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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


Ondas e Outros Poemas Esparsos / Euclides da Cunha
Ondas e Outros Poemas Esparsos / Euclides da Cunha

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

Ondas e Outros Poemas Esparsos

 

ONDAS

Correi, rolai, correi _ ondas sonoras    

Que à luz primeira, dum futuro incerto,

Erguestes-vos assim _ trêmulas, canoras,    

Sobre o meu peito, um pélago deserto!    

Correi... rolai _ que, audaz, por entre a treva    

Do desânimo atroz _ enorme e densa _    

Minh'alma um raio arroja e altiva eleva    

Uma senda de luz que diz-se _ Crença!    

Ide pois _ não importa que ilusória    

Seja a esp'rança que em vós vejo fulgir...    

_ Escalai o penhasco ásp'ro da Glória...    

Rolai, rolai _ às plagas do Porvir!    

                               [1883]

EU QUERO

Eu quero à doce luz dos vespertinos pálidos    

Lançar-me, apaixonado, entre as sombras das matas    

_ Berços feitos de flor e de carvalhos cálidos    

Onde a Poesia dorme, aos cantos das cascatas...

Eu quero aí viver _ o meu viver funéreo,    

Eu quero aí chorar _ os tristes prantos meus...    

E envolto o coração nas sombras do mistério,    

Sentir minh'alma erguer-se entre a floresta de Deus!

Eu quero, da ingazeira erguida aos galhos úmidos,    

Ouvir os cantos virgens da agreste patativa...    

Da natureza eu quero, nos grandes seios túmidos,    

Beber a Calma, o Bem, a Crença _ ardente a altiva.

Eu quero, eu quero ouvir o esbravejar das águas    

Das asp'ras cachoeiras que irrompem do sertão...    

E a minh'alma, cansada ao peso atroz das mágoas,    

Silente adormecer no colo da so'idão...    

                           [1883]

REBATE (Aos padres)

Sonnez! sonnez toujours, clairons de la pensée.

                                         V. Hugo    

Ó pálidos heróis! ó pálidos atletas _    

Que co'a razão sondais a profundez dos Céus _    

Enquanto do existir no vasto Saara enorme    

Embalde procurais essa miragem _ Deus!...

A postos!... É chegado o dia do combate...    

_ As frontes levantai do seio das so'idões _    

E as nossas armas vede _ os cantos e as idéias,    

E vede os arsenais _ cérebros e corações.

De pé... a hora soa... esplêndida a Ciência    

Com esse elo _ a idéia _ as mentes prende à luz    

E ateia já, fatal, a rubra lavareda    

Que vai _ de pé heróis! _ queimar a vossa Cruz...

Vos pesa sobre a fronte um passado de sangue.    

_ A vossa veste negra a muit'alma envolveu!    

E tendes que pagar _ ah! dívidas tremendas!    

Ao mundo: João Huss _ e à Ciência: Galileu.

Vós sois demais na terra!... e pesa, pesa muito    

O lívido bordel das almas, das razões,    

Sobre o dorso do globo _ sabeis _ é o Vaticano,    

Do qual a sombra faz a noite das nações...

Depois... o século expira e... padres, precisamos    

Da ciência c'o archote _ intérmino, fatal _    

A vós incendiar _ aos báculos e às mitras,    

A fim de iluminar-lhe o grande funeral!

Já é, já vai mui longa a vossa fria noite,

Que em frente à Consciência, soubestes, vis, tecer...    

Oh treva colossal _ partir-te-á a luz...    

Oh noite, arreda-te ante o novo alvorecer...

Oh vós que a flor da Crença _ esquálidos _ regais    

Co'as lágrimas cruéis _ dos mártires letais _    

Vós, que tentais abrir um santuário _ a cruz,    

Da multidão no seio a golpe de punhais...

O passado trazeis de rastro a vossos pés!    

Pois bem _ vai-se mudar o gemer em rugir _    

E a lágrima em lava!... ó pálidos heróis,    

De pé! que conquistar-vos vamos _ o porvir!...    

                      [1883]

DANTÃO

Parece-me que o vejo iluminado.    

Erguendo delirante a grande fronte    

_ De um povo inteiro o fúlgido horizonte    

Cheio de luz, de idéias constelado!

De seu crânio vulcão _ a rubra lava    

Foi que gerou essa sublime aurora   

  _ Noventa e três _ e a levantou sonora    

Na fronte audaz da populaça brava!

Olhando para a história _ um século e a lente    

Que mostra-me o seu crânio resplandente    

Do passado através o véu profundo...

Há muito que tombou, mas inquebrável    

De sua voz o eco formidável    

Estruge ainda na razão do mundo!    

                              [1883]

MARAT

Foi a alma cruel das barricadas!    

Misto e luz e lama!... se ele ria,    

As púrpuras gelavam-se e rangia    

Mais de um trono, se dava gargalhadas!...

Fanático da luz... porém seguia    

Do crime as torvas, lívidas pisadas.    

Armava, à noite, aos corações ciladas,    

Batia o despotismo à luz do dia.

No seu cérebro tremente negrejavam    

Os planos mais cruéis e cintilavam   

  As idéias mais bravas e brilhantes.

Há muito que um punhal gelou-lhe o seio...   

  Passou... deixou na história um rastro cheio   

  De lágrimas e luzes ofuscantes.    

                                 [1883]

ROBESPIERRE

Alma inquebrável _ bravo sonhador    

De um fim brilhante, de um poder ingente,    

De seu cérebro audaz, a luz ardente    

É que gerava a treva do Terror!

Embuçado num lívido fulgor    

Su'alma colossal, cruel, potente,    

Rompe as idades, lúgubre, tremente,    

Cheia de glórias, maldições e dor!

Há muito que, soberba, ess'alma ardida    

Afogou-se cruenta e destemida    

_ Num dilúvio de luz: Noventa e três...

Há muito já que emudeceu na história    

Mas ainda hoje a sua atroz memória    

É o pesado mais cruel dos reis!...    

                               [1883]

SAINT-JUST

Un discours de Saint-Just donnait tout de suite un caractère terrible     au débat...    

Raffy: Procès de Louis XVI    

Quando à tribuna ele se ergueu, rugindo,    

_ Ao forte impulso das paixões audazes _    

Ardente o lábio de terríveis frases    

E a luz do gênio em seu olhar fulgindo,

A tirania estremeceu nas bases,    

De um rei na fronte ressumou, pungindo,    

Um suor de morte e um terror infindo    

Gelou o seio aos cortesãos sequazes _

Uma alma nova ergueu-se em cada peito,    

Brotou em cada peito uma esperança,    

De um sono acordou, firme, o Direito _

E a Europa _ o mundo _ mais que o mundo, a França _    

Sentiu numa hora sob o verbo seu    

As comoções que em séculos não sofreu!...    

                        [1883]

TRISTEZA

Ai! quanta vez _ pendida a fronte fria    

_ Coberta cedo do cismar p'los rastros _    

Deixo minh'alma, na asa da poesia,    

Erguer-se ardente em divinal magia    

À luminosa solidão dos astros!...

Infeliz mártir de fatais amores    

Se ergue _ sublime _ em colossal anseio,    

Do alto infinito aos siderais fulgores    

E vai chorar de terra atroz as dores    

Lá das estrelas no rosado seio!

É nessa hora, companheiro, bela,    

Que ela a tremer _ no seio da soedade    

_ Fugindo à noite que a meu seio gela _    

Bebe uma estrofe ardente em cada estrela,    

Soluça em cada estrela uma saudade...

É nessa hora, a deslizar, cansado,    

Preso nas sombras de um presente escuro    

E sem sequer um riso em lábio amado _    

Que eu choro _ triste _ os risos do passado,    

Que eu adivinho os prantos do futuro!...    

                           [1883]

GONÇALVES DIAS (Ao pé do mar)

Seu eu pudesse cantar a grande história,    

Que envolve ardente o teu viver brilhante!...    

Filho dos trópicos que _ audaz gigante _    

Desceste ao túmulo subindo à Glória!...

Teu túmulo colossal _ nest'hora eu fito _    

Altivo, rugidor, sonoro, extenso _    

O mar!... O mar!... Oh sim, teu crânio imenso _    

Só podia conter-se _ no infinito...

E eu _ sou louco talvez _ mas quando, forte,    

Em seu dorso resvala _ ardente _ Norte,    

E ele espumante estruge, brada, grita

E em cada vaga uma canção estoura...    

Eu _ creio ser tu'alma que, sonora,    

Em seu seio sem fim _ brava _ palpita!...    

                         [29 nov. 1883]

VERSO E REVERSO

Bem como o lótus que abre o seio perfumado   

Ao doce olhar da estrela esquiva da amplidão    

Assim também, um dia, a um doce olhar, domado,    

Abri meu coração.

Ah! foi um astro puro e vívido, e fulgente,    

Que à noite de minh'alma em luz veio romper    

Aquele olhar divino, aquele olhar ardente    

De uns olhos de mulher...

Escopro divinal _ tecido por auroras _    

Bem dentro do meu peito, esplêndido, tombou,    

E nele, altas canções e inspirações ardentes    

Sublime burilou!

Foi ele que a minh'alma em noite atroz, cingida,    

Ergueu do ideal, um dia, ao rútilo clarão.    

Foi ele _ aquele olhar que à lágrima dorida    

Deu-me um berço _ a Canção!

Foi ele que ensinou-me as minhas dores frias    

Em estrofes ardentes, altivo, transformar!    

Foi ele que ensinou-me a ouvir as melodias    

Que brilham num olhar...

E são seus puros raios, seus raios róseos, santos   

Envoltos sempre e sempre em tão divina cor,    

As cordas divinais da lira de meus prantos,    

D'harpa da minha dor!

Sim _ ele é quem me dá o desespero e a calma,   

  O ceticismo e a crença, a raiva, o mal e o bem,   

  Lançou-me muita luz no coração e na alma,   

  Mas lágrimas também!

É ele que, febril, a espadanar fulgores,   

  Negreja na minh'alma, imenso, vil, fatal!   

  É quem me sangra o peito _ e me mitiga as dores.    

É bálsamo e é punhal.

A CRUZ DA ESTRADA

A meu amigo E. Jary Monteiro   

  Se vagares um dia nos sertões,    

Como hei vagado _ pálido, dolente,  

   Em procura de Deus _ da fé ardente   

  Em meio das soidões...

Se fores, como eu fui, lá onde a flor   

  Tem do perfume a alma inebriante,   

  Lá onde brilha mais que o diamante   

  A lágrima da dor...

Se sondares da selva e entranha fria    

Aonde dos cipós na relva extensa  

   Noss'alma embala a crença.  

   Se nos sertões vagares algum dia...

Companheiro! Hás de vê-la.   

  Hás de sentir a dor que ela derrama   

  Tendo um mistério, aos pés, de um negro drama,

    Tendo na fronte o raio de uma estrela!...

Que vezes a encontrei!... Medrando calma

    A Deus, entre os espaços   

  No desgraçado, ali tombado, a alma   

  Que tirita, quem sabe?, entre os seus braços.

Se a onça vê, lhe oculta a asp'ra, ferrenha   

  Garra, estremece, pára, fita-a, roja-se,   

  Recua trêmula, e fascinada arroja-se,    

Entre as sombras da brenha!...

E a noite, a treva, quando aos céus ascende  

   E acorda lá a luz,    

Sobre os seus braços frios, frios, nus,   

  _ Tecido de astros em brial estende...

Nos gélidos lugares    

Em que ela se ergue, nunca o raio estala,

    Nem pragueja o tufão... Hás de encontrá-la    

Se acaso um dia nos sertões vagares...     [maio 1884]

COMPARAÇÃO

"Eu sou fraca e pequena..."    

Tu me disseste um dia.    

E em teu lábio sorria   

  Uma dor tão serena,

Que em mim se refletia  

   Amargamente amena,   

  A encantadora pena  

   Quem em teus olhos fulgia.

Mas esta mágoa, o tê-la  

   É um engano profundo.   

  Faze por esquecê-la:   

  Dos céus azuis ao fundo  

   É bem pequena a estrela...  

   E no entretanto _ é um mundo!    

                                  [1884]

STELLA

A Sebastião Alves

"Eu sou fraca e pequena..."  

   Tu me disseste um dia,  

   E em teu lábio sorria   

  Uma dor tão serena,

Que a tua doce pena  

   Em mim se refletia   

  _ Profundamente fria,   

  _ Amargamente amena!...

Mas essa mágoa, Stella,   

  De golpe tão profundo,    

Faz tu por esquecê-la _  

   Das vastidões no fundo  

   _ É bem pequena a estrela _  

   No entanto _ a estrela é um mundo!...

AMOR ALGÉBRICO [Título anterior: "Álgebra lírica"]

Acabo de estudar _ da ciência fria e vã,    

O gelo, o gelo atroz me gela ainda a mente,   

  Acabo de arrancar a fronte minha ardente   

  Das páginas cruéis de um livro de Bertrand.

Bem triste e bem cruel decerto foi o ente   

  Que este Saara atroz _ sem aura, sem manhã,   

  A Álgebra criou _ a mente, a alma mais sã   

  Nela vacila e cai, sem um sonho virente.

Acabo de estudar e pálido, cansado,  

   Dumas dez equações os véus hei arrancado,   

  Estou cheio de 'spleen', cheio de tédio e giz.

É tempo, é tempo pois de, trêmulo e amoroso,  

   Ir dela descansar no seio venturoso   

  E achar do seu olhar o luminoso X.    

                               [1884]

A FLOR DO CÁRCERE

[Publicado na "Revista da Família     Acadêmica", número 1, Rio de Janeiro, novembro de 1887.]

Nascera ali _ no limo viridente    

Dos muros da prisão _ como uma esmola    

Da natureza a um coração que estiola _   

  Aquela flor imaculada e olente...

E 'ele' que fora um bruto, e vil descrente,    

Quanta vez, numa prece, ungido, cola   

  O lábio seco, na úmida corola    

Daquela flor alvíssima e silente!...

E _ ele _ que sofre e para a dor existe _  

   Quantas vezes no peito o pranto estanca!...

    Quantas vezes na veia a febre acalma,

Fitando aquela flor tão pura e triste!...   

  _ Aquela estrela perfumada e branca,  

   Que cintila na noite de sua alma...    

                                [1884?]

ÚLTIMO CANTO

I

Amigo!... estas canções, estas filhas selvagens    

Das montanhas, da luz, dos céus e das miragens    

Sem arte e sem fulgor, são um sonoro caos    

De lágrimas e luz, de plectros bons e maus...    

Que ruge no meu peito e no meu peito chora,    

Sem um 'fiat' de amor, sem a divina aurora    

De um olhar de mulher...     perfeitamente o vês,

Não sei metrificar, medir, separar pés...    

_ Pois um beijo tem leis? a um canto um núm'ro guia?   

  Pode moldar-se uma alma às leis da geometria?

Não tenho ainda vinte anos.  

   E sou um velho poeta... a dor e os desenganos   

  Sagraram-me mui cedo, a minha juventude  

   É como uma manhã de Londres _ fria e rude...

Filho lá dos sertões nas múrmuras florestas,    

Nesses berços de luz, de aromas, de giestas _   

  Onde a poesia dorme ao canto das cachoeiras,  

   Eu me embrenhava só... as auras forasteiras  

   Me segredavam baixo os cantos do mistério    

E a floresta sombria era como um saltério,   

  Em cujas vibrações minh'alma _ ébria _ bebia    

Esse licor de luz e cantos _ a Poesia...   

  Mas, cedo, como um elo atroz de luz e pó   

  Um sepulcro ligara a Deus minh'alma... e só   

  Selvagem, triste e altivo, eu enfrentei o mundo,    

Fitei-o, então, senti de meu cérebro no fundo   

  Rolar, iluminando a alma e o coração,  

   Com a lágrima primeira _ a primeira canção...

    Cantei _ porque sofria _ e, amigo, no entretanto,  

   Sofro hoje _ porque canto.   

  Já vês, portanto, em mim esta arte de cantar   

  É um modo de sofrer , é um meio de gozar...    

Quem há que meça aí de uma lágrima o brilho?   

  Pois erra-se sofrendo?...     Eu nunca li Castilho.

    Detesto francamente esses mestres cruéis  

   Que esmagam uma idéia sob quebrados pés...  

   Que vestem co'um soneto esplêndido, sem erro,  

   Um pensamento torto, encarquilhado e perro,  

   Como um correto fraque às costas de um corcunda!...

Oh! sim, quando a paixão o nosso ser inunda,

    E ferve-nos na artéria, e canta-nos no peito,   

  _ Como dos ribeirões o borbulhoso leito,    

Parar _ é sublevar _     Medir _ é deformar!    

Por isso amo a Musset e jamais li Boileau.

II

Esse arquiteto audaz do pensamento _ Hugo _   

  Jamais sói refrear o seu verso terrível,   

  Veloce como a luz, como o raio, incoercível!   

  Se a lima o toca, ardente, audaz como um corcel,  

   Às esporas revel,    

Na página palpita e ferve e freme e estoura    

Como um raio a vibrar no seio de uma aurora...   

  Que lime-se num verso uma cadência má,

Que p'los dedos se contem as sílabas _ vá lá!    

Mas que um tipão qualquer _ como muitos que eu vejo _   

  Espiche, estique e encolha a tal hora e sem pejo  

   Um desgraçado verso, e, após tanto medir,    

Torcer, brunir, sovar, limar, polir, polir,    

No-lo venha a trazer, às pobres das ovelhas,   

  Como um casto 'bijou', feito de sons e luz,   

  Isto revolta e amola...   

  Mas veja ao que conduz    

O vago rabiscar de uma pena sem norte:  

   Falava-te de Deus, de mim, da estranha sorte    

Que aniila a poesia _ e acabo num jogral,  

   Num lorpa, num boçal,   

  Que nos recebe a pés, e faz do amor uma arte.   

  Deixemo-lo de parte.

III

Escuta-me, eu teria um imenso prazer  

   Se podendo domar, curvar, forçar, vencer  

   O cér'bro e o coração, fosse este último canto   

  O fim de meu sonhar, de meu cantar, porquanto...

RIMAS

Ontem _ quando, soberba, escarnecias  

   Dessa minha paixão _ louca _ suprema  

   E no teu lábio, essa rósea algema,  

   A minha vida _ gélida _ prendias...

Eu meditava em loucas utopias,   

  Tentava resolver grave problema...   

  _ Como engastar tua alma num poema?    

E eu não chorava quanto tu te rias...

Hoje, que vivo desse amor ansioso   

  E és minha _ és minha, extraordinária sorte,   

  Hoje eu sou triste sendo tão ditoso!

E tremo e choro _ pressentindo _ forte _,  

   Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,   

  Esse excesso de vida _ que é a morte...   

                            [1885]

SONETO Dedicado a Anna da Cunha

"Ontem, quanto, soberba, escarnecias    

Dessa minha paixão, louca, suprema,    

E no teu lábio, essa rosa da algema,    

A minha vida, gélida prendias...

Eu meditava em loucas utopias,    

Tentava resolver grave problema...    

_ Como engastar tua alma num poema?  

   E eu não chorava quando tu te rias...

Hoje, que vives desse amor ansioso    

E és minha, só minha, extraordinária sorte,    

Hoje eu sou triste, sendo tão ditoso!

E tremo e choro, pressentindo, forte  

   Vibrar, dentro em meu peito, fervoroso,   

  Esse excesso de vida, que é a morte..."    

                            [10 set. 1890]

 

 

                                                                                            Euclides da Cunha

 

Carlos Cunha        Arte & Produção Visual

 

 

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