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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


SEGREDOS DE FAMÍLIA / Brenda Jackson
SEGREDOS DE FAMÍLIA / Brenda Jackson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

— Nunca confie em um Graham.

Chase Westmoreland, de dezesseis anos, sentou-se em um tamborete da barra do restaurante de seu avô. O ancião disse enquanto deixava diante dele um grande copo de leite e um prato cheio de bolachas.

— Por quê? O que aconteceu, avô? —pergunto-lhe Chase enquanto atacava o prato de bolachas.

— O que aconteceu? Direi o que aconteceu. Carlton Graham nos roubou algumas de nossas receitas secretas e as passou a Donald Schuster.

Chase deixou de comer e arregalou os olhos. Sabia o quanto significavam para seu avô as receitas familiares dos Westmoreland.

—Mas o senhor Graham é seu amigo.

Scott Westmoreland franziu a testa.

—Já não é. Faz dois meses que nossa amizade e nossa sociedade terminaram. Nunca pensei que chegaria a ver como me trairia dessa forma.

Chase deu um bom gole de leite.

— Está certo de que o fez?

Scott Westmoreland assentiu com a cabeça e uma expressão de pena e decepção.

—Sim, estou seguro. Disseram-me que Schuster tinha incluído um par de pratos novos em seu cardápio que eram iguais aos meus e fui investigar.

— O que aconteceu?

—São meus. Schuster não reconhecerá de onde tirou as receitas, mas sei que são as minhas.

Chase sacudiu a cabeça com pesar. Sempre gostou do senhor Graham e suas bolachas eram as melhores. As de seu avô eram boas, mas as de Graham tinham algum ingrediente especial que as fazia deliciosas.

—Disse algo ao senhor Graham?

—Naturalmente, mas ele nega tudo, embora saiba que é mentira. Ele é a única pessoa que sabe os ingredientes exatos que eu uso. Deve sentir-se culpado e por isso vai embora da cidade com sua família.

—Os Graham vão partir? —perguntou Chase com os olhos fora das órbitas.

—Sim e me alegro. Não vou sentir se não voltar a ver um Graham em toda minha vida. Como lhe disse, não se pode confiar neles. Recorde isso sempre.

 

 

 

 

                                                     Capítulo Um

               Na atualidade

Tinha que repensar sua situação, disse-se Chase Westmoreland enquanto se dirigia para o estacionamento de seu restaurante. Esses seis meses de abstinência tinham que ser o motivo de seu mal humor.

Não tinha nada a ver que durante os três últimos anos se casaram seus quatro irmãos e sua irmã. Inclusive seu primo Jared, um solteiro teimoso e advogado especializado em divórcios, tinham caído nessas redes. Chase estava farto de que distintos familiares o olhassem com um sorriso condescendente. Se esperavam que ele seria o seguinte, poderiam esperar sentados. Tampouco ajudava muito que seus irmãos tivessem o descaramento de lhe dizer que mudaria de opinião quando encontrasse a mulher adequada. Ele sempre respondia que a mulher adequada não existia.

— Que demônios...!

Chase freou bruscamente no meio do estacionamento, que fervia de atividade. Esqueceu-se de que alguém tinha comprado o edifício que havia a alguns metros de seu restaurante e tudo parecia indicar que estavam se mudando. Fazia algumas semanas lhe deram a notícia que teria um vizinho novo. Não o surpreendeu, Atlanta era uma cidade de renome internacional que tinha conseguido manter seu encanto sulino. Essa zona do centro, onde estava seu restaurante, era especialmente boa para pôr um negócio. Se, recordava-se bem, iriam pôr uma confeitaria. Quando se inteirou, despertaram suas ânsias de comer chocolate, mas ao ver todo o barulho, a idéia dos doces se tornou amarga.

Por todos os lados havia caminhões de mudanças que ocupavam as vagas que poderiam necessitar seus clientes para estacionar. Eram às seis da manhã e tinha muita clientela para tomar o café da manhã. Era um aborrecimento que não lhes permitissem estacionar. Felizmente, ele tinha um local reservado diante do restaurante. Respirou fundo para se tranqüilizar enquanto um caminhão bloqueava seu passo. Era segunda-feira, um dia ruim para pôr a prova sua paciência. Ia dar uma buzinada quando uma mulher que saía do edifício captou sua atenção. Por um momento, esqueceu-se de sua fúria, mais ainda, quase se esqueceu de respirar. Olhou-a de cima a baixo enquanto ela falava com o condutor do caminhão. Era uma mulher de chamar atenção. Usava um avental curto de panificação por cima das calças curtas. Ele desejou que uma rajada de vento lhe mostrasse o que havia debaixo. Esboçou um sorriso. Inclusive com o avental podia adivinhar que tinha uma boa apresentação. Quando se fixou em seu rosto...

Notou que um calor o abrasava ao ver um rosto que era muito formoso para descrevê-lo com palavras. Tinha olhos cor mel e lábios carnudos pintados de cor framboesa. Ele quis sair do carro e borrar os lábios pintados com um beijo. Seu cabelo era uma massa de cachos castanha escuro que caía sobre os ombros. Pela primeira vez desde bastante tempo, Chase se encontrou fisicamente alterado pela beleza de uma mulher.

Tomou uma profunda baforada de ar e repensou. Era um homem de trinta e quatro anos e sangue ardente e não havia nada de mal em reagir diante um estímulo visual, mas não podia permitir que um par de pernas maravilhosas e um rosto impressionante sorvessem seus miolos. Só tinha que se lembrar do último ano na Universidade e de Íris Nelson. Lembrar-se de Íris lhe devolvia o bom senso. Suspirou profundamente e voltou a olhá-la antes de dar marcha ré com o carro e rodear o caminhão. Assim que entrasse no restaurante, tomaria uma xícara de café bem forte. Embora gostaria não ter percebido que ela não usava anel de casada, o qual o alegrou mais do devido.

Jessica Claiborne sorriu e jogou uma olhada a sua loja. Já estava preparada para a inauguração no dia seguinte pela manhã. Tinha passado o dia confirmando que tudo estava em ordem e tinha contratado dois estudantes para que distribuíssem folhetos publicitários pela zona. Como pretendia que todos seus produtos se acabassem no dia, tinha chamado o hospital infantil para lhes doar tudo o que não vendesse no dia seguinte. Além disso, também tinha assinado um contrato com alguns hotéis da cidade e algumas cafeterias para lhes subministrar a confeitaria que necessitassem.

Olhou pelo vidro da porta. Era um lindo dia de inicio de outubro. Tudo foi instalado na segunda-feira e essa manhã foram pintar o nome da loja. Chamou-a de Desejos Irresistíveis e estaria eternamente agradecida a sua avó por conseguir que seu sonho se tornasse realidade.

Sempre sentia uma grande tristeza ao lembrar-se da avó a quem tinha adorado e da herança que lhe deixou ao morrer no ano anterior, justo no dia que ela fazia vinte e cinco anos. Esse dinheiro tinha permitido deixar o exaustivo trabalho de advogada mercantil em Sacramento e realizar o sonho de abrir sua própria confeitaria.

Cheirou o chocolate recém feito. Já tinha tirado uma fornada de bolos, mas o que mais gostou de fazer foi umas bolachas de chocolate para repartir entre seus vizinhos como desculpa pelos aborrecimentos que tinha ocasionado com a mudança.

A senhora Morrison, que tinha a alfaiataria da porta do lado, tinha aceitado as desculpas, mas não as bolachas porque era alérgica ao chocolate, embora adorasse provar sua torta de frutas. Os irmãos Criswell, que tinham a academia de caratê, aceitaram elegantemente as desculpas e as bolachas, deram-lhe boas-vindas ao bairro e se ofereceram para proteger sua loja. Só restava o proprietário do Chase's Place. Jessica esperava que fosse tão compreensivo quanto a senhora Morrison e os irmãos Criswell e que gostasse dos doces.

Agarrou a caixa com um sortido de especialidades, saiu e fechou a porta com chave. Tinha contratado uma ajudante a tempo parcial, uma mulher mais velha que iria durante as horas do almoço, quando havia mais trabalho.

Era primeira hora da tarde, mas sabia que o restaurante estava cheio e esperava que isso lhe beneficiasse quando as pessoas se inteirassem de que sua loja estava aberta. Ao entrar, pôde cheirar o maravilhoso aroma da comida e lembrou que não tinha comido nada desde o café da manhã. Em seguida gostou do que viu no Chase's Place. Era um restaurante muito grande que conseguia conservar um ambiente caseiro. Cada mesa estava iluminada com uma pequena luminária e as toalhas faziam jogo com as cortinas. Havia uma barra enorme com tamboretes e se ouvia uma suave música de jazz.

—Bem-vinda ao Chase's Place, onde encontrará a melhor comida sulina. Vai comer aqui ou prefere levar a comida?

Jessica sorriu a jovem que a recebeu.

—Sou a proprietária da confeitaria que há um pouco mais abaixo e queria dar um pequeno presente ao dono pelo desconforto que tenha lhe dado em razão de minha mudança.

—É Chase, está em seu escritório. Se me acompanhar, ensinarei o caminho.

—Obrigado.

Jessica a seguiu para a parte traseira do restaurante. Tudo parecia muito ordenado, até o armazém que atravessaram. A garçonete bateu na porta.

—Quem é? —perguntou uma voz profunda e rouca.

—Sou eu, Donna. Tem uma visita.

—Donna, assombra-me que alguém tenha conseguido chegar com toda a confusão que há no estacionamento. Penso ir dizer algumas coisas ao meu vizinho por todos os problemas que tem me causado durante os últimos dias. Não conheci ninguém com menos consideração, nem sequer pude colocar meus pedidos...

Chase deixou de falar quando abriu a porta e a mulher que tinha visto na segunda-feira pela manhã entrou ante o olhar atônito da Donna.

—Parece-me que lhe economizei uma viagem. Acreditava, dadas as circunstâncias, que poderia ter sido tão compreensivo como meus outros vizinhos e...

Chase deixou de escutá-la assim que ela transpassou a porta. Sentiu que todo o corpo lhe abrasava e só teve olhos para as calças curtas e o Top que vestia.

Piscou. Quanto mais perto estava ela, mais gostava, sobretudo os lábios úmidos cor framboesa. Estava zangada e incrivelmente sexy.

Além de olhos cor mel e uma cabeleira frisada e escura que caía em cascata, tinha as maçãs do rosto perfeitas e um nariz pequenino e muito atraente. Não pôde evitar de pensar que aquela boca tinha uma forma muito sedutora e que estava pedindo um beijo.

— Espero que se engasgue!

Uma caixa golpeou no peito de Chase e ele voltou para a realidade. Embora demorasse um segundo em dar-se conta de que sua visitante partia. Quando a porta se fechou, ele olhou para Donna, que tinha um gesto de estupefação.

Que demônios deu nela?

—Creio chefe — respondeu ela enquanto continha uma gargalhada—, que lhe deu uma bronca. Não posso acreditar que não tenha o escutado.

Ele se limitou a olhar a caixa.

—Isso deveria ter sido um gesto conciliador — lhe explicou Donna—. Tinha vindo para desculpar-se pelos aborrecimentos dos últimos dias. Acredito que foi um detalhe de boa vizinhança. Creio que ela esperava que tivesse sido mais compreensivo.

Chase assentiu com a cabeça e sentiu remorso por não ter sido, mas estava há uma semana de mal humor e se desafogou com ela. Era uma mulher e a falta de uma mulher era a origem de seus problemas. Não era um mulherengo como tinha sido seu irmão gêmeo Storm, mas normalmente podia tirar sua agenda e chamar uma série de mulheres que estavam mais interessadas, como ele, em se divertir por um momento do que em se casar. Entretanto, por algum motivo estranho, isso não mais estava satisfazendo ele. A última mulher com a qual saiu criou ilusões e lhe custou muito convencê-la de que dormir com ele não significava se casar com ele. Ele passou a mão pelo rosto. Para algumas mulheres, os Westmoreland solteiros eram como um desafio. Seu irmão Storm sempre dizia, antes que conhecesse sua mulher, Jayla, que ele desfrutava muito das mulheres para ficar com uma. Chase confiava ter de aprendido com seus erros e o maior tinha sido Íris Nelson.

Quando estava na Universidade, parecia destinado a ter um grande futuro no basquete, até que uma lesão acabou com seus sonhos. Encontrou-se ante um futuro incerto quando Íris, a garota por quem se apaixonou, decidiu que se não tinha futuro como profissional do basquete, já não era interessante.

Com os anos, tinha aprendido a ter receio das mulheres, só entrava em uma relação para ver o que podia aproveitar dela e desaparecia quando as coisas se complicavam. As mulheres passaram a ser algo secundário em sua vida para que não voltassem a magoar o seu coração.

— O que vai fazer? —perguntou-lhe Donna.

Não tinha nem idéia. Só sabia que devia uma desculpa a sua vizinha.

—Diga a Kevin que prepare um especial do dia para levar e que seja generoso com a porção.

—Acredita que vai abrandá-la com a comida? —perguntou Donna entre risadas.

Ele olhou a caixa que seguia sustentando entre as mãos e cheirou o delicioso aroma a chocolate.

— Não tinha tentado ela o mesmo?

Donna o olhou um instante antes de sacudir a cabeça e partir. Chase deixou a caixa na mesa e comprovou que a loja se chamava Desejos Irresistíveis, um nome muito adequado a julgar por sua proprietária. Abriu a caixa e imediatamente caiu rendido, pelos bolos. Efetivamente, devia uma desculpa àquela mulher e a daria antes que acabasse o dia.

Aquele homem era insuportável. Jessica tomou ar para não enfurecer-se mais. Como se atrevia a dizer que não tinha consideração? Era uma das pessoas mais consideradas que conhecia. Por isso tinha deixado seu trabalho tão bem remunerado na empresa. Cansou de lutar por coisas nas quais não acreditava e de pôr os benefícios da empresa por cima dos interesses dos clientes.

Além disso, a consideração que tinha pelos desejos de sua família a levou a procurar membros da família Westmoreland para desfazer a injustiça que tinham atribuído a sua família desde muitos anos. Atreveram-se a dizer que seu avô era um homem desprezível! Tinha sido o homem mais honrado que tinha conhecido e se pudesse, contaria isso aos Westmoreland. Entretanto, sua avó, antes de falecer, fizera com que lhe prometesse que iria a Atlanta limpar o nome dos Graham sem declarar a Terceira Guerra Mundial, e pensava fazê-lo. Depois de estudar a zona, decidiu que Atlanta poderia ser um bom lugar para viver, não só para visitar.

Suspirou quando se lembrou do dono do Chase 's Place. Tinha lhe mandado o seu chocolate mais saboroso e sabia que se colocou daquela maneira com ele porque não pôde abstrair-se de sua impressionante beleza. Embora ele fosse insuportável, tinha que reconhecer que era bonito até dizer basta. Tinha feito ela recordar que era uma mulher, algo que tentava esquecer com freqüência.

Não tinha nenhum interesse de que um homem a atraísse. Ela tinha aprendido a lição, embora sua a mãe não. Possivelmente Jeff Claiborne tivesse sido o homem que a enganou, mas também tinha sido o homem que tinha colocado a sua mãe na corda frouxa durante quinze anos com a promessa de casamento. Quando Jessica nasceu, ele deu seu sobrenome, mas sua mãe conservou o sobrenome Graham.

Necessitou que seu avô pagasse um detetive para saber que Jeff Claiborne nunca se casaria com sua mãe porque já estava casado com uma mulher que vivia na Filadélfia. A notícia foi um golpe muito forte para sua mãe, tão forte que nunca se recuperou.

Aos quinze anos, Jessica foi ao enterro de sua mãe e prometeu que nunca daria seu coração a um homem. Nunca se deixaria enganar por alguém tão mentiroso como seu pai, um homem capaz de aproveitar-se de um amor verdadeiro.

Seu avô, furioso e ofendido pelo que tinha feito Jeff Claiborne, ocupou-se de que aquele homem não ficasse impune. Foi visitar a mulher de Jeff e lhe mostrou o documento que demonstrava que seu marido a enganara. Jennifer Claiborne, uma boa mulher, não pensou duas vezes e se divorciou do homem com quem estivera casada durante dezoito anos. Além disso, Jennifer se encarregou de que Jessica entrasse em sua família, conhecesse sua irmã e seu irmão, e de que Jeff contribuísse para seu sustento. Também soube que Jennifer tinha sido fundamental para que lhe dessem o diploma quando terminou a faculdade.

Savannah e Rico foram verdadeiros irmãos para ela e Jennifer foi como uma segunda mãe. Sabia que sempre poderia contar com sua família da Filadélfia.

Jessica ouviu a chamada na porta e franziu o cenho. Estava escurecendo, mas podia ver pela porta de vidro que essa visita inesperada era o homem do restaurante.

Tinha intenção de não lhe dar importância. Desde que chegou a Atlanta, fazia algumas semanas, começou a pensar que por fim tinha encontrado a tranqüilidade, mas ele começava a convencê-la do contrário.

Voltou a ouvir a chamada e decidiu que não se esconderia. Confrontaria os problemas, como sempre fez. Foi procurá-la e pensou que teria que ser simpática porque afinal iriam se ver sempre. Esse edifício não seria só seu lugar de trabalho, mas seria também sua casa graças ao andar que havia em cima da loja.

Decidiu que já o fizera esperar o bastante, foi à porta e a abriu.

O que quer?

Ele estava de costas a ela olhando o céu. Quando se virou, seus olhares se encontraram e ela notou que a temperatura lhe subia uns cem graus. Voltou a se recordar do chocolate negro, mas lhe pareceu que tinha um ingrediente novo. Uma ligeira marca na ponta do nariz que indicava que já o quebrara, mas não lhe pareceu um defeito. Nada, absolutamente nada, poderia danificar a beleza daquele homem. Isso era um mal sinal.

Para piorar as coisas, tinha um sorriso tão devastador que teve que agarrar-se ao trinco para não cair. Fez um esforço para parar de olhar seu sorriso e quando se encontrou com os seus olhos, ficou furiosa com o efeito que causou nela.

—Repito: o que quer?

O sorriso dele se fez mais largo. Ou não tinha captado que ela não estava sendo muito simpática ou tinha decidido passar despercebido.

—Vim para me desculpar e lhe oferecer um presente para fazer as pazes — seu sorriso se fez mais amplo ainda— Me excedi. Já sei como são as mudanças. Só posso dizer que meu mal-humor foi em razão de uma semana difícil, mas meus problemas não são culpa sua.

Suas desculpas surpreenderam a Jessica, mas não a cativaram como ele, evidentemente, tinha suposto que fariam. Fazia tempo que aprendera a não deixar-se enganar pelos homens lisonjeadores.

—Aceita minhas desculpas?

—Por que deveria?

—Porque assim demonstraria que é melhor pessoa do que eu e que sabe perdoar.

Jessica se apoiou na porta. Ela sabia que era melhor pessoa que ele, mas não estava muito segura de que soubesse perdoar. Tomou ar e decidiu que não queria aceitar suas desculpas. Não gostava da afinidade que brotava entre eles e tampouco gostava dele. Sabia que isso era irracional, mas, nesse momento, não lhe importava.

—Posso passar por cima muitas coisas, mas a rabugice não é uma delas.

Chase franziu o cenho com uma sobrancelha arqueada.

—Não vai aceitar minhas desculpas?

—No momento, não — respondeu ela sem deixar de olhá-lo.

—Por quê? — ele franziu mais o cenho.

—Porque não gosto de você. Agora, se me perdoar, tenho que...

Ele levantou uma mão para calá-la.

—Porque não gosta?

Isso já foi dito.

Chase sentiu que o desespero se apropriava dele. Tinha tratado com muita gente irracional, mas essa mulher dava um sentido novo a essa palavra. Efetivamente, ele tinha sido impertinente, mas tinha se desculpado.

—Olhe — disse ele lentamente enquanto tentava não fazer caso do gesto de irritação que tinha ela. — Já sei que não começamos com bom pé e me desculpo por isso. Além disso, tem razão, fui impertinente, mas agora você está sendo irracional.

Jessica suspirou. Os olhos marrons que tinha cravados nos seus eram intensos, penetrantes e impressionantes, mas...

«Mas nada, Jessica Lynn», Jessica podia ouvir a voz de sua avó. «Não pode julgar a todos os homens por seu pai, não pode pôr um muro entre você e todos os homens que se aproximam».

Voltou a suspirar. Sua avó tinha razão, mas sempre teve uma necessidade visceral de proteger-se e intuía que tinha que evitar por todos os meios aquele homem.

—Por favor, aceite minha oferta de paz como eu aceitei a sua, de acordo? — Chase interrompeu seus pensamentos. - Como certo, tudo estava delicioso, sobretudo, as bolachas de chocolate. São minhas bolachas favoritas e fazia anos que não provava umas tão deliciosas — Chase sorriu—. E não me engasguei com nenhuma.

—Uma pena — replicou ela ironicamente.

Seus olhares se encontraram um instante e Jessica soube que ela era um quebra-cabeça que ele tentava compor. Estava claro que as demais mulheres não eram um problema para ele. Certamente, bastava sorrir para conseguir o que quisesse. Igual fazia o pai dela.

Jessica cruzou os braços porque sabia que ele não partiria até que ela aceitasse suas desculpas.

—De acordo, aceito suas desculpas. Adeus.

Ele agarrou a porta antes que ela pudesse fechar no seu nariz e tirou a bolsa.

—E a oferta de paz?

—E a oferta de paz — resmungou ela enquanto estendia a mão para agarrar a bolsa.

—Começamos a nos entender — Chase deixou escapar uma risada e também estendeu a mão em vez de lhe dar a bolsa—. Não nos apresentamos. Meu nome é Chase Westmoreland. E você? — perguntou enquanto estreitava a mão.

Jessica notou que ficava completamente pálida.

—Westmoreland?

—Sim — ele sorriu— soa-lhe conhecido? Em Atlanta somos muitos.

Jessica decidiu que não estava preparada para lhe explicar quanto lhe soava.

—Não, acabo de chegar de Califórnia.

Ele assentiu com a cabeça e sorriu durante alguns instantes.

—Não me disse seu nome...

Ela piscou.

—Meu nome é Jessica Claiborne.

—Seja bem-vinda a Atlanta Jessica! Tem família por aqui?

—Não, não tenho família aqui - ela não podia parar de pensar que ele era um Westmoreland.

Fez-se um breve silêncio e Chase se lembrou de que não tinha lhe dado a bolsa.

—Quase me esqueço, tome. É a especialidade do dia, espero que você goste.

—Obrigado.

Chase duvidou um instante.

—É melhor eu voltar. É a hora da comida. Vai viver no andar de cima?

—Sim — respondeu ela com a bolsa bem apertada entre as duas mãos.

—Bom, de vez em quando fica tarde, eu também durmo no restaurante. Se alguma vez necessitar de algo, pode contar comigo.

Jessica pensou que era melhor que ele não se fizesse ilusões e fechou a porta à tentação.

 

                                                 Capítulo Dois

Jessica se deixou cair ao encosto da cadeira e lambeu os lábios. Tinha sido a melhor comida que havia provado atualmente. As costelas de porco estavam muito suculentas e o purê de batatas a entusiasmou. Não estranhava que Chase's Place estivesse abarrotado. O bolo de cenoura estava de chupar os dedos e ela sabia um pouco de cozinha porque sua avó tinha sido a melhor cozinheira que tinha conhecido.

Gostava de cozinhar porque tinha passado muito tempo na cozinha com seus avôs. Inclusive se dispôs ir para uma escola de cozinheiro, mas seu avô lhe dissuadiu porque disse que já havia muitos cozinheiros na família Graham.

Jessica jogou uma olhada em seu apartamento enquanto se arrumava. Era o suficiente para o que ela necessitava. Tinha uma sala muito ampla, um banheiro, um dormitório e a cozinha. Sorriu ao pensar que era dela, como todo o edifício. A loja tinha uma cozinha enorme e um pequeno escritório ao fundo. Aproximou-se da janela e viu todas as pessoas que formavam redemoinhos diante do Chase's Place. De repente, ficou sem fôlego ao ver Chase que saía do restaurante com outro homem. Pareciam-se bastante e estava claro que eram familiares, mas ela se fixava em Chase. O sol se pôs, mas a tênue iluminação lhe permitia vê-lo. Estava bem com o jeans e a camisa negra e inclusive daquela distância podia distinguir seus traços perfeitamente esculpidos.

Jessica suspirou profundamente e ele, como se a tivesse ouvido, olhou para a janela e seus olhares se encontraram. Nesse momento, ela notou uma espécie de descarga elétrica na parte inferior do corpo que subiu por toda sua espinha dorsal. Uma sensação que não tinha sentido desde o primeiro ano que esteve na Universidade. A única vez que teve uma relação sexual foi uma experiência tão desagradável que não quis repeti-la.

Entretanto, ao olhar Chase despertou a curiosidade e durante um instante se perguntou se fizesse amor com ele seria diferente. Piscou e saiu da janela. Como era possível que se esqueceu de quem era ele? Era um Westmoreland! Negava-se a sentir um desejo enlouquecido por alguém de uma família que tinha acusado seu avô de ser um ladrão. Não lhe importava que Chase era o exemplo perfeito de virilidade.

—Quem é ela?

Chase esboçou um sorriso ao voltar a olhar para seu irmão Storm.

—Faz diferença que eu o recorde que está casado? —perguntou-lhe.

Storm riu e negou com a cabeça.

—Não. Jayla é o amor de minha vida e a única mulher que necessito. Além disso, as meninas são a cereja do bolo — acrescentou em referência a suas gêmeas de três meses — Mas me parece que ela captou sua atenção.

Chase deixou de sorrir. Efetivamente, Jessica tinha captado sua atenção no momento em que se conheceram.

—Chama-se Jessica Claiborne. Não combinamos no princípio.

— E agora? — perguntou-lhe Storm com um sorriso zombador.

—A primeira impressão pode mudar se propõe-se a isso.

Storm voltou a olhar a janela onde tinha estado aquela mulher e logo olhou o relógio.

—Tenho que ir. Só queria estar certo de que sabia que o batismo é no domingo.

—Sim. Mamãe me disse. Acredito que o restaurante é perfeito para a festa.

— Está seguro? —Storm sorriu—. Não quero que seja um problema para você.

—Faria tudo por minhas sobrinhas. Dê por feito. Ligarei amanhã para Jayla para comentar o cardápio.

—Ok.

Chase acompanhou o seu gêmeo até o carro e viu como se afastava. Esperou um momento antes de voltar para restaurante e se perguntou se Jessica teria gostado da comida que tinha preparado. Só havia uma forma de saber.

Meteu as mãos nos bolsos, passou em frente da loja da senhora Morrison e se plantou diante da confeitaria de Jessica. Não fez caso do pôster que dizia que estava fechada e chamou um par de vezes com os nódulos antes de tocar a campainha.

—Quem é? —perguntou uma voz depois de alguns segundos.

Chase.

A porta se abriu lentamente e ela o olhou nos olhos.

—O que quer agora?

O tom cortante surpreendeu Chase. Ele tinha pensado que se suas desculpas não tinham bastado pelo menos a comida a teria aplacado. Evidentemente, não era assim.

Ela tinha os braços cruzados sobre os peitos e ele teria preferido que não os tivesse. Embora ele sempre se fixasse primeiro nas pernas, o segundo no qual se fixava era nos seios e as posições de seus braços ressaltavam os seios firmes e preciosos.

Esclareceu a garganta.

—Vi você na janela.

—E daí —perguntou ela com um olhar mais penetrante ainda.

Chase passou uma mão pela testa. Possivelmente se ela tivesse chegado de um lugar onde as pessoas eram antipáticas poderia entender a sua atitude, mas no sul as pessoas eram acolhedoras e amáveis.

—É muito perguntar se gostou da comida?

A ela pareceu se surpreender com a pergunta.

—Claro que eu gostei. Por que pensou que não gostaria?

—Por sua atitude.

Jessica conteve um gesto de surpresa. Efetivamente, ele havia tornado a surpreendê-la em um momento mau, mas tinha um motivo. Ele era um Westmoreland e ela uma Graham.

Jessica suspirou e baixou os braços.

—Olhe não tome como algo pessoal, mas não gosto de você.

Chase se apoiou no marco da porta e cruzou as pernas à altura dos tornozelos.

—Por quê?

Ela sacudiu uma mão com impaciência.

—Acreditava que era evidente.

—Acredita que somos incompatíveis? —perguntou ele com uma sobrancelha arqueada.

Ela soprou com irritação e o olhou nos olhos.

—Não o conheço tanto, mas diria que somos como a noite e o dia.

Chase se incorporou e lhe sorriu.

—Isso explica tudo.

—O que explica? —perguntou ela com os olhos entrecerrados.

—Por que nos atraímos tanto. Os opostos se atraem.

—Não me atrai! — espetou ela com indignação.

—Sim — Chase ampliou o sorriso, — sim a atraio e você me atrai — assegurou ele com um olhar muito intenso.

—Você que diz...

—Quer me demonstrar o contrário?

—Como? — Jessica arqueou as sobrancelhas.

—Deixe para lá — Chase deu de ombros. — Não é um bom momento para...

—Espere! Se posso lhe demonstrar que não me atrai, fale como — desafiou ela.

Chase a olhou nos olhos.

—Por mim fico encantado em lhe mostrar.

Jessica estava muito rígida pela ira.

—O que terá que fazer para demonstrar?

—Nos beijar.

Jessica ficou atônita, mas logo supôs que era um homem que queria demonstrar tudo com um beijo. Ele comprovaria que ela não gozava com um beijo mais do que tinha gozado fazendo amor. Seria o beijo mais curto da história.

Ela o olhou nos olhos e sorriu.

—Como eu disse, adiante...

O sorriso de Chase fez com que ela pensasse que possivelmente, só possivelmente, se equivocou. Quando ele entrou na loja, ela notou uma pontada no estômago que lhe disse que, sem dúvida, se equivocou.

Chase olhou a boca de Jessica e pensou que desfrutaria de cada segundo que a saboreasse. Estava seguro de que era tão doce e saborosa como todas aquelas coisas que ela cozinhava. Continuou olhando-a e uma luxúria sem controle percorreu suas veias, arrepiou cada pêlo do corpo e lançou uma onda abrasadora pelas vísceras.

O desejo o fez cruzar a habitação até onde estava ela. Agarrou-a delicadamente pela nuca e a atraiu para si até que as bocas ficaram a escassos centímetros.

—Penso em beijá-la até que perca os sentidos — sussurrou ele.

Ela levantou o queixo e entrecerrou os olhos.

—Pode tentar.

Chase sorriu. Gostou dessa ousadia e esperava que pusesse o mesmo atrevimento no beijo.

—Abra sua boca — sussurrou Chase em um tom profundo.

Jessica deixou escapar um suspiro de resignação e abriu a boca para lhe dizer quatro coisas, mas ele, à velocidade da luz, aproveitou a oportunidade e pousou seus lábios sobre os dela e a silenciou. Sua língua, ardente e carnuda, apoderou-se da dela e se deleitou como se fosse uma guloseima. Nunca a beijaram daquela maneira; nunca, nem em seus sonhos mais desenfreados, imaginou que pudesse lhe acontecer algo semelhante. Chase devorava sua boca com voracidade. Era um homem habilidoso e experiente que sabia o que fazer para que ela gemesse de prazer.

Jessica não podia acreditar se sentia dominada por uma necessidade tão intensa que não reconhecia e que exigia do seu corpo uma resposta. Alegrou-se de que ele estivesse segurando-a com aqueles poderosos braços porque senão teria desmoronado. Notou que o fogo abrasava suas veias e as vísceras. Estava irreversivelmente entregue. Entretanto, isso não foi a única coisa que notou.

Entre suas coxas se recostava a dureza de sua ereção. Sentiu-se a beira do delírio, mas quando um estremecimento percorreu todo seu corpo, deu-se conta de algo. Ela estava lhe devolvendo o beijo. Nunca tinha correspondido ao beijo de um homem. A idéia a afligiu transbordou seus sentidos e sentiu um fogo incontrolável por todo o corpo.

Era impensável. Conheceram-se neste mesmo dia. Ele era um Westmoreland. Não lhe caía bem. Não gostava de beijar. Tinha que respirar.

Ele, como se tivesse lido seu pensamento, afastou-se lentamente dela.

Jessica o olhou sem poder acreditar-se que tivesse vivido um momento tão intenso, provocante e íntimo. Perguntou-se o que terei que dizer depois de uma situação tão explosiva, mas não podia dizer nada. Só podia pensar em sua boca e no muito que tinha desfrutado beijando-a.

—Que conste que deixei de beijá-la para que pudéssemos respirar — sussurrou enquanto escorria os dedos entre seus cabelos. — É possível que sejamos opostos, mas, como falei antes, nos atraímos.

Ela voltou a sentir um estremecimento pelo tom rouco das palavras e voltou a notar que ardia sua pele. Notava que fervia o sangue. Ele deu um passo para trás com um sorriso leve e cálido.

—Muita sorte na inauguração de amanhã — disse Chase suavemente.

Ela ficou olhando-o enquanto ele saía da loja e fechava a porta.

—Estou desejando trabalhar para você, senhorita Claiborne.

A inauguração tinha sido um grande sucesso. Quando a multidão partiu, puderam relaxar e tomar uma pausa. Jessica sorriu à mulher que poderia ser sua avó.

—Eu também estou desejando trabalhar com você, senhora Stewart. Agradeço que tenha me ajudado. Também lhe agradeceria se me chamasse de Jessica.

Desejos Irresistíveis foi inaugurada oficialmente às oito da manhã. Jessica teve muito trabalho e agradeceu que Ellen Stewart chegasse as onze para ajudá-la com os clientes da hora do almoço. Entretanto, apesar de todo o trabalho, não pôde esquecer o beijo com Chase. Tinha sido incrível.

Tentou pensar em outra coisa e observou a senhora Stewart, que estava limpando o mostrador. Pensou que tinha sido uma grande contribuição para a loja, era boa vendedora e simpática. Além disso, parecia conhecer todos os que entravam. Era um complemento. Como era Chase.

Quase todas as pessoas que tinham comprado algo tinham comentado que Chase tinha falado maravilhas de seus produtos. Detestava ter que reconhecer, mas também lhe devia certa gratidão, embora não tinha nenhuma vontade de lhe dever nada.

—Foi um detalhe por parte de Chase que lhe mandasse clientes. É um encanto.

Jessica deixou de colocar bolos no mostrador e se virou.

—Conhece Chase?

—Claro que o conheço. Conheço todos os Westmoreland. Embora a maioria dos habitantes de Atlanta seja de fora, ainda ficam alguns oriundos. Conheci esses meninos Westmoreland e seus primos quando estavam no colégio. E mais, dava aula a quase todos.

Jessica assentiu com a cabeça ao lembrar-se de que a senhora Stewart tinha comentado que se aposentou de professora fazia quinze anos.

—Eram meninos travessos, como todos, mas não conheci pessoas mais respeitáveis. Sabia que seu irmão Der é o xerife de College Park?

—Não, não sabia...

—Pois é, e muito bom. Também tem Thorn, que fabrica motocicletas e corre com elas. Stone escreve livros de êxito. Logo há um montão de primos. Como Jared, um advogado muito conhecido. Ah, não posso me esquecer de Storm, o irmão gêmeo de Chase, embora não sejam idênticos.

Jessica arqueou uma sobrancelha e lhe pareceu que tudo aquilo era bastante intrigante.

—Então, suponho que também conhece seus pais.

—Claro — a senhora Stewart esboçou um sorriso— Os Westmoreland são pessoas maravilhosas. Também conheci os avós.

—De verdade? — Jessica se apoiou no mostrador— Soube que o avô do Chase teve um restaurante.

—Sim, como Chase's Place, tinha as melhores comidas caseira da zona. Quase toda a clientela de Scott Westmoreland eram caminhoneiros, mas as pessoas vinham de todos os lados para comer seus pratos feitos segundo receitas familiares que se transmitiram de geração em geração. Acredito que Chase usa algumas dessas receitas e as guarda como ouro, sobretudo desde que seu avô descobriu que alguém tinha roubado sua receita de carne com brócolis e feijões.

Jessica tragou saliva.

— O que aconteceu? — perguntou inocentemente.

—Não estou segura, mas Scott disse que seu sócio, um tal Carlton Graham, havia...

—Isso não é verdade. Ele nunca teria feito uma coisa assim!

A senhora Stewart a olhou sem entender uma defesa tão apaixonada.

—Recordo que Carlton e Helen foram para a Califórnia para ficarem perto de sua filha e sua neta — arqueou uma sobrancelha— É possível que seja parente de Carlton Graham?

Jessica compreendeu que não poderia enganá-la e assentiu com a cabeça.

—Sim, era meu avô.

A senhora Stewart abriu os olhos como pratos.

—Chase Sabe?

—Não, e não penso em dizer-lhe até que possa demonstrar a inocência de meu avô.

—Como pensa fazer isso?

Jessica deu de ombros.

—Vou indagar durante meu tempo livre. Alguém roubou aquela receita e fez pareceu que tinha sido meu avô. Prometi a minha avó que limparia o nome dos Graham.

—Poderia perguntar a Donald Schuster. Seu restaurante ficou com a receita.

—Continua aberto?

—Sim. Foi muito bem. Há algumas centenas de restaurantes Schuster por todo o país, inclusive na Califórnia. As pessoas dizem que têm o melhor guisado de carne com feijões, que alguns dizem que procede da receita de Westmoreland.

Jessica assentiu com a cabeça. Ela mesma o tinha comido.

—O que pode me dizer de Chase?

A senhora Stewart suspirou.

—É um bom homem que uma mulher que conheceu na Universidade quebrou seu coração. Acredito que se conheceram na Universidade de Duke, onde Chase foi com uma bolsa de estudos de basquete. Todo mundo diz que ela o pegou como um marisco enquanto tinha um futuro promissor no basquete. Entretanto, quando uma lesão o separou do esporte, ela o deixou. Após, isso nunca saiu seriamente com uma mulher.

Ficaram em silêncio alguns instantes, até que a senhora Stewart voltou a falar.

—Se me permitir , eu gostaria de lhe dar um pequeno conselho.

Jessica assentiu com a cabeça.

—Claro.

—Não espere muito tempo para dizer a Chase sua relação com Carlton Graham. Será melhor que não saiba por outra pessoa e se começar a fazer perguntas, acabará sabendo.

Aproximou-se um pouco mais de Jessica e fez uma pausa, como se estivesse procurando as palavras adequadas.

—Embora isso tenha acontecido há dezoito anos atrás, Scott Westmoreland se sentiu muito magoado pelo que considerou uma traição. E mais, em pouco tempo, teve um ataque do coração.

Jessica ficou boquiaberta. Não sabia daquilo.

—De verdade?

—Sim, embora não se pode culpar só a tensão pelo assunto da receita. Scott fumava muito e estou segura de que isso também teve muito a ver, sobretudo se tivermos em conta que morreu de câncer de pulmão — a mulher suspirou profundamente. — Não digo que seu avô fez o que dizem os Westmoreland nem que não o fez. Só digo que eles acreditam que fez. Chase, que adorava seu avô, tomou o sofrimento de seu avô como algo pessoal e durante anos tentou fazer com que Schuster reconhecesse que estava utilizando a receita dos Westmoreland. Schuster não reconheceu e como não havia nenhuma prova, Chase acabou abandonando seu empenho. Entretanto, duvido muito que se esqueceu.

Em pouco tempo, quando faltavam dez minutos para fechar, Jessica se encontrava sozinha na loja. Sabia que o primeiro dia tinha feito um bom caixa. Foi ao mostrador para recolher o que tinha sobrado. Também sabia que alguém do hospital infantil estaria de caminho para recolhê-lo.

Não podia deixar de pensar no que a senhora Stewart tinha contado sobre Chase e a garota por quem se apaixonou na Universidade. Quão pior poderia acontecer a alguém era que o deixassem atirado quando já estava bastante fundo. Esperava que ao cabo de todos esses anos ele se deu conta de que tinha sido para bem.

Ela também tinha esperado que sua mãe tivesse compreendido que estava melhor sem Jeff Claiborne. Ouviu a campainha da porta e se virou acreditando que seria o enviado do hospital.

Ficou sem respiração quando viu Chase.

 

                                                   Capítulo Três

—Olá, Jessica.

Chase passou todo o dia pensando nela e queria vê-la para comprovar se o que aconteceu no dia anterior foi realidade ou ilusão. Ao vê-la compreendeu que tinha sido real. Era tão formosa e provocante como recordava.

—Pensei que não teria tempo de comer e lhe trouxe algo — acrescentou ele ao ver que ela não dizia nada.

Chase viu que tremia o lábio inferior e notou que encolhia o estômago.

—Obrigado, mas não precisava. Tinha pensado em ir a uma dessas lanchonetes que há um pouco mais abaixo.

—A comida do Chase's Place é mais saborosa e mais saudável — Chase cruzou a loja e lhe ofereceu uma bolsa de comida. — Coma antes que esfrie.

Jessica tomou a bolsa e a deixou sobre o mostrador. Chase era a última pessoa que ela queria ver nesse momento. Recordava muito claramente o beijo. Uma parte dela queria estar furiosa com ele por fazer com que se sentisse daquela maneira, mas era difícil conseguir quando era tão amável.

Voltou a soar a campainha da porta e Jessica se virou para ver uma mulher que entrava.

—Olá, sou Glória Miller — disse a mulher. — vim recolher seu donativo para o hospital infantil — olhou Chase e sorriu. — Olá, Chase.

—Como vai Glória?

—Não posso me queixar.

Jessica se perguntou se Chase conhecia todo mundo e todo mundo conhecia ele.

—Espero que as crianças gostem— disse Jessica enquanto dava uma caixa à mulher.

—Estou segura de que adorarão — replicou ela com um sorriso muito cálido. — Obrigado por uma contribuição tão deliciosa.

A mulher partiu.

—É uma delicadeza de sua parte — a elogiou Chase.

—Não é grande coisa — Jessica deu de ombros — Excedi o previsto e fiz mais do que necessitava. Amanhã não quero vender nada que não esteja recém feito e pensei que o restante poderia doar ao hospital infantil.

O que fará com o que sobrar amanhã?

—Espero fazer só o necessário. Não me importa que sobre um pouco, mas não tanto como hoje. Falando de hoje, queria agradecê-lo.

—Já o fez — replicou Chase com um sorriso.

—Não me referia à comida. Refiro-me às suas recomendações. Muitas pessoas que vieram comentaram que você as enviou e o agradeço isso.

Ele se apoiou no mostrador.

—Estou seguro de que não fui o único. Os irmãos Criswell passaram para comer e não pararam de elogiar seu creme de chocolate. Assim eles também têm algo a ver.

—Eu agradecerei à eles assim que os vir — Jessica olhou o relógio e foi para a porta — É hora de fechar.

—Efetivamente — Chase também olhou o relógio

Chase não fez nenhum gesto de ter a intenção de partir e Jessica pôs o pôster e fechou a porta com chave. Também baixou a persiana da porta e a loja ficou em penumbra e muito íntima.

—Chase, poderia acender as luzes?

—Agora mesmo.

Jessica viu que cruzava a sala e parava bem diante dela.

—Sabe no que estive pensando o dia todo?

Ela não respondeu imediatamente e evitou seu olhar.

—Não, no que pensou?

Ele pôs um dedo no queixo e levantou sua face.

—No beijo de ontem à noite.

Jessica quis gritar que se esquecesse disso, mas como faria isso se ela não podia esquecer? Ela esteve todo o dia pensando no mesmo.

Chase, nos conhecemos ontem. As coisas estão indo muito depressa.

—Tem razão — concordou ele brandamente — Quero lhe propor algo.

—O que?

—Nos conhermos melhor.

—Por quê?

Ela não queria ter uma relação sentimental com ninguém. Já tinha o bastante colocando em marcha seu negócio. Além disso, necessitava do tempo livre para levar a cabo sua investigação. A primeira pessoa com a qual queria falar era Donald Schuster. Esperava que ele a ajudasse a demonstrar a inocência de seu avô.

Acredito que a resposta é evidente — respondeu Chase e interrompeu os pensamentos dela — Não gosta de mim e isso me preocupa porque não entendo. Assim, se me aproximo a dois metros de você, noto que se põe na defensiva. Também me preocupa o fato de me sentir atraído por você e eu não gosto de perder a cabeça por alguém que não conheço. Hoje pude trabalhar muito pouco porque estava pensando em você.

—Então, proponho que dirija sua atenção para outra coisa.

—Duvido que funcione. Desejo-a.

Jessica ficou atônita. Nunca tinha conhecido nenhum homem que dissesse as coisas com tanta clareza.

—Espero que minha franqueza não tenha a impressionado.

Ela o olhou nos olhos. Efetivamente, impressionou-a. O coração quase saía do peito e sentia um comichão na boca do estômago. Na Califórnia, os homens rodeavam e nunca se sabia o que estavam pensando.

—É um homem atraente, Chase, e estou segura de que pode sair com qualquer mulher.

—Não muito — Chase sorriu—, sobretudo durante os últimos seis meses —ela abriu a boca para falar, mas ele apoiou um dedo em seus lábios—. Não estou lhe pedindo que se case comigo, Jessica. Só quero que cheguemos a nos conhecer. Acaba de chegar e posso lhe mostrar a cidade e apresentar as pessoas.

—É um homem e acabará querendo algo mais.

—Certeza?

—Sim.

Jessica se sentiu dominada pelo pânico. Nenhum homem tinha conseguido que ficasse sem argumentos. Chase era um homem viril, intenso e perigoso e as três coisas a preocupavam.

Chase sabia que se dissesse que não a queria mais seria uma mentira. Olhou a bolsa que havia sobre o mostrador.

—Venha, coma isso. Gostaria de ir ao cinema amanhã de noite? — acrescentou imediatamente.

Ela piscou e o olhou nos olhos. Estava mudando de conversação e os dois sabiam.

—Ao cinema amanhã de noite?

—Sim, ao cinema — sussurrou ele com uma sensualidade que a alterou — Pegarei você por volta das sete.

O bom senso dizia a Jessica que não poderia ficar com um Westmoreland, mas ele poderia ter alguma das respostas que ela necessitava.

—Tudo bem. As sete — Jessica agarrou o trinco da porta. — Já pode partir.

Ela afastou um cacho da rosto, tomou ar e esperou. Ele tinha o olhar cravado em seus olhos e isso a excitava e fazia com que seus mamilos endurecessem. Perguntou-se se ele teria percebido. O aroma dele a fazia querer beijar seu pescoço e...

Fechou os olhos para não seguir por esse caminho. Quando voltou a abri-los, ele continuava ali, com os lábios a poucos centímetros dos dela. Uma pontada de desejo a afligiu.

—Sente o mesmo que eu, Jessica. Não me pergunte por que está acontecendo isto porque não sei, mas é como se estivéssemos destinados a ter estes momentos e não pudéssemos evitá-los.

Jessica jogou a cabeça para trás para não compartilhar essa forma de ver as coisas. Entretanto, ele pôs as pontas dos dedos em seus lábios e ela os separou. Ele tinha razão. Nenhum dos dois podia evitar. Ela não queria ter uma relação sentimental com ele, mas a necessidade de voltar a beijá-lo a estremecia dos pés a cabeça. Além disso, a julgar pelo olhar de Chase, sabia que ele tinha notado.

Fez um esforço para reprimir essa parte passional dela que não conhecia. Era única nas acareações quando era advogada, mas era uma inexperiente quando se tratava dessas sensações que faziam seus lábios tremerem.

—Por favor, me deixe beijá-la, Jessica.

Com essa voz, rouca, profunda e sexy não era necessário que pedisse duas vezes. Ofereceu seus lábios. Assim que suas bocas se encontraram, ela emitiu um gemido e permitiu que a língua dele se deleitasse com todos seus caprichos e a levasse até uma entrega incontrolável. Esse beijo era algo mais que atração mútua e prazer. Havia componentes que a aterrorizavam. Ele beijava maravilhosamente e ela sabia que podia ser um amante fantástico... Mas ela não pensava deitar-se com ele nunca.

Embora tampouco estivesse tão segura. Jessica se afastou. Ele tinha que partir nesse momento.

—Adeus, Chase.

Adeus — ele sorriu. — Até manhã às sete.

Chase desapareceu.

A noite seguinte, Jessica tomou uma baforada de ar enquanto cruzava a sala para abrir a porta. Eram sete em ponto e, como era de se esperar, Chase era pontual. Ela usava jeans e um pulôver. Notou o pulso acelerado quando foi abrir a porta. Ele, como sempre, estava impressionante, alto e moreno. Não teria nem idéia do quanto tinha alterado seu sono durante as duas noites anteriores.

—Chase...

—Jessica...

— Gostaria de tomar algo antes de ir?

Ela voltou a se estremecer ao ver que ele deteve o olhar em sua boca. Ficaria encantada ser imune à sua virilidade, mas não era.

Não. Ficou alguma bolacha de chocolate das de ontem?

Jessica não pôde evitar um sorriso. Parecia um menino na seção de brinquedos de umas lojas de departamentos.

—Sim, além disso, são seus favoritos. Coloquei-as em uma caixa. Poderá levar quando voltar.

—De verdade...? — perguntou ele com um sorriso de orelha a orelha.

—Claro — Jessica sorriu—. Vamos.

—Vamos.

—Tem fome?

Jessica olhou Chase enquanto saíam do cinema e não pôde evitar de rir.

—Fala sério? Comi quase todas as pipocas e dois cachorros quentes, para não dizer nada do refrigerante gigante e das quinquilharias.

Chase esboçou meio sorriso e a agarrou pela mão.

—De acordo, não me entusiasma a comida lixo.

—Já imaginei. Quem pode competir com o cardápio do Chase's Place?

—Normalmente eu, mas Kevin resiste.

—Kevin?

—É meu cozinheiro, mas quando ele não está, eu me ocupo da cozinha. Kevin e eu somos os únicos que conhecemos as receitas dos Westmoreland e um contrato compromete a não divulgar nunca seus segredos. Tive que tomar essa medida pelo que aconteceu com meu avô faz anos. Saiu escaldado por confiar muito em seu sócio.

Jessica tragou o enorme nó que lhe fez na garganta. Conhecia a versão de sua avó, mas não a de Chase.

—O que aconteceu?

—Faz anos, um homem que se chamava Carlton Graham fazia quase tudo relacionado com a cozinha enquanto meu avô se ocupava da administração. Os dois trabalharam juntos durante anos até que tiveram uma discussão e se separaram. Ao cabo de algumas semanas, meu avô descobriu que Carlton tinha vendido os segredos de algumas das melhores receitas dos Westmoreland. Não é necessário dizer que meu avô nunca perdoou aquela traição. Eram receitas que estavam há gerações na família Westmoreland.

Jessica teve que morder a língua para não sair em defesa de seu avô.

—Como seu avô descobriu quem tinha roubado as receitas?

Tinham chegado ao carro de Chase e ele abriu a porta.

—Porque ninguém mais sabia os ingredientes. Além disso, meu avô guardava o livro de receitas sob chave e ninguém, além de Carlton, podia consultá-lo.

Jessica, enquanto se sentava no assento de couro do esportivo, pensou que, efetivamente, ele culpava seu avô.

—E as demais pessoas que também trabalhavam no restaurante?

—Que eu recorde, só tinha quinze anos então, só trabalhavam duas garçonetes, Paula e Darcy, e nenhuma sabia as receitas. Só atendiam as mesas e os clientes.

Jessica assentiu com a cabeça e decidiu que já tinha feito muitas perguntas. Não queria que ele suspeitasse. Só queria poder ficar à altura dele e lhe dizer que era a neta de Carlton Graham, mas isso seria um engano se não poderia demonstrar a inocência de seu avô.

Chase também se sentou em seu assento e a olhou antes de pôr o motor em marcha.

—Não me respondeu se tinha fome.

—Não — ela sacudiu a cabeça e o olhou nos olhos—, mas se você tiver fome, podemos tomar algo.

—Tenho uma idéia melhor — Chase sorriu—. O que me diz se passarmos por sua loja e tomo umas bolachas com um copo de leite? Não há nada comparável a um bom copo de leite frio e umas bolachas de chocolate.

Jessica duvidou que fosse uma boa idéia, mas haviam dito que queriam se conhecer melhor e lhe tinha tirado alguma informação. Na segunda-feira perguntaria à senhora Stewart pelas garçonetes que trabalhavam com o avô do Chase para saber se seguiam por ali.

—Sim, tenho leite e o menos que posso fazer depois de uma noite tão maravilhosa é permitir que dê gosto a suas papilas gustativas.

Chase esboçou um sorriso enquanto acendia o motor.

—Dar gosto a minhas papilas gustativas? É uma forma de dizê-lo...

 

                                            Capítulo Quatro

—Acredito que não sabe bem quão deliciosas são estas bolachas, Jessica.

Jessica se recostou na cadeira e sorriu agradada pela adulação.

—Seguro que diz o mesmo a todas as garotas.

Chase deu um gole de leite, limpou os lábios com a língua e sorriu.

—Não, sinceramente. E mais, a maioria das garotas com as que saí, não sabiam cozinhar nada. Certamente por isso eu era tão valioso para elas...

Ela sorriu e desejou não se sentir tão alterada pelo sorriso dele. Ele levava uma hora ali e ela tinha estado dando goles de seu café enquanto o escutava contar histórias de sua família. Pôde perceber o amor que sentia por seus irmãos, embora ele tentasse convencer-la de que era um pesadelo.

Entretanto, disse maravilhas de sua irmã Delaney, quem chegaria ao dia seguinte com seu marido e seu filho. No domingo era o batismo das gêmeas de seu irmão Storm e haveria um festa no Chase's Place.

—Me calei. Agora, fale de você — disse Chase.

—De mim? —perguntou ela com uma sobrancelha arqueada.

—Sim, me fale de você Jessica.

Ela apertou os lábios e pensou em algo que não a relacionasse com o Carlton Graham. Se ele se lembrava de seu avô, também era muito possível que se lembrasse de sua avó.

Inclinou-se para frente, tinha que ter muito cuidado, não queria enganá-lo, mas quanto menos soubesse, melhor.

—Nasci em Sacramento, Califórnia, fui à Faculdade de Direito no UCLA e...

—À Faculdade de Direito? É advogada?

—Era e suponho que sigo sendo por que estou associada ali. Trabalhei em uma grande empresa que me contratou ao sair da Faculdade. Entretanto, com o tempo me dava conta de que essa empresa não tinha princípios e muitas vezes eu tinha que defender atuações delas que sabia serem incorretas — deu um gole no café — Certamente eu seguiria ali se não fosse por minha avó. Ela morreu e me deixou uma herança com a que abri Delícias Irresistíveis.

—E seus pais?

—Minha mãe era solteira — respondeu ela em voz baixa — Durante quinze anos pensou que meu pai se casaria com ela, até que descobriu que tinha estado enganando-a. Não podia se casar porque já estava casado e tinha uma família na Filadélfia.

Observou que Chase ficava muito quieto. Notou que a ira se apoderava dele,

—Como pôde fazê-lo?

—Era comerciante e viajava muito. Vivia na Pensilvânia, mas nos visitava sempre que passava pela cidade. Pôde levar essa vida dupla porque minha mãe nunca duvidou de suas idas e vindas — Jessica deu outro gole no café—. Eu o odiava mais quando aparecia inesperadamente. Minha mãe se convertia em outra pessoa quando estava com ele. Se fazia débil, vulnerável e dependente.

Chase assentiu com a cabeça. Conhecia Jessica fazia só uns dias, mas sabia que não se parecia com sua mãe. Não se imaginava que um homem pudesse dominá-la.

—Como descobriu sua mãe a verdade?

Ela se perguntou por que estaria lhe contando todo aquilo, mas sabia o motivo. Deu-se conta de que estava gostando dele.

—Não o descobriu. Quem descobriu foi o meu avô. Incomodava-Lhe que meu pai não se casasse com minha mãe em quinze anos e também receava das visitas de meu pai. Contratou um detetive e descobriu tudo.

Chase se limpou os lábios com o guardanapo.

—Como assimilou sua mãe?

Jessica sentiu um calafrio ao lembrar-se.

—Não assimilou. Estava tão destroçada e humilhada que tomou uma overdose de soníferos.

—Sinto muito — Chase estendeu a mão por cima da mesa e agarrou a mão dela — Deve ter sido chocante para você.

O coração da Jessica se disparou quando a mão do Chase agarrou com força a dela. Olhou um momento essa mão. Era grande, forte e consoladora.

—Foi — reconheceu ela — Eu tinha quinze anos e só ficaram meus avós. Fui viver com eles. Ajudaram-me muito em um momento difícil. Também tinha Jennifer.

—Jennifer?

—Sim, Jennifer Claiborne, a mulher legal de meu pai. Divorciou-se dele assim que se inteirou de tudo. É muito carinhosa e me abriu seus braços e seu coração. Ocupava-se de mim todos os verões para que estivesse com meu irmão e minha irmã e se converteu em uma segunda mãe para mim. Na demanda de divórcio também exigiu que meu pai me dotasse com um fundo para estudar na Universidade, como tinha feito com meus irmãos.

—Parece uma mulher de valor — Chase sorriu.

—É e sei que posso contar com ela para algo. Sempre me apoiou e, dadas as circunstâncias, me parece admirável. Muitas mulheres não teriam feito nada para que eu refizesse minha vida depois da morte de minha mãe.

—E seu pai?

Chase se inclinou para frente e ela captou o aroma de sua loção pós-barba misturada com um aroma viril que lhe alterou o pulso.

—Depois do divórcio, meu pai desapareceu da vida de todos. O último que me contaram é que vive com alguém em Nova Iorque.

—Que canalha — o tom do Chase era de ira — por que mudaste para Atlanta?

—Sobre tudo, pelo custo da vida. Em comparação com outros cidade, é muito vantajoso. Além disso, o agente imobiliário encontrou este edifício e me disse que incluía o andar de cima. Pareceu-me perfeito.

Ela apartou sua mão lentamente e se deixou cair contra o respaldo da cadeira.

—Acredito que já tomou suficientes bolachas por esta noite, senhor Westmoreland — Jessica olhou seu relógio — Além disso, eu posso me levantar tarde os sábados, mas você não.

—É verdade — Chase sorriu—, mas você também terá que tomar o café da manhã. Gosta de ficar comigo? Kevin faz uns ovos com tortas de milho incríveis.

Ela inclinou a cabeça e o olhou com atenção.

—É um convite?

—Efetivamente. Logo, ao redor de meio-dia, se não estar muito ocupada, pode me acompanhar a uma partida.

—Uma partida? —perguntou ela com uma sobrancelha arqueada.

—Sim. Treino a uma equipe de meninos do centro social do College Park. Amanhã há uma partida entre os Crusaders do Chase e os Warriors do Willie.

Jessica sacudiu a cabeça com um sorriso.

—Eu acreditava que agora era a temporada de rugby.

—É-o para alguns, mas para os pais que querem que seus filhos se convertam nos Michael Jordão do futuro, todas as temporadas são de basquete. Me Acompanhará?

—Basquete em outubro... Como poderia resistir? Por certo, quem é Willie?—respondeu ela com um sorriso, embora soubesse que teria que ter rechaçado o convite.

Chase riu.

—É o treinador da outra equipe. Tem uma loja de vídeos a umas maçãs daqui. Foi profissional com os Pistons faz uns anos. Fomos juntos ao instituto e seguimos sendo amigos.

Jessica assentiu com a cabeça. Em toda a noite, ele não havia dito nada sobre seu sonho de ser jogador de basquete. Olhou-o enquanto se levantava.

—Não vai acompanhar-me à porta?

—Claro que sim.

Ele cruzou a habitação para jogar uma olhada às chaleiras e os moldes que havia sobre a mesa de trabalho.

—Algum dia terá que me deixar que veja como faz a massa de chocolate.

—Mmm... Ao melhor, algum dia...

Jessica tentou concentrar-se no que ele estava dizendo e não no que tinha posto. Parecia-lhe muito apetecível com esse pulôver negro que cobria seu corpo musculoso e uns jeans que se ajustava a umas coxas muito duras.

Caminharam juntos até a porta. Jessica tentou conter a pontada que sentiu no estômago, mas não pôde. Sabia que era uma ocasião muito boa para que lhe desse um beijo de boa noite. Espantava-lhe reconhecê-lo, mas estava desejando que o desse.

—Ficamos certos de tomar o café da manhã juntos? —perguntou-lhe ele quando chegaram à porta.

—Não tenho certeza... — Jessica se encolheu de ombros—, mas a partida é certa.

—De acordo, te pagarei às onze.

Ele se inclinou para frente e deixou os lábios a uns centímetros dos dela.

Vamos ter que fazer algo especial na quarta-feira que vem — sussurrou ele sem afastar o olhar da boca dela.

—Por quê?

—Então já nos conheceremos uma semana mais — ele esboçou um leve sorriso — Sei que começo a cair bem. Por um momento, estive preocupado.

Estavam tão perto que ela podia notar seu fôlego na cara e seu aroma era tentador.

—Quer cair bem? —perguntou-lhe ela enquanto se aproximava dele e lhe punha as mãos na cintura.

—Sim. Sou simpático, embora tenha meus dias maus, como todo mundo.

—Tentarei o ter presente.

—Rogo-lhe isso.

Chase a beijou nos lábios. Ela tinha uns lábios incríveis e nunca se cansaria de beijá-los. Essa noite dormiria pouco. Já sabia. Por isso, para poder acontecer à noite, decidiu que tinha que recordar cada movimento da língua, cada mordisco, cada instante. Gostava de seus gemidos. Gostava de sentir sua língua e gostava de como o agarrava pelos ombros. Mas, sobre tudo, gostava de seu sabor ardente, Sabia que se não se afastasse, não poderia resistir à tentação de tomá-la em braços e subir ao seu quarto.

—É uma mulher diabólica — sussurrou Chase enquanto se afastava.

Jessica o observou enquanto ele abria a porta e saía.Ela fechou a porta com chave e tomou fôlego. Chase Westmoreland era tão delicioso como o chocolate, mas não podia ceder a esse apetite voraz.

—Te senti falta de durante o café da manhã.

Jessica sorriu enquanto se afastava para deixá-lo passar. Enquanto ele caminhava para o centro da loja com um café na mão, a luz que entrava pela porta ressaltava suas feições e ela sentiu um verdadeiro desejo.

—Decidi empregar o tempo em fazer algo além de comer. Ganhem ou percam, acredito que os Crusaders do Chase se merecem umas bolachas.

Ele a olhou com a cabeça inclinada e expressão de surpresa.

—Fez bolachas?

—Sim — ela sorriu — pensei que era o mínimo que podia fazer por uma causa tão digna. Acredito que é maravilhoso que lhes dedique seu tempo.

—Não é grande coisa — Chase se encolheu de ombros—. São uns meninos estupendos. Além disso, eu adoro o basquete. Meu sonho era ser profissional, mas uma lesão me impediu isso. Assim terminei a Universidade e voltei.

—Então decidiu abrir o restaurante?

Chase sorriu e se apoiou no mostrador.

—Não, a idéia não me ocorreu até três anos depois. Eu, como você, trabalhei três anos como assessor financeiro em uma empresa. Não demorei muito em me cansar dos princípios do escritório e em trocar de profissão — riu. — Embora não lhe acreditem nisso, a idéia de abrir o restaurante foi de meus irmãos. Eu fui o que passou mais tempo com meu avô enquanto ele estava ativo. Trabalhava em seu restaurante quando saía do colégio e os fins de semana. Ele me passou os segredos das receitas. Além disso, como eu adorava cozinhar, meus irmãos, que então estavam solteiros, foram a minha casa a comer e me propuseram que pusesse meu próprio negócio — Chase deu um gole no café—. Tinha algum dinheiro economizado, meus irmãos também contribuíram e encontramos o edifício. Ao princípio era um negócio familiar no qual todo mundo trabalhava, inclusive meus pais, mas assim que comecei a ganhar algo, decidi contratar a outros trabalhadores.

—E agora, Chase's Place é um lugar muito freqüentado, famoso por sua deliciosa comida sulina — particularizou Jessica.

—Sim, e estou muito orgulhoso disso.

—Não pensaste em conceder alguma franquia?

—Sim, sobre tudo, ultimamente. Entretanto, tenho que estar seguro de que não se perca o ambiente quente e familiar — Chase olhou o relógio. — Está pronta?

—Sim, só necessito ajuda para levar a caixa de bolachas até o carro.

Ela se dirigiu para a cozinha, mas ele deixou o café no mostrador e a deteve. Ela o olhou e imediatamente sentiu um nó no estômago. Ouviu a sirene de alarme que lhe dizia que foram muito depressa. Seguia sendo um Westmoreland. Entretanto, quando a olhava daquela maneira, não podia reparar nas rixas familiares.

—Façamos planos para a semana que vem — sussurrou ele com meio sorriso.

—Que tipo de planos?

—Jantar na quarta-feira em meu restaurante, às oito.

—Mas eu acreditava que na quarta-feira fechava às seis... — Jessica arqueou uma sobrancelha.

Ele ampliou o sorriso.

—Efetivamente, mas conheço dono do Chase's Place e me deu permissão para levar a uma convidada especial depois de fechar.

Ela riu.

—De verdade?

—De verdade.

A sirene era ensurdecedor, mas preferiu fazer conta que não a ouvia.

—Eu adoraria jantar na quarta-feira contigo.

—Obrigado.

Chase se inclinou e a beijou.

—Surpreendeu muito que Chase convidasse a alguém a partida de hoje — lhe disse com um sorriso Tara Westmoreland, a mulher do Thorn. — Nos pareceu maravilhoso.

—Por quê? —perguntou Jessica com perplexidade.

Quando Chase e ela chegaram ao centro social, ele a levou a um grupo de quatro mulheres. Apresentou-as como Shelly, Madison e Tara, suas cunhadas e Dana, a mulher de seu primo Jared.

—Porque Chase é muito reservado e nunca havia trazido para uma garota com a que sai a uma partida — respondeu Shelly, a mulher de Der.

Jessica se encolheu de ombros e se apoiou em um dos degraus. Faltavam dez minutos para que começasse a partida.

—Realmente, não saio com ele. Nos Conhecemos esta semana, quando abri uma confeitaria a uns metros de seu restaurante. Vim de Califórnia e, como não conheço ninguém, foi tão amável de me convidar hoje.

Madison, que estava casada com o Stone, sorriu e lhe deu uma palmada na mão.

—acredite, nunca teria te trazido conosco se não fosse algo especial. Chase protege sua intimidade com unhas e dentes.

As outras três mulheres assentiram vigorosamente com a cabeça. Jessica piscou sem saber o que pensar. Não queria que ninguém desse ao obvio que estavam saindo. Olhou para a quadra de esportes e viu o Chase que estava falando com seus irmãos e seu primo. Qualquer poderia dizer que eram parentes. Já tinha conhecido aos homens Westmoreland e lhe tinham parecido amáveis e simpáticos, embora não queria que fossem.

Enquanto foram no carro, Chase a tinha surpreendido ao convidá-la para o batismo de suas sobrinhas gêmeas, no dia seguinte, e ao banquete que ia se celebrar depois em seu restaurante. Introduzi-la em um acontecimento familiar tão importante lhe tinha parecido excessivo e ela tinha declinado o convite. Além disso, ao dia seguinte havia ficado de ir ver o Donald Schuster. Tinha telefonado para ele no dia anterior e ele tinha aceitado recebê-la em sua casa.

—Chase tornou a olhar para aqui — comentou Tara com um sorriso. — Jessica, sorri para o Chase para que saiba que não passa mal conosco.

Jessica teve que sorrir. Essas mulheres Westmoreland eram incríveis. Caíam-lhe bem. Olhou para o Chase e sorriu. Ele também sorriu antes de dirigir aos moços de sua equipe.

—Não olhem agora, mas aí vêm os meninos — comentou Dana ao ver que seu marido subia as escadarias acompanhados por seus primos.

—Terão tanta curiosidade por te conhecer como nós — sussurrou Shelly a Jessica.

Jessica a olhou com certo nervosismo.

—Não irão me perguntar algo sobre minha relação com o Chase...

Tara riu.

—Não, confia em que nós, lhe tiremos desta situação e logo o contemos.

—Mas tampouco estranhe se Der te faz alguma pergunta — acrescentou Shelly com um sorriso—. É o policial que tem dentro de si. Não tome como algo pessoal. Além disso, é o irmão maior e se sente um pouco responsável, embora não o reconheça. Ao comprovar quão iludido está Chase contigo, ficará um pouco fofoqueiro.

Jessica as olhou fixamente sem saber se falavam a sério. Não demorou a dar-se conta de que, efetivamente, falavam a sério.

Engoliu seco quando o grupo de homens chegou até elas e tentou dominar-se,

—Então, de onde é, Jessica? —perguntou-lhe Der.

—De Sacramento — respondeu ela com um sorriso forçado — estive ali?

—Sim, faz uns anos, em um congresso sobre o cumprimento da Lei. É uma zona muito bonita.

—Sim, é uma zona muito bonita — repetiu ela.

Por que te partiu?

Jessica notou que todo mundo esperava sua resposta. Ela não ficava nervosa facilmente, mas Der Westmoreland estava conseguindo. Não era impertinente com as perguntas, mas ela detestava ver-se na situação de ter que explicar-se. Entretanto, nesse caso, faria. Era evidente que os Westmoreland eram unidos e ela invejava como se cuidavam uns dos outros.

—Por estresse no trabalho — respondeu ela enquanto se apoiava no degrau e se tirava uma mecha da cara—. Era advogada em um...

—É advogada? —interrompeu-a Jared.

Ela o olhou. Sabia que era o advogado da família. Sorriu quando todo mundo ficou em silêncio.

—Sim. Fui à Faculdade de Direito do UCLA e logo entrei em uma grande empresa. Ao princípio, meu trabalho eu adorava, mas com o tempo me dava conta de que a empresa não tinha princípios e me vi defendendo atuações que eu sabia que eram incorretas.

—E partiu?

Jessica passou a olhar Tara e sentiu alívio ao ver o olhar de admiração da mulher.

—Sim, mas antes me risquei um plano trabalhista. Minha avó faleceu e me deixou uma herança, que eu utilizei para cumprir meus sonhos. Sempre me encantou a confeitaria e preparar doces de chocolate e decidi que necessitava uma mudança de ares e de profissão.

—Por que em Atlanta?

Jessica conteve o fôlego e voltou a olhar a Der. Seus olhos escuros pareciam dizer que suspeitava que não estivesse lhes contando tudo.

—Conheci uma garota que tinha vivido aqui e me contou que se vivia muito bem. Além disso, todo mundo sabe que é uma cidade em crescimento.

Der abriu a boca para seguir com as perguntas, mas nesse momento soou a sirene que indicava o princípio da partida. Todos dirigiram a atenção à quadra de esportes. Jessica se sentiu aliviada, mas se deu conta de que Der seguia olhando-a e pensou que não podia baixar o guarda.

—Estará orgulhoso de que sua equipe tenha ganhado — comentou Jessica ao Chase, horas mais tarde, enquanto se dirigiam para o carro dele.

Depois da partida, os pais tinham servido uns refrescos e as guloseimas da Jessica tinham sido todo um êxito.

—Sim, estou, acredito que os meninos o têm feito muito bem. Jogaram bem em equipe e isso é o mais importante, a equipe, não as individualidades. Se conseguir meter isso na cabeça, serão melhores esportistas quando chegarem a ser profissionais, se chegarem a sê-lo — Chase olhou o relógio — Minha irmã Delaney e sua família já teriam chegado e todos estarão em casa de meus pais. Você gostaria de ir ali um momento comigo?

Jessica respirou fundo. Tinha passado muito bem com sua família, mas não queria seguir dando a impressão de que tinha alguma relação com o Chase.

—Obrigado pelo convite, mas acredito que me vou retirar. Foi uma semana muito agitada para mim. A inauguração esteve muito bem, mas foi exaustiva e quero passar o resto do dia e amanhã descansando.

—Muito bem.

Chase lhe abraçou pelos ombros enquanto seguiam para o carro. Jessica começava a comprovar que ele era encantador e não queria imaginar-se qual seria sua reação quando descobrisse que não lhe tinha contado tudo sobre si mesmo. Entretanto, até que pudesse demonstrar a inocência de seu avô, quanto menos soubesse ele, melhor.

 

                                             Capítulo Cinco

Jessica passou com seu carro a porta de segurança do imóvel do Schuster. Alegrava-se de que Donald Schuster aceitasse recebê-la. Tinha-lhe comentado que se lembrava de seu avô e certamente teria curiosidade por saber o que queria.

Enquanto se aproximava da enorme casa, pensou que lhe seria muito fácil demonstrar a inocência de seu avô se o senhor Schuster lhe falasse quem lhe tinha dado a receita dos Westmoreland. Logo, apresentaria seus achados aos Westmoreland e seguiria com a vida que tinha planejado. Durante essa semana tinha comprovado que a gente queria uma confeitaria nessa zona e mais de um negócio dos arredores lhe tinha proposto que lhes subministrasse seus produtos.

Ao cabo de uns instantes, Jessica chamou com os nódulos em uma porta enorme de madeira e piscou quando a abriu um mordomo uniformizado.

—No que posso ajudá-la, senhorita?

—Sou Jessica Claiborne, vim a ver o senhor Schuster.

Jessica seguiu ao mordomo sem poder deixar de olhar a extravagância do lugar. Tudo indicava que se gastaram muito dinheiro, mas parecia mais um museu que um lar.

O mordomo se deteve e abriu uma porta que dava acesso a um pátio cristalizado. Um ancião, mais ou menos da idade de seu avô se tivesse vivido, estava sentado em uma cadeira de rodas olhando a um lago imenso.

—Senhor Schuster, sua convidada chegou — lhe anunciou o mordomo.

O homem deu a volta à cadeira de rodas para olharia com um sorriso.

—Entre — lhe disse com uma voz enérgica enquanto lhe assinalava uma poltrona. — Me disse que queria me fazer algumas perguntas sobre seu avô e o incidente das receitas dos Westmoreland.

Jessica assentiu com a cabeça.

—Todo mundo diz que meu avô as deu a você.

O homem agitou uma delicada mão no ar.

—Ninguém me deu nada. Alguns de meus pratos principais podiam saber como os deles, mas não eram os deles. Tentei dizer-lhe ao Scott Westmoreland, mas era muita cabeça dura para me escutar e suponho que as coisas se complicaram quando se inteirou de que eu tinha tentado convencer a seu avô para que fosse meu sócio. Entretanto, ele era muito amigo do Westmoreland e isso nada o danificaria.

Jessica não pôde replicar porque entrou o mordomo com uma bandeja com chá gelado.

—Evidentemente — disse Jessica quando se foi o mordomo—, algo danificou sua amizade porque deixou de trabalhar com o Scott Westmoreland.

—Sim, mas teria acabado voltando. Os dois discutiam todo o momento, mas sempre resolviam suas diferenças e voltavam a juntar-se. Formavam uma equipe incrível. Seu avô era um grande cozinheiro e Scott era um empresário impressionante, embora fora muito teimoso. Além disso, tenho entendido que seu neto, Chase Westmoreland, é como ele. Acredito que é um cozinheiro fantástico e que tem boa cabeça para os negócios quando se trata de levar um restaurante.

Jessica sorriu ao pensar que o ancião tinha dedicado uma adulação muito bonita ao Chase.

—Está seguro de que é impossível que tenha utilizado alguma receita dos Westmoreland?

—A minha idade já não estou seguro de nada — o homem soltou uma gargalhada—, mas meu cozinheiro de então me disse que eram suas receitas e eu não tinha nenhum motivo para não acreditá-lo.

—Entendo. Poderia me dar seu nome?

—THEODORE Henry. Chamávamo-lo Teddy.

— Segue trabalhando para você?

—Não! Faz anos que deixou de trabalhar para mim, mas acredito que tem uma empresa de catering na cidade.

Jessica deu um sorvo de chá, deixou o copo na mesa e sorriu.

—Obrigado, senhor Schuster, ajudou-me muito e lhe agradeço que me tenha dedicado seu tempo. Proponho me encontrar o senhor Henry e falar com ele.

—Chase, quer deixar de olhar pela janela? Jessica não voltou ainda. Se não te conhecesse, diria que está apaixonado por ela.

Chase se voltou e olhou a seu irmão com o cenho franzido.

—Conheci-a faz só uns dias, Thorn.

—E o que? — Thorn se encolheu de ombros — Tara demorou uns segundos em me deixar louco.

Chase sacudiu a cabeça. Podia recordar perfeitamente à noite em que Thorn e Tara se conheceram. A Tara gostava tanto, que Thorn teve sorte de que não arremetesse contra ele.

—Ninguém está me deixando louco — replicou Chase ao cabo de uns segundos.

—Se você o diz...

Chase respirou fundo. Às vezes lhe teria gostado de ser filho único.

—Der diz que há algo suspeito nela — acrescentou Thorn.

Chase arqueou as sobrancelhas tudo o que pôde.

—Der é polícia. Acredita que todo mundo é suspeito.

—Isso é verdade. Acredito que não gostou que falasse tão pouco de si mesmo e de sua família.

Chase se apoiou em uma mesa e se lembrou de tudo o que lhe tinha contado ela a outra noite. Era algo que não teria contado a todo mundo se lhe tivesse passado a ele. Comoveu que ela o tivesse contado.

—É uma pessoa discreta, Thorn. Não lhe dê importância.

—Claro que não! Será igual se sua garota tiver segredos —replicou Thorn com um sorriso.

—Não é minha garota.

—Quem não é sua garota? — perguntou sua irmã Delaney, que acabava de entrar.

—A estrela do chocolate — respondeu Thorn entre risadas. — Faz as melhores bolachas de chocolate que possa imaginar.

Chase entrecerrou os olhos.

—Fez para os meninos da equipe, mas já me fixei em que Stone, Der e você comeram algumas.

—Pareciam tão boas que não pude evitá-lo e recordaram às que fazia o cozinheiro do avô antes que se separassem.

Chase ia dizer algo quando viu que o carro da Jessica entrava no estacionamento.

—Vá, parece que já voltou sua garota — comentou ironicamente Thorn.

Chase se encolheu de ombros.

—E bem?

—Isso é o que eu me pergunto — respondeu Thorn enquanto saía da habitação.

Eram quase às cinco da tarde quando Chase terminou de ordenar o restaurante e tirou o lixo. Seus irmãos se ficaram ajudando-o, mas se alegrava de que já foram. Já lhe tinham tirado o sarro suficientemente para todo o fim de semana.

Fechou a porta do restaurante e olhou para a loja da Jessica. Perguntou-se o que estaria fazendo ela. Havia dito que ia passar o fim de semana descansando, mas tinha vontade de vê-la.

O que havia dito ao Thorn era verdade. Só a conhecia desde fazia uns dias, mas em tão pouco tempo tinha sabido mais coisas dela que de algumas mulheres com as que tinham saído meses. Inteirou-se de todas suas desgraças e de que adorava cozinhar. Gostava de falar com ela e não lhe importava lhe falar da lesão que lhe tinha impedido de ser jogador de basquete. Entretanto, não lhe tinha contado nada de Íris e de seu desengano amoroso.

Sorriu ao lembrar o êxito da Jessica com os meninos da equipe e seus pais. Todos agradeceram o detalhe das bolachas. Ela não tinha mostrado nenhum acanhamento ao tratar com todo mundo, entre outros, com sua família. Gostava de seu sorriso quando algo o fazia graça, mas também adorava quando franzia o cenho. Durante esses dias, lhe tinha falado mais de si mesmo do que o tinha feito com qualquer outra mulher.

Entretanto, como podia confiar nela ou em qualquer outra mulher? Depois de Íris, não confiava muito em outros, mas menos ainda nas mulheres. Era reservado com seus assuntos pessoais. Estava muito unido a seus irmãos e primos e de vez em quando comentava com eles coisas que lhe importavam, mas nunca falava de mulheres. As mulheres entravam e saíam de sua vida sem deixar rastro e queria que seguisse sendo assim.

Então, por que estava obcecando-se com a Jessica Claiborne?

Foi para o carro, mas se parou antes de abrir a porta. Tomou ar e se dirigiu para a loja da Jessica. A cada passo que dava tentava convencer-se de que só queria comportar-se como um bom vizinho que se interessava por ela. A saudaria da porta e se iria.

Ao cabo de uns instantes, quando ela abriu a porta, todas suas intenções de partir imediatamente se dissiparam. Era evidente que ela acabava de tomar banho. Também era evidente que não usava um sutiã debaixo da camiseta. Piscou para não olhá-la fixamente. Tinha uns peitos maravilhosos. Pareciam abundantes e firmes sob o tecido de algodão. Tinha que deixar de olhá-los e de desejar saboreá-los.

Afastou o olhar dos seios e a baixou. Levava umas calças curtas que deixavam ao descoberto suas impressionantes pernas e notou que a atração começava a ser irresistível. Deveria evitar a Jessica como à peste. A relação entre eles não era a que seus irmãos supunham, mas reconhecia que sentia uma pontada de desejo irreprimível cada vez que a via ou estava perto dela. Por que se expor a esse delírio? Tomou ar e cheirou o aroma que desprendia, parecia canela, sensual e agradável.

Chase...

Ele ouviu seu nome e se lembrou de que estava ali sem dizer nada.

—Posso entrar? —perguntou por fim.

Jessica o olhou aos olhos com as pernas tremulas. Seria fácil livrar-se dele. Só tinha que dizer, mas, por algum motivo, não queria fazê-lo. Tentou convencer-se de que aquela atração que existia entre eles tinha chegado muito longe e que era o momento de tomar uma decisão drástica. Se lhe dizia que era a neta do Carlton Graham, ele partiria, mas não estava preparada para fazê-lo. Não podia dizer-lhe até que pudesse demonstrar a inocência de seu avô.

Tomou ar e retrocedeu. Quando ele esteve dentro e a porta fechada, Jessica pôde notar que os olhos dele resplandeciam de desejo. O primeiro que pensou foi correr escada acima, mas sabia que ele a seguiria. Também podia ficar no sítio e deixar levar por algo que os dois desejavam. Para ser alguém a quem não gostava dos beijos, começava a estar obcecada com eles. Sua boca virtualmente tinha a marca de propriedade do Chase. Jessica se aproximou do Chase como atraída por um ímã e ele fez o mesmo.

—É um disparate — sussurrou ela enquanto se entregava a seus braços.

—Sim, um verdadeiro despropósito — confirmou ele enquanto a estreitava com força.

Ela inclinou a cabeça para trás e ele fez o que começava a ser tão normal como respirar: apropriou-se da boca dela com a sua e acendeu a mecha da paixão entre eles. Beijá-lo era cada vez melhor. Ele percorria as comissuras dos lábios com a língua, primeiro se deleitava delicadamente com sua boca, como se fora um vinho antigo, e logo a beijava desenfreadamente e se apoderava de sua língua até enlouquecê-la. Só com o Chase se entregava completamente a esse intercâmbio tão íntimo. Ele tinha a capacidade de despertar nela sensações que queria conhecer. Ela só podia limitar a estremecer em seus braços.

Ao cabo de uns instantes, ele se afastou, tomou o seu rosto entre as mãos e lhe deu um beijo na testa.

—Só queria comprovar que estava bem — Chase se deu conta de que era uma desculpa muito pequena—. Sobre tudo, queria voltar a te saborear.

Cedeu a seu desejo incontrolável e voltou a beijá-la na boca, até que se separou e seus olhares se encontraram. Sabia que uns minutos antes os dois tinham acertado. Aquilo era um disparate, entretanto, isso não impediu que voltasse a beijá-la antes de partir.

Jessica nunca tinha sabido contar ovelhas. Além disso, como ia contar ovelhas se Chase ocupava todos seus pensamentos? Ainda tinha o gosto de sua boca e sentia seu corpo contra o dela. Ofegava só de recordar a ereção que teve contra suas coxas enquanto a beijava cada vez com mais intensidade. Ela poderia havê-lo detido, mas não o fez. Ele tampouco o fez até que foi muito evidente que se seguisse por aquele caminho, ela teria acabado no chão sem calças, com as pernas separadas e Chase nu entre elas. Depois de beijá-la até uma deliciosa semi-consciência, desejou-lhe que dormisse bem e partiu.

Jessica não podia dormir. Fechou os olhos e recordou ao Chase em meio da loja olhando-a com olhos de desejo incontrolável. Deu um coice para ouvir o telefone e o desprendeu enquanto olhava o relógio. Sorriu e se sentou na cama. Como podia haver-se esquecido da chamada que recebia todos os domingos há essa hora?

—Olá...

—Olá, Jess. Que tal tudo?

O sorriso da Jessica se ampliou para ouvir a voz do Jennifer.

—A inauguração foi maravilhosa.

—Sinto haver me perdido isso.

—Entendo-o, de verdade...

Tinham renomado ao Jennifer gerente do colégio na Filadélfia e como o curso escolar acabava de começar, não tinha podido tomar uns dias livres.

—Soubeste um pouco do Savannah ultimamente?

Jessica perguntou por sua irmã, dois anos maior que ela, e que trabalhava quase todo o tempo no estrangeiro como fotógrafa.

—Sim, chamou-me hoje e me disse que tinha tentado falar contigo, mas que não estava em casa e não pôde conectar com seu celular Naturalmente, não deixou nenhuma mensagem. Já sabe como detesta falar com esses aparelhos. Também falei com Rico e me disse que pensa em aparecer por aí a semana que vem.

—Estou desejando vê-lo — Jessica sorriu.

Rico era quatro anos maior que ela e detetive particular. Jessica o adorava. Jessica e Jennifer falaram durante uma hora e contou a sua madrasta as pesquisas para demonstrar a inocência de seu avô.

— Está segura de que Chase Westmoreland não sabe quem é? — perguntou-lhe Jennifer.

—Sim, estou segura. Para ele sou Claiborne e não me relaciona com o Graham.

—Bom, espero que não esteja cometendo um engano ao não lhe dizer a verdade desde o começo.

—Ele é um Westmoreland. Não me acreditaria. Como seu avô não acreditou em meu avô.

—Isso me você contou, também me parece um homem especial. Certamente, alguém que poderia te interessar...

E tanto! Disse-se Jessica ao lembrar-se da atração que sentiam o um pelo outro.

—Já sabe o que penso sobre as relações sérias, Jennifer.

—Sim, e eu também tenho motivos para pensar o mesmo, mas todos têm a necessidade de que alguém nos ame.

Jessica suspirou. Até que conheceu o Chase, ela teria negado que essa necessidade existisse, mas nesse momento...

—Será melhor que desliguemos, estou certa que tem muito trabalho a fazer amanhã.

Jessica desligou e ficou mais cômoda na cama. Não podia reprimir outro tipo de desejo que tentava apropriar-se de sua cabeça e de seu corpo. Era um desejo que não havia sentido jamais, mas que aparecia sempre que Chase a beijava. Era o desejo de dar um passo mais e ter uma aventura com ele, uma aventura apoiada no desejo, não no amor, algo que não tinha feito até então. Não sabia se poderia resisti-lo e se poderia resistir essa paixão. Possivelmente o melhor fora que se mantivera afastada da tentação.

 

                                        Capítulo Seis

—Então, lembra-se das duas garçonetes que trabalhavam com meu avô? — perguntou Jessica à senhora Stewart enquanto preenchia o mostrador de bolos.

—Claro, Paula Meyers e Darcy Evans. Paula segue vivendo no College Park e Darcy se mudou ao Macón faz uns anos para estar mais perto de sua família.

—E o que sabe do Theodore Henry? O cozinheiro do senhor Schuster.

—Sim, também o conheci. Era um solteiro bonito, amável e bastante reservado. Ia pouco à igreja, mas não incomodava a ninguém. Fazia seu trabalho e só se ocupava de seus assuntos.

Jessica assentiu com a cabeça. Tinha pensado falar com o senhor Henry e Paula Meyers no final da semana. Possivelmente demorasse mais tempo em ver o Darcy Evans porque teria que ir ao Macón.

Preferia falar diretamente com todos. Quando foi advogada aprendeu que a comunicação cara a cara era muito mais efetiva que as conversações por telefone.

Umas horas mais tarde, a senhora Stewart partiu e ela ficou sozinha pensando na especialidade que faria para o dia seguinte. Entretanto, só podia pensar no Chase. Não podia tirar da cabeça o prazer que sentia ao beijá-lo. Recordava claramente o delicado e poderoso movimento de sua língua dentro de sua boca e sobre seus lábios. Tinha a capacidade de derrubar cada muro que ela levantava e isso era um problema.

Olhou o relógio. Ainda ficava uma hora. Quando Donna, a garçonete do restaurante do Chase, tinha passado por ali para comprar uns bolos de chocolate, havia dito que ele tinha que partir inesperadamente ao Knoxville porque tinha tido um problema com os fornecimentos e que não voltaria até na quarta-feira. Ela recebeu a notícia encolhendo os ombros e com a esperança de que isso indicasse indiferença, o qual não era verdade. Como ia sentir indiferença se já estava com saudades?

Foram jantar no restaurante dele, depois de fechá-lo, para celebrar que se conheciam desde fazia uma semana. O só queria passar um momento agradável com uma mulher por amizade e nada mais. Era verdade que se deram alguns beijos, mas sua relação se apoiava na amizade, embora também pudesse se desmoronar quando ele inteirasse de quem era ela.

Suspirou para ouvir o telefone e o desprendeu.

—Desejos Irresistíveis, me diga...

—Sim, estou respondendo a uma chamada da Jessica Graham. Sou Paula Meyers.

—Senhora Meyers... —Jessica sorriu—. Obrigado por me chamar.

 

— Seguro que não quer nada mais, Chase?

Chase levantou o olhar da fatura. Estava desejando largar-se do Knoxville e voltar para sua casa, mas parecia que a filha do Sam Nesbitt voltava para ataque. Storm tinha saído algumas vezes com o Cyndi, mas como ele já estava casado, ela, evidentemente, tinha dirigido sua atenção para o irmão solteiro.

—Completamente seguro. Parece que tudo está bem.

—Eu o asseguraria rotundamente... — replicou ela enquanto o olhava de cima abaixo e se passava a língua pelos lábios.

Ele não sentiu absolutamente nada. Se tivessem sido os lábios da Jessica, não teria podido conter uma quebra de onda de desejo.

—Estou a ponto de fechar a loja, Chase. Conheço um lugar aonde podemos ir passar o momento...

Chase arqueou uma sobrancelha. Storm já lhe tinha comentado que Cyndi não tinha rodeios. Olhou-a e soube que ela poderia cumprir com sua oferta de «passar o momento», mas não se interessava. A única mulher que lhe interessava estava em Atlanta.

—Obrigado pela oferta — replicou ele com um sorriso—, mas ainda tenho que fazer algumas coisas antes de voltar amanhã para Atlanta. Diga a seu pai que estou sentido não poder vê-lo.

—Claro, o direi — concluiu ela com um gesto de decepção.

Chase voltou para seu hotel, tomou banho e se tombou na cama. Jessica apareceu em seus pensamentos e ele notou que lhe fervia o sangue. Não tinha conhecido a ninguém como ela. Sabia que não deveria pensar tanto nela, mas não podia evitá-lo. Só era uma atração sexual fruto de seis meses de abstinência, mas Jessica tinha algo que lhe impedia de desejar a outra mulher que não fora ela.

Ergueu-se e agarrou o cartão de Desejos Irresistíveis que lhe tinha dado Jessica. Agarrou o telefone e começou a marcar o número. Olhou à hora. Eram quase as oito e esperou não incomodá-la.

—Alo?

Ele deixou escapar um suspiro para ouvir sua suave voz. Notou que o sangue lhe convertia em lava ardente e se deixou cair contra o travesseiro.

—Olá, Jessica. Sou eu, Chase.

Jessica se aconchegou na cama e as vísceras lhe abrasaram. Tomou ar. A voz do Chase a alterava.

—Chase, tudo bem?

—Muito melhor desde que estou falando contigo.

Jessica notou um estremecimento ao ouvir aquelas palavras. Chase sabia como derrubar as defesas de uma mulher.

—Esta manhã tive que ir inesperadamente ao Knoxville. Tive um problema com meus fornecedores e não tive outro jeito que viajar para arrumar tudo por aqui.

—Tenho ouvido falar que Knoxville é uma cidade muito bonita — comentou Jessica.

—É sim!. Vejo que nunca estiveste aqui...

—Não, nunca fui — Jessica sorriu.

—Então, terei que te convidar a que venha comigo a próxima vez.

Chase sussurrou as palavras com um tom grave e rouco. Parecia como se seu fôlego pudesse percorrer o fio telefônico para acariciá-la calidamente.

—Eu adoraria.

A situação voltava a disparar-se.

— Que tal seu dia? —perguntou-lhe ele.

Ela não queria pensar na reunião que tinha tido essa tarde com a Paula Meyers. A boa mulher não tinha podido lhe esclarecer quem tinha passado as receitas ao cozinheiro do Schuster. À tarde seguinte, Jessica iria ao Macón para encontrar-se com o Darcy Evans, mas esta não tinha mostrado muito entusiasmo pela visita.

—Muito bem. A coisa vai vento em popa. Assinei outro contrato para subministrar a confeitaria a um hotel da zona.

—Parece que vai bem, mas eu já sabia que iria bem.

—Obrigado. Então, quando voltará?

—Na quarta-feira. Não terá esquecido o nosso jantar, não é verdade?

Ela tomou fôlego para não lhe dizer que não tinha pensado em outra coisa. Nem sequer o decepcionante encontro com a Paula Meyers tinha embaçado seus pensamentos de jantar na quarta-feira com o Chase.

—Não me esqueci. Vou gostar muito de jantar com você.

—A mim também. Seguro que teve um dia muito atarefado e tem que descansar. Boa noite, Jessica - acrescentou ele ao cabo de uns instantes.

Espantou ter que acabar a conversação.

—Boa noite, Chase e obrigado pela chamada.

Jessica pendurou e se passou a ponta dos dedos pelos lábios enquanto se lembrava de quando a língua do Chase fazia o mesmo. A lembrança fez que se excitasse. Podia ouvir a chuva que golpeava contra o telhado. Cavou o travesseiro seguro de que assim que fechasse os olhos, as lembranças do Chase a consumiriam, inclusive em sonhos.

Jessica podia notar que Darcy Evans estava lhe ocultando algo. Era uma mulher de trinta e tantos anos que lhe havia dito que tinha aceitado a falar com ela pelo respeito que sentia para o avô da Jessica. Fazia dezoito, ela era uma mãe solteira de dezessete anos que necessitava um trabalho e Carlton Graham falou com o Scott Westmoreland para que a contratasse como garçonete. Ela não ficou muito tempo depois de que Scott e Carlton se separassem.

—Assim não sabe como foram parar as receitas do Westmoreland nas mãos do cozinheiro do Schuster?

Jessica observou a expressão da mulher, que estava com o quadril apoiado na porta.

—Como ia saber? Eu só era uma garçonete.

—Foi garçonete durante alguns meses? —perguntou-lhe Jessica sem deixar de olhá-la.

—Quatro meses, para ser mais exatos.

—E durante esse tempo alguma vez trabalhou na cozinha?

—Do que está me acusando? — os olhos da mulher jogavam faíscas.

—Não a acuso de nada — Jessica suspirou — Só tento encontrar a solução de um quebra-cabeças.

—O que lhe importa? —a mulher levantou a cabeça—. Scott Westmoreland e Carlton Graham estão mortos. O que importa o que acontecesse as receitas?

—Embora hajam falecido, seus descendentes merecem saber a verdade e até então, a honradez de meu avô estará em dúvida. Isso é injusto. Tenho me proposto demonstrar que não é culpado de nenhum ato imoral.

Jessica notou que a outra mulher olhava ao redor do apartamento para não encontrar com seus olhos.

—Seu avô era um bom homem.

—Sim, eu também acredito — Jessica sorriu—, mas morreu sabendo que havia uma mancha em seu histórico e isso lhe desgostava. Só lhe peço que se recorde algo que possa me ajudar a limpar seu nome, por favor, diga-me isso.

—Não recordo nada — replicou Darcy Evans muito rapidamente.

Chase olhou ao redor. Seu escritório se transformou em algo que quase não reconhecia. Quando estava na cozinha preparando o jantar que ia oferecer a Jessica, tinha-lhe dado instruções a Donna sobre como queria que o preparasse tudo e sua eficiente garçonete o tinha tomado muito a sério. Estava contente com tudo que tinha organizado, mas as flores, as velas e a chaminé... Era impossível não pensar na sedução. Desejaria beijá-la, levá-la ao pequeno apartamento que tinha acima e despi-la. Poderia lhe acariciar os seios, o ventre, as coxas e, naturalmente, essa zona entre as pernas que tanto desejava. Notou uma pontada de desejo nas vísceras. Queria fazer algo mais que acariciá-la. Queria devorá-la e ver como lhe empanavam os olhos com todo o prazer que ele precisava lhe entregar enquanto ela separava as pernas e a língua dele...

—Encontra tudo a seu gosto, chefe?

Chase deixou a um lado seus pensamentos e se voltou para olhar a Donna.

—Teve um pouco de trabalho, não?

—Bom... —a garçonete riu—. Se tivermos em conta como foram às coisas a primeira vez que Jessica Claiborne pôs um pé em seu escritório, supus que necessitaria de toda a ajuda que eu pudesse te oferecer e imagino que lhe gostará que lhe dêem de beber e comer como a todas nós...

Chase assentiu com a cabeça e olhou à mulher que tinha contratado fazia seis meses. Donna se tinha convertido em alguém em quem podia confiar. Embora não sabia muito de sua vida pessoal, que ela protegia muito, sim sabia que tinha vinte e três anos e que ia a uma escola noturna para tirar um título em administração de empresas.

Umas horas depois, quando Chase já estava sozinho, notou que seus instintos mais primitivos se apropriavam dele. Não tinha visto a Jessica desde domingo e embora tivesse falado com ela na segunda-feira de noite desde o Knoxville, convenceu-se para não chamá-la na terça-feira. Também se tinha convencido de que o desejo que sentia por ela era natural e teria que passar por cima do desejo que se apoderava de suas vísceras quando estava perto dela. Essa noite os dois celebrariam que se conheciam desde fazia uma semana, embora não queria dar muita importância a que nunca tivesse comemorado estar uma semana com nenhuma mulher.

Suspirou de impaciência por voltar a vê-la, por beijá-la, por falar com ela... Franziu o cenho e se perguntou o que estava lhe passando. Não pôde pensar muito porque bateram na porta.

Chase abriu a porta e ficou parado olhando à mulher que tinha em frente. Vestia uma saia e uma blusa que teriam parecido muito normais em outra mulher. Mas nela ressaltavam os seios abundantes, uma cintura estreita e os quadris arredondados. Baixou o olhar para observar as tentadoras pernas que deixava ver a curta saia. Seu aroma, especial e sedutor, também estimulou algo em seu interior. Como se necessitasse de mais estímulos...

Não disse nada e ela se passou nervosamente a língua pelo lábio inferior. Uma luxúria pura e arrebatadora o dominou sem compaixão.

Espero não ter chegado muito cedo, Chase — disse ela com suavidade.

Ele olhou para sua boca.

—Não, chegou bem a tempo.

Chase se afastou para que ela passasse e logo fechou a porta. A tensão sexual era tanta quase podia sentir fisicamente e a necessidade de tomá-la entre seus braços e abraçá-la o afligia.

—Pensei contribuir com a sobremesa — Jessica lhe deu uma caixa — É bolo de queijo com chocolate.

—Obrigado.

Chase notou que perdia o controle. Deixou o bolo sobre uma mesa e a abraçou. Assim que os lábios de ambos se encontraram, Chase soube que beijá-la se tinha convertido em um vício. Teria que ser ilegal que a boca de uma mulher fosse tão saborosa e capaz de despertar seu apetite sexual. Até então não tinha sabido quanto necessitava daquilo. Necessitava sua língua, sentir os seios dela contra ele e ouvir seus gemidos quando a beijava. Além disso, o corpo da Jessica se aderia perfeitamente a seu ventre e tomava entre as coxas sua ereção.

Se não detinha aquele disparate, a tomaria ali mesmo. Lentamente, contra sua vontade, Chase levantou a cabeça e quase se abrasou com o ardente olhar dela.

—Pensei que seria melhor jantar em meu escritório — sussurrou ele quase sem separar os lábios da boca ofegante dela — Assim, ninguém verá as luzes e pensará que o restaurante está aberto.

—Parece bom.

Chase voltou a notar uma pontada premente nas vísceras e tomou ar para não se fixar na boca dela. Tentou se recuperar, agarrou a caixa do bolo e a acompanhou pelo vestíbulo com uma mão no centro de suas costas. Não disseram nada. Quando chegaram à porta do escritório, ele a abriu e a observou enquanto ela entrava.

Ela se fixou imediatamente na mesa posta para dois, na chaminé, nas flores e nas velas. Não disse nada e se deu a volta lentamente. Seu olhar era acariciador e não aplacou o desejo dele, mas sim o excitou.

—Não queria que tivesse tanto trabalhos, Chase — sussurrou ela com um leve sorriso.

Ele se aproximou dela, deixou a caixa sobre a mesa de despacho e apertou os punhos para evitar a tentação de voltar a abraçá-la.

Nesse ambiente, ela estava mais sexy que nunca. Havê-la beijado só tinha complicado as coisas.

—Espero que você goste do jantar. É uma receita secreta dos Westmoreland de frango recheado.

Jessica tragou saliva. Não tinha nenhuma vontade de ouvir falar das receitas secretas dos Westmoreland.

—Está bom?

—Você decidirá — Chase riu enquanto separava uma cadeira para que ela se sentasse — Te servirei.

Jessica se sentou e o olhou enquanto ele servia o prato com destreza. Até esse momento não se deu conta do muito que o tinha sentido falta de durante esses dias. Tampouco se tinha dado conta do muito que tinha necessitado que a beijasse. Tinha uma beleza encantadora e sofisticada e, além disso, ela percebia algo indomável nele.

—Ao ataque — propôs ele enquanto se sentava.

Durante o jantar falaram de muitas coisas. Inclusive lhe deu alguns conselhos para proporcionar o seu negócio na Internet. Logo, desfrutaram com o bolo que tinha levado ela.

—Você gostou do jantar? — perguntou Chase quando já estavam sentados diante da chaminé com uma taça de vinho.

—Encantou-me — Jessica sorriu — O frango recheado estava delicioso — jogou uma olhada ao redor — Me encantou tudo, mas me perguntava...

Jessica duvidou e não terminou a frase.

—O que te perguntava?

Ela se mordeu nervosamente o lábio inferior.

—Pareceu-me que talvez fora um pouco excessivo para duas pessoas que decidiram serem amigos e nada mais.

Chase se tinha agachado para jogar outro tronco à chaminé. Arqueou uma sobrancelha e olhou a Jessica.

—Quando decidimos isso? Dissemos que as coisas foram muito depressa e que terei que tomar-lhe com mais calma. Também acordamos tomar um pouco de tempo para nos conhecer melhor. Mas não recordo que disséssemos que só íamos ser amigos. É mais, espero o contrário. Não quero ser só seu amigo.

Chase a olhou atentamente enquanto se levantava e se fixou em cada matiz de sua expressão enquanto ela assimilava o que ele havia dito.

—O que quer dizer? —sussurrou ela.

Ele suspirou porque sabia que só podia lhe dizer a verdade. Queria ser seu amante e não seu amigo.

Normalmente, ele não se precipitava tanto com uma mulher, mas com a Jessica não podia fazer outra coisa.

—Já comentamos a atração que sentimos o um pelo outro, mas me parece que há um problema mais profundo.

—Qual? —perguntou-lhe ela com o cenho franzido.

—Desejo-te, Jessica — respondeu ele em tom sério — Além disso, acredito que você também me deseja. Podemos fazer muitas coisas para tentar fechar os olhos ante essa evidência, mas o resultado final será o mesmo.

—O resultado final? —perguntou ela com uma sobrancelha arqueada.

—Sim.

—Qual será?

—Seremos amantes. Possivelmente não seja esta noite, mas o será outro qualquer. A atração é muito forte. Não vou te obrigar nem a te enganar, mas farei todo o possível para te seduzir.

As palavras do Chase retumbaram na cabeça da Jessica e despertaram o desejo, embora ela não quisesse que o fizessem. Fizeram algo mais que isso, acenderam algo primitivo. Ela se voltou para olhar para as chamas da chaminé, mas pareciam apagadas em comparação com o fogo abrasador que sentia no ventre.

Durante dois dias tinha tentado concentrar-se em descobrir como o cozinheiro do Schuster conseguiu as receitas dos Westmoreland, mas Chase tinha estado sempre no mais profundo de seus pensamentos.

Viu que ele se aproximava e ficava detrás dela. Também cheirou seu aroma masculino e soube que o que ele havia dito era verdade. Entretanto, se tinha em conta a história das duas famílias, uma aventura com ele não era nada aconselhável. Embora ele tivesse razão, antes ou depois se deitariam juntos. Não gostava do sexo, mas sabia que as coisas seriam diferentes com o Chase. Ele já tinha conseguido que ela trocasse de opinião em relação aos beijos.

—Jessica...

Chase sussurrou seu nome justo antes de agarrá-la e lhe dar a volta delicadamente. Olhou-a com uns olhos penetrantes e derrubou todas suas defesas. Durante muitíssimo tempo tinha sido uma mulher independente que não tinha deixado nenhum aspecto de sua vida nas mãos de um homem. Entretanto, não tinha conhecido as mãos do Chase Westmoreland.

A verdade era queria que as mãos de Chase a abraçasse, estreitassem contra ele, acariciassem-lhe todo o corpo e lhe dessem todo o prazer que ela tinha sonhado que lhe davam a noite anterior. Só de pensá-lo lhe alterava o pulso, lhe entrecortava a respiração e sentia um calor abrasador entre as pernas.

Tomou fôlego ao dar-se conta de que aquilo era algo mais que luxúria, mas no momento não queria defini-lo.

Fez um esforço para não deixar-se dominar pela necessidade de ser sensata e para deixar-se arrastar pelo desejo. Alargou os braços e rodeou com eles o pescoço do Chase enquanto se estreitava contra o sólido corpo dele. Notou a ereção contra o ventre e se entregou ao desejo que tinha tentado controlar desde a primeira vez que o viu.

—Chase...

—Sim?

—Me seduza.

 

                                                 Capítulo Sete

As palavras da Jessica dispararam a libido do Chase. Olhou-a e pensou que não só ia seduzi-la, mas também ia deixá-la louca.

—Acompanha-me com outra taça de vinho? —perguntou-lhe ele ao ouvido.

Ela assentiu com a cabeça enquanto sentia um estremecimento por todo o corpo.

—Sim.

Jessica sentiu todo tipo de emoções enquanto o olhava servir as duas taças.

—Proponho um brinde — disse ele com uma voz rouca e um olhar que a aturdiam — Pela sedução.

Jessica olhou a mão que sujeitava a taça no ar. Não era a primeira vez que se fixava nelas e se perguntava o que sentiria quando a acariciassem. Inclusive nesse momento seus sentidos se encrespavam só de pensá-lo. Chocaram as taças e bebeu lentamente. Depois de dar um par de goles, lhe tirou delicadamente a taça da mão e a deixou sobre a mesa. Logo, acendeu o equipamento de música e uma suave melodia de jazz encheu o ambiente.

—Vamos dançar — sussurrou ele enquanto tomava entre seus braços.

Jessica sentiu um estremecimento ao notar seu poderoso corpo contra o dela. Fechou os olhos e se entregou ao sedutor momento que os cativava.

Apoiou a bochecha contra o pescoço dele e aspirou seu aroma viril e excitante. Acariciou-lhe as costas até descer da cintura e alcançar o traseiro. Seu contato estava voltando-a louca e fazia que ela desejasse coisas que não tinha desejado nunca. Seu corpo se derretia.

Tinha o ventre contra o dele e notava perfeitamente a ereção, grande e dura, e se surpreendeu de sua capacidade para conseguir que ele a desejasse daquela maneira. Ele pressionou a mão contra o traseiro dela para aproximá-la mais. A Jessica lhe entrecortou a respiração e notou que lhe aumentava a umidade entre as pernas.

Quase sem dar-se conta, a canção terminou. Ela levantou o olhar e se encontrou com a dele. Viu que seus olhos eram como brasas e que tinha uma expressão selvagem. Chase a beijou nos lábios, tomou a cabeça entre as mãos e a beijou lenta e profundamente na boca. Apoderou-se de sua língua e lhe deu a entender quanto desejava tudo o que pudesse obter e que, além disso, queria deixá-la louca. Esfregou seu corpo excitado contra o dela e Jessica gemeu enquanto ele a beijava com uma paixão que fazia que ela se derretesse como lava líquida entre as pernas.

Jessica notou que ele passava a mão ao interior de suas coxas e tomou fôlego entrecortadamente. Chase se afastou um pouco e a olhou tão sedutoramente que ela notou que tremia de pés a cabeça.

—Parece-me que leva muita roupa — sussurrou ele enquanto começava a lhe desabotoar a blusa — Quero te ver nua — Chase não afastou o olhar da dela — Te importa? — perguntou-lhe com suavidade enquanto seguia desabotoando os botões.

Ela se afastou e o agarrou pelos braços, mas não para detê-lo, mas sim para que se desse mais pressa. Sua lentidão estava matando-a.

—Não, não me importa — sussurrou enquanto lhe acariciava o peito.

Chase tomou ar quando soltou o último botão e viu o sutiã de encaixe cor carne. Seus dedos se dirigiram ao fechamento dianteiro e com um giro o soltaram. O sutiã se abriu e os peitos ficaram livres.

Jessica ouviu o som de prazer que deixou escapar Chase e lhe encolheu o estômago ao ver como ele olhava seus seios. Seus olhos transbordavam de voracidade. Ela conteve o fôlego, tirou o sutiã e o deixou cair ao chão junto à blusa.

—Desejei-te do primeiro dia que te vi. Não foi naquele momento quando vocês esteve aqui, foi antes. Aquela segunda-feira eu te vi enquanto fazia a mudança — sussurrou ele — O primeiro que pensei foi que tinha umas pernas impressionantes. Mesmo assim — acrescentou em tom sério — não queria ter uma aventura contigo, mas logo me dava conta de que não poderia evitá-lo. Desejo-te muitíssimo — grunhiu antes de tomar um mamilo com a boca.

Jessica tomou uma baforada de ar ao notar seu mamilo rígido dentro da boca dele que o saboreava com uma língua abrasadora. Fraquejaram-lhe as pernas. Ele a segurou com força e trocou a boca de mamilo.

—Chase...

Ela pronunciou seu nome com um suspiro e lhe sujeitou a cabeça com a mão para que não deixasse de fazer o que estava fazendo. Estava levando-a a um estado que ela não sabia que existia.

Chase se afastou.

—Quero saborear mais coisas — sussurrou ele com os olhos cravados nos dela.

—Então, faz — Jessica se surpreendeu a si mesmo.

O sorriso dele conseguiu derretê-la por completo. Olhou-o enquanto lhe soltava a saia, que ficou feita um vulto aos seus pés e a deixou com nada mais que uma tanga de encaixe cor carne.

—Incrivelmente sexy — sussurrou Chase antes de ajoelhar-se para lhe baixar as calcinhas.

Então, ele se tornou para trás para olhá-la de cima abaixo. O olhar se deteve entre as pernas. Quando ela viu que ele se umedecia os lábios, soube o que a esperava. Tinha ouvido falar e tinha lido sobre aquilo, mas nunca o tinha vivido. Chase se ocuparia de que o fizesse.

Ele se inclinou um pouco e lhe beijou o umbigo, chupou-lhe a zona que o rodeava e soprou. O calor entre as pernas da Jessica se fez mais intenso enquanto ela o observava, dominada por um desejo irresistível.

Ele descendeu lentamente e antes que ela pudesse tomar fôlego outra vez estava beijando-a ali com a mesma avidez que se fosse na sua boca. Logo, como se queria retê-la, agarrou-a por traseiro enquanto fazia que todo o corpo lhe fundisse em uma paixão abrasadora.

Jessica ouvia os sons que ele emitia enquanto a beijava e o agarrou pela cabeça. Chase aprofundou na calidez dela e a saboreou como nenhum homem tinha feito.

Ela gemeu e arqueou os quadris, tanto para aproximar-se mais como para que as onda de prazer a subjugassem. Entretanto, era evidente que Chase não tinha pressa. Estava disposto a gozar dela até que tivesse satisfeito sua ânsia de possuir-la daquela maneira. Ela, entretanto, explodiu e gritou seu nome. Tentou afastar-lo de si, mas ele se apertou a seu traseiro e introduziu a língua dentro dela irrefreavelmente para saboreá-la em todos os sentidos. Não a soltou até que ela deixou de estremecer-se, mas não deixou de fazer o que estava fazendo, seguiu lambendo-a enquanto lhe acariciava os quadris.

Por fim, afastou-se, levantou a cabeça, apoiou-se nos talões e a olhou. O olhar fez que ela contivesse o fôlego. Ele queria mais. Muito mais. Chase voltou a colocar a boca entre as pernas dela e ela também desejou mais.

—Me faça o amor, Chase — sussurrou Jessica.

Ele se levantou e tomou entre os braços.

Chase olhou à mulher que estava abraçando. Normalmente, não teria feito o que tinha feito até que tivesse conhecido melhor à mulher, mas Jessica era um bocado deliciosa e não teria podido resistir à tentação de a provar dessa maneira nem que tivesse querido. Uma vez provado, seu apetite tinha aumentado. Era um autêntico manjar.

Tomou em braços para subir ao apartamento e ela se aconchegou em seus braços e apoiou a bochecha em seu peito. Ao Chase lhe acelerou a respiração e lhe disparou a libido.

Quando chegaram ao dormitório, ele tomou uma profunda baforada de ar e a deixou na cama. Chase tinha captado seu ardor assim que ela entrou no Chase's Place e nesse momento queria abrasar-se nele. Primeiro tinha que despir-se. Ao vê-la sem nada em cima esteve a ponto de perder o controle. Saboreá-la tinha sido inesquecível, mas, mais que tudo, queria entrar nela.

Quando começou a desabotoar a camisa, comprovou que ela o observava. A luz da lua lhe dava um resplendor que a fazia tão apetecível como o chocolate que utilizava para suas bolachas.

—Diga algo — sussurrou ele ante ao silêncio entristecedor.

Ela o observava e ele tirou a camisa.

Jessica se estirou na cama com um leve sorriso. Ao Chase gostou que não tivesse uma expressão tímida. Ela tampouco estava envergonhada de lhe expor seu corpo.

—O que quer que diga? —perguntou-lhe ela com um sorriso provocador.

Ao Chase lhe nublou o pensamento quando ela se passou a língua pelos lábios.

—Pode dizer algo.

Ela voltou a passar a língua pelos lábios e se dirigiu para o bordo da cama para pôr a cara à altura de sua cintura. Alargou a mão e a posou sobre a sua ereção que ressaltava através das calças.

—Mmm... Nestes momentos só me ocorrem duas palavras — sussurrou ela em um tom incrivelmente sexy.

—Quais? —perguntou ele quase sem poder articular palavra enquanto ela seguia acariciando-o com avidez.

Ela o olhou aos olhos.

—Tenha pressa.

Chase se separou um pouco, soltou-se o cinturão e se baixou as calças e a cueca de uma vez. Ficou completamente nu e notou um calor abrasador enquanto ela o olhava com deleite.

—No que está pensando? — perguntou ele com voz entrecortada.

—No que pensei a primeira vez que te vi. Que me recorda ao melhor dos chocolates e que eu adoraria prová-lo.

Chase se meteu na cama e a levou a centro do colchão. Ficou sobre ela.

—Antes, tenho que voltar a te beijar.

Jessica sorriu. Conhecia seus beijos, sabia os deliciosos e lúbricos que eram. Desde que conheceu o Chase, ela se tinha dado conta do desejo sexual que tinha acumulado e que tinha reprimido. Antes de poder explicar-lhe a boca do Chase se apropriou da sua e a arrasou com a língua. Ela se estremeceu ao lembrar-se do que lhe tinha feito no despacho e ao sentir o que estava lhe fazendo nesse momento.

—Te abra a mim, Jessica — lhe sussurrou Chase ao ouvido em um tom incandescente.

Ela separou as pernas enquanto ele seguia lhe passando a língua pelos lábios. Chase elevou ligeiramente a parte inferior do corpo e ela fez o mesmo instintivamente.

—Agora, tome.

Chase a olhou aos olhos e ela soube o que estava lhe pedindo. Era algo que ela não tinha feito nunca. Nunca se tinha introduzido a um homem, mas o faria. Queria fazê-lo. Quando fez o amor na Universidade, tudo se tinha acabado em um abrir e fechar de olhos e ela se ficou insatisfeita e desenganada. Entretanto, Chase estava fazendo que ela participasse e tomasse as rédea do seu desejo.

Jessica alargou a mão para acariciar o pêlo do ventre. Chase tomou ar.

—Jessica...

Seu nome brotou como um gemido desesperado e ela sorriu enquanto baixava os dedos para apoderar-se dele. Estava grande e duro. Jessica piscou, estava muito grande e se perguntou se lhe caberia. Olhou-o nos olhos.

—Perfeitamente — murmurou ele como se tivesse adivinhado suas dúvidas.

Ela soprou e decidiu tomar a palavra. Além disso, senti-lo dentro de sua mão estava fazendo que não pudesse pensar. Só podia pensar em que a massa grande e rígida que tinha e que logo estaria dentro dela. Ficou um momento pensativa.

—E o preservativo? — perguntou-lhe repentinamente.

Ela notou pela expressão do Chase que se esqueceu, como ela.

—Maldita seja, não estou acostumado a ser tão descuidado, sinto muito.

Chase se deu a volta e tirou um pacote da gaveta da mesinha. Rasgou-o com os dentes e ficou um preservativo.

Jessica sorriu, mas seguia perguntando-se como entraria.

—Eu também me deixei levar no momento — se deteve um instante —. Estou tomando a pílula para regular meu período, mas não me deitei com ninguém há oito anos...

—Oito anos? — perguntou ele sem poder acreditar-lhe——Sim, desde meu primeiro ano na Universidade. Não foi como eu me esperava e tudo terminou muito depressa.

Jessica se surpreendeu um pouco de estar comentando isso com o Chase, como se estivessem falando do tempo.

—E após não o tem feito?

Jessica tragou saliva.

—Não, esta será a primeira vez após.

Chase a beijou, afundou a língua na boca dela e a tratou com uma delicadeza extrema. Logo aprofundou o beijo e reacendeu o fogo entre eles.

—Tome Jessica — voltou a lhe pedir ele.

Chase tinha a respiração entrecortada e ela sentiu um calafrio em todo o corpo. Agarrou-o firmemente e o conduziu para si sem afastar o olhar da dele. Olhava-a com uma intensidade arrebatadora. Notou que contraíam os músculos do ventre. Era como se toda ela estivesse preparada para recebê-lo.

Quando o teve na entrada, ele tomou o controle. A ponta se abriu e quando ele baixou os quadris e ela subiu as suas, entrou até fundo. Ela tomou uma baforada de ar quando ele não pôde penetrar mais.

Chase se separou um pouco e a olhou.

—Ainda... Ele não lhe... — não pôde terminar a frase.

Antes que Jessica pudesse entender completamente o que tinha querido dizer Chase, notou que ele voltava a empurrar e lhe reprimia com um beijo um grito de dor. Tinha seguido virgem até esse momento! Ele não cessou de beijá-la e ela não pôde recordar um momento mais maravilhoso.

Ela, instintivamente, rodeou a cintura do Chase com as pernas. Um instante depois, ele levantou um pouco o tronco.

—Me faça o amor, carinho — lhe sussurrou Chase.

Ela apertou as pernas com força. Todo o corpo lhe bulia ante o que se morava. Ele voltou a investir e ela elevou os quadris para que os corpos se fundissem em um.

Chase começou a mover-se. Lentamente ao princípio, deixando-a louca com o rítmico vaivém. Subitamente, o ritmo se acelerou e tudo foi mais fluido e fácil. Os quadris do Chase não cessavam de arremetê-la. Tomou com uma mão e a levantou. Ela notou que lhe tocava o topo de seu ventre.

—Chase... —exclamou ela.

Queria um arrebatamento distinto ao que tinha alcançado em seu escritório. Distinto, mas igual de intenso. Sua língua tinha sido impressionante, mas seu sexo duro e infatigável era muito melhor. Cada investida a levava até o limite. Queria gritar.

Gritou seu nome com todas suas forças. Agarrou-o pelo pescoço e notou o suor que empapava sua pele, mas ele não cessava e ela voltou a gritar, tudo explorava em seu interior, incluído ele.

Ouviu o gemido rouco do Chase um instante antes de sentir a calidez de sua liberação. Ele não retinha nada. Estava decidido a devastá-la, a que visse as estrelas, a que alcançasse o êxtase. Chase apertava os dentes, empurrava com força enquanto os dois seguiam com o delírio. Notava-o duro e ávido e sentiu sua segunda liberação, tão intensa e abundante como a primeira. Ele jogou a cabeça para trás, gritou o nome dela e os dois seguiram com a erupção.

Nesse momento, Jessica soube que, embora pudesse parecer incrível, apaixonou-se pelo Chase Westmoreland.

Chase se estremeceu ao afastar-se da Jessica. Faziam amor duas vezes e possuir-la daquela maneira tinha sido o melhor que lhe tinha vivido até agora. Nunca se cansaria de fazer amor com ela. Ela era seu desejo irresistível. Nunca tinha conhecido a uma mulher tão apetecível.

Olhou-a. Estava esgotada. Quase não podia abrir os olhos. Depois de fazer ao amor a primeira vez, ele tinha ido ao quarto de banho. Quando ela o viu os pés da cama com uma bacia com água e uma toalha, olhou-o como se tornasse louco, não podia acreditar que ele pretendesse lhe fazer algo tão íntimo. Tentou resistir, mas ele a convenceu com um beijo. Ele nunca se deitou com uma virgem. Nem sequer Íris o era. Chase suspirou ao lembrar-se da mulher que lhe tinha ferido no orgulho e lhe tinha quebrado o coração. Quando esteve a ponto de fazer-se profissional, ela esteve junto a ele e em sua cama, mas quando se lesou, ela não esperou nem um segundo para buscar uma oportunidade melhor. Inclusive teve o valor de lhe dizer que não era nada pessoal, que simplesmente não queria passá-la vida com um aleijado. Isso foi fazia dez anos. Superou a claudicação graças a uma reabilitação extenuante, a uma família que lhe deu todo seu apoio e à força de vontade para sobreviver e triunfar.

Voltou a olhar a Jessica. Deu-se a volta para dormir, mas a ouviu sussurrar seu nome enquanto se movia para adaptar seu traseiro a ele. Sua reação física ante essa proximidade foi imediata e seu desejo incontrolável. Posou a mão no ventre dela e a estreitou contra si. Então, ela voltou a sussurrar seu nome.

Chase franziu ligeiramente o cenho. O que menos desejava nesse momento de sua vida era enganchar-se com outra mulher. Uma vez escaldado, era difícil não ter uma couraça. Fazia muito tempo que tinha tornado a decisão de não apaixonar-se nunca mais. Isso só significaria mais sofrimento. Por isso lhe preocupava tanto a atração tão profunda que sentia por Jessica. Estava arrebatado por ela inclusive desde antes dessa noite e isso não era um bom sinal.

Olhou ao relógio que havia na mesinha. Era mais de meia-noite. Teria que despertá-la antes das quatro para que pudesse vestir-se e voltar para sua casa. Alguns empregados começavam a chegar as cinco para atender aos clientes que foram tomar o café da manhã há primeira hora e não queria que ninguém se inteirasse de seu assunto com a Jessica. Não queria que ninguém bisbilhotasse em algo que para ele era muito precioso. Antes ou depois, todo mundo saberia que tinham uma aventura, mas preferia que fora depois. Chase soltou uma maldição quando se lembrou de seus irmãos e seus primos. Tentariam fazer uma montanha de um grão de areia, mas, nesse momento, Jessica voltou a mover-se e esfregou seu traseiro contra ele e seus irmãos e seus primos desapareceram de seus pensamentos.

Jessica abriu lentamente os olhos e sentiu que um braço forte e quente rodeava sua cintura. Uma cintura completamente nua. De repente se deu conta de que estava nua, como o homem que jazia pego a ela no dormitório tenuemente iluminado.

Olhou ao relógio da mesinha. Eram as três da madrugada. Lhe acelerou o pulso ao lembrar-se do que tinha passado essa noite com o Chase, e tudo pela mão direita língua dele. Fechou os olhos ao sentir um calor que a abrasava.

Então, notou que algo mais a afligia. Era a lembrança de que até essa noite tinha sido virgem. Chase tinha sido o primeiro para ela em muitos sentidos. O primeiro homem em levá-la até o clímax e o primeiro homem com o que tinha feito o amor no pleno sentido da palavra. Não tinha sido precipitado nem se havia sentido defraudada.

Jessica notou que se ruborizava ao recordar o que lhe fez depois de fazer o amor pela primeira vez e o carinho que lhe tinha devotado depois. Nunca tinha imaginado que um homem pudesse ser tão carinhoso e considerado depois de fazer o amor. Só o que tinha feito para lhe aliviar a dor merecia seu afeto para sempre. Além disso, quando fizeram o amor na segunda vez, ele tinha sido tão delicado que ela esteve a ponto de chorar.

Sentiu uma pontada de dor quando se imaginou a reação do Chase quando se inteirasse de que era a neta do Carlton Graham. Sabia que a senhora Stewart e Jennifer tinham razão. Deveria lhe dizer a verdade e seguir tentando demonstrar a inocência de seu avô. Pelo pouco que conhecia o Chase acreditava que para ele a sinceridade era algo muito importante.

Subitamente, Jessica ficou sem fôlego quando o braço que lhe rodeava a cintura se moveu para baixo, para a união entre suas pernas.

—Dói? — perguntou ele com uma voz cálida enquanto lhe acontecia os lábios por detrás da orelha.

Jessica abriu a boca para responder, mas deixou escapar um leve ronrono quando os dedos dele começaram a lhe acariciar sua essência mais feminina. Tragou saliva e tentou voltar a falar.

—Não muito, graças a ti.

Ele lambeu o pescoço e ela conteve a respiração.

—Não é necessário que me agradeça.

Ele, com um movimento muito suave, tinha-a dado a volta para deixá-la de costas e ela se encontrou com o pétreo corpo dele em cima. Olhava-a sedutora e provocadoramente. Jessica notou que a paixão a dominava. Queria que ele voltasse a lhe fazer o amor nesse preciso instante. Necessitava dele. Logo se brigaria com si mesmo por haver-se apaixonado por ele, mas no momento... Agarrou-o por pescoço e lhe baixou a cabeça.

—Volta a me fazer o amor — lhe sussurrou olhando-o intensamente nos olhos.

Embora fosse ela a que o pedia, sabia que ele a desejava tanto como ela a ele. A demonstração era a ereção dura e turgente que descansava entre suas coxas. Entretanto, sabia que Chase não faria nada até que lhe desse permissão para fazê-la gozar.

Nesse momento, começou a notar que ele se abria passo lentamente para seu interior. O corpo dela se distendeu automaticamente à medida que ele aprofundava e o calor abrasador começou a consumi-la.

—Adoro estar dentro de ti — sussurrou ele no ouvido dela.

Ela o rodeou com as pernas e ele penetrou mais. Quando entrou tudo o que pôde, inclinou-se para baixo para apropriar-se da boca dela enquanto a parte inferior de seu corpo começava a mover-se com umas investidas incessantes.

Até que o prazer a alcançou e a deixou atônita. Já tinha alcançado o clímax com ele, mas aquela vez quase tinha arrancado seu corpo da cama, fazia que ela se arqueasse incontrolavelmente contra ele, tinha conseguido que se sentisse como se rompesse em um milhão de pedaços. Chase separou a boca da dela, inclinou a cabeça para trás e uivou ao deixar-se levar por seu próprio prazer. Agarrou-a por traseiro para aproximá-la mais, para entrar mais dentro e fundir os corpos em um.

Antes do amanhecer, Chase abriu a porta de seu restaurante para acompanhar a Jessica a sua casa. Fazia frio e tudo estava tranqüilo e silencioso. Ele rodeou os ombros dela com seu braço enquanto baixavam a rua. Não disseram nada e Chase se perguntou se Jessica sentiria igual a ele, que aquela noite tinha sido como um sonho que poderia desvanecer-se se expressasse com palavras.

Ele a observou ao chegar à porta da casa da Jessica. Ela se deu a volta e Chase a beijou nos lábios. Não sabia como dar por terminada uma noite tão especial. Se ela o convidasse a subir a sua casa, como poderia rechaçar seu convite quando o que mais desejava era voltar a fazer o amor com ela?

Aquele beijo que pretendia ser breve e carinhoso se tornou em um beijo profundo e pleno de paixão e avidez. Sabia que tinha que afastar-se, mas não podia imaginar-se sua boca em outro lugar. Separaram-se quando ouviram a buzina de um caminhão. Olharam-se aos olhos e ele viu que os olhos dela refletiam o mesmo desejo que sentia ele.

—Será melhor que vá — sussurrou ela — Obrigado pelo jantar.

—Obrigado por tudo — replicou ele com um sorriso.

A Jessica lhe encolheu o estômago. Amava-o tanto como o desejava. Era uma combinação mortal. Sem pensar-lhe duas vezes, ficou nas pontas dos pés e o beijou nos lábios. Ele aceitou o beijo e fez sua pequena contribuição.

Boa noite, Chase — se despediu ela enquanto se separava.

Ele sorriu de orelha a orelha.

—Bom dia, Jessica.

Chase deu a volta e se afastou.

 

                                       Capítulo Oito

O primeiro que viu Chase quando entrou na loja da Jessica a meio-dia foi à quantidade de clientes que esperava a que os atendessem. Ao parecer, ela tentava atendê-los pessoalmente a todos eles. Lhe perguntou onde estava à senhora Stewart.

Jessica levantou o olhar para ouvi-lo e sorriu.

—Me ligou. Não se encontra bem. Queria vir, mas a convenci para que ficasse em casa.

—Vai atender você sozinha a esta multidão?

—Sim.

Antes que ela se desse conta, Chase estava atrás do mostrador com um avental posto.

—O que faz? — perguntou ela enquanto se dava a volta para olhá-lo.

—Te ajudar — respondeu ele com um sorriso.

—Mas...

Chase a agarrou pelos ombros e voltou a lhe dar a volta.

—Tem uma cliente, Jessica. Não faça esperar à senhora Prescott. Se não me equivocar, hoje é seu dia para ir à barbearia e não pode chegar tarde.

A anciã se ruborizou.

—Assim é, Chase. Além disso, Fred e eu iremos esta noite para tomar o cardápio especial da sexta-feira. Espero que seja frango frito, com salada de couve e batatas.

—Terá embora só seja para você e o senhor Prescott — replicou Chase entre risadas.

A senhora Prescott se dirigiu a Jessica.

—Não se queixe de que ele a ajude, senhorita. Conheço os Westmoreland desde que nasceram e não tem que temer que vá lhe roubar.

Jessica sorriu. Isso era o que menos a preocupava. Como poderia trabalhar com ele tão perto? Não havia muito espaço atrás do balcão. A senhora Stewart e ela eram relativamente miúdas, mas Chase era musculoso, alto, com uns bons abdominais e outras qualidades que lhe pareciam excepcionais. Tinha comprovado essas qualidades a noite anterior e se ruborizava só de lembrar.

—Passa algo? —perguntou-lhe Chase.

Ela piscou e tentou controlar o pulso.

—Não... nada... por que me pergunta isso?

—Porque a senhora Prescott leva um par de minutos tentando pagar.

—Ah... — Jessica se voltou para a anciã — O sinto...

—Não se preocupe — a mulher sorriu — Eu também fui jovem.

Jessica tragou saliva. Teria se dado conta do que sentia para o Chase? Decidiu concentrar-se nos clientes e não no Chase. Ao cabo de uns minutos descobriu que trabalhavam bem juntos. Ele sabia o que os clientes queriam e, inclusive, convencia-lhes para que se levassem algo mais. Durante hora e meia tiveram uma afluência constante de clientes, mas às duas e meia a loja já estava completamente vazia.

Jessica olhou ao Chase enquanto ele se tirava as luvas.

—Obrigado por sua ajuda. Você se dar muito bem atendendo às pessoas — Jessica sorriu.

—Espero que também me dêem bem outras coisas — replicou ele com um sorriso insinuante enquanto pendurava o avental.

—Isso lhe asseguro — Jessica riu.

—Me alegro em saber...

Jessica suspirou. Levava todo o dia alterada só de lembrar-se da noite anterior.

—Será melhor que vá antes que sintam falta — Chase olhou o relógio — Embora imagino que Luanne Coleman já se encarregou de contar onde estou.

—Luanne Coleman? —perguntou Jessica com uma sobrancelha arqueada.

—Sim, a mulher que levava um vestido vermelho e um chapéu de palha.

—A que paralisou a loja durante dez minutos porque não sabia o que levar?

—Sim — Chase riu — Seu marido e ela têm uma floricultura no College Park e ela é a maior fofoqueiro da cidade. Suponho que daqui terá ido diretamente ao restaurante para lhes contar que estava te ajudando.

Mas... o que importa isso a ela?

Chase se inclinou sobre o balcão.

—Contaram-me que a senhora Coleman e suas amigas apostaram sobre qual será o próximo Westmoreland em casar-se.

—O próximo Westmoreland em se casar?

—Sim. Algumas apostam por mim e outras por meus primos Ian e Durango — Chase riu pela expressão de perplexidade da Jessica — Meus irmãos, minhas primos e eu sempre havemos dito que não íamos casar nos, mas durante os últimos três anos, todos meus irmãos se casaram.

—Ah...

—Além disso, faz uns meses meu primo Jared surpreendeu a todos ao comprometer-se. Dana e ele se casaram e todo mundo voltou seu olhar para mim porque sou o único de meus irmãos que não se casou. Eu já disse mil vezes que não vou casar-me, mas ninguém me acredita.

—Por que não?

—Porque Jared e meus irmãos disseram o mesmo. Embora seja o primeiro em reconhecer que são muito felizes, isso não significa nada para mim. Nunca me casarei.

Jessica se deu a volta como se estivesse limpando o balcão. Não queria que ele notasse quanto lhe tinham afetado aquelas palavras. Ela se tinha apaixonado perdidamente dele, mas era assunto dela, não do Chase. Tinha a sensação de que ele estava recalcando algo que havia dito a noite anterior. Tinha ouvido claramente que ele dizia que tinha relações circunstanciais. Um homem assim não pensava no matrimônio. Possivelmente fora um bom momento para que ela também dissesse sua opinião.

—Eu tampouco penso me casar — Jessica não levantou o olhar, mas notou que ele a olhava com curiosidade.

—Por quê? Jessica o olhou porque lhe pareceu que estava perplexo.

Já te contei a história de meu pai, Chase. O que fez me deixou desconfiada. Não é que pense que todos os homens sejam escória, mas decidi que tenho muitas coisas a fazer além de me preocupar se por acaso o homem com o que estou merece minha confiança.

—Entendo — Chase assentiu com a cabeça — Sei o que quer dizer.

—Sabe? —Jessica o olhou aos olhos.

—Sim — respondeu Chase ao cabo de uns segundos —. Tive uma boa decepção na Universidade quando a mulher que eu acreditava que me queria me deixou por minha lesão. Doeu-me durante algum tempo, mas logo compreendi que estava muito melhor sem Íris. Embora não por isso tenha deixado de ser prudente. Nunca voltarei a confiar plenamente em uma mulher. A confiança é muito importante para mim. Não suporto nenhum tipo de engano.

Ela assentiu lentamente com a cabeça sem querer pensar em que ela estava enganando-o.

—Ok... Parece que nos entendemos...

—Sim, isso parece — Chase voltou a olhar o relógio — Será melhor que vá — olhou a Jessica — O que vai fazer depois?

—vou sair.

—Vai sair?

—Sim.

Jessica decidiu que não tinha por que lhe dar mais explicações. Além disso, não queria que ele soubesse que ela ia visitar o Theodore Henry. O senhor Henry não tinha respondido a suas chamadas, mas ela se inteirou de que ia servir um jantar de arrecadação de fundos no East Point. Pensava apresentar-se ali e falar com ele embora não quisesse.

— Que te parece ir na sábado comigo a Chattanooga?

Chattanooga?

—Sim. Vou recolher algumas peças de motocicleta para o Thorn. Ele está muito ocupado construindo a moto para a seguinte carreira.

Jessica pensou que nunca tinha estado na Chattanooga e que sempre tinha ouvido que era uma cidade muito bonita. Sabia que não deveria aprofundar mais sua relação com o Chase, mas tampouco podia evitar querer estar com ele.

—Eu adoraria ir na sábado a Chattanooga contigo.

—Perfeito — Chase sorriu — Te recolherei na sábado ao redor das oito. Vem-te bem?

—Sim. Estarei preparada há essa hora.

Ficaram um momento sem dizer nada, olhando-se. Jessica notou que a temperatura subia entre eles. Perguntou-se o que estaria pensando Chase. Estaria lembrando-se da noite anterior em seu escritório e em seu dormitório? Ela tinha umas lembranças muito claras. Podia recordar o de joelhos entre suas coxas e como sua língua a devorou avidamente.

Notou que lhe encolhia o estômago e que lhe tremiam as coxas. Ele se aproximou um par de passos, como se lhe tivesse lido o pensamento, mas soou a campainha da porta e entrou um homem.

Chase tomou fôlego e ela se voltou para saudar o cliente. Ele tinha todo o corpo em tensão e ao vermelho vivo. Era como se lhe tivesse lido o pensamento e se viu apanhado pelas lembranças dela. Voltou a tomar fôlego quando ela sorriu de orelha a orelha antes de sair do balcão e jogar-se nos braços do recém-chegado.

—Rico!

Chase franziu o cenho. A julgar pelo sorriso da Jessica, ela conhecia muito bem ao tal Rico. Seria o homem com o que sairia logo? Repentinamente, notou algo que não notava desde fazia muito tempo. Não sabia quem era esse homem, mas ele queria lhe arrancar a Jessica dos braços.

—Acredito que tenho que partir — disse Chase em um tom zangado.

Dois pares de olhos se cravaram nele. Evidentemente, tinham captado seu aborrecimento. Notou certo brilho nos olhos do homem e perplexidade nos da Jessica. Ele também estava bastante perplexo por seu comportamento.

—Mmm... Parece-me que, efetivamente, tem que partir — replicou o tal Rico com um sorriso forçado.

Chase franziu mais o cenho e sentiu umas vontades tremendas de lhe partir o nariz.

—Rico...! —exclamou Jessica entre risadas.

Olhou ao Chase e deixou de rir. Perguntou-se por que estaria tão zangado. Até que o compreendeu. Ela havia dito que ia sair e apareceu Rico. Não pôde evitar um sorriso ante a idéia de que ele estivesse ciúmes. Sacudiu a cabeça. Isso era impossível. Os homens que só têm relações circunstanciais não ficavam ciumentos.

—Chase — Jessica se esclareceu garganta — apresento a meu irmão, Rico Claiborne.

Chase arqueou uma sobrancelha e os olhou.

—Seu irmão?

Era incrível, mas não se pareciam em nada.

—Sim, seu irmão — respondeu o homem com um sorriso enquanto se aproximava do Chase — Quem é você? — perguntou Rico como se tivesse todo o direito a fazê-lo.

—Chase Westmoreland.

Chase viu que o homem fazia um gesto estranho antes de voltar a olhar a Jessica. Jessica conteve a respiração. Ela sabia que Rico conhecia o nome do Westmoreland e que teria algumas pergunta que ela teria que responder. Rico se voltou para o Chase.

—Prazer em conhecê-lo, Chase Westmoreland.

Chase estreitou a mão daquele homem e se perguntou o que estaria passando. Tinha notado algo estranho entre ele e sua irmã quando disse seu nome.

—Prazer em conhecê-lo. Seguro que têm muitas coisas que lhes contar. Irei.

—Não vá por minha causa — replicou Rico com um sorriso.

Chase tomou ar. Tinha que ir. Tinha que meditar sobre seu arrebatamento possessivo.

—Já ia. Tenho muito trabalho.

Rico assentiu com a cabeça.

Chase tem um restaurante enorme um pouco mais abaixo — lhe explicou Jessica—. Meu ajudante estar doente e ele teve a amabilidade de me ajudar durante a hora da comida.

Rico voltou a assentir com a cabeça, olhou ao Chase por cima do ombro e logo a Jessica.

—Entendo.

Chase franziu o cenho. Tinha a sensação de que o irmão da Jessica estava captando muitas coisas.

—Prazer em conhecê-lo — Chase foi até a porta, mas se voltou por volta da Jessica antes de abri-la — Até sábado.

—De acordo — Jessica sorriu.

Chase saiu e fechou a porta. Jessica não disse nada, só o olhou passar por diante da loja da senhora Morrison a caminho de seu restaurante.

—Importaria me dizer o que está passando, Jessica?

—Acredito que não sei nem eu, Rico.

Essa noite, Jessica entrou no salão de um centro social e deu uma olhada. Era uma arrecadação de fundos para um candidato a prefeito e ela, como todo mundo, tinha comprado sua entrada. Entretanto, ela tinha ido obter algumas respostas do homem que servia a comida.

Rico tinha passado caminho da Florida e só tinha tido tempo para tomar algo e conversar um momento. Tinha-lhe explicado tudo o que tinha podido sobre a situação. Não lhe tinha dado muitos detalhes sobre o relativo ao Chase e a ela, mas lhe tinha parecido que Rico tinha lido entre linhas.

Jessica tinha chegado à hora do coquetel, de modo que lhe resultaria fácil penetrar na cozinha e falar com o cozinheiro. Só necessitava que lhe concedesse uns minutos.

Dirigiu-se a um garçom que levava uma bandeja de aperitivos.

—Eu gostaria de falar com o senhor Henry, está por aqui?

O homem sorriu e assinalou a porta da cozinha com a cabeça.

—Está ali.

—Obrigado.

Jessica entrou na cozinha e se fixou no homem que dava instruções aos garçons. Se for Theodore Henry, era muito mais jovem do que ela tinha pensado. Teria quarenta e tantos anos. Jessica esperou a que se fossem os garçons.

—Senhor Henry?

Ele se voltou e sorriu amavelmente.

—Sim. No que posso ajudá-la? — perguntou-lhe enquanto estendia a mão.

—Sou Jessica Claiborne. Tentei falar com você umas quantas vezes, mas não me respondeu as minhas chamadas.

O sorriso dele se dissipou e retirou a mão.

Estou ocupadíssimo. Além disso, não sei do que me está falando.

—Não sabe que os Westmoreland dizem que meu avô deu a você suas receitas quando você era cozinheiro do Schuster?

—Ouvi algo, mas não tinha tempo para me preocupar com essas coisas. Bastante tinha eu dominando as receitas para me preocupar com dois velhos que não tinham nada melhor que fazer que brigar por algo sem importância.

Jessica soprou. Começava a chateá-la, mas estava decidida a ser educada e profissional.

—Então, de onde tirou as receitas, senhor Henry?

Ele franziu o cenho.

—Não tenho por que responder, mas para dissipar qualquer dúvida sobre um comportamento ilícito por minha parte, direi que essas receitas levavam anos em minha família. O disse ao Westmoreland, mas ele não quis me acreditar — antes que ela pudesse replicar o senhor Henry continuou — Olhe senhorita Claiborne, não tenho tempo para falar de algo que passou faz quase dezoito anos. Evidentemente, é importante para você, mas não o é para mim. Se me desculpar, tenho coisas que fazer.

Chefe, vamos partir — disse Donna ao Chase — vai ficar muito tempo?

Chase se separou da mesa.

—Não. Tenho que ver uma papelada.

—Muito bem. Até amanhã.

Uma vez sozinho Chase se deixou cair sobre o respaldo da poltrona e olhou ao redor. Seu escritório não se parecia com o da noite anterior, mas mesmo assim as lembranças lhe alteravam o pulso. Levantou-se para estirar as pernas. Cada passo que dava recordava Jessica com ele à noite anterior. Recordava cada beijo que lhe tinha dado, cada vez que lhe tinha passado os lábios pela pele, cada carícia e como a devorou com ânsia.

Dedicava muito tempo a desejar a Jessica. Ao fim e ao cabo, não havia nada mais. O arrebatamento de ciúmes de fazia um momento só era afã de posse. Embora tinha direito a estar ciumento depois do que tinham vivido juntos. Ela era virgem... Não pôde evitar um sorriso. Até ela se surpreendeu.

Olhou a hora. Eram quase onze da noite. Perguntou o que estaria fazendo Jessica. Estaria com seu irmão? E se não? Suspirou. Queria vê-la.

Sacudiu a cabeça. Era tão tarde, depois da noite anterior, ela pensaria que o fazia por reclamar sua bota de cano longo. Embora isso não lhe parecesse mau, tinha que reconhecer que pensava na Jessica como algo mais que um corpo que podia aproveitar. Ela tinha algo que lhe atraía em todos os aspectos, não só o físico. Gostaria de ter força de vontade para mantê-la a certa distância, mas sabia que não podia. Podia notar sua presença embora não estivesse ali. Ela sempre estava em seus pensamentos.

Agarrou a jaqueta do cabide para sair. Fechou a porta do restaurante e tentou não olhar para a casa da Jessica, mas não o conseguiu. Dirigiu-se para seu carro fazendo um verdadeiro esforço para não cair na tentação. Estava decidido a não ver a Jessica esse dia e só faltavam umas horas para o dia seguinte.

 

                                         Capítulo Nove

Chase, tem que ir a algum lugar esta noite?

Chase levantou os olhos das cartas e olhou a Der. Seus irmãos e ele estavam jogando uma amistosa partida de cartas em casa do Storm. Ao menos, sempre começava sendo amistosa. Esperava que essa noite não tivesse que agüentar as ruidosas lamentações do Storm quando começava a perder. Supunha que com as gêmeas recém-nascidas, seu irmão moderaria o tom de voz.

—Por que acredita que tenho que ir a algum lugar?

—Porque parece ansioso e não pára de olhar o relógio.

Thorn riu e olhou ao Chase.

—Isso é um sinal claro de que há uma mulher de por meio.

Chase não pensava lhes dizer se a havia ou não. Havia sido difícil passar todo o dia sem ver a Jessica. Dirigiu-se duas vezes a sua casa, mas as duas vezes tinha trocado de opinião. A veria no dia seguinte quando fossem juntos a Chattanooga e isso lhe deixava contente.

Chase atirou as cartas. Não tinha nada de contente. Olhou a seus irmãos que o olhavam a ele como se tornou louco.

—Estou indo — disse Chase enquanto se levantava.

Stone arqueou uma sobrancelha.

—Parar quando se está ganhando?

Chase tomou fôlego. Não estava ganhando. Perdia a cada segundo que estava ali com eles em vez de estar em braços da Jessica.

Tinha resultado ser uma boa fornada de chocolate, disse-se Jessica enquanto se chupava o dedo. Fazia mais de que necessitava, mas o que sobrasse podia utilizá-lo para fazer bolachas para os Crusaders do Chase.

Afastou-se uma mecha da face e lembrou do decepcionante encontro com o Theodore Henry. Era um homem arrogante e, além disso, independentemente do que ele dissesse, ela acreditava que tinha tirado as receitas de algum lado.

Tinha sido um dia muito atribulado e se alegrava de que a senhora Stewart se encontrou bem e houvesse tornado, embora o muito de clientes não tivesse impedido que olhasse a três por quatro à porta para ver se entrava Chase. Sabia que as sextas-feiras eram um dia com muito trabalho em seu restaurante, mas mesmo assim, tinha sentido falta de não vê-lo em todo o dia. Tinha-lhe mandado comida e ela sorriu ao pensar em que ele se pensou nela. Tinha descoberto que Chase era muito detalhista. Soou a campainha da porta. Eram quase as dez. Acelerou-lhe o pulso ao pensar que podia ser Chase. Saiu da cozinha para ir abrir. A silhueta de seu corpo através do vidro o delatava. Deu-lhe um tombo o coração e abriu a porta.

Chase ficou olhando à mulher que tinha diante. Estava descalça e tinha o abundante cabelo moreno recolhido em um rabo-de-cavalo, mas lhe tinha soltado uma mecha que lhe tampava um olho de uma forma muito sexy.

—Chase...

Ele meteu as mãos nos bolsos para não cair na tentação de lhe tirar a borracha e lhe soltar o cabelo.

—Estava jogando às cartas com meus irmãos — lhe explicou ele lentamente — Estava ganhando, mas não podia deixar de pensar em ti e me concentrar no jogo. Não sabia o que estaria fazendo, mas queria estar contigo.

Jessica sorriu e ele notou que lhe encolhia o estômago.

—Chocolate — disse ela em voz baixa.

—Como diz? — perguntou-lhe ele com uma sobrancelha arqueada.

Ela voltou a sorrir.

—Estava fazendo chocolate. Já estava terminando. Quer entrar?

—Não te importa? —Chase também sorriu.

Ela o olhou aos olhos.

—Nem o mínimo.

Chase entrou, fechou a porta e se apoiou nela. Olhou-a fixamente e ela sentiu que despertava o desejo. Os segundos pareciam horas e nenhum dos dois dizia nada. Se não dizia algo, Jessica acabaria abrasada como um torresmo.

—Quer tomar algo? —perguntou Jessica.

Deu-se conta de que já era muito tarde. Ele esboçou um sorriso provocante e insuportavelmente masculino. Ela decidiu insistir.

—Fiz muito chocolate, quer prová-lo?

Ele assentiu com a cabeça e sem afastar o olhar dela.

—Eu adoraria provar seu chocolate.

Ela tragou saliva ao notar um estremecimento e se perguntou se os dois falavam do mesmo.

—Fica um pouco na chaleira.

Chase seguiu a Jessica até a cozinha e se lembrou da última vez que tinha estado naquela parte da loja. Foi à noite que foram ao cinema e que logo ela o convidou a tomar leite com bolachas.

—Onde está seu irmão? —perguntou Chase.

—Foi embora. Estava de passagem só ficou um momento.

—Nunca teria adivinhado que foram familiares.

Jessica o olhou por cima do ombro e sorriu.

—Nosso pai é afro americano, mas Jennifer, minha madrasta, é branca. Rico se parece com ela e minha irmã Savannah é uma mescla dos dois.

Chase ficou junto à porta deleitando-se com o aroma. Ela tinha trabalhado muito. A mesa estava cheia de moldes para pirulitos de chocolate. Olhou para Jessica que ia para uma cozinha industrial.

—A vantagem do chocolate é que pode fazer tanto como queira porque se pode guardar e utilizá-lo em qualquer momento — se voltou e sorriu ao Chase — O problema é hoje me fiquei sem lugar para guardá-lo e tenho que me desfazer do que ficou na panela. Acredito que me saiu muito bom.

Chase a olhou enquanto ela colocava um dedo na panela e o chupava. A ele ficou com o pulso alterado e notou que começava a perder o controle de si mesmo. Olhou-a aos olhos convencido de que ela não sabia quanto estava excitando-o.

—Posso prová-lo? — perguntou-lhe ele enquanto tirava a jaqueta de couro e a pendurava em um gancho.

—Claro. Quer uma colher...?

—Seu dedo.

—Meu dedo?

Parou-se diante dela. Cheirava bem, mas sabia que saberia muito melhor.

—Quero chupá-lo de seu dedo, como tem feito você.

Jessica tragou saliva. Suas palavras lhe tinham produzido um comichão em um lugar secreto. Voltou-se para a panela e colocou o dedo. Logo, voltou-se para o Chase com o dedo em alto.

—Toma.

Ele, sem dizer uma palavra nem deixar de olhá-la, agarrou a mão e lhe chupou o chocolate. Jessica notou que ardia por dentro ao olhar a língua que lhe acariciava o dedo delicado descaradamente. Quando ele o introduziu na boca, ela esteve a ponto de cair. Chase a agarrou pela cintura para segura-la, soltou o dedo e lambeu os lábios.

—Tinha razão. Saiu muito bom. Nunca tinha tomado um chocolate tão bom — antes que ela pudesse dizer algo, ele se inclinou para diante — Quero mais — sussurrou.

Beijou-a vorazmente nos lábios. O corpo da Jessica reagiu ao notar os seios contra ele, o ventre contra a enorme dureza e a boca entregue a dele. Necessitavam-se com desejo. Ele tinha sabor de chocolate e se imaginou que ela saberia ao mesmo.

Chase se afastou para respirar. Algo o afligia. Desatou-se o desejo sexual que tinha estado contendo todo o dia. Chase tirou a camiseta e passou imediatamente aos jeans. Ela se consumia pelo mesmo desejo. Desabotoou os dois primeiros botões da bata e a tirou por cima da cabeça. Em um par de segundos, ele estava completamente nu enquanto ela levava um sutiã azul e uma tanga da mesma cor.

Chase, impulsionado por um desejo como não havia sentido nunca, alargou a mão e lhe tirou a borracha que prendia o cabelo em um a rabo-de-cavalo. Logo, soltou o fechamento do sutiã e o tirou. Olhou-lhe a tanga, passou-lhe um dedo pelo bordo e se agachou para tirar-lhe lentamente. Sorriu e, antes que Jessica pudesse reagir, colocou a mão na panela de chocolate e lhe lubrificou o seio. Ela deixou escapar um gemido ao sentir a substância quente e cremosa sobre os seios. Cobriu-lhe toda a pele e lhe aconteceu os polegares pelos mamilos. Logo, foi descendendo até o ventre cobrindo de chocolate tudo o que tocava. Jessica fechou os olhos. Aquela sensação a abrasava por dentro e a derretia. Quando lhe lubrificou de chocolate entre as pernas, ela se inclinou para frente, beijou-lhe o pescoço e sussurrou seu nome.

Abriu os olhos ao notar que ele tomava em braços e a deixava sobre uma mesa limpa. Ele começou a lhe lamber todo o chocolate. Ela ofegava seu nome com cada carícia da língua, gemia de desejo e elevou os quadris quando ele a encheu de prazer da forma mais primitiva que conhecia o ser humano.

O estremecimento do corpo da Jessica indicou ao Chase que estava a ponto de chegar ao clímax. Tomou entre os braços, sentou-se em uma cadeira e a pôs escarranchado sobre si. Abriu-se caminho dentro dela, que descendeu sobre a palpitante ereção e jogou a cabeça para trás enquanto seus músculos se apropriavam dele para que entrasse mais dentro.

Beijou-a na boca com um apetite insaciável e começou a mover o corpo para cima e abaixo com um ritmo enlouquecedor.

—Chase!

Ele apertou os dentes, agarrou-a pelos quadris e deu uma última investida para sentir como explorava a palpitante essência de sua feminilidade. Separou-lhe mais as pernas para assim poder lhe entregar tudo o que ele possuía.

Ouviu que ela voltava a gritar. Quando ela se estremeceu convulsivamente entre seus braços, Chase não pôde negar-se outro orgasmo. Sentiu um calafrio de desejo e voltou a empurrar com um uivo de satisfação. Arqueou as costas e gritou o nome dela enquanto seu corpo se deixava arrastar pelo clímax mais arrebatador que jamais havia sentido. Fazia três noites tinha pensado que aquela mulher era quase muito para ele. Nesse momento, perguntava-se como poderia sobreviver à paixão que se desatava nele cada vez que faziam o amor.

Estava deliciosamente extenuado e nenhum dos dois disse nada durante um bom momento. Tampouco tinha muita pressa por separar os corpos.

Então, ele levantou a cabeça, olharam-se aos olhos e ele se deu conta de que tinha sido um momento extraordinariamente especial e que nunca teria suficiente, por muitas vezes que fizessem o amor. Também se deu conta de outra coisa. Começava a apaixonar-se pela Jessica Claiborne e cada vez mais.

Chase despertou para ouvir unas buzinadas na distância. Era pela manhã. Olhou à mulher que estava aconchegada ao seu lado e se lembrou de tudo o que tinham compartilhado a noite anterior. Depois de fazer o amor na cadeira, tinha-a tomado em braços e a tinha subido à ducha. Limpou-lhe todo rastro de chocolate, a secou e a levou a cama, onde fizeram o amor uma e outra vez.

Fechou os olhos e pensou que o que mais queria no mundo era estar ao seu lado. Logo pensou que estar bem dentro de seu corpo ardente não era uma má idéia. Passou-se uma mão pela rosto. Se seguia nesse ritmo, teria que começar a tomar um tratamento diário de vitaminas.

Olhou o relógio. Eram quase as sete. O restaurante já estaria aberto e como seu carro estava estacionado fora, Donna e Kevin adivinhariam facilmente onde estava e o que estava fazendo.

Acariciou-se o queixo. Necessitava um barbeador, mas sentiu um comichão nas vísceras que lhe deixou muito claro que também necessitava outra coisa. Jessica. Tinha que despertá-la e sorriu ao pensar como queria fazê-lo.

Jessica olhou ao Chase quando passaram junto ao sinal que indicava que tinham chegado a Chattanooga. Era uma cidade muito bonita junto ao rio Tennesse e aos pés dos Montes Apalaches. Tinha estado muito a gosto com o Chase durante as duas horas de viagem, embora dormisse há primeira meia hora. Recordou como tinha despertado essa manhã e esboçou um sorriso.

Depois de que Chase fizesse tudo o que tinha que fazer, foram comer uns frutos do mar deliciosos e logo deram um passeio pelos jardins agarrados pela mão. Em um momento dado, Chase a estreitou contra si.

—Ontem à noite foi algo muito especial, Jessica — lhe sussurrou — Toda a semana o foi. Queria que soubesse.

Ela o olhou e sorriu. Já o havia dito duas vezes.

—Para mim, passar o tempo contigo também foi muito especial, Chase.

Ficaram em silêncio enquanto foram para o estacionamento.

—Eu gostaria de te fazer um jantar amanhã — disse ele ao cabo de um momento.

Ela riu ao lembrar-se do que tinha passado a outra vez que lhe preparou um jantar,

—No restaurante?

—Não, em minha casa.

Chegaram ao carro e pararam. Ele sorria dessa forma que tanto a alterava. Ela tinha jogado uma olhada a sua casa quando foi essa manhã para que ele se trocasse. Estava em uma zona muito seleta de Atlanta e a Jessica tinha parecido preciosa.

—Eu adorarei jantar amanhã contigo. Quer que leve algo?

—Só a ti mesma — respondeu Chase com um sorriso irresistível.

—Mmm... Acredito que poderei consegui-lo...

Chase a abraçou e a beijou.

—Isso espero — lhe sussurrou ao ouvido.

Embora Chase lhe houvesse dito que só lhe levasse a ela mesma, Jessica não pôde resistir à tentação de fazer uma sobremesa. Sorriu ao olhar a fonte com pudim de plátano. Entretanto, o sorriso se desvaneceu e se esqueceu do pudim quando Chase abriu a porta e se olharam aos olhos. Estava diante dela, imponente e arrebatadoramente viril. O pulôver azul marinho ressaltava seus largos ombros e os jeans se ajustavam perfeitamente a sua cintura e a suas musculosas pernas. Jessica tentou manter a pouca compostura que ficava.

—Acreditei que te havia dito que só tinha que te trazer a ti mesma.

Jessica tragou saliva. Sua voz era tão sexy como todo ele.

—Não pude resistir.

Ele sorriu, aproximou-se e tomou a fonte que levava ela.

—Eu tampouco posso...

Inclinou-se e a beijou. Isso daria tema de conversação se vizinhos pudessem vê-los.

—Acredito que será melhor que acabemos isto dentro — sussurrou Chase.

Jessica se passou a língua pelos lábios.

—Mmm... Eu também acredito.

Chase se afastou e assim que entraram e fechou à porta, ele deixou a fonte em uma mesa do vestíbulo, abraçou-a e a beijou mais apaixonadamente que fazia uns instantes.

Te beijar se converteu em um vício — sussurrou enquanto lhe acontecia à língua pelo lóbulo da orelha— eu adoro seu sabor.

Ela sorriu.

—Eu tinha vindo comer, não que me comesse.

Ele riu e lhe passou a língua pelos lábios.

—Não se preocupe, vou te dar de comer — Chase tomou ar e retrocedeu um passo—. Vamos à cozinha antes que tome aqui mesmo contra a porta, vontades não me faltam.

Chase voltou a agarrar a fonte com a sobremesa e se inclinou para ela para lhe dar um beijo fugaz.

—Espero que tenha vindo com energia porque penso te pôr a trabalhar.

—Ao trabalho? —perguntou Jessica.

—Sim, a trabalhar — confirmou ele enquanto ia para a cozinha — Quero que me ajude a fazer uma das receitas secretas dos Westmoreland.

Jessica ficou de pedra.

—Acreditava que não compartilhava com ninguém as receitas secretas...

Ele se deu a volta e sorriu.

—Confio em ti. Vamos já lhe avisei isso, penso te pôr a trabalhar.

Jessica duvidou. Era o momento perfeito para deixar as coisas claras com ele. Tinha que lhe dizer a verdade, sobre tudo desde que sua investigação se ficou em um ponto morto. Já não ficava ninguém que pudesse lhe dar alguma informação. Paula Meyers e Darcy Evans diziam que lhe tinham contado tudo o que sabiam e Schuster e Theodore Henry asseguravam que não sabiam nada. Embora houvesse algo que não se acreditava nas versões do Darcy Evans e do Theodore Henry, mas não podia prová-lo. Estava disposta a voltar a falar com os dois.

—Jessica...

Olhou ao Chase. Ele também a olhava, mas de uma forma estranha.

—Sim...?

—Passa algo?

Jessica tomou fôlego e quis lhe contar a verdade, mas soube que não podia fazê-lo naquele momento. Não podia arriscar-se. Ele poderia jogá-la de uma pontapé no traseiro e ela não resistiria. Logo lhe diria a verdade, mas não naquele momento.

—Não — respondeu ela com um sorriso forçado — O que quer que faça?

Chase deixou uma folha de papel na mesa.

—Sei a receita de cor, mas como vai me ajudar, tirei uma cópia no computador.

Ela conteve a respiração e olhou a receita.

—Guardas as receitas no computador?

Ele soltou uma gargalhada enquanto tirava um bote de nata da geladeira.

—Claro. Algum dia deixarei o negócio a uma de minhas sobrinhas ou a algum de meus sobrinhos.

—Não vais ter filhos?

Olhou-a com um sorriso vacilante.

—Não tenho pensado me casar nem ter filhos. Além disso, se por uma casualidade me casasse, dentro de vinte anos ou mais, só pediria que minha mulher fosse uma boa companhia. Nosso matrimônio só seria algo formal.

Jessica assentiu com a cabeça e voltou a olhar a receita. Chateava-lhe até que Chase pudesse casar, hipoteticamente, com alguém por comodidade. Amava-o.

—O que te parece?

A pergunta do Chase a assustou. Estava embebida em seus pensamentos.

—O que? Que dentro de vinte anos te case com uma mulher a que não quer?

Ele negou com a cabeça.

—Não. O que te parece à receita? Pode fazê-la?

Chase deixou a nata na mesa e ficou detrás dela. Atraiu-a contra si. Ajustou o traseiro dela contra sua ereção. Ele estava disposto a tudo. Ela conteve a respiração quando ele a agarrou pelos quadris.

Jessica fechou os olhos. Em qualquer momento, ele começaria a subir a saia e alcançaria suas calcinhas. Se não parava, nunca fariam o jantar. Além disso, tinha que esclarecer as idéias. A conversação sobre o possível matrimônio dele a tinha desconcertado.

Jessica se deu a volta atropeladamente e Chase ficou atônito.

—Perdoa, tenho que me lavar antes de começar.

Sem lhe deixar reagir, separou-se dele, foi ao quarto de banho, fechou a porta e tentou recuperar a respiração.

Jessica comeu a última parte de frango e lambeu os lábios. Toda a comida que lhe tinha feito Chase tinham lhe encantado, mas aquela era especial porque a tinham feito juntos na cozinha dele, como se fora a dos dois.

—Não te passe a língua pelos lábios dessa maneira — lhe sussurrou Chase.

Ela o olhou com uma sobrancelha arqueada.

—Por quê?

—Porque me dar vontades de lhe lamber isso.

Chase notou que a tensão sexual ia aumentando e decidiu que tinha que esfriar a situação para desfrutar da noite.

—Me fale de seus avôs.

Jessica o olhou fixamente e sentiu que o pânico se apoderava dela.

—Por quê?

—Porque acredito que a julgar pelo que me contou da situação de sua mãe, seus avôs tiveram que ter um efeito positivo em sua vida.

Jessica sorriu. Notava que ele estava sinceramente interessado.

—Efetivamente. Embora minha mãe e eu vivêssemos em nossa casa, eles estavam pertos. Foram se viver a Califórnia, para estar perto de nós, quando eu tinha uns dez anos. Tenho umas lembranças maravilhosas deles.

Jessica decidiu que era o momento ideal para lhe dizer quem era seu avô.

—Chase...

Ele a olhou aos olhos e sorriu.

— O que?

Ela deixou escapar um som, mas não conseguiu formar as palavras que queria dizer.

—Desde quando vive aqui?

—Há algo mais de um ano. Antes tinha um piso no Roswell, mas visitei uns amigos que viviam aqui e decidi que eu gostava. E você? Pensa ficar algum tempo no piso de cima da loja ou vais comprar-te outra coisa?

Jessica deu um sorvo de café.

—Tinha uma casa em Sacramento. Era muito maior do que necessitava, mas meu chefe na empresa onde trabalhava acreditava que advogados tinha contratado tinham que ter uma casa grande em uma vizinhança elegante. Eu fiz obedientemente o que esperavam de mim.

Chase assentiu com a cabeça.

—Não sente falta de ser advogada?

—Sinto falta da advocacia, mas não os princípios da empresa que foram com ela. Uma das seções da empresa que eu representava fabricava brinquedos. Tínhamos recebido muitas queixas sobre um brinquedo concreto porque muitos meninos se feito mal com ele. Entretanto, vendia-se muito bem e a empresa se negou a retirá-lo do mercado. Até que um menino morreu e nos demandaram. Eu tinha que defender um produto que sabia que tinha sido o causador da morte do menino. Não pude fazê-lo e me parti.

Chase sentiu uma profunda admiração por ela, levantou-se, rodeou a mesa e a agarrou pela mão.

—Vamos dar um passeio.

—Um passeio? — perguntou-lhe ela em tom de surpresa.

—Sim. Há um atalho que entra totalmente na natureza e a estas horas pode ver alguma raposa. Além disso, assim podemos baixar à comilona, e isso que ainda não comemos o pudim de plátano...

—Não me recorde isso. Não sei onde vou colocar nada mais.

Ele sorriu.

—Isso te passa por cabeça dura. Disse-te que não trouxesse nada, além da ti mesma.

—Já, mas não queria que você cozinhasse tudo. Se chegar, ou seja, que foste pôr-me a trabalhar, me teria pensado duas vezes fazer a sobremesa.

Ele se inclinou e a beijou na cabeça.

—Reconhece que o aconteceste bem cozinhando comigo.

Jessica riu.

—De acordo, reconheço. Contente?

Chase tomou a cara entre as mãos e a olhou aos olhos.

—Sim, estou contente — respondeu ele dando um significado especial às palavras — Vamos dar esse passeio.

—Como que não o disse ainda?

Essa noite, Jessica estava falando por telefone com sua irmã Savannah.

—Jessica...

Era pior que curtume em pessoa.

— te Ouvi — replicou Jessica antes de dar um sorvo de café — Não se deu o momento adequado. Cada vez que abria a boca para dizer-lhe ele me dizia algo bonito e já não me saía.

Só são desculpas.

Jessica suspirou.

—Não é fácil, já te hei dito o que sinto por ele.

—Sim, mas se quiser que ele sinta o mesmo por ti, tem que ser sincera e pôr as cartas em cima da mesa.

Jessica olhou a taça de café. Sua irmã tinha razão. Essa noite, enquanto jantava com o Chase, tinha tido pelo menos duas boas oportunidades.

—Se o digo agora, antes de demonstrar a inocência de meu avô, ele poderia pensar o pior.

—E se não poder demonstrar a inocência de seu avô? Então, o que?

Jessica não queria expor-se essa possibilidade. Sabia que Darcy Evans e Theodore Henry ocultavam algo. Fechou os olhos e viu a imagem do Chase que a sorria. Então, apareceu outra imagem. Era Chase furioso com ela.

—Jess...

Jessica voltou a abrir os olhos.

—O que?

—É especial e dá igual o resultado. Se ele não captar quão especial é, então, estará melhor sem ele.

—Tem um conceito muito bom de mim, irmã.

Jessica sorriu e deixou a taça de café.

—Posso dizer o mesmo de ti.

Ficaram um momento em silêncio.

—Você gostaria dele — comentou Jessica.

—Já, mas, por isso a mim respeita, já está ocupado. Disse-me que tem irmãos, não?

Jessica sorriu.

—Também estão ocupados, mas tem alguns primos muito bonitos e solteiros.

—Mmm... ao melhor faço uma visita...

—Ao melhor conviria...

—Storm diz que estar saindo a sério com uma garota.

Chase olhou fixamente a seu primo Quade que estava de visita na cidade. Quade trabalhava no Serviço Secreto como parte do amparo do presidente e podia aparecer em qualquer sítio. Chase deu um sorvo de cerveja.

—Storm fala mais da conta.

—É possível — Quade sorriu — Conta me, quem é ela e como te apanhou?

Chase se encolheu de ombros. Já não se via muito com o Quade, mas de pequenos tinham sido inseparáveis e não tinham segredos o um para o outro.

—Chama-se Jessica Claiborne e veio que Califórnia. Trabalhava de advogada em uma empresa, mas se cansou da falta de escrúpulos dessa empresa e decidiu provar sorte com os bolos. Tem uma confeitaria ao lado de meu restaurante.

—Deixou a advocacia para fazer bolos? —perguntou-lhe Quade bastante surpreso.

—Sim.

Quade sacudiu a cabeça.

—É uma mudança muito radical. Pergunto-me o que diriam seus pais.

Chase passou uns dez minutos lhe contando o passado da Jessica e a canalhice de seu pai.

—Teve que passá-lo muito mal — comentou Quade.

—Seguro, mas pelo menos tinha a seus avôs.

—Parece boa gente...

Chase se lembrou da mulher que começava a ser tão importante para ele.

—Sim, me alegro de que ela os tivesse.

—O que fez para que te fixasse nela? —perguntou-lhe seu primo enquanto se inclinava para diante.

Chase se levantou e foi para a janela. Ficou um instante pensando na pergunta do Quade. Até que se deu a volta e se encolheu de ombros.

—É uma boa pergunta, mas o caso é que me tem apanhado e o curioso é que eu gosto de está-lo.

Seu primo esboçou um amplo sorriso.

—A próxima vez que venha, eu gostaria de conhecê-la.

—Irá conhecê-la — lhe assegurou Chase.

 

                                               Capítulo Dez

— No que está pensando, Jessica?

Jessica levantou o olhar. Estava com o Chase em uma cafeteria e estava pensando no bem que se sentia agarrando a mão dele.

Tinha passado uma semana desde que jantou em sua casa e cada dia se sentia mais apaixonada por ele, mas também tinha mais remorsos por não ser completamente sincera.

Theodore Henry se pôs verdadeiramente grosseiro e inclusive a tinha ameaçado demandando por perseguição se tentava ficar em contato com ele outra vez. Isso significava que sua única esperança era Darcy Evans, que não tinha respondido a suas chamadas. Embora estivesse decidida a voltar a falar com ela.

Sabia que Chase estava esperando uma resposta e esboçou um sorriso forçado.

—Mmm... Estava pensando em que tem uma família muito unida.

Pensava-o de verdade. Chase a tinha convidado a ver uma partida de rugby em casa do Jared e Dana. Tinha conhecido aos pais do Chase e havia tornado a ver alguns de seus familiares que já conhecia. Além disso, por fim tinha conhecido a sua irmã Delaney e a seu marido, Sheik Jamal Ari Yasir.

—Sim, tenho que reconhecer que estamos muito unidos — Chase sorriu — Mas você também está muito unida a seus irmãos, não?

Sim. Savannah e Rico são estupendos. Jennifer tem uma irmã e um irmão, mas são mais distantes. Eles acreditam que se excedeu ao me incluir em sua família. Ao fim e ao cabo, sou o produto de uma aventura de seu marido.

—Também foi à filha de seu marido. Além disso, você não tem a culpa de que seu marido fora assim. Acredito que foi admirável por parte do Jennifer que o aceitasse e fizesse o que fez. Sei que muitas mulheres não o fariam por orgulho.

Jessica assentiu com a cabeça.

—É verdade, sei, por isso é especial para mim. Propôs-se que eu formasse parte da vida do Savannah e Rico e o agradeço. Ajudou-me muito depois da morte de minha mãe.

—Seguro que para seus avôs foi muito doloroso que ela morrera dessa forma.

Jessica suspirou profundamente.

—Sim, era sua única filha. Meu avô se culpou durante algum tempo por não ter descoberto antes o meu pai. Por outro lado, também se perguntava se tinha feito bem ao contratar ao detetive e lhe dizer a verdade a minha mãe. Nunca pensou que se tiraria a vida por isso — Jessica ficou um momento em silencio — Durante muito tempo senti muito ressentimento para ela por me deixar sozinha. Necessitei tratamento para superá-lo e me dar conta de que o amor que minha mãe sentia por meu pai era obsessivo e doentio. Então me prometi mesma que nunca me deixaria apanhar por um homem.

Chase agarrou com força a mão da Jessica e pensou na relação que tinham. Tinha que reconhecer que aquelas duas semanas tinham sido muito especiais. Tinham jogado tênis um par de vezes, tinham visto um espetáculo de raios laser e ela tinha presenciado a vitória dos Crusaders do Chase uma semana e sua derrota à semana seguinte. No domingo passado, um grupo, encabeçado pelo Thorn, tinha ido jantar a Augusta nas motos que fabricava o próprio Thorn. Ninguém da família pareceu surpreender-se de que levasse a Jessica, nem ninguém lhe perguntou sobre o tempo que passavam juntos. Sua família tinha aceitado que eram um casal e ele não sabia o que pensar sobre esse assunto.

—Querem mais café?

Os dois olharam ao garçom.

—Não, obrigado — respondeu Chase enquanto soltava a mão da Jessica para olhar a hora — mas poderia me dar à conta. Obrigado por me acompanhar de compras — disse a Jessica quando o garçom se foi.

Ela riu.

—Conheço muito pouca gente, sobre tudo homens, que faça as compras de Natal com tanta antecipação. Ainda faltam dois meses.

—Já — Chase sorriu — mas como você diz, tenho muita família. Além disso, que cada dê uma lista de presentes facilita as coisas. O complicado é acertar com a loja que gosta mais a cada um. Em minha família não serve o dito da cavalo dado não se olha o dente.

Saíram da cafeteria e deram outra volta pelo centro comercial. Ainda faltavam dois meses, mas algumas tendas já tinham a decoração natalina.

—O dia depois de Ação de Graças, este sítio é como um formigueiro. Teria que vir comigo para compreender o que quero dizer. Entretanto, a multidão desperta o espírito do Natal.

Jessica ficou sem fôlego. Ainda faltava um mês para o dia de Ação de Graças e que ele desse é obvio que seguiriam juntos fez que se sentisse como flutuando no ar. Entretanto, demorou pouco em pôr os pés no chão ao lembrar-se de que ao dia seguinte ia visitar o Darcy Evans. Tinha que voltar a tentá-lo antes de contar a verdade ao Chase.

Jessica lhe agradeceu à senhora Stewart que trabalhasse todo o dia para que ela pudesse ir ao Macón a visitar o Darcy Evans. Detestava ser um aporrinho, mas estava decidida a voltar a comprovar se lhe ocultava algo.

Darcy não estava em sua casa, mas uma mulher maior, a mãe do Darcy, disse-lhe que sua filha tinha uma barbearia perto dali. Meia hora mais tarde, Jessica estava estacionando o carro diante da barbearia.

Assim que entrou e viu a expressão do Darcy, soube que se surpreendeu de vê-la.

—Senhora Evans, que tal está? — perguntou-lhe enquanto estendia a mão.

A decoração da barbearia era muito elegante. Jessica se alegrou de que só houvesse uma cliente, que estava no secador de cabelo e não poderia as ouvir.

— A que veio? — perguntou-lhe Darcy enquanto estreitava a mão da Jessica a contra gosto — Acreditava que já não tínhamos nada mais que falar.

Jessica esboçou um sorriso cauteloso.

—Esperava que tivesse recordado algo após.

—Não. Já lhe hei dito tudo o que sei.

—Está segura?

Jessica decidiu tentar outro argumento. Não queria pressioná-la, mas queria saber a verdade.

—Acredita que meu avô lhe deu as receitas a alguém que trabalhava no Schuster's?

Darcy lhe cravou o olhar.

—Não, claro que não. Era um dos homens mais honrados que conheci. Senti-me mal quando Westmoreland o acusou de fazê-lo.

—Estava ali o dia que o fez?

—Não. Seu avô e Westmoreland tiveram uma discussão e seu avô se foi, mas eram tão bons amigos que todos demos obvio que voltaria.

Jessica assentiu com a cabeça.

—Lembra-se de por que discutiram?

Darcy voltou a olhar para outro lado.

—Por mim — respondeu ao cabo de uns segundos.

Jessica não estava segura de havê-la entendido bem.

—Por você?

—Eu estava passando um momento muito mau. Meu filho Jamie, que então tinha dezoito meses, estava constantemente doente e eu faltava muito ao trabalho por isso. Além disso, quando ia estava tão preocupada que comecei a confundir os pedidos — Darcy tomou fôlego ao recordar aqueles tempos — Alguns clientes se queixaram ao senhor Westmoreland. Seu avô sabia quanto necessitava o trabalho para pagar aos médicos do Jamie e lhe pediu ao senhor Westmoreland que me desse outra oportunidade. Discutiram e ouvi que seu avô partia — Darcy sacudiu a cabeça com pena — Me senti mal, mas Paula Meyers tinha trabalhado mais tempo com seu avô e o senhor Westmoreland, disse-me para não me preocupar, seu avô já se partiu outras vezes depois de uma discussão e sempre havia tornado. Quando passaram duas semanas e não voltou, comecei a me preocupar e a me sentir culpada.

Jessica a olhou com certa compaixão. Era evidente que Darcy seguia sentindo-se culpado.

—Eu também acredito que meu avô e o senhor Westmoreland teriam acabado arrumando-o tudo, mas justo depois passaram um par de coisas. Ingressaram em minha mãe com pneumonia e meus avós foram à Califórnia para ocupar-se de mim — Jessica sorriu ao recordar acredito que quando estavam ali decidiram que minha mãe e eu os necessitávamos perto, sobre tudo quando não podiam convencê-la para que ela fora a Atlanta. Voltaram para casa uma semana ou assim mais tarde e meu avô se encontrou com as acusações do senhor Westmoreland. Alguém a quem considerava seu amigo punha em dúvida sua honradez e isso lhe doeu. Não conseguiu que o senhor Westmoreland acreditasse que era inocente e acredito que por isso decidiu que o melhor para todos era que ele se fora a Califórnia.

As duas ficaram em silêncio um momento, mas Jessica teria jurado que Darcy tinha uma expressão estranha. Se não se equivocava, era uma expressão de culpabilidade.

— Está segura de que não pode me dizer nada mais, senhora Evans?

Darcy guardou silêncio durante um instante.

—Não, não há nada mais — respondeu ao final.

Jessica não acreditava.

—É muito importante para mim se lembrar de algo, fique em contato comigo. Nestes momentos estou metida em uma situação muito complicada.

Darcy arqueou uma sobrancelha.

—Que tipo de situação complicada?

Jessica soube que tinha que ser completamente sincera e assim possivelmente Darcy lhe dissesse o que estava ocultando.

—Apaixonei-me pelo Chase Westmoreland, o neto do Scott Westmoreland.

—É o dono do restaurante que há no centro de Atlanta, não?

—Sim, efetivamente — Jessica sorriu.

—Sempre soube que acabaria seguindo os passos de seu avô. Sempre estava pelo restaurante e ajudava muito mais que os outros. Sempre me pareceu um homem amável.

Jessica sorriu de orelha a orelha.

—É-o. Levamos umas três semanas saindo, mas ele não sabe que sou a neta do Carlton Graham.

Darcy arqueou as sobrancelhas.

—De verdade?

—De verdade. Nossas famílias se inimizaram pelo que aconteceu. Eu prometi a minha avó, antes que morrera, que demonstraria aos Westmoreland que meu avô era inocente e que acabaria com a disputa — tomou ar — Não tinha calculado que conheceria e me apaixonaria pelo Chase.

Darcy assentiu com a cabeça.

—Mas, certamente, algo que passou faz tanto tempo tampouco lhes separará.

—Poderia fazê-lo. Ele estava muito unido ao seu avô e sei que segue muito doído com o que aconteceu. Além disso, a sinceridade é muito importante para o Chase. Teria que haver-lhe dito desde o começo, mas antes queria demonstrar a inocência de meu avô. Agora comprovo que me equivoquei ao esperar.

—O que vai fazer?

—Lhe dizer a verdade e esperar que me acredite. Esperar que esteja disposto a esquecer o passado e a olhar para diante.

—Acredita que o fará? —perguntou-lhe Darcy depois de estarem uns segundos em silêncio.

—Assim espero.

Chase olhou a hora e pensou que Jessica já deveria ter tornado. Passou pela loja na hora de fechar para lhe dizer que tinha que ir-se da cidade inesperadamente, mas se encontrou com que a senhora Stewart seguia ali. Só lhe disse que Jessica tinha saído a fazer um recado e que não voltaria antes das sete.

Ele não deixava de perguntar-se que tipo de recado poderia a ter afastado da loja durante quase todo o dia. Ouviu que batiam na porta de seu escritório.

— Quem é?

—Donna.

—Passa.

Viu que sua garçonete de confiança entrava nervosamente. Nunca havia visto nervosa a Donna por nenhum motivo. Além disso, captou certa tristeza naqueles grandes olhos marrons.

—Donna, o que acontece? — perguntou-lhe ante o silêncio dela.

Ela duvidou e olhou para outro lado.

—Vim a te trazer isto.

Chase abriu os olhos como pratos quando lhe deu um papel. Ele não demorou nem um segundo em lhe jogar uma olhada.

—Parte?

Donna baixou o olhar e se encolheu de ombros.

—Sim. Eu gosto de trabalhar aqui, mas se quero terminar os estudos tenho que começar a ir todo o dia a classe. Ontem me chegou uma carta de uma Universidade do Tennessee que me oferece uma bolsa para os dois últimos anos e decidi aceitá-la.

Chase sorriu. Lamentava perder a Donna, mas sabia que não podia desperdiçar aquela ocasião.

—Me alegro por ti, Donna.

Ela esboçou um ligeiro sorriso.

—Obrigado. Eu também me alegro. Não parei que ler a carta uma e outra vez para me convencer de que não estava sonhando. Querem que comece em janeiro, assim terei que fazer a mala e partir. Como se aproximam as férias, não queria te deixar na estacada e lhe queria dizer isso agora, embora certamente eu possa trabalhar um mês mais.

—Agradeço-lhe isso. Vai ser muito difícil te substituir. Se alguma vez necessitar algo, não duvide em me chamar.

—Obrigado, Chase.

Donna partiu e Chase se deixou cair contra o respaldo da poltrona. Voltou a olhar a hora. Tinha que ver a Jessica e o pior de tudo era que também tinha que ir-se três dias da cidade. Não tinha trabalhado muito porque não tinha podido deixar de pensar na Jessica e não encontrá-la na loja tinha sido uma enorme decepção.

Ao Chase não gostava do rumo que estavam tomando seus pensamentos, cada vez estava mais obcecado com a Jessica. Pela primeira vez em sua vida, ao tomar em braços às gêmeas do Storm a primeira hora da manhã, pensou em ter filhos. Embora não fazia muito havia dito a Jessica que não pensava ter filhos. Entretanto, quando olhou a suas sobrinhas, viu a Jessica como a mãe de seus filhos. O pânico lhe atendeu a garganta.

Levantou-se como se não fora o mesmo. Notava sensações que era melhor esquecer, mas por algum motivo não podia as esquecer. Sentia-se dominado pelo desejo e saiu do despacho com a única idéia de que tinha que ver a Jessica.

 

Chase se equilibrou sobre a Jessica quando ela abriu a porta.

—Te senti falta de todo o dia — sussurrou enquanto a beijava.

Entrou e fechou a porta. Não lhe importava havê-la visto no dia anterior nem que tivesse feito o amor com ela a noite anterior. Beijou-a.

Jessica tentou não estremecer-se pelo amor que lhe transbordava todo o corpo. Não queria imaginá-la possibilidade de que Chase partisse furioso quando lhe contasse a verdade essa noite. Embora soubesse que o tinha que fazer.

—Chase, tenho que te dizer algo...

Ele voltou a beijá-la profunda e avidamente, com uma paixão que nublou o pensamento da Jessica. Ela sabia que aquela podia ser a última vez que se desse essa situação e o beijou com a mesma voracidade que ele. Ao cabo de uns instantes os dois estavam gemendo.

Chase se separou, tomou em braços e a levou a piso de acima. Deixou-a de pé junto à cama e começou a lhe tirar a camisa enquanto ela se ocupava do botão dos jeans. Os dois estavam enlouquecidos pela paixão e o desejo.

—Desejo-te com toda minha alma — sussurrou Chase quando despiu completamente a Jessica e ele também esteve nu.

Tombou-a na cama e começou a lamber seus mamilos. Ela deixou escapar um gemido quando se meteu um na boca. Começou a mordiscá-lo e ela se voltou louca de prazer. Logo passou ao outro mamilo e lhe deu o mesmo tratamento.

—Chase...

—Agüenta querida, acabo de começar.

Abandonou os seios e foi descendo. Jessica conteve a respiração quando a língua alcançou o umbigo.

Então, Chase levantou a cabeça e a olhou aos olhos. Era um olhar tão ardente que Jessica ficou sem fôlego e ele baixou a boca até sua essência feminina. Ela separou as pernas e teve que fazer provisão de todas suas forças para não desvanecer-se ante o feroz ataque de sua boca. Entretanto, nada pôde impedir que se estremecesse inverificado quando ele aumentou a pressão de sua língua e a acariciou até que o sangue começou a lhe bulir como larva líquida. Ela gritou seu nome, mas isso só o esporeou. Quando alcançou o orgasmo e o corpo lhe estilhaçou em mil pedaços, uivou o nome do Chase e levantou os quadris para que ele seguisse com as profundas e firmes carícias de sua língua. Ele afastou a boca quando ela se estremeceu pela última vez. Chase se sentou sobre os talões e esboçou um sorriso que voltou a estremecer a Jessica. Olhou-a aos olhos e a ela lhe alterou o pulso e sentiu que a paixão voltava a acender-se entre as pernas.

Ele, como se soubesse o que estava sentindo ela, começou a lhe acariciar a carne úmida dessa zona. Logo, inclinou-se sobre ela e lhe sussurrou com uma voz profunda, sexy e rouca:

Não te relaxe, querida, eu estou entrando em calor.

Chase pensava fazer o amor a essa mulher toda a noite. A sua mulher. Fechou os olhos quando uma pontada lhe atravessou o coração e quase o deixa sem respiração.

—Chase, passa algo?

Ele abriu os olhos e olhou a Jessica. Colocou-se em cima dele e comprovou com satisfação que estava preparada para recebê-lo. Nesse momento, viu tudo claro. Ela era sua mulher e a amava. Nunca pretendeu que passasse isso, mas tinha passado e só podia aceitá-lo.

—Chase...

A ele lhe acelerou o coração, inclinou-se sobre ela e a beijou delicadamente.

—Não, não me passa nada. Não poderia estar melhor.

Ela sorriu de orelha a orelha.

—Isso o decidirei eu...

Chase sorriu e lhe passou a ponta da língua pelos lábios.

—Então, me deixe que te ajude a tomar uma decisão tão importante.

Voltou a beijá-la profundamente enquanto lhe passava a língua de lado a lado da boca, deleitando-se. Jessica gemeu quando ele introduziu a mão entre os dois corpos. Seus dedos se detiveram entre as pernas dela e a acariciou brandamente com movimentos circulares e arrebatadores que fizeram que ela voltasse a arquear os quadris.

Chase separou a cabeça e a olhou quando ela abriu lentamente os olhos. Ele estava transbordante de um desejo que não havia sentido nunca ao saber o muito que desejava a aquela mulher. O muito que a amava. Sentiu uma necessidade peremptória de estar dentro dela.

Ele lhe levantou os quadris com as mãos, pôs as coxas entre suas pernas e colocou seu membro ereto no centro.

Entrou e ela elevou os quadris para acomodar-se a ele e que entrasse profundamente. Ele empurrou com seus quadris até estar completamente fundo nela. Conteve o anseio de mover-se, de investi com o ritmo que os levaria a limite. Queria desfrutar de estar assim, dentro dela, sentindo a umidade ardente que o tinha apanhado.

Manteve-se quieto, olhou-a aos olhos e quis que ela soubesse o que sentia nesse momento.

—Quero-te, Jessica.

Viu que ela abria os olhos de par em par, com incredulidade. Logo, os olhos lhe empanaram de lágrimas e captou uma expressão de felicidade em seus lábios.

—Eu também te quero, Chase.

Ele não o tinha esperado e essas palavras fizeram que perdesse o controle. A necessidade de lhe fazer o amor se fez tão vital como respirar. Começou a mover-se com rápidas investidas, esporeado pelas emoções que o aturdiam, que lhe transbordavam e lhe apressavam a fazê-la realmente dela.

Ele nunca tinha conhecido nada tão formoso como aquilo. Ela enchia um vazio que ele não sabia que tinha dentro. Além disso, estava fazendo como não o tinha feito nenhuma outra mulher. Ele seguia entrando e saindo nela, que lhe tinha rodeado os quadris com as pernas para fundir os dois corpos em um.

— Chase!

Quando ela gritou seu nome, ele apertou os dentes ao notar que lhe invadiam as mesmas sensações que a ela. Uma erupção de sensações se apropriou deles. Agarrou-a pelos quadris enquanto seguia penetrando-a correntemente e se liberava por completo. Era como se subissem em círculos até uma altura jamais alcançada, como se deixassem arrastar por um fluxo de sensações tão intenso que ele perguntou se poderiam sobreviver. Seguiu entrando nela sem deixar de pronunciar palavras de amor.

Quando explorou a segunda vez e, uns instantes depois, a terceira, soube que ela era realmente dela, como ele o era dela.

Umas horas mais tarde, Chase tentou não despertar a Jessica quando se desceu da cama. Tinha que ir-se e fazer a mala para sua viagem a Houston. Faltavam cinco horas para que seu avião decolasse e teria que agüentar o tráfico da manhã até o aeroporto.

Vestiu-se, aproximou-se da cama e lhe deu um suave beijo nos lábios. Logo, baixou as escadas e decidiu lhe deixar uma nota. Também a chamaria quando chegasse ao aeroporto. Se aquela reunião não fora tão importante, teria ficado. Entretanto, tinha pensado em abrir um Chase 's Place em Houston e ia reunir se com um grupo de pessoas que podiam fazer possível essa empresa.

Abriu a porta do despacho dela e olhou ao redor. Era a primeira vez que entrava nessa habitação e gostou de como a tinha organizada. Era pequena, mas bem e funcionalmente mobiliada. Foi até elegante mesa de carvalho para procurar uma parte de papel e uma caneta. Ficou gelado quando viu uma foto emoldurada.

Agarrou-a e piscou sem acreditá-lo que estava vendo. Era uma foto da Jessica com duas pessoas maiores que ele supôs que seriam os avôs que tanto queria. Reconheceu-os imediatamente. Eram Carlton e Helen Graham.

Notou como se lhe tivessem dado um murro no estômago. Jessica era a neta do Carlton Graham? Se era assim, por que não o havia dito? Deixou a foto na mesa com uma mão tremente. Olhou pela mesa, fixou-se em um papel e o leu.

Tarefas do dia:

Voltar a falar com o Donald Schuster sobre as receitas do Westmoreland.

Sentiu como uma punhalada no coração e o papel lhe caiu da mão. Fechou os olhos. Era impossível que outro Graham fora a trair a um Westmoreland. Quando abriu os olhos e voltou a ver a foto e o papel, compreendeu que tudo era possível. Teria se informado Schuster de que ia abrir outro restaurante e queria fazer algum trato com a Jessica para que se aproximasse dele?

Ela, efetivamente, aproximou-se dele, tanto que lhe tinha crédulo uma de suas receitas. O que ganhava ela? A possibilidade de vender sua confeitaria nos restaurantes do Schuster por todo o país? Apertou os dentes. Rompia-lhe a alma saber que era uma oportunista, como o tinha sido Íris.

Sentiu uma fúria que não havia sentido jamais, uma fúria mesclada com uma dor imensa. Saiu do despacho e subiu ao piso de acima a toda velocidade. Era a segunda vez que entregava seu coração a uma mulher com o mesmo resultado. Nunca voltaria a confiar cegamente em ninguém.

Quando entrou no dormitório, sentiu uma pressão que lhe atendia o coração. Estava esmigalhado pelo amor que sentia para ela e pela dor de sua traição. Soprou como se assim pudesse expulsar qualquer sentimento para ela e se aproximou da cama.

—Jessica, acorda.

Jessica abriu lentamente os olhos para ouvir a voz do Chase. Quando conseguiu vê-lo claramente, observou que tinha uma expressão de fúria. Apoiou-se na cabeceira.

—O que acontece, Chase?

Ele não disse nada, limitou-se a olhá-la com os olhos cheios de ira.

—Chase, por favor, o que acontece?

—Por que não me disse que é a neta do Carlton Graham? Divertiste-te me ridicularizando?

Ela conteve a respiração e se perguntou como se teria informado, mas isso já não tinha importância.

—Não, não é assim, Chase. Queria-lhe dizer isso, mas também queria demonstrar antes que meu avô era inocente.

—Não pode demonstrar o que não é verdade.

Jessica saltou da cama e se enfrentou ao Chase sem lhe importar que estivesse nua.

—Meu avô não se levou nenhuma receita e queria demonstrá-lo, mas me apaixonei por ti e...

—Não te apaixonaste por mim, eu só era um meio para alcançar um fim. Acredita que sou idiota? Vi a nota em que diz que hoje ficaste com o Schuster. Estão combinando para roubar mais receitas dos Westmoreland? O que te ofereceu? A possibilidade de servir seus bolos em seus restaurantes?

Jessica negou vigorosamente com a cabeça.

—Não. Como pode pensar algo assim? Schuster tem respostas. Alguém lhe deu as receitas e como eu sei que não foi meu avô, citei-me uma vez com ele para ver o que podia me dizer. Vou ver o outra vez para lhe tirar mais informação, se puder.

Chase tomou uma baforada de ar. Queria acreditá-la, mas só podia pensar em que ela o tinha traído. Apertou os lábios.

—Se o que diz é verdade, por que não me disse quem é? Estivemos saindo durante quase um mês e teve muitas oportunidades de me dizer a verdade, mas nunca me disse que fosse família do Carlton.

Jessica tragou saliva. Sabia que tinha razão.

—Como já te hei dito, primeiro queria demonstrar sua inocência. Tentei-lhe dizer isso quando veio ontem à noite, mas não tive a ocasião. Tem que me acreditar, Chase. Quero-te e...

Chase soltou uma gargalhada cheia de amargura.

—Me quer? Assim me demonstra seu amor? Com uma mentira? Nesse caso, não me interessa.

Deu-se a volta e se foi da habitação. Jessica conteve a respiração até que ouviu a portada. Encheram-lhe os olhos de lágrimas. Tinha complicado irremediavelmente as coisas e Chase a odiava.

 

                                         Capitulo Onze

Chase se levantou da cama. Quando viajava sempre ia aos melhores hotéis, mas uma boa habitação e uma cama confortável não evitaram que passasse umas noites agitadas. Tinha passado dois dias tão absorto com as negociações que não tinha pensado em outra coisa... Em outra coisa que não fora Jessica. Ela se tinha coado em sua cabeça embora ele não quisesse e não podia tirá-la dali por muito que o tentasse.

As lembranças daquela noite o afligiam. Ela tinha parecido ficar consternada por suas acusações. Entretanto, como tinha esperado ela que reagisse ele? Tinha esperado que ele a recebesse com os braços abertos? Tinha esperado que ele passasse por cima que seu avô e ela se converteram em inimigos? Ela era uma Graham e ele um Westmoreland. Ele se lembrava perfeitamente de que seu avô lhe tinha advertido de que não se confiasse nunca de um Graham. Ele não só se confiou de uma, mas também se apaixonou por ela.

Suspirou. Acreditava que ela ia tragar se a história de que estava tentando demonstrar a inocência de seu avô e que ia ver-se com o Schuster para encontrar a verdade?

Entretanto, não podia descartar a possibilidade de que não lhe dissesse a verdade desde o começo precisamente por ser tão resistente a acreditá-la. Ela sabia que não a receberia com os braços abertos. Teriam se convertido em inimigos antes de ter a oportunidade de serem amigos.

Entretanto, sobre tudo, levava dois dias lhe dando voltas à idéia de que ela pudesse estar dizendo a verdade. Não podia esquecer-se de que era uma mulher que tinha deixado uma profissão muito prometedora por motivos éticos. Era uma mulher de princípios sólidos. Era uma mulher que tinha passado seu tempo livre fazendo bolachas para os meninos de sua equipe. Era alguém que se preocupava com outros.

Tampouco podia esquecer-se de que ela não tinha tido relações sexuais durante oito anos. Ele intuía que se necessitaria muito mais que a promessa de vender seus produtos nos restaurantes Schuster para chegar até onde tinha chegado com ele se não gostasse.

Soprou. Teria se comportado irracionalmente fazia dois dias? Tinha sido injusto ao tirar conclusões sem escutar a versão dela? Teria se equivocado ao pô-la na mesma categoria que Íris? As duas não se pareciam em nada. Íris não tinha escrúpulos e Jessica sabia entregar-se.

Olhou o relógio que havia na mesinha. Era quase meia-noite. Queria chamar a Jessica e falar com ela. Quando ao dia seguinte voltasse para Atlanta, a escutaria e não se precipitaria ao julgá-la. Seguia amando-a. Já não lhe importava o que acontecesse as receitas dos Westmoreland. Se Jessica estava empenhada em demonstrar a inocência de seu avô, ele a ajudaria, ou seja, por que as receitas tinham acabado nas mãos equivocadas.

Tomou fôlego. Sobre tudo, queria passar o futuro com a mulher amada.

—Jessica, se te amava faz dois dias seguirá te amando agora. O amor verdadeiro não se pode acender ou apagar como se fora a televisão.

Jessica escutou a sua madrasta, mas não ficou convencida. Tinha visto o desprezo mais profundo nos olhos do Chase antes que ele partisse. Entretanto, não podia esquecer-se de outro olhar. Foi à forma de olhá-la uns segundos antes de lhe dizer que a queria. Quando ele o disse, ela acreditou de coração que o dizia sinceramente, como ela tinha sido sincera ao dizer-lhe a ele.

—Não pude odiar a seu pai nem depois de me inteirar do que fez — seguiu Jennifer — Estava doída e me pus uma couraça para evitar que me voltassem a fazer mal, mas o amor perdurou muito tempo.

—Dá igual — replicou Jessica em voz baixa — Chase me deu a entender que tudo tinha terminado entre nós. Tomei algumas decisões.

—Que decisões?

—Hoje me reuni com um agente imobiliário. Decidi vender tudo e voltar para Califórnia.

—Voltar a ser advogada?

—É possível, mas não em uma empresa. Pensei me especializar em segurança dos produtos para defender aos consumidores.

—Crie que as coisas se solucionarão se sai correndo?

—Não saio correndo, só protejo meu coração para que não o amassem mais.

Fez-se um silêncio.

—Bom — concluiu Jennifer ao cabo de uns segundos — acredito que Chase e você têm que lhes sentar e esclarecer coisas.

—Eu também acredito — corroborou Jessica — mas fiquei com a impressão de que não queria voltar para ver-me. Como nossos negócios estão separados só por uns metros, é impossível que não nos vejamos, de modo que um dos dois terá que partir — fez uma breve pausa — Né... já sabe que sou uma sobrevivente.

Suspirou profundamente. Tinha permitido que Chase fora muito importante para ela. Fazia o que se prometeu que não faria jamais. Entregou-se em corpo e alma a um homem. Isso fazia que lhe custasse mais partir, mas mesmo assim, faria.

—O que é isso de que Jessica vai vender sua loja? —perguntou- Chase a Donna.

Tinha ido ao restaurante diretamente do aeroporto e ao passar pela confeitaria a havia visto fechada no meio da amanhã e com um pôster para vendê-la.

Donna se apoiou na porta fechada do despacho.

—Os rumores dizem que volta para Califórnia.

Chase notou um calafrio em tudo o espinho dorsal. Tinha sido idiota ao pensar o pior dela. Tinha meditado muito durante esses dias e no fundo de seu coração sabia que Jessica o amava. Tinha sido idiota ao acusar a de todas aquelas coisas. Jessica, ao contrário, que Íris, não era avara.

Donna se esclareceu garganta.

—Já sei que não é um bom momento, mas há alguém que insiste em te ver.

Chase arqueou uma sobrancelha.

—Quem?

—Uma mulher que se chama Darcy Evans.

Chase suspirou ao lembrar-se daquele nome.

—Por favor, lhe diga que acontece.

Darcy Evans entrou no despacho. Embora não tinha trabalhado com seu avô mais de seis meses, Chase a recordava. Era reservada, como estava acostumado a sê-lo Donna.

Chase se levantou para lhe estreitar a mão.

—Senhora Evans, quanto tempo... Alegro-me de vê-la. Por favor, sinta-se.

Darcy Evans se sentou em frente dele e Chase a olhou aos olhos.

—O que lhe traz por aqui?

Chase se deu conta de que estava nervosa.

—Queria falar com a senhorita Claiborne, mas sua loja está fechada. Foi me ver um par de vezes durante o mês passado.

—Jessica foi vê-la? —Chase estava atônito.

—Sim. Não se acreditava que seu avô lhe tivesse tirado as receitas do seu avô e queria saber a verdade. Tenho entendido que também falou com o Donald Schuster, com a Paula Meyers e com o Theodore Henry.

Chase conhecia todos os nomes menos um.

—Theodore Henry?

—Sim, era o cozinheiro do Schuster quando eu trabalhava com seu avô — suspirou profundamente — Theodore e eu fomos amantes.

Ao Chase lhe saíam os olhos das órbitas.

—Eram amantes?

—Sim. Estivemos juntos quase um ano, mas o mantivemos em segredo. Ele acreditava que seu trabalho como cozinheiro no restaurante do Schuster pendia de um fio e estava desesperado. Pediu-me que encontrasse alguma forma de me fazer com as receitas. Ao princípio me neguei. Estava agradecida ao senhor Graham por me haver dado o trabalho e acreditava que seu avô era um homem amável, embora às vezes pudesse ser muito cabeça dura.

Chase assentiu com a cabeça. Sabia que seu avô podia sê-lo.

—Entretanto, ao final as levou...

Ela agarrou nervosamente as asas da bolsa e os olhos lhe empanaram de lágrimas.

—Sim, eu as dava ao Theodore. Chateou-me muito que o senhor Westmoreland deixasse que o senhor Graham se fora e quis fazer algo para lhe chatear a ele. Um dia se deixou o livro de receitas em cima da mesa quando foi fazer umas entregas. Copiei as receitas e as passei ao Theodore.

Chase ficou surpreso. Seu avô sempre guardava com chave o livro de receitas.

—Agradeço-lhe muito que tenha vindo a me contar a verdade. Por fim cicatrizou uma ferida muito velha.

—Então, não é muito tarde? — perguntou ela enquanto se enxugava as lágrimas.

—Tarde? Para que?

—A senhorita Claiborne me disse que amava a você e que queria lhe dizer a verdade, mas antes queria demonstrar a inocência de seu avô para que você acreditasse.

Chase se derrubou em sua poltrona e se sentiu um miserável. Jessica tinha tentado lhe dizer a verdade, mas ele não a tinha escutado. Sentiu um nó no estômago. O que aconteceria ela não o perdoasse por não haver creditado nela? O que aconteceria ela já não quisesse nada dele?

—Senhor Westmoreland...

Chase soprou e se deu conta de que não tinha respondido à pergunta.

—Não, não é muito tarde. Amo a Jessica e juntos podemos solucionar algo.

Esperava com toda sua alma que o que havia dito fora verdade.

Jessica viu o esportivo do Chase assim que entrou no estacionamento. Encolheu-lhe o estômago pelos nervos e agarrou a bolsa e a bolsa de uma loja.

Ao cabo de uns instantes, quando acabava de entrar em sua loja e de fechar a porta, ouviu que soava a campainha. Abriu a porta e se encontrou com um homem maior.

—Flores para a senhorita Claiborne.

Jessica sorriu. Era muito próprio de Jennifer mandar flores para animá-la. Eram perto de duas dúzias de rosas.

—Obrigado. Se esperar um segundo, lhe darei uma gorjeta.

O homem sorriu.

—Não faz falta, já o têm feito — sorriu mais amplamente — Esse senhor não mandou nunca flores a uma mulher. Ao menos desde nossa loja.

Jessica ficou boquiaberta.

—Quem?

O homem riu.

—Não posso dizer-lhe, mas assinou o cartão e como ele sabe que minha mulher tem uma tendência insuperável à fofoca, estou seguro de que também sabe que toda a Atlanta se inteirou deste. Mas é evidente que isso não lhe importa. Bom dia, senhora.

Jessica o viu partir e montar-se na caminhonete da floricultura Coleman.

Jessica deixou as flores sobre o mostrador e tomou o cartão.

O amor faz que alguém diga e faça idiotices.

Me perdoe.

Chase.

Jessica ficou petrificada. Não podia respirar. Chase lhe tinha mandado flores para desculpar-se! Voltaram a bater na porta antes que pudesse repor-se. Saiu disparada a abri-la e se encontrou com a Donna.

—Olá, Jessica, trago-te um obséquio do Chase's Place — explicou enquanto lhe dava uma bolsa enorme.

Jessica soube pelo aroma que fora o que fora, seria delicioso. Jessica sorriu e agarrou a bolsa.

—Aqui há comida pelo menos para duas pessoas...

Donna riu.

—Acredito que se trata disso.

Donna desapareceu antes que Jessica pudesse dizer algo.

Jessica fechou a porta, foi ao mostrador e deixou a bolsa junto às flores. Voltaram a bater na porta. Ficou paralisada. Seu coração sabia quem era como sabiam seu corpo e sua alma.

Era Chase.

Tomou ar e cruzou a loja até a porta. Soltou lentamente o ar antes de agarrar o trinco e abri-la.

Chase estava apoiado no marco da porta com uma garrafa de vinho na mão. Estava muito sexy, para comer-lhe. Ela, surpreendida, passou-se a língua pelos lábios e ele cravou os olhos em sua boca. A ela lhe acelerou o pulso.

Não parecia zangado. Isso era um bom sinal. Jessica se deu conta de que tinha que lhe dizer que entrasse ou se fora.

—Quer entrar?

—Sim — ele não duvidou ao responder.

Jessica tragou saliva e se afastou para deixá-lo passar. Logo, apoiou-se de costas na porta porque sabia que se dava um passo adiante cairia. Os joelhos lhe fraquejavam. Deu-se conta de que Chase estava mais atrativo que nunca.

—Obrigado pelas flores — disse por dizer algo — E pela comida.

—De nada. Isto também é para ti — replicou enquanto lhe dava uma garrafa de vinho branco.

—Obrigado.

Então, fez o esforço de separar-se da porta para deixar a garrafa de vinho com as flores e a bolsa da comida. Deu-se a volta lentamente e o encontrou diante. Não o tinha ouvido aproximar-se. Olhava-a com arrependimento.

Me perdoe. Deveria te haver escutado. Deveria acreditado em você — sussurrou ele com a voz entrecortada.

—Eu também sinto muito — respondeu ela com um nó na garganta — Teria que te haver dito a verdade assim que soube quem era.

Ele se aproximou outro passo.

—Tive três dias para meditar. Para meditar sobre nós. Decidi que eu gostaria que estivéssemos juntos. O que passou entre nossos avôs é coisa do passado. Além disso, tinha razão. Carlton não se levou as receitas dos Westmoreland. Esta manhã veio para ver-me Darcy Evans. Primeiro veio aqui, mas viu a loja fechada. Queria que soubesse a verdade. Foi ela quem se levou as receitas. Theodore Henry e ela eram amantes e ela as roubou para vingar-se de meu avô por permitir que seu avô se fora.

Jessica retrocedeu um passo e o olhou aos olhos.

—Por isso vieste? Porque as palavras do Darcy demonstram minha inocência?

Não — Chase sacudiu a cabeça energicamente — Tinha repensado sobre nós antes que visse o Darcy. Sabia que te amava. Não tem nada de mentirosa nem de imoral. Não tem nada que ver com Íris e me arrependo muito de havê-lo pensado. Por favor, me perdoe.

Ela o olhou aos olhos. Os dois tinham cometido algum engano.

—Só te perdoarei se você me perdoa por não ter sido sincera contigo desde o começo. Mas prometi a meu avô no leito de morte que demonstraria sua inocência.

—Tem o feito.

Jessica se emocionou ao compreender que, efetivamente, tinha-o feito. Chase deu outro passo adiante e levantou a cara da Jessica tomando a do queixo.

—Quero-te, Jessica. Quero-te muito — a abraçou — Quero estar contigo para sempre. Quero que termine o conflito entre nossas famílias. Quero formar outra sociedade entre os Westmoreland e os Graham. Por favor, te case comigo. Quero ter filhos contigo, quero te amar e te proteger até que a morte nos separe e muito depois.

—Chase... — Jessica tinha os olhos empanados de lágrimas — Eu também quero tudo isso.

O sorriso do Chase era suficiente para que ela o quisesse toda a vida e, além disso, encontrou-se rodeada por uns poderosos braços.

—Comeremos mais tarde — sussurrou ele antes de tomá-la em braços para subir ao dormitório.

Ela se estremeceu de desejo quando ele a deixou na cama. Logo, ele também se tombou na cama e começou a despi-la. A ela lhe alterou o pulso de desejo e amor.

Quando esteve completamente nua, ele se levantou para tirar a roupa. Ela não queria permanecer passiva. Levantou-se e lhe ajudou a tirar o pulôver. Logo, soltou o cinturão e lhe desabotoou as calças para que ele os tirasse. Quando o teve diante com nada mais que uma cueca muita sexy, acariciou-lhe o peito e baixou a mão pelo torso para convencer-se de que não estava sonhando.

Então, ajoelhou-se e lhe tirou o último objeto de roupa. Baixou-lhe com calma a cueca pelas pernas; beijou-lhe o umbigo e se tornou para trás para olhá-lo aos olhos.

—Vêem — sussurrou enquanto lhe estendia a mão.

Ajudou-a levantar-se, abraçou-a com força e ela notou toda a força de sua ereção contra o ventre.

—Queria... — sussurrou ela olhando-o aos olhos.

—Já sei — a interrompeu ele — mas se chegar a deixar que o fizesse tudo teria terminado antes de começar. Ainda tem muito que aprender e vou gozar descobrindo coisas contigo — Chase sorriu — Em nossa casa não haverá um momento de aborrecimento. Sempre será meu desejo irresistível.

Jessica transbordava amor.

—Me faça o amor, Chase...

Tombou-a na cama e ele se tombou também. Ela se estremeceu dominada por um desejo incontrolável. Chase tomou entre os braços e ela soube que ele tinha razão, em sua casa nunca haveria um momento de aborrecimento.

Ela seria seu desejo irresistível, mas ele era o bombom de chocolate mais ardente.

 

                                                  Epílogo

                 Dois meses mais tarde, dia de Natal

Jessica sorriu a sua irmã que fazia pergunta a cem quilômetros por segundo. Era o dia de suas bodas e estava desejando unir-se ao Chase. Tinham decidido que como todos os Westmoreland foram esses dias as suas casas, seria um momento perfeito. E o era.

—Tranqüilize-se Savannah, me deixe que te responda à primeira pergunta. Chama-se Durango Westmoreland e é primo do Chase. Trabalha de guarda florestal em um parque nacional de Montana.

Viu interesse nos olhos de sua irmã. Viu-o desde a noite anterior quando fizeram o ensaio e Durango, cujo vôo tinha chegado com atraso, apareceu no Chase's Place e demonstrou que todos os homens Westmoreland eram muito sexy.

—Mas vai ajudar-me a pôr o véu ou vai ficar-te aí atordoada? — perguntou-lhe Jessica a sua irmã.

Savannah riu enquanto ficava detrás da Jessica para lhe colocar o véu.

—Está muito bonita, Jess.

Jessica sorriu. Ela também se encontrava bonita. Olhou ao Savannah no espelho. Sua irmã também estava muito bonita. Tinha olhos cor avelã, a pele cor caramelo e um cabelo comprido e moreno que lhe caía pelas costas.

Jessica se tinha dado conta de que Durango também se fixou no Savannah, mas se tinha mantido a distância.

—Durango não gosta das mulheres da cidade — comentou Jessica enquanto se dava a volta para olhar a sua irmã.

—Por quê? — perguntou Savannah com certo espanto.

Jessica se encolheu de ombros.

—Tem algo que ver com uma velha ferida. Você, querida irmã, é completamente de cidade.

Savannah também se encolheu de ombros e sorriu.

—Terá que aprender a que goste, porque depois de vê-lo decidi que, para mim, os homens das montanhas têm algo.

Jessica pôs os olhos em branco. Não sabia qual dos dois ia necessitar mais de ajuda divina. Se Durango ou Savannah. Decidiu não lhe dar mais voltas ao assunto e sorriu ao lembrar-se de que ao cabo de uns minutos seria a mulher do Chase.

Chase e ela tinham querido uma cerimônia com pouca gente, mas os Westmoreland não sabiam quanta era pouca gente. Havia algo mais de trezentos convidados. Savannah era a dama de honra da Jessica e Quade, o primo do Chase, sua testemunha.

As duas irmãs se abraçaram.

—Me alegro por ti, Jess — sussurrou Savannah com a voz quebrada.

—Obrigado. Chase é um bom homem. Levo-me o melhor — se apartou um pouco e olhou a sua irmã — Algum dia tocará a ti.

Savannah riu com um brilho zombador nos olhos.

—Tampouco nos precipitemos...

Chase a viu aproximar-se pelo corredor e pensou que estava preciosa. Estava muito emocionado e teve que tragar o nó que tinha na garganta.

Quando ela chegou a seu lado, Chase viu que tinha lágrimas de felicidade e a beijou na mão.

—Quero-te — sussurrou Chase.

Viu que ela sorria apesar das lágrimas. Estava lhe fazendo o homem mais feliz do mundo ao casar-se com ele. Os dois se voltaram para o oficial.

—Sim — disse Chase em voz alta antes que o homem chegasse a dizer algo.

—Sim? — perguntou-lhe o oficial com uma sobrancelha arqueada.

—Sim — Chase assentiu vigorosamente com a cabeça.

O oficial, que conhecia o Chase desde que nasceu, sorriu.

—Ainda não te perguntei nada, Chase.

—Dá igual, digo sim a tudo.

Chase ouviu uma risada contida e soube que era do Quade.

O oficial sorriu mais.

—Em qualquer caso, seguiremos com a cerimônia tal e como estava prevista.

Ao cabo de um momento, acrescentou:

—Eu lhes declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva, Chase.

Chase a beijou. Foi um beijo muito pouco delicado. Passou por cima completamente que estivessem diante de trezentos convidados e a devorou com um beijo.

Durango ou possivelmente fora Storm, atirou-lhe do smoking.

—Deixa algo para mais tarde, não?

Chase se separou um pouco da Jessica e a olhou.

—Não pude evitá-lo querida, você é uma delícia irresistível.

 

                                                                  Brenda Jackson

 

 

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