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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


PRAZER SELVAGEM / Sarah Mccarty
PRAZER SELVAGEM / Sarah Mccarty

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

PRAZER SELVAGEM

 

Conhecido por criar suas próprias regras sobre o certo e o errado, o Texas Patrulheiro, Sam «Gato Selvagem» MacGregor toma o que quer e quando o quer, sobre tudo quando se trata de mulheres. Mas a sedução é a última coisa que lhe passa pela cabeça quando se depara com uma beldade hispânica torturada pela dor, agachada junto a um vagão queimado. E não demora a compreender que a mulher a quem os aldeões chamam «maldita» está ocultando segredos demasiadamente perigosos para enfrentá-los sozinha.

Isabella pode parecer feminina e singela, mas é o diabo vestido de mulher, com uma destreza com o revólver igual a de qualquer homem. Mas embora saiba que não deve entregar seu coração a Sam com a mesma presteza com a que se oferece seu luxurioso corpo, Isabella está segura de ver em Sam o que ele logo que vislumbra de si mesmo: um homem virtuoso que está a ponto de romper-se. Um homem que, debaixo de toda sua dura fachada, anseia uma mulher apaixonada disposta a arriscar tudo...

 

 

                       1858: Território do Texas

        Sam estava cansado da morte.

       Deteve o Breeze. O cavalo levantou a cabeça e ensaiou um protesto. Dando uma tragada no cigarro, Sam inspecionou a cena sob a costa. Se estivesse cansado ou não da morte não parecia importar. O perseguia um dia atrás do outro. Exalou uma larga coluna de fumaça. Hoje jazia através do vão diante dele um perfeito exemplo de quão miserável o próximo poderia ser com os outros.

     Os esqueletos queimados de dois vagões estavam inclinados sobre as laterais amontoados frouxamente em forma de V. Carbonizados, não eram mais que esqueletos em uma paisagem que estava acostumada a absorver a morte da esperança.

   De onde estava sentado, Sam podia ver dois corpos inchados pelo calor de junho. Seus ponchos ardiam vermelhos e amarelos ao sol brilhante. Os ponchos e o estado dos corpos provavelmente significavam que o ataque tinha ocorrido ao amanhecer. As noites de junho ainda podiam ser frescas.

     Pelo menos o vento soprava as suas costas, reservando o fedor dos corpos que se decompunham, mas não necessitava o vento para lhe recordar o que se estava perdendo.            A lembrança desse particular aroma permanecia em sua memória, gravado ali em um momento que tinha definido sua vida inteira.

     Breeze levantou a cabeça. Ele tão pouco era um entusiasta da morte.

     Manteve tensas as rédeas. Vagões como estes geralmente queriam dizer mulheres. Possivelmente crianças. Não estava de humor para enterrar mulheres e crianças. Especialmente no primeiro dia agradável que tinha visto depois de uma semana de fortes chuvas. O ar era quente e claro sem a umidade que tinha assolado tudo sem piedade nos últimos dias. Sobre ele, o céu se estirava indefinidamente em um faiscante azul. Era um dia que se dava para pensar em lanches campestres pelo lago e em paquerar com uma garota bonita. O tipo de dia que fazia um homem dar-se conta de tudo o que tinha abandonado.

     Não era um dia para funerais.

     Insistiu ao Breeze a adiantar-se. O cavalo moveu bruscamente a cabeça outra vez e retrocedeu um passo em vez de avançar. A seu lado, Kell choramingou e ficou atrás. Sam não podia culpar ao cavalo nem ao cão. Entre o fedor e as moscas não havia muito para atrair a um corpo, mas se não investigava a área, sua consciência o corroeria. Se tinha havido mulheres, seus parentes quereriam saber seu destino. E ele devia as enterrar. Não abandonaria mulheres e crianças aos cuidados dos animais.

     — Quieto Kell.

      Kell choramingou outra vez, mas não insistiu como estava acostumado a fazer quando se tratava de uma grande quantidade de água ou uma panela de guisado. Kell tinha um verdadeiro gosto por ambos e não podia confiar em que cumprisse uma ordem quando encarava qualquer deles.

   As patas de Breeze ressonaram com um clop constante enquanto baixava a contra gosto a costa. Sam desabotoou a correia que guardava a escopeta em sua sela, os cabelos mais curtos de sua nuca se arrepiaram.

   Quanto mais se aproximava dos vagões, pior era o fedor da fumaça, a morte e a esperança que se foi. Um estalo de tecido rosa que sobressaía de debaixo de um dos vagões captou seu olhar. Tinha havido mulheres. Apertou os dentes e pôs o cigarro de lado. Inferno.

      Mais um par de corpos se fez visível enquanto guiava Breeze para a direita da matança. Todos homens, pelo menos. Isso fazia quatro no total. Três homens e um menino que se via muito jovem para agarrar uma navalha. Um menino que tentou ser um homem e encontrou seu final muito cedo. Sam sacudiu a cabeça enquanto desmontava, deixando cair as rédeas ao chão. Maldição.

     Palmou o pescoço do alazão.

      —Espera aqui, Breeze.

      Detrás dele, Kell gemeu. Sam lhe fez gestos para que permanecesse quieto e inspecionou a dura terra em busca de pistas. Nada que merecesse um estudo tinha deixado rastro. Concentrou sua atenção no resto do acampamento.

      Baús abertos se inclinavam contra o interior de um dos vagões. O conteúdo estava espalhado em um conjunto de cor. Uma luva branca revoava em um arbusto enquanto passava. Deu um passo sobre os restos carbonizados de uma saia vermelha enrugada na terra como um respingo obsceno de alegria.

    Os atacantes tinham que ter sido brancos. Os índios não teriam esbanjado um prêmio tão valioso. Suas mulheres possivelmente não tivessem vestidos, mas utilizariam o formoso material. Os índios não esbanjavam muito.

     Ajoelhou-se e roçou com o dedo o corte da prega da saia, perguntando-se contra sua vontade o que tinha acontecido a proprietária, o que tinha sofrido, o que ainda possivelmente estaria sofrendo. Inferno, quem dera seus pensamentos nem sempre fossem para ali. Um ligeiro gemido interrompeu o silêncio. Kell grunhiu e se adiantou. Sam deixou cair a mão ao extremo de seu revólver. A madeira morna encaixava comodamente em seu punho.

     —Sai. Agora.

     A tranqüilidade foi absoluta atrás de sua ordem. O ruído não devia ter sido feito por um humano. A morte sempre atraía a carniça, mas cada pêlo na nuca lhe dizia que alguém estava ocultando-se entre os escombros. Ficou em pé lentamente, tirando seu revólver. Tinha alguém sobrevivido ao massacre? Os ladrões tinham deixado para trás um dos seus? A emboscada era uma tática intencional e real para dobrar os ganhos produzidos por uma correria. Deixar a cena parecendo como se tivesse sido revolta, ocultar-se no campo circundante e então cair sobre qualquer um que viesse investigar.

      Não havia muitos lugares para que alguém se ocultasse. O mais claro seria o fundo do outro vagão que estava meio derrubado. Um corpo poderia ocultar-se entre o assento e o chão e preparar-se para o que queria fazer.

       Ajustando o revólver, Sam chutou o bordo de cima do vagão com força, derrubando-o com um agudo rangido da madeira e o tinido do metal. Kell grunhiu e se mergulhou no interior, seu ataque de latidos, traía seu sangue de lobo mais que a cara e o tamanho.

      O chiado que transpassou o ar foi feminino. Terminou quando o vagão golpeou o chão com uma brutalidade que o indispôs. Sam agarrou Kell pelo cangote e o atirou para trás.

      —Quieto maldita seja!

      O cão grunhiu e balançou a cabeça.

     —Tenta me morder e ficará sem sua ração de guisado esta noite.

      Kell ficou no chão, com os cabelos arrepiados, preparado para saltar a menor provocação, mas pelo menos ficou quieto. Estava aprendendo. Quando voltasse para o Oito do Inferno, Sam pediria a Tucker que lhe desse uma mão em sua instrução. Ninguém podia falar com um animal como fazia Tucker.

     Mantendo a arma preparada, Sam rodeou o fundo do vagão. O primeiro sinal de vida foi um pé. Com uma bota negra e pequena, que saía de debaixo do transporte derrubado. Claramente feminino. Tocou-o com a ponta da bota. Moveu-se. A mulher não estava morta. E uma maldição ressoou no interior de madeira, muito distinta de um grito inconsciente.

      Outro som amortecido e então uma pancada dentro do vagão. Outro ruído surdo. Outra maldição. O vagão era muito pesado para que a mulher o levantasse.

     —Senhora?

     O pé deu um puxão e logo se congelou. Um muito cauteloso «Sim?», filtrou-se pelo chão. Colocando sua arma longe, agachou-se e enganchou os dedos sob o bordo da áspera madeira, ignorando o imediato protesto de velhas feridas.

       —Não tenha medo. Sou Sam MacGregor, patrulheiro do Texas. Vou levantar o bordo do vagão, senhora Quando o fizer, necessitarei que saia, com calma. Compreende?

       —Sim. Compreendo.

      O inglês dela tinha o suave acento melodioso de seu espanhol nativo, estranhamente amortecido.

     —Bom. —Reforçou seu joelho e alinhou seu corpo—. Tem os dedos afastados das bordas?

     —O que?

      Teria que relaxar o colorido de sua linguagem se desejava que o compreendesse.

      —Estão os dedos longe das bordas?

     Houve um som de mãos sendo rapidamente arrastadas pelo chão.

      —Sim.

     —Bem. Então aqui vamos.

      Kell veio bufando.

     —Retrocede.

     —O que?

     —Você não, falo com o cão.

     —Ele é amistoso?

     Ondeou para que Kell retrocedesse. Kell levantou o focinho.

      —Quando está de humor.

      —Esperarei enquanto você o dominar.

      Levantou a sobrancelha ante o pé que podia ver. Isso soou claramente como uma ordem.

   —Ele não é habituado a se conter.

    —O perguntou?

     —Deu a conhecer suas preferências. —Esticou os músculos—. Está preparada?

      Houve uma pausa e logo:

    —Primeiro controlará a seu cão.

   —Isso é uma pergunta?

     Uma pausa mais larga, logo:

    —Posso fazê-la se o prefere.

     A honradez captou seu senso de humor.

   —Isso não será necessário, posso fingir.

      Isso deve ter sido um bufado. Ou ela poderia ter espirrado. Pensou que era um bufado. Com um sorriso pouco familiar curvando-lhe a comissura da boca, levantou o vagão. Levantou-o trinta centímetros e agüentou.

      —Atrás.

     Ela não se moveu imediatamente.

    —Não posso sustentá-lo todo o dia.

    —Seu cão, está controlado?

      Jogou uma olhada. Kell tinha encontrado a luva. Os dedos estavam na boca. O resto jogado sobre sua cabeça como uma boina inclinada.

    —Está sentado aqui tão bonito como pode ser.

    —Está seguro?

   —Estou. Agora saia daí antes que meus braços se rompam.

      Um segundo pé se uniu ao primeiro. Houve um inevitável meneio e lhe subiu a negra saia. Não o queria notar, mas as panturrilhas estavam expostas por cima do tornozelo onde seus sapatos estavam recortados e eram ligeiramente musculosas, a pele da cor do leite condimentado com um toque de canela. Seguiu meneando-se e a saia seguiu subindo. A parte traseira de seus joelhos parecia suave, jovem.

      Enxugou-se o suor da têmpora no ombro. Que inferno estava errado com ele? Albergando idéias a respeito de uma mulher com nada mais que as pernas. A mulher provavelmente tinha dez meninos esperando-a em casa e mais que provavelmente estava afligida. Seu seguinte meneio fez que a saia subisse a território perigoso.

     Ele agarrou o tecido e puxou para baixo. A mulher gritou e se agarrou a coxa.

      —O que faz?

     A mão, tão pequena e delicada como os pés, não parecia velha tão pouco.

   —Mantenho-a decente.

      Ela procurou ao redor para assegurar-se do que ele estava fazendo e logo disse:

    —Obrigada.

   —De nada, agora se não tem inconveniente em apressar-se?

   —Sinto muito.

     Ela engatinhou para trás, essas pernas formadas eram um precursor de um quadril surpreendentemente cheio que se passearam de um lado ao outro em um convite inconsciente que fez que sua honra incitasse por ensoberbecer as bochechas rosadas. Maldição, as vezes seu lado bom era dolorosamente tentado. Esta era uma dessas.

      Ela retrocedeu o resto do caminho. Uma trança larga, grossa e negra se destacaram contra o branco de sua camisa. Estava realmente ansioso de lhe ver a cara. A novidade de sentir-se ansioso era suficiente para lhe fazer deter-se. Não podia recordar a última vez que sentiu alguma emoção, menos ainda uma positiva.

   Ela girou. Só seus instintos de sobrevivência evitaram que lhe desse um tiro enquanto ela balançava o revólver na mão. A arma se disparou. Ela chiou e a deixou cair.

    —Merda! —depois de sobreviver a todos os bandidos que tinha atraído, quase se tinha encontrado com seu fazedor por acidente.

      Agarrando a pistola, atirou-a a um lado. Desde quando cometia enganos assim?

     A mulher se lançou para a arma.

   — Me dê isso!

     Como o inferno. Enganchando-a pelas costas de sua camisa deixou que o vagão caísse. A madeira e o metal zumbiram quando se chocou contra o chão. Ficou de pé, conduzindo-a com ele.

     —Para que possa me disparar?

     Rápida como a luz ela encontrou o equilíbrio e saltou sobre os pés. Sacudiu a cabeça. A trança se deslizou sobre seu ombro. As mãos golpearam os quadris. Levantou o queixo.

   —Se for necessário.

     Ela lhe recordava a uma gata cabritada com esse rosto triangular, o queixo pontiagudo e os grandes olhos marrons ardendo de fanfarrice. Uma formosa e sexy gata.

     —Melhor que consiga um pouco de altura antes de ir soltando ameaças.

     Atirou-lhe um golpe. Esquivou-a. Ela falhou.

     —Deixe-me ir antes que o mate.

      Era uma coisinha divertida.

   —Não me parece que esteja em nenhuma posição de fazer ameaças.

     Ela deixou de lutar e encontrou seu olhar diretamente.

   —Não tenho que matá-lo agora. Posso esperar até que durma.

    Apostava a que poderia, o qual só despertava mais seu interesse. Não havia muitos homens que pudessem lhe olhar fixamente e não muitas mulheres que tivessem a audácia de tentá-lo, mas esta mulher estava pronta para lutar.

     —Vendo como vim aqui a resgatá-la, não estou exatamente seguro de por que planeja me matar.

     Ela se esticou detrás da cabeça e lançou seu braço.

    —Você tentou me matar primeiro.

     Não a soltou, mas o lugar onde seu mindinho encontrou a pele se esquentou sob seu toque.

     —Como?

      —Jogou o vagão em cima de mim.

      Disse-o como se isso demonstrasse seu ponto.

     —Joguei o vagão em cima do que quer que estivesse espreitando.

      Ela piscou, atraindo sua atenção aos olhos. Tinha pestanas largas e espessas que destacavam as intrigantes manchas quase negras de sua íris marrom.

   —Estava no vagão.

    —Entendo isso.

     —Esmagou-me!

     Pelo que podia ver de sua dianteira, não havia muito para esmagar, mas os quadris mais que compensavam a falta de cima. Formosas curvas cheias como gostava em uma mulher.

   —Não parece pior pela deterioração.

      Ela ofegou e os olhos se estreitaram. Antes que pudesse lhe lançar uma acusação claramente em sua língua, perguntou-lhe:

   —Tem mais armas?

    —Sim. Muitas.

      Ela não podia mentir nada que valesse a pena, mas o fazia sorrir.

    —Isso é o que pensei. —Deixou-a ir. Ela atirou abaixo sua camisa. Kell grunhiu.

     Ela girou para ele.

   —Silêncio!

     Foi uma ordem dada em um tom que esperava obediência. A obediência não era o forte de Kell. Acaba de levantar mais o focinho revelando os agudos dentes. O queixo da mulher subiu, revelando uma faísca de teima tão grande como a do cão. Para sua surpresa, Kell se lançou para trás.

    —Como fez isso?

     Ela despediu de Kell com um gesto da mão.

   —Uma mulher não pode levar a sério a um cão que leva roupa de garota. —jogou-se o cabelo para trás—O que faz aqui, senhor Patrulheiro?

    Uma gata com a atitude de uma duquesa.

   —Estou procurando alguém. —Com um gesto da mão indicou a matança ao redor deles — Uma melhor pergunta seria como é que está viva quando todos com os que viajavam acabaram mortos?

       Sentiu-se como um canalha imediatamente que as palavras deixaram sua boca. A mulher devia estar espantada de suas sutilezas. Estava entravada no meio do nada, rodeada de cadáveres, frente a um estranho duas vezes seu tamanho e tudo o que tinha para empunhar como defesa era um monte de atitude. E ele tratava de minar isso.

    —Tinha que me unir a eles.

     Tocou a ele piscando.

    —Não são suas coisas as que estão atiradas?

    Ela negou com a cabeça.

     —Eles foram vendê-las.

    —Mas ia unir-se a eles?

    —Sim.

    —Por que não se uniu a eles em um povoado?

   —Minha união era um segredo.

    —Um segredo? Como fugir com um destes caipiras?

     Ela pareceu otimista.

     —Acreditaria você nisso?

     Não tinha nem que pensar nisso enquanto embainhava o revólver.

   —Não.

    Ela suspirou.

   —Eu tão pouco.

    O silêncio se alargou.

   —Querida, não estará pensando em me mentir para me enrolar, verdade?

   —Isabella.

   —O que?

   —Meu nome, é Isabella.

     Era um nome muito bonito e quando os lábios formaram as sílabas, faziam com que um homem pensasse em outras coisas que essa boquinha sexy poderia aliviar. Seu pênis que tinha estado retorcendo-se desde que ela tinha saído de debaixo do vagão, encheu-se com uma agradável dor. Ela passou a língua sobre as curvas cheias com uma traição nervosa. Estava mais preocupada do que aparentava.

     —Prazer em conhecê-la, Isabella. Agora, o que é verdade?

     —Suponha que me encontraria com eles.

      Ele jogou um olhar ao redor. Estavam a umas boas quatro milhas de viagem. Cruzou os poucos pés aonde jaziam a pistola e a recolheu.

   —Por que ainda continuo sem achá-la confiável?

   —Possivelmente, por que é um homem desconfiado?

       Era-o. Uma verificação ao compartimento revelou duas balas. Jogou uma olhada.

    —Não planejava apresentar muita briga.

    —Agarrei a pistola quando o ouvi chegar.

        Ele olhou a leve subida. Era possível que ela o tivesse ouvido chegar.

    —A próxima vez agarra algumas balas, também.

     Isabella observou a arma em sua mão com uma fome mal disfarçada.

   —Lembrarei disso.

     Apostava que o faria.

   —Está planejando ter uma próxima vez?

    —Preciso chegar a Santo Antonio. Há muitos problemas entre aqui e lá.

     Tinha razão. A morte era muito mais segura para uma mulher sozinha. Metendo a arma na parte de atrás de seu cinto, moveu-se entre os corpos.

    —Tem família ali?

    —Não.

      O primeiro homem não tinha nada de valor. Deixou-o rodar na sujeira.

—Qual é o atrativo então?

   —Ouvi que é bonito.

   —Esperas que acredite que se juntou a estes quatro por que pensava que Santo Antonio era bonito?

     Ela se encolheu de ombros.

   —É a verdade.

    Possivelmente parte dela.

   —Uma mulher criada delicadamente teria que estar muito desesperada para unir-se a um grupo como este.

    —O que lhe faz pensar que fui criada delicadamente?

      Sam sacudiu a cabeça. Como se não soubesse quando qualidade e inocência o olhavam.

     —Está claro. Não estava planejando viajar sozinha com estes homens.

      —Estava.

     —Por quê?

      —Não tinha escolha.

       Pelo menos isso tinha sentido embora precisasse explorar o porquê.

     —A tem agora.

     Ela piscou.

     —Não vou viajar com você.

     Apontou com o polegar sobre o ombro.

   —Estava bastante ansiosa por ir com eles.

     —Eles não eram perigosos.

     Interessante que se sentisse assim.

   —Acredito que uma milha mais a frente teria mudado de opinião sobre isso.

     Uma milha mais a frente os homens lhe teriam tirado a roupa do corpo e essa boca atrativa teria estado muito cheia para chiar.

   —Não sabe.

   —Verdade. —Verificou o corpo seguinte—. Possivelmente não a teriam esperado deixar o acampamento antes de te violar.

       Esses lábios cheios se apertaram em uma linha fina.

   —Não acredito.

   —Então é uma pobre juíza do caráter.

       Não havia nada de valor nos corpos exceto um chapéu de asa larga. O tomou. A mulher possivelmente o necessitasse. Essa pele macia não agüentaria bem sob o sol.

     —O pai lhes fez prometer que me dariam salvo-conduto.

      Sacudiu a cabeça, girando ao terceiro homem sobre as costas, levantou o olhar com ironia enquanto o sangue coagulado se deslizava.

       —E isso é tudo o que te levou a saltar confidencialmente em seus braços?

       Ela apertou as mãos sobre os lábios um segundo antes de responder.

        —Um homem não faltaria a sua promessa feita a um sacerdote. Significaria perder sua alma.

        Sam se pôs de pé.

      —Estaria disposto a apostar que estes homens perderam suas almas faz muito tempo.

     —Não dirá essas coisas. — Os dedos de sua mão direita se apertaram no tecido de sua saia — Perderam suas vidas por minha causa.

      —Nem sequer estava aqui.

       Ela sacudiu a cabeça.

   —Continua sendo por minha culpa. — Seu olhar se encontrou com o dele. Não havia engano na angústia do fundo — Se me forçar a ir com você, perderá a sua, também.

       Tinha ouvido isso antes.

       —Que te faz pensar que sou tão fácil de matar?

     —Fácil ou difícil, quando ele o encontrar, também estará morto.

     —Ele?

       Os lábios se fecharam.

     —Deveria me dizer.

     —Não precisa sabê-lo.

       Gostava da maneira como ela falava, as sílabas se juntavam em um fluxo melódico, os acentos caíam nos lugares equivocados de tal maneira que faziam uma canção com palavras normalmente duras.

     —Dado que viajarei junto, eu gostaria de saber quem estará as minhas costas.

   —Não o permitirei.

   —Não tem que permitir nada.

   —Sim. Faço-o.

        Porque ela pensava que ele não poderia resolvê-lo. Só havia um homem neste território o suficientemente perigoso para ser considerado um oponente para ele. Quando Sam combinou isso com o fato de que Santo Antonio era o primeiro grande povoado fora do território de Tejala, não foi difícil constatar quem a tinha corrido assustada.

       Ele se estendeu para o braço de Isabella. Ela recuou.

     —Não posso permitir que o firam.

       Maldição, o que fez pensar que ele era perigoso?

     —Alguém já te disse alguma vez que tem idéias estranhas?

      Pela maneira em que imediatamente atraiu seu orgulho ao redor dela como um escudo, diria que sim.

     —Isso não faz que as idéias sejam equivocadas.

       Não, mas as fazia difíceis de sustentar.

     —Tem algum pertence?

        Ela apontou abaixo do assoalho do vagão.

       Ele flexionou o ombro. Merda.

     —Imaginava.

     —Se for importuná-lo, vá embora.

     —Quando me for virá comigo.

     —Não a menos que seja a Santo Antonio aonde se dirige.

     Kell grunhiu outra vez. Ela se girou para o cão, assinalando-o com o dedo.

     —Você, se comportará.

     Kell, sendo Kell, ignorou a ordem.

       Sam cruzou os braços sobre o peito e se recostou contra a roda do vagão.

     —Averigúe como fazer-lhe fazer isso, e a levarei diretamente a Santo Antonio.

     Ela protegeu seus olhos contra o sol e franziu as sobrancelhas.

     —É seu cão.

     —Não exatamente.

     —Não é seu cão?

        Sam se encolheu de ombros.

   —Estamos resolvendo isso.

   —Não compreendo.

   —Apareceu faz poucos dias no caminho. Compartilhamos umas poucas comidas, mas nada permanente.

   —Não me parece isso.

   —As aparências enganam.

       Ela assentiu. Deu outro passo, não para Kell, mas aparentemente ele pensou que ela se estava tomando liberdades. Impulsionou-se. Sam saltou para frente. Era muito tarde. Com uma rápida corrente de algo em espanhol, Isabella golpeou ao cão no focinho. Ele soluçou e se deixou cair. Com as mãos nos quadris, olhou enfurecida ao cão.

     —Não mais fora para ti.

     —Acredito que goste de você.

         Isabella se agachou e colocou o braço sob o vagão.

     —Por que o diz?

     —Porque o último homem que tentou isso lhe arrancou a garganta.

         Ela nem sequer piscou, só buscou mais fundo.

     —Então é bom que tenhamos alcançado um entendimento.

        Sam supunha que o era. A vista que sem querer lhe dava de seu traseiro era boa também. Tanto que ela tinha que se repetir quando necessitava sua ajuda. Apoiando a palma no fundo, disse:

     —Deve levantar o vagão outra vez. Não posso tirar minha bolsa.

       Sua bolsa. O vagão. Merda. Não podia evitar estar distraído.

         Em questão de segundos ela tinha a pequena bolsa fora. Tinha empacotado pouco. Muito ligeiro para planejar ter mais de uma muda de roupa. Muito ligeiro para ter algum recurso uma vez chegasse a seu destino.

     —De quem diz que está fugindo?

       —Eu não disse que fugia.

       Agachou-se e a ajudou a ficar de pé. O topo da cabeça chegava ao centro de seu peito. Parecia maior.

   —Mas o faz. E uma coisinha pequenina como você necessita toda a ajuda que possa conseguir.

     —Não sou pequenina.

     —Pequena então. —Empurrou-a para Breeze, que esperava pacientemente. Kell deu um passo ao lado deles.

     —Tão pouco sou pequena.

     —Dá dois passos onde eu dou um - indicou.

     —É um gigante.

         Ele tomou sua carteira e a enganchou sobre a ponta da sela, ocultando um sorriso. Sua altura, ou a falta da mesma era obviamente um assunto delicado.

     —Que tal diminuta? Pode viver com diminuta?

     —Não.

      Cravou-lhe as unhas nas mãos justo por cima das luvas, luvas que ele se ressentiu que levasse porque lhe evitavam sentir a suavidade de sua pele.

     —Espere. Temos que enterrá-los.

     —Duquesa, quem quer que tenha feito isto provavelmente está ainda pelos arredores. Sendo esse o caso, não temos tempo de cavar covas.

     Apertou os lábios.

   —Deve.

   —Não tenho que fazer nada.

     —Devo a eles.

   —Pensei que o sacerdote arrumou o trato.

   —Mas eu ia proporcionar o dinheiro.

        A pesar de todas suas altivas maneiras não parecia que tivesse duas moedas no bolso.

   —Tem algo?

     —Não.

       Disse-o como se esses quatro homens tivessem viajado a qualquer lugar com algo tão doce como ela sem tomar seu pagamento em sua pele.

     —Teriam ficado furiosos quando o constatassem.

     —Sim.

     —Provavelmente teria acabado trabalhando sobre as costas para pagar.

       Ela não pareceu assombrada.

   —Era uma possibilidade.

      Uma mulher teria que estar desesperada de sete tipos distintos para levar esses estranhos olhares nela. Dirigiu-se para a frente do vagão onde havia um vazio entre o chão e os lados. Agarrou-a pelo braço, aproximando-a.

     —Em que malditos problemas estás metida?

       Olhou-o com os grandes olhos marrons que eram da cor do chocolate quente. Olhos que lhe perdoavam adiantado pela deserção que ela esperava.

     —Tejala me quer como sua prometida.

     —Interessante forma de expressá-lo. Tomo como que não está de acordo?

     —Não.

      Pelo que Sam sabia de Tejala, as objeções de Isabella não significavam nada.

      —Então o que vais fazer depois de que alcance Santo Antonio?

      —Isso não é de sua incumbência.

      Ela tinha razão. Não o era. Provavelmente ela nem sequer era cidadã do Texas. Podia ir-se e ninguém o faria responsável. A tensão se arqueou entre eles, estendendo-se do ombro pelo braço até o punho. Sob sua mão, os músculos dela deram um puxão, enviando a tensão de volta. Ela era uma combinação estranha de valor e desespero. Inocência e frescura. Um homem preparado a deixaria a ela e a seus problemas a sua gente para que o ajeitassem. Ela se lambeu os lábios outra vez, o gesto deixou o inferior inevitavelmente úmido e rosa. Vulnerável.

       Balançou-se sobre Breeze.

     —Possivelmente não, mas decidi fazê-lo meu.

       E possivelmente a ela junto com isso.

 

       A mulher era exasperante ao extremo. Insolente, faiscante e fogosa, com uma atitude autocrática que levava nos ossos, não se desprendia de sua idéia uma vez que a tinha. E a única em que tinha os dentes fincados agora, era a de que Santo Antonio era seu céu seguro. Estava determinada a ir ali por si só se Sam não a levasse. No pangaré muito usado com o que se haviam topado a quase uma milha do massacre. Como se ele fosse deixar que isso acontecesse. A mulher seria assassinada ou violada em poucos minutos ao ir pelas suas. Mas ela não via desse modo.

     —Há leis que proíbem tomar a uma mulher contra sua vontade - assinalou Isabella, nesse tom de voz lógico com o qual tinha apresentado todos seus argumentos durante as últimas horas.

     Sam olhou por cima do ombro para onde ela montava bem atrás.

     —Não me diga.

     —Sim - disse ela enquanto chicoteava seu cavalo, um animal que levava em sua pele as cicatrizes de sua dura vida, para forçá-lo a alcançar Sam Acredito que é um delito que se paga com a forca.

     —Maldição. Imagino que então estou em problemas - assinalou ao cavalo com seu cigarro quando ela o chicoteou outra vez—O está machucando sem razão. Tem os joelhos doentes. Dói-lhe só de caminhar.

     A opinião que tinha dela subiu um talho quando parou imediatamente de chicotear e começou a acariciar e a cortejar o animal. Desceu em punhado quando ela parou o animal e desmontou. Foi mais um deslizamento e queda que um desmonte, mas dado que aterrissou sobre seus pés, o chamaria assim.

     —E agora que está fazendo?

     Ela empurrou o chapéu demasiadamente grande de onde se lhe tinha caído sobre a cara.

     —Caminhar.

     Kell grunhiu. Ela lhe lançou um olhar cortante. Ele não parou de grunhir mas sim se sentou dirigindo um olhar para Sam que dizia claramente que esperava que manejasse a louca mulher para que pudessem seguir seu caminho.

     —Se tivesse pensado que o cavalo não podia te carregar teria atirado nele quando o trouxeste para diante.

    Ela exclamou:

     —Não atirará em Ervilha Doce!

     Se isso não lhe adicionava um insulto a ferida.

   —Lhe puseste Ervilha Doce a pobre coisa?

     Ela se encrespou e lhe deu tapinhas no ombro negro.

   —É um bom nome. Ele é muito doce.

   —Bem, ser doce não é algo que um macho queira gritar aos quatro ventos, por isso talvez não queira chamá-lo assim frente aos outros cavalos.

     Por uma fração de segundo ela pareceu preocupada e ele quis sorrir, mas então ela o captou com uma sacudida de cabeça.

     —Zombas porque não quero feri-lo.

     Zombava porque ela estava sexy como o inferno quando nesses profundos olhos marrons se juntavam faíscas e a irritação convertia essa boca cheia em uma careta que naturalmente tinha a um homem desejado inclinar-se e beijá-lo suavemente outra vez.

     —Só um pouco.

     Como uma mulher tão baixa parada tão longe debaixo dele podia se ajeitar para olhá-lo por cima de seu nariz era um mistério, mas ela se ajeitava.

     —Isso lhe faz uma pessoa não muito agradável.

   —Nunca disse que era.

     —Não — suspirou ela Não o fez.

      Ele desmontou e deu a volta até estar ao seu lado. Todo o corpo dela se esticou.

   —O que faz?

     —Vou te ajudar a montar — lhe disse enquanto arqueava uma sobrancelha — A menos que pense que pode subir por seus próprios meios.

      Pode que o cavalo estivesse vindo a menos, mas se elevava facilmente dezesseis palmos, muito grande para que ela somente saltasse.

      Se as olhadas matassem, ele estaria morto, mas ela aceitou com graça sua derrota.

      —Obrigada.

      Ele atirou seu cigarro ao chão.

      Ela franziu a sobrancelha ante o gesto.

      —Fuma muito.

      —Terei em conta.

     —Seria bom se o fizesse.

     Girando-se, levantou os braços e esperou. Provavelmente deveria dizer a ela que só precisava lhe apresentar o pé. Admirou a linha de suas costas, o brilho dramático a sua compleição, mas dado que ele mesmo tinha admitido que não fosse agradável, não era uma necessidade na verdade.

     A cintura dela facilmente caberia entre suas palmas. Maldição, a mulher estava feita para o prazer de um homem. Com um empurrão, a colocou acima. Por um segundo os quadris dela ficaram ao nível de sua boca. Fez-lhe água. A inconsciência total de seu «obrigada», quando agarrou o pomo dos arreios e procurou provar o estribo, foi como um balde de água fria. Estava cobiçando a uma inocente. Depois de comprovar os estribos e desenredar as rédeas ao redor das palmas dela enquanto o olhava, inconsciente dos estragos que causava, ele voltou até Breeze. Kell parecia agradado enquanto Sam passava.

      —Quer lutar com ela? —perguntou-lhe em voz baixa. O cão se afastou — Isso é o que pensava.

     —O povoado está justo detrás da próxima subida —disse enquanto revolvia em seus arreios. Alcançou seus utensílios de fumar.

      Isabella franziu a testa. Ele tirou a bolsa. Ela suspirou e sacudiu a cabeça. Ele sorriu e tirou um papel.

      —Ali pode haver um hotel. Será capaz de te dar um banho.

      A boca dela se apertou e elevou mais o queixo. Claramente não estava de humor para ser apaziguada.

      —Tudo se verá melhor quando voltar a estar limpa.

      —Ainda estando morta ou capturada por outros?

     Ela sim que tinha um giro dramático.

      —A palavra que buscas é seqüestrada - disse enquanto colocava o tabaco no papel dando golpezinhos—. Mas estar bem limpa lhe economizará tempo ao sepultador.

      Claramente ela não apreciava seu senso de humor.

      —Preferiria que tivesse que trabalhar.

      Ainda com a promessa de um banho digno de uma deusa, um luxo que cada mulher ansiava depois de um tempo na estrada, Isabella seguia sendo teimosa. Sam não estava inteiramente seguro de que fazer com isso. Uma mulher que não se excitava ante a idéia de um banho, era malditamente antinatural.

      Não era que ele tivesse passado muito tempo fora do dormitório com as mulheres. Simplesmente não tinha havido oportunidade. Nem, admitiu em um momento de honestidade, a inclinação. Ao menos por sua parte. Não era um homem que gostasse de enlaçar-se embora muitas mulheres tenham tentado atar-se a ele. Enrolou o cigarro e pôs seus utensílios de novo no bolso.

      Chegaram ao topo da costa. O povoado se era tal, apareceu a vista. Dez edifícios desmantelados formavam uma cruz irregular em meio de um nada. Era duvidoso que um povoado tão pequeno tivesse um hotel. Ele esperava pelo inferno que Kell tivesse modos de cidade.

       —Pode ter razão sobre o banho.

     —Tenho razão em muitas coisas.

     Ele sorriu, golpeou o sulfuro e prendeu seu cigarro. Ela se manteve em seus treze. A cavalgada até o bordo do povoado foi completado em um tenso silêncio. A medida que se aproximavam do primeiro edifício um lugar no terceiro atraiu o olhar dele: Hotel.

     —Parece que depois de tudo obterá seu banho.

      A resposta da Isabella foi um bufado áspero. Ele tinha escutado esse som muitas vezes antes para confundi-lo com outra coisa que não fora medo. Olhando sobre seus ombros, teve uma visão clara dela. Não sua expressão, já que o chapéu lhe tinha escorregado sobre a cara, mas foi capaz de determinar a direção de seu olhar. Sua atenção estava enfocada rua abaixo, onde cinco cavalos estavam atados fora do salão. Um deles era um matizado com marcas distintas.

     Como se seu olhar fora um convite, cinco homens saíram através da porta do salão dando tombos, caindo na rua suja com uma gargalhada de bêbados. Breeze relinchou. Kell grunhiu e baixou a cabeça, suas orelhas aderidas ao crânio em advertência. Pelo rabo do olho, Sam viu sacudir-se a cabeça de Ervilha Doce quando Isabella atirou para que se detivesse.

     Os homens olharam em sua direção, logo os desprezaram como se fossem mais outro casal de vagabundos que entravam no povoado com o bom tempo. Enquanto que ninguém olhasse em sua direção muito de perto, estariam bem, mas Sam não ia apoiar a segurança da Isabella em uma esperança tão frágil.

     Fez retroceder Breeze até que pôde alcançar as rédeas de Ervilha Doce e as tirou das mãos da Isabella. Não foi difícil. Ela ainda estava olhando aos homens, sua cara de um branco giz. Mantendo sua voz baixa e tranqüila, ordenou-lhe:

     —Duquesa, quero que jogues suas pernas para este lado e te deslizes para baixo.

     A sacudida de sua cabeça logo que foi discernível. Ele estava cansado, faminto e embora ela não quisesse esse banho, seguro que ele sim. E quanto mais cedo arrumasse este assunto, mais cedo poderia desfrutar dos prazeres do povoado.

     —Faz o que te digo.

     A ordem não teve mais efeito que a anterior. Inclinando-se para ela, dirigiu o assunto agarrando-a pelo antebraço e lhe dando um puxão. O instinto fez que ela se agarrasse o pomo dos arreios enquanto se inclinava para um lado, lançando um grito agudo, indubitavelmente feminino. Felizmente Ervilha Doce permaneceu firme. Infelizmente os homens o escutaram, pararam e olharam para trás. Trocaram palavras. Assinalaram. Voltaram sobre seus passos.

      Sam desencapou sua escopeta, verificou duas vezes que estivesse carregada e a voltou a embainhar. Tirou o revólver de sua pistoleira e descansou seus braços sobre o pomo como se não tivesse nada melhor que fazer, em uma tarde ensolarada e calorosa, que se sentar na metade da rua.

      —Isabella, entra no hotel.

      Pela primeira vez, ela não discutiu, escondendo-se por detrás do cavalo e subindo ao alpendre de madeira. As olhadas que os homens enviaram a Bella, deu-lhe uma boa pista do tema de sua conversação.

     —Entra, Bella.

     —Está fechado.

     Merda.

     —Golpeia.

     Os bandidos eram um grupo de desagradáveis, nenhum muito limpo, mas coloridos em sua variedade de roupa. Suas esporas tilintavam suavemente enquanto caminhavam para diante ostentando-se. Essa ostentação o preocupou. Significava que se sentiam bastante cômodos fazendo o que quer que seja que tivessem planejado fazer.

      Ele assentiu ao líder quando estiveram a mais ou menos vinte pés.

     —Olá rapazes.

      Em caso de que confundissem sua saudação com um convite, Sam centrou seu revólver no peito do líder.

     —Até ali é suficiente.

     O homem se passou a mão por seu grande bigode, seus dedos persistindo nas pontas desordenadas do lado direito.

     —A mulher que tem contigo me parece familiar.

     —Não é assunto teu quem cavalga comigo.

      Dois dos bandidos se abriram em leque em uma clara manobra de cercá-lo. Sam olhou ao redor da rua. O punhado de aldeões que estavam caminhando, tinham desaparecido dentro dos edifícios mais rápido do que ele pudesse ondear com a mão. Uma porta se fechou bruscamente ao final da rua.

      —Isabella, pensei que havia dito que entrasse.

     —O fizeste.

     —Então por que ainda está parada na rua?

     —Porque a gente deste lugar parece me querer fora.

      Um homem gorducho com um chapéu negro, umas chaparreras sujas e pistolas brilhantes se dirigiu direto para a Isabella. Sam ajustou a mira de seu revólver.

     —Senhor, se der um passo mais, será o último.

     —É horrivelmente pouco amistoso para alguém que acaba de chegar ao povoado - disse o líder com um tom enganosamente civilizado.

     Sam lhe enviou um sorriso igual de civilidade.

      —Considera-o um defeito de caráter.

     Deu um olhar a Isabella parada no alpendre. Estava muito exposta.

      —Duquesa, quero que dê a volta até o beco que está ali.

     Ela ondulou a mão para o homem parado no bordo do alpendre entre ela e sua meta.

     —Como?

     —Só passa pelo lado.

      Ela se passou a língua pelos lábios. Nenhum dos homens se perdeu essa provocadora vista. Maldição, essa mulher tinha uma boca feita para amá-la.

     —Mas…

     —Se ele se mover, ponho-lhe uma bala no cérebro. Nisso pode confiar em mim.

     Dois sopros e então ela volitou esses olhos para ele.

     —Me promete que lhe disparará?

     —Lhe prometo isso.

      —Não falhará?

      —Não é provável.

      —Provável não é uma garantia.

      —Começa a te mover.

      —Bem, mas se falha, não estarei contente.

      Inclusive de onde estava podia ver suas mãos tremerem só de pensar em passar pelo lado do bastardo.

      —Então tenha por seguro que não falharei.

     Com um assentimento curto ela se dirigiu para o beco. Sam esperou até que Isabella desaparecesse ao redor da esquina do edifício e então se endireitou, acomodando-se facilmente nos arreios, deixando que a frieza que precedia a batalha o rodeasse.

      —Agora que ela se foi, podemos falar.

      —Não há nada do que falar.

      —Bem. Então deixa que o exponha por ti. Foi um dia de merda. Estou faminto, cansado e estive suportando durante as últimas quatro horas a parte má da língua dessa mulher.

      Do beco veio o eco apenas perceptível de um bufado. Ele sorriu. Pensou que isso poderia fazê-la ir-se.

     —Se a mulher for tanto problema, meus amigos e eu estaríamos felizes de lhe tirá-la das mãos.

     Apostava que o estariam. O couro rangeu quando trocou seu peso nos arreios.

      —E quem é você?

     —Juan Zapata.

     —Bem, Juan, só o mencionei porque tudo o que desejo é um par de goles de uísque e uma cama macia.

     O homem perto do alpendre se moveu. Sam encontrou seu olhar e sacudiu minimamente sua cabeça. O homem retrocedeu.

      —Não há razão para que não tenha o que desejas - disse Juan.

     —Em tanto te dê o que desejas?

     Juan assentiu.

     —Sim.

     —Isso não vai acontecer.

      —A mulher é de Tejala.

      —Então Tejala vai se decepcionar.

     —Parece-me que não.

     —O que é meu é meu - assinalou com a cabeça para o beco onde Bella se escondia.— E a mulher é minha.

     Outro bufado.

     —E quem é para pensar que pode tomar o que é de Tejala?

     Centrando o revólver no Juan, Sam respondeu:

      —Sam MacGregor. Patrulheiro do Texas.

      O homem perto da calçada murmurou. Um sussurro de mal-estar se estendeu pelo grupo. A postura do Juan se aliviou um pouco. Mas não completamente. Depois de tudo, a pesar da reputação do Sam, eles eram seis contra um.

     Juan cuspiu.

     —Sua insígnia não significa nada aqui.

      Sam se encolheu de ombros.

    —Uma insígnia não significa nada em nenhum lugar. É o homem detrás da insígnia do que tem que ter medo. —Sorriu.— E francamente, está-me atacando os nervos. Assim se não te importa, eu gostaria de acabar com isto.

      —E o que é «isto»?

     —Isto é ou passeamos pacificamente ou tampo uma cova com algum de vós.          Girou o revólver para o bandido mais próximo ao beco. Alinhou a escopeta com o estômago do Juan. Não necessitava pontaria com uma escopeta. — De que maneira vou, é decisão inteiramente tua.

     O metal se deslizou através do couro com um silvo audível enquanto os homens de Juan tiravam as armas. Detrás dele, um inesperado arrastar de botas na areia. Sam se afundou no chão, girando e apertando o gatilho enquanto caía, jurando quando viu que seu objetivo atirava a arma a esquerda bem a tempo. A bala passou zumbindo pela cabeça da Isabella. Ela gritou e se agachou, cobrindo a cabeça com os braços.

       —Filho da puta! — Ela devia ter rodeado o edifício.

      Rodou sob as patas dos cavalos para o centro da rua, afastando a linha de tiro dela. Pelo menos sabia por que Kell não tinha lançado uma advertência.

     —Volta seu traseiro ao beco — gritou — Kell protege-a.

     Esperava que o cão soubesse proteger.

     As balas golpearam o chão ao redor de Sam em rápida sucessão. Kell vacilou.

     —Ajudarei - gritou Isabella.

     Sam não sabia quanta ajuda esperava dar com as mãos sobre a cara.

     Esquadrinhou a rua, tomando nota das posições.

     —Pode ajudar pondo seu traseiro a salvo. — Olhou ao eriçado cão — E leve o Kell contigo.

     Juan riu detrás de um poste.

     —Nem sequer pode conseguir que tua mulher obedeça, e esperas que nós lhe temamos?

     —Não, eu só espero que morras.

      Rodando sobre as costas, deixando cair a escopeta a um lado, golpeou o percussor do Colt, soltando uma rajada de balas. Três bandidos caíram, dois não. Merda.

     O fogo em resposta foi imediato. Não tinha nenhuma cobertura. Uma bala lhe deu na coxa com um duro impacto e um som nauseabundo. Isabella chiou. Só tinha uns poucos segundos para atuar antes que a dor flamejasse. Ficando em pé de um salto, Sam correu para Bella, agarrando-a pela cintura e meio levando-a, meio atirando ela ao beco. Kell estava justo detrás. As balas salpicaram o edifício no lugar onde tinha estado uma fração de segundo antes. Apertou as costas contra a parede. As lascas de madeira voaram, lhe cravando a bochecha enquanto empurrava Isabella ao chão.

     —Quando disser que fique quieta —grunhiu Sam — Fica quieta.

     Apontando com a escopeta pela esquina disparou cegamente, confiando na dispersão para causar danos. Um grito agudo lhe disse que lhe tinha dado a algo. O juramento de depois provavelmente significava que não fatalmente.

       —Filho da puta.

      Houve um puxão em seu cinturão. Girou, outra maldição nos lábios. Não necessitava uma mulher histérica entre as mãos. Isabella lhe agarrou a mão e golpeou algo em sua palma. Os dedos se fecharam ao redor de formas familiares. Balas. Encontrou seu olhar. Havia vigor abaixo da suavidade.

     —Obrigado.

      As balas assobiaram por diante da abertura do beco. Martelou o outro canhão da escopeta, esperando uma pausa antes de apontar o canhão pela esquina outra vez e apertar o gatilho. Logo que se descarregou, o atirou a Isabella junto com a bolsa de munição.

      —Sabe como carregar isto? —sussurrou.

     Ela não perdeu o tempo em palavras, mas sim ficou a trabalhar com uma eficiência que respondeu as suas perguntas. Empurrou as balas nos compartimentos de seus revólveres, mantendo um olho no movimento mais a frente do beco como melhor podia.

     —Isto se vai converter em uma confusão em um minuto.

      O olhar dela caiu para o sangue da coxa.

      —Já o é.

      Ele sangrava como um porco esmurrado. Tirando o lenço de ao redor do pescoço, sustentou-o.

     —Me faça um favor e amarre-o.

     O fez. Ele desnudou os dentes contra a dor.

     —Obrigado.

     Ela apertou o nó antes de lhe devolver a escopeta.

     —Não falhe.

      Ela era uma coisinha mandona.

     —Farei o melhor que puder.

     —Seria melhor se tivesse êxito.

      Muito mandona.

      As coisas estavam muito calmas por ali. Sam se moveu pela parede, tomando cuidado de que seu cinturão não raspasse. Um tilintar rítmico de esporas se aproximava. Sacudiu a cabeça ante a imprudência de tratar de mover-se furtivamente levando esporas. Recostou-se e esperou. O canhão fino de um rifle se estendeu pela esquina. Sam não se moveu, sustentou a palma aberta detrás dele para advertir Isabella de que não fizesse nenhum som. Dois palpitados de coração passaram. O canhão deu um puxão. Sam se deixou cair sobre um joelho. O fogo ardeu na coxa. O homem saltou pela esquina. Sam disparou. A bala acertou ao bandido no coração, parando-o em metade de um salto, uma expressão aturdida em sua cara.

     Martelando o percussor outra vez, Sam enxugou o suor da frente com o ombro e esperou. Não havia sons.

     Jogou um olhar rápido a Bella. Seu rosto estava branco e os olhos abertos com terror, mas estava ajoelhada ao lado de Kell, mantendo a mandíbula cerrada. Sam acrescentou outro rápido pensamento a mandona.

      Sustentando o dedo contra o lábio, indicou que devia continuar em silêncio. Ela assentiu. Sam se aproximou da esquina do edifício, o sangue gotejava pela perna em um fluxo quente. Logo que se encarregasse do último bandido, teria que ver quão mau era. Ao menos a bala tinha falhado o osso.

     —Seus amigos estão mortos - disse.

     Nenhuma resposta.

     —Estou disposto a te permitir viver, por um preço. —Algo chocou contra o chão. Pelas lascas soou como uma gaveta — Promete que levará uma mensagem a Tejala, e não lhe pegarei um tiro a seu lamentável traseiro.

     Nenhuma resposta ainda.

     —Vou contar até três. Se chegar a três tomarei como um não.

     Outro choque. Deu um passo pela esquina. Um barril tinha derrubado a pilha contra os estábulos. Ao lado, inclinado uma gaveta quebrada. Um rápido olhar revelou que não havia armas saindo pelas janelas, nem novos vícios a batalha enchiam as ruas. Aparentemente os cidadãos do povoado não estavam mais apegados com Juan e seus companheiros que ele.

     —Um.

      Chegou ao bordo dos barris, sua perna lhe doía como uma filha da puta. Diante dele podia ver o bandido atirado no chão, um braço colocado com estupidez a um lado. Sam avançou, as armas marteladas, os olhos atentos enquanto o homem tropeçava e retrocedia com os cotovelos. Um grito rouco pontuou sua queda no braço ferido. Empurrou-se com os pés, mas não havia nenhum lugar para ir. Detrás dele estava o edifício e diante dele Sam. A parede seria mais fácil de atravessar.

     —Dois.

     Finalmente, o bandido se deu conta de que estava apanhado. Levantou a mão.

      —O que quer?

     Sam não respondeu. Deixou que o homem se cozinhasse em seu próprio suor enquanto se aproximava de maneira ameaçadora. Um fio de sangue lhe descia pela bochecha e mais sangue se filtrava da perna.

     Afastou a arma do braço inútil do bandido com uma patada.

      —O que quer Tejala desta mulher?

     —Não sei.

     —Isso não foi o que te perguntei. —Sam disparou uma bala ao outro ombro.

     Teve que esperar até que os gritos do homem caíssem a um murmúrio assustado antes de poder repetir a pergunta.

     —Casar-se com ela! Supõe-se que seja sua noiva!

      Assim que essa parte de sua história era verdade.

      —Se se supõe que seja sua noiva por que não está casada com ele?

      —Porque me neguei ao contrato de casamento.

     Sam deveria ter sabido que Isabella não permaneceria quieta. Estava detrás dele, olhando fixamente para baixo ao homem, sem nenhuma expressão na cara.

      —Não recordo haver te convidado a este bate-papo.

      Kell abriu caminho entre eles, os olhos amarelos concentrados no bandido. Bella cruzou os braços no peito.

     —Não recordo lhe haver pedido que me capturasse.

     Ele martelou o percussor da outra arma.

      —Mas ainda assim, aqui estamos ambos.

     —E onde é aqui?

     Foi o bandido quem respondeu com uma nota de zombaria.

    —Aqui é onde morrerás.

     Sam esteve tentado de acabá-lo ali. Em vez disso, colocou o pé no ombro ferido do bandido e apertou.

     —Se preocupa compartilhar o que faz isto tão malditamente perigoso?

      Tomou muito pouco que o bandido soltasse o que sabia. Apenas um duro empurrão e o contava tudo.

      —Tejala possui este povoado. Possui este território. Ninguém te ajudará por medo ao castigo.

     —Nunca pedi ajuda.

      O bandido se inclinou a um lado e cuspiu sangue.

      —A necessitará. — Assinalou com o queixo para o morto—. Mataste a seu primo. Não descansará até que lhe mate.

     —Qual é seu primo?

      Sam olhou para Isabella. Ela se encolheu de ombros. O bandido estava mais cômodo.

     —O único com bigode.

     —O estúpido filho da puta que se interpôs entre eu e meu jantar?

     O homem cuspiu outra vez.

      —Em poucos dias, veremos quem é tão estúpido.

     —Se o matas, ninguém saberá quem fez isto — exclamou Isabella amavelmente.

      Kell grunhiu como se aprovasse o plano.

     —Verdade. — Sam tirou o pé do ombro do bandido enquanto fingia considerar a noção — Supostamente, os trinta cidadãos mais ou menos que aparecem por detrás das cortinas das janelas possivelmente seja um problema.

     —Quantas balas há em tua arma?

      Maldição se ela não tinha senso de humor. Tragando uma risada, sacudiu a cabeça.

      —Não tantas.

      O bandido sorriu, mostrando dentes podres manchados vermelhos com sangue.

     —Não há esperança para ti, Patrulheiro.

     Suprimindo o impulso de chutar esses feios dentes pela garganta, Sam manteve sua voz tranqüila.

     —Não iria tão longe. Sempre que tiver a mulher, tenho um truque que jogar.

     Isabella ofegou. Um brilho ardiloso surgiu no olhar do bandido.

     —Tejala pagaria muito por ela. —Apoiou seu peso mais acima contra a parede. — Lhe poderia trazer isso. Poderíamos compartilhar os lucros.

     —Eu não compartilho.

     —Necessitará de mim para encontrá-lo.

     Sam agarrou a mão de Isabella, evitando que se afastasse de seu lado.

      —Ou posso simplesmente plantar os pés em algum lugar e dar um grito sobre o que consegui.

     Ignorou o «bastardo» da Isabella.

     —O que pensa disso?

     O bandido cuspiu outra vez. Enxugou-se o queixo no ombro.

     —Penso que és um homem morto.

     Sam se endireitou.

     —Acredito que tem razão. O qual significa que não tenho nada que perder.

     As cortinas revoavam como loucas rua abaixo. Os residentes do povoado ficavam nervosos. As pessoas nervosas lhe inquietavam. Isabella atirou de sua mão. Ele olhou para baixo.

      —Se me deixas ir —disse, em uma voz que tremia — ninguém te perseguirá.

     —Onde estaria a diversão nisso?

     —Não me desejas.

      Ela tinha que estar lhe provocando. A mulher era um pequeno barril curvilíneo de dinamite que tinha a um homem pensando em fazê-la explodir com seu primeiro olhar.

     —Querida, não há um homem vivo que não te desejaria.

     Não gostou do olhar assassino em seus olhos enquanto inclinava a cabeça a um lado e se colocava as mãos nos quadris.

     —Você também?

     —Seguramente. Sou tão vigoroso como qualquer outro.

       —Bem. — O chapéu muito grande caiu sobre sua cara. Empurrou-o para trás com uma mão impaciente — Então te contratarei.

     —Sou um Patrulheiro. Não estou a venda.

     Ela nem se alterou.

     —Então me pode contratar.

     —Para que?

     —É um Patrulheiro no território de Tejala que vai ter bandidos atrás de seu rastro em um tempo muito curto. Necessitarás um guia se planeja sobreviver.

      Empurrou o chapéu para trás com o dorso da mão.

     —Supõe-se que está oferecendo seus serviços?

     —Sim.

     —Tem alguma referência?

     Ela gesticulou para o bandido quase inconsciente a seus pés.

     —Estive me evadindo de homens como ele durante os últimos seis meses. Isso deve significar algo.

      Significava que tinha estado fugindo assustada mais do que qualquer mulher teria que fazê-lo.

     —Bem, estaria impressionado se pudesse demonstrar que é verdade.

      Esse queixo se ergueu. O chapéu baixou. Ela rodeou ao bandido.

      —Lhe dirá que é verdade.

      O homem sacudiu a cabeça. Isabella lhe chutou a panturrilha, logo a coxa. Sam considerou que as jóias familiares eram as próximas. O homem agarrou a bota.

     —Não vou dizer lhe uma merda.

      Kell se lançou e tratou de lhe morder o braço. Isabella lhe pisou nos dedos quando o homem saltou atrás.

     —Diga-lhe!

      Sam riu entre dentes enquanto tirava um pouco de enxofre. Eram um par de sanguinários.

     O bandido deu inclinações bruscas a um lado, sustentando o braço. Isabella retirou o pé. Kell lhe espreitou. Provavelmente era hora de fazer algo.

     —Vamos.

      Bella se girou bruscamente.

      —Faça-o falar.

      Sam arqueou uma sobrancelha.

     —Não crês que já lhe torturaste o bastante?

     —Deve dizê-lo.

     Pôs-lhe uma mão no homem, apaziguando o pânico que se curvava por ela em tremores visíveis.

     —Sim, deve.

     Mas não da maneira que ela pensava.

     Agarrando ao homem ferido por sua camisa, Sam o pôs de pé.

     —Levará uma mensagem a Tejala por mim.

   —O que te faz estar tão seguro?

      A estupidez corria profunda neste grupo.

       —Porque de outro modo — disse, assinalando com o polegar sobre o ombro—permitirei que esses dois lhe tenham. Escolhe.

     O bandido grunhiu.

    —Qual é essa mensagem?

     —Diga a Tejala que se vier atrás de Bella, vem depois dos Oito do Inferno.

     O homem sacudiu a cabeça.

     —Não lhe importará. Está louco.

     —Formidável — disse Sam — Eu também.

 

     Ele estava louco. Isabella observou como Sam pousava seu rifle contra a parede da gruta e apoiava a seu lado três varas inseridas através de vários peixes limpos. Uma mancha escura se estendia para baixo e fora do lenço atado ao redor de sua coxa. O sangue emanava de onde lhe tinham disparado ao defendê-la. Não sabia muito sobre feridas de bala, mas lhe parecia que era muito sangue. Tanto, que deveriam haver-se detido quando ela o havia dito em vez de continuar até essa gruta. Kell se deslizou ao lado de Sam, farejou sua ferida e logo gemeu. O meneio de sua cauda golpeou uma das varas. Sam a agarrou antes que caísse ao chão de terra.

     —Cuidado com a comida, bobo.

      Kell retrocedeu. Também Isabella quis fazê-lo quando Sam girou para ela. Salvo que não podia. A parede estava as suas costas e o orgulho se refletia em seu rosto. Depois de todo seu ousado bate-papo, seria muito humilhante encolher-se agora que estavam sozinhos.

     Ela indicou com a mão a ferida da coxa de Sam.

     —Deve ter mais cuidado com sua própria pessoa.

     As sombras esconderam os olhos de Sam, mas ela podia dizer pelo ângulo de sua cabeça que a estava olhando.

     —Preocupada em perder seu guia a Santo Antonio?

      —Sim. Neste instante você é muito importante para mim.

     Ele tinha forçado a perna ao trazer o pescado.

     —É bom para um homem saber onde está parado.

      De onde ela se sentava, parecia que ele não estaria de pé por muito mais tempo. A luz destacava a palidez de seu rosto e as linhas de cansaço eram mais profundas nas esquinas de seus olhos. Estava ferido e cansado. Por causa dela. Ela lhe assinalou uma pedra grande ao outro lado do fogo e contra a parede.

     —Se sentará e me deixará atender sua ferida.

     —O farei?

      —Sim. —De pé, ela sacudiu a sujeira de sua saia—. A menos que seja seu desejo que sua ferida se infecte e lhe cause a morte.

      Seu olhar ardeu sobre ela um caminho da cabeça até os dedos do pé.

      —Não posso dizer que esteja ansioso por me encontrar com meu criador ainda.

     A intensidade de seu olhar fixo fez que se sentisse incômoda, mas por estranho que parecesse, não assustada.

      Ela indicou a pedra grande.

      —Sente-se.

      —É uma ordem?

      Tinha sido, mas talvez dar ordens a um homem como Sam não era uma idéia tão boa. Ela se dirigiu para as bolsas e vasculhou nelas.

      —Deveria pensar nela como uma pedido razoável.

     Ele a seguiu com esse nada razoável olhar seu. O pêlo da nuca lhe arrepiou em resposta a esse olhar… tão forte que parecia uma carícia. Seus dedos se fecharam sobre um frasco de prata.

   —Quando estava pensando nesse pedido razoável, deteve-se a pensar em que teria que tirar-me as calças para permiti-lo?

     O tinha feito, mas pensar no futuro não fez nada para evitar que o rubor cobrisse suas bochechas. Nunca tinha visto um homem nu. Não era algo que fizesse uma jovem mulher de sua posição social, mas Sam não tinha por que sabê-lo.

     —Farei todo o possível para preservar sua modéstia.

     Enquanto, aproveitaria para jogar um olhar tanto como pudesse. Sentia muita curiosidade pelo corpo masculino.

     Sam não respondeu imediatamente. A sola de sua bota se arrastava pelo arenoso chão da gruta. Uma olhada não revelava nada sobre o humor que o embargava. A pressão de seus lábios podia ser causada tanto pela cólera como pela diversão. Era um homem muito difícil de interpretar.

     —Bem, isso agradeço.

      Destampando o frasco, ela aspirou. O aroma da forte bebida fez que lhe ardessem os olhos.

      Sam grunhiu ao sentar-se.

     —Isso pode passar por alto.

     Ela voltou a colocar a cortiça na garrafa.

      —Beberá isto se o curo.

     Sua pistoleira roçava a rocha.

     —Esse é o ponto.

     Ele sempre estava em guarda.

     —Necessitarei isto para limpar sua ferida.

     —Infernos.

      Franzindo-lhe a testa sobre seu ombro, ela tirou um pacote plano atado com couro sem curtir.

     —Não é necessário tal linguajar.

     —Alguma vez lhe regaram aguardente em uma ferida aberta de bala?

     —Não sou tão tonta para me atravessar no trajeto de uma bala.

     Enfadava-lhe sua atitude. Inclusive mais o fato de que ele não tomou a sério a ferida. A pessoa morria por uma infecção.

     —Duquesa, estava salvando sua vida. Isso me faz um herói, não um tonto.

      Ela abriu o pacote, encontrou uma agulha e fio de tripa em seu interior junto com muitas tiras de tecido para ataduras. Ela não queria pensar em quão perigosa devia ser a vida de Sam para que levasse tais coisas consigo. Tão pouco gostava quão pouco fio de tripa havia ali em comparação com as ataduras. Devia ser ferido freqüentemente. Rompeu o pacote fechado e retirou de uma lapada com o dorso da mão o cabelo sobre os olhos.

     —Foi desnecessariamente imprudente.

      —Esse é meu trabalho.

     Ele o disse como se fosse a verdade, mas ela não estava de acordo. Agarrando os artigos, dirigiu-se para ele. Ele a observou cada um dos dez passos. Havia algo em seus olhos que não tinha estado ali antes.

      Ela caiu de joelhos ao lado de sua perna ferida, estremecendo-se quando seus músculos protestaram. Não estava acostumada a montar tanto.

     —Creio que é muito entusiasta na hora de fazer seu trabalho.

     O suave couro de sua luva passou roçando as têmporas dela, enredando-se em seu cabelo antes de curvar-se detrás de sua orelha, levando a incômoda mecha de cabelo com ela.

     —Me perdoe, duquesa, mas o que sabe sobre meu trabalho não caberia na cabeça de um alfinete.

     Ela colocou com cuidado as mãos em sua coxa, sentindo-se muito valente. As mulheres de sua posição não conseguiam estar tão perto de homens estranhos. Isto não se parecia em nada ao tato de sua própria perna. Não havia nenhuma brandura sob as gemas de seus dedos. Só músculo duro como uma rocha. Que só a levava a perguntar-se em que mais eram diferentes os homens.

     —Não creio que precise conhecer o trabalho de um Patrulheiro para compreender o que vejo.

      —E o que vê?

    O músculo se esticou sob a pressão das gemas de seus dedos. Ela jogou uma olhada, encontrando seu olhar fixo. A resposta só surgiu.

      —Problemas.

     Durante um batimento do coração Sam não reagiu, e logo riu, um som suave, profundo, que se derramou sobre os nervos dela como o mel quente. Bella deslizou as mãos mais acima para a atadura empapada de sangue.

      —Nisso tem a carta correta do baralho.

      —Talvez tenha as cartas corretas de outros baralhos, também.

     —Não apostaria dinheiro nisso.

     Ela notou que ele não o negava completamente. Sam MacGregor era um homem honesto, talvez um pouco evasivo. A improvisada atadura estava rígida com o sangue seco. Tomaram-lhe uns quantos minutos desatar o nó.

      Quando separou os bordos, teve uma visão total do buraco em suas calças e uma olhada da ferida em carne viva debaixo. Seu estômago se revolveu. Respirou fundo. Já não podia dar o luxo de ser fraca.

      —Creio que decidirei por mim mesma onde pôr meu dinheiro.

      E agora mesmo tudo o que ela tinha viajava em Sam. Colocando o sujo lenço no chão, ela indicou suas calças.

     —Como pus meu dinheiro em você, apreciaria sua ajuda.

      O humor se aderiu a sua expressão quando ele empurrou seu chapéu para trás.

     —Quer que me tire as calças?

     Seu rubor se elevou e sua boca se secou.

      —Isso seria de utilidade.

     Outra vez lhe roçou as têmporas com os dedos. E logo os dedos estiveram sob seu queixo, lhe levantando o rosto.

     Os sentidos de Bella estavam sintonizados pelos quatro pontos de pressão, a brandura da luva de couro, a essência de sua pele, o frio azul de seus olhos.

      —Se alguma vez você me perguntar isso com algo mais de bom aspecto em mente, os terei fora antes que possa piscar.

     Ela necessitou um segundo para processar o significado através da intensa percepção que existia entre eles. Estava-lhe dizendo que não. Ela retirou esses pensamentos de sua mente. Era inaceitável.

     —Têm que ir-se agora.

     Então ela poderia conseguir olhar a feia ferida, entre outras coisas.

     O fogo arrebentou. O aroma do pescado assado foi a deriva. Isabella enrugou seu nariz. Sam sorriu abertamente. Seu polegar tocou seus lábios.

   —Dê-me o frasco e o equipamento.

     Ele não podia querer dizer o que ela pensava que dizia.

     —Por quê?

     —Porque estou cansado, faminto e não levo calções largos.

      Bom, isso era um fato interessante.

      —Não pode curar-se você mesmo.

      O sorriso dele se alargou. Seu polegar pressionou mais forte. Ela tomou fôlego enquanto seus lábios se separavam. O aroma de couro e fumaça… o aroma de Sam… invadia sua boca em um movimento vagaroso, tão forte que ela podia degustar a ilusão de seu sabor.

      —Posso fazer muitas coisas que ampliariam sua imaginação.

     —Já não falamos de suturar sua ferida, verdade?

     —Deveríamos.

     Seus dedos pressionavam para cima em uma ordem silenciosa. A rigidez em suas pernas fazia que ficar em pé fora mais difícil do que deveria. A fome nos olhos de Sam o fazia ainda muitíssimo mais difícil. Nem sequer Tejala a tinha olhado com tal desejo.

    —Para futuras referências, Bella, ficar de joelhos diante de um homem não é uma boa idéia.

     —Por quê?

     Seu apertão trocou para seu antebraço enquanto a ajudava a levantar-se os últimos poucos centímetros.

     —Isso pergunte a seu marido.

      Não foi imaginação dela que seus dedos se demoraram em seu antebraço. Nem que onde seus dedos se atrasaram, pareceu que fogos diminutos se expandiam sob sua pele.

      —Não estou casada.

     —Então terá que esperar ao por que até que o esteja.

     —Isso requereria paciência. — Ela retrocedeu, o calor de seu olhar encontrando estranhamente uma casa sob sua pele — Não tenho muita paciência.

     —Estou começando a compreender. —Alcançou o topo da bota — Date a volta.

   —Por quê?

     Tirando uma faca de aparência fera, deslizou-o no buraco de suas calças. O material se rasgou sob a mortal folha.

     —Porque hoje foi o bastante mau sem ti devolvendo seus intestinos no chão.

   Ele via muito.

      —Posso controlar o estômago.

     Colocou a lâmina da faca no fogo. Um rápido olhar mostrou o sulco esculpido no músculo duro da coxa. O sangue se escorria em um fluxo lento. Sua garganta subiu e por uma fração de segundo ela pensou que realmente vomitaria.

     Com um suspiro, ele ficou de pé. Ela se sentiu como um monstro quando ele respingou. Como resultado, não ofereceu resistência quando ele a tomou pelos ombros com as mãos.

     —Nos faça um favor a ambos e me mostre quão dura é amanhã.

      Com isso, girou-a. O peso das mãos não era desagradável. Sua reação para ele a confundia muito.

     Os minutos se estiraram. Nenhum som veio dele. Isabella se haveria sentido melhor se tivesse gemido ou grunhido. O silêncio a deixava com nada exceto sua própria imaginação para encher o vazio.

      —Deveria me deixar te ajudar.

      Ele grunhiu. Algo caiu ao chão com um pequeno golpe.

     —Não há muito que fazer. É só um corte.

      —Então por que necessita a faca?

      —A bala estava entravada um pouco sob a pele.

      O pequeno golpe.

      —Está fora?

     —Sim.

      Ela se deu a volta. Ele estava atando uma atadura fresca sobre a ferida.

      —Não a costuraste.

     —Não há necessidade.

     —Cicatrizará.

     O pensamento disso a incomodou.

     —Outra não me matará.

       —É desnecessário.

      —Uma agulha e o fio sim que são desnecessários. Especialmente com o jantar esperando.

      Isabella não podia esquecer-se do tamanho do sulco agora oculto pela atadura branca. A cicatriz seria grande. Desnecessariamente danificaria para sempre a beleza da coxa. O perigo da infecção era muito real.

     —Tua perna é mais importante.

     Ele agarrou o frasco.

      —Diga-lhe a meu estômago.

     O aborrecimento, irracional e quente, golpeou-a. Não tinha costurado a ferida, e agora esbanjaria o único que tinham para tratá-lo? Arrebatou-lhe o frasco da mão.

      —Não é tão grande e mau como para que uma infecção não te visite.

      —Deixa isso, Bella, antes que te golpeie o traseiro por interferir com o licor de um homem.

      A advertência em seu tom só alimentou o ressentimento que se vertia sobre ela. Não tinha direito a falar-lhe assim, ameaçando-a como a uma criança. Arriscando-se sem razão.

     Descarregou o licor sobre a atadura. Muito tarde se deu conta do que tinha feito. Deixou cair o frasco.

     —Oh, mãe de Deus!

     A cara de Sam se ruborizou e na boca lhe desenhou uma careta de agonia. Ela nunca tinha ouvido tais palavras como as que vieram de sua boca quando ele se agarrou a atadura empapada. Nem as que seguiram uma vez que o álcool encontrou a ferida. A mataria.

     Sam ficou de pé. Isabella correu. Ele a agarrou antes que tivesse dado cinco passos.

     —Maldição, volta aqui.

     Com um puxão, foi com ele, girando-se, os punhos acima como tinha visto fazer a seu guardião Zacharias quando ia soltar um murro.

     Sam só estava sustentando-a, respirando como se tivesse corrido quilômetros, os olhos entrecerrados, a boca uma linha plana… e olhando fixamente.

     E então, lhe agarrando os punhos na mão, riu-se. Uma risada verdadeira que escaldou seu orgulho. Uma risada que fez não lhe importasse quão bonito era. Uma risada que a teve lutando grosseiramente quando a atraiu a seus largos braços e deixou cair um beijo na ponta do nariz. E logo na boca. Seu primeiro beijo e ele não tinha perguntado!

      Lutou com mais força. Ele não dava atenção, só manteve os lábios sobre os seus, deixando que sua luta ditasse a pressão das suaves carícias e rápidos puxões. As coxas de Bella roçaram as dele, o peito contra seu abdômen. As lutas diminuíram enquanto o aborrecimento mudava a algo mais suave, algo tão frágil como o seguinte roçar de sua boca sobre a dela. Sam lhe abriu os braços, atraindo seu delicado corpo contra o seu muito maior. Os lábios se separaram só uma insinuação. Havia umidade em seu fôlego e logo a surpresa de sua língua deslizando-se, suave e tentadora, pela costura dos lábios. O relâmpago estalou em um arco brilhante por suas terminações nervosas, fazendo-a ficar nas pontas dos pés antes de empurrar-se para trás.

      Sam a deixou ir. Ela não se retirou imediatamente, a ira e algo mais a mantinham com os pés plantados no lugar. Embora ele estivesse a trinta centímetros, Isabella ainda podia sentir a pressão dos lábios, o calor do fôlego, a tentação que apresentava. Porque a fascinava tanto?

      Apertou os punhos.

     —Não tinha direito a fazer isso.

     —Tem razão. Sinto muito.

     Não soava arrependido, mas ela o estava.

     —Sinto ter vertido o álcool em sua ferida. Embora precisasse ser feito, não o deveria ter feito desse modo.

      Ele inclinou a cabeça com o fantasma de um sorriso nos lábios.

      —Não pode evitá-lo, verdade?

      —O que?

     —Soar tão altiva e poderosa.

     —Acredito que meu pobre inglês dá a impressão de arrogância.

     O sorriso do Sam se ampliou.

     —Sim, é provável.

     Ela tinha a clara sensação de que ria dela. Não tinha direito a rir. Ele estava tão equivocado como ela. Pondo as mãos nos quadris, desafiou-o.

      —Os beijos não deveriam ser roubados.

     —De acordo.

     —Deveriam ser dados livremente.

     Ele se girou e se dirigiu ao fogo, forçando obviamente a perna ferida.

     —Ninguém está discutindo contigo, Bella.

     Ele não precisava ser tão agradável quando ela queria lutar. Seguiu-lhe mais lentamente, a consciência lhe grunhindo. O álcool ainda devia queimar. A verdade saiu de repente como sempre o fazia quando se sentia culpada.

     —Possivelmente discuto comigo mesma.

     Sam se sentou outra vez na pedra e atirou um dos paus ao fogo. Um pedaço do filete caiu. Em um movimento quase muito rápido para que ela o visse, ele o apanhou, atirando-o em sua mão para esfriá-lo. As sombras saltaram na parede em acompanhamento selvagem. O coração de Bella saltou com o mesmo tonto entusiasmo enquanto ele lhe levantava uma sobrancelha.

      —Agora, por que faria isso?

     Ela o devia pela maneira em que tinha limpado sua ferida.

     —Porque penso que está equivocado em desfrutar de beijos roubados.

      Sua expressão se fez impenetrável.

     —Muito provável.

      Ela tinha escolhido a honradez como uma penitência, mas não tinha nem a menor idéia de que seria tão duro. Seria mais fácil lhe permitir continuar pensando o que obviamente estava fazendo —que falava dele — mas isso não seria justo. Com as bochechas ardendo mais quentes que o calor que soltava o fogo, cochichou.

     —Mas desfrutei dos teus.

     Ele deixou cair o peixe ao fogo. Foi o único sinal de que suas palavras lhe tinham desconcertado.

      —Por quê?

     Havia um limite a quão longe lhe compensaria e ele o tinha alcançado.

      —Não sei por que. — Olhou-lhe enfurecida — É um homem muito provocador. Com todo o direito deveria lhe atirar-lhe.

     Ele tirou o jantar do fogo.

     —Ao homem que salvou sua vida?

     Ela se sentou na pedra a um par de metros de distância.

     —Isso me converteria em uma ingrata.

     Entregou-lhe o outro filete. O único livre de cinza. A consideração a fez sentir-se ainda mais culpada.

     —Mas?

     Era um homem ardiloso para ouvir o mais em sua voz.

     —É irritante.

     —Porque não costurei um corte?

     Isso e outras coisas, mas dado que as outras coisas eram preocupações sem nome em sua mente, conformou-se com um singelo:

     —Sim.

     Ele mordeu seu peixe. Ela arrancou um pedaço do seu. Era um pouco grande, mas estava em uma gruta, no deserto, comendo de um pau. Seguro que as maneiras podiam ser flexíveis.

      Ele esperou até que ela teve o pedaço muito grande na boca antes de dizer.

     —Se pensas que isso é irritante, seguro que não quero ver o que fará ante o fato de que estaremos compartilhando uma esteira.

     Compartilhar uma esteira com Sam não tinha sido o emocionante assunto proibido que deveria ser. Aqui estava ao dia seguinte e ela era tão imaculadamente virgem como quando se deitou a noite anterior. Que lástima. Não tinha querido que a violasse, mas lhe teria gostado de ter uma pequena história sobre a noite que tinha dormido com o infame Sam MacGregor. Algo mais que o que ele tivesse enrolado em um vulto uma manta de cavalo, para pô-la entre eles como uma divisão, logo rodou sobre suas costas e lhe ordenou com voz brusca que fora a dormir. Não era o que esperava de um homem com sua reputação.

     O qual só demonstrava o que a exagerada lenda podia lhe fazer a reputação de um homem. Inclusive em seu pequeno povoado de Montoya, tinham ouvido dos Oito do Inferno e de «Gato Selvagem», MacGregor, um homem tão frio que supostamente podia seduzir ou matar com um sorriso. Ela entendia completamente a razão do último, ao havê-lo testemunhado recentemente, o que só deixava a pergunta do por que ele não a seduzia. Era tão pouco atrativa para ele? A pergunta lhe causou moléstias tão exaustivamente como o couro da cadeira irritava o interior de suas coxas a pesar de suas roupagens e finas meias de linho. Esta terra podia ser muito dura com as coisas mais finas.

     Ela afirmou suas mãos no pomo da sela e se elevou. O breve alívio em seu traseiro foi bem-vindo. Diante dela, Sam montava comodamente, sentando-se na sela como se fora uma extensão do cavalo. Nada do cansaço que a embargava se mostrava na postura dele. O sol ao ocultar-se detrás deles refletia a prata das abas de seu chapéu negro. Ela jogou uma olhada sobre seu ombro. O pôr-do-sol era magnífico. Inclusive mais magnífica era a silhueta de outro povoado iluminado a contra luz por um rosado e alaranjado fulgor. Apostava que havia um hotel nesse povoado, e um macio colchão. Explorou o contorno desvencilhado dos edifícios. Bem, talvez não macio, mas menos duro que a sela.

     —Não tem sentido desejar algo que não vai ser - lhe recordou Sam.

     Como tinha sabido o que estava pensando? Ela baixou cautelosamente seu traseiro até a cadeira.

     —Só estava admirando o pôr-do-sol.

     —Pensei que estava fraquejando pelos luxos do povoado.

     Zangou-a que nem sequer se incomodasse em olhá-la enquanto lhe falava, só presumia de saber o que ela estava pensando. A pesar de que tivesse razão.

      —Não vejo que poderia doer o parar por uma noite. Derrotaste aos homens de Tejala.

      —Prejudicar por uma noite.

     —O que?

     —A frase é «o que poderia prejudicar».

     —Prejudicar, doer. —Ela rechaçou sua correção com um movimento da mão enquanto suavemente urgia a Ervilha Doce a alcançá-lo. Poderia ter tido êxito, exceto pelo cavalo de carga que eles tinham tomado depois da batalha de ontem que ofereceu resistência. Ervilha Doce retrocedeu agitado. Um beliscão dos dentes de Kell logo fez mudar de idéia ao cavalo de carga. Ervilha Doce retomou o passo até que seu nariz roçou o flanco de Breeze — Nenhuma é adequada.

     —Tem um ponto.

     —Então, por que não podemos ficar no povoado?

     —Sou um homem cauteloso.

     —Não pelo que ouvi.

     Ele se removeu na sela. O suficiente para que ela captasse um vislumbre de seu perfil. Era tão intransigentemente bonito como o resto de sua cara, e tão imponente. Sobre tudo com o indício de um sorriso que enrugava a comissura de sua boca.

      —E crês em tudo o que ouve?

     Depois de observar derrotar aos bandidos no último povoado e caminhar ousadamente frente a uma rajada de balas para lhe salvar a vida?

     —Sim.

      A ruazinha se converteu em uma curva. Ele reduziu a marcha de seu cavalo até que ela chegou a seu lado, logo se girou para estar frente a ela.

     —Terei isso em conta.

     Ela empurrou a asa de seu chapéu fora de sua cara. Ele tinha um formoso sorriso - inclusive com dentes brancos e lábios finos. Provavelmente não havia uma mulher a que lhe tivesse pedido que fora a sua cama que lhe tivesse rechaçado. Perguntou-se se elas tinham notado quão raramente seu sorriso alcançava os olhos.

     —Exatamente aonde vamos?

      Ele a percorreu com esses olhos em uma leitura lenta, fazendo-a vivamente consciente do fato de que ainda se sujeitava ao pomo da sela e também de sua promessa de não fazê-lo demorar.

     —Um pouco dolorida pela sela?

     —Que nada.

     Essa era provavelmente a mentira maior de sua vida. Teria muito que confessar a seu sacerdote quando voltasse para casa.

     Sam empurrou para trás seu chapéu até o menor pedaço. O sol caiu sobre seu rosto, reaparecendo as partículas mais profundas de seus olhos em fragmentos de fogo azul. A pesar que se sentasse relaxado na sela, irradiava uma energia que crepitava. Ou talvez fosse só sua consciência dele o que dava a impressão de crepitar. Ela nunca tinha encontrado a um homem que a fizesse tão consciente do peso de seus peitos, a brandura entre suas coxas, as muito particulares diferenças entre homem e mulher.

     —É bom sabê-lo. Espero continuar por outras três horas.

     Três horas? Suas coxas estariam em carne viva para esse então.

     —Escurecerá dentro de meia hora.

      Ele assinalou a esquerda.

     —A lua deveria nos dar suficiente luz para viajar.

      Ela não tinha notado que a lua estivesse em quarto crescente. Tentou-o outra vez.

      —E o que com o jantar?

     Ele se girou para trás, vasculhou em uma bolsa aberta e tirou um pacote envolto em tecido.

     —Aqui o tens.

      Ela teve que deixar de sujeitar o pomo da sela para tomá-lo. Tentou dissimular, mas soube que ele tinha visto sua careta quando suas coxas suportaram seu peso.

      —Obrigada.

     Ela desembrulhou o tecido. Em seu interior havia duas bolachas e quatro tiras de carne-seca. Nem sequer uma porção completa de comida. Seu estômago grunhiu. Não tinha comido desde essa manhã, e não muito. O pescado não era seu prato favorito. Sam se estirou e tomou as rédeas de Ervilha Doce. Com um movimento rápido de seu pulso as sacudiu sobre a cabeça do cavalo.

     —Guiarei a Ervilha Doce daqui enquanto come.

      Ervilha Doce puxou as rédeas. A comida se cambaleou em sua mão. O jantar quase lhe caiu ao chão.

     —Tome cuidado!

     —Sempre sou cuidadoso.

     Ela tomou uma peça de carne-seca antes de envolver o resto da comida.

      —Nisso não acredito.

      —Por que não?

     Ela inclinou a cabeça. Quanto contar?

     —Penso que não lhe preocupa muito se vive ou morre, assim faz coisas loucas.

     Ele piscou e seu sorriso diminuiu.

      —Isso é o que pensas?

      —Sim.

     —Pensas muito.

      Era pensar muito ou gemer pela condição de suas coxas.

     —Deveria estar agradecido por isso.

      —O que te faz afirmá-lo?

      —Se eu não pensasse, não teria nada que afastasse minha mente do povoado que acabamos de passar. Pensar no povoado me faria pensar em hotéis e colchões macios. Pensar no colchão que deixei me faria me dar conta de quão infeliz que sou. Ser infeliz me põe triste. Estando triste…

      Ele ergueu a mão.

     —Adiante segue pensando.

     —Obrigada. —Ela sorriu e deu uma dentada a carne-seca. Havia bondade nele.

     Ele esperou a que ela começasse a mastigar antes de lhe perguntar:

     —Está preparada? Podemos avançar agora?

     As boas maneiras ditavam que ela não devia falar até que tivesse terminado de mastigar. Se ela acatasse as boas maneiras, ainda estariam ali de pé até amanhã de noite. A carne-seca estava muito dura. A única opção era dar uma cabeçada.

     —Continuemos, então.

      Ela não pôde deter seu gemido quando o cavalo deu o primeiro passo. Sam jogou uma olhada sobre seu ombro.

      —Quando fugia da equipe de Tejala durante os últimos seis meses, não passou muito tempo a cavalo, verdade?

      —Não. —Ela deu outra dentada a carne-seca. Estava salgada, e condimentada com uma especiaria que não reconheceu, mas para um estômago vazio estava muito bem.

      —Onde te escondeu?

      —Em uma gruta.

     —O que fez que abandonasse seu esconderijo?

      —Os homens encontraram a gruta. — Homens maus com a idéia de violação em suas mentes.

      —Os homens de Tejala.

      —Não. Outros.

       —Isso deve ser um inconveniente.

     —Esse não foi meu melhor dia.

      Com um estalo de sua língua, Sam urgiu a Ervilha Doce a retomar o passo. O cavalo imediatamente obedeceu. Isabella tinha notado que sempre acontecia isso. Os animais gostavam de Sam. A verdade era, que ela também. As vezes por motivos que podia definir e outras vezes por motivos que não entendia, mas que eram mais irresistíveis que aqueles que entendia. Deu outra dentada. Era um homem muito interessante.

     —Aonde vamos?

      Ele assinalou ao sol que se ocultava.

     —Outro povoado?

     —Não.

      Ela mastigou um pouco mais e tentou outra vez.

      —Um lugar que ao menos tem uma tina?

      Ela manteve a carne-seca em sua boca enquanto esperava a resposta.

      —Não, mas há um charco.

     Ela tragou a carne-seca.

     —Isso bastará.

      Outro puxão nas rédeas de Ervilha Doce fez que ficasse a corrente.

     —Pensa com muita ilusão em um banho?

     —Você não?

     O lado de sua boca que ela podia ver se curvou em um sorriso familiar.

     —Está sugerindo que me faço o pronto?

     —Eu não sugeriria tal coisa a um homem.

     —Só planeja sofrer em silêncio?

      Ela abriu o guardanapo e rompeu uma parte de bolacha.

     —Raramente sou silenciosa, sobre tudo quando sofro.

      Se antes pensava que seu sorriso era atrativo, não era nada comparado com quão formosa era quando a emoção o embargava.

      Ela necessitou um momento para recordar respirar.

      Ele de um puxão baixando o chapéu, cobrindo seus olhos, deixando só sua boca para concentrar-se nela. Era uma boca muito expressiva, que lhe dava certo matiz de falta de moderação. E agora mesmo ele estava divertido.

     —Terei isso em conta.

     Com um estalo de sua língua ele seguiu adiante, abandonando-a com um formigamento estranho em seu estômago e um calor que infundiu a sua pele de uma radiante sensibilidade. O que tinha este homem? Por que tinha tal efeito nela? Havia muitos homens bonitos no rancho Montoya. Muitos homens que caminhavam com graça, lutavam com poderio, confrontavam a morte com coragem. Homens que tinham um ar perigoso, mas nenhum deles tinha o que Sam tinha. Nenhum deles tinha seu ousado atrativo masculino que se metia sob sua pele como um raio líquido. Ele podia ter a qualquer mulher que quisesse, estar com qualquer uma com a que desejasse estar. Mas ele estava aqui. Com ela. Isso tinha que significar algo. E se não o fazia, tinha que haver um modo para que ela fizesse algo a respeito. Algo bom.

      A primeira vez que o tinha visto subir a costa, ela tinha estado rezando, pedindo a Deus que lhe enviasse uma solução a seu problema. Envolvendo o resto da bolacha no guardanapo para impedir que se desmoronasse, ela se perguntou… Fez que Sam fora a resposta a sua oração?

      Mordeu mais carne-seca, mastigando pensativamente. Era uma idéia estranha, mas também tinha sido uma oração estranha. Além disso, qual era o ponto de rezar se um não fora a acreditar que de vez em quando uma oração teria resposta?

      Inclusive se a sincronização da chegada do Sam era pura coincidência e não se devia a intervenção divina… ela era consciente que poderia convencer-se a si mesmo porque desejava que fosse assim… Sam ainda era uma solução ao seu problema com o qual podia viver facilmente. Ela não se enganava com que Sam fosse um homem para sempre, mas era um homem que provavelmente poderia lhe proporcionar a felicidade que se dizia que uma mulher podia experimentar na cama. Ele não se preocuparia de sua modéstia, de ofendê-la. Se era correto ou incorreto. Simplesmente tomaria o que queria, dar-lhe-ia o que ela necessitava. Nem mais, nem menos. Exatamente pelo que ela tinha rezado. Isso podia funcionar.

      Tejala a desejava como uma virgem sacrificada ante o altar de seu poder. Como uma prova para a gente de seu povo de que ele era invencível. Que eles lhe deviam sua existência, e que podiam contar com sua benevolência tão somente enquanto se rendessem a sua vontade. Por isso não a tinha tomado pela força. Tinha-a deixado tombada na lama, jurando que antes que se casasse com ela, arrastar-se-ia lhe pedindo a honra de ser sua esposa… a honra que ela tinha rechaçado. Primeiro tomaria seu orgulho, logo a levaria a casa e finalmente tomaria sua vida. Se ela o permitisse.

     Não tinha vontade de permiti-lo.

      Estudando Sam, observando sua postura naturalmente agressiva, seus amplos ombros até os estreitos quadris, o revólver que repousava em seu quadril, viu um homem criado para lhe dar dores de cabeça a Tejala. Tejala nunca aceitaria ser o segundo homem, como ela nunca aceitaria a Tejala como seu primeiro homem. Podia não ser capaz de ganhar a guerra, mas o sujeito a quem ela entregasse sua virgindade… essa batalha sim que podia ganhá-la.

     Sam era um guerreiro como Tejala, mas com uma diferença. Tejala fazia que sua pele se enfermasse, mas Sam fazia que ela desejasse meter-se sob sua pele. Onde ela estaria segura. Possivelmente essa era a diferença. Deu outra dentada a bolacha seca. Seu pai sempre lhe havia dito que quando encontrasse a um homem que lhe fizesse sentir-se segura, quem fizesse que seu coração corresse, um a quem outros respeitassem, então ela estaria observando ao homem que Deus tinha feito para ela. Ela fez caretas. Como uma menina lhe tinha acreditado. Como uma adulta sabia que as coisas eram mais complicadas.

     Seu pai tinha sido um romântico. Um bom homem, mas de alguma forma pouco prático. De todos os modos, havia mérito em suas palavras de observar a seu amante. Muito mais que no conselho que sua mãe lhe tinha repartido.

      Sua mãe era o oposto a seu pai… o prático frente ao coração. Isabella sempre tinha pensado que sua mãe tinha muito pouco respeito por seu pai. Seu matrimônio tinha sido arrumado. Um bom matrimônio produto de um contrato que unia limites de algumas propriedades. Não acreditava que sua mãe tivesse perdoado alguma vez a seu pai por ser apanhado pelo entusiasmo e o romance de fazer fortuna, deixar a Espanha e vir a este território. Sua mãe teria estado contente de ser a esposa do terceiro filho de uma família respeitável. Mas não estava contente de ser a esposa do único aristocrata nesta nova terra.

     Aquela insatisfação a levou a querer mais para a Isabella. Aos olhos de sua mãe, Isabella tinha que voltar para a Espanha para encontrar marido. Salvo que ela tinha que casar-se com Tejala e assegurar o futuro da família na terra a qual seu pai tinha decidido lhes trazer. Sua mãe era uma grande crente na exploração das regras da sociedade na qual se desenvolvia. Também Isabella. Só que não da mesma forma.

     Os diferentes pontos de vista de seus pais tinham esmigalhado a sua família, forçando a Isabella a fugir, matando a seu pai. Fechou os olhos contra aquela lembrança, tudo se voltou negro ao redor dela, deixando só a voz de seu pai chamando-a por seu nome, a risada de Tejala, uma orvalhada de sangue golpeando o papel, um gorjeio horrível e logo nada. Não mais dor, não mais sonhos. Nada exceto o vôo e o conhecimento de que cada dia podia ser o dia em que Tejala encontrasse a forma de obrigá-la a arrastar-se. Como se alguma vez se arrastaria ante esse filho de cadela.

     —Se não relaxar esse punho, seu jantar vai converter-se em migalhas.

     Isabella olhou para baixo. Tinha o guardanapo tão apertado que o conteúdo espremido escapava de entre os dedos.

     —Sinto muito.

     Retirou a esquina do guardanapo. Uma das bolachas tinha sobrevivido bastante intacta. A carne-seca era invulnerável ao assalto. Urgiu a Ervilha Doce a aproximar-se mais de Breeze, chiando os dentes contra a agonia nas coxas. Sustentando o alimento, ofereceu-lhe a bolacha intacta.

     —Esta não sofreu muito.

     Esses olhos muito observadores lhe tocaram a cara. Ela não se olhou em um espelho ultimamente, mas sabia por como sentia a cara quando se lavava em arroios que tinha perdido a gordura nas bochechas. Seu pai estaria horrorizado. Não lhe preocupava isso, mas desejava perder um pouco da gordura no peito. A atadura que evitava que seus mais que amplos seios expulsassem dolorosamente era quente. E lhe produzia uma erupção irritante se tinha que fazer um grande esforço. Como tinha tido durante os passados dois dias. Só pensar na erupção a fazia pensar que picava, o qual se convertia imediatamente em uma necessidade horrível de coçar-se. É claro, com Sam olhando-a tão de perto, não se podia coçar nada. Sustentou a bolacha.

     —Deve ter fome.

     Os olhos azuis estavam escuros. O nariz se dilatou e seu olhar viajou por sua figura.

     —Posso esperar.

     Ela ficou sem respiração. Não estava falando de alimento, mas porque não podia pensar em como responder seguiu fingindo.

      —Não é possível que eu possa comer tudo isto.

     Ervilha Doce deu um passo em uma vala, lhe dando um puxão nas coxas contra o bordo áspero da sela. A dor foi muita. Deixando cair o pacote de alimento, agarrou-se ao pomo, um gemido rouco saiu de seus lábios. Kell despachou rapidamente seu jantar. Uma mancha cinza, um fechamento de dentes e desapareceu.

      Umas mãos fortes lhe cavaram a cintura. Chiou enquanto Ervilha Doce dava um passo ao lado, e de repente esteve caindo. Mas só por um segundo. Logo foi levantada e o traseiro conectou com as duras coxas de Sam. Cruzou-lhe o braço pelo estômago, assegurando-a no lugar. O chapéu caiu para trás, ficando apanhado entre o ombro de Sam e suas costas. A corda se cravou como uma forca ao redor do pescoço. Agarrou-a, chutando com os pés, arrancando o laço.

     As mãos de Sam substituíram as suas, trabalhando entre a corda e o pescoço.

      —Tranqüila, agora.

     Não podia respirar. Roucos ofegos se entupiram em sua garganta, lutando por liberar-se. Estava-a sufocando. Arranhou-lhe a mão.

     —Isabella!

     A chamada de atenção se deslizou sob o pânico, lhe dando algo ao que aferrar-se. Abriu os olhos. A cara do Sam estava a centímetros. Sam. Não Tejala. A mão estava no ombro. Falava-lhe.

     —A corda se foi. Pode respirar, Isabella. Abre a boca e aspira algo deste agradável e fresco ar noturno.

      O fazia soar tão simples. Solo respirar dentro e fora. Nada muito especial para a maioria das pessoas. Mas ela tinha horror a ser estrangulada. Vinha nos momentos mais estranhos. E geralmente diante de pessoas que preferiria que não soubessem. Como agora. Com Sam.

     O polegar lhe acariciou a mandíbula.

     —Agora, Isabella.

     Sustentou o olhar e o tentou. A obstrução na garganta se limpou. Tomou um fôlego, e logo dois. O ar da noite era doce. Por outra parte, qualquer ar era doce depois de estrangular-se quase até a morte. Tocou-se o pescoço, meteram-se os dedos sob a corda frouxa do chapéu e o tirou.

      —Sim, penso que podemos prescindir disto durante um momento. —Sam tomou o chapéu e o enganchou sobre o corno da sela. As pontas dos dedos substituíram as dela na garganta. Só as pontas, riscando o lugar onde a sensação da forca perdurava. Como se soubesse. Ficou ofegante outra vez. O moveu a mão ao ombro, justo sob o pescoço da camisa. Por alguma razão que pôde discernir, ela se desculpou.

     —Sinto muito. Eu não gosto que me toquem a garganta.

     Os olhos se atrasaram onde seus dedos tinham estado.

     —Adverti-o. Alguma razão em particular?

     Ela se encolheu de ombros, lhe roçando o peito. Era uma coisa escandalosa sentir o peito no braço, as coxas sob as suas.

     —Só me desagrada.

     Os calos das pontas dos dedos lhe fizeram cócegas a pele. Quase esteve agradecida quando a mão deixou o ombro e se moveu a malha da camisa. O calo áspero agarrou a malha, arrastando-o um pouco enquanto os dedos riscavam a forma do braço, da curva do cotovelo antes de chegar a mão. Por alguma razão tola esperava que a tomasse. Não o fez, mas os dedos se moveram da mão a saia, abrindo e fechando-os enquanto recolhiam o tecido. Seu olhar era tão intenso, seus olhos tão formosos, os formigamentos que lhe estendiam do pescoço as mãos tão fascinantes, que não se deu conta do que ele estava fazendo a princípio. Mas quando o ar fresco lhe golpeou os joelhos, a realidade veio chocando detrás.

     —O que está fazendo?

     —Bem, poderia estar planejando te levantar as saias.

     —Estamos em um cavalo.

      —Não sigo seu ponto.

     As pessoas podiam fazê-lo em cavalos?

     —Não pode falar a sério.

     Era difícil de dizê-lo com sua visão bloqueada pelo sol poente, mas estava bastante segura das dobras nas comissuras de seus olhos profundos, o que significava que estava divertido.

     —Duquesa, alguém descuidou tristemente sua educação.

     —As mulheres não são educadas em tais coisas.

      —Estraga. —Sua resposta foi dada em voz baixa e profunda, com um matiz sensual que espessava seu acento. Amava esse acento. Era tão diferente de seu idioma natural, e diferente do inglês falado pelos poucos brancos que tinha visto. Sua eleição da palavra era mais cheia, sua gramática melhor — A minha o seria.

     Ela ofegou, e não porque fora uma coisa tão proibida que dizer, mas sim porque essa coisa encontrou um lar dentro dela. Podia imaginar-se a este homem fazendo coisas selvagens com sua mulher. Podia imaginar-se a sua mulher desfrutando disso. Podia imaginar-se sendo sua mulher.

     Só o imaginar o enviou formigamentos por seus braços que saltaram as coxas, sensibilizando a pele que pareceu inchar-se na curva da palma de Sam. Entre as pernas as partes privadas se incharam, também, e o batimento do coração recolheu o ritmo. Isto era desejo, deu-se conta. A malvada coisa que a mantinha de joelhos na igreja. A queda da humanidade. Esta era a razão pela que Tejala a perseguia Para sentir isto com ela. Para ser o único em sentir isto com ela. Não aconteceria.

    Fechou os olhos quando a mão de Sam continuou lhe levantando a saia, atraindo valor para seu propósito, mas não falta de descaramento. Simplesmente não podia sorrir e fazê-la agradável enquanto Sam expunha suas pernas. Ainda tinha bastante de sua educação para fazê-lo impossível.

     —O que passa por sua cabeça, Isabella?

     —É realmente possível ter relações em um cavalo?

     A mão deixou de mover-se. Contra seu flanco, o peito de Sam se expandiu ao respirar e logo se deteve. Realmente lhe tinha surpreendido. Tinha a sensação de que não muitas pessoas o faziam.

     Ele deixou sair o fôlego lentamente.

      —Sentimento aventureiro?

      A aventura implicava risco.

      —Ter relações em um cavalo é mais difícil que em outra parte?

     Os olhos de Sam se estreitaram e a cabeça caiu a um lado.

     —Me sentiria muitíssimo melhor respondendo a essa pergunta se não seguisse referindo-se as coisas como «relações».

     —Meu alcance de seu idioma não é bom. Não sei outra palavra.

     —Recolhi um pouco de espanhol aqui e ali, por que não diz as palavras que sabe por mim?

      E admitir que não conhecia nenhuma palavra? Não o acreditava.

     —Conheço uma palavra em inglês, mas não acredito que seja uma que uma dama use diante de um cavalheiro.

     As sobrancelhas do Sam subiram.

     —Não a diz?

     —Não pareça tão ansioso. Não é uma palavra que direi.

     Ele sorriu. Um verdadeiro sorriso.

     —Medrosa.

     Sim, o era. Em muitos sentidos.

     Agarrou-se o lábio entre os dentes. Estava dando um passo muito grande, provavelmente um que não deveria estar tomando sem pensá-lo muito, um que a desterraria para sempre de sua família, arruinada aos olhos da sociedade, caída aos de Deus. Mas os homens de Tejala estavam perto, e amanhã possivelmente fosse muito tarde. Não era o bastante insensata para pensar que poderia ganhar neste jogo com o bandido para sempre. Algum dia seria enganada e lhe arrebatariam sua inocência. E seria desterrada de sua família, arruinada aos olhos da sociedade, ainda caída aos olhos de Deus. De qualquer modo haveria conseqüências, mas por um lado, ela faria a eleição. Do outro, a eleição seria feita por ela.

     Lambeu-se outra vez. Os olhos de Sam caíram a boca. Havia uma tensão nos músculos que não tinha estado ali antes. Uma dureza sob a nádega que não tinha estado ali antes. Por contraste, tudo em seu corpo se suavizou.

     Este homem que tinha arriscado sua vida por ela lhe interessava. Não se enganava com que Sam fora um homem aprazível. Havia um bordo afiado em sua personalidade, uma frieza em sua expressão que falava de propósito, mas havia também esses brilhos de humor, e momentos de suavidade. Mas o que mais advertiu a respeito dele foi a falta de crueldade. Era amável com seu cavalo, com seu cão. Amável com ela. Tomá-lo como amante possivelmente não fora sua pior eleição.

     Fechou os olhos, o atrevimento e a apreensão se curvaram por ela ao mesmo tempo, cavalgando o mesmo pensamento. Um amante. Tremeu. Estava considerando tomar um amante. E não um amante qualquer, e sim ao notório Sam MacGregor.

      Parecia muito mais descarado quando pensava em específico. Mas a alternativa era perder sua virgindade sendo violada e convertendo-se no troféu de um homem que odiava. Era de longe muito mais horrível. Não queria que as únicas coisas que sabia de relações entre um homem e uma mulher as ensinassem as mãos de Tejala. Não queria lhe entregar uma só vitória, especialmente o prêmio do sangue de sua virgindade. Tomar um amante obtinha muitos objetivos. Tomar um amante era prático. Sua mãe a tinha educado para ser muito prática.

     Abriu os olhos. Sam ainda lhe olhava a boca. Em um experimento, passou-se a língua sobre os lábios outra vez. O olhar de Sam seguiu cada movimento. Tomar um amante também ia ser muito divertido.

     — Acha-me bonita Sam?

     —Qualquer um te acharia bonita.

     Ainda olhava sua boca. O chiado agonizante dos sermões de sua mãe sobre os perigos de ser promíscua ressoou em sua mente enquanto colocava a mão sobre sua coxa.

     —Isso não foi o que perguntei. Acha-me bonita?

     —É formosa.

      Era tão difícil ser descarada com o sol brilhando nos olhos, expondo-a a cada matiz da expressão de Sam. Tão duro confiar com Sam olhando-a como se fora uma prisioneira tentando escapar, a mão em seu joelho era uma distração vívida. Seu diafragma se apertou. Tomou um fôlego cuidadoso e perguntou:

     —O bastante formosa para ter relações?

     —Por quê?

     Ela estava preparada para um singelo sim, tinha sua seguinte frase ensaiada. Não estava preparada para um «por que». Os homens não perguntavam por que. Só saltavam sobre a oportunidade. Perguntar por que era um insulto.

     —O que quer dizer com «por que»?

 

      Bella se esqueceu de si mesma e empurrou o ombro de Sam. Era como golpear uma parede em todos os aspectos, exceto pela inclinação que seus dedos tinham de atrasar-se contra a superfície, para explorar o saliente sólido de músculo e osso, para apartar a camisa e conhecer intimamente o calor de sua pele. Apartou a mão.

     —Um homem não lhe pergunta isso a uma mulher!

      —Me parece que é uma pergunta sensata quando uma mulher respeitável faz proposições a um homem de má reputação.

     Ele não tinha má reputação. Ela conhecia a má reputação. Ele não a tinha. O calor da carne perdurava na palma, excitando as terminações nervosas até o desejo. Fechou os dedos ao redor da necessidade.

     —É uma pergunta muito grosseira. E o fato de que estou sentada como estou é a prova de que não sou respeitável.

     —Advirto que não discute minha má reputação.

     O sol era muito brilhante. Ela não podia lhe ver a cara, mas tinha a suspeita de que ria dela.

     —Melhor que não esteja te oferecendo.

      Deu-se sombra aos olhos. Estava-o.

     —É aficionada a dar ordens, verdade?

      Era muito bonito quando sorria assim, uma comissura da boca um pouco mais alta que a outra, os olhos azuis obscurecidos pela emoção que geralmente mantinha contida. A mão lhe apertava o joelho, lhe recordando quão intimamente estavam colocados seus dedos.    Deveria ter estado surpreendida. Em vez disso, estava estranhamente sem respiração.

     —Não pensei sobre isso.

      Era mentira. Ela tendia a estar muito centrada no que queria, e começava a mostrar-se impaciente com a cortesia. As vezes era simplesmente mais fácil dar ordens as pessoas.

     —E tu não respondeste a minha pergunta.

     O sorriso se aprofundou ante seu empurrão.

     —Não. Não o tenho feito.

     Seu controle a incomodou. E a excitou. Uma combinação estranha.

     —A pergunta é simples e só requer um sim ou um não.

     Nem um músculo lhe moveu na cara, mas ela teve a impressão de que ele afundava profundamente em sua mente, vendo sob sua pele motivos que ela não desejava que advertisse. Temor. Desespero. Desejo. Por último ele falou.

     —Acredito que já estabelecemos que sou um tipo teimoso.

     Lhe tocou a ela franzir a testa. O teimoso não era bom para o que tinha em mente.

     —Isto não é uma recomendação para um amante.

     O sorriso de Sam se suavizou enquanto deslizava a mão mais acima, rodeando sob o fino cordão de seus calções, encontrando a carne terrivelmente sensível. Profundamente em seu interior, sua matriz sofreu espasmos com uma dor tão aguda que ela ofegou. Os olhos de Sam se estreitaram.

     —Então, aí é onde está equivocada. —Os dedos se deslizaram com o mais breve dos toques, roçando o interior de sua coxa, lhe pondo-a arrepiada e provocando antecipação por… mais?

     Agarrou ar e o conteve. Quão longe iria ele?

    —Se estiver de acordo em aceitar tua oferta, minha forma de ser teimosa poderia ser um verdadeiro benefício para ti.

      Ela se mordeu o lábio quando seus dedos cruzaram a linha entre a carne lisa para roçá-la.

     —E este seria um deles.

      Ainda o toque, ligeiro como um sussurro, de sua mão, ardia. Ela gritou. O braço ao redor de sua cintura se apertou. A boca de Sam lhe acariciou a orelha.

     —Qualquer um menos teimoso, duquesa, te teria cavalgando sobre o regaço com seu pênis, agradável e cômodo, em seu corpo neste momento.

     A surpresa a imobilizou. Ninguém lhe tinha falado jamais como ele o fazia, tentado como ele. Sempre tinha estado resguardada, protegida, mimada. Nunca tinha ouvido a palavra pênis, mas sabia, pela forma em que o disse, a que se referia. E estava razoavelmente segura de que não era uma palavra cortês para essa parte do corpo. Se havia tal coisa.

     Perguntou-se se esta era a maneira em que homens falavam com a mulher que desejavam ou se era um sinal de falta de respeito. Não ouviu nenhum toque de zombaria no tom de Sam, mas havia uma riqueza em seu tom de voz arrastada que não tinha estado ali antes. A mão aberta sobre a pele nua, lhe refugiando da sensibilidade do ar, colocada de modo que cobria quase a metade da coxa, reforçando em sua mente a diferença de tamanho.

     —Mas pelo contrário - continuou ele—, eu não gosto que meu prazer seja uma coisa solitária.

     Ela não tinha a menor idéia do que ele queria dizer com isso.

     —Isso significa que não me encontra o suficientemente bonita para ter relações?

      Ele afastou a mão. A pele choramingou um protesto ante a perda de seu toque, enquanto os nervos retinham a impressão da mão, muito tempo depois de que o comichão parasse. Era uma sensação estranha, mas não desagradável.

     Sam se estirou detrás dele. Ela foi sacudida enquanto ele procurava algo na bolsa. Tirou uma lata.

     —Quer dizer que não te encontro em condições de ter relações.

     Pequena e cinza, sem marcas, a lata era mais suspeita que impressionante.

     —O que é isso?

     Desarrolhou a tampa.

     —Algo para te fazer sentir melhor.

     Atirou de sua saia para cima até que se formaram redemoinhos justo debaixo dos quadris. Ela era muito consciente de seu olhar nas pernas, da brisa nas panturrilhas. Nunca em sua vida tinha exposto nem sequer o sulco da garganta. E agora este homem a sustentava em aberta exibição. Deveria estar ultrajada. E possivelmente era o ultraje o que borbulhava junto as terminações nervosas sob sua pele, chocando como a água no pico de uma fonte, mas se sentia extremamente excitante. Ele molhou os dedos no ungüento que cheirava doce.

     —Abre as coxas.

     Ela ofegou e deu um puxão. Não podia evitá-lo. O homem era surpreendente.

      Quando ele inclinou a cabeça, os últimos raios do sol poente se refletiram nos conchos que rodeavam seu chapéu, cegando-a.

      —Para alguém com pressas por ter relações sobre um cavalo, é terrivelmente nervosa.

O que se supunha que tinha que dizer a isso? Piscou contra o brilho.

     —Sinto muito.

     Se Bella entortasse os olhos, provavelmente poderia ver sua expressão. Não tinha nenhuma intenção de entortar os olhos, precisamente porque tinha a sensação de que ele ia ser mais que um pouco escandaloso, e ela necessitava alguma distância para dirigi-lo.

      —Não há necessidade de senti-lo. Só necessito que separe as coxas para poder esfregar esta nata neles.

     Possivelmente deveria ter entortado os olhos depois de tudo. Pelo menos com uma pequena tensão na cara que possivelmente tivesse evitado que a mandíbula caísse e segundo todas as probabilidades parecesse um peixe em terra lutando por respirar.

    —Como pode dizer coisas como essa?

     Ela sentiu seu encolhimento de ombros com o passar do flanco.

     —Acredito em falar sem rodeios.

      Antes que pudesse aspirar um fôlego fresco descobriu que ele também acreditava em tocar de forma clara. Por dentro de suas coxas. Onde ninguém jamais a havia tocado.

     A cabeça caída bloqueava o sol, e ela podia lhe ver uma vez mais a cara, a estreiteza sobre as maçãs do rosto, a escuridão dos olhos. Ele a desejava. Isto, pelo menos, era bom.

     O ungüento estava fresco sobre a pele enquanto o aplicava com rigorosidade metódica. Um bálsamo calmante para as irritadas terminações nervosas. Era muito mau, que esta magia não pudesse ser estendida sobre sua rota serenidade. Disse-se a si mesmo que não precisava estar envergonhada, Sam só estava tratando suas feridas. E inclusive se tomava liberdades, ela as havia convidado. Não ajudou. Estava envergonhada e insegura.

     Quando a mão alcançou a parte mais suave do interior da coxa, não pôde evitá-lo.  Agarrou-lhe pelo pulso, detendo seu progresso.

     —Posso fazer o resto.

      Em vez de recostar-se, ele se inclinou. Os lábios lhe acariciaram a orelha, enviando formigamentos quentes por sua espinha dorsal que saltaram diretamente as coxas, insistindo-as a separarem-se. Entoou sua aprovação com um movimento leve. A dor entre as pernas se pulverizou junto com o de suas coxas.

     —Está segura?

      Outra vez não pôde ver sua expressão, mas soube que a estava olhando com um sorriso na boca, metade divertida, metade provocadora. E queria lhe esbofetear por ter tanto controle quando ela não o tinha.

      Mas não podia. As mulheres que faziam proposições a um homem enquanto estavam em um cavalo realmente não tinham nenhum lugar aonde ir com suas esperanças de respeito.

     —Estou segura.

     Ela estirou a mão para cima. Por segundos intermináveis a mão jazeu entre eles, seu pedido pendurando nela, esperando sua decisão. Suspeitava que ele a fazia esperar deliberadamente. Pensava que se renderia? Tinha muito que aprender sobre ela. Podia sentar-se em seu regaço até que o inferno se gelasse ou chegasse a manhã sem render-se. Era muito boa sendo teimosa.

     Sam colocou a lata na mão. A outra mão permaneceu na coxa, as pontas dos dedos esfregavam com diminutos movimentos. Ela tirou o ungüento e o aplicou a outra coxa, os nódulos acariciando ocasionalmente as dele. Parecia tão íntimo. Tão atrevido. E ainda ele não apartava a mão da coxa. Quanto mais estava ali, mais tinha ela para pensar. Quando mais pensava sobre isso, mais consciente era. Quanto mais consciente estava, mais parecia esquentá-la a pele com a marca de seus dedos...

     Pigarreou.

     —Estamos perdendo tempo.

     —Duquesa, eu nunca considero uma perda de tempo quando tenho minha mão entre as pernas de uma mulher.

     —É escandaloso.

     Ele tomou o frasco.

     —Não sou o que tem proposto ter relações sobre um cavalo com um estranho.

     —Não é assim.

     —Não posso ver onde me equivoquei.

     Sentindo-se vulnerável, ela esfregou os restos da nata entre os dedos e atirou sua saia para baixo com a outra mão. Moveu-a um centímetro antes que ele a empurrasse para trás outra vez. Mais alto que antes. Lançou-lhe um olhar furioso e se manteve tensa, logo que evitando a exposição plena. Uma comissura da boca do Sam se curvou para cima em um sorriso. Se ele não tivesse estado tentando expor suas partes privadas, ela o teria encontrado muito atraente. O homem tinha encanto quando queria utilizá-lo.

     —Esqueceu fazê-lo neste lado.

     Ela não tinha esquecido nada.

     —Sua mão está em cima.

      —Então é justo que ajude.

      Sua mão se tragou a dela, dirigindo as pontas dos dedos cobertos de ungüento a carne, guiando-a enquanto estendia a nata na outra coxa, primeiro abaixo, logo acima, mais acima cada vez, vindo mais e mais perto da carne da mulher. Ele não a tocava, mas se sentia como se o fizesse. Até tal ponto que ela sentia que precisava deixar ir só um pouco mais a frente, e algo importante seria revelado. Ele devolveu a mão para baixo, e logo acima em uma sedução lenta que era pecaminosamente decadente. Exuberantemente erótica. E totalmente fora de seu controle.

     Isabella atirou sua saia para soltá-la e afastou sua mão da dele.

      Sam riu entre dentes, mas não lutou com ela. Era um som profundamente convidativo, extremamente sensual. A fez querer rir-se, também, por nenhuma outra razão que unir-se a ele. Franziu a testa e se concentrou em aplicar o ungüento. Foi fácil descer pelos joelhos, mas mais acima requereu que se recostasse. As costas estavam a cerca de metro oitenta de cair ao chão. Assentou-se para esfregar mais de onde estava.

     —Aqui. —O braço de Sam veio de detrás das costas—. Apóia-Te em mim.

      —Está bem. —Se a deixasse cair quebraria o pescoço.

     —Não te deixarei cair.

     —Lês as mentes tão bem como todo o resto?

     —Não é tão difícil de ler. Reclina-te.

     O fez tentativamente. O braço era sólido como uma parede.

     —Não te deixarei cair.

     Ela levantou o olhar. Já não estava sorrindo, e sua expressão era estranhamente suave.

     —Por que devo confiar em ti?

     —Sou um Patrulheiro do Texas. Meu trabalho é proteger.

     —Isso não me reconforta.

     —Que tal que cuido do que é meu?

     —Não sou tua.

     —O será se aceito sua proposição.

     —Não aceitaste.

     —Trabalho nisso.

     Isso não foi o único no que estava trabalhando. Sua mão guiava a dela mais acima, passado a parte mais suave de sua coxa até o vale do meio, parando-se contra o centro de sua dor.

     —Te tens deixado um lugar.

     Os dedos do Sam pressionaram os seu contra o duro ponto sob o algodão. O fogo se disparou por seu corpo. Ela gritou. Ele a sustentou durante a surpresa, sustentando-a através do delicioso trauma. De longe ela ouviu que Kell choramingava.

      —Tranqüila, Bella. Não lutes.

     Ele a fazia soar débil.

     —Saberás quando luto - ofegou ela.

     Os lábios de Sam pressionaram em sua têmpora, e o dedo se deslizou entre os dela, encontrando a abertura em seus calções e se afundou sob ele.

       —Aposto que sim.

      O dedo era quente, intruso, mas estranhamente excitante entre suas dobras, forçando a seu próprio dedo a deslizar-se contra esse ponto erótico enquanto o dele encontrava o buraco de debaixo.

     Ela não sabia se se encolhia com vergonha ou se se deixava cair para trás estendida completamente.

     —Aí, sente-se bem, verdade?

     Apanhada como estava entre a mortificação e alegria, só podia assentir. Ele oscilou a mão na dela, lhe dando prazer inclusive enquanto ela se dava prazer a si mesma.

      —Não te soltes. Só te permita acostumar-te a idéia.

     Do que? Estalar em chamas em direção a um homem que era praticamente um estranho?

     —É pecado tocar-se.

     —Por quê?

     Ela franziu a testa.

     —Não sei.

     O bordo do chapéu dele lhe acariciou a cabeça enquanto ele arrastou as palavras em sua orelha.

     —Então, isto é um pecado. E um que deve ser retificado.

     Ela tremeu enquanto a obscura promessa de algo perverso se deslizava por sua espinha dorsal. Sempre a tinha atraído o perverso. Sempre desejou o proibido, e agora, como se o diabo tivesse ouvido seus pensamentos, aqui estava um homem que parecia compreender a parte dela que tinha passado tantos anos enterrando sobre seus joelhos na oração. E não sabia o que fazer com ele. O disse assim, preparando-se para as zombarias. Mais que tudo, sua expressão se fazia mais suave, mais compreensiva.

     —Segue meu exemplo.

     O problema era que não a estava dirigindo a algum lado. A mão só cobria a sua enquanto esta se posava sobre seu montículo. Ela seguia esperando que se movesse, que atacasse, mas ele não o fez. Somente apertou os joelhos e o cavalo começou a andar, adicionando um ligeiro movimento bamboleante de pressão ao contato.

     —O que quer que faça?

     —O está fazendo bem.

      Não estava fazendo nada exceto sentir-lhe, a força de seus braços, o poder de seu toque, a ameaça de seu membro pressionando contra as nádegas. Estava sendo vividamente consciente de todos os lugares nos que o corpo de Sam tocava o seu, a fragilidade de sua própria mão bloqueando a dele na intimidade final. Uma intimidade a que lhe havia convidado. Inclusive recordar o fato não impedia que a tensão interior se agitasse mais apertadamente, e enquanto sentia a distinta ameaça, seu corpo continuava abrandando-se e florescendo para fora como em um convite. Sua seguinte respiração saiu com uma compreensão trêmula. Uma mulher não tinha nenhum controle em uma situação como esta.

     —Respira, Bella.

     O divertido recado veio com uma profunda voz arrastada que se deslizou como melaço escuro sobre seus nervos, apaziguando alguns, estimulando outros. Adorava sua voz, o profundo timbre rico com matizes que transmitiam tanto, mas neste momento nada revelavam. Não podia imaginar-se o que pensava dela. Uma mulher que tão descaradamente lhe tinha convidado a ser seu amante. O dedo de Sam provou sua estreiteza. Ela saltou, golpeando-o no queixo com a cabeça. Em vez de jurar, ele apertou os lábios contra a têmpora.

     —Um pouco nervosa, verdade?

     Que dano havia na honradez quando a verdade era tão evidente?

     —Um pouco.

      A mão de Sam abandonou a dela. Sentia-se mal deixá-la ali sem seu guia. Ele a deteve antes que ela pudesse tirá-la.

     —Não. Não o faça.

     Ela se congelou.

     —Por que?

     Só saiu. Desejar não dizê-lo não era melhor que desejar que Tejala não a quisesse. Sam respondeu com brutal honradez.

     —Porque eu gosto do pensamento de sua mão aí preparada para te dar prazer se lhe digo isso.

      Ela não podia imaginar-se fazendo isso. Nem sequer sabia como fazê-lo.

     —Tocar-se a gente mesmo é um pecado.

     —Isso disseste, mas para alguém que duvido que tenha inclusive uma relação muito estreita com o conceito, parece ter uma lista terrivelmente larga de coisas que são pecados.

      —Somos educadas em tais coisas.

     Sob o quadril seu membro deu um puxão.

     —No pecado?

     —Deus, não. —Muito tarde viu a zombaria em seus olhos. Sacudiu a cabeça—. Não está falando a sério.

     O sorriso era formoso, fazendo-a esquecer-se no momento da intimidade de sua posição e seu desconforto com ela.

     —Não completamente, não.

      Não completamente implicava que estava parcialmente sério. Ela se moveu em seu regaço. Seu membro deu um puxão outra vez, acariciando-a mais intimamente que a mão. Ela se deteve, absorvendo a singularidade da sensação. Não era desagradável. Isso tinha que ser uma boa coisa a luz do que planejava.

     —Mas está um pouco sério?

     —Só para me perguntar o que está passando nessa tua cabeça. As boas mulheres não vão atirando por aí sua inocência.

     Ah, sua consciência precisava tranqüilizar-se.

     —Talvez aos meus olhos não fosse atirá-la.

      —Já.

     Os lábios a roçaram outra vez. Ela tremeu de pés a cabeça e a dor na matriz cresceu.

     —Assim que - Ele sorriu contra sua têmpora antes de repetir a carícia—. Consideraria um pecado muito grande te tocar assim para mim?

     «Assim» era arrastar lentamente o dedo para cima pelo sulco da vagina ao ponto duro, antes de vagar para baixo outra vez.

     O faria? Bella sentia a cara como se queimasse, os músculos tão apertados que não podia formar palavras. O dedo pressionou contra sua abertura, aprazível em sua demanda. Ela se agarrou a sua camisa e assentiu, enquanto pela primeira vez, os músculos se separavam para tomar a um homem. Gritou enquanto a ponta do dedo entrava em uma diminuta consumação. Cravando-lhe as unhas no ombro, se arqueou, convidando a mais.

      Ele se congelou.

     —Maldição.

     A maldição sacudiu sua têmpora. O calor se transferiu da pele de Sam a sua, reunindo um calor em resposta profundamente em seu centro. Um calor que fundia tudo o que tocava. Uma umidade estranha lhe invadiu a carne. Ele a provou pressionando ligeiramente. O dedo se deslizou mais profundo, mais fácil.

     —Talvez devesse tomar o controle - disse com voz rouca—. Só para te economizar a carga de penitência.

      O desconcerto se entreteceu ainda mais com o desejo, dando a luz a dúvida.

     —És católico?

     Por alguma razão se sentiria melhor pecando com um membro de sua fé.

     —Não, mas conheço a casta.

     A umidade se estendeu enquanto os dedos se deslizavam mais acima antes de escorregar abaixo. O horror se mesclou com uma angústia de desconcerto. Seu período do mês acabava de terminar. Não podia ser isso. Como perguntava, se tal coisa era normal? Travou-se, procurando a maneira.

     —É um pagão?

     —Bastante.

      Um tremor a atravessou, e o sorriso de Sam cresceu.

     —Você gosta pensar isso?

      Como sabia que o selvagem nele a atraía? Não podia sabê-lo. Só estava adivinhando. Se lambeu os lábios outra vez e apertou os dedos contra os dele, cobertos de bálsamo, que tateavam.

     —É claro que não. É incorreto desfrutar da desgraça de outros.

     As pontas dos dedos trabalhavam entre as pernas deslizando-se suavemente, sempre terminando no poço pouco profundo, sempre terminando nesse estiramento erótico enquanto ele a forçava a tomar até o primeiro nódulo. Sempre seu corpo dava a bem-vinda a intrusão. Sempre sua mente lutava contra a realidade.

      Estava tão inchada como se sentia? Ele podia sentir a umidade pouco natural? O Deus, por favor, não permita que lhe importe.

     —Mas talvez seja feliz sendo um pagão. —Sua voz arrastada se fez mais profunda até quase um grunhido—. Talvez tu fosses feliz de que seja pagão, não atado as restrições e aos «não devo».

     Ela lhe apartou a mão completamente, colocando-a em sua coxa enquanto ela estava paralisada com um terror que se sentia muito como antecipação.

     —Talvez - continuou—, você goste de pensar que farei o que quero contigo sem uma reflexão sobre o apropriado.

      Possivelmente ele tinha razão.

      O impulso de seu dedo foi uma surpresa, conduzindo-se profundo entre as coxas, quando ele a tinha preparado para esperar uma moléstia e a retirada. A ardente dor golpeou por suas terminações nervosas, as açoitando com o êxtase apanhado em um pouco de dor. Era muito, mas não lutou, só aceitou o calor e o prazer. Aceitou-o porque ela o tinha pedido. Aceitou-o porque se sentia bem.

   —Ah, duquesa - lhe grunhiu na orelha antes de lhe agarrar o lóbulo entre os dentes—, acredito que você goste de eu ser pagão.

      Gostava, e a prova estava no gemido que acompanhou a retirada do dedo.

      —Agora, isso foi um som doce.

     Ela pensou que foi um humilhante. Queria estar tão controlada como ele. Nada lhe aclarava que isso não ia acontecer mais que a lenta reinserção do dedo. O disparo de calor se disparou da virilha ao exterior, dando um puxão aos músculos tensos. Teria caído do cavalo se o braço de Sam não tivesse estado envolto ao redor de sua cintura, prendendo seus braços aos flancos, sustentando-a para o prazer que ele insistia em que experimentasse.

     —Assim, querida? —perguntou ele como se esperasse que pudesse responder—. Você gosta disto ou prefere - uma retirada igualmente lenta seguida imediatamente por um empurrão rápido—, isto?

      O empurrão foi mais duro para receber, mas conferiu uma alegria doce.

     —Ambos - conseguiu ofegar—. Prefiro ambos.

     Ele riu entre dentes.

     —Avarenta, também.

      O impulso de girar a boca para a dele era quase irresistível.

      —Você perguntou.

      —O fiz. Agüenta, agora.

     Ela já se aderia a ele como se estivesse a ponto de cair-se do mundo. Os dentes lhe beliscaram a orelha. As pontas dos dedos lhe roçaram a faminta carne. Ela pensou que os ásperos calos doeriam, mas justo agora somente proporcionavam um intrigante roçar. Uma dor formigante como conseqüência das carícias. Instintivamente levantou os quadris o tempo que tomou renovar o contato. Embora, não fosse o mesmo. Não foi suficiente para recuperar o melhor.

     A risada de Sam poderia ter sido zombadora. Ela reconheceu sua experiência da mesma maneira que ele tinha que reconhecer sua inexperiência. Mas não era zombadora. Nem tão pouco seu tom, enquanto rodeava a dura protuberância sobressalente.

     —Tão agradável e molhada para mim. Eu gosto disso.

      Quando Isabella abriu os olhos e verificou sua expressão, encontrou somente uma franqueza que a aliviou. Sam desfrutava de tocá-la. Desfrutava do efeito de seu toque nela. Deu-lhe coragem de perguntar:

     —A umidade é normal?

     —Quando te divertes, sim.

     Passou outra vez o dedo. Os formigamentos estalaram em fogo. Ela lhe agarrou a mão, parando a carícia. Havia algo que tinha que saber.

     —Não te provoca repulsão?

     O braço onde apoiava as costas se moveu, deslizando para cima até que a mão grande lhe cavou o ombro. O torso dela se moveu de forma natural no sulco criado pela curva do braço. Ela possivelmente era inocente, mas reconhecia o desejo quando a olhava fixamente, e Sam a desejava.

     —Se não fosse tão inocente, te mostraria quanto não me repele.

     Ela não sabia se poderia sobreviver. Sam vinha claramente de um mundo diferente do dela. Ela sempre tinha sido mimada e protegida do lado mais duro da vida, oculta da realidade, enquanto que Sam mantinha claramente as botas firmemente plantadas na vida cotidiana. Era tão mundano como perigoso, e, mãe de Deus, gostava disso.

     Sam mudou o ângulo, forçando-a a recostar-se. Desequilibrada, sentiu as coxas abrirem-se mais, a mão de Sam embalando-a mais completamente.

      Era como se outra pessoa a possuísse. Uma mulher lasciva que ardia pelo roçar dos dedos, que vivia para ver a satisfação na cara de Sam quando ela o agradasse. Uma mulher que desejava arder sob sua ordem.

     Não sabia como arder, mas olhando a cara de Sam com sua boca sensual em cima dessa mandíbula quadrada e pescoço forte, apostava a que ele sabia como acender o fogo. Lambeu-se. Se era o bastante valente para lhe entregar o enxofre.

     A mão de Sam lhe esponjou a bochecha. Sustentava-a agora embalada contra ele, ancorada nos pontos mais vulneráveis, a cara e a virilha. Outra vez, deveria sentir-se ameaçada, e outra vez só se sentia... querida. O polegar lhe inclinou o queixo para cima.

     —Me diga algo.

     —O que?

     —Estás te entregando para mim porque pensas que te garantirá proteção?

     Ela teve que pensar nisso.

     —Importaria se fosse verdade? Ainda teria a uma mulher disposta em sua cama.

     O polegar lhe acariciou os lábios, detendo-se no centro.

     —Está insinuando que fui golpeado por um período de seca?

     Ela nem sequer podia encontrar a coordenação para tragar. Enrugou o nariz.

     —Provavelmente não.

     —Assim, qual seria a atração?

     —Sou virgem. —Todos sabem que os homens desejam virgens.

     —Isso explica sua falta de experiência.

     Sacudindo a cabeça, Bella torceu a mão até que lhe pôde agarrar o pulso.

     —Ainda eu sei que isso não é mau para um homem.

      —O és se alcanças um ponto onde não queres fazer todo o trabalho.

     —Está-me dizendo que é preguiçoso?

     —A preguiça é uma qualidade extremamente menosprezada.

      O homem não tinha parado de mover-se desde que ela o tinha encontrado. Devia estar tomando-lhe o cabelo. Ela também podia burlar-se.

     —Mas só pensa nisso, me poderia treinar para o que quisesse.

      Ele dobrou a cabeça a um lado, o olhar ainda no ponto onde seu polegar lhe tocava o lábio.

     —Isso tomaria muito tempo.

     —Posso ser uma mulher que aprende rapidamente.

     Baixou-lhe o lábio, aparentemente fascinado com sua boca.

     —Tem o ar de uma mulher que daria muito trabalho.

     —Talvez o valha.

     —Manter-te ao redor poderia fazer que me matassem.

    Ela agarrou o dedo entre os dentes.

     —Deixar-me ir sem ensinar-me definitivamente te matará.

     —Por quem?

      Beliscando o polegar, ela respondeu.

     —Por mim.

      Parte da seriedade se deslizou da expressão de Sam.

     —Isso é um fato?

      Ela assentiu, parecendo tão malvada como pôde.

     —Tão sólido como uma rocha.

      O sorriso que ela suspeitava espreitava justo fora da vista enrugou as comissuras dos olhos.

     —Crês que uma coisinha como você me pode fazer tremer meus sapatos?

      Ela saiu de seu abraço, agarrando-se como um talismã a convicção interior que dizia que ela lhe fascinava do modo em que ele a fascinava.

     —Penso que se me ensinar bem, te poderia fazer tremer.

     —Demônios.

      Ele o estava imaginando. Também ela, mas ela não acreditava que suas imagens fossem tão claras como as que punham esse calor nos olhos dele.

     —Isso é um sim?

      —Ainda não.

        Gostava do fato de que ele não procurava desculpas.

      —Mas pensará nisso?

     —Duvido que pense em outra coisa.

      Tão pouco ela. Todo seu corpo era uma dor inquieta pela satisfação que ele retinha. Passou-lhe uma unha pelos botões da camisa.

     —Talvez você gostasse que te convencesse para um sim?

     Seu nariz se dilatou. Oh sim gostaria.

     —O que eu gostaria é que pensasse no convite enquanto o considero.

      Olhando-o observá-la, vendo a bondade que ele ocultava detrás de um frio exterior, deu-se conta de por que vacilava. Preocupava-se de que ela não tivesse pensado sobre isso. Estava equivocado.

     Sabia o que fazia. Sua mãe a tinha advertido de que viria um tempo quando já não poderia fugir. Finalmente o tinha alcançado com este homem, neste lugar selvagem. E se sentia bem.

     —Crês que estou escapando.

     —Sim.

     —Não o estou.

     —Então o que está fazendo?

     Ela frisou os dedos sobre a mão que acalcava sua bochecha, sustentando-a.

     —Por uma vez, tomo o que desejo.

   —E me deseja?

      Nunca tinha estado mais segura de nada em sua vida.

     —Muito.

     Os olhos se estreitaram.

     —Por quanto tempo?

      Não lhe pediria mais do que ele podia dar, e ele não era um homem que desse promessas a uma mulher.

      —Tanto como dure.

     Sam colocou a grande mão na coxa, era uma mão pesada. A calma total com que a tocou implicava mais significado que uma carícia. Ela revisou o movimento, tentando compreender o que significava, mas não oferecia respostas. Só mais perguntas. Por último ele lhe apertou a coxa e lhe baixou a saia sobre as pernas, fazendo que lhe olhasse outra vez. A desejava ou não?

     —Aguarde.

     Quando o cavalo rompeu em um meio galope, só um pensamento se filtrou através das mensagens opostas que lhe enviava. A que?

 

     Isabella agüentou tanto como pôde, mas para quando alcançaram o pequeno sulco ao lado do precipício onde Sam decidiu que era seguro passar a noite, apenas podia manter a cabeça erguida.

     —Está acordada? —perguntou Sam tão logo Breeze se deteve.

     —Sim.

     —Suas pernas se sentem suficientemente fortes para te sustentar?

     —Suponho que sim.

     Sam lhe envolveu a mão ao redor da parte de acima do braço.

     —Então te deslize, e acamparemos para passar a noite.

     Nada jamais tinha soado tão bem. Agarrando o pulso de Sam com ambas as mãos, girou seu corpo e se deslizou baixando-se de Breeze. Não foi seu momento mais elegante. Chutou o ombro do cavalo e logo seu joelho enquanto descendia. Além de um grunhido, o cavalo não se queixou. Nem sequer quando lhe golpeou o estômago com o joelho se moveu. Quando os pés tocaram o solo estava muito agradecida pela instrução de Sam. Cada músculo dos tornozelos as omoplatas chiou um protesto.    Desabou-se contra o flanco de Breeze. Se não tivesse sido pelo agarro de Sam, teria caído ao chão.

     —Aí, embaixo.

     Ela levantou o olhar, querendo chorar com completa frustração por ser fraca de uma vez quando queria ser tão forte.

     —Talvez não me sinta tão forte como pensava.

     —Isso parece. Agarre-te a sela por um segundo.

     O fez, envolvendo os dedos nas correias de couro que balançavam decorações variadas. Sam se oscilou detrás dela. Imediatamente envolveu o braço ao redor de sua cintura. Soltando-se, ela permitiu que a arrastasse contra ele. O ombro de Sam golpeou o chapéu que lhe caiu na cara.

      Ela o empurrou lá para trás.

     —Odeio este chapéu.

     Antes de poder tirá-lo da cabeça, ele o inclinou outra vez.

     —A menos que sejas aficionada aos mosquitos no cabelo, talvez queira deixá-lo colocado.

     Com a mão livre desatou a esteira da parte traseira da sela. Sustentando Bella contra a parede, tirou rapidamente as mantas. Fechando os joelhos, ela se inclinou contra a pedra morna, muito dolorida e cansada para preocupar-se de quão fraca parecia.

     Ele se moveu com a esteira.

     —Aqui, senta-te.

     Havia um comprido caminho ao chão.

     —Creio que seguirei de pé, obrigada.

      —Estará bem uma vez que se sente.

      Como ele saberia? Ela fez girar a cabeça, permanecendo contra a parede.

     —Isso é fácil de você dizer, mas muito mais difícil de eu fazer.

     —Está dizendo que necessita ajuda?

     —Digo que necessito um novo corpo.

     Ele riu entre dentes, mais uma vibração do peito do que um som verdadeiramente.

     —Não vá delegá-lo até que tenha apreciado este.

     Ela lhe olhou enfurecida.

      —Tens um senso de humor muito inadequado.

     —Parece funcionar bem para mim.

     —Isso explica por que está sozinho.

     —Não estou sozinho. Sou um dos Oito do Inferno, recorda?

     Estendeu-lhe a mão. Ela colocou a palma em cima.

     —Está sozinho em todos os aspectos que importam.

     Ele sacudiu a cabeça.

      —Pensas demais.

      —Disseste que podia.

     Ele reforçou o braço.

     —Isso eu fiz.

      Suas Palmas estavam cheias de calos. Sob o bordo da manga da camisa ela pôde ver uma grossa cicatriz. Era um homem trabalhador que respirava violência do modo em que ela respirava ar. Ele deveria ser violento. E poderia ser violento. Só que nunca com ela e, em comparação com muitos dos homens que conhecia, o estômago nunca se retorcia em advertência de que alguma vez o fizera.

     —Talvez devesse controlar seu humor.

     —Por quê?

     —Já lhe disse. Assim não estaria sozinho.

     —Essa é a maneira de olhar as coisas de uma mulher.

     Ela bufou.

     —Sou uma mulher.

     —Isso, duquesa, é evidente. —A maneira em que disse duquesa fez que o coração de Bella vibrasse. Disse-o com um toque de carinho apoiado com uma base de posse—. Dobra os joelhos agora e te sentarei.

      Ela agarrou seu pulso.

     —Se fizer isto, significa que não tenho que me mover outra vez durante o resto da noite?

      —É assim.

     —Então me sentarei.

     —Estou contente em ouvi-lo.

     Não a apressou, só esperou. Olhando-a. Finalmente foi a culpabilidade de lhe fazer estar ali de pé o que lhe destravou os joelhos. A baixada não foi bonita, e o obteve só entre muitos gemidos e um pequeno guincho, mas finalmente se sentou na esteira. Sam desatou as bolsas e as colocou a seu lado.

     —Há outro pedaço de carne-seca nesse pacote se o quiser.

     —Não tenho fome, obrigada. —A verdade era que morria de fome, mas não tinha a energia para mastigar um pedaço de carne-seca. Apenas teve a força para sentar-se e olhar Sam ocupar-se dos cavalos. Quando ele afrouxou a fivela da sela de Ervilha Doce, ela fechou os olhos e se recostou contra a parede. A pedra sólida nunca se havia sentido tão bem.

      Deixou sair o fôlego em um largo suspiro.

     —Terei que lhe dar um nome ao cavalo de carga.

     —Por quê?

     —Não é bom que uma alma seja anônima.

     —Pensava que a igreja pregava que os animais não tinham almas.

     Abriu uma pálpebra. Sam lhe dava as costas. Era um dorso muito agradável, e seguiu a linha natural até o final em suas nádegas muito apertadas. Nádegas que logo teria o direito de tocar. Lambeu-se os lábios secos.

     —Não o digas ao padre.

     —O que me darás para que me cale?

     Abriu a outra pálpebra. Ele a estava olhando sobre o ombro, esse sorriso invisível flutuava no ar ao redor dele enquanto lhe levantava as sobrancelhas.

      —Contigo tudo tem um preço?

      —Sim.

     —Então prometo que não roncarei esta noite.

     Era uma promessa bastante segura, já que estava segura de que não roncava.

      —Adivinho que isso é uma troca justa, estando como morto de cansaço e possivelmente estaria forçado a tomar medidas se começasse a serrar troncos.

      A pesar do cansaço, ela não pôde evitar o sorriso ante a colorida expressão. Sam tinha tantas que seria difícil recordá-las todas, mas queria fazê-lo. Mais que isso, queria usá-las. Sua mãe se horrorizaria ante sua falta de decoro. Seu pai igualmente. Era uma das coisas em que estavam de acordo, em que ela deveria comportar-se impecavelmente sempre. Sam era a primeira pessoa com quem tinha tido a oportunidade de provar seu senso de humor. Que ele pareceu apreciá-lo só fazia que gostasse mais.

     —Bem.

     Ela ficou meio adormecida com o som de pacotes golpeando o chão e Sam cantarolando aos cavalos. Havia magia em sua voz quando o fazia. Baixo e profundo - não exatamente discurso, não exatamente canção, mas uma melodia muda que acalmava e apaziguava. Deixou que a magia funcionasse com ela. Era difícil ter medo de um homem que cantarolava assim, mas era fácil especular a respeito dele. Perguntar-se o que o fazia rir, o que trazia paixão a seus olhos, fome a sua alma. Perguntar-se se com sua inexperiência, ela seria mulher suficiente para agradá-lo. Perguntar-se o que lhe havia trazido para ela na hora quando mais lhe necessitava.

     «Deus, necessito a um herói».

     A oração que tinha sussurrado no desespero enquanto olhava aos homens que tinham ido tirá-la da cidade massacrada pelos bandidos de Tejala retornou a ela. Abrindo os olhos, olhou como Sam esfregava Breeze. Não havia nenhuma dúvida de que ele parecia do feitio dos heróis. Mas era seu? Olhou a imensidão do céu da noite, pontilhado com estrelas, uma lona negra que se estendia para o infinito. Era possível. Ela acreditava no destino. Voltou a olhar Sam e suspirou. Mas não era provável. Os homens como ele tinham coisas maiores em seu destino que salvar a uma mulher perseguida, mas possivelmente o acreditaria por agora. Faria tudo mais fácil.

     O calor do dia se filtrava da rocha a seus músculos, apaziguando as dores. Sentia-se tão bem que não teve preocupações durante um minuto. Não tinha nada que fazer exceto desfrutar da paz da noite e seus sons. Dar seus cuidados a um mais capaz de manejá-los. Permitir que o tempo e a consciência vagassem longe…

      Isabella começou a debater-se. Sam esquivou seu punho, incapaz de lhe ver os olhos enquanto sua sombra lhe cobria a cara. Sua patada lhe deu na espinha. Dando um passo ao lado, evitou a seguinte.

      —Tranqüila duquesa. Sou eu.

     Ela se tranqüilizou, respirando em duros ofegos.

     —Sam?

      A luz do fogo arrojava uma luz instável através de seus fechos, mas era suficiente para ver o temor residual nos olhos de Bella. Apartou-lhe o cabelo do rosto. Uma mulher como ela deveria despertar esperando beijos, não golpes.

   —Sim. Sam.

     Ela piscou e bocejou. Ele passou os braços sob os joelhos e os ombros.

     —Terminamos?

     —Parece-me que tu já terminaste. —se pôs de pé, levando-a com ele—. Ponha os braços ao redor de meu pescoço.

     Ela o fez, lentamente, como se levantasse pedras em vez de seus próprios membros. Com um leve puxão, ele a orientou ao seu tronco. A cabeça encaixava perfeitamente no sulco do ombro. Levou-a ao fogo onde tinha uma esteira improvisada coberta por seu impermeável de óleo. Apartou Kell com o pé, ignorando seu grunhido. Isabella olhou ao redor enquanto ele se ajoelhava.

     —Sinto muito, deveria ter ajudado a montar o acampamento.

     —A próxima vez pode fazer tudo.

     Ela assentiu.

     —Obrigada.

      —Não me dês obrigado muito cedo. Montar um acampamento pode ser um trabalho duro.

     —Não tenho medo do trabalho duro.

     Não, provavelmente não o tinha. Colocou-a tão suavemente como foi possível na esteira. Sam começava a pensar que não muito a assustava uma vez que colocasse a ele, mas duvidava que Isabella tivesse visto muito trabalho duro em sua vida. As mãos tinham bolhas com apenas uma fina camada de calo debaixo, e seu pequeno corpo curvilíneo era muito suave. O tipo de suavidade que vinha dos mimos.

      Equilibrou o final de sua trança no dedo, imaginando-lhe em uma casa elegante, imaginando-se como transcorreria seu dia se não estivesse fugindo de Tejala. Criadas para fazer o trabalho. Serventes para lhe trazer comida. Um homem para protegê-la das realidades mais duras. Gostava da idéia dela sendo mimada. Queria mimá-la. Queria protegê-la. Queria… a ela. O qual não tinha nenhum sentido. Ele não era um homem que se firmava.

     Havia uma mancha de terra na bochecha de Bella. Limpou-a com o polegar, notando as diferenças na pele. A sua era escura e áspera, danificada com cicatrizes. A dela era pálida e lisa, tão perfeita como o caramelo doce. A mancha não saiu. Se estivessem de volta aos Oito do Inferno, seguiria o exemplo de Caine e se consentiria atraindo-a a um banho. Nunca tinha banhado a uma mulher antes, mas havia algo intrinsecamente prazeroso no pensamento de cuidar de Bella a esse nível tão íntimo. Inferno, a mulher era malditamente prazenteira, ponto final.

     —Vou deitá-la agora.

     Sem nem sequer abrir os olhos, ela perguntou:

     —É necessário?

     Ele apostava que estava tão dolorida como parecia.

     —Sim.

      Ela suspirou, um desses sofridos que já lhe tinha ouvido uma vez ou duas. Parecia seu modo predileto de expressão quando queria evitar uma discussão, mas ainda queria dar a conhecer sua opinião.

     —Bem.

     Esticou-se imediatamente como uma tábua, obviamente preparando-se para o pior.

     —Se te enrijeces, doerá mais.

     Ela sacudiu a cabeça.

      —Não é possível.

     —Trata de relaxar-te de todos os modos.

     Depois de um fôlego profundo assentiu para que ele continuasse. Sam sorriu ante a arrogância inconsciente que vinha de alguém tão indefeso, e lhe inclinou as costas. Ela gemeu enquanto os músculos se estiravam e protestavam e então lentamente se relaxaram com o conhecimento de que já não tinha que sustentá-la. Ele vigiou o processo, completamente interessado em cada matiz de sua expressão, notando como apertava a boca quando se preparava, como suas escuras pálpebras se batiam contra a bochecha pouco antes que o prazer a tomasse e se relaxasse.

     Ele curvou os dedos em um punho para evitar estirar-se e traçar a curva de suas pestanas contra a bochecha, seu negro profundo somente acentuando a cor escura da pele com sua matiz de pêssego. Os lábios levavam a mesma tintura de pêssego sob o rosa.    Seus mamilos eram provavelmente dessa cor, também.

     O conhecimento foi uma pontada nas entranhas, dirigindo-se diretamente ao seu pênis, golpeando duramente dentro do inchado membro. Maldição, ela era uma coisinha sexy. Traçando a mandíbula com os dedos, estudou sua cara, procurando a razão de que ela lhe atraíra tanto. Era formosa. Uma cara triangular com ângulos que davam a impressão de altiva aristocracia suavizada por uns lábios cheios que traíam sua vulnerabilidade - recheados, fazendo sulcos, o superior mais cheio que o inferior, e seduzindo fugazmente para um beijo. Era fácil ver porque Tejala a perseguia por todo o território. A mulher chiava noites selvagens e manhãs calorosas. Se vinha de uma boa família, Tejala poderia ter seu biscoito e comê-lo, também. Respeito no povoado e uma fera em sua cama. Sam lhe acariciou a bochecha afastando-lhe o cabelo. Exceto que ela não queria Tejala. Desejava ele.

     Sam ainda não sabia como se sentia a respeito disso. Esfregando o polegar em pequenos círculos em sua têmpora, contemplou a completa estranheza de indecisão. Não era, decidiu, uma emoção que gostasse. Gostou, entretanto, a maneira em que Isabella girou naturalmente a bochecha ao seu toque, confirmando outra de suas suspeitas. Era uma mulher muito sensual, madura pronta para arrancá-la.

     «Poderia me treinar para o que você gostasse».

     Isso era ondular uma bandeira vermelha diante de um touro. Sacudiu a cabeça, olhando-a fixamente para baixo. Havia muitas coisas que desejava. Esses lábios exuberantes envoltos ao redor de seu pênis, o cabelo envolto ao redor de suas partes íntimas, o sabor dela na língua, seus gemidos nos ouvidos. Muitas coisas que queria lhe fazer, mas não podia remover o pressentimento de que o preço ia ser mais alto do que queria pagar. Deu-lhe um golpezinho na bochecha com o dedo.

     —Está acordada?

     —Sim.

     Apenas, a julgar pelo fraco «sim».

     —Vou desabotoar sua camisa. Não comece a gritar.

     Suas espessas pestanas negras se levantaram do refúgio das salientes bochechas. Um toque de rosa acentuava o bronzeado cor pêssego da pele. Através das pestanas ele podia distinguir o profundo marrom dos olhos.

     —Vais deixar cair uma aranha na abertura?

     —Inferno, não. —por que diabos pensaria ela que ia fazer isso?

     As pestanas revoaram para baixo.

     —Então não tem que preocupar-se de que grite.

     —Ah. —O primeiro botão saiu facilmente—. Tem medo das aranhas?

     —São repugnantes. Todas essas patas feias e gordos corpos peludos…

     O estremecimento involuntário que a dominou eliminou o segundo botão de seus dedos.

     —Lembrarei.

      Ela se esticou. Não era difícil dizer aonde ia a mente de Bella.

     —Como uma coisa a evitar - esclareceu.

     Ela se relaxou infinitamente.

     —Obrigada.

     O terceiro botão saiu. Jogou uma olhada a pequena panela sobre o fogo. A água já deveria estar morna.

      O quarto botão saiu sem um protesto. Podia divisar os bordos da clavícula. Respirava com dificuldade, como um cavalo soprando depois de uma corrida, e não tinha conseguido mais que um decente olhar a algo interessante. Havia algo a respeito dela que provocava seu interesse, capturava sua luxúria, afogava seu melhor julgamento.

     O quinto botão revelou algo ruim. Uma banda larga de algodão. Explorou-a com a ponta dos dedos. Corria horizontalmente através de seu peito.

     —Está ferida?

     —Ah, mãe. —Agarrou a lapela e abriu as pálpebras de repente—. Esqueça isso.

     Ele permitiu que agarrasse a lapela por acima enquanto trabalhava com os botões abaixo.

     —Esquecer o que?

     Ela tentou incorporar-se, golpeou a parede de músculos doloridos e se deixou cair pesadamente atrás com um gemido.

     —Minhas ataduras.

     —Ataduras?

     —Não poderíamos ter relações sem nos despir? Não é muito abaixo.

Isso fez que Sam se detivesse. Levantou uma sobrancelha.

       —Pensas que planejo fazer-te amor?

     —Por que senão me despiria?

     Por que mais na verdade.

     —Para ver o que está debaixo dessa atadura.

     —Não é uma atadura.

      O agarro mortal que tinha no alto da camisa não impedia que se abrisse por baixo. O envoltório ia integralmente para baixo a sua surpreendentemente estreita cintura. Tirou a faca da bota.

     —O que é, então?

      —É uma atadura para conter meu... peito.

     A cobertura era substancial. Só se deteve para raciocinar que aquilo que continha o seria também. A boca de Sam se secou quando pôs o bordo da faca sob o envoltório. Bella encolheu o estômago, criando um vazio entre o tecido e o abdômen. Sua imaginação galopou adiante enquanto seu pênis pulsava e seu pulso corria como o de um jovenzinho. Isabella lhe agarrou pelo pulso.

     —Não o faça.

     —Por que não?

     Estava-se ruborizando tanto que ele o podia ver na escuridão próxima.

     —Não tenho mais ataduras.

     —Não as necessitará comigo.

     Nunca permitiria que outro homem a tocasse.

     Os olhos de Bella se encontraram com os seus, tão suaves e aveludados como o chocolate derretido, escuros com desconcerto.

     —Dói…

     A faca cortou as ataduras.

     —Não ter apoio - terminou ela em um sussurrou agonizado enquanto as ataduras caíam aos lados.

   —Inferno!

     Apostava a que o fazia. Generoso. Essa foi a primeira palavra que saiu para descrever os seios. Generosos, abundantes e magníficos. As curvas cheias se curvaram para dentro da compressão da camisa, tudo exceto os mamilos se revelaram. Abriu a mão sobre o diafragma, a palma lhe pinicava com a necessidade de tocar. Mais que uma mão. Possivelmente inclusive duas. Maldição, ela não podia ter sido criada mais perfeitamente para seu gosto.

     —Perfeito.

     —Estás me olhando? —disse com voz aguda.

     Ele elevou o olhar. Ela tinha se lançado a única defesa que tinha. Tinha fechado os olhos.

     —Sim, estou conseguindo uma contemplação. —Deslizou a mão para o tesouro que lhe tinha ocultado.

     Os lábios de Bella se moveram, mas nenhum som saiu. As mãos se deslizaram abaixo pela lapela. Ele a parou com uma sacudida de cabeça.

     —Não.

     —Não estou cômoda.

      Ele podia vê-lo. O envoltório tinha deixado os seios avermelhados e inchados. Pareciam como se já os tivessem amado, também, mas então não teriam uma erupção criada pelas ataduras rodeando-lhes, estariam inchados pelo prazer, não o abuso.

     —Não te atará os seios outra vez. —Esfregou os dedos pelas marcas deixadas pelas ataduras. Ela ofegou e se arqueou. Ele a seguiu abaixo, detendo-se como lhe tinha prometido. A luz brincava através da carne pálida. A ira o atingiu quando viu a sombra de um machucado—. É um milagre que não te tenha prejudicado permanentemente.

     A mão dela se fechou quase convulsivamente ao redor do pulso.

     —Necessito apoio.

     Ele levantou um pesado globo, roçando o polegar pela cara inferior. Apostava a que o necessitava.

     —Cuidarei de ti.

     —Não podes andar todo o dia sustentando meus seios!

     Ele riu de sua expressão. Claramente não se deu conta de como que ia soar quando o salivasse, mas agora tinha a sensação de que se ela pudesse cavar uma fossa, estaria nele em um segundo.

      —O pensamento tem mérito. —Disse só para deixá-la ir. Funcionou. Ela se sentou tão rapidamente que o topo da cabeça só faltou lhe golpear o queixo. Um olhar a sua cara e ela constatou seu jogo.

     —Só disse isso para me provocar!

     Os seios se bambolearam com indignação, os argumentos refletindo por suas pesadas curvas. Ele serpenteou o braço ao redor do peito, apoiando os seios no antebraço enquanto a empurrava contra o ombro. Daqui tinha uma vista de seu impressionante decote. Profundo e escuro, tomaria seu pênis perfeitamente. Tudo o que teria que fazer era desabotoar suas calças, cavalgar sobre seu tronco e poderia estar no céu. Merda. Ela lhe fazia desejar. Foi uma luta encontrar sua voz.

     —Sim, o fiz.

     Ela atirou da camisa para fechá-la tanto como podia sobre o braço. O objeto de vestir não estava cortado para conter tal magnificência. O melhor de seus esforços ainda deixou Sam com uma boa vista.

     —Por quê?

     Isso era uma pergunta fácil. Deu-lhe a resposta fácil.

     —Gosto mais cuspindo fogo que se desculpando por existir.

     —Não me desculpava por existir, mas não estou acostumada a me despir diante de um homem.

     —Tecnicamente, eu estava te despindo.

     Ela só o olhou fixamente. Como se estivesse perdendo o juízo, ou possivelmente pensava que ele o estava perdendo.

      Ele deixou cair um beijo em seu cocuruto antes de inclinar-se para abrir a bolsa Vasculhou dentro até encontrar a lata de ungüento. Recostando-se, disse:

     —Há uma diferença, já sabe.

     A língua se moveu sobre os lábios deslizando-se lentamente em um rosa sobre rosa.

     —De verdade?

     Ele não podia afastar os olhos da sensualidade natural do gesto.

     —Vais ser um verdadeiro inferno de fogo na cama, verdade?

     —Honestamente?

     —Sim.

     —Eu gostaria de pensar que poderia sê-lo.

     Ele abriu o frasco de ungüento e tirou um pouco com os dedos.

     —Afasta as mãos do peito.

     Ela o fez cuidadosamente, obviamente sem ter a menor idéia de quão excitante podia ser a lenta provocação da exposição gradual. Estendeu suavemente o ungüento sobre as marcas da quente irritação na lateral de seu seio direito.

     —Por que poderia «sê-lo»? Não é que me esteja queixando, mas a maioria das jovens mulheres não está muito preocupada com o quarto, só quão selvagens vão ser uma vez cheguem a ele.

     O antebraço acariciava o mamilo. E cada vez, ela ofegava e seu pênis dava um puxão, até que foi muito mais que um grande batimento do coração, e foi tudo o que pôde fazer para manter a pretensão de que a única coisa que acontecia era que estava tratando suas feridas.

     —Finalmente, Tejala me alcançará. —Retorceu os dedos—. Isso não será agradável.

      Deixou de esfregar o ungüento no seio e o sustentou. Ela necessitava consolo. Ele não era bom em dar consolo.

     A voz de Bella caiu a um cochicho.

      —Não acredito que quererei ser tocada outra vez depois disso, assim penso que quereria conhecer o completo prazer de ser mulher antes que o tirem de mim.

     Merda.

     —Há algo parecido a contar muito.

     Levantou as pestanas, revelando o que ele não queria ver. Dor. A tinha ferido.

      —Sinto muito.

      Abotoando sua camisa, ela se afastou.

     —Falo muito.

      Ela falava mais que qualquer mulher que tivesse conhecido antes. Mas estranhamente, não lhe incomodava. Porque também o fazia sorrir mais que qualquer mulher que tivesse conhecido antes. Suspirou.

     —Deveria saber também desde o começo que eu não sou bom nisto.

     Ela se sentou rígida e inflexível, abotoando esses malditos botões, sem lhe olhar.

     —O que?

      Ele lhe levantou o queixo pra acima, acalcando-o para que não pudesse apartar o olhar.

     —Palavras suaves. Nunca estão ali quando as desejo.

    —Desejava que estivessem aí?

     —Sim.

     —Então negociaremos. Te ensinarei palavras suaves e você me ensinará a amar.

     Sam colocou a tampa do ungüento. Levou-lhe mais tempo do que o necessário. Bella não lutou ou brigou, só descansou contra ele. Aceitando seu decreto da maneira em que não aceitaria a Tejala como seu destino. Se ele fosse pronto, colocaria pés em polvorosa.

     —Fazer as coisas entre os lençóis perfeitos para uma mulher é pedir muito.

     —Compreendo. —Com um gesto da mão ela lhe outorgou absolvição. Quando ele não a desejava.

     Capturou sua mão. Se sentia natural trazer os dedos aos lábios. Para fazer suas promessas.

     —Ele não te tocará, Bella.

     Houve uma longa pausa. O olhar de Bella procurou os seus para respostas a perguntas que não expressaria. Ele não acreditava que ela fosse consciente de quão arduamente se aderia a ele.

     —Rezo diariamente por esse milagre.

     —Então pode deixar de rezar.

     Outra pausa. Ela respirou fundo. Ele se encontrou respirando junto com ela. Um rubor lhe cobria as bochechas, acentuando sua juventude. Ele não podia segui-la ali. Não acreditava que tivesse sido jamais tão jovem como ela, que tivesse tido tal inocência. Mas tinha estado facilmente tão desesperado. Metendo-lhe a mão contra o peito, se encarregou de prender os botões da camisa.

      —Não tem que negociar com teu corpo, duquesa. Meu amparo não te custará nada.

     —Isso é bom. —Para surpresa de Sam, ela abriu outra vez a camisa, não completamente e não sem que um novo rubor se pulverizasse sobre a pele cremosa, mas o bastante para tentá-lo com as curvas interiores sedosas e o sulco em sombras—. Porque o que desejo entre nós não deve ter preço.

     —Tudo vem com um preço.

     —Então possivelmente quero pagar este preço.

     —Talvez eu não.

     Ela cabeceou.

     —Ah, assim que não temes por mim.

     Ninguém jamais o tinha olhado com tal suavidade e compreensão. Não gostava.

     —Inferno que não. O futuro de uma puta não é bonito.

     Ela piscou, e a suavidade abandonou sua expressão como se nunca tivesse existido. Sua espinha dorsal se endireitou com um ruído.

     —Te desculparás por isso, Sam MacGregor.

     —Por que demônios devo me desculpar pela verdade?

      Ela se empurrou para fora do abraço, ofegando de dor, e deu a volta. Estava ajoelhada para que sua cara estivesse ao nível da dele. Neste momento não havia engano em que estava muito zangada. Cravou-lhe o dedo no peito.

     —Porque foi malvado e não o merecia.

     —Por que deveria me importar?

      Ela suspirou e sacudiu a cabeça.

     —Porque meus sentimentos foram danificados e porque gosto de você.

     Isto era ela com seus sentimentos danificados? Ele abriu a boca. Ela lhe cortou.

      —Caso teus olhos não tenham visto, isto é um momento para palavras suaves. Palavras agradáveis. Palavras de desculpa.

     —Não te estava chamando puta, mas…

     Levantando a mão, lhe olhou enfurecida.

     —Sabes que se me fizer outra pergunta que deva responder com «porque», chorarei.

      Filha da puta.

     —Está me chantageando?

      Ela sacudiu a cabeça e lhe tocou o ombro momentaneamente antes de sentar-se sobre os calcanhares.

      —Estou cansada e dolorida e não tenho muita resistência.

     Isso possivelmente fora uma lágrima no olho.

     —Vais chorar?

     —Os homens não gostam de lágrimas. —Os lábios tremeram, então os reafirmou—. Compreendo isto, mas não penso que possa contê-las muito mais se continuas danificando meus sentimentos.

     —Ferir meus sentimentos. - Corrigiu Sam

     —Danificar. Ferir. Que diferença faz?

     Não muita e ela tinha razão. Odiava ver qualquer mulher chorar, especialmente Bella. E ela o compreendia e lhe advertia, porque para ela isso era jogo limpo. Não acreditava que tivesse conhecido a nenhuma outra mulher como ela. Não estava seguro de que quisera. Deixava-lhe muito desequilibrado. Suspirou.

     —Que desejas de mim, Bella?

     —Tenho medo de pedir gora.

     Ela não tinha medo de nada.

     —Peça.

     Foi virtualmente um grunhido.

     Em vez de estremecer-se de temor, seus olhos arderam com fome.

     Agarrou-lhe a mão e a atraiu ao seio, endireitando os dedos um por um até que se estenderam sobre o sulco e esmagaram a carne suculenta em ambos os lados.

      —Me darás prazer, Sam? Me ensinarás a ser uma mulher?

     Ao final era uma decisão fácil de tomar. Ele cavou os dedos atrás do pescoço de Bella, atraindo-a para frente sob a pressão de sua palma, sentindo que seu coração saltava, ouvindo-a ficar sem respiração. Oh, sim, lhe ensinaria.

     —Melhor que isso, te ensinarei a ser minha mulher.

 

     —Deita.

     Deitar-se significava fazer trabalhar os músculos. Deitar-se significava entregar-se ao caminho que tinha tomado. Deitar-se significava confiar em Sam.

     Bella estendeu a mão.

     —Pode me ajudar?

     —Desde já.

     Tratou-a tão competentemente como tinha tratado a seu cavalo. Uma mão atrás do ombro a outra Segurando as suas. O fez com soltura. Tudo o que ela tinha que fazer era lhe ceder seu peso e ele se encarregou do resto.

     —Vais fazer tudo fácil assim?

     Calcou a bochecha em sua mão. Era um gesto de consolo. Uma declaração de intenções.

     —Sim.

     Ela girou a cabeça até que pôde estampar um suave beijo no centro da palma áspera.

     —Obrigada.

     Ele sorriu, um sorriso de verdade que alcançou seus olhos.

      —Acredito que essa é normalmente a atitude do homem e vem muito mais tarde.

     Ela não pôde senão rir em resposta.

     —Estamos fazendo muitas coisas de outra maneira… por que isto deveria ser algo distinto?

     —Efetivamente, por quê. —Deu-lhe um puxão a camisa—. Queres relaxar um pouco o agarre?

     A camisa. Ele queria que soltasse a camisa. Tentou, mas os dedos não queriam obedecer as ordens de seu cérebro.

     —Problemas?

     —Meus dedos não querem escutar.

     —Pensando bem?

     —Acredito que são muitos anos dizendo que deveria mantê-los fechado.

     —Então este deve ser seu dia de sorte.

     —Como?

      —Passei muitos anos aprendendo como convencer as mulheres para conseguir abrir os botões.

      Bella tentou não pensar nisso. Não só porque não queria saber das outras mulheres, senão porque, a pesar de sua ostentação, não estava segura de ter o necessário para satisfazer a um homem assim. E não acreditava que encontrasse as referências satisfatórias se Sam não ficasse satisfeito.

     Mas possivelmente Sam não sabia. Sua mãe lhe tinha falado em termos ambíguos que tinham tratado levianamente a mecânica, mas seu bate-papo não havia tocado as emoções implicadas.

     —Sam?

     —Sim?

     —Também quero achar divertido.

     Ele se deteve e a olhou surpreso.

     —Esse é sempre o plano.

     —Ah, não sei. Minha mãe só me explicou que minha responsabilidade era te satisfazer, mas não que seja possível para eu ser satisfeita. —lambeu os lábios, as seguintes palavras se alojaram em sua garganta enquanto o rubor a queimava dos dedos dos pés até a cabeça. Teve que tragar duas vezes antes que saíssem, e inclusive então saíram em uma corrente de tom alto e despreocupado—. Eu gostaria de obter um pouco de prazer.

     Não podia acreditar que houvesse dito tudo isso sem consumir-se de vergonha.

     —Há outra coisa que quero.

     —O que?

     —Uma mulher sem medo a pedir o que quer.

     Bella soltou a camisa.

     —Então possivelmente também seja uma resposta a suas preces.

     Olhou-a diretamente.

     —Eu não rezo.

      Deixando cair um lenço ao redor da alça do caldeirão, tirou-o do fogo e o deixou ao lado do pacote de sabão.

     O que queria que ela dissesse a isso?

     —Então rezarei por ti até que recorde como.

     —Não esbanje seu tempo.

     Não importava onde ela colocasse as mãos, estavam incômodas. Provou no estômago, logo nas coxas e por fim as colocou apoiadas na trincheira ao lado dela.

     —É meu tempo. Esbanjá-lo-ei no que queira.

     —Faça o que quiser.

     Inundou o lenço na panela, escorrendo-o e logo o pôs contra o colo dela. A água quente se sentia divina contra a pele.

     —Oh, sim.

     Sam riu sedutoramente.

     —És fácil de agradar.

     —Minha facilidade é boa para seu lado preguiçoso, não?

     —Oh, sem dúvida. —Secou-lhe a pele com carícias surpreendentemente tenras para um homem tão grande, mas tinha visto a forma com que tratou ao cavalo e se deu conta que não deveria estar surpresa. Havia muitas capas em Sam MacGregor. As mais interessantes eram as que não mostrava ao mundo.

     O lenço percorreu a clavícula, levando consigo a sujeira e a tensão. Quando Sam apartou o tecido, o ar da noite se sentiu mais frio. Ela sentiu mais frio. Os mamilos formigaram e se franziram.

     —Ninguém me banhou antes.

     A água se derramou no caldeirão enquanto Sam encharcava o tecido.

     —Muita gente o terá perdido.

   Ela fechou os olhos e sorriu.

     —Homens, quer dizer.

     O aroma de pinho do sabão perfumado se intensificou.

     —Sim. Homens.

      A ela não lhe preocupavam os outros homens. Só Sam. Quando o tecido voltou, deslizando-se através da parte superior de seus peitos, arqueou as costas, só um pouco. A camisa caiu aos lados com uma sussurrante carícia. O som da inalação de Sam foi igualmente uma evasiva carícia.

     —Então me alegro de que o único homem que me dá este prazer sejas tu. —Suspirou, mantendo a voz baixa para não perturbar a emoção florescente entre eles.

    O tecido se deslizou novamente, desta vez mais abaixo.

     —Isto é só por agora, Bella.

     Interiormente ela sorriu ante o tom duro. Estava muito receoso dos fortes sentimentos.

     —Então, me terias sem gozar?

     —Com muita dificuldade.

     Com um inconsciente ondeio de sua mão, indicou-lhe que prosseguisse.

      —Então cala-te e continua.

     O tecido se deteve no vale de seus peitos.

     —Alguém já te disse alguma vez que não está em posição de dar ordens?

     Ela negou com a cabeça.

     —Não.

      O lenço abandonou sua pele. O lugar onde se deteve se esfriou.

      —Então me deixe ser o primeiro.

     Outra vez houve essa nota dura em sua voz. Isso a estremeceu com mais força que um beijo. Havia algo nesse tom que ressoava com algo selvagem dentro dela. Algo primitivo, feminino e faminto. Abriu os olhos. Sam a contemplava fixamente com a mesma determinação implacável, intensificando a pronúncia arrastando as palavras. Um segundo estremecimento se uniu ao primeiro. O olhar dele se agonizou e as fossas nasais se alargaram. Ele notou essa parte dela que lutava por liberar-se?

     —Se vai ser minha amante terá que aprender a moderar essa tua faceta.

     Sim? O que tinha feito para trazer o «se» de volta?

     —Por quê?

     O pequeno sorriso que curvou seus lábios a incitou tanto como um desafio.

     —Continua me dando ordens e o descobrirá.

     —Isso é injusto! Sabe que não sou capaz de resistir.

     Encharcou o lenço tão calmamente como pôde como se não acabasse de lançar um desafio.

     —Tenho que admitir, o pensamento me passou pela cabeça.

     A excitação zumbiu através de seu sangue, animando seu batimento cardíaco.

     —O que acontece se eu falho? —perguntou lambendo-os lábios.

     O tecido formou redemoinhos sobre a superfície de seu peito, dando voltas para cima, abarcando o mamilo. Os dedos se fecharam sobre o duro pico através do tecido úmido e apertou levemente, estirando de seu corpo em um sensual puxão, prolongando a tensão, a paixão. Intensificando o prazer.

     —Quando me pressionar muito, me ocuparei de ti.

     O espasmo que mexeu seu útero foi semelhante a dor. Os tremores secundários foram um prelúdio de uma selvagem necessidade que ela não entendia, mas Sam sim. O pôde ver em seus olhos. Ele compreendia o que ela necessitava. Sussurrou fracamente um «Como?». Por Deus, ela queria ouvir como.

     O leve beliscão que lhe deu ao mamilo arrancou um grito de seus lábios e a levantou. A dor a atravessou desde seus maltratados músculos, afogando o prazer desde sua provocação. Imediatamente ele estava ali, lhe acalcando a cabeça na mão, acalmando-a. A preocupação serenou a violência do desejo.

     —Acalma-te, Bella. Tem que estar tranqüila.

     —Não posso quando faz isso.

     Arqueou a sobrancelha.

      —Isto?

      Beliscou o mamilo outra vez, um pouco mais forte, um pouco mais e desta vez a sensação não foi uma surpresa. Desta vez pôde desfrutá-lo, saboreá-lo.

     —Sim. —Ela quis arquear-se na sensação, em sua mão. A palma no ombro o impediu.

     —Fica aquieta, e nós veremos se pode tomar um pouco mais.

     —Nós? Onde está este «nós»?

     Ele riu e se inclinou, sua boca encontrou a dela em um profundo beijo, suas palavras fluíram na boca dela como um estímulo.

     —Pequena inocente. Não sabes que nada põe mais quente a um homem que quando a mulher arde com seu toque?

     Bella deslizou os dedos entre as lapelas da camisa do Sam, sentindo-se muito ousada enquanto a pele arrepiada lhe fazia cócegas nas gemas dos dedos.

     —Sem nem sequer minhas mãos sobre sua pele?

     Sam se estremeceu e sorriu, sua boca se movia sobre o pescoço dela, lhe acariciando com o nariz a comissura da boca, despertando nervos que ela não sabia que estavam ali. Nervos que clamavam só por ele.

     —Isso está bem, mas não é nada sem o outro.

     Ela deslizou os dedos dentro ainda mais.

     —E você gosta da maneira com que cobro vida para ti?

      —Muitíssimo.

     Abrindo o botão sob seus dedos, aprofundando sua mão, perguntou:

     —E quando for meu turno, arderá para mim?

     Ele lhe apertou convulsivamente o mamilo. Dor e prazer combinados em um erótico bocado. Ela ofegou e se agarrou a camisa, resistindo enquanto o estremecimento serpenteava através dela.

     —Maldição! —Sam passou suavemente o polegar sobre o tenso pico—.Sinto muito. Perdi…

      Sacudindo a cabeça, recostou-se.

     Ela terminou o pensamento por ele.

     —O controle.

     —Não perdi o controle.

     Mas o fez com ela. Acariciou a ruga entre seus olhos com o dedo indicador.

     —Te perdoarei se o fizer outra vez. Foi tão… excitante.

     As linhas ao lado de sua boca se pronunciaram, a tensão nos dedos se propagou por seu corpo. Entrecerro os olhos.

     —Vai ser difícil manter-te no limite, não?

     —Seria mal se dissesse que o fato é que provavelmente nem sequer vale a pena o esforço de tentá-lo?

     Uma risada verdadeira acompanhou o toquezinho que lhe deu no queixo.

     —Se não tivesse êxito, em que tipo de homem me converteria?

     Isabella não queria sabê-lo. Gostava de Sam tal como era com toda sua arrogância, seu sentido da honra e sem dúvida gostava de seu senso de humor.

     —O homem que quero como amante?

   O tecido caiu ao lado, e então foi o calor da mão sobre a carne úmida, inchando-se enquanto inclinava a cabeça. Embora ela soubesse o que vinha, a boca em seu peito foi um sobressalto, calor ardente, a chicotada da língua através da ponta sensível uma surpresa. O relâmpago açoitou através da pele, reunindo faíscas enquanto o fazia, acendendo fogos através da paisagem do tronco, enviando uma ducha de faíscas por sua espinha dorsal, precipitando-a a uma tormenta selvagem que a varreu e a lançou sem nada familiar ao que agarrar-se. A ranhura dos dentes era mais do que podia suportar. Mas não era o bastante. Necessitava mais. Envolvendo os dedos no cabelo de Sam, arrastou sua boca a dela.

     —Mais rude.

     Oh, por favor, faça-o mais rude.

   Com algo que soou como um grunhido ele obedeceu, chupando duramente seu mamilo, beliscando com os dentes, suavizando com a língua até que ela se arqueou, para derrubar-se ofegando com prazer.

      —Sam!

     Outro estrondo seguido por um pequeno beliscão. Ah! Sentia-se tão bem. Ele era tão bom. Ela esfregou os seios contra as bochechas ásperas de barba, tratando de manter a magia enquanto ele se apartava.

      —Sua boca é maravilhosa.

     Ele jurou e deixou cair a frente sobre seu esterno.

     —O que?

     —És um verdadeiro inferno para as boas intenções de um homem.

     —Eu gosto dessas intenções.

     A risada de Sam soprou através do ventre.

      —E voltarei a elas, mas primeiro tenho outros planos para este doce pequeno corpo.

     —Desfrutarei dele tanto como isto?

      —Neste momento, acredito que o desfrutará mais.

     Ela lhe pressionou a mão sobre o seio, suspirando quando ele acariciou amavelmente a pele tenra.

     —Isto será melhor.

     Com um último beijo rude, ele se ajoelhou a seu lado e provou a água na panela.

     —Confia em mim.

     Ela sentiu falta de seu calor e seu peso imediatamente. Não era de estranhar que as mães pregassem a suas filhas que não tivessem nada que ver com homens. Se todas as mulheres se sentissem com homens da maneira que ela se sentia com Sam, não haveria virgens.

     Confia em mim.

     Ele pegou o lenço e o molhou no servidor outra vez. Ela confiava nele, mas não compreendia. Preferiria lavá-la?

     —É isto o que desejas?

     Ele assentiu, sua expressão estranhamente atenta.

     —Sim.

      Esfregou o tecido molhado no sabão. O aroma a pinho se estendeu pelo ar. Começando pelo colo, enxaguou a terra e o calor do dia. Ela estudou sua cara enquanto ele repetia a ação no outro lado antes de baixar aos ombros. Cada movimento estava planejado com cuidado; cada carícia se sobrepunha a primeira. E com cada passada a tensão dele se acalmava e a satisfação nos olhos crescia. Banhá-la alimentava uma necessidade nele. Ela não sabia o que era, mas se fazendo isto lhe dava uma medida de paz, então não se queixaria.

      Bella suspirou quando o calor do tecido penetrou na pele. Nada é que tivesse algo pelo que queixar-se. Sam era muito bom nisto. Nunca permitia que o tecido se secasse muito, nunca permitia que a água estivesse muito quente. E enquanto que as relações com ele eram excitantes, isto era tão bom de uma maneira distinta. Isto a fazia sentir-se especial. Mimada.

     —Sente-se bem? –perguntou ele enquanto lhe levantava o braço.

     —Muito bom. —Foi quase um ronrono.

     A curva dos lábios indicou sua aprovação.

     —Bem. — Corrigiu ele.

     A água estava mais quente agora, o calor quase pinicava a pele antes de empapar os músculos doloridos de seus braços. Sentia-se tão bem. Ela gemeu, dobrando os dedos enquanto ele levava o tecido pelo interior do braço.

     —Pode fazer isto toda a noite.

     —Tenho intenção de dormir um pouco.

     —Então apreciarei seu cuidado até que durma.

     Os lábios se retorceram.

     —O fará.

     —Mas não acredito que sua reputação sobreviva.

     Ele molhou o lenço na água, enxugando esta vez o sabão da pele. Parecia fascinado pelo processo.

     —Que reputação é essa?

     Ela não podia acreditar que fosse dizer isso.

     —Que podes agradar a uma mulher desde o crepúsculo até o amanhecer sem parar.

     Incrivelmente ele sorriu e moveu o tecido para baixo, deslizando-a sobre seu seio em movimentos suaves.

     —Isso é um feito?

     O seio formigou e se enrijeceu.

     —Sim.

     O fogo agitava-se sobre seu semblante enquanto lhe lançava um olhar sob o bordo do chapéu.

     —Então talvez queira voltar a considerar sua proposta.

     Estava lhe dando uma saída. Outra. Estava se tornando algum sedutor de sangue-frio.

     —Não. Fizemos um trato. Vou mantê-lo.

    Sam inclinou ligeiramente a cabeça enquanto deixava o tecido a um lado e movia as mãos com cuidado abaixo dela.

     —Ao pé da letra?

     —Sim.

     —Essa é minha garota. Dê a volta.

      —Estou cômoda. E realmente não quereria mover-se.

     —Te sentirá melhor depois.

      Começou a girá-la. Mãe de Deus, ele era forte. Metendo os braços debaixo, ela seguiu seus desejos até que se deixou cair pesadamente sobre o estômago, gemendo enquanto o protesto se curvava pelos músculos.

     —Tranqüila.

     —Estava tranqüila até que teve que fazê-lo a sua maneira.

     —Te serviria recordar que eu sempre o faço a minha maneira.

      Outra advertência?

     —Estou acostumada a fazê-lo a minha maneira, também.

      O ar fresco flutuou sobre suas costas quando ele lhe levantou a camisa. Seguiu-lhe rapidamente o calor do tecido fazendo suaves passadas sobre as costas. Descansou a bochecha sobre as mãos. Os olhos se fecharam com uma onda de felicidade.

     —Gosto desse pequeno ruído.

      Ela não se deu conta de que tinha estado cantarolando na garganta. Não sabia que dizia.

     —Obrigada. —Se acomodou.

      Agitou o tecido na panela Gotinhas caíram como chuva enquanto ele a torcia, e uma vez mais a moveu sobre suas costas com essas longas passadas que aliviavam a tensão para deixar só relaxamento.

     —Admita - sussurrou ele em seu ouvido—. Virar-se foi uma boa idéia.

     Ela não queria dizer não e mentir, mas tão pouco queria dizer sim e demonstrar-lhe que tinha razão, assim que se preparou para outro zumbido em sua garganta, esperando que o satisfizesse. Não o fez.

     O golpe repentino que Sam lhe deu em sua nádega direita picou, quente e doce; o estranho prazer desembocou no espaço entre as pernas, latejando durante duas batidas do coração antes de florescer com a antecipação.

     —Responde minha pergunta.

     Era uma ordem, dita nesse tom que encontrava o equivalente lascivo nela. Com o que se deleitava em sua dominação, vivia para desafiá-lo.

     Não respondeu imediatamente, em parte porque era sua natureza lutar contra a autoridade e em parte para causa do calor persistente. Se a surrasse outra vez, aumentaria ou tinha sido a surpresa o que provocava essa pequena experiência erótica?

     O oleado chiou quando Sam trocou de posição. Os músculos de Bella se tensionaram, a antecipação corria desenfreada. Esqueceu-se de respirar, cada músculo tremia... O faria? Deus o faria?

     O açoite veio, um pouco mais abaixo, um pouco mais forte, a mordedura aguda a desequilibrou. Se mexeu para frente. A mão do Sam pressionou na metade das costas.

     —Fique quieta.

     Enterrando a cara em seus braços, ela gemeu. Outro açoite, outra onda de prazer quente contido pelo peso da mão que lhe cobria a nádega.

     —Responde minha pergunta, duquesa.

     —Sim.

     —Sim o que?

     —Girar foi uma boa idéia.

     Se ela tivesse desejado que ele soubesse quão depravada era. O qual não tinha querido que realmente o soubesse. Sua mãe lhe havia dito que seu lado selvagem não lhe traria nada mais que prejuízo. Talvez tivesse razão. Uma mulher adulta que desfruta de que um homem a surre não podia acabar bem.

     Desta vez quando a mão de Sam se assentou sobre suas nádegas não foi um açoite e sim uma carícia.

     —O que colocou essa nota tensa em sua voz?

     Ela não levantou o olhar.

      —Não estou acostumada a que um homem… me maneje.

      Ele continuou lavando-lhe suavemente as costas, tirando os grãos de areia e a sujeira.

     —É que não estás acostumada a que um homem te maneje ou não está acostumada a como se sente quando um homem o faz?

     —Ambos.

     —Pelo menos é honesta.

     Baixou-lhe a camisa.

     —Sempre trato de ser honesta.

     Sam lhe deu golpezinhos no traseiro.

     —A menos que uma mentira te sirva melhor?

     —Não.

     Sam a girou sobre as costas. Não lhe doeu tanto desta vez. Ela lhe olhou fixamente enquanto as sombras brincavam com sua cara, o sorriso nos lábios e a especulação nos olhos.

     —Por que está incomodada de ter desfrutado desses pequenos açoites?

     Ele notou isso.

     —Por que te incomodaria a ti que gostasse de mim?

     Ele ficou imóvel, só por um segundo, mas foi suficiente para demonstrar-lhe que ela tinha razão. Não lhe agradava.

     —O que te faz pensar que eu gosto de você?

     —O que te faz pensar que eu gostei de teu açoite?

     Sam inclinou a cabeça a um lado. Sua sombra se moveu com o movimento, rodeando a de escuridão.

     —Instinto.

     —É também instinto o que me diz que gosto de você.

     —Não és grande o bastante para ter instintos.

     Ela se apoiou sobre um cotovelo, empurrando um brinco perdido para fora de seus olhos.

      —Que idade crês que tenho?

     O olhar do Sam caiu a frente aberta de sua camisa.

     —Malditamente muito jovem para mim.

     Assim que isto era seu problema.

     —É por isso que me banha e me surra, porque pensa em mim como tua menina? —Não sabia como se ajeitaria se esse fosse o caso.

     A veemência com que ele disse «Inferno, não» foi um alívio. Mas agora lhe tinha provocado curiosidade.

     —Então por que o faz?

     —Queria.

     Isso não era toda a verdade.

     —E o que Sam quer fazer, Sam o faz?

     —Bastante.

     Pela esquerda, Kell grunhiu. A mudança em Sam foi imediata. Se foi o amante e em seu lugar ficou o assassino. Colocando o dedo sobre sua boca e a mão no ombro, a empurrou para baixo.

     —Não se mova.

     Ela deu um assentimento curto para deixá-lo saber que tinha entendido.

     Sam lhe passou os nódulos através da bochecha e tocou a comissura da boca enquanto algo suave se moveu pelos olhos, mas então se foi e também ele.

     Foi a coisa mais dura que ela jamais tinha feito, estar ali, sabendo que algo, alguém, estava mais a frente do fogo, esperando para atacar. Sam não tinha tal problema. Com uma indiferença que invejava, ele tirou a panela do fogo. Com um chiado que a fez saltar, um homem saltou das sombras direito as costas de Sam. Exceto que Sam já não estava mais ali. Tão rapidamente que ela só pôde piscar, ele retrocedeu para o atacante, o corpo agarrando ao outro homem sob os joelhos, lançando-o ao ar ao lado dela. O estranho aterrissou com um ruído surdo ao meio metro de distância. Estirou-se para fora.

     Isabella se retorceu a um lado, seu corpo chiando, sua mente gritando, mordendo o lábio com os dentes para não chiar e distrair Sam. Ficando de joelhos, tentou arrastar-se para longe. A dor lhe golpeou através do couro cabeludo quando foi atirada para trás. Arranhando a mão que segurava sua trança, retorceu-se e lutou. O homem grunhiu outra vez e então estava livre. Arrastou-se para longe, olhando como duas sombras rodavam através do fogo. As faíscas voaram e a fumaça soprou. Kell veio ao lado dela, uma escura ameaça hostil. Ajoelhando-se, ela se empurrou a seu lado.

   —Vê ali e ajuda!

     O cão tentou morder-lhe a mão e logo voltou para a luta, com a cabeça baixa, seu grunhido acompanhado de um constante retumbar. Ela desejou poder grunhir. Tudo o que tinha eram chiados de apoio esperando ser liberados. As sombras rodaram outra vez na escuridão, longe da luz. Uma sombra se elevou sobre a outra em uma débil silhueta contra o negro mais profundo da noite que se estirava mais a frente do fogo. A reconheceu imediatamente. Sam. Se encheu de alívio. Era Sam.

     Por um segundo ele esteve perfilado contra o resplendor das chamas dispersas, os braços estendidos para baixo, a cabeça de seu agressor. Então com um puxão e torção rápidos, e com o estalo de osso contra osso, o combate se acabou. Sam ficou de pé.

     Isabella se segurou o estômago quando ele se aproximou. Acabava de matar a um homem. Com suas mãos nuas. Kell choramingou e sacudiu a cauda em saudação. Sam se inclinou e lhe afagou a cabeça.

     —Bom cão.

     Embora não pudesse ver os olhos de Sam, Bella sabia que a estava olhando. Olhando como tremia como uma covarde. Levantou o queixo.

     —Não ajudou em absoluto.

     Um sussurro mais além da luz a fez saltar outra vez. Sam nem sequer girou a cabeça.

     —Fez o que lhe disse que fizesse. Você também.

     —Por que não queria que te ajudasse?

     Por que não queria que ela lhe ajudasse?

     —Estaria em meu caminho.

     Ela se esfregou as mãos acima e abaixo por seus braços, olhando mais além de Sam ao corpo que jazia no chão. Seguia esperando que se levantasse.

     —Está morto. Não vai se levantar.

     Lhe olhou, surpreendida.

     —Como?…

     Agachando-se diante dela, cavou-lhe a bochecha brevemente em sua mão, um gesto de consolo, de aprovação. De preocupação.

     —Tens uma cara muito expressiva.

     Tinha quebrado o pescoço de um homem. Como podia ser tão tenro agora?

      —Oh.

     —Está ferida?

     —Não. Só um pouco assustada.

     —Não precisa ficar.

      Ela moveu ao corpo.

     —Era um dos de Tejala?

     —Não. Só alguém querendo companhia para a noite.

     Ela piscou enquanto seu significado penetrava.

     —Me desejava.

     —Creio que assentamos que não te pode ter.

     Os joelhos se renderam. Ele a agarrou contra si.

     —Sinto muito. Não me dei conta de que haveria outras ameaças.

     Tejala tinha sido a única ameaça exaustiva durante tanto tempo, tinha perdido de vista que podia haver outros. Tinha estado cega, egoísta.

    —Quando te pedi que me deixasse ficar, não esperava… — Olhou o corpo outra vez—. Pensei que só seria Tejala. Me levarias a Santo Antonio. Não haveria complicações.

      —Estás tratando de te retirar de nosso trato?

     Não podia conter a imagem do homem saltando sobre Sam, querendo matá-lo por causa dela. Retorceu os dedos na camisa dele, tentando ir mais além da compressão disso. Mas não pôde.

     —Não acreditava que haveria outros…

     Sam se encolheu de ombros, os músculos pesados sob a bochecha flexionando-se com o movimento.

     —Sempre haverá outros como ele.

     Como se isso não fosse nada.

      —Não te incomodariam se não fosse por mim.

     Sam lhe girou a cara para a dele.

     —Nem sequer o penses.

     —O que?

     —Colocar-te a caminho sozinha.

     Sua mente não tinha ido tão longe, mas era a solução lógica.

     —Ninguém mais morrerá por minha causa.

     Sam não morreria por sua causa.

     —Não sou fácil de matar.

     Ela fechou os olhos e as lembranças rugiram.

     —Pensava o mesmo a respeito de meu pai, mas Tejala o matou.

     —Enquanto você olhava?

     Sacudiu a cabeça. Podia sentir a corda ao redor do pescoço ainda, sentir a incrível dor, o terror.

     —Tive os olhos fechados.

     —Porque estava te estrangulando.

     Ela saltou.

     —Como sabe?

     Acariciou-lhe a cabeça com os lábios.

     —Te estás tocando a garganta.

     —É um mau hábito.

      —É um inferno de má lembrança.

     Como se isso justificasse algo.

     —E não quero que sua morte seja a seguinte.

     A sustentou durante um minuto, sem dizer nada, só sustentando-a.

     —Bella?

     —Sim.

     —Não vou deixar-te ir.

     Tomou toda sua força de vontade a Bella desembaraçar os dedos da camisa e colocar-se de pé.

     —Então deves levar-me a Santo Antonio diretamente.

     —Não posso.

     Ela piscou.

     —Por quê?

     —Procuro a alguém.

     —A quem?

      —Uma mulher.

      O estômago lhe caiu aos pés. É claro que um homem como ele teria uma mulher. Deu outro passo para trás. Ele a deixou, olhando-a. Muito de perto. Muito atentamente.

     —Está ferida?

     —Não.

     —Bem. Vá se sentar na esteira enquanto limpo isto.

      A esteira estava a um metro detrás dela. Mais perto da escuridão.

     —Talvez tivesse amigos.

     —Não tinha.

     —Como sabe?

     —Os de sua classe nunca têm - Sam estalou os dedos e assinalou—. Kell protege-a.

     Ela foi até a esteira com os joelhos débeis e o coração pulsando. Kell caminhou a seu lado e se parou adiante enquanto ela se sentava. A única vantagem que pôde encontrar é que ele lhe estava bloqueando a vista do que Sam fazia. Tensionando os músculos se recostou com dificuldade. Não lhe importou. Atirando a manta sobre ela, olhou fixamente a perna de Kell, contando as manchas do lombo a pata Oito, tinha oito. E contá-las não fazia nada para separar de sua mente o conhecimento de que Sam tinha uma mulher.

     Era formosa? Perguntou-se. Isabella sacudiu a cabeça ante sua tolice. É claro que era formosa. Provavelmente tinha pálida pele branca, formosos olhos azuis e comprido cabelo loiro. Provavelmente era toda apropriada toda correta. Ouviu o som de algo a ser arrastado. Isabella atirou a manta sobre a cabeça. Sam provavelmente a amava muito.

     Muito rápido a manta foi puxada para trás. Sam se deslizou a seu lado. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, lhe meteu a mão sob o ombro e a empurrou a seu abraço.

     —O que está errado?

     As palavras simplesmente saíram de repente.

     —A amas?

     —A quem?

     —A essa mulher que buscas.

     —Não.

     Era isso. Nenhuma outra explicação, mas aliviou o nó no estômago. Sam não seria tão superficial a respeito da mulher a quem amava.

     —Algo mais que queira saber?

     —Não.

     Ele se moveu, empurrando-a para encontrar uma posição mais cômoda. Atirando o chapéu para baixo sobre sua cara, ordenou:

     —Então durma.

     Ela fechou os olhos. O sono não vinha. O chão era duro, o ombro começou a doer-lhe e sua mente seguiu correndo, especulando a respeito da mulher desconhecida, a respeito de Sam, a respeito de como lhe fazia amor a uma mulher.

      —Não podes dormir?

     Ela saltou.

     —Acreditava que estava dormindo.

      —Está muito inquieta para permitir-me dormir.

     —O ombro me dói.

     —Posso encarregar-me disso.

     O ar frio caiu sobre ela outra vez quando a manta foi levantada e ela erguida também, até que Sam a estendeu através de si tão completamente como qualquer manta.

     —Melhor?

      Em algumas maneiras sim, em outras não. Jazer em cima de Sam era como jazer em cima de pura tentação. A boca se secou como uma casca, e em cada ponto onde seu tronco tocava o dele sentiu formigamento e ardia. Podia sentir o batimento do coração contra os seios, cavalgou a subida da respiração. E contra o estômago, seu pênis pressionava. A dor que tinha estado tratando de suprimir se liberou, dando voltas em espiral para fora. Deixou cair a cabeça contra o peito.

     —Sim.

      A mão grande subiu e lhe sustentou a cabeça, mantendo-a contra si. Esperou que ele dissesse algo. Não o fez, mas a esperança não se iria, só se construía junto com o desejo entre eles. As respirações se fizeram mais curtas, mais agudas, seu punho mais apertado. Ele sentia a atração também. Por último ele perguntou;

     —Assim que quantos anos tens?

     Ela sorriu contra sua camisa.

   Ah, ele estava rodeando o obstáculo a sua maneira.

     —Sou o suficientemente maior.

 

     —Isso não foi uma resposta a minha pergunta.

     A provocação estava nos olhos de Bella enquanto o contemplava.

     —Foi tão clara como qualquer resposta que me dá.

     A provocação fortificou mais a Sam que a chamada da batalha, acalmando-o melhor que o sexo agressivo. Introduzindo os dedos em seu cabelo, deslizou-os para baixo até que alcançou a base da trança.

   —Ah, mas você não sou eu - disse Sam.

     Notou o sorriso dela, os duros picos de seus peitos, a suavidade do estômago, o tentador V das coxas. Recordava a forma em que instintivamente tinha reagido a esse pequeno açoite. Seu pênis latejou. Necessitava que fosse o suficientemente maior.

     O cansaço e o desejo se entrelaçaram. Em cima dele, Isabella se movia com a mesma combinação. Inexperiente, tinha menos habilidade para ocultar o caos que ocorria em seu interior. Mudou o agarre das costas as nádegas. Os músculos estavam tensos em um provocativo apertão. Ela gemeu quando seus músculos protestaram, mas quando a dor terminou sua curva, levantou o traseiro pressionando em sua palma. Era uma coisinha quente.

     —Sam?

     —O que?

     —Assim não posso dormir.

     —Já, isso é uma lástima.

     —Sim, o é. E precisa fazer algo sobre isto.

     —Me estás dando ordens?

      Na trêmula luz das brasas moribundas do fogo, pôde ver o nervoso lambido de seus lábios, antes que assentisse.

     —Sim.

   Atirou dela para cima até que teve sua cara sobre a sua e os antebraços dela apoiados em seus ombros. O grosso da trança caiu entre eles, unindo-os.

     —Isso é algo perigoso.

     —Também o é deixar-me assim.

     Gostava que fosse franca com ele.

     —E como é exatamente assim?

     —Dolorida e sentindo que perdi algo.

     —Por acaso estás me seduzindo?

     —Tenho êxito?

     Deslizou-a de lado, rodando sobre ela enquanto as unhas se cravavam em seus ombros em protesto por terem sido apartadas. Empurrando os quadris contra os seus, lhe deixou sentir o quão preparado estava seu pênis.

     —Estás muito perto.

     —O que preciso fazer para ter êxito?

     —Convença-me que sabes o que estás fazendo.

     Os dedos dela lhe tocaram a bochecha com a delicadeza de uma mariposa.

     —Por esta noite só desejaria sentir-me como a mulher que quero ser. Desejo plantar em ti a sensação de como um bom homem pode fazer sentir a uma mulher tão profundamente dentro de mim que, sem importar o que aconteça no futuro, nunca esquecerei este momento.

     Era tão de Bella. Uma solução prática para uma mulher que vivia com a certeza de que era perseguida, que finalmente seria encontrada, e quando o fosse seria violada e possivelmente assassinada.

     —Queres muito.

     Uniu as mãos na nuca dele.

     —Não creio que seja muito para ti. És o infame Sam MacGregor.

     Que o desafiava a encarregar-se dela.

     —Está pedindo mais do que crês.

     —Mas o darás para mim.

      Não foi uma pergunta.

     —Talvez.

     Pressionou pausadamente a gema do dedo no meio do queixo dele.

     —Creio que não és um talvez. Creio que serei mais que irresistível para ti.

      Demônios! Provavelmente estava certa. Afastou-lhe suavemente o cabelo da têmpora, expondo os leves vestígios das veias azuis sob a sedosa pele e o rapidíssimo batimento de seu pulso. Temor ou excitação? Com Bella era difícil dizê-lo.

     —Alguém já te disse alguma vez que falas demais? — lhe perguntou, tocando-lhe o pulso com o polegar.

     —Não.

     Era uma mentira tão óbvia dita deliberadamente para diverti-lo, que se riu enquanto baixava a cabeça até a dela, ouvindo como ficava sem fôlego sem poder dissimulá-lo, sorrindo porque era tão consciente dele como ele dela. E também porque tinha vantagem. Sabia como utilizar seu desejo contra ela.

     —Bem.

     —Por que...?

     Foi incrivelmente fácil silenciar o resto da pergunta. Tudo o que tinha que fazer era baixar a cabeça esse quarto de polegada que lhe levaria a sua boca. Tudo o que tinha que fazer era capturar o grito afogado em sua boca, tomá-lo para ele, e seria sua. Em corpo e alma, inclusive se sua mente não estivesse de acordo. Podia pelejar tudo o que quisesse, mas tinha razão em uma coisa. Essa atração tão forte não ocorria todo dia.

     Agarrando-lhe as mãos, as imobilizou sobre a cabeça dela, movendo-se completamente sobre ela, colocando as coxas sobre as suas, peito contra peito, odiando a barreira de roupa entre eles. Odiando a barreira de sua inocência. Odiando-se a si mesmo porque ia despojar-se dela. Porque não podia controlar-se.

     Isabella se arqueou para cima e gemeu. Sob as Palmas dele seus pulsos lutaram. Muito. Estava pondo-lhe muito peso sobre as mãos. Sam afrouxou o beijo, aumentou a luxúria enquanto ela levantava a cabeça, prolongando o contato.

     Acariciou com a boca a lateral de seu pescoço.

     —Não vou a nenhuma parte, duquesa.

     Ela gemeu e girou a cabeça, buscando-o as cegas com a boca. Segurando com uma mão as dela, carregando a maior parte do peso no antebraço, o fez, afundando-se na doçura de sua paixão, a franqueza de seu desejo. Podia ser inocente, mas ardia mais apaixonada, mais viva que qualquer outra mulher que tivesse beijado antes. E necessitava mais.

     Também ela, a julgar por sua resposta. Ergueu os quadris para os seus, o ângulo de seu ritmo refletia a inexperiência, mas a impaciência… Maldição, a impaciência.

     Com cuidado de não esfregar-se contra suas roçadas coxas, dirigiu o movimento dela.

     —Assim.

     Só fez uma leve inclinação em seus quadris para liberar a pressão aonde ela o necessitava.

   Seu «Deus» estalou mais a frente do ouvido.

     —Sente-se bem?

     Assentiu, esses magníficos dentes brancos se afundaram no lábio.

     —Como bem?

     —Não posso descrevê-lo.

     —Tenta.

     —Como o sente você? —respondeu-lhe, a exasperação entoou a pergunta mais alta.

Nunca tinha pensado sobre isso.

     —Como o mais doce e atraente fogo.

     —Sim - ofegou, arqueando a cabeça enquanto ele pressionava em sua suavidade—. Queima.

     —Gosto disso. — Desabotoou o zíper de suas calças—. Arde para mim.

     Liberou seu pênis. Sentia-se grosso e pesado contra a fina lã da saia. O áspero material excitava a longitude sensível. Seus quadris corcovearam involuntariamente. A saia subiu enquanto apontava a rombuda cabeça entre suas pernas, acomodando-a com a mão até que ela ofegou e se arqueou de novo.

     —Maldição, quando te despir, vamos nos divertir.

      —Quero me divertir agora.

      Ela não tinha paciência. Ele desejava podê-lo achar como uma falha mas estava tão ansioso como ela.

     Rodou de lado atirando-a contra ele.

     Ela lhe rodeou o pescoço com os braços.

     —Não tenho tempo para esperar a que lutes com sua consciência, Sam.

      Porque pensava que Tejala ou algum outro a encontraria e lhe arrebataria a eleição.  Sam não se incomodou em lhe dizer de novo que isso nunca passaria. Que não deixaria que acontecesse. Ela não lhe acreditava.

     —Sei.

     Ela bateu as pestanas contra seu pescoço.

     —Assim que te apressarás?

     Acariciou-lhe o cabelo, apanhando a trança no punho, deslizando sua mão por debaixo, para o final e liberando o laço enquanto o coração volteava em seu peito. O laço se desfez. Desenredou a trança, um cacho de cabelo por vez, deixando que as grossas mechas sedosas de seu cabelo se deslizassem entre seus dedos.

     —As relações… — utilizou a palavra respeitando a sensibilidade dela—… se supõe que não devem ser apressadas.

     —Já podes parar de dizê-lo assim - disse, lhe franzindo o nariz.

     —Creio que é lindo.

     —Pensas que é gracioso.

     Era uma coisinha terna. Sorriu, tombando-a, subindo-lhe a saia.

     —Isso, também.

     Com um giro de pulso, lançou a saia para cima sobre os quadris. Ela chiou, mas permaneceu quieta. A vista que se ofereceu ante seu olhar, quando a saia liberou suas coxas, o fez franzir a testa. Com muito cuidado pressionou no joelho esquerdo. Instintivamente apartou a perna do íntimo toque. A delicada pele do interior de suas coxas estava esfolada e elevada com manchas de sangue.

     —Demônios.

     Se suas coxas estavam em carne viva seu sexo tinha que estar machucado. Cavou a palma sobre a cálida almofada, pegando-a a ela. Deveria ter previsto sua inexperiência. Vendo sua dificuldade para montar anteriormente.

     —Sinto muito.

     Ela franziu a testa.

     —Por quê?

     —Por não ver que estavas tendo tantos problemas.

     —O estava escondendo de ti.

      Não teria tido forma de lhe escondê-lo se não tivesse estado fazendo o esforço por ocultar que a olhava como um velho indecente.

     —Já. Bem, se alguma vez me esconder o dano outra vez, açoitarei seu sexy e pequeno traseiro.

      Isabella sorriu com esse sorriso de anjo travesso.

     —Promete?

     Colocou o dedo entre a fenda de seus calções, trabalhando entre as sedosas dobras de sua vagina, provando, explorando.

     —Desde agora!

     Estendeu ainda mais as pernas.

     —Deus.

     Em um lento e lânguido movimento, ela colocou as mãos atrás da cabeça.

     —Tão complacente.

     Os quadris se elevaram ao ritmo que ele estabeleceu.

     —Quero te agradar.

     A confissão foi direto ao seu pênis.

     —Isso não é muito difícil.

     Ela se movia sob seu toque, ofegou quando ela criou uma pressão mais profunda.

     —Penso que é muito difícil, tanto que acredito que vou ter que «me informar a fundo» sobre isso.

     Estava-lhe devolvendo suas próprias palavras enquanto provocava ainda mais a luxúria com uma completa despreocupação pelas conseqüências, buscando o prazer com imprudente entusiasmo, que reclamava um fervor igual nele. Deslizando-se entre as coxas, sabendo que deveria pôr ungüento nas feridas, sabendo que iam esperar.

     —O farás, não é? —perguntou—. Bem, talvez devesse ver primeiro no que estás te metendo.

     Ela gemeu quando lhe levantou as pernas sobre os ombros dele. Rangeu os dentes. Era um animal condenado. Ela não podia mover-se sem dor e estava completamente sobre ela, respirando a essência da excitação feminina como se fosse ambrosia, antecipando o bem que os sucos que cobriam suas pregas iam a saber em sua língua, persuadindo-a de aceitar a dor para que assim ele pudesse obter o prazer.

     Animal ou não, não se deteve. Não podia deter-se. Duas polegadas mais e teria a primeira degustação dela em sua boca. O doce ácido, como uma tormenta do verão, correndo por seu organismo. Perfeito. Ela fez esse pequeno chiado ruidoso outra vez. Reconheceu esse som. Doce e generosa rendição.

     Um segundo mais tarde foi um leve ruído surdo enquanto deixava cair a cabeça.

     —Estás seguro que isto está bem entre um homem e uma mulher?

     —Muito seguro.

     —Mas não é decente?

     —Nem um pingo.

     —Então continua!

     Fez exatamente isso, a sonora risada lhe atravessou enquanto lambia o fluxo de seu prazer, ouvindo os suaves gritos, os ofegos, os ocasionais gemidos de consternação que o dirigiam de volta aonde ela necessitava a maior parte de seu toque. A satisfação infundia paixão enquanto deixava que o prazer dela o inundasse, enchendo-se profundamente de seu desinibido deleite.

     Meteu outra vez o dedo no buraco, cobrindo-se com a promessa do prazer. Seu pênis latejava. Respirou profundamente, inalando seu perfume. O sabor e almíscar feminino. Uma potente combinação. Uma que não ia ser capaz de resistir por muito tempo. Não tinha sido muito respeitável ou sacrificado.

     —Relaxe e desfrute.

      Apartou o dedo a um lado com a língua, penetrando-a da única maneira que estava a salvo, a única maneira que se permitiria. Não violava a mulheres e as levava a perder seu próprio juízo por temor do que era equivalente em sua opinião. Mas não podia evitar roubar uma degustação. Arriscava-se a conseguir um disparo no cu. Merecia-se ao menos uma degustação. Uma profunda, prolongada e meticulosa degustação do que estava renunciando.

     —Estende mais as pernas - grunhiu.

     O fez, imediatamente, de maneira natural apartando as coxas até que pôde notar como lhe tremiam os músculos, observava-o todo o tempo com uma expectativa que falava de uma profunda necessidade. Uma que estava mais que disposto a avivar.

      —Goze para mim, Bella.

     —Não posso.

     —Pode.

      Empurrou-lhe as coxas um pouco mais abertas, mantendo a tração forçadamente tensa enquanto lhe lambia delicadamente o clitóris, introduzindo-a de volta a tormenta antes de escolher o ritmo e a pressão, conduzindo-a a paixão, mantendo-lhe as pernas abertas quando ela as teria fechado, mantendo-a quieta pelo açoite de sua língua, a suavidade de seu beijo, o roçar de seus dentes, mantendo-a entregue enquanto o clímax a balançava. Dos lábios dela saiu seu nome, uma ofegante mescla de temor e deleite.

      —Está bem, Bella. Deixe que aconteça. Goze para mim.

     Ela lhe agarrou o cabelo com os dedos enquanto se rendia a pressão de sua boca, segurando-a contra ela enquanto o sucessivo espasmo a tomava. Ele interrompeu a pressão quando as contrações diminuíram, lambendo-a suavemente, lhe facilitando o caminho desde a comoção a recompensa da satisfação. Ela abriu as mãos em seu crânio enquanto a respiração escapava a sacudidas em um longo suspiro.

     Apoiando-se nos cotovelos, Sam olhou para cima só para encontrar Bella observando-o em uma combinação de assombro e fascinação.

     —Tudo bem?

     Ela assentiu, inclinou-se para frente, e tocou sua face com a dele. Seu cabelo caía sobre eles como uma cortina de seda, criando nesse momento a ilusão de absoluta privacidade.

     —Tinhas razão. Não creio que isso foi de todo decente.

     —Mas foi divertido?

     —Oh, sim. —Assentiu com a cabeça, remetendo de ida e volta seu cabelo sussurrante sobre os ombros dele—. Muito divertido.

     Ele acomodou os ombros sob as coxas dela, estabilizando-a com uma mão sobre seu braço quando ela se balançou.

     —Bem, porque não acabamos.

     —Creio que sim.

     —Não tem nem idéia de quanto prazer posso dar-te. —Soltou-lhe o braço, observando-a para assegurar-se de que mantinha o equilíbrio. As gemas dos dedos de Bella lhe pentearam o cabelo na nuca de seu pescoço, acalmando e estimulando ao mesmo tempo.

     —Há mais?

     —Muito mais. Entregue-se.

     Isabella não duvidou. Não imaginava que alguém duvidasse quando Sam usava esse sexy e rouco tom de voz. Capturou suas próprias mãos. O puxão nos músculos dos ombros se mesclou com o tremor de excitação enquanto arqueava as costas, empurrando para cima seus seios, sacudindo seu cabelo para afastá-los dos olhos.

     —Algo assim?

      —Oh, sim. —Cada rouca sílaba avivava o desejo nela como uma áspera carícia—. Exatamente assim.

     Sam se colocou sobre seus joelhos, apalpando-lhe os seios, capturando seu mamilo entre os polegares e o bordo das mãos, roçava-lhe as sensíveis pontas com um toque tão ligeiro que ela teve que esforçar-se por senti-lo. Então o fez outra vez, um pouco mais rude, a vibração ecoou alojando-se profundamente em seu centro, enviando pequenas explosões de prazer que irromperam ao exterior.

     Uma rápida olhada desde sob as pestanas lhe mostrou que a diversão nele se tinha ido, os agudos planos de seu rosto outra vez se perfilavam em duras linhas enquanto que toda sua atenção se centrava em seus seios. Seu cabelo roçou as cúpulas de seus peitos em uma grossa cascata quando se agachou, acrescentando-se a carícia de suas mãos as laterais de seus seios. Sua barba lhe arranhou a delicada pele antes que seus dentes provassem sua elasticidade. A carne eriçada apareceu como conseqüência da carícia, flamejando em um forte estremecimento quando soprou sobre a úmida carne.

     Anos de desejo contido saíram a luz. Ela se lambeu os lábios, forçando-se a esconder a resposta que não estava segura que devesse revelar. Acreditava que ia rezar até que ele começou a mordiscar. Ah, por que não tinha nascido com peitos planos? Com curvas como as suas, um homem tinha muito espaço aonde jogar. Muito para que o resistisse. Sobre tudo quando se tratava de Sam. O tinha aprendido quão sensíveis eram seus peitos e quanto gostava de ser tocada. Rangeu os dentes e apertou as coxas contra os quadris dele, elevou-se com brio expondo sua pulsante e florescente vagina com cada roçar de seus dentes, cada passada de sua língua.

     Quando Sam alcançou sua auréola, ela ofegava, seu controle em pedaços. Deveria apartar-se, mas não podia. Ainda não. Não quando estava traçando um círculo ao redor da carne franzida, disparando faíscas de pecaminoso prazer em uma brilhante cascata. Chupou o dolorido mamilo no calor abrasador de sua boca, reunindo essas faíscas em um amontoado concentrado sob o frágil topo, torturando-a com o lento avanço de sua língua através das acaloradas brasas. As unhas dela chiaram contra o forrado, o som se combinou com o vaio do agonizante fogo enquanto se retorcia sob o açoite de sua língua, a áspera superfície avivou as chamas de sua necessidade a ponto de ignição.

   Meu Deus, não podia suportar isso. Agarrou-lhe fortemente a cabeça com uma mão, envolvendo os dedos nos formosos fios de seu grosso cabelo, caindo outra vez em suas mãos, deixou que a guiasse enquanto o fogo rugia, ardendo insuportavelmente, o raspão de sua língua era tanto um bálsamo como uma maldição quando primeiro acalmava para logo torturar. Afogados gritos de «por favor, » se derramaram desde sua alma, enchendo o espaço entre eles.

     —Me diga o que desejas.

     A ordem, formulada ao redor de seu mamilo, só jogou mais lenha as chamas. Isabella atirou, mas não se aproximou mais, nem lhe deu o que necessitava. Ela baixou o olhar. A cabeça de Sam bloqueava a maior parte de sua vista, mas podia ver os dedos de sua mão livre lhe agarrando o seio, a pele dele era mais escura que a sua, sua grande mão abrangia só a metade do montículo, deixando o resto do gordinho seio para seu prazer. Tomou fôlego fortemente quando beijou seu mamilo, uma carícia suave, totalmente frustrante. Necessitava mais, maldita seja, e ele o sabia.

     Fincou-lhe as unhas no couro cabeludo. Sua resposta a silenciosa demanda foi uma rajada de risada e um murmúrio de «brinca». A satisfação nessa única palavra a fez querer gritar. Sam estava deixando-a louca deliberadamente. E não se deteria até que lhe desse o que desejava. A rendição era o que exigia.

     —Sua boca - Ofegou.—Desejo sua boca.

     Lambeu-a delicadamente, atormentando-a até o insuportável com o que podia ser.

     —Onde?

     —Em meus peitos. —Oh Deus, seus peitos.

     Outra dessas delicadas lambidas.

     —Como?

     Ela atirou de seu cabelo, por uma vez odiou sua força quando os músculos dele facilmente venceram aos seus, deixando-a sem outra opção que conceder. Com um último puxão nascido da total frustração, paralisou contra ele, soluços desesperados lhe roubavam o fôlego enquanto seus gordinhos seios eram espremidos pela boca dele, por um segundo lhe entregou a sensação que ela ansiava antes que ele se retirasse, outra vez tomando o controle.

     —Com força. —Estremeceu-se quando beliscou seu peito suavemente, a conseguinte pequena fantasmal sensação só era outra brincadeira. Fechou os olhos e esfregou a face contra seu crânio, derrotada conflitivamente pela necessidade.

     —Oh, por favor, faça-o com força.

     Como se sua súplica rompesse sua couraça onde as demandas não tinham tido efeito, seu grande corpo se estremeceu contra ela. Sua cabeça se lançou para trás, o estiramento de seu mamilo foi um prelúdio da sorte quando este atirou tenso. Não podia sufocar seu gemido mais do que ela podia reprimir sua resposta a essa dentada. Desejava-o. Seu mamilo se estirou entre eles mais e mais fino, uma atadura etérea que não podia estender-se mais, mas o fazia. Simplesmente o fazia.

     Mas não o fez, nunca o fez. Com um suave plop de desespero, seu mamilo ficou livre. Bella não se moveu, não fez nada, só deixou que o cabelo de Sam se deslizasse contra sua pele como uma sedosa raspadura até que sua face se apoiou contra a sua, esperando o que ele faria depois. Não fez nada, simplesmente os manteve a ambos ali, conectados, mas não pelo desejo entre eles em um elo tangível. Ela abriu os olhos. A olhava, seus olhos ardiam com fogo azul. Sua expressão era dura, exigente, mas havia algo fascinantemente terno no sorriso que pregava as comissuras de seus lábios. Contemplou-o, desejando entender. Estendeu a mão esquerda sob a coluna dela, cada gema de seus dedos suportava seu peso, pressionando-a para cima.

      Arqueou as sobrancelhas.

     —Suficiente?

     Sentiu-se completamente exposta quando sussurrou:

     —Necessito mais.

      Muito mais que só esse momento físico.

     A ternura em seu sorriso se estendia como seu toque.

       —Tudo o que tens que fazer é me dizer o que necessitas, duquesa, e te o darei.    Tem que saber isto.

      Não isso. Ele não deveria dar-lhe isso.

     —Não deveria fazer semelhantes impulsivas promessas.

     —Por que não? Agora mesmo me sinto muito generoso.

—Porque poderia tomar vantagem. —Conseguiu ofegar quando ele encontrou a escorregadia protuberância de seu clitóris com a ponta dos dedos. Mãe do Céu! Era um feiticeiro com a mais escura magia em suas mãos.

Definitivamente estava tomando vantagem, decidiu Sam, observando o rosto de Bella enquanto o prazer o transpassava profundamente, sentindo uma ressonante punhalada de prazer que não tinha nada que ver com o desejo que serpenteava por sua espinha. Ver Bella arder podia tornar-se sua forma favorita de recreação. Não havia nada mais erótico. Nada mais agradável. Nada mais atrativo. A doce e sedosa nata suavizou sua mão quando esfregou delicadamente, e ela se arqueou em sua mão. Quando se estremeceu e paralisou, seguiu-a em seu desmoronamento, introduziu seu pênis ao longo de seu sexo até que a cabeça se meteu na quente dobra de seu cu. Ela ofegou e ficou paralisada, mas logo seus quadris se elevaram, animando-o a ir mais fundo enquanto o fôlego de Bella se convertia em pequenos gemidos sedutores.

—O que queres de mim, Sam?

Ele lhe beliscou o tendão que corria a um lado de seu pescoço, um sorriso se estendeu quando ela gemeu outra vez e de maneira sutil arqueou seu pescoço, dando-lhe um melhor acesso. Obrigou-se a dirigir seus lábios sobre a linha feminina até que alcançou o nascimento de seu cabelo detrás do ouvido. O arrepio surgiu nela como conseqüência da carícia. Abriu a boca, tocando uma pálida sarda com sua língua antes de deslizar-se ao longo da traiçoeira aspereza, detendo-se quando alcançou a sensível curva de seu ouvido, deixando que o úmido calor de seu fôlego trouxesse mais daquela aspereza a pele ultra-suave antes de sussurrar-lhe ao ouvido:

     —O que puder permitir-te me entregar.

      Passaram dois pulsados antes que reunisse o fôlego para responder.

     —Então devo ter regras.

     Tudo nele dizia que ela lhe tomaria e o faria nos termos dele.

     —Não.

     Esmagou a palma contra o peito de Sam. Uma mariposa desafiando a um falcão. Isso o fez sorrir quase mais que a correção dela.

     —Insisto.

     Lhe elevou os quadris, e pressionou o pênis mais profundamente no quente berço de seu cu, sua irritação era apaziguada pela perfeição da resposta dela. Ela era sua com um toque.

     —Segundo meu ponto de vista não estás em posição de insistir em nada.

     Os dedos dela se curvaram em uma súplica silenciosa.

     —Ainda assim, escutarás.

     Era tão malditamente terna ao dar ordens. Retirou-lhe o cabelo da bochecha, necessitando ver sua expressão, sorriu quando as nádegas lhe espremiam em tensas pulsações rítmicas que destroçavam seu controle.

     —És uma coisinha mandona.

      —Conheço minha valia.

     —Mas seriamente superestima a minha.

     —Talvez.

     Acariciou seu pequeno clitóris mais duro, beijando-lhe a bochecha quando ela lançou um grito e seu corpo ficou rígido. Estava assim perto de gozar. E em um instante, a tinha deixado.

     —Talvez?

     —Isso depende de com que freqüência tem a intenção de satisfazer-me.

     —Tão freqüentemente como possa resistir, duquesa.

     Um estremecimento a percorreu da cabeça até a ponta dos pés.

      —Só necessito uma regra. Não podes exigir-me o que você não esteja disposto a dar.

     -Lhe traçou espirais no ouvido com a língua e saboreou sua resposta imediata.

     —Um trato justo, sim?

     —Sim.

     —E se não puder dar-te o que necessitas?

     Ela voltou a cabeça. Seus olhos pareciam aveludados a tênue luz.

      —Então não o exigirás de mim.

     Punha a responsabilidade de conservar a eqüidade nele. Maldita seja, era inteligente. Esfregando os lábios contra o pulso que batia na têmpora dela, perguntou:

     —Começamos esta noite?

     —Se estiver seguro.

      Não estava seguro de nada salvo de que o afetava de todas as maneiras possíveis por motivos que não podia definir, e não podia afastar-se dela. Ainda não.

     —Estás segura que desejas dar-me tua inocência? —Agarrou-lhe seu clitóris entre o polegar e o indicador e o fez rodar suavemente.

     Suas respirações se tornaram ofegos enquanto aumentava a velocidade e a pressão.

     —Sim.

      —Bem. —Beijou-lhe a bochecha, a esquina dos olhos e as pontas das longas pestanas marrons antes de apertar o bordo da sensível carne e ordenhá-lo com um puxão firme.— Então, goza para mim.

     O fez, com um apaixonante grito de seu nome, a cabeça caiu para frente sobre o ombro dele e logo para trás quando se estremeceu sob o látego de sua culminação. O rubor em suas bochechas se fez mais profundo. Sua cara se contorcia com uma extrema expressão de prazer tão intenso como a dor antes que, gradualmente, se desvanecesse na abafadiça expressão de uma mulher satisfeita.

      —Doce. Tão doce duquesa. —Tão doce como a tinha imaginado.

     Sam cavou sua ainda pulsante vagina, embalando-a protetoramente enquanto lhe arrancava seus calções e alinhava seu pênis na palpitante entrada de seu corpo. Ela resistiu e lançou um grito. Ele gemeu e apertou. Apertado. Maldição estava apertada. A compreensão o fez retroceder rapidamente. Merda. Não podia fazer isso. Não ia viver consigo mesmo. Virando-lhe, a mesma força de seu clímax o montou com força, Sam ficou ao longo das costas de Bella, lubrificando seu membro em sua nata antes de colocá-lo na sedutora dobra de seu cu. Um empurrão de seus quadris e já empurrava para trás, arqueando a coluna contra o peito do Sam, sua cabeça se inclinou outra vez, apresentando-lhe a boca para seu beijo, seu corpo a seu desejo.

     —Ah, merda.

     A sedosa nata reunida em sua palma, fluiu sobre seus dedos, banhando-os com a rica essência de sua excitação, tentando-o por sua própria liberação. Empurrou seu pênis ao longo da greta de seu cu. Deslizou-se suavemente entre os suaves montículos. Centrou sua atenção na ardente onda de luxúria, a satisfação no rosto dela e as palpitações residuais de seu orgasmo, montando seu prazer no seu próprio, fodendo essa escorregadia dobra do modo que desejava foder sua vagina. Com força, rápido e profundamente, visualizando o espasmódico apertão das nádegas dela ante o duro agarre por seus músculos interiores, gemendo quando seu pênis se localizou ao bordo de seu ânus, ela ofegou e se estremeceu ante o consecutivo impulso dele ao chegar ao topo.

     Com um gemido áspero sua sêmen fez erupção desde seus testículos, atravessando seu pênis para derramar-se na quente e sedosa superfície de suas costas. Retrocedeu, observando enquanto o seguinte jorro aterrissava mais alto que o primeiro, mesclando-se na cremosa extensão de sua pele, marcando-a como sua uma e outra vez, até que tivesse todo o que lhe podia dar.

     Seu coração retumbava em seu peito, sua árdua respiração saía e entrava de seus pulmões, Sam trocou seu peso a um lado, retendo seu agarre sobre sua vagina cobrindo-se a sêmen com a mão e massageando o sedoso fluido na pele dela, como uma invisível tatuagem.

     Sua. Era sua.

     A manta sussurrou e atirou quando ela girou o rosto para o dele, apartando-se o cabelo da cara, lhe deixou ver de cheio sua expressão. O suave sulco de seus lábios, a tonalidade de vermelhos através de suas bochechas e a cautela em seus olhos.

     —Não me tomaste.

     Ele sorriu e lhe beijou a comissura de sua boca. Com uma pontada de seus dedos a impulsionou a deitar-se de costas. Seguiu sua instrução facilmente, só perdendo o equilíbrio no último instante. Caiu com ela, impedindo que sua cabeça golpeasse o chão com a almofada de suas palmas.

     —Não leias muito nisso.

     Inclusive ante a insegurança que estava plantada nela, não se sobressaltou, ela só estudou sua expressão com esses suaves olhos, tocou-lhe a garganta com essas suaves mãos e sussurrou.

     —Um dia me dirás por que te escondes de mim.

     —Talvez.

     —Até então esperarei.

      Ela esperaria. Desejava sacudi-la. Desejava abraçá-la. Queria gozar.

     Tocou com o polegar seus lábios cheios em uma paródia de um beijo, a culpa o carcomia, o desejo o guiava.

     —Deverias ter a um homem jovem com estrelas nos olhos que te corteje. Alguém com quem sonhar.

      Ela estreitou os olhos.

     —Me pus a escolher uma mulher para ti?

     —Não.

     —Então está pego com minha eleição.

      Ele.

     Inferno. Era cabeça dura. E maldita seja se não estava contente disso. Os dedos dele lhe percorreram ligeiramente as bochechas, empurrou sua boca para a dele. Os lábios dela não se separaram imediatamente. Beijou a comissura direita e logo a esquerda, rindo-se de sua teimosa. Tinha muito caminho que percorrer antes que ela pudesse esperar ser mais preparada que ele. Tocou sua mão esquerda assim seu polegar amorteceria seus clitóris. Uma roçada, duas e os lábios dela se separaram em um gemido estremecido. Tomou a vantagem do momento, fazendo cócegas nos bordos internos com sua língua até que se retorceu antes de ir mais profundo, buscando e encontrando a resposta que sabia era sua. Descobrindo-o, tomando seu ofego e gemido como seu antes de retirá-lo bastante longe para arrastar as palavras.

      —Inferno, só espero que saibas o que está fazendo.

Os braços dela lhe rodearam o pescoço.

—Sempre o faço.

 

      Bella realmente sabia o que estava fazendo, mas Sam estragava seus planos com seu desmedido sentido de honra que insistia em protegê-la dela mesma. Não importava quanto ela tinha tratado de tentá-lo nos últimos dois dias durante os quais eles tinham «descansado», ele permanecia resolvido. Ela podia ter usado a um seqüestrador com menos solidez moral.

     Deu uma olhada ao pequeno claro onde Sam se sentava a costurar seus «calções largos». Ela tinha se oferecido a fazer a tarefa por ele, mas ele a tinha rechaçado do mesmo modo que rechaçava cada oferta que lhe fazia. Era quase como se ele tivesse medo de que se ela assumia qualquer das tarefas, começaria a vê-lo como outra coisa que algo temporal.

     Ela suspirou e mudou para uma posição mais cômoda contra a árvore caída que lhe servia como respaldo. Ser uma célebre virgem não era tão emocionante como soava. A parte célebre não lhe importava muito, mas a virgem... essa era a parte pela qual se ofendia. Pela quinta vez desde o dia de ontem pela manhã ela lançava o tema.

     —O que estás fazendo não tem sentido.

     —Já me disse isso antes. —Sam empurrou o fio através do puído tecido vermelho.

     Isso não era um bom sinal para a discussão de hoje.

     —Deverias tomar-me como o desejas. Todo mundo assume que já o fez.

     —Não me importa o que outros pensam.

     —Deveria importar-te o que eu penso.

     —Sempre tenho em conta o que tu pensas.

     Ela deu um pontapé a uma pedra frente a ela.

     —Se isso fosse assim, já não seria virgem.

     Ele cortou com os dentes o fio, olhando-a desde sob as pestanas.

     —Crês que é inevitável que Tejala te apanhe.

     —O fará.

     —E porque crês nisso - continuou ele como se ela não o tivesse interrompido—, desperdiçarias seu futuro em mim.

     —Eles vão culpar-me de todos os modos. Nos olhos daqueles que determinam meu futuro, já estou manchada.

     —Teu marido, quando te encontrar, saberá a verdade.

     Ela lamentou que não houvesse outra pedra o suficientemente perto para dar pontapés. Ela lamentou não estar o suficientemente perto para dar-lhe um pontapé.

     —O que ele sabe não será importante. Tudo o que importará a seus olhos será o que outros dirão.

     —És bastante preparada para escolher a um marido melhor.

     —As mulheres não escolhem a seus maridos em minha cultura.

     —Mas escolhem a seus amantes?

      Ele não tinha que ironizar-se. Ela empurrou o grande chapéu sobre seus olhos imitando o gesto que lhe tinha visto fazer quando ele desejava comunicar desdém.

     —Se forem o bastante afortunadas para ter a oportunidade. Sim.

     —E tu me consideras tua oportunidade?

      —Sim. E se não fosse tão teimoso, eu não seria objeto de intrigas sem uma recompensa.

      —O que te faz pensar que é objeto de intrigas?

     —Tejala tem anunciado por todas as partes do território que me quer de volta. As pessoas sempre se perguntarão por que fugi, onde estou, e o que ele me fará quando me recuperar. Acredito que sou objeto de muitas intrigas.

     —Bem, ao menos lhe dá as pessoas algo que fazer.

     Ele sacudiu os largos calções e se aproximou.

     —Estes devem proteger melhor suas pernas.

      Ela tomou a roupa de sua mão. O tecido estava limpo e suave pela lavagem freqüente. Ele tinha costurado um cordão na cintura. Ela se levantou e segurou as calças a sua cintura. Quase eram do tamanho perfeito. Só um pouco longo demais. Ela ergueu o olhar e o percurso foi um longo trecho. Tinha esquecido quão alto era Sam.

     —Tens bom olho.

     —Passei os dois últimos dias estudando o tema.

      Ela supôs que o tivesse feito. Embora tentasse manter a distância entre eles, passava uma terrível parte do tempo assegurando-se de que ela estivesse cômoda. Poderia ser que ele fosse assim com todos, mas ela não acreditava nisso. Um homem não insistia em costurar roupa para alguém de que estava impaciente por livrar-se.

     Ele lhe deu outro pedaço de tecido.

     —Isto também poderá ser útil.

     Ela olhou a banda com duas peças de tecido atado. Ele gesticulou para o peito de Bella.

     —Isto deverá impedir que as senhoras se façam mal.

     «As senhoras». Seus lábios se moveram nervosamente.

     —Obrigada por fazer isto para mim.

     —Não interpretes algo nisto. Se essas pernas tuas piorarem, nos fará ir mais devagar.

      Ela suspirou. Ele sempre insistia em dizer algo assim quando acreditava que ela o considerava muito favoravelmente.

     —Partimo-nos hoje?

     —Se te sente pronta para isso.

     Essas eram perguntas que arruinavam sua imagem de assassino frio. Ela pensava que estavam prontos para irem desde ontem, mas ele tinha dado uma olhada em suas coxas e tinha declarado que necessitavam um dia mais.

     —Não estou segura.

     Ele a olhou com receio.

     —Estava bastante pronta para ir ontem.

     Ela se encolheu de ombros e dirigiu suas mãos sob suas coxas, tomando cuidado de delinear a largura de seus quadris enquanto o fazia. Ele gostava muitíssimo de seus quadris.

     —Estava, mas depois do carinho da última noite me sinto um pouco… — ela se encolheu de ombro... —em carne viva.

     Na verdade não o estava. Sam tinha sido muito considerado enquanto lhe dava prazer. Ele era muito sensível ao feito de que ela sofresse algo e ele se via si mesmo como algum tipo de corruptor da inocência. Inclusive quando ela continuava lançando-se a si mesmo e a sua inocência em seus braços.

     —Maldição. Sabia que deveria ter me barbeado.

     Ela se reclinou contra a parede da rocha, e começou a levantar sua saia. Uma polegada de cada vez.

     —Talvez devesse comprová-lo e ver quanto dano foi feito.

     Ele estava já meio inclinado e ela tinha a saia quase a altura dos quadris, quando ele se deteve. Maldição. Ela acreditava que já o tinha.

     Tão rápido como o relâmpago ele a fez girar para ficar de cara a rocha. A pedra quente pressionou contra seus peitos. Dureza contra sua suavidade. Ele lhe fixou os braços detrás das costas. Seu pênis pressionou suas nádegas. Mais dureza. Seu sexo se umedeceu. Mais suavidade.

     Os lábios dele lhe roçaram a bochecha. Tanta dureza e suavidade em um só gesto.

     —Brincando com fogo, duquesa?

      Ela pressionou para trás contra sua virilha.

     —Faço todo o possível.

     O tapa em seu traseiro a pegou de surpresa.

     —Conseguirás te queimar.

     —Por quê?

     —Porque isso é o que acontece com as pequenas inocentes que tratam de correr antes que possam andar.

     —O que te faz estar tão seguro de que não estou pronta?

     —O que te faz estar tão segura de que sou o único?

     Ela mordeu a mão que tentava afastá-la dele. As luvas dele impediram a seus dentes causar qualquer dano.

     —Instinto.

     Ela sacudiu a cabeça e encontrou seu pulso. Nenhum couro evitou seus dentes. Ele não se estremeceu ou apartou, o qual só a zangou mais. Ela estava tão cansada de que ninguém lhe prestasse atenção. Mordeu mais forte. Ele agarrou seu queixo, liberando-se de seus dentes, lhe girando o rosto para o seu.

     Ela não podia apartar o olhar de seus olhos. Tão frios. Tão ardentes. Tão comovedoramente atrativos.

      —Te morderei em resposta.

     A voz lenta enviou um estremecimento por sua coluna. O calor se propagou por seu corpo. Seus peitos se incharam e doeram. Ela alcançou os botões da camisa, imaginando como seus dentes se sentiriam ali.

     —É o momento onde devo gritar com medo virginal?

     Seus olhos procuraram os seus.

     —Sim.

     —Sinto muito. Não há nenhum grito em mim.

     —Por quê?

     —Quero sua boca. De qualquer forma que a queiras dar-me.

      Ele sacudiu a cabeça, a asa de chapéu ocultava sua expressão. Girou-a. Ela colocou os braços em cima de sua cabeça da maneira que ele lhe tinha ensinado, na forma que ele gostava, oferecendo-se o com um desenvolto gesto o que ele quisesse dela.

     O peso de seu tronco se apertou contra seu peito. Os mamilos doeram com uma dor aguda quando foram pressionadas para trás na plenitude de seus próprios seios.

     —Te disse que não te tomarei.

     —E te disse que te faria mudar de idéia.

     —Isso não vai acontecer.

     —Sam?

     —O que?

     —Se apenas fizesse amor comigo eu deteria a dor.

     —Te disse, eu não faço amor.

     —É a única palavra que sei. Não me ensinarás as demais.

     —Basta.

     Seus lábios se moveram a comissura da boca de Bella. Ela lançou a cabeça para trás para lhe dar melhor acesso.

     —Ensine-me as palavras e as usarei.

     —Seria irresistível se usasse as palavras.

     Sua honestidade em meio de sua resistência era confusa.

     —Então não resistas a mim.

     —Tenho que fazê-lo.

     —Por quê?

     —Porque ainda há uma parte de mim que deseja ser capaz de olhar-se no espelho quando me barbeio.

      Ela lhe cavou a bochecha com a mão.

     —Gosto da tua barba.

     —É muita áspera para tua pele.

     Ela lhe roçou com a unha o perfil de sua mandíbula. Ele só disse isso porque pensava que era muito áspero para ela.

     —Tua barba me excita. —Ela odiou o rubor que queimou em suas bochechas. O rubor que a fazia parecer como uma ingênua quando desejava ser mundana.

      Um som que se parecia muito a um grunhido retumbou da garganta dele.

     —Como diabos permaneceste virgem, por tanto tempo?

     A resposta era fácil.

     —Não me enfrentava a tentação.

     Os olhos dele eram quase negros.

      —Bella?

     —O que?

     A cabeça dele baixou, bloqueando o sol da manhã. Justo antes que seus lábios se encontrassem com os seus, ele resmungou:

     —Cala-te.

     O homem tinha o controle de um santo e se alguma vez retornasse a seu povoado natal, Isabella iria ao sacerdote para nomeá-lo a santidade. Agora mesmo, ela só necessitava um modo de sortear esta escolha. Suspirando fortemente, Isabella trocou de posição na sela. Sam não se virou, só cavalgou adiante, a fumaça de seu cigarro ia a deriva para excitá-la com o aroma do tabaco que usava. Um aroma doce, temperado que ela só associava com ele.

      O formigamento começou entre suas coxas. Não totalmente inoportuno. Ele era um homem de boa aparência com um bom coração. E uma inclinação a provar-se a si mesmo. Algo do que ela tinha a intenção de aproveitar-se. Nenhum homem era feito de aço e eventualmente ele a subestimaria ou perderia o controle.

     —Aonde vamos?

     —Ao próximo povoado.

     —Isso não é perigoso?

     —Para quem?

     Ele sofria de uma rabugice.

     —Para mim. Alguém lhe dirá a Tejala que estou aqui.

     —Quando as notícias cheguem a ele, fará muito tempo que nos teremos ido.

     —Mas nos rastreará. —Ela não queria ser rastreada. Odiava o sentimento de ter alguém atrás de sua pista, o olhar sempre sobre seu ombro. Sem saber nunca quão perto estavam, sem saber nunca quando iriam atacar, vivendo só com o terror de que se aproximavam.

     —Não tenho dúvida que o tentará.

     Ela aumentou sua pressão sobre as rédeas.

     —Ele terá êxito. Não o conheces.

     O couro rangeu quando ele olhou sobre seu ombro.

     —Nunca conheci ao homem pessoalmente, mas conheci a centenas como ele.

     Ela negou com a cabeça. Nunca tinha havido outro como Tejala. Era inteligente, astuto e obsessivo com algumas coisas. Uma destas coisas era ela.

     —Não posso entrar no povoado.

     —Estou seguro que não te deixarei aqui fora, um alvo fácil para alguém que se aproxime.

     —Alguém contará. Tejala virá e ele os matará se eles não lhe disserem o que precisa saber… o que ele pensa que deveriam saber. Da mesma forma que matou aos homens no vagão do trem. —Da mesma forma como tinha matado a outros antes. Da mesma forma que tinha matado a seu pai.

     Sam reduziu a marcha de seu cavalo, esperando que ela chegasse a sua altura.

     —Não temos outra opção.

     —Por quê?

     —Estou procurando alguém. Consegui informação de que ela poderia estar neste povoado.

      «Ela». O pronome a golpeou como um murro no estômago. Supostamente, a mulher que ele procurava. Provavelmente era formosa. Com experiência. Uma mulher a quem ele não sentia que deveria proteger.

     —Suponho que seja muito experiente?

      —Isso é o que me têm dito.

      —A experiência não é tudo.

     —Estou seguro de que ela estaria de acordo contigo. Assim que talvez pudesse enviar uma oração a teu Deus para que a encontre aqui.

     —O que tem ela que eu não, que te faz tão determinado a encontrá-la?

     —Uma irmã que deseja que retorne para casa.

      Ele a olhava com cuidado. Bella sabia que era melhor não revelar que sua mãe a desejava em casa também. Só se com sua entrega a Tejala. Sempre que Sam pensasse que sua família não a desejava, tinha uma oportunidade de escapar de Tejala.

      —Fugiu?

     —Foi roubada. —Assim que não uma amante, e sim um trabalho. Sentia-se melhor.

Ao longe podia distinguir telhados. Quase estavam no povoado.

     —Quantos anos tem?

     —Vinte.

     Uma mulher adulta roubada só teria um destino.

     —A tens estado procurando por muito tempo?

     —Uns três meses.

      Ela desejava que a olhasse.

     —Está apaixonado por ela? —perguntou outra vez.

     Não conseguiu que a olhasse.

     —Não, mas sou muito próximo a sua irmã.

     Não pôde conter-se.

     —Como próximo?

     —Desi está casada com meu melhor amigo.

      Houve um calor em sua voz quando disse o nome do Desi que a fez sentir incomodada. Não seria o primeiro homem em estar apaixonado pela mulher de seu melhor amigo. Se o estava, isso explicaria muito.

     —Quanto tempo tem estado perdida?

     —Cerca de um ano.

      Um ano era muito tempo. As coisas que poderiam acontecer a uma mulher em um ano poderiam alterar sua vida.

     —E ninguém a tem visto?

      Sam inclinou o chapéu para baixo do modo em que o fazia quando estava zangado.

      —Não.

     O cavalo tomou a dianteira ao dela. Obviamente, não queria que ela visse sua expressão quando pensava nessa mulher. Calcou os saltos contra o flanco de Ervilha Doce e o levou até adiante até que pôde tocar a coxa de Sam. Os músculos saltaram sob os dedos em um rechaço silencioso.

     Ela não apartou a mão. Doía-lhe vê-lo magoado.

     —Crês que estará no próximo povoado?

     —Tenho ouvido que há uma puta loira que trabalha na cantina. —Foi uma tranqüila declaração de feitos, mas ainda assim a fez dar um sobressalto.

     Observando a tensão em seus ombros, ela suspirou.

     —Não acredita que esteja ali voluntariamente.

     —Nunca conheci a uma mulher que o estivesse.

     Isso a fez piscar. A maioria dos homens que tinha conhecido gostavam de pensar que as mulheres trabalhavam no salão porque queriam, não porque não tivessem outra opção.

     —Já pensou que talvez não queira ser encontrada?

      —O tema não surgiu.

     —Que fará se esse for o caso?

     —Levá-la de volta com sua irmã de todas as formas.

     —Isso pode ser mais do que podes fazer.

     Não havia maneira de que Bella pudesse voltar a sua vida, se muitos homens a tivessem utilizado. A mão de Sam agarrou a dela antes que pudesse apartá-la de sua coxa.

      Envolveu os dedos ao redor dos dela.

     —Se estivesse em seu lugar, o que faria?

     —Encontraria um lugar de perdão e permaneceria ali.

     —Perdão por quê?

     Ela se encolheu de ombros. O «que» era bastante claro.

     —Por infringir as regras.

     —Inclusive se as rompeu para evitar ser violada?

      Ela liberou a mão de um puxão.

     —Sim.

      A suposição contava as vezes mais que a realidade. Para evitar a Tejala ela tinha quebrado as regras de sua família, as regras da igreja, e as regras da sociedade. Teria que pagar um preço.

     —E se vou ser condenada a pesar de tudo… —ela se encontrou com seu olhar diretamente—, então desejo experimentar o prazer.

     A comissura da boca de Sam se arqueou com um sorriso.

     —Nunca te desvia longe do tema, verdade?

     —Não posso evitá-lo.

     —Te disse que estás a salvo.

    E ela lhe havia dito que não permitiria que ele se sacrificasse por ela.

      —Obrigada.

     Ela olhou para o povoado, os telhados se faziam maiores com cada clop das patas dos cavalos. Lambeu os lábios, pensando na mulher que procurava.

     —Pode ser que ela não queira retornar contigo. Talvez esteja mais cômoda em sua atual situação que na que lhe colocaria ser resgatada.

     Ele a olhou bruscamente.

     —Que te faz pensar isso?

     —É outro tema no qual pensei.

     Sam deteve o cavalo e se inclinou para agarrar as rédeas de Ervilha Doce.

     —Quando… —começou ela.

     —Sim.

     Ela ignorou a correção.

     —Quando Tejala me apanhar, meu mundo mudará. A respeito disso não me engano.

     —Que diabos significa isso?

     —Quando ele fizer o que sente que deve, já não me verei eu mesma ou aqueles que me rodeiam do modo que sou agora. Estarei suja, manchada. Isso mudará tudo.

      Sam jurou, muito baixo e rudemente. Logo, sua mão lhe cavou o queixo, lhe empurrando a cara para cima, quase desmontando-a.

     —Explica-te.

     —Não viverei com seu toque em minha pele.

     —Porra.

     Ela piscou. Ainda com sua protegida educação sabia a sujeira dessa palavra.

     —Não utilizará essa linguagem perto de mim.

     —Então melhor não soltar tais tolices perto de mim.

     Sam talvez pensasse que era uma tolice mas ele não era o que teria que sobreviver a violação, viver com a sensação da violação, suportar a constante impressão do toque do homem. Tinha experimentado bastante do toque de Tejala para saber que não era algo que pudesse agüentar. Breeze puxou a cabeça e se ergueu, rompendo o agarre de Sam. Ela sustentou seu olhar enquanto a distância crescia entre eles.

     —Não lhe darei essa vitória.

     —Inferno que não o farás.

     Breeze girou em resposta a ordem de seu amo, facilmente contradizendo o puxão das rédeas dos arreios dela. Em uma piscada, foi tirada do lombo de seu cavalo para aterrissar dolorosamente no regaço de Sam. O braço era uma banda de aço ao redor de sua cintura, os dedos no queixo um torno, mas os olhos, foram os olhos de Sam os que puseram o temor de Deus nela. Ardiam com ira para ela por debaixo das sombras do chapéu, o tormentoso azul-cinzento de uma violenta tormenta. E essa fúria estava centrada nela.

   Tremeu, mas não trocou sua resolução.

     —Não o farei.

     —O fará, maldição.

     —Não podes me obrigar.

     —Inferno que não posso.

      Ela expulsou a verdade.

     —Nem sempre estará por perto.

      Sam estudou a cara pequena da Isabella, os grandes olhos castanhos, a pele de suave e cremosa cor caramelo, pele de grão fino e quis sacudi-la. Nunca a deixaria enquanto Tejala fosse uma ameaça. O pensamento de outro homem tocando-a lhe queimava as vísceras. O pensamento de Tejala violando-a era obsceno. O pensamento dela tomando sua própria vida era ainda mais obsceno.

     —Sempre estarei ali quando me necessitar.

     —Não, não estará. Estarás muito longe detendo a criminosos, fazendo amor com outras mulheres, vivendo tua vida e eu estarei em qualquer lugar que me deixes, vivendo a minha.

     A mulher esgrimiu a verdade com o agudo bordo de uma navalha.

     —Mas seguirás viva.

     —Vi as mulheres que Tejala usa. Não quero viver quando tiver acabado comigo.

      Sam não lhe permitiu agachar-se.

     —Mas viverá. Por mim.

     Ela sacudiu a cabeça.

     —Para que possa ver o asco em seus olhos também? Creio que não.

     —Não haverá nenhum asco em meus olhos.

     —Mas possivelmente haverá compaixão? Tão pouco viverei para vê-la.

     —Maldita seja, Isabella. Se alguma vez me necessitar, virei.

   A ira abandonou a expressão de Isabella e lhe deu golpezinhos na bochecha, a mão um contraponto suave contra a barba da manhã.

     —Sei.

     Sam não gostou da aceitação em sua voz. Dizia acima de tudo que ela não lhe acreditava. Merda. Tinha que dizer- lhe a verdade.

     —Depois de te devolver a tua casa, vou ir atrás de Tejala.

     Ela ficou tensa.

     —Não quero que faça isso.

     —Não recordo estar te pedindo permissão.

     —Ele é muito perigoso.

     Ela teve medo por ele.

     —Eu também.

     —Também está louco.

     —Então diz respeito a mim tirar o bastardo de sua miséria. —Passou-lhe o polegar sobre os lábios.

      Amava sua boca, sempre rosácea, sempre cheia, sempre tentando, e quando lhe tocava a pele, sempre ardia como fogo. Não podia suportar o pensamento de que esse fogo se apagasse.

     —Mas tu, Bella, não estás louca. És preparada, valente e um montão de coisas mais que ninguém jamais poderá forçar.

     —Não entend…

     Não a deixou acabar.

     —Não digo que a violação não seria uma coisa dura pela que passar, mas o intentarias e eu estaria esperando do outro lado.

      —Talvez esteja casado para então.

     —Não o estarei. —Ela era a única que jamais lhe tinha tentado—. E inclusive se o estivesse, ainda viria.

     —Por quê?

      —Porque isso é o que os amigos fazem uns pelos outros.

     A piscada de dor em seus olhos lhe golpeou diretamente na consciência. Nunca a deveria haver tocado. Tão jovem como era, não podia separar a paixão do amor.

     —Não posso fazer-te essa promessa, Sam.

     A faria. Antes que a abandonasse, a faria.

     —É muito mais que o toque de qualquer homem, duquesa.

     —Só para ti, mas não podes ver isso, verdade?

     —Há um mundo maior do que o que conhece esperando-te, Bella.

     —Não tenho interesse nele.

      —Só porque não sabes o que estás perdendo.

     Ela suspirou e se meneou, lhe cravando o cotovelo nas costelas enquanto o chapéu muito grande lhe escorregava da cabeça, caindo pesadamente contra o braço.

     —Segue me dizendo isso.

 

     O povoado estava longe de ser agitado. Os edifícios estavam em mal estado. Poucos pedestres andavam pelas ruas. A única vida vinha da estrutura de adobe a meio caminho rua abaixo, diante de dois postes de atrelar cravados no chão. Atrelados a eles havia cinco cavalos. Em cima da porta arqueada havia um signo de madeira com a palavra cantina pintada em vermelho através da áspera superfície. Esse seria o lugar para começar a fazer perguntas. Mas primeiro tinha que encontrar algum modo de manter Isabella ocupada e fora de problemas. De um lado veio um som áspero. Deu uma olhada. A Isabella se lhe tinha caído o chapéu sobre a cara outra vez, o que provavelmente significava que o som era uma maldição que acreditava demasiado vulgar para dizer em voz alta. Sorriu. Ela tinha umas noções estranhas. Aparentemente fazer-lhe propostas uma e outra vez estava bem, mas jurar a arruinaria para sempre.

      Bella elevou o olhar. O sol beijou sua cara com uma brilhante luz. Nenhuma só ruga turvava a lisa superfície. E enquanto havia um mundo de preocupação em seus olhos, a vida ainda tinha que tocar-lhe a cara. Por contraste ele podia sentir-se cada ruga que a vida tinha talhado na sua. Ele teria uns trinta e um, mas alguns dias se sentia como de sessenta. Hoje era um deles. Não só por causa de Bella, mas sim por causa do que possivelmente encontrasse na cantina. Desi desejava que sua irmã voltasse. Tanto que não podia imaginar o que possivelmente ficava da mulher que recordava. Mas ele o sabia. E não acreditava que pudesse ser o que as ferisse ambas forçando a reunião se Ari não quisesse voltar.

     —Não é muito mais que um povoado - disse Bella, lhe trazendo de volta ao presente.

      Kell choramingou. Sam estalou os dedos, lhe trazendo mais perto.

      —Não, não o é.

     —Pelo menos se ela estiver aqui, será fácil encontrá-la.

     Se Ari estava aqui, a deixariam bem oculta. Tinha corrido o rumor de que os Oito do Inferno estavam procurando a Ari Blake. Isso complicava a caça.

     —Tenhamos esperança.

      Um homem tropeçou saindo da cantina a suja rua. Muito embriagado para sustentar-se, caiu de joelhos e começou a vomitar imediatamente. Isabella girou a cabeça e pousou a mão no estômago. Sam não pôde evitar imaginar-se a um homem como este tropeçando bêbado ao quarto interior onde as putas esperavam a seus clientes. Ari era idêntica a ela, havia dito Desi, inclusive mais suave, e Desi era malditamente bonita, de ossos bonitos, todo cabelo loiro, olhos grandes e espírito. É difícil imaginar a alguém mais suave que Desi, difícil imaginar-se a alguém tão suave como Desi sobreviver a uma fila de imundos bêbados utilizando seu corpo dia após dia, o veneno de seu toque erradicando a sensação do que ela era, as lembranças da vida que estava acostumada a ter.

     «Não viverei com seu toque em minha pele».

      A declaração de Bella chegou a ser muito mais crível.

     Outro homem saiu da cantina. Não estava bêbado. Olhou a rua, e ficou direito. Não foi difícil averiguar o que atraía sua atenção. Bella era mais mulher que o que a maioria dos homens viam em seu melhor dia. Uma pepita de ouro brilhante em uma pilha de excremento.

     —Bella?

     —O que?

     Alcançando o bolso do colete, Sam tirou um par de peças de ouro e as entregou. Ela olhou fixamente o ouro e logo a ele. Assinalou com o polegar sobre o ombro.

     —Por que não vais comprar-te um chapéu que te caiba?

     —Mas…

     Ele sacudiu a cabeça, interrompendo-a.

      —Regressarei por ti em uns poucos minutos. —Olhando ao estranho outra vez, entregou-lhe um de seus revólveres também—. Espere-me dentro.

     Ao Kell lhe disse:

     —Proteja-a.

     Bella se mordeu o lábio, mas não discutiu. Pelo que ele estava agradecido. Esperou a que entrasse no diminuto mercantil antes de dirigir a Breeze rua abaixo até o estranho. O homem não se moveu, só lhe olhou aproximar-se. Sam apreciou desde as apertadas calças negras de brocado até o comprido cabelo negro sobre os ombros. Nenhum cinturão com armas, o qual lhe fazia mais que provável um jogador antes que um atirador. Sam desmontou e deixou cair as rédeas de Breeze ao chão, atrelando-o tão efetivamente como se o tivesse atado ao poste.

     —Olá.

     O homem golpeou um fósforo e cabeceou.

     —Gringo.

     Sam tirou seu rifle da bainha.

      —Um cavalo encantador.

     —Eu gosto.

     —Não o suficiente se o deixar aqui.

     —Os ladrões de cavalos são um problema por aqui?

     O homem esmagou o fósforo sob o salto das extravagantes botas negras.

     —Não mais que em qualquer outro lugar no território de Tejala.

     Sam se tocou o chapéu com o dedo.

     —Agradeço-lhe a advertência, mas acredito que correrei o risco.

     —Seu tipo sempre o faz.

     —Meu tipo?

      O homem fez uma careta de brincadeira ao redor do fino talo marrom do cigarro enquanto a fumaça picante se curvava ao redor de sua cara.

     —Gringos que pensam que todos lhes devem algo.

     —Cuidado que tuas costas não se rompam com tanto ressentimento sobre os ombros.

     —Não sou eu o que necessita ter cuidado.

     —Como disse, obrigado pela advertência.

     Sam rodeou ao bêbado inclinando contra o poste de atrelar. O aroma de vômito e urina lhe seguiu ao interior escuro, intensificando-se nos quartos próximos. Muitos corpos abandonados muito tempo neste pequeno quarto havia impresso o odor do desespero nas paredes. Andou até a barra provisória que era pouco mais que tábuas colocadas através de gavetas.

     —Tequila.

      O barman pôs um copo não muito limpo na tábua e o encheu com licor. Provavelmente era uma coisa boa que estivesse escuro dentro. As vezes era melhor não olhar muito atentamente o que estava ingerindo.

     Desde fora chegou o chiado de ultraje de Breeze seguido rapidamente pelo som de um homem jurando, terminando com o distinto barulho de patas encontrando seu objetivo e logo uma longínqua porrada. Sam sorriu e bebeu o licor. Breeze não gostava de estranhos tão pouco. O licor golpeou seu estômago. Os lábios se esfolaram ante a crua queimadura. A qualidade não estava nessa garrafa. Atirou ao barman um pedaço de ouro. Tilintou contra um prego embutido na tábua.

      —Alguma possibilidade de que um homem possa encontrar alguma companhia feminina por aqui?

     O barman intercambiou um olhar com o homem sentado ao final das pranchas.

      Um sorriso estranho lhe curvou os lábios.

     —Sim. Há uma possibilidade.

      Sam se empurrou o chapéu para trás.

     —E essa possibilidade dependeria do que?

     —Segundo quão escrupuloso você seja.

      —Bem, sou parcial as loiras bonitas e pequenas.

     —Já se cansou da mulher com a qual cavalga?

     Sam empurrou o copo para frente.

     —Não há nada mau com a pequena variedade.

     O barman intercambiou outro olhar com o homem ao final da barra enquanto preenchia o copo. Os cabelos na nuca do pescoço do Sam se arrepiaram. Recuperando o copo, tomou um sorvo com uma indiferença que não sentia.

      O barman perguntou também casualmente.

     —Estaria interessado em um trato?

     —Para que?

     —Nossa loira pela puta com a qual entrou.

     —Não estou interessado na variedade permanente. Só pensava tirar um pó com minha bebida.

     Pôs o copo com precisão para baixo na barra. Assentou-se com um clique suave.

     —Agora, oferece você consolo aos homens aqui ou não?

     —Sim, mas ela lhe custará mais que este pedaço de ouro. —Atirou a moeda ao ar—. As loiras são raras, como você sabe.

     —As naturais o são.

     Muitos dos vigilantes dos salões forçavam a suas garotas a branquear o cabelo. E a muitos homens não lhes importava que fosse uma ilusão mais do que lhes importava que as mulheres não se alegrassem de lhes atender.

     Outra olhada e então.

     —Ela é tão natural como o que vai conseguir.

     Provavelmente a primeira coisa honesta que havia dito hoje. Sam terminou o último de sua bebida, tirando outro pedaço de ouro de seu colete e atirando-o no mostrador.

     —Isto deveria cobri-lo.

     O pedaço de ouro desapareceu na mão suja do homem.

     —Siga-me.

     Não havia muita necessidade de seguir a um guia. A habitação estava a uns dez passos, o chão de terra separado por uma manta roída.

   —Betty é uma quente - o barman lhe lançou sobre o ombro um sorriso lascivo enquanto sustentava a cortina para trás—. Quando estiver pronto, não tenha medo de subir e fazê-lo.

     —O manterei em minha mente. Deu um passo pela pequena abertura, mantendo o olho no barman. Nenhuma janela iluminava o diminuto espaço, só o bastante grande para um colchão colocado no chão. A única luz provinha de uma vela próxima a tremular. No colchão jazia uma mulher imóvel, coberta por uma manta tão rasgada como a que servia como porta. Definitivamente branca baseado em sua cor de pele. As mechas loiras como de palha se sobressaíam dos bordos de uma máscara negra que lhe cobria a cara.

     Olhando para trás sobre o ombro, assinalou sua cara com o polegar.

     —O que há com a máscara?

     —Sally é a doce dama do mistério.

     —Por que não se move?

     —Está treinada para esperar instruções.

     Talvez, mas Sam não apostaria sua parte dos Oito do Inferno nisso. Ondeou até a porta.

     —Importa-lhe? Não gosto de audiência.

     —Poderia recuperar parte de seus gastos se suportasse um.

      Dando dois passos para a porta, Sam empurrou ao outro homem para trás.

     —Não obrigado.

     Fechou a cortina, notando enquanto o fazia que vários buracos pequenos estavam ao nível da cara.

     —E em caso de que qualquer um esteja interessado, se acreditar que vejo olhadas furtivas vou pegar um tiro ao filho da puta primeiro e pedir explicações depois.

     —Como desejar, senhor.

     Sim,o seria.

     —Me alegro de ouvi-lo.

     Voltou-se.

     —Senhora?

     Não houve resposta.

     Apoiando o rifle contra a parede, agachou-se a um lado.

     —Senhora? —Tocou-lhe o braço — Ari?

     O tronco da mulher deu um puxão convulsivo. Ele deslizou o braço pelas costas, sentindo a marca dos ossos. Não havia um peso excessivo na mulher. Ela deu um puxão outra vez, as costelas expandindo-se espasmodicamente. Tratava de respirar. A manta, rígida com a sujeira, escorregou pelo peito revelando o sulco em seu esterno e a chaga aberta.

     —Porra.

     As fivelas na máscara eram inquebráveis, seu corpo um peso morto. Sam grunhiu enquanto levantava seu tronco contra o joelho.

     —Betty lhe está fazendo passar um bom momento, senhor?

     Não respondeu, só grunhiu outra vez com um sentido de urgência. A fivela inferior cedeu. Conseguiu desfazer a seguinte com muito menos trabalho. Levantou o bordo a tempo de ouvir o distinto estertor em sua garganta.

     —Doce Jesus.

     A mulher ficou completamente flácida, deslizando-se pela perna. Agarrou-a pelos ombros, deixando-a com cuidado no chão. Armando-se de valia, desabrochou o resto das correias até que pôde levantar a máscara da cara, revelando ossos gastos, feridas vermelhas abertas e olhos avelã olhando fixamente sobre seu ombro a um lugar que os vivos não podiam ver.

       —Filho da puta.

     Não era Ari. Isso era algum consolo, mas não muito.

     Respirou, a raiva elevando-se fria e mortal, colocou os dedos nas pálpebras da mulher e com cuidado as fechou. Algo que tinha aprendido a fazer quando tinha treze e os soldados tinham terminado com sua mãe. Só que então tinha fechado seus olhos porque assim não teria que ver refletidos o horror persistente e seu fracasso.

      Suspirou e sacudiu a cabeça.

     —Sinto muito, querida.

     Arrependido por qualquer capricho do destino que a tinha levado até ali, arrependido de não havê-la encontrado antes, arrependido de não ter conseguido lhe tirar a maldita máscara a tempo para que seu último fôlego não tivesse sido asfixiante. Arrependido de que os homens fossem tão estúpidos insensíveis. Tampando-lhe com a manta o corpo destroçado pela enfermidade, lhe fez uma promessa.

     —Se puder encontrar a teus parentes, permitirei que o saibam.

      Não onde tinha morrido nem que aspecto tinha, a mulher merecia algo melhor que isso, mas permitiria que eles soubessem que ela tinha cruzado a linha. Abrindo o pequeno cofre contra a parede, removeu os artigos, buscando qualquer indício de quem era, qualquer insinuação de onde poderia encontrar a sua gente. Não havia nada mais lá do que os artigos de seu ofício, destacando por cima de tudo quão pequeno tinha chegado a ser seu mundo, estendendo-se não mais a frente que deste quarto sórdido e sujo.

    A cortina se deslizou com um chiado de metal sobre metal.

     —Matou a nossa Betty.

     Tinham-lhe preparado uma armadilha. O conhecimento veio primeiro e logo a raiva, retorcendo-se e estendendo-se no centro. O rifle estava a distância de um braço. Tinha dado seu revólver a Bella. Apalpou as facas das botas.

     —Ela não foi a cavalgada quente que prometeu. Creio que deve me devolver meu dinheiro.

     —E você nos deve uma nova puta.

     Bella. Queriam a Bella. Sorriu.

     —Agora, estou em desacordo.

     Uma arma foi engatilhada.

     —Isso não tem nenhuma importância.

     —Não acredito que tivesse.

     Girou, soltando a primeira faca para esse clique metálico. Aterrissou com um agradável ruído surdo no peito do homem que tinha estado ao final da barra. Um movimento pelo rabo do olho lhe fez mergulhar-se a direita. Um barulho estalou quando golpeou o chão. Rodou agachado, o roçar da bala ardia de novo. Pedaços de adobe caíram sobre ele enquanto girava e soltava a segunda faca. Muito distante. Alojou-se no ombro do barman. Não um golpe que lhe incapacitasse. Merda. O rifle estava muito longe. Nunca o alcançaria. Juntando os pés abaixo dele, Sam se lançou para os joelhos do outro homem, lhe golpeando com força, enviando-o contra a cortina do quarto principal. O tecido se rasgou e caiu sobre suas cabeças, enredando-os nas dobras fétidas. Tão rapidamente como o som chegou a ele, Sam o processou, mesas sendo empurradas, botas batendo-se em retirada. E outros, entrando.

     Merda. Ia ser uma briga.

     Com um golpe da cabeça contra o queixo do barman, Sam se liberou. Atirando a manta a um lado, agarrou o fuzil enquanto o barman tropeçava para trás na barra provisória e se deslizava ao solo amarrando-se o ombro e gemendo. Sam só tinha uma fração de segundo. A sacudida não deteria o homem para sempre. Já estava meio de pé quando a ordem o deteve.

     —Deixe-o cair, gringo.

     Sam levantou o olhar. O homem que tinha tentado roubar Breeze estava na porta, com sangue deslizando-se pelo lábio. Apoiava-se em seu lado esquerdo. Seu agarre na arma era muito estável, todavia, e o canhão centrado em seu peito garantia um disparo mortal.

     —Merda.

      —Sim, estás na merda. Nós não gostamos dos patrulheiros por aqui.

     —Engraçado, temos o mesmo sentimento a respeito de que os insignificantes bandidos desprezíveis voltem para os Oito do Inferno.

     Houve a piscada mais ligeira nos olhos do homem. Assim que não sabia quem era ele.

     —Assim que avance e aperte o gatilho, verás quanto fica de ti e de Tejala quando os Oito vierem cavalgando em vingança.

     —Eles nunca o saberão.

     —Não pode ocultar-te de Shadow.

     Outra piscada. As reputações realmente eram convenientes.

     —E certamente nunca tirarás Tracker de cima de teu cu.

     —Tejala se encarregará dos Oito do Inferno.

     —Os dias de Tejala estão contados.

      O corpo do barman estava a meio metro adiante e a direita. Sam necessitava sozinho uma distração e poderia mergulhar-se e conseguir a faca. O homem na porta não apartava os olhos dele. Nenhuma ajuda ali.

     —Os teus são muito curtos para contar-los.

     Isso parecia ser verdade. Sam equilibrou o peso nos dedos, a ferida de bala do outro dia ardia, e olhou aos olhos do estranho. Soube o momento exato em que o homem tomou a decisão de disparar. Sam se lançou para a faca. Um disparo estalou. Uma dor ardente lhe queimou a coxa. Maldição! Não outra vez. Então houve outro disparo. E outro. O estalo soava familiar. O grunhido o era definitivamente. Kell.

     Liberando a faca do ombro do barman de um puxão, Sam se agachou e com um movimento suave enviou a arma girando até seu objetivo. Mas não havia um bandido na porta. Em vez disso, estava Bella com a arma na mão.

     —Merda! —A faca voou das pontas dos dedos. A lâmina se enterrou na madeira ao lado da cabeça da Isabella.

      Pondo-se em pé de um salto, Sam jurou outra vez.

     —Te disse que permanecesse fora!

      Kell grunhiu ao redor da garganta do homem que tinha sujeitado no chão enquanto Sam ouvia o arrastar de uma bota. O barman.

      Uma cotovelada na cara fez cair ao homem outra vez. Sam terminou o trabalho lhe rompendo o pescoço. Um rápido olhar para a Isabella lhe mostrou que ainda estava na porta, olhando fixamente a faca que tremia na ombreira como se não pudesse averiguar como tinha chegado ali. Tinha a arma apontando diretamente a ele.

      Desde fora, podia ouvir as vozes de cidadãos curiosos.

     —Hora de ir-se.

     Ficou de pé. Isabella ainda não piscava. Ele deu um passo a esquerda, fora da linha de tiro. Bella girou com ele. A arma viajou com ela.

     —Bella?

     Ela não piscou, moveu-se ou deu qualquer outra indicação de que lhe ouvisse. Ele ouviu um grito. Não tinham muito tempo.

     Cruzou a distância entre eles, estalando os dedos quando chegou ao Kell.

     —Deixe-o.

     O cão retrocedeu, ainda grunhindo. Sam se agachou para verificar brevemente o pulso do homem ao que Bella tinha disparado, embora a piscina de sangue deixasse pouca dúvida de que estava morto.

     —Está morto?

     —Mais morto que morto.

     Ela lhe olhou então, os olhos abertos com um choque.

     —Ia matar-te.

      Sam estava suficiente perto agora para lhe tirar a arma da mão. O fez com cuidado, desarmando-a, tomando cuidado com o instável gatilho.

     —Sim.

     —Não podia permitir-lhe que te matasse.

     —Estou agradecido por isso, duquesa.

     Afastou-a da porta e olhou a rua. Os bons cidadãos deste horrível lugar reuniam valor.

     —Bella, necessito que montes em Breeze cavalgues até o mercantil e traga teus cavalos.

   —Já os trouxe.

     Ela estava cheia de surpresas ocultas, e ainda sentindo as repercussões de matar a um homem. Nada bom. Necessitava-a com todos seus sentidos.

     —Não posso permitir-me o luxo de que te desmorones sobre mim, compreende?

     Ela juntou as sobrancelhas em uma careta.

     —Não me desmorono.

     Por isso ele podia ver, estava a distância de um cabelo de fazê-lo.

     —Bom. —Verificou o revólver, pôs duas balas mais no compartimento e o devolveu—. O que necessito que faça neste momento é que te metas detrás da porta e mantenha esta arma apontando para fora. Se alguém se aproximar, dispara.

     Ela se moveu ao lado da porta e lhe lançou uma olhada, os olhos de par em par, as mãos tremendo.

     —E se forem amistosos?

     —Confia em mim. Qualquer um com sentido não vai vir aqui depois de um tiroteio.

      A careta aumentou.

     —Poderiam ser agradáveis mas estúpidos.

     Poderiam.

     —Temos que correr o risco.

     Ela se mordeu o lábio, deixando cair o olhar a sua perna.

     —Está sangrando.

     —Só me arranhou.

     O sangue empapava a parte inferior do rasgão roto do algodão grosso de suas calças. Embora ardesse como fogo, não intervinha com o uso da perna.

     —Estou bem.

     Ela não parecia convencida, mas assentiu. Quando esteve seguro de que não ia cair no histerismo, dirigiu-se ao quarto interior para recuperar seu rifle. A prostituta jazia onde a tinha deixado, um embrulho descartado sem nenhum uso para ninguém. Provavelmente seria levada para um vale e seu corpo desbarrancado para que os coiotes se desfizessem dele. Não podia ver os residentes deste povoado suando por enterrar a uma desgastada puta. Sacudiu a cabeça. Um triste final para uma triste vida. Girou a cabeça.

     —Sam?

      Bella chamou.

     —Sim? —respondeu, dirigindo-se a porta.

     —Encontraste a mulher, sim?

     A clareza de sua voz, o fluxo melódico de seu acento estava completamente fora de lugar neste áspero sítio de depravação.

     —Sim.

     —É a irmã de sua amiga?

     Girou-se para olhar o corpo outra vez.

     —Não.

     Mas se o tivesse sido, teria levado o corpo com ele, perigoso ou não, por respeito a Desi. A levaria para casa com sua família. No mínimo a enterraria apropriadamente com a bênção de um sacerdote.

     —A trarás de todo modo, sim?

     Outra mulher se haveria oposto a inclusive estar no bar, a permitir aceitar a simples companhia de uma prostituta, mas Isabella tinha o costume de ignorar o bom e o mau e centrar-se no que queria. E pela ordem doce como um bolo, não queria deixar para trás a mulher neste lugar. Tinha bons instintos.

     —Alguém já te disse alguma vez que é uma coisinha mandona? —disse.

     —Somente indico o que é correto.

     Sim, o fazia.

     —Que passa aí fora?

     —O povo está reunindo valor.

     Quer dizer, nada bom. Não tinha tempo de interferir com um cadáver. As imagens do passado cintilaram em sua cabeça. Sua mãe morta em um atoleiro de sangue, o exército mexicano por toda parte no campo, sem tempo para fazer nada mais que sussurrar que a amava e arrastá-la aonde jazia seu pai. Havia voltado anos mais tarde. A casa tinha sido abandonada e se estava desmoronando, não tinha encontrado os corpos de seus pais por nenhuma parte, provavelmente os tinham levado aos animais selvagens, os restos dispostos com o sentido de eficiência da natureza. Sob o chão do dormitório tinha encontrado a Bíblia de sua mãe e o esconderijo das cartas de amor que tinha guardado. Cartas nas que seu pai lhe falava do futuro que ia construir para eles na república. Nas que seu pai contava os sonhos que sua mãe tinha agarrado com todo seu coração, acreditando no homem que amava, acreditando que teriam uma vida juntos, que mudar-se a república era o começo de algo bom.

     Sam não tinha tido nenhum corpo para enterrar, assim tinha enterrado essas cartas, junto com seus sonhos de família e amor. Um homem que escolhia viver aqui não tinha direito a fazer sonhos para uma mulher. Sonhos que só conseguiram matar a mulher.

     —Sam? —chamou Isabella outra vez quando ele não respondeu imediatamente—. A trarás?

     Ele meteu as mantas ao redor do cadáver. Betty possivelmente não tinha tido a alguém que a defendesse em seus últimos anos, mas maldição se não tinha um pequeno enterro apropriado agora que tinha morrido.

     —Sim. A levarei.

 

     Isabella estava de pé do outro lado da tumba recém aberta por Sam e estudava sua muito controlada expressão que não dizia nada. Era um enigma. Sua reputação o apresentava como o membro mais aterrador dos Oito do Inferno, de sangue frio e desumano, capaz de matar com um sorriso. Mas se tinha tomado o tempo de tirar da cidade o corpo de uma mulher que outros considerariam lixo, perdendo um tempo precioso e ficando em perigo para dar-lhe a uma estranha um enterro decente. E o tinha feito com todo o respeito que teria mostrado a um membro de sua própria família. Mas, ela sacudiu a cabeça ante a falta de lógica, lhe deveria ver como não redimível.

     Sam jogou a última pá de terra na tumba e se dirigiu onde estava Breeze. Não se lhe movia nenhum músculo da cara para mostrar que estava amolado, mas desde que tinha saído do bar levando o corpo de Betty, Bella tinha querido envolver os braços ao seu redor e lhe abraçar apertadamente. O impulso não se ia tão pouco. Só se estava fazendo mais forte. E não sabia por que. Só sabia que havia uma emoção em seus olhos que ela queria aliviar.

     O vento soprou através das planícies, descendo das colinas com um dolorido gemido. Sam levantou a cabeça, seguindo seu atalho com os olhos, dando-lhe a Bella uma vista completa de seu perfil - o bordo agudo do nariz, a mandíbula quadrada, ligeiramente saliente. Os lábios se abriam, enquanto respirava.

     Seu olhar varreu sobre ela, a tumba e então de volta a pá que estava assegurando na parte de trás da sela de Breeze como se nada tivesse acontecido, mas era muito tarde. Ela tinha visto a fome em seus olhos, e em um instante de revelação soube que emoção era a que freqüentemente via obcecando o olhar de Sam.

     Solidão. Estava sozinho, este homem que podia preocupar-se com uma mulher a que a vida tinha descartado. Possivelmente muito. Batucando em seus braços com os dedos, considerou o assunto. Algo a respeito da situação da mulher lhe havia tocado. Desejava saber o que era. Tinha a sensação de que era a chave para entender todas as peças do quebra-cabeças que compunham Sam MacGregor.

     Sam retornou a tumba. Ela esperava que falasse, mas ele se deteve ali, sua expressão como pedra, um legado de dor nos olhos, até que ela não pôde suportá-lo mais.

      —Dirá uma oração?

     A ira comprimiu os borde da boca do modo em que sempre o fazia quando ela mencionava a oração. Ou esperança.

     —Eu não rezo.

     Neste caso o que ele desejava não importava. Uma mulher estava morta. Acabava de ser enterrada.

     —Devem ser ditas as palavras apropriadas.

     Ele se tirou o chapéu.

     —Então talvez seja melhor que você as diga.

     Ela se encolheu de ombros.

     —Não sei as palavras em inglês.

     —Não acredito que a Betty lhe importe.

     Não, ela supunha que a Betty não o faria. Isabella fez o sinal da cruz e inclinou a cabeça. A princípio, as palavras não vieram. Em vez disso, vieram as lembranças do aspecto de Betty quando Sam a tinha estendido na tumba, seu corpo devastado pela enfermidade, a carne destroçada pelas chagas, como se o abuso que tinha sofrido com o passar dos anos fossem injustiças que não podiam ser mantidas ocultas.

      Esse era seu futuro. Quando Tejala a apanhasse, essa seria sua vida, um grito comprido e interminável até que terminasse em algum quarto sujo. Provavelmente o homem que encontrasse seu corpo não seria decente como Sam. Provavelmente seu corpo seria atirado aos porcos para que disponham dele. Provavelmente ninguém cochicharia as palavras de duelo. Piscou e respirou fundo. Não permitiria que chegasse a isso.

     Encontrou a voz, encontrou a oração e a sussurrou o bastante alto para que Sam a pudesse ouvir. Havia dito que não rezava, mas se era importante para ele lhe dar a Betty um enterro apropriado, então o ritual seria importante e possivelmente as palavras lhe dariam alívio. Quando terminou, fez o sinal da cruz outra vez. Sam se pôs o chapéu e se voltou para Breeze. Ela permaneceu na tumba um momento mais, sustentando o cabelo para trás, precisando dizer mais. Disse-o em inglês, em caso de que o espírito de Betty permanecesse.

     —Sinto muito, Betty, que não lhe encontrássemos antes. Sinto que sua vida terminasse como o tem feito, que morrera sem saber que alguém tinha vindo por ti. —Olhou onde Sam estava ao lado do cavalo, verificando a bolsa, alto e forte como se nada disto o afetasse. Como se estivesse fora de tudo. Ela não lhe acreditou.

     Deixou que o vento lhe tomasse o cabelo, cruzando os braços sobre o peito.

     —Porque, ele o fez, o sabe. Sam possivelmente esteja procurando a essa mulher chamada Ari, mas não te teria deixado para trás. Te teria levado com ele. Te teria mantido a salvo.

      «Como a ela».

      —O teria feito simplesmente porque é um bom homem que crê em fazer o correto. —Recolhendo um punhado de terra fresca, a deixou cair como chuva desde seu punho, selando simbolicamente a tumba em um gesto final antes de sussurrar — não há tantos deles já, assim que por favor, não assombre seus sonhos. — mordeu-se o lábio, seu olhar atraído para ele pela dor que ele não compartilharia — Acredito que tem suficientes fantasmas.

     Duas horas depois Sam ainda estava se cozinhando nessa melancolia que a punha dos nervos. Bella estava acostumada ao seu silêncio, acostumada a seus sorrisos vazios, se tinha atado as realidades, mas não acreditava que pudesse acostumar-se a isto. Cavalgava a só dois metros e meio adiante, mas era como se estivesse sozinho no mundo, vivendo em um lugar escuro onde nada o podia tocar. Não gostava de vê-lo assim. Não era correto, e não o ia tolerar.

      Afundando-se na sela o chamou:

     —Sam?

     Ele se moveu a um lado, olhando-a sobre um ombro, sua formosa boca uma linha reta.

     —Sim?

     Inclusive seu «Sim» era sem brilho.

      —Quanto mais longe?

     —Por que?

     Ela encurvou os ombros um pouco mais.

     —Só me perguntava isso.

     Breeze parou. Em alguns modos Sam era muito fácil.

     —Estás cansada?

     —Sinto muito. Não estou acostumada a cavalgar tanto.

     Ele a observou desconfiadamente.

     —Isto não será uma desculpa para pôr-me os braços ao redor, verdade?

     Ela pegou um sorriso na cara e endireitou a espinha dorsal.

     —Vê através de mim. —Ondeou para ele—. Podemos ir.

     Ele não se moveu. O chapéu estava colocado muito baixo para ver-lhe os olhos mas ela apostava a que estava franzindo a testa. Empurrou seu próprio chapéu sobre a cara. Todas as vantagens não deveriam ser dele.

     —Está realmente cansada?

     —Estarei bem.

     Ainda não se moveu. Ela insistiu a Ervilha Doce para adiante. Sam se inclinou e agarrou as rédeas.

     —Não te ponhas adiante de mim.

     —Compreendo.

     Os olhos de Sam brilharam sob o bordo do chapéu.

     —Não seria seguro.

     —Não discuto.

     Sujeitando ao cavalo com os joelhos, suspirou e estirou a mão.

      —Podes cavalgar detrás de mim e descansar contra minhas costas. —Movendo os dedos, ordenou—, me dê as rédeas.

     Ela colocou a tira de couro em sua mão.

     —Obrigado.

     Soltando o pé do estribo com uma patada, ele se encolheu de ombros.

—Temos estado cavalgando duramente.

      Havia um comprido caminho ao chão e os músculos de Bella lhe deixaram saber que não estavam felizes de serem postos a trabalhar suportando-a uma vez estiveram ali. Sam sustentou seu braço imediatamente, estabilizando-a.

      —Cuidado.

      Ela girou, abandonando ao cavalo até a coxa de Sam. O cavalo tinha mais largura, a coxa mais atração. Agarrou-se com força.

      A sela rangeu. Sam lhe passou o braço pelas costas, agarrando-a pela axila, lhe tirando o chapéu da cabeça.

     —Dá um passo no estribo.

     A ordem cochichou por sua espinha. Como podia ele fazer que uma simples coisa tão prática soasse tão exótica? Fez o que lhe pedia, tendo que se recostar, encontrando ali sua força para suportá-la, ajudá-la.

     Ele se levantou.

     —Joga a perna por cima.

     O fez, sentando-se detrás de Sam. A saia se enrolou acima, cobrindo-lhe apenas os joelhos. Ainda com as calças que Sam lhe tinha feito estava envergonhada. Sua mãe estaria horrorizada. Envolveu os braços ao redor da fina cintura e se aproximou contra as costas. Não lhe importava. Era Sam, e por agora, ele era sua realidade.

      —Cômoda?

      Ela assentiu, respirando profundamente seu aroma. Homem misturado com cavalo suado e o perfume persistente do tabaco.

      —Sim.

     —Bem.

     Com um estalo da língua pôs os cavalos em movimento. Era uma experiência surpreendentemente sensual cavalgar detrás dele. Com cada passo que dava o cavalo se mexia contra suas costas, os mamilos se esfregavam com um ritmo erótico. Pressão, logo liberação. Pressão, logo liberação. O bordo da sela lhe mordia o interior das coxas incrementando sua consciência, e a aresta da parte baixa das costas roçava seus clitóris, deixando-o faminto. Gemeu. Nunca passaria duas horas assim.

     —Está bem aí atrás?

   —Estou bem.

     —Soava como se estivesse tendo um pequeno problema.

      Que irritante! Sabia o que estava sentindo. E possivelmente tinha estado mantendo a mão na perna para aumentar sua consciência? Bem, dois poderiam jogar este jogo.

     —Simplesmente estou desfrutando de estar tão perto de ti.

      Ele se esticou. Ela sorriu. Isso não era o mínimo de honradez que pensava permitir-se. A camisa de Sam estava quente pelo sol. Sob o fino algodão, podia sentir o calor de sua pele esperando. O formigamento nos dedos se espalhou as palmas. Era um homem bom e lhe tocar era um prazer.

     —Deve ter tido a muitas mulheres querendo te tocar.

     —Creio que tens as coisas ao inverso. É um homem o que toca.

     —Hoje nem tanto - cochichou contra as costas, sentindo-se valente e atrevida, inclusive lasciva—. Hoje é meu desejo te dar prazer.

     —Merda. —A mão foi sobre a dela. Para pará-la ou animá-la?

     Passando as palmas pelos duros planos do estômago, encontrou os botões da cremalheira de suas calças.

     —Não quer que te dê prazer?

     —É virgem.

     Ela riu e beijou suas costas.

      —Isso não me faz uma idiota, Sam.

     —Nunca pensei que o fizesse.

      Dois botões cederam. Ela escorregou os dedos na abertura, encontrando carne quente e uma intrigante linha de pêlo que se frisava ao redor dos nódulos. Tirou. Ele saltou. Isto ia ser divertido.

     —Então o que pensa que ser virgem significa?

      —Tímida e vacilante.

      Saiu outro botão.

      —E possivelmente sem instrução?

      Sam chiou entre os dentes enquanto ela se aproveitava do tecido afrouxando-se para deslizar as mãos para baixo até que golpeou a barreira de seu pênis.

      —Sim.

      —Não sou vacilante, Sam.

     —Tenho notado.

     O bordo áspero de sua voz arrastada a excitou quase tanto como o pensamento de lhe dar prazer.

     —Estou ajustando minha timidez, mas sempre estarei sem instrução…

      Esta vez quando pôs a boca sobre suas costas, permitiu-lhe sentir os dentes. Sam esticou todo o corpo. A mão se fechou ao redor da base grossa de seu pênis, esforçando por sustentá-lo enquanto ele se retorcia por seu toque.

     —A menos que me ensine.

     —Inferno, mulher, não jogas limpo.

      Ela lhe beliscou a omoplata, sentindo a surpresa que lhe atravessou.

      —Estaria decepcionado se o fizesse.

      Ele não respondeu. Ela não necessitava que o fizesse. O que precisava era que se levantasse para liberar o pênis.

     —Ajude-me, Sam.

     Com uma maldição, lhe apartou a mão. Ela se recostou enquanto ele liberava o pênis. A liberdade não veio facilmente, mas quando o fez, ela estava ali para agarrar seu peso. Ele gemeu. Ela suspirou e descansou a bochecha contra suas costas enquanto percorria toda sua sólida longitude com os dedos.

      —Gosto muito como se sente em minha mão, forte e faminto pelo prazer que te darei.

      A mão de Sam cobriu a sua. Outra vez sentiu a batalha que a consciência empreendia com o desejo. Ela sabotou o esforço com um apertão ligeiro e um pedido que soube que ele não poderia resistir.

     —Ensina-me a te dar prazer, Sam. Esta vez nada mais.

     —Não significará nada.

     Ela assentiu, sabendo que ele sentia o gesto.

      —Sei.

      —Não será bom para ti.

      O aviso extra a fez sorrir. Ele não tinha a menor idéia do que era bom para ela, só imagens equivocadas do que queria para ela.

      —Todavia eu gostaria que me mostrasse como te dar prazer.

Na mão, o pênis deu um puxão. Contra a bochecha as costelas se expandiram. Ela respirou com ele, desfrutando do ar doce do verão e esta invasão em suas defesas. Este momento quando ele a deixaria entrar.

   Seu «Deste modo» foi brusco, sua instrução um feito enquanto fazia que a mão fosse para cima e para baixo por seu membro. Ela não se ofendeu. Não podia esperar que um homem ao que estava tentando além do que a honra ditasse, sorriu. Mas podia esperar sua cooperação.

     O ritmo que ele impôs era duro e rápido. Franziu a sobrancelha. Nada absolutamente do que esperava. Sempre a tinha excitado primeiro com ligeiros toques e golpezinhos para trazer a seu corpo a uma necessidade se desesperada. Isto era mais como o final quando não havia nada sob controle, nada que pudesse aceitar exceto a viagem violenta ao auge. Os quadris de Sam se levantaram para sua carícia. Os músculos das costas se esticaram. As mãos caíram, lhe devolvendo o controle. Ela o tomou com um toque ligeiro com um sussurro que fez que Sam se estremecesse.

     —Creio que me estás apressando, Sam.

     —O que te faz dizer isso?

     —Assim não é como você me toca.

      —Os homens não necessitam toques doces como as mulheres. Eles o querem rapidamente e com força.

      Ela franziu a sobrancelha, refletindo sobre a profundidade da verdade na declaração. Sam nunca mentiria mas esconderia a verdade se servisse a seu propósito.

      —Creio que você o quereria doce de mim.

     Ele o necessitava doce mais que qualquer um que ela tivesse conhecido antes. O merecia. Sempre estava preocupando-se com os que estavam ao seu redor, sempre fazendo o correto. Um homem como esse deveria ser recompensado. Lhe deveriam dar a suavidade que não pediria.

       —Eu gostaria de gozar sem que me atirassem no cu.

     Outra palavra para acrescentar a seu vocabulário.

     —Há problemas?

     —Estamos no território de Tejala, ao ar livre com potencialmente uma força armada em nosso rastro. Poderia haver problemas em qualquer momento.

     O pensamento não a aterrorizava como deveria.

      —Mas não há sinal de problemas agora?

     —Isso não significa nada. Poderia haver um grupo de emboscada justo sobre a próxima colina.

     —Ou poderia não haver nada.

     Ele sacudiu a cabeça.

     —A emboscada é mais provável.

      —Está tratando de me assustar. —Concluiu ela.

     —Trato de conseguir que lhe veja sentido.

       Não, estava tentando distraí-la, tratando de apressá-la porque… O por que se lhe escapava, mas o instinto lhe disse que a pesar de suas palavras, Sam desejava a doçura que ele sempre lhe dava tão facilmente.

     —Creio que te darei meu presente a minha maneira.

     —Aconteça o que acontecer.

     Sua interferência se estava convertendo em tediosa.

     Ela lhe acariciou com uma larga passada tranqüila, cavando a cabeça larga na palma, descobrindo uma gota sedosa de líquido na ponta. Não sabia que os homens se umedeciam, também. Deslizou um pouco da umidade nas pontas dos dedos.

      Desta vez o punho de Sam no pulso foi inevitável. Girou na sela, mantendo seu punho na mão, forçando-a a inclinar-se ao redor.

     —De verdade quer me dar prazer, duquesa?

     Os olhos arderam sobre ela cheios de paixão e ira. Possivelmente lhe tinha empurrado muito longe. Negou-se a ter medo. Estava disposta a pagar qualquer vingança que ele quisesse por atrever-se a explorar sua vulnerabilidade.

     —Sim.

     —Então me dê sua boca.

      O fez, sustentando seu olhar com o seu enquanto separava os lábios lentamente, convidando o que ele necessitava. Ele necessitava tanto, muito mais que sexo, mas era tudo o que tomaria. Ela compreendeu isso. O aceitou, mas enquanto estivesse com ele não lhe deixaria desejando. Ele tinha paixão para dar-lhe. Ela tinha suavidade para ele.

     O azul dos olhos se obscureceu, sua expressão se endureceu. Ele ia ser malvado. Ela se preparou para isso.

          Ele lhe levou os dedos molhados aos lábios, tão perto que ela pôde cheirar o aroma doce de seu almíscar. Como grama recém amassada, condimentado com algo mais profundo, algo irresistível.

     —Isto é tudo o que tenho para te oferecer.

     Ela se inclinou para frente, curvando a língua ao redor de sua essência, tomando-a na boca, ainda sustentando seu olhar, lhe permitindo ver aceitar sua sêmen do modo em que ele pedia. Era salgada e terrestre e enquanto vivesse, sabia que nunca esqueceria seu sabor. Tragou e se lambeu.

      Sam deslizou a mão através da bochecha de Bella até que os dedos lhe cavassem a cabeça. Empurrou-lhe a cabeça para baixo quase impotentemente enquanto grunhia.

    —Necessito que me chutem o cu.

     A ela tomou-lhe um segundo averiguar o que estava fazendo. Lembranças de sua boca no sexo brilharam por sua mente. Ele queria sua boca. Em seu pênis. A excitação estalou por ela em um golpe de luxúria. Lambeu-se outra vez. O resíduo de sua necessidade revestiu a língua de pura tentação. Gostaria de lhe conhecer desse modo. Estaria ele tão impotente sob o látego de sua língua como ela tinha estado embaixo dele? Era um pensamento intrigante. Raramente conseguia vantagem com ele.

     —Te desejo muito, e o que mais eu gostaria é de tomar-te em minha boca neste momento do modo em que me o fizeste a mim.

     Os olhos de Sam se estreitaram e ficou sem respiração antes de soltar o fôlego com um grunhido de palavras.

     —Pense bem antes de fazer isto, Bella. Não haverá prazer nisto para ti e haverá um ponto depois do qual não pararei, ainda que queiras que o faça.

     Quando, então.

     —O que te faz acreditar que quererei?

     —És virgem. Não tens a menor idéia do que estás pedindo.

     —Então terá que me ensinar.

     —Não assim. Não em um cavalo no meio de quem sabe onde.

     —Isto é o que temos.

     —Mereces algo melhor.

     Sempre pensava que ela merecia algo melhor, mais. Curvou a mão ao redor de seu pênis, inclinando o grosso membro para ela.

     —És o que quero.

     —Não podes ter sempre o que desejas.

      Mas podia, e de agora poderia extrair uma lembrança para guardar mais tarde, quando os maus tempos chegassem. E chegariam. Tejala era implacável. Acariciou a cabeça com o polegar. Larga e suavemente aveludada dureza coberta de aço. Poderosa como o mesmo Sam. E seu.

   —Posso te ter?

     A mão de Sam era pesada em sua cabeça, os dedos suaves na bochecha, sua voz fatigada com a aceitação.

     —Sim. Por agora.

     —Então o faremos agora muito bom. —Baixou. As costas da sela lhe cortou o quadril e se estirou demasiado.

     —Bella…

     Ela não queria ouvir mais lamentações.

     —Pareces tão triste, quando estou muito segura de que isto te fará muito feliz.

     —Não te fará feliz a ti.

     —Estás equivocado.

     Ela roubou sua resposta tomando-o na boca. Seu imediato gemido e o estremecimento suavizaram como um bálsamo seu desconforto. Ele era muito maior do que tinha antecipado, e não era tão fácil como esperava tomá-lo. Abriu mais a boca, moveu-se mais perto. Ele se deslizou mais profundamente. Breeze tropeçou. O pênis se introduziu mais profundamente, lhe golpeando a bochecha antes de golpear a garganta. Ela se revolveu para retroceder.

     —Merda!

     Em vez de afastá-la, Sam a sustentou ali, as mãos e os quadris esticando-se, enquanto a garganta de Bella tentava com esforço não se afogar. Dois batidos de coração e ele se moveu com cuidado, lhe sustentando a cabeça na mão outra vez mais que a refreando.

     —Sinto muito, duquesa. Tira meu lado selvagem.

     A cabeça do pênis montou sobre a língua em golpes superficiais.

    Ele sempre a conduzia ao limite antes de lhe dar o êxtase, ela faria o mesmo por ele.

   —Eu gosto de selvagem.

     Ele a deteve antes que ela pudesse tentá-lo.

   —Prefiro isto. —Enroscou os dedos em seu cabelo, massageando-a em pequenos círculos, sendo amável com ela enquanto a paixão enrouquecia sua voz --- Isto é bom.

     Era muito tarde, ele lhe tinha mostrado o que gostava. E isso era seu pênis profundamente na boca. Por muito que tratasse de ocultá-lo, ela podia sentir a urgência dentro dele. A necessidade de empurrar controlada por sua posição. A necessidade de dominar suavizada por sua promessa. Simplesmente porque ele não a liberaria não significava que ela não a sentisse. Ou não a quisesse.

     Inclinou-se para trás.

     —Deixe ir.

     —Não.

     Retraindo os lábios, lhe deixou sentir o bordo dos dentes.

      Ele inclinou a cabeça para trás e sorriu, esfregou-lhe os lábios com a almofadinha áspera do polegar.

     —Me tentando não conseguirás que mude de opinião.

      Não lhe estava tentando, lhe estava ameaçando. Devia ter mostrado os pensamentos na cara.

     —Eu gosto rude.

    Então a ela também, porque o desafio para que perdesse o controle do modo em que ele fazia que ela o perdesse era uma ceva muito brilhante para resisti-lo. Tinha esta noite. Este era o começo. E não estava pondo um tom de cuidado nem nenhuma falsa modéstia que ele insistia que tinha por ter por ser virgem. Sacudiu a cabeça.

     —Te vais levar uma grande surpresa, Sam, quando vir quem sou realmente.

     —Vou fazer o impossível por não fazê-lo.

      —Não a que? A estar surpreso?

     —A ver quem é realmente.

      —Por quê?

      —Porque não será bom para nenhum de nós.

     Ela tomou emprestada uma de suas próprias expressões.

     —Correrei o risco.

     —Eu não.

     —Então retornemos a isto.

      Abandonando a responsabilidade de seguir em cima do cavalo a Sam, Isabella lhe tomou na boca. O estremecimento lhe agradou muito. Igual ao seu sabor, seu aroma, seu gemido. Baixou a cabeça sobre seu pênis, impondo um rápido ritmo, um ritmo duro, acariciando alternativamente a face inferior de sua pênis com a língua e os dentes, confirmando uma coisa com cada raspadura dos dentes— a ele lhe agradava o rude.

      —Use as mãos —grunhiu.

     Lhe tomou um minuto conseguir o ritmo que ele queria, mas quando o encontrou, as recompensas foram altas. Seu claro prazer. Seu pênis se endureceu e se inchou ainda mais. Lhe tomou mais profundo, chupando mais forte, beliscando a ponta antes de aliviá-lo com uma passada da língua, bombeando com a mão, incitando-o ao clímax. Queria que se gozasse por ela.

     Apartou a boca de seu membro o bastante para sussurrar uma súplica.

     —Não te refreies.

     Não poderia suportar que se refreasse. Não desta vez. Não com ela. Necessitava que lhe necessitasse. Necessitava que se soltasse para ela. Seu sexo floresceu e doeu. Seu corpo chorou e seus mamilos arderam como fogo.

     —Não o farei, querida. Lhe darei tudo o que tenho.

     A grande palma lhe cavou a bochecha e sua voz foi rouca e profunda.

     —E você tomará cada gota, verdade? —Os dedos lhe acariciaram a garganta—. Cada gota por esta garganta doce.

     Assustada, excitada e ansiosa, ela assentiu.

      —Então toma-me profundamente, Bella. Respira e toma-me profundo.

      O fez, tomando-o mais além de sua necessidade de afogar-se, tomando-o tão fundo como pôde, arranhando suas bolas e seu pênis levemente com as unhas, chupando duramente até que Sam lhe agarrou a cabeça e a atraiu para ele. Jogou a cabeça para trás, o pênis deu um puxão e a sêmen quente alagou sua boca com seu sabor salgado. Ela tragou, ordenhou-lhe com as mãos, tomando-o o que tinha para dar, necessitando que se o desse, embora só tenha sido isso. Quando o último puxão se desvaneceu, e o pênis descansou tranqüilamente na língua, ela se inclinou para trás.

     —Estás satisfeito?

      —Sim.

     —Bem, porque isto fará mais fácil o seguinte.

     —Mais fácil?

     Ela se empurrou acima. Não o teria feito sem sua ajuda.

     Abrigou-se contra suas costas, choramingando quando a sela se apertou contra seu inchado clitóris.

     —Decidi o que me deve por salvar sua vida.

      —Então o que quer?

     —Que tome minha virgindade.

     —Isso não é muito como prêmio. As primeiras vezes raramente são boas.

     —Mas essa é a parte especial. Quero que me faça sentir tão bem como acabo de te fazer sentir quando o fizer.

     —Merda, não pedes muito, verdade?

      Ela beijou-lhe as costas, respirando profundamente seu aroma enquanto se passava a língua sobre os lábios, reunindo o último de sua essência.

     —Só peço o que sei que podes dar.

 

     Bella lhe estava oferecendo seu sonho. Sem condições. Uma noite do melhor sexo de sua vida (deveria ser o melhor) e tudo o que tinha que fazer era não convertê-lo em um pesadelo para ela. Não era um mau trato para um homem que não queria responsabilidades, então por que era como esfregar uma ferida aberta?

      Sam deu uma olhada através da fogueira a tempo de despojar a Isabella passando-se outra vez a língua pelos lábios. Sempre o fazia quando estava nervosa. E por que não o estaria? Tinha transportado a paquera para fora da área do jogo a realidade pura e dura. Uma mulher inteligente reconsideraria seu plano na hora da verdade. Suspirou e lançou o charuto para o fogo e disse a seu dolorido pênis que se tomasse um descanso. Não ia passar nada esta noite.

     —Pensando melhor nisso?

   Isabella levantou o olhar da taça de café com a que tinha estado brincando durante os últimos quinze minutos. A luz das chamas lhe cruzando a cara, escurecendo seus olhos misteriosamente, aumentando a aura de feminilidade que levava posta como outras mulheres teriam posto um extravagante chapéu.

     Merda. Ia matá-lo apartar-se dela esta noite.

     —Não. O que te faz perguntar isso?

     —A forma em que estás sentada ali pondo-te cada vez mais nervosa.

     —Estou sendo tola. —Pôs a taça no chão, a seu lado. Outra carícia de sua língua sobre os lábios. O desejo emanava através dele em um quente e líquido fogo correndo por seu sangue antes de reunir-se em seu pênis. O que acontecia com essa mulher que o punha em uma ereção contínua?

     —Tolo ou não, escutemo-lo. —Ele também poderia ocupar-se de seus temores quando se produzissem.

      —Desde esta tarde, tens estado pondo distância entre nós.

     —Não é nada novo. Estive tratando pôr distância entre nós desde o dia em que nos conhecemos.

     Ela se encolheu de ombros.

      —Isto é distinto. Agora que é de noite, não sei como ir daqui… —Fez um movimento descritivo com a mão desde seus pés até ele-… até ali. —subiu a manta sobre o ombro—. Assim é que agora estou preocupada.

      Ele não estava seguro que a tivesse ouvido corretamente.

     —Sobre o que?

      —Não sei o que é correto e o que não. O que funcionará e o que não.

     Ele piscou. De todas as inquietações que se imaginava que ela tinha, não contava com essa.

     —Não sabes como me seduzir?

     Bella o fulminou com o olhar como se tudo fosse culpa sua.

      —Sim, isso é o que não sei.

     Sempre o surpreendia. A pesar do arrependimento que ele sabia ia sentir uma vez que a noite terminasse, Sam ainda se sentia risonho.

     —Perdoa-me. Esta é minha primeira vez como um profanador de inocência.

      Ela se desanimou um pouco.

     —É verdade?

      É claro que era verdade. Que tipo de canalha ela pensava que era?

      —A inocência deveria ser protegida.

     —Como você me protege a mim?

     —Forma parte de meu trabalho. Sou um patrulheiro do Texas. Temos o Credo. Vivo por ele.

     —E fazer-te isto viola este credo?

     Podia dizer sim. Imediatamente ela se sentiria tão culpada por lhe fazer violar seu credo que desistiria. Mas não seria certo. E, ele não era o homem que deveria ser. Desejava o que ela lhe oferecia. Provar o que Caine tinha. O que seus pais tinham tido. Merda, A quem pretendia enganar? Atirou fora o resto de seu café. Desejava a Bella.

     —Não. Só me faz desejar o que não pode ser.

     —Mas já falamos. O manhã não existe.

     —Assim o concordamos.

     Ainda não se tinha assentado bem em sua consciência.

     —Não pareces feliz. Se o fizermos, possivelmente te arrependerás?

     Através do fogo lançou uma olhada a doçura de sua cara, a sua curvilínea figura, a covinha que pregava sua bochecha esquerda, a valentia em seus olhos, o desejo que nem sequer se incomodava em esconder.

     —Não há nenhuma maldita coisa da que me arrependerei ao te amar, mas uma vez me ocupe de Tejala, vai te dar conta que tudo isto foi por nada.

     —Creio, Sam, que inclusive se Tejala não fosse um problema em minha vida, estaria aqui esta noite contigo.

     Merda. Começava a pensar que a franqueza deveria estar proibida.

     —Isso não muda o fato de que não sou o tipo de homem a quem uma menina deveria ser arrojada sua primeira vez.

     Ela se levantou, metendo a manta sob os braços.

     —Ah, este é o problema. —passeou-se ao redor do fogo lentamente, com parcimônia, rebolando os quadris de lado a lado, o sorriso de seus lábios uma tentação de sereia—. Segue pensando em mim como uma menina.

      —Apenas te tiraste as tranças.

     Se deteve justo fora de seu alcance, deixando cair a manta. Escorregou por seu corpo em um lento deslizar, caindo ao chão sem um protesto. Não podia evitar pensar que ali deveria haver um protesto. Mais que só dele. Debaixo, ela ia vestida com a camisa e a saia e o sorriso agraciando sua cara era a única coisa que uma mulher conservava quando se despia diante de seu homem. Inocentemente tímida sedutoramente espectador. Era o tipo de sorriso que virava um homem do avesso.

     Deu um passo sobre a manta.

     —Sou uma mulher, Sam. Conheço meu valor. — Colocou a grossa trança sobre o ombro e fez um brusco movimento com o laço. O lançou. Ele o apanhou mais por costume que por pensá-lo. Não podia lhe tirar os olhos de cima.

     —Todavia podes jogar-te atrás.

     Ela lhe piscou um olho, lançou-lhe um sorriso com covinhas e se virou, deixando-o olhando o voluptuoso contorno de sua figura. Verdadeiramente parecia como uma pequena Vênus, todas as curvas arredondadas e sedução. Olhou-o por cima do ombro sob as pestanas, esse sorriso na cara de manifesto em sua voz.

     —Conheço o valor de um homem como você. —Deslizando as mãos atrás do pescoço, sob o cabelo, girou-se, subindo as mãos enquanto o fazia — Conheço o valor do que temos juntos. — O escuro olhar travado na dele enquanto o cabelo se derramava ao redor de sua cara em uma cascata sedosa—. Creio que a pergunta deveria ser… e você?

     Teve que lutar para encontrar a voz.

     —Pensava que não sabias como chegar dali até aqui.

      —Não sabia, mas me recordei disso. —Colocou as mãos nos quadris. Seu peso caía com naturalidade para diante sobre o pé direito, enfatizando a curva do quadril, a pequenez da cintura. Os dedos dele se retorceram. A cintura que podia abarcar com suas mãos. Os quadris que encheriam essas mesmas mãos até as transbordar. Esses incrivelmente suaves quadris—És um homem muito serviçal.

     Não o suficientemente serviçal.

     —Se lhe mostrei isso, como é que ainda está ali?

     —Porque não me ensinaste tudo.

     A doce reclamação foi uma advertência. Uma provocação. Sentou-se um pouco mais reto todo o masculino nele respondia a descarada feminilidade nela. As mãos se dirigiram aos botões do pescoço de sua camisa.

     —O que omiti?

     —Não me mostrou que também querias isto.

     Seu pênis estava tão duro que sentia como a pele fosse rasgar se.

     —Queria pensar que isso era evidente.

     Deixou cair as mãos da garganta em um lânguido gesto, as movendo para sua virilha.

     —Aqui não. —Subiu as mãos para os peitos, cobrindo o coração—. Senão aqui.

     Suas mãos eram muito pequenas para cobrir as generosas curvas. Ele flexionou os dedos. Ela necessitava mãos maiores. Suas mãos.

     Ela inclinou a cabeça a um lado. O cabelo caiu sobre o delicado ombro, balançando-se além de seus quadris em uma espessa cortina. Sorriu de uma forma que tinha essa covinha na bochecha esquerda cintilando ante ele com a vitalidade que era tão forte nela.

     —Não é meu desejo te violar, Sam.

     A última resistência desapareceu sob o açoite da diversão. E a ternura. Ela era muito mais do que ele podia resistir. Lhe estendeu a mão, com a palma para cima. Um convite.

     —Nunca poderia me violar, Bella.

     Ela pôs sua mão na sua com tal absoluta confiança que o devastou.

     —Por que é mais forte que eu?

     Ele negou com a cabeça, jogando-a sobre seu regaço.

     —Porque nunca me encontraria pouco disposto.

     Ela franziu a testa.

     —Mas te opõe ao que há entre nós.

     Ele pôs o dedo na apenas perceptível linha entre suas sobrancelhas, alisando-a com uma suave pressão.

     —Porque sei o que acontecerá se estiver comigo. E sei que te mereces algo melhor, e o quero para ti. —Passou o dedo sobre o contorno de suas sobrancelhas. Queria-a feliz e a salvo—. És uma duquesa, Bella. Te mereces a um duque.

      Ela se abrigou em seu ombro.

     —Esse duque me amará como a uma mulher, Sam, ou me porá em um pedestal, sempre esperando um comportamento apropriado de duquesa?

     —Melhor que te trate bem.

     —Ou o que? Ou virá a lhe dar uma surra?

     O mataria.

     —Sempre estarei ali para ti.

     —Que tipo de matrimônio será, Sam? Contigo sempre estando entre eu e este duque. Uma ameaça para ele, uma atração para mim?

     —Me esquecerá uma vez que retorne a casa e a ameaça de Tejala seja eliminada.

     —Por que sou jovem e não sei o que quero?

     A dor o atravessou. Enterrou-a antes que alcançasse seus olhos. Não pôde mantê-la totalmente afastada de sua voz. Saiu bruscamente em um forte:

      —Sim.

      Ela negou com a cabeça e suspirou.

     —Não vou discutir essa mentira contigo esta noite, mas logo terá que te enfrentar com essas partes de ti que esconde e elege. —Deu-lhe uns tapinhas no peito—. A paciência não é minha melhor virtude, Sam. Não posso te prometer esperar para sempre.

     —Nunca lhe pedi isso.

     —Sim, já sei. Isto é quase tão lamentável como o outro.

     Ele franziu o testa.

      —Que outro?

     Empurrou-lhe o ombro.

      —Não dissimules que não sabes.

     Não podia pensar em uma coisa que tivesse esquecido. Não foi até que viu o brilho em seu olho e o sorriso inclinando a comissura de sua boca que se deu conta que lhe tinha feito uma brincadeira. Seguiu o jogo, sabendo quanto necessitava ela a ilusão de ter o controle.

     —Terá que me pôr a corrente.

     Ela soltou um exagerado suspiro.

     —Posso ver que isto é outra faceta de sua reputação que se tem desvanecido.

     —Quer dizer envaidecido.

     —Desvanecido, envaidecido. —Ondeou a mão—. É uma grande decepção.

     —O que?

     —Estou sozinha, as escuras, com o célebre Sam MacGregor, jazendo em seu regaço… — assinalou os três botões abertos de sua garganta-… meio vestida, e ainda sou virgem.

     Os sorrisos eram agora mais freqüentes, zombando de sua instintiva necessidade de controlá-las. A mulher era incorrigível. E exteriorizava seu sentido da diversão como ninguém nunca tinha feito.

     —E?

     —Deram-me a entender que esse tipo de coisa me deixaria arruinada e…

     —E o que?

     Ela meneou as sobrancelhas.

     —Ofegante de satisfação.

     Tombou-a no chão em uma lenta descida, deslizando a mão sob suas costas, com cuidado de que não golpeasse o chão muito forte. Esta noite ia ser menos do que ela provavelmente esperava. Tinha ouvido que agradar virgens era um assunto delicado, e ele não tinha experiência com este coletivo pela simples razão de que nunca o tinha desejado.

      Exceto com Bella. Bella o fazia desejar todo tipo de coisas indevidas. O qual não diminuía a responsabilidade de fazer esta noite o melhor que pudesse por ela. E isso não significava começar com machucados.

     Isabella, sem pressas, pôs-lhe os braços ao redor do pescoço, unindo os dedos detrás da cabeça e esperando. Se ele queria lhe provar que era um filho de puta, este era o momento de fazê-lo. Descendeu seu peso sobre ela.

       Lambeu-se os lábios. A pesar da descarada conversação estava nervosa.

     —Podes mudar de opinião em qualquer momento, Bella. Nada tem que ir além do que desejes.

     Suspirou e lhe franziu a testa.

     —Sam?

     —O que? —disse beijando-lhe a ponta do nariz, as bochechas e a comissura da boca.

     —Se me disser isso outra vez, te darei uma bofetada.

      Em cima dela, inclinou-se para trás. Seguir-lhe a corrente era uma coisa, mas não era uma dócil mascote.

     —Duquesa?

     —Sim?

     —Se me ameaçar outra vez... —lhe pondo o dedo na ponta do nariz—… vou surrar te.

     Ela inclinou a cabeça.

     —Como a uma criança?

     Ele descendeu um pouco. O pescoço aberto da blusa revelava o sulco de sua garganta e o latente pulso sob a suave pele.

     —Não, como a uma mulher.

     Sua mulher. Se fosse sua mulher, provavelmente a surraria ao menos uma vez por semana pelo puro prazer de observar o rubor de seu orgasmo fazendo jogo com o rubor das palmadas. O fogo se estava extinguindo, mas ainda projetava suficiente luz para ver que em vez de estar intimidada, estava intrigada.

      Podia imaginá-lo com muita facilidade. A pele de seu traseiro ruborizada pela surra, de um rosado tão bonito e tentador como seu sexo. A cremosa pele estaria quente contra suas coxas enquanto lhe abria os lábios, centrava o pênis, pressionando-a em seu pequeno e apertado canal. E estaria apertada. Teria que introduzir a ponta, pouco a pouco, torturando-os a ambos com a lenta culminação. Suas bolas arderiam e se elevariam apertadas ao corpo. Merda. Poderia gozar-se só com as fantasias que ela lhe inspirava.

     Desabotoou-lhe a blusa, os dois botões seguintes, fazendo mais espaço para o beijo. Cheirou a lateral do pescoço. A sutil fragrância feminina de sua pele lhe acariciava os sentidos enquanto examinava a linha de sua clavícula. Aditiva, doce, um eco do sabor mais intenso que encontraria entre suas coxas.

      —Esta noite vamos fazê-lo bem e lento.

     Esta era a noite deles. Não ia apressar se.

     Tocou com a língua a parte inferior do queixo, provocando-a, provando o sal de seu desejo, sentindo-a tremer.

     Abrindo outro botão, mordiscou-lhe o pescoço abaixo para o aromático vale entre os peitos.

     —Quero ir depressa — ofegou ela.

     Para a parte boa. Ela não tinha nem idéia do que estava pedindo. Nem idéia de que se estava enganando.

     —Terá que resignar-te, optei por ir devagar.

     Sua cabeça caiu sobre a manta.

      —Por que sabia que ias dizer isso?

     —Porque temos toda a noite, e sou um homem consciencioso.

     —Não esqueça que também desejo ser uma mulher conscienciosa.

     —Não o esquecerei. Pela manhã, serás uma mulher minuciosamente satisfeita.

     Golpeou-lhe no ombro.

     —E ofegante.

      Apartando-lhe a camisa do ombro direito, tirou o tecido da cintura da saia, expondo o peito e o improvisado sustento.

      —Bonito.

     —Sempre me envergonham.

     —Gracioso, eu gosto muito. —Abarcou o peito em sua mão, tirando o sustento assim não haveria nada entre sua mão e a pele, exceto o calor e a antecipação. Sua pele era incrivelmente delicada ali, suave e atrativa, a cor um tom mais claro que sua cara como se uma colherada extra de nata tivesse sido acrescentada a exuberância de sua tez. Cavou o peito para cima, observando como o rubor subia por seu torso, acrescentando um fascinante rosa ao tom café com leite.

     —És cruel como os aprisiona. Não o farás de novo.

     —São meus peitos.

     Olhou-a entre os altos montículos.

     —Esta noite são meus.

     Beijou a parte inferior do doce montículo, demorando-se um minuto antes de beijar de ascensão o arco convexo, lhe deixando sentir o bordo dos dentes enquanto passava quase roçando a auréola.

     O mamilo agulhou sua bochecha. Túrgido, faminto, e ainda assim mendigando a carícia da língua. Lambeu-o uma, duas, três vezes em um pequeno tributo, antes de introduzi-lo na boca, saboreando o fraco gemido dela, antes de fechar os lábios sobre a cheia protuberância. Começou suavemente, fazendo-a desfrutar do momento, sugando com firme pressão, dando-lhe um ritmo depravado até que ela ardeu, arqueando-se debaixo dele. Ao mesmo tempo, seus dedos se afundaram no cabelo dele e atiraram. Forte.

     Deixou deslizar o mamilo para fora da boca em uma lenta fuga, açoitando a ponta uma última vez antes de soltá-lo.

     Quando olhou para cima, ela o estava contemplando. Grandes olhos marrons, escuros com mais que um indício de preocupação.

      —Por acaso não te traz algo entre as mãos?

      Ela colocou o lábio entre os dentes.

     —Não quero que penses que não estou impaciente.

      Deslizou o sustento do outro peito. O montículo se aplanou e se desdobrou em um licencioso grito por atenção, o mamilo já de ponta. A perfeita cereja de uma doce sobremesa.

     —Sei.

     Alcançou a cintura da saia.

     —Preciso saber o que acontecerá, o que me está permitido fazer. Não quero mentiras agora.

     Simplesmente estaria encantado se ela jazia ali, mas essa não era Bella. Bella era o prazer em movimento, sempre procurando o controle, sempre explorando. Se a queria relaxada tinha que lhe dar algo que fazer. E tinha que lhe fazer parecer como se fosse idéia dela, de outro modo se curvaria pelo outro lado da equação, o qual seria… estava ela obrigando-o a fazer algo que ele não queria?

      —Falas sério?

     —Sim.

      Passou-lhe os lábios quase roçando pelo pescoço, acariciando com a boca a dela. Seus lábios se abriram imediatamente. Ele não tomou vantagem, só deixou crescer a antecipação.

     —Não terminaste de te despir.

     Piscou antes de olhar para baixo.

     —Não estou o suficientemente despida?

     —Apenas.

     Ela alcançou a cintura da saia. Ele negou com a cabeça.

     —Aqui não.

     —Onde?

     —Ali ao lado do fogo.

     Um sorriso de anjo mau apareceu ao compreendê-lo.

     —Desejas que acabe o que comecei?

     —Oh sim.

     —E depois me farás ofegar?

     A pôs de pé.

     —Te farei gritar.

     Saiu disparada de seu regaço e se pôs frente ao minguante fogo, agarrando firmemente a parte dianteira de sua camisa, o olhar especulativo, seu sentido do desafio obviamente passando a primeira página.

      —Mas estou pensando que talvez, meu Sam, te farei ofegar primeiro.

      Caminhou ao redor do fogo, o sexy bamboleio de seus quadris provocando-o a segui-la. Chegou ao outro lado e girou, detendo-se com as mãos nos quadris e um desafiante movimento brusco de cabeça que lançou voando esse maravilhoso cabelo ao redor dos ombros e a blusa ficou aberta.

      A luz do fogo dançou em um desenho variável de luzes e sombras sobre essa estreita franja de carne, enfatizando seu já imponente decote, esvaziando o centro de seu controle.

     Meteu os dedos sob o colo da camisa e afrouxou o tecido do ombro, a manga se deslizou pelo braço, enquanto a parte dianteira ficava presa sobre o abundante peito, a um suspiro da completa revelação.

    Apartou-se o chapéu da frente, a boca ficou seca, a libido lhe insistia a levantar-se, a cruzar, e dar-lhe a essa fina parte de material o empurrão que necessitava.

      Toda sua cara se iluminou com patente sensualidade.

     —Ah, você gosta de meus peitos.

     —Não — a corrigiu — adoro seus peitos.

     Ela alcançou a outra parte, lhe dando um leve empurrão. Seguiu o mesmo caminho, ficando aceso no mesmo ponto.

      Um, dois, três segundos e a maldita coisa não caía.

     —Duquesa, crês que podes respirar profundamente?

     Ela negou com a cabeça.

     —Se quer ver meus seios, tens que ensinar-me o peito.

     —Posso ir ali e tomar o que quero. —A respiração entrecortada dela lhe mostrou o muito que gostou dessa idéia. Ele se inclinou para diante.

      Ela negou com a cabeça.

     —Mas não o farás.

     —Não?

     —Não.

     Gostava muito de dar-lhe ordens.

       —Por que não?

     —Porque você gosta de me provocar tanto como eu gosto de provocar a ti.

     Assim era.

     —Mas deverias saber que me provocar tem um preço.

     —O pagarei.

     —Nem sequer sabes qual é.

     —Não é necessário. Confio em ti.

     Seu controle era um fio muito fino, pronto para romper-se ao mínimo aumento de tensão. Tirou-se a camisa das calças e se levantou.

     —Não deverias.

      —Mas o faço - disse deixando cair a blusa ao chão.

 

     Lhe tomou dois segundos chegar ao seu lado e atraí-la contra ele. O corpo dela fluiu sobre o seu sem um sinal de protesto. Ela não tinha instinto de sobrevivência.

     A profundidade de seu decote atraiu seu olhar. O peso dos seios os arrastou abaixo só um pouco. O bastante para encaixar perfeitamente na palma da mão. Seus dedos se curvaram com antecipação. Sam levantou a mão, oferecendo o apoio que tinha prometido. Ela se girou em seu abraço. Os dedos foram aos botões da camisa. Um rubor lhe tingiu os maçãs do rosto salientes.

     —Está bem que queira ver-te nu?

      —Melhor que bem.

     Ela ergueu o olhar através das pestanas.

     —E se meus nervos sucumbem a tanta masculinidade?

     Ele riu entre dentes e a acariciou com o polegar esse intrigante rubor.

      —Prometo despertar-te logo.

      A risada flutuou entre eles, unindo-os no momento, envolvendo-se ao redor deles mais apertadamente que a paixão.

     —Obrigada.

     Ele tinha amado rir-se sendo menino, e certamente tinha criado muitas oportunidades de rir como adulto, mas esses tinham sido freqüentemente escuros momentos de humor negro e acabavam geralmente com alguém morto. Mas com Bella a risada sempre era como devia ser, pelo puro prazer do momento.

     Deslizou a mão através da cintura, empurrando-a contra seu corpo. Baixando a boca a delicada curva da orelha, esfregou a língua sobre a ponta, um sorriso puxou de seu desejo quando ela tremeu imediatamente em resposta.

     —Te desejo.

     Ela girou em seus braços, inclinando-se através de seu peito, uma sobrancelha levantada interrogativamente enquanto retrocedia para a esteira.

     —Parece que resisto?

      A mulher provavelmente não tinha nenhum indício de como, ao cruzar os braços dessa maneira, levantava esses seios magníficos e os exibia, esticando seriamente o tecido da camisa. Ele, entretanto, não podia apartar os olhos do milagre. Seguiu.

     —Isso era um desafio?

     O olhar de Bella caiu a sua boca. Piscou, logo deixou cair seu olhar a virilha, onde ele sabia fodidamente bem que sua ereção era visível. Ela abriu os olhos de par em par. Os peitos se incharam quando respirou, deu um passo a um lado.

     Esse ligeiro sobressalto de assombro suavizou o lado selvagem de Sam. A antecipação se abateu em seu peito, mesclando-se com o fluxo pesado do desejo.

     —Porque te asseguro, Bella — arrastou as palavras enquanto a seguia—. Posso te cavalgar tão duro e tão logo como queiras.

     Ela deu outro passo para trás. Quase estava na esteira.

     —A conversa é econômica.

      Ela ainda olhava fixamente ao seu pênis.

     —Troca. A frase é «falar é barato».

     —Não significa a mesma coisa?

     Outro passo e Sam estava o bastante perto para contar os batimentos do coração na garganta de Bella.

     —Perde um pouco de seu poder.

     Bella se encontrou com seu olhar.

      Sustentando-a, ele deu o último passo crítico, ele que lhe levou dentro do alcance de todas as maravilhas que faziam dela a mulher que era. Descansou o indicador no pulso que batia freneticamente.

      —Não estará assustada de mim, verdade?

      Molhou-se os lábios com a língua, deixando-os úmidos e trementes.

     —Não.

      —Então por que está retrocedendo?

     Ela saltou, olhando detrás dela e logo depois de volta a ele.

     —Sabe que não te faria mal, Bella.

     A palma em seu peito era morna e suave, muito feminina na delicadeza com que ela o reclamava.

      —Sei.

     Ele a levantou em braços e se ajoelhou, levando-os a ambos a brandura da esteira, baixando sobre ela, apoiando o peso nos antebraços, com um sorriso nos olhos.

     —Então, por que está nervosa?

     As mãos se abriram contra o peito, sem acariciar, sem apertar, só descansando ali como se ela medisse sua resposta.

     —Desejo tanto ser esta noite o que você deseja.

      —Isto é somente eu, Bella, te amando. Nada de mais.

       Ela pôs os olhos em branco.

     —É a coisa maior que conheço, Sam.

     Ele lhe apartou uma mecha de cabelo da comissura da boca, inundado de ternura. Ela não estava atemorizada com nada.

     —Podes me dirigir.

     Sua recompensa foi uma volta do sorriso de anjo malvado. As Palmas de Bella lhe acariciaram os músculos e o sorriso que ele amava lhe curvou as bochechas enquanto se arqueava em convite.

   —Sim. Creio que posso.

     Recolhendo sua saia, ele colocou a mão debaixo, encontrando surpreendentemente pele nua, seguindo o descobrimento para cima até o suave pêlo que lhe cobria o montículo. Os cachos se envolveram imediatamente ao redor dos dedos. Deu um pequeno puxão. As pupilas dos olhos dela se dilataram e o fôlego saiu em um sexy gemido. Sam se inclinou, capturando o final do suspiro com a boca.

     —Doce.

     As pálpebras de Bella se fecharam enquanto sua boca florescia baixo a dele, abrindo-se ligeiramente, excitando-o com seu sabor, lhe desafiando a tomar mais. O fez, subindo a mão até a mandíbula, apertando até que ela obedeceu, sustentando-a nessa posição, aberta e impotente, até que gemeu outra vez, esticando-se em suas mãos. Só então a beijou, enredando a língua com a dela, lhe acariciando os lados, excitando o sensível interior dos lábios antes de sugar a língua em sua boca, atraindo sua carne, seu espírito. Desejando que se rendesse. Ela o fez com um grito inarticulado e retorcendo o torso.

     —Vê, isso é tudo o que precisa fazer, Bella, para que isto seja perfeito. Permita-me ver quem és, como te faço sentir.

     —Me faz sentir tanto.

     O doce aroma de sua excitação atraiu seu toque. Estava molhada e intumescida. Ansiosa.

     —Ah, duquesa, esta é uma vagina faminta.

     —Que esperas se tens estado alardeando ante mim durante dias?

     Outra risada.

      —Não muito mais, suponho.

     Ele apertou e ela saltou. Quando seus quadris retornaram para baixo ele apertou o dorso da mão contra o clitóris que pulsava, esfregando suavemente enquanto comprovava a estreiteza de sua vagem com um dedo.

     —Sam!

     —Aqui mesmo.

     Pressionou outra vez e a cabeça de Bella golpeou de um lado a outro enquanto seus quadris empurravam para cima com a novidade da sensação. Beijou-lhe a bochecha, a comissura do olho…

     —Faça outra vez.

     Se o fizesse, ela gozaria, e ele não estava preparado para isso.

     —Ainda não.

     Bella lhe golpeou com o punho nas costas, lhe tirando um sorriso.

     —Não posso esperar.

     —O fará.

     Suas mãos ondearam no ar por um segundo, finalmente reacomodando-se em seu ombro. O calor de seu toque ardeu por sua camisa. Queria todo esse calor sedoso contra ele. Tirou o cinto da saia.

      —Levanta.

     Ela o fez. Levantou-a até os quadris. Suas coxas se abriram. Havia pérolas de umidade nos cachos escuros, refletindo o resplendor do fogo. Mais a frente, as dobras inchadas do sexo atraíam com um tipo diferente de fogo. Retendo seu olhar, ele separou as dobras, introduzindo dois dedos no poço de sua vagina. Ela tremeu, agarrando-se os lábios entre os dentes.

     —És formosa, Bella.

     —Você também.

     —Os homens não são formosos.

     A paixão aprofundou a rouquidão em sua voz.

      —Tu és.

     Movendo seu peso ao antebraço, Sam meteu os dedos com cuidado, olhando como a suave carne rosa tomava até o primeiro nódulo, parando quando ela ofegou e apertou.

     —Tranqüila.

     —Sou muito pequena. —Era quase um gemido.

     —Não, só és nova nisto.

     Seus clitóris, acima e inchado, estirava-se para ele, suplicando atenção. O aroma de Bella lhe rodeou, limpo e fresco como a primavera, cheio de um potencial esperando ser liberado.

      Sam não podia esperar a liberá-la. Sentir toda essa paixão chovendo sobre ele, rompendo sobre seu pênis. Desejava-a sem nada entre eles. Nem passado. Nem futuro. Nem seus temores nem as expectativas de ninguém. Desejava-a da forma em que sempre era, cheia de esperança e pensamentos positivos. Desejava que ela recordasse esta noite com um sorriso.

     Tocou-lhe o clitóris com a língua, só um sussurro nu de sensações através da pesada ponta. O bastante para incitar o fogo que ardia tão brilhantemente nela. Seu agudo grito ressonou ao redor. Sujeitando-lhe os quadris com o antebraço, assentou-se mais profundamente entre suas coxas.

     —Vou saborear-te agora, Bella...

     —Gozarei se o fizer.

     —Não… — ele levantou o tornozelo direito sobre seu ombro-… não o farás. — lhe acariciando com a mão o exterior da perna esquerda, levantou-lhe esse tornozelo, também—. Vais desfrutar do que te faço, mas não gozará. Não até que te dê permissão.

     —Quem és para dizer-me isto?

     —Seu amante.

      A declaração pendeu entre eles, com toda a implicação. Provando sua boa disposição com outro golpe dos dedos, manteve seu olhar centrado no dela, amamentou-se de seus clitóris ligeiramente, uma mera brisa, uma carícia que desejava acrescentar a carne inchada antes de beijar a ponta, lhe acariciando as coxas quando deu um puxão. Ela empurrou a mão entre sua vulva e a boca. Rodeando-lhe os punhos com os dedos, ele deslizou o polegar entre seu montículo e a palma.

     —Confia em mim, Bella.

     A ternura se cobriu com luxúria quando ela balbuciou, um murmúrio na confiança que lhe estava dando, mas então lhe permitiu envolver sua mão muito menor na dele, entrelaçando os dedos do mesmo modo em que sua fé se entrelaçava com a maré implacável de luxúria que surgia dele, suavizando-a a um nível manejável.

      Ele sorriu e beliscou seus clitóris, sustentando-a enquanto a surpresa a atravessava em uma onda de sensações que se refletiu na tensão e no relaxamento dos músculos interiores. Uma fina capa de suor lhe lustrou a pele.

     —Me diga o que desejas.

     O rubor nas bochechas de Bella se intensificou. Possivelmente estava empurrando-a muito forte, mas então ela se apartou o cabelo dos olhos e se elevou ante seu desafio, encontrando-se com seu olhar, seu desejo.

     —Necessito seu… pênis em mim. Por favor, Sam.

     Ele lhe podia dar isso. Com um último redemoinho da língua sobre seu pequeno clitóris impertinente, tirou com cuidado os dedos de seu canal apertado e se posicionou entre suas coxas. Sua sombra a cobriu, bloqueando a luz de seus olhos.

     —Ponha seus braços ao redor de meu pescoço e agarre-se.

     Fez o que lhe ordenou sem vacilar. Confiando nele. Sam chiou os dentes contra a necessidade de tomá-la duramente, de introduzir-se profundamente, enquanto ela chutava o que ficava de sua saia, quase lhe golpeando no processo, mas então a sustentou, pele contra pele, batida de coração contra batida de coração. A emoção rodou sobre ele como uma agonia. Toda sua vida se negou isto, e agora estava aqui, e se tinha permitido só esta noite. Esta noite antes que Bella passasse a vida que devia ter. O céu e o inferno se envolveram sob um céu.

     —Por favor, Sam.

     Foi esse segundo, por favor, o que lhe liquidou. Isabella raramente dizia, por favor, soava quase como um rogo, recordando-lhe isso por toda sua conversa e sua honestidade, isto era novo para ela e estava insegura. Não queria que ela rogasse em sua cama. Queria-a selvagem e faminta, mas não rogando.

     —Pode ter o que quiser de mim, Bella. Nenhum por favor. Só me diga o que é.

     «Quero que me ame».

     Isabella se congelou.

     Por Deus, havia dito isso em voz alta? Não tinha querido dizê-lo. Nem sequer tinha sabido que a estúpida esperança tinha permanecido a pesar de todos seus esforços por enterrá-la. Sam ainda a estava olhando fixamente, os olhos azuis profundos, com a paixão tão elementar a sua personalidade. Ainda esperava uma resposta.

     Fechou os olhos com um suspiro de alívio. Só tinha pensado a revelação. Isabella retorceu seu punho apertando-o mais no cabelo de Sam.

     —Me faça sentir bem. Melhor do que nunca antes me senti.

     Não esperava que ele rechaçasse o desafio e não o fez. Ele riu, beijou-a e se deslizou para baixo, lhe mordiscando o pescoço, a clavícula, o inchaço superior do peito e seguiu, deixando um rastro de chamas em sua esteira, tantas que ela sentia como se sua pele estivesse ardendo. Ofegou quando os lábios de Sam lhe roçaram o vale entre os seios, a suavidade do estômago, o púbis, o topo de seu montículo.

      Sam se encontrou com seu olhar, quente e intenso enquanto a língua descansava sob o lábio de sua vulva e se curvava ao redor de seus clitóris. Calor, fogo, a surpresa estalou por seu sistema com uma combinação que a deixou sem fôlego. Seu canal apertou. Ela levantou os quadris sob a pressão da boca de Sam, ofegando quando lhe deu golpezinho com a língua, a totalidade de sua posse empurrou um fio invisível por suas costas, arqueando-se em uma oferenda por mais. Mais de seu toque, seu jogo. Mais de qualquer coisa que ele desejasse.

     Tinha estado preparada durante muito tempo. Necessitava-lhe muito. Ele possivelmente pensaria que ela encontraria alegria em uma vida segura, porque se negava a vê-la, mas ela sabia. Ele era o que sempre tinha procurado, o por que nunca se conformaria com os homens e a vida a que lhe empurravam seus pais. Ele era seu herói. Sua salvação. Sua esperança.

     A delícia de sua língua na carne aquecida era incomparável, conduzindo-se através do temor a rendição, ardendo tão profundamente que a marcou de novo. Sam. Era de Sam. O órgão se apertou ante o êxtase dos dedos, apartando os músculos apertados de sua vagem, sujeitando-a a este momento, querendo preservá-lo, não desejando que terminasse.

     O ronrono de satisfação de Sam provocou que o nó se apertasse mais, que a necessidade aumentasse.

     —Sam?

      Necessitava a liberação, precisava gozar, mas justo quando alcançou o limite, justo quando estava a ponto de romper-se no clímax, ele retrocedeu, orvalhando doces beijos tenros através de seu sexo, rodeando o clitóris com calor, ternura e cuidado, com tudo exceto com o que necessitava, o toque duro que a enviaria sobre o limite.

     —O que?

     —Vou te matar.

     Sua forte risada foi só um estímulo a mais para levar a cabo a ameaça.

     —Não, não vai não. —Um comprido, lento golpe da língua e a beijou subindo por seu corpo da mesma maneira que tinha baixado. Como se tivessem todo o tempo do mundo—. Vais gozar para mim. Longo e teso, ao redor de meu pênis.

     Apertou a boca tão duramente contra sua garganta que ela pôde sentir os dentes. Outro estremecimento a atravessou. Outro movimento desses músculos magníficos e a estava cobrindo, seu corpo grande a refugiava da realidade.

     —Como sonhei — terminou ele com um grunhido de antecipação.

     As mantas sob a cabeça de Bella sussurraram quando ele ajustou seu peso no antebraço. As sombras formaram redemoinhos sobre a paixão nos olhos a medida que começou a tirar as botas e as calças. Sombras que ela reconheceu porque vivia com elas. Era reconfortante saber que ele também estava cheio de perguntas sobre o que aconteceria.

     —Esta noite, se sonhar comigo… — Ela se estirou, curvou a palma sobre o duro músculo do ombro, colocando o polegar no entalhe de uma velha cicatriz. Tantas feridas, tantas cicatrizes, as novas ganhas ao defendê-la—. Serás feliz.

     Os olhos de Sam brilharam ao olhá-la.

     —Você é a única que vai ser feliz.

     Ela lhe sorriu, permitindo-lhe que os levasse a cômodo chão.

     —Então deve me fazer ofegar.

     —Oh, definitivamente ofegarás, mas… —O beijo que ele pressionou sobre seus lábios foi duro, mais uma declaração que uma carícia - Não até que te diga isso.

     Sua alma recolheu o tremor que tinha começado no corpo. Por mais que ela tentasse suprimir sua natureza, não podia mudá-la e quando Sam tomava o controle, só havia alegria em seu interior.

     O pênis de Sam deu um puxão em seu sexo, aninhando no poço criado para ele.

     —O pequeno tremor quer dizer que o aprova?

     Ela ofegou quando ele pressionou para dentro, enérgico e lhe intimidante. Ela apoiou a outra palma no peito.

     —Sim.

—Farei o que puder para não te machucar, Bella. —Com a palma girou a cara dela para a sua — Sabe disso.

     Ela piscou, logo se deu conta de que, embora seu sexo florescesse com seu impulso, estava-lhe apartando. Duramente. Respirou. A seda fresca do cabelo de Sam lhe acariciou a bochecha. Seguiram os lábios rapidamente.

      —Quer que pare?

     Ela ouviu em sua voz quanto lhe custava oferecer isso. Também soube por que o fazia. Sam não era um homem que machucasse facilmente aqueles com os quais se preocupava. E se preocupava com ela, embora lutasse contra ela. Negou com a cabeça.

     —Não. Quero saber como é ter seu corpo dentro do meu. Muito.

     Os quadris de Sam se flexionaram espasmodicamente, e o fôlego lhe roçou a pele.

    —Maldição, Bella, não pode dizer essas coisas quando trato de fazê-lo suave.

     Ela se arqueou um pouco, tomando um pouco mais, sentindo a maravilha enquanto seu corpo se esforçava por aceitar sua posse.

     —Talvez lento não seja para nós.

    Sam tragou contra a necessidade que ela podia sentir pulsando dentro dele. Ele era um bom homem que se via si mesmo muito equivocadamente. Tanto que não podia ver a verdade.

     Ela abriu a boca para discutir, mas ele a cobriu, cortando o que ela queria dizer com um golpe da língua e um convite a lhe beijar, o qual ela fez até que esteve pegando-se a ele, Sam a sustentava com as mãos, o corpo, a suavidade de suas palavras.

     —Sei que tem preocupações. Grandes preocupações em sua mente que lhe refreiam, assim por que não me as entregas e me deixa cuidar delas esta noite?

     —Que preocupações? —perguntou ela duvidosa.

     Ele sorriu com o sorriso mais suave que ela jamais tinha visto em sua cara e lhe riscou a boca com o polegar.

      —Seus seios não são muito grandes, seu espírito não é muito selvagem, seu senso de humor não é inadequado. —A maneira em que lhe sustentava a bochecha era de uma vez protetora e possessiva, a luz em seus olhos muito mais—. És perfeita, Bella. És doce, generosa e valente, e qualquer homem suficientemente afortunado para ser o centro de sua atenção deveria cair de joelhos e dar graças a suas estrelas afortunadas.

     Ela suspirou e se abrigou em sua força, levantando as pernas ao redor de seus quadris, desfazendo-se de um pouco de seu nervosismo. Dizia coisas doces muito bem.

     Beijou-a outra vez, suavemente, mimosamente. Ah, ela amava seus beijos. A pressão descendente dos quadris de Sam lhe roubou um pouco de êxtase. Era muito largo, o momento muito íntimo, quanto mais pela intimidade de lhe ter vendo-a tomar-lhe desta vez, desta maneira. Quando seus músculos se separaram para a íntima chaga de aceitação, ela ofegou.

     Ele se deteve, não dentro dela, mas não totalmente fora. Enlaçou os dedos com os dela, sujeitando-os ao lado da cabeça.

     —Só um pouco de confiança, Bella. Isso é tudo o que necessitas.

     O fato de que ela tivesse um agarre mortal em suas mãos não evitou que pusesse as palmas sob a cabeça. Só levou suas mãos com as dele. A carícia dos lábios através das pestanas lhe fez cócegas. Sam liberou uma de suas mãos. Roçou-lhe a bochecha, o peito, o flanco antes de posar-se no quadril. O polegar se moveu devagar entre seus cachos, encontrando a protuberância do clitóris enquanto a beijava. A pressão de seu pênis aumentou. Assim como o ardor.

     —Tão doce, necessito mais.

     —Creio que mudei de opinião.

     Metendo o pênis mais apertadamente contra ela, acariciou-lhe os lábios com a língua, lhe fazendo cócegas nas comissuras enquanto ela ofegava, incrementando sua paixão com lentos círculos do polegar, então transpassou a barreira, lhe enchendo a boca com seu calor. Seu sabor. Não pedia como ela tinha esperado, mas sim enrolava. A língua se enredou sem pressa com a dela, outra vez como se não houvesse nada mais urgente que um beijo. Mas havia, e a prova disso a aguilhoava ao mesmo tempo em que o pulso.

     Liberou a boca.

     —Sam…

     Seu «Shh» se fundiu com a tranqüilidade de seu fôlego contra a bochecha. A sensação entre prazer e dor a fez arquear o pescoço. A risada de Sam precipitou um estremecimento por sua coluna. O toque de sua língua inspirou outro tremor que terminou em um apertão do sexo contra o pênis.

     —Doce. —Uma pausa para outro beijo e logo—,relaxe e me deixe entrar, duquesa.

     A familiar palavra carinhosa levou seus medos, soltando-os de suas amarras. A boca de Sam desceu por seu pescoço, mordiscando, beijando, lambendo, encontrando o lugar mais sensível na curva do ombro e o pescoço e logo permanecendo ali. Seu pênis entrava mais profundamente. O prazer subiu em uma onda de êxtase, fazendo omitir a dor, fazendo que os quadris se levantassem com seus impulsos.

     —Não. Fique quieta. Me deixe fazer isto, com calma.

      Outro impulso. Dentro, deu com algo que lhe roubou o fôlego com um estalo de agonia.      Gritou e empurrou contra os ombros. Ele não retrocedeu, simplesmente a sustentou através do primitivo erotismo, contendo-a enquanto ela lutava com a realidade da penetração. Tinha tomado Sam em seu corpo. Já não era uma virgem. Não havia volta a trás. Afundando as unhas em seus ombros, arqueou os quadris, tomando mais, necessitando a reafirmação de que estava acontecendo realmente.

     —Obrigada.

     O mais suave dos beijos lhe tocou a boca.

     —Creio que isso é minha área, e te antecipaste dez minutos a entrega.

     —Não me importa.

     —A mim sim.

     Dentro dela, seu pênis pulsou. Ela se reforçou para a dor.

     —Não, não fique tensa.

     Sua voz arrastada era profunda e lenta, adicionando outra capa ao sedutor feitiço que tecia tão facilmente.

     —És parte de mim.

     —Inferno, sim.

      Os quadris deram um puxão. O pênis pressionou impossivelmente mais profundo, sentia-se extremamente maior.

     —Relaxa. Podes tomar-me inteiro.

     Não havia maneira de que pudesse tomar mais. Ele era muito grande. Ela era muito pequena, mas não o podia negar. Não com seu corpo, seu coração, sua alma, os quais ansiavam ser tudo o que ele necessitava.

     O lento roçar dos dedos dele sobre seus clitóris enviou um tremor por sua coluna. O próximo roçar o ricocheteou e o terceiro o amplificou até que o fogo do desejo estalou mais alto que o ardor da posse.

     —Isso. —Abriu-lhe mais as coxas, seu pênis se introduziu mais profundamente—. Sente quão bom será.

     O desejo voltou, suavemente ao princípio, dominando seu assombro, sua necessidade de prazer, deslizando-se com os cantos de seu toque até que encontrou um motivo na surpresa. Voltando com uma vingança quando seu pênis roçou certo lugar dentro. Mais forte que antes, como se realmente não se tivesse ido, a não ser só esperado a espreita a que a dor se desvanecesse.

     Como se ele soubesse o que acontecia dentro dela, Sam grunhiu.

—Ponha as mãos detrás da cabeça.

     O fez.

     —Enlaça os dedos juntos.

     Ela teve que desembaraçá-los do cabelo para fazê-lo.

     Um beijo duro na boca indicou a aprovação que ela podia ver em sua expressão.

     —Apresenta seus seios.

     A ordem caiu na acelerada cadência de sua respiração, conduzindo-a mais alto. Obedeceu a ordem, movendo os ombros para trás enquanto arqueava a coluna, apresentando os seios para seu prazer.

     —Sustenta bem aí.

     Havia um arco quase doloroso que lhe fez baixar os quadris sobre seu pênis ligeiramente. Quando ele se deslizou para frente, junto com o ardor veio um relâmpago incrível de sensações para as quais não estava preparada. Disparou-se por seu centro, retorcendo-se enquanto ele tirava o pênis, endireitava-a e o introduzia novamente, rompendo seu desejo em partes, uma rogando por sua lentidão, a outra gritando por sua dureza.

     —Permaneça arqueada.

     Desta vez sua voz foi mais profunda, mais rouca. Um rápido olhar para sua cara revelou por que. Seu olhar estava centrado nos seios. Ela endireitou a coluna, o movimento pôs em contato a seus clitóris com os curtos golpes de seu pênis, os seios mais perto da boca.

     —Oh!

     Ela não sabia o que era mais quente, a deliciosa sensação de seu pênis, escorregadio com seus sucos, deslizando-se pela carne sensível enquanto enchia sua vagem faminta, ou a expressão tensa de paixão na cara quando ele olhava como seus seios vibravam enquanto se introduzia mais e mais profundamente nela. Seu gemido foi involuntário. Os lábios se separaram para seu beijo, a vagina para sua posse.

     —Sim.

     Rouca e escura, a aprovação de Sam avivou o fogo de sua rendição. O impulso de retorcer-se foi quase tão irresistível como o de aproximar-se. Resistiu o primeiro mas consentiu o segundo. Apertou com os músculos internos, retendo Sam com tudo o que tinha. O pênis saltou em seu punho apertado.

     —Faz isso outra vez e isto não durará tanto como tinha planejado.

     Oh gostava do som disso, gostava de saber que podia fazer isto para ele. Para ela mesma.

     Esses olhos agudos lhe acariciaram a cara quando ela sorriu, logo se estreitaram e jurou antes de fechá-los completamente e arquear as costas, introduzindo com seu pênis intensamente em seu centro.

     —Porra.

      Era muito. Ele era muito. Estremeceu-se quando pressionou contra ela, o pêlo rígido de sua virilha raspava sobre seu já sensibilizado clitóris, adicionando fogo a flama antes de sair e entrar outra vez, cada empurrão, cada polegada, uma vitória ganha com muita dificuldade de persistência sobre resistência. A fricção sobre o deslizamento. A tensão se construía. Seu mundo se dissolveu até que só ficou o centro de atenção de seu pênis na vagina e o prazer ardente de sua posse. Isto era bom. Tão bom.

     O fôlego se converteu em soluços que ela não pôde controlar. Sua reserva rompeu o controle que não podia manter. Estava tão perto. Tão perto. Como se pressentisse sua necessidade, Sam lhe agarrou os quadris com as mãos grandes, a mordida dos dedos em suas nádegas só um acometimento sensual a mais nos nervos fragmentados.

     —Deixe que aconteça, duquesa. Te permita gozar para mim.

     «Para mim». Uma e outra vez as palavras jogaram em seu cérebro, mudando fora de perspectiva, tomando uma nota mais alta. Sim, queria gozar. Para ela. Para ele. Especialmente para ele. Fixando o olhar na cara de Sam, permitiu-se ver só a ele, perceber somente o modo em que a fazia sentir. Nenhum temor. Nenhuma preocupação. Arqueou as costas mais, provocadoramente, desafiando-o a levá-la mais alto, animando silenciosamente Sam a apressar-se. Adicionando uma súplica verbal ao rugido interior quando ele diminuiu ritmo a uma lenta excitação.

     —Depressa.

     —Temos muito tempo.

     Ela sacudiu a cabeça tão forte que a cara de Sam se turvou com um arco de cores.

     —Te necessito para gozar agora. — Antes que ela pudesse pensar em todas as maneiras em que isto poderia terminar, todas as maneiras em que poderia falhar.

     Apertou fortemente com seus músculos internos quando ele saía, ofegando com alívio quando ele jurou e se introduziu como uma flecha. Ele estava perdendo o controle. Isso era bom. Desejava-lhe tão selvagem como ela.

     —Bella…

     Ignorando o grunhido de advertência, o fez uma e outra vez até que a pele de Sam brilhou de suor e jogou os lábios atrás mostrando os dentes em um grunhido feroz. Com um grunhido próprio, ela se arrastou acima e o mordeu duro no músculo peitoral esquerdo, o sabor salgado de sua pele se pulverizou sobre a língua como uma especiaria estimulante enquanto ele se encrespava contra ela.

     —Maldita seja! —Seu agarre era tão furioso como sua expressão enquanto a montava com força, como se quisesse deixar uma marca, mostrar sua propriedade. Oh Deus, ela desejava que a marcasse. Isabella se aderiu a essa fantasia, imaginando as possibilidades enquanto elevava os quadris para os dela, perseguindo a terminação. Com um impulso fez que os seios expulsassem, empurrou contra ela.

     —Goze para mim.

     Ela queria fazê-lo. Esforçou-se por isso. Sam introduziu a mão entre eles. O polegar cobriu o clitóris, centrou-a com um fácil roce, ordenou-lhe com um beliscão firme, e então não houve refreamento. Só houve uma aterradora sensação de romper-se quando um violento prazer a jogou sobre um bordo invisível. Gritou para Sam, ouviu seu eco e logo os braços se apertaram ao redor dela, ancorando-a enquanto o prazer continuava quando ele empurrou uma vez, duas e logo com um grito rouco de seu nome, estremeceu-se, seu pênis tiroteando dentro dela, encontrando as pontadas de seu clímax e devolvendo-o a vida.

     E então repentinamente ele saiu de um puxão, deixando-a vazia, enquanto seu pesado pênis descansava sobre seu estômago e um líquido quente lhe banhava a pele. Sua sêmen. Ela se arqueou na seguinte jorrada, ofegando com a terceira quando lhe beliscou no pescoço, liberando seu prazer na orelha.

     Ela o sustentou, alargando o prazer, seu sexo apertando-se em um pormenorizado êxtase com cada puxão do pênis até que os espasmos diminuíram, até que Sam relaxou o peito contra o seu, incapaz de deixar-lhe ir, incapaz de permitir-lhe terminar.

     Sam choveu beijos suaves como mariposas sobre sua cara. O calor de sua mão envolveu o seio, apaziguando os restos da fome que se curvava por seu interior.

     —Doce… és tão doce.

     Outro estremecimento de seu grande corpo atraiu as mãos de Bella a esculpida perfeição de suas costas. Traçou as colinas e sulcos de seus músculos enquanto ele se acalmava com seu corpo, o suor fazia brilhar sua carne. Seus antebraços pareciam muito brancos contra a escura pele bronzeada dele, destacando mais que nunca as diferenças entre eles. Diferenças que ela adorava.

     Sam deixou cair a mão sobre o estômago dela, cobrindo o peso morno de seu sêmen. Moveu-se a um lado, olhando enquanto lhe massageava a pele, acariciando com a mão até o seio, extraindo um pouco para revestir os mamilos. Marcando-a. Ela girou para que sua palma lhe cobrisse o mamilo, o sêmen e o suor os selavam juntos, carne com carne.

     Ele elevou o olhar, essa intensidade estranha ainda em seus olhos.

     —Está bem?

     —Muito bem.

     —Bom. —O roçar do polegar sobre o mamilo fez que ela desse um puxão contra ele, respirando entrecortadamente quando ele o fez outra vez. Não havia engano na travessura de seus olhos quando ele murmurou seu nome.

     —O que?

     —Está ofegando.

     Estava-o. E ele se lambia. Ela cantarolou, beijou-lhe o peito e sorriu.

     —Aposto que não podes fazê-lo novamente.

 

     O ataque veio antes da alvorada. O grunhido de advertência do Kell tirou Sam de um sonho profundo. Empurrou Isabella para fora de seus braços e da esteira, tomando a faca no ombro em vez de no peito. A agonia lhe cruzou o braço. Arrancou-o com uma violenta onda de fria ira.

     Rodando, Sam bloqueou o seguinte golpe, agarrando o braço de seu agressor e dando um puxão para baixo, utilizando o ímpeto do homem para lhe golpear e lhe desequilibrar. Kell veio voando, chiando os dentes, indo instintivamente a garganta do homem. Enquanto ele terminava o trabalho, Sam se agachou, tirando o cinturão das armas e jogando-os sobre seu ombro bom. O revólver se deslizou facilmente para fora da capa a sua mão.

     —Hora de jogar.

     Martelou e disparou a um movimento nas sombras três metros mais a frente. Houve o som de uma bala golpeando carne e a sombra caiu. Sam saltou ficando de pé, lançando um olhar ao lado. Isabella jazia onde a tinha empurrado, os olhos abertos, agarrando a manta sobre os seios. Ainda estava sob o susto.

     —Kell, protege.

     O grande cão tomou posição bem a direita de Bella. Sam assentiu. Através do fogo, outra sombra revoou da direita para a esquerda. Merda.

      Agarrando Bella pelo braço, levantou-a e a empurrou sobre a árvore caída que tinha servido como assento ontem a noite.

     —Deite e não se mova.

     Precisava saber onde estava ela. Antes do amanhecer, tudo eram sombras. Disparar as cegas poderia custar-lhes tudo. Galhos estalaram e botas rasparam através das rochas quando seus atacantes encontraram novas posições. Deixando cair a sombra da parede de pedra, rodeou-a atraindo os disparos longe do esconderijo de Bella.

     Kell choramingou. Sam lhe disse que ficasse atrás com um gesto. Por isso podia dizer, havia ainda três homens aí fora. Tinham a cobertura das árvores, mas teriam que permanecer na margem para conseguir um disparo. Uma das razões pelas que tinha escolhido este lugar era a parede de pedra de trás e a queda de adiante. Dava-lhe vantagem. Algo que sempre apreciava.

     Uma bala voou sobre sua cabeça, golpeando as pedras. As afiadas lascas lhe arranharam a bochecha justo debaixo do olho. Disparou na direção do brilho, sabendo que não acertaria. Correndo pela parede, rastreou as posições dos homens pelo ruído que faziam. O fato de que só uma bala ocasional viesse para ele o dizia tudo. Foram atrás de Bella. Sorriu, uma cruel confiança mesclada com raiva. Podia com isso.

     O final da parede de pedra era um pouco mais que uma abertura entre o cinza da pedra e a escuridão do bosque. Moveu-se cuidadosamente, o pêlo da nuca se arrepiou em advertência. Alguém estava perto. Apertando os ombros contra a casca áspera de uma árvore, envolveu o cinturão da arma ao redor da cintura. O couro se deslizou pela fivela com apenas o menor dos sons. Tirou as balas dos bolsos e, sem fazer ruído, recarregou a arma bem lubrificada. O mesmo não podia ser dito sobre o homem que lhe espreitava. Um galho estalou a um par de pés. Sam fechou o compartimento. O arbusto sussurrou de forma traiçoeira. Quem quer que fosse estava ao outro lado da árvore. Sam alcançou sua faca. Não estava na bainha. Merda. Só uma pessoa poderia havê-lo pego. Bella.

     «Não viverei com seu toque em minha pele».

         Porra!

     O odor fétido de suor rançoso lhe alcançou primeiro, seguido rapidamente pelo som inconfundível de um ombro arrancando casca. Sam sorriu. Que agradável o bandido lhe fazendo-se fácil. Em um movimento silencioso, deu um passo ao redor do tronco de árvore.

     Um homem vestido de negro saltou para trás.

     —Filho da…!

     Nunca conseguiu terminar a maldição. Atirando dele com a força de seu golpe, Sam lhe golpeou na traquéia antes de empurrá-lo para trás. O homem tropeçou, sacudindo os braços. A empunhadura de uma faca se sobressaiu do cinto de suas calças. Perfeito. Mergulhando-se, Sam aterrissou no tronco do homem, lhe sujeitando os braços com os joelhos. A arma do bandido se descarregou lentamente para a direita. O homem era forte e engenhoso. Sam só teve uns poucos segundos. Cobrindo-lhe a boca com a mão, estirou-se para trás e agarrou a faca.

     —O tens, Ricco?

     A chamada veio do outro lado do claro.

     Sam encontrou o olhar do outro homem diretamente, a raiva ardia quente em seu interior, colocou a lâmina através da garganta.

     —Diga a teus companheiros que sim. Nada mais.

     O homem tragou. Sam apertou a lâmina. Uma linha vermelha se espargiu imediatamente pelo bordo afiado. Com um olhar enfurecido, o bandido gritou:

     —Sim!

     —Bem. Então podes vir a nos ajudar com esta.

     —Está nua e pronta — gritou outro.

     Sam golpeou a boca do filho de puta, apertando o solado no queixo do homem enquanto lhe informava.

     —Bella é de um dos Oito do Inferno.

      A compreensão fez que os olhos do homem se abrissem de par em par com temor e o entendimento veio muito tarde.

—Mais que isso — grunhiu—, ela é minha.

     O sangue se espargiu em um quente jorro vermelho contra a bochecha quando lhe cortou a garganta, terminando com sua vida em um talho rápido. Muito rápido. Este homem tinha vindo por Bella. Não para assassiná-la, mas a vida a qual tinha planejado entregá-la? Isso teria matado a alegria que brilhava tão radiantemente dentro dela. Por isso merecia uma morte tortuosamente larga. Sam limpou a lâmina na camisa do homem. Irritava-lhe não terminar o que tinha começado.

     Ficando de pé, Sam pôs a faca na bainha de seu cinturão antes de introduzir-se outra vez nas sombras. Movendo-se rapidamente e com cuidado pelo bosque, rodeou a posição de Bella, a determinação se incrementava com cada passo. Nenhum deles a tocaria. Jamais. Quando limpasse esta confusão, ia levá-la de volta a sua casa e logo iria atrás de Tejala, quando acabasse com ele, não haveria bastante desse filho de puta nem sequer para ser uma sombra na lembrança.

     O grunhido baixo de Kell lhe empurrou ao bordo do diminuto claro. O amanhecer derramava sua débil luz sobre tudo, concretizando o que tinha estado em sombras. Os outros dois homens tinham flanqueado a posição de Bella. Estava nua atrás da árvore derrubada, o cabelo pendurava como um escuro escudo sobre seu tronco, reforçado detrás contra a parede, a cabeça acima, a faca na mão. Kell estava diante dela, a cabeça para baixo, os lábios jogados para trás com um grunhido de ameaça. A única coisa que evitava que os homens disparassem ao animal era o fato de que qualquer bala apontada ao cão poderia acertar a Bella. O que significava que Sam tinha perto de dois segundos antes que trocassem de posição e esse obstáculo fosse afastado. Não havia tempo para a delicadeza.

Deixou as árvores com um rugido, enchendo a calma da manhã com o grito de combate dos Oito do Inferno, correndo pelo claro com as armas desencapadas. Os homens giraram.  O primeiro disparo golpeou diretamente. O homem da esquerda girou pelo impacto e caiu.  O homem da direita levantou a arma. Não a Sam e sim a Bella.

     Filho da puta.

     —Vamos pegá-lo, Kell!

     O lobo entrou em ação com um salto, era todo dentes brilhantes e garras. As mandíbulas sujeitaram para baixo o braço do bandido. O homem chiou outra vez e disparou. Isabella gritou e caiu.

     —Bella!

     Nenhuma resposta. Kell grunhiu e agüentou. O bandido girou, lutando por agarrar a arma com a mão boa. Kell girou com ele. Sam levantou o canhão da arma no último momento para evitar disparar a Kell. O bandido apoiou a arma contra o flanco de Kell.

     O cão era um alvo facílimo. Sabendo que era muito tarde inclusive enquanto dava a ordem, Sam gritou:

     —Abaixo, Kell.

     O cão não escutou. Grunhiu e saltou outra vez, mordendo e atacando, indo pelo braço que sobressaía em uma ceva deliberada, sem entender a artimanha.

     Merda.

     Sam foi ao flanco. Não podia conseguir um disparo claro no bandido e não podia arriscar-se disparando ao maldito cão. Teria sorte se a este passo não conseguisse que lhes matassem a todos.

     Por um instante, Sam teve um disparo claro. Apertou o gatilho. Isabella proferiu um chiado selvagem e se lançou para o bandido e diretamente no caminho do disparo.

     Sam atirou o braço para cima, e a bala foi alta. A fria onda de náuseas devido a que quase o disparo não lhe aconteceu tão facilmente.

     Correu.

     —Maldita seja, Bella! Sai daí.

      Ela não respondeu. O bandido tropeçou para trás sob a força de seu peso e o ataque de Kell. Ainda mais longe dele.

      A mão da Isabella subiu. O aço cintilou a débil luz. A arma do bandido desapareceu. Kell se desabou no chão, seus grunhidos calaram bruscamente. O bandido caiu também, levando Isabella com ele, prendendo-a debaixo. O sangue se espalhou onde aterrissaram.

     —Bella!

     Maldição se tinha conseguido que a acertassem ia matá-la. Sam não respirou, nem sequer esteve seguro de que seu coração pulsasse durante os cinco segundos que lhe levou chegar até ela. Afastou o bandido arrastando-o, atirando-o a um lado. Quando voltou a olhar, Isabella lhe estava olhando, os olhos abertos de par em par na cara manchada de sangue. Estava viva. Soltou o fôlego que não tinha sido consciente de estar retendo.

     —Filha da puta! Te disse que permanecesse quieta.

     Ela nem piscou. Abriu a boca. Os olhos lhe umedeceram.

     —Não te atreva a chorar, mulher, estou fodidamente furioso contigo.

     E queria seguir assim.

     A ira substituiu ao susto.

     —Não me diga o que fazer!

     —Então, não chore, porra.

     Olhou-lhe furiosa, as lágrimas apareceram, mas não caíram, sua formosa cara coberta obscenamente com sangue.

     A primeira oportunidade que tivesse ia dar um banho. Estirou a mão.

     —Estás ferida?

     —Não. — Deu-se a volta, estremecendo-se ante o cadáver do homem, arqueando-se para ver Kell. Sam seguiu seu olhar. O cão estava onde tinha caído, sem mover-se.

     —Kell. Meu deus! Kell!

     Sam lhe pôs uma mão no ombro.

     —Deixe-me ir primeiro.

      Não sabia que poderia fazer, o irritante cão vira-lata provavelmente estava morrendo se não tinha morrido já, mas se havia uma maneira de proteger Bella disso, a queria. Ela se encolheu de ombros sob o braço. Não havia modo de detê-la. Acocorou-se sobre o cão, afundando as mãos na pele sangrenta, lhe murmurando suaves palavras em espanhol enquanto procurava e encontrava a primeira ferida, gritando como se ela mesma tivesse tomado a bala, procurando algumas mais até que encontrou a seguinte, gritando outra vez…

     Sam foi ao lado do cão. Ainda estava vivo. Nos olhos, Sam podia ver sua dor e sua devoção. Sua súplica por ajuda. Foi um murro no intestino. Não tinha o que necessitava para salvar ao cão. Não era médico, não era muito de nada. A pena lhe alagou. Empurrou-a para trás como fazia com todas as emoções, concentrando-se no que o cão precisava ouvir mais que no que queria.

     —Fez bem, Kell.

     Kell moveu a cauda, os golpes lentos e desiguais. Nos olhos do cão, Sam viu a compreensão. Lia o adeus em sua voz. Como Isabella.

     O olhar dela se estreitou.

     —Não falará de despedidas.

     —Está muito ferido Bella.

     —Lhe ajudarás.

      Ele daria o que fora por ter o poder de outorgar a vida e a morte. Para dar a Bella o que desejava. Para recompensar o cão que era seu amigo com uma morte misericordiosa, mas não podia. Sempre se reduzia a isso com os que amava. Escolhas com as que não podia viver, mas que tinha que fazer de todos os modos.

     —Não sou médico, Bella. Matar é no que sou bom.

     Girando sobre os saltos voltou para esteira e recolheu o rifle. Podia sentir o olhar fixo de Bella como um peso crescente. Quando girou, ainda estava ajoelhada ao lado do cão, lhe olhando. Era tão jovem. Ele recolheu a manta e a levou. Ela não disse uma palavra, só lhe olhou, sua expressão uma combinação de incredulidade e ira. Envolveu-lhe a manta ao redor dos ombros.

     —Aonde vai?

     —Preciso me assegurar de que estes foram todos.

     Ela assentiu.

     —Vá. Estaremos bem sem ti.

     Seu gênio se transbordou. Acreditava ela que isto era fácil para ele?

     —Um destes dias, menina, vou parar de te agradar e você vai averiguar quem leva as calças nesta relação.

     Talvez ela tivesse um sentido de prudência depois de tudo, ou talvez ele só parecesse nesse momento como o malvado filho da puta que era, porque em vez de discutir, Isabella somente levantou o queixo e lhe olhou com fúria. Ele virou e se foi. Antes de fazer algo que ambos lamentassem. Como empurrá-la a seus braços e lhe mostrar o que realmente queria dizer ser sua mulher.

     Isabella se agasalhou com a manta e lhe olhou ir-se, seguro como sempre, o conjunto largo dos ombros projetava sua força, ocultando sua dor.

    Menina.

     Ele tinha tido razão ao chamá-la menina. Comportou-se como uma cria, centrando-se em suas emoções, suas necessidades, ignorando as dele. Sam amava Kell tanto como ela. Provavelmente mais. Porque não o demonstrasse não significava que não o sentisse.

      Precisava recordar isso quando ela era emocional igual a quando era feliz. Sam tinha muitas cicatrizes quando se referia aos que amava, cobertas com risada ou silêncio, mas sentia. Profundamente. A imagem dele saindo do bosque correndo, mortalmente poderoso, selvagem, os músculos brilhando com suor enquanto atacava aos homens que a ameaçavam. Acariciou a cabeça de Kell. Sam era um homem valente na hora de sacrificar sua vida pela dos outros. Muito valente.

     «Matar é no que sou bom».

     Olhou ao redor, aos corpos e esteve de acordo. Era muito bom matando. No que não parecia tão seguro era em sua habilidade para amar. Kell choramingou e lhe lambeu a mão.

     —Não te preocupes, meu amigo. Te curaremos e logo talvez… —Se encolheu de ombros e sorriu—. Talvez você e eu ensinaremos a Sam como viver.

     Kell choramingou outra vez.

     —Sim, não será fácil, mas ele o merece.

     Pela lambida que lhe deu na mão, ela assumiu que estava de acordo. Deu-lhe golpezinhos na cabeça outra vez.

     —Para te curar precisamos sair daqui, o que significa que devo me preparar. Não posso me sentar aqui como uma protuberância em um tronco e deixar todo o trabalho e a preocupação para Sam. Isto não me faria um sócio.

     Kell mexeu a cauda. Ela lhe sorriu, suprimindo as lágrimas que ardiam em seus olhos enquanto via uma vez mais todo o sangue.

     —Não se preocupe. Não permitirei que morra. Não é como um agradece que lhe salvem a vida.

      Não permitiria que Kell morresse por isso… nem por nenhuma outra razão. Tinha visto a maneira com que Sam olhou Kell no instante antes que lhe pedisse que arrumasse as coisas. Como seu coração foi arrancado de sua alma. Como não podia aceitar outra perda. Também tinha visto a culpa que veio depois. Sam se culpava a si mesmo. Sacudiu a cabeça e caminhou para o homem que ela tinha matado. As vezes Sam não era sensato.

     Olhou fixamente ao homem. Não parecia tão aterrador agora. Deveria sentir-se culpado. Sua alma mortal estava em perigo. Mas não se sentia assim. Este homem era mau. Tinha tratado de matar ao que ela amava. Lhe perdoaria finalmente por tentá-lo, seu Deus lhe pedia isso, mas nunca se arrependeria de terminar com sua tentativa.

     O perdão, entretanto, não ia ajudá-la com o que precisava fazer. Necessitava a faca. Sobressaía de onde o tinha enterrado, na curva onde o ombro do bandido se encontrava com o pescoço. Alcançou-o. O estômago subiu. Kell gemeu. Mordeu-se o lábio e se forçou a tragar a náusea. Sam não vacilaria. Faria o que precisasse ser feito. Ela também.

     A lâmina chiou contra o osso quando o tirou. Sentiu a vibração por todo o braço. Era mais do que seu estômago podia suportar. No segundo em que a faca esteve livre, girou-se e vomitou. Não havia nada no estômago, mas as náuseas não lhe importou.

     —Não acredito que seja uma boa bandida — disse a Kell timidamente enquanto agarrava um pau da pequena pilha que ficava do fogo.

      Revolvendo as cinzas, encontrou um pouco de carvão viável. Alimentou-o com pedaços diminutos de erva até obter umas chamas com sopros lentos. Adicionou galhos e logo paus maiores. Por dentro, a impaciência sussurrava «depressa, depressa». As chamas se tomaram seu tempo em agarrar. Em seu interior, a urgência crescia a um ritmo muito mais rápido.

     Kell sangrava moribundo. Não tinha tempo para fogos lentos. Por último, a chama floresceu o suficientemente alto para aceitar os poucos troncos que ficavam de ontem a noite. Atirou-os em cima. Não tinha tempo de ver se prendiam. Olhando ao céu, agarrou as anáguas da pilha de roupa.

     —Isto lhe deixo a ti. Faça-o arder.

     —Não creio que se suponha que devas dar ordens a Deus.

      Sam. Tinha retornado e tinha esse sorriso fácil que não significava nada na cara. A que ocultava o que sentia realmente. Ela suspirou. Sua tarefa possivelmente seria mais dura do que pensava.

     Ficou de pé, recolhendo a faca e as anáguas.

     —Não presumiria de lhe dizer a Deus o que fazer.

     Ele olhou a faca na mão e franziu a testa.

     —Onde conseguiste isso?

     Ela gesticulou para o bandido morto.

     —Dele.

     —Jesus, Bella.

     Se ela não lhe tivesse estado olhando com cuidado, se teria perdido a culpa que brilhou nos olhos, veio e se foi rapidamente. Ele era muito bom em ocultar suas emoções.

     —Era necessário. Posso fazer o que for preciso.

     —Isso não é o tipo de coisa nas quais uma mulher deveria ter experiência.

     —É o tipo que tua mulher necessitaria.

     —Não és minha mulher.

     Ela pôs os olhos em branco.

     —Começas a me aborrecer com essas palavras todo o tempo. —Reteve seu olhar enquanto caminhava para ele até que seus seios pressionaram contra o peito nu através da manta. Trocando a faca e a anágua a uma mão, deslizou a outra pelo ombro ferido do Sam, curvando-a na nuca para empurrá-lo para baixo. Ele se curvou, sem tocá-la, lhe dando o que ela queria até onde ele queria como sempre fazia. Seus olhos procuraram os dela, o olhar vazio. Quando a boca de Sam esteve a um fôlego escasso, ela sussurrou:

     —Sinto muito, Sam, sinto minhas palavras. Nem sempre penso antes de falar, e as vezes as palavras que digo pintam uma imagem irreal.

     Ele suspirou, esperando tomar suas palavras profundamente na parte que lhe doía para que possivelmente a ferida que lhe tinha causado pudesse curar.

       Seu «tinha razão» foi dito sem emoção.

     Ela sacudiu a cabeça, lhe sustentando com força, sem lhe deixar inclinar-se para trás. Beijando-lhe a comissura da boca, sussurrou:

     —Me sentia muito impotente, e pensei que dando ordens poderia arrumar as coisas. Mas não disse as coisas que queria dizer. Estavam entaladas dentro.

     —Como o que?

     «Como que te amo».

     Não podia dizer isso neste momento. Ela começava a lhe compreender. Sam poderia tratar com a emoção sempre que pudesse criar espaços seguros para isso. Uma declaração tão franca não encaixaria ordenadamente em um lugar seguro.

     Beijou-lhe levemente. Ele não respondeu. Era muito teimoso.

     —Assustou-me quando desapareceu na escuridão. Não podia ver se precisava de mim.

     Sam afundou os dedos no cabelo, retendo sem piedade o olhar com o seu.

      —O único lugar onde nunca te precisarei é em meio da batalha.

     Ela poderia havê-lo tomado como um insulto. Não o fez.

     —Porque me quer a salvo.

     A tensão nele aumentou. Um tremor começou na mão.

     —Sim.

     A dureza de sua ereção se apertou contra ela quando se inclinou. Abraçou-a na brandura do estômago.

     —Devo te haver assustado muito quando protegi Kell.

     Ela não pôde obrigar-se a dizer «apunhalei a esse homem».

     —Inferno, sim — a sacudiu—. Quase te atirei.

     A tensão nele estava perto do ponto de ruptura. Ele precisaria soltá-la logo ou se converteria em outra cicatriz interior que não necessitava.

     Ela lhe olhou inocentemente.

     —Isso significa que fui muito má?

      Ele franziu a testa e grunhiu.

     —Muito.

     Ela deixou cair a cabeça como se se envergonhasse.

     —Sinto muito.

     Imediatamente Sam lhe pôs a mão no ombro. Uma concessão porque a pesar de todos seus grunhidos ele era muito suave quando se referia aqueles com que se preocupava. Sem estar cômodo quando estavam importunados.

     —Então talvez, depois de colocarmos Kell cômodo… — ela lhe tocou justo debaixo do corte desagradável na parte superior do braço—, e sua ferida for atendida, terás que me surrar. –Olhou-lhe por debaixo das pestanas, do modo em que sempre fazia arder o desejo nos olhos de Sam. No último segundo, decidiu adicionar um pequeno rodeio—. Assim recordarei não cometer esse engano outra vez, sim?

     Surpresa, desejo e algo que ela não podia identificar brilharam em sua expressão.

     —Porra.

     E então ela não pôde ver nada exceto o profundo bronzeado da pele quando a atraiu com tanta força para ele que pensou que os ossos estalariam. Por cima de sua cabeça, ele grunhiu:

     —Conta com isso.

     Sam apertou a bochecha contra sua cabeça, sustentava-a como se nunca fosse deixá-la partir, a respiração saía primeiro em desiguais ofegos e logo em fôlegos cuidadosamente medidos enquanto recuperava lentamente o controle que lhe era tão querido. E ela não disse nada. Deixou-lhe tomar o que necessitava, compreendendo que para ele isto era uma grande coisa. Ele não levava bem o que necessitava. Quando Sam se acalmou lhe sussurrou:

     —Sam?

     Sam lhe acariciou o cabelo com os lábios com a gentileza que sempre lhe dava quando estava sob controle.

     —Sim?

     —Temos coisas que fazer.

     O queixo se deslizou pelo cabelo quando ele lançou uma olhada a Kell.

     —Sei.

     Soou triste enquanto a deixava ir-se.

     —Me encarregarei disso.

     Ela atirou a manta ao seu redor enquanto ele se aproximava do cão e se agachava ao seu lado. Ela não pôde ouvir as palavras que lhe dizia, mas reconheceu o murmúrio suave como o que era. Uma expressão de amor. Colocou a faca sobre o fogo. Ardia brilhantemente. Um sinal positivo. Olhou acima enquanto se ajoelhava.

     —Obrigada.

      Colocou a lâmina da faca no fogo antes de olhar para Sam. Ainda estava falando com Kell, os braços descansavam sobre os joelhos. O único sinal de quão transtornado estava jazia nos dedos curvados. Estava a ponto de fechá-los em um punho. Ela se estirou para as anáguas, calculando quão grande tinha que ser uma atadura para rompê-la.

     Quando olhou, Sam se estirou e acariciou o ombro do cão antes de subir ao pescoço. Os dedos apertaram a pele grosa e houve um estremecimento ao redor dos olhos antes que subisse a mão a cabeça do cão.

     Kell se excitou com um aflito choramingo e lhe lambeu a mão. Sam jurou. Kell deixou cair a cabeça. Antes que golpeasse o chão, Sam a agarrou e a baixou com cuidado os últimos centímetros, evitando que o cão se ferisse em sua debilidade. Bella sorriu. Era um bom homem. Seria um bom pai, brincalhão, atento, amante.

     Com uma careta Sam se sentou. Acariciou o cão que ofegava, a pena e a desculpa em cada golpe da mão. Com um suspiro, pôs a mão sobre os olhos do cão. Com a outra alcançou sua capa. Isabella olhou com completa incredulidade como colocava a boca da arma na cabeça do cão. Seu «sinto muito, menino» lhe chegou claramente.

      Ficou de pé de um salto.

     —Para!

     Sam a olhou, sua expressão era de inflexível resolução.

     —Aparta o olhar, Bella.

     —Não o farei.

     —Lhe dói.

     Atirou-lhe as anáguas.

      —A ti também.

     Uma pedra teria sido melhor. A anágua somente voou dois pés antes de cair ao chão. Deu um passo sobre elas.

     —Mas não me verá com uma arma em sua cabeça.

     Ele olhou as anáguas, a ela e logo ao cão.

      —Se alguma vez estiver tão ferido gravemente, tem minha permissão.

     —Nunca. —deixou-se cair de joelhos a seu lado e lhe arrebatou a arma da mão—Nunca te darei por perdido.

     Kell choramingou e lutou. A ira em sua voz o causava pena. Ela respirou e lutou por acalmar-se, sem compreender por que Sam fazia isto. Sim, era o que qualquer um faria, mas não Sam.

     —Não somos assim, Sam.

     —Não?

     Como podia não vê-lo? Colocou a arma longe do outro lado dela e lhe acariciou a mão em tom tranqüilizador sobre o lobo, acalmando-o.

      —Não. Kell necessita nossa ajuda. A daremos.

     Sam pôs a mão sobre a dela, detendo a carícia.

      —Só é um cão.

      Ela girou a mão e entrelaçou os dedos com os dele, apertando fortemente quando se encontrou com seu olhar diretamente.

     —A quem queremos.

     Sam sacudiu a cabeça, olhava-a, mas não parecia vê-la.

     —Será difícil, duquesa, e ao final possivelmente morra de qualquer forma, depois de um inferno de muito sofrimento desnecessário.

     Aí estava sua explicação para sua estranha decisão. Ele a protegia da dor de tentá-lo e falhar.

     —Talvez também viva. Isso é a esperança pela qual lutarei.

     A boca de Sam se apertou em uma linha severa e já não a viu, seu olhar estava no passado.

     —Se não conseguir vai se sentir culpada. Confia em mim, não há final no inferno ao que alguém possa submeter a uma pessoa por uma necessidade egoísta de mantê-los vivos.

      Outro indício do modo em que ele era. Ela apertou os dedos.

      —Por quem lutaste, Sam?

      Por quem lutaste e perdeste?

     —Foi há muito tempo.

     —Me dirá de qualquer modo.

     Seu olhar se endureceu.

     —Não me dê ordens.

      Ela suprimiu o impulso de pôr os olhos em branco. É claro que o fazia. Do mesmo modo em que ele as dava a ela.

      —Isso não era uma ordem. Eu somente digo os fatos. Não me olhe zangado — exclamou antes que ele pudesse dizer algo mau—. Isto é uma coisa boa.

     —Me diga isso mais tarde depois de que tenhas sujeitado Kell enquanto chia em agonia.

     Ela tragou com dificuldade. Ele pintou uma imagem muito vívida.

      —Por que chiaria?

     Era uma pergunta estúpida que ele respondeu sem alterar-se.

     —Tenho que procurar essas balas.

      E a dúvida em seus olhos dizia que não acreditava que ela fosse capaz de agüentá-lo. Bella aprumou os ombros.

     —Tens muito que aprender sobre mim, Sam MacGregor.

 

     Sam observou Isabella enquanto cavalgavam, Kell ia atrás no improvisado leito atrás do mais dócil dos cavalos dos bandidos. O qual não dizia muito. Os animais estavam, de uma maneira, tão maltratados e quebrados, que não lhe teria incomodado absolutamente se os outros cavalos não estivessem esgotados. Assustavam-se com cada ruído e cada movimento. Sacudiu a cabeça. Era uma maldita vergonha. Um bom cavalo significava a vida de um homem aqui fora. Ou os bandidos não tinham nenhuma razão para temer a natureza e aos elementos ou simplesmente eram estúpidos pelo excesso de confiança que davam a pertencerem a turma de Tejala e do temor que golpeava a todos com os que se encontravam. Seu dinheiro era a última coisa que lhes importava.

      O que se dizia sobre um bom cavalo também se aplicava a uma boa mulher. Observou Isabella enquanto cavalgava para outro lado. Era uma boa mulher e tinha razão. Ele tinha problemas vendo-a do modo em que o fazia. Não porque não a apreciasse. Estirou-se para os cigarros. Mas sim porque apreciava o que seus olhares, juventude e posição poderiam lhe conseguir se não a apanhassem na falsa intimidade de sua situação. Poderia casar-se com qualquer homem que desejasse, virgem ou não. Homens com riqueza, sem aspirações a sê-lo. Homens que a poderiam manter protegida e resguardada. Homens que poderiam garantir que nunca estaria na posição de ter que tirar uma faca do pescoço de um morto para logo extrair as balas de um cão.

     O cavalo dela tropeçou, fazendo que seus seios oscilassem sob a camisa. Devolveu seus utensílios ao bolso. Mas esse homem não tinha feito ato de presença ainda. E neste momento Bella estava com ele. E ele, seguro como o inferno, que não era um santo.

     —Bella?

     Ela não se virou.

     —Quanto tempo planeja me ignorar?

     —Até que minha ira morra.

     Tinham estado cavalgando duas horas. Nunca teria acreditado que ela estaria em silencio durante mais de dois minutos.

     —Quanto tempo será?

     —Lhe farei saber isso.

     Deu um suspiro exagerado, olhando-a de perto.

      —És uma mulher dura, Bella Montoya.

     A cabeça girou só um pouco. A luz do sol cintilou no cabelo negro azulado.

     —Já não uma menina?

     Ele sorriu.

     —Nenhuma menina poderia permanecer silenciosa tanto tempo.

     —Pensei que me queria silenciosa.

      —Também eu.

     —Sentiste falta de minha conversa?

     —Não há necessidade de jogar a casa pela janela com suposições

     Isso possivelmente tinha sido um grunhido. Era difícil dizê-lo quando não lhe estava olhando. Apertou com os joelhos, insistindo a Breeze a ir mais rápido. O cavalo esteve ansioso de obedecer. Não era dos que seguia a outro. Infelizmente, o cavalo do bandido não se sentia tão propenso. Negou-se, dando trancos ao Kell, que choramingou.

     —Tranqüilo menino.

      Bella girou.

     —Fala com o cavalo ou com o cão?

     —Qualquer um escutará. —Rebateu o puxão para trás do cavalo de carga com uma ligeira mudança de direção a um lado. Kell lutou na padiola. O cavalo de carga se assustou. Sam tinha mais que suficiente evitando que o outro cavalo se desbocasse enquanto Kell se deixava cair pesadamente no provisório leito na parte de atrás. Ouviu Isabella estalar a língua, ele teve um breve vislumbre de suas panturrilhas quando ela passou e logo esteve junto a cabeça do outro cavalo, cantando uma suave canção. O cavalo pôs os olhos em branco, mas deixou de atirar para trás.

     —O que quer que estejas fazendo, segue.

     Arqueou as sobrancelhas enquanto lhe olhava por cima do nariz, parecendo cada centímetro da aristocrata que ele suspeitava que era.

     —Isso é uma ordem?

     Estava-lhe devolvendo suas próprias palavras. O lado perverso dele gostava. O lado luxurioso se deleitava nisso, antecipando o momento em que reintegraria o equilíbrio em sua relação. O desejo se encrespou ante o desafio.

     —O desafio vem com um preço, duquesa.

     —Somente pergunto.

     A mulher nunca fazia somente nada, nem somente perguntava. Aproveitando-se da distração do cavalo de carga, alinhou o cavalo justo nos rastros provisórios.

      Com um estalo da língua pôs Breeze em movimento. Bella não estava muito atrás.

     —Talvez queira permanecer atrás com Kell. Este cavalo gosta do teu.

     —Bom. —Estendeu as mãos para as rédeas do terceiro cavalo.

     Sam as jogou para trás pelo puro prazer de vê-la sair-se de seu casulo. Ela era algo quando se irritava.

     —Não sei. Assusta-se facilmente. Possivelmente não possa sustentá-lo.

     —Gosta de meu cavalo. Estaremos bem.

     —Está segura?

     —Não duvidará de mim nisto, também?

     —Não é muito boa amazona.

     Ela pôs os olhos em branco.

     —Não custa muito dirigir um cavalo em uma lenta caminhada.

     Ele fingiu debatê-lo antes de lhe entregar as rédeas.

     —Mova-se devagar.

     Com um grunhido, ela tomou as rédeas.

     —Não sou estúpida.

     Não, ela era preparada, atrativa e a pesar de sua relativa juventude, mais que suficiente mulher para ele. Bella atou as rédeas ao redor do corno da sela, antes de aproximar seu cavalo tanto que seus joelhos se tocaram.

     —Queres algo?

     —Eu gostaria de um beijo.

     Ele piscou. Ela sempre o surpreendia.

     —Não há outra mulher no mundo como você, Bella.

     Ela levantou os braços.

     —Assim deve me apreciar.

     —Suponho que devo.

      Ele saltou para trás no flanco do cavalo. Antes que ela pudesse dar-se conta do que ia fazer, ele enganchou o braço ao redor de sua cintura e atirou dela para transladá-la a sua sela.

     —Assim?

     —Teu braço!

     —Está melhor estando ao redor de ti — terminou por ela enquanto serpenteou as rédeas de seu cavalo ao redor do pomo da sela.

     Bella se retorceu no regaço levantando o bordo da atadura. As mãos foram muito tenras em seu ombro enquanto verificava a ferida. Não a deteve. Tinha passado muito tempo desde que uma mulher lhe tinha mimado.

     —Devia ter deixado que te costurasse.

      —Não havia suficiente tripa para Kell e para mim.

     —Poderia ter feito algo.

     —Estivemos de acordo. Kell estava pior.

     Ela ondeou a mão.

      —Pfff...! Simplesmente você não gosta que lhe costurem.

     Tinha acertado com isso.

     Empurrou-a contra seu peito.

     Toda ela se fundiu em seus braços, abrigando-se no ombro com uma fome que o golpeou duramente.

     Ele lhe inclinou as costas para trás. Ela separou os lábios tão facilmente como seu sorriso lhe dava as boas-vindas. Tomou seu beijo da maneira em que o tinha tomado a ele a noite, com um suave ofego e uma confiança que o humilharam. A ferocidade que ele tinha estado tratando de conter desde que foram atacados, saltou livre em uma luxúria que não pôde conter.

     Inclinando-se para trás, ele suavizou o resto do beijo no lábio inferior.

     —Isto não foi uma idéia tão boa.

     —Estava gostando muito.

     Ele deixou cair a face na dela.

     —Não o estarias desfrutando durante muito mais. Nunca estou equilibrado depois de uma briga.

     —Não compreendo.

     —Estou no limite.

     Ela franziu a testa. Ele suspirou.

     —Te desejo, Bella.

     —Neste momento?

     —Sim.

     Ela parecia intrigada.

     —Como se faz?

     Ele sacudiu a cabeça. Ela não tinha a menor idéia do que estava oferecendo.

     —Não seria tão suave como ontem a noite.

      Ela desabotoou o primeiro botão de suas calças.

     —Possivelmente o queira bruto.

     Dois botões mais se soltaram, seu pênis pressionou contra o tecido, procurando a liberdade, procurando-a a ela. A mão, mais suave que o cetim, acariciou-lhe o estômago. Os dedos entrelaçaram o pêlo que assinalava para baixo, tiroteando, excitando. O olhar não abandonou o dele, livre de acanhamento, cheia de confiança. Não lhe ocultava o efeito que ela tinha nele, não sufocou o gemido quando sua mão se fechou ao redor da cabeça de seu membro, o estremecimento quando golpeou a ponta com o polegar.

     Desfez-se dos botões por si mesmo. Levantou-a. Ela se assustou e se agarrou a seus ombros.

      Os magníficos seios estavam junto a sua boca. Os mamilos eram pequenos pontos sob o tecido azul pálido. Ela lhe cravou as unhas nos ombros. O lábio escorregou entre os dentes, a carne rosada inchando-se sob a mordida.

     Moveu-a com cuidado um pouco mais a direita.

     —Joga a perna por cima.

     Assustada, olhou-lhe.

     —Isto é possível?

     Ele podia dizer que a ela lhe gostava da idéia pelo modo em que baixou as pálpebras e ficou sem respiração. Quando a coxa se deslizou sobre a sua, inclinou-se e apanhou o mamilo direito entre os lábios, mordiscando suavemente a protuberância tensa, esperando que ela fizesse esse pequeno som na garganta que lhe dizia que tinha encontrado a pressão que gostava.

     —Afasta a saia.

      Bella lhe embalou a cabeça com as mãos, revoaram para os ombros e logo voltaram para a cabeça.

     —Agora.

      O tremor que a atravessou confirmou sua impressão. Por mais que Bella adorasse tomar o controle com palavras, quando se referia a seu prazer, queria render-se. Ele podia ocupar-se disso.

     —Com calma, querida — lhe advertiu quando ela deu um puxão—. Não queremos assustar aos cavalos.

     Ela puxou outra vez.

     —O pé está preso em minha saia!

     Foi quase um choramingo. Nunca tinha visto Bella aturdida, mas agora o estava. Porque ele lhe tinha dado uma ordem e não a podia cumprir. Sustentando-a com um braço ao redor da cintura se estirou para baixo e lhe cobriu a mão com a sua.

     —O tenho.

     Ele lhe centrou os quadris contra seu tronco e lentamente a moveu para baixo. Aproximadamente a três polegadas na baixada, ela saltou e ofegou.

     —O que?

     —Os botões.

     Ele deu uma olhada. A vagina estava alinhada com a abertura de sua camisa.

     —Dói?

     Ela se ruborizou e não respondeu.

    —Bem?

     —Não.

       —Então desfruta do passeio. —Baixou-a.

     Se os ofegos subseqüentes enquanto a baixava eram algo ao que ater-se ela desfrutava de cada golpe em seu sexo. O pênis se introduziu no poço de sua vagina pela abertura em seus largos calções. Estava quente, molhada e escorregadia. Ela se estremeceu.

     E a dor de ontem a noite.

     —Calma.

     —Disseste que não o querias calmo.

     Não o fazia. Tinha planejado fodê-la rápida e furiosamente, liberar a tensão em empurrões violentos sem emoções, do modo como sempre o fazia.

      —Esqueci quão boa te sentes.

     Baixando-a lentamente, suavemente, para permitir que o peso de seu corpo os levasse mais além da primeira resistência, controlando-o. A cabeça dela caiu para trás. O lábio apareceu entre os dentes.

     —Sam!

      Ele não tinha que perguntar sabia. Muito, muito logo.

     —Apóia os joelhos em minhas coxas.

     —Por que?

     —Para que possas tomar o controle.

     —E o que fará você?

     —Isto. —Colocou o polegar no ponto úmido de seus clitóris e fez um círculo pequeno.

     —Ah!

     —Alguma queixa?

     Sua trança golpeou daqui para lá quando sacudiu a cabeça.

     —Não.

     —Então por que não nos toma para um passeio.

     —Oh Deus!

     Bella abriu os olhos a tempo de ver a linha severa da boca de Sam suavizando-se. A cabeça se inclinou infinitesimalmente a um lado. Os dedos lhe acariciaram a bochecha e linhas diminutas de sorriso se abriram em abano na comissura de seus olhos. Sem palavras, só o consolo total de saber que ele gostava do que via. O que sentia. Ela teve que morder o lábio para manter as lágrimas a raia.

     O pênis pulsava entre as coxas, golpeando-a intimamente, fundindo-se com seu calor e força.

     O peso da mão no ombro a insistiu para baixo como se a tivesse empurrado.

     —Baixa sobre mim.

     Ela se mordeu o lábio e o tentou. O pênis se sentia muito maior assim. Muito grande. Muito exigente. Como se entendesse, os lábios de Sam sussurraram através da face, traçaram sua sobrancelha direita e logo a esquerda, pacientemente, mimando.

      Ela fechou os olhos e se relaxou, sem sufocar seu grito de dor, de alegria, enquanto a larga ponta se introduzia com dificuldade o primeiro centímetro em seu sexo a íntima ardência difundindo-se para fora, atiçando o prazer que fervia a fogo lento no interior. Curvou os dedos no sólido músculo dos ombros. Oh, Deus, amava isto. Amava-lhe. Tomou mais, sendo um pouco difícil quando o pomo lhe apanhou o quadril. Não era nada comparado com a aguda dor enquanto os músculos interiores eram fortemente separados.

     Imediatamente, as palmas de Sam lhe cavaram o traseiro, sustentando-a quieta, apoiando-a através da inquietude, evitando que tomasse mais desse prazer dolorido que ela desejava.

     —Suavemente, Bella. Suavemente.

      Sam não gostava suave. Já o havia dito e se ela ia afastar-se desta relação com uma coisa, ia ser com o conhecimento de que o tinha agradado. Nenhuma pergunta. Nenhum «quer assim?» Ia saber. Possivelmente em seus sonhos a próxima vez seria com velas, champanhe e doces murmúrios, mas os sonhos não eram a realidade. Neste momento, Sam era muito verdadeiro. Muito poderoso. E fora de seu alcance.

      Isabella forçou um sorriso e um «estou bem» enquanto se estabilizava. Elevou-se com o andar do cavalo até que a cabeça larga da pênis pulsou contra ela, excitando-se ela mesma e a ele com a promessa de sua baixada, sentindo espargir a nata por seu corpo e seus músculos, ainda picando por seu último intento, flexionando-se em antecipação. O pênis respondeu com um pulsar próprio. Um a mais que o verdadeiro sorriso se transbordou do interior.

     Este era Sam. Sabia o que gostava e sabia que fazê-lo bom para ele o faria finalmente bom para ela. Só precisava deixar a primeira vez para trás. Quando seu corpo se reacostumasse ao dele, seria sua vez de voar.

     Em vez de lhe devolver o sorriso, o olhar de Sam vagou por sua cara, atrasando-se na bochecha, o peito, os lugares onde ela podia sentir o calor do rubor. Uma preocupação se assentou sobre a paixão em sua expressão. Oh, maldição, ela tinha esperado muito tempo, permitiu-lhe ver muito…

     —Está dolorida.

     —Estou bem. —balançou-se em seu agarre, afundando uma fração mais diminuta em seu calor, estremecendo-se enquanto escorregava em seu canal, ofegando quando seu órgão se apertou com antecipação — Mais que bem.

     Ela suportaria qualquer dor se pudesse lhe sentir desse modo outra vez, profundo e duro, possuindo-a completamente dentro e fora. A verdade se pulverizou enquanto seu pênis dava puxões contra ela.

     —Necessito-te, Sam.

     A expressão de Sam se afiou com a força da emoção em contraste direto a brandura de sua voz, seu olhar. Os dedos apertaram seu mamilo esquerdo, agarrando-o entre os nódulos, apertando.

     Ela arqueou as costas até que as omoplatas golpearam o pescoço de Breeze, ofereceu-lhe os mamilos a sua boca, seus dentes. A mordida dos dedos nos quadris foi tão erótica como a dilatação do nariz. Equilibrando-se ela mesma acima e abaixo perguntou:

     —Qual é a palavra para o que faço agora?

     —Fazer amor.

     Ela sacudiu a cabeça, indo um pouco mais rápido.

     —Qual é a palavra suja?

     Ele vacilou. Inclinando-se para diante, lhe mordiscou no pescoço, permitindo que o andar balançante do cavalo a empalasse sobre o pênis em incrementos diminutos.

     —Se me ensinar a palavra suja, Sam, a utilizarei em uma oração para ti.

     Ele tragou com dificuldade.

     —Merda.

     Ela chupou a carne da lateral do pescoço com sua boca. Com um corcoveio dos quadris o tentou mais.

     —Me diga.

     Ancorou-a com a mão no cabelo, lhe atirando para trás a cabeça. Sua boca mordeu a dela antes de grunhir.

      —Foder. A palavra é foder.

     —Ah. Não é de espantar que os homens a utilizem tanto.

     Os olhos de Sam arderam com calor escuro. Ela lhe fez esperar. Passou-lhe a língua pelos lábios, deixou-lhe ver os dentes, a umidade interior, esperando que ficasse sem respiração, que seu olhar se tornasse mais agudo. Esperou até que seu agarre se apertou, atraindo-a. Levantando uma polegada, ela encontrou o lóbulo da orelha, mordeu-o uma vez, mordiscando-o duas vezes antes de cochichar,

     —Foda-me, Sam. Me deixe sentir seu poder crescendo em mim. Me mostre quanto me deseja.

     —Maldita seja!

     Ele havia dito que não seria fácil e ele não o era. Foi como se o uso das palavras rompesse algo dentro dele. Algo que tinha estado retendo. Empurrou-a para baixo, impulsionando-se duramente dentro dela, transpassando a resistência muito rapidamente para que ela o absorvesse, retrocedendo quando ela captou o fragmento de sensação, atirando-a de volta a ele. Ela se agarrou enquanto ele o fazia uma e outra vez, seu grosso pênis lhe abria os músculos uma e outra vez, raspando por suas paredes interiores na mais perfeita tensão. Era como cavalgar uma formosa e violenta tormenta, aterradora, emocionante, fatigante. E não havia nada que pudesse fazer exceto agarrar-se. Seus impulsos se voltaram mais duros, mais profundos.

     —Goza comigo, Bella.

     Impossivelmente fundo. Ela se mordeu o lábio quando uma ferocidade interior se elevou em resposta a dele, crescendo com cada impulso.

     —Sam.

     Breeze se encabritou para um lado. Ela ofegou enquanto o pênis de Sam a estirava de uma maneira diferente, tocava uns lugares diferentes, lhe extraindo um chiado agudo da garganta.

     —Esse é o lugar? —Grunhiu ele, sua voz rouca e dura—. Justo aí?

     Ela não sabia. Não sabia nada mais além do duro batimento do coração de desejo que demandava satisfação. Ele esfregou seu pênis sobre esse conjunto de nervos em curtos e duros golpes, lhe inclinando os quadris para que cada impulso raspasse contra seus clitóris através do grosso algodão de suas calças. A vagina se apertou mais, seu pênis se fez maior, e o inchaço do seu órgão se atou a ponto da agonia.

     —Sam!

     —Maldição vai queimar-nos aos dois.

     —Não posso… suportá-lo — ofegou —. Deves gozar.

     —Merda.

     O corpo de Sam deu um puxão. Ela apertou as pernas ao redor de seus quadris, sustentando-o apertadamente, encontrando um fragmento de voz quando ele começou a sair.

      —Em mim. Goza em mim.

     Ela queria sentir seu sêmen, gostoso e quente, dentro dela.

      Por um momento pensou que tinha ganho, mas então ele a atirou para cima. Seus músculos eram mais fortes que os dela, lhe dando espaço e seu pênis se liberou, seu sexo ficou vazio, apertando no ar.

     —Não. Quero…

     —Isto é o que quer.

     As mãos se curvaram ao redor de suas nádegas. Os dedos se afundaram na dobra profunda entre elas, separando os globos firmes, estirando o ânus em um prelúdio erótico. Seu membro se deslizou na nata grossa que se vertia da vagina, enganchando-se na diminuta roseta de seu ânus, assustando com uma escura fome proibida. Pressionando, abrindo-o a parte mais diminuta, deixando que o apertão dos músculos os selassem juntos.

     —Isto é o que quer, Bella. —A cabeça caiu atrás—. O que ambos queremos.

      O primeiro jorro de sêmen golpeou como um murro erótico, ardente calor sobre as ultra-sensíveis terminações nervosas, lançando-o profundamente em uma sensação não familiar.

      Ela se retorceu afastando-se. A bochecha de Sam caiu sobre a dela enquanto um segundo jorro se unia ao primeiro.

     —Não. Empurra com força. Me deixe te encher deste modo ao menos.

     Ela fez o que lhe pediu, confiando nele enquanto enterrava a cara em seu pescoço. Outro puxão de seu pênis, outro jorro de calor. Outro roçar em seus clitóris.

     —Empurra com força e toma-me, Bella.

     Ela podia sentir-se abrindo-se contra esta pressão.

     —Isto não parece correto.

     —É correto, Bella. Me deixe te dar um pouco mais e verá.

     Isso foi de repente muito. Ela tratou de apartar-se. Ele não o permitiria.

     —Dói — gemeu enquanto a íntima dor se estendia.

     Ele se estremeceu quando seu pênis deu um puxão, outro banho morno.

     —Shh, deixa que aconteça. Só esfrega seus clitóris contra mim e deixa que aconteça.

     Aconteceria tanto se ela o desejasse ou não. Seu pênis, engraxado com sua nata, escorregadio pelo sêmen ganhava lentamente a batalha sobre os músculos inseguros de se convidá-lo a entrar ou rechaçá-lo.

     Sam lhe acariciou a orelha com os lábios.

     —Doerá durante um minuto. A dor de uma virgem outra vez enquanto seu corpo aceita o meu este pouquinho. Toma-o lentamente e respira.

     Ela não podia respirar, não podia parar, parte dela dava a bem-vinda a esta posse escura, parte dela a temia. O pânico começou quando a pressão aumentou.

     —Não posso

     —Já está.

     O ardor se intensificou, estirando-se para fora, encontrando seus mamilos, o clitóris, inchando-os até serem ansiosos pontos duros.

     —Vê. Só um pouco mais.

     Já quase estavam no ponto sem retorno.

     —Sam?

     —O que?

     —Me beije. Rude e selvagem. Tão selvagem como se sente por dentro.

      Ele não vacilou, pareando sua boca com a dela, beijando-a profundamente, lhe roubando completamente o fôlego, a vontade, o temor, deixando-a só com a antecipação do prazer que ele prometia.

     Os lábios se separaram dos ela, a distância de um cabelo.

     —Me dê seu cu, Bella. Agora.

     Contendo a respiração, ela apertou. Seu pênis aumentou repentinamente. Houve uma espetada e logo uma plenitude impossível.

     Ela apertou o tronco contra o dele. A mão de Sam abandonou seu quadril, subindo por suas costas para pressionar entre as omoplatas, atraindo-a contra ele.

     —Shh, só relaxe.

     —É muito.

     —Não. —Sua expressão era tensa — Está bem.

      A outra mão se deslizou até que seu polegar pressionou o clitóris. A sensação foi incrível. O prazer e a dor giraram em espiral em uma alegria indescritível.

     —Remexa-se em meu pênis agora. Só um pouco.

     Ela o fez tentativamente a princípio, experimentando até que encontrou um ritmo que podia dirigir. A espiral se apertou. Seu pênis se inchou. Ela necessitava mais. A cabeça lhe caiu atrás enquanto fechava os olhos.

     —Isso. Vá com ele.

     Ela não tinha escolha. Isto era mais selvagem que tudo do que tinha imaginado antes. Decadente. Mas correto. Tão correto que se entregou a Sam deste modo. Tão correto que ele a conhecesse deste modo.

     A selvageria nela se elevou, a tomou. Ela girou a cara, inalou seu aroma e lhe mordeu o peito, empurrando com força enquanto os quadris de Sam davam puxões, tomando mais de seu pênis, ofegando quando outra vez chegou a ser muito.

     Os dedos deram um puxão em seus clitóris, beliscando bruscamente, enviando outra espetada de dor prazeroso para ela.

     —Outra vez — ofegou, meneando os quadris em uma vã intenção de introduzi-lo mais profundo. Necessitava que o fizesse outra vez.

     Ele beliscou seus clitóris, enviando esse estremecimento a seu interior. Não era suficiente.

     —Seu pênis —gemeu—. Necessito seu pênis, também.

     —Jesus.

     —Por favor.

     Outro beliscão de seus clitóris que não foi suficiente e então:

     —Quando te puser em uma cama, Foderei seu cu nu, mas está muito seca agora. Te rasgará.

     —Não me importa. —Moveu os quadris outra vez—. Por favor.

     —Está quase lá?

     —Sim.

     Massageou-lhe o clitóris em golpes ásperos, lhe dando o que necessitava ali, o que lhe negava em outra parte.

     —Quer-gozar agora, Bella? Quer gozar assim com meu pênis metido neste doce cu?

     —Sim. Por Deus, sim.

     Sujeitou-a abaixo com força, duro, soltou o clitóris enquanto balançava os quadris.

     —Então goza.

     Ela o fez, fragmentando-se sob a aguda espetada, sufocando seu chiado contra o peito, o cu lhe agarrava a ponta de seu membro, lhe apertando em uma dura ordenha que lhe fez gemer e logo seu pênis esteve dando puxões outra vez, enchendo-a com seu delicioso sêmen, banhando a carne sensível com o espesso calor, facilitando o caminho a uma penetração mais profunda.

     Contra a orelha, ele grunhiu:

     —Minha.

     Ela não discutiu com ele, só se desabou contra seu peito enquanto a ardente dor de sua completa posse cavalgava o último estremecimento de seu clímax para arder todo o caminho até sua alma.

     —Sempre.

     No instante de transpassar os limites do povoado, Isabella já sentiu que chamava a atenção. Não se tratava de um povoado perdido no meio do nada, tratando de resistir. Havia uma cavalariça, uma pensão e uma cantina. Era um povoado com esperanças de crescer. Além disso, havia mulheres e nem todas trabalhavam na cantina. Era a maneira como as boas mulheres a estavam olhando o que a fazia agudamente consciente do sêmen de Sam que lhe cobria a ainda sensível carne entre as pernas e as tenras pontas dos seios. Acaso todos podiam ver o pecado que tinha cometido com Sam?

     Levantou o queixo e se encontrou com o olhar de uma mulher muito apropriadamente vestida que saía do mercado. A mulher apartou o olhar. Pela primeira vez desde que se encontrou com Sam, pela primeira vez desde que decidiu o que era correto, Isabella sentiu vergonha.

     —Mantém a cabeça erguida, Bella. É normal que especulem quando alguém novo chega ao povoado.

     Jogou uma olhada em Sam. Tinha essa expressão malvada na cara, como se estivesse preparado para rasgar a garganta de qualquer um que a olhasse mal.

     —Não estou envergonhada.

    —Então por que te está ruborizando?

     —Por que agora sei o que pensam quando me olham!

     —E isso te incomoda?

     Ela se encolheu de ombros.

     —Eu não gosto que outros me imaginem nua contigo.

     O bordo do chapéu lhe ocultava os olhos, mas os lábios de Sam se retorceram.

     —Tinha que ir e pôr esse pensamento em minha cabeça, verdade?

     Ele não podia estar falando a sério.

     —Não crês que as mulheres o pensam?

     —Não posso dizer que nunca o tenha feito antes deste momento.

     Ela cabeceou para a mulher com o singelo vestido cinza.

     —Essa certamente o está perguntando.

     —Tu crês? Não parece desse tipo.

     —Que tipo?

     Sam se moveu para a cantina onde três mulheres estavam encostadas contra o edifício, desfrutando do morno sol. Tinham vestidos brilhantes que apenas lhes cobriam os joelhos e expunham os topos de seus seios. Isabella se ruborizou por uma nova razão. Ainda em seu pequeno povoado, onde a influência de Tejala estava por toda parte, as mulheres não se mostravam a si mesmas desse modo. Isso não se fazia. Possivelmente este povoado não estava tão civilizado como pensava.

     —Acredito que essa estará julgando quanto dinheiro levas, antes de imaginar teu corpo com o meu.

     Ele assentiu.

     —Provavelmente tens razão. Mas isso não faz mais fácil pensar que uma mulher apropriada estará especulando a respeito de nós.

     Ela pôs os olhos em branco.

     —As mulheres não são diferentes dos homens. Perguntam-se. Imaginam.

      —Bem, inferno. —Olhou-a pela comissura do olho—. Não vou poder me relacionar com nenhuma sem me ruborizar.

      Era uma coisa tão escandalosa de dizer, e tão impossível de acreditar, só podia haver uma razão pela que ele a dissesse. Estava-a distraindo.

     —Creio que eu gostaria de ver isso.

     —A mim, me ruborizando?

     —Não, a ti te relacionando. Acredito que seria interessante ver-te ao redor de outras pessoas.

     —Decidiste que quer saber todos meus segredos, é?

     —Sim.

     Ela lançou um olhar ao redor. As pessoas começavam a notar sua presença, parando-se em metade da rua para lhes olhar fixamente. As cortinas das janelas revoavam. No momento em que um estrangeiro entrava no povoado, começava o tempo de mexericar, mas o fato de que tivessem a um cão amarrado a uma padiola detrás deles tinha que levantar mais conversações do que o normal. Isso e o fato de que ela fosse castelhana enquanto que o povoado parecia ser principalmente de Texanos. As lembranças da guerra ainda eram fortes e os temperamentos ainda estavam muito exaltados entre as duas raças.

     Os dois homens que estavam falando com a garota do salão se afastaram dela e se pararam na rua. Ela lhes reconheceu. Eram próximos a Tejala.

     —Ponha o chapéu na cabeça, Bella, e te coloque ao outro lado.

     Ela não vacilou. Sentir-se-ia muito mais cômoda com Sam entre ela e os homens que a olhavam com tal fome.

     —Este não parece um povoado amistoso.

     Os homens não retrocederam para o beiral do edifício. E com o calor que fazia, isso só foi uma causa a mais para suspeitar. Sam lhe estendeu as rédeas do cavalo de carga.

     —Te importa encarregar-te por um momento?

      —Não. —As rédeas de couro estavam quentes e úmidas por sua pele. Ela pôs os dedos nos entalhes deixados por Sam, desejando conectar-se a ele—. Aonde vamos?

      —Você vai a algum lugar seguro e eu procurarei Tucker.

     Ela não sabia se haveria algum lugar seguro neste povoado para alguém como ela.

     —Tucker é seu amigo?

   —Sim.

   —Um amigo próximo.

     Ele ainda esquadrinhava a rua.

     —Sim. É família. Você gostará.

     Que lhe gostasse não era a questão. Gostar-lhe a Tucker era a grande questão. A família poderia ser muito seletiva com as mulheres com as quais seus membros se associassem.

     —Como se chama este povoado?

     —Lindos.

     Seu dia ficava pior e pior.

     —Estamos bastante perto de minha casa.

     —Imaginei isso. Montoya está dois povoados mais a frente. Vives ali, verdade?

     —Como soube?

     O meio sorriso que podia seduzi-la ou irritá-la brincava em seus lábios.

     —Não foi difícil encaixar todas as peças, duquesa. A maneira em que te dá ares e o sobrenome no território de Tejala estreitam de algum jeito o campo.

     Ela se sentia tão tola. Pensava que seu segredo estivesse bem oculto.

     —Não tenho desejos de visitar minha casa.

     —Falaremos disso mais tarde.

     Os dois homens se aproximavam pela rua, não se encontravam o suficientemente perto para lhes bloquear o passo, mas sim o bastante para que o coração de Bella saltasse em seu peito.

     —Sam?

     —Os vejo.

      Jogou seu cigarro ao chão.

         —O que quer que faça?

     A mão se deslizou para baixo, ao seu revólver.

     —Fique onde está e pense o que dirás a sua mãe.

     A última vez que tinha visto sua mãe, tinham brigado. E se a visse outra vez certamente voltaria a brigar imediatamente, porque sua mãe desejava a segurança que traria uma aliança com Tejala. E por mais que Bella devesse a sua família, lhe pedir que se casasse com Tejala era muito. Tejala só a queria para provar uma coisa. Quando o fizesse através de sua submissão, a mataria e logo possivelmente também a sua família. Era desse tipo de homem. Teve que levantar a voz para que Sam a ouvisse.

     —Não irei.

     Ele levantou a mão para reconhecer que a tinha ouvido, mas ela advertiu que não tinha cabeceado. Ia ser teimoso a respeito disto.

     Ficou de pé nos estribos, inclinando-se para diante, o terror a enchia enquanto ele seguia avançando para esses homens que tão claramente estavam preparados para criar problemas. Queria lhe chamar. Tudo o que saiu de sua boca foi:

     —Também posso ser teimosa.

     Ele não olhou para trás, mas a saudou com dois dedos.

     —Nunca duvidei disso, duquesa.

    Manteve Breeze andando lenta e constantemente para os homens. Por que sempre tinha que procurar briga? Quanto mais ele se aproximava dos homens mais nervosa ela ficava. Não só porque se aproximava de problemas, mas sim porque havia coisas que não lhe tinha contado a Sam. Coisas que poderia utilizar contra ela se as averiguasse. Agarrou o pomo com as mãos. Era muito tarde. Só tinha que esperar que os homens não o revelassem tudo.

     Por último Sam se endireitou no cavalo. Tocou-se o bordo do chapéu com os dedos.

     —Posso lhes ajudar, cavalheiros?

     O da direita com o bigode daliniano meticulosamente arrumado deu um passo adiante. Ela lutou por recordar seu nome. Ele se acariciou o bigode com os dedos e recordou: Manuelo. O homem sem barba nem bigode estava posicionado atrás, no lado esquerdo. Não podia recordar seu nome.

     —A mulher com a qual está. Parece familiar.

     Ela pediu emprestada uma das maldições prediletas do Sam. «Merda».

     —A mulher é minha.

      Inclusive lhe ouvir dizê-lo com uma ameaça em sua voz lhe deu calafrios. O homem ampliou sua postura.

     —Acredito que está equivocado.

     —Não seria a primeira vez.

     Era agradável saber que ela não era a única com quem Sam podia ser perverso.

     —A mulher é de Tejala.

     —Por direito ou reclamação?

     —Por contrato. Está prometida.

     A esperança morreu. Sam agora sabia de tudo. Estava comprometida a outro homem e tinha dormido com ele. Um contrato de esponsais era tão bom como o matrimônio. A odiaria.

     —Não me diga. —Mudou seu peso na sela. Pareceu um gesto casual, mas Breeze se moveu também, e quando se assentou Sam estava em um melhor ângulo e ela já não estava na linha de tiro. Levaria isto as balas?

     —Quer dizer que os papéis foram redigidos e tudo?

     Isso não soava como ódio em sua voz. Soava como provocação.

     —Por seu pai.

     Sam inclinou o chapéu para trás.

     —Acreditava que seu pai estava morto.

     —Assinou antes de morrer.

     O fez. Justo antes que ela perdesse o conhecimento por falta de ar. Tocou-se a garganta, sentindo outra vez a agonia de esforçar-se por respirar, de ouvir as súplicas de seu pai pela vida de sua filha. De ouvir o gorgolejo enquanto ele se afogava em seu próprio sangue depois de que assinasse e Tejala lhe cortasse a garganta.

     —Bem, de onde venho não vendemos mulheres como se tratasse de gado, e dado que ele não está aqui para discuti-lo, eu chamaria a isso um trato vazio.

     —Tejala não estará contente. —Manuelo inclinou o chapéu para trás—. Você não quer ver Tejala infeliz.

     —É bem-vindo a subir a uma sela em qualquer momento que esteja disposto a discuti-lo.

     Havia uma tensão que se desenvolvia entre os homens. Pior, mais homens, obviamente amigos dos dois primeiros, estavam saindo do salão. Ela não gostava. Homens, licor e provocação nunca eram uma boa combinação. Gostava ainda menos já que não tinha nenhuma arma.

     —Podes discuti-lo conosco.

     —Não pareces do tipo capaz de dar um discurso inteligente.

     —O que?

     —É o que há. Falarei com Tejala se alguma vez tirar seu cu de seu esconderijo.

     Manuelo se arrepiou. A multidão se apertou, farejando sangue.

     —Tejala não é um covarde.

     —Já que nunca lhe vi fazer nada exceto maltratar mulheres e meninos, terá que me perdoar por sustentar minha própria opinião.

     Por que os estava provocando?

     —És um homem muito insensato, senhor.

     Bella estava de acordo e pensava repreendê-lo a respeito disso logo que o tirasse daqui.

     —Já lhe disse isso, mas tenho uma mensagem para que leves a Tejala.

     —E o que seria?

     —Bella agora é dos Oito do Inferno.

      Os olhos pequenos e brilhantes de Manuelo se estreitaram.

     —Quem és, gringo?

     —O nome seria Sam MacGregor.

     Da multidão saiu um cochicho de «Gato selvagem».

     O homem sem barba nem bigode retrocedeu. Os dedos de Manuelo se retorceram.

     —O que faz um Patrulheiro do Texas no território de Tejala?

     —Caçar.

     —A quem?

     —Poderia dizer que a um antílope, ou um puma ou…

     Manuelo tirou seu revólver. Sam foi mais rápido. Dois disparos soaram em rápida sucessão. Manuelo caiu ao chão, o sangue se pulverizava como uma flor vermelha brilhante sobre seu peito. Seu cúmplice tropeçou contra a parede de trás, agarrando o peito, com os olhos totalmente abertos. A arma caiu de seus dedos. O seguiu afundando-se lentamente para baixo.

      Sam sacudiu a cabeça.

     —Parece que terei que encontrar um novo mensageiro. —Alcançou o bolso do colete e tirou algumas moedas, atirou-as aos pés de um dos espectadores — Olhe que não infestem a rua.

     O homem assentiu, mas não se moveu. Ninguém se moveu.

     O tiroteio tinha acontecido tão rapidamente, que Isabella não tinha tido a oportunidade de sentir terror, mas estava nela agora, um frio gelado que estava deixando-a enjoada. Alívio ou irritação, não podia decidir-se, mas se inclinava para o último. Sam poderia ter morrido, ainda podia morrer, e tudo o que ela podia fazer era olhar. Atirou do cavalo de carga, que não pareceu absolutamente angustiado pelos disparos, para diante.

     A mulher loira que Isabella tinha advertido antes se aproximou empurrando através da multidão, ignorando as armas e o perigo. Ajoelhou-se ao lado do homem sem barba nem bigode. Como se a violência não pudesse estalar em qualquer momento, abriu a camisa do homem e verificou sua ferida. Sua boca era uma linha reta. Sacudiu a cabeça antes de elevar o olhar ao Sam.

     —Se pagou por dois enterros, lhe deve dinheiro.

     —Posso remediar isso.

     Ela voltou a sacudir a cabeça.

     —Não, hoje não o fará.

     Sam levantou o olhar.

     —Rogo seu perdão.

     —Não é meu perdão o que deve rogar, a não ser o de Deus.

     —Deus e eu não nos falamos.

     —Deus fala com todos. Inclusive com os tontos. —Estalou os dedos para dois homens que estavam dentro da cantina—. Enrique, Paolo, tragam este homem para a minha casa.

     —Isso não será necessário, senhora.

     A mulher ficou de pé, escovando o pó das saias. A touca branca de encaixe se arrepiou com a brisa. Era alta, com uma bonita cara quadrada, pálido cabelo loiro e maneiras muito competentes.

     —Não o teria sido se tivesse tentado falar em vez de disparar.

     —É um bandido.

     —É um homem ferido e precisa cuidados.

     —É bastante provável que os apunhale enquanto dorme.

     —Não terá que temer morrer, Sam.

     Sam abriu a boca e logo a fechou. Isabella sabia exatamente como se sentia. Nunca tinha visto uma mulher manejar os homens assim.

     —Possivelmente deverias te render, Sam. Não se pode meter a mão onde Sally Mãe se lança

     —Também tenho essa impressão.

     Isabella piscou ante o homem que deu um passo fora da cantina. Tinha pensado que Sam era grande, mas este homem era um gigante. Quando ficou ao lado da Sally Mãe foi um estudo de contrários. Enquanto Sally Mãe era bonita e esbelta, o homem era escuro, com ossos grandes e capas de músculos em cima. Levava um colete de couro sobre uma camisa azul com as mangas arrancadas. Os musculosos braços eram tão maciços como o resto dele. A escuridão da pele somente acentuava os profundos cortes dos bíceps. A única similitude estava nos olhos. Os dois tinham olhos cinza. Os dela eram de um cinza escuro tranqüilo enquanto que os dele eram tão pálidos sob o bordo do chapéu, que pareciam quase resplandecer.

     Sally Mãe não pareceu agradada de vê-lo. Seus olhos se estreitaram.

     —Não lhe dei permissão para utilizar meu nome de pilha, senhor McCade. Refreará amavelmente esses modos excessivamente familiares.

     Havia outra similitude. Ambos eram muito seguros de si mesmos.

     Tucker não pareceu zangar-se pela reprimenda. Se acaso, pareceu divertido.

      —Esse teu sobrenome é impronunciável.

     Ela levantou o queixo.

     —Não é um homem ignorante. Tenta aprendê-lo antes que nos encontremos outra vez. —Girou sobre os calcanhares e se afastou, as saias revoando ante seu enérgico passo.

     —Ali vai um traseiro que não me importaria domesticar — declarou uma boca poeirenta com o murcho cabelo marrom sob o chapéu.

     Com aparente indiferença, McCade se estirou e o agarrou pela garganta. Com um movimento igualmente casual, lançou-o através do cristal da cantina. O cristal se rompeu em uma discordante cacofonia.

     O cavalo de carga deu um puxão e relinchou. Isabella o sustentou pelo extremo das rédeas, fazendo sons para que calasse, som que os cavalos ignoraram. Kell choramingou. A terceira vez, quase saiu da sela com o puxão. Sam se aproximou e deslizou as mãos ao redor das rédeas até que se aproximou da cabeça do cavalo. Ela as soltou em resposta a seu puxão. Não sabia a quem prestar atenção. A Sam ou a Tucker.

     Um grito proveio de dentro da cantina.

     —Maldito seja, Tucker!

     Isabella piscou outra vez. Este era o «agradável» amigo que Sam esperava que gostasse? Este gigante que atirava homens através de janelas de cristal?

     —Ponha em minha conta, Brian — gritou Tucker por cima do ombro antes que o olhar se encontrasse com o dela.

     —Isso não cobre o inconveniente — se queixou Brian do escuro interior.

Tucker não apartou os olhos dela, aproximando-se com uma fluida graça que a deixou com a impressão de estar sendo espreitada.

     —Chega.

     Era um homem bonito de uma maneira brutalmente dura. Não havia calor em seu olhar, só uma fria avaliação enquanto a olhava a ela e logo ao Sam.

     —Acreditava que tínhamos acordado que só devolveríamos loiras.

     O que significava isso? Ela girou na sela para olhar Sam. Ele estava comprovando a Kell.

     —Bella demonstrou ser muito tentadora para rechaçá-la.

     Tucker se estirou e lhe tirou o chapéu, estudando-a como se fosse um cavalo. Seu olhar se dirigiu a sua boca.

     —Tem potencial.

     Ela arrebatou-lhe o chapéu. Com um giro da mão, utilizou-o para golpear o dele e tirá-lo da cabeça. Ele o agarrou sem nenhum sinal de dificuldade. Para surpresa de Bella, tudo o que fez com o ato de violência foi lhe fazer sorrir.

     —Empurra-a muito mais, Tucker, e teremos palavras.

     A pesar de toda a frouxidão na declaração, Isabella ouviu a ameaça.

     —De verdade? —perguntou Tucker.

     Sam se endireitou.

     —Bastante.

     —Desi nos mandou atrás de loiras.

    —Uma merda.

      —Ela não é loira.

     Fez que seu escuro cabelo e a pele de cor caramelo soassem como um déficit. Ele, que tinha o cabelo negro como o pecado, olhos aterradores e uma pele muito mais escura.

     —Sally Mãe tem razão — disse bruscamente Bella—. Se toma excessivas familiaridades.

     Suas costas se endireitaram.

     —É minha natureza.

     Ela não estava tão segura a respeito disso, mas havia algo. Ou muito mau ou muito bom. Não poderia decidir qual.

     Sam veio a seu lado. Curvou os dedos ao redor dos dela. Era um gesto sutil, mas enquanto estivessem em público, uma declaração de intenções. Tinha-lhe estado enviando estes sinais durante dias, mas sem dizer nada. Tratava de lhe dizer algo?

     —Necessito um lugar para Bella.

     Tucker suspirou e olhou rua abaixo, onde Sally Mãe estava parada diante de um pátio cercado.

     —É complicado encontrar um lugar para que permaneça uma mulher decente.

     —Não me diga.

     —Sally Mãe dirige a pensão local.

     —É aonde levou a homem de Tejala?

     —Sim.

     —Bem, mer… dispara.

     Bella olhou Sam de soslaio. Ele nunca antes tinha vigiado sua linguagem em torno dela. Primeiro a agarrava e logo isto.

     —A senhora Schermerhorn tem profundas crenças.

     —Acreditava que você não soubesse dizer seu nome — perguntou Bella arqueando uma sobrancelha.

     O mais fraco dos sorrisos lhe tocou os lábios.

     —A habilidade vem e vai.

     Mais que provavelmente com sua necessidade de irritar. Ela examinou Sam.

     —Começo a ver a semelhança familiar.

     Sam tomou seu chapéu e o colocou na cabeça, golpeando-o para baixo até que lhe cobriu os olhos.

     —Todos o fazem finalmente.

      Ela se empurrou o chapéu para trás. O homem ao qual Sam tinha atirado dinheiro agarrou as mãos do morto e o conduziu para longe, arrastando-o ao outro lado da rua. Sam ainda estava falando da conduta da mulher.

     —É estúpida? Esse homem a violará a primeira oportunidade que tenha e provavelmente lhe cortará a garganta antes de terminar.

     —Para ela isso não tem muita importância.

     —Como pode ser isso pouco importante? —perguntou Bella.

     —É qualquer. Acredita em não fazer mal, que toda vida é sagrada e que o resto está nas mãos de Deus.

     Sam alcançou suas ferramentas e tirou um papel.

     —Então, é estúpida.

     Tucker se imobilizou.

     —Não, não o é.

      Orvalhou tabaco no papel e o levou a língua. Isabella não pôde apartar o olhar. Um tremor lhe correu pela espinha dorsal quando Sam passou a língua pelo bordo. Entre as pernas a vagina se convulsionou e nata fresca se formou redemoinhos. Ele tinha uma língua muito hábil.

     Com um último golpe que a fez mover-se na sela, Sam retorceu os bordos.

     —Então o que é ela?

     —Uma mulher de princípios.

     —Que conseguirá que a matem.

     —Mantenho um olho nela.

     —Do salão?

     —Do celeiro detrás da pensão.

     Os lábios de Sam se apertaram.

     —É o guardião de uma mulher que nem sequer permite que alugue um quarto sob seu teto?

     —Foi minha escolha.

     —Aposto que sim.

      Algo golpeou os olhos de Tucker. Isabella não o pôde identificar.

     —Fecha a fodida boca, Sam.

     —Inferno, eu…

     A emoção fulgurou outra vez. Desta vez ela a reconheceu. O grande homem perigoso cuidava da mulher. Isabella pôs a mão na coxa de Sam.

     —Não é da sua conta, Sam.

     —Inferno que não.

     Tucker olhou a mão. Sua sobrancelha se arqueou. Ela levantou o queixo e emparelhou olhar com olhar. Não lhe importava o que ele pensasse. Mas por dentro, parte dela se envergonhou como sempre. Só um pouco

     —Possivelmente o salão tenha quartos.

     Para sua surpresa, Tucker não golpeou Sam.

     —Não é um lugar para uma dama decente, senhorita.

     Ela também quis agarrar o touro pelos chifres.

     —Talvez eu não seja tão decente.

     —Por consideração ao Sam, espero que não.

     Ela se ruborizou. Tucker riu. Sam envolveu o braço ao redor de seus ombros e a empurrou perto. Ela inclinou a cabeça para seu beijo. Sentiu-se melhor uma vez que seus lábios se encontraram com os dela. Era familiar. A fez sentir-se cômoda. Este era o Sam que conhecia.

      —Sentar-me-ei ao lado do amigo de Tejala — ofereceu Tucker.

     —Só está procurando uma desculpa para irritar a Sally Mãe.

      —Muito certo. —Rodeou o cavalo de carga até a padiola — Quem é este?

     Debilitado e doente, Kell ainda conseguiu levantar a cabeça e mostrar as presas.

     —Kell. Recolhi-lhe do outro lado das montanhas.

     —Parece um lobo puro.

     —Deve ter uma parte cão já que está domesticado.

     Kell grunhiu.

      Tucker sorriu. Tinha um sorriso agradável, decidiu Isabella.

     —Não há necessidade de insultá-lo.

      Estirou-se.

     —Kell não gosta que lhe toquem. —disse Isabella, preocupada a pesar de si mesma.

     —O terei em mente.

     Tucker tirou o chapéu e o pôs no chão ao lado da padiola. O cabelo, que lhe chegava até os ombros, caiu para frente, lhe ocultando a cara. Enquanto falava com o cão com um baixo som alegre que ela não entendeu, Kell continuou grunhindo. Mas quando Tucker levantou suas ataduras e olhou debaixo, não lhe mordeu embora tivesse que lhe doer e havia muito do Tucker perto.

     —Como fez isso? —perguntou ao Sam.

     Ele se encolheu de ombros.

     —Tucker se entende com o selvagem.

      Tucker ficou de pé.

     —Suas feridas estão infectadas.

     —Oh não. —Isabella não queria ouvir que fosse morrer.

     —Conhece alguém que possa encarregar-se delas? —perguntou Sam.

     —Sim, mas não vai gostar.

     —Sally Mãe?

    —Ela não o rechaçará e tem um verdadeiro talento para curar.

   —Parece que todos os caminhos levam a Sally Mãe.

   —Assim parece.

   —É boa?

     —Seu marido era médico.

   —Era?

   —Um paciente insatisfeito o matou no ano passado.

   —Sam também precisa cuidados — exclamou Isabella. Por sua interferência conseguiu um olhar enfurecido de Sam.

     —Estou bem.

     Tucker sorriu e tomou as rédeas do cavalo de carga.

     —Me deixe adivinhar, necessita pontos?

     —Como o soube?

     Tucker estalou ao cavalo e começou a baixar pela rua.

     —Sempre foi delicado quando está frente a uma agulha.

     Isabella sorriu muito docemente a Sam. Os olhos azuis brilharam com uma advertência sob o bordo do chapéu. Ela o ignorou.

     —Hoje não será delicado.

     —O que te faz dizer isso? —perguntou Tucker, jogando uma olhada por cima do ombro.

     —Porque me prometeu isso.

     —Está-me deixando?

     Isabella se sentou na cadeira de respaldo alto do dormitório da pensão e olhou fixamente a Sam, a toalha com a que se esteve secando o cabelo a meio caminho do regaço.

     —Não há mais habitações. Vou ficar com Tucker no celeiro e manter um olho sobre o que acontece.

     Ela estirou a mão e a passou com cuidado sobre o colchão da cama matrimonial.

     —A cama é bastante grande para os dois.

      Sam nem sequer pareceu advertir o modo em que sua bata emprestada estava aberta.

     —Agora estamos no povoado, Bella. Não podemos continuar como antes.

     A doente sensação de seu estômago cresceu.

     —Não quer que lhe vejam comigo.

     Ele se golpeou a coxa com o chapéu.

     —Tens uma reputação a proteger.

     —Não penso cavalgar com ninguém do modo em que o fiz contigo no deserto.

     —Ninguém aqui sabe disso.

     —Não precisam saber para especular.

     —Se ouvir alguém dizendo algo desfavorável, envia-me isso.  

     —Sam, sabia o que ia encarar quando tive relações contigo. Não o lamento.

     —O que fazemos é entre nós e não para que especulem.

     A parte dela que esperava lhe ouvir dizer que não o lamentava se murchou. Retorceu-se as mãos na toalha.

     —Por que isso é tão importante?

     —Amanhã te levarei a casa de sua mãe. Não preciso lhe dar mais razões para que me receba com uma escopeta na porta.

     Ele não trocaria de opinião sobre levá-la a casa.

     —Estará muito feliz de que me leve a casa para lhe importar em que condição.

     Ele deu um passo na habitação. Embora se aproximasse, sentiu que a distância entre eles se ampliava.

     —Encontro isso difícil de acreditar.

     —Pelo que sabes de tua mãe, mas minha mãe se casou como seus pais ordenaram. Não foi feliz deixando a Espanha. Não é feliz aqui. Esperou muito tempo uma oportunidade de melhorar sua posição.

     —Nenhuma mulher que criou uma filha tão independente como você estaria preocupada com a posição.

      Ela sorriu, enquanto a alagavam lembranças felizes.

     —Minha mãe não me educou. Tinha… outros passatempos.

     —Quem o fez?

     —Meu pai até que minha mãe notou, como já disse, quão independente me estava voltando.

     —E então?

     Sua mãe tinha estado muito surpreendida, quando em um momento de coerência a tinha visto correr escada acima com um par de calças.

     —A vida não foi tão emocionante.

     Sam se sentou na cama ao lado de sua cadeira. Girou-lhe a cara para ele.

      —Mencionou que tinha outros passatempos. Quais eram?

     Ela não queria dizê-lo.

     Sam lhe esfregou o lábio inferior com o polegar.

     —Desfrutava de outros homens?

     —Meu deus, não! —Sua mãe era muito reservada. Não dada a tocar. Muito apropriada—. Tomava remédios para a dor.

     —Estava ferida?

     —Acredito que no coração, durante muito tempo.

     —Ah. Tomava sedativo.

     Seus braços a rodearam. Forte, quente. Ela girou, envolvendo seus braços ao redor do pescoço. Ele a atraiu tão perto como ela pudesse sonhar, tão perto que podia ouvir o pulsar de seu coração. Estável. Como ele. Fechou os olhos.

     —Sei que prometi não me afeiçoar, mas te necessito para me sustentar. Só durante um minuto.

     Sam lhe acariciou o cabelo com a mão.

     —Duquesa, vou voltar para ti.

     —Sei. —Também sabia que era o primeiro passo para pôr distância entre eles. Levá-la a casa de sua mãe seria o segundo. Sam nunca lhe tinha prometido um para sempre, mas não seria cruel com o adeus. Sam o facilitaria. Como agora.

     —Então por que te sinto tremer?

     Seu controle não era o que ela desejaria que fora.

     —Tenho medo de retornar a casa.

      Não queria perder a magia que tinha com ele, não queria voltar para sua asfixiante existência. Não queria viver com um enorme buraco em sua alma—tudo o que ficaria de seu amor quando ele se fosse.

     —Tucker e eu nos encarregaremos de Tejala.

     Ela sacudiu a cabeça.

     —Não quero isso. Ele é muito perigoso.

     A risada de Sam lhe revolveu o cabelo.

     —Eu não sou exatamente um gatinho doméstico, duquesa.

     —É um risco desnecessário.

     Cobriu-lhe o braço recentemente costurado com a palma. O braço que suportaria uma feia cicatriz porque se negou a usar a tripa que Kell necessitava. Ele sempre fazia sacrifícios. Inclinou a cabeça para trás para poder lhe ver a expressão e o que era mais importante, para que ele pudesse ver a dela.

     —Não quero ser um de teus sacrifícios, Sam.

     —Quem falou em sacrifício?

     —Só creio que seja importante que saibas quão infeliz serei com teu sacrifício. Suspirarei, estarei melancólica. — Franziu a testa— Muito provavelmente chorarei.

     Ele a levantou e a pôs no regaço, a toalha caiu ao piso. Não havia risada em sua voz, nenhuma diversão lhe curvava os lábios, mas ela sentia o sorriso enquanto deslizava a palma sobre sua bochecha, enquanto embrenhava os dedos em seu cabelo úmido.

     —Está-me chantageando?

     Ela lhe passou o dedo pela áspera bochecha. Ele não tinha tido tempo de banhar-se.

      —Funcionará?

     —Tenta-o e verás.

      Estava tentada. Muito tentada. Mas se Sam ia ficar com ela não podia ser porque lhe forçasse.

     —Não. Isso não seria correto.

Ele arqueou a sobrancelha. Seu sorriso se fez mais profundo. Os lábios acariciaram os dela.

—O que diz de me persuadir? Seria correto?

     Ela desejou que o fosse. Cravando-as unhas nas palmas, beijou-lhe.

     —Não.

     —Assim que tudo depende de mim?

     Ele não soava aborrecido. Deslizou a palma dentro da bata, curvando-a ao redor do seio. O «Sim» de Bella foi mais um ofego que uma palavra enquanto o polegar lhe acariciava o mamilo.

     —Bem, isso faz as coisas mais fáceis.

     Com um casto beijo na ponta do nariz, devolveu-a a cadeira.

     —O que faz mais fácil?

     Ele não respondeu, só recolheu o chapéu e saiu pela porta. Assobiando. Assobiando! Agarrou o travesseiro da cama e o atirou a suas costas. Falhou. Sua risada flutuou pelo vestíbulo.

     Queria chiar. Queria ter esperança. Mas tão pouco podia fazê-lo.

     Um movimento na porta apanhou seu olhar. Sally Mãe estava ali. A pesar de tratar ao bandido, a Kell e ao Sam, o cabelo ainda estava em seu lugar em um ordenado coque na base do crânio. Inclinou-se e recolheu o travesseiro.

     —Os homens podem ser enfurecedores, verdade?

     Isabella suspirou.

   —Sam mais que a maioria.

     Sally vacilou na porta.

   —Posso entrar?

     Isabella ficou de pé e agarrou ao cinturão, esticando-o para fechar a bata.

     —Claro.

     Sally pôs o travesseiro na cama e suspirou. Passou-se a mão sobre o imaculado cabelo.

   —Isto é difícil.

   —Então só deve dizê-lo.

   —Sei quem é você. É a mulher que Tejala esteve procurando e…

     Isabella suspirou.

     —Quer que eu me vá.

     —Céus Querida, não! —O assombro da mulher era verdadeiro—. Queria lhe oferecer refúgio.

     A pequena casa apenas se parecia com a fortaleza que seria requerida para repelir a Tejala.

   —Por quê?

    —Edmund Burke disse uma vez, «Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada».

     —Você não é um homem.

     —Isso não significa que me manterei a margem enquanto permito que um homem tire uma mulher de sua casa sem fazer nada.

     —Embora você seja uma mulher?

     —Mais que um homem?

      —Sim.

     —Minha religião não considera os homens por cima das mulheres.

     Um conceito interessante.

     —Que mais ensina sua religião?

     —Que todas as pessoas levam as sementes de Deus neles e que têm poder de escolha, que é nosso dever ajudar onde possamos e que não é correto fazer mal a outros.

     —E é por isso o que você ajudou ao bandido?

     Sally suspirou.

     —Sim, embora as vezes fazer o correto seja mais duro do que deveria ser.

      Apostava que sim.

     —Tucker disse que você era uma mulher de princípios. Admira-a.

     Um rubor tingiu a pálida cremosa das bochechas da outra mulher.

     —Aposto que disse muitas outras coisas junto com isso.

     Isabella não mentia.

     —Ele tem senso de humor.

     Sally franziu a testa como se estivesse incomodada, mas Isabella não se perdeu como seu olhar saiu pela janela ao pátio traseiro onde Sam e Tucker falavam. Nem tão pouco se perdeu a fome nostálgica disfarçada pelo tom brusco quando grunhiu:

     —Necessita ajustes.

     —Possivelmente só necessita o toque de uma boa mulher.

     —Possivelmente. —Sally sacudiu a cabeça—. Mas teria que ser uma mulher muito valente.

      Disse a mulher que lhe tinha devotado refúgio do bandido mais temido no território.

     —Acredito que você seja uma mulher muito valente.

     Sally piscou e logo sorriu tristemente.

     —Mas não a mulher para ele.

     Isabella não estava tão segura.

 

     —Essa moça tem um montão de problemas lhe pisando os calcanhares — disse Tucker, descansando seu ombro contra o tronco do grande olmo detrás da casa de hóspedes e elevando a vista para a janela do dormitório de Isabella.

     Sam terminou de enrolar seu cigarro antes de guardar os materiais em seu bolso.

     —Não tanto como tinha Desi.

     —Preocupam bastante. —Deu-lhe uma lambida ao cigarro—. Teve sorte com alguma pista que conduza a Ari?

     —Não, todas foram lixo. E você?

     —Não — Sacudiu a cabeça—. Nunca soube que houvesse tantas rameiras loiras até que comecei a procurar uma.

      Sam sabia exatamente o que queria dizer.

     —Lamentarei dar essas notícias a Desi.

   —Seguro que lhe partirá o coração.

   —Sim.

   —Assim, o que vai fazer com Isabella?

     Sam golpeou um fósforo no solado de sua bota.

    —Tão logo que consiga devolvê-la a sua mãe, irei atrás de Tejala.

   —Capturar Tejala será um extraordinário trabalho para um homem. O homem está louco. O rumor é que a varíola lhe comeu o cérebro.

    Sam acendeu seu cigarro, deu uma tragada e sacudiu o fósforo.

   —É algo que deve ser feito.

      Tucker se reclinou contra a árvore.

    —Isso não significa que tenhas que ser o único que o faça.

   —Tenho esse tipo de idéia me esquentando a cabeça.

      Tucker sorriu e apartou uma rajada de fumaça.

   —Deste-me essa impressão.

   —Bella não estará segura enquanto ele siga vivo.

   —Ela estaria bastante segura de volta aos Oito do Inferno.

      Dando uns golpezinhos a cinza de seu cigarro, Sam jogou uma olhada a janela do quarto de Bella. Através das impolutas cortinas, podia vê-la a ela e a Sally Mãe conversarem. Era uma cena muito caseira, uma que lhe fez ter fome da permanência que implicava.

   —Assumindo que possa levá-la de volta com vida aos Oito do Inferno.

   —Se planejas finalmente levá-la de volta aos Oito do Inferno, não te estás arriscando ao levá-la a casa com sua mãe? Ouvi que sua mãe favorece a aliança com Tejala.

   —Sua mãe pode favorecer tudo o que ela queira. Isabella nunca se casará com esse pedaço de merda.

   Tucker se encolheu de ombros.

   —É claro, sempre há a possibilidade de que depois de que Tejala desapareça, uma linda coisinha como Bella não queira casar-se com um ganso velho como você, tão pouco.

    Sam fechou seus dentes em uma parte de seu cigarro. Era mais provável que não.

   —Sei.

   —Estava brincando.

  —Eu não.

   Tucker soprou.

    —Está-me tirando sarro, verdade? —Agitou a mão para a casa—. Essa mulher quer casar-se contigo mais que qualquer outra coisa neste mundo.

   —Sei que pensa assim neste momento, mas uma vez que o perigo tenha passado e tenha feito as pazes com sua mãe, ela poderia reconsiderá-lo.

     Tucker jurou e lançou seu cigarro ao ar. O extremo aceso desenhou um fino caminho vermelho descendendo na escuridão antes de golpear a terra e arder sem chama.

   —A queres, verdade?

     —Sim.

   —Então, por que diabos lhe dá a oportunidade de escolher?

     —Porque é justo.

   —Que se foda o justo. Ela te quer. Tu a queres. Toma isto como um sinal e toma um pouco de felicidade para ti mesmo.

   Sam cortou Tucker com um olhar furioso.

   —Da forma em que tu te agarraste a Sally Mãe?

     A expressão de Tucker se esticou como um tambor.

   —Isto é diferente.

     Ele podia apostá-lo.

   —Como assim?

      Caminhou sobre a bituca que tinha descartado, Tucker a desfez na terra com o solado de sua bota. O pó se elevou em uma pequena nuvem violenta.

   —Ela é branca. Eu sou índio. É qualquer. Eu não o sou. Ela é uma pacifista. Eu sou um pistoleiro. — A expressão de Tucker permaneceu impassível quando se deu a volta —.Vamos continuemos, escolhe algo e o processaremos.

   —É um montão de diferenças.

     Tucker assinalou para cima a janela.

   —E a única coisa que se interpõe entre você e Isabella é sua própria teima.

   —E aproximadamente dez anos.

     Tucker sacudiu a cabeça.

    —As vezes você mesmo é seu pior inimigo, Sam.

     —Possivelmente. —Deixou cair seu cigarro a seus pés e apagou o extremo com a ponta de sua bota, desfazendo-o na terra—. Ou possivelmente não queira despertar dentro de um ano em uma cama vazia e um montão de desculpas.

    —Por isso te deitou com ela?

     Sam suspirou. Não havia muito que pudesse ocultar de Tucker.

     —Não, isso foi debilidade, pura e simples.

   —Não é debilidade amar a alguém.

   —Sigo me dizendo isso.

   —Mas…?

     Uma coisa era ir ao inferno e retornar com alguém, eles tendiam a entender-se. Sem muito prefácio lhe contou a verdade.

   —Estive tendo sonhos.

   —Sobre Texana? —perguntou ele, nomeando o povoado aonde tinham crescido, o povoado que já não existia.

   Ele cabeceou.

   —Sempre começa três dias depois de que o exército o deixou.

   —O dia em que tua mãe morreu.

   —Sim. No sonho me aproximo dela, mas quando retiro seu cabelo, é a cara da Isabella a que vejo.

   —Maldição, Sam. Quantas vezes tenho que lhe dizer isso O que aconteceu com tua mãe não foi tua culpa. Nada podia deter essa infecção.

   Mas talvez pudesse ter detido as violações que causaram a infecção. Se ele não tivesse retornado a recuperar a coberta de cartas que seu pai lhe tinha comprado, ela não teria voltado por ele. Não teria sido apanhada na casa. Ela poderia ter escapado.

   —Sei.

     Tucker suspirou.

   —Agora, por que não te acredito?

   Provavelmente porque mentia entre dentes.

   —Não tenho nem idéia.

     Contendo o fôlego, Tucker aplaudiu a mão em seu ombro. Um gesto estranho para Tucker. Não era um homem expressivo.

   —Não posso pensar por ti, Sam, mas posso te dizer isto. Se Sally Mãe fosse Isabella, e eu fosse você, agarraria a ela, a cada pedaço de felicidade que pudesse e ao diabo com as conseqüências. —Sua mão caiu sobre sua coxa.

     Sam jogou uma olhada para cima.

   —O faria?

   —Merda, sim. — Seus dedos se dobraram em um punho — Não conseguimos tantas possibilidades para sermos felizes que acredito que vale a pena arriscar-se. — Seus olhos de prata encontraram os de Sam — Já seja pelo melhor ou pelo pior dos motivos.

     Era malditamente incômodo ter a um homem examinando sua alma, ter a esse homem como seu melhor amigo, sabendo que não só entendia sua dor, mas também a compartilhava, e logo dar-se conta de que enquanto ele sabia que poderia resolver um problema por ti, nunca poderia resolvê-lo para ele. Não só lhe doía como um filho da puta, era humilhante.

   —Tens um verdadeiro dom com as palavras, sabia isso?

     Os lábios de Tucker se moveram nas comissuras nervosamente em uma paródia de sorriso.

   —Reservo-as para ocasiões especiais.

   —O que faz disto uma ocasião especial?

   —Merda. — O arco de sua sobrancelha era eloqüente — Não há uma senhora dentro ou fora do território que não tenha tratado de te pescar. Até chegar a ponto de que as senhoras não se entreguem a um homem durante dias até que saibam que não está disponível.

     —E isso é causa de celebração?

     O sarcástico humor desenhou o sorriso de Tucker com um bordo de tristeza.

   —Seguro que o é. Quando minhas palavras lhe tirarem do caminho, todas essas senhoras de luto necessitarão consolo. E haverá muitos homens preparados para dar-lhes

     Sam riu a pesar dele.

—E planeja ser um deles? —encolheu-se de ombros—. Imagino que trabalharei nisso.

     E os porcos começariam a voar amanhã. Tucker não consolaria a ninguém. Não antes que terminasse com o que quer que fosse que sentia pela viúva Schermerhorn. Tucker não jogaria. Quando voltava de suas excursões solitárias, procurava companhia, mas nunca estava com uma puta ou uma jovem inocente. E nunca foi do tipo de uma mulher diferente em cada povoado. Para ele sempre tinha que ser, ao menos uma ilusão, o ter mais corpos para satisfazer uma necessidade.

   —Sempre poderia raptar a Sally Mãe.

   —O pensamento cruzou por minha mente.

   —Mas?

   —Ela o consideraria um ato de violência e nunca me perdoaria por isso. Sally Mãe é realmente um grande dilema.

   —Merda.

   —Sim.

     Sam se reclinou contra a árvore e olhou o cair da noite como uma cortina de veludo negro. Os grilos renovaram seu coro. As cigarras participaram de uma sinfonia ensurdecedora. Tucker se instalou a seu lado e olhou a lua esforçar-se por aclarar colinas.

   —De verdade irás atrás de Tejala?

   —Matou ao pai da Isabella, afogou-a quase até a morte, a fez fugir de seu lar, pôs um preço a sua cabeça, que demônios acreditas tu?

   —Acredito que isso seria um sim.

   —Assim é como o vi.

   —Quer alguma companhia?

   —Não me importaria.

    —Quando sairás?

   —Amanhã pela tarde deixarei Isabella com sua mãe perto de Montoya. Vislumbro que sairei dali nas primeiras horas da tarde.

   —Terá que voltar sobre seus passos para chegar a fortaleza de Tejala.

   —Ouvi que estava escondido no Catch Canyon.

   —É esse o nome.

   —Tenho um pouco de reservas para me reunir ali, mas… —assinalou ao sudoeste onde Sam podia distinguir o contorno que sobressaía a tênue luz da meia lua—… e se nos encontrássemos na bifurcação do rio na ladeira desse penhasco antes do anoitecer?

   —Funcionará. — Ele deu um golpe para trás ao seu chapéu—. Teve alguma oportunidade de colocar por acaso uma garrafa no celeiro?

   Tucker sempre tinha uma garrafa escondida. Não porque fosse um grande bebedor, mas ao ser parte índio e graças a sua herança, freqüentar bares poderia dar mais problemas do que valia a pena.

   —É claro.

     Sam jogou uma olhada a janela. A luz se tinha ido. Deixou a árvore.

   —Bem nesse caso, que tal se a comprovarmos só para nos assegurar de que não se sente sozinha?

   —Não pode fazer mal.

     Mas provavelmente não ajudaria. Sam suspirou e alcançou o passo de Tucker. Esta ia ser uma noite longa, mas ao menos amanhã ele começaria a pôr as coisas em ordem. E desde ali, teria que estar alerta.

     Isabella tinha estado fora durante seis meses e no alto do topo sobre sua casa podia ver que nada tinha mudado. Deteve Ervilha Doce. O rancho Montoya se estendia através do vale em uma cuidada distribuição com a fortaleza que era a fazenda em meio desta como a jóia da coroa do sonho de seu pai.

      Breeze fez um pouco de escândalo enquanto Sam se detinha ao lado dela.

   —Muito bonito.

   —Meu pai tinha grandes sonhos.

   —Parece que os realizou.

   —Em parte. Infelizmente, nunca teve um filho para que o herdasse.

   —Só teve a ti?

   —Sim.

    —Assim, que sua mãe favoreça a Tejala tem algo mais a ver com desejar estar segura?

      Isabella assentiu. Ela amava sua mãe muitíssimo, mas isso não a fazia cega as suas faltas.

   —Meu pai era o terceiro filho. Veio aqui para construir um futuro.

   —E conseguiu um maldito bom princípio.

    Ali estava essa nota estranha em sua voz. Ela percorreu com o olhar o rancho com orgulho.

   —Sim, o fez. Entretanto, para minha mãe vir aqui significou deixar toda sua posição, toda a sociedade. Foi difícil para ela. Amava as festas e a vida social.

   —É uma vida difícil para uma mulher aqui fora.

   —As coisas estão melhorando. Mais famílias vêm. A comunidade se fortalece.

   —E ao ser a mulher com a propriedade maior, passa a ser a abelha rainha?

Ela assentiu.

   —Isto é muito importante para ela. Não pode voltar para a Espanha exceto para viver como uma viúva solitária da caridade de sua família. Sua vida está aqui agora. O que ela quer, está aqui.

   —Mas ela tem que acreditar que o rancho mantém sua posição.

    —Sim.

   —Ela é uma viúva rica, não deveria ter nenhum problema encontrando um marido.

     Isabella não pôde olhá-lo.

     Breeze mudou sua posição em resposta a tensão que se arrastava pelo corpo de Sam.

   —Bella?

   Não havia esperança. Teria que contar-lhe Era injusto. Ele já tinha tantas marcas contra ela.

   —A fazenda não vai a minha mãe.

     O suspiro de Sam enquanto apertava os joelhos em Breeze para aproximar-se lhe cortou o coração.

    —Me deixe adivinhar, você herda tudo?

     Ela passou o dedo pela costura das luvas de couro que Sally lhe tinha emprestado.

    —Sim.

   —Sempre imaginei que houvesse mais na história de por que Tejala te desejava. —Curvou o dedo sob seu queixo, levantando-o — Assim, por que não se casou contigo quando teve a oportunidade?

   —Casar-se comigo não lhe dá a propriedade.

   —Como funciona?

     Ela tratou de liberar o queixo de um puxão. O movimento foi abortado antes que conseguisse fazê-lo realmente pela sacudida da cabeça de Sam. Foi sua vez de suspirar. Estreitou o olhar e endireitou os ombros.

   —Se te o conto, não terias permitido sustentá-lo como desculpa para declinar minha oferta.

   —Não me digas o que fazer.

   Ela cruzou os braços sobre o peito.

   —Se não estás de acordo, não o direi.

   —Duquesa, os homens fazem a corte e põem os limites.

   Ela lhe apartou a mão do queixo.

   —Ah! Estive te cortejando desde a primeira vez que nos encontramos.

     Esse meio sorriso que ela odiava brincou nos lábios do Sam.

   —É assim como o vês?

   —Sim, e tu não estiveste correndo muito.

   Para sua surpresa ele sorriu.

   —Possivelmente queiras perguntar por que.

   —Faço-o freqüentemente.

   —E?

   —Não tenho uma resposta.

   —Eu sim. Quer ouvi-la?

   A Bella lhe caiu o estômago aos pés. Não se confiava no que lhe diria quando sorria assim.

   —Não.

     Sam arqueou a sobrancelha. Para surpresa de Bella, deixou-o passar.

   —Então melhor responder minha pergunta original.

   Ela copiou o olhar mais altivo de sua mãe.

   —Um homem honrado não recorre a chantagem.

   Ele enganchou a mão detrás de sua cabeça e a beijou com força, os sopros de sua risada golpearam os lábios dela quando se tornou para trás, deixando que ela visse o humor em seus olhos.

   —Nunca disse que era um homem honrado.

     Não, não o tinha feito. Não precisava fazê-lo. Vestia sua honra facilmente, demonstrando-o em tudo o que fazia. E por mais que temesse o que ele responderia ao feito de que ela fosse uma mulher rica, devia-lhe a verdade.

     —A fazenda não se transfere a menos que aprove ao homem com quem me case.

   Ele piscou e retrocedeu lentamente.

     —Filho da puta, seu pai atou de pés e mãos a sua mãe, verdade?

   Ela assentiu.

   —Preocupou-se comigo.

   —Por isso te deu todo o poder que pôde.

   Ela assentiu com as lágrimas ardentes enquanto pensava na maneira que morreu.

   —Não acreditou que se iria do modo em que o fez. Morreu me protegendo.

   —Estou seguro de que não se arrependeu disso. Tejala deve estar cuspindo balas.

   —Ele não é feliz com minha «natureza teimosa».

   —Mas aposto que seu pai está sentado orgulhoso no céu te olhando.

   A referência ao céu a surpreendeu.

   —Por quê?

   Ele lhe tocou a bochecha com as pontas dos dedos em um gesto que recordava a um beijo.

   —Porque és uma mulher maravilhosa.

     Ela franziu a testa.

   —Disse que era jovem.

   Ele sorriu.

   —Jovem e maravilhosa.

   Mais sinais opostos, atraindo-a onde antes a tinha afastado, tomando o controle onde antes o tinha dado a ela. Não gostava.

   —Não te entendo.

   —Averiguar o porquê te dará algo que fazer até que volte.

     Ela lhe agarrou pela mão, apertando com força, procurando em sua expressão a verdade.

   —Vais voltar?

     Desta vez quando a beijou foi com toda a suavidade que ocultava tão profundamente dentro dele.

   —Nunca o duvides.

   —Por quê?

   Ele jogou um olhar a fazenda abaixo.

   —Começo a me perguntar isso.

   Ela lhe cravou as unhas na mão.

   —Me olhe Sam, não ao que possuo. Sou mais que isso.

   Sam franziu as sobrancelhas.

   —Não tem que me dizer isso.

     Mas o fez, porque diferente de outros que possivelmente a desejassem por causa de sua riqueza, era mais provável que Sam não a desejasse por causa dela, a não ser para mantê-la a salvo acomodada nela. Longe do dano que ele pensava que trazia consigo.

   —Nasci assim, mas não a necessito.

   —É muito para abandoná-lo.

   Ela não deveria pressioná-lo agora. Estava equivocado, mas ele estava partindo a uma batalha que lhe preocupava que não pudesse ganhar. Por ela.

   —Me peça o que ambos queremos, Sam.

   Sam apertou a boca desse modo teimoso que tinha.

   —Não. Não vou deixar-te com lamentações se algo sair mal.

   —Então, me deixaria com o vazio do desejo insatisfeito?

     «Sim», pensou Sam, porque os desejos a luz do dia feriam mais que esses concebidos mas não nascidos. Palavras de sua mãe tiradas do passado, ditas através dos lábios gretados pela febre em uma cara machucada e rota, destruindo-o outra vez com arrependimentos. Depois deste tempo.

   «Estará tudo bem, Sam. Estarei melhor dentro em pouco e então voltaremos para este com os irmãos de seu pai. Eles cuidarão de nós. Você jogará com seus primos, terá todos os doces que queira, uma boa educação. Só espere uns poucos dias».

     Exceto ela nunca melhorou. Não tinha havido nenhum doce. Ele e os outros tinham de tudo mas morreram de fome esperando que os irmãos de seu pai viessem. Tinha odiado a sua mãe durante anos por lhe dar esperança. Odiou-se a si mesmo por ser o bastante estúpido para acreditar nisso até o ponto de que quase tinha matado aos outros membros dos Oito do Inferno insistindo em que tudo o que ela havia dito passaria. Que só tinham que esperar.

   Não foi até que foi um homem adulto que averiguou que o telegrama que sua mãe tinha enviado nunca chegou. Mas então já não importava. Tinha aprendido a sobreviver por sua conta, sem desejos. Sem guardar falsas esperanças. E sem repartir falsas esperanças a ninguém mais.

   Acariciou a boca de Bella com o polegar.

   —Sim.

   Ela separou os lábios, envolveu-os ao redor da carne áspera pelo trabalho com uma suave dentada antes de chupar levemente. Seu pênis se endureceu, seu corpo faminto. Seu coração ainda mais faminto.

   Ela era tudo o que jamais tinha desejado. Todo o que não deveria tomar, mas ia fazê-lo. Se voltasse, e se ela ainda lhe desejasse depois de ter tempo para voltar a familiarizar-se com tudo o que estaria abandonando, porque por mais formosa que fosse a fazenda Montoya, ele não iria ficar. Ele era dos Oito do Inferno e sempre o seria. Deslizou o polegar liberando-o.

   —Agarre-se a esse pensamento até que volte.

   —Não sou eu quem deve se agarrar a esse pensamento.

     O sorriso que ela sempre podia conjurar nele se deslizou por seus lábios. Ela nunca se rendia. Isso era seguro.

   —Até a tumba. —Com a pressão dos joelhos ele insistiu a Breeze a partir—. Agora, por que não damos a esses guardas que nos apontam uma interrupção e baixamos para que possas me apresentar a tua mãe?

     A apresentação não foi como se esperava. Sam esperava ira, frieza e possivelmente um pouco de hostilidade por parte da mãe de Bella. Além do mais, ele era texano, sem nenhuma particular conexão familiar e protestante. Sem mencionar que atualmente parecia de tão má reputação como os bandidos que ele caçava. Em vez disso, a senhora Montoya lhe deu uma olhada parando-se detrás de Isabella enquanto abraçava a sua filha e punha-se a chorar. Não do modo violentamente emocional com que tinha visto que Tia e Desi se consentiam alguma vez, mas sim de um modo silencioso que se derramava dela por suas ainda suaves bochechas em uma arrebatadora demonstração de pena que não foi mais longe dele. Ela piscou rapidamente quando Bella tratou de retroceder, abraçando-a outra vez, claramente sem desejar que sua filha visse sua pena. Se ele tivesse tido um lenço, o teria entregue. Não tinha um lenço.

     —Bella, suas maneiras deixam muito que desejar.

Previsivelmente, Bella girou e lhe franziu a testa.

     —Este não é momento para provocar, Sam.

       Agarrou-lhe a mão e a atirou a seu lado, lhe dando a sua mãe um pouco mais de tempo para recompor-se.

     —Quando seria melhor?

     —Quando não for momento para que dês uma boa impressão!

     —Bella! —disse com brutalidade a senhora Montoya—. Esse não é o modo em que uma jovenzinha educada se dirige a um homem.

     Bella se ruborizou e olhou enfurecida a Sam como se a reprimenda fosse por sua culpa.

      —Perdão, mamãe.

     —Não é para mim a quem deveria estar se desculpando.

     Estava muito claro de onde Bella tinha tirado sua tendência a dar ordens.

     —Não são necessárias as desculpas, Senhora Montoya. Bella e eu temos um entendimento. A provoco e ela responde.

     A mulher não pareceu apaziguar-se.

     —Ela está melhor educada.

     —Tomarei nota disso.

     Bella lhe disparou um olhar tão agudo de frustração, que ele teve a impressão de que se sua mãe não tivesse estado ali, lhe teria chutado as espinhas.

     —Sam MacGregor, minha mãe. Bettina Montoya de Agouro.

     Ele assentiu.

     —Um prazer conhecê-la, senhora.

      Ela inclinou a cabeça, serena como se nada tivesse acontecido.

     —É um prazer lhe conhecer também. —moveu-se para Bella—. Especialmente já que me devolveu minha filha a salvo.

     —Isso também foi um prazer.

     Bella se ruborizou de um brilhante vermelho. As sobrancelhas da senhora Montoya se franziram quando Bella ofegou.

     —Sam!

     —Ela tem um grande senso de humor — esclareceu ele, embora um pouco tarde — Pode fazer que um homem ria nos momentos mais escuros.

     O olhar da mulher se agudizou de uma forma que ele havia visto muitas vezes antes. Uma que geralmente o fazia sair correndo.

     —Ela sempre teve esse dom.

     —Ela — disse Bella — está bem aqui.

      A senhora Montoya nunca apartou os olhos de Sam.

     —Bella, por favor vá a cozinha e prepara um café para nosso hóspede.

     Bella vacilou, claramente sem confiar nele a sós com sua mãe. Sem dúvida atemorizada com o que ele iria dizer. Se ela fosse não estaria ali para limitá-lo.

     —Leila não pode manejar isso?

     —Leila já não está conosco.

     —O que aconteceu?

     —A despedi-. — Com um gesto da mão se despediu de Bella—. Agora, por favor, se apresse antes que seu Patrulheiro creia que não sabemos como tratar a um hóspede.

      Não se foi sem lutar.

     —Sam?

     —Sim.

     Ela tocou-lhe o dorso das mãos com os dedos.

     —Recorda, por favor, que é minha mãe.

     —Não cabe dúvida a respeito disso, duquesa. Se parecem muito.

     A mãe de Bella tinha a mesma pele fina, o mesmo grosso cabelo escuro, as mesmas maçãs do rosto aristocráticas, as mesmas maneiras autocráticas, e suspeitava, a mesma vulnerabilidade interior.

     —Sam.

      Ele agarrou sua mão na sua. Era uma infração evidente de etiqueta, mas, o que importavam as regras quando havia esse medo nos olhos de Bella? Esfregando-lhe os finos ossos da mão com o polegar lhe sustentou o olhar e sussurrou:

     —Relaxe, Bella. Sei como me comportar quando a ocasião o requer.

     —Sinto muito. — O lábio inferior se deslizou entre os dentes — É só…

     —Sua mãe — acabou ele por ela.

     —Sim.

     —Vá fazer o café, Bella — ordenou a senhora Montoya.

     O tom da ordem não admitia uma negação. Com um último olhar ansioso, Bella girou e se dirigiu a cúpula, deixando-o só com sua mãe.

     Com outro elegante gesto da mão, a senhora Montoya lhe convidou ao cômodo salão. As cortinas de cor vinho estavam corridas contra o sol do meio-dia. Ele captou o olhar ansioso da mulher para as janelas cobertas. Ou possivelmente, considerou, corridas contra algo mais.

     —Você a consente — disse ela, voltando-se para ele.

     Tomou assento onde ela indicava, na cadeira, em frente do sofá de pele de cavalo.

     —Ela é fácil de consentir.

      A resposta incitou outra testa.

     —É teimosa e sem uma mão firme se meterá em problemas.

     Ele sorriu.

     —Como escapar antes que se casasse com um bast… monstro como Tejala?

     —Você também a defende.

     —Outra vez, ela é fácil de defender.

     —Está você comprometido de maneira imprópria com minha filha, senhor MacGregor?

     —Diria que temos feito tudo bem.

     —Ouvi sobre sua reputação.

     Ele não acreditava que estivesse falando sobre sua reputação com as armas.

     —Dizem que tem muitas mulheres em muitos povoados.

     —Dizem muitas coisas.

     —Isso não é uma resposta.

       Recostou-se. A cadeira era cômoda. Construída para um homem de seu tamanho. Era uma mudança agradável.

     —Provavelmente porque você não me tem feito pergunta alguma.

     Os olhos se estreitaram e logo ela sorriu. Só um pouco, e foi apertada ao redor das comissuras mas era um sorriso.

     —Como meu marido, você é muito direto.

     —Acho que economiza tempo.

     —Também ele.

     Ela jogou um olhar ao redor do quarto, suspirando com a lembrança.

     —Ele amava isto. Amava o que tinha criado.

     —Bella disse que você não estava tão entusiasmada.

     —Não era a melhor mãe então.

     —Há ainda muito futuro diante de você.

     —Por que és tão amável?

     Ele se encolheu de ombros.

     —Bella a ama. Dado que não posso ver Bella feliz sem eu me interpor entre você e ela, estou inclinado a ser generoso.

     —Mas?

     Ele se encontrou com seu olhar diretamente.

     —A entregue a Tejala, e a matarei eu mesmo.

     Ela se recostou, os olhos totalmente abertos.

     —Não tão amável, depois de tudo.

     —Não —esteve de acordo, colocando o chapéu no joelho — Não tão amável.

     —Mas ama a minha filha.

     Era a declaração de um fato.

     —Isso não o discutirei com você.

     —Por que não o sente?

     —Porque Bella merece que o discuta com ela primeiro.

     —Ah. — Ela suavizou uma ruga do sofá, atacando-a outra vez quando voltou a se sobressair — Minha filha está em muitos problemas.

     —Vou arrumar isso.

     —Matando Tejala?

     —Sim.

     Uns passos soaram no mosaico. Bella voltava. A senhora Montoya lançou outro olhar ansioso a porta.

     —O problema não se irá com a morte de Tejala — disse em voz baixa urgente — Haverá outros homens desejando o que ela possui.

     —Sei disso.

     —Necessitará a um homem forte para sustentar esta fazenda para seus filhos, mas ela o faria valer.

      Bella estava quase sobre eles.

     —Está-me oferecendo a Bella em troca de sua segurança?

     —Sim.

     —Filha da puta!

     A senhora Montoya se recostou, empalidecendo.

     Bella entrou no quarto, jogou um olhar a cena e jurou com uma palavra que deve ter retirado dele. As taças para café ressonaram na bandeja.

      Sam se levantou e a tomou antes que ela a deixasse cair. Ela o olhou e logo a sua mãe.

     —Me ofereceste a ele, verdade? Como uma vaca no pasto para ser mal vendida por benefícios.

     —Bella… — advertiu Sam.

     Lhe empurrou passando para frente, avançando para sua mãe que não dizia nenhuma palavra, não ficava de pé.

     —Não. Ela te oferece a fazenda, como se eu não importasse para nada. — Sua voz se elevou com a dor de cada sílaba, imitando a pronúncia mais precisa de sua mãe — Podes ter esta fazenda maravilhosa se quiseres mas tirando a filha sem valor de suas mãos.

     —Bella! —ofegou sua mãe.

     —Chega. — Sam pôs a bandeja sobre a mesa.

     Ela girou, golpeando-se os quadris com as mãos.

     —Não, não é. Primeiro o primo Agüero, logo Tejala, agora você e amanhã possivelmente outra pessoa. — Levantou as mãos — Quando importa o que eu quero?

     Ela significava mais que sua mãe. Sam a agarrou pelo braço e a puxou. Sustentou-lhe o olhar.

     —Disse, suficiente.

     Ela estava furiosa mas, além disso, doída. Ignorando a sua mãe e a todas as regras de conveniência, ele puxou ela contra ele.

     Ela lutou, com um balanço indiferente.

     —Deixe-me ir.

     O golpe aterrissou levemente contra as costelas de Sam. Sustentando-a perto lhe acariciou o cabelo com a mão, sentindo seu tremor, sentindo sua dor, odiando que algo que não fosse um sorriso a tocasse.

     —Chega, Bella.

     Ela fechou as mãos em punhos contra o peito. Golpeou-lhe no ombro, mantendo o rosto na planície de seu esterno.

     —Sou mais que isto, Sam.

     —Sei.

      Ela ondeou a mão indicando o cômodo e todo seu mobiliário elegante sem levantar a cabeça.

     —Queria que me visse como mais que isto.

     —Bella, me apaixonei por você quando pensei que não tinha nem um urinol para fazer xixi.

     Ela ficou imóvel contra ele, ainda sem lhe olhar.

     —Diga-o outra vez. —antes que ele pudesse abrir a boca, ela acrescentou—. Só a primeira parte.

     Ele sorriu. Não tinha sido a declaração mais romântica.

   —Me olhe primeiro.

   —Não.

     —Por que não?

     —Porque se o fizer despertarei e será um sonho, e não o poderia suportar.

     —Seus sonhos são tão pobres que este é o cenário no qual imagina a um homem declarando-se?

     A cabeça se levantou então.

     —Declarar-se? Não ouvi uma declaração.

     —E não vais tê-la tão pouco até que eu volte.

      Ela apoiou o queixo em seu peito, como sempre uma combinação de flerte, humor e essa incrível força feminina.

     —Mas palavras de amor, me dirás essas.

     Não era uma pergunta, o que lhe fez sorrir. Ele traçou o bordo de sua boca com o indicador.

     —Sim. Te direi essas.

     Diante de sua mãe, antes de ir-se e de que possivelmente lhe matassem, lhe daria suas palavras de amor. Lhe daria esperança. Oh, sim, ele era um prêmio.

     Algo de seus pensamentos deve haver se mostrado em sua expressão porque ela franziu a testa.

     —E nenhum arrependimento, Sam. Não as quero com arrependimentos.

     As queria de qualquer maneira que as pudesse conseguir, do mesmo modo em que ele as queria dela. Ele lhe inclinou a cabeça para trás e lhe separou os lábios com o polegar. Sua mãe pigarreou. Sam moderou sua intenção. Colocando a boca contra a dela, deu-lhe um beijo casto cheio de ternura em vez de paixão.

     —Te amo, Bella Montoya.

      As mãos dela se arrastaram até seu pescoço, as unhas cravando-se como pequenas tentações eróticas, sustentando sua boca contra a dela quando deveria haver-se retirado.

     —Isto não é um sonho?

     —Não, duquesa. Sonho algum.

      Relaxando-se contra ele, ficou nas pontas dos pés, encaixando seu corpo mais intimamente contra o dele. Seu «bem» foi suspirado em sua boca.

     Ele esperou. Ela não devolveu o sentimento. Quando os segundos passaram, ele chegou a ser cada vez mais consciente da mãe olhando. Mais e mais consciente de seu silêncio. Se inclinou para trás. Ela lhe sorriu com satisfação. E ainda não dizia nada.

     —Há algo que queiras me dizer?

     —Quando retornar, quando me der o resto do que quero ouvir, então te darei as palavras que quer ouvir.

     —Está-me chantageando, Bella?

     —Sim.

     E o fazia sem um pingo de vergonha, tão pouco.

 

     —Escolheste um homem muito duro.

     Bella apartou o olhar da janela para olhar a sua mãe.

     —Escolhi um bom homem.

     —Ele não permitirá que sempre faças tudo a sua maneira.

     —Sempre me permite fazê-lo a minha maneira.

     —Porque te mima.

      Sim, o fazia, e isso agradava Bella mesmo quando a irritava por uma razão que não compreendia.

     —Se lhe escolher, te controlará— continuou sua mãe.

     Não foi o pensamento ruim que deveria ter sido. Concentrou sua atenção na paisagem além da janela. Especificamente na subida que Sam tinha cavalgado.

     —O tentará.

     —Os homens não gostam das mulheres que se vêem a si mesmas como iguais a eles.

     Em um instante de revelação, Isabella compreendeu o problema no matrimônio de sua mãe. Sua mãe era forte e inteligente, e poderia ser vista como uma ameaça por um homem que já lutava como um terceiro filho.

     —Ele não é Papai.

     Sua mãe suspirou e foi ao seu lado. Eram da mesma altura. Ela nunca se deu conta disso antes.

     —De certa forma todos os homens são iguais. Querem ser os únicos e querem estar no comando.

      Sam queria estar no comando. E era possessivo, mas isso não queria dizer que quisesse que ela fosse menos que si mesma. Ele não tinha crescido no velho continente, não tinha crescido esperando sua obediência como seu dever.

     —Não Sam.

     Afastou o outro painel da cortina e olhou fixamente para fora. O silêncio se estirou incomodamente, até que por último sua mãe falou em um triste cochicho.

     —Não tratava de te vender a ele.

      Bella não pôde olhá-la. Doía muito.

     —Então o que fazias?

     Pelo rabo do olho viu sua mãe umedecer-se os lábios. Um estranho gesto nervoso.

     —Te conseguir o que desejavas.

     Ela nunca tinha pensado vê-lo desse modo.

     —O que?

     —Tu claramente o desejavas. E ele é forte. Isto é uma fazenda grande. Um prêmio. Um homem teria que ser um tonto para não desejá-lo.

     —Ou um dos Oito do Inferno.

     —O que significa isso?

     —Significa que ele é um homem que não pode ser comprado.

     Bettina lançou uma olhada.

     —Se afastará de sua herança?

      —Não a quer.

     —Todos os homens a querem.

      Bella não sabia como explicar a sua mãe a lealdade que ardia tão brilhantemente em Sam. Ele não vinha de uma sociedade onde as crianças eram vendidas em matrimônios como peões pelo poder, onde sempre havia batalhas pela posição e o que acontecia nos bastidores, freqüentemente era mais importante que o que era demonstrado em público.

     —É um homem humilde. —Os dedos apertaram as cortinas. Bella se mordeu o lábio—. Se me escolher, serei uma mulher muito afortunada.

     —Por que não te escolheria? — Sua mãe franziu a testa, apertando os lábios enquanto se erguia— O que há de errado com ele? É jovem, formosa, preparada. — Com um puxão do queixo sua mãe particularizou a última reclamação com a arrogância que portava tão facilmente — Uma Montoya. Ele deveria estar agradecido de que lhe sorrisse.

     Essa era a mãe que recordava.

      —Me assegurarei de dizer-lhe isso. —imaginou o sorriso de Sam se lhe inspirasse com o seu próprio.

     Houve outra longa pausa, e quando sua mãe o rompeu, foi com uma voz tão tensa como sua expressão.

     —Se for com ele, estarás sozinha.

     Não havia se.

     —Quando me for com ele, terei a Sam.

     —E quando se cansar de ti ou se envergonhar porque não és tão branca como as mulheres ao seu redor? O que farás então? Não terá família para te proteger. Ninguém para quem correr.

     Eram verdadeiras preocupações. Não eram as dela.

     —Penso que deveria te advertir, Mamãe. Sam não é nada apropriado.

    As sobrancelhas de sua mãe se franziram outra vez.

      —E isso o que significa?

     —Não tem muito interesse nos ditados da sociedade.

      A expressão nos olhos de sua mãe foi velha.

     —O estará quando vierem as crianças. As palavras ditas contra sua eleição então importarão.

     Sam seria um pai violentamente protetor.

     —Então a sociedade terá que tomar cuidado. Ele não é tolerante com esses que ferem aqueles aos que ama.

      Girando, sua mãe pôs o ombro na janela e estudou a Bella com um olhar calculista nos olhos. Quando ela era mais jovem e tomava decisões insensatas, só o olhar já era suficiente para fazer com que Bella se retorcesse e confessasse.

     —Não há duvida em sua voz e devo me perguntar já que não lhe conhece há muito tempo. Conhece-lhe tão bem ou o amor te cega?

     Nem sequer teve que pensá-lo.

     —Conheço-lhe bem.

      Houve outro longo olhar de sua mãe.

     —É digno de um Montoya?

     Uma pergunta fácil.

      —Sim.

     —E não terá a nenhum outro? Não conheceste ao sobrinho do Xavier Álvarez. Um homem de aspecto agradável só um ano mais velho…

     —Não terei a nenhum outro — disse com brutalidade, só para ver muito tarde o sorriso zombador que suavizava os borde da boca de sua mãe.

     Tinha passado muito tempo desde que se tinha rido com sua mãe. Impulsivamente, inclinou-se e a abraçou.

     —Quero-te, Mamãe.

     Sua mãe ficou congelada por um segundo e então a abraçou a sua vez. Com força e rapidez.

     —Pensava que te tinhas esquecido.

     —Os últimos anos foram tão confusos. Especialmente quando me entregaste a um monstro.

     —Eu não te dei a Tejala. O plano nunca foi te entregar a ele, a não ser só ganhar tempo, mas não o acreditaste, fugiste e tudo foi pior.

     Bella retrocedeu.

      —Papai sabia disso?

     —Ele não o aprovou. — Sua mãe não a soltou, mantendo o contato através das pontas dos dedos em seus braços — Assim por que seu homem não te toma?

     —Acredita que sou muito jovem e que se ceder a seus sentimentos, estará aproveitando-se de mim e me roubando o futuro que devo ter.

     Bettina sacudiu a cabeça e suspirou, soltando as mãos.

     —Isso é o que acontece quando os homens pensam. Tudo vai mal. Você nunca foi jovem.

     Sua mãe a conhecia.

     —Papai possivelmente teria compreendido.

     —Não a tempo. —Um tom nostálgico entrou em sua voz — Seu pai podia ser teimoso.

     —Muito teimoso — Bella estava de acordo, compartilhando as lembranças captadas no sorriso de sua mãe. Os olhos salpicaram com lágrimas enquanto recordava a vez que ele tinha comprado um burro para que empurrasse a roda de água — Recordas quando comprou o Félix?

     —Sim. Félix. Seu pai queria que andasse em círculos.

     —Félix só queria uma linha reta. Assim Papai decidiu treiná-lo.

     —E passou horas andando em círculos ao seu lado só para descobrir que isso era como sempre deveria ser.

     Félix ainda vivia na fazenda mais não tinham roda.

     —Disse-lhe que outro burro possivelmente seria diferente…

     —Mas… —sua mãe riu com ela, enxaguando-se os olhos, — disse que não tinha tempo de treinar a outro.

     As lágrimas nos olhos de sua mãe lhe deram um momento. Nem todas eram pela risada.

     —Estimava-o?

     Bettina pareceu surpreendida pela pergunta.

     —Era um bom homem. Convivemos durante vinte anos. Por que não o faria?

      Isabella se sentia como uma tonta. Verdadeiramente, por que não?

     —Possivelmente Sam tinha razão. —Suspirou. — Possivelmente sou muito jovem.

      Bettina sacudiu a cabeça.

     —Agora não é momento para que duvides de ti mesma.

     —Por quê?

     —Porque teu Sam poderia ir-se de qualquer maneira quando retornar, se se sente culpado.

     —Sente-se muito culpado.

     —Por quê?

     —Implica a sua mãe.

     —Era uma mulher má?

     —Não, amava-a muito mas morreu de um modo que deixou cicatrizes. — Sam não o tinha contado, mas Tucker sim. Algum dia Sam o faria, mas até então, ao menos ela tinha o conhecimento.

      E a vida que ele tinha vivido depois tinha deixado muito mais cicatrizes. Tantas que lhe doía pensar nelas. Tantas que se sentia indigno dela. O qual era a coisa mais ridícula e lhe exasperante.

     Sua mãe voltou a olhar fixamente pela janela. Isabella procurou Sam, embora se tivesse ido umas poucas horas antes. Não sabia o que procurava sua mãe.

     —Se te desejar, irás realmente?

     —Irei tanto se me desejar como se não.

      Isso enviou as sobrancelhas de sua mãe para cima.

      —Não respeitará sua decisão?

      —Se ele decidir que devo viver sem ele, não.

   As comissuras da boca de sua mãe se retorceram.

     —Ele sabe disso?

      Os próprios lábios da Isabella se curvaram com retorcida diversão.

     —Deveria. Não estive exatamente satisfeita de mim mesma este dia.

      —Um homem como esse se aborrecerá.

      —Seu aborrecimento não será tão grande como deveria ser o meu se tirar nosso amor.

      Sua mãe deixou cair a cortina e se girou.

      —Qual é seu plano?

     A inocência se estava tornando mais difícil de fingir.

     —O que te faz pensar que tenho um plano?

     Bettina bufou.

     —Sempre tiveste um plano desde que foste o bastante maior para pensar.

     Sua mãe a conhecia.

     —Se me deixar, lhe seguirei.

     —E depois?

     Ela se ruborizou. Essa parte do plano não acreditava que pudesse compartilhá-la.

Sua mãe não necessitava uma imagem desenhada.

     —Planeja lhe seduzir.

     As palavras eram chocantes vindas da boca de sua mãe. Ainda mais surpreendente foi a falta de rubor enquanto o fazia.

     —Sim.

     Sua mãe levantou as sobrancelhas.

     —Já o tem feito?

     —Sim, mas não concebi.

     —O apanharia com uma criança que não deseja. Por quê?

     —Porque ele o deseja. —Estava segura disso.— Sam cuida de tudo o que encontra. Ele… substitui a família que teme possuir por estranhos.

     Recordou como sua mão lhe havia sustentado a parte baixa do estômago onde seu sêmen se tinha dispersado. A expressão faminta na cara quando a tinha esfregado em sua pele. A intensidade da emoção que se derramava de quando lhe tinha beijado os seios, o estômago, seu montículo.

     —Pode encarar a morte sem temor, mas não pode suportar fazer mal aos que ama.

     —E teme te ferir? Por quê?

     A brutalidade na voz da Bettina lhe fez levantar a cabeça.

     —Não por causa de uma falta nele mesmo. Morreria por mim. É a vida que leva o que ele teme. — Fez a forma de uma bola com as mãos.— Quer me ter em um casulo seguro como uma mariposa.

     —Te tornarias louca vivendo assim.

      Ela sorriu, esfregando-se os braços enquanto uma nuvem cruzava o céu, lançando brevemente uma sombra sobre o quarto.

     —Estou esperando que se dê conta disso.

     —Poderia ser uma longa espera, e você tem pouca paciência.

     —Tenho bastante paciência para isto.

     A pesar de suas palavras ao contrário, ela poderia esperar para sempre por Sam.

     —Lhe queres muito?

      —Ele é o único homem que amarei.

      Sua mãe ironizou.

     —Falas como uma menina.

     Isabella olhou pela janela, ao atalho que Sam tinha tomado quando cavalgou por sua vida, preparado para sacrificar-se para que ela não corresse perigo.

   —Não. Falo como uma mulher que conhece seu coração.

     Franziu a testa quando um cavaleiro apareceu sobre a colina. Primeiro um, logo outro, sem compreender o que via até que três disparos soaram em rápida sucessão. Disparos de advertência.

     Sua mãe a agarrou pelo braço e a arrastou para trás tão rapidamente que tropeçou.

     —Foge da janela.

     Isabella se virou, olhando por cima do ombro. Os cavaleiros se espalharam pela colina em uma nuvem tão escura e ameaçadora como a que acabava de passar. Alguém tocou o sino de diante do principal barracão. Soou forte e urgente. Houve gritos no pátio. As portas se chocaram contra as paredes. Botas se apressaram sobre os alpendres de madeira.

     —O que se passa?

     Sua mãe lhe dirigiu um olhar furioso pela janela enquanto cruzava para o gabinete das armas.

     —Tejala vem por ti.

 

      —Algo está errado.

      A declaração de Tucker somente confirmou a Sam a sensação de mal-estar no intestino que tinha estado sentindo durante os últimos quinze minutos que tinham estado subindo para a fortaleza. Deveria ter havido guardas. Alguém deveria ter desafiado sua aproximação, lhes haver disparado. Não deveria haver esta calma.

      Balançou-se desmontando de Breeze e se agachou sobre os rastros. Afastando o chapéu da cara, jogou uma olhada ao rastro perpendicular que tinham seguido.

     —Todos saem. Ninguém entra.

      —Talvez Tejala tenha se mudado outra vez. Muitas pessoas conheciam este esconderijo para lhe pôr nervoso.

     Uma das razões pelas que Tejala evitava a captura era porque rodava entre esconderijos, sempre os mantendo em segredo, nunca permanecendo o suficiente em um para ser capturado.

     —Talvez. —Tirou um punhado de terra e a derrubou sobre o rastro dos cascos. Mas não acreditava.

     —Crês que vão atrás de Isabella?

     Sam ficou de pé.

     —Não acredito que Tejala abandone a área sem assegurá-la.

     Tucker cuspiu a parte de erva que estava mascando.

     —Parece um risco condenadamente alto para apanhar só a uma mulher.

     —Bella não é só uma mulher.

     —Isso. Esperava que você dissesse isso.

      Sam sacudiu a cabeça.

     —Não estou tão doente de amor.

     —Mas está doente de amor.

     —Não jogue sal na ferida —grunhiu.

     —Então qual é a grande atração de Tejala por Bella?

     —A fazenda Montoya é herdada através de Bella.

     —Bem merda, não é de se estranhar que Tejala a deseje tanto.

     —Tem mais.

     Tucker afastou o chapéu da cara e suspirou.

     —Sempre tem.

     Girou Breeze de volta ao atalho e parou. Havia algo equivocado com os rastros.

     —Junto com sua mãe, Bella tem que aprovar a união, ou a fazenda não se transfere.

     Tucker se aproximou ao seu lado e estudou o chão.

     —Quem demônios pensou isso?

     —Seu pai.

     —Ele não pensava muito, não? Um testamento como esse deixa indefesa a uma mulher frente a cada intrigante que desça da diligência.

     —Sei disso. — Sam gesticulou para o chão.— Isto te diz algo estranho?

     —Sim.

      Desmontando, seguiram um atalho muito limpo até uma queda de pedras. A terra e os escombros salpicavam os lados das maiores e orvalhavam os topos das menores. Os escombros não caíam assim de forma natural, mas caíam assim quando as atiravam em um esforço por cobrir rastros. E a única razão pela que alguém cobriria rastros era que tivessem deixado um pouco de valor para trás.

     —Interessante. —Estudou as pedras. O deslizamento era mais alto que sua cabeça. Retrocedendo, não podia ver nenhuma abertura clara. Tucker andou ao redor do lado esquerdo.— Vê algum sinal de uma cova?

      —Nada que você não notaria.

     Sam deu outro passo atrás, desviando os olhos contra o sol brilhante. A necessidade de chegar a Bella lhe corroia. Ao mesmo tempo, seu intestino lhe dizia que estava passando por cima de algo importante. Tucker se moveu pelo lado direito, quando lhe golpeou. Os escombros estavam dispersos em uma linha reta.

     —Tucker.

     —Sim. —recostou-se contra uma pedra.

     —Estou pensando que precisamos ir para cima.

     —Isso parece. —Tucker tirou sua faca de caça.

     Sam bufou e tirou sua faca de tamanho normal.

     —Por que simplesmente não grita as serpentes que te aterrorizam?

     —Somente porque eu não gosto não querer dizer que esteja aterrorizado. —Tucker jogou ao ar a faca malvada com sua larga lâmina que se curvava em uma ponta mortal.

     —Então o que se supõe que diga uma faca como essa?

     —Sai de meu caminho.

     A pesar da tensão, Sam sorriu e lhe fez gestos para que se adiantasse.

     —Nesse caso, vai primeiro.

     Tucker lhe deu um olhar furioso.

     —Só lembre-se disto quando for hora de acompanhar a uma dama através de um rio.

      Sam fez uma careta. Desi, a mulher do Caine, tinha-lhe tirado o sarro bem dessa vez, enganando-o com uma aparência de suficiência, quase afogando a ambos em sua tentativa de fuga. Tinha sido um maldito passeio frio a casa e ainda teve que ouvir o final que essa coisinha lhe venceu. Ainda não sabia como alguém de aparência delicada podia organizar tantas travessuras.

     —Só suba.

     Tucker sorriu, apertou os dentes sobre a pesada lâmina antes de começar. Sam lhe seguiu, sua própria faca entre os dentes. Não que gostasse das serpentes mais que ao Tucker, mas tinha muito menos razões para lhes temer. Ser atirado em um ninho de serpentes e abandonado para morrer punha uma marca em um homem.

     Tucker alcançou o topo e assobiou.

     —Encontrou algo?

     —Um pequeno e agradável esconderijo.

     Levantou-se sobre a última rocha. Atrás das rochas se abria uma cova. A abertura era aproximadamente de um metro e meio de altura e o bastante larga para que um homem passasse.

     —Pensa que há algo dentro?

     Sam tirou um fósforo de sua bolsa e começou a descer pelo outro lado.

     —Só há uma maneira de averiguá-lo.

     Tucker suspirou.

      —Imaginava-me que foste dizer isso.

     A razão para sua displicência era fácil de imaginar. Havia uma probabilidade mais que alta de que houvesse serpentes na cova. Deu uma olhada. Tucker respirava uniformemente. Muito uniformemente.

      Sam lhe dirigiu um olhar.

     —Entrarei. Mantém um olho aqui fora.

     —Como o inferno.

     —Não é necessário pressionar assim

     —Isso não é o que você diz.

     —Não tem nada que me provar.

     Tucker se moveu para a entrada.

     —Não sabia que o estava tentando.

     —És um teimoso filho de puta, Tucker McCade.

     —Sim — ele zombou. — E você é do tipo serviçal.

     —Doce como um bolo. Pergunte só as damas.

     Tucker se agachou no interior.

     —Acredito que perguntarei a Isabella.

     Sam lhe seguiu.

     —Isso é pouco justo.

     —Engraçado. Acabo de ver que é uma maneira fácil de conseguir uma resposta honesta.

      Sam golpeou um fósforo, movendo-se com Tucker na caverna uns poucos pés de uma vez até que a débil luz iluminou a parede distante.

     —Filho da puta!

     Caixas de dinamite forravam a parede. Uma aberta jazia no chão, onde o feno estava esparso.

     Tucker ondeou a mão e retrocedeu.

     —Apaga o fodido fósforo.

     Sam o sacudiu. Deu um passo para trás ele mesmo. A dinamite podia ser malditamente instável. Quando a cova se afundou na escuridão, um barulho seco e áspero encheu a cova, ressonando pelas paredes, fazendo impossível situar a fonte. Ouviu o fôlego introvertido de Tucker. Golpeou outro fósforo. A serpente importava mais que a dinamite como ameaça iminente. Na oscilante luz, viu Tucker olhar fixamente um lugar diretamente detrás dele. Merda.

     —Não te mova.

     O guizo soou mais forte.

     —Não planejava fazê-lo.

     Sam podia ver o suor na cara de Tucker, sabia que só o som lhe tinha que estar deixando louco, mas quando embainhou a faca de caça e tirou a faca lançadora, as mãos estavam estáveis. Com movimentos lentos e tranqüilos, caminhou a um lado, movendo com cuidado a faca a posição de tiro enquanto o fazia.

      A serpente não estava impressionada. Seu zumbido tomou um ritmo frenético.

     —Sustente a luz acima —ordenou Tucker—. Quando disser, «salta», sai voando a esquerda.

     —Não se preocupe, terei asas nos pés.

     Os olhos de Tucker se estreitaram.

     —Te prepare.

     O fósforo ardeu quase até as pontas dos dedos.

     —Não pode ser o bastante breve para mim.

     —Salta.

     Ele saltou. A faca zumbiu por diante de sua cabeça. A chama evaporou. Houve um rápido golpe sobre o ritmo discordante. Sam rodou para ficar de pé, arrancou um fósforo de seu jogo, e o golpeou. Na oscilante luz viu que a serpente estava morta, seu corpo talhado pela metade. Não era uma surpresa. Tucker nunca falhava.

     Sam recuperou a faca antes que Tucker pudesse forçar-se a si mesmo e o meteu em seu cinturão. Pinçou a serpente morta com o pé.

     —Pelo menos conseguimos o jantar.

     —Apenas.

     A débil luz Sam viu uma tocha sustentada contra a parede. Estalou a vida com o toque da chama. O fedor de querosene seguiu o jorro de luz. Sustentando a tocha acima, Sam contou as caixas de dinamite. Dez no total. O bastante para voar meia montanha. Para causar muitos problemas a um conjunto de soldados. Sorriu. Para causar muitos problemas a Tejala.

      Tocou uma das caixas, sustentando a tocha bem longe, e olhou para Tucker.

     —Está pensando o que eu penso?

     —Provavelmente. —Tucker se aproximou e moveu Sam para trás.—O qual, te dá conta, só nos faz a ambos loucos —grunhiu enquanto levantava a caixa e se dirigia para a entrada.

     —E o que tem de mau nisso?

     —Não temos suficiente tempo para discuti-lo —gritou Tucker.

     Sam permaneceu atrás, sustentando a tocha alta, estudando o esconderijo. Nove caixas poderiam causar muitos danos. Matar a muitos homens. Ferir muitas pessoas inocentes.

     —Tucker?

     —Sim?

     Pelo som, ele tinha passado para cima do deslizamento e descia pelo outro lado. Sam deixou cair a tocha no feno do chão.

     —Corre!

      Cavalgaram de volta a fazenda Montoya em um tempo recorde, a pesar da dinamite atada as costas do cavalo de Sam. Coroando a ascensão, deu-se conta de que não tinha sido o bastante rápido. A ordenada e limpa fazenda era um caos. Peões dando voltas no pátio, selando cavalos, alguns amaldiçoando enquanto outros gritavam ordens. Os vagões estavam derrubados como barreiras provisórias. As cortinas revoavam fora das janelas rotas. A porta principal pendurava de suas dobradiças.

     —Filho da puta —respirou Tucker.

     A sensação de mal-estar no estômago de Sam cresceu.

     —Sim.

    Golpeou Breeze para que galopasse, indiferente ao risco, precisando baixar ali, precisando ver Bella, precisando saber que ela estava bem.

     Um som metálico ressoava em seus ouvidos enquanto Breeze se comia a distância com famintas pernadas largas. Um homem a sua direita gritou e tirou a arma, ficando em seu caminho. Sam tirou seu Colt e disparou. No último segundo o braço foi golpeado para cima e Tucker esteve entre ele e seu objetivo. Ouviu que Tucker gritava algo. Não sabia o que. Só sabia que os homens se fundiam em seu caminho e que não havia nada entre ele e essa sinistra guia da porta principal. Breeze se parou deslizando-se. Sam não. Utilizou o ímpeto para desmontar e propulsar-se para frente ao alpendre, entrou de repente na casa.

     —Bella!

     Ninguém respondeu. Cruzou o salão para olhar dentro. Fragmentos de cristal brilhavam no chão de madeira. A porta de um gabinete de armas meio vazio pendurava aberta. Uma mancha escura danificava a almofada no sofá marrom. A mancha lhe atraiu contra sua vontade. Estirou-se. Tocou-a, confirmando o que já tinha sabido. Sangue. Girou ao redor.

     —Bella!

     Desta vez houve uma resposta. A raspadura de um sapato na madeira. O chiado de uma dobradiça em algum lugar no interior. Tirando seu Colt, correu nessa direção. Rodeando uma esquina quase se chocou com uma baixa mulher gorducha. Ela chiou e ficou atrás contra a ombreira.

     Ele a agarrou pelo braço e disse com brutalidade.

     —Onde está Bella?

     Ela se agarrou ao peito. Abriu a boca. Ele a sacudiu.

     —Onde está Bella?

     —Sam?

     Deixou cair o braço da mulher com repugnância e se empurrou dentro do quarto. Bettina jazia na cama, com uma atadura cheia de sangue envolta ao redor do peito, sua expressão tão descarnada como seu comprido cabelo negro contra os lençóis brancos. Parecia-se tanto com sua Bella que lhe doeu vê-la ali porque ela estava viva e a salvo enquanto Bella… Bella possivelmente estava, cortou o pensamento. Inclinando-se envolveu os dedos no cabelo da Bettina, sustentando seu olhar.

      —Onde está?

     Ela se lambeu os lábios secos, mas não apartou o olhar. Sua voz era rouca.

     —Ele a levou.

     —Quem?

     Já sabia, mas precisava ouvi-lo. Precisava ouvir como tinha falhado a Isabella. Ouvir quão vazias tinham sido suas promessas de mantê-la a salvo.

     —Tejala.

     Só precisava saber outra coisa.

     —Você a traiu?

     —Não.

     Seu olhar não se acovardou. Ele viu dor nela, ira, mas nenhum temor. Endireitou-se e lhe soltou o cabelo.

     —Acredito-lhe.

      Girou sobre os calcanhares. Ela agarrou-lhe pela manga. Sam se virou.

     Ela lutou por apoiar-se nos cotovelos.

     —Vá por ela.

     —Sim.

     —Ele a violará.

     As palavras lhe golpearam como balas.

     —Sei disso.

     —Não o diga até que regresse.

     —Lhe dizer o que?

     —Que já não a tem em conta para ser sua mulher. Isso a aniquilará.

     Não recordava haver se movido, mas teve os ombros de Bettina nas mãos e a levantou da cama, a raiva vertendo-se sobre ele.

     —Contou-lhe essa sujeira? —sacudiu-a. A cabeça dela se balançou daqui para lá.— Você lhe disse que eu não a desejaria se ele a tocasse?

     Uma mulher chiava. Umas botas fizeram um ruído surdo pelo corredor. Umas mãos lhe agarraram dos ombros. Tudo o que podia ver era a cara de Bettina e a verdade. Tudo o que podia ouvir era a certeza de Bella.

     «Não viverei com o toque dele em minha pele».

     —Jesus. Sam. Retrocede.

     Mais mãos lhe agarraram os pulsos, soltando-a de um puxão. Aderiu-se com a esquerda como se mantendo o contato pudesse bloquear a verdade. Quando um terceiro homem se uniu a briga, apartaram-lhe.

     Fechou os olhos. Bella era forte. O bastante forte para matar-se antes de estar desonrada. O bastante forte para derrotar a Tejala da maneira que ela sentia que tinha que fazê-lo. Não lutou contra os homens que lhe arrastavam para trás, sua atenção se focava em seu interior, estirando-se para Bella com uma oração desesperada.

     «Não o faças, duquesa. Não o faças».

     Não houve nenhuma resposta. Só o eco interminável de sua própria súplica.

     Quando abriu os olhos, dois homens da Montoya, de olhos duros, junto com Tucker estavam entre ele e a cama, preparados para saltar se ele se tornasse louco outra vez.

     —A traremos de volta —disse Tucker.

     Sam lançou um olhar de repugnância a mãe de Bella.

     —Quando o fizermos, ela não voltará aqui.

     Morta ou viva, não ia trazê-la aqui.

     —Esta é sua casa —ofegou Bettina, sustentando o ombro.— Seu patrimônio.

     —Sua casa está comigo.

     —Você não compreende...

     A raiva se inchou quase além da capacidade de Sam de contê-la. Cortou-a com um golpe da mão.

     —Não. Você não o faz. Não compreende a ela, e não compreende a mim, mas trate de compreender isto. Não há nada neste mundo que pudesse fazer a Bella algo menos que perfeita para mim, e se algo lhe acontecer a ela porque você a convenceu de outro modo… —Olhou pela janela aos homens que se preparavam para montar e logo aos homens entre ele e Bettina.— Bem, senhora melhor contratar um exército maior porque virei por você.

     Bettina abriu a boca, fechou-a, lutou por recompor-se. Sangue fresco manchou sua bandagem. A mulher pequena veio a seu lado. Fez-lhe gestos para que se afastasse. Sua expressão estava tensa de dor e ira, Bettina se sustentou sobre o cotovelo. Sam não queria ouvir o que ela tinha que dizer. Dirigiu-se a porta. Detrás dele ouviu que Tucker lhe seguia. A ameaça de Bettina lhe deteve quando alcançou a soleira, paralisando-o com uma necessidade de responder.

     —Saiba disto, Patrulheiro. Se não trouxer a minha filha a casa, eu irei por você.

     A palma de Tucker em meio de suas costas lhe empurrou através da porta antes que pudesse liberar a raiva.

     —Senhora feche a boca.

     No exterior, os homens esperavam a meia luz. Estavam armados até os dentes, parados ao lado de montarias novas e lhe estavam olhando atentamente. A dinamite estava a um lado do alpendre. Um dos homens passeava com Breeze sem sela, lhe refrescando gradualmente da dura cavalgada. O cavalo de Tucker estava sendo cuidado da mesma maneira. Seu equipamento tinha sido empacotado em duas montarias novas.

     —O que é isto?

     Um dos homens que lhes seguia lhes rodeou para parar-se diante dele. Havia um rasgão em sua camisa, no ombro. Sangue na manga.

     —Cavalgamos com você.

     —Não. —Não arriscaria a Isabella com homens que não conhecia.

     Os olhos do homem se estreitaram.

     —Ela é nossa patroa. Roubada a pesar de nossa vigilância. É nosso direito devolvê-la a sua casa.

     —Ela não vai retornar aqui. — A mão caiu sobre sua arma—. Agora, sai do meu caminho.

     O homem não se moveu, somente assinalou a um homem de uns quarenta com cinza nas têmporas.

     —Este é Miguel. Esteve com os Montoya durante vinte anos. Ele escolheu o primeiro pônei e a charrete para a Montoya. Ensinou-lhe a conduzir. —Assinalou a um jovem ainda adolescente.— Esse é Guillermo. Ele e a Montoya foram companheiros de brincadeiras, sempre em confusões juntos. Quando Isabella caiu no rio, ele saltou dentro e a tirou. Tinha seis anos naquela época. —Assinalou a três homens de aproximadamente sua idade. Altos, dobrados pela tensão de uma luta. Tinham seus mesmos olhos duros e uma série de armas impressionantes e práticas.— Estes são meus irmãos. Nosso trabalho sempre foi proteger a Isabella.

     —E você é?

     —Zacharias López.

     —Bem, Zacharias, é um trabalho tremendo o que está fazendo.

     —Isso foi injusto, Sam — exclamou Tucker.— Tejala está louco pela varíola. Ninguém poderia esperar isto.

     —Que se foda o justo.— Não lhe importava a justiça. Tejala tinha a Bella. Se preocuparia com o justo quando a tivesse de volta. Sam agarrou a caixa de dinamite e a balançou sobre a cruz do cavalo, mantendo a madeira áspera na manta extra. O castanho bufou e se encabritou ante o peso.

     —Tranqüilo menino.

     Quando se girou, Miguel estava ali com um pedaço de corda. Calmo. Capaz. Determinado. Não a soltou quando Sam a agarrou. A tensão se estirou pela distância, unindo-os. O olhar de Miguel apanhou e sustentou o seu.

     —Homens morreram aqui hoje por proteger a Montoya. Mais morrerá antes que consigamos trazê-la. As mortes não importam. Fazemos alegremente o sacrifício por Isabella. Ela é Montoya. É família. Você não. Tejala não. Nada nos evitará que a tragamos de volta.

     Não houve nenhum tremor de incerteza na voz do homem mais velho. Quis dizer o que havia dito.

     —E quando o fizer? —perguntou Sam.

     —Então a Montoya tomará a decisão de aonde ir.

     Inclusive se ela não quisesse ir com ele. Sam compreendeu isso. Inclusive o respeitou. O pai de Isabella tinha empregado bons homens.

     —Bastante justo.

     Miguel soltou a corda.

     —Bom.

     Uma onda de satisfação atravessou os homens. Tão silenciosamente como se aproximou, Miguel reassumiu seu lugar.

     —Alguém tem alguma idéia de em que direção Tejala a levou? —perguntou Sam, atando os nós.

     Houve um alvoroço detrás da linha de cavalos. Um menino que parecia ter aproximadamente oito anos chutava freneticamente os flancos de um burro com o ventre redondo como um barril. O asno trotava para frente ao mesmo ritmo, suas curtas patas impunham um ritmo que enchia de machucados ao menino com o que ia.

     Logo que o menino viu Zacharias, começou a gritar em um espanhol muito rápido para que Sam traduzisse.

     Jogou uma olhada a Zacharias.

     —Do que está falando?

     Zach se encolheu de ombros.

     —Não tenho a menor idéia.

     O menino seguiu aproximando-se como se os demônios do inferno estivessem em seus calcanhares, sem mostrar nenhuma indicação de frear quando se aproximou dos cavalos.

     Quando esteve mais perto, Sam pôde identificar parte do que estava dizendo.

     —A Montoya! A Montoya! —Também pôde distinguir sangue na camisa do menino. Muito.

     —Lhe dêem espaço.

     Os homens já estavam ali. Os irmãos de López convergiram sobre o menino e o asno, baixando-o antes de tombá-lo no alpendre entre uma fileira de duras maldições.

     —Quem é? —perguntou Sam, enquanto Zach lhe apartava a camisa do peito, revelando o buraco de uma bala no lado esquerdo.

      Zach fez rodar ao menino a um lado, ignorando seus ofegos frenéticos de «me escute». A bala lhe tinha atravessado claramente. Isso ao menos era uma bênção. Disse algo a seu irmão antes de responder a Sam.

     —Meu irmãozinho, Jorge. O insensato.

     —Por que insensato?

     Zach lhe apartou com cuidado o cabelo da frente.

     —Seguiu a Tejala quando se foi.

      —Nesse asno?

     —Sim.

     Sam lhe arqueou a sobrancelha.

     —Não o deteve?

     Os olhos do Zach se estreitaram em seu irmão.

     —Não soubemos.

     —Todos vocês são tão decididos?

      Zach elevou o olhar. Os fogos do inferno não tinham nada que invejar aos fogos que ardiam nos olhos de Zach.

     —Sim. E Tejala pagará por isso, também.

     Ante a menção do nome de Tejala, o menino agarrou o braço de Sam, os pequenos dedos talhados de sangue com as unhas esfarrapadas surpreendentemente fortes. Falou outra vez muito rápido para que Sam compreendesse. Tudo o que conseguiu foi a Montoya. O menino sabia algo a respeito de Bella.

     —O que disse?

     Zach respirou.

     —Disse que você deve se apressar antes que Tejala faça mal a Isabella.

     A sensação de mal-estar no estômago de Sam aumentou.

     —Onde estão?

     —Não longe.

     Isso era pelo menos boas notícias.

     —Onde?

      O menino assinalou ao canhão.

     —Nas covas —disse Zach.— Deve haver-se escondido nelas para passar a noite.

     Fez uma pergunta ao menino.

     —O que há sobre a Montoya?

     Zach escutou e então traduziu.

     —Disse que a Montoya foi desrespeitosa.

     Sam fechou os olhos, sabendo o que vinha. Ah Bella.

     —Tejala a golpeou e então a levou a ela sozinha a uma das covas.

     Houve mais espanhol. Uma vacilação antes que Zach traduzisse. Sam abriu os olhos, esperando.

     —Disse que todos os homens riram quando a Montoya chiou e lutou. Isso a deixou louca. Agarrou uma faca

      O coração de Sam lhe congelou no peito. O menino era muito jovem para saber por que Bella se assustou. Por que agarrou essa faca.

     «Não».

   —Disse que muitos chiados vieram de dentro da cova. Muito ruído.

     Zach deixou cair o olhar.

   —O que?

     Tucker veio a seu lado e lhe pôs a mão no ombro.

     —Deixe-o ir, Sam.

     —O que disse o menino?

     Zach sacudiu a cabeça. Tucker respondeu dessa maneira direta que tinha ao entregar más notícias.

     —Disse que ela gritou seu nome e logo tudo se acalmou.

     —Filho da fodida puta.

       «Querido Deus, não permita que ela morra».

     Os pequenos dedos em seu braço apertaram uma vez. Duas vezes. Olhou para baixo. O menino lhe olhava fixamente com olhos muitos velhos em uma cara muito branca e sussurrou em um inglês quebrado com fôlegos ofegantes:

     —Ela… espera… por você.

      Merda, isso esperava.

 

     As covas eram escuras. Sam se deslizou ao longo da saliência que circundava a abertura, consciente da dinamite escondida em seu cinturão, esperando como o inferno que fosse tão estável como parecia ser, mas sem correr o risco de raspá-la contra a parede. Segundo Jorge, Tejala tinha a Bella na terceira cova da direita. Se Jorge não tivesse sido tão imprudente para arriscar sua vida seguindo ao bando de Tejala, nunca teria sabido que estavam aqui. Não havia fogos ardendo nas entradas. O aroma de fumaça não tingia o ar. Segundo Zacarias, as covas eram profundas no interior da montanha com muitos túneis as conectando entre si, o qual provavelmente significava que tinham condutos de ventilação em outras partes. Ponha um fogo o suficientemente profundo nelas e ninguém saberia.

     Sam olhou o deserto. Estava em dívida com Jorge. Sem sua tenacidade, Sam teria cavalgado passando-as por alto, perdendo um tempo precioso. Talvez lhe custando a vida a Bella. Se alguma vez chegasse o dia em que Jorge reclamasse a dívida, esta seria satisfeita com muito prazer. Por Sam ou qualquer membro dos Oito do Inferno.

     Sam deu uma olhada a saliência detrás dele. Outras sombras seguiam seus rastros, nem a raspadura de uma bota delatava sua presença. O pai de Isabella poderia ter cometido alguns enganos em sua vida, mas os homens que contratou não era um deles. As mãos do Rancho Montoya eram uma força a ter em conta em circunstâncias normais, mas com a vingança em mente, era como se a morte tivesse soprado um vento frio. Levantou a mão para indicar aos homens detrás dele que se detivessem. Ao outro lado do caminho pôde ver o outro grupo dirigido por Tucker, limpando o bordo da saliência e ficando em posição. Os franco-atiradores estavam ali, embora não fossem visíveis. Uma nuvem cruzou através da lua, jogando-os na escuridão.

     Merda. A saliência era muito estreita para atravessá-la sem um pouco de luz. A parte esquerda da saliência era um descida vertical a planície de abaixo. Tinha-lhes levado duas horas subir a ladeira da montanha, mas poderiam provavelmente voltar para a parte inferior em um par de minutos se estivessem dispostos a tentar voar. Sam não se sentia como para voar, mas se sentia como para assassinar. A cada um dos filhos da puta que tinham pego a Bella, mas especialmente a Tejala. Ia ter o grande prazer de matar a esse bastardo. Lentamente.

     «Não te dês por vencida, Bella».

     Negou-se a acreditar que talvez ela já o tivesse feito. Recusando pensar como estaria ferida gravemente se não o tivesse feito. Com cada segundo que passava o qual estava forçado a esperar, a fúria surgia dentro dele e a temeridade crescia, um pensamento se sobrepôs a todos os outros com a urgência. Tinha que chegar a Bella. Ela estava perto. Ela o necessitava. Tinha que chegar a ela.

     Sua respiração se tornou difícil e um frio suor estalou em seu corpo quando o passado se sobrepôs ao presente. Viu sua mãe sujeita pelos soldados. Sentiu a crua queimadura de suas ataduras quando ele lutou, viu o rogo desesperado nos olhos dela. Um rogo que ele quis responder, mas não pôde. Não pôde mover-se, não pôde ajudá-la. Estava a tão somente dez pés, só cinco passos se só pudesse mover-se, mas não pôde. Não pôde mover-se, não pôde ajudá-la, até que ouviu seu último horrível grito como se algo se tivesse quebrado dentro dela sob a tortura deles. Viu seus lábios moverem-se orando pela última vez. Viu a aceitação em seus olhos quando seu Deus e seu filho lhe falharam. Viu sua rendição nesse momento e como ele a chamava, lhe suplicando mentalmente que ficasse, sua cara convertida na de Bella. Seus olhos, os de Bella. Seus rogos, os dela. Suas orações, as de Bella. Fechou os olhos. É claro, Bella estaria rezando.

     Sam lançou uma olhada ao céu, para o Deus no qual Bella acreditava.

   «Não o fodas lhe falhando».

     Uma mão tocou seu ombro, tirando-o bruscamente fora do pesadelo. Em um sussurro tão baixo para que não fosse além de seu ouvido, Zacharias sussurrou:

     —Seja um pouco mais respeitoso. As probabilidades não estão muito a nosso favor.

     Sam piscou. Havia dito o último em voz alta. Merda. Estava perdendo o controle. Assentiu. A luz começou a filtrar-se de novo na paisagem. Fez uma inspiração e logo outra, forçando a Bella a sair de sua mente, reunindo a fria antecipação da batalha como um escudo a seu redor. Bella não o necessitava louco. Necessitava que ele fizesse o que fazia melhor. Tirou a faca de sua bota enquanto assinalava aos outros com um gesto de que ia adiante. Da outra extensão da saliência, Tucker levantou sua mão em reconhecimento.

     Esta era a parte mais perigosa. Sam tinha que passar as duas primeiras covas sem ser detectado. Deslizou-se para frente, prestando atenção aos pontos escuros sobre o terreno que seriam pedregulhos. Não podia permitir-se nenhum ruído. Não agora. Chegou a beira da primeira cova. Nenhum ruído vinha de dentro, nada indicava se alguém estava sentado no outro lado, pronto para disparar. Olhou ao céu só podia esperar uns poucos segundos. Com a lua tampada, ele seria capaz de cruzar adiante sem que ninguém se desse conta. Sabia que Tucker estava fazendo a mesma colocação da outra parte. E detrás dele, uma linha de homens estava disposta a tomar seu lugar. A única que sairia viva dessas covas esta noite seria Bella.

      Memorizando o estreito caminho, Sam esperou que a nuvem fizesse seu impulso. A luz se desvaneceu com um deslizamento de negro sobre cinza. Moveu-se rapidamente, perseguindo-a através da entrada, lançando uma olhada ao interior enquanto o fazia. Dois homens sentados na entrada, sua atenção nas cartas entre eles. Desvaneceu-se entre as sombras do outro lado quando os homens olharam para cima. A nuvem passou. Escolhendo uma greta na parede, voltou a fazer gestos aos outros. Dois homens dentro.

     Teve que esperar mais tempo para salvar a segunda cova. A impaciência arranhava sua pele, quando a espiral de uma nuvem se aproximou da lua. Era duvidoso que até pudesse projetar sombra. Não tinha a noite toda. Cada segundo era valioso. Podia ver a terceira cova justo adiante. Vinte pés. Se corresse diretamente através ele poderia estar ali em menos de um minuto. Morto, mas estaria ali. Sam apertou seu agarre sobre a faca e tomou várias e regulares respirações. Seu cadáver lhe seria inútil a Bella. Ela o necessitava vivo. Ela o necessitava para manter sua promessa.

     A próxima nuvem que se aproximava da lua era insubstancial no melhor caso com nada maior perto dela. Sua vantagem se reduzia rapidamente. Sam precisava tomar uma decisão. Ou esperava o tempo que levasse para que uma nova nuvem fizesse aparição, ou se arrumava com as que tinha. Um homem alto saiu da terceira cova onde Bella estava prisioneira, erguendo as calças e abotoando a braguilha.

     O homem riu e disse algo sobre seu ombro. O mundo se diminuiu enquanto a visão de Sam se deformava até o limite, todos os detalhes apagando-se até uma confusão desnecessária, deixando só o perfil do homem com vividos detalhes, a jugular claramente delineada. A faca de Sam queimava em sua mão. Seus dedos movendo-se, imaginando o bastardo violando Bella. Imaginando o bem que se sentiria ao cravar a lâmina profundamente na garganta do bastardo, vendo-o lutar. O homem girou a cabeça e sorriu sarcasticamente. A contenção de Sam se quebrou e saltou a seus pés, sem que ele abandonasse nunca a seu objetivo.

      Houve um grito detrás dele quando começou a correr. Sam o ignorou, sua atenção centrada na vingança. O homem se virou quando a coberta de nuvens revoou afastando-se, e de repente Sam pôde ver a ligeira queda de sua pálpebra direita, o impacto em sua expressão quando seu oleoso cabelo caiu sobre seu olho enquanto sua mão ia para sua pistola. O coração de Sam retumbou em seus ouvidos, o sangue se precipitou por suas veias. O homem da pistola abriu o coldre. Com uma lentidão irreal, a boca da pistola apontou para cima e para fora. Sam se empurrou a si mesmo com força, sem preocupar-se com a bala no compartimento, vendo somente o sorriso na cara do bastardo, ouvindo somente sua risada. Com um rugido, saltou, agarrando o homem por detrás de seu pescoço, puxando ele para a estocada da faca. A lâmina cortou através dos músculos e a malha como se fosse manteiga.

      Uma explosão sacudiu a ambos. Sam pendurando, tirou a faca antes de conduzi-lo para dentro outra vez com um impulso para cima. O sangue jorrava da boca do foragido, salpicando o rosto de Sam. O homem se encolheu no chão. Sam o deixou cair, respirando com dificuldade, piscando como se o mundo voltasse a centrar-se.

     —Maldito seja, Sam! —Algo lhe golpeou duro no diafragma e o levou para baixo. Balas assobiaram em cima de sua cabeça. Tucker lhe atirou de novo para baixo ao chão quando quis levantar-se—. Este não é o momento de perder sua maldita cabeça.

       Sam cuspiu a sujeira de sua boca.

     —Tire-se de cima, porra.

     —Não até que tenhas claro o que estamos fazendo —grunhiu Tucker enquanto a descarga de disparos do interior da cova amainava.

     Com um golpe para trás de seu cotovelo, Sam atirou Tucker e de um salto ficou de cócoras, agarrando seu Colt do chão onde Tucker o tinha atirado.

     Havia dois homens no interior da entrada da cova agachados detrás das rochas. Sam esperou. Eles fariam algo estúpido. Os homens sempre o faziam quando tinham os números a seu favor para fazê-los confiados e tudo o que eles tinham visto eram dois homens O que eram dois contra vinte?

      Eles não lhe fizeram esperar muito.

     Com um «Agora» saltaram sobre seus pés. Encaixando o percussor, pôs uma bala entre os olhos de cada um. Suas pistolas dispararam com uma chama de som. Seus corpos não tinham golpeado o chão antes que ele se dirigisse para dentro da cova.

     —Maldição! —disse Tucker, alcançando-o. — Está tratando de se matar?

     —Não. —Só queria chegar a Bella.

      Tucker grunhiu, pressionando as costas contra a parede.

      —Bem, tenta não ser imprudente quando tem dinamite se sobressaindo de seu cinturão.

     Tinha esquecido isso. Sam olhou para baixo. Os cartuchos estavam ainda aí. A cova se torcia a direita. O vacilante resplendor das tochas se estendia além da esquina. Mais a frente ele podia escutar o som de alguém respirando com força combinado com os sons de uma luta.

     Ele arremeteu para adiante. Tucker lhe agarrou pelo braço e lhe arrastou de novo.

     —Pensa.

     Sam se inclinou contra a parede de pedra. Merda. Precisava pensar. Se isso era Bella, entrando irracionalmente ali podia fazer que a matassem.

     —Maldita seja, puta, me morda outra vez, e te vou arrebentar esses dentes de sua cabeça. —A voz de um homem.

     —Me toque de novo e te matarei.

      Era Bella, embora as palavras estivessem distorcidas. Sam fechou os olhos com alívio. E ela ainda estava lutando.

     —Grandes palavras para a puta do acampamento.

     —Grandes palavras para o covarde do acampamento.

     Houve o som de um punho golpeando a carne e um pequeno grito.

     —Sua mãe te entregou para mim.

     Sam avançou pouco a pouco ao longo da parede detrás de Tucker.

      A voz de Bella era débil mais cheia de luta.

     —Ela não o fez. Te enganou.

     —Estas cordas dizem outra coisa.

     —Meu Sam te matará.

     Seu Sam ia castrar ao primeiro bastardo.

     —Seu Sam não vai querer meus restos.

     Bella não tinha uma resposta para isso. Sam ajustou seu agarre sobre a pistola. Ela realmente andava procurando essa surra que lhe tinha prometido

      Tucker se agachou com a pistola desencapada e assentiu assinalando que estava preparado. Sam deu uma olhada rapidamente ao redor da esquina. O que viu lhe fez adoecer. Bella estava atada e estendida de braços e pernas no chão. Grosseiras cordas envolviam seus tornozelos e pulsos. Um obeso homem com as calças pendurando de seus quadris sentado escarranchado sobre o peito dela. Em uma mão tinha uma pistola, a outra estava diante de seu corpo fora de sua vista. Não era difícil imaginar que estava fazendo. Não era difícil entender porque a voz de Bella era forçada. O bastardo a estava esmagando sob seu peso.

     Mais além da caverna a batalha era encarniçada. As constantes repercussões dos disparos bem apontados indicavam que os franco-atiradores de Montoya estavam fazendo seu trabalho, mantendo os bandidos imobilizados até o momento em que Bella estivesse livre e o inferno pudesse desatar-se. Deu um passo. A habitação estava inclinada e desfocada. Sam piscou e apoiou as costas de novo contra a parede, pondo a mão a um lado. Estava empapada em sangue.

      Tucker deu uma olhada para cima, viu sua mão e moveu os lábios dizendo:

     —Porra

     Sam sacudiu a cabeça, limpando-a mão nas calças. A ferida não era nada. Ele não permitiria que fosse mais.

     Da outra habitação chegou o click de uma arma sendo martelada. Revolveu-lhe o estômago. Tejala estava forçando o assunto com a ameaça de morte. Morrer não era o que temia Bella.

     —Abre-a amplamente, puta, e veremos como de ridículo encontras meu pênis.

     Tucker levantou a sobrancelha para ele. Sam tomou uma inspiração e a conteve. As paredes ainda se sobressaíam e oscilavam. Não. Ele não tinha advertido a Isabella contra ridicularizar o orgulho e a alegria de um homem. E inclusive se o tivesse feito, não teria suposto uma diferença. A precaução não fazia parte da natureza de Bella. Ela vinha retorcendo-se com qualquer coisa que tinha. Inclusive se causava dano. Maldição, ela devia estar tão ferida… Piscou de novo e tomo uma inspiração.

      A habitação se endireitou. Fazendo uma pausa para estar seguro de que ia permanecer dessa maneira, levantou o polegar a Tucker e lhe rodeou entrando na habitação. A fúria lhe dominou de imediato. Bella estava sacudindo-se sob o corpo do enorme homem, lutando contra as ataduras e os esforços do homem. Tejala caiu para adiante, apoiando seu peso no braço, sua outra mão procurando provas entre eles.

     —Escutas esses disparos? — grunhiu enquanto lutava para obter seu objetivo é seu Sam agonizando enquanto cai em minha armadilha. —Saltou sobre o peito dela. O ar saiu dela com um grito afogado de dor. — É tudo o que há para ti agora. Meu pênis e meu prazer. Chupe-me bem isso e poderia considerar postergar te dar a meus homens.

     Três passos mais. Sam tão somente necessitava três passos para chegar a Tejala. Estava muito duramente concentrado em fazer esses passos sem rugir como um animal, sem disparar sua arma. Uma bala seria muito fácil para o bastardo. Muito rápido. Um passo.

     Bella gritou:

     —Sam!

     Ele pensava que ela lhe tinha visto até que seu grito se rompeu em um tom de perda. E logo terminou por completo quando Tejala expulsou de novo sobre o peito dela, o estômago dele obviamente interferindo em seu objetivo.

     Dois passos.

     —Ele não virá por ti, puta. E inclusive se o fizer, morrerá na armadilha.

     Sam envolveu o antebraço ao redor da garganta do filho de puta.

     —Seu Sam sempre virá por ela —grunhiu na orelha do bandido—. Sempre.

     Os músculos chiaram enquanto arrastava Tejala para trás. O fogo se disparou por sua ferida abdominal. O sangue gotejava por seu quadril. Tejala tropeçou, quase derrubando-os a ambos com seu peso. Enquanto lhe endireitava, Sam teve um primeiro vislumbre de Bella. Tinha pensado que tinha se preparado para o fato de que provavelmente estaria golpeada, mas o sangue endurecido no inchado lábio partido, os formosos olhos machucados e inchados, as marcas de mãos ao redor da garganta… merda, nada poderia tê-lo preparado para esse murro no intestino.

     Apertou mais os braços. Tejala se afogou e caiu.

     Veio um cochicho patético de Bella enquanto se aprumava.

     —Sam?

     Merda, ela não podia ver.

     —Aqui mesmo, duquesa.

     Ela saltou para trás.

   —Oh Deus, não. —Puxou seus braços, retorcendo-os, lutando contra as ataduras—. Por favor, não me olhe.

   —É claro que te olho. — Tejala lhe cravou com o cotovelo. Sam lhe sujeitou abaixo com o antebraço, chutando a perna de Tejala abaixo dele. Os estertores do homem se tornaram engasgos.

     A Sam não lhe importou. A única coisa que lhe importava era Bella.

     —És a coisa mais formosa que jamais tinha visto.

     —Aqui, senhora. —Tucker avançou, se encolhendo de ombros para tirar a camisa e envolvê-la ao redor dela. Bella continuou lutando. O sangue apareceu nos bordos das ataduras. Tucker lhe apertou os ombros contra o chão.

     —Te acalme, pequena.

     Ela corcoveou uma vez, duas vezes e então se estremeceu desabando-se.

     —Tucker?

     —Sim.

     Inclusive de onde estava, Sam pôde ver a devastação na expressão dela.

     —Não deixe que me veja assim.

     Tucker olhou para Sam. Este assentiu. Tucker podia fazer o que fosse para tranqüilizá-la.

     —Ele não pode ver-te agora. —Tucker cortou as ataduras, protestando quando Bella gritou.

     —Mas viu, verdade? —perguntou enquanto se curvava a um lado como uma bola. Ela lhe estava arrancando o coração.— Me viu suja com esse homem…

     Com uma sacudida da cabeça, Tucker a cortou enquanto guiava um braço débil de Bella pela manga.

     —Não se preocupe com Sam — cantarolou com seu modo tranqüilizador enquanto lhe disparava um olhar ao bandido que Sam retinha.— Está muito ocupado matando Tejala para notá-lo.

     Sam piscou. Estava matando Tejala e nem sequer conseguia desfrutá-lo. Afrouxando seu cabo ligeiramente, Sam respirou com fôlegos cruéis e raivosos, a raiva e a dor ameaçavam sua estabilidade. Chegou-lhe enquanto ela respirava profundamente que não queria matar Tejala tanto como precisava sustentar Bella.

   —Tucker! —Sam empurrou Tejala para Tucker que o agarrou facilmente, sua grande faca de caça se apertou contra a garganta do bandido. Tejala ficou muito quieto, o peito subia e baixava, seu pênis hora flácido pendurava por fora de suas calças.

     Tucker sorriu a Tejala com seu tranqüilo sorriso da morte está vindo.

     —Me dê uma razão para te retorcer, bastardo.

     Sam se ajoelhou ao lado de Bella, cambaleando-se ligeiramente quando a agonia se disparou pela ferida de seu abdômen. Estirando-se com cuidado, lhe colocou a mão contra a lateral da cabeça, lhe agarrando o cabelo com o polegar e apartando-o a um lado para poder ver seu perfil.

     —Duquesa?

     —Não me olhe!

     Faria mais que olhá-la. Dobrou-se, quase desmaiando-se de dor, e beijou suavemente o único lugar não machucado de sua mandíbula.

     —Minha Bella, estás pensado que uns poucos machucados lhe poderiam fazer feia para mim?

     O fôlego dela se estremeceu, gaguejou. Pressionou o punho contra a boca, lhe voltou a abrir o corte do lábio.

     —Já não sou tua.

     —Ah, duquesa, sempre será minha.

    —Não como antes. Arrancou minha roupa, rompeu…

     Ele deslizou o braço sob seus ombros, não deixando-a acabar.

     —Como antes.

     —Viste…

     —Vi minha Bella tomando vantagem do bastardo que tratava de rompê-la.

     Ele fez que levantasse o rosto. A luz das tochas lhe iluminou a cara. Sua pobre carinha.

   —Tens que dizer isso.

      Depositando um beijo suave como uma pluma em seu cabelo, Sam olhou Tejala.

    —Não tenho que fazer nada.

     Os sons de luta no exterior se reataram. Os homens de Tejala desesperavam. Provavelmente se estavam ficando sem munição. Os Montoya não tinham um fornecimento ilimitado tão pouco. Não tinham tempo de discutir agora.

     —Pode levantar-se?

     —É claro.

     —É claro, como nossa primeira noite cavalgando juntos, ou é claro, certamente?

     —Não sei. —Metendo os pés abaixo dela, lutou por levantar-se. A camisa de Tucker ondulou ao redor dos joelhos quando se cambaleou. Sam a agarrou pelo braço, sujeitando-a enquanto se equilibrava. Ela tropeçou quando assentou o peso sobre seus tornozelos. Ele não a soltou quando se estabilizou. Ela parecia incrivelmente frágil.— Possivelmente não tão «é claro».

     Ele a sustentou uns poucos pulsados de coração mais antes de perguntar.

    —Está bem, agora?

    —Sim.

      Era uma completa mentira, mas não o disse.

     Através do quarto Tucker jurou.

    —Está sangrando, Sam.

      Bella se agarrou a camisa mais perto e soluçou. Sam seguiu a trajetória do olhar de Tucker. O sangue gotejava em pequenos arroios do interior de seus joelhos a panturrilha.

     Soltou Bella e avançou para Tejala.

      —Rasgou-a?

       Tejala cuspiu.

      —Ela foi uma boa fodedora. Apertada. Chiou quando gozou ao redor de mim.

     —Não o fiz. Ele não…

     —Permanece fora disto, Bella.

     —Diga-me como fazer isto!

     —Logo, ela estará gorda com meu bebê.

     —Mente. —Ela se cambaleou para ele, os olhos alagados em lágrimas. Sam girou, agarrando-a antes que caísse. Ela se agarrou a seu peito.— Ele mente.

     —Sei disso.

     —Diga-lhe como rogou, Isabella. Diga-lhe como…

     Sam gesticulou a Tucker.

     —Dê-lhe algo mais no que pensar.

     Com olhos surpreendentemente frios, Tucker perguntou:

    —O queres para trocá-lo mais tarde?

     —Não.

     A faca Bowie golpeou abaixo. Tejala chiou com um som ímpio e se agarrou suas partes privadas.

     —Sam? —Bella chorou, olhando a direita e a esquerda—. O que aconteceu?

     Tucker empurrou o bandido para frente.

     —Nada inesperado.

     Tejala caiu de joelhos, ainda chiando.

      Olhando o pobre corpo golpeado de Bella, o sangue em suas pernas, Sam desejou ter sido ele o que esgrimisse a faca. Agarrou-a em braços. A dor nas vísceras se estava voltando muito forte para ignorá-la.

     —Vamos a casa, duquesa.

      —Não posso retornar a casa.

     Por causa de como se via agora. Suja. Maldição estava-lhe rompendo com cada palavra. O sangue gotejou em suas botas. Discutir estava fora de questão.

     —Então que tal se só sairmos daqui? Só fora desta escura cova?

     Os braços de Bella foram ao redor de seu pescoço com uma vacilação que lhe fez querer exaltar-se de novo.

     —Sim. Sair deste lugar seria bom.

     —Então isso é o que faremos.

     —O que quer fazer com ele? —perguntou Tucker desde detrás de Tejala.

     «Estripa-o. Corte-lhe as pálpebras para que não possa apartar o olhar. Estaca-o ao sol e deixa que os abutres se dêem um banquete com seus intestinos enquanto ele está olhando»

     —Deixe que se sangre até a morte.

     Tucker grunhiu e embainhou sua faca.

     —É muito suave, maldição.

      —Trabalharei nisso.

     Tucker foi a seu lado.

     —Enquanto trabalha nisso, eu a levarei.

     Bella se revolveu contra ele com o mesmo protesto instintivo que se disparou por ele. Ninguém exceto ele deveria tocá-la agora.

     —Não. —Saiu mais agudo do que pretendia. Forçando a estreiteza da garganta, pigarreou.— Está cômoda.

     Tucker olhou o sangue que lhe empapa a camisa e a perna da calça.

     —Vais fazer?

     Tinha a Bella em seus braços e estava viva. O faria.

     —Sim.

     Não tinha dado a volta a esquina quando houve um tumulto detrás deles. Vozes de homens. Pés correndo. Muitos pés correndo. Tejala chiou:

     —Vêm meus homens, Patrulheiro! Está apanhado! Ouve-me, Patrulheiro? Ela nunca será tua. Enquanto esteja vivo, ela será minha!

      —Tem razão, deve deixar-me e ir.

     —Bella?

     —O que?

     —Isso não vai acontecer.

     —Ele tem que estar louco —suspirou Tucker.

     —Sim. —Mas também tinha razão. Na mente de Bella, ele sempre possuiria uma parte dela.

     Bella se meneou. Ele tropeçou quando lhe golpeou a ferida.

     —Não pode lhe disparar?

     Recostando-se contra a parede, ele tomou três fôlegos tranqüilizadores enquanto as paredes giravam. Podia, mas correria o risco de que toda a cova se derrubasse, levando-se a todos por diante.

     —É bom ver seu lado sanguinário animado.

     —Isso seria um não?

     Ele assentiu, esquecendo.

      —Há muitos para balas, mas estava pensando que a dinamite seria um bom truque.

     —Temos dinamite?

      —Em meu cinturão.

     Ela se estirou entre eles outra vez, tirando um pau com um pequeno chiado.

     —Isto é dinamite!

      —Não é perigosa a menos que esteja acesa. —Normalmente.

      Tucker tomou a dinamite de sua mão antes que ela pudesse atirá-la.

     —Voar o lugar é perigoso.

     —Por isso eu vou fazê-lo.

     —Como o inferno.

     —Alguém tem que tirar Bella.

     Tucker jogou uma olhada a seu lado.

     —Melhor que corra rápido.

     —Ou o que?

     O olhar do Tucker se encontrou com a do Sam.

     —Ou entrarei detrás de ti.

     —Não.

      As unhas de Bella se afundaram em sua nuca.

     —Não quero que faça isto, Sam.

     —Nem sequer sabe o que é isto.

     —Posso dizê-lo pelo tom de Tucker, não é bom.

     —Tucker se preocupa com tudo.

     —Corre muitos riscos.

     —Duquesa?

     —Não me digas que não me preocupe, Sam. Não posso ver bem, mas ouço os problemas em tua voz.

     —Sempre ouves problemas em minha voz.

     —Não como estes.

     Pelo som, os homens estavam quase sobre eles.

     —Me olhe, duquesa.

     Ela inclinou a cara para trás, protestando enquanto franzia a testa. O toque das pontas dos dedos na bochecha barbuda foi um chiado de pena.

     —Está tudo embaçado.

     —Posso trabalhar com isto. —Beijou-a com cuidado infinito, uma carícia nua de lábios.— Te amo, Bella. Nunca se esqueça disso.

     O ofego de Bella lhe sacudiu a culpa.

     —Não me dirás isso deste modo!

     Era o único modo que tinha. Esta seria a última oportunidade que teria. Sam empurrou Bella aos braços de Tucker.

     —Tire a daqui.

      O outro homem tomou, franzindo a testa.

      —Que demônios vais fazer?

     Agarrando a dinamite, Sam sorriu, piscando contra o enjôo.

     —Me desfazer dos animais.

     —Sam!

     Ignorou a chamada de Bella.

     —Não a deixe fazer nada estúpido, Tucker. Agora ou depois.

     —Inferno, isso é seu trabalho.

     Provavelmente não durante muito mais.

     —Conta até vinte. Dê o sinal aos outros quando o fizer.

      Bella golpeou no peito de Tucker, lutando por baixar-se, por chegar até ele.

     —Não quero este sacrifício, Sam!

     Mas ele o queria. Queria que ela vivesse. Queria imaginá-la feliz, envelhecendo com uma família. Por isso os homens tinham que ser detidos e Tejala tinha que morrer.

     Tucker a sujeitou contra o peito flexionando os músculos, sua expressão tão solene como seu olhar.

     —Recorda correr.

     Ele assentiu e tirou um fósforo.

     —Recorda cuidar de Bella.

     Quando Sam voltou a entrar na caverna, Tejala estava se levantando abotoando-as calças com uma calma assustadora, como se suas genitálias não estivessem no chão, como se não tivesse sangue lhe empapando a parte dianteira. Pelo túnel de atrás, os primeiros reforços chegavam. Sam golpeou o fósforo e tocou a mecha.

     —Bem-vindos a festa, meninos.

      Os meninos se detiveram em seco tão bruscamente que os de trás golpearam aos que já estavam na habitação. Sam atirou o primeiro cartucho. Os homens juraram e retrocederam com dificuldade para o túnel. A dinamite rodou pelo chão para trás, fazendo retroceder aos homens com o silvo da morte.

     —O que estão fazendo? —chiou Tejala como se todos não estivessem aproximando-se da grande explosão em uns poucos segundos.— Lhe disparem.

     O filho da puta estava realmente louco. Um par de homens alcançaram suas armas. Sam acendeu o segundo cartucho.

     —Este tem uma mecha curta, pessoal.

Atirou-o, muito enjoado para preocupar-se com a pontaria. Além disso, com a dinamite a pontaria não era indispensável. A mecha balbuciou uma advertência. Tinha deixado um cartucho. Olhou a parte dianteira das calças de Tejala. Esse seria um bom lugar para deixá-la cair.

     «Não desejo este sacrifício, Sam».

     Inferno. Balançou-se. Tão pouco ele, agora que pensava nisso. Encontrou-se com o olhar de Tejala e atirou o cartucho, deixando que o destino decidisse o resultado.

     —Tenho coisas melhores me esperando.

      Girando sobre os calcanhares, correu para o lado longínquo da cova sabendo que não havia esperança, mas tentando de qualquer forma. O ar fresco lhe soprou na cara. Os músculos lhe doeram pelo esforço. A cova estalou. Acelerando, afundou-se na segurança da noite. A onda explosiva lhe golpeou as costas, lhe fazendo voar pelos ares. Golpeou o chão, o impulso o manteve rodando. A saliência se aproximava rapidamente. Afundou as unhas. Rasparam através do chão, partindo-se. No seguinte giro, a mão só encontrou ar.

     Ouviu um chiado. O grito de alguém.

     —Isabella!

     E então umas mãos pequenas e fortes se pegaram a seu braço, lhe dando um puxão para evitar que seguisse rodando, freando-o do inevitável deslizamento para o fundo.

     —Santa Maria, Mãe de Deus…

     —Bella! —Querido Deus, era Bella quem lhe sustentava, a cabeça arqueada para baixo, os músculos do pescoço esticando-se.

     —Solta.

     —Não me interrompas! —Disse com brutalidade com um grunhido rouco, antes de continuar em curtos ofegos—. Roga por… nós… pecadores, agora…

     O peso do Sam a atraiu mais para adiante. O peito de Bella apareceu pelo bordo. Logo seria muito tarde. Meteu a bota em uma greta, liberando um pouco de pressão de seus braços. Onde demônios estava Tucker?

     —Deixe-me ir, Bella.

     —Não! —Ela continuou rezando ainda enquanto os dedos começavam a escorregar.— E na hora… de nossa morte.

     Ele retorceu um braço, rompendo o agarre pela mão direita de Bella. Ela arremeteu e cravou as unhas outra vez. Jesus, um centímetro mais e ela perderia o equilíbrio. Ele suavizou a voz, tentando raciocinar.

     —Não pode me salvar, Bella.

     Ela levantou a cabeça. Os olhos brilhavam detrás das pálpebras inchadas de sua golpeada cara.

     —É minha escolha lutar. —Seu corpo deu um puxão.

     Um braço se estendeu pela frente do dela. Uma mão escura agarrou ao redor do antebraço sob sua mão. Ele reconheceu as cicatrizes dos nódulos.

     —Zacharias, tire-a daqui.

     —Em um minuto.

     —Agora. —Se a saliência se desmoronasse, nada a poderia salvar.

     Bella girou a cabeça e grunhiu ao peão.

     —Se me tocar, te castrarei.

     Zacharias nem piscou.

     —Perdão, patrão. Eu gosto de minhas partes masculinas. Te subiremos. —Ladrou uma ordem aos de cima.— Agora, puxem para cima!

     E de repente houve muito mais mãos puxando e levantando-os. Entre os gritos de determinação, vinham os disparos periódicos dos franco-atiradores, mantendo a área limpa. E então esteve em terra firme, sustentado contra a parede, Bella em seus braços, aderindo-se a ele. A ele não lhe importava. Podia pegar-se tudo o que quisesse. Zacharias se desabou a seu lado. Custou-lhe tudo o que tinha girar a cabeça.

     —Obrigado.

     —Não me agradeça.— Zacharias descansou as costas contra a parede, com um sorriso débil nos lábios.— A Montoya é a única que te queria.

     —E é seu trabalho…

     —Ver que a Montoya consiga o que deseja —terminou Zacharias por ele.

     Sam pôs a mão sobre seu estômago dolorido, pressionando os lábios no cabelo de Bella.

     —Isto vai mudar.

      Bella se animou.

     —Funciona para mim.

     —Como você vê, patrão, a Montoya tem seus desejos.

     O que via era a muitos homens consentindo a impulsividade de Bella.

     —O próximo homem que lhe permita ficar em perigo tratará comigo.

     Zach se encolheu de ombros.

     —Ela é selvagem.

     —Eu sou mais selvagem.

     —Isso tenho ouvi. Um «Gato Selvagem».

     Tucker subiu ao lado deles e se agachou.

     —Estão todos bem?

     —Já estive melhor. —Mas não em mais paz. Maldição queria puxar Bella ao seu corpo e refugiá-la de tudo, absorvê-la até que não houvesse nada entre eles. Desejava-o tanto que suas mãos tremiam.

     —Pensei que te havia dito que evitasse que fizesse algo estúpido.

     —Ela é uma mulher louca. Acreditei que não sairia. Quando me dei conta de que não estava atrás de mim, você estava voando fora e ela voava atrás de ti.

     Tucker desabotoou a camisa de Sam, seus olhares se encontraram enquanto olhava a ferida.

     —Algo que estou pensando talvez não tivesse sido estúpido.

     —Está insinuando que sentiria minha falta se me desviasse para me encontrar com meu criador?

     —Insinuo que possivelmente seja hora de que comeces a trabalhar mais duro para ficar-te. —Assinalou a Bella com um olhar.— As recompensas podem valer a pena.

     —Isso foi mencionado.

     —De verdade?

     —Sim. —Empurrou Bella mais perto e a sustentou apertadamente enquanto os bordos de sua visão se enegreciam. A distância se ouviu dizer, — Bella me diz que sou uma resposta a uma oração.

 

       A súplica a Sam estava dando como resultado um pouco de resposta. Isabella jogou um olhar para onde Sam se sentava, com as costas apoiadas contra o tronco da árvore, mascando uma coxa de frango como se tudo o que quisesse estivesse naquele almoço de piquenique que sua mãe tinha elaborado. Fazia duas semanas desde que a tinha trazido para sua casa. Suas feridas estavam quase curadas, suas contusões apenas se notavam, e ainda não a tinha deixado ver o que queria dela. Parecia satisfeito em abraçá-la a noite quando os pesadelos chegavam, feliz em ajudar por aqui e por ali no rancho, e geralmente mantendo-a em um lugar seguro onde nada, nem sequer ele, a tocasse com emoção. Ele provavelmente pensaria que isto era o que ela necessitava para curar-se. Homem estúpido.

      Ela lhe necessitava, a sua paixão, a seu caráter mandão. Necessitava-o para que a acariciasse como se o que tivesse passado com Tejala não importasse. Necessitava-o para que se tomasse o comando e não lhe deixasse tudo a ela. Necessitava a seu Sam de volta.

     —Sua mãe pode ser um tanto irritável para viver com ela, mas definitivamente pode cozinhar um frango, heim?

     A tinha a sós em um dia formoso perto do rio e queria falar das habilidades culinárias de sua mãe?

      —Ela é uma cozinheira muito boa —aceitou.

      Assim era isto. Outra vez, a resposta curta que não ia a nenhuma parte. Bella trocou de postura na manta. O pau que a cravava no quadril através da manta era só mais um dos fastios em um dia que não se desenvolvia absolutamente como ela tinha planejado. Considerou agarrar outro pedaço de frango só por fazer algo, mas estava tão nervosa que se o comesse vomitaria, e essa era uma humilhação que poderia economizar-se a si mesma.

     —Foi uma surpresa ver o Senhor Álvarez vir de visita hoje.

     —O comentário entre os homens é que ele esteve colado por tua mãe durante anos. —Ele pôs o osso pelado no prato com os outros. Dando-lhe um golpezinho ao monte justo no momento em que este se tinha inclinado a direita.

     —Eu estava acostumada a temê-lo. Mas ele sempre é agradável ao lado de Mamãe.

     Seu olhar fixo se cravou no dela.

     —Era agradável contigo?

     Os dedos largos dele eram escuros contra a porcelana branca, lhe recordando a ela como se viam contra sua pele. Adorava vê-lo quando a tocava, o ter tocando-a. Trocou de postura outra vez. Estúpido pau.

     —Sempre foi agradável. Muitas vezes, pensei que deveria voltar a casar-se. Seria um bom pai.

      Sam ergueu a vista, capturando seu olhar.

—Para alguns homens, há um único tiro feliz e não se conformam com o segundo melhor.

     O que ele estava dizendo? O metro entre eles tomou um significado monumental. Durante uns segundos não pôde respirar e muito menos falar. O rio se frisava sobre as pedras e os pássaros cantavam, mas dentro dela o tempo se deteve. Ao final, conseguiu controlar seu temor. Respirou e se lambeu o lábio inferior.

     —E ele queria a minha mãe.

      Sam elevou o joelho e acomodou seu antebraço contra ela. O tenso algodão de suas calças se cavava em suas partes íntimas com amoroso detalhe. Os músculos de seu braço esticavam as mangas da camisa.

     —Possivelmente.

     O desejo ferveu a fogo lento no estômago dela. Queria aqueles braços ao seu redor. Ele ainda a estava olhando. Seus olhos mediam cada contração de músculo. A pele dela, ruborizada e sensibilizada, experimentou aquele olhar como uma carícia. O fastio do pau se fez insuportável. Ficou de joelhos, pinçou debaixo da manta e atirou ele com força.

      Então se enfrentou a uma decisão. Poderia reassumir sua antiga posição sentada no bordo da manta, ou unir-se a Sam em sua parte salpicada de sombras na manta. Não era uma escolha difícil. O pau saiu voando e a distância entre eles diminuiu de quase um metro a aproximadamente quinze centímetros. A tensão entre ambos se elevou até que crepitou como um relâmpago em uma tormenta do verão. Ela colocou sua mão na manta escocesa azul ao lado da dele. Tão perto que tudo o que ele tinha que fazer era estirar seu dedo mindinho e estariam se tocando. Seus mamilos ficaram de ponta por seu próprio atrevimento. Elevou a vista. Nada na expressão de Sam mudou. Ela trocou seu peso ao braço mais próximo a ele. As pálpebras deste se moveram. Interessado ou ofendido? Era tão difícil saber o que ele queria, se a encontraria aceitável depois de que Tejala a tivesse tocado. Ela lhe tinha explicado que Tejala não a tinha violado, que o sangue tinha sido de seu período e que isto a tinha salvado, mas realmente isto mudava alguma coisa? Um homem com o orgulho de Sam tinha que preocupar-se com o que os outros dissessem sobre sua mulher.

         —Creio que o Senhor Álvarez está mais que colado por minha mãe. Creio que está apaixonado por ela.

     Como ela estava apaixonada por Sam.

     —Então ele deveria fazer algo a respeito.

     Impaciência ante a compostura dele. Deste modo no caso de Sam.

     —Acredito que ele esteja esperando que ela lhe dê um sinal.

     —Dar-lhe uma vantagem a uma mulher como ela esperando ver o que acontece é um desastre.

     —Uma mulher como ela? —Pode ser que ela tivesse brigas com sua mãe, mas isso não queria dizer que qualquer um a insultasse.

     —Duquesa, sua mãe está procurando um homem, não um marionete.

     As idéias se agarraram a seu desejo e puxaram dele tão tensamente como estavam seus mamilos.

     —É uma idéia estranha.

     O mais lânguido dos sorrisos revoou nas linhas despregadas em abano das esquinas dos intensos olhos dele. Limpou-se as mãos e a boca no tecido úmido embrulhado para esse propósito.

     —Não tão estranha. Algumas mulheres desfrutam muitíssimo que um homem tome as eleições por elas na cama.

     Poderia lhe dizer o quanto a afetava esse pensamento? Um corvo grasnou. Uma abelha zumbiu, e ainda assim ela não pôde argumentar.

     —Algumas mulheres, duquesa, não querem tomar decisões quando se trata de suas relações. —Ele pôs o tecido em seu lugar.— Gostam que seus homens se encarreguem, que determinem seus limites, prová-los.

     As imagens de seu pênis provando os limites de seu sexo cintilaram através dela. Seus olhos se fecharam em lembrança da íntima queimação. Semelhante ajuste era sempre apertado. Tragou em seco.

     —Algumas mulheres, até as mulheres perfeitamente capazes, preferem que um homem assuma o comando no dormitório.

      Ainda estavam falando de sua mãe? A carne do dedo mindinho dela ardeu na antecipação.

     «Toque-me. Com tuas mãos assim como com tuas palavras».

     —Algumas mulheres se orgulham de submeter-se ante seu homem.

     Ela tomou fôlego. Já não estavam falando de sua mãe.

     —E os homens? Como lhes faz sentir o que sua mulher se submeta?

     —Justamente como se recebessem uma resposta a uma prece.

     Ela não pôde suportar por mais tempo o desconhecimento. Abriu os olhos. A expressão de Sam ainda permanecia cuidadosamente controlada, mas seus olhos, seus olhos ardiam em chamas nas que ela queria dançar.

     —Você é um desses homens, Sam? Um que necessita que sua mulher se submeta?

     —Sim.

     Respondeu ele como se nada. Sem piscar, sem esconder-se. Ela desejou ter a mesma confiança. Lambeu-se os lábios, e contemplou as mãos de ambos, tão perto e ainda assim apartadas até agora. A indecisão lutou com a esperança. O medo com a excitação.

      —E se eu fosse uma dessas mulheres, e que por causa de tantos temores, como te faria saber que estou apanhada por esses medos? Que necessito ajuda? Mas sem dizê-lo dessa maneira.

     Ele estendeu a mão, muito devagar, como se temesse que ela saísse correndo. Seus dedos se deslizaram ao longo de um lado de sua garganta, curvando-se com bendita familiaridade ao redor de sua nuca. O polegar sob seu queixo a elevou o rosto.

     —Dirias, «te amo, Sam».

     As lágrimas queimaram os olhos dela.

     —Fácil assim?

     —Fácil assim.

     —Ainda quando o mundo acreditasse que ela tinha sido tocada por outro homem, que desempenhou o papel de sua puta?

     —O mundo não importa.

     Uma lágrima caiu.

     —Outros homens ririam dele. Se compadeceriam por sua eleição de mulher. Falariam.

      Ele capturou a lágrima sobre o bordo de seu polegar, a fez desaparecer com um golpezinho.

     —Ninguém dirá nada sobre minha esposa.

     Seu coração se saltou numa batida de coração. Esposa?

     —Ninguém espera que te cases comigo agora.

      Ele inclinou a cabeça, os bordos de seus lábios se ajustaram aos dela.

     —Bella?

      —O que?

     Muito suavemente, muito meigamente, insuflou a ordem dentro de sua boca.

     —Diga as palavras.

     Ela apertou suas mãos em punhos, fechou seus olhos e tomou fôlego.

     —Te amo, Sam. Tanto que não sei o que fazer com isso. Se você…

     Seu beijo, muito suave, muito doce, cortou o resto.

     —Que me ame é suficiente.

     —E se for…

     —É suficiente. —Ele a beijou outra vez, mais intensamente, seus lábios separando os seus com a exigência que ela recordava, ordenando sua resposta, aceitando-a quando ela se a deu, dando-lhe em troca a confiança para que pusesse seus braços em seus ombros e o aproximasse para si. Este era Sam. Isto estava bem. Isto era o que ela necessitava. Quando ficou ofegante e dócil com seus medos sepultados sob uma onda de sensualidade, ele se retirou, pousando um ligeiríssimo beijo em suas pálpebras.

     —Foi tão difícil? —perguntou ele, sua lenta voz profunda era como um casulo quente no que ela queria meter-se se arrastando.

      Ela se conformou acomodando a bochecha contra seu peito.

     —Sim.

     —Por quê?

      Ela soltou seus dedos, deixando-lhes descansar contra o batimento do coração de Sam, e lhe concedeu a verdade sem adornos.

     —Não quero te decepcionar.

     O puxão em seu cabelo foi um pouco esperado. Ela jogou a cabeça para trás, sabendo que não podia evitar isto. O ajuste a sua boca era duro, lhe emprestando mais daquela aura de crueldade ao rosto dele, mas não havia nada cruel a respeito em seus olhos, ou sua voz.

     —Isto funciona em ambas as direções.

     Impossível. Sam não tinha medo de nada.

     —É mais fácil para ti.

     —Como?

     —Você dá as ordens e eu obedeço.

     —Mas se der as ordens incorretas e estas lhe fizerem mal, tenho que viver com isso. E, neném, pensar em ti ferida me mata.

     —Eu tenho escolha.

     Desta vez o suspiro dele pressionou primeiro sua bochecha subindo e logo descendendo em uma lenta expulsão de fôlego.

     —Duquesa, quando te tiver atada e nua em minha cama, não haverá muita escolha.

     O relâmpago de luxúria foi mais forte que o relâmpago de medo, mas não muito.

     —E já está?

      —Sim.

     —E não te importa se isso me excita?

     Sua risada era singela, natural, do modo em que deveria ser entre eles.

     —Agradeço a minhas estrelas da sorte que isso te excite.

     O arrepio surgiu como conseqüência do deslizamento da palma da mão dele descendo por suas costas. Tremeu quando a pôs espalmada sobre seu regaço, deixando-a cair para trás no apoio de seu braço enquanto lhe dava um golpe em suas coxas separando-as com uma pressão de seus dedos magros.

      —Você, Bella, é doce, suave, e tudo que sempre quis.

     Isso era difícil de acreditar. Sam era um homem com muita experiência. O primeiro botão em sua saia cedeu e logo o seguinte. Os dedos dele encontraram os laços de seus calções, e puxaram estes.

     Seus lábios roçavam nos seus enquanto seus dedos se moviam sob o folgado algodão e encontravam seu centro úmido.

      Ela sentiu seu sorriso assim como sua aprovação enquanto ele arrastava a calosa gema de seu indicador até sua abertura, demorando-se quando esta se aproximou de seu ansioso clitóris.

     —Muito agradável.

     A resposta mais eloqüente que ela pôde desenvolver foi um gemido que se mesclou com o fôlego dele.

     —Ponha seus braços em torno de mim, e se agarre forte.

     Ela o fez, lhe fincando as unhas nas costas, abrindo sua boca ante o toque de sua língua, esticando seus quadris para cima, necessitando que ele movesse aquele dedo. Necessitando-lhe a ele. Simplesmente lhe necessitando demais.

     E então ele moveu essa peça crítica de três centímetros.

     Sua cabeça caiu para trás quando cada sentido se concentrou naquele ponto palpitante de conexão.

     —Sim.

     —Amor, abre os olhos.

     Ela não o fez, desejando aferrar-se ao sonho que ele estava tecendo.

     —Bella.

     Era uma advertência. Ela lhe deu um tapa na nuca.

     —Não me distraia.

     O dedo em seus clitóris se formou redemoinhos uma vez, duas vezes. O fogo formou um arco quente e brilhante em seu interior. Não podia respirar, não podia fazer nada, salvo montar a fulgurante onda quando se derramou por ela.

     —Abre os olhos.

     O roçar dos dentes dele sobre o arco de sua garganta imprimiu um toque de perigo à conflagração.

     Ela entreabriu as pálpebras. Sam a olhava de acima, seu olhar penetrante entrecerrado e decidido e sua cara tensa com o desejo que lhe sulcava. Este era mais severo na fissura do olho esquerdo, mas ela o controlava.

     Os dedos dele trocaram de posição. A pressão quente envolveu seu clitóris. Ah adorava quando ele ficava sério.

     —Segue me olhando.

     E mandão. Adorava aquele lado dele, também. Seus dedos passaram a um deslizamento delicado, trocando o agarre, a carícia, alternando a um movimento de ordenha que instigou a uma cacofonia de prazer que se seguiu ao longo de suas terminações nervosas, forjando com cada puxão, inflamando com cada deslizamento, empurrando e empurrando-a para o ponto de não retorno. Ela conteve o fôlego quando a paixão se elevou, fechando seus olhos para concentrar-se nisto, aferrando-o desesperadamente.

     —Olhe para mim.

     A ordem repentina fez que seus olhos se abrissem outra vez. Sua recompensa foi um golpe firme de seu dedo. Ela se arqueou e ofegou. Seus quadris corcovearam o centímetro que seu apertão permitia. Necessitava mais. Muitíssimo mais.

     —Bem. —Era quase um ronrono, ou talvez um grunhido.— Quero que goze, Bella.

Isabella cravou as unhas na nuca do Sam, agarrando-se à sensatez.

     —Não creio que possa evitá-lo.

     Desta vez a sensação que crescia desde seu clitóris era luxuriosa e plena. Lânguida e intensa. Ela se estremeceu enquanto a urgência coroava o ponto mais alto de uma onda, cobrando força, abatendo-se sobre a agonia da antecipação, pronta para precipitar se na descida.

     —És muito linda quando gozas—sussurrou ele em sua boca—. És muito linda por toda parte.

     Seu antebraço se apoiou contra o estômago de Bella enquanto lhe soltava os botões da blusa, deslizando-os livres um a um, beijando cada novo centímetro de pele quando aparecia, formando redemoinhos com sua língua através em uma pausada degustação que ecoou na imaginação dela, transportando-se a seu clitóris. Os botões cederam com uma facilidade assombrosa.

     —É muito bom nisto.

     —Isto não é algo sobre o que queixar-se.

     Sua camisa caiu aberta. A áspera inalação do fôlego dele pressionou seu peito contra o flanco dela. Seu indicador remontou o bordo bordado do espartilho até descansar no vale entre seus peitos, sem mover-se, sem dar indicação alguma de para onde se dirigiria depois. Os mamilos femininos palpitaram.

   —Bem, isto eu gosto.

     Ela levava hoje vestida uma camisa de cor rosa impoluta. Uma que atormentava mais do que ocultava. Em geral, não era prática absolutamente.

     —A escolhi para ti.

     —Por quê?

     Ela se ruborizou e arqueou as costas, lhe apresentando os seus peitos de presente.

     —Porque sabia que você gostaria da maneira como empurra meus peitos para cima, e como pode ver meus mamilos através dela.

     —Então obrigado. —Os laços dianteiros não ofereceram mais resistência que sua camisa. O seio esquerdo caiu contra ele, o direito se agarrou à copa, caindo ao flanco, separando-se de seu companheiro os poucos centímetros…

     —Oh, Deus.

     O sorriso dele alentou seu seguinte ofego quando aquele roçou a copa de seu peito, expondo seu mamilo, primeiro ao deslizamento de sua língua e logo ao raspão de sua barba crescida. A felicidade se encaminhou nela em um grito agudo que ecoou na abóbada de folhas salpicadas pela luz que os protegia do resplendor do sol.

     —Me deixe ouvir isso outra vez, duquesa.

      Ela sacudiu a cabeça, sem estar segura de se poderia sobreviver.

      O «Sim» masculino não tolerava nenhuma resistência. Nem o fazia o roçar de seu queixo, através da ponta dela, nem o calor de sua boca, nem o redemoinho de sua língua, nem o deslizamento de seus dentes subindo pelo tenso alongamento de seu mamilo. Ele conseguiu seu grito e mais quando ela se arqueou em sua carícia, o prazer a atravessou ao estender ele a palma debaixo de suas omoplatas, sustentando-a, suportando cada vez mais de seu peso enquanto sorvia e beliscava seu mamilo. A mão a acariciou entre as pernas e logo se deteve, e como único estímulo em sua carne ultra-sensível, a voz em tom baixo dele:

     —Me olhe.

     Ela o fez, porque ele o ordenou. O fez porque o modo como seu dedo tocou seu clitóris prometia uma recompensa que desejava desesperadamente. O olhar penetrante dele era ardente sobre o seu, muito envolto com seu prazer. Muito envolto com ela.

     —De quem é a boca que está em seus peitos?

     Um beliscão suave, uma espetada delicada e a voz dela, perdeu potência.

     —Tua.

     —De quem é a mão que cava este agradável clitóris? —Um golpe de seu polegar enfatizou a pergunta.

     —Tua.

     Os dedos de pontas rombas formaram uma espiral dentro do manancial de seu sexo, pressionando, mas sem entrar. A gema áspera de seu polegar se abateu sobre seu clitóris, prometendo, mas sem cumprir e seu fôlego soprou pelo ponto doloroso que era seu mamilo, excitando, mas sem aliviar, enquanto os olhos dele ardiam com uma intensidade que abrasava mais profundamente que a luxúria.

     Seu polegar realizou círculos no clitóris, enviando prazer ardente por seu corpo em um estremecedor arco que esticou sua coluna de um puxão. Seu queixo lhe raspou o mamilo, as espetadas de sua barba ricocheteavam a sensação de volta ao seu sexo onde a lenta e contínua intrusão dos dedos separava seus músculos com uma demanda implacável.

     —E quem vai fazer que goze, duquesa?

     —Você. Só você.

     —Então goze para mim, Bella —pediu ele em um tom de voz carregado de ternura.—Só para mim.

     Ela esperou a violência, a força, o fio áspero da paixão de Sam, mas em troca ele deu impulsos fáceis, redemoinhos suaves e delicada sucção. E amor. Tanto amor, o tipo de amor que se entendia e curava. O único tipo que importava.

     —Agora.

      E ela gozou para ele com a mesma ternura devastadora com a qual ele ordenhou a resposta de seu corpo, soluçando seu nome, agarrando-se a ele quando seu corpo perdeu o controle sobre o precipício, confiando que ele a apanhasse, sustentara-a. Porque esse era Sam. O único homem que poderia tocá-la jamais. A única carícia de um homem que conservaria seu coração. O único homem que importava.

     Ainda a estava sustentando no momento em que o último pulso se desvaneceu de sua vagina. Seu toque era calmante em contraste direto com a urgência que ela podia sentir zumbindo sob a pele de Sam. Seus dedos a roçaram um lado de seu pescoço com ternura infinita.

     —Bom isso foi agradável.

     —Sim, foi. —O rio ainda murmurava de fundo. Os pássaros ainda trilavam nas árvores e as nuvens ainda foram à deriva através do céu. Não havia volta atrás. Já não. Ela era a mulher de Sam. Abriu a palma de sua mão ao largo peito dele, aborrecendo o algodão da camisa que a mantinha separada de sua pele. Era uma coisa boa sê-lo, até se isto complicava as coisas.— Podemos ficar aqui para sempre?

     —Se para sempre quer dizer as próximas quatro horas, sim.

      Ela sorriu.

     —Sempre estás de brincadeira.

     A manta se moveu quando ele rodou ficando de lado.

     —E tu sempre te ris, assim penso que o fazemos bem.

     Linhas de tensão se abateram ao redor dos olhos e boca de Sam. Ele ainda não se tinha reposto de sua ferida.

     —Tens estado fazendo muito no rancho.

     —Há muito que fazer em um lugar deste tamanho.

     —Zacharias fala extremamente bem de Tucker e de ti.

     —Seu pai contratou bons homens.

     —Eles não estão contratados como você crê.

     —Sei disso. Zach me explicou que sua família esteve a serviço da tua durante um século.

     —É nossa maneira de ligar nosso futuro.

     —Não digo que esteja mau, só que é diferente.

     Ela se mordeu o lábio.

      —Será duro para eles quando me partir.

     Tinham estado ensaiando sobre este tema durante uma semana, desde que sua mãe deixou claro que ela esperava que Sam se encarregasse de O Montoya.

     —O disse a sua mãe e o disse a Zach, sou dos Oito do Inferno. Minha lealdade está ali.

     —Não poderia ser dos Oito do Inferno aqui?

     —Não é o mesmo, Bella.

     A profundidade de seu testa franzida falou de seu conflito. Sam poderia ser feliz aqui, ela sabia disto, mas em sua mente ele não tinha uma razão para ficar. Faltava algo que fizesse que tudo fosse bem para ele, e assim construir seu próprio lugar longe dos homens com quem sempre tinha cavalgado. Em sua mente o rancho era dela e para ele, ficar como o patrão era assumir um papel que não era o seu.

     —Não entendo por que se o que for teu é meu, o meu não se converte em teu.

     —Porque um homem mantém a sua esposa, não o contrário.

      Ah, o orgulho. Isso o entendia. Ela descendeu uma mão para o quente vulto de seu pênis preso dentro das calças.

     —És suficientemente homem para me manter em qualquer lugar que estejamos e ser ainda dos Oito do Inferno, meu Sam.

     Esfregou os dedos sobre seu eixo em uma breve carícia tentadora que o tornou selvagem, percebia em sua pele a dureza do material em um convite provocador de levá-lo mais longe. Seria tão fácil passar os botões por suas casas, liberar sua carne, talvez lhe fazer tão vulnerável como ela se sentia.

     Os músculos das coxas masculinas se flexionaram, empurrando contra o antebraço dela. Bem, talvez não vulnerável. Vulnerável não era uma palavra que fosse com Sam, mas talvez simplesmente um pouco menos sozinho. Ela desenhou um oito em sua carne, sorriu quando seu poderoso corpo se sacudiu e suas fossas nasais se agitaram. A mão dele agarrou a sua e ele se ajoelhou a seu lado pondo suas mãos nas lapelas para abrir-lhe a blusa.

     —Podemos discutir isto mais tarde.

     —Podemos simplesmente não estar de acordo em que agora és de O Montoya?

     O sorriso dele fez que cada terminação nervosa saltasse à vida com a promessa que isto conteria.

     —Não, não podemos. Sente-se direita.

     Ela se arrumou ficando de joelhos enquanto ele lhe deslizava a camisa por seus braços. As mangas apanharam suas pulsos, deixando-lhe travados os braços às suas costas. Ele não as desprendeu imediatamente, seu olhar penetrante se centrou em sua condição de atada e o impulso de seus peitos.

     —Vá, isto é uma bonita visão.

     O alarme e a paixão flamejaram com igual força. A vergonha ficou obrigada a tomar o terceiro lugar.

     A mão de Sam sob seu cotovelo a estabilizou ao lhe ordenar:

     —Levanta-te.

     Ela o fez, ruborizando-se mais quando o calor do sol golpeou seus peitos sendo muito consciente de como o espartilho os empurrava para cima.

     —Qualquer um pode nos ver.

     —Tudo no que tens que te concentrar é no que eu quero ver.

     Era extraordinariamente fácil fazer isso.

     Ele a atraiu dois passos para frente até que ela esteve totalmente ao sol, suportando seu peso quando esta tropeçou e deixando-lhe ir quando recuperou o equilíbrio. A mão deixou seu braço e dois segundos mais tarde lhe baixava as saias pelos quadris. A frieza que percorreu sua pele não tinha nada que ver com a temperatura e tudo que ver com as conflitantes emoções que bramavam em seu interior. Medo, vergonha, antecipação, desejo. A última vez que tinha estado nua ante um homem tinha sido Tejala.

      Apoiou-se contra ele enquanto a tirava o sapato direito.

     —O que faz?

   —Te despir.

     Ela pôs os olhos em branco.

      —Se me desatasses as mãos poderia ajudar.

     —Tenho tudo sobre controle.

      E assim foi. O sapato esquerdo caiu. Três puxões e duas «alçadas» e tudo o que ela vestia era o ar quente e a luz do sol.

     Sam se recostou sobre seus calcanhares, seus olhos abrasavam com mais calor que uma carícia ao vagar primeiro para cima e logo para baixo, e outra vez de volta antes de deter-se em seu centro.

     Ele se passou a língua sobre os lábios. A implicação era tão boa como um toque. Os quadris dela se sacudiram quando seus clitóris palpitou e seu útero se apertou. A risada baixa de Sam serpenteou através do momento, acrescentando-se à ilusão da carícia. Ele estendeu a mão. Pareceu que seu dedo demorou uma eternidade em alcançá-la, e quando isto aconteceu o toque foi muito ligeiro. Um mero indício provocador em seus lábios vaginais.

     Sua sobrancelha se arqueou inquisitivamente.

     —Faminta duquesa?

     Ela tragou saliva e assentiu com a cabeça.

     —E você quer me satisfazer?

      A pressão com o dorso de seus dedos fez que ela separasse as coxas. Ela assentiu de novo. A brisa sussurrou sobre sua carne. Tremeu. O olhar dele se tornou mais penetrante. Seus olhos se entreabriram. O dedo descendeu mais abaixo.

     —Eu gosto desta maneira, atada e serena, pronta para qualquer coisa que eu decida.

     Seu dedo escorregou entre os lábios menores do sexo, empurrando para dentro e para cima, dando voltas no poço que era a vagina, e a pesar disso era muito leve. A pesar disso era muito conhecedor.

     Ela se tragou um gemido e enquadrou os ombros. Podia suportá-lo.

     —Oh sim, tira fora esses preciosos peitos.

     Seu dedo entrou, enganchando seu osso do púbis, apertando contra um ponto que se abrasou com a sensação. Desta vez ela não pôde evitar seu grito.

     —Vem aqui. —Ela foi, três passos suspensos na eternidade enquanto o movimento fazia que seu dedo se esfregasse contra aquele molho de nervos e a lançava para outro clímax. Quando ela se colocou montada sobre seus joelhos, seu sexo ficou ao mesmo nível que a boca masculina, Sam deslizou fora os dedos. Seu sexo se contraiu ante a devastadora perda. A nata se derramou de seu corpo enquanto os joelhos cediam. Ele agarrou seus quadris com suas mãos grandes, mantendo-a no lugar.

     —Ainda não.

     —Sim.

     Seu agarre no traseiro dela se apertou. O «Não» dele soprou através de seus clitóris e isto a fez ver que esta posição também tinha possibilidades. Manteve-se quieta, sem atrever-se nem a respirar quando ele se inclinou para ela, o vermelho de sua língua foi um breve vislumbre antes que ele se colocasse muito perto para ver algo. Mas podia sentir. O calor de sua boca, a umidade de seu fôlego. O roçar, ligeiramente áspero e sutil como uma pluma, de sua língua sobre seus clitóris.

     —Erga-te direito.

     A princípio não processou a ordem. Tão pouco o fez a brusca ardência em seu cu, mas então o calor do açoite queimando através do seu atordoamento obteve sua atenção. A ardência seguinte enviou ímpeto diretamente a seus joelhos.

     —Aproxima-te.

      Ela olhou para baixo. Quanto mais poderia aproximar-se? Ela se arrastou para frente uns quantos centímetros. Sam se inclinou e ela descobriu comodamente que sua língua encaixava na dobra em seu montículo. A superfície ligeiramente áspera fluiu sobre a ponta lustrosa de seus clitóris em um prelúdio angustiante antes de retroceder. O roçar dos lábios dele em seus lábios menores era delicioso. O beijo que ele depositou ali, tenro.

     —Sinto-me preguiçoso, duquesa. Assim simplesmente vou sentar-me aqui e desfrutar de seus suspiros e gosto enquanto encontra seu prazer.

     —Sam, não posso me conter.

     Ele riu provocadoramente.

     —Não te estou pedindo que te contenhas, quero que grites, mas também quero que sejas tu quem faça o trabalho.

     —Não compreendo.

     A ponta de sua língua lhe deu um golpezinho.

     —Mova-se você mesma sobre minha língua, neném, até que goze. E não te contenhas. Deixe-me ouvir cada gemido. —Ele lhe deu de novo outro golpezinho com um agudo açoite de sensações.— Cada suspiro. Cada ofego. São meus e os quero.

     Desta vez quando sua língua saiu, ficou, firme e suave contra seu clitóris. Ela não teve que mover-se muito para encontrar o prazer. Só uma cadência de seus quadris, uma flexão de seus joelhos enquanto montava seu caminho à felicidade. Mais. Necessitava mais de alguma coisa. Atirou dele com mais força contra ela enquanto a agonia a instigava para uma demanda implacável. De mover-se. De gritar. De lhe dar o que ele queria.

     Os dedos do Sam se cravaram em suas nádegas, atraindo-a ainda mais contra ele quando a capacidade de manter-se erguida se derrubou sob a necessidade. E ainda assim ela não podia gozar, não podia escalar sobre o bordo até o lugar que ele queria. Ela necessitava e necessitava, mas não lograva consegui-lo. Puxou-lhe o cabelo.

     —Sam. Por favor. Por favor.

     A princípio, não pensou que ele fosse responder a sua súplica, mas então a sujeitou com força e atirou dela para frente. Acariciou com seu nariz a face interna de suas pernas e capturou seu clitóris entre os dentes enquanto chupava e açoitava, lhe proporcionando o bordo que ela necessitava para aferrar-se, lhe entregando uma onda a que montar até que ela já não ascendesse mais, salvo para precipitar-se dentro do sol, abrasando-a por dentro e por fora enquanto ela resistia e lutava, incapaz de escapar, forçada a tomar seu prazer tal e como ele queria. E ele queria dela tanto. Muito para que uma mulher resistisse. Explorou com um grito, caindo dentro do abraço de Sam, lhe dando a responsabilidade de ancorá-la quando seu clímax se rasgou afastando a realidade.

     Maldição, ela tinha algo, pensou Sam, lambendo seus clitóris suavemente enquanto sua vagina tinha espasmos, prolongando o momento para ela tanto como pudesse. Quando o último estremecimento ondeou por suas dobras úmidas, ele se levantou com o gosto dela em sua língua, com seu aroma em suas fossas nasais e com seu pênis pulsando ao ritmo da rápida respiração de Bella.

     Ela se desabou contra seu peito, murmurando um protesto quando ele a levantou, girando-a em seus braços enquanto o vento soprava sobre sua carne inflamada. Ele a levou em braços a grande rocha iluminada pelo sol, despojou-a do resto da roupa enquanto ela tremia depois de seu prazer. Um simples empurrão de sua mão e a teve de barriga para baixo sobre a rocha com suas mãos ainda atadas às costas. Apartou-lhe o cabelo da bochecha. O rosto dela estava ruborizado, seus olhos sonolentos, suas pernas separadas e frouxas, um lascivo convite para o desejo dele.

     Ele cobriu seu corpo com o seu, descendendo seu peito sobre suas esbeltas costas.

     —Duquesa?

     —O que?

     A ligeira pergunta logo que foi audível.

     —Vou fazer-te minha agora.

     —Sempre fui tua.

     Sim, ela o era.

     —Mas uma vez que parece ser que o tenha esquecido, digamos que isto é só um lembrete.

     Levou seu pênis alinhando-o com o calor suave e úmido de seu sexo, deixando-o cair dentro do poço. A carne inflamada e vermelha lhe deu a bem-vinda à sua com impaciência, amoldando-se à larga cabeça de sua pênis com o esmero de um amante, envolvendo-o ao redor e aferrando-o enquanto ele se instalava dentro do pouco profundo poço. Seu pênis parecia enorme contra sua carne delicada, aparecendo quase brutalmente grande contra as dobras exuberantes. Ela gemeu. Seu sexo se contraiu. A tensão se registrou em seus músculos. Ele a acariciou com as gemas de seus dedos ao longo da espinha dorsal.

     —Confia em mim, duquesa.

     Ela respirou estremecidamente. E logo relaxou os músculos um a um. Ele pressionou. Bella lhe tomou como sempre fazia, com um consentimento feminino que foi mais profundo que o físico. Mais profundo do que ela queria admitir, mas o tomou. Ele continuou, sem sair-se, enchendo-a com uma pressão constante.

     —Isso, Bella. Só relaxa-te e me deixe entrar.

     —És tão... —Conteve a respiração...—tão grande.

     —E você gosta assim.

      Ela deslizou seus lábios entre seus dentes. O rubor em sua bochecha se fez mais profundo quando o músculo cedeu e ela tomou outro par de centímetros. Seu «sim» saiu em um gemido.

     —Quase me tens todo.

      As mãos se apertaram em punhos.

     —Quase?

     Ele não podia culpá-la por dizê-lo com voz aguda. Estava claro que ele se sentia maior para ela desta maneira.

     —Só um pouco mais.

     Ele pôs mais de seu peso no lento impulso, inexoravelmente enchendo-a passando o ponto de rechaço para qualquer um deles. A nádega direita de Bella brilhava, um cremoso marrom escuro exposto ao sol resplandecente. Sua sombra cobria a esquerda. Ele pôs a mão sobre a direita, apertando com os dedos, marcando sua carne enquanto marcava seu sexo. Quando retirou a mão, a impressão demorou um momento em desaparecer e logo se desvaneceu justo quando sua virilha pressionou dentro de seu maleável sexo. Ela gemeu e se estremeceu.

     Seu fôlego chegou a curtos ofegos enquanto se aferrava a ele, seus músculos internos se contraíram e expandiram em pequenos estremecimentos que deixaram as pelotas deste levantadas e tensas.

     —Está bem?

     As vezes ela estava tão apertada que ele se perguntava como é que podia tomá-lo inteiramente.

     —Oh, sim!

     —Bem. —Ele liberou seu pênis, gemendo. A fricção ardeu com erótica perfeição. Ninguém jamais lhe tinha feito sentir-se como Bella, com ninguém jamais encaixou como com ela. Na cama e fora. Inclinou-se, esfregando seu peito ao longo de suas costas, deleitando-se com a sensação das vértebras dela contra seu abdômen e peito, colocando-se de maneira que a cordilheira da espinha dorsal se aninhava no profundo sulco da musculatura de seu torso, unindo-os do torso ao umbigo, e absorveu o estremecimento de quando lhe sussurrou ao ouvido. — Agora vou te fazer amor, Bella. Do modo em que quis fazê-lo desde o dia em que te conheci.

     Uma longa pausa, outro estremecimento e logo uma tensão sutil percorreu a espinha dorsal dela enquanto abria suas mãos e logo seus dedos se crisparam como se sujeitassem a algo. Seus pés trocaram de posição no chão. As pontas destes se afiançaram. Ele lhe beijou a nuca em benefício do momento de ansiedade. Ela ainda tinha muito que aprender sobre ele.

     Ele se relaxou para trás, devagar, lentamente, sem fazer caso do impulso interior que lhe dizia que a montasse duramente. Sua Bella conhecia muito de seu lado rude e não o suficiente sobre a parte dele que encontrava tudo nela maravilhoso, algo para ser valorizado, respeitado, amado. O eco de seu gemido encheu o silêncio quando ele a encheu. Beijou aquela esquina de sua boca exuberante.

     —Vou amar-te desta maneira, Bella. Lenta e docemente, tão docemente que quando gozar, vais perder-te, e quando encontrares teu caminho de volta, vou sujeitar-te ali, mantendo-te segura, do modo em que se supõe que deve ser.

     Uma lágrima reluziu no olho dela. Ele passou seus lábios sobre a esquina do mesmo.

     —Nada de lágrimas, nada de tristeza. Só você e eu, neném.

     Deslizou sua mão pela bochecha que amortecia sua cara contra a dura pedra. O calor da rocha se filtrou na mão dele, o calor da pele feminina esquentou sua palma.

     —Fique nas pontas dos pés.

     Como sempre obedeceu à sua ordem, a confiança que lhe dava era um presente apreciado por ele. Apoiando o peso em seu cotovelo, ele deslizou sua outra mão sob o ventre de Bella.

     —Coloca-te para baixo agora.

      Ela o fez, com deliciosa lentidão e um pequeno ofego que exaltou sobre os dedos de Sam quando os calos em suas palmas rasparam seu inchado clitóris.

     —Segue.

     Ela vacilou.

     —Estou sensível.

     —Hummm. —Ele beijou a curva de sua orelha enquanto acariciava com delicadeza a protuberância inflamada com seu indicador. Ela se estremeceu. Muito sensível.

     —Posso arrumar isso.

     —O que vais fazer?

     —Já lhe disse. Amar-te. Agora. —Se abrigou contra ela.— Apóia-te em minha mão e me deixe colocar-me.

      O suspiro estremecido de seu nome acompanhou a descida dos quadris dela. Sam aceitou seu peso do mesmo modo que aceitou sua confiança. Completamente.

     —Essa é minha garota.

      O eco de suas próprias palavras ressoaram em sua cabeça quando ele bombeou lentamente dentro e fora dos limites apertados de seu sexo, orgulhando-se de sua resposta. Ela era dele. Sempre tinha sido dele e a pesar de que possivelmente tivesse sido o bastante tonto para pensar durante uma temporada que poderia deixá-la ir, nunca a deixaria ir de novo. Uma mulher como Bella era especial, merecia um homem o bastante forte para cuidar dela. Por Bella, ele ia ser aquele homem.

     Dentro e fora, dentro e fora, devagar, lhes acoplando juntos. Uma e outra vez, ele inclinava seus quadris no ângulo que tinha seu pênis golpeando esse ponto à metade do caminho de seu canal, de tal modo que os gemidos dela marcavam o ritmo que ele fixava, acrescentando um ritmo próprio para ambos. Ela alternava entre esfregar seu montículo sobre as mãos masculinas e empurrar seus quadris para trás em busca da descida dele, cada músculo no corpo de Bella tentava precipitar-se sobre ele, mas este não queria apressar-se. Ele queria ficar dentro dela para sempre.

     Sua boca se girou na palma da mão dele, seus dentes morderam a almofadinha de seus dedos quando ele acariciou com preguiça o clitóris com um toque muito ligeiro para lhe dar o que necessitava para gozar, mas sim tudo o que ele necessitava para sentir. Seu desejo. O desejo dela aflorando além de seu controle, além da segurança.

     —Isso, Bella. Vá por isso.

     Ela moveu a cabeça. Ele aproximou os lábios da sua orelha, acariciando-a com o nariz através de seu cabelo, criando um provocador refúgio onde só ele e ela existiam.

     —Sim. Goze para mim, amor. Deixe-me sentir como esse doce sexo aferra meu pênis, me deixe sentir seu orgasmo, me ordenhe para chegar ao meu. —Aumentou a velocidade e a pressão do toque em seu clitóris, fixando a rocha quando ela se sacudiu, mantendo-a quieta enquanto ele se esfregava mais rápido, com mais dureza, bombeando mais profundamente, mais prolongadamente.— Vamos, duquesa. Dê-me o que necessito e te darei meu sêmen. Todo.

     —Sam! —Os músculos dela se esticaram instantaneamente. Seus dentes morderam a mão, e logo sua pequena duquesa grunhiu, um feroz som necessitado que disparou diretamente à sua virilha.

     —Goze para mim, neném.

      E ela o fez, com força e violência, gritando seu nome, apertando fortemente com seus dentes, e seus músculos internos.

     E quando voltou a si, ele se assegurou de estar ali, sustentando-a, beijando-a, enxugando as lágrimas com seus lábios. E quando abriu os olhos, e o olhou, ele gozou para ela, lhe dando tudo o que tinha, cada gota de seu sêmen, cada gota de emoção, querendo enchê-la tanto como pudesse, tão cheia que o vazio que tinha existido em seus olhos depois de Tejala não retornasse jamais.

     Enquanto o último pulsado se desvanecia, um pássaro cantou na árvore em cima deles. O sol esquentou as costas de Sam. Soltou-lhe a camisa de seus braços e a cobriu com seu corpo, protegendo-a da brisa e de qualquer insegurança que pudesse aparecer.

     Embaixo dele, Bella suspirou e envolveu seu braço ao redor dele.

     —Te amo, meu Sam.

     Agarrou-lhe o lóbulo da orelha entre seus dentes, e torceu seu pênis dentro dela, desfrutando do beijo íntimo de seus músculos apertando-se para trás.

     —Eu também te amo.

     —O suficiente para ficar aqui comigo e formar um lar para nossos filhos?

     Ele sorriu. Ela estava decidida. E era uma oferta tentadora. A extensão de O Montoya era boa, mas mostrava a carência de direção nos últimos meses. Necessitava cuidado para não afundar-se. Mas isso era coisa da gente de Bella, não sua, e não acreditava que pudesse viver comodamente vendo-se como uma obra de caridade de sua esposa. Mas não queria discuti-lo agora. Não quando ela era suave e receptiva no momento do depois.

     —E se te prometo pensar nisso?

     —Posso arrumar-me

 

     Foram abordados antes de atravessar as portas. Jorge, vestido com sua melhor roupa de domingo, camisa e calças negras, com o cabelo alisado para trás e ainda gotejando água, deteve-lhes antes que pudessem entrar no complexo. Kell, que se tinha apaixonado pelo menino desde o dia em que Tucker lhe levou ao rancho, estava a seu lado. A cara de Jorge estava pálida, seus olhos ansiosos. Estava mais magro do que deveria, mas pelo caminho da saúde sob os olhos de águia de seus irmãos. Sam parou Breeze.

     —O que posso fazer por ti, Jorge?

     O menino inclinou a cabeça.

     —Patrão, patroa.

     —Jorge.

     Arrastou os pés na terra, incômodo sob a saudação de Bella. Depois de uma última patada com os pés, enquadrou os ombros.

     —Vim por um assunto de homens.

      Sam sufocou um sorriso, ante o comportamento do menino e o ofego indignado de Bella.

     —Bem, isso soa sério. Quer falar aqui ou na casa?

      O menino olhou ansiosamente sobre seu ombro.

     —Aqui estaria bem.

     Sam levantou a perna sobre o pescoço de Breeze e saltou para baixo.

      —Então por que não damos um passeio?

      O menino assentiu com outro olhar ansioso.

      —Isso estaria bem.

     Provavelmente o seria se um estivesse preocupado porque um irmão lhe apanhasse.

     —Bella, podes acomodar Breeze?

     Ela saltou para frente na sela.

      —Tentarei não lhe causar dano.

      Sam deu ao Kell um tapinha na cabeça.

      —Te darei meu obrigado depois.

      Ela se ruborizou e fez adiantar-se a Breeze com um estalo.

      A sós com o menino, Sam girou sobre os calcanhares e começou a andar. O menino não mostrava inclinação a falar. Sam estava cansado e faminto. Deu-lhe um golpezinho verbal.

     —Então, o que há em sua cabeça?

      —Desejo discutir sua dívida comigo.

      Essa linguagem bastante formal indicava que o menino provavelmente tinha ensaiado o discurso. Certamente tinha o olho posto no frasco de doces a um centavo do povoado e sabia que sua mãe não o aprovaria.

      —Discutamo-la.

     —A Montoya lhe ama muito.

     —Sim.

     —Nós queremos muito à Montoya.

     O «sim» de Sam não foi fácil desta vez. Tinha o pressentimento de por onde iria e não era ao frasco de doces duros e paus de menta.

      Jorge se estirou em toda sua altura de um metro vinte.

     —Disse que poderia pedir qualquer coisa que desejasse dos Oito do Inferno e que seria pago.

     —Fiz isso.

     —Quero que os Oito do Inferno lhe deixem ir-se.

      Isso era um pedido tremendo.

      —Por quê?

     —Para que possa ter uma casa.

     Cristo, inclusive os meninos pequenos pensavam que ele era patético?

     —Aqui?

      O queixo do menino subiu.

     —Aqui está bem. Há boa comida e diversão. —Os olhos se estreitaram enquanto tirava o que era obviamente sua carta de triunfo—. Aqui está a patroa.

     Era uma boa carta.

     —Poderia levar-me a Bella comigo.

     Jorge sacudiu a cabeça.

     —Aqui a patroa é respeitada. Ninguém lhe cospe.

     Sam lhe olhou bruscamente.

     —Alguém te cuspiu?

     O menino assentiu.

     —Zach não esteve contente.

     Sam apostava a que não. E apostava a que Zach fazia pagar a qualquer um que tivesse cuspido ao menino.

     Jorge continuou.

     —A patroa não sabe o que é ser odiada. Todos a amam.

     —Certo.

     Chutou uma pedra com a ponta do sapato.

     —Você a ama.

     Sam sorriu.

     —Isso não é o segredo mais bem guardado.

     —Ouvi meus irmãos conversarem. —Jorge elevou o olhar—. Eles não lhe odeiam.

     O menino se estava tomando seu tempo para chegar ao final.

      —É bom sabê-lo.

     —O é. Se você não fosse um bom homem, eles lhe matariam.

     Sam não o duvidava.

     —Porque é seu trabalho proteger a Montoya.

     —Sim. Também porque a querem. —encolheu-se de ombros—. A patroa é muito fácil de querer.

     Melhor que fosse um amor platônico. Os irmãos López eram uma família de malditos atraentes.

     —Tem uma meta para tudo isto?

     O menino assentiu.

     —Se você amar a patroa, não a levará de sua casa a um lugar onde o povo a cuspirá. —Os olhos lhe brilhavam. Parecia-se muito com seu irmão nesse momento.— Eu não gostaria que lhe cuspissem.

     A risada flutuou pelo ar do celeiro. Bella saiu do celeiro, andando para trás e falando com alguém que ainda estava dentro. Ela olhou a casa, em paz. Ele podia sentir as paredes fechando-se.

     —A mim tão pouco.

     —Então, ficará?

     Odiava decepcionar o menino.

     —Esta não é minha casa.

     Mas era uma casa malditamente boa para alguém.

     —Você não tem uma casa.

     Ele pensou nos Oito do Inferno. Em todo o trabalho que tinha posto nele, os sonhos envoltos nele.

     —Estou construindo uma.

     —Nós já construímos uma para você.

     —Não é minha.

     O menino franziu a testa confuso e envolveu os dedos no colar de Kell.

      —Mas você é o homem que a patroa escolheu. Sempre manteremos a fazenda para você. Por isso o papai da patroa sempre lhe disse que escolhesse a um homem forte, porque juntos, ela e seu marido deviam construir o futuro.

     Sam não tinha pensado disso. O pai de Bella tinha tido um sonho, tinha planejado que esse sonho crescesse durante gerações. Tinha sabido que Bella teria que casar-se para manter a fazenda, tinha preparado inclusive com sua gente o caminho para que um estrangeiro encontrasse seu lugar dentro de suas apertadas filas. Tinha preparado a Bella. Sam se apartou o chapéu da frente. Desejava como o inferno ter conhecido ao homem para que pudesse haver preparado a ele.

     A fazenda da Montoya era uma extensão imensa estabelecida em território perigoso. Seria um desafio diário mantê-la contra esses que a tomariam. Fazê-la crescer levaria ainda mais esforço. Uma pequena faísca de entusiasmo incendiou seu sangue.

     —Sempre quis desafios.

     —Não é suficiente pensar querendo, você deve fazer que aconteça.

        Uma surpreendente ração de sabedoria para que um menino a soltasse.

     —Isso soou como algo que ouviste freqüentemente.

     Jorge enrugou a cara com desgosto.

      —A minha mãe gosta dessas palavras.

      Bella estava de pé no alpendre, com uma mão sobre os olhos, lhe olhando, um sorriso instável na cara. A verdade lhe golpeou duramente. Não era suficiente para ele amar a Bella e desejar que fosse feliz. Tinha que fazer que isso acontecesse. Inclusive se tinha que sacrificar um pouco de orgulho.

     —São boas palavras.

      Deu-se a volta, retrocedendo sobre seus passos. Jorge imediatamente voltou a parecer nervoso. Não era difícil ver por que. Zach estava no alpendre com um franzido na cara.

     Sam olhou ao menino.

     —Não foste advertido, por acaso, sobre não ter esta conversação comigo, verdade?

     Jorge foi de espantado a simplesmente teimoso em um abrir e fechar de olhos.

     —Você me fez a promessa. Disse que poderia pedir algo.

     —Sim, o fiz.

     Jorge se deteve.

     —Vai cumprir sua palavra?

     —Bem, não vou abandonar os Oito do Inferno. Fiz promessas ali primeiro, mas—Não conseguiu, mas fora o bastante rápido para evitar que a cara do menino se enrugasse.— Mas não vejo porque não posso adicionar aos Montoya à minha família.

     O menino podia trocar de expressão mais rápido do que o relâmpago podia golpear.

     —Isso significa que ficará?

     —Sim. Significa que ficarei. —Agarrou o braço do menino antes que pudesse soltar-se.— Te proponho um trato. Deixe-me que eu dê a notícia e arrumarei as coisas com Zacharias.

     Ele assentiu.

     —Está feito.

      Sam estendeu a mão. Jorge a agarrou, sacudiu-a uma vez e logo saiu disparado correndo e gritando, com Kell trotando ao seu lado. Tinha feito meio caminho quando começou a gritar.

     Sam sacudiu a cabeça quando todos olharam em sua direção. O sorriso de Bella vacilou e logo renasceu quando correu para ele, a saia ondeando. Estava a um metro de distância quando se lançou aos seus braços.

      Ele a apanhou, fingindo cambalear-se para trás. Ela lhe pegou no ombro antes de envolver os braços e pernas a seu redor. Enterrou a cara em sua garganta, pressionando os lábios em seu pulso quase desesperadamente.

     —É verdade, meu Sam? Permanecerás aqui e construirás um sonho comigo?

       Ele beijou-lhe o cocuruto, fingindo um grunhido que não sentia.

     —O maldito menino roubou minha notícia.

     Inclinando a cabeça para trás lhe ofereceu a boca.

     —Tanto te importa?

     Não lhe estava perguntando sobre a decisão revelada por Jorge.

     —Não me importa absolutamente —admitiu, aceitando o convite, provando sua doçura, sua paixão. Este é um bom lugar, Bella. Um bom sonho.

     Ela inclinou a cabeça.

     —Um bom presente para nossos meninos?

     Maldição, provavelmente teriam meninos. Pela freqüência com que estava com ela, provavelmente uma ninhada inteira. E com Bella como sua mãe, todos e cada um seriam boas peças. Seu sorriso cresceu, estendendo-se.

     —Sim.

     —Embora acredite que terás que endurecer-te antes que tenhamos meninos.

     A Sam não lhe passou despercebido a travessura em sua voz. Seu pênis se endureceu, aproximando-se a ela através de capas de roupa. Inclinando-lhe a cabeça para trás, verificou sua expressão.

     —Por quê?

     A inocência era tão falsa como real sua felicidade.

     — Tens me decepcionado.

     —Como?

     —Zacharias pensava que certamente você… açoitaria ao Jorge no traseiro por sua insolência.

     Como se Zach fosse permitir que alguém tocasse a seu irmão e vivesse.

     —E?

     Deslizou as pernas pelo exterior das coxas, apertou os seios no abdômen a escassos centímetros de seu duro membro. O sorriso se voltou sensual.

     —Ia oferecer-me para ocupar seu lugar.

     Ela deu um saltinho para trás.

     —Mas agora não pode acontecer.

     —Como o inferno.

     Agarrou-a. Ela gritou e saiu como uma flecha, previsivelmente à direita. Ele agarrou-lhe a mão e a puxou, afundou o ombro sob seu estômago e a levantou antes de andar a pernadas para à casa, acalmando suas lutas com um repentino e firme golpe em seu traseiro.

     —Mereço alguma compensação por agüentar a sua mãe.

      Bella lhe acariciou o traseiro com as mãos, cavando as bochechas, escorregando entre as pernas para acariciar suas pelotas.

      —Você gostaria que te surrasse no cu?

     Ele quase a deixou cair de cu.

      —Bella? —as arrumou para dizer em meio das risadas.

     —O que?

      —Quieta.

 

                                                                                Sarah Mccarty  

 

 

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