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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UM CASO ESCANDALOSO / Anna DePalo
UM CASO ESCANDALOSO / Anna DePalo

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

3° livro - UM CASO ESCANDALOSO

 

 

Não por acaso, a herdeira Summer Elliot tem um plano que precisa realizar em cinco anos: casar, ter filhos e ser uma pródiga repórter de uma das revis­tas da Editora Elliot. Entrevistar o maior astro de rock do momento, Zeke Woodlow, é apenas uma pequena parte disso. Mas se apaixonar por ele defi­nitivamente não é. Quando Summer posa como Scarlet, sua irmã gêmea, atraente e fatal, para con­seguir a desejada entrevista, o mundo vira de cabe­ça para baixo!

A farsa não teria sido descoberta se os jornais não tivessem estampado uma foto de Summer com Zeke. Agora ela tem muitas explicações a dar a Zeke, à irmã, à família, e resolver um pequeno problema com seu noivo...

 

 

 

 

Ela precisava daquela entrevista. Sua carreira depen­dia disso. Seu plano dependia disso. E, pelo que po­dia ver, tudo que estava em seu caminho eram alguns guardas de segurança musculosos, a falta de um cra­chá de imprensa para entrar nos bastidores e quase vinte mil fãs frenéticos de Zeke Woodlow.

Summer olhou para Zeke no palco. Mesmo de seu assento, doze fileiras atrás, o carisma dele era palpá­vel. O jeans azul e a camiseta preta justa delineavam um físico esbelto e musculoso. Os cabelos castanhos escuros desalinhados e longos, na altura do colarinho da camisa, enfatizavam a imagem de rebelde.

Mas era o lindo rosto dele que realmente enlou­quecia as fãs. Summer gostaria de capturar aquele rosto fascinante com sua câmera.

Naquele exato momento, Zeke pareceu olhá-la diretamente, e Summer prendeu a respiração. A cone­xão durou apenas um instante, mas a intensidade foi tamanha que ela sentiu um arrepio percorrer seu cor­po, do topo da cabeça aos dedos dos pés.

Somente quando ele desviou o olhar, ela conse­guiu soltar o ar que estivera prendendo.

Não havia dúvida quanto àquilo. A atração sexual que Zeke Woodlow exercia sobre as mulheres era po­tente demais.

Não que aquele homem fosse o seu tipo, claro. Summer olhou para a própria mão e fitou seu anel de noivado com um diamante de dois quilates.

De jeito nenhum.

Quando, mais uma vez, foi empurrada pelas fãs, suspirou de maneira impaciente e olhou ao redor.

Madison Square Garden. Um dos principais locais de eventos de Nova York. Aquele era o palco de con­venções políticas, inumeráveis eventos esportivos e testemunhas da história. Frank Sinatra, Elvis Presley, Rolling Stones, Elton John, Bruce Springsteen... e agora Zeke Woodlow, vencedor do Grammy, sensa­ção do rock e atual febre do mundo musical, cujo úl­timo CD, Falling for you tinha ganhado o prêmio diamante por ter vendido mais de dez milhões de có­pias.

Summer tinha todas as informações sobre Zeke.

Sabia que crescera em Nova York, mas agora morava numa mansão em Beverly Hills. Que se tornara fa­moso pelo conteúdo sexy das letras de suas músicas. Que tinha ajudado a iniciar o projeto Músicas para a Cura, baseado numa série de shows no Madison Square Garden, com lucro revertido para uma bem-sucedida campanha contra o câncer.

Mas embora ela conhecesse os fatos, não tinha acesso a Zeke, e, infelizmente, estava determinada a cavar uma entrevista com ele para a The Buzz. Há meses vinha pensando numa maneira de conseguir uma promoção no trabalho. Seu avô paterno, Patrick Elliot, acreditava que mesmo os parentes deviam tra­balhar para subir dentro do império editorial da famí­lia.

Então, quando Summer tinha chegado em casa certo dia e visto uma propaganda da Música Para a Cura no meio da correspondência, soube que encon­trara seu ingresso para passar de uma mera editora de texto a repórter confiável. Uma entrevista com Zeke Woodlow seria perfeita para a The Buzz, uma vez que esta se encontrava em uma séria disputa com sua ri­val mais próxima, a Entertainment Weekly, e também com as outras revistas da Elliot. Patrick Elliot havia declarado que o gerente editorial de qualquer revista do império da família que obtivesse mais lucro até o final do ano se tornaria o novo diretor geral da Edito­ra Elliot, quando ele se aposentasse.

Agora, com um bloco e uma caneta em mãos, Summer ajeitou-se na cadeira, procurando uma posi­ção melhor. Tinha ido para a casa de shows direta-mente do trabalho e sentia-se desconfortável. Seus pés, apertados em botas de salto alto, tinham sido pi­sados mais vezes do que podia contar. A calça de risca-de-giz era perfeita para o escritório, mas quente demais para locais fechados, e inadequada em meio a um mar de jeans. A gola alta também incomodava no calor gerado por milhares de pessoas dançando.

A sua volta, o público parecia mover-se como uma onda, balançando-se suavemente na área em torno do palco.

Por ser ainda apenas uma editora de texto da revis­ta, sabia que o empresário de Zeke teria rido na sua cara se ela tivesse lhe solicitado uma entrevista exclusiva com o ídolo do momento. Mas esperava que, se conseguisse se aproximar de Zeke, talvez o con­vencesse a lhe dar uma entrevista. Afinal de contas, além de ser ambiciosa, articulada e conhecedora de música, trabalhava para a revista The Buzz. Então, mesmo que sua posição não a qualificasse como im­prensa de acesso livre aos bastidores, The Buzz era um nome que abria portas.

Quando Zeke terminou de cantar a multidão en­louqueceu, explodindo em gritaria, assobios e pal­mas. Ele brincou com o público e Summer sentiu aquela voz sexy penetrando-lhe o corpo como uma carícia íntima.

— Vocês querem mais? — perguntou ele, a voz profunda e suave como seda, provocando a multidão.

O público gritou e pediu bis em resposta.

— Como? — perguntou, colocando as mãos em concha em uma das orelhas.

A multidão gritou.

— Muito bem! — Zeke gesticulou para a banda atrás de si, então passou a alça de sua guitarra elétrica sobre o ombro. A música começou e ele cantou um de seus maiores sucessos, uma balada chamada "Beautiful In My Arms".

Enquanto cantava sobre fazer amor sob palmeiras, sob o sereno, Summer sentiu-se sendo seduzida jun­tamente com o resto da multidão, acalentada em um momento mágico. Somente quando a canção acabou, a magia foi quebrada, e mesmo então, levou alguns segundos para que ela conseguisse se recompor e di­zer a si mesma que aquilo era ridículo.

Tinha de se lembrar que estava ali com um propó­sito, e apenas um propósito, e não para se tornar mais uma admiradora ardente de Zeke Woodlow.

Trinta minutos depois, quando o show terminou e as pessoas deixavam o local, Summer atravessou a multidão com agilidade, pretendendo chegar aos bas­tidores. Infelizmente, seu progresso foi detido por um guarda de segurança, alto, forte e de boa aparên­cia.

— Com licença — disse ela. — Eu gostaria de ir até os bastidores.

O segurança, de braços cruzados sobre o peito lar­go, a estudou, os olhos fixando-se diretamente no diamante do anel dela.

— Certo. Você e mais algumas centenas de pes­soas.

— Sou um membro da imprensa — murmurou ela, usando o mesmo tom de voz educado que ouvira mi­lhares de vezes da diretora da escola para moças, a qual tinha freqüentado junto com sua gêmea idêntica, Scarlet.

— Deixe-me ver sua credencial.

— Eu não tenho. Entenda...

Mas o sr. Corpulento e Imperturbável já tinha co­meçado a menear a cabeça.

— Sem credencial, sem acesso. É isso aí.

Ela queria dizer: "Podemos conversar sobre isso?" Mas como duvidava que tal técnica funcionas­se, procurou na bolsa seu cartão comercial. Então o ergueu para o homem.

— Está vendo? Sou membro da equipe da revista The Buzz. — Ela não se incomodou em identificar qual membro. — Já ouviu falar na The Buzz, não ou­viu?

O sr. Corpulento desviou os olhos do cartão para o rosto dela, não se dando ao trabalho de pegar o car­tão.

— Como já lhe disse, somente pessoas autorizadas têm permissão de entrar nos bastidores.

Oh. Summer deveria estar preparada para aquele tipo de barreira.

— Tudo bem — replicou exasperada, tentando uma última cartada. — Mas não me culpe quando ca­beças rolarem porque Zeke Woodlow perdeu a chan­ce de ser entrevistado por uma das principais revistas de entretenimento do país.

O segurança meramente arqueou uma sobrance­lha.

Virando-se, Summer saiu andando com a cabeça erguida. Na escola, a srta. Donaldson teria ficado or­gulhosa.

Certo, pensou, então não ia entrevistar Zeke no ca­marim. Todavia, sabia que ele teria de sair do Madison Square Garden alguma hora, e quando isso acon­tecesse, ela estaria lá fora, esperando persistentemen­te por ele. Não tinha passado mais de três horas sendo empurrada e cutucada pelas fãs daquele homem, por nada. Precisava da entrevista.

Uma hora depois, contudo, sentiu como se estives­se aconchegada na noite úmida e fria de março para sempre, e começou a se perguntar o quanto realmente necessitava daquela entrevista. Estava cansada, com fome, e queria ir para casa.

Começou a procurar na bolsa uma bala de menta, ou qualquer coisa que pudesse comer, até que um tu­multo a fez levantar a cabeça e notar que Zeke tinha saído.

Infelizmente, ele estava rodeado pelos produtores do show e seguranças. Apesar disso, ela se apressou, sabendo que tinha poucos momentos antes que ele entrasse na limusine e partisse.

— Zeke! Sr. Woodlow!

Naquele exato momento, o espaço em volta de Zeke se tornou frenético. Paparazzis batiam fotos e centenas de garotas pulavam e gritavam como loucas.

Summer teve de parar quando colidiu com um cor­po sólido, que mais parecia uma parede de tijolos. Ela olhou para cima e deu um passo involuntário para trás quando o policial, um dos muitos perto da limu­sine, ela agora notava, bloqueou seu caminho.

— Afaste-se — ordenou ele.

Olhando por cima do ombro do policial, viu Zeke entrar no carro. Desanimada, relaxou os ombros. Quatro horas, 27 minutos e 22 segundos. E agora, fi­nalmente fracassada.

Summer teve vontade de chorar de tanta frustra­ção. Como uma deixa, um pingo de chuva caiu no seu rosto, então outro. Olhando para cima, contraiu a face numa careta, então caminhou em direção ao ponto de táxi na Sétima Avenida. Como a chuva esta­va apertando, ela sabia que não encontraria outro táxi vazio.

Vinte e cinco minutos depois, chegou na casa de Upper West Side, que pertencia a seus avós, mas que os dois só utilizavam como uma segunda residência.

Assim que alcançou o andar de cima, onde ela e Scarlet tinham quartos separados, sua irmã gêmea saiu do quarto para cumprimentá-la.

— Como foi? — perguntou Scarlet, vestida num pijama de seda vermelho.

Olhando para o traje de dormir de sua irmã, Sum­mer pensou mais uma vez que ela e Scarlet não po­diam ser mais diferentes, apesar de serem gêmeas idênticas. Scarlet era conhecida como exibicionista, selvagem e louca, enquanto todos pensavam em Summer como uma garota sensata e metódica.

— Horrível — respondeu ela, sentando-se no sofá da saleta que dividia os dois quartos, e abrindo o zíper das botas. Libertando os pés, movimentou os de­dos com alívio. — Não sei o que me fez acreditar que eu conseguiria essa entrevista com Zeke. Nem che­guei perto dele! O homem tem mais seguranças do que o Papa e o Presidente juntos.

Ela resumiu os acontecimentos da noite para Scar­let, então deu de ombros.

—- Agora percebo que foi um plano maluco, mas preciso de um outro esquema para subir na carreira. Alguma idéia?

— É isso? — questionou Scarlet incrédula. — Simplesmente assim — ela estalou os dedos —, você está desistindo de Zeke?

— Não simplesmente assim — disse Summer, es­talando os dedos também. — Você não ouviu tudo que eu disse?

— Amanhã à noite não haverá outro show. Você ainda tem uma chance de conseguir a entrevista.

Summer costumava administrar uma dose de reali­dade para conter a exuberância da irmã.

— Não haverá uma entrevista e ponto final. Scarlet colocou as mãos nos quadris.

— Bem, com você vestida assim, não haverá mes­mo.

Summer olhou para as próprias roupas.

— O que há de errado com o jeito que estou vesti­da?

— Você está vestida como uma freira. — Gesticu­lando com uma das mãos, Scarlet acrescentou: — Está praticamente coberta dos pés a cabeça.

— Está frio lá fora — replicou ela na defensiva. — Além disso, você não está sugerindo que eu deva ir a algum lugar usando saia curta e blusa decotada, está?

— Bem, não dói.

— Certo, e suponho que ajudaria se eu pegasse emprestadas algumas roupas de seu armário — disse ela secamente.

Os olhos de sua irmã brilharam.

— É uma boa idéia.

O amor de Scarlet pela moda era bem conhecido. Ela frequentemente rascunhava desenhos, e muitas vezes confeccionava as próprias roupas. Summer a admirava por isso, embora seu gosto para vestir-se fosse bem mais tradicional.

— Esqueça.

— É perfeito! Por que não pensei nisso antes?

— No quê?

— No modo de passar pela segurança de Zeke Woodlow. Vista-se como uma tiete de rock. Eles sempre permitem que mulheres atraentes cheguem aos bastidores.

— Por quê?

Scarlet suspirou exasperada.

— Summer, às vezes, posso jurar que você nasceu com a mente de uma mulher de 50 anos. Por que você acha? Às vezes, por sexo, outras, para acariciar o ego do artista, e às vezes, é somente por publicidade posi­tiva, porque as mulheres mais tarde vão contar aos re­pórteres o que conversaram com um astro de rock.

— Oh, por favor! Você não quer que eu me vista como uma garota do tipo cabeça de vento, quer? Es­tou tentando inspirar respeito como repórter, não lu­xúria como tiete.

Scarlet virou-se.

— Tenha dó! Amanhã à noite, você irá vestida para seduzir. A parte séria pode vir depois que você estiver lá dentro. Você irá a um show de rock, não a uma entrevista na ONU.

Summer suspirou, mas, relutante, levantou-se do sofá e seguiu sua irmã gêmea. Podia facilmente ima­ginar o que Scarlet tinha em mente, e esse era o pro­blema.

Quando seus pés tocaram o solo, Summer ajeitou a postura, preparando-se para o que a esperava. Olhou para a fantástica casa de eventos quando saiu do táxi, e repetiu mentalmente o conselho que Scarlet lhe dera mais cedo.

Liberte sua deusa interior... Liberte sua deusa in­terior...

Continuou repetindo aquela frase como um mantra enquanto andava para a entrada do Madison Square Garden.

Às cinco horas, tinha deixado sua mesa no traba­lho e pegado o elevador para a diretoria da Editora Elliot, nos escritórios da Carisma, onde sua irmã tra­balhava. Scarlet a ajudara a se vestir com as roupas que haviam escolhido na noite anterior, depois fez uma maquiagem da moda e arrumou seus cabelos.

Summer não precisava imaginar sua nova aparên­cia. Vira-se no enorme espelho dos escritórios da Ca­risma por tempo suficiente.

Dramática. Sexy. Em resumo, uma pessoa diferen­te. Ela torceu os lábios. Uma pessoa diferente que se parecia muito com Scarlet. E não era de se admirar, claro, uma vez que estava vestida com as roupas da irmã, e Scarlet, por desejo ou inconscientemente, parecia pensar que sexy significava ousadia em ex­cesso.

Summer tocou os cabelos. Estavam soltos, os ca­chos pendendo em cascata até abaixo dos ombros.

Usava uma saia de camurça preta acima dos joe­lhos e botas também pretas que iam até os joelhos. Se Scarlet entendia de moda, joelhos eram altamente sexy.

Sob o casaco verde, curto e acinturado, ela vestia uma blusa vermelha colada ao corpo, e bem decota­da, que deixava à mostra parte dos seios. O rosto es­tava muito mais maquiado que de costume. Normal­mente, preferia uma aparência natural, um batom clarinho e sem brilho. Mas não esta noite. Os lábios es­tavam com um vermelho vivo e um lindo brilho dou­rado por cima.

Aparentemente, dourado nos lábios era agora a grande tendência da moda. Assim dissera Scarlet. E quem era ela para discutir? Como editora-assistente de moda da Carisma, concorrente direta da Vogue, Scarlet estava em condição de saber.

Enquanto andava pelo Madison Square Garden, Summer olhou para seu dedo sem anel. Não havia um anel de noivado na mão para denunciá-la.

Sua irmã tinha insistido para que ela deixasse o anel em casa. Quando protestou, Scarlet lhe pegou a mão e removeu o anel por si mesma.

— Não seja ridícula, Summer. Como espera fin­gir-se de tiete?

— E o que o anel tem a ver com isso? -— devolvera ela, tentando puxar a mão contra a investida de Scar­let.

— Já não falamos sobre isso? Tietes têm permis­são para entrar nos bastidores porque são jovens, sexies e solteiras. Você vai ter todo esse trabalho para depois estragá-lo com um anel de noivado?

No final, tinha deixado Scarlet tirar-lhe o anel. Mas a coisa ainda não lhe parecia correta. Sentia como se estivesse sendo desleal a John.

O sentimento era ridículo, claro. Não ia a um en­contro amoroso naquela noite. Estava apenas tentan­do conseguir que um astro de rock lhe desse uma en­trevista, usando o recurso da atração sexual. O que havia de errado com isso?

Na verdade, tinha quase convencido a si mesma. Quase.

Pensou em John novamente. Seu noivo retornaria logo da viagem de negócios, o que era bom, uma vez que eles tinham um casamento para planejar.

Summer planejava tudo com cuidado, e mantinha em dia suas metas. Ficar noiva aos 25 anos era parte do plano de cinco anos que estabelecera para si mesma.

O plano era o seguinte: aos 25, ficar noiva e conse­guir o cargo de repórter na The Buzz; aos 26, casar-se; aos 28, fazer um nome de sucesso como repórter de entretenimento e aos 30 ser promovida a gerente da The Buzz, e então engravidar.

Até agora, tudo ótimo. Ajudava, é claro, que John também tivesse seu próprio plano de cinco anos. Por esse critério, ela o escolheu dentre os homens com quem costumava sair.

Muito parecido com ela, John era sério e ambicio­so. Aos 29 anos, já era sócio de uma agência de pro­paganda e tinha uma clientela impressionante, a qual exigia que ele viajasse muito pelo país a negócios.

Ele era seu par perfeito, e nesta mesma época do ano seguinte, Summer seria a sra. John Harlan. Após nove meses de namoro, John a pedira em casamento durante um jantar romântico no Dia dos Namorados. A perfeição da proposta havia sido a última prova que ela precisava de que estava tomando a decisão certa. Tinha pensado que o Dia dos Namorados seria a data perfeita para ficar noiva, mas seu lado de garo­ta escolar bem comportada e educada não lhe permi­tira dar indiretas. Então John havia tomado a iniciati­va e proposto.

E daí se, tarde da noite, sozinha na cama, ela ex­perimentava uma ocasional onda de desconforto? Todas as noivas não se sentiam nervosas, afinal de contas?

Voltando a atenção para o show que finalmente ti­nha começado, logo se encontrou mergulhada no hu­mor sonhador em que caíra na noite anterior.

Se tivesse se sentido tentada a considerar o show da noite anterior como uma tacada de sorte, dessa vez não haveria como negar o poder de Zeke Woodlow como cantor e, mais importante, a habilidade que ele possuía em afetá-la.

Ocasionalmente, ela parava para escrever no seu pequeno caderno de anotações, procurando pelos adjetivos certos para descrever a atuação dele e no efei­to elétrico que tinha sobre o público.

Quando Zeke começou a cantar "Beautiful In my Arms", Summer novamente se sentiu transportada para um lugar mágico, e era como se ele estivesse cantando só para ela. Era quase como a sensação que ocasionalmente experimentava em uma outra cir­cunstância: quando se permitia fazer algo totalmente imprevisto. Alguma coisa que não fosse sensata de­mais, e que considerava loucura.

Ela reprimiu os pensamentos. Não fazia sentido pensar sobre isso agora. Era seu pequeno segredo. Esta noite, tinha uma missão profissional a cumprir. Desta vez, com alguma sorte, e dicas internas, de uma colega de trabalho da The Buzz, conseguiu sair da platéia no fim do show e localizar-se na metade do caminho que levava ao camarim dos músicos.

Ela tinha desabotoado o casaco. Scarlet dissera: "Mostre-lhes a mercadoria e não seja tímida". Segu­rando uma pequena bolsa de camurça em uma das mãos, se compôs quando se aproximou do primeiro guarda de segurança. Você pode fazer isso, disse a si mesma. Você é capaz.

Esboçando um sorriso brilhante, notou que os olhos do homem alto e forte a observavam com aten­ção, enquanto ela se aproximava. De repente, ele per­deu a expressão séria, substituindo-a por uma de apreciação masculina.

Bem, bem, aparentemente, Scarlet estava certa.

Sentindo-se de súbito poderosa, Summer manteve o sorriso no lugar e lançou-lhe um olhar envergonha­do.

— Estou aqui para ver Zeke. Ele pediu-me para procurá-lo quando estivesse em Nova York.

— Ele pediu?

Ela assentiu, aproximando-se mais do homem.

— Falei com Marty mais cedo. — Summer tinha se certificado de saber o nome do empresário de Zeke. Uma vez que ia mentir muito, não fazia sentido errar. — E ele me disse para vir logo depois do show.

— Você conhece Marty?

— Apenas das últimas cinco cidades. Vi o show de Zeke em L.A., Chicago, Boston... — Ela deu uma pausa, então acrescentou de modo significativo: — Nós sempre nos divertimos muito.

O guarda gesticulou por sobre o ombro.

— Terceira porta à esquerda.

Fácil assim? Ela teve vontade de chorar de alívio. Em vez disso, sorriu e murmurou:

— Obrigada.

Por um segundo, pensou que não seria difícil se acostumar a levar uma vida como uma mulher sexy e ousada. Sentia-se livre, quase impulsiva.

Diante da porta de Zeke, respirou profundamente e bateu.

— Entre — soou uma voz masculina do outro lado.

Girando a maçaneta, ela entrou no camarim leve­mente iluminado.

Do outro lado da sala, a voz dele a alcançou:

— Eu estava esperando você.

A voz pareceu infiltrar-se em cada célula do corpo de Summer. Profunda, sexy, rica e vibrante, era até mesmo mais potente de perto e pessoalmente do que no palco.

Zeke continuou de costas para ela, enquanto pega­va o celular de uma mesinha organizada e apertava alguns números.

— Estarei pronto para ir ao hotel em aproximada­mente dez minutos. Tudo bem para você, Marty?

Ela podia ver que ele ainda estava vestido com o jeans preto e a camiseta que usara no palco. O trasei­ro era lindamente definido pela calça justa, e o algo­dão da camiseta delineava braços fortes e ombros lar­gos.

Ela pigarreou. — Eu não sou Marty. Zeke virou-se e parou, olhando-a. O rosto dele era extraordinário. Bonito, sim, mas também muito expressivo. E então havia os olhos. Oh, Senhor, os olhos. Eram azuis e insondáveis como o oceano. Ela teria dito que a expressão dele se torna­ra dura, não fosse por aqueles olhos. Apesar da repu­tação de Zeke de ser grosseiro, ele tinha olhos incri­velmente doces.

Com a parte do cérebro que ainda funcionava, Summer notou que ele permanecia imóvel. Era sua imaginação ou ele estava tão perturbado quanto ela?

— Sim — murmurou ele finalmente. — Posso ver que você definitivamente não é Marty. Então, quem é você?

CAPÍTULO DOIS

 

As notas da balada soaram na mente de Zeke de novo. Era a mesma balada que soava em sua cabeça toda vez que sonhava com ela. A memória costuma­va demorar alguns momentos para desaparecer de­pois que ele acordava, mas então se dissipava completamente antes que pudesse segurá-la, escrever e compor a letra.

Dessa vez, as notas da canção soaram mais clara­mente. Era como se a mulher diante dele estivesse fa­zendo isso acontecer. Ela até mesmo se parecia com a mulher da fotografia... a mulher de seus sonhos. Era magra, porém com curvas nos lugares certos, e tinha cabelos longos e castanhos, embora de uma tonalidade mais clara do que a mulher da foto. E ele reconhe­ceria aqueles olhos verdes maravilhosos em qualquer lugar.

A maior diferença era que a mulher da foto anônima, que ele, por ficar encantado, tinha comprado numa feira de rua, estava vestida como uma deusa grega, enquanto esta à sua frente era certamente do século XXI e, sem dúvida, uma típica tiete. Ele não sabia quem era o fotógrafo ou a criatura da foto, mas tinha uma pista: a fotografia chamava-se "Daphne em cena", de acordo com a inscrição manuscrita na parte inferior da moldura branca fosca do retrato.

A consciência mexeu com Zeke, e seus músculos se contraíram. Alguma coisa naquela mulher parecia chamá-lo, despertando-lhe uma sensação completa-mente nova e desconhecida. Em seus sonhos, imagi­nava os cabelos dela espalhados sobre a cama, os bra­ços delgados e as pernas esbeltas envolvidos ao redor do corpo dele.

Sentindo que começava a ficar excitado, Zeke fa­lou bruscamente:

— Você não respondeu minha pergunta. Qual é o seu nome?

Ela desviou os olhos antes de retornar aos dele.

— C... Caitlin — gaguejou.

Ele soltou a respiração que não sabia que estivera prendendo. Então, ela não era Daphne. Entretanto, não pôde resistir à pergunta:

— Você já fez algum trabalho como modelo foto­gráfico?

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Não.

— Bem, você devia considerar isso. — Definitiva­mente não era Daphne.

Ela franziu o cenho.

— Você acha mesmo?

— Sim, acho. — Ele lhe deu um sorriso lento de apreciação enquanto se aproximava. — Você tem corpo e rosto para isso. E seus olhos são estranha­mente... cativantes. — Ele sempre se perguntara se os olhos verdes claros da mulher da foto eram reais, ou algum truque de luz ou tecnologia de computador.

— Eu poderia dizer a mesma coisa sobre você. Ele riu. Ela estava tentando fasciná-lo. Zeke se

deu conta de que ela devia ser uma daquelas tietes de rock que Marty às vezes levava aos bastidores depois do show. Garotas clamavam por acesso aos astros de rock como ele, e Marty achava que era bom para rela­ções públicas que ele parecesse acessível até certo ponto.

Se Caitlin fosse a chave para desbloquear a sua criatividade e, que coisa, pensou, mesmo se não fos­se, Zeke sabia que tinha de conhecê-la melhor. Nun­ca antes tinha experimentado uma conexão tão pro­funda com alguém num espaço de tempo tão curto. Ela era quase a personificação viva de suas fantasias.

Zeke gesticulou para o sofá.

— Sente-se. — Ele olhou ao redor. — Você quer um drinque?

— Obri... Obrigada.

Ele arqueou uma sobrancelha. Aparentemente, a deixara nervosa.

— Você está aceitando o convite de se sentar ou o drinque?

Ele observou, totalmente fascinado, quando um rubor subiu-lhe da altura dos seios até o rosto.

— Os dois — disse ela, enquanto ia até o sofá e se sentava, colocando o casaco e a bolsa a seu lado.

— Pode ser cerveja?

— Sim, cerveja está ótimo, obrigada.

Virando-se para pegar duas cervejas de um peque­no refrigerador e abrir as tampas, ele ficou intrigado com a reação dela. Geralmente, as mulheres estavam sempre prontas para se atirarem em seus braços em situações como aquela. Caitlin, entretanto, era a ima­gem da educação reservada.

 

Surpreendentemente, ele descobriu que isso o ex­citava. Então, tremeu por dentro. Precisava se contro­lar. A semelhança dela com Daphne o estava deixan­do confuso.

Entregou-lhe uma cerveja, afastou a bolsa e o ca­saco dela para o canto do sofá e sentou-se a seu lado. Por um segundo, ela pareceu não saber o que fazer com a garrafa, mas então, depois de observá-lo tomar um gole, delicadamente levou a garrafa aos lábios e tomou um pequeno gole.

Zeke sentiu aquele gole direto no seu órgão mas­culino. A sala parecia estar ficando mais quente e menor a cada segundo.

Ainda sem olhá-lo, ela rapidamente tomou um se­gundo gole da cerveja, fazendo com que mais espu­ma aparecesse perto do gargalo.

Zeke sorriu.

— Nunca ninguém lhe ensinou como beber de uma garrafa de cerveja?

— Estou fazendo isso errado?

Ele bateu a garrafa na dela num leve brinde.

— Sim — replicou com gravidade zombeteira. — Veja a espuma que está se formando.

Ela virou a garrafa de lado para ver melhor.

— Oh.

— Observe — comandou ele. — Não faça sucção. Entreabra os lábios só um pouco e não cubra toda a abertura. — Ele levou a garrafa aos próprios lábios e bebeu. E rezou para que a cerveja gelada pudesse es­friá-lo, também.

Ela ergueu a garrafa até a boca e imitou-o.

— Isso mesmo — elogiou ele com um sorriso.

Quando abaixou a garrafa, ela o olhou, e Zeke sou­be que queria beijá-la. Os lábios dela estavam pinta­dos de vermelho, mas ainda assim, pareciam inocentes e convidativos.                                                      

Na verdade, embora ela estivesse vestida de maneira provocante, alguma coisa parecia não combinar com a pessoa que ele via. Podia jurar que ela era mais do tipo de pérolas e cashmere do que couro e blusas decotadas.

— Fale-me sobre você — murmurou ele.

— O que você gostaria de saber?

Tudo.

— Você gostou do show?

— Sim. Gostei de ouvir você cantar “Beautiful In My Arms".

— Gostou? — Zeke a encarou. Era a música que tinha composto no dia que comprou "Daphne em cena". — O que você gostou da música?

Ela movimentou-se, parecendo nervosa e desvian­do o olhar.

— É apenas... bonita.

— Apenas... bonita?

— Mágica. A canção me faz pensar sobre...

— Fazer amor? — brincou ele. Ela o olhou então.

—-Não.

Zeke ficou sério.

— Estou brincando. Você conhece todas as coisas que se falam sobre fazer amor sob palmeiras? — Quando ela assentiu, ele acrescentou: — Isso parece fazer muita gente pensar em sexo.

No momento em que ela sorriu, o coração de Zeke disparou no peito.

— Não — respondeu ela lentamente. — A música me faz pensar sobre abraçar forte uma pessoa espe­cial, a pessoa que você quer abraçar nos dias mais melancólicos.

Meu Deus, a mulher o surpreendia. A maioria das mulheres parava na parte do sexo, mas então, a maio­ria não fazia parte de suas fantasias.

— Você geralmente deixa estranhos entrarem em seu camarim? — perguntou ela de repente, então pa­receu horrorizada no minuto em que as palavras saí­ram de sua boca.

Ele reprimiu um sorriso.

— Às vezes — admitiu. — Meu empresário acha que ser acessível às fãs, até certo ponto, é bom para relações públicas.

— Por isso você está aqui agora? Zeke deu de ombros.

— Faz parte do meu trabalho. Eu flerto e tento ser simpático. Geralmente, as mulheres saem daqui de­pois, contando a todos que conheceram Zeke Woodlow. Isso cria uma imagem positiva entre o público e a imprensa.

Ela assentiu.

Ele não podia acreditar que estava sendo tão ho­nesto com uma estranha, mas ela tinha o tipo de ros­to... classicamente lindo e inocente... que parecia co­municar-se com ele de maneira perfeita. Zeke sim­plesmente achava fácil lhe dizer as coisas, embora não entendesse bem o motivo. Marty, ele sabia, não aprovaria aquilo de modo algum.

— Que parte de seu trabalho você mais gosta? — perguntou ela.

— De compor músicas.

Os olhos de Caitlin se arregalaram levemente.

— Não de cantar?

— Não — replicou ele brevemente. A garota pare­cia ter um talento especial para entrar em assuntos sensíveis e fazê-lo dizer a verdade.

Pigarreando, ele gesticulou para cerveja.

— Beba.

Ela deu mais um gole.

Zeke fez o mesmo com sua garrafa, antes de ofere­cer uma pequena explicação:

— Os shows são apenas a cobertura de um bolo.

— Não é um pouco raro para os cantores de hoje em dia escreverem suas próprias músicas?

— É — concordou ele.

Ela olhou ao redor do camarim.

— E quanto às festas? Você não tem uma festa para ir depois dos shows. Não tem uma festa para ir agora, por exemplo?

— Sim, mas prefiro ficar aqui escondido com você.

Ele escutou a respiração dela acelerar.

— Ah.

Era verdade, Zeke percebeu. Ela irradiava uma aura de doçura e pureza que eram muito raras no

mundo atual.

— Às vezes, escapo das festas, especialmente quando vou ter o dia seguinte muito movimentado.

— O que você faz quando não vai às festas? Sempre havia festas em algum lugar para pessoas como ele, Zeke queria dizer. Em vez disso, admitiu:

— Aceito um convite de algum membro da equipe para um jantar familiar.

Ela sorriu, iluminando todo o rosto bonito.

Então, eles se entreolharam, até que o sorriso de Caitlin desapareceu lentamente.

Zeke mais uma vez sentiu uma incrível vontade de beijá-la.

Começou a erguer a mão para o rosto dela quando uma batida soou à porta.

Que coisa!

— Quem é? — perguntou ele, detestando a inter­rupção.

Um dos rapazes da banda pôs a cabeça para dentro da porta.

— O carro chegou. Marty pediu para que eu o in­formasse. Ele já foi para o hotel.

Zeke se levantou com um suspiro.

— Certo. Dez minutos.

Com um rápido olhar para Caitlin, o rapaz da ban­da murmurou:

— Ótimo. — E então fechou a porta.

Zeke pegou a cerveja de Caitlin quando ela se le­vantou. Os dedos deles se roçaram no processo, en­viando um estranho arrepio por todo corpo dele. Pelo olhar no rosto de Caitlin, ela tinha sentido a mesma coisa.

— Você quer ir embora comigo? — convidou ele.

 

Conte a ele, conte a ele. Conte que você está aqui para fazer uma entrevista.

Em vez disso, Summer ouviu-se dizendo:

— Tudo bem.

Ele pareceu satisfeito.

— Ótimo.

Quando ela tinha entrado no camarim, um instinto lhe dissera que era muito cedo para revelar seu pro­pósito verdadeiro, e por isso, tinha dado seu segundo nome, Caitlin, quando ele perguntara. Depois disso, as coisas haviam evoluído rapidamente para um pon­to sem retorno. Zeke obviamente pensava que ela era uma fã, e quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava corrigir o mal-entendido.

Desde que tinha entrado no camarim, Summer ha­via sentido uma emoção que nunca experimentara antes, e que era forte e poderosa, como se estivesse consciente demais do homem diante de si. No come­ço, tinha ficado nervosa e agitada, então eles haviam entrado num tipo de conversa pessoal que acontecia entre pessoas que se conheciam por uma vida inteira. Mas a coisa estranha era que ela sentia como se o conhecesse desde sempre. Talvez a sensação se de­vesse à pesquisa que fizera sobre o astro de rock, ou talvez ao fato de ter visto os shows dele e se emocio­nado com as músicas.

Todavia, olhando para Zeke agora, para aqueles olhos azuis deslumbrantes, feições definidas, ombros largos e um físico musculoso, não podia fazer o cora­ção diminuir o ritmo ou deter os arrepios que lhe per­corriam a pele.

Podia sentir que o conhecia desde sempre, mas seu corpo ainda clamava por um conhecimento carnal que era mais do que ilusão de lembranças.

Zeke pegou o casaco e a bolsa dela do sofá. Depois de entregar-lhe a bolsa, segurou o casaco para que ela vestisse.

O gesto tanto a surpreendeu quanto a agradou. Quem diria que um rockstar como ele teria os modos que valessem os cumprimentos da srta. Donaldson, professora da escola em que Summer estudara?

Virando-se, ela delicadamente deslizou os braços para dentro das mangas do casaco. Quando ele soltou a gola, suas mãos másculas roçaram-lhe o pescoço, e Summer sentiu os pêlos da nuca se arrepiarem. Ele ti­nha um efeito inebriante sobre ela, e Summer desco­briu que gostava daquilo e não queria que o efeito passasse.

Voltando-se para ele, esboçou um sorriso bri­lhante.

— Pronta? — perguntou Zeke, pegando uma ja­queta de couro de um cabide próximo.

Ela assentiu. Em algum ponto... em breve, muito em breve, sabia que tinha de contar-lhe que era repór­ter e queria uma entrevista. Enquanto isso, todavia,, podia conseguir algum tempo a fim de descobrir o momento certo para tal revelação.

Zeke liderou o caminho pelo corredor, até uma área atrás do palco do teatro. Guarda-costas e seguranças logo se aproximaram, um deles abrindo uma porta que levava ao lado de fora, onde ela foi atingida por uma rajada do ar frio de março.

Olhando em volta, Summer percebeu que ainda estavam em uma área fechada, embora o caminho desse para a rua.

— Onde estamos? — perguntou.

Ele devia ter notado seu tremor porque indagou:

— Com frio? — E então colocou um braço em vol­ta dela quando a limusine parou diante deles.

Summer tremeu de novo, embora não fosse apenas de frio.

Quando ele a olhou, os cantos da boca esculpida se curvaram num pequeno sorriso.

— Para responder a sua pergunta, esta é a nossa saída “secreta". O caminho leva direto a um estacio­namento para carga e descarga de equipamentos. Tanto o caminho quanto o estacionamento limitam o acesso do público.

— Não foi por aqui que você saiu ontem à noite — comentou ela, e então enrubesceu de vergonha.

Ele sorriu.

— Esteve me observando, não?

— Talvez. — Pressionada contra ele, Summer es­tava muito consciente do calor que emanava de Zeke. Trêmulo e desejoso, seu corpo apenas queria se acon­chegar mais.

— Ontem à noite, eu saí pela entrada do clube. Subi para alguns boxes particulares depois do show, para agradecer alguns dos grandes doadores para o evento. — Ele piscou. — Isso vale para futuros esfor­ços de levantar fundos.

— Ah. — Em sua ingenuidade, ela presumira que a maioria dos astros saía pela porta principal dos clu­bes. Agora, percebia que tê-lo visto saindo na noite anterior tinha sido pura sorte.

— E claro — disse ele, ainda sorrindo — que isso teve o benefício adicional de encontrar alguns fãs e papparazzis. — Zeke gesticulou para a limusine pa­rada na frente deles. — Uma vez que o carro esteja na rua, não surpreenda se houver fotógrafos tentando ti­rar fotos através dos vidros blindados do carro.

— Isso parece terrível. — Não apenas parecia ter­rível, como ela sabia que era terrível. Embora sua vida não fosse nada parecida com a de Zeke, como membro de um clã rico e poderoso como os Elliot, Summer tinha tido alguma experiência com fotógra­fos tirando fotos indesejadas suas.

Um guarda com um walkie-talkie na mão se apro­ximou e abriu uma das portas de passageiro para eles.

— Entre primeiro — disse Zeke.

Uma vez que estavam dentro do carro e em movi­mento, ela perguntou:

— Aonde nós vamos?

— Para o Waldorf-Astoria — disse ele. — Sempre me hospedo lá quando estou na cidade.

Oh. Ela só rezava para que não encontrasse ne­nhum conhecido de seus avós ou um dos outros El­liot. Vestida como estava e na companhia do famoso roqueiro rebelde Zeke Woodlow, definitivamente fa­ria algumas sobrancelhas se arquearem em surpresa.

Assim que a limusine passou pelos guardas de se­gurança e chegou à rua, flashes começaram a dispa­rar, exatamente como Zeke tinha previsto. Felizmen­te, o sinal da esquina estava verde, então a limusine foi capaz de passar antes que alguém pudesse pres­sionar a câmera contra a janela do carro. Summer es­perava fervorosamente que ninguém tirasse uma foto sua.

O Waldorf-Astoria era uma questão diferente. Quando eles chegaram na porta de entrada, guardas de segurança e produtores do show saíram de um car­ro que havia precedido a limusine rumo ao hotel.

Summer logo se sentiu grata pela proteção extra. No momento em que ela e Zeke desceram do carro e chegaram à porta da frente do hotel, diversos guardas tinham afastado os fotógrafos e fãs frenéticos.

Summer manteve a cabeça baixa e tentou esconder o rosto com a gola do casaco e com uma das mãos que colocou sobre os olhos. Não queria ser tão óbvia so­bre evitar fotografias, porque não gostaria que Zeke ficasse desconfiado. Por outro lado, nem mesmo que­ria pensar nas repercussões da foto deles no New York Post, na manhã seguinte.

Uma vez que estavam dentro do hotel, Zeke cami­nhou para o elevador.

Ele a olhou com expressão divertida.

— É tímida diante das câmeras?

— Eles sempre sabem onde você está hospedado? — perguntou ela exasperada.

Ele deu de ombros.

— Eles sempre sabem. É claro, em Nova York, fico sempre no Waldorf, então não é muito trabalho adivinhar.

— E os guarda-costas nunca o deixam? Zeke lhe lançou um olhar dissimulado.

— Você está prestes a descobrir — disse quando entrou no elevador atrás dela, apertou um botão e es­perou as portas se fecharem.

No espaço confinado, Summer mais uma vez ficou muito consciente dele, daquela aura masculina que a fazia sentir-se sexualmente atraída, como nunca se sentira antes.

— Onde estamos indo? — perguntou ela, tentando manter o tom de voz neutro.

Para minha suíte — replicou ele no momento em que as portas do elevador se abriram novamente.

Conte-lhe, conte-lhe. Realmente já tinha passado da hora para que ela esclarecesse o que estava fazen­do lá. Eles estavam indo para o quarto de hotel de Zeke Woodlow!

Entretanto, as palavras não saíam. Sentia-se presa a uma estranha excitação que parecia existir entre os dois.

Eles passaram por outro guarda de segurança, cujo trabalho era evidentemente assegurar que nenhum hóspede não convidado chegasse à porta de Zeke... e então, estavam dentro da suíte.

Música clássica soava no espaço. Seguindo-o por um longo corredor, ela parou na entrada de uma imensa sala enfeitada com um grande candelabro. Havia uma mesa de jantar grande o bastante para aco­modar 12 pessoas no fim da sala, enquanto uma larei­ra, sofás e poltronas ficavam no outro canto.

A decoração era de bom gosto e não desalinhada e desorganizada, como Summer esperava das acomo­dações do quarto de hotel de um astro de rock.

— Agora, você entende por que sempre fico no Waldorf — comentou ele com um pequeno sorriso, jogando a jaqueta numa poltrona próxima.

— Mmm — murmurou Summer, enquanto ele pe­gava-lhe o casaco e a bolsa.

Ela estava acostumada ao luxo. Tinha crescido cercada por muito luxo e conforto. Apenas não espe­rara isso do quarto dele, mas, uma vez que Zeke tinha todas as razões para acreditar que ela estaria impressionada, Summer evitou dizer alguma coisa compro­metedora.

Zeke parou a centímetros dela, e eles se entreolha­ram.

— Se quiser usar o banheiro para se refrescar — começou ele, quebrando a tensão —, fica no fim do corredor, do lado direito.

— Obrigada.

A voz dela soava sem fôlego em seus próprios ou­vidos. Precisava de tempo para pensar, tempo para decidir o que fazer.

Enquanto continuou imóvel, parecendo incapaz de falar ou fazer alguma coisa, Zeke se aproximou mais.

Summer sentiu um calor subir-lhe às faces.

— Eu... eu volto já.

Enquanto ia em direção ao banheiro, criticou-se pelo modo com que continuava gaguejando. Poderia parecer mais emocionalmente desequilibrada?

Atrás de si, ouviu-o dizer:

— Eu vou trocar de camisa.

— Claro. — Ela tentou parecer indiferente, mas sentiu cada passo dele atrás de si.

Summer parou no corredor estreito antes de abrir a porta do banheiro, e virou-se, quase colidindo com Zeke no processo.

Ele segurou-a para que ela não caísse, e os dois pa­raram, as mãos fortes sobre a parte superior dos bra­ços de Summer.

Os olhos dele, ela notou mais uma vez, eram do azul mais incrível que já tinha visto na vida.

— Eu venho querendo fazer isso — murmurou ele com voz rouca.

— O quê? — sussurrou ela, tremendo.

— Isso. — Zeke abaixou a cabeça e beijou-a.

O beijo foi elétrico, e Summer o sentiu pelo corpo inteiro.

Quando ele se afastou, disse:

— Isso parece loucura, mas sinto como se conhe­cesse você. Como se a conhecesse antes desta noite, quero dizer.

— Não é loucura. Eu me sinto da mesma maneira — confessou ela timidamente.

Como poderia explicar? Era loucura. Entretanto, sentia como se o conhecesse, como se estivesse espe­rando por aquele momento sua vida inteira.

Ele inclinou a cabeça de novo, e ela esperou pelo já familiar aroma e sabor de Zeke.

O beijo desta vez foi uma dança lenta e erótica, e Summer se viu encostando contra a parede para apoiar-se.

Ela tremeu quando ele aprofundou o beijo, e abriu-se para ele, deslizando as mãos pelo peito largo, e en­tão pelos ombros, a fim de puxá-lo para mais perto. Pressionada contra aquele homem maravilhoso, sen­tiu cada centímetro do corpo esbelto e musculoso, desde as coxas grossas e firmes, até o peito sólido.

Os lábios dele abandonaram-lhe a boca para trilhar beijos ao longo de seu queixo e então no ponto sensí­vel atrás da orelha. Quando os lábios sensuais trilha­ram a delicada concha da orelha de Summer, um ge­mido escapou-lhe da garganta.

Ela sentiu uma onda de puro desejo. Nunca tivera adoração por astros de cinema e celebridades, como outras mulheres tinham. Agora, todavia, confrontada por um verdadeiro astro de rock, sua resistência se desfazia como uma casa de areia.

Zeke deslizou as mãos pela lateral de seu corpo, pelos quadris, então pelas costas, apertando-a contra si. Eles pareciam se encaixar com perfeição.

— Nós temos de parar — murmurou ela com fra­queza.

— Certo — disse ele, enquanto beijava-lhe o pes­coço.

Ela virou a cabeça de lado para dar-lhe melhor acesso.

— Isso está errado.

— Mas parece tão certo.

Summer não podia discutir com aquela lógica.

— Tenho visto você em meus sonhos — sussurrou ele.

— Isso é adorável.

Ele riu contra o pescoço dela. Um som rouco que a excitou mais ainda.

— Tem sido adorável. — Zeke ergueu a cabeça e fitou-a nos olhos. — Mas a coisa real é melhor ainda.

Ele segurou-lhe o rosto e deu-lhe um beijo ardente. Quando ele finalmente levantou a cabeça, ambos estavam respirando com dificuldade.

— Você confia em mim?

Ela assentiu com um leve gesto de cabeça.

Zeke abaixou-se e, deslizando um braço por baixo dos joelhos de Summer, levantou-a como se ela não pesasse mais que uma pena.

Então inclinou a cabeça para um outro beijo, antes de dirigir-se para o quarto no fim do corredor.

A sensata Summer Elliot de todos os dias teria en­trado em pânico a essa altura. Esta Summer Elliot, contudo, podia apenas sentir a maravilhosa sensação de antecipação.

Liberte sua deusa interior... Liberte sua deusa in­terior.

Sim. Tudo aquilo era porque usava roupas diferen­tes naquela noite, racionalizou. Suas inibições tam­bém tinham se evaporado mais rápido que a água no deserto.

Ouvir todas as lindas baladas de Zeke e depois es­tar em sua presença, ouvindo aquela voz profunda e sexy, fitando aqueles olhos azuis espetaculares, sen­tindo os toques sensuais dele, haviam acabado com todas as suas defesas.

Ele a carregou para um quarto decorado de manei­ra sofisticada, e sentou-a na beira da cama king size.

Os dedos dele foram para a bainha da blusa dela.

— Você não se importa que eu tire isso, certo? Sinto necessidade de tocá-la.

A tímida e sensata Summer Elliot estaria alarma­da, mas a nova e desinibida Summer apenas disse:

— Por favor.

A blusa saiu e ele a jogou de lado, os olhos brilhan­do de apreciação quando viram o sutiã meia taça cor de vinho.

— Lindo — murmurou ele.

Ela tremeu em resposta à sincera apreciação de Zeke. Agora estava agradecida por ter deixado Scarlet vesti-la com sua lingerie mais sexy, a qual, não coinci­dentemente, Scarlet convencera a irmã a comprar no último passeio das duas juntas ao shopping.

Ela achara que não usaria um conjunto de sutiã e calcinha de seda e renda. Na verdade, lembrava-se de ter discutido com Scarlet na noite anterior e dito:

— Não entendo por que preciso usar lingerie sexy para o show. Afinal, ninguém vai ver o que tenho por baixo das roupas.

Scarlet tinha suspirado impacientemente.

— É tudo parte de assumir um personagem. Se você se vestir de maneira sexy, vai se sentir sexy e agir como tal.

Agora, Zeke a acariciava com a ponta dos dedos, traçando círculos em seus ombros, antes de deslizar para seus braços e, em seguida, para seus seios.

Ele abaixou uma das alças do sutiã e tocou o seio exposto, a ponta do polegar circulando o mamilo e enrijecendo-o imediatamente. A expressão no rosto dele era intensa e nublada de desejo.

Um gemido baixinho escapou da garganta de Summer. Os joelhos tremiam muito, enquanto todos os seus pontos mais sensíveis pareciam despertar. Quando ele a puxou para si e pegou-lhe o mamilo com a boca, Summer agarrou-se contra ele, deslizan­do os dedos pelos cabelos sedosos e brilhantes de Zeke.

Com uma mão, ele abriu o sutiã e removeu-o. A boca sensual moveu-se para o outro seio, enquanto as mãos se ocupavam em tirar-lhe a saia. Zonza de prazer, ela ouviu a saia cair no chão, mesmo quando se concentrava nas sensações altamente prazerosas da boca de Zeke em seu seio.

Quando ele finalmente afastou-se, estudou-a de cima a baixo e arregalou os olhos. Summer estava apenas de calcinha, meias compridas de nylon e botas longas.

Uau! — Tirando a camiseta, Zeke acrescentou em tom de brincadeira: — Suponho que terei de ficar tão nu quanto você.

Ela o observou atenciosamente enquanto ele se despia. O homem era lindo, o peito largo, reto e mus­culoso, o corpo magro e forte. Parecia uma escultura, um deus grego, e tirava-lhe completamente o fôlego.

Assim que os corpos de ambos se uniram nova­mente, uma intensa exploração começou ao meio de beijos ardentes e apaixonados.

Summer sentiu a ereção masculina.

Zeke ergueu a cabeça e sussurrou:

— Eu quero você.

— Sim.

— Você é uma fantasia se realizando.

— Aposto que sim — provocou ela, olhando para si mesma. — Botas de salto alto e meias de nylon?

— Oh, sim. — Os olhos dele brilharam. — Recos­te-se que vou ajudá-la a tirá-las.

De maneira obediente, ela se recostou na cabeceira da cama e levantou uma das pernas.

Vagarosamente e com muita sensualidade, nunca deixando os seus olhos, Zeke abriu o zíper de uma das botas e jogou-a de lado. Enrolando a meia de ny­lon, jogou-a de lado também, e pressionou um beijo ardente na lateral do tornozelo dela.

Summer nunca se sentira tão excitada na vida. Hipnotizada, assistiu-o fazer a mesma coisa com a outra perna.

Depois disso, ele tirou os próprios sapatos e li­vrou-se do resto das roupas, de modo que parasse nu diante dela, e com o membro ereto.

— Você é maravilhoso — ela não pôde evitar dizer. Ele sorriu, o semblante divertido.

— Você também. — Zeke olhou ao redor, então foi até uma sacola de mão numa cadeira próxima. Após uma busca rápida, tirou alguma coisa de dentro da sacola e voltou para a cama. — Por um segundo, pensei que não tivesse nenhum.

Ela olhou para o pacotinho na mão dele. Proteção. De repente, a enormidade do que estava prestes a fa­zer atingiu-a e Summer disse:

— Acho que esse é um momento tão bom quanto qualquer outro para lhe dizer que...

— Sim?

— Eu nunca fiz isso antes.

 

 

CAPÍTULO TRÊS

 

Summer observou quando Zeke parou e olhou-a, pa­recendo totalmente perplexo.

— Nunca?

Ela meneou a cabeça, incerta da reação dele.

— Nunca.

Então, podia jurar que o ouviu murmurar:

— Eu achei que não.

— O quê?

— Nada. — O semblante dele era levemente con­fuso. — Parece que temos algumas primeiras vezes aqui. — Zeke fez uma pausa antes de confessar: — Eu nunca fui para a cama com uma virgem.

— Oh. — Ela digeriu aquela informação por um segundo, achando difícil acreditar. No entanto, ele parecia sincero. — Nem no colegial?

— Não. — Então, ele a provocou dizendo: — Ti­rando algumas conclusões, não estamos?

Summer se sentiu enrubescer, envergonhada. Zeke prendeu-lhe o olhar.

— Não temos de fazer isso, se você não está pronta.

Lá estava, pensou Summer. Sua última chance para voltar atrás. Porém, estranhamente, percebeu que era a última coisa que queria.

— Eu ainda quero — sussurrou ela. — Eu ainda quero você.

Ele assentiu e relaxou os ombros, esboçando um sorriso sexy antes de dizer:

— Acredite-me, você não poderia me querer mais do que eu a quero neste momento.

Virando-se, ele foi para o banheiro adjacente.

— O que você está fazendo? — perguntou ela, franzindo o cenho.

— Pegando um pouco de lubrificante — disse ele por sobre o ombro. — Nós vamos precisar.

Summer sentou-se ereta na cama. Zeke retornou, colocou um tubo sobre a mesinha lateral e abriu o pacote de preservativo que pegara antes.

— Deixe-me colocar — murmurou ela, olhando-o.

— Ensine-me.

Ele engoliu em seco.

— Por favor — insistiu ela, estendendo uma das mãos.

Ele pegou-lhe a mão e guiou-a, deixando-a desli­zar o protetor sobre seu membro. Os olhos dele se fe­charam de prazer.

Summer continuou acariciando-o mesmo sobre o preservativo, e Zeke mostrou-lhe o que fazer.

— Ah — exclamou ele, abrindo os olhos, os quais estavam nublados de desejo. — Estou a ponto de ex­plodir.

Ela estendeu o braço para ele, e Zeke deitou-se a seu lado na cama, puxando-a para um abraço. Então começou a beijá-la nos lábios, depois se moveu para o pescoço, ombros e mais para baixo.

Summer sentia-se lânguida, devassa e sexy, e, um por um, seus músculos relaxaram. Aquilo era melhor que uma massagem sueca, pensou deliciada, e eles nem haviam atingido o clímax ainda.

Zeke massageou-lhe a pele, enquanto os lábios to­cavam aqui e ali, fazendo cada célula de seu corpo vi­brar de prazer.

Ela movimentou-se irrequieta sob as carícias gen­tis. Finalmente, quando pensou que não agüentaria nem mais um minuto, ele abriu o tubo sobre a mesi­nha lateral, esfregou um pouco de gel entre os dedos e começou a massageá-la intimamente.

— Oh, Zeke.

— Shh — sussurrou ele delicadamente. — Apenas sinta.

Como ela podia apenas sentir? Tremendo, apertou o braço forte e musculoso.

De modo distante, escutou Zeke cantando para ela, e então ele estava a seu lado, puxando-a para mais perto, enquanto os dedos continuavam a trabalhar com sensualidade e Summer chegava ao êxtase, tre­mendo com a liberação.

No momento em que finalmente voltou ao planeta Terra, virou-se para encará-lo.

— Agora, eu quero você — sussurrou com voz rouca.

— Fico feliz em ouvir isso. — Com o olhar inten­so, Zeke moveu-se para cima dela, posicionando-se entre as pernas delgadas. — Vou tentar não machucá-la. Apenas concentre-se nos beijos.

As mãos e lábios dele diminuíram os contatos, en­quanto continuava movendo-se para frente.

Summer se sentia completa, plena. Medo surgiu por um momento, mas antes que pudesse pensar, Zeke investiu, penetrando seu corpo.

Ela afastou-se dos beijos dele e gemeu. A dor tinha sido aguda, mas passageira. A sensação de plenitude continuava, e por baixo disso, prazer.

— Eu machuquei você? — perguntou ele, o sem­blante repleto de preocupação.

— Está melhor agora. A dor acabou logo. Ele sorriu.

— Mas isso não acabou.

Zeke começou os movimentos, e então, ensinou-a como se mover com ele, estabelecendo um ritmo len­to, enquanto sussurrava palavras de encorajamento no ouvido de Summer, e descrevia como ela o fazia se sentir.

Como virgem, é claro, ela era muito apertada, e a tensão apenas parecia crescer, enquanto ele sussurra­va perguntas íntimas no ouvido dela e lhe tirava ge­midos de prazer.

Em outra vida, Summer teria ficado totalmente vermelha de vergonha. Mas naquela noite sentia-se livre e descuidada.

Ele era absolutamente incrível e a estava arrasan­do. Cantou algumas baladas sexy no seu ouvido e Summer quase atingiu outro clímax.

O ritmo de Zeke acelerou então, assim como a res­piração. No exato momento em que ela pensou que ia ter um orgasmo, ele investiu mais uma vez, duas...

A liberação de Summer veio segundos antes do clímax poderoso de Zeke. Ele se esticou, tremeu, e então relaxou sobre ela.

Quando a respiração dos dois voltou ao normal e o coração diminuiu a velocidade dos batimentos, ela murmurou com voz rouca:

— Seu ritmo é perfeito.

Zeke deu uma gargalhada e beijou-lhe a ponta do nariz.

— Vou aceitar isso como um elogio. — Ele mo­veu-se para seu lado, passou um braço sobre ela, e aconchegou-a contra si.

Zeke acordou feliz, mas, infelizmente, a emoção foi passageira.

A luz do sol entrava no quarto. Sabia disso porque, embora seus olhos estivessem fechados, sentia um brilho cor de laranja brincando sobre eles.

Sorriu preguiçosamente.

Tinha dormido bem e tivera belos sonhos. Imagi­nara-se compondo uma música, a mesma música que o vinha torturando há meses.

Cantarolou alguns trechos. Era a primeira vez que acordava e era capaz de se recordar de alguns trechos da balada.

Sentia que havia uma razão para aquilo, e a razão estava deitada a seu lado. Ela era o motivo principal pelo qual a noite anterior tinha sido maravilhosa, ple­na e única.

Zeke mexeu o braço para alcançá-la... e sentiu o vazio. Apenas para se certificar, moveu o braço no­vamente, tateando o colchão. Nada.

Piscou e se sentou. Olhando ao redor, sua felicida­de desapareceu quando se deu conta de que as roupas dela não estavam mais lá. Não ouvia nenhum movi­mento na suíte também.

Ainda assim, com a esperança de estar errado, saiu da cama e andou nu pelo quarto.

Depois de verificar o banheiro e a sala de estar, teve de encarar dois fatos: ela partira sem ao menos se despedir ou agradecê-lo pela noite maravilhosa. E, para piorar as coisas, ele nem mesmo sabia o nome completo de Caitlin.

O estômago de Zeke se contraiu. Que coisa! Lutou contra o desejo de esmurrar a parede, até que o bom senso o dominou. Podia visualizar as manchetes no jornal do dia seguinte se cedesse à frustração. "Ro­queiro rebelde destrói a suíte do hotel".

Voltando para o quarto, passou a mão pelos cabe­los e suspirou. Precisava de tempo para pensar. Tinha de achá-la. Ela era a chave para sua criatividade. Mas não podia sair espalhando o fato de que havia passa­do a noite com uma mulher maravilhosa que conhe­cia apenas como Caitlin.

Seus olhos pousaram numa mancha de sangue so­bre o lençol da cama e ele praguejou. Ela realmente era inocente.

Ele necessitava achá-la. Sentia como se finalmen­te tivesse encontrado o que vinha procurando a vida toda, e agora que encontrara, não estava disposto a deixá-la escapar entre os dedos.

Olhou para o rádio relógio na mesinha lateral.

Ainda era cedo.

Enquanto refletia sobre o que fazer, pediu café da manhã no quarto, então foi para o banheiro, tomar um banho e se vestir. Sabia, por experiência, que não demoraria muito para que Marty e muitas outras pes­soas lhe telefonassem, a fim de agendar compromis­sos para o dia. A única coisa que o fazia se sentir um pouco aliviado naquela manhã era o fato de que a noi­te anterior tinha sido seu último show beneficente da Música Para a Cura, por enquanto.

Quando o serviço de quarto chegou, Zeke havia chegado a um único plano possível... sem ser contra­tar um investigador particular. Imaginou que Caitlin provavelmente comprara o ingresso para o show an­tecipadamente, portanto, alguém na bilheteria devia ter seu nome completo arquivado. Se ele pudesse ter acesso àquela informação...

Sentando-se, saboreou seu café da manhã de pan­quecas, ovos mexidos e bacon. Distraído, folheou o jornal local que tinha pedido para ser entregue junto com o café da manhã.

Tomando um gole de café, abriu o New York Post para ver se havia alguma menção ao show da noite anterior na coluna de fofocas... e quase derrubou a xí­cara de café.

Quando o café espirrou sobre a borda da xícara, ele pulou da cadeira para evitar se queimar.

Lá, olhando para ele, estava uma foto sua tirada por um paparazzi. Caitlin e ele entrando no elevador do Waldorf na noite anterior. A primeira linha do ar­tigo dizia: "O encontro à meia-noite da herdeira Scarlet Elliot com o roqueiro Zeke Woodlow!"

Herdeira?

O que significava aquilo?

Raiva o percorreu. Ele tinha sido enganado por uma mulher na noite anterior?

Mas não, tudo indicava que ela era realmente virgem. O sangue em seu lençol era a prova viva disso. Ainda assim, Zeke franziu o cenho, se perguntando se ela vinha mantendo uma longa fantasia sobre um astro de rock, um quarto de hotel e sobre sua virgin­dade.

Ele leu o resto do artigo. Aparentemente, Caitlin era, na verdade, Scarlet Elliot, membro da poderosa família Elliot e herdeira da Editora Elliot. Até mesmo ele já ouvira falar deles e da empresa milionária.

Se sua memória não estivesse falhando, os Elliot possuíam tudo, desde o altamente respeitável perió­dico de notícias, Pulse, até a revista sobre celebrida­des, Snap.

Bem, pelo menos agora ele sabia como encontrar Caitlin. O New York Post tinha feito o trabalho por ele. Infelizmente, agora tinha outro problema em mãos: Caitlin não era apenas mais uma tiete. Era her­deira... uma que ele acabara de deflorar, e os dois es­tavam estampados em todos os jornais da manhã.

Zeke esperava muito que o fato de a família dela estar no mercado editorial fosse uma mera coincidên­cia, e não a razão pela qual Caitlin, ou Scarlet, ou qualquer que fosse seu nome, o tinha perseguido. Caso contrário, haveria uma conta a acertar e se ele fosse pagar por algum dano causado, iria se certificar de que a mulher que se parecia com sua Daphne pa­gasse também.

Pegando o telefone, discou o número da telefonis­ta e pediu o endereço da Editora Elliot.

Summer olhava para a parede de sua sala, nos es­critórios principais da Editora Elliot.

Não podia acreditar em como sua vida tinha muda­do nas últimas 24 horas.

Desde quando se tornara tão impulsiva? Tão estú­pida? Ela tremeu com as lembranças. E o que diria a John, seu noivo?

Graças a Deus, John ainda estava viajando a negó­cios. Afinal de contas, o que poderia dizer a ele?

Oh, olá. Estou tão feliz que você voltou. Sim, sim... não, não aconteceu nada de muito diferente. Apenas perdi minha virgindade para um astro de rock. Suponho que você já ouviu falar dele. Zeke Woodlow.

Ela gemeu, inclinou-se para frente e esfregou o rosto com as mãos novamente.

Sentia-se enjoada, como se os músculos de seu es­tômago fossem permanecer contraídos pelo resto de sua vida. Sentia-se quase histérica. O que a possuíra? Em uma palavra: Zeke.

A resposta surgiu em sua cabeça de maneira es­pontânea, e ela sentiu o corpo esquentar.

Na verdade, não podia se lembrar de nada da noite anterior sem sentir-se quente. Tinha sido uma das ex­periências mais maravilhosas de sua vida. Apesar da reputação de Zeke na imprensa como um astro que trocava de mulheres tão rapidamente e com tanta fa­cilidade quanto trocava de roupas, ele tinha sido doce, gentil e tivera muita consideração. Summer não podia pensar num modo melhor de perder sua virgindade.

Entretanto, tinha ficado deitada em sua cama na noite anterior e agonizado até que o sol aparecesse, enquanto se questionava sobre o que a fizera agir de maneira tão impulsiva. Não tinha bebido muito. Cla­ro, tomara uns dois cálices de vinho no escritório da Carisma enquanto Scarlet a ajudara se vestir. Mas aqueles drinques tinham sido horas antes de ela en­trar no Waldorf, e tomara somente uma cerveja com Zeke no camarim dele.

É claro, também tinha recentemente testemunhado sua família se separando aos poucos, como resultado do ridículo desafio de seu avô. Certamente, havia muita tensão em volta da The Buzz.

Mas, a quem estava enganando? Se havia pressão a ser sentida, esta ficava diretamente sobre os ombros de seu tio Shane, que era editor-chefe da The Buzz.

Pensando em trabalho, Summer recuou quando se lembrou de ter se arrastado para o trabalho naquela manhã. Tinha chegado uma hora atrasada. Shane a vira entrar e arqueara uma sobrancelha, mas não fize­ra nenhum comentário.

Se tivesse sido produtiva desde que chegara, teria se sentido bem melhor. Infelizmente, tudo que tinha conseguido fazer fora ligar o computador, ir três ve­zes até a cafeteira, beber água e mais café, e olhai para a parede de sua sala.

Não havia como evitar a última possível explicação para seu comportamento nada característico da noite anterior: John. Nas últimas semanas, desde que ele a pedira em casamento, Summer vinha se sentindo nervosa e incapaz de reprimir a sensação de que estava cometendo um erro. Em vez de planejar se casamento, encontrava-se evitando o assunto de suas futuras núpcias toda vez que Scarlet ou sua avó o tra­ziam à tona.

Mas, tinha dormido com Zeke por causa disso, ou apesar de seu noivado com John? Estivera incons­cientemente tentando sabotar seu noivado, ou tinha sido incapaz de resistir a Zeke?

Ainda não podia acreditar que perdera a virginda­de tão casualmente, após guardá-la por tanto tempo. A sensata e formal Summer Elliot havia convencido um relutante John a esperar até a noite do casamento deles. Havia visualizado seu casamento como a cul­minação de um plano cuidadoso projetado na tela, o qual começara depois da universidade, peneirando alguns homens para encontrar "O Homem Certo". Que época mais apropriada para perder sua virginda­de do que na noite de núpcias?

Além disso, não parecera um grande problema es­perar. Sabia que se mantivesse seu plano de cinco anos, estaria casada aos 26. E, tinha racionalizado, se a cantora Jéssica Simpson fora capaz de resistir a Nick Lachey até a noite do casamento deles, ela po­deria certamente resistir a John.

Então, na noite anterior, caíra de livre e espontâ­nea vontade na cama com Zeke, depois de conhecê-lo por algumas horas. O fato ainda mais alarmante era que não tinha pensado em John. Nem uma única vez. Não até aquela manhã.

Que pessoa horrível ela era, censurou a si mesma. Devassa, suja, perversa. Estava surpresa por não ter escamas em seu corpo quando se olhara no espelho esta manhã.

Summer suspirou.

Toda vez que alguma coisa a perturbava no passa­do, sempre se voltava para Scarlet. Naquela manhã, todavia, entrou em casa quando ainda estava escuro e dormiu, e, no momento em que sua irmã foi vê-la an­tes de sair para o trabalho, em vez de conversar com Scarlet, Summer resmungou que não estava se sen­tindo bem e dormiu um pouquinho mais.

Pretendia manter a noite anterior um segredo seu. Pretendia enterrá-lo consigo, se possível, ou, pelo menos, evitar revelar os fatos pelo máximo de tempo possível. No entanto, uma vez que suas ondas cere­brais pareciam ter um piloto automático direcionado para Zeke, imaginou que não poderia esconder o fato de Scarlet por muito tempo.

Ela se levantou. Na verdade, mais dois minutos era o tempo que podia agüentar guardar o segredo só para si.

Quando chegou aos escritórios da Carisma no an­dar de baixo, foi direto para a sala de Scarlet, até que ouviu a voz de sua irmã saindo de uma sala de reu­nião próxima.

Hora errada, pensou Summer. Scarlet estava pro­vavelmente no meio de uma conversa importante com alguém.

Quando alcançou a porta aberta para a sala de reu­nião, viu sua irmã em pé, atrás de uma mesa de reu­nião, manuseando fotografias e artigos de jornal.

Os olhos de Scarlet se arregalaram quando conectaram com os dela. Sua irmã fez um movimento rápi­do com uma das mãos, indicando que Summer desa­parecesse dali.

Antes que Summer pudesse entender o significado daquilo, contudo, deu um passo à frente, e o homem parado diante da mesa virou-se.

Os olhos dela colidiram com os impossíveis olhos azuis, e a impossível expressão furiosa de Zeke Woodlow.

 

 

CAPÍTULO QUATRO

 

Zeke olhou fixamente para a mulher parada à porta. Seus olhos lhe disseram o que já tinha concluído: a mulher atrás da mesa de reunião não era a mulher com quem tivera uma noite de amor maravilhosa e inesquecível. Era aquela que estava na porta.

Tudo fazia sentido agora. Gêmeas idênticas.

Desde que tinha entrado na sala de reunião minu­tos antes, não fora capaz de reprimir a sensação de que estava com a mulher errada, apesar de sua incrí­vel semelhança com a mulher da noite anterior. Ele simplesmente não havia experimentado a mesma sensação de consciência, de plenitude... de estar liga­do a ela.

Mas que tipo de jogo aquelas duas mulheres ti­nham feito com ele? A pequena parte da mente de Zeke não consumida pela raiva notou o fato de que a mulher com a qual passara a noite estava vestida mui­to mais como ele a tinha imaginado. Não estivera er­rado quando pensara que as roupas que Caitlin usava na noite anterior não combinavam com ela. Era real­mente o tipo de pérolas e cashmere.

Ele a olhou da cabeça aos pés, antes que seus olhos se estreitassem no anel de diamante que ela usava na mão direita.

Oh, não. Ela era noiva?, pensou com amargura. Que outras surpresas o aguardavam?

Como ela continuou encarando-o, incapaz de se mover, Zeke voltou o olhar para a mulher atrás da mesa, que fizera um bom trabalho, tentando dar co­bertura à irmã.

— Scarlet Elliot, certo? — disse ele, antes de se vi­rar para a mulher cuja última vez que tinha visto esta­va espalhada nua sob os lençóis de seu colchão. — Vocês são gêmeas idênticas...

— Summer — sussurrou ela numa voz quase inau­dível.

— Bem, Summer — disse ele, fingindo falso pra­zer —, não há necessidade de parecer horrorizada. Mas tenho de perguntar, com que freqüência você e Scarlet fazem esse jogo de trocar identidades? Acho difícil acreditar que sou a primeira vítima de vocês.

— Como você me achou? — perguntou ela, igno­rando o comentário.

— Agora, essa é uma boa pergunta, não é? — de­volveu ele no mesmo tom prazeroso que usara há pouco. Então ergueu o New York Post e o abriu na pá­gina certa. — Vamos apenas dizer que tive uma ajuda inesperada.

Summer tirou-lhe o jornal das mãos e leu o artigo, os olhos se arregalando de espanto.

— Sim. Exatamente. — Ele olhou para Scarlet, en­tão de volta para Summer. — Sua irmã tentou lhe dar cobertura, mas ela não é uma boa atriz.

Scarlet irritou-se.

— Ouça, Zeke, insulte-me se quiser, mas não fique acusando minha irmã de modo tão grosseiro. Você pode pensar, apenas porque é o grande sucesso musi­cal do mundo de hoje, que pode entrar aqui e fazer acusações que quiser, mas eu posso expulsá-lo tão rá­pido que esses seus cabelos de astro de rock vão ficar desgrenhados de verdade!

Ele arqueou as sobrancelhas e zombou:

— Bem, bem, uma debutante que não se incomoda com tratamento delicado. Suponho que o traje ousa­do que Summer estava usando ontem à noite era seu?

Summer deu um passo à frente.

— Parem com isso, vocês dois. — Ela voltou-se para Zeke. — Nós precisamos conversar.

— Sim, pelo menos estamos de acordo em alguma coisa. Você me deve algumas respostas.

— Vamos para outro lugar — disse ela rapidamen­te. — Há uma outra sala de reunião no andar de cima, perto de meu escritório, que é raramente usada. Pode­mos conversar lá em privacidade.

Quando ele se virou para seguir Summer, Scarlet lançou-lhe um olhar de aviso que dizia: Cuidado. Ainda posso expulsá-lo daqui num segundo.

Ele lhe deu um meio sorriso, repleto de indife­rença.

Enquanto seguia Summer pelo corredor iluminado até os elevadores, notou que ela parecia ainda mais sexy naquela manhã do que na noite anterior.

Estava de saltos altos, pérolas e um conjunto verde de saia e blusa muito elegante. A aparência era dis­creta, entretanto, atraente. Enquanto o traje da noite anterior tinha sido chamativo e até mesmo um pouco devasso na opinião dele, este era mais recatado, e mais sexy.

Percebendo a direção que sua mente estava toman­do, refreou os pensamentos. Irritado, refletiu que, en­quanto tinha todos os motivos do mundo para estar furioso com Summer, ainda se sentia atraído por ela.

Assim que chegaram no andar de cima, notou que a decoração tinha mudado para azul-turquesa e al­guns detalhes em vermelho, com muitos vidros e cro­mados. Entendeu que estavam nos escritórios de uma outra revista do império editorial Elliot.

Como se lesse sua mente, ela virou-se e disse por sobre o ombro:

— Este é o andar da revista The Buzz.

— Deixe-me adivinhar — murmurou ele seca­mente. — Você trabalha para The Buzz. — Mais uma vez, controlou seu temperamento com o pensamento de que fora pego por algum esquema de repórteres que tentavam se promover. Marty teria um ataque de nervos quando soubesse.

— Sim — admitiu ela envergonhada. Após uma breve pausa, acrescentou: — Alguém o reconheceu quando você entrou aqui?

— Estou surpreso que você não ouviu os gritos vindo do 18° andar — replicou ele com zombaria.

Ela o olhou, atônita.

— Preocupada? — perguntou Zeke, incapaz de re­sistir à provocação. Então fez uma pausa deliberada antes de explicar: — Aqui é Nova York. É claro, qualquer um que tenha me reconhecido estava muito blasé para se importar. É por isso que as celebridades adoram Nova York.

Quando eles entraram na sala de reunião, ela fe­chou a porta atrás de si, sentou-se à cabeceira da mesa e cruzou os braços sobre o peito.

— Agora, onde estávamos? — questionou ele com um falso sorriso. Então ergueu uma das mãos, como que para impedir a resposta. — Oh, sim, você ia me explicar como esqueceu de mencionar que era repór­ter, por que saiu de meu quarto de hotel no meio da noite sem se despedir, e por que estava vestida como Scarlet. — Ele olhou para o anel de diamante no dedo dela antes de acrescentar: — Sem mencionar que você tem um noivo escondido em algum lugar.

— Ele não está escondido. Está numa viagem de negócios.

— Melhor ainda. — Zeke percebeu que sentia uma ponta de ciúme. — Imagino como o futuro sr. Summer Elliot vai se sentir quando souber que sua noiva perdeu a virgindade num quarto de hotel com um ho­mem que conhecia há poucas horas.

Ela enrubesceu.

Zeke inclinou a cabeça para o lado.

— Um pouco extremo demais, você não acha? Perder a virgindade por uma boa reportagem? Ou isso tudo foi apenas uma travessura que você e sua irmã tramaram, para sua despedida de solteira?

— Pare com isso! Não sou do jeito que você faz parecer.

— Pare com isso — ele a imitou. — É o melhor que você pode fazer? Vamos, Summer, libere a ga­rota da cidade grande. Vamos ouvir você realmente jurar.

Zeke estava furioso com ela, e ainda mais furioso consigo mesmo. Ele, que tinha uma reputação de re­belde e mal-humorado, fora usado e abusado pela "Srta. Delicada e Adequada". Os jornais teriam um dia cheio.

— Não preciso jurar — rebateu ela, agora um pouco mais agressiva. — E olhe quem está falando. Você vai para cama com uma tiete diferente todas as noites?

— Com ciúme?

— Isso é ridículo.

Ele decidiu não esclarecê-la sobre sua promiscui­dade ou falta dela. Não era um monge de forma algu­ma, mas as reportagens sobre ele eram geralmente exageradas.

Além disso, o que poderia dizer para explicar o fato de ter ido para cama com ela na noite anterior? Toda vez que eu a vejo, ouço uma sinfonia? Quão fora de moda era isso? Sem mencionar que The Supremes tinham feito disso uma música de grande su­cesso, muito tempo atrás. Contudo, estava perto da verdade. Se apenas pudesse colocar aquela bendita música no papel...

— Você mentiu para mim — disse Zeke. — Duas vezes. Primeiro, não me contando que é herdeira. Agora isso. — Ele gesticulou para a mão dela. — Você é noiva.

— Eu não menti. Ele riu com cinismo.

— Sério, Caitlin.

— É meu segundo nome — replicou ela. — Sum­mer Caitlin Elliot.

— E as pessoas geralmente a chamam pelo nome do meio?

Ela deu de ombros.

— Não, mas eu só estava tentando ganhar um pou­co de tempo...

— Um pouco de tempo até quando? — interrom­peu ele. — Até que estivéssemos na cama juntos? Até que os jornais publicassem a história?

Ela ergueu as duas mãos.

— Certo! Você tem razão. Estou errada! É isso que quer ouvir? — Summer suspirou profundamente. — Se você apenas me deixasse explicar.

— Então explique.

Summer endireitou os ombros e o fitou.

— Sou somente editora de texto aqui, mas meu objetivo é me tornar repórter. Todo mundo sabe que você é a mais recente sensação do mundo da música. Você é sempre mencionado em The Buzz e em outras revistas de entretenimento. Achei que se eu pudesse convencê-lo a me dar uma entrevista... exceto que eu sabia que você raramente dá entrevistas...

— Isso porque prefiro deixar a música falar por mim.

Então, ele estivera certo. Ela tinha estado atrás de uma entrevista. Entregara o próprio corpo por uma entrevista. Ele meneou a cabeça. Ótimo. Havia uma música ali, podia sentir isso.

Ela uniu as duas mãos.

— Eu sei que isso tudo parece terrível. Zeke franziu o cenho.

— Querida, não só parece terrível, é terrível.

Ele havia começado a se acalmar, mas estar sozi­nho na mesma sala que ela fazia seu corpo formigar de desejo. Algumas coisas ainda não faziam sentido. Para começar, ela tinha sido virgem. Agora que co­meçava a pensar com lógica sobre tudo que tinha acontecido e tudo que descobrira, aquele pedaço do quebra-cabeça simplesmente não encaixava. A me­nos, é claro, que ela também tivesse sido tomada pelo desejo.

Mantendo o tom de voz o mais neutro possível, murmurou:

— Você ainda não me explicou: por que se vestiu como Scarlet para essa trama?

Ela suspirou.

— Tentei me aproximar de você depois do show beneficente da quarta-feira, mas não consegui passar pela segurança. Scarlet sugeriu que eu teria mais sor­te se fingisse ser uma tiete. — Ela fez uma pausa. — É claro, deixei meu anel de noivado em casa.

— É claro — concordou Zeke, mas tinha uma ou­tra pergunta: — E quanto a dormir comigo?

Ela enrubesceu.

— Isso não fazia parte do plano. Simplesmente... aconteceu.

Não era a explicação que estava esperando, pen­sou Zeke, mas era alguma coisa. Tinha todos os mo­tivos para estar furioso com ela por tê-lo enganado e não revelado que era noiva. Entretanto, havia alguma coisa sobre Summer que amaciava sua alma, mesmo que inflamasse seu desejo.

Além disso, achava que o noivado de Summer não poderia ser um obstáculo tão grande se ela era virgem até a noite anterior. E então, havia a questão da músi­ca. Com esse pensamento, uma idéia começou a se formar.

Ela piscou rapidamente.

— Eu lhe devo um grande pedido de desculpas. Nunca tive a intenção de enganá-lo. Ontem à noite, fiquei esperando pelo melhor momento para lhe dizer por que eu estava lá, mas o momento nunca chegou. — Ela respirou profundamente. — Sinto muito.

Zeke olhou para baixo por um instante, então de novo para ela.

— E se eu disser que concordo em lhe dar uma en­trevista?

Os olhos de Summer se arregalaram.

— Você faria isso? Mas... porquê?

Os lábios dele se curvaram num sorriso.

— Talvez eu nunca tenha conhecido alguém que enfrenta tanta coisa apenas para se aproximar de mim. — Ou, na verdade, acrescentou silenciosamen­te, ir para minha cama.

Summer pareceu incerta por um momento.

— Bem? — disse ele. — Que tal?

— Nós dormimos juntos!

Ele deu de ombros e se certificou de manter a voz neutra.

— E daí? Isso é passado, embora um passado mui­to recente, e não é como se tivéssemos um relaciona­mento sério. Ademais, isso é um negócio de entrete­nimento, não geopolítica global. Ninguém hesita em usar cada conexão, não importa qual seja o resultado. E, de qualquer forma, a imprensa pensa que eu estava com Scarlet ontem à noite, não com você.

Summer olhou para baixo, absorvendo as palavras dele, e Zeke descobriu-se prendendo a respiração.

Na luz da manhã que entrava através das janelas da sala, ela parecia deleitável, e ele se sentiu como o Lobo Mau. Na noite anterior, não saciara seu desejo por ela. De maneira alguma.

Finalmente, ela o encarou com aqueles incríveis olhos verdes claros.

— Tudo bem — disse, e então acrescento* — Obrigada.

Zeke exalou o ar que estivera segurando. A sedu­ção de Summer Elliot tinha começado, apenas ela não sabia disso ainda.

— Você dormiu com ele? — Scarlet estava total­mente boquiaberta.

— Fale um pouco mais alto — zombou Summer secamente. — O pessoal da mesa da frente não a ou­viu.

Elas estavam sentadas na lanchonete dos funcio­nários no quarto andar da GEE, onde as duas irmãs gêmeas frequentemente almoçavam juntas. A lan­chonete era uma escolha mais rápida e mais cômoda do que enfrentar as ruas congestionadas de Manhattam durante o horário do almoço.

— Você não contou a ele que estava lá como re­pórter? — persistiu Scarlet, inconformada.

— Eu... Nós realmente não chegamos a essa parte.

— Vocês não chegaram a essa parte? — ecoou sua irmã.

 

Sob outras circunstâncias, Summer teria achado aquela cena engraçada. Pela segunda vez no dia, ti­nha conseguido pasmar alguém: no momento, Scarlet, que ela sabia que geralmente era imperturbável, e, mais cedo, Zeke, que certamente parecera bastante perturbado. Uma vez que era uma garota sensata e que jogava de acordo com as regras, aquele era um dia totalmente novo para ela. Em voz alta, perguntou:

— Você nunca dormiu comum homem no primei­ro encontro?

— Nunca.

— Nunca?

Scarlet meneou a cabeça.

Aparentemente, pela primeira vez, ela havia supe­rado a ousadia de sua irmã gêmea. Não sabia se ria ou chorava, o que era um outro sinal, supôs, de que esta­va beirando a histeria.

— De qualquer forma — continuou Scarlet, com a salada à sua frente esquecida —, isso não se trata de mim, e não apenas de dormir com um homem. Isso é sobre perder sua virgindade com um astro de rock que mal conhece, quando você disse por anos que es­peraria por sua noite de núpcias.

Summer sabia que embora Scarlet nunca tivesse entendido nem aceitado seu voto de celibato, respei­tava isso. Agora, talvez esse mesmo respeito tivesse voado pela janela.

Summer pensou duas vezes antes de sussurrar:

— Obrigada. Talvez você pudesse fazer isso soar mais sórdido e sem valor?

— E quanto a John? — Scarlet exigiu saber, então meneou a cabeça. — Eu não entendo. Por que perder sua virgindade agora, quando está prestes a se casar?

Summer vinha se fazendo a mesma pergunta desde que saíra do quarto de hotel de Zeke.

Depois do confronto com Zeke no escritório pela manhã, havia se resignado ao fato de não conseguir trabalhar e fora sentar num café ao ar livre, onde to­mara um chá e ficara até a hora do almoço.

Tinha tido muito tempo para pensar e para refletir sobre o fato de que nunca experimentara tamanha in­quietude, ou uma atração tão poderosa e irresistível como havia sentido por Zeke na noite anterior. A atração desafiava explicação e lógica. Afinal, eles eram diferentes de tantas maneiras e, definitivamen­te, ele não se encaixava no gosto normal de Summer por homens, mas, mesmo assim, ela se sentia atraída por ele.

Também tinha começado a pensar que seu relacio­namento com John era desprovido de sexo porque não havia paixão suficiente. Não existia um fogo in­terior que a consumia. Oh, ela o amava e John dizia que a amava, mas talvez os dois tivessem confundido conveniência e afeição por amor sexual.

Summer se sentia confortável e segura com John, e o compreendia... mas talvez isso não fosse o bas­tante.

— No que você está pensando? — perguntou Scar­let.

— Estive questionando meu relacionamento com John durante toda a manhã.

— Como assim?

Summer deu de ombros, resignada, pondo a salada de lado. Não ia comer mais nem uma garfada.

— Não sei. Talvez eu tenha desejado tanto cum­prir meu plano de cinco anos e me acomodar, que ig­norei minhas dúvidas sobre a relação com John.

E talvez estivesse louca. Afinal de contas, estava tirando conclusões baseada em uma única noite de paixão. E paixão parecia uma emoção tão pouco confiável comparada com o relacionamento sólido e es­tável que tinha com John. Ou melhor, corrigiu-se, o relacionamento sólido e estável que achava que tinha com John.

— O que você vai dizer a ele? — indagou sua irmã.

— Não sei — admitiu Summer. — Ele ainda está fora da cidade, porém, mais cedo ou mais tarde, terei de contar-lhe o que aconteceu. — Ela sorriu cautelo­samente. -— Contudo, o fato de que a imprensa pensa que foi você ontem à noite proporcionou-me algum tempo. Caso contrário, eu estaria com medo que John descobrisse a fofoca de alguma maneira, mesmo es­tando fora da cidade. Dessa maneira, poderei dar-lhe a notícia gentilmente quando ele retornar.

Ela olhou Scarlet com uma expressão de culpa.

— Desculpe-me por ter metido você nessa confu­são.

— Não se preocupe com isso. Minha reputação pode suportar algumas emoções no momento — dis­se Scarlet com humor seco.

Um celular tocou, e Summer se deu conta de que era o seu. Tirou-o da bolsa e ficou tensa ao ver que era uma chamada de John.

— É o John — murmurou para sua irmã antes de atender e dizer de modo radiante: — Olá.

Olá, querida. — A voz profunda de John soou no telefone. — Estou com saudade de você.

O que ela podia responder?

— Como foi a viagem?

Ótima — replicou ele, a voz refletindo o bom-humor. — Fechamos o negócio tão rapidamente e, adivinha o quê? Estou saindo de Chicago esta tarde. Na verdade, estou no aeroporto agora.

O estômago de Summer se contraiu.

— Que tal irmos jantar juntos esta noite? — convi­dou John. — Que tal o restaurante One If by land, TwoIf by Sea?

— Claro — concordou ela com voz fraca. Aquele tinha a reputação de ser um dos restaurantes mais ro­mânticos de Nova York. Ocupava uma casa do sécu­lo XVIII, uma vez possuída por Aaron Burr.

— Estamos prestes a embarcar — anunciou John, interrompendo-lhe os pensamentos. — Não vejo a hora de encontrá-la. Adeus.

— Adeus — repetiu ela antes de desligar o apare­lho.

— Bem? — Scarlet quis saber.

Summer olhou para a irmã, o peso da tristeza se instalando sobre seus ombros.

— Ele vai voltar antes do previsto e vamos jantar juntos.

Scarlet ergueu seu copo de água numa saudação zombeteira.

— Hora da verdade, querida.

 

 

CAPÍTULO CINCO

 

John a estava esperando no bar de One If by Land, Two If by Sea quando Summer chegou lá, às seis da tarde. Tinha sugerido um jantar mais cedo, porque sabia que ele estaria cansado da viagem, e, mais im­portante, poderia encontrá-lo diretamente depois do trabalho, em vez de obrigá-lo a apanhá-la em casa. Quanto menos tempo ficasse sozinha com ele naque­la noite, melhor. Precisava apenas de tempo suficien­te para dar-lhe as notícias que tinha de dar. Ele se levantou do banco do bar.

— Olá, querida.

Summer tentou não recuar com o termo carinhoso. Aquilo a lembrou de que era promíscua e traidora, que John sempre a tratara como uma princesa, e que não merecia o que ela estava prestes a contar-lhe.

Quando ele ia lhe dar um beijo nos lábios, ela vi­rou o rosto no último minuto para que os lábios de John encontrassem sua face.

Então pôde ver a expressão interrogativa no rosto dele quando se distanciou.

— Nossa mesa está pronta? — perguntou ela ale­gremente.

— Acho que sim — respondeu ele.

John gesticulou para o atendente do bar, pagou o drinque que havia consumido ali, então, com as mãos nos ombros de Summer, conduziu-a para frente. Um maitre os guiou até a mesa, e John esperou que Sum­mer estivesse acomodada, antes de se sentar, tam­bém.

Estendendo o braço e pegando-lhe a mão, ele usou o polegar para acariciar-lhe as mãos com movimen­tos circulares.

— Eu senti sua falta — murmurou carinhosamente. Summer apenas sorriu.

O que estava acontecendo com ela? Fitando os olhos castanhos e amorosos de John, e vendo as covi­nhas provocadas por um sorriso aberto, questionou sua decisão e perguntou-se se estaria cometendo um erro após outro. John era um homem que qualquer mulher sentiria orgulho de ter. Era bonito, trabalha­dor, ambicioso e confiável. Em resumo, um grande partido.

— Estou feliz que você voltou — respondeu ela, removendo a mão. — Você vai pedir vinho?

Ele franziu o cenho, parecendo estranhar a atitude distante dela. Entretanto, não disse nada, apenas as­sentiu com um movimento de cabeça, pegou a lista de vinhos e começou a lê-la.

Summer aproveitou a oportunidade para estudá-lo. As luzes do candelabro acima faziam os cabelos castanhos claros de John brilharem. Ele deveria ser perfeito para ela, mas alguma coisa parecia estar fal­tando.

Dúvidas. Vinha tendo todas no que dizia respeito a John. Dúvidas perturbadoras que não se dissipa­vam. Mas por que, por que tivera de dormir com outro homem antes que estivesse disposta a encarar tais dúvidas?

Depois que o vinho chegou, eles pediram o jantar e discutiram a viagem de John. John viajava frequen­temente em sua carreira de publicitário e tinha sem­pre histórias interessantes sobre filmagens de comer­ciais de televisão e campanhas promocionais para no­vos produtos.

— Então, nós fechamos o negócio — concluiu ele, cortando um pedaço de bife ao molho madeira. — Três propagandas para relógios feitas por uma das atrizes mais quentes de Hollywood.

— Estou surpresa por ela concordar em fazer isso — comentou Summer.

— Eu também. Muitos atores de filmes são relu­tantes em fazer comerciais nos Estados Unidos, por­que temem que isso interfira de forma negativa em sua imagem. Eles fazem comerciais no exterior, mas sempre com a condição de que esses comerciais não passem nos Estados Unidos.

— Então, por que você acha que ela concordou em fazer isso?

— Dinheiro, claro — replicou John, dando de om­bros. — Esta campanha de propaganda vai custar uma fortuna para nosso cliente, mas o diretor geral acha que vale a pena, porque a audiência alvo é um grupo que vai dos 18 aos 24 anos.

Summer estava acostumada com John falando so­bre propaganda como se fosse sua segunda natureza. Falava em termos de audiência alvo, de porcentagem de vendas da indústria da televisão e campanhas. Ela sabia que estar imerso na carreira era parte do que fa­zia John tão bem-sucedido em sua área.

Quando o garçom retirou os pratos da mesa e se afastou, John disse:

— A propósito, eu li a matéria na coluna de fofo­cas hoje, que Scarlet saiu com Zeke Woodlow. Tal­vez ela possa convencê-lo a fazer algumas propagan­das.

Vinho espirrou do cálice que Summer estava le­vando aos lábios. Ela observou quando o líquido manchou a toalha branca impecável de vermelho.

— Tome cuidado — disse John.

Summer pôs o copo sobre a mesa e pigarreou. Vi­nha esperando pelo momento certo de levantar o as­sunto de Zeke, e agora não tinha mais desculpas. O jantar havia acabado, e não havia melhor momento do que o atual.

— John, precisamos conversar — começou ela, dispensando, com um sinal da mão, o garçom que aparecera com o menu de sobremesas.

John olhou-a intrigado por um momento, então pe­diu a conta ao garçom. Assim que o homem saiu, ele murmurou:

— Fale então. Você parece estranha e distraída a noite inteira. Imaginei mesmo que alguma coisa a es­tava preocupando.

— Isso é difícil — murmurou ela. Explicar primei­ro e confessar depois, ou confessar antes e explicar depois? Summer hesitou.

— Sim? — incentivou ele, olhando-a com atenção.

— Algo inesperado aconteceu enquanto você este­ve fora, e eu... Eu cheguei a algumas conclusões.

John não disse nada, apenas olhou-a na expectativa.

Lágrimas queimaram os olhos de Summer. Olhan­do para baixo, falou apressada:

—John, eu não posso me casar com você.

—O quê? — exclamou ele com uma risada cética e forçada.

—Não é brincadeira.

— Por quê? Eu pensei...

Ela não o deixou terminar. Se não falasse imedia­tamente, perderia a coragem.

— Fui para a cama com uma pessoa ontem à noite. Zeke Woodlow.

Enfim a verdade nua e crua.

O semblante de John expressava puro choque, como se ela o tivesse esbofeteado ou jogado um bal­de de água fria sobre sua cabeça.

— O que você falou?

— Dormi com Zeke Woodlow ontem à noite. A coluna de fofocas do jornal entendeu errado. Não era Scarlet com Zeke, era eu. — Ela respirou profunda­mente, os olhos suplicando que ele compreendesse, embora nem merecesse nem esperasse por isso. — Eu não planejei nada. Fui ao show de Música Para a Cura, tentar conseguir uma entrevista com Zeke para The Buzz — A voz de Summer falhou. — Eu não sei o que aconteceu...

John bufou, impaciente.

— Ora, Summer, você sabe o que aconteceu. — As sobrancelhas dele se uniram. — Então, agora você está muito íntima de Zeke, não está?

Percebendo seu erro, Summer meneou a cabeça.

— Eu não o culpo por estar zangado e magoado.

— Verdade? — murmurou ele de modo sarcástico então passou a mão pelos cabelos. — Viajo por al­guns dias e você dorme com outro homem. Sabe como isso me faz sentir? Você. me disse que queria esperar até o casamento.

— Eu sei — disse ela, sentindo-se culpada. — E passei as últimas 24 horas me perguntando como e por que a noite de ontem aconteceu. Eu não estava bêbada ou estressada demais, mas me dei conta que estava reprimindo dúvidas que tenho em relação a nós dois.

— Que dúvidas? Somos perfeitos um para o outro. Queremos as mesmas coisas da vida.

— Sim — concordou ela, sabendo que tinha de ir com cuidado —, mas falta uma espécie de paixão fí­sica entre nós. Talvez... Talvez por isso tenha sido tão fácil ficarmos sem sexo por tanto tempo.

Ele não respondeu.

— Talvez nós nos amemos sem o fogo da paixão um pelo outro — acrescentou Summer suavemente. — Você merece mais paixão na sua vida, John. Nós dois merecemos.

John bebeu o resto de seu vinho num único gole.

— Não pense que foi fácil para mim, manter um relacionamento com você sem sexo. E eu poderia ser tão apaixonado quanto qualquer astro de rock, Sum­mer, se ao menos você tivesse me dado uma oportu­nidade. Em vez disso, concordei com os seus termos de esperar até a noite de núpcias.

Ela abaixou a cabeça, incapaz de sustentar os olhos dele. Olhando para o anel de noivado ainda bri­lhando no dedo, removeu-o. Alcançando-lhe a mão, colocou-o sobre a palma de John e gentilmente fe­chou os dedos dele sobre o anel.

John olhou para a própria mão.

Quando o garçom voltou à mesa com a conta, Summer tentou pegá-la, mas John foi mais rápido.

Removendo-lhe a conta das mãos, falou amarga­mente:

— Permita-me pagar nosso último jantar.

— Você terminou com John — repetiu Scarlet in­crédula.

Summer assentiu. Elas estavam sentadas em um bar perto da Editora Elliot, Summer tendo ligado para Scarlet, pedindo que a encontrasse lá depois do jantar com John.

— Por quê? Você está louca? — Scarlet pergun­tou. — Por que jogar fora um bom relacionamento? Então você dormiu com Zeke! Então você cometeu um erro. Isso não significa que deve dispensar o ho­mem que ama, o homem com o qual vai se casar. Todo mundo comete erros.

Summer meneou a cabeça.

— Você não entende.

— Não vale a pena lutar por John? Se ele puder perdoá-la porque a ama, vocês dois podem deixar isso para trás, e seguir com uma vida que sempre pre­tenderam viver juntos.

— Não é tão simples assim. Não estou terminando o noivado porque dormi com Zeke. Estou rompendo porque ter dormido com Zeke me fez confrontar as dúvidas que sempre tive em relação a me casar com John.

— Que tipo de dúvidas?

— Talvez John e eu nos amemos, mas não do jeito sexual que duas pessoas que vão se casar deveriam se amar. Talvez tenha sido fácil manter um relaciona­mento sem sexo porque faltava paixão.

— Você não está colocando as coisas ao contrá­rio? — discutiu sua irmã. — Talvez falte paixão por­que foi sem sexo até agora.

— Foi o que pensei, mas depois de ontem à noite, comecei a perceber que é o contrário. — Ela fez uma pausa e suspirou. — John é um homem maravilhoso, mas nós não compartilhamos nenhum tipo de quími­ca.

Scarlet pareceu surpresa, começou a dizer alguma coisa, então parou. Cobrindo a mão de Summer com a sua, murmurou:

— Tem certeza de que não está sendo influenciada por uma grande noite de sexo? Dormir com alguém pela primeira vez pode ser algo emocionante. Pode confundir seus sentimentos. Sabe, Carisma fez uma pesquisa e você não acredita quantas mulheres, mes­mo nos dias de hoje, sentem que precisam ficar com o primeiro homem com o qual dormiram.

— Não — replicou ela com teimosia. — Não é isso, e não estou confusa. Não tenho a menor inten­ção de me envolver com Zeke só porque dormi com ele. — Apenas porque perdi a virgindade, acrescen­tou silenciosamente. Não pretendia repetir o erro da noite anterior. — Mas se estou certa de alguma coisa no momento, é que continuar noiva de John seria er­rado. Preciso de tempo para resolver coisas dentro de mim.

—Tem certeza que este não é um caso de medo?

— insistiu Scarlet.

—O quê? — contradisse ela. — Medo desde o dia em que fiquei noiva? Meses antes do casamento de verdade?

Scarlet suspirou.

— Suponho que você não será a primeira a cance­lar um casamento porque se deu conta de que era um erro.

Ironicamente, Summer encontrou-se querendo consolar a irmã. Então, deu-lhe um abraço de con­forto.

— Alegre-se. Finalmente admiti que John era per­feito para o que eu pensava que queria num marido, tão perfeito que ignorei o fato de que não estava apai­xonada por ele. Pelo menos, essa percepção não che­gou quando ele estava no altar.

— Suponho que devo ficar contente por isso não ter ido tão longe assim — concordou Scarlet.

— O quê? — perguntou Summer.

— Quero dizer, suponho que ele deveria ficar con­tente por isso não ter ido tão longe.

Summer assentiu, incerta. Por um segundo, pen­sou que sua irmã tinha respondido algo totalmente di­ferente. Em voz alta, disse:

— É para melhor, Scarlet. Tenho certeza disso. Você verá.

 

Zeke andava pela suíte de seu quarto, escutando parcialmente o que seu empresário dizia. Eram quase nove horas da noite de sexta-feira, e, em meia hora, estaria se dirigindo para o Lotus, um dos clubes mais badalados de Nova York, freqüentado por cele­bridades.

Como qualquer celebridade, era recebido de bra­ços abertos nos lugares bem freqüentados de Manhat­tan. Donos de clubes ficavam ansiosos para dar bebi­da e comida de graça a um astro, em troca de alguma publicidade. Em outras palavras, queriam ter o nome de seu clube ligado à imprensa por meio de grandes celebridades.

Infelizmente, Marty tinha decidido ir até lá, de seu próprio quarto de hotel em algum outro andar do pré­dio, com a desculpa de discutir o show beneficente da noite anterior, mas Zeke não era facilmente enganado.

Marty tinha quarenta e poucos anos, um veterano ousado da indústria musical, que tivera sorte o bas­tante para dirigir mais de um grande astro durante sua carreira. Mas, enquanto a experiência dele frequente­mente o tornava sem valor, também significava que podia cheirar um problema em potencial a quilômetros de distância.

— Então, você e Scarlet Elliot — disse Marty, me­neando a cabeça: — Eu nem sabia que vocês se co­nheciam.

— Nós não nos conhecíamos até esta manhã. Marty franziu o cenho.

— Como assim? Há uma fotografia...

— Sei sobre a bendita foto — murmurou Zeke ir­ritado. — O repórter entendeu tudo errado. Ontem à noite era Summer Elliot. — Então acrescentou para explicar: — A gêmea idêntica de Scarlet.

Zeke ainda estava digerindo tudo que tinha acon­tecido nas últimas 24 horas. Que coisa, ela era noiva!

— Elliot? Da Editora Elliot? — perguntou Marty. —A própria. — Uma outra parte da informação, refletiu Zeke, que ela convenientemente não revela­ra. Que coisa, ela sabia que ele tinha pensado que ela era uma tiete.

Marty lançou-lhe um olhar penetrante.

— Herdeiras não são seu tipo usual. O assessor de imprensa que acabamos de contratar para você já está recebendo muitas perguntas da mídia.

Zeke parou na frente de Marty.

— O que ele está dizendo?

Marty deu de ombros.

— O de sempre. Enrolando os repórteres. Você sabe, negando parcialmente que você está envolvido com ela, ou melhor, com a irmã dela.

Zeke assentiu. Sua imagem pública era cuidadosa­mente cultivada. Havia sempre uma dança delicada com a mídia para máxima exposição positiva. Geral­mente, isso significava manter o público perguntan­do-se sobre a vida amorosa dele, e parecer solteiro, disponível e nunca sério demais em relação a qual­quer mulher por muito tempo. Relacionamentos su­cessivos ajudavam a manter seu lugar nas primeiras páginas dos jornais, e aquilo era bom para Zeke. Sa­bia que não era do tipo "marido", especialmente com a espécie de vida que o mantinha sempre na estrada.

— Então, qual é a verdade? — questionou Marty com sua objetividade típica.

Zeke deslizou uma das mãos pelos cabelos.

— A verdade é que ela era uma repórter atrás de uma entrevista comigo. — Ele não ia dar a Marty os detalhes íntimos sobre o que tinha ocorrido na noite anterior.

— Imagino que você não tenha dado a entrevista a ela.

— Não, não dei... Marty pareceu aliviado.

— Mas concordei em dar-lhe a entrevista esta se­mana.

— O quê? — exclamou Marty perplexo. — Pensei que já tivéssemos discutido sobre isso. Todas as en­trevistas foram vetadas por mim e pelo assessor de imprensa. Queremos nos certificar que você apareça nos mercados certos, e que o repórter saiba, de ante­mão, as regras sobre os tópicos proibidos...

— Ela trabalha para The Buzz. — interrompeu Zeke, então suspirou. — Esqueça isso, Marty. Será uma entrevista curta, não um perfil profundo para a Rolling Stone.

— Você não parece muito disposto a dar uma en­trevista — observou Marty, franzindo o cenho.

Zeke deu de ombros.

— Isso vai parecer loucura, mas toda vez que es­tou perto dela, começo a ouvir a melodia que tem soado na minha cabeça pelos últimos meses e que não fui capaz de escrever. A única outra coisa que me faz despertar idéias para a letra é uma fotografia emoldurada que pendurei na mansão de Los Angeles.

— Ela é sua musa? — perguntou Marty, parecen­do confuso.

— Sim, suponho que se possa dizer isso.

Zeke observou o semblante de seu empresário se tornar infeliz.

—Olhe, Zeke, eu sei que está empenhado em es­crever essa música, mas você é a maior sensação mu­sical no momento. Há muita gente que adoraria estar em seu lugar, mas eles não têm a sua voz e certamen­te não possuem o seu jeito sexy. Por que estragar uma coisa tão boa?

Eles haviam tido aquela discussão dezenas de ve­zes.

— Fama é algo passageiro, Marty.

— E daí? Você pode se concentrar na carreira de compositor mais tarde. Por enquanto, faça um favor a si mesmo e concentre-se em produzir CDs e fazer tours para manter seu nome vivo.

— Ainda estou pensando naquela oferta de criar um show na Broadway.

Marty fez uma careta.

— A próxima coisa que você vai me dizer é que está seriamente envolvido com a garota Elliot. Lem­bre-se, você tem que manter sua imagem de conquis­tador de corações.

Zeke riu e bateu no ombro de seu empresário.

— Marty, cara, às vezes, você é insuportável.

 

 

CAPÍTULO SEIS

 

Saindo do carro, Summer olhou para The Tides aci­ma e endireitou os ombros. Sentia-se como se tivesse doze anos de idade novamente e estivesse indo para uma conversa com vovó e vovô, a qual certamente acabaria com ela sendo castigada.

Entretanto, The Tides era seu lar, e toda vez que estava triste ou estressada, particularmente dava as boas-vindas a seu abraço confortante. Provavelmen­te, ninguém pensaria que uma mansão antiga de qua­se oito mil metros quadrados feita de arenito rústico poderia ser tão aconchegante e convidativa, mas era o que sentia Summer.

Ela inalou o ar marinho. Localizada em Hamptons, uma exclusiva comunidade de férias a muitas horas ao leste de Nova York, a propriedade Elliot de cinco acres ficava numa ribanceira com vista para o oceano Atlântico.

Desde a morte de seus pais num acidente de avião quando ela e Scarlet tinham apenas dez anos, Sum­mer e sua irmã haviam sido criadas por seus avós em The Tides. Mesmo agora, ela e Scarlet passavam muitos fins de semana lá.

Exceto que, esta manhã, Scarlet decidira não ir para The Tides, alegando que tinha coisas para fazer na cidade. E quando tentara perguntar à irmã onde ela tinha ido na noite anterior, porque Scarlet não estava em casa quando Summer finalmente chegara, depois de ficar um tempo no bar com alguns colegas de tra­balho após a partida de sua irmã, Scarlet se esquiva­ra, mudando de assunto, e não respondera.

Summer esperava que sua irmã não estivesse bra­va com ela por ter rompido com John da maneira que fizera. Sua irmã parecera compreensiva no dia ante­rior, mas esta manhã estava fria, abrupta e distante, recusando-se a dizer onde tinha ido e com quem. Elas não guardavam segredo uma da outra, portanto, o comportamento de Scarlet a magoara.

Summer acenou para Benjamin Trent, o caseiro antigo de seus avós, então subiu os degraus para a porta da frente.

Lar. Ela colocou a mala no chão e jogou a jaqueta na cadeira mais próxima, olhando ao redor da casa e absorvendo, pela milésima vez, a elegante decoração que era um testemunho do bom gosto de sua avó.

Passos soaram no piso de mármore, e alguns se­gundos depois, sua avó entrou na sala, vindo dos fun­dos da casa.

— Summer! Que surpresa adorável! -— exclamou sua avó, a voz colorida pelo sotaque irlandês. — Eu não tinha certeza se você viria este fim de semana, com os preparativos do casamento e tudo mais.

Casamento. Ela foi lembrada mais uma vez da conversa que a esperava. Todavia, sorriu, então deu um beijo no rosto da avó.

— Olá, vovó.

Sua avó era uma costureira de 19 anos na Irlanda quando Patrick Elliot a arrebatara. Agora, embora tivesse 75 anos, as pessoas ainda podiam detectar algu­mas sardas em sua pele clara, e alguns fios castanhos nos cabelos brancos, os quais sempre mantinha bem penteados. Apesar de uma saúde frágil, de certa ma­neira, a mulher mais velha irradiava carinho e ale­gria.

Quando Summer afastou-se, notou que os olhos da avó foram para porta, então de volta para ela.

— Você chegou bem na hora do almoço. Scarlet não veio?

— Não, ela disse que tinha coisas para fazer na ci­dade este final de semana. — Summer segurou a mão da avó e as duas foram para o salão de refeições nos fundos da casa. — Nós teremos um ótimo almoço de qualquer forma, não teremos?

— Com você aqui, é claro, minha querida! Summer quase se sentia protetora em relação à

avó. Não apenas sua avó tinha perdido o filho Stephan, e a esposa dele, que eram os pais de Summer, num acidente de avião, mas também perdera sua filha Anna, de sete anos, com câncer. Para piorar as coisas, o avô de Summer, marido dela, não era a pessoa mais fácil de se conviver, embora o casal se amasse muito.

Quando elas chegaram ao salão de refeições, Olive, a esposa de Benjamim e a governanta de The Tides, as cumprimentou calorosamente, então sua avó pediu-lhe que acrescentasse mais um prato à mesa.

Notando que só havia três pratos na mesa, Summer perguntou:

— Tia Karen e tio Michael não estão aqui?

— Michael teve de voltar ao escritório ontem para lidar com alguns negócios urgentes, e não voltará até esta noite — respondeu sua avó enquanto elas se sen­tavam. — E Karen está descansando. — O semblante da mulher mais velha entristeceu. — Ela está muito cansada para descer, então vou levar-lhe a refeição no quarto mais tarde.

— Como ela está? — perguntou Summer calma­mente. Sua tia, esposa de seu tio Michael, tinha sido recentemente diagnosticada com câncer nos seios e fora obrigada a remover ambos.

— Karen não é de reclamar. Fico feliz que o cân­cer não se espalhou, mas a quimioterapia que ela tem de fazer como precaução está acabando com ela.

Summer sabia que seus primos estavam preocupa­dos com a mãe, cujo diagnóstico permanecia em segre­do. A única luz brilhante, refletiu Summer, era que seu primo Gannon tinha acabado de se casar, e seu irmão mais novo, Tag, recentemente ficara noivo de uma mu­lher adorável. As comemorações haviam dado à sua tia alguma coisa para esperar ansiosamente.

É claro, o casamento de Summer, ou o não casa­mento, era uma outra história.

Ela quase saltou quando seu avô entrou na sala.

— Bem — disse Patrick Elliot com sua usual voz forte —, se não é o retorno da neta desgarrada.

Diferente da esposa, seu avô mostrava, no máxi­mo, afeição grosseira, mas Summer estava acostuma­da com isso. Levantou-se da cadeira e beijou-o no rosto.

— Vovô, você sabe que estive aqui no fim de se­mana passado. — Voltando à sua cadeira, acrescen­tou: — Porém, sou somente eu desta vez. Scarlet de­cidiu ficar na cidade.

Patrick Elliot assumiu seu lugar à mesa quando Olive, cantarolando, entrou com tigelas de canja.

— Então, como está sua irmã desgarrada? Summer deu uma risadinha.

— Patrick, você é incorrigível — disse Maeve. — Pare de provocar a pobre garota.

A única resposta de Patrick foi um leve movimen­to das sobrancelhas quando ergueu a colher de sopa para os lábios. Summer sabia que se havia uma pes­soa no mundo que podia refrear o avô, era sua avó. Ele a adorava.

Durante o almoço, eles conversaram sobre eventos atuais e o trabalho de caridade de Maeve, assim como acontecimentos em Hamptons e nas redondezas.

No momento em que Summer estava começando a relaxar, contudo, e eles estavam terminando a refei­ção com torta de morango, Patrick gesticulou para a mão dela e disse:

— O que houve com seu anel?

Que coisa! Era demais pensar que seus avós não perceberiam. Ele provavelmente notara assim que se sentara à mesa, mas no jeito típico de Patrick Elliot, tinha deixado sua vítima relaxar antes de atacá-la.

— Eu rompi o noivado — declarou Summer sem rodeios.

— Você fez isso? — perguntou seu avô de modo prazeroso, como se estivessem discutindo o tempo.

— Oh, Summer — exclamou Maeve. — Por quê? A pergunta de um milhão de dólares, pensou ela.

Desejava que tivesse uma boa resposta. Sabia que se dissesse que tinha perdido a virgindade para um astro de rock que mal conhecia chocaria totalmente seus avós católicos e irlandeses.

— Humm. — Ela pigarreou. — Eu me dei conta de que John e eu não pertencemos um ao outro.

Maeve franziu o cenho.

— Mas ele parecia um homem tão bom, e vocês dois tinham tantas coisas em comum.

— Acho que essa era parte do problema — respon­deu ela. — Éramos parecidos demais. Além disso, nós não tínhamos paixão. —- Meu Deus, aquela era uma conversa estranha para ter com seus avós.

Patrick tirou o guardanapo do colo e colocou-o ao lado do prato, meneando a cabeça.

— Parecidos demais? Na minha época, se você co­nhecesse um rapaz com estabilidade financeira, casa­va-se. Ninguém se preocupava que o fato de que se­rem adultos responsáveis e ambiciosos os tornava pa­recidos.

Summer emitiu um gemido involuntário.

— Patrick, fique quieto. — Maeve acariciou a mão da neta. — Está tudo bem, querida.

Observando seu avô se retirar, Summer acrescen­tou:

— Acho que eu estava falando uma língua estran­geira com ele.

Maeve suspirou.

— Ele vai superar.

— Eu sabia que ele gostava de John. — Ela olhou para a avó. — Eles são parecidos de várias maneiras. Inteligentes, ambiciosos, trabalhadores. — Summer esperou que sua avó não pensasse que sua rejeição a John tivesse a ver com a rejeição daqueles valores também.

— Seu avô apenas quer vê-la feliz — disse Maeve em tom carinhoso. — E ele entende John — acres­centou com um brilho nos olhos. — Afinal de contas, seu avô tem sido um marido devotado por 57 anos. Naturalmente é especialista na fórmula para bênção marital.

— Naturalmente — concordou Summer. Então elas riram juntas.

Graças a Deus, tinha sua avó, pensou Summer. A sábia senhora podia neutralizar quase qualquer situa­ção, o que era um dos muitos motivos pelos quais também era uma excelente anfitriã.

Não que ter dado a notícia a seu avô fora tão mau assim, pensou Summer. Dentro da faixa das reações que esperava de Patrick, a resposta dele até que tinha sido suave. Era quase como se a notícia de Summer não tivesse sido uma surpresa total para ele, como se, de certa forma, esperasse por isso mais cedo ou mais tarde. Ela perguntou-se também, se apenas imaginara o brilho de respeito nos olhos do avô por um momen­to.

— Eu nunca vou entender vovô.

Summer não percebeu que tinha falado em voz alta até que Maeve respondeu:

— Ele tem os motivos dele. Ela olhou para sua avó.

— Você sabe que o clima na editora se tornou frio desde que ele criou uma competição entre as revistas para nomear seu sucessor. É verdade que eu não senti muito isso na pele, porque tio Shane permanece tranqüilo e fácil de se lidar, mas sei que Scarlet está so­frendo muita pressão no trabalho porque tia Finny tem trabalhado mais arduamente do que nunca, a fim de se certificar que Carisma esteja no topo da lista.

Ela não precisou mencionar o relacionamento ten­so entre sua tia Finny e Patrick Elliot. Sabia que seu avô tinha suavizado com a idade e se tornado mais paciente, mas sempre dirigia os negócios com mãos firmes. Enquanto construía seu império, às vezes, se importava mais com as aparências do que com sua fa­mília, e tinha pago com seus erros por não ter com­preendido alguns dos filhos e netos.

Maeve pareceu triste quando comentou:

— Espero que o desafio de Patrick não coloque tensão adicional no relacionamento dele com Finny.

— Mas, por quê? — perguntou Summer. — Sim­plesmente não entendo por que ele teve de estabele­cer essa rivalidade com a família. Isso está começan­do a separar as pessoas.

Maeve pareceu pensativa por um momento, então falou calmamente:

— Como eu disse, seu avô tem motivos para fazer o que faz, e ele nunca vai ceder neste assunto em par­ticular. Tenho fé que a família vai superar os proble­mas sem desmoronar.

Summer não tinha tanta certeza.

Summer estava novamente sozinha com Zeke no quarto de hotel e muito consciente de sua presença máscula e poderosa. Tentou esquecer a última vez que estivera lá.

Hoje ele estava vestido de jeans azul, uma camise­ta branca e uma camisa aberta por cima. É claro, ago­ra ela sabia o que havia por baixo daquelas roupas: músculos fortes e delineados, uma pele macia e deli­ciosa, coxas grossas e perfeitas...

Ela desviou a mente dos pensamentos perturbadores. Estava lá para fazer a entrevista que ele lhe pro­metera, e nada mais.

Sabia, através de leituras pelos jornais, que o as­sessor de imprensa de Zeke tinha negado que os dois, ou melhor, que ele e Scarlet, eram mais do que ami­gos. Com alguma sorte, a história toda logo seria es­quecida. Seria, prometeu a si mesma, contanto que conseguisse fazer a entrevista e sair dali para sempre.

Quando Summer voltara a trabalhar na manhã an­terior, depois de ter passado o fim de semana tortu­rando-se sobre seu mais recente comportamento, Zeke tinha ligado para marcar a entrevista na terça à tarde.

É claro, ela havia agonizado sobre que roupa usar. Queria parecer profissional, mas não pudica demais. Deixara de lado seus conjuntos de saia e blusa e suéteres angorás, e finalmente tinha optado por uma blu­sa de seda estilo chinês sobre calça preta e botas de cano médio.

Precisava muito ir às compras. Não fosse pela blu­sa estilo chinês que Scarlet a convencera a comprar numa liquidação de roupas de grife, não sabia se teria encontrado algo apropriado para usar.

— Sente-se — disse ele, interrompendo-lhe os pensamentos e causando-lhe um sobressalto. — Pos­so lhe oferecer uma bebida?

— Eu... Apenas água, obrigada.

Ele sorriu enquanto se dirigia à cozinha.

Era sua imaginação ou o sorriso de Zeke era leve­mente irônico? Estaria lembrando que da primeira vez que eles tinham se encontrado ela bebera mais do que somente água? Talvez pensasse que ela estava tentando evitar erros passados.

Quando Zeke retornou, entregou-lhe um copo de água e se sentou numa cadeira perpendicular ao sofá em que ela estava sentada.

Summer tomou um gole. Era quase um alívio estar longe da Editora Elliot e, em vez disso, entrevistando Zeke ali. Não ouvia falar de John desde sábado, e su­punha que ele estava viajando novamente. Scarlet continuava distante, e a reação de sua família perante a notícia do rompimento de seu noivado havia muda­do de choque para horror.

— Você não trouxe um fotógrafo? — perguntou Zeke, interrompendo-lhe os pensamentos mais uma vez.

— Eu vou tirar as fotos. — Com a mão livre, ela ergueu a câmera.

Ele lhe lançou um olhar cômico.

— Você é fotógrafa? Summer deu de ombros.

— Eu fiz alguns cursos de fotografia. É um hobby. — Ela colocou o copo na ponta da mesa.

Zeke a olhou com intensidade, e, sem graça, Sum­mer mudou de posição. O que ele estava pensando?

— Você está diferente — comentou ele. A voz... aquela voz incrível, tão doce como mel e tão profun­da e rica como chocolate.

Concentre-se, Summer, censurou a si mesma.

— Humm, verdade?

— Sim, no show, você era uma típica fã de rock, e no trabalho, na sexta-feira, tinha a aparência de péro­las e luvas brancas. Hoje, por outro lado, você parece exótica. — Ele inclinou a cabeça, estudando-a. — Ainda estou tentando descobrir qual é a verdadeira Summer Elliot.

Talvez ela estivesse, também. —- Talvez todos estejam. Zeke meneou a cabeça.

— Não acho isso. Acho que você ainda está tentan­do descobrir quem é.

— Pensei que fosse eu a entrevistadora aqui — murmurou ela suavemente.

Ele sorriu.

— Uma entrevista não é um diálogo? Além disso, quanto mais eu a conheço, mais a acho intrigante.

— Obrigada...

— Por exemplo — continuou ele como se não a ti­vesse ouvido —, você alguma vez usa seu anel de noivado?

Summer pensou em mentir, mas decidiu que era melhor jogar limpo. Zeke provavelmente logo desco­briria a verdade nos jornais, de qualquer forma.

— Eu rompi meu noivado.

Ela viu um brilho ardente naqueles incríveis olhos azuis, antes que ele falasse:

— Você contou a ele sobre nós?

— Sim, contei a John — confirmou ela, e então agiu de maneira defensiva: — Você não é a razão pela qual terminamos, se é isso que está pensando. Você apenas me fez perceber que John e eu estaría­mos cometendo um erro se nos casássemos. Terminei com ele antes de contar-lhe o que aconteceu entre nós na quinta à noite.

— O que aconteceu na quinta à noite, Summer? -t— perguntou Zeke, a voz profunda, rouca e sensual.

— Eu... eu ainda não sei.

— Foi incrível. Nós fomos incríveis.

— Pare com isso. Você prometeu...

— O que eu prometi?

Ela permaneceu silenciosa.

— Não me recordo de ter prometido nada. Lem­bro-me de ter dito que queria vê-la de novo.

— Para uma entrevista — esclareceu ela. Ele esta­va distorcendo a conversa que eles haviam tido. — Seu empresário e assessor de imprensa ligaram on­tem depois de você, e me questionaram sobre o con­teúdo desta entrevista.

— Sinto muito ouvir isso. Ela olhou ao redor.

— Onde estão eles, a propósito? Tive a impressão de que ambos queriam estar aqui.

As pálpebras de Zeke baixaram, camuflando sua expressão.

— Os dois tinham coisas a fazer.

Summer achou aquilo estranho, mas decidiu não comentar. Em vez disso, pegou o gravador. Ele a es­tava deixando nervosa, e o único meio de evitar mais conversas perigosas era falar de negócios.

— Bem, vamos começar a entrevista, certo? — disse ela. — Eu não quero fazer você perder tempo.

O olhar que ele lhe deu era um convite para o pe­cado.

— Você não está me fazendo perder tempo.

Um tremor percorreu a coluna de Summer. Ela pi­garreou e ligou o gravador.

— Qual é seu maior desafio como um artista musi­cal?

Ele riu.

— Indo direto ao ponto, não?

Ela arqueou uma sobrancelha e não respondeu.

— Tudo bem. Meu maior desafio é evitar ser repe­titivo. Acho que é com isso que a maioria dos artistas se preocupa. Quero que minha música seja nova e vi­tal e que ainda seja um sucesso comercialmente.

Para a surpresa de Summer, a entrevista se desen­rolou com facilidade depois disso, a conversa fluindo de forma natural. Ele falou sobre o sucesso de seu últi­mo CD e seu envolvimento com Música Para a Cura.

Finalmente, ela decidiu mudar a entrevista para um tópico diferente:

— Não há histórias sobre envolvimento com dro­gas, prisão, ou brigas...

— Lamento desapontar — disse ele com um sorri­so charmoso.

— Mas — continuou ela —, você tem sido descri­to na imprensa como grosseiro e rebelde. Como acha que conseguiu esta reputação?

— Simples. Eu geralmente me recuso a dar entre­vistas.

Uma risada escapou de Summer antes que pudesse detê-la.

— Você tem diferentes viagens agendadas em seu tour internacional pelo resto do ano. O que virá de­pois?

— Houston é o próximo local, no fim do mês, de­pois Los Angeles, e eu irei para o exterior em breve.

— Ele fez uma pausa. — Mas ficarei em Nova York até o fim do mês.

— É mesmo? — murmurou ela, tentando disfarçar uma irritante alegria.

— Sim, vou ficar com minha família.

Summer sabia, através de suas pesquisas, que ele tinha crescido em Nova York.

— Tenho certeza que eles ficarão felizes em vê-lo.

— Ela desligou o gravador, porque já tinha o que pre­cisava para um artigo.

Zeke lhe deu um sorriso dissimulado.

— Ao contrário de você, quer dizer? Ela recusou-se a morder a isca.

— Sua biografia no seu site diz somente que você cresceu em Nova York.

— Isso é proposital. Gosto de minha privacidade.

— Ele deu-lhe um outro sorriso rápido. — Mas se você está curiosa, cresci no Upper West Side.

— E quanto a seus pais? — perguntou ela. — O que eles fazem?

— Meu pai é professor da Universidade de Columbia, e minha mãe é psicóloga e atende em consultório particular.

Ela tentou visualizá-lo como filho de um acadêmico e de uma psicóloga e fracassou. Zeke sorriu novamente.

— Sim, eu sei. Difícil de acreditar. — Ele fez uma pausa. — Mas não é tão ruim quanto parece. Meu pai é arqueólogo, então passou a maioria dos verões na América do Sul e no Oriente Médio. — Dando de ombros,, elaborou: — Esse provavelmente é o motivo pelo qual escolhi uma carreira que exige tantas via­gens.

— Você sempre soube que queria ser músico? — questionou Summer.

— Você quer dizer, um astro de rock? — disse ele com zombaria, então meneou a cabeça. — Não. Por um tempo, segui o caminho que meus pais esperavam de mim, mas, um mês antes de me formar na Columbia, fiz meu primeiro contrato com uma gravadora.

— No que você se formou? — indagou ela, surpre­sa ao saber que era uma universidade renomada. Cer­tamente não tinha pedigree de um típico roqueiro.

— Música, é claro. E quanto a você?

— Inglês, com um pouco de jornalismo. Na Uni­versidade de Nova York — acrescentou Summer.

— Colegial?

— Escola particular em Hamptons. E você?

— Horace Mann — respondeu ele.

Eles sorriram um para o outro, até que Summer pi­garreou. A conversa tinha se tornado muito pessoal. Como isso acontecera?

— Certo. Agora eu só preciso de algumas fotos para acompanhar o artigo — murmurou ela.

Zeke se levantou.

— Tudo bem. Onde quer que eu fique?

Ela lhe deu um rápido olhar. Ele estava se aproxi­mando ou era impressão sua?

Zeke parou então e a encarou.

Summer se levantou, a câmera digital nas mãos.

— Vamos ver, algum lugar iluminado, mas não na luz direta do sol. Nós também queremos um fundo não muito cheio de coisas.

— Que tal se eu me sentar no braço daquela poltro­na ali?

Ela seguiu a direção dos olhos dele e concordou.

— Ótima idéia. Depois podemos tirar algumas com você em pé diante da parede da sala. Isso propor­cionará um fundo branco e sólido.

Assim que Zeke estava pronto e ela ajustou a câ­mera, começou a bater as fotos.

— Sorria — pediu e Zeke obedeceu, dando-lhe um sorriso desarmado.

Ele era natural diante da câmera, mudando o ângu­lo da cabeça, mas ainda parecendo ótimo em cada foto.

Summer sentiu o corpo esquentar quando ele a olhou através da lente da câmera. O que leu naqueles olhos azuis foi o bastante para fazer seu pulso acele­rar e suas pernas tremerem. Ainda bem que a câmera estava entre os dois, pensou, suavizando o poder da potente atração sexual de Zeke.

Durante o tempo todo, ela continuava observando as reações dele.

— Não sorria. Agora, sério — disse, tirando as fo­tos. — Agora, incline um pouco a cabeça para trás e olhe para a câmera de cima... Agora, vire a cabeça de lado e olhe para mim...

No momento em que Zeke posou sentado na pol­trona de pernas abertas, e então, moveu-se para posar em frente à parede, o ar no quarto tinha se tornado se­xualmente carregado.

— Agora, dê-me uma pose sensual — disse ela sem pensar.

Ele o fez, e Summer pensou: Oh, meu Deus. Era como experimentar uma vertigem. Ela se sen­tia tonta e sem fôlego.

Abaixando a câmera, fingiu brincar com a mesma.

— Certo, está ótimo.

Zeke se aproximou e quando a alcançou, deslizou uma das mãos pelos cabelos dela e para a nuca, exer­cendo uma pressão suave, a fim de unir as duas cabe­ças.

Summer mal teve tempo de fechar os olhos antes que os lábios de Zeke tocassem os seus. Uma vez, duas, três vezes, e então lá estava ele, clamando por sua boca num beijo que era tão doce, tão profundo e tão satisfatório que fez seus joelhos tremerem sem controle. A mão que segurava a câmera caiu na late­ral do corpo.

Quando ele finalmente se afastou, ela sussurrou sem fôlego:

— Por que você fez isso?

— Porque eu quis — respondeu ele simplesmente. Ela o olhou em silêncio, esperando por uma expli­cação melhor.

— Porque você estava me excitando. Porque eu queria confirmar que o que experimentei na quinta à noite era real.

— Nós não podemos.

— Não podemos ou não devemos?

— Ambas as coisas.

— Por quê? Você não está mais noiva. Lembra-se? — Ele esfregou o polegar nos lábios dela, fazendo-os tremer de leve. — O que vai fazer na sexta à noite?

— Eu tenho planos. Haverá uma festa para The Buzz no restaurante de meu primo, Une Nuit.

— Convide-me.

As letras E-R-R-O brilharam na mente de Sum­mer.

— Vamos lá — insistiu ele. — Eu não mereço um agradecimento por ter lhe concedido a entrevista? Além disso, você estará ajudando a The Buzz. Tenho certeza que a equipe de lá vai adorar uma conexão pessoal com uma outra celebridade.

Summer tinha de admitir que ele era persuasivo. Zeke inclinou-se para mais um beijo e ela cedeu.

— Tudo bem — murmurou e afastou-se para pegar suas coisas, e mais importante ainda, para colocar al­guma distância entre os dois.

Pela The Buzz, prometeu a si mesma. Somente pela The Buzz.

 

 

CAPITULO SETE

 

Une Nuit, localizado na Nona Avenida no Upper West Side, não era o que Zeke tinha esperado. Ele se informara sobre o restaurante antes de ir, portanto sa­bia que era conhecido por sua fusão de comida fran­cesa e asiática, mas ainda ficou surpreso pelo am­biente. A decoração era sedutora, com iluminação parca e avermelhada. As mesas eram de cobre, cober­tas por uma fina toalha branca, e seu centro adornado por um lindo arranjo de pequeninas flores amarelas.

Com a insistência de Summer, eles combinaram de se encontrar no Une Nuit em vez de Zeke apanhá-la em casa. Ele percebeu e compreendeu que ela não queria chamar atenção desnecessária para os dois como um casal.

Após pegar um drinque no bar, ele observou a multidão que estava parada e conversando em círcu­los, e avistou Summer, rindo com algum sujeito de boa aparência, que, na verdade, parecia modelo mas­culino.

Franzindo o cenho, caminhou até ela, ciente dos olhares em sua direção. Estava acostumado a olhares e sussurros quando era reconhecido.

Quando Summer o viu, um sorriso ainda brilhando nos olhos, exclamou:

— Zeke, você está aqui!

Aparentemente, atrasei demais, pensou ele, sen­tindo uma pontada de ciúme do companheiro dela. Inclinando-se, beijou-a no rosto, tocando-lhe o cantinho dos lábios de propósito. Summer estava vestida de preto, assim como ele, e parecia fantástica.

Quando ele se endireitou, deu a ela um sorriso ín­timo.

— Olá.

— Zeke, você conhece Stash? — perguntou ela, gesticulando com a mão que segurava o cálice de vi­nho.

Zeke olhou para o homem em questão e notou o semblante divertido no rosto dele. Stash? Que nome mais estranho era aquele? E por que Stash não ia para qualquer outro lugar e os deixava sozinhos?

Em voz alta, murmurou:

— Não conheço. — Ele estendeu a mão. — Zeke Woodlow.

O outro homem a apertou.

— Zee, o prazer é todo meu.

Zeke quase fez uma careta. O homem tinha sota­que francês. Ele teria de competir com o charme de um estrangeiro?

— Stash é gerente do Une Nuit — disse Summer. — Zeke é...

— Eu sei quem é Zeke Woodlow, chérie — inter­rompeu Stash com um sorriso amplo nos lábios. Em seguida, voltou-se para Zeke: — Lamento, mas o tra­balho me chama agora, então terei de deixá-lo com sua amiga.

Zeke observou quando Stash beijou Summer no rosto, e então partiu, lançando a ele um outro olhar divertido antes de sair.

Stash, pensou Zeke com amargura, parecia o tipo de pessoa tão charmosa que podia tirar mel das abe­lhas. Voltando a cabeça para Summer, perguntou:

— Vocês dois se conhecem bem?

— Stash é gerente daqui há muito tempo. Nada reconfortante, pensou Zeke.

Summer o chamou, e, com olhos estreitos, ele a se­guiu enquanto se misturavam com a multidão reunida em grupos.

Ela ia cumprimentando pessoas no caminho, até que foi parada por um homem que, na opinião de Zeke, também tinha uma boa aparência, apesar de mais parecer um playboy. O sujeito era alto, aproxi­madamente l,90m, como Zeke, mas parecia uma dé­cada mais velho, talvez beirando os quarenta anos.

Ótimo. Estava destinado a passar a noite inteira despistando rivais em potencial?

Parada ao lado do homem de cabelos escuros, ha­via uma loira de olhos verdes com corpo curvilíneo. Ela olhava para o playboy com admiração, mas ele mal parecia notar, a atenção voltada diretamente para Summer.

Que coisa. Zeke deu um passo à frente, aproxi­mando-se de Summer.

Ela olhou para cima, parecendo perceber, de súbi­to, que ele ainda estava lá.

— Zeke — disse ela —, este é meu tio Shane Eliot, o editor-chefe da The Buzz, e sua assistente exe­cutiva, Rachel Adler. — Para Shane e Rachel, acres­centou: — Zeke Woodlow.

Os ombros de Zeke relaxaram. Precisava se con­trolar. Sua atração por Summer estava começando a enlouquecê-lo, ainda que, logo após a entrevista, ele tivesse sido capaz de compor grande parte da melo­dia e da letra da música evasiva em sua cabeça.

Apertou a mão de Shane e notou que o aperto do tio de Summer era tão firme quanto o seu.

— É um prazer conhecer você — disse Shane com um sorriso simpático. — Summer me contou que a entrevista foi muito boa.

— A entrevistadora fez o seu trabalho. Shane riu.

— De qualquer forma, apreciei o fato de você ter disposto de seu tempo — murmurou Summer com um sorriso. — Nós estamos numa corrida louca e cada coisinha ajuda.

A conversa então se voltou para uma discussão da indústria musical e quem estava no topo dos gráficos musicais, ou estaria, em breve, com novos CDs.

Quando a conversa finalmente terminou e Sum­mer tinha continuado a andar com ele pelo salão, Zeke perguntou:

— O que você quis dizer com "estamos numa cor­rida louca"?

— Eu lhe conto mais tarde.

— Conte-me agora.

Ela suspirou e concordou, resignada.

— Meu avô, que fundou a Editora Elliot, recente­mente anunciou que o diretor de qualquer revista da editora que trouxer mais lucros para a empresa até o final do ano vai sucedê-lo como diretor geral.

Zeke assobiou.

— Então, basicamente, ele está deixando seus descendentes lutarem entre si para ver quem irá su­cedê-lo?

— Infelizmente, sim.

— Então foi isso que a deixou tão desesperada para tentar enfrentar o leão em seu esconderijo — concluiu ele. — Você estava esperando que uma en­trevista comigo a ajudaria a chegar lá.

Zeke a observou dar de ombros.

— Fiz isso por mim mesma e pela The Buzz. So­mente espero que o desafio de vovô não separe esta família.

Ele fez uma careta.

— É nessas horas que aprecio ter crescido como fi­lho único. — Esboçando um sorriso cauteloso, acres­centou: — Independentemente de qualquer coisa, meus pais ainda têm somente a mim.

— E você ainda os tem.

O olhar no rosto de Summer o fez parar e pensar. Fizera uma pequena pesquisa sobre Summer Elliot na Internet e, surpreendentemente, enquanto havia di­versas menções sobre os avós dela e outros parentes Elliot, não encontrara nada relacionado com os pais dela.

Antes que pudesse perguntar, todavia, ela murmu­rou:

— Meus pais morreram juntos em um acidente de avião quando eu tinha dez anos.

— Meu Deus, sinto muito — exclamou ele com sinceridade.

— Tive 15 anos para aprender a lidar com isso, a superar a perda, mas você sabe, a dor nunca vai em­bora completamente.

Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, a con­versa dos dois foi interrompida por um homem que Summer apresentou como seu primo Bryan, o dono do Une Nuit.

— Stash me mandou aqui — disse Bryan antes que Summer pudesse abrir a boca. — Ele me contou que encontrou vocês dois juntos perto da porta.

Da maneira que Bryan pronunciou a palavra jun­tos, e pela expressão curiosa nos olhos, Zeke podia dizer que ele tinha ido lá ver as coisas pessoalmente.

Estudando o outro homem por um momento, Zeke estimou que Bryan tinha aproximadamente a sua ida­de, 28 anos. Em contraste com Shane, contudo, não parecia haver nada informal sobre aquele primo El­liot. Se alguma coisa podia ser dita, Bryan parecia o tipo de pessoa que observava constantemente, absor­vendo tudo que podia e não deixando transparecer nada. Ele era como uma pantera pronta para atacar.

Zeke fitou Bryan nos olhos quando lhe apertou a mão, e um certo reconhecimento e respeito mútuo se passou entre os dois.

— Bryan tem a vida perfeita — brincou Summer.

— Verdade? — perguntou Zeke, olhando de Sum­mer para Bryan, então de volta para ela.

— Sim — confirmou Summer, dando um olhar provocador para o primo. — Ele tem um apartamento de solteiro fantástico em cima do restaurante, que lhe permite sair da cama e ir direto para o trabalho. Não apenas isso, mas tem um trabalho que o mantém longe da Editora Elliot e de nós, os outros Elliot. Ou, devo dizer, um Elliot em particular, que é meu avô. E, acima de tudo, Bryan viaja para os lugares mais incrí­veis por causa do restaurante.

Interessante, pensou Zeke. Não apenas a declara­ção que revelava coisas sobre Bryan, mas era intri­gante que Summer achasse que o trabalho perfeito era longe da Editora Elliot.

— Summer está exagerando — disse Bryan com modéstia.

-— Não, não estou.

— Para onde você viaja por causa do restaurante? — perguntou Zeke, puxando assunto.

Bryan deu de ombros.

— Europa, principalmente. Paris.

— Eu estive em Paris apenas um mês atrás. O que você acha de...

— Com licença, por favor — disse Bryan de re­pente. — Acabo de ver alguém que estou tentando encontrar a noite inteira.

Estranho, pensou Zeke, observando a partida de Bryan. Teve a nítida impressão de que Bryan queria evitar falar sobre suas viagens.

Zeke observou quando um outro homem, que tam­bém estivera assistindo a partida de Bryan, virou-se e disse:

— Vejo que você conheceu o Homem do Mistério Internacional do clã.

Voltando-se para Summer, o sujeito deu-lhe um leve beliscão no rosto e murmurou:

— Ei, querida, há quanto tempo não nos vemos.

— Zeke, este é...

— Deixe-me adivinhar — interrompeu ele seca­mente. — Seu primo. — O homem tinha uma acen­tuada semelhança com Bryan. Eles tinham os mes­mos cabelos pretos brilhantes e olhos azuis. Em personalidade, entretanto, este primo parecia tão gentil e informal como Shane.

— Cullen Elliot — apresentou-se o homem diante dele, os olhos brilhando. — Sou o irmão mais novo de Bryan. — Erguendo o polegar e o indicador num gesto que indicava aproximadamente um centímetro, acrescentou: — Mas é só isso.

— Cullen é o diretor de vendas da Snap — com­plementou Summer.

Zeke fingiu que estava chocado.

— Você é do campo rival? O que está fazendo aqui?

Cullen sorriu.

— Sou convidado para todos os lugares. — Em se­guida, acrescentou: — Então Summer lhe contou que a família toda compete entre si, certo?

— Sim — disse Zeke. Voltando-se para Summer e apontando um dedo para Cullen, indagou: — Se ele está aqui, onde está Scarlet? Ela não trabalha para uma revista da Editora Elliot também?

Zeke observou Summer franzir o cenho de leve.

— Scarlet decidiu não vir. Ela foi esquiar com al­guns amigos este fim de semana.

Cullen se virou para ele e arqueou uma sobrance­lha.

— Eu vi a reportagem sobre você e Scarlet no The Post — provocou. — Está se perguntando se saiu com a irmã certa?

Se Cullen soubesse, pensou Zeke. A seu lado, per­cebeu que Summer ficou tensa por um segundo, mas então, ela se recompôs e colocou um sorriso no rosto.

— Não ouça Cullen — murmurou, dando um tapinha de brincadeira no primo. — Ele já despedaçou mais corações do que posso contar.

— Sim, este sou eu — concordou Cullen, obvia­mente entrando na brincadeira, embora Zeke tivesse notado uma sombra cruzar o semblante dele.

Eles conversaram com Cullen por mais alguns mi­nutos, então Zeke sugeriu a Summer que fossem até o bar a fim de apanharem um drinque.

Depois de pedir ao garçom um uísque com gelo para si mesmo e mais uma taça de vinho branco para Summer, virou-se para ela e disse com humor seco:

— Fiquei exposto às críticas de seus parentes por sua causa esta noite.

— Eles estão apenas curiosos — respondeu Sum­mer. — Todos sabem que rompi o noivado com John, e agora, esta noite, eu apareço com você.

— Você contou a eles que não era Scarlet e sim você no Waldorf ?

— Não, mas eles estão curiosos do mesmo jeito.

— Eles têm algum motivo para estarem curiosos? — Zeke não pôde resistir à pergunta.

Ela lhe deu uma longa olhada de lado.

— Não mais.

Ele notou, no entanto, que, quando os ombros dos dois acidentalmente se tocaram, Summer afastou-se com a consciência do toque. Certamente, não estava tão fria e composta quanto queria parecer.

Entregando-lhe a taça de vinho, tomou um gole do uísque.

— Gostei de seus primos. São pessoas interes­santes.

— Interessantes?

— Mais do que parecem — elaborou ele.

Ela inclinou a cabeça de lado, com uma expressão interrogativa no rosto.

— O que você quer dizer com isso?

— Bryan e Cullen parecem ter alguns segredos. Bryan em particular.

Summer pareceu confusa.

— Sabe, Cullen estava brincando quando disse que Bryan era o Homem do Mistério Internacional. É apenas que, mais do que o restante dos Elliot, Bryan leva uma vida separada da família.

Zeke arqueou uma sobrancelha.

— Algo me diz que há mais coisas aí do que isso. Summer pareceu cética, mas então sorriu.

— Eu os conheço a vida inteira e, acredite-me, nunca houve nada misterioso sobre meus primos. Bryan é dono de restaurante e gosta do que faz, e Cul­len... Bem, Cullen é exatamente o que alega ser: um imã para mulheres.

Zeke decidiu não insistir mais naquele assunto, embora ainda não estivesse convencido de que Bryan e Cullen fossem tão descomplicados quanto a priminha Summer achava que eram.

Ele a seguiu para um bufe que havia sido colocado nos fundos do restaurante, e se serviram de itens como kumamoto frito, ostras, caranguejos, suflê de abacate, e uma salada de lagosta com melão, com so­bremesa de pêra asiática e manga tailandesa. Um jan­tar realmente exótico, pensou Zeke.

Mais tarde, Cullen se juntou a eles novamente, e Zeke conheceu mais algumas pessoas que trabalhavam com Summer, e todos pareciam curiosos sobre ele.

Finalmente, ficaram sozinhos numa mesa de can­to, e um silêncio estranho reinou... uma nova situação para Zeke no que dizia respeito às mulheres.

Vagarosamente, porém, ele conseguiu iniciar uma conversa. Falaram sobre lugares para os quais Zeke tinha viajado, e ele lhe contou histórias sobre fãs es­tranhas, e até mesmo manchetes de jornal mais estra­nhas ainda.

Descobriram que ambos sabiam falar bem o espa­nhol e mal o francês, que adoravam a ilha de Malta no verão, e que preferiam a comida mexicana realmente apimentada. Debateram sobre qual lugar era melhor para esquiar, no Vale ou nos Alpes, e quais eram os melhores lugares para freqüentar em St. Bart's.

— Então — brincou Zeke finalmente —, quais são seus gostos em relação à música? De quem você gosta?

— Eles estão todos mortos.

Ele riu. Mas supôs que não deveria ficar surpreso.

— Clássica?

Summer bebeu um gole de seu vinho.

— Sim, e cantores antigos. Sinatra. Nat King Cole.

— Você está somente sendo diplomática ou ten­tando não admitir que prefere minha concorrência? — provocou ele.

Ela o fitou com olhos semicerrados.

— Se eu admitisse, você se importaria? Percebendo que Summer estava flertando com ele,

Zeke respondeu:

—Eu ficaria arrasado, mas me consolaria com o pensamento de que nós dois somos fãs de Beethoven.

Um lindo sorriso brincou nos lábios dela.

—Eu gostei de seus shows. Você é muito bom.

— Apenas muito bom? — provocou ele de novo.

Ela o encarou com intensidade.

— Irresistível — disse de modo suave.

Enquanto continuava fitando-a nos olhos, Zeke sentiu uma emoção muito forte. Meu Deus, Summer tinha um efeito devastador sobre ele.

Então decidiu salvá-la, e a si mesmo, de uma enrascada.

— Na verdade, as chances são de que deixarei de cantar mais rápido do que todos imaginam.

Ele pôde ver que a surpreendera.

— Verdade?

— Sim, vejo a mim mesmo me concentrando em compor músicas, em vez de cantar. — Ele olhou ao redor. A multidão tinha diminuído um pouco, mas a festa ainda continuava.

— Você está pronto para partir? — perguntou ela.

— Sim. — Ele a olhou. — Estou pronto, e você? Era uma pergunta carregada de significado, e ele sabia disso, mas queria Summer desesperadamente. Estar perto dela e conter-se ao mesmo tempo vinha sendo uma tortura quase insuportável.

— Sim, vamos — ela respondeu, mas não deu ne­nhuma indicação de que queria continuar em sua companhia por mais tempo.

Eles se dirigiram para a porta da frente, despedin­do-se das pessoas no caminho, e Zeke pegou o casaco dela e seu paletó com o atendente do guarda-volumes.

Felizmente, Shane e Cullen não estavam em ne­nhum lugar à vista. Bryan, por outro lado, apenas lan­çou a ele um olhar significativo, que dizia que Zeke tinha um pouquinho de sua confiança e não deveria fazer nada para desperdiçar isso. Zeke assentiu com um movimento de cabeça, que dizia que a mensagem tinha sido passada e notada.

Ele segurou a porta da frente aberta para Summer e quando eles saíram do restaurante, tirou um boné de beisebol no bolso do paletó e pôs na cabeça, abaixan­do-o na altura dos olhos.

Summer o olhou com uma expressão interrogativa.

— Isso evita que os paparazzi me reconheçam—

explicou ele. — Posso chamar um táxi para você?

— Não, obrigada — disse ela. — Minha casa fica a poucos quarteirões daqui.

— Vou andar até lá com você, então. Summer hesitou por um segundo.

— Tudo bem.

 

 

CAPÍTULO OITO

 

Ela estava queimando. Era loucura, claro. Estava apenas 15 graus ao ar livre. Mas, por baixo de sua blusa de cashmere e casaco de lã, estava queimando de calor.

E era tudo devido ao homem a seu lado.

Zeke.

Seu amante.

Quando eles chegaram na mansão Elliot, Summer observou Zeke olhar para a imensa estrutura cinza, ab­sorvendo tudo e parecendo bastante impressionado.

Ela estava acostumada a ver as pessoas ficarem impressionadas pelo lugar que ela e Scarlet usavam como residência nos dias de semana, e no qual seus avós ficavam quando estavam na cidade.

Tentou ver a casa através dos olhos dele, pela pri­meira vez. A mansão de três andares era posicionada a três metros da rua, protegida de transeuntes curio­sos por um portão de ferro preto, coberto de hera.

Zeke a olhou.

— Seu avô não desperdiçou palavras quando lançou o desafio. E um dia, faço questão de dizer isso a ele.

A percepção de Zeke a surpreendeu e a agradou ao mesmo tempo. A maioria das observações dos visi­tantes se resumia em comentar a estrutura física dian­te deles.

— Vovô iniciou o império Elliot — disse ela com orgulho. — Em sua escalada para o sucesso, acho que as aparências eram muito importantes para ele.

— Sim.

— Com inveja? — brincou Summer.

Um sorriso iluminou as feições de Zeke e ele a olhou.

— Você adivinhou. Sinto certa inveja da proprie­dade de seu avô. — Então fez uma breve pausa antes de acrescentar: — E me sinto um verdadeiro tolo agora por pensar que você ficaria impressionada com minha suíte no Waldorf.

Summer enrubesceu. Não queria ser lembrada de como o enganara naquela noite, mas ele não parecia zangado agora. Em vez disso, parecia estar gostando de provocá-la.

Ainda assim, agora que tinham chegado na man­são Elliot, uma sensação de estranheza a assolou. Tentando afastar o sentimento, ouviu-se convidando antes que pudesse evitar:

— Você gostaria de ver o interior da casa?

— É claro.

Enquanto eles andavam pelo caminho até a porta da frente, Summer teve tempo de criticar seu convite impulsivo. Deveria ter se despedido do lado de fora. Onde estava sua sensatez?

Deveria, poderia, mas não o fizera.

Em vez disso, depois de deixarem os casacos e o boné de Zeke no hall da frente, mostrou-lhe ao redor. A casa estava silenciosa. Por causa da hora tardia da noite, os poucos empregados que trabalhavam lá es­tavam dormindo ou tinham saído no fim do dia.

Summer estava muito consciente de Zeke atrás dela quando eles saíram do grande hall, com seus im­pressionantes vidros coloridos no teto, e foram para a biblioteca, e então para a sala de jantar e a sala de es­tar. Ela mostrou-lhe a saleta de televisão e a enorme cozinha, e eles seguiram para a varanda dos fundos, que dava vista para um lindo jardim particular.

Finalmente, Zeke a seguiu para o próximo andar, onde os quartos para a família e hóspedes estavam lo­calizados, e depois para o último andar, onde ficavam os quartos dela e de Scarlet.

Finalmente, ele parou sob a porta aberta do quarto dela. Tentando avaliar a reação de Zeke, Summer falou:

— E este é meu quarto. Mudou de decoração algu­mas vezes com o passar dos anos. Graças a Deus, Scarlet e eu nunca tivemos de compartilhar um quar­to. Não tenho certeza se nosso relacionamento teria sobrevivido de outra forma.

Ela olhou ao redor para a decoração branca e cor de creme, a qual contrastava dramaticamente com os móveis de cerejeira antigos, e depois para sua cama de ferro com coberta matelassé.

O que ele estaria pensando? Aconchegante de­mais?

Zeke não disse nada, apenas olhou em volta, pare­cendo absorver tudo que via. Summer esperou.

Finalmente, ele murmurou:

— Muito feminino.

Em seguida, entrou e parou ao lado do laptop fe­chado e da papelada sobre a mesa dela. Olhando para baixo, perguntou:

— Você começou a escrever nossa entrevista?

— Sim. — Summer andou até ele. Esquecera que tinha deixado o rascunho sobre a mesa.

Zeke pegou algumas folhas de papel e lançou a ela um olhar curioso.

— Você se importa que eu leia?

— Não... quero dizer, não, eu não me importo.—

Ela deu uma risada nervosa. — Contanto que você não conte com o direito de censurar.

Ele arqueou a sobrancelha numa expressão zom­beteira.

— Não se preocupe — murmurou. — Consideran­do todas as coisas que já foram escritas sobre mim nos jornais, duvido que ficarei chocado.

Summer esperou nervosamente enquanto ele lia.

Ela tinha trabalhado sobre cada palavra do artigo. E cada palavra trouxera de volta, com impressionan­tes detalhes, pensamentos sobre Zeke e a noite mara­vilhosa que tinham passado no Waldorf.

Esforçara-se para descrevê-lo sem soar banal ou apaixonada. Zeke Woodlow, alma de um artista, cor­po de um símbolo sexual, escrevera antes de deletar as palavras. Havia se chamado de ridícula e outros nomes piores, então começara uma página em branco do computador um milhão de vezes.

Finalmente, tinha decidido abrir o artigo com o ponto central da questão: uma citação do próprio Zeke sobre o esforço que fazia para manter sua músi­ca nova e relevante.

Naquele exato momento, ele interrompeu-lhe os pensamentos.

—Muito bom — comentou. — Gosto disso.

É mesmo? -— Percebendo que tinha soado embaraçosamente surpresa, ela tentou de novo: — Que­ro dizer, verdade?

Um sorriso iluminado brincou nos lábios dele.

— Sim, verdade. Tenho apenas uma crítica.

— Oh. E qual seria?

Ele colocou o artigo sobre a mesa.

— Isso precisa de mais pesquisa.

— Não acho que há mais alguma coisa que preciso saber — respondeu ela, sem entender ao certo o que ele queria dizer.

Zeke se aproximou até que estivesse parado a pou­cos centímetros de Summer, e então ela entendeu, en­quanto sentia a respiração presa na garganta.

— Tem certeza? — sussurrou ele numa voz completamente sensual. — Porque há muitas coisas que preciso saber sobre você.

A brincadeira que obviamente envolvia sexualida­de estava fazendo a pele de Summer se arrepiar e o corpo começar a tremer.

— Como o que, por exemplo? — sussurrou ela.

A mão de Zeke subiu para segurar-lhe uma das fa­ces, a ponta do polegar traçando-lhe os lábios bem devagar.

— Como, por exemplo, se sua pele é sempre tão macia. — Ele a puxou para mais perto e inclinou a ca­beça. — Como, por exemplo, se sua boca é sempre tão deliciosa e quente quanto parece — murmurou contra seus lábios.

A boca de Zeke cobriu a sua então, e logo Summer estava perdida nas mesmas sensações que os haviam dominado na primeira noite no Waldorf.

Ela agarrou-se ao corpo másculo, até que ele er­gueu a cabeça e fitou-a, o olhar se demorando no de­cote "V" criado pela blusa sexy.

— Gosto do que você está usando esta noite—

murmurou ele com voz baixa.

— Eu fui às compras — confessou Summer, sor­rindo. Finalmente, tinha encontrado algum tempo para ir às lojas, determinada a ter algo para usar aque­la noite que enviasse a mensagem certa. Não passara muito tempo analisando por que importava tanto a roupa que usaria.

— Muito sofisticada e sexy.

— Talvez seja a nova Summer Elliot emergindo

— disse ela em tom de brincadeira.

— Se for, eu ficarei muito feliz em ajudá-la com o processo, da maneira que eu puder — respondeu ele em tom de voz sedutor.

Ela sentiu um estranho friozinho na barriga. Aque­la dança de desejo na qual eles estavam envolvidos ainda era um território muito novo para Summer.

— Nós estávamos falando sobre a entrevista.

— Sim... e pesquisa.

— Você está tentando me seduzir?

— Se eu estiver, está funcionando? — Zeke pou­sou os olhos nos seios dela, mais especificamente, nos mamilos pressionados contra o tecido da blusa.

— Você parece um pouco excitada.

— Você não é realmente meu tipo. — Ela estava tentando convencê-lo, ou convencer a si mesma? —

Todos os homens que namorei tinham cabelos curtos e convencionais. Assim como tinham empregos em escritórios, onde ficavam sentados atrás de mesas. Um armário repleto de ternos e camisas sociais. Eles não eram rebeldes. Ele riu. E o som da risada sexy a excitou ainda mais.

— Aprenda a viver perigosamente.

Ela ousaria?

—E você é definitivamente meu tipo — provocou Zeke. Ela o fitou com um semblante incrédulo.

— Autêntica — esclareceu ele. — Muito natural e adorável.

Ela encarou os fascinantes olhos azuis e sentiu o autocontrole escorregar, mas se forçou a dizer:

— Por uma vez, eu gostaria de pensar em você fora do nevoeiro do desejo.

Ele riu de novo.

— Por quê? Dizem que as pessoas de mais sorte no mundo são aquelas que nunca emergem do nevoeiro.

Talvez ele estivesse certo, pensou Summer. Desde a noite no Waldorf, uma questão tinha permanecido em sua mente: quem era aquela mulher apaixonada que rolara sobre os lençóis com Zeke Woodlow? Uma aberração? Ou uma parte de si mesma que a sensata Summer Elliot tinha mantido bloqueada, com muito medo de liberar?

Queria descobrir, e Zeke parecia totalmente dis­posto a fazer-lhe esse favor.

Zeke se aproximou no mesmo momento em que ela deu um passo em direção a ele. Summer encaixou-se com perfeição no abraço forte, e suas bocas encontraram.

 

Summer sentiu a mão de Zeke sobre seus seios, ro­çando-lhe os mamilos, enrijecendo-os e a fazendo querer muito mais. Quando os lábios dele deixaram os seus, Zeke depositou beijinhos suaves sobre suas pálpebras, ao longo de seu rosto e pescoço.

Com o corpo em chamas, ela puxou a camiseta dele até que esta saísse de dentro da calça jeans. Ele rapidamente ajudou-a, e tirou a peça de roupa pela cabeça.

Sem esperar por um convite, Summer trilhou a ponta dos dedos sobre o peito largo, sentindo os mús­culos rígidos flexionarem-se sob seus toques.

Quando ele parou abruptamente e praguejou, ela ergueu os olhos para Zeke.

— O que houve?

— Eu não trouxe nenhuma proteção.

— Eu tenho alguns preservativos.

— Bem, srta. Elliot — brincou ele com um sorriso travesso —, você estava planejando me seduzir?

Ela bateu os cílios para ele num gesto sedutor.

— Não até esta noite, mas, por acaso, sei que Scarlet tem alguns preservativos no quarto. Minha irmã é o tipo de garota que está sempre prevenida.

Sem demora, Summer localizou um pacote fecha­do no armário do banheiro de sua irmã. Quando retor­nou a seu próprio quarto, pensou ter ouvido Zeke cantarolando. Entrando no cômodo novamente, des­cobriu que ele tinha acendido algumas das velas. O delicioso aroma de rosas preenchia o ambiente.

—Agora, onde estávamos? — perguntou ele, aproximando-se. Pegou um saquinho laminado da mão dela e colocou-o sobre o criado-mudo ao lado da cama.

Em seguida, puxou-a para seus braços e beijou-lhe o canto da boca, desatando o pequeno laço da blusa dela até que se soltou. Deslizando o tecido macio pe­los ombros delicados, expôs os seios generosos e per­feitos, envoltos em um sutiã de renda.

Ele a olhou então, e os lábios se curvaram num sorriso iluminado.

— Isso foi feito para você. E tenho de dizer que você tem um excelente gosto para lingerie.

Ela sorriu, embaraçada. A verdade era que tinha aceitado o conselho de Scarlet desde a noite do show. Vista-se de maneira sensual, que você vai se sentir sexy e sensual. Então, havia saído e comprado mais lingeries sexies. Teria feito isso inconscientemente pensando que teria uma segunda noite de amor com Zeke? Bem, não era hora de analisar seus motivos.

— Isso é uma coisa recente — admitiu.

— Bem, viva as pequenas mudanças. — Zeke se­gurou-lhe os seios nas mãos e massageou-os, exci­tando-a.

— Zeke...

— Sim?

Possua-me. Preciso ter você dentro de mim. Dese­java dar a ele o tipo de palavra sexy que ele tinha sus­surrado em seu ouvido na primeira vez que fizeram amor, mas descobriu que não era capaz de falar.

— O que você quer, Summer? — perguntou ele, o tom de voz baixo e sedutor. — Diga-me.

— Beije meus seios.

— Mmm — murmurou ele, os olhos fechados.— Beijá-los? Você quer dizer, assim? — Ele abaixou-se e trilhou a boca por toda a extensão da pele revelada pelo sutiã. — É isso que você quer?

— Não — disse ela, sem poder esconder a frustra­ção na voz. Ele sabia o que ela queria.

Zeke fingiu considerar.

— Não?

De súbito, Summer sabia o que tinha de fazer. Dois podiam fazer aquele jogo. Ele a estava provo­cando e repentinamente não havia razão para que ela mantivesse suas inibições.

Mantendo os olhos fixos nos dele, Summer deu um passo atrás.

— Aonde você vai? — ele quis saber.

— A lugar nenhum — respondeu ela da maneira mais sedutora que achava que fosse capaz. — Por que você não se senta, Zeke?              

Os olhos azuis se arregalaram por um momento, mas então ele obedeceu e se sentou na beira da cama.

— Confortável? — perguntou ela, enquanto ia para o abajur do criado-mudo e diminuía a luz.

— Sim.

— Espero que você goste de jazz — disse ela quando ligou uma música suave. — Algumas pessoas dizem que jazz as coloca no ponto certo para fazer amor. Você concorda?

— Venha aqui e descubra — convidou ele com a voz embargada pelo desejo.

Uma nova excitação a percorreu com aquelas pala­vras. Summer moveu-se em direção a ele e, enquanto fazia isso, desabotoou o sutiã e deixou-o cair no chão. Alcançando-o, usou as duas mãos para empurrá-lo na cama, até que Zeke descansasse sobre os cotovelos, então se posicionou de pernas abertas em cima dele.

O semblante de Zeke registrou surpresa e, em se­guida, encantamento.

—Agora que você me tem, o que vai fazer comi­go?

Summer inclinou-se e o beijou, profunda e apaixo­nadamente. Quando endireitou o corpo, murmurou:

— Beije-me. — Ela o fitou diretamente nos olhos. —Eu quero que você beije meus seios. Quero que faça todas aquelas coisas eróticas que fez na noite em seu quarto de hotel.

Zeke se sentou.

— Com prazer.

Ela o guiou para si e quando a boca sensual de Zeke fechou-se sobre um de seus mamilos, Summer entrelaçou os dedos nos cabelos dele e fechou os olhos. Ele brincou primeiro com um dos seios, e de­pois com o outro, até que ela achou que não poderia mais suportar.

Segurando-a com firmeza, Zeke deitou-a sobre a cama e colocou-se a seu lado, a perna entrelaçada nas dela. Summer podia sentir a ereção masculina pres­sionada em seu quadril.

Zeke a beijou, fazendo amor com a boca e as mãos maravilhosas, as quais acariciavam-na deliciosamen­te. As mãos de Summer deslizavam pelos braços dele, sentindo os músculos rígidos.

Quando o ar entre eles se tornou escasso, seus cor­pos estavam em chamas e a respiração de ambos pro­funda, ele saiu da cama.

Então removeu o restante das roupas de Summer e em seguida, tirou a própria calça jeans e os sapatos.

Ela o olhou sem inibição. Zeke estava extrema­mente excitado e era lindo. Perfeito.

— Sinta-se livre para me tocar — murmurou ele Ela queria.

Summer se sentou e alcançou-o, pegando a ereção de Zeke na mão e movimentou o membro viril.

Ele fechou os olhos, a respiração se tornando cada vez mais pesada e difícil.

No momento em que ele gemeu, Summer abaixou-se e colocou o membro na boca.

— Ah, Summer — sussurrou ele, a voz embargada de excitação.

Ela nunca tinha se sentido tão sexy e poderosa.

Quando finalmente se distanciou, Zeke foi para o lado dela na cama, uma risada espontânea escapan­do-lhe da garganta.

— Uau! Isso foi bom demais.

Ela sorriu-lhe, de repente se sentindo um pouco tí­mida.

Zeke a olhou mais de perto.

— O que foi? Minha sedutora está envergonhada? — brincou, e então inclinou a cabeça. — Talvez eu deva lhe dar alguma coisa que a deixe realmente en­vergonhada.

Movendo-se para cima dela, foi trilhando um ca­minho de beijos e carícias pelo corpo que adorava, deixando-a quente, excitada. No momento que che­gou ao interior das coxas delgadas, Summer gemeu e tentou fechar as pernas.

—Shh... — comandou ele.

Zeke demorou um tempo ali, explorando as redon­dezas, até que sua boca chegou ao centro do corpo de Summer, o qual estava quente, úmido e esperando por ele.

Summer sentiu como se o mundo estivesse se fe­chando ao seu redor, como um casulo quente e acon­chegante. Havia apenas Zeke e as coisas maravilho­sas que ele estava fazendo com ela... até que o univer­so explodiu em seus ouvidos e ela liberou as ondas de prazer, atingindo um orgasmo inexplicavelmente in­crível.

Quando finalmente voltou a Terra, ouviu o baru­lho de papel alumínio se rasgando, e Zeke estava a seu lado de novo, tomando-a nos braços fortes.

Ele a abraçou e beijou-a, e desta vez, a penetração foi suave e sem interrupções, embora ele parecesse ir devagar para dar-lhe tempo de se ajustar.

Uma vez que Zeke estava em seu interior, rolou na cama de modo que ela ficasse por cima dele.

Ela o olhou surpresa, a cortina de cabelos escon­dendo-os do que estava em volta.

— Leve-me para onde você quer ir, Summer — disse ele com voz rouca. — Você está no controle.

Ela hesitou por apenas um segundo, então fez um movimento experimental. O gemido de Zeke em res­posta foi todo o encorajamento que precisava.

Summer o deixou guiá-la para estabelecerem um ritmo, seguindo-o quando ele acelerou. Ela assistiu quando os olhos de Zeke se fecharam e os músculos se tornaram rígidos, o rosto tensionando de prazer.

Ela fechou os olhos também, concentrando-se no prazer que crescia entre os dois.

No momento que o clímax chegou, Summer ge­meu, convulsionou-se, e então parou, enquanto Zeke agarrava-lhe os quadris com força e investia mais uma vez.

Um segundo depois, ele gemeu, juntando-se a ela num orgasmo que levou os dois ao mais doce paraíso

Summer caiu contra ele então, e Zeke a abraçou com força.

— Ah, Summer, você faz isso comigo todas as ve­zes — disse ele, acariciando-lhe os cabelos. — Você é uma mulher tão apaixonada sexualmente.

— Nunca pensei em mim mesma como apaixona­da sexualmente — confessou ela, a voz abafada con­tra o ombro dele.

— Você está brincando.

Ela meneou a cabeça, então, ergueu-a para encará-lo.

— John e eu nunca compartilhamos muita paixão. Foi a vez de Zeke menear a cabeça.

— Bem, acredite em mim. Você é uma das mulhe­res mais ativas sexualmente e mais sensual que eu já conheci. Simplesmente não posso acreditar que per­maneceu virgem por tanto tempo.

— Era parte do plano de cinco anos. Ele franziu o cenho.

— O quê?

— O plano de cinco anos — repetiu ela. — Eu de­senvolvi e escrevi um plano de vida, e parte dele en­volvia me casar por volta dos 26 anos.

Ele riu, então perguntou curioso:

—E o que mais dizia esse plano?

— Oh, você sabe, as coisas de sempre. Objetivando ser promovida a gerente até os trinta anos. Ter um bebê. — De alguma maneira, Summer percebeu que, dar voz a seus objetivos, parecia como confessar al­guma coisa embaraçosa.

—Você não pode viver de acordo com um plano pré-estipulado — disse ele.

É importante ter metas — replicou Summer de modo defensivo.

— Sim, claro, mas não quando elas interferem em seus sentimentos amorosos. Às vezes, os planos po­dem atrapalhar o caminho que você trilha para conse­guir o que realmente quer.

— Você está parecendo um especialista — brin­cou ela.

Ele sorriu.

— Pode acreditar em mim, Summer. Sou filho de psicóloga, e também sou muito bem pago para cantar sobre emoções.

— Sim, eu notei. Pensei ter ouvido você cantarolar alguma coisa baixinho um pouco antes de nós... es­tarmos ocupados com uma outra coisa. Eu não reco­nheci a canção. O que era aquilo?

— Nada — respondeu ele indiretamente. — Ape­nas uma música que conheço mais ou menos.

— Hmm — murmurou ela, deslizando o pé ao lon­go de uma das pernas dele.

A mão de Zeke prendeu-lhe a perna em movimen­to, e a parou, o semblante intensamente sedutor.

— Por outro lado, eu não conheço você apenas mais ou menos.

Quando ele a pressionou na cama, Summer riu sem fôlego e entregou-se de corpo e alma àquela noi­te, não pensando sobre o dia seguinte.

 

 

CAPÍTULO NOVE

 

Na manhã seguinte, Summer acordou se sentindo mais feliz e mais contente do que podia se lembrar de sentir em muito, muito tempo. Olhou para o homem dormindo a seu lado.

Zeke.

Ela nunca tinha acordado ao lado de um homem. Perguntou-se por que isso, entretanto, no fundo sabia que a felicidade que estava sentindo agora se devia ao próprio Zeke, e não apenas ao fato de acordar ao lado de um homem.

Olhando-o dormir pacificamente, pensou que gos­taria de ter sua câmera consigo e fotografá-lo. Em re­pouso, com as feições relaxadas, ele parecia ainda mais bonito do que no palco.

Uma parte sua não podia acreditar que o famoso e irresistível Zeke Woodlow havia se interessado por ela. Summer sabia que ele não podia ter interesse em seu dinheiro, uma vez que também era muito rico.

Recordou-se dos eventos da noite anterior e enru­besceu. Eles tinham adormecido e acordado duas ve­zes durante a noite para fazer amor. Depois da última vez, Zeke cantara para ela dormir. Só de pensar nisso agora, Summer sentiu o corpo inteiro esquentar e uma excitação a percorreu novamente.

Estava feliz que ele tinha gostado do artigo que es­crevera. Jamais admitiria para alguém, mas havia to­cado a fita da entrevista repetidamente, apenas para ouvir o som da voz dele. Uma voz maravilhosa, tanto para cantar, como para falar, e mais ainda para sus­surrar palavras de amor.

Observou quando Zeke abriu os olhos e sorriu, vi­rando-se para o lado dela e abraçando-a com uma das mãos.

— Olá.

Ela sorriu-lhe docemente.

— Bom dia.

Zeke a puxou para si e mordiscou-lhe o pescoço Ela riu e tremeu, e logo não havia mais conversa. Muito mais tarde, ele perguntou:

— Algum plano para o fim de semana? — Zeke ar­queou as sobrancelhas numa expressão divertida.— Passá-lo na cama, eu espero.

Ela riu.

— Na verdade, geralmente vou para The Tides nos fins de semana.

Com o olhar confuso no rosto dele, Summer expli­cou:

— A casa de meus avós em Hamptons. Foi onde Scarlet e eu fomos criadas depois que meus pais fale­ceram.

As mãos fortes e másculas acariciaram-lhe a coxa.

— Leve-me com você.

— Eu não poderia!

As palavras saíram da boca de Summer antes que tivesse a chance de pensar. Entretanto, é claro que não poderia levá-lo para The Tides! Na noite ante­rior, o restaurante Une Nuit, e agora The Tides? Esta­va exibindo-o logo depois de romper o noivado com John? Aquilo não era certo.

Ele inclinou a cabeça e deu-lhe um olhar ofendido.

—Qual é o problema? Sou bom o bastante para dormir com você, mas não bom o bastante para ser visto com você?

— Não é esta minha tática? — respondeu ela, brin­cando. No momento, ainda tinha de descobrir um jei­to de tirá-lo da casa sem alertar nenhum dos empre­gados. Felizmente, havia uma entrada secundária do lado de fora diretamente para os aposentos que ela compartilhava com Scarlet. Apenas tinha de descer a fim de pegar o paletó e o boné de Zeke, os quais eles haviam deixado no foyer na noite anterior, e voltar si­lenciosamente.

Zeke continuava olhando-a com expressão diverti­da, e ela perguntou-se por um segundo se ele estaria lendo sua mente.

— De qualquer forma — perguntou ela —, você não estará ocupado no fim de semana?

Ele sorriu.

— Não. Sou todo seu.

— Nós teremos de ficar em quartos separados — avisou ela, enfraquecendo, apesar de ter decidido o contrário. — Meus avós são pessoas muito tradicio­nais. — Ela não acrescentou que, é claro, não deveria lhe dar o quarto em que John costumava ficar. Isso seria um pouco demais na percepção dos outros.

Ele lhe deu um sorriso íntimo.

— Eu posso ser divertido e uma boa companhia fora da cama, também.

Ela suspirou e então assentiu com um gesto de ca­beça.

— Você é incorrigível.

Mais tarde naquele dia, eles entraram na garagem de The Tides. Como tinham ficado preguiçosamente na cama após mais um delicioso ato de amor, e de­pois ido até o hotel Waldorf, apanhar as coisas de Zeke, já tinha passado da hora do almoço quando chegaram.

Enquanto andavam pelo caminho que conectava a garagem com o resto da mansão, Summer observou Zeke olhar ao redor, então arquear uma sobrancelha.

— Mais impressionante do que a sua mansão de Nova York.

Ela deu de ombros, num gesto de modéstia.

— Para mim, The Tides sempre foi somente um lar.

— Que lar! — comentou ele, enquanto entravam na casa.

Eles deixaram as maletas nos quartos, e Summer ficou aliviada quando Olive lhe contou que seus avós tinham saído e não voltariam até a hora do jantar. Pelo menos, não teria de lidar com as apresentações por enquanto.

— Como está tia Karen? — perguntou Summer a Olive.

— Michael levou-a até a cidade para fazer uma consulta médica e alguns exames. Os dois só voltarão na segunda-feira.

Oh, céus. Summer tinha esperado que seus tios es­tivessem por perto, uma vez que seriam uma distração a mais, diminuindo assim o impacto da relação entre Zeke e seus avós.

Olive serviu-lhes um rápido almoço tardio, e de­pois Summer disse a Zeke:

—Vamos. Eu vou lhe mostrar o lado de fora da propriedade.

Eles voltaram para os quartos a fim de apanhar ca­sacos para se protegerem contra o vento frio de mar­ço. No caminho, Summer pegou sua máquina foto­gráfica e enfiou-a no bolso. Sempre deixava uma de suas câmeras digitais em seu quarto em The Tides. Gostava de se divertir nos fins de semana, tirando fo­tos das paisagens que cercavam as redondezas, brin­cando com luzes e sombras e capturando as mudan­ças de estações. Era um hobby muito prazeroso para ela.

Do lado de fora, eles passearam pela propriedade juntos, indo ao local da piscina, à pista de helicópte­ros que seu avô usava toda vez que ia trabalhar em Manhattam, e à lateral do jardim de rosas que Maeve cuidava com muito carinho e que florescia num clima mais quente.

Finalmente, pararam no topo da escada de pedra que levava a uma ribanceira e a uma praia particular e um pequeno cais para barcos.

Summer tirou a câmera do bolso.

E viu Zeke sorrir quando percebeu isso.

— Qual é a graça? — perguntou ela.

— Você. Eu continuo achando que você fica me­lhor em frente às câmeras do que atrás delas.

— Oh. — Ela sorriu enquanto se sentia enrubes­cer. — Achei que fosse apenas bajulação sua quando nós estávamos em seu camarim depois do show.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Você é meio descrente, não é? — Zeke meneou a cabeça. — Não, eu falei muito sério. Com seu corpo e rosto, você poderia ser modelo fotográfico.

— Você vai posar para mim? — perguntou ela mudando de assunto, uma vez que queria evitar falar de si mesma naquele momento.

— Pensei que você quisesse fotografar a linda pai­sagem.

Summer deu de ombros.

— Eu faço isso com freqüência, mas hoje quero fotografá-lo. Você tem um rosto interessante. — Um rosto irresistível, acrescentou em pensamento. Não queria admitir o quanto se sentia fascinada por aquele rosto. Fascinada por ele.

Zeke lhe deu um sorriso perverso.

— Tudo bem, vou posar para você. Gosto de onde isso nos levou da última vez.

Ela também se lembrava. A sessão de fotos tinha levado a beijos, e provavelmente os teria levado mui­to mais longe se ela não tivesse fugido depois da en­trevista. Cuidado, Summer, murmurou para si mesma silenciosamente.

Em instantes, todavia, estava tirando fotos de Zeke de diferentes ângulos, primeiro com ele olhando para a água, e depois quando ficou parado nos degraus de pedra.

—Você já fez uma sessão de fotos com John? — perguntou Zeke curioso, quando ela terminou.

—Não — replicou Summer, e então percebeu como aquilo soava. Abaixou a câmera e ocupou-se em fechá-la em sua capa e guardá-la.

—Ei — murmurou Zeke quando subiu os degraus de novo para se juntar a ela. — Quero ver como fica­ram estas fotos.

— Eu as mando para você por e-mail.

Estava perturbada pelo que tinha acabado de ad­mitir a Zeke... e a si mesma. Nunca se sentira fascina­da pelo rosto de John, embora ele fosse um homem bonito. Nunca sentira um desejo compulsivo de foto­grafá-lo.

Meu Deus, pensou, o que havia de errado com ela? Quase convencera a si mesma a se casar com um ho­mem que não tinha passado muito de um bom amigo. Por outro lado, talvez sua presente fascinação por Zeke fosse fora do normal.

Quando olhou para cima, viu que Zeke a olhava com o semblante pensativo.

— Não tem problema se você me acha mais fasci­nante do que acha o outro homem — provocou ele com um sorriso perverso.

Ele enxergava demais, pensou ela com desgosto. Parecia ler todos os seus pensamentos.

— Vamos voltar.

Mais tarde naquela noite, quando se sentou à mesa de jantar na frente de Zeke, se deu conta de que o jantar seria uma experiência muito mais intensa do que tinha pensado. Olive informara seus avós que Summer havia levado um "amigo" para passar o fim de semana em The Tides.

Summer tinha perdido a conta do número de vezes que as sobrancelhas de seu avô haviam se erguido em desconfiança, e agora se perguntava se a civilidade poderia ser mantida pelo menos até o fim da refeição

Mesmo seus avós já haviam ouvido falar de Zeke Woodlow, e, é claro, seu avô não era bobo. Se os pri­mos dela tinham suspeitado que havia mais na rela­ção de Summer com Zeke do que os olhos podiam ver, então certamente Patrick Elliot não seria engana­do. No último fim de semana, ela anunciara o rompi­mento de seu noivado, e neste final de semana, apare­cia em The Tides acompanhada de outro homem.

Com tal pensamento, de repente sentiu o olhar pe­netrante de seu avô e quase recuou quando imaginou o que ele estaria pensando: Bem, Summer, minha ga­rota, este é o tipo de peripécia que eu poderia espe­rar de sua irmã, mas não de você.

Zeke pigarreou, quebrando o silêncio desconfortá­vel que havia se instalado na sala de jantar.

— Então, Summer me contou que o senhor está num processo de escolher um sucessor. Realmente tem grandes planos para sua aposentadoria?

Summer gemeu silenciosamente. A palavra apo­sentadoria não existia no vocabulário de seu avô. Não realmente, e com certeza, não aplicada a ele.

Ela perguntou-se por que Zeke levantara um as­sunto tão delicado, em vez de falar qualquer coisa menos comprometedora, como sobre o tempo, por exemplo. Ela já tinha lhe contado como a competição entre revistas estava exacerbando as tensões familia­res. Lançou-lhe um olhar de aviso, o qual, ou ele não viu, ou recusou-se a reconhecer.

Summer assistiu enquanto seu avô vagarosamente acabava de passar manteiga no pão e demorava a res­ponder. Sabia, por experiência, que uma das técnicas de seu avô para tornar seus alvos desconfortáveis era arrastar o silêncio pelo maior tempo possível.

Zeke, todavia, parecia estar completamente tranqüilo e à vontade. Era ela quem tinha os nervos à flor da pele.

Quando Patrick finalmente olhou para cima, res­pondeu:

— Algumas pessoas nunca param realmente de trabalhar. Para outros, contudo, a festa parece nunca terminar. — Ele mordeu um pedaço de pão.

Oh, meu Deus, pensou Summer. Ela observou enquanto Zeke acabava de mastigar o que tinha na boca e engolia.

— Sim, senhor — respondeu ele educadamente, mas com total segurança. — Essa é a mais pura ver­dade. Fico satisfeito que nós dois somos do mesmo time nesta questão.

Patrick bufou de raiva, como se não pudesse acre­ditar que Zeke tivesse a audácia de declarar que um homem do seu nível, fundador de um império de pu­blicidade, tivesse alguma coisa em comum com um rebelde astro de rock.

Summer notou sua avó escondendo um sorriso. Bem, pelo menos, Maeve parecia ter simpatizado com o astro de rock.

Patrick parou de comer e se dirigiu a Zeke:

— Você mencionou que as profissões de seus pais são professor e psicóloga. Eles aprovam a escolha de sua carreira?

— Eles não ficaram muito felizes no começo— respondeu Zeke com naturalidade. — Mas então en­tenderam que eu estava disposto a realizar meus pró­prios sonhos. E quanto a seus pais?

Summer pensou ter ouvido seu avô murmurar al­guma coisa baixinho e suspeitou que era algo como: "garoto insolente". Queria se encolher embaixo da mesa, ou no mínimo, cobrir a cabeça com o guarda­napo.

Maeve pareceu notar o olhar de súplica que a neta lhe enviou e disse:

— A primeira vez que Patrick foi à minha casa, meu pai desgostou dele intensamente.

— Então, fico feliz que ele esteja apenas conti­nuando uma tradição de família — disse Zeke.

Maeve pareceu altamente divertida com a coloca­ção, enquanto Patrick baixou as pálpebras e olhou para baixo, provavelmente controlando uma explo­são.

Para Patrick, Zeke acrescentou:

— Eu sou como o senhor. Ambicioso, trabalhador e disposto a começar do princípio e subir em uma car­reira na qual não tenho conexões.

Patrick ergueu os olhos e estudou Zeke atenciosa­mente, parecendo pensativo.

—Mas ainda com tempo para vadiar, pelo que tudo indica. Primeiro com uma de minhas netas, e de­pois com a outra?

Com o gemido que Summer não pôde conter dessa vez e o olhar para seu avô, Patrick voltou-se para ela e acrescentou:

— Não me olhe assim, minha garota. Ainda sou capaz de ler, e, sim, as notícias da aparição de Scarlet com Zeke no The Post chegaram até mim. Posso pre­cisar de óculos para leitura, mas não estou morto ain­da.

— Era eu, não Scarlet, vovô!

No minuto em que as palavras saíram de sua boca, Summer se arrependeu de ter falado.

Patrick recostou-se na cadeira, um olhar curioso no rosto.

Summer enrubesceu.

— Quero dizer...

Zeke encarou o homem mais velho nos olhos.

— Não há explicação.

Summer recuperou-se o bastante para acrescentar:

— Continuo mantendo o que falei no último fim de semana. Percebi que John e eu não nos amamos realmente, que somos parecidos demais, e foi por isso que cancelei o noivado.

— Seu avô entende isso — interferiu Maeve. — Afinal de contas, houve uma época na qual ele tam­bém era jovem e impetuoso.

— Nunca — declarou Patrick com seriedade.

— Bem — continuou Maeve como se não tivesse ouvido o marido —, meu pai jurava que Patrick esta­va fazendo a corte mais curta que já havia sido regis­trada na história.

Maeve então, com sua incrível habilidade de lidar com situações difíceis, conduziu a conversa para um assunto mais seguro e pediu a Olive que levasse fru­tas frescas.

Summer ficou aliviada quando o jantar acabou logo depois disso. Em seguida, enquanto seu avô e Zeke iam tomar um licor na biblioteca, ela foi se sen­tar com sua avó na pequena sala de chá, cujos móveis e decoração eram menos informais e mais confortá­veis que no resto da casa. Saboreou um pouco de chá verde numa xícara de porcelana chinesa.

— Eu acho que Patrick gosta dele — comentou Maeve de repente.

Summer virou a cabeça a fim de olhar para a avó.

— Você está brincando. Como sabe disso? Maeve deu à neta um sorriso carinhoso.

— Zeke recusou-se a ser intimidado. Ele me lem­bra muito de Patrick quase sessenta anos atrás, quan­do ele foi para a Irlanda e me cortejou.

Summer refletiu sobre o comentário de sua avó e, mais tarde naquela noite, quando finalmente ficou sozinha com Zeke, falou:

— Eu bem que tentei avisá-lo sobre vovô. Zeke riu.

— O latido dele é pior do que a mordida.

— O que vocês conversaram na biblioteca? — in­dagou ela, curiosa.

—Nós tomamos licor, fumamos um charuto. Ele me mostrou sua impressionante coleção das primei­ras edições. — Zeke então acrescentou com uma pis­cadela: — Não se preocupe. Eu gosto dele. E se quer saber, acho que ele também gosta de mim.

Summer arqueou as sobrancelhas numa expressão surpresa, mas Zeke apenas riu de novo.

Na quarta-feira à noite, Zeke apanhou Summer no trabalho em seu carro esporte alugado. Eles tinham feito planos de jantar na Peter Luger, logo depois da ponte de Manhattan, e depois irem a uma exposição de fotografias numa galeria de arte, perto de Fort Greene, a qual era conhecida como o paraíso dos ar­tistas pela classe alta de Manhattan.

Nunca tinha conhecido uma mulher como Sum­mer, pensou Zeke. Ela era um mar de contradições. Uma herdeira com algumas pretensões e muitas inse­guranças. Uma reversão para outra era, mas uma mu­lher que tinha ambições quanto à carreira. Uma re­cente ex-virgem que podia enviá-lo do estado de rela­xamento para o maior paraíso de excitação em menos de um minuto.

Talvez por tudo isso ele a achasse tão fascinante.

Zeke a olhava agora enquanto andavam pelas ruas de Fort Greene. Summer vestia uma jaqueta de couro curta, e por baixo, uma blusa listrada de branco e pre­to, justa no corpo, moldando-lhe os seios perfeitos. Ele não tinha sido capaz de parar de olhar para aque­les seios durante o jantar que acabara recentemente.

Na verdade, tivera de se conter e reprimir seu de­sejo para não levá-la a seu quarto de hotel e passar a noite na cama, envolvidos num sexo prazeroso, ar­dente e satisfatório.

— Aqui estamos — anunciou ela, sorrindo e virando-se para ele, interrompendo-lhe os pensamentos.

Zeke olhou para a frente da loja atrás dela. As vi­trines eram ornadas com cortinas de veludo verme­lhas que ocultavam o interior, e não havia sinais indi­cando o que tinha lá dentro, exceto por uma placa dis­creta colocada ao lado da porta da frente, com as pa­lavras Galeria Tentra em preto.

Como ele logo descobriu, todavia, o espaço do lado de dentro era claro, arejado, bonito, em estilo loft, com um segundo piso acessível pelo elevador. Fotografias estavam penduradas nas paredes, cada uma marcada com o título e uma breve descrição.

A galeria tinha atraído um bom número de pes­soas, mas não uma multidão exagerada. E como não queria ser reconhecido, Zeke manteve o boné de bei­sebol na cabeça.

Ele e Summer começaram por um dos cantos da galeria e, sem pressa, observaram cada foto indivi­dualmente com atenção.

— Lembre-me de novo por que estamos aqui —. murmurou ele.

Ela riu suavemente.

— Porque Oren Levitt é um bom amigo, e um dos fotógrafos cujo trabalho está sendo mostrado.

— Ele é muito bom amigo?

Ela o olhou de lado.

— Com ciúme?

— Eu tenho razão para estar com ciúme? Ela o olhou por baixo dos cílios.

— Não. — Então acrescentou: — Oren está noivo de sua primeira namorada,

— Ótimo. — Um alívio irracional o tranqüilizou. Não podia se lembrar de já ter sido tão possessivo em relação a uma mulher antes. Ou tão apaixonado por uma.

Naquele momento, um rapaz alto e magro, cuja aparência era meio desleixada, aproximou-se, acom­panhado de uma mulher pequenina com cabelos tin­gidos de preto e maquiagem pesada.

Summer fez as apresentações, e Zeke acenou em reconhecimento para Oren e sua noiva, Tabitha.

Ambos pareciam impressionados e entusiasmados em conhecer o astro de rock Zeke Woodlow e, pelo que Zeke podia dizer, o único momento de estranhe­za surgiu quando Oren perguntou sobre John e ela teve de divulgar o recente rompimento dos dois. Se Oren e Tabitha ficaram curiosos sobre o relaciona­mento de Zeke com Summer, mantiveram os pensa­mentos para si mesmos.

Depois que Oren e Tabitha tinham se afastado a fim de cumprimentar outras pessoas que estavam chegando, Zeke olhou para Summer e disse:

— Não exatamente o tipo de amigos que eu pensei que uma herdeira como você teria.

Ela franziu o cenho e fingiu estar zangada.

— Você está dizendo que me acha esnobe?

— Estou apenas surpreso, mais nada. Até recente­mente, você era toda pérolas e cashmere, e ainda tem a postura e comportamento de quem estudou em ex­celente escola e as maneiras adequadas para um chá das cinco com a realeza.

Summer suspirou.

— Conheci Oren num curso de fotografia. Aliás conheci muitas pessoas diferentes em meu curso de fotografia. E gosto de conhecer diferentes tipos de pessoas.

— E ainda assim — comentou ele —, você estava prestes a se casar com um homem aparentemente igualzinho a você.

Virando-se, ele olhou para a próxima foto na pare­de, deixando-a refletir sobre aquela observação.

Notou que Summer não disse nada, mas, após al­guns segundos, voltou a se aproximar dele.

Parecia a Zeke, pelas fotografias que estavam ex­postas, que Oren gostava de fotografar pessoas famo­sas ou pessoas comuns com vestimentas de pessoas famosas. Seu trabalho era um tipo de mistura entre as fotos de Annie Leibovitz e a arte de Andy Warhol.

Quando eles subiram para o segundo andar, Zeke descobriu mais fotografias de Oren.

— Estes são alguns dos trabalhos anteriores de Oren — contou Summer, e então acrescentou, fran­zindo o cenho: — Eu não sabia que ele também ia ex­por trabalhos antigos esta noite.

Zeke deu uma olhada para ela enquanto andava em direção às fotografias mais próximas. Uma era de um palhaço, uma outra de alguém vestida como Maria Antonieta, a rainha da França destinada à morte.

Virando um corredor, ele viu outras fotos pendura­das nos fundos de um pilar liso... e parou em estado de choque.

Daphne.

Era a mesma mulher que estava agora na foto emoldurada pendurada na parede de sua mansão de Los Angeles. A mesma mulher que glorificava seus sonhos. Podia jurar que era.

Exceto que nesta fotografia, a mulher estava usan­do um vestido de festa Vitoriano, os cabelos num co­que elaborado no topo da cabeça, o rosto maquiado e parcialmente obscurecido por um leque.

Os olhos dele foram para a placa que acompanha­va a foto: Daphne Victoria.

— Alguma coisa errada? — perguntou Summer quando se aproximou, olhou para o rosto dele e então para a foto na parede.

Ele a ouviu respirar profundamente antes de voltar a olhá-lo.

Com Summer e Daphne agora lado a lado, Zeke descobriu que podia finalmente comparar as duas. Os olhos verdes claros eram os mesmos, mas em "Daph­ne em cena", os cabelos da mulher na foto eram de uma tonalidade um pouco mais escura do que a dos cabelos de Summer.

— A semelhança é misteriosa, não é? — murmu­rou ele. Tirando os olhos da foto, encarou Summer. — As fotos expostas esta noite estão à venda?

— Suponho que sim.

— Ótimo. — Ele gesticulou com a cabeça para a foto à sua frente. — Eu vou levar esta. — Em segui­da, olhou ao redor. — Na verdade, se houver mais al­gumas de Daphne, vou comprar, também.

— Zeke.

Ele virou-se e olhou para Summer, que estava mordiscando o lábio inferior.

— O que houve? Ela hesitou.

— Oren tirou esta foto.

Ele a olhou por um momento, então, devagar, en­tendeu tudo.

É claro. Deveria ter adivinhado. Teve vontade de rir alto.

— É você, não é? — perguntou. Não fosse pela maquiagem pesada e a diferença na tonalidade dos cabelos, teria adivinhado de imediato.

A mulher que perseguia seus sonhos não apenas se parecia muito com Summer. Era Summer.

Ele observou agora enquanto ela assentia com um movimento de cabeça.

— Por favor, não conte a ninguém.

— O quê? Por quê? — Ele fez uma pausa, então, de súbito uma desconfiança surgiu em sua mente. — Ninguém na sua família sabe?

Ela assentiu de novo.

— Posei para Oren uma vez como um favor, a fim de ajudá-lo com sua carreira, mas somente com a con­dição de que ele usasse um pseudônimo para mim e nunca deixasse que a publicidade me unisse às fotos.

— Então é por isso que a mulher é identificada como Daphne.

— Sim.

Um outro pensamento lhe ocorreu, e Zeke uniu as sobrancelhas numa expressão interrogativa.

— Não há fotos de você nua, há? Summer arregalou os olhos.

— O quê? Não!

— Então, qual é o problema? O rosto dela tremeu de leve.

— Eu não queria causar nenhum tipo de embaraço para minha família.

— O que há para ficar embaraçada? — Zeke não podia compreender aquilo. — Tem certeza que seu motivo era simplesmente porque não queria embara­çar sua família? Ou isso era sua pequena rebelião par­ticular contra as restrições necessárias para ser uma Elliot?

Como ela não respondeu, Zeke murmurou:

— Deixe-me adivinhar. Fazer poses provocantes para um fotógrafo em potencial, mas ainda desconhe­cido, não combinava com a imagem de Summer El­liot, a herdeira comportada de Manhattan.

— Oh, cale-se. Ele sorriu.

— Isso não foi muito educado.

— Fico satisfeita que você ache isso tão divertido.

— Na verdade, acho — concordou ele. — Diverti­do e fascinante. Sabe, eu já tenho uma fotografia de Daphne, quero dizer... sua.

Ela pareceu surpresa.

— Você tem?

Zeke assentiu.

— Está pendurada em minha casa de Los Angeles. Foi por isso que lhe perguntei naquela primeira noite depois do show se você já tinha posado como modelo fotográfico.

— E eu neguei, porque ninguém deveria saber so­bre isso — respondeu ela friamente.

Ele sorriu.

— Caitlin, Daphne, Summer. Existe mais alguma personagem que eu deveria conhecer?

— Muito engraçadinho.

Ele ficou sério e estudou-a, pensativo.

— Mas Daphne tem os cabelos mais escuros.

— Meus cabelos foram realçados digitalmente nas fotografias, para fazer algumas mechas mais escuras do que a cor natural — explicou ela.

— Ah. — Não era de se admirar que tanto Summer quanto Daphne o faziam pensar na música que queria compor. Eram uma só pessoa. A mesma pessoa. Nos olhos da mente, Zeke viu “Daphne em cena". O rosto da mulher estava bastante maquiado, o corpo curva­do de maneira sensual num sofá-cama.

— Sabe — comentou ele —, adoro a sua fotografia que tenho em Los Angeles. Foi por isso que fiquei tão abismado quando você entrou no camarim aquela noite depois do show.

— Você gosta da foto? Ficou abismado quando eu apareci? — Ela parecia satisfeita, lisonjeada, como se estivesse morrendo de vontade de agarrá-lo e fazer amor com ele. Zeke esperou que isso não fosse ape­nas uma invenção de sua mente imaginativa.

— Vamos sair daqui — disse ele com voz rouca. Ela concordou.

Ele a queria com desespero. Quando apertou o bo­tão do elevador, rezou para que pudesse ter forças e esperar até que eles chegassem na suíte do Waldorf. Não queria pensar nas manchetes de jornal do dia se­guinte se fosse pego fazendo sexo no carro.

Antes de deixar a galeria, contudo, tinha parado tempo o bastante para convencer Oren a considerar vender-lhe os direitos autorais de todas as fotografias de Daphne.

Pagaria o que fosse necessário. Se uma foto de Daphne podia mexer com sua imaginação, quem pode­ria dizer o que um quarto cheio de fotos dela faria com sua criatividade? E então, é claro, havia a idéia estimu­lante de possuir o pequeno segredo de Summer.

 

 

CAPÍTULO DEZ

 

Summer olhou ao redor da mansão de Zeke nova­mente, enquanto o esperava retornar da rua. Ele tinha dado uma saída rápida para ir ao mercado e resolver alguns problemas pessoais. Era um domingo ensola­rado, e ela apreciava o clima quente e agradável do sul da Califórnia. Não podia se lembrar de ter se sen­tido mais feliz na vida.

Depois de deixarem a galeria de arte na quarta-feira à noite, eles tinham ido para a suíte do hotel de Zeke, onde fizeram amor até as primeiras horas da manhã, e então adormeceram um nos braços do ou­tro.

Na quinta, foram jantar na casa dos pais de Zeke, e Summer descobriu que eram pessoas inteligentes, es­pirituosas e charmosas. Mais ou menos como o filho deles, pensou com um sorriso.

E então, de alguma maneira, permitira que Zeke a convencesse ir a Los Angeles naquele fim de semana. Summer tinha avisado no trabalho que não estaria lá na sexta-feira, de modo que os dois puderam voar juntos para a Costa Oeste.

Agora, enquanto andava de cômodo em cômodo na mansão de Zeke em Beverly Hills, sentia-se atônita novamente pelo fato de a propriedade ser tão im­pressionante. Quando eles tinham chegado na sexta à tarde, não tivera chance de formar mais do que. uma impressão geral. Havia visto que a parte externa da casa aconchegava uma piscina coberta, uma quadra de tênis e um chalé de hóspedes. A casa em si, um so­brado em estilo espanhol, tinha um telhado verme­lho, portas em arcos e uma adorável varanda, onde eles haviam jantado na primeira noite ao ar livre, por causa do clima agradável fora de estação.

Naquela manhã, Summer absorvia os detalhes que perdera em sua primeira caminhada ao redor da casa. Adorava o jeito com que a decoração misturava anti­guidades de diferentes períodos para criar um visual majestoso, mas ainda aconchegante e convidativo.

Sua avó teria aprovado. Summer aprovava. Muito. O estilo de Zeke refletia seu próprio gosto.

No momento em que andou para o fundo da casa, não pôde evitar pensar que, até agora, o tempo deles em Los Angeles tinha sido idílico. No dia anterior, ela tirara fotos dele sem camisa, então Zeke, rindo, ti­rou-lhe a câmera das mãos e fez fotos dela. Eles joga­ram tênis, riram e brincaram como duas crianças, de­ram um mergulho na piscina, o que acabou levando-os a fazer amor no vestiário anexo, apesar dos protes­tos de Summer de que algum empregado poderia apa­recer e pegá-los ali. De noite, haviam jantado no Ho­tel Bel-Air, que tinha um dos restaurantes mais ele­gantes e sofisticados da cidade.

Acima de tudo, Zeke estava tendo uma influência sutil, porém segura e positiva sobre a vida dela. O guarda-roupa de Summer tinha se tornado mais sexy e com mais estilo, em grande parte, não podia negar, porque queria excitá-lo. E, é claro, graças a ele, esta­va fugindo do trabalho... e gostando disso... pela pri­meira vez na vida.

Summer parou quando entrou na sala de música de Zeke, onde, ele lhe contara, gostava de tocar e com­por. Olhou novamente para a fotografia emoldurada na parede, acima da lareira.

Recordou-se de quando Oren tinha tirado sua foto como Daphne, a deusa grega. Havia ficado nervosa porque sentira como se estivesse se rebelando, exata-mente como Zeke adivinhara.

Era uma emoção muito grande pensar que Zeke ti­nha visto "Daphne em cena" numa feira de rua e de­cidido que precisava ter a foto para si. Isso a fazia acreditar que não fora apenas ela que sentira uma co­nexão instantânea, como se os dois se conhecessem desde sempre, quando tinham se visto pela primeira vez. Isso a fazia pensar que alguma coisa significati­va começara acontecer naquela noite... significativa o bastante para que Summer percebesse que devia romper seu noivado com John.

— Vejo que você encontrou a foto — disse uma voz atrás dela.

Summer virou-se da fotografia para encarar o ho­mem que estava andando pela sala.

— Olá, Marty — murmurou ela. Tinha sido apre­sentada ao empresário de Zeke no dia anterior. Ficara impressionada com a experiência que ele possuía na indústria da música, parecendo sempre focar nos in­teresses dos clientes, acima de tudo. Talvez o empre­sário tivesse visto muitos astros musicais subir lenta­mente a escalada do sucesso para chegar ao topo.

Marty parou a seu lado.

— Sabe, quando Zeke me contou que você entrou no camarim dele em Nova York, achei uma incrível coincidência.

Ela sorriu.

— Não foi mesmo?

— E muita sorte, também. Ora, a sorte sempre pa­rece estar ao lado de Zeke. Seu primeiro álbum foi lançado no momento em que o público parecia ansio­so por baladas românticas e sexies.

— Eu não sabia que o fato de Zeke ter me encon­trado era considerado sorte — disse ela, incapaz de não se sentir lisonjeada.

— Ele estava num momento realmente ruim em relação a compor músicas para seu próximo CD. Tipo de um bloqueio de escritor. — Marty gesticulou para o retrato na parede. — A foto era a única coisa que poderia desbloqueá-lo e fazer sua criatividade voltar a fluir. — Ele olhou para ela. — É claro, ter você em carne e osso foi ainda melhor.

Sentindo-se subitamente desconfortável, Summer perguntou-se se havia um duplo sentido nas últimas palavras de Marty, mas ele apenas a olhou placidamente. Com certeza, não quisera dizer "tê-la em car­ne e osso" literalmente. Em voz alta, ela declarou:

— Eu não sabia que estava ajudando na criativida­de de Zeke.

— Não sabia? — replicou Marty, e, em seguida, assentiu com um enfático movimento de cabeça. — Sim, você é como uma musa para ele, por enquanto.

Alguma coisa no tom de voz de Marty fez o pulso de Summer acelerar.

Marty olhou da foto para ela mais uma vez.

— Sabe, no começo, fiquei preocupado. Um en­volvimento profundo não seria bom para carreira de Zeke. Milhões de mulheres o vêem como um símbolo sexual.

Ela conseguiu assentir levemente. Não tinha certe­za para onde aquela conversa estava se dirigindo.

— Mas então — continuou Marty —, uma vez que Zeke explicou que o envolvimento com você era... umm... por propósitos artísticos, percebi que eu não tinha motivos para me preocupar.

— Entendo. — Summer sentiu um forte aperto na boca do estômago.

Marty suspirou.

— Infelizmente, uma celebridade do calibre de Zeke tem uma imagem a manter e uma máquina pu­blicitária que precisa ser alimentada... com o tipo cer­to de publicidade, é claro.

— É claro. — Ela estava começando a desgostar de Marty, mas então, novamente, estaria apenas cul­pando o mensageiro? Trabalhando numa revista de entretenimento, ela, mais do que a maioria das pes­soas, conhecia a verdade das palavras de Marty sobre a natureza da existência de uma celebridade.

Zeke estava no auge de sua carreira. Era jovem, ta­lentoso e abençoado com a aparência de um verdadeiro ator de cinema. Como símbolo sexual, não seria bom para ele se envolver seriamente com alguém e, muito menos, ficar noivo ou se casar naquele momento.

— Você trabalha na The Buzz, certo? — afirmou Marty. — É claro que entende como funcionam essas coisas. Nos últimos dias, tive de inventar uma histó­ria unindo Zeke a uma supermodelo, e então declarar a um jornal concorrente que não negava o fato. Zeke tem de ficar bem aos olhos do público, e meu traba­lho é manter as pessoas falando, mas sobre o tipo de coisa certa.

Summer assentiu. Realmente precisava pôr um fim naquela conversa. Sentia-se enjoada. Deveria ter sabido que alguém tão lindo e famoso como Zeke não se sentiria atraído por alguém como ela, a menos que houvesse um outro interesse por trás. Eles eram... di­ferentes.

Quão ingênua podia ser?, perguntou-se agora. Muito, respondeu silenciosamente.

Em voz alta, murmurou:

— Você poderia me dar licença, Marty? — As boas maneiras da garota que estudara em uma boa es­cola a dominaram. Educação sob as situações mais estressantes. — Preciso dar um telefonema. — Uma pequena mentira bem contada podia salvar uma pes­soa das piores circunstâncias.

— É claro — disse Marty com um sorriso. — Aproveite o resto de sua estada em Los Angeles.

— Obrigada — ela conseguiu dizer, então, virou-se e foi em direção à porta, a cabeça erguida e a co­luna reta. Todavia, uma parte sua não podia evitar a sensação de que estava fugindo... e Marty sabia disso.

— Você está indo embora? ? — perguntou Zeke incrédulo. — Por quê?

Ele pensou que eles tinham concordado em voar juntos para Nova York na próxima noite. Zeke tinha uma reunião na manhã seguinte com a agência de ta­lentos em Los Angeles, mas depois estaria livre para voltar a Nova York com ela. E esse era o combinado, de qualquer forma.

Em vez disso, lá estava Summer arrumando as ma­las e anunciando que iria partir naquela mesma noite.

Ela jogou o maio na mala.

— Decidi que precisava arrumar as malas e ir. Te­nho um emprego, lembra-se? Um trabalho no qual quero ser promovida.

Zeke se distraiu com o maio. Recordou-se de tê-lo tirado no dia anterior e do que tinha acontecido em seguida.

— Eu sei que você tem um emprego — disse ele, forçando seus olhos a encarar Summer —, mas pen­sei que tivéssemos concordado em voltar amanhã à noite.

— Mudei de idéia — respondeu ela, continuando a fazer a mala.

— Que coisa, Summer! — exclamou ele, a paciên­cia se acabando quando agarrou a saia que ela estava prestes a jogar na mala. — Você pode olhar para mim? Qual é o verdadeiro motivo de seu súbito dese­jo de partir?

Provavelmente porque não tinha escolha, ela pa­rou. Após um momento, disse:

— Este fim de semana foi maravilhoso, mas tam­bém me fez perceber que somos pessoas muito dife­rentes, com estilos de vida completamente distintos.

Ele apenas a olhou. O que tinha acontecido? Zeke achou que eles estavam indo em direção... a alguma coisa.

Summer tirou-lhe a saia da mão e guardou na mala.

— Preciso conseguir alguma perspectiva, e para isso, é necessário que haja algum espaço entre nós.

— Perspectiva? Perspectiva do quê? — perguntou ele perplexo. Uma parte de sua mente entendia o que ela estava dizendo, mas Zeke simplesmente não que­ria acreditar nisso.

No geral, era ele que dispensava as mulheres facil­mente. Não gostava de fazer isso, e nunca tinha se ga­bado do número de vezes que fora obrigado a fazê-lo, mas era apenas um fato da vida, dada sua fama e pres­tígio. Sempre havia mulheres prontas para aparece­rem nos braços de um astro de rock, por mais breve que fosse o momento.

Observou quando Summer respirou profunda­mente.

— Nossas vidas são totalmente diferentes, Zeke. Você viaja muito em tours, e eu estou comprometida a crescer na Editora Elliot.

— Está? — questionou ele. — Eu comecei a pen­sar melhor sobre isso, sabia? Você é uma grande fo­tógrafa e tem verdadeira paixão pelo que chama de hobby.

— Tornar-me repórter em The Buzz é meu objetivo — disse ela enfaticamente. — Esse foi o motivo pelo qual conheci você, lembra-se?

— Sim, eu me lembro — respondeu ele. — Mas também percebi que a Editora Elliot era o sonho de seu avô. Não tem de ser necessariamente o sonho de todos os filhos e netos dele.

— Eu sei, mas esse sempre foi o meu sonho.

Ele queria dizer mais, queria discutir com ela e provar que estava certo, mas decidiu que seria mais produtivo mudar de tática.

— Olhe, mesmo que a Editora Elliot seja o que você quer, isso não significa que não podemos ficar juntos.

— Por quanto tempo? — disse ela, encarando-o. Zeke não tinha resposta para aquilo. A advertência de Marty soou em sua cabeça: Não se envolva seria­mente com ninguém. Não seria bom para a carreira dele.

— Eu não quero o estilo de vida que você leva, sempre na estrada — continuou Summer —, e você não está pronto para se acomodar.

O que ele poderia dizer em resposta àquilo? Não tinha pensado realmente sobre o futuro do relaciona­mento deles. Estava muito feliz em viver um dia de cada vez. Era assim que tinha sido em todos os seus relacionamentos passados.

Entretanto, Summer parecia pronta a desistir ago­ra.

— Você precisa alimentar uma máquina publicitá­ria voraz — prosseguiu ela. — Tem de estar aos olhos do público com o tipo certo de publicidade, e esta não sou eu. Não é isso que quero.

Mais uma vez, ele não podia discutir com Sum­mer. Na verdade, ela estava falando como Marty em relação aos requisitos necessários para a carreira dele.

Zeke tentou a única tática que restava.

— Vamos, Summer, você percorreu um longo ca­minho para chegar até aqui. Está finalmente quebran­do sua concha e se descobrindo. Não desista agora. Agarre a oportunidade.

— Talvez a concha seja quem eu sou — disse ela calmamente. — E é melhor você parar de enganar a si mesmo, achando que vou me transformar numa outra pessoa.

Ela virou-se de costas para ir até a cômoda e pegar mais roupas, e Zeke soube então, que, da perspectiva dela, a conversa tinha acabado. A relação deles tinha acabado.

— Summer.

— Hmm.

— Summer.

Summer girou sua cadeira de trabalho e notou seu tio Shane parado à porta aberta de sua sala. Olhou-o com o semblante culpado. Desde que tinha deixado Los Angeles, três dias atrás, vinha tendo dificuldade em se concentrar no trabalho. Hoje era quarta-feira, e ainda estava tentando se concentrar.

Shane descansou o braço sobre a moldura da porta.

— Boas notícias.

Ela bem que precisava de algumas.

— Sim? Shane sorriu.

— Você está sendo promovida. No próximo mês, será repórter da The Buzz.

Summer forçou um sorriso, a notícia despertou emoções mistas.

— Obrigada.

— Você conseguiu isso, querida, por causa da en­trevista que fez com Zeke Woodlow. Você nos aju­dou a manter a concorrência nesse jogo que vovô ini­ciou e merece ser recompensada.

Na opinião de Summer, Shane tinha lidado com o desafio de Patrick Elliot melhor do que a maioria do resto da família. Mas então, Shane parecia ver a com­petição entre as revistas Elliot como um jogo... um jogo que talvez fosse interessante e divertido ganhar.

Shane inclinou a cabeça para o lado e estudou-a.

— O que há de errado? Pensei que ficaria radiante com a promoção. — Ele franziu o cenho. — Não era isso que você queria, afinal?

Tinha sido. E Summer havia declarado isso na úl­tima reunião anual dos funcionários. Então, o que es­tava errado com ela?

Para agradar Shane, tentou dar um grande sorriso.

— É claro, estou feliz. — Não, você não está, sus­surrou uma vozinha em seu interior. — Isso é tudo que eu sempre quis. —Até agora. — Estou apenas tentando absorver a notícia. Afinal de contas, tenho esperado por essa promoção há muito tempo.

Shane assentiu com um gesto de cabeça, então pis­cou.

— Ótimo. Vamos tomar um drinque na sexta-feira para comemorar.

A equipe da The Buzz ocasionalmente se reunia em um bar ali perto para os drinques GDES — Gra­ças a Deus é Sexta-feira, mas desta vez Summer achou difícil fingir qualquer entusiasmo.

— Obrigada, Shane.

Quando seu tio saiu da sala, ela pegou-se olhando para a tela de seu computador. Gostaria de poder se abrir com Scarlet, mas sua irmã estava distante de­mais ultimamente, sem mencionar que mal parava em casa. Summer não podia evitar pensar que o com­portamento de Scarlet se devia ao rompimento dela com John e à união com Zeke, embora Scarlet nunca tivesse lhe dito isso diretamente.

Ainda estava em péssimo humor quando chegou em casa naquela noite. Scarlet não estava lá, embora Summer a ouvisse chegar depois que já estava aco­modada na cama.

Há três dias não ouvia uma palavra sobre Zeke. Sabia que não tinha motivo para esperar que ele li­gasse, mas, perversamente, queria muito que isso acontecesse.

Depois de se virar de um lado para o outro na cama sem conseguir dormir, levantou-se nas primeiras ho­ras da manhã e foi se sentar no sofá da sala, olhando para frente quando as luzes da cidade lá fora criaram um brilho turvo no local.

Estava tão confusa e deprimida. Tinha alcançado outro marco de seu plano de cinco anos, recebendo sua tão cobiçada promoção.

Deveria estar se sentindo feliz, até mesmo extasia­da, mas não estava. Deveria estar comemorando com John, mas não estava.

Lembrou-se das palavras de Zeke: Você não pode viver de acordo com um plano preestabelecido.

Refletiu sobre o que ele dissera e perguntou-se se era isso que vinha fazendo. Estava tentando tornar a vida boa e organizada quando, por natureza, esta es­tava confusa e repleta de surpresas inesperadas?

Havia entendido que ia se casar com John somente porque ele se encaixava em seus planos bem estuda­dos, mas talvez ele não fosse o único aspecto de sua vida que deveria estar questionando. Talvez a tentati­va de ser promovida na The Buzz fosse algo que fize­ra sem pensar, sem analisar por que estava lutando tanto por isso.

Era isso que Zeke tentara lhe dizer? Às vezes, os planos podem atrapalhar o caminho para você che­gar onde realmente quer.

O que Summer Elliot realmente queria? Quase te­mia abrir aquela porta e descobrir o que havia lá den­tro, mas forçou-se a fazer isso.

O que queria?

Exatamente como Zeke tinha dito, ela estava mui­to diferente da Summer de apenas um mês atrás. Não havia mais pérolas e cashmere, ou saltos altos. Hoje, fora trabalhar vestida com uma blusa verde de decote "V", um blazer macio que delineava os seios, calça que ficava baixa no quadril e sapatos pretos de salto baixo. O visual era sofisticado, mas suave. Graças a diversas idas às lojas depois do trabalho, seu estilo não era como o de Scarlet, mas também não era o jei­to chique e conservador que costumava ter quando namorava John.

A verdadeira Summer Elliot pode, por favor, le­vantar-se?, ordenou silenciosamente com ironia.

Fechou os olhos e refletiu sobre a transformação do último mês. Permitiu que sua mente vagasse com liberdade para pensar sobre seus desejos mais secre­tos.

Liberte sua deusa interior... Liberte sua deusa inte­rior.

As palavras de Scarlet voltaram à sua cabeça.

Summer pensou no que realmente queria e enten­deu que não era ser repórter, ou The Buzz, ou nem mesmo a Editora Elliot. Tinha gostado de entrevistar Zeke, mas o que a fazia verdadeiramente feliz era fo­tografia. Amava capturar o mundo à sua volta com uma câmera.

Não tinha se permitido seguir seriamente a carrei­ra de fotógrafa porque... Bem, por causa do medo. Medo de que nunca fosse boa o bastante para passar de uma amadora. E medo de decepcionar as expecta­tivas da família. Presumia, e não porque alguém ti­vesse lhe dito isso, que todos esperavam que ela tra­balhasse na Editora Elliot, assim como todos os ou­tros na família faziam.

Questionou-se agora se não havia se vendido bara­to. Aonde seu avô teria chegado se tivesse tido medo de ser bem-sucedido em publicidade? Se tivesse se permitido trabalhar nos campos como filho de imi­grantes irlandeses, como era o costume na época?

Era isso que Zeke dissera? A Editora Elliot era o sonho de seu avô. Não tem de ser necessariamente o sonho de todos os filhos e netos dele.

Talvez ela tivesse entendido tudo errado. Talvez permanecer verdadeira ao exemplo de seu avô signi­ficasse perseguir seu próprio sonho, em vez do sonho dele.

Summer abriu os olhos e suspirou Sim. Ainda não sabia o que ia fazer, mas estava cons­ciente de que seu futuro não seria na Editora Elliot ou na The Buzz- Queria descobrir seu talento para fotó­grafa. Adoraria ter o tipo de exposição em galeria que Oren tivera recentemente.

As palavras de Zeke ecoaram em sua mente. Você percorreu um longo caminho... Não desista agora.

Finalmente, ela entendeu o que ele quisera dizer. Não se tratava apenas de John ou de sua vida amoro­sa. Tratava-se de sua vida. Ponto final.

Summer sentiu um sorriso tocando-lhe os lábios. Quantas vezes, naquela mesma noite, tinha pensado sobre o que Zeke lhe falara? Não se importava se isso se devia ao fato de ele ter uma mãe psicóloga, ou por-, que estava sintonizado com emoções por causa de sua música, Zeke Woodlow lhe ensinara muito sobre si mesma.

O sorriso de Summer se ampliou. Tinha aprendido alguma coisa... alguma coisa profunda com um astro de rock.

E, com esse pensamento, outro se seguiu.

Liberte sua deusa interior... Liberte sua deusa inte­rior...

Sua deusa interior, ela se deu conta, queria Zeke Woodlow.

Seu coração disparou de repente quando entendeu. Não apenas queria Zeke. Amava Zeke.

Ele era inteligente e engraçado, e a fazia se sentir uma pessoa melhor quando a desafiava. E eles ti­nham uma química incrível. Fantástica. Claro, ela aprendera muito com ele na cama, mas aprendera ainda mais fora dela.

Não precisava se perguntar se estava sendo in­fluenciada pelo fato de Zeke ter sido seu primeiro amante. Instintivamente, sabia que jamais teria a mesma química com John ou com qualquer outro ho­mem, mesmo que tivesse dormido com um deles.

Tudo fazia sentido agora. Amava Zeke com todo seu corpo, coração e alma.

Sim, a carreira dele sempre o colocaria na estrada, mas a vida a seu lado seria uma aventura. E se ela es­tava disposta a ser uma fotógrafa séria, uma carreira na estrada poderia ser ideal. Nunca lhe faltariam as­suntos e cenários interessantes.

Já não importava mais que não se casaria aos 26 anos... ou mesmo num futuro previsto. Descobria agora que não podia viver de acordo com um plano preestabelecido.

O que lhe importava era que Zeke e ela estavam comprometidos a ver aonde o relacionamento dos dois os levaria. Summer sabia que ele permaneceria um conquistador de corações para suas fãs, mas tam­bém sabia que podia aceitar isso... contanto que sen­tisse que ele a amava tanto quanto ela o amava.

Aquele pensamento deveria ter feito com que ela se animasse. Em vez disso, aconchegou-se nas almo­fadas do sofá. O problema era que, três dias atrás, deixara claro que Zeke devia sair de sua vida.

Olhou para o relógio de vidro no fim da mesa. Era uma hora da manhã em Nova York, mas apenas dez da noite em Los Angeles.

Poderia ligar para ele, mas preferia conversar aquele assunto pessoalmente. Então se lembrou que Zeke tinha comentado que faria um show em Houston no fim daquele mês.

Pegando o telefone, Summer entrou em contato com a companhia aérea que geralmente usava.

Iria para Houston e, desta vez, graças a The Buzz, esperava ter um passe da imprensa para chegar atrás dos bastidores.

 

 

CAPÍTULO ONZE

 

Zeke estava tocando seu violão quando parou e pe­gou seu bloquinho de papel, a fim de fazer algumas anotações.

Então, distraindo-se mais uma vez, largou lápis e papel.

Que coisa! Não adiantava.

Desde que Summer tinha partido dois dias atrás, parecia impossível conseguir se concentrar.

Era quinta-feira e ainda estava em Los Angeles. Olhou ao redor de sua saleta de música. Se um tempo longe era o que Summer queria, ele lhe dera esse tem­po. De qualquer forma, e essa era a verdade, tinha fi­cado em Manhattam durante o último mês principal­mente para estar perto dela, e não tanto por razões profissionais.

A nova música estava pronta agora, e era sobre Summer. Sempre tinha sido sobre ela, Zeke perce­beu. Numa onda de inspiração na semana anterior, antes que ela tivesse partido, ele finalmente conse­guira finalizar... a letra, a melodia, e tudo... durante algumas horas de uma manhã enquanto ela dormia.

Uma pena que agora que ela se fora o bloco de anotações de Zeke continuava em branco. Sentia-se incapaz de fazer qualquer progresso ou compor uma outra música, os pensamentos voltando-se para Summer o tempo todo.

Ouvindo um som vindo da porta, olhou para cima.

— Ei, Marty. — Zeke baixou os olhos de novo, ajeitou o violão e experimentou tocar algumas notas.

Marty entrou no quarto.

— Como estão as coisas? — perguntou seu empre­sário, acrescentando em seguida: — A governanta me deixou entrar.

Zeke colocou o violão de lado e se levantou do sofá.

— Eu não esperava você.

— É um tipo de visita surpresa. — Seu empresário sorriu.

— Que beber alguma coisa? — ofereceu Zeke. — Está quase na hora do almoço.

— Apenas um pouco de chá gelado, se tiver. Pre­ciso conversar com você.

Zeke assentiu. Nenhuma surpresa ali. Marty sem­pre aparecia para falar de negócios.

Quando estavam sentados à mesa da varanda, ele com uma cerveja e Marty com chá gelado, Zeke disse:

— Pode falar.

— Como está indo o trabalho do próximo CD?

— Está indo — respondeu ele, dando de ombros. — Devagar, mas está indo.

Marty assentiu, olhou à distância e então de volta para ele.

— Olhe, Zeke, quero que você considere uma coi­sa e mantenha a mente aberta sobre isso.

Zeke pensou que podia adivinhar o que Marty ia dizer.

— Para este próximo álbum, eu estava pensando que você podia regravar algumas músicas clássicas, e eu até mesmo lhe conseguiria alguma ajuda na com­posição de músicas do novo material.

— Marty, não. — Ele passou uma das mãos pelos cabelos. — Você sabe que compor é o que quero fa­zer, e preciso estabelecer minhas credenciais. Conse­guir compor sozinho.

— Zeke, de acordo com seu contrato, você tem de lançar um outro CD no próximo ano.

— Eu cumprirei o prazo — respondeu ele rapida­mente. — Mas depois vou me comprometer a escre­ver para o musical da Broadway que está se aproxi­mando.

— O quê? Ouça, pensei que nós já tivéssemos dis­cutido sobre isso.

Ele lançou a seu empresário um olhar duro e frio.

— Você trabalha para mim, Marty.

Ele raramente precisava ser tão direto e rude, mas dessa vez foi necessário.

Cada vez mais, ele e Marty estavam vendo sua car­reira de maneiras diferentes, e Zeke imaginou quanto tempo ainda seriam capazes de trabalhar juntos. No passado, Marty o influenciara corretamente de mui­tas maneiras, mas esta era uma decisão da qual ele ti­nha muita certeza. Era uma questão de visão... visão sobre o que fazer com sua vida.

— Zeke, seja razoável. No momento, você não pa­rece nem estar conseguindo compor para seu próxi­mo lançamento.

— Eu estava indo muito bem até que Summer par­tiu — murmurou ele.

Marty suspirou longamente.

— Por um tempo, você realmente me deixou preo­cupado sobre essa mulher.

Zeke inclinou a cabeça de lado, sentindo que eles estavam entrando em território perigoso.

— Como assim?

— Você parecia estar se ligando demais a ela — disse Marty, e acrescentou em seguida: — Nós dois sabemos que se envolver seriamente com qualquer mulher seria péssimo para sua imagem. As mulheres o amam, Zeke, porque você é o roqueiro sexy e rebel­de contra o qual as mães delas sempre as alertaram.

— O que o fez concluir que eu não continuo ligado a ela? — perguntou Zeke, mantendo o tom de voz neutro.

Marty deu de ombros.

— Você mesmo disse isso. Ela era sua musa. Ou melhor, a foto era, no início. Summer não era seu tipo, mas, uma vez que você entendeu o motivo pelo qual estava se envolvendo, tudo fez sentido.

Zeke lembrou-se que Marty havia aparecido lá no domingo enquanto ele estivera fora, e uma idéia co­meçou a se formar em sua mente. Seria possível? As­sentindo, disse:

— Foi mesmo incrível a coincidência de Summer com o meu retrato de “Daphne em cena".

— Com certeza — respondeu Marty. — Não é todo dia que uma mulher descobre que é a inspiração para a maior sensação do rock. Muito lisonjeador.

Zeke forçou-se a concordar placidamente. Preci­sava entrar numa espécie de jogo. Era a única forma de tirar a verdade de seu empresário.

— Sabe, eu nunca tive a chance de contar a ela esta parte.

— Sim — disse Marty. — Summer pareceu muito surpresa quando eu mencionei isso.

— E você também mencionou que ela deveria se sentir lisonjeada? — perguntou ele, o tom de voz bai­xo e sério.

Tão sério que fez Marty erguer as duas mãos.

— Ei, Zeke, olhe... — Ele parou e olhou ao redor. — Onde está ela, a propósito? Fiquei surpreso quan­do você deixou um recado com minha secretária di­zendo que não retornaria para Nova York na segunda-feira, como tinha planejado.

— Summer voltou para Nova York. — Zeke se le­vantou. — E você está indo embora.

Marty o olhou sem compreender por um segundo, até que uma expressão de espanto cruzou-lhe o sem­blante.

— O quê? Por quê? Você tem um compromisso em algum lugar?

Zeke percebeu que Marty achava que ele estava brincando, mas aquilo não era brincadeira.

— Você precisa partir, Marty, antes que eu ceda à vontade de dar-lhe um murro. — Após uma pausa, acrescentou: — Acredite ou não, eu detestaria publi­cidade ruim tanto quanto você.

Marty limpou os lábios com o guardanapo antes de se levantar.

— Quando você se acalmar, sabe onde me encon­trar.

— Estou tão calmo como sempre estarei — repli­cou Zeke friamente. — Mas antes que você se vá, conte-me exatamente o que disse a Summer.

Marty o encarou.

— É culpa minha que você não lhe contou que era a foto dela que o deixava excitado e perturbado?

Zeke esperou, controlando seu temperamento, que parecia prestes a explodir.

Marty finalmente meneou a cabeça.

— Eu apenas apontei o óbvio, incluindo os requi­sitos de sua carreira no momento. — Ele sorriu. — Inventei uma história sobre você e a uma modelo tcheca para a imprensa esta semana. Você chegou a ver? A matéria ficou ótima.

Zeke meneou a cabeça.

— Você não está entendendo, Marty.

— Entendendo o quê?

— Há um bom tempo, venho pensando que nós dois não estamos em sintonia no que diz respeito à minha carreira. Talvez por comodidade, escolhi ignorar o sentimento... até agora. — Ele encarou o outro nos olhos. — Você está despedido, Marty.

— O quê? — exclamou Marty, parecendo trans­tornado. — Você não pode me despedir. Precisa de mim. Se fizer isso, vou processá-lo.

— Converse.com meu advogado — disse Zeke friamente. — Acho que o nosso contrato permite-me pagar-lhe uma quantia para despedi-lo. É um preço que estou disposto a cobrir.

— Tudo isso por causa de um corpinho gostoso — resmungou Marty antes de se virar e sair.

Zeke não precisava pensar nisso. Tirou Marty de sua cabeça imediatamente.

Muito mais tarde, estava sentado em sua sala de estar, diante da televisão.

Marty tinha ecoado algumas das coisas que Sum­mer dissera no domingo: ela não era o tipo usual dele, e os dois eram diferentes de muitas maneiras. E, sim, ele não pudera negar que tinha sua carreira a considerar.

Questionava-se, contudo, o quanto do que Sum­mer tinha dito se devia à reação dela às palavras de Marty, e o quanto se devia a seus próprios sentimen­tos.

O maxilar de Zeke se contraiu. Não podia perder Summer. Nunca se sentira daquela maneira em rela­ção a uma mulher antes. Infelizmente, isso também significava que estava num território desconhecido sobre como fazer as coisas certas.

Quando o telefone tocou e ele ouviu uma voz fa­miliar, ficou feliz pela distração. Minutos depois, quando desligou, sabia exatamente o que tinha de fazer.

 

O show de Zeke foi igual aos dois primeiros que ele fizera. Pelo menos desta vez, pensou Summer com tristeza, ela sabia o que esperar.

Estava cercada por milhares de fãs de Zeke Woodlow, todas pulando, dançando e cantando o conheci­do repertório das baladas de Zeke.

Desta vez, estava vestida de modo mais apropria­do, também. Usava calça jeans baixa nos quadris, e uma blusa de decote cavado.

Olhou para Zeke no palco e seu coração se encheu de orgulho.

Ele se movia ao longo do palco como se o possuís­se... a marca de qualquer grande artista. Pegando o violão, cantou acompanhado de seus músicos, e en­louqueceu suas fãs com provocações. E, como sem­pre, estava em sintonia perfeita com a platéia.

Summer observou cada centímetro do homem que amava. Estava lindo. Fazia quase uma semana desde que eles tinham se separado, e ela não podia acreditar no quanto sentira sua falta.

Esfregou as palmas úmidas na calça jeans enquan­to pronunciava as palavras de uma das baladas mais populares de Zeke.

Estava um pouco nervosa e insegura quanto à re­cepção que receberia de Zeke, mas tinha de enfrentar o que fosse necessário. Ele era o homem que amava, e não ia deixá-lo sair de sua vida sem, ao menos, lhe dizer isso.

Uma ou duas vezes, pensou ter visto Zeke olhando diretamente para ela, o semblante intenso e magnéti­co. Mas reprimiu o pensamento como irreal. Havia milhares de pessoas na platéia e, embora Summer es­tivesse em um dos melhores assentos na parte cen­tral, a iluminação era fraca e estava a diversas fileiras do palco.

Além disso, se havia aprendido alguma coisa so­bre Zeke, era que ele possuía a capacidade de fazer cada pessoa do público sentir uma conexão com ele. Summer não via a hora de ir para trás dos bastido­res depois do show. Desta vez, após implorar a Shane que mexesse alguns pauzinhos, tinha conseguido um bom lugar e um crachá de imprensa.

É claro, tivera de explicar a Shane por que não po­deria simplesmente se aproximar de Zeke para ter acesso, e a verdade... bem, parte da verdade... tinha sido revelada por Summer. Admitira que ela e Zeke haviam recentemente se envolvido de modo amo­roso.

Shane não ficara muito feliz com a novidade, con­siderando que a The Buzz estava publicando uma en­trevista com Zeke sob o nome dela, mas por fim tinha cedido, especialmente quando Summer lhe contara que estava considerando isso em termos de sua car­reira.

Ele apenas a tinha olhado e suspirado.

— Oh, Summer. Você é a última Elliot que eu es­perava que pensasse em fazer uma coisa dessas.

— Eu sei — disse ela, sentindo-se culpada de certa forma. Sabia que, independentemente da maneira despreocupada que Shane vinha enfrentando o desa­fio de seu avô até agora, provavelmente não se im­portaria em ganhar, e ela tinha acabado de anunciar um empecilho em potencial para a The Buzz na con­corrência entre as revistas Elliot.

Shane finalmente a mandara sair de sua sala.

— Tudo bem, criança, vá atrás de seu homem e boa sorte para você. Nunca diga que eu me meti no caminho de um amor verdadeiro.

— Obrigada, tio Shane — Summer tinha murmu­rado agradecida, então o beijara no rosto antes de se retirar rapidamente.

E agora, lá estava ela, no show de Zeke, o momen­to da verdade muito perto de si.

No palco, Zeke esboçou um sorriso charmoso para a platéia quando fez uma pausa entre as músicas.

— Tenho uma surpresa para vocês. A multidão assobiou e gritou.

— Estão prontos? — perguntou ele. O público respondeu ainda mais alto.

Zeke pendurou a alça de seu violão sobre o pes­coço.

— Para o grande final, eu vou revelar uma nova música somente para vocês.

A multidão enlouqueceu e a música de fundo co­meçou.

Zeke tocou algumas notas experimentalmente.

— Chama-se "Days of Sunshine and Summer" . O coração de Summer disparou no peito. Ele não...

Ele não tinha... O título era apenas uma coincidência, pensou. Afinal de contas, Summer significava verão, uma estação ensolarada. Certamente ele se referia à estação, não à mulher. Não ela. Com certeza, Zeke não tinha composto uma música sobre o rompimento deles... uma música que estava prestes a começar a cantar para milhares de pessoas à sua volta.

Zeke gesticulou para a banda atrás de si, então co­meçou uma balada intensa sobre o amor inesperado. A balada era uma brincadeira com a palavra summer, de modo que parecia que a mulher sobre a qual ele cantava tinha as mesmas características da estação: quente, brilhante e alegre. "Summer, ela se cha­ma/Ensolarada e convidativa como um lindo dia", cantou ele.

Summer prendeu a respiração. A música não con­tinha uma palavra sobre coração partido, traição ou rompimento. A letra era alegre e inspiradora. E, se as palavras da canção fossem verdadeiras, então Zeke amava Summer... a amava.

A música levou lágrimas a seus olhos. Não havia como Zeke saber que ela estava na platéia. Teria usa­do o romance deles, por mais breve que este tivesse sido, para compor uma canção? Ou, como ela queria acreditar, as palavras daquela balada eram verdadei­ras e sinceras?

Quando as últimas notas foram tocadas, Zeke pa­receu olhar diretamente para ela, e dessa vez Summer podia jurar que não estava errada.

Movendo-se para o microfone, ele falou:

— Pessoal, eu gostaria que vocês conhecessem Summer.

Antes que Summer pudesse piscar, um refletor bri­lhou sobre ela. Sob outras circunstâncias, sabia que te­ria reagido como um animal selvagem pego por um fa­rol. Mas, naquele momento, seu olhar foi capturado e sustentado pelo semblante amoroso no rosto de Zeke.

Loucura como era, parecia que somente ela e Zeke existiam, e seus pés a levaram em direção a ele.

Ela andou até o palco, os guardas de segurança lhe abrindo caminho. Seu olhar estava fixo em Zeke, a periferia de sua visão, um nevoeiro.

Quando finalmente o alcançou, Zeke pegou-lhe a mão. O olhar intenso no rosto dele tirou-lhe o fôlego. Era um olhar ardente, de adoração, e continha apenas um toque de travessura.

Ele lançou um olhar lateral para a platéia.

— Desculpe-me embaraçá-la dessa maneira, que­rida — murmurou, não soando nem um pouco cons­trangido.

A multidão riu.

— O que você está fazendo? — sussurrou ela tre­mendo.

Com o olhar ainda fixo no seu, Zeke sussurrou de volta:

— Você me ama?

— Sim — respondeu ela. Nem precisava pensar nisso.

Para a platéia, ele anunciou:

— Ela me ama.

Em resposta, todos gritaram, riram e bateram pal­mas.

— Seu louco — exclamou Summer, tentando man­ter a voz baixa para não ser pega pelo microfone diante dele. — O que você está fazendo? Sua carreira...

Zeke a silenciou com um beijo apaixonado, o que fez a multidão aplaudir ainda mais.

Summer o abraçou. O beijo rapidamente acendeu a eletricidade que sempre existia entre os dois.

Quando ele ergueu a cabeça e a liberou, ela assis­tiu, totalmente incrédula e boquiaberta, enquanto Zeke se ajoelhava e tirava um anel do bolso, os olhos nunca deixando os seus.

— Summer, eu amo você. Quer se casar comigo? Ela pôs as mãos sobre a boca, enquanto lágrimas rolavam por suas faces.

Houve muitos gritos da platéia que diziam:

— Diga sim! Diga sim!

E desta vez, Summer sabia que não havia a menor dúvida em seu coração.

Abaixando as mãos, respondeu em tom alto e claro:

— Sim!

Zeke esboçou um lindo sorriso.

Em seguida, pegou-lhe a mão trêmula e deslizou um anel antigo com um diamante flanqueado por duas esmeraldas. Então se levantou, pegou-a nos bra­ços e abaixou-lhe o corpo para trás, como numa dan­ça, para um beijo profundo.

Quando se afastaram, ele sorriu-lhe.

— Espero que você não se importe com as de­monstrações públicas de afeto.

— A nova Summer Elliot gosta muito de demons­trações públicas de afeto — respondeu ela totalmente sem fôlego.

Minutos depois, na privacidade do camarote de Zeke, Summer estava nos braços dele.

— Como você sabia que eu estava na platéia? — perguntou ela, descansando as mãos no peito dele.

Zeke mordiscou-lhe os lábios de leve.

— Mmm... Shane me contou.

Os olhos de Summer se arregalaram.

— Ele fez isso? — Porque sua voz soou fraca, ela tentou novamente: — Quero dizer, ele lhe contou? — Ela não sabia se devia agradecer ao tio ou não.

Uma risada iluminou os olhos azuis de Zeke.

— De que outra maneira você acha que ele conse­guiu o passe de imprensa e um ingresso de última hora para um dos melhores assentos da casa? Os ingressos para o show já estavam esgotados há muito tempo. Summer estreitou os olhos, desconfiada.

— O que ele disse, exatamente?

— Exatamente? Eu não me lembro. Ela deu-lhe um tapinha de brincadeira.

— Tente.

Um sorriso brincou nos cantos dos lábios de Zeke.

— Ele não falou muita coisa. Apenas disse que você estava desesperada por um ingresso para o show e um passe para chegar aos bastidores e me ver. — Após uma breve pausa, acrescentou: — Consideran­do como as coisas acabaram entre nós, o telefonema de Shane foi o bastante para me dar esperança que você não estava vindo apenas para acabar de enterrar o nosso relacionamento.

— Ele usou a palavra desesperada? Zeke riu.

— Você não parece ter certeza se deve repreender Shane.

— Mmm-hmm. — Ela meneou a cabeça. Real­mente não sabia se devia ou não repreender o tio.

— Tenho certeza de que ele só estava tentando ajudar, e o importante é que tudo acabou bem no fi­nal. — Zeke lhe deu um beijinho rápido. — Apenas por curiosidade, porém, se eu não a tivesse chamado no palco e a pedido em casamento...

— Sim, isso foi uma surpresa e tanto! Na frente de todas aquelas pessoas, Zeke!

Ele sorriu, sem se desculpar.

— Mas se eu não tivesse feito isso, o que você pla­nejava fazer?

— Entrar nos bastidores, trancá-lo no seu camarim, e me recusar a deixá-lo sair até que o convencesse de que nossa relação merece uma chance verdadeira.

— Eu sempre soube disso.

— Mas Marty falou...

— Eu sei o que Marty falou. Esqueça isso. — Por um segundo, Zeke pareceu furioso.

— Sabe? Você sabe o que ele disse? Zeke relaxou o abraço em Summer.

— Ele passou na minha casa na quinta-feira, e a conversa que teve com você veio à tona. — Zeke deu de ombros. — Vamos apenas dizer que Marty e eu nos separamos para tomar rumos diferentes.

Summer arregalou os olhos.

— O quê? Zeke, não. Não por minha causa.

— Não foi apenas por sua causa, Summer, embora o que ele lhe falou tenha sido a gota d'água. Marty e eu estamos navegando em direções diferentes há um bom tempo. Ele acha que eu devia me concentrar em ser um astro de rock e símbolo sexual, mas compor músicas é minha verdadeira paixão.

Zeke deu um passo atrás, liberando-a.

— Quando este tour internacional acabar, no final do ano, quero me estabelecer em um lugar fixo por um tempo. — Os lábios dele se curvaram num peque­no sorriso. — Suponho que Nova York seja um lugar tão bom quanto outro qualquer.

Summer aproximou-se.

— Zeke, você não precisa fazer isso por minha causa. Sei que falei que não queria estar na estrada o tempo todo, mas — ela mordiscou o lábio inferior —, isso foi porque fiquei muito magoada quando pensei que você estivesse apenas me usando para conseguir compor suas músicas. O sorriso dele se ampliou. — Tarde demais. Assinei um contrato para com­por as baladas de um musical que está sendo organi­zado por um dos maiores produtores da Broadway. Esse será meu próximo compromisso depois que vencer meu contrato atual e gravar mais um CD. Ela uniu as mãos, excitada.

— Oh, Zeke! Estou tão feliz por você! Ele deu de ombros.

— Escrever para o show da Broadway é uma idéia que me acompanha há algum tempo. Recebi uma oferta para isso alguns meses atrás, mas Marty detes­tava a idéia, e durante todo o tempo, eu estava prepa­rado para separar-me dele.

O olhar de Zeke suavizou quando a fitou.

— Além disso, fazer o musical da Broadway me dará mais algum tempo perto dos meus pais. E — provocou ele —, imagino que você vá me querer em Nova York para o casamento.

— É claro! — Summer olhou para o anel que ele lhe dera. — O anel é perfeito.

— Fico feliz que tenha gostado. Achei que você gostaria de alguma coisa antiga e única. As esmeral­das me lembram de seus olhos verdes irlandeses.

Ela o encarou.

— Eu não pensei que você estivesse pronto para se estabelecer num casamento.

— Percebi que estava esperando pela mulher certa para fazer isso — murmurou ele pensativo. — O res­to era tudo uma imagem pública cuidadosamente cultivada por Marty, que supunha que isso era pela segu­rança de minha carreira.

Ela assentiu, o coração acelerado pelas palavras a mulher certa.

— É verdade que a foto de Daphne foi minha ins­piração para compor depois de período pouco criati­vo — disse ele. — De fato, a fotografia inspirou "Beautiful in my Arms".

— Eu amo essa música — confessou ela. Amava ainda mais agora que sabia que a balada era sobre Daphne, ou melhor, sobre ela.

— Sim, bem — começou ele com uma expressão divertida —, eu a compus depois de um sonho parti­cularmente ardente com Daphne... quero dizer, com você.

Ela riu e Zeke continuou:

— É claro, depois disso, não consegui escrever mais nada... até encontrar você. Eu vinha sonhando com uma outra balada, mas sempre me esquecia um momento após acordar. Mas quando estava a seu lado, a música surgia na minha cabeça, e no fim de semana passada, finalmente escrevi "Days of Sunshine and Summer".

Zeke prendeu-lhe o olhar por um longo momento.

— Você pode ter começado como uma musa em minha vida, mas se tornou muito mais que isso.

— Oh — murmurou ela, emocionada demais para conseguir falar.

As mãos fortes de Zeke envolveram-lhe a cintura.

— Considerando o jeito que as fãs reagiram à pro­posta de casamento esta noite, começo a me questionar se Marty não tinha a mente um pouco fechada de­mais sobre o que era bom para minha carreira. Ela riu.

— Que ironia.

Ele pareceu confuso.

— Qual é a ironia?

— Que justamente quando você está pronto para se acomodar, estou planejando avisar Shane que vou tirar uma licença da The Buzz e da Editora Elliot, pro­vavelmente em antecipação de minha demissão final. Na verdade, eu já dei algumas indiretas sobre isso para ele.

Um olhar de surpresa cruzou as feições de Zeke.

— O quê?

— De que outra maneira vou poder seguir você, enquanto viaja pelo mundo?

— Ah, Summer. — Ele a beijou, e quando o beijo ameaçou se aprofundar, afastou-se e olhou-a seria­mente. — Espero que você não esteja se afastando do emprego só por minha causa.

Ela meneou a cabeça.

— Não. É por mim, também. Finalmente decidi permitir-me fazer o que realmente quero. Você... e fotografia.

— Excelente.

— Obrigada. Quero trabalhar como free-lancer, o que me dará o máximo de flexibilidade para planejar um casamento e ficarmos juntos. — Ela deu de om­bros. — Talvez alguns de meus trabalhos acabem nas revistas da Editora Elliot. Acredito que Shane ficaria interessado em adquirir minhas fotografias.

— Com certeza. Sei que eu ficaria.

— Você não é exatamente imparcial — brincou ela, então acrescentou com mais seriedade: — Estou tentando imaginar como vovô vai receber as notícias.

— Algo me diz que melhor do que você imagina. Summer o olhou com expressão surpresa.

— O que o faz dizer isso?

— Seria hipocrisia da parte dele fazer diferente, não acha? Afinal de contas, ele lutou pelo que queria e perseguiu um sonho.

— Mmm. — Fora apenas recentemente que Sum­mer tinha passado a olhar as coisas dessa maneira.

— Sabe — continuou Zeke —, questiono se traba­lhar na Editora Elliot e conseguir uma promoção foi um outro jeito de agradar a sua família, assim como ficar noiva de John.

— Pode ter sido — concordou ela. — Meus avós assumiram o papel de meus pais depois do acidente de avião. Em vez de tentar agradar meus pais, tentei agradar meus avós.

Zeke assentiu.

— Talvez sua preocupação com planos preestabe­lecidos tenha a ver com o acidente de avião. Sabe, é uma tentativa de impor ordem e prever a vida, a qual, você aprendeu desde muito cedo, pode ser surpreen­dente e assustadora.

As análises profundas de Zeke a espantavam, em­bora achasse que não deveriam mais surpreendê-la.

— De qualquer forma — disse ele, agora sorrindo —, acho que você vai cumprir seu plano de cinco anos, afinal de contas.

— O que você quer dizer?

— Você vai se casar aos 26 anos.

Quando percebeu que ele estava certo, Summer quase riu.

Ele a puxou para mais perto e sussurrou em seu ou­vido:

— Diga mais uma vez que me ama.

— Todos os dias — disse ela um segundo antes de encontrar os lábios dele.

Então, não houve mais conversa. Em vez disso, Summer entregou-se de corpo e alma à felicidade que tinha descoberto nos braços de Zeke.

 

                                                                                Anna DePalo 

 

 

                      

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