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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA NOITE SILENCIOSA / Sherrilyn Kenion
UMA NOITE SILENCIOSA / Sherrilyn Kenion

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio "SEBO"

 

 

 

  

No Princípio, o mundo era feito de beleza e magia. Antes de existir os homens, existiam os deuses e aqueles que os serviam e faziam o que lhes era solicitado, seja qual fosse a solicitação. Em guerra uns contra os outros, os deuses lutaram entre si até que uma nova raça nasceu de sua violência sem sentido. Chamavam-se Chthonians, essas novas criaturas vieram da terra que fluía vermelha com o sangue dos deuses.

Os Chthonians se levantaram e dividiram o mundo entre os deuses—e dividiram o mundo entre eles mesmos.

Para manter a paz, os soldados dos deuses foram condenados a ficarem de lado. Nenhum deveria sobreviver. A lei Chthoniana abriu precedência e juntos eles foram capazes de trazer paz ao mundo novamente e proteger a nova forma de vida da humanidade.

Mas os Chthonians não eram incorruptíveis. Nem infalíveis.

Não demorou muito antes que eles discutissem também.

E assim transcorreu o tempo. A humanidade amadureceu e aprendeu a rechaçar aos deuses e a magia que existia em seu mundo. Incapazes de lutar por si mesmos, a humanidade decidiu ignorá-los.

"Tolices." "Simulação." "Fantasia." "Contos de Fadas." Essas foram algumas das muitas palavras utilizadas pelo homem para denegrir o que não poderia ser explicado pela sua assim chamada ciência. Empirismo se tornou a sua própria religião.

Não havia sombras que espreitavam vítimas inocentes. Não era nada mais que a mente humana pregando peças. Uma imaginação fértil.

Lobos não podem converter-se em humanos e humanos não podem converter-se em ursos. Os deuses antigos estão mortos, relegados a contos mitológicos que todos sabemos que não são reais.

E ainda assim…

O que foi aquele barulho fora da janela agora a pouco? Era isso o lamento do vento? Um cão perdido, talvez?

Ou algo mais sinistro? Algo realmente predatorial?

O sutil arrepio na nuca poderia ser nada além de calafrios. Ou também poderia ser a sensação da morte caminhando perto. A sensação da mão de um deus invisível ou servente passando ao lado.

O mundo já não é novo. E não é mais inocente

E os anciões se cansaram de ser ignorados. Os ventos que sussurraram através dos gramados anteriormente não são a terna carícia de uma mudança climática. Era um alarme que só poderia ser ouvido por certas espécies sobrenaturais.

Inclusive agora, essas forças se reúnem e aliam-se.

Desta vez, eles querem algo mais que o sangue dos deuses e outro além.

Eles nos querem . . .

E nós estamos à sua mercê.

 

 

 

 

                                     CAPÍTULO 1

Stryker fez uma pausa enquanto olhava ao redor do Tártaro. Seu pai, o deus Grego Apolo, havia lhe trazido aqui uma vez, tempos atrás, quando era um menino para conhecer seu grande tio Hades, que governavano Inframundo Grego e vigiava a antiga morte. Aquele dia seu pai o concedeu um raro e benéfico dom. A habilidade de ir e vir do Inframundo de modo que pudesse visitar seu tio. Como um menino, Stryker tinha estado aterrorizado do deus escuro, cujos olhos só se abrandavam quando olhavam sua esposa Perséfone.

Felizmente, estava agora aqui com o Hades e o deus estava muito ocupado com ela para advertir o fato de que havia um semideus sem convite em seus domínios. Hades podia ser extremamente temperamental sobre tais coisas.

Especialmente quando o semideus intruso levava um frasco de potente sangue com ele. Para ser mais exato, o sangue de Typhon, o filho do principal deus do Tártaro, cujo nome foi dado a esta mesma parte dos domínios de Hades, Typhon era mortal e letal. Seu poder era suficiente para pôr de joelhos inclusive a Zeus, o rei dos deuses. Ao menos até que os deuses olímpicos se uniram para prender a Typhon sob o Monte Etna.

—Obrigado por não matá-lo —disse Stryker sustentando acima o frasco de modo que pudesse ver o luminescente sangue púrpura que havia conseguido do Titã enclausurado. Com isso, Stryker podia despertar aos mortos e trazer de volta ao mais potente dos flagelos.

War.

Sujeitando o frasco com força, dirigiu-se à parte mais baixa do Tártaro. Esse nível estava relegado para as bestas e deuses que os olímpicos haviam derrotado. Para aqueles a quem temiam acima de todos.

Mas era a tumba na parte posterior a que agora necessitava, a havia encontrado acidentalmente quando menino. Na escuridão que o rodeava, podia ver ainda o olhar atemorizado de seu pai…

—O que é isso, Pai? —Stryker havia apontado às estátuas de dois homens e uma mulher.

Apolo havia se ajoelhado ao seu lado.

—Eles são o que restaram dos Machae.

—Os o que?

—Os espíritos da batalha —Apolo havia apontado ao mais alto na escuridão. De enorme estatura e constituição de um guerreiro, a estátua havia feito com que o Stryker de sete anos de idade se sobressaltasse atemoriza que a estátua cobrasse vida para lhe machucar—. Este é War. O mais feroz de todos os Machae. Foi criado pelos deuses da Guerra para assassinar aos Chthonians. Diz-se que ele e seus companheiros os perseguiram e os levaram a borda da extinção. Em uma batalha final que durou três meses completos, War pôs de joelhos ao último dos Chthonians até que eles o enganaram. Cercado, seus poderes foram atados por um feitiço e depois foi preso nessa forma atual de imobilidade e aqui permanece até que alguém o volte a despertar.

Este tinha parecido um duro castigo para a mente do Stryker menino. Vil e cruel.

—Por que os deuses não o mataram?

—Não éramos o suficientemente fortes. Inclusive com nossos poderes combinados, não tinhamos a habilidade para acabar com sua vida.

Naquele momento, nada disso tinha sentido para Stryker.

—Não entendo porque os deuses temem aos Chthonians. São humanos.

—Com os poderes dos deuses, criança. Nunca o esqueça. Só eles podem nos matar sem destruir o universo e devolver nossa essência à fonte primária que deu-nos a vida.

—Então, por que os Chthonian não matam a todos os deuses e os substituem?

—Porque quando nos matam, seus poderes se debilitam e os fazem vulneráveis uns aos outros. Assim em vez disso nos controlam e nós obedecemos por temor a morte—Apolo então voltou a olhar a War, os olhos abrigando uma mórbida fascinação—. Só War era imune a seus poderes. Infelizmente, também é imune aos nossos. Quando Ares e os outros deuses se deram conta do poderoso que era, decidiram que era melhor que permanecesse oculto aqui para o resto da eternidade.

—Não levaram em conta seu poder quando o criaram?

Apolo revolveu o curto cabelo loiro de Stryker.

—Algumas vezes não nos damos conta de quão destrutivas são nossas criações até que seja muito tarde. E algumas vezes essas criações se voltam contra nós e buscam somente nos matar, mesmo que as amemos e nos preocupemos com elas.

Cerrou os dentes com a lembrança das palavras de seu pai. Quanta verdade possuíam. Ele havia se voltado contra seu pai e seu filho se havia voltado contra ele.

Estavam todos aqui. Em guerra.

War…

Stryker abriu a tumba fria e úmida que cheirava a terra molhada e mofo. Elevou as mãos e utilizou seus poderes para iluminar as tochas com teias de aranhas que não tinham sido acesas em séculos. A luz brilhou iluminando as paredes e os restos dos três Machae.

Deteve-se junto à mulher. Pequena e frágil na aparência, Ker era a personificação da crueldade e da morte violenta. Desumana e capaz de multiplicar-se em numerosas demônios como ela chamadas as Keres, tinha freqüentado uma vez os campos de batalha e destroçado as almas dos mortos. Tinham sido seus poderes os que tinham inspirado a Apollymi para salvar da maldição aos Apólitas e lhes dar a oportunidade de enganar a injusta maldição de Apolo.

Toda honra a Ker por seus poderes…

A seguinte estatua era do espírito de Mache. Batalha. A mão direita de War. Foi o plural de seu nome que havia nomeado a todos os espíritos dos conflitos. Era sua espinha dorsal.

Mas comparado a War, era débil.

Assim como Ker, era um subproduto da força destrutiva que procurava Stryker.

Um lento sorriso curvou os lábios quando passou aos dois seres menores para aproximar-se do único que precisava despertar. Não era mais um gigante para ele, de fato War era vários centímetros mais baixo, o que não era surpriendente, uma vez que Stryker tinha dois metros e dez de altura. Mas seu corpo estava fortemente esculpido,com Stryker lembrava a onze mil anos atrás.

Inclusive na imobilidade, o poder era imponente e inegável. Podia senti-lo no ar. Sentir aos calafrios descendo a sua espinha em aviso. Vestido como um antigo guerreiro, a couraça do deus estava decorada com a cabeça de Echidna[1].

Estirou-se para tocar a War. No momento que os dedos acariciaram a pedra, a luz estalou através da sala, convertendo o branco mármore em carne. A couraça estava feita de aço, coberta com ouro, um saiote de couro ligado por abotoaduras de ouro a capa negra de batalha completavam o temível conjunto. Em suas mãos brilhava o aço da espada que estava a meio caminho da bainha de couro negro.

Uns aborrecidos olhos negros perfuraram a Stryker.

Então foi novamente mármore. Branco. Frio. Misteriosamente primitivo. War estava dormindo novamente e ainda assim podia sentir sua consciência ondulando a sua volta.

—Você quer sair —sussurrou Stryker ao espírito—. Eu quero vingança contra um deus que não posso tocar —tirou a cortiça do frasco e o levantou—. Do sangue dos Titãs ao sangue dos Titãs, eu, Strykerius, devolvo a sua forma em troca de um ato contra meus inimigos.

Inclinou o frasco de modo que o sangue púrpura só lhe manchasse a ponta dos dedos. O selvagem poder deste queimou sua carne. Sim, o sangue de Typhon era tão poderoso como como o havía sido o temível deus. Entrecerrando os olhos, limpou o sangue de seus dedos sobre os lábios do espírito adormecido.

—Aceita meus termos, War?

Somente os lábios voltaram a vida.

—Aceito.

       —Então bem-vindo de volta à vida —Stryker verteu o sangue dentro da boca do espírito.

No momento que o fez, emergiu um violento grito, extinguindo as tochas e afogando-os na escuridão.

—Não!

Stryker riu ante o indignado grito de Hades. Já era muito tarde. Um vicioso vento atravessou cortando a habitação quando War cobrou vida com um grito de batalha que ecoou através da câmara causando uma pressão ao seu redor que o fez se encolher involuntariamente em posição servil. As tochas voltaram a vida, inundando a sala com tanta luz que Stryker teve que cobrir os olhos.

Hades apareceu com Ares a seu lado. Os deuses tentaram acabar com War, mas foi inútil.

       War riu antes de devolver o ataque. A força deste os enviou ao chão, dispersando-os como folhas na tempestade. O deleite nos olhos negros dizia que o espírito desfrutava plenamente em sua crueldade. Com os lábios curvando-se em um sorriso, voltou-se para olhar a Stryker.

—A quem quer que mate por ti?

—Acheron Parthenopaeus e Nick Gautier.

War desembainhou a espada.

—Considera-o feito.

Stryker o agarrou pelo braço quando começou a desvanecer-se.

—Uma palavra de advertência, o mundo não é o que costumava ser—lhe entregou uma pequena bolsa de viagem que continha um par de calças jeans negras, uma camiseta negra e umas botas—. Possivelmente queira te desfazer dessa saia e armadura. É só uma sugestão.

War lhe grunhiu, mas ao final, agarrou as roupas e se desvaneceu. Stryker se voltou para

os deuses. Ares tinha sido deixado inconsciente enquanto que Hades sacudia a cabeça para a esclarecer.

O escuro deus do Inframundo flamejou com desgosto e raiva enquanto se abatia sobre Ares tentando lhe reviver.

—Tem alguma idéia do que você desatou?

Dava-lhe no mesmo sua condenação.

—Crueldade, pestilência, ira, violência, sofrimento final… O que outros presentes o

outorgaram os deuses?

—Golpeaste os poderes mais altos. Mas antes de liberá-lo, devia te haver incomodado em averiguar que sempre destrói ao que o controla —Hades gesticulou para a sala—. Olhe ao seu redor. Este buraco ao qual chamamos Tártaro é tudo o que ficou do deus primitivo e seus poderes. Sua morte nas mãos de War é o que fez que todos os panteões combinassem os poderes com os dos Chthonians para contê-lo. E isso no passado quando nossos poderes estavam em plena capacidade. Já não somos tão fortes.

Bom havia algo que não se havia preocupado em contemplar. Não é que importasse. Estava muito mais que preparado para entregar a vida… se dessa maneira levasse seus inimigos com ele.

—Ooops —disse, com a voz carregada de sarcasmo—. Suponho que fodí tudo. A incapacidade de ver as consequencias de nossos atos imprudentes deve ser herança de família. Tanto como o de que meu pai seja o deus das Profecias, huh?

Os olhos de Hades se voltaram vermelhos.

—Ele destruirá aos humanos.

Stryker desdenhou.

—Não o vi levantar-se para defender à raça Apolita quando meu pai amaldiçoou-nos a nos alimentar uns do sangue dos outros e morrer dolorosamente quando só completássemos vinte e sete anos, porque um grupo pequeno de Apolitas tinham matado a sua puta. Como eu o recordo, todos nos voltaram as costas e nos deixaram abandonados na escuridão como ratos que querem esquecer que existem.

Hades sacudiu a cabeça.

—Deveria te matar, mas melhor destino é te deixar à coisa que acabou de libertar. Lhe verei de volta aqui quando já não estiver com vida.

Stryker não comentou nada enquanto observava a Hades despertando a Ares. Aborrecido de ambos, voltou para o Kalosis, lugar onde iria depois de sua morte. O reino do inferno atlante tinha sido seu lar desde o dia que tinha dado as costas a seu pai e tomado partido da deusa que regia esse domínio. Apollymi era a proprietária de sua alma. Se tinha consagrado alegremente no dia em que seu pai havia maldito a toda a raça por algo que só tinham feito um punhado de soldados.

Stryker não queria ter nada haver outra vez com os gregos.

Amargamente divertido pelo fato de que o mais provável era que Apollymi desfrutasse de sua eterna tortura inclusive mais que Hades, retornou a seu escritório, onde tirou o círculo do sfora que lhe permitiria espiar a seus inimigos. Ao menos a Acheron.

Quanto a Nick, podia lhe ver através de seus olhos sempre que quisesse. Esse era um dos benefícios que tinha reclamado quando se vinculou ao bastardo. Infelizmente, não havia muito que ver, já que tinha mantido a si mesmo isolado do mundo e de tudo o que Stryker queria espiar.

Estava farto da depressão de Nick.

Por agora, queria ver a morte de Acheron. Ondeando a mão sobre o círculo, observou como as nuvens se clareavam para lhe mostrar ao único deus que queria enterrar…

O mais prezado filho de Apollymi.

Stryker enrugou os lábios quando encontrou Acheron em uma bizarra cena de Norman Rockwell. Que fantástico. Acheron estava em caso no Katoteros, o paraíso da realeza Atlante, aparando uma arvoré de natal com sua mulher, Soteria. Havia algo quase retorcido sobre um deus ancião celebrando costumes humanos para agradar a sua amante. Os dois pareciam tão felizes e doceis que era suficiente para faze-lo vomitar.

Isso tudo estava para mudar.

Inclinando-se para trás na cadeira, Stryker esperou.

—Oh, Akri. Pode a Simi comer isso?

Ash Parthenopaeus fez uma pausa quando ouviu a voz de seu demônio atrás dele.

Girando, viu a Simi observando o anjo de cristal nas mãos.

Vestida com uma saia xadrez vermelha e negra e um top-espartilho, tinha um gorro de

Papai Noel na cabeça que cobria os pequenos chifres de demônio. Assim como Ash, o cabelo era de uma forte cor negra e caía solto até a cintura.

Antes que pudesse responder, Soteria dedicou a Simi um doce e tolerante sorriso que o derreteu. O cabelo castanho estava recolhido em duas tranças, e em total contradição ao escuro estilo gótico dele, vestia um par de calças brancas de inverno e um suéter vermelho com uma rena branca. Ash levava uma larga camiseta negra com o esqueleto de uma rena puxando um desmantelado trenó.

—Por favor, Simi —disse Soteria— não coma isso. É meu anjo para pôr no topo da árvore desde que era uma menina. Escolhi-o com meus pais em uma loja natalina na Grécia.

Simi colocou os braços sobre os quadris.

—Então posso comer o chocolate?

—Absolutamente.

Simi deu um chiado antes de agarrar o tablete de chocolate Hershey’s que Soteria tinha deixado sobre a mesa próxima a eles e correu para saboreá-lo.

Soteria riu.

—Diabos. Ia compartilhá-lo contigo mais tarde.

Ash pôs o anjo no topo da árvore, o qual era bastante fácil dado o fato de que media mais de dois metros e dez.

—Está bem. Eu desprezo o sabor do chocolate.

Soteria puxou a cintade prata do urso de enfeite que tinha na mão.

—Pediria uma explicação, mas cada vez que pergunto por que tem aversão a algo a resposta sempre me rompe o coração. Assim só me assegurarei de não te conseguir nada para o dia dos Namorados.

—Obrigado.

Cortando a distância, atraiu-a a seus braços para um rápido beijo. Os lábios logo que haviam tocado os seus antes que uma brilhante rajada o cegasse. Deixou escapar um suspiro para castigar a seu administrador, Alexion, pela interrupção, mas antes que pudesse falar algo o golpeou e o pôs de joelhos.

Soteria se voltou para enfrentar ao intruso. Esperando encontrar à deusa grega Artemisa ali, ficou atônita ao ver um alto e extremamente bem constituído homem. A brutalidade do rosto só foi emparelhada por sua beleza. Vestido de negro, caminhou diante dela como se não fosse mais que uma peça de mobiliário, direto para Acheron.

Convocou seus poderes para golpeá-lo, mas quando o tentou, descobriu que não serviam contra ele. A rajada a abandonou e pareceu ser absorvida pelo corpo.

O homem elevou ao Acheron do chão e o lançou contra a parede mais longínqua como se não fora nada mais que um manequim de palha.

Deus querido, o homem ia matar a Ash!

Ash não podia respirar enquanto tentava lutar e não conseguia. Era como se algo o tivesse apanhado envolvendo-o em uma banda de aço, lhe paralisando. A dor se expandiu através do corpo como potentes garras. Ninguém tinha sido capaz de lhe chutar a bunda dessa maneira desde que havia sido humano.

Não terminava de lhe passar esse pensamento pela cabeça quando soube com a claridade do cristal quem lhe estava atacando.

       War. O último Guerreiro.

Merda.

—Não! —gritou quando Soteria começou a atacar a War ao mesmo tempo que Simi se

manifestava na sala a seu lado para lutar. Faria pedaços às duas—. Agarra a Simi e saia daqui. Agora!

Quando Simi se lançou para War, Soteria a agarrou. Dedicou-lhe um olhar para lhe fazer compreender que não queria colocar-se a um lado, mas que confiava o bastante para lhe escutar.

Alexion apareceu com uma espada que tentou transpassar através do espírito. Em vez disso, passou através da carne de War e rasgou o abdômen de Acheron. Ash vaiou quando mais agonia se expandiu por seu corpo.

A cara de Alexion empalideceu.

—Sinto-o muito, chefe.

Ele deveria tentar ser o que tivesse a profunda ferida. Mas não o jogou na cara de seu administrador. O mais importante agora era salvar a vida de todos eles.

—Vai! Agarra a Danger, as demônios e a Tory e sai deste inferno.

War o agarrou pela garganta. Afogou-se, tentando livrar da forte pegada. Se encontrou com o olhar de Alexion. A lealdade resplandecia brilhante, mas seu amigo sabia o que fazia Ash. Não poderia lutar enquanto tivesse distrações.

—Verei-te no Neratiti—agarrando às mulheres, desapareceu.

       Esmurrou a mão de War, tentando afrouxar o apertão. Quando isto falhou, lançou uma rajada ao deus que não se desconcertou no mais mínimo.

—O que quer? —ofegou.

War inclinou a cabeça em um gesto impessoal enquanto apertava o agarrão inclusive mais.

—Sua morte.

Os ouvidos lhe zumbiram quando a corrente de ar aos pulmões se viu interrompida. Tentou respirar, mas era inútil. O agarrão sobre o espírito se debilitava enquanto tudo se deslizava para a escuridão.

 

                                   CAPÍTULO 2

Stryker sorriu enquanto ele via Acheron voltar-se azul e que por uma vez não era não era por seu tom natural de pele. O bastardo estava a uma baforada da morte.

Ao menos, até que o Chthonian Savitar se teletransportou dentro da sala com vinte demônios Caronte para atacar a War e afugentá-lo de Acheron. A cólera de Stryker se acendeu quando os demônios alados atacaram em massa. Levantaram War do chão e o lançaram contra a parede justo quando ele explorou ante eles.

Savitar correu para Acheron para reanimá-lo.

Maldição. Por que não podia o bastardo Chthonian ficar na praia onde vivia? Não, Savitar tinha que tirar um exército de demônios para defender a Acheron.

Não queria soar infantil, mas é que não era justo...

E brincadeiras aparte, lhe enchia o saco.

—Strykerius! —O guincho de Apollymi rasgou o ar, perfurando seus tímpanos e fazendo que os cabelos da nuca lhe arrepiassem. Um instante mais tarde, estava em pé diante dela com seu cabelo loiro platino ondeando ao redor de sua formosa cara. Como os de Acheron, e os seus, os olhos dela eram de um pálido e revolto prata. E estavam cheios de fúria enquanto o fulminava com o olhar.

Provavelmente deveria estar assustado, mas isto não valia a energia que o levaria o elevar-se para a ocasião. Além disso, tinha tido as coisas ainda pior. A tortura, a desmembração, e a morte seriam um alívio bem-vindo para seu estado atual de nada.

—Algo... vai mal? —perguntou despreocupadamente, sabendo que o tom só a enfureceria mais.

Apollymi quis chiar ante seu tom condescendente. Queria fazer estalar ao senhor dos Daimon chupa-sangue antes que ela entrasse no esquecimento. Se tão somente pudesse. Se não fora por aquele ato de debilidade de sua parte, faz séculos, livraria-se dele de uma vez por todas. Entretanto, ele tinha sido fatalmente ferido por seu pai, e para devolver o golpe a Apolo tinha compartilhado seu sangue com Strykerius e assim o havia fortalecido. Enquanto aquele ato tinha salvado sua vida, também tinha amarrado as forças vitais de ambos, as unindo.

Se ele morria, ela morria. Por isso era pelo qual seu filho nunca faria realmente dano a Strykerius sem importar quão enfurecido o Daimon o pusesse.

Por isso era pelo qual não podia matar a Stryker ela mesma.

Irônico, em realidade, era uma deusa conhecida por carecer de compaixão e o punhado de vezes em que realmente tinha mostrado um pouco tinha retornado para mordê-la dolorosamente.

Agora já não havia nada a fazer. Seu verdadeiro filho estava sendo atacado e seu filho adotivo, Stryker, era o culpado mais provável.

—O que tem feito? —exigiu-lhe.

       Stryker se reclinou em sua cadeira e dobrou as mãos atrás da cabeça enquanto a observava com cautela.

       —Refletir, em sua major parte, combinando-o com um tiro ou dois de antigas lembranças e uma gota de arrependimento por umas quantas decisões passadas. Alguns inclusive poderiam chamar a isto de estar deprimido, mas mataria a qualquer um tão estúpido para sugerir isso de mim. —Era mais do tipo de Daimon conspirador.

O cabelo se elevou ainda mais alto ao redor dela como fitas enroscadas em um forte vento, lhe permitindo saber que não apreciava seu sarcasmo.

—Apóstolos está sendo atacado. Você o provocou?

Não sabia por que o empestiava tanto quando chamava a seu filho Apóstolos quando o resto do mundo o conhecia como Acheron, mas o fazia.

E francamente, não tinha provocado uma merda. Diretamente o tinha causado. Grande diferença.

Entretanto, não era o suficientemente estúpido para dizer-lhe. Suas forças vitais poderiam estar enlaçadas, mas quando se tratava de seu autêntico filho e seu bem-estar, Apollymi perdia todo o domínio de si mesma e o sentido de sobrevivência.

Mataria a ambos para proteger a Acheron.

—Não —respondeu com honestidade Stryker. Deslizou seu olhar para baixo, ao sfora

que estava escondido da vista de Apollymi. No momento em que Stryker se enfocou nisso, viu War rodeado pelos demônios Caronte quem estava realmente fazendo mal ao espírito. Acheron estava no solo tossindo e ofegando. Um pouco pior que o usual, mas ainda assim vivo. Desprezível bastardo. Savitar estava gritando aos demônios, mas o som não estava disponível para Stryker enquanto Apollymi estivesse aí.

Malditos.

Cuidadoso de proteger sua expressão, voltou seu olhar penetrante a Apollymi.

—E o que posso fazer por ti, Matera? —perguntou, usando a palavra Atlante para mãe.

Apollymi expulsou uma larga e lenta exalação enquanto tentava descobrir a verdade nele. Strykerius sempre tinha sido um mentiroso muito convincente. Em uma época os dois tinham sido uma força unida contra Apolo. Mas aqueles dias se haviam ido e agora os dois dançavam ao redor um do outro em uma complicada luta da arte de tomar a dianteira.

Jogaria a ele e a seus Daimons daqui, se não fora por todos os agravantes, eles proporcionaram-lhe companhia e um exército que permitia que tivesse ainda o poder de repercutir o reino humano. Sem mencionar o pequeno assunto de que enquanto a adoravam, alimentavam seus poderes.

A diferença de seu pequeno grupo de sacerdotisas que ainda viviam e serviam no mundo humano, os Daimons tinham muito mais poder. Estes podiam proporcioná-la um meio para proteger a Apóstolos.

—Quero que seus Daimons reduzam a War. Imediatamente.

—É de dia e até o pôr-do-sol, ele está além de nosso alcance. Não quereria que um de nós morrera agora e debilitasse sua força, verdade?

Quis carregar-se aquele presunçoso olhar de sua formosa cara. A diferença do resto de sua horda de loiros Daimon, seu cabelo curto era tão negro como seu coração. Perfeitamente tingido para impedir que lhe visse exatamente como seu pai.

—O proteja, Strykerius. Sua existência depende da dele. Recorda que te matarei para protegê-lo.

Stryker se obrigou a esperar até que ela partisse antes de curvar seu lábio com repugnância. Não podia acreditar que tivesse sido alguma vez o bastante idiota como para pensar que Apollymi o amava como a um filho. Que o protegeria e cuidaria dele do mesmo modo que cuidava de Acheron. E todos os anos que tinham passado do momento em que Stryker tinha tomado a vida de seu próprio filho para provar-se ante ela e se tinha visto obrigado a ver a verdade de sua relação com “sua” mãe só haviam conseguido que crescesse sua amargura.

—O destroce, War —disse jogando um olhar de volta ao sfora. Queria sangue. Infelizmente, ali não havia nada. Nenhum sinal de War, Acheron, ou Savitar.

 

Grunhindo encolerizado, Stryker lançou o círculo contra a parede, rompendo-o. Aonde onde infernos eles foram?

—War fugiu.

Artemisa elevou a vista ante a declaração furiosa de Ares quando este apareceu no centro do Salão dos Deuses, onde ela e o resto do panteão grego, tinham um pequeno banquete.

Seu pai, Zeus, amaldiçoou enquanto se elevava de seu trono.

—O que você fez?

Alto e loiro, com músculos afiados por seu adestramento diário, Ares elevava suas mãos em alto em sinal de rendição.

—Não fiz nada. Foi o filho de Apolo, Strykerius, quem o libertou.

Artemisa sentiu que a cor abandonava seu rosto ante a menção de seu sobrinho.

Se Stryker estava comprometido, só teria um objetivo.

Acheron.

E como não, a mãe de Acheron junto com Acheron culpariam a ela por seu ataque. Como se ela fora a atrever-se...

Atena ficou em pé de um salto. Moveu-se tão rápido que seu proceder assustou ao mocho que tinha no ombro, fazendo-o elevar o vôo para as vigas do salão. A armadura de ouro a cobriu imediatamente quando se deu a volta para encarar a Zeus.

—Deveríamos convocar a tantos dos outros panteões como podemos reunir. Não passará muito antes que War volte seus olhos para nós de novo.

Zeus baixou a cabeça em sinal de assentimento.

—Manda a procurar a Hermes e envia-o. Quanto ao resto de nós, nos preparemos para a war[2].

       Artemisa não fez caso do trocadilho de seu pai enquanto fazia sua saída do Salão dos Deuses para seu próprio templo dourado. Logo que esteve sozinha em suas dependências, usou seus poderes para localizar a Acheron. Estava vivo, mas sofrendo. Respirou aliviada.

Embora a odiasse e planejasse casar-se com outra mulher em umas semanas e quisesse

desesperadamente lhe fazer mal por isso, ainda o amava e a última coisa que queria era lhe ver assassinado depois de tudo o que tinham compartilhado estes séculos passados. O coração de sua filha se romperia se Artemisa permitisse que ele morrera. Mas como poderia protegê-lo quando nem sequer lhe dirigia a palavra?

       Tão logo a pergunta penetrou em sua mente soube quem frearia a Stryker de uma vez por todas...

Zephyra.

A demônio se refugiou em um de seus santuários fazia séculos, antes que Apolo tivesse amaldiçoado à raça dos Apólitas. A princípio Artemisa tinha querido tirá-la daí, mas a compaixão para com a mulher a tinha influenciado. Ela, também, tinha sido enganada pelos homens, e no momento em que Zephyra a tinha rogado refúgio, Artemisa estava furiosa com Apolo e tinha querido devolver o golpe a seu arrogante irmão. Em um excepcional instante de compaixão, tinha permitido que Zephyra ficasse na Grécia.

Pouco tinha sabido ela quão benéfica seria essa decisão um dia.

—Zephyra? —disse, convocando à mulher.

       A qual instantaneamente apareceu na estadia.

Este era também o homem que tinha enganado séculos atrás a Zephyra. E apesar de ser sobrinho de Artemisa por sangue, não sentia mais amor por ele do que ele sentia por ela. Os dois tinham lutado muito tempo e com muita dureza para que houvesse qualquer outra coisa que ódio em seus corações.

Já era hora de acabar com isto e com ele.

—Sim.

Os olhos de obsidiana de Zephyra brilharam com deleite.

—Me mostre onde está, deusa, e farei que te orgulhes.

Stryker manteve os Portais abertos, chamando seus Daimons de todo o mundo para convocá-los ao Kalosis. Apollymi pensou que o fazia de acordo com suas ordens de proteger a Acheron. A verdade era que Stryker tinha intenção de usá-los como peões para chegar até Nick e Acheron. Pelo menos, manteriam a ambos ocupados enquanto War fatiava suas gargantas.

Sangre por sangue.

Nick tinha matado à amada irmã de Stryker e Acheron tinha que morrer porque não estava na natureza de Stryker deixar que esse bastardo ganhasse depois de todos estes séculos. Apollymi o tinha destruído. Simplesmente era justo que o devolvesse o favor. Lhe tinha tirado o filho de Stryker. Stryker lhe tiraria o seu.

Outro brilho de luz indicou uma nova chegada. Stryker esperou a ver a valia deste recruta Daimon. Que típico!, o Daimon aterrissou de costas com um forte, «Uf!» Depois o homem realmente gemeu como um menino enquanto se retorcia no chão, choramingando pela dor.

—Acredito que me tenho quebrado o braço.

Stryker soltou uma larga e desassossegada exalação. Sentia falta dos velhos dias quando os Daimons e os Apólitas eram guerreiros. Quando apareceriam em seu salão de pé, preparados para lutar. Estas novas gerações eram quase tão pateticamente débeis como os humanos dos quais se alimentavam.

Este era um mundo com uma mentalidade de supermercado. Desde que a humanidade já não se adestrava para a guerra e se amontoavam juntos em cidades, onde o relaxamento moral os faziam ser compilados facilmente, os Daimons de hoje em dia não tinham que lutar para alimentar-se. Tudo o que tinham que fazer era dar umpasseio por qualquer bar ou clube noturno, encontrar uma mulher ou um homem bêbado, e levar-lhe fora para rasgar sua estupida e complacente alma de seu corpo para alimentar-se. Não havia luta. Nem persuasão.

“Fast Food” até para eles.

O único desafio que lhes tinha ficado era evitar aos Dark-Hunter e em particular a Acheron.

Por isso era pelo que Stryker tinha valorado tanto a sua irmã. Irritante até o extremo, Satara sempre tinha estado tramando algo. Sempre tratando de enganar a alguém ou de parafusar-lhes. Inclusive a ele. Isto o tinha mantido alerta e havia agudizado suas habilidades.

Agora ele se voltaria tão desprezível como todos outros.

Cansado das debilidades deles, deu-se a volta para encontrar-se com Kessar aproximando-se de seu trono. Um demônio gallu sumerio, Kessar parecia mais um modelo de passarela humano que o assassino letal que era em realidade. Inclusive seu cabelo castanho estava retirado de seus olhos vermelhos de uma maneira tão perfeita que poderia apresentar uma candidatura política. Seus rasgos eram de ossos finos e tão afiados como a crueldade do demônio. Como Stryker, o demônio usava seu bom aspecto físico para tirar vantagem sempre que espreitava uma presa humana.

As mulheres humanas eram débeis. Suscetíveis. Faziam qualquer coisa para chamar a atenção de um homem belo. Deuses, o quanto lhe agradavam as pessoas sem caráter. Todas elas mereciam as mortes dolorosas que obtinham.

Jogou uma olhada a Kessar.

—Se queres fazer desse seu almoço, não te deterei.

Um lento sorriso se estendeu pela cara de Kessar antes que cintilasse atravessando o quarto, agarrara o Daimon do chão, e lhe arrancara a garganta.

A sobrevivência dos mais aptos. A gente de Stryker tinha sido muito espartana em suas crenças. Se não eras apto para lutar, não eras apto para viver. Simples e perfeito. Justo como o novo plano de Stryker.

Kessar amaldiçoou quando o Daimon de que tinha tentado alimentar-se vaporizou em pó.

—Odeio esse gosto arenoso entre minhas presas como se estivesse comendo em uma tormenta de areia. Não há suficiente sangue no mundo para limpar o paladar depois disto.

Stryker deu de ombros.

—É o que consegue por ávaro gole. Já sabe o que passa quando matas a um dos nossos. Deveria simplesmente ter terminado de beber seu sangue e havê-lo abandonado em seu último fôlego.

Kessar cuspiu o chão.

—Estás de um aspecto asqueroso. Alguém mijou em seu sangue?

Antes que pudesse responder, a luz brilhou intermitentemente outra vez. Stryker rangeu os dentes espectador ante a seguinte ronda de Débeis e Patéticos Perdedores.

Ao menos era o que ele pensava até que o risco impreciso de negro aterrissou no chão como um escondido mortal. Logo que tinha podido distinguir o fato de que ela era uma fêmea quando o atacou com uma ferocidade e vigor que teria feito sentir-se orgulhoso a um tigre raivoso. Sua primeira patada o golpeou tirando-o de seu assento. Escassamente teve tempo para lhe agarrar a munheca antes que o decapitasse com a enorme adaga em sua mão.

Lhe deu um cabeçada com força, lhe rechaçando. Stryker sacudiu a cabeça para limpá-la. Ela o empurrou contra a parede. Agarrou-lhe os braços e rodou com ela, lançando-a longe dele.

Expondo suas presas, estava a ponto de lhe rasgar a garganta quando seu olhar de revoltosa prata se encontrou com o negro dela.

Zephyra.

Nesse mesmo instante, foi como se se transportasse a onze mil anos atrás, ao dia em que se encontraram pela primeira vez. O ar do mar tinha estado fazendo voar seus cachos loiros ao redor de seu delicado rosto. Esbelta e pequena, tinha sido tão formosa como uma deusa.

E quando tinha estendido a mão para ela, esta o tinha emocionado com uma palavrão tão sujo como faria qualquer homem, enquanto lhe dava uma joelhada na virilha por atrever-se a tocá-la sem um convite.

O qual tentou fazer de novo. Mas desta vez ele o esperava. Afastou-se por um fio do caminho de seu joelho enquanto as emoções se derramavam por ele. Felicidade. Cólera. Alegria. Confusão.

Todos estes séculos tinha assumido que estava morta.

Logo que podia manter a compostura ante a realidade de que estava sã e salva. De que tinha sobrevivido à maldição de Apolo e tinha conseguido viver eternamente... justo como ele.

—O que faz aqui?

Ela respondeu a sua pergunta com um ataque fulminante de sua adaga que falhou por pouco sua garganta.

—Pensei que devíamos nos pôr ao dia sobre os velhos tempos. Talvez jogar Parchís.

Stryker lhe agarrou o braço e girou com ela, cravando à parede de novo. Rodeou seu

agarrão até que a obrigou a deixar cair a adaga. Pôs uma mão ao redor de seu pescoço e manteve-a no lugar.

—Posso pensar em jogos muito melhores para jogar. —Estava a ponto de dizer, Strip Póker, quando algo o golpeou com força pelas costas, lhe afastando de Zephyra.

Deu-se volta com um grunhido selvagem para seu novo atacante, com a intenção de matar a quem quer que seja que fora o bastante estúpido para interferir em seus assuntos, então ficou petrificado, enquanto se pasmava fascinado ante a cena. Era uma cópia exata de Zephyra. Os mesmos cachos loiros. Os mesmos olhos violetas. De idêntica altura e peso.

Pensaria que era uma irmã gêmea, se não fora porque sabia que Zephyra era filha única.

—Afaste suas mãos sujas de minha mãe.

 

                                        CAPÍTULO 3

—Mãe —repetiu Stryker sussurrando antes que Kessar agarrasse à filha de Zephyra. O demônio abriu os lábios para provar sua garganta. Stryker logo que teve tempo para deter o demônio antes que a matasse—. Detenha-se!

Os olhos vermelhos do demônio resplandeceram brilhantemente antes de soltá-la com um grunhido.

—Deixe que lhe matem então. Não é como se me importasse um pouco se vives ou morres.

Zephyra correu para Stryker, estendendo sua faca até que se converteu em uma espada e o apunhalou. Stryker deu um passo atrás enquanto utilizava seus poderes para manifestar uma espada própria. Ele bloqueou sua espada com a sua. O som de aço soava fortemente, ecoando através da habitação, enquanto ela o encontrava golpe pós golpe. Cada vez que se detinha, cada impulso. Estava ali, como se soubesse exatamente o que ele ia fazer.

Stryker sorriu. Tinha passado muito tempo desde que tinha brigado com alguém, além de Acheron, que pudesse igualar suas habilidades. Entretanto, aqui estava ela, a filha de um camponês, lutando com a experiência de um soldado treinado. Se perguntava quem lhe tinha ensinado tão bem.

—Sempre soube que eras boa manejando a espada de um homem, amor, mas não tinha nem idéia de que essa habilidade se estendia às que são feitas de aço.

Ela grunhiu um instante antes de chutá-lo, golpeando-o nas costelas.

Stryker grunhiu pela dor que esse simples golpe lhe causou. Mas sendo justos, ela tratava de controlar seu temperamento.

—Pelo menos esta espada não me decepciona. E não me preocupa que fique branda.

—Eu nunca me pus brando contigo.

Ela pôs os olhos em branco, enquanto ele bloqueava seu ataque.

—Confia em mim, bebê, não eras tão bom. Simplesmente eu era melhor atriz que você.

—Ew! —Grunhiu sua filha enquanto lhe dava mais espaço para lutar—. Não te ofenda

mamãe, mas não preciso saber detalhes de sua vida sexual. Acaba de uma vez com suas brincadeiras sexuais e com ele, antes que fique surda.

Os olhos de Zephyra se obscureceram enquanto um lado de sua boca se converteu em um diabólico sorriso.

—Não deve ser tão dissimulada, Medea. Depois de tudo, sempre quis conhecer seu pai. Feliz aniversário, bebê! Sinto que a reunião seja tão curta. Mas confia em mim, não é uma grande perda.

Stryker se cambaleou surpreso pelas notícias. Desviando sua atenção da briga, olhou a sua filha e à assustada expressão que demonstrava as diferenças sutis entre ela e sua mãe. Esse lapso lhe custou caro, já que Zephyra o apunhalou diretamente no peito, falhando por muito pouco em sua marca de Daimon... se o tivesse apunhalado um só milímetro mais acima, teria se convertido em pó.

Assim como era, doía como o inferno.

—Pare! —gritou Medea enquanto corria para sua mãe e puxava a ela.

Stryker amaldiçoou enquanto se cobria a ferida com a mão e se esticava de dor.

Zephyra empurrou a Medea, retornando para ele. Ele levantou sua espada, preparado para

lutar. Medea se situou entre eles e obrigou a sua mãe a afastar-se.

—É realmente meu pai?

Zephyra lançou uma estocada para ele. Stryker rapidamente a esquivou. Sentindo o

calor da lâmina, enquanto lhe arranhava a bochecha antes de enterrar-se na parede atrás dele.

Furioso, foi atrás dela.

Medea se girou para ele com uma expressão tão única de Urian que o surpreendeu

completamente.

Urian. Seu filho mais prezado. Que tinha significado tudo para ele, e nesse momento soube que Zephyra não estava mentindo.

Medea era sua filha.

A realidade disso o golpeou tão violentamente que quase o pôs de joelhos. Tinha uma filha e estava viva...

Medea tragou enquanto o estudava.

—Você é Strykerius? O filho de Apolo?

Stryker assentiu.

Ela começou a avançar para ele mas sua mãe a agarrou pelo braço e a obrigou a deter-se.

—Não te atrevas a abraçá-lo. Não depois que nos abandonou.

—Eu nunca fiz isso! —grunhiu-lhe ele—. Você foi quem me mentiu e me disse que tinha perdido o bebê.

—Porque não queria te atar a mim. Queria que ficasses porque me amavas. Mas eu sozinha não era o suficientemente boa para ti, não é assim? Você foi se arrastando até seu pai e para que? Para que ele pudesse amaldiçoar a todo aquele que tivesse uma gota de sangue Apólita em suas veias? Disse-te nesse momento que seu pai não dava uma merda por ti. Devias ter me escutado.

Ela tinha tido razão, mas isso não desculpava sua mentira. Sua traição era tão grande como a de seu pai.

       —Tu me deixaste.

Ela rodou seus olhos.

—Sempre foste um idiota.

Kessar riu em voz alta.

—Finalmente, alguém que está de acordo comigo.

Stryker olhou ao demônio, de cuja presença se esqueceu por completo.

—Por que está aqui ainda?

—O entretenimento que se consegue com isto não tem medida. Nunca vi a uma mulher chutar o traseiro a um homem desta maneira.

       Logo que tinha terminado de falar quando Medea estirou o braço.

Algo negro voou de sua mão e não foi até que se envolveu ao redor da garganta de Kessar e lhe atirou ao chão, que Stryker se deu conta do que era.

Asfyxen. Reminiscência de um bolo, so que era muito menor e muito mais mortífero.

Medea caminhou para o demônio como uma verdadeira guerreira. Agarrou uma das bolas que eram do tamanho de bolas de golfe negras e puxou do demônio para ela enquanto este lutava por respirar, tratando de afrouxar o cabo que o estrangulava.

—Nunca subestime a uma mulher, demônio. Neste mundo, nós mandamos.

Stryker sentiu um calafrio descer por sua coluna vertebral. Ela era Urian...

Só que em versão feminina.

Não podia estar mais orgulhoso.

Empurrando a Kessar longe dela, retirou o cabo do pescoço com um elegante movimento.

—Na próxima vez, pensa antes de perder a cabeça.

Os olhos de Kessar brilhavam de ira.

—Você e eu, bebê, vamos dançar outra vez. Qualquer destes dias.

Ela guardou o asfyxen sob sua manga.

—Eu trarei a música.

Kessar desapareceu.

Medea girou para olhá-los com um sorriso satisfeito.

Stryker ocultou sua diversão.

—Suponho que sabe que é o mais perigoso de sua espécie.

—Ele não é nada contra ela—disse Zephyra com orgulho—. Medea tem poderes que não poderia entender. Que não são de sua incumbência.

Antes que Stryker pudesse abrir a boca para responder, ela o nocauteou. Viu estrelas um instante antes que a escuridão se apoderasse dele.

Zephyra tirou uma adaga da bota, enquanto se ajoelhava no chão ao lado de Stryker, com a intenção de matá-lo.

Mas, quando estava a ponto de apunhalá-lo, Medea capturou sua munheca.

—O que está fazendo?

O determinado olhar de Medea se encontrou com o seu.

—É meu pai. Poderia pelo menos falar com ele, antes que o mate?

Zephyra deu um bufido.

—Seu pai é um idiota, carinho. Toma-o de alguém que estava acostumada a dormir com ele. Não está perdendo nada, e se não me deixa matá-lo agora, só vai ser para que você o mate

mais adiante.

       —Então me deixe fazê-lo mais adiante. Quero ter pelo menos cinco minutos com ele.

Zephyra liberou a mão do duro puxão de Medea.

—Não seja ridícula. Artemisa o quer morto. Se não fosse por ela, você e eu não estaríamos aqui. Seu pai —disse cuspindo as palavras— nos abandonou.

—Já sei. Me disse isso tantas vezes que está permanentemente gravado em meu cérebro. Entretanto, ele é uma parte de mim e eu gostaria de me despedir.

—Realmente precisa deixar de ver Oprah. É uma menina abandonada. Atua como tal.

Em um rápido e elegante movimento Medea arrebatou a adaga de sua mão e a pressionou contra a garganta de Zephyra.

—Tem razão, mamãe. Te levante e retroceda. Estou tomando custódia dele.

Zephyra sorriu orgulhosamente. Logo desarmou a sua filha.

—Só recorda, carinho, embora possa dominar demônios, não me domina. —Inclinou a cabeça para baixo enquanto sentia que seus olhos de daimon ficavam de um vibrante cor laranja.

Stryker despertou com uma profunda dor lhe atravessando a cabeça. Durante um momento não pôde recordar que tinha acontecido para causá-la. Mas quando abriu os olhos para encontrar-se encadeado a uma parede, clareou-se totalmente.

Sua primeira esposa havia retornado a procura de vingança.

Furioso, ficou em pé e puxou a magra cadeia que o sujeitava a uma argola de aço na parede. Tinha feridas em cada punho e tornozelo e embora tinha liberdade de movimentos, não podia ir longe.

       Mas isto era imensamente melhor que o homem que estava encadeado à parede de frente a ele. Alto e magro, via-se como alguém que tinha sido obrigado a atravessar o inferno. Literalmente.

O sujo e emaranhado cabelo castanho escuro lhe caía diante dos ombros.

Completamente nu, seu corpo estava coberto de feridas e marcas de dentadas.

O fato de que fossem visíveis através das espessas tatuagens tribais negras que marcavam seu torso, braços e coxas, só testemunhavam quão profundos e viciosos eram.

Ao contrário de Stryker, ele estava pendurado em pé, com os braços estirados por cima da cabeça. Sua cara de finos ossos estava coberta por uma espessa e descuidada barba.

—Que merda fizeram a ti?

       O homem riu quando girou as mãos nas cadeias que sustentavam suas munhecas e inclinou a cabeça contra o muro para olhar a Stryker quem conteve a respiração ante a visão de seus olhos amarelos rodeados por uma tênue banda de vermelho sangue.

—Alimentam-se de mim. Meu pa;pite é que você é o segundo prato.

—Não é nem Daimon nem Apolita. Não ganham nada alimentando-se de ti.

Ele riu com amargura.

—Diga isso a eles.

Stryker franziu o cenho quando notou a magra linha negra que rodeava a garganta do homem. Era um colar de contenção de algum tipo.

—O que é você?

—Sou miséria.

Não o duvidava. O homem tinha tido mais que sua parte disso.

—Tens nome?

—Jared.

—Eu sou…

—Strykerius mas prefere Stryker. Odeia à deusa a que serve e buscas matar a seu único filho e clamar vingança sobre o antigo humano que matou a sua irmã.

Stryker se congelou quando a criatura desvelou seus planos.

—Como sabe?

—Sei tudo. Sinto cada batida do universo. Ouço cada grito de piedade e sinto cada lágrima de dor.

E lhe estava assustando até lhe tirar toda a merda de cima.

—Sinto-o —disse Jared—. O faço isso a todo mundo.

—O que?

—Assustá-los.

—Pode ouvir meus pensamentos?

“Ouvi-os, antes de que os tivesse”. Desta vez, não falou. Sua voz era alta e clara na mente de Stryker.

—Mantenha-se longe de minha cabeça.

Jared lhe dedicou um insultante sorriso.

—Me acredite, eu adoraria. Está cheia de merda. Mas está muito perto fisicamente de mim para bloqueá-lo. —Golpeou sua cabeça contra o muro de pedra. O dor é a única maneira de manter seus pensamentos fora de minha cabeça.

—É por isso que lhe golpeiam?

Lhe dedicou um frio olhar.

       —Principalmente o fazem para divertirem-se.

Stryker honestamente sentiu pena pela criatura, quem tinha estado em absoluta agonia. Havia algo nele que lhe parecia familiar e ainda assim não podia situá-lo.

—Quanto tempo lhe mantiveram aqui?

Jared deixou escapar um cansado suspiro.

—Vem Medea.

As palavras apenas tinham saído de seus lábios quando a porta se abriu para mostrá-la. Vestida com uma blusa vermelha e jeans, era formosa.

Um pai não podia pedir uma filha mais perfeita.

Uma mais carinhosa possivelmente, mas não uma mais formosa.

Seu olhar se dirigiu a Jared, onde a simpatia apareceu por um instante, mas rapidamente se ocultou atrás de um muro de estoicismo. A expressão de Jared, entretanto, era zangada e desafiante.

       Ela girou sua atenção a Stryker.

—Sinto o de sua atual posição.

Jared se burlou.

—Síp, ela é como uma canastra cheia de simpatia. Só faz falta que me olhes para que saiba que tão profunda é.

—Te cale.

Uma focinheira de couro apareceu na metade inferior de sua cara.

Jared grunhiu enquanto tratava de se libertar de suas cadeias para tirar a focinheira, mas era inútil. Seus músculos se avultavam enquanto lutava contra suas ataduras.

—Isso é realmente necessário? —perguntou Stryker a sua filha.

Ela ignorou os gritos de Jared e a pergunta de Stryker.

—Deveria estar mais preocupado por seu próprio bem-estar.

—Por que? Tem a intenção de me matar?

—Estou segura que Matera o vai fazer na primeira oportunidade que se apresente.

—Então, por que estou aqui?

Cruzando os braços sobre seu peito, levantou seus ombros despreocupadamente.

—Por curiosidade. Queria entender de onde vêm meus poderes e a melhor forma de canalizá-los. Sei que não vêm de minha mãe... Ela é psíquica, mas não tem a capacidade de convocar as coisas como eu posso.

       Suas palavras o intrigaram. Quais eram exatamente os poderes de sua filha? E que tipo de coisas podia convocar?

“A mim”. Escutou a voz de Jared em sua cabeça.

Medea girou para Jared e enviou um raio contra seu peito.

Ele vaiou de dor enquanto um círculo negro ardia e queimava sua carne. Seu corpo inteiro se esticou.

—Mantenha-se fora disto.

Stryker apertou os dentes quando uma solitária e vermelha lágrima escorregou pela bochecha de Jared. Era estranho que chorasse sangue. Stryker nunca tinha ouvido falar de uma criatura como ele. Mas independentemente do que fora, Jared não merecia isto.

Stryker olhou a sua filha.

—Sabe, face ao sangue-frio que tenho, nunca hei desfrutado da tortura. Ou mata-o ou deixa-o ir.

Ela sacudiu a cabeça.

—Minha mãe nunca permitiria isso.

—Então deixa-o em paz.

—Realmente você não gosta da tortura, verdade?

—Não, eu não gosto. Uma coisa é golpear por ira, outra é causar agonia por gosto. Sou um soldado, não um covarde.

—Me estas chamando de covarde?

Olhou a Jared, quem ofegava para suportar a agonizante dor de sua ferida. Seu peito ainda estava ardendo enquanto o raio seguia queimado sua pele.

—Sempre deve dar a seu oponente uma oportunidade de defender-se. Deixar que o melhor lutador ganhe, e se não fores tu, morrer com dignidade.

Ela lhe franziu o cenho antes de girar-se para seu outro prisioneiro.

—Jared? Está mentindo pra mim? —Ela levantou a mão e a focinheira de couro desapareceu.

—Não —disse, sua voz tensa e débil—. Ele vive sob um espantoso código moral.

A criatura e seus poderes intrigavam a Stryker.

—O que é ele? Seu detector de mentiras pessoal?

Ela lhe deu um débil sorriso.

—Algo assim.

Jared se burlou.

—Por que não lhe diz a verdade? Que eu sou seu cão ao qual mantém encadeado para que não mije em seu tapete.

Ela levantou a mão novamente e a focinheira retornou para cobrir sua boca.

—Por que me provoca desta maneira?

Jared brigou contra suas restrições enquanto gritava algo indecifrável.

Sua fortaleza era admirável. Stryker inclusive se precaveu do respeito que havia nos olhos de sua filha até a criatura.

—Os dois pombinhos apaixonados brigam assim o tempo todo? —Stryker perguntou-lhe.

Ela grunhiu.

—Eu não brigo com ele absolutamente. É simplesmente uma ferramenta de uso.

—Como o usas?

Ela não respondeu.

—Matera diz que deveria deixá-la te matar por nos abandonar.

—Mas?

—Quero entender como é que pôde deixar à mulher que amou e nunca olhar para trás ou lamentá-lo. Encontro esse tipo de egoísmo incompreensível.

Stryker se congelou enquanto sua acusação o feria profundamente. Não se arrependia? Tinha lamentado a perda de Zephyra todos os dias de sua vida.

Mas tinha sido criado com a crença de que o dever estava antes do amor. Sempre.

Seu pai lhe tinha ordenado que se divorciasse de Zephyra e se casasse com uma sacerdotisa, para cumprir com o destino que tinha planejado para ele e ele o tinha feito. Não, não era só isso. Zephyra havia feito de tudo, menos chutá-lo fora de sua casa quando Apolo lhe disse o que pensava dela e de seu humilde nascimento.

—A filha de um pescador casada com o filho de um deus?

—Estás louco? Há putas em abundância para ti, Strykerius. Não te salvei do massacre para ver que te cases com isto e engendre crianças imprestáveis de baixo patrimônio genético.

Stryker deveria ter defendido a Zephyra. Tinha-o sabido nesse momento. Sem embargo, com apenas quatorze anos, embora uma idade aceitável para o matrimônio no mundo antigo, até tinha tido medo do poder de seu pai. Temeroso de decepcionar ao deus que tinha significado o mundo para ele.

—Então? —Exigiu-lhe Medea—. Me responda. Por que nos deixou?

Stryker endureceu sua expressão. Já não era um medroso jovenzinho. Era um general de onze mil anos.

—Não respondo ante ninguém, e maldita seja se me justifico ante minha filha. O que passou desde então é entre sua mãe e eu.

—Está disposto a morrer então?

—Sou um guerreiro, Medea. Aceitei a morte como inevitável no momento em que levantei minha primeira espada para lutar. Matei a meu próprio filho porque me traiu. Parece de algum jeito apropriado que minha filha me mate por lhe fazer o mesmo. Meu único arrependimento é não chegar a conhecer a filha que é tão similar a mim, que poderia me executar rapidamente sem vacilações ou pesar.

Ela levantou o braço. Stryker esperava que o matasse.

Em lugar disso, as cadeias que o sustentavam se soltaram de suas munhecas e tornozelos.

—Venha comigo.

Stryker a seguiu enquanto um novo plano se formava em sua mente.

Pouco sabia ela, ele não era um dócil cachorrinho disposto a ser comandado por qualquer pessoa.

Quando chegou à porta, voltou-se para ver Jared pendurando fracamente de suas cadeias, a focinheira firmemente colocada sobre seus lábios. Uma onda de simpatia o percorreu.

“Não sinta lástima por mim, Stryker. Eu não escolhi estar aqui”.

Essas ominosas palavras ecoaram em sua cabeça, enquanto seguia a Medea fora da sala e ela fechava a porta, lhe impedindo de ver Jared.

—É um prisioneiro?

—Não, é um presente.

—Um presente?

Ela assentiu sem dar mais explicações.

—De quem?

Ela abriu uma porta e o guiou dentro de uma fria e austera habitação.

—Não falamos dos detalhes da presença de Jared aqui. Nunca.

Talvez...

Medea começou a caminhar pelo corredor. Agora que Stryker estava fora da habitação, sentiu como seus poderes retornavam. Essa habitação devia ter alguma espécie de encantamento. Agora que já não estava aí...

Fortalecido, correu para sua filha e a agarrou por trás.

Com os olhos extremamente abertos, ela gemeu.

—Sou um líder, pequena. Não sigo a ninguém. —Ajustando seu agarre, transportou-a

fora do edifício e de volta ao Kalosis.

                                                 CAPÍTULO 4

        Medea gritou de cólera quando tratou de teletransportar-se fora do Kalosis.

Stryker sorriu.

—Fechei o canal. Não pode sair daqui até que o abra de novo.

Seus negros olhos brilhavam de ira, lhe recordando ainda mais a sua mãe.

—Matera te matará por isso.

Libertou-a e deu um passo atrás.

—Ela vai matar-me de todos os modos. Que diferença há?

—Seu plano não incluía a tortura a primeira vez. Isto... Isto a fará mudar de opinião.

Encolheu-se despreocupadamente.

—Você queria passar um tempo com seu pai. Aqui estou —suas facções se endureceram quando seus olhares se encontraram lhe demonstrando sua determinação. —Mas deveria saber uma coisa sobre mim. Não faço nada que implique seguir condições de outras pessoas. E eu sempre sou o que dirige o desenvolvimento das coisas. Ninguém me diz o que fazer —a última pessoa a qual tinha obedecido, seu próprio pai, havia-o traído. Desde essa noite, prometeu-se que no futuro sua vida era sua e de ninguém mais.

Medea curvou os lábios.

—Matera tinha razão. És um idiota.

Sua ira o divertia.

—Não é verdade. Um idiota te jogaria a seus demônios. Eu sou seu pai, e sinceramente, sinto falta que meus filhos estejam comigo. Essa debilidade é a única razão pela qual ainda estas viva depois de me ameaçar.

Estirou-se para lhe embalar a cara entre as mãos. Pela forma em que se esticou, o surpreendeu realmente que não lhe afundasse as presas na palma. Em lugar disso, continuou olhando-o com desprezo.

Recordava-lhe tanto a sua filha que tinha morrido onze mil anos atrás. Só que Tannis nunca tinha sido uma lutadora. Nunca tinha compartilhado o amor pela vida de seu irmão Urian. Não como Medea.

Tannis tinha consentido consumir-se alegremente em seu vigésimo setimo aniversário, enquanto Stryker a sustentava entre seus braços, lhe rogando que tomasse uma vida humana para que pudesse viver outro dia. Negou-se rotundamente. E seus gritos de dor ecoavam em seus ouvidos até o dia de hoje.

Medea girou o rosto entre suas mãos, e lhe deu uma dura joelhada na virilha.

Amaldiçoando, Stryker capturou sua mão antes que pudesse golpeá-lo de novo e a retorceu para as costas. Seu corpo ardia com a necessidade de matá-la pelo que fazia. Mas era filha de sua mãe.

E sua.

Utilizando seus poderes, pressionou-a contra a parede atrás dela.

—Não tem nem idéia de quão afortunada és, posto que lamentei haver matado a meu filho por me fazer algo muito menos insultante que o acaba de me fazer. Se não fora por isso, já estarias morta.

—Eu também te amo, papai. —Seu tom sarcástico era frio e exacerbante.

 

Mas ao menos não era como Urian, lhe dizendo o muito que o odiava e desejava matá-lo.

—Davyn! —gritou, chamando um de seus comandantes. Parou-se firmemente e se negou a deixar que seus homens se precavessem da dor que sentia. Ninguém, nunca conheceria suas debilidades.

Davyn entrou na sala.

—Meu senhor?

Ele girou seu queixo para Medea.

—Leve a nossa convidada a minhas habitações e encerrea até que tenha tempo de me ocupar dela —levantou a mão, deixando que caísse com liberdade da parede antes de manifestar um par de grilhões em seus pulsos.

Tomou fôlego enquanto tratava de rompê-los.

—Te farei pagar por isso. E a seu cachorrinho, também —acrescentou maliciosamente.

Davyn sabiamente fez caso omisso de seus comentários.

—Sim, senhor. Agora mesmo.

Medea não falou enquanto o atrativo homem dava um passo para frente.

Teria que lhe dar crédito, porque, não a tocou.

—Poderia me seguir —lhe disse estendendo a mão em direção à porta.

Como se tivesse escolha? Malditos bastardos!

Furiosa, olhou a seu pai antes de permitir a Davyn que a conduzisse fora da sala.

—Sempre lhe obedece? —perguntou-lhe tão logo estiveram sozinhos.

Davyn a olhou por cima do ombro. Alto e loiro, tinha o cabelo curto e um pequeno cavanhaque.

—Se não quisesse viver, deixaria de capturar almas humanas e expiraria. Isso seria muito menos doloroso que desobedecer a Stryker.

—Assim que lhe tem medo?

Davyn grunhiu.

—Todo mundo lhe tem medo. O homem matou a seu próprio filho.

—Isso me disse.

—Sim, bom, estava ali quando aconteceu. Estávamos nos enfrentando contra nossos inimigos quando Stryker caminhou para ele, tão acalmado e seguro, abraçou-o, o cortou a garganta e o deixou morrer.

Realmente, essa descrição lhe enviou um calafrio pela coluna vertebral. Como podia alguém ter o sangue tão frio? O fato de ser o mesmo que corria por suas veias era ainda mais alarmante.

Davyn girou para a esquerda e caminhou ao longo de outro corredor.

—Urian era um de meus melhores amigos e amava a seu pai mais que tudo. O tinha servido durante séculos com absoluta lealdade. Me acredite, não merecia o que lhe aconteceu.

O que tinha feito seu meio irmão para ter um castigo tão severo?

—Por que o matou Stryker?

—Casou-se com uma de nossas inimizades a suas costas.

Ela tropeçou ante suas débeis palavras, incapaz de acreditar que uma ofensa tão leve fora merecedora de uma vida, ainda mais a vida de um de seus filhos.

—Isso foi tudo?

Davyn se deteve para abrir uma porta.

—Isso foi tudo.

Incapaz de acreditar na crueldade do homem, Medea duvidou, enquanto sentia algo sobre sua escolta.

—Você é um Anglekos —os Anglekos eram Daimons que só caçavam a humanos corrompidos.

Daimons que se comprometiam a tomar só as almas dos que mereciam morrer, Pedófilos, Violadores, Assassinos. O pior do pior.

Ele pestanejou.

—Como o sabes?

—Posso sentir as almas dentro de ti. Mataste a três recentemente —então se deu conta de outra coisa.

Não era como seu pai. Ainda tinha um coração que não tinha sido destruído.

Ainda.

—Sei porque escolhe as almas que tomas, mas me deixe te dar um conselho. Essas almas te arruinaram. Te vão corromper até que te converta no mesmo do que te alimentas.

Davyn a mirou cautelosamente.

—E tu como sabes?

Essa era uma pergunta que não planejava responder.

Stryker se sentou em seu escritório, observando Zphyra caminhar furiosamente através de sua nova sfora. A mulher se movia como prata líquida. Quente. Fluída. Elegante. Fazia que cada hormônio em seu corpo se acendesse enquanto recordava como se sentia entre seus braços. Como se sentia ao fazer amor a uma mulher tão desinibida. Seu aroma e tato estavam gravados em suas lembranças.

Sempre a desejava quando estava zangada. Uma vez não muito depois de casar-se, tinha-a feito enfurecer quando flertou com outra mulher. Ao voltar para casa, o tinha agarrado, empurrado ao chão e tinha feito amor com ele até que quase havia ficado cego de prazer. Tinha tido os joelhos cheios de pequenas queimaduras produzidas pelo tapete toda a semana seguinte.

—Se alguma vez olhas para outra mulher, arranco-te os olhos.

Pelo contrário, tinha arrancado a maior parte da pele de suas costas enquanto faziam amor toda a noite. Seu coração se acelerou enquanto recordava suas habilidades e ficou instantaneamente duro enquanto ardia por seu toque. Afastar-se dela foi a coisa mais difícil que tinha feito. Mas se tivesse ficado, seu pai a haveria matado sem piedade. Como mortais, não havia forma de que Apolo lhes tivesse permitido desafiá-lo. Perdoava ainda menos que Stryker.

E por isso tinha feito o mais nobre. O correto. Em lugar de tratar de lutar uma batalha perdida que lhes haveria custado a ambos a vida, tinha-a deixado em paz, pensando que teria sido capaz de encontrar um homem digno dela.

E após, durante todos esses séculos, Stryker tinha pensado nela e havia sentido saudades dela dia pós dia e sua perda. Lamentava cada momento que lhes havia negado.

Mas nunca lamentou ter salvado sua vida da ira de seu pai.

Incapaz de suportar estar longe dela um instante mais, Stryker se teletransportou a seu templo na Grécia. Um dos últimos templos da Artemisa que se seguia utilizando para adorá-la, era frio e eterno como a própria deusa.

Assim que Zephyra sentiu sua presença, voltou-se para atacá-lo com todo o peso de sua fúria. Com os negros olhos brilhantes, retirou a adaga de sua bainha e balançou para ele.

—Não —disse calmamente, embora seu corpo ardia por saboreá-la. —Me mate e meus homens destruirão a Medea.

Zephyra apertou ainda mais o agarrão sobre a adaga, enquanto se congelava frente a ele.

—Utilizaria a sua própria filha como moeda de troca?

Ele deu-se de ombros.

—Agamenón matou à sua só para pilotar um navio e atacar a seu inimigo. Somos antigos gregos, não?

—Você é meio porco grego. Sou uma Atlante Apólita —embainhou a adaga na capa, e se endireitou. Sua tensa postura lhe indicava que estava mais que pronta para brigar. —Então, o que quer?

Antes que pudesse deter-se, atraiu-a para seus braços para beijá-la.

Zephyra tinha pensado que no momento em que a tocasse o apunhalaria, mas tão logo seus lábios tocaram os seus recordou por que se casou com ele. Era insofrível, arrogante, desleal, e incrivelmente sexy, Stryker sempre a tinha posto quente. Ninguém beijava como ele. Ninguém se sentia como ele. Seu corpo de guerreiro estava esculpido por duros e tensos músculos que se moviam como a água. Músculos que lhe coagiam a tocar e mordiscar.

E com os braços a seu redor, quase lhe poderia perdoar qualquer coisa.

Quase.

Empurrou-o para trás.

—Isso já não funciona comigo, idiota. Não sou a menina que deixou para trás.

Seus remolinantes olhos se obscureceram.

—Não, não o é. Ela era bonita, mas você... É uma deusa.

Tirando sua arma novamente, Zephyra colocou a adaga contra o pescoço de Stryker, justo debaixo de seu pomo de Adão. Queria lhe cortar a garganta e, entretanto, uma estranha parte dela não podia. O que lhe estava passando? Ela nunca duvidava.

—Não te aproximes de mim.

Seu magnífico rosto a tentava. Deuses, nenhum homem tinha nascido tão bonito. Negras sobrancelhas se arqueavam sobre um par de remolinantes olhos prateados. E seus lábios... recordava muito bem como a agradavam e cada segundo era ainda melhor que o seguinte. Tinha sido insaciável, talentoso, e um considerado amante. Um ao qual nunca deixou de querer.

—De verdade me cortaria a garganta? —Perguntou-lhe, baixando a voz uma oitava. Manteve-se firme apesar de a suas voláteis emoções.

—Liberte a minha filha e o descobrirá.

Esfregou seu pescoço contra a afiada lâmina, deixando uma fina linha de sangue na pele.

Zephyra olhou o sangue, sua boca salivava ante a necessidade de prová-lo. Essa era uma das coisas que mais odiava da maldição de Apolo. A luxúria Apolita pelo sangue era uma loucura que os fazia precisar alimentar-se cada vez que o cheiravam. Era uma compulsão que ninguém nascido em sua raça podia negar.

Incapaz de suportá-lo, puxou sua adaga, agarrou a Stryker pelo cabelo, e o aproximou até ela.

Stryker tomou fôlego rapidamente, enquanto afundava suas presas em sua pele. Calafrios se propagaram através de seu corpo enquanto o abraçava estreitamente. A sensação de seu fôlego em seu pescoço esquentava todo seu corpo.

—Deus, como senti saudades de ti.

Mordeu-o ainda mais forte, sugando o sangue até que lhe doeu.

—Odeio-te com cada pulsado de meu coração.

Essas palavras lhe machucaram ainda mais que a alimentação. Entretanto, sentia prazer da dor. Merecia seu ódio.

—Quem dera pudesse voltar atrás e mudar a noite que fui.

Zephyra se afastou com uma maldição.

—Sempre foi um covarde.

Agarrou seu braço e a aproximou de seu corpo.

—Nunca um covarde. Um tolo possivelmente, mas nunca fugi de nada.

—Se realmente achas isso, é ainda mais tolo do que pensava. Me devolva a Medea.

Ele sacudiu a cabeça.

—Minha filha fica comigo.

Grunhindo, Zephyra foi até sua garganta.

Stryker a apanhou e sujeitou contra seu corpo.

—Segues igualmente irracional.

Ainda pior, era deliciosa e a desejava com uma loucura que o consumia. Se inclinou para seu cabelo para poder inalar o delicado aroma de valeriana e lavanda.

—Proponho-te algo. Quer-me morto e eu quero te saborear. O que te parece se arrumamos isto como os guerreiros que somos?

—Como?

—Lutamos e se tu ganhares, me matas.

Inclinou a cabeça suspicazmente.

—E se perco?

—Dá-me duas semanas para te conquistar de novo. Se ao final das duas semanas ainda me detestares, deixarei que me execute.

Zephyra ficou petrificada ante a oferta. Olhou-o receosa.

—Como sei se posso confiar em ti?

—Sou um homem de palavra. De todo o mundo, sabe melhor que ninguém que a honra é tudo para mim. Se não te hei reconquistado em duas semanas, não mereço nada melhor que morrer por sua mão.

—Dá-te conta de que não sou a mesma idiota com a qual te casaste, a que lhe tremiam as pernas e não podia nem cortar sua própria carne. Matarei-te.

—Eu sei.

—Então aceito sua oferta —retrocedeu um passo. —Te prepare para morrer.

Stryker fez aparecer duas antigas espadas gregas e lhe estendeu uma.

Com os olhos brilhantes de fúria, agarrou a espada de sua mão e se preparou. Stryker a

saudou com a sua.

Ela o atacou, dirigindo-se a sua garganta. Deteve a lâmina de sua espada com a sua e a forçou a retroceder. Girando, trocou de mão e a surpreendeu com um golpe para cima que quase a desarmou. Mas era forte e rápida. E, como ele, trocou de mão e o fez retroceder com a ferocidade de seu ataque.

—És incrível —suspirou impressionado por sua perícia e sua paixão.

—Você não —se cruzou lhe empurrando para trás e balançou a lâmina ao seu pescoço.

Stryker sentiu a queimação enquanto a esquivava e se deixava cair ao chão de onde varreu seus pés. Lhe amaldiçoando, voltou-se para aterrissar sobre os pés e depois lançou uma estocada ao seu braço estendido. Stryker sorriu com admiração enquanto seguia pressionando-a com seus ataques. Ela girou à esquerda e logo à direita. Agarrou a folha com a mão e a fez oscilar, lançando-a fora de seu alcance.

Empurrou-o, afundou os dentes em seu braço e rodou pelo chão para agarrar ao punho e levantar-se com a espada em alto e em guarda.

       Stryker amaldiçoou cobrindo a ferida do braço com a mão.

       —Mordeste-me?

—Faz-se o que se pode —se aproximou balançando-se.

—Esse foi um movimento muito de menina —disse, desiludido de que tivesse utilizado tais táticas.

—Mas funciona. Ao melhor se lutasse como uma garota e não como um babuíno pasmado ganharia.

O braço lhe pulsava. Parou seu golpe e a empurrou para sua esquerda. Sem pensá-lo, levantou a mão para golpeá-la e se parou em seco.

Nunca poria a mão em cima da mulher a qual uma vez tinha amado mais que a sua própria vida.

A dúvida lhe valeu que ela liberasse sua espada e lhe fizesse um talho no ombro. Vaiando de dor, retrocedeu. Como um autêntico guerreiro, aproveitou a vantagem lhe golpeando com a espada uma e outra vez.

       A ferocidade de seu ataque fez mais que lhe danificar o braço ferido. Feriu-lhe profundamente no coração.

       —De verdade quer me matar?

—Com cada fibra de meu ser.

Incapaz de lhe permitir que o conseguisse reatou seu ataque, deslizou sua espada sob a sua, arrancando a da mão. Voou pelos ares, fazendo um arco.

Empurrando-a, agarrou a espada no ar e apontou ambas as lâminas para sua garganta.

—Se renda.

Os olhos lhe ondulavam de ira.

—Odeio-te, bastardo.

—E eu te ganhei limpamente. Reconheça a derrota.

Cuspiu no chão a seus pés.

—Cumprirei com minha palavra mas nunca me reconquistarás. Me acredite, dentro de duas semanas te abrirei a garganta, beberei seu sangue e te arrancarei o coração e me rirei enquanto seu corpo se converte em pó.

—Uma preciosa imagem. Deveria escrever para o Hallmark —utilizou seus poderes para que as espadas se desvanecessem. —Quero que saiba que lutei limpamente. De igual para igual. Poderia ter utilizado meus poderes contra ti mas não o fiz.

—Tenho que ir esquentar o forno e te fazer uns quantos biscoitinhos de herói?

Deixou escapar um comprido suspiro.

—Não há nada que possa fazer com respeito a ti, verdade?

—A verdade é que não. Hoje te odeio. Amanhã te odiarei. Que diz se não perdermos mais o tempo. Me dê a espada e te fatio o cangote agora. Uma vez me disse que morreria por mim. Que tal se cumprir com sua promessa?

Burlou-se de seu rancor.

—Por que manter uma agora, depois de ter quebrado tantas?

Isso trouxe cor a suas bochechas, enquanto seus olhos brilhavam de fúria.

—Sabia. És um mentiroso e um covarde. Não te vais entregar a mim em duas semanas. Não é assim?

—Isto não é sobre promessas. É uma questão de honra. Nunca sacrifiquei minha honra por ninguém.

—Não, só seu amor —lhe disse desdenhosamente. —Me diga uma coisa, Strykerius. Valeu a pena?

Essa era sempre a pergunta mais importante da vida, não era? Uma das sacerdotisas que o cuidava quando era menino, havia-lhe dito uma vez que o que uma pessoa mais lamenta é o que nunca teve a coragem de fazer.

E ela tinha razão. Desejaria nunca haver deixado Zephyra.

Seu coração se abrandou enquanto recordava o passado.

—Tive dez filhos bonitos. Fortes. Decididos. E amei a cada um deles. Como poderia me arrepender disso?

—E sua esposa? O que aconteceu com ela?

Também tinha sido bonita. Dócil e tranqüila. Nunca questionava suas decisões. Uma verdadeira dama do mundo antigo.

—Foi obediente e fiel. Nunca poderia insultar ou manchar a honra da mãe de meus filhos.

Seus olhos se obscureceram ainda mais. Tinha a machucado sem dar-se conta.

E nunca poderia apagar as coisas que se interpunham entre eles.

—Mas ela nunca foi você, Phyra. Não na fisionomia, na forma, ou na paixão. Sempre foste a luz em minha escuridão.

Zephyra se moveu lentamente para ele. Com cautela.

O ombro ainda lhe sangrava e doía, Stryker se esticou, esperando que o atacasse de novo. Chegou até ele, afundou a mão em seu cabelo e puxou até que seus lábios se pressionaram contra os dela para que pudesse lhe dar um beijo tão selvagem e quente que acendeu seu sangue. Seu corpo voltou para a vida enquanto lhe devolvia o beijo com cada parte de seu corpo que sentia saudades.

       Grunhindo, afastou-se e o observou antes de empurrá-lo longe.

—Isso é só para que recorde o que abandonou. Meu coração está morto para todos à exceção de Medea. Ela é a que guarda a única peça.

—Então a libertarei.

Soprou com desdém.

—Seus truques não funcionam comigo.

—Não há truques. Deu-me sua palavra e eu estou te dando minha fé. Confio em que respeite nossos termos e por isso a devolvo a sua custódia.

       Zephyra o olhou com olhos entrecerrados, sem confiar nem um momento. Era mais inteligente que qualquer homem que tinha conhecido. Ardiloso. Sabia como manipular às pessoas até obter o que queria. Sempre o fez.

       A todo mundo exceto a seu imprestável pai.

Mais bonito que qualquer um dos deuses, seu Strykerius uma vez tinha feito que seu corpo ardesse com uma luxúria insaciável. Agora só sentia ira e ódio.

Era tão estranho vê-lo agora com esses terríveis olhos de furacão prateado. Como mortal, seus olhos tinham sido do azul mais claro. Queria ter filhos e filhas com esses olhos para recordar o muito que o amava.

Os olhos da Medea eram verdes como os seus, e enquanto foram mortais, havia dado graças aos deuses por esse pequeno ato de misericórdia.

Até a noite em que Apolo tinha amaldiçoado cada membro de sua raça, porque um grupo de soldados Atlantes tinha sacrificado a sua amante grega e a seu filho bastardo.

Foi no sexto aniversário de Medea e durante a celebração Zephyra observou como os olhos de sua filha se voltavam negros.

Ignorante durante esse tempo do que tinha causado a maldição, Zephyra havia sustentado a sua filha enquanto vomitava toda sua comida e a sede de sangue começava.

Uma vez que Zephyra tinha entendido o que lhes tinha passado, o que a maldição significava, detestou tudo o que estava relacionado com Stryker e seu pai, Apolo.

—Me diga. Ainda adoras a seu pai?

Um profundo desgosto brilhou em seus olhos.

—Odeio-o com todo meu ser.

—Então temos uma coisa em comum.

—Também temos uma filha.

       Arqueou os lábios ante sua audácia.

—Não, eu tenho uma filha. Não vou permitir que reclame a Medea como tua quando nunca esteve aí para ela. É minha.

Stryker sacudiu sua cabeça.

—Os filhos são teimosos. Não importa quanto os ame e não importa o muito que o tente, vão forjar seu próprio caminho. E ao diabo com os pais.

—Mas isso não foi certo em seu caso não é assim?

Fez uma careta de dor ante a verdade.

—Só era um menino, Zephyra. Meu pai nos teria matado, se o houvesse desobedecido. Ou pelo menos nos teria amaldiçoado.

—Amaldiçoou-nos de todas as formas.

—Fez-o e vi como cada um de meus filhos e netos se converteram em pó ante meus olhos. Sustentei a minha filha enquanto suplicava misericórdia durante as horas que esteve agonizando. A teria matado e evitado sua dor, mas era jovem e mantinha a esperança de que se convertesse em Daimon como seus irmãos. Mas se negou, até que finalmente ficou reduzida a pó. Um por um, cada membro de minha família pereceu e sofreu. Não tenho nada agora. Ninguém.

Zephyra queria insultá-lo por sua sensível choramingação.

Mas a verdade era que havia tocado numa parte que tinha reservado só para sua filha. Em realidade, queria consolá-lo por suas perdas. Seu pior temor tinha sido ver sua filha envelhecer e morrer.

Felizmente, Medea era mais forte que isso.

—Medea, tem filhos?

Zephyra se sobrepôs à dor provocada por essa inocente pergunta. As amargas lembranças que queimaram profundamente sua alma.

—Tinha um filho.

O bebê mais lindo.

Praxis tinha sido doce e precioso. Sempre sorrindo. Sempre te abraçando.

—Onde está agora?

Eliminou qualquer emoção de sua voz.

—Morto.

Os olhos de Stryker se obscureceram ante sua monosilábica resposta.

—Seu marido?

—É realmente irônico. Contra meus desejos, ela e seu marido eram membros do culto de Pollux.

Eram Apolitas que acreditavam em não fazer nada para evitar a maldição de Apolo. Viviam em paz entre os humanos, esperando morrer horrivelmente em seu vigésimo sétimo aniversário. Cada um dos membros do culto fazia um voto de nunca machucar a um humano ou a qualquer outra forma de vida.

—Seu marido foi assassinado pelos mesmos enfurecidos humanos que temiam suas presas. Tratou de distrai-los a fim de que ela e seu filho escapassem. Golpearam-no e o arrancaram o coração do peito, logo a capturaram e a torturaram durante dias. Arrebataram a seu filho das mãos e o mataram diante de seus olhos —uma indignada raiva queimava-a profundamente. —Só tinha cinco anos. E também a teriam matado, se não a tivesse encontrado a tempo. Isso a converteu na guerreira que é. Odeia aos humanos por sua crueldade, assim como eu. São animais aptos unicamente para o massacre, e eu gosto de brincar de ser a açougueira.

Stryker entendia esses sentimentos. Ele havia sentido essa crueldade contra sua gente e seus filhos. Era a razão pela qual não tinha nenhuma simpatia pela humanidade. Por isso não tinha piedade deles. Por que tinham que viver em paz enquanto seu próprio povo não tinha futuro?

Mas suas palavras o confundiram enquanto olhava a seu redor, o enorme templo de pedra, onde as paredes estavam decoradas com pacíficas cenas de mulheres dançando com cervos. Aqui era onde os servidores humanos da Artemisa ainda lhe rendiam comemoração.

—Entretanto, vive aqui com eles.

—Só com um pequeno grupo. Serventes da Artemisa que nos deram refúgio quando o necessitávamos. Cuidaram-nos durante séculos, pelo qual lhes permitimos viver.

Franziu o cenho.

—Por que a deusa faria isso?

—Artemisa sempre foi boa conosco. E em troca de refúgio, fazemos alguns trabalhos para ela.

—Que tipo de trabalhos?

—Te assassinar.

Seus olhos se encheram de humor enquanto se aproximava dela.

—Voltamos para o mesmo?

—Sempre vamos voltar a isso.

—Parece-me justo —suspirou. —Venha, Phyra, vamos encontrar a nossa filha — Estendeu a mão para ela.

Arqueou os lábios com repugnância.

—Pode ficar com isso —golpeou ligeiramente sua mão— para ti.

Negou com a cabeça.

—Houve um tempo no qual teria beijado minha mão com amorosa ternura. Mas com toda honestidade, devo dizer que estou surpreso. Um inimigo ardiloso haveria beijado minha mão, e me teria apunhalado enquanto estava distraído.

Burlou-se enquanto empurrava sua mão para um lado.

—Uma ação covarde. Por favor. Não nos insulte com essa sugestão. Não acredito em mesquinhos ataques juvenis. Vou atrás do que quero, e quando é a vida de um inimigo, não quero que haja nenhuma dúvida sobre minha intenção. Se for digno de meu ódio, então é digno de saber que vou atrás de ti.

Stryker sorriu ante suas zangadas palavras, agradecido de ouvi-la.

       —Um verdadeiro código de guerreiro —a respeitava ainda mais por isso. —Tome minha mão, Zephyra.

Ela lhe cuspiu.

Zangado, Stryker a agarrou e a aproximou dele. Queria estrangulá-la por sua obstinação. Mas desejava ainda mais beijá-la.

       —Vou te castrar —lhe advertiu.

Limpou a saliva sobre sua camiseta apesar de que lhe golpeava a mão.

—Bom, sempre e quando o faças nua, não me escutará queixar.

—És um porco —se moveu para esbofeteá-lo.

Capturou a mão na sua e enfrentou seu desafiante olhar.

—E você é uma formosa arpía. Uma que deveria estar agradecida de que estou o suficientemente nostálgico como para não castigá-la da maneira que o faria a qualquer um que se atrevesse a me cuspir.

Zephyra conteve o fôlego quando viu a crua fúria em seus olhos.

Estava a um passo de golpeá-la, e embora uma parte dela queria que o fizesse, seu controle a surpreendia. No mundo onde tinha nascido, um homem tinha direito a golpear a uma mulher. Entretanto, absteve-se de golpeá-la com suas mãos, inclusive durante a briga.

       Inclusive durante o ano em que estiveram casados na antiga Grécia, nunca a tinha maltratado. Nunca tinha levantado um dedo contra ela, apesar de não ter piedade com os outros. Isso era o que mais tinha amado nele.

A tinha feito se sentir segura. Protegida. Se alguém fazia algo tão simples como olhá-la com receio, Stryker os matava.

Sentia saudades desse estúpido menino cujos olhos brilhavam com amor cada vez que a via.

O homem ante ela era formidável. Não era um imaturo moço tratando de agradá-la. Era um triunfante guerreiro com onze mil anos de treinamento e sobrevivência a suas costas. De comandar um exército de condenados que declaravam guerra contra a humanidade e os imortais Dark-Hunters que a protegiam.

Apesar de ter querido matar a Stryker muitas vezes ao longo dos séculos, nunca tinha sido capaz de aproximar-se dele até agora. Todos esses anos, tinha estado encerrado no Kalosis e a única forma de entrar era com um convite de Stryker ou Apollymi.

Enquanto servisse a Artemisa, Apollymi não tinha nada a ver com ela. E pedir a ele um convite teria arruinado seu ataque surpresa.

Entretanto, a reputação entre seu povo era legendária.

Os Apolitas o adoravam, e a seu grupo de guerreiros de élite, os Spathi. Inclusive ela respeitava-o por suas batalhas.

Mas isso não mudava o que tinha feito a Medea e a ela. Até o dia de hoje, Zephyra podia vê-lo girando e sair caminhando de sua casa de campo para estar com a mulher com a qual seu pai tinha querido que se casasse. Entretanto, tinha-lhe dado sua palavra de ficar e ser condenada se se atrevesse a rompê-la. Era melhor que isso.

—Detesto seu cabelo negro —se burlou antes de tomar sua mão.

Stryker rio ante sua capitulação e sua pua. Não se estava rendendo e não duvidava em deixá-lo saber. Fechando sua mão sobre a dela, levou-a para o Kalosis, onde mandava.

Assim que estiveram na segurança do inferno, retirou a mão e se girou ao redor da escura habitação onde governava a todos os Daimons que chamavam a este lugar Lar.

—É um pouco deprimente não achas?

—É suficiente para mim.

Não fez nenhum comentário, enquanto se girava para olhá-lo.

—Onde está Medea?

—Em minhas habitações. Venha, levarei-te a ela.

War se deteve enquanto se materializava no corredor traseiro de uma mansão que recordava a uma antiga vila grega.

As persianas cinza escuro se mantinham firmemente fechadas, protegendo a casa do implacável sol que mesmo assim entrava através das pequenas gretas.

Paredes brancas, sustentavam velhas fotos de um menino e uma mulher muito atrativa de

cabelo loiro e sorridentes olhos azuis.

Um estranho som de música estrangeira flutuava através das paredes, junto com a risada e o som dos automóveis do exterior. Mas ninguém ria dentro da casa. Tudo estava silencioso e tranqüilo.

Fechando os olhos, War registrou a casa com seus poderes até que encontrou o que tinha sido enviado a matar.

Nick Gautier.

Mas não estava sozinho. Havia uma mulher na cama com ele. Ambos nus. Ambos suarentos pelo sexo.

Séculos atrás, War teria sacrificado à mulher sem duvidá-lo.

Sem dúvida ainda o faria...

Inclinando a cabeça, caminhou através das paredes até que chegou ao quarto onde uma grande cama com quatro postes os alojava. Estavam enredados entre os negros lençóis de seda. Uma bandeja sobre a mesa de noite sustentava uma garrafa meio vazia de vinho, no chão haviam rosas vermelhas que pareciam ter sido atiradas apressadamente.

O homem, Nick, estava sobre a mulher, beijando suas costelas enquanto ela desenhava círculos em suas costas. O cabelo marrom comprido até os ombros obscurecia a cara do homem. A mulher, entretanto, era linda. Seu comprido cabelo negro estava derramado sobre o travesseiro, enquanto arqueava as costas e mantinha os olhos firmemente fechados.

War se deteve ante a visão de seu nu e esculpido corpo. Não havia saboreado a uma mulher em séculos. Não havia sentido uma suave carícia desde...

O mero pensamento dessa puta enviou sua cólera pelos céus. Querendo sangue,

percorreu a distância entre eles.

Agarrou Nick pela garganta e o atirou contra a parede.

—Saia —ordenou à mulher, que se encolheu com um grito.

—Vai, Jennifer. Agora!

Ela não duvidou. Envolvendo-se com o lençol, deslizou-se fora da grande cama e correu para a porta.

Gautier se endireitou para olhá-lo. Tinha uma barba de três dias no rosto, que estava marcado por um duplo arco e uma flecha. O símbolo da Artemisa.

War franziu o cenho ante a presença disso em sua cara. E seu significado.

Não que importasse. Tinha nascido para foder aos deuses.

—Quem diabos é? —perguntou-lhe Nick. Levantando os braços, manifestou roupa sobre seu corpo.

War sorrio.

—Me chame morte.

—Não te ofenda mas prefiro te chamar patético —estirou a mão.

War negou com a cabeça quando viu as shurikens voar para ele.

—Quem fala de patético —se teletransportou através da habitação e agarrou a Gautier pela garganta enquanto as shurikens se incrustavam na cabeceira da cama. War o levantou do piso e o empurrou contra a parede.

Nick se afogou enquanto tratava de liberar-se de seu agarrão.

—O que és?

—Disse-lhe isso. Sou a morte. Agora seja um bom menino e morra.

A respiração de Nick se intensificou.

War o golpeou contra a parede três vezes, tratando de lhe esmagar a traquéia. O gesso da parede se trincou assemelhando-se a uma teia de aranha. As ações de War fizeram com que o lábio de Nick e os nódulos da mão com a qual o sustentava se ferissem, fazendo com seu sangue se mesclasse.

Ajustou ainda mais seu agarrão, à espera de que a luz nos olhos do homem desaparecesse enquanto morria. Não desapareceu. Pelo contrário, as escuras pupilas de Nick começaram a colorir-se de vermelho, as tingindo da cor do sangue enquanto se expandia através dos chapeados redemoinhos de sua íris.

Antes que War pudesse mover-se, Gautier golpeou a mão contra seu braço, libertando-se de seu agarrão.

Surpreso, War retrocedeu.

A pele de Nick se obscureceu em três tons. Lutando por respirar, olhou a War.

—O que me está acontecendo? O que me fez?

War o atacou.

Gautier bloqueou seu punho com o braço, e logo golpeou na cabeça a War. Retrocedeu torpemente enquanto se dava conta do impossível.

Estava a ponto de que lhe chutassem o traseiro.

Stryker só tinha dado dois passos para sua moradia com Zephyra para libertar a Medea quando uma brilhante luz iluminou o corredor. Ninguém deveria ser capaz de violar a santidade deste corredor sem seu convite...

Franzindo o cenho, volteou-se para encontrar a War, que se via extremamente zangado enquanto o espírito aparecia ante eles.

—Passa algo errado? —perguntou ao War.

—Passa algo errado? —repetiu—. Certamente não é tão estúpido, verdade?

—Aparentemente o sou, porque a menos que Acheron e Nick estejam mortos, não posso encontrar nenhuma razão para sua presença aqui.

War caminhou lentamente para ele, suas fossas nasais expandindo-se ritmicamente.

—Mortos? Tolo, é realmente tão estúpido?

Stryker entrecerrou seus olhos enquanto sua ira se acendia.

—Pelo menos não estou perdendo o tempo com tantos insultos. Ou te explicas ou suma.

—Ok. Me deixe dizer-lhe de uma forma que até um imbecil entenderia. Quando me convocou, se esqueceu de me dizer um par de feitos extremamente importantes. Acheron não é só um deus. É um Chthonian, protegido por outro Chthonian e um exército Caronte.

 

 

Cruzando os braços sobre seu peito, Stryker suspirou agitadamente. Por que isso incomodava tanto a War? Para começar, essa era a razão pela qual Stryker tinha ido a ele. Se Acheron não fora tão malditamente difícil de matar, ele mesmo o teria feito fazia séculos.

—Foi criado para matar Chthonians. Isso não deveria ser um problema para ti.

—Deveria me haver advertido.

—Que importância tem? São detalhes corriqueiros. Acreditei que poderia manejá-los.

—Posso matá-lo. Só que vai levar mais tempo.

—E?

—Também se esqueceu de me dizer o de Nick Gautier.

—O que tem ele? É um Dark-Hunter. Um insignificante humano que vendeu sua alma a Artemisa para servir em seu exército. Não acredito que o grande War se assuste de pessoas como ele.

—Dark-Hunter, minha bunda —se burlou—. Gautier é um Malachai, estúpido filho da puta.

Stryker esticou ante o insulto.

—Um quê?

—Malachai —repetiu Zephyra, com um tom reverente. —Está seguro?

War dirigiu seu escuro olhar para ela e assentiu.

—De todo o universo, um Malachai é a única coisa que pode me matar.

Stryker fez um som de desgosto no profundo de sua garganta.

       —Tens que estar brincando. Pensava que eras o mais poderoso dos seres. Inclusive os deuses lhe temem.

—Todos temos predadores —lhe grunhiu War. —O universo inteiro existe em um sistema de revisões e balanças. Eu acabo de conhecer a balança.

Stryker amaldiçoou.

—Está me dizendo honestamente que a criatura mais poderosa deste planeta é um patético rufião Cajún que se suicidou porque um dos meus homens matou a sua mamãe?

Seu sarcasmo foi igualado pelo de War.

—A menos que tenha um Sephiroth deitado em algum lugar próximo tomando sol, sim.

—Que demônios é um Sephiroth?

Zephyra riu enquanto se aproximava dele para colocar a mão sobre seu ombro.

—Stryker, meu pobrecinho, estiveste vivendo neste buraco durante muito tempo.

—O que quer dizer?

—O que quero dizer, meu querido homem, se quiser a Gautier morto, então venha com mamãe. A que parece, sua negociação de poder sobre mim acaba de terminar. Ooooh, carinho, isto vai ser bom.

 

                                            CAPÍTULO 5

Nick jazia no chão, tremendo com um suor frio enquanto tratava de enfocar. Era inútil. Tudo dava voltas ante seus olhos. Sentia seu corpo como se fosse o negro asfalto às três de uma tarde de agosto no Bairro Francês.

O que lhe estava acontecendo?

—Sh... —Uma mão tenra lhe afastou o suarento cabelo da cara.

Olhando para cima, encontrou-se com Menyara aí. Diminuta e formosa, sua pele crioula era de uma perfeita cor café au lait. Os olhos verdes o olhavam com preocupação.

—Está tudo bem, mon petit ang[3] —disse com a voz profunda que sempre lhe havia recordado a da Eartha kitt[4].

—O que faz aqui? —Perguntou-lhe ele, com a voz grosa e áspera.

—Senti seus poderes libertarem-se e vim logo que pude.

Ele franziu o sobrecenho com confusão.

—O que?

Menyara sacudiu a cabeça enquanto o agarrava em seus braços e lhe sustentava como fazia quando era um menino pequeno assustado dos valentões da vizinhança.

—Meu pobre Ambrosius. Passaste por muito já. Agora há algo que esperava não

ter que te contar nunca…

—Não entendo —Stryker sacudiu a cabeça, tratando de pôr sentido ao que Zephyra e War lhe haviam dito—. Como pode ser Nick Gautier essa criatura supremamente poderosa? É um mosquito sem valor.

War respirou fundo antes de falar em um tom impaciente.

—Quando o Primus Bellum lutou, o poder mais escuro, o Mavromino, criou os Malachai para derrocar aos Sephirii. Guardiães e consortes da primeira ordem de Deuses, os Sephirii eram soldados que impuseram as leis originais do universo. Quando Mavromino se voltou contra a Fonte e pensou terminar com toda a criação, os Sephirii foram libertados para matá-lo. A maioria deles caíram em armadilhas. Mas muitos Sephirii sobreviveram para declarar guerra aos Malachai, e os teriam destruído se não tivessem sido traídos por um dos seus.

—Sempre há um, verdade? — perguntou Stryker retóricamente.

Em cada casa, havia sempre alguém descontente e ciumento, cravando para destruir a todos só por rancor. Toda a história da terra estava escrita com o sangue dos que tinham sido traídos pela gente da qual confiaram insensatamente.

Olhou a War.

—Quantos Malachai há agora?

—Não deveria haver nenhum. Quando finalmente chegou a trégua, ambos os lados estiveram de acordo em executar a seus próprios soldados. Então todos os Malachai e Sephiroth foram sacrificados.

—Exceto por um —disse Zephyra, dando um passo adiante. —O Traidor que havia ajudado a Mavromino seguiu existindo para sofrer e ver o que tinha feito. Seus poderes foram tomados e ia ser desonrado para sempre e escravizado.

War assentiu.

—Contenção e equilíbrio. Aparentemente quando permitiram que um Sephiroth vivesse, a ordem primitiva permitiu que um Malachai escapasse também. E hoje, encontrei ao último de sua casta.

Porra. Stryker deveria ter sabido que não seria tão fácil exterminar aos dois homens que mais lhe tinham agravado. Mas por outro lado, havia um lado positivo que o fez sentir-se melhor, posto que War o estava passando tão mal como ele para acabar com eles. Ao menos não era questão por sua falta de habilidade.

O universo somente aspirava e soprava.

—Onde está esse Sephiroth? —perguntou Stryker a Zephyra.

—Na Grécia. No último templo que funciona da Artemisa.

Stryker bufou enquanto a compreensão lhe picava. Soube instantaneamente quem era o Sephiroth e por que tinha sido tão maltratado.

—Jared.

Ela inclinou a cabeça com um gesto sarcástico.

—Jared.

O qual dava por sentado uma importante questão.

—E como chegou a possui-lo?

Ela se negou a responder.

—Tudo o que importa é que lhe possuo e fará qualquer coisa que lhe diga sem duvidar. Sim, correto. Parecia muito otimista para sua saúde mental.

—Não parecia tão submisso quando lhe encontrei.

—Possivelmente não, mas fará o que nós desejemos. Confie em mim.

Stryker estava menos que convencido. Ainda assim, notava a estranha escolha do pronome.

—Nós?

—Quer a Gautier morto. Eu te quero morto. Pessoalmente não me importa se este Gautier vive ou morre, mas se for uma ameaça para meu Sephiroth, quero-lhe eliminado, também. Melhor capturá-lo antes que aprenda a utilizar seus poderes.

Stryker sorriu.

—Uma mulher atrás de meu próprio coração.

Por uma vez o olhar dela foi sedutor e lhe fez endurecer-se só em observá-la.

—Nisso tem toda a razão. Nada me agradaria mais que te arrancar esse órgão e me dar um banquete com ele.

War arqueou uma sobrancelha ante sua aberta hostilidade.

—Mmm, uma mulher com a qual posso me relacionar. Me diga por favor que está livre.

—É minha mulher –disse bruscamente Stryker.

—Era —corrigiu Zephyra rapidamente. —Parece ter esquecido um tempo verbal importante —elevou o olhar para War. —Se divorciou de mim.

War levou sua mão aos lábios e lhe beijou meigamente os nódulos.

—Prazer em conhecê-la, minha senhora. Que nome devo dar a alguém tão bonita e malvada?

—Zephyra.

—Como o vento. Suave e aprazível.

Ela lhe dedicou um sorriso ardiloso.

—E capaz da destruição total quando se irrita.

Ele aspirou o fôlego com aguda apreciação.

—Elogio-te, Stryker. Tens um gosto excelente para as mulheres. Uma pena que não fosse o suficientemente homem para conservá-la.

Contra seu sentido comum, Stryker lhe empurrou longe dela.

—Zephyra é minha. Faria bem em recordar isso.

War parecia menos que intimidado enquanto se girava para dirigir-se a Zephyra.

—Depois de que o mate, me chame e te mostrarei do que um verdadeiro homem é capaz. Enquanto isso, se formos matar ao Malachai e definitivamente estou aqui para isso, precisamos começar. Cada segundo que nos atrasamos, crescem seus poderes.

       —Então para a Grécia para libertar o meu Sephiroth —olhou a Stryker. —Me devolva a meu templo.

Jared suspirou enquanto seus pulsos em carne viva e manchados de sangue pulsavam

em total agonia. Como desejava poder morrer. Mas este era seu destino para toda a eternidade.

É o que mereces, traidor.

Possivelmente o era. Mas em quando ao que tinha feito, era a única decisão que podia ter tomado.

Alavancamento. A vida era tudo sobre o efeito alavanca e o equilíbrio de poder que nunca tinha estado com ele. Todas as criaturas eram vítimas de seu nascimento e suas famílias. Com todo o poder que comandava, nem sequer tinha sido imune. Repudiado por isso, esticou-se enquanto sentia no ar a seu redor uma onda estranha. Conhecia essa sensação…

Um instante mais tarde, a claridade entrou pela porta que se abria para dar passo a sua ruína, Zephyra e dois homens. Um era o Daimon semideus outra vez. O outro…

Problemas. War.

Bravo. Necessitavam o espírito de War acordado tanto como ele necessitava um atiçador quente empurrado o seu traseiro. Mantenha essa idéia para ti, menino. Não necessita dar a Zephyra nenhuma sugestão mais sobre como te fazer sofrer.

Bastante certo. Ela vivia para lhe fazer rogar misericórdia.

Jared se encontrou com o olhar hostil de Zephyra e soube instantaneamente por que estavam ali.

—Nunca deixa de me assombrar o que as pessoas fazem para conseguir o que querem. Não o matarei por ti. É melhor que saiba antes de pedi-lo.

Zephyra perguntou enquanto tirava uma adaga da bota.

—Por que temos que jogar este jogo, Jared? Conhece meus pensamentos. Sei que já está em minha cabeça lendo-os. Agora seja um menino bom e faça o que digo.

Estava tão cansado de seguir ordens. De não ter vontade própria. Era hora de parar de servir e tomar o controle de sua miserável vida.

—Não me importa o que me faça.

Ela passou uma tenra mão enganosa por sua barbuda bochecha, lhe fazendo desejar uma verdadeira carícia. Uma que não se voltasse vil com ele.

—Sei que não te importa. Mas ambos sabemos que não sente o mesmo pelo seu pequeno amigo. Nim morreria para te proteger.

Ele esticou-se ante a menção de seu companheiro demônio.

—Nim não está aqui. Saiu.

—É obvio —seu tom era zombador.

       —Nim? —Perguntou Stryker.

Zephyra lhe olhou por cima o ombro.

—Um inútil demônio lesma que Jared adotou.

—Não fiz tal coisa —Nim lhe tinha adotado, e tinha estado tratando desde então de desfazer-se dele.

O demônio era uma obrigação que não desejava nem precisava tomar. Honestamente, estava farto de que Nim ficasse e complicasse ainda mais sua vida sem valor. Tudo o que o demônio fazia lhe metia em problema. E pior, Nim obtinha que o torturassem.

Ela arrastou a ponta da adaga pelas marcas divinas no braço esquerdo. Uma vez as tinha levado com orgulho. Agora só lhe recordavam sua humilhação. O marcavam como escravo. O último de sua classe.

—Está aqui? —Perguntou.

Vaiou quando ela abriu a longitude da tatuagem. O sangue gotejou sob a linha, deslizando-se pela carne. Stryker girou como se a vista lhe adoecesse.

Zephyra não era tão amável.

—Parece que adivinhei mau.

Jared encontrou seu olhar sem estremecer-se enquanto sua ira se rompia.

—Disse-te que tinha saído.

—De verdade? —Arrastou a adaga sobre a clavícula. Apostarei a que se oculta em suas costas.

Jared ofegou enquanto afundava a adaga profundamente em seu ombro, através de tatuagem que ali estava. A dor lhe abrasou.

—Zephyra, pare! —Disse bruscamente Stryker. —Não há necessidade disto.

—Confie em mim, é a única maneira de conseguir seu consentimento. Mas não se sinta mal por ele, Stryker. Cortou as gargantas de sua própria gente, verdade, Jared? Aos que não matou, guiou-os ao massacre.

A dor e a fúria se mesclaram dentro dele.

—Te cale!

—Por que? É a verdade. Nunca te preocupaste por ninguém exceto por ti mesmo. Assim nos dê ao demônio e me permita que termine com seu sofrimento no qual a ele concerne.

Contra sua vontade, deu um puxão quando arrastou a faca sobre a tatuagem que não estava marcado em sua pele. Fundido com os outros, mas não era dele…

—Aqui, encontrei ao pequeno desgraçado, verdade? –Apertou a adaga, pressionando-o

na pele onde Nim descansava.

Jared rangeu os dentes. Se apunhalava a Nim enquanto dormia em seu corpo, mataria ao demônio.

—Liberarei-te de sua moléstia? —Pressionou a ponta, fazendo brotar sangue.

Jared tentou soltar-se, mas não pôde. As cadeias lhe sustentavam com força e não o deram escolha.

—Para! —grunhiu. —Não lhe faça mal.

—Mata a Gautier e deixarei viver a seu demônio.

—E se não puder matá-lo?

Ela puxou com força seu cabelo, lhe golpeando a cabeça contra o muro.

—Não queres averiguá-lo. Confie em mim.

Estalando os dedos, utilizou seus poderes para abrir os grilhões.

Jared caiu contra a parede e se deslizou ao chão, com todo o corpo dolorido. Não podia recordar a última vez que tinha sido libertado. Pela sensação dos músculos rígidos, parecia que haviam passado séculos e provavelmente era assim.

Zephyra parou sobre ele, olhando para baixo.

—Te limpes, cão. Me traga a cabeça do Malachai e te darei dois dias para ter sexo e beber antes de te chamar de volta. Me traia e acreditará que esses séculos passados foram o paraíso.

Jared riu amargamente.

—Sua misericórdia está mais à frente da recriminação, minha senhora.

—Sarcasmo... uma doce música para mim —o chutou duramente nas costelas. —Agora vá e cumpra suas ordens.

Stryker se encontrou com o olhar aceso de Jared. O ódio ardia brilhante, mas algo lhe disse que o ódio se dirigia mais para si mesmo. Pobre criatura. Seria mais amável matá-lo.

—Está segura que pode fazê-lo? —Perguntou Stryker a Zephyra enquanto embainhava a adaga na bota.

Ela lhe guiou fora da sala ao corredor. War lhes alcaçou.

—Não permita que sua choramingação te atordoe. Foi criado para matar.

—Também o Malachai.

—Sim, mas o Malachai é meio humano e novo com seus poderes. Jared deveria encarregar-se dele facilmente.

Detendo-se no corredor, ela olhou além de Stryker até War.

—Mantenha um olho em Jared. Te assegures que seu pequeno demônio não se liberte. Em

realidade, essa lesma estúpida é a única maneira que tenho de controlá-lo.

Stryker observou como War inclinava a cabeça ante ela antes de voltar para a sala onde tinham deixado a Jared.

—Como sabe que não se rebelará e matará a War?

Ela bufou.

—E o que tem se o fizer? São teus amigos?

—Apenas, mas se War se for, Jared poderia vir atrás de ti.

—Sempre que levar esse colar, Jared é de minha propriedade. Não pode me matar já que posso decidir sobre sua vida. Posso lhe fazer sangrar e sofrer, mas o colar não o permitirá atacar a sua proprietária de maneira nenhuma. De fato, se sou atacada, não tem mais escolha que me defender tanto se quiser como se não.

Essa tinha que ser uma das coisas mais cruéis que jamais tinha ouvido. Não podia imaginar um castigo pior que ser forçado a proteger a alguém a quem odiava. Alguém que lhe torturava.

E lhe fez jogar um duro olhar à mulher frente a ele. Era tão familiar e ao mesmo tempo tão estranha. O que lhe tinha acontecido à mulher com a qual se casou?

—Recordo a essa bonita garota que nem sequer me permitia ter um gato em casa porque não desejava que ferisse os ratos. Uma mulher que me fazia levar a qualquer inseto fora para pô-lo em liberdade antes matá-lo.

Os olhos negros se encontraram com os seus e ali dentro viu um ódio tão poderoso, que lhe roubou o fôlego.

—E lembro dos sons de meu neto chiando pedindo compaixão enquanto o matavam cruelmente por ser diferente e estava impotente para ajudá-lo. Não sou essa menina que deixou para trás, Stryker. Sou uma mulher vingativa em guerra com o mundo que o fez mal.

—Então me compreende. Eu não pedi esta existência e desejo o sangue de todos os que tomaram parte em me amaldiçoar com ela. Meu pai, Apollymi, Acheron, e Nick Gautier.

—O que acontece com a Artemisa?

—Não sinto amor por ela. Mas tampouco há verdadeiro ódio. Sempre que fique fora do meu caminho, não me importa o que ocorra com ela.

Zephyra elevou o olhar. O cabelo negro de Stryker contrastava fortemente com seus olhos de prata que formavam redemoinhos. Não se parecia em nada ao menino que lhe havia roubado o coração. O menino com o qual tinha querido envelhecer. Naquela época, havia esperado passar quarenta anos com ele, se tinham sorte, antes que a morte os separasse.

Onze mil anos depois, aqui estavam. Pé com pé. Inimigo frente a inimigo.

Realmente era irônico. Aos quatorze, teria vendido sua alma para passar a eternidade com ele. Agora só queria vê-lo morrer miseravelmente.

Como mudava o mundo…

—Agora, cumprirá sua palavra e libertará a Medea?

Stryker se perguntou por sua repentina mudança de tema.

—É obvio —estirou de novo a mão para ela, esperando que a separasse de um golpe.

Ela entrecerrou os olhos como se um pensamento percorresse sua mente. Justo quando

estava seguro de que o golpearia, estirou-se e a tomou brandamente na sua.

Stryker não soube por que isso fez que o batimento do coração aumentasse, mas o fez. A pele era tão suave. Sua mão delicada e pequena. Poderia esmagar cada osso e mais ainda a mão que uma vez tinha tido suficiente poder para pôr a ele de joelhos.

—Tinha esquecido quão pequena és.

Sempre tinha parecido maior que a vida. Mas com ela perto, recordou o bem que se havia sentido aproximada a ele de noite.

—Sou o bastante grande para te chutar a bunda.

Levantou a mão para poder depositar um beijo na palma.

—Estou desejando-o.

Seus olhos se obscureceram.

—Estás me atrasando de propósito?

—Não —colocou a mão no oco do cotovelo e os cintilou de volta ao saguão no Kalosis. —Cumprirei minhas promessas contigo. Sempre.

—Possivelmente eu engula que não rompeu a promessa mais significativa que um homem

pode fazer a uma mulher. À primeira prova de seu pai, fugiu. Me chame de enfastiada.

—Não há necessidade de estar farta, meu amor —a dirigiu a suas câmaras onde uma colérica Medea os esperava.

Logo que abriu a porta, Zephyra o deixou para assegurar-se de que sua filha não tinha sofrido nenhum dano.

       Medea lhe olhou cheia de ódio.

       —Tens razão, mamãe. É um idiota.

       Zephyra riu.

       —Onze mil anos e ainda não escuta minha sabedoria.

       —Só és quatorze anos mais velha que eu. Isso não te dá muita vantagem agora, verdade? —Medea olhou além de sua mãe. —Por que respira ainda?

—Fizemos um pacto de guerreiros, ele e eu. Durante as próximas duas semanas temos que fazê-lo sofrer e depois poderei lhe cortar a garganta.

Stryker deixou sair um profundo suspiro ante a rancorosa reunião.

—Dão-se conta de que ainda estou presente?

Zephyra lhe lançou um fixo e altivo olhar.

—Nós sabemos. Simplesmente não nos importa.

—Oh. Bem, sempre que tivermos isso claro… —pôs os olhos em branco. —Por que não faço que um de meus serventes mostre a Medea seus aposentos?

—E eu o que? —perguntou Zephyra.

       Um lento sorriso se estendeu pela cara de Stryker.

—Você permanecerá aqui... Comigo.

Zephyra cruzou os braços sobre o peito. Stryker era muito crédulo no que referia-se a ela. Entretanto admitir que era um homem bonito, não mudava o fato de que odiava-o.

—Está terrivelmente seguro de seus encantos.

—Tive tempo de afiá-los.

Medea curvou o lábio.

—Nauseiam a filha, pais. Respeitem, por favor, o fato de que vomitar sangue é asqueroso e ao menos que os dois queiram ser banhados com isso, irei a meu quarto agora, por favor.

—Davyn! —chamou Stryker.

Seu Daimon apareceu instantaneamente.

—Meu senhor?

—Mostre a minha filha os aposentos de Satara. Te assegures que tenha tudo o que necessita.

Davyn inclinou a cabeça ante ele.

—É ela livre de ir e vir?

Olhou a Zephyra.

—Vais enviá-la para me matar?

—Não. Dei-te minha palavra, e a diferença de ti, mantenho-a. Está a salvo, covarde. Nunca mandaria a uma menina a fazer o trabalho de sua mãe.

Não respondeu a seus insultos.

—Lhe dê acesso aos portais.

—Sim, meu senhor.

—Medea? —Stryker esperou até que olhou para trás antes de falar outra vez. —Não se preocupe. Os aposentos da Satara estão o bastante longe para que não esteja submetida aos sons de nosso selvagem sexo abstinente.

Zephyra ofegou.

Medea parecia muito menos que satisfeita.

—Tinhas razão, mamãe. Deveria haver te permitido lhe cortar a garganta —encarou a Davyn. —Me tire daqui o mais rápido possível.

Os olhos de Davyn dançaram com humor enquanto fechava as portas atrás deles.

Logo que estiveram sozinhos, Zephyra sacudiu a cabeça.

—O que fizeste foi cruel.

—Não o pude resistir. Além disso, deveria lhe haver ensinado que não deve permitir que ninguém conheça suas debilidades.

—Somos seus pais. Supõe-se que a amamos e não esfaqueamos em suas debilidades.

—E é agora quando nos sentamos a tramar a morte de meu pai e minha tia.

—Você está tramando suas mortes. Eu só espero para te matar.

—Certo, mas o ponto é... hoje família, inimigos manhã.

—Esse foi seu eterno problema, Stryker. Acredito na família para sempre. Como dizem, o sangue é mais espesso que a água, e no caso dos Apólitas, é inclusive verdade.

Se simplesmente pudesse acreditá-lo. Mas nunca tinha sido uma verdade provada em sua

experiência. Tudo o que sua família fez foi proporcionar uma incursão para os inimigos.

—Quando minha família jamais me apoiou?

—Acredito que a verdadeira pergunta é quando a apoiaste tu? Teria estado ali para ti. Para sempre. Mas nunca me deu a oportunidade.

Apesar da ferida e as traições de seu passado, se ressentiu por suas palavras. Queria tanto ter a alguém a seu lado em quem confiar. Só uma vez. Unicamente Urian tinha estado ali para ele, e por isso se zangou tanto quando descobriu que Urian tinha lhe estado ocultando coisas. Aquele filho que tinha ido atrás dele...

Atrevia-se a confiar em Zephyra?

—Dou-te essa oportunidade agora.

Zephyra deu um passo afastando-se.

—É muito tarde. Passaram muitos séculos. Houve um tempo quando vivia para ouvir só uma palavra amável de seus lábios. Mas esse casco de navio se afundou sob o assalto da amargura e nenhum encanto ou astúcia será capaz de recuperá-lo.

Stryker afundou a cabeça até onde seus lábios quase se tocavam.

—O ritmo violento de seu coração me diz que está mentindo. Ainda me desejas.

—Não confunda minha ira com luxúria. É seu sangre o que desejo, não seu corpo.

Não acreditou. Nem por um instante.

—Me diga honestamente que não está pensando nem um poquinho a respeito de como sou nu. Que não está recordando o modo em que fazíamos amor um ao outro.

Ela se estirou para baixo para embalar com cuidado sua ereção na mão.

—És um homem, Stryker. Sei que isso é no que está pensando –a apertou fortemente, lhe fazendo ofegar e dobrar-se enquanto a dor rasgava pela virilha. Afundou as unhas em seu escroto. —Mas sou uma mulher, e como o grande poeta escreveu tão inteligentemente, não há fúria no inferno como a de uma mulher desprezada. Me considere seu inferno pessoal —com um puxão mais forte, deu um passo longe.

Stryker quis golpeá-la, mas seu corpo doía muito assim que tudo o que pôde fazer foi olhá-la enfurecido enquanto se girava e lhe deixava sozinho em seu quarto.

—Isto não acabou, amor —grunhiu dolorosamente.

Ia recuperá-la e lhe fazer rogar por seu perdão. Não importa o que tomasse, a teria.

Então a mataria ele mesmo.

 

                             CAPÍTULO 6

—Como vai você?

Tory olhou de onde Ash estava estendido na cama, descansando, encontrando o olhar lavanda de Savitar. Estranho, poderia jurar que antes seus olhos eram verdes…

Não levava o traje impermeável. Vestia um par de calças brancas de linho com uma camisa de praia aberta que mostrava seu torso esculpido. O comprido cabelo castanho retirado do formoso rosto.

—War lhe feriu o bastante, mas…

—Viverei —respondeu Ash, girando-se para olhá-los. Apoiou-se nos travesseiros enquanto jogava o cabelo negro para trás com os dedos. —Acredite-me, deram-me piores surras. Só que não recentemente.

Tory lhe dirigiu um olhar de recriminação.

—Não sei, foi atropelado por um carro não faz muito tempo…

Ash soprou enquanto enlaçava os dedos com os seus.

—Em minha defesa, estava preocupado por certa —lhe lançou um significativo olhar— humana que estava tendo uma muito próxima experiência com a morte. Isso não conta.

Savitar ignorou a brincadeira.

—Bem, as boas notícias são que lhe derrotamos. As más notícias são que…

Ash terminou a frase por ele.

—Retornará.

Savitar assentiu.

Tory tragou quando o medo a sobressaltou.

—Deveríamos começar a preparar-nos aqui?

Savitar pareceu completamente ofendido pela pergunta.

—Esse estúpido detestável não virá a minha ilha. Sabe bem. Não sapateia no ombro do diabo a menos que esteja disposto a dançar sua melodia.

Ash se clareou garganta e lançou um olhar divertido a Savitar.

—Em realidade, Tory, há uma razão pela qual a ilha se move todo o tempo. Sav é um pouco paranóico, por isso a ilha está fortemente protegida contra seres paranormais. Não se pode chegar até o Neratiti sem um convite especial de nosso anfitrião, que é a razão pela que Alexion te trouxe aqui. Sabíamos que seria o único lugar ao que War não poderia chegar. Eu e os meus temos um convite permanente, que não se estende ao resto do universo conhecido.

Savitar se enfureceu.

—E inclusive se pudesse encontrá-la, esse perdedor não se atreveria a vir aqui. O chutaria de volta à Idade da Pedra —replicou Savitar com a diversão brilhando em os olhos. —E não critique minha paranóia, surfero[5]. É o que está salvando agora você, não?

—Sim, e obrigado.

Savitar inclinou a cabeça para ele.

—De nada. Mas não te meta em problemas de novo. Sua mãe converteu o incomodar até que doa, em um esporte olímpico. E me esteve dando dor de cabeça por sua culpa. Diria-te que a deixasse sentar-se sobre ti até que saísse da casca do ovo, mas não quero que o mundo acabe. É uma porra. Entretanto, se a moléstia persiste, poderia mudar a forma de pensar e te levar diante dela eu mesmo.

Ash riu.

       —Terei isso em mente. Assim, alguma pista sobre quem despertou ao nosso novo amigo, e lhe disse que viesse a jogar comigo?

Tory lhes lançou um olhar mal-humorado.

—Aposto pela Artemisa.

Savitar se burlou.

—Aceitarei essa aposta, porque a perderá. Palavra da própria Artipou. Ela não o fez, o que é uma das melhores notícias para vocês dois, dado que parece que está aclimando-se à idéia de não ser já a garota de Ash. Não é que esteja feliz a respeito, mas tampouco lança ameaças de morte sobre vocês dois. Pequena vitória, certo. Mas melhor que nada absolutamente.

Tory franziu o sobrecenho.

—Então quem?

—Nosso moço Stryker lhe libertou.

Ash amaldiçoou.

—O imaginava. Onde está War agora?

—Fora de cobertura, o que significa que provavelmente esteja no Kalosis informando seu espetacular fracasso a Stryker.

Os olhos de Ash se dilataram com preocupação.

—Minha mãe está segura?

—A julgar pelo ruído em minha cabeça por ti, com certeza que sim. Mas não se preocupe. Já

tenho aos Carontes acoplados ao seu redor. Não está contente com isso, mas pela primeira vez está sendo razoável. Sua principal preocupação é sua segurança. E disse que faça o que tenha que fazer para te manter a salvo. Sua vida já está condenada.

Ash soprou.

—Não vou matar a Stryker e logo enterrar a minha mãe. Por que demônios vinculou sua força vital a dele?

Savitar deu de ombros.

—Carece de nossa capacidade de ver o futuro. Seus poderes são a destruição, não a profecia. Estou seguro de que se tivesse sabido, que ele um dia seria uma ameaça para ti, lhe teria matado ela mesma. E agora sabe por que não me compadeço de ninguém. Tudo o que faz a compaixão é retornar e te morder o gordo traseiro.

Ash retirou as mantas da cama e começou a levantar-se.

Tory lhe agarrou e lhe empurrou de volta aos travesseiros.

—Deves descansar.

Ele beijou sua mão.

—Não posso. Há um louco solto, e provavelmente escondendo-se na casa de minha mãe —fechando os olhos, fez aparecer roupa sobre seu corpo. —Temos que nos preparar. Encontre um lugar onde possamos enfrentar a War, sem muitas testemunhas.

Savitar pôs os olhos em branco.

—Irmãozinho, não quero ser pessimista, mas aqui estamos falando de War. Não há nenhum modo de suavizar os danos e prejuízos. Não nos deixará. Estava ali com vinte e cinco Chthonians para lhe enfrentar, e ele espancou nossas peles como se fôssemos mulheres escravas Lemurian. A dois de nós arrancou o coração e nos empurrou isso através da garganta, enquanto ria. Depois lambeu o sangue dos dedos e foi atrás do resto. Apenas sobrevivi, e demorei duas décadas de tempo humano em me recuperar daquelas feridas. Não pense que temo ao bastardo, não o faço. Simplesmente quero que entenda perfeitamente com quem estamos tratando.

Ash franziu o sobrecenho ante essas palavras, mas sua decisão já estava tomada. Tinham que derrotar a War de uma forma ou de outra.

—Como lhe apanhou da última vez?

—Ishtar, Eirene, Bia, e os Gigantes vieram ao nosso resgate. Daquela lista, a deusa Eirene é a única que ficou viva. E somos só oito sobreviventes Chthonians. Te incluindo.

Mesmo assim, Ash se negou a acreditar que não havia esperança.

—Sempre há um interruptor. Temos que encontrá-lo.

—Tentaremos. Enquanto isso, deveria saber que seu moço, Urian, conseguiu informação do outro lado. Stryker está reunindo Daimons de todo o mundo, juntando números que fariam que Cecil B. DeMille[6] estivesse orgulhoso.

—Por que?

—Stryker está planejando fazer cair o inferno sobre os humanos no próximo Natal. Claro, Urian disse que provavelmente podia compensar isso te oferecendo como sacrifício. Stryker poderia estar desejoso de cancelar o ataque, se te render ante War e morrer de uma morte dolorosa.

O olhar de Tory se estreitou iradamente no Ash.

—Não te atrevas. Juro-te, Acheron Parthenopaeus, que se inclusive pensa nisso, lhe golpearei até que me suplique misericórdia.

Ash apertou o puxão pela mão. —Não se preocupe. Ainda se me entregasse, ainda perseguiria os humanos. É sua natureza, e não sou o bastante estúpido para pensar que demonstraria um pouco de piedade. O que é que sempre me está dizendo? Não é a mão que te repartiu a que importa. É a maneira em que jogas as cartas que sustentas —Se levantou da cama. —Sav, necessito que permaneça junto a minha mãe.

Ele se afogou com a sugestão.

—Estás louco? Essa mulher me odeia. Não, não me odeia. Ódio para ela seria dar um passo

por volta da possibilidade de que algum dia gostasse.

O que era algo que Ash nunca tinha entendido, mas não trocava o fato que não podia deixá-la só com Stryker e War.

—Leves a Alexion e Danger contigo e permaneça ao seu lado para nos assegurar que não a farão mal.

Ela os toleraria ao seu redor sem menores problemas do que resultaria a Savitar.

—Se não, terei que fazê-lo eu, e já que o importante é evitar o Apocalipse, minha presença em sua casa seria extremamente contraprodutivo.

Se Ash na vida pusesse um pé no Kalosis, sua mãe destruiria a terra ainda mais rapidamente que Stryker e War.

—És o único em quem confio para mantê-la segura de Stryker, War, e Kessar. Embora minha mãe e eu nem sempre nos levamos bem, e estamos em lados opostos nesta guerra, é minha mãe, e não quero vê-la ferida.

Savitar se via como se preferisse ser estripado. Ash não lhe culpava. Sua mãe poderia ser extremamente… temperamental e difícil de tratar… e lhe amava. A Savitar apenas lhe tolerava.

—Bem —cedeu Savitar. —Irei. Mas me deve isso. Uma grande, pelo qual se alguma vez necessito de algo, não importa o que seja, cobrarei-me isso.

Ash soprou.

—Ela não é tão má.

—Tu achas, surfero? Sua mãe é a Destruidora. É um título que não só ganhou, e sim um com o qual desfruta. E você está me enviando ali dentro com apenas uns Carontes como respaldo. O que é o que te tenho feito?

Ele riu.

—Seja um homem, Sav. Está choramingando como uma menina.

—Se sua mãe pudesse, converteria-me em uma, e o rosa me cai como a merda. Obrigado, garoto.

Ash agitou a cabeça quando viu o Chthonian desaparecer. Quando começou a caminhar pelo quarto, encontrou a Tory plantada firmemente em seu caminho. Estava de pé como um comandante militar preparado para a guerra, que pressagiava más notícias.

—O que?...

—Aonde vais?

—A ver o Nick.

Ela se burlou.

—De verdade pensa que isso será produtivo? O homem te odeia mais do que o faz Stryker. Terá sorte se não te arrancar a coluna através das fossas nasais.

—Encantador ter à senhorita Merry Sunshine de volta. Alguma outra perspectiva de Igor[7] que você gostaria de compartilhar?

—Só uma. Se sair daqui, War pode te encontrar de novo. O que vais fazer se isso acontece?

—Lhe deixar manchas de sangue em sua melhor camisa.

Seus olhos se obscureceram.

—Não é gracioso, Ash. Disse-o. Esta ilha é o único lugar seguro contra War.

—E eu não sou um covarde, bebê. Sou um deus. Não vou esconder-me aqui porque tenha medo a me fazer dano. Tenho que advertir a Nick que tem um inimigo atrás dele. Devo-lhe muito.

Ela cruzou os braços sobre o peito e lhe lançou um olhar decidido.

—Então vou contigo.

Maldição. Ataria-a antes de permití-lo. Embora tinha alguns dos poderes de sua mãe, não os tinha todos, e ao contrário dele, não estava acostumada a lutar por sua vida.

—Levarei a Xirena comigo. Mas você ficará aqui e não discutirá comigo.

Lhe grunhiu.

—Cabeçudo.

Ele lhe dirigiu um sorriso encantador que esperou que derretesse um pouco seu aborrecimento.

—Aprendi com a melhor.

—Sim, eu sei. Conheci sua mãe.

Deixando a demônio Xirena fora para mantê-la segura em caso de que se produzira uma luta, Ash fez uma pausa dentro da casa de Nick à medida que sentia a presença do Cajun. Não havia nenhuma batida para ouvir. Mas havia um poder inegável aqui. Antigo e frio, que disparou cada advertência no corpo de Ash.

Preparado para lutar se dirigiu acima, ao dormitório de Nick, onde lhe sentia mais forte. Assim que Ash se manifestou, um homem alto, ruivo e magro se voltou para ele. Os misteriosos olhos amarelos estavam cheios de tortura e poder, e acendiam uma cara tão delicadamente cinzelada, que rondava a beleza. Seu cabelo vermelho até o ombro emoldurava perfeitamente essa cara. Vestido de negro gótico, como Ash, o homem era alguém que não tinha visto em séculos.

—Jared?

O Sephiroth inclinou a cabeça respeitosamente.

—Muito tempo sem ver-te, Atlante.

—Por que está aqui?

Jared suspirou antes que pusesse uma das bonecas vodu de Nick de volta à cômoda.

—Provavelmente o mesmo que está fazendo aqui. Procurando o Nick Gautier. Suponho que minha única pergunta é se ele é seu amigo ou inimigo.

—Importa?

Seu rosto se endureceu.

—Não realmente. Só quero saber quão zangado vais estar quando o mate.

—Muito.

Jared suspirou.

—Maldita seja. Mas isto não muda nada —percorreu o quarto, absorvendo a essência de Nick para poder lhe rastrear.

Ash usou seus poderes para proteger a Nick e que Jared não pudesse conseguir uma leitura exata.

—Por que está tão interessado em Nick?

Jared deu um golpecinho ao colar de contenção de couro negro ao redor da garganta com o dedo polegar.

—Não é meu trabalho questionar o porquê. Simplesmente estou aqui para obedecer, como o estúpido suplicante no qual me obrigaram a me converter.

Ash se estremeceu ante o aviso de escravidão. Um vínculo comum que eles compartilhavam e um que não desejaria nem a seu pior inimigo. Daria qualquer coisa para libertar o ser diante dele, mas o tipo de escravidão de Jared era eterna.

—Posso te pedir um favor? —Perguntou Jared em um tom que mostrava o muito que odiava pedir algo.

Mesmo assim, Ash foi cauteloso. Os favores raramente resultavam bem para qualquer um.

—Depende do favor.

Jared mostrou um tenso sorriso enquanto se tirava a jaqueta de couro negra e expor a tatuagem do dragão em seu antebraço.

—Nim. Forma Humana. Agora.

Ash observou, enquanto a escura sombra se retorcia e emergia do braço de Jared, convertendo-se em um homem jovem ante ele. Não mais alto que um metro setenta e cinco, o demônio estava vestido como um menino punk, completando o traje com grandes óculos de sol que descansavam sobre a juba rasta morena e uma pequena barba de cabrito. As unhas estavam pintadas em negro, igual aos olhos e a roupa. A única nota de cor em seu corpo era um pequeno coelhinho rosa de pelúcia que tinha amarrado ao quadril.

Os olhos negros de Nim se fixaram em Acheron e se alargaram. Lançou-se atrás das costas de Jared para esconder-se.

—Amigo ou inimigo?

Jared deixou sair um bufo aborrecido.

—Amigo. E um bom nisso.

Nim espionou ao redor, como um menino inseguro.

—Fede a demônio Caronte.

—Eu sei e quero que vá com ele.

—Não! —Ladrou o pequeno demônio. —Nim fica com Jared. Sempre.

Jared amaldiçoou.

—Poderia ajudar a um irmão, Acheron? Necessito que cuide de Nim e lhe proteja por mim.

—Não! —Nim estalou, ainda mais decidido que antes.

Jared grunhiu em resposta.

—Maldito seja, Nimrod. Por uma vez em sua vida, faz o que te peço e vá com o Acheron.

O demônio agarrou o pequeno coelhinho rosa em seu peito e agitou freneticamente a cabeça negando.

—Nim fica com o Jared. Essas são as leis.

Um músculo se esticou na mandíbula de Jared.

—Nunca devia ter salvado sua vida.

Ash sentia sua dor e entendia o que Jared estava fazendo. Já que Ash tinha seu próprio demônio, sabia que tipo de debilidade poderiam chegar a ser. E a que responsabilidade. Apesar de que o demônio parecia estar ao redor da idade humana dos vinte, suas ações mostravam que era até mais jovem que a Simi de Ash.

—Nada pior que um demônio adolescente.

—Não tem nem idéia.

—Em realidade, eu tenho —Ash se aproximou de Nim devagar, como o faria com um menino pequeno. —Nim, pode vir comigo e te prometo que ninguém vai fazer te mal.

Nim lhe lançou um desagradável e áspero olhar.

—Não te conheço.

Jared tentou lhe empurrar para Ash.

—É um bom homem.

Nim despiu as presas a ambos em um vicioso bufido.

—Ele está com o Caronte e eles me odeiam. Feriram a Nim e lhe fizeram sangrar. Quero ficar com Jared —imediatamente, Nim voltou a dormir como uma pequena tatuagem de dragão no pescoço de Jared.

Jared soltou um comprido e exasperado bufo.

—Há alguma forma de tirá-lo de mim?

—Não.

—Imaginava —os olhos brilharam ligeiramente com manchas douradas, até que trocaram para um sólido âmbar dourado. —Um dia minha ama vai matá-lo se não lhe encontrar um novo lar.

—Acredito que isso é o que precisa lhe dizer.

—Diz que preferiria estar morto a me deixar. Segundo ele, somos família. Suponho que isso me converte no tio psicótico com quem ninguém quer falar. E ele é o menino com apenas amigos imaginários por companhia. Normal Rockwell, aqui vamos.

Ash sorriu pela menção do nome do pintor. Honestamente, Ash se compadecia de Jared, mas não havia nada que pudessem fazer.

—Então é sua decisão.

Jared lhe dirigiu um severo olhar.

—Sentiria-se dessa forma se fosse Simi?

—Conhece a resposta.

—E você sabe por que tenho que lhe expulsar.

Bastante certo. Não havia nada pior que ter uma debilidade exposta perto dos que lhe exploram. Uma com a qual controlar suas ações e te submeter. Ash sabia melhor que ninguém. E sentia compaixão pela situação de Jared.

Suspirando, Ash mudou de tema a algo que ele possivelmente poderia controlar.

—Então, por que lhe ordenaram que matasse a Nick?

Jared deu de ombros pondo-se a jaqueta.

—É o último da linhagem Malachai.

Ash riu da irracionalidade dessa idéia.

—Nick Gautier é um Malachai? Vamos, Jared. Deixa de brincar.

—Não estou brincando. É o último de sua casta.

Aturdido, Ash ficou realmente boquiaberto. Nick Gautier? E ainda, tão absurdo como parecia, de uma estranha maneira tinha sentido. Os poderes infundados de Nick. A incapacidade de Ash para controlá-lo…

Merda.

Como lhe escapou?

Não era algo que esperasse. Quem o faria? Eram uma raça extinta.

—Não se sintas tão mal —disse Jared brandamente. —Seus poderes estavam atados e escondidos de muito mais formas que os teus quando foste humano. Não se ativaram até que War lhe atacou.

—Nick sabe o que é?

Jared negou com a cabeça.

—Meu trabalho é lhe matar antes que se inteire.

—Não posso permitir isso.

—Não tens escolha, e eu tampouco —desapareceu antes que Ash sequer pudesse tirar fôlego para falar.

—Jared!

O Sephiroth o ignorou completamente.

—Maldito seja!

Se Jared encontrava a Nick antes dele, o moço estaria mais morto que um animal na estrada às cinco em ponto.

—Parece completamente contente, e seguro de ti mesmo.

Stryker olhou por cima do ombro para ver Zephyra lhe observando.

—Tenho-te aqui. Por que não deveria estar contente?

—Posso pensar em um milhão de razões, começando pelo fato de que quero te matar mais do que quero respirar. Quanto às demais, prefere-as em ordem de importância ou alfabeticamente?

Ele riu.

—Me diga honestamente… Alguma vez sentiu saudades?

—Não.

Essas palavras lhe sacudiram fortemente.

—Nenhuma só vez?

Ela cruzou os braços sobre o peito.

—Sabe o que lembro de ti, Stryker? As últimas palavras que me disse. “Não há nenhuma razão para que fique”. Então te partiu de minha casa e nunca olhou atrás. Nenhuma razão para ficar, disse... Nenhuma —estreitou os olhos perigosamente nele. —Me rompeu o coração com essas poucas palavras. Havia preferido que me batesse.

Stryker fez uma pausa quando viu essa noite em sua mente com tanta claridade. Tinha estado em pé ante ele, com lágrimas nos olhos. Nenhuma só se havia caído. Um tributo a sua coragem. Não tinha desejado mais que apertá-la em seus braços, e lhe dizer que o importava uma merda seu pai. Que era a única a qual amava, e que morreria para protegê-la.

Se tivesse ficado com ela, seu pai a teria matado, sem dúvida. E se Apolo não o tivesse feito, teria enviado a Artemisa a fazer as honras quando Zephyra desse a luz a sua menina. E então ele teria perdido a ambas. Apolo era cruelmente vingativo dessa maneira. Stryker tinha tentado explicar-lhe a Zephyra, mas se havia negado a escutar.

—Então morrerei te amando —Essa tinha sido a resposta a seus argumentos.

Tinha sido um sacrifício que ele não tinha estado desejoso de fazer. Pensou que seria melhor que lhe odiasse e vivesse, em lugar de que lhe amasse e morresse.

Se só então tivesse sabido o que lhes proporcionava o futuro.

—Não quis dizer essas palavras.

Ela se mofou.

—Claro que não. Foi desconsiderado, etc., etc.. Realmente já não me importa.

—Se realmente não te importasse, não o recordaria.

—Não te jogue flores. Descartei-te, igual a você me descartou. A diferença de Medea, não preciso me despedir. Só te necessito morto.

—Assim voltamos para isso.

—Sempre voltaremos para isso.

Stryker poderia amaldiçoar e queixar-se, mas honestamente, era o que merecia. Ela tinha razão. Partiu-se e nunca tinha olhado para trás.

Não, isso não era verdade. Tinha olhado para trás. Freqüentemente. Tinha recordado o tempo juntos. Recordado a maneira em que se via a primeira hora da manhã, aconchegada ao seu lado. A forma em que timidamente lhe olhava, como se pudesse lhe comer vivo.

Ele tinha se odiado por deixar isso. Por deixá-la.

Suspirando, aproximou-se da porta.

—Tenho deveres a atender. Se necessitar de algo, peça a Davyn.

E sem outra palavra, se foi.

Zephyra olhou quando a deixou sozinha no quarto. O olhar de dor nesses olhos chapeados a tinha ferido, e se odiou por essa debilidade. Por que ainda queria lhe confortar depois do que lhe tinha feito?

Sim, queria lhe arrancar os olhos e lhe apunhalar até que estivesse morto.

Mas debaixo dessa cólera e dor, estava a parte dela que ainda lhe amava. A parte dela que tentou arduamente enterrar e ignorar. Ele era uma besta e um covarde.

Ele é o pai de sua filha.

E o que? Um doador biológico que as tinha deixado. Isso não lhe convertia em pai. O fazia um idiota. Sua fúria se renovou, jogou uma olhada ao quarto no qual ele dormia. Era bastante singelo. Lençóis borgonha na cama. Sem janelas. Uma pequena cômoda, e nada pendurando sobre as paredes.

—Vives como um urso em uma cova.

Não havia nem sequer um livro na mesinha de noite. Que expôs a pergunta de por que tinha uma. Por outra parte, a parte superior da gaveta estava ligeiramente aberta. Possivelmente havia algo dentro. Curiosa, caminhou para ali e a abriu.

Seu fôlego ficou apanhado na garganta.

No fundo dessa gaveta estava a última coisa que tinha esperado ver de novo. O azulejo pintado à mão dela, que ele tinha encomendado como presente de bodas. As lembranças a assaltaram quando olhou fixamente sua imagem descolorida em roupa grega antiga, o cabelo loiro amarrado com os cachos caindo ao redor da cara. Os grandes olhos verdes estavam fixos, mostrando a total inocência. Tinha esquecido tudo a respeito da existência deste azulejo.

Mas Stryker não. Apesar de tudo, o tinha guardado. E debaixo deste, outro azulejo e quadros de homens que guardavam uma semelhança assombrosa com ele. Um quadro em particular lhe chamou a atenção. Era de três homens, parecidos no rosto e compleição, vestidos com roupa dos anos trinta. Tinham os braços sobre os ombros dos outros, enquanto sorriam alegremente.

Seus filhos.

Uma e outra vez, encontrou fotos deles.

O único outro azulejo na gaveta era o de uma moça que se via quase idêntica a Medea. Um calafrio desceu por sua espinha quando percorreu com o dedo a descolorida escritura na esquina inferior da mão direita. Tannis. Ela devia ter sido sua filha, também.

O pôs a um lado para encontrar a mais recente fotografia na gaveta. Pela qualidade da foto e a roupa negra, supunha que não tinha mais de 10 anos. Era de um homem jovem com cabelo branco-loiro recolhido em um rabo. Era o do meio dos três irmãos dos anos trinta. Apesar dos rasgos serem masculinos, eram tão parecidos com Medea, que resultavam inquietantes. E quando Zephyra inclinou a fotografia à luz, deu-se conta de algo.

As manchas que tinha eram lágrimas.

—Não —ofegou, incapaz de imaginar a Stryker lamentando-se por algo. Sempre tinha sido muito rigoroso, sem sentimentos... Tinha-lhe visto brutalmente ferido praticando com a espada e nem sequer lhe tinham embaçado os olhos.

A única vez que os tinha visto anuviar-se era…

A noite em que a tinha deixado.

E ainda assim, enquanto percorria as manchas com a mão, não sabia o que as haveria causado. Quem, exceto ele, teria escondido fotografias em seu quarto e haveria chorado? Ninguém. Eram suas e tinha guardado tudo isso em um lugar onde acreditou que ninguém o encontraria.

—Queridos deuses —O bastardo tinha um coração. Quem o teria pensado?

Amarei-te para sempre, Phyra. Nunca duvide disso, ou de mim.

Lhe fechou a garganta quando observou o azulejo de si mesma que tinha posto sobre a mesa. Realmente tinha sentido saudades dela? Entristeceu-se por ela?

Não seja ridícula. Provavelmente planejou isto para que o encontrasse.

Tinha-o planejado? Tinha acreditado que estava morta. Por que guardaria sua imagem todos estes séculos, a menos que significasse algo para ele? Certamente, ela não tinha guardado nada dele.

—Não te atrevas a se debilitar —grunhiu a si mesma. —Ele não é nada.

Determinada a permanecer imperturbável, voltou a colocar os quadros, mas se congelou quando viu algo que antes tinha passado por cima. Era uma pequena e puída cinta verde.

A mesma cinta que levava ao redor de seu cabelo no azulejo. E ali, atada no centro, estava a aliança de casamento que lhe tinha atirado na cara quando lhe havia dito que partia.

Seus olhos choraram quando viu o antigo talho na banda. S'agapo. “Amo-te” em grego.

—Maldito —grunhiu quando se abrandou ainda mais ante seu óbvio amor. Havia-se preocupado por ela. Durante todos estes séculos, tinha-a mantido tão perto dele como tinha podido.

Incapaz de suportá-lo, saiu do quarto e foi em busca do escritório. Não tinha ido longe, quando Davyn apareceu.

—Posso lhe ajudar?

—Quero ver Stryker. Agora.

—Não gosta que lhe incomodem quando está em seu escritório.

—Em realidade não me importa —avançou um passo.

Davyn suspirou pesadamente antes que a passasse e logo a dirigisse na direção correta. Tocou na porta.

—Meu senhor?

—O que! —Gritou Stryker.

Zephyra caminhou ao redor de Davyn e empurrou a porta aberta para encontrar Stryker sentado em seu escritório, observando uma pequena bola redonda. Não, não só observando, estava concentrado nela.

—O que está fazendo? —Perguntou com voz agitada, cobrindo os tenros sentimentos dentro dela.

Ele elevou o olhar.

—Tentando encontrar a Gautier. O que está fazendo aqui?

Sinceramente, não estava segura. Não desejava estar aqui e ainda assim…

—Queria ver-te.

—Saia! —Ordenou a Davyn, quem lhe obedeceu imediatamente. Assim que estiveram sozinhos, voltou a olhar. —Acreditava que tinha visto mais do que te corresponde de mim.

Tinha-o feito e…

Tinha guardado um azulejo dela. Como podia algo tão insípidamente estúpido abrandá-la? Sempre se havia sentido acima de tão lastimero sentimentalismo.

Ao parecer estava equivocada.

Antes que pudesse deter-se, aproximou-se.

—Por que não persegue o Gautier você mesmo?

—Tentei-o. O pequeno bastardo é rápido e extremamente preparado. Sem mencionar seus poderes que não são para levá-los na brincadeira. Pensei estupidamente que havia recebido a maioria deles do intercâmbio de nosso sangue. Agora que sei o que ele é, tem inclusive mais sentido o fato de que tivesse tanta dificuldade para lhe controlar. Deveria ter estado me alimentando dele e tomando seus poderes.

—Não pôde suspeitá-lo?

—Não. Alguém limitou seus poderes, e fez um inferno de trabalho. Um bom exemplo, não posso encontrá-lo em nenhum caso… Embora se supõe que compartilhamos a vista, está completamente fora de meu radar.

—Isso é impossível.

Lhe deu um seco e óbvia olhar.

—Eu sei. Ainda assim aqui estou, completamente cego a respeito de sua localização.

Ela caminhou ao redor do escritório para olhar a sfora.

—Quando foi a última vez que teve uma visão?

Olhou-a como se estivesse horrorizado.

—Estas me ajudando?

Ela se negou a lhe dar essa satisfação.

—Te cale e responde a minha pergunta.

Um lento sorriso se estendeu por sua cara, e o brilho de brincadeira nesses olhos acendeu sua ira.

—Estás me ajudando.

—Não acostumes a isso. Sou uma mulher de palavra, e já que não posso te matar, não está em minha natureza fazer crochê e não fazer nada. Por que vamos matar a este homem de todos os modos?

—Assassinou a minha irmã.

Essa era uma boa razão.

—Escória bastarda.

Stryker assentiu em aprovação.

—Pude lhe ver faz um par de horas, antes que War lhe perseguisse.

—Então, provavelmente está se escondendo.

—Exatamente o que penso. Mas, onde?

—O lugar melhor para ocultar-se é a plena vista. O filho de puta está ali. Só temos que deduzi-lo.

Nick passou as mãos através do cabelo, enquanto olhava fixamente à pequena mulher afroamericana ante ele. Era uma mulher que tinha pensado que tinha conhecido durante sua vida inteira e, aqui, nos últimos minutos, tinha aprendido que nunca, nem por indício, tinha-a conhecido realmente.

—Não o entendo. Meu pai era um delinqüente psicopata que pegava fortemente a minha mãe, sempre que ela era o bastante tola para lhe permitir entrar em nosso apartamento entre seus desafortunados encarceramentos.

Menyara agitou a cabeça.

—Seu pai era um demônio que preferiu a prisão, porque era o último lugar onde as pessoas que queriam lhe matar, buscariam-lhe. Sem falar de que lhe permitia alimentar-se de perversa energia. Obtinha poder de toda essa negatividade.

Nick se negou a acreditá-lo. Simplesmente não era possível.

—Estás equivocada. Meu pai era humano. Um corrupto, mau, e vicioso homem, mas completamente humano.

Ela negou com a cabeça de novo.

—Me escute, Ambrosius. Estava ali quando nasceste. Sou a que te recebeu e usei meus poderes para mantê-lo oculto do resto do mundo, de conhecidos e desconhecidos. Sabia o poder que um dia obterias e ainda então me aterrorizou. Por que pensas que cuidei de ti tão estreitamente todos estes anos?

—Pensei que era porque nos queria a mim e minha mãe.

—Amo-te e amava a Cherise. Era uma boa mulher com o coração de um anjo. Nunca fez mal, ou pensou mal de uma só pessoa. É a razão pela qual Adarian pôde seduzi-la. A causa de que se sentisse tão atraído, embora não devesse ter sido. Ele a escolheu para a sagrada honra de ser a mãe de seu legado. Com o qual nunca contou era comigo, e que o grau de pureza de sua mãe te afetaria.

—Está tão cheia de merda, Menyara, deveria ser pasto de vaca.

Ela dirigiu um ossudo dedo ante ele.

—Será melhor que controles esse tom, moço. Não é tão grande para que não possa te açoitar, como o fazia quando foi jovem.

—Sou todo-poderoso. Não é isso o que me disse?

—E eu limitei seus poderes uma vez. Não aches que não posso fazê-lo de novo. Me acredite, não é a criatura mais poderosa neste universo. Há muitos que podem te derrotar.

Nick se afastou. Atacá-la era inútil e lhe fez sentir-se como seu pai, algo que sempre tinha desprezado. Ela tinha razão. Tinha estado ali toda sua vida, como uma segunda mãe para ele.

—Sinto muito, Mennie. Estou tendo um momento difícil com tudo isto. Sem ofender, mas é um pouco difícil de tragar.

Ela pôs a mão contra a marca em sua bochecha do arco e flecha da Artemisa.

—Tentou vender sua alma a uma deusa por vingança. Não é ridículo?

—Entendo o ponto, e poderia adicionar que tudo saiu muito mal. Só desejaria que tivesse tido mais informação a respeito de tudo isto.

Ela deixou cair a mão sobre seus ombros.

—O que recorda de seu pai?

—Só a parte de trás de sua mão quando me cruzava a cara. Ele tinha “ódio” tatuado nos dedos da mão direita e, “morte” nos da esquerda. Em realidade não recordo que aspecto tinha. Tudo o que vejo é uma montanha de homem com olhos cheios de ódio.

Ela suspirou brandamente.

—Malachai. Corruptos. Irados. Amargos. Todos demônios. Foram criados do pior do universo, para lutar contra todos aqueles que eram puros e amáveis. Apesar de suas falhas, seu pai sobreviveu muito mais tempo que qualquer Malachai anterior. Mas soube que seu tempo estava encurtando-se, razão pela qual te gerou. A cada Malachai lhe permite ter um único filho para continuar seu legado. Você é o dele.

—E me matei, pelo que há terminado.

Ela agitou a cabeça.

—Tem meios para retornar da morte. Pode recuperar sua alma e renascer.

—Para que?

Lhe sorriu.

—Só você pode responder a essa pergunta. Só nós, nós mesmos, podemos definir nosso propósito neste mundo. O de seu pai era ferir e castigar. O meu foi te proteger, o teu…?

—Matar a Acheron Parthenopaeus.

—E isso realmente encherá o amargo buraco que tem em seu coração?

Nick lhe grunhiu.

—Não pus esse buraco ali. O fez ele.

—Me olhe —ladrou. —Dirá a verdade a Menyara, moço.

Nick chiou os dentes quando as amargas emoções cresceram dentro dele.

—Ash matou a minha mãe.

—Um Daimon matou a sua mãe, porque chegou tarde de seu trabalho para acompanhá-la a casa. Sabe a verdade, Ambrosius. Reconheça-o. Ash nunca haveria permitido que ela morresse, se tivesse podido chegar ali. Estava sob um brutal ataque essa noite. Embora estivesse zangado contigo, teria dado sua vida para proteger a dela. Desde esse dia, visita sua tumba para honrá-la, inclusive mais do que o faz você.

Lágrimas lhe arderam os olhos quando a dor lhe atravessou. Queria que sua mãe retornasse. Para vê-la uma vez mais. Para sentir sua mão sobre a bochecha, enquanto sorria com o orgulho brilhando em seus amáveis olhos. Queria voltar a tempo e salvá-la do cruel assassinato. Tinha sido a melhor mãe que qualquer pessoa poderia ter, e tinha morrido brutalmente nas mãos de seus inimigos.

Não tinha merecido isso.

E não tinha merecido a um filho como ele, que tinha sido incapaz de protegê-la do mau.

Menyara continuou cutucando-o.

—Foi você quem a pôs em perigo. Não Acheron. Foi você quem lhe falhou. Você quem

matou-a.

Nick rugiu quando a fúria fluiu através de suas veias. Girando a cabeça, deixou sair a dor que comoveu o quarto com um estrondo sônico... Sua visão mudou… Já não via em cores. Mas bem viu o universo como era. Escutava a malha da vida que rodeava e atava a cada criatura vivente.

Nunca tinha conhecido tal poder. Tanta raiva e ódio. Podia saboreá-la na língua.

Menyara lhe olhava sem medo ou temor.

—Agora tem o poder para matar a Acheron. O fará-o?

Ele despiu as presas a Menyara, o fogo emanando das mãos e acumulando-se pela longitude de ambos os braços.

—Diabos sim.

Depois de tudo, Acheron Parthenopaeus estava a ponto de morrer.

 

                                               CAPÍTULO 7

Stryker respirou entrecortadamente quando Zephyra se inclinou para observar sobre a Sfora. Cheirava tão bem que, literalmente, lhe estava dando água na boca. Riscou com uma larga unha as nuvens. Calafrios se elevaram pelo corpo enquanto imaginava as percorrendo por sua pele. Estava tão duro e necessitado que era tudo o que podia fazer para não aferrá-la e empurrá-la perto dele.

       Mataria-o se o tentasse. Sem mencionar que nunca a tinha maltratado. Havia homens aos que estriparia sem nenhuma vacilação, inclusive algumas mulheres, mas quando se referia a ela… não estava seguro se alguma vez machucaria à mulher que havia amado tanto.

Zephyra se congelou quando foi consciente do repentino vulto nas calças de Stryker. As sutis mudanças na respiração. Não podia recordar a última vez que tinha tomado um amante. Mas como a experiência tinha sido o suficientemente pobre, tinha decidido tomar o assunto em suas próprias mãos e não decepcionar-se de novo.

Stryker nunca a tinha decepcionado. Tinha sido mais que um habilidoso amante. Tinha sido um considerado.

Tragando, empurrou-se para trás. Ao menos até que o olhar se alojou nos lábios.

—Também senti saudades de ti—sussurrou, antes de poder evitá-lo.

Stryker se imobilizou. Essas simples palavras o queimaram quando viu a maneira em que os olhos se obscureciam. Incapaz de suportá-lo, atraiu-a contra ele, assim podia beijá-la. No momento que os lábios tocaram os seus e a língua navegou através dos dentes, esteve cego de necessidade. Cego por lembranças tão doces e preciosas que nunca pensou voltar a experimentar outra vez.

Pondo-a sobre seu regaço, grunhiu pelo bem que se sentia aí. Era tão pequena que nem pesava nada. Seu aroma o intoxicava.

Zephyra gemeu ante quão bom era seu sabor, ante o forte que se sentia e quão duro era o esbelto corpo. Odiava o muito que tinha sentido saudades disso.

O muito que tinha sentido falta dele. Não o ia negar.

Onze mil anos depois, o homem ainda acendia em chamas os sentidos.

Necessitando-o com uma fúria que não queria entender, sentou-se escarranchada em seu regaço e se inclinou o suficiente para lhe tirar a camisa pela cabeça.

Uma esquina da boca se torceu em um sorriso malicioso.

Ela posou um dedo sobre os lábios.

—Uma só palavra e te juro que te arrancarei a língua.

—Então, não te ganhei ainda?

Arrojou a camisa ao chão.

—Isto não se trata de ganhar algo. Trata-se de luxúria. Quero-te completamente fora de meu sistema.

—Você achas que isto o conseguirá?

—Tão logo me dê conta de quão mau é na cama, não quererei te tocar de novo.

Ele riu enquanto se levantava com ela envolta a seu redor e então lhe apoiou as costas sobre o escritório.

—Ah, bebê, nunca fui mau na cama.

Ela burlou-se, ainda quando sabia por experiência que nunca a tinha decepcionado. Esperançosamente, entretanto, a rajada podia ter acabado e haver-se voltado pior com a idade…

Mergulhou a cabeça para a dela para beijá-la de novo, enquanto percorria com as mãos seu corpo. Estremeceu-se de prazer, especialmente quando sentiu o tamanho do vulto entre as pernas. Desejava-o desesperadamente.

Stryker alcançou um botão da blusa no momento que algo golpeava a porta. Franzindo o cenho, elevou o olhar para ver como se abria com estrondo. Davyn caiu ao solo como um novelo sangrento ante um grupo de vinte demônios que entraram através da soleira.

—Toc, toc —grunhiu Kessar—. Parece que há um novo poder na cidade e não é você.

Stryker retrocedeu e levantou a Zephyra do escritório. Retornando a camisa ao corpo com seus poderes, plantou-se entre a Zephyra e os demônios.

—Que infernos está acontecendo?

—Seleção natural.

Kessar o atacou.

Stryker vaiou quando a dor inundou seu corpo. Mas não era um jovem inexperiente desacostumado a lutar. Convocando sua negra armadura corporal, deu volta ao escritório e o lançou contra o demônio. Kessar a evadiu antes de enviar outra descarga a Stryker, quem a devolveu com uma de sua própria colheita. Ambos os poderes se enredaram em um arco brilhante de cor. Mas cada segundo que o atacava, o custou fisicamente. Sentiu como se drenasse sua força e, dado o número de demônios que entravam, um Daimon esgotado era um morto.

—Corre, Phyra —lhe ordenou sobre seu ombro.

—Não sem ti. —Antes que pudesse detê-la, acrescentou sua descarga aos demônios, fazendo-os retroceder. —Precisamos sair daqui. Agora —disse.

Stryker olhou para onde estava Davyn inconsciente no piso.

—Temos que tirar o Davyn.

—Deixa-o morrer.

—Não deixo a meus homens para trás. —Ao menos não os que eram leais, em realidade. Aqueles como Desiderius, quem tinha uma questionável lealdade, eram mais que rapidamente sacrificáveis para ele. Mas Davyn nunca lhe tinha dado uma razão para duvidar de seu serviço e por esses homens Stryker podia morrer para protegê-los.

Lhe grunhiu.

—Saia com ele e dá-te pressa.

No momento em que foi para Davyn, Kessar atacou. Agarrou a Stryker pela cintura e o jogou contra o chão. Amaldiçoou, chutando a Kessar.

—Você, imprestável saco de merda pestilenta. Me solte.

Um dos outros demônios foi atrás dele. Stryker o esquivou e capturou com o olhar a Zephyra que atirava um ao chão.

—Não deixe que lhe mordam. Converterá-te em um deles se o fizerem.

Riu maliciosamente enquanto os olhos mudavam para um brilhante amarelo engrenado com vermelho.

—Um pouco tarde com sua advertência. —Capturou ao demônio que estava próximo a ela e lhe torceu o braço. Este caiu ao solo gritando antes que o apunhalasse entre os olhos e o matasse—. Estive aí, fiz isto, e anseio seu sangue mais do que anseiam o meu.

Kessar e os outros retrocederam quando se deram conta que estavam tratando com algo mais que um ordinário Demônio.

—Tens a seu amigo? —O tom vil irritou a Stryker.

Stryker levantou Davyn do piso e o jogou ao ombro.

—Não fujo de loucos como este. —Começou a perseguir o Kessar, então se deteve quando viu o corredor com os corpos aglomerados de seu exército Daimon. —O que demônios está passando?

—Converteram a seus Daimons em demônios. Se quer viver, melhor sair daqui.

—Não fujo.

Agarrou-o e o forçou a enfrentá-la.

—Todos fugimos às vezes. Abre o portal e nos tire daqui. Agora!

Stryker grunhiu antes de obedecê-la. Até que soubessem melhor o que era que estava acontecendo, tinha que escutá-la, embora não quisesse.

Empurrou-o fora do Kalosis de volta ao templo, onde estava Medea. Apareceram no quarto de Medea, onde sua filha estava sentada ante o computador.

—Ponha-o sobre a cama —ordenou Zephyra a Stryker.

—Me desculpe? —Medea luziu horrorizada ante o prospecto enquanto se levantava. —Não quero a nenhum homem desconhecido em minha cama.

—Essas palavras fazem orgulhoso a um pai. Obrigado por educá-la bem. —Atirou a Davyn sobre o edredom rosa e o deixou ali.

Zephyra se mofou.

—Não comece comigo. Poderia considerar te arrojar de novo aos demônios.

Stryker se endireitou para observá-la.

—O que me leva a pergunta da hora. Exatamente o que és?

Deixou escapar um comprido suspiro antes de responder.

       —Bom, além de estar zangada, sou parte demônio.

Essas palavras o esfriaram. Parecia tão normal e ainda assim… com sangue de demônio

nela, era tanto do que seria capaz.

—Como?

Encolheu-se de ombros.

—Fui mordida por um gallu, o mesmo que era proprietário de Jared. Ele pensou em me converter em sua estúpida admiradora. Matei ao bastardo.

Medea suspirou.

—Por que não lhe diz a verdade, Mamãe?

—Verdade? —perguntou Stryker com o cenho franzido.

Zephyra amaldiçoou enquanto lançava um olhar a sua filha. Os olhos jogavam fogo.

—Bem. Negociei minha humanidade para que Medea pudesse viver mais à frente do aniversário vinte e sete.

—Do que está falando?

—Diferentemente de ti —se mofou Zephyra—, não tinha uma deusa Atlante disposta a me ensinar como tomar almas humanas para viver. Pedi a Artemisa para intervir em nome de Medea, mas se negou. Disse-me que não revogaria a maldição do irmão, nem sequer por sua própria sobrinha. Depois de ter perdido a meu neto e a meu genro nas mãos de humanos, não ia deixar morrer a meu bebê por culpa de Apolo, assim convoquei a um negociador e lhe prometi minha alma se a protegesse.

Soava muito fácil, só que havia um problema. Os demônios negociadores não respondem a pedidos Daimon.

—Não podes fazê-lo. Só um demônio poderia.

Lançou-lhe um altamente sarcástico olhar de apreciação.

—És todo um cerebrinho, bebê. E pensar que acreditei me casar por esses fabulosos abdominais. Quem acreditaria que todo esse poder cerebral estava enterrado debaixo de esses avultados bíceps?

Medea fez um som sufocado antes de falar outra vez.

—Permitiu a um demônio alimentar-se dela e convertê-la para assim poder convocar ao negociador.

O olhar de sarcasmo mesclado com irritação foi transferido a Medea.

Fazendo caso omisso das agulhadas de Zephyra, Stryker estava assombrado pela capacidade de amar. Comoveu-o profundamente que fizesse tão grande sacrifício para proteger a sua filha. Era essa profunda capacidade de preocupar-se com os que amava o que tinha feito apaixonar-se por ela na antiga Grécia.

—Depois de ser convertida, voltei-me contra o demônio e o matei. A beleza de um gallu. Se matas ao que te morde, recupera o autocontrole e mantém os poderes do gallu para arrematar. É realmente uma beleza, exceto pela irritante sede de sangue que se somou a que já tinha devido a Apolo. Mas a vida não é mais que uma série de compensações, né?

Talvez, mas ainda ficava uma pergunta sem responder.

—E Jared?

—Foi devotado a mim por matar ao demônio gallu. Tomei custódia dele e logo cravei ao demônio na parede de sua própria casa. Ninguém me ameaça ou a minha filha. Nunca. E nunca serei a escrava de ninguém. Ninguém me controla.

Podia respeitar tudo isso. Havia feito piores coisas a quem matou a seus filhos.

Exceto por Urian.

Sem vontade de pensar nisso, entrecerrou o olhar em Zephyra.

—Isso explica sua avançada idade. —Os demônios, ainda se forem mestiços ou convertidos, estavam isentos da maldição de Apolo—. Mas, o que aconteceu com ela? — assinalou a Medea com um puxão do queixo.

Zephyra cruzou os braços sobre o peito.

—Tive que negociar minha alma por sua vida, a qual está agora atada à minha. É estranho como os deuses fazem isso. Sádico e frio, em realidade. Mas não importa. A diferença de nós, não tem que alimentar-se de humanos para viver, embora seja tecnicamente uma Apólita. Inclusive pode ter mais filhos se encontrasse um homem que valesse a pena.

—Encontrei um —disse Medea, com voz quebrada. —Os humanos o estriparam.

Zephyra lhe tocou levemente o braço.

—Eu sei, bebê. Não o disse friamente. Também lhe amava. —Olhou para trás, para Stryker. —É pelo que me assegurei de assassinar a todos os descendentes das famílias que tomaram sua vida e pelo que saboreei cada uma das mortes.

Stryker lhe lançou uma antiga saudação militar.

—E é por isso que te admiro tanto. Um código guerreiro até o fim. —Sangue por sangue. Vida por vida.

Essa era a única coisa que tinham visto, olho por olho.

Davyn gemeu da cama até que finalmente ele foi até ela. Levantando a cabeça, enfocou-se em Stryker.

—A quantos de nossos homens mataram?

—Não sei. O que aconteceu?

—War. —A voz era débil e tensa, como se a dor o estivesse partindo.

Afastou o cabelo da cara antes de arrastar-se a uma posição sentada.

—Disse aos demônios que não deviam ser mais subordinados teus. Que deviam revoltar-se e nos assassinar a todos para tomar Kalosis. Disse que seria o perfeito refúgio demônio, uma vez que todos os Daimons fossem mortos ou fossem convertidos.

Stryker grunhiu por baixo.

—Bastardo traidor.

Zephyra se burlou.

—Você é quem o soltou.

—Para matar a Nick e a Ash —disse à defensiva.

Arqueou uma sobrancelha zombadora.

—Que achas que faria depois disso?

—Assumi que me mataria, não a minha gente.

Zephyra riu sarcásticamente.

—O nome do homem é War. Não te deu uma pista sobre sua personalidade? Seria equivalente a conhecer a Peone e esperar que a deusa da represália te perdoe e alegremente te deixe ir viver uma vida feliz.

Medea se franziu.

—Pensei que essa era Némesis.

Zephyra lhe lançou um cômico olhar.

—Te guarde seus deuses Atlantes, doçura. Peone é a retribuição pelo assassinato. Némesis é a deusa do equilíbrio. Castiga aos que têm muita felicidade ou aos que escapam depois de foder às pessoas. Grande diferença entre as duas.

—Ah. Não importa. —Medea deu um passo atrás.

Stryker inclinou a cabeça para Zephyra.

—Estou impressionado que ainda recorde aos velhos deuses. Mas isso não muda o fato de que preciso retornar ao Kalosis e tirar esses imbecis de lá.

—Por que és tão suicida?

—Não sou suicida. A que está atirada lá abaixo era minha gente, e não vou deixá-los

morrer sem minha liderança. —Desvaneceu-se.

Zephyra se endureceu ante a abrupta partida.

       —Retornou? —perguntou a Davyn.

Assentiu.

—Meu Senhor gosta dos jogos, mas não quando se refere a invasores. Colocou pra dentro os demônios e sem dúvida se sente responsável.

Tratou de transportar-se ao Kalosis, mas como não tinha um convite aberto, não podia.

—Davyn, pode abrir um portal?

Fechou os olhos, logo meneou a cabeça.

—Stryker deve ter me fechado por fora.

—Maldito. Jared! —gritou, chamando-o da missão de encontrar e matar a Nick.

Apareceu ante ela imediatamente.

—Akra? —perguntou, usando a palavra Atlante para designar a proprietário ou ama.

       —Necessito que vá ao Kalosis e evite que Stryker morra. Ajude-o a desfazer-se dos demônios.

—Sua vontade é a minha —disse no mais sarcástico dos tons.

Estava, em realidade, surpreendida que estivesse disposto a obedecer sem argumentar. Mas um instante depois, tinha desaparecido.

Medea arqueou uma sobrancelha confundida.

—Pensei que sua intenção era matar a Stryker.

—Ah, querida, depois de tudo o que o homem me tem feito passar, só eu mereço a honra. Estaria condenada se deixasse que um demônio que explode vá a roubar esse prazer.

Stryker usou uma descarga de fogo para carbonizar aos demônios que estavam perto enquanto se unia aos homens e mulheres que estavam tirando-os de cima.

—Onde está Apollymi?

—Atrás de ti.

Girou para vê-la aí com os olhos ardendo em vermelho.

—Precisamos manter sua segurança —lhe disse, não querendo que ninguém morresse sem que antes se fizera cargo disso.

Arqueou uma sobrancelha ante isso.

—Desde quando minha segurança te preocupa? Acreditei que me querias morta.

Era verdade, isso queria. Mas não nesse momento.

—Quero renovar meu aluguel de vida. Ao menos por duas semanas mais.

—Nesse caso… —Abriu os braços e formou um redemoinho ao redor dos demônios.

Chiaram e gritaram quando foram envolvidos e levantados do chão.

Um buraco apareceu na habitação, sugando-os para o centro. Um momento depois, todos tinham desaparecido.

Essa era uma muito séria e acessível habilidade.

—E essa, meus amigos, é a diferença entre uma completamente experiente deusa e um semideus —disse ele em voz baixa.

Com uma expressão irrefletida, girou para Stryker.

—E que infelizmente não durará, porque alguém —o olhou com um fulgor zangado— lhes deu entrada ao meu reino. Talvez, deveria alimentá-los contigo, depois de tudo.

—Me dê um par de horas antes de fazê-lo. Agora, preciso fazer um inventário do dano feito aos meus homens.

—Desde quando se preocupa com o que lhes tenha acontecido?

Não respondeu. Era verdade que gostava de fazer parecer que não tinha sentimentos em absoluto. Que estava por cima de algo tão lastimero como as emoções. Mas sabia a verdade.

Sofria e se preocupava ainda quando não queria. Não importava quão forte o tentasse, ainda era um homem.

—Meus homens necessitam de mim. —Passou junto a um enfurecido Savitar, quem estava se dirigindo para Apollymi.

—Por que não ficou quieta? —grunhiu-lhe zangado Savitar.

Lhe lançou um frio e arrogante olhar.

—Sou a deusa da destruição. De verdade pensaste que ficaria quieta enquanto abriam passagem a mordidas através de meu lar? —Torceu os lábios. —Necessito que envies a Sin atrás deles. És um deus Sumério, deverias patrulhar seu próprio panteão e limpar este desastre.

Savitar soprou.

—Sabes que se o faço, sua neta estará lutando ao seu lado, não é assim? A última vez que brigou contra os gallu, quase a converteram em um deles.

Ela lhe vaiou.

—Por que teve que casar-se com um imprestável deus Sumerio? Bem. Não me diga nada. —Olhou ao redor as ruínas. —Strykerius, espero que você e seus homens limpem este desastre.

Stryker começou a lhe falar cortadamente, logo se deteve. Zangando-a não obteria nada e tinha muito a fazer.

—Sabes que isto não está acabado. War retornará.

—Sim, eu sei. Obrigada por me recordar isso. Enquanto isso, devemos fazer alguns preparativos. Alguém conhece algum bom exterminador?

Nem tinham deixado as palavras em seus lábios quando Jared, vendo-se muito melhor que na última vez que se encontraram, apareceu ao lado de Stryker. Vestido com uma jaqueta de couro negra, abotoada camisa negra e jeans negros, os olhos de Jared estavam cobertos com um par de opacos óculos de sol. O cabelo acobreado estava penteado para trás em um elegante rabo.

O Sephiroth observou ao redor com o cenho franzido.

—Parece que eu perdi a festa. Bem. Realmente não estava de humor para me ocupar de demônios esta tarde. Ainda não tomei o café.

Savitar fez uma careta de desagrado.

—Tomas café?

A cara era estóica.

—Não, mas foi meu patético intento de humor.

—O que estás fazendo aqui? —perguntou-lhe Apollymi.

Era evidente pelo tom que não apreciava a uma criatura não convidada invadindo seus domínios.

—Ordenaram-me proteger a ele —assinalou com o queixo a Stryker.

Apollymi pregou os braços sobre o peito.

—Bom, pedi um exterminador e olhem o que aparece. Quer te ocupar de War para nós?

—Não posso.

Luziu menos que satisfeita com a resposta.

—Por que não?

—Fonte Primária —disse secamente Savitar. —Jared foi criado para proteger esses poderes. Ninguém pode fazer que os mate.

Jared assentiu.

—Exatamente. Nem sequer meu proprietário me pode ordenar isso.

Apollymi franziu o cenho.

—Não entendo. Podes matar ao Malachai. Não nasceram dos mesmos poderes?

Jared suspirou.

—Os Malachai declararam inimizade à Fonte, o que significa, romper esses laços. E porque ameaçaram à Fonte, os Sepherii foram capazes de atacá-los e matá-los. Até que War não faça alguma ameaça contra os poderes primários, não posso tocá-lo.

Uma esquina da boca de Savitar se torceu.

—Bom, não serve para nada, não?

Os rasgos de Jared se suavizaram.

—Ah, me acredite, não poderia estar mais de acordo. Só agradeça que não seja contagioso.

Stryker os ignorou enquanto considerava o que inadvertidamente tinha posto em movimento por estar procurando vingança. Que simples parecia tudo. War mataria a Nick e Ash, logo a ele. Agora havia muito mais seguindo dali.

—Devemos encontrar uma maneira de conter ao War.

Savitar lhe lançou um olhar cômico.

—Tu o soltaste.

—Sip, bom, avancemos no jogo da culpa. Estava tendo pensamentos suicidas e parecia uma boa idéia no momento. Em retrospectiva, nem tanto.

—A maioria dos enganos o são —disse tranquilamente Apollymi. —Não muitas pessoas desenvolvem pensamentos que sabem que em realidade são estúpidos… os imbecis não estão incluídos.

Savitar riu.

—Então isso te deixa fora, uh, Stryker.

Lançou um olhar a Savitar.

—Para que saiba, não somos amigos.

—Para que saiba, não me importa.

—Suficiente, meninos —disse Apollymi entre dentes. —Em caso de que não o hajam notado, temos uma situação de importância em jogo. Temos que encontrar e deter War, encurralar aos gallu, proteger a Apostolos e tirar Savitar daqui.

—Por que a última? —perguntou Jared.

—Porque o detesto.

Savitar sacudiu a cabeça.

—Eu também te odeio, linda.

Ela mofou-se dele.

—Ponha alguma roupa real. O que é isso que tem colocado? Vem isso em tamanho para adultos?

Viu-se altamente ofendido pelo ataque para sua roupa.

—Calças de combate e camisas Hawaianas são roupa real.

—Não, em meu reino não o são e abotoe essa camisa.

—Ei! —espetou quando a camisa se fechou sozinha. —Sabia que há mulheres que pagariam para ver-me nu?

—Estou segura que há mulheres que pagariam para ver-te nu. Que perda de pensamento, mas não estou nesse grupo. Agora silencio enquanto penso.

Stryker estava entretido com o enfrentamento. Nunca tinha visto Apollymi tão animada. Ou a Savitar tão nervoso. Em qualquer outro momento, provocaria-os para uma continuação, mas tinham muito a fazer por sua causa, assim como representar a Loki .

Jared deu um passo atrás.

—Enquanto planejam e conspiram, tenho um Malachai para assassinar. —desvaneceu-se.

Savitar suspirou.

—Realmente não acredito que Acheron vá aprovar essa ação.

—Não —concordou Apollymi. —Te enviaria atrás dele, mas não quero Apostolos zangado comigo.

Savitar soltou um prolongado suspiro.

—Sabes que temos que estar em guarda. O modus operandi de War é dividir e conquistar. Volta para os amigos, inimigos.

Stryker pôs os olhos em branco.

—Bom, dado que aqui os três nos odiamos uns aos outros, não tem muito que possa fazer.

Apollymi lhe lançou um duro olhar.

—Não te odeio, Stryker. Nunca teria te trazido para meu reino se assim fora. —Se desvaneceu.

Aturdido e desconcertado pelas incomuns palavras, Stryker a seguiu. A única coisa que tinha aprendido através dos séculos era que Apollymi era ainda menos sentimental que ele.

Por outra parte, havia outro lado dele em privado que ninguém via, o que o fez perguntar-se que segredos ela escondia.

Ela se tinha internado no isolado jardim que estava murado em mármore. Rosas negras floresciam em tudo ao redor em lembrança e desolação pelo filho que nunca podia ver. Os dois guarda-costas Carontes estavam parados a um lado como estátuas. Mas em uma piscada ocasional, era fácil acreditá-los mortos.

—O que estás dizendo? —perguntou enquanto ela tomava assento na borda da piscina que fluía atrás, acima do muro.

—Estou cansada, Strykerius. —levantou-se para retirar-se.

Fez o que não tinha feito nunca. Sujeitou-a para detê-la.

—Quero uma resposta.

Ela sacudiu-se de seu contato.

—Que denso és, menino. Em todo seu ódio, nunca te detiveste a estudar atentamente nossa relação?

—Me acredites, nestes últimos anos não tenho feito nada mais. Usou-me e logo me afastou.

Sacudiu a cabeça.

—Adotei-te, Strykerius. Quando seus filhos morreram, chorei contigo.

—Ao diabo que o fez.

Recolheu para trás a manga do vestido, lhe mostrando o pulso. Havia onze lágrimas negras tatuadas em sua pele. Era um costume Atlante para recordar aos amados que morreram.

—A primeira ao início é por meu filho. O resto são por seus filhos.

       Tocou o braço, incapaz de lhe acreditar.

—O que aconteceu com Urian? Disse-me que o assassinasse.

—Disse-te que seu filho tinha um segredo que deveria investigar. Que estava ocultando-lhe. Nunca foi minha intenção que o assassinasse. Isso foi por sua conta.

—Não te acredito.

—Não tens que fazê-lo. Realmente não me importa. Deveria terminar com nossas vidas neste ponto, mas até não saber de fato que War está contido e meu filho a salvo. Estou obstruída aqui.

—Comigo.

Os olhos de prata cintilaram na tênue luz. Mas viu a dor que ela escondeu tão elegantemente.

—Não disse isso.

—O fez seu tom.

Deixou escapar um suspiro agravado.

—És tão cego. Tudo é branco ou negro. Ou te amo ou te odeio. Mas não é assim como é. A vida nunca é clara. As emoções não são claras. —Tocou-o brandamente na bochecha. —Pensa, Strykerius. Você e eu fomos uma força aliada por milhares de anos. Nós contra seu pai e Artemisa. Contra o exército de Dark-Hunters e a humanidade que ambos odiamos. A única coisa que te proibi tocar foi a Apostolos, e você sabe por que. É meu filho. Mas, ainda assim, dei refúgio a ti e aos teus. Te trouxe e te ensinei como roubar a alma dos humanos.

—Assim poderia machucar a meu pai por matar a Acheron.

Inclinou a cabeça respetuosamente.

—Isso é verdade. Originalmente, não podia ver nada mais que minha própria vingança. Mas vi como seus filhos cresciam… como você crescia, e os observei morrer. Acha-me tão fria para que não me preocupasse nem sequer uma vez?

—Sim, acho. Assassinou a sua própria família. A todos eles.

Sua cara se voltou de pedra. Não a traía nenhuma emoção ou paixão.

—Carregava a mesma fúria que você carregava na noite que cortou a garganta de Urian. Não, carregava ainda mais. A traição contra mim foi maior que a de seu filho contra ti. O que Urian fez, o fez por amor a uma mulher. Não estava tratando de te machucar. Só estava tratando de encontrar felicidade para os dois e não tratar de te reduzir. O que minha família me fez não foi mais que um temor egoísta. Uniram-se contra mim para me capturar e assassinar ao meu filho. Isso foi imperdoável.

Fez uma pausa enquanto a dor nos olhos ondulava com brilho e viu o muito que ainda sofria pelo que tinha acontecido.

—Mas assim como você, uma vez que todos desapareceram e estive sozinha, me arrependi do que tinha feito. Senti saudades dessa família, embora fora lamentável, e quis vê-la de novo.

Observou sobre seu ombro onde os demônios seguiam firmes.

—Embora valorizei a meu exército Caronte, não era o mesmo que minha família. —Voltou a atenção para ele e o olhar se suavizou. —E então este jovem de cabelos loiros me chamou enquanto rogava por poderes que salvassem aos seus pequenos filhos de um injusto destino. Recordou a meu próprio filho e assim lhe ofereci o que nunca tinha devotado a outro. —A ternura se desvaneceu sob o frio semblante que lhe era familiar. —Atei minha vida à tua com o afã de te salvar. A única vez que estivemos em desacordo foi quando lhe ordenei que deixasse a Apostolos em paz e te negou a fazê-lo.

—Equivocou-te ao não me dizer que era seu filho.

—Porque sabia que isso te machucaria —disse entre dentes apertados. —Por que mais guardaria um segredo assim?

—Estava tratando de me controlar.

—Nunca —disse rudemente. —Te dava liberdade para que infligisse vingança a seu pai. Abri meu reino aos de sua espécie e te permiti que tomasse refúgio aqui. Por cada Dark-Hunter que assassinava, cada vida humana que destruía, sentia tanto orgulho como qualquer mãe o faria.

Ainda assim, resistia a acreditá-la. Tinha usado a ele…

E entretanto, recordava a maneira em que tinha sido por séculos. Sempre lhe dando as boas-vindas nos aposentos privados. Sempre recebendo sua companhia.

Sentia saudades disso mais do que queria admitir a si mesmo.

—Por que não me havia dito isso antes?

Ela suspirou.

—Porque preferia que me odiasse pela morte de Urian do que odiasse a ti mesmo. Nenhum pai deve sofrer nunca tal pesar.

—Não acredito em ti.

—Então não o faça. Ambos sabemos que a compaixão não me serve. Apenas a entendo. —Rastelou-o com um olhar. —Apenas te entendo. —Recolheu a saia do vestido negro e passou ante ele.

Stryker a observou enquanto as palavras ecoavam nos ouvidos. Podia não entender a compaixão, mas sim sabia como amar. O inflexível amparo e sacrifício por Acheron estavam mais à frente da recriminação. Era o que tinha feito saltar os ciúmes de Stryker e tinha feito que se voltasse contra ela.

Tinha querido que ela o amasse assim.

Stryker se estremeceu ante a inegável verdade. Tinha sido tirado do ventre de sua mãe antes de ter nascido e entregue aos sacerdotes de Apolo para ser criado. Embora nunca tinham sido cruéis no que a ele concerniam, sempre lhe tinham temido. Nunca tinha conhecido a uma verdadeira mãe.

Não até Apollymi.

Ainda assim, não estava seguro se podia confiar nela. Atreveria-se? Apesar de toda a malícia, nunca tinha sabido que mentia. Podia omitir coisas, mas não se escondia e mentia…

Fechou os olhos, apertou os dentes enquanto a dor o assolava. Era difícil ser responsável por tantos e não ter a ninguém em quem confiar plenamente.

Deuses, estava tão cansado de estar sozinho no Universo. De mostrar-se forte todo o tempo.

Não querendo deter-se nisso, abandonou o jardim para retornar onde os homens estavam ainda estendidos, feridos e mortos, pelos que os quiseram converter.

—Estamos em guerra, meu Senhor?

Olhou a Ann, uma pequena e formosa loira Daimon e assentiu.

—Os demônios já não são bem-vindos aqui. Estendemo-lhes nossas mãos em amizade e nos pagaram com um derramamento de sangue. —Pouca surpresa realmente, um demônio era um demônio.

Deveria havê-lo sabido melhor antes de pensar que podiam combinar forças com os gallu.

—Mas tudo está bem. O que nos falta em números o construiremos com malícia e astúcia. Somos Daimon e somos Spathi. Agora mostraremos a esses bastardos o que podemos fazer.

Os homens gritaram com aprovação.

Savitar riu atrás dele.

Stryker lhe arrojou um olhar furioso.

—Encontra algo gracioso, Chthonian?

—Sip, assim é. Encontro histriônico que seu novo contrato de negócios na vida se chame War.

Deu a Savitar um olhar que permitia lhe mostrar o que pensava, não muito.

—Ao menos tenho um contrato de negócio.

—Certo, mas sabe qual é o problema com os contratos?

—Qual?

—Que por geral, cedo ou tarde, esgotam-se. E se não prestas atenção à letra pequena, sempre termina chamuscado.

—Não me assustas.

—Não quero te assustar. Mas se fosse você, não deixaria a minha mulher na entrada muito tempo enquanto perco o tempo aqui embaixo. War tem uma desagradável maneira de transbordar-se dentro de áreas pacíficas, se é que entendes o que quero dizer.

Um mau pressentimento percorreu a Stryker. Certamente War não…

É obvio que podia.

O coração lhe martelava, Stryker sabia que tinha que ir atrás de Medea e Zephyra antes que fosse muito tarde.

 

                                        CAPÍTULO 8

Zephyra levantou o olhar do escritório ante o som de um ligeiro tamborilar na porta.

—Entre, amor —respondeu, sabendo pelo som que seria Medea.

Bastante segura, esta empurrou a porta para olhar atentamente dentro da sala.

—Atrapalho?

—Não, bebê. Só estava arrumando um pouco.

Medea arqueou uma sobrancelha ante o comentário. Zephyra não podia culpá-la. Depois de

tudo, era tremendamente ordenada em seu pior dia. Mas era um hábito nervoso que tinha. Sempre que as coisas se tornavam confusas, tinha a compulsiva necessidade de limpar o que pudesse.

—Como está nosso convidado? —Perguntou, tratando de distrair a sua filha do firme escrutínio.

—Jogando o olho a um par de sacerdotisas para o jantar. Já lhe adverti que estavam fora do menu, embora pense quão saborosas seriam.

—Bem. Não quero brigar com a Artemisa por isso.

Medea entrou na sala e fechou a porta.

—Ainda o ama, verdade?

—Amar a quem? —Perguntou, tratando de enfocar a pergunta. —Davyn? Nem sequer o conheço. A única coisa que amo dele é sua ausência.

—Meu pai.

Odiava o aguda que podia ser às vezes Medea.

—A ele tampouco o amo —disse com desdém. —Nem suporto sua presença.

—E ainda assim te ilumina cada vez que te olha.

Zephyra colocou um montão de papéis no cesto de papéis.

—Não sejas ridícula.

Medea a deteve quando começou de novo no escritório.

—Conheço-te, Matera. Sempre foste fria e calculista. Durante séculos, hei-me preocupado que minha estupidez tenha matado algo dentro de ti.

Ela franziu o cenho a sua filha.

—Que estupidez?

—Viver com os humanos. Sendo o bastante ingênua para pensar que enquanto não os fizéssemos mal, eles não nos fariam isso. Ainda recordo o que me disse umas semanas antes que nos atacassem. “Não pode domesticar a um lobo e esperar que descanse ante seu coração em paz. Cedo ou tarde, a natureza da besta se acenderá e assim que seus instintos o digam… matará”. Nesse momento pensei que estava falando de nós, mas não era assim. Depois de sermos atacados, depois de que quase foste assassinada para me salvar, algo dentro de ti morreu. A parte do afeto pelos outros. A habilidade de ter piedade.

Era certo. Qualquer fé que tivesse tido no mundo, na bondade ou na suposta humanidade, tinha morrido com seu neto. Mata ao monstro. Extrai seu coração, assim não nos matará.

Tinha cinco anos… nenhum monstro. Só um menino, gritando a seus pais que o salvassem. A sua avó para que deixassem de lhe fazer mal. Fazia o melhor para protegê-los a todos e, a triste verdade, era que o melhor não tinha sido suficientemente. Arrastaram-lhe e lhe espancaram até morrer.

O bebê de seu bebê.

Ela tinha morrido essa noite. E agora seu coração era um triste e vazio buraco.

—A vida é dura —disse com uma calma que dificilmente sentia. Sabia ainda antes desse momento. Como filha de um pescador, tinha sido criada com a fome e a pobreza roendo seu ventre e dignidade, enquanto seu pai tratava de ganhr a vida do mar. Seu fracasso tinha provocado que se voltasse contra sua família. Converteu-se num amargo bêbado que lhes culpava por suas próprias falhas. Culpava-lhes por havê-los tido e, porque dependiam dele para manter-se. Odiava-lhes, e nunca tinha falhado em demonstrá-lo.

Em toda sua vida, não tinha conhecido nunca respeito ou gentileza, até que um esbelto e bonito moço a tinha detido no cais.

Inclusive agora podia ver o sol refletido nos loiros cabelos. Ver a admiração nesses olhos azuis ao observá-la. Estava envolto na túnica púrpura dos nobres, que se ajustava a seu jovem corpo de guerreiro, mostrando o homem no qual se converteria.

Pensando que sua intenção era acossá-la como muitos outros antes, incluído seu próprio pai bêbado, tinha-lhe dado uma joelhada na virilha e correu.

Perseguiu-a só para desculpar-se por assustá-la.

Desculpar-se. O filho de um deus, a uma peixeira vestida em farrapos. Tinha sido amor a primeira vista. Logo, quando tinha pego seu próprio manto para protegê-la da crua brisa marinha, derreteu-se imediatamente.

E ali, pelo mais breve instante, sentiu-se amada e desejada. Com mais valor que a sujeira debaixo dos pés de outras pessoas.

Até que Apolo tinha chegado e condenado sua relação, devido a que ela era lixo, sem nenhum valor para um semideus, e Stryker, envergonhado, tinha obedecido a ordem paterna de abandoná-la.

A ira lhe rasgou pela lembrança.

—Não acredito em contos de fadas —respondeu a sua filha.

—Criou-me com essas histórias.

Porque queria que sua filha fora uma melhor pessoa do que era ela. Não havia querido matar a inocência de Medea, da forma em que a sua própria tinha sido massacrada.

—Amo-te, menina —murmurou. —Em toda minha vida, é a única coisa que me trouxe uma felicidade infinita. É a única pela qual morreria para proteger. Não amo a seu pai. Não sou capaz de fazê-lo de novo.

Medea inclinou a cabeça para a sua.

—Como diga, Mamãe. Mas ainda vejo a luz que te enche quando entra numa sala —começou a afastar-se e logo se deteve. —Que conste, que se por algum milagre pudesse ter a Evander de volta a minha vida, não lhe afastaria. Aproximaria-lhe pelo resto da eternidade.

—Ele não te abandonou quando eras uma menina de quatorze anos, grávida de sua filha.

—Certo, mas Evander não era um moço de quatorze anos com um pai que poderia matar a ambos com um simples pensamento.

Zephyra não disse nada enquanto Medea a deixava sozinha. Era verdade. Stryker só tinha sido um moço e lhe tinha deixado o suficiente dinheiro para cuidar dela e do bebê, mas as rasgadas partes de seu coração se negavam a racionalizar esse comportamento.

Devia lutar pelo que amava.

Isso é o que não lhe podia perdoar. Nunca. Não, o que não lhe podia perdoar era como a tinha feito sentir, um verme insignificante que não merecia seu amor. Haveria preferido que deixasse que seu pai a matasse, antes que voltar a afundar-se uma vez mais. Todo mundo merecia dignidade.

Todo mundo.

Exceto Jared, e enquanto o pensava, deu-se conta do porquê desfrutava tanto lhe torturando. Também tinha traído a sua própria família. A seus companheiros soldados. Quando tinham necessitado unir-se, lutar pela sobrevivência, ele tinha sido quem os tinha entregue aos seus inimigos para que lhes massacrassem.

Poderia odiá-lo eternamente por isso. Assim como odiava a Stryker por abandoná-la.

Suspirando, voltou a reorganizar o escritório que já tinha reorganizado uns minutos antes. Tinha dado só um passo quando uma luz estalou.

Era Stryker.

Condenada se Medea não tinha razão. Os batimentos de seu coração se aceleraram por essa visão, aí em pé. Um cacho de cabelo negro lhe caía pelos olhos. Os rasgos eram acerados e perfeitos, manchados por um pequeno toque de barba. Nada lhe daria mais satisfação que percorrer com a língua a linha de sua mandíbula, e deixar que essa sombra lhe raspasse a pele.

A ira a percorreu ante o pensamento e a maneira em que seu corpo traía o ódio que queria sentir por ele.

—O que é que quer?

Stryker apenas se conteve antes que as palavras “A ti” saíssem de sua boca. Era o que queria. Tudo o que necessitava. E nesse preciso momento, o que mais queria era soltar o loiro cabelo e deixá-lo cair sobre seu peito, enquanto lhe montava da maneira em que estava acostumado.

Seu pênis se endureceu dolosamente. Era a parte mais difícil de estar ao seu redor. Tudo o que tinha que fazer era aspirar seu delicado aroma de lavanda e valeriana, e se enchia de necessidade.

       Forçando-se a mover-se, clareou garganta.

       —Necessito que tu e Medea retornem comigo a Kalosis.

       —Realmente achas que será mais seguro que aqui?

       —Dado que ali há um exército de Carontes e uma muito zangada deusa desejosa de sangue, sim. Ao menos que saiba algo sobre os enterrados instintos maternais de Artemisa, que eu não. Mas honestamente, não a vejo saindo em sua defesa mais do que sairia na minha.

Observou-lhe fixamente.

       —Quero que saiba que só aceito pela segurança de Medea. De outra maneira, lhe diria que te estacasse onde o sol não te bate.

Ele lhe lançou um sorriso torcido.

—Doçura, estou nos estacando a ambos onde o sol não brilha. Diferentemente daqui, no Kalosis não há luz solar. Nunca.

—Não és gracioso.

—De verdade? Encontro-me bastante entretido.

—Deverias.

Stryker não fez nenhum comentário, enquanto ela se adiantava reunindo alguns objetos, inclusive maquiagem e cremes. Uma estranha excitação lhe percorreu quando recordou a maneira em que costumava aplicar-se ambos pela manhã. Ele permanecia na cama, enquanto ela aplicava a loção pelo rosto, usava o khol para delinear os olhos e, o bálsamo de henna para os lábios.

Não havia nada mais agradável para observar. Era tão feminina e doce.

Tão Zephyra.

—O que estás olhando? —espetou-lhe.

—Nada —Sua voz foi mais cortante do que em realidade queria demonstrar, mas não tinha intenções de lhe deixar saber quão frágeis eram suas emoções no que a ela concernia. Isso lhe daria um poder sobre ele que não precisava conhecer.

       Uma vez que teve suas coisas reunidas, ele as puxoou para levá-las. A princípio ia arrebatá-las dele. Logo, sem uma só palavra, cedeu.

—Irei atrás de Medea.

—Está Davyn ainda em seu quarto?

Ela se adiantou pela porta.

—Esteve dando voltas pelo terreno muito cedo, assim não estou segura.

Seguiu-a pelo corredor para o quarto de Medea e ficou imóvel quando os encontrou jogando xadrez na mesa que estava perto da janela. A cara de Davyn estava machucada e inflamada pelo ataque, mas por outro lado, parecia que já estava de novo em jogo.

Zephyra pôs as mãos nos quadris.

—Deveria me preocupar de que vocês dois pareçam tão cômodos aqui?

Medea estudou o tabuleiro.

—Te relaxe, Mamãe. Em realidade, é bastante agradável para ser um Daimon.

Zephyra arqueou os olhos para Stryker.

—Acredito que deverias falar com seu homem.

—Por que?

—Porque está sozinho, com sua filha em seu quarto.

       —Jogando xadrez.

       —Por agora…

Stryker riu.

—Relaxe, Zephyra. Estaria mais preocupado se estivesse aqui com meu filho, que com minha filha. A máxima ameaça que traçaria é que poderia querer lhe pedir emprestados os sapatos.

       Seus lábios formaram um silencioso Ah.

       Davyn riu, enquanto movia seu bispo.

       —Tampouco tem que preocupar-se por isso, dado que tem os pés mais finos que vi em uma mulher. Além disso, que prefira aos homens não significa que queira ser uma mulher. Me acreditem.

Zephyra deu umas palmadas, ordenando.

—Muito bem. Necessito que se movam. Medea, recolha suas coisas. Nós vamos ficar com seu pai por um tempo.

       Ela se horrorizou ante a declaração de Zephyra.

       —Por que? —perguntou a Stryker.

       Ele se incomodou ante seu tom.

       —Sou seu pai. Não me questione.

       Ela baixou o olhar.

       Zephyra soprou em alto.

       —Medea, detenha sua fúria e faça o que disse —se girou para Stryker com um furioso olhar. —E você, deve recordar que ela é a filha que nunca conheceu. Não um de seus soldados aos que ordena.

Davyn se levantou lentamente.

—Se te servir de consolo, Medea, seu tom é muito mais suave quando late a ti, que quando nos ladra.

Stryker enviou um olhar assassino em sua direção.

—Deveria te manter fora disto.

—Sim, meu Senhor.

Medea se deteve ao lado de sua mãe.

—Não vejo porquê devemos fugir dos demônios.

       —Não dos demônios, amor. De War. E não estamos fugindo. Estamos nos posicionando estrategicamente, para assim poder lhe apanhar e encontrar suas debilidades. Agora pegue suas coisas.

Nick saltou quando passou por um espelho e teve uma visão de si mesmo.

—Santa merda —sussurrou. A pele estava vermelho sangue e coberta com antigos símbolos negros. Mas foi sua cara a que lhe paralisou.

O cabelo era negro, com franjas vermelhas que desciam pela cara. Negras linhas cruzavam ambos os olhos e baixavam até as bochechas. Os olhos de ébano cintilavam em vermelho.

       Atordoado, baixou o olhar e viu que os braços e mãos eram também vermelhos com marca negras.

—Que demônios está acontecendo?

—É sua forma verdadeira.

Voltou-se para olhar a Menyara, só que não viu a mulher anciã que o criou. Agora era mais alta que ele e parecia estar nos vinte e tantos. Vestia uma blusa com cordão negro e calças negras apertadas, o comprido cabelo penteado para cima em um magro coque.

—Quem és? Realmente?

Menyara lhe lançou uma das duas varas que sustentava.

—Fui conhecida por muitos nomes através dos séculos. Mas poderia me conhecer melhor como Ma’at.

       O coração de Nick deu um tombo quando recordou à deusa Egípcia. Era quem mantinha a ordem do Universo. Deusa da justiça e da verdade. Menyara lhe tinha dado uma estátua sua quando fez sete anos.

“Ela te protegerá de qualquer dano, Nicholas. Coloque-a debaixo de sua cama e ninguém, nunca, machucará-te quando dormir. Ela velará por ti. Sempre.” Ainda podia recordá-la lhe dizendo isso.

       Uma ira amarga lhe inundou.

       —Para uma deusa da verdade, mentiste pra mim como a um tolo.

       Menyara sorriu.

       —Não menti, querido. Só ocultei alguns feitos de ti e de sua mãe. Se te faz sentir melhor, sou a razão pela qual Cherise nunca suspeitou de seus Dark-Hunters. Mantive-a protegida de todos os fatos paranormais de sua vida. Assim como tratei de fazer contigo. Mas o destino é uma cadela que não deve ser negada. Estava destinado a adquirir seus poderes e, nem sequer os meus, podiam te proteger para sempre.

—Deveria agradecer por manter a cegueira de minha mãe sobre minhas atividades extracurriculares, mas essa é a parte que a levou a morte —provou o peso da vara. —O que se supõe que tenho que fazer com isto?

Ela puxou a sua para lhe cruzar a cara, lhe forçando a devolver o golpe com a que tinha.

—Tem que aprender a brigar.

—Nasci brigando —desta vez, apenas esquivou o movimento antes que o golpeasse na cabeça.

—Com pessoas, não com os poderes que virão atrás de ti agora —Voltou para balançar a vara até ele.

Nick bloqueou e retorceu a vara do apertão. Sorria orgulhosamente enquanto a desarmava.

—Disse-lhe isso. Sou o melhor que jamais houve.

Ela soprou ante sua arrogância.

—E eu sou a deusa da verdade, não da guerra. Me dar uma surra te demonstra que pode derrotar a uma mulher velha. Nada mais. Não tenha tantas fumaças.

Nick fez uma careta com os lábios.

—Sabe, se foste proteger-nos a minha mãe e a mim, devia ter nos protegido da pobreza —A dor lhe rasgou quando recordou o olhar de derrota no rosto de seu mãe, cada vez que passava a mão por seu cabelo, para depois sair ao palco para tirar a roupa para que ele pudesse comer. Uma vez lhe disse que a única razão pela qual lhe levava ao trabalho com ela, era para lhe recordar por que fazia isso. De outra maneira, teria fugido pela porta.

A culpa lhe corroía. Tinha arruinado a vida de sua mãe e, depois, por sua própria estupidez a tinha terminado.

Menyara lhe sustentou a mão e lhe arrebatou a vara do apertado agarrão. Empurrou-lhe para a parede com o extremo da mesma. Ele fez uma careta de dor, quando lhe cravou a ponta no peito.

       —A pobreza é o que te tem feito humano, menino. Sem ela ou sua mãe, seria exatamente como seu pai.

—Mentira!

Ela abriu a boca para falar, logo se deteve.

Um instante depois, uma luz cegante estalou através da habitação. Nick vaiou como se lhe cortasse, lhe queimando a pele.

Algo feroz o golpeou, lhe levantando do chão e fixando-o no teto. Tratou de afastar-se, mas se sentiu como uma barata debaixo do pé de alguém, enquanto o pressionavam contra o pavimento.

De repente, estrelou-se contra o chão.

Menyara correu para ele enquanto grunhia de dor. Os ouvidos lhe zumbiam, tratou de enfocar-se. Cada parte dele doía.

Até que levantou o olhar.

Aí, cruzando a habitação estava Acheron, e estava brigando com um homem que levava o mesmo estilizado padrão em sua pele que o qual tinha Nick. Só que onde o de Nick era vermelho, os símbolos do homem eram negros e, onde os seus eram negros, os do homem eram vermelhos.

—Fique fora disto, Atlante —rugiu a figura demoníaca.

Acheron capturou a descarga que ia para ele com a mão.

—Menyara, tire Nick daqui. Agora!

Antes que Nick pudesse protestar, Menyara se envolveu ao seu redor e tudo se voltou escuro.

Jared amaldiçoou enquanto se desvaneciam.

—O que está fazendo?

—Disse-te isso. Estou atado por honra a mantê-lo a salvo, assim que lhe protegerei com minha vida.

—Estás louco?

Ash deu um passo atrás, enquanto o Sephiroth detinha a luta.

—Sou um deus Atlante, Jared. Jurei a sua mãe que ninguém lhe machucaria. Sabe o

que isso significa.

       Jared retrocedeu também, enquanto se acalmava. Sua pele retornou imediatamente a

a de aparência humana.

       —Assim quando o mate, você morre também. Estás louco? Por que farias isso?

       —Porque pensei que era humano e, devia a sua mãe essa promessa.

—E agora sabes a verdade. És um Chthonian, encarregado de manter o equilíbrio do Universo. O Malachai deve morrer.

Ash sacudiu a cabeça.

—A ordem do Universo para ele é viver, igual é para ti.

Jared riu.

—Não o entendes, verdade? Quero morrer, Acheron. Se o mato, irei com ele. —E empurrando a Ash desapareceu.

Ash amaldiçoou quando se deu conta de que não tinha maneira de rastreá-lo. Demônios.

—Jared! —Rugiu, dirigindo a voz para o etéreo, para que assim o Sephiroth pudesse lhe escutar. —És tu quem não o entende. Se eu morrer, o mundo morre comigo. Não podes matar a Nick Gautier.

Jared não respondeu.

Ash deixou escapar um fôlego grave. Jared estava certo, Ash era o encarregado de manter a ordem do universo. E ninguém o ia deter de seguir ocupando-se de seus deveres.

—Savitar? —sussurrou, lhe convocando.

Savitar apareceu como um espectro junto a ele.

—O que é, surfero?

—Sabias o de Nick, certo?

Savitar retirou o olhar, confirmando a suspeita de Ash.

—Por que não me disse isso? —Perguntou Ash.

—Não vou manipular o destino. O sabes. Mas sim, quando me pediu que treinasse a Nick e o vi pela primeira vez, soube o que era. É a razão pela qual não o treinei. Se houvesse feito, teria desencadeado seus poderes. Seu escudo era sólido enquanto não fora golpeado pelos que, como nós, absorvemos nossos poderes da Fonte.

Ash estranhou ante as notícias.

—Então, por que seus poderes não se desataram na noite que lutou comigo?

—Não sei. Provavelmente tenha algo a ver com o fato de que seus poderes são mistos. Ou poderia ser algo tão simples, como que os dois fossem íntimos amigos, e ainda quando brigou, em realidade não queria lhe matar. Inclusive ante sua fúria, não foi uma ameaça real para ele. Não necessitava de seus poderes para proteger-se de ti.

—E ainda assim, sou a razão pela qual morreu.

—Não, Nick é a razão pela qual morreu. Ele apertou o gatilho.

Que singelo o fazia parecer Savitar, mas isso não mudava a simples verdade dessa noite.

—Porque lhe amaldiçoei.

Savitar lhe dirigiu um cômico olhar.

—Te contente com que não esteja fisicamente aí, ou se não, golpearia-te na cabeça. Sabes como trabalha o livre-arbítrio, assim deixa de choramingar e te desfaz dessa cruz. Alguns necessitam da madeira.

Ash não achou graça, e não era nenhum mártir chorando sobre uma merda inconseqüente. Não se podia negar que era o único que tinha posto tudo em movimento. Mas os arrependimentos tardios não arrumavam o problema em questão.

—Como detenho a Jared?

—Não podes. Só sua ama pode freá-lo.

—E se ela não puder?

—Então estamos fodidos.

Stryker odiava o muito que adorava ver os pertences de Zephyra mesclados com os seus. A escova, os cremes. Seu perfume. Levantou a tampa para poder cheirá-lo.

—O que estás fazendo?

Baixou vidro de cristal imediatamente.

—Nada.

—Isso não era nada. Estavas sonhando acordado com minhas coisas, não é assim?

Ele arqueou uma sobrancelha ante a escolha de palavras.

—Sonhando acordado? Que tipo de arcaica expressão é essa?

Ela lhe devolveu o olhar com um próprio.

—Não me vais distrair tão facilmente. Estava suspirando por mim bem agora.

Deu um passo para ela e a olhou suspicazmente, e ainda assim não demonstrou nenhuma emoção. Se só pudesse treinar a seus homens para serem assim de efetivos…

—É isso o que quer que diga? Já sabe o muito que senti saudades de ti.

Ela esgotou os olhos.

—Mas quero te escutar dizê-lo.

—Por que?

Inclinou-se para ele e lhe lançou um olhar que era parte malícia, parte alegria e parte diversão.

—Porque quero saber o muito que te torturou minha ausência.

Ele quis afastar-se, mas seu corpo se negou a lhe obedecer. Não pôde. Em vez disso, descobriu que seus lábios deixaram escapar uma simples verdade.

—Senti saudades de ti.

Zephyra quis lhe esbofetear por essas palavras. Quis lhe golpear até que a dor dentro dela deixasse de mortificá-la. Mas sabia a verdade. Não havia bastante injustiça no mundo que pudesse apagar o dano que lhe tinha causado.

—Achas que isso acerta algo?

—Não arruma nada —Sua voz se quebrou. —Mas enquanto está aí, me odiando, pensa-o desde meu ponto de vista. Sou quem o fodeu, e essa é a realidade e o conhecimento com o qual tive que viver cada minuto de minha vida. És meu único e verdadeiro coração. Minha outra metade, e me afastei de ti. Tem idéia do quanto me há corroído isso?

Ela afundou os dedos em seu cabelo e puxou até que fez uma careta de dor. Incapaz de fazer frente a todas as mescladas emoções que a agitavam, aproximou-lhe e o beijou ferozmente.

Stryker a inalou enquanto suas línguas dançavam e a saboreava completamente. Em toda sua vida, ela era a única coisa que realmente tinha ansiado. Precisando estar o mais perto possível, tomou-a nos braços e a levou até a cama.

Ela só se separou o suficiente, para lhe tirar a camisa pela cabeça. Mas ele, incapaz de suportar um segundo mais sem ela, usou seus poderes para lhes despir totalmente.

Ela se virou para trás com as sobrancelhas arqueadas.

—É um poder muito útil o que tens —suspirou contra os lábios.

Antes que pudesse lhe responder, rodou sobre ele no colchão, lhe mordendo o queixo com as presas. Stryker grunhiu ante o bem que se sentia. Sustentando-a, retornou a esses dias onde não tinha sido mais que um jovem príncipe. O mundo havia sido novo e fresco. Não havia ódio em seu coração. Nenhuma solidão.

Em seus braços, era capaz de olhar para o futuro.

Agora ela o atacava com a mesma paixão que ele sentia ao olhá-la. Fechando os olhos, saboreou a pele nua contra a sua. As mãos apertando seu corpo tenso. Ainda quando estava condenado e perdido, este era o céu e, ela, seu anjo.

Zephyra pressionou a bochecha contra a dele, enquanto mordiscava o lóbulo com os dentes. A barba arranhava sua pele, provocando calafrios pelo corpo. O aroma de homem e loção de barbear especiada, combinavam-se perfeitamente com seu próprio cheiro. Durante anos, depois de que a abandonasse, conservou sua túnica e a sustentava nas muito tempranas horas da noite, sofrendo por sua volta.

Em um ataque de ira contra a maldição de Apolo, tinha queimado-a. Mas agora estava com Stryker outra vez, queria lhe perdoar tudo. Retroceder no tempo e lhe conservar a seu lado.

       Se só pudesse.

—Necessito-te dentro de mim —lhe sussurrou. Seu jogo poderia vir depois. Nesse momento, queria o ter o mais perto possível.

Ele respondeu com um grave grunhido, enquanto se deslizava dentro de seu corpo para acomodar seu pedido.

Ela gritou de prazer enquanto se assentava contra seus quadris, precisando ser parte dele. Tinha esquecido o bem que se sentia ao estar com um homem, especialmente um tão perito. Cada uma de suas investidas, de suas lambidas, acenderam-na em chamas até que quis gritar de puro prazer.

Stryker rodou com ela, pondo-a no centro da cama enquanto se movia mais rápido e duro dentro dela. O olhar de prata se engastou com o seu, e aí, na tênue luz, a exposta vulnerabilidade dentro dele a fez ofegar. A arrogância de sua juventude se tinha ido, e a dor do homem a rasgou. Muito tinha passado a ambos desde esse dia no templo de Agapa, quando se uniram como marido e mulher.

De novo, viu o alto e desconcertado jovem que posou a lâmina da adaga contra sua mão, enquanto se cortava.

—Com meu sangue, meu coração e minha alma, juro dedicar minha vida à tua. Onde quer que estejas, estarás comigo em meus pensamentos para sempre. Este é meu voto ante seus deuses e os meus. Agora estamos unidos e, só a morte nos separará —logo inclinou-se e lhe sussurrou no ouvido. —E ainda então, encontrarei a maneira de estar ao seu lado. Você e eu, Phyra. Por toda a eternidade.

       Uma lágrima lhe escapou pela esquina do olho, quando a lembrança a queimou. Tinha acreditado nele.

       —Phyra?

Tragou quando se deteve e a olhou.

—Estou te machucando?

Um soluço ficou apanhado na garganta.

—Arrancou-me o coração, bastardo. Fez-me acreditar em ti quando não acreditava em ninguém, exceto em mim.

Stryker deixou de respirar ante essas palavras que lhe estremeceram a alma.

—Tudo o que quis ser, é o homem que viste em mim. Desejo aos deuses que pudesse desfazer o que fiz. Que ficar e morrer ao seu lado é o que devia ser. Mas não posso desfazer o passado. Não posso desfazer a dor. Não é nenhum consolo, mas te juro que não foi mais fácil para mim —Seu olhar a abrasou. —Nunca em minha vida desculpei-me por algo. Nunca roguei a ninguém por nada. Mas lamento muito o que fiz e me ajoelharia com gosto ante ti se pudesse me perdoar por isso.

Ela lhe afastou e rodou para sentar-se.

—Não sei como perdoar mais.

Stryker fez uma careta quando essas palavras lhe feriram. Não merecia mais que seu desprezo. Mas não podia deixar que voltasse para isso. Com o coração quebrado, moveu-se de maneira que pudesse desenredar seu cabelo. Os fios de seda fizeram cócegas sobre sua pele, enquanto a recordava escová-lo cada noite antes que se unisse com ele na cama.

       Zephyra enterrou os punhos nos lençóis quando sua ternura a tocou profundamente. Não queria perdoá-lo, mas suas palavras e sinceridade a debilitavam. Lhe olhando sobre o ombro, derretia-se ainda mais. Este era um homem conhecido por sua crueldade e barbárie. Não duvidava ante nada.

       E ainda assim, roçava seu cabelo como se temesse machucá-la.

       Como podia odiar a alguém que a amava tanto? Odiar ao homem que lhe havia dado a coisa mais preciosa de sua vida.

—Isto não significa que eu goste —grunhiu antes de lhe empurrar para trás e ficar escarranchada sobre seus quadris.

Stryker sorriu quando Zephyra se inclinou sobre ele e cravou as presas em seu pescoço para alimentar-se. Gostoso a deixaria que o sangrasse, se isso significasse que poderia sustentá-la assim enquanto morria. A cabeça lhe deu voltas com seu aroma, a sensação de seus seios lhe pressionando o peito, enquanto os pêlos na união das coxas se esfregavam contra seu quadril.

Inclinando a cabeça para baixo, inalou a valeriana enquanto lhe mordia dolorosamente. Isso era o paraíso.

Deslizou a mão por seu braço, até que enlaçou os dedos com os seus. Levantando essa mão, posou um beijo na palma antes de afundar as presas na munheca.

Ela saltou imediatamente, mas não se afastou. Stryker rugiu ante o doce sabor. E enquanto bebia, sentiu como se fundiam seus poderes com os dele. Até agora, não tinha tido idéia de quanta energia demoníaca tinha.

Nunca houvera sido capaz de derrotá-la…

Esticou-se ante esse raciocínio. Lhe deixou ganhar. Um pequeno sorriso curvou seus lábios, mas não disse nada. Não queria zangá-la de novo. Não quando estavam assim.

Ela se voltou para trás para lhe observar. Ele soltou a mão enquanto o cabelo o fazia cócegas no peito. Na verdade, não havia visão mais formosa que ela elevando-se sobre ele, enquanto os seios nus se esfregavam contra seu corpo.

Zephyra foi apanhada pela formosura de Stryker. Seu poder. Agora sabia. Se tinha contido na briga. Podia havê-la ferido seriamente e, entretanto, não o fez.

Se só pudesse confiar nele outra vez.

Atreveria-se?

Ele se levantou para poder, gentilmente, sugar os seios. Embalando a cabeça contra ela, estremeceu-se com a sensação da língua varrendo-a. Levantou-a sem esforço e a sentou sobre ele. Ela se tragou um gemido entrecortado, ante a sensação desse corpo dentro dela.

Levantou o queixo para poder saborear esses lábios enquanto se movia lentamente. Como se deleitava com a maneira em que lhe sentia. Na sensação do fôlego mesclando-se com o seu.

Stryker não pôde nem sequer pensar corretamente, enquanto seu corpo gritava de prazer. Levou-lhe cada peça de controle para não gozar, pelo prazer de estar com ela.

Enterrou as unhas nas palmas em um esforço por manter o controle. Mas era difícil.

Esta era a mulher que sempre tinha amado.

Um brilho de sorriso curvou seus lábios quando a tocou a orelha. Aí havia um ponto…

Inundando a cabeça, varreu com a língua por detrás, sob o lóbulo.

Ela deixou escapar um ofego entrecortado enquanto os calafrios a percorriam, fazendo que os mamilos se esticassem.

—Ainda és tão sensível.

Ela lhe lançou um olhar ardente.

—E o que acontece contigo?

—Nunca fui sensível.

—Ah, sei —Percorreu com as mãos sob seus braços, descendo pelos flancos, lhe fazendo saltar. Ela grunhiu, o que provocou que a penetrasse ainda mais profundo. Rindo, Stryker a empurrou de costas contra a cama. Zephyra se arqueou, atraindo-o mais profundamente. Ele acelerou os embates até que ela já não pôde suportá-lo. Gozou em um brilhante estalo de sensações que explodiram através de seu ser. Gritando, envolveu-se ao seu redor enquanto seu corpo palpitava.

Stryker rugiu enquanto lhe unia na libertação. Sustentou-a perto enquanto o corpo se sacudia, e os dedos dos pés se arqueavam.

Era deliciosa, e ele queria passar o resto de sua vida entrelaçado com ela, nus na cama.

Atirou-se de costas com um gesto arrogante.

—Assim me diga, amor… Estás decepcionada?

Ela enrugou o nariz.

—Mmm, bom, considerando-o tudo, suponho que há uma expressão para isso.

—E é?

—Jogo pobre[8].

Ele soprou ante o jogo ruim de palavras.

—A noite ainda é jovem. Tenho muitas horas para te saborear, e te asseguro que quando terminar, pobre será a última palavra que te virá à mente.

Ela pôs uma arrogante expressão, não disposta a lhe deixar saber exatamente o muito que a agradava estar com ele.

       —Bom, se quer te envergonhar de novo, quem sou eu para te deter?

Ele estalou a língua.

—És tão perversa —Se aproximou para afastar os lençóis e assim poder encaixá-la na cama.

—Foi a sério sobre continuar? —Perguntou.

—Absolutamente. Tenho vários séculos com os quais me pôr em dia.

Ela começou a responder, mas antes que pudesse fazê-lo, ouviu-se um toque na porta.

—Entre.

Era Davyn. Deu um passo dentro do quarto e logo se deteve, quando lhe viu nu com ela ao seu lado. Rapidamente afastou o olhar.

—Meu Senhor, quero informar que estamos tendo outro pequeno problema.

—E esse é?

—Não podemos nos alimentar.

Stryker intercambiou um olhar com ela antes de dirigir-se a Davyn.

—A que te referes?

—War e os demônios nos encerraram dentro. Se qualquer Daimon tenta sair para alimentar-se, ou lhe matam, ou lhe convertem. Estamos presos.

Stryker deixou sair uma desagradável maldição.

—Quanto tempo tem até que precises te alimentar outra vez?

—Alimentei-me ontem à noite, assim estarei bem durante um par de semanas. E você,

Senhor?

Ele olhou fixamente a Zephyra

Ela se esfriou quando compreendeu esse olhar.

—Tomei sangue de ti duas vezes… —Assentiu— Estarei bem por um par de dias.

Ela tragou com medo pelo tom grave, enquanto uma sensação de medo a percorria.

       —Quantos?

—Talvez dois.

E logo estaria morto.

 

                                           CAPÍTULO 9

Zephyra não falou de novo até que Davyn os tinha deixado sozinhos. Stryker se girou para ela na cama e seu olhar se tropeçou onde ela o tinha apunhalado antes, ele seguiu a linha de seus olhos, apesar de que a ferida estava sarando, ainda era um feio aviso de seu temperamento, e seu mortal objetivo.

—Parece que se cumprirá seu desejo cedo ou tarde, não? —Disse ele frivolamente.

Ela apertou o lençol contra seu peito

—Deve haver uma forma de sair daqui.

—Sim, mas eles têm uma vantagem, os demônios não são noturnos, podem nos encurralar de dia e de noite, nós só podemos nos alimentar na escuridão.

—Podem trazer humanos aqui?

—Em teoria sim, mas as coisas são poucas vezes tão simples, só se eles se tropeçassem em um portal, algo muito mais fácil de dizer que de fazer. Usualmente só conseguimos crianças com essas armadilhas e um grande número de Daimons, me incluindo, temos problemas tragando a alma de uma criança, inclusive se são um bando humano.

       Seu olhar se obscureceu com fúria.

—Eles mataram nossas crianças sem piscar.

—De novo, não tão simples, seus pais mataram nossas crianças, não elas. Elas são inocentes nesta briga, meu pai me forçou a ser um monstro quando amaldiçoou a esta vida, mas me recusei a perder todo o sentido de mim mesmo a sua loucura.

Ela assentiu com a cabeça.

—Você é um guerreiro. Está-me dizendo que nunca matou a uma criança em batalha?

—Treinei-me para a guerra como mortal, mas nunca estive em batalha a não ser até que me converti em Daimon, então, não, nunca tomei a vida de uma criança, sendo pai, não sei se o poderia fazer —entrecerrou seus olhos para ela— e isso não me faz um covarde.

Zephyra sustentou as mãos acima em rendimento ante seu tom hostil, inadvertidamente havia tocado um nervo sem querer fazê-lo.

—Nunca cruzou minha mente —não pelo menos ante sua incapacidade de machucar a uma criança, das outras coisas que ele tinha feito... isso era outra história.

Enquanto se levantava da cama, viu a tatuagem em sua omoplata direita que havia escapado de sua atenção enquanto tinha estado concentrada em seu jogo, tomou uma dupla olhada enquanto a tatuagem ficava registrada em sua mente.

Não, não podia ser...

—Pare —disse ela, devorando-o de novo para examiná-lo.

Era um coração quebrado com uma videira espinhosa ao seu redor e uma espada que o atravessava no centro, mas era a fita de seda e o nome que continha que cobria a tatuagem que fez que seu fôlego se obstruísse em sua garganta.

Zephyra.

Sob a tatuagem havia oito pequenas lágrimas negras que formavam um intrincado patrão. Ela as riscou com a ponta de um dedo.

—Por quem são estas?

—Cada uma delas por meus filhos e meus netos e outra por cada uma de minhas esposas.

Mas era seu nome o que pôs dentro da fita de seda, somente ela tinha marcado seu coração partido.

Levantou o olhar para encontrar-se com o seu enquanto a olhava sobre o ombro, as lembranças de seu passado e suas emoções conflitivas a atravessaram, ele era tão familiar e tão estranho.

—Quem é você Strykerius?

—Sou uma alma perdida —sussurrou. —Tive um propósito faz tempo, mas tropecei no caminho.

—E agora?

       Seu olhar se aguçou perigosamente, sedutoramente.

—Vejo o que quero novamente, mas pela primeira vez em minha vida não estou seguro de o poder reclamar, nunca devia ter te deixado e sei.

Ela descansou sua mão sobre a barba de sua bochecha.

—Sou uma servente da Artemisa, devo a ela por tomar-me quando ninguém o havia feito.

—Não pagaste essa dívida um milhar de vezes?

Zephyra se deteve, Tinha-o feito? Artemisa podia ser tão caprichosa e fria. Através dos séculos, Zephyra tinha executado a incontáveis humanos pela Artemisa e outros quem difamavam ou ofendiam à deusa, era estranho como nunca tinha pensado em deixar o serviço da Artemisa antes disto, tinha estado contente de estar no refúgio do templo da deusa e apenas existir, seu único objetivo nesses séculos havia sido proteger a sua filha. Como era que não tinha tido outro objetivo mais que esse? Porque sua última meta tinha sido envelhecer e amar a um homem que tinha caminhado pela porta e quebrado seu coração, seu espírito, sua vida, depois disso ela jurou nunca deixar se apanhar por tanta dor, uma vez tinha sido suficiente para ela.

Stryker se girou sobre a cama para olhá-la de frente com um olhar tão intenso que despertou calafrios em seu corpo.

—Te una a mim de novo, Phyra, permaneça ao meu lado e eu porei o mundo dos homens a seus pés, encontraremos uma maneira de romper a maldição de meu pai e tomar nosso lugar à luz do sol.

—Não hei tocado a luz do sol em mais de onze mil anos, não desde a noite que fomos malditos.

—Darei-te isso.

Ela negou com a cabeça.

—Prometeu-me o mundo uma vez e então o lançou a minha cara.

—Sou diferente agora, Phyra, não sou um menino assustado vivendo à sombra de seu pai, aprendi com meus erros e te juro que nunca mais te deixarei.

Ela queria acreditar nele, mas não sabia se poderia.

As promessas eram tão fáceis de fazer e tão difíceis de manter, era rara a pessoa que poderia levá-las até sua execução.

       —E ainda assim você morrerá em dois dias se não lhe alimentarmos.

—Inclusive morto, encontrarei uma maneira de estar ao seu lado.

Essas palavras acenderam sua ira em fogo enquanto recordava as promessas ditas em juramento que tinham feito em suas bodas.

—Como te atreves! —grunhiu ela, empurrando-o de novo.

—Não entendo.

—Burla-te de mim com essas palavras.

Sua expressão foi de verdadeira perplexidade. Como podia não sabê-lo? Como assim?

—Você prometeu me amar e me abandonou antes de um ano. Como poderia confiar em ti agora?

—Nunca me casei de novo depois que minha mulher morrera, não em todos estes séculos e não por como me sentia a respeito dela. Era a lembrança de ti que me mantinha solteiro, nenhuma mulher conseguiu me cativar da forma que você o fez.

E nenhum outro homem tinha reclamado alguma vez seu coração, nenhum, somente Stryker tinha sido capaz de romper o escudo que tinha ereto ao seu redor, era por isso que o odiava tanto.

—Matera!

Ela olhou para a porta ao mesmo tempo que Medea a lançava para abri-la, por uma vez Medea não tinha reagido ao vê-los nus na cama juntos, isso somente disse a Zephyra que nefastas eram as notícias.

—Kessar enviou um emissário para falar com o Pai, ele deve vir imediatamente.

A roupa de Stryker apareceu em seu corpo enquanto abandonava a cama.

Zephyra estava a ponto de alcançar a sua quando ele a vestiu, também, ela se escapuliu da cama para alcançar Medea na porta, Stryker tomou a liderança, Medea levantou uma curiosa sobrancelha enquanto alcançava a Zephyra, mas não disse nada enquanto seguiam a Stryker pelo corredor para o salão de visitas, aí na tênue luz, os Daimons estavam reunidos ao redor de uma alta e magra fêmea Gallu, seu comprido cabelo negro estava solto ao redor de seus ombros enquanto curvava seus lábios em repugnância ante os Daimons reunidos.

Stryker não falou enquanto caminhava através dela para o estrado onde estava seu trono de esqueletos negros esperando, parecia brilhar na tênue luz e parecia tão ameaçador e letal como o homem que o ocupava.

Zephyra o seguiu, esperando que protestasse, não o fez. Com a presença de um deus, tomou assento despreocupadamente e olhou fixamente ao Gallu como se ela fora um inseto no piso que estivesse a ponto de esmagar. Zephyra tomou posição à mão direita de seu trono, abraçou uma mão no alto eixo que estava gravado em forma de um espinho.

—Tens palavras de Kessar? —perguntou Stryker a Gallu.

—Ele te oferece uma oportunidade para te render.

Stryker gargalhou ante sua estupidez, ante a audácia de Kessar, se eles pensavam fazê-lo piscar, estavam tristemente equivocados.

—Disse-lhe que deixasse de sugar o sangue de idiotas, agora está infectado seu próprio intelecto.

A fêmea Gallu empunho seus dedos.

Dois Gallus mais se aproximaram com um Daimon algemado, era Illyria, uma de suas comandantes Spathi, seu pálido cabelo loiro era um agreste contraste com sua roupa negra. Fiel a sua natureza e estação, ela não rogou enquanto eles brutalmente a forçavam a ajoelhar-se, mas estava débil, sua pele tinha essa coloração cinza, iridescente que vinha de esperar muito para alimentar-se, seu corpo estava começando a envelhecer e decair, neste momento ela se via muito mais velha que os vinte e sete, em questão de minutos se voltaria de meia idade.

—Não lhes dê nada meu senhor —cuspiu Illyria, tratando de lutar contra os dois Gallu que a sustentavam.

—Ela morrerá se não te render.

Stryker sorriu.

—Todos morreremos, Gallu, deveria estar mais preocupada com seu próprio destino.

Ela o varreu com um olhar frio.

—Sua pele mostra que você também precisa se alimentar.

Ela tomou o queixo de Illyria em sua mão.

—Olhe seu envelhecimento, seus ossos se estão voltando quebradiços, não durará uma hora, inclusive se te alimentar de alguém mais, morrerá igual de imediato.

Stryker manteve seu ar de despreocupação.

—Não sou Sisyphus[9] tratando de conter à morte, Illyria é um soldado, se for seu tempo é seu tempo, não estou em guerra com Átropos, se for sua vontade tomar quando queira, minha única meta é morrer com dignidade.

Zephyra estava impressionada pela conduta de Stryker e sua conscienciosa negociação, não era o mesmo menino que tinha conhecido, o homem ante ela era feroz e sem vontade de ser intimidado, ela podia apreciar isso, assim que viu a irritação nos olhos da Gallu, o demônio estava a ponto de equivocar-se.

E enquanto Zephyra olhava ao Gallu, uma idéia lhe chegou, era arriscada mas iluminadora, pôs uma mão sobre o ombro de Stryker e se inclinou para frente para sussurrar em seu ouvido.

—Beba do Gallu...

Stryker ficou quieto ante suas palavras, o sangue do Gallu era infeccioso, poderia converter a qualquer um quem entrasse em contato com ela num deles e fazer às pessoas zumbis sem memória para controlá-las. Odiava-o tanto Zephyra para desejar esse destino para ele?

Ele encontrou seu olhar, estava formosa aí, a seu lado, aí é onde devia ter pertencido sempre, ainda assim, ele não sabia se poderia confiar nela, o que propunha... era um suicídio.

—Confia em mim —respirou em seu ouvido, mandando calafrios por seu corpo.

Atreveria-se? Ela o havia dito, as mulheres eram vingativas até o final.

Seus escuros olhos o abrasaram e não lhe disseram nada de suas intenções, ela podia lhe estar dando uma armadilha para viver ou morrer.

—Toma a alma do Gallu —disse em um tom tão baixo que não estava seguro de que o tivesse escutado.

—Mata à cadela e ela não poderá te controlar.

Perdendo a paciência a Gallu clareou sua garganta.

—Está completamente fora, tomaremos tudo de ti, sua única esperança é te render e rogar pela clemência de Kessar e o resto de nós.

O universo se faria pedaços antes que ele rogasse a alguém por algo.

Stryker se levantou sobre seus pés lentamente, Zephyra ainda não lhe dava pista alguma de suas intenções ou de seu humor, se estava sendo honesta ou lhe pondo uma armadilha.

Não importa, ele não era alguém que podia ser intimidado alguma vez, descendo de seu soalho, caminhou para a Gallu, os dois que sustentavam a Illyria apertaram suas garras, dispostos a matá-la se ele se dirigia para eles.

       —Sriana ey froya —disse ele em Atlante a Illyria, Auxilia-os e destrói-os, olhou a Illyria e sentiu seus olhos mudarem, não eram mais chapeados, sabia que agora eram de um vermelho brilhante, estava chamando fortemente os poderes de deus dentro dele, girando para a Gallu, fixou o olhar nela.

Ela se endureceu imediatamente enquanto sua vontade ficava anulada pela única bênção que Apolo tinha esquecido tirar dos Apolitas quando os amaldiçoou, poderiam controlar a qualquer um com uma vontade débil, era esse dom o que lhes permitia tomar as almas humanas em seus corpos, a parte difícil era encontrar humanos em quem o amor pela vida fora forte, mas suas mentes fossem débeis, no caso dos Gallu, os dois eram sinônimos.

Stryker sustentou sua mão frente a ela.

—Venha a mim, Gallu.

Ela não duvidou em obedecer.

Um lento sorriso curvou seus lábios enquanto a aproximava e cravava suas presas em sua garganta.

Ela chorou enquanto ele bebia e ela sangrava.

Illyria seguiu ao Gallu a sua esquerda enquanto Davyn tomava ao da direita.

A cabeça de Stryker nadava no poder dentro do sangue da Gallu, pelo menos até que seu estômago começou a doer e grunhir, instintivamente começou a retirar-se, só para encontrar a Zephyra aí.

—Não te detenhas —disse ela, sustentando sua cabeça contra a garganta do Gallu. —Não até que esteja morta.

Ele se separou o suficiente para poder falar.

—Penso que me estou convertendo, não me sinto bem.

—Fará-o, confia em mim.

Ela continuou dizendo isso, mas ele ainda não estava seguro de lhe acreditar, honestamente, sentia-se doente pelo sangue, como se fora a vomitar a qualquer momento, mas manteve suas presas na garganta da Gallu e continuou drenando-a até que Zephyra a atravessou entre seus olhos para matá-la, então o sentiu, esse momento quando o último suspiro de vida se foi e o corpo caiu em seus braços. Ele sustentou o peito do demônio contra seu coração –o centro de seu ser– e esperou por sua alma para que se unisse com a sua. Normalmente a absorção era um pequeno estremecimento que era seguido por uma sensação de profunda revigoração.

Esta vez o golpeou como um raio e ocasionou que soltasse o corpo e se retirasse, gritou enquanto o atravessava, pondo negra sua pele, tratou de respirar, mas era impossível, uma e outra vez viu luzes brilhando ao seu redor e escutou o som de seu sangue bombeando através de suas veias. Era como estar vendo a fábrica do universo, o poder unido dentro dele, esquentando seu corpo e fazendo seus sentidos girarem, passou seu olhar ao redor da sala e notou a forma em que seus homens se retiravam, de repente Zephyra estava aí.

Ela tomou seu rosto em suas mãos.

—Olhe pra mim Strykerius, te concentre.

Ele o fez enquanto seus olhares se fixavam e seu coração se acalmava, sua visão e audição se clarearam, um lento sorriso curvou seus lábios um instante antes que ela rasgasse sua camisa para abri-la, ele franziu o cenho enquanto ela colocava a mão sobre seu coração, no qual já não estava a marca negra que assinalava onde o intercâmbio de almas tomava lugar. Stryker olhava fixamente a pele sem marca, confuso, o momento no qual um Apolita tomava uma alma humana em seu corpo para alargar sua vida, uma marca negra aparecia sobre o coração onde as almas se uniam.

A sua tinha desaparecido.

—Não entendo.

—Quando um Daimon se une com um demônio, tem a força de ambas as espécies, eles são imortais, agora você o é.

Ele estava atônito.

—Como é isto possível?

Ela sorriu com malícia.

—O sangue Gallu é potente, o que seja que o faz infeccioso conflui com nosso DNA e nos fortalece, você está livre de ter que tomar almas.

Ele se girou para olhar a Davyn e Illyria que estavam agora parados sobre os corpos dos Gallu que tinham matado.

—Não somos escravos dos Gallu?

Zephyra negou com a cabeça.

—Não uma vez que seu mestre está morto, é um novo mundo Stryker, um novo amanhecer.

E Zephyra o tinha dado, nada podia significar mais.

—A única coisa que os matará agora será a decapitação.

Ele queria gritar de alegria.

—Quantos Daimons poderíamos converter com um Gallu? Se nós alimentarmos do sangue a muitos e então matamos ao demônio, isso os converterá e então os libertaremos quando o matarmos?

Ela sorriu.

—Só há uma forma de sabê-lo, Trata e vê.

Stryker riu enquanto olhava a seu redor aos Spathi que estavam reunidos.

—Escutaram à senhora, conduzamos o experimento e vejamos o que acontece, se funciona, alimentaremo-nos deles e os mataremos até que não tenhamos que tomar almas humanas para viver. Penso que é tempo de que abramos a temporada do Gallu.

Riu novamente ante a idéia de girar as tábuas sobre Kessar e sua gente.

—Quem tem fome?

Um rugido se elevou.

Stryker se girou para Davyn.

—Abre um portal e permita tomar um Gallu a mais para provar a teoria de minha senhora.

Davyn inclinou sua cabeça e o saudou.

—Como deseje, meu senhor.

Ele se dirigiu para Illyria e dois Spathi mais se uniram.

Stryker retornou ao seu trono, onde se sentou com uma nova perspectiva do futuro de sua gente, o nascimento dos Daimons apenas começava e ele tentava derrubar o inferno sobre os humanos antes que tudo fora dito e feito. Olhando para baixo, curvou o lábio ante os três corpos dos Gallu no piso, eram tão repugnantes para ele como para seu pai.

—Poderia alguém limpar o desastre? Levem-nos fora e queimem-nos.

Um pequeno grupo se aproximou para obedecê-lo enquanto Zephyra subia ao seu tablado, ignorando às pessoas que o via, tomou sua mão entre as suas e beijou seus nódulos.

—Obrigado, Phyra, poderia te haver guardado isso para ti mesma e permitir a mim e a minha gente morrer.

       Ela passou seu olhar sobre a habitação.

—Apesar de como me sinto com respeito a ti pessoalmente, sou uma Atlante e uma Apolita.

Ela sacudiu a mão para indicar a seus soldados.

—Somos os últimos guerreiros de nossa classe. Estaremos condenados, sim vou estar pronta para ver os Gallu nos caçar, são vermes inferiores, nós somos filhos dos deuses, não nos inclinamos ante ninguém.

Stryker sorriu ante a confusão nos rostos de sua gente.

—Me acaba de ocorrer que ninguém sabe quem é meu amor.

Parando-se, girou sua cabeça para a multidão.

—Daimons, irmãos e irmãs, me permitam lhes apresentar a Zephyra, minha rainha.

Zephyra se esticou ante sua proclamação.

—Não está sendo presunçoso? —Perguntou sem respiração.

Ele se inclinou para ela para lhe sussurrar no ouvido.

—Se me matas, minha gente necessitará de um líder, depois disto confio em que fará o que é melhor para eles, não importa se te cases comigo ou não, você é minha rainha e minha igual, não há ninguém mais, confiarei em ti para proteger e guiar a minha gente.

Ela inclinou sua cabeça para ele.

Stryker elevou a mão para Medea.

—E esta é minha filha, confio em que todos vocês mostrarão a Medea e a Zephyra o respeito e deferência que merecem —ele fez um estranho gesto para conter a risada— se não, estou seguro de que elas farão que dolorosamente se arrependam de qualquer desprezo que lhes façam.

Medea parecia menos que satisfeita pelos vítores que a rodeavam, mas Zephyra não parecia que lhe importassem suas adulações, enquanto Stryker dava um passo para sua filha, Davyn retornou com um Gallu, ele lançou ao demônio por volta dos dois Daimons que o acompanhavam, colocaram-se sobre o Gallu com um ardor nascido do desespero e se uniram a eles mais três Daimons que ajudaram na alimentação, o demônio fez o melhor que pôde para lutar mas não havia igual para os Daimons que o sustentavam e o caçavam.

Stryker olhava com uma fascinação mórbida enquanto os Daimons começavam a converter-se. Isto funcionária? Ou teria que matar a seus homens?

A resposta chegou enquanto Davyn matava ao Gallu, o demônio deu um último grito de dor e então morreu no piso baixo eles, o primeiro Daimon, Laeta, tomou sua alma e uniu-a a ela, seus olhos brilharam vermelhos enquanto se recostava contra suas costas e gritava, um instante depois se levantou sobre seus pés e lhe elevou a camisa, a marca de Daimon tinha desaparecido.

Assim como se tinham ido as marcas dos outros que se alimentaram do Gallu.

       Stryker queria gritar de alegria enquanto se precavia que tinham encontrado a chave para sua sobrevivência, a chave para sua salvação, sobressaltado pela felicidade alcançou a Zephyra e girou a seu redor.

       —És brilhante —Disse ele rindo.

Zephyra não podia respirar enquanto via o moço que tinha amado dentro do homem que detestava, este era o mesmo Strykerius que tinha roubado seu coração. Fechando os olhos, saboreou o sentimento de ser sustentada por ele, sentia-se tão bem ser abraçada novamente, sentir que era uma parte de algo e não só ir através da vida. Por muito tempo tinha estado aturdida, mas neste lugar, neste momento, se sentia completa, como se lhe tivessem dado algo no mundo que importasse e para os Daimons quem não tinha que viver a custa das almas que tinham, tinham-lhes dado a vida.

E agora como Stryker, aclamavam seu nome, era a melhor das combinações, sorrindo, ela olhou para seus chapeados olhos que brilhavam com uma força vital equivalente à própria, parte dela queria sustentá-lo contra si para sempre e a outra queria golpeá-lo por não estar aí quando o necessitou, por não sustentar sua mão enquanto lutava para trazer sua filha ao mundo, por não ensinar a Medea a falar e a caminhar, ele tinha perdido tudo.

A Guerra dentro dela era ríspida e dolorosa. Como podia ele fazê-la sentir tão destroçada? E enquanto a sustentava, tudo o que ela podia recordar era que tão segura sentia-se em seus braços, ela era forte, mais forte do que tinha necessitado ser alguma vez e entretanto ele fazia com que os joelhos e o coração a debilitassem, fazia com que desejasse descansar sobre ele, inclusive quando ela era mais que capaz de sobreviver sozinha.

Sobreviver, isso era exatamente o que fazia sem ele, só sobrevivia, mas com ele, ela vivia.

Neste momento, ela se rendeu a essa sensação, ao som de sua risada em seus ouvidos e o sentimento de seus braços ao seu redor sustentando-a perto desse corpo perfeito, grunhindo com a ferocidade de sua necessidade, beijou-o, Stryker se sentiu como se pudesse voar, não sabia o que havia nesta mulher, mas prendia fogo em seu alma, sempre o tinha feito.

—Não tinham deixado vocês dois de fazer isso? —Perguntou Medea em um amargo tom.

Stryker se retirou com uma risada.

—Te vais ficar cega de novo filha?

—Marcada por toda vida, obrigada, definitivamente vou necessitar de terapia.

Stryker riscou a linha dos lábios de Zephyra antes de lhe dar um beijo rápido, então olhou de novo para sua gente.

—Agora que sabemos o que podemos fazer, destrocemos a esses bastardos, Davyn, abra os portais.

War se retirou e riu enquanto via os Daimons e os Gallus destroçarem uns aos outros, era absolutamente formoso.

—És definitivamente maligno —Ker envolveu um gracioso braço sobre seu ombro enquanto o olhava.

—Amo-o.

Era tão bom ter a ela e ao Mache com ele de novo.

—Ainda temos aos Malachai para lutar.

Ela suspirou indiferente.

—O encontraremos, Ma’at o protege, mas não pode sustentá-lo por si só, hei estado esperando uma peça dela por algum tempo, não tenhas medo, ambos estaremos apaziguados.

Ele olhou enquanto ela se dividia em dez seres.

—O encontraremos —disseram elas, suas vozes ecoando.

Então tomou vôo, deixando-o sozinho com sua fonte, ele inalou rapidamente ante sua habilidade de fazer isso, sempre o punha quente, mas haveria tempo para o sexo depois, agora tinha que assegurar sua liberdade.

—Nossos queridos deuses Gregos se estão reunindo com outros panteões para vir contra nós.

—Mache os controlará, ele já vem com Eris, turvando-os uns contra outros.

Eris... a deusa da discórdia, War tinha passado mais de uma noite em sua cama, também. Apesar de não ser um membro oficial de sua banda, ela tinha sido útil de quando em quando.

Ele se endureceu enquanto uma idéia o atravessava.

—Traz a Eris, tenho um trabalho para ela.

—E esse é?

—Precisamos alimentar nos Gregos a paranóia no que concerne a Ma’at.

Ker franziu o cenho.

—Não entendo.

—Convenceremos aos Gregos de que ela usará ao Malachai para destrui-los, por muito que odeiem as confusões com os Egípcios, eles girarão para ela em um minuto.

       Ele riu de novo.

—Pensa-o. Por que mais protegeria ela ao Malachai ao menos que seu objetivo fora destruir ao resto dos panteões?

—Porque ele é o equilíbrio.

War pôs seus olhos em branco.

—Você sabe disso e eu sei disso, mas Eris pode removê-los até que não pensem nisso, agora vá e alimente seu frenesi.

Ela se desvaneceu e o deixou com o sabor da essência do banho de sangue que haveria, enquanto os Daimons e os Gallu continuassem com seu conflito, isto era pelo qual tinha sido engendrado.

Era um novo mundo o que estava criando e seria só questão de tempo antes que os tivesse a todos dançando a seu capricho.

Agora ele só tinha uma coisa mais com a qual lutar antes que o mundo fora dele.

                                             CAPÍTULO 10

Zephyra se sentou no trono de Stryker enquanto ele e seus Daimons estavam fora lutando contra os gallu. Tinha mandado a Medea com seu pai e ficou atrás para lutar com tudo o que tinha passado nas últimas horas.

       Necessitava tempo a sós para pensar e para absorver todas as complicações que a tinham cegado. Era como se tudo tivesse chegado muito rápido e estava sobressaltada pelas emoções e pela magna presença de Stryker. E sua paixão. Mas enquanto estava sentada ali a sós na escuridão, pela primeira vez em séculos podia ver um futuro melhor.

       Stryker estando a seu lado enquanto lutavam por reclamar seu lugar no mundo que tinha sido tão hostil com eles.

       Fechando seus olhos, imaginou o que poderia ter sido sentar-se com ele enquanto comandava seu exército. Agora que tinha o poder dos gallu dentro dele, poderiam terminar de esconder-se e viver de novo no mundo dos homens.

Não, não no mundo dos homens.

No mundo dos Daimons.

Um lento sorriso curvou seu lábio enquanto o via tão claro em sua mente. Com os poderes de Medea poderiam derrotar a qualquer gallu que estivesse a seu redor e encurralar a outros demônios para ver que poderes poderiam lhes tirar e usá-los, também.

Não havia limite no que eram capazes de fazer.

Inclusive poderiam converter-se em uma nova raça de deuses.

Por que não tinha pensado nisto antes?

Porque tinha sido a carapaça de uma pessoa por muito tempo. Havia esquecido o que era ter o fogo dentro de si que queria mais. Este fogo que havia vivido e respirado e consumido. O fogo que não deveria ser negado e que rogava por uma melhor existência que a que tinha conhecido.

Pela primeira vez em séculos, estava completa e via um futuro para si mesa e sua filha. Um de poder...

De destruição...

—Não necessita de Stryker para isso.

Abriu seus olhos para encontrar a War parado frente a ela. Mais bonito do que deveria ser um deus da destruição. Ele permanecia com seu peso sobre uma perna e um arrogante semblante que seria devastador se ela não conhecesse a verdade de seu mortal capricho. Para ele, eles não eram mais que bonecos para serem comandados e destruídos a seus desejos.

Mas ela não poderia nunca ser tão estúpida. A raiva ferveu em seu corpo enquanto levantava-se sobre seus pés para lhe dar a conhecer que não estava temerosa de seus poderes.

—O que está fazendo aqui?

—Vim a ver ao Stryker, mas em seu lugar, vejo a mulher mais formosa que há nascido. Verdadeiramente, és excepcional.

Ela se burlou.

—Não caio tão facilmente.

Antes que pudesse piscar, ele estava junto a ela. Seus olhos eram escuros enquanto olhava para baixo com uma fome que era avassaladora, quente e apavorante. Um esboço de sorriso jogava na borda de seus lábios.

—Não os dou como regra. Mas tu...— Inalou seu fôlego rapidamente enquanto o dava um olhar apreciativo. —Tu és o suficiente para voltar a um deus louco de desejo.

Ela se endureceu ante sua insinuação e sua subestimação de sua resolução.

—Aborrece-me.

Seu sorriso se derramou sobre seu rosto e instantaneamente se voltou encantador... como se isso pudesse disfarçar o fato de que era um chacal esperando por uma oportunidade de lançar-se contra sua garganta.

—Nunca desejaria fazer isso, amor. De fato tudo o que desejo é ver-te vir a ti mesma. Imagina um mundo onde tu só mandes. Um mundo que descanse a seus pés com serventes e cada desejo que terias seja totalmente completo.

Zephyra o viu claramente ante ela. Inclusive com seus olhos abertos, podia imaginar-se todas as coisas que ele descrevia. E o preço que teria que pagar?

Ele retirou uma parte de seu cabelo de seus ombros, seus dedos deslizando-se sobre seu pescoço enquanto se inclinava mais perto para inalar sua essência. Era estranho como falhava em despertar os calafrios que apareciam quando Stryker a tocava dessa maneira. Em seu lugar estava fria e cautelosa.

—Não há preço. Só quero assinalar que Stryker designou a ti e a sua filha como suas herdeiras. Se morrera, tudo isto seria teu em seu lugar.

Ela franziu o cenho ante suas insinuações.

—Pensa-o— disse seductoramente— um mundo sem servir a Artemisa. Milhares de guerreiros nas pontas de seus dedos que estão desejando morrer para seu prazer. Portais que podem se levar aonde seja na terra. Teria um poder considerável e tudo o que tem que fazer é completar a missão que Artemisa te deu... a missão que deve a ela. Matar a Stryker— ele sorriu enquanto seu tom se voltava profundo e rouco. —Sei que o quer, e profundamente, dentro de ti. Stryker te abandonou uma vez e sabe que se se desse a oportunidade, faria-o de novo.

Ela se esticou com a verdade e a dúvida que invadiu em sua mente.

Sabia que podia confiar em si mesma. Mas honestamente, poderia confiar nele?

—Os gallu batem em retirada.

Zephyra olhou para cima enquanto Stryker entrava na habitação, seus olhos brilhantes e suas bochechas rosadas. Recordavam a um menino que retornava de um emocionante passeio e estava orgulhoso de havê-lo completado.

Também lhe recordou ao moço que tinha caminhado e a deixado sozinha para valer-se por si mesma e sua filha. O moço que nenhuma só vez se preocupou pelo seu bem-estar.

—Mata a Stryker— As palavras de War soavam em seus ouvidos.

Era estranho o belamente fácil que tinha parecido esta tarefa quando Artemisa tinha a atribuído. Não era tão simples agora. Especialmente não quando ele se desabou na cama, ao seu lado, e toda a raiva que desejava sentir por ele desaparecia.

Ele era o sexo caminhando em duas pernas e essas pernas eram tão longas, penduravam da borda da cama pelo menos por vinte e cinco centímetros. Pior inclusive, a calça continha seu traseiro em uma forma que deveria ser obscena e a fazia desejar afundar seus dentes nele. Ou inclusive mais, envolvê-lo ao seu redor até que estivessem suarentos e esgotados.

Mata-o.

Ignorando a sua voz interna, olhou para ele.

— Então os derrotaram agora o que acontece?

Ele limpou um traço de sangue em sua bochecha e soltou um cansado suspiro. Seu cabelo estava empapado e suas bochechas manchadas pelo exercício de lutar. Faziam que seus olhos chapeados brilhassem ainda mais.

—É a aurora, assim que nos estamos retirando. Ao anoitecer estaremos de volta sobre seus traseiros, como Velcro—soltou outro suspiro profundo. —Kessar se retirou, o que teria arruinado minha noite se não tivesse vindo para casa para encontrar à mulher mais formosa do mundo descansando em minha cama. —Levantou sua mão para mordiscar a ponta de seus dedos. Os calafrios se derramaram sobre seu braço, sobre seu corpo, enquanto seus olhos a seduziam ainda mais. —Seria melhor se ela houvesse estado nua, mas cálida e convidativa de qualquer forma.

Ela olhou a forma em que saboreava seu toque enquanto esfregava sua barba cheia contra sua palma. O comichão a pôs instantaneamente quente e desejosa. Até agora não se precaveu que tão solitária tinha estado. Quanto desejava ser abraçada contra alguém.

Não, não contra qualquer um. Contra ele.

Um esboço de sorriso curvou seu lábio enquanto se aproximava dela para colocar um leve e suave beijo em seus lábios. Suas presas roçaram seu lábio inferior tão gentilmente. A marca de um verdadeiro predador. Quando se tinham casado, ele não tinha presas, não tinha necessidade de sangue...

       Eram só dois meninos apaixonados.

Stryker se moveu de seus lábios para seu pescoço, onde lentamente umedeceu sua pele, pondo-a úmida e necessitada.

—Fica comigo Phyra— sussurrou em seu ouvido.

—Não fui eu quem se foi.

Stryker a embalou em seus braços e saboreou a suavidade de seu corpo contra o seu enquanto a culpa o afogava. Tinha cometido tantos enganos em seu passado. Enganos que mantinham-no acordado muito depois do amanhecer quando deveria estar dormindo. Mas com ela aqui, sentia-se como se tivesse outra oportunidade de refazer algumas coisas que atormentavam sua consciência.

—Eu sei— Tratava de fazê-la esquecer o passado. Ganhar sua confiança de novo. Quando pensava em todos os anos que tinham estado separados nos quais poderiam ter estado juntos, matava-o. Por sua própria estupidez, perdeu-se tudo.

O primeiro passo de sua filha. Seu primeiro amor. Seu matrimônio e o nascimento e morte do neto que nunca conheceu. Devia ter estado aí para protegê-los.

Isso era o que tinha prometido.

Talvez esse era seu castigo por fazer um juramento ante os deuses que não havia mantido. Vê-las agora e as perder por toda a eternidade.

Mas tinha que ter esperança. Não podia só afastar-se sem tratar de salvar o que eles uma vez tinham compartilhado.

—Me diga o que preciso dizer ou fazer para ganhar seu perdão.

Seus olhos estavam tão atormentados como sua alma.

— Não sei, Stryker. O tempo me endureceu.

Ele bufou.

—A ti? Você não é a que matou a seu próprio filho por um simples ato— a coragem e a pena atravessavam sua consciência enquanto via o rosto de Urian em sua mente. Mas isso não era nada comparado com a culpa do que tinha feito. —Falas que os humanos mataram ao seu genro quando eu fui quem matou à esposa de Urian. Eu afastei de meu filho a quem mais amava no mundo. Que classe de bastardo sou?

Converteu-se em seu próprio pai e no que odiava mais no mundo. Se tão só pudesse retornar e desfazer também isso.

Zephyra afastou o cabelo de seus olhos.

—Por que?

Isso era tão complicado como o universo e ainda estava tratando de desembaraçar todas as razões pela qual isso tinha estimulado a voltar-se no mesmo monstro que se esforçou tanto em não converter-se.

—Ela era parte da linha bastarda Atlante. Os descendentes dos meus meios irmãos Apollitas. Por séculos os tinha estado caçando, matando-os em um esforço por matar a meu pai. Enquanto eles vivam, ele vive. O mesmo acordo com sua linhagem como o fez com o meu... é por isso que nossas vidas estão unidas, e a diferença de mim e meus descendentes, eles nunca se converteram em Daimons, então enquanto minha união com ele foi cortada, a sua nunca o seria. E depois do que tinha feito sobre ti, queria-o morto.

Afundou seus dentes enquanto uma rajada de emoções o alagava enquanto ansiava pelo sabor do sangue de seu pai sobre todas as coisas. —Tudo o que lembro de minha infância era a forma em que meu pai adorava a minhas irmãs, especialmente a mais velha, e quantas vezes disse que ela devia ter sido seu legado em lugar de mim. Não importa quão duro me tratasse, nunca fui o suficiente bom para ele. Em retrospectiva, não sei por que trato de lhe agradar, mas como não tinha mãe para que me amasse, esperava que ele talvez o fizesse. É por isso que Satara e eu fomos... bom, tão próximos como duas víboras poderiam ser. Porque sua mãe era humana e não Apollita, ela nunca foi o suficientemente boa para ele tampouco. Ela foi à única pessoa que ele tratou pior que a mim. —Era por isso pelo que odiava tanto a Apollimy. Ao final não tinha sido o suficientemente bom para ela mais do que foi para seu pai.

Ela ainda preferia a Acheron sobre ele apesar de que Acheron brigava contra seus desejos e protegia à mesma gente que ela desejava destruir. Enquanto isso, ele a servia fielmente.

Por só uma vez em sua existência, desejava ser o suficientemente bom para alguém. Ter uma pessoa que estivesse disposta a sacrificar-se por ele.

Mas isso não se supunha que acontecesse.

—Quando Urian se casou a minhas costas com uma delas e me inteirei, meu temperamento explodiu. Não vi as repercussões além de minha necessidade de golpear e machucar à única pessoa que devia ter protegido—negou com a cabeça— Sou um bastardo.

Ela não fez comentários sobre isso. Em seu lugar, tomou sua mão nas suas e lhe deu um agudo olhar.

—Por que não me disse isso quando nos casamos?

Ele baixou o olhar para suas mãos entrelaçadas e sentiu uma quebra de onda de força pelo fato de que não o estivesse empurrando desgostosa. Nunca tinha sido tão aberto com outra alma e se perguntava por que o estava fazendo neste momento.

Mas então soube. Ela era seu coração e estranhava de ter esse órgão vital.

—Estava envergonhado. Estava tão impressionada por minha linhagem que não queria que soubesse a verdade do que meu pai pensava de mim. Não queria que ninguém mais o soubesse. Queria pretender que era seu filho amado, que estava destinado a levar a cabo seus elevados planos.

Ele olhou ao longe, incapaz de suportar seu escrutínio enquanto despia a parte mais dolorosa de sua alma, era uma arma que nunca tinha posto nas mãos de outro ser.

—Sabes como era o mundo então. Eu era o único filho Apolita e meu pai estava acostumado a me dizer que minha irmã mais velha era mais homem do que eu. —Seu olhar queimava enquanto olhava fixamente ao chão ao recordar como seu pai o pôs num vestido uma vez. Logo que tinha posto um pé no templo de seu pai quando Apolo trocou suas roupas em uma piscada. Agora mostra a parte de sua verdadeira natureza. Talvez deveria te castrar também... se tão somente não necessitasse suas crias. Só posso esperar que seus filhos tenham mais testosterona que você. Aquelas palavras e a humilhação que sentia ainda estavam profundamente marcadas em sua alma. O escárnio de seu pai lhe havia doído tanto ao ponto de não ter nada para ninguém mais.

—Tens uma idéia do quão doloroso é aceitá-lo inclusive agora?

Seu olhar se suavizou enquanto tomava a mão de Stryker e a sustentava contra seu coração.

—É por isso pelo qual me amava? Porque pensava que não o podia fazer melhor?

Sua raiva se acendeu ante tal pergunta.

—Amei-te pela forma em que me fazia sentir cada vez que estávamos juntos. Como se te importasse. A seus olhos, eu era o homem que sempre esperei ser inclusive enquanto meu pai me dizia que a única coisa que seria era uma desilusão para ele. E não me senti dessa maneira desde a noite que caminhei pela porta e te abandonei. Disse que morreu essa noite. Eu morri cada noite após. Cada uma delas.

Suas unhas se encarregaram na pele de sua mão.

—Odeio-te, Stryker.

Honestamente, não esperava nada mais dela. Isso era tudo o que parecia obter de todos. Seu coração doía, afastou-se de seu lado.

Apanhou-o e o atraiu de novo até que esteve descansando em seus braços.

Surpreso, fixou seu olhar no seu.

—És tão estúpido agora como o foi então.

Seu temperamento se inflamou ante suas zangadas palavras, mas antes de lhe poder dizer que se fora ao caralho, ela atraiu sua cabeça e o beijou com uma paixão tão furiosa que fez que seus sentidos girassem.

Tomando sua cabeça em suas mãos, suspirou seu fôlego e sentiu como seus lábios eliminavam todas as más lembranças que o albergavam. Era incrível as mentiras que uma pessoa podia esconder. A vergonha que nunca quiseram que se expusera. Era muito mais fácil pretender que seu pai o tinha amado, que tinha sido uma distração que tinha feito que Apolo o amaldiçoara assim como o resto da raça Apolita.

Mas a violenta, verdade nua... era algo que Stryker nunca quis enfrentar. Seu pai não lhe tinha amado. E era doloroso. Furioso. Debilitante.

Fechou os olhos enquanto Zephyra sugava seu queixo e eliminava a dor de sua realidade. Dissolvendo suas roupas, girou-se até que ela esteve em cima dele. Era a única que tinha poder sobre ele. Pertencia-lhe e sabia. Gravou a si mesmo em sua alma faz onze mil anos esse dia no cais quando tinha fugido dele. E se tinha que morrer, queria fazê-lo sob sua mão. Pela mão de alguém quem pelo menos o havia amado por um tempo.

Levantando-se, tomou seu rosto entre suas mãos enquanto saboreava a visão de seu corpo nu sobre ele. Deslizou suas mãos de seu rosto para seus peitos. Exuberantes e cheios, também tinham rondado suas noites e o tinham deixado dolorido por sua perda e pelos momentos como estes.

—Quando vais conhecer-me, Stryker?— perguntou ela.

—Como?

Ela riscou as linhas de seus lábios com uma longa unha.

       —Quando estou zangada digo coisas que não quero. Quando te digo que vá, tudo o que quero é que fique. Queria te ferir da maneira em que me apaixonei de ti.

       —Disse-me que era inútil.

—Isso sim o quis dizer. Mas somente porque estava empacotando suas coisas para obedecer a seu pai e me deixar. Isso me fez sentir inútil também e por isso lhe golpeie tão forte.

E essas palavras o tinham arruinado. Sua fúria surgiu renovada.

—E você me fez sentir como meu pai o fez. Como se fora menos que um homem. Sua crítica sempre me tinha machucado, mas a tua me cortou até o osso. Deixou cicatrizes em mim que não sanaram.

Ela golpeou seu peito. Não dolorosamente, mas o suficientemente forte para fazer claro o ponto de que ela ainda estava zangada com ele.

—O que pensas então que me fez? Tens uma idéia de quantas vezes em minha vida me chamaram de puta? Antes de ir com a Artemisa, retornei ao meu pai. Tomou o dinheiro que me deixou e lançou às ruas. Disse-me que se não podia reter a meu marido deveria me abrir de pernas para outro que pudesse encontrar algum uso para mim.

Ele franziu o cenho e então lhe lançou um olhar feroz, desejando não saber nada disso.

—Poderia ter matado a seu pai se o houvesse sabido.

       —Mas não o fez e por isso te odiei inclusive mais. Soube em que tipo de inferno vivia antes de me casar contigo. Que meu pai era abusivo e violento. O que achas que ia fazer por minha conta em um mundo onde uma mulher nem sequer podia comprar algo a menos que um homem estivesse com ela?

Agarrou-a para baixo, sobre ele. Tão perto que podia sentir seu fôlego contra seu rosto.

—Tudo o que podia pensar era em que meu pai te matasse por minha culpa e me fazer viver sabendo o que te tinha feito e do que lhe forcei a fazer. Nunca me daria a paz da morte. E eu sabia que a única coisa que não era o suficientemente forte de suportar... era viver depois de te haver causado a morte.

       Zephyra queria perdoá-lo. Queria-o. Mas tinha sido ferida fortemente. Esses primeiros anos com Medea tinham sido tão difíceis e mesmo que Artemisa lhes tinha dado refúgio, ela não tinha sido amável com nenhuma delas.

       Ela tinha mudado muito desde a noite que a abandonou.

Mas ele também tinha mudado. Não era o mesmo menino pequeno que estava temeroso de pôr furioso a seu pai. O fato de que se ofendesse e matasse à linhagem de seu pai o provava.

Mata-o.

Isso foi o que War queria que fizesse. O que Artemisa queria.

Mas e o que aconteceria com os seus desejos?

       Seus olhos chapeados queimaram nos seus enquanto a atormentada dor neles alcançava-lhe profundamente em seu coração.

—Me perdoe, Zephyra, e te juro que não pelos deuses e sim em minha honra e alma que não te decepcionarei de novo. Me deixe fazer o que devia ter feito faz séculos.

—O que seria?

—Te dar meu coração, minha lealdade e meu serviço. Ninguém nos dividirá de novo. Juro-o sobre tudo o que sou.

Zephyra deslizou suas unhas ligeiramente sobre seu peito.

—A única coisa que nos dividiu alguma vez foi você.

—E sua irritante teimosia, deixei-te, mas me feriu tão profundamente enquanto dirigia-me à porta. Brutalizaste minha dignidade e minha masculinidade. E se não me houvesse atacado, poderia haver enfrentado a meu pai. Mas era difícil pensar permanecer contigo quando me havia dito as mesmas coisas que ele me disse.

Ela franziu o cenho enquanto tratava de recordar sua briga. Suas palavras ainda ressonavam em sua mente, mas as suas... essas estavam difusas ou perdidas.

—Que disse?

Seus gestos mostraram surpresa.

—Não o recordas?

—Não realmente.

Stryker se levantou e colocou seus dedos contra suas têmporas. Com seus poderes de deus recriou essa noite para ela. Era algo que nunca tinha feito. Preferia recordá-la sustentando-o em seus braços. Mas era tempo de que recordasse exatamente o que o havia feito.

Seu pai e ele estavam sozinhos na cabana que Stryker tinha chamado lar com Zephyra.

Com quase quinze anos de idade, era alto e desajeitado. Não cômodo com seu corpo, era torpe. Apolo o tinha puxado pelo cabelo, seu rosto contorsido pela raiva.

—Realmente pensas que toleraria que você e essa puta procriassem? Fará o que lhe foi dito, menino, ou cairá a raiva dos deuses de uma maneira que farão que todos os castigos passados pareçam como o paraíso.

Ele tratou de lutar, mas seus poderes não eram nada em comparação com os de seu pai.

—Ela é o que sempre quis, pai. Por favor, não me peça para fazer isto.

Apolo tinha pego violentamente seu cabelo antes de soltá-lo.

—Não te estou perguntando nada. Estou te dizendo, se não te fores daqui antes do amanhecer, violarei-a e a golpearei até que quase não possa reconhecê-la.

Stryker se tinha mostrado horrorizado pela ameaça.

—Ela leva a seu neto.

Apolo o tinha tomado pela garganta e golpeado contra a parede.

—Testa-me de novo, menino e te farei mulher e te porei para servir no templo de Artemisa assim como Satara e o resto de suas pastosas serventes. —Jogou Stryker até a parede oposta. —Virei ao amanhecer e se estiver ainda aqui, a verás brutalizada até morrer.

As lágrimas tinham enchido seus olhos enquanto olhava a seu pai, seu coração rompendo-se.

—Por que me faz isto?

—És meu legado. Através de ti, superarei a Zeus e mandarei sobre seu podre mundo. É tempo de que cresça e seja o homem que se supõe que és. Me decepcione nisto e com ajuda, converterei-te em uma mulher e poderá compartilhar o destino de sua pequena esposa se me desobedecer de novo.

Apolo desapareceu.

Stryker se deslizou até o piso enquanto olhava ao seu redor na habitação onde, pelo mais pequeno momento, tinha sido verdadeiramente feliz. Tinha sido o único tempo de sua vida no qual se havia sentido amado ou desejado. Não como o destino de alguém mais, mas por si mesmo.

Soluçou como nunca o tinha feito antes. Sabia que não tinha outra opção além de obedecer. Como podia alguém competir contra um deus? Apolo não se negaria, e teria bastante prazer em fazê-lo sofrer por desafiá-lo.

—Não deixarei que te firam, Phyra —murmurou Stryker enquanto forçava a si mesmo a parar-se. Seu coração rompendo-se enquanto reunia alguns objetos. A fita de seda verde que tinha usado em seu casamento. O azulejo dela em seu vestido de casamento e um pequeno frasco de seu perfume. Parou-se ante o toucador onde ela se sentava cada noite e manhã, preparando a si mesma para a cama e para o dia.

Tudo o que queria era colocar sua cabeça sobre seu regaço e fazer que passasse seus dedos através de seu cabelo e que lhe dissesse que tudo estaria bem. Que estaria a salvo.

Mas não estava destinado a ser.

Esta noite ele a arruinaria e sabia.

Querendo morrer, colocou seus objetos em uma pequena bolsa que amarrou a seu cinturão. Deveria ir antes que ela retorne.

Não, não podia fazer isso. Apesar do que pensasse seu pai, não era um covarde. Não podia ir sem lhe dar alguma explicação. Deixá-la para que se perguntasse por que não tinha chegado a sua casa ou aonde teria ido. Que pensasse que estava morto ou pior, esperar por sua volta enquanto sabia que ela não o veria de novo. Merecia escutar a verdade dele.

Soltando um suspiro entrecortado, sentou-se e esperou por sua volta.

Ao momento em que o fez, ela o deixou sem fôlego. Frágil e pequena, era mais formosa inclusive que Afrodita. Seus verdes olhos tinham brilhado na débil luz enquanto movia-se para acender mais abajures.

Seu sorriso brilhou, e fez que instantaneamente se entristecesse ante o conhecimento de que nunca voltaria a ver algo tão espetacular.

—Por que estas sentado aqui na escuridão?

Ele clareou sua garganta, mas o duro vulto de seu estômago se apertou mais.

—Tenho algo que preciso falar contigo.

Ela colocou seus pacotes na mesa.

—Assim como eu. Eu...

—Não, por favor, me deixe falar.

Franzindo o cenho, ela se congelou em seu lugar.

—Eu não gosto de seu tom, Strykerius.

Nunca lhe tinha gostado de escutar severidade em sua voz. Era por isso pelo qual tratava tão duramente de mostrar esse lado dele.

—Eu sei, mas o que te tenho que dizer não pode esperar.

Ela se indignou ao estar a seu lado e suavizar o cenho de seu rosto com seus delicados dedos.

—Pareces tão sério…

Sua língua se sentia tão seca em sua boca que tinha medo de afogar-se com ela. Tudo o que queria era tomá-la em seus braços e sustentá-la para sempre.

Em seu lugar estava a ponto de quebrar ambos os corações.

Tem que fazê-lo. Uma imagem dela sendo atacada o atravessou com tanta ferocidade que o fez estremecer-se. Não tinha dúvida que seu pai poderia levar a cabo essa ameaça.

Tomando uma profunda inalação de coragem, ele se forçou a si mesmo a dizer.

       —Vou embora.

—Está bem, akribos. Quando retornarás?

Colocou suas mãos em seus ombros para acalmar-se a si mesmo.

—Não voltarei. Nunca.

A luz se foi de seus olhos e o golpeou como um punho em sua garganta.

—O que?

—Meu pai tem um casamento planejado para mim amanhã. Se não for e me divorcio de ti esta noite, matará a ti e ao bebê também.

A raiva tinha transformado seus formosos rasgos na máscara de uma Gorgona.

—O que! — rugiu ela. Afastou-o longe dela.

Ele adiantou-se para alcançá-la.

—Sinto muito, Phyra. Não tenho opção.

Ela golpeou sua mão para afastar-se.

—Sim, as tens. Todos temos opções.

—Não, nós não. Não estarei aqui para ver-te morrer.

Ela fez uma careta de desprezo enquanto lhe mostrava uma repugnante curva de seu lábio.

—És um covarde inútil.

Isso acendeu sua própria coragem.

—Não, não o sou.

Ela o esbofeteou no rosto.

—Está bem. Ser um covarde seria um progresso para ti.

Stryker teve que deter-se aí, sua bochecha ferroava enquanto se dirigia contra ele.

Não podia realmente escutar todos os seus insultos. Só as palavras “patético” “inútil” e

“covarde” soaram em seus ouvidos uma e outra vez.

—Estou fazendo isto para proteger a ti e ao bebê. Assegurarei-me de que ambos estejam a salvo.

—Não há bebê— lhe soltou. —Abortei.

Ele ficou estupefato.

—Quando?

—Esta manhã.

—Por que não me havia dito?

—Acabo-o de fazer, não se preocupe por isso. Não há bebê que necessite de um covarde como pai.

—Não sou um covarde!

Ela o golpeou de novo.

—Saia da minha vista, você, patética desculpa de homem. Não te quero aqui. Deuses, não posso acreditar que fui o suficientemente estúpida para permitir que estivesse em minha cama. O suficientemente estúpida para confiar em ti.

—Amo-te, Phyra.

Ela tomou uma tigela da mesa e a voou sobre sua cabeça.

       —Mentiroso! Dá-me asco! — Literalmente tinha golpeado a porta e dado uma portada na cara. Mas não antes de lhe lançar o anel de bodas à cara.

Stryker tinha permanecido ao outro lado enquanto a escutava romper e lançar coisas dentro. Colocou sua mão contra a parede, desejando desesperadamente abrir a porta. Mas para que incomodar-se? Agora o odiava.

Mas nem sequer tanto como ele odiava a si mesmo.

—Pelo menos estará a salvo— lhe deixou suficiente dinheiro. — E se me odeias pelo menos não sentirá saudades— Deixou que suas lágrimas caíssem enquanto descansava sua cabeça contra a porta e tratava de agarrar a maçaneta, desesperado por abri-la e retornar a ela.

Se tão somente pudesse…

Tomou o ladrilho de sua bolsa e olhou seu rosto antes de lhe dar um último beijo, então se girou e se retirou.

Zephyra suspirou enquanto Stryker liberava sua mente e a deixava com a última imagem dele agarrando o ladrilho em sua mão e afastando-se de sua casinha.

Ela agudizou seu olhar.

       —Seu pai ia fazer que me violassem?

       —É o que disse. Não tinha razões para pensar que estava brincando.

Sua fúria se desvaneceu sob uma quebra de onda de assombro.

—Estava me protegendo

—É o que estive tratando de te dizer. Por que outra razão te teria deixado quando foste tudo pelo qual eu vivia?

Furiosa ante o mundo, lhe golpeou seu flanco.

—Ow— gritou ele. —E isso porque foi?

—Por ser um idiota. Volte a guardar um segredo dessa maneira ante mim e te juro que te estriparei.

—Tinha quatorze anos— disse defensivamente— pensei que se te dizia que meu pai tinha te ameaçado estarias aterrorizada.

       Tinha razão. Especialmente dado o fato de que tinha sido atacada ante ele. Isso era pelo qual o tinha amado tanto. Tinha a mantido a salvo, e era por isso que o odiava, por abandoná-la. Por medo de estar sozinha, de não ser capaz de proteger a si mesma ou a Medea...

Era por isso que se havia unido aos gallu. Desejava a força para proteger a sua filha. Para assegurar-se de que nenhum homem se forçasse a si mesmo nela.

Ainda zangada, golpeou seu peito.

—Poderia te golpear, insensato.

Um lado de sua boca se elevou.

—Disse-te que se sentisse livre de fazê-lo sempre e quando o fizesse nua. Como agora, estou a sua mercê.

As bochechas de Zephyra se coloriram enquanto se dava conta de que ela estava escarranchada sobre ele. Como o tinha esquecido?

Seu olhar se obscureceu. Tomou seu corpo inteiro nu. Ele estava rasgado e formoso. Perfeição absoluta.

E tinha proclamado a si mesmo a sua mercê. Recostando-se para frente, ela suspirou em seu ouvido.

—És incorrigível.

Stryker inalou agudamente enquanto lambia o lóbulo de sua orelha, mandando calafrios sobre ele. Suas ações eram tão tenras e amorosas enquanto continuava insultando-o. Não podia evitar rir.

—Me encontras graciosa?

—Te encontro encantadora.— moveu-se para sugar seu peito— Maravilhosa e deliciosa.

Ela inspirou rapidamente.

—És um homem doente por amar a uma mulher que te odeia.

—Sim o sou, e não desejo cura.

Ela negou com a cabeça ante seu tom brincalhão.

—O que vou fazer contigo?

—Só segure-me. Me deixe te amar da forma que o devia ter feito todo o tempo.

Gemeu enquanto ele dirigia a si mesmo profundamente dentro de seu corpo com um grande e duro impulso. Deuses, que bem se sentia. Em seus braços era difícil recordar por que se supunha que o odiara.

       Talvez porque realmente não o odiasse depois de tudo. Como ele havia dito, eram almas gêmeas. Companheiros. Sem ele, estava incompleta, e agora que o tinha de novo...

Era bonito.

E enquanto lentamente o fazia amor, precaveu-se que estava parada no mesmo caminho intrincado onde tinha estado na noite em que seu pai lhe tinha demandado que a abandonasse.

Sabia aonde os guiava esse caminho, era a desolada solidão que tinha sofrido no passado.

O outro caminho era inclusive mais apavorante. Para seguir esse curso tinha que confiar nele de novo. E tinha que lhe permitir entrar de volta no lugar onde poderia machucá-la.

Atreveria-se?

Olhando para baixo onde ele tomava sua mão nas suas e descansava sua palma sobre sua bochecha, soube a resposta.

Não queria viver sem ele.

Seu coração pulsando, afiançou-se contra ele e girou até que ele esteve sobre ela.

Stryker franziu o cenho enquanto sentia a mudança nela. Uma suavidade em seu toque enquanto arrastava suas unhas sob suas costas. Essa gentileza combinada com a visão dela abaixo de si fosse suficiente para pô-lo ao limite. Tinha que lutar para restringir-se e esperar por ela.

Mas quando chegou ao orgasmo, ela gritou seu nome, nesse instante ele soube que mataria ou morreria por essa mulher. Ela por si só mantinha esse poder sobre ele. Unindo-se em sua liberação o grunhiu em satisfação enquanto seu corpo se convulsionava.

       Paralisando contra ela, sustentou-a fortemente.

—Amo-te, Phyra.— Murmurou em seu ouvido.

Então no mais baixo dos tons, escutou as palavras que mais lhe importavam.

—Eu também te amo.

Menyara se deteve enquanto sentia o poder máximo atrás dela. Rasgou o ar e fez com que o cabelo de sua nuca se arrepiasse.

—Por que estas rondando, Jared?

Ele materializou-se ante ela.

       —Não estou rondando.

—O que digas menino. O que digas.

Dando um passo atrás, aguçou seu olhar ante ela.

—Por que estas protegendo ao Malachai?

Ela ignorou sua pergunta. Não havia necessidade de ir aí com ele, não quando ela sabia o que realmente passava em sua mente.

—Sei a pena que está dentro de ti e sei que é por isso pelo que fez, o que fez. Mas diferente do que pensas, a morte do Malachai não te dará descanso. Não se levará a tortura ou a culpa que pesa em sua consciência.

Curvou seu lábio ante ela.

—Pare com a tolice do molho. Não sou um de seus discípulos neófitos treinando-se para a guerra. Sou um veterano do apocalipse. Estive em ambos lados do inferno e estou farto desta tolice. Quero sua vida e não o negarei. Certamente para a Fonte ganhei algum tipo de respeito depois de tantos séculos de abuso.

Ela negou com a cabeça.

—A fonte não se apaziguou inclusive agora. A única forma de ter ao Malachai é através de mim.

Jared convocou seus poderes em um tufão ao seu redor. A força deles giraram, levantando seu cabelo a seu redor fazendo que suas asas se estendessem amplamente e seus olhos brilhassem em um brilhante dourado.

—Então terei sua vida.

Menyara juntou suas mãos para captar a rajada que lhe enviou através dela e retorná-la com uma de sua parte.

—Você não é um Chthonian e não estou disposta a te deixar ter a ele.

Ela escutou uma aguda risada atrás dela.

—Podes destrui-la, Sephiroth. Mas eu não tenho tais restrições.

Girando-se, ela olhou a War lhe sorrir.

—O que estás fazendo aqui?

—Fazendo um trato com o diabo.

Menyara começou a abandonar, mas antes de poder fazê-lo, um grande estalo fez eco em seus ouvidos um instante antes que tudo ficasse negro.

 

                                           CAPÍTULO 11

Stryker jazia na cama com Zephyra nos braços, escutando-a roncar brandamente. Sorrindo para si, delineou os rasgos com os dedos. Era tão formosa. Delicada. Tinha sentido tanto sua falta. E era tão bom abraçá-la outra vez. Não havia nada na vida que apreciasse tanto como estas tranqüilas horas a sós.

       Estava começando a ficar dormido quando um golpe na porta o sobressaltou.

—Entra.

Davyn entrou com um olhar nos olhos que lhe disse que algo ia muito mal.

—O que foi?

Davyn tragou.

—Estávamos perseguindo os gallu e… —Se estremeceu e desviou o olhar, como se temesse continuar.

—E o que? —Grunhiu apertando os dentes.

O daimon tragou com força.

—Chegou War com reforços.

E uma merda. Por que estava tão assustado por algo assim? Era de esperar. Estaria surpreso se tivesse tido que lutar sozinho.

—Podemos…

—Capturaram a Medea.

Zephyra se sentou de repente na cama, completamente alerta enquanto uma quebra de onda de raiva lhe percorria.

—O que têm feito o que?

—Levaram a Medea —repetiu com voz oca. Enfrentou o olhar de Stryker e a vergonha que revelava, teria-lhe comovido se não tivesse estado tão furioso. —War quer que te renda ou a matará.

As maldições de Stryker igualavam as de Zephyra.

—Reúne aos homens —ordenou.

Zephyra lhe agarrou pelo braço quando saía da cama.

—Não podemos lutar com ele. A matará.

Davyn assentiu.

—Tem razão. War foi muito claro. Quer que vá sozinho ou sua vida estará perdida.

Chiou os dentes odiando-se por pôr a sua própria filha em perigo. Encontrou o olhar de Zephyra e viu o medo atrás da ira.

—Comecei isto e o terminarei. Juro pelos deuses que não deixarei que lhe faça mal.

—Mais vale que voltem os dois. Eu não gosto dos funerais —o tom era um

sussurro tranqüilo na escuridão.

Aproximou-a e lhe beijou a testa. Nenhuma palavra tinha significado mais para ele.

—Não se preocupe. Enterrei a idiotas maiores que este e pretendo dançar sobre a tumba do safado.

Nick inclinou a cabeça sentindo uma sensação estranha revoando sobre a pele. Como delicadas asas de mariposa dançando. Girou com rapidez e se encontrou com uma mulher atrás de si. Miúda e ligeira, tinha tal poder que lhe indicou que podia ser tão letal como formosa.

—Quem és?

Um malévolo sorriso dançava na comissura dos lábios.

—Me chame de Ker. War me enviou para te dizer que tem à deusa Menyara. Se quer que lhe devolva isso, irá desarmado e só ao cemitério de Saint Louis a meia-noite.

Ele burlou-se dela.

—Isso é um clichê, não?

—A verdade é que não —disse e se desvaneceu.

Ele sentou-se lentamente olhando como mudava a pele do braço ao agora familiar desenho vermelho e negro. Agora era mais forte do que tinha sido alguma vez. Seu poder era absoluto… se soubesse como controlá-lo. Mas o problema era que a força vinha seguida de uma grande debilidade. Podia senti-lo, mas não utilizá-lo realmente.

Com o coração pesado, passou a vista pela sala da pequena casa que Menyara tinha chamado de lar nos tempos de sua infância. Desenhos e estátuas de deuses e deusas antigos estavam espalhados por todos lados e agora podia ver as escrituras de proteção nas paredes que antes tinham sido invisíveis aos seus olhos humanos. Aqui era onde lhe mantinha a salvo... Como menino e como o monstro em que converteu-se.

O barracão não era adequado para uma deusa e ainda assim tinha sido a morada escolhida.

E aqui tinha sido onde lhe tinha criado junto a sua mãe.

Encolhendo-se de dor, viu na cabeça o corpo sem vida de sua mãe. Sentiu sua carne fria enquanto tentava revivê-la. O sangue lhe tinha empapado, enquanto seu mundo estalava em pedaços em um instante. Não sabia se alguma vez voltaria a ser o mesmo. A raiva. A dor. A traição. Tudo era recente. Ainda doía.

—Sinto falta de ti, mamãe —sussurrou enquanto a agonia lhe percorria. Havia morrido por sua culpa e de ninguém mais. Sabia. Só que não queria confrontá-lo.

E agora a vida de Menyara estava em suas mãos.

Podia tragar o orgulho e salvá-la ou tomar as cartas no assunto e vê-la morrer…

Só ele podia tomar a decisão.

Ash estava na varanda de Savitar, sobre o grande salão. Escondido nas sombras, olhava a Tory, Danger e Simi rindo enquanto comiam sorvete. Surpreendentes emoções lhe percorriam. Mas a única coisa que podia pôr nome era à sensação de calidez que tinha cada vez que as via. A sensação de família.

Nunca na vida teria pensado que teria esta sensação de paz e felicidade. Conhecer o tato de uma mulher que lhe amasse de verdade. Um tato que tinha a certeza que não se voltaria doloroso ou brutal. Verdadeiramente, era um milagre.

Tory olhou para cima como se lhe sentisse e sorriu de tal maneira que sentiu como se lhe golpeasse com um martelo. Avançou um passo e se congelou ao sentir uma presença que nunca tivesse esperado.

Nick.

Não se moveu ao senti-lo a suas costas e esperou a que lhe atacasse.

Não o fez. Em vez disso, exalou um profundo suspiro antes de dizer com tom baixo e letal.

—Confiava em ti, safado, e me abandonou.

—Eu sei —disse brandamente apertando o corrimão com força. —Deveria te haver falado de Simi e não o fiz. Mas sabia como te dirigia o olhar com as mulheres.

—Jamais a haveria tocado se houvesse sabido que era sua filha.

Ele voltou-se para lhe encarar.

—Ambos a fodemos. Tentávamos nos proteger da dor e, fazendo-o, jogamos a perder tudo o que queríamos proteger. Deveria ter acreditado mais em ti, mas meu passado não me permitia me abrir dessa maneira —deixou escapar um suspiro cansado. —Assim, está aqui para lutar comigo?

Os olhos cintilaram com um brilho vermelho nas sombras.

—Me acredite, nada me produziria mais prazer que te matar. Mas necessito de um favor e não tenho a ninguém mais a quem pedí-lo.

       Arqueou uma sobrancelha. Sabia que estava tragando um amargo remédio e a última coisa que queria era fazer que se sentisse pior.

—O que aconteceu?

—War tem a Menyara. Preciso saber qual é seu ponto débil para poder ajudá-la.

Ash sacudiu a cabeça.

—Podes?

—Sozinho, não.

Nick deu um passo aproximando-se.

—Então me diga o que tenho que fazer.

—Ash!

Retrocedeu e olhou para baixo onde Tory estava lhe chamando. Se pensava que Nick tinha sido uma surpresa não era nada comparado com o que lhe esperava abaixo. Teve que piscar um par de vezes para assegurar-se de que não estava alucinando.

—Boceta. Hoje Lúcifer deve estar sentado sobre o gelo —se voltou para olhar a Nick—. Fique aqui um momento.

—Ash…

—Me acredite. Fique escondido e voltarei em seguida —se materializou ao salão de baixo onde Stryker estava em pé junto a Tory ao lado da mesa.

O Daimon não parecia nada feliz de estar ali, mas isso ficava opacado ante os sentimentos de Ash, especialmente porque o Daimon estava virtualmente em cima das seis pessoas mais importantes no mundo para ele. Entrecerrou os olhos.

—O que fazes aqui?

—Manda-me Savitar para falar contigo.

Arqueou uma sobrancelha embora sabia que não mentia. Não havia outra forma de que houvesse podido chegar ali por bem.

—O que acontece?

As feições de Stryker ficaram completamente em branco.

—War tem a minha filha —lhe quebrou a voz e isso fez que se desse conta de que o tipo não era tão ambivalente como queria aparentar.

Moveu a cabeça.

—Parece que isso acontece muito freqüentemente ultimamente.

—Tem a Kat?

       Riu ante a idéia de War tentado conseguir uma estupidez digna de prêmio como essa com sua filha… e então, com esse pensamento, deu-se conta de quão simples era a solução para seu problema. Kat. Tinham uma arma que War não veria ver e quando quisesse dar-se conta, estaria derrotado e completamente sob controle.

Insensibilizando a expressão, cruzou os braços sobre o peito e, encontrando o olhar de Tory, deu-lhe uma piscada. Ela, Simi e Danger estavam completamente serenas e em silêncio como se estivessem esperando ver se atacavam a Stryker ou lhe deixavam em paz.

—Presumo que estás aqui para pedir um favor.

—Nunca peço nada. Estou aqui para te propor uma trégua, simplesmente —Ash se burlou. —Uma trégua para lutar com tudo o que desataste em um intento de me matar?

Stryker deu de ombros despreocupadamente.

—Para que enrolar?

—É verdade. Depois de tudo temos rixas bastante maiores que isso entre nós.

Os olhos do Stryker se voltaram escuros e sua expressão mortal.

—Te negas então?

—Não. Devemos parar a War e todos seremos necessários.

—Quais somos todos?

Antes que pudesse responder, Nick apareceu ante eles.

Curvando os lábios, Stryker avançou para ele para lhe atacar.

Ash obrigou a Stryker a retroceder e se interpôs entre eles.

—Pense em sua filha. Se o matas, estamos fodidos e sua filha morta.

Ele amaldiçoou.

—Certo. Mas uma vez que derrotemos a War, irei atrás de ambos outra vez.

—A mim está certo. Por aqueles aos que amo, por hoje somos aliados. Amanhã voltaremos para a ordem natural de inimigos mortais. Cavalheiros, e utilizo o termo falando em termos gerais para todos nós, estamos de acordo?

Nick cobriu a mão com a sua.

—Por mim, está bem.

Stryker duvidou.

—Pela Medea —e pôs a mão sobre as deles.

Tory riu de forma suave.

—Que aliança peculiar. Bom, e agora o que fazemos?

Ash não duvidou ao lhe responder.

—Você fica aqui.

Ela grunhiu-lhe.

—Acheron…

—Não há mas que valha Sota. Juro-te que estarei bem.

—Já tivemos esta discussão machista antes e normalmente perdes.

Era verdade, custava-lhe muito lhe dizer que não, mas além disso, era o bastante razoável e por isso a amava.

—Já sei que é perfeitamente capaz de lhe arrumar isso sozinha. Os deuses sabem que não sou o suficientemente forte para te contradizer muito tempo, mas nisto necessito da cabeça fria o que significa que necessito que estejas afastada do perigo.

—Certo. Mas se a coisa ficar feia, ali estarei.

—A coisa não vai se pôr feia.

Olhou a Nick e logo a Stryker antes de voltar a lhe olhar.

—És um otimista. Meu sentido aracnídeo está me fazendo cócegas por toda parte.

Ela inclinou-se e lhe beijou a testa.

—Isso é pelo sorvete. Te relaxe.

Danger bufou.

—Relaxe. Acredite em mim. Tudo vai ficar bem. Não foi assim como acabei morta?

Encolheu-se ante a lembrança.

—Deixa de alimentar sua ansiedade.

Simi se meteu na conversação.

—Ansiedade. A Simi nunca há comido isso —olhou a Danger. —Está bom?

—A verdade é que não.

—Então deveríamos lhe pôr molho de churrasco. Tudo sai melhor com molho de churrasco.

Ash meneou a cabeça.

—Pois vamos planejar nossa estratégia.

Tory ficou a seu lado.

—Isso posso fazê-lo.

E claro que podia. Agarrando sua mão, conduziu-os ao escritório de Savitar onde poderiam preparar o ataque e compartilhar o que cada um sabia de War e suas debilidades.

Ker fez um sonzinho com a boca ao olhar aos homens e a mulher reunidos numa sala com painéis onde se sentavam planejando o desaparecimento de War.

—Que curioso. Os ratos se unem em um esforço para nos derrotar.

War riu de Ker.

—Não esperava menos. Mas nos subestimam. Amanhã estarão todos mortos e com o sangue do Malachai, seremos capazes de reviver a nossos irmãos. Enquanto a humanidade se prepara para o Natal, nós vamos celebrar um festim com suas almas. A meia-noite, o véu entre os mundos é frágil e Nick abrirá uma nova era. Deixemos que comece o banho de sangue.

Ker sorriu brilhantemente.

—Nem posso esperar.

Ash revisou as lâminas das botas para assegurar-se que funcionavam. Voltou a cabeça ao notar que alguém entrava na habitação. Era Urian.

—Vais ajudar a meu pai? —as palavras eram mais acusação que pergunta.

Assegurou-se que a voz não tivesse emoção alguma.

—Devemos deter o War.

—Stryker matou a minha esposa —grunhiu.

—Eu sei.

Sacudiu a cabeça enquanto os olhos flamejavam de fúria.

—Como pode ajudar a alguém como ele?

Tinha o bastante de acusações e auto compaixão. Havia muito mais em jogo que meras traições passadas e sentimentos feridos.

—Ajudou-lhe durante séculos. Tenho que te recordar quantas vidas tomaste por ordem dele? Vidas com as quais estava aparentado. Você matou à mãe e à irmã de Phoebe.

Ele se estremeceu ante a verdade.

—Eu amava a minha mulher. Nunca quis lhe fazer mal.

Isso não mudava o fato de que o fez. Repetidas vezes. Tinha-lhe arrebatado a sua mulher as pessoas que amava mais que tudo. Era uma hipocrisia manter contra seu pai a mesma conduta. Durante muitos séculos, Urian e seus irmãos haviam sido umas ferramentas que Stryker tinha usado mais que efetivamente.

Mas os tempos mudam.

E já era hora de que soubesse de Medea.

—A propósito, tens uma irmã.

Urian se esticou.

—O que?

Enfrentou o olhar e manteve a expressão totalmente estóica.

—É a vida de sua irmã a que vamos proteger. Não a de seu pai.

Ele negou com a cabeça.

—Minha irmã morreu faz onze mil anos.

—Medea é sua meia irmã.

Isto apagou a incredulidade do rosto e devolveu a fúria aos olhos frios.

—E por que deveria me preocupar?

Levantou as mãos em sinal de rendição.

—Tens razão. Não deveria preocupar-te absolutamente. Não significa nada para ti e por isso não te convidei a te unir a nós —passou ante ele para sair.

Deteve-lhe lhe agarrando pelo braço. Tinha os olhos duros e cortantes. Acusavam-lhe inclusive mais que as palavras.

—Como se sentiria se meu pai tivesse matado a Tory?

Ash respondeu com a verdade e sem dúvida.

—Como se não tivesse alma. Perdido e doído, incapaz de me repor desse golpe.

Urian desviou o olhar.

—Então me compreende. E entende por que lhe quero morto.

Tirou-se de cima a mão do homem.

—Ele também sabe. Mas pensaste alguma vez que talvez se arrependa do que te fez?

—Meu pai? Desce da nuvem. O safado não se arrependeu de nada em toda a vida.

Ainda sendo tão corrupto como era Stryker, não podia acreditar.

—Todos nos arrependemos. Nenhuma alma vivente é imune a esse desagradável sentimento.

—E o que? Quer que nos beijemos e o esqueçamos?

—Mas bem não. Mas quero que te afaste da dor e da raiva e veja claro um momento. Isto já não se trata só de ti e seu pai, e menos ainda de mim e Nick nos odiando por algo que não podemos mudar. É sobre tratar de salvar a vida de milhões de pessoas inocentes. Gente como Phoebe que não merecia ser perseguida e assassinada. Se posso me pôr do lado de meus inimigos por um bem maior, você também pode.

Urian se burlou.

—Bom, pois parece que não sou tão especial como você.

—Ninguém conhece sua verdadeira têmpera até que o põem a prova. Esta é a tua. Se a superar ou a perder depende inteiramente de ti. Não posso te dizer o que deve fazer, mas sei onde estarei esta noite… —Duvidou antes de lhe fazer a pergunta mais importante. —Assim, o que escolhe?

—Morte sangrenta.

Sacudiu a cabeça.

—Safado cabeçudo. Toma-o como um conselho de alguém que sabe de primeira mão que há muito que dizer para perdoar. O rancor poucas vezes fere alguém que não seja o que o alberga.

—E há muito que dizer sobre pôr ao inimigo patas acima e lhe abrir o crânio.

Ash notou que um tic começava a lhe pulsar na mandíbula obstinada por natureza do homem.

—Há uma razão para tudo e esta noite, a nossa é nos manter juntos ou perder a tudo. Não luto por Stryker ou para salvar a sua irmã. Luto para proteger aos que amo. Aos que mais sofreriam se não determos a War… meninos como Eric e…

—Já o pego —saltou ante a menção de seu sobrinho.

—De verdade?

O olhar de Urian se endureceu.

—Ali estarei. Mas uma vez que vençamos a nossos inimigos…

—Lutaremos entre nós outra vez. Entendido.

       Ele assentiu. Deu um passo atrás e se deteve, para aproximar-se novamente.

—Quero a verdade sobre algo. De verdade podes lutar junto a alguém que te há feito tanto dano como meu pai me fez?

Manteve o olhar sem piscar.

—Submeti a uma deusa que me drogou até o ponto de não poder proteger a minha irmã e meu sobrinho na noite em que foram brutalmente assassinados e eram as duas únicas pessoas que me importavam em todo o universo. Nesse mesmo dia um pouco mais tarde, ela afastou-se e deixou que seu irmão me estripasse no chão como a um animal e inclusive às poucas horas vendi a ela para proteger à humanidade. Pelos Dark Hunters submeti a seus cruéis caprichos durante onze mil anos. Assim, sim, acredito que poderia suportá-lo durante uma hora para proteger ao resto do mundo.

       Urian soltou um suspiro devagar.

—Sabe que é o único homem vivo ao qual segui depois do que hei sofrido? Também é o único ao qual respeito.

—E você é um dos extremamente poucos nos quais confio.

Estendeu-lhe a mão.

—Irmãos?

—Irmãos até o fim —disse Ash lhe agarrando a mão e apertando forte. —E agora, antes que sigamos com estas bichadas e nos ponhamos a chorar, mova o traseiro escada acima e te prepare para o que vier.

Stryker retrocedeu um passo enquanto ajustava as munhequeiras do braço esquerdo. Não utilizava muito freqüentemente a armadura reforçada de titânio, mas, posto que iam enfrentar-se aos deuses, queria estar preparado.

Saiu do quarto e encontrou Zephyra no escritório olhando a sfora, tentando localizar Medea. Não o conseguia. Onde quer que estivesse retendo-a War, estava fora dos limites.

—Trarei-a de volta. Juro-o.

Ela levantou-se lentamente mantendo seu olhar cativo.

—Desejaria que reconsiderasse minha oferta.

—Não lutaria com a cabeça fria e sabes disso. Não sabemos onde vamos nos meter, mas estou seguro de que War não vai lutar limpo. Como Acheron disse a sua mulher, não posso lutar se tiver a atenção parcialmente posta em ti. E necessito de cada vantagem que possamos ter.

Zephyra assentiu compreendendo. Aproximou-se e lhe retirou dos olhos uma mecha de

cabelo negro como o carvão. O medo lhe apertava o peito, não só por Medea, e sim também por ele. Que injusto seria lhe perder quando acabava de lhe reencontrar!

—Poderei vê-los na sfora?

—Deverias.

—Então esteja certo que estarei rindo de sua inépcia cada vez que os inimigos lhe golpeiem e se não conseguir voltar com minha filha, utilizarei como decoração teu coração e tua cabeça.

Stryker entrecerrou os olhos e lhe haveria dito exatamente o que pensava se não tivesse captado sua atenção um brilho na mão.

       Era o anel de casamento. que tinha guardado todos esses séculos. O anel que desmentia suas palavras.

Não queria que lhe fizessem mal…

Os lábios se curvaram lentamente em um sorriso. Levantou a outra mão para depositar um beijo.

—Suas palavras foram escutadas, minha rosa espinhosa. Esforçarei-me para manter seu entretenimento ao mínimo.

Ao afastar-se, agarrou-lhe pelas fivelas da armadura e lhe atraiu até seus lábios para poder lhe beijar.

Stryker grunhiu pelo bom que o sentia.

—Quero-te aqui e nua quando voltar.

—Volte de uma peça e te prometo uma noite que não esquecerá com facilidade.

—Pretendo que mantenhas isso, minha senhora.

Zephyra assentiu e lhe deixou partir embora tudo o que desejava era lhe ter por perto. Não te deixes assassinar. As palavras ficaram na garganta enquanto uma dor inimaginável a percorria, embora nunca as diria alto. Não lhe daria má sorte nem deixaria que os Destinos soubessem o quanto significava para ela. Se o fazia, poderiam lhe matar só por despeito. Assim apertou as mãos e lhe deixou partir para unir-se aos seus inimigos e lutar pela vida da filha de ambos.

Volte para mim, por favor.

Stryker parou na porta para olhá-la a última vez. Acalmada e tranqüila, parecia que não se preocupava o mínimo o que pudera lhe acontecer. Até que viu a forma em que apertava os punhos. Um sorrisinho jogava na comissura dos lábios e a atitude esquentou cada parte de seu corpo.

—Voltarei, Phyra.

—E mais vale que traga a nossa filha contigo.

Sorriu ante a palavra “nossa”.

—Farei-o —inclinou a cabeça e saiu pela porta dirigindo-se ao ponto de encontro em Nova Orleáns. Tratava-se de um beco tranqüilo nos subúrbios de Pere Antoine, nos escritórios de Ethel Kidd. À sombra da Catedral, seu plano original havia sido soltar seus homens sobre os humanos neste mesmo lugar, uns metros mais ou menos. Agora, estava ali para lutar, não só para proteger aos que via como comida, e sim para proteger aos seus.

Sim, o Destino era uma víbora caprichosa.

Uma chama brilhante lhe fez piscar quando Acheron apareceu ante ele. Vestido com um casaco de couro negro comprido, jeans e uma camiseta do My Chemical Romance, os olhos do atlante estavam cobertos por um par de óculos de sol opacos.

Nick Gautier apareceu um segundo depois. A roupa negra era muito mais conservadora. Uma camisa negra grampeada de cima abaixo e uma calça esportiva. A única coisa que destacava era a marca do arco duplo e a flecha da Artemisa gravada na bochecha.

Ash exibiu um arrogante sorriso.

       —Vamos seguir nos olhando iradamente enquanto mantemos as poses duras ou vamos utilizar o tempo preparando um plano que com sorte não termine com a nossa morte mútua?

—Eu voto pela morte mútua —grunhiu Nick. —Mas só depois de que Menyara esteja a salvo.

—E Medea —acrescentou Stryker. —Quero que ambos me jurem que apesar do que me aconteça, não deixarão que ela morra.

—Juro-o —disse Ash.

Ambos olharam a Nick.

—Ela não me tem feito nada. Tirarei-a daí seja como for.

Assentiu embora o que queria era estripar ao homem que tinha matado a sua irmã. Embora as intenções de Satara eram que Nick violasse à prometida de Ash. Em vez de fazê-lo, tinha-a apunhalado e havia posto a salvo à mulher de Ash. Honestamente, não podia mais que respeitar as ações de Gautier. Se não tivesse sido sua irmã a quem tinha matado, inclusive o teria considerado nobre.

Mas Satara tinha sido sua aliada durante séculos. Embora tinha sido a criatura mais cruel e fria que tinha conhecido, isso não mudava o fato de que a tinha amado apesar das faltas.

Voltando os pensamentos para Ash, cruzou os braços sobre o peito.

—O que tem planejado?

Antes que pudesse responder, Kat fez sua aparição. Stryker arqueou uma sobrancelha. Media 1,82 e se parecia surpreendentemente a sua mãe, Artemisa, com os brilhantes olhos verdes. Mas tinha o cabelo loiro de seu pai e, felizmente para eles, seu temperamento.

Sua presença lhe surpreendeu.

—Vais colocar a sua filha nisto?

Ele encolheu-se de ombros.

—Tem uma habilidade interessante que acredito que pode abater a War.

—E é?

O sorriso de Kat era idêntico ao que Acheron tinha exibido um momento antes.

—Posso sugar os poderes dos deuses.

       —De verdade? —Stryker se afastou um passo.

Kat riu malvadamente.

—Nunca te deste conta de quão perto estava do precipício quando me insultava, verdade?

—Parece que não. E como funciona essa sucção?

Meneou um dedo ameaçador em sua direção.

—Tenho que tocar à pessoa. Que bom que te encontres tão repulsivo que nunca tenha querido te tocar, né?

Stryker pôs os olhos em branco antes de voltar sua atenção para Acheron.

—E se não pudermos fazer com que se aproxime o suficiente para tocar a War?

—Então a levarei pra casa —disse uma voz na escuridão com um profundo acento.

Stryker se voltou e viu o marido de Kat, Sin, atrás dele. Que estranho. Não havia ouvido nem sentido ao deus Sumerio aparecer. O que dizia a gritos quão poderoso era para poder mascarar-se completamente. E lhe fez sentir mais confiança em que poderiam surpreende ao War e a seu séquito também.

Tirou o relógio de bolso para comprovar a hora. Restavam quinze minutos.

—Que comece o espetáculo, caras. Estamos preparados?

—Estamos.

Franziu o cenho para ouvir a voz de Artemisa quando ela, Atenas e Ares se uniram a eles.

—O que estão fazendo aqui?

Artemisa olhou a Kat.

—Não vais pôr a minha filha em perigo sem mim.

Ash se engasgou.

—Agora descobres seu instinto maternal?

Ela lançou-lhe um olhar.

—Sempre foi muito protetora comigo —disse Kat rindo-se. —De uma forma muito da Artemisa.

—Como uma víbora incubando ovos —acrescentou Stryker entre dentes.

Artemisa lhe lançou um olhar frio e mordaz.

—Te atreves a me dizer algo?

       —Eu adoro ver-te outra vez, avózinha.

       Artemisa franziu os lábios afastando-se.

       Nick pigarreou para chamar sua atenção.

       —Sabem que temos um ligeiro problema com isto.

       —Disseram-nos que viéssemos sozinhos… —Respondeu Ash.

       Stryker se deu de ombros.

       —Disseram aos três que viéssem sozinhos à mesma hora, o que nos converte naturalmente em um grupo.

Soltou uma risada pela metade.

—Sim, mas acredito que Nick tem razão. Nós três temos que entrar sozinhos para ver o que acontece e afastar suspeitas —olhou a Kat.

—Nos dê cinco minutos antes de entrar.

—Feito.

—E nós o que? —perguntou Ares.

Kat lhe passou o braço por cima e sorriu.

—Esperarão atrás comigo. Felizmente sou a única coisa que não se espera.

Atenas avançou.

—Boa sorte, cavalheiros.

Ash fez uma inclinação de cabeça e olhou a Stryker e a Nick.

—Estão preparados?

Nick assentiu.

—Sempre —disse Stryker.

Tomaram posições com Acheron no meio se afastando do escuro beco e se dirigiram a St. Ann para o cemitério. O casaco comprido de Ash revoava ligeiramente nos tornozelos enquanto caminhavam como predadores famintos indo para um encontro do qual Stryker estava seguro de que todos teriam querido passar. Como a silhueta de uma besta recortada na lua, moviam-se em perfeita sincronia.

A única coisa que podiam ouvir era a música que vinha do Bourbon Street, o pulsar de seus

corações e as pisadas das botas sobre o pavimento. As ruas reluziam com a chuva que tinha caído um pouco antes e nuvens escuras penduravam ainda sobre eles quando a rua deixou de ser comercial para converter-se em residencial.

—Quantas vezes caminhaste por esta rua, Gautier? —perguntou Stryker.

—Mil vezes ou mais e pretendo estar aqui para fazê-lo outras mil mais.

Assentiu até que se aproximaram do cemitério e se deu conta de algo. War nunca fazia nada sem uma intenção concreta.

—Por que acham que War há escolhido este lugar para nos encontrar?

Ash parou para lhe olhar.

—Não lhe preocuparia que estivesse isolado.

Nick bufou.

—Ao melhor ele gosta de gente morta.

A Stryker percorreu um calafrio pelas costas ante as palavras. Nem haviam saído dos lábios de Nick quando se deu conta de quão acertado era o sarcástico comentário. Ante eles haviam três mulheres.

A mãe de Nick, a filha de Stryker e a irmã de Ash.

 

                                         CAPÍTULO 12

Stryker não podia respirar quando viu uma cara que tinha relegado a suas lembranças. Etérea e pálida, Tannis era tão bela como o tinha sido sua mãe. O cabelo loiro esbranquiçado emoldurava uma cara que era perfeita e frágil.

Inconscientemente deu um passo para ela.

Ash o agarrou pelo braço e o puxou para detê-lo.

—É um truque.

Nick sacudiu a cabeça enquanto olhava à frente.

—Mamãe?

Ash deixou a Stryker para sujeitar a Nick. Furioso, o homem grunhiu dando a volta e se moveu soltando-se de um puxão. Ash cambaleou, então voltou para recuperá-lo.

—Contenha-se Nick... War está jogando com nossas emoções.

—Por que me deixou morrer, Acheron?

Ash se deixou ir completamente quando ouviu a voz de Ryssa falando o impecável grego de sua infância.

Seu pálido cabelo estava recolhido em laços azuis que faziam conjunto com o antigo vestido grego que levava... o mesmo vestido que tinha estado levando na noite em que os soldados Apolitas a tinham destroçado e acabado com sua vida.

—Chamei-te pedindo ajuda, akribos, mas não me respondeu. Nunca vieste.

A culpa o triturava. Forçou seu puxão sobre a camiseta de Nick, necessitando da estabilidade de seu velho amigo para manter sua resolução.

—Não és real —grunhiu ele.

Ela se adiantou para lhe tocar com uma mão tão cálida que desmentia a palidez de sua vazia forma.

—Ainda é o menino que agarrava raios de sol em suas mãos, verdade? Vem comigo, Acheron. Eu posso te manter a salvo deste mundo que não quer formar parte de ti.

Amarga dor e perda se mesclavam em seu interior com cada parte de seu ser, que queria ir com Ryssa e deixar que o consolasse. Já não era um deus de poder infinito. Essa carícia o tinha reduzido ao menino que só tinha querido sentir o consolo de um contato carinhoso. O menino que tinha adorado a sua irmã mais velha…

—Nicky?

Ash piscou ante o som da voz de Cherise. As lágrimas brilhavam nos olhos de Nick, mas para seu crédito, evitava deixá-las cair.

Vestida com o mesmo vestido creme com o qual a tinham enterrado, Cherise permanecia quieta na escuridão. Seu rosto não mostrava a violência que havia terminado com sua vida. Ela parecia tão real e completa como da última vez que Ash a tinha visto esperando a Nick para voltar para casa do trabalho.

—Venha com a sua mamãe, Cher. Há passado muito tempo da última vez que sustentei a meu menino.

—Papai? É você? Estou assustada, Papai. Não entendo que me está acontecendo. Por favor, me ajude.

Stryker sacudiu a cabeça para clarear-lhe quando cada instinto paternal que tinha exigia-lhe que consolasse a sua filha. Essa era a menina que tinha sustentado nos braços e cantado ao dormir. A mulher cuja mão havia sustentado enquanto gritava por piedade todo o dia até que seu corpo se decompôs em cinza.

Ela correu para ele.

—Papai?

Grunhindo, esquivou-a e se afastou dela. Esta ficou olhando confundida.

—São reais? —perguntou a Acheron.

Ash ainda estava sustentando a Nick.

—Não sei.

Cherise tocou o braço de Ash.

—É obvio que sou real, cher. Não jogue comigo dessa maneira —ela o estalou a Ash. —Está ainda muito magro, menino. Necessita um pouco do meu picadinho de carne para que te façam engordar.

—Mamãe? —Nick se soltou de Ash de modo que pudesse rodeá-la com seus braços. No momento em que o fez, ela gritou em agonia e se desvaneceu no vento.

—Akribos? —disse Ryssa quando se aproximava lentamente de Ash. —Por que dói agora? Então ela também gritou.

Os gritos de Tannis se uniram aos dela quando se deixou cair de joelhos e se cobriu os ouvidos com as mãos.

—O que está acontecendo? —Nick se via tão aturdido como se sentia Stryker.

Sem responder, Stryker correu para Tannis para ajudá-la, mas se desvaneceu antes que pudesse alcançá-la.

Amargas risadas ecoaram ao seu redor.

—Acham que só retenho a Menyara e Medea, verdade?

Stryker curvou os lábios quando War se materializou diante deles.

—O que é isso?

—É… o açougueiro que diz às ovelhas que se prostrem aos seus pés —ele estendeu a mão e Ker apareceu ao seu lado com suas asas pregadas enquanto lhes sorria com ironia.

—Acredito, caras, que esquecestes que Ker é a deusa da crueldade e da morte violenta. Todas as suas mulheres morreram horrivelmente...

—E estão sujeitas a ela —amaldiçoou Ash —Isso é pelo que queria que nos encontrássemos aqui. Ker é uma deusa grega e não pode tocá-las exceto em um cemitério, onde a soleira entre este reino e onde está seu lugar de descanso final é um canal aberto —ele olhou ao Nick. —Ela tirou suas almas e as retém.

Stryker resistia à urgência de soltar um “Te disse isso”.

—O que é que quer? —Perguntou a War.

Uma irônica risada se burlou deles.

       —Simples. Realmente. Suas vidas.

Stryker lhe devolveu o olhar com uma própria.

—E você as liberará.

—É obvio.

Os três sacudiram a cabeça. Conheciam-no melhor que isso. Stryker encontrou o olhar de Ash, depois o de Nick. Viu a mesma determinação em seus olhos que estava seguro que havia nos seus. Tão dolorosamente como fora. Não estavam aqui para lutar pelos mortos. Estavam ali para lutar pelos vivos.

Inclinando a cabeça a Ash, Stryker estendeu as mãos e golpeou a War com todos os seus poderes. Ash se uniu a ele.

—Kat! —gritou Ash convocando aos outros.

Eles apareceram imediatamente.

War riu quando Ker se multiplicou e um brilhante flash iluminou todo o cemitério. O chão abaixo deles se estremeceu, fazendo a todos perder o equilíbrio.

—Stryker! —Ash lhe disparou uma rajada.

Instintivamente, ele rodou fora do caminho, pensando que Ash tinha tentado lhe golpear. Foi só depois quando se deu conta de que Ash estava apontando a um demônio. Stryker ficou em pé e correu para War.

Não pôde. As duas Keres o agarraram pelo peito e o lançaram de costas ao chão. Estavam sendo caçados por eles. Afligido, observou a Katra quem tinha sido golpeada. Quando se estirou para drenar a um, apareceram três mais.

Sentiu que a cor desaparecia de sua pele quando viu a mesma revelação na cara de Ash que ele mesmo sentia.

Não podiam ganhar com Ker na luta. Sua habilidade para replicar-se anulava qualquer coisa que pudessem fazer. Os deuses gregos estavam rodeados. Ambos, Ash e Nick, estavam jogados sobre si mesmos tão golpeados como o mesmo se sentia.

War riu, sua voz elevando-se.

—Se dobrem diante de mim e possivelmente os deixe viver... como meus escravos.

Zephyra se levantou da cadeira quando viu a iminente morte de Stryker.

—Não —ofegou, seu coração pulsando apressadamente. Não podia lhe perder agora. Não

depois que acabasse de aprender a amá-lo de novo.

Ela elevou o olhar ao teto quando a raiva ardeu através dela. Os deuses tinham jogado bastante com suas vidas.

—Cachorras, melhor que tirem as mãos de cima do meu homem —grunhiu aos Destinos.

Tomada a decisão, foi a Apollymi para fazer a última coisa que tinha jurado que não faria nunca… pedir um favor.

Tory passeou pela pequena área em frente do escritório de Savitar enquanto Simi e Xirena viam televisão. Ela tinha um mau pressentimento do qual não podia sacudir-se. Algo ia mau, o sabia.

Uma fissura passou através do corredor. Voltando-se, esperava encontrar ali a Acheron. Em vez disso, estava uma mulher que nem sequer chegava a Tory aos ombros. Tory deu um passo atrás, pronta para brigar com ela.

—Relaxe —lhe soltou ela—. Meu nome é Zephyra e sou a esposa de Stryker.

Tory ofegou ante o som da furiosa declaração.

—Por que está aqui?

—Nossos homens estão a ponto de morrer e se você for a metade de mulher que és, estou segura de que quererá me ajudar a salvá-los.

Ela teve um momento de vacilação quando se deu conta de que isto podia muito bem ser uma armadilha de Stryker. Mas a conduta de Zephyra era muito sincera e havia um temor em seus olhos que Tory estava segura não podia ser fingido.

—Absolutamente.

—Então vamos —lhe estendeu a mão.

Tory não vacilou em tomá-la. No momento seguinte, estavam outra vez em Nova Orleáns. Deveria ter sido bastante ruim que não fossem lançadas em meio a um banho de sangue.

Ofegando, esquivou quando uma gritante mulher pássaro passou sobre sua cabeça.

Zephyra grunhiu quando manifestou uma espada para lutar com as Keres.

—Jared! —chamou ela, convocando ao seu escravo a seu lado.

Ele apareceu instantaneamente.

—Salve a Stryker.

Seus olhos brilharam vermelhos quando viu Nick lutando. Ele se dirigiu a ele.

—Pare! —gritou ela—. Deixe-o estar. Tu só te centres em War e mantenha a Stryker e a minha filha a salvo.

Sua pele se voltou vermelha e negra quando se emitiu a sua verdadeira forma. Grunhindo, lhe mostrou as presas.

—O Malachi...

—Me obedeça.

Jared vaiou, mas ao final, não tinha outra opção que seguir suas ordens.

Stryker se afastou dele quando uma dúzia de Keres se moveram para lhe atacar.

—Como podemos lhes deter? —Perguntou Stryker a Ash e a Savitar.

—Temos que encontrar à verdadeira Ker —respondeu Savitar—, pare-a e as outras cairão.

Stryker bufou.

—Importaria-te de me dizer qual delas é?

—É aquela —disse Zephyra, indicando a única que estava atacando a Nick.

Stryker bufou.

—Como sabe?

—Instinto.

Possivelmente, mas não foi até que Ker se dirigiu a Tory que Stryker viu sua oportunidade. Ele intercambiou um conhecido olhar com Ash antes que eles se lançassem juntos atrás de Ker.

Logo que tiveram a Ker no chão, as outras se evaporaram. War chiou ante o ultraje antes que enviasse uma rajada a Tory. Jared a interceptou. Ele vaiou quando ardeu através de seu corpo e o pôs de joelhos. Nick atacou então, precipitando-se para War.

Ker golpeou a Stryker. Ele se estirou por sua garganta, mas antes que pudesse golpeá-la, Ash a tinha submetido.

War era outro assunto. Ele não ia cair. Não por nenhum deles.

Ash voltou a cabeça para Savitar.

—Disseste que lhes levou três meses reduzi-lo.

Savitar assentiu.

Stryker amaldiçoou.

—Eu não tenho três meses.

—Eu tampouco.

Stryker franziu o cenho ante a infantil voz da demônio de Acheron quando apareceu. Ela lançou algo contra War, quem lhe grunhiu.

Stryker afastou a demônio antes que War pudesse feri-la. War se estirou atrás dele, mas no momento em que o fez, sua mão se converteu em pedra. Franzindo o cenho, Stryker observou como isto subia pelo braço do deus durante todo o caminho para seu corpo até que não foi mais que uma congelada estátua cuja cara era uma máscara de fúria.

—Com o que o golpeou? —perguntou Zephyra a Simi.

—Aima —respondeu Acheron.

Era a mesma substância que Stryker tinha utilizado uma vez para lhe congelar. Por sorte, War não tinha tido amigos que fossem a trazer-lhe o antídoto depois disto.

Juntando as mãos, Simi sorriu.

—Tua mamãe-akra o enviou para ti, akri, para ferir o deus pagão. Agora é a hora de Diamonique. A Simi não pode estar tranqüila sem que algum deus Grego se meta com o único que paga os cartões de plástico. —Ela estendeu a mão para Ash. —Pode a Simi ter o cartão negro de metal que ela tanto quer?

Ash tirou sua carteira com uma breve risada.

—Claro, bebê —lhe estendeu o cartão American Express negro.

—Onde está Medea? —perguntou Zephyra.

Todos eles olharam a Jared que mantinha a Ker no chão.

—Nunca lhes direi —grunhiu ela a eles.

O coração de Zephyra se aguilhoou ante essas palavras e o pensamento de não ver a sua filha outra vez.

—Jared? Faça algo.

Ela viu a resistência em seus olhos antes que deixasse escapar um comprido, cansado suspiro.

—Nim. Forma humana.

Seu demônio saiu debaixo de seu pescoço para tomar a forma de um pequeno homem adulto. No instante em que viu a Simi, fugiu e se escondeu.

—Nim! —chamou-o Jared—. Ela não te fará mal.

Nim parecia menos que convencido enquanto se arrastava lentamente sobre o solo para o outro lado de Jared. Agachou-se atrás dele.

—O que necessitas, Jared?

Ele encontrou o olhar de Zephyra.

—Encontra a Medea.

—Por que simplesmente não lhe arranca a informação? —perguntou Zephyra a Jared.

—Há muitas vozes em sua cabeça falando muitas línguas para que diferencie alguma palavra real. Ela me está bloqueando a propósito —ele olhou a Nim. —Encontra a Medea por mim.

Os olhos de Nim brilharam vermelhos quando tocou a Ker e ela chiou de cólera.

—Medea está no buraco com esse deus que morre.

—Que buraco, Nim?

—Um no profundo chão.

Aspirando agudamente, Zephyra ficou olhando ao demônio.

—Isso não serve de nada.

Stryker puxou-a para detê-la.

—Acredito que sei onde estão —seu olhar passou dela para onde estava Hades. —No Tártaro.

Lhe encolheu a garganta quando se deu conta do significado disso. Uma vez levado ali, ninguém podia ir-se sem a permissão de Hades.

Zephyra se voltou para olhar ao deus do Inframundo.

—Eu não te devo nada —cuspiu Hades a Stryker.

—Mas isso não se aplica a mim —disse Acheron dando um passo adiante. —Deixe-os ir, Hades.

Um tic apareceu palpitar na mandíbula de Hades.

—Ma´at, de todas formas não posso retê-la. Sua alma não me pertence.

       Ash entrecerrou o olhar.

—O que há a respeito de Medea?

Hades grunhiu.

—Recolha-a. Mas isto deixa limpa nossa louça. Entendido?

De algum modo parecia muito fácil para Zephyra.

—O que acontece com Mache?

Hades riu diabólicamente.

—Se seu demônio tiver razão e ele está em meus domínios… se arrependerá.

Jared se levantou com Ker.

—O que faço com ela?

Hades fulminou com o olhar ao espírito da morte violenta.

—Sujeite-a. Tenho planos para ela —e pelo tom em sua voz, esses planos não eram nada agradáveis. —Leve-a para baixo.

Stryker tomou a mão de Zephyra quando seguiram ao deus grego saindo do reino humano e entrando no Tártaro. Ash baixou a estátua de War e a devolveu ao lugar onde descansaria por séculos. Ker foi posta em uma pequena cela e encerrada em seu interior.

—Encarregarei-me de ti mais tarde —prometeu Hades.

Ker cuspiu ante ele e golpeou a porta com a mão.

—Isto não acabou. Serei livre de novo e celebraremos seu réquiem.

Stryker ignorou suas ameaças enquanto olhava a Nim que estava apertando um pequeno coelhinho de pelúcia rosa.

—Onde está minha filha?

Nim assinalou para uma pequena porta.

Inseguro, Stryker começou a adiantar-se para esta, então se deteve quando ouviu uma explosão tão alta que o ensurdeceu temporalmente.

A porta impactou no longínquo muro onde voltou a cair e goleou a um homem no chão.

—Alto!

A porta golpeou ao homem três vezes mais antes que lhe obedecesse.

Quando a fumaça se clareou, Stryker viu a Menyara. Com os braços cruzados, deixou a habitação e jogou um ameaçador olhar ao Mache que sangrava profusamente enquanto a porta o mantinha no lugar.

—Isso lhe ensinará a manter as mãos para si mesmo —ela se voltou para sua cela. —Medea, amor, seus pais estão aqui.

Acheron sacudiu a cabeça quando tomou a mão de Tory nas suas. Sentindo-se agora bastante estúpido por haver-se preocupado.

—Não o fazeis —disse Menyara. —Até que anulou os poderes de War, estivemos obstruídas aqui. Esse pobre estúpido não se deu conta até que foi muito tarde e tive uma oportunidade para feri-lo.

Zephyra correu para sua filha e a agarrou num apertado abraço até que a afastou para assegurar-se que não lhe tinha acontecido nada.

Nick se adiantou, seu rosto preocupado.

—O que aconteceu com minha mãe? O que lhe tem feito War?

Hades pôs sua mão sobre o ombro de Nick.

—Não há nada que ele pudesse fazer. Ker podia lhes mostrar as almas para lhes debilitar, mas não têm poder sobre elas. Sua mãe voltou aonde pertence, como todas as outras.

Ash voltou seu olhar em direção aos Campos Elíseos.

—Ryssa pensa em ti —disse Hades lentamente. —E é feliz, Acheron. Não te culpa de nada. Foi Ker jogando com suas emoções.

—Obrigado.

Hades inclinou a cabeça antes de olhar a Stryker. Quando abriu a boca para falar, Stryker elevou a mão.

—Só quero saber se ela está com seu marido e seus filhos.

—Está.

—Então eu estou em paz.

Zephyra franziu o cenho ao captar algo em sua voz que negava aquelas palavras. Mas possivelmente ele tivesse razão. Não podia mudar nada, assim por que torturar a si mesmo?

Com a cabeça encurvada, Nick começou a partir. Menyara foi com ele enquanto Jared ficava atrás, olhando-os intensamente.

—Se ele matar a Nick, Jared também morrerá —a voz de Menyara ressonou ao redor deles.

—O que? —disse Zephyra.

Menyara se deteve.

—É verdade. Assim que pense antes de lhe enviar outra vez atrás de Nick.

Zephyra entrecerrou seu olhar sobre Jared.

—Por que não me disse isso?

Suas facções eram inexpressivas e vazias.

—Você sabe porquê.

Porque queria morrer, também, e essa era a única coisa que ela nunca poderia lhe permitir fazer.

—Por isso não terá um momento de liberdade de seu serviço —Zephyra apertou a mão de Medea. —Leve-o ao Kalosis. Estou segura que seu pai tem um buraco adequado para seu castigo.

Nim deu um passo para Jared, mas Simi o deteve.

—Espera.

Ele deu um passo para trás, sua cara uma máscara de temor, inseguro de suas intenções.

Sorrindo amavelmente, ela tirou um pequeno urso de sua bolsa ataúde e o estendeu.

—É um Teddy Scare —disse ela. —Muito mais feroz que seu coelho —o deixou em suas

mãos antes de mover-se de novo para Acheron. —Hora do QVC, akri. —E desapareceu.

Jared ficou olhando como se lhe assombrasse seu ato de bondade.

—Deveria ir com Acheron, Nim.

Nim sacudiu a cabeça desafiante, então voltou para corpo de Jared. Jared amaldiçoou.

—Realmente odeio aos demônios.

O olhar manteve um rastro de simpatia antes que colocasse sua mão sobre o braço dele e o devolvesse ao seu cativeiro.

Tory olhou atentamente a sala onde estava agora a estátua revestida de War.

—Acham que se libertará outra vez?

Hades dedicou um cortante olhar de repreensão a Stryker.

—Estou seguro de que haverá outro estúpido aí fora que o libertará.

—Mas não este —disse Stryker. Olhou a Ash. —Obrigado por sua ajuda.

—Diria que em qualquer momento, mas… —Stryker lhe estendeu a mão.

—Inimigos para sempre.

—Ou ao menos até que aprenda a deixar em paz aos humanos e aos Dark-Hunters.

—Quando você deixe a meus Daimons em paz, também me deterei.

—Não posso deixar que os Daimons matem aos humanos.

—E eu não posso ficar e ver minha gente morrer pela maldição que meu pai deu-lhes. Assim tanto como a maldição dure, caçaremos.

—Então nossa guerra está longe de acabar —Ash lhe estreitou a mão, então se foi com Tory.

Stryker passou o braço sobre os ombros de Zephyra.

—Pronta para ir para casa?

Ela assentiu.

Sem outra palavra, ele a levou de volta ao seu palácio no Kalosis. Assim que estiveram sozinhos, fulminou-a com o olhar.

—Supunha-se que ficaria fora desta luta.

       —E deixar que matassem a minha filha? Jamais.

—Sua filha?

Ela cruzou os braços sobre o peito.

—Minha filha.

—Assim voltamos para isso, não?

—Absolutamente. Além disso, não tenho intenção de ver-te morrer.

Stryker arqueou uma sobrancelha ante isso.

—Não?

—Não. Preferiria te matar eu mesma.

Menyara se deteve ante a foto de Cherise sustentando a Nick em seu primeiro dia de escola. O marco estava sobre a mesinha perto de sua cama.

—Sua mãe estava tão orgulhosa de ti.

Nick não respondeu.

Voltando-se, ela viu que agarrava uma garrafa de uísque e a abria.

—Aprendeu algo esta noite? —perguntou-lhe ela.

—Como o que?

—Como que precisa conhecer seus poderes.

Ele tomou um profundo gole antes de responder.

—Sabia isso antes da luta, Mennie.

—Sim, mas, desejas aprender agora?

Ele se deteve.

—O que quer dizer?

A resolução brilhou em seus olhos quando o abandonou.

—És parte demônio e parte humano. A fim de funcionar neste mundo, terá que te ensinar alguém com poderes parecidos com os teus.

—E esse é?

—Acheron.

Nick bufou.

—Ash é um deus.

—Sim, mas antes que fosse um deus, foi meio humano e meio Caronte. Só ele tem os poderes para te ajudar.

Atônito, Nick deixou cair a garrafa diretamente ao chão onde rompeu.

 

                                             EPÍLOGO

Duas semanas depois

Zephyra estava sentada na cadeira de Stryker enquanto escutava o som da música apenas perceptível de fundo. Durante os últimos quinze dias, Stryker e ela tinham estado atrás dos gallu para usá-los para converter mais Daimons, mas estes estavam resultando difíceis.

Enquanto isso, só havia uma dúzias de gallu Daimons, enquanto o resto de seu exército tinha que seguir alimentando-se dos humanos.

—O conseguiremos —sussurrou ela. Como Stryker, ela não tinha intenção alguma de ver morrer a sua gente enquanto Apolo vivia tão alegremente. Especialmente dado o feito de que se Medea se casasse de novo alguma vez, seus filhos nasceriam Apólitas.

E eles, também, estariam malditos...

A porta se abriu.

Elevou seu olhar até encontrar a Stryker ali com uma espada na mão.

Franzindo o cenho, observou como cruzava o espaço e colocava a espada na mesa diante dela. Sem uma palavra, ajoelhou-se ao seu lado.

—O que está fazendo?

—Prometi que ao final das duas semanas te permitiria me matar. —Olhou intencionalmente a espada. —Mantenho minha palavra.

Ela arqueou uma sobrancelha ante isso.

—De verdade?

Ele inclinou a cabeça.

—Você possui minha vida, Phyra. Ponho-a em suas mãos.

Ela recolheu a espada do escritório, logo se elevou com ela em sua mão. Inclinou a espada perfeitamente equilibrada e admirou a borda reluzente.

—Permitiria-me te matar? —Colocou a ponta diretamente sobre seu coração.

O olhar penetrante dele ficou preso no seu.

—Por minha honra.

Ela pressionou a ponta em sua camisa, mas não o bastante profundo para perfurar sua pele.

—Morreria por mim, Stryker?

—Não é isto o que estou fazendo?

—Não. Mantém sua honra e isso não é o que eu quero.

—Então, o que queres?

—Quero que fique ao meu lado e nunca, jamais, falhe comigo de novo.

       A sinceridade ardia brilhante naquele redemoinhado olhar de prata dela.

—Nunca te falharia.

—Jura-o por sua vida.

Seu olhar se endureceu.

—Isso nunca poderei fazê-lo.

Ela pressionou a ponta nele até que conseguiu uma gota de sangue.

—Por que não pode?

—Porque você é minha vida —disse ele com voz baixa. —E não posso viver outro dia sem ti.

Deixou cair a espada ao chão.

—Aborreço-te pelo que me fazes sentir.

Atraiu-a para seus braços até que esteve ajoelhada no chão frente a ele.

—E como és?

       —Débil e vulnerável. Você é minha alma, e nunca te perdoarei se me tira isso de novo.

Ele sorriu pra ela.

—Não tenha medo, amor. Sempre estarei aqui mesmo contigo.

Quando baixou a cabeça para beijá-la, a porta atrás dele se abriu com um estrépito. Furioso pela interrupção, deu-se a volta para grunhir a Davyn.

       Entretanto, as palavras morreram em sua língua quando viu a cara do homem.

—O que aconteceu?

—Podemos andar à luz do dia.

O cenho de Stryker se fez mais profundo.

—O que?

Davyn assentiu com a cabeça.

—Fiquei preso fora por engano ao amanhecer enquanto rastreava ao gallu. Pensei que estava morto, mas não o estou. Pela primeira vez em séculos, vi o amanhecer e estou vivo. Vivo!

Stryker trocou um olhar de assombro com Zephyra.

—Os gallu são imunes —sussurrou ela. —Nunca sonhei que seu sangue permitisse que nós caminhássemos também à luz do dia.

—Alguma vez o tentou?

Ela sacudiu a cabeça.

—Não me atrevi.

Um sorriso lento curvou os lábios dele.

       —Temos nossa liberdade.

—O amanhecer do Daimon está aqui e o final da humanidade começa.

 

 

[1] Na mitologia grega, Equidna (em grego antigo... d.a Ekhidna, ‘víbora’; em latim Echidna) era uma monstruosa ninfa, considerada descendente do Forcis e Ceto ou do Tártaro e Gea segundo a fonte. Era um dragão fêmea às vezes chamada Drakaina Delphyne (..a.a..a .e.f..., ‘ventre de dragão fêmea’), descrita por Hesíodo em seu Teogonía como um monstro feminino, mãe com Tifón de todos os monstros importantes dos mitos gregos. Tinha o rosto de uma bela mulher de temíveis olhos escuros mas corpo de serpente (veja-se também Lamia). Quando ela e seu companheiro Tufão atacaram o monte Olimpo, Zeus os derrotou, mas os permitiu seguir vivendo, assim como a seus filhos, como desafio para os heróis futuros. Morou desde então em uma cova do país dos Arimoi, um remoto lugar desértico situado na Ásia Central, provavelmente Síria (Hesíodo, Teogonía, 304).

[2] War significa guerra.

[3] Mon petit ange: meu pequeno anjo

[4] Atriz, cantora e estrela de cabaré, famosa por sua participação como Catwoman na série dos anos 60 Batman e Robin.

[5] No jargão do surfe, surfista adolescente novato.

[6] Famoso diretor de cinema de Hollywood nos anos dourados, que se caracterizava por grandes produções que incluíam uma partilha conformado muitas vezes por centenares de extras.

[7] Personagem de Winnie The Pooh, o burrinho Igor (Eeyore) famoso por seu pessimismo.

[8] Trocadilho entre “poor play”, jogo pobre e, “fore play”, jogos preliminares para excitar-se antes de uma relação sexual.

[9] Na mitologia grega, Sísifo foi fundador e rei de Éfira, com fama de trapaceiro, antes de morrer disse a sua esposa que quando ele partisse não oferecesse o sacrifício habitual aos mortos, assim no inferno se queixou de que sua esposa não estava cumprindo com seus deveres, e convenceu ao Hades para que lhe permitisse voltar para mundo superior e assim dissuadi-la. Mas quando esteve de novo em Corinto, recusou voltar de forma alguma ao inframundo, até que ali foi devolvido à força pelo Hermes. No inferno Sísifo foi obrigado a empurrar uma pedra enorme custa acima por uma ladeira levantada, mas antes de que alcançasse o topo de a colina a pedra sempre rodava para baixo, e Sísifo tinha que começar de novo do princípio. O motivo deste castigo não é mencionado pelo Homero, e resulta escuro (alguns sugerem que é um castigo irônico de parte do Minos: Sísifo não queria morrer e nunca morrerá mas em troca de um alto preço e não descansará em paz até pagá-lo).

 

                                                                                Sherrilyn Kenion  

 

 

                      

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