãos descansando sobre os ombros largos, desta vez num esfor­ço fraco de manter distância.

— Você quer? — sussurrou ela.

— Oh, sim.

Ela ainda queria que ele fizesse isso... Precisava que Gi­deon aliviasse essa dor pulsante em seu interior. Todavia...

— Eu me lembro de que nós fomos interrompidos da última vez em que tentamos isso aqui — protestou ela.

— Eu trancarei as portas — disse ele.

— Ainda há a janela...

— A janela? — Gideon olhou para a enorme janela, com expressão de incredulidade.

Joey assentiu. Eles podiam estar no décimo andar, mas o prédio do outro lado da rua tinha nove andares, e um jardim e uma cobertura, onde Joey vira diversos empregados durante os últimos dias, sempre que eles queriam fumar um cigarro. Como se para provar seu ponto, naquele momento um casal apareceu na cobertura oposta. Gideon suspirou em irritação.

— Então vamos ao banheiro, e trancamos a maldita porta!

As faces de Joey queimaram.

— Isso não pareceria... Um pouco estranho, se May en­trasse aqui?

Os olhos de Gideon adquiriram aquele brilho dourado quando ele se levantou.

— Quem se importa com a impressão que daremos? — Ele segurou o pulso de Joey e conduziu-a para um imenso banheiro que ela nem tinha visto dentro da sala de Lucan.

Atordoada, Joey olhou ao redor, notando um grande box de vidro escuro num canto, uma bancada de mármore ao lado, e duas pias contra a parede espelhada do lado oposto. As paredes e o piso também eram cobertos por mármore cor de creme e terracota, e os acessórios eram todos em ouro, com grandes toalhas marrons penduradas sobre um suporte aquecido.

Após trancar a porta, Gideon virou-se para pressionar Joey contra a parede de mármore, seu corpo inteiro tenso enquanto ele abaixava a cabeça e capturava-lhe a boca na sua pela primeira vez.

Não de maneira brusca ou exigente, como Joey teria es­perado, mas com tanta sensualidade que ela não foi capaz de resistir.

Lábios quentes dançavam contra os seus, a língua pro­duzindo uma carícia suave entre seus lábios, antes de se aprofundar, clamando pelo calor de sua boca. Explorando. Enlouquecendo-a de... Desejo por mais.

Joey estava muito perdida naqueles beijos excitantes para protestar quando Gideon afastou-a um pouco da pa­rede para lhe remover o blazer. Sua blusa logo se seguiu, e ele parou o beijo tempo o bastante para encher os olhos com seus seios, cobertos por um sutiã de renda cor de cre­me, os mamilos como rosetas sob a renda. Ele roçou os bicos salientes com a ponta do polegar.

— Eu quero você nua, Joey — sussurrou Gideon com a voz rouca, e girou-a, de modo que ela ficasse de costas para ele, encarando a parede espelhada, suas mãos grandes segurando-lhe os seios, enquanto ele olhava, sobre o ombro de Joey, para o reflexo deles.

Joey olhou para aquele mesmo reflexo, sua excitação aumentando ao sentir a respiração de Gideon sobre seu om­bro, a ereção viril contra a curva de seu traseiro, onde ele estava tão magnífico atrás dela, as mãos bronzeadas contra seu sutiã e a pele, muito mais clara.

Gideon continuou prendendo-lhe o olhar, quando abai­xou a cabeça para seu pescoço, beijando-o, provando-o. Joey arqueou as costas num convite, e as mãos grandes se apertaram em seus seios.

— Abra seu sutiã para mim, Joey — encorajou ele com a voz rouca.

Joey continuou olhando para o reflexo deles no espelho enquanto levava as mãos para trás e abria o fecho de seu sutiã, muito hipnotizada para se chocar com seu próprio comportamento, mal conseguindo respirar quando o fecho nc soltou. Somente as mãos de Gideon e as alcinhas em seus ombros estavam mantendo seu sutiã no lugar agora.

Ele não a tocou de nenhuma outra maneira enquanto bei­java primeiro um ombro, depois o outro, deslizando as alcinhas por seus braços, deixando o sutiã cair e desnudando-lhe os seios completamente.

Gideon arfou ao olhar para o reflexo de Joey. Os seios generosos eram firmes, com lindos mamilos rosados, os quais se tornaram mais rijos, mais salientes, conforme ele os observava no espelho.

— Você é maravilhosa — disse ele, saindo de trás de Joey para movê-la, sentando-a na bancada de mármore, e erguendo-lhe a saia até o topo das coxas, de maneira que pudesse ajoelhar-se entre aquelas pernas delgadas. Ele sen­tiu o calor da excitação dela quando segurou os seios deleitosos, antes de inclinar-se para tomar na boca um mamilo rosado de cada vez.

Joey tinha um gosto maravilhoso, pensou Gideon, provocando-a com a língua e com o roçar dos dentes dessa vez, o tempo inteiro sentindo-a tremer de prazer.

Joey estava muito perdida no ápice do prazer para ques­tionar por que respondia com tanta avidez aos toques de Gideon.

— Você ainda não está... Um pouco vestido demais? — provocou ela, desesperada agora para tocá-lo da mesma forma que ele a estava tocando.

— Um pouco. — Ele sorriu e endireitou o corpo, remo­vendo paletó e gravata, antes de jogá-los no chão junto com as roupas descartadas de Joey.

— Permita-me. — Joey empurrou-lhe as mãos gen­tilmente quando ele ia começar a desabotoar a camisa, e prendeu-lhe o olhar enquanto fazia tal tarefa lentamente. Só baixou os olhos depois de lhe remover a camisa, a fim de admirar o peito bronzeado.

Ele possuía ombros tão largos, músculos peitorais tão definidos, com uma trilha de pelos dourados que desapa­recia dentro do cós da calça. Joey o tocou demoradamente, correndo os dedos de leve ao longo da pele bronzeada. Os mamilos de Gideon eram como pequenos botões aninhados entre cachinhos dourados.

Beijar um deles daria a Gideon o mesmo prazer que ele acabara de lhe dar? Perguntou-se ela, então satisfez sua curiosidade e, quando ele segurou-lhe a nuca e gemeu, Joey soube que a resposta para aquela questão era definiti­vamente "sim".

Encorajada, deu o mesmo tratamento ao outro botão rijo. A pele dele era quente, e Joey sentiu as batidas do coração de Gideon contra seus dedos. Suas mãos deslizaram mais para baixo, sentindo o membro viril saltar quando ela o to­cou experimentalmente.                                    

— Deus, sim, Joey — Gideon gemeu, enquanto erguia os quadris contra as mãos, dela. Ás carícias de Joey ins­tantaneamente se tornaram mais ousadas com o encoraja­mento, e ela começou a massagear a extensão pulsante com mais força e mais rapidez.

Gideon abriu o botão e o zíper da própria calça, descendo-a juntamente com a cueca, e sentindo alívio no momen­to em que sua ereção foi liberada. Deu um gemido gutural ao sentir as mãos delicadas envolverem sua carne desnuda, Instantaneamente movendo-se contra aquela carícia, sa­bendo que estava perto de um clímax, e precisando... Oh, Deus... Precisando tanto...

— Mude de lugar comigo, Gideon — encorajou Joey, liberando-o o suficiente para que ele pudesse tomar seu lugar na bancada. Agora, ela ajoelhou-se diante dele, deslizando a língua sobre a ponta sensível da ereção, lambendo e pro­vocando, enquanto continuava a manuseá-lo com a mão.

A visão de Gideon se tornou levemente nublada quando ele olhou para baixo e viu Joey tomando-o na boca, os de­dos delgados ainda curvados ao seu redor, a língua traba­lhando ritmicamente.

— Eu vou atingir o clímax se você não parar!

Em completa contradição com aquele aviso, Gideon le­vou uma de suas mãos para a nuca de Joey, entrelaçando os dedos nos cabelos ruivos, segurando-a naquela posição. Ao mesmo tempo, sua outra mão acariciou-lhe um dos mamilos, provocando, rolando o bico inchado entre seu indica­dor e polegar.

Joey gemeu de prazer, mesmo enquanto sentia a umida­de quente entre suas coxas.

Nunca tivera tanta intimidade com um homem antes. Nunca quisera essa intimidade com nenhum homem antes de Gideon. Jamais sentira aquela louca satisfação em dar e receber prazer. Suas carícias eram puramente instintivas...

— Sim, Joey... — Os olhos de Gideon brilhavam como ouro derretido entre pálpebras estreitas. — Oh, Deus.

— Gideon? — Uma batida soou à porta do banheiro. — Você está passando mal, Gideon? — A preocupação podia ser claramente ouvida na voz de May Randall.

Joey congelou, chocada com sua total falta de inibição!

 

— Certo, então você estava correta. Tentar fazer amor num banheiro não foi à idéia mais sensata que já tive!

Gideon estava andando de um lado para o outro no escri­tório de Joey 15 minutos mais tarde, enquanto ela permane­cia sentada, olhando-o de trás de sua mesa. Os dois estavam agora completamente vestidos, e a palidez do rosto de Joey lhe dizia o quanto ela se sentia aborrecida.

Estaria embaraçada pela intimidade que eles haviam compartilhado mais cedo? Ou desapontada porque tal inti­midade fora interrompida? Gideon não tinha certeza...

Sabia que ambos haviam reagido como adolescentes Culpados quando May Randall batera à porta do banheiro, vestindo-se apressadamente, com Joey lhe dando as costas para fazer isso. Gideon assegurara a May que estava bem, e que logo se juntaria a ela, antes de acabar de se vestir com as mãos que tremiam.

Nilo, aquela certamente hão tinha sido uma idéia sensata.

— Você pode falar alguma coisa, por favor, Joey? — su­plicou ele, incomodado com o silêncio dela.

Talvez Joey quebrasse o silêncio se pudesse pensar em algo para dizer. Se não estivesse tão chocada com seu pró­prio comportamento.

Apenas olhar para Gideon agora, lembrar-se da profundi­dade da intimidade deles mais cedo, era o bastante para fa­zê-la querer se esconder. Pelo menos até que parasse de sentir que poderia morrer de vergonha cada vez que o olhasse.

Talvez a melhor coisa fosse simplesmente evitar o assunto.

— Você já teve a chance de ver aquele DVD? Gideon parou de andar para fitá-la com incredulidade.

— Isso é o melhor que você pode fazer?

— Não vejo benefício para nenhum de nós em falar so­bre o que aconteceu.

Nem ele via. Pelo menos até que Joey expressasse sua relutância em conversar sobre aquilo.

Só estar perto daquela mulher o fazia se comportar de modo impulsivo, ilógico. Algo que nunca fazia... Em ne­nhuma situação. Ouvi-la dispensar o ocorrido, como se esse não tivesse a menor importância, era o bastante para fazê-lo querer sacudi-la!

Ele a olhou com raiva do outro lado da mesa.

— Que tal combinarmos uma hora para acabar o que começamos?

Olhos verdes encontraram os seus brevemente, antes que Joey os desviasse.

— Isso seria uma enorme estupidez de nossa parte.

— Não maior do que eu andar por aí com uma ereção constante, e você à beira de um orgasmo! — retorquiu Gideon.

Ela enrubesceu.

— Você está sendo deliberadamente rude...

— Eu estou sendo honesto — corrigiu Gideon.

— Então talvez você devesse considerar ser menos ho­nesto e um pouco mais prudente!

Gideon deu uma risada sem humor.

— Até você aparecer, prudente costumava ser o meu nome do meio. Um nome que aparentemente me abandonou.

— Então eu sugiro que você o encontre de novo!

Ela mexeu em alguns papéis sobre o topo da mesa, cha­mando a atenção de Gideon para o dragão dourado sentado majestosamente à frente. Aqueles olhos amarelos brilhan­tes pareciam encará-lo de modo malévolo.

— Seu talismã parece não estar trabalhando no momen­to — murmurou ele com irritação.

— Meu talismã está trabalhando muito bem. — Joey pegou o dragão, defensivamente. — Somos nós dois que estamos nos comportando de forma irracional.

— Como você, eu não tenho idéia do que está aconte­cendo entre nós — disse ele com frustração. — Mas algu­ma coisa obviamente está. E nós não podemos continuar fazendo isso.

Os dedos dela se curvaram em volta do dragão dourado.

— Fazendo o quê?

— Indo um pouco mais longe cada vez que tentamos fazer amor, e então parando. — Gideon franziu o cenho.

Além de ser muito frustrante, é totalmente prejudicial!

Joey sorriu ironicamente.

— Que típico da sua parte olhar para isso do ponto de vista de como a situação afeta seu trabalho...

— Totalmente prejudicial para nós dois em relação às nossas vidas — ele a corrigiu. — Ora, Joey, você é como uma coceira constante que eu não posso cocar.

— Acredito que esta é a primeira vez em que um homem me compara a uma coceira irritante! Que lisonjeiro!

— Eu não me lembro de ter usado a palavra "irritante". Ela deu de ombros.

— Estava implícita no tom de sua voz. Gideon gemeu com impaciência.

— Você não me conhece bem o bastante para interpretar meu tom de voz.

— E nem tenho o desejo de conhecê-lo melhor — de­clarou Joey com firmeza. — Gideon, você não imagina o quanto acho errado o que fizemos mais cedo. — Ela o en­carou. — Especialmente considerando como nos desgosta­mos e desaprovamos um ao outro.

Gideon tornou-se imóvel, a expressão reservada, en­quanto considerava se aquela declaração ainda era verda­deira. Para si mesmo, pelo menos. Certamente não gostara de Joey ou a admirara antes que ela fosse trabalhar com ele. Agora, não tinha mais certeza de como se sentia em relação a ela...

— Você está certa, é claro — disse Gideon calmamente.

Joey o estudou incerta sobre aquela súbita concordân­cia. A expressão de Gideon era fria e distante, não revelan­do nenhuma emoção.

— E a resposta para sua pergunta anterior é "não"... Eu não tive a chance de ver o DVD — continuou ele. — Pen­sei... E obviamente eu estava enganado... Que fosse mais importante vir aqui e tranqüilizá-la sobre o que aconteceu entre nós, em vez de ver o DVD.

Tudo que Joey queria era esquecer aquele incidente em­baraçoso. Ela inclinou a cabeça.

— Obviamente, você estava enganado.

Gideon suspirou e resistiu à vontade de sacudi-la, antes de envolvê-la em seus braços. Ele cerrou os dentes.

— Vamos ver aquele DVD agora, se é isso que você quer.

Ele virou-se e andou para o escritório adjacente, sem es­perar para ver se Joey o seguia.

Desde o começo, soubera que tê-la trabalhando lá cau­saria complicações indesejadas... Apenas não percebera que direções tais complicações tomariam.

Ele sempre escolhia suas parceiras de cama com cuida­do... Entre aquelas que eram capazes de se relacionar fisica­mente sem se envolver. Todavia, apenas o cheiro do perfu­me de Joey, combinado com um aroma floral único, quando ela se posicionou ao seu lado para ver a tela do computador, foi o bastante para deixá-lo excitado de novo.

— Eu o conheço. — Gideon aproximou-se para ver me­lhor quando a imagem que ela congelara mais cedo, de um homem barbado, reapareceu na tela de seu computador. — De onde eu o conheço?

— Talvez ele trabalhe aqui? — sugeriu Joey.

Não, não é isso. — Gideon continuou estudando a Imagem. — Talvez, se tirássemos a barba... Colocássemos uni pouco de peso nele... Possivelmente uma camisa e uma gravata...

— E teríamos Richard Newman — concluiu Joey.

   Gideon a olhou brevemente, antes de voltar sua atenção para o homem na tela.

— Nós teríamos Richard Newman — concordou ele.

O mesmo Richard Newman que ficara contente em dei­xar a irmã de Joey, Stephanie, ser nomeada como "a ou­tra" em seu caso de divórcio, alguns meses atrás, a fim de proteger a mulher com quem realmente estava tendo um caso... A esposa de seu chefe. Richard Newman, que tinha, subseqüentemente, perdido a esposa e a custódia dos filhos, sua casa e sua amante, assim como seu emprego, quando a verdade finalmente viera à tona.

Uma verdade que Gideon e Joey, juntos, tinham desco­berto e revelado...

Bem... Principalmente Gideon, para ser honesta. Mas Joey também trabalhara para tentar provar a inocência de sua irmã.

Motivo pelo qual talvez Newman tivesse escolhido sa­botar os dois, para se vingar?

Gideon virou-se para Joey, franzindo o cenho ao ver que ela se afastara da mesa, e estava agora de costas para ele, olhando pela janela, os braços ao redor da cintura de ma­neira protetora.

— Joey?

Ela não respondeu, mas os ombros delgados começaram a tremer.

Gideon levantou-se.

— Joey, você está bem?

— Eu estou bem?— repetiu ela, virando-se, aqueles olhos verde-jade reluzindo. — Nós quase fizemos amor no banheiro, e agora...

— Vamos nos concentrar em Richard Newman — mur­murou ele.

Ela meneou a cabeça.

— Eles me avisaram sobre isso quando eu me formei em Direito. Sobre a possibilidade de algum cliente insatisfeito querer vingança um dia. Mas eu nunca pensei... Nunca ima­ginei que isso pudesse acontecer comigo. Ou como seria terrível se acontecesse.

— Joey...

— Eu falei com ele, Gideon! Fiquei diante dele dentro do café, assim como do lado de fora, quando ele me en­volveu numa conversa casual. Durante o tempo todo, ele... Não pode ter sido coincidência, Gideon. Ele devia estar me observando. Deve ter me seguido para o café! Entrado na fila atrás de mim de propósito... Oh, Deus! — O tremor de Joey se intensificou quando a enormidade do encontro supostamente casual a atingiu.

Gideon passara a se acostumar tanto com a autoconfian­ça de Joey que, por alguns segundos, não soube o que fazer. Até que aquelas lágrimas nadando nos olhos verdes come­çaram a escorrer pelas faces bonitas.

— Oh, Joey! — ele gemeu de maneira sofrida enquanto se aproximava, envolvia-a nos braços e a apertava contra si.

Joey o abraçou de volta, sabendo que nunca sentira tanto medo. Nunca sentira sua vida, o que estava ao seu redor, tão fora de seu controle.

Há quanto tempo Richard Newman a vinha seguindo? Somente desde que ela começara a trabalhar na St. Claire? Ou isso tinha começado antes? Ele a vinha observando secretamente por semanas? Esperando pela oportunidade.

— Não deixe sua imaginação dominá-la, Joey — aconselho Gideon suavemente.

— Bem, pelo menos posso dizer que tenho imaginação! Ela afastou-se para olhá-lo.

Gideon comprimiu a boca ao se recordar da conversa deles na segunda-feira de manhã, quando Joey o acusara de não ter imaginação.

— Voltar a me insultar não irá ajudar a situação.

— Nada irá ajudar essa situação.

— Eu lidarei com isso.

— Como? — desafiou Joey. — Percebo que você é um dos invencíveis St. Claire, mas, mesmo assim...

— Joey.

Ela respirou fundo diversas vezes para se acalmar.

— Desculpe. Em vez de insultá-lo, eu deveria estar me parabenizando... O fato de que Newman furou só um de meus pneus contra dois dos seus parece mostrar que ele me odeia apenas a metade do que odeia você.

— É bom ver que você está recuperando seu senso de humor! — murmurou ele, abaixando os braços e afastan­do-se.

— Esta sou eu — Joey falou com sarcasmo. — Uma piada!

Gideon não foi enganado nem por um momento. Tinha visto ainda outro lado de Joey nesta manhã. Sob o exterior de durona que ela escolhia apresentar para o mundo, havia uma mulher tão suave e vulnerável quanto sua irmã gêmea. A mulher que mantinha um dragão de ouro sobre sua mesa porque ganhara da irmã. Para boa sorte, ela dizia. E a mu­lher que cantava com uma voz de anjo, que escolhia não compartilhar publicamente. Sabendo o que sabia sobre ela agora, Gideon tinha certeza de que havia uma boa razão — uma razão emocional — para aquilo.

Joey McKinley era a mulher mais complexa e mais fas­cinante que Gideon já conhecera.

Somente isso era o bastante para acionar seus alarmes internos e manter distância. Ele havia conseguido, por mais de vinte anos, evitar todo tipo de envolvimento emocional, a não ser com sua família imediata. E a complexa e emocio­nal Joey McKinley ameaçava romper aquele distanciamen­to cuidadosamente construído.

Gideon aprendera muito cedo, depois do fim do casa­mento de seus pais, quando ele tinha dez anos, sobre as complexidades e os perigos de sentir emoções — particu­larmente amor romântico — por outra pessoa. Sua mãe, Molly, amara seu pai, Alexander... Somente para descobrir, depois de 13 anos de casamento e do nascimento de três filhos, que o marido era apaixonado por outra mulher há vinte anos. A mulher por quem Alexander finalmente tinha abandonado a esposa e os filhos.

Oh, Molly parecera ter finalmente superado a dor quan­do Lucan anunciou que ia se casar com a neta da "outra mulher" daquele triângulo amoroso. Mas Gideon ainda se lembrava bem do quanto sua mãe sofrerá na época de sua separação de Alexander. Em todos esses anos, ela nunca mais pensara em se apaixonar... Muito menos em se casar novamente. Era uma lição de "amor" que os três filhos de Molly haviam aprendido bem.

O fato de que Jordan e Lucan tinham sucumbido, e se casado nos últimos dois meses com as mulheres por quem HC apaixonaram, não abalava a decisão que Gideon tomara vinte anos atrás de nunca entregar seu coração para que alguém pudesse machucá-lo.

Certamente não estava disposto a quebrar sua própria regra, e sentir algum tipo de emoção pela imprevisível Joey McKinley.

A não ser pelo fato de que desejo o consumia toda vez que a olhava.

Gideon moveu-se para se sentar atrás de sua mesa antes que Joey percebesse que ele estava excitado novamente.

— Acho que o melhor jeito de lidar com isso é con­tatar a polícia e contar o que sabemos. Uma vez que eu faça isso, eles provavelmente irão querer falar com você também.

— Eu estarei disponível. — Joey não tinha idéia do que Gideon estivera pensando nos últimos minutos, mas, com certeza, não eram pensamentos prazerosos.

O que não era surpreendente, uma vez que os dois ti­nham o problema de Richard Newman pairando sobre suas cabeças como a Espada de Dâmocles. Mas, por pior que aquela situação fosse Joey sentia certo alívio por isso ter desviado a atenção da paixão anterior deles.

Toda aquela situação estava saindo de controle. Joey se perguntou se algum dia conseguiria banir de sua mente as lembranças de tocar em Gideon, e ser tocada intimamente por ele.

Mas teria de fazer isso, se quisesse continuar trabalhan­do com ele pelas próximas três semanas.

Ela endireitou o corpo.

— Eu sugiro que não contemos nada disso para Stephanie e Jordan por enquanto. Eles não podem fazer nada, e somente ficariam preocupados.

Gideon arqueou sobrancelhas zombeteiras.

— Acredito que eu tenho inteligência suficiente para já ter concluído isso sozinho.

Joey nunca duvidara da inteligência dele... Apenas de sua habilidade de sentir empatia por outras pessoas. Embora isso fosse questionável, depois do jeito com que ele a beija­ra e a levara à beira do clímax mais cedo. Ela assentiu.

— Eu o deixarei sozinho para que lide com a polícia. — Ela virou-se para a porta que conectava as duas salas.

—Joey... Ela parou, virando-se mais uma vez.

— Sim?

— Vai ficar tudo bem. — Ele deu-lhe um sorriso tranqüilizador. — Eu não deixarei que Newman chegue perto de você.

Aquela gentileza quase a desfez, causando um nó de emoção na garganta de Joey. Podia lidar com a frieza e o sarcasmo de Gideon, até mesmo com a paixão inesperada dele, mas essa gentileza era algo totalmente distinto...

— Veremos — ela conseguiu dizer antes de escapar para seu próprio escritório.

Antes que desmoronasse uma segunda vez, e decidisse correr para os braços protetores de Gideon, e chorar como um bebê!

 

— Eu ainda acho que isso é desnecessário — murmurou Joey quando saiu de seu carro e trancou-o, antes de se virar para encarar Gideon, parado na frente de seu prédio.

— Você ouviu o conselho da polícia. — Ele se juntou a ela na calçada, o próprio carro parado atrás do de Joey.

— Eu não pretendo deixá-la dirigir para o trabalho ou para casa sozinha... Ou para nenhum outro lugar... Até que eles consigam localizar e interrogar Newman.

Sim, Joey estivera presente no escritório de Gideon quando dois policiais, após se interarem dos eventos dos dois últimos dias, tinham oferecido esse conselho. Ela até mesmo apreciara a praticidade de tal conselho na ocasião; se nunca saísse sozinha, então Newman não poderia abor­dá-la de novo. Mas apreciar a praticidade do conselho e realmente segui-lo eram duas coisas muito diferentes!

Especialmente agora, depois de um dia tendo Gide­on insistindo em acompanhá-la ao café pela manhã, para que ela pegasse seu chocolate quente... Com observações grosseiras sobre a imaturidade do pobre rapaz servindo atrás do balcão... E depois ao parque perto do escritório, onde ela fora comer um sanduíche na hora do almoço. Agora, finalmente, ele a seguira para casa com seu pró­prio carro, a fim de se certificar de que ela chegaria em segurança.

Todas essas atividades "conjuntas" certamente não iam ajudá-la a esquecer o que acontecera entre os dois naquela manhã!

Joey ajeitou a alça de sua bolsa sobre o ombro.

— Eu estou em casa agora, Gideon — murmurou ela de maneira significativa.

Ele estreitou os olhos.

— Você pretende sair de novo?

— E se eu quiser sair? Você não irá comigo! — excla­mou ela, vendo a expressão determinada no rosto dele.

— Isso dependeria de onde você fosse. Joey bufou em frustração,

— E se eu tiver um encontro romântico? As sobrancelhas loiras se arquearem.

— Você tem?

— Por acaso, não — replicou ela. — Eu geralmente vou para a academia de ginástica nas sextas à noite.

Gideon assentiu.

— Então, é para lá que iremos. Ela deu um suspiro impaciente.

— Newman dificilmente irá me seguir para lá. E preciso estar matriculado na academia para entrar lá...

— Joey.

Gideon falou apenas seu nome, mas de um jeito que a Informava de que ele tinha todas as intenções de fazer o que escolhesse fazer. E, naquele momento, estava escolhendo acompanhá-la à academia.

— Nós não vimos o homem pelos últimos dois dias...

— O que não garante que ele não irá segui-la novamente esta noite — racionalizou Gideon.

— Isso é ridículo!

Gideon teve de reprimir um sorriso diante da óbvia frus­tração de Joey. Não que o motivo para tal cautela fosse di­vertido, mas a reação dela era.

Ela havia se sentido desconfortável naquela manhã, quando ele a acompanhara ao café e dera sua opinião so­bre o "rapagão" servindo atrás do balcão. Também parece­ra sem graça quando Gideon escolhera comer seu próprio almoço no parque com ela... E então a provocado porque ela dera, ilegalmente, grande parte de seu sanduíche para os patos. E ele tinha de admitir estar apreciando o descon­forto de Joey agora, pela idéia de que ele a acompanhasse à academia.

É claro que passar todo aquele tempo na companhia de Joey estava longe de ser ideal, depois de sua decisão de manter distância, mas, à exceção de contratar-lhe um guar­da-costas — algo que Joey acharia ainda mais inaceitável do que sua presença constante —, ele não podia pensar em outra solução para o problema atual deles.

Então, até que a polícia encontrasse Richard Newman, os dois teriam de estar sempre juntos. E Joey simplesmente teria de aceitar isso.

— Qua tal eu levá-la para jantar depois? — convidou ele.

— Isso não anula o objetivo de ir à academia de ginástica? — perguntou Joey.

— Não se você comer alguma coisa saudável.

Ele estava sendo deliberadamente irritante, decidiu ela. Estava se divertindo com aquilo... Às suas custas!

— Ouça Gideon...

— Não, ouça você, Joey — interrompeu ele calmamen­te. — Nós dois sabemos que Stephanie nunca me perdoaria se eu não me certificasse de que nada de mal aconteça a você.

Joey o olhou com raiva.

Por que ele tivera de invocar a palavra "Stephanie"? Uma tática que Gideon sabia muito bem que silenciaria to­dos os seus protestos. Por mais que Joey gostasse de sua independência, nunca faria nada para atrapalhar a felicida­de do casamento recente de sua irmã com o lindo Jordan.

Ela não pôde evitar pensar que, para gêmeos, os dois homens não se pareciam fisicamente nem se comportavam de maneira parecida. Jordan tinha cabelos escuros e olhos dourados, e Gideon possuía cabelos loiros e olhos cor de chocolate; Jordan era charmoso sem esforço, enquanto o charme de Gideon era muito mais sutil.

Aparentemente, muito de Gideon estava escondido sob a superfície. O amor profundo por sua família. Sua preo­cupação com Stephanie dois meses atrás. O jeito com que insistia em cuidar de Joey agora...

Qualquer que fosse a razão pela qual Joey se sentia atraída por ele, ela esperava que a polícia achasse Richard Newman logo. Porque não tinha certeza de quanto dessa proximidade com Gideon poderia suportar sem sucumbir ao desejo que a consumia cada vez que o olhava... Bem, quando não estava irritada com ele...

Ela lhe deu um olhar reprovador agora.

— Isso é chantagem emocional.

Ele pareceu inabalável pela acusação.

— E daí? Joey gemeu.

— É vergonhoso usar meu amor por Stephanie dessa maneira.

— Está funcionando?

— Sim.

— Missão cumprida. — Gideon sorriu. — Esperarei aqui enquanto você sobe e pega suas coisas.

Aquilo não seria divertido? Joey ia à academia três ve­zes por semana com o objetivo de manter a forma, mas a atividade envolvia ficar com calor e suar. Não algo que queria fazer sob os olhos observadores de Gideon.

— Você está perdendo tempo, Joey — murmurou ele, como se estivesse ciente dos pensamentos desagradáveis dela.

Sem dúvida, ele estava!

— Que tal se eu inscrevê-lo como meu convidado, e você treinar comigo, em vez de ficar só me olhando?

— Boa idéia — concordou ele. — Eu geralmente vou à minha própria academia todas as manhãs antes do tra­balho, de modo que minha roupa ginástica ainda está no porta-malas do carro.

Bem, aquele pequeno plano não funcionara certo? Ela devia ter adivinhado que Gideon se exercitava regularmen­te; não podia ter adquirido aqueles músculos poderosos fi­cando somente sentado atrás de uma mesa cinco dias por semana.

— A menos que você ache que Jason Pickard poderá protestar por nós passarmos a noite juntos?

Joey o olhou desconfiada, mas não foi capaz de ler nada na expressão de Gideon.

— Eu já lhe falei... Você tem uma idéia totalmente errada com relação a minha amizade com Jason. Não é o que pensa.

— Você parece muito determinada a me fazer acreditar nisso.

— Provavelmente porque não quero que pense que eu permiti que você... Beijasse-me quando já estou envolvida com outra pessoa.

Sem trair a confiança de Jason, Joey não tinha como convencer Gideon daquilo; Jason podia ter decidido con­tar a verdade sobre seu relacionamento com Trevor para os pais, mas isso não significava que queria sua vida particular revelada para mais alguém.

— Eu não penso isso de maneira alguma — replicou Gideon. — Acredito que a conheço bem o bastante agora para perceber que mentiras e traições não fazem seu estilo.

— Então, por que continua mencionando Jason?

— Eu não sabia que você tinha o monopólio sobre pro­vocações...

Provocações? Gideon a estava provocando? Joey saiu andando, murmurando:

— Eu criei um monstro!

Gideon sorriu enquanto a observava andar para o edifí­cio, muito ciente do balanço sexy dos quadris, antes que ela abrisse a porta e desaparecesse do lado de dentro. De um modo muito similar, Richard Newman a observara de costas, saindo do café na segunda-feira.

Seu sorriso desapareceu. Somente pensar que o ou­tro homem estivera tão perto de Joey era o bastante para reforçar sua decisão de protegê-la, gostasse dela ou não.

Ele dissera a verdade ao declarar que Stephanie nunca o perdoaria se alguma coisa acontecesse à sua irmã gêmea, mas era também verdade que Gideon não perdoaria a si mesmo...

— Pronto!

Gideon focou-se em Joey quando ela apareceu ao seu lado cinco minutos depois, seus olhos se arregalando ao ver que ela usara aquele tempo para vestir uma camiseta branca justa sob um moletom preto, calça de cotton baixa nos quadris e tênis roxo e branco.

— Você é baixinha, não é? — comentou ele. Mais uma vez, ela alcançava o queixo de Gideon.

— Ou você é exageradamente alto. — Ela lhe deu um olhar irritado, abrindo o carro e jogando sua mochila no banco traseiro.

— Ou eu sou exageradamente alto — concordou ele, pe­gando as chaves de seu carro do bolso. — Você mostra o caminho e eu sigo.

— Agora, essa é uma sugestão interessante.

— Acho que nós esgotamos "interessante" pelo dia, não acha? — Gideon sorriu ao se lembrar da maneira desajei­tada na qual as coisas tinham acabado entre eles naquela manhã.

— Provavelmente. — Ela fez uma careta e abriu a porta do carro. — Eu o vejo na academia.

Joey estava muito ciente do carro de Gideon logo atrás do seu enquanto dirigia. Podia vê-lo pelo retrovisor toda vez que o olhava.

Por mais que protestasse a necessidade de tê-lo acompanhando-a para todos os lugares, estava grata por Gideon se incomodar... Mesmo que só estivesse fazendo isso porque, do contrário, Stephanie nunca o perdoaria.

Ela se sentiu menos grata por aquela atenção uma hora e meia depois, quando eles se encontraram no bar para um suco de frutas revigorante depois do treino, e viu que ele não tinha suado uma gota, apesar do treino pesado que ela o vira fazendo ao redor dos aparelhos de musculação... Enquanto Joey estava molhada de suor, com o rosto vermelho pelo esforço.

Olhá-lo, vestido numa camiseta preta que mostrava a largura dos ombros e os músculos definidos do peito, e num short preto que enfatizava as pernas grossas, não es­tava ajudando muito a diminuir o ritmo acelerado de seu coração, também!

Diversas outras mulheres no bar o olhavam com aprecia­ção. Olhares dos quais Gideon parecia totalmente incons­ciente, enquanto bebia seu suco de laranja.

— Você teve notícias de Lucan? — perguntou Joey, para preencher o silêncio que começava a se estender demais para o seu gosto, embora ele não parecesse nem um pouco incomodado com isso.

Ele arqueou as sobrancelhas.

— Ele está em lua de mel, Joey. É claro que não tive notícias.

— Bem... Sim. Eu só pensei... — Ela parou, sentindo um rubor esquentar seu rosto. É claro que Lucan estava em lua cio mel e, pelo jeito sensual com que tinha olhado para a esposa durante o casamento, eles deviam estar passando o tempo inteiro na cama!

Gideon riu suavemente do desconforto de Joey.

— Você só pensou que, porque Lucan sempre foi workaholic, não resistiria a me telefonar e verificar como estão as coisas?

— Todos os homens St. Claire são iguais no que diz res­peito a trabalho.

Ele deu de ombros.

— Suponho que a linda Lexie deu ao meu irmão mais velho uma perspectiva diferente sobre as prioridades dele na vida. Assim como Stephanie fez com Jordan — acres­centou Gideon, sabendo que ainda estava tentando aceitar aquelas mudanças em seus dois irmãos.

Por tantos anos, tinham sido somente os três, unidos con­tra o mundo durante aquelas visitas intermináveis ao pai deles... Até que chegaram a uma idade em que podiam esco­lher não ir, e não iam. Depois, haviam passado anos na fa­culdade, sempre apoiando uns aos outros quando iniciaram suas carreiras escolhidas. Então, Jordan se apaixonara e se casara com Stephanie, e Lucan tinha conhecido Lexie e se apaixonado também... Dando aos irmãos de Gideon um foco diferente em suas vidas num espaço de tempo muito curto.

Era ridículo da parte de Gideon sentir-se abandonado por seus irmãos. Especialmente quando não tinha mais interes­se agora em se apaixonar ou em se casar do que sempre tivera... Ou seja, nenhum interesse. Apenas esperava que o desejo que sentia por Joey fosse uma aberração temporária.

Mas ele a desejava. Mesmo agora, apele brilhando devi­do à transpiração por conta dos exercícios, Joey conseguia parecer desejável naquele traje colante que definia suas lin­das curvas. Ele tivera muitas oportunidades para observar aquelas curvas em movimento enquanto ela se exercitava, deleitando-se com a visão do corpo flexível e magnífico.

— Hora de tomarmos banho, eu acho. — Gideon sen­tou-se subitamente, pondo seu copo vazio sobre a mesa.

Joey não pôde falar por diversos segundos, pois instan­taneamente uma imagem dos dois no banho, completamen­te nus, com ela ensaboando o corpo deleitável de Gideon lhe veio à cabeça.

Sacudindo-se mentalmente, ela pôs seu próprio copo va­zio sobre a mesa.

— Boa idéia. Eu o encontro lá embaixo na recepção, depois.

Joey levantou-se e se apressou para o vestiário femini­no... Antes que Gideon pudesse notar, e questionar, o súbito calor que retornara ao seu rosto.

O que estava errado com ela? Parecia não conseguir pas­sar um minuto na companhia dele sem que seus pensamen­tos se voltassem para o quarto... Ou, no caso deles, para o banheiro!

Pare com isso, Joey, instruiu a si mesma. Gideon só es­tava passando tempo de lazer em sua companhia porque sentia que era uma obrigação familiar manter a gêmea de sua cunhada segura. Não estava preocupado com Joey pes­soalmente. O código de honra dos St. Claire o levava a ga­rantir que nenhum dano fosse causado a ela. Algo que era bom que Joey não esquecesse...

Joey sentia-se refrescada e fortificada quando reencontrou Gideon na recepção, 15 minutos depois. Seus cabelos ainda estavam úmidos do banho, e caindo suavemente na testa e nuca, mas ela se sentia bem menos exposta de calça jeans e suéter cor de creme do que em seu traje de ginástica.

Gideon, por outro lado, estava novamente vestido no ter­no que usara mais cedo. Todavia, sem a gravata, e com os dois primeiros botões da camisa branca abertos.

— Acho que eu não estou muito bem vestida para ir jan­tar — comentou Joey.

— Eu que estou social demais. — Gideon sorriu.

O coração de Joey disparou. Aquilo era inacreditável; ele precisava apenas lhe sorrir para fazê-la tremer de desejo novamente!

— Talvez eu deva ir para casa e trocar de roupa antes? — acrescentou ele quando ela continuou em silêncio.

Ela deu de ombros.

— Eu posso encontrá-lo em algum lugar...

— Essa não é uma opção.

— Mas...

— Venha comigo. Joey piscou.

— Ir com você para onde?

— Para meu apartamento, é claro. — Gideon a fitou, notando como os cabelos rui vos pareciam macios sem o gel que ela aplicava para manter o estilo arrepiado. O rosto bonito estava sem maquiagem, depois do banho.

Pela expressão no rosto de Joey, ela ficou apavorada com sua sugestão de acompanhá-lo até o apartamento dele, de modo que Gideon trocasse de roupa antes que eles saís­sem para jantar.

Aquela provavelmente não era uma boa idéia, agora que ele pensou sobre isso. Na verdade, nem sabia por que tinha feito tal sugestão. Não levava mulheres ao seu apartamen­to. Nenhuma mulher. Nem mesmo aquela para quem ofe­recera sua proteção. Especialmente quando tinha a nítida impressão de que era ele quem podia precisar de proteção, uma vez que eles estivessem sozinhos...

— Esqueça — disse ele. — Nós só vamos comer qual­quer coisa em algum lugar casual, antes que eu a acom­panhe até sua casa, então suponho que não importa o que estou usando.

— Não! Não, eu... Podemos passar em seu apartamento antes — disse Joey um pouco ofegante, sua curiosidade so­bre a casa de Gideon superando seu bom-senso em relação a estar sozinha com ele num lugar tão privado.

Estava curiosa para saber se a casa de Gideon era tão desprovida de sentimentos quanto o resto da vida dele pa­recia ser...

— Eu posso garantir que você não vai gostar da decora­ção branca, ou dos móveis pretos e cromados do meu apar­tamento — murmurou ele com um sorriso, adivinhando os pensamentos dela.

— Você fala como quem não gosta muito deles também. — Eles saíram no estacionamento atrás da academia, onde tinham deixado seus carros.

— Já estava decorado quando eu comprei o apartamen­to. — Ele deu de ombros. — Serve ao seu propósito, dando-me um lugar para deitar a cabeça de noite.

— E isso é...

— É prático, Joey, que é tudo que eu sempre precisei e quis que fosse — declarou ele com finalidade, chegando ao seu carro.

Fim do assunto reconheceu Joey, seguindo-o mais de­vagar, tomada por um senso de desapontamento pelo fato de que a casa de Gideon era tão estéril de sentimentalismo quanto imaginara que seria.

— Droga! —A explosão de Gideon interrompeu os pen­samentos de Joey. — Mil vezes droga!

— O que foi? — Ela apressou-se para onde ele estava parado, ao lado do carro. — O que aconteceu...? — Então viu o que tinha acontecido: um único risco havia sido feito ao longo de toda a lateral do lado do motorista do carro dele. — Oh, não!

— Oh, sim — confirmou Gideon, enquanto olhava para o carro de Joey, parado ao lado do seu.

Havia um risco idêntico, único e profundo, na lateral do lado do motorista do veículo.

Gideon tinha quase certeza de que ambos sabiam quem era o responsável pelos danos...

 

— Beba Joey — encorajou Gideon, entregando-lhe um dos dois copos de uísque que acabara de servir. — Você irá se sentir melhor se tomar tudo — instruiu, quando ela só deu um pequeno gole.

Fazia mais de uma hora desde que eles tinham saído da academia e descoberto os danos nos carros. Uma hora duran­te a qual os dois policiais que estavam procurando Newman haviam ido ao estacionamento, a fim de dar sua opinião pro­fissional sobre aquele segundo ato de vandalismo.

O uso do nome "St. Claire" mais cedo obviamente tivera algum efeito na eficiência deles.

Os policiais haviam lamentado não ter conseguido lo­calizar Richard Newman ainda, muito menos interrogá-lo; confirmando que também acreditavam que o homem fosse o responsável pelos riscos nos dois carros.

No momento em que a polícia foi embora, Gideon perce­bera que Joey estava pálida e tremendo quase sem controle. A agonia se confirmara pelo fato de que ela não protestara à sugestão de deixar seu carro lá, enquanto ia ao carro de Gideon até o apartamento dele.

Apesar de ter sido contra a idéia antes, Gideon pudera ver que essa era a escolha mais sábia nas circunstâncias. Havia porteiro e câmeras de segurança instaladas em seu edifício, o que obviamente não havia no prédio de Joey. Ademais, ele não sabia se ela teria uísque em casa e, sem dúvida, eles pre­cisavam de uma dose, depois do choque de encontrar seus carros deliberadamente danificados.

O cabelo vermelho de Joey era a única cor viva na sala de estar de Gideon, a qual incluía uma mesinha de metal, ladeada por um sofá e duas poltronas de couro preto, qua­dros em preto e branco em molduras cromadas nas paredes, um abajur de metal e ônix atrás do sofá, e um lustre combi­nando acima, no centro da sala.

Os apartamentos de Gideon e de Joey eram tão diferen­tes quanto à lua do sol. O dela falava de aconchego e ca­lor que formavam um lar, em vez de apenas um local para guardar roupas e dormir à noite...

Joey meneou a cabeça.

— Eu não entendo por que Newman esperou até ago­ra. Afinal de contas, faz quase dois meses desde que nós... Bem, principalmente você... Livrou Steph de qualquer en­volvimento no divórcio dele.

Gideon assentiu com um gesto de cabeça.

— Eu também não entendia por que isso agora, então investiguei algumas coisas mais cedo hoje. O divórcio de Newman foi para o tribunal na última sexta-feira. Rosalind Newman conseguiu tudo que foi queira... Inclusive a cus­tódia dos dois filhos, com acesso apenas combinado para Richard Newman. Parece que a ex-esposa do homem es­tava furiosa.

— Estou inclinada a pensar que a fúria de Rosalind Newman foi justificada no que diz respeito ao ex-marido! — exclamou Joey, o uísque a tendo acalmado, de alguma forma.

O bastante para que reconhecesse que Gideon a levara para o apartamento dele, no final das contas.

Um apartamento que, com sua decoração branca e mó­veis pretos e cromados, era tão impessoal quando Gideon a prevenira. Ela detestou o lugar!

— Eu também. — Gideon começou a andar pela sala.

— Infelizmente, Newman não conseguiu encontrar outro emprego, uma vez que "desistiu" do último tão de repente.

Considerando que Newman tinha um caso com a esposa do chefe, "desistir" não era tão surpreendente!

— Você não espera que eu sinta pena do homem, certo?

— Joey suspirou. Se não fosse pelo envolvimento de Gi­deon, Stephanie poderia ter sido prejudicada tanto pessoal como profissionalmente por ser apontada como "a outra" no divórcio. — Em minha opinião, enforcamento não seria pena suficiente para o crime dele! — anunciou Joey com ferocidade.

— Lembre-me de nunca ficar contra você. Ela sorriu.

— Tarde demais.

Gideon pegou-se retribuindo o sorriso.

— Lamento, mas, se você quiser comer esta noite, eu terei de pedir alguma coisa aqui. Raramente como em casa, então não há nada na geladeira, fora pão, manteiga, leite e talvez alguns ovos. E um pacote de salmão defumado — lembrou ele. — Minha mãe o trouxe para mim da Escócia na semana passada. Joey pareceu divertida.

— Deve ser bom ter salmão defumado trazido da Escó­cia, ou ser rico o bastante para comer fora todas as noites. Na verdade, aquilo podia ser um pouco tedioso, pensou Gideon, franzindo o cenho. Não tinha considerado as limi­tações de seu estilo de vida escolhido até que Joey entrara em sua vida quase uma semana atrás. Ele parará de notar a esterilidade fria de seu apartamento, a impessoalidade de comer nos mesmos restaurantes quatro ou cinco noites por semana. Não se importava em jantar sozinho; o gerente e os demais funcionários de todos aqueles restaurantes o conhe­ciam e lhe falavam, então qual era o problema se comesse sozinho?

Mas levar Joey lá, ver seu apartamento através dos olhos dela tornou-o muito ciente da falta de objetos pessoais ou fotografias, e a decoração monocromática dava ao ambien­te mais a aparência de um hotel do que de um lar.

Mas aquilo havia sido deliberado, lembrou a si mesmo. Quando criança, ele ficava dividido entre a casa de sua mãe em Edinburgh, a fazenda de seu pai em Gloucestershire, e o colégio interno no qual estudava em Shrewsbury. E, mais tarde, tivera diversas residências em Londres durante seus anos de faculdade. Tudo isso tinha resultado em manter o mínimo de itens pessoais, uma vez que seria mais fácil quando ele precisasse se mudar de um lugar para o próximo.

Até agora não percebera que aqueles itens pessoais eram quase inexistentes.

— Já lhe ocorreu que eu não sei cozinhar? — perguntou ele.

— Eu ouvi corretamente? — provocou Joey. — O auto-suficiente Gideon St. Claire admitiu que haja algo que não possa fazer melhor que todo mundo?

Gideon franziu o cenho.

— Não sei de onde você obteve essa impressão sobre mim, Joey, mas posso lhe garantir que existem muitas coi­sas que não sei fazer.

Ela o estudou, reconhecendo, pela expressão fechada dele, que, apesar de ter decidido que eles deveriam ir para seu apartamento, Gideon não estava à vontade em lhe per­mitir uma espiadela dentro de sua vida particular.

— Estou me sentindo melhor agora, então talvez eu deva ir.

— Ir para onde?

— Para casa, é claro.

— Eu não acho que essa seja uma boa idéia. Joey piscou.

— Perdão?

— Tenho certeza de que você notou o porteiro lá em­baixo quando nós chegamos, para bloquear pessoas que não são moradoras... O código de segurança para entrar no elevador... As câmeras dentro do elevador e em cada andar?

Um nó se formou no estômago de Joey quando ela co­meçou a perceber o que Gideon estava prestes a dizer.

— Sim...

— Eu acho que, até que a situação Newman seja resolvi­da, seria melhor que você ficasse aqui comigo.

— De jeito nenhum! — Joey se levantou, enquanto meneava a cabeça freneticamente em protesto. — Eu já tive de agüentar você me seguindo o dia inteiro...

— O contrário também é verdadeiro, sabia...? Eu tive de agüentar segui-la o dia inteiro! — retorquiu ele.

As faces dela se esquentaram.

— Essa escolha foi sua, não minha.

— Eu tenho uma responsabilidade...

— Por causa de Stephanie — interrompeu ela. — Sinto muito, Gideon, mas não existe a menor possibilidade de eu... Ouça, sei que nós não nos comportamos com muita discrição esta manha, mas isso não significa que virei mo­rar com você.

Gideon se encolheu como se tivesse sido atacado por uma cobra, um nervo pulsando no maxilar tenso.

— A última coisa que eu estava sugerindo era que você morasse comigo.

Obviamente. Ele parecia horrorizado com o mero pen­samento daquilo!

— Então, o que você tinha em mente? — desafiou Joey. — Que eu apenas compartilhasse sua cama pela noite?

Sobrancelhas loiras se uniram sobre olhos castanhos brilhantes.

—Acho que não gosto da acusação no seu tom de voz.

— Durão! — exclamou Joey, e agora era ela quem an­dava pela sala. — Não sei o que você pensa que eu sou Gideon, mas definitivamente não sou fácil.

— Oh, posso atestar isso — murmurou ele. Ela lhe deu um olhar raivoso.

— Você sabe o que eu quis dizer...

— E você — interrompeu Gideon — está deliberada-mente escolhendo não entender o que eu quis dizer! — Ele suspirou. — Não estou sugerindo que compartilhemos uma cama. Você pode ficar com o quarto, e eu dormirei aqui no sofá. — O que seria muito desconfortável, consi­derando que era um sofá de dois lugares, e que ele tinha 1,92m de altura!

Mas recebia algum agradecimento por ter sua vida tu­multuada dessa forma? Alguma apreciação por convidar Joey para sua casa, quando nunca convidara mais ninguém'? Alguma consideração por seu próprio desconforto? Não, tudo que recebia por seu trabalho era a desconfiança dela. O que era muito insultante!

— Eu não vou ficar aqui com você — insistiu Joey. Gideon deu um suspiro frustrado.

— Então acho que eu terei de voltar para seu apartamen­to com você.

— Eu não pretendo convidá-lo para passar a noite no meu apartamento! — declarou Joey com determinação.

— Eu dormirei no sofá...

— Não me importo se você vai dormir no corredor do lado de fora... A resposta ainda é "não"! — disse ela, o tom de voz aumentando por- conta de sua agitação.

— E se Newman decidir esta noite que não está satisfei­to com danificar nossos bens, e resolver tornar a vingança mais pessoal?

Joey pareceu assustada.

— Você acha que ele poderia se tornar violento com um de nós?

— Eu acho que eleja é violento... Isso apenas ainda não se manifestou num ataque físico.

Joey sentiu-se empalidecer, e um calafrio percorreu sua coluna quando se recordou de Richard Newman na fila atrás dela, na segunda-feira de manhã... Da maneira como ele tinha deliberadamente parado e lhe falado. Como se não se importasse em não ser reconhecido, ou talvez até qui­sesse isso.

Gideon arrependeu-se de ter sido tão direto ao notar a palidez no rosto de Joey.

— Eu não pretendia assustá-la.

— Bem, você me assustou.

Ele passou uma mão pelos cabelos.

— Vamos tentar nos acalmar um pouco, certo?

— E como você propõe fazer isso? — questionou Joey.

— Provavelmente nos sentiremos menos agitados... Se comermos alguma coisa.

— Você quer dizer que eu devo me acalmar, não é? — desafiou ela. — Eu nunca o ouvi agir de alguma maneira que não fosse calma.

Gideon recusou-se a incentivar outra discussão.

— Se você não quer pedir comida, nós podemos fazer ovos mexidos com salmão defumado, talvez acompanha­dos de torradas?

— Nenhum de nós sabe cozinhar, lembra?

— Creio que, se você puder colocar fatias de pão na torradeira, minhas habilidades culinárias se estendem até fazer ovos mexidos e abrir um pacote de salmão defuma­do — disse Gideon. Ele vivera de ovos durante sua época de faculdade, quando sua mesada acabava antes que fosse hora de receber a próxima. Preferia um cardápio mais so­fisticado hoje em dia.

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Sério?

— Acredito que sim.

— Talvez você queira trocar de roupa antes de começar a cozinhar?

Gideon ainda estava com sua calça de terno e sua camisa branca.

— E vestir o quê? Eu nem sequer tenho uma calça, jeans, Joey.

— Por que não? Ele deu de ombros.

— Não sou o tipo de pessoa que usa jeans. Divertimento brilhou agora nos olhos verde-jade.

— Neste caso... Vamos lá, MacDuff!

Gideon estava sorrindo diante do retorno do bom humor de Joey... Às suas custas, é claro... Enquanto liderava o ca­minho para a cozinha. Uma cozinha que, com sua decora­ção em preto, verde-limão e metal cromado, com balcões limpos e não usados, era tão impessoal quanto o resto de seu apartamento.

Que era exatamente como ele gostava, lembrou a si mesmo. Gideon atravessou o cômodo para tirar ovos, leite, manteiga e salmão defumado da geladeira, de súbito des­confortável com a idéia de preparar uma refeição com al­guém. Raramente cozinhava... Muito menos uma refeição aconchegante com uma mulher que previamente conside­rara irritante.

Em que momento tinha deixado de pensar em Joey dessa maneira?

Oh, ainda ficava irritado na companhia dela, mas não do mesmo jeito de antes; agora essa irritação era dirigida para si mesmo... Por permitir que sua atração por Joey se tornasse uma parte tão grande da sua vida.  

— Você estava certo. Eu me sinto muito melhor agora que comi. — Joey estava sentada no banco do lado oposto de Gideon, no balcão de mármore preto, próprio para café da manhã, onde insistira que eles tinham de comer... Em vez de à mesa daquela sala de jantar impessoal.

Não havia aconchego nos cômodos que ela vira até ago­ra. Na verdade, não havia nenhuma evidência da personali­dade do homem que morava lá.

O topo da mesa de Gideon em St. Claire também não continha evidências do tipo de homem que trabalhava lá todos os dias. Certo, então ele estava trabalhando no escri­tório de Lucan no momento, porém, mais cedo na semana, Joey tinha pedido emprestado um livro de advocacia do es­critório de Gideon, no fim do corredor. Joey desempacotara aquelas caixas de itens pessoais que tinha levado consigo na segunda-feira, colocando-as na sala de Lexie, a fim de se sentir mais confortável durante o mês em que trabalhas­se lá. Mas a sala de Gideon, onde ele trabalhava todos os dias por anos, era desprovida de qualquer calor e conforto, como o apartamento dele.

Quem vivia assim?

Bem, obviamente Gideon vivia. Mas, por quê? Isso era apenas mais uma manifestação daquele "isolamento" que o ajudava a ficar longe de qualquer tipo de envolvimento emocional?

O mesmo isolamento que agora, tendo permitido Joey em seu apartamento, estava em perigo de ser demolido?

Joey estivera muito distraída mais cedo para apreciar o fato, mas...

— Por favor, não pense que eu sou ingrata por sua su­gestão de que eu passe a noite aqui.

— Uma sugestão que você entendeu de maneira total­mente errada.

— Sim, e agora estou tentando me desculpar — disse ela.

Gideon a estudou com olhos estreitos.

— Não deixe que eu a impeça de fazer isso. Joey riu.

— Você não deveria ser um pouco mais amável com re­lação a isso?

A expressão de Gideon tornou-se zombeteira.

— Estou apreciando demais a novidade de ter a sincera Joey McKinley se desculpando para tentar ser amável.

Ela fez uma careta.

— Considerando como somos rudes um com o outro, não sei como acabamos sendo pegos naquela posição com­prometedora mais cedo... — Ela parou, o rosto queimando pelo embaraço. — O que eu quis dizer foi...

— Está tudo bem, Joey. Eu sei o que você quis dizer. — Gideon já tinha se perguntado a mesma coisa. A única explicação que lhe vinha à mente era a teoria sobre a atra­ção dos opostos.

Joey era o calor do sol, enquanto ele era o frio da lua. Ela era abertamente emocional contra sua reserva ge­lada. Joey vestia-se de modo casual e feminino... Quando não estava trabalhando... E ele sempre usava trajes formais.

Opostos em tudo.

Todavia, a atração que sentiam um pelo outro estava sempre ali, presente. Ele franziu o cenho.

— Esta manhã foi...

— Espero que não esteja prestes a me insultar de novo, Gideon... — Joey o fitou com cautela. — Porque, pelo que eu me lembro o ato de rasgar as roupas um do outro foi mútuo.

Opostos, pensou Gideon mais uma vez diante da total franqueza dela. Entretanto, tal honestidade era recomendá­vel. Até mesmo divertida, certas vezes. Ele se pegara rindo muitas vezes durante- a última semana de alguns dos co­mentários mais francos de Joey.

— Nenhuma roupa foi realmente rasgada. E, em minha defesa, eu gostaria de declarar que geralmente mostro mais controle do que mostrei nesta manhã.

— Oh, acredite, você deu um significado inteiramente novo para a palavra controle — murmurou ela.

— Motivo pelo qual o lapso desta manhã foi lamentável

— terminou ele.

Joey lhe dirigiu um olhar exasperado.

— Diga-me, Gideon, seus relacionamentos geralmente duram muito?

Ele foi pego de surpresa pela pergunta.

— Perdão?

— Perguntei se seus relacionamentos duram, no geral?

— repetiu Joey. Gideon podia ser bonito como o pecado, e um amante muito erótico, mas ela não conseguia visualizar muitas mulheres agüentando a necessidade dele de analisar e dissecar cada aspecto de um relacionamento. Ela, com certeza, achava aquilo menos que encorajador.

Gideon suspirou de desprazer.

— Eu sempre fui completamente honesto no que você escolhe chamar de "relacionamentos".

Joey arqueou as sobrancelhas castanhas.

— E como você escolhe chamá-los? Ele parecia irritado agora.

— Um acordo de necessidades mútuas.      

Ela deu uma risada de incredulidade.

— Um acordo de necessidades mútuas? Parece mais que você está discutindo negócios do que um relacionamento.

— Provavelmente porque é assim que eu prefiro pensar neles.

— E quanto tempo você geralmente leva para colocar sua carta de "necessidades mútuas" sobre a mesa?

— Depois de um primeiro encontro, eu sempre posso dizer se quero ver uma mulher novamente.

— Ir para cama com ela, você quer dizer?

— Sim.

Joey o olhou com perplexidade.

— Não é de admirar que você ainda esteja solteiro aos 34 anos.

— Eu ainda estou solteiro aos 34 anos porque esta é uma escolha pessoal — retrucou ele.

— Continue dizendo isso a si mesmo, Gideon — Joey provocou, enquanto se levantava para começar a levar a louça para a máquina de lavar. — Pessoalmente, estou sur­presa que alguma mulher concorde em sair com você uma segunda vez, depois de ouvir seu discurso sobre "necessi­dades mútuas".

Gideon não tinha idéia de como aquela conversa mudara para o modo com que ele conduzia seus relacionamentos pessoais. Mas, por que deveria estar surpreso? Nunca era capaz de predizer ou antecipar o que a franca e direta Joey McKinley ia dizer ou fazer a seguir.

Como demonstrado pela próxima declaração dela:

— Suponho que devo me sentir grata por você não ter sugerido ter um relacionamento de "necessidades mútuas" comigo.

A expressão de Gideon se tornou reservada.

— Qual teria sido sua resposta, se eu tivesse sugerido isso?

Ela o encarou.

—Adivinhe!

Gideon a estudou por diversos segundos, sabendo, pelo brilho de raiva nos olhos verdes, qual seria a resposta de Joey para uma sugestão como aquela.

Sorrindo-lhe, ele se levantou.

— Não tenho certeza se sua resposta é humanamente possível.

Ela riu baixinho.

— Provavelmente não. Agora, se você puder me levar de volta para a academia, de modo que eu pegue meu carro...

— Sim, eu posso fazer isso — replicou Gideon. — Mas somente se eu a seguir com o meu carro e passar a noite no seu apartamento, ou, alternativamente, ambos voltarmos para cá.

— Gideon...

— Isso não é negociável, Joey.

Joey podia ver a expressão implacável de Gideon. E, por mais que não "gostasse da idéia de ele passar a noite em seu apartamento — sua” necessidade mútua “por Gideon correndo o risco de sair de controle se ela soubesse que ele estava deitado nu no cômodo ao lado do seu —, ela apreciou a oferta.

— Tudo bem — aceitou finalmente. — Mas não espere que eu aja como a anfitriã graciosa e lhe ofereça o quarto, enquanto eu durmo no sofá, porque isso não vai acontecer — avisou ela causticamente.

Gideon deu um sorriso sarcástico.

— Eu nunca esperei outra coisa. Ela sorriu docemente.

— Estou tão feliz por não ter desapontado você.

Joey nunca o desapontava, pensou Gideon enquanto ia para seu quarto coletar as coisas que precisaria para passar uma noite fora.

Ela o surpreendia, o chocava às vezes, e lhe desperta­va um desejo incontrolável e inexplicável, mas jamais o desapontava...

 

— Tem certeza de que você vai ficar confortável dor­mindo aqui? — Joey olhou para a cama improvisada que preparara para Gideon no sofá de sua sala de estar.

— Provavelmente não — respondeu ele, pondo sua sa­cola ao lado do sofá, antes de tirar celular e carteira dos bolsos e colocá-los sobre a mesinha de centro. — O que, sem dúvida, tornará seus sonhos mais doces, enquanto você dorme no conforto de sua cama.

Ela duvidava disso. Especialmente quando ele estava passando por todo esse desconforto para protegê-la. -— Talvez eu deva dormir no sofá, afinal de contas...

— Eu só estava provocando-a novamente, Joey. — Gi­deon sentou-se no sofá e sorriu-lhe. — Eu ficarei bem dor­mindo aqui.

— Se você tem certeza...

Agora que chegara a hora de Joey ir para seu quarto, ela sentiu-se relutante... Duvidava de que conseguiria dormir, sabendo que ele estava tão perto. Possivelmente nu!

— Tenho certeza — respondeu Gideon. — Agora, vá — incentivou, quando ela não se moveu.

— Eu me sinto muito culpada de ficar com a cama e deixar você no sofá.

— Ótimo.

Ela arregalou os olhos.

— Gideon! Ele riu.

— Estou brincando.

— Oh. Há café na cozinha, se você acordar antes pela manhã, e...

— E aqui estava eu, imaginando que você me traria café na cama.

Joey o fitou.

— Você está brincando de novo, certo? Ele sorriu.

— O que você acha? Joey fez uma careta.

— Acho que você vai se cansar de esperar que eu lhe traga café na cama.

— Outro pequeno desapontamento na vida. — Gideon deu um suspiro exasperado.

Joey não sabia bem o que fazer com esse humor provo­cante de Gideon. Era desconcertante, para dizer o mínimo.

— Boa noite, Gideon — disse ela, e virou-se.

— Boa noite, Joey.

Ela fechou a porta de seu quarto antes de se encostar contra a mesma, ciente de que seu coração estava dispara­do; suas faces, vermelhas.

Aquilo era ridículo. Tinha 28 anos, era uma advogada com alguma reputação... Não uma adolescente inexperiente desejando um homem que, não podia ter! Mesmo que essa última parte fosse verdade. Desejava Gideon, e sabia que não podia tê-lo... Não nos seus termos, pelo menos. Não estava interessada num caso temporário apenas para saciar um desejo momentâneo.

O bom humor de Gideon desapareceu no momento em que Joey fechou a porta do quarto e, desistindo de fingir que estava relaxado, ele levantou-se e começou a andar pela sala, de modo irrequieto.

Como conseguiria dormir, sabendo que Joey estava a poucos metros de distância? Possivelmente nua!

Ela dormia nua? Somente a possibilidade foi o bastante para causar uma pulsação no seu sexo.

Gideon virou-se num sobressalto ao ouvir a porta do quarto reabrir, adotando uma expressão desinteressada en­quanto a olhava.

— Eu preciso usar o banheiro — disse Joey, saindo do quarto numa enorme camiseta branca que batia no meio das coxas.

Então ela não dormia nua, pensou Gideon, observando-a desaparecer dentro do banheiro do corredor. Mas a camise­ta tinha certo atrativo, uma vez que o levava a imaginar as curvas deleitosas sob o tecido de algodão...

A quem estava tentando enganar? Ela poderia estar usando um saco, e ele ainda a acharia sexy.

— Boa noite, de novo — murmurou Joey, sem olhá-lo, antes de entrar no quarto e fechar a porta.

Mais uma vez consumido por um desejo frustrante, Gi­deon ficou parado ali, no meio da sala, olhando para a por­ta fechada do quarto por diversos segundos. Sabendo que Joey estava atrás daquela madeira. Que agora ele ansiava por beijar aqueles lábios suaves, tomá-la em seus braços e moldar-lhe as curvas contra as suas. Acariciá-la inteirinha, até que Joey estivesse tão excitada quanto ele.

Praguejando, Gideon pegou sua sacola e foi para o ba­nheiro do corredor. Precisava de um banho frio. Muito lon­go e muito frio...

Joey não se recordava de já ter passado uma noite tão irre­quieta em sua vida. Nada a atormentara tanto quanto saber que Gideon estava dormindo no sofá de sua sala.

Ela chegara a sair da cama algumas vezes durante a noi­te, com a intenção de se juntar a ele no sofá, ou convidá-lo para compartilhar sua cama, seu corpo doendo, necessitan­do terminar o que eles haviam começado naquela manhã.

De alguma maneira, resistira a cada um desses desejos, forçando-se a retornar à cama sozinha. Apenas para se le­vantar novamente minutos mais tarde, consumida pelo mesmo desejo.

Foi um alívio quando a luz da manhã começou a se infil­trar pelas cortinas de seu quarto. Uma olhada para o relógio sobre o criado-mudo revelou que eram quase 7h30. Certa­mente um horário aceitável para levantar?

De qualquer forma, Joey não agüentava mais ficar rolan­do na cama. Foi ao banheiro escovar os dentes, antes de se dirigir para a cozinha, a fim de fazer chá. Muito chá.

Conseguiu executar a primeira dessas tarefas simples­mente não olhando para Gideon enquanto se movia pelo corredor, mas, no caminho de volta, não resistiu. Olhou para o sofá, sua respiração ficando presa na garganta quan­do ela o viu deitado de braços, com apenas um lençol co­brindo sua nudez. Pelo menos, Joey presumia que ele estivesse nu sob o lençol, pelo que podia ver das costas e das longas pernas musculosas.

Joey não resistiu a aproximar-se para olhá-lo, seus de­dos cocando de vontade de tocar uma mecha de cabelos dourados caindo sobre a testa. Os cílios de Gideon eram longos contra as faces, os lábios estavam levemente abertos enquanto ele respirava.

Se ela se abaixasse um pouquinho, poderia beijar aque­les lábios...

— Eu não sinto o cheiro de café da manhã sendo prepa­rado! — Olhos dourados brilharam quando Gideon subita­mente ergueu os cílios para fitá-la.

Joey quase caiu com o sobressalto que teve.

— Pensei que você ainda estivesse dormindo! — acusou ela, sentindo-se enrubescer de vergonha por ter sido pega observando-o dormir. Ou enquanto pensava que ele dormia!

— Obviamente, você se enganou. — Gideon levou o lençol consigo quando se virou para olhá-la. Estava muito ciente de que certa parte de sua anatomia tinha acordado antes do resto dele, e a visão de Joey aumentou a pulsação entre suas coxas.

Um fato do qual ela também estava ciente, se o jeito com que arregalara os olhos ao ver o volume sob o lençol fosse alguma indicação.

— O que posso dizer? Parte minha está muito contente em ver você — murmurou ele.

Ela enrubesceu, mas arqueou sobrancelhas sarcásticas.

— E como o resto de você se sente sobre isso? Gideon pôs um braço atrás da cabeça e relaxou contra o travesseiro.

— Como falei, eu não senti cheiro de café da manhã.

Como ele pensara, dormir no sofá não tinha sido o maior problema na noite anterior. Resistir à vontade de bater à por­ta de Joey e juntar-se a ela na cama se provara mais difícil.

O banho frio não adiantara nada. Uma vez que se deitara no sofá, sua mente tinha sido povoada com imagens dele beijando Joey, fazendo amor com ela...

— E, como eu lhe disse ontem, você não vai sentir — Joey lhe assegurou. — Tem torradas ou croissants na cozi­nha, se estiver com fome; portanto, sirva-se. — Ela virou-se.

Gideon estendeu o braço e segurou-lhe o pulso.

— Aonde você vai? — perguntou com a voz rouca. Ela engoliu em seco, muito ciente daqueles dedos quen­tes rodeando seu pulso.

— Pensei em ir à cozinha, fazer café e chá. Gideon puxou-lhe o pulso de leve.

— Você não estava prestes a me dar um beijo de "bom dia" alguns minutos atrás?

Uma tensão inconfundivelmente sexual preencheu o cô­modo quando ela percebeu com que facilidade se entregara.

— Não seja ridículo.

— Não minta para mim, Joey. Ou para si mesma. Joey tentou recuar.

— Eu não estou mentindo...

— Acho que está.

— Não...

— Sim!

Olhos dourados a encararam quando os dedos de Gideon se apertaram ao redor de seu pulso e a puxaram, conseguin­do desequilibrá-la.

Ela começou a entrar em pânico enquanto tombava na direção dele.

— Pare com isso, Gideon — disse ela com firmeza, en­quanto tentava recuperar o equilíbrio, mas, em vez disso, encontrou-se deitada em cima dele, somente o tecido fino do lençol e de sua camiseta entre os dois.

O que não era barreira alguma. Joey sentiu a ereção viril pressionada contra suas coxas, seus seios em contato com aquele peito largo, e os rostos deles apenas a centímetros de distância.

Ela permaneceu imóvel, sem respirar, enquanto seu cor­po se inundava de calor. Um calor que se centrou entre suas pernas enquanto a intensidade dos olhos dourados a man­tinha cativa.

— Eu não acho que essa seja uma boa idéia, Gideon. Ele liberou-lhe o pulso para lhe emoldurar o rosto nas mãos, os polegares acariciando as sombras sob os olhos dela.

— Você não dormiu bem?

— Eu... Não, não realmente — admitiu Joey.

— Nem eu.

Sentindo os lábios secos, ela umedeceu-os com a língua.

— Essa não é a resposta, Gideon. Ele deu um sorriso triste.

— Bem, certamente essa não é a pergunta!

— Então, o que é? — perguntou Joey, ofegante. Os olhos dourados prenderam os seus.

— A pergunta é: algum de nós pode impedir o que vai acontecer a seguir? — Gideon moveu-se, apartando-lhe as pernas. O centro feminino estava agora pressionado contra a rigidez absoluta. — Você pode? — Ele flexionou os qua­dris para se roçar contra ela.

Joey gemeu baixinho, fechando os olhos quando uma onda de prazer a percorreu. Sentiu uma umidade começar entre suas pernas, sentiu os bicos dos seios enrijecendo...

— Joey? — sussurrou ele com a voz rouca. Ela ergueu olhos verdes brilhantes.

— Você pode

Gideon meneou a cabeça.

— Eu nem mesmo pretendo tentar — admitiu ele, saben­do que tinha perdido essa batalha em particular no momen­to em que a ouvira sair do quarto mais cedo. Observara-a seguindo o corredor para o banheiro, os mamilos salientes contra a camiseta, as pernas desnudas sedosas. Saber que ela estava nua sob aquela camiseta apenas o deixara deses­perado para removê-la.

Gideon fez isso agora. Acomodou-a sentada de pernas abertas sobre ele, então ergueu a camiseta lentamente, reve­lando cachinhos castanhos entre as pernas delgadas, a cin­tura fina e, por fim, os seios firmes e generosos, suplicando para serem beijados.

Gideon fitou-lhe os olhos.

— Abaixe-se e ponha seu mamilo na minha boca, Joey.

Joey tremeu. Seu desejo era forte demais para que fi­zesse qualquer coisa além do que ele pedia. Ela moveu as mãos para descansar uma de cada lado da cabeça de Gideon sobre o travesseiro, então baixou os seios, e instantanea­mente sentiu um prazer intenso quando ele tomou um de seus bicos na boca, enquanto provocava o outro entre o polegar e o indicador.

Atordoada com as sensações, Joey se moveu sobre ele de maneira irrequieta. Gideon gemeu, enquanto continuava dando atenção aos seios magníficos, levando-a para um lu­gar cada vez mais alto, em direção à liberação que estava se tornando uma necessidade desesperadora.

— Eu esperei tanto tempo por isso — sussurrou Gideon, antes de capturar-lhe os lábios com os seus.

O beijo longo e profundo aumentou a excitação de am­bos para um ponto febril.

— Eu não posso esperar mais. Preciso estar dentro de você agora. — Ele rolou para o lado, levando-a consigo, antes de reverter às posições, deitando-a no sofá e cobrindo-lhe o corpo com o seu. — Aceite meu corpo em seu interior, Joey! — suplicou seus lábios contra o pescoço dela, as mãos segurando-lhe o traseiro, preparando-a para recebê-lo.

Joey precisava de Gideon em seu interior tanto quanto ele queria estar lá. Ela estendeu uma mão entre os corpos e guiou-o, gemendo baixinho ao senti-lo penetrando-a cui­dadosamente, antes de ir mais fundo, estendendo-a, preenchendo-a centímetro por centímetro.

Joey enrijeceu brevemente pela dor que sentiu, enterran­do as unhas nos ombros de Gideon, quando o membro viril rompeu sua barreira e a preencheu completamente, antes que ele se tornasse estranhamente imóvel.

— Gideon? — incentivou ela, quando ele continuou parado.

— O que... — Ele levantou a cabeça para encará-la com a expressão atormentada. — Diga-me que eu não sou seu primeiro amante!

O coração de Joey disparou, e ela se sentiu empalidecer com a acusação que podia ler tão claramente na expressão de Gideon.

— Eu... Isso importa?

Aquilo importava? A mente de Gideon ecoou a pergunta.

Importava que Joey fosse virgem? Que ele acabara de romper a barreira da inocência dela? Que obviamente a ma­chucara? Sim, importava!

O semblante de Gideon era feroz quando ele a segurou pelos ombros.

— Você não pode ser virgem!

— Bem... Eu não sou mais — reconheceu Joey suave­mente.

Gideon gemeu.

— Mas, todos sabem... Você e Pickard foram vistos jun­tos por meses.

Ela balançou a cabeça.

— Eu já lhe disse. Nós nunca fomos amantes.

— Mas você deve ter saído com outros homens ao longo dos anos... — persistiu ele.

Que conversa mais embaraçosa pensou Joey. Eles es­tavam nus, com Gideon enterrado profundamente em seu interior, e ele queria questionar por que ela não tinha ido para cama com outros homens!

Ela umedeceu os lábios.

— Podemos falar sobre isso mais tarde, Gideon? A expressão dele era zangada.

— Iremos falar sobre isso agora!

Joey não conseguia encarar os olhos dourados acusadores.

— Isso é um pouco... Estranho no momento, você não acha?

Ele não era capaz de raciocinar com clareza agora. Esta­va muito perplexo, muito chocado pela descoberta da prévia inocência de Joey para pensar com coerência. Aquele era um choque que sua masculinidade obviamente ecoou, e ele se sentiu pronto para recuar. Levar seu desejo anterior à sua conclusão era a última coisa em sua mente agora.

Gideon retirou-se de dentro de Joey e levantou-se, pa­rando ao lado do sofá e olhando-a. Ela rapidamente se cobriu com o lençol, mas não antes que ele visse uma mancha de sangue entre as pernas dela.

Ele fechou os olhos por um momento. Realmente tinha tirado a virgindade de Joey.

Mas ela soubera...

Gideon a olhou.

— Nada disso faz sentido.

— Nada do quê?

— Você. Eu. O fato de que você ainda era...

— Virgem — terminou ela por ele.

— Sim!

O que havia esperado? Perguntou-se Joey. Que os dois fizessem amor e que fosse maravilhoso?

Bem, até que Gideon tivesse descoberto sua virgindade, tinha sido maravilhoso!

Então tudo se transformara num pesadelo por causa do choque dele. Da raiva.

E pela percepção de Joey de que se apaixonara perdidamente por ele...

 

Joey estreitou os olhos.

— Qual é o seu problema exatamente com o fato de termos feito amor, Gideon? — questionou ela quando ele virou-se para vestir uma cueca preta.

Ele ainda estava muito surpreso para saber o que estava pensando, quanto mais para colocar seus sentimentos em palavras.

Como aquilo podia ser possível? Joey era uma mulher de 28 anos que dava toda a impressão de ser vivida. Como ainda podia ser virgem?

Entretanto, era.

Havia sido...

E Gideon não sabia como se sentia sobre isso.

A expressão furiosa no rosto de Joey lhe dizia que talvez ele devesse manter a boca fechada até que soubesse.

— Joey...

— Eu prefiro que você não me toque Gideon — avi­sou ela, movendo-se para o outro canto do sofá e agarrando o lençol à sua frente quando ele estendeu o braço para , tocá-la.

Gideon abaixou a mão, a fisionomia se fechando diante da rejeição.

— Eu não vou machucá-la... Bem, não mais do que já machuquei. Se eu soubesse...

— Eu realmente não quero mais falar sobre isso, Gideon.

— Não se trata do que você quer...

— Na verdade, é exatamente disso que se trata! — Ela levantou-se para enrolar o lençol ao seu redor. — Eu vou tomar banho agora. Meu conselho é que você vá embora antes que eu volte.

— Você sabe que eu não posso fazer isso — replicou ele. — Não com Newman a seguindo por aí.

Joey o olhou com raiva.

— Ele não está me seguindo, Gideon. E, mesmo se es­tivesse, eu não pretendo sair hoje, então não há problema, certo?

Não, o problema parecia ser entre os dois. E Gideon sabia que era o responsável por isso. Se tivesse agido de maneira diferente depois que percebera... Mas de que outra forma poderia ter agido quando tinha ficado tão chocado pela descoberta da inocência dela?

— Por que não houve mais ninguém para você, Joey? — perguntou ele.

Ela o fitou.

— Bem, Gideon, essa não é a pergunta certa, é?

— Então, qual é a pergunta certa?

Ela deu uma risada sem humor antes de se virar.

— Eu vou tomar um banho. Feche a porta depois que sair.

Gideon olhou para as costas dela com frustração, saben­do que seria um erro pressioná-la mais agora.

Mas, ora, ele não tinha idéia de qual seria a pergunta certa!

Joey não sabia como conseguiu chegar ao banheiro antes que as lágrimas começassem a cair, mas, de alguma manei­ra, chegou lá e trancou a porta, antes de dar vazão ao choro.

Que situação!

Tinha se apaixonado por Gideon. Por um homem que tinha deixado muito claro que nunca pretendia se apaixonar na vida!

Mesmo assim, ela nunca deveria ter permitido que as coisas chegassem tão longe entre eles. Nunca deveria ter cedido ao desejo... Não ao desejo, ao amor que a mantivera acordada e desejando-o pela maior parte da noite.

Mas cedera... Querendo e dando as boas-vindas ao ato de amor deles somente para que tudo desmoronasse quando Gideon descobriu que ela era virgem. Se Joey soubesse que isso causaria tanto problema, então teria se certificado de perder a virgindade anos atrás.

Não, não teria feito isso. Ela e Stephanie tinham cresci­do numa família amorosa. Seus pais eram até mesmo mais apaixonados um pelo outro agora do que quando haviam se casado. E, de alguma maneira, aquele tipo de amor se tornara parte da mente de Joey e de Stephanie... A tal ponto que nenhuma das duas estava disposta a se contentar com menos. Ao ponto que ir para cama com homens que não amavam sempre estivera fora de questão para ambas.

Bem, Joey percebera que estava irrevogavelmente apaixonada por Gideon... Apenas desconsiderara o fato de que seu amor não era recíproco. Agora, nem sabia como conseguiria encará-lo de novo, com o conhecimento de sua virgindade perdida pairando entre os dois como um fantasma.

Era um pequeno conforto que ele provavelmente não tinha idéia de que ela estava apaixonada... Que a pergunta que deveria ter feito era por que Joey o escolhera para ser seu primeiro e único amante.

Gideon ainda estava lá. Foi o primeiro pensamento de Joey quando saiu do banheiro meia hora depois, sentindo o chei­ro de café e torradas vindo da cozinha.

Ele obviamente não aceitara sua necessidade de ficar sozinha pelo menos durante o fim de semana. Talvez, na segunda-feira, ela já tivesse recuperado um pouco de sua autoconfiança.

Agora, outro confronto iria acontecer muito antes do que Joey gostaria.

Ela endireitou os ombros e entrou no quarto, onde vestiu jeans e uma blusa verde, passou uma escova nos cabelos molhados, e voltou para a cozinha... Antes que tivesse tem­po de mudar de idéia.

Apenas para parar abruptamente à porta quando viu que ele arrumara dois lugares ao balcão de café da manhã. Um bule de chá e um de café já estavam lá, juntamente com xícaras, leite e açúcar, e croissants quentes e torradas esta­vam arranjados tentadoramente numa cesta.

— O que você está fazendo, Gideon? — demandou ela. A expressão dele era reservada.

— Café da manhã para nós, é claro. — Ele levou a man­teiga, e então o resto dos alimentos para o balcão. Estava vestido numa calça marrom e numa blusa de cashmere tam­bém marrom. — Eu sei que você prefere chá, então...

— Você provou mais cedo que não sabe nada sobre mim, Gideon. — As mãos de Joey estavam fechadas nas laterais do seu corpo, as unhas enterradas nas palmas.

Ele a fitou com uma expressão aborrecida nos olhos cas­tanhos. Então suspirou.

— Ouça, eu não quero discutir com você, Joey...

— Oh, não haverá tempo para uma discussão, Gideon — ela lhe informou. — Porque você vai embora. Agora!

Ela parecia feroz e determinada. — Eu lhe dei todas as oportunidades de fazer isso graciosamente, e partir en­quanto eu estava no banho, mas agora estou lhe dizendo diretamente para ir!

Gideon reprimiu sua impaciência, sabendo que isso só pioraria a situação.

— Eu não quero deixar as coisas assim entre nós — ex­plicou ele, mantendo o tom de voz calmo. — Você não vê que preciso entender por quê...

— Como você poderia começar a entender alguma coi­sa, Gideon, quando seu lado emocional é igual ao de um robô? — disse ela com veemência. — Seu apartamento é tão impessoal quanto uma suíte de hotel. No seu escritório, parece que ninguém trabalha lá. Sua vida pessoal é despro­vida de sentimentos. Ninguém vive assim.

Gideon vivia. Por escolha. Porque tinha visto como sua mãe havia ficado destruída por perder o marido e a casa que amava 25 anos atrás. A decisão de Gideon de nunca se envolver com pessoas ou coisas, fora sua família imediata, era baseada em testemunhar a devastação completa da vida de sua mãe.

Nada mudara durante os anos de sua vida adulta para abalar tal convicção. Exceto que detestava a crença de Joey de que ele não tinha emoções...

— Meia hora atrás, você não teria me acusado de não ter emoções — apontou ele.

— Aquilo não era emoção, Gideon. Era uma reação físi­ca natural entre um homem e uma mulher nus — murmurou ela. — Qualquer um com sangue nas veias tem essa reação!

— Então está dizendo que o que aconteceu entre nós mais cedo não significou nada para você?

Joey enrijeceu, enquanto cada mecanismo de defesa que possuía entrava em ação. Uma coisa era saber que estava apaixonada por Gideon, mas outra muito diferente era dei­xá-lo perceber seus sentimentos. Precisava conservar algum orgulho depois da experiência humilhante daquela manhã.

— A discussão não é sobre mim, Gideon. E nem será — acrescentou ela com firmeza. — Nem agora nem nunca. Eu realmente gostaria que você fosse embora. — Joey o encarou e ergueu o queixo em desafio.

Gideon nunca se sentira tão impotente, tão incapaz de saber o que fazer ou falar a seguir. Mas sabia que precisava falar alguma coisa. Que não podia deixar as coisas daquela maneira entre eles.

— Por que nós não nos sentamos e tomamos café? Você se sentiu melhor ontem à noite, depois que comeu...

— Alimentar-me não vai mudar nada desta vez — de­clarou Joey. — No momento, tudo que eu quero é que você vá embora.

— Eu não posso deixá-la assim.

Gideon comprimiu os lábios em frustração.

— Nós fomos para cama juntos esta manhã...

— Tecnicamente, foi um sofá — interrompeu ela. — E eu já lhe disse que não quero mais discutir isso hoje.

— Você é a pessoa mais teimosa e mais difícil... — Gi­deon parou ao ouvir seu celular, que deixara sobre a mesinha da sala, tocando. — Talvez seja a polícia com notícias sobre Newman. — Ele passou por ela e saiu da cozinha.

Joey respirou com mais facilidade, uma vez que estava sozinha. Conhecia outro motivo para evitar relacionamen­tos físicos no futuro: quando o amor não era recíproco, a conversa depois podia ser muito embaraçosa. No caso de Gideon, ele nem sequer tinha ciência do conceito de amar alguém, muito menos seria capaz de perceber que ela se apaixonara por ele!

As pernas de Joey tremeram, e ela se sentou num dos bancos altos ao balcão, tomando consciência de uma leve dor entre as coxas. Outro aspecto embaraçoso de fazer amor com Gideon mais cedo. Especialmente quando tal ato de amor tinha sido interrompido antes da satisfação total.

— Era minha mãe, não a polícia — disse Gideon, reentrando na cozinha, e começando a andar de um lado para o outro.

Joey o estudou ao notar a agitação dele.

— Está tudo bem?

Ele passou uma mão impaciente pelos cabelos.

— Ela quer que eu voe para Edinburgh pelo resto do fim de semana.

Gideon ia passar o resto do fim de semana em Edinbur­gh. Por que, quando Joey o estava mandando embora repe­tidamente, esse conhecimento lhe causava um nó na boca do estômago?

— Que bom — disse ela.

— Você acha? — Ele arqueou as sobrancelhas. — Ela disse que precisa discutir algo importante comigo, e prefere que seja pessoalmente.

— Oh.

Gideon deu um sorriso sem humor.

— Isso parece um pouco estranho, não acha? Joey deu de ombros.

— Talvez, com Lucan e Jordan longe, sua mãe esteja se sentindo um pouco solitária? Ele bufou.

— Ela mal teve tempo de sentir falta de algum de nós... Foi para Edinburgh na segunda-feira! Ou sou eu, dando ou­tro exemplo de ter tanta emoção quanto um robô?

Aquele comentário parecia ter atingido um nervo, reco­nheceu Joey. Era verdade, é claro, mas talvez ela não de­vesse ter falado...

Tarde demais agora!

— Um fim de semana em Edinburgh parece divertido.

— Ainda bem que um de nós está ansioso por isso.

— O que você quer dizer? — Joey lhe deu um olhar confuso.

— Você vai comigo, é claro.

— Vou? Certamente não! — exclamou ela, indignada. Gideon parou de andar para lhe dirigir um olhar im­placável.

— Joey, nada do que aconteceu entre nós esta manhã muda uma única coisa sobre a situação Newman. Ele conti­nua em algum lugar lá fora, provavelmente planejando seu próximo ato maligno, o que significa que não tenho inten­ção de ir passar o fim de semana em Edinburgh sem você.

Joey se levantou.

— Não irei para Edinburgh! — disse ela com a expressão incrédula. — O que sua mãe pensaria se eu aparecesse lá com você?

— Eu já disse a ela que você me acompanharia.

— Você fez o que! Gideon deu de ombros.

— Minha mãe está nos esperando esta tarde.

— Eu... Mas... Você contou a ela sobre Richard Newman?

— É claro que não — replicou ele. — Não há motivo para preocupar minha mãe com algo assim.

— Então, que motivo deu a ela para me levar com você?

Era Joey quem estava andando pela cozinha agora. Gi­deon devia estar louco. Porque não havia a menor possibi­lidade de ela acompanhá-lo à casa de Molly em Edinburgh para o fim de semana.

— Eu não lhe dei motivo algum.

— Não? Simplesmente disse à sua mãe que eu iria com você para Edinburgh sem uma explicação?

Gideon a olhou de maneira arrogante.

— Por que eu deveria ter explicado?

— Porque sua mãe agora tem uma impressão totalmente errada a respeito de nós dois!

Ele não parecia incomodado por aquilo.

— Eu contarei tudo a ela depois que a situação Newman for resolvida.

— E, enquanto isso, Molly irá tirar todas as conclusões erradas — murmurou Joey com desgosto. — Não, Gideon, eu me recuso a ir com você.

Ele estreitou os olhos.

— Você já me disse que não tem planos para hoje.

— Isso não significa que quero passar metade do meu dia num aeroporto, esperando um voo para Edinburgh. Um vôo que não tenho desejo de pegar — acrescentou ela com exasperação.

— Não haverá espera no aeroporto, porque nós iremos no helicóptero da St. Claire.

Joey parou de andar abruptamente.

— O quê?

Ele sorriu do ceticismo dela.

— Não se preocupe Joey. Eu tenho licença de piloto.

— Bem, isso é um alívio... Eu pensei que você fosse pilotar um helicóptero com uma licença de cães!

— Na verdade, eu não tenho uma dessas — disse ele. — Provavelmente porque não possuo um cachorro.

E claro que ele não tinha um cachorro. Um cachorro era uma criatura viva, que precisava do amor e dos cuidados que Gideon evitava dar a qualquer custo!

— Lamento Gideon, mas não conte comigo para esta viagem.

— Então eu também não vou — disse ele com deter­minação.

Joey suspirou.

— Você está sendo infantil com relação a isso.

— Ou vamos nós dois, ou nenhum de nós — repetiu ele de modo inflexível. — Eu não a deixarei aqui desprotegida, Joey, e esse é o fim do assunto.

— Em sua opinião! — Ela o encarou em desafio. — O que não significa nada para mim!

— Penso que é um eufemismo para você não se importar com minha opinião...

— Pode pensar o que bem entender — retrucou ela com ferocidade. — Eu disse que não irei para Edinburgh com você, e esse é o fim do assunto para mim!

 

— Ou você tira esse sorriso presunçoso do rosto, ou eu o tirarei para você!

Uma declaração que causou o efeito oposto em Gideon, e agora ele sentia uma vontade incontrolável de rir.

Joey estivera muito irritada quando jogara algumas rou­pas numa sacola, e mal-humorada quando Gideon dirigira para o heliporto onde mantinha o helicóptero. Ela havia permanecido silenciosa durante o voo para a casa de Molly em Edinburgh e, finalmente agora, enquanto eles andavam a curta distância até a casa, aquele ressentimento se trans­formara em agressividade.

Ela por fim concordara em acompanhá-lo à Escócia, mas somente, Joey o assegurara com firmeza, porque a mãe dele precisava vê-lo.

— Não é presunção, Joey — disse ele. — Estou apenas aliviado ao descobrir que não há neve e que pudemos ater­rissar com segurança.

— Você tinha dúvidas quanto a isso?

Gideon deu de ombros.

— Estamos na Escócia. Em fevereiro.

Joey lhe deu um olhar cético, não enganada, nem por um momento, por aquela desculpa. Definitivamente, Gideon exibia um ar presunçoso desde que ela concordara com aquela viagem. Uma decisão que, com certeza, não tomara por ele.

Mas Joey tinha gostado de Molly St. Claire desde o mo­mento em que a conhecera na festa de noivado de Stephanie e Jordan. O amor e o orgulho de Molly pelos três filhos eram óbvios. E os três irmãos St. Claire claramente também adoravam a mãe.

O fato de que Molly inesperadamente pedira a Gideon que a visitasse naquele fim de semana era estranho; Joey sabia, através de Steph, que Molly não era o tipo de mãe que sufocava os filhos. A recusa teimosa de Gideon em vi­sitar a mãe a menos que Joey o acompanhasse a colocara numa posição difícil. Uma que, apesar de seus protestos, só podia ter uma solução.

Motivo pelo qual ela estava agora na Escócia, aproximan­do-se da enorme porta da mansão de Molly, com Gideon an­dando de maneira casual — e triunfante — ao seu lado.

Explicar por que ela estava lá era problema de Gideon, decidira quando concordara em acompanhá-lo. E, se ele achasse que a mãe não iria exigir uma explicação em algum momento, então teria uma surpresa!

— Agora o seu sorriso parece presunçoso.

— Parece? — Joey o olhou de lado. Ambos estavam bem agasalhados contra o frio, com casacos de lã sobre cal­ça e suéter. — Não posso imaginar por quê.

Nem Gideon podia. Mas não tinha dúvida de que ela estava rindo dele.

O humor alegre e atrevido de Joey tinha retornado, perce­beu ele. Quase como se o ato de amor deles naquela manhã nunca tivesse acontecido. Para Joey, talvez não tivesse...

Gideon, por outro lado, não estava conseguindo bloque­ar aquelas memórias vividas da mente. Na verdade, quase não pensava em outra coisa desde o ocorrido.

O que mais se perguntava era qual deveria ter sido a "pergunta certa"...

Era frustrante, para um homem que estava sempre no controle de cada aspecto de sua vida, não saber o que esta­va acontecendo. Embora já devesse estar acostumado com isso a essa altura... Joey lhe causava essa sensação de incer­teza, de um jeito ou de outro, desde a primeira vez em que ele a encontrara!

Todavia, Gideon sabia que gostava de tê-la ao seu lado. Mal-humorada ou não, Joey nunca o entediava. Na verdade...

— Gideon! — Sua mãe abriu a porta antes que eles pu­dessem tocar a campainha... Evidência de que os estava es­perando ansiosamente. Ela o abraçou. — E Joey — acres­centou de forma calorosa, pegando ambas as mãos de Joey nas suas. — Entrem e se aqueçam perto da lareira. Fizeram um bom voo? — perguntou, uma vez que eles estavam no hall, removendo seus casacos.

Joey deu uma olhada para Gideon antes de responder:

— Como eu nunca tinha voado num helicóptero antes, não tenho com o que comparar.

— Oh, Gideon é um bom piloto — disse Molly com um sorriso afetuoso na direção do filho. — Eu tenho tudo pron­to para o chá; vamos nos sentar na sala de estar.

A mãe de Gideon não poderia ter sido mais receptiva; entretanto, Joey ainda se sentia desconfortável por estar lá.

— E muita gentileza sua me convidar para vir também, senhora...

— Por favor, me chame de Molly — interrompeu a mãe de Gideon com um sorriso gentil. Ela era uma mulher boni­ta, de aproximadamente 58 anos, com cabelos escuros até os ombros e olhos castanhos calorosos. Os olhos de Gideon...

— Devo levar nossas malas para cima antes do chá? — perguntou Gideon. — Considerando a urgência que sentira no pedido de sua mãe para que ele fosse à Escócia o mais rapidamente possível, ele estava surpreso que ela parecesse tão relaxada.

— Oh, sim... Por favor — respondeu Molly. — Eu não tinha certeza do que fazer em relação aos arranjos de quar­tos para vocês, então coloquei os dois no quarto azul por enquanto, com a opção de que um de vocês se mude para o quarto anexo, se assim preferirem.

Se Gideon esperava que Joey ficasse embaraçada pela suposição de Molly de que os dois estavam dormindo jun­tos, enganou-se redondamente. Em vez disso, ela o fitou com uma expressão zombeteira nos olhos verdes.

Gideon voltou-se para a mãe:

— Eu colocarei as minhas coisas no quarto anexo. — E saiu da sala sem olhar na direção de Joey.

— Eu falei alguma coisa errada?

Joey sentiu uma onda de compaixão pela óbvia perplexi­dade de Molly diante do comportamento do filho.

— Por mais que eu aprecie ver Gideon perder um pouco de sua autoconfiança usual, acho que você deve saber que ele e eu não somos um casal.

— Não são? — A mulher mais velha pareceu desaponta­da. — Por que não? — questionou ela. — Você me parece 0 tipo de mulher certa para tirar meu filho de seu estado de Complacência constante.

Joey riu.

— Oh, eu definitivamente balanço as grades da gaiola confortável que ele criou para si mesmo.

— Então eu sugiro que você continue sacudindo-as, até que elas caiam completamente — aconselhou Molly.

Joey fez uma careta.

— Eu poderia estar velha e com cabelos brancos no mo­mento em que isso acontecesse.

Molly inclinou-se para apertar o braço de Joey brevemente.

— Eu amo todos os meus filhos da mesma maneira, Joey, e tenho total confiança de que Lucan e Jordan fize­ram casamentos maravilhosos... Casamentos que irão durar e florescer. Mas eu me preocupo com Gideon... Ele era um garotinho muito amoroso, sabe.

Joey não podia imaginar aquilo. Na verdade, sim, po­dia... Podia quase vê-lo como um garotinho de cabelos dou­rados, os olhos brilhando com felicidade em vez de raiva, sabendo que era tão amado quanto amava seu mundo to­talmente seguro...

— Ele era o mais próximo de Alexander, meu ex-marido — contou Molly. — Quando o casamento se desintegrou, todos os garotos ficaram arrasados, mas Gideon foi o mais atingido. Isso o deixou desconfiado do amor, infelizmente.

Não era somente do amor que Gideon era desconfiado, pensou Joey... Mas de qualquer tipo de emoção.

— Você está enganada sobre nós dois, Molly. Não esta­mos juntos dessa maneira.

— Não desista dele, Joey — sussurrou a outra mulher quando os passos de Gideon descendo a escada foram ou­vidos. — Saiba que o fato de que ele a trouxe para cá c significativo.

Joey meneou a cabeça.

— Há um motivo para isso, e não é o que você pensa... — Ela parou quando Gideon chegou à sala.

Olhando-as com expressão reservada, ele parou diante da lareira para se aquecer.

— Você se importaria se eu abrisse mão do chá e fosse descansar, em vez disso? — Joey ignorou Gideon e falou para Molly. — Eu não dormi bem a noite passada, e es­tou me sentindo cansada. — Ela também queria dar espaço para que mãe e filho conversassem.

— E claro. — Molly sorriu calorosamente. — Gideon, você pode...

— Tenho certeza de que posso encontrar o quarto se você me explicar o caminho — interrompeu Joey, evitando o olhar de Gideon ao sentir que ele parecia divertir-se com a observação de que ela não dormira bem. Ele que se divertisse com isso; estava apenas alimentando a curiosidade da mãe!

Mas ele não saberia disso. Porque nunca pensava em termos de relacionamentos verdadeiros com as mulheres. Apenas naqueles relacionamentos de "necessidades mútu­as", dos quais Joey não queria fazer parte.

— Isso não é tão ruim assim, Gideon. — Joey o observou no corredor do lado de fora do seu apartamento, após o re­tomo deles para Londres no fim da tarde do domingo. Ele parecia distante e preocupado. Gideon a olhou, confuso.

— Perdão?

— Angus Murray me pareceu um homem bom quando o conhecemos no jantar de ontem — disse Joey. — E ele obviamente adora sua mãe. — Ela lhe sorriu de modo encorajador.

Para a surpresa de Gideon, a novidade que sua mãe qui­sera lhe contar era que pretendia se casar com um proprie­tário de terras do clã Murray... Um homem que ela conhe­cera num jantar, um ano atrás. Angus Murray tinha uma fazenda perto de Invemess, e o casamento seria no verão, depois do qual Molly pretendia se mudar para casa de Angus em Highlarlds.

Joey e Gideon haviam conhecido o homem no jantar da noite anterior... Um escocês viúvo, de sessenta e poucos anos, com admiração e amor por Molly brilhando nos olhos azuis.

Gideon percebeu que Joey achava que ele tinha um problema com a intenção de sua mãe de se casar de novo, mas ela não podia estar mais errada. Ele estava muito feliz com o fato de que, depois de 25 anos sozinha, sua mãe fi­nalmente encontrara alguém que amasse que obviamente a amava em retorno, e ao lado de quem ela queria passar o resto da vida.

Era o fato de que sua mãe, depois de todos aqueles anos, se sentisse capaz de amar novamente, de construir um futu­ro com outro homem, agora que o passado finalmente fora posto para descansar com o casamento de Lexie e Lucan, que fizera Gideon questionar seu próprio cinismo em rela­ção ao amor e às emoções. Ele assentiu. — Eles formam um ótimo casal.

— Sim, formam. E, uma vez que a polícia ligou esta manhã, dizendo que eles encontraram Richard Newman, e que ele admitiu o vandalismo, você não precisa mais se sentir obrigado há passar o tempo comigo — apontou Joey, alegremente.

Ah. Esse era o problema de Gideon.

Na verdade, ele não tinha pensado em outra coisa desde que recebera o telefonema da polícia.

— O que você acha que vai acontecer com ele? — per­guntou ela. Newman estava atualmente "ajudando a polícia com as investigações".

— Ele provavelmente vai acabar indo ao mesmo psi­quiatra que a ex-esposa.

Joey fez uma careta.

— Aí está... Mais um exemplo do que casamento pode fazer com uma pessoa!

— Do que um mau casamento pode fazer com uma pes­soa — corrigiu Gideon.

— Não pensei que você visse uma distinção entre essas duas coisas.

Ele deu de ombros.

— Talvez a óbvia felicidade do resto de minha família me tenha feito mudar de idéia.

— Duvido disso — murmurou Joey. — Bem, o impor­tante é que a situação Newman foi resolvida.

Gideon acreditara que se sentiria aliviado quando seu tempo forçado com Joey chegasse ao fim. Agora, não sabia bem o que estava sentindo, mas, com certeza, não era alívio.

— Vejo você no trabalho amanhã, então.

Gideon a estudou, nem um pouco tranqüilizado pela ex­pressão cautelosa no rosto de Joey. Sua primeira impressão sobre ela, como uma mulher sofisticada que tivera diversos parceiros sexuais, tinha se provado totalmente errada, por­que ela fora virgem até a manhã anterior.

— Gideon?

Ele piscou, voltando ao momento presente.

— Sim, é claro que nos veremos no trabalho amanhã. Joey não sabia no que ele estivera pensando enquanto parecia tão longe, mas podia adivinhar: Gideon devia estar perturbado por sua mãe ter anunciado que iria se casar no verão.

Ela virou-se para entrar no seu apartamento.

— Boa noite, então.

— Joey...

— Sim? — Ela o olhou, a porta já entreaberta. Gideon respirou fundo, incerto do que estava fazendo, apenas sabendo que não queria se despedir ainda. Que não queria se despedir nunca!

— Espero que você durma melhor esta noite. Ela sorriu.

— Aquele ar puro escocês me derrubou por oito horas na noite passada.

— Mesmo assim...

Por que Gideon não ia embora? Perguntou-se Joey, sabendo que, se ele não fosse logo, ela ficaria tentada a convidá-lo para entrar em seu apartamento. Em sua cama! Um convite que a deixaria se sentindo humilhada quando Gideon se recusasse...

— Dirija com cuidado — murmurou ela.

— Quer que eu venha apanhá-la pela manhã?

— Gideon, você pode simplesmente ir embora? — dis­se ela. — O estresse de termos de ser educados um com o outro pelas últimas 24 horas pelo benefício de sua mãe está começando a me irritar... Mesmo que isso não esteja incomodando você!

E claro que estava, percebeu Gideon. No que ele estava pensando, para adiar a separação deles daquela forma?

Pela primeira vez na vida, não estava pensando, apenas sentindo, reconheceu. Por que tanta relutância para voltar ao seu apartamento impessoal, ainda não tinha certeza...

— Nesse caso, devo agradecê-la por ter escondido bem de minha mãe sua aversão há passar o tempo comigo.

— Sim, deve — concordou ela. — Então? — incenti­vou, quando ele permaneceu silencioso,

Gideon sorriu.

— Esse é todo o agradecimento que você vai receber, lamento.

Joey retornou o sorriso.

— Boa noite, Gideon. — Ela fechou a porta diante do rosto dele.

Apenas para se sentar abruptamente no sofá, uma vez que chegou à sala de estar.

A tensão que vinha sentindo durante as últimas 48 horas não era por estar na companhia de Gideon — adorava estar com ele —, mas por ter de esconder o quanto o amava...

 

— Gideon, são duas horas da manhã! — Joey o olhou com incredulidade, tendo aberto a porta de seu apartamento em resposta ao toque da campainha, e mais uma vez o en­contrado parado no corredor do lado de fora.

— Sim. — Ele nem sequer se incomodou em olhar para o relógio para confirmar a hora.

Ainda estava vestido com a mesma roupa de mais cedo — calça e suéter de lã —, com os cabelos loiros desalinha­dos, como se tivesse deslizado dedos agitados através deles durante as últimas oito horas.

Em contraste, Joey estava usando outra camiseta grande para dormir, uma verde-clara dessa vez. Não que estives­se dormindo quando Gideon tocara a campainha, mas essa não era a questão. Às 2h da manhã, ele tinha de saber que ela já estava na cama.

— Gideon...

— Por que eu? Joey piscou.

— Perdão?

— A pergunta que eu deveria ter feito ontem de manhã era: por que eu? — disse ele, olhando-a fixamente. — Por que você escolheu a mim como seu primeiro amante?

Joey sentiu a cor drenar de seu rosto, apoiando-se contra a moldura da porta quando seus joelhos fraquejaram.

— Isso não podia ter esperado até que o dia amanhe­cesse?

— Não — respondeu Gideon determinadamente, e en­trou no apartamento antes de afastá-la da porta e fechá-la. — Por que eu, Joey? — repetiu ele.

Ela engoliu em seco. Havia um nó em sua garganta, e seus lábios estavam secos. As chances de que ele descobris­se a pergunta que deveria ter feito na manhã anterior tinham parecido mínimas na estimativa de Joey. Do contrário, ela nem teria mencionado aquilo.

Ela umedeceu os lábios.

— Bem, eu precisava começar de algum lugar...

— Não minta! — interrompeu Gideon, e segurou-lhe os braços, prendendo-lhe o olhar com o seu. — Você é uma mulher de 28 anos, muito linda, com um incrível senso de humor, uma companhia divertida...

— Por mais que eu aprecie esses elogios, Gideon...

— Então, por que, quando dúzias de homens certamente a desejaram, você esperou até que eu aparecesse para fazer amor pela primeira vez? Com um homem que a irrita com muita freqüência?

Aquela era uma continuação de seu pesadelo, decidiu Joey. Ela havia adormecido, finalmente, e aquele era um sonho ruim. Um sonho muito realístico... Sentindo os dedos de Gideon em seus braços, a respiração dele em seu rosto... Mas ele não podia estar em seu apartamento às 2h da ma­nhã, tendo aquela conversa!

— Acho que é um exagero dizer que dúzias de homens me desejaram...

— Joey, entendo que esse é o seu jeito, mas, por uma vez, você pode parar de brincar com tudo? — A expressão de Gideon era feroz quando ele a sacudiu de leve.

Ela seria capaz de sentir aqueles dedos em seus braços se isso fosse apenas um pesadelo? Se a resposta fosse "não", então Joey estava com sérios problemas.

Ela o fitou com cautela.

— Você está realmente aqui, não está?

A resposta de Gideon foi puxá-la para seus braços e capturar-lhe a boca num beijo que era tanto intenso quanto punitivo. Os olhos castanhos estavam com aquele brilho dourado quando ele finalmente levantou a cabeça para fitá-la.

— Isso parece real o bastante para você? Sim... Ela estava com sérios problemas!

Gideon riu ao ver a expressão de pânico no rosto de Joey.

— Podemos ir para a sala e conversar sobre isso?

— Como eu já disse, são 2h da manhã...

— Eu sei. — Gideon virou-a na direção da sala. — Se você quiser esperar amanhecer para continuar essa discus­são, tudo bem. Eu irei dormir no sofá novamente.

— Eu não vou conseguir voltar para o meu quarto e dor­mir sabendo que você está aqui, no meu sofá! — retornou ela, obviamente apavorada com a idéia.

Gideon inclinou a cabeça.

— Por que você não conseguiria?

— Por que... Bem, por que... Você não pode passar a noite aqui de novo — insistiu ela com firmeza.

— Diga-me por que não.

— Eu não tenho de lhe dizer nada, exceto "adeus"!

— A declaração de que eu me apaixonei por você tor­nará a perspectiva de eu passar a noite aqui mais ou menos assustadora?

Gideon prendeu a respiração; toda insegurança, descren­ça e medo que experimentara mais cedo em seu apartamen­to, enquanto tentava dar sentido aos seus próprios sentimen­tos, e finalmente conseguindo, voltaram com força total.

E se tivesse interpretado mal a situação? E se as con­clusões às quais chegara sobre o ato de amor deles ontem fossem completamente erradas? E se tivesse feito papel de tolo, declarando-se para uma mulher que não gostava nem um pouco dele?

E daí se assim fosse?

Ele tinha passado os últimos 25 anos reprimindo emo­ções. Nunca formando um lar em nenhuma residência que morava. Vestindo-se de modo conservador. Dirigindo car­ros nada originais. Escolhendo amigos que não exigiam nada dele, e mulheres que exigiam menos ainda.

Já estava mais que na hora de se fazer de tolo emotivo!

Embora Gideon rezasse para que isso não acontecesse com Joey.

Ela o estudou com cautela.

— E você está realmente me dizendo isso? Que se apai­xonou por mim?

Gideon retornou o olhar reservado.

— Oh, sim. — A admissão foi acompanhada por um sor­riso, o qual desapareceu quando ele registrou o choque dela.

— Eu... Mas... Você não pode ter se apaixonado por mim! — protestou Joey com incredulidade. — Você me acha direta demais. E rude. E controladora. E...

— Sim, eu achei que você fosse todas essas coisas.

— E não acha mais?

— Não, não acho. O que acho... O que sei... É que eu me apaixonei por você. Que quero pedi-la em casamento. — Gideon prendeu a respiração mais uma vez, enquanto esperava uma resposta.

Foi aquela hesitação que deu a Joey a esperança de que não estivesse sonhando, afinal de contas. Certamente, mes­mo num sonho, Gideon não pareceria tão inseguro...

Se aquilo não era um sonho, ele tinha acabado de dizer que estava apaixonado por ela? De pedi-la em casamento?

Gideon estendeu os braços e pegou-lhe ambas as mãos nas suas.

— Eu entendo que isso é tudo muito repentino para você... Que eu fiz muito pouco para ser amado por você. Ora, fiz muito pouco para ser amado por qualquer pessoa nos últimos 25 anos — reconheceu ele. — Mas, se você me der uma chance, Joey... Eu juro que farei tudo que esti­ver ao meu alcance para ajudá-la a se apaixonar por mim também.

Joey só podia olhá-lo, certa de que o estresse dos últimos dias a enlouquecera. Gideon a amava e queria se casar com ela? Talvez, se repetisse isso para si mesma muitas vezes, conseguisse acreditar!

Ela engoliu em seco antes de respirar fundo.

— Você chegou aqui me perguntando por que você, Gi­deon — Joey o relembrou.

— Você não precisa responder se não quiser.

Ele ainda estava incerto, percebeu Joey, impressionada que Gideon, um homem sempre seguro de si, estivesse in­seguro sobre como ela se sentia sobre ele.

E Joey descobriu que não gostava daquilo!

— O "por que você" é fácil, Gideon — murmurou ela suavemente. — É verdade que, quando eu o conheci, eu o achei arrogante, frio, superior, sarcástico...

— Pare Joey!

— Mas também achei que você era o homem mais lindo e mais sexy que eu já tinha visto. Eu queria que rasgásse­mos nossas roupas ali mesmo e nos deitássemos nus sobre lençóis brancos.

— Vermelhos. Os lençóis eram sempre de seda vermelha em minhas fantasias sobre nós dois — explicou ele.

— Você também teve fantasias com nós dois fazendo amor? — perguntou ela, encantada.

Gideon assentiu.

— Todas as fantasias possíveis e imagináveis — admitiu ele. — E provavelmente algumas impossíveis.

— Estou chocada! — Joey riu quando finalmente come­çou a acreditar que ele a amava.

Gideon a amava! Realmente a amava!

— Não, você não está chocada.

— Na verdade, não. Talvez esperançosa descreva me­lhor meu sentimento.

— Esperançosa?

— Gideon, você não percebeu ainda que eu também me apaixonei por você? — Ela finalmente permitiu que seus olhos brilhassem com a emoção.

Ele a estudou, querendo acreditar, mas achando difícil que Joey pudesse ter amado o homem emocionalmente re­primido que ele tinha sido por tanto tempo.

— Nem mesmo tente explicar isso, Gideon — aconse­lhou ela. — Eu descobri que o amor não é racional. Ou lógico. Nem sequer é sensato. Apenas é. — Ela deu uma risada alegre. — E eu o amo muito, muito. Tanto que, se você não terminar logo o que começamos ontem de manhã, então eu realmente terei de rasgar suas roupas!

Alguma coisa pareceu inchar no peito de Gideon... Se soltar, se romper... E, quando ele sentiu seu amor por Joey expandir-se, preenchendo todo o seu ser, percebeu que era o escudo que sempre mantivera ao redor de seu coração.

— Eu amo tanto você — murmurou ele com a voz emo­cionada, envolvendo-a em seus braços e enterrando o rosto nos cabelos ruivos sedosos. — Você vai se casar comigo?

Ela o abraçou apertado.

— Talvez eu deva checar na prática aquela teoria sobre experiência vencer vigor, antes de lhe dar uma resposta?

Ele deu uma risada triunfante, sabendo que sempre esti­maria o amor e a alegria que Joey tinha levado para sua vida.

— Hmm, acho que você tem razão... Experiência torna tudo mais... Delicioso do que vigor — murmurou Joey muito tempo depois, aninhada nos braços de Gideon, a cabeça descansando no ombro dele, depois do ato de amor que su­perara seus sonhos mais loucos. Ele arqueou as sobrancelhas loiras.

— Estou disposto a lhe dar outra demonstração, se você ainda tiver dúvidas...

Joey deu uma risada rouca, completamente saciada.

— Eu não tenho — disse ela, seus dedos brincando com os pelos do peito dele.

Gideon aconchegou-a mais confortavelmente contra seu ombro.

— Você vai me contar agora por que escolheu não cantar profissionalmente?

A respiração de Joey ficou presa na garganta.

— Você percebeu isso?

Ele virou-se para fitá-la, acariciando-lhe o rosto com um dedo.

— Você tem a voz de um anjo.

— Eu não iria tão longe.

— Eu iria.

Joey fez uma careta.

— Eu fiz uma promessa para mim mesma... Um juramen­to... Que não cantaria. — Ela meneou a cabeça. — Eu adora­va cantar. Quando eu era mais jovem, cantar era meu orgu­lho. Mas, então, Stephanie foi ferida num acidente de carro quando nós tínhamos dez anos. Ela não conseguia mais an­dar. E eu... Eu fiz uma promessa que, se ela voltasse a andar...

— Você desistiria de cantar? — completou Gideon, in­crédulo. — Isso é uma atitude tão...

— Estúpida?

— Tão típica da pessoa amorosa e generosa que você é —; corrigiu ele. — Você estava disposta a abrir mão de algo que amava muito, se sua irmã voltasse a andar.

— Bem... Sim. Porque eu amo mais Stephanie — expli­cou ela.

Gideon já soubera disso pela conversa dos dois na sema­na anterior. Não acreditara que pudesse amá-la mais pro­fundamente, mas, naquele momento, amou.

— Acredito que eu me apaixonei primeiro pela sua voz cantando — murmurou ele. — Quando ouvi aquela voz se erguendo em direção ao céu no casamento de Jordan e Ste­phanie, realmente pensei que estivesse ouvindo um anjo.

— Steph me pediu para cantar no casamento, e... Pensei que, uma vez que era para ela, eu não estaria quebrando minha promessa. — Joey deu um sorriso trêmulo.

Braços fortes se apertaram ao redor dela.

— Você estaria quebrando sua promessa se cantasse para mim às vezes, Joey? E para os nossos filhos?

Ela arregalou os olhos.

— Nossos filhos?

— Meia dúzia deles, eu acho. E com seus cabelos ruivos e olhos verdes.

— Se alguns deles forem meninos, talvez não gostem muito disso!

— Eles a amarão tanto que não irão se importar — Gideon lhe assegurou.                    

— Você quer mesmo meia dúzia de filhos? — perguntou ela.

— Bem... Talvez só quatro... Se você acha que seis é demais...

Joey adorava a idéia de ter seis filhos... Todos com os cabelos loiros do pai e olhos cor de chocolate.

— É claro que você terá de se casar comigo antes — in­sistiu Gideon.

— É claro.

— Isso é um "sim"?

Joey ergueu-se para curvar os braços ao redor dos om­bros largos.

— Isso é definitivamente um "sim"!

Houve outro longo silêncio enquanto Joey mostrava a Gideon o quanto o amava e queria se casar com ele.

E Gideon foi totalmente recíproco, mostrando-lhe... Repetidamente... O quanto a amava, e sempre a amaria, pelo resto de suas vidas.

Seis semanas depois...

— Eu alguma vez me lembrei de agradecê-los? — per­guntou Gideon suavemente.

Lucan e Jordan estavam de pé ao seu lado na igreja, para atuarem como seus padrinhos, os três esperando pelo mo­mento em que o organista começaria a tocar e Joey entraria na igreja, seguida por Stephanie e Lexie como suas damas de honra.

Lucan arqueou as sobrancelhas escuras.

— Agradecer-nos pelo quê? Gideon sorriu.

— Por saberem antes de mim que Joey era a única mu­lher no mundo que podia fazer eu me sentir completo.

Seu irmão mais velho retornou o sorriso.

— Ela é maravilhosa, não é?

— Bem, é claro que Joey é maravilhosa — palpitou Jor­dan. — Como ela podia não ser, quando é irmã gêmea de Stephanie?

— Acho que ele é suspeito para falar — murmurou Lu­can. — Mas estou feliz que deu certo entre você e Joey, Gid — acrescentou calorosamente, e então o organista começou a tocar, anunciando a chegada de Joey.

Tinha dado mais que certo entre Gideon e Joey. As últi­mas seis semanas haviam sido as melhores da vida de Gideon. E hoje era o dia do casamento deles. O primeiro dia do resto de suas vidas.

Quando Gideon virou-se para ver a mulher que amava com todo o seu coração e a sua alma seguindo o corredor na sua direção, deslumbrante num vestido branco longo, e com aquela mesma certeza de amor brilhando nos olhos so­mente para ele, não teve a menor dúvida de que eles passa­riam o resto de suas vidas juntos, abençoadamente felizes...

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

              Voltar à “Página do Autor"

 

 

                                         

O melhor da literatura para todos os gostos e idades