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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


TEMPESTADE À VISTA / Billy Graham
TEMPESTADE À VISTA / Billy Graham

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio "SEBO"

 

 

 

  

A Bíblia é um livro para nossos dias. Quanto mais o mundo se torna incerto e complexo, mais precisamos da verdade de Deus para nossa orientação moral. Os antigos credos da igreja cristã, alguns dos quais datam de quase mil e setecentos anos, estipulam que a Bíblia é "a infalível regra de fé e prática", sendo tão prática hoje, para implantar harmonia e paz na terra, como sempre o foi. Seria trágico destronar as Escrituras, arrancando-a do lugar que ocupa em nossa vida, ou permitir que os princípios do propósito de Deus para os seres humanos deste planeta caís­sem em desuso. Precisamos da Palavra de Deus, hoje, mais do que nunca na história.

Não é por mero acaso que a Bíblia hoje se tornou o livro mais popular, o mais valioso, na Rússia, Roménia, Hungria, Tcheco-Es-lováquia, Bulgária, Albânia e Alemanha. O povo privado da sabedoria e da visão proporcionadas pela Bíblia se abate. Assim falou Deus pelo profeta Oséias: "O meu povo é destruído porque lhe falta o conhecimento" (4:6). Sempre que a Palavra de Deus é escondida ou desprezada, é certa a ocorrência de agum tipo de destruição.

Há grandes motivos para otimismo, agora que testemunha­mos os acontecimentos que se desenrolam no leste da Europa, na comunidade europeia, na federação russa e no oriente médio. Parece, segundo muitos pontos de vista, que o mundo está expe­rimentando um período de paz e tranquilidade. Entretanto, nin­guém deve, por enquanto, agitar a bandeira que anuncia "tudo bem". Ainda há motivos para alarme; tempestades formam-se no horizonte. Estamos sendo assolados por males como o débito crescente, a onda de crimes que se agiganta, as novas formas de ódio racial e étnico, a desintegração dos valores morais, as molés­tias sexualmente transmissíveis, a epidemia de AIDS, a destruição da unidade familiar, o abuso desmesurado de drogas e álcool, e os ataques hostis, incessantes, contra a igreja cristã. Seria tudo isso mera coincidência, ou teríamos aí, talvez, os sintomas de algo significativo?

Vivemos hoje o período mais complexo e sofisticado, segundo o registro da história. A ciência, a tecnologia, e novas ideias literalmente têm dado novo formato e novas dimensões ao nosso mundo; um pequenino punhado de nações modernas concentra hoje o poder de determinar o futuro todo de nosso planeta.

Então, que é que aconteceria se tal poder caísse nas mãos de líderes inescrupulosos, destituídos de princípios? Já fomos apa­nhados por um furacão de incerteza económica, com novos ali­nhamentos de poder e de mercantilização despontando no hori­zonte. Os Estados Unidos e alguns organismos internacionais parecem quase impotentes para assegurar uma paz duradoura.

Neste exato momento, a Ásia, a Europa e as Américas forjam fortes alianças económicas regionais. Que novas ameaças poderão surgir, de súbito, se a concorrência, o protecionismo ou o nacio­nalismo extremado empurrarem o mundo de novo para o campo de batalha? Diante das explosões de violência na Alemanha, Iugoslávia, Rússia, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos, pode alguém ter dúvidas quanto ao que deve seguir-se? A morte do comunismo europeu e a derrota de Saddam Hussein deram ao mundo um descanso bastante necessário, mas não podemos per-mitir-nos um sono fácil e tranquilo. Há fortes razões para crermos que as surpresas não cessaram de vez, e que o furacão, na verdade, ainda está por vir.

Este é um livro de advertências, a respeito do Apocalipse, sobre o último jogo, o do fim. Incluímos um relato dos escritos espantosos e minuciosos de João, o apóstolo, que se encontra no livro de Apocalipse. Trata-se de um registro que nos foi transmi­tido pelo discípulo sobrevivente de Jesus Cristo, o último dos apóstolos, que trata dos acontecimentos que irrecorrivelmente sobrevirão no fim da presente era. Parte desse material eu o incluí, de forma um tanto diferente, num livro anterior, Aproxima-se o Tropel dos Cavalos, em 1983. Nesta obra atual acrescento uma discussão de Mateus 24:3-37, em que Jesus descreve para seus discípulos os sinais do fim dos tempos. Estas narrativas eu as apresento aqui no contexto de meu próprio ministério, em seis continentes, ministério que já se estende por quase cinquenta anos.

A partir da grande cruzada de Los Angeles, em 1949, quando pela primeira vez nosso ministério ficou sob foco nacional, e passou a estender-se, tenho tido o privilégio de pregar para mais de cem milhões de pessoas, em oitenta e quatro países. Ao longo desses anos, tenho pregado em púlpitos históricos em Moscou, Cracóvia, Praga, Budapeste, Wittemburgo, Berlim, Dresden, Pa­ris, Londres, Bruxelas, Amsterdã e muitos outros lugares que hoje são notícia.

Desde 1954, fui oito vezes à Alemanha, tanto à ocidental como à oriental, em ambos os lados do muro de Berlim, e recebi a honra de pregar no portão de Brandenburgo enquanto o muro estava sendo derrubado. Tenho visitado os lugares onde se fez a História. Tenho visto com meus próprios olhos o papel desempenhado por aquele grupo de homens e mulheres de fé, no desenrolar dos acontecimentos que sacudiram a terra, e tenho ouvido com meus próprios ouvidos seus clamores de liberdade.

Toda e qualquer história sobre os eventos políticos de nossa época é incompleta e sem valor se não incluir uma discussão sobre a Bíblia, o impacto do cristianismo, e o papel da fé na mudança dos corações e mentes das pessoas por todo o mundo. Encontrei-me com esses homens e mulheres — as pessoas que estão mudan­do o mundo, ao nosso redor — em lugares como a Igreja do Getsêmani, em Berlim, onde se reuniu o Novo Fórum; em Timi-soara, na Roménia, onde se iniciou a dissensão; em Moscou, Kiev, Budapeste, Varsóvia e Leipzig.

São esses os lugares onde as verdadeiras revoluções estão ocorrendo. É que o que acontece no mundo de hoje não é apenas um protesto, mas uma revolução no coração humano — uma grande mudança proposta pelo próprio Deus para uma época como a nossa. É exatamente disso que trata este livro.

De modo algum é fácil pesquisar, indicar referências e redigir um livro com este escopo. Exigem-se as contribuições de muitas pessoas diligentes, e muitas e longas horas de trabalho. Agradeço a todos que constituem parte desta obra, mediante sua participa­ção em nosso ministério, em nossos esforços ao longo desses anos todos. Desejo, ainda, agradecer ao Dr. Jim Black seu grande tra­balho de pesquisar e coordenar o manuscrito; a Kip Jordon, a Joey Paul e à equipe da Word; a meus associados, o Dr. John Akers; a Fred e Millie Dienert; a minha secretária, Stephanie Wills; e de modo especial a minha esposa, Ruth — todas essas pessoas envol-veram-se no processo editorial. Acima de tudo, desejo agradecer a você, meu leitor, que partilha minhas experiências. Você detém o futuro em suas mãos. Oro ao meu Deus para que lhe dê sabedo­ria a fim de que você viva esse futuro de modo sábio.

 

 

 

 

                                   NUVENS NEGRAS NO HORIZONTE

 

Ventos de mudanças

Nem a soma de todas as minhas experiências sobre desas­tres, ao redor do mundo, tanto naturais como os provo­cados pelo homem, me havia preparado para o que eu vi no sul da Flórida, em setembro de 1992. O furacão Andrew provocou uma devastação cuja faixa media quase quarenta quilómetros de largura, formando um quadro de caos absoluto por toda a exten­são que o olho fosse capaz de captar. Nem uma só casa ou edificação havia sido poupada.

O governador da Flórida, Lawton Chiles, me havia pedido que descesse, e me encontrasse com as pessoas nas áreas em que a devastação havia sido pior, de modo especial Homestead, e outras comunidades em que Andrew provocara tanto estrago. No sábado, 5 de setembro, tivemos o privilégio de dirigir um culto com a presença das pessoas que precisavam desesperadamente de consolo e ânimo. Poucos dias antes, essas mesmas pessoas estiveram cuidando de suas atividades rotineiras, sem a menor preocupação quanto ao torvelinho de nuvenzinhas negras que os satélites haviam detetado algures, ao largo da costa da Africa.

De início, era apenas uma depressão tropical típica. Entretan­to, começou a crescer em tamanho e força e, devagarinho, deslocou-se para a direção do ocidente, atravessando o oceano. Espe­cialistas em previsão de tempo, no mundo inteiro, notaram o primeiro furacão da temporada, mas bem depressa acrescentaram que ele estava longe demais de tudo, e por isso não devia causar preocupações.

Essa avaliação alterou-se de modo radical após três dias, quando a tempestade aproximou-se das Caraíbas. A cada dia, os técnicos em previsão do tempo lançavam advertências mais agu­çadas: advertências às pequenas embarcações, advertências quan­to a um temporal, advertências sobre uma tempestade tropical e, finalmente, quando os ventos ultrapassaram a velocidade de qua­renta e oito nós, advertências quanto a um furacão.

A primeira aterrissagem de Andrew ocorreu às 23 horas do dia 23 de agosto, um domingo, nas Bahamas. Quatro pessoas morreram na ilha de Eleutéria; os danos materiais foram os mais graves da história dessa ilha. Quatro horas mais tarde, as palmei­ras do sul da Flórida começaram a dançar sob a ação das primeiras lufadas de Andrew.

Minha filha Gigi, e seu marido, Stephan, chamaram-nos na­quela noite, pelo telefone, da casa onde moram, perto de Fort Lauderdale.

— Estamos alertas em casa, à espera de Andrew — disse-me ela. — Não sabemos com certeza que área ele vai atingir, mas deverá estar por aqui dentro das próximas quatro horas.

Tomaram todas as precauções possíveis, dispostos a enfrentar as vicissitudes em casa. As palavras de Gigi nos deram, a mim e a Ruth, um novo sentido sobre o drama e premência desse furacão.

Bem mais longe, ao sul, perto da cidade de Flórida, Herman Lucerne preparava-se para enfrentar a tempestade. Era o velho ex-prefeito da cidade de Flórida, agora personagem de renome, adepto da vida ao ar livre e guia de pescaria. A idade de setenta e oito anos, era conhecido por muitas pessoas como o "senhor Pântano", porque sua maior paixão eram aqueles pantanais imen­sos. Havia morado ali a vida toda. Ao ouvir as advertências quanto ao furacão, pôs-se a tomar as precauções usuais, da mesma forma como fizera incontáveis vezes quando outros furacões ata­caram. Havia enfrentado tantos, no passado, que se convencera de que enfrentaria mais um.

Andrew caiu sobre o sul da Flórida por volta das 4 horas da madrugada.

Durante aquelas horas intermináveis, mortíferas, o furacão Andrew despejou sua fúria de proporções devastadoras. Pela primeira vez uma tempestade despencou diretamente sobre a sede do Serviço Nacional de Advertência sobre Furacões, de Coral Gables, arrancando a aparelhagem de radar do topo do prédio de seis andares. O anemómetro da sede ficou destruído logo depois de haver registrado ventos de 260 quilómetros por hora, com lufadas que ultrapassavam as escalas. Os ventos que vergastaram o topo da Flórida deixaram trinta e três cadáveres, destruíram mais de sessenta e três mil casas, cortaram a água e a força elétrica de um milhão e trezentas mil pessoas, e geraram danos da ordem de trinta bilhões de dólares. Todavia, o furacão não parou por aí.

Dezenove horas mais tarde, o furacão havia atravessado o golfo do México e atacado a costa da Louisiana, onde voltou a matar, deixando cinquenta mil pessoas desabrigadas e centenas de milhares sem água e sem eletricidade.

Disseram os jornais que esse fora o maior desastre natural que jamais atingira os Estados Unidos.

Tão cedo Ruth e eu pudemos completar a ligação, estávamos conversando pelo telefone com Gigi e Stephan. Eles nos disseram que ventos de 160 quilómetros horários haviam devastado a vizi­nhança, derrubando árvores e postes de força elétrica da área. Haviam sobrevivido incólumes, mas asseguraram-nos que nunca mais tentariam enfrentar outro furacão. Haviam aprendido uma boa lição, e davam graças pelo fato de terem outra oportunidade.

A tragédia foi que na cidade da Flórida, Herman Lucerne não teria outra oportunidade. Ele não conseguiu sobreviver ao furacão Andrew. Lucerne confiou em sua experiência, mas dessa vez suas precauções usuais não foram suficientes.

Vinte e três anos antes, em Pass Christian, no Mississippi, um grupo de pessoas preparava-se para celebrar "a festa do furacão", à face da tempestade a que se deu o nome de Camille. Seriam pessoas que ignoravam os perigos? Teriam tido excesso de con­fiança? Será que seus egos e seu orgulho influenciaram sua deci­são? Jamais saberemos.

O que se sabe com certeza é que o vento soprava com força sobre o luxuoso conjunto de apartamentos Richelieu, quando o chefe de polícia Jerry Peralta apareceu por ali, logo após o escure­cer. O conjunto residencial ficava à beira-mar, a menos de 60 metros da praia e, por isso, bem na linha de perigo. Surgiu um cidadão empunhando um copo no balcão do segundo andar, e acenou. Peralta gritou:

— Vocês todos precisam dar o fora daqui o quanto antes! A tempestade está piorando mais e mais!

Mas quando outras pessoas chegaram ao balcão, ao lado daquele homem, riram-se da ordem de Peralta para que saíssem dali.

— Esta terra é minha — berrou alguém. — Se você quiser que eu saia, vai ter que prender-me.

Peralta não prendeu ninguém, e tampouco foi capaz de per­suadir aquelas pessoas a sair dali. Limitou-se a anotar os nomes dos parentes mais próximos das vinte e tantas pessoas que se haviam reunido naquele apartamento para festejar a tempestade. Todos riam enquanto o policial lhes anotava os nomes. Haviam sido advertidos, mas não manifestaram a intenção de sair.

As 22:15hs a cabeça da tempestade atingiu a praia. Os cientis­tas mediram a velocidade de Camille, que teria sido superior a 328 quilómetros por hora, a maior já verificada. As gotas de chuva batiam com a força de balas; as ondas longe da costa do Golfo atingiam entre sete e nove metros de altura.

As notícias de jornais mais tarde mostraram que os piores danos ocorreram na área de motéis, bares para encontros amoro­sos e cassinos de jogatina, conhecida como Pass Christian, no Mississippi, onde cerca de vinte pessoas morreram numa festa dedicada à tempestade, no conjunto residencial Richelieu. O único sobrevivente daquela estrutura de três andares, de que só resta­ram os alicerces, foi um menino de cinco anos, encontrado agarra­do a um colchão, no dia seguinte.

 

Em face da realidade

Minha filha Gigi, o marido dela, Stephan, Herman Lucerne e os moradores do conjunto residencial Richelieu, todos se dispu­seram a desafiar as probabilidades. Haviam ouvido as advertên­cias e resolveram permanecer ali. Hoje, há advertências sobre tempestades de um tipo diferente, as quais nos exortam a que prestemos atenção às crises de nosso mundo. Imagino se as pes­soas, cegas, não encaram uma tempestade de proporções apoca­lípticas, prestes a desabar.

Assim disse Jesus: "Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino e haverá fomes, pestes e terremotos em vários lugares. Todas estas coisas, porém, são o princípio das dores" (Mateus 24:7-8). Há tempestades à vista, e elas emitem advertências em cada nuvem negra que tolda o horizonte. Os Estados Unidos sofrem uma recessão, e ao redor do mundo inteiro milhões e milhões são atingidos por desespero e sofrimento jamais vistos antes. Verdadeiramente, vivemos numa época de problemas. Mas, que significa tudo isso? Estamos de fato em perigo?

No discurso oficial à nação norte-americana, no início de 1992, o presidente Bush mencionou a certeza inegável de que algo profundo e incomum estaria acontecendo no mundo, a que ele deu o nome de "grandes mudanças". O sr. Bush aplaudiu a morte do comunismo e a aparente vitória dos Estados Unidos na guerra fria. Disse ele que "nos últimos doze meses o mundo experimen­tou mudanças de proporções quase bíblicas".

Algum tempo depois desse discurso de janeiro, Bush advertiu a nação sobre os perigos que jaziam à frente, com estas impressio­nantes palavras: "O mundo ainda é um lugar perigoso. Só os mortos viram o fim do conflito. Embora os desafios de ontem estejam no passado, os de amanhã estão nascendo".

Sim, há muitos sinais de esperança e desafios excitantes nas mudanças que ocorrem no mundo. Eu os tenho observado en­quanto vão-se desenvolvendo, e os acontecimentos na Europa Oriental provocam grande expectativa, mas há também graves perigos. Tudo isso é visto nos boletins noticiosos, à noite, na televisão. São notícias que gritam nas manchetes. Entretanto, embora possa ser fácil avaliar os perigos de um furacão, de que maneira você determina os perigos que ameaçam uma sociedade afundada no caos? Por onde deveríamos começar a sondagem?

O propósito deste livro é o seguinte: Avaliar a situação do mundo nesta época turbulenta, e examinar as circunstâncias que hoje nos confrontam, à luz do único padrão confiável — a Bíblia. Meu propósito não é suscitar temores infundados, nem assacar acusações levianas, sem base. Em vez disso, pretendo levantar umas questões importantes. Será que podemos encontrar alguma esperança na atual situação do mundo? Haverá paz duradoura? Haveria um modo melhor de nos safarmos? De que maneira deveríamos viver em face dos novos desafios e crises mundiais?

 

Tensão em nossas ruas

Posso confirmar a existência de tensão em nossas ruas. Viajo constantemente, e por onde ando vejo os sintomas do desaponta­mento e do desespero dos Estados Unidos. O mundo todo ficou chocado diante da violência e do saque em Los Angeles, provoca­dos pelo veredicto do caso Rodney King, que não agradou. Um ano antes, vimos a cobertura feita pela mídia das confrontações hostis entre ativistas favoráveis ao aborto e os favoráveis à vida, em Indianapolis e outras cidades. Antes disso, vieram as notícias dos tumultos de San Francisco. Por toda a nação norte-americana, numa cidade após outra, multidões enfurecidas atacam a esmo, em protesto contra isto ou aquilo.

Em abril de 1992, um jornalista da Associated Press conversou com o povo norte-americano, em entrevistas da Califórnia à Fló­rida, e descobriu um profundo sentimento de ansiedade e incer­teza, e até mesmo de desespero. Um homem da Louisiana referiu-se a "um terror disforme e anónimo". Um veterano da segunda guerra mundial, de Wisconsin, percebeu "prognósticos de revo­lução". Um advogado de Washington falou de sua preocupação crescente a respeito da má administração governamental e abuso do poder. Uma freira da Rórida referiu-se à "ansiedade flutuante" que tomava as pessoas que ela encontrava.

A espiral de decadência económica da década de oitenta foi seguida pela recessão aparentemente sem fim da década de no­venta. Tais mudanças atingiram muitos norte-americanos com tanta força que lhes roubaram toda a alegria e todo o otimismo. Os lares norte-americanos foram invadidos por uma onda gigan­tesca de desemprego, de vidas arruinadas, de carreiras estraça­lhadas, de bancarrota, de casamentos desfeitos, de abuso físico e emocional, mais mil e uma tragédias diferentes. Resta apenas, nesses casos, a realidade pouco romântica, mas sombria, destituí­da de toda alegria, de uma nação mergulhada em problemas profundos, e muito graves.

Fica bem claro que a corrida desenfreada na montanha russa emocional das duas últimas décadas tornou-se tragicamente mais complicada ainda pela bancarrota espiritual e moral de nossa socidade.

 

Um mundo mutante

Entretanto, o continente americano não é o único lugar pro­blemático, hoje. O mundo inteiro jaz num turbilhão. Enquanto a população do planeta continua a explodir demograficamente, ao ritmo de 100 milhões de nascimentos anuais, milhões morrem por efeito de epidemias, guerra, fome, subnutrição, drogas, crime e violência. Vivemos numa época de grandes conflitos e transfor­mações culturais. As revoluções políticas e sociais de nossa época perturbam a imaginação.

No cenário político mundial, os acontecimentos dos últimos três anos parecem ostentar a inconfundível marca do destino. Ficamos atónitos, à face de ondas e mais ondas de mudanças ocorrendo em numerosas nações por todo o globo terrestre. Mui­tas dessas mudanças trouxeram esperança e liberdade a milhões de pessoas. Entretanto, a despeito do avanço dramático da demo­cracia na Europa Oriental, do colapso do muro de Berlim, da guerra dos quatro dias do golfo Pérsico, do golpe soviético que falhou e da anunciada morte do comunismo, estamos contem­plando agora os problemas inevitáveis oriundos da trabalhosa e problemática unificação europeia.

Nem bem havia o mundo testemunhado as trágicas mortes dos jovens estudantes na praça de Tiananmen e já testemunháva­mos os acontecimentos igualmente carregados de emoção das vitórias democráticas na Roménia, Polónia, Tchecoslováquia, Bul­gária e outros países outrora comunistas. Em muitos lugares, os promotores dessas mudanças nos oferecem uma grandiosa visão da unidade mundial. Afirmam eles que o mundo chegou ao limiar da paz e da unidade global sem paralelos. Mikhail Gorbachev, em seu discurso de Fulton, no Missouri, que recebeu ampla divulga­ção, propugnou por um governo central forte, da parte das nações democráticas: uma nova ordem mundial que substitua a velha retórica e os velhos estratagemas baseados no conflito nuclear. Entretanto, enquanto o mundo aplaudia suas observações, e tal­vez até seus sentimentos, havia cautela bem justificável, em mui­tos setores.

O banho de sangue na Iugoslávia é apenas um exemplo das tensões hostis desencadeadas por tais mudanças. Todavia, esse turbilhão não surgiu sem aviso, não irrompeu inesperadamente.

Enquanto os especialistas em assuntos globais, internacionais, prosseguem em sua ladainha de "paz, paz", lembramo-nos de que a Bíblia afirma que não pode haver paz duradoura enquanto Cristo não voltar. E assim é que o mundo prossegue em desassos­sego e incerteza. Continuamos na expectativa, cheios de esperan­ça, e apesar de o mundo continuar a aplaudir homens como Gorbachev, quando falam de paz, nossos temores não se dissol­vem facilmente.

Temos visto os resultados da cobiça desenfreada, da corrup­ção solta e da manipulação de Wall Street, da má administração financeira nas esferas governamentais, da fraude e perversão nos mais elevados níveis tanto da igreja como do estado. Ficando de olho vivo nas declarações de intenção, que muitos observadores julgam estar amadurecendo agora mesmo entre as nações finan­ceiramente mais poderosas da Europa, Ásia e América do Norte, muitas pessoas percebem a possibilidade de novos emaranhados conturbarem o mundo. Esperamos que venham a paz e novas oportunidades e prosperidade, mas somos constantemente con­frontados com a realidade de novos problemas nesta era de crises.

 

A busca de uma nova moralidade

Os tumultos na área sul-central de Los Angeles atraíram os olhos e ouvidos do mundo todo, durante uma semana, na prima­vera de 1992. Enfurecidos pelo veredicto de um júri, desordeiros enlouquecidos tomaram a lei em suas próprias mãos e cometeram inumeráveis atos de traição, mais horríveis e repelentes do que o ato contra o qual supostamente protestavam. Perderam-se qua­renta e quatro vidas, duas mil pessoas se feriram, e estimou-se que os prejuízos materiais ascenderam a mais de um bilhão de dólares. Comentando as consequências desses tumultos, os editores da revista Newsweek assim se expressaram, mais tarde: "A inquieta­ção em Los Angeles sublinhou a importância de se encontrar novos caminhos para avaliar a etnia, o crime e a pobreza. Tornou-se dolorosamente clara, também, a necessidade de novos tipos de liderança moral".

Tablóides e revistas noticiosas no mundo inteiro publicaram páginas e mais páginas de espantosas fotografias, mostrando com toda clareza os rostos de saqueadores e desordeiros, bem como os restos carbonizados de alguns prédios. Todavia, estas cenas de violência nas ruas dos Estados Unidos são apenas uma ilustração do terror que reina, incontido, no mundo de hoje.

Perturbam-nos, também, pelas fotografias da guerra, da fome e da pestilência predominantes no leste da África, inclusive fotos publicadas na primeira página de nossos jornais, e também pelas cenas que surgem em nossa tela de televisão, de mães e seus filhos desesperadamente famintos na Somália arrasada pela guerra. Parece que não se consegue abater o espectro da morte no conti­nente africano. Todavia, vezes sem conta tais imagens salientam a linha frágil que separa a vida e a morte no mundo moderno. A tragédia da Somália até parece simples cópia xerox de uma dúzia de guerras semelhantes, de anos recentes. Desde novembro de 1991, conflitos abertos jogaram meia dúzia ou mais de facções inimigas entre si, numa guerra fratricida, naquela nação consumi­da pela pobreza. O chefe de estado fugiu para salvar a própria pele, deixando atrás de si total anarquia e caos.

Naquelas fotos acompanhantes das notícias vindas de Moga-dício, cidade capital, não pude deixar de vislumbrar algumas sombras de Biafra, Soweto, Uganda, Libéria, Etiópia e Congo Belga, mais as incontáveis outras guerras sangrentas da África, nos últimos quarenta anos.

O artigo de 7 de maio de 1992, de Todd Shields, relatando para o Washington Post os acontecimentos em Mogadício, descreve como a Somália fora reduzida a escombros pela guerra, pobreza e seca. Nas cidades não havia força elétrica nem mecânica. Falta­vam alimentos, suprimentos médicos, e eram raros os artigos de valor que não haviam sofrido saque e danos. Bandos de desordei­ros armados matavam, saqueavam e roubavam à vontade, che­gando a desviar alimentos para bebés, transportados via aérea a fim de nutrir crianças ameaçadas de morte pela fome nos campos de refugiados do país.

Por fim, um obreiro do corpo de socorro foi fatalmente balea­do, o que fez que a Cruz Vermelha abandonasse seus esforços no sentido de levar alimentos e suprimentos médicos. Ninguém sabe o que o futuro trará àquela área. Esta é a realidade apavorante, chocante, sendo porém bastante típica dos horrores que vemos no mundo ao nosso redor. Alguns observadores sugerem que os Estados Unidos, à semelhança do resto do mundo, podem estar chegando ao ponto de desistir de preocupar-se com os problemas sociais. Já não acreditamos que podemos ajudar os pobres e oprimidos; nossas emoções têm sido purgadas. A revista News­week descreveu esse sentimento chamando-o de caso de âmbito mundial de "fadiga de compaixão".

Deverímos porventura estar surpresos por que o mundo che­gou a tal estado? Quando vemos a fraude, a corrupção, o abuso em todos os níveis de nossa sociedade e em todos os setores de nossa vida pública, pode alguém prosseguir na crença errónea de que a humanidade pode atingir a perfeição sem a intervenção de Deus? Podemos esperar compaixão e interesse infinitos, se a misericórdia aplicada liberalmente não consegue parar a dor?

 

Um chamado para o caráter

Numa conferência na Faculdade Jonathan Edwards, da Uni­versidade de Yale, em novembro de 1990, o Secretário de Saúde e Serviços Humanitários dos Estados Unidos, o Dr. Louis W. Sulli-van, conclamou os alunos para um "senso renovado de responsa­bilidade pessoal" neste país. Disse ele que "uma alta porcentagem das doenças e incapacidade física que afligem o povo norte-ame-ricano é consequência de decisões insensatas no que concerne a comportamento e estilo de vida". Diz o Secretário do Governo que o resultado são vidas catastróficas, enfezadas e menos que reali­zadas para nossos cidadãos, e custos médicos espantosamente elevados.

O Dr. Sullivan traçou um perfil da destruição que o fumo e o álcool trazem, tanto em termos de vidas perdidas como de custo em dólares, para o contribuinte que arca com impostos. Mas ele se referiu também às decisões insensatas quanto à moralidade e nosso senso nacional de valores, e o preço que estamos pagando pela insensatez. Assim se pronunciou aquela autoridade gover­namental:

Estou bastante preocupado com a confiança que vai diminuindo em nossa prontidão e nossa capacidade, como sociedade, e como indivíduos, para formular juí­zos sadios a respeito da saúde humana e modo de viver. Ligada a esta fé em declínio no julgamento ético e nos valores há uma erosão naquelas instituições que gera­ram, formaram e sustentaram nossos padrões éticos e culturais — a família, a vizinhança, a igreja, a escola, as associações voluntárias. As consequências desse declí­nio institucional são as fontes reduzidas de instrução quanto ao que constitui comportamento sadio e cons­trutivo.

As condições perversas descritas pelo Secretário de Saúde são as mesmas que têm contribuído para o surgimento do ódio, da violência e da hostilidade em nossas ruas. "Vejo ao meu redor", acrescentou o Dr. Sullivan, "o preço que pagamos pelo nosso dilema ético, o preço trágico de nossa indiferença cultural. Grande parte desses problemas tem suas raízes na alienação, no isolamen­to e na falta de direção que se segue ao colapso dos padrões sociais, e das instituições que os geram".

O Dr. Sullivan descreveu sua palestra como um apelo para que haja uma revitalização "na cultura e no caráter". De fato, o senhor secretário fazia a apologia do retorno às virtudes fora de moda, como "a autodisciplina, a integridade, a responsabilidade pessoal pelos atos cometidos, o respeito pelo próximo, a perseverança, a moderação, e o compromisso no sentido de servir aos outros e à comunidade maior".

 

Valores básicos

É verdade, o mundo precisa de liderança moral. Não, todavia, como propôs a revista Newsweek, um novo tipo de liderança. Em vez disso, conforme propõe o Dr. Louis Sullivan, precisamos daquele tipo de valores básicos e pessoais que outrora o mundo compreendeu e respeitou. Precisamos de uma liderança moral que nos ensine qual é a diferença entre o certo e o errado, e que nos ensine a perdoar-nos mutuamente, do mesmo modo como somos perdoados pelo nosso Pai celeste. Precisamos de uma liderança que nos ensine a amar a nossos irmãos e irmãs de todas as raças e tribos; uma moralidade em que a abundância material jamais se transforme no alvo ou objetivo da sociedade, mas seja considerada apenas o resultado do espírito de trabalho de todos.

O mundo precisa de liderança moral que respeite os direitos de homens e mulheres de modo igual, sendo todos filhos do mesmo Pai; todavia, que seja uma liderança baseada no equilíbrio e harmonia que o Pai determinou para nós, as quais disse ele serem os mais naturais e benéficos para o nosso potencial, a fim de levarmos vidas felizes e produtivas. Em seus últimos dias na terra, assim disse o Senhor Jesus: "Se alguém me amar, guardará a minha palavra. Meu Pai o amará, e viremos para ele e nele faremos morada" (João 14:23). É desse tipo de liderança que o mundo precisa.

Precisamos de uma moralidade que garanta respeito às mães que de fato cuidam de seus filhos, aos pais que de fato zelam pelos seus filhos, e a todos os que vivem e trabalham juntos com o objetivo de cumprir os mandamentos de Deus, no sentido de alcançar seus destinos individuais como seus filhos privilegiados. Precisamos de famílias que oram unidas e permanecem unidas. Não precisamos de uma nova ordem moral; o mundo precisa desesperadamente da ordem moral instituída por Deus e provada pelo seu povo no monte Sinai; a mesma ordem comprovada por profetas e patriarcas da antiguidade, que o Senhor fez expressar da maneira mais perfeita na vida, morte e presença viva de seu Filho Jesus Cristo.

Muitas pessoas lembram-se da história narrada na revista Time, acerca de Joseph Markowski, um desempregado infectado com o vírus da AIDS, que estivera sobrevivendo à custa da venda de seu sangue a um centro de plasma de Los Angeles. Arruinado financeiramente, Markowski precisava de dinheiro. Pois acabou acusado de tentativa de homicídio porque não se importou com quem seria morto por causa de seu sangue contaminado. Essa é a moralidade prevalecente num mundo egoísta e desinteressado. A menos que nos voltemos para a moralidade de Jesus Cristo, que derramou seu sangue a fim de salvar vidas, a moralidade de Joseph Markoski é a melhor que o mundo pode esperar.

 

O vórtice emocional

Em meu livro Mundo em Chamas (lançado nos Estados Unidos em 1965 e logo a seguir no Brasil), mencionei as décadas de 60 e 70 como época de ódio e violência, de guerra entre ideologias conflitantes. Conquanto as circunstâncias de nossa época possam ter mudado superficialmente, estou convencido de que as dimensões sociais mais significativas na verdade não mudaram. De fato, ainda estamos pagando o preço da temeridade dos livre-pensa-dores da década de 60. Hoje, mais do que nunca, nossa cultura tem sido apanhada numa teia de irresponsabilidade e egoísmo. Nossa sociedade ainda está escravizada às mesmas condições de desespero e medo que vêm socando-nos para baixo, impiedosa­mente, para um inferno emocional.

Aproximamo-nos do final do milénio, e do final de um século momentoso: parece-nos que o mundo vai girando cada vez mais depressa. A tecnologia e o próprio tempo parecem passar por nós em velocidades alucinantes. Quem consegue acompanhá-los? Onde terminará essa corrida? Precisamos perguntar-nos se exis­tem respostas para as crises de nossa época. Mas também preci­samos perguntar se ainda existe esperança para nós — ou se as coisas são tão más como com frequência tememos que sejam.

As livrarias estão repletas de promessas. Muitos livros escritos por gurus e profetas de todo tipo oferecem riqueza e sabedoria instantâneas. Para algumas pessoas, a resposta é a boa forma física; é certo que um corpo em perfeitas condições traz felicidade. Para outras pessoas, a resposta está no bem-estar psicológico e emocional, ou no estabelecimento de contatos com o eu íntimo, "espiritual". Outras pessoas tentam persuadir-nos de que nossos direitos foram violados de alguma forma, e que o caminho para a felicidade resume-se em tomarmos as questões em nossas pró­prias mãos.

Infelizmente, conquanto os nomes dos remédios possam ser novos, no âmago são velhos. Algumas das receitas talvez consi­gam suprimir os sintomas das dores do mundo durante algum tempo; todavia, nenhuma delas consegue curar a doença propria­mente dita. O mal está entranhado na alma de nossa sociedade, que tem sido sempre o território exclusivo de Deus.

Tenho perguntado a muitas pessoas de várias partes do mun­do o que acham de nossas probabilidades quanto ao futuro. A maior parte dessas pessoas me revelou visões pessimistas. Os editoriais da imprensa internacional são mais sombrios ainda do que os dos jornais norte-americanos. Constantemente se empre­gam as palavras "Armagedom" e "Apocalipse" a fim de descre-ver-se alguns cenários e eventos do mundo atual. Há uma década, o livro sombrio de George Orwell, 1984, era a imagem que todos utilizavam. Hoje, a ficção de Orwell parece pálida, comparada com a realidade: O que tememos hoje é o próprio Apocalipse.

Essa é a razão por que volto à história dos quatro cavaleiros, e à narrativa bíblica sobre o fim dos tempos, neste livro: quero confrontar e examinar esses espectros à luz da única verdade conf iável, eterna, que é a verdade revelada por Deus na Bíblia. A fim de confrontar os problemas que desafiam nossa época, desejo examiná-los à luz do que a Bíblia tem a dizer acerca destes tempos, e de nossas esperanças para o futuro.

 

A tempestade avança

Creio que a imagem de uma tempestade que se aproxima capta o sentido do temor e da incerteza que encontro em minhas viagens. No meio de todos os embates políticos sempre há uma tempestade de ressentimento nos corações de muitas das pessoas com quem tenho conversado. Há uma tempestade de ódio avolu-mando-se no coração de nossos jovens. Eles têm sido enganados e explorados com demasiada frequência, não apenas pelo mercan­tilismo de nossa era consumista, mas também pelos educadores e sociólogos que vêm tentando roubar-lhes os verdadeiros valores, os relacionamentos familiares e a perspectiva de um propósito superior para a vida. Encontro muitos jovens — moços e moças — cuja virtude foi abusada, e cuja fé no esforço conjugado e no compromisso pessoal foi destruída. Temo, verdadeiramente, pelo futuro desses jovens.

Incluí grande parte do material de meu livro, Approaching Hoofbeats (Aproxima-se o Tropel dos Cavalos), que trata dos qua­tro cavaleiros do Apocalipse, a fim de reexaminar os ensinos bíblicos a respeito do fim de nossa era. Os quatro cavalos e seus cavaleiros descritos no sexto capítulo de Apocalipse — o último livro da Bíblia — permanecem imagens poderosas e evocativas das coisas que nos aguardam no futuro. Examino também, com mais minúcias, as palavras de Cristo em Mateus 24, em que ele fala dos sinais do fim dos tempos. É neste primeiro livro do Novo Testamento que Cristo nos relata com precisão como transcorre­rão os últimos dias do planeta terra.

Nas vívidas imagens do Apocalipse do apóstolo João, podemos ver os perigos que ameaçam nossa era, segundo a perspectiva de Deus. O primeiro cavalo relaciona-se com a falsa religião, com os sistemas de credo anticristãos, seculares, contrários a Deus. Em minha explanação, tento explorar as manifestações desta realida­de no mundo de hoje. Examino, também, as condições da alma moderna, e algumas afirmações fraudulentas que pretendem ser verdadeiras, que alguns falsos profetas de hoje nos oferecem.

O segundo cavalo relaciona-se com a guerra e a paz. Ao tratar destes dois assuntos, decidi fazê-lo em termos das condições atuais do mundo, bem como dos paralelismos bíblicos. O terceiro cavalo relaciona-se à fome e à pestilência, e o quarto representa o trauma da morte e dos sofrimentos do inferno. Não se trata de imagens destituídas de sentido, ou vagas; são a revelação divina das realidades da era que antecede a vinda de Cristo. As imagens dos quatro cavaleiros representam, em conjunto, todas as varie­dades do medo e da crise que enfrentamos em nossos tempos. As manchetes de hoje ressoam, emitindo as advertências de tempes­tade à vista; a linguagem dos escritos proféticos de João nunca pareceram tão contemporâneos.

A linguagem figurada do Apocalipse é, na verdade, muito complexa e profunda, de modo que às vezes torna-se difícil en­tendê-la em sua totalidade. Entretanto, à medida que vou tratando destes capítulos, procurarei ser o mais específico e literal quanto possível; proverei alguns comentários de autoridades eruditas em Bíblia, sempre que eu julgar que possam ajudar a esclarecer certos termos e conceitos. Meu propósito não é demorar-me, de modo específico, em questões teológicas concernentes à segunda vinda de Cristo, e tampouco oferecer uma exposição pessoal quanto, por exemplo, ao Arrebatamento da Igreja, Tribulação ou Milénio. Entretanto, investigo em profundidade o testemunho das Escri­turas sobre os eventos de nossa época, e as evidências que Jesus Cristo esperava que seus seguidores entendessem e conhecessem bem.

Em ambas as passagens — nas imagens do Apocalipse, e nos ensinos de Jesus, de Mateus 24, a respeito da chegada do fim dos tempos — meu propósito é interpretar o texto da maneira mais prática e lógica possível. Conquanto haja porções do texto que empregam linguagem desafiadora, tais passagens tornam-se dramaticamente relevantes para nossa era, e para os problemas de um mundo em mudança.

Que ninguém cometa o erro pavoroso de interpretar tais passagens como mera ficção, ou hipérbole. Diante de tanta deses­perança em todos os recantos do mundo, precisamos reconhecer a Palavra de Deus como de fato ela é: a Palavra de Deus. Portanto, meu objetivo último é explorar estas passagens à luz da mensa­gem de Deus sobre a esperança e a segurança, e apontar para a única fonte de paz, que é a fé em Jesus Cristo. Há um jeito de escapulir do desespero. Há uma resposta para as crises mundiais. Há um caminho para a paz com Deus. Esta é a razão por que as advertências sobre a tempestade à vista devem ser proclamadas agora mesmo.

 

Como salvar-se das tempestades da vida

Cheguei a entender a complexidade das tempestades da vida, de nova forma, ao longo dos últimos três anos, visto ter lutado contra tempestades de doenças em minha própria vida. Enquanto o mundo passava por tremendas mudanças políticas, no outono de 1989 e 1990, comecei a experimentar mudanças em minha vida.

Minha primeira preocupação centralizou-se num ligeiro tre­mor em minhas mãos, que atribuí à minha agenda cansativa. Todavia, em breve eu estaria experimentando alguma dificuldade em caminhar longas distâncias, ou em realizar coisinhas pequeni­nas como, por exemplo, subir a uma plataforma a fim de pregar. Foi por isso que me dirigi à Clínica Mayo, para fazer uns testes. Os médicos me informaram que eu sofria de uma forma benigna, precoce, da doença de Parkinson. Não é necessário dizer que esse não era o tipo de notícia que eu desejava ouvir. Entretanto, embora esse diagnóstico me sobreviesse como verdadeira surpresa, decidi que eu não reagiria com exagero. Propus-me assumir os fatos com vagar, seguir o tratamento prescrito pelos médicos, e ver se eu conseguiria sobrepujar aquelas condições.

Ao longo dos últimos vinte anos, mais ou menos, tenho en­frentado o problema de deparar-me com todas as espécies de doenças, algumas sérias, outras de relativa gravidade. Esta, toda­via, é uma nova experiência para mim, mas alegro-me em poder afirmar que vou bem. Os médicos me recomendaram que dimi­nuísse o ritmo um pouco, e estão satisfeitos com meu progresso.

Por sua própria natureza, a fé cristã envolve certo dispêndio de sangue, suor e lágrimas. Jesus nos chamou para sermos discí­pulos — a despeito de nossas circunstâncias. Quando vamos a Cristo, ele remove alguns de nossos problemas — o fardo do pecado, da culpa, do isolacionismo, da desesperança e da separa­ção de Deus — e o Senhor nos diz: "Tomai sobre vós o meu jugo" (Mateus 11:29). Não se trata de um jugo demasiado pesado para carregarmos, pois o próprio Cristo o carrega conosco. Assim nos diz o Senhor: "O meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mateus 11:30). Todavia, ele nos chama para que o sigamos, seja qual for o custo, e o Senhor jamais nos promete que nossa trilha será sempre suave.

Nenhuma vida está livre de seus problemas próprios. Quando eu me decidi a dar minha vida a Jesus Cristo, sendo jovem, eu não o fiz porque acreditasse que o Senhor removeria todas as minhas dores. Não. Eu confiei nele, porque o Senhor me prometeu vida eterna, e eu acreditava que ele estaria comigo sempre, e me daria forças para enfrentar e vencer as dificuldades desta vida. Talvez eu não houvesse entendido isso, na época, mas eu acreditava que a longo prazo Jesus me ajudaria a viver uma vida vitoriosa. O Senhor fez exatamente isso, e muito mais.

Corrie ten Boom costumava dizer: "Pode acontecer o pior, mas o melhor é o que permanece". Eis uma mensagem maravilhosa, porque todos nós precisamos suportar tempestades em nossa vida. Quando um pregador ou professor da Palavra de Deus exagera nas promessas dos benefícios materiais ou espirituais concernentes à vida cristã, creio que ele está contribuindo para a obra do cavaleiro cuja função é enganar. Nada há na terra compa­rável à nova vida com Jesus Cristo, embora nem sempre seja ela fácil; como eu já disse, estou aprendendo mais e mais sobre essa verdade a cada dia.

 

O teste de resistência

Quando penso em lutas de caráter físico, lembro-me de um jovem valoroso que veio a uma de nossas cruzadas numa cadeira de rodas. Ele sofria o estágio final — e muito cruel — de um câncer terminal. O moço sentia-se irado e amargurado. Havia lido muitos livros que prometiam saúde aos crentes. Um número exagerada­mente grande de crentes bem intencionados lhe havia prometido cura miraculosa — ele seria libertado de sua doença. Visto não ter sido curado de imediato, tornou-se cada vez mais inseguro.

Seus amorosos pais o levaram de um curandeiro evangélico a outro, e todos oraram pedindo cura dramática para o jovem, mas nada aconteceu. O moço passou a orar e a jejuar, e cria na cura com toda a sinceridade, mas o milagre não aconteceu. Ao contrá­rio, o moço morria. Nossa cruzada seria o último culto a que o jovem haveria de assistir.

Na noite em que esse jovem apareceu, nossa pregadora era Joni Eareckson Tada. Muitas pessoas sabem que Joni se tornara paralítica vários anos atrás, devido a um terrível acidente, num mergulho no mar. Ela também havia orado muito, pedindo a Deus que a curasse. Ela também havia ficado confinada a uma cadeira de rodas, como quadriplégica. Quando Joni se dirigiu ao micro­fone, naquela noite, ela não se pôs a exagerar as Boas Novas de Deus. Ela confessou como havia ficado enraivecida, de início, porque continuava paralítica depois de orar tanto, acreditando no milagre. A seguir, Joni contou como Deus encontrou-se com ela, em sua dor, e deu-lhe um novo sentido para a vida, e uma nova direção, a despeito de seu sofrimento e desapontamento.

Joni atreveu-se a dizer as coisas como são. A honestidade dela libertou aquele jovem moribundo. Abrindo mão de sua amargura e raiva, o moço de repente parou de ver-se a si mesmo como um fracasso, como alguém que não tinha fé suficiente. Em vez disso, passou a ver Cristo em sua dor, e através de sua dor. Não muito tempo depois dessa reunião, o moço veio a falecer, mas seus pais se rejubilavam porque o filho não havia morrido irado, nem amargurado. Ele simplesmente devolveu sua vida a seu Pai amo­roso, ao entregar-se de modo completo a Jesus Cristo. Depois, o moço partiu para estar na presença do Jesus ressurreto, em quem ele encontraria permanente libertação de todo o seu sofrimento.

 

O poder de Deus

Isso não significa que Deus jamais cura de modo miraculoso — pois eu tenho certeza de que ele cura. Entretanto, há ocasiões em que o Senhor não quer curar. Não podemos entender por que algumas pessoas parecem deslisar suavemente, boiando na vida, enquanto outras parecem estar sempre nas garras da dor e da tristeza. Não conseguimos explicar por que alguns corpos retor­cidos se curam, enquanto outros sofrem e acabam morrendo. Não somos capazes de explicar por que algumas orações são respon­didas de modo miraculoso, enquanto outras parecem ficar sem resposta. Jamais poderíamos afirmar que a vida com Cristo será sempre uma vida de vitórias e de sucesso material, nesta vida.

Quando relatamos apenas as histórias de vitória, relatamos só uma parte da verdade. Quando divulgamos apenas as orações respondidas, estamos simplificando demais os fatos. Quando damos a entender que a fé cristã de modo algum envolve um jugo e um fardo, não estamos relatando toda a verdade. As meias verdades, as respostas fáceis, e as mentiras convenientes consti­tuem o arsenal do enganador.

Entretanto, no meio do sofrimento, das provações e tentações, Jesus Cristo provê paz e alegria. Hoje, essa é minha própria esperança: não deixei de fazer as coisas de que gosto. Não consigo imaginar uma época em que deixarei de pregar a Palavra de Deus; não existe na terra outra coisa que eu preferiria fazer. Contudo, reconheço que não conseguirei manter o mesmo ritmo durante mais cinquenta anos. Não conseguirei fazer todas as coisas que eu costumava fazer.

Entretanto, enquanto eu puder, enquanto eu for capaz, conti­nuarei a pregar, e viajarei quanto me for possível. Espero poder dedicar muito tempo aos vários ministérios Billy Graham, como o de Cove, nosso centro de treinamento perto de Asheville. E continuarei a pregar a mensagem do evangelho na "Hora da Decisão", nosso programa de rádio, e em nossos programas espe­ciais de televisão de âmbito mundial, enquanto Deus me der forças.

Vivendo numa época de profundo estresse, cheio de incerte­zas em sua vida, o apóstolo Paulo escreveu à igreja de Filipos: "Já aprendi a contentar-me em toda e qualquer situação. Sei passar necessidade, e também sei ter abundância. Em toda maneira, e em todas as coisas aprendi tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundância, como a padecer necessidade". A seguir, Paulo acrescenta estas palavras eletrizantes: "Posso todas as coisas na­quele que me fortalece" (Filipenses 4:11-13).

Essa é a verdade: tão logo tenhamos certeza de que Jesus Cristo controla tudo em nossa vida, nenhuma provação é grande demais, nenhuma tempestade esmagadora demais, e nenhuma crise danosa demais. Podemos conseguir tudo, mediante o Cristo que nos dá a força necessária.

 

Para proclamar a verdade de Deus

A medida que se faziam pesquisas, e este livro estava sendo escrito, passando pelas revisões, nós nos tornávamos cada vez mais conscientes das perigosas tempestades que vão abatendo-se sobre a sociedade moderna. Hoje, mais do que nunca, tenho sido confrontado de modo direto pelas implicações sinistras das teo­rias sociais e políticas que vêm passando por verdade em anos recentes. A medida que você for lendo estas páginas, talvez você consiga ver, como eu vejo agora, a futilidade da sabedoria deste mundo e o vazio das ideologias seculares que nos estão conduzin­do, dia após dia, à beira do Armagedom.

A despeito de minha preocupação, também me tornei total­mente convencido da responsabilidade dos cristãos quanto a proclamar a verdade da Palavra de Deus. Temos um mandato para falar contra "o pecado que tão de perto nos rodeia" (Hebreus 12:1): É que, conquanto não sejamos do mundo, ainda estamos nele, e de nós se espera que façamos o máximo a fim de preservá-lo.

Neste livro tento compartilhar minha preocupação e indicar alguns meios pelos quais os cristãos podem assumir uma posição firme em prol da justiça neste mundo. Tento demonstrar como cada homem e cada mulher que verdadeiramente entende a men­sagem da graça e do perdão pode preparar outras pessoas para o mundo vindouro prometido pelas Escrituras.

As pessoas do sul da Flórida julgaram que teriam bastante tempo para preparar-se, antes da chegada do furacão Andrew. A população que aguardava a tempestade continuou a fazer o que sempre se fez durante um século — cobrir janelas, recolher e guardar objetos soltos, abastecer a despensa e assim por diante. Viram a tempestade chegando, a qual se parecia com as outras tempestades que haviam enfrentado no passado. Entretanto, esta era uma tempestade sem igual, não se parecia com nenhuma outra que houvessem visto — nem todas as pessoas conseguiram sobre­viver a ela.

Há novas tempestades no horizonte. Há tempestades à vista. Tempestades que parecem prenunciar o fim desta era, e a chegada do mundo vindouro prometido por Jesus. Tampouco todas as pessoas hão de sobreviver a tais tempestades. Minha esperança é que este livro seja lido como advertência, para ajudar as pessoas a preparar-se de modo adequado, e estou confiante em que as pessoas que colocarem sua fé em Jesus Cristo sobreviverão, aconte­ça o que acontecer.

Logo após a terrível devastação produzida pelo furacão An-drew, meu neto Stephan-Nelson pôs-se a trabalhar dia e noite para ajudar os sobreviventes a conseguir água e alimentos. Foi quando ele notou um bilhete no teto de uma casa que dizia o seguinte: "Está bem, Deus. Você chamou nossa atenção. E agora?"

Estou vendo no horizonte tempestades de proporções apoca­lípticas. Deus está começando a chamar-nos a atenção. E agora?

É disso que trata este livro.

 

Sinais dos tempos

As vezes imaginamos onde é que está Deus durante as tempestades da vida, em todos os problemas do mundo. Onde está Deus? Por que é que ele não põe um fim no mal? A Bíblia nos assegura que Deus abolirá o mal quando Cristo voltar. Um dia Cristo voltará com clangor de trombetas e aclamações, e haverá uma reunião grandiosa de todos quantos confiaram nele.

Não é de admirar que as Escrituras nos ensinem sobre esse dia: "Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Cristo Jesus é o Senhor" (Filipenses 2:10-11). Se você não receber Cristo agora, como seu Salvador, e inclinar-se perante ele como Senhor de sua vida, chegará o dia em que você se prostará diante dele como Juiz.

Jesus não nos disse quando voltaria. E ordenou-nos que não especulássemos. "Daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente o Pai" (Mateus 24:36). O sexto capítulo do Apocalipse fornece-nos um retrato detalhado, impressionante, do fim dos tempos, como veremos no capítulo 4; mas ninguém, exceto o Pai, sabe quando essas coisas vão aconte­cer. Nem mesmo os anjos sabem. Mas Jesus disse que haveria alguns sinais que deveríamos observar. São os assim chamados "sinais dos tempos", dados com muitas minúcias nos capítulos 24 e 25 do Evangelho de Mateus — o primeiro livro do Novo Testa­mento.

Ambas as passagens de Mateus e do Apocalipse, tomadas juntas, dão-nos uma advertência gráfica sobre a aproximação da tempestade, falando de eventos por acontecer e provendo sinais claramente identificáveis do fim dos tempos. A própria narrativa de Jesus revela algumas minúcias específicas sobre a queda de Jerusalém e a perseguição que haverá de seguir-se. Depois, nos capítulos seguintes, Mateus registra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando as multidões o aplaudiram com ramos de palmeiras e clamores de "hosana" ao Messias. Mateus relata os eventos emocionantes dos julgamentos perante o sinédrio, peran­te Pilatos, o abuso físico, a crucificação, e o eletrizante relato da ressurreição de Jesus. Mateus nos informa com minúcias íntimas sobre os quarenta dias que Jesus passou com os discípulos, em seu corpo glorificado, ensinando e desafiando aqueles homens, antes de voltar a seu trono nos céus.

Todavia, determinada porção dessa história merece exame mais minucioso, visto que quando Jesus subiu a Jerusalém para aquela páscoa final, ele chorou pela antiga cidade. Disse o Senhor: "Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e tu não quiseste!" (Mateus 23:37).

Jesus tentou preparar seus discípulos para a humilhação que estava prestes a sofrer — a flagelação, a calúnia, a zombaria e a vilipendiosa morte de cruz entre ladrões — todavia, eles não entenderam. Quando o Senhor lhes disse que deveria morrer e ressuscitar dentro de três dias, eles ficaram confusos. Com toda certeza ele falava em parábolas; ninguém podia morrer e ressus­citar por sua própria ordem — a menos que fosse Deus.

Quando passaram pelas muralhas da cidade, os que o acom­panhavam admiraram-se da grandiosidade e majestade dos edi­fícios sagrados. Mas Jesus lhes disse que logo aquelas muralhas, mais o templo, e todas as grandiosas estruturas e palácios de Jerusalém estariam arrasados, de modo que não ficaria "pedra sobre pedra" (Mateus 24:2).

Ficaram todos espantados diante do fato de Jesus haver me­ramente mencionado tais coisas. Eram apenas pescadores sim­ples, coletores de impostos e negociantes daquela área remota, ao norte da Galileia, mas entendiam que Jerusalém era uma cidade imponente e bela. Era a cidade louvada pelos profetas. Como poderiam aqueles edifícios virem a transformar-se em entulho?

Que exército, que força poderia realizar tal coisa? Foi por isso que um grupo de discípulos chegou-se a Jesus em particular e pergun-tou-lhe: "Dize-nos quando acontecerão estas coisas, e que sinais haverá da tua vinda e do fim dos tempos".

 

Princípio das dores

Então Jesus sentou-se com eles e começou a ensinar estas coisas. A resposta dele, registrada em Mateus 24:3-37, constitui um quadro dramático dos últimos dias do planeta terra. Aqui, Jesus revela o destino de Jerusalém, que se cumpriu literalmente, quando a cidade foi saqueada e queimada pelas legiões do general Tito, em 70 d.C. Jesus falou da vinda de uma sociedade sem Deus, secularizada, e mencionou os perigos das heresias concebidas por falsos mestres que tentariam perverter a mensagem simples da verdade que Cristo veio trazer. Disse o Senhor a seus discípulos: "Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos" (Mateus 24:4-5).

O resto da passagem, que se refere às tribulações de nossos tempos, diz o seguinte: "Ouvireis de guerras e rumores de guer­ras, mas cuidado para não vos alarmardes. Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim. Levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes, pestes e terremotos em vários lugares. Todas estas coisas, porém, são o princípio das dores".

Jamais houve uma época na história em que tantas tempesta­des ocorreram juntas, num só lugar e ao mesmo tempo, como aconteceu na última década. Tem havido fomes, pestes e terremo­tos durante milénios, mas raramente tantas ocorrências ao mesmo tempo e tão concentradas no mesmo espaço. O continente da Africa tem sido devastado por desordens, fome e todo tipo de doença. A América do Sul está imersa em caos político e social. A Europa atravessa um período de tremenda mudança e incerteza; ninguém sabe o que acontecerá na Europa Oriental, à medida que sofre as maiores convulsões sociais e políticas dos tempos moder­nos.

Nos Estados Unidos contemplamos aumento da pobreza, di­visões raciais, pessoas destituídas de moradia, crime, abuso físico e sexual, e a desintegração da família tradicional. Tais tempesta­des complicam-se mais ainda por pestes de muitos tipos diferen­tes, inclusive AIDS, tuberculose e doenças sexualmente transmis­síveis. O alcoolismo, o vício das drogas, a pornografia e outros tipos perigosos de comportamento corroem a sociedade. Tudo isso alia-se a terremotos, tempestades físicas e desastres naturais de vários tipos, por toda a nação. Todavia, advertiu-nos Jesus de que tais fatos seriam meras advertências de coisas futuras. Tudo isso é apenas o "princípio das dores".

Advertiu-nos Jesus de que o preço da fé nele seria elevado. Seriam comuns a zombaria, o escárnio, a perseguição, e até a morte, e muitos se recusariam a pagar tais preços. "Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e vos matarão", disse Jesus, e "sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos esfriará. Mas, aquele que perseverar até o fim será salvo".

Acredito que temos aqui um retrato realístico de nossos tem­pos. Nossa confiança abalou-se pelos escândalos na igreja, no governo, na educação e em todos os níveis de autoridade. Temos visto imagens vívidas de policiais espancando cidadãos; temos visto autoridades governamentais e capitães da indústria e comér­cio condenados por estelionato, fraude e mentira.

Temos visto autoridades religiosas, porta-vozes da moral, homens que afirmam ser seguidores de Jesus, cair em desgraça perante os olhos de Deus e dos homens. Pior que tudo, temos visto o evangelho de Jesus Cristo torcido e pervertido por falsos mes­tres, de modo que se acomode a moralidades destrutivas e ao comportamento secularizado de nossos tempos. Estas advertên­cias do livro de Mateus não são meras parábolas nem mitos; constituem na verdade as manchetes de nossos dias. As manche­tes de hoje são a evidência da profecia de Cristo que se cumpre diante de nossos olhos.

Todavia, disse Jesus que a igreja verdadeira haveria de crescer em meio à perseguição. Ela haveria de surgir da escuridão e da indiferença negligente da mesma forma que as igrejas da Romênia, Bulgária e Alemanha Oriental surgiram, esplendorosas, do solo do desespero. "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações", advertiu Jesus. "Então virá o fim."

Infelizmente, a profanação não terminará, visto que um difa-mador, um assolador, vilipendiará o altar de Deus e caluniará Cristo e seu povo. Assim disse Jesus: "Quando virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo (quem lê, entenda), então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes. Quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa. Quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias!"

Não está bem esclarecida qual seja a natureza dessa abomina­ção; será, todavia, uma profanação e um sacrilégio de consequên­cias inimagináveis que trarão a ira de Deus. A seguir, diz Jesus:

"Orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado. Pois haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria, mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias. Então, se alguém vos disser: Olhai, o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis crédito. Pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, engana­riam até os escolhidos. Prestai atenção, eu vo-lo tenho predito. Portanto, se vos disserem: Olhai, ele está no deserto! não saiais; ou: Olhai, ele está no interior da casa! não acrediteis. Pois assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem. Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres."

 

As últimas horas

Quando a obra da igreja estiver aproximando-se de seu cum­primento na terra, disse Jesus a seus discípulos, haveria sinais físicos, visíveis, de que haveriam chegado os últimos dias do planeta terra. "Logo depois da aflição daqueles dias", assim disse ° Senhor, "o sol escurecerá, a lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do firmamento e os corpos celestes serão abalados."

As boas novas para os crentes que permaneceram fiéis durante as tribulações e perseguições são notícias péssimas para todos quantos negaram Cristo, caluniaram seu povo e seguiram deuses falsos.

Disse o Senhor: "Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trom­beta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus".

Jesus narrou tudo isto a seus seguidores com minúcias concre­tas, vívidas. Ele não falava em sentido figurado. Ali estava a verdade nua e crua. A fim de certificar-se de que seus discípulos haviam entendido que o que ele lhes falava eram fatos reais, sem mitos ou metáforas, o Senhor lhes contou a seguinte parábola:

"Aprendei agora esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, as portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão. Porém, a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas unicamente o Pai. Como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem" (Mateus 24:32-37).

Ao usar uma história que era, claramente, uma parábola, Jesus demonstrou que o que ele havia ensinado a respeito do fim do mundo deveria ser considerado declaração de realidades. Não se tratava de metáforas, nem de mitos. Nessas imagens contunden­tes, temos um vislumbre do que será a tempestade final, nas palavras do próprio Cristo. Esta geração — a era de homens e mulheres nascidos num sistema mundial concebido por gregos e romanos — sobreviveria a fim de contemplar o retorno do Mes­sias. Todavia, assim como ninguém acreditou na pregação de Noé, segundo a qual um dilúvio sobreviria para destruir o mundo, em nossa própria época o mundo incrédulo se recusa a crer no retorno literal de Jesus Cristo. Entretanto, a volta do Senhor ocorrerá numa época que só Deus sabe.

Imagine como estes ensinos deveriam ter sido chocantes e perturbadores aos discípulos de Jesus. É certo que eles não com­preenderam integralmente as implicações de tudo quanto o Se­nhor lhes dissera. Tenho a suspeita de que João, o amado discípu­lo, e autor do Apocalipse, chegou a entender o discurso de Jesus durante seu exílio na ilha de Patmos; mas, seis décadas antes, cerca de 29 d.C, seria inconcebível que houvesse uma compreensão total. Até mesmo em nossos dias há pessoas que têm grande dificuldade em compreender as palavras de Jesus.

 

Época para viver

Para mim, a importância desta passagem eletrizante não resi­de no fato de ela exibir minúcias vívidas do final dos tempos, mas dar-nos plena certeza quanto à segurança eterna de todos quantos confiam em Jesus Cristo. Não haveremos de manter expectativas de sofrimento e morte, mas a morte não é, realmente, a questão primordial, aqui; Jesus referia-se à promessa final de vida eterna com Deus. Essa foi a verdade descoberta pelo jovem que veio à nossa cruzada denominada "Noite da Juventude" numa cadeira de rodas. Ele não conseguiu evitar o sofrimento e a morte aqui, nesta vida, mas recebeu a emocionante certeza da vida com Cristo após a morte.

Por toda a vida ressoa a realidade da morte. Ao nosso redor campeia a morte; ela é inevitável para todo o ser vivo. O célebre escritor inglês, C. S. Lewis, escreveu certa vez que a guerra não aumenta a morte. Conquanto os conflitos armados sejam verda­deiramente trágicos, Lewis salientou que as guerras não fazem aumentar a incidência de mortes no mundo, visto que com guer­ras, ou sem guerras, a morte é realidade universal em todas as gerações. Todos morreremos.

Diz a Bíblia: "Aos homens está ordenado morrer uma só vez" (Hebreus 9:27). A natureza toda sofre o processo da morte; entre­tanto, a maior parte das pessoas vive como se jamais sobreviesse a morte. Por todo o mundo, homens e mulheres estão vivendo o dia de hoje, sem qualquer pensamento na possibilidade da eter­nidade.

Ensina-nos a natureza que tudo que tem começo também tem fim. O dia começa ao nascer do sol, mas o sol se põe, as sombras crescem, e aquele dia desaparece para nunca mais aparecer. Não seremos capazes de repetir o dia de hoje. Partiu para sempre. As estações do ano vêm e vão, passam as décadas, voa o tempo, envelhecemos pouco a pouco, inexoravelmente. Um dia morrere­mos todos. Essa é a promessa do mundo natural.

Surgem as nações, elas florescem durante algum tempo, e depois entram em declínio. Todo império tem seu fim; nem mes­mo o mais poderoso dura para sempre. O tempo cobra seu preço das mais nobres realizações humanas, como o fazem as marés e as devastações do pecado. Este é o decreto da história, e o modo de ser da vida neste planeta.

Ensina-nos também a Bíblia que o sistema mundial que co­nhecemos chegará ao fim. Assim lemos em 1 João 2:17: "Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência, mas aquele que faz a von­tade de Deus permanece para sempre". Disse Jesus em Mateus 24:35: "O céu e a terra passarão..." E em 2 Pedro 3:10 lemos: "Mas o dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há, serão descobertas".

As palavras de Jesus Cristo constituem boas novas para um mundo em crise. Ele lhe dá um evangelho de esperança, boas novas que oferecem um plano factível para sua vida, as boas novas de que Deus o ama, que ele é um Deus de misericórdia, e que perdoará a você, se você confessar seus pecados e os abandonar, tendo fé no Senhor.

 

Fé em época de crise

A maravilhosa segurança da fé cristã é que ela foi concebida com um objetivo específico: vencer as tempestades desta vida e dar-nos a certeza da vida vindoura, nos céus. A mensagem de Cristo proclama que os dias deste mundo estão contados. Todos os cemitérios testificam que isto é uma verdade. Nossos dias neste planeta estão contados. Dizem as Escrituras que a vida é apenas um vapor que aparece durante um momento e depois se desva­nece. Nossa vida assemelha-se à erva que murcha, e à flor que fenece. Entretanto, para as pessoas cuja esperança está em Cristo, sabemos que a vitória nos aguarda. O profeta Isaías, numa daque­las maravilhosas passagens que profetizam a vinda de Cristo, assim escreveu:

Mas, os que esperam no Senhor renovarão as suas for­ças. Subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão (Isaías 40:31).

Esta é a esperança de todos os crentes.

Todavia, há outro sentido segundo o qual o sistema mundial chegará ao fim: o mundo propriamente dito acabará. Um dia, em breve, chegará o fim da história. Isto não significa o fim da vida, mas o fim de um mundo que tem sido dominado pela cobiça, pelo mal, pela injustiça. O fato de que a Bíblia fala com tanta insistência acerca do fim do mundo indica que Deus deseja que encontremos segurança no Senhor.

O Apocalipse de João e o ensino de Cristo no livro de Mateus dizem-nos que o atual sistema mundial passará, ao chegar a um final dramático. Essas mensagens também nos dizem que Jesus Cristo voltará, e que ele estabelecerá seu reino de justiça e equida­de social em que jamais penetrarão o ódio, a cobiça, a inveja, a guerra e a morte. O próprio Jesus nos prometeu o fim da presente era, o fim do sistema mundial atual, e o estabelecimento de uma nova ordem a que deu o nome de reino de Deus.

Jesus utilizou imagens de grande força dramática, sem apelar, entretanto, para meras fantasias. Assim se dirigiu o Senhor a seus seguidores: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim" (João 14:6), pois ele era a verdade — a veracidade — personificada. Jesus deu indicações de que quando determinadas coisas acontecessem, poderíamos ter certeza de que o fim estaria próximo. Disse o Senhor: "Hipócritas, sabeis inter­pretar a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos?" O Senhor ensinou que somente as pessoas que têm iluminação espiritual e discernimento do Espírito Santo podem ter a esperan­ça de compreender as tendências e o significado da história.

Dá-nos a Bíblia indicações seguras de que determinadas con­dições prevalecerão pouco antes do fim do mundo. Por exemplo, o profeta Daniel disse:"... até o fim do tempo... o conhecimento se multiplicará" (Daniel 12:4). Hoje, há mais conhecimentos a respei­to de tudo do que em qualquer outra época da história. Li recen­temente que noventa por cento de todos os cientistas e engenhei­ros que já existiram estão vivos hoje. Nossas escolas secundárias, nossos colégios e faculdades despejam anualmente quatro mi­lhões de formandos na vida prática.

Entretanto, embora nossos jovens estejam obtendo conheci­mento, nem sempre estão obtendo sabedoria a fim de utilizar bem tudo que aprenderam. Em todas as áreas da vida há pessoas perecendo, sofrendo de neuroses e de problemas psicológicos numa escala nunca antes conhecida. Nossa cabeça está cheia de conhecimentos, mas estamos confusos, perturbados, frustrados, e precisando desesperadamente de um bom ancoradouro moral.

 

Poder e glória para sempre

Outra condição que, assim diz a Bíblia, prevelacerá no fim dos tempos, no fim do sistema mundial, é que haverá poder mas não haverá paz. Por todo o mundo deflagram guerrilhas, sendo certo que a qualquer momento poderá estourar uma guerra de grandes proporções. A despeito de toda a conversa a respeito de desarma­mento nuclear, e o aparente fim da União Soviética, o mundo ainda está terrivelmente ameaçado pela guerra nuclear, ou pelos acidentes de natureza nuclear.

Durante todo o ano de 1992, as nações unidas esforçaram-se na batalha contra o Iraque de Saddam Hussein, no sentido de isolar e destruir sua capacidade nuclear. Entretanto, está bem claro que suas intenções permanecem tão ativas e beligerantes como sempre. Diante da proliferação de armas nucleares em todos os cantos da terra, não é difícil imaginar que alguém poderia apertar o botão errado, ou calcular mal seus objetivos. Em questão de segundos o mundo poderia ser atirado numa terceira guerra mundial que ninguém deseja. Assim se expressou Jesus: "Ouvi­reis de guerras e rumores de guerras... levantar-se-á nação contra nação, reino contra reino" (Mateus 24:6, 7).

Entretanto, apesar de as Nações Unidas tentarem mediar as hostilidades em dezenas de países, ao redor do mundo, a terra ainda é um campo de batalha. Bilhões de dólares, rublos, marcos e libras são dispendidos em armas que bem depressa se tornam obsoletas, ou são substituídas por novas armas que custam mais caro ainda. Só os Estados Unidos gastaram centenas de bilhões de dólares em 1991, em armamentos. Em suma, a atmosfera do mundo ainda é ameaçadora. Clama o mundo: "paz, paz", e não há paz.

Com frequência ouço as pessoas perguntarem: "Por que há tão pouca paz no mundo, se temos um nível de conhecimentos sem precedentes, e um potencial ilimitado?" Estamos tentando cons­truir um mundo pacífico, mas não há paz nos corações dos ho­mens. Como todos os repórteres observaram, os tumultos de Los Angeles foram uma evidência de tremendo ódio e amargura enraizados na alma dos Estados Unidos. A Bíblia nos assegura que não podemos construir um novo mundo nos corações velhos, não-regenerados, das pessoas. O novo mundo só virá quando Jesus Cristo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, reinar supremo e soberano.

A maior parte das pessoas está familiarizada com as palavras memoráveis do famoso oratório de Handel, O Messias, baseada nos escritos do profeta Isaías:

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o principado está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternida­de, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e paz não haverá fim. Reinará sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto (Isaías 9:6-7).

Estas palavras são a grande promessa de segurança num mundo de tensão e tumulto. O Rei dos reis constitui a esperança de todos os homens, mulheres e crianças, de todas as tribos e nações que conhecem o nome de Cristo. Seu reino é eterno.

Os sinais de insegurança e os clamores de revolução que se ouvem ao redor do mundo são, talvez, o clangor da morte para uma época da civilização — quem sabe são o sinal do fim da civilização como a conhecemos. Seja como for, agora é a vez de Deus agir, e as Escrituras prometem que o Senhor vai agir de modo dramático. Ele enviará seu Filho, Jesus Cristo, de novo à terra. Ele é o Senhor da história. As tempestades de mudanças na antiga União Soviética não são surpresa para ele; nada que lemos nas manchetes conseguem apanhar Deus de surpresa. Os eventos estão ocorrendo com rapidez, correndo na direção de um clímax, mas tudo de acordo com o esquema e cronologia de Deus, quando seu Filho regressará a fim de ser o verdadeiro Senhor deste mundo.

Todavia, antes que esse evento ocorra, Deus deseja governar nosso coração. Ele enviou seu Filho a este mundo a fim de tornar-se o Senhor de nosso coração. Diz a Bíblia que o pecado não terá domínio sobre nós se Jesus Cristo reinar em nosso coração como Senhor e Mestre. O perigo está no fato de haver dois senhores que almejam controlar nossa vida: nosso próprio eu, e Jesus Cristo. Nosso eu, ou Jesus Cristo, reinará em nosso coração. "Ninguém pode servir a dois senhores", disse Jesus (Mateus 6:24). A Bíblia nos desafia: "escolhei hoje a quem sirvais" (Josué 24:15).

Assim escreveu Salomão, no livro de Provérbios: "Há um cami­nho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte" (Provérbios 14:12). Se você quiser encontrar paz com Deus e segu­rança nestes tempos de turbulência, você precisa responder a esta importante pergunta: "Quem é o senhor de sua vida? Você está tentan­do ser senhor de seu próprio destino? Você está tentando determinar o destino de sua própria alma? Você acredita que consegue navegar em meio às tempestades da vida sem que Deus esteja no controle do barco? Ou está o reino de Deus dentro de você?

Jesus Cristo pode entrar em seu coração agora mesmo, se você abandonar seus pecados e recebê-lo como Salvador. Ele ama você. Ele o conhece pelo nome, e quer perdoar a você." Você pode entrar nesse novo reino, no novo mundo que surgirá sob o comando do Senhor quando ele regressar. Não há a mínima dúvida de que o mundo vindouro será uma teocracia, e que será um lugar alegre, excitante, incrivelmente belo, tendo Jesus Cristo no controle amo­roso, completo.

Agora, antes de avaliar com maior profundidade as revelações das Escrituras, de modo especial os escritos de João, eu gostaria de rememorar brevemente os eventos da década passada, segun­do os vi acontecerem por todo o continente europeu. Gostaria de começar pelo muro de Berlim, visto que aquela linha divisória, simbólica, colocada entre as crenças cristãs e anti-cristãs, era uma parábola perfeita do dilema moral e filosófico de nossos dias.

 

Cenário que muda

Nada caracteriza melhor as tempestades de controvérsia e mudança que ocorrem hoje, no mundo, do que o colapso do comunismo no leste europeu, e a nova forma assumida pela outrora grandiosa União Soviética. Tais mudanças foram tão repentinas que espantaram os eruditos, os observadores especia­listas em União Soviética, os diplomatas e até mesmo a CIA. Em poucos dias nossos livros de história, mapas, dicionários e livros escolares se tornaram obsoletos. Depois de agosto de 1989 o mundo nunca mais seria o mesmo. Adentramos a década dos noventa enfrentando novo desafio e nova direção.

A rapidez das mudanças ocorridas no leste europeu e nos países bálticos tende a obscurecer a tendência gradual para mu­danças, que se tem verificado ultimamente. Detetei alguns aspec­tos dessas mudanças — inclusive o grande anseio por mudanças — durante minhas numerosas viagens ao leste europeu e à União Soviética nas últimas décadas. Conquanto ninguém pudesse pre­dizer com precisão como ocorreriam as mudanças, nem quando ocorreriam, na Rússia, Alemanha Oriental, Roménia e outros países comunistas, pude perceber, ao lado de muitos outros ob­servadores, um anseio por mudanças no coração das pessoas.

Quando realizei minha primeira cruzada em Berlim, em 1954, a tensão na Europa era tremenda. Nascera a guerra fria, logo após aqueles anos de grandes emoções que se seguiram ao final da segunda guerra mundial; todavia, a expressão "guerra fria" difi­cilmente expressa a profunda incerteza e temor que a maior parte dos europeus sentia nessa época.

Ao encontrar-me com o povo de Berlim, pude sentir-lhe a ansiedade. Por isso, não me causou surpresa alguma a ereção do muro de Berlim, em 1961; as hostilidades entre os democratas da parte ocidental e os comunistas da parte oriental da cidade eram intensas demais. Levando em consideração a natureza e as conse­quências das doutrinas impiedosas dos comunistas, era inevitável que os soviéticos e os alemães orientais fossem impelidos a banir a democracia pela força.

Antes da ereção do muro, desavenças e discórdias entre os Estados Unidos e a União Soviética — mais as aventuras militares como aquela patrocinada pelos Estados Unidos, a da invasão da baía dos Porcos, em Cuba, em abril de 1961 — pareciam ter con­duzido o mundo às portas da guerra. Enquanto o líder soviético Nikita Krushchev e o presidente Kennedy se defrontavam face a face, num jogo em que nenhum dos dois ousava piscar, milhares de alemães de Berlim oriental fugiam para Berlim Ocidental. O êxodo em massa era um constrangimento para os comunistas, que se viram forçados a trancar suas portas. Foi em agosto desse ano que Krushchev ordenou aos alemães que erigissem o muro.

A muralha de Berlim era muito mais do que mero concreto e arame farpado; acima de tudo era uma metáfora sombria do potencial do ser humano para odiar. Erguia-se numa extensão de quarenta e seis quilómetros, cortando o coração da cidade, mais cento e vinte quilómetros ao redor da cidade, abarcando afinal toda a fronteira. Postos de guarda com torres de vigia e ninhos de metralhadoras por toda a extensão do muro controlavam a terra de ninguém, a faixa entre o leste e o oeste de Berlim, transforman­do a Berlim oriental num imenso campo de concentração, uma prisão colossal, em vez de uma cidade europeia civilizada. Duran­te praticamente três décadas, centenas de homens, mulheres e crianças foram abatidos a tiros por guardas comunistas, ao tenta­rem atravessar aquele corredor da morte à procura da liberdade.

O muro foi derrubado, finalmente, em 1989; sua queda foi precipitada pela fuga de mais de 120.000 alemães orientais que se dirigiram à Hungria e posteriormente atravessaram a fronteira com a Áustria. Mais uma vez, a fuga em massa das pessoas que abandonavam o comunismo constituiu tremendo constrangimen­to para o governo alemão de Berlim oriental. Dezenas de milhares de operários especializados fugiram, confirmando o desapontamento e a infelicidade de viver-se sob um regime comunista. Por fim, a humilhação era grande demais para o governo alemão oriental aguentar, pois suas tentativas repressoras não deram resultado, à face de ondas repentinas de forte oposição.

Logo, Erich Honecker foi forçado a exilar-se na União Sovié­tica. Ele havia convidado Mikhail Gorbachev para ir a Berlim, em outubro de 1989, a fim de participar da celebração do quadragé­simo aniversário da fundação da Alemanha Oriental Comunista. Entretanto, o povo nas ruas de Berlim, Dresden e Leipzig exigiam reformas, e ameaçou marchar contra Gorbachev. O governo es­palhou boatos de que promoveria repressões do tipo praça de Tiananmen, caso o povo não permanecesse calmo. Na realidade, o governo já não dispunha de forças para cumprir ameaças desse tipo. Os soviéticos se recusaram a ajudar os comunistas alemães e, finalmente, Honecker, o último linha-dura, foi derrubado do poder.

Após um período de total confusão, Egon Krenz passou a chefiar o governo provisório da Alemanha Oriental, até que em 9 de novembro de 1989, sua administração anunciou que o muro de Berlim deixaria de servir de barreira entre o oriente e o ocidente. Essa declaração foi o início de um ciclo incrível de eventos que culminou com a reunificação das duas Alemanhas, em 3 de outu­bro de 1990.

 

Esperanças e expectativas dilaceradas

Lembro-me de modo vívido de nossa cruzada em Berlim, em 1960, apenas um ano antes de o muro ser levantado. Mais de cem rnil pessoas vieram à nossa cruzada, que durou uma semana. Foi no início da era Kennedy, nos Estados Unidos, e até mesmo em meio ao desespero do povo alemão, havia um senso de otimismo cauteloso, e muita expectativa. Vimos um desejo de abertura, e um esforço coordenado para comunicação entre as diferentes organizações e igrejas da Alemanha, na ocasião, mas ainda assim as expectativas e esperanças mais inusitadas do povo com fre­quência eram frustradas. Pude verificar, então, que as divisões políticas da Alemanha e da Europa oriental aumentavam, apro-fundavam-se e ficavam cada vez mais conturbadas.

A partir de 1945, o diálogo entre os povos, as nações e as igrejas do oriente e do ocidente foi-se tornando severamente limitado. Durante nossas cruzadas, descobrimos que a comunicação era difícil, e que nem sempre era fácil obter-se cooperação em larga escala. Todavia, isso não nos paralisou. Entre 1954 e 1990, tive o privilégio de conduzir oito cruzadas e reuniões evangelísticas na Alemanha e, em cada ocasião, pudemos sentir o temor e a preo­cupação do povo, misturados à fome da verdade e de sentido para suas vidas.

Durante esses trinta e seis anos, falei a mais de um milhão de pessoas em dez cidades das duas Alemanhas, a Oriental e a Ocidental, inclusive três cruzadas em Berlim. Além disso, de 1977 a 1990 realizamos reuniões evangelísticas em todos os países do bloco oriental comunista, exceto a Bulgária e a Albânia.

Uma de nossas surpresas mais agradáveis ocorreu em 1957, numa cruzada em Berlim, quando mais de cem mil pessoas vie­ram ouvir o evangelho — muitas das quais da parte oriental. Tais pessoas pouco sabiam acerca de mim, ou de meu ministério, naquela época. Haviam lido umas histórias, nos jornais, acerca do sucesso da cruzada em Londres, e vieram talvez movidos pela curiosidade. Lembro-me, todavia, de que quando fiz o convite para que as pessoas aceitassem a Cristo, pareceu-me que o audi­tório todo veio à frente. Precisei pedir-lhes que voltassem a seus lugares. Havia pessoas demais aguardando nosso aconselhamen­to, muito mais do que poderíamos atender naquele estádio espor­tivo. Foi por isso que eu pedi ao povo, se quisesse receber a Cristo e ter a vida transformada, que nos escrevesse. Dentro de alguns dias recebemos mais de dezesseis mil cartas, e isso foi apenas o começo. Aquilo era indício de uma profunda fome espiritual. Partindo dali, fomos por toda a Europa, onde ocorria um fenóme­no espiritual.

 

A vida entre o medo e a esperança

Quando regressei a Berlim, em janeiro de 1990, a fim de manter reuniões particulares com os líderes das repúblicas alemãs, a ocidental e a oriental, meu objetivo era perguntar-lhes sobre a possibilidade de realizarmos uma cruzada em 1992, que englobas­se a Alemanha toda. Fomos saudados entusiasticamente pelos representantes das Alianças Evangélicas Alemãs de ambos os lados, o ocidental e o oriental. Dois bispos protestantes — o Dr. Martin Kruse, de Berlim Oriental e o Dr. Gottfried Forck, de Berlim Ocidental — vieram oferecer apoio e orações. O Dr. Georg Sterzinsky, bispo católico romano de Berlim, entrou em contato conosco por carta, para animar-nos.

Quase que em uníssono, esses líderes me disseram que o povo alemão estava desesperado, à procura das boas novas. Disseram-me que de ambos os lados da muralha ideológica que ainda separava as duas Alemanhas, homens e mulheres viviam "entre o medo e a esperança", e suplicaram-nos que viéssemos à Alema­nha, não em 1992, mas naquele mesmo ano, 1990.

E fizemos isso mesmo. Mudamos depressa nosso itinerário e, em 10 de março de 1990 instalávamos nossos microfones na Platz der Republik, a grande área aberta defronte o Reichstag, o antigo edifício do parlamento, bem perto do portão histórico de Bran-denburgo. Nesse mesmo local histórico em que os nazistas reali­zaram paradas militares, à luz de tochas, resfolegando ódio e violência raciais, proclamamos as boas novas do evangelho de Cristo.

Naquele mesmo local onde as iníquas ambições do terceiro Reich nasceram, viemos proclamar o evangelho de Jesus Cristo. Os nazistas haviam prometido ao povo alemão um regime de mil anos de poder militar, um reino de força e de julgamento tenebro­so. Eu lhes falei das boas novas do perdão e do amor de Deus. Era uma história diferente, para uma época diferente. Eu tinha uma mensagem para um povo que lutava entre os fracassos da história e da ideologia sem Deus, e suas esperanças de paz e segurança.

O mundo inteiro observou pela televisão, via satélite, a queda do muro de Berlim. Tenho a suspeita de que grande parte do choque experimentado pelo mundo não se deveu ao fato de o muro odioso haver finalmente caído, mas ao fato de as barreiras emocionais e políticas à paz estarem sendo removidas, por fim, pedra a pedra.

Quando penso nas mudanças que têm ocorrido nestes últimos anos, maravilho-me pela atuação de Deus nos acontecimentos mundiais. Assim diz a Bíblia:

Os reis da terra se levantam, e os príncipes se reúnem contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos as suas cadeias, e sacudamos de nós as suas algemas. Aquele que está entronizado nos céus se ri; o Senhor zomba deles. Então lhes fala na sua ira, e no seu furor os confunde, dizendo: Eu ungi o meu Rei sobre o meu santo monte Sião (Salmo 2:2-6).

Decreta ainda a Palavra: "Vede entre as nações, e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos, porque realizo em vossos dias uma obra, que vós não crereis, quando vos for contada" (Habacuque 1:5). Estes acontecimentos poderosos dão-nos um indício do po­der que Deus demonstrará no fim dos tempos. Os eventos que se deram no continente europeu, a partir do verão de 1989, verda­deiramente nos ajudaram a entender como são espantosos os planos de Deus para o mundo.

 

A imagem da paz

O lugar onde eu estava, ao dirigir a palavra ao povo alemão naquela tarde de março de 1990, distanciava apenas alguns metros de um pedaço do muro de Berlim, já derrubado. Nele trabalhavam alguns operários com serras e tochas, para cortar as barras que sustentavam aquela barreira. Mediante um dilúvio de mãos er­guidas, soube que mais da metade daquelas dezesseis a dezessete mil pessoas que ali estavam, enfrentando o vento e a chuva, tinham vindo da Alemanha oriental. Eram pessoas que ouviam com atenção, com muita esperança; eu queria dar-lhes uma men­sagem de paz, uma mensagem tão grande quanto seus sonhos.

Eu disse àquelas pessoas cheias de expectativas que o mundo as observava via satélite, e que crentes pelo mundo todo oravam pelos alemães. Disse-lhes eu que era "com lágrimas de alegria e de felicidade que nós observávamos as pessoas passando pelo muro". Por causa daqueles eventos, havia "nova esperança de que a paz estava a caminho, em nosso mundo". Assegurei-lhes que "Deus ouviu as nossas orações". As mudanças que vinham ocor­rendo no mundo comprovam que Deus tem cuidado de nós.

A despeito do frio horroroso, e da chuva torrencial, aquelas pessoas esfomeadas ouviam com atenção, enquanto eu formulava perguntas que eu sabia estarem nas mentes delas, perguntas que as pessoas fazem a si mesmas quando atravessam tempos de turbulência. "Como é que você pode encontrar significado e felicidade para sua vida?" A multidão ouviu em silêncio enquanto eu me referia às suas esperanças e temores. "Como é que você pode livrar-se da culpa?" Havia história ali, muita história, naque­la cidade antiga, havia tantas memórias! A seguir, formulei a pergunta que todos nós devemos um dia fazer a nós mesmos: "Que acontece depois da morte?"

No meio do povo que se reuniu ao redor daquele púlpito, naquele dia, havia cerca de 120 jornalistas. Tenho certeza de que aquele foi um dos maiores contingentes de profissionais da im­prensa a que dirigi a palavra de Deus.

Na reunião com a imprensa no dia anterior, os homens e mulheres dos meios de comunicação me fizeram perguntas pes­soais: "Billy Graham crê que a queda da cortina de ferro se deu em resposta à oração?" Sim, disse-lhe, foi em resposta às orações. Os cristãos do oriente e do ocidente tinham estado em oração durante décadas, na expectativa desse dia. Eu lhes disse que a perspectiva da libertação, da reunificação e da liberdade para cultuar a Deus tornava essa a "hora mais feliz da Alemanha".

Não podemos agradecer demais a Deus, ao considerar o que aconteceu aqui, disse-lhes, mas há ainda outra tempestade peri­gosa formando-se no horizonte da Alemanha: a perda dos valores morais e espirituais. A pornografia, a prostituição, as drogas, a violência e outros sinais de decadência moral já estão em evidên­cia por toda a Alemanha ocidental, e agora ameaçam a Alemanha oriental como nunca antes. Lembro-me de haver falado a um grupo de alemães de olhos arregalados, junto ao muro, um ou dois dias antes, que me confidenciaram estar ao mesmo tempo cheios de esperança e de temor. Estavam esperançosos de que a paz e a liberdade lhes melhorariam o padrão de vida, mas temiam diante das cenas de luxúria e materialismo que viam na Alemanha ocidental. Disseram-me que prefeririam continuar atrás do muro, na pobreza, e em servidão ao comunismo, a descobrir que "liber­dade" nada mais seria do que decadência moral, corrupção, pe­cado, violência e cobiça, atributos próprios de grande parte do °cidente, nos dias de hoje. No meu entender, ali estavam senti­mentos incríveis e emocionantes, de pessoas que já haviam sofrido tanto.

 

Anseios da alma

Ao longo dos anos, tenho pregado mais na Alemanha do que em qualquer outro país de outra língua que não a inglesa. Men­cionei esse fato àquelas pessoas e disse-lhes quanto eu me interes­sava por elas; eu disse aos jovens da Alemanha que minha oração por eles era no sentido de eles não se deixarem enganar pelo hedonismo e pelo materialismo. Tais coisas jamais podem satisfa­zer os anseios da alma — somente Deus pode satisfazê-los.

Na noite que antecedeu a grande reunião pública, mantive­mos um encontro com mil obreiros cristãos, na famosa igreja do Getsêmani, no lado leste. Foi ali que cristãos e democratas encon-travam-se noite após noite, durante os anos que antecederam o desmoronamento do comunismo. Homens e mulheres corajosos, de todas as classes sociais, de todas as profissões, vinham aqui a fim de encorajar-se uns aos outros, a fim de buscar as bênçãos de Deus e proteger os dissidentes que ousavam manifestar-se contra o repressivo regime comunista.

Li para eles no livro de Isaías e de Efésios, e disse-lhes que eu acreditava que Deus lhes havia concedido a oportunidade de atear um reavivamento na Alemanha. "Esta cidade dividida almeja uma igreja que seja uma resposta viva à mensagem de Cristo", afirmei. "Vamos olhar esse povo com misericórdia e amor. Vamos aprender a orar juntos, sem ligarmos para a formação política de onde proviemos."

Muitos dos maiores homens de fé viveram e ensinaram neste solo. Grandes santos da igreja católica nasceram aqui; Lutero lançou a reforma protestante em Wittenbergue. De todo meu coração eu lhes disse: "Creio que um grande reavivamento pode originar-se na Alemanha, desde que a Alemanha não perca esta oportunidade".

Pedi a cada pessoa que fizesse uma nova entrega a Jesus Cristo naquela noite, e centenas de mãos se ergueram. Havia, na verda­de, uma atmosfera propícia à renovação e ao reavivamento na­quela igreja, da mesma forma como o ambiente estava propício na tarde seguinte, quando Júrgen Wohlrabe, presidente do Parla­mento de Berlim Ocidental, dirigiu a palavra em nossa reunião evangelística. Disse Wohlrabe: "Suas palavras nos tocam o cora­ção porque transmitem a mensagem que nos foi dada há dois mil anos, mensagem de que nos esquecemos, ou que desprezamos. O senhor salienta perante seus auditórios que hoje a palavra do evangelho é tão válida como sempre o foi".

Referindo-se aos eventos políticos mais recentes, aquele esta­dista declarou o seguinte: "Nossa vida pessoal e social não é determinada por valores materiais. Devemos encontrar orienta­ção e direção para nossas vidas na fé cristã, e em nossa responsa­bilidade pessoal".

Durante toda aquela semana vimos a mão de Deus operando em Berlim. Um motorista de táxi que transportou passageiros para os vários eventos disse-nos que não se interessava por nossa mensagem, mas ao ouvir minhas observações pelos alto-falantes, e ao ver o amor e a fraternidade genuínos nas faces de nossos obreiros e auxiliares, ele percebeu que nós tínhamos algo de que ele precisava. Disse-me que queria mais. Um jovem húngaro disse-me que sua esposa havia sido transformada um ano antes, quando falei no estádio do povo, em Budapeste. Outro homem contou-nos como fora aprisionado na fronteira, a caminho de nossa cruzada, em 1960. Dois soldados do exército do povo da Alemanha Oriental fizeram uma viagem especial para ter "co­munhão com outros crentes".

Houve inúmeras histórias iguais a essas. Um homem veio porque seu avô já falecido lhe havia falado muito a respeito do pregador norte-americano, Billy Graham, e ele quis ouvir-nos pessoalmente. Uma mulher chegou-se a nós, quando chegávamos para o culto, e entregou-nos um cartão em que dizia estar aceitan­do a Jesus Cristo pela primeira vez na sua vida. Ela terminara o bilhete no cartão usando o único "lápis" de que dispunha: seu baton.

Passei a sentir profunda compaixão e afeição pelo povo da europa oriental, ao longo dos anos. Tenho partilhado suas espe­ranças, suas alegrias e suas tristezas. Senti-me tocado por tudo isso, e o grande privilégio que recebi foi o de poder pregar em suas igrejas.

Uma dessas ocasiões especiais ocorreu em Cracóvia, na Poló­nia, em 1978, quando o cardeal Karol Wojtyla era o principal Prelado daquela cidade. Quando deixávamos a Polónia, em 16 de setembro, Wojtyla foi eleito para o maior cargo da igreja católica romana; tornou-se o papa João Paulo II, numa cerimónia solene de ordenação em 22 de setembro de 1978.

 

A mensagem de paz

Dentre as muitas oportunidades que tive de pregar no oriente, salienta-se a ocasião em que usei o púlpito da igreja batista de Moscou, em maio de 1982. Esse acontecimento ainda se sobressai como um dos que mais me marcaram. Naqueles dias, há mais de dez anos, ninguém ousava sonhar sequer com o tipo de mudanças que temos visto nos últimos três anos. Na primavera desse ano houve batalhas verbais ferventes com respeito à proliferação de armas nucleares e outras questões voláteis. Foi por isso que quan­do me dirigi a Moscou a fim de pregar, e para dirigir uma palavra numa conferência religiosa sobre a paz, muitos ocidentais aparen­temente julgaram que eu havia perdido o juízo, e me disseram isso.

Os líderes naquela conferência representavam a maior parte das grandes religiões do mundo, e discutiam grande variedade de asssuntos. A possibilidade de um holocausto nuclear pesava com força em meu coração e, visto que a guerra sempre foi primordial­mente uma questão moral e também espiritual, senti que eu precisava falar da guerra e apresentar uma perspectiva cristã. Infelizmente, alguns cristãos foram os mais insistentes em criticar-me. A imprensa mundial em geral estava dividida. Alguns repór­teres me xingaram, ou me chamaram de ingénuo. Alguns chega­ram a atribuir-me palavras que eu jamais proferira. Outros, entretanto — de modo especial muitos dos jornalistas que viaja­ram comigo, ou que estiveram presentes durante os acontecimen­tos de Moscou — foram mais simpáticos.

Apesar de tudo, acredito hoje que aquelas observações funcio­naram como instrumentos divinos para abrir os olhos de muitos europeus orientais para as boas novas de Jesus Cristo, e a mensa­gem de paz que o Senhor oferece. Em minhas viagens pela União Soviética, Hungria, Tchecoslováquia, Polónia e Alemanha, nos últimos dez anos, muitas pessoas têm chegado a mim a fim de dizer-me que meu sermão lhes produziu um profundo impacto na vida. Por causa da forma, da época e do lugar onde tais observações foram apresentadas, eu gostaria de partilhar algumas partes de meu sermão aqui e, a seguir, traçar algumas considera­ções em torno do trabalho que se faz neste instante.

 

O sermão que preguei na Rússia

Disse eu, dentre outras coisas, às pessoas reunidas em Mos­cou:

A raça humana toda jaz sentada sobre a espada nuclear de Dámocles, sem saber quando alguém vai apertar o botão, ou dar a ordem que destruirá grande parte de nosso planeta. Portanto, a possibilidade de uma guerra nuclear não é mero assunto político...

A corrida armamentista nuclear é, primordialmente, uma questão moral e espiritual que deve interessar a todos nós. Estou convencido de que as respostas políti­cas sozinhas não são suficientes, mas agora é o tempo em que devemos apelar ao mundo para que se volte para as soluções espirituais também.

 

Um planeta perturbado

Disse o papa João Paulo II: "Nosso futuro neste planeta, exposto como está à aniquilação nuclear, depende de um único fator: a humanidade precisa praticar um di-reita-volver moral". Todavia, a questão que nos confron­ta é a seguinte: Como pode isto ser feito? O homem excedeu em muito, na tecnologia, sua capacidade moral para controlar os resultados de sua tecnologia. O pró­prio homem é que precisa mudar. A Bíblia ensina que isto só é possível mediante a renovação espiritual. Jesus Cristo ensinou que o homem pode e deve receber o novo nascimento espiritual.

Estou convencido de que um dos sinais mais vívidos e trágicos da rebelião do homem contra a ordem de Deus, em nossa geração atual, é a possibilidade da guerra nuclear. Incluo aqui o escopo total das armas modernas capazes de destruir a vida — as armas convencionais, as bioquímicas e as nucleares. Sei que a questão da defesa nacional legítima é assunto complexo. Eu não sou um pacifista, e tampouco me bato pelo desarma­mento unilateral. As forças policiais e as militares infe­lizmente são necessárias enquanto a natureza humana permanecer como é. Entretanto, a produção desbragada de armas de destruição em massa, pelas nações do mundo, é uma febre louca que ameaça consumir grande parte de nosso mundo e destruir o sagrado dom da vida.

Portanto, da perspectiva cristã, a possibilidade de uma guerra nuclear se origina na cobiça, no egoísmo do coração humano. A tendência para o pecado vai passando de geração a geração. Portanto, Jesus previu que haveria guerras e rumores de guerras até o fim dos tempos. Disse o salmista: "Em pecado me concebeu a minha mãe" (Salmo 51:5). Eis, pois, que há na natureza humana um defeito terrível que deve ser reconhecido e eliminado.

 

Paz entre os homens

A palavra "paz" é usada na Bíblia de três modos principais. Primeiro, há a paz espiritual. Trata-se da paz entre o homem e Deus. Segundo, há a paz psicológica, ou a paz íntima, a que experimentamos com nós mesmos. Terceiro, a paz relacional, a paz entre as pessoas.

Diz a Bíblia que o pecado destruiu ou degenerou seriamente todas as três dimensões da paz. Quando o homem foi criado, estava em paz com Deus, em paz consigo mesmo e em paz com seus companheiros. Todavia, ao rebelar-se contra Deus, destruiu sua comunhão com Deus. O homem passou a não ter mais paz íntima, consigo mesmo. E estava incapacitado para gozar a paz com o próximo.

Seria possível restaurar a paz nestas três dimensões? A Bíblia afirma que é possível. A Bíblia nos diz que o homem por si mesmo não consegue providenciar o que é necessário para curar as fratu-ras em seus relacionamentos — mas Deus pode curá-las, e tem curado.

A Bíblia ensina que Jesus Cristo é o Filho Unigénito de Deus, enviado ao mundo a fim de remover os nossos pecados por sua morte na cruz, possibilitando, assim, que todos nós tenhamos paz — paz com Deus, paz com nós mesmos, e paz com o próximo. Esta é a razão por que Jesus Cristo ocupa posição central na fé cristã.

Mediante sua ressurreição dentre os mortos, Cristo demonstrou de vez, definitivamente, que Deus promove a vida, não a morte. A tradição ortodoxa e sua Liturgia Divina dão ênfase especial a este evento glorioso, de grande alegria. Declara-nos a Bíblia que "o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6:23). A prova definitiva da alienação do homem é a morte; a prova definitiva do amor reconciliador de Deus é a vida.

Por todo o cristianismo você notará que há um símbolo co­mum a todos os crentes — a cruz. Nós cremos que foi na cruz que se fez real a possibilidade da paz duradoura, em todas as suas dimensões. Diz a Bíblia, referindo-se a Cristo: "Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas" (Colossenses 1:19-20). Diz ainda a Bíblia: "Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um, e destruiu a parede de separação, a barreira de inimizade que estava no meio... e, vindo, ele evangelizou a paz a vós que estáveis longe, e aos que estavam perto" (Efésios 2:14,17).

Os cristãos aguardam a época em que a paz reinará sobre toda a criação. Os cristãos no mundo todo oram a oração que Jesus ensinou a seus discípulos: "venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mateus 6:10). Só então é que o problema espiritual da raça humana será resolvido de modo completo.

Tanto a Bíblia como os credos cristãos ensinam que haverá um julgamento universal. Cristo voltará, nas palavras do antigo credo apostólico, "a fim de julgar os vivos e os mortos". Mas, nessa ocasião será estabelecido o reino de Deus, e o Senhor intervirá a fim de renovar todas as coisas. Essa é nossa grande esperança quanto ao futuro.

Entretanto, Deus continua trabalhando, no entretempo. O reino de Deus não é apenas uma esperança futura, mas uma realidade presente. Onde quer que homens e mulheres se voltem para Deus em arrependimento e fé, e procuram, a seguir, fazer sua vontade na terra, como no céu, ali se vê o reino de Deus. E é em obediência a Jesus Cristo, que é chamado na Bíblia de Príncipe da

Paz, que os cristãos devem cooperar com todos quantos honesta­mente trabalham para que haja paz em nosso mundo.

 

Venha o teu reino

Se eu estivesse preparando este sermão para pregá-lo de novo, provavelmente eu o aumentaria um pouco neste ponto, a fim de dizer que as pessoas que se tornaram membros do reino de Deus vivem num mundo alienígena, como peregrinos e estrangeiros. O reino "já" está presente nas vidas dos crentes que glorificam a Deus nas palavras e nas ações, na igreja e na sociedade. Entretanto, o mundo "ainda não é" o reino, porque, como vimos, o mundo está sob o governo e controle do príncipe deste mundo — Satanás. Entretanto, o Rei Jesus venceu Satanás, e todos quantos reconhe­cem a Cristo como o Rei e, por causa disso, se reconciliaram com Deus, são súditos e possessão desse Rei. E quanto a você: É Cristo o Senhor de sua vida?

Jesus habita os crentes mediante seu Espírito Santo. O Rei crucificado recebeu toda a autoridade; seu Espírito que em nós habita é maior do que Satanás e seus poderes demoníacos: "maior é o que está em vós do que o que está no mundo" (1 João 4:4). Só os crentes têm sido libertados: "Nos tirou do poder das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor" (Colossenses 1:13).

Então é verdade que os crentes produzem fruto em toda boa obra na terra, mas os crentes não podem transformar o mundo em reino. Só o retorno do Rei, que virá reinar na terra, pode fazer que a vontade do Senhor seja realizada na terra, da mesma forma que é realizada no céu. Tendo esta esperança e este poder internos, enraizados no coração, gerados pelo reino vindouro, porventura é de admirar que os crentes se esforcem por estender esse reino nos corações das pessoas e batalhem em prol da paz que possibi­lite a divulgação do evangelho (1 Timóteo 2:4)?

Deus reina supremo, sobre o mundo todo, conduzindo-o pro-videncialmente para o dia em que o reino virá (Atos 1:6-7). Será o dia da graça para o mundo, quando Jesus vai voltar a fim de estabelecer seu reino de glória. A humanidade vive hoje entre a época da ascenção de Cristo para o Pai, e seu retorno "sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória" (Mateus 24:30).

Então, por que devem os cristãos servir à causa da paz? Primeiramente, porque receberam instruções para amar os perdi­dos deste mundo. Em segundo lugar, porque amam a criação de Deus colocada sob a maldição e corrupção do pecado. Em terceiro lugar, porque amam aos que foram criados à imagem de Deus, e foram restaurados pelo Senhor supremo, que deseja que todos cheguem ao arrependimento (2 Pedro 3:9).

Os sinais do reino nem sempre são políticos, conquanto sem­pre tenham implicações políticas. Os sinais de Jesus foram dados a fim de conduzir o povo à fé, e não à reforma política (João 20:30-31). A vida de Jesus, concedida pelo Espírito que habita os crentes, atrai os pecadores à cruz e à reconciliação. Em seguida, os frutos da justiça e da paz enriquecem a sociedade.

 

A fonte da Reforma

No outono de 1982, regressei à Europa a fim de realizar outras cruzadas e encontrar-me com vários líderes políticos e religiosos. Preguei no púlpito de Martinho Lutero, na igreja da cidade de Wittenberg, em 17 de outubro — onde no mesmo dia, em 1517, Lutero havia afixado suas noventa e cinco teses, iniciando assim a Reforma Protestante. Citei, em meu sermão, alguns escritos e ensinos de Lutero, e senti que havia um elo de amizade com os alemães do leste, de modo especial em Wittenberg. Muitos acei­taram a Cristo naquele culto. Depois, fui a Dresden, onde preguei, a convite, na grande Igreja da Cruz, a qual havia sido arrazada pelos bombardeios da segunda guerra mundial, e restaurada nos anos subsequentes. Na noite em que preguei ali, a igreja estava lotada com mais de sete mil pessoas. Surpreendi-me ao ver tantas faces jovens no auditório. Alguém calculou que 85 por cento do auditório se compunha de jovens de menos de trinta anos. Aten­dendo ao apelo, 2.500 pessoas levantaram a mão, indicando seu desejo de receber a Cristo.

Hoje sabemos que jovens como aqueles e seus pais constituí­ram a faísca que ateou as chamas das mudanças naquela parte da Europa. Foram os ativistas evangélicos que se reuniram na Igreja do Getsêmani, que participaram de vigílias de oração, que bata­lharam em silêncio, ou abertamente, sempre que lhes foi possível, a fim de alimentar as esperanças de libertação no Leste europeu.

Ali estavam representantes do povo de Deus, procurando sua justiça.

Assim escreveu Paulo aos cristãos de Corinto: "Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade" (2 Coríntios 3:17). É evidente que esses povos estavam destinados a obter sua liberdade. Como veremos nos capítulos seguintes, até foram mencionados profeti­camente pelo apóstolo João, no livro do Apocalipse. E que eles representam o povo de Deus entre os gentios — os filhos de Deus que haveriam de "sofrer muitas coisas" e proclamar o nome de Cristo até os confins da terra.

Começaremos, no próximo capítulo, a levantar o véu que recobre as revelações das coisas que hão de acontecer, pelo que eu gostaria de examinar brevemente o contexto e a estrutura dos escritos de João, seu exílio nos campos romanos de trabalhos, em Patmos, e a maneira como recebeu aquelas mensagens vitais, vindas do Espírito de Deus. Nessa segunda seção, enfatizo de modo especial os primeiros capítulos da obra de João; nos capítu­los subsequentes, examino as imagens específicas do livro, fazen­do aplicações às crescentes nuvens tempestuosas, e às controvér­sias de nossa época.

 

                                             UM RAIO SOBRE PATMOS

 

Dentro do Apocalipse

Na história da igreja, o livro do Apocalipse tem sido o mais negligenciado, o mais mal entendido e mais mal interpre­tado por um número maior de pessoas, do que qualquer outro livro. Assim se expressou William Barclay, em seu comentário sobre esse livro: "Apocalipse é, notoriamente, o livro mais difícil e mais espantoso do Novo Testamento; entretanto, é também indubitável que acharemos que valeu a pena, e muito, lutar com ele até que nos tenha fornecido suas bênçãos e nos tenha aberto seus tesouros".

Durante séculos, as misteriosas imagens do livro de João foram consideradas, por muitos estudiosos, enigmáticas e surrea-lísticas demais para ser entendidas. Mas é surpreendente como os eventos políticos dos últimos anos — desde a guerra do Golfo Pérsico ao colapso da União Soviética — derramaram nova e penetrante luz nessas mensagens aparentemente crípticas, de mo­do que hoje elas nos parecem menos fantásticas e espantosas do que o foram no passado.

Muitas das passagens que eu achava serem simbólicas, vejo-as agora como evidências óbvias da tempestade que se aproxima. Até recentemente, as revelações de João não eram ensinadas, nem sobre elas se pregava, em nossas igrejas, porque pareciam esoté­ricas e obscuras demais para a maioria das pessoas. No entanto, l°go no começo do livro de Apocalipse assim se expressa o autor: Bern-aventurado aquele que lê, e bem-aventurados os que ou-Vem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas, porque o tempo está próximo" (Apocalipse 1:3). Bastaria isto para encorajar-nos a explorar esta importante obra em todas as suas minúcias.

Na manhã em que redigi inicialmente estas notas, há mais de uma década, eu havia lido nos jornais a citação de um dos maiores líderes políticos e literários de nossa época. Ele havia empregado a mesma expressão: "O tempo está próximo. Entretanto, é prová­vel que eu não viverei o suficiente para ver o fim". Aqui está a ironia deste livro: É cativante e transcende o tempo. O Apocalipse é tão real como o dia de hoje, e tão urgente como o amanhã. E mais: pode ser difícil a leitura do Apocalipse, mas é o único livro das Escrituras que expressamente promete uma bênção a quem lê-lo, e a ele obedecer (Apocalipse 22:7).

Durante meus estudos das Escrituras, num período de tempo que se estende por mais de cinquenta anos, tenho ficado intrigado, inspirado e informado pelas palavras deste livro dramático, escri­to sob inspiração divina por João, na ilha de Patmos. Postado em meu escritório, lá em casa, na Carolina do Norte, li milhares e milhares de páginas — literalmente — de artigos e de obras eruditas a respeito do Apocalipse.

Em minhas devoções pessoais, tenho mergulhado a fundo nas águas turbulentas da linguagem joanina, para ouvir a voz de Deus falando através do apóstolo. Entretanto, quando considero tudo quanto tenho aprendido a respeito deste livro, de suas imagens sinistras, e de sua estrutura real de Revelação (Apocalipse), sinto-me constantemente humilde diante dele. Muitas mentes privile­giadas têm lutado com o sentido das visões de João, ao longo dos séculos; todavia, à luz da realidade da tempestade que vejo apro-ximar-se, e disso estou plenamente convencido, sinto-me compe­lido a dar outra olhada nesse livro e descobrir seu significado para nossa época. Talvez isto se dê porque eu, à semelhança de João, vou envelhecendo, e adquiro uma perspectiva mais longa dos eventos de nosso tempo. Existe algo desastroso no ar.

Estou intrigado tanto pelo horror como pela esperança daqui­lo que jaz à nossa frente. E claro que João escreveu há quase dois mil anos. Muitos anos-luzes separam a cultura dele da nossa; entretanto, a mensagem de João tem importância fundamental para nossa época. Suas visões, sonhos e pesadelos não tiveram o objetivo de confundir-nos ou condenar-nos. A própria palavra que lhe serve de título, Apocalipse, é palavra grega que combina o verbo calypto (pôr véu em, cobrir ou esconder) e a preposição apo (de).

Assim, "apocalipse" significa "remover o véu", "descobrir", "revelar", e "tornar claro". Os sinais emitidos por João de tempes­tade à vista eram bem claros para os crentes do primeiro século. Deveriam ser claríssimos para nós, pelo clima em que vivemos.

 

Senso de perspectiva

No museu do Louvre, em Paris, há alguns anos, postei-me a meio metro de distância do um grande quadro impressionista de Renoir. Parecia que alguns salpicos de tinta haviam sido atirados a esmo por toda a tela. Fiquei impressionado.

— Que coisa mais estranha é essa? — pensei em voz alta. Ruth, minha esposa, disse-me:

— Vá um pouco para trás, Bill, e você conseguirá ver.

Eu estava demasiado perto da obra-prima, de modo que cada minúcia individual, cada borrão de cor e cada pincelada me impediam de ver o efeito da tela como um todo. Sentia-me todo atrapalhado com os detalhezinhos. Todavia, depois de eu dar uns passos atrás, naquele salão, de repente o mistério desapareceu, e a bela imagem composta pelo artista tornou-se bem visível.

Tenho a suspeita de que muitos de nós temos estado a exami­nar o livro de Apocalipse daquela maneira errada, durante muito tempo. Transformamos aquela grande obra-prima numa série de pequenas imagens, de pinceladas coloridas, e vimos tentando ultrapassar-nos uns aos outros na capacidade de interpretar o moderno significado de cada estrela, cada dragão e cada número. O resultado tem sido esse: perdemos o grande objetivo da visão do profeta, e talvez tenhamos perdido também a premência ur­gente das advertências do livro.

Não podemos de modo algum perder de vista o panorama geral, e é isso que as profecias de João podem fazer por nós. Ainda que se refiram, em muitos casos, a uma época não vista e a eventos futuros, são muito reais. Suas palavras são revelações verdadeiras de fatos que estão à nossa frente.

Jamais fui exilado, ou banido para uma ilha rochosa de 16 quilómetros de comprimento por dez de largura; todavia, tenho sido exilado em intermináveis itinerários de aviões, hotéis, está­dios, salas de reuniões e estúdios de televisão. Não me vejo rodeado por criminosos e prisioneiros políticos na maior parte do tempo, mas pessoas comuns me rodeiam — negociantes, donas-de-casa, professoras, estudantes, operários, funcionários públi­cos, soldados e outras categorias de pessoas. Não posso estar a sós com a frequência que desejaria, ouvindo o ruído das gaivotas, ou das ondas batendo no rochedo, mas creio que entendo a compo­sição do mundo de João, e seu dilema como portador de uma mensagem vinda do céu, capaz de sacudir a terra.

 

O homem de visão

Com frequência eu me vejo inundado pelos sons da cidade, os sons de homens e mulheres engajados em atividades e rodeados de barulhos próprios da cidade. Fico de pé numa esquina de Nova York, Paris, Londres, ou Tóquio, e consigo detetar a desesperança, o medo e o tédio no rosto de homens e mulheres que vão passan­do. A primeira vista, pareceria que João e eu quase nada temos em comum. Entretanto, às vezes sinto que quase posso ouvir as vozes que ele ouvia. Ouço as advertências e, à semelhança de João, sinto-me compelido a retransmitir as imagens que recebo.

Antes de explorarmos as imagens recebidas por João, creio que seria bem apropriado rever de modo breve a situação em que o apóstolo se achava. Quem era, afinal, esse velhinho encarqui­lhado — um poeta, um profeta ou um pastor? Que é que o levou a redigir uma carta que ainda espanta as mentes de crentes e de incrédulos da mesma forma, depois de tantos anos? A discussão sobre a identidade do autor do Apocalipse vem rugindo ao longo dos séculos. Entretanto, a tradição cristã mais antiga, preservada por Justino Mártir, Clemente, Orígenes, Irineu, Eusébio, Jerónimo e outros eruditos antigos, torna bem claro que o autor do Apoca­lipse foi, de fato, João, o apóstolo, o último discípulo vivo que havia conhecido Jesus na carne. Eruditos modernos sobre profecia — desde o Dr. John Walvoord ao bispo Robinson — concordam com aquelas descobertas milenares, como eu também concordo.

Quase todos os membros daquele grupo que havia vivido com Jesus, e dele havia aprendido durante três anos, já estavam mortos. De acordo com a tradição mais antiga, todos eles haviam sido martirizados por causa da fé no Cristo ressurreto.

Muitos têm afirmado que a longa vida de João, que incluiu o fardo de receber e transmitir as misteriosas revelações, teria sido, na verdade, um preço bem mais caro que João teve que pagar, em vez de meramente morrer. Com frequência João foi chamado de o discípulo que Jesus amava (e.g., João 21:20). A grande missioná­ria e escritora, Amy Carmichael, escreveu que João, o amado discípulo "recebeu o encargo do grande martírio da vida".

 

O santo sofredor

Pode você imaginar a tempestade de raios que inflamou a vida de João naquela ilha solitária? Sem dúvida alguma, a revelação plena que ele recebeu do céu foi como um raio terrível que o atingiu sem qualquer advertência. Aquele velhinho encarquilha­do, cujas mãos tremiam ao traçar incontáveis letras gregas em pedaços de pergaminho, naquela caverna de sua prisão, fora outrora o pescador galileu, ainda adolescente, que pôs de lado suas redes e, cheio de esperança, seguiu a Jesus a fim de tornar-se um pescador de homens. Anos mais tarde, ei-lo, um velho exilado, humilhado e taciturno, forçando a vista à luz de velas, na redação de um manuscrito que vai crescendo: não parece mais aquele jovem que certa vez esteve ao lado de Jesus no monte da Transfi­guração. Quase não se lembra daquela ocasião em que, entusias­mado com o carisma dos milagres de Cristo e seu próprio poder, pediu que fosse nomeado secretário de estado quando Jesus esta­belecesse seu reino em Jerusalém (Marcos 10:35-45). Agora o discípulo é atingido pelo raio da revelação divina.

O velho e cansado visionário que se debruça sobre a mesa rústica de sua cela certa vez contemplou, numa cruz de madeira, o cadáver de seu Mestre, que nela jazia pendurado, em solidão e desamparo. Entorpecido pela tristeza e profundo desespero, João viu seus sonhos morrer naquele dia. Aquele corpo dolorido, erguido agora pelos guardas mal-humorados, para que inicie um novo dia de trabalhos nas pedreiras, em certo dia postou-se diante do túmulo vazio de Jesus — quando o jovem experimentara o renascimento da esperança!

Agora João é enxotado com rudeza da caverna-prisão. Seu desjejum é uma tigela de aveia rala. Depois, acorrentado a seus companheiros de exílio, marcha sob a chibata dos guardas roma­nos, subindo a trilha sinuosa, íngreme, conducente as pedreiras. Agora a caverna está vazia, mas a pilha de pergaminhos está arrumada com zelo numa cova secreta, sob a esteira de palha onde dorme o apóstolo. Um dia aquelas páginas escritas serão escamo­teadas para fora da ilha. Depois, voluntários cristãos copiarão fielmente o que João escreveu, e divulgarão a Revelação (Apoca­lipse) de Jesus Cristo às igrejas da Ásia. Partindo dessas igrejas, o Apocalipse de João se espalhará ao redor do mundo, chegando a você e a mim.

Como vai crescer a controvérsia! Serão realizadas longas reu­niões eclesiásticas a fim de testar o lugar do Apocalipse no corpo crescente dos escritos sagrados cristãos. Seria inspirada essa vi­são? É ela revestida de autoridade? É digna de confiança? De que forma deve ela ser interpretada? Algumas pessoas se levantarão para condenar a obra de João ao fogo. Outros se levantarão para defendê-la. Tão cedo a poeira se assente, as palavras escritas por João, naquela ilha úmida de Patmos, transformada em seu lar, receberão um lugar de honra no cânon dos livros aprovados das Escrituras. Segundo esse ato, o livro de João será reconhecido para sempre como palavra que não se limita pelo tempo, nem pelo espaço, que não é restringida pela linguagem, nem pela cultura, mas é palavra "divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem [e a mulher] de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra" (2 Timóteo 3:16-17).

 

Como entender a visão de João

Uma coisa é crer que as palavras de João são "dignas de confiança e verdadeiras", mas outra coisa é entender seu signifi­cado total. Há quadros verbais no Apocalipse que me deixam estupefato pela sua beleza, e totalmente confuso quanto ao seu sentido exato! Já ouvi pelo menos uma centena de explicações diferentes para um símbolo particularmente difícil da linguagem de João, nenhuma das quais (poderia eu acrescentar) me parece adequada. Entretanto, tal constatação não deveria dar-nos licença para negligenciar o livro de Apocalipse, e tampouco desistir de tentar compreendê-lo. Talvez não entendamos tudo — mas isso não significa que não podemos entender alguma coisa.

A fim de entender João e o livro do Apocalipse precisamos lembrar-nos de várias coisas importantes acerca desse homem extraordinário. Em primeiro lugar, João era apocalíptico. Em outras palavras, João escreveu seu livro num tipo de linguagem poética conhecida como linguagem apocalíptica. Um autor apo­calíptico — à maneira de João — era alguém que utilizava imagens e simbolismos vívidos para referir-se ao julgamento de Deus e ao fim do mundo. Entre os judeus dos tempos bíblicos, os escritores com frequência utilizavam o estilo apocalíptico. Certas porções do Antigo Testamento (como algumas partes de Daniel e de Ezequiel), foram redigidas em linguagem apocalíptica.

É fora de dúvida que a dificuldade, para nós, reside em que esse estilo de redação, em que se usam quadros e símbolos verbais vívidos, é totalmente desconhecido, hoje. Indubitavelmente a maior parte dos leitores de João tinha ínfima dificuldade em entender o que significavam aqueles símbolos, que elementos eram simbólicos e quais não eram. Exige-se de nós, hoje, um cuidadoso estudo para compreendermos algumas partes mais obscuras da mensagem joanina (grande parte da qual deriva do Antigo Testamento). Partes dela jamais poderão ser bem entendi­das.

Repitamos: isso não significa que a mensagem de João está perdida para nós, hoje. O oposto é que é verdadeiro. Seremos ricamente recompensados quando nos dermos o trabalho de ex-cavar os tesouros do Apocalipse. Não considere a vívida lingua­gem de João uma barreira que impede a compreensão; veja-a, em vez disso, como o modo de o apóstolo pintar o plano de Deus para o futuro usando cores incrivelmente vivas.

Sendo apocalíptico, João concentrou-se num tema dominante: o fim da história humana como a conhecemos, e o raiar da gloriosa era messiânica. Assim, a mensagem joanina sempre vem revestida de advertências e de uma esperança — advertências sobre o juízo vindouro e a esperança do triunfo inevitável de Cristo sobre o mal, com o estabelecimento de seu reino eterno.

Precisamos dessa mensagem hoje — da advertência de que o Pecado não ficará impune, que Deus nos julgará. Precisamos saber que há esperança para o futuro, quando estamos em Cristo. Numa cena de batalha de Apocalipse Agora, de Francis Ford Coppola, um mensageiro perambula por entre as linhas de combate, contempla o caos, e pergunta: "Quem é o chefe, aqui?" Ninguém lhe respon­de à pergunta.

Muitas pessoas hoje, contemplando o caos e o mal que impera em nosso mundo, imaginam de modo um tanto vago se há algum "chefe" no universo. A mensagem de João no Apocalipse é clara: sim — Deus é o Chefe! Não há razão para o desespero, porque Deus é fiel às suas promessas de salvação e nova vida mediante Cristo. Minha oração, enquanto examinamos a mensagem de Deus, é no sentido de o Senhor convencer homens e mulheres da realidade de seu julgamento vindouro, e que lhes seja concedida nova esperança, mediante o amor de Jesus Cristo.

 

O chamado ao arrependimento

Em segundo lugar, João era também um profeta. Os apocalíp­ticos nutriam desesperança quanto ao presente, mas contempla­vam o futuro com grande expectativa. Por outro lado, os profetas com frequência apregoavam esperança para o presente — a espe­rança de que o julgamento de Deus pudesse demorar um pouco mais, desde que o povo se arrependesse e se voltasse para Deus em fé e obediência.

Mas os profetas não ofereciam uma saída fácil de todas as dificuldades, como se de algum modo todos os problemas se desveneceriam se o povo apenas professasse fé em Deus. Em vez disso, à semelhança de Winston Churchill de pé no meio das ruínas da Londres bombardeada, os profetas ofereciam "sangue, suor e lágrimas" a todos quantos desejassem seguir a Deus. Não haveria de ser fácil servir a Deus e lutar contra o mal do mundo atual, pecaminoso e sombrio; no entanto, os profetas sabiam que Deus sairia vitorioso no fim, e que seu povo haveria de compar­tilhar sua vitória.

Portanto, João era um profeta. Ele chamou sua geração — como chama a nossa — ao arrependimento, à f é e à ação. Ele sabia que não conseguiríamos edificar o reino de Deus na terra, ainda que tentássemos com todas as nossas forças. Só Deus pode efetual essa obra — e ele o fará quando Cristo voltar. Todavia, João sabia também que o julgamento divino sobre este mundo poderia ser adiado se nós nos arrependêssemos e nos voltássemos para Cristo.

Portanto, aquele velhinho enérgico da ilha de Patmos, esco­lhido por Deus para receber e divulgar sua mensagem especial, era ao mesmo tempo autor apocalíptico e profeta. Por que não poderia João exercer ambas as funções? Afinal, ele havia ouvido, quando jovem, as leituras do Antigo Testamento sobre o julga­mento vindouro de Deus sobre a terra e a chegada de um reino, o do Messias. Ele também ouvira o chamado dos profetas — Amos, Isaías, Jeremias e todos os demais — que exortavam com todas as suas forças a todos, homens e mulheres, a que se voltassem para o Senhor Deus.

Houve, então, o dia em que João ouviu o chamado de Jesus Cristo, ao qual ele atendeu, passando a segui-lo. O jovem desco­briu que a mensagem do autor apocalíptico e a do profeta se encontravam em Jesus. A declaração apocalíptica a respeito do julgamento vindouro e da vitória final uniu-se à mensagem do profeta sobre a necessidade de arrependimento e obediência a Deus, à face do mal atual. "No mundo tereis aflições", disse Jesus a seus discípulos. "Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo" (João 16:33).

Mais uma vez: precisamos ouvir a mensagem de João como sendo a de um profeta que proclama um recado não só com referência ao futuro, mas quanto ao presente também. Precisamos ouvir seu chamado ao arrependimento, bem como seu desafio para vivermos para Deus, fazendo nossa opção pela pureza, pela justiça, pela retidão de vida, não importando a escolha que as demais pessoas venham a fazer.

Em terceiro lugar, João era evangelista, também. O interesse de João não dizia respeito a uma mensagem estéril, destituída de poder para influenciar a vida das pessoas. João tinha profundo mteresse pelas pessoas. Ele se preocupava com seus problemas do dia a dia, à medida que procuravam ser fiéis a Deus. Ele se preocupava com as pressões e perseguições que muitos deles flfrentavam por serem cristãos. Preocupava-se com as pessoas ^rque sabia que Deus as amava, e havia enviado seu Filho para Correr por elas.

A palavra evangelista deriva de um termo grego que significa:

"aquele que anuncia boas novas" — neste caso, as boas novas da salvação eterna. Para certas pessoas, a mensagem de João quanto ao futuro poderia ter parecido sombria e deprimente. João sabia, entretanto, que a pior coisa que ele poderia fazer seria assegurar às pessoas que tudo estava bem, e que não havia a mínima necessidade de alguém preocupar-se com o mal existente no mundo, ou com o julgamento divino. Todavia, a mensagem joa­nina é, em suma, uma mensagem das boas novas de salvação em Jesus Cristo.

 

O dom da vida

Nosso mundo confuso, caótico, não tem uma necessidade maior do que a de ouvir o evangelho de Jesus. A mensagem joanina do Apocalipse focaliza-se não apenas nos eventos que ocorrerão no futuro, mas também naquilo que pode acontecer agora mesmo, desde que Jesus Cristo se torne o Senhor e o Salvador de nossa vida. A mensagem de João centraliza-se de modo supremo em Jesus, o Filho de Deus, que morreu pelos nossos pecados e ressuscitou dentre os mortos a fim de conceder-nos vida eterna. O que João declarou no final de seu evangelho poderia aplicar-se também, com igual força, a suas palavras no Apocalipse: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (João 20:31).

João também era pastor. O Apocalipse foi a última carta do apóstolo ao povo a quem ele tanto conhecia e amava. Ele iniciou a carta com sete bilhetes pessoais, cada um dirigido a um dos sete grupos de cristãos espalhados pela Ásia Menor. Quando você examinar bem esses bilhetes pessoais, verifique como João conhe­cia bem essas pessoas, e como ele as amava profundamente. Tente sentir o temor que ele sentia por aquelas pessoas e também por nós.

É fácil retratar o modo como aqueles cristãos do primeiro século iniciaram sua vida em Cristo. Já preguei em mais de oitenta países do mundo. Já vi milhares de pessoas ouvindo as boas novas da vida, morte e ressurreição de Jesus. Observei muitas pessoas correndo, literalmente, a fim de receber a Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas. Testemunhei o entusiasmo dessas pessoas, e fiquei extasiado diante do crescimento rápido que demons­traram. Em seguida, à semelhança de João, tenho visto o primeiro amor morrer. Tenho contemplado homens e mulheres que ansio­samente abraçaram a fé e a abandonaram, a seguir, devagarinho, entregando-se de novo à imoralidade, à idolatria e à autodestrui­ção. Tenho visto outras pessoas que aceitaram a Cristo e perma­neceram fiéis até o fim, enfrentando sofrimento terrível e muita tribulação pelo caminho todo.

Olho para trás, para meus muitos anos de trabalho evangelís-tico, e fico imaginando: Será que fiz a vida cristã parecer fácil demais? Eu ainda não ouvira a expressão, mas já trazia na mente aquilo que Dietrich Bonhoeffer chamava de "graça barata". É claro que "é pela graça que sois salvos, por meio da fé — e isto não vem de vós, é dom de Deus — não das obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9).

É claro que nossa salvação é o resultado do que Cristo fez por nós, mediante sua vida, morte e ressurreição, e nunca o resultado do que devemos fazer por nós mesmos. E claro que podemos confiar em que o Senhor vai completar a obra que ele iniciou em nós. Todavia, na minha ansiedade por distribuir o dom maravi­lhoso de Deus, teria eu sido honesto a respeito do preço que o Senhor pagou na sua guerra contra o mal? Teria eu explicado de modo adequado o preço que nós devemos pagar, em nossa pró­pria guerra contra o mal, que opera dentro de nós e ao nosso redor?

 

Mensagem de esperança

João estava preocupado com seu rebanho, ao escrever sua visão deste mundo (em que reina o mal), e do mundo vindouro (em que Deus restaurará a justiça e a paz). O apóstolo escreveu a respeito da guerra travada entre os dois mundos, e sobre os homens e mulheres que lutam e morrem nos campos de batalha. Bem no centro de sua visão, escreveu ele a respeito de Jesus, o Senhor do mundo vindouro, que veio ao mundo atual a fim de salvar a humanidade (onde quer que as pessoas se encontrem, no campo de batalha), para conduzi-las através das linhas inimigas e levá-las de volta ao lar, em segurança.

O Apocalipse não foi um trabalho académico produzido especialmente para determinada banca examinadora, composta de famosos eruditos. Tampouco é uma espécie de poema criado por um génio superdotado, com o objetivo de entreter e divertir. Nem é o diário de um velhote senil, arrastado a alucinações selvagens por causa de seu isolamento e solidão.

O Apocalipse também não é a carta de um pastor a seu rebanho hesitante, nem um telegrama urgente delineando um brilhante plano de batalha para um povo em guerra. O livro reflete todo o horror realístico, toda a compunção de um campo de batalha semeado de cadáveres. Trata-se de um texto franco e assustador. Mas é um plano de vitória — se não para todas as batalhas, certamente para a guerra.

A semelhança de João, também ouvi aquele ribombar de trovão à distância. Tenho visto raios baterem em muitos lugares neste mundo; assim, sei que a tempestade vindoura poderia en­golfar o mundo todo. Tenho visto nuvens sombrias, negras, acu-mulando-se num céu que vai se abaixando. Ainda sou um evan­gelista cujo objetivo é anunciar a nova vida em Cristo; todavia, há problemas sérios à vista, aguardando o mundo, e a todos nós que nele vivemos. Nas imagens do Apocalipse há advertências de tempestade à vista, e mensagens de esperança para tempos atri­bulados que estão por vir. Esse é o assunto que quero discutir em seguida.

 

Nossa única esperança

Com tanto caos esparramado ao nosso redor, há uma gritan­te necessidade de esperança para este mundo. Para onde quer que eu olhe, vejo lutas e conflitos — não apenas nos campos de batalha, mas em nossa vizinhança e em nossos lares. Não mais existe a tradicional segurança do lar, em nossos dias, como existia poucos anos atrás. Com perversa frequência, crianças preciosas são violentadas ou molestadas por seus próprios pais; outras são abandonadas, deixadas a sós em casa, ou desprezadas, de tal maneira que crescerão amarguradas, enraivecidas e emocional­mente perturbadas.

Um número demasiado grande de jovens de ambos os sexos atinge a maioridade, hoje, sem raízes espirituais nem emocionais. Ficaram privados dos verdadeiros valores por causa de nossa cultura agnóstica, secularizada. Alguns deles dificilmente seriam melhores do que animais irracionais.

Nos Estados Unidos, as ações de alguns políticos e autorida­des governamentais, funcionários públicos e educadores, com frequência são revoltantes e aviltantes. A moralidade comum de algumas pessoas da rua, hoje, caiu ao mais baixo nível da história desse país. Muitas vezes a sociedade transforma em heróis e em ídolos os degenerados de nosso meio, que recebem grande cober­tura publicitária. Onde está a visão de esperança que em certa ocasião nos sustentou? Onde está a fé que dá significado à vida?

Em meu livro, Esperança para o Coração Perturbado, trato de muitos tópicos desse tipo, e apresento um plano prático para restaurar a esperança. Trata-se de um plano que tenho usado em núrtha própria vida, de modo que eu sei que funciona. Entretanto, a crise de fé e de esperança continua a crescer em ritmo acelerado, a cada dia. Além de nossas tribulações pessoais, nossa vida indi­vidual sofre a ameaça de ser engolfada pelas tempestades nacio­nais e globais; as dimensões do viver diário vêm crescendo e atingindo proporções que a maioria das pessoas não consegue controlar.

Em seus estudos proféticos, o Dr. John Walvoord, que já escreveu muitos livros de grande aceitação geral, a respeito de várias passagens proféticas da Bíblia, declara que ele crê ter o mundo entrado numa época de mudanças dramáticas, ominosas. Assim se expressa ele:

A presente crise mundial não é o resultado de um deter­minado fator, mas o somatório de causas e efeitos que se combinam para aprontar o palco mundial para um con­flito que poderá trazer rapidamente um fim a centenas de anos de progresso na civilização ocidental, e estabelecer novos centros de poder internacional. Seja o que for que o futuro nos há de trazer, será dramaticamente diferente do passado. Neste quadro sombrio, apenas as Escrituras nos oferecem uma rota segura, e nos dão uma explicação racional quanto à confusão de âmbito mundial prevale­cente hoje. (Walvoord, Nações, 13.)

Estamos permanentemente perplexos diante da aparente con­fusão e ignorância que vemos no mundo que nos rodeia. Mas de acordo com o Dr. Walvoord, o conflito e a confusão são evidências do pecado e do erro prevalecentes nos últimos dias. A luz das Escrituras, até mesmo os atos mais perturbadores e insensatos podem ser compreendidos. Entretanto, parte da confusão reinan­te no mundo ocorre na própria igreja. Outrora a igreja oferecia um padrão unificado de valores e de crenças, com o objetivo de arrancar o mundo do precipício da autodestruição; com demasia­da frequência esse padrão foi comprometido por teorias sociais atraentes, que substituíram a verdade bíblica. Além disso, esse padrão também ficou prejudicado pelos fracassos morais de seus líderes.

 

Apostasia e incredulidade

Em numerosas igrejas a Bíblia é tratada como uma coleção de contos de fadas e de fábulas, escritos por homens semi-analfabetos de tempos antigos. Conquanto ela ofereça mitos espirituais desa­fiadores, e algum encorajamento sadio, algumas igrejas "moder­nas" parecem achar que ninguém deveria dirigir-se à Bíblia na esperança de nela encontrar a verdade absoluta.

Ensino desse tipo é abominação perante Deus. Nada poderia ser mais destrutivo à verdadeira fé e à paz na terra. A face de uma tempestade que cresce mais e mais, o mundo precisa desespera­damente de abrigos, e Deus nos deu a âncora da Escritura Sagrada, a Bíblia.

Prossegue o Dr. Walvoord:

O significado da crise mundial atual é que ela contém praticamente todos os elementos que constituem um preparativo natural para o fim dos tempos... A atual geração poderá testemunhar o dramático desfecho do "tempo dos gentios" e o estabelecimento do reino dos céus sobre a terra, o que traria o cumprimento de um dos maiores temas da profecia — o programa divino para as nações do mundo. (Walvoord, Nações, 15.)

 

Uma visão proibida

Quando Ruth e eu estivemos na Europa, recentemente, acom­panhamos o noticiário dos jornais ingleses, franceses e norte-ame-ricanos. Num período de quinze dias, juntamos um punhado de recortes de artigos de jornais em que se lia a palavra Apocalipse e Armagedom. Repórteres, comentaristas, editores — os homens e as mulheres que trabalham nos vários setores da mídia moderna — parecem hipnotizados pela noção do fim do mundo que conhece­mos.

Lembro-me de um artigo no London Times de alguns anos atrás, entitulado "A Sombra do Armagedom". A história fazia surgir o espectro sinistro de uma guerra racial, futura, na Grã-Bretanha. Outras colunas, editoriais, notícias e cartas aos editores estavam permeados de temores comuns de guerra nuclear, caos económico, mau emprego ou abuso dos recursos não renováveis da terra, crime à solta, violência nas ruas, novas e misteriosas viroses mortíferas, terrorismo, mudanças radicais de padrões cli­máticos, terremotos, inundações, fomes, destruições e morte. Por toda a parte onde estive encontrei pessoas, tanto líderes quanto indivíduos comuns, que me faziam a pergunta fundamental: "Há alguma esperança?" A resposta tonitruante da imprensa mundial é: "Não há a mínima esperança para o planeta terra!"

Certa manhã, num bosque perto de nossa casa, eu caminhava com o jornal matutino numa das mãos e o livro do Apocalipse na outra. O escritor solitário de Patmos escreveu exatamente para uma situação como a nossa. Suas visões ressoavam esperança. Conquanto sua carta fosse endereçada às sete igrejas da província romana da Ásia, e mais exatamente ao punhado de cristãos que constituíam as igrejas em cada cidade, a carta joanina foi endere­çada a nós também.

Embora as visões de João para aqueles cristãos e para nós, hoje, fossem boas novas e esperança a longo prazo, na história, não eram auspiciosas, contudo, a curto prazo. Ele descreveu para seus amigos cristãos, com honestidade, o desastre que ocorreria no futuro, e como deveriam enfrentá-lo. Precisamos crer do fundo do coração em suas palavras. Seja qual for o ângulo pelo qual con­templemos as visões, elas são ao mesmo tempo boas notícias e más notícias.

Gastei minha vida proclamando uma verdade central: há boas notícias para os povos do mundo. Bem no centro dessas boas novas destaca-se Jesus Cristo. Ele é Deus encarnado, o homem-Deus. A história de sua vida, morte e ressurreição são as únicas boas novas a ser proclamadas nestes dias. Gastei cinquenta anos nas esquinas das ruas e em estádios lotados, ao redor do mundo, divulgando aos povos as boas novas de que todos podem salvar-se.

Você também pode voltar a unir-se ao seu Criador. A despeito de seu passado, você pode garantir seu futuro mediante a fé em Jesus, como Salvador e Senhor de sua vida. Gosto muito de anunciar essas boas novas; todavia, se eu quiser tomar as revela­ções de João com máxima seriedade, não devo referir-me apenas às notícias boas: devo proclamar as más, também.

 

A vocação involuntária de João

Como já indiquei anteriormente, João exercia vários ministé­rios, mas era um evangelista, da mesma forma como eu sou. Tenho certeza de que ele teria ficado contente em findar seus dias escre­vendo a respeito do passado.

Imagine as histórias que não foram escritas, a respeito de Jesus, que João poderia ter partilhado com as pessoas de seus dias — e conosco. Afinal, João era um ancião. Os anciãos gostam de fazer reminiscências, contar coisas do passado remoto. Ele pode­ria ter feito adições aos livros que já havia redigido, inclusive o Evangelho de João e as três cartas que o apóstolo enviara a alguns cristãos do primeiro século. Bem que ele poderia ter enchido aqueles pergaminhos com suas memórias daqueles dias maravi­lhosos, passados ao lado do Mestre, ao lado do mar da Galileia, e nas colinas da Judeia.

João foi testemunha ocular da época em que Deus caminhou sobre a terra sob forma humana, o Deus encarnado, curando os doentes, expulsando demónios e ressuscitando mortos. Que livro maravilhoso, transbordante de esperança, João teria escrito! En­tretanto, isto não deveria acontecer. Quando o apóstolo jazia na ilha de Patmos, em cadeias de ferro, lutando com seus próprios pensamentos, sob o peso de sua carne demasiado humana, Jesus Cristo aproximou-se mediante o Espírito de Deus a fim de parti­lhar com João as boas e as más notícias, as advertências de tem­pestade à vista, e a certeza da calmaria subsequente.

Se quisermos entender as visões de João, se quisermos conhe­cer tanto as boas como as más notícias, em sua essência real, e compreender as advertências, a esperança e a direção dessas visões, precisamos retornar a Patmos numa peregrinação pessoal. Precisamos caminhar pelas praias ao lado do ancião, e rever-lhe as visões, bem de perto, nas cores vivas. Precisamos perguntar o que tais visões representavam para João, e para aqueles punhados de cristãos espalhados pelo império romano. A seguir, precisamos Perguntar o que as visões de João significam para nós.

Imagine o quadro. Em pleno "dia do Senhor", escreveu João «queles punhados de crentes: "Ouvi detrás de mim uma grande v°z, como de trombeta" (Apocalipse 1:10). Esse texto nos ensina que a revelação de Jesus a João teve início no "dia do Senhor".

É possível que os captores romanos de João, num gesto de "benevolência", permitissem que esse visionário judeu praticasse um costume oriundo do Antigo Testamento: Reservar um dia em cada sete para descanso e culto sagrados. Talvez, naquele dia, os guardas já houvessem tangido os demais prisioneiros resmun­gões, não-judeus, ao trabalho nas pedreiras ardentes, deixando o velho por ali, caminhando a sós pelas praias ao longo do mar Egeu. Posso imaginar João ali, proferindo suas antigas orações, cantando velhos salmos, citando de memória grandes porções do texto sagrado, e lembrando-se da nova vida e novo sentido que Jesus havia atribuído àquelas práticas antigas.

 

Um coração de pastor

De súbito, João se ergue e caminha nervosamente na direção da praia. Está preocupado com os cristãos no continente, a apenas alguns quilómetros dali. Como ele suspira e aguarda que a sepa­ração tenha um fim! Afinal, João tem um coração de pastor. Quantos homens e mulheres, meninos e meninas daquelas sete igrejas, sete locais de culto, teriam sido levados à fé em Cristo mediante a pregação de João? O apóstolo sentia-se responsável por eles, e pelo seu crescimento espiritual.

Alguns obreiros haviam ajudado, direta ou indiretamente, a estabelecer aquelas igrejas; outros, todavia, (de acordo com a tradição mais antiga) estavam mortos: Paulo, decapitado por uma espada romana; Pedro, crucificado de cabeça para baixo numa rude cruz de madeira; o próprio irmão de João, Tiago, fora deca­pitado por Herodes Agripa; o jovem Marcos fora arrastado pelas ruas de Alexandria e a seguir queimado, o corpo todo ferido e ainda sangrando.

Notícias não confirmadas sobre as mortes ou desaparecimen­tos dos amigos e cooperadores mais íntimos de João deviam ter aprofundado mais ainda sua solidão, e deixado o apóstolo mais temeroso ainda sobre o futuro das igrejas que, juntos, haviam estabelecido.

De início lhes parecera seguro e um tanto simples ser cristão num mundo dominado pelo império romano. Os Césares haviam concedido privilégios especiais aos judeus, e a maioria dos cris­tãos primitivos era constituída de judeus que partilhavam desses privilégios. Sob a "pax romana" (a paz que Roma inculcara no mundo todo pela força e lei romanas), a igreja prosperara. As autoridades romanas haviam até livrado Paulo da morte, em Jerusalém, quando os soldados de César o resgataram, arrebatan-do-o das mãos do populacho enfurecido pela sua pregação (Atos 21:31-32). Pedro havia escrito aos primitivos cristãos que deve­riam temer a Deus e honrar o rei (1 Pedro 2:12-17) — ainda que o imperador com frequência fosse mau e já se iniciava a persegui­ção.

Pelo final do primeiro século, já havia cessado toda benevo­lência imperial. Roma perdia o controle que exercia sobre o mun­do. Imperadores e cortes imperiais tornavam-se mais e mais ex­travagantes. A tesouraria imperial se esgotava. Novos impostos eram lançados pelo senado romano, objetivando eliminar o deficit comercial. Quando surgiram protestos e rebeliões, a espada en­trou em cena.

Manter um império feito de tantas raças, religiões e culturas diferentes não foi uma tarefa fácil para Roma. Passaram a crescer vários movimentos nacionalistas, conspirações políticas, o terro­rismo e a rebelião aberta, de tal modo que o império sofria amea­ças internas e externas. Surgiu, então, graças à paranóia galopante do imperador, obcecado por manter o poder de Roma e o controle de seus súditos, um teste simples de lealdade. Durante determi­nadas festividades e feriados, milhares e milhares de súditos enfileiravam-se, caminhando perante o trono do imperador roma­no, para atirar um pedaço de incenso ao fogo, numa vasilha de ouro a seus pés, enquanto proclamavam: "César é Senhor!"

Jesus ou César? A maior parte dos cidadãos do império alegrava-se de poder Pagar tributo ao imperador, e ao império, que lhes trouxeram aquele período de paz. Mas para os cristãos, outro voto de lealda­de é que estava no centro da fé que professavam: "Jesus é Senhor", nao César. A despeito da gratidão que podiam sentir pelo impe-ador e pelo império, a despeito das admoestações de Paulo e de edro para que adorassem a Deus e honrassem ao imperador, ^ele ato de adoração a César era impossível. Por causa da recusa em colocar César antes de Cristo, os cristãos começaram a ser perseguidos.

Escreve William Barclay: "Essa adoração [de César] jamais teve a intenção... de eliminar as demais religiões. Roma era essen­cialmente tolerante. Um homem podia adorar a César e também seu próprio deus. Entretanto, a adoração a César foi-se tornando cada vez mais um teste de lealdade política; veio a tornar-se... o reconhecimento do domínio de César sobre a vida da pessoa, sobre sua... alma" (Apocalipse de João, 1:21-22).

Imagine um vilarejo nos subúrbios de Efeso ou Laodicéia. Os crentes em Cristo estão trabalhando, curtindo couro, tingindo tecidos, colhendo frutos, educando seus filhos, estudando mate­mática e história — ou estão no culto, na oficina ou no pátio de recreações. De súbito, ouvem-se o tropel de cascos de cavalos que batem no chão de pedra, na rua próxima. Um centurião e sua guarda de honra cavalgam os animais. Monta-se uma mesinha portátil, de couro, de campanha. Sobre a mesinha coloca-se um queimador de incenso. Acende-se o fogo. Arautos tocam as trom­betas. Não há como fugir, nem tempo para isso.

Os crentes devem entrar na fila com seus vizinhos. Lá na frente, o prefeito local atira um pedacinho de incenso nas chamas e exclama, com orgulho: "César é Senhor". Outros se seguem. A fila caminha. Está chegando o momento da decisão. Será que os cristãos vão evitar o conflito e proteger sua vida, sua segurança, mediante um simples ato de obediência? Dirão eles "César é Senhor" para retornar a casa, em segurança? Ou reconhecerão eles naquele ato um simbolismo de uma desobediência mais grave, e recusarão o incenso, e dirão "Jesus é Senhor", pagando o preço de sua deslealdade ao estado?

Teria João caminhado para cima e para baixo, na praia de Patmos, naquele dia de descanso, lembrando-se do centurião, do incenso e da terrível decisão de lealdade superior que cada crente teve que tomar? Quem sabe?

Talvez João tenha enfrentado uma fila como aquela, cercado pelos seus vizinhos e amigos, e o apóstolo teria falhado no teste do imperador, de modo que, como castigo, fora exilado para a ilha-prisão. Nada sabemos sobre as acusações que foram levanta­das contra o apóstolo, que culminaram em seu exílio; todavia, sabemos por que João estava lá: "Eu, João, irmão vosso e compa­nheiro convosco na aflição, no reino e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus" (Apocalipse 1:9).

Nessa época não era fácil ser cristão. Tampouco é fácil hoje. No final do primeiro século, durante o tempo do exílio de João, as perseguições à igreja de Cristo movidas pelo império romano tomavam força. Tornara-se difícil perseverar na fé, na época. Hoje também é difícil.

Havia momentos importantíssimos, horríveis, diante do fogo brilhante do centurião. Há momentos insignificantes, mas horrí­veis, quase diariamente, quando um crente tende a acatar os valores deste mundo, desistir dos elevados padrões do Senhor, entregar-se às várias tentações que pressionam cada crente, ho­mem ou mulher, jovem ou adulto. Sim, até os cristãos se sentem tentados a deixar-se envolver pelas paixões e prazeres que nos circundam.

 

Uma decisão diária

Costumamos pensar que só os cristãos que vivem em regimes ateísticos ou totalitários é que sofrem, diariamente, a dor de decidir a quem darão lealdade superior. Isso não é verdade. Todos os crentes, em todas as nações — sejam elas totalitárias, democrá­ticas ou no meio termo — precisam decidir todos os dias que serão leais a Cristo e ao reino que o Senhor está edificando, ou que se entregarão a este mundo e seus valores.

Podemos detetar nos Estados Unidos evidências claras de intolerância crescente contra os crentes e seus valores. Já deixou de ser fácil professar a Cristo, hoje, como era outrora, nessa nação. Os crentes somos todos forçados a tomar nossa cruz, todos os dias, °u, vencidos pelo medo, somos impelidos a deixar-nos corromper segundo os padrões do mundo.

Não é de admirar, pois, que João estivesse tão ansioso. Os cnstãos de seus dias enfrentavam (como os de hoje enfrentam) uma decisão constante, perturbadora. Aqueles crentes novos das lgrejas da Ásia viviam num mundo (em nada diferente do nosso) em que sua fé em Cristo com frequência os metia em situações difíceis com os poderes políticos, com as realidades económicas e com as normas sociais. As decisões do dia-a-dia eram difíceis e exigentes. Grande sofrimento os aguardava. Manteriam a fé? Permaneceriam firmes, ou desistiriam, sob a pressão e o sofrimen­to decorrentes de serem seguidores de Jesus?

Em nossa época, diariamente, da mesma forma que naqueles dias, os crentes enfrentam muitas decisões. Sucumbirão diante do materialismo, dos prazeres egoísticos, das práticas desonestas da presente era? Que é que você faz quando enfrenta decisões desse tipo? Seu desejo predominante, persistente, é fazer a vontade de Deus, ou você dá lugar de imediato às pressões insistentes das pessoas que o circundam? Assim nos admoesta a Bíblia: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela reno­vação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:2).

De súbito, João ouviu uma voz "como de trombeta". Estamos tratando de um mistério, aqui. Não posso dizer-lhe de que manei­ra as visões vieram a João, nem de que forma real ou simbólica elas lhe apareceram. Quando leio o início do Apocalipse de João em Patmos (Apocalipse 1:12-20), tento visualizá-la em minha mente. Não sabemos se João, "no Espírito", simplesmente sentou-se na praia de Patmos e contemplou as visões com os olhos do espírito.

Há uma tradição segundo a qual o Espírito de Deus veio a João numa caverna escura, e o levantou dessa caverna, transportando-o para quatro diferentes lugares, da mesma forma como Jesus foi levado por satanás ao topo do monte, nas tentações que sofreu no deserto. É até possível que essas visões tivessem assumido forma real e substancial para João — mais reais do que as aparições da Casa Mal Assombrada da Disneylândia, em que fantasmas dan­çam através de paredes, enquanto moços e velhos de boca aberta, espantados, contemplam aquelas visões à sua frente, que parecem ter existência real.

 

Um quadro de Patmos

Creio, porém, que João presenciou vividamente o que ele descreve, e que tudo quanto ele viu proveio de Deus, sendo que cada visão é tão importante e cheia de significado e aplicação, hoje, para você e para mim, como o foi para aquelas sete igrejas da Ásia.

Venha comigo para Patmos. Visualize João orando ansiosamente em prol das igrejas sob seu cuidado. De repente, ele ouve uma voz, clara como o som de uma trombeta, que lhe falava.

O relato bíblico não contém as primeiras palavras de quem falava. Talvez fossem uma simples saudação, semelhante à diri­gida a Maria, pelo anjo que lhe transmitiu as boas novas da concepção e nascimento de Jesus. Talvez se referissem à glória de Deus brilhando ao redor de João, ou uma plêiade de anjos vindos do céu, semelhante à que fez que os pastores tremessem de medo, antes de estes ouvirem as boas novas que aqueles traziam. Não sabemos o que aquela personagem disse, mas sabemos qual foi a reação de João diante de tais "boas novas". Ele ficou aterrorizado.

Quando o apóstolo se voltou "para ver quem falava", seus olhos ficaram como que cegos, por causa da luz de sete grandes candeeiros, ou luminárias. De pé, à luz dos candeeiros, estava um homem de olhos chamejantes, cuja cabeça e cabelos "eram brancos como lã branca". Os pés dessa personagem "eram semelhantes a latão reluzente, como que refinado numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas". A Pessoa segurava sete estrelas na mão direita. De sua boca saía uma espada de dois gumes aguça­dos, e "o seu rosto era como o sol, quando resplandece na sua força" (Apocalipse 1:12-16).

João caiu prostrado diante daquela Pessoa, ficando "como morto", espantado e maravilhado pelo que viu. Aquele homem (de pé, à luz, vestindo "vestes talares e cingido à altura do peito com um cinto de ouro") era Jesus.

Entretanto, João não reconheceu seu Mestre. Era o mesmo Jesus que no início aparecera perante João na praia do mar da Galileia. Durante três anos haviam estado juntos; todavia, João não reconheceu o Salvador. Era o mesmo Jesus que havia apare­cido a João e aos demais discípulos, num cenáculo fechado, quan­do seu corpo de ressurreição, transformado, ainda trazia as mar­cas abertas dos ferimentos nas mãos, nos pés e no lado, produzidos pelos cravos da cruz, e pela cruel lança romana. Era ° mesmo Jesus que assumira a fragilidade do ser humano a fim de compartilhar o sofrimento da humanidade, a fim de sentir nossa fraqueza, nossas tentações, e libertar-nos do mal.

Entretanto, João, discípulo de Jesus de longos anos, amigo íntimo do Senhor, não tinha a mínima ideia de que essa figura agigantada e reluzente era o Cristo ressurreto.

A seguir, o Senhor inclinou-se gentilmente sobre o discípulo aterrorizado, à semelhança de uma mãe que acarinha uma criança com medo do escuro, tocou-lhe o ombro e disse-lhe: "Não temas. Eu sou o primeiro e o último. Eu sou o que vivo; fui morto, mas estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do inferno" (Apocalipse 1:17-18).

 

Imagens espectrais

Que estaria acontecendo ali? Ora, imagine o que acontecia na mente de João. Teria ele, momentos antes desse encontro miste­rioso, demonstrado temor pelo futuro da igreja? De súbito, o próprio Cristo ressurreto aparece a fim de pronunciar a palavra tão desesperadamente necessária hoje, quanto o era quase vinte séculos atrás. Estaria o profeta-vidente imaginando se de fato haveria poder suficiente, à sua disposição e de seu rebanho, a fim de resistir aos perigos daqueles dias maus, quando o Criador e Mantenedor do universo se revela como aquele que detém a chave, o poder para dominar os piores temores que afligem a humanidade — a morte e a perdição eternas?

"Escreve" João! Essa foi a ordem do Senhor onipotente. A seguir, o Senhor especificou com clareza a quem a carta deveria ser enviada: aos líderes das igrejas ("os anjos das sete igrejas", que literalmente significa "pastores") e aos membros das igrejas, das quais partiria a luz que iluminaria o mundo inteiro ("os sete candeeiros"). "Escreve, pois, as coisas que tens visto", ordenou a Personagem brilhante como o sol. "Escreve... as coisas... que são, e as que depois destas hão de acontecer" (Apocalipse 1:19).

Aqui estão as boas novas. Tente imaginar como você se senti­ria se estivesse no lugar de João. Num instante, João estava preo­cupado com seus amigos cristãos que lutavam a fim de sobreviver, naqueles tempos horrorosos de decisões difíceis e perseguições sangrentas. No instante seguinte, o apóstolo está diante do Senhor da história, que lhe assegura mediante sua presença augusta que ele ainda está no controle deste mundo. O Senhor ainda tem planos para seu povo, e está prestes a dizer o que podemos fazer a fim de participar desse plano divino, para a redenção e renova­ção do planeta terra.

Talvez neste exato momento você esteja enfrentando algum problema particular, e sente-se na fímbria do desespero. Todavia, Cristo chega a você e lhe diz: "Eu sou o Senhor! Não há circuns­tância que se esquive de meu poder. Você pode confiar em mim".

Então, quase de imediato, revelam-se as más notícias, de mistura com as boas. A ironia do que se segue, as palavras que João foi instruído a escrever, fazem-me lembrar de um desastre que se abateu sobre o estado da Califórnia há alguns anos.

Poucos anos antes desse desastre, o estado havia sofrido o pior inverno de que há memória. Ventos fortíssimos derrubaram fios de força elétrica e atiraram muitas cidades na escuridão. A água do mar havia arremetido contra as comunidades costeiras, demo­lindo tudo, engolindo casas, ancoradouros, parques e estradas, em vagalhões poderosos e lúgubres. Caíra tanta chuva que os rios incharam e afogaram pessoas e animais, inundando cidades e campos de lavoura. Foi uma época de terror; a imprensa publicou muitos casos sobre a tempestade, e instruções sobre como proce­der.

As notícias de primeira página do Los Angeles Times advertiam que tragédias piores estavam a caminho. Os cientistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia advertiram as pessoas do estado todo que se preparassem para um terremoto de grandes proporções. As instruções eram claras. Recomendavam listas de suprimentos de emergência.

Havia descrições minuciosas a respeito de como as pessoas deviam agir. Que se evitassem os edifícios com janelas de vidro. Que as pessoas ficassem sob arcadas fortes, ou que corressem para os espaços abertos. Que as pessoas não saíssem de suas casas sem proteção contra telhas pesadas ou pedaços de concreto, ou reboco, que caíssem lá de cima. Que se ligasse o rádio nas estações de emergência. Que os suprimentos médicos fossem reunidos, e se prestasse auxílio aos vizinhos — visto que as estradas estariam fechadas e os veículos de emergência, encalhados. As pessoas pode-nan ter de esperar durante vários dias a chegada de socorro.

Visualize o pobre californiano vadeando pelas ruínas de sua casa à beira-mar, tomadas pela inundação, e recebendo a advertência de que logo um terremoto atiraria ao mar o que restou. Essa era a situação difícil, de duas faces, que os crentes das sete igrejas asiáticas enfrentavam. Ali estavam as boas novas, ao lado das más. Já enfrentavam um problema terrível. Essa realidade é reconheci­da e as sete cartas individuais transmitem as advertências a cada igreja (Apocalipse 2-3). Todavia, um problema maior ainda está a caminho. Ecoa a segunda advertência na calmaria que antecede a tempestade, enquanto os selos são abertos e revela-se o futuro.

As boas novas consistem em saber-se que Deus tem um plano para a redenção do mundo. Todavia, em primeiro lugar, o profeta adverte seu povo para que ponha a vida em ordem. Essa é a recomendação imediata, o conselho a curto prazo, completo, com instruções específicas sobre como esse objetivo seria alcançado. João faz um catálogo dos pecados das igrejas, e adverte-as das consequências. Ele as exorta a que vençam. (No próximo capítulo, examinaremos as sete cartas de advertência dirigidas às igrejas do primeiro século, e veremos como são relevantes para você e para mim.)

 

Placas indicativas de esperança

Entretanto, o profeta avisa também que haverá tempestades piores no futuro. Devemos preparar-nos para enfrentá-las. Eis as advertências de longo alcance proferidas pelos quatro cavaleiros da morte e destruição, os quais já cavalgam na direção daqueles crentes primitivos, e em nossa direção. Há boas novas no conhe­cimento do fato de que podemos vencer o pecado, a fraqueza e o sofrimento de hoje, em nossa vida e, ao vencermos, ficaremos suficientemente fortes para vencer o pecado, a fraqueza e o sofri­mento que jazem no futuro próximo. A placa indicativa de espe­rança mais importante é a Palavra de Deus, que nos adverte sobre o desastre iminente e, com toda clareza, demarca o caminho da segurança.

Minha esposa, Ruth, e eu sabemos que Deus pode preparar um plano para livrar seu povo. Nós temos visto o Senhor fazer isso inúmeras vezes. Ruth é filha de missionários, e foi educada na China. Ela testemunhou de primeira mão como Deus preparou seu povo, a igreja, durante épocas de tumulto grave, para que suportasse tumultos maiores ainda, que o futuro traria. Os crentes na China não só sobreviveram os anos de crise e conflito, mas estão crescendo, hoje, e multiplicando-se, e fortalecendo-se naquelas situações tão difíceis.

Portanto, no meio da tormenta, há uma esperança brilhante para o futuro. Deus tem um plano para o seu povo, e o Senhor com grande alegria o partilha com todos os crentes. As visões de João na ilha de Patmos são placas proeminentes, claras, que nos orientam pelo caminho que percorreremos.

 

Ao que vencer

Apocalipse 2-3

Há muito que o livro de Apocalipse tem sido descrito como livro de mistérios. Sua linguagem cifrada, despertadora de interesse, ao jeito dos antigos hieróglifos, desafia nossa imagi­nação. Muitas vezes a narrativa joanina suscita mais perguntas do que dá respostas. Uma das razões disso é que João nos fornece um vislumbre das esferas invisíveis — mas reais — do mundo espiri­tual.

Entre os vários mistérios discutidos pelo apóstolo Paulo, em suas cartas às igrejas, estava a ideia de que nosso mundo, o das coisas visíveis, é um lugar irreal e não permanente. O mundo real, disse Paulo, é o invisível. "Portanto, nós não atentamos nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas" (2 Coríntios 4:18).

Com estas palavras, Paulo está dizendo que o mundo espiri­tual existe em nosso meio, ao nosso redor, invisível, mas diz também que as consequências de nosso viver diário, de nossas decisões, neste mundo físico, projetam-se eternamente na vida vindoura. A realidade desta compreensão de nosso mundo assu­miu novo sentido e urgência nesta era sacudida por tormentas. Entretanto, João deve ter-se sentido esmagado pela terrível reali­dade do mundo invisível que lhe apareceu em Patmos.

Quando o Espírito do Cristo ressurreto chegou a João, naquela cela desnudada, o velho apóstolo deve ter ficado muito espantado porque o mundo invisível estourou em cima dele numa realidade amedrontadora. Sendo prisioneiro do império romano, subnutri­do, surrado às vezes, constantemente molestado e abusado, sua vida naquela ilha árida e rochosa do mar Egeu era tão real e destituída de mistérios como o chão frio no qual ele dormia, tão real como o pão e a água. A vida que o apóstolo vivia ali era tão física e tangível como as dores de suas juntas cansadas, as bolhas e calos de seus pés e mãos.

Diz a tradição que a face de João ficara enrugada e queimada por causa do sol. Seus braços esguios eram cheios de músculos, e suas mãos, grosseiras e calejadas. Sendo prisioneiro político, exi­lado numa rocha gigantesca ao largo do litoral da região que hoje é a moderna Turquia, João era obrigado a transportar as pedras que eram cortadas nas pedreiras, nos picos graníticos bem acima do nível do mar, levando-as para uma doca na parte baixa daquela possessão romana. Uma fortaleza guardava o istmo estreito entre a baía de Scala e a de Merica. As pedras que João carregava às costas eram usadas na edificação dos templos e palácios do impe­rador Domiciano, e para pavimentar as estradas romanas, que conduziam a Roma.

Podemos imaginar que João, tropeçando sob o peso do cesto de palha cheio de pedras, amarrado à testa, segurava a carga com ambas as mãos, ao descer dolorosamente aquele traiçoeiro cami­nho até a doca, lá embaixo. Até mesmo os guardas romanos deviam admirar-se da determinação desse judeu-cristão de barba cinzenta, que trabalhava ao lado de outros prisioneiros de dia e passava as noites escrevendo histórias que ninguém conseguia entender.

Entretanto, João não fazia aquilo de que gostava. Ele estava sob a compulsão de um mistério. Escrevia sob a direção do Espí­rito Santo de Deus, que veio a ele em sonhos e visões em vigília. No início de seu livro, assim escreveu João: "Eu fui arrebatado em espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: O que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laodicéia" (Apoca­lipse 1:10-11).

E assim foi que em sua cela parecida com uma caverna, João, o vidente do mundo invisível, gastou cada momento livre no registro de advertências sismográficas, de um mundo que desmo­ronava e se transtornava logo abaixo da superfície. Com freqúência tenho a sensação de que de muitos modos o mundo antigo de João era bem parecido com o nosso.

 

A visão de João

Estas histórias de premência e advertência urgentes, talvez escritas ao longo de vários meses cruciantes, foram copiadas conforme instruções, e enviadas às sete igrejas da Ásia. Mais tarde, o livro de João receberia o título que aparece em sua primeira linha: "Revelação (Apocalipse) de Jesus Cristo" ou simplesmente "Apocalipse", tornando-se o último e talvez o mais controvertido livro do Novo Testamento.

Não temos as minúcias do que aconteceu quando o Espírito apareceu a João. Noutras passagens, a Bíblia descreve o modo por que Deus apareceu a Moisés, Abraão, Jacó e Paulo. Os relatos dos três primeiros livros do Novo Testamento sobre o aparecimento de Moisés e Elias a Jesus, no monte da Transfiguração, numa brilhante nuvem de luz, dão-nos uma imagem vívida de como a presença de Deus foi experimentada. Todavia, esses relatos tam­bém nos mostram como os mortais reagiram: Caíram de rosto no pó, em terror ante a presença do Deus Santíssimo.

O apóstolo João sofreu de modo semelhante. Caiu prostrado, diante da presença poderosa do Senhor ressurreto. Talvez preci­sasse proteger os olhos contra a luz cegante. A grandiosa Perso­nagem cujos olhos brilhavam como fogo, os sete candeeiros ilu­minados ao seu redor, mais o sol refletindo-se na ressaca, conjugavam-se num espetáculo estonteante de luz. João deve ter esfregado os olhos, maravilhado, tentando focalizá-los naquele cenário e entender seu significado.

Talvez o Senhor Jesus tenha saído da luz para tomar a mão enrugada de João e erguê-lo gentilmente, pondo o ancião de pé. Talvez os olhos de ambos se houvessem cruzado durante um breve momento, do modo como faziam meio século antes. Naque­le reconhecimento relâmpago, João deve ter-se lembrado do es­plendor passado e reconhecido o Senhor ressurreto — o mesmo Jesus que havia caminhado a seu lado nas praias da Galileia e nas ruas de Jerusalém. E possível que João houvesse sentido o mesmo amor profundo de Jesus, que ele havia experimentado enquanto caminhavam pelas trilhas e colinas da Judeia. É possível que João houvesse sentido o braço de Jesus em seu ombro, quando o Senhor o conduziu pela costa praiana, passando pelo oásis de palmeiras, até sua cela-prisão. Talvez João tenha tropeçado na escuridão de sua cela, à procura da lamparina de azeite, para acendê-la, esten­dendo uma nova folha de pergaminho e molhando na tinta o bico recém-aparado da pena novinha. João sentou-se quieto por um momento diante da prancha de madeira recolhida da praia, onde o mar a atirara, e que lhe servia de escrivaninha e de altar, e esperou que o Senhor lhe mostrasse o Apocalipse, a revelação.

 

A realidade e algo mais

Você pode imaginar os detalhes do sonho de João de outra forma. Os detalhes não são importantes. Mas, ajudam-me a ver João ali, com o Senhor ressurreto. Seja qual for a forma tomada pela visão — quer tenha sido uma revelação particular, pessoal, de Cristo, aos olhos da mente de João, quer tenha sido uma experiência literal numa praia de Patmos — obter a sensação daquele momento, ver o que de fato aconteceu na ilha naquele dia, é perceber a maravilha e a esperança da revelação, tanto as boas novas como as más.

Temos estado falando sobre a visão que João teve de Jesus. Todavia, devemos necessariamente esperar que Deus nos dê uma visão semelhante a essa? Não. Deus nos deu sua Palavra, a Bíblia, que é tudo de que precisamos. Você gostaria de conhecer a Deus mais profunda e intimamente? Você quer descobrir a vontade do Senhor para a sua vida? Leia, então, e estude as Escrituras todos os dias. As Escrituras são uma revelação comovente e pessoal para todas as ocasiões — não importa que tempestades sobrevenham.

Não conhecemos os detalhes; todavia, há uma coisa que sabe­mos com certeza. O Senhor ressurreto falou a João e ordenou-lhe que escrevesse. "Escreve", disse Jesus. "Escreve... o mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita, e os sete candeeiros de ouro é este: As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas" (Apocalipse 1:19-20). A seguir, João deu início às sete cartas às sete igrejas da província romana da Ásia. "Ao anjo da igreja de Efeso", ordenou o Senhor ressurre­to, "escreve" (Apocalipse 2:1).

Os acontecimentos daquele dia elevaram as palavras daquelas sete cartas curtas à categoria de Palavra eterna de Deus, tão cheias de confiança e de autoridade para nossos dias, como o foram nos dias de João. O que aprendemos com essas palavras cresce, torna-se maior do que as próprias palavras em si, tornam-se profundas lições acerca de Deus.

 

Primeiramente, vemos que Deus cuida de cada um de nós individual­mente. Ele nos conhece pelo nome. O Senhor ressurreto cuida de nós de modo pessoal. Eu convido você a dar uma olhada nas minúcias dessas cartas. Deus atribuiu nomes. Descreveu aconte­cimentos. Elogiou as igrejas pelas suas vitórias. Exortou-as em seus fracassos. Deu-lhes aconselhamento caloroso, amoroso e desafiador. Bastaria isso para dar-me um tremendo senso de esperança. Ele nos conhece como a mãe conhece seu filho. O Senhor ressurreto não se retirou para ir esconder-se num cantinho distante do universo; ele está presente no espírito de cada crente. Quando pesquisamos sua Palavra, quando paramos a fim de ouvir-lhe a voz, ele se torna tão real hoje como naquela época.

 

Em segundo lugar, Deus nos vê quando partilhamos nossa vida com outros crentes, na igreja. O Senhor se preocupava com cada uma das demais igrejas nas cidades e vilas da Ásia. Ele não ditou aquelas cartas a líderes-chaves ao redor do mundo, nem a presbitérios, sínodos ou concílios de bispos ou clérigos. Escreveu a igrejas individuais, a pequenos conglomerados de crentes, incluindo líderes e liderados. No âmago dessas cartas está a pressuposição de que todos os crentes pertencemos à mesma obra, fazemos parte do mesmo culto, na mesma igreja local.

O Senhor cuidava de cada igreja, individualmente, naquela época, como continua a cuidar hoje. O Senhor se interessa de modo profundo pelo modo como nos relacionamos com ele, com nossos irmãos, com nossas comunidades e com o mundo. Ele quer permanecer ao nosso lado em todas as tormentas deste mundo. Basta isso para dar-nos grande esperança!

 

Em terceiro lugar, as questões a que se referiu o Senhor, naquela época, são exatamente as mesmas questões sobre que ele nos fala hoje. Nossos problemas não são singulares. Nossos pecados, tentações, fraquezas e necessidades não são diferentes dos daquele povo. isso me dá esperança, também. É que Jesus antecipou as lutas que enfrentaríamos, e o chamado que ele entregou àqueles crentes, portanto, é o mesmo que devemos ouvir hoje.

 

Em quarto lugar, conquanto o formato de cada carta seja praticamen­te o mesmo, o conteúdo de cada uma é diferente das demais. O Senhor sabia que cada igreja enfrentava lutas singulares, de modo que ele se dirigiu a elas individualmente. Jesus não produz aconselha­mento em massa. Isto pode conceder-me grande esperança. As palavras dele para aqueles crentes são suas palavras para nós, mas nós também enfrentamos nossas batalhas pessoais, próprias; por­tanto, quando estivermos estudando essas cartas, podemos ter certeza de encontrar a palavra exata, no tempo certo, que vai atender às nossas necessidades específicas, particulares.

As cartas às igrejas demonstram que Cristo sabia o que o futuro haveria de trazer. Ele sabia o preço que os fiéis haveriam de pagar pelo fato de resistirem ao mal. Todavia, o Senhor também sabia que aquelas igrejas ainda não estavam preparadas para pagar o preço; ainda não eram suficientemente fortes para enfren­tar sozinhas as tempestades vindouras. O Senhor sabia que a menos que as igrejas investissem tempo e energia no preparo individual, jamais sobreviveriam aos tufões destruidores. Ele sa­bia que se não aprendessem a vencer, poderiam ser vencidas pela tempestade que se avizinhava.

Há alguns ensinamentos nessas cartas que devemos acatar, antes de enfrentarmos os furacões que se desencadearão sobre nós. Aquelas cartas são as palavras do Senhor, palavras de poder que nos ajudarão a sobreviver nos dias maus que virão.

 

Éfeso e Laodicéia: o chamado para uma paixão santificada.

Éfeso era uma grande cidade portuária no mar Egeu. O após­tolo Paulo ajudara a fundar a igreja nesse imenso centro comercial e religioso.

No coração da cidade encontrava-se o templo a Artemis (Dia­na), uma das sete maravilhas do mundo antigo, templo quatro vezes maior do que o Partenão de Atenas. Por um triz Paulo não perdeu a vida, por causa de sua atitude corajosa perante os adoradores idólatras de Ártemis (Atos 19). O apóstolo investira dois anos de sua vida no povo de Éfeso, e na jovem e próspera igreja, e esse investimento rendeu ricos dividendos para o reino de Deus. Éfeso tornou-se o centro de onde as boas novas de Cristo se espalharam por toda a Ásia.

Há um momento maravilhoso no livro de Atos, quando os anciãos da igreja de Éfeso se encontraram com Paulo, em Mileto, a fim de despedir-se do apóstolo. Seria sua última viagem para Jerusalém. De lá, o apóstolo partiria para Roma, onde seria mar­tirizado. Os presbíteros abraçaram-se ao apóstolo, e choraram, enquanto compartilhavam seus últimos pensamentos, juntos pela última vez. No âmago do aconselhamento de Paulo, naquele último dia, estavam estas palavras: "Sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão o rebanho. Portanto, vigiai" (Atos 20:29, 31).

Tudo indica que aqueles homens guardaram as palavras do apóstolo no coração. Mais de meio século mais tarde, a carta de Cristo dirigida a eles, no Apocalipse, dava esta indicação: O Senhor se agradava do fato de que puseram "à prova os que se dizem apóstolos e não o são" mas acharam-nos "mentirosos" (Apocalipse 2:2). Em Mileto, Paulo os havia instruído a que aju­dassem os fracos, e no Apocalipse, Cristo os elogia: "Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua perseverança" (Apocalipse 2:2). Todavia, a despeito da obediência e perseverança deles, algo saíra errado. "Deixaste o teu primeiro amor", adverte-os Cristo. "Lem-bra-te de onde caíste! Arrepende-te, e pratica as primeiras obras" (Apocalipse 2:4-5).

A cidade de Laodicéia fica a seis quilómetros do rio Meander, na Ásia Menor, perto de um tributário. Esta era também uma cidade próspera, na época do exílio de João. A estrada que ligava Roma às províncias sulinas cortava Laodicéia, que se tornou centro bancário e de câmbio monetário.

Outro ponto forte da fama de Laodicéia era seu prestigiado centro médico, reconhecido mundialmente pelo seu colírio tera­pêutico. As ovelhas, que pastavam nas colinas ao redor da cidade, Produziam lã negra de grande renome. As roupas finas e mais caras do império eram produzidas com os tecidos pretos, riquís­simos, originários de Laodicéia. Que ironia (e que perfeito exem­plo da atenção que o Senhor ressurreto dava a minúcias) no fato de Cristo dizer à igreja de Laodicéia: "És um coitado, e miserável, e Pobre, e cego, e nu" (Apocalipse 3:17)!

Não conhecemos a história primitiva da jovem igreja de Lao-dicéia; todavia, sabemos que Cristo tinha avaliado e afirmado seu grande potencial na edificação do reino, visto que essa igreja sentiu sua ira com intensidade de ferro em brasa, nas palavras de João: "És morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca" (Apocalipse 3:16) foi a advertência do Senhor.

A seguir, numa quase imediata mudança de tom, Cristo pros­segue, apresentando um dos convites mais pungentes e mais bem conhecidos da literatura bíblica: "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo. Portanto, sê zeloso, e arrepende-te. Eis que estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo" (Apocalipse 3:19-20).

Tanto os crentes de Efeso quanto os de Laodicéia haviam perdido a paixão santificada. O mesmo acontecera a Jerusalém, nos dias de Jeremias, quando o profeta escreveu: "Veio a mim a palavra do Senhor:... Lembro-me de ti, da devoção da tua moci­dade, do amor dos teus desposórios, de como me seguiste pelo deserto, numa terra não semeada" (Jeremias 2:1-2). Em outras palavras, o povo daqueles dias também havia perdido seu primei­ro amor, e Deus os repreendera.

O "primeiro amor" dos efésios se cristalizara numa espécie de fidelidade à pureza doutrinária. É provável que pudessem detetar uma heresia, ou um herético, a um quilómetro de distância. Pro­vavelmente soubessem os credos de cor, que passavam com fide­lidade de geração a geração. Todavia, a carta de Cristo lhes diz: "Arrepende-te!" Arrepende-te da frieza do teu coração, e da tua falta de zelo. Arrepende-te de tua falta de amor, da tua falta de interesse pelo próximo.

Parece que as primeiras orações apaixonadas dos crentes de Laodicéia se haviam cristalizado em confortáveis orações de agra­decimento. Mas Cristo zombou das orações deles: "Dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta". Mas aqueles crentes não percebiam a realidade, pelo que o Senhor os advertiu: "Mas não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, cego, e nu" (Apocalipse 3:17).

Durante certo período de férias, Ruth e eu fomos convidados para ir a casa de uns figurões da sociedade, uns ricaços. Haviam-se unido, formavam um grande grupo de vizinhos em férias, e deram uma festa. Pediram-me, então, que lhes dirigisse algumas palavras. Eu lhes expliquei o evangelho com simplicidade e bre­vidade, lembrando àquelas pessoas que o prazer e as posses não são duradouros — que somente quem tem Jesus Cristo como Salvador é que pode ser verdadeiramente feliz. Quando terminei, uma mulher jovem, atraente, vestida com luxo, conhecida pela sua moralidade vacilante e elevado nível de vida, riu-se muito, bem alegre, e protestou: "Mas, Billy, e as pessoas dentre nós que são perfeitamente felizes?"

Do ponto de vista de Deus, aquela mulher era uma coitada, uma miserável, pobre, cega e nua. Os anos seguintes o comprova­riam logo. Diz Cristo a pessoas como aquela mulher: "Arrepen-de-te!"

 

O problema da paixão espiritual

Para as igrejas em Éfeso e em Laodicéia, o problema era o da paixão espiritual. "Deixaste o teu primeiro amor", escreveu João aos efésios. Não "és frio nem quente", disse aos crentes de Laodi­céia. O que se iniciara fervorosamente, como compromisso total a Cristo e sua obra, pouco a pouco foi esfriando. Não conhecemos todos os detalhes, mas apenas os fragmentos de história forneci­dos pelo Apocalipse; todavia, podemos formar um quadro basea­dos em nossa própria experiência.

Lembro-me da primeira vez em que vi Ruth. Foi um caso de amor à primeira vista. Ainda posso lembrar-me do entusiasmo que senti. Lembro-me da primeira vez em que peguei a mão dela. Lembro-me da eletrizante sensação de nosso primeiro beijo, quan­do nossos olhos brilhavam de amor um pelo outro. Lembro-me de como meu estômago se agitou, de como meu coração pulsou com força e meu sangue parecia ferver durante nossa lua-de-mel, e nos anos que se seguiram. O primeiro amor é maravilhoso. Todavia, é inevitável que as primeiras chamas da primeira paixão física se esfriem.

Ainda nos amamos muito hoje; entretanto, já não é a mesma Paixão de nossa juventude. Hoje, nosso amor se centraliza na Maldade e no compartilhamento. Penso que é muito interessante que o verbo amar é ativo, e não passivo. O amor precisa ter um objeto. A fim de amar de verdade, devemos amar alguém, ou algo.

O amor não deve confinar-se ao aspecto físico. Ele requer uma vida toda de lealdade. Ruth e eu podemos sentar-nos em nossa varanda da frente, numa noite de verão, sem dizer uma palavra um ao outro, mas estamos em comunhão mútua, e estamos comu-nicando-nos. A paixão é mais profunda ainda, porque o relacio­namento e a lealdade são profundos.

Ao longo dos anos, ficamos conhecendo muitos casais que não conhecem esse tipo de dedicação mútua. Em alguns casos, o amor só tinha o aspecto físico. As chamas da lua-de-mel se abrandaram e, logo a seguir, instalou-se a rotina. Morrendo a paixão do pri­meiro amor, morreram também as ações relacionadas com ela.

Se você é crente, talvez você se lembre daquele momento em que ouviu falar de Jesus Cristo pela primeira vez, e creu nele, como Salvador e Senhor de sua vida. Talvez você se lembre de haver-se ajoelhado ao lado da cama de seus pais, ou diante de um altar, ou no chão de terra do pátio de um acampamento. É possível que você tenha ido à frente, a convite de um obreiro que pregou numa cruzada evangelística. Você se lembra de quando se uniu à igreja, de como sentiu os braços amorosos de outros crentes enlaçando-o? Lembra-se de quando foi batizado, e do que sentiu naquela ocasião, durante aquele ato de fé?

Quando eu aceitei a Cristo, alguém me deu um livreto intitu­lado Tesouros Bíblicos. Continha versículos bíblicos para serem decorados, e até alguns hinos. Lembro-me de que eu trabalhava, ordenhava as vacas da fazenda de leite de meu pai, enquanto cantava aqueles hinos e decorava aqueles versículos da Bíblia.

Lembra-se da ocasião em que você fez seu primeiro pleito generoso à sua igreja, ou de quando você se uniu ao pequeno conjunto de irmãos e irmãs em Cristo para cantar "Oh, quão cego andei", ou para fazer um trabalho em prol dos pobres e oprimidos de sua cidade? Você se lembra de seu "primeiro amor" e de todos aqueles atos de adoração, testemunho, trabalho ou comunhão, que fluíam espontaneamente da profundidade desse "primeiro amor?" João precisava relacionar uma coisa à outra.

Cristo convocava efésios e laodicenses para que abandonas­sem aquela religião respeitável, confortável, destituída de paixão e morna. Ele queria uma igreja que lhe fosse totalmente fiel disposta a obedecer de coração. Cristo os chamou de volta a paixão santa, à alegria do primeiro amor. Aqueles crentes se haviam cristalizado, em vez disso, na respeitabilidade teológica e no conforto material. Cristo os queria vivos, dependentes dele, dispostos a arriscar tudo, de novo apaixonados. É que eles have­riam de encontrar forças para enfrentar tempestades naquele compromisso renovado, na lealdade do "primeiro amor".

 

O ato de aceitação

João se dirigia aos crentes de Efeso e Laodicéia, mas suas palavras tocam nossos corações, hoje. Talvez você não conheça a Cristo pessoalmente, como seu Salvador e Senhor, e nunca o tenha amado assim. Talvez você nunca tenha experimentado a maravi­lha do perdão de Cristo para os seus pecados. Antes de você continuar a ler este livro, você pode vir a conhecer a Cristo, agora mesmo.

Você poderia perguntar-me: "Que é que eu devo fazer?" Primeiramente, você precisa admitir sua necessidade. Confesse: "Sou um pecador". Em segundo lugar, esteja disposto a abando­nar seus pecados (arrepender-se). Em terceiro lugar, creia que o Senhor Jesus Cristo morreu na cruz em seu lugar, e ressuscitou dentre os mortos. Quarto passo: Mediante uma oração, convide Jesus Cristo a entrar em sua vida e dela tomar controle.

Quando você o recebe como Salvador e Senhor, desta maneira, você passa a gozar a promessa de seu amor, e da alegria da vida eterna com ele. É simples! Deus ama você. Cristo morreu por você. Você se arrepende de seu pecado. Você recebe perdão. E você passa a descobrir, também, a alegria daquele "primeiro amor".

Há pouco conheci um promotor público afamado, num avião. Ele bebia tudo quanto a comissária de bordo lhe servia, a fim de afogar suas mágoas. Mas a coisa não funcionava. Disse-me que era membro de igreja em plena comunhão com os irmãos, mas, confessou-me ele: "Preciso limpar-me. Gostaria de servir a Deus, verdadeiramente". Verifiquei de imediato que aquele homem jamais conhecera o Senhor. Sentado do outro lado do corredor estava meu cooperador, T. W. Wilson. Eu estudava, preparando-1116 para um compromisso importante ao final de nosso vôo, de ^odo que pedi a T. W. Wilson que partilhasse o plano de salvação Com aquele homem.

Mais tarde, eu soube que aquele cidadão voltara para casa, e para sua igreja, e perguntou se podia dizer algumas palavras no domingo à noite. Ele admitiu perante toda a igreja que tremendo hipócrita tinha sido. A seguir, percorreu a congregação com os olhos e disse: "Muitos de vocês são tão hipócritas como eu fui. Mas eu me purifiquei, e fiz as pazes com Deus". Nestes últimos tempos, ele vem dando seu testemunho perante outras igrejas. Ainda que houvesse sido membro de uma igreja durante muitos anos, final­mente ele encontrou seu "primeiro amor".

Para aqueles dentre nós para quem o "primeiro amor" é coisa de um passado longínquo, João tem alguns conselhos específicos. "Lembra-te de onde caíste! Arrepende-te, e pratica as primeiras obras. Se não te arrependeres, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres" (Apocalipse 2:5). O Antigo Testamento está cheio de expressões que descrevem o relacionamento de Deus com seu povo como sendo um relacio­namento de amor. Nos termos do Novo Testamento, a igreja é "a noiva de Cristo". Ele espera de nós que sejamos fiéis em nossos votos.

Nesta era moderna precisamos de constantes lembretes de que o amor é mais do que um sentimento. O amor é um compromisso; é ação. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu", João escrevera antes (João 3:16). "Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade" (1 João 3:18). Você pode executar de novo as obras relacionadas ao primeiro amor e, nesse processo, liberar de novo toda a intensidade desse amor.

 

Atos de amor

Quando estamos verdadeiramente apaixonados, queremos, acima de tudo, estar com a pessoa a quem amamos. Gostamos de conversar com a pessoa a quem amamos, gostamos de ouvi-la-Muitas vezes vou a um lugar tranquilo só para conversar a sós com Deus, só para caminhar com o Senhor. Muitas vezes, antes de algumas de nossas cruzadas, caminho pelos bosques, ou pelas montanhas, a fim de orar, de conversar com Deus, de pensai na presença de Deus, em particular.

Lembro-me de que antes da cruzada de Londres, de 1954, gastei bastante tempo na varanda da frente da casa que, em Montreat, chamamos de "Casa do Chapman". Era a antiga habi­tação de um dos maiores evangelistas de outra geração, J. Wilbur Chapman, onde se escreveu aquele famoso hino, "Palácios de Marfim". Eu costumava sentar-me ali, naquela varanda, e derra­mar meu coração perante o Senhor — e eu ouvia o Senhor falar comigo, e dar-me certeza de que ele estaria conosco naquela cruzada. Ainda éramos jovem e bastante inexperiente, naqueles dias, mas estávamos tentando alcançar uma das cidades mais importantes do mundo, para Cristo. Planejamos a cruzada de Londres para durar um mês. Acabamos permanecendo ali três meses; no final, dezenas de milhares de pessoas haviam encontra­do Cristo. Aquela cruzada produziu notícias de âmbito mundial, e encorajou muitos cristãos por toda a parte.

Lembro-me, também, da cruzada de Nova York, quando per­manecemos dezesseis semanas no Madison Square Garden. Não posso dizer a você quantos problemas enfrentamos! Quantas crises sobrevieram antes mesmo de a cruzada iniciar-se! Eu cos­tumava caminhar ao longo das ruas ao redor de minha casa, e derramar meu coração perante o Senhor. Em algumas das horas mais sombrias, eu podia sentir o toque da mão de Deus sobre a minha, quando eu a estendia ao céu, na escuridão.

Quando foi que, pela última vez, você pôs de lado uma noite toda, só para estar a sós com Deus, para caminhar com ele, e com ele falar, como você faria com seu melhor amigo? Desde meus primeiros dias na fé, eu já gostava de ler, estudar, e memorizar a Palavra de Deus. Eu ansiava saber o que Jesus Cristo desejava de mim; eu ansiava saber qual era sua vontade para mim. Quando foi que você, pela última vez, desligou os ruídos que absorvem a voz mansa e tranquila de Deus, e arranjou tempo para ler e memorizar aquelas passagens bíblicas que dão significado e espe­rança à vida?

Lembro-me de como eu gostava de estar com os membros de minha igreja, no culto e nas confraternizações. É facílimo in­terromper a frequência regular ao culto, mudar-se da cidade natal e sair de sua igreja, e não conseguir descobrir uma nova comuni­dade de crentes, que substitua a que você deixou para trás. Quão apressa nossos interesses secam-se, e nosso "primeiro amor" esfria, quando ficamos a sós, longe da comunhão dos irmãos no culto!

Talvez você se lembre da alegria de compartilhar sua fé na­queles dias, ou de trabalhar nas ruas, ajudando os pobres, ou ensinando, ou contribuindo financeiramente — como é fácil in­terromper esses trabalhos que fazemos espontaneamente, por amor, aquele "primeiro amor!" Como é fácil fazer morrer aquele seu "primeiro amor"!

"Lembra-te de onde caíste!" E a palavra escrita por João, mediante o Espírito. "Arrepende-te, e pratica as primeiras obras". Você poderá achar que não dá para praticar as obras do primeiro amor. Pode parecer-lhe tarefa entediante ler a Palavra e memori­zá-la. Pode ser-lhe muito inconveniente tomar algum tempo re­gularmente para estar a sós com Deus e orar. Pode parecer-lhe estranho encontrar uma igreja em sua vizinhança à qual você deverá unir-se. Você poderá resistir à ideia de envolver-se de novo com as coisas sagradas. É mais fácil esconder-se e evitar que lhe peçam para contribuir, ensinar ou liderar. Fique alerta; você acaba de ser advertido.

A menos que você se ponha a realizar a obra para que Deus o chamou, você corre o risco de ser "removido". Esta advertência de tempestade à vista é para você. Agora mesmo as tempestades rugem ao nosso redor.

 

Pérgamo, Tiatira e Sárdis: a chamada para a retidão

Ao norte de Éfeso, incrustradas no vale do rio Hermos, jazem as três cidades do próximo grupo de cartas do Apocalipse. Pérga­mo, cidade costeira, era a capital da província romana da Ásia. Era uma cidade cheia de templos pagãos, e sede do primeiro templo do culto imperial romano, o lugar onde César era adorado como deus.

Tiatira ficava no continente, ao lado do rio Lico; era centro comercial numa rota comercial de grande importância. Muitas associações comerciais tinham sua sede em Tiatira. A fim de a pessoa poder trabalhar, era necessário que se unisse a tais associa' ções de classe, cujos banquetes eram orgiásticos, de conhecimento e aceitação gerais.

Sárdis era uma cidade comercial muito rica, também bastante renomada pelos costumes frouxos, impregnados de luxúria. A cidade havia sido capturada duas vezes pelos inimigos, em resul­tado de sua frouxidão, a despeito de sua cidadela muito bem fortificada, no topo de uma montanha, ali erigida com o objetivo de proteger a cidade contra invasões.

Conquanto os crentes de Efeso e Laodicéia fossem ortodoxos e vivessem em conforto, as igrejas de Pérgamo, Tiatira e Sárdis aparentemente eram vítimas de suas paixões físicas incontrola­das, que as conduziram à idolatria e imoralidade.

Em ambos os casos, o Senhor primeiramente elogiou as igre­jas, antes de repreendê-las. Disse o Senhor a Tiatira: "Isto diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes a latão reluzente: Conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a tua fé, e a tua perseverança, e sei que as tuas últimas obras são mais numerosas do que as primeiras" (Apoca­lipse 2:18-19).

A Pérgamo, conquanto tivesse pouco a dizer, o Senhor pro­meteu: "Ao que vencer darei do maná escondido, e lhe darei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que a recebe" (Apocalipse 2:17). Em outras palavras, havia uma pequena minoria em Pérgamo que se apega­va ao seu primeiro amor. Disse o Senhor a mesma coisa acerca de Sárdis: "Mas também tens... algumas pessoas que não contamina­ram as suas vestes" (Apocalipse 3:4).

Cristo descobriu algo, ou alguém, em todas as três igrejas, que poderia elogiar. Muitas pessoas que têm estudado estas passagens tendem a pensar que estas três igrejas eram decaídas, pecamino­sas, bem diferentes de nossas igrejas de hoje, em todos os sentidos. Todavia, não era esse o caso. Muita coisa a respeito dessas igrejas merecia elogio. Entretanto, estavam enredadas em problemas sérios — de modo especial à luz do que estava por vir — e elas não o sabiam. Os paralelismos entre as igrejas daquela época e a de nossos dias estão na verdade muito próximos, entre si, o que ^o nos livra de deixar-nos embaraçados.

Ao crentes de Pérgamo, João escreve o seguinte: "Todavia, tenho algumas coisas contra ti: Tens aí os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, levando-os a comer das coisas sacrificadas aos ídolos, e praticar a prostituição. Assim tens também alguns que seguem a doutrina dos nicolaítas" (Apocalipse 2:14-15).

Às pessoas de Tiatira ele escreve: "Mas tenho contra ti que toleras a Jezabel, mulher que se diz profetisa. Com o seu ensino ela engana os meus servos, seduzindo-os a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos" (Apocalipse 2:20).

Aos crentes de Sárdis, ele escreve: "Tens nome de que vives, mas estás morto. Sê vigilante, e confirma o restante... pois não tenho achado as tuas obras perfeitas diante do meu Deus" (Apo­calipse 3:1-2).

Que está acontecendo aqui? Que é tão seriamente errado em Pérgamo que o Senhor ressurreto ameaça batalhar contra eles com a espada de sua boca, a menos que se arrependam? Que é que está acontecendo em Tiatira que leva o Senhor a adverti-los: "Ferirei de morte a seus filhos [os seguidores do falso mestre daquela igreja]. Então todas as igrejas saberão que eu sou aquele que esquadrinha os rins e os corações, e darei a cada um de vós segundo as vossas obras" (Apocalipse 2:23)? E que está acontecen­do em Sárdis que leva o Senhor a dizer-lhes: "Se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei" (Apocalipse 3:3)?

Há alguns indícios nas cartas tão curtas de João que solucio­nam o mistério da ira de Cristo diante dessas três igrejas. Balaão foi um profeta do Antigo Testamento que induziu o povo de Deus a sair do caminho, quando Israel demandava a Terra Prometida, fazendo-o perder-se nas cidades e nas práticas dos inimigos de Deus, os moabitas (veja Números 22:21,24,31). Um comentarista descreve Balaão como sendo exemplo de lealdade a uma falsa religião. Os nicolaítas eram seguidores do primeiro século de um falso profeta, semelhante a Balaão, o qual ensinava que os cristãos deveriam saudar os falsos deuses da cidade (e acompanhar suas práticas sexuais imorais), de modo que o evangelho pudesse tornar-se mais aceitável às pessoas.

Jezabel era uma estrangeira (princesa fenícia) que, séculos antes, se casara com o rei de Israel e insistira em praticar seu culto e sacrifícios ao ídolo Baal, ao lado do culto ao Deus de Israel. Ela se atrevera a induzir o povo de Israel a adorar os falsos deuses, e a praticar as imoralidades pagãs. Agora, alguém de Tiatira a que»1

João dá o nome de "Jezabel" ensinava a esses crentes do primeiro século a participar do culto a outros deuses da cidade, e de suas práticas sexuais imorais. E o povo anuía, concordando com ela, e até obedecendo a ela.

Imagine a situação daqueles crentes do primeiro século. Mo­ravam em cidades onde se adoravam muitos deuses diferentes. Seus vizinhos ostentavam relicários dedicados a várias divinda­des; nos pequeninos escaninhos, como nos grandes templos, havia estátuas e símbolos dos deuses da família, deuses ancestrais, antigos deuses mitológicos, e o moderno deus de Roma — o próprio César.

Um crente não conseguia atravessar a casa de um vizinho sem passar diante de uma urna pagã. Não conseguia comprar carne que de início não houvesse sido oferecida e sacrificada a um deus pagão. Não podia dar prosseguimento a seus negócios sem com­parecer ao templo dos deuses patrocinadores e protetores de seu sindicato ou associação de classe. No mercado, ou no desempenho de sua profissão, o crente em Cristo não podia evitar as grandes aglomerações de pessoas diante dos templos dedicados a Isis, ou a Diana. Não conseguia atravessar a cidade sem passar por senti­nelas e por sacerdotes que cuidavam do lugar de culto, estabele­cido em louvor a César.

Por que ofender os vizinhos ao desprezar — pior ainda, ao condenar — suas crenças religiosas? Bastaria tão somente uma oferta simbólica, uma laranja colocada no relicário familiar do vizinho, ou um punhado de incenso aos pés da gigantesca estátua de mármore, de César. Por que não declarar lealdade, ou inclinar-se durante a reza, ou discretamente entoar junto com eles o hino às divindades dos amigos, dos vizinhos e colegas de trabalho, em eventos sociais, políticos ou comerciais? Por que ser tão rígido? Por que não adorar o verdadeiro e único Deus em particular, e ao mesmo tempo acenar, de bom humor, na direção dos falsos deuses que infestavam todos os recantos? Seria isso tão ruim, afinal?

E por que tanto rebuliço a respeito de imoralidade sexual? "avia um santuário lindo, semelhante a um parque, denominado Dafne, fora de Antioquia, aquela cidade em que a primeira igreja gentílica foi estabelecida (Atos ll:19ss). Os templos de Diana e de "polo eram rodeados por gramados verdes maravilhosos, jardins floridos, fontes e bosques de ciprestes. Cidadãos importantes, membros renomados do mundo comercial, profissional e político encontravam-se ali a fim de repousar, negociar e adorar a seus deuses. Prostitutas cultuais ficavam à disposição, como cortesia da casa. O que João chama de "imoralidade" era um costume rotineiro no primeiro século — na verdade, constituía parte do culto pagão. Os homens mantinham esposas e concubinas. As esposas eram para a formação da família. As concubinas, para o prazer sexual.

Então, qual era o problema? Por que o Cristo ressurreto, median­te a palavra de João, estava tão irado contra o adultério ocasional daqueles crentes? Aquelas práticas lhes satisfaziam as necessidades sexuais. Aquelas práticas impediam que os homens de negócio cristãos parecessem fanáticos — ou, pior ainda, idiotas — durante as festas e rituais patrocinados pelas associações de classe. Por que os padrões sexuais do Apocalipse (revelação) de Cristo àqueles crentes primitivos tinham que ser tão duros, tão rígidos e tão exigentes? Por que é a idolatria (a adoração dos valores deste mundo) tantas vezes ligada à imoralidade (condescendência às nossas paixões sexuais)?

Faça uma revisão da história do povo de Israel e você verá que Deus resgatou um povo heterogéneo, formado por escravos ju­deus, e assim fê-los iniciar a jornada na direção da Terra Prome­tida. Cheias de gratidão a Deus, aquelas pessoas "creram nas suas promessas, e cantaram os seus louvores" (Salmo 106:12). Mas, quase de imediato a gratidão do povo transformou-se em mur­muração.

Para o filho de Deus, murmuração e gratidão excluem-se mutuamente. Apegue-se à gratidão e você não vai murmurar. Se você murmurar, não vai conseguir demonstrar gratidão. Assim escreveu o salmista: "Cedo, porém, se esqueceram das suas obras, e não esperaram o seu conselho. Deixaram-se levar da cobiça no deserto; tentaram a Deus no ermo" (Salmo 106:13-14).

Quando Israel amava a Deus apaixonadamente, e apreciava a misericórdia divina para com seu povo, quando buscava a orien­tação do Senhor e lhe obedecia às ordens, Israel vencia seus inimigos. Contudo, quando cessava a paixão santificada para com Deus, cuja vontade era desobedecida, o povo era derrotado-

Quando Moisés desapareceu no topo do monte Sinai, pois ausen-tara-se durante muito tempo, o povo de imediato voltou à idola­tria, e pediu a Arão que lhes fabricasse um bezerro de ouro, com as jóias que haviam trazido do Egito. Quando Moisés desceu do monte, encontrou o povo engajado numa orgia de idolatria e imoralidade.

Há uma única paixão que pode ajudar-nos a controlar as muitas outras paixões que nos atormentam: trata-se da paixão de conhecer a Deus e só a ele obedecer. Quando esta paixão primária esfria, dedicamo-nos às paixões inferiores. Quando perdemos contato com Cristo, tentamos preencher o vácuo com outras coi­sas. Lemos a respeito disso todos os dias, nos jornais, e vemo-lo na tela da televisão.

Esse processo assemelha-se ao do filho pródigo, que tentou encher o próprio estômago com as alfarrobas que os porcos co­miam. Encontro constantemente pessoas que partem de um ciclo de festas para outro, sem parar: jogatina, álcool, drogas, partici­pação em mil e uma falácias que este mundo tem para oferecer. Todavia, nada lhes satisfaz a fome da alma.

Hoje há muitas pessoas, até mesmo nos assim chamados países cristãos, que se voltam para a adoração a Satanás, numa tentativa de satisfazer os anseios que só Deus satisfaz. Nem sequer o amor humano pode satisfazer os anseios de amor divino que sentimos. Em vez de voltarmo-nos para o amor do Pai, iniciamos uma busca frenética, louca, promíscua, do amante humano per­feito. A idolatria está intimamente associada à imoralidade: quan­do se perverte o amor natural de Deus, homens e mulheres procuram substitutos — quaisquer substitutos.

Em Patmos, o Cristo ressurreto fez ressoar suas advertências às igrejas da Ásia. Ele lhes ordenou que parassem de ceder às pressões que os empurravam a conformar-se com os valores das Pessoas a seu redor. "Arrepende-te!" era a ordem joanina. "Vi­gia!" era a advertência. "Persevera!" era o clamor. Clamor que atravessou os séculos e chegou a você e a mim.

Dê uma olhada nas condições do casamento, no contexto dos lares cristãos e das igrejas de hoje. O índice de divórcio entre Cfentes é quase tão alto como entre incrédulos. Quase todos os aias chegam a mim boatos novos a respeito de outro líder ecle-

siástico cujo casamento sossobrou. Com muita frequência, tanto nas dimensões espirituais desta vida, como nas maritais, o proble­ma é simplesmente que se permitiu que o "primeiro amor" esfrias­se (problema dos efésios e dos laodicenses), e que os valores desta época, e suas práticas imorais sejam aceitos (problema dos crentes de Pérgamo, Tiatira e Sárdis).

 

O teste da paixão

Trata-se de um teste interessante, se não amedrontador: com­parar os níveis atuais de nossa paixão santificada por conhecer a Cristo e sua vontade para nossa vida, com nossas práticas costu­meiras. É inevitável que se verifique que a pessoa que segue apaixonadamente ao Mestre é capaz de controlar suas paixões, melhor do que a pessoa cujo "primeiro amor" feneceu. Invariavel­mente, a pessoa que se envolveu com práticas irresponsáveis, destrutivas e aviltantes, é pessoa que está perdendo o amor de Cristo, e tenta preencher o espaço vazio com outras coisas; tenta preencher o vácuo espiritual com excitação de natureza sexual. Isso não funciona! Só o amor de Deus pode preencher o coração vazio. O amor humano sempre há de ser desapontador, falha sempre; o sexo, ou o materialismo, por si só, jamais chega a aproximar-se do nível de satisfação. A Bíblia deixa bem claro que nosso "primeiro amor" sempre deve ser o Senhor.

Para todos quantos querem adorar o verdadeiro e único Deus, a ordem é bem clara: "Não terás outros deuses diante de mim" (Êxodo 20:3, grifo do autor). As instruções de Deus quanto à moral sexual são igualmente claras. A literatura do Antigo e do Novo Testamento clamam ambas pela pureza sexual. Hebreus 13:4 diz: "Digno de honra entre todos seja o matrimónio, bem como o leito sem mácula, pois aos devassos e adúlteros Deus os julgará". Em 1 Coríntios 6, Paulo escreve: "Fugi da prostituição... o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus? Não sois de vós mesmos; fostes comprados por bom preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (vv. 18-20).

O adultério (relações sexuais com qualquer pessoa que não o próprio cônjuge) e a fornicação (relações sexuais fora do compro­misso amoroso e perpétuo do casamento) são proibidos de modo expresso, por serem inevitavelmente destrutivos, desumanos e aviltantes, contra o ser humano que Deus criou. A Palavra de Deus nos ameaça, afirmando que a imoralidade, conquanto seja fonte de prazer físico e fuga emocional momentâneos, a longo termo conduz ao desapontamento, ao esfacelamento do coração e até à morte. A Bíblia é clara: "Não adulterarás" (Êxodo 20:14).

Parece que todas as formas de entretenimento e até a propa­ganda nos passam uma mensagem contraditória. Induzem-nos a que nos divirtamos agora, que cuidemos da presente vida, agora, e deixemos de lado a outra vida. Nós nos acostumamos a expres­sões do tipo: "Só se vive uma vez", ou "você passa por aqui só uma vez". Richard Pryor, o comediante, disse: "Goze o máximo que puder. Se você não fizer isto e ainda que viva noventa anos, você vai estar morto mais tempo ainda".

Neste nosso mundo decaído, influências satânicas por toda a parte estão nos puxando na direção da idolatria e da imoralidade sexual. Viver uma vida moral, correta, não é fácil. Exige decisões difíceis. Exige a ausência do egoísmo. Às vezes, cria forte tensão entre o que queremos ser, para Deus, e o que ansiamos para nós mesmos. Nessa batalha horrenda, em que almejamos vencer, nossos amigos e família podem vir ajudar-nos. Pastores e conse­lheiros e irmãos em Cristo podem constituir auxílio valioso. Tudo pode ajudar-nos: O estabelecimento de objetivos, a prática da disciplina, a criação de novos interesses e divertimentos, a inclu­são de sistemas de recompensas que modifiquem nosso compor­tamento. Todavia, na batalha pela retidão, nada é mais útil do que a pessoa estar apaixonada por Cristo, mediante seu Espírito, e apaixonadamente comprometida a descobrir e executar sua von­tade na vida.

Aqueles filhos de Israel que saíram da trilha certa, que permi­tiram que seu "primeiro amor" morresse, que deram preferência aos valores deste mundo, jamais chegaram à Terra Prometida. Diz a Bíblia que "seus corpos foram espalhados pelo deserto" (1 Coríntios 10:5).

O preço que pagamos em vidas esfaceladas e sonhos destruí­dos, quando permitimos que nosso "primeiro amor", morra é n^aior do que podemos imaginar, quando começamos a aceitar os valores e práticas pagãos. Ao ler estas palavras, pode ocorrer que você se aperceba de que pecou contra Deus, e precisa do perdão dele. Talvez você tenha caído num pecado de natureza sexual, ou tenha permitido que desejos e prazeres mundanos encham sua mente e coração. Seja qual for a natureza de seu pecado, você precisa arrepender-se e voltar-se para Jesus Cristo, pela fé, para obter o perdão e nova vida.

 

Esmirna, Filadélfia: o problema do sofrimento

Esmirna, hoje Izmir, na Turquia, era e ainda é grande centro comercial do Oriente Próximo. Quase dois séculos antes de Cristo, Esmirna dera boas vindas a Roma e serviu a César com lealdade inquestionável. É provável que essa fosse a cidade mais bela da região toda. Era sede de muitas religiões, inclusive do culto a César. Embora outras onze cidades o solicitassem, foi em Esmirna que o senado romano decidiu construir um templo dedicado ao imperador Tibério. Vivia ali um grupo de judeus que, embora minoritário em número, era forte e bastante poderoso para unir-se a Roma no sentido de transtornar a vida dos cristãos, não impor­tando sua origem: gentílica ou judaica.

Filadélfia ficava a leste de Esmirna, e fora construída num planalto que dava para o vale do rio Cogamus. Essa próspera cidade era chamada de "portal do oriente", por onde passavam caravanas vindas de Roma, capital do império. Aos crentes dali escreve João: "Diante de ti pus uma porta aberta, que ninguém pode fechar" (Apocalipse 3:8). Aqui também a sinagoga judaica era forte e cheia de hostilidade contra a jovem igreja cristã. Nada sabemos a respeito das igrejas de Esmirna e Filadélfia, senão o que nos informam as duas breves cartas ditadas a João pelo Cristo ressurreto na ilha de Patmos.

Sabemos com certeza que ambas as igrejas eram fiéis. Não há uma palavra sequer, nas cartas, de crítica negativa a elas. João escreve a Esmirna: "Conheço a tua tribulação e a tua pobreza (mas tu és rico)" (Apocalipse 2:9). Para Filadélfia, escreve ele: "Sei que tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome" (Apocalipse 3:8). Parece que ambas as igrejas eram pequenas; ambas possuíam poucos recursos finai*' ceiros; ambas enfrentavam um ambiente hostil (João — sendo judeu ele próprio — refere-se de leve à "sinagoga de Satanás"). Tempos tempestuosos aguardavam ambas as igrejas no futuro.

Fica patente de imediato a ironia dessas duas cartas. Nas horas tormentosas que hão de vir — ou, como escreve João à igreja de Filadélfia, na "hora da tribulação que há de vir sobre todo o mundo, para provar os que habitam sobre a terra" — uma igreja (Esmirna) enfrentará tremendo sofrimento. A outra igreja (Fila­délfia) escapará sem um arranhão.

Entretanto, essa aparente desigualdade tem precedente nas Escrituras. Em Hebreus 11, temos uma longa lista de pessoas a quem Deus livrou de males. Mas, no versículo 35, diz o autor: "Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançar superior ressurreição". No livro de Atos, por exemplo, Tiago foi decapitado, enquanto Pedro recebeu livramento.

Nessas passagens e noutras, somos lembrados de que o sofri­mento contém um componente misterioso, desconhecido. João também presume que o sofrimento constitui parte natural da fé cristã. Ele não questiona o fato de uma igreja sofrer e a outra, não. Nem mesmo espera que Deus livre Esmirna do sofrimento, mas dá todo o crédito a Deus pela proteção de Filadélfia, que se livra do sofrimento vindouro.

João simplesmente comunica a Esmirna as más notícias — "o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais provados, e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida". Comunica boas notícias a Filadélfia — "também eu te guardarei da hora da tribulação que há de vir sobre todo o mundo" (Apocalipse 2:10; 3:10). O sofrimento é meramente um fato. A ambas as igrejas o conselho de Cristo é simples. Para Esmirna: "Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida" (Apoca­lipse 2:10). Para Filadélfia: "Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Apocalipse 3:11).

Há várias aplicações aqui, que não podemos negligenciar em nossos momentos de tribulação. Em primeiro lugar, espere sofri­mento. Não se surpreenda, não se sinta traído, não se orgulhe e nao se atemorize. O sofrimento é componente natural da vida cristã. Em segundo lugar, não fique olhando para outra pessoa, o lue ela vai suportar ou não vai ter que suportar; as comparações neste ou naquele sentido são desmoralizantes. Em terceiro lugar, reconheça que não é necessário possuir grande fortuna, ou grande influência, para ser fiel (observe que ambas as igrejas tinham poucos recursos), mas a exigência é de paciência e perseverança. Lembre-se de que um dos gomos do fruto do Espírito é a paciência (longanimidade, Gálatas 5:22). Portanto, em quarto lugar, lembre-se de que um dia todo o sofrimento terreno terminará, e a segunda morte, a morte eterna do espírito, não nos tocará. Em quinto lugar, mantenha em mente que quando um crente resiste ao sofrimento com fidelidade, Deus é glorificado e honrado. Os servos sofredo­res de Cristo serão honrados de modo especial, e receberão um novo nome que "ninguém conhece senão aquele que o recebe". Disse Cristo à igreja de Filadélfia: "A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, de onde jamais sairá. Escreverei sobre ele o nome do meu Deus" (Apocalipse 3:12).

Há alguns anos o grande fotógrafo canadense, Yousuf Karsh, enviou-me um álbum de suas fotos. No papel de embrulho, o oficial da alfândega carimbou as seguintes palavras: "Valor do Conteúdo". Sob esse carimbo estava escrito: "Autografado pelo autor". Dentro, o autógrafo era dirigido a mim. Julguei esse fato muito interessante: se o álbum em si valesse talvez quarenta ou cinquenta dólares, com o autógrafo ele se tornou muito mais valioso. Somos crentes em Jesus Cristo, pelo que nosso valor depende do fato de virmos a ser (e o seremos) autografados pelo Autor.

Eu não entendo as razões do sofrimento e da perseguição. Não sei por que as igrejas numa parte do mundo sofrem dores e privações terríveis, enquanto outras igrejas, noutras partes, são ricas e quase isentas de sofrimento. Não sei por que alguns dos jovens evangelistas que se reuniram em Amsterdã em 1983 e 1986, carregavam cicatrizes de queimaduras e pancadas que sofreram por amor de Cristo, enquanto minha vida tem sido livre desse tipo de perseguição. Não sei por que Corrie ten Boom teve que con­templar a sua irmã morrer num campo de concentração nazista, nem por que Joni Eareckson Tada ficou paralítica do pescoço para baixo.

E possível que você tenha enfrentado dores e sofrimentos que você não chegou a entender. Talvez você até tenha se zangado com Deus, pelo fato de ele haver permitido que isso acontecesse em sua vida, enquanto outras pessoas escaparam desse tipo de pro­blema. Não permita que os ácidos da amargura o corroam por dentro. Em vez disso, aprenda o segredo de confiar em Cristo em todas as circunstâncias. Aprenda a dizer com Paulo: "Já aprendi a contentar-me em toda e qualquer situação. Sei passar necessidade, e também sei ter abundância. Em toda maneira, e em todas as coisas aprendi tanto a ter fartura, como a ter fome, tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Filipenses 4:11).

 

Como perseverar até ao fim

Há vários anos, quando eu viajava por um país comunista da Europa oriental, um padre ortodoxo que me acompanhava me fez a seguinte declaração: "Todo crente tem uma cruz. Sei qual é a nossa. Mas sempre me perguntei qual seria a sua". Depois, con­templando a multidão de repórteres que se amontoavam sobre mim, disse-me ele com simplicidade: "Agora eu sei!"

Tudo quanto sei depois de examinar as breves cartas do Apocalipse é isto: Cristo nos ordena que vençamos! Que vença­mos na força que só ele pode suprir, quando nos voltamos a ele pela fé, confiando em suas promessas.

"Ao que vencer!" clama o Salvador ressurreto, na ilha de Patmos. "Ao que vencer!" escreve João no final de cada carta às sete igrejas, e a nós que, à semelhança daqueles irmãos, logo seremos convocados para sofrer de modo ultrajante, por amor a Cristo e ao reino de Deus. "Ao que vencer!" clamavam os líderes de cada uma daquelas sete igrejas, a seus rebanhos, que a seguir uniam-se aos santos e mártires conhecidos e desconhecidos, ao longo das eras. Eles ouviram a convocação para o sofrimento e a tornaram com máxima seriedade.

"Ao que vencer!" ecoa a Palavra, diretamente a nós, para que nos unamos àqueles que têm sido escarnecidos, desprezados, humilhados, desnudados, tratados com injustiça, aprisionados, espancados, torturados e mortos. A todos quantos enfrentam e suportam as tempestades, uma coroa de vitória está reservada.

 

Diante de Deus

Apocalipse 4-5

Um dos momentos mais tocantes de minha vida, como evangelista, é aquele em que fico diante de milhares de pessoas e as convido a vir à frente, para receber a Cristo como Senhor e Salvador. Posso ver-lhes nas faces a luta que enfrentam, enquanto o Espírito de Deus lhes toca os corações e, uma a uma, move-as para que caminhem pelos corredores, ao lugar do com­promisso público. Com frequência consigo ver lágrimas de emo­ção nos rostos das pessoas, quando ficam diante da plataforma, ao lado de um conselheiro. Às vezes, vejo a alegria dessas pessoas, quando são perdoadas pelo amoroso Senhor, ao nascer de novo e receber nova direção. E também posso detetar alívio em muitas daquelas faces.

Em algumas ocasiões, as pessoas que vêm à frente para entre­gar suas vidas a Jesus, abraçam seus conselheiros e amigos que as aguardam, e depois saem do estádio, ou auditório, como bebés recém-nascidos, membros infantis do corpo de Cristo, a igreja. Por outro lado, vejo em alguns rostos indicações de que as pessoas continuam confusas, em dúvidas, e até se perguntam por que teriam ido à frente. Muitas dessas pessoas finalmente chegam a encontrar-se com Cristo por causa do extensivo programa de acompanhamento que mantemos.

Creio que o Senhor se referia a esses novos crentes quando ^ou a João, em Patmos. Cristo conhecia todo o horror e esfacela­mento de coração que aguardavam os crentes fiéis das igrejas da «ia, e de todos os lugares ao redor do mundo, pelos séculos ^guintes. Cristo sabia do preço que deveriam pagar a fim de "vencer". Sabia que haveriam de precisar de seu poder naquela batalha em que se empenhavam, e de sua promessa para aquele dia vindouro, quando o Senhor haveria de enxugar toda lágrima, e com eles viveria para sempre. Assim, ao encerrar as sete cartas às igrejas, o Senhor estende um convite não para os incrédulos, como costumo fazer, mas para os crentes. Esse convite do Apoca­lipse é, creio eu, o convite mais belo e poderoso de todo o registro bíblico.

Quando João escreveu essas palavras de tanta força, recebidas de seu Senhor, para serem dirigidas às igrejas, ele sabia que cada uma delas havia sofrido muito, na luta pela fidelidade. Sabia, também, que as tribulações e provas haveriam de produzir perse­verança, que as provações redundariam em caráter. Em sua carta aos Romanos, Paulo escrevera: "Também nos gloriamos nas tri­bulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança" (Romanos 5:3-4). A palavra de Cristo para João foi: "Eu repreendo e castigo a todos quantos amo. Portanto, sê zeloso, e arrepende-te" (Apo­calipse 3:19). É esplêndida, todavia, a recompensa do arrependi­mento. Continua o Senhor: "Eis que estou à porta, e bato. Se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo" (Apocalipse 3:20).

 

A promessa de sua presença

Essa promessa da presença de Cristo, naquelas épocas de tribulação, é promessa para todos os crentes. Na maior parte das vezes, ouvimos essas palavras proferidas como se tivessem sido um convite aos incrédulos; todavia, foram proferidas a crentes, aos membros daquelas igrejas atribuladas da Ásia. Temos a certeza de que nas tempestades da vida, hoje, o próprio Senhor Jesus está à nossa porta, esperando nosso convite para entrar. Ele espera poder partilhar uma refeição conosco, aguarda a oportunidade de assumir nossas tristezas, renovar nossa coragem, entrar e falar conosco em intimidade.

Não estamos sozinhos. Nunca estaremos a sós. Ele tem que estar ali; tudo que precisamos fazer é abrir-lhe a porta. Qual é a sua necessidade hoje? Você precisa de conforto em suas tribula­ções pessoais? Cristo está esperando. Você precisa de perdão para seus pecados? O Senhor está batendo à porta. Você precisa fazer novo compromisso a fim de servir a Deus em sua vida? Seja qual for a sua necessidade, agora mesmo Cristo está batendo à porta de seu coração. Ele é Senhor do universo, e quer ser o Senhor de sua vida também.

Quando Jesus enfrentava o julgamento em Jerusalém, o gover­nador romano virou-se para a multidão e perguntou: "Que farei então com Jesus, chamado Cristo?" (Mateus 27:22). Penso que esta é a pergunta mais importante que já se fez. É pergunta que você também precisa fazer. Ninguém pode responder em seu lugar. Se você ainda não tomou a decisão de aceitar a Jesus, e a ele seguir como Senhor de sua vida, não poderá compartilhar as promessas que se seguem. Disse Jesus: "Ao que vencer, dar-lhe-ei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Apocalipse 3:21-22).

O que acontece a seguir desnorteia a imaginação. "Depois destas coisas", escreve João, "olhei, e vi que estava uma porta aberta no céu, e a primeira voz que ouvi, como de som de trombeta falando comigo, disse: Sobe para aqui, e te mostrarei as coisas que depois destas devem acontecer. Imediatamente fui arrebatado em espírito." Não sabemos o que significava "no espírito" para João, mas o que ele viu é bem claro. Nossa tarefa é considerar em atitude de oração o significado de sua visão.

 

O trono de glória

A visão que constitui o núcleo da esperança do crente, e o próprio coração de todo o Apocalipse, aninha-se entre duas se-Ções: entre os dois capítulos com ordens de natureza prática, dirigidas às igrejas, e as terríveis advertências dos quatro cavalei­ros do Apocalipse. Se João estivesse preocupado com as condições do mundo, se ele estivesse condoído a respeito do futuro e como ^u rebanho poderia vencer, e se ele estivesse perplexo sobre o P°der do mal e a aparente fraqueza do bem neste planeta, a visão ^guinte fez diferença, deu-lhe novo ânimo. De maneira seme-"*ante, ela oferece grandes promessas para a nossa época.

"Um trono estava posto no céu, e alguém assentado sobre o "Ono", escreve João. O apóstolo foi pressionado a descrever depressa a pessoa que viu sentada no trono. Ele descreveu sua aparência como sendo como a do jaspe, uma pedra transparente, semelhante ao cristal, e como a do sardônio, uma pedra de um vermelho flamejante. Parece que João sentia-se quase cego, por causa da glória que rodeava o trono. Um arco-íris semelhante a uma esmeralda resplandecia ao redor do trono. "Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões", e diante dele, refletindo todo aquele cenário incrível, havia algo que parecia um mar de vidro, de clareza cristalina (Apocalipse 4:2-6).

Vinte e quatro outros tronos rodeavam o grande trono. Neles estavam assentados vinte e quatro anciãos vestidos de branco, que ostentavam coroas de ouro. Rodeando o trono estavam quatro criaturas vivas. A primeira assemelhava-se a um leão, a segunda assemelhava-se a um touro, a terceira tinha o rosto parecido com o de um homem e a quarta tinha a aparência de uma águia voadora (Apocalipse 4:7). Cada uma dessas criaturas tinha seis asas, e era recoberta de olhos. O impacto visual naquele momento deveria ter sido tremendo. Nos últimos dezenove séculos, os eruditos comentaristas da Bíblia têm analisado esse cenário, des­crevendo em minúcias os nomes dos anciãos (em geral presume-se que se trata dos doze patriarcas do Antigo Testamento e os doze apóstolos do Novo Testamento), e as crituras viventes (em geral tidas como serafins e querubins, seres angelicais criados a fim de cumprir as ordens de Deus).

João não se preocupou com a análise do que ele viu. Mas, relatou minuciosamente o que ouviu. Aquelas criaturas fortes, angelicais, não paravam de entoar um cântico:

 

Santo, Santo, Santo

é o Senhor Deus, o

Todo-poderoso,

aquele que era, e que é, e que

há de vir. (Apocalipse 4:8).

 

Sempre que as criaturas viventes davam "glória, honra e ações de graças ao que estava assentado sobre o trono, ao que vive para todo o sempre", os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante dele e o adoravam, depondo suas coroas perante ele, dizendo:

 

Digno és, Senhor nosso e Deus nosso,

de receber a glória, a honra e o poder,

pois tu criaste todas as coisas,

e por tua vontade existem

e foram criadas (Apocalipse 4:11).

 

O mistério e a majestade

Durante esse momento, o velho apóstolo foi introduzido na presença do mistério que jaz por trás do universo. Não há como descrever Deus. João só conseguiu descrever a reação de criaturas angélicas e seres humanos, diante de Deus. Sim, houve uma descrição cheia de cores e de beleza, de majestade e de poder, mas ainda quando diante de Deus, permaneceu um mistério tanto para João como para nós — o mistério que era, que é e que sempre será; o mistério por trás de nossa criação e nossa preservação; o mistério digno de toda glória, honra e poder.

O Cristo ressurreto havia convocado João para estar na pre­sença de Deus, de modo que o ancião pudesse saber, e através dele nós viéssemos a saber deste fato: Por detrás do universo há um Poder e uma Pessoa digna de nosso louvor e de nossa confiança. A despeito de palavrórios contrários, não somos criaturas aban­donadas num planeta que despencou, girando loucamente pelo universo, perdido entre galáxias e mais galáxias de sóis gasosos inflamados, ou de luas extintas, feitas de cinzas. Somos filhos de um Deus grandioso, maravilhoso, que exerce poder infinito, que faz cumprir seus propósitos na criação toda.

No âmago desse mistério há grande esperança. Os poderes nacionalistas que contemplamos, que se inclinam na direção do inferno, ávidos de destruição — que acumulam armamentos, que matam e são mortos — não são o poder final; mães, pais, profes­sores, pastores, conselheiros, políticos, diplomatas, banqueiros, policiais, atendentes sociais, guardas, carcereiros, assistentes de pessoas em liberdade condicional, cobradores de impostos, dita­dores e seus soldados, reis e presidentes, todos um dia estarão ajoelhados diante deste Deus da visão de João.

O Apocalipse foi cuidadosamente concebido com o objetivo de restaurar e renovar a esperança em João, e em cada um de nós. Não estou certo a respeito do modo como João contemplou essa Visão, mas tenho certeza da verdade que ela representa. Há um

Deus por detrás da criação e, embora o Senhor permaneça um mistério de muitas maneiras, nele confio e tenho certeza de que ele criou este planeta em que vivemos, que ele me criou, que ele ama a tudo quanto criou e tem um plano de salvação. Se assim não fora, ele não mereceria nosso louvor.

Assim escreveu George Ladd, a respeito desta cena: "Não importando quão temível ou incontrolável possam parecer as forças do mal, na terra, elas não conseguem anular nem eclipsar o fato maior, segundo o qual, por detrás do cenário, Deus está em seu trono, governando o universo" (A Commentary on the Revela-tion of John, 70). Deus controla tudo! Essa espantosa realidade permeia cada capítulo que João escreve, e pode fazer a diferença para você, se essa verdade permear cada área de sua vida. Você pode entregar a Deus sua vida e seu futuro, porque só ele conhece o futuro. Você pode confiar nele, porque ele ama você, e porque em última análise, é ele quem controla o universo todo.

Como posso saber que ele me ama, e ama a você? Sei disso, porque ele enviou seu Filho unigénito para morrer na cruz pelos nossos pecados. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). Como é que eu sei que ele controla o universo todo? Eu sei que Jesus Cristo quebrou o poder do mal e do pecado em sua ressurreição dentre os mortos. Cristo está vivo!

Ali estava João de olhos fitos, maravilhado, cheio de espanto, quando Deus de súbito lhe estende um rolo "escrito por dentro e por fora, selado com sete selos". Uma poderosa voz angélica estrondou uma pergunta: "Quem é digno de abrir o livro, e de lhe romper os selos?" Parece que o que se seguiu, no silêncio daquele instante tremendo, levou João a chorar, visto que "ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele" (Apocalipse 5:4).

Qual a razão dessas lágrimas? Naquele exato momento, o próprio Deus estendia um memorando, uma carta, um noticiário, uma história, uma lista, e ninguém fora achado digno de abrir o livro. Por isso, João chorou. Não há alguém capaz de dizer-nos o que está escrito nesse livro? Ninguém há digno de trazer a men­sagem de Deus para nós?

De súbito, um dos anciãos aproximou-se de João e disse-lhe: "Não chores! Olha, o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos" (Apocalipse 5:5). Imediata­mente, João voltou-se para a direção apontada pelo anjo. Que esperava ele ver? Um leão, evidentemente, o símbolo judaico tradicional do Messias conquistador, que viria a fim de livrar seu povo do mal. Em vez disso, escreve João, "vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes, e entre os anciãos, em pé, um Cordeiro" (Apocalipse 5:6).

De novo João contempla um mistério. Quem era o Cordeiro em pé, no meio do trono? Antes, o próprio João havia transcrito as palavras de João Batista, que identificara Jesus como o Cristo, isto é, o Messias, dizendo: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (João 1:29). O Cordeiro era Jesus, o Messias, o Ungido de Deus, seu Filho unigénito. Cristo tinha dois papéis a cumprir na redenção desta terra. Primeiramente, ele veio na hu­milde forma humana. Nessa forma, ele sofreu e morreu. Mediante seu sacrifício, a penalidade pelos pecados da humanidade foi paga. Em segundo lugar, ele deveria reinar como Senhor, o pro­metido Messias, o Leão da tribo de Judá e Filho de Davi, em esplendor e poder.

Agora, João contemplava uma visão daquele sacrifício perfei­to, o Cordeiro de Deus "no meio do trono". De súbito João viu — na lógica estranha, mas perfeita de um sonho — o Cordeiro apa­nhar das mãos de Deus o rolo que ninguém se atrevia a abrir. Repentinamente, os anciãos e as criaturas angelicais prostraram-se de joelhos diante do Cordeiro, num coro de louvor. Ecoou pelo universo um "novo cântico":

Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos, porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo e nação. Para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes, e eles reinarão sobre a terra (Apocalipse 5:9-10).

A seguir, João ouviu "milhões de milhões" de anjos ao redor do trono, entoando cânticos de louvor ao Cordeiro, que eliminava o lapso de silêncio entre Deus e sua criação:

Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (Apocalipse 5:12).

A visão alarga-se. Expande-se o cântico. Diz João, maravilha­do:

Então ouvi a toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e no mar, e a todas as coisas que neles há, dizerem: Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o poder para todo o sempre (Apocalipse 5:13).

Mais uma vez todos os anciãos prostraram-se diante do trono, e adoraram, e as quatro criaturas angélicas ergueram suas vozes num solene "Amém!"

 

O mistério da trindade

A visão de Apocalipse 4 e 5 nos oferece duas grandes verdades espirituais. Primeira, há um Deus Todo-poderoso no centro da criação, que é digno de nossa confiança e louvor, nos dias tumul­tuados à nossa frente. Segunda verdade: o Mediador entre Deus e o homem é Jesus, nosso Salvador e Senhor. A presença de Deus em seu glorioso esplendor cega-nos. Sem Jesus como nosso guia, não podemos compreender bem quem é Deus. Todavia, em Jesus, o Cordeiro de Deus, vemos tudo de Deus que precisamos ver. Disse Jesus a Filipe: "Quem me vê, vê o Pai" (João 14:9). Em Jesus aprendemos tudo que precisamos saber sobre Deus.

Esta visão de dois ângulos é fonte importantíssima de espe­rança, a que podemos cingir-nos. Seria erro ver apenas a Deus, isoladamente, elevado, entronizado e rodeado de trovões e relâm­pados. Que tipo de esperança teríamos nós nesse tipo de Deus impessoal, todo-poderoso? Ser-nos-ia tão confortador como ver as turbinas de uma usina hidroelétrica. Todavia, o erro seria igualmente demasiado grande se víssemos Jesus apenas como um homem maravilhoso que sofreu e morreu, que nos deixou um exemplo do que deveria ser a vida humana: um homem bom que acabou assassinado por vilões, como Lincoln e Gandhi o foram-Jesus não foi apenas um homem bom. Ele é Deus, e Filho de Deus. Ele é o mesmo Deus poderoso que se revelou em fraqueza e em amor. Na visão de João, vemos o Pai mediante a vida, morte e ressurreição do Filho, e a Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo de Deus, que faz que tudo isso nos seja conhecido. Quem consegue explicar tão grande mistério?

João não está pedindo-nos que deixemos nosso raciocínio de lado. Entretanto, por um breve momento ele simplesmente nos convida a participar daquele grande culto ao redor do trono. Ele nos induz a que nos ajoelhemos em louvor. Incita-nos a que ergamos nossas vozes em louvor. É que estamos contemplando um quadro ricamente colorido da verdade quase impossível de exprimir-se: Jesus, o Cordeiro de Deus, que foi morto, é o único capaz de abrir o livro de Deus, o único que pode trazer-nos a Palavra de Deus. Jesus, o Senhor ressurreto, é o único que tem poder infinito, capaz de conduzir-nos por todo o futuro revelado nesse rolo.

 

A verdade da volta de Jesus

No verão de 1989, fui entrevistado por um repórter de um jornal inglês, de Londres, que me perguntou se eu achava que o mundo reconheceria Jesus quando ele viesse pela segunda vez à terra. Tenho ouvido as pessoas dizerem que Cristo sem dúvida alguma seria crucificado de novo, mais depressa ainda, pela cultura pagã de hoje, se ele voltasse agora. Eu não hesitei em minha resposta. "Sim", afirmei, "porque ele não vai voltar mon­tado num jumento, na próxima vinda. Ele virá como Rei dos reis e Senhor dos senhores." Independentemente do que você pensa de Jesus Cristo, você precisa saber que ele não vai voltar como um servo sofredor. Ele virá como Rei.

Quando lemos as tentativas de João, naqueles primeiros capí­tulos de Apocalipse, de descrever a glória e a majestade do Cristo glorificado e a indescritível realidade de seu grandioso trono de julgamento, ficamos sabendo que as palavras são simplesmente inadequadas para descrever a visão. A majestade de nosso Deus está além de qualquer coisa que nossa mente finita pode conceber. Nem mesmo as imagens mais surrealistas não lhe fazem justiça. Trata-se do Cristo de poder, de domínio e de glória, que está voltando para este mundo. Na linguagem moderna, o Senhor é fantasticamente espantoso!

Um rabino, em Israel, disse recentemente a um grupo de cristãos visitantes: "Vocês sabem de uma coisa, nossas religiões não são tão diferentes assim. Quando o Messias voltar, eu lhe perguntarei: "Esta é sua primeira visita, ou é a segunda?" Mas o humor dessa observação não consegue disfarçar as terríveis con­sequências que advirão. É que quando Cristo voltar, essa pequena diferença fará toda a diferença do mundo.

Jesus Cristo, o Messias, identificou-se vezes sem conta como o Redentor do mundo. Disse ele: "Eis que estou à porta, e bato". Ao longo de vinte séculos, ele tem enviado profetas, apóstolos, santos, mártires e crentes comuns, como você e eu, a este mundo, a fim de proclamar seu nome perante todas as gerações, e ele exige que ouçamos e o reconheçamos pela fé, e que o aceitemos como Senhor de nossa vida. Quando o virmos na próxima vez, face a face, será tarde demais para tomar essa decisão.

Mateus registra as palavras de Jesus: "Nem todo o que me diz: Senhor! Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus" (Mateus 7:21). No Evan­gelho do médico grego, Lucas, diz Jesus:

Muitos procurarão entrar e não poderão. Quando o pai de família se levantar e cerrar a porta, e do lado de fora começardes a bater, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos, ele vos responderá: Não sei donde sois. Então direis: Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste nas nossas ruas. Mas ele vos responderá: Digo-vos que não sei donde sois. Apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniquidades. Haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas, no reino de Deus, e vós lançados fora (Lucas 13:24-28).

Que tristeza e desalento terríveis aquela cena produzirá! Que tragédia para os que se deixaram cegar pelo orgulho pessoal, ou pelo intelecto, ou por ideias de tolerância, ou pelas dúvidas que induziram as pessoas a crer que as palavras de Cristo não têm sentido. Durante dois mil anos suas palavras têm sido proclama­das vezes e vezes sem conta. Eu próprio as tenho pregado milhares de vezes nos últimos cinquenta anos. Ninguém, neste mundo civilizado, pode afirmar que nunca ouviu dizer que Jesus Cristo quer ser Senhor de sua vida. Ninguém pode alegar ignorância.

A Bíblia Sagrada é o livro mais vendido da história do mundo. Ainda hoje é mais vendida do que qualquer outro livro no mundo. Nos países recém-liberados da Europa oriental, não há exempla­res em número suficiente para satisfazer a fome que o povo sente de Deus. A Sociedade Bíblica Internacional, a Sociedade Bíblica Americana, e outros grupos têm produzido e lançado milhões de exemplares, mas ainda não arranharam a superfície da demanda. Nenhuma obra de novela, suspense, romance, espionagem ou de alguma seita, nada, livro nenhum vende mais que a Bíblia. Não parece que a Verdade esteja fora de alcance. Que outras desculpas você pode encontrar?

Um dos problemas, é claro, é que Satanás está vivo e vai bem no planeta terra. Ele é mentiroso e enganador, e fica espreitando-nos, rindo, zombando da Palavra de Deus, convencendo as pes­soas de que a Bíblia é apenas outro livro de auto-retidão. É um livro cheio de julgamento, diz o diabo; cheio de buracos, continua o inimigo. Mas Satanás "é mentiroso e pai da mentira" (João 8:44). Concordo com Peter de Parrie, um jovem autor, que diz que acha estranho o fato de as mesmas pessoas que nunca questionam as instruções sobre utilização do VCR, ou do forno de micro-ondas, "instantaneamente ficam eriçadas de perguntas a respeito das instruções de Deus a respeito das questões mais importantes da vida". Se o manual de instruções de uma engenhoca japonesa adverte-as que o mantenham longe da água, obedecem sem ques­tionar, mas se a Bíblia, que tem autoridade suprema e garantia infinita, lhes ordena que fujam "da fornicação", encolhem-se hor­rorizadas!

 

Uma palavra dirigida às nações

Há alguns anos eu estava em Washington, no escritório de um Político poderoso e bem conhecido. De súbito eu lhe fitei os olhos e perguntei: "O senhor já recebeu a Cristo como seu Salvador?" O "ornem baixou a cabeça e nada respondeu. Depois de pelo menos Uln minuto inteiro, ele me disse: "O senhor sabe, ninguém jamais ^e fez essa pergunta antes". Perguntei-lhe se não gostaria de receber a Cristo imediatamente e ter a confiança da salvação eterna. Quando lhe estendi a mão, acrescentei: "Isso significa ^epender-se". Expliquei-lhe o que significa ter fé em Cristo, e só em Cristo. Ele permaneceu silencioso durante dois ou três minu­tos, e eu nada mais lhe disse. Então, ele me estendeu a mão e disse: "Eu quero recebê-lo agora mesmo". Oramos, a seguir. Ele era membro de uma igreja. Havia estado toda a sua vida ao redor do cristianismo, e no entanto jamais fizera aquele compromisso pes­soal. Nada na terra é mais importante. Nada.

Minha mãe costumava olhar pela janela, todas as manhãs, e dizer: "Talvez seja este o dia em que Cristo vai voltar". Ela viveu nessa expectativa diária, mas os sinais da iminência da volta de Cristo nunca foram maiores do que os de agora. Todos que estão fora da família de Cristo estão sob o julgamento de Deus. Se quisermos participar das regalias da vida eterna, da segurança da presença do Deus do Apocalipse, devemos primeiro reconhecer o Filho de Deus. Não se trata de questão opcional, inde­pendentemente do que lhe afirmam seu instinto, as tradições de sua igreja ou os dogmas de sua fé.

Em sua primeira carta, assim escreveu João: "Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1 João 5:12). É muito simples. Sem a comunhão pessoal com Cristo como Senhor, a possibilidade de paz com Deus encerra-se de repente, quando o tempo de sua vida se esgota.

No Apocalipse, João trata da exortação de Cristo para que vençamos. Em suas cartas, escreve ele: "Quem é o que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (1 João 5:5). Em seguida, acrescenta o apóstolo: "Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho. Quem não crê em Deus, mentiroso o faz, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho" (1 João 5:10).

Há mais: todo aquele que nega a realidade de Jesus Cristo como sendo o Filho de Deus glorificado por definição está contra Cristo. Diz João que tal pessoa constitui um anticristo. "Quem é mentiroso", pergunta o apóstolo, "senão aquele que nega qu Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai o Filho. Qualquer que nega o Filho, também não tem o Pai; aquele que confessa o Filho, tem também o Pai" (1 João 2:22-23). A lógica é simples, irrefutável. A Palavra de Deus é clara.

A seguir, João nos convoca para que sejamos fiéis àquilo que recebemos como ensino das Escrituras, durante todos esses anos-

Diz ele: "Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai" (1 João 2:24).

Diz João, logo no versículo seguinte, que a recompensa da fidelidade aos ensinos das Escrituras é a vida eterna. Cristo retor­na para sua igreja. Assim como minha mãe nutriu essa esperança até que, finalmente, ela partiu para estar com Cristo, nós também devemos ter tal esperança. Que glória maior poderíamos anteci­par, do que a de permanecer de pé diante do trono de Deus, humilhar-nos diante de sua majestade grandiosa, incomparável, e ouvir o Senhor dizer-nos: "Bem está, servo bom e fiel" (Mateus 25:21)?

 

                                           NO MEIO DA TEMPESTADE

 

Fuga do Paraíso

Olhei, e vi um cavalo branco. O seu cavaleiro tinha um arco, e foi-lhe dada uma coroa, e ele saiu vencendo, e para vencer (Apocalipse 6:2).

No princípio, criou Deus os céus e a terra (Génesis 1:1). Por sua própria natureza, Deus cria. Ele é o Criador, e desco­brimos a essência de quem é Deus em sua criação. Nós vemos a Deus em toda a criação. Disse o apóstolo Paulo: "Os atributos invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que foram criadas, de modo que eles são inescusá­veis" (Romanos 1:20). Se conhecermos alguma coisa a respeito da criação de Deus, conheceremos alguma coisa a respeito de Deus. Isto porque o que Deus faz é criar.

No livro de Génesis, o livro dos começos, vemos como Deus fez a terra e tudo que nela há. Ele a fez linda, além de nossa capacidade de descrição; os mares, as montanhas, os campos, as tremendas florestas, e as formas de vida infinitamente variadas que ocupam todas as partes deste planeta. Tudo isso, todo o universo que nos rodeia, foi feito por Deus: tudo é criação dele.

Ruth e eu moramos nas montanhas da Carolina do Norte. Todos os dias experimentamos a maravilha do nascer do sol e do pôr do sol, como se os víssemos pela primeira vez. O mundo ao nosso redor tem maravilhas em abundância. O salmista Davi cantava: "Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos" (Salmo 19:1). Se você um dia camimhou por uma clareira numa floresta, numa bela manhã de verão, em qualquer ponto de Blue Ridge Parkway, você ficou conhecen­do algo da obra das mãos de Deus.

Desde que o homem, aprendeu a rabiscar desenhos rudes em peles de animais, em papiro, ou como em Altamira e Aurignac, nas paredes de cavernas, ele vem celebrando a beleza e a maravi­lha da criação do mundo — ainda que não o saiba. O mundo criado por Deus foi projetado de modo perfeito para o ser huma­no, dispondo de alimento, caça, correntes de águas coruscantes que descem das montanhas, inúmeras coisas agradáveis. Tudo foi feito sob medida por um Deus amoroso, para gozo dos únicos seres vivos criados à imagem do próprio Deus, o homem, Adão e a mulher, Eva.

A descrição do paraíso que lemos no livro de Génesis é breve mas linda. Assim o descreveu Moisés:

Plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, ao oriente, e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda espécie de árvores agradáveis à vista e boas para comida, bem como a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal... O Senhor Deus tomou o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar (Genesis 2:8-9, 15).

Essa foi a vida que Deus quis que gozássemos para sempre, mas ele fez algo que só um Criador amoroso e benevolente faria: atribuiu-nos mente e vontade próprias. Ensina-nos a Bíblia que Deus deseja ter comunhão conosco, manter diálogo conosco. Ele não nos criou como robôs, ou criaturas destituídas de mente, mas seres capazes de tomar decisões, de escolher ou deixar de escolher, de amar ou deixar de amar. A raça humana veio a tornar-se o que é hoje, a partir do dia da criação, como resultado das decisões que vimos tomando graças a nosso livre arbítrio. Visto que Adão e Eva foram enganados pelos ardis de Satanás, no jardim do Éden» crendo que se tornariam "como Deus", a humanidade tem sido obrigada a cavar um meio de vida, num mundo menos desejáve e mais ameaçador do que o Éden. Somos culpados de pecar conf nosso Criador.

 

Por que todos pecaram

Ao decidir que não obedeceriam a seu Criador, Adão e Eva pecaram. Que é pecado? Assim diz o teólogo e escritor Dr. Myron Augsburger:

Pecado é a perversão do bem; é a versão mais barata de algo muito bom. Pecado não é apenas coisas que fize­mos; em vez disso, é a perversão bem no âmago de nosso ser que nos leva a deificar o eu, e exigir que nossa vontade seja feita. Nesse egoísmo, somos pessoas feitas à nossa própria imagem, em vez de sermos como havía­mos sido criados — à imagem e semelhança de Deus.

A solução para nosso pecado não é a simples restituição quanto a algumas coisas más que fizemos. A solução é voltarmo-nos para Deus e abrir-nos perante ele. Todo pecado em última análise é rebelião contra Deus (The Christ-Shaped Conscience — A Consciência formada por Cristo, 29).

Ao caminharmos para um pouco mais perto do coração da revelação joanina e para a obra ominosa que deve ser executada pelos quatro cavaleiros do Apocalipse, é importante que façamos uma pausa suficientemente longa, a fim de entendermos bem de onde proveio a raça humana, e até que ponto ela decaiu. A própria imagem dos cavaleiros indica a seriedade das consequências de nosso pecado. Por causa da arrogância, egoísmo voluntarioso e presunção, o mundo recebeu sua punição. Ao fugirmos do paraí­so, mergulhamos profundamente no pantanal do dilema huma­nístico.

É triste e irónico que dois séculos de realizações científicas e tecnológicas parecem ter convencido a humanidade de que Deus não exerceu função alguma na criação. Mediante estudo, e graças a genialidade, os maiores cérebros que já existiram tocaram as bordas da criação de Deus, e alguns aparentemente decidiram que Ueus não existe. Imagino uma criança tão absorvida com seu aviãozinho de papel que se esquece que está num 747 que a leva a° redor do mundo

A declaração máxima do ponto de vista humanista é a frase atribuída ao autor existencialista Jean-Paul Sartre, segundo quem "o homem inventa a si próprio". Essa é uma noção de máxima estupidez. O psiquiatra e sobrevivente de campo de concentração, Viktor Frankl, respondeu a Sartre, em seu livro de poderosa influência: Man's Searchfor Meaning (A Busca Humana de Senti­do): "Penso que o sentido de nossa existência não é inventado por nós mesmos, mas nós o detetamos". Diz Frankl que a importância e sentido da vida não estão em quem somos, mas em que fazemos com tudo que Deus nos tem dado.

O problema do mundo hoje é que as pessoas não fazem o que sabem ser justo. Querem a consecução de suas próprias vontades, contrárias à vontade de Deus e, nas palavras do profeta Oséias: "Semeiam ventos e colhem tormentas" (Oséias 8:7). Assim escre­veu Paulo em sua carta aos Romanos: "Todos pecaram e destituí­dos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23). Diz-nos Paulo que a outra metade desta equação é: "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). A causa é nosso egoísmo voluntarioso; o preço, a separação de Deus por toda a eternidade.

 

Aquele que nos engana

O primeiro cavaleiro descrito por João no livro do Apocalipse é o que cavalga um cavalo branco. Durante séculos, os eruditos bíblicos têm discutido a identidade desse cavaleiro. Diz o texto que ele usa uma coroa e carrega na mão um arco de grande poder destrutivo. Em Apocalipse 19, Cristo é descrito cavalgando um cavalo branco e usando muitas coroas, o que levou alguns a crer que o cavaleiro sobre o corcel branco de Apocalipse 6 também é Cristo. Eu não o creio. No texto grego, a coroa usada pelo cavaleiro do cavalo branco é chamada de stephanos, que se refere à coroa de vitória usada por um conquistador. As coroas que Cristo usa em Apocalipse 19, todavia, são chamadas de diadema, ou coroas da realeza. Conquanto o cavaleiro do corcel branco tenha alguma semelhança com Cristo, tal parecença é, porém, enganadora, de­liberadamente enganadora. Um exame mais minucioso lhe revela a verdadeira natureza. Trata-se de alguém que "saiu vencendo, e para vencer", desenfreado, por cima de todos que se lhe atraves­sam o caminho; o cavaleiro do corcel branco caracteriza-se pela ânsia de poder.

Quem é, então, o cavaleiro do corcel branco? Não é Cristo, mas um enganador que procura capturar as mentes e corações de toda a humanidade. Trata-se de alguém que procura fazer que as pessoas o reconheçam como Senhor, em vez do verdadeiro Cristo.

Devemos lembrar-nos sempre de que uma das mais fortes acusações que a Bíblia lança sobre Satanás é que ele é mentiroso, enganador, implacavelmente determinado a opor-se à verdade de Deus. Disse Jesus, concernente a Satanás: "Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, pois não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, pois é mentiroso e pai da mentira" (João 8:44). Em Apocalipse 20, João fala do julgamento final a que Deus submeterá Satanás, "o diabo que os enganava" (v. 10).

O cavaleiro que engana a todos tem estado a trabalhar neste mundo desde a aurora da história humana. Operou no jardim do Éden, quando Satanás aproximou-se de Adão e Eva e, pelo seu poder diabólico de enganar, convenceu-os a voltar as costas a Deus e desobedecer-lhe a ordem claríssima. O resultado foi que a raça humana decaiu de sua glória, de sua impecabilidade, trazen­do em seu rastro morte e desespero.

Do Éden ao Armagedom trava-se uma batalha de âmbito mundial entre as forças de Deus e as de Satanás, entre a luz e as trevas, entre o bem e o mal. Todos os homens, mulheres e crianças vivos hoje são apanhados nesse fogo cruzado. Satanás assola a terra, buscando dominar e destruir a criação de Deus. Ao mesmo tempo o Criador de todos nós, em seu amor e misericórdia, trabalha no sentido de salvar sua criação.

O jardim do Éden foi o primeiro "round" dessa luta. Desde então, a batalha escalou proporções tais, que chegou ao que o Dr. Arno C. Gaebelein denomina de "o conflito das eras". Num determinado dia Satanás e suas obras serão totalmente destruídos e Cristo será vitorioso, mas até esse dia a batalha rugirá.

O enganador esteve trabalhando, criando animosidade entre ^aim e Abel. Ele semeou a dissensão entre os israelitas, quando estes fugiam da escravidão no Egito, persuadindo-os de que o bezerro de ouro poderia salvá-los, ou de que deveriam voltar às Panelas de carne do Egito. Ele percorreu o deserto do Sinai, falhando mentiras entre os filhos de Israel, para que duvidassem das promessas de Deus, e tentando impedi-los de entrar na Terra Prometida. A batalha segue estrugindo de um e outro lado: Deus exortando a humanidade a segui-lo para a paz e segurança, e o mal disparando por entre as fileiras, em seu cavalo branco, desencaminhando, seduzindo, mentindo, enganando os descui­dados e levando a morte a todos quantos o seguem.

Esse cavaleiro enganador cavalgou até Sansão, o hercúleo juiz hebreu, e sutilmente o seduziu nos braços de Dalila. Cavalgou até Davi, o rei de Israel, e lhe prometeu prazer imperturbável median­te o assassinato do marido de Bate-Seba. A seguir, o cetro real de Davi recebeu a maldição da espada sangrenta que dele jamais se separou. Esse cavaleiro cavalgou até Judas, a quem prometeu poder, mediante a traição ao Filho unigénito de Deus, mas Judas logo descobriu que o enganador atara a corda da forca em seu pescoço.

 

A obra da traição

Esse primeiro cavaleiro atinge nossa vida como uma tempes­tade, hoje, como tem feito por toda a história. O tropel de seu cavalo pode ser ouvido, pois o estrugir de seus cascos aumenta a cada dia no horizonte deste mundo conturbado. Ele nos promete seja o que for, a fim de persuadir-nos a que desobedeçamos a Deus, e embarquemos no trágico comboio de cativos destinados à perdição. Todavia, se cremos em Jesus Cristo, devemos fazer o que estiver ao nosso alcance, mediante o poder de Deus, para resistir a seus encantos enganosos.

Um dos maiores problemas que defrontam nosso mundo é o fato de que, ao longo de muitos anos de manipulação e engano, a moralidade e os valores tradicionais não mais estão em moda. O enganador traiu nossa cultura e convenceu nossos líderes gover­namentais, a imprensa, as universidades e até mesmo as igrejas que o preto é branco, e o errado é certo.

Uma pesquisa Gallup de 1985 revelou que 90 por cento dos norte-americanos declaram ter alguma filiação religiosa, dos quais todos, menos 2 por cento, afirmam estar na tradição judai-co-cristã. Todavia, a realidade da vida diária nos Estados UnidoS/ e em todo o ocidente, demonstra que a moralidade bíblica ocupa lugar diminuto na vida da maioria das pessoas. Em escala gigantesca, nossa cultura secularizada aceita qualquer padrão de valo­res, ou de credos, e qualquer tipo de comportamento, desde que não seja notoriamente cristão.

Num artigo informativo, de aguda percepção, intitulado "Na-ming Good and Evil" (Separando o Bom do Mau), no jornal First Things (Primeiras Coisas), a professora Joyce A. Little assim escre­ve:

Indisposto a ser imagem de Deus no mundo e incapaz, não importando que víndicações alguns possam apre­sentar ao contrário, de tornar-se Deus em qualquer sentido que esta palavra tenha, o homem moderno esquadrinha desesperadamente alguma coisa, qual­quer coisa que o informe, que lhe outorgue uma identi­dade; a consciência cósmica da Nova Era, a magia e a feitiçaria da deusa mitologia, os arquétipos da psicolo­gia de Jung, o herói de mil faces de Joseph Campbell, a viagem pelo Cosmos de Cari Sagan, a idolatria de Elvis, Marilyn e Madonna, as visitas de Robin Leach aos ricos e famosos, os conselheiros psíquicos e astrólogos pes­soais, e até em números alarmantes os poderes demo­níacos prometidos pelas seitas satânicas. Virtualmente, não fica pedra sobre pedra nessa busca desesperada de alguma pista, ou indicação, sobre aonde deveremos ir, partindo daqui (First Things (Primeiras Coisas), Maio de 1992,29).

Aonde é que isso nos leva? A cultura secularizada milita contra as virtudes cristãs. Quantas vezes ouvimos de "fundamen­talistas" e de "malhadores bíblicos" que foram atacados ou escar­necidos pela imprensa popular?

Enquanto princípios e valores são destruídos no mundo que nos rodeia, até alguns líderes cristãos deixam-se seduzir pelos encantos do pecado, pelo que alguns têm caído da graça. A todos nós nos adverte o apóstolo Pedro: "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o diabo, anda em derredor, rugindo como leão, bus­cando a quem possa tragar. Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que °s mesmos sofrimentos estão-se cumprindo entre os vossos ir­mãos no mundo" (1 Pedro 5:8-9). O enganador já está solto pelo mundo, cavalgando seu cavalo branco. Teve grande sucesso na tarefa de perverter uma grande parte da população, e usa a coroa de vencedor.

 

O julgamento infalível de Deus

De certa maneira, o julgamento de Deus é como a dor em nossos corpos físicos. Sempre que experimentamos alguma dor, ou desconforto, em geral esperamos algum tempo, para ver se o problema desaparece. Todavia, se a dor prossegue, e torna-se mais intensa, procuramos um médico a fim de descobrir a causa. Em geral, por essa altura, o médico trata de nosso problema e nos alivia a dor. De início, a dor é como um sinal de alarme que nos adverte contra um perigo potencial. Nesse caso, o propósito da dor é corretivo — avisar-nos de que algo está errado, para que possamos tomar providências no sentido de resolver o problema.

O julgamento de Deus com frequência tem a mesma função corretiva. Tem o objetivo de lembrar-nos de nossa necessidade de corrigir nossa vida, viver em retidão diante de Deus, antes que algumas complicações mais sérias ocorram. Deus pode usar as tribulações e dificuldades a fim de ensinar-nos, e ajudar-nos, de modo que nos tornemos pessoas melhores para sua glória. Assim escreveu o autor de Hebreus:

Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, e não desmaies quando por ele fores repreendido, porque o Senhor corrige aqueles a quem ama... nenhuma corre­ção parece no momento ser motivo de gozo, mas de tristeza. Contudo, depois produz um fruto pacífico de justiça nos que por ela têm sido exercitados (Hebreus 12:5-6,11).

Os quatro cavaleiros do Apocalipse apontam inevitavelmente para problemas morais e espirituais mais profundos que prejudi­cam nossa vida. Todavia, cada um deles é singular. Cada um carrega sua própria agenda de males. Nos capítulos seguintes, daremos uma olhada em cada um deles, a fim de verificarmos o que Deus está-nos dizendo. Em todas as eras temos visto precur­sores dos cavaleiros cavalgando por toda a terra. Tinham uma agenda muito específica para aquelas igrejas da Ásia, do primeiro século, como hoje têm um programa igualmente preciso para nós.

Nalgum ponto, acima de Patmos, o selo foi aberto. Os quatro cavaleiros estavam prontos para entrar em ação. Em seguida, João ouviu uma das quatro criaturas que serviam a Deus, em seu trono de poder, clamar com impaciência: "Vem!" A seguir, o texto relata que ao cavaleiro do corcel branco foi "dada uma coroa" (Apoca­lipse 6:2). Tão subitamente como quando apareceu, o cavaleiro esporeia os flancos de seu corcel branco e dispara na direção da terra "vencendo, e para vencer".

Para João, essa imagem deve ter sido claríssima, isenta de toda dúvida. É provável que ele houvesse observado as legiões inva­soras de Roma entrar em Jerusalém, tendo à frente o centurião conquistador cavalgando um corcel branco, empinado, e carre­gando na mão um arco, signo de vitória e poder. Talvez isso fosse um retrospecto sutil de um acontecimento que ocorrera no impé­rio romano um pouco antes do exílio de João em Patmos.

Os romanos eram arrojados e ferozes, mas temiam seus vizi­nhos partos, que ameaçavam as fronteiras imperiais do leste longínquo. Os partos cavalgavam corcéis brancos velozes, e eram arqueiros de pontaria mortífera. Em 62 d.C. um grande exército romano havia sido derrotado pelos partos, a quem se rendeu. Parece que os partos eram peritos arqueiros; da sela de um cavalo a galope, e com o arco retesado à altura do peito, podiam atingir mortalmente o inimigo que se aproximava rápido, a cavalo, no campo de batalha. Diz William Barclay que ainda há um velho provérbio inglês que se refere a "um tiro parto", com o significado de "um golpe final, devastador, contra o qual não há a mínima possibilidade de retaliação".

 

Tempestade à vista

Passando em revista vários comentários do livro de Apocalip­se, vejo-me voltando sempre a uma pergunta básica: Seriam ine­vitáveis os julgamentos previstos por João? Acontecerão eles de modo definitivo, ou poderiam ser adiados, ou mesmo evitados, de algum modo? Noutras palavras: Seriam esses julgamentos condicionais, isto é, poderiam ser evitados por meio do arrependimento, pela fé, ou são eles incondicionais, de modo que sobrevirão de qualquer maneira, não importando o que viermos a fazer?

Esta não é uma pergunta fácil de responder-se, e estou bem consciente de que nem todos os estudiosos da Bíblia concordarão entre si. Entretanto, depois de cuidadoso estudo, cheguei à con­clusão de que a resposta é: as duas alternativas*. Ambas as respostas estão certas.

Numa época que só Deus sabe, os cascos tonitruantes dos quatro cavalos invadirão o palco da história humana, trazendo decepção, guerra, fome e morte numa escala tão grande que desafia nossa imaginação. Deus usará os quatro cavaleiros num ato horrendo de julgamento sobre a terra e nada poderá resistir-lhe, pois sobrevirá à semelhança de uma tremenda onda de ma­remoto que invade a praia arrastando tudo.

A Bíblia deixa perfeitamente claro que o julgamento divino é certo, e está prestes a ocorrer: "Pois determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou" (Atos 17:31).

Contemplando as evidências de um julgamento que já se mostra visível neste mundo, devo dizer que eu acredito que esse dia está bem próximo. É possível que seus estágios preliminares já estejam nos atingindo. Todavia, ainda que isto esteja acontecen­do na realidade, creio que ainda há tempo para uma suspensão temporária da sentença, se o povo de Deus reagir a tempo, diante do Senhor, em humilhação e oração. Por toda a história tem havido ocasiões em que Deus adiou ou desviou o julgamento, durante algum tempo, porque homens e mulheres se arrepende­ram e se voltaram a ele em fé e obediência. Entretanto, acredito que nossa única esperança está no arrependimento sincero.

Através dos séculos, clamores de angústia ecoaram pelas ruas de nosso mundo em turbulência. Vezes e vezes sem conta temos visto o desastre emergir nas páginas da história — tempos de decepção, guerra, fome e morte. Lutas e conflitos violentos têm perseguido a raça humana em variados graus de ferocidade, desde quando Adão e Eva rebelaram-se contra Deus.

Nessas épocas, a morte assola cidade após cidade, e aldeia após aldeia, levando sofrimento e morte. Mas às vezes, igualmente de súbito, entramos numa época de paz e relativa tranquilidade. Por quê? Creio que é por que há ocasiões em que Deus suspende seus julgamentos, possivelmente durante algumas gerações, visto que muitas pessoas lhe ouviram a mensagem de advertência, e se voltaram para ele em arrependimento e fé.

Um bom exemplo disso nós o temos no trato que Deus dispen­sou ao povo da antiga capital assíria de Nínive. Tratava-se de um povo pagão, perverso, que adorava ídolos e, com frequência, guerreava contra o povo de Deus. O Senhor enviou seu profeta Jonas a Nínive para que proclamasse seu julgamento sobre aquele povo: "Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e proclama contra ela a mensagem que eu te dou... Ainda quarenta dias e Nínive será subvertida" 0onas 3:2, 4). Todavia, quando o rei de Nínive ouviu a mensagem de Jonas, ele se arrependeu e ordenou que o povo todo se arrependesse também. O resultado disso foi que Deus cancelou seu julgamento. Só mais tarde, quando a perversidade aumentou nas gerações depois de Jonas e o povo não se arrependeu, foi que o julgamento de Deus finalmente recaiu sobre Nínive.

Com frequência, é assim que funciona o julgamento de Deus. Um dia o julgamento sobrevêm com toda força, completo e final, mas no entretempo a mão julgadora de Deus pode fazer uma pausa, quando nos arrependemos, da mesma forma que este cavalo faz uma pausa antes de arremeter contra o mundo com força total.

 

Convocação às armas

Ao iniciar nosso estudo dos quatro cavaleiros e seus julgamen­tos, não devemos achar que podemos repousar, e nada fazer no sentido de combater o mal, só porque algum dia os quatro cava­leiros chegarão à terra com força total e final. Sim, o julgamento final de Deus é inevitável; todavia, só ele é que sabe quando Correrá e, enquanto não ocorrer, devemos ir aprendendo as lições aos cavaleiros e agir de tal maneira que Deus possa alegrar-se em adlar seu julgamento, e permitir ao mundo tempo suficiente para °uvir sua Palavra, e voltar-se para o Senhor.

Talvez eu possa expandir um pouco a ilustração acima, a respeito da dor, e esclarecer a questão. Sei que a morte é inevitável para cada um de nós. Todavia, quando adoecemos, não dizemos:

"Ora, muito bem, um dia vou morrer mesmo, por isso acho que nada vou fazer quanto a esta minha doença". Não! Procuramos os melhores médicos que podemos obter, porque nutrimos a esperança de vencer essa doença, e viver muitos anos ainda. De maneira semelhante, o julgamento de Deus sobre este mundo é inevitável. Todavia, ao ouvirmos o tropel dos quatro cavaleiros que se aproximam, devemos ouvir-lhes as advertências e arrepen-der-nos antes que seja tarde demais — é o que Deus espera de nós. Em sua graça, ele pode agradar-se de nós e postergar seu julga­mento, durante algum tempo, como o fez no passado.

O primeiro passo para vencermos o enganador é reconhecer que ele existe. O segundo passo consiste em reconhecer que ele opera através do engano. O método do cavaleiro sempre foi, é, e será a mentira. Ele promete paz ao mundo, mas dá-lhe apenas uma falsa paz. Será um super-homem impondo um supersistema, com punho de ferro. Disse Jesus: "Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; mas se outro vier em seu próprio nome, a esse aceita­reis" (João 5:43). O mundo que rejeitou a Jesus Cristo receberá prontamente o anticristo do diabo.

Ensina-nos a Bíblia que um dia, no futuro, haverá um super-homem chamado o anticristo. Conforme lemos em 1 João 2:18, "ouvistes que vem o anticristo". Por outro lado, João profetizou que antes da chegada do anticristo, haveria "o espírito do anticris­to" (1 João 4:3), e haveria "muitos anticristos" (1 João 2:18). No próximo capítulo, examinaremos alguns dos enganos e manifes­tações do anticristo no mundo de hoje.

 

Fraude espiritual

Em certa tarde, em Paris, Ruth atendeu à porta de nosso quarto de hotel; alguém batia. Ali estavam dois homens. Um deles explicou, em inglês estropiado, que o outro era "o Messias", que viera trazer-me um "recado divino". Depois de um encontro breve, mas patético, com mais uma pessoa perturbada que se atravessou em meu caminho afirmando ser o Messias, Ruth fez um comentário: "Ele afirma ser o Messias, mas não consegue falar conosco em nossa própria língua". Há uma enorme fauna de messias disfarçados no mundo de hoje — homens e mulheres declarando que são o Cristo. Alguns são débeis mentais, ou bas­tante perturbados emocionalmente. Outros aspiram e sonham com motivações e poderes cada vez mais ameaçadores. Todos, todavia, não passam de mistificações.

A Bíblia nos afiança que essa fila de falsos cristos vai aumentar cada vez mais, até que a corporificação final do anticristo apareça, à frente dessa imensa procissão. O anticristo é o homem de Sata­nás. Imitará Cristo, oferecerá paz, mas ele é tão falso como a paz que oferece. A era de ouro que ele promete terá curta duração.

Alguns dos enganadores que nos rodeiam mostram-se mais obviamente ligados a Satanás e ao mundo satânico do que outros. Alguns não fazem tentativas abertas para fraudar; falam de modo direto sobre os poderes da tentação do mal, e convocam homens e mulheres para adorar aos pés do próprio diabo. A adoração &berta de Satanás provavelmente é a fraude mais fácil de ser detetada em sua inteireza.

Tendo hoje perto de um milhão de exemplares já impressos, ^e Satanist Bible (A Bíblia satânica) declara os objetivos, propósitos e práticas dos adoradores do diabo. Sob a orientação de líderes como Anton LaVey e Michael Aquino, os satanistas persuadem milhares de homens e mulheres, e de modo especial adolescentes, a segui-los em suas práticas demoníacas. Como autor de livros como Satanic Rituais (Rituais Satânicos), e The Complete Witch (A Feiticeira Completa), LaVey é talvez o autor mais conhecido, o satanista mais persuasivo dos Estados Unidos.

 

Perversão do bem

O livro de Jerry Johnston, The Edge ofEvil: The Rise ofSatanism in North America (O Gume do Mal: A Ascensão do Satanismo na América do Norte), dá-nos um retrato espantoso dos perigos reais do satanismo e de outras "magias negras" em nossa sociedade. Johnston descreve o modo por que os jovens são recrutados, iniciados nos rituais e nas práticas satânicas e até comprometidos em sacrifícios perversos. O livro demonstra como os inocentes "buscadores" são sistematicamente arrastados para uma vida ligada ao ocultismo.

Qual é o perigo de tais credos? Em seu livro clássico, Those Curious New Cults (Essas Curiosas Seitas Novas), William J. Peter-sen, antigo editor da revista Eternity, assim se expressa: "A blas­fémia mais infame do ritual satânico é a missa negra" (pág. 80).

Petersen descreve como, na missa negra, os participantes ten­tam reverter tudo quanto sabem a respeito do cristianismo. O crucifixo é pendurado de cabeça para baixo. O altar é recoberto de pano preto, em vez de branco. Cantilenas são entoadas de trás para frente. O ritual é celebrado por um simulacro de padre que cospe no altar, ou faz algo pior, cada vez que menciona o nome de Deus ou de Cristo.

A fim de tornar essa blasfémia mais vil e desprezível ainda, acrescentam-se ritos sexuais. Às vezes chega-se a matar uma criança. Durante a cerimónia, os adoradores renunciam sua fe, reconhecem Satanás como Senhor e, ao final do culto, o sumo sacerdote o encerra com uma maldição, em vez de uma bênção.

Conquanto tudo isso possa parecer obviamente repulsivo e perverso, você deve ter em mente que não se trata de ficção-Tampouco é acontecimento raro. Há milhares de satanistas no mundo hoje. Em minhas viagens pelo mundo tenho encontrado inúmeras variedades de adoração satânica. Certa noite, em Nu-rembergue, na Alemanha, realizávamos uma cruzada no mesmo estádio usado por Hitler, onde ele fazia suas infames demonstra­ções. Como foi difícil sentarmo-nos ali sem ouvir os ecos da memória, as massas gritando "Sieg, Heil!"

Percebemos que foi daquele lugar que o Terceiro Reino mar­chou a fim de travar guerra contra o mundo e, no afã de implantar sua ideologia pagã, exterminar milhões de judeus e outros prisio­neiros cuja culpa tinha fundamentos políticos, religiosos ou psi­cológicos. Entretanto, estávamos atingindo sessenta mil pessoas cada noite, naquela arena aberta. Eram pessoas que cantavam hinos ao Senhor, e eu pregava a Palavra de Deus. Milhares iam à frente para aceitar Jesus Cristo como Salvador e Senhor. A presen­ça do povo de Deus ali parecia exorcizar os antigos demónios que tinham mal-assombrado aqueles corredores tantos anos atrás.

Foi quando, em certa noite, enquanto eu estava sentado na plataforma, os adoradores de Satanás, vestidos de preto, junta-ram-se lá fora, ao lado das portas do estádio. Utilizando ritos antigos, perversos, tentaram colocar um feitiço, ou macumba, em nossa cruzada. Chegou a nós a notícia da presença deles, os cristãos oraram e, em resposta a suas orações, nada aconteceu em decorrência do satanismo.

 

O poder da oração

Noutra noite, em Chicago, trezentos adoradores de Satanás aproximaram-se do estádio de McCormick com a intenção espe­cífica de tomar conta da plataforma e interromper o culto da cruzada que ali fazíamos. Haviam anunciado de antemão o plano deles, mas nem sequer sonhei que eles tentariam arrebatar-nos a Plataforma. Havíamos cantado o segundo hino do programa do culto. George Beverly Shea havia feito um solo evangelístico, e liff Barrows estava prestes a preparar o coral para entoar um "Uno de louvor. Nesse momento, um policial correu até nós e Urmurou algo no ouvido do prefeito, que estava conosco naque-n°ite a fim de recepcionar-nos. No mesmo instante os adoradores de Satanás forçaram entra-' ernpurrando os recepcionistas de pessoas que vão chegando, fundo daquele grande auditório, e já avançavam para a frente, à plataforma. Havia mais de trinta mil jovens naquele culto, na noite dos jovens. Só os que estavam sentados no fundo viram entrar os adoradores de Satanás. Disse-me o prefeito de Chicago: "Dr. Graham, vamos deixar que a polícia cuide desses intrusos".

Nós nunca chamamos a polícia para trabalhar em nossas cruzadas, se podemos evitá-lo. "Permita-me tentar resolver o caso de outro jeito, senhor prefeito", pedi. Em seguida, interrompi o coro, que já estava cantando, e me dirigi aos trinta mil jovens que ali estavam no estádio McCormick. E expliquei-lhes: "Cerca de trezentos adoradores de Satanás estão invadindo o auditório ago­ra. Dizem que vão tomar a plataforma. Vocês já podem ouvi-los que chegam, agora".

A multidão ouvia a cantilena cada vez mais alta dos adorado­res de Satanás. Todos se voltaram a fim de vê-los caminhando com determinação, descendo os corredores, passando pelos recepcio­nistas que haviam tentado impedir-Ihes a entrada. Por essa altura, produziam grande dirtúrbio. Eu continuei falando à multidão. "Peço a vocês, que são jovens crentes, que rodeiem esses adora­dores de Satanás", exortei-os." Amem-nos, orem por eles, cantem para eles. E aos poucos vão conduzindo-os de volta às portas de entrada, por onde vieram."

Nunca me esquecerei daquele momento! Centenas de jovens crentes puseram-se de pé e fizeram exatamente como lhes pedi. Alguns se deram as mãos e puseram-se a cantar. Outros lançaram os braços ao redor dos adoradores de Satanás e começaram a orar por eles. Outros, na maior calma, puseram-se a partilhar a fé com eles. Todos no estádio McCormick se dispuseram a orar, enquanto o Espírito Santo de Deus se movimentou entre seu povo a fim de confundir a obra de Satanás no nosso meio. Olhei em silêncio. Esperei e orei, até que a paz fosse restabelecida e o culto pudesse prosseguir.

Aconteceu de novo em Oakland, na Califórnia, num estádio de futebol. Centenas de adoradores de Satanás de novo invadiram nossa reunião a fim de maltratar e perturbar milhares e milhares que haviam chegado ali para ouvir a mensagem de Cristo e seu plano de salvação. Repetimos o que havíamos feito em Chicago-Mais uma vez, centenas de crentes puseram-se de pé e gentilmente conduziram os adoradores de Satanás para fora do estádio.

Pedi aos crentes que rodeassem e amassem os adoradores de Satanás. Eles o fizeram! Mais tarde, naquela mesma semana, recebi uma carta de um dos líderes do grupo satanista agradecen-do-me o que eu havia feito. Assim me escreveu ele: "Acho que o senhor salvou nossa vida". O poder daqueles jovens cristãos não assumiu a forma de um golpe violento de força bruta, maléfica, mas uma resolução tranquila, amorosa e envolta em oração.

 

Uma tempestade de discórdia

Em anos recentes, temos visto alguns sinais animadores den­tro das igrejas. Muitas estão crescendo dramaticamente, havendo um surto de mega-igrejas, e igrejas "filhas de teologia sadia", e ministérios paraeclesiásticos. Os seminários evangélicos estão tendo enorme procura. Milhares de pequenos grupos de pessoas dedicadas ao estudo da Bíblia vão surgindo por toda a parte.

Entretanto, outros relatórios afirmam que tem havido uma insatisfação crescente nos anos recentes — de modo especial entre "jovens profissionais urbanos" — insatisfeitos com o "cristianis­mo tradicional". Estas pessoas, cujas idades variam entre vinte e cinco e quarenta, cresceram numa era de descontentamento e desconfiança. Nutrem uma desconfiança erudita contra o "funda­mentalismo".

Todavia, eles também testemunharam os escândalos da igreja eletrônica, que fica bem à vista de todos, inclusive a promiscuida­de e a malversação de fundos sagrados da parte de alguns prega­dores de televisão. De acordo com esses relatórios, grande parte dessa geração "desligou-se da religião" em função da cultura secularizada predominantemente hedonística.

John Naisbitt e Patrícia Aburdene, em seu bestseller Mega-trends 2000, relatam que a religião vem crescendo em prestígio, nesta geração. Mencionam uma pesquisa Gallup, de 1987, segun­do a qual 94 por cento dos norte-americanos crêem em Deus; todavia, perguntam os autores: "são os norte-americanos religio­sos", ou "espirituais"? (John Naisbitt e Patrícia Aburdene, Megatrends2000, 295 — Megatendências 2.000).

Dizem os autores que 70 por cento desses jovens acreditam numa "força ativa, positiva, espiritual". Afirmam ainda que as Srejas conservadoras, que crêem na Bíblia, estão crescendo a passo firme, mas que o movimento Nova Era e outros "não tradicionais" ainda estão crescendo bastante. Relatam ainda esses autores, que de acordo com a Encyclopedia of American Religions (Enciclopédia de Religiões Americanas), quatrocentos novos gru­pos religiosos se formaram nos Estados Unidos, entre 1987 e 1989.

Indicam tais estatísticas decepção ou descontentamento? Uma vez mais eu diria que ambas as respostas estão certas. Moços e adultos jovens estão experimentando novas práticas e credos exóticos, num esforço para encontrar "unidade" com "a força". Milhões têm sido enganados, e onde existe a fraude, estabelece-se a desilusão. Desilusão e decepção são as duas alternativas primor­diais para quem despreza a verdadeira fé em Deus, constituindo a obra-prima do primeiro cavaleiro do Apocalipse.

O enganador possui muitas opções em sua sacola de truques, a primeira das quais é induzir as pessoas susceptíveis a desprezar de vez a religião. Quando nós nos sentimos alienados, isolados, sem amor, solitários e boiando num universo frio e escuro, preci­samos de Deus. Entretanto, diz-nos o enganador: "não há Deus".

O filósofo do século dezenove, Friedrich Nietzsche, disse que "Deus está morto". Não procure Deus, nem Jesus Cristo, murmu­rava ele, procure um jeito de escapar. Eu diria que essa é a razão real por que as drogas constituem uma verdadeira epidemia nos Estados Unidos, hoje. Esta é a razão por que o sexo promíscuo corre infrene, por que o abuso do álcool é tão comum. Sem fé em Deus, os seres humanos estão a sós. Farão qualquer coisa a fim de preencher o vazio que há em suas vidas; todavia, sem Cristo, nada funciona. Disse Agostinho: "Tu nos criaste para ti mesmo, e nossa alma não descansa enquanto não repousa em ti". (The Confessions ofSaint Augustine [Confissões de Santo Agostinho], 1:1).

 

A nova era

Uma segunda forma de fraude espiritual é a chegada das falsas religiões. O crescimento da assim chamada Nova Era, nos últimos vinte e cinco ou trinta anos, é o melhor exemplo moderno. A Nova Era é, de fato, outra forma de sinal de tempestade à vista, indicativo de que o homem procura "transcendência" sem a mí­nima consideração pela justiça.

Quer se trate de dianética, meditação transcendental, taoísmo, ufologia, cristalologia, adoração de deusas, reencarnação, harmonia, numerologia, astrologia, cura holística, pensamento positivo, quer se trate das mais de cem técnicas "despertadoras da consciência", próprias de nossos dias, a era moderna está à pro­cura de algum tipo de "unidade divina" mística, uma procura que na verdade atesta o fracasso do humanismo moderno em satisfa­zer a fome espiritual da alma.

O ser humano foi concebido para ter comunhão com Deus. Assim como o corpo anseia por oxigénio, o espírito anseia por Deus. Temos todos um desejo apaixonado de conhecer Deus e com ele nos comunicar; todavia, desde o Éden temos sido culpa­dos de pecado, e nada senão o arrependimento — a auto-humi-Ihação diante da cruz de Cristo — nos fará voltar à comunhão com Deus.

O verdadeiro desastre da seita do humanismo e de suas outras expressões, uma das quais é a Nova Era, não é apenas a tolice de colocar-se a confiança numa criatura fraca, finita e limitada, mas o fato de o humanismo separar o ser humano da fonte autêntica de poder e significado para a vida. O lamento de Davi no salmo 10 nunca foi tão verdadeiro como hoje: "Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; não há lugar para Deus em todas as suas cogitações" (Salmo 10:4).

Muitas pessoas decidiram não deixar lugar para Deus em suas vidas; decidiram que não precisam de Deus. O Deus de Jacó limita demais. Entretanto, o problema é que negar a existência de Deus não consegue expulsar Deus, mandá-lo embora, como negar a existência da cobrança do Imposto de Renda não faz o fiscal ir embora. Muitas pessoas que imaginaram e criaram um deus para si mesmas, ficarão horrorizadas quando tiverem que postar-se diante do verdadeiro Deus. Deus existe, e dele é o reino, o poder e a glória para sempre. Nenhum idealismo piedoso, nenhuma fantasia da Nova Era e nenhuma insistência em negar a realidade consegue mudar esse fato.

Há ainda outro passatempo da Nova Era, que consiste em ttansf ormar Deus em outra coisa, ou em chegar à conclusão, como m"itos têm feito, de que somos todos deuses. Na última página de seu livro, Outono. Limb (Exposição Perante o Público), a atriz Shirley MacLaine tenta fazer-se igual a Deus, ao escrever o seguin­te:

Sei que eu existo, portanto EU SOU. Eu sei que a fonte Deus existe. Portanto ELA É. Visto que eu sou uma parte dessa força, EU SOU esse EU SOU.

Aos olhos de um Deus justo não há maior blasfémia, mas essa "abominação" tornou-se heresia comum em nossos dias. E apenas mais uma evidência de que o cavalo branco "saiu vencendo e para vencer" mediante suas fraudes.

 

A obra do Enganador

Nesta era de humanismo, o homem deseja crer que pode tornar-se seu próprio deus. A observação atribuída a Protágoras, que "o homem é a medida de todas as coisas", é o cerne da ideologia humanística. Eis, todavia, o engano último de Satanás: roubar do ser humano sua comunhão com o Deus do universo, mediante uma mentira tão velha quanto o Éden, segundo a qual "sereis como Deus" (Génesis 3:5).

Visto que a Nova Era é fruto de uma falsa teologia e, de modo especial, foi inspirada pelo próprio enganador, esse movimento não se curva perante Deus. Em vez disso, a Nova Era tenta manufaturar seu próprio deus, que perdoa infinitamente, um deus falível, concebido segundo o conceito panteístico da unidade do homem com o universo. Quando uma atriz de Hollywood afirma que ela é Deus, está simplesmente negando que pecou, e que decaiu da glória de Deus. Os adeptos da Nova Era estão aterrorizados diante de sua própria mortalidade, e desejam crer que de algum modo a alma vai sobreviver. É claro que a alma vai sobreviver, não, porém, da maneira como eles imaginam.

Num determinado dia, os gurus da Nova Era morrerão, como todos nós devemos morrer, e seus corpos voltarão ao pó de que Deus os fez. Então, aquilo que sobrar, seus espíritos eternos, comparecerão perante o Deus verdadeiro e justo que conhece todas as coisas, o Deus da criação, e deverão explicar por que se sentiram compelidos a correr tanto, a fim de escapar do Deus que os amava, e que entregou seu Filho em sacrifício por eles. Poderão explicar por que, em vez de crer, publicaram credos que constituem abominação perante os olhos de um Deus zeloso, e dele ouvirão a resposta.

Naquele dia, a sinceridade nada significará; as boas obras nada significarão; as boas intenções nada significarão. Deus julga todos os homens, mulheres e crianças segundo o padrão do único Deus-homem que viveu, Jesus Cristo. Jesus, o inocente Cordeiro de Deus, concede-nos sua inocência, colocou-se entre nosso peca­do e o julgamento de Deus, o Pai. Sem essa armadura santa, ninguém é digno. Essa é a lição do quarto capítulo do Apocalipse.

A natureza pecaminosa faz parte de nosso ser, nasce conosco; não nascemos nobres, como declararam Rousseau e os filósofos do Iluminismo. O cavaleiro que traz a guerra testifica do mal e do engano que caracterizam nossa natureza humana; os terrores da guerra e as nuvens tempestuosas do Holocausto comprovam-no. Se formos abandonados a nossas próprias engenhocas, destruire­mos o mundo ao nosso redor.

O escritor Russell Chandler, em seu livro Understanding the New Age (Como Entender a Nova Era), relata que dezenas de empresas norte-americanas (talvez sem essa intenção) estão dou­trinando homens e mulheres sobre o movimento Nova Era, me­diante técnicas "de levantamento do consciente", e cursos exigi­dos sobre "auto-aperfeiçoamento". Muitas das principais empresas, dentre as 500 relacionadas pela revista Fortune, regu­larmente enviam seus executivos a centros e retiros remotos de treinamento, a fim de "entrar em contato com seu eu interno".

Em linguagem franca, isso significa que aqueles executivos estarão sendo apresentados às práticas da Nova Era, como a meditação, mentalização, visualização, Zen, Yoga, entoação de cânticos místicos e até cartas de Taro. Tudo isso com o objetivo de aumentar as probabilidades de sucesso". Na verdade, tudo isso resume-se em abrir a mente humana para a fonte do engano ntóximo: o pai da mentira.

 

Como a fraude toma conta

Por que as seitas e o movimento Nova Era são tão bem sucedidos hoje? Por que tantas pessoas estão dispostas, hoje, a ser varridas pelo falso ensino e, assim, predispõem-se a voltar as costas à verdade de Deus? Há muitas razões, mas receio que nós, crentes, precisamos confessar que às vezes nós constituímos parte do problema, porque nem sempre somos exemplos do amor e da pureza de Cristo como deveríamos ser. Muitas pessoas —de mo­do especial os jovens — tornaram-se desiludidos com a fé cristã, e com a igreja e, por isso, tornaram-se vulneráveis à fraude espi­ritual.

Este fenómeno não é novo. Por toda a história tem havido exemplos de crentes que sem querer se tornaram aliados do cavaleiro enganador. Em vez de lutar contra o símbolo do cavalo branco, cujo tropel já ouvimos, inconscientemente podemos aju­dá-lo. Às vezes, fazemo-lo pela palavra e pela ação. Por exemplo, alguns crentes na Alemanha nazista deram sua aprovação oficial ao Terceiro Reino de Hitler, embora este trouxesse terríveis devas­tações à Europa (conquanto outros, à semelhança de Dietrich Bonhoeffer corajosamente denunciaram a iniquidade e até paga­ram sua coragem com a própria vida). Às vezes nosso pecado assume a forma do silêncio e inação: cometemos o pecado da omissão.

Hoje, também, os crentes em Cristo correm o perigo de ajudar o cavaleiro do corcel branco a enganar as pessoas. Em seu livro, Unholy Devotion: Why Cults Lure Christians (Devoção Demoníaca: Razões Por Que as Seitas Seduzem os Crentes), Harold Busséll diz o seguinte: "Em nosso fervor no sentido de apontar os erros [das seitas] quanto a doutrinas, desprezamos virtualmente nossos pró­prios deslizes e pontos vulneráveis".

Ilustrarei de maneira breve algumas das formas pelas quais muitas pessoas ajudam o enganador: (1) meias verdades, respos­tas fáceis e mentiras, (2) manutenção de padrão duplo de compor­tamento (dizer uma coisa e fazer outra), (3) discriminar contra alguns pecados e aprovar a prática de outros pecados, ou não ligar para esses, (4) ensino prático inadequado da "viagem interna" e (5) ensino prático inadequado da "viagem externa".

 

A necessidade de cuidado

Uma das primordiais razões por que os jovens rejeitam a Cristo e seguem os passos do cavaleiro enganador, a Nova Era e seus aliados de outras seitas, são as meias-verdades, as respostas fáceis, as mentiras que nós crentes às vezes pregamos em nossa tentativa de "vender a fé", isto é, convencer as pessoas sobre o viver cristão. Tenho ouvido muitos sermões, tenho lido muitos livros e visto muitos filmes evangélicos cujo final é do tipo "vive­ram felizes para sempre". Alguns chegam a declarar que se você se tornar crente, vai enriquecer, ou sempre será bem sucedido. Trata-se simplesmente de ensino falso.

Em nossas tentativas de compartilhar nossa fé, alguns de nós temos dado a impressão de que, desde que a pessoa tenha recebi­do a Cristo como Salvador e Senhor, seus problemas estão todos resolvidos. Isso não é verdade; de fato, às vezes o contrário é que ocorre.

Tornar-se "nova criatura" em Cristo é um começo maravilho­so, todavia, não representa o fim de dores e de problemas em nossa vida. É apenas o início de nossa tarefa de encará-los seria­mente. Ser cristão envolve toda uma vida de trabalho árduo, dedicação ao estudo e decisões difíceis. Cristo não nos ensinou que a vida na fé seria fácil, mas que a recompensa da perseverança seria grandiosa.

Paulo converteu-se de modo dramático, na estrada para Da­masco, mas duvido que ele tenha sonhado sequer com as tribula­ções e sofrimentos que o aguardavam. Conquanto Deus houvesse dito a Ananias que deveria discipular a Paulo, "Eu lhe mostrarei o quanto deve padecer pelo meu nome" (Atos 9:16), Paulo não podia saber de antemão o que o aguardava, não só por viver a vida cristã, mas por servir a Cristo. Em 2 Coríntios 6, ele relata alguns de seus sofrimentos, não como quem se sente desanimado, ou como quem reclama, mas em alegria e vitória:

Recomendamo-nos em tudo: na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns... por honra e por desonra, por má fama e por boa fama; como enganadores, porém verdadeiros; co­mo desconhecidos, porém bem conhecidos; como mo­rrendo, porém vivemos; como castigados, porém não mortos; como entristecidos, porém sempre alegres; po­bres, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas pos­suindo tudo (2 Coríntios 6:4-5; 8-10).

 

A seguir, o apóstolo fornece mais algumas minúcias específi­cas:

 

Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedre­jado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de assaltantes, em perigos entre patrícios, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; nos trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, há o que diariamente pesa sobre mim, o cuidado de todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfra­queça? Quem se escandaliza, que eu não me abrase? Se é preciso gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza (2 Coríntios 11:25-30).

 

Para Paulo, a vida cristã era uma vida de sofrimento. O mesmo poderia ser dito de uma multidão de crentes, seguidores de Cristo, muitos dos quais foram mortos por causa da fé. Pelo que quando Cristo disse, vezes e vezes sem conta: "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me" (Lucas 9:23), estava o Senhor ensinando que nem sempre seria fácil ser seu seguidor. Adverte-nos o apóstolo: "Na verdade todos os que desejam viver piamente em Cristo Jesus padecerão perse­guições" (2 Timóteo 3:12). O Senhor não nos oferece uma graça barata, uma vida fácil. Ele não nos chamou para o que tem sido chamado de "crença fácil". E como disse alguém: "A Salvação é grátis, mas não é barata".

Charles T. Studd era famoso esportista na Inglaterra, capitão do quadro de críquete de Cambridge Seis. Há um século ele distribuiu sua fortuna para instituições de caridade, e levou o Cambridge Sete para a China. Seu lema era: "Se Jesus Cristo é Deus, e morreu por mim, nenhum sacrifício é grande demais para mim, que eu não possa realizar por ele".

Durante a primeira década deste século, Bill Borden deixou de lado uma das maiores fortunas de família, dos Estados Unidos, a fim de ser missionário na China. Ele só conseguiu chegar ao Egito e ali, aos vinte e poucos anos de idade, morreu de febre tifóide. Antes de morrer, assim se expressou: "Nenhuma reserva, nenhuma retirada, nenhuma tristeza!"

Há uma geração, Jim Elliot saiu da Faculdade Wheaton para ser missionário entre os Aucas do Equador. Antes de ser assassi­nado, assim escreveu ele: "Não é insensato aquele que dá o que não pode manter, a fim de ganhar aquilo que não pode perder". Em algumas partes do mundo ainda é terrivelmente difícil ser cristão. Em muitos lugares homens e mulheres são martirizados por sua fé. Neste exato momento, cristãos coptas e ortodoxos no oriente médio sofrem grandes provações e sofrimentos. Na Amé­rica Latina, Ásia e em muitos lugares da Europa oriental, o preço a ser pago pelo trabalho fiel dedicado a Jesus Cristo pode ser a humilhação, a tortura e a morte. Um relatório feito em 1991 por Barrett e Johnson demonstra que mais de 40 milhões de cristãos morreram como mártires desde 33 d.C, inclusive uma média de 290.000 cristãos martirizados anualmentte, nos anos noventa.

Nos Estados Unidos pode ser igualmente muito difícil resistir ao ridículo do secularismo, e seus valores humanistas. O materia­lismo e o egoísmo são os grandes vícios de nossa era.

Todavia, seja o que for que se cruze com nosso caminho, saiba que Cristo está presente, ao seu lado, em suas lutas. Ele sabe o que significa sofrer, visto que ele, o Filho de Deus impecável, sofreu as agonias da morte e do inferno, em seu lugar. Ele sabe o que significa ser tentado, "porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados" (Hebreus 2:18). No meio de todas as situações desta vida, ele pode conceder uma tranquilidade interna, uma força que você jamais poderia imaginar existir longe de Cristo. "Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou", disse o Senhor, "não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize" (João 14:27). As tempestades da vida virão, mas Jesus estará ali com você.

Os benefícios do cristianismo são tremendos, mas as prova­ções podem parecer igualmente muito grandes. E assim é que quando um pregador ou professor que ensina o evangelho de Cristo enfatiza demais os benefícios materiais ou espirituais da fé, ele na verdade está ajudando o cavaleiro enganador, em sua obra mistificadora.

 

Padrões duplos

Outra razão por que o cavaleiro enganador está desfrutando grande sucesso em nossa sociedade são os padrões duplos prati­cados em algumas igrejas cristãs. Gosto da mensagem de pára-choque de caminhão que diz: "Os crentes não são perfeitos, são perdoados". Os líderes cristãos apontam o dedo para as seitas e seus líderes e acusam-nos de enganar seus membros. "Dizem uma coisa e praticam outra", queixam-se os líderes cristãos dos here­ges.

Entretanto, talvez precisemos examinar nossa própria histó­ria, como crentes. Quantos crentes, hoje, seriam culpados desse mesmo pecado? Com demasiada frequência nosso cristianismo está em nossa boca, e não em nosso coração. Quem de nós não se identifica com a descrição feita pelo apóstolo Paulo, quando es­creveu: "Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço" (Romanos 7:19)?

Com frequência, uma pessoa de fora consegue ver por detrás de nossa fachada; ela dá a isso o nome de hipocrisia. Essa pessoa ouviu histórias de igrejas cristãs que se haviam dividido pelo ódio e dissensão. Sabe da história do diácono que abandonou a própria esposa e fugiu com a organista da igreja. Ele sabe como alguns adoradores do culto de domingo passaram a noite do sábado. Sabe que os crentes também são humanos. No entanto, como trabalhamos duro a fim de manter esse segredo bem guardado!

Às vezes lemos livros evangélicos a respeito de celebridades que supostamente se converteram à fé em Cristo. Com constran­gida regularidade, após o livro ter sido distribuído, nossa celebri­dade evangélica é apanhada num escândalo de primeira página dos jornais. Produzimos filmes que retratam a mudança maravi­lhosa que Cristo operou na vida de um casal que enfrentou a tragédia.

A seguir, como já aconteceu, exatamente quando o filme entra em circuito, o tal casal anuncia que seu divórcio está a caminho. Ministros do evangelho, diáconos, presbíteros, líderes e obreiros cristãos, bem como as celebridades evangélicas, somos todos vulneráveis diante do pecado. Por que não podemos simplesmen­te encarar tais problemas em aberto, e resolvê-los de vez — sem apresentar desculpas?

Enquanto permanecermos nestes corpos mortais, nenhum de nós será perfeito. Ninguém consegue viver sem o pecado ocasio­nal, sem a falha humana, e é hipocrisia pretender que a coisa não é assim. Ao mesmo tempo, todavia, jamais deveremos tornar-nos complacentes a respeito do pecado, ou dizer, muito simplesmen­te: "Ora, todo o mundo faz isso". Ordena-nos a Bíblia: "Como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento" (1 Pedro 1:15). Diz-nos ela também que há perdão e nova vida para nós, quando nos arrependemos e confes­samos nossos pecados a Cristo.

 

É mais branco do que a neve — mas é cal

Minha esposa, Ruth, contou-me a história dos primeiros mon­tanheses da área onde nós moramos. Eles costumavam colocar a roupa suja numa grade de madeira, uma caixa feita de ripas. A grade era presa na correnteza de um regato, de tal modo que as águas passavam pelas ripas, lavando as roupas continuamente. Riu-se minha esposa, porque provavelmente essa teria sido a primeira máquina automática de lavar roupa da Carolina do Norte. Um dia, um contrabandista de bebidas alcoólicas conver-teu-se em nossa região. Ao ser levado àquela corrente de água para ser batizado, pediu "que fosse colocado, por favor", naquele ponto da correnteza onde estava a grade lavadora, para que ela "pudesse purificá-lo!"

Quando o pecado e o fracasso entram em nossa vida, como com toda certeza hão de entrar, ainda contamos com a maravi­lhosa promessa de que "o sangue de Jesus, o Filho, nos purifica de todo pecado" (1 João 1:7). Essa promessa foi escrita para os crentes. A palavra empregada aqui, purifica, significa "lavagem contínua".

A coisa mais importante que você pode fazer quando pecar é dirigir-se imediatamente às Escrituras e vindicar as muitas pro­cessas de Deus. Memorize algumas delas. Salmo 119:11 diz: Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti". Visto que as Escrituras foram inspiradas por Deus para seres "Urnanos imperfeitos, elas contêm o remédio contra nossa peca-"tinosidade.

Outra coisa que me tem sido bastante útil é confiar num amigo crente, íntimo, com quem se pode partilhar um fardo, um proble­ma ou a mágoa de uma confiança traída. Acrescento, aqui, toda­via, uma palavra de advertência. Há crentes em quem talvez você confia que não conseguem esperar, querem sair correndo para contar o segredo a alguém. Tenha cautela ao escolher amigos, conselheiros e confidentes, mas não permita que esse temor se transforme em desculpa para esconder seus segredos de um irmão ou irmã, verdadeiros crentes em Cristo. Assegure-se de que pode confiar na pessoa com quem você vai conversar. A seguir, peça a tal pessoa que leia as Escrituras e ore com você.

Por que haveríamos de fingir uns com os outros? Por que usaríamos sorrisos de vitória, como máscaras, em nossas reuniões públicas e choraríamos lágrimas de solidão e raiva, quando esti­vermos sós? Se seu negócio vai mal, e há ameaça de falência, que seu irmão ou irmã em Cristo fique ciente de sua batalha.

Se o seu casamento se rompe, e se esfrangalha, procure pelo menos um ou dois crentes dignos de confiança, com quem você possa partilhar suas dores, de modo que eles o ajudem de modo prático a resolver o problema que você enfrenta. Assim diz a Bíblia: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo" (Gálatas 6:2).

Basta apenas um ato de arrependimento para você receber a Cristo como Senhor e Salvador. Todavia, o arrependimento não é um ato de uma única ocasião. Todos os cristãos são culpados de pecados individuais e coletivos. O pecado coletivo ocorre quando participamos do pecado de um grupo, quer seja a família que despreza o vizinho necessitado, quer seja a igreja que despreza as necessidades de sua vizinhança, ou a nação que despreza as exigências que um Deus reto e santo nos faz.

 

Liberdade em perdão

Uma vez que confessemos que nós, apesar de crentes, ainda pecamos, conseguimos ver os incrédulos sob nova luz, e eles também nos verão sob luz diferente. Não contemplaremos a pecaminosidade deles do alto de nossa arrogância. Nós simples­mente estendemos a mão a eles, cheios de compreensão e amor, e oferecemos a nossos companheiros pecadores o perdão e a vida nova que devem receber livremente, em Cristo. Quando admitimos que não somos perfeitos, mas sim que fomos perdoados, e compartilhamos as Escrituras, afastamos aquele cavaleiro que é portador de enganos. Por outro lado, enquanto fingirmos que somos perfeitos, e vivermos sob o padrão duplo, abrimos caminho para que o cavaleiro penetre.

Oremos para que Deus nos torne sensíveis ao pecado, onde quer que o mal se encontre. Precisamos alcançar em amor cristão as pessoas cuja vida tem sido maltratada e esmagada pelo pecado, apontando-lhes o único que pode trazer-lhes cura, e nova vida, e vamos dar-lhes boas vindas à nossa comunidade, à nossa comun­hão. "Pois, é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos, como livres, e não tendo a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus" (1 Pedro 2:15-16).

A "viagem interna" é aquela peregrinação que dura a vida toda, de maturidade e crescimento espiritual na vida do crente. Muitas vezes, pastores e obreiros cristãos tendem a ver a conver­são como um fim, em vez de como o começo da batalha da vida, no sentido de conhecer Deus e fazer sua vontade. Ir a uma cruza­da, ou a uma igreja, e aceitar o convite para ir à frente para receber a Jesus Cristo como Senhor e Salvador é, realmente, o primeiro passo da jornada íntima.

Esta jornada deve incluir coisas como estudo diário da Palavra de Deus, oração, leitura de livros e revistas cristãos, memorização de versículos bíblicos, reuniões com outros crentes numa igreja espiritualmente sadia, que tenha a Bíblia como Palavra de Deus, participação ativa em grupos de estudo bíblico e cultivo de ami­zades honestas, íntimas, em Cristo. Todas estas atividades são necessárias se quisermos crescer na fé cristã. Não devemos presu­mir que os novos crentes compreendam e pratiquem essas disci­plinas por si mesmos. Eles precisam de direção e encorajamento, e em muitos casos precisam de liderança.

Jamais me esquecerei da história que um pastor me contou, a respeito de uma de suas ovelhas mais fiéis, que não sabia orar. Ela tmha sido um membro fiel da igreja, dotada de espírito de serviço, ativa, desde que se convertera numa cruzada evangelística. Havia ensinado na escola dominical e se comprometera a sustentar a ^eja financeiramente. Trouxera vizinhos e amigos à igreja. Num culto, numa noite de quarta-feira, o pastor pediu a essa mulher que encerrasse a reunião com uma oração. Depois de um silêncio embaraçante, ela correu para fora do templo, em lágrimas. Duran­te certo tempo, essa mulher esteve desaparecida. Nem atendia ao telefone. Não voltou mais à igreja. Finalmente, chamou o pastor e marcou uma entrevista. No gabinete pastoral, a mulher confessou que não sabia orar. Não sabia o que dizer, nem como dizer. Todos haviam presumido que ela soubesse orar, mas na verdade ela não sabia.

Disse-me aquele pastor que ensinar àquela mulher a orar, recém-chegada de um ambiente espiritual totalmente seculariza-do, foi uma das tarefas mais difíceis e mais gratificantes de seu ministério. Ao fazê-la caminhar ao longo dos elementos mais singelos de uma oração proveniente do coração, ele a ajudou a ganhar novo e íntimo acesso ao trono de Deus. Os discípulos que haviam pedido a Jesus: "Senhor, ensina-nos a orar, como João também ensinou a seus discípulos" (Lucas 11:1), passaram por uma experiência que lhes deu novo sentido.

 

O momento de inocência

Todas as noites, em nossas cruzadas, faço o convite para que as pessoas se entreguem a Cristo. Depois, converso com elas a respeito de quatro importantes coisas que deverão fazer parte de sua vida, se quiserem desenvolver-se e amadurecer espiritual­mente. Uma delas é a oração. Digo-lhes que talvez não consigam orar como um clérigo, no princípio, mas podem começar com uma sentença simples. "Senhor, eu te amo". Eis uma oração. Ou, "Deus, ajuda-me". Eis outra oração. Visto que os discípulos precisaram aprender a orar, nós também precisamos estudar as Escrituras a fim de aprender a orar.

Os líderes cristãos fariam bem em reconhecer que a expressão "bebés em Cristo" tem um sentido bem específico. Há certa ino­cência e vulnerabilidade em muitos novos crentes que o engana­dor vai explorar, se isso lhe for permitido.

Se não continuarmos a ensinar princípios cristãos aos novos crentes, corremos o risco de abrir-lhes a porta do interesse em determinadas questões, de modo tal que seitas, ou outras influen­cias malignas, assumam o controle. Em contraste, os líderes das seitas agarram e raptam seus convertidos e submetem-nos a uma rigorosa disciplina espiritual. Enquanto nós presumimos que tu­do vai bem com os novos convertidos, as seitas presumem que eles nada sabem. Começam do marco zero e vão edificando, enfiando na cabeça do recém-chegado todas as distorções, truques e "macetes" que julgam fazer parte de seu sistema herético em particular.

Ao presumirmos demais, podemos deixar esses bebés espiri­tuais vulneráveis ao espiritualismo da Nova Era, com seus siste­mas sofisticados e respostas pré-preparadas, ou a outros tipos de modernos "ismos" que poderiam com certa facilidade sobrepor-se à verdade que receberam há tão pouco tempo. É importante que os líderes eclesiásticos locais se mantenham em contato com seus membros, a fim de discutir seu nível de conhecimento bíbli­co, ou determinar se oram bem, e com a devida frequência.

Uma pesquisa recente demonstrou que 85 por cento dos semi­nários deste país não têm aulas sobre oração. Quantas igrejas locais oferecem aulas para desenvolver a habilidade de orar, e a prática da oração? Certa igreja tinha "uma semana de espera", uma semana in teira dedicada à oração. O cavaleiro enganador nos contem­pla com imenso prazer, quando presumimos que nosso povo está vivo e em crescimento. Ele se sente livre, totalmente livre para cavalgar contra nossas fileiras e causar vítimas entre nós, quando nossa jornada íntima, nosso crescimento espiritual, nossa maturi­dade em Cristo, não são nossa principal preocupação.

 

A jornada externa

Penso que a expressão "jornada externa" originou-se com Elizabeth 0'Connor, a historiadora da Igreja do Salvador, em Washington, D.C. Ter desenvolvimento apenas na "jornada inter­na", aquela em que conhecemos a Deus, não é suficiente. Fomos chamados também a seguir a Cristo em nossas ruas e nossas vizinhanças. Fomos chamados para servir a Cristo ao levar sua mensagem de redenção ao mundo. A jornada externa que nos leva *lém de nosso pequenino mundo interior, ao mundo necessitado, è consequência inevitável de uma jornada íntima genuína. A grande comissão de Cristo indica duas direções: a direção de Deus e a de nossos vizinhos.

A Igreja do Salvador exige que cada membro esteja trabalhan­do ativamente em algum tipo de projeto evangelístico: pode ser a evangelização mediante o estudo bíblico; pode ser o ministério de retiros e acampamentos; reconstrução de casas para os pobres ou alimentação dos famintos; cuidado dos órfãos, viúvas e das pes­soas que passam por nós; envolvimento nos interesses primor­diais da educação; projetos de moradia popular; ou meio ambien­te. Tudo isso é exigência excepcional para quem quer ser membro da igreja; todavia, exigir que os crentes sejam embaixadores de Cristo não é exigir algo irrealístico.

Gostaria que mais e mais igrejas estudassem essas opções. Às vezes, agimos como se frequentar a igreja no domingo à noite e depositar uma contribuição financeira no gazofilácio é tudo quan­to Deus requer de nós. Esse tipo de igreja constitui pouco mais que um clube patrocinador de piqueniques ou divertimentos. Faz que a fé fique parecida com um ritual vazio: "me faz sentir bem". Esquecemo-nos de Jesus de pé diante do moço rico dizendo-lhe: "Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres... então vem, e segue-me" (Marcos 10:21).

O cavaleiro que engana as pessoas alegra-se quando fazemos que a fé pareça fácil demais. A fé envolve confiança e compromis­so de entrega total. A multidão reunida nas fímbrias da cruz é facilmente dispersada. Todavia, os crentes que misturam seu sangue e suor às lágrimas dos mártires, não são facilmente enga­nados. Quanto mais o crente se envolve na vida diária devocional, e na vida e necessidades do próximo, mais ele cresce na fé e na prática da vida cristã. Quanto menos estiver envolvido, maior será a probabilidade de ele vir a ser enganado.

Muitas pessoas sinceras abandonam a igreja e unem-se as seitas porque estas fazem exigências. Quando desafiadas a entre­gar a vida a uma crença, ou a uma causa, as pessoas esperam que haja exigências. As pessoas reagem à chamada para supor provações. As seitas oferecem meios práticos pelos quais se seguidores podem servir ao próximo, enquanto as igrejas cristãs com frequência falam de "carregar a cruz", sem atribuir jamais à seus membros algumas tarefas práticas, às vezes difíceis, 4 tornam o culto cristão algo prático e gratificante. Isto pode ser irônico, mas se não apresentarmos exigências, o cavaleiro enganador reinará, e proverá programas práticos assistenciais, como primeiro passo na obra de enganar.

 

O mundo material

Os cristãos que estão crescendo bastante na fé, e na com­preensão da natureza de Deus, experimentam um senso de realização na vida verdadeiramente indescritível. Ao longo de períodos tanto de alegria como de tristeza, a realidade do Espírito de Deus, que vive dentro do crente, lhe traz grande paz e vitali­dade dinâmica, que dão à vida sentido e propósito reais. Foi com o senso dessa realidade que o salmista cantou: "O Senhor Altíssi­mo é tremendo, é o grande Rei sobre toda a terra!" (Salmo 47:2).

Tenho estado em certas partes da Europa, Ásia e Terceiro Mundo em que não há alegria. Ninguém sorri; não há felicidade, não há festividades. Tudo é lúgubre e deprimente, sem esperança; é algo que alguém descreveu como "vida num abismo". Para mim, é a perfeita imagem da vida sem Deus.

Graças aos eventos dos últimos anos, Deus me abriu muitas oportunidades para que eu pregue nesses lugares, e vemos a esperança e a vitalidade sendo restauradas, porque o povo daque­las terras sentem fome espiritual, querem sentido para a vida, desejam conhecer a Jesus Cristo. Entretanto, há nos Estados Uni­dos um perigo maior ainda: homens e mulheres conhecedores da verdade — que se beneficiaram da tradição cristã — mas trocaram Deus por umas engenhocas. Deixaram de lado a verdade eterna, em troca de autogratificação momentânea; adoram os falsos deu­ses do materialismo e do humanismo.

Há uma geração atrás, a sociedade ocidental tinha uma opi­nião bem mais modesta de si própria. A despeito de seu orgulho razoável por causa da nossa tecnologia e indústria, a maioria dos Ort:e-americanos vivia de modo simples. Nossos pais haviam trabalhado duramente a fim de que nós pudéssemos ter uma vida melhor que a deles, mas a maioria das pessoas era "gente sim­ples".

Havíamos aprendido que "o orgulho antecede a queda". Além disso, tanto a religião quanto a tradição haviam deixado bem claro que o egoísmo é anti-social e inaceitável. Nossos pro­fessores advertiam que "nossos direitos" sempre vêm acompa­nhados de "nossas responsabilidades". A democracia nos de­monstrou que na sociedade norte-americana cada pessoa pode subir até atingir seu nível de competência, mas ninguém lhe deve subsistência.

Fico às vezes imaginando se os fornos crematórios de Aus­chwitz, e a nuvem nuclear sobre Nagasaki não nos teriam dado uma sombria advertência sobre os perigos do potencial humano. Não há dúvida de que o imenso poder das armas modernas, e a capacidade de uma nação civilizada de fazer vista grossa a atro­cidades horríveis, semelhantes às de Auschwitz, levam-nos a contemplar a espantosa complexidade da natureza humana com máximo cuidado.

Temos aprendido alguma coisa a respeito de nossa capacida­de de tornarmo-nos desumanos e impiedosos. O que o mundo ocidental aprendeu nos campos de batalha de duas guerras mun­diais ajudou-nos a demonstrar compaixão, e produziu um notável fortalecimento de caráter. Pelo menos durante um momento, o mundo aparentemente mostrou-se grato a Deus pelo retorno da paz à terra, e por todo nosso país houve um sentimento de genuína humildade — embora de pequena duração.

Pelos meados dos anos cinquenta, a América do Norte viu-se absorvida pelo "modernismo". Desde os cromados de seus auto­móveis aos trajes de praia dos modelos hollywoodianos, tornou-se aparente que os Estados Unidos faziam um desvio na direção do novo, do moderno, do materialístico e do chocante. A música, os filmes e a mídia da época revelam o grau a que chegaram as mudanças na imaginação popular. "Jazz" bem quente, ritmos e canções agitados, bem como os primitivos sucessos populares do "rock-and-roll" pareciam ligeiramente fora de linha, mas os j°" vens sentiam imenso prazer em escandalizar seus pais.

Quando militares, enfermeiras do exército e outros adultos retornaram à faculdade, uma disciplina relativamente nova tor-nou-se centro de atenção, despertando grande interesse: psicolo­gia. Em meados dos anos sessenta, a psicologia era o campo de maior interesse nas universidades norte-americanas.

Muitas das percepções da psicologia quanto aos motivos do comportamento humano têm valor, algumas das quais confir­mam o que a Bíblia já dissera havia muito tempo. Entretanto, hoje podemos ver que alguns dos fundadores dessa ciência — à seme­lhança de astronautas primitivos da mente humana — figuraram entre os principais contribuintes para que houvesse essa mudança nos valores, que ocorre nas atitudes dos norte-americanos. Infe­lizmente, isto não constitui, de maneira nenhuma, boas novas.

O princípio que fez que a psicologia secularizada ficasse tão radicalizada foi que ela desferiu um golpe separatista, ao despre­zar tudo que lhe antecedeu. Assim como as teorias de Charles Darwin haviam minado a crença em Deus como o Criador, a moderna psicologia também tendeu a desviar as pessoas de terem fé em Deus. Ensina ela que há profundidade oculta, e muita substância, em cada pessoa. A pessoa exterior é apenas o resultado de um compromisso de meio-termo; a pessoa interna é profunda e importante. Conclui então a psicologia, que o verdadeiro eu, sepultado sob uma capa falsa de condicionamento social, e de preconceito religioso, luta para libertar-se. Portanto, para alguns psicólogos a religião é vista como elemento perturbador, um obstáculo, em vez de ajuda à personalidade humana.

Sinto-me feliz em poder dizer que em anos recentes temos visto o surgimento de uma psicologia centralizada em Cristo, baseada na Bíblia, que procura resolver as questões emocionais no contexto da fé e das doutrinas cristãs. Uma plêiade de psicólo­gos cristãos muito conhecidos ajudaram a desenvolver princípios fundamentais desta disciplina, de modo que há muitos livros excelentes sobre o assunto.

Hoje há, também, muitas clínicas e conselheiros cristãos de grande serventia. Entretanto, grande parte da psicologia seculari-Zada, moderna, prega o interesse próprio, individual, como sendo a realidade última, às expensas da compaixão, do interesse pelo Próximo, e da devoção a propósitos mais elevados na vida — c°mo, por exemplo, nossa comunhão com Deus e com nossos semelhantes. A "psicologia popular" contribuiu de maneira não insignificante para o estabelecimento do caos do hedonismo, do secularismo e do niilismo, em nossa moderna cultura.

Ao longo dos anos, os Estados Unidos têm sido caracterizados como nação de individualistas rudes, de modo que a linguagem da autoconfiança e do interesse próprio não suscitou, de início, muita preocupação. Entretanto, como aponta Floyd McClung em seu livro, Holiness and the Spirit ofthe Age, (Santidade e o Espírito de Nossa Era), o passo que se deu foi gigantesco, bem além do contexto do espírito forte dos homens da fronteira, apresentando algo bem mais feio. Assim se expressa o autor:

O individualismo moderno, que vem divorciado dos fundamentos morais do cristianismo, e rodeado de uma sociedade hedonista, produziu um modo de vida que além de não ser benéfico aos indivíduos, é improdutivo para a sociedade em geral. O individualismo costumava exprimir-se de modo positivo dentro do contexto da família, da comunidade, da igreja e do governo. Os direitos pessoais ficavam sujeitos ao bem geral da socie­dade. Todavia, o individualismo hodierno deixa de respeitar tais fronteiras. O clamor é: "Quero o que quero quando quero!" Esse individualismo egoísta enfraque­ce os fundamentos da nação, que foram erguidas sobre alicerces morais muito fortes. (Holiness and the Spirit of the Age, p. 78.)

A partir do curso secundário, os jovens recebem doutrinação, representada pelas definições seculares de auto-estima, auto-ima-gem e auto-realização, propagandeadas pelos profetas do egoís­mo. Hoje, as ideias e princípios de Cari Jung, Alfred Adler, Cari Rogers, Abraham Maslow, Gordon Allport, Erich Fromm e, prin­cipalmente, Sigmund Freud, são mais conhecidos nas universida­des do que Moisés, Samuel, Isaías, Jesus ou Paulo.

O foco no eu, no autocentrismo e no behaviorismo levou nossa sociedade a um fascínio pelo prazer, ao estímulo emocional e sexual, à "realização pessoal". O que Freud descreveu como a liberação do id tornou-se o primeiro passo na direção do culto do eu.

A compulsão dos Estados Unidos pelo "máximo interesse na pessoa" está evidente por toda a parte. Recreações legítimas, desde brincadeiras com bola e raquete até o golfe, tornaram-se obsessões para algumas pessoas. Atletismo, corrida, preocupação com modas passageiras quanto à saúde e até musculação para homens e mulheres, tudo isso assumiu aura e disciplina de ritos de seita, ou de ocultismo. O centro focal de nossas atividades deixou de ser o coração, a alma, ou a mente, para ser o corpo. O maior sucesso que a gente pode alcançar é sentir-se bem. A camiseta do executivo traz um recado: "sem dores não há valo­res". Ei-lo correndo como o vento, à hora do almoço. Por quê?

Certamente acredito em saúde, e em forma física. Por causa de minha programação de viagens e das exigências exaustivas de meus compromissos evangelísticos, acredito firmemente no valor do condicionamento físico. Gosto de andar, de nadar e dos exer­cícios físicos dentro do razoável; são de suma importância para jovens e velhos, igualmente.

Também estou convencido de que Deus quer que cuidemos de nossos corpos. Diz a Bíblia: "Não sabeis que o nosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em nós, proveniente de Deus?" (1 Coríntios 6:19). Entretanto, não devemos transformar nossa preocupação natural com a saúde, numa perseguição ma­turai à juventude eterna. Diz a Bíblia: "o exercício físico para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa" (1 Timó­teo 4:8).

O culto do eu tornou-se vício. Alguns analistas sugerem que a auto-absorção é, na verdade, uma reação defensiva contra a solidão e a esterilidade do estilo de vida despersonalizado de hoje. Tomamo-nos urbanizados e desligados. Algumas pessoas não têm família, nem raízes, nenhuma referência à nossa herança de fé. Consequentemente, muitas pessoas destituídas de antigas co­nexões e dependências que dão sentido à vida, chegaram a perder o senso de pertencer a alguém, de constituir parte de um todo, e muitas, se não a maioria, perderam todo o sentido de comunida­de.

 

Assim escreve Floyd McClung:

Para a maioria dos norte-americanos, o mundo é um lugar fragmentado que lhes apresenta uma multiplicidade de escolhas, oferecendo pouquíssimo sentido e conforto. Acreditam que basicamente estão sós, e só devem prestar contas a si mesmos. Assim, acham bas­tante difícil entregar-se aos outros em compromisso. Para o indivíduo abandonado, sem Deus, a busca de felicidade e segurança é a única fonte de significado (Holiness and the Spirit ofthe Age, 79).

 

Por último, acredito eu, até mesmo o abuso de crianças é sinal do egoísmo e desconsideração pelo próximo, e fruto desse modo de pensar. Quando a pessoa coloca sua própria gratificação acima de tudo, não há limites para o que a pessoa fará. Isto é uma tragédia. Agredir uma criança, desprezá-la, desrespeitá-la e vio-lar-lhe a inocência estão entre os piores males conhecidos do ser humano, perversidade não mais incomum nesta sociedade. Disse Jesus que seria melhor que a pessoa fosse atirada ao mar, tendo uma pedra de moinho amarrada ao pescoço, do que enfrentar a ira de Deus decorrente do abuso de crianças (Lucas 17:2). Gostaria que certas pessoas levassem muito a sério esta ameaça.

A imprensa tem publicado alguns aspectos mais chocantes e gráficos do abuso de crianças — de modo especial o abuso físico que se transforma em manchetes escandalosas. No entanto, a imprensa tem desprezado quase que inteiramente o abuso psico­lógico e emocional causado pelas tendências modernas. Estamos experimentando hoje uma epidemia de negligência da parte dos pais; o pai e a mãe desertam a casa, as crianças são exploradas pela propaganda e mídia de massa, sensibilidades imaturas são bom­bardeadas por programações eróticas, vulgares, designadas de modo específico para a mente jovem e vulnerável, tudo isso encorajando o auto-interesse, a auto-absorção excessiva, de natu­reza até mesmo patológica. Onde estão essas histórias na mídia secular?

Há uma questão séria ligada à exploração e abuso, no modo por que a própria mídia usa crianças. Numa época em que pais ocupados demais, auto-absorvidos demais, apaziguam suas cons­ciências mediante a compra de montões de brinquedos e comp°" nentes eletrônicos caríssimos para seus filhos, a mídia tira máxim0 proveito dessa situação. A propaganda comercial explora crian­ças, ao criar nelas o desejo de coisas, induzindo os pequenos a chantagear seus pais para que as comprem. Orçamentos fabulosos para propaganda comercial são gastos na estratégias de que são as crianças que determinam os hábitos de compra de seus pais: "Se você me ama, me compra isto".

 

Homens ocos

Como mencionei anteriormente, ainda não nos livramos do legado do livre-pensamento da década de sessenta. O espírito de rebelião que floresceu nos anos sessenta, em parte devido à guerra do Vietnã, convenceu toda uma geração de que "desligar-se e mandar-se por aí" era opção legítima de modo de viver, e até mesmo uma forma legítima de revolução. Ocorre que os "yup-pies" e "uppies" dos anos oitenta e noventa ligaram-se de novo ao fluxo monetário, e ei-los, pois, acumulando posses e símbolos de sucesso, em sua trajetória rumo ao topo. Fazem-no, todavia, em meio à frieza, desencorajamento e distanciamento que se lhes infiltraram na mente.

As letras das canções e as imagens visuais se tornam cada vez mais eróticas, mais violentas, mais anti-sociais, e constituem a linguagem comum da juventude moderna. A televisão e o apare­lho de som invadem e profanam a inocência das crianças em todo o mundo, enquanto mães preocupadas e pais frios contemplam o vazio, horrorizados, tentando imaginar o que foi que saiu errado. Vídeos de "rock", filmes proibidos para menores e vulgaridades consideradas próprias para o horário nobre da televisão, rotula­das de novelas e comédia, têm insensibilizado a alma das crianças.

Essas "babysitters" eletrônicas, essas engenhocas substitutas dos pais na verdade se tornaram violentadoras de crianças. As crianças estão crescendo selvagens, e vicejam como ervas dani­nhas num deserto moral.

Felizmente, há sinais de inconformismo e reação moral. Têm aparecido com maior frequência artigos e livros cujos autores corajosamente dão nomes aos bois, e documentam as fontes. David Elkind escreveu The Hurried Child: Growing Up Too Fast Too 0otl (Criança Acossada, Cresce Depressa Demais, Cedo Demais), sm que descreve os perigos de uma cultura que coloca responsa-Uidades, direitos, desejos e privilégios próprios de adultos ao alcance fácil de crianças.

O Dr. James Dobson e Gary Bauer escreveram Children at Risk (Crianças sob Risco), em que descrevem a crise moral dos Estados Unidos com grande profundidade, denominando-a de guerra civil de valores. "Focus on the Family" (Foco na Família) é um ministério liderado por Dobson, com sede no Colorado, o qual ministra com regularidade às vítimas da exploração e abuso da criança. Ao lado do co-autor, que é ex-conselheiro da Administra­ção Reagan, Dobson apresenta-nos um resumo estarrecedor do crescimento do secularismo anti-cristão, e da moralidade conde­scendente que estão sendo perpetrados contra a família.

No capítulo intitulado "Amor e Sexo", o Dr. Dobson dá-nos a seguinte avaliação:

Despojada de padrões de conduta sexual, a sociedade vai-se desenrolando à semelhança de um novelo de linha. Essa é uma lição da história. Esse é o legado de Roma e de mais de duas mil civilizações que chegaram e desapareceram. A família é a unidade básica da socie­dade sobre a qual repousam todas as atividades huma­nas. Se você tentar mexer na natureza sexual dos rela­cionamentos familiares, você necessariamente ameaça toda a inf raestrutura. Na verdade, nossas bases tremem e cambaleiam como um marinheiro bêbado por causa da insensatez de nossos engenheiros culturais (Children at Risk, 55.)

E de vital importância que pregadores, escritores, conferencis­tas, comentaristas e homens dos meios de comunicação se pro­nunciem contra o comportamento destrutivo, e retratem com nitidez os perigos que cercam jovens e velhos em nossa sociedade. A pressão contrária é tão forte que somente uma reação gigantesca poderia, talvez, contra-atacar a tendência perversa.

Entretanto, meu maior temor é que os livros e artigos, e as reações emocionais por trás deles passem, e quase nada melhore para as crianças. Quatro décadas de reprogramação a cargo de educadores e agências sociais permissivos conseguiram perverter e corromper os alicerces da disciplina moral da sociedade atual-Pode nossa cultura sobreviver, ou teria a crise deflagrada pela fraude espiritual levado o mundo longe demais, na direção do Apocalipse?

Tenho também lido relatórios confiáveis, segundo os quais a imoralidade é tão epidêmica nas igrejas quanto no mundo secular lá fora. Uma pesquisa recente revelou que 40 por cento dos jovens das igrejas evangélicas norte-americanas, que crêem na Bíblia, são sexualmente ativos. Há mais: 60 por cento dos adultos solteiros, incluindo os que frequentam a igreja com regularidade e partici­pam de estudos bíblicos, não apenas são ativos sexualmente, mas metade deles pratica sexo com multiplicidade de parceiros.

Não é de admirar que o mundo esteja em crise. Não é de admirar que os adolescentes estejam confusos. Não é de admirar que haja perigo em nossas ruas. Não é de admirar que a violência seja tão alta. Não é de admirar que o suicídio entre adolescentes atinja proporções de epidemia. Não é de admirar que o abandono da escola secundária por todos os Estados Unidos seja algo astro­nómico. Não é de admirar que jovens adultos fracassem na vida e voltem para casa, para morar com papai e mamãe. Não é de admirar que nada haja em que os jovens possam crer. Não é de admirar que a alma da atual sociedade corra perigo. Não é de admirar que temamos o amanhã. Satanás, o enganador e corrup­tor, cavalga livremente pela terra.

Quem defende a verdade? Será que alguém ainda se preocu­pa? No final amargo da era de liberação — liberação da mulher, liberação da criança, liberação dos animais, liberação de tudo, menos da ética — os Estados Unidos aparentemente foram libe­rados de seus alicerces morais. Todavia, para muitas pessoas, a boa vida tornou-se um inferno em vida.

 

Mínimo denominador comum

Você não pode mais ver televisão, ou ler um jornal, sem perceber as perigosas implicações dessas tendências. As revistas de circulação nacional têm dedicado edições inteiras ao tópico do medo, ou do pânico, em nossas vizinhanças. No editorial da revista USA Today, de maio de 1992, que Gerald F. Kreyche ^titulou "A Decadência da Moralidade", o autor examina os Valores perpetrados pelos que popularizam a imoralidade. Assim escreve ele:

Viver juntos, maritalmente; ter filhos fora do casamen­to, sem que o pai assuma responsabilidades financeiras nem morais; pais solteiros — tudo isso quase parecendo a rigor. (Uma reportagem recente citou que havia dobra­do o número de partos de mães adolescentes, num período de dois anos. Entre as mães adolescentes ne­gras, só uma dentre dez é casada. Em todo o país, um em cada quatro bebés tem mãe solteira.) Lésbicas e "gays" não sentem o menor pudor de seus relaciona­mentos.

A nova chefe da Organização Nacional de Mulheres (sigla em inglês: NOW) admite ter marido e ao mesmo tempo uma "companheira" do sexo feminino. A assis­tência social, em vez de ser ajuda temporária até que se vença uma dificuldade momentânea, tornou-se "um direito" que dura uma geração inteira, o que transforma a "ética norte-americana do trabalho" uma expressão vazia. Ao longo de tudo isso, a sociedade nos pede que sejamos tolerantes, compreensivos, que aceitemos os fatos e, acima de tudo, que não julguemos.

Afirma Kreyche que qualquer Rip Van Winkle que ressusci­tasse nos anos noventa, depois de longo sono, entraria num "tre­mendo choque de valores culturais capaz de arrebentar a agulha da escala Richter". Devo concordar. Pesquisas após pesquisas revelam que mais de 90 por cento das pessoas dos Estados Unidos afirmam aderir a algum tipo de sistema de valores éticos, baseado na crença em Deus; entretanto, tais valores aparentemente pouca ou nenhum influência exercem na vida deles. As raízes cristãs desta nação [norte-americana] não só foram arrancadas das uni­versidades e de outras instituições, mas a Palavra de Deus comumente é escarnecida como sendo contrária às mulheres, manipu­ladora e mítica.

Entristece-me deveras ver que algumas igrejas compromete­ram alguns princípios básicos. Em muitos casos, elas trocaram as verdades das Escrituras por uma mentira. Entretanto, esse declí­nio em nossa cultura, e em nossas igrejas, outra coisa não é senão outro sinal de que penetramos no "tempo da tribulação" profeti­zado por Jesus. O Senhor descreveu a tempestade vindoura na parábola do semeador, dizendo que haveria uma época em que as pessoas deixariam a verdade e procurariam satisfazer as pró­prias paixões. Depois, o apóstolo Paulo dá-nos outro vislumbre do Apocalipse vindouro, em suas instruções ao jovem Timóteo. Assim escreveu ele:

Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, deso­bedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeição natural, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, atrevi­dos, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que ami­gos de Deus, tendo a aparência de piedade, mas negan-do-lhe o poder. Afasta-te também destes. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, leva­das de várias concupiscências; que aprendem sempre, mas nunca podem chegar ao conhecimento da verdade (2 Timóteo 3:1-7).

Paulo descreve tempos de desespero que há 40 anos teriam parecido impossíveis e fantásticos; entretanto, esse é o mundo em que vivemos hoje. Como foi possível que tais tempos sobrevies-sem à terra?

Para benefício de Timóteo, seu discípulo, e da igreja que o jovem pastor iria pastorear, a carta de Paulo o exorta a que viva em obediência aos princípios que sabia serem corretos, e não se deixasse influenciar pelo mundo cheio de pecado ao seu redor. Em sua carta a Timóteo, assim diz Paulo:

Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a infância sabes as sagradas letras, que po­dem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus (2 Timóteo 3:14-15).

Sobrevieram tempos difíceis para os cristãos no império ro­mano. Eram comuns a perseguição e a morte. Para o crente débil de coração havia uma justificativa maior para a apostasia do que há hoje, mas Paulo exorta a Timóteo a que fique firme. O apóstolo lembra a Timóteo que "toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para ins­truir em justiça" (2 Timóteo 3:16). Nesta declaração está a verdade central da autoridade da Palavra de Deus que é tão disputada no mundo hodierno.

Os tribunais norte-americanos têm sido despojados de grande parte de sua autoridade doméstica e divina. Há pouco julgamento contra o crime em nossa época. Segundo o mesmo padrão frouxo, e com objetivo de justificar seus pecados, os pecadores têm negado a autoridade da Bíblia, que é a autoridade suprema em moral, e com o objetivo de justificar seus pecados. Mas o pior é que há homens e mulheres da igreja que, em vez de defender fielmente a autoridade das Escrituras, difamam-na e negam-na. Esta também é obra do enganador. Adverte-nos o autor de Hebreus:

É impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa Palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento, porque de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o ao vitupério (Hebreus 6:4-6).

Todavia, podemos obter nova vida em Cristo, sendo esta nossa maior necessidade como indivíduos e como sociedade. Em sua carta aos Romanos, assim escreveu Paulo: "Não vos confor­meis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento" (Romanos 12:2). O poder do Espírito Santo para derrotar a inclinação natural para o pecado que reside em nós está disponível a qualquer pessoa que aceitar a Cristo como seu Senhor e Salvador. Disse também Paulo:

Pois sabemos isto, que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado; porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos. Pois sabemos que, havendo Cristo ressurgi­do dentre os mortos, já não morre; a morte já não mais tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus (Romanos 6:6-10).

Em sua carta a Timóteo, disse o apóstolo: "Por que Deus não nos deu o espírito de timidez, mas de poder, de amor e de moderação" (2 Timóteo 1:7). Então, por que lutamos contra um Deus que nos ama? Por que tantos trabalham tão duramente em prol de algo que podem obter de graça? Que grande tragédia essa, que os que preferem seguir as filosofias seculares voltem as costas a Deus, a fim de servir a ídolos falsos, falíveis, em sua própria carne!

 

Julgamento da igreja

Ensina-nos a Bíblia que haverá falsos mestres e falsos profetas, na igreja, à medida que esta era for chegando ao fim. E como disse o apóstolo Pedro:

Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos mestres, os quais intro­duzirão encobertamente heresias destruidoras, negan­do até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade. Por ganância farão de vós negócio, com palavras fingidas. Para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme (2 Pedro 2:1-3).

Não é necessário que Satanás construa uma igreja e a chame Primeira Igreja de Satanás, a fim de seduzir a sociedade moderna. Ele faz melhor do que isso. Ele almeja tomar conta de nossas escolas e instituições sociais, dos pensamentos e das atitudes de líderes de influência, da mídia e dos princípios de nosso governo.

Advertiu-nos o apóstolo Paulo que muitos seguiriam os falsos Mestres, desconhecendo que alimentar-se do que tais mestres usinam é a mesma coisa que ingerir veneno, injetar na própria vida o veneno do diabo.

Milhares de pessoas de todos os escalões profissionais e so­cais estão sendo enganadas, hoje. Os falsos mestres utilizam palavras lindas, que parecem conter o peso da lógica, da erudição e da sofisticação. São brilhantes, intelectualmente, e engenhosos na elaboração de sofismas. Costumam ludibriar homens e mulhe­res cujos alicerces espirituais são fracos.

Esses falsos mestres abandonaram a fé em Deus revelada nas Escrituras. Declara a Bíblia com máxima clareza que a razão por que refugiram é que deram ouvidos às mentiras de Satanás e, com deliberação proposital, decidiram aceitar as doutrinas do diabo, em vez de a verdade de Deus. Por essa razão, tornaram-se porta-vozes de Satanás.

Ao escrever a Timóteo, Paulo adverte: "Mas o Espírito expres­samente diz que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demó­nios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm caute­rizada a própria consciência" (1 Timóteo 4:1-2).

Mais tarde, Paulo escreveu a Timóteo: "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando às fábulas" (2 Timó­teo 4:3-4). Não lhe parece que já estamos bem familiarizados com tudo isto hoje?

Satanás é mentiroso, enganador e sabe imitar bem. Logo no início, no jardim do Éden, o propósito de Satanás não era neces­sariamente fazer que a humanidade se fizesse impiedosa ao máxi­mo, mas que ficasse tão parecida com Deus quanto possível, todavia sem Deus. Com frequência, o método usado por Satanás é a imitação de Deus. Dizem as Escrituras: "Não é de admirar, pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transformem em ministros da justiça. O fim deles será como as suas obras" (2 Coríntios 11:14-15).

Satanás ainda está utilizando esse tipo de fraude e, com fre­quência, seus representantes se disfarçam de ministros de justiça. Enquanto propagam o que traz morte e escuridão à mente e ao coração do pecador, professam ser representantes da vida e da luz. Aqui está a fraude satânica. No momento em que a tempes­tade do engano moral e espiritual, desencadeada pelo primeiro cavaleiro, desaparecer no horizonte, o poder total do anticristo terá vindo à terra, trazendo sua maldição aterradora.

Entretanto, depois que esta parte do Apocalipse de João hou­ver acontecido, seguir-se-á o horror que o mundo teme mais do que outro qualquer: entra em cena o segundo cavaleiro, o do corcel vermelho, trazendo guerra e destruição.

 

                                             NO OLHO DO FURACÃO

 

Portador da guerra

Então saiu outro cavalo, vermelho. Ao seu cavaleiro foi dado tirar a paz da terra para que os homens se matas­sem uns aos outros. Também lhe foi dada uma grande espada (Apocalipse 6:4).

 

Os temores do Apocalipse são tão velhos como a civiliza­ção. Guerra, anarquia, irmão contra irmão, nação contra nação — o esfacelamento completo dos relacionamentos huma­nos sadios têm caracterizado a história humana. Todas as socie­dades, desde a aurora dos tempos, têm conhecido grandes males, grandes destruições, mas o holocausto vindouro há de ultrapassar tudo que a mente humana pode imaginar.

Em Apocalipse 6, João nos fala do cavalo vermelho do Apo­calipse — o portador da guerra. O segundo cavaleiro desencadea­rá violência e tempestades de destruição sem precedentes, até a nora final, quando o próprio Messias intervirá a fim de esmagar os aliados de Satanás e os males do Armagedom. Você se lembra do que Jesus disse a seus discípulos: "Haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem larnais haverá. Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria, mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias" (Mateus 24:21-22).

Só um ingénuo poderia dizer que não sabe que este cavaleiro funesto, que traz a guerra, agora mesmo está cavalgando incansavelmente em nossa direção. Disse alguém que a terra tornou-se um vilarejo global. Somos todos vizinhos, de modo especial agora que a guerra fria terminou.

Muitos acham que o Ocidente ganhou essa guerra. Todavia, não podemos celebrar prematuramente; há uma pirâmide de armas nucleares nesta era pós-guerra fria, que ainda atribui à humanidade o poder de destruir a terra dezessete vezes, com chamas que atingiriam 130 milhões de graus de calor. Quando houver chegado o momento determinado, nenhuma resolução das Nações Unidas, nenhuma força para manutenção da paz, nenhuma nova ordem mundial poderá deter os acontecimentos. Todos devemos trabalhar e orar em prol da paz, pois sabemos que o perigo ainda é grande.

Além de tudo, parece que cresce continuamente o número de nações agressivas do Terceiro Mundo, alimentadoras de sonhos de glória. Há vários ditadores militares que não hesitariam um segundo sequer antes de mandar um míssil nuclear a Tel Aviv ou Jerusalém, caso pudessem fazê-lo. Enquanto os homens estiverem vivendo segundo as leis da auto-suficiência e dos objetivos egoís­tas, haverá tiranos capazes de trazer calamidades ao mundo.

Nestes tempos tempestuosos, ninguém pode falar sobre guer­ra com confiança e isenção de ânimo. Cada um de nós tem uma visão da destruição nuclear desenhada permanentemente em sua mente. Antes dos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, as batalhas estavam mais ou menos limitadas aos lugares onde eram travadas, e às rotas marítimas. Os suprimentos eram transporta­dos por distâncias enormes. Oceanos, terreno montanhoso, estra­das cobertas de neve, desertos áridos e rios caudalosos, tudo criava barreiras naturais que limitavam a guerra e davam aos litigantes pelo menos a ilusão de distância e segurança. De modo especial para os norte-americanos, as guerras foram travadas "lá ao longe", em plagas "de além mar".

Todavia, a campainha de advertência que soou na sala de noticiário da Empresa Japonesa de Transmissão Radiofónica, às 8:45 h de 6 de agosto de 1945, assinalou um alerta que mudou tudo. O locutor precipitou-se para ler o boletim que ali chegara havia segundos, vindo do Quartel do Exército, distrito de Chugo-ku: "Três aeronaves inimigas foram detetadas sobre a área de Saijo", dizia o boletim. De súbito, houve um relâmpago azul cegante em cima de Hiroshima... e um momento de silêncio absoluto, nada terráqueo. Na esteira da erupção espantosa que se seguiu, uma nuvem ominosa, com formato de cogumelo, compos­ta de gases ferventes, ergueu-se acima de uma massa incinerada onde existira antes uma grande cidade. Seria o símbolo de uma nova era para as décadas vindouras.

Aquele locutor e a estação de rádio foram vaporizados. O bombardeamento consecutivo de Hiroshima e Nagasaki atingi­ram o objetivo intencionado: trouxe um fim abrupto àquela guerra terrível, mas mudou, também, o curso da história, ensinando ao mundo inteiro os novos perigos da guerra. Nos dias que se sucederam àqueles eventos mortíferos, às vezes nos esquecemos de que o bombardeio nuclear do Japão também salvou vidas.

Muitos líderes japoneses de hoje, até mesmo naquelas duas cidades, dizem-nos como aquelas bombas provavelmente salva­ram milhões de japoneses e também de soldados aliados; é que se a guerra não houvesse terminado naquela época, de modo abrup­to, os japoneses certamente teriam prosseguido na luta até o último homem, a fim de proteger sua terra. Entretanto, as cidades de Hiroshima e Nagasaki tornaram-se parte de uma nova defini­ção de guerra para as épocas futuras.

O problema é que muitos de nós, que nem sequer existíamos naqueles dias, teimosamente nos recusamos a mudar nossas an­tiquadas definições de guerra. Recusamo-nos a crer na verdade do horrendo poder destrutivo que descobrimos. Preferimos per-mancer no paraíso de um louco: A guerra é algo que ocorre noutro lugar qualquer.

Dizem-nos os historiadores que o mundo contemplou mais de quatro mil guerras, nos últimos cinco mil anos, a maioria das quais durou vários anos. Algumas delas, como a guerra dos Trinta Anos, na Europa, durou várias décadas, e ceifou a vida, o sangue e a juventude de uma dúzia de nações. Sabemos que as duas guerras mundiais, na primeira metade deste século, custaram a vida de 60 milhões de pessoas.

A partir dos momentos horripilantes da corrida armamentista dos anos sessenta e setenta — naqueles dias cheios de ansiedade do confronto nuclear armado entre o Ocidente e o Oriente — Passamos a entender o potencial da intimidação política. Cada *ado imagina que o outro é mais poderoso, e cada um exige mais e mais armas poderosas, sobre-humanas. Na guerra do Golfo

Pérsico vimos a incrível precisão e capacidade destrutiva das armas convencionais modernas. Só nos resta imaginar o que significa uma guerra termonuclear total.

Praticamente qualquer tiranozinho pode tornar-se um perigo enorme, quanto a armas nucleares ou bioquímicas, na presente situação do mundo. Ainda que a devastação total de uma guerra nuclear torna essa perspectiva impensável, mentes doentias e imprevisíveis do tipo Saddam Hussein ou Mohamar Qaddafi podem sacudir o mundo num ataque de surpresa. Essa mudança de armamento convencional para armamento nuclear e bioquími­co transformou a tarefa da diplomacia internacional, que agora é bem mais complicada.

 

A loucura da guerra

A própria existência de armamentos nucleares mudou o cará-ter da guerra. Ela deixou de ser o que era. O autor e pesquisador George Segai escreveu o seguinte: "A mudança fundamental foi que enquanto as guerras anteriores podiam ser concebidas como instrumentos úteis de política, uma guerra nuclear resultaria na morte do planeta. Só restaria uma 'república de insetos'" (World Affairs Companion, 90).

Quando se tornou bem claro que até mesmo as armas nuclea­res mais simples possuíam a capacidade de aniquilar tudo, na área de morticínio, a estratégia bélica teve que mudar. Acrescentou-se a atuação sub-reptícia, a astúcia. Além do arsenal mundial de mísseis balísticos intercontinentais, petardos lançáveis de subma­rinos, mísseis baseados em silos e projéteis que podem ser dispa­rados até de satélites, subitamente deparamo-nos com mísseis nucleares escondidos em estradas subterrâneas, movimentando-se de contínuo sobre veículos. Com toda essa movimentação e comoção, a ameaça de destruição em massa cresceu muito. De fato, a maioria dos analistas diz que a possibilidade de destruição total está "assegurada", sendo o acrónimo dos anos setenta a palavra MAD — Mutually Assured Destruction (Certeza de Des­truição Mútua — "mad" em inglês significa "louco").

Por toda a parte, ao nosso redor, agora, há guerras e rumores de guerras. Além da recente guerra no Golfo Pérsico, mais de quarenta guerras incendeiam o mundo, neste momento.

E sumamente espantoso pensar que quinze nações (ou mais) detêm agora tecnologia nuclear de um ou de outro tipo, e que mais da metade delas possui armas nucleares. A despeito do tão pro­clamado fim da guerra fria, cerca de vinte e cinco nações agitam-se para vir fazer parte do clube atómico. Se acrescentarmos todas as armas nucleares armazenadas pela antiga União Soviética, Esta­dos Unidos, Grã Bretanha, França, índia, Israel, China e outras nações menores, teremos uma ideia do potencial destruidor que as nações agora detêm.

Uma coisa vai-se tornando cada mais vez mais clara, à medida que os dias passam: A guerra deixou de ser algo necessariamente limitado a lugares "lá bem longe". O cavaleiro sobre o corcel vermelho encurtou as distâncias. Os cascos do cavalo vermelho produzem um tropel ensurdecedor de guerra, ao subir e descer as ruas de nossas cidades. É possível que as brisas da guerra tenham diminuído seu sopro, mas a tempestade não ficou fora de nosso campo visual. Não podemos guardar por enquanto as bandeiras de sinalização, as bandeiras de alerta.

Por natureza, todos desejamos a paz. Nossos líderes nos pro­metem paz, mas a melhor paz já desfrutada não passa de uma calmaria em que não há descanso. O mundo está num caos tão desesperador, durante tão grande parte do tempo, que eu sou obrigado a perguntar: seria a paz mera ilusão? Será que a calmaria atual indica paz iminente, ou quem sabe uma tempestade mais horrenda do que poderíamos imaginar? Não posso deixar de crer que hoje estamos bem no centro de um furacão, e que esse vácuo irrespirável, instalado desde a queda do comunismo e o colapso da União Soviética, nada mais são do que a frágil pausa que antecede uma tempestade sinistra. Esta é uma impressão minha que não posso negar, mas oro para que não seja assim.

 

Uma esperança razoável

Durante séculos, legislaturas e parlamentos têm tentado asse­gurar a paz. No passado longínquo, líderes como os Césares, Constantino, Carlos Magno, Napoleão, os "czars" do oriente, e os reis do ocidente, todos, cada um em sua época, prometeram paz duradoura. No entanto, todos falharam. Hoje, proclamam-se au­daciosos planos de unidade e irmandade global em Bruxelas, Nova York, Genebra, Tóquio e Washington, D.C.. Entretanto, não existe paz universal, e o mundo se cansa de promessas vazias.

Ao testemunharmos vários eventos que ocorrem na Europa oriental, na América Latina, no Oriente Médio, e aqui nos Estados Unidos, há motivos para otimismo. Olhando-se de várias perspec­tivas, parece que estamos entrando num período de calmaria. Entretanto, há muitas razões para que nos mantenhamos em guarda.

A economia mundial enfrenta sérios percalços, e nosso deficit federal é aterrador. Em 1992, o governo norte-americano enfren­tou um débito de 400 bilhões de dólares, sem ter virtualmente meios de pagá-lo. O crescente débito constitui um problema sério tanto para as famílias quanto para as corporações. O crime e a violência crescem, o que faz que lugares bem iluminados, limpos, sejam perigosos até de dia. Além disso, a moralidade se desinte­gra, os valores tradicionais da família, e a própria família entram em colapso, e há um crescente preconceito contra a expressão religiosa da parte de um número cada vez maior de organizações seculares. A maior parte dos observadores de hoje acredita que os Estados Unidos estão vivendo numa era pós-cristã.

De que maneira a situação do mundo, hoje, encaixa-se no plano de Deus quanto à paz na terra? Tenho de perguntar de novo, já que fiz a mesma pergunta logo no começo: haverá paz na terra, ou seria a paz mera ilusão? Será que a tempestade à vista vai destruir o mundo?

Antes de respondermos a esta pergunta, precisamos parar e considerar durante um momento algo que é fácil de ser esquecido, enquanto estamos contemplando o terror de uma guerra nuclear. Esquecemo-nos de um horror infinitamente maior, que é a eterni­dade sem Deus. Os horrores de uma guerra nuclear são transitó­rios, comparados à eternidade. Os horrores que aguardam as pessoas que rejeitam a oferta de Deus de misericórdia, graça, e salvação em Cristo, são tão terríveis que nem podemos imagina-los.

Você se lembra daqueles momentos que antecederam a traição e crucificação de Jesus? Quando Cristo saía do templo em Jerusa­lém, ele pronunciou esta advertência: "Ouvireis de guerras e rumores de guerras, mas cuidado para não vos alarmardes. Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim. Levantar-se-à nação contra nação, reino contra reino" (Mateus 24:6-7).

Enquanto o Senhor pronunciava estas palavras, a ação mais horrenda e vil de todos os tempos, e da eternidade, estava prestes a ser praticada: Os homens ansiavam crucificar o Príncipe da Paz. Entretanto, é importante que nos lembremos que embora Cristo nos advertisse de que constantemente haveria guerras e rumores de guerras, não se depreende daí que nós deveremos sentar-nos em silêncio, enquanto os povos do mundo destroem-se mutua­mente. Não devemos permitir que nosso silêncio seja tomado como aprovação dessas devastações todas, efetuadas com armas de destruição em massa. Devemos advertir as nações do mundo de que devem arrepender-se e voltar-se para Deus, enquanto há tempo. Devemos, também, proclamar que há perdão e paz no conhecimento de Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

 

Um ponto final no mal

Precisamos perguntar-nos a nós mesmos: E este o final dos tempos de que a Bíblia fala tão graficamente? É esta a tempestade final que varrerá tudo, por onde passar? As Escrituras definitiva­mente ensinam que haverá um fim na história humana, como a conhecemos, e a maioria dos eruditos bíblicos acredita que esse fim está próximo. Não será o fim do mundo, mas será o fim do atual sistema mundial, que tem sido dominado pelo mal.

Ensina a Bíblia que Satanás é, na verdade, "o príncipe deste mundo" (João 12:31), e "o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência" (Efésios 2:2). Enquanto Satanás estiver à vontade, em constante conflito contra Deus, e pondo em execução seus planos mortíferos, você pode ter certeza de que as guerras prosseguirão; a morte e os desastres continuarão multiplicando-se. Sem Deus, não há espe­rança para a humanidade.

Mostram-nos também as Escrituras que haverá uns sinais teeilmente discerníveis que ocorrerão quando se aproximar o fim dos tempos. Parece que tais sinais estão entrando em foco agora ^esmo. Disse Jesus em Mateus 24 que haveria fomes, pestes e terremotos, mas advertiu-nos de que tudo isso seria apenas o c°meço.

Disse o Senhor que "muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos esfriará" (Mateus 24:10-12). Mas Cristo acrescentou: "Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho de todas as nações. Então virá o fim" (Mateus 24:14). Apenas neste sinal podemos ver a possibilidade de alcançar o mundo todo com o evangelho, mediante novas tecnologias revolucionárias, antes do fim deste século. Trata-se de oportunidade sem precedente, que jamais poderia ter sido utili­zada antes, e que hoje é uma possibilidade real.

Durante nossa cruzada em Londres, em 1989, pudemos atingir 230 cidades por toda a Grã Bretanha, e 33 nações africanas, com o auxílio de satélite artificial, durante as primeiras horas do horário nobre da televisão. Nossos planos para o futuro são mais ambi­ciosos ainda. Em 1993, durante nossa campanha baseada em Essen, na Alemanha, nosso objetivo foi o de atingir a Europa inteira mediante um sistema de comunicação ligado ao satélite.

Nenhum evangelista e nenhum ministério consegue cumprir sozinho a profecia de Cristo — e não é essa a nossa intenção, e jamais teríamos a pretensão de tentar cumpri-la assim — mas toda pregação, toda boa obra, toda vez que o evangelho é apresentado, e toda divulgação por rádio ou televisão, que leve as boas novas de Cristo a uma alma perdida, representa um cumprimento da promessa de Cristo. É um trabalho cuja execução me enche de alegria.

 

A chegada da besta

Outro sinal significativo profetizado por Cristo diz respeito ao aumento constante das atividades bélicas. Algumas pessoas tal­vez mencionassem que o mundo nestes primeiros anos da década de noventa parece estar mais calmo, deixou de ser tão perigoso. Advirto rapidamente que não sabemos ainda o que fazer das mudanças políticas trazidas pelos últimos anos. Nada é certo, e o potencial caótico é grande para o colapso e a guerra. Já vemos esses sinais na Iugoslávia e noutras partes. Ainda não é possível eliminar a probabilidade de que é grande o perigo por que passa­mos neste momento.

Entretanto, Daniel, que Jesus cita com respeito à era final, assim profetizou: "O povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário. O seu fim será como uma inundação: Até o fim haverá guerra, e estão determinadas desolações" (Daniel 9:26).

Apocalipse 11,13 e 16 trazem minúcias das devastações que ocorrerão. No capítulo 11, João descreve a vinda do anticristo, dizendo: "a besta que sobe do abismo lhes fará guerra e os vencerá e matará. E os seus corpos jazerão na praça da grande cidade, que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o seu Senhor também foi crucificado" (Apocalipse 11:7-8). Os povos da terra clamarão, cheios de espanto e admiração: "Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?" (Apocalipse 13:4). Na verdade, ninguém poderá resistir à besta.

Jesus indicou que haveria muitas guerras, talvez milhares, antes da grande batalha imediatamente anterior à sua volta. No contexto da crescente intensidade de atividades bélicas, afirmou o Senhor: "Cuidado para não vos alarmardes. Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim" (Mateus 24:6). Durante quase dois mil anos desde que o Senhor proferiu estas palavras, tem havido alternância nos ciclos de guerra e paz — conflitos grandes e pequenos, revoluções domésticas e guerras no estrangeiro. En­tretanto, a tecnologia moderna mudou dramaticamente as regras do jogo. A próxima guerra poderá ser de âmbito mundial, em que o terror tríplice das armas nucleares, biológicas e químicas será empregado para total destruição do mundo.

Ao referir-se a essa guerra, afirmou Jesus o seguinte: "Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria" (Mateus 24:22). Isto significa guerra total, com o provável resulta­do da aniquilação da humanidade toda, não fora a intervenção divina. Nunca antes a morte da humanidade toda — a destruição total do planeta terra — esteve nas pontas dos dedos do homem. Não há precedentes na ciência política, nem na história humana, 1ue possam orientar as pessoas que detêm tão grande poder. O ^undo tem estado em guerra desde os dias de Adão, mas nunca na escala predita por Jesus em Mateus 24 e Apocalipse 6. Nunca r^tes o mundo contemplou um potencial bélico capaz de aniqui-^ toda a raça humana.

Esta é a situação e, com toda a probabilidade, estas são as armas do segundo cavaleiro do Apocalipse 6. No versículo 4, vemos que ele tem o poder de tirar a paz da terra. Certamente isto significa guerra mundial, não apenas guerras civis, ou conflitos com armas convencionais. No presente momento, parece que as polarizações políticas e militares desvaneceram-se, mas não po­demos presumir que isso prosseguirá no futuro.

Já se formam blocos de poderio na Europa, Ásia e Estados Unidos, os quais poderiam conflitar entre si a respeito de questões económicas ou comerciais, sobre imigração e população, ou qual­quer outra contingência que poderia conduzir à mais devastadora guerra da história humana. Seja qual for o motivo provocador, sejam quais forem os participantes, será uma guerra tão intensa e destruidora que, não fora a intervenção miraculosa de Deus, a humanidade toda pereceria.

Quantos morrerão? Alberto Einstein previu que um conflito nuclear de âmbito total reduziria a cinzas pelo menos um terço da população mundial. É essa a proporção indicada na Bíblia: "Uma terça parte de ti morrerá de peste, e se consumirá de fome no meio de ti; outra terça parte cairá à espada em redor de ti; e a outra terça parte espalharei a todos os ventos, e desembainharei a espada atrás dela" (Ezequiel 5:12).

Seria possível que pudéssemos gozar pelo menos um século de paz, quem sabe mais? Sim. A guerra não é inevitável. Se a raça humana deixasse seus caminhos maus e voltasse para Deus, pon­do de lado os pecados da desobediência, idolatria, orgulho, cobi­ça, e beligerância, mais todas as aberrações que nos conduzem à guerra, existiria a possibilidade de paz. Todavia, quando contem­plamos como são as coisas, em nossa sociedade, todo o ódio e violência ao nosso redor, quem conseguiria prever tal transforma­ção? A fim de abandonar seus hábitos viciosos, sua animosidade, o mundo teria que chegar-se a Deus mediante humildade e arre­pendimento, numa escala mundial. Pode isto realmente aconte­cer?

Sim, ainda acredito que haja esperança. Entretanto, nunca mundo chegou a conhecer paz completa. Talvez gozemos p^ durante uma geração, mas mediante o pecado e a obra de Satan em nosso mundo, somos incapazes de viver em paz duradou

Pense nas inúmeras crises que nos defrontam: recessão, colapso económico, AIDS, abuso de drogas, crimes violentos e racismo. O coração humano sem Deus é depravado, e o enganador explora nossas fraquezas para atingir seus próprios fins. Acumulam-se já as nuvens da tempestade. Quando desencadearem sua fúria, nada permanecerá em seu caminho.

 

Temores irrazoáveis?

Um repórter muito agitado do jornal francês Le Figaro entre-vistou-me em 1986, em Paris. Ele estava confuso por causa da forma como eu usara as palavras "Revelação" e "Apocalipse" de forma intercambiável, em meus sermões. Tentei esclarecer que uma palavra é grega e outra, inglesa, mas ambas querem dizer a mesma coisa. O homem não conseguiu entender, mas perguntou-me: "O Senhor acha que é bom, e é cristão, assustar as pessoa com coisas assim?" Repliquei-lhe: "Você leu a primeira página do Le Figaro ultimamente? Todos os dias nossas próprias manchetes assustam as pessoas com notícias de assassinato, doença, escân­dalo e corrupção. A maior parte do mundo vive num constante estado de temor". O repórter me interrompeu para dizer: "Mas essas coisas são diárias. O Apocalipse não é diário! Acho que você só quer assustar o povo!"

Eu entendi o que aquele homem dizia, mas era óbvio que para ele os ensinos do livro de Apocalipse são apenas mitos e histórias da carochinha. Ele não o considera revelações de Deus a respeito de um fim iminente e real da civilização. Por isso, eu lhe disse: "Às vezes é minha responsabilidade e meu dever como ministro do evangelho assustar as pessoas. Digo aos meus filhos: Tenham cuidado quando atravessarem a rua, porque vocês poderão ser atropelados por um carro. Trata-se de um temor legítimo. Minha esposa e eu moramos nas montanhas da Carolina do Norte, e às vezes encontramos serpentes venenosas. Digo, então, aos meus filhos: Tenham máximo cuidado quanto aos lugares por onde andam; evitem as cobras! Este também é um temor legítimo. Deus nos disse: Se vocês pecarem contra mim, se quebrarem meus mandamentos, trarei julgamento sobre o mundo. Este é também um medo legítimo e, se não atendermos a estas advertências, estaremos vivendo sob grande risco".

Diz a Bíblia: "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Salmo 111:10). Nós não tememos a Deus como se ele fora um tirano, mas um Pai justo e amoroso, que nos conduz em sabedoria e verdade, de modo que façamos o que é bom para nós, o que prolonga e preserva nossa vida. Todavia, desde que Deus é um Pai justo, sabemos que ele vai disciplinar-nos e punir-nos, se e quando desafiarmos seus mandamentos. Se quebrarmos esses mandamentos com muita frequência, e com muito descaso, o Senhor tirará de vez todos os nossos privilégios. Este é o risco que corre o mundo neste momento. Esta é a mensagem que devo pregar.

Registra o livro de Êxodo que Deus enviou pragas em cima de pragas sobre Faraó e os antigos egípcios, para que o povo de Israel fosse libertado da escravidão a que fora submetido havia quatro­centos anos. Após cada praga, Faraó fazia promessas que não cumpriria. Assim diz a Bíblia: "o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito" (Êxodo 8:19).

No Apocalipse, vemos uma situação paralela referente ao fim dos tempos, quando Deus adverte seu povo, e o exorta para que obedeça, e deixe a idolatria; todavia, o povo não cumpre suas promessas. Escreve João: "Os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das obras das suas mãos, para deixarem de adorar aos demónios, e aos ídolos de ouro, de prata, de bronze, de pedra e de madeira, que não podem ver, nem ouvir, nem andar. Nem se arrependeram dos seus homi­cídios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos" (Apocalipse 9:20-21).

Nem a graça, a misericórdia e a bondade de Deus levaram o povo ao arrependimento. O povo presumiu que Deus seria dema­siado paciente, negligente e destituído de poder. Entretanto, em ambas as histórias o resultado foi julgamento rápido e sem pieda­de.

Hoje, nossas promessas de fidelidade aos mandamentos de Deus não têm levado as nações ao arrependimento. Faz cinquenta anos que venho pregando sobre arrependimento; milhares de ministros do evangelho estão pregando arrependimento neste exato momento, por toda a parte do planeta; nos últimos dois m anos, profetas, padres, pregadores e evangelistas têm conclama o mundo a que volte em retidão a Deus, mas na maior parte do tempo o mundo tem rido perante a face do Rei dos reis. Hoje mesmo, homens e mulheres tentam menosprezar as advertências claras de uma tempestade à vista.

 

Reconheçamos nossas opções

Sem Deus, nossos corações se tornam frios e endurecidos. Que é preciso para que o mundo se volte para Deus? Se não obtivermos sucesso em ajudar o mundo a encontrar arrependimento e reno­vação, será trágico e irreversível o destino deste planeta. O segun­do cavaleiro do Apocalipse ensinará à humanidade suas respon­sabilidades diante de Deus, nosso Criador, mediante o horror de uma guerra global, pavorosa.

Isto nos leva de volta à pergunta: existiria algo que pudésse­mos fazer para evitar a guerra? Sim. Como cristãos, temos a responsabilidade de procurar a paz, e promover a paz quando e onde pudermos. Assim disse Jesus: "Bem-aventurados os pacifi­cadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5:9). Recebemos a ordem da parte do Senhor Jesus de promover uma paz justa na terra. Quando os anjos anunciaram o nascimento de Jesus, cantaram desta maneira: "Glória a Deus nas maiores altu­ras, paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem" (Lucas 2:14). Assim como o cavaleiro do corcel vermelho vem ao mundo para trazer guerra, Cristo veio para trazer a paz.

Entretanto, há algumas passagens perturbadoras no Novo Testamento a respeito da paz, como esta que registra as palavras de Jesus a seus discípulos, em Mateus:

Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Pois eu vim trazer divisão entre o homem e seu pai, entre a filha e sua mãe, entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os seus próprios familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim; quem ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não vem após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por minha causa, achá-la-á (Mateus 10:34-39).

Conquanto Jesus talvez não estivesse falando especificamente de um conflito armado, conforme o descrevemos, sem dúvida está-se referindo a uma guerra espiritual que ocorre logo após a aceitação do evangelho pregado. João Wesley interpretou este tipo de "espada" como sendo o amor, no sentido de que Jesus veio espalhar o amor na terra, um amor que divide as pessoas. Na mesma casa pode haver os que crêem e os que não crêem. Com frequência, esta situação cria atrito, desentendimento e até divi­sões. Entretanto, qualquer que seja o sentido primordial que Cristo atribuiu a suas palavras nessa passagem, o evangelho sempre teve a capacidade de unir e de dividir.

A paz com Deus, a paz de Deus e a paz entre as nações só é possível se nós nos arrependermos de nossos pecados, se ouvir­mos a Deus, crermos em Deus e seguirmos a Deus. Sendo servos de Cristo, e seguidores, e irmãos e irmãs do Salvador, recebemos a ordem de sermos seus aliados na causa da paz verdadeira e duradoura que só ele pode proporcionar. Em passagem escritu-rística alguma o Senhor promete que seremos bem sucedidos sem sua ajuda, mas o Senhor nos convoca a que façamos o máximo no sentido de confrontar e explicar as questões que envolvem a guerra e a paz, e trabalhar em prol da paz a despeito de circuns­tâncias aparentemente inviáveis. Mais uma vez nós nos vemos face a face com o mistério da soberania de Deus e nosso livre arbítrio. Devemos aguardar a volta de Cristo, a qualquer momen­to, mas precisamos trabalhar como se ele não voltasse nos próxi­mos mil anos.

Depois de entender as consequências do pecado e da arrogân­cia, creio que é dever de todos os crentes orar pelo arrependimento e reavivamento na terra. Devemos executar a obra determinada aos crentes, como Paulo nos instruiu, mas devemos também bus­car a face de Deus, como nunca o fizemos antes. Creio que chegou a hora de levarmos o mundo a orar.

Nesse sentido, o Dia Nacional de Oração, organizado na pri­mavera de 1992 por Shirley Dobson e Vonette Bright, constituiu um evento memorável. Graças a muitos preparativos e muita publicidade, mais de 2.500 comunidades por todos os Estados Unidos realizaram vigílias de oração, nas escadarias dos prédio5 da prefeitura. Cerca de 500 diplomatas e líderes cristãos reuniram-se em Washington, D.C., a fim de orar pela juventude norte-ame-ricana, e pela volta aos valores cristãos. Creio que esse é o tipo de consagração e compromisso que devemos fazer a fim de mudar o rumo dos acontecimentos. Como povo, e como nação, devemos aproximar-nos de Deus com humildade, com súplica de arrepen­dimento, diante do Senhor, antes que a tempestade à vista nos arrebate.

De acordo com um relatório em National and International Religion Report, de 18 de maio de 1992, mais de 180 adolescentes reuniram-se em Spokane, Washington, a fim de orar em prol de soluções para os problemas de drogas, violência, e promiscuidade nas escolas. Em Atlanta, membros de igrejas de todo o Fulton County reuniram-se na capital a fim de orar. Em Houston, 2.500 adolescentes reuniram-se para uma corrente de oração no coliseu da cidade. Em Klamath Falis, Oregon, cidadãos oraram desde o alvorecer até o pôr do sol, num parque da cidade. Esse dia especial de oração decretado pelo presidente Bush foi um maravilhoso derramamento de bênçãos do Espírito de Deus, e é esse precisa­mente o tipo de fervor e dedicação necessários em âmbito nacio­nal, para desencadear mudanças e reavivamento em nossa terra.

A menos que obtenhamos sucesso em assegurar a misericór­dia de Deus, e obter sua clemência, creio que o destino de nossa civilização já está selado. O segundo cavaleiro do Apocalipse reponta orgulhoso em sua sela, brandindo a espada da destruição em círculos cada vez mais amplos. Só Deus pode intervir em nosso favor. Devemos orar pela paz, porque a oração é a arma mais poderosa de nosso arsenal espiritual, a fim de pôr um ponto final na ameaça de um desastre de dimensões globais, e inaugurar os planos de Deus para a criação que ele mesmo estabeleceu aqui.

O Príncipe da Paz deseja que enfrentemos a questão da desin­tegração e da hostilidade em nosso mundo. O racismo, o ódio, o desequilíbrio económico e uma centena de outras questões fer­vem, e fogem do controle humano. Entretanto, as Escrituras nos ordenam que aguardemos com grande antecipação a vinda do Senhor; só ele trará paz completa, e duradoura. No entretempo, devemos trabalhar em prol da paz e da harmonia entre as nações «a terra, e amar o nosso próximo como a nós mesmos.

Deus poupou Nínive durante 150 anos, quando o povo daquela cidade antiga se arrependeu pela pregação de Jonas; ele poderá poupar-nos e dar-nos a paz, também, se nós nos voltarmos a ele em arrependimento verdadeiro! Esta é a única esperança, hoje. Devemos arrepender-nos de nossa iniquidade e procurar a mise­ricórdia de Deus. Vamos, a seguir, examinar as profecias concer­nentes aos dois selos seguintes: o cavalo preto, da fome, e o amarelo, da morte.

 

Fome na Terra

Olhei, e vi um cavalo preto. O seu cavaleiro tinha uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes, que dizia: Uma medida de trigo por um denário, e três medidas de cevada por um denário, e não danifiques o azeite e o vinho (Apocalipse 6:5-6).

 

A imagem é impressionante, mas já se tornou comum: "Aí vêm elas: crianças magérrimas, de olhar parado, distante. As rótulas dos joelhos parecem tão proeminentes, e os cambitos tão finos, que você imagina como conseguem caminhar. Estão fracas demais para espantar as moscas que se lhes assentaram na boca e narinas. Mal conseguem segurar as tigelas diante das câmeras de televisão". A cena aqui descrita não é de Bangladesh, nos anos setenta, nem da Etiópia dos oitenta, mas do leste da Africa de hoje.

O artigo de Michael Ignatieff em World Press Report, intitulado 'Os Quatro Cavaleiros Estão Aqui para Ficar", descreve a terrível tragédia da guerra, da seca e da fome no Leste da Africa. "Outra vez! Vinte e seis milhões de pessoas correm risco de morte no Sudão, Etiópia, Somália, Malawi, Angola e Moçambique. Em todos os lugares onde a guerra civil conspira com a seca a fim de liminar a raça humana."

Nesta última sentença, Ignatieff ecoa o retrato que João nos tornece do terceiro cavaleiro do Apocalipse, que cavalga um cavalo preto, o da fome, e ei-lo que irrompe a fim de infligir o furor da morte pela fome na terra. O espectro da fome é, talvez, o temor mais terrrível, o que mais se repete na história da humanidade. Representa nosso total desamparo e incapacidade quanto a con­trolar as forças da natureza, e a total esterilidade da vida quando a única alternativa é a morte pela fome.

O cavalo preto que aparece diante de João, no Apocalipse, é cavalgado por um cavaleiro que tem nas mãos uma balança. Durante um instante o cavaleiro pára o tropel de seu corcel, segurando sua montaria diante do profeta. Enquanto o animal cavouca o chão e relincha nervosamente, o cavaleiro ergue a balança acima da própria cabeça, enquanto uma voz ressoa, vinda de entre os seres apocalípticos: "Uma medida de trigo por um denário, e três medidas de cevada por um denário, e não danifi­ques o azeite e o vinho" (Apocalipse 6:6).

Na época de João, um denário era o salário de um dia de trabalho. Seria equivalente, talvez, a vinte centavos de dólar nor-te-americano, hoje, e dava para comprar certa medida de trigo, ou de cevada, com que o trabalhador e sua família podiam fazer uma única refeição. Naqueles dias, a cevada custava barato, e em geral servia para alimentar cavalos e gado; todavia, em épocas de fome, era usada como alimento humano. Três medidas de cevada eram suficientes para as refeições de um dia inteiro. No tempo de Cristo, um denário daria para comprar cerca de vinte e quatro medidas de cevada, mas na visão de João, o mesmo dinheiro dava para comprar apenas três medidas.

Assim, quando João ouve o segundo clamor: "três medidas de cevada por um denário", ele percebe que quem assim fala está descrevendo a hiperinflação que naturalmente haveria de acom­panhar uma fome tão destruidora. O valor atual do dinheiro caiu para apenas um oitavo do valor original, ou seja, tem apenas doze por cento do antigo poder aquisitivo. Nos termos de hoje, seria como se um trabalhador que tivesse um rendimento de 20.000 dólares por ano, de repente passasse a ganhar apenas 2.400 dóla­res. A perda seria chocante. E curioso notar que a história do Moçambique derruído pela fome contém este comentário: ' V problema é que o dinheiro aqui deixou de ter valor. Que é que você acha de estar ganhando metade do que você ganhava há doze anos, e não ter condições de atender às necessidades básicas d sua família?"

Ao segurar a balança de modo que se pese a quantidade de trigo que está à disposição de cada trabalhador, o cavaleiro do corcel preto é símbolo de uma provação desesperadora no mun­do. Por meio desse cavaleiro, as Escrituras indicam que o engano, as religiões falsas e a apostasia induzem à guerra, e a guerra, por sua vez, induz à fome e à pestilência. Seguindo a trilha de destrui­ção perpetrada pelo cavalo branco e o vermelho, a fome toma conta da terra. Milhões morrerão de fome e outros milhões sofre­rão as consequências da subnutrição. A subnutrição é responsável por doenças, pela deterioração mental e emocional, pelo desespe­ro e morte. O cavalo preto e seu cavaleiro constituem a advertência de Deus para o sofrimento humano que nos aguarda em breve, se nos recusarmos a obedecer aos mandamentos, a humilhar-nos diante dos céus, e a orar pedindo perdão e renovação.

 

Dissipação em meio ao desespero

A voz que havia clamado quando apareceu o terceiro cavalei­ro deu outra ordem: "Não danifiques o azeite e o vinho" (Apoca­lipse 6:6). Desde tempos imemoriais, azeite e vinho estiveram associados à riqueza e abundância, havendo aqui, talvez, um quadro de fome coexistindo com luxo. Disse Jesus a Pedro, André, Tiago e João que antes de seu retorno a fome haveria de assolar a terra e muitas nações pereceriam em várias partes do mundo (Mateus 24:7; Marcos 13:8; Lucas 21:11). Entretanto, o Senhor também caracterizou as pessoas dotadas de poderio como estan­do comendo e bebendo, aparentemente em excesso. João mais tarde profetizou que haveria algumas sociedades nos últimos tempos vivendo em esplendor babilónico, segundo o estilo de vida dos ricos e famosos.

Os relatórios sobre a fome na África e na Ásia contrastam violentamente com a imagem de norte-americanos e europeus que, quase sem exceção, vivem no luxo, enquanto o mundo morre de fome. Li um artigo que caracterizava a auto-indulgência pre­valecente entre nós, em que aparecia o cálculo de que os norte-americanos obesos pesam meio bilhão de quilos a mais. Gastamos 15 bilhões de dólares anuais em fórmulas de dietas, e 22 bilhões em cosméticos. Estes gastos, por si só, fariam a diferença entre a morte e a vida para as pessoas que estão morrendo de fome no mundo neste instante.

Muitos dos artigos e reportagens de televisão concernentes à fome africana comentam a falta de reação pública. Alguns editores de notícias nacionais insistem em que o mundo já está cansado de ouvir falar de africanos que morrem de fome. Dizem eles: "Parem de mostrar-nos fotos de crianças morrendo de fome. Não quere­mos saber disso". Todavia, há algo terrivelmente errado quando pessoas que têm tanto mostram-se indiferentes diante das que têm tão pouco. Há um sinal de que a sociedade ocidental apressa-se para a ruína, que é a mensagem do cavaleiro montado no cavalo preto. O terceiro cavaleiro do Apocalipse proclamará as iniquida­des mais exageradas da longa história da humanidade na terra. Milhões vivem em esplendor, enquanto bilhões perecem.

Um dos maiores problemas de nossos dias é que há escassez em meio de abundância, em todo o mundo. Esta é uma crise que aumenta drasticamente, à medida que vamos aproximando-nos do fim dos tempos. Trata-se de um desequilíbrio social, de uma monstruosa desigualdade de âmbito mundial. Se as nações não se voltarem para Deus, o cavalo preto e seu cavaleiro encerrarão seu trabalho mais cedo. A tempestade da ira de Deus despencará sobre nós, e a raça humana toda sofrerá as consequências.

A comunidade global está sofrendo, também, neste momento, por causa de colheitas destruídas e falta de alimento. Não se trata apenas de uma questão de quantidade total de alimento, e sim de um problema de distribuição, em muitos lugares. A desonestida­de imperante entre organizações de socorro, oficiais do governo local e até mesmo das próprias vítimas complica mais ainda o problema de arranjar ajuda para os que dela precisam desespera­damente.

Só uns poucos países do mundo produzem anualmente mais do que consomem. Nesses, incluem-se os Estados Unidos, a Aus­trália e o Canadá. Alguns dos países membros da antiga União Soviética (agora conhecida como Comunidade dos Estados Inde­pendentes - CEI) têm um potencial de produção superior ao de qualquer outro país. Entretanto, seja por causa do clima adverso, seja pela ineficácia e pelas dificuldades de reorganização que se seguiram aos eventos de 1991, regiões agrícolas como a Ucrânia, e outras, terão muita sorte se obtiverem uma boa colheita de quatro em quatro, ou de cinco em cinco anos.

E irónico! Lembro-me do editorial estridente de um jornal de Chicago, de alguns anos atrás, que blasonava: "Mediante métodos modernos de agricultura, resolvemos o problema da fome. Pode­mos produzir qualquer quantidade de grãos que decidirmos pro­duzir. A ciência triunfou sobre a constante ameaça que pesava sobre comunidades menos iluminadas". A assertiva desse jorna­lista não só foi prematura, mas também contrária aos fatos, e às predições bíblicas. Ensinam as Escrituras que a fome e a peste prosseguirão e se intensificarão até que Cristo retorne como Prín­cipe da Paz e Senhor do mundo.

 

As crônicas da fome

Ninguém sabe, realmente, quantas pessoas morrem de fome a cada ano. Muitos países subdesenvolvidos apresentam estatís­ticas irregulares e muitas vezes não confiáveis, de modo particular quando concernentes a mortes de crianças. Além disso, nas re­giões onde impera a fome, as pessoas com frequência morrem, não da fome propriamente dita, mas de causas indiretas, como doen­ças e más condições físicas agudas, que as prostram, visto terem perdido resistência devido à subnutrição. As mortes ocasionadas por essas condições nem sempre são relatadas pelos membros da família; as vítimas de doenças poderão ser relacionadas entre as que morreram de causas naturais, ou desconhecidas.

Acrescente-se a isso que há um componente sociológico e psicológico que altera os relatórios sobre fome e doença. Burocra­tas e oficiais governamentais de pequenos países simplesmente deixam de relatar tais desastres de forma completa, pelo temor de que as notícias de mortes em massa prejudicarão os negócios, o comércio, o turismo, a confiança e outros fatores intangíveis. Na realidade, o número de baixas em consequência de crises nacio­nais como fome, peste, doenças e epidemias de outros tipos quase sempre é muito superior ao número divulgado.

Há alguns anos o Mennonite Central Committee (Junta Cen­dal Menonita) relatou que estimativamente 12 milhões de recém-nascidos morrem todos os anos, por causa dos efeitos da subnu­trição nos países em desenvolvimento. Assim relata o Banco

Mundial: "Metade das pessoas que vivem em pobreza absoluta estão no sul da Ásia, principalmente na índia e Bangladesh. Um sexto delas vive no leste e sudeste da Ásia. Outra sexta parte está no sub-Saara africano. O resto divide-se entre a América Latina, norte da África e Oriente Médio. Nestas regiões tropicais ou situadas no hemisfério sul, a que comumente damos a denomina­ção de Terceiro Mundo, calculam as Nações Unidas que pelo menos 100 milhões de crianças vão para a cama famintas, todas as noites."

 

O efeito da superpopulação

Durante esta década, a população mundial continua a crescer no ritmo estarrecedor de cerca de 100 milhões de nascimentos por ano. Numa palestra feita no campus da Universidade de Indiana, em South Bend, Michael Marien, editor de Future Survey, discutiu o dilema do crescimento populacional que o mundo enfrenta. Em 1930, relatou o conferencista, havia aproximadamente 2 bilhões de pessoas no planeta; ao redor de 1975, esse número havia dobrado para 4 bilhões. Ao redor de 1992, o total alcançava 5,5 bilhões, e as estimativas indicam que excederemos os 6 bilhões em 1998. Seja como for, ultrapassaremos a marca dos 8 bilhões ao redor de 2019. A maior incidência dessa explosão populacional ocorrerá nos países do Terceiro Mundo — justamente os menos capazes de atender às exigências de alimentos decorrentes de tal crescimento.

Ao redor do ano 2020, calcula Marien, haverá 50 por cento de pessoas a mais neste planeta, em relação à população de hoje. Em suas observações, esse futurólogo mencionou certas coisas desas­trosas, como por exemplo, que esse total só diminuiria se houvesse guerra, fome, AIDS, ou algum elemento revolucionador na tecno­logia de limitação da natalidade. "Infelizmente", acrescentou Ma­rien, "a guerra, a fome e as milhões de mortes pela AIDS têm grandes probabilidades de virem a ocorrer; não, porém, os avan­ços na técnica de controle de natalidade".

É óbvio que no Leste da África estes problemas em potencial já se tornaram pavorosa realidade. Secas, fomes, guerras, pestes e desastres assolam a terra, com uma epidemia crescente e incon­trolável de AIDS, complicando mais ainda a tragédia. A maior parte das autoridades acredita que a atual fome é a pior do século vinte. Uma reportagem de primeira página do jornal norte-ame-ricano New York Times chamou essa estiagem de "a pior seca de que se tem memória".

Desde a Somália e Etiópia, no Norte, até o cabo da Boa Espe­rança, no Sul, a costa oriental inteira do continente africano ficou devastada. Esse desastre já ultrapassou a fome da Etiópia dos anos oitenta, que deixou em nossas memórias imagens pungentes, de cortar o coração. Assistentes sociais engajados na tarefa de so­correr os famintos calculam que, em não havendo um milagre, 26 milhões de pessoas morrerão de fome.

 

O horror da violência

A violência é um grave problema secundário, decorrente da falta de suprimentos, da fome e do ódio crescentes. Lagos, na Nigéria, na costa ocidental da Africa, transformou-se em campo de batalha. Informam-nos algumas reportagens que tumultos e saques são em grande parte incontroláveis. Moçambique, o prin­cipal alvo da fome em 1992, também sofreu mais de um milhão de mortes violentas, desde 1976. De sua população de 15 milhões de pessoas, 1,8 milhão dependem agora de alimentos doados por agências estrangeiras de socorro... quando conseguem obtê-los.

Dos quarenta países menos desenvolvidos (sigla em inglês: LDC) do mundo, vinte e oito estão na Africa. A complexidade dos problemas sociais e políticos nesses países levou-os a uma situa­ção que pode ser caótica demais para ser resolvida nas atuais circunstâncias. Diz o especialista em assuntos internacionais, George Segai: "Apesar de toda boa vontade existente no mundo, a raiz do problema de alimentos está além do alcance das agências internacionais".

A produção alimentícia em decréscimo, as comunicações ine­ficientes, mais a necessidade de estímulo ao comércio, as estraté­gias de comercialização revitalizadas, e a reforma agrária têm transformado os problemas crescentes das nações pobres num eriigma pernicioso e aparentemente insolúvel.

Talvez o exemplo clássico de ajuda externa eficaz tenha sido 0 Plano Marshall, dos Estados Unidos, que bombeou 14 bilhões ae dólares para a Europa, durante quatro anos, após o fim da

Segunda Guerra Mundial. Em 1956, a produtividade europeia era 38 por cento maior que a de 1938, quando apareceram os primeiros sinais da guerra. Um esforço dessa ordem poderia, realmente, fazer a diferença no continente africano, mas os 220 milhões de dólares orçados pelo congresso dos Estados Unidos para socorrer o Leste Africano de modo algum conseguirão reverter a crise.

Muitos países mostram-se relutantes em enviar dinheiro para aquisição de alimentos, o que complica o desastre. Os boletins noticiosos dão a este problema tão sério o nome de "relutância dos doadores", ou "fadiga dos doadores", não apenas por causa da violência incontrolável, mas também da corrupção generalizada entre os assim chamados Chefes Crocodilos e burocratas. Conso-me-se dinheiro vorazmente, de modo especial em Moçambique, onde o governo cobra uma sobretaxa de 150 dólares por tolenada de alimento transportado às vilas longínquas.

O correspondente do New York Times para negócios estrangei­ros, Leslie Gelb, relatou em maio de 1992 que os países pobres gastam anualmente em armas e em soldados o dobro do que recebem como auxílio de todas as fontes. A soma total ultrapassa 175 bilhões de dólares por ano. A guerra, a fome e as condições instáveis tornam a maior parte dos países pouco desenvolvidos um grave risco de crédito, de modo que o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, e outras organizações tradicionais de financiamento não lhes fazem empréstimos. Diz Gelb que a única fonte de capital para armamentos e despesas militares desses países é a crescente taxação de impostos, e a retenção de salários e benefícios sociais de seus próprios cidadãos.

Fica bem claro que tal política intensifica os problemas de saúde e bem-estar desses países. Assim se expressou o diretor operacional do World Food Program (Programa de Alimentação Mundial): "Receio que estejamos prevendo grande número de mortes". Os números já nos apavoram. E acrescenta: "Não pode­mos alcançar toda a população. Se pudermos prover [alimentoj para metade das pessoas, já estamos obtendo grande sucesso • Muitas pessoas já estão sendo obrigadas a sobreviver comendo raízes e tubérculos. Assim se expressou um velho fazendeiro falando a um entrevistador: "Quando os doadores chegam, eie não entendem como ainda estamos vivos".

Estas são histórias horripilantes, mas o problema da fome e subnutrição não se limita aos países em desenvolvimento. Recen­temente, o Departamento de Orçamento do Congresso anunciou que muitas das crianças norte-americanas também sofrem de subnutrição. Milhões de pessoas nos Estados Unidos estão viven­do abaixo do limite da pobreza. É claro que o limite da pobreza aqui é muito alto, comparado com o das nações pouco desenvol­vidas; quem consideraríamos pobre nos Estados Unidos seria considerado rico, em muitos países do Terceiro Mundo. Se você tem um par de sapatos, dispõe de água encanada tratada e de alimento, você é considerado rico em muitos lugares do mundo hodierno.

 

Deixai os pequeninos, e não os impeçais

Você se lembra daquele momento, dois mil anos atrás, quando Jesus interrompeu um importante seminário de ensino a seus discípulos?

Talvez as crianças da vizinhança de Cafarnaum houvessem interrompido a aula de Jesus com a gritaria e corre-corre da brincadeira de pique. Talvez estivessem brincando por perto, quando um brinquedo, ou uma bola, foi cair aos pés de Jesus, e as crianças foram ali para apanhá-la. Seja o que for que tenha acon­tecido, Jesus interrompeu seu ensino, tomou as crianças em seus braços e disse ao grupo ali reunido: "Aquele que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria que pendu­rasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e se precipitasse na profundeza do mar" (Mateus 18:6).

Um pouco antes desse antigo registro bíblico há outra como­vente história que ilustra a compaixão de Jesus pelas crianças. Um Pai desesperado corre à presença de Jesus, rogando-lhe que cure ^u filho mentalmente perturbado. "Eu o trouxe aos teus discípu-los", clamou o pai, "mas não puderam curá-lo" (Mateus 17:16). Imagino os olhos de Jesus faiscando quando ele se voltou para ^us discípulos e disse: "O geração incrédula e perversa! Até guando estarei convosco? até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui £ Menino" (Mateus 17:17). Jesus expulsou o demónio, e a criança ficou curada.

Os desesperados pais de milhões de crianças seguram nos braços os corpinhos de seus filhos moribundos, diante de nós, cristãos. Temos condições de resolver grande parte desse proble­ma, mas não estamos fazendo o suficiente. Jesus volta-se para nós e diz: "O geração incrédula e perversa! Até quando vos sofrerei?" Essa é a mensagem do cavaleiro do corcel preto, que traz fome e peste. É também a advertência a que devemos atender, antes de sermos julgados de negligência contra tantas crianças sofredoras. Devemos arrepender-nos de nossa negligência, pedir perdão a Deus e fazer o que nos for possível. Não podemos fazer tudo, mas podemos fazer alguma coisa! Tanto pelas suas ações quanto por suas ordens, Cristo nos conclama a fazer o que estiver ao nosso alcance a fim de curar os doentes, alimentar os famintos e ajudar os que sofrem. A grande missão de Cristo foi trazer redenção à humanidade mediante sua morte na cruz; depois de o Senhor haver enfrentado a cruz, poderia ter dito que cumprira a obra que o Pai lhe havia determinado (João 17:4). Todavia, isso não signifi­cava que o Senhor havia negligenciado os que sofrem e os famin­tos, que estavam ao seu redor. Bem ao contrário. Portanto, você e eu fomos convocados não só para proclamar as boas novas da salvação de Cristo, mas para demonstrar seu amor por todos quantos ainda sofrem necessidades.

 

Um pouco de prevenção

É difícil imaginar a tremenda diferença existente entre a assis­tência médica nas nações ocidentais do primeiro mundo e a vigente nos países menos desenvolvidos. Tenho visto estatísticas segundo as quais na Europa e nos Estados Unidos há um médico para cada 572 pessoas. No leste da Ásia, há um médico para cada 2.106 pessoas. No sudeste da Ásia, há um médico para cada 14.956 pessoas. No leste da África, onde há tanto sofrimento hoje, encon-tra-se um médico para cada 17.480 pessoas! A falta de enfermeiras e de parteiras é igualmente horrenda. Na Europa e na América do Norte, há uma enfermeira para cada 194 pessoas. Na América Central, há uma enfermeira para cada 1.250 pessoas, e na região sul-central da Ásia, apenas uma para cada 4.031 pessoas.

Todavia, há uma coisa incomparavelmente mais vital do que a cura dos doentes, que é a prevenção de doenças. Primordialmen­te, trata-se com frequência de uma preocupação com a nutrição.

Uma criança de cada três (das que sobreviveram ao parto), nos países pobres, não tem saúde por causa de uma nutrição inade­quada.

Cada vez que tomamos uma refeição equilibrada deveríamos fazer uma pausa não só para agradecer a Deus o alimento à nossa frente, mas também para orarmos em prol das crianças que mor­rem de fome, e para pedirmos a Deus que nos mostre como podemos ajudar a alimentar pelo menos algumas das centenas de milhões de crianças famintas, que jamais tiveram o privilégio de saborear uma refeição nutritiva em toda sua vida.

Fiquei chocado com os dados levantados pelo Comité de Lausanne para a Evangelização Mundial com respeito a crianças sob risco (relatados na edição de 1991-1992 do Almanac of the Christian World, Almanaque do Mundo Cristão). Segundo o dire-tor de Lausanne, Tom Houston, 250.000 crianças ficam cegas cada ano por falta de uma pílula de vitamina de alguns centavos, ou um punhado de hortaliças todos os dias. Outras 230.000 crianças contraem poliomielite por falta de imunização. Mais de 14 mi­lhões de crianças morrem anualmente de doenças comuns e sub­nutrição, e 100 milhões mais, que vivem nas ruas, são arrastadas à prostituição, ao crime e a outras formas de corrupção. Poderia alguém injetar mais urgência no apelo em prol de ajuda?

Aconselho os jovens, que procuram um propósito na vida, que considerem as crianças do mundo. Você que é mais idoso e procura um meio de servir ao próximo em seus anos de aposen­tadoria, por que não põe no coração sonhos grandiosos? Não sou capaz de dizer-lhe qual seria a melhor forma de você ajudar a alimentar as crianças famintas do mundo, mas há alguém em algum lugar que pode orientá-lo. Ore pedindo orientação. Con­voque sua igreja quanto ao problema da fome em sua cidade e em sua vizinhança. Convoque sua denominação, ou uma organização cristã prestadora de serviços, e apresente-se como voluntário.

Se ninguém tiver um plano, crie um. Temos um Fundo de Emergência para Socorro em nossa organização. Nunca tiramos dele um centavo sequer para administração. O total desse fundo, 100 por cento, vai para o lugar da necessidade. Se você estiver ^teressado em ajudar numa dessas áreas de necessidade por n°sso intermédio, por que não me escreve? Escreva para Billy Graham, Minneapolis, Minnesota, e providenciaremos a remessa de alguns folhetos a respeito desse fundo.

Meu filho Franklin visitou os planaltos centrais da Guatemala, há alguns anos, e viu uma família que caminhara durante vários dias por florestas densas à procura de território controlado pelo governo, a fim de escapar das áreas infestadas de guerrilheiros. As crianças estavam tão subnutridas que nem sequer podiam sentar-se sozinhas.

Disse Franklin que olhar para aquelas crianças era quase como olhar para esqueletos recobertos de pele. Nada mais conseguiam fazer aquelas crianças, senão respirar fracamente. Nenhuma ex­pressão de alegria, só o constante gemido quase inaudível. O médico que as examinou não tinha certeza de que sobreviveriam. Como ocorre numa doença conhecida como anorexia nervosa, há um ponto de subnutrição pela fome em que os órgãos vitais da pessoa começam a desintegrar-se, e o dano produzido não se repara.

 

Água pura e saúde

Há uma preocupação muito séria concernente a água e condi­ções sanitárias nos países menos desenvolvidos no mundo. Qua­tro crianças em cada cinco, nas zonas rurais do mundo, não têm água pura, sadia, para beber, nem recursos sanitários. Na Africa, 90 em cada 100 pessoas não dispõem de água encanada; o pior é que os grandes rios da Africa transportam germes perigosos, vermes intestinais e do fígado, amebas causadoras de disenteria e outras infecções. Uma autoridade africana chama os rios daquele continente de "águas do infortúnio". Se os povos da Africa devem sobreviver, é preciso que haja água pura e sistemas sanitários comparáveis àqueles que achamos tão comuns em nosso país.

Certa vez eu vi na índia uma mocinha que carregava à cabeça um cântaro de água vazio de 18 litros. Ela caminhava desde sua casa, num vilarejo, até um buraco de água suja, a alguns quilóme­tros de distância. Em muitas ocasiões tenho visto as mulheres mais idosas desses vilarejos tribais voltarem a casa curvadas sob o peso de cargas incríveis. As fontes de água perto de suas casas se haviam secado, por causa da seca prolongada. Ali estava eu, vendo aquela mocinha, e sabendo que a sede espiritual dela era mais importante que sua sede física; entretanto, eu não podia forçar-me a separar essas duas sedes. A semelhança da mulher ao lado do poço em Sicar, na Samaria, a quem Jesus ministrou, aquela mocinha precisava da água da vida, tanto a física quanto a espiri­tual.

Creio que para tocar no coração das pessoas que sofrem, num mundo cheio de males, precisamos tocar também na necessidade que elas têm de alimento e de abrigo. Nosso testemunho de amor por uma alma perdida deve andar de mãos dadas com nosso interesse amoroso por um corpo moribundo. Fomos chamados por Deus a fim de levar a água da vida tanto para a alma quanto para o corpo. Deus criou a ambos, e seu propósito é redimir a ambos. A morte de Jesus na cruz demonstra o interesse de Deus pela salvação eterna das almas. A ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos — e a promessa que nos foi dada de que nossos corpos um dia compartilharão sua gloriosa ressurreição — de­monstra o interesse de Deus por nosso corpo físico.

Os seres humanos não são apenas uma forma de vida animal cuja vida e morte têm pouco significado. Fomos criados à imagem de Deus e, ainda que tal imagem esteja maculada e rasgada pelo pecado, continuamos sendo criação de Deus. Se somos crentes, teremos não apenas um novo coração, como resultado de nosso novo nascimento, mas um dia teremos um corpo glorificado muito parecido com o corpo ressuscitado de Jesus Cristo.

As causas do traumatismo em nosso mundo — seja devido à fome, à guerra, à intolerância, ou a doenças tão variadas como difteria, alcoolismo e AIDS — tudo clama pela nossa compaixão e cuidado. Deus está interessado nas pessoas que sofrem, não importando quem sejam elas, onde se encontram, nem por que sofrem. Entretanto, Deus também está interessado em como re­agimos ao sofrimento de nosso próximo. Cristo nos ordenou que amássemos aos perdidos, que servíssemos a "um destes pequeni­nos", que alimentássemos os famintos e vestíssemos os nus. Esse é nosso dever cristão. Até mesmo nos casos em que a fome e a doença possam ser entendidas como julgamento divino, os cren­tes devem demonstrar o amor de Deus, e toda compaixão. Não nos é permitido criticar nem desviar-nos por outro caminho: devemos cuidar dos necessitados e ajudá-los.

 

Nossa maior necessidade

Vários anos atrás, o Dr. Ernie Steury, cirurgião do Hospital Tenweek, em Quénia, no leste da Africa, contou-nos a respeito de uma mulher das florestas africanas que estivera em trabalhos de parto durante dois dias. A família havia mandado buscar os feiticeiros, mas é evidente que estes nada puderam fazer para ajudá-la. Finalmente, em desespero, a família decidiu levá-la ao hospital da missão em Tenweek. Tiveram que carregá-la durante várias horas ao longo de uma trilha estreita, na floresta, antes de alcançar a estrada. Chegados à estrada, tiveram que esperar du­rante algumas horas, até que um ônibus passasse. Em seguida, houve uma demora de várias horas até que o ônibus chegasse ao hospital. Era bem tarde, já de noite, quando a mulher chegou, sendo conduzida de imediato à sala de emergência. A enfermeira mandou buscar o Dr. Steury. Ele chegou e examinou a mulher, verificando que ela já estava morta.

O marido estava de pé no corredor, esperando ansiosamente a palavra do médico. O Dr. Steury dirigiu-se a ele para dizer-lhe que era tarde demais. O homem caiu em prantos, clamando: "Oh, por favor, doutor, não há nada que o senhor possa fazer? Não há nada que o senhor possa fazer?" O Dr. Steury explicou-lhe que nada mais poderia ser feito.

Lembrava-se o médico, depois: "Voltei-me, e o que me esma­gava mais do que qualquer outra coisa não era o fato de ela haver morrido, mas o fato de ter morrido sem jamais ter ouvido a mensagem do evangelho. Milhares de pessoas morrem todos os dias, e morrem sem ter ouvido falar de Jesus Cristo. Isso é o que me compele a permanecer como missionário voluntário na Africa. É isso que me motiva a prosseguir. No ano passado, tivemos mais de oito mil pacientes internados. Cada um deles ouviu o evange­lho. Mais de cinco mil tomaram a decisão de aceitar a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Não podemos ganhá-los todos, mas podemos alcançar alguns. Recebi a incumbência de levar a men-sagem do evangelho por todo o mundo, e vou fazer a minha parte".

Creio que este é o sentido da compaixão que deve motiva nossos esforços para servir aos aflitos. O Dr. Steury sabia que o verdadeiro espírito de servo de Deus não nos permite separar a alma do corpo. Ambos compõem as partes vitais da pessoa total. Todavia, quando ele viu um paciente morto, não foi tanto a morte física que o perturbou — nós todos deveremos morrer — foi a morte espiritual.

 

O vermelho e o negro

Conquanto a fome e a doença assolam grande parte do Ter­ceiro Mundo, praticamente todos os países, até os menores, ar-mam-se até os dentes. Esta é uma das mais patéticas realidades de nossos tempos. Trata-se de um problema que ilustra a importân­cia precisa, contemporânea, da antiga verdade bíblica. O cavalo vermelho, o que é portador da guerra, de modo lógico precede o cavalo preto, o portador da fome, da doença e da morte por subnutrição, e pavimenta-lhe a estrada.

Nosso mundo anda obcecado com a guerra, com a violência e morte. Um trilhão ou mais de dólares gastos todos os anos em armamentos alimentariam, vestiriam e proveriam abrigo para um bilhão ou mais de pessoas que vivem num nível abaixo do da subsistência. Imagine que a renda anual de uma família em Ban­gladesh, atualmente, é de apenas 176 dólares; em Moçambique, antes de estourar a guerra e instalar-se a fome, era de 220 dólares; na Somália, agora devastada pela seca, fome e anarquia, a renda média anual era de 300 dólares, antes das tribulações, sendo uma fração disso, hoje.

Em 1982, o ex-primeiro ministro Malcolm Fraser, da Austrália, hospedou os líderes mundiais para um Diálogo Norte-Sul. Em certa porção da Declaração de Melbourne, como o documento veio a tornar-se conhecido, registrou-se que "o assalto prolongado à dignidade humana e a privação de que sofrem muitos milhões de indivíduos nos países em desenvolvimento, inevitavelmente conduzirão a um turbilhão político". E acrescenta Fraser: "Esse turbilhão" seria utilizado com a finalidade de "estender o braço da ditadura pelo mundo todo".

Muitos naquela conferência sentiram que somente uma nova ordem política, ou uma nova ordem económica poderia resolver Problemas daquela magnitude. Devo acrescentar que aqueles senhores têm razão — somente um governo mundial pode resol­utas. Entretanto, a única "nova ordem mundial" duradoura, que obteria sucesso na resolução dos problemas deste mundo seria a dinâmica liderança espiritual determinada por Jesus Cristo quan­do ele voltar, a fim de estabelecer seu reino na terra. Não se deixe enganar: a nova ordem mundial de Cristo não é simples mito; tampouco é uma hipérbole, ou metáfora simbólica de alguma realidade mística. Será muito real, perfeitamente física, e acredito que virá muito em breve.

 

Brecha que se alarga

O presidente dos Estados Unidos foi advertido de modo semelhante num relatório no Global Outlook 2000 (Panorama Glo­bal 2000), preparado pelas Nações Unidas, em 1990: A brecha que se alarga, separando as nações ricas das pobres, inevitavelmente "conduzirá a desastres económicos e a conflitos declarados". O ex-presidente do Banco Mundial, Robert McNamara, concorda: "Muitos dos mais pobres países do mundo... estão fadados ao caos político e económico na década vindoura". A medida que o mun­do dispara loucamente na direção do Armagedom, não posso deixar de concordar com o ex-premier soviético Nikita Krus-hchev, que assim se expressou a respeito de uma hipotética Ter­ceira Guerra Mundial: "Os sobreviventes terão inveja dos mor­tos".

A situação do mundo pode ter chegado a um ponto em que não há retorno, e tanto os analistas cristãos quanto os seculares crêem que os perigos continuarão a aumentar e piorar, até que alcancemos um clímax trágico. A Bíblia especificou as minúcias desse apogeu tanto no Antigo como no Novo Testamentos. Mas não é suficiente que os crentes permaneçam tranquilamente a margem, aplaudindo o Apocalipse prestes a desencadear-se — na verdade isso seria errado. Compete a nós todos orar e trabalhar. Ainda que nós nos sentíssemos pequeninos e inúteis diante de problemas tão complicados, deveremos lembrar-nos das palavras do cidadão que disse o seguinte: "Tenho apenas um balde de água para atirar ao incêncio, mas vou atirá-la com toda força, pedindo a Deus que a use como o fez com os cinco pães e dois peixes .

 

O trovão que se aproxima

As nuvens da tempestade que trazem o cavalo preto e seu cavaleiro produzem trovões que estrondeiam cada vez mais forte em nossos ouvidos. As profecias bíblicas se cumprem diante de nossos olhos. Ao nosso redor vemos a tragédia humana da miséria e da doença. Seres humanos garimpam penosamente montões de lixo, em fossas, à procura de umas migalhas miseráveis que lhes amorteçam as dores da fome crónica. Qual será nossa reação? Segundo leio nas Escrituras, estou convencido de que fomos chamados para a ação, não para a apatia, para o envolvimento e não para o distanciamento.

Quando Sargent Shriver era chefe do programa de combate à pobreza, há anos, nos Estados Unidos, ele me pediu que o ajudas­se, e eu o fiz. Juntos produzimos um filme sobre a pobreza em Appalachia. Dirigi-me a cerca de duzentos membros do congresso e entreguei a cada um deles uma lista de versículos das Escrituras a respeito de nossa responsabilidade para com os pobres. Aqui vão apenas alguns desses versículos:

 

Não rabiscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha. Deixá-los-ás para o pobre e para o estrangeiro (Deuteronômio 15:11).

 

Nunca deixará de haver pobres na terra. Portanto eu te ordeno: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra (Deuteronômio 15:11).

 

Sempre tendes os pobres convosco (Marcos 14:7).

 

O que se compadece dos humildes é bem-aventurado (Provérbios 14:21).

 

O que se compadece do pobre empresta ao Senhor, e ele lhe recompensará o benefício (Provérbios 19:17).

 

Inf orma-se o justo da causa dos pobres, mas o ímpio não quer saber disso (Provérbios 29:7).

 

Cessai de fazer o mal, e aprendei a fazer o bem! Praticai o que é reto, ajudai o oprimido. Fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas (Isaías 1:16-17).

 

Um dos grandes julgamentos das Escrituras foi o julgamento que Deus despejou sobre Sodoma, e um dos maiores pecados de

Sodoma foi a negligência dos pobres e necessitados: "Esta foi a maldade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão, e abun­dância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado" (Ezequiel 16:49).

Jesus deixou bem claras as nossas responsabilidades em Ma­teus 25:35, "Tive fome, e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu, e me vestis­tes; estive enfermo, e me visitastes; preso e fostes ver-me". Ainda que tal passagem possa ter duplo sentido, suas implicações para nós são muito claras, com respeito às nossas responsabilidades práticas. O Senhor também nos advertiu quanto ao severo julga­mento, caso falhássemos no cumprimento de nossos deveres.

O apóstolo Paulo tratou do mesmo tema em Romanos 12:20 e em 1 Coríntios 13:3: "Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; e tiver sede, dá-lhe de beber. Fazendo isso, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça". "Ainda que distribuísse toda a minha fortuna para o sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria".

Tiago tratou desse assunto de forma um tanto diferente, mas com o mesmo significado: "Não escolheu Deus aos que são pobres aos olhos do mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?" (Tiago 2:5). "Todavia, se cum­prirdes a lei real, encontrada na Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem" (v. 8).

 

Clamor do sofrimento

Como já salientamos, há uma ou duas passagens para as quais não dispomos de explicações fáceis, como, por exemplo, as pala­vras de Jesus: "Sempre tereis convosco os pobres" (Mateus 26:11)-Neste versículo, Jesus está apenas salientando o fato de que a pobreza jamais seria eliminada até que seu reino se estabelecesse; no entretempo, deveríamos fazer tudo que pudéssemos a fim de ajudar os que sofrem. Na verdade, há um argumento válido na opinião segundo a qual uma das razões por que Deus permite a pobreza e o sofrimento é que os cristãos possam demonstrar o amor de Cristo aos que sofrem.

Temos todos visto a tendência moderna para lançar a culpa na parte errada, ou nas circunstâncias. Por exemplo, o criminoso (assim se diz) é apenas uma vítima do ambiente. Entretanto, o primeiro crime do mundo foi perpetrado num ambiente perfeito. Hoje, as estatísticas comprovam que muitos dos crimes em nosso país são cometidos na classe média-superior, em ambientes ricos. A pobreza não constitui desculpa para o crime, do mesmo modo que a moça de família importante não tem desculpa para o seu crime, só porque tem abundância excessiva de bens materiais. Deus nos criou com a faculdade da decisão. Todos nós seremos responsabilizados pelas nossas escolhas e decisões.

Outro ponto que exige esclarecimento é a ordem: "Não segui­rás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda deporás, acompanhando a maioria, para torcer o direito. Nem ao pobre favorecerás na sua demanda" (Êxodo 23:2-3), ou como diz outra versão em inglês: "Não serás parcial nem para favorecer ao pobre em seu processo legal". Provisão, sim; proteção, sim; parcialidade, não. Levítico 19:15 diz: "Não farás injustiça no juízo; não favore­cerás ao pobre, nem serás complacente com o poderoso, mas com justiça julgarás o teu próximo".

Receio que com demasiada frequência algumas pessoas com­prometem a justiça ao enfatizar demais a defesa dos "menos favorecidos". Isso é claramente errado. Contudo, estou persuadi­do de que a verdadeira ameaça dos quatro cavaleiros do Apoca­lipse não é tão somente advertir ou julgar, mas despertar. Eles chegam não só para comover-nos emocionalmente, mas para motivar-nos a que façamos alguma coisa — mostrar aos seres humanos do mundo a direção que o próprio Deus deseja que tomem.

Estou convencido de que precisamos trabalhar no sentido de eliminar a fome e a doença com todas as forças e energias à nossa disposição. Estou igualmente convencido de que podemos pro­duzir uma tremenda diferença. A questão não é se mediante nossos esforços alimentaremos todos os famintos e curaremos todos os doentes. Sempre é melhor fazer alguma coisa do que nada fazer. Parafraseando James Kelly: "É melhor acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão". Deus nos chamou para agir; o resto fica em suas mãos.

 

A tragédia da falta de moradia

Nosso país nunca viu a praga da falta de moradia como temos visto no mundo de hoje. Há alguns anos tínhamos os andarilhos, os vagabundos e de vez em quando apareciam os que carregavam uma trouxa enorme, "o homem da sacola" ou "a mulher da sacola". Hoje, há uma epidemia de famílias e indivíduos empo­brecidos, que perderam a capacidade de ganhar pelo menos seu sustento. Seja porque perderam o emprego, porque o lar se esfa­celou, porque a pobreza tornou-se desesperada, ou por causa de problemas emocionais ou pelas manobras de instituições gover­namentais para saúde mental, no sentido de livrar-se das pessoas denominadas por alguns de "machucados ambulantes", o fato é que dezenas de milhares de norte-americanos vivem em abrigos noturnos, missões ou nas ruas.

O problema não se limita aos Estados Unidos. É problema crítico de modo especial nos países mais pobres. Neles, a tendên­cia para a urbanização, nos últimos 50 anos, tem sido o principal fator gerador do problema da falta de moradia. A partir de 1950, a população urbana duplicou na maioria dos países desenvolvi­dos. Nos países subdesenvolvidos, quadruplicou. Nos últimos sessenta anos, a urbanização multiplicou-se por dez. De acordo com o Almanac of the Christian World (Almanaque do Mundo Cristão), 1990 foi o primeiro ano na história do mundo em que havia mais pessoas morando em cidades do que nas áreas rurais. Para complicar a questão, as Nações Unidas projetam estimativa-mente que pelo ano 2.000, dezessete das vinte maiores cidades do mundo estarão em nações do Terceiro Mundo.

Todas estas tendências — a urbanização, a falta de moradia, o crescimento da população no Terceiro Mundo — contribuem para a tragédia da fome em nossa época. Todavia, como poderia al­guém solucionar problemas tão complicados, de dimensões tao desafiadoras? Em 1982, a Convenção Geral da Igreja Episcopal adotou uma resolução quanto a qual seria a atitude da igreja diante do problema da fome. Creio que o pronunciamento dess igreja ainda se aplica aos problemas que enfrentamos hoje. resolução exortava "todos os indivíduos e todas as congregações-a que aprofundassem seu interesse e cuidado para com os fam tos". O documento indicava cinco áreas em que tal interesse e cuidado poderiam desenvolver-se. Permita-me mencioná-las aqui.

A primeira área de trabalho seria a seguinte: "familiarizar-se com as necessidades locais de alimento, ajudando a estabelecer programas como despensas e bancos alimentícios, programas cooperativos sobre avaliação de modos de vida". Muitas igrejas locais estabeleceram suprimentos alimentícios de emergência, por doação ou por com­pra, armazenando-os na própria igreja, ou num prédio alugado ou não, adjacente à igreja. As pessoas que precisam de alimento simplesmente dirigem-se ao centro emergencial de alimentos, declaram sua necessidade e são atendidas por voluntários cristãos que cuidam do centro.

Uma igreja em Los Angeles estabeleceu um armazém no centro da cidade onde se apinham muitos refugiados que passam necessidades. A igreja vende suprimentos alimentícios e roupas aos necessitados, a preço de custo. Observei outra tendência elogiável: Algumas igrejas locais estão examinando a si próprias a fim de verificar onde é possível economizar algum dinheiro, a partir das contas alimentícias pessoais, de modo que as famílias possam partilhar mais com os pobres e famintos de suas vizinhan­ças.

Em segundo lugar, aquela resolução convoca urgentemente "cada membro da igreja para que dê pelo menos uma hora por semana para trabalhar diretamente entre os necessitados, e cada congregação que proporcione acomodações, alimentos e dinheiro a fim de atender às necessidades dos aflitos".

Conheço uma igreja que tem um programa denominado Mo­tivador de Pessoas. Trata-se de um sistema que mantém voluntá­rios em disponibilidade, treinados a fim de serem úteis em organizações de serviço cristão, estabelecidas pela igreja ou por outras agências da comunidade.

Esse "banco de talentos" oferece oportunidades, todas as semanas, para seus membros, jovens e idosos, para que contri­buam para as necessidades da comunidade dando tempo e ener­va. Um pastor pede à sua congregação que dê voluntariamente um décimo de seu tempo de trabalho para o trabalho do reino .aquela cidade. Outros pastores pedem aos voluntários que dêem um volume facilmente controlável de seu tempo, cada semana. O importante é que não se exija esforço demasiadamente grande de um indivíduo, em termos de tempo ou dinheiro. A luta em prol do auxílio aos necessitados e aos oprimidos não deveria ensejar o prejuízo dos compromissos vocacionais, espirituais ou familiares dos voluntários.

Conheço uma família que descobriu uma tremenda bênção em dar anonimamente, depois que perceberam que havia pessoas necessitadas em sua vizinhança. A família reunida toma decisões quanto a projetos. Todos trabalham, oram e às vezes lutam a fim de cumprir suas promessas, mas tudo isso faz parte da lição. Os pobres, os famintos, as pessoas necessitadas que assim são ajuda­das — quer diretamente, quer através da igreja — nunca sabem de onde vieram as dádivas. Esta família aprendeu a verdade escriturística segundo a qual é mais abençoado dar do que receber. Talvez sua família desejaria tentar fazer algo semelhante, para ajudar as pessoas em necessidade onde você mora.

Terceiro. A resolução episcopal convocava as pessoas para oração, "afim de criar maior percepção e sensibilidade entre todos os cidadãos para os problemas da fome e da subnutrição", trabalhando nessa criação mediante a distribuição de materiais destinados a pro­gramas educacionais".

Repitamos: A oração é elemento fundamental na resolução dos problemas de miséria e fome humanas, mas a oração caminha de mãos dadas com a ação. A série de cartuns de Charles Schulz, denominada "Minduim", apresenta um desenho em que Snoopy, o cachorrinho tragicômico, está deitado no topo de sua casinhola, numa terrível tempestade de neve. E hora do jantar, Lino e Lúcia estão usufruindo o calor de uma lareira. Lúcia olha para fora, através da janela, para o cachorro friorento e faminto e grita: "Por favor, Snoopy, fique bem quentinho e alimentado!" Tantas vezes a oração sem as obras é pura hipocrisia, enquanto as obras sem oração são fúteis e de pouca duração. Entretanto, unidas, a oração e as boas obras em prol dos famintos farão uma tremenda diferen­ça, e darão à comunidade um exemplo de amor cristão conducente ao mais eficiente tipo de testemunho cristão.

A quarta recomendação aconselhava "a união de esforços cotn outras pessoas e organizações cristãs". Aqui está um modo prático e sistemático de resolver o problema. É evidente que há muitas organizações denominacionais e paraeclesiásticas que poderiam ser recomendadas, desde o Exército da Salvação até World Vision (Visão Mundial). Uma das melhores dentre as organizações de porte pequeno do mundo é a chamada Samaritan's Purse (Bolsa do Samaritano), de Boone, na Carolina do Norte, chefiada pelo meu filho Franklin. Como já mencionamos anteriormente, tam­bém há nosso próprio braço para socorro emergencial, vinculado à Billy Graham Evangelistic Association (Associação Evangelísti-ca Billy Graham), sediada em Minneapolis.

Depois de fazer alguma investigação sobre essas organiza-ões, e o trabalho que executam, tome sua decisão quanto a um u dois grupos que você deseja sustentar. Desde que você tenha determinado qual a organização denominacional e/ou paraecle-siástica que você julgar ser digna de sua confiança, e eficiente, trabalhe em prol do apoio a esse grupo, em seu ministério local, nacional e internacional.

É certo que nenhum grupo de modo algum consegue servir o mundo inteiro em suas necessidades. São imensas e numerosas as áreas necessitadas, a começar pelas casas ao redor da sua. Comece pela sua própria comunidade. Procure servir a seus vizinhos, enquanto tenta levar seu ministério aos famintos e necessitados ao redor do mundo. Lembre-se de que a caridade deve começar em casa e, a partir dali, ao redor de casa.

A quinta recomendação daquela resolução exorta os "legisla­dores e administradores públicos e toda a comunidade a que se empenhem pelo crescente uso de nossos recursos nacionais, afim de atendermos as necessidades humanas básicas"'. Nossas autoridades públicas apre­ciam o interesse honesto e bem informado das pessoas. Como você Vlu, Cristo nos chamou a fim de cuidarmos das viúvas e dos órfãos. Em termos que não deixam margem para dúvidas, o Senhor nos ordena que alimentemos os famintos e vistamos os nus. Nossos impostos sustentam programas de serviços locais, estaduais e federais. Nosso interesse é que torna eficientes esses serviços.

Nossa atenção nos resultados manterá os executores dos pro­virias dentro da honestidade e nos objetivos propostos. Por que razão só os incrédulos é que trabalhariam no sentido de influenciar o modo como o dinheiro de nossos impostos é gasto? Por que nós, os crentes, não devemos interessar-nos?

 

Um senso de perspectiva

Nos anos cinquenta, foi meu privilégio privar da amizade de Dwight D. Eisenhower, tanto antes como depois de ele tornar-se presidente dos Estados Unidos. Espero ter exercido alguma in­fluência sobre ele, e é certo que ele exerceu forte impacto sobre meu pensamento. Eisenhower fez uma declaração perante a Ame­rican Society of Newspaper Editors (Sociedade Americana de Editores de Jornais), em abril de 1953, que me influenciou gran­demente. Disse o general o seguinte:

Cada fuzil que se fabrica, cada navio de guerra que se lança ao mar, cada míssil que se dispara significa — num sentido último — que houve um roubo praticado contra o faminto que não é alimentado, o nu, enregelado de frio, que não recebe vestuário. Este mundo armado não está gastando apenas dinheiro. Está gastando o suor dos trabalhadores, o génio de seus cientistas, as espe­ranças de seus filhos... Este não é, de modo algum, um meio de vida, em nenhum sentido verdadeiro. Sob a ameaçadora nuvem da guerra jaz a humanidade pen­durada numa cruz de ferro.

Estas palavras de nosso magistrado máximo foi parte das motivações que me animaram, e a alguns de meus colegas, em 1956, a realizar nossa primeira viagem pelos países subdesenvol­vidos. Antes disso eu havia visto umas poucas pessoas prestes a morrer de fome, mas não havia vivenciado de primeira mão o horror de quase uma nação inteira assolada pela pobreza, nas garras da fome. Pessoas miseráveis, vestindo farrapos, ou prati­camente sem roupa nenhuma, espalhavam-se por todas as partes por onde andávamos. Em certos lugares havia tantos mendigos que não conseguíamos abrir caminho nas ruas.

Aquelas condições fariam adoecer, horrorizada, até a pesso mais insensível. Quando regressei aos Estados Unidos, pareceu-me que todas as pessoas eram como o homem rico da parábola Jesus, de Lucas 16:19. Fui diretamente à Casa Branca e partilhei meus pensamentos com o presidente. Ele me ouviu com toda atenção e, em seguida, pediu-me que partilhasse minhas impres­sões com o secretário de estado, John Foster Dulles.

Dulles era crente, membro de igreja. Havia sido presidente do Concílio Federal de Igrejas, antes de sua nomeação pela adminis­tração Eisenhower. O sr. Dulles mostrou-se muito cordial. Pediu-me que o visitasse em sua casa, em vez de em seu escritório no departamento de estado. Conversamos longamente a respeito daquele povo faminto que eu vira. Fui enfático a respeito das necessidades ali, insisti em que deveríamos fazer alguma coisa. "O que acha da sobra de trigo de nosso país?", perguntei. "Por que essa sobra não pode ser utilizada para atender pelo menos a algumas das necessidades básicas das pessoas ao redor da terra que estão morrendo de fome, porque não têm trigo para fazer pão?"

Hoje, sinto mais fortemente ainda o peso da responsabilidade social das nações ricas, no sentido de partilharem suas sobras com os pobres — ainda que isso envolva mudança em nosso modo de pensar, a respeito de como o trabalho deveria ser feito. Deve haver um meio de transportar cereais e laticínios dos armazéns das nações ricas para os casebres e barracos de favela das pessoas que estão morrendo de fome ao redor do globo. Chegou a hora de colocar nossa grandiosa mente judaico-cristã a funcionar na reso­lução deste problema, visto não haver razão por que tantas pes­soas, especialmente as crianças do mundo, tenham que sofrer e morrer de fome, enquanto somos muito bem alimentados. Não é possível um crente ler as cartas de Tiago, ou de João, sem chegar a outra conclusão quanto a onde está sua responsabilidade.

Durante grande parte de minha vida gastei bem pouco tempo pensando nas responsabilidades humanitárias da igreja. Nunca estive realmente consciente do fato de que milhões de pessoas ao redor do mundo viviam à beira da morte pela fome. A Bíblia é bastante específica acerca das obrigações dos crentes no sentido de fazer algo a respeito desses problemas, mas demorou algum tempo até eu reconhecer a crise. Hoje, é bem mais fácil a pessoa ver esses problemas. Tendo viajado ao redor do mundo e estuda­do a Bíblia, no que diz respeito a esse tema — especialmente os versículos do Novo Testamento que falam de nossos deveres em relação aos pobres e famintos — minhas convicções sobre nossa responsabilidade como cristãos aprofundaram-se.

Tenho satisfação em ser tão afortunado: sou cidadão dos Estados Unidos, uma nação que tem sido abençoada de muitas maneiras, mais do que qualquer outra nação do mundo. Entretan­to, não devo presumir que tais bênçãos estão garantidas e certas, e tampouco deve você vê-las como favas contadas. Somos mordo­mos daquilo que Deus nos permitiu possuir. Visto que temos muito mais do que nossos vizinhos, Cristo nos conclama a que partilhemos nossa fortuna com os necessitados de todo o mundo, de modo especial os domésticos da fé. Se fracassarmos no cum­primento dessa ordem de Cristo, seremos julgados pela nossa infidelidade.

O cavaleiro do corcel preto, que carrega a balança, vem para advertir-nos de que já não podemos fugir de nossas responsabili­dades para com os famintos, a despeito de todas as barreiras colocadas à nossa frente. E como são terríveis essas barreiras!

 

Barreiras ao progresso

A escassez esporádica de cereais, em colheitas pobres, tem sido responsável em grande parte pelas fomes dos anos recentes. Em alguns casos, esses problemas se agravam por causa da ação de pragas de animais e insetos. Fontes de água contaminada ou de água suspeita, inconfiável, são outro fator importante. Cerca de 600 milhões de pessoas vivem em áreas desérticas marginais em que tanto cereais quanto suprimento de água são severamente limitados.

Tradicionalmente, os cristãos têm considerado missionários aqueles que pregam, ensinam, traduzem ou se engajam em minis­térios de cura. Creio que hoje, nós precisamos também começar a treinar e equipar nossos melhores cérebros, tanto de jovens como de adultos, para servir a Cristo no mundo na tarefa de controlar pragas, nas áreas da ciência agronómica, da engenharia, em pro­gramas de gerenciamento de fazendas e do solo e em pesquisa das condições atmosféricas. Dou parabéns às juntas missionárias que já estão trabalhando no sentido de treinar as novas gerações de engenheiros missionários, técnicos missionários, cientistas e administradores missionários, que se unirão no emprego de seus dons vocacionais a fim de salvar as vidas e também as almas das pessoas, num mundo em perigo.

O centro de recursos e informações da Visão Mundial oferece várias sugestões para aumentar nossa ajuda aos povos do mundo. O relatório do Centro indica que precisamos oferecer voluntaria­mente nossa tecnologia a fim de ajudar as nações a projetar planos de armazenagem de cereais, de tal modo que estes, bem guarda­dos, possam ser distribuídos quando e onde surgir uma crise alimentar. Foi exatamente essa a missão que José cumpriu no Egito. O resultado de sua visão e liderança na construção de armazéns seguros para o trigo, foi que não só o Egito salvou-se, mas Israel e o Oriente Médio todo salvaram-se da fome e da morte pela subnutrição.

Certamente há homens e mulheres talentosos que podem encontrar, criar e disseminar a tecnologia que possa vencer esses desafios agronómicos. Os engenheiros e especialistas em agricul­tura norte-americanos também podem ajudar as nações empobre­cidas a desenvolver terras aráveis, ensinando-as métodos de con­servar recursos, fertilizar e irrigar terras que, de outra forma, não poderiam ser utilizadas.

 

Em nome de Cristo

Durante muitos anos, meu filho Franklin e seus associados na Samaritan's Purse (Bolsa do Samaritano), têm-se dedicado a edi­ficar casas no Líbano para maometanos que ficaram sem casa, ao relento, por causa da guerra civil naquele país. Esta missão tem o objetivo de atender a necessidades humanas básicas, obra que se faz gratuitamente, na esperança de que esses atos de caridade cristã constitua grande diferença nas atitudes dos maometanos com respeito aos cristãos.

Eu sei que essas atitudes estão fazendo a diferença. Homens, Mulheres e crianças do Líbano têm visto cristãos que se sacrificam a fim de ajudá-los a reconstruir suas cidades e seus lares, e vêem, Slrnultaneamente, um tipo de testemunho cristão bem diferente daquele que conheceram antes. Aplaudiam Franklin e seus ami­dos, quando estes passavam pelas ruas. Chegavam a abraçá-los com lágrimas nos olhos, expressando gratidão de todo modo P°ssível. Quando perguntavam: "Por que vocês estão fazendo isso?" Franklin e seus amigos respondiam com singeleza: "Faze­mos isso porque amamos vocês, e porque Deus ama vocês. Faze­mos isso em nome de Jesus Cristo".

É claro que não se trata de novidade. Missionários, tanto leigos como clérigos, têm estado no campo há gerações, ganhando o direito de serem ouvidos e alicerçando sua mensagem com o amor. Eles também se erguem diante do cavaleiro do corcel preto em nome de Cristo.

Jamais deveríamos, a despeito de nossa tecnologia moderna, criticar ou desprezar os métodos daqueles bravos missionários que pagaram alto preço, nos últimos duzentos anos, a fim de levar o evangelho ao mundo todo. Meu sogro, o Dr. Nelson Bell, foi um desses grandes missionários na China. Ele abandonou uma carrei­ra bem sucedida no beisebol, estudou medicina e, em 1916 diri-giu-se à China a fim de construir um hospital. Ele fez uma combi­nação de medicina com a proclamação do evangelho.

Disse Jesus a seus discípulos: "Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhastes. Outros trabalharam e vós entrastes no seu trabalho" (João 4:38).

O tremendo surto evangélico ao redor do mundo, hoje, surgiu porque homens e mulheres fiéis a Deus pagaram um preço em sangue, suor, lágrimas e até mesmo a morte, a fim de lançar os alicerces sobre os quais estamos edificando agora. Quando leio relatórios segundo os quais é possível que haja 50 milhões de cristãos sobreviventes na China hodierna, e que se multiplicam, percebo quão importante é nosso legado de amor cristão ao mun­do lá fora. Meu filho Ned tem viajado com frequência à China, em função de seu ministério East Gates (Portões do Leste), e emocio-na-se profundamente ao contemplar de primeira mão os resulta­dos dos trabalhos de seu avô e outros missionários que foram a China. Esses grandiosos plantadores da fé pagaram um preço elevado ao deixar seus lares e aventurar-se no outro lado do mundo a fim de ministrar em nome de Cristo e semear a semente do evangelho.

Minhas prioridades têm sido as mesmas de quando fui orde­nado ministro do evangelho, há muitos anos. A salvação dos perdidos foi, é e sempre será meu compromisso número um-Todavia, como eu já mencionei, Jesus não curou todos os enfermos. Ele não alimentou todos os famintos. Sua missão primordial foi a salvação dos perdidos. Quando o paralítico lhe foi trazido, a primeira coisa que Jesus lhe disse foi: "Os teus pecados estão perdoados" (Mateus 9:2). Jesus sabia que aquele homem precisa­va, em primeiro lugar, conhecer o perdão de Deus, mas a seguir, o Senhor adiantou-se e atendeu também às necessidades físicas daquele homem. Parece-me que essa é a ordem certa das priori­dades.

 

Nossos deveres cristãos

Jesus demonstrou compaixão a todos quantos ele encontrou em necessidades. Nós também devemos ter compaixão dos neces­sitados. A cada um de nós Deus atribuiu dons, talentos e habili­dades diferentes. Somos todos partes diferentes do mesmo corpo. Jesus tinha sido carpinteiro, antes de ser missionário, de modo que ele entendia a importância de edificar coisas a fim de tornar a vida suportável. Esse conhecimento também cunhou seu ensino. Hoje, engenheiros, arquitetos, voluntários de fim de semana, pastores e evangelistas devem unir-se ombro a ombro, a fim de retardar a obra do cavaleiro do corcel preto, portador da fome, e desenvolver a obra do reino enquanto há luz.

Significaria isso que fomos chamados para dar tudo que pos­suímos? Não. Não necessariamente. Nada há de errado, ou imo­ral, em a pessoa ser rica. Pode ser que alguns sejam chamados por Deus para dar muito, e fazer grandes sacrifícios, mas Deus confia a cada um de nós a tarefa de descobrir a vontade dele para nossa vida. As riquezas podem constituir um ministério que Deus nos atribuiu. As riquezas podem ser usadas egoisticamente, pecami­nosamente, ou podem ser usadas para a glória de Deus. Assim escreveu Paulo aos Romanos: "De modo que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus" (Romanos 14:12).

Cada um de nós tem talentos e oportunidades diferentes. A verdadeira questão é: Estamos usando o que temos para a glória de Deus, e estamos amando nosso próximo como a nós mesmos? Estamos empregando nossos dons para benefício físico e espiri­tai do mundo ao nosso redor?

Fomos chamados pelo Senhor e Salvador Jesus Cristo a fim de Pr°clamar o evangelho e servir a nosso próximo, a homens e mulheres, em suas necessidades físicas, psicológicas, morais e espirituais. Colocar a vida em risco por amor de Cristo requer verdadeira regeneração espiritual. Portanto, antes de você apres-sar-se e apresentar-se como voluntário, dedicando sua vida à causa dos necessitados, ou famintos, ou doentes, no mundo, certifique-se de que primeiro você correu à cruz de Cristo para obter-lhe o perdão e novas forças.

O cavalo preto do Apocalipse deixa bem claro para nós que estamos engajados numa batalha espiritual. Crianças estão mor­rendo porque o mal governa os corações e mentes das pessoas. Alimentar e cuidar do mundo requer uma revolução espiritual. À medida que homens e mulheres se voltam para Deus, por meio de Cristo, são liberados e abandonam a falsa esperança segundo a qual só o poder das armas nos livrará de nossos inimigos. Tais pessoas salvas por Cristo podem alcançar o próximo em amor, e compartilhar o que têm; todas as nossas posses são uma dádiva de Deus. Que estas palavras do apóstolo Paulo a Timóteo sejam nosso guia:

Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir, que acumulem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna (1 Timó­teo 6:17-19).

Somos tão-somente mordomos dos recursos do mundo. Eles não nos pertencem; pertencem a Deus. Depois de encontrar segu­rança em Deus, podemos em seguida dar generosamente de tudo quanto ele confiou às nossas mãos. Esse é nosso dever cristão.

 

Sombra da morte

Olhei, e vi um cavalo amarelo. O seu cavaleiro chama-va-se Morte, e o Inferno o seguia. Foi-lhes dado poder sobre a quarta parte da terra para matar com a espada, com a fome, com a peste e com as feras das terra (Apo­calipse 6:8).

 

A morte lança sua sombra sobre a terra. Por todos os conti­nentes, por todas as nações, por todas as cidades, vilas e cabanas, a morte vai correndo, desenfreada. Ela deixa tribulações, sofrimentos e tristezas por onde vai passando. O espectro do Apocalipse em nenhum lugar é mais visível do que nesta obra nefanda da horrenda ceifadora de vidas. A morte é mestra consu­mada na arte da destruir, e suas credenciais a precedem: aborto, abuso, vício, brutalidade, crime, doença, drogas, ódio, luxúria, assassinato, negligência, pestilência, conflitos raciais, sequestro, vingança, morte pela fome, suicídio, violência e guerra. Tudo isso é o cartão de visita da morte.

Aqui está o registro de suas realizações: 50 milhões de mortos todos os anos. Todos os anos um milhão de pessoas morrem por causa de desastres produzidos pelo próprio homem; 80 mil mor-rem em terremotos e 10 mil em inundações. A cada ano que passa, há um milhão de novas vítimas do processo de conversão de terras dáveis em desertos, e 10 milhões de refugiados ambientais; 625 nulhões de criaturas humanas vivem em áreas em que o ar é Poluído, nocivo à saúde, ou potencialmente letal. Surgem 250 mil novas vítimas de desastres ecológicos, ambientais, a cada ano, e Uln milhão se envenenam por pesticidas. Todas essas pessoas constituem o alvo da Magra. É chocante constatar que, só devido à poluição, 25 mil pessoas morrem todos os dias.

Nos Estados Unidos morrem todos os anos 50 mil pessoas em acidentes de trânsito; 11 mil morrem de quedas; 5 mil, de incên­dios e queimaduras, e 6 mil por afogamento. Outras 2 mil são mortas todos os anos por armas de fogo; quase 4 mil pela ingestão de coisas nocivas; 1 mil se envenenam com gás, e 4 mil outras morrem envenenadas por outras substâncias tóxicas. Esse quadro se complica pelo fato de que há hoje 11 milhões de alcoólatras no país, e 76 milhões de famílias têm pelo menos um membro que luta nas garras do alcoolismo, ou de problemas relacionados ao alcoolismo.

No mundo todo morrem todos os anos 5 milhões de pessoas atacadas de malária, e 3 milhões, de tuberculose; 2,8 milhões de crianças morrem por ano de doenças preveníveis mediante vaci­na; doenças infecciosas matam 4 milhões de crianças não imuni­zadas. A diarreia mata 5 milhões de crianças abaixo de 5 anos de idade, e a pneumonia mais 4 milhões. Fomos informados de que algumas estimativas indicam haver 60 milhões de portadores potenciais de AIDS/HIV, com um índice de crescimento estimado em 100 por cento, anualmente.

Acrescente-se a estes números a estimativa de 16,8 milhões que morrem de doenças parasíticas, 13,3 milhões de doenças cir­culatórias, 5 milhões de doenças cardiovasculares, 4,3 milhões de câncer, 3,3 milhões no momento do parto, 2,6 milhões de doenças relacionadas ao fumo, e 401 mil suicídios anuais.

 

Contabilizando as perdas

Como poderia alguém pelo menos começar a entender o preço que os seres humanos têm que pagar em termos de tanto sofri­mento, angústia, dor e perda? Tudo isto constitui apenas pequena fração do mal que grassa livremente pelo mundo, assolando e envilecendo as pessoas ao nosso redor. Cerca de 300 milhões de pessoas sofrem de artrite aguda ou crónica; 85 milhões de crianças são gravemente deficientes, de algum modo; e 900 milhões sofrem dores constantes. No topo de tudo isso, coloquem-se 51 milhões de psicóticos no mundo todo, 10 milhões de esquizofrênicos e 9o milhões de psiconeuróticos.

Estas estatísticas pavorosas fazem-me arquejar, diante do pe­dágio letal que a Magra cobra da humanidade. Todavia, preciso imaginar como tais números se comparam com a tragédia das baixas em combate, na guerra. Não consigo imaginar como a situação poderia ser pior em tempos de guerra.

Em agosto de 1991, o Journal ofthe American Medicai Association publicou um estudo emocionante sobre a epidemiologia da morte na guerra. O artigo relata, entre outras coisas, as estimativas médias de mortes anuais devidas à guerra, ao longo dos últimos quatro séculos. Os pesquisadores constataram que o índice médio anual de mortes na guerra, no século dezessete, foi de 9.500. O índice subiu para 15 mil no século dezoito, 13 mil no século dezenove, e um espantoso 458 mil mortes anuais no século vinte... até agora.

Surpreendi-me ao verificar que a média era de apenas 6 mil mortes entre militares, por ano, durante a Guerra dos Trinta Anos, na primeira metade do século dezessete, comparada ao total de cerca de 180 mil pessoas mortas. Este é um número enorme, mas menor do que eu suspeitaria, referindo-se a uma guerra chamada de Guerra dos Trinta Anos. Em comparação, mais de 250 mil morreram durante apenas quatro anos da Guerra Civil America­na, cerca de 250 anos mais tarde. Todavia, é mais chocante a estimativa de 5.561.000 mortes em combate por ano, durante a Segunda Guerra Mundial, com um total de mais de 30 milhões de soldados mortos, não incluindo-se aí os mais de 20 milhões de civis mortos.

 

Cavalo amarelo, cavaleiro amarelo

No museu Victoria e Alberto, de Londres, há reproduções pintadas de uma série de sete tapeçarias entretecidas no século quatorze. A série mede cerca de 157 metros de comprimento e retrata a visão apocalíptica de João. Há seiscentos anos os artistas tapeceiros leram o sexto capítulo do Apocalipse e interpretaram Misticamente o cavaleiro como sendo um esqueleto com caveira, enrolado em roupas fúnebres, sentado num cavalo amarelo e carregando uma larga espada romana, preparado para a carnifi­cina que infligiria.

No século quinze, Albrecht Dúrer retratou a visão de João em quinze blocos de madeira enormes, cuidadosamente recortados. Estas talvez sejam as ilustrações mais famosas dos cavaleiros. A morte cavalga o cavalo amarelo de forma mais tradicional, como sendo o Pai Tempo, um mensageiro emaciado, barbudo, portador de julgamento, que carrega uma lança de três pontas, galopando a toda velocidade na direção de pessoas indefesas, cujas faces estão voltadas para cima, demonstrando horror. Durante séculos muitos artistas têm tentado retratar aquela cena pavorosa, mas nada consegue captar o horror da realidade.

Antes de chegarmos ao versículo 6 do relato joanino, três cavalos passaram galopando em disparada, à nossa frente. Cada um traz um instrumento da ira de Deus, e cada um chega com o objetivo de trazer terror e julgamento à terra. Agora, no versículo 7, um dos emissários nomeados por Deus chega à frente mediante a ordem: "Vem!" Uma nova página se abre, de súbito, para revelar o quarto cavalo e seu horrendo cavaleiro. Nos versículos seguin­tes, João se expressa assim: "Olhei, e vi um cavalo amarelo" (Apocalipse 6:8).

A palavra em grego é chloros. William Barclay, o falecido professor escocês, de grande erudição, da Universidade de Glas-gow, referiu-se a essa cor ao mencionar um rosto "pálido de terror". Moffatt disse que a cor do cavalo exprime a de um cadáver sem sangue. Utilizamos a raiz desta antiga palavra grega quando descrevemos a cor do gás clorídrico, um verde pálido, doentio. Naquele momento, os olhos de João fitaram uma cena pavorosa, aterrorizante. Havia um cavalo amarelo e "o seu cavaleiro chama-va-se Morte, e o Inferno o seguia" (Apocalipse 6:8).

Essa pequena frase: "e o Inferno o seguia" é enigma que tem perturbado os eruditos ao longo dos séculos. Haveria um segundo cavaleiro engarupado no cavalo amarelo, logo atrás da Morte? Ou existiria um quinto cavaleiro do Apocalipse? O inferno (Hades) era o lugar transitório onde habitavam os mortos. É o lugar que durante algum tempo vem recebendo e armazenando os espíritos dos que morrem sem Cristo. Na visão, João enxerga a Morte e o Inferno em termos prosaicos e rudes demais, como lixeiros que colhem refugo ao longo de uma via pública, espetando pedaço de lixo numa lança e depositando-os em sacos plásticos, à medi que vão caminhando.

 

A visão do inferno

Quando João vê essa imagem da Morte e do Inferno, emprega a misteriosa frase: "Foi-lhes dado poder..." (Apocalipse 6:8). Na­quele instante horrível, quando cavalo e cavaleiro fizeram uma pausa, algo transpirou entre Deus e a Morte, sendo que esta recebeu o poder de matar uma de cada quatro pessoas vivas, na terra.

É importante perceber que os horrores desencadeados pelos quatro cavaleiros produzem um efeito combinado, somado. O primeiro cavalo não é substituído pelo segundo, e este pelo ter­ceiro, e assim por diante; em vez disso, ao primeiro junta-se o segundo, e a ambos o terceiro e a seguir o quarto. O cavaleiro que traz a peste e a morte vem acompanhado dos demais, que já comentamos. É devastador o efeito da conjugação dos esforços dos quatro cavaleiros.

Um dos objetivos de Satanás é enganar. Vimos isto retratado de modo vívido na imagem do cavalo branco. O enganador veio a fim de desorientar e conquistar as nações. Em João 8:44, Jesus disse o seguinte: "É mentiroso e pai da mentira", referindo-se ao diabo. E o desejo do diabo de promover a morte também se encontra no mesmo versículo: "Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, pois não há verdade nele". Aqui, em Apocalipse 6:8, Deus atribui ao diabo permissão para sair e matar seres humanos em massa, isto é, um holocausto de uma quarta parte da população da terra.

Pelo final desta década, estima-se que a população do mundo terá ultrapassado os seis bilhões. Isto significa que se este mensa­geiro do julgamento divino recebesse permissão de Deus para matar um quarto da população mundial naquela época, 1,5 bilhão de pessoas seriam mortas. Trata-se de um número que expressa urna população maior do que a da Europa toda, mais a da América do Sul e a da América do Norte, somadas.

Por que é que Deus daria permissão para que ocorresse tão grande sofrimento? A visão de João é coerente com os quadros tolicos antigos que descrevem o que acontece quando Deus envia Ua ira sobre aqueles que lhe desobedecem a Palavra. Advertiu-** William Barclay: "No fundo de tudo isso permanece a verda­de que nenhum homem, e nenhuma nação consegue escapar das consequências de seu pecado" (The Revelation ofjohn —Apo­calipse de João, 2:12). Lynn Howard Hough explica que a Morte, aqui, não traz uma destruição destituída de sentido, mas "destrui­ção que serve ao propósito da justiça de Deus. [A morte] faz parte da administração divina. A quarta parte da humanidade sente seu poder, a fim de que três quartas partes vejam e tenham oportuni­dade de arrepender-se" (The Interpreteis Bible, 12:414).

O mundo todo quedou-se horrorizado pelo Holocausto, em que Hitler a sangue frio enviou 6 milhões de judeus (bem como milhões de poloneses e outros grupos não judeus) para as câmaras de gás. Entretanto, ninguém entristeceu-se mais do que Deus. A morte de seus filhos lhe parte o coração. A intenção de Deus não é que um de seus filhos pereça, mas quando as pessoas arrogan­temente recusam o plano de Deus, a consequência da rebelião é a morte. O cavaleiro do corcel amarelo apenas cobra o que lhe é devido.

 

O amor de Deus

Ainda nessa visão, Deus estende a mão amorosa. O Senhor ilustrou seu amor ao dar seu Filho para que morresse na cruz — a morte mais horrível que uma pessoa poderia sofrer. Deus espera que mediante tão grande evidência de amor e a advertência feita pelo quarto cavaleiro, entregue a João há quase dois mil anos, o resto da humanidade consiga ver qual é o salário do pecado, arrepender-se de seu pecado, procurar o perdão de Deus e salvar-se das mandíbulas do inferno.

Não deveríamos horrorizar-nos diante do que Deus está fa­zendo. Deveríamos tributar-lhe gratidão. Em alguns casos, a mor­te física é, na verdade, uma bênção. Imagine se Adolph Hitler ou Joseph Stalin ainda estivessem vivos. Vivessem eles para sempre, e este mundo se converteria num inferno vivo. Mas as pessoas não morrem apenas fisicamente; estão espiritualmente mortas, embo­ra vivas no corpo, até que encontrem vida nova em Cristo. A Bíblia também fala na segunda morte, ou a morte eterna. Refere-se ao inferno. Mediante este cavaleiro, Deus espera fazer que bilhões fujam do inferno, os bilhões de indivíduos que pela sua pecami-nosidade escolheram a morte em vez da vida. Se o amor que o

Senhor oferece for aceito, e lhe for acatada a advertência, esses bilhões serão poupados.

Entretanto, a ordem é mais específica ainda. As armas da morte estão claramente descritas: espada, fome, peste e animais selvagens. Tais elementos apocalípticos do Novo Testamento fo­ram tomados diretamente do Antigo Testamento. A visão de João tem raízes numa visão de Moisés, quase 1.300 anos antes da experiência de João na ilha. Barclay nos lembra de que em Levítico (26:21-26), Moisés descreve o julgamento que Deus haveria de enviar sobre seu povo por causa de sua desobediência. Assim diz Barclay: "Bestas selvagens arrebatarão as crianças de seus pais, destruirão seu gado, e os reduzirão em número. A espada vingará suas quebras da aliança. Quando estiverem reunidos em suas cidades, a peste estará entre eles. Deus lhes tomará o sustento de pão, comerão e não se satisfarão" (The Revelation of john [O Apo­calipse de João], 2:11-12).

 

A espada do Senhor

Mais tarde, o profeta Ezequiel ouviu o soberano Senhor dizer: "Quanto pior será se eu enviar os meus quatro maus juízos, a espada, a fome, os animais selvagens e peste contra Jerusalém, para arrancar dela homens e animais?" (Ezequiel 14:21). Todavia, até mesmo tais promessas de horror trazem esperança. Deus assegura a Ezequiel que "alguns restarão nela", e esses sobrevi­ventes consolarão o profeta quando ele vir "o seu caminho e os seus feitos, pois sabereis que não fiz sem razão tudo o que fiz nela, diz o Senhor Deus" (Ezequiel 14:22-23).

Entretanto, diz a Bíblia que Deus também tem espadas. "Es­pada pelo Senhor e por Gideão!" (Juízes 7:20) foi o brado de guerra dos antigos israelitas, quando partiram para destruir os midiani-tas invasores. No Novo Testamento, lemos sobre "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus" (Efésios 6:17).

A arma de Satanás, naturalmente, é a imitação, a falsificação. Representa a "mentira espiritual" em oposição à verdade de Deus. Em 2 Tessalonicenses 2:7-12, assim diz Paulo:

Já o mistério da injustiça opera; somente há um que o detém até que seja afastado. E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo sopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda. A vinda desse iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais e prodígios da mentira, e com todo engano da injustiça para os que perecem. Perecem porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. Por isso, Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira, e para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na iniquidade.

A passagem de Apocalipse 6, a respeito do cavalo amarelo, provavelmente tem dupla interpretação. Uma delas é literal; a outra é espiritual. A Bíblia nos ensina que haverá uma fome da Palavra de Deus nos últimos dias (Amos 8:11). À subnutrição espiritual segue-se a morte espiritual.

Contudo, também há uma fome física no mundo. Por exem­plo, quarenta mil crianças morreram de fome e doença, na noite passada, enquanto você dormia. Acrescente esse número ao total de vítimas de pestes e epidemias que varrem o Leste da Africa, a Ásia, e a América Latina. Veja o que diz Deuteronômio 28:15, 21-22,27-28:

Mas se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, se não cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e estatutos que hoje te ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te atingirão. O Senhor fará que a pestilência te pegue, até que te consuma a terra a que passas a possuir. O Senhor te ferirá com a tísica [doenças degenerativas] e com a febre, com a inflamação [doen­ças contagiosas]? com o calor ardente, com a secura, com o crestamento e com a ferrugem; e isto te perseguirá até que pereças. O Senhor te ferirá com as úlceras do Egito, com tumores [câncer?], com sarna e com prurido [doenças causadas por deficiências?], de que não possas curar-te [herpes genital, sífilis e AIDS?]. O Senhor te ferirá com loucura [doenças mentais?], com cegueira [defeitos hereditários?], e com pasmo de coração [problemas mentais e traumas emocionais?]

As perguntas que inserimos entre colchetes, nos versículos acima, servem para estimular seus pensamentos com respeito a esta passagem descritiva. Esta é apenas uma pequena lista de pestes que serão infligidas sobre a população, quando o cavaleiro do corcel amarelo galopar pela terra.

Também é preciso considerar os casos de pessoas mortas pelas bestas do campo. Moisés, Ezequiel e João viveram numa época em que as feras selvagens com frequência atacavam os peregrinos que viajavam pelas estradas entre uma e outra cidadezinha. Os predadores invadiam as cidades destituídas de muralhas, aterro­rizando e matando seus habitantes. Na maioria das culturas civi­lizadas de hoje, as bestas selvagens ficam trancafiadas em parques zoológicos, ou em circos ambulantes.

Todavia, à semelhança da espada que evoluiu para o míssil nuclear, assim também as bestas selvagens evoluíram, transfor-mando-se nos modernos assassinos que nos cercam por onde quer que caminhemos. Mas há também, é claro, a ameaça muito real e literal de animais selvagens invadindo as modernas cidades à procura de comida e água, como os coiotes do sul da Califórnia, ou as manadas de javalis que, ocasionalmente, invadem vilarejos de países do Terceiro Mundo. Todavia, há outras bestas selvagens entre nós, sendo isto com certeza o que as Escrituras nos sugerem. Considere, por exemplo, o aborto.

 

O holocausto do aborto

Poucos assuntos conseguiram polarizar a atenção de nossa sociedade mais fortemente do que o aborto. Não é minha intenção envolver-me na questão complexa, de ordem legal e política, que constitui um remoinho violento ao redor deste assunto.

Há, temos que admitir, casos isolados em que o aborto é o menor de dois males, como, por exemplo, quando a vida da mãe está correndo grave risco. Entretanto, para muitas pessoas hoje o aborto tornou-se pouco mais do que mero meio de controle de natalidade, praticado por conveniência pessoal apenas, sem a mínima consideração pelo destino da criança que cresce no útero, e do ponto de vista da Bíblia, esta visão egoística da questão é Pecado. Com demasiada frequência o direito que a criança ainda P°r nascer tem à vida, é-lhe arrebatado numa onda de clamores Pelo "direito" de decidir.

A Bíblia deixa bem claro que Deus vê a criança ainda não nascida, não como um pedaço supérfluo de tecido biológico, mas como uma pessoa criada por ele, para viver. Assim disse o salmis­ta: "Criaste o meu interior; entreteceste-me no ventre da minha mãe... Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado. Quando fui entretecido nas profundezas da terra, os teus olhos viram o meu corpo ainda informe. Todos os dias que foram ordenados para mim, no teu livro foram escritos quando nenhum deles havia ainda" (Salmo 139:13,15-16).

Deus expressou uma verdade semelhante ao profeta Jeremias: "Antes que eu te formasse no ventre, te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta" (Jeremias 1:5). Quando Maria, a virgem mãe de Jesus, visitou sua prima Isabel, que estava grávida de João Batista, diz-nos a Bíblia que Isabel declarou a Maria: "Ao chegar-me aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre" (Lucas 1:44). Temos aqui uma indicação claríssima de que a criança ainda não nascida era uma pessoa, não apenas um pedaço de tecido fetal.

Desta e de outras passagens tiramos a conclusão inescapável de que o bebé ainda não nascido é digno de nosso interesse e proteção, da mesma forma que um bebé recém-nascido, ou uma pessoa adulta. A desbragada prática do aborto provocado é mais um sinal horrendo do tropel do cavaleiro que cavalga seu corcel amarelo, em nossa época.

Segundo um artigo de maio de 1992 numa revista feminina popular, as adolescentes norte-americanas detêm um dos mais elevados índices de gravidez. O índice dos Estados Unidos é o dobro do índice inglês, francês e canadense, três vezes o índice da Suécia e sete vezes o da Holanda. Todos os anos um milhão de adolescentes se engravidam. Metade delas dá à luz; 36 por cento provocam o aborto; 14 por cento têm aborto espontâneo. Também 623 adolescentes pegam sífilis ou gonorréia todos os dias. Desde o início do programa de âmbito nacional, Planned Parenthood (Paternidade Planejada), que objetiva "educar" os adolescentes sobre a sexualidade, houve um aumento de 230 por cento nos casos de gravidez entre adolescentes, neste país.

Em 1960, havia menos de 100 mil abortos nos EUA por ano; em 1972, esse número quase se multiplicou por seis, mas em 1978, com a legalização Roe, mais o apoio de grupos que defendem o aborto, e os grupos feministas, mais de 1,4 milhão de abortos foram praticados. Hoje, nos Estados Unidos, praticam-se anual­mente em média 1,6 milhão de abortos. O preço cobrado pela morte é aterrorizador. A cada ano, milhões de bebes são ceifados no ventre de suas mães.

A promiscuidade sexual é obviamente outra das grandes pandemias de nossa era, ao lado da fome, da violência e das doenças. Em 1988, um de cada quatro partos nos Estados Unidos foi de mãe solteira. Este fato tem constituído uma tragédia parti­cular nas grandes cidades norte-americanas, onde, em 1990,61 por cento de todos os nascimentos e 52 por cento de todos os abortos ocorreram entre mulheres pobres, pretas, solteiras.

Quase sem exceção, a mídia tem defendido resolutamente o "direito" da mulher de abortar. Uma das poucas expressões sig­nificativas de desaprovação que encontrei nos jornais foi este clamor profético contra esse espectro da imoralidade e sofrimen­to, proferido após a decisão Roe v. Wade, num editorial do jornal Sentinel, de Orlando, na Flórida:

A desvalorização da moralidade induzida pelo aborto pode ter, e com toda probabilidade terá, efeitos de longo alcance. Dentre eles, a promoção da promiscuidade, a despersonalização do conceito de vida e a ativação do mecanismo de destruição da família como a conhece­mos... E que será da mulher em si? O aborto à vontade pode trazer a ela graves consequências futuras. Já há dores inevitáveis, suficientes, no viver, sem precisar infligir em si mesma, numa época extrema, a memória assustadora de uma criança que poderia ter existido. Isto atinge, na verdade, o cerne da questão. A moralida­de frouxa e a promiscuidade induzem inevitavelmente ao desapontamento, ao desespero e à morte. Até a his­tória declara a herança trágica das sociedades promís­cuas — de Cartago e Roma à França da Renascença. A Bíblia declara repetidamente a ira de Deus sobre os que persistem nesse pecado.

Ao aproximarmo-nos do fim deste milénio, milhões de ho­mens e mulheres por todo o mundo estão desviados de Deus, e entregam-se ao hedonismo, à idolatria do ego.

Na busca da liberdade absoluta, do livramento das restrições morais e da responsabilidade pessoal, muitos acreditam que po­dem pagar seus pecados mediante dinheiro. Quando o problema é uma gravidez, ou quando amar e alimentar uma criança não está em seus planos, a pessoa simplesmente paga um especialista para que corte o problema, ainda que tal problema seja uma vida humana. Esta mentalidade libertina de brincar hoje, à vontade, e evitar as consequências amanhã, tem cegado muitas jovens mães; só mais tarde é que descobrem que precisam enfrentar para sem­pre as cicatrizes físicas e emocionais.

Tenho ouvido algumas pessoas dizerem: "Bem, sou contra o aborto, mas com essa crise populacional, e todos esses nascimen­tos indesejados no mundo, de modo especial entre os pobres, o aborto provavelmente é a melhor solução". Permita-me dizer que esse tipo de raciocínio é falso e perigoso.

O modo de resolver o problema da explosão populacional é, em primeiro lugar, contando às pessoas que Deus as ama, e tem um plano personalizado já elaborado para cada um de nós. As pessoas precisam entender que a vida humana é uma dádiva sagrada de Deus. Leve-as a uma nova vida em Cristo, mediante o arrependimento e a mudança de coração. A seguir, ensine às pessoas a respeito do autocontrole e da responsabilidade moral, conforme Deus os definiu, e preste-lhes ajuda quanto a alimento e abrigo, se precisarem.

Podemos demonstrar o amor de Deus, mas jamais deveríamos imaginar que podemos resolver uma crise de ordem moral, ao mostrarmo-nos indulgentes para com outras crises morais, de modo especial o crime do assassinato. O aborto sem restrições nada mais é senão assassinato.

Só nesta questão podemos ver a ação de todos os quatro cavaleiros: a do primeiro, que engana, a do segundo, que traz violência e conflito, a do terceiro, que é portador de pestilências, e a do quarto, representante da morte. A vida humana é sagrada, o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus; entretanto, os cavaleiros não têm outra intenção senão a de destruir a criação divina.

 

A Epidemia da AIDS

A misteriosa doença conhecida como "síndrome de imunida­de deficiente adquirida" (em inglês AIDS) constitui outra crise de nossa época, que se tornou outro componente grave dos desastres que afligem o mundo.

Esta doença fatal apareceu repentinamente, há uma década, e já deixa uma trilha espantosa de morte e destruição, à sua passa­gem. O Journal ofthe American Medicai Association, edição de junho de 1991, relatou a incidência de AIDS desde que os primeiros casos apareceram, em 1981. Nesse ano, um total de 189 casos foi relatado aos Centers for Disease Control (Centros de Controle de Doenças, CDC em inglês), sobre 15 estados e o distrito de Columbia. A grande maioria — mais de 76 por cento — era de Nova York e Califórnia. De todos os casos conhecidos, 97 por cento eram homens, 79 por cento dos quais eram homossexuais/bissexuais. Nesse período inicial, não houve registro de casos de AIDS em crianças.

Ao redor de 1990, no entanto, o quadro estava dramaticamen­te alterado. Nesse ano, 43 mil casos haviam sido registrados, em todos os estados, mais o distrito de Columbia, e os territórios norte-americanos. Dois terços dos casos eram de fora de Nova York e Califórnia; 11 por cento dos casos registrados entre adoles­centes e adultos referiam-se a mulheres; e quase 800 casos diziam respeito a crianças abaixo de treze anos.

Segundo qualquer padrão, um crescimento tão rápido da doença seria visto como epidemia. Desde os primeiros registros da doença, em 1981, os departamentos de saúde pública de Was­hington receberam relatórios sobre mais de 179 mil pessoas infec­tadas com AIDS. Desse total, 63 por cento (113 mil) já morreram. Ao mesmo tempo, a AIDS tornou-se a principal causa de morte Para homens e mulheres abaixo de 45 anos de idade, e crianças entre um e cinco anos, nos Estados Unidos.

A World Health Organization (Organização Mundial de Saú­de — em inglês WHO) prediz que o número de casos de AIDS vai multiplicar-se por dez, até o final do século. O total aproximado de 1,5 milhão de casos, de 1992, se transformará provavelmente em mais de 15 milhões de casos, podendo chegar a 18 milhões. Visto que muitos desses casos ocorrem em países pobres, em que as estatísticas, quando existem, são imprecisas, a verdadeira co­brança da morte poderá ser muito maior.

Em sua resolução número 46/203, publicada em dezembro de 1991, a WHO insistiu fortemente: Que todas as nações membros considerassem a epidemia da AIDS prioridade número um. Ins­truiu também os responsáveis pela saúde pública que proteges­sem a dignidade humana dos doentes atingidos pela epidemia. Num de seus últimos discursos perante as Nações Unidas, antes de sua partida em fins de 1991, o Secretário Geral Javier Pérez de Cuéllar disse: "Se a AIDS não for controlada, poderá vir a ser, sozinha, o maior assalto à saúde e ao desenvolvimento dos seres humanos, além das privações da pobreza".

 

Um desastre de âmbito mundial

A revista World Press Review acompanhou o desenvolvimento da epidemia da AIDS desde seu surgimento. A capa de sua edição de janeiro de 1992 deu ênfase ao impacto dessa nova doença ao redor do mundo e deu ensejo a uma pesquisa que demonstra como a disseminação da AIDS é muito mais ampla do que alguém conseguiu documentar.

A AIDS é a epidemia mais horrenda de nossa geração e poderá vir a ser a ceifadora de vidas mais temível de todos os tempos. De acordo com a World Health Organization, ao redor do ano 2.000, 90 por cento dos casos de AIDS ocorrerão nos países do Terceiro Mundo.

Entretanto, a documentação dos casos de AIDS constitui um problema sério, de vez que a WHO suspeita que menos de 10 por cento das ocorrências reais da doença estão sendo registradas. Conquanto o número total de casos sob tratamento, no mundo todo, é de aproximadamente 420 mil, a WHO receia que esse número pode dobrar, havendo ainda de 8 a 10 milhões de infec­ções não detetadas.

Um dos aspectos mais apavorantes do HIV é sua capacidade de mutante rápido. O vírus esconde-se literalmente de antibióti­cos e medicações antiviróticas. Por enquanto, as únicas drogas aprovadas, antiviróticas, AZT e DDI, só conseguem retardar o progresso da doença.

Na Africa de hoje a AIDS deixou de ser considerada epidemia, pois tornou-se uma pandemia, segundo a revista francesa Le Nouvel Afrique Asie. Isto quer dizer que a epidemia tornou-se incontrolável, uma assoladora de âmbito global. A Dra. Dorothy Blake, da Jamaica, diretora delegada do Programa AIDS Global, concorda com as estimativas prévias segundo as quais há entre 8 e 10 milhões de casos de AIDS no mundo todo, dos quais 70 por cento se localizam no Terceiro Mundo. Ela faz uma projeção de que pelo ano 2010 o número total de casos pode ultrapassar 40 milhões de homens, mulheres e crianças infectados com AIDS.

As prostitutas constituem a maior fonte de contágio em certas áreas. Em países como a Tailândia, calcula-se que 75 por cento da população masculina já visitaram prostitutas, muitas das quais, tornou-se claro agora, estão infectadas com o vírus da AIDS.

O Dr. Jim McDermott, co-presidente da Equipe de Trabalho Internacional Contra a AIDS do Congresso norte-americano, nu­ma entrevista dada à Ásia News Agency (Agência Noticiosa da Ásia) de Manila, declarou que, em média, uma prostituta de Bombaim, na índia, recebe seis fregueses por noite. A seguir, McDermott fez a seguinte estimativa: "Se presumirmos, então, que ocorrem 600 mil contatos com prostitutas em Bombaim, todas as noites, e que um terço dessas prostitutas estejam contaminadas, isso significa que uns 200 mil contatos diários podem resultar em infecções de AIDS".

O jornal Globe and Mail de Toronto divulgou a notícia de que todas as semanas, mais de 3 mil jovens, a maior parte oriunda das áreas rurais brasileiras, chegam ao Rio de Janeiro, a fim de engros­sar as fileiras da prostituição naquela cidade. O Brasil já tem o maior número de casos de AIDS na América Latina, sendo o quarto maior índice do mundo. Calcula-se que 700 mil brasileiros tenham sido infectados.

A situação do México, com pouco mais de 7 mil casos conhe­cidos de AIDS, parece comparativamente menos grave, mas as autoridades acham que o número divulgado pode constituir ape- Pequena fração do número real. Compare-se com quase 1.200 casos divulgados na Polónia, e 1.000 na Africa do Sul.

Na França, tanto a AIDS como a hepatite estão crescendo demais, por causa de transfusões de sangue contaminado com vírus, feitas pelo serviço de saúde pública. Além dos casos conhe­cidos de AIDS e HIV, o ministério de saúde francês calcula que 400 mil pessoas podem estar infeccionadas com o vírus, por causa dessas transfusões com sangue contaminado.

 

A explosão epidêmica

O ativista contra a AIDS, Larry Kramer, declarou num artigo em USA Today, edição de maio de 1992, que já perdemos a guerra contra a AIDS. A despeito do gasto de mais de um bilhão de dólares em pesquisas sobre a AIDS e HIV, nenhuma cura e ne­nhuma terapia promissora foram descobertas, e essas doenças continuam a grassar em ritmo alarmante. Informa-nos Kramer que há uma nova infecção de HIV a cada 54 segundos, e 267 novos casos de AIDS a cada dia, ou cerca de 8 mil por mês. Há uma morte por causa da AIDS a cada nove minutos; pelo menos 4 em cada grupo de 1000 estudantes universitários estão agora infectados pela doença.

"Quando comecei a ouvir acerca da doença, e a combatê-la, quando seu nome ainda não era AIDS", escreve Kramer, "só havia 41 casos. Quando comecei a ficar com medo mesmo, e a falar sobre o assunto, havia 1000 casos. Os Estados Unidos aproximam-se bem depressa de 200 mil casos de AIDS de ataque total, havendo talvez 10 milhões de pessoas infectadas com o vírus de HIV, por todo o mundo. Ninguém sabe na verdade o número exato. Nin­guém sabe como contá-los".

"O pior a respeito desses números", escreve Kramer, "é que são terrivelmente baixos." E acrescenta uma nota adicional: "Se o sistema de saúde pública norte-americano quase entrou em colap­so sob o peso dos primeiros 100 mil casos, imagine o que aconte­cerá quando sobrevierem mais 100 mil". Todavia, a pandemia de AIDS não é a única sangria no sistema de saúde pública. Além das estatísticas acima, as doenças transmissíveis por relações sexuais (sigla em inglês, STD) estão atingindo proporções epidêmica, tanto nos Estados Unidos como ao redor do mundo.

Pesquisas revelam que 63 por cento das infecções atacam pessoas abaixo dos vinte e cinco anos de idade. Dentre tais infecções há um milhão de novos casos de doença inflamatória da pélvis, 1,3 milhão de novos casos de gonorréia (sendo algumas formas resistentes a tratamento), 134 mil novos casos de sífilis (que ficara inativa durante 40 anos), e 500 mil novos casos de herpes. Há agora 24 milhões de casos de vírus de papiloma humano (sigla em inglês, HPV) nos Estados Unidos, e 4 milhões de novos casos de clamídia a cada ano. A cada ano 3 milhões de adolescentes norte-americanos são infectados com STD.

 

Compaixão cristã

Existiria alguma coisa que se possa fazer nesta situação crítica? Haveria alguma coisa que você poderia fazer, a fim de expressar sua preocupação e ajudar de alguma forma, enquanto prossegue no testemunho, firme nos valores cristãos tradicionais? Sim, eu acredito que é nosso dever cristão fazer alguma coisa.

Para começar, seria útil inf ormar-se bem sobre estas questões. Além das reportagens recentes em revistas como Newsweek, cuja edição especial sobre "Teens and AIDS" (Adolescentes e AIDS), saiu em 3 de agosto de 1992, há muitos excelentes livros publica­dos nos últimos 4 anos, os quais descrevem cada um destes problemas em minúcias, oferecendo sugestões sobre maneiras de ajudar eficazmente.

Neste sentido, eu recomendo de modo especial os livros das editoras cristãs mais importantes, em outras palavras, aquelas associadas à Christian Booksellers Association (Associação de Livreiros Cristãos). Entretanto, há outros livros de casas publica-doras seculares que fornecem elementos informativos e objetivos, quanto ao escopo do problema, estatísticas, remédios tentativos e os problemas subjacentes.

A segunda coisa que você pode fazer é inteirar-se das organi­zações que educam, informam e ajudam homens e mulheres nestas questões. Seu pastor poderá estar habilitado a indicar-lhe algumas organizações nacionais ou locais que tratam desses pro­blemas.

Em terceiro lugar, você pode ajudar sua igreja, como voluntário ou uma organização cívica, ou um grupo local especialmente teressado. Muitas dessas organizações estabelecem uma política desligada da moral e da teologia, e exigem ou que questões éticas e religiosas não sejam discutidas, ou que eventuais discussões nunca envolvam credos cristãos. Outras organizações, por outro lado, fundamentam-se numa forte base religiosa e procuram mi­nistrar às pessoas, em suas necessidades, com o amor e a compai­xão de Cristo. Também procuram ensinar às pessoas como podem encontrar paz com Deus mediante a fé em Jesus Cristo.

 

Aumento de conflitos raciais

Enquanto o mundo está sendo arrasado pela promiscuidade sexual e pelas doenças transmitidas sexualmente, o horror da violência racial e étnica assola com renovada força. Esta antiga besta recusa-se a morrer. Cinquenta anos depois de Auschwitz, Bergen Belsen, Buchenwald e Dachau, bandos armados estão mais uma vez perseguindo minorias na Alemanha. Nos primeiros dez meses de 1991 houve mais de 1.500 ataques registrados contra imigrantes tanto no lado oriental como no ocidental, desse país que outrora fora dividido. Os principais atacantes têm sido os "cabeças rapadas" (skinheads), mas não só os cidadãos probos deixaram de protestar contra seus atos, como em muitos casos as multidões presenciavam e aplaudiam as pancadarias, os abusos verbais e outras formas de brutalidade.

A situação tornou-se particularmente volátil nas cidades que há pouco foram libertadas, pertencentes à Alemanha Oriental, onde mais de um milhão de trabalhadores perderam seus empre­gos, quando as fábricas ineficientes e improdutivas tiveram que encerrar suas atividades. Muitos alemães orientais acreditam que os operários africanos, e os provenientes do oriente médio, turcos, e outros — que em geral são contratados com salários mais baixos — são responsáveis pela má situação. Os ataques nas cidades fabris que rodeiam Dresden e Leipzig têm sido terríveis. Casas têm sido danificadas ou destruídas e, em alguns lugares, os es­trangeiros têm sido assassinados.

Entretanto, a sombra do ódio, violência e morte projeta-se por sobre o mundo todo, e jamais se afasta de nossa vista. O racismo tornou-se um problema na França, na Inglaterra, na Itália e até na Escandinávia. As recentes erupções de violência nos Estados Uni­dos, no Brooklyn e em Los Angeles, por exemplo, são apenas os incidentes mais comentados. Crescem hoje em todas as cidades norte-americanas todas as formas de violência racial, como tiros, estrangulamentos, pancadarias e outras. O quarto cavaleiro toma o mundo de assalto.

Por toda a parte vê-se evidência da brutalidade. Dê uma olhada nas manchetes dos jornais matutinos, ouça as notícias radiofónicas, enquanto vai dirigindo pela estrada, ou veja o noti­ciário pelas redes de televisão, à noite, e verifique o índice de tragédia e morte em nosso meio. Acrescente as estatísticas das vítimas. Já não é preciso que um escritor de ficção científica imagine as horrorosas faces que esse antigo vilão usa agora, a fim de violentar, conquistar e destruir.

Desde meados de 1991 a violência vem aterrorizando a Iugos-lávia, fazendo aumentar os antigos ódios étnicos naquele país dividido. Desde que os conflitos se iniciaram, mais de 2 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas, criando a maior crise de refugiados da história recente. A guerra também tem sido outro terrível exemplo de violência racial, quando mais de um milhão de famílias árabes e muçulmanas foram expulsas da Sérbia e da Bósnia Herzegovina. As autoridades oficiais dão às atrocidades cometidas pelo exército sérvio, aquartelado em Bel­grado, o nome de "limpeza étnica", isto é, a eliminação de pessoas indesejáveis etnicamente.

Em suas formas mais sinistras, a violência, que se estende da Slovênia à Macedónia, vem dando àquela região onde se dispara­ram os primeiros tiros da Primeira Guerra Mundial, a atmosfera da Alemanha Nazista. A inflação disparou, aproximando-se de 12.000 por cento, desde o desmoronamento do comunismo, e vai alimentando a violência e desordem. As horrendas cenas que a televisão nos mostra noite após noite, pelos noticiários, apenas confirmam as atrocidades e provam, mais uma vez, a desumani­dade do homem para com o homem.

Calcule o número de cadáveres produzidos pela espada do cavaleiro, só nos doze últimos anos: ataques terroristas em Lon­dres, bombardeios em Beirute, bombas e metralhadoras expelin­do fogo em Belfast, outro massacre na África, um tumulto san­grento na Califórnia, um tufão na Flórida. Antes da Segunda Guerra Mundial, as imagens da morte descritas no Apocalipse, e noutras partes proféticas das Escrituras teriam sido inimagináveis. Tais imagens teriam parecido meras fantasias, naquelas tem­pos, algo totalmente irreal e irracional. Hoje, entretanto, vemos que o que antes era considerado fantasia, tornou-se a verdadeira sombra da morte.

 

Para salvar a Terra

Pelo menos nos últimos 25 anos, a delapidação dos recursos naturais, a destruição ambiental, aumentou muito, tornando-se assunto da maior importância nas agendas governamentais.

As primeiras visões de amplo âmbito público sobre esses assuntos às vezes focalizaram o bloqueio do desenvolvimento económico, e a volta da terra a uma espécie de paraíso pré-indus-trial.

Em anos mais recentes, o foco de atenção se dirige à descoberta de meios apropriados de eliminar o refugo, o lixo da sociedade, meios de impedir que as indústrias manufatureiras continuem a emitir gases clorofluorcarbonados, terrivelmente nocivos, que danificam as camadas de ozônio e aumentam o aquecimento global, e meio de fazer parar as derrubadas de florestas, o processo de desertificação do Terceiro Mundo, e meios de criar uma legis­lação global sobre "biodiversidade" — movimento que visa pre­servar as espécies em perigo de extinção.

Como acontece quando surge qualquer movimento desse ti­po, muitos interesses especiais e muitos tipos de ativistas (inclu­sive alguns extremistas) têm-se misturado. Alguns prontamente concedem posição de superioridade a insetos e a moluscos, em detrimento da vida do ser humano. Constituem um elemento pequenino e marginal; todavia, credenciais académicas e a pes­quisa científica atribuem-lhe uma influência mais forte do que seu número insignificante poderia significar, em questões do interesse dos eleitores.

Algumas dessas pessoas são empresários ou burocratas que nutrem a esperança de obter algum lucro na posição que defen­dem. Outros são cidadãos dotados de espírito cívico, sensibiliza­dos pela mídia, e desejosos de ver estabelecido um equilíbrio sadio e produtivo entre os vários componentes do ecossistema.

Sem dúvida alguma a terra enfrenta problemas graves. Os aterros de lixo extravasam, o sistema de esgoto é incontrolável, o consumismo cria montanhas de refugo virtualmente indestrutí­vel, rios secam-se ou são poluídos, e os mares correm o risco de ser contaminados com substâncias nucleares. Há outros materiais perigosos que são armazenados em lugares inseguros e que, em alguns casos, extravasam e contaminam lençóis de água, que se tornam agentes carcinogênicos e fontes de contágio para a próxi­ma geração.

Aumentando ainda mais a tragédia, as florestas tropicais e as matas desaparecem à velocidade de vinte mil acres por dia, por causa de operações agrícolas ou madeireiras. Estes são problemas genuínos, sem dúvida, mas é preciso que haja algum sentido de prioridade em sua resolução.

Um aspecto perturbador da discussão ambiental é o tom pseudo-religioso que se lhe dá, às vezes. A linguagem da ecologia é apocalíptica e evangélica, ao mesmo tempo. A revista Newsweek iniciou sua cobertura jornalística da Conferência do Meio Am­biente de 1992, no Rio de Janeiro, com uma alusão à queda de Adão no jardim do Éden, e apresentou uma pesquisa global a fim de determinar se o "apocalipse já" seria ou não uma ameaça razoável. Os que apoiam o movimento em prol de um "ambiente protegido" com frequência parecem estar adorando o deus-natu-reza, e não o Deus dos céus. Eis aqui uma perigosa forma de idolatria. Além disso, em qualquer época em que a vida animal, à vista humana, torna-se mais sagrada do que a própria vida huma­na, ter-se-á perdido o senso adequado de prioridades.

Contudo, a possível morte de nosso planeta, mediante algum tipo de suicídio ecológico, não faz parte da vontade de Deus. Assim diz a Bíblia: "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e todos os que nele habitam" (Salmo 24:1). Devemos levar em consideração os propósitos autênticos de Deus para este planeta. Precisamos tornar-nos administradores responsáveis dos recur­sos que Deus nos concedeu; acredito que fomos longe demais e depressa demais, no processo de pôr em risco os elementos am­bientais.

Também acredito que podemos conseguir muitas coisas me­diante a disciplina, o espírito engenhoso e a oração. Não se con­seguirá salvar a terra apenas mediante legislação, impondo-se obrigações legais às pessoas, mas mediante o interesse responsavel de homens e mulheres e crianças que querem cuidar da criação de nosso Deus. Se não fizermos isso, o cavaleiro da morte marcha­rá pela terra, para destruí-la.

 

Retorno à retidão

As pestes, doenças, fomes e guerras de nossos dias deveriam conduzir o mundo não só à ação justa, mas também ao arrepen­dimento de seus pecados, voltando-se para Deus enquanto ainda há tempo. As palavras de João deixam bem claro que aquelas desgraças existem a fim de despertar a humanidade e levá-la à obediência. Ensina-nos a Bíblia que povos e nações estão infligin­do a si mesmos estas dores, por causa de sua visão secular, por causa do ódio e da violência. Deus decidiu permitir que homens e mulheres colham o que semearam, pois isso os ajudará a apren­der a lição de que o pecado traz sofrimento. Deus não apoia o aborto; Deus deplora o aborto, mas permite que os abortos ocor­ram. Deus não infecta as pessoas com herpes, AIDS e outras doenças. Elas se contaminam a si próprias; Deus apenas o permite.

Esta é a lição dos quatro cavaleiros. Eles estão cavalgando por aí para advertir-nos. Cavalgam a fim de mostrar o caminho de volta para Deus, o caminho divino da retidão. O amor de Deus é eterno! Nada há que nos possa separar do amor de Deus, exceto nossa própria desobediência contínua. Ainda assim, Deus nos ama e vai em nosso encalço, a despeito de nossas dores, que nós mesmos nos infligimos. Além disso, Deus observa como reagimos diante das crises morais. Estamos ao lado de Deus ou ao lado da multidão? Participamos do pecado, ou clamamos e em amor apontamos a verdade? Deus nos propicia advertências adequa­das, primeiro a fim de ajudar-nos; depois, para examinar nosso coração.

Não podemos simplesmente lamentar as crises que se desen­cadeiam ao nosso redor. Não podemos continuar fingindo que alguém, outra pessoa, há de realizar a obra que Deus espera que executemos. Não podemos agir como se fôssemos desamparados, incapacitados para a obra do arrependimento e da renovação. Precisamos fazer o que pudermos, com energia e compaixão, ainda que saibamos que o plano último de Deus é a criação de uma nova terra e um novo céu. Os sinais indicam que o fim desta era está próximo; todavia, não há certeza. O fim pode estar a séculos de distância de nós.

Em Mateus 24:7, depois de Jesus haver advertido seus discí­pulos quanto a religiões falsas, eclosões de guerras e mais guerras, e disseminação de fomes mortais, o Senhor mencionou as pestes devastadoras. A palavra grega para "peste" pode ser traduzida por "morte", palavra que significa qualquer doença infecciosa, fatal. Tem havido guerras virulentas, fomes e pestes durante os longos séculos da história humana, mas nada se compara à tem­pestade que ainda há de sobrevir. O texto retrata a fúria desses elementos, e devastação que trarão a tudo que encontram à frente, matando grande parte da população do mundo.

Disse Jesus que "naqueles dias haverá uma aflição tal, qual nunca houve desde o princípio do mundo que Deus criou". Sim, "e nunca jamais haverá. Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria" (Marcos 13:19-20). Assim é que, sob o quarto selo, vemos a Morte e o Hades recebendo autoridade sobre uma quarta parte da terra, a fim de matar mediante os quatro julga­mentos relacionados em Ezequiel 14:21: espada, fome, peste e animais selvagens.

De repente, todos os nossos programas em prol da paz, da abundância de alimentos e da longevidade mediante a ciência e tecnologia serão eclipsados por um apocalipse cataclísmico, e arrasados em rapidez estonteante — a menos que antes disso o mundo se volte para Deus. Esta é uma das razões por que eu me sinto compelido a prosseguir pregando por todo o mundo. A ciência médica tem dado passos gigantescos no sentido de levar povos inteiros, que há menos de um século sobreviviam com recursos primitivos, nas selvas, a níveis próximos do paraíso. Na verdade, a ciência continua a produzir como que milagres incrí­veis que têm beneficiado a todos nós.

Entretanto, a peste vem chegando! Muitos clamam, "paz, paz" embora não possa haver paz permanente, a despeito de nossos maiores esforços, visto que temos desprezado o Príncipe da Paz. Temos rejeitado os mandamentos de Deus, que nos teriam ajuda­do a viver em paz. Assim é que a espada vem chegando. Há os que estão prometendo prosperidade e abundância se adotarmos seus programas particulares, seu regime, sua ideologia. Entretan-

to, os piores desastres por fim sobrevirão à terra, trazendo terrível sofrimento, e a morte, em sua esteira. O que estamos vendo hoje é apenas um prenúncio daqueles dias terríveis.

 

Esperança para o mundo

Quase todas as manchetes, todos os noticiários de televisão e todos os boletins noticiosos radiofónicos destes dias proclamam unia verdade essencial: O caos sobreveio ao mundo moderno e ninguém possui uma solução realística.

Em qualquer lado para onde você olhe, há nuvens sombrias, tempestuosas, de ódio e crime por toda a parte. Violência, abuso e infelicidade turbilhonam ao nosso redor. Vemos o crime e o desassossego em nossas cidades, e a economia periclita, fora de controle. O mundo inteiro clama, aguardando alguma palavra de esperança, mas só conseguimos ouvir o blá-blá-blá de pensadores imbuídos de otimismo irracional e de charlatães. Psicólogos, edu­cadores, cientistas sociais, médicos e magos da mídia, de todo tipo, oferecem panaceias e recomendações fictícias; entretanto, até as melhores ideias em geral entram em colapso quando submeti­das a um exame rigoroso. Por enquanto, nossa sociedade munda­na, secular, não apresentou respostas positivas, embora continue­mos a buscá-las, esperançosos.

Na verdade, ainda há excelentes razões para alimentarmos esperanças; ainda há tempo. E que com o fracasso da sociedade chega a oportunidade de arrependimento e renovação. Se viermos a reconhecer o fracasso de tentar viver sem Deus, e abandonarmos a insensatez e a desobediência, poderemos ainda receber a mise­ricórdia e o perdão de Deus.

As manchetes hodiernas constituem advertências vindas de Deus para um mundo pecador. Os relampejos das notícias veicu­ladas pela televisão são como a sombra da mão amorosa de Deus agindo, empurrando o mundo para a redenção. Os boletins noticiosos radiofónicos são um lembrete de que, a despeito de nossa compulsiva determinação para arruinar a terra e destruir o pro­grama salvífico de Deus, o Senhor não desistiu de nós, de vez. Enquanto não chegar aquele dia em que o julgamento final de Deus fixar cada um de nós no lugar adequado, na eternidade, há oportunidade para reiniciarmos a vida. Assim disse Jesus: "Ne­cessário vos é nascer de novo" (João 3:7). Aí está a última esperan­ça, a melhor esperança para o mundo. Na verdade, a única espe­rança.

Sob risco de morte eterna, homens e mulheres não devem deixar de reconhecer o propósito primordial dos cavaleiros da profecia de João, visto que estes vêm a fim de trazer advertência sobre o julgamento vindouro. Ainda podemos ouvir o trovão ribombando; ainda podemos fugir da tempestade que se agiganta; ainda podemos humilhar-nos perante o Deus Todo-poderoso, enquanto há tempo. Jesus nos advertiu repetidamente sobre esta realidade, ao dizer: "Não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo" (Mateus 10:28). Se verda­deiramente tememos o Juiz Supremo da humanidade toda, deve­mos deixar nosso pecado e ser renovados mediante a fé em Cristo.

 

Realidades ponderadas

Se não por outras razões, os acontecimentos dos últimos três anos deveriam fazer que as pessoas percebessem como as profe­cias bíblicas são reais para nós hoje. Considere, por exemplo, como o guerra do Golfo Pérsico focalizou nossos olhos nas referências bíblicas à Babilónia e ao Oriente Médio, tornando estas regiões tão contemporâneas como as manchetes de nossos dias.

Deus não nos revelou como sua obra se faz, e com frequência os meios de Deus operar nos são ocultos. Assim diz o autor de Eclesiastes: "Pôs a eternidade no coração dos homens; contudo, não podem descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até o fim" (Eclesiastes 3:11). Contudo, Deus colocou um anseio pela verdade em nossos corações, e deu-nos sua própria verdade nas revelações das Escrituras. Podem esse anseio instintivo pela ver­dade, e essa esperança, persuadir-nos a reagir a tempo, a voltar-nos para a fonte de nossa salvação? Podemos ainda ser salvos?

Encerrado o tempo, o quarto cavaleiro avançará a fim de matar homens e mulheres pela espada, fome, peste e animais selvagens. Jesus deixou bem claro que não deveríamos temer os impérios e as ideologias do mundo, não importando quão perniciosas sejam, mas devemos temer aquele que controla as atividades do cavalei­ro impiedoso. Acima da mais estúpida injustiça política, e contra ela, coloca-se a justiça de um Deus de amor. Ao examinarmos o quarto cavaleiro, não devemos esquecer-nos de que ele surgirá não apenas pela vontade permissiva de Deus, mas também pela ordem daquele que abre os sete selos, a saber, Jesus Cristo.

Ensina-nos a Bíblia que o diabo é aquele que detém o poder sobre a morte (Hebreus 2:14); todavia, ele só pode agir pela permissão de Deus, porque, como Jesus Cristo disse a João, cinco capítulos antes: "Eu sou o que vivo; fui morto, mas estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do inferno" (Apoca­lipse 1:18).

No Antigo Testamento, vemos Satanás utilizando essa per­missão para matar toda a família de Jó. Há um mistério aqui que ninguém dentre nós pode realmente entender. É o "mistério da iniquidade" (2 Tessalonicenses 2:7) que nós ainda não entende­mos de modo completo. Inclui todos os grandes atributos de Deus, inclusive sua santidade e justiça. Inclui também a inteligência, a subtileza e o poder de Satanás, bem como nossa anuência às tentações satânicas, nosso desafio a Deus, e a transmissão desse pecado de geração a geração.

 

Separação de Deus

A morte é trágica, mas inevitável. Diz a Bíblia que o que devemos temer é a segunda morte, que é o julgamento e a sepa­ração eterna de Deus. Esta é a grande e verdadeira tragédia. Fôssemos seres bidimensionais sujeitos à mortalidade, mas desti­tuídos de imortalidade, a morte encerraria nossa existência ter­real. Todavia, a separação eterna de Deus é uma penalidade muito pior do que a morte física em seguida à pior forma de tortura hsica, algo que nenhum ser humano, adulto ou criança, jamais teria de experimentar.

Quatro meses antes de ser descoberta e deportada para um campo de concentração nazista, Anne Frank escreveu em seu diário, hoje famoso: "Quero continuar vivendo até depois de estar morta" (The Diary ofAnne Frank, 6). Depois de saber que sofria de um sério problema cardíaco, Simon Wiesenthal, o famoso caçador de nazistas, que levou cerca de 11 mil criminosos de guerra às barras do tribunal, durante sua extraordinária carreira de 36 anos, disse: "Não posso lutar contra o calendário... No que concerne aos nazistas, estamos chegando depressa a uma solução biológica. Assim como eu morro, morrem eles" (The Mail, 26 de junho de 1983).

Esta é a realidade da morte: Ela é universal e total em cada geração. A geração em que vivemos hoje, que luta contra os problemas deste mundo, logo estará morta, e outra geração se seguirá a fim de lutar contra problemas semelhantes, e tentar resolvê-los. Para muitos intelectuais incrédulos, a vida não tem sentido nem esperança. Não sabem de onde vieram, por que estão aqui, nem para onde vão. Tropeçam na escuridão cósmica. Os que, dentre nós, pusemos nossa confiança e fé em Cristo, sabemos de onde viemos, qual o propósito de nossa existência, e o glorioso futuro para o qual nos encaminhamos. Isso torna a vida mais do que digna de ser vivida. Dá-nos uma esperança quanto ao futuro.

Não posso deixar de lembrar-me da declaração que Paulo fez, que dá grande conforto a todos quantos crêem em Jesus Cristo. Disse ele: "Cristo Jesus... destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho" (2 Timóteo 1:10). Eis aqui um maravilhoso conforto para nós que cremos. Todavia, é um dos versículos mais aterrorizantes de toda a Bíblia para o incrédulo, porque diz que se você não se arrepender de seus pecados, e não receber a Cristo pela fé, está condenado, e viverá sob maldição. Você pode cometer suicídio fisicamente, mas não conseguirá des­truir sua alma. Você vai viver para sempre, quer goste disso, quer não. Você possui vontade: pode escolher viver com Deus ou viver sem Deus.

O quarto cavaleiro cavalga a fim de advertir-nos. Ele nos adverte em primeiro lugar a respeito da morte física — a morte que sobrevêm a nós e ao nosso planeta — e o que devemos fazer se quisermos que ele demore. Esse quarto cavaleiro também nos adverte quanto à morte espiritual da humanidade (separação eterna de Deus), e o que Cristo fez a fim de salvar-nos desta segunda morte, que é infinitamente mais séria.

 

Se nada mais importa

O grande missionário, pregador e escritor metodista da gera­ção passada, Dr. E. Stanley Jones, descreveu aquela ocasião em que esteve falando aos alunos de uma universidade indiana, a respeito das verdades concernentes à eternidade. Quando o Dr. Stanley Jones sentou-se, o sizudo presidente indiano levantou-se e, solene e sonoramente declarou: "Se o que este homem disse não é verdade, não importa. Mas se o que ele disse é verdade, nada mais importa". Sinto profundamente que meu amor por Cristo e pelas pessoas exige de mim, como exigiu do velho João Batista, que eu advirta as pessoas a que fujam "da ira futura" (Mateus 3:7), colocando a fé em Jesus Cristo. "Assim que, conhecendo o temor do Senhor, tentamos persuadir os homens... pois, o amor de Cristo nos constrange" (2 Coríntios 5:11,14).

Portanto, a espada na mão do cavaleiro que cavalga o corcel amarelo deveria motivar-nos a chamar as pessoas ao arrependi­mento e à fé em Cristo e, desse modo, à salvação, livres da segunda morte. Ela nos incita, também, a realizar todas as tarefas ainda não feitas, no sentido de erguer nossos irmãos do género humano. A fome e as pestes apontam para a responsabilidade que Deus nos atribui para que o ajudemos a preservar a vida na terra, e dar testemunho do Dia do Julgamento que assoma à distância. Além disso, ela também nos mostra os milhões que jamais ouviram falar de Cristo.

De acordo com Mateus 24:14, Deus ligou a segunda vinda de Cristo ao sucesso da evangelização mundial: "E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações. Então, virá o fim". Pela primeira vez na história, possuí­mos agora a tecnologia e a capacidade de alcançar a raça humana inteira com o evangelho de Cristo, neste século. Conquanto a Bíblia nos ensine que só uma pequena minoria aceitará a oferta misericordiosa de Deus, e a grande maioria da humanidade a rejeitará, Deus no entanto poupou muitas nações e muitas cidades P°r causa de uma minoria dedicada. Os animais selvagens, em suas formas modernas, são luzes vermelhas que nos fazem interromper nossa jornada perigosa para longe de Deus e de seus propósitos, e nos fazem voltar para seus braços amorosos, eternos.

 

As armas de nossa guerra

O quarto cavaleiro do Apocalipse é o portador da morte. A fim de atingir seus objetivos, o cavaleiro do corcel amarelo vem armado, como já vimos, com quatro armas letais: espada, fome, peste e animais selvagens. Vamos examinar detidamente essas quatro armas e os papéis que lhe estão designados na morte física de uma quarta parte da população mundial.

Primeiramente, o cavaleiro carrega uma espada — símbolo da guerra. No capítulo 3 fiz referência à interessante história de Dámocles. Este era um jovem que empregava a lisonja a fim de ganhar as graças de Dionísio, tirano da antiga Siracusa. Com o objetivo de instruir e advertir o ambicioso jovem, Dionísio convi­dou o bajulador para um banquete e fê-lo sentar-se sob uma espada pendurada sobre sua cabeça, atada apenas por um fio de cabelo. Esta lição gráfica tivera o desígnio de ilustrar a natureza perigosa da felicidade da pessoa. O diâmetro de um fio de cabelo é a distância que nos separa da morte. A espada de Dámocles representa uma figura de linguagem expressiva, uma analogia adequada a respeito da situação do mundo agora, quando o quarto cavaleiro aproxima-se de nós de espada em riste.

Norte-americanos e europeus, em contraste com grande parte da população do mundo, parecem refestelados num banquete de prazer. Pelos padrões do mundo, ainda estamos festejando em relativo luxo, mas esquecemo-nos de que bem acima de nossas cabeças está pendurada a espada de Dámocles que nós próprios projetamos. A qualquer momento o fio de cabelo pode partir-se, a espada cairá, e todo o luxo e todos os prazeres deste mundo se evaporarão para milhões de pessoas.

Nos tempos de João, a espada do quarto cavaleiro era uma espada literal. Naquelas culturas antigas, quando uma arma po­dia ser quebrada ante os joelhos de um conquistador, havia espe­rança de poder-se evitar a guerra. Hoje, a espada do quarto cavaleiro não é facilmente enfiável na bainha. Há monstruosas máquinas de guerra que podem e outras que não podem ser controladas. Nenhum espadachim da antiguidade podia matar milhões de pessoas num golpe. Hoje, o cavaleiro apocalíptico é capaz de apertar um botão que determina uma mortífera reação em cadeia.

Sem referir-se à Bíblia, e sem mencionar estas passagens espe­cíficas do livro de Apocalipse, os cientistas de nosso mundo estão dizendo praticamente as mesmas coisas. Hoje, o quarto cavaleiro cavalga um corcel amarelo, vindo em nossa direção, brandindo a espada sobre a cabeça. De que maneira você vai reagir?

Para mim, uma das passagens mais espantosas sobre esse tema, de toda a Bíblia, é 2 Pedro 3:9-10. O versículo 10 diz o seguinte: "O dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há, serão descobertas". Entretanto, a despeito da inevitabilidade, diz Pedro que devemos refletir o Cristo que "é longânimo para convosco, não querendo que nin­guém se perca, senão que todos venham a arrepender-se" (ver­sículo 9).

Os cristãos deverão estar sempre trabalhando pela salvação eterna das almas de homens e mulheres, com toda a paixão e capacidade de persuasão de que disponham. Devemos também trabalhar de todo modo em prol da salvação da sociedade, livran-do-a do Holocausto em massa, ainda que isso nos pareça causa sem esperança.

No Evangelho de Mateus, Jesus nos diz:

Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. O que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? ou que dará o homem em troca da sua alma? (Mateus 16:24-26).

Este é um conceito eletrizante para os crentes, visto que ao dar tudo ao Mestre, recebemos mais ainda, em retorno. Todavia, eis um conceito que deveria ser ponderado com seriedade pelo incré­dulo que está vendendo sua alma eterna por um preço tão vil, frocando-a por uma bagatela de nossos dias. Você não precisa ser um planejador financeiro diplomado para ver que essa transação é ruinosa.

 

Como envolver-se

Ao virmos a tempestade da fome, da subnutrição, da violên­cia, da peste, enfim da morte, devemos ver também a importância de criarmos interesse e envolver-nos. Venho dizendo que cada seguidor de Jesus deve responsabilizar-se no sentido de fazer algo pelos famintos, pelos que sofrem, pelos doentes do mundo.

Venho afirmando ainda que cada pessoa que professa o nome de Jesus Cristo deve ser reconhecido pela integridade moral, pela fidelidade às Escrituras, pela obediência ao chamado do Senhor no sentido de opor-se aos opressores e destruidores desta era. Fazer alguma coisa, ainda que o crente a considere insignificante ou sem esperança, é melhor do que nada fazer. Jamais deveríamos esquecer-nos de que Jesus fez-se um com os pobres, ao dizer: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus peque­ninos irmãos, a mim o fizestes" (Mateus 25:40).

Jesus Cristo tem o poder, agora mesmo, de alimentar todos os famintos do mundo. Esse poder ele o detinha nos dias em que esteve conosco. Constituiu uma das tentações de Satanás: Se Jesus transformasse pedras em pães, e alimentasse os famintos, não precisaria ir à cruz, a fim de redimir o mundo. Todavia, Jesus resistiu à tentação satânica. Ao resistir, o Senhor venceu aquela tentação maligna. Hoje, o Senhor nos convoca a resistir ao pecado, à tentação, e a fazer o que estiver ao nosso alcance para mudarmos o mundo. No passado, Deus poupou àqueles que clamaram a ele, contra o pecado; ele nos desafia, hoje, a sermos seus mensageiros da verdade e da esperança, no mundo.

Não devemos jamais apartar-nos da verdade central de que o mundo necessita de salvação eterna. Precisamos, primeiramente, reunir-nos aos pés da cruz, visto que a cruz e seu poder redentor eterno é o único meio de conhecermos a Deus. A seguir, mediante Cristo, recebemos o poder de segui-lo em obediência, para ajudar aos famintos e aos que sofrem, onde quer que se encontrem.

Na revelação recebida por João, somos advertidos sobre a morte pelas pestes. O próprio Senhor Jesus nos advertiu também a respeito de pestes. Ele profetizou o período de Apocalipse em Lucas 21. Ele nos advertiu que haveria pestes. Uma tradução em linguagem hodierna fala em "epidemias". Os cientistas modernos nos advertem, hoje, contra bactérias, viroses e certos insetos altamente resistentes à radiação, aos antibióticos e inseticidas. Acham alguns deles que a natureza começa a perder a batalha da subsis­tência, por causa dos modernos produtos químicos. Disse um cientista: "Se os humildes não herdarem a terra, as baratas a herdarão".

A medida que vamos lendo o livro de Apocalipse, vemos que muitas coisas ali são simbólicas, mas outras são literais. Um dos julgamentos mencionados em Apocalipse 9:3 é o seguinte: "da fumaça saíram gafanhotos sobre a terra".

Há alguns anos, na Flórida, milhões de sapos inundaram comarcas inteiras. Temos sido alertados em muitos artigos sobre a possibilidade de os insetos tomarem conta da terra nas décadas vindouras. Eles vêm-se tornando resistentes a muitos inseticidas. Li uma reportagem de capa, de uma das nossas revistas noticiosas, nacionais, das mais prestigiadas, intitulada: "Os Insetos Estão Chegando". Trata-se de um artigo assustador, especialmente para as pessoas que não conhecem a Bíblia. Faz-nos lembrar o que aconteceu no Egito, quando Faraó recusou-se a deixar sair os antigos israelitas.

 

Exemplos de misericórdia

Uma das pessoas que mais se identificaram com a compaixão de Cristo, em nossos dias, é madre Teresa de Calcutá. Há milhares de servos de Cristo, desconhecidos, que em silêncio e sem fan­farras investem a vida para alimentar, vestir e cuidar dos pobres. Madre Teresa tornou-se a representante desses servos de Cristo. Lembro-me da primeira vez em que me encontrei com essa pe­quenina senhora, tão enrugadinha e tão radiante.

O cônsul norte-americano em Calcutá ofereceu-se para levar-me à sede de trabalho de Madre Teresa, no coração daquela cidade estonteante. Quando lhe fui apresentado, ela ministrava a um moribundo, uma pessoa a quem ela amparava ao colo. Esperei que ela ajudasse a pessoa a enfrentar a morte. Quando a pessoa morreu, ela rezou silenciosamente e, com toda delicadeza, depôs ° defunto na cama, voltando-se a seguir para cumprimentar-me.

Conversamos até o escurecer, naquele dia. Surpreendi-me ao verificar o quanto ela sabia a respeito de mim e de nossas cruza­das. Num inglês cadenciado, meio estropiado, ela me perguntou se eu gostaria de ouvir algumas de suas experiências com os famintos e os moribundos. De forma bastante simples, ela me explicou sua vocação. Madre Teresa parece ter ultrapassado, em si mesma, as características físicas de todo ser humano necessita­do, adulto ou criança, e afirma que vê o rosto de Jesus que a contempla, em cada sofredor. Em cada criança que morre de fome ela vê Jesus. Ao redor de cada mulher doente, assustada, de que ela cuida, ela vê Jesus. Ao lado de cada homem solitário, moribun­do, que ela aconchega nos braços, está Jesus. Quando aquela mulher ministra a alguém, ela ministra a seu Senhor e Salvador.

Lembro-me também da história relatada no livro de meu filho: Bob Pierce: This One Thing I Do (Bob Pierce: Uma Coisa Faço), acerca de uma missionária que ministrava aos leprosos na China.

Beth Albert, com seu trabalho duro e toda sua engenhosidade, sustentava os leprosos fora da cidade de Kunming. Tinha ela "um coração alegre [que] é bom remédio" (Provérbios 17:22). Ela ama­va aquelas pessoas, e elas a amavam. Pela primeira vez aqueles leprosos tinham alguém que fazia coisas para eles; todos se torna­ram cristãos por causa do amor que Beth lhes dava. Quando lhe perguntavam: "Por que você faz isso?" Beth respondia: "Porque eu amo a Jesus, e Jesus ama vocês. Ele ama vocês tanto, que me mandou aqui para ajudar vocês. Vocês são preciosos para Deus, e o Senhor enviou seu Filho à terra para morrer por vocês, para que vocês se salvem, e vão ao céu junto com o Senhor, e tenham um corpo maravilhoso. Ele me enviou para cá para mostrar que ama a todos vocês, e eu também amo vocês" (págs. 68-71).

Até o dia em que o novo governo proclamou um edito segun­do o qual todos os missionários deveriam abandonar a área antes do pôr do sol, Beth ajudou seus doentes de todo modo possível. Ela lhes aplicava injeções de sulfonas, a fim de tratar da lepra deles. Mostrou-lhes como cultivar hortaliças que lhes serviriam de alimento. Ajudou-os a enfeitar o ambiente em que viviam, plantando flores.

 

Unindo corpo e alma

O debate que existiu na igreja, entre liberais que ministravam, segundo se supunha, ao corpo, e os evangélicos que, como tam­bém se supunha, ministravam à alma, só poderia ser resolvido se ambos os lados aprendessem um com o outro, e segundo o ensino da Bíblia.

Se a igreja conservadora vier a aprender que a Bíblia também ensina que devemos interessar-nos tanto pela alma quanto pelo corpo, e se a igreja socializante, por sua vez, começar a entender que a atividade social, destituída da proclamação da fé na verdade da Palavra de Deus, é coisa fútil, poderemos servir ao reino de Deus juntos. Fomos convocados para ministrar aos corpos e aos espíritos humanos, simultaneamente. Como muitos têm dito, um homem faminto não pode atender à Palavra, a menos que consiga ver a face de Jesus na vida da pessoa que lhe prega; os dois ministérios são inseparáveis.

Fomos chamados para seguir ao Senhor nas ruas, nas trilhas, nos descaminhos do mundo, e a ministrar à pessoa integral, seja ela quem for. Por ser cristão, fui chamado para servir ao corpo e à alma. Entretanto, a Aliança de Lausane deixa bem claro que a prioridade deve ser espiritual. Por exemplo, quando Jesus estava em Cafarnaum, uma grande multidão chegou a fim de ouvi-lo pregar, e quatro homens trouxeram-lhe um homem paralítico.

Todavia, não conseguiram penetrar naquela casa pelas vias normais, pelo que subiram ao teto, quebraram-no, e fizeram o paralítico descer na cama, em frente de Jesus.

Afirmam as Escrituras: "Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados" (Marcos 2:5). A principal e primeira preocupação de Jesus foram os pecados desse homem; só depois é que ele o curou da paralisia. Tenho visitado lugares ao redor do mundo em que penso que deveria primeiro ajudar a atender às necessidades físicas daquela gente, antes que pudesse pregar-lhes o evangelho. Entretanto, sei muito bem que a maior necessidade daquela gente é de ordem espiritual, que todos precisam da Água da Vida e do Pão da Vida, mais do que qualquer outra coisa neste mundo. Todavia, devo seguir o exemplo de Jesus e demonstrar compaixão para com a humani­dade sofredora.

Em certa cidade do Terceiro Mundo, eu vi camionetas velhas demais, quase inutilizadas, correndo de um lado para o outro, ao nascer do sol, recolhendo os cadáveres de pessoas que haviam morrido nas ruas, durante a noite. Quando penso nessas cenas que confrangem o coração, imagino a Morte cavalgando para cima e para baixo, por aquelas ruas, seguida pelo Inferno.

Homens e mulheres do Exército da Salvação, Madre Teresa e milhares de pessoas que se lhe assemelham, investiram a vida na tarefa de atravancar o caminho do quarto cavaleiro. Relutam em permitir que alguém que esteja ao alcance de seus braços morra de fome, ou morra sem atendimento misericordioso. Tais crentes permanecem firmes em nome de Cristo, postados bem no cami­nho do cavalo amarelo, o portador da Morte, que vem trovejando e atropelando tudo o que encontra à sua frente.

As probabilidades de que possamos vencê-lo são insignifican­tes, não há esperança alguma, porque todos morreremos um dia. Todavia, os crentes fortes e solidários permeneceremos fazendo o que nos for possível, tudo que pudermos, para prevenir a morte prematura. As pessoas nos chamam de ingénuos, caritativos, fanáticos. No entanto, ali estamos, firmes. As nuvens escuras prenunciam tempestade, os céus tornam-se sombrios, cada vez mais lúgubres. Hoje mesmo, você e eu, à semelhança do Bom Samaritano, devemos fazer o que estiver ao nosso alcance a fim de ajudar este mundo estraçalhado e ensanguentado.

Os crentes evangélicos têm construído hospitais, asilos, orfa­natos, clínicas, e têm enviado médicos e enfermeiras aos milhares, onde quer que haja necessidade. Tudo isso, porém, constitui apenas uma gota dágua no oceano. Requer-se muito mais.

 

O jovem rico

Você se lembra daquele momento na vida de Jesus, quando um jovem rico chegou-se a ele e perguntou-lhe: "Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?" Respondeu-lhe Jesus: "Sabes os mandamentos". Replicou-lhe o jovem: "Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade". Ele vindicou sua integridade moral. Jesus deve ter examinado esse jovem com máximo cuidado. Deve ter verificado que o jovem falava a verda­de. Aquele milionário era sincero, um lutador e amante da verda­de. Assim lhe disse, então, Jesus: "Vende tudo o que tens, repar-te-o com os pobres... Depois, vem e segue-me". O jovem rico não podia fazer isso.

O sacrifício lhe seria penoso demais. Por isso, "encheu-se de tristeza" (Lucas 18:18-23) e foi-se embora. Perdeu a oportunidade vital. Pedira vida e quando poderia obtê-la, perdeu-a. Apegou-se aos padrões de vida a que estava acostumado, à segurança finan­ceira, e perdeu tudo. Não devemos permitir que isso nos aconteça.

Como já mencionei anteriormente, isso não significa que Jesus necessariamente nos chama, a todos, para que renunciemos toda riqueza. Pode ser que Deus confie riquezas a alguns de nós, para que as usemos para sua glória. Todavia, o problema daquele jovem rico não era ser ele rico, mas o fato de sua riqueza vir antes de seu compromisso para com Cristo. Há alguma coisa em sua vida que separa você de Cristo? Se houver, não há meias medidas. Você precisa soltar as amarras, antes de chegar a Cristo.

Num discurso de formatura, num seminário teológico, o mi­nistro visitante percorreu com os olhos a grande turma de forman­dos. Ele conhecia de primeira mão a luta que cada estudante deveria empreender no sentido de ganhar dinheiro suficiente a fim de sobreviver na vocação ministerial. Assim, em vez de pro­nunciar um sermão formal, o ministro pegou a salva de coletas e passou-a de formando a formando, oferecendo-lhes uma nota de um dólar, novinha em folha. A seguir, contou àquela turma estupefata, e que nunca antes tomara dinheiro da salva de coletas, a história do jovem rico. Por causa do poder do dólar na vida daquele moço rico, ele perdeu uma oportunidade sem preço. "Ponha essa nota de um dólar numa moldura", sugeriu o orador da formatura. "Pendure-a em seu escritório, ou em seu lar, e escreva em cima da nota: 'Lembre-se do moço rico.'"

Aquele orador conhecia o poder para o bem e para o mal que o dinheiro exerce em nossa vida. Uma vez tenhamos descoberto que todos os nossos recursos pertencem a Deus, estamos livres para gastá-los para benefício de outrem. Nossos recursos são a dádiva de Deus para nós. São simples ferramentas que Deus nos dá para que o ajudemos na proclamação de seu amor e misericór­dia.

O moço rico assenhoreou-se dos recursos de Deus, crendo que eram seus, e nesse abarcamento perdeu o caminho para a vida eterna. Houvesse ele partilhado suas posses, houvesse ele confia­do a Deus seu futuro, esse milionário teria encontrado a vida eterna.

 

O sentido da vida

Vem cavalgando o cavaleiro, e não devemos esquecer-nos do moço rico, visto que se há nações que se possam comparar-lhe, são as do mundo ocidental de nossa época. Ao prosseguirmos em nossa auto-indulgência e nosso consumismo, e na rejeição do plano de Deus da salvação, arriscamo-nos a perder não só nosso lar, e a terra, mas também a vida eterna no céu, que Cristo foi aprontar para os que nasceram de novo. Enquanto isso, o Senhor ensina aos seus: "Dai, e dar-se-vos-á. Boa medida, recalcada, sacudida e transbordante, generosamente vos darão. Pois com a mesma medida com que medirdes vos medirão também" (Lucas 6:38).

Isaque, ancião bem entrado em anos, disse a seus filhos: "Ago­ra estou velho, e não sei o dia da minha morte" (Génesis 27:2). Ninguém de nós sabe o dia de sua morte. Nem sabemos com exatidão como haveremos de morrer. De uma coisa, porém, po­demos estar certos: Fomos todos sentenciados à morte, e todos deveremos enfrentar o julgamento. Assim se expressa o autor de Eclesiastes: "Há tempo de nascer, e tempo de morrer" (3:1-2).

Ensinam as Escrituras de modo enfático que todos os seres humanos carregam dentro de si mesmos a sentença de morte; todavia, isso não é o fim. "Aos homens está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo" (Hebreus 9:27). Eis aí o cavalo amarelo, que a Morte cavalga, seguida do Inferno. Por causa do pecado de Adão e Eva, a morte entrou na raça humana. Todavia, Cristo conquistou o pecado, a morte e o inferno, mediante sua morte na cruz, e sua ressurreição. Quando conhecemos a Cristo, percebemos que tampouco precisamos temer a sepultura. Em 1 Coríntios 15:21-22,26, 55-57, lemos o seguinte:

Assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Pois as­sim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo... O último inimigo que há de ser destruído é a morte... Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.

Jesus Cristo veio com o propósito de abolir a morte, o sofri­mento, a injustiça social e a opressão aqui na terra — sendo que todas essas desgraças resultam do pecado. Ele veio a fim de perdoar-nos os pecados e dar-nos a certeza da vida eterna. Neste exato momento, o Senhor está preparando um lugar no céu para nós que o conhecemos (João 14:3). No entretempo, Jesus nos concede o dom da vida eterna "que agora se manifestou pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual destruiu a morte, e trouxe à luz a vida e a imortalidade pelo evangelho" (2 Timóteo 1:10).

Em Hebreus 2:14-15, recebemos esta certeza: "para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse a todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão". Não só o Senhor vai eliminar a morte, mas vai remover para sempre o diabo, o causador do sofrimento e da morte.

 

A derrota do destruidor

Graças a Deus, o poder desse grande inimigo da humanidade, a morte, foi quebrado. O último inimigo a ser destruído, ou aniquilado, é a morte (1 Coríntios 15:26). Foi isso que Jesus Cristo fez na cruz. Deus o ressuscitou dentre os mortos. Exclamou Paulo: "Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua vitória?" (1 Coríntios 15:55). Mediante a morte e ressurreição de Cristo podemos ler com alegria e certeza: "Eu sou o que vivo; fui morto, mas estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do inferno" (Apocalipse 1:18).

Entretanto, para o incrédulo a morte é solene e terrível. O incrédulo vai imediatamente esperar o julgamento do grande Trono Branco. Ninguém consegue ler a Bíblia e deixar de notar as referências ao inferno. Tais referências estão no próprio ensino de Cristo. Cada vez que se referia ao céu, o Senhor fazia várias menções ao inferno. Estar no inferno é estar longe da presença de Deus para sempre.

Três palavras foram usadas por Jesus a fim de descrever o inferno. Primeiramente, fogo. "O nosso Deus é fogo consumidor" (Hebreus 12:29). Jesus utilizou este símbolo muitas e muitas vezes. Creio que se trata de uma sede de Deus que jamais é satisfeita. A segunda palavra usada por Cristo é trevas. As Escrituras nos ensinam que Deus é luz (1 João 1:5). O inferno será o contrário, para os que estão sem Cristo, visto que "serão lançados fora, nas trevas" (Mateus 8:12).

Todos quantos rejeitaram Cristo serão separados desta luz e subsistirão nas trevas eternas. A terceira palavra é morte. Deus é vida. Portanto, o inferno é a separação da vida de Deus: "Então a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte" (Apocalipse 20:14). Deus não se agrada de pessoas que caminham para o inferno. Ele jamais quis que alguém fosse para o inferno. Ele criou o inferno para o diabo e seus anjos.

Todavia, se persistirmos no caminho do diabo, e em servir ao diabo em vez de servir a Deus, é no inferno que acabaremos. Dizem as Escrituras que o desejo de Deus é que todos os homens se salvem. A morte de Cristo foi um julgamento. Deus lançou sobre o Senhor a iniquidade de todos nós (Isaías 53:6). Cristo sofreu nosso julgamento. Sofreu nosso inferno. Naquele pequeno lapso de tempo, o Senhor sofreu o inferno em prol de todas as pessoas que viveram e vierem a viver. Não podemos ser salvos pelas nossas boas obras. Só Cristo pode salvar-nos, visto que na cruz ele tomou nosso lugar e suportou o castigo que merecemos pelos nossos pecados. Tudo que nos cabe fazer é colocar nossa confiança e nossa fé no Senhor.

Contudo, cabe a nós a responsabilidade de aceitar o dom gratuito da salvação. Não somos salvos automaticamente só por­que Cristo morreu por nós; a Bíblia não apoia o universalismo (a ideia de que todas as pessoas serão salvas). Você, pessoalmente, precisa tomar a decisão de aceitar a Cristo e, se você recusar-se a fazê-lo, em certo sentido já tomou uma decisão — a de rejeitar a Cristo e voltar suas costas à salvação.

 

O dom da vida

Para o verdadeiro crente em Cristo, para aquela pessoa que se arrependeu do pecado, e nasceu de cima, o julgamento já passou. Para essa pessoa não há inferno. Não haverá morte eterna. Cristo morreu por nossos pecados e, ao morrer, ele destruiu a morte. Em Cristo, já não consideramos a morte a rainha dos terrores. Assim escreveu Paulo: "estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, o que é muito melhor" (Filipenses 1:23). Por quê? Seria porque Paulo havia trabalhado duramente em prol de Cristo, e havia sofrido muito? Não. Ele estava pronto, porque na metade de sua vida, no passado, Paulo se encontrara com Cristo na estrada de Damasco. Em 1 João 3:14 lemos que nós "já passamos da morte para a vida".

Agora você pode gozar a vida eterna. A conquista da morte foi o objetivo último, final, do cristianismo. A morte física repre­senta apenas uma transição da vida na terra, com Cristo, para a vida eterna no céu, com Cristo. Para os crentes não existe essa entidade chamada sombra da morte. A morte lança sua sombra sobre aqueles que ficam para trás.

O incrédulo só enxerga um fim de vida sem esperança. O cristão, porém, vê uma esperança sem fim. Num programa em rede de televisão, Malcolm Muggeridge fez esta reflexão: o verda­deiro cristão está "esperançoso de que termine em breve a vida temporal, como uma pessoa anseia pelo fim de uma viagem árdua de três semanas, por mar, nos últimos três dias. Aguardo com ansiedade quase irreprimível aquele dia em que minha vida pas­sará a participar da eternidade".

Talvez estas palavras de Muggeridge não descrevam os sen­timentos que você experimenta a respeito da morte. Talvez você tenha medo da morte, e não entende essa calma confiança expres­sa pelo famoso jornalista inglês e celebridade de televisão. O medo torturante e atormentador da morte é condição perfeitamente normal para qualquer pessoa que nunca recebeu a Cristo.

A morte é uma experiência perante a qual as pessoas instinti­vamente se retraem. Entretanto, esse medo é removido, para os cristãos. Eles têm certeza de que os pecados pelos quais seriam julgados por ocasião da morte já foram perdoados, enquanto os incrédulos não têm a mesma certeza. Eu não fico na expectativa, esperando morrer, mas aguardo a própria morte. Será uma liber­tação gloriosa. Será o cumprimento de tudo aquilo que venho aguardando desde sempre. Dizem as Escrituras: "na tua presença me encherás de alegria, com delícias perpétuas à tua direita" (Salmo 16:11).

 

A lição da justiça

Muitos não cristãos tentam convencer-se de que não crêem no sobrenatural, nem na vida além-túmulo. Conquanto tentem e se esforcem, todavia, permanece a percepção irreprimível, perturba­dora, de que nós não fomos criados só para o tempo. Sabemos, instintivamente, que a justiça exige um julgamento, em certo dia. A menos que tenhamos resolvido conscientemente a questão de nossa culpa pecaminosa, seremos atormentados de modo crónico por esse medo. Enquanto você não reconhecer esse fato, seus temores piorarão. Se você admitir a possibilidade do sobrenatural e reconhecer os fatos do evangelho conforme se aplicam à sua vida, você descobrirá que o medo da morte desaparece, e que a gloriosa paz da fé passa a fazer parte de sua vida.

Você pode gozar a paz em seu coração, com certeza pessoal e perene da salvação, se você humildemente reconhecer que é um pecador à vista de Deus, se pedir-lhe perdão, que o lave no sangue de Cristo, derramado na cruz, e se confiar em Jesus, o Filho de Deus, como seu Salvador e Senhor. Cristo morreu a fim de realizar tudo isso. Quero insistir em que você precisa conseguir uma Bíblia e lê-la, ou peça a alguém que o ajude a ler os seguintes versículos: Romanos 3:12,23; 2 Timóteo 3:5; Romanos 3:19; Efésios 2:8; Lucas 19:10; Romanos 5:8; Hebreus 7:25 e Romanos 10:13, 9-10.

Estes versículos não são mágicos. Simplesmente nos advertem quanto à nossa necessidade, e como satisfazer essa necessidade em Jesus Cristo. Você não precisa realizar alguma coisa miraculo­sa a fim de salvar-se. Tudo que você precisa fazer é aceitar a coisa maravilhosa que Cristo realizou por você. Depois que você tiver essa certeza em seu coração, fale às pessoas sobre isso. Mostre, também, mediante o seu viver diário, que Cristo mudou você, para sua própria glória.

Convido-o agora mesmo a curvar a cabeça e a pedir a Cristo que o perdoe, e entre em seu coração e inclua você em sua família, para sempre. Deus prometeu em sua Palavra: "Mas a todos os que o receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" 0oão 1:12). Esta pode vir a ser sua experiência hoje, quando você se voltar para Cristo, pela fé, e entregar-lhe sua vida. Não deixe passar mais um dia sem que você entregue sua vida a Cristo.

O quarto cavaleiro, a Morte seguida do Inferno, cavalga pela linha de nosso horizonte, nesse momento em que você lê estas páginas. Você não consegue ouvir os trovões? Você não consegue ver as nuvens que se escurecem, sinistras, no oriente? Como é que você vai reagir?

 

                           NA DIREÇÃO DO SOL QUE VAI RAIAR

 

Uma voz na tempestade

Que será deste mundo? Todas as manhãs as pessoas apa-^^^^nham seus jornais matutinos, lêem as manchetes e fazem essapeTgunta. Entretanto, ninguém tem uma resposta. Ninguém sabe o que o amanhã trará, porque as mudanças de nossos tempos são repentinas demais, e imprevisíveis, e de grande raio de ação. A partir do outono de 1989, temos visto mudanças em nosso mundo que nenhum sociólogo, nenhum cientista e nenhum ho­mem de erudição conseguiu prever. Alguns dos acontecimentos sobre os quais escrevi neste livro terão sido quase esquecidos, à época em que você estiver lendo estas páginas; aquelas crises terão sido empurradas pelas notícias de novas crises.

Olhando para trás, conseguimos ver com facilidade de onde viemos. Os anos sessenta foram chamados de anos da rebelião; os setenta, os anos da liberação; os oitenta, os anos da indulgência; e os noventa poderão um dia vir a ser chamados de anos em que o mundo passou por uma mudança. Parece que o mundo vai mu­dando radicalmente dia a dia. Ninguém sabe o que vai acontecer em seguida.

No meio dessas mudanças vertiginosas, as pessoas por todo o mundo se desesperam por querer saber o que o futuro lhes trará. Falsos profetas de variegadas classes estão atarefados, ganhando muito dinheiro. Comentaristas de televisão e autoridades em todos os campos são consultados por causa de sua sabedoria. Alguns deles nos dizem como podemos sobreviver no meio do caos; outros nos mandam adaptar-nos à realidade da "família esfacelada"; e outros ainda nos ensinam como podemos liberar o espírito do homem primitivo, ou da terra-mãe, lá dentro. Uma série muito popular entitulada "Millennium", (Milénio), procla­ma a morte de Deus e da velha ordem mundial, e anuncia o surgimento de uma nova ordem em que os seres humanos comun­gam com o ambiente, numa busca metafísica do "deus interior".

Surge um comércio agitado de bolas de cristal, cartas de Taro e tábuas Ouija. Por toda a parte florescem religiões da Nova Era, e ouvem-se expressões arcanas tipo adoração da deusa, adoração da terra, seitas da fertilidade, projeção astral e muitas outras já mencionadas antes. Por toda a parte as pessoas planejam a vida de acordo com os signos do zodíaco. Os médiuns espíritas pros­peram. Até computadores estão sendo utilizados na predição do futuro. Todavia, há uma só fonte, cheia de autoridade, que prediz com exatidão o que vai acontecer no futuro: é a Palavra revelada de Deus, a Bíblia.

A breve visão de João sobre os mártires debaixo do altar, é um resumo das promessas da Bíblia sobre o futuro, e sobre como devemos preparar-nos. João teria ficado arquejando, diante da visão. Temos sua descrição na segunda metade de Apocalipse 6. Em certo lugar que o apóstolo chamou de "debaixo do altar", João viu "as almas dos que foram mortos por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram" (Apocalipse 6:9). Clama­vam em altas vozes, e em uníssono: "Até quando, ó verdadeiro e santo Soberano, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?" (Apocalipse 6:10).

A Abadia de Westminster, em Londres, e a Basílica de São Pedro, em Roma, possuem grandes altares com criptas de mármo­re na parte inferior. Imagine essas igrejas à meia-noite, no escuro e em silêncio. Ali estão os túmulos de santos e de mártires, selados, como têm estado há séculos. Então, de súbito, os selos se partem, os caixões de abrem, as pedras rolam para longe e centenas, talvez milhares de espíritos invadem a catedral, todos clamando em altas vozes, em uníssono: "Até quando, ó verdadeiro e santo Soberano? Quando seremos vingados?" João testemunhou uma visão desse tipo. A cena se compunha de almas de homens e mulheres que haviam sido mortos por causa de sua fidelidade. Faziam uma pergunta óbvia. Quando é que se faria justiça? Quando é que teriam alívio? Quando é que sua fé seria recompensada?

Estas são perguntas que os cristãos fazem agora mesmo; no entanto, ninguém senão Deus pode respondê-las. O que sabemos com certeza é isto: cessada a comoção, a cada mártir foram dadas vestes brancas, e informa-nos o vidente, "foi-lhes dito que repou­sassem ainda por pouco tempo, até que se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos, como também eles foram" (Apocalipse 6:11).

Aprendemos dois fatos importantes, por causa deste momen­to misterioso. Primeiro, haverá um instante no final dos tempos em que Deus julgará os habitantes da terra. Segundo, antes de esse instante chegar, outros homens e mulheres igualmente dedicados a Deus e seu reino serão martirizados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que manterão. Está você preparado para o risco que estas palavras descrevem?

 

Ameaça financeira

Os riscos são inevitáveis, mas na década de 90 há evidências de a luxúria, auto-indulgência e irresponsabilidade financeira estarem lançando sua sombra em cima de tudo que fazemos; isto, não apenas da parte dos consumidores individuais, mas também da parte do governo e da indústria. Lemos que, hoje, o mundo arca com uma dívida de 25 trilhões de dólares; os Estados Unidos tornaram-se a nação mais endividada, amargando um forte dese­quilíbrio comercial externo. O resultado desse e de outros proble­mas é que milhares de bancos fecharam as portas, o comércio da poupança e de empréstimos entrou em colapso quase total, a atividade empresarial de seguros permaneceu durante algum tempo à beira da bancarrota, e o mercado de capitais torna-se cada vez mais volátil e impredizível.

A grande falha no sistema económico norte-americano nas últimas quatro décadas tem sido a fé irrazoável no poder da prosperidade, em vez de no poder e benevolência últimos de Deus. O sonho norte-americano tornou-se um deus; as riquezas e a abundância tornaram-se os símbolos da devoção religiosa dos EUA. Ao escrever seu artigo para a edição de 2 de março de 1992, da revista Newsweek, Robert J. Samuelson tratou da expressão prática desse modo defeituoso de pensar, dizendo o seguinte:

Cada época tem suas ilusões. A de nossa era tem sido a crença fervorosa no poder da prosperidade. Os pilares dessa crença nossa esfacelam-se, agora, ao nosso redor. Estamos descobrindo que não conseguimos, como su­púnhamos, criar prosperidade à vontade... Pior do que isso: estamos aprendendo que nem mesmo um tremen­do surto de prosperidade será capaz de resolver nossos problemas sociais. Nossa Boa Sociedade está desfigura­da por chagas horríveis: pobreza enraizada, persistente tensão racial, esfacelamento da família e espantosos deficits orçamentários. Estamos ficando rudemente de­siludidos quanto à nossa visão do futuro. O resultado é uma profunda crise espiritual que alimenta as dúvidas da pessoa sobre si mesma, o desencanto com os políti­cos, a confusão quanto ao nosso papel global; estes são os problemas que se agravam, entre os norte-america-nos.

Os dividendos oriundos desse investimento infeliz são bas­tante visíveis, hoje, nas colunas financeiras dos jornais norte-ame-ricanos.

 

Uma economia perturbada

Em 1992 os trabalhadores norte-americanos tiveram que tra­balhar quatro meses e meio só para pagar seus impostos. Entre­tanto, ainda não se enxerga uma luz no fim do túnel acenando com o fim da dívida do governo. Hoje, os Estados Unidos têm uma dívida direta de 3 trilhões de dólares e um passivo eventual de 6,5 trilhões de dólares. Só a dívida externa norte-americana atinge mais de 650 bilhões de dólares. Éramos o maior país credor do mundo, e passamos a ser o maior devedor do mundo. Esta esta­tística constitui outra advertência clara de que a tempestade se aproxima.

O mundo contempla o total colapso das atividades relaciona­das à poupança e empréstimo, a bancarrota do mercado de 200 bilhões de dólares em ações imprestáveis, o "Massacre de Outu­bro" do mercado norte-americano de ações, em 1987, a consolida­ção das instituições financeiras de Wall Street, a contínua explosão de escândalos e negociatas bancárias e comerciais, e a iminente situação de inadimplência da Administração de Serviços Sociais — pelo que precisamos reconhecer que a América do Norte encontra-se envolvida em grave perturbação financeira. Os norte-americanos desta geração já estão delapidando a herança de seus tetranetos. Não é de admirar, pois, que a economia se recuse a saú­da presente recessão.

O consultor financeiro Larry Burkett, autor do livro The Co­rning Economic Earthquake, adverte os crentes quanto a estarem preparados para o dia do ajuste de contas final. As evidências que ele enfileira são fortes, e os cálculos que apresenta sobre os fracas­sos financeiros e morais nos Estados Unidos e no mundo demons­tram como as devastações do Apocalipse já nos engolfaram. Não tenho dúvidas de que o dia do julgamento financeiro para os Estados Unidos chegará antes do final deste século, a menos que nossos problemas sejam resolvidos.

Neste momento, a solução não parece provável. Itens que constituíam luxo quando eu era menino, tornaram-se géneros de primeira necessidade para muitas pessoas, hoje. Estamos vivendo muito acima de nossos recursos e no fim seremos apanhados.

Muitos comentaristas da situação mundial sentem-se mais à vontade depois da recente desintegração da União Soviética, com a democratização dos antigos estados comunistas da Europa oriental. A dissolução do Pacto de Varsóvia, da KGB e de outras instituições totalitárias de apoio parece ter aberto os horizontes para uma paz e harmonia ilimitadas entre as nações.

Entretanto, nenhuma pessoa razoável crê que a transição de um sistema moral e economicamente falido, o defunto comunis­mo, para uma democracia iluminada, acontecerá da noite para o dia. Está bem claro que muitas pessoas na Rússia e nas demais repúblicas estão em situação desesperadora, hoje, e que a euforia por causa da libertação e dos direitos democráticos até agora não fizeram que a fome, o frio e os desapontamentos ficassem mais toleráveis.

Em minhas viagens recentes pela Rússia eu pude ver o medo e o esgotamento estampados nas faces das pessoas. Vi, naqueles rostos, um fenómeno incomum; só posso descrevê-lo em termos de uma euforia e expectativa, misturadas com a sombria percep­ção do próprio desamparo, e medo de um futuro desconhecido.

Na Rússia, o novo governo da república precisou criar um Ministério da Proteção Social a fim de assegurar que o auxílio vindo do estrangeiro chegue de verdade às pessoas necessitadas, e não ao mercado negro ganancioso de lucros. Cooperando com a Comissão de Ajuda Humanitária, o sistema russo de atendimen­to social aos pobres tenta cuidar dos mais de 65 milhões de necessitados e pessoas com problemas, em 31 regiões.

Sem dúvida alguma, essa tarefa é espantosamente grande. Houve uma cornucópia de ajuda e de interesse altruísta vinda do ocidente, mas a fome e a incerteza que assolam aquela nação ainda não foram tocadas, na verdade. A Comunidade Europeia deter­minou, em 1991, o envio de 240 milhões de "European Currency Units" (Unidades Monetárias Europeias, sigla em inglês: ECU) em ajuda humanitária a Moscou e Petersburgo. Um oficial da Comis­são de Ajuda Humanitária, Gennadi Zhukov, fez um comentário sarcástico: "Claro, desse jeito fica mais conveniente para eles, e mais fácil de mostrar na televisão".

Ao redor do primeiro trimestre de 1992, mais de 352 mil toneladas de géneros de origem estrangeira teriam sido embarca­das para os países de CIS. Em janeiro de 1992, os representantes de 47 nações encontraram-se em Washington, D.C., a fim de planejar os auxílios e assistências, inclusive 450 milhões de dólares de empréstimo à Rússia, para compra de arroz coreano.

Os delegados à Conferência de Helsinki, em julho de 1992, teriam tido talvez uma tarefa das mais difíceis pela frente, ao discutir e estabelecer meios de prover segurança económica e militar aos países do leste da Europa, em recuperação. Visto tratar-se da primeira reunião internacional, depois da queda do comunismo, pouca razão haveria para esperar-se que os delega­dos de 35 nações entrassem em acordo a respeito de questões tão complexas, pois estiveram divididos politica e ideologicamente em quase todos os assuntos. Ainda está por ver se algumas de suas resoluções trarão segurança e estabilidade aos países de CIS.

Nações como a Roménia, onde tive a grande honra e alegria de pregar em 1985, antes da queda do odiado regime de Ceau-sescu, estão procurando desesperadamente suas próprias formas de ordem e equilíbrio. Querem realizar isso por si próprias, mas milhões de pessoas na Roménia, Bulgária, Albânia, Letónia, Estó­nia e outros países da antiga União Soviética estão sofrendo, perecendo de fome e morrendo por causa da negligência e abusos que sofreram durante muitos anos.

 

Realidades terríveis

A perversa guerra na Iugoslávia sublinha as tensões que podem surgir em muitas regiões, agora que a autodeterminação torna-se uma possibilidade. A despeito das boas intenções de ambos os lados, as armas nucleares constituem uma ameaça para o mundo todo. O perigo muito real e iminente que enfren­tamos neste exato momento é a própria ameaça nuclear, como também os perigos de uma tecnologia fugitiva que nós, aparen­temente, desprovidos de sofisticação e de conhecimento, não conseguimos controlar. Em março de 1992, a publicação World Press Review transcreveu um artigo publicado na Polónia a respeito da contínua contaminação e devastação produzidas pelo acidente de 1986, em Chernobyl. A despeito de milhões de dólares dispendidos na contenção do desastre, Chernobyl pros­segue queimando, e seu material nuclear continua no processo de fusão.

O "sarcófago" de cimento que envolve o reator está rachado e arrebentado em muitos lugares, sofrendo infiltração de vento, água, insetos e outras formas de vida, e vai despejando continua­mente a morte e a destruição radioativas.

O autor do artigo assim se expressa:

O perigo real está no pó radioativo. As altas temperatu­ras e a forte radiação fizeram que o concreto se esface­lasse virando pó, e se misturasse com o combustível, que também se tornou pó no momento da explosão. SupÕe-se que agora haja 35 toneladas desse material. Se o sarcófago que está virando peneira entrar em colapso, haverá uma erupção tipo gêiser, de pó mortífero, pelas frestas. Agora mesmo, minúsculas tempestades de pó entram em erupção o tempo todo. Permanecer nessa nuvem por mais de três minutos pode ser fatal.

Na verdade, Chernobyl permanece uma bomba-relógio viva, ainda matando, ainda ameaçando, ainda poluindo os lençóis aquáticos que fluem no subterrâneo, ainda demonstrando o monstruoso mal da energia nuclear que saiu do controle. Só posso imaginar que novos elementos essa situação, ou outras situações semelhantes, poderão acrescentar à perigosa tempestade que se aproxima, que se abaterá logo sobre o mundo.

 

A promessa do futuro

Sempre que você estuda atentamente as profecias sobre o fim dos tempos, é inevitável que levante espectros e enigmas negros, capazes de perturbar a alma. Pois é assim mesmo que se esperaria de você, e é por isso que Deus nos tem concedido advertências tão claras a respeito da chegada da tempestade. Todavia, permita-me também lembrá-lo de uma promessa de Deus. É que no meio do pessimismo, do ambiente lúgubre, e da frustração, há uma espe­rança maravilhosa. Nesta presente hora de preocupação brilha ainda a esplendorosa esperança proporcionada por Cristo: "se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo" (João 14:3). O Senhor morreu numa cruz pelos nossos pecados. Ele ressuscitou dentre os mortos. Subiu ao céu. E a Bíblia diz que ele vai voltar em triunfo.

No dia seguinte, depois de haver ressuscitado, o Senhor con­versava com seus discípulos. "Aqueles que se haviam reunido perguntaram-lhe: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? Ele lhes disse: Não vos pertence saber os tempos ou as épocas que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebe­reis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Sama­ria, e até os confins da terra" (Atos 1:6-8). Após haver dito isso, o Senhor ascendeu ao céu, sendo arrebatado de entre os discípulos. Eles observaram a ascenção do Senhor até que uma nuvem o envolveu, e não puderam vê-lo mais.

A fé daqueles discípulos ainda era pequenina, sendo provável que alguns deles ainda tivessem dúvidas inquietantes, achando que talvez nunca mais veriam o Senhor, a despeito de suas pro­messas. Teriam olhado fixamente para o céu, sofrendo sensação de perda e grande tristeza porque o Senhor subia. Foi quando apareceram ao lado deles dois anjos vestidos de branco. "Varões galileus, por que estais olhando para o céu?" perguntaram. "Esse

Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir, assim como para o céu o vistes ir" (Atos 1:11).

A época de seu retorno, assegurou-lhes Jesus, era um segredo conhecido apenas do Pai. Entretanto, vários livros da Bíblia con­têm previsões e indicações sobre quando se dará a volta do Senhor. No nono capítulo de Daniel, somos informados de que um anjo trouxe a palavra do profeta, segundo a qual Deus havia determinado setenta semanas para seu povo e sua cidade santa.

Dezenas e dezenas de livros têm sido escritos sobre as setenta semanas, e eu não pretendo dispender tempo na discussão de seu significado. Posso tão somente meditar, pensar no assunto e inter­pretar a passagem da melhor maneira que me for possível. Há algumas coisas sobre essa passagem profética, e de outras passa­gens que, creio eu, podemos tomar como certas; outras passagens existem sobre as quais devemos exercer mais cuidado, e eruditos bíblicos sinceros poderão discordar entre si quanto a alguns de­talhes sobre que Deus preferiu não pronunciar-se com toda clare­za, quanto ao futuro. Contudo, virtualmente tudo quanto fora profetizado nas Escrituras, com respeito à vinda de Cristo, cum-priu-se com exatidão. Sabemos, então, que sua volta está próxima!

É necessário que se diga aqui que o anjo disse algo a Daniel, que se relaciona com os quatro cavaleiros: "Até o fim haverá guerra, e estão determinadas desolações" (Daniel 9:26). Isto nos concede uma pista segura quanto à história toda, não apenas do Oriente Médio, mas dos últimos milénios da raça humana. A batalha tem sido terrível, o cenário se enche de sonhos ainda não transformados em realidade, de esperanças esfaceladas, de cora­ções partidos e de corpos mutilados ao longo de milhares de campos de batalha, em que centenas de milhões pereceram.

 

A esperança da vinda do Senhor

A prometida volta do Senhor tem sido a grande esperança dos crentes através dos séculos. Emil Brunner disse que "o que o oxigénio é para os pulmões, a esperança é para o sentido da vida". Há alguns anos, numa conversa via Telstar, Lord Montgomery perguntou ao General Eisenhower: "O senhor por dar-nos alguma esperança?" Eisenhower prescreveu um caminho, dizendo que "se o homem vier a perdê-lo, isso o levaria ao Armagedom". O hino predileto de Winston Churchill era "O Hino de Guerra da República", que se inicia com uma frase arrebatadora: "Meus olhos viram a glória da vinda do Senhor".

Os grandes credos da igreja ensinam que Cristo está voltando. Assim declara o credo Niceno: "Ele voltará em poder e glória a fim de julgar os vivos e os mortos". Charles Wesley escreveu 7 mil hinos, e desses hinos em 5 mil ele mencionou a Segunda Vinda de Cristo. Quando a rainha Elizabeth II foi coroada pelo arcebispo da Cantuária, este colocou a coroa na cabeça da rainha pronunciando as seguintes palavras: "Eu vos dou, ó soberana senhora, esta coroa para que Vossa Majestade a use até que Aquele que se reserva o direito de usá-la retorne".

Contudo, até aquele dia, será como um dos mais famosos colunistas dos Estados Unidos resumiu, ao dizer: "Para todos nós, o mundo é um lugar de desordem, perigoso, desgovernado e aparentemente ingovernável". Levanta-se a pergunta: Quem res­taurará a ordem? Quem pode neutralizar o perigo do holocausto nuclear? Quem pode pôr um ponto final na AIDS e nas demais epidemias de nossa época? Quem consegue governar o mundo? A resposta é: Jesus Cristo!

Assim perguntou o salmista, muitos séculos antes: "Por que conspiram as nações, e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes se reúnem contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos as suas cadeias, e sacudamos de nós as suas algemas. Aquele que está entronizado nos céus se ri; o Senhor zomba deles. Então lhes fala na sua ira, e no seu furor os confunde, dizendo: Eu ungi o meu Rei sobre o meu santo monte Sião" (Salmo 2:1-6). O Senhor promete ao Ungido: "Eu te darei as nações por herança, e os fins da terra por tua possessão. Tu os regerás com vara de ferro... Portanto, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor" (Salmo 2:8-11). A seguir, o Senhor adverte a terra toda: "Bem-aventurados todos aqueles que nele se refugiam" (versículo 12).

Sim, Deus prometeu este planeta a seu Filho, Jesus Cristo, e um dia lho entregará. O Senhor porá fim a toda injustiça, opressão, guerra, crime, ao terrorismo que hoje dominam nossos jornais e telas de televisão. Entretanto, antes de o Senhor voltar, os quatro cavaleiros espalharão sua tempestade furiosa pelas páginas da história.

O crente em Cristo alegra-se no conforto do retorno de seu Senhor porque finalmente homens e mulheres de fé se libertarão. Serão vingados. O incrédulo verá e compreenderá, então, por que os cristãos marcharam segundo o som de outro tambor. Todavia, para esse incrédulo, pecador, o retorno triunfal de Cristo será evento desastroso, visto que inaugura o indefectível juízo final.

 

O juízo final

Veja o que acontece na visão seguinte de João. Trata-se de um quadro dos horrores absolutos do juízo final. O Cordeiro abriu cuidadosamente o sexto selo (Apocalipse 6:12-17). De súbito, o caos toma conta do universo. Um terremoto que nenhuma escala Richter poderia medir, sacode o mundo inteiro. O sol entra em eclipse total. De fato, assim nos relata João: "o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua tornou-se como sangue. As estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira, sacudida por um vento forte, deixa cair os seus figos verdes" (Apocalipse 6:12-13).

Eis uma tempestade de proporções apocalípticas. O mundo treme de terror. As maiores cidades do mundo entram em colap­so. João vê reis, príncipes, generais, ricos, poderosos, bem como escravos e livres fugindo; todos os seres humanos deixados na terra correm a fim de escapar do horror do julgamento final. Fogem na direção das cavernas nas montanhas. Agacham-se atrás de pedras e colinas. Todavia, não há como escapar. Em desespero, clamam em alta voz: "Escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro! Pois é vindo o grande dia da ira deles, e quem poderá subsistir?" (Apocalipse 6:16-17).

Haverá um dia de ajuste de contas, em que Deus vai encerrar os livros do tempo, e vai julgar todas as criaturas, mortas e vivas. Esta visão dos julgamentos preliminares, conducentes ao julga­mento final, permeia os 66 livros das Sagradas Escrituras. Antes da visão de João, esse dia era chamado de "dia da ira" (Sofonias 1:15; Romanos 2:5). Amos o chamava de "o dia do Senhor" (Amos 5:18), como o fez o próprio discípulo de Jesus, Pedro (2 Pedro

3:10). Paulo, vezes sem conta, chamou-o de "dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 1:8; Filipenses 1:6). Com muita frequên­cia a ele se faz referência como a Grande Tribulação.

Ao longo de toda a história tem havido dias de julgamentos. O primeiro julgamento de Deus recaiu sobre Adão e Eva, no começo do tempo (Génesis 3:16-19). O pecado original deles trou­xe o dia da ira de Deus e uma maldição permanente sobre todas as pessoas que aqui viveriam. Deus julgou Caim. Deus julgou os descendentes de Caim com o dilúvio, de que Noé escapou. Outros julgamentos incluem a confusão das línguas em Babel, a terrível destruição de Sodoma e Gomorra, o cativeiro e dispersão dos israelitas.

 

O trigo e o joio

Por todo o livro tenho retratado o julgamento vindouro da raça humana como sendo uma combinação da profecia bíblica sobre os quatro cavaleiros e a imagem de uma tempestade prestes a desabar, de Mateus 24. O registro do Novo Testamento deixa-nos um quadro muito claro: o julgamento final será uma tempes­tade de proporções inimagináveis, sendo que os quatro cavaleiros cavalgarão os tufões da ira de Deus.

Jesus acusou com muita contundência os fariseus que duvida­vam de seus ensinos a respeito da tempestade vindoura, dizendo: "Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, pois o céu está avermelhado. E, de manhã: Hoje haverá tempestade, pois o céu está de um vermelho sombrio. Hipócritas! sabeis interpretar a face do céu, e não conheceis os sinais dos tempos?" (Mateus 16:2-3).

O Senhor nos advertiu de que a tempestade que ele desenca­dearia em cima da terra sobrepujaria todas as tragédias de que houvessem tomado conhecimento. Mais tarde, assim se expressou o Senhor: "Pois assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem" (Mateus 24:27). O dia do julgamento chegará com grande rapidez, numa época que só Deus sabe; mas, é certo que virá.

No deserto, longe de Jerusalém, João Batista advertia as pes­soas a respeito do advento do julgamento de Deus. Dizia ele a quem quisesse ouvir que o verdadeiro arrependimento é o único modo de escaparmos do dia do julgamento. Então veio o próprio

Cristo. Ele também pregou sobre o julgamento final, com frequên­cia utilizando linguagem campestre, termos de agricultura: "Por ocasião da ceifa", assim advertiu o Senhor, "direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, atai-o em molhos para o queimar; então colhei o trigo e recolhei-o no meu celeiro" (Mateus 13:30).

Noutro lugar, Jesus encontrou-se com um mestre judeu a quem explicou como seria o julgamento. "Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele" (João 3:17). A seguir, o Senhor deixou bem claro como a pessoa pode salvar-se da ira do julga­mento de Deus. "Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do unigénito Filho de Deus" (João 3:18). A pessoa que não crê condena-se a si própria ao julgamento.

Minha esposa e eu somos pais, temos filhos. Quando nossos filhos desobedeciam às regras da família, era necessário corrigi-los. Em não havendo julgamento, não há justiça. Não gostávamos de repreender as crianças. Era horrível ter que repreender nossos filhos. Nós os amávamos, e sofríamos ao vê-los sofrer. Entretanto, se permitíssemos que eles saíssem tranquilos depois de fazer o que haviam feito, atos que lhes seriam destrutivos a longo prazo, não seríamos bons pais. Seríamos pais permissivos e desinteres­sados. Ameaçávamos as crianças com o julgamento, para o bem delas mesmas. Aplicávamos o julgamento pelas mesmas razões.

Conheço uma família rica cujo filho mais velho conheceu as drogas durante seu último ano de escola secundária. Numa festa, o rapazinho cheirou cocaína com seus amigos ricos. O pai dele descobriu tudo e chamou o filho para uma conversa. Com máximo cuidado, o pai lhe explicou os riscos do uso de drogas, especial­mente cocaína. Depois levou o rapazinho à biblioteca e, juntos, leram as histórias de vidas arruinadas pelo hábito de tomar dro­gas, iniciado em festas semelhantes, na escola. Todavia, o filho riu-se das ideias "caretas" e antiquadas de seu pai. Por isso o pai, esperançoso, e a fim de impedir que seu filho continuasse a experimentar cocaína, ameaçou o filho com um dia de castigo. "Se você tomar cocaína de novo", advertiu o pai, "você não sairá de casa, e seu carro ficará estacionado na garagem".

Mas o filho desobedeceu ao pai. Quando este descobriu a desobediência filial, fê-lo lembrar-se do dia de castigo. O filho ficou confinado, e o pai lhe tomou as chaves do carro. Tudo isso foi motivado pelo desejo de ajudar o filho, salvá-lo do horror do vício das drogas.

Todavia, nada disso funcionou; o rapazinho continuou usan­do cocaína no colégio. Sabendo do desenvolvimento do vício no filho, os pais se recusaram a dar-lhe dinheiro. Ele não poderia sustentar o vício. E puseram-se a agir, a orar, e a telefonar. Derra­maram seu amor pelo filho. Rogaram-lhe que viesse para casa para receber um tratamento e ofereceram-se para financiar-lhe um programa de reabilitação contra drogas, no hospital local. O filho fez pouco caso dos temores de seus pais e lhes desprezou as advertências. Começou a roubar a fim de sustentar seu vício de drogas. Então, numa noite de sábado, o moço foi morto numa tentativa de assalto a um bar.

Aquele jovem trouxe condenação sobre si próprio. A seme­lhança de Deus, seus pais o ameaçaram com julgamento, não com o objetivo de condená-lo, mas de salvá-lo. Ainda assim, a desobe­diência do filho frustrou os propósitos paternos, e veio a trazer-lhe um julgamento pior ainda. A morte lhe sobreveio, não por causa do pai, mas pela sua própria desobediência.

 

Como aprender a obedecer a Deus

Deus nos observa e nós, seus filhos desobedientes, prossegui­mos em nossa desobediência. Deus não seria justo se nossos pecados ficassem impunes. A justiça requer julgamento. Todavia, Deus nos ama e trabalha no sentido de livrar-nos dos resultados de nossa desobediência. Em sua Palavra, Deus nos adverte conti­nuamente a respeito do julgamento vindouro. Ele nos oferece um modo de escaparmos, mediante o arrependimento de nosso peca­do e a fé em Cristo, seu Filho. Ele envia mensageiros, à semelhança dos quatro cavaleiros, a fim de fazer ressoar o alarme, para que despertemos de nossa sonolência mortal, para que tomemos a direção certa, para que reentremos no caminho correto. Há de vir um julgamento final, mas Deus não gosta do dia do julgamento, e continua a adiá-lo, para que o mundo se salve.

Todavia, nós nos enganamos a nós mesmos se pensamos que Deus vai cancelar definitivamente as tempestades de julgamento.

Ele vai enviar as tempestades de julgamento. Deus é um Deus de amor. Costumávamos cantar assim: "Sei que Jesus me quer bem, pois a Bíblia assim o diz", quando crianças. E quando adultos, cantamos: "Meu guia Deus será; seu infinito amor feliz em tudo me fará, por onde eu for". Não devemos esquecer-nos de que Deus nos ama mais do que conseguimos começar a imaginar, porque Deus é Deus de misericórdia. Todavia, lembremo-nos também de que ele é Deus de justiça. Ele é um fogo consumidor.

Nada que tenhamos visto ou ouvido compara-se com a santi­dade de Deus. Ele é absolutamente puro. Nossos pensamentos mais puros são feios, à vista de Deus, comparados com a pureza do Senhor. A semelhança da mulher vestida de branco imaculado, que parece cinzenta e pálida se posta em contraste com a neve recém-caída, o resultado de nossas tentativas de ostentar santida­de não passa de farrapos imundos, em comparação com a pureza de Deus. Deus não muda nunca. Ele não pode contemplar o mal. O mal é o inimigo, e todos quantos desprezam as advertências divinas e continuam amigos do mal, acabarão sob julgamento.

Entretanto, Deus fez e continuará fazendo tudo que lhe for possível para salvar-nos do dia do julgamento. Já nos referimos a Jonas, que pregou ao povo de Nínive, um povo idólatra e perver­so. A semelhança dos quatro cavaleiros, este profeta relutante advertiu o povo de Deus sobre o dia do julgamento. O rei e todo o povo obedeceu; a reação deles foi vestir-se de saco e sentar-se na cinza. As estimativas quanto ao número de pessoas que con­fessaram seus pecados mediante a pregação de Jonas situam-se entre 300 mil e 2,5 milhões de pessoas. Provavelmente tenha sido o maior despertamento espiritual da história.

 

A colheita do arrependimento

Visto que Nínive arrependeu-se, Deus mudou seus propósi­tos. Ele poupou a cidade e recolheu o braço do julgamento. De fato, como mencionamos antes, o dia do julgamento não sobreveio a Nínive durante 150 anos. Depois, Nínive foi destruída por exércitos invasores, no dia do julgamento de Deus.

Hulda, a profetisa, recebeu ordens de Deus para enviar uma mensagem ao povo de Judá: O julgamento estava próximo.

"Assim diz o Senhor: Trarei desastre sobre este lugar, e sobre os seus moradores, a saber, todas as palavras do livro que leu o rei de Judá" (2 Reis 22:16). Entretanto, a mensagem do próprio rei era diferente:

Visto que o teu coração se enterneceu, e te humilhaste perante o Senhor, quando ouviste o que falei contra este lugar, e contra os seus moradores, que seriam para assolação e para maldição, e rasgaste as tuas vestes, e choraste perante mim, também eu te ouvi, diz o Senhor. Pelo que eu te recolherei a teus pais, e tu serás recolhido em paz à tua sepultura. Os teus olhos não verão todo o mal que hei de trazer sobre este lugar (2 Reis 22:19-20).

Acredito que o julgamento de Deus pode ser adiado por algum tempo. Não é preciso que haja o arrependimento de uma cidade inteira para que Deus retenha seus planos de julgamento. Abraão obteve moratória para o caso de encontrar-se meros 10 homens justos em Sodoma. Todavia, o dia de julgamento está chegando. A cada dia que passa aumentam os relâmpagos e os trovões ficam mais tonitruantes. Até quando vai Deus adiar a tempestade de sua ira?

Não sabemos. Mas sabemos, por causa dessa visão maravi­lhosa de João, que é que os crentes devem fazer no entretempo. Devemos prosseguir trabalhando como aliados de Deus para a salvação dos perdidos, e em prol da justiça social.

Lembremo-nos de novo da visão de João. Os santos debaixo do altar receberam instruções para esperar mais um pouco, até que seus irmãos e irmãs na fé "que haviam de ser mortos" a eles se juntassem. Aqueles mártires e santos haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que deram com toda fidelidade. Quando nos firmamos na Palavra de Deus e num testemunho fiel, sofremos também. Alguns de nós morrerão por causa disso.

Não devemos contentar-nos com respostas fáceis. O chamado para seguir a Cristo não é fácil. Fácil é receber a salvação; todavia não existe graça barata. Nossa redenção pela cruz de Jesus custou caro ao nosso Deus. Por isso, nós também precisamos estar dis­postos a negar-nos a nós mesmos, tomar nossa cruz e seguir a Cristo. Não é fácil seguir a Cristo. Não é fácil decidir que tarefas você pode executar, e quais você deve deixar para outrem. Não é fácil tomar partido, quando as questões são complexas, tendo dois lados. Nem sempre é fácil dar testemunho de Cristo. Não é fácil operar contra o mal, a fim de o julgamento ser adiado, mas essa é a tarefa para a qual fomos chamados.

Esta é a razão por que as profecias bíblicas ficam em forte contraste com as predições sintéticas dos computadores. A Bíblia leva em consideração a natureza humana. A Bíblia profetiza um mergulho repentino na ilegalidade, no caos mundial, numa per­versidade tão chocante que só o próprio Deus pode intervir a fim de salvar a raça humana. Com sua mente iluminada pelo Espírito Santo, o apóstolo Paulo predisse que "nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeição natural, irreconciliá­veis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos praze­res do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta-te também destes" (2 Timóteo 3:1-5).

Tais pessoas, diz o apóstolo, não usufruirão suas conquistas científicas, ainda que miraculosas. Assim predisse o apóstolo: "Perecem porque não receberam o amor da verdade para se salvarem" (2 Tessalonicenses 2:10).

Quando os discípulos perguntaram a Cristo: "Que sinal have­rá quando isto estiver para acontecer?" o Senhor respondeu ao longo destas mesmas linhas. Em vez de retratar um futuro cheio de realizações científicas, numa era de paz perpétua, o Senhor predisse uma sequência interminável de desordem e de tragédia, até que ele próprio pusesse um fim no caos. Disse o Senhor: "Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino. Haverá grandes terremotos, fomes e pestilências em vários lugares" (Lu­cas 21:10-11). Ensina-nos a Bíblia que não haverá interrupção na cadeia de tristezas e de desastres que afligirão a raça humana, até que vejam "vir o Filho do homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória" (Lucas 21:27).

 

Uma advertência cheia de compaixão

Todavia, antes de desencadear uma tempestade de julgamento, Deus sempre adverte o povo. Ele advertiu o povo dos dias de Noé, antes de enviar a destruição. Advertiu o povo de Sodoma antes de enviar a destruição. Advertiu o povo de Nínive antes de enviar a destruição. Advertiu o povo de Jerusalém antes de enviar a destruição.

O que aconteceu nos dias de Noé repetir-se-á no fim da história. Temos a palavra de Jesus, que nos disse: "Como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem" (Mateus 24:37). As duas experiências correrão paralelamente em muitos aspectos importantes, não apenas no dilúvio da ilegalida­de e na universalidade da catástrofe, mas também na preocupação amorosa de advertir o povo, e prover meios de escape. A ordem de Deus, Noé pregou durante 120 anos. Durante esse período, ele advertiu o povo a que se arrependesse de seus pecados e se voltasse para Deus, mas o povo ria e escarnecia. Depois, encerrado o prazo, coisas espantosas começaram a acontecer. Apareceram nuvens no céu, pela primeira vez. Os animais começaram a jun-tar-se. Veio a chuva. Disse Jesus: "veio o dilúvio, e os consumiu a todos" (Lucas 17:27).

Algo semelhante a isso, tão desvastador e global em seus efeitos, acontecerá de novo, a menos que o homem se arrependa. A tremenda devastação que mencionamos no capítulo 1, trazida pelos furacões Andrew e Camille, é apenas um pequeno retrato da ira vindoura. A tragédia e a ironia do quadro com que iniciei este livro são, na verdade, uma pequena amostra da realidade inconcebível que sobrevirá à terra, um dia. Hoje, como nos dias de Noé, as pessoas negam a fúria da tempestade à vista. Elas desejam continuar a autogratificar-se, a intoxicar-se com os pra­zeres deste mundo. Todavia, negar a realidade não vai interrom­per o braço de Deus.

Assim escreveu Pedro: "Sabei primeiro que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concu­piscências, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação" (2 Pedro 3:3-4).

Todavia, adverte-nos Pedro: "O dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há, serão descobertas" (versículo 10).

Adianta-nos a Bíblia que antes que todas essas coisas aterro­rizantes aconteçam, haverá uma rebelião contra a fé, um desvio da verdadeira fé da parte de muitos que professam o nome de Cristo, com muito desassossego social e político por todo o mun­do.

 

Uma palavra ao mundo

Entretanto, Jesus também disse outra coisa interessante que já comentei: "Este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações. Então virá o fim" (Mateus 24:14). Hoje, pela primeira vez na história, estamos teste­munhando a pregação do evangelho em âmbito mundial, numa escala que o mundo jamais viu, com uso de rádio, da página impressa e da televisão. Eis aqui um sinal que devemos anotar, à medida que vamos nos aproximando do encerramento da histó­ria.

Ensina a Bíblia que há livramento das coisas que estão prestes a desabar sobre o mundo, para as pessoas que colocarem sua fé e confiança em Jesus Cristo. O livramento virá por Cristo, não pelas drogas. Não mediante o "crack", cocaína, ou injeções de heroína, mas ao colocarmos a mente e o coração em harmonia com Deus, mediante submissão à sua vontade, e aceitação de seu perdão oferecido na cruz. Só em Cristo encontraremos livramento dos pensamentos torturantes do mundo, cura para mentes e corpos enfraquecidos, libertação dos hábitos sórdidos, corrosivos e imo­rais que estão destruindo tantas pessoas hoje.

Todavia, o mais importante de tudo é que há esperança no futuro. Diz a Bíblia que Deus planejou a utopia para nós. Há na verdade uma nova e gloriosa ordem social a caminho, a qual será estabelecida quando Jesus Cristo voltar. Creio que resta pouco tempo; precisamos todos proclamar as boas novas, sempre que pudermos. Ouça a voz de Jesus acima do fragor da tempestade, dizendo-nos: "Por isso estai vós também apercebidos, porque o Filho do homem há de vir à hora em que não penseis" (Mateus 24:44). Você já está pronto?

 

A promessa de paz

O mundo em que vivemos assemelha-se a um furacão — sempre mudando, sempre mutável, sempre impredizível e frequentemente destrutivo — mas há algo que nunca muda: O amor de Deus. A graça e misericórdia sem igual de Deus. O perdão ilimitado de Deus. Enquanto Cristo não voltar "com grande clan-gor de trombeta", haverá esperança para a raça humana. Enquan­to há tempo, devemos procurá-lo fervorosamente.

Quanto mais conheço as realidades do livro de Apocalipse, mais percebo que há muitos mistérios, ambiguidades e incertezas complexas que, por enquanto, não podemos entender de todo. Todavia, podemos compreender muita coisa. Das verdades que já pudemos compreender a respeito de Deus, obtivemos compro­vação de seu amor e de sua provisão para a humanidade. Por causa da exatidão infalível da profecia bíblica, temos evidências da fidelidade das Escrituras e sua relevância frequentemente espantosa em relação às circunstâncias e eventos de nossa vida. Assim, sabemos que a Palavra de Deus é a Verdade.

Escreveu Paulo a Timóteo o seguinte: "Toda Escritura é divi­namente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra" (2 Timóteo 3:16-17). Com esta certeza, estudamos a Palavra e descobrimos como sua verdade pode ser aplicada a nossa vida e necessidades individuais.

Paulo também entendeu as implicações de sua mensagem. Assim escreveu ele: "Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino" (2 Timó­teo 4:1-2).

Eu não entendo totalmente tudo quanto vai acontecer, quando os eventos que acabei de descrever neste livro ocorrerem, mas entendo que não é necessário que tenhamos, agora mesmo, um quadro completo. Deus revela a cada era o que seus filhos são capazes de entender. Estou preparado para descansar nesse co­nhecimento até que Deus abra o próximo capítulo desta aventura incrível.

 

Seu nome é Fiel e Verdadeiro

Agora, olhemos adiante, para uma era futura, em que outro cavaleiro montado noutro cavalo surge diante dos olhos do pro­feta — alguém que cavalga a fim de trazer o reino de Deus em sua plenitude à terra. A semelhança do primeiro cavalo, do capítulo 6, o cavalo que vemos no capítulo 19 também é branco. Mas a semelhança termina aí. O cavaleiro deste corcel é o próprio Jesus Cristo, que vem em glória e poder à terra.

Enquanto vou encerrando esta narrativa, gostaria de examinar esses versículos, a fim de verificar o que o Espírito de Cristo vai revelar-nos no relato do capítulo 19 do Apocalipse. Os capítulos 7 a 18 tratam da catastrófica saga da história, talvez bem à nossa frente, quando "haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem haverá jamais". Disse Jesus: "Se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria, mas por causa dos escolhidos serão abreviados aqueles dias" (Mateus 24:21-22).

Creio que será uma época de conflagração nuclear, holocaus­tos biológicos e catástrofes químicas multiplicando-se por toda a terra, levando a humanidade à beira do precipício. Terá chegado o fim da história, em plena batalha do Armagedom. Já podemos ver as nuvens tempestuosas acumulando-se sobre a terra.

Será que a raça humana vai exterminar-se a si própria? Segun­do ensinou Jesus, a raça humana quase se auto-exterminará. E exatamente por causa disso que Cristo vai voltar! Os líderes demoníacos do "mundo todo" terão mobilizado os antagonistas e os protagonistas desse sistema contrário a Deus, talvez comandado pelo anticristo. "Então congregaram os reis no lugar que em hebraico se chama Armagedom" (Apocalipse 16:16), para a ba­talha.

Woodrow Wilson falou da "guerra que acabará com todas as guerras" e a colunista Ellen Goodman escreveu sobre a possibili­dade de uma guerra desastrosa no futuro, que objetiva "acabar com toda forma de vida". Todavia, você pode ter absoluta certeza de uma coisa: Isso não vai acontecer. Deus tem outros planos para a raça humana. Não haverá um fim catastrófico para a vida. A intervenção divina garantirá a sobrevivência.

Por toda a parte aonde vou, as pessoas me perguntam: "O senhor é otimista ou pessimista?" Minha resposta é que sou um otimista radical. Nas palavras de Robert Browning, "o melhor ainda está por acontecer". Eu também acredito nisso, e nas pági­nas finais deste livro vou explicar por quê.

Havendo 40 ou mais guerras fervilhando no mundo, neste momento, precisamos meditar em nossas esperanças de paz na terra. Qualquer dessas guerras poderia conduzir-nos ao princípio do fim. Assim é que eu pergunto: Pode o paraíso ser restaurado? Há luz no fim do túnel? Ou como o falecido Winston Churchill perguntou a um jovem pastor, há trinta anos: "Jovem, você pode dar-me alguma esperança?"

 

De volta à Bíblia

Para responder à pergunta de Churchill, levo você de volta ao futuro. Em Apocalipse 19:11-13, assim escreveu o velho apóstolo: "Vi o céu aberto, e apareceu um cavalo branco. O seu cavaleiro chama-se Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça. Os seus olhos eram como chama de fogo, e sobre a sua cabeça havia muitos diademas. Ele tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo. Estava vestido com um manto salpicado de sangue, e o nome pelo qual se chama é o Verbo de Deus".

Os quatro cavaleiros do Apocalipse do capítulo 6 já passaram. Outros julgamentos sobrevieram. Agora, Deus está prestes a fazer seu movimento final. O cavaleiro do corcel branco, no capítulo 19, e o próprio Senhor Jesus Cristo, o Messias de Israel, cabeça da ^eja, Rei dos reis e Senhor dos senhores.

O cavalo branco da fraude, de Apocalipse 6, escurece-se, fica cinzento, sujo, em comparação com a brancura imaculada, impe­cável do cavalo de Apocalipse 19. Enquanto o cavalo vermelho de Apocalipse 6 inflige a guerra, a fim de matar e desfolhar, este cavalo branco, com o Rei dos reis que o cavalga, trajando um manto salpicado de sangue, declara guerra aos assassinos, para estabelecer seu reino de salvação e paz. Enquanto o cavalo preto de Apocalipse 6 é portador da fome e da doença, o cavalo branco de Apocalipse 19 traz a cura e o Pão da Vida. Enquanto o cavalo amarelo de Apocalipse 6 traz a morte e o inferno, o cavalo branco do capítulo 19 traz a vida e o céu a todos que nele depositam fé.

Quando aparecerá o cavaleiro montado no corcel branco, conforme nos descreve Apocalipse 19? O ensino claro da Palavra de Deus é que ele virá quando a raça humana houver afundado, tendo chegado ao nível mais baixo e perigoso da história — no momento em que os quatro cavaleiros, cavalgando as tempesta­des do Apocalipse, houverem terminado sua carreira, e conduzi­do a humanidade à beira do precipício.

Há um sentimento fantasmagórico permeando a sociedade toda, hoje. Albert Schweitzer o descreveu bem, ao lamentar-se: "O homem perdeu a capacidade de prever e prevenir-se. Vai acabar destruindo a terra". Se formos abandonados a nós mesmos, é precisamente isso que faremos. Barbra Streisand colocou o dedo na ferida ao dizer: "Eu acredito que o mundo esteja chegando ao fim. Parece-me que a ciência, a tecnologia e a mente sobrepujaram a alma — o coração. Não existe equilíbrio em termos de sensibili­dade e amor para com o próximo".

Quem melhor do que o falecido behaviorista B. F. Skinner, de Harvard, para responder a essa pergunta? A idade de 78 anos, Skinner chocou a Convenção da Associação de Psicologia dos Estados Unidos, ao perguntar, cheio de compreensível angústia e ira: "Por que não agimos no sentido de salvar o mundo? Será que a história ainda vai muito longe?" Quando se perguntou, depois, a Skinner: "Será que o observador do condicionamento social perdeu seu otimismo?" a resposta dele foi: "Sim, perdi... Quando escrevi Beyond Freedom and Dignity, eu era otimista acerca do futuro. Há uma década ainda existia esperança, mas hoje o mundo está fatalmente doente... Eis um modo bastante deprimente de alguém chegar ao final da vida... O argumento de que nós sempre resolvemos nossos problemas no passado e, portanto, também resolveremos o que nos defronta, é a mesma coisa que assegurar a um moribundo que ele vai sarar, porque no passado ele sempre se recuperou das doenças" (Philadelphia Inquirer, 25 de setembro de 1982).

 

Da paz e da guerra

Num artigo entitulado "Psicologia e Armagedom", da revista Psychology Today, o professor de Psiquiatria de Harvard, o Dr. Robert Coles, descreve o sentimento prevalecente no mundo todo, de que o mundo caminha para o Armagedom. O jogo que nos aguarda será o pior da história inteira. O anticristo (ou seu siste­ma) será um impostor monstruoso, a verdadeira encarnação da iniquidade. Todas as pessoas do mundo inteiro vão pensar e dizer: "Agora sim, paz!"

Está a caminho uma época — não sei se vai demorar ou não (especialmente em face de Jesus ter-nos advertido a que não especulemos a respeito de datas) — quando um sistema ou gover­no mundial falsificado estabelecerá uma utopia, durante um tem­po extremamente curto. Os problemas políticos e económicos do mundo parecerão resolvidos. Todavia, após um período curto de governo, o sistema desmoronará. Durante esse reinado demonía­co, as tensões se acumularão e mais uma vez o mundo começará a explodir, numa ferocidade de conflitos sem termos de compa­ração. Nem mesmo o poder dos líderes mundiais será capaz de impedir essa convulsão total. Esse conflito de massa será a última guerra do mundo, a batalha do Armagedom. De acordo com autores seculares, científicos, a humanidade está fadada inevita­velmente ao dia do Armagedom.

 

Armando-se para o Apocalipse

Se eu não fosse crente em Cristo, por esta altura já teria sucumbido ao pessimismo total. Há poucos instantes, li um artigo de EUen Goodman em que ela pergunta: "Estando o Armagedom, talvez, ali na esquina, que é que as pessoas inteligentes deverão tazer? Enrolar-se em lençóis e lamentar-se, aguardando o fim?" Devemos estar contemplando aquela amedrontadora espada de

Dámocles "que está pendurada sobre nossas cabeças, à semelhan­ça de algum tipo de apocalipse, sem a promessa de redenção?"

Não, definitivamente não! Exorta-nos Jesus, diante da aproxi­mação do holocausto universal: "Olhai para cima, e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima" (Lucas 21:28). Em vez de enfiar-nos debaixo das cobertas, procuremos redenção em Cristo. Devemos, também, trabalhar, como se esses eventos estivessem longe, em futuro remoto. Jesus prometeu uma bênção àqueles que estiverem trabalhando, quando o Senhor voltar.

Eu não gostaria de demorar-me, aqui, nos aspectos de quem, o que, por quê, como e quando — do Armagedom. Declaro ape­nas minha crença de que ele está próximo. Sem um reavivamento repentino, maciço, de âmbito mundial entre o povo de Deus, e um retorno à moralidade e aos valores estabelecidos na Palavra de Deus, a terra já está sob a condenação de Deus, o julgamento do mundo será rápido, inevitável e total. A face dessa tempestade à vista, temos apenas uma esperança bem fundamentada: o Arma­gedom será interrompido pelo retorno de Jesus Cristo, montado no cavalo branco, comandando os exércitos celetiais, conforme muitas passagens bíblicas profetizam.

Em nenhuma passagem isto se descreve de modo mais defi­nitivo e dramático do que em Apocalipse 19, quando João previu "o céu aberto, e apareceu um cavalo branco. O seu cavaleiro chamava-se Fiel e Verdadeiro". Prosseguiu João descrevendo o cavaleiro como sendo "o Verbo de Deus" seguido dos exércitos do céus, "em cavalos brancos, vestidos de linho fino, branco e puro". Focalizando de novo o Messias que chega, João viu que "da sua boca saía uma espada afiada, para ferir com ela as nações. Ele as regerá com vara de ferro" (Apocalipse 19:11-15).

Para que ninguém fique confuso quanto à identidade e auto­ridade dessa personagem, João explica de modo que fique perfei­tamente claro: "No manto, sobre a sua coxa tem escrito o nome: Reis dos reis, e Senhor dos senhores" (Apocalipse 19:16).

 

O cavaleiro sobre o cavalo branco

Que faz o cavaleiro que cavalga o cavalo branco? João escla­rece que o cavaleiro e seu exército celestial enfrentam o anticristo e as forças militares reunidas não apenas para guerrear-se entre si, mas contra os exércitos celestiais. Todavia, "a besta foi presa, e com ela o falso profeta que diante dela fizera os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta, e os que adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre" (Apocalipse 19:20). Os adeptos e seguidores do anticristo serão derrotados por Jesus Cristo.

A grandiosa noção de Adolf Hitler sobre o nazismo era que ele estabeleceria um império totalitário sobre a terra toda, o qual duraria "mil anos". Isso não aconteceu. Um jornalista da revista Time fez menção ao plano de Mao Tse Tung de "exportar a revolução", como visão obsessiva de "apressar o milénio comu­nista". Entretanto, agora o império de Mao desvaneceu. A visão de Mao sofreu alterações profundas à vista das mudanças que despontam no horizonte.

As pessoas poderiam perguntar: Será que João foi o único que descreveu com tanta clareza a segunda vinda de Cristo à terra? Não. A menção mais antiga de toda a literatura está em Judas 14-15. Judas escreve: "Concernente a estes profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão: Vede, o Senhor vem com milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos os vivos", inclusive "todos os ímpios". O sistema ou o indivíduo mais impiedoso que jamais existiu será o anticristo. Assim escreveu Paulo aos Tessalonicen-ses: "Então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo sopro de sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda" (2 Tessalonicenses 2:8).

A volta de Jesus Cristo é a grande convicção do crente. Sey-mour Siegel fez este comentário: "O problema central do cristia­nismo é: Se o Messias já veio, por que o mundo continua tão mau? Para o Judaísmo, o problema é: Se o mundo é tão mau, por que o Messias não veio?" O Messias voltará a fim de resolver ambos os dilemas, e em breve. Todos os devotos judeus, ortodoxos, ao cultuar a Deus, oram assim: "Creio com fé total na vinda do Messias. Ainda que ele demore, eu o esperarei todos os dias à frente".

Assim afirmam as Escrituras: "O principado está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e paz não haverá fim. Reinará sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e justiça, desde agora e para sempre" (Isaías 9:6-7).

Arnold Toynbee, de Cambridge, previu que "somente um governo mundial poderia salvar a humanidade da aniquilação por armas nucleares". Está certo. Jesus Cristo será o Rei sobre a terra toda, em seu governo teocrático de âmbito mundial.

Jonathan Schell escreveu um livro, The Fate ofthe Earth, em que prevê o dia quando "as instituições existentes deverão ceder lugar a um tipo de soberania e segurança transcendentais, presumivel­mente mediante um governo que abranja a humanidade toda", isto é, um governo mundial. Isso poderá acontecer de alguma forma secular, a caminho do Armagedom; todavia, não ocorrerá como parte de um sistema completo, harmonioso e produtivo, enquanto o Senhor Jesus Cristo não regressar a fim de governar o mundo.

 

O monstro nuclear

Sabemos que o mundo entrou num período menos volátil, de menor perigo de confronto armado. Deixou de existir o desafio Ocidente-Oriente, prevalecente até há pouco. Supõe-se não haver mais a corrida do terror, a corrida armamentista à busca de equilíbrio, entre Estados Unidos e União Soviética. Segundo o ex-presidente Bush, este é um mundo mais bondoso, mais terno. Entretanto, como vimos, os riscos de uma guerra nuclear, ou até mesmo de usos pacíficos da energia nuclear tornam-se cada vez mais feios, entre nós.

Defronte o edifício das Nações Unidas, em Nova York, há uma grande inscrição: "Eles converterão as suas espadas em relhas de arado". De onde foram tiradas essas palavras? Da Bíblia! Em Miquéias 4:3, apenas uma dentre muitas profecias escriturísticas que tratam desta questão catastrófica, lemos que "Irão muitas nações, e dirão: Vinde, subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas".

Essa passagem prossegue, dizendo-nos que, como Rei do mundo, "ele julgará muitos povos, e arbitrará muitas nações poderosas e longínquas. Eles converterão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e não haverá quem os espante, porque a boca do Senhor o disse" (ver­sículos 3-4). Eis uma profecia maravilhosa sobre uma época vin­doura de paz, mas não sobrevirá sob os auspícios das Nações Unidas. Não será o presidente dos Estados Unidos quem realizará esse milagre. A longo prazo, será o próprio Jesus Cristo, como Rei sobre toda a terra, quem vai trazer a paz, transformando nossas espadas em relhas de arado.

The New Catholic Encyclopedia salienta que o resultado do triunfo de Cristo sobre o anticristo e as forças do mal será o reinado de Jesus Cristo e de seus santos de todas as eras, sobre a terra, algo que não conhecerá precedente no que concerne a prosperidade e paz. Desde tempos imemoriais, a humanidade tem ansiado por uma combinação legítima entre verdadeira lei e verdadeira or­dem, entre paz e prosperidade, entre liberdade e realizações, entre saúde e felicidade, entre piedade e longevidade aqui na terra. Tudo isso será uma realidade quando Cristo voltar a fim de estabelecer seu reino.

 

A nova ordem mundial

Não pode haver um novo mundo, com paz duradoura, nas condições atuais. Algo dramático precisa acontecer para que se altere a natureza humana. Isto nos deixa uma convicção absoluta a respeito do futuro: Cristo, como o Príncipe da Paz, com o governo em suas mãos. Os sonhos e planos utópicos de pessoas como Platão, Bellamy e Owen, e outros filósofos e idealistas de pensamentos semelhantes, de toda a história, serão todos realiza­dos no reinado de Cristo. Essa é a mensagem do Deus-homem que cavalga o cavalo branco, que vem do céu, e que o apóstolo João previu, registrando-o em Apocalipse 19.

John Milton ansiava pelo "Paraíso Restaurado". Tenho certeza de que durante quase mil anos, Adão ansiou pela volta ao jardim do Éden, do qual havia sido expulso por causa de seu pecado. 1 odavia, ele não o conseguiu! O professor John Walvoord expres-sou-o de modo conciso: "O anseio pelo governo perfeito, pela justiça, equidade, prosperidade e livramento da insegurança e dos temores que assolam o mundo moderno, encontram solução no regresso de Cristo, e no estabelecimento de seu reino".

As Escrituras têm muito que dizer a respeito do mundo do Cristo vindouro. O Messias assumirá de modo completo o domí­nio sobre os povos de toda a terra. "Naquele dia as nações per­guntarão pela raiz de Jessé, posta por estandarte dos povos, e o lugar do seu repouso será glorioso", assegura-nos Isaías (11:10). "Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor" (11:2).

Por todo o mundo de hoje, os povos anseiam por uma socie­dade em que haja paz e provisão, um mundo em que haja justiça e bondade. Cristo, o Messias, fará tudo isso, pois, "julgará com justiça os pobres, e repreenderá com equidade os mansos da terra. Ferirá a terra com a vara da sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o ímpio. A justiça será o cinto dos seus lombos, e a verdade o cinto dos seus rins" (11:4-5).

Vai funcionar? Sim. "Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da minha santidade, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar" (11:9).

A ordem prevalecente será tão transformada, que até o mundo animal será domesticado:

Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado viverão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos juntos se deitarão, e o leão comerá palha como o boi. Brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e o já desmama­do meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal, nem dano algum... (Isaías 11:6-8).

Esta promessa contrasta por completo com as bestas feras, as aves necróforas, os insetos devoradores e as doenças assoladoras que têm sido os inimigos mais ferozes do homem, tanto o mais primitivo quanto o mais civilizado, da era adâmica à da energia atómica.

 

Uma mensagem do Messias

Isto me leva a investigar o que as Escrituras dizem acerca da era futura, sob o reinado do Messias. As tempestades terão pas­sado. O céu estará claro. Os cavaleiros já não cavalgam. As doen­ças terão sido curadas por Cristo, o grande Médico das nações. O Senhor terá removido todas as deformidades e deficiências.

Por essa época não haverá designação de lugares especiais nos pátios de estacionamento, nem rampas suaves de acesso aos prédios para os deficientes físicos. Não haverá cegueira, surdez, mudez, paralisia — nenhuma necessidade de óculos, aparelhos de audição, terapia da fala, cadeiras de rodas, muletas nem ben­galas brancas. "Nenhum morador de Sião dirá: Estou enfermo", garante-nos Isaías (33:24). "Mas te restaurarei a saúde, e curarei as tuas chagas, diz o Senhor" (Jeremias 30:17). "A [ovelha] que­brada ligarei" (Ezequiel 34:16).

Assim profetizou Isaías:

Esforçai-vos, não temais; o vosso Deus virá com vingan­ça; com recompensa divina ele virá, e vos salvará. Então os olhos dos cegos se abrirão, e os ouvidos dos surdos se desimpedirão. Então os coxos saltarão como o cervo, e a língua dos mudos cantará. Águas arrebentarão no deserto, e ribeiros no ermo. A terra seca se transformará em lagos, e a terra sedenta em mananciais de águas. Nas habitações em que viviam os chacais, crescerá erva com canas e juncos. Ali haverá uma estrada; ela se chamará o Caminho da Santidade (Isaías 35:4-8).

"Certamente aquele dia vem", profetizou o profeta Malaquias (4:1-2) no último capítulo do Antigo Testamento, quando os povos do mundo finalmente temerão ao Senhor. "Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação debaixo das suas asas." No último capítulo do Novo Testamento, lemos que ali estará a "árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês. E as folhas da árvore são para a cura das nações. Ali nunca mais haverá maldição" (Apocalipse 22:2-3). Deus enxugará de seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, pois já as primeiras coisas são passadas" (Apocalipse 21:4).

Hoje, como diz o apóstolo Paulo em Romanos (8:22,18-21), "toda a criação geme como se estivesse com dores de parto até agora". Mas, "as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada", visto que "a ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação será libertada do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus".

 

Um fim à dissensão

Temos tido grandes controvérsias em anos recentes a respeito de controle de natalidade, aborto e eutanásia. Hoje, essas crises pioram em todas as comunidades, com crescente violência e dis­sensão. Dentro de curtíssimo tempo, creio que essas questões evoluirão, transformando-se em disputas acaloradas na Corte Suprema, em ferrenhas batalhas de estado para estado, e tocarão no cerne de nossa crença. Entretanto, afiança-nos o livro de Apo­calipse que esses problemas se desvanecerão, quando a maldição do pecado, lançada sobre a terra, for removida. Em vez de espi­nhos e cardos, de secas e desertos, descobriremos frutos e vegetais, fontes cristalinas e fertilidade. Esta é a promessa que Deus nos fez.

O rabino Dr. Harvey Fields tinha toda razão, quando excla­mou: "Sem o Messias, o empreendimento humano estaria fadado a destroçar-se na escuridão para sempre". Graças a Deus o Mes­sias está a caminho. Hoje ele salva indivíduos. No grande amanhã, ele refará a criação toda.

Em certo dia isso acontecerá. O profeta Isaías previu: "O deserto e os lugares secos se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como a rosa. Abundantemente florescerá, e também exultará de alegria, e romperá em cânticos". Sim, o mundo será como o Líbano: "A glória do Líbano se lhe deu, a excelência do Carmelo e Sarom; eles verão a glória do Senhor" (Isaías 35:1-2).

Com esse tipo de futuro à nossa espera, como crentes, e depois disso a eternidade com Cristo e os crentes de todos os tempos, num novo céu e nova terra, eu não poderia encerrar este livro sem apresentar-lhe outro convite caloroso, a você, leitor, pois quero que você esteja absolutamente certo de que pertence a Cristo. Ao sentir isto de modo tão pungente, estou apenas refletindo com exatidão aquilo que o apóstolo João sentiu. Ele não pôde simples­mente concluir o Apocalipse (a revelação) de Jesus Cristo, sem fazer dos últimos seis versículos de seu livro um convite vasado com grande poder de atração para que o leitor se arrependa de seus pecados e receba a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, um dos mais fortes apelos encontráveis em toda a Bíblia.

"Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã", é o que lemos em Apocalipse 22:16.

Jesus Cristo, o Senhor mesmo, não quer que João cometa um engano neste ponto. Depois de contemplar um panorama que cobre o passado, o presente e o futuro; depois de examinar com máximo cuidado os céus, a terra e o inferno; depois de ser apre­sentado a Deus, ao homem em toda a gama de seus atributos, dos piores aos melhores, até ao próprio Satanás — Jesus deseja regis­trar sua última palavra! Por quê? Porque, conforme lemos em Apocalipse 1:5, ele é aquele que, acima de todos, "nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados", sangue derramado na cruz para livrar-nos de nossos pecados, e adquirir nosso perdão e nossa paz.

Jesus é, portanto, aquele perante quem tanto de imediato, como no fim, prestaremos contas. Posteriormente, naquele pri­meiro capítulo (versículos 17-18), o Senhor garante-nos: "Eu sou o primeiro e o último. Eu sou o que vivo; fui morto, mas estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do inferno".

Em Apocalipse 3:20, Jesus aproxima-se mais e declara: "Aqui estou eu! Estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei e cearei com ele, e ele comigo". Jesus está dizendo a você, agora mesmo, que se você nunca o aceitou como Salvador e Senhor de sua vida, não só você precisa recebê-lo agora, mas pode recebê-lo agora! Muitos dizem: "Não há necessidade". Todavia, a bondade de Deus deveria levá-lo ao arrependimento.

Quando, porém, dificuldades e problemas difíceis penetram em sua vida, Deus pode usar tais tribulações a fim de mostrar a você quanto você precisa de Cristo em todas as circunstâncias. Tais dificuldades podem assumir a forma de um desapontamento comercial, uma reviravolta em sua vida amorosa, um casamento fracassado, uma tristeza, uma tragédia, um relacionamento rom­pido ou prejudicado, sem esperança, magoando você e um ente querido muito próximo, um pai ou um filho. Pode ser a degrada­ção rápida ou gradual de sua própria saúde. Seja qual for o seu desapontamento, é o desapontamento do Senhor!

 

Deus opera entre nós

Os planos de Deus não são abstratos, ou obscuros. Não são secretos. Diz o Senhor com toda clareza: "Eu te amo!" O Senhor chamou dezenas de milhares de pessoas por todo o mundo a fim de proclamar seu amor ao mundo, a fim de chamar cada homem, mulher e criança para seus braços amorosos. Para exemplificar o exército de Deus que marcha, neste momento, pelo mundo todo, não consigo lembrar-me de um exemplo melhor do que os milha­res de "pregadores descalços", e outros evangelistas itinerantes que ajudamos a treinar em Amsterdã, durante a década passada.

A Conferência Internacional de Amsterdã para Evangelistas Itinerantes, em julho de 1983, foi um ministério e um curso de treinamento de dez dias. Cerca de 70 por cento dos participantes daquele primeiro evento eram de países do Terceiro Mundo. O objetivo original era convidar 2.500 jovens evangelistas para uma série de seminários práticos. Todavia, mais de 11 mil se candida­taram e por fim cerca de 4 mil foram convidados.

Voltamos a Amsterdã três anos depois e tivemos a mesma reação entusiástica — talvez maior ainda. Pregadores, professo­res, estudantes e auxiliares de missões chegaram de todas as partes do mundo. Milhares vieram da África — pessoas que, em muitos casos, nunca haviam viajado mais do que alguns quilóme­tros para longe de suas vilas — e ei-las espantadas, não só diante da comunhão entre os crentes oriundos de mais de 170 países e territórios, mas também à face da primeira visão da cultura euro­peia. Vieram de todas as partes da Ásia, da América Latina e do Leste da Europa, e saíram pelas ruas de Amsterdã para ver, aprender e partilhar o amor de Jesus Cristo com outras pessoas.

Nunca vi antes um derramamento apaixonado do Espírito de Deus. No Pentecoste, descrito no segundo capítulo de Atos, o Espírito de Deus desceu com o som de um vento poderoso, e com línguas visíveis como de fogo. Havia eletricidade no ar, naquela primeira visitação do Espírito de Deus à igreja cristã, mas em Amsterdã sentimos algo igualmente eletrizante e inspirador. Houve momentos em que não se via uma pessoa que não estivesse chorando, naquela casa.

Hoje, aquele exército de pregadores itinerantes de todas as partes do mundo está caminhando de vila em vila, e de casa em casa, pregando as boas novas do amor de Deus. Por que o fazem? Por dinheiro? Não, quase não recebem sustento pelo trabalho que executam. Dão-se por muito felizes se dispõem de uma bicicleta, uma Bíblia, e uma muda de roupa. Fazem-no por fama, ou por fortuna? Não há uma nem outra. Na maioria dos casos, só Deus sabe que trabalhos excelentes esses pastores humildes e sinceros realizam.

Eles trabalham por que Jesus Cristo vive! O Senhor vive em seus corações, e as boas novas são algo digno de partilhar com o mundo. Sentem-se compelidos pela Vida que neles habita a falar a todos que Jesus é o Senhor. Se Jesus Cristo não é o Filho de Deus, nada mais importa. Todavia, se ele é, nada mais importa!

Está o Senhor Jesus batendo à porta de seu coração, hoje? Se alguém vier à sua casa e bater à porta, você pode abrir a porta e convidar a pessoa a entrar, ou você pode menosprezar a batida, de modo que o visitante vai embora. Assim acontece quando Jesus bate à porta de seu coração. Você pode baixar a cabeça, quer esteja num avião, numa cela de prisão, num escritório, num quarto de hotel, numa cama de hospital ou na privacidade de seu lar; você pode abrir seu coração para Cristo, mediante uma simples oração de fé. Jesus Cristo é a personificação do evangelho, das boas novas. Ele é maior do que "O Homem do Ano". Ele é o maior persona­gem, a notícia mais importante de todos os tempos!

Gosto muito dessas palavras daquela santa cristã que agora está com o Senhor, Corrie ten Boom. Corrie era holandesa, e fora aprisionada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, porque escondera alguns judeus em sua casa. Todos os membros de sua família morreram em campos de concentração alemães. Em seu livro, Amazing Love (Maravilhoso Amor), ela faz esta pergunta:

Se eu ajeitar os quadros nas paredes de sua casa, não estou cometendo pecado algum, estou? Mas, suponha que sua casa esteja pegando fogo, e eu continue calmamente ajeitando os quadros. Que é que você diria? Será que você apenas me consideraria meramente doida? ou muito perversa?... O mundo está incendiado, hoje. Que é que você está fazendo para apagar esse incêndio?

Eu gostaria de reformular essa pergunta assim: Se Jesus é Senhor (e ele é Senhor), e eu não lhe disser isso, que é que você diria? Você me consideraria meramente doido, ou muito perver­so?

Assim foi que estas boas novas tornaram-se realidade no passado, pelo amor eterno de Cristo, e pela sua morte na cruz, em nosso lugar. No presente momento, ele nos bate à porta do cora­ção, procurando tomar posse de nossa vida, não apenas para nosso benefício eterno, mas — é incrível — para benefício do pró­prio Senhor. Jesus deseja mostrar-nos ao resto do mundo como exemplo do que sua graça pode realizar.

No Apocalipse 4:1 vemos o futuro descortinado pelos olhos de João: "Vi que estava uma porta aberta no céu, e a primeira voz que ouvi, como de som de trombeta falando comigo, disse: Sobe para aqui, e te mostrarei as coisas que depois destas devem acontecer". Jesus nos concede por antecipação um panorama do céu que ele foi preparar para nós.

 

Liberdade de escolha

Você pode perguntar: E se eu rejeitar a Jesus Cristo e preferir continuar no pecado? Ele é tão amoroso e carinhoso que o adver­tirá sobre os perigos dessa decisão. Em Apocalipse 21, o Senhor deixa bem claro que "aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abo­mináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre". A seguir, o Senhor nos assegura: "E a segunda morte" (Apocalipse 21:8), e portanto, "Eu, Jesus enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas" (Apocalipse 22:16).

A mesma voz poderosa do Espírito Santo que se movimentou entre nós, em Amsterdã, está falando agora a você, dizendo: "Vem!" (Apocalipse 22:17).

Seria completamente fútil que eu pregasse o evangelho, como venho fazendo a muitas pessoas, todos os anos, durante a geração passada, se o Espírito Santo não estivesse convencendo os ouvin­tes de seu pecado, e preparando-os para abrir seus corações a Cristo. Seria inteiramente fútil sua leitura deste livro se ao lê-lo o Espírito Santo não o inspirasse a um novo crescimento espiritual, ou, caso você ainda não crê, não o levasse a dar sua vida ao Senhor. Neste exato momento o Espírito Santo lhe está dizendo uma coisa: "Vem!" Vem a Cristo! Abra sua vida para a salvação e para o controle do Senhor.

No versículo 17, lemos: "O Espírito e a noiva dizem: Vem". A noiva de Cristo é sua igreja. Ela se constitui daqueles que o receberam como Senhor e Salvador. Ao obedecer, tomamos o nome de Cristo e passamos a ser conhecidos como cristãos. Nós o amamos e vivemos com ele, como Senhor nosso, excluindo todos os demais. Ele prometeu cuidar de todas as nossas necessidades. Por isso, somos a noiva! Ele é o noivo!

Outra vez o Senhor Jesus nos convida: "Quem ouve, diga: Vem" (versículo 17). Ensina-nos a Palavra de Deus: "A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus" (Romanos 10:17). Um dos versículos que mais tenho usado para conduzir pessoas a uma experiência salvadora com Jesus Cristo é João 5:24. É Jesus quem fala: "Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida". Essa é uma das promessas mais claras de toda a Bíblia sobre a aceitação de Cristo. A seguir, quando vimos a Cristo, convidamos outros com todo fervor a que também venham a Cristo. Quando confes­samos que Jesus é o Senhor de nossa vida, desejamos confessá-lo diante das pessoas que nos cercam.

"Quem tem sede, venha" (Apocalipse 22:17), diz-nos Jesus! Muita gente sofre sede atroz, crónica, sem saber como mitigá-la, sem poder mover um dedo para saciá-la. Blaise Pascal, o grande físico e filósofo francês do século XVII, notou que todos os seres humanos têm um vácuo no coração que somente Jesus Cristo pode preencher. Muitos anos antes, João escrevera em seu evangelho o que Jesus dissera a uma mulher samaritana, comprometida e confusa moralmente, ao lado do poço de Jacó: "Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Deveras, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna" (João 4:13-14).

Você está sentindo no profundo de sua alma a sede que caracteriza o ser humano, todas as pessoas que já viveram, mas de modo especial muitos dos grandes homens e mulheres da histó­ria? As riquezas não podem satisfazer essa tremenda sede. A sabedoria não pode saciá-la. Tampouco pode o álcool. As drogas não eliminam a sede. O sexo e o romance não podem saciá-la. Mas Cristo pode saciá-la! Ele lhe pede agora mesmo, onde quer que você esteja, que venha a ele. Creia no Senhor. Diga-lhe que você crê. Invoque-o, chame-o para que venha satisfazer sua sede com a água da vida eterna.

Mais uma vez, em Apocalipse 22:17, Jesus repete o convite, pela última vez, empregando as palavras mais fortes e abrangen­tes que jamais usara em seus convites: "Quem quiser, tome de graça da água da vida". Ao exortar assim, Jesus está declarando que — do ponto de vista puramente humano — a decisão por Cristo é questão que depende só de nossa vontade.

Deus fez tudo que lhe foi possível para trazer a salvação a você; nada você conseguiria acrescentar ao que o Senhor fez. Ele nos mostrou uma visão da tempestade que se aproxima, deu-nos advertências antecipadas quanto ao julgamento vindouro, para que possamos fugir da ira divina, e chegarmo-nos ao Senhor. Se você quiser salvar-se e ir para o céu, faça-o; basta que creia no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador. Se você prefere não sal­var-se e, portanto, perder-se eternamente, essa é uma decisão sua, pessoal. A semelhança daqueles homens e mulheres do Conjunto Residencial Richelieu, que desafiaram a ira do furacão assassino, Camille, por fim você também deverá decidir se prefere salvar-se ou não do furacão. No que diz respeito a Jesus Cristo, ele "deseja que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" (1 Timóteo 2:4).

 

Ele jamais o abandonará

Pedro, ao escrever o capítulo final de suas duas cartas, afiança que Cristo certamente não quer que "ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se" (2 Pedro 3:9). Não consigo imagi­nar como Deus poderia escancarar mais ainda a porta para que

você entre na família da fé. A fim de salientar que ninguém deve pensar que a salvação é algo que podemos comprar, em que podemos cooperar, ou merecer, o Senhor nos esclarece: "Aceite o dom gratuito de Deus".

Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos para viver eterna­mente. Visto que o Senhor está vivo, e pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, ele está bem aí ao seu lado, enquanto você me lê. Tudo quanto você tem que fazer é aceitá-lo, recebê-lo, entregar-se a ele pessoalmente, em seu coração, tê-lo como seu Senhor e Salvador.

Você pode dizer: "Mas eu recebi algumas pessoas em minha vida, antes, em relacionamentos que não duraram muito, e imagino se Jesus Cristo vai amar-me e abandonar-me. Será que ele vai receber-me para depois abandonar-me? Será que ele vai talvez esquecer-se até de que eu existo? Não. No penúltimo versículo da Bíblia, Jesus testifica para nós: "Certamente cedo venho". O velho apóstolo fica tão feliz diante dessa promessa que replica: "Vem, Senhor Jesus".

Quando você faz um compromisso real, significativo, com Cristo, e não um relacionamento momentâneo, mas uma comu­nhão perene, você tem em Jesus Cristo seu Senhor e Salvador para sempre. A decisão é sua; você pode escolher estar "para sempre com o Senhor" (1 Tessalonicenses 4:17).

Talvez você ainda tenha uma dúvida final. Talvez você esteja perguntando: "Mas, será que vou conseguir viver a vida cristã por mim mesmo?" Não, você não conseguirá. Mas você não vai estar sozinho, entregue a si mesmo. Cristo lhe dá sua graça, seu favor imerecido, dia após dia, a cada momento. Ele fortifica sua vida, e a enche de energia, e a dirige. O último versículo da Bíblia, em Apocalipse 22:21, promete-nos o seguinte: "A graça do Senhor Jesus seja com todos. Amém". Que mais você poderia desejar, pedir e até mesmo esperar, senão que a graça do Senhor Jesus esteja com você para sempre?

Perguntas-me como foi que eu dei meu coração a Cristo.

Eu não sei;

Veio ao meu coração um anseio profundo por ele,

Há muito tempo;

Descobri que as flores da terra murchariam e

morreriam,

E chorei, querendo algo que me satisfizesse,

E em seguida, e logo depois, não sei como me atrevi

A erguer meu coração a Deus, em oração.

Eu não sei, não sei dizer-lhe como;

Só sei que ele é meu Salvador, agora.

Anonimo

 

Permita-me apresentar-lhe uma última sugestão. Já convidei muitas dezenas de milhares de pessoas, a quem induzi a ir à frente, fazendo assim sua decisão por Cristo, em todas as partes do mundo, mediante esta simples oração: "O Deus, sou um pecador. Lamento meus pecados. Estou disposto a abandonar meus peca­dos. Recebo Cristo como meu Salvador. Confesso a Cristo como meu Senhor. A partir deste momento, desejo segui-lo e a ele servir na comunhão de sua igreja. Em nome de Jesus. Amém".

Se você deseja a certeza de sua presença eterna em sua vida, você não quer pronunciar essa oração agora mesmo? Se você pronunciou essa oração, escreva-me e diga-me como foi. Escreva para Billy Graham, Minneapolis, Minnesota 55403 USA. Nós res­ponderemos à sua carta, escrevendo-lhe e enviando alguns folhe­tos que o ajudarão a renovar, ou a iniciar sua caminhada com Jesus Cristo.

Que Deus o abençoe.

 

Pós-escrito: Nova aurora

Como o demonstraram com toda clareza os debates durante a campanha eleitoral de 1992 nos Estados Unidos, grandes mudanças estão ocorrendo no mundo de hoje: Mudanças no governo, mudanças nas atitudes públicas, mudanças em nossas esperanças e sonhos, e mudanças nas oportunidades à disposição do ser humano para realizar algo que solucione os problemas do mundo. Pessoas que antes se mantinham relutantes quanto a participar do processo político agora se apresentam em números recordes, havendo novo surto de vitalidade percorrendo a terra. Um exemplo disso foi a chuva abundante de ajuda particular derramada às vítimas do furacão Andrew.

Por entre as nuvens tempestuosas do desapontamento e de­sespero, vemos novos sinais de esperança e nova unidade de espírito. Nas últimas três décadas, temos sofrido uma época de grande turbulência. Muitas forças têm conspirado com o objetivo de dividir a nação norte-americana, separando uns dos outros os seus cidadãos. Tendências sociais diferentes têm separado ho­mens, mulheres e, de modo especial, as crianças, arrebatando das pessoas os valores tradicionais que sempre representaram a ver­dade, a segurança e a estabilidade.

Todavia, contemplamos hoje um novo movimento que visa a restauração dos valores da família e dos alicerces morais compro­vados, a fim de trazer de volta novo senso do valor e da dignidade, através da fé e do culto a Deus. Este sinal é deveras positivo, pois acredito que só um retorno à decência e à moralidade, em ampla escala, em combinação com uma nova atitude de abertura e interesse, pode impedir que sobrevenha a tempestade do Apocalipse, já à vista. Podemos usufruir esse tipo de amor ao abrir o coração a Cristo e ao permitir que o Santo Espírito nos encha e nos controle.

Se o mundo deve ser poupado do holocausto do Apocalipse de João, se quisermos evitá-lo, precisamos redescobrir o que significa amar-nos uns aos outros. Disse o apóstolo Paulo que "o fruto do Espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio" (Gálatas 5:22-23). No décimo terceiro capítulo de 1 Coríntios, Paulo prosseguiu dizendo: "O amor é paciente, é benigno. O amor não inveja, não se vangloria, não se ensoberbece. Não se porta inconvenientemen­te, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha" (1 Coríntios 13:4-8).

É claro que Paulo não está descrevendo uma emoção fraca, ineficaz e vazia. Ele identificou o amor como sendo uma fonte de poder e autoridade. Trata-se do poder último, visto ser o poder do próprio Deus. Diz-nos João: "Deus é amor. Quem está em amor, está em Deus, e Deus nele" (1 João 4:16). Paulo descreveu a virtude do amor como sendo a primeira característica e primeira obrigação do crente em Jesus Cristo, e o instrumento com que transformaremos o mundo ao nosso redor.

Afirmou o apóstolo que as profecias e os dons cessarão quan­do o reino de Cristo for estabelecido. Assim escreveu ele: "Haven­do profecias, cessarão; havendo línguas, desaparecerão; havendo ciência, passará" (1 Coríntios 13:8). Todavia, a despeito do que mais possa acontecer neste planeta, e a despeito de que outras mudanças possam sobrevir no futuro, Paulo nos assegura que "o amor nunca falha".

Eu sei que nosso inimigo, Satanás, está em atividade, tentando dividir-nos ou desanimar-nos. Com frequência nós nos dividimos em questões de somenos importância. Nossa capacidade para praticar a fé abertamente, para orar, evangelizar, falar com hones­tidade e total abertura, às vezes é ameaçada pelo mundo e ate mesmo por aqueles que se acomodaram aos padrões seculares de nossa era. Todavia, por toda a década passada percebi um início de despertamento entre os crentes evangélicos. Deus está operando no mundo; milhares de pessoas estão vindo a Jesus Cristo, aceitando-o como Senhor e Salvador, e assim estão encontrando paz com Deus.

Deus tem estado procurando as pessoas e agora elas estão procurando a Deus, em reação ao seu amor, em números recordes. Esta época é de muita atividade e de muita excitação para todos nós aqui de Billy Graham Evangelistic Association (BGEA). Mas não há tempo a perder. Vi o mesmo tipo de crescimento e de excitação na Europa do Leste, e na antiga União Soviética, os mesmos fenómenos que estamos vendo nos Estados Unidos, na Europa Ocidental, na Africa e na Ásia, hoje. Temos evidências claras do despertamento que está ocorrendo.

Vamos dar um exemplo. No último dia de nossa cruzada de cinco dias em Hong Kong, em 1990, preguei a um auditório de 49 mil pessoas, ao mesmo tempo em que outras 30 mil acompanha­vam o culto num campo esportivo das proximidades, mediante uma tela gigantesca de televisão. Mais de 5 mil pessoas foram à frente naquela noite, a fim de receber a Cristo.

Mas o fato mais espantoso foi que 100 milhões de telespecta­dores viam aquele programa em 30 nações asiáticas, com tradução para suas próprias línguas. Tivemos o apoio de cerca de 125 mil igrejas por toda a Ásia, além de 400 mil conselheiros. Distribuímos 10 milhões de exemplares de folhetos de seguimento das 70 mil apresentações via satélite e videoteipe, que nosso pessoal ajudou a organizar. Só a eternidade revelará os resultados desses esfor­ços, e dos esforços de inúmeras outras organizações e indivíduos que estão proclamando o evangelho com toda a fidelidade, nos confins longínquos do mundo.

Diz a Bíblia: "Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade" (2 Coríntios 3:17). Quando as pessoas vêm a Cristo, surge um despertamento espiritual conducente à liberdade — à libertação do pecado. As pessoas têm liberdade de servir a Cristo. Creio que foi isso que aconteceu na antiga União Soviética, na última década. O retorno à fé está dando nova forma ao mundo, e traz liberdade °nde antes havia opressão.

Ao reconsiderar cada questão, neste livro, e ao reexaminar tanto os ensinos de Jesus quanto os escritos do apóstolo João, concernentes ao fim dos tempos, foi-me trazida à memória, com muita força, a urgência e premência de todas essas questões. Estando numa posição privilegiada, nestes anos da década dos noventa, podemos enxergar os perigos reais que já ficaram para trás, e imaginar os que jazem à nossa frente. A pior coisa que uma pessoa — homem ou mulher — pode fazer é desprezar a Palavra de Deus e presumir que se trata ou de fantasia ou de hipérbole.

A semelhança do jornalista do Le Figaro que mencionei ante­riormente, que pensava que eu simplesmente assustava as pes­soas, algumas pessoas poderiam presumir que nada tão horroroso como o Apocalipse pode acontecer um dia. Todavia, devo preve­ni-las de que o Apocalipse pode acontecer, e um dia fatalmente acontecerá. O Apocalipse sobrevirá quando Deus, em sua sabedo­ria e misericórdia, decidir que este mundo não pode prosseguir nem mais um segundo em sua rebelião contra o Senhor. Todavia, até o último instante, creio que teremos o futuro em nossas mãos. Se nós nos voltarmos para Cristo e, com sua ajuda, mudarmos nossa vida, de modo que nos conformemos à vontade de Deus, podemos prolongar os dias do planeta terra.

O propósito destas advertências sobre tempestade à vista não é alarmar as pessoas sem uma razão sensata. Não escrevi estas coisas a fim de produzir pânico, ou criar incertezas, mas com o objetivo de oferecer a maravilhosa esperança de Jesus Cristo, como aquele que verdadeiramente pode trazer uma aurora nova, gloriosa, a toda a humanidade. Se você foi levado a uma com­preensão melhor da promessa de uma nova vida em Cristo, e um compromisso mais firme com o Senhor, mediante a leitura deste livro, ele terá cumprido seu propósito.

Não existe maior alegria do que a proveniente da paz e da segurança de sabermos que, seja o que for que o futuro nos traga, estamos seguros nos braços amorosos do Salvador. Ainda que o mundo se afunde em tempos perigosos; ainda que o anticristo se levante a fim de desencaminhar e destruir; ou ainda que venha­mos a testemunhar o desabrochar total do Apocalipse, entre nós, podemos descansar de modo completo em Cristo, visto que todos quantos vêm a ele em fé e humildade, pertencem ao Senhor, e nada, ninguém, pode arrebatar-nos de seu reino eterno. Temos perfeita segurança no amor de Cristo. Se você voltar-se para ele agora mesmo, e procurar em nome de Cristo trazer renovação e restauração a este mundo esfacelado — mediante o poder do amor de Deus — ainda poderemos exorcizar as negras nuvens de advertência.

Aconteça o que acontecer, há esperança no horizonte. Jesus Cristo é nossa única esperança. Ele é nossa esperança quanto ao futuro, e é nossa esperança agora mesmo. Até entre as tempesta­des de nosso dia a dia, Cristo pode conceder-nos paz e alegria. Cristo nos prometeu — e ele não mente — que estaríamos seguros nas mãos de Deus, ao conhecermos a Cristo e a ele nos entregar­mos.

Nossa paz não decorre de nossas circunstâncias, visto que elas mudam e, às vezes, tornam-se difíceis, sumamente dolorosas. Nossa paz advém de Cristo, e da certeza inabalável em suas palavras: "Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém poderá arrebatá-las da minha mão" (João 10:28). A promessa de Jesus para você é certa: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou... Disse-vos estas coisas para que em mim tenhais paz. No mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo" (João 14:27; 16:33).

Cristo é a luz do mundo. Uma nova aurora está surgindo, neste momento. Tendo essa promessa, eu o admoesto, leitor, a que ponha sua esperança naquele que tem nas mãos o futuro. Agarre-se com firmeza às promessas do Senhor, não importando que tempestades estejam à vista.

 

                                                                                Billy Graham  

 

 

                      

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