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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA ROSA PARA EVE / Carole Mortimer
UMA ROSA PARA EVE / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

A desilusão que Eve sofrera no passado tinha fechado de vez seu coração para o amor. Agora ela queria pensar apenas na sua carreira de cantora, sem se envolver mais com nenhum homem. Por isso, não ia deixar que um milionário insistente e arrogante como Bart Jordan tentasse conquistá-la. Apesar daqueles olhos verdes e de tantos buquês de rosas vermelhas… Bart era exatamente o tipo de homem que Eve detestava: prepotente, cheio de autoconfiança, achando que o dinheiro comprava qualquer coisa. Ela só não imaginava que Bart fosse tão poderoso a ponto de conseguir aprisioná-la sem deixar qualquer chance de reagir. Como venceria esse desafio chamado Bart Jordan?

 

 

 

 

A apresentação fora fantástica. Eve tinha cantado maravilhosamente bem. A platéia aplaudia com entusiasmo e ela se curvava para agradecer, os olhos azuis brilhantes, o rosto afogueado. Em seguida saiu do palco, mas teve de voltar porque os aplausos não paravam. Tomou o microfone de novo e se virou para os músicos fazendo um sinal. Cantou a música com que começara o show. A platéia silenciou, a atenção voltada para o foco de luz.

Quando terminou, agradeceu rapidamente e saiu, sem atender aos pedidos de bis, exausta pelas duas horas de apresentação. Seus cabelos negros grudavam de suor na testa. Puxou as mechas úmidas do rosto com as mãos. As unhas pintadas de vermelho-brilhante eram da mesma cor do macacão colante que usava.

Eve não olhava nem para a direita nem para a esquerda, enquanto se dirigia para o camarim. Escutava os parabéns e sorria, continuando a andar. Ali atrás do palco, tinham trabalhado tão duro quanto ela.

Derek James, seu empresário, estava a sua espera quando entrou no camarim.

— Grande apresentação, Eve — ele falou, excitado. — Você estava fantástica, perfeita. Agora, vai ser sucesso em cima de sucesso!

Eve sentou na frente do espelho. Estava louca para tirar a maquilagem pesada do palco. Pegou o creme da gaveta.

— Ainda não — avisou Derek. — Você fica com cara de dezesseis anos sem maquilagem. Espere até sairmos daqui. Vai se encontrar com alguns fãs antes.

— Você sabe que eu odeio essa aparência. Olhou no espelho. Sua pele estava coberta de base e blush; os olhos, pintados com vários tons de rosa e os cílios longos carregados de rimei. Os lábios brilhavam com o batom vermelho. Aquela imagem não tinha nada a ver com ela.

— Você pode não gostar, mas o público adora. E ele é que conta agora.

— Está bem — suspirou Eve. Derek puxou uma cadeira e sentou.

— Estava ótima hoje, Eve. Nunca tinha visto você tão… tão sexy!

— Apenas fiz o que eles queriam.

— E funcionou! Puxa, como funcionou. Você vai ficar com a agenda lotada nos próximos anos.

— Estou até vendo as caixas registradoras tilintando em seus olhos. Se eu ganhar dinheiro como está prevendo, ficaremos ricos, já que você também ganha.

Derek não se ofendeu.

— Falando em dinheiro, você recebeu um fã muito rico esta noite.

— Mesmo? — perguntou, fingindo indiferença.

— Sim. Bartholomew Jordan. Ouviu falar nele, não ouviu?

— Quem não ouviu?

Não era Carl, felizmente. Também, nem todo homem rico tinha de ser ele. Além do mais, sabia que Carl jamais voltaria a vê-la cantar.

Derek mostrou desapontamento com a falta de entusiasmo de Eve. Era um homem de trinta e poucos anos, sempre com as roupas amarrotadas e os cabelos em desalinho, como se tivesse acabado de sair da cama. Eve o conhecera cinco anos atrás, quando ela tinha vinte. O empresário de Eve, na época, era um homem insensível, que não se interessava pelo estilo de música que ela desejava cantar. Derek tinha então tomado conta de sua carreira e fora tão encorajador que agora o sucesso aparecia. Era seu primeiro show sozinha, e o público tinha adorado, ouvido com atenção o rock pesado e as baladas românticas que ela interpretara.

— Eu disse Bartholomew Jordan, Eve — repetiu Derek. — Bartholomew Jordan.

Eve fez que sim com a cabeça.

— Sei, o banqueiro. — Eve, o homem é bilionário.

— Então o que estava fazendo no meu show? Estou exausta, Derek.

Quero ir para casa. E dormir, dormir, dormir.

— Não vai dar. O sr. Jordan quer conhecê-la.

— Vai ficar querendo. Estou cansada demais.

O empresário abriu a boca para protestar, mas Eve não deixou.

— Não, não. Não estou a fim de conversar com um velho bilionário, nem que seja mais rico que o Onassis.

— Jordan não é velho.

— A menos que você considere trinta e nove anos velhice — interrompeu uma voz atrás.

Eve se virou. Aquele devia ser Bartholomew Jordan. Bastava olhar para ver que ele transbordava de autoconfiança; parecia muito acostumado ao poder. E era atraente. Tinha cabelos castanhos-claros, olhos verde-escuros e penetrantes. Estava usando um terno escuro, impecável, camisa branca e gravata. Sorria para ela.

Sim, era muito atraente. Mas não ficou impressionada. Franziu a testa com irritação.

— Dizem que quem escuta atrás da porta acaba ouvindo o que não quer.

Derek estava perplexo.

— Eve…

— Quer fazer o favor de nos deixar sozinhos, sr. James?

Bartholomew Jordan segurou a porta para Derek.

Eve comprimiu os lábios.

— Acho que me ouviu dizer que estava cansada, sr. Jordan.

Eve pegou a bolsa que estava na penteadeira e saiu pelo corredor sem olhar para trás. Foi instantaneamente cercada por um bando de fãs entusiasmados. Seria difícil escapar dali. Estava sendo empurrada e puxada de todos os lados.

De repente, alguém a segurou pelo cotovelo e a conduziu com firmeza até um carro na rua.

Obrigada, Derek. — Ela se virou e arregalou os olhos. — Você! — exclamou, ao dar de cara com os olhos verdes de Bartholomew Jordan. — Quer fazer o favor de me soltar?

— Com prazer. É só largar você nas mãos dessa multidão.

Eve olhou para trás. O bando de fãs tinha aumentado: Sentiu-se perdida.

— Não, não quero.

— Então, entre. Um motorista abriu a porta para eles. Antes que a multidão os alcançasse, já tinham partido. A janela que ficava entre eles e o motorista estava fechada. Eve sentiu um perfume de colônia cara.

— Como é que você pretendia voltar para casa esta noite?

— Derek ia buscar um táxi.

— Depois de sua performance hoje, tem sorte de conseguir escapar

inteira.

— Desculpe se o desagradei.

— Eu disse o contrário. Eve jogou os longos cabelos para trás.

— Mesmo?

Bartholomew Jordan passou os olhos lentamente pelo macacão de tecido brilhante.

— Com essa roupa você nem precisa cantar para agradar o público.

— Sr. Jordan.

— Bart.

— Bart?

— Todos os meus amigos me chamam de Bart. — Ele tirou um charuto do bolso do paletó. — Incomoda você?

— De maneira nenhuma. E não sou sua amiga, sr. Jordan. Nem tenho intenção de ser.

O cheiro do charuto inundou o carro. Ele guardou o isqueiro de ouro no bolso.

— Nunca?

— Pode me deixar aqui, por favor? Vou pegar um táxi.

— Deixe-me levá-la para sua casa.

— Não moro em Londres.

— Eu a levo para onde quiser ir.

Ele estava acostumado a dar ordens, era óbvio. Mas homens assim deixavam Eve irritada. Superconfiantes, arrogantes, exigentes.

— Eu quero descer aqui, sr. Jordan. Peça ao chofer que pare, por favor.

— Por quê?

— Talvez porque eu goste de escolher minhas companhias.

— Você não gosta de mim, não é?

— Como disse, costumo escolher minhas companhias.

— E se houvesse escolha?

— Certamente não escolheria você.

— Por causa de Derek James?

— Como?

— Ele me informou que você ia passar a noite no apartamento dele.

Ia mesmo, só que num quarto separado. Mas aquele homem não acreditaria num relacionamento tão desinteressado. Personificava tudo o que ela mais desprezava: era rico, confiante, poderoso. Acreditava que o dinheiro comprava qualquer coisa. E devia estar pensando que poderia comprar um lugar em sua cama!

Ela o olhou com desprezo.

— Sempre fico na casa de Derek quando estou na cidade.

Preferiu não dizer que também ficava com Judy, mulher do empresário.

— Que bela combinação!

— É prático.

— E você não pode dar o fora nele?

— Está me fazendo uma proposta?

— Tenho certeza de que não é a primeira vez. Eve molhou os lábios. Estava fervendo de raiva.

— O que você oferece?

— O que você quer?

— Tudo o que sua mulher tem.

— O que faz você pensar que existe uma mulher?

— Nada me faz pensar que não haja. Então, o que você me oferece?

— Um apartamento, segurança financeira, jóias.

— Ótimo. E o seu tempo?

— Meu tempo?

— Com que freqüência você viria me visitar?

— Tanto quanto eu pudesse.

— Quanto seria isso?

— Uma ou duas vezes por semana.

— Ah, não, assim não vai dar. — Eve se inclinou e apertou o botão que fazia descer a janela divisória. — Pode parar aqui, por favor? — perguntou ao motorista.

— Sr. Jordan? — o chofer perguntou, incerto.

— Vá em frente, Adam — instruiu Bartholomew Jordan, fechando o vidro de novo. — Não foi muito esperta, Eve.

— Eu não estava tentando ser esperta — respondeu com frieza. — Trabalhei como louca nas últimas semanas; os últimos dias foram um inferno. Hoje fiquei exausta e não tenho por que ficar aqui sentada, recebendo insultos de você! Pois pode pegar a sua proposta, sr. Jordan, e…

— Acho que o que vai dizer não é próprio de uma mocinha

— Talvez não seja, mas é muito mais honesto do que o que você estava dizendo para mim. Por que não fala simplesmente que quer ir para a cama comigo e acaba com essa palhaçada?

— Tudo bem. Quero ir para a cama com você. Agora. Esta noite.

— Vá para o inferno!

— Você não gosta da proposta? Ah, sim. Lembrei-me. Você não gostou do tempo que eu passaria com você. Era pouco ou muito?

— Era demais! Até sentar neste carro ao seu lado já é demais. Homens como você me enjoam, sr. Jordan…

Não conseguiu continuar; a boca de Bartholomew cobriu a sua selvagemente. Mas Eve não lhe deu o prazer de vê-la resistir. Ficou parada, imóvel, deixando que ele a beijasse, mas continuou fria. Os beijos dele eram estudados e insistentes, capazes de excitar a mais insensível das mulheres. Mas não ela. Quando a soltou, os olhos de Eve soltavam faíscas.

Jordan também parecia furioso por não ter conseguido nada.

— O que provou com isso, sr. Jordan?

Ele se encostou no assento estofado, controlando a raiva.

— Provei que sua apresentação no palco é uma farsa.

— O que quer dizer?

— No palco você parecia incrivelmente sexy.

— E agora, não? Por que eu não me ajoelhei de gratidão por você me desejar? Por que considero sua oferta um insulto? Por que não entrei em êxtase quando você me beijou? Bem, sinto muito, sr. Jordan, mas como você mesmo disse, não é a primeira vez que recebo propostas! E nem a última que recuso.

— Eu pensaria direitinho no assunto antes de dizer não, se fosse você.

— Está me ameaçando?

— Parece?

— Parece.

— Talvez.

Eve respirou fundo. Inclinou-se para a frente e mais uma vez apertou o botão.

— Pare o carro imediatamente — ordenou ao motorista. — Não peça permissão ao seu patrão. Obedeça!

— Senhor? — o chofer perguntou, hesitante.

— Pare, Adam — falou Bartholomew.

Eve não olhou mais para Jordan. Assim que a limusine parou, desceu depressa. Adam já estava segurando a porta, impassível. Não devia ser a primeira vez que presenciava cenas como essa.

Ela fez sinal para o primeiro táxi que passou, só relaxando depois de ter dado o endereço ao motorista. Nem olhou para trás.

Não estava mentindo quando disse a Bartholomew Jordan que já tinha re­cebido muitas propostas como aquela. Na sua profissão, já recebera os mais variados convites, mas nenhum tão arrogante e descarado como aquele.

De repente, notou que o chofer não parava de olhá-la pelo retrovisor.

— Algo errado?

— Não. Eu… a senhorita não é Eve Meredith, a cantora?

— Sou.

— Bem que eu achei — ele falou, exultante. — Minha filha é sua fã. Ela foi ver seu show hoje. Nem vai acreditar que levei você para casa.

— Não é a minha casa. É de uma amiga.

— Não precisa pagar — falou o motorista quando estacionaram. — Foi um prazer trazê-la. Não é todo o dia que a gente leva uma celebridade!

Eve agradeceu e saiu do carro. Só então se deu conta de que a limusine preta de Jordan os acompanhara até ali. Ele tivera o atrevimento de segui-la até a casa de Derek! Francamente, aquilo era demais! Mais algum problema e ela chamaria a polícia…

Derek ainda não tinha chegado, mas Judy já estava lá.

— O concerto foi maravilhoso, Eve. — Ela a abraçou afetuosamente. — Você estava fantástica.

— Obrigada.

— E Derek?

— Ele ficou para cuidar de umas coisas. Eu devia ter ficado para ajudá-lo. — Jogou-se numa poltrona. — Estou exausta!

— Vá dormir. Você não precisa ficar esperando Derek.

— Preciso, sim.

— Nossa. Parece que aconteceu uma coisa horrível!

— Aconteceu mesmo.

Afinal, era culpa de Derek. Se não fosse por ele, Eve jamais teria conhecido Bartholomew Jordan.

— O que foi?

— Não se preocupe, Judy. Só quero fazer umas perguntinhas a seu marido. — Estava louca para saber como é que Bartholomew Jordan convencera o empresário a deixá-lo entrar nos bastidores.

— Posso fazer um café. Vai nos ajudar a ficar acordadas.

E ajudou mesmo. Quarenta minutos depois, quando Derek apareceu, Eve estava desperta e excitada.

— Como é que você se deu com Jordan? — foi a primeira pergunta dele.

— Você viu muito bem.

— Quero dizer, depois. Puxa, ele saiu atrás de você como um demônio!

— Eu acho que ele é o próprio demônio.

— Você não gostou dele?

— Claro que não.

— Esperava que se dessem bem.

— Pois não nos demos!

— Pena.

Derek desviou os olhos. Começou a andar de um lado para o outro da sala, uma ruga na testa. Eve ficou tensa.

— Pena? Como assim?

— É um homem poderoso. A gente não ganha nada brigando com ele. Judy estava intrigada.

— Vocês estão falando de Bart Jordan?

— Sim, estamos falando de Bart Jordan, Judy. O que você sabe sobre ele?

— Bem, eu… eu… Derek?

— Tudo bem, Derek pode responder. O que tem a me dizer sobre Bart Jordan?

— Já disse, não vale a pena fazermos dele um inimigo. — Virou-se para a mulher. — Que tal um cafezinho, amor? ,

Eve sabia que ele estava mandando Judy embora para que não escutasse a conversa. Aquilo só aumentou suas suspeitas.

— Derek, quero saber o que está acontecendo.

— Não está acontecendo nada.

Mas ele estava agitado demais. Havia alguma coisa estranha.

— Tem alguma coisa que você está me escondendo.

— Imagine. Não está na hora de você ir para a cama? Amanhã terá um longo dia pela frente.

— Depois de amanhã, e depois de depois. — Ela sorriu. — Uma semana nesse ritmo e eu morro.

— Uma semana assim e você está feita para o resto da vida.

— Pensei que já estivesse feita.

— Espere só até amanhã, para ler as críticas dos jornais!

Sem esse entusiasmo, Eve Jamais teria subido até o estrelato. Devia tudo a Derek. Ergueu-se, exausta.

— Não me acorde.

— Nem para ler as críticas?

— Nem se o papa me chamar.

— Os ensaios começam as onze em ponto.

— Não precisa me lembrar.

Eve se arrastou até o quarto. Sem o pulso firme de Derek, duvidava que algum dia teria chegado onde estava. Antes, qualquer showzinho em festas ou clubes já a satisfazia. Bem diferente da vida de superestrela que Derek imaginara. E agora ela estava subindo sem parar e devia subir ainda mais.

Ainda não se acostumara a ser reconhecida nas ruas, como acontecera com o motorista de táxi. Será que Carl sabia do seu sucesso? Será que ele se lamentava pelo que tinha feito?

Que se danasse, Carl! Fazia meses que não pensava nele. Agora Bartholomew Jordan revivera suas memórias. Outra razão para odiá-lo. Mais um homem rico que pensava poder comprar tudo com seu dinheiro, inclusive amor.

Sentou na frente do espelho e tirou a maquilagem. Sentiu-se bem melhor. Derek tinha razão. Ficava mesmo com a cara de adolescente sem pintura.

No fim da semana, poderia voltar para Norfolk e ser outra vez Eve Meredith, retornar a sua casa-barco e levar uma vida normal novamente.

Mal podia esperar. Talvez não fosse do tipo de gostar do sucesso. Mas não se importava.

Como tudo parecia difícil! Eve virou-se na cama, tensa. No dia seguinte, tudo estaria melhor.

E era verdade. Na manhã seguinte, sentia-se revitalizada pela longa noite de sono. As críticas foram boas. mas discretas. Ninguém acreditava que ela fosse capaz de manter o mesmo nível até o final da semana.

— Vou mostrar a eles! — exclamou para Derek. O rapaz sorriu.

— É isso aí, assim é que se fala! O ensaio foi perfeito. Conseguiram tirar os pequenos defeitos da noite anterior. Depois Eve voltou ao apartamento para descansar. Era esguia, frágil e precisava armazenar muitas energias para cada show. Talvez os críticos tivessem razão. Talvez não agüentasse o ritmo até o final da semana. Aquele tipo de vida exigia demais.

Quando chegou ao apartamento, encontrou o maior buquê de rosas vermelhas que já vira em toda sua vida, nos degraus da porta. Judy e Derek estavam fora. Mas ao ver o cartão Eve retesou os músculos. Dizia apenas: “Bart”.

As flores foram direto para o lixo, junto com o cartão. Aquele homem

era mesmo convencido. Imagine: “Bart”!

Ficou com tanta raiva que não conseguiu dormir. Depois de meia hora andando de um lado para o outro, resolveu mandar um telegrama para ele. Dizia: “Recebido e descartado. Eve Meredith”. Aquilo mostraria o que ela pensava dele e das rosas.

Logo depois, porém, se arrependeu. Por mais que não gostasse de Bartholomew Jordan e de tudo o que ele representava, não valia a pena fazer dele um inimigo. O telegrama tinha sido um gesto infantil.

À noite, no teatro, recebeu um segundo buquê, desta vez assinado Bartholomew Jordan. Ele era um homem persistente, sem dúvida. Derek ergueu a sobrancelha quando viu o buquê no camarim. — Um admirador? — Um admirador com mais dinheiro que bom senso — ela respondeu sem dizer quem era.

Dava os últimos retoques na maquilagem. Tinha feito trancinhas tarde e soltara os cabelos, que agora caíam fartos e ondulados.

Desculpou-se, ao ver o rosto chocado do amigo.

— Tome. — Derek arrancou uma rosa e colocou-a atrás da orelha de Eve. — Que tal?

Ela se olhou no espelho. Parecia uma cigana selvagem. Tirou a rosa dos cabelos e jogou numa lixeira.

Desculpou-se, ao ver o rosto chocado do amigo.

— Ficaria murcha até o final do show.

— Mas você pode trocá-la no intervalo.

— Não quero.

— De quem são as rosas, Eve?

— Adivinhe.

— Não… não são de Bart Jordan, não é?

Eve ficou furiosa.

— O que há de especial com esse homem, afinal? Já houve muitos outros interessados em mim antes e você nunca tentou me dizer como eu devia me comportar com eles.

— E nem estou querendo que você se comporte assim ou assado com Jordan. Ele tem muita influência, só isso. Poderia dificultar bastante as coisas para nós.

— E o que você quer que eu faça? Que durma com ele só para ter certeza de que será bonzinho?

— Eu não disse isso. Puxa, você está impossível hoje, Eve! Não faria mal algum ser simpática com ele.

— Ele não quer que eu seja simpática com ele, Derek. Quer ir para a cama comigo.

— Acho que ele se sente atraído por você, mas…

— Ele me disse o que quer, Derek — ela interrompeu com firmeza. — Ele me quer em sua cama. Mas não vai me ter.

— Eve…

— A resposta é não, Derek.

— Não tenho tempo para discutir com você agora. Daqui a pouco, vai entrar no palco…Mas está na hora de ser menos… arredia!

— O que você quer dizer com isso?

— Sabe muito bem o que eu quero dizer. Faz cinco anos que a conheço e você nunca deixou nenhum homem se aproximar.

— Saí várias vezes.

— Nunca com o mesmo homem.

—Vai ver que gosto de variar.

— Não é verdade, e sabe muito bem disso. Nenhum homem sai com você mais de uma vez porque não o deixa se aproximar, nem física, nem emocionalmente.

— Você está perto de mim.

— Só como amigo.

— Tenho de ir, Derek. Nunca interferi em sua vida particular e espero que não interfira na minha.

— Mas, Eve…

— Tenho de ir.

Saiu correndo do camarim. A música já começara.

A primeira pessoa que viu foi Bartholomew Jordan. Estava sentado na primeira fila e seus cabelos castanho-claros chamavam a atenção.

Eve o fulminou com o olhar. Por causa dele brigara com Derek, coisa que nunca tinha acontecido antes. Mas o pior de tudo era que ele a fazia lembrar-se de Carl.

A apresentação daquela noite foi ainda melhor que a anterior. Eve ficou pensando no que diria a Bartholomew Jordan no final do show, e isso a incentivou. Nunca tinha cantado com tanta sensualidade os rocks, nem se abandonado com tanto langor às canções românticas.

No final, quando se curvava triunfante para receber os aplausos, sabia que eles eram merecidos. Muitos fãs aplaudiram de pé. Só um homem não aplaudia. Bartholomew Jordan se levantou e saiu pela porta do lado.

Ele que se cuidasse. Naquela noite Eve lhe diria o que pensava dele. Foi para o camarim disposta a brigar. Mas ele não estava lá. Esperou uns vinte minutos e nada. Devia estar lá fora, esperando por ela na limusine. Mas quando saiu, não havia sinal de ninguém. Ele tinha mesmo ido embora.

 

No dia seguinte, Eve estava muito agressiva; criticou os músicos, parando o ensaio diversas vezes, até que um deles gritou com ela também. Aquilo nunca tinha acontecido, e Eve ficou sem fala por alguns segundos.

— Está bem, um intervalo para todos. — Derek quebrou o silêncio. — Voltem daqui a dez minutos. Você vem comigo, Eve.

Ele a pegou pelo cotovelo e os dois desceram do palco para o camarim. Derek estava sério.

— O que há?

Eve estava com o rosto afogueado.

— Não precisava fazer isso. Eu ia conversar com o rapaz. Não foi nada.

— Nada? Você foi agressiva com todos os músicos, Eve. Que diabos está acontecendo? Está impossível!

Eve o olhou furiosa. Estava fervendo de raiva. Mas, de repente, caiu em si. Era verdade. Estava mesmo muito agressiva, e os rapazes do conjunto deviam ter reclamado há muito tempo.

— Vou pedir desculpas — falou, enfiando as mãos nos bolsos do jeans apertado.

— Isso não responde a minha pergunta. O que é que há com você?

— Nada.

Mordeu os lábios, olhando para o chão. Não sabia o que estava acontecendo de errado, só sabia que estava de mal com o mundo.

— Vai ver que estou cansada.

— Todos nós estamos. Isso não é desculpa, — Ele passou o braço pelos ombros dela. — Você sabe disso, não sabe? Escute. Eve. Guy estava tocando no tempo. Foi você quem adiantou aquela passagem.

— Eu disse que vou pedir desculpas.

— Peça direitinho. Não seria nada engraçado se os músicos nos deixassem na mão.

Tudo correu bem no resto do ensaio. Guy aceitou as desculpas e todos foram almoçar juntos, depois, para espairecer um pouco. Eve se recriminava pelo próprio comportamento. Afinal, era uma mulher sozinha construindo carreira num meio quase que exclusivamente masculino, e a última coisa que queria era ser conhecida como uma estrela temperamental.

Voltou para o apartamento de Derek a pé, curtindo o sol da tarde. Ficava irreconhecível sem as roupas sofisticadas e a pintura; parecia uma garota como qualquer outra.

À noite, antes do show, Eve já tinha esquecido o incidente do ensaio.

Estava descontraída, mas sem muito entusiasmo.

— Um presentinho para a cantora maravilhosa. — Derek apareceu na porta do camarim com um buquê enorme de rosas vermelhas. — É para você.

Ela levantou.

— Derek, você não devia.

— Eu não fiz nada.

Derek estendeu o buquê e Eve gelou. No cartão estava escrito um nome: “Bartholomew”. Ela apertou os lábios, lutando contra o impulso de agarrar as flores e jogá-las no lixo. Eram rosas vermelhas em botão, lindas. Devia ter pelo menos três dúzias delas no buquê. Quem sabe alguém gostaria de levar para a namorada?

Derek> escondeu o rosto atrás do buquê, e depois pôs só os olhos de fora, devagar.

— Posso entrar no camarim ou é muito arriscado?

Eve riu.

— Entre.

O buquê do dia anterior continuava no mesmo lugar, ainda envolto no celofane. Derek comentou: — Persistente, hein?

— Você tinha de olhar o cartão?

— Não sabia que era segredo.

— Não é. Quanto tempo falta?

— Você tem cinco minutos. Está pronta?

Eve deu uma voltinha. Usava um macacão metálico azul, perfeitamente amoldado em seu corpo.

— Estou bem?

— Sempre linda.

— Obrigada. — Fez uma mesura. — Por que tantos elogios, Derek?

— Ué, não posso? Não faz mal agradar você antes de subir no palco, faz? Parecia um pouco desanimada quando chegamos.

— Estou ótima agora.

— Passou o mau humor?

—Acho que… passou.

Derek olhou para as rosas, erguendo uma sobrancelha.

— Ele não tem nada a ver com isso, tem?

— Claro que não! Não permitiria que um homem como ele me afetasse dessa maneira.

— Um homem como ele?

— É, um homem como ele! — Os olhos azuis dela faiscavam. — Você conhece bem o tipo, Derek: tão rico que pensa que o dinheiro pode comprar tudo.

— Ele era rico também, então? Eve se retesou.

— Ele, quem? Derek sacudiu a cabeça e levantou.

— Pois eu acho que a sua fortaleza começou a ruir, querida. Bartolomew Jordan está começando a chegar em você.

— Nenhum homem chega em mim, se eu não quiser!

— Bem, é verdade. Desde que o último homem rico a deixou, ninguém mais conseguiu. Mas todo o mundo aprecia um tipo. E o seu parece ser o que tem dinheiro…

— Eu lhe mostro o que penso de homens ricos — ela falou, explosiva. — Olhe! — Pegou o buquê e jogou-o no corredor. — Faria a mesma coisa com Bartholomew Jordan se ele estivesse aqui.

Eve estava furiosa. Não deixaria que Bartholomew Jordan a importunasse. Um Carl já tinha sido suficiente em sua vida. Quando voltasse para Norfolk, aí, sim, estaria segura. Não pensaria mais nele.

Saiu correndo do camarim, o nariz empinado. Foi para os bastidores esperar pela hora de entrar no palco. Passou pelas rosas sem olhar. Não queria pensar. Não queria pensar em Bathorlomew, nem em Carl. Ainda que soubesse que nunca se esqueceria de Carl.

Quando a música começou, correu para o microfone, sorrindo artificialmente. Começou a cantar. Seus olhos se dirigiram imediatamente para a cadeira que Bartholomew Jordari ocupara na noite anterior. Estava vazia. O que aquele homem pretendia? Primeiro a enchia de rosas, depois a esnobava e não vinha ao teatro.

Mais uma vez a raiva a estimulou. Estava brilhante. O público aplaudia entusiasticamente quando saiu do palco, no intervalo.

— Fantástico! — exclamou Derek, no camarim. O empresário estendeu-lhe um copo de suco de laranja. Ela jogou-se numa cadeira, exausta. Derek franziu a testa.

— Está tão pálida. Sente-se bem?

— Eu… não, na verdade não.

Estava se sentindo fraca; a primeira hora de apresentação parecia ter sugado todas as energias de seu corpo. Pensar em voltar para o palco dali a pouco a deixava nervosa. Continuar parecia um pesadelo.

— Você tem de trocar de roupa. — Derek tirou um macacão prateado do armário. — Faltam só dez minutos para voltar ao palco.

— Eu… eu estou me sentindo estranha…

— Beba mais suco de laranja — ele ofereceu, preocupado. Eve deu um sorriso sem graça.

— Acho que não vai melhorar nada.

— Tem de melhorar. Não pode me deixar na mão agora, Eve. Vendi até a minha alma para conseguir esses cinco shows para você.

— Ninguém lhe pediu! — exclamou, zangada. — Está bem. Levantou, lutando contra a fraqueza. — Saia, que eu vou me vestir.

— Deixe-me ajudá-la.

— Não senhor! Estou acostumada a me vestir sozinha desde os três anos de idade, não preciso de ajuda nenhuma.

— Talvez seja esse seu problema, Eve — Derek exclamou enquanto ia para a porta. — Você não aceita ajuda de ninguém. Não se esqueça, ninguém passa pela vida sem o calor de outro ser humano.

— Eu passo — ela replicou, fulminando-o com o olhar. — Agora, saia daqui.

— Pode deixar, estou indo!

Ele bateu a porta com tanta força que o camarim pareceu tremer.

Eve passou a mão pela testa. Droga, o que tinha feito? Derek era o único amigo de verdade que tinha, e acabara de enxotá-lo do camarim. Correu para a porta, escancarando-a.

— Derek! — gritou. — Derek, por favor…

De lá do fundo do corredor, o rapaz se voltou lentamente.

— O que é?

— Oh, Derek, desculpe!

Ele hesitou. Depois deu um sorriso desajeitado.

— Começamos a brigar. Nada grave depois de cinco anos, não é mesmo?

— Sinto muito, de verdade. Não sei o que está acontecendo comigo.

— Está nervosa. Vamos, vá se trocar, Eve. Mais um pouco, e depois você dorme quantas horas quiser.

— E o ensaio de amanhã?

— Esqueça. Para que' ensaiar? Você está ótima. E acho que está precisando mesmo de descanso. Só mais essa horinha, Eve, e amanhã tira uma folga.

— Tudo bem — ela concordou, sorrindo.

Mas assim que fechou a porta, o sorriso foi embora. O que estava acontecendo com ela? Estava tremendo, suando frio. Alguma coisa ruim havia, devia ser grave. Mas não podia deixar Derek na mão. Ele estava falando sério quando dissera que tinha vendido a alma para arrumar aquela semana no teatro. Ela já tinha_um sucesso nas paradas, mas ainda não era bastante famosa. Achar patrocinadores para uma iniciante era tarefa difícil e Derek trabalhara meses para conseguir isso.

E, agora, queria só poder voltar para casa e dormir. Adorava cantar, desde pequena, mas não agüentaria aquele ritmo de vida. Talvez os críticos tivessem razão ao dizer que ela não tinha energia suficiente para competir com as grandes estrelas da música.

Com muito esforço, conseguiu trocar de roupa. Foi recebida por uma platéia extasiada ao voltar para o palco. Já tinha cantado o primeiro numero quando viu uma cabeça loura na multidão. Bartholomew Jordan. La estava ele de novo. Devia ter entrado durante o intervalo. Usava um terno sofisticado, roupa bem diferente da platéia frenética e jovem. Parecia que tinha acabado de vir de algum jantar importante. Ou será que ainda iria para um?

Mais uma vez ele não aplaudiu, mas seus olhos verdes não a largaram por nenhum segundo. E mais uma vez não foi ao camarim depois do show.

Eve estava intrigada com esse comportamento. Era óbvio que Bartholomew Jordan não tinha perdido o interesse por ela, mas não a estava perseguindo. Carl tinha sido muito persistente. Mas naquela época ela era muito jovem, ingênua…

Carl. Jamais o esqueceria. Naquela noite rolou na cama sem conseguir dormir. Sua cabeça estava povoada de lembranças tristes. Apesar de exausta, a imagem dele não a deixava dormir: alto, moreno, incrivelmente bonito, transbordando de charme. Nenhuma mulher era capaz de resistir aos seus encantos, ainda mais a mocinha boba que tinha sido.

Ela trabalhava num clube fora da cidade quando o viu pela primeira vez. Cantava canções populares, bem leves, dessas que não devem interferir na conversa nem na digestão de ninguém.

Carl estava sentado numa mesa com uma loura alta, muito elegante. A mulher usava uma roupa clássica, de alguma etiqueta famosa, e era muito bonita. Mas Carl não prestava atenção em sua companheira. Seus olhos fixavam Eve insolentemente, o tempo todo.

Tinha ficado tão desconcentrada que chegou a tropeçar em algumas canções, esquecendo-se de letras que já cantava há duas semanas no clube. Isso era ruim. Tinha tido sorte de encontrar aquele emprego e estava gostando do lugar.

Carl veio na noite seguinte, dessa vez sozinho, e a convidou para um drinque durante o intervalo. Eve recusou, pois era regra do clube a cantora não se envolver com os freqüentadores. Ela gostara disso, pois na maioria dos lugares em que trabalhara costumava ser muito assediada. Mas dessa vez gostaria de poder aceitar. Estava atraída por aquele homem.

Na noite seguinte, ele voltou e a convidou para jantar depois da apresentação. Foi o que fizeram, naquela e nas outras noites que se seguiram. Carl sempre aparecia no final de sua apresentação e os dois saíam. Ele era gentil, carinhoso. Eve lhe contou toda sua vida: de como tinha ficado órfã na infância, e que tinha sido criada por seus padrinhos.

Ele, por sua vez, apenas disse que se chamava Carl Prentiss e que possuía negócios na cidade.

Eve tinha sido totalmente ingênua e tola. Ficara encantada pelo charme dele. Cada vez que saíam, Carl fazia questão de levá-la nos melhores lugares e a fascinava com sua segurança e firmeza.

Quando a beijava, ele nunca procurava tirar vantagem. Era um plano inteligente e agora ela compreendia. Eve teria saído correndo se tivesse desconfiado das verdadeiras intenções dele.

Fazia dois meses que estavam saindo duas ou três vezes por semana. Ela estava tão apaixonada que quando ele anunciou que tinha um presente, logo pensou num anel de noivado.

— Encontrei um apartamento para você — ele falou.

Eve franziu a testa, sem entender direito.

— Um apartamento?

— Sim. — Ele sorriu encantadoramente. — Um lugar onde podemos ficar sozinhos.

— Mas… mas eu já tenho um apartamento.

— Com mais quatro garotas — ele brincou. — Eu disse um lugar onde podemos ficar sozinhos, Eve. Quero ficar a sós com você, querida. — A mão dele acariciou-a na coxa, de leve, através do tecido fino da saia. — Completamente a sós.

— Mas eu não posso pagar um apartamento sozinha.

Carl não estava sugerindo que se mudassem juntos para lá, estava? Talvez fosse antigo, fora de moda, mas ela acreditava que devia se casar antes de morar com um homem.

Ele a desarmou com o mais charmoso dos sorrisos.

— O aluguel é muito barato, querida. Isso significa que irei visitá-la toda vez que puder escapar do escritório.

— E quando eu não estiver no trabalho, também — ela emendou apressadamente, preocupada com a súbita mudança.

Até então Carl e ela só tinham se beijado, e agora ele parecia querer mais intimidades, horas a sós com ela num apartamento.

Apesar de tudo, ficou maravilhada com o apartamento que ele encontrara: amplo, arejado, com vista para um rio e todinho mobiliado. O aluguel era bem modesto. Ficou embaraçada ao ver o tamanho da cama que havia no quarto e Carl quis demonstrar que era do tamanho exato para os dois.

Eve entrou em pânico quando percebeu que ele não pretendia parar de acariciá-la, e pulou da cama. Carl riu, deliciado, mas não insistiu.

Ela devia ter percebido então, devia ter desconfiado das intenções dele… mas era jovem demais, apaixonada demais.

Já fazia dois dias que tinha se mudado quando Carl apareceu uma noite e disse que podia dormir lá aquele dia porque sua mulher e filhos tinham ido passar as férias na praia.

Eve gelou, horrorizada.

— Mas… eu pensei que você me amasse. Pensei que você quisesse casar comigo.

Ele comprimiu os lábios.

— Com você? — ele zombou. — Homens como eu não casam com garotas do seu tipo.

— Garotas do meu tipo?

— Ora, vamos, querida — ele falou, desdenhoso. — Já sabia desde o começo o que eu queria! Só se segurou porque você queria mais coisas em troca do que vai me dar agora.

— Sai daqui! Saia e não volte nunca mais!

Ela se virou e começou a soluçar, desesperada. Carl era casado. Casado!

Carl a puxou violentamente, forçando-a a encará-lo. Seu rosto se transformara numa máscara maldosa e feia.

— Se alguém tem de sair, Eve, tem de ser você. Acontece que esse apartamento é meu.

Eve ficou sem cor.

— Seu? Mas… mas eu pago o aluguel. Eu…

A risada gutural dele a interrompeu.

— Aluguel! Você chama aquela ninharia de aluguel?

— Bem, eu…

— Cresça, Eve — ele falou, sarcástico. — Abra os olhos. Um apartamento nesse bairro, deste tamanho, custa dez vezes o que você está pagando. — Puxou-a para seus braços. — Não dificulte as coisas, querida — ele falou, beijando-a no pescoço. — Não vamos mais perder tempo discutindo.

Eve se debatia para se livrar daqueles braços de ferro.

— Aquela mulher… aquela que estava com você na primeira noite lá no clube…

— Minha esposa — ele falou com impaciência, puxando a blusa de seda dela para trás.

Eve se sentiu enojada. Engoliu em seco.

— Solte-me! — gritou, empurrando-o. — Solte-me, Carl!

A blusa tinha se rasgado. Ela estava pálida, trêmula.

Carl estava furioso.

— O que há com você? Já sabia das regras quando se mudou para cá. Oh, querida, sei que você gosta de representar, mas…

— Representar? — Eve procurava cobrir o sutiã rendado e transparente com a blusa rasgada. Sentiu o rosto corar.

— Resolveu bancar a doce e jovem virgenzinha?

Eve ergueu os olhos azuis e límpidos para ele, o coração louco de dor. Como podia ter se apaixonado por aquele monstro, aquele homem insensível, bruto, que não desejava nada além de seu corpo?

— Como pode dizer isso? Eu sou virgem.

— Sei disso, Eve. Mas você nunca me negou carícias… — Ele sentou no sofá e a puxou para si. — É uma mocinha muito sensual, e depois de algumas lições sei que poderá me satisfazer plenamente. — Riu, erguendo-a no colo com facilidade. — Está na hora da primeira lição — continuou, andando para o quarto. — Quem sabe depois você fica menos melindrosa…

— Não! — ela gritou, se debatendo.

Mas Carl era forte. Ele a jogou na cama e se deitou sobre ela, beijando-a possessivamente. Suas pernas não a deixavam escapar.

Eve lutava com todas as suas forças. Mas Carl não parava. Ele foi arrancando as roupas dela com firmeza, até que ficasse totalmente nua. O rosto dela ardia de vergonha e humilhação. Quando os lábios dele se moveram para os seus seios, ela cravou as unhas nas costas dele. Carl gemeu de prazer.

— Você está aprendendo — ele zombou. — Gosto disso. Faça de novo, gatinha selvagem.

Eve quis gritar, se debater, e dessa vez suas mãos foram para o rosto dele, arranhando sua pele bronzeada. Carl soltou um grito de dor. Levou a mão ao rosto.

— Sua vagabunda!

Eve viu o sangue correndo pelos quatro riscos que ela deixara na pele dele.

— Sua vagabunda! — ele repetiu, esbofeteando-a.

— Carl! — Ela se espremeu contra o travesseiro, apavorada.

— Escute, sua idiota! Como é que acha que vou conseguir explicar esses arranhões para minha mulher? — Segurou-a pelos ombros, sacudindo-a. — Sua vagabunda estúpida! Estúpida! — Seus olhos eram duas brasas ardendo. — Pois bem, vai pagar caro por isso!

O que se seguiu foi a experiência mais humilhante de toda sua vida. Eve foi submetida com brutalidade a todas as vontades de Carl. Quando ele terminou, levantou e foi se vestir, sem olhar para trás. Eve se encolheu sob o lençol. Seu corpo estava todo machucado e dolorido.

Ele deu o nó na gravata meticulosamente. Mais uma vez se transformara no cavalheiro elegante que tinha chegado há uma hora. Só fazia uma hora que ele viera?, pensava Eve. Parecia um pesadelo sem fim. Seu corpo tinha sido violado, usado, abusado.

Mas Carl não se importava. Pensava nos arranhões que ela tinha feito em seu rosto. Fez uma careta em frente ao espelho.

— Helen vai me matar. O que é que vou dizer para ela, droga!

Eve soluçava baixinho.

— Por que não diz a verdade?

— Que verdade? Que uma gatinha selvagem me arranhou? Não vai nem ser preciso dizer. Ela vai adivinhar na hora. Não foi muito esperta, Eve. A família de Helen é importante e poderosa. Terei de fazer penitência por muitas semanas antes de voltar. — Ele sentou na cama. — Não vou poder vê-la; por algum tempo, querida. Só depois que a gritaria acabar.

Eve se encolheu, enojada.

— Quer dizer que você… pretende voltar para cá?

— Claro. — Ele riu guturalmente. — Foi um pouquinho rude, Eve, mas eu gostei. — Beijou-a na boca. — Ligarei quando puder escapar. Cuide-se bem, garota.

— Carl…

Mas Carl não respondeu. Ela escutou a porta batendo. Estava sozinha.

Quanto tempo ficou ali, imóvel, olhando o teto, nunca soube. De repente, começou a chorar incontrolavelmente. Seu mundo ruíra.

Mas a humilhação não tinha acabado.

Conseguiu dormir nas primeiras horas da manhã. Estava cansada demais para ir embora. Foi acordada pela campainha insistente de um rapaz de entregas. Ele carregava um buquê enorme de rosas vermelhas,

— Senhorita Meredith?

Eve puxou o robe com as mãos trêmulas.

— Sim — respondeu, a voz rouca por causa do choro da noite anterior. — O buquê é para a senhorita.

Eve pegou as flores como um autômato, e foi até o quarto buscar sua bolsa. Depois de ter dado a gorjeta para o rapaz, fechou a porta lentamente, como num sonho. As flores eram de Carl, claro. O cartão dizia: “Desculpe, querida. Eu a amo. Telefono logo”.

Ele a amava, apesar da maneira como a tinha tratado? A idéia que ele fazia do amor era muito diferente da dela. Quanto mais rápido se livrasse dele, melhor se sentiria. Deixou o buquê sobre a mesa e ligou para Rosemary, uma de suas colegas de apartamento.

Rosemary prontificou-se a recebê-la de volta, só que teria de dormir no sofá da sala, pois seu quarto já fora alugado. Eve achou ótimo. Qualquer lugar que não fosse aquele apartamento era um paraíso.

Estava fazendo as malas quando ouviu um barulho de chave na porta. Carl! Ele já estava de volta! O que faria?

Ela desamassou a camiseta com as mãos, mais jovem e desamparada que nunca. Foi para a sala. Soltou uma exclamação abafada ao ver quem era. Helen Prentiss, mulher de Carl!

A mulher a mediu de alto a baixo com desdém. Seus olhos eram azuis e muito frios. Estava impecável, com um taüleur de linho e sapatos e bolsa combinando.

— Srta. Meredith?

Eve molhou os lábios, aturdida. Quando aquele pesadelo ia acabar?

— Sim.

Helen Prentiss pegou o cartão do buquê.

— Ele é quem está pedindo desculpas? Depois das marcas que deixou no rosto dele, pensei que fosse você quem pediria desculpas. Foi você quem fez aquilo, não foi? — Ela soltou uma risada histérica. — Não vá dizer que ele engana nós duas!

— Não. Fui eu.

— Verdade? — Os olhos azuis se estreitaram perigosamente. — Estranho. Você não parece ser do tipo violento. Mas a gente nunca sabe. Importa-se se eu sentar? — perguntou, calma.

— Eu… não. Sente-se.

A mulher cruzou as pernas bem-feitas. Eve não podia compreender por que Carl não era feliz com uma mulher tão bonita. Talvez fosse. Talvez simplesmente gostasse de ser infiel.

Helen Prentiss olhou para ela.

— O que você pretende fazer com meu marido?

Eve mordeu os lábios secos.

— Fazer? — repetiu, sacudindo a cabeça. — Não estou compreendendo.

A outra mulher suspirou.

— Quantos anos você tem, minha querida?

— Quase vinte.

— Você foi a mais jovem até agora.

— Mais jovem?

— Sim. — A mulher soltou uma risada. — Você não pensa que é a primeira, pensa?

— Eu… bem, não tinha…

— Não tinha pensado nisso. Até onde eu sei, você é a sexta que vem para este apartamento.

Eve se deixou cair numa cadeira, sentindo as pernas fraquejarem. Era a sexta de uma fila! Olhou para Helen Prentiss.

— Você não se importa?

Helen encolheu os ombros.

— Nas primeiras duas me importei. Agora já passei dessa fase. Mas te­nho de pensar nas crianças. Não quero que elas descubram quem o pai é.

— Quantos anos têm seus filhos?

— Nove, seis e quatro. Os últimos dois foram tentativas de reconciliação. Não deu muito certo. — Abriu a bolsa e tirou um cheque. — Agora, diga, quanto quer para desaparecer da vida do meu marido?

Eve empalideceu. Ergueu-se como uma mola.

— Não quero dinheiro nenhum. De qualquer forma, já estou indo embora. Estava arrumando as malas quando você chegou.

— Muito bem. — Helen Prentiss a olhou com curiosidade. — Sinto muito por ter feito isso, srta. Meredith.

— Você não fez nada. Como disse, eu ia mesmo embora.

Helen andou lentamente até a porta e depois se virou. Havia uma sombra de tristeza em seu olhar.

— Ele é um bruto, não? — falou resignadamente, antes de sair.

Eve arrumou as malas o mais rápido possível e saiu para nunca mais voltar. Carl ainda tentou vê-la, mas ela não quis saber dele. Tinha aprendido a duras penas sua lição. E esse aprendizado era para sempre.

E agora um outro homem, rico como Carl, a perseguia, um homem que também lhe enviava rosas vermelhas. Mas Bartholomew Jordan não conseguiria nada dela.

 

Na noite seguinte, as rosas chegaram como sempre, com o nome “Bart” no cartão. E lá estava aquele homem de novo na platéia, os olhos verdes cravados nela, enigmáticos. Ficou até o fim.

Eve tinha se sentido melhor à tarde, pois pudera dormir até o meio-dia, mas agora estava de novo fraca e gelada como na noite anterior. Derek a segurou quando ela cambaleou na saída do camarim.

— O que é? — ele perguntou, preocupado, estudando o rosto pálido.

— Eu… não sei — murmurou baixinho, sentindo o mundo girar a sua volta. — Estou… me sentindo… estranha.

— A srta. Meredith está sofrendo de estafa — Bartholomew Jordan falou autoritariamente da porta. — Traga meu carro até a porta de trás do teatro — ordenou a Derek. — Levo Eve para casa.

— Não.

Ela se debateu em vão nos braços de Bartholomew Jordan. Ele a segurou pela cintura e a levou até a cadeira. Suas pernas e braços pesavam, o corpo inteiro parecia apático, o mundo retrocedia na névoa.

Estava completamente largada.

Bartholomew Jordan se abaixou para esfregar suas mãos. Estava muito atraente, o terno escuro realçando o bronzeado da pele e contrastando com os cabelos louros.

— Há quanto tempo você está assim?

Eve sacudiu a cabeça, tentando dissipar a névoa que tomava conta do seu cérebro.

— Eu… só agora. — Molhou os lábios com a ponta da língua. — Eu estava bem… ali — completou, fazendo um sinal em direção ao palco.

— Pois para mim você esteve a beira de um colapso todos esses dias.

— Não tive um colapso. Só estou cansada.

— Só! Imagine! Derek não tinha o direito de forçá-la a continuar nesse estado.

Um brilho de rebeldia se acendeu nos olhos de Eve.

— Ninguém me força a nada, sr. Jordan. Tenho vinte e cinco anos de idade, controlo minha própria vida e sou dona de meus atos. E posso voltar sozinha para casa.

Ele a olhou sério.

— Pode escolher, Eve. Ou vai no meu carro, ou vai de ambulância.

— Vou de carro, mas…

— Então eu a levo.

— Eu não quero que você me leve, eu… — E de repente ela começou a chorar.

O que estava acontecendo, afinal? Nunca chorava, nunca, nunca! Mas agora se desmanchava em lágrimas, o rimei escorrendo pela face pálida, o corpo sacudido por soluços.

Bartholomew Jordan a segurou pelos ombros, com firmeza.

— Pare, Eve. Vamos, contenha-se.

— O que, me conter? — Ela começou a bater com os punhos fechados no peito dele. — É tudo sua culpa! Sua culpa! — acusou, e depois abaixou a cabeça, encostando-se nele.

Derek apareceu a porta, a testa enrugada.

— O carro está aí. — Olhou para Eve, preocupado. — Eve…

— Deixe-a — ordenou Bart, erguendo Eve nos braços. — Quero falar com você depois.

Eve foi colocada gentilmente no banco do carro. Bart a cobriu com um cobertor. Estava gelada.

— Tome a chave de casa — falou Derek, entregando-a para Bart. — Eu uso a de Judy.

— Judy?

— Minha mulher. Estaremos lá mais tarde. Agora tenho de acertar umas coisas aqui no teatro.

— Está bem. Fico com Eve até vocês chegarem.

Ele deu a volta e sentou do outro lado. Deixando a cabeça dela descansar em seu colo.

Eve se sentiu aquecida e protegida, O cheiro doce da loção após-barba era delicioso. Ela se aconchegou e ficou quieta.

Ele era tão quente, quente e confortável, e…

Quando acordou, a limusine estava estacionada em frente ao prédio de Derek e Bartholomew Jordan a carregava para fora do carro.

— Eu posso andar — falou com voz fraca.

— Oh, sim, pode — zombou ele.

Adam os acompanhou discretamente, destrancou a porta do apartamento e acendeu as luzes.

— Pode ir, Adam — dispensou-o Bart. — Qual é o quarto? — Ele perguntou, o rosto bem próximo ao de Eve.

— Ali.

Bart a colocou na cama.

— Acho que Derek e a mulher usam o outro quarto, não?

— Sim.

— Então ele não é seu amante?

— Claro que não.

— Mas você me deixou acreditar que era.

— Por que não? Era isso que você queria pensar, não era?

Ele soltou uma risada.

— Sabe muito bem que não. — Ergueu a cabeça. — Onde é o banheiro?

— Aqui ao lado.

— Volto daqui a pouco.

Bart voltou com água e flanela. Sentou-se na beirada da cama e começou a limpar o rosto de Eve meticulosamente. Ela quis protestar, depois desistiu. Devia estar horrível, com o rosto todo manchado da maquilagem.

Quando ele terminou, havia um brilho malicioso em seus olhos.

— Você fica terrivelmente sexy com a pintura — falou com voz rouca. — Mas, sem ela, fica… linda.

Eve virou o rosto no travesseiro, embaraçada.

— Fico com cara de dezesseis anos.

— Exatamente. Esta é a verdadeira Eve.

— Sou a verdadeira Eve, com ou sem maquilagem. E já que você começou, pode muito bem terminar. Vá buscar o creme e o algodão que estão no armarinho do banheiro. Uso o creme para a pele não ressecar.

Ele estendeu os dedos longos e bronzeados para acariciá-la no rosto.

— Não precisa. Você tem uma pele de pêssego, Eve.

Inclinou-se, rápido, e a beijou de leve no rosto, um beijo doce e quente.

— Antes que você passe o melado — ele brincou, sorrindo.

Eve estava com as faces ardendo. Nenhum homem a beijara tão afetuosamente antes.

— Obrigada — ela falou quando ele voltou com as coisas. Ele a ajudou a passar o creme no rosto com cuidado.

— Agora, as roupas.

— Não! — Eve se apertou contra o travesseiro, os braços cruzados defensivamente sobre o corpo. — Posso fazer isso sozinha. Agradeço sua ajuda, mas…

— Deixemos a gratidão para depois. Agora você vai tirar essa roupa e dormir.

Ele a ajudou a sentar, abaixando o zíper do macacão.

— Pare! — Ela cobriu os seios com as mãos, pois não usava nada por baixo da roupa, para não marcá-la. — Deixe que eu me troco sozinha.

Antes que ela se desse conta, ele já tinha puxado o macacão até sua cintura.

— Já vi um corpo de mulher antes. — E puxou o macacão até seus pés. — E não era tão pele e osso como o seu.

Eve ficou furiosa.

— Não sou pele e osso!

— É, sim — ele insistiu, olhando para o corpo dela com naturalidade. — Magra demais. Onde está sua camisola?

— Debaixo do travesseiro.

— Deixe-me pegá-la, então. E pelo amor de Deus, pare de se comportar como uma virgem ultrajada. Duvido que eu seja o primeiro homem a ver você sem roupa. .

Eve corou. Só Carl a tinha visto nua, e ele não estava interessado em admirar seu corpo. Queria apenas possuí-lo. Ele a machucara tanto que ela jurara que nenhum homem a veria nua novamente. E agora Bartholomew Jordan a olhava com o maior pouco caso, ainda por cima charnando-a de magricela!

Franziu a testa, zangada.

— Eu ponho a camisola.

— Está bem.

Mas foi ele quem enfiou a camisola de algodão pela cabeça dela e cobriu seu corpo. Eve estava ficando furiosa.

— Não devia estar voltando para casa, para sua mulher, sr. Jordan? Tenho certeza de que a roupa de dormir dela é bem mais interessante que | a minha.

Bart ergueu a sobrancelha, divertido.

— Não tenho mulher, Eve. Mas se eu tivesse, a roupa de noite dela seria eu.

— Oh! — Eve ficou mais vermelha ainda. — Achei que você era casado.

— Ainda não caí nessa armadilha. — Apertou os olhos. — E por isso que rejeitou minhas flores?

— Acontece que eu odeio rosas vermelhas.

— Jamais imaginei isso. Pensei que todas as mulheres gostassem de rosas vermelhas.

— Eu não!

— Então era das flores que você não gostava, e não de mim?

— Não disse isso.

— Gostaria de receber um pedido de desculpas pela outra noite?

Ele voltou a sentar na cama. Eve estava perturbada. Bart era um homem vibrante demais, sensual demais e não gostava de tê-lo tão perto.

— Desculpas? — ela repetiu.

— Fui grosseiro com você. Não que seja mentira que eu a deseje, mas, não podia ter a pretensão de que gostasse de mim. Quanto mais que fosse para a cama comigo.

Eve enrugou a testa. Não estava confiando muito naquela súbita mudança de comportamento. Ele parecia ser muito determinado; devia ser um truque para sensibilizá-la.

— Estou cansada. Gostaria de dormir agora.

— Claro. — Ele se curvou e a beijou de leve na testa. — Você não é forte o suficiente para esse tipo de vida.

— Só falta uma noite.

— Acho que você não vai conseguir. — Mas preciso cantar.

Ele ajeitou as cobertas.

— Acho que Derek chegou. — Foi até a porta. — Posso vir vê-la amanhã?

Eve o olhou por alguns segundos. Depois sacudiu os ombros.

— Se você quiser. Mas já vou estar bem melhor.

— Duvido muito. Virei às onze.

— Mas sem rosas, OK? Ele se virou e sorriu.

— Sem rosas.

Judy entrou minutos depois, preocupada com a amiga.

— Como está, querida?

— Melhor. O sr. Jordan me ajudou bastante — falou, desajeitada. Judy olhou para a camisola de Eve.

— Ele trocou sua roupa?

Eve corou. Judy sabia, tanto quanto o marido, que ela não permitia que nenhum homem se aproximasse dela. E agora tinha deixado que um quase desconhecido trocasse sua roupa.

— Não tive muita escolha.

— Ele é um pouco arrogante, não?

— Bastante.

— E melhor você descansar agora. — Judy sorriu. — Mas acho que Derek ainda vem vê-la.

Quando ficou sozinha, Eve não conseguia apagar a imagem de Bartholomew Jordan de sua cabeça. Por que ele estava tão interessado por ela? Por que não escolhia uma mulher que estivesse também interessada por ele? Sem dúvida, gostava de jogar alto, para vencer. Era um homem rico, acostumado a ver todas as suas vontades realizadas.

Ficou contente ao ver Derek. Não tinha nada que ficar pensando em Bartholomew Jordan. Afinal, partiria de Londres dali a dois dias e jamais o veria de novo.

— Foi embora. — Derek deu um sorriso sem graça. — Estava furioso comigo.

— Mas por quê?

— Por deixá-la cantar esta noite. Contei que você tinha se queixado de tontura ontem. E ele achou que eu fui um louco de forçá-la a cantar de novo.

Um brilho de rebeldia acendeu os olhos azuis de Eve.

— Mas que direito ele tem de meter o nariz em nossos negócios?

— Bem, ele está interessado.

— Só porque um homem está querendo ir para a cama comigo não significa que possa tomar conta da minha vida. Estou louca para que termine logo essa temporada. Quero voltar para Norfolk. Estou cansada de Londres!

— Jordan disse que era para você descansar. Então, acho melhor ir saindo.

— O que é que há com você. Derek? Desde quando obedece Bartholomew Jordan? Derek ficou vermelho.

— Não é uma questão de obedecer, Eve. É só olhar para a sua cara e ver que o homem tem razão. E nada de brigas. Depois da bronca de Jordan, não estou com humor para discutir com ninguém. Agora vá dormir. Amanhã chamaremos um médico para examiná-la.

— Não me diga! Ordens de Bartholomew Jordan, de novo?

— Adivinhou — disse Derek, sem jeito. — Ninguém ganha uma discussão com ele.

— Eu ganhei.

Seria verdade? Agora Eve já não estava tão certa. Ele continuava presente em sua vida.

— Durma bem — falou Derek, fechando a porta com cuidado. Já passava das dez quando Eve acordou no dia seguinte. O tempo exato para tomar um banho e trocar de roupa antes que Bartholomew chegasse. Derek entrou quando ela saía da cama.

— Onde você pensa que vai?

Eve não sentia embaraço na frente de Derek. Ele estava acostumado a vê-la de camisola pelo apartamento. Além disso, a camisola de algodão escondia mais seu corpo que o macacão que ela usava no palco.

— Bart Jordan não vai mais me encontrar deitada — ela falou com firmeza. — Eu fico em desvantagem. Não dá para discutir.

Derek sorriu.

— O médico deve estar chegando. E melhor você ficar na cama para ele examiná-la.

— Mas eu não quero nenhum médico! Por que você chamou um? Eu não chamei ninguém. Jordan me ligou para avisar que o médico chegaria às dez e meia.

— Ele não tem o direito…

A campainha tocou naquele momento. Eve cruzou os braços, possessa.

— Se for Bartholomew Jordan, diga que saí do país e que você não faz idéia para onde eu fui.

— E se for o médico?

— Diga que eu…

A porta se abriu e Judy entrou com um homem distinto, de cabelos grisalhos. O médico. E devia ser uma pessoa acostumada a visitar mansões de mulheres elegantes que usavam as mais sofisticadas lingeries. Sentiu-se terrivelmente sem graça dentro daquela camisola amarrotada.

— Srta. Meredith?

O médico parecia tão confuso que Eve sentiu vontade de rir.

— Sim, sou eu.

Derek saiu do quarto com a mulher, os dois mal disfarçando o divertimento.

O homem estendeu a mão com gravidade.

— Sou Edgar Holliston. Bart Jordan pediu-me que viesse vê-la.

— Muito pazer. Mas não preciso ser examinada. Eu…

— Bart me contou do mal-estar que teve na noite passada, srta. Meredith. Como médico, permita-me dizer que a senhorita necessita urgentemente de um exame.

— Estou ótima agora — insistiu.

— Mas não faz mal fazermos um check-up, não acha?

— Não preciso de um check-up. E o senhor não é o meu médico.

— Desculpe-me, srta. Meredith, mas esta manhã sou o seu médico. Bart Jordan me chamou com urgência, e cancelei muitas visitas para vir até aqui. Quer se deitar, por favor?

Eve deitou soltando faísca pelos olhos. Não que o médico fosse ruim; ao contrário era muito cuidadoso e experiente. Mas tinha vontade de agarrá-lo pelo pescoço por causa de Bart Jordan. E era capaz de fazer isso quando Bart chegasse às onze horas.

Edgar Holliston deu um passo atrás.

— Sua pressão está um pouco alta, mas isso se deve ao nervosismo. Bart insistiu que eu viesse porque estava preocupado com sua saúde.

— Vivi muito bem até hoje sem a interferência dele. O médico riu, divertido.

— Bem que Bart avisou que você era rebelde.

— Pois ele devia guardar as opiniões para si mesmo,

— Está em forma de novo — falou Bartholomew Jordan da porta. Eve o fulminou com o olhar.

— Não costuma bater antes de entrar no quarto dos outros? — reclamou, cobrindo-se com o lençol até o pescoço. — O doutor Holliston podia estar me examinando ainda.

— Não me importo. Sir Edgar é meu amigo de longa data. Eve arregalou os olhos para o médico.

— Sir Edgar?

— Bem… sim. Mas raramente uso meu título — ele explicou, acanhado.

— Como vão as coisas, Edgar? — Bart perguntou.

— Já terminei de examiná-la.

— Então?

Eve estava boquiaberta. Quem era aquele homem que entrara na sua vida como um rojão e que ameaçava tirar todo o controle das mãos dela? Um homem bonito, rico, terrivelmente charmoso e elegante…

Bart estava usando calças marrons e camisa creme aberta no pescoço. Sua pele bronzeada contrastava com os cabelos louros e os olhos vivos e verdes.

O médico guardou o estetoscópio na mala.

— Como você disse. Bart, estafa completa.

— Estou boa! — gritou Eve da cama, sentido-se perdida. Mas era mentira. Só de ter levantado já se sentia cansada.

— A senhorita deveria ir para uma clínica de repouso e ficar lá uma ou duas semanas. É uma moça muito jovem e bonita, Eve, mas tem de cuidar melhor de seu corpo. Ele deve estar reclamando há muitos dias para chegar a esse ponto de estafa!

Eve sentou como uma mola. Abotoou a camisola rapidamente ao ver os olhos de Bart.

— Talvez o seu corpo reclame para o senhor, doutor Holliston. Mas o meu não me diz nada. E não vou para clínica nenhuma!

— Entende o que eu quis dizer? — Bart voltou-se para o médico.

— Ela é impossível. Sir Edgar riu.

Ora, Bart, você não pode falar muito! Faria exatamente a mesma coisa se estivesse no lugar de Eve. Acho que você é o pior paciente que tenho, o mais difícil e cabeça-dura.

Eve deu um sorriso triunfante. Agora ela tinha gostado. Ainda mais que Bart fez uma careta.

— Se Eve se recusa a ir para uma clínica — falou Bart — então vou ter de cuidar do corpo dela. Do descanso de seu corpo, claro — emendou com ironia.

Eve corou até a raiz dos cabelos. O médico soltou uma risada.

—Bem, contanto que ela descanse… — Olhou para a paciente. — E você, minha jovem, faça o favor de obedecer.

— Sei cuidar de mim mesma.

— E agora, Bart?

— Não se preocupe. Eu cuido dela.

— Ninguém cuida…

— Eve… chega de reclamar.

— Não! Você não manda em mim! Eu…

Mas não pôde continuar. Bart cobriu sua boca com um beijo leve, mas demorado.

Eve levou tamanho susto que demorou alguns minutos para recuperar os sentidos e lutar contra ele. Debateu-se com força, mas suas mãos pareciam se enredar nos cabelos louros de Bart.

Havia um brilho de triunfo nos olhos dele quando a soltou e a deitou de novo no travesseiro.

— Cada vez que você falar demais, vou beijá-la. Daí você fica quietinha.

— Como ousa… como…

— Está me desafiando para outro beijo, Eve? — ele perguntou, curvando-se ameaçadoramente.

— Não!

Bart levantou, dirigindo-se para o médico.

— Vou acompanhá-lo até o seu carro, Edgar.

— Ótimo. E quero que você siga minhas instruções, Eve. Não quero encontrá-la num quarto de hospital da próxima vez.

— Eu… Obrigada, doutor… Sir Edgar.

— Fique aí até eu voltar — ordenou Bart, antes de sair com o médico. Ele era arrogante, autoritário, sarcástico. Como se atrevia?

— Se olhar matasse! — falou Derek, entrando no quarto. — Puxa, Eve, parece que você quer torcer o pescoço de alguém!

— E quero mesmo! Ele é tão arrogante!

— Não estou mais feliz do que você com essa situação. Mas tenho de concordar com Bart. Você não pode continuar nessas condições.

— Não posso continuar? Do que está falando?

— Claro que não foi fácil, mas deu para cancelar o show desta noite. Eve soltou uma exclamação abafada. Seu rosto ficou branco como papel.

— Está me dizendo que cancelou a apresentação?

Derek franziu a testa.

— Eu, não. Bartholomew Jordan.

 

Eve nunca tinha sentido tanta raiva antes. Carl era dominador, mas nunca, jamais chegara a esse ponto. Ninguém ousara até então tomar uma decisão tão importante por ela.

Derek deu um passo atrás, atemorizado.

— Calma, Eve — pediu, alarmado. — Você sabe que não seria capaz de fazer um show de duas horas esta noite. Está muito abatida, parece que qualquer ventinho conseguiria derrubá-la.

Mas Eve estava furiosa. O sangue fervia em suas veias. Não conseguia nem falar.

— Eve…

— Quer fazer o favor de sair, Derek? Gostaria de ficar sozinha um minuto.

— Olhe, Eve…

— Por favor, Derek! Saia. Não é culpa sua, eu sei, mas se não sair desse quarto já, direi coisas terríveis. Sou capaz de… Por favor, Derek.

— Está bem.

— Quando o sr. Bartholomew Jordan voltar, quero falar com ele.

— Nem vou precisar pedir. Ele vem direto para cá.

— Ainda bem. Está na hora de alguém dizer o que as pessoas pensam dele.

— Eu e Judy vamos tapar os ouvidos — falou Derek, sorrindo.

— Escute, Derek. Há alguma possibilidade de marcar de novo o show desta noite?

— Não. E mesmo que houvesse, eu não faria isso. Está muito abatida, Eve, acho que exagerei no ritmo dos ensaios.

Assim que ele saiu, Eve pulou da cama e pôs um jeans justo e uma camiseta azul-clara. Tinha acabado de pentear os cabelos longos quando ouviu a voz de Bartholomew Jordan na sala. Agora se sentia melhor para brigar com ele. Na cama, deitada, se sentia inferiorizada. Se bem que só com o esforço de trocar de roupa a fraqueza voltava.

Apesar disso, foi capaz de encarar Bartholomew Jordan com coragem quando ele entrou.

— Eu disse que era para você ficar na cama.

— Ninguém me diz o que devo fazer, sr. Jordan. E isso inclui minha vida particular. Ninguém tem o direito de interferir nela. Como se atreveu a cancelar meu show de hoje?

— Eve…

— Quem lhe deu permissão para entrar assim na minha vida e tomar conta de tudo?

— Eve…

— Porque eu não dei! — ela gritou, possessa.

— Eu avisei. — Bart a derrubou na cama com facilidade, deitando-se sobre ela. Segurava as mãos de Eve sobre a cabeça, as narinas dilatadas. Sua respiração quente acariciava o rosto dela.

— Tire as mãos de cima de mim!

— Agora que consegui prendê-la na cama? Nunca.

Jordan inclinou a cabeça devagar, e seus lábios cobriram os dela. Eve cravou as unhas na mão dele, mas isso só fez com que ele a beijasse com mais sofreguidão, forçando-a a abrir os lábios. O corpo dele pesava sobre o dela, ofegante.

Bart ergueu a cabeça. Seus olhos verdes eram duas brasas.

— Sua gatinha selvagem — falou, irônico, olhando para as marcas que ela tinha deixado em sua pele.

Eve se encolheu como se ele tivesse lhe dado um soco. Carl também a tinha chamado de gatinha selvagem depois que ela o arranhara. Será que todos os homens gostavam da dor?

Bart franziu a testa. Segurou seu rosto e forçou-a a encará-lo.

— Qual é o problema? O que há de errado, Eve?

Foi fácil para Eve empurrá-lo dessa vez, pois não estava oferecendo resistência.

— Você me beija contra minha vontade, não pela primeira vez, e ainda pergunta o que há de errado? Odeio ser forçada a fazer coisas, sr. Jordan, é isso que está errado!

Devagar, muito devagar, Bart sentou na cama. Depois, levantou e foi até a porta.

— Aonde você vai?

— Você se importa?

— Bem, eu…

— Já volto. — Sorriu, malicioso. — Não se preocupe, não estou indo embora.

— Não estou preocupada. Na verdade, gostaria mesmo que fosse embora.

— Sei disso. Mas ainda temos que conversar sobre algumas coisas.

— Coisas? Que coisas?

— Paciência, Eve. Ela é uma virtude, sabia?

— Como pode me dizer isso, se você não tem nenhuma?

— Onde está aquela mulher sofisticada do nosso primeiro encontro? Está se comportando como uma criança. Todo esse ressentimento só porque eu tive o bom senso de dizer a Derek que você não faria o show desta noite.

— Prefiro tomar esse tipo de decisão sozinha.

— Mas você cancelaria o show?

— Não sei. Nem tive chance.

— Não finja que você tomaria essa decisão. Talvez eu devesse tê-la deixado fazer o show. Talvez você merecesse mesmo ir parar no hospital com um colapso nervoso, como Edgar disse que aconteceria. É isso o que você quer?

— Sabe muito bem que não.

— Então pare de agir como uma criança caprichosa, e comece a dar graças a Deus por ter escapado do pior.

Saiu, batendo a porta com força.

Bart estava certo; ela sabia que ele tinha razão. Mas gostaria de ter tomado a decisão de cancelar o espetáculo sozinha. Parecia que estava Perdendo o controle de sua própria vida. Depois do que acontecera com Carl, ela aprendera a conquistar a própria independência e dava mais valor a isso que a tudo no mundo.

Dali a pouco Bart reapareceu; ou melhor, metade dele surgiu à porta, pois seu tronco e sua cabeça estavam escondidos atrás do maior buquê de flores do campo que Eve já tinha visto, de todas as cores e tamanhos.

Ele abaixou o buquê lentamente, sorrindo para ela. Parecia bem mais jovem que os trinta e nove anos que dizia ter.

— Deve haver pelo menos uma flor aqui que você goste. Os olhos de Eve se encheram de lágrimas. Ela nunca chorava, nunca!

Por que estava tão emotiva ultimamente? Vai ver era por causa da fraqueza que sentia. Não podia ser em função das flores, podia?

— Oh, sim, e também tem isso. — Bart mostrou uma caixa de bombons. — Para você engordar um pouquinho.

Eve sentiu a boca tremer, mas conseguiu sorrir.

— Muito obrigada — falou com voz rouca. — Eu… não mereço.

— Não merece mesmo.

— Você é muito direto, sincero demais!

— Igualzinho a você. Aliás eu gosto disso. A sinceridade não é uma coisa que a gente encontra com facilidade nas mulheres de hoje.

Bart era bonito e rico. Era óbvio que as mulheres deviam andar atrás dele o tempo todo. Então por que estava se preocupando com ela? Só podia ser por um motivo: Bartholomew Jordan era o tipo de homem que adora um desafio. E o desafio era ela própria.

— Vai ver que você só conheceu mulheres fracas, sr. Jordan, porque

deve haver muitas como eu.

— Não sei, talvez. Mas eu a encontrei agora. E gostaria que me chamasse de Bart; é mais amigável.

Era exatamente por isso que ela não o chamava de Bart.

— Sr. Jordan…

— Não pretendo chamá-la de srta. Meredith.

— Já notei. Disse que tem alguma coisa para conversar comigo, sr. Jordan. O que é?

Bart se encostou no armário, à vontade. Era o homem mais atraente que Eve já conhecera. Mais atraente ainda que Carl. E os dois eram farinha do mesmo saco, sem dúvida.

— Então? — perguntou de novo, perturbada.

Ele a examinou longamente.

— Sempre usa os cabelos soltos?

— Nem sempre — respondeu, desajeitada.

— Eu gosto.

— Tenho certeza de que meu cabelo não é uma das coisas que queria discutir, sr. Jordan.

— É, sim — ele respondeu, malicioso. — Como também essas lagoas azuis que são seus olhos, seus cílios longos e bonitos, esse narizinho arrebitado que fica cada vez mais alto de indignação, e, por último, sua boca. — A voz dele baixou para um sussurro. — Sua boca é linda, Eve. Toda vez que olho para ela sinto vontade de beijá-la, de…

— Quer fazer o favor? — ela o interrompeu, furiosa.

— Não quero, não. Você é a mulher mais excitante que encontrei em toda a minha vida.

Eve levantou a começou a andar, agitada.

— Pare de falar comigo dessa maneira! Talvez seja melhor nos reunirmos a Derek e Judy na sala.

— Está bem, Eve, vou parar de falar como você é atraente. É lógico que não quer ouvir.

— Não.

Desconfiava dessas declarações entusiasmadas. Carl falava coisas parecidas e a tinha enganado! Bart não tinha mulher, mas também não devia estar sendo sincero.

— Então, vamos tratar de negócios — Bart falou. Eve franziu a testa, incrédula.

— Que negócios?

— Você precisa descansar, lembra-se?

— Isso é da minha conta.

— Devia ser. Mas como não se importa de abusar do seu próprio corpo…

— Abusar? Não abuso do meu corpo, sr. Jordan. São homens como você que o fazem.

O rosto dele endureceu. Seus olhos viraram duas pedras de gelo.

— Se você chama de abuso uns beijinhos, então…

— Se esses beijinhos são dados contra a minha vontade, são um abuso.

— Tudo bem. Não a beijarei mais. A não ser que você me peça.

— Isso jamais acontecerá.

— Vamos esperar e ver, está bem?

— Como não pretendo mais encontrá-lo depois de hoje, não vai dar para esperar e ver, sr. Jordan.

— Você vai me ver, sim, Eve. Quase todos os dias, pêlo menos durante um mês.

— O que quer dizer?

— Edgar disse que você precisava de descanso, e quero que siga as instruções dele a risca. Tenho uma casa em Hampshire, e você vai ficar lá pelo menos um mês para descansar.

— Claro que não vou.

— Pelo menos um mês. Durante esse período, não fará nada, vai só relaxar e deixar que minha governanta ponha um pouco de carne nessa pele e osso.

— Você pensa mesmo que pode entrar aqui e começar a controlar minha vida? Não me conhece, sr. Jordan.

— Não a conheço. Embora esteja tentando de todos os jeitos.

— Não vai conseguir. Conheci alguns homens arrogantes em minha vida, mas você levou o primeiro prêmio! Conheço-o pouco, e esse pouco não me agrada. Apesar disso, você me diz, com toda a calma, que vou passar um mês em sua casa de Hampshire! Deve ser louco, sr. Jordan!

— Talvez eu tenha agido da maneira errada. Você reage muito melhor à persuasão que a coerção.

— Eu não reajo nada! Gosto de tomar minhas próprias decisões, só isso!

— Então tome uma agora. Você precisa de descanso, de cuidados.

— Coisas que posso ter em minha própria casa.

— Não. Você vive sozinha.

— Vivo com meus padrinhos.

— Você mora numa casa-barco na propriedade deles em Norfolk. E eles não estão na Inglaterra no momento. Estão fazendo uma expedição arqueológica no Egito.

— Como sabe?

— Andei me informando. Também soube que você não tem vizinhos perto, que tem de andar dois quilômetros até a loja mais próxima, e que carrega baldes de água da casa de seus padrinhos até a sua, que…

— Parece que se informou muito bem, sr. Jordan. Foi Derek?

— Nós discutimos onde você devia descansar.

— Sem me perguntar? Eu vou para onde quiser, para onde achar melhor, droga! O que você e Derek decidiram não me interessa! .

— Pretende se matar? Estamos fazendo tudo pelo seu bem. É melhor para você!

— Para mim. não. Para você. Depois de ter descansado o dia inteiro, e de ter sido engordada pela sua governanta, certamente passarei as noites esquentando a cama do senhor da casa. É isso o que você quer, não é?

Derek abriu a porta, a testa enrugada de preocupação.

— Tudo bem?

Os olhos de Bart não se desgrudaram do rosto de Eve. Estava furioso, parecia querer esganá-la.

— Saia, Derek! — ele falou. — E não volte até que eu o chame!

— Mas eu…

— Eu disse para você sair.

Eve não estava gostando do brilho dos olhos de Bart. Quando ele ficava assim, tinha medo. Derek encolheu os ombros resignadamente e saiu.

Bart Jordan deu um passo à frente e agarrou Eve pelos ombros, sacudindo-a com força.

— Acho que já falou muito por hoje — disse, agressivamente. — Está na hora de ouvir um pouco. Você é uma criança caprichosa, irresponsável, e se estivesse bem de saúde, eu a deitaria no colo e lhe daria uma surra.

— Não ousaria!

— Não me provoque, Eve! Eu sentiria muito prazer se pudesse descer a mão em seu traseiro. Mas não vou fazer isso, sua gatinha selvagem.

Eve retesou os músculos ao ouvir de novo ele chamá-la de gatinha selvagem, mas Bart não se importou.

— Não lhe darei o prazer de ter outra desculpa para não gostar de mim — ele completou.

— Não preciso de desculpa nenhuma! Não suporto você perto de mim!

— Coitadinha, sente tanta compaixão de si própria que…

— Compaixão?

— Algum homem a machucou na vida e agora você acredita que todos os homens são monstros aproveitadores, prontos para lhe dar o bote! Escute, Eve, sou um homem que não costuma ficar dando murro em ponta de faca. — Bart a soltou e andou até a porta. :— Tentei ajudá-la, srta. Meredith, mas algumas pessoas simplesmente não querem ser ajudadas. Pois vá para a sua casa-barco, esgote-se. mate-se, se quiser. Para mim, chega!

Saiu, batendo a porta num estrondo.

Eve se deixou cair pesadamente na cama. Bem, tinha conseguido. Bart Jordan não voltaria a interferir em sua vida. Nunca mais.

Derek apareceu minutos depois, muito pálido.

— Que diabos você disse para ele?

— A verdade.

— E quanto à oferta dele cuidar de você por uns tempos?

— Disse a ele exatamente o que devia fazer com ela:

— Oh, Eve! O que é que você fez?

Eve estava esgotada. Mesmo assim um brilho de rebeldia se acendeu em seus olhos azuis.

— Agora ele não vai mais interferir na minha vida. E você não tinha o direito de contar minha vida particular a ele, Derek, não tinha mesmo. Principalmente para ele. Não gostei.

— Por que “principalmente para ele”? O que é que há de tão especial nele, afinal?

— Nada, eu…

— Não seria porque gosta dele, Eve, e está com medo de admitir isso para você mesma?

— Imagine! Eu o odeio!

— Se você diz… Mas agora, o que é que vamos fazer para você descansar? Dá para ficar aqui em casa, claro…

— Vou para casa.

— Para a casa-barco?

— É.

— E uma estupidez, Eve, e você sabe muito bem. Não adianta que não vou deixá-la voltar para Norfolk enquanto estiver doente.

— E não adianta, porque eu vou e ponto final. Não estou doente, Derek, só um pouco cansada. Uns dois ou três dias de descanso e ficarei boa.

— Não foi isso que o médico disse.

— Ele está acostumado a lidar com gente rica, Derek. Gente que adora e pode ficar um mês de molho. Nós, pobres mortais, não temos tempo nem dinheiro para essas bobagens. Por falar nisso… Como é que essas férias forçadas vão afetar minha carreira?

— Cedo demais para dizer. O importante agora é que você fique boa.

— Derek, quero a verdade. Agora.

— É cedo para dizer.

— Como?

— Talvez seja melhor eu começar a procurar outra cantora… Eve mordeu os lábios,

— É tão ruim assim esse afastamento?

— Não sei, Eve. Você disse que queria a verdade, não disse?

— Disse.

— Pois então. Pode ser muito ruim. Ou não, não sabemos. — Derek sentou ao lado dela na cama, passando o braço por seus ombros. — Você não nasceu para isso, não é, querida? Você sabe cantar e muito bem, mas há centenas de garotas que também cantam bem. Bart me fez enxergar que fui eu quem a estive empurrando esse tempo todo. Na verdade, você nunca fez questão de se tornar uma estrela, não é?

O sangue subiu ao rosto de Eve.

— E quando foi que ele o convenceu disso?

— Ontem à noite. Eu devia ter percebido antes. Você sempre hesitou em assumir compromissos, Eve. Eu sabia, mas não queria enxergar. Você nunca ficou realmente entusiasmada com os shows, quando centenas de garotas venderiam a própria alma para consegui-los. Sabe que é verdade. Pergunte a você mesma com toda a honestidade.

— Tudo bem, sempre fui um pouco hesitante. Nunca me joguei de cabeça na carreira, é verdade. Mas e daí? Como é que eu fico?

— Você é que tem de responder essa pergunta.

— Quer saber mesmo? — perguntou, embaraçada. Derek sorriu, abraçando-a fraternalmente.

— Não precisa. Sei que você se sente culpada por eu ter trabalhado duro nesses seis meses e não quer me deixar na mão, mas, não faz mal, Eve. Sei muito bem o que você quer. Quer voltar para Norfolk e nunca mais encarar uma platéia de frente, não é isso?

— É — ela admitiu, sem graça. — Agradeço muito tudo o que fez por mim, Derek, eu curti muito, sabe. Mas…

— São os “mas” que decidem nossa vida, Eve.

— Sinto muito, de verdade. É que eu acho mesmo que não nasci para esse tipo de vida. Eu tentei, mas…

— Não dá para agüentar.

— É isso.

Oh, que alívio poder confessar a Derek tudo o que se passava em seu íntimo!

— Eu já tinha adivinhado. — Derek encolheu os ombros. — Então, deixamos de lado a fantasia de você se tornar uma grande estrela. — Puxa, Eve. Você tem uma voz maravilhosa e sensual, um corpo lindo, uma bela presença no palco, um rosto de anjo… Mas se o seu coração não deseja o estrelato, então nem dez empresários podem transformá-la numa estrela. Você seria muito infeliz se continuasse.

E era verdade. Eve não poderia passar o resto de sua vida cultivando uma imagem que não era a dela. Estava na hora de parar.

— E o que vai acontecer, já que hoje não haverá show? Vamos perder muito dinheiro?

— Está tudo em ordem.

— Mas, e os patrocinadores?

— Patrocinador, no singular.

— Um patrocinador só? — De repente, Eve sentiu o sangue gelar nas veias. — Oh, meu Deus, não…

— Sim — interrompeu Derek. — Bart Jordan foi quem financiou tudo.

— Mas você me disse… quer dizer, pensei que você tivesse arrumado quatro ou cinco patrocínios para essas apresentações.

— Tinha. Mas Bartholomew Jordan me procurou, meses atrás, e se ofereceu para financiar tudo. Era uma oportunidade e tanto, e eu aceitei na hora. Como gostaria de voltar atrás!

E ela também. Não era à toa que ele se achava no direito de se intrometer em sua vida. Vai ver que era por isso que ele ia vê-la nos shows todas as noites. Não por ela, mas para ficar de olho em seu investimento.

— Quanto dinheiro ele está perdendo?

— E eu sei? Ele é quem estava cuidando da parte financeira. Acho que nas outras noites deu para pagar o aluguel do teatro e os músicos, além de você, claro. Mas provavelmente todo o dinheiro de hoje ele perdeu. Não teve lucro, pelo contrário. Deve ter perdido algumas mil libras.

— Meu Deus, nunca devi nada a ninguém, e agora estou devendo rios de dinheiro a Bart Jordan.

— Não seja boba, Eve. Você não está devendo nada a ele. Bart fez um investimento como outro qualquer, podia perder ou ganhar. Ele conhecia os riscos quando fez a oferta.

Ela franziu a testa.

— E foi ele quem o procurou?

— Foi.

— Como é que ele chegou a você? Quais foram exatamente suas palavras?

— Não me lembro, querida. — Derek riu. — Eu estava num porre daqueles! Judy e eu estávamos numa festa qualquer, nem lembro de quem. Eu estava numa pior, porque um dos patrocinadores tinha voltado atrás naquele dia. A oferta de Bart Jordan veio como um presente dos céus. Mas ele insistiu para ser o único envolvido no acordo.

— Acordo? Que acordo?

Derek molhou os lábios. Era evidente que estava nervoso, coisa rara.

— Concordei em deixá-lo ficar com o seu contrato caso as coisas não dessem certo.

— O quê? Mas você não podia fazer isso sem me consultar, podia? Ele olhou para o chão.

— Jamais pensei que você viesse a saber, Eve. Eu estava certo de que você ia subir como um rojão assim que estreasse.

— E o que vai acontecer agora? Eu pertenço a Bartholomew Jordan?

— Você não pertence a ninguém, claro. Sua carreira é que pertence a ele.

— A Bart Jordan!

— Ele não é um demônio, Eve.

— Não é?

— Eve!

— Tudo bem, sinto muito. — Ela passou a mão trêmula pela testa. — Bom, ele não ganhou nada com esse acordo. Nunca mais vou cantar em público, mesmo.

Derek se espantou.

— Vai me dizer que você não vai lutar para desfazer o contrato com ele?

— Para quê? — Eve encolheu os ombros. — Ele não pode me forçar a trabalhar. E, sendo assim, não vai obter os quinze por cento a que tem direito a cada apresentação minha. É a mesma coisa que não existisse o contrato.

— Eve… — Derek a olhou, desconsolado. — Sinto muito. Nunca pensei que isso acontecesse!

— Eu fui a culpada, Derek. Devia ter sido sincera com você desde o começo.

— Mas eu não podia exigir tanto trabalho, Eve. Sou o responsável por sua estafa.

— Não. Nós dois tivemos culpa. Bom, o que me consola é saber que o contrato só vai durar seis meses. Vou ver se não me encontro com Bart Jordan nesse período.

— Pelo jeito que ele saiu daqui, acho que não vai vê-lo nunca mais.

— Espero. Ele não pode me forçar a trabalhar, não é, Derek?

— Claro que não. Fizemos um contrato bem informal, sem nenhuma obrigação mútua, lembra-se? Acho que foi por isso que não me importei com as condições que ele exigiu para dar o patrocínio.

Mas Eve não estava tão segura disso. Afinal, por que Bart Jordan quisera o contrato como garantia, se não para ganhar dinheiro? De qualquer forma, esperava ficar livre dele em Norfolk. Derek parecia tranqüilo. E ela tinha de acreditar que tudo daria certo.

Dois dias depois, voltava de trem para Norfolk. Derek e Judy tinham feito tudo para convencê-la a ficar, mas ela não aceitara. Estava louca para voltar para casa. .

Sempre amara aquela região da Inglaterra, onde os turistas costumavam veranear, construindo suas casas a beira do rio, perto da foz. Seus padrinhos tinham uma propriedade grande ali, e Eve adorava a paisagem que tinha de sua casa-barco. Às vezes pegava um bote e remava pelo rio a tarde inteira, admirando os pássaros e a paisagem.

Mas não desta vez. Desta vez, estava tendo problemas para sobreviver. Nunca os baldes de água lhe pareceram tão pesados, nem o caminho, até as lojas, tão longo. Fazia dois dias que tinha chegado quando resolveu ir até a vila comprar comida e telefonar para Derek.

Na volta, enquanto carregava a sacola com os mantimentos, viu que tinha exagerado: quase não agüentava o peso do pacote. O último quilômetro foi uma tortura. Atirou-se no sofá da sala assim que entrou.

Oh, como queria que sua tia Sophie e seu tio George já tivessem voltado do Egito! Seu tio era arqueólogo e a tia sempre o acompanhava nessas expedições. Quando Eve era pequena, ia com eles também.

Sophie não aprovava a escolha da carreira da sobrinha como cantora, como também se opusera quando Eve mudara para a casa-barco. Mas Eve insistira, pois era uma forma de ter sua privacidade. Os tios eram pessoas maravilhosas, claro, mas ela gostava de ter sua independência.

Como queria que eles estivessem ali: tia Sophie resmungando que ela devia engordar, que precisava comer, tio George sempre tão carinhoso…

Mas estava sozinha e cansada demais para levantar e ir deitar na cama. Lembrou que tinha comida congelada na sacola. Se não a pusesse no congelador, perderia tudo…

O sono foi maior. Quando acordou, eram quatro horas da manhã. Tinha dormido doze horas.

E nem se sentia menos cansada por isso. Seus músculos doíam, pareciam pesados. Esforçou-se para sentar. Os lábios estavam secos e tremia de frio. As noites de Norfolk eram úmidas e frias. Pôs um suéter grosso antes de ir para a cozinha preparar um chá.

Droga! O bujão de gás estava vazio. Teria de sair e mudar a válvula para o de reserva.

Fazia mais frio lá fora. Um chuvinha fina ofuscava a vista. O céu estava coberto de nuvens, totalmente negro. De repente, o chão lhe faltou. Sem saber como, caíra na água barrenta. Achava-se tão fraca que não conseguia chegar à margem; seus dedos agarravam a grama. arrancando-a em tufos, e ela afundava de novo.

Cada vez ficava mais difícil subir. A água parecia escura e convidativa, longos braços confortadores. Eve sentiu vontade de se abandonar ali, esquecer tudo…

Mas de repente a figura de Bart Jordan surgiu em sua mente. Era como se ele estivesse dizendo: “Eu não disse”, com os olhos maliciosos e

provocantes. Aquilo era tão ilógico que a incentivou a se esforçar mais uma vez.

O esforço foi demais. Arrastou-se por um metro e ficou ali, o cabelo e a roupa totalmente cobertos de lama e as mãos cortadas. O silêncio e a escuridão eram aterradores. Eve se deixou levar para um mundo de sonhos.

 

Se ao menos conseguisse abrir os olhos… Suas pálpebras pesavam como chumbo. E não conseguia se mexer. Estava paralisada. Soltou um gemido leve. Imediatamente ouviu uma voz.

— Eve? — Uma voz masculina, rouca. — Eve, está sentindo dor?

Como podia ter dor, se não estava sentindo absolutamente nada? E quem era esse homem? A voz familiar, mas…

— Eve? — insistiu a voz, preocupada. — Vou procurar ajuda.

Ajuda? De quem? Ela estava sozinha. Lembrou-se da água fria, do choque, do esforço para se agarrar a margem. Aquele homem devia ser uma alucinação. Estava só, ninguém se lembraria de procurá-la até a semana seguinte, quando tinha prometido ligar para Derek. Sim, era uma alucinação.

— Eve — ordenou a voz. — Sei que está me ouvindo. Acabou de sorrir. Abra os olhos, por favor!

Ela franziu a testa. Conhecia aquela voz autoritária. Era de Bart Jordan! Droga, não podia ter escolhido alguém de quem gostasse para ter uma alucinação?

— Abra os olhos!

— Não precisa gritar — murmurou baixinho. — Estou tendo uma alucinação. O mínimo que você podia fazer era ser bonzinho comigo.

Sentiu os lábios tremerem e algumas lágrimas rolaram por seu rosto. Ouviu um gemido abafado, e daí, maravilha das maravilhas, sentiu dois braços à sua volta, braços quentes, confortáveis, deliciosos. Bem diferente daquela água fria e traiçoeira, que quisera engoli-la para sempre…

— Eve. — A voz dele estava bem próxima do seu ouvido. — Se você abrir os olhos, querida, verá que sou muito real.

Ela engoliu em seco. Estava com medo de olhar, com medo de perdê-lo, de ficar sozinha de novo. Mas os braços que a amparavam eram humanos, masculinos, muito reais. Suas pálpebras se abriram com esforço e ela deu de cara com um par de olhos verdes. Conhecia aqueles olhos muito bem. Eram de Bart Jordan.

— Bart.

Ele sorriu.

— Você me matou de preocupação.

— Eu… matei?

Os braços a apertaram com força.

— Quando a vi… quando a encontrei, pensei que estivesse morta.

Os lábios dele acariciavam febrilmente sua testa. Eve estava com os lábios muito secos. Sorriu debilmente.

— Pensou que tinha perdido seu investimento?

Era para ser uma brincadeira, mas ele pareceu se zangar.

— Ainda bem que você está fraca. Senão, era capaz de lhe dar uma surra.

— Esta é a segunda vez que você me ameaça — ela respondeu, feliz por estar em seus braços.

— Quem sabe da terceira você já vai estar suficientemente forte para receber o que merece.

— Não me bateria, não é?

— Não. Bater em mulheres não é um dos meus defeitos.

Ela molhou os lábios com a língua.

— Posso beber alguma coisa?

— Sim, claro, que estúpido eu sou! — Ele se virou para pegar a jarra ao lado da cama. — Água gelada.

Eve bebeu o líquido com prazer, sentada na cama. Soltou um suspiro de satisfação. Seus olhos se fixaram em Bart, cheios de confiança.

— Obrigada.

— Acho que gosto de você assim, fraquinha e desamparada — ele comentou, enquanto levantava a procura de uma cadeira.

— Não. Sente aqui.

Bart franziu a testa.

— Eve…

— Oh, por favor, Bart. — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Eu fiquei sozinha tanto tempo. Pensei que fosse morrer. Sozinha. Preciso de você ao meu lado… Estava muito escuro. A água era fria, mas… convidativa. Quase aceitei o convite.

— Não acredito! — Bart a abraçou, colando o rosto dela em seu peito.

— Mas foi isso.

Bart a apertou com força.

— O que deteve você?

— Eu… não sei.

Mas ela sabia. Ele a impedira de voltar para o fundo da água, de se entregar à escuridão total… Eve lhe devia a vida. Em dobro. Uma vez, por ele ter aparecido em sua mente; outra, por ter surgido em carne e osso para salvá-la da morte certa pelo frio. Descobriu que gostava dele.

— Eve? — ele a chamou de volta a realidade.

— Conte como me encontrou. Por que foi para a casa-barco?

— Não sei se podia estar conversando com você. Estamos num hospital e acho que já falamos demais.

Eve olhou em volta, a testa franzida.

— Eu… fiquei muito doente?

Bart fez que sim com um gesto de cabeça, tirando o cabelo da testa dela.

— Ainda está. Os médicos conseguiram segurar uma infecção pulmonar. Você ia pegar uma bela pneumonia. Faz uma semana que está aqui, e ouvir você tentando respirar… foi agonia pura.

— Ficou aqui muito tempo?

— Um pouco. Derek e Judy também ficaram. Ainda não conseguimos entrar em contato com seus padrinhos.

— Derek e Judy?

— Claro. Acho que está na hora de chamar o médico.

Eve se agarrou a mão dele, impedindo-o de sair.

— Não vai me deixar? — perguntou, num desespero repentino. Bart a olhou por alguns segundos.

— Não quer que eu a deixe?

— Não.

— Então não a deixarei — ele falou, sorrindo gentilmente. — Mas você vai ter de me soltar. Tenho de chamar a enfermeira.

— Desculpe. — Soltou a mão dele. — Eu… não sei o que aconteceu.

Virou o rosto no travesseiro, molhando-o de lágrimas. Mordeu os lábios. Estava se sentindo tão fraca, tão desamparada, que aquele homem era a única coisa sólida a que podia se agarrar.

Bart a segurou de leve no queixo, virando seu rosto para ele.

— Faça o que quiser, Eve. Depois do que você passou, tem todo direito.

— Sem sermões? — ela perguntou, os lábios trêmulos. — Sem “eu não disse”?

— Ainda não. Mais tarde.

Bem que o achara carinhoso demais. Mas não se importava de ouvir sermões dele no futuro. Estava feliz por se descobrir viva e também porque… porque gostava de ter Bart ao seu lado. Sim. Gostava dos olhos dele, dos cabelos, do modo elegante e displicente de ele se vestir, de seu andar. Pela primeira vez o enxergava com outros olhos.

Carl era uma coisa do passado e Bart provava ser um homem bem diferente. Carl jamais se prestaria a ficar horas ao lado de uma doente. A única vez em que ela se resfriara um pouco, ele lhe pedira que avisasse quando estivesse boa de novo. Que o avisasse em seu escritório, claro. Jamais em sua casa.

Bart tocou a campainha e olhou para ela, franzindo a testa.

— No que está pensando?

Eve sorriu, mas não respondeu.

— Ainda não contou como me encontrou na casa-barco.

— Não preciso responder. Se fui até lá, é porque estava à sua procura, claro!

— Depois de ter dito que não se importava se eu me matasse?

Bart fez cara feia.

Naquele instante, a enfermeira abriu a porta silenciosamente.

— Tocou a campainha, senhor… Srta. Meredith! — O rosto dela se iluminou. — Está acordada!

Eve retribuiu o sorriso.

— Sim.

— Vou chamar o médico imediatamente.

De repente, Eve se deu conta de que não sabia onde estava.

— Que hospital é esse?

— De Norfolk.

— Mas você não devia estar em Londres?

— Devia. Mas não podia deixá-la sozinha. Eve fechou os olhos, emocionada.

— Você está muito sensível, não?

— Acho que sim. Desculpe.

— E também nunca foi tão modesta. Os olhos de Eve se acenderam.

— Não posso fazer nada! — falou, zangada.

— Assim é melhor. Não a reconheceria se começasse a ser simpática comigo.

— Fui impossível com você, não fui?

— Foi. Mas eu a perdôo, se me prometer que vai ficar boa. Por falar nisso, você se transformou na sensação do momento. Para o público, você simplesmente desapareceu da face da terra. Parece que sua ausência está sendo muito sentida. Seu disco atingiu o vigésimo lugar nas paradas.

— Mas… eu estava no quadragésimo nono lugar, na semana passada…

— Pois é. Os jornais dizem que você está dando uma de Greta Garbo, fugindo do sucesso. E os fãs estão comprando o disco porque pensam que é o último de sua carreira.

— E é. Se você pensou em ganhar dinheiro com o meu contrato, enganou-se redondamente. Jamais voltarei a entrar num estúdio.

Bart se levantou, zangado.

— Não pensava em ganhar dinheiro, não. Derek me ofereceu o contrato de boa fé. Algum dia ainda vou lhe dizer por que aceitei.

— Por que não agora?

— Porque agora não é o momento adequado.

— Por quê?

O médico entrou naquele instante, seguido pela mesma enfermeira. Pediu para Bart sair do quarto.

— Bart! — chamou Eve.

Ele se voltou lentamente, a expressão preocupada.

— Sim?

— Você… não vai embora, vai? — De repente, Bart tinha se transformado na pessoa mais importante do mundo. — Por favor!

— Eu…

— O sr. Jordan terá de ir embora — interrompeu o médico.

— Agora que o pior já passou, acho que ele deve descansar. Não quero outro paciente.

— Claro — Eve concordou, resignada. — Desculpe, Bart. Claro que você deve descansar.

Bart fulminou o médico com um olhar furioso.

— Volto para vê-la antes de sair.

— Só por alguns minutos — avisou o médico.

— Voltarei — ele assegurou a Eve. — Podemos conversar depois do exame, doutor?

Eve perguntou-se quantos homens teriam a ousadia de falar com um médico daquela maneira. E tudo por culpa sua. Depois que Bart saiu, ela se desculpou.

— Sinto muito, doutor. Acho que Bart… o sr. Jordan ficou zangado por minha culpa.

— Imagine — respondeu o médico. — O sr. Jordan esteve sob uma tensão muito grande nesses últimos dias. Foi difícil tirá-lo daqui algumas vezes; ele não desgrudava de sua cama dia e noite. Está exausto, só isso. A senhorita poderia ajudá-lo se pedisse para ele voltar para o hotel e descansar.

— Claro.

Deixou-se examinar em silêncio. Bart ficara ao lado dela dia e noite? Mas ele havia dito que se revezara com Derek e Judy. Seria verdade? O médico levantou. Tinha terminado o exame.

— Bem, tudo está em ordem. E agora, vai dormir?

— Quando vão tirar isso de mim? — Indicou a agulha na veia que injetava um líquido de uma garrafa pendurada.

— Agora, se você quiser.

— Quero.

— A enfermeira Evans fará isso enquanto converso com o sr. Jordan. Até mais tarde.

Eve fechou os olhos quando o tubo de plástico foi retirado. Sua pele estava muito sensível naquela região.

— Por que puseram isso em mim?

— Você não estava aceitando nenhum líquido e para não desidratar o organismo, tivemos de injetar soro. Agora que já pode beber normalmente, não é mais necessário. Amanhã você poderá comer alguma coisa. Vou chamar o sr. Jordan. — A moça deu um sorriso cúmplice para Eve. — Todas as enfermeiras do hospital se apaixonaram pelo seu namorado, srta. Meredith.

— Mas ele não é…

— Não, não sou. — Bart surgiu de repente. — Pode agradecer a suas colegas por mim, enfermeira Evans — ele completou com um sorriso encantador.

A enfermeira saiu no mesmo instante, vermelha e embaraçada. Eve deu uma risada.

— Coitada! Não sabia onde se esconder.

— O médico disse que você concorda que eu vá embora agora.

— Eu… bem, eu não disse isso exatamente.

Bart parecia zangado. Puxou uma cadeira e sentou ao lado da cama.

— E o que foi que você disse?

— Bom… eu concordei que você parecia cansado.

— Então você quer que eu vá embora?

— Oh, Bart! Não é bem assim. Mas você precisa de descanso.

— Então é melhor eu ir. Derek e Judy estarão aqui amanhã cedo.

— Bart.

Ele hesitou antes de virar. Seus olhos revelavam uma raiva mal contida.

— O que é agora?

Os dois se olharam por alguns segundos. Eve não sabia o que dizer.

— Nada. — Sacudiu a cabeça, desorientada. Amanhã você já voltará para Londres?

— Por quê?

— Porque… porque você esteve longe de seus amigos… tanto tempo.

— Se você quer dizer namorada, Eve, por que não diz logo?

Eve baixou os olhos, embaraçada. Por que ele estava tão zangado de repente? Tratara-a com tanto carinho nos últimos dias e agora voltava a agir como o estranho que tinha conhecido em Londres.

— Não quis me referir a uma namorada. Quis dizer seus pais, seus amigos. Eles devem ter estranhado essa sua escapada até Norfolk.

Bart ainda estava com a mão no trinco da porta.

— Minha família e… meus amigos não ficam me perguntando para onde vou.

— Claro.

— Mas acho que vou aceitar sua sugestão e partir.

— Você…

— Sim?

— Nada.

— Preciso ver o que aconteceu durante minha ausência nos negócios.

— Desculpe se… se lhe causei muitos problemas,

Bart alcançou a cama com dois passos largos. Segurou-a pelos ombros.

— Pare de se desculpar por tudo.

O tempo pareceu parar. Seus olhos se contemplaram por longos, intermináveis minutos. Nenhum dos dois falou uma palavra. Eve tinha medo até de se mexer. De perto, ela via os raios dourados que cortavam o verde dos olhos dele, via os cílios longos, sedosos. Também sentia o odor forte de colônia mesclado ao cheiro masculino dele, atordoando-a e deixando-a fraca.

— Bart…

Aquele som estranho teria sido mesmo sua voz? Eve não sabia mais.

Bart a soltou.

— Durma um pouco. Voltarei dentro de alguns dias. Se precisar de mim, Derek tem meu telefone.

Eve olhou a porta fechada por algum tempo, desejando que ele voltasse. Mas a porta não se abriu mais. Então as lágrimas vieram, grossas, molhando seu rosto, ensopando o travesseiro.

Como tinha acontecido? Por que tinha acontecido? Quando é que ela tinha se apaixonado por Bart Jordan? Devia ter sido desde o começo, quando o evitava de todas as maneiras. Pressentira o perigo de se apaixonar por ele no instante em que o vira. Saber como, por que e quando já não era mais importante. Acontecera e pronto. Era um fato: tinha se apaixonado por outro Carl, um homem que jamais se casaria com uma garota como ela. Bem, pelo menos Bart fora sincero desde o começo. Tinha dito que queria ir para a cama e nada mais. Mas por que mudara de comportamento depois? Ainda agora tinha praticamente implorado para que a beijasse e ele nada fizera.

Talvez não estivesse mais interessado nela, justamente agora que Eve sentia o corpo arder de desejo por ele. Depois de Carl, nunca mais se sentira atraída fisicamente por nenhum homem. Agora todo o seu desejo despertara com o amor. Um amor que Bart não queria.

— O que você disse a Bart para mandá-lo de volta a Londres? — quis saber Derek no dia seguinte. — Não me diga que você bancou a rebelde de novo com ele. O pobre homem quase não saiu do seu lado, desde que a trouxe para cá.

Durante a manhã toda, Eve escutara a enfermeira Evans falando do seu “namorado”: que ele fizera isso, fizera aquilo… Estava cansada de ouvir elogios à abnegação de Bart.

— Por que é que todo o mundo o chama de pobre homem? Eu é que estou doente.

— Mas parece que já está em forma de novo — argumentou Derek, sorrindo. — E difícil acreditar, depois de vê-la daquele jeito na semana passada.

— Estou me sentindo bem. Agora quero sair daqui o mais depressa possível.

— Vai demorar um pouco, talvez uma semana. Bart falou que não é para você sair daqui de maneira nenhuma até ele voltar de Londres.

— Ele é que pensa. Vou quando quiser.

— Não seja boba, Eve.

— Já arrisquei minha saúde uma vez. Não farei isso de novo, Derek, pode ficar tranqüilo.

Durante os dias seguintes, Eve melhorou bastante. Mas Bart não vinha. E ela sentia necessidade da presença dele, cada dia mais e mais. E como seria quando ele viesse?

No sexto dia, o médico lhe deu alta. E Bart não aparecera. Nunca mais o veria!

— Por que o desânimo? — Derek perguntou quando veio buscá-la. — Pensei que estivesse louca para sair do hospital.

— Estou — mentiu, guardando as roupas na mala. — Escute, Derek. Sobre a conta…

— Bart tomou conta disso.

— Não acha que eu já lhe devo muito?

— Ele quis pagar.

— Mas eu não…

— Fale com ele diretamente, Eve.

— Então me dê o telefone. Vou ligar já.

— Não precisa.

— Tenho de ligar.

Eve tinha escolhido uma blusa decotada e uma saia caramelo para usar naquele dia especial. Sabia que aquela roupa lhe caía bem, e precisava de alguma coisa para levantar o humor. Deu uma última olhada no quarto e no banheiro e depois voltou a insistir para que Derek lhe desse o número do telefone de Bart.

— Mas não precisa ligar para Bart; Eve. Você pode falar com ele diretamente. Bart está lá fora, conversando com o médico.

Eve sentou na cama, sentindo as pernas bambas.

— Quando ele voltou?

— Ontem à noite.

— Achei que ele não vinha.

— Parece que esteve muito ocupado em Londres. E está com um aspecto abatido mesmo. E, a vida de banqueiro não é tão boa quanto parece…

Mas Eve não o escutava mais. Bart estava de volta. Quase não podia acreditar. Agora sentia o coração se aquecer, o sangue correr rápido nas veias. Como ele se comportaria com ela? Com frieza, como na despedida?

Naquele instante, a porta se abriu. Bart e o médico entraram. Eve o devorou com os olhos. Ele usava uma camisa marrom de seda e calça de linho creme. Seus cabelos louros exibiam alguns fios brancos e seus olhos pareciam mais cansados. Mas quando ele se voltou para ela, carinhoso e gentil, Eve se esqueceu de tudo.

— Pronta para nos abandonar? — perguntou o médico.

— Pronta — respondeu Eve, pulando da cama. O médico apertou sua mão com firmeza.

— Espero que se cuide direitinho dessa vez.

— É o que ela fará — respondeu Bart.

— Ótimo. — O médico sorriu. — Então já vou indo.

— Como vai você? — perguntou Bart a Eve depois que o médico saiu.

— Bem.

— Vou levando as malas para o carro — avisou Derek, saindo.

Bart a olhou criticamente.

— Tem certeza de que está bem?

— Tenho. Então é melhor irmos andando. Acha que agüenta a viagem?

— Não sou feita de vidro, Bart. São só alguns quilômetros.

— Hampshire fica bem mais longe que alguns quilômetros. A viagem vai durar algumas horas. Mas você pode dormir no banco de trás se quiser.

— Hampshire?

— Derek não lhe contou nada, contou?

— Contou o quê?

— Que você vai passar uns tempos na minha casa, lá em Hampshire.

— Eu vou?

— Vai. Assim terei certeza de que descansará. Ficará comigo pelo menos um mês.

 

— Vou… vou mesmo? — Eve gaguejou. E ela que pensara que nunca mais o veria!

Bart apertou os olhos ao observar seu rosto pálido.

— Tem certeza de que está se sentindo melhor?

— Tenho — ela respondeu, impaciente.

— Se você diz… — Ele encolheu os ombros. — Sem discussão sobre sua ida a Hampshire?

— Sem.

— Por quê?

Eve ergueu os ombros, resignada.

— Preciso de descanso.

— Está muito boazinha, de repente. Os olhos dela brilharam de raiva.

— E você não gosta de mim boazinha, é isso?

— Ah, bom. Assim é melhor. Vamos, Derek está à nossa espera. Derek estava ao lado da mesma limusine que dera carona a Eve na primeira noite. Sentou atrás, e Eve foi ao lado de Bart na frente. O vidro divisório estava abaixado.

— Por que você não guia sempre?

— Porque costumo trabalhar na ida e na volta do trabalho — ele explicou.

Deixaram Derek em frente ao hotel onde ele e Judy estavam hospedados. Eve olhou intrigada para Derek.

— Iremos para Londres com o nosso carro — ele explicou. — Mais tarde. Telefone quando quiser receber visitas.

— Vá quando quiser, Derek — disse Bart. — Até logo. Preciso chegar cedo a Hampshire, tenho um jantar esta noite.

Eve sentiu o corpo tenso imediatamente. Pelo vidro do carro acenou automaticamente a Derek, um sorriso falso pregado nos lábios. Com quem Bart ia jantar naquela noite?

— Então?

A voz ríspida de Bart interrompeu seus pensamentos.

— Então o quê?

— O que há de errado? Faz dez minutos que você não abre a boca.

— Não sabia que estava aqui para entretê-lo.

Bart sorriu.

— Este carro pode ser grande, mas não tem tamanho suficiente para a forma de divertimento que eu gosto.

Eve ficou vermelha como um pimentão.

— Imagino que seja por isso que vai sair esta noite. Ela tem uma cama redonda ou quadrada?

— Do que você está falando?

— Você sabe muito bem.

— Não estaria perguntando se soubesse. E gostaria de saber também o que cama tem a ver com o jantar de negócios que tenho hoje à noite.

— Jantar de negócios?

— É. O que você pensou que fosse, um encontro com a minha… amante?

— Você disse que tinha uma.

— Eu disse?

Eve estava se comportando como uma mocinha tola e ciumenta. Se não tomasse cuidado, Bart descobriria que estava apaixonada por ele.

— Bom, deu a entender… quer dizer, desde a primeira noite em que nos conhecemos, tive a impressão…

— Disse muitas coisas naquela noite, mas foi porque você me provocou.

— Quer dizer que você não tem uma amante?

— Não diria isso — ele falou com pouco caso. — Qual é o problema, senhorita Coração de Gelo? Não gosta que as outras pessoas se divirtam?

— Pode fazer o que bem entender, droga — respondeu, esquentada. — E não tenho coração de gelo.

— Então vai ver que não tem coração nenhum.

— Estava certo no dia em que cancelou meu show, quando falou que eu já tinha sido magoada. É isso mesmo, já me machuquei bastante uma vez e não pretendo repetir a experiência.

Mas já tinha repetido. Estava loucamente apaixonada por Bart Jordan.

— Quem era ele?

— Ele… não. Nunca falei dele para ninguém.

— Porquê?

— Porque eu…

— Ele ainda significa tanto para você?

— Não. Não é isso. É que foi uma experiência muito dolorosa. Prefiro esquecer.

— Quantos anos você tinha quando ele apareceu em sua vida?

— Quase vinte. Idade suficiente para não me deixar iludir por um homem falso como ele. Mas a gente acaba aprendendo depois de algumas cabeçadas.

— E como foi o caso entre vocês?

— Não tivemos um caso. Pelo menos da maneira que você está pensando.

— Que outra maneira existe? Ou você dormiu ou não dormiu com ele. Dormiu?

— Sim. Não. Ora, cuide da sua vida!

— Você não sabe?

A lembrança daqueles acontecimentos desagradáveis de sua vida a deixou triste. Virou o rosto para a paisagem.

— Claro que sei. Sei muito bem como é que a sua amante se sente.

— Não estávamos falando de mim.

— O que é que há? Não quer ver as coisas do ponto de vista da mulher? Ela é quem sofre a humilhação de ser uma pessoa a quem você dispensa uma ou duas horas de amor na cama, de vez em quando, e nada mais!

— Chega!

Eve soltou uma risada histérica.

— Não está querendo ouvir. Pois vai ter de me escutar! Quem quer que seja sua mulher neste momento, deve se sentir exatamente como eu me senti. Você vai para ela, passa algumas horas em seus braços e depois volta para a família e para o trabalho, esquecendo-a completamente. Até sentir vontade de ir para a cama com ela de novo. O que você nunca pensou, ou talvez nem se importa de pensar, é que essa mulher vai descobrir um dia que não passa de um corpo para você. E o odiará por isso. Até a próxima vez, quando o amará de novo. Já pensou no quanto esse sentimento pode ser degradante, triste, arrasador? Tem idéia do que isso pode ser?

— Não. Mas parece que você conhece bem a situação.

— Oh, sim — concordou ela com amargura. — Eu conheço. E nenhum homem fará isso comigo outra vez!

— Esse homem… esse com quem você se envolveu, foi…

Bart não terminou a frase. Tinha os olhos fixos na estrada, o rosto duro, as mandíbulas apertadas.

— É, foi assim mesmo que ele me tratou — respondeu Eve. — E eu era muito boba na época para perceber o que estava acontecendo. Com dezenove anos, a gente pensa que ainda existe uma coisa chamada amor… Ainda não percebia que existia gente como você no mundo.

Bart ficou furioso.

— O que é que eu tenho a ver com esse homem que a maltratou?

— Já esqueceu da proposta que me fez no nosso primeiro encontro?

— Você me deixou zangado.

— Eu o deixei zangado? E o que acha que fez comigo? Insultou-me da pior maneira possível!

— Eve…

— Não negue, Bart. Não adianta.

— Está bem. Não nego que a insultei, mas não sou nem um pouco parecido com esse homem com quem você se envolveu.

— Não me envolvi com ele. Eu me apaixonei por ele.

— E pelo jeito, ele já tinha mulher e filhos.

— Coisa que ele soube esconder de mim muito bem — ela completou. — Homens como você existem em toda parte.

— Quer parar de ficar me comparando com esse canalha?

— Mas você é como ele.

Sim, Bart era também um ricaço à procura de aventuras. Ele a magoaria da mesma forma que Carl a tinha magoado. Talvez mais, porque agora ela era uma mulher e não mais uma criança boba.

Bart tentava acender um charuto, sem conseguir.

— Deixe que eu ajudo — Eve ofereceu.

Bart se inclinou e ela acendeu o isqueiro. Um aroma forte tomou conta do carro.

— Obrigado. Sinto muito se você acha que eu sou igual a esse homem. Vamos esquecer isso, Eve. Você ficará em casa como convidada nas próximas semanas. Então, vamos procurar ser bem educados um com o outro. De qualquer forma, fico fora a maior parte do dia.

— Quer dizer que você mora nessa casa de Hampshire?

— Por quê? Você pensou que eu morasse em Londres? .

— Pensei.

— Desculpe se ficou desapontada, mas estou em casa para jantar todas as noites, com exceção de hoje. E também passo os fins de semana lá. Mudou de idéia?

— Não.

— Moça corajosa.

— Você não gosta de mulheres pele e osso, não é? Então, vou descansar e engordar.

Bart riu.

— Ah, quer dizer que isso ficou na sua cabeça, é?

— Ficou. Perdi um pouco de peso ultimamente. Você vai ter que me engordar bastante… Meus chocolates! E minhas flores! Ficaram no barco.

— Estarão lá quando você voltar.

— Mas as flores já devem ter morrido. Que pena.

— Pode deixar que eu compro outras para você. Cravos brancos, não é?

— Como sabe?

— Derek me contou que são suas flores preferidas.

Eve se lembrou que no quarto do hospital havia um vaso com cravos brancos todos os dias. Pensara que fosse uma cortesia do hospital, mas agora compreendia que eram presente de Bart. Sentiu o coração aquecer.

— Conseguiu deixar seu trabalho em dia em Londres? — perguntou.

— Quase. Não me diga que sentiu minha falta. Eve preferiu não responder e mudou de assunto.

— Escute, Bart, por que pagou minha conta do hospital?

— Faz parte dos negócios que os empresários paguem as despesas médicas de seus contratados.

— Mas…

— Deixe, Eve. Tive muito trabalho esses dias e ainda vou jantar fora à noite.

— Se quiser posso guiar um pouco.

— Acha que sabe guiar um carro desses?

— Posso tentar.

— Não. Está na hora de você descansar. — Parou o carro no acostamento. — Para trás.

— Não quero dormir.

— Vamos, Eve. O médico disse que era para você descansar o máximo esses dias. E discutir comigo não é nada repousante.

Eve soltou um suspiro zangado, mas passou para o banco de trás.

— Agora deite e durma.

— Não estou com sono. Bart sorriu pelo retrovisor.

— Vai ficar quando se deitar.

— É assim que você manda nos seus empregados?

— Não preciso insistir tanto com eles.

— Imagino que você bate o chicote e todos se apressam para obedecê-lo.

— Tem uma língua muito venenosa, Eve.

— Só eu?

— Faça o favor de dormir.

Ele fechou a janela entre os dois.

Eve pensou que não conseguiria dormir com Bart tão perto, mas o leve ronco do motor mais a trepidação suave do carro embalaram-na num sono pesado. Quando abriu os olhos, viu que estavam num restaurante de beira de estrada. Bart esperava pacientemente que ela acordasse.

— Dormi muito?

— Mais de uma hora. Está parecendo um espantalho. Tome — completou, tirando um pente do bolso.

— Tenho uma escova na bolsa.

Ficou procurando a escova. Espantalho, bolas! Como é que ele queria que ela estivesse, como alguma modelo de revista de modas?

— Tem certeza de que não vai se perder aí dentro dessa bolsa?

— Não há nada nessa bolsa que não seja necessário — replicou, cáustica.

— Você tem muitas necessidades.

Eve não respondeu. Terminou de se pentear, guardou a escova e o encarou.

— Então? Menos parecida com um espantalho?

— Você é muito suscetível. — Deu a volta e abriu a porta para ela. — Está sempre linda e sabe disso.

— Mesmo ensopada e coberta de lama? Mas Bart não sorriu.

— Não. Você não estava bonita naquele dia. Estava… parecia morta. Pela primeira vez, Eve notou que devia ter sido um choque muito grande para Bart tê-la encontrado daquela maneira. Sorriu, tentando dissipar a tensão.

— Mas não estou morta. Para falar a verdade, estou morrendo de fome.

Bart pegou na mão dela.

— Vamos entrar e comer bastante.

Os dois foram de mãos dadas pelo estacionamento. Quando entraram, Bart a segurou pela cintura, guiando-a para uma mesa a um canto. O restaurante estava cheio e barulhento.

— Odeio esses lugares — comentou Bart com uma careta.

— Você é muito exigente.

— É que nesses lugares as pessoas conseguem massacrar a comida, a ponto de ela ficar irreconhecível.

— Que esnobismo!

— Talvez, mas só com comida. O que você vai querer?

O restaurante era estilo self-service. Eve olhou para o balcão e sentiu preguiça de escolher.

— Traga café e o que você achar que eu posso arriscar.

— Está bem.

Eve o observou enquanto se servia. Sua figura alta e loura se destacava dos outros homens. Ele parecia um peixe fora d'água dentro daquele restaurante popular e barulhento.

A mocinha da caixa também parecia hipnotizada por ele. Bart conversou com ela amigavelmente enquanto pagava. Eve sentiu uma pontada de ciúmes. Bart atraía a atenção das mulheres em qualquer lugar que fosse.

Ela estava com a testa enrugada quando ele voltou com frango grelhado, purê de batatas e ervilhas. Será que seria sempre assim? Sentiria ciúmes de qualquer mulher que se aproximasse de Bart?

— Não está bom — Bart interrompeu seus pensamentos. — Aliás, está horrível. Você deve estar morrendo de fome para conseguir comer isso!

Eve olhou para seu prato. Tinha comido quase tudo e nem tinha notado! Empurrou o prato. Tomou um gole do café frio.

— Estou pronta para ir.

— Quer uma sobremesa?

— Não, obrigada. .

— Por acaso a aborreci por ter criticado a comida?

— Não, claro que não. — Ela abriu um sorriso encantador. — A comida estava horrível mesmo.

— Então vamos.

Bart a segurou pelo braço até lá fora. Eve se soltou, nervosa.

— Você não estava com fome? Não comeu quase nada.

— Não faz mal. Não tenho muita vontade de ganhar a famosa barriguinha da meia-idade.

Não havia perigo disso acontecer, pensou Eve, olhando-o disfarçadamente. Bart era esguio e elegante. Naquele instante teve certeza de que esse mês na casa dele seria uma tortura sem fim. Bart não se sentia mais atraído por ela. Era gentil, simpático, mas não tinha mais desejo. Ela matara o desejo com sua própria frieza e distanciamento.

Bart tomou a direção novamente.

— Queria saber uma coisa, Bart. Por que você entrava e saía do meu show em horas tão estranhas?

— Isso a aborrecia?

— Não. Eu ficava intrigada, só isso. Quer dizer… não gosto muito de ver alguém saindo antes de eu terminar um show.

— Você não é meu único negócio, se bem que eu quisesse. Tinha jantares marcados, compromissos.

— Compreendo.

Então o interesse dele era puramente comercial! Esse período de convalescença era só para ela voltar com força total a trabalhar. Para ele. Como tinha sido ingênua em pensar em outra coisa!

A casa de Bart era antiga, sólida, rodeada de árvores e arbustos; a grama, bem aparada, parecia muito macia e convidativa. Eve teve tempo de ver uma quadra de tênis e uma piscina na parte de trás, antes de eles estacionarem. Uma trepadeira florida cobria quase toda a frente.

— É lindo, Bart.

— Achei que você ia gostar. É muito mais tranqüilo que morar na cidade. As pessoas não vêm fazer visitas com tanta freqüência.

Eve fez que sim com um gesto de cabeça. Era exatamente por isso que gostava de morar em Norfolk. Bart tirou a mala do carro.

— Venha, vou apresentá-la para a mulher mais importante da minha vida.

Eve gelou.

— Ela mora aqui?

— Mora — concordou Bart, segurando Eve pelo braço e conduzindo-a para dentro da casa. — Maisie! Maisie, chegamos!

Eve mal notou o conforto da sala, os tapetes felpudos, as poltronas de couro. Bart morava com a amante em sua própria casa. Ela não tinha um apartamento na cidade e Eve compartilharia a casa com os dois.

— Maisie deve estar lá em cima — falou Bart. — Vou chamá-la.

Eve se sentiu mais doente do que nunca. Aquele mês seria horrível! Suas pernas começaram a tremer. Tinha de ir embora, sair correndo daquela casa e nunca mais ver Bart. Mas continuava ali, estática, suando, completamente grudada ao chão.

Ouviu um murmúrio de vozes se aproximando.

Uma mulher apareceu no alto da escada, uma mulher de seus cinqüenta anos. Não era uma namorada, claro. Bart a abraçava afetuosamente. Desceram a escada devagar, porque a mulher mancava um pouco da perna esquerda. Tinha os cabelos grisalhos presos num coque baixo, o corpo bem aprumado e roupa discreta, mas elegante.

Eve notou um brilho de triunfo nos olhos de Bart. Ele devia estar se divertindo muito às suas custas. Claro que tinha percebido o que ela pensara sobre “a mulher mais importante” da vida dele.

— Olá, querida — falou Maisie calorosamente. — Sinto muito por não recebê-los aqui embaixo. E que eu estava terminando de arrumar o seu quarto.

— Obrigada.

— Esta é a minha governanta, Eve. Maisie é mãe de Adam. Lembra-se de Adam?

Eve se lembrava muito bem do chofer.

— Lembro. — Estendeu a mão educadamente. — Muito prazer, senhora…

— Maisie, querida, Maisie. Aqui não temos muitas formalidades. Bart é como se fosse meu filho.

— Considerando que foi você quem me criou, seria um insulto se me chamasse de sr. Jordan — brincou Bart. — Agora, podemos tomar um daqueles seus deliciosos chás, Maisie? A comida da estrada estava horrorosa!

— Em dois minutos — respondeu Maisie. — E leve a mala da srta. Meredith para cima. Ela deve estar querendo trocar de roupa.

— Sim, Maisie. — Bart sorriu para Eve. — Vamos, ninguém discute as ordens de Maisie.

— Essa é boa! — zombou Maisie. — Não conheço ninguém mais mandão que você.

Eve imediatamente viu que tinha uma aliada e não uma rival.

— Quer dizer que você também acha isso, Maisie? — perguntou com o ar mais inocente do mundo.

Maisie soltou uma risada gostosa.

— Encontrou uma à altura, hein, Bart? Estava na hora — brincou e saiu da sala.

Bart olhou para Eve.

— Não era bem essa mulher que você estava esperando, era? Eve se recusou a morder a isca.

— Não vai me levar lá para cima?

— Está bem. Se você não fosse tão desconfiada e não suspeitasse de tudo, talvez não chegasse a tantas conclusões erradas.

— Não estou errada sobre você.

— Não? — ele perguntou, sério.

— Acho que não.

Ele encolheu os ombros.

— Você é quem sabe. Maisie preparou o quarto em frente ao meu. — Abriu a porta. — Entre.

— Eu… ela não pensa…

— Escute aqui, Eve! — interrompeu Bart, zangado. — Vamos resolver logo esse assunto. Você está aqui como minha convidada, como hóspede. Não pretendo atravessar o corredor todas as noites.

— Mas Maisie…

— Maisie sabe muito bem quem você é e por que está aqui. Esta é minha casa, Eve. Não trago mulheres para cá. Não insultaria Maisie fazendo isso.

Eve viu que ele estava furioso, esforçando-se para se controlar. Sentiu-se culpada por ter tantas suspeitas.

— Sinto muito, Bart. É que eu pensei…

— Não precisa repetir. Já deixou clara sua opinião sobre “homens como eu” durante a viagem. Depois do que disse, eu não a tocaria, nem que quisesse.

— E você não quer.

— Não — ele confirmou com rudeza. — Já existe muita amargura dentro de você para que eu piore a situação.

Os olhos de Eve brilharam de raiva.

— Não sou amarga.

— É, sim! Diga, com quantos homens saiu nesses últimos cinco anos?

— Com alguns.

— É? — perguntou Bart, sarcástico. — E quantos tiveram permissão para beijá-la?

— Isso não é da sua conta.

— Quantos, Eve?

— Só… um.

Ele deu uma risada.

— Aposto como ele se considerou altamente privilegiado.

— Não sei. Você se considera privilegiado?

Bart franziu a testa, incrédulo.

— Está me dizendo que eu fui o primeiro homem que a beijou em cinco anos?

— Estou.

— Meu Deus!

Eve virou as costas, sentida.

— Acho… acho que não vou aceitar o chá, obrigada. Prefiro ficar no quarto e descansar.

— Eu a magoei de novo?

— Não. — Eve não se virou. — Estou cansada, só isso.

Bart a segurou pelos ombros delicadamente.

— Sinto muito, Eve. Não tinha percebido.

Ela teve de se conter para não se apoiar no peito dele.

— Maisie deve estar à nossa espera. Peça desculpas por mim.

— Está bem. — Ele a soltou, embora Eve ainda sentisse a marca de seus dedos nos ombros. — Descanse bem.

Assim que Bart saiu. Eve começou a chorar. Talvez as coisas parecessem melhores quando acordasse, mas uma coisa jamais mudaria, ela amava Bart Jordan, e ele não a queria mais.

 

O quarto estava escuro quando Eve acordou. Olhou no relógio de pulso. Já passava das oito. Isso queria dizer que ela dormira mais de três horas. Bart já devia ter saído para o jantar. Bom, pelo menos não teria de enfrentar o olhar dele. Com certeza, notaria o leve inchaço de seus olhos: tinha chorado bastante, abafando os soluços no travesseiro.

A porta se abriu silenciosamente. O rosto de Maisie apareceu.

— Ah, já está acordada. — Ela entrou, sorrindo. — Vim dar uma olhada para ver se você estava bem.

— Estou sim.

— Bart já saiu. Ele veio ver você antes de sair e disse que você dormia profundamente. Deve estar com fome agora.

— Morrendo de fome.

— Fiz uma sopa, filé grelhado e salada. Bart me disse que era para fazer uma comida leve e nutritiva. Tem torta de morango de sobremesa.

— Que delícia! Espero não estar causando muitos problemas por ter de cozinhar todos os dias para mim. Posso fazer minha própria comida.

— Nem pense nisso! Além do mais, cozinho para Bart. E muito raro ele ter esses jantares de negócios.

— Mas… às vezes ele passa as noites na cidade, não?

— Que eu me lembre, não. E eu sei bastante, pois faz quatro anos que trabalho exclusivamente para Bart. Desde que os pais dele morreram.

Então Bart não trazia mulheres para lá, nem dormia na cidade. Quando as encontrava?

As duas começaram a descer a escada.

— Foi um acidente de barco. Na segunda lua de mel, por ironia do destino.

— Que coisa trágica! Meus pais também já morreram.

— Então Bart e você têm um ponto em comum. Bart tem uma irmã, mas ela mora nos Estados Unidos.

Naqueles minutos, Eve estava aprendendo mais sobre a vida de Bart do que todo o tempo em que estivera com ele.

— Faz cinco anos que ela mora lá. Bart morre de saudades das crianças, dos sobrinhos dele. Eles costumavam passar dias e dias aqui. Travessos! — Maisie riu. — O mais velho, Darren, é igualzinho a Bart quando pequeno, sem tirar nem pôr. É como voltar vinte e cinco anos atrás, vendo-o aqui, descendo pelo corrimão. Bart também fazia isso. Era um capeta!

Era estranho imaginar Bart como um garoto. Ele demonstrava ser um homem tão seguro de si, tão confiante, que imaginá-lo fazendo travessuras ficava muito divertido. E depois, quando adolescente? Como teria sido o primeiro namoro, o primeiro caso de amor?

O sorriso deixou o rosto dela quando pensou em Carl. Carl tinha sido seu primeiro e único caso de amor. E agora estava apaixonada por um homem que poderia machucá-la cem vezes mais que Carl.

— Bart costuma comer na sala de jantar. Pode entrar lá que eu já levo a comida.

— Será que eu poderia jantar na cozinha? Não estou com vontade de ficar sozinha.

— Claro, querida, vamos para a cozinha. Só que Adam vai chegar daqui a pouco. Não faz mal?

Eve se lembrou do chofer alto e moreno, um moço bonito.

— Claro que não. Ele é seu filho, não é?

As duas entraram na enorme cozinha. Maisie foi esquentar a sopa.

— Sim, Adam é meu filho. Quando meu marido morreu, Adam tomou o lugar dele como chofer. Ele e Bart cresceram juntos. São mais irmãos que patrão e empregado.

Então a formalidade que Eve testemunhara no primeiro dia acontecia só na frente de desconhecidos. Adam devia chamar Bart pelo primeiro nome, como sua mãe fazia. Bart estava se transformando numa constante surpresa para ela.

— Você e Adam moram aqui na casa?

A sopa estava deliciosa. Fazia anos que Eve não tomava sopa feita em casa. Se Maisie cozinhava tão bem. seria fácil ganhar alguns quilinhos para se recuperar.

— Eu moro, Adam não. Ele dorme num apartamento em cima da garagem. Há muitas vezes que um homem não quer sua mãe por perto.

Eve riu.

— Bart disse que seu tio e sua tia estão no Egito — continuou Maisie. — Deve ser um trabalho muito interessante.

— Eles gostam muito.

— Foi dificílimo para Bart falar com o seu tio. A ligação deve ter caído umas doze vezes.

— Ele falou com meu tio? — perguntou Eve, incrédula. Maisie tirou o prato vazio e pôs um filé na frente dela.

— Você não sabia? Bart deve ter esquecido de contar. Ele estava muito preocupado com você, teve de trabalhar dia e noite nesse negócio da fraude para poder voltar a tempo de buscá-la no hospital.

Eve não estava entendendo nada.

— Fraude?

Maisie sentou na frente dela.

— Um dos empregados de Bart estava roubando dinheiro do banco há mais de um ano. E era tão esperto que ninguém tinha percebido.

Então era por isso que Bart tinha ficado fora seis dias.

— Eu não sabia.

— Bart não queria preocupá-la. Mas agora que está aqui, acho que ele vai tirar uns dias de folga para ficar com você. Ele anda trabalhando demais.

— Não sei se minha presença vai mudar isso.

— Se você pedisse, tenho certeza de que ele a atenderia.

— Não, Maisie, acho que você não entendeu. Bart e eu… não somos…

— O que vocês são ou não são não é da minha conta. Tudo o que eu sei é que você é a primeira mulher que ele trouxe para casa, desde que o conheço. E isso faz mais de trinta anos!

— Oh, mas eu… trabalho para Bart. O médico disse que eu devia descansar e Bart me trouxe para .cá para se certificar disso.

— Ele podia tê-la mandado para qualquer uma dessas clínicas especializadas.

— Mas eu…

— Coma seu jantar, Eve. Bart estava certo, ninguém discutia as ordens de Maisie. Enquanto comia, Eve pensava nele. Devia ser muito discreto para Maisie nunca ter sabido de nenhuma mulher em sua vida.

Adam entrou na cozinha enquanto Eve comia a enorme fatia de torta de morango que Maisie fizera para sobremesa. Hesitou, sem saber o que fazer.

— Bem, não fique aí parado — falou a mãe. Mesmo assim olhava questionadoramente para Eve.

— Venha tomar café conosco — convidou ela, sorrindo. — Essa torta está deliciosa.

Adam sorriu. Era um homem muito bonito. Usava uma camisa xadrez e jeans desbotado. Sem o uniforme parecia bem mais jovem. Maisie se levantou.

— Quer que eu prepare alguma coisa, filho?

— Só vou comer a torta. Já jantei.

— Imagino que tipo de comida! — Maisie fez uma careta. — Vamos, sente, Adam. Eve não morde, não é?

Eve se segurou para não rir. Maisie era incorrigível, dizia tudo o que lhe vinha à cabeça!

— Que eu saiba, não — respondeu Eve, sorrindo. — Mas sempre há uma primeira vez. Sente, Adam.

Adam obedeceu, ainda constrangido.

— Vi um dos seus shows em Londres, srta. Meredith.

— Chame-me de Eve, por favor.

— Gostei muito de seu show, Eve.

— Obrigada.

— Bart me disse que você não pretende mais cantar, então estou contente por tê-la visto.

— Bart disse isso?

— Claro que sim — interrompeu Maisie. — É só olhar para você para entender que não é feita para esse tipo de vida, Eve.

Por que Bart não dissera nada a ela? Havia muitas coisas que ele não contara. O telefonema para tio George, por exemplo. O que seu tio teria Pensado ao receber um chamado de um estranho? Sem dúvida, Bart tinha tomado conta da situação.

Eve passou uma noite muito agradável com Maisie e o filho. Jogou cartas com Adam, que já perdera a reserva inicial.

— Você teve sorte da gente não ter apostado ir tirando peças de roupa — falou ele, sorrindo, depois da terceira vitória. — Já estaria nua uma

hora dessas.

— Adam! — reprovou a mãe. — Eve ainda é hóspede de Bart.

— Muito certo, Maisie. — Bart estava na porta, os olhos frios pousados em Eve. — Já passa das onze, já devia estar na cama.

Eve tinha sentido a falta dele; na verdade, esperara por Bart o tempo todo, secretamente. Mas teve raiva do tom arrogante.

— Vou quando quiser.

— Foi culpa minha, Bart. — Adam guardou o baralho. — Eu estava me divertindo tanto, ganhando o tempo todo, que me esqueci que Eve esteve doente.

— Já estou ótima. E sou capaz de escolher minha hora de dormir.

Bart ignorou o desafio.

— Maisie, pode levar um pouco de café para o escritório?

— Não vai trabalhar esta noite, vai?

— Vou. Faça o café bem forte.

Girou nos calcanhares e saiu. Segundos depois uma porta bateu com violência.

Eve olhou para as próprias mãos, embaraçada. Era a culpada do mau humor de Bart. Se ao menos ele não tivesse falado com ela daquela maneira autoritária!

Adam levantou.

— Está na hora de eu ir.

— Foi culpa minha. Não queria deixá-lo zangado, mas…

— Tudo bem, querida — interrompeu Maisie. — Bart está bastante cansado. Trabalhou demais, está na cara! E ainda quer trabalhar! Mas não se preocupe. Eu preparo o café e você leva a bandeja. Daí vão poder fazer as pazes.

Eve ficou sem graça ao perceber o significado daquelas palavras. Era lógico que Maisie esperava que um se atirasse nos braços do outro assim que a porta do escritório se fechasse.

Dali a pouco Eve batia à porta do escritório, a bandeja na mão.

— Entre.

Bart não pareceu surpreso ao vê-la.

— Maisie nunca bate — explicou, enquanto indicava a escrivaninha para ela pôr a bandeja.

Eve passou a mão pelos cabelos, nervosa.

— Desculpe os maus modos — falou, desajeitada. — Não vai ficar zangado com Adam, vai?

— Você gosta dele?

Bart pôs o café nas duas xícaras da bandeja.

— Eu… sim, gosto.

— Talvez você preferisse ter apostado tirar a roupa, então.

— Você ouviu?

— Ouvi. Não pensei que você fosse se envolver com Adam.

— Não é nada disso.

— Ele está entusiasmado com você, e você diz que gosta dele.

Bart reclinou-se no encosto alto da cadeira da escrivaninha. Havia livros cobrindo todas as paredes, um sofá grande e uma poltrona de couro em frente a uma lareira.

— Gosto dele, sim. Mas não como… não como…

Mordeu os lábios. Quase revelava seu amor por ele.

— Não como o homem do seu passado — completou Bart friamente. — Não acha que cinco anos é tempo suficiente para esquecê-lo?

— Já o esqueci.

— Mas não esqueceu o que ele fez com você.

Eve notou que ele parecia muito cansado.

— Tem de trabalhar esta noite? É tarde, já.

— Mas preciso. Meu assistente era um falsário, e tenho de checar cada transação em que ele se envolveu no ano passado.

— Foi ele quem fraudou os papéis?

— Maisie lhe contou?

— Ela pensa que somos grandes amigos. Tentei explicar, mas…

— Maisie é muito romântica.

— É uma pessoa autêntica. Gostei muito dela.

— Todos gostam. Sente e tome o café.

Eve sentou. Viu Bart se curvar e examinar os papéis por longos minutos.

— Não há ninguém que possa checar os papéis por você?

— Depois do que Sean fez, não sei se terei coragem de confiar em alguém. Fazia dez anos que ele trabalhava comigo. Não acreditaria que tivesse feito isso, se não descobrisse eu mesmo a fraude. Bart passou a mão pela nuca, massageando-a.

— Está dolorida? — perguntou Eve.

— Como?

— Sua nuca, está dolorida?

— Está.

— Quer que eu… — Eve desviou o rosto. — Nada.

— Se eu quero que você o quê? Eve olhou para ele embaraçada.

— Meu tio… ele sempre tem essas dores, também. E tensão. Costumo massageá-lo.

— É mesmo?

Eve engoliu em seco.

— É.

— Estou à disposição.

— Quer… quer que eu massageie você?

— Se não se importa.

Eve se viu numa situação difícil. E se se traísse, demonstrando que o amava?

Bart pegou a caneta, notando sua hesitação.

— Se você não quer, tudo bem.

— Não, eu quero.

Colocou-se atrás dele. Sentiu seu corpo vibrar com a proximidade.

— Dá para você encostar mais para trás?

Bart obedeceu. Eve começou a massageá-lo na nuca e nos ombros, sentindo a tensão de seus músculos. Tinha os olhos fixos nos pêlos dourados que via pela abertura da camisa. Que vontade de passar os dedos ali, sentir o calor daquele corpo… Teve de se segurar.

— Sabe massagear muito bem. — Obrigada.

Eve engoliu em seco quando Bart apoiou a cabeça loura contra seus seios. Os cabelos dourados dele contrastavam vivamente com o tecido preto de sua blusa. Conteve o impulso de abraçá-lo, as unhas se cravando em seus ombros.

— Ei! — reclamou Bart baixinho, de olhos fechados. — Isso dói!

— Desculpe — falou Eve, tirando as mãos.

Mas não se moveu. A cabeça de Bart pesava sobre seus seios. Ele se movia sensualmente contra ela, e Eve não ousava se mexer para não quebrar o encanto. Mal respirava.

— Eu podia dormir aqui — ele falou.

— Não seria muito confortável para mim.

Bart olhou para seu rosto afogueado.

— É, acho que não.

Ele levantou. Pegou-a pela mão e conduziu-a até o sofá. Eve sentou num canto. Bart se acomodou ao lado dela, inclinando a cabeça sobre seus seios de novo.

— Humm… — ele murmurou minutos depois! — Ainda não está muito confortável.

— O que você está fazendo? — ela perguntou, enquanto Bart tirava seus sapatos.

Bart pôs as pernas dela sobre o sofá.

— Deite.

— Deitar?

— É.

Logo os dois estavam deitados no sofá, o corpo rijo e masculino de Bart amoldado contra o dela. Ele repousou a cabeça em seus seios. Passou o braço em torno de sua cintura.

— Confortável agora?

Estava. Mas não podia ficar ali, era perigoso demais. Oh, mas que delícia deitar com Bart, esquecida do mundo, sentindo seu calor, em completa harmonia…

— Eu ia sugerir ir para a minha cama — continuou Bart, sonolento —, mas achei que você não concordaria.

Eve já não sabia. Estava se sentindo completamente vulnerável. A proximidade de seus corpos a deixava tonta, sem resistência.

Mas Bart não tinha a sedução na cabeça, pois seu braço relaxou e ele foi caindo num sono profundo.

Eve demorou um pouco para relaxar, mas acabou dormindo também. Passou os dedos de leve nos cabelos dele. Eram macios e sedosos. Ali, entre o corpo dele e o encosto do sofá, sentiu-se protegida e aquecida, e logo pegou no sono.

Eve acordou com um sobressalto.

— Bart — murmurou baixinho.

— Pensei que nunca fosse acordar — ele gemeu, rolando rapidamente para cima dela, aprisionando-a com suas coxas. — Você fica tão quietinha quando dorme…

— Você quer dizer que eu não ronco? — brincou Eve.

— Quero dizer que você não se mexe muito. — Ele a contemplou por alguns segundos. — Parece uma criança.

Eve passou a mão no rosto áspero de Bart.

— Sou uma mulher, Bart.

— É? Espero que seja, porque vou beijá-la.

Bart uniu seus lábios aos dela, comprimindo-os, deixando-a sem fôlego.

Mas Eve não se importava. Abraçou-o com força, passando as mãos sensualmente por suas costas. Uma das mãos de Bart acariciou a coxa dela, depois foi subindo devagar até cobrir seu seio; como não protestou, Bart esfregou o polegar ritmicamente no bico do seio, deixando-o rijo. A blusa fina e o sutiã rendado não eram barreiras.

Eve não estava preparada para a onda selvagem de excitação que surgiu em seu corpo. Nenhum homem lhe dera tanto prazer. Sentiu os dedos de Bart desabotoando sua blusa, o sutiã transparente.

Bart abaixou a cabeça, pegando o bico de seu seio entre os dentes, brincando com a língua.

Eve flutuava num mar de prazer e delícia; perdeu totalmente a consciência. Bart também tinha tirado a camisa; os dois se beijavam febrilmente, loucamente.

Bart soltou um gemido.

— Sabe o que vai acontecer?

Eve passou a mão de leve em seu rosto.

— Sim.

Bart inclinou a cabeça para beijar a palma de sua mão.

— Não se importa?

— Não.

— Então não vamos ficar aqui. Bart levantou, pegando-a pela mão. Eve ficou de pé, meio tonta.

— Onde vamos?

— Para o meu quarto. Ou para o seu. — Os olhos dele estavam escuros de desejo. — Não importa.

— Mas… eu… Maisie! Bart sorriu.

— Faz horas que está dormindo. Ela veio até o escritório dar uma olhada em nós.

— Veio?

— E saiu logo em seguida.

— Oh! — exclamou Eve, muito vermelha.

— Não se preocupe. — Ele a beijou de leve. — Maisie pode ter a língua solta, mas não vai dizer nada.

— Mas ela vai saber — protestou Eve, enquanto os dois subiam a escada.

Eve sentiu o corpo de Bart enrijecer.

— E você se importa?

— Eu… não. Não, não me importo. Ele a beijou de novo.

— Vamos para o meu quarto, tomar banho.

— Banho?

— Sim. — Bart riu. — Vamos tomar uma chuveirada juntos, minha pequena Eve. Eu vou ensaboá-la inteirinha e você vai me ensaboar.

Eve engoliu em seco.

— Vou?

— Vai, sim — riu Bart, divertido com o ar assustado dela. — Adoro ver você ficar vermelha. Parece uma criança.

Eve se agarrou no braço dele enquanto entravam em seu quarto.

— Você acha que eu pareço uma criança… mesmo depois…

— Esqueça, Eve. Pense somente em mim esta noite. O passado não interessa para nós dois.

— Só vamos pensar no presente?

— Sim.

— Oh, Bart… — Eve o beijou com fervor, sentindo-o estremecer de desejo. — Eu também só quero pensar no presente. Aqui e agora.

Não ousava pensar no futuro. Por que pensar no tempo em que ficaria sem Bart? Ela o tinha naquela noite. E talvez durante todas as noites seguintes, até partir. Era pouco, muito pouco, mas aceitava aquele relacionamento temporário. Um pouco dele era melhor que nada.

Bart a depositou gentilmente na cama.

Ao ver o tamanho dá cama, Eve se assustou.

— Você dorme… aqui?

Era a maior cama que já tinha visto em toda sua vida. Podia se perder, se afundar dentro dela. Mas não se sentiria só, jamais. Bart estaria ao seu lado.

Ele sorriu.

— Um pouco grande, não? Às vezes me sinto solitário nela. Mas quando a comprei… bem, tinha planos.

Eve sentiu uma pontada no coração.

— Você… ia casar?

— Não fique tão assustada. — Sentou na cama, acariciando-a no rosto. — Acha que eu não posso me casar?

— Claro. É que eu…

— Sem dúvidas, Eve — ele falou, sério. — Depois de dividirmos esta cama, nosso relacionamento está selado. Não haverá caminho de volta.

— Não…

Eve se sentiu vazia por dentro, só de pensar que ele ia se casar com outra mulher. Ela própria não passava de uma a mais que dormia com ele. Bart viu sua relutância.

— Não quer mais?

— Eu… pensei que queria, mas…

Bart se ergueu. Começou a andar pelo quarto, de um lado para o outro.

— Tem de ter certeza — falou, com voz controlada. — Serei sincero com você, Eve. Desejei-a desde o primeiro momento em que a vi. Mas não posso fazer amor com você até ter certeza de que é isso que você quer também. Sei como sofreu no passado. Não quero que um belo dia você me acuse de tê-la seduzido. Se vamos fazer amor, quero que seja uma escolha mútua. Compreende?

Os olhos dele se cravaram nos dela, penetrando até sua alma.

— Compreendo — respondeu Eve baixinho.

— E?

— E não estou certa. Pensei que sim, mas ainda… não sei. Gostaria que você compreendesse…

— Eu compreendo. — Ele a puxou pela mão. — Posso esperar, Eve, até você estar pronta para me receber. Só saber que você está viva já é suficiente para mim. Jamais me esquecerei do horror que passei quando a encontrei e pensei que tivesse morrido na chuva e na lama.

Eve se sentiu abraçada, aquecida. Oh, qual era o problema, afinal?

Aquele homem lhe dera mais do que todos os outros. Devia a ele a própria vida. Ele lhe oferecera um objetivo para viver. E ela o amava.

Nos últimos cinco anos aceitara sua carreira como cantora porque não tinha nada mais a fazer. Não tinha planos, nem desejos para sua vida. Mas agora Bart tinha mudado tudo. Só de ficar perto dele sentia ânsia de viver. Sentia-se gente. Por que, oh, por que estava hesitando em abraçar a felicidade?

— Não sei por que hesitei, Bart — ela gemeu, apertando-se contra ele. — Me sinto tão agradecida. — Mas não conseguiu continuar. Ele a empurrou com rudeza. — Bart? O que foi?

O rosto dele tinha se transformado numa máscara de raiva. — Muitas mulheres fizeram amor comigo antes, por muitos motivos, mas nunca, nunca por gratidão!

— Oh, não. Você não está compreendendo! — Eve estendeu os braços para ele. — Não quis dizer esse tipo de gratidão.

Bart a empurrou de novo.

— Teria salvo a vida de qualquer pessoa naquelas circunstâncias. De qualquer pessoa! Eve, você não pode deixar que um homem possua seu corpo, você, só porque se sente agradecida a ele!

— Deixe-me explicar.

— Já ouvi o bastante. É melhor você se cobrir — falou, sarcástico.

Eve sentiu as faces se tingindo de vermelho. Só agora percebia que tinha ficado o tempo todo com os seios nus à mostra. Cobriu-se apressadamente.

— Agora pegue sua gratidão e saia do meu quarto.

— Deixe-me explicar, Bart.

— Saia! Saia, Eve, antes que eu a ponha daqui para fora!

— Você… será que o verei de manhã?

— Talvez.

Bart segurou a porta para ela sair. Eve arriscou mais uma vez.

— Ouça, Bart.

— Boa-noite, Eve.

Ela atravessou o corredor, o coração pesado. Se ao menos ele a deixasse dizer que se sentia agradecida por ele ter lhe dado uma razão para viver… Que estava grata por ter conhecido finalmente o amor. Mas ele não lhe dera chance.

 

Eve acordou sobressaltada. Bart! Tinha de ver Bart, tinha de dizer a ele que o amava e que ficar ao seu lado era tudo o que desejava. Alguém bateu a porta.

O rosto de Maisie apareceu.

— Não queria acordá-la, mas já passa das onze e tem um sr. James no telefone. Pedi para ligar depois, mas ele disse que não poderia.

Eve passou a mão pelos cabelos longos. Passava das onze. Mais um pouco e nem almoçava. E Derek estava esperando por ela no telefone.

— Diga que já estou indo.

Pulou da cama, abriu o guarda-roupa e tirou de lá um jeans branco e uma blusa azul.

— Calma, querida — falou Maisie. — Vá com calma. Tenho certeza de que esse sr. James pode esperar até você se vestir.

Mas Eve estava morrendo de curiosidade. O que Derek queria lhe dizer?

A voz dele transbordava de ansiedade e excitação quando ela finalmente atendeu o telefone.

— Podia ter demorado menos — ele ralhou, impaciente.

— Sinto muito, Derek. Ainda estou dormindo.

— Só queria dizer que não vou visitá-la esses dias. Estou pegando um avião amanhã, Eve. Amanhã. Você acredita?

Eve não entendeu nada.

— Que avião?

— Para Nova York. Halstead me ligou essa manhã. Ele mesmo me ligou, pessoalmente! Não é demais? E ele me quer lá amanhã.

— Derek…

— Não está entendendo nada, está?

— Claro que não!

— Puxa, sua voz está horrível! O que estava fazendo?

— Dormindo. Vim para cá para descansar, lembra-se?

— Sim, claro. Quer dizer que Bart não lhe contou sobre esse emprego em Nova York?

— Bart? — Eve franziu a testa. — O que é que ele tem a ver com isso?

— Tudo! — explodiu Derek, a voz trêmula de excitação. — Ele é quem fez os primeiros contatos.

— Para quê?

— Para eu ir trabalhar num estúdio em Nova York. Aliás, no melhor estúdio de lá!

— E ele o ajudou?

— Não é fantástico? Sempre quis trabalhar num estúdio. Claro que vou começar, tenho muito o que aprender ainda, mas vai ser incrível. E o cunhado de Bart…

— Cunhado?

— Pelo amor de Deus, acorde, Eve.

— Então me explique direitínho sobre o que você está falando, bolas! — ela gritou, zangada.

— O cunhado de Bart é David Halstead. Você já ouviu falar nela, não?

— Claro.

Todo o mundo do meio musical conhecia o famoso produtor de discos americano.

— Então Bart conversou com ele, se não estaria interessado em me ter como assistente no estúdio. E ele telefonou pessoalmente, só para me convidar — completou Derek, orgulhoso.

— Aconteceu meio rápido, não foi?

— Imagine! Já faz duas semanas que esse emprego estava para aparecer. Desde quando perdi seu contrato. Estava num beco sem saída…

— E então Bart resolveu achar uma saída para você. Meu Deus, Bart gosta de organizar a vida dos outros, não?

— Ora, Eve, você!

— Desculpe. Derek. Eu nunca acordo de bom humor, você sabe disso. Espero sinceramente que dê tudo certo nos Estados Unidos.

— Obrigado. Bem, tenho de desligar agora. Há muitas coisas para resolver até amanhã. Ligo para você de Nova York.

— Está bem. Mande, lembranças para Judy.

— Tchau. Eve.

Eve pôs o telefone no gancho devagar. De repente, se sentiu muito perdida, muito só. Agora que Derek e Judy iam embora, não tinha mais ninguém. Seus padrinhos só voltariam dali a semanas.

Mas ela tinha Bart. Ou pelo menos teria, se conseguisse convencê-lo de que não sentia gratidão pelo fato de ele lhe salvar a vida, e sim por ter lhe dado uma razão para viver.

— Tudo bem? — Maisie perguntou quando ela entrou na cozinha.

— Sim. Era um amigo dizendo que vai partir para os Estados Unidos.

— Ainda bem que não eram más notícias. Ele estava tão ansioso para falar com você!

— É porque tinha arrumado esse emprego em Nova York. O que é que você está fazendo?

— Suflê de queijo para o almoço. É o prato favorito de Adam. Quando ele voltar, vai comer um bocado.

Se Adam estava fora era sinal de que Bart também estava.

— Adam vai demorar para voltar?

— Não muito.

Eve sentiu um calor gostoso pelo corpo. Estava louca para ver Bart e falar com ele.

— Vou subir e passar uma água no rosto.

— Leve isso com você.

Maisie deu uma xícara de café para ela.

Eve se arrumou em quinze minutos. Pôs uma maquilagem bem leve, do jeito que Bart gostava. Ele também detestava aquela pintura pesada que ela usava no palco. Olhou-se no espelho. Seus olhos brilhavam, soltando faíscas de emoção. Tinha o rosto de uma mulher apaixonada.

Maisie já tinha posto o suflê no forno quando ela voltou, e as duas se sentaram para bater papo. Eve não quis comer nada. O almoço estava quase pronto, e ela não estava com nenhuma fome. _

— Espero que Adam não tenha se ofendido por ontem à noite — falou, sem graça.

— Imagine. Ele compreende muito bem que você está aqui para ficar com Bart.

— Oh, mas… não é assim. Maisie.

Depois da cena que Maisie presenciara na noite anterior, como é que ainda podia protestar?

— Foi o que Bart me disse esta manhã antes de sair. E que belo humor ele estava!

— Ele anda muito cansado, como você mesma reparou.

— É, e ainda passa uma noite sem dormir…

— Sem dormir? Mas tenho certeza de que ele dormiu, Maisie. Pelo menos no escritório ele tinha dormido bastante.

— Pois dormiu pouco. De madrugada ligaram da Austrália, imagine. Ninguém mais respeita o sono dos outros.

— Da Austrália? Aconteceu alguma coisa?

— Sim, parece que a chamada era urgente, porque Bart saiu na mesma hora.

Eve empalideceu.

— Bart foi para a Austrália?

— Deve estar chegando lá. E tenho pena da pessoa que for buscá-lo no aeroporto. Vai ganhar uma bronca e uma cara feia daquelas! Fazia tempo que não o via tão mal-humorado. Além do mais. ele detesta viajar de avião.

Eve mal podia acreditar no que ouvia.

— Tem… idéia de quando ele vai voltar?

— Nem ele sabe. Se se encontrasse com Sean Stevens esta manhã. Bart o teria esganado.

— Quer dizer que o ex-assistente de Bart tem a ver com essa confusão na Austrália?

— Se tem! Ele ocupou um cargo de confiança lá durante três meses o ano passado. Bart é quem o tinha indicado.

— Mas então… Bart pode ficar semanas lá.

— Quem sabe? Ele disse que telefonaria para você. Só não disse quando. Mas tenho certeza de que vai ser logo. querida.

Eve não esperou pelo telefonema naquela noite, pois sabia que Bart só chegaria muito tarde na Austrália. Mas quase não dormiu de ansiedade. No dia seguinte, ele não ligou. Nem no outro. Eve passou os dois dias grudada ao telefone, sonhando com a voz dele.

No terceiro dia, Maisie insistiu para que ela fosse dar um passeio.

— Precisa tomar um pouco de sol, querida. Vamos, Adam vai levá-la até a praia.

Relutante, Eve aceitou a oferta. Mas quando voltou quase morreu de desgosto. Maisie contou que Bart ligara. Oh, não podia ser, era azar demais! Correu para o quarto, os olhos cheios de lágrimas. Não devia te saído! O dia tinha sido um desastre completo: chovera e não pôde aproveitar o passeio e ainda perdera o telefonema.

Maisie entrou silenciosamente no quarto.

— Ora vamos, Eve — ralhou gentilmente, sentando na cama. — Ele vai ligar de novo, tenho certeza.

— Você acha mesmo?

— Acho. Tome. — Maisie lhe deu um lenço. — Agora vamos descer e jantar, senão Bart ficará uma fera quando voltar. Você parece pior do que quando veio para cá.

Eve sabia que estava magra. Mas sentia tanta falta de Bart que perdera o apetite. Nem conseguia dormir direito. Se ao menos o último encontro deles não tivesse sido tão desastroso! Se ao menos ela tivesse tido a oportunidade de dizer a ele que o amava…

Desceu para a cozinha com Maisie, fungando baixinho.

— Ele perguntou por mim? — quis saber.

— Claro, querida. Eu disse que você tinha saído.

— Contou que eu tinha saído com Adam?

— Claro que contei. Bart ficaria furioso se eu a deixasse sair sozinha. Também devia ter ficado furioso ao saber que ela tinha saído com Adam, pensou Eve, suspirando. E, ela tinha levantado com o pé esquerdo aquele dia.

— Ele já sabe quando vai voltar?

— Talvez daqui a dois dias.

Eve sorriu. Não se importava em demonstrar todo o amor que sentia por Bart a Maisie. Ela era sua aliada; tinha absoluta confiança nela.

Nos dias seguintes, esperou ansiosamente notícias de Bart; na sexta à noite, ele ligou. Eve estava no banho, mas saiu depressa da banheira perfumada e quente.

— Alô — falou com voz rouca, o coração batendo alto.

— Você parece sem fôlego. — A voz dele estava clara e próxima. —

Não desceu as escadas correndo, desceu? Maisie disse que você estava no quarto.

— Eu estava na banheira — explicou. — E agora… agora estou no seu quarto.

Silêncio.

— Está sentada na minha cama? Ah, como é bom falar com você!

Eve sentiu um frio na espinha.

— Para mim também.

— Como foi o passeio com Adam?

— Eu não saí com Adam. Ele só me levou. Esperei muito pelo seu telefonema…

Não conseguiu continuar. Começou a soluçar baixinho.

— Eve? Eve, está chorando?

— Não. Sim, estou.

— Mas por quê?

— Porque estou com saudade de você.

— Bom, se é algum consolo, fique sabendo que eu também senti saudades.

— Sentiu mesmo?

Bart soltou uma risada rouca.

— Não fique tão surpresa! Depois daquela última noite, não consegui mais tirá-la da cabeça.

— Bart, sobre aquela noite…

— Não pelo telefone, Eve.

— Mas eu quero explicar.

— Você pode explicar tudo quando eu voltar.

— E quando você volta?

— Amanhã ou depois. Ligo para Adam do aeroporto para ele vir me buscar.

— Eu vou com ele.

Bart suspirou fundo, pesado.

— Eve, não comece uma coisa que não pode terminar nem assumir.

— Mas eu posso. Quer dizer…

Bart riu baixinho.

— Sim, o que você quer dizer?

— Quero dizer que você não compreendeu o que eu falei aquela noite. — Ela não podia dizer que o amava pelo telefone. — Quero dizer que vou dormir na sua cama esta noite — continuou, com voz rouca. — E todas as noites que você quiser.

— Eve!

— É verdade. Bart.

— E você me diz isso justo agora! Estou há mais de dez horas de vôo longe de você, e mesmo assim fico excitado.

Eve ficou embaraçada com aquela intimidade, mas sua determinação não diminuiu. Uma vez Bart lhe dissera que só a beijaria de novo se ela pedisse. Agora, queria muito mais do que beijos.

— Então fique imaginando como será bom quando você voltar para casa.

— Já estou imaginando. Eve, não podemos fazer amor pelo telefone!

Eve riu, excitada.

— Até que não estamos nos saindo mal! — Mas ela estava louca para tê-lo em carne e osso ao seu lado. — Diga, de que lado da cama você dorme?

— No meio. Por quê?

— Porque quero dormir onde você dorme. Assim me sentirei mais próxima de você.

— Tenho de desligar esse telefone. Continue assim até eu voltar, está bem? Agora tenho de desligar. — A voz dele mudou de repente, como se alguém o tivesse interrompido. — Mantenha a cama bem quentinha para mim. Volto assim que puder.

Eve voltou flutuando para o quarto. Estava secando o cabelo quando Maisie entrou.

— Tudo bem agora?

— Tudo… maravilhoso!

— Será que Bart está no mesmo estado de euforia?

— Acho que sim.

— E quando ele volta?

— Logo, logo.

— Eu soube que ele a amava desde o primeiro dia em que os vi juntos.

— Não, Maisie, acho que ele não me ama.

— Não seja boba. claro que ele a ama.

Talvez fosse melhor deixar Maisie acreditar nisso. Não podia dizer que Bart só queria dormir com ela.

— Então, vai comer alguma coisa no jantar? Andou comendo feito um passarinho esses dias! — ralhou Maisie.

— Prepare um banquete! — riu Eve. — Estou faminta.

— Pode deixar que vou caprichar

Aquela noite Eve dormiu na cama de Bart, como tinha prometido. Pela primeira vez dormiu profundamente, a cabeça enterrada no travesseiro, respirando o aroma de loção após barba dele. Logo cedo, arrumou a cama e foi para o seu quarto antes de Maisie trazer o chá.

Bart não ligou naquele dia, mas Derek chamou-a de Nova York. Contou que ele e David Halstead viriam para a Inglaterra a negócios por alguns dias, e ele pensava em visitá-la em Hampshire.

— A irmã de Bart vem também? — perguntou, curiosa.

— Que eu saiba, não. David não me disse nada.

— Mesmo assim vou avisar Bart.

Eve fechou os olhos. Talvez Bart não a quisesse lá se alguém da família viesse visitá-lo em sua casa.

— Como é que vocês estão indo, falando nisso? Não me diga que ainda o odeia — brincou Derek.

— Justamente o oposto — respondeu Eve, rindo. Derek soltou uma exclamação de surpresa.

— O quê! Você o ama?

— Sim.

— Deus do céu! Eve riu feliz.

— Pois é. aconteceu…

— Espere só até eu contar para Judy! Escute, Eve, tenho de desligar agora. Mas quando chegar aí, vou querer saber tudo sobre essa mudança brusca de sentimentos, ouviu?

Mais uma vez Eve passou a noite no quarto de Bar, ansiando pela sua chegada, louca para dividir a cama com ele.

Maisie estava atarefada com as torradas no forno quando ela desceu para o café da manhã.

— Essas torradas de queijo são as favoritas de Bart — explicou a governanta, piscando um olho.

Eve prendeu a respiração.

— Quer dizer que… ele já…

— Sim, ele já voltou, querida. Deve chegar em menos de meia hora em casa.

— Como assim?

— Adam foi buscá-lo no aeroporto.

— Oh, não! Queria ter ido também. Eu disse a Bart que iria buscá-lo.

— Não faz mal, querida. Bart compreenderá.

Mas Eve não estava tão certa disso. Prometera que iria buscá-lo no aeroporto; aquele seria o começo de um relacionamento amoroso intenso, apaixonado… Quando Bart chegasse e visse só Adam, ia pensar que ela mudara de idéia.

E foi o que aconteceu. Assim que Bart entrou em casa, Eve notou seu rosto rígido, os olhos frios.

— Que bom que você voltou! — Maisie o abraçou afetuosamente. — Estávamos com saudades.

Eve estava tão nervosa que não sabia o que dizer.

— Bem vindo, Bart. Você… parece bem.

— Gostaria de poder dizer o mesmo sobre você. — Mediu-a de cima abaixo desaprovadoramente. — Está mais magra do que nunca.

— Eu…

— Não comece a brigar com a garota assim que chega. Ela comeu muito bem nos últimos dois dias.

— Verdade? — A expressão de Bart não se alterou. — Não parece.

Eve retesou os músculos. Não era nada disso que tinha imaginado. As lágrimas inundaram seu rosto.

— Acho melhor chamar Edgar para dar uma olhada em você.

— Chame quem você quiser. Não deixarei ninguém chegar perto de mim.

Subiu furiosa para o quarto.

— Veja o que você fez — ralhou Maisie. — E ela estava tão ansiosa para vê-lo!

Eve se virou no alto da escada. Olhou para Maisie e Bart. Os dois a encaravam. Maisie, com pena, e Bart, com raiva.

— Gostaria que ele não tivesse chegado — gritou.

Mal se deitara, na cama, Bart entrou pelo quarto como um furacão. Seus olhos eram duas brasas ameaçadoras.

— Voltei para cá porque esta é a minha casa. Esqueceu disso?

— Não…

— Não parece. E nunca mais me ordene para sair daqui!

— Oh, eu não disse isso.

— Disse sim, droga! — Pôs um joelho na cama, agarrando Eve pelos ombros e sacudindo-a com força. — Se alguém tiver de sair desta casa, será você. Você!

Eve estremeceu. Seu rosto estava molhado de lágrimas.

— E quando você quer que eu vá?

— Agora! — Ele a jogou contra o travesseiro cruelmente. — Faça as malas e saía. Já!

— Mas Bart, eu…

— Vá embora, Eve!

Ele saiu, batendo a porta. Soluçando incontrolavelmente, Eve começou a arrumar as malas.

 

Ela ainda fazia as malas quando Maisie entrou, silenciosamente.

— O que está fazendo, criança? — perguntou a governanta.

— Arrumando as malas.

— Mas por quê?

— Porque Bart não me quer mais aqui.

Maisie franziu a testa.

— Ele disse isso?

— Disse. — Eve soltou uma risada histérica. — Deixou bem claro.

— Ele não quis dizer isso. Está cansado e quando a gente está cansada costuma dizer coisas impensadas.

— Bart não. Ele sempre diz exatamente o que pensa.

— Ele não quer que você vá embora, Eve. Ora, outro dia mesmo você estava nas nuvens porque os dois estão apaixonados e pensando em se casar!

— Não, Maisie. A proposta de Bart não incluía casamento.

— Quer dizer que… que Bart propôs que você se tornasse amante dele?

— Isso mesmo.

— Não acredito.

— Se não acredita, pergunte a ele.

— Ele já foi deitar. Estava esgotado da viagem.

E quando acordasse ela já teria ido embora. Eve fechou a mala.

— Então pergunte depois. — Tentou sorrir. — Foi muito boa para mim, Maisie. Obrigada.

A velha sorriu afetuosamente.

— É fácil a gente gostar de você. Para onde pretende ir?

Eve encolheu os ombros.

— Para um hotel, por enquanto.

Maisie virou uma fera de repente.

— Quero saber direitinho essa história de amante. Francamente, você não vai a lugar nenhum até eu falar com Bart.

— Não, Maisie, deixe.

— Prometa, Eve.

— Está bem. — Ela sentou na cama pesadamente. — Mas não vai adiantar nada.

— Veremos.

A velha governanta saiu do quarto com a cabeça erguida e determinada.

Eve escutou um murmúrio de vozes do outro lado do corredor, através da porta fechada de Bart. Pobre Maisie, ela parecia uma mamãe-galinha defendendo sua prole. Mas era gostoso sentir-se protegida daquela maneira.

Estava deitada quando Bart entrou, minutos depois. Sentou instintivamente, pondo-se na defensiva.

— Não pedi para Maisie ir falar com você.

— Sei disso.

Bart parecia bem mais calmo. Tinha tomado banho; seus cabelos estavam molhados e revoltos. Usava apenas um robe atoalhado preto.

— Sei que você não pediu a Maisie para falar comigo — repetiu, sorrindo. — Mas estou feliz por ela ter ido. Que história é essa de eu pretender instalá-la aqui em casa como amante?

— Oh, eu não disse que seria aqui…

— Mas pensou que eu quisesse fazer de você minha amante? — ele perguntou gentilmente.

— Eu… quer dizer… pensei.

Eve ficou apreensiva. Ele aparentava tanta calma que a qualquer momento seria capaz de explodir.

— Sabe que Maisie acabou de me pedir as contas? — ele continuou, no mesmo tom de voz.

— Oh, não! — Eve ficou branca. — Ela não pode fazer isso.

— Pois acabou de fazer.

— Mas… mas você parece nem estar ligando! Não pode deixá-la ir embora!

— Nem pretendo.

— Então, você a convenceu a ficar — respirou Eve aliviada. — Ainda bem.

Bart sorriu maliciosamente.

— Não só fiz isso, como lhe dei um belo aumento também.

Eve levantou e foi pegar as coisas de cima da penteadeira para guardar na mala.

— Maisie merece.

Mas Bart não a deixou pegar nada; parou entre ela e a penteadeira, as mãos na cintura. Eve se empertigou.

— Quer fazer o favor?

— Não. — A voz dele era terna. — Por que não disse que nem sabia que eu tinha ligado do aeroporto? — Segurou o queixo dela de leve, olhando-a fixamente.

Eve sentiu o corpo estremecer de prazer com seu toque.

— Não tive chance, você não deixou.

Bart a puxou para si, abraçando-a.

— É verdade, não deixei. Fui um perfeito idiota, não fui?

— Foi. — Eve chegou o rosto para perto dele. O peito largo de Bart estremeceu de riso.

— Minha pequena e honesta Eve! — Ele a acariciou no rosto. — Mas não temos sido honestos um com o outro sobre nossos sentimentos, não acha? Naquela noite em que a levei para o meu quarto, disse que, se você dormisse naquela cama comigo, nossa relação estaria selada. O que acha que eu quis dizer com isso?

— Bem, que eu… que nós…

— Que nós continuaríamos a dormir juntos — ele completou.

— É.

— Oh, Eve, Eve! — ele falou baixinho, encostando-se na penteadeira e a prendendo entre as pernas. — Não quis dizer isso. Quis dizer que, uma vez tendo feito amor com você, jamais a deixaria escapar. Nunca. Quero casar com você.

— Casar… comigo?

— Não fique tão chocada! — ele falou, rindo. — Ou será que você não quer casar comigo?

— Oh, quero! Quer dizer…

— Não estrague uma resposta tão simples e sincera. — Ele a abraçou com mais força. — Se soubesse como a quero como minha mulher. Não pensei em mais nada, só em casar com você, nesses últimos seis meses.

— Seis meses?

— Foi quando a vi pela primeira vez. Num show de estrelas da música, cantando aquela canção que chegou às paradas de sucesso. Assim que a vi, Eve, eu… eu a amo. Eu a amo tanto!

Eve não estava acreditando nos próprios ouvidos. Bart percebeu a dúvida em seus olhos e se retesou.

— Você não me ama… .

— Amo, sim! Foi o que tentei dizer a você naquela noite…

— Você me disse que se sentia agradecida.

— Não da maneira que está pensando. Eu quis explicar, mas você não deixou.

— Parece que peguei esse mau hábito ultimamente. Mas o que quis dizer quando falou que se sentia agradecida?

Eve explicou finalmente o significado de suas palavras. Viu o rosto dele se iluminar.

— Quanto tempo perdemos! Quando você não apareceu para me buscar no aeroporto, achei que tinha mudado de idéia. Desde aquele telefonema eu não conseguia pensar em mais nada, e quando cheguei e não a vi, eu… bem, você sabe como fiquei. Mas você está magra de verdade, minha querida.

— De saudades de você.

— E verdade, Eve?

— Sim. Eu o amo também, Bart. Eu… não queria, mas de repente fiquei apaixonada!

Bart riu, divertido pela espontaneidade dela.

— Puxa, que modo estranho de dizer a um homem que o ama. Eve ficou vermelha, completamente inibida.

— Não precisa explicar. — Ele a puxou contra si. — Em vez de me dar explicações, mostre que me ama.

— Mostrar?

Bart a acariciou ternamente no rosto.

— Só quero que me beije. Eve. Andei louco por você nesses últimos dias, precisando muito da sua presença.

Eve ergueu os olhos timidamente.

— Tenho uma maneira muito melhor de lhe dar as boas-vindas.

— Tem? — ele perguntou provocadoramente.

Eve ergueu os lábios e o beijou longa, ternamente. Passou as mãos por baixo do robe dele, sentindo os pêlos de seu peito. Depois começou a beijá-lo. Sentiu-o estremecer de prazer.

— Eu o amo, Bart — murmurou roucamente.

Eve desamarrou o cinto de seu robe. Puxou seu corpo nu contra o dela. Bart soltou um gemido.

— Oh, Eve, beije-me!

Mas agora ele tinha tomado conta da situação. Sua língua explorava a doçura dos lábios dela, deixando-a tonta de desejo.

— Venha comigo — ele murmurou. Carregou Eve até seu quarto, colocando-a sobre a imensa cama de casal. Depois, começou a despi-la lentamente, peça por peça.

Eve viu o prazer com que ele a olhava, nua, viu as mãos morenas dele acariciando seus seios.

— Eu sabia que você ficaria perfeita nessa cama.

Os olhos dele eram duas brasas ardentes. Escorregou a mão lentamente pelas coxas de Eve, acariciando-a com ternura. Ela molhou os lábios, nervosa.

— A mulher com quem você ia casar…

— Que mulher?

— Aquela, para quem você comprou a cama. Ela…

— Você — respondeu Bart roucamente, os lábios brincando com o bico dos seios de Eve.

— Eu? — Eve perguntou, arregalando os olhos.

— Vamos conversar ou fazer amor, afinal?

— Bem… não dá para fazer os dois?

Bart riu baixinho, deliciado. Tirou o robe e se deitou ao lado dela, puxando a coberta. Aninhou-a em seus braços.

— Ou bem fazemos uma coisa, ou bem outra.

— Então prefiro fazer amor.

Bart sorriu para ela.

— Não tenho intenção de fazer amor com você antes de casarmos.

— Não?

— Não. — Bart sacudiu a cabeça. — Eu a amo, quero me casar com você, quero tê-la como minha mulher. Posso esperar dois ou três dias ainda, não estou tão desesperado.

Eve riu, solta.

— Que grande sacrifício!

— Mas é. Meu corpo reclama o seu, Eve.

Ela ficou vermelha. Escondeu o rosto no peito dele.

— Mas se você não quer fazer amor comigo, então o que estou fazendo aqui nessa cama com você?

— Está demonstrando que me ama — respondeu Bart, sério. — Sei como você detesta qualquer relacionamento físico com os homens.

— Mas não com você.

Bart a beijou longa e apaixonadamente.

— Agora sei que você me ama de verdade. E eu comprei esta cama para nós dois, mas agora que a estamos usando, acho que é grande demais. Posso me perder de você aqui… — sorriu, um brilho malicioso nos olhos. — Acho que vou trocá-la por uma de solteiro.

— E o que Maisie diria? — brincou Eve.

— Maisie já sabe que a amo; Teve mais intuição que você. Percebeu que eu a amava desde o primeiro dia em que a trouxe para cá. Foi uma batalha dura ter você. Agora, não a deixarei escapar mais.

— Mas eu não quero ir para lugar nenhum sem você.

Eve ergueu os olhos para o rosto de Bart. Viu que ele estava cansado.

— Talvez seja melhor eu ir embora.

Bart ficou sério.

— Desculpe ter mandado você embora, Eve. Eu estava nervoso. Na verdade, não quero que vá embora.

Eve sorriu. Ergueu-se um pouco e o acariciou de leve na testa.

— Eu não disse que ia embora da casa, querido — explicou. — Maisie falou que você estava cansado e agora vejo que ela tinha razão. É melhor eu voltar para o meu quarto e deixá-lo dormir.

— Dormirei muito mais tranqüilo com você ao meu lado. — Ele a puxou contra si gentilmente. — Aquela noite em que dormi no sofá com você foi uma das melhores noites que passei nos últimos tempos. Fiquei sonhando em repetir a façanha todos esses dias.

Como ele podia pensar em dormir, quando os seus corpos nus estavam

colados? Ela não compreendia. Talvez as coisas fossem diferentes para os homens, afinal. Talvez…

— Eu a desejo tanto quanto está me querendo — ele falou de repente. Mas quero que o nosso casamento comece da maneira convencional.

— Como você sabia que eu estava…

— O seu coração está batendo tão alto e rápido que está me deixando surdo — brincou Bart. — Quando fizer amor com você pela primeira vez não vai ser num lugar onde Maisie possa entrar de repente, sem avisar. Você já viu como ela é.

— Jamais poderei agradecê-la o suficiente por tudo o que fez por nós.

— Eu pedi que ela fosse a madrinha do nosso primeiro filho. Você quer filhos?

— Contanto que eles prometam nascer todos louros e de olhos verdes.

— Estranho, pensei que eles seriam morenos, de olhos azuis.

— Pode ser — falou Eve, rindo. —- Mas se eles forem teimosos como nós, nascerão ruivos de olhos castanhos!

— Provavelmente. — Bart ficou sério. — Agora deixe-me dormir, querida. Tenho um monte de coisas para fazer ainda hoje.

Eve se entristeceu.

— Não vai trabalhar, vai?

— Não. Vou ver se encontro uma ilha deserta em algum lugar para comprar. Daí podemos passar três meses lá, só nós dois, longe do resto do mundo. Pensa que estou brincando, é? — Ele a beijou de leve no nariz. — Acredite, três meses é pouco para eu demonstrar quanto a amo.

Eve estava fascinada. Seu coração batia a mil, seu rosto estava afogueado, os olhos brilhando de felicidade.

— Quando vamos casar?

— Assim que pudermos. Antes do final da semana. Agora deixe-me dormir para armazenar forças. — Ele riu, malicioso, fazendo-a ficar vermelha. — Acho melhor você fazer a mesma coisa, porque não terá muito tempo para dormir depois. Nem para trabalhar. Ao contrário do que você pensava, não quero que continue a cantar.

— Mas se você decidiu casar comigo seis meses atrás…

— Foi.

— Então por que financiou meus shows?

— Porque você mesma precisava ver se agüentava a barra. Tem uma voz fantástica, Eve, sexy, e não me importo se quiser continuar a gravar discos. Mas não a quero mais no palco. Além disso, não suporto a idéia de perdê-la nem por uma semana.

— Nem eu, Bart. Derek e eu já tínhamos chegado à conclusão de que eu não suporto esse tipo de vida.

— Como seu novo empresário, sei exatamente qual a carreira que deve seguir. Como minha mulher, você terá um emprego de período integral.

Eve tocou o rosto dele.

— Espero que sim.

— Será — ele prometeu, bocejando. — E agora, será que vai me deixar dormir, mulher?

— Sim, Bart.

Mas Bart soltou um gemido insatisfeito.

— Droga, agora não sei se vou conseguir dormir. Eu a quero demais, é difícil ficar ao seu lado sem fazer amor com você.

— Então faça — convidou Eve.

— Não — ele falou, firme. — Você jamais poderá dizer que me aproveitei de você.

Eve tocou o lábio superior com a ponta da língua sensualmente. Viu os olhos de Bart se escurecerem de desejo.

— E se eu… e se eu me aproveitar de você?

Os olhos de Bart se arregalaram. Seu rosto se iluminou.

— Bem, isso muda completamente as coisas.

— Bem que eu pensei. — Fingiu mudar de idéia. — Mas será que você não prefere dormir? — perguntou, com falsa inocência. — Pensei que estivesse com sono…

Bart foi tão rápido que antes dela perceber o que acontecera ele já estava em cima de seu corpo, os olhos escuros de desejo.

O que aconteceu depois foi uma revelação para Eve. Bart jogou fora as cobertas e começou a beijar cada centímetro de sua pele. Quando a intimidade começou a aumentar ela tentou pará-lo, puxando a cabeça dele para beijá-lo. Mas Bart era mais forte e estava determinado a conhecê-la totalmente.

Quando o corpo dele finalmente se uniu ao dela, Eve sentiu um momento de dor e depois uma eternidade de prazer. Bart a levou para as alturas. Eve nunca experimentara aquela sensação. Depois se sentiu de volta à terra.

Começou a beijá-lo de leve no peito, querendo manter aquele calor para sempre dentro dela. Bart acariciou o seu rosto com as mãos trêmulas.

— Eve… — Ele estava tendo dificuldade para encontrar as palavras. — Eve, eu juraria que… que você…

— O que foi? — Eve ficou preocupada. — Fiz alguma coisa errada? Bart sorriu, tranqüilizando-a.

— Claro que não. Você foi maravilhosa. Mas o prazer… Juraria que você jamais sentiu prazer antes. Seus olhos se abriram tanto um momento antes que… Eve, o que é que aquele homem fez com você?

Eve suspirou, evitando encará-lo.

— Você tem razão, eu nunca experimentei tanto prazer antes. É que ele… perdeu a cabeça, ficou zangado e…

— E praticamente a estuprou? — Bart ficou branco de raiva. — Ele a estuprou, Eve?

— Não… não foi bem assim. Foi minha culpa.. Eu disse que era ingênua e sonhadora naquela época. Tão ingênua que acreditei que ele tinha encontrado um apartamento baratinho para eu morar sozinha. Eu… não sabia, não fazia idéia…

— Então foi por isso que você falou com tanta amargura sobre eu encontrar um apartamento para você quando nos conhecemos — lembrou Bart. — Nunca fiz isso, Eve. Jamais humilhei uma mulher dessa maneira. Claro que já tive mulheres…

— Claro — concordou Eve. — Senão, não saberia fazer amor tão bem!

Bart a contemplou por alguns minutos e depois começou a beijá-la com ardor. Logo o desejo se acendeu entre eles novamente.

— Talvez seja um pouco indelicado da minha parte, mas se eu não a puser para fora da cama agora, vou fazer amor com você de novo, e um daqueles garotos teimosos pode aparecer antes da hora…

— Oh! — exclamou Eve, corando.

— Não tinha pensado nisso, tinha?

— Não… nem me ocorreu. Mas eu não me importaria — respondeu, calma.

— Nem eu. Mas não pretendo carregá-la de crianças tão cedo, sua gatinha selvagem… Ele a chamava assim, não chamava? — adivinhou Bart, vendo-a empalidecer.

— Chamava. — Eve virou o rosto. — Mas não era carinhoso nem sincero.

Bart segurou seu queixo e forçou-a a encará-lo.

— Não tem de se envergonhar pelo que aconteceu com você. Sei que sou o primeiro amor verdadeiro da sua vida e isso é o que importa. Possuir um corpo a força não é amor.

— Você tem razão. Bart, sei disso. Mas…

— Sem “mas”. Eve. Eu a amo. vou me casar com você e você será a mãe dos meus filhos. Nada mais importa. — Bart a beijou amorosamente. — Nada.

Eve sabia que ele estava sendo sincero, mas uma dúvida continuava a atormentá-la, bem no fundo. Será que Bart acreditava mesmo em tudo o que ela lhe dissera sobre Carl? Ou algum dia ele a acusaria de ter sido amante de outro homem?

 

Eve estava quebrando nozes com Maisie na cozinha quando Bart apareceu, relaxado e alegre. Seus olhos brilharam maliciosamente quando se inclinou para beijá-la na boca. Depois sentou e pegou algumas nozes.

— Então, vocês duas já decidiram quando é que Eve vai me tornar um homem honesto?

— Comporte-se. E deixe essas nozes em paz! — falou Maisie, dando um tapa na mão dele.

Bart abraçou Eve pelo ombro.

— Não contou a Maisie que tem de se casar comigo?

— Eu…

— Pare com isso, Bart — ralhou a governanta. — Está embaraçando a pobre garota.

— Eu? — Olhou para Eve inocentemente. — Por acaso estou embaraçando você, querida?

— Sabe muito bem que sim.

— É que eu adoro vê-la ficar vermelhinha. Falando sério, quando é o casamento?

— Ainda não contei a Maisie que haverá casamento.

— Mas tenho certeza que ela já tinha adivinhado.

— Claro — riu Maisie.

— Está vendo? — sussurrou Bart alto no ouvido de Eve. — Agora você não tem mais chance! Vai ter de casar comigo.

Para alívio de Eve, o telefone tocou naquele instante. Bart sorriu.

— Salva pelo gongo, hein? Deixe que eu atendo, Maisie.

Ele saiu. Eve não sabia onde pôr a cara ao se ver sozinha com a velha governanta. Como é que Bart dizia aquelas coisas! Baixou a cabeça e continuou a quebrar as nozes.

Dali a pouco Bart voltou. Beijou-a de novo na boca.

— Saiam da minha cozinha, se vão continuar assim. — brincou Maisie, divertida.

Bart pegou Eve pela mão.

— Vamos, Eve. Vamos para a sala que lá podemos fazer o que quisermos.

Eve se deixou levar, muito vermelha.

— Bart, você é incorrigível.

Ele a abraçou com força, cobrindo-a de beijos.

— Quando acordei, pensei que tivesse sonhado com você.

— Não, aconteceu mesmo e foi muito real — respondeu Eve, apaixonada.

— Eu a amo.

— Eu o amo também. Você… não vai sair agora, vai?

— O quê? Ah, você está se referindo ao telefonema? Não, querida. Era minha irmã de Nova York. Ela vai chegar nesse fim de semana, com o marido,

— Oh, sim, esqueci de lhe dizer! — lembrou Eve. — Derek telefonou e disse que ele e o seu cunhado viriam para cá.

— Minha irmã vem também. Está grávida de seis meses, e mesmo assim não perde David de vista.

— Quer dizer que ela estará aqui no casamento?

— Recebi ordens estritas para que o casamento seja na sexta-feira. Que acha?

— Gostaria que fosse antes, mas…

— Eu também, querida! — Bart a apertou com força. — Mas você não conhece minha irmã. Ela é capaz de derrubar a casa se não vier ao casamento do único irmão!

— Claro — concordou Eve. — Sexta-feira está perfeito. Temos muito o que organizar ainda, de qualquer forma. — Eve desabotoou a camisa dele e começou a acariciá-lo no peito. — Vamos dar uma pequena recepção?

— Sim, tenho certeza de que Maisie preparará tudo com muito carinho. Pare com isso, Eve! Comporte-se!

— Mas é tão gostoso…

— Depois de sexta você pode fazer o que quiser comigo. Aliás, deve. Mas até lá, só beijos.

— Só…. beijos?

Bart riu, deliciado.

— Meu Deus, minha mulher está se transformando numa ninfomaníaca! Sim, só beijos. E nada de dormirmos na mesma cama até lá.

— Mas, Bart, já me acostumei com aquela cama, é tão boal

— Eve, o que aconteceu esta manhã foi maravilhoso, fantástico, mas não vamos repetir a experiência até o casamento. Deixei o desejo tomar conta da razão, porque estava louco por você, não agüentava mais. Mas temos de pensar nos outros. Maisie, por exemplo. Ela deve ter desconfiado do que aconteceu.

— Porque você mais ou menos contou para ela.

— Não pude resistir. Você fica tão linda, vermelha! Claro que Maisie sabe o que aconteceu entre nós. Mas ela não aprovaria nosso comportamento se você mudasse para o meu quarto antes de usar o anel na mão esquerda.

— Tem certeza de que você ainda quer casar comigo? Porque se você não me quiser mais, Bart, eu vou embora, e…

— Não seja boba.

— Não estou sendo boba, Não pense que tem de casar comigo por causa do que aconteceu esta manhã, Bart. Fui eu que seduzi você, lembra? Não estamos noivos.

— Não diga bobagens, Eve. Eu a queria e a quero porque amo você. E quanto ao noivado… — Ele a arrastou até o escritório. — Tome, isto é seu.

Eve soltou uma exclamação. Bart tinha tirado do cofre uma caixinha de veludo. Era um anel lindo, com um diamante solitário. Bart pôs o anel na sua mão direita.

— Está um pouco largo. Você emagreceu desde que comprei este anel — disse ele, curvando-se para beijá-la na palma da mão. Eve estremeceu de prazer.

— Você o escolheu para mim? É… lindo!

— Comprei este ao mesmo tempo que escolhi o de casamento, também — ele respondeu, apontando para uma segunda caixinha no cofre.

— Mas quando?

— No mesmo dia em que encomendei a cama.

Eve arregalou os olhos.

— Mas você estava confiante demais!

— Que nada! Eu estava tão inseguro que comprei todas essas coisas para adquirir confiança. Você me tratou com tanta frieza logo no primeiro dia… Logo me detestou, e…

— Não era de você que não gostei, era do seu tipo.

— Não sou um tipo! Sou Bart Jordan!

Eve riu, maliciosa, abraçando-o com ardor.

— Agora eu sei, querido. Eu o amo. Vou me casar com você.

— Vai mesmo?

— Vou, meu amor… — Beijaram-se longamente. — Tenho de começar a preparar as coisas — ela falou por fim, soltando-se dele. — Preciso arrumar um vestido.

— Branco. Quero vê-la de branco.

— Pensei em usar rosa-pálido, ou creme.

— Branco — Bart repetiu com firmeza. — Tem de ser branco.

— Está bem, usarei branco. Apesar de…

Mas ele não a deixou completar a frase, Cobriu sua boca com amor. Ficaram abraçados, sem falar, por muito tempo. Depois sentaram no sofá.

— Queria tanto que meus tios estivessem aqui na sexta.

— Eles estarão.

— Mas como?

— Bem, depois de falar com você pelo telefone naquele dia eu… eu pensei… telefonei para o seu tio e disse que iríamos casar.

— Disse mesmo? Mas quanto convencimento! — brincou Eve, rindo. — E se eu tivesse dito “não”?

— Eu a obrigaria a casar comigo. Quer dizer, ia insistir até o fim! Por falar nisso, Judy também está vindo com Derek. Falei para minha irmã convidá-la.

— Pelo jeito, não vai sobrar nada para eu organizar. Você já fez tudo.

— Você pode arrumar suas coisas no meu quarto. E iremos até Londres esta semana para você comprar um guarda-roupa de verão. Não que vá usar muita coisa na nossa lua-de-mel… Já sabe qual vai ser sua roupa de dormir, não sabe?

— Sei — falou, rouca.

— Eve — Bart a segurou pelo queixo, contemplando-a com seriedade. — Você não vai mais ter medo de nada, não é? Prometa que, por mais dúvidas que tenha, não fará nada sem antes conversar comigo? Prometa, Eve!

— Prometo.

— Agora que tenho você, não quero perdê-la. Por nada!

Nos dias que seguiram, Eve foi desabrochando como uma flor. Recuperou o peso perdido, suas faces ficaram coradas, os olhos adquiriram um novo brilho. Era só ela e Bart se olharem para que uma corrente elétrica se ligasse entre os dois. Mas a decisão de Bart foi mantida. Não fizeram amor até sexta-feira.

— Graças a Deus, o casamento será hoje — ele gemeu, durante o caminho para o aeroporto. Iam buscar sua irmã.

— A idéia foi sua — falou Eve, fazendo uma careta.

— Ah, é? Espere só até chegar hoje à noite! Vai receber uma punição por isso — ele brincou.

— Mal posso esperar.

— Nem eu.

— Será que sua irmã vai gostar de mim?

— Vai adorar você, tenho certeza. E mesmo que não goste, não fará diferença. Eu a amo, Eve, e vamos casar esta tarde.

— Serei a senhora Bartholomew Jordan! — Não é fantástico?

— Hoje à noite você poderá dizer se é mesmo tão fantástico ser minha mulher.

— Oh, Bart, assim não dá! Nunca vi tanto convencimento!

— Mas ainda não lhe disse o mais importante.

— E o que é?

— É que ter você como mulher também é fantástico!

O aeroporto de Londres estava barulhento como sempre; alto-falantes anunciavam partidas, chegadas de vôos de todas as partes do mundo; pessoas se atropelavam por todos os lados.

Os dois foram até a alfândega esperar pela irmã de Bart, que viria com o marido. Judy e Derek chegariam naquela hora também.

— Sua irmã vai ficar muito cansada, coitada. Ela está grávida de seis meses. Você viu como tia Sophie estava quando viemos buscá-la ontem.

— Imagine — disse Bart. — Além do mais, sua tia tem mais de sessenta anos. Que nada, tenho certeza de que Helen estará saltitante como um passarinho. Ela e David são dois eternos apaixonados, devem estar loucos para me ver casado também.

Derek e Judy apareceram primeiro, logo seguidos por outro casal. O homem era alto, moreno, muito bonito. A mulher também era alta e seus cabelos eram louros e sedosos. Estava em avançado estado de gravidez. Virou o rosto para a frente e Eve a reconheceu imediatamente. Era Helen Prentiss. embora o homem a seu lado não fosse Carl.

Bart foi direto para ela, abraçou-a e beijou-a efusivamente.

Eve ficou mortificada. Aquela mulher, que conhecia tanto seu passado, era irmã de Bart!

 

Um zumbido ensurdecedor tomou conta dos ouvidos de Eve. Helen Prentiss era agora Helen Halstead. A ex-esposa de Carl. E diria a Bart quem fora o outro homem da vida dela.

— Eve — Bart puxou-a para perto. — Esta é minha irmã, Helen. Seu marido, David — apresentou. — Esta é Eve Meredith, minha noiva — acrescentou, orgulhoso.

— Noiva até daqui a pouco, seu sortudo! — David bateu com a mão nas costas de Bart, afetuosamente. — É um grande prazer conhecê-la, Eve — completou, beijando-a no rosto.

Eve provavelmente teria gostado de David em outras circunstâncias. Era alto, moreno, bonito e muito simpático. Mas ela estava com­pletamente tensa, esperando pelo momento que Helen a reconheceria.

Helen apenas a olhava! Seus olhos não eram mais embaçados e sem vida como Eve se lembrava. Óbvio que esse segundo casamento lhe fizera bem. Por que ela não dizia a todo o mundo que já se conheciam?

— Helen? — Falou Bart, impaciente com o silêncio da irmã. Helen olhou para ele.

— Desculpe. Bart. Fiquei surpresa com sua escolha.

Eve mordeu os lábios. Esperou pelas palavras que arruinariam a felicidade que tinha experimentado na última semana. Tremia dos pés à cabeça.

— Ela é linda. Bart — continuou Helen. — Bonita e doce demais para você — brincou. — Bem-vinda à família, Eve.

Eve foi beijada calorosamente nas faces. Depois viu Helen abraçando o irmão alegremente, fazendo piadinhas. Será que não a reconhecera? Parecia que não. Mas era óbvio que aconteceria algum dia. Virou-se para cumprimentar Derek e Judy.

— Estou muito feliz por você — disse Derek. abraçando-a com força.

— Eu também — completou Judy.

— Não tanto como eu — falou Bart, passando o braço em torno dos ombros de Eve.

Helen riu

— Tenho certeza que não. Nunca vi você assim, Bart.

— E que eu não conhecia Eve.

— Ai, o amor! — gracejou David, fazendo uma careta. — Vamos sair desse aperto. Helen, você está bem?

Ela parecia um pouco pálida.

— Só um pouco cansada. Um daqueles almoços deliciosos de Maisie, uma soneca e estarei nova para enfrentar a festa de casamento. Não perderia ver meu irmão casando por nada nesse mundo. Ele sempre disse que nunca cairia nessa armadilha.

— Depois que conheci Eve, me entreguei à armadilha de bom grado — ele respondeu, sorrindo ternamente.

Durante todo o trajeto Eve permaneceu quieta. Os outros falavam sem parar, sem notar seu silêncio. Descansou a cabeça no encosto do carro e fechou os olhos. O que faria agora? Como podia se casar com Bart sabendo que mais cedo ou mais tarde sua irmã a identificaria como a mulher que uma vez tentara roubar seu marido?

Quando chegaram em Hampshire sua cabeça latejava. Tinha reprimido as lágrimas por mais de meia hora. Não podia mais casar com Bart.

— Está passando bem, amor? — perguntou ele, enquanto entravam na casa. — Você parece pálida.

— Estou só um pouco nervosa. — Baixou os olhos. — Vou… vou só passar pela sala, para cumprimentar tia Sophie e o tio George e depois vou subir para descansar. — Tentou sorrir. — Não tenho dormido bem ultimamente.

— Então descanse bastante, querida, porque depois…

Eve sabia que Bart estava brincando, mas não conseguiu corresponder. Soltou a mão dele depressa e saiu. Os padrinhos tinham chegado do Egito no dia anterior e partiriam para Norfolk logo após o casamento. O casamento que não haveria.

Quando finalmente se viu só no quarto, seu olhos e garganta ardiam pelo choro reprimido. As lágrimas correram soltas, abundantes, por suas faces. Soluçava incontrolavelmente.

Tinha sido tão feliz nos últimos dias, imaginando passar o resto da vida ao lado de Bart, e agora só via longos, eternos anos vazios e solitários à sua frente.

Não ouviu baterem à porta. De repente viu Helen Halstead sentada ao seu lado na cama.

— O que você quer? — perguntou Eve, virando-se de costas depressa. — Eu… pretendo descansar até o casamento — mentiu.

— Não precisa temer nada, Eve — falou Helen com doçura.

Eve sentou na cama, limpando as lágrimas.

— Não… não compreendo. — Tentou aparentar calma. — Você não ia descansar, também?

— Vou sim, mas daqui a pouco. — Helen levantou e começou a andar pelo quarto. — Admito que quando soube que Bart ia casar com você, fiquei chocada.

Então ela sabia! Eve mordeu os lábios, trêmula.

— Mas você não demonstrou nada…

— No aeroporto, não. Bart já tinha me dito, pelo telefone, o seu nome. Levei um susto, é claro. Nunca me esqueci de você.

— Claro que não — cortou Eve, com amargura.

Helen sacudiu a cabeça.

— Não pelo que você está pensando. Nunca me esqueci do que Carl fez com você. — Ela torceu os lábios com tristeza. — Sempre soube que ele era cruel, insensível, mas o que ele fez com você foi… horrível! Jamais o perdoei por isso. E ele ainda pensou que mandando algumas rosinhas podia consertar as coisas…

Eve ficou branca como cera.

— Você… você soube o que aconteceu?

Helen soltou uma risada áspera e dolorosa.

— Oh, sim, soube de tudo. Carl me contou toda a história como se estivesse contando vantagem. Quando fui até o apartamento e a vi tão… desolada, tão chocada, resolvi perguntar a Carl o que tinha acontecido. Também vi que você estava coberta de arranhões. E Carl achou muito divertido contar para mim tudo, com detalhes.

— Oh, não! — Eve escondeu o rosto entre as mãos.

Estava morrendo de vergonha.

Helen a tocou gentilmente no braço.

— Carl era muito cruel. Quis me machucar. Mas foi ele quem acabou ferido, porque naquela mesma noite fiz as malas, peguei as crianças e fui embora. Fazia anos que eu suportava tudo em silêncio, sendo humilhada dia após dia, tudo em nome das crianças. Oh, e ele bebia também… era horrível. Ao saber o que ele tinha feito com você, reuni coragem suficiente para abandoná-lo. Senti muita pena, Eve, até cheguei a voltar ao apartamento para ajudá-la, mas você já tinha ido embora. Quando Bart me disse que ia se casar com Eve Meredith, mal pude acreditar na coincidência.

— Sinto muito. — Eve sufocou um soluço. — Eu… não sabia que você e Bart… não posso casar com ele.

— Por que não? Ele a ama!

— Agora — emendou Eve. — Mas quando souber… ele sabe que houve outro homem, mas não que era… seu próprio cunhado.

— Você não quer mais casar com Bart?

— Não posso. — Ergueu os olhos úmidos para Helen. — Eu o amo, mas não posso casar com ele.

— Pode, sim — falou Helen com firmeza. — Ele a ama tanto. Nunca vi Bart tão feliz. Está completamente diferente, solto, alegre. E parece muito orgulhoso de você.

Eve respirou fundo.

— Você… o ajudará quando eu for embora? Conte-lhe a verdade, Helen, para ele não vir atrás de mim. Porque eu não terei estrutura para suportar que ele venha me procurar e depois me abandone.

— Está cometendo um engano, Eve. Bart não é assim.

— Carl era seu cunhado!

— Está bem, Eve. — Helen sacudiu a cabeça, pesarosa. — Você é quem sabe. Explicarei a Bart. Desejaria que você, antes…

— Obrigada, Helen. Agora vou fazer as malas.

Mas depois que Helen saiu Eve viu que não conseguiria se manter em pé. Chorava como se seu coração tivesse se quebrado. Quando Bart entrou no quarto, pensou que ia desmaiar.

— Eve. — Ele a abraçou com força, puxando-a para si. — Você não vai embora. Não pode!

— Helen…

— Sim, ela me contou.

— Mas não devia ter contado antes de eu ir!

— Eu a teria esganado se não tivesse me contado antes! E ela sabia muito bem. Agora sei de tudo, Eve, mas nada disso modifica o amor que sinto por você. Se Carl estivesse vivo…

— Ele morreu? — perguntou Eve, branca.

Bart fez que sim com um gesto de cabeça.

— Num acidente de carro, um ano atrás. Morreu do mesmo modo que viveu, violentamente. Eu não fazia idéia da vida que Helen levava com ele até eles se separarem. Helen sempre foi muito orgulhosa, nunca me deixou saber de nada. Agora entendo por que você odiava as rosas que eu lhe mandava — ele gemeu, apertando-a. — Mandava rosas vermelhas porque sempre achei que elas representassem o amor puro e sincero. Mas para você elas representavam a violência que Carl praticou. Quando você for minha mulher…

— Mas você não pode querer que eu me torne sua mulher.

— Você será minha mulher.

— Mas…

— E talvez daqui a cinqüenta anos eu possa lhe dar rosas vermelhas para demonstrar todo o meu amor.

Eve começou a chorar de felicidade.

— E eu jamais as destruirei — falou, com voz embargada. — Oh, Bart, eu o amo!

— Eu a amo também, Eve. Acredita em mim?

— Oh, sim, Bart.

E quando pegou a única rosa vermelha que Bart lhe estendeu antes de se casarem, Eve teve a certeza de que aquele amor era para sempre. Bart lhe entregara seu coração e jamais o tomaria de volta.

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

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