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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


VINGANÇA SUTIL / Carole Mortimer
VINGANÇA SUTIL / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Lori tinha doze anos quando seu pai foi acusado de fraude por um advogado sem escrúpulos: Jacob P. Randell.  Arruinado e sem poder suportar a vergonha, seu pai se suicidou, mas declarou até o último momento que era inocente.

A sombra do julgamento perseguiu Lori durante anos e causou a morte de sua mãe.  Também lhe impediu de refazer sua vida junto ao homem que amava.

Mas quando conheceu Luke, o filho de Randell, apareceu à oportunidade de se vingar e decidiu lhe destruir, como tinham feito com seu pai.

 

 

 

 

Lori se debateu na escuridão, com os olhos muito abertos; não queria dormir. Sabia que outra noite de horríveis pesadelos a esperava. Entretanto, o sono a venceu e adormeceu.

De repente, uma misteriosa luz cinza inundou o quarto. Diante dela apareceram os rostos de seu pai e de sua mãe, refletindo uma intensa dor. Quando estes rostos se desvaneceram, apareceu Nigel, olhando-a com desprezo.

-Devia ter me contado -acusou vermelho de indignação.

Depois ouviu sua própria voz suplicando para que não a condenasse por seu passado.

Ele a olhou com frieza. Era loiro e tinha os olhos azuis.

-Sabe que não posso me casar com você!

-Por que não? -exclamou ela desesperada enquanto tentava reter o homem em seus sonhos. -Nigel, eu te amo, não me deixe. Todos me abandonam, meu pai, minha mãe. Você também não pode me abandonar!

-Claro que posso -gritou. –Vou deixá-la para sempre. E da próxima vez que procurar uma posição respeitável, conte a verdade ao homem que escolher. Porque se não o fizer eu irei fazer por você.

-Não!

Tratou de agarra-se ao braço de Nigel, mas ele se afastou.

-Nigel, eu sei que você me ama!

-Eu amei Lori Parker, não Lorraine Chisholm, eu nunca poderia amar Lorraine. Nunca! -exclamou com veemência.

Lori caiu a seus pés, soluçando, segurando-se a uma perna dele, num último e desesperado ato para detê-lo.

-Nigel não vá - suplicou.

-Tenho que ir -afirmou, empurrando-a. –Nenhum homem decente gostaria de fazer de você sua esposa.

Essas cruéis palavras eram como um martelo batendo em sua cabeça sem cessar. Não conseguia afastá-las de sua mente.

-Lori, acorda!

Entre sonhos, notou que alguém a sacudia pelos ombros.

-Lori, abra os olhos. Está tendo pesadelos. Lori!

A garota abriu os olhos com esforço, à mortiça luz cinza se desvaneceu e em seu lugar apareceu o rosto preocupado da Sally, sua companheira de quarto.

-Você está bem? -perguntou sua amiga com o cenho franzido. -Gritava de uma forma... como se alguém estivesse a atacando.

Lori se levantou apoiando-se nos cotovelos, afastou uma mecha de cabelo do rosto e levantou a cabeça para olhar sua amiga.

-Não se preocupe -sussurrou em voz baixa, felizmente foi só um pesadelo.

Sally se voltou e encolheu os ombros antes de sentar-se em sua cama, que estava em frente a de Lori.

-Me pareceu muito real.

-Os pesadelos sempre parecem reais, por isso são aterrorizadores.

Lori retirou os lençóis e se levantou de um salto.

Sally também se levantou; era de estatura baixa e o cabelo loiro caía sobre os ombros.

-Esta devia ser uma verdadeira história de horror -disse.

-Sim -afirmou Lori fingindo indiferença. -Mas já me esqueci do que se tratava -mentiu com a certeza de que aquele temor nunca a abandonaria.

-Sério? -perguntou Sally duvidosa.

Lori se dirigiu ao armário, para pegar uma roupa. Era uma moça alta, media um metro setenta e cinco de altura, e o pijama masculino a fazia parecer ainda mais magra. Tinha o cabelo castanho, e sempre o usava solto, deixando-o cair livremente sobre seus ombros. Suas pestanas eram longas e escuras, os olhos de cor mel, o nariz reto e a boca perfeitamente delineada, embora sorrisse pouco.

Em seus vinte e quatro anos não ignorava que os homens se sentissem atraídos por sua aparência, embora a maioria deles não passasse do primeiro encontro.

-Não lembra quem é Nigel? -perguntou Sally com voz suave.

-Nigel? -repetiu surpreendida enquanto procurava na gaveta sua roupa íntima. -Nigel de que?

-Esperava que você me dissesse isso -respondeu sua amiga olhando-a com curiosidade. - Estava chamando seu nome no sonho.

-Não conheço ninguém que se chame assim -disse enquanto tirava de entre suas roupas o objeto que procurava.

-Ah! Sim. Teria pensado...

-Sally! -exclamou fechando a porta do armário com força. -Sei o que digo; pode estar certa de que não conheço ninguém com esse nome.

-Sinto muito -desculpou-se sua companheira de quarto.

-Não, sou eu quem sente muito. Este pesadelo me afetou mais do que eu acreditava.

-Está muito nervosa, não é? -perguntou Sally ansiosa por esquecer o assunto. -É claro, o casamento da Nikki nos alterou.

-Sim -respondeu. -Posso entrar primeiro no banho?

-Vá em frente -aceitou a outra moça.

Sally não podia imaginar porque tinha sonhado com ele. O casamento da Nikki devia ser causa desse pesadelo. As três moças trabalhavam para um escritório de advogados e sempre passavam juntas seus momentos livres. Nikki ia se casar hoje com Paul Hammond, o advogado mais jovem do escritório.

O que ninguém podia imaginar era que na semana seguinte fariam cinco anos do casamento de Lori. Se Nigel não a tivesse abandonado!

Nigel Phillips, herdeiro da fortuna Phillips, era o executivo mais jovem da empresa, dirigida por seu pai. Lori tinha trabalhado ali cinco anos atrás. O senhor Phillips se opôs desde o começo ao casamento de seu filho com a jovem e foi ele mesmo quem deu a informação que levou seu noivo a abandoná-la.

Lori estava relativamente tranqüila. Se passara muito tempo e tinha a esperança de que seu passado não influenciaria Nigel. Mas quando ele soube a verdade, rompeu o compromisso e cancelou o casamento. Nunca chegou a superar esse duro golpe e embora tivessem se passando cinco anos, agosto continuava sendo um mês de triste lembrança para ela.

Quando Nikki lhe disse a data de seu casamento e lhe pediu que fosse sua dama de honra, a primeira coisa que pensou foi recusar o convite, mas logo seu orgulho a obrigou a aceitar. Sua amiga não tinha culpa de que Nigel a tivesse abandonado. E Lori não podia fazê-la pagar pelas conseqüências de sua própria frustração.

A decisão de aceitar fez com que se tornassem mais freqüentes os pesadelos que estava sofrendo durante os últimos cinco anos. O último havia sido o pior, porque não pôde esconder o nervosismo como tantas outras vezes.

-O banheiro é todo seu. -Lori saiu do banho com o cabelo molhado e uma toalha na cabeça, Nikki tinha dito que iria levá-la ao salão, mas como sabia que seu cabelo era muito rebelde, preferiu ajeitá-lo ela mesma.

-Já terminei. –Logo Sally saiu do banho vestida de maneira informal, os objetos que levariam essa noite para a casa dos pais de Nikki estavam cuidadosamente penduradas no armário.

Lori se dirigiu para o vestíbulo, seu traje também era simples.

-Não deixe que Nikki fique nervosa e mude de opinião.

-Está brincando? -sorriu Sally. – Ela levou muitos meses para apanhar o pobre homem.

Era verdade. Nikki esteve apaixonada por Paul durante seis meses, antes que este se decidisse a falar com ela. Nikki organizou o casamento com toda rapidez antes que ele se arrependesse.

-Esse pobre homem não sabe onde se meteu -comentou Lori. –Me parece incrível que os dois tenham ficado enamorados durante meses sem dizer uma palavra.

-Como diz você, assim são os ingleses -riu Sally antes de partir.

Lori jamais se preocupou em esconder seus sentimentos e sempre demonstrou estar totalmente apaixonada por Nigel. Mas tudo isso ficou para trás. Nesse momento suas únicas amigas eram Nikki e Sally. Conheceu-as quando começou a trabalhar para Ackroyd, Hammond & Hammond. O senhor Hammond logo se retiraria da sociedade e seu filho Paul assumiria seu lugar.

O velho Hammond era o chefe de Lori. Um homem gordo que estava muito satisfeito com o casamento de seu filho e Nikki. Se Charles Phllips também houvesse se sentido satisfeito com o casamento de seu filho com sua secretária, não teria ocorrido nenhuma desgraça. Nigel e ela estariam casados há cinco anos e já teriam filhos. Essa era a preocupação de Charles Phillips, nem tanto o que ela fosse sua nora, e sim o fato de que seus netos levassem o sangue dos Chisholm.

Apoiou a cabeça no espelho, deixando que a friagem do mesmo a invadisse. Queria afastar Nigel de seus pensamentos, mas não podia, muito menos em um dia como esse.

Lembrou, para seu pesar, daqueles dias felizes em que Nigel era seu chefe. Ela era muito jovem e após poucas semanas saindo com ele, Nigel a pediu em casamento.

Toda a família de Nigel ficou horrorizada por sua escolha; a mãe, o pai e inclusive sua irmã, Margot. Charles Phillips foi quase perverso, deu sua facada uma semana antes do casamento.

Lori foi testemunha da mudança repentina de Nigel. O amor desapareceu dando lugar ao desprezo. Nesse momento, ela começou a odiar Charles Phillips e Jacob Randell, o homem que por vingança havia arruinado sua vida; o causador do prematuro falecimento de seu pai e os posteriores anos de infelicidade de sua mãe, que morreu amargurada, vencida pelo sofrimento.

Observou no espelho seu magro rosto de maçãs salientes, sem se dar conta de que suas pronunciadas olheiras e seu aspecto desamparado lhe conferiam uma estranha beleza. Era magra, todo tipo de roupa ficava bem nela, seus quadris e sua cintura estreita acentuavam seu esbelteza, tinha as pernas longas e o busto erguido.

De qualquer maneira, não ia ser ela o centro das atenções nesse dia. Seria Nikki. Toda moça merecia ser o centro das atenções no dia de seu casamento.

Lori acabou de pentear-se e se maquiou. Decidida a não dedicar nem um só pensamento mais a Nigel. Tinha que reunir-se com Nikki dentro de uma hora.

Na casa da noiva reinava o caos. A mãe de Nikki estava preocupada ao ver que as flores não tinham chegado ainda, o senhor Dean se trancou no escritório devido ao nervosismo de sua esposa. Lori telefonou à floricultura para perguntar se tinham enviado as flores: a gerente lhe assegurou que o rapaz que as estava levando não demoraria a chegar. A jovem comunicou à mãe da noiva para tranqüilizá-la.

-Graças a Deus que chegou! -exclamou Nikki preocupada empurrando-a até seu quarto. - Faça algo com meu cabelo.

Lori franziu o cenho.

-O que tem seu cabelo? Está muito bom.

-Agora sim. Mas olhe! -Nikki pegou o véu e o pôs na cabeça, imediatamente o penteado despencou. -Olhe como fica!

-Não se preocupe, é só uma questão de arrumá-lo com jeito.

Lori arrumou o cabelo de tal forma que não desmanchasse.

-Sabia que podia confiar em você. Os olhos de Nikki brilharam de felicidade.

Lori sorriu.

-Bom para isso servem as damas de honra. E falando de damas de honra, onde está Sally? -perguntou preocupada.

-Ainda no cabeleireiro.

-O que estão fazendo? Um transplante? -brincou Lori.

-Não. O problema é que tem muito cabelo e demora bastante tempo para secar, pensava em esperá-la, mas como aqui havia muito trabalho a fazer, decidi retornar antes para ajudar a mamãe.

-A casa parece um caos!

-Sim, tudo é um desastre. Agora me arrependo de ter aceitado que se fizesse festa, teria sido melhor escapar depois da cerimônia.

Lori sorriu.

-Estou certa de que isso é o que pensa toda noiva antes do casamento. Mas espere para ver as fotos. Será algo que lembrará para sempre.

-Mamãe não se cansa de me dizer isso -sorriu Nikki. -Mas a única coisa que eu quero é que tudo isto termine o quanto antes.

-Curta seu casamento - animou-a Lori. -É um dia muito especial.

-Tem razão - assentiu. - Entretanto, me preocupa que as flores não tenham chegado ainda.

-Pois saiba que esse problema já está resolvido. -sorriu Lori. -Acabo de ver o carro da floricultura estacionado lá embaixo.

Nikki se aproximou da janela para olhar.

-Graças a Deus! -suspirou com alívio. - Uma preocupação a menos. Será que a flor para a lapela chegará a tempo na casa de Paul?

-Encomendaram na mesma loja, não foi? -Lori esperou que sua amiga lhe respondesse. - Bom, vou descer e perguntar se já foram à casa de Paul.

-Como não me ocorreu isso antes! -exclamou Nikki.

-Porque está muito excitada - respondeu, sorrindo.

-Sim -Nikki lhe dirigiu um olhar sonhador. -Estou muito apaixonada por ele. Esperamos muito, sabe.

-Sei -Lori apertou a mão de sua amiga. -E isso é o que faz com que este dia seja especial para vocês. Por isso está tão nervosa. Uma noiva virgem dá muito mais importância à noite de núpcias, já no seu caso a preocupação é quanto ao casamento em si.

-Você é...? -Nikki se deteve. -Sinto muito, não devia fazer esse tipo de pergunta.

-Não importa -disse Lori. -Sou e serei até que encontre o homem certo.

-Estou certa de que o encontrará -disse convencida.

Lori riu.

-Vou falar com o rapaz da floricultura antes que se vá.

Havia uma mulher de meia idade ajudando à senhora Dean na cozinha. A mãe da noiva afogava seu nervoso em uma taça de xerez. Lori obteve a informação que desejava e retornou ao quarto de Nikki.

-Acredito que sua mãe decidiu se embebedar e esquecer de tudo -comentou com sua amiga, rindo.

-Era só o que me faltava! -grunhiu. -E eu que pensava que ela seria a mais tranqüila.

-As mães nunca estão tranqüilas no dia do casamento de seus filhos, muito pelo contrário, choram muito -brincou Lori. -Não está na hora de colocar o vestido? Acredito que não cometerá a crueldade de deixar Paul esperando na igreja.

-Está ficando terrivelmente tarde -expressou Nikki franzindo o cenho. -Onde estará Sally?

-Não se preocupe por ela -falou Lori. –Já, já, ela chega, nem que tenha que vir com o cabelo molhado.

-Isso é o que temo.

-Não deve se preocupar. Verá como tudo sairá bem.

E assim foi. O senhor Dean saiu do escritório e se vestiu, sua esposa fez o mesmo e Sally chegou a tempo para ajudar Nikki.

As duas damas estavam vestidas iguais; os trajes eram de manga curta e ajustados na cintura. As rosas brancas que adornavam suas cabeças faziam jogo com as pequenas almofadas que levavam.

-Eu adoro casamentos -sorriu Sally enquanto se dirigiam para a igreja, no Rolls Royce branco.

-Sim. Eu também -comentou Lori sorrindo com nostalgia.

-Quem sabe Dave se anima -disse a outra moça referindo-se ao rapaz com quem estava saindo.

-Você acha?

-Não -riu Sally. -Mas não perco a esperança.

Fazia um dia maravilhoso. Lori se sentiu imensamente feliz quando viu que Nikki chegava à igreja acompanhada de seu pai.

Fazia frio dentro da igreja e Lori reprimiu um estremecimento enquanto seguia Nikki e seu pai rumo ao altar.

Lori pegou o buquê de Nikki e se dispôs a escutar a missa. Entretanto, havia algo estranho no ambiente, experimentou uma estranha sensação, e um estremecimento lhe percorreu as costas.

Voltou-se e olhou ao seu redor, certa de que alguém a estava observando. Todos estavam olhando os noivos ou ao livro que tinham na frente. Entretanto, a sensação de que um par de olhos se encontravam cravados nela persistia. E então o viu!

Imediatamente afastou a vista, entretanto, o rosto masculino ficou impresso em sua mente. Estava sentado junto da senhora Hammond, era um homem alto e moreno, tinha olhos acinzentados, o nariz reto, maçãs do rosto pronunciadas e lábios definidos. Era um homem muito atraente. Aparentava aproximadamente trinta e oito anos de idade.

Voltou-se para ele novamente e percebeu que continuava observando-a descaradamente. Não queria parecer uma colegial assustada, e sustentou o olhar durante alguns segundos. Esses instantes lhe deram a oportunidade de perceber algumas outras coisas sobre o homem: alguns fios grisalhos nas têmporas, frieza no olhar e sensualidade nos lábios.

O homem que a observava fez uma careta quando ela desviou o olhar. Por um momento, a garota se assustou. Como se atrevia a olhá-la com tanta insolência! Tinha as faces vermelhas quando se voltou para o altar, mas era de indignação, não de acanhamento.

Quem seria? E o que fazia sentado junto ao senhor Hammond? Sabia que Paul não tinha irmãos. Mas lá estava ele com Ruth e Claude Hammond, como um convidado especial. E continuava olhando-a! Não precisava voltar a cabeça para saber que continuava observando-a.

Podia adivinhar suas intenções. Fazia alguns anos que era perita em identificar um Don Juan até os aparentemente mais temíveis. Como parecia ser este. Não a assustava, e caso se empenhasse em mostrar-lhe interesse, lhe responderia com total indiferença.

Enquanto posavam para as fotografias, ele voltou a olhá-la; estava parado em frente ao grupo e tinha os olhos fixos nela. Parecia muito alto, seu cabelo era de cor castanha.

Lori levantou a cabeça, desafiante, sua cabeleira balançava sob a ligeira brisa e seus olhos cor de mel brilhavam.

-Luke! -gritou Paul. –Venha tirar algumas fotos com a gente.

-Não –respondeu com apatia, o homem dos olhos acinzentados, sua voz era profunda e chamava a atenção.

-Oh! Venha Luke! -pediu Paul.

-Sim. Venha Luke! - Nikki se uniu ao coro do marido, segurando sua mão.

-Está bem. Fico junto da madrinha? –perguntou alegremente.

Todos os convidados riram. Com exceção de Lori e Jonathan Anderson, amigo de Paul. Jonathan era um dos advogados mais jovens do escritório Ackroyd, Hammond e Hammond, e fazia seis meses, que tentava em vão sair com Lori. Jonathan rodeou sua cintura enquanto se aproximava dela para sair na fotografia.

-Me permite? -perguntou Luke sorrindo.

Lori respirava com dificuldade, incomodou-lhe que a humilhasse em frente a todos. Não gostava de chamar a atenção. Nunca perdoaria àquele homem por tê-la feito passar por isso.

-Claro que sim -riu Nikki.

-Então aceito -deu um passo à frente com decisão.

-Que sortuda é você, Lori! -murmurou Sally divertida. -Onde o escondia, Nikki?

Lori não sabia de onde tinha saído, entretanto, pensou que teria sido melhor que não aparecesse. Tinha ocupado o lugar de Jonathan e a segurava pela cintura.

Ele sorriu ironicamente ao notar que ela ficava tensa; Lori o olhou e viu que a frieza de seus olhos havia desaparecido.

Depois fixou o olhar no fotógrafo. Jonathan, aborrecido se colocou junto à Sally. E compartilhou um sorriso de desgosto quando seus olhos se encontraram com os de Lori. Durante todo o tempo que estiveram posando para as fotos, Luke permaneceu ao seu lado sem tirar a mão de sua cintura, aceitando a altivez da garota sem alterar-se.

-Agora somente os noivos -pediu o fotógrafo, já havia sugerido tantas vezes que já começava a se zangar.

Suas palavras eram exatamente o que ela precisava para se soltar do braço que a segurava. Notou com satisfação como o homem chamado Luke era monopolizado por Claude Hammond. Tentara iniciar uma conversa, mas a jovem não quis trocar uma só palavra com ele.

Entretanto, a silenciosa admiração continuou durante toda a festa; começava a se sentir muito incomodada pelos olhos desse homem cravados em suas costas. Não tinha nenhum direito de observá-la assim, quase a despindo com os olhos. Além disso, seu olhar era penetrante e enigmático.

-Que tipo mais chato! -exclamou Jonathan.

Lori continuou sorrindo e pegou a taça de champanhe que ele oferecia. O jovem parecia muito zangado, e ela conhecia muito bem a causa de seu aborrecimento.

-Quem é? -perguntou Jonathan ficando diante dela para impedir que ele continuasse observando. A garota encolheu os ombros.

-Não tenho a menor idéia. Um amigo dos Hammond, suponho -tratou de aparentar indiferença, embora sentisse curiosidade.

-Sim, Nikki parece o conhecer muito bem.

-Nunca a ouvi falar dele.

-Sim -disse Jonathan novamente, voltando-se para olhar Luke, que nesse momento estava conversando com Paul. -Um tipo interessante!

Perigoso, pensou ela, que não trocara uma só palavra com o homem que tanta impressão lhe causava. Não falara com ele, mas tinha certeza do que estavam lhe dizendo aqueles olhos.

-Dançamos? -propôs Jonathan.

-Sim, obrigada.

Jonathan era encantador, entretanto, algo a impedia de aproximar-se dele. Lembrava muito a Nigel. O mesmo cabelo loiro e a mesma decisão de triunfar. Igual a Nigel, jamais se casaria com Lorraine Chisholm.

Dançavam bem, os dois eram altos, os cabelos castanhos de Lori atraíam a atenção para seu formoso rosto, uma beleza que havia fascinado Jonathan.

Continuaram dançando durante muito tempo.

-Suponho que tenhamos que mudar de par, ou descansar um pouco -brincou ela.

-Sei. Mas se a deixo, esse Luke vai pedir para que dance com ele. E não tenho intenção de lhe dar a menor oportunidade.

Preocupada. Olhou a seu redor. Sim. Ali estavam os olhos acinzentados, ameaçadores. De repente Lori teve um pressentimento. A teria reconhecido?

Sentiu que o pânico começava a apoderar-se dela, mas o desprezou. Não era possível que depois de tanto tempo, alguém pudesse reconhecê-la. Charles Phillips descobrira porque contratou um detetive para espionar seu passado.

Não, era impossível que a tivesse reconhecido. Provavelmente a única coisa que tentava fazer era pô-la nervosa. Certo, se fosse isso tinha conseguido.

-Vamos descansar -pediu a seu acompanhante.

-Mas...

-Se me pedir que dance com ele, Jonathan. É simples, simplesmente digo que não -afirmou zangada.

-Fará? -perguntou não muito convencido.

-Sim, farei -separou-se de seus braços e, ao girar-se, tropeçou em alguém que estava junto a ela.

Um par de enormes mãos a agarraram pelos ombros.

Lori viu Luke Randell; não era uma surpresa, sabia que cedo ou tarde iriam se falar, mas, nesse momento, a pegara despreparada. Deu-se conta de que se esse homem pedisse que dançasse com ele, não ia ter forças para negar, como acabava de assegurar a Jonathan.

-Quer dançar comigo? -pediu-lhe ele com voz rouca.

-Eu...

-Neste momento nos dirigíamos à mesa para comer -interrompeu Jonathan, enquanto segurava a mão de Lori para colocá-la sobre seu antebraço. -Se nos permitir.

Dirigiu ao outro homem um sorriso antes de afastar-se.

-Salvos pelo gongo, ou melhor dizendo, pela comida -murmurou seguindo o grupo de pessoas que se dirigia à mesa.

-Não foi muito delicado, Jonathan -sorriu ante o evidente ataque de ciúmes sentido pelo homem.

-Com esse tipo de homens, as sutilezas não servem para nada. Sei quando devo ser brusco ou educado, agressivo ou sutil, querida.

Lori sabia. Em uma ocasião teve que ir com ele ao Tribunal porque sua secretária estava de férias. Ficou assombrada ante a mudança ocorrida nele. Não teve pena na hora de atacar o acusado. Lori se lembrou de outro julgamento e outro advogado. Jacob Randell. Esse nome a fez estremecer.

Durante a noite, pôde ver Luke em várias ocasiões, em sua maioria acompanhado dos Hammond. Uma ou duas vezes dançando com Sally, que se ruborizava cada vez que o homem dizia algo. Coisa que Dave contemplava com cinismo. Lori pensou que uma dose de ciúmes não seria ruim, sentia-se muito seguro de Sally e a garota temia pela estabilidade de sua amiga.

Mas Luke não voltou a aproximar-se dela, pelo contrário, parecia evitá-la, sempre tinha a vista cravada no lugar oposto ao qual ela olhava.

Sabia o que estava fazendo. Era óbvio, e seu ódio por ele cresceu ainda mais. Não podia acreditar que fosse tão tolo para pensar que se a ignorasse, ela ia prestar-lhe atenção. Fazia muito tempo que não participava desses jogos. E não ia cair na armadilha.

-Dança, querida?

Viu-se frente ao velho Hammond. Tinha o cabelo tão escuro como o de seu filho e os pés igualmente ligeiros, embora se cansasse com mais facilidade. Lori era sua secretária há dois anos e estava certa de que ele nunca se arrependeu de ter lhe dado uma oportunidade.

-Encantada -deslizou graciosamente entre seus braços. Os movimentos que fazia seu chefe ao dançar eram rápidos e ágeis, apesar de sua figura avantajada. -O casamento foi maravilhoso, senhor Hammond.

-Acredito que sim. –Mostrava-se satisfeito.

Lori sabia que tanto os Dean como os Hammond tinham sido muito generosos nos gastos do casamento de seus filhos. Talvez Nikki e Paul tivessem sido mais felizes sem tanta agitação. Mas para agradar a seus pais consentiram nas extravagancias como o Rolls Royce e a custosa festa.

-Nikki estava linda -comentou ele orgulhoso. -Nem eu mesmo teria escolhido melhor.

Nikki e Paul estavam visivelmente apaixonados. Não olhavam para mais ninguém, só tinham olhos um para o outro.

-E agora com sua permissão. Vou apresentar a você meu jovem amigo -o senhor Hammond se deteve. Lori, confusa, deixou-se levar. -Eu sei que ele está desejando conhecê-la. Luke...? -dirigiu-se à ele com um sorriso paternal.

Lori olhou furiosa ao homem que a estava atormentando durante todo o dia. O senhor Hammond olhou os dois sorrindo, obviamente muito contente consigo mesmo.

-Lori? –Espantou-se Luke.

A garota reprimiu sua ira. Era um amigo dos Hammond, não sabia se era íntimo da família, mas não podia comportar-se de maneira incorreta diante de seu chefe.

-Muito sábio -ironizou ele enquanto dançavam ao compasso da música. O velho Hammond fora reunir-se com sua esposa na mesa principal.

-Como disse? -ela inclinou a cabeça para olhá-lo, mas se arrependeu ao se dar conta de que ficaram muito perto.

-Sou um velho amigo de Claude -disse, respondendo a sua pergunta.

Lori se voltou, aborrecida porque ele lia seus pensamentos com facilidade. Tinha que dizer-lhe com tanta clareza?

-Sim, tenho que dizê-lo -disse com voz suave.

Piscou ante suas palavras. Seria possível que soubesse com semelhante precisão o que pensava?

-Mais ou menos.

Luke sorriu e ela conteve a respiração.

-É que você tem olhos maravilhosos. A princípio me pareceram de cor castanha, mas depois notei que há um círculo dourado ao redor, que os faz mudar de tom segundo seu estado de ânimo. Como agora mesmo. Está zangada. Parece de cor mel. São como os de um gato, Lori -riu em voz baixa. -Como um que tive quando era menino. Eu adorava acariciar aquele animal, Lori.

-Fascinante! -exclamou com involuntária doçura.

Luke passou o dedo pelo punho dela.

-Não é tão fria como aparenta -assegurou ele. Apalpando com o dedo o rápido pulso da jovem. -Enigmática como um gato. Também arranha quando se zanga?

Olhou-o com desdém. Deu-se conta de que seu físico e as boas maneiras poderiam ser atraentes para qualquer mulher, mas não para ela.

-Não acostumo fazê-lo, Luke. Embora sempre admirei os felinos.

-Eu também. E agora ainda mais. Mas acredito que desfrutaria mais com suas carícias que com seus arranhões.

Lori decidiu seguir com a brincadeira.

-Jamais arranho. E agora, se me desculpar, acredito que Nikki e Paul já estão indo.

Afastou-se altivamente. Ficaria muito irritada se soubesse que várias das pessoas que a observava naquele momento pensavam que tinha a graça sensual de um gato.

-Obrigada por sua ajuda, Lori -Nikki se aproximou para despedir-se. O vestido verde que comprou para sua viagem a Barbados fazia ressaltar sua beleza. -Foi maravilhoso, não acha?

-Maravilhoso! -concordou Lori, beijando sua amiga. -Agora vá com seu impaciente marido.

-O que vai fazer com o pobre Luke? -Nikki estava eufórica e, embora não necessitasse do champanhe para ficar, achava-se sob os efeitos de uma boa dose do mesmo. -Ficou impressionado, sabe.

Esta era sua oportunidade para saber quem era.

-Mas Nikki, quem...?

-Vamos querida -o braço de Paul rodeou a cintura de sua esposa. -Sinto muito interromper Lori, mas o carro está esperando lá fora para nos levar ao aeroporto.

-Sinto muito, querida, falaremos na volta –prometeu antes de ser quase arrastada por seu marido.

Lori suspirou com tristeza. Os noivos estariam ausentes por um mês, assim Nikki não lhe seria de grande ajuda no que se referia Luke.

-Tem razão, sabe -disse uma voz suave atrás dela. -Estou impressionado. O que vai fazer comigo?

-Nada! -respondeu, lhe dando as costas. -Exceto ignorá-lo!

-Temo que não possa me deixar de lado facilmente.

Lori permaneceu indiferente, observando como Nikki, chorosa, entregava o buquê a sua mãe e como se abraçavam com força antes que chegasse ao carro.

-Se tivesse jogado o buquê teria pegado para você - a voz dele soou muito perto de seu ouvido. - Porque você vai ser a próxima noiva, Lori. Minha noiva.

Não pôde permanecer calada ante aquelas palavras.

-Você está louco? -perguntou furiosa vendo como o automóvel se afastava e os convidados voltavam para salão do hotel.

-Começo a pensar que estou -mas não parecia muito preocupado com isso. -Você vai se casar comigo, Lori.

-Jamais! -gritou, decidida a reunir-se com o resto dos convidados. Tinha certeza de que aquele homem não estava bom da cabeça.

Como ia casar-se com ele se nem sequer o conhecia?

-Lori, querida -Claude Hammond se aproximou dela. -Me alegro de que você e Luke sejam bons amigos.

-É que...

-É um homem brilhante.

Era um elogio importante vindo daquele grande advogado. Lori escutou com interesse. Se Claude Hammond dizia que aquele homem era brilhante, devia sê-lo. Disso não havia a menor dúvida.

-Com um pai como o seu não é estranho -continuou Claude Hammond. -Estou orgulhoso de conhecê-lo.

-Um pai como o seu? -perguntou Lori.

-Sim. Jacob foi o melhor.

-Jacob...? -Lori ficou pálida. Teve um terrível pressentimento.

-Jacob Randell -explicou Claude, jovial. -Claro que seu único engano foi o caso Chisholm, subestimou aquele homem. Mas isso foi há tempos, você não pode se lembrar, era muito jovem.

Mas Lori lembrava muito bem. Jacob Randell era tão desumano como uma víbora e se divertia fazendo suas vítimas sofrer. Também lembrava do Mihael Chisholm, seu pai.

 

O julgamento durou muitos meses. Lori e sua mãe sofreram com a perseguição dos fotógrafos e dos jornalistas, até mesmo no dia em que enterraram seu pai.

-Foi uma pena que nunca se chegou à verdade de toda essa história -continuou Claude Hammond movendo a cabeça. -Estou certo de que Jacob teria provado. Mas não quero aborrecê-la, querida, especialmente num dia como hoje. Velhos como Jacob e eu não podem interessá-la muito. Vá e se divirta. Ainda é cedo.

Lori o olhou atordoada. Luke Randell era o filho do homem que ela mais odiava. O responsável pelo suicídio de seu pai e da prematura morte de sua mãe, o causador de todas suas desgraças, o culpado de que perdesse Nigel, o homem que amou.

Tratou de se acalmar, e conseguiu, pois ninguém devia notar seu sofrimento. Precisava estar sozinha e entrou no toalete. As lembranças se apoderaram dela.

Fazia doze anos que sua mãe e ela trocaram o sobrenome Chisholm pelo Parker. Mas essa mudança não pôde erradicar a vergonha que a mãe sentia. Seu marido havia sido acusado de ladrão e seu suicídio antes que fosse sentenciado, confirmava.

Durante os cinco anos seguintes, Lori viu como sua mãe ia decaindo pouco a pouco. O rosto murchou e seu aspecto alegre e juvenil desapareceu. Nos últimos meses já nem se dava ao trabalho de arrumar-se. Tinha trinta e oito anos quando sofreu um ataque do coração; diagnosticou o médico, mas Lori sabia qual tinha sido a verdadeira causa de sua morte. Aos dezessete anos, a garota jurou se vingar de Jacob Randell.

Decidiu ser secretária para ter algum dia a oportunidade de trabalhar para Jacob Randell e lhe desacreditar. Não sabia como, só sabia que tinha se equivocado com seu pai, tinha também que ter feito em outros casos, casos nos quais o único que lhe interessava era subir em sua carreira.

Antes de terminar os estudos soube que Jacob Randell se retirou de campo e seus planos de vingança se viram frustrados.

Mas acabava de saber que Jacob tinha um filho, e precisamente ele, o filho do homem que odiava, havia lhe dito que queria casar-se com ela. Não gostou dele desde o começo, nem sequer antes de saber quem era. Entretanto, depois de tanto tempo, surgia a oportunidade de se vingar.

A idéia da vingança, que a muito tempo tinha abandonado, voltou a assaltá-la.

-Querida Lori -Ruth Hammond entrou no toalete para reunir-se com ela em frente ao espelho. -Por um momento pensei que tinha partido sem se despedir.

Lori se compôs com dificuldade.

-Não faria isso, senhora Hammond -tratou de sorrir. Em seus olhos se refletia uma profunda tristeza.

Gostava da esposa de seu chefe, parecia-lhe que tinha um surpreendente senso de humor, apesar das toscas maneiras de seu marido, próprias dos homens do norte do país. Ruth sendo originária do sul era mais reservada, mas seu franco marido gostava de chamar as coisas por seu nome, o que às vezes provocava situações embaraçosas. Para Lori parecia um casal encantador.

-Claude e eu gostaríamos que viesse amanhã jantar conosco. Poderá?

Ruth arqueou as sobrancelhas; continuava sendo uma mulher bonita e vigorosa apesar dos seus sessenta anos de idade.

-Só estaremos os quatro.

-Nós quatro?

-Você, Claude, eu e, é obvio, Luke.

Se o último pretendia ser um incentivo, teve todo o efeito contrário.

-Sinto muito -negou Lori com a cabeça. -Tenho que visitar minha tia.

Ruth fez um gesto de desgosto, parecia desiludida.

-Não poderia ir outro dia?

-Não, temo que não.

Jessie, sua tia-avó, não lhe perdoaria que faltasse a uma de suas visitas. A idosa senhora estava em um asilo fazia dois anos. Às vezes Lori pensava que era sua tia que dirigia o asilo, no lugar da diretora.

-Que lástima! -exclamou Ruth contrariada. - Luke só vai estar conosco o fim de semana. Depois voltará para sua casa. Poderia vir tomar chá?

De novo, Lori negou com a cabeça, contente de ter uma desculpa real para negar-se; do contrário Ruth teria notado. Não queria voltar a ver Luke Randell jamais. Odiava-o pelas amargas lembranças que lhe evocava.

-Estou acostumada a passar o dia inteiro com minha tia -disse.

-Bom. Suponho que nada se pode fazer -murmurou Ruth desgostosa. -Gostaria que conhecesse Luke.

-Já o conheço -disse Lori com voz fria.

-Refiro-me a conhecê-lo fora da confusão do casamento. Esteve na América por vários anos e perdeu contato com muitos de seus amigos. Somos amigos da família desde que Luke era menino. Mas pensei que provavelmente você... bom, se não puder, paciência -deteve-se resignada. -Regresse para a festa, Lori.

-Dentro de alguns momentos irei. Quero retocar a maquiagem.

Ruth sorriu.

-Você sempre está linda. Quando se chega a minha idade, então sim necessitamos de algo mais que um retoque.

Lori riu, mas seu humor foi embora logo que a dama se retirou. Suspeitava que tivesse sido Luke Randell que havia pedido aos Hammond que a convidassem. Ela se dava bem com o casal, gostava de falar com Ruth quando ela ia ao escritório de seu marido, mas nunca fora convidada para sua casa.

Luke Randell ficara na América por vários anos. Lori pensou com amargura que para um homem como ele, cujo pai era famoso e respeitado, as portas deviam estar todas abertas.

Durante muito tempo esteve tentando esquecer seu ódio, e conseguiu quando se apaixonou por Nigel. Depois de ser abandonada, voltou a renascer o ódio pelo homem causador de suas desgraças. Teve que abandonar seu apartamento e buscar um novo emprego.

E quando tudo parecia esquecido, aparecia Luke Randell em sua vida, ameaçando sua segurança e destruindo sua confiança em si mesma.

Não estava disposta a permitir que a destruísse. Ela era Lori Parker, não Lorraine Chisholm. Era a competente secretária de um famoso advogado de Londres e nenhum ser humano poderia reprovar seu passado.

Se desculparia o mais breve possível e abandonaria a recepção para não voltar a ver Luke Randell novamente.

-Acreditei que fosse ficar aí toda a noite, gatinha.

Ali estava Luke Randell, apoiado contra a parede a uma distância prudente. Evidentemente, estava esperando-a. Lori viu como se aproximava dela.

Não se parecia com Jacob. Tinha o cabelo mais escuro que seu pai, era mais alto e não tinha tendência a engordar; suas feições eram parecidas embora mais definidas no filho, a rudeza não estava oculta sob uma capa de encanto e uma expressão agradável.

Aquela rudeza escondida desabrochou com crueldade uma vez que Jacob Randell teve seu pai nas mãos. Era como ver uma serpente enforcando um indefeso camundongo. Seu pai não pôde suportar. E acabou tirando a vida. Isso era o que devia a Jacob Randell.

No dia seguinte da morte do pai, afastadas de toda a publicidade, sua mãe e ela leram a carta que ele escrevera para elas. Declarava sua inocência apesar de ter permanecido vários meses em uma cela da prisão, soube que não poderia cumprir a pena que o esperava e preferiu morrer.

-Gatinha? -disse Luke interrompendo seus pensamentos, tinha os olhos cravados no pálido rosto da garota.

Lori levantou a vista para olhá-lo e voltou à realidade; o rosto de Luke Randell voltou a tornar-se o centro de sua atenção.

-Não estava escondida, senhor Randell -disse com frieza. -Agora se me permite...

-Não...

Ela piscou.

-Não?

-Não.

Pousou sua mão sobre o braço dela e uma ruga profunda apareceu em seu rosto. Atraiu-a para si.

-Esteve fugindo de mim o dia todo. Permiti isso. Mas não vou mais deixar você escapar. Por que não aceitou o convite de Ruth para jantar amanhã?

Lori apertou a boca e procurou Jonathan pelos arredores, gostaria de aproveitar o oferecimento que ele fizera de levá-la para casa.

-Já tenho um compromisso para amanhã -respondeu procurando Jonathan entre os presentes.

-Cancele-o -ordenou Luke.

Olhou-o com desprezo.

-Não acostumo fazer essas coisas, senhor Randell. Tenho minha palavra a zelar -retrucou com veemência.

-Admirável! Mas eu gostaria de ver amanhã a minha futura esposa. Provavelmente poderíamos discutir sobre o casamento.

O olhou com desdém.

-Acredito que você bebeu muito champanhe, senhor Randell.

-Luke -disse-lhe docemente. -E quando decidi me casar com você não tinha bebido champanhe.

-Quando você o decidiu, senhor Randell? Eu acreditava que essas decisões fossem tomadas entre os dois.

-Geralmente sim -respondeu encolhendo os ombros. -O que acontece é que é mais indecisa que eu.

-Nós conhecemos hoje -respondeu, pensando que o filho de Jacob Randell era muito arrogante, como seu pai.

Lori suspirou, sabia que tinha que afastar-se dali rapidamente. Procurou Jonathan com desespero. Tinha medo de que esse homem a fizesse perder a paciência.

Luke notou sua preocupação e em sua boca se desenhou um sorriso.

-Gatinha, eu...!

-Não me chame assim! -exclamou furiosa. -Eu não gosto... Jonathan! -gritou ao homem que já tinha avistado. –Adeus, senhor Randell.

A maioria das mulheres deviam acha-lo terrivelmente atraente, entretanto, com Lori não havia a menor possibilidade de triunfar. A moça sabia quem era ele e o odiava. Tampouco acreditava que sua proposta matrimonial fosse sincera. Quando conseguisse deitar-se com ela se esqueceria de suas promessas.

O olhar dele pousou furioso, sobre o homem que estava se aproximando deles.

-Aí vem de novo seu jovem amigo -disse. -É seu noivo?

-Este... sim -mentiu, com a esperança de que Luke a deixasse em paz.

-Esse é seu compromisso de amanhã? -perguntou ele arqueando uma sobrancelha.

Teve a tentação de lhe dizer que sim; mas pensou que Ruth podia ter contado que ia visitar sua tia.

-Não.

Ele assentiu.

-Supunha. Não me dou por vencido, gatinha -confessou-lhe. -Os Jonathan deste mundo não significam nada para mim. Duvido que signifique algo para você.

Jonathan estava muito perto deles. Era um homem muito atraente, não tanto quanto Luke, mas tampouco tinha sua fria dureza.

-Lori! - chegou a seu lado e lhe segurou a mão. -Senhor Randell.

Era evidente que lhe haviam dito quem era aquele homem e de quem era filho. Pela mesma razão que Jonathan o admirava, ela o odiava.

-Estou pronta para irmos embora, Jonathan.

-Já? Está bem. Encantado em conhecê-lo, senhor –estreitou com força a mão de Luke.

Lori sentiu certa satisfação ao ver que de repente Luke Randell ficou tenso. A forma respeitosa como Jonathan o tratara não o agradou; o fez sentir-se velho.

-Muito inteligente -observou Luke ironicamente, voltando-se para Lori. -Nos veremos outra vez?

Encontrou-se com seu olhar durante alguns segundos e viu a decisão refletida em seus olhos. Equivocou-se ao pensar que não existia grande semelhança entre pai e filho. Os olhos, aqueles olhos cinza eram os mesmos que viu anos atrás e que nunca esqueceria, e tinham uma estranha mescla de ternura e crueldade.

-Duvido -respondeu ela, olhando Jonathan para que a ajudasse a não perder o controle. -Vamos?

-Claro -respondeu o outro imediatamente.

Lori atravessou o salão e passou junto dele. Estava muito elegante com o vestido de cor verde pálido e todo mundo se voltou para olhá-la.

Parecia muito tranqüila quando se despediu dos Hammond e igualmente quando seguiu Jonathan até o carro. Mas uma vez dentro do mesmo, começou a tremer.

Jonathan não se deu conta de nada, suas longas pernas se ajustaram ao automóvel com perfeição.

-Sabe quem é ele? -perguntou excitado, enquanto o carro entrava no intenso tráfego.

Deveria supor que Jonathan o veria como um herói. Jacob Randell era considerado como o maior exemplo para qualquer advogado jovem, e com freqüência sua fama eclipsava o principal desacerto de sua carreira. Luke como filho dele, herdava o mesmo prestígio.

-Sim, já sei -suspirou apoiando o cotovelo na porta do carro.

-Luke Randell! -exclamou incrédulo.

-Estou certa de que o senhor Randell chegará mais longe que seu pai -afirmou.

-Também é advogado. Sabe? -Jonathan estava tão encantado que parecia não notar a aversão de Lori para com esse homem.

Não sabia, mas não se surpreendeu. Em que outra coisa podia se dedicar o filho de um homem tão famoso? Estava certa de que era tão bom como ele e teria a mesma presença de ânimo do pai nos tribunais, onde se sentiria como peixe n’água.

Jonathan a olhou.

-Não sabia que tinha um filho, você sabia?

-Eu tampouco. –Estava certa que pela forma como Jacob P. Randell havia destruído a sua família, a fazia pensar que aquele homem não poderia ter alguém que o amasse.

-O senhor Hammond o elogia muito -continuou Jonathan.

-Sim -assentiu, perguntando-se como era possível que pudesse enganar um homem tão inteligente.

-Pergunto-me se...

-Jonathan! -interrompeu-o. -Não acha que poderíamos falar de outra coisa? Estou farta de Luke Randell!

Jonathan enrubesceu.

-Sinto muito, é que... Tem razão. Por que estou falando dele, quando tenho você, a sós, pela primeira vez?

-Não tenho a menor idéia -falou ela com ar de troça.

-Eu tampouco -sorriu. –Posso convidá-la para um café?

-Sally...

-Se foi há horas com seu noivo. Creio que o ambiente romântico os emocionou -acrescentou com um brilho malicioso nos olhos.

Lori riu, começava a relaxar de novo.

-Nesse caso, está convidado a tomar uma xícara de café.

-E o que mais? -perguntou com segundas intenções.

Ela sorriu, perguntando-se por que nunca havia deixado que ele se aproximasse dela. Como amigo era encantador, muito divertido. E isso era tudo que necessitava nesse momento, desejava apagar de sua memória aquele par de olhos cinza, junto com todas as más lembranças que lhe trazia a presença de Luke Randell.

-O casamento não introduziu em mim nenhum desejo romântico -acrescentou divertida.

-Que má sorte tenho -comentou Jonathan rindo.

Sally e Dave não estavam no apartamento quando chegaram, Lori pensou que teriam ido ao de Dave. Ele era eletricista, sua amiga o conhecera dois meses antes, em uma festa. A garota se apaixonou por ele; entretanto, Dave não parecia tão entusiasmado como ela. Para vergonha de Lori, já havia feito insinuações à ela, nas costas de Sally, mas não queria ferir sua amiga contando-lhe. Apenas esperava que sua amiga não demorasse a se dar conta de seu engano. Pensava que essa relação significava alguma coisa para Sally e outra muito distinta para Dave.

-Que bonito! -exclamou Jonathan olhando a seu redor. -Tem muito bom gosto.

Lori viu como se acomodava em uma das poltronas.

-Sério? -perguntou, enquanto se dirigia para o quarto para trocar o vestido por outro mais confortável, que a fazia parecer mais alta e mais magra.

-É. O mesmo pensou Luke Randell -disse, em tom zombador. –Observei que os tipos como ele tem suas próprias regras.

-Eu também tenho as minhas -comentou rígida.

-Sim?

-Sim. Nunca saio com um homem que detesto -os olhos brilharam cheios de ódio.

-Ouça, se acalme!

-Será melhor que se vá -interrompeu-lhe. -Foi um dia exaustivo.

-Sim, mas... está bem -suspirou ao ver o olhar decidido dela. -Suponho que não se zangaria se pedir que saia comigo.

A garota viu a expressão ansiosa do jovem e sua ira se desvaneceu, Jonathan não conhecia o motivo de seu aborrecimento. Provavelmente estava surpreso ao ver a veemência que a fria Lori Parker podia demonstrar na frente a um estranho.

Se Luke Randell fosse um estranho teria se limitado a recusar a perseguição, e provavelmente o esqueceria. Mas não conseguia afastá-lo de sua mente, por mais que lutasse.

-Me ligue na segunda-feira -sugeriu a Jonathan com indiferença, desejando ficar sozinha durante um bom tempo. E teria a oportunidade de fazê-lo, a cama em frente estava vazia.

Ele sorriu com tristeza.

-Já escutei essas palavras antes. Levou seis meses me dando esperança. Pensei que hoje, finalmente ia conseguir meus propósitos.

Comovida sorriu calidamente.

-Que tal se jantarmos na segunda-feira?

-Fala a sério? -perguntou, esperançado.

-Sim.

-Sério? Quero dizer, bom eu...

-Se não quiser...

-Não se atreva a mudar de opinião! Não se atreva! Na segunda-feira as oito ligo pra você. Não quero desculpas! -foi assoviando, feliz.

Lori ficou com a mente em branco, não queria pensar, nem se perguntar se fazia bem dando esperanças a Jonathan.

Decidiu não pensar em Luke Randell. A única coisa que lhe preocupava nesse momento era Sally, a quantidade de noites que estava passando com o Dave.

 

Sally não retornou. Na manhã seguinte Lori, preocupada, começou a tomar o café da manhã antes de ir visitar sua tia Jessie. Ela tinha oitenta anos, mas era alegre e muito ativa. Lori colocou um de seus melhores vestidos, pois sabia que sua tia não a perdoaria se não fosse bem arrumada.

-Chegou tarde -disse sua tia quando a garota entrou no pequeno apartamento que compartilhava com outra mulher.

O apartamento tinha dois cômodos, um para dormir e outro que servia de sala e cozinha. O asilo contava com uma cozinha, caso alguns dos residentes tivessem convidados e quisessem preparar uma comida especial para eles.

-Sinto muito -Lori sorriu e deu à sua tia a planta que levava de presente.

O apartamento estava cheio de vasos de plantas, e a pobre senhora Jovis, a mulher que compartilhava com ela o apartamento, teria que tolerar as plantas mesmo que não quisesse. Felizmente, à outra mulher não importava, mas, mesmo que fosse ao contrário, a autoritária tia Jessie não teria cedido.

Lori lembrava do rosto da diretora, no dia que tia Jessie chegou ao asilo com o carro cheio de vasos. Entretanto, com o tempo, todos se acostumaram a andar como na selva quando entravam no apartamento.

Sua tia a olhou por cima dos óculos. Seus olhos azuis estavam cheios de vivacidade, tinha o cabelo completamente branco, as linhas do rosto conservavam algo da beleza de outros tempos e seus movimentos eram ligeiros apesar de estar seriamente afetada pelo reumatismo.

-O que se passa menina? -suas bruscas maneiras contrastavam com o olhar afetuoso.

Lori lhe dirigiu um sorriso. Ninguém acreditaria que sua tia-avó tinha oitenta anos, parecia que ia viver muito tempo e, conhecendo, sua decisão, era muito provável.

-Bem? -interrompeu o silêncio de Lori.

-Nada -a garota ficou de pé, pegou um vaso da prateleira e o levou até a janela. –Estou sentindo cheiro de frango.

-Já esteve espiando na cozinha - reprovou a tia. -Aí não. É sério Lorraine, será que não pensa? Essa planta necessita de mais calor do que pode obter nessa janela!

A garota pôs a planta perto da estufa, sem preocupar-se com os resmungos de sua tia, sabia que a amava.

-Não olhei o forno. Mas este aroma é inconfundível. Estou certa de que preparou um delicioso frango.

Um leve gesto da dama deu a entender que tinha gostado do elogio.

-Ainda estou esperando, Lorraine -franziu o cenho.

Suas esperanças se desvaneceram. Tia Jessie sempre fora muito perspicaz. Devia supor que desta vez não poderia enganá-la.

-Uma amiga se casou ontem - revelou, com cautela.

A tia assentiu.

-Lembro que me disse. Espero que já tenha esquecido esse jovem Judas. Esqueceu, não é verdade? -perguntou desgostosa.

Lori ruborizou. No momento em que apresentou Nigel, sua tia manifestou seu desagrado, coisa que desgostou seu noivo.

-É uma velha intrometida -comentou ele dias depois.

-É um presunçoso -disse tia Jessie quando a garota lhe contou a razão pela qual o compromisso foi rompido. Sua tia lhe assegurou que era o melhor que podia ter lhe acontecido. Judas, assim o chamou então e assim continuava chamando-o.

-Claro que sim.

-De verdade? Embora não queira admiti-lo, nunca foi o homem adequado para você. Se na realidade a tivesse amado, nada teria importado, nem se houvesse sido acusada do roubo.

Seu pai nunca pegou nenhuma miserável folha de papel do banco do qual era gerente! O desfalque foi descoberto durante a última auditoria e como seu pai era o gerente, toda a responsabilidade recaiu sobre ele. Apesar de sua declaração de inocência foi levado a julgamento. Jacob Randell soube convencer os jurados de que seu pai era culpado.

-O que aconteceu? -perguntou tia Jessie com curiosidade enquanto se levantava.         

Estava muito velha apesar de todos seus esforços para permanecer ativa, merecia viver em paz o resto de seus dias. Os acontecimentos de doze anos atrás não eram para ela mais que uma sombra. Se Lori lhe contasse de Luke Randell só conseguiria preocupá-la.

-Tinha razão -falou com voz suave. -O casamento de minha amiga me afetou muito.

-Esqueça desse homem -aconselhou-a. -Não merece nem sequer uma pequena insônia sua, como foi à cerimônia? Sua amiga estava bonita?

-Sim.

Lori descreveu o casamento com detalhes, sabia que sua tia gostava muito de escutar essas coisas. Contaria tudo à senhora Jovis nessa mesma noite quando retornasse do passeio com seu filho e sua família.

-E quem é Jonathan? -perguntou quando Lori acabou seu relato.

A garota sorriu.

-É só um amigo, outro advogado que trabalha no escritório.

-Oh! -tia Jessie parecia desiludida. -Você gosta dele?

-Sim.

-Bom e por que não é algo mais que seu amigo?

Pensou que sua tia se alegraria ao saber que suas relações com Jonathan iam por bom caminho.

-Vou sair com ele amanhã -confessou.

-Assim está melhor -cruzou os braços. Era tão alta quanto Lori, um pouco mais cheia, e as caracteristicas familiares era obvia. -Já não é tão jovenzinha, sabe?

-Bom, considerando que você nunca se casou... -disse Lori. Era uma antiga brincadeira que faziam entre elas.

-Não foi por falta de pretendentes -respondeu imediatamente. -Nunca quis um homem se intrometendo em minha vida.

-Além disso, onde teria dormido? -perguntou Lori rindo, já que sabia que no apartamento de sua tia mal cabia a cama e que os vasos ocupavam o resto do espaço disponível.

-Boba!

-Faminta -corrigiu com uma gargalhada. -Quando a comida vai ficar pronta?

A forma mais segura de afastar os pensamentos tristes era passar um dia com tia Jessie. Sua despreocupada forma de contemplar a vida infundia ânimos em Lori e a fazia ver as coisas de uma perspectiva muito melhor.

O inesperado encontro com Luke Randell deixou de lhe parecer importante. Pensou que era inevitável. Ela trabalhava com advogados e nesses círculos a família Randell era muito conhecida.

Decidiu não lhe conceder importância; depois de tudo, não pensava em voltar a ver Luke Randell em sua vida.

Na segunda-feira, entretanto, esteve nervosa o dia todo. Tinha a sensação de que Luke Randell ia aparecer de repente em seu escritório. Sentiu um grande alívio quando deram cinco e meia e pôde ir para sua casa.

Jonathan chegou no momento em que estava vestindo o casaco e a ajudou a vesti-lo.

-Preparada para esta noite, não é?

Levantou uma mão para tirar o cabelo da gola do casaco. Estava com as unhas pintadas da mesma cor que os lábios, todos os seus movimentos eram cheios de graça e beleza.

-Pensou que me arrependeria? -brincou sorrindo.

Os olhos do Jonathan escureceram ao olhá-la.

-Não, claro que não.

Olhou o interior de sua bolsa para ver se estava com as chaves do carro.

-Tenho vontade de me divertir -comentou.

Ele tragou saliva. Ela o impressionava e não queria que notasse.

-Eu também.

-Vamos então? -perguntou Lori sorrindo.

Pensava que não ia se divertir com Jonathan, mas descobriu com surpresa, que havia se equivocado. O pequeno restaurante no qual jantaram era muito acolhedor, e o jantar esteve delicioso. Seu amigo era muito culto e, portanto, sua conversa era muito interessante. Lera dos clássicos até novelas policiais.

-Nunca adivinho quem é o criminoso -reconheceu ele sorrindo.

-É uma confissão muito interessante vindo de um advogado -brincou ela, com as faces coradas pelo vinho; seu humor havia mudado à medida que passava o tempo.

-Que pena, não é assim?

Lori olhou o relógio.

-Sinto muito ter que partir... -e falava sério. Pela primeira vez, em meses, havia se divertido. –Passa das onze e amanhã temos que trabalhar.

-Certo -assentiu Jonathan, pedindo a conta. -E amanhã teremos que estar muito alerta.

-Por quê? -perguntou franzindo o cenho.

-Porque sim. Obrigado -disse ao garçom que lhe levou a conta. -Vamos pequena.

Lori aceitou sua ajuda para vestir o casaco antes de sair.

-E por que teremos que ficar alerta amanhã? -perguntou outra vez dentro do carro.

-O brilhante jovem deseja conhecer o lugar -explicou Jonathan. -Suponho que antes de ir para a América quer saber o que se faz na Inglaterra.

Lori umedeceu os lábios ressecados, sabia perfeitamente quem era o brilhante jovem.

-Luke Randell irá amanhã ao escritório?

-Sim. Não sabia? -perguntou seu acompanhante.

-Não. -De repente a noite perdeu todo seu encanto.

-O senhor Hammond me disse esta tarde. Pensei que você sabia, é sua secretária.

-Não.

-Suponho que deve ter esquecido de dizer -falou.

-Provavelmente.

Estava certa de que essa não era a razão. Luke Randell era capaz de ter pedido à Claude Hammond que não a avisasse, assim teria que ser obrigada a comportar-se amavelmente com ele.

-A que hora vai? -perguntou, aparentando uma calma que estava muito longe de sentir.

-Por volta das dez e meia. Entendi que não é mais do que uma visita informal.

-Sim -graças a Jonathan, ela ficara informada, não sabia o favor que lhe fizera.

A luz estava acesa quando chegaram a seu apartamento, imaginou que Sally estaria em casa.

-Está bem -disse Jonathan entendendo a mensagem que ela enviara com o olhar. -De qualquer forma é tarde. Podemos voltar a sair juntos outro dia, não?

Lori riu ante a ansiedade do jovem, a penumbra do corredor fazia com que a beleza de seu rosto aumentasse.

-Eu adoraria.

-Sério?

-Sim -riu ela. -Dentro de alguns dias, o que acha? –perguntou. Não queria se comprometer muito com ele. Gostava de Jonathan, mas... sempre havia um mas.

-Falaremos de novo na sexta-feira -aceitou.

-Está bem.

-Eu... melhor eu ir -parecia inquieto.

Lori tomou a iniciativa e o beijou. Como era possível que estivesse seguro de si mesmo diante de um tribunal e diante dela faltasse à coragem para lhe dar um beijo de despedida?

Havia tornado a equivocar-se, não lhe faltava coragem. Só bastou um empurrãozinho para que ele a estreitasse com força entre seus braços.

Lori se sentia um pouco enjoada ao entrar no apartamento, mas a sensação desapareceu quando viu pontas de charuto no cinzeiro. Dave Greene esteve ali essa noite. Pediu a Deus para que não tivesse ficado dormindo com a Sally.

Mas não havia por que se preocupar; sua amiga estava sozinha na cama e sorria dormindo. Aquele sorriso preocupou Lori, queria dizer que Sally ainda não descobrira a classe de homem que era Dave.

 

Lori se vestiu com mais esmero que de costume consciente de que veria Luke Randell nessa manhã. Escolheu com muito cuidado sua roupa, embora o traje negro que vestiu não era um de seus favoritos, muito severo para seu gosto. Prendeu o cabelo para trás e fez uma maquilagem suave. Não queria parecer atraente à Luke Randell. Claude Hammond ficou assombrado quando entrou as nove no escritório; olhou-a várias vezes, confuso, mas como era um homem discreto, ao ver a expressão fria em seus olhos, não fez nenhum comentário. Fechou a porta de seu escritório, movendo a cabeça.

As dez e vinte e cinco, Lori foi à cozinha para preparar o café da manhã do senhor Hammond. Retornou e depositou com cuidado a bandeja sobre a mesa de seu chefe sem dizer uma palavra. Ao sair ficou pálida. Luke Randell estava entrando pela porta.

Lori se alegrou por ter ficado sabendo. Com o traje cinza do dia do casamento Luke estava muito atraente, mas com aquele azul marinho estava ainda mais, embora não parecesse se dar conta disso.

Olhou para ela, mas não disse nada. Sorriu de maneira infantil sem esconder sua alegria por vê-la novamente.

-Olá gatinha -apoiou-se na mesa dela rindo ao vê-la ficar em guarda. -Disse que voltaríamos a nos ver.

Lori não lhe fez caso e apertou o botão do interfone.

-O senhor Randell chegou -informou a seu chefe com voz suave.

-Faça-o entrar Lori -ordenou Claude.

-Isso não vale -negou Luke com a cabeça. -Antes de entrar, queria falar com você alguns minutos.

Ela ficou de pé e se dirigiu à porta do escritório de seu chefe.

-O senhor Hammond o espera.

Luke Randell caminhou para alcançar a porta antes dela. Era incrível que um homem tão grande se movesse com tanta agilidade. Bloqueou-lhe o caminho de tal maneira que não pôde abrir a porta.

-Que se passa? -perguntou aparentando uma frieza que estava longe de sentir.

-Nada -respondeu ele olhando-a atentamente. -Janta comigo esta noite?

-Nem pensar!

-Por quê? -perguntou agressivo.

Lori suspirou e se deu conta de que a austeridade de seu vestuário não sortira nenhum efeito.

-Porque não quero -respondeu desafiante.

Ele franziu o cenho e a olhou pensativo.

-Lhe causei tão má impressão?

-Claro que sim. Por que não entra de uma vez? -sua voz estava alterada. -O senhor Hammond deve estar esperando-o.

-Mas eu não quero entrar. Suponho que se vestiu assim em minha honra. Pois saiba querida -seus braços rodearam sua cintura e a aproximaram dele. -Embora use farrapos, para mim continuará sendo a mulher mais linda do mundo.

Era como um tigre espreitando um coelho; Lori estava indignada, pois suas forças não lhe permitiam afastar-se dele. Moveu a cabeça de um lado para outro, tentando escapar daquela boca sensual. Sabia que não ia poder suportar que ele a tocasse. Estava presa entre seus braços, em seus olhos se refletia todo o ódio que sentia por ele.

Beijou-a com destreza; não havia dúvida, o movimento de seus lábios foi suave, entretanto a garota se manteve fria, resistindo à carícia.

A boca dele permaneceu insolente sobre a dela enquanto seus braços a apertavam ainda mais contra seu corpo. Por fim levantou a cabeça.

-Gatinha, deixa de lutar contra mim -grunhiu.

-Não estou...

-Lori, ouça... Oh! -Claude Hammond, surpreso, apareceu na porta de seu escritório por trás deles. -Não sabia o que era o que o detinha, Luke. Acredito que estou ficando velho -brincou.

Lori envergonhada afastou-se dos braços de Luke e se dirigiu para sua mesa.

-Dentro de um instante terminarei essas cartas, senhor Hammond.

-Não há pressa -respondeu-lhe o chefe. -Luke é a primeira vez que vejo a minha eficiente secretária alterada. E você é o causador.

Lori colocou quatro folhas de papel na máquina ignorando os homens, consciente de que os dois se divertiam às suas costas.

-Iremos nos ver logo gatinha -falou Luke ao mesmo tempo em que fechava a porta.

Deixou cair às mãos sobre a máquina de escrever e teclou com fúria. Depois, tampou o rosto com as mãos. Por que tinha permitido?

A lembrança do beijo não a abandonava, sentiu como se ele ainda estivesse beijando-a. A sensação foi tão forte que teve que abandonar o escritório para lavar o rosto e tirar a pouca maquiagem que usava.

Olhou-se no espelho, tinha o rosto pálido e os olhos fundos. Tinha medo. Esse homem a fez parecer como uma idiota em frente a Claude Hammond.

Quando terminou sua relação com Nigel, decidiu manter sua vida privada totalmente à margem do trabalho e, numa só semana, havia jogado por terra um esforço de anos, saindo para jantar com um dos sete advogados da companhia e permitindo que o senhor Hammond visse como um velho amigo da família a beijava.

Ela não beijou Luke Randell, mas para o senhor Hammond era o mesmo.

Ao retornar do banheiro decidiu continuar com seu trabalho. Os dois homens continuavam falando no escritório.

-Lori, me traga a pasta Danfield -pediu-lhe o senhor Hammond pelo interfone, minutos mais tarde.

Era o caso mais importante que tinha nesse momento, e por um segundo se perguntou para que Luke Randell queria ver essa pasta. Sem dúvida teria suas razões.

Entrou no escritório. Sem fazer caso do homem que estava sentado frente a Claude Hammond, Luke não deixava de olhar suas pernas. Pensou que estava louco, não tinha nenhum direito de observá-la assim em frente do seu chefe.

Para Claude Hammond a cena pareceu muito divertida. Lori lhe deu a pasta e foi andando para a porta. Quando ia sair, Luke Randell abriu a porta desejoso de que o olhasse.

Lori se negou a levantar a vista acima da mão que descansava sobre o trinco da porta. Não era a mão de um operário, mas tampouco a de um homem que estivesse sentado todo o tempo detrás de uma mesa. Havia força nos flexíveis dedos, também sensibilidade.

-Eu gosto de navegar - sussurrou-lhe ao ouvido.

Ela se assombrou e olhou com curiosidade os olhos masculinos.

-Como disse?

-Sim, o que disse Luke? -perguntou Claude intrigado.

-Dizia a Lori que eu adoro navegar -o olhar dele voltou a pousar no rosto corado da moça. -Provavelmente você gostaria de me acompanhar algum dia.

-Enjôo -respondeu com voz fraca, apressando-se em sair.

-Esse mal pode ser curado -comentou com voz muito suave, parado entre os dois escritórios.

Lori se voltou quando chegou a sua mesa.

-Não quero que me cure -olhou sua expressão e se deu conta de que ele tinha captado o duplo sentido de sua palavra.

-Quer dizer que o remédio poderia ser pior que a enfermidade?

-Sem dúvida - inclinou a cabeça.

-Alguma vez provou?

-Várias vezes.

-E o resultado foi sempre o mesmo?

-Sempre.

Luke encolheu os ombros.

-Provavelmente não navegou com o homem certo.

A garota comprimiu os lábios.

-Não acredito que seja essa a razão, senhor Randell.

-Não? -perguntou ele.

-Não. Acredito que eu não gosto.

-Uma pena. Poderia ser muito divertido -voltou-se para Claude Hammond. –Ia me dizer algo sobre o caso Danfield –lembrou-lhe, depois de fechar a porta atrás dele.

Lori se sentou devagar em sua cadeira. Porque havia deixado que a envolvesse naquela conversa? Ninguém se referia à navegação, os dois sabiam. Era de novo aquela habilidade que tinha para adivinhar seus pensamentos o que a irritava, o que havia provocado aquele intercâmbio verbal.

O problema era que Luke Randell sempre a irritava. Sempre que estava perto dele dava vontade de brigar e brigar com todo mundo.

 

Luke continuou indo ao escritório durante toda a semana. Na sexta-feira à tarde Lori estava a ponto de explodir. O homem ficava cada vez mais insistente, e repetia sempre seus convites. O que a fez aceitar outro convite de Jonathan, apesar de sua decisão de não voltar a sair com ele. Quando Luke repetiu o convite pôde lhe dizer sem mentir que já estava comprometida.

-Anderson? -perguntou com reticência.

-Sim –respondeu satisfeita.

Luke negou com a cabeça.

-Não significa nada para você.

As faces de Lori enrubesceram.

-E como pode saber? -perguntou. -Porque me conhece, não é verdade? Mas não me conhece bem, senhor Randell, e nunca me conhecerá!

-Não?

-Não!

-Se não soubesse que sua aversão por mim é sincera, pensaria que você gosta de se fazer de difícil. Mas...

-Você pensa que é sincero? -repetiu incrédula. Luke estava sentado na borda da mesa.

-Claro que sim, gatinha -dizia sério. -Mas não me importo.

-Por quê?

-Porque apesar de tudo vou me casar com você.

-Por Deus...! -Levantou-se zangada. -O senhor Hammond disse para você ir direito ao seu escritório quando voltasse do almoço, agradeceria muito se o fizesse.

-Farei algo para que seja feliz -respondeu, enquanto se levantava.

-Qualquer coisa?

-Dentro dos limites razoáveis.

-Pois se afaste de mim.

-Não é possível. Nem agora nem no futuro.

-Por quê?

-Quer que lhe responda mesmo? -comentou ele.

-Não.

-Perfeito. Vou ganhando terreno palmo a palmo, não acha -disse quando saia para o escritório de Claude.

Lori não achava possível que sua vida se visse ameaçada pela terceira vez. Primeiro seu pai, depois Nigel, e agora o filho de Jacob Randell.

Pensava que chegaria um momento em que ele iria se cansar de insistir e convidaria outra das secretárias que trabalhavam ali, qualquer uma delas teria aceitado encantada. Mas não, estava decidido a vencer Lori, e inclusive queria casar-se com ela.

Luke esteve presente na reunião semanal do pessoal, que aconteceu aquela mesma tarde.

Lori tomou nota da conversa mantida pelas vinte pessoas que estavam na sala de reunião, sabendo que Claude iria querer uma cópia de tudo o que se discutiu. Com freqüência, ocorriam idéias a seu chefe para melhorar as relações trabalhistas, repassando as atas das reuniões.

Essa tarde foi diferente. Quando todos estavam reunidos na sala de reunião, pediu silêncio por uns minutos e ficou de pé.

-Estou certo de não ter passado despercebido à presença de Luke Randell no edifício esta semana.

Os membros femininos se olharam entre si. Naturalmente, a ninguém passara despercebido esse detalhe.

-Desde segunda-feira sua estadia aqui será permanente. Vou retirar-me e Luke aceitou meu posto. Me substituirá e...

Lori não escutou mais, nem pôde mais continuar tomando nota. Luke Randell ia trabalhar ali, ocuparia o posto de Claude Hammond. Como ela ficaria? Certamente, não estava disposta a se tornar secretária de Luke Randell.

Quando a reunião terminou, uniu-se ao grupo que saía; pensando no absurdo de sua situação. Por que não lhe ocorrera que Claude Hammond estava pensando em delegar seu poder, que outra razão podia ter para a presença de Luke Randell ali?

-Isto muda todas as coisas, não é? -perguntou Jonathan, saindo atrás dela.

-Sim -a voz saiu trêmula e insegura, tinha perdido seu tom de segurança.

-Suponho.

-Sim? -perguntou-lhe de forma quase acusadora.

-Sim -assentiu ele enquanto a seguia até seu escritório. -E é um grande acerto do Claude associar-se com esse homem.

Lori se sentou na cadeira.

-Eu pensava que, o dia que se retirasse, seu sucessor seria alguém daqui de dentro.

Jonathan moveu a cabeça.

-Nunca insinuou. Não, eu diria que quando Claude chamou Randell já havia decidido lhe propor que aceitasse seu posto, e acredito que não pôde fazer uma melhor escolha. Randell é exatamente o que essa empresa necessita -comentou antes de sair do escritório.

A jovem estava furiosa, Jonathan havia falhado. Ele, como todos os outros membros da empresa, também admirava Luke.

Entretanto não o admirava nem poderia, nunca. Não queria deixar seu trabalho, gostava muito dele, mas sabia que não poderia permanecer no mesmo edifício que Luke Randell nem um só dia a mais.

Redigiu sua demissão, sem se importar que todos soubessem que o fazia por causa da nomeação de Luke Randell. Tinha que partir o quanto antes.

Teria que esperar quatro semanas. Uma eternidade. Consolou-se pensando que durante esse tempo não o veria muito, pois Claude demoraria pelo menos um mês para lhe pôr ciente dos casos que teria que se fazer carregar.

Luke entrou no escritório e fechou a porta.

-Bem-vindo ao Ackroyd, Hammond & Hammond senhor Randell - disse ela, tirando sua carta de demissão da máquina e colocando-a em um envelope.

Ele a olhou pensativamente.

-Eu gostaria que essas palavras fossem pronunciadas com mais sinceridade. Mas não podemos ter tudo, não é assim? -perguntou feliz.

Lori, sem lhe fazer caso, escreveu o nome do senhor Hammond no envelope.

-O que é isto? -Luke Randell pegou a carta e começou a ler.

-É uma carta pessoal -afirmou secamente.

-Era -falou. -E que fique bem claro que, no futuro, toda correspondência que chegue a este escritório passará por minhas mãos. O que significa isto? -Moveu a carta em frente a ela. A garota fez uma careta.

-Acredito que está muito claro.

-Sim. Está muito claro -disse ele. -Só que necessito de uma explicação.

Lori desviou o olhar.

-Eu acredito que não; você sabe muito bem por que parto.

-Provavelmente -pegou-a pelo queixo e levantou seu rosto com força para que tivesse que olha-lo. – É por minha causa?

-Sim -respondeu olhando em seus olhos.

Ele apertou a boca; Lori notou a mudança que se operou nele. Sua expressão era a de um homem duro, decidido a não deter-se diante de nada. Nesse momento se parecia muito com seu pai.

-Seria capaz de deixar este trabalho que você tanto gosta, só porque não quer trabalhar comigo?

Ele ficou de pé e a olhou atentamente, esperando sua resposta.

-Sim -respondeu com segurança.

-A desagrado tanto? -perguntou levantando a voz.

-Sim.

Conteve o fôlego. Sua expressão era furiosa.

-E se lhe pedisse que não fosse?

Esse não era o Luke Randell que conheceu no casamento do Nikki, comportava-se como um eficiente advogado, e intuiu que ante um tribunal devia ser formidável, mais impressionante que o pai no ponto culminante de sua carreira.

-Seria o mesmo. Fui contratada como secretária do senhor Hammond e prefiro ir se já não vou continuar trabalhando para ele.

-Seu emprego jamais foi motivo de discussão entre Claude e eu. Ele tem fé em sua lealdade para a assinatura. Mas se prefere trabalhar para Paul, acredito que isso poderia ser arrumado.

-A secretária do Paul é Nikki.

-Outro motivo para que haja uma mudança. Não acredito que seja uma boa idéia que um casal trabalhe junto.

-Não acha? -Lori se mostrou indignada. Saiu em defesa de sua amiga.

-Acredito que não entendeu a situação, Lori.

Ele notara sua falta de atenção durante a reunião. Sabia que Lori, depois da primeira notícia, não percebera nada do que havia sido dito ali.

-Sou o novo sócio e diretor. E no futuro a empresa se chamará Randell, Hammond & Hammond.

-Paul...

-Sabe de tudo. Há muito tempo. Embora não sei o que isso tenha a ver com você. A não ser que Paul seja para você algo mais que o marido de sua amiga.

-Como se atreve? -perguntou a garota furiosa. -Como se atreve a me dizer isso?

-Muito fácil, asseguro-lhe -disse muito exaltado. -Embora por sua reação acredite que desta vez me equivoquei.

-É claro que sim! -exclamou.

-Sim, vejo. Mas estaria, quando menos, disposta a resignar-se só durante alguns meses?

-Eu...

-Luke -disse Claude Hammond enquanto entrava, -Lori espero que me perdoe por ter anunciado de repente e neste momento. Mas estou certo de que estará de acordo comigo em que Luke é uma boa aquisição para a empresa.

Luke sorriu secamente.

-Acredito que Lori não compartilha de sua opinião, Claude.

-Estou certa de que você é um excelente advogado -disse rapidamente.

-Claro que é -confirmou Claude. -Quase não posso acreditar que tenha aceitado se unir a nós.

-É que tudo foi tão repentino... -umedeceu os lábios nervosa, pensei que você não se retiraria até o ano que vem.

Claude fez um gesto de indiferença.

-Luke pôde chegar antes. E bem, Ruth há muito tempo deseja fazer uma viagem e decidi levá-la na próxima semana.

-A proxi...? Mas... -Interrompeu-se ao ver um olhar de advertência nos olhos de Luke Randell. Este lhe fez um gesto com a cabeça e Lori não teve mais remedeio senão voltar-se para observar seu chefe.

Claude parecia cansado, tinha o rosto desgastado e havia perdido peso, ela não tinha notado, estava muito preocupada com seus próprios problemas durante a última semana.

-Aonde vai? -perguntou-lhe com interesse.

-Pensamos em fazer um cruzeiro pelas ilhas gregas -disse. -E agora vou terminar meu trabalho no escritório antes de ir. Luke?

-Vou agora mesmo. –respondeu. -Ainda estou tentando convencer Lori de que sou irresistível -acrescentou divertido.

Claude riu.

-Boa sorte rapaz. Tenho o pressentimento de que vai necessitar! -deu-lhe uma palmada nas costas, e se dirigiu sorridente ao escritório.

O bom humor de Luke Randell desapareceu no momento em que voltou a ficar sozinho com Lori.

-Obrigado.

Lori se acomodou na cadeira muito séria.

-Não é verdade das férias, não é? -perguntou a garota angustiada.

-Não. Pelo menos durante algum tempo -confirmou ele.

-Claude está doente, não é isso?

-Sim -suspirou Luke, -o coração.

-Mas isso foi há alguns anos -disse preocupada.

Ele a olhou fixamente.

-Sabia?

Ela assentiu.

-Com freqüência tenho que lhe lembrar para que tome os remédios. Claude vai ao médico com regularidade. Faz duas ou três semanas que ele foi. O que ele tem? -perguntou visivelmente alterada.

-Encontraram problemas da última vez -explicou-lhe Luke. -Tem que operar.

-Então, na próxima semana... Oh, Deus! -exclamou preocupada. -Gosto muito de Claude Hammond. Nikki e Paul...

-Não sabem -terminou de dizer Luke. - Caso soubessem cancelariam sua viagem. E Claude não quer que o façam. Mas a operação é vital, assim...

-Mandou procurar você -terminou Lori.

-Sim, mandou me chamar. E eu não gosto de ter que fazer tudo às pressas. Foi muito difícil deixar tudo e retornar à Inglaterra com tanta pressa.

-Sinto muito -ruborizou-se. -Suponho que não deve ter sido fácil para você.

-Duvido -disse com certo desprezo. -Mas sua compreensão não me interessa. O que importa é Claude, sua tranqüilidade e sua saúde. Estou aqui porque ele necessita. Sempre estive muito unido a ele e a Paul, não podia lhes deixar na mão.

-Eu tampouco poderei fazê-lo -comentou, pensando no que tinha que fazer. -Devo ficar aqui, não acha?

Luke assentiu com a cabeça. Parecia mais velho quando ficava sério.

-Acredito que sim. Mas é claro, a decisão é sua. Se for agora, Claude teria um desgosto, mas nem ele nem ninguém podem obriga-la a ficar.

Estava encurralada e ele sabia. Claude era um homem que não podia deixar as coisas pela metade, gostava do ter tudo bem organizado. Lori conhecia os casos tanto quanto Claude. Se ela fosse embora, era muito provável que seu chefe se negasse a ir ao hospital. E isso ela não podia permitir.

Mas tampouco podia trabalhar com o filho do assassino indireto de seu pai.

Em seu rosto se refletiu a dúvida, e o conflito interno pelo qual estava passando nesse momento.

-Prometo que quando Paul retornar de sua lua de mel poderá ir trabalhar com ele. Não acredito que Nikki se importe de trabalhar comigo.

A moça sabia que nesses momentos Luke era sincero e decidiu confiar nele.

-Acredito que será o melhor.

-Está bem, se assim quiser -arrastou as palavras. -E lhe asseguro que de agora em diante nossas relações serão estritamente profissionais.

Olhou-a com frieza.

-De minha parte nunca foram de outra maneira.

-Se eu tivesse tempo... -interrompeu-se zangado.

-O que faria? -perguntou desafiante.

Olhou-a fixamente.

-Se tivesse tempo arrancaria essa sua capa de frieza -respondeu modesto. -Mas, enquanto isso me dedicarei a conservar a minha secretária.

-O senhor Hammond nunca se queixou - afirmou com altivez.

-Não sou Claude, tenho meu próprio estilo de fazer as coisas.

-Asseguro-lhe que minha aversão por você não alterará a minha eficiência.

-Não estou muito seguro disso. Enfim, o tempo dirá.

E assim seria. O tempo alteraria muitas coisas. Hora e meia depois, Luke saiu do escritório do Claude e se deteve junto à mesa dela.

-Nos vemos na segunda-feira pela manhã -disse em tom cortante. -Às nove.

-Aqui estarei -respondeu entre dentes.

-Estou certo de que sim! -falou.

Ao ver que Lori não tinha intenções de continuar falando com ele, Luke partiu. Ao término de alguns minutos Claude a chamou ao seu escritório. A jovem entrou com um caderno e um lápis na mão, preparada para o ditado.

-Não vai necessitar, querida -manifestou sorrindo. -Luke me disse que já lhe contou tudo. Assim não é necessário que finjamos.

O sorriso se apagou de seu rosto.

-Oh, senhor Hammond!

-Sei, sei... e agradeço sua preocupação. Mas logo estarei fora do hospital e então levarei Ruth a essas férias. E quando retornar virei até aqui dar uma olhada. Ainda posso ensinar a estes jovens algumas coisas!

-Claro que sim.

Lori fez um grande esforço para conter as lágrimas.

-Agora, o que eu queria lhe dizer é que me agrada que tenha decidido ficar com Luke. É um homem muito inteligente, é uma sorte que tenha aceitado ficar entre nós.

-Acredito que sim.

-Não tinha que incorporar-se a nossa companhia até o próximo ano -falava quase consigo mesmo. -Mas foi muito amável; recusou um bom trabalho nos Estados Unidos. Não posso lhe dizer o quanto isso significa para mim.

Não tinha que dizer, via-o em seus olhos. Mas algo lhe intrigava.

Claude encolheu os ombros.

-Não conheço a história completa. O que sei é que Luke e seu pai são muito diferentes. Se trabalhassem juntos estariam o tempo todo discutindo. Além disso, Jacob já está se retirado.

Se Luke Randell não se dava bem com seu pai. Provavelmente não era tão terrível como ele. Mas isso não mudava o fato de quem era. Era igualmente cruel.

Na noite seguinte, Lori saiu com Jonathan e, embora tentasse fingir, ele se deu conta de que estava preocupada. Mas não deu importância. Lori estava muito bonita essa noite, levantava exclamações de admiração, e Jonathan estava encantado de ser seu acompanhante.

-Você não gosta que Randell passe a formar parte da equipe do escritório? -perguntou-lhe finalmente, sabendo que era esse o motivo de sua preocupação.

Os brincos de ouro brilharam ao mover a cabeça em sua direção, bem como o elegante colar. Eram suas únicas jóias. Nunca usava anéis, embora Jonathan intuísse que estava muito longe de ser o homem que ia por um em seus dedos.

-Sinto muito, não o ouvi -desculpou-se a garota.

-Perguntava se você se incomoda de trabalhar para o Randell.

-Já lhe disse isso -contou-lhe que trocaria o posto com Nikki quando ela retornasse de sua viagem de núpcias. -O senhor Randell não gosta que casais trabalhem juntos.

-Nem a mim tampouco -disse Jonathan, notando o sarcasmo dela. -Não é a melhor maneira de conduzir um negócio e pode trazer dissabores ao matrimônio.

-Provavelmente tenha razão, mas o duvido -respondeu ela, ressentida ao notar que seu acompanhante pensava o mesmo que Luke Randell. -Não lhe parece que é muito cedo para que esteja dando ordens?

Ele encolheu os ombros.

-Não, se achar conveniente.

Lori preferiu não responder. Jonathan não era capaz de raciocinar. Estava deslumbrado por Luke e nada do que ela pudesse lhe dizer o faria mudar de opinião.

Declinou o convite que lhe fez para domingo, não queria comprometer-se tanto com ele. Aceitara aquele segundo convite só para por recusar o de Luke Randell, ato de qual não se sentia orgulhosa. Não ficava bem utilizar Jonathan dessa maneira.

Despediram-se com certa frieza.

-Foi uma noite encantadora. Divirta-se durante o fim de semana -disse-lhe, antes de entrar no apartamento. Sally estava dormindo em sua cama.

Na manhã seguinte, sua amiga despertou lhe levando uma xícara de café.

-Tenho que ir e queria saber como foi ontem à noite -se sentou na borda da cama, aos pés de Lori.

-Muito bem -respondeu evasiva. –Vai sair com o Dave?

-Sim -confirmou sua amiga.

-Vai levar a sério sua relação?

Sally ruborizou.

-Eu gosto muito dele.

-E Dave?

Sally se levantou, preocupada.

-Também gosta. Vamos, prepararei o café da manhã antes de ir, hoje me sinto serviçal.

Lori se deu conta de que Sally queria falar de Dave tanto quanto ela de Jonathan, quer dizer, nada. Embora pressentisse que era por razões diferentes.

Não importava quantas vezes visse Dave, não conseguia gostar dele, mas Sally já era uma mulher e o Dave que ela conhecia era muito diferente que o de Lori. Provavelmente...

-Sairá hoje com o Jonathan? -as duas já tinham tomado o café da manhã, e Sally retornava do quarto, preparada para sair.

-Hoje não e não penso de voltar a fazê-lo.

Jonathan iria querer casar-se e ela não desejava lhe ferir.

-Pois insisto em que se sente e tome outra xícara com café e leia o jornal -Sally acompanhou suas palavras com a ação depositando em suas mãos uma xícara e o jornal. -Tem que acumular forças para enfrentar seu novo chefe -falou zombadora.

-Divirta-se!

Sally riu com sarcasmo.

-Não me espere acordada -disse, ruborizando-se. -Chegarei tarde.

Lori supôs que sua amiga passaria fora a noite, mas não pensou em fazer comentários e se despediu carinhosamente da Sally, justo no momento em que Dave bateu na porta.

Era agradável recostar-se no sofá e estirar comodamente as pernas. Havia sido muita a tensão daquela noite. Nesse ritmo acabaria extenuada em três semanas. Seu único consolo era que Luke Randell também havia sofrido a tensão, mas por razões completamente diferentes. Olhava-a constantemente; sabia que tinha obsessão de deitar-se com ela. Gostava de lhe castigar com sua indiferença, entretanto, teria desejado não lhe conhecer jamais.

Voltava a ser como nos tempos passados. A amargura e a frieza tomavam novamente posse de sua vida.

Nesse momento uma notícia do jornal lhe chamou a atenção. Uma dor como a que sentiu alguns anos atrás voltou a apoderar-se dela.

Era uma fotografia do Nigel. E junto a ele, olhando-o extasiada e feliz sua noiva! A fotografia dizia tudo. Nigel com traje de gala, e a noiva com um vestido branco de seda. Os dois sorriam felizes.

Lori leu o pequeno pé da página e os detalhes sobre o matrimonio do Nigel no dia anterior, com Caroline Maughan, uma velha amiga da família, a filha de Lorde Maughan. Lori ficou sem fôlego.

Um dia antes teria sido o aniversário de seu próprio casamento com Nigel, cinco anos atrás devia ter sido ela a se casar.

 

A principio foi incapaz de compreender por que lhe fizera aquilo; mas logo se resignou e deixou de sentir saudades.

Quando romperam cinco anos atrás, Nigel lhe dissera muito claramente que não queria nada dela. Entretanto, Lori sempre se apegou à idéia de que ele continuava amando-a, pensava que um dia se daria conta disso, e voltaria para seu lado. Era uma absurda esperança que não podia tornar-se realidade.

Mas, fazia cinco anos, no mais profundo de sua alma, mantinha viva a ilusão de poder chegar a se vingar, algum dia, das pessoas que lhe haviam feito aquilo.

Já não podia fazer nada contra Jacob Randell porque se retirou, mas tinha Luke Randell ao alcance de sua mão. E sabia muito bem como chegar até ele. O desejo que sentia por ela era seu ponto fraco.

O matrimônio do Nigel a deixou muito impressionada, mas não restavam forças para continuar sofrendo. Já tinha sofrido bastante cinco anos atrás. Tinha chegado o momento de sua vingança.

Dirigiu um último olhar à foto do Nigel, observou como o cabelo lhe caía sobre a testa apesar de usá-lo curto, o brilho de seus olhos e o rosto varonil. Devia ter uns trinta e quatro anos, pois era dez anos mais velho que ela.

Sua esposa parecia muito jovem. O artigo dizia que Caroline tinha dezenove anos, e a descreviam como uma beleza morena. Morena e com dezenove anos de idade, igual há ela cinco anos atrás. Seria possível que não tivesse conseguido esquecê-la? Se fosse assim, lamentava tanto por ele como por ela. Os Randell tinham muito que pagar, e o pagariam.

Quando começou a trabalhar como secretária de Luke Randell esqueceu todo o ódio que tinha, concentrando-se unicamente em seu trabalho.

Luke a olhava com freqüência quando acreditava que ela não se dava conta e não perdia um só de seus movimentos no escritório.

Ao meio-dia saiu do escritório justo no momento em que Jonathan chegava para visitá-la. Lamentou ter que recusar seu convite para almoçar e teve que lhe dizer muito claramente que não voltaria a sair com ele. A quarta chamada que recebeu para Luke Randell, de uma misteriosa mulher americana, acabou por atiçar sua curiosidade.

Luke recebeu o recado e não fez nenhum comentário a respeito da chamada da mulher, cujo nome era Marilou. Como não deixou nenhum número telefônico, Lori pensou que ele já saberia onde localizá-la. Não tinha ocorrido pensar que Luke podia ter uma noiva. Isso atrapalharia seus planos.

-Vou almoçar -disse-lhe minutos depois.

-Sim, senhor.

Ele deteve-se junto à mesa da garota.

-Vai almoçar sozinha?

Ela encolheu os ombros. Estava acostumada a levar um sanduíche.

-Não foi hoje com Jonathan?

Lori apertou os lábios, indignada.

-O que quer dizer? Só saí com ele algumas vezes...

-Desde que eu estou aqui?

-Sim.

Olhou-a sentido raiva.

-Está se desculpando, Lori? -perguntou zombador.

-Que perspicaz! -falou ela.

Ele suspirou.

-Poderia me dar alguma esperança?

-O que pensaria Marilou? -disse a garota.

Luke sorriu, a dureza de seu rosto se desvaneceu.

-Zangaria-se, é uma menina muito possessiva.

-Então não deve desprezá-la - comentou jovial.

Bloqueou o andamento da máquina de escrever para que ela não pudesse seguir trabalhando.

-Vai ser uma dessas secretárias que sabem sempre o que seu chefe pensa? -brincou, com voz suave.

Lori teve que levantar a cabeça para olha-lo, o cabelo caiu graciosamente sobre seus ombros.

-Pensei que era você que adivinhava meus pensamentos –respondeu umedecendo os lábios ressecados, em um gesto inconsciente.

Luke se mostrou intrigado.

-E assim é, Lori. Eu adivinho seus pensamentos -disse-lhe devagar.

-E o que penso agora?

Ele moveu-se para frente, agarrando seu queixo.

-Pensar... pensar... -Luke a olhou enigmático.

-O que? -perguntou ela.

Ele moveu a cabeça e se sentou, soltando o queixo.

-Não sei, Lori -murmurou. -Agora está na defensiva e não me deixa adivinhar seus pensamentos.

Reprimiu sua irritação.

-Não será porque perdeu seus podes de bruxo adivinho? -brincou.

Luke respondeu risonho:

-Lhe direi isso depois da comida.

Lori o viu partir. Então ia almoçar com Marilou, a da voz sensual. Sem dúvida chegaria tarde.

Equivocou-se. Retornou uma hora depois, acompanhado por uma mulher loira. Obviamente, tratava-se de Marilou. Não era tão velha como tinha parecido. Provavelmente não tinha mais de vinte anos. Primeiro Nigel e agora Luke Randell. Seria possível que os homens não pudessem sair com mulheres maiores de vinte anos?

Luke as apresentou.

-Marilou queria conhecer a toca pela qual abandonei meu super-moderno escritório nos Estados Unidos -explicou em tom de brincadeira.

-Não é uma toca, querido -disse a jovem olhando o elegante e bem ventilado escritório.

-E a senhorita Parder não é como imaginei -olhou atentamente Lori.

Luke sorriu divertido.

-Sério? E como a imaginou? -perguntou zombador.

-Mais velha -disse Marilou.

Ele voltou a sorrir, divertido.

-Entretanto, é tão jovem e tão bela como você.

Lori viu como a moça ruborizava; olhou Luke com frieza e descobriu um ar de brincadeira em seus olhos. Divertia-se com o ciúme de sua jovem amiga. Provavelmente tinha a esperança de que também ela se sentisse ciumenta. Duvidava de que acostumasse levar mulheres a seu escritório. Parecia disposto a fazer algo para atraí-la. Luke adivinhou seus pensamentos e riu com sarcasmo.

-É hora de ir, querida -disse com firmeza à Marilou, levando-a até a porta. -Lori e eu temos muito trabalho.

Lori se deu conta de que Luke tinha utilizado Marilou, pois, como já não a necessitava mais, queria desfazer-se dela. Voltou-se desgostosa e pegou alguns papéis para ordená-los. Entretanto, pôde ouvir o casal, parada a curta distância dela, dizia:

-Esta noite, Luke? -perguntou-lhe Marilou, jogando os braços ao redor de seu pescoço. -Por favor, querido, me sentirei muito só sem você.

As mãos de Luke pousaram nas costas da moça. Atraindo-a para si.

-É possível que esteja ocupado esta noite -disse sorrindo.

-Trabalho?

-Sim.

-Com a senhorita Parder? -a moça olhou Lori com cara de poucos amigos.

-Provavelmente -respondeu, evasivo. -Se a convencer para que fique.

-Convencerá -comentou Marilou com voz rouca. -Conheço de sobra seus poderes persuasivos.

-Que seu pai não fique sabendo! -exclamou colocando as mãos nos bolsos de sua jaqueta. -Poderia alarmar-se.

Marilou acariciou o peito do homem.

-Encarregou-me para que o convencesse a retornasse aos Estados Unidos e trabalhar com ele.

Luke a afastou com firmeza.

-Estou certo de que não disse que me seduzisse, embora eu fosse adorar. E quanto a retornar aos Estados Unidos... -olhou Lori com firmeza. -Estou muito contente aqui.

Marilou também observou Lori.

-Falaremos amanhã, Marilou -disse-lhe impaciente. -Quando a levar para jantar.

Lori se agitou em seu assento enquanto a moça o beijava apaixonadamente na boca: Marilou esqueceu o ciúme quando ele disse que a levaria para jantar no dia seguinte. Pobre garota. Moça como aquela não conseguia manter interessado um homem como Luke durante muito tempo.

Esteve-lhe estudando com atenção toda a manhã. Queria lhe conhecer bem antes de pôr em marcha sua vingança. Conhecer inimigo, esse era seu empenho. E Luke Randell era indubitavelmente seu inimigo.

-Adeus senhorita Parder -o sorriso do Marilou era triunfal, foi rebolando os quadris de maneira descarada impregnando o ar com o aroma de seu sofisticado perfume.

Lori procurou manter a calma.

-É uma garota muito bonita –comentou ela.

-Muito -concordou ele.

-Seu último chefe deve estar encantado com seu trabalho. Está desejando que você volte, inclusive mandou sua filha para que o convença -comentou ironicamente.

Luke fez um gesto com as mãos.

-Não. Marilou tinha programado estas férias muito antes que eu pensasse em vir para a Inglaterra. Gerry pode ter-lhe dito que viesse me ver, nada mais. É uma jovem muito imaginativa e muito mentirosa.

-Claro -fez um gesto com a boca e olhou seu caderno de recados.

-E qual sua opinião da minha capacidade de persuasão?

Lori não se deu conta de que ele estava a seu lado. Ao notar sua proximidade ficou nervosa. Mas, com muito esforço, conseguiu controlar-se e o olhou com frieza.

-A verdade é que não pensei nisso, nem sequer tinha me precavido de que a tinha -respondeu.

Ele se ergueu, rindo.

-Tenho que reconhecer que não funcionou muito bem com você, ainda. Mas não perco a esperança.

Lori se deu conta de que Luke havia decidido mudar de tática. Voltou a ser um executivo sério e eficaz. Seu bom humor desapareceu por completo.

Lori sabia, pelos informes que Claude lhe dera, que Luke era um bom advogado e tinha comprovado, por própria experiência, que era capaz de fazer algo bem, inclusive dirigir mulheres como Marilou.

Ao que parece, a única debilidade que tinha era ela mesma. Tinha que aproveitar-se das circunstâncias. Mas devia esperar o momento oportuno. Não lhe conhecia o suficiente para começar seu plano.

Ela também ficou séria e voltou a concentrar-se em seu trabalho.

-Tem uma entrevista dentro de dez minutos -lembrou-o, distante. -E, se realmente necessitar que eu trabalhe horas extras, farei.

-Não vai sair com Jonathan?

-Já lhe disse que não.

-Só queria estar seguro -afirmou. -Pode ser que esteve bisbilhotando por aqui enquanto estive fora.

Ela o olhou furiosa.

-Jonathan não tem necessidade de andar bisbilhotando por nenhum lugar.

-Faz em meu escritório -grunhiu Luke zangado.

Lori se alegrou intimamente por aquela explosão de ciúmes.

-Somos colegas de trabalho -disse com voz suave e firme. -É natural que conversemos e troquemos idéias.

Seu rosto se obscureceu.

-Suponho que Anderson não lhe falaria de assuntos confidenciais.

-É obvio que não! -exclamou indignada. -Jonathan é um advogado muito responsável.

Luke abriu os olhos.

-Admira-o?

–Como advogado, sim.

-Eu... -interrompeu a conversa porque o telefone de Lori começou a tocar. –Salva pelo gongo -murmurou enquanto se dirigia ao seu escritório.

A garota respondeu à chamada, e imediatamente se concentrou em seu trabalho. O cliente das duas e meia estava esperando na recepção.

Trabalhou muito durante toda à tarde. Luke lhe pediu para fazer um relatório confidencial que necessitava para o dia seguinte.

Eram quase oito da noite quando tirou da máquina a última folha de papel, e a colocou a um lado da mesa, junto às demais.

Luke saiu de seu escritório, enrolando as mangas da camisa. Parecia muito cansado.

Inclinou-se sobre os papéis e pegou a última folha datilografada para lê-la, como havia feito com as anteriores.

-Já terminou?

-Sim.

Lori se estirou, tentando relaxar. Tinha acumulado muita tensão durante o trabalho.

-Dói? -Luke viu como movia o pescoço, cansada.

-Um pouco -reconheceu.

Ele colocou a folha de volta e se colocou detrás dela para lhe dar uma massagem no pescoço e nos ombros.

-Está melhor? -perguntou-lhe segundos depois.

Estava muito obcecada por desfazer-se daquelas mãos para apreciar as vantagens da massagem. Se reagisse violentamente colocaria tudo a perder. Manter a raiva era uma coisa; mas lhe demonstrar total aversão era muito perigoso e devia evitar as acariciadoras mãos de Luke, o que não seria fácil.

-Sim, obrigada –disse ficando de pé. -Já terminamos por hoje?

Luke assentiu.

-Levo-a para sua casa?

-Trouxe meu carro.

-Então, quer jantar comigo? -perguntou em voz baixa.

Esperava que ela recusasse. Viu na resignada expressão dele. Talvez devesse aceitar, mas pensou que seria melhor mante-lo a distância um pouco mais.

-Esta noite não. Acredito que o que preciso é de um banho quente e me deitar cedo.

-Boa idéia.

Ela ficou tensa diante do tom sedutor dele.

-Não é verdade? Agora, se me desculpar...

-Lori! -deteve-a na porta.

A frieza de seu olhar o deixou surpreso.

-Sim?

Luke moveu a cabeça.

-Nada -arrependido, deu a volta. –A verei amanhã.

Ela se dirigiu para casa mais devagar do que de costume, detendo-se em todos os semáforos. A expressão de seu rosto não mostrava absolutamente os planos que estava em sua mente.

Luke Randell acostumava utilizar às mulheres, sem dúvida havia usado Marilou para obter um posto na empresa de seu pai. E agora queria utilizá-la, para satisfazer seu apetite sexual. Mas Lori tinha outros planos. Mesmo que se casassem, nunca sentiria o prazer de possuí-la.

Um calafrio percorreu suas costas ao imaginar o dia em que dissesse a Luke Randell quem era ela, sentiria-se humilhado quando se inteirasse de que estava casado com a filha de um suposto ladrão, um homem a quem seu pai acossou até o suicídio. Essa seria sua vingança.

No dia seguinte, quando Lori chegou ao escritório, ele não estava. Como tinha muito que fazer, começou a trabalhar. Pouco depois das doze Luke chegou.

Parecia cansado, revelavam as profundas rugas que sulcavam seu rosto. Tinha posto um elegante traje negro que lhe caia com perfeição e ressaltava sua corpulenta figura.

-Café -foi a primeira coisa que lhe disse quando passou junto a ela, rumo a seu escritório.

Lori ficou intrigada. Nem sequer olhara para ela, muito menos em seu precioso vestido verde, o vestira para lhe deslumbrar e ele nem se dava conta. Não podia ser possível tanta indiferença, ele tinha que estar rendido a seus pés quando ela concordasse em lhe conceder o primeiro encontro...

Minutos depois lhe levou o café. Ao olha-lo esboçou um amplo sorriso.

-Parece muito contente -disse ele brincando.

O sorriso permaneceu fixo nos lábios da garota.

-Há alguma razão para isso?

-Ligaram do hospital? -perguntou tenso.

-Do hospital? Eu... Claude.

Lembrou que a operação que ele ia fazer era nesse dia.

-Pois... ninguém ligou. Só os recados que deixei sobre sua mesa -vários eram de Marilou.

-Pode ir almoçar -respondeu Luke com frieza. -Eu me arrumarei sozinho.

Lori abandonou o escritório com a certeza de que sua fascinação por ela havia diminuído. Sabia que a operação do Claude era nessa mesma manhã, mas a felicidade de saber que sua vingança estava a ponto de se realizar a fizera esquecer todo o resto.

Zangou-se consigo mesma. Não devia permitir que sua batalha particular com Luke e seu pai estragassem suas relações com outras pessoas. Claude e Ruth sempre foram muito bons com ela.

Quando retornou a seu escritório, ligou para o hospital, onde lhe disseram que Hammond continuava na sala de operações. Foi a irmã de Ruth que ficou ao telefone e lhe assegurou que ligaria quando houvesse notícias.

Lori se sentiu melhor depois de ter ligado, era como voltar à normalidade. Não podia permitir que a vingança a dominasse. A fotografia do Nigel e sua noiva a tinha deprimido, mas devia esquecer-se de tudo. Tinha um propósito, uma vingança que tentava levar a cabo até suas últimas e amargas conseqüências.

Comeu com Sally, como de costume; de fato era a única hora em que via sua amiga. Já que quase nunca estava no apartamento e isso a preocupava. Não porque Sally necessitasse de seus cuidados; parecia encantada e conversaram animadamente, enquanto comiam seus sanduíches no refeitório.

-O que sente ao trabalhar para o Superman? -perguntou Sally.

-É muito eficiente.

-Também é muito bonito -Sally sorriu. -Ainda não a convidou para sair?

-Não!

-Não fique assim -riu Sally. -Vi que a devorava com os olhos durante o casamento, teria sido muito tola se não me desse conta de que gosta de você. Estava certa de que já a havia levado a alguma parte.

-Bom... sim, tentou -reconheceu Lori depois de dar um gole no chá.

-E lhe disse que não! -exclamou a amiga, incrédula. -Como é possível que tenha recusado tal oferta?

Lori torceu a boca ao lembrar os métodos persuasivos de Luke. Sem dúvida, seu encanto e seus beijos, tinham vencido às mulheres mais fortes, entretanto com ela seria diferente.

-Não foi difícil -respondeu sinceramente.

-Está louca! -exclamou Sally. Lori arqueou uma sobrancelha.

-Está me dizendo que, se ele a tivesse convidado, teria aceitado?

-Bom não, eu não aceitaria. É diferente. Tenho o Dave, mas você não sai com nenhum rapaz a sério.

-Bom até que ponto é sério com o Dave? -perguntou Lori tranqüilamente.

Sally ruborizou.

-Pediu-me que fosse morar com ele -anunciou.

Lori não fez nenhum gesto. Aprendera a esconder seus sentimentos quando seu pai estava sendo processado e a imprensa, ansiosa por notícias, procurava qualquer mudança de expressão em seu rosto. Os jornalistas a chamavam de moça de gelo e ela, tirando o tempo em que esteve apaixonada pelo Nigel, sempre fez honra a essa qualidade.

-Sim?

-Acha que devo aceitar? -perguntou a amiga mordendo o lábio, parecia infantil e muito vulnerável nesse momento.

Lori encolheu os ombros.

-É uma decisão que só você deve tomar. Quer casar-se com você?

-Diz que mais tarde -de novo, Sally voltou a ruborizar-se. -Não está seguro. Pensa que devemos morar juntos primeiro durante um tempo -comentou envergonhada. -Como um ensaio de matrimônio.

-Sei. E o que lhe parece isso?

-Estou pensando -respondeu. -É uma decisão muito importante.

Lori desejará dizer a Sally o que realmente pensava: que colocaria um fim às pretensões de Dave. Era óbvio que ele não tinha a mínima intenção de comprometer-se. Mas se falasse e Dave rompesse com ela por essa razão, sua amiga a culparia. Só Sally devia decidir.

-Está muito pensativa -disse Luke quando entrou no escritório.

Lori se sentou sem pressa. Viu que Luke por fim, prestava-lhe atenção.

-Qual prefere? -perguntou a garota. -A alegre ou a pensativa?

-A verdade é que nenhuma das duas -disse em tom zombador, sentando-se na borda da mesa.

-Não? -perguntou olhando-o de frente.

-Não -sorriu ele, a frieza havia desaparecido. -Prefiro vê-la entre meus braços.

Queria colocá-la nervosa e conseguiu. Não podia controlar a cor de suas faces e o olhar que lhe dirigiu foi bastante severo. Luke Randell não se moveu, seus olhos escureceram ao pousarem descaradamente no decote dela.

-Temo que isso não vá ser possível -respondeu com voz suave.

-Tem medo, Lori? -perguntou. -Isso já é um passo adiante.

-Não me diga! -procurou sustentar o olhar dos cerrados olhos. Ele riu.

-De novo se fecha em concha -comentou ele.

Sabia, também sabia que se ele pudesse ler seus pensamentos cairia fulminado. Não podia suportar que a olhasse; era quase como se a tocasse.

-No que pensa? -perguntou ele levantando-se.

Lori respirou aliviada quando ele se afastou, recuperada a tranqüilidade.

-Em nada, senhor Randell -a voz era fria. -No que poderia estar pensando?

O advogado sorriu, com uma mescla de desprezo e altivez. Por Deus, tratava às mulheres de forma muito mais sutil, mas sempre era ele o caçador e a mulher a presa.

Seria sempre ele quem tomaria a iniciativa, e não parecia possível que alguma mulher pudesse tomar antes.

-Não sei... -moveu a cabeça. -Desde aquela primeira semana não pude voltar a ler nenhum só de seus pensamentos.

Ela tratou de esboçar um sorriso malicioso, embora resultasse triunfal.

-Talvez tenha algo que esconder -a voz parecia alegre.

–Sei -murmurou ele. – Bom, vou almoçar. Ah! –

Lori se deteve em frente à porta, com a mão no trinco.

-Sim? -perguntou tensa.

-Ligaram do hospital.

Alarmou-se. Tinham que ser boas notícias, Luke não era capaz de brincar estando Claude em perigo. Sua mudança de humor dava a entender que seu chefe estava bem. Era óbvio que gostava muito dele e se preocupava com ele.

-Está bem? -perguntou tranqüila.

-Sim -riu Luke. -Necessitará de um tratamento intensivo durante bastante tempo, mas esperam que não haja complicações.

-Graças a Deus! -exclamou aliviada.

-Sim -disse Luke sombrio. -Irei vê-lo amanhã à noite, quando já tiver passado um pouco o efeito da anestesia, suponho que não se importaria de ir comigo.

Esperava uma negativa, e estava tentando decidir. Desejava visitar Claude, queria lhe ver; mas se aceitasse esse convite estaria lhe dando esperanças, o fazendo pensar que poderia aceitar outras. Pensasse o que quisesse!

-Sim, irei.

Luke ficou surpreso pela rápida aceitação da moça.

-Disse que sim? -perguntou incrédulo.

Ela riu ao ver o assombrado rosto dele.

-Sim.

-Iremos jantar depois?

Tentava forçar a situação.

-Não acredito.

Luke suspirou.

-Suponho que um sim já é algo! Está bem, Lori. Iremos ver Claude, juntos, amanhã à noite. Juntos... eu gosto do som dessa palavra quando está aplicada a você e a mim.

Sorriu lentamente.

-Com um pouco de sorte. Acredito que você e eu vamos passar muitos momentos juntos.

Uma luz de esperança brilhava em seus olhos quando abandonou a sala.

Juntos. Sim, estariam juntos e cada momento seria uma tortura para Luke Randell.

 

Quarta-feira. Lori se vestiu com especial cuidado, queria estar excitante, interessava-lhe que Luke Randell se sentisse cada vez mais atraído por ela. Usou um vestido, tipo quimono japonês. Era um traje que reservava para ocasiões muito especiais. E essa tarde era uma dessas ocasiões, ia sair com o filho do Jacob Randell.

Penteou-se e se maquiou com muito esmero. Depois, colocou sapatos de salto alto, estava elegante e muito provocante.

Sua amiga Sally, que por acaso se encontrava essa noite em casa, ficou assombrada quando a viu.

-Meu Deus! -exclamou ao vê-la sair do quarto.

Lori se inclinou para colocar um bracelete no pulso, sua única jóia.

-Estou muito exagerada? -perguntou com um sorriso.

Sally a examinou durante alguns momentos.

-Não, não acredito -disse devagar. -Se for visitar somente o senhor Hammond, provavelmente, mas como vai sair depois, não.

Lori queria ir arrumada, mas sem que se notasse muito.

-Talvez deva me trocar...

-Não faça tal coisa! -exclamou Sally com firmeza.

-Mas se o vestido já é velho...

-Não acredito que Luke Randell se dê conta disso. De qualquer forma, se não gostar do vestido, logo se encarregará de tira-lo -sorriu. - Não, sério, está muito bonita. Embora para ir ver o senhor Hammond um vestido de algodão seria suficiente.

-Você não sabe que vou ver o senhor Hammond - lembrou-lhe Lori, já que ninguém sabia da operação do Claude. -Supõe-se que está de férias, lembra?

-Quase todo mundo sabe que está no hospital -indicou Sally. -Essas coisas não podem ser mantidas em segredo. E creio que fez bem. Ao senhor Hammond lhe fará bem alegrar o olho.

-Sempre, desde que não suba a temperatura!

-Isso -sorriu Sally.

Luke pareceu aprovar sua aparência quando chegou.

-Vai sair para jantar? -perguntou olhando-a com admiração. -Se não for. Sou capaz de come-la aqui mesmo.

-Entre, vou apresenta-lo à minha companheira -falou em voz alta, abrindo um pouco mais a porta.

-Perdão! -exclamou ele ao entrar no apartamento.

Luke não se arrumou com tanto esmero como ela. Usava calças jeans e uma jaqueta esportiva de cor marrom. Sally, ao vê-lo, tremeu dos pés a cabeça e o olhou com admiração.

-A outra madrinha -sorriu Luke lhe estreitando a mão carinhosamente. -E a secretária do Kenneth Mitchell!

-Sim! -Sally procurou Lori com o olhar.

-Não sabia que compartilhavam um apartamento.

-Há vários anos -informou-lhe Sally; era evidente que gostava de estar falando com ele.

Lori, ao ver que sua amiga estava encantada com Luke, fez um gesto de desprezo. Voltou a sorrir quando Luke a olhou para lhe dizer que podiam partir quando ela dissesse.

Não se surpreendeu ao ver o carro de Luke, um Jaguar prateado, modelo esportivo.

-Sua amiga é muito simpática -comentou ele no caminho.

-Sim.

-Ainda sai com o homem que esteve com ela no casamento?

-Sim.

-Não sei... -ficou pensativo. -Eu não gostei dele, me deu a impressão de que não gosta muito dela.

Lori ficou pensativa; Luke era muito observador, mais do que ela havia imaginado. Teria que ser muito cuidadosa essa noite, se não quisesse que ele se desse conta de quais eram seus planos.

-Não tenho idéia -não ia comentar a vida íntima da Sally com ele, apesar de tudo, era seu novo chefe.

-Sim tem -respondeu, -mas pensa que a mim isso não importa. Eu não gostaria de vê-la sofrer.

-É uma mulher adulta -disse Lori. -E as mulheres devem cometer seus próprios enganos.

-Como você?

Ficou sem fôlego.

-Como diz?

-Bom, como parece ter muitos amigos e se relaciona bem com gente mais velha, como Ruth e Claude, suponho que é dos homens de quem desconfia, sobre tudo dos relativamente jovens. Não é assim Lori? Teve algum desengano amoroso?

-Esquece-se de Jonathan -disse surpreendida de novo por sua capacidade de observação.

-Você disse que não era nada seu.

Os olhos dele brilharam.

-É um amigo do sexo oposto.

-Não é o mesmo -insistiu Luke. -Alguma vez lhe deram um beijo apaixonado, um desses beijos que parece que não acaba mais?

-Não se meta no que não lhe interessa.

-Teve noivo?

-Claro que sim!

-Quando?

Lori ficou sem fôlego, sabia que a tinha apanhado. Não permitiria que a pusesse nervosa embora não tivesse conhecido nenhum homem tão perspicaz como ele. Queria-a, o havia dito, e desejava saber se tinha havido outros homens em sua vida. Não tinha nenhuma delicadeza.

Pensou que no remoto caso de que ela chegasse a interessar-se por ele, não se atreveria a lhe fazer perguntas tão pessoais.

-Estive comprometida uma vez -disse.

- Por que não se casou com ele?

-Porque me arrependi -mentiu. -Essa é a vantagem que as mulheres têm, não acha?

Luke dirigiu o carro para a porta do hospital e reduziu a velocidade ao chegar ao lindo jardim que rodeava o pavilhão onde Claude se encontrava.

-Eu não a teria deixado mudar de opinião -disse enquanto estacionava o carro e desligava o motor. -Quanto tempo faz?

Olhou-a aos olhos, tinha o braço estendido por detrás do assento dela.

-Quanto faz Lori?

A garota encolheu os ombros e se inclinou para frente para pegar a bolsa, que tinha colocado no chão do carro. Não queria lhe responder, mas tampouco lhe convinha que se zangasse com ela.

-Faz alguns anos.

Abriu a porta do carro e a saia subiu ao sair; por um momento, suas coxas ficaram à vista dele: ela não se deu conta desse detalhe e lhe perguntou com toda tranqüilidade.

-Não acredita que devemos entrar já? Há um horário de visitas.

Luke saiu do carro para reunir-se com ela.

-Por agora, sim. Embora Ruth esteja com ele a maior parte do tempo.

Pegou-a pelo braço para conduzi-la ao quarto de Claude. Suas passadas ressonavam com força no corredor.

-Quantos anos disse Lori? -insistiu.

Não pôde reprimir a surpresa. Pensou que o assunto de seu compromisso estava esquecido, devia ter imaginado que Luke não ia aceitar sua evasiva como resposta.

-Quatro ou cinco -respondeu. - Realmente não posso lembrar muito bem.

Olhou-a secamente.

-Sério?

-Não.

-Então não o amava.

A garota estava aparentemente muito tranqüila, sua fria expressão não revelava seu verdadeiro estado de ânimo.

-Suponho que naquele momento, sim.

-Tampouco isso consegue lembrar? -arqueou uma sobrancelha. Fazendo um gesto de estranheza. -Que memória tão frágil tem, Lori!

-Acha isso? -perguntou docemente enquanto empurrava a porta do quarto.

Entrou no quarto, e ao ver Claude não pôde reprimir um suspiro de assombro. O homem estava pálido e muito magro.

-Querida! -exclamou afetuosamente, estendendo a mão para Lori.

-Luke! -exclamou Ruth levantando-se; seu rosto mostrava as marcas da tensão dos últimos dias, entretanto o cálido sorriso refletia o alívio de saber que já estava fora de perigo. Luke a beijou, e se inclinou para dar a mão a Claude, Lori nunca o tinha visto comportar-se com tanta amabilidade.

-Não ficaremos muito tempo. Só o suficiente para nos certificarmos de que tudo está bem. E lhe dizer que ela ainda não atira nada na minha cabeça! -exclamou olhando-a.

-O que não quer dizer que não possa fazê-lo -manifestou ela à Claude com doçura.

-Me parece que os dois fazem um bonito casal.

-Poderia ter razão -insinuou Luke agarrando uma cadeira para que Lori se sentasse.

Sentou-se. Luke não deixava de olhá-la, mas ela fingiu não se dar conta. Queria que ele pensasse que suas relações estavam melhorando; desse modo, a decepção seria muito maior quando se negasse a sair para jantar com ele.

Quando se despediram da Ruth e de Claude, hora e meio depois, ela permitiu que colocasse o braço sobre os ombros ao sair do quarto. Mas se soltou rapidamente assim que se encontraram no corredor.

Tirou a chave do carro e abriu a porta, mantendo-a aberta até que ela entrou.

-Jantamos?

-Eu já jantei - afirmou ela.

-Mas eu não -expressou cortante.

Lori encolheu os ombros.

-Então poderia ir a qualquer lugar depois de me deixar em casa.

-Preferiria que viesse comigo.

-Tenho que lavar roupa.

-Sei! -riu. -Desprezado por um monte de roupa suja.

-Se não tivesse que lavar, teria que engomar, sempre há algo que fazer em casa.

-Está bem, Lori. Não insistirei mais.

Reprimiu um sorriso de satisfação. Evidentemente estava aborrecido. Sabia que Marilou cancelaria qualquer compromisso para passar uma noite com Luke Randell.

-Alguma vez come em sua casa? -perguntou-lhe com curiosidade. -Ou não comeu ontem à noite com Marilou?

-Claro que sim, às vezes como em casa, e sim, ontem à noite jantei com Marilou. De qualquer forma, se gostaria de cozinhar algo para mim...

-Não -respondeu-lhe cortante.

-Já sabia -manifestou suspirando. -Mas, se algum dia decidir pôr a prova seus dotes culinárias, estarei disponível.

-O que pensaria Marilou disso? -perguntou brincando.

-Não sabe cozinhar.

-Que pena! Mas suponho que tenha outras qualidades.

-Não sei -seu tom era seco. -Saiu do internato um mês antes que eu deixasse os Estados Unidos e não acostumo seduzir meninas. Por Deus, Lori, tenho trinta e nove anos, Marilou tem vinte!

-E?

-Eu não gosto de fazer o amor com adolescentes -grunhiu antes de deter o carro em frente ao apartamento dela. -Mas tampouco tenho inconveniente em derreter blocos de gelo! -pegou-a entre seus braços e a beijou apaixonadamente.

Não lutou contra ele. Mas tampouco lhe correspondeu; manteve-se passiva enquanto a boca dele se apossava da sua.

-Gatinha -murmurou beijando seu pescoço. -Não seja fria comigo, me beije!

Lori se incomodou que ele a chamasse dessa forma. Também se incomodou que o cabelo dele acariciasse suas faces e que seus lábios percorressem seu pescoço.

Quando Luke tentou voltar a beijá-la, voltou a sua mente a imagem vívida de seu pai e de Jacob Randell na capa de um jornal, o rosto do advogado expressava triunfo, enquanto que o de seu pai, abatimento.

-Não! -empurrou-lhe, olhando-o com os olhos cheios de lágrimas.

-Gatinha!

-Basta -abriu a porta. -Estou farta! Meu nome é Lori. E não sou gatinha de ninguém! Nem necessito que ninguém me derreta, e muito menos você!

-Lori, sinto muito -pegou-a pelo braço. -Não quis incomodá-la! Por que está tão alterada? Estou certo de que não é a primeira vez que alguém a beija.

Mordeu o lábio inferior, pensando que tinha cometido um engano comportando-se dessa forma. Devia ter recusado o beijo com frieza e não reagir como uma menina a quem beijassem pela primeira vez.

-Sim, claro, não é a primeira vez que me beijam -tentou sorrir. -Mas não desta forma.

-Sinto muito -acariciou-lhe a face com suavidade. -Tinha toda a razão do mundo para pensar o que pensou de Marilou, mas se lhe interessa -falou. -Ela não é mais do que a filha de meu ex-chefe, não significa nada para mim. Este fim de semana volta para os Estados Unidos. Janta comigo manhã, Lori? -pediu-lhe com voz suave.

Lori permaneceu alguns segundos em silêncio e viu um brilho de triunfo nos olhos dele. Luke pensava que se saira bem com ela. Insinuara-lhe que Marilou não era, na verdade, uma rival para ela e estava certo de que a tinha convencido. A garota riu por dentro. O pobre estava muito seguro de si mesmo, mas essa segurança não ia durar muito tempo.

-Não acredito que seja possível -disse, saindo do carro. -Amanhã irei passar roupa.

Fechou a porta e entrou no edifício sem pressa, sabia que estava muito zangado para segui-la. Não se equivocou: logo escutou o som do motor do carro e o ruído que este fazia ao afastar-se.

Um sorriso curvou os lábios de Lori quando entrou em seu apartamento.

Os dois dias seguintes, Luke esteve muito sério com ela. Tanto, que Lori chegou a pensar que tinha ido muito longe. Apenas a olhava, era como se ela formasse parte do mobiliário do escritório. De nada serviram os vestidos chamativos. Inclusive comprou um perfume caro que lhe asseguraram que era excitante, mas causou o efeito contrário em Luke.

-Que cheiro é esse? -grunhiu ao entrar no escritório na sexta-feira pela manhã. -Por Deus, abra a janela!

Lori abriu a janela e depois foi lavar-se.

Lori estava decepcionada, era como se tivesse estado em um campo de batalha e houvesse perdido a guerra. Tinha que fazer algo para interessá-lo novamente, se as coisas seguiam assim ia ser impossível levar a cabo sua vingança.

Luke continuava decidido a não falar com ela, e nem sequer se despediu quando foi almoçar. Lori ficou pensativa, tentando imaginar uma forma de o atrair novamente.

De repente, a porta se abriu e Marilou entrou.

-Luke, quer dizer o senhor Randell foi almoçar.

O olhar de Marilou posou nela com insolência.

-Que lástima! Pensei que ainda era cedo -olhou seu relógio de pulso. -Bom o verei no restaurante.

Lori assentiu.

-Adeus senhorita, espero que tenha uma boa viagem amanhã.

-Viagem? -os olhos azuis pousaram nela. -Que viagem? Ainda não penso em partir.

Lori a olhou atentamente.

-O senhor Randell me disse que você ia manhã.

Marilou sorriu, nem sequer tratou de esconder a aversão que sentia por Lori.

-Luke me fez mudar de opinião. Ainda não lhe disse, será uma surpresa para ele.

-Estou certa de que adorará.

-Sim, eu também acredito -Marilou sorriu com satisfação. -Me alegro de tê-la visto, Lori - disse com insolência e se foi tão repentinamente como havia chegado.

A garota se deu conta de que não tinha tempo a perder; estava claro que Luke se interessava por Marilou; continuava vendo-a e até havia pedido que retardasse sua partida. Devia modificar suas táticas, não podia permitir que Marilou tomasse vantagem. Se lhe desse oportunidade, aquela menina se pegaria a ele como um marisco.

Luke retornou de muito bom humor, e Lori sabia a causa. Sem perder tempo se levantou da cadeira e pegou a jaqueta; ao passar junto a Luke fingiu escorregar e se sentiu satisfeita quando os braços dele a rodearam para que não caísse.

-Cuidado! Esses condenados saltos que usam as mulheres... -imediatamente afastou-a de seu lado; Lori piscou e Luke a olhou preocupado.

-Se machucou?

-Sim, no tornozelo. -Ele não deixava de olhar como esfregava o tornozelo. -Bom... eu –se endireitou olhando-o fixamente.

Luke se aproximou.

-Pode andar? -perguntou nervoso.

-Acredito que sim -disse sem fôlego. - Por favor, não se preocupe comigo. Tem muito trabalho a fazer.

-Não seja ridícula. Deveria pôr uma atadura fria no tornozelo -observou preocupado.

-Estou certa de que não é nada sério -assegurou com voz áspera, mancado ligeiramente. -Dentro de alguns minutos estarei bem.

Luke não podia afastar o olhar das pernas da jovem.

-Sabe que tem as pernas mais sensuais que já vi?

Ela estava encantada. Seu plano tinha funcionado.

–Já me disseram -respondeu com voz suave.

Luke sussurrou perto de seu ouvido.

-Quando vai aceitar um convite para jantar? -moveu as mãos, impaciente, como se quisesse tocá-la.

-O que lhe parece amanhã? -sorriu.

-Sério? -rodeou-a entre seus braços.

-Sim -assentiu Lori. -A não ser que tenha algum compromisso, com Marilou, por exemplo.

-Se tivesse cancelaria; na verdade, em minha família a palavra não é algo tão importante -brincou com voz rouca.

Estava paquerando com ela e tentando fazê-la rir. Mas a Lori não pareceu gracioso seu comentário. Estava decidida a destruir aquele homem.

De repente a porta se abriu.

-Lori eu...

Jonathan se deteve na porta, abriu a boca, surpreso ao ver Lori nos braços de Luke Randell.

-Desculpem -disse em voz baixa e rapidamente, partiu.

Sentiu pena de Jonathan, mas pensou que, no fundo, era melhor que soubesse que estava saindo com Luke. Cada dia ficava mais difícil aceitar seus convites e não sabia como recusar.

Luke examinou sua reação. Em seu rosto se refletiu pena, depois compaixão e, finalmente resignação. Lori pensou que isso era o melhor que podia ter acontecido.

-Quer que vá procurá-lo e explique? -perguntou.

- Explicar o quê?

-Bom que nós, que eu... explicar o quê? -perguntou-se. -Não é mais que um bom amigo não é assim, Lori?

-Sim.

-Eu nunca procurei sua amizade -advertiu-a antes de colocar sua boca sobre a dela.

Lori entreabriu os lábios, disposta a corresponder a seus beijos e pensando que ia custar-lhe muito trabalho fazê-lo, pois para ela beijar Luke Randell era uma tortura.

-Gatinha? -Luke lhe acariciou as facespálidas. -Não é por seu tornozelo, não é verdade?

-Não -dedicou-lhe um amplo sorriso. -A que hora me buscará esta noite?

Quando voltou do almoço, o tornozelo estava em perfeitas condições e Luke se encontrava de muito bom humor. Ia a seu escritório com qualquer pretexto para brincar com ela. A garota lhe fez ver que todo o pessoal faria comentários quando lhes vissem saírem juntos. A resposta dele foi:

-Ao diabo com o que pensam todos!

Luke continuava trabalhando quando Lori se foi, pouco antes das cinco, mas lhe assegurou que busca-la às oito da noite. Para sua desgraça, encontrou-se com o Jonathan no estacionamento.

O jovem lhe lançou um olhar de recriminação.

-Sinto muito, Jonathan.

Não sabia o que dizer. Só tinha saído com ele duas vezes, o resto dos convites tinha recusado; entretanto, sentia-se culpada de que a tivesse visto com o Luke.

-Eu também. Pensei que você gostava Lori.

-Cai-me bem.

-Mas Randell te cai melhor - sorriu com tristeza. - Suponho que um sócio principal tem mais a oferecer que um simples advogado.

Jonathan estava muito triste. Nunca o tinha ouvido falar assim. Pô-lhe uma mão no braço e sentiu como ficava tenso sob seus dedos.

-Sério Jonathan, estou muito triste - disse com indubitável sinceridade. - Eu não queria te ferir, só queria que fôssemos amigos.

-Você sabia que eu esperava algo mais.

-Sim – confirmou. - Por isso decidi não voltar a sair com você.

Parecia aborrecido.

-Então, vai levar a sério o de Randell?

-Poderia ser - respondeu evasivamente.

-Então a única coisa que resta é te desejar boa sorte. Queria que as coisas tivessem sido de outra maneira -comentou, - mas a concorrência com o Randell é muito desigual.

-OH, Jonathan! -exclamou Lori ao ver que ele também sorria. -Bom, é. Espero que seja feliz com ele - inclinou-se para beijá-la ligeiramente nos lábios, - mas se não funcionar...

-Não poderia fazer isso. Mas obrigada.

Sentiu-se melhor enquanto se dirigia para sua casa. Dava-lhe muita pena do Jonathan, mas se não o tivesse desiludido, ele teria continuado insistindo e Lori sabia que Luke não gostava de compartilhar nada com ninguém, especialmente sua mulher.

Suas suspeitas se confirmaram muito antes do esperado. Luke chegou ao apartamento às sete e meia, estava muito sério quando entrou na sala. Não se deu conta de que ela acabava de tomar banho usava um roupão. Seu cabelo estava seco e se maquiou. Só faltava vestir o vestido.

Vestiu-se devagar, preocupada, sem entender por que razão estaria zangado. Estavam sozinhos na casa, Sally tinha saído. Luke se apoiou no marco da porta, usava um elegante traje negro e uma camisa branca que fazia ressaltar o bronzeado de sua pele.

-Acreditei que havia dito as oito - disse ela com o cenho franzido, certa de que não se equivocou.

-Assim foi.

A garota umedeceu os lábios ressecados.

-Então chegou cedo. Ainda não me vesti.

- Ele está aqui? -perguntou Luke.

-Quem? -repetiu, não tinha a menor idéia do que estava falando.

-Anderson. Está aqui? Por isso está vestida assim, porque acaba de sair da cama com ele?

Ela ficou sem fôlego.

-É obvio que não. Acabo de tomar banho, por isso estou vestida assim. Porque Jonathan estaria aqui? -encontrava-se realmente surpreendida de que ele pensasse isso.

-Meu escritório dá para o estacionamento, Lori - grunhiu-. – Os vi ali juntos vi como colocava a mão sobre o seu braço e como te beijou - as últimas palavras as disse quase gritando. — Em especial como te beijou!

Estava com ciúme: Luke Randell era um homem ciumento. Lori não podia acreditar que fosse capaz de reagir com tanta violência. Por Deus! Ele era muito tranqüilo, gostava de brincar e não parecia um homem agressivo.

-Luke.

-Não me venha com desculpas! -atraiu-a para si com violência. - Terá que fazer algo mais que me dar desculpas para me convencer. Para tirar de minha mente a lembrança de suas relações com ele.

Olhou-lhe assustada.

-O que quer Luke? -perguntou, entreabrindo os olhos um pouco zangada.

-Isto! -exclamou beijando-a com violência. - Gatinha!

Para sua surpresa não lhe desagradou aquele gesto: não ofereceu resistência quando lhe abriu o roupão e sua mão procurou os seios para acariciá-los.

Passado um momento, a garota quis retirar-se; mas o braço de Luke impediu. Depois se recusou a se mover, era feliz em seus braços, e disse a si mesma que tinha que deixar que a beijasse e a tocasse, do contrário, nunca a desejaria tanto como ela queria. Tinha que lhe dominar a qualquer preço.

Os lábios de Luke viajaram por seu pescoço até chegar a seus seios: ele os acariciou lhe provocando um prazer indescritível.

Lori se apegou aos ombros dele, pois as pernas tremiam e não a sustentavam. Tinha que pôr fim à cena, permitir que a beijasse era uma coisa, que a acariciasse também, mas se não o detivesse, Luke iria algo mais que beijos; começou a acariciar as coxas e iniciou uma exploração por todo seu corpo.

Empurrou-o com suavidade, notava, pela escuridão de seus olhos que estava perdendo o controle; sua boca era muito sensual e o desejo ardia em seu olhar.

Finalmente, com dificuldade recuperou a compostura. Tinha o cabelo revolto onde ela tinha introduzido seus dedos no momento culminante da excitação sexual.

-Sinto gatinha - desculpou-se. - É que ao ver o Anderson lhe tocar fiquei cegou de ira: passei duas horas de verdadeiro martírio. Não era minha intenção te incomodar. Perdoa-me?

Não se sentia seguro da reação da garota; não tinha idéia de como ia encarar seu acesso de ciúmes.

Assim era que Lori queria lhe ter, fora de si. Caso se sentisse muito seguro, perderia o poder sobre ele.

-Irei me vestir - disse-lhe com voz animada, sem mostrar a menor alteração. – fique a vontade. Não demorarei.

Quis dizer algo, mas se conteve sentando-se ao vê-la desaparecer pela porta do quarto, fechando-a com firmeza.

A garota se apoiou contra a porta, dando rédea solta à emoção que não se atrevia a demonstrar na frente a ele. As pernas tremiam. A forma como tinha desfrutado de suas carícias a queimavam como um fogo difícil de apagar.

Sentir-se atraída fisicamente por Luke era algo com o que não tinha contado. Quando elaborou seus planos de vingança pensou que seria imune ao atraente do filho do Jacob Randell.

Definitivamente, era uma complicação, mas poderia superá-la. Luke seria um homem apaixonado, mas não um selvagem, e se lhe impusesse reserva ele a respeitaria.

A possibilidade de que um dia não pudesse dizer não, não lhe passou pela mente.

O jantar foi maravilhoso, Luke parecia decidido a mostrar-se encantador, não voltou a mencionar o episódio anterior, embora deixasse entrever que estava satisfeito de que tivesse acontecido.

O restaurante era um dos mais elegantes de Londres; o serviço, impecável. A taça de vinho de Lori sempre se manteve cheia graças ao eficiente garçom. Era óbvio que Luke estava acostumado a isso, aceitava sem se alterar, o que fazia com que o pessoal se mostrasse ainda mais atento.

Mas Luke só tinha olhos para ela, com freqüência olhava a curva dos seios que seu vestido negro fazia ressaltar. Ela ria satisfeita quando se encontrava com os olhos dele.

Embora tentasse dissimular, notava-se que seu acompanhante estava afetado pelo acontecido no apartamento, e quando tocaram as mãos por acaso, sentiu como se os dedos nervosos capturavam sua mão e o polegar inquieto de Luke a acariciava enquanto falavam.

Era um grande conversador, conhecedor de muitos assuntos, tanto locais como de outros países. Lia muito e possuía uma grande cultura.

Lori não teve que fingir que se divertia. Notou que tinham interesses similares e quando não coincidiam podiam discutir civilizadamente. Assim transcorreu a noite, até que Luke lhe pediu que falasse de sua família; então acabou a diversão, pois isso lhe fez lembrar quem era aquele homem. Era o filho do advogado que arruinou sua vida, lhe tirando tudo o que ela amava. Seu pai, sua mãe, Nigel...

-Não tenho família - respondeu brusca, retirando sua mão de entre as dele. - Só uma tia de meu pai. É uma senhora de idade e vive em um asilo, porque quer.

Sabia o que a maioria das pessoas pensava ao inteirar-se de que sua tia vivia em um asilo. Mas a senhora estava ali porque preferia. A tia Jessie jamais iria a nenhum lugar que ela não quisesse.

-Quero muito você.

-Já sei - franziu o cenho.

- Lori...

-E você? -perguntou-lhe animada. - Que família tem?

-Só meu pai - também falou com frieza dele. - Minha mãe morreu faz alguns anos.

-Sinto muito. Seu pai é Jacob Randell, não é verdade? -perguntou com fingida inocência.

-Sim - sorriu com tristeza.

-É muito famoso!

-Sim.

-Luke...

-Podemos ir? -perguntou com voz rouca, mas sorrindo para tirar o peso de suas palavras. - Quero estar a sós com você.

Sentiu muita curiosidade. Claude tinha comentado que Luke e seu pai tinham diferentes personalidades, seria possível que Luke não se importasse com a fama de seu pai? Não acreditava que tivesse ciúmes de sua carreira, estava muito acostumado a isso, mas como o mesmo Jonathan havia dito depois do casamento de Nikki e Paul, Jacob Randell devia ser um homem muito difícil de conviver.

Dirigiram-se ao apartamento em silêncio, embora sem tensão, o som da última canção do Barry Manilow alegrava o ambiente.

-Vi-o em seu último show no Albert Hall - comentou Luke com voz suave.

-Você gostou?

-Muito. -respondeu sem pensar. - Alguma vez o viu ao vivo?

-Uma vez. E eu também gostei.

Era um aspecto da música que não tinham discutido, e Lori se surpreendeu que Luke gostasse de Barry Manilow. Não é que não fosse um excelente cantor, era uma estrela, mas cantava melodias muito românticas, bregas, segundo a opinião de algumas pessoas.

Luke não parecia ser um romântico. Sensual sim, mas não romântico.

-Eu também gosto de seu perfume - acrescentou em voz baixa. - Aquela manhã fui muito grosseiro com você.

-Tem toda a razão!

-Claro - sorriu diante da indignação dela. - É como você. Feroz, com uma sensualidade latente. Eu acredito que isso foi o que mais me indignou, saber que todo esse fogo e essa excitação estavam longe de meu alcance, - a mão dele se posou sobre uma coxa dela. - Ao menos assim acreditava.

-Você gostou da surpresa que Marilou te deu na hora do almoço? -tratou de desviar a conversa. Luke voltou a pôr contra vontade, a mão sobre o volante.

-Que surpresa?

-Que não volta para a América.

-Não? -franziu o cenho ao deter o veículo frente a casa dela.

-Disse que não - agora era a vez de Lori mostrar-se confusa. - Foi ao escritório te buscar para almoçar, mas como você já tinha saído não o encontrou. Supus que lhe diria mais tarde quando se encontrasse. Sinto muito, se arruinei a surpresa.

-Estou aturdido. -Luke fez uma careta. - Não encontrei Marilou no restaurante, nem em nenhuma parte. Não a vi desde terça-feira.

-Mas ela disse... ao melhor não a entendi bem.

Deixou-se enganar por outra mulher. Marilou sentia que o interesse de Luke por ela era algo mais que pessoal e decidiu adverti-la. E ela tinha caído na armadilha, comportando-se como uma menina, mudando todos seus planos e aceitando o convite de Luke, quando na realidade não estava preparada para isso.

-Você e eu sabemos que não é assim - comentou Luke, saindo do carro para lhe abrir a porta. - Já disse que Marilou é uma menina. Reage como uma criança se deu conta de que quer me atrai e...

Nesse momento parou um táxi na rua e se deteve em frente ao Jaguar, dele saiu Sally chorando e passou junto a eles sem deter-se.

 

Acredito que essa menina acaba de saber de seu engano - disse Luke rompendo o silêncio que se seguiu à entrada da Sally no edifício.

Lori o olhou zangada.

-Não me parece bem que fiquemos aqui falando dela.

Não sabia se corria para junto de Sally ou ficava e dizia aquele homem o que pensava dele. Decidiu-se pelo último.

-Que um de seu sexo brincou com um do meu, não te dá direito a...

-Fique tranqüila, Lori - advertiu-lhe. - Feriram sua amiga e sinto, mas isso não te dá autoridade para me insultar.

-E não é certo? Não é certo?

-Gatinha, por favor... -os lábios dele se posaram sobre os dela com imensa ternura.

Toda sua fúria se desvaneceu durante alguns segundos, enquanto durou o beijo. Finalmente Luke a afastou e colocou seu rosto sobre o dela.

-Não estou acostumado a beijar as mulheres em público - murmurou. - E como seu apartamento tampouco é privado, acredito que devemos deixar por isso mesmo.

Lori se separou dele, de novo estava zangada consigo mesma por se deixar levar.

-Indefinidamente.

-Lori...

-Tenho que ir falar com a Sally. Obrigado por tudo, me diverti muito esta noite - expressou inquieta.

-Gatinha...

-Tenho que ir. Poderá me ligar amanhã?

Pela forma como ele a olhou se deu conta de que não estava acostumado a ser despedido daquela maneira e isso a encheu de satisfação. Tinha que o manter a distância, ele não devia pensar por um momento, que a tinha sob controle. -Boa noite, Luke.

Luke não se moveu, e ela sentiu seu olhar cravado nas costas ao dirigir-se ao edifício, com muita calma abriu a porta e entrou, voltou-se para fechar a porta, consciente de que Luke continuava ali parado.

Parecia muito desanimado nesse momento a alta figura se erguia pensativa na rua. Mas então seu coração se endureceu e fechou a porta. Luke nunca estaria sozinho pelo menos enquanto existissem mulheres como Marilou.

Sally estava no quarto deitada na cama, chorando.

-Sally? -sentou-se na borda da cama. - Sally, o que acontece? A garota continuou chorando durante vários minutos, quando levantou a cabeça tinha o rosto inchado de tanto chorar. – Dave está doente? -perguntou.

-Doente? -Sally se inclinou para limpar as lágrimas das suas bochechas. –Quisera Deus que estivesse, e eu fosse à causa disso.

-Me conte - pediu-lhe Lori com suavidade.

-Dave tem outra garota e a via muito antes de começar a sair comigo.

Era pior do que ela imaginava, embora já soubesse que para Dave, Sally não era a mulher de sua vida, compadeceu-se de sua amiga.

-Como ficou sabendo?

Sally riu com amargura e ficou de pé.

-Disse-me - confessou irônica, com lágrimas nos olhos. - Contei-lhe que me pediu que eu fosse morar com ele? Bom, quando ontem à noite lhe disse que não estava certa, disse que já não se importava que existia esta outra moça, Joanna, que tinha aceitado ir morar com ele este fim de semana. Tinha ficado comigo só para me dizer adeus - começou a chorar de novo.

Lori se levantou para abraçar sua amiga e deixá-la chorar. A insensibilidade do Dave só lhe confirmou o que já sabia que não devia confiar nos homens. Havia alguns que sim, se podia confiar, como Claude e Jonathan, mas eram a exceção que confirma a regra e sem dúvida, Dave não pertencia a essa classe.

Sally se afastou sorrindo brevemente.

-O engraçado é que se eu tivesse aceitado há dois dias, seria eu a que estaria se mudando e esta moça, Joanna, seria a que choraria agora.

-E você gostaria de estar em seu lugar?

-Não! Estou triste porque tudo acabou eu acreditava ama-lo. Deu-se conta de que falo no passado? -falou com amargura. - Fui tão tola... Sim, estou muito afetada, mas penso que estaria pior se tivesse me mudado e depois tivesse me dado conta de que ele estava brincando comigo. Sabia que fomos amantes?

-Sim - assentiu Lori.

-Claro que sabe. Que tola sou! -exclamou Sally suspirando.

Lori encolheu os ombros.

-Estava apaixonada.

-E agora acredito que o odeio. É mais fácil lhe odiar que lhe amar - expressou Sally, triste.

Ela também pensou assim uma vez, mas essa noite se deu conta de que podia voltar a gostar de um homem, por exemplo, Luke Randell, o tinha se divertido com ele, falando de cinema e de música, e tinha descoberto que, nesse aspecto, tinham gostos muito parecidos.

Mas logo mostrou o que era sua atitude foi totalmente machista quando falou sobre a Sally. Todos eram iguais, Luke Randell não podia ser a exceção.

Sally chorou durante toda a noite, mas como pretendia esconder seus soluços, Lori fingiu não escutá-los, sentia-se muito humilhada e não queria que ninguém soubesse quão destroçada estava.

No dia seguinte, Sally se levantou pálida e abatida. Lori insistiu em que tomasse o café da manhã e comesse algo.

-Não sei como fui tão estúpida! -exclamou, rompendo o silêncio depois da comida, antes só tinha respondido a Lori com monossílabos. - Devia supor que a única coisa que queria era sexo. É o que todos os homens procuram.

Lori não teve forças para rebater aquela afirmação. Sabia muito bem que era a única coisa que Luke Randell desejava dela. Caso se deixasse convencer, qualquer idéia de matrimônio se desvaneceria. Mas Lori não ia permitir que ele se esquecesse de suas promessas.

-Sinto muito. Não quis dizer isso... depois de tudo, eu aceitei encantada ou não? -Sally sorriu com amargura.

-Achava que o amava.

-Sim. Não é exatamente uma desculpa ou é? -perguntou suspirando.

-Não necessita de uma desculpa para amar e isso era o que estava acontecendo.

-Meus pais teriam se escandalizado. Não sabe quão afortunada é Lori, ao não ter pais como meus que lhe pedem contas. Bom, já estou farta de falar de mim. Como foi com o Luke Randell ontem à noite?

Lori pensou que sua amiga era digna de admiração. O lógico era que estivesse com raiva de todos os homens, entretanto não era assim, pois tinha perguntado pelo Luke com muito interesse.

A verdade era que a garota não sabia muito bem como tinha sido. Gostou que Luke a estreitasse entre seus braços. Mas ele não devia pensar igualmente, porque eram quase duas da tarde e ainda não tinha ligado como lhe prometeu na noite anterior.

-Muito bem.

-Vai voltar a lhe ver?

-Não combinamos nada - respondeu a verdade.

-É maravilhoso, não acha? -Sally lhe dirigiu um olhar de inveja.

-Pensei que estaria chateada com todos os homens - brincou Lori, sem responder a Sally.

Sua amiga sorriu.

-Não com os dessa classe, tem seu próprio estilo - disse a garota levantando-se inquieta. - Vamos fazer compras. Não há nada que me faça mais feliz que provar roupa cara e depois dizer à vendedora que eu não gosto de como me sinto com a roupa.

Lori não sabia se ia ou não. Se fosse com Sally, Luke poderia ligar e ela não estaria. Entretanto, se ligasse e não a encontrasse demonstraria que nem sempre se encontrava ao seu dispor.

-Sim, vamos - aceitou de bom agrado o convite da Sally.

Estiveram fora quase duas horas. Sally comprou um par de calças de veludo muito extravagantes, embora soubesse que nunca os usaria, pois era muito espalhafatoso para usá-los no escritório.

O telefone estava tocando quando entraram no apartamento, Lori deixou que Sally atendesse, enquanto ela levava as compras de sua amiga para o quarto.

-É Luke - falou Sally entrando no dormitório.

-Obrigada.

Lori decidiu faze-lo esperar, demorou alguns minutos em pegar o telefone.

-Olá Luke.

-Por onde andava? -grunhiu. –Estive te ligando desde o meio-dia!

Estava zangado, muito zangado, era o que ela queria.

-É que estive fora toda a manhã - respondeu com tranqüilidade.

-Onde esteve?

-Luke, por favor...

-Aonde? -repetiu forte.

Reprimiu um sorriso.

-Fazendo compras.

-Sozinha?

-Não. -respondeu devagar, para lhe provocar ciúmes. - Não fui sozinha.

Durante alguns segundos não se ouviu nada, depois Luke falou.

-Esteve com o Anderson.

-Não.

-Claro que sim! -exclamou furioso.

Podia imaginar seu rosto, congestionado pela fúria, totalmente fora de si.

-Pensei que o assunto do Jonathan tínhamos dado por terminado ontem à noite - assegurou a garota.

-Não - gritou. Não terminamos nada, agora me dou conta. Perguntei-lhe por que ele te beijava e em vez de me responder, você me beijou, e me esqueci da pergunta - parecia aborrecido consigo mesmo por sua debilidade. - Por que ele te beijou, Lori?

-E por que não teria que ter feito?

-Porque eu... -falou mais calmo, controlando sua excitação. - Porque neste momento eu devo ser o único homem em sua vida.

-Esse tipo de privilégios tem um preço - advertiu-lhe Lori.

-Já havia te dito que estou disposto a pagar qualquer preço - vociferou.

-Eu não.

-Quer dizer que seguirá vendo o Anderson? -a voz de Luke era suave, mas ameaçadora.

-Se quiser... -desafiou-lhe.

Luke estava cada vez mais irado.

-E se te pedir que não o faça?

-Me está pedindo isso?

- Sim!

Demorou alguns segundos em responder, como se estivesse pensando.

-Está bem.

-Quer dizer que não voltará a lhe ver? -perguntou incrédulo.

-Isso é o que quer?

-Sim, Lori, é o que quero. Nos veremos esta noite? -perguntou esperançoso.

-Não estou certa, não sei se deixar a Sally...

-Já é grandinha, pode cuidar-se sozinha, Lori. Necessito de você mais que ela, sabe que tentei não te ligar, não é verdade? -perguntou suspirando.

Sentiu-se feliz pela confissão.

-Então, por que o fez?

-Porque não posso estar sem você. Esta noite, Lori, tenho que te ver esta noite. Estarei ai às sete - desligou antes que ela pudesse negar.

Lentamente colocou o aparelho em seu lugar. Gostaria de sair com ele essa noite, não queria o fazer sofrer mais, pelo menos durante alguns dias. Sua vingança tinha que ser lenta, desse modo seria mais agradável.

-Vai sair? -Sally estava parada em frente ao espelho, olhando com olhos críticos a calça nova.

-Não se importa? -perguntou Lori franzindo o cenho.

-É claro que não. Já sei que não quer me deixar sozinha, mas não se preocupe, não vou a suicidar-me não, ficarei bem esta noite, vou lavar o cabelo e... -a voz falhou. - Sinto muito Lori estou me comportando como uma tola.

-Não irei. Ligarei para o Luke e...

-Não, não o fará. Agradeço que tenha ficado comigo todo o dia, mas eu gostaria de ficar sozinha um momento.

Lori o compreendeu, sabia exatamente o que sua amiga sentia.

Quando Nigel rompeu o compromisso, no princípio não quis ficar sozinha, mas depois desejou a solidão. Nesse dia, Sally não tinha tido tempo para pensar. Primeiro limparam o apartamento e depois foram às compras. Era lógico que sua amiga precisasse estar sozinha para pôr em ordem seus pensamentos.

-Compreendo. E as calças ficaram muito bem! -exclamou, mudando de assunto.

Estava em seu quarto, quando Luke chegou; dez minutos depois entrou Sally para lhe perguntar por que se atrasava.

-Está impaciente -sussurrou, - parece um cão enjaulado.

-Sério? -perguntou a garota enquanto aplicava com toda tranqüilidade o perfume. Usava um vestido branco de gola alta, era justo e ressaltava sua figura.

-Está linda! -exclamou Sally. - Desde que chegou está passeando por toda a sala, vai desgastar o tapete!

Lori sorriu.

-Uma pequena espera não lhe fará mal.

-Não gosta de esperar - comentou a amiga preocupada. -E não sei do que falar com ele. Acima de tudo, é o novo chefe.

-Não é mais que um homem - disse Lori, enquanto calçava as sandálias brancas.

Sally se deixou cair na cama.

-Queria ser tão fria com os homens como você, saíste uma só vez com ele, e já o tem dominado - moveu a cabeça. - Como faz?

Lori voltou a sorrir.

-Não faço nada, nada, Sally. E estou certa de que está exagerando, Luke não se deixaria dominar por ninguém, e muito menos por uma mulher.

-Bom, pois está a ponto de fazê-lo - decidiu Sally.

Lori sabia que se atuasse com inteligência, poderia chegar a dominá-lo. O pai de Luke matou seus pais e fez com que perdesse Nigel para sempre; tornar-se esposa de Luke seria sua vingança.

Sally se levantou.

-Lori...?

-Nenhum homem que realmente tivesse interesse por você se incomodaria por ter que esperar vinte minutos - olhou o relógio. - Ainda restam cinco.

-E se ele se for?

-Que se vá.

-Não se importaria? -perguntou sua amiga escandalizada. –Ele está muito bonito! E cheira...

-Cuidado - brincou Lori. – Lembre-se que é meu.

-Como esquecer? Está bem, vou dizer lhe que sairá dentro de um minuto.

-Quatro para ser exata.

-Então já teria feito um buraco no tapete. Espero que tenha dinheiro para comprar um novo.

Lori sorriu para sua amiga, mas seu bom humor desapareceu logo que ela fechou a porta. Agradava-lhe que Luke estivesse impaciente, e esperava que estivesse muito mais quando ela tivesse levado a cabo sua vingança.

Entretanto, o sentimento de insegurança que a tinha invadido na noite anterior, apareceu de novo. Tinha correspondido a seus beijos por instinto e tinha encontrado prazer em seus braços.

Sabia que qualquer homem experiente teria provocado essa resposta até na mulher mais fria. Entretanto, a sensação persistia, e seus olhos se voltaram cautelosos quando se encontraram com os dele.

Luke a olhou fixamente, despindo-a com o olhar. Ele também estava muito atraente. Usava calças negras e uma jaqueta da mesma cor.

Sally, que se achava na sala, murmurou umas palavras ininteligíveis e desapareceu. Luke nem sequer se deu conta de que a moça estava ali; olhou Lori e se aproximou dela.

- Fez de propósito? -perguntou detendo-se alguns centímetros dela.

-O que? -perguntou com voz suave.

-Demorar - levantou as mãos para tocar os braços nus dela. - Sabe que estou impaciente para tê-la a meu lado.

-Sim?

-Sabe que sim, gatinha - disse antes de beijá-la.

Afastou-se depois de alguns segundos.

-Sally está no outro quarto - murmurou enquanto Luke continuava estreitando-a.

-Sim. Vamos chegar tarde - afirmou separando-se de dela.

-Tarde. -? -repetiu.

-Pensei que podíamos passar para ver o Claude antes de jantar.

Ela sentiu-se culpada por tê-lo feito esperar.

-Direi-lhe adeus a Sally.

-Como ela vai? -perguntou Luke no carro quando ia rumo ao hospital.

-Muito desmoralizada - respondeu a garota zangada.

-O noivado foi desfeito?

-Sim.

-Ouça - falou tomando uma mão entre as suas. - Não fui quem deixou plantada sua amiga.

Afastou sua mão.

-Sinto muito. Eu não gosto de ver a Sally assim.

-Eu também estou desmoralizado.

Ela sabia que Luke era muito difícil em reconhecer suas próprias debilidades, e sentiu feliz por sua sinceridade.

-Sinto muito.

-Sério? Porque está jogando comigo, Lori?

-Jogo? -Não entendo - respondeu cautelosa.

Parecia chateado.

-Você sabe que te quero, sabe o que sinto por você. Está me usando se aproveitando de meus sentimentos.

-O que quer dizer? -umedeceu os lábios nervosamente.

-Não interprete meu amor como uma debilidade, gatinha - advertiu Luke, com voz suave mas ameaçadora.

-Amor, Luke? -perguntou arqueando uma sobrancelha.

-Sabe perfeitamente que é amor - gritou.

Era a primeira vez que falava de amor, e se sentiu satisfeita de que tivesse feito nesse momento.

-Sabe, ou não? -perguntou olhando-a nos olhos.

-É a primeira vez que me diz isso.

-Mas eu pensei que soubesse.

-Como sabia?

-Por Deus! Já chegamos ao hospital - voltou-se para olhá-la. - Falaremos depois?

-Se quiser.

-Sim quero - confirmou um pouco zangado, lhe acariciando a face.

O rosto do Claude se iluminou quando os viu chegarem juntos. Parecia muito melhor que a última vez que tinham o visto, encontrava-se sentado na cama e a cor tinha voltado para seu rosto.

-Ruth acaba de ir descansar - disse-lhes, desligando a televisão.

-Queríamos chegar mais cedo - passou o braço pela cintura de Lori em um gesto possessivo. - Mas sabe como são as mulheres, gostam de ficar se arrumando... - acrescentou secamente.

-Ah! Mas Lori está linda - sorriu Claude brincalhão. - E está começando a zangar-se. Sabe que tem um gênio ruim?

-Sim. Não só tem um gênio ruim, mas também é muito teimosa - acrescentou pensativo.

Lori lhe olhou assombrada; aquele homem a estava analisando v parecia ter chegado a uma conclusão acertada. Devia tomar cuidado para que não descobrisse toda a verdade antes do previsto.

Claude sorriu.

-Mas sempre estão juntos?

-Sim. E isso porque Luke não está de acordo de que os casais trabalham juntos mantenham relações! -exclamou Lori brincando com ele.

Luke lhe cravou os dedos na cintura, em sinal de advertência.

-Quando eu disse isso? Referia-me a marido e mulher que não devem trabalhar juntos - Luke riu ao ver que ela ruborizava. - Embora já esteja solucionando - disse ao outro homem em forma confidencial.

-Sério? -perguntou Claude interessado.

-Sim. Mas ela é muito teimosa.

-É serio que pensa que sou teimosa? -perguntou Lori mais tarde, quando ele a acompanhou de volta ao seu apartamento.

Quando saíram do hospital foram a um restaurante tranqüilo onde a comida era excelente e a conversa mais ainda. Luke se propôs entretê-la e conseguiu mais uma vez.

Quando chegaram ao clube, Lori estava de muito bom humor, dançaram em silencio durante quase duas horas, sem mover-se apenas; de vez em quando, os lábios de Luke posavam em seu pescoço, percorrendo todo o contorno de seu rosto. Falava pouco e quando fazia, a única coisa que lhe dizia era que a desejava com todas suas forças.

Lori estava certa de que a desejava, mas queria muito mais, queria que se apaixonasse por ela.

-O que diz meu amor?

Luke a estreitou entre seus braços, os olhos escuros pelo desejo e pelos beijos que trocavam. Lori explicou que seria melhor que ele não fosse ao apartamento porque Sally não se encontrava bem. Também sabia que Luke nunca lhe faria amor, estava protegida.

-Perguntava se na realidade acha que sou muito teimosa.

Estava linda nesse momento, o cabelo lhe caía brandamente sobre os ombros e seus olhos brilhavam na escuridão.

-Sim - respondeu. - A verdade é que está tornando isso tudo muito mais difícil.

-Acha isso? -tocou-lhe o peito nu, tinha desabotoado a camisa um pouco antes.

-Sim. Nunca tinha pedido uma mulher que se casasse comigo, e é muito irritante comprovar que nem sequer me leva a sério.

-Foi muito pouco correto no inicio Luke. Mas estou começando a levá-lo a sério agora - os lábios dela beijaram o peito dele, que correspondeu imediatamente à carícia.

-Agora sim?

-Sim - respondeu levantando a cabeça para o olhar.

-Não se detenha! -exclamou Luke lhe beijando a têmpora.

-É ambicioso - riu zombadora.

-No que concerne a você. Sim.

-E Marilou?

Luke moveu a cabeça e abotoou a camisa quando ela afastou a cabeça de seu peito.

-Essa jovem, coloquei esta manhã no primeiro avião que saía para os Estados Unidos.

Não devia ter sido uma grata experiência para a garota a julgar pelo gesto de Luke.

-Então, a surpresa quem deu foi você? -perguntou.

-Em parte.

-Gostava de você - Lori podia ser generosa com a moça agora que tinha retornado a América.

-E eu estou apaixonado por você - assegurou com voz firme. - Além disso, crianças como Marilou não me interessam.

-Continue me dizendo isso. -pediu-lhe com voz suave. - Talvez consiga me convencer.

-Isso eu espero. -Nos veremos amanhã?

-Estou acostumada a visitar minha tia os domingos.

-Deixe me ir com você - sugeriu-lhe.

Lori piscou.

-Vir comigo?

-Por que não? Já está na hora de conhecer sua família e essa mulher é toda sua família, não é mesmo?

-Sim.

O coração deu um salto. Sua tia andava estava com oitenta anos, mas não tinha nada de senil. Caso se inteirasse de que Luke era o filho de Jacob Randell descobriria ineditamente o que Lori estava tramando.

Lori nunca tinha escondido seu ódio pelo famoso advogado, nem seu desejo de vingança. Portanto, a tia Jessie suspeitaria da verdadeira razão pela qual ela via o Luke e isso séria suficiente para que estragasse seus planos. Se empenharia em dizer a verdade e ela não poderia fazer nada para convencê-la de se calar.

Entretanto, compreendia o desejo de Luke em conhecer sua tia, e devia satisfazê-lo, pois ela não pensava em demorar muito em lhe pedir que a apresentasse ao seu pai.

-Está bem! -aceitou finalmente. - Mas já está muito velha e algumas vezes fala algumas bobagens para seus visitantes, pediu perdão a sua tia Jessie. A mulher estava mais lúcida que qualquer jovem.

-Não me importo - sorriu Luke. - É sua tia e você gosta dela.

-Estou certo de que é uma velhinha encantadora. Venha me dê um beijo de boa noite - pediu estreitando-a entre seus braços.

Beijou-lhe timidamente.

-Bom, já vou.

-Sim, acredito que será o melhor antes que tenha que te pedir que venha para casa comigo.

-Não aceitaria.

-Eu sei - sorriu. - Mas não perderia nada tentando. A que hora venho te buscar pela manhã?

Disse-lhe a hora e saiu do carro. Esperou que ele se reunisse a ela e se dirigiram juntos ao edifício. Sally já estava deitada quando entrou, embora tenha deixado acesa à luz da sala.

Lori lavou o rosto e depois se dirigiu ao seu quarto, não queria despertar sua amiga. Mas Sally não estava dormindo; entrou quando ela acendeu a luz do abajur.

-Como foi à noite?

-Muito bem - Lori pendurou o vestido no armário sabendo que havia dito a verdade. Foi uma noite magnífica.

-Liguei para o apartamento do Dave. -disse devagar, quase sem querer.

Lori abriu os olhos.

-E o que aconteceu?

-Nada. Não estava, quem atendeu foi Joanna - Sally conteve as lágrimas com dificuldade.

Lori se aproximou, preocupada, da cama da Sally.

-Sabe quem é você?

-Não, acredito que não. E eu tampouco disse - Sally se deixou cair sobre o travesseiro cravando a vista no teto. - Não o odeio tanto como para lhe fazer isso. Estou certa de que ela se dará conta de quem é ele muito em breve.

Lori não estava tão segura de que aquela moça fosse tão afortunada como tinha sido Sally.

Muito tempo depois de Sally dormir, ela continuava acordada, preocupada com o encontro de Luke e sua tia Jessie.

 

Na manhã seguinte Sally decidiu ir passar o dia coma a família, e partiu depois do café da manhã. Naquelas circunstâncias, Lori pensou que era o melhor que podia fazer. Luke chegou pouco depois das onze, vestido de maneira informal, mas impecável, usava calças cinza, uma jaqueta da mesma cor e uma camisa negra.

-Estou bem? -perguntou-lhe.

-Sabe que sim - sorriu, sabendo que se vestiu assim para agradar a sua tia, e lhe causar boa impressão.

-Você também - falou olhando-a nos olhos. - Venha aqui - ordenou-lhe docemente.

-Acredito que devemos ir - sugeriu timidamente.

-Temos tempo para que me dê um beijo de boas-vindas - pegou-a entre seus braços e a beijou.

Seus lábios se abriram ao sentir às mãos que percorriam seu corpo. O vestido que tinha posto era muito fino e deixava transpassar o calor do corpo de Luke.

Lori se agarrou a seus ombros à medida que uma suave leveza ia tomando conta de seu corpo, dobrou a cabeça quando o beijo se tornou mais profundo. Sentiu, como em sonhos, que Luke lhe desabotoava o vestido. Depois, notou o calor de suas mãos.

-Gatinha, eu te amo - baixou-lhe o vestido até a cintura e beijou um de seus seios, desejoso de lhe provocar e agradar.

Aproximou-se mais dele com acanhamento, dirigiram-se até uma poltrona onde ele se sentou. De novo, seus lábios procuraram seus seios e os acariciaram. Sem se dar conta ela começou a gemer.

-Isso, gatinha. Goza comigo, meu amor.

Estava gozando, não havia outra maneira de descrever aquele fluxo enorme de prazer que a invadia, de repente se deu conta do que estava fazendo. Estava deixando que Luke a tocasse como nenhum homem tinha feito e, o pior de tudo era que estava gostando, que precisava estar entre seus braços.

Conseguiu endireitar-se, ajeitou o vestido, não se atrevia a olhar Luke, embora soubesse que ele estava tão causar pena como ela, o coração batia com força ao sentir suas carícias.

-Eu te amo. Lori - confessou de repente, afastando o cabelo com uma mão. - Eu te amo, somos dois adultos, não temos que nos envergonhar pelo fato de que nos sentimos atraídos um pelo outro. - Fez o amor com seu ex-noivo?

Lori ficou em guarda, dirigiu-se ao espelho de sua penteadeira para escovar o cabelo. Tentava manter a calma, embora parecesse muito nervosa. Como se atrevia Luke Randell a lhe perguntar como foram suas relações com o Nigel? Não tinha direito de lhe perguntar nada. Muito menos sobre o Nigel.

-Lori? -perguntou Luke colocando-se por trás dela.

-Perguntei algo sobre suas relações anteriores?

Ele apertou os lábios e seu olhar se tornou frio.

-É diferente.

-Por quê? Porque fui sua noiva? Olhe Luke, uma relação sexual não tem por que conduzir ao casamento.

-Estou de acordo. Mas é que tenho que saber.

-Por quê? O que ganharia sabendo? -perguntou zangada.

-Tenho que saber Lori - os olhos brilharam e seu corpo ficou tenso como se estivesse à espreita de algum perigo.

-Não! -exclamou bruscamente. - Nunca tive relações com meu ex-noivo. -Está satisfeito?

Deixou escapar um profundo suspiro, como se tivesse descansado depois daquela resposta.

-Sim. Isso me satisfaz. Não posso conter meu ciúme, Lori - reconheceu. - A idéia de te ver com outro homem que não eu seja, desagrada-me.

Pegou sua jaqueta de em cima da cama e lhe olhou com frieza.

-Nunca fiz amor com meu noivo - repetiu enquanto colocava a jaqueta sobre o vestido. - Mas isso foi há cinco anos, Luke. Eu tinha então dezenove anos, era muito ingênua, mas agora sou uma mulher.

-Com necessidades de mulher - acrescentou ele.

-Exatamente.

-Não acredito. Lembra aquela conversa de duplo sentido que tivemos uma vez sobre navegação.

-Também me lembro - sua boca se torceu em um gesto zombador. - Disse que tinha provado.

-Uma vez.

-Várias vezes - retificou. - Agora podemos ir? Minha tia nos espera às doze.

-Não terminei ainda.

-Eu não quero continuar discutindo sobre isto - a voz era fria. - Saí com você só algumas vezes e não tenho por que te dar nenhuma explicação a respeito de minha vida. E se preferir não vir comigo...

-Vou com você! -exclamou pegando sua mão.

Podia ter dito ao Luke que Nigel e ela decidiram esperar casar-se para fazer amor. Também podia lhe dizer que não tinha deixado que nenhum homem a tocasse após isso. Mas pensava que não tinha nenhuma razão para fazê-lo, não tinha por que lhe dar explicações sobre sua vida anterior.

Luke era como todos os homens gostava de ter experiências e se gabava disso, mas a mulher que ia ser sua esposa tinha que ser virgem. Isso não parecia justo, Luke não tinha direito a lhe pedir explicações. Era muito pedir que lhe dissesse a verdade.

Continuaram o caminho em um silêncio total. Luke estava muito zangado. Mudou de humor quando chegaram ao asilo e foi se tranqüilizando a medida que se dirigiam ao apartamento.

-Ao diabo com isso! -exclamou ao chegar em frente à porta, pegou Lori entre seus braços e a beijou com força na boca.

A garota abriu os olhos diante aquela inesperada reação, estava tão surpreendida que não pode protestar.

Os olhos de Luke brilharam de satisfação quando se afastou.

-Importa-me muito pouco que tenha tido centenas de amantes; De qualquer forma vou casar-me com você.

-Foram exatamente noventa e nove.

Refez-se com dificuldade, ninguém os tinha visto. Entretanto, o batom tinha desaparecido de seus lábios.

-Não me provoque, gatinha - ameaçou-a Luke com suavidade. - Ou me sentirei tentado a te levar daqui e a te obrigar a fazer algo mais que gemer!

Ele riu e a garota soube que se divertia vendo como ela se separava de seus braços. Mas essa parte do plano lhe estava escapando das mãos.

Cada vez que Luke a beijava, parecia destruir um pouco mais sua barreira e esse último beijo tinha sido terrível, havia dado muito trabalho romper o feitiço. Estar no apartamento sem medo das interrupções de outros era muito perigoso. Teria que fazer o que tinha feito na noite anterior. Não devia ficar a sós com ele.

Acreditava que continuava o odiando, mas não estava certa. A pesar do ódio que sentia pela a família Randell. Luke a atraía cada dia mais.

Sua tia estava regando as plantas quando entraram, sem voltar-se, disse:

-De novo chega tarde. Francamente Lorraine, como é impontual! O que pensará de você seu chefe?

-Não tenho nem a menor idéia - falou.

Lori dirigiu Luke um olhar lhe pedindo compreensão, mas, pela expressão de seus olhos, viu que a anciã tinha gostado dele. Claro, os dois eram dois cabeças dura.

-Ele pensa-disse Luke devagar em tom de brincadeira, - que é a mulher mais linda que viu em sua vida e que gosta de chegar ao trabalho depois do almoço, pode fazê-lo.

-O terei em alta conta - advertiu-lhe ela em voz baixa.

-Sempre e desde que for comigo com que passe a manhã.

A tia Jessie se voltou e o olhou com olhos críticos.

-Acreditei que havia dito que o senhor Hammond era casado e tinha um filho - disse-lhe escandalizada.

-E é e tem um filho - falou Lori divertida; Paul e Luke eram quase da mesma idade.

A tia Jessie voltou a olhar Luke, seus olhos azuis deixaram transparecer interesse. E Lori sabia por que. O único homem que tinha lhe apresentado era Nigel e, como não gostou, foi um fracasso. Mas não parecia sentir a mesma aversão pelo Luke. Tinha-lhe doído que a sua tia não gostasse do Nigel e, entretanto, com o Luke parecia encantada.

-Então não é ele - compreendeu a tia. - É Jonathan?

Lori se deu conta de que Luke ficava tenso; sabia que a só menção daquele nome o deixava ciumento.

-Não, tia, tampouco é Jonathan - sorriu. - É meu novo chefe. Luke Randell.

As últimas palavras pronunciou timidamente, temendo que sua tia lembrasse do sobrenome. Não pareceu lembrar já que os dois estenderam as mãos. Luke lhe entregou a planta que tinha comprado de presente.

A anciã pareceu satisfeita com o detalhe e lhe sorriu.

-Você é muito amável.

Lori abriu os olhos diante a forma coquete como sua tia agradecia. Luke tinha impressionado bem.

-Não há de que - respondeu com suavidade. - Cheira muito bem, a comida deve estar deliciosa.

-Lorraine pode dar uma olhada na comida enquanto nos sentamos aqui para conversar um pouco.

-Pode? -perguntou a Lori sorrindo.

-Sim pode - tia Jessie a olhou por cima dos óculos.

Não pôde evitar rir diante daquela expressão de severidade.

-Faz muitos anos que esses olhos deixaram de me intimidar - riu. - Mas irei dar uma olhada na comida, trouxe um bolo para a sobremesa.

Levou o prato para a cozinha e voltou a cabeça ao chegar à porta para ver como sua tia e Luke se acomodavam cada um em uma cadeira.

-E não lhe conte nenhum de meus segredos - advertiu-lhe em tom de brincadeira, mas com uma força porque sabia que sua tia seria capaz de entender.

-Você não tem nenhum segredo. Exceto provavelmente aquele espantoso homem com quem esteve comprometida - falou pensativa.

-Tia Jessie! -exclamou indignada.

-Me conte - pediu-lhe Luke à anciã.

-Bom aquele homem...

-Tia Jessie, por favor!

Lori não queria que Luke soubesse nada sobre Nigel. Nigel era para ele um homem a mais que ela tinha abandonado; se sua tia lhe contasse a verdade, ele saberia quem tinha sido ela.

-Conte quão terrível eu era de pequena, e o quanto fui boa nos estudos, mas por favor deixa o Nigel de fora disto – disse em tom severo à tia.

-Está bem. Agora vá olhar a comida antes que queime.

Lori escutou a gargalhada de Luke enquanto tirava a carne do forno. A tia Jessie e ele deviam estar divertindo-se muito.

O mesmo aconteceu durante o almoço; ele e sua tia pareciam divertir-se as custa dela.

-Bom, espero que você seja bom com minha Lorraine - advertiu-lhe a tia, quando iam partir. –Por baixo desta máscara de dureza há uma garotinha que sofreu muito no passado.

-Tia Jessie! -exclamou ela empalidecendo.

-Minha intenção é ser bom com ela - assegurou-lhe Luke à anciã. -Tão bom como qualquer marido apaixonado por sua mulher.

-Luke!

-Fique quieta Lorraine - ordenou-lhe a tia com impaciência. - Se não tem algo mais sensato que dizer, além de nossos nomes, dessa maneira tão ridícula, é melhor se calar - olhou Luke por cima dos óculos. - Então quer casar-se com minha sobrinha-neta?

-Logo que me aceitar.

-Está-lhe criando problemas, não é verdade?

-Muitos - respondeu sorrindo ao ver as dificuldades que estava Lori tendo para conter seu mau humor.

-Não se preocupe você tem um caráter forte - disse a tia Jessie com satisfação. - Mais que o outro pretendente.

-Tia Jessie, temos que ir - interrompeu-a Lori.

Até esse momento tinha transcorrido tudo uma maravilha, mas não podia permitir que sua tia começasse a falar do Nigel.

-Não gosta que eu fale desse homem. Não me surpreende. Mas não era o homem adequado para ela. Não teve garra suficiente para...

-Tia Jessie! -exclamou Lori exasperada.

-Temos que ir - disse Luke. Rodeou com seus braços a cintura de Lori e assim se dirigiram até a porta. - Estou encantado em conhecê-la Jessie. Espero poder chamá-la logo de tia Jessie.

Lori mal pôde conter a surpresa quando, ao retornar da cozinha, escutou-lhe chamá-la de Jessie pela primeira vez. Sua tia viu Nigel durante quase um ano e, entretanto, sempre insistiu em que a chamasse senhorita Chisholm. Luke parecia ter obtido o impossível, deixar a tia encantada em questão de minutos.

-Tem-me cansado bem - confessou-lhe Luke de volta à cidade.

-Provavelmente devesse se casar com ela, se parece mais com ela do que eu – se manifestou arrogante.

Luke apertou os dentes.

-Eu gosto muito de velhinhas comentou. — Mas acredito que não lhe está fazendo nenhum favor para sua tia falando assim de dela.

Lori ruborizou ante suas palavras, sabia que as merecia.

-Você também tem me cansado bem - respondeu-lhe áspera. – Perdoa o que disse antes, às vezes não meço minhas palavras.

E mudou de assunto.

-Entretanto, não gostava de seu ex-noivo.

-Não.

-Por que não?

A garota aparentou indiferença.

-Não tenho a menor idéia. Provavelmente porque ele não fez tanto charme - acrescentou com má vontade.

De novo o rosto de Luke escureceu.

-Não tentei impressionar ninguém, por que tenho às vezes a impressão de que não te agrado? -perguntou devagar.

Lori ruborizou. Estava dando rédea solta a seu caráter e revelando seus próprios sentimentos para aquele homem, e assim nunca obteria o que queria. Nesse momento, ele estava muito apaixonado, mas se chegasse a adivinhar seus planos, o amor que sentia por ela se transformaria em ódio.

Até esse momento tinha mostrado seu lado bom, mas a garota suspeitava que quando se zangava devia ser terrível.

-Está imaginando coisas manifestou com voz fraca.

-Acha? -perguntou zangado.

-É obvio - deixou que ele colocasse a mão na coxa, sentindo seu instantâneo estremecimento. - O que outra razão teria para sair com você se não fosse porque eu gosto?

-Pois sim, qual outra? -perguntou-se pensativo.

-Não estraguemos o dia com mais discussões, Luke.

Luke pareceu relaxar-se.

-Brigamos muito, não acha? Continuaremos discutindo assim quando nos casarmos?

-Ainda não aceitei.

-Não - sorriu ele com tristeza. - Mas seguirei pedindo até que me aceite.

-Não te parece que agora sou eu quem deve conhecer sua família antes de me decidir? -propôs com tranqüilidade, como se a idéia acabasse de lhe ocorrer.

-A única família que tenho é meu pai - disse com expressão triste. - E não acredito que valha a pena que o conheça.

Ela abriu os olhos desmesuradamente, a separação entre pai e filho devia ser muito maior do que Claude lhe disse em a principio e aquilo não era nada bom para seus planos de vingança.

-Por que não?

Luke não parecia escutá-la, estava imerso em seus próprios pensamentos. Em seu rosto se refletia uma grande preocupação; tinha os lábios apertados, formando uma linha muito fina.

Lori estava muito confusa. Aquilo não tinha ocorrido.

A única coisa que queria era conhecer seu pai, e não podia permitir que ele se negasse a apresentar-lhe Não se daria por vencida; tinha ido muito longe para desistir.

-Por que não? -insistiu diante do prolongado silêncio de Luke.

-Desde que cheguei dos Estados Unidos só o vi uma vez no domingo depois do casamento do Paul, e não encontro nenhuma razão para repetir a visita tão cedo.

Não era possível que lhe estivesse ocorrendo aquilo depois de tudo o que tinha feito para chegar tão longe.

-Eu gostaria de lhe conhecer, Luke - disse, com fingido entusiasmo.

-O grande Jacob Randell! -exclamou.

-É seu pai - corrigiu-lhe docemente diante sua amargura.

-Nunca foi um pai para mim. Não foi como outros pais com seus filhos. Quando menino, poucas vezes lhe via. Minha mãe preferia morar no campo, meu pai passava a maior parte do tempo em Londres. Foi tudo o que pôde fazer por mim até que me graduei.

Seu olhar estava cheio de lembranças dolorosas.

-Entretanto, também se tornou advogado.

-O que ia fazer se não fosse? Eu não queria. Mas ao filho do Jacob Randell não restava outra coisa que não ser advogado. Durante um tempo o admirei e quis entrar para trabalhar em seu escritório.

-E por que não o fez? -perguntou-lhe interessada.

-Digamos que me decepcionou a forma como fazia as coisas.

-E por isso foi para a América?

-Sim.

-Então, acha que não devo lhe conhecer?

-Sim.

-Então, chamarei-o. Provavelmente possamos lhe ver no próximo fim de semana.

Lori assentiu sem poder acreditar que estivesse tão perto do momento de conhecer homem que odiava desde os doze anos.

-Eu adoraria.

-Não sei por que. Lembra que se vai casar comigo não com ele.

Reprimiu uma careta repulsiva diante da idéia de estar casada com Jacob Randell e aceitou de bom grau o oferecimento de Luke de parar comer em algum lugar.

Essa noite não foram a um restaurante tranqüilo, e sim a um ruidoso; as mesas estavam colocadas ao redor de uma pista de dança, onde uma moça cantava.

Luke a se divertir, como se quisesse afastar a lembrança de seu pai da mente. Os pensamentos evocados pelas perguntas de Lori tinham trazido lembranças de coisas que preferia esquecer.

Os protestos da garota, no sentido de que não estava bem vestida para um lugar assim, foram sossegados pela decisão de Luke, devido ao seu estado de ânimo, ela decidiu lhe agradar.

Pela primeira vez desde que o conheceu se deu conta de que observava as olhares femininos. Mulheres de todas as idades o observavam. Até vestido de maneira simples era atraente, alto e com a aparência de uma estrela de cinema.

Lori se deslumbrou ao ver algumas personalidades; alguns dançavam na pista, outros estavam sentados nas mesas. Luke não parecia se afetar com o fato de estar rodeado de gente famosa.

Tinham terminado de jantar e dançavam muito devagar, quando uma mulher chamou aos gritos por seu nome. Quase arrastando o casal ao seu lado, chegou até ele, Luke deixou de dançar para voltar-se.

-Margot! -saudou Luke com ar familiar, sorrindo.

A mulher não se incomodou em reprimir seu prazer, lançou-se excitada em seus braços e beijou o surpreso Luke na boca.

Lori permaneceu atrás dele ao reconhecer à outra mulher. Era Margot Phillips, a irmã mais nova do Nigel.

 

Ela tinha dezesseis anos quando Lori a viu pela última vez; era uma menina mimada, que não se preocupou em esconder a aversão que sentia pela noiva do Nigel.

Tampouco Lori se deu bem com sua futura cunhada. O ataque verbal da Margot quando teve a oportunidade de ficar a sós com ela abortou toda possibilidade de amizade entre elas.

Mas isso fazia cinco anos, e a promessa de beleza da Margot tinha florescido; era muito atraente, tinha o cabelo loiro como seu irmão, e os olhos azuis, muito alegres.

Sim. Margot tinha se convertido em uma linda mulher, e podia muito machucar Lori. Com apenas algumas palavras, aquela mulher podia revelar a Luke sua verdadeira identidade, e jogar por terra todos os seus planos.

-Estou muito contente de te ver! -Margot olhava para Luke ignorando por completo à mulher que o acompanhava. - Quando voltou dos Estados Unidos?

-No mês passado - respondeu Luke, pondo Lori em frente a ele.

Margot a olhou com curiosidade, sem mostrar o menor sinal de reconhecimento.

-Margot - disse-lhe o homem que tinha a seu lado, - Os outros já se vão.

Olhou-o zangada e voltou à cabeça para a mesa onde estavam se levantando várias pessoas decididas a ir embora. Lori olhou o grupo com horror, temia que Nigel fosse um deles. Mas não, ele estava de lua de mel.

-Tenho que ir - disse Margot com pena, lançando a Lori um frio olhar. - Me ligue. Tem nosso número?

-Sim - sorriu Luke.

Margot lhe beijou nos lábios uma vez mais.

-Me alegro de que esteja de volta. Luke! -exclamou Margot antes de permitir que a acompanhasse até lá fora.

Lori sentiu as mãos suadas quando voltou a olhar Luke; sugeriu-lhe com acanhamento que fossem, dando a desculpa que tinha que ir trabalhar no dia seguinte.

-Margot não te gostou, não é verdade? -perguntou, enrugando a frente ao notar o silêncio dela durante a volta a casa.

-Não diga isso...

-Conheço-a desde que éramos crianças - explicou-lhe Luke.

Isso era o que ela temia. Como não tinha ocorrido pensar que Luke podia conhecer os Phillips?

-Estive na faculdade com seu irmão Nigel - acrescentou. - Fomos muito bons amigos naqueles tempos.

Aquilo estava se complicando. Também era um bom amigo do Nigel. Lori pensou que ela tinha se colocado sozinha em uma armadilha da qual ia ser muito difícil sair.

-Casou-se faz algumas semanas, eu não fui. Não o viu nos jornais?

-Não - negou com a voz abafada.

-Parece que todos os meus amigos estão se casando quando eu pensava que eram solteiros inveterados. Nigel esteve a ponto de casar-se faz alguns anos - apertou a boca, - mas rompeu seu compromisso antes do casamento e fez bem!

Lori ficou pálida ao ouvi-lo falar de seu fracassado matrimônio. As palavras de Luke demonstravam dureza indicando que ele aprovava o que Nigel tinha feito.

-Por quê? -perguntou com frieza.

-Não tenho a menor idéia.

Lori se deu conta de que Luke estava mentindo. Ele sabia muito bem por que não chegou a celebrar-se aquele matrimônio.

-Deu trabalho reconhecer Margot. Devia estar com quatorze anos à última vez que a vi. Que lindas ficam as mulheres!

-Sim - disse ciumenta por seu elogio a Margot.

Luke riu brandamente.

-Margot é para mim uma menina, Lori.

-Também era Marilou.

Lori tinha a certeza de que ele estava muito contente, pois supunha que ela estava ciumenta e isso o agradava.

-Nem todas são meninas, Luke. E Marilou não atuava como uma menina. Tampouco Margot, por isso...

-Oxalá fosse você assim impetuosa! -exclamou com voz exaltada.

-Ainda o surpreendo um dia.

-Morro para que chegue esse dia.

O surpreenderia, e logo. Mas não ia ser a surpresa que ele desejava.

Lori saiu com o Luke três noites durante aquela semana, negou-se a lhe ver todos os dias. Uma vez foi ao cinema com a Sally e a outra ficou em casa lavando roupa. Luke riu quando se negou a sair com ele porque tinha que lavar roupa; entretanto na noite que saiu com a Sally, não ficou muito convencido. Parecia acreditar que ela ia ver outro homem.

Na terça-feira foram visitar o Claude, lhe prometendo voltar no sábado, antes de ir ao teatro ver a última obra do Tom Stoppard, depois iriam jantar.

Luke bebia seu vinho devagar olhando Lori por cima da borda da taça.

-Chamei meu pai esta manhã.

Tremeu-lhe a mão ao levar a taça à boca. Luke não havia tornado a falar de seu pai e ela pensou que tinha esquecido a promessa que lhe fez de apresentar-lhe apartamento.

Fazia alguns dias estava muito fria com o Luke, ele tinha se dado conta e por isso estava de mau humor.

No domingo de noite comprovou que efetivamente, perdia a cabeça quando ele a beijava, esteve a ponto de ir a seu apartamento, embora reagisse a tempo. Sua debilidade diante daquele homem a assustava, e evitava, sabiamente, estar a sós com ele em situações perigosas. Mas com o Luke todas as situações eram perigosas.

-O que ele disse? -perguntou em tom pausado.

-Pouca coisa - suspirou Luke colocando o copo na mesa. - Nunca o faz.

-Falou de mim? -Lori conteve a respiração

com a idéia de encontrar-se com seu inimigo depois de tantos anos lhe causava um leve calafrio nas costas.

-Claro que sim - disse Luke em tom cortante. - É a única razão pela qual o chamei.

Luke estava de muito, mau humor nos últimos dias, e Lori sabia que era a causa de sua atitude. Estava certa de que era a primeira vez que uma moça resistia. Ele nunca tinha pensado em estabelecer relações sérias com nenhuma mulher, as mulheres que tinha estado antes eram para se divertir. E a abstinência sexual não melhorava em nada seu humor.

-Iremos vê-lo amanhã - exclamou Luke rompendo o silêncio.

-Não lembro que tenha me pedido isso.

-E não vou fazer - comentou zangado. - Foi sua idéia, ao menos o que pode fazer é me acompanhar.

-Eu...

-Vamos - interrompeu-a bruscamente e pagou a conta.

-Luke...

-Não agüento mais.

O garçom se aproximou, preocupado, ao ver que os dois clientes partiam antes de acabar o jantar. O pobre homem se deteve a meio caminho, ao ver o frio olhar que Luke lhe enviou.

Lori abandonou o restaurante ruborizada, estava certa de que todos teriam adivinhado a razão pela qual saíam do lugar com tanta rapidez. Jamais havia se sentido tão irritada.

-É imperdoável! Nunca tinham humilhado me desta maneira! -exclamou entrando no carro. Luke estava tenso quando se sentou junto a ela. -Luke, ouça-me...

-Sim - exclamou chateado.

Lori sentiu que, essa noite, não era ela quem controlava a situação. Luke tinha chegado ao seu limite e, ao que parece, aquela visita não desejada a seu pai era a causa.

-Se não quiser, não visitamos seu pai - conteve o fôlego e esperou a resposta, sabia que tinha que dizer, não restava outro remédio.

-Já liguei para ele - disse-lhe sem olhá-la. – Falei de você e quer te conhecer.

Ela também queria lhe conhecer. Era o homem que temia desde pequena, que odiou quando cresceu e em sua imaginação ele tinha adquirido proporções gigantescas. Lembrava-se de uma versão mais velha de Luke, mas disso fazia doze anos.

-Fico contente! -exclamou hipocritamente.

-Então, virá amanhã comigo?

-Se for isso o que quer...

-O que eu quero não parece importar muito neste assunto. Sally está em casa? -perguntou de repente.

-Não - respondeu com cautela, sabia a razão da pergunta. Mas não podia mentir, além disso, ele averiguaria. - Saiu com um amigo de seu irmão.

Estava contente de que Sally tivesse aceitado o convite de um velho amigo de seu irmão. Não era um encontro formal, mas ao menos fazia esforço de sair, prova de que podia refazer sua vida.

Tinha utilizado a Sally como pretexto para impedir que Luke fosse ao apartamento durante toda a semana, mas essa noite teria que convidar.

-Quer tomar uma xícara de café? -perguntou.

-Não, se não oferecer nada mais - respondeu cortante.

Era uma advertência. Se aceitar o convite dela era porque pretendia fazer o amor. Tomava ou o deixava! Mas se deixasse corria o risco de perder Luke.

-Se dar tanto trabalho decidir, não me incomodarei - comentou em voz alta ao deter o carro em frente à casa. - Provavelmente devemos propor a visita ao meu pai, quando estiver mais segura de seus pensamentos. O fato de que o ver a leve a se compromete, e ficaria muito mal se lhe disser isso, dentro de algumas semanas, que tudo terminará entre nós.

-Sabe que isso não acontecerá.

-Sei? Nem sequer sei se estar apaixonada por mim. Não estou acostumado a lutar tanto pelo que desejo Lori - confessou, - e começo a me cansar...

Era isso o que ela temia. Entretanto, se aceitasse suas exigências, sabia que, depois de fazê-la sua, ele já não iria querer casar-se com ela.

-Acredito que tem razão, Luke. Devemos cancelar a visita ao seu pai - disse-lhe com frieza, abrindo a porta do carro. - Até que você esteja mais seguro de seus sentimentos. Neste momento eles parecem estar só concentrados entre suas pernas.

Bateu a porta ao sair, dirigindo-se ao edifício sem voltar à cabeça.

Passaram se alguns minutos antes que ele tocasse a campainha. Lori soube em seguida que tinha que ser Luke, seu carro continuava estacionado na porta.

-Provavelmente seja verdade que só penso em sexo.

Foi à primeira coisa que disse quando lhe abriu a porta.

-Mas estou obcecado, nem sequer sei que dia da semana é... Claro que te quero gatinha. Não poderia estar apaixonado por você e não desejar fazer amor. Esteve me tentando durante toda a semana, me negando o prazer de te tocar. Preciso te tocar Lori. Preciso fazê-lo o tempo todo.

De repente, sem saber como, encontrou-se estendida no sofá, com Luke junto a ela, ele tinha tirado a jaqueta e seu vestido jazia sobre o chão. Seus ágeis dedos conseguiram lhe desabotoar a camisa.

Luke começou a acariciar os seios, com tal suavidade que quase a deixou sem respiração. Sua pele ardia pelo contato de suas mãos, que seguiram percorrendo todo seu corpo sem recato.

Ela começou a beijar seu peito, ouviu-lhe gemer quando lhe acariciou uma perna, todas as partes de seu corpo.

As mãos de Luke posaram sobre suas suaves coxas e uma febre a envolveu fazendo-a estremecer.

Estava imersa em uma nuvem de paixão, quando ele a levantou para levá-la ao quarto. Lori colocou os braços ao redor de seu pescoço para lhe acariciar e atraí-lo para si.

Mas em vez de deitar-se junto a ela, lhe beijou a testa com suavidade e depois se ergueu, olhando-a com olhos apaixonados.

-Durma bem, meu amor! -disse com voz emocionada.

-Vai...? -não podia admitir que o desejo, a paixão que a sufocava não fosse satisfeita.

Assentiu.

-Tenho que demonstrar que é amor o que sinto por você, não é só desejo.

Dirigiu-lhe um olhar compreensivo, enquanto se sentava na borda da cama.

-Não há coisa que deseje mais que me perder em seu corpo e fazer amor. Mas tenho que deixar claro que desejo não só seu corpo, mas também seu amor - levantou-se para abotoar a camisa. - Eu te amo. Lori e se isto não for prova suficiente, dou-me por vencido.

Sabia o esforço que havia feito ao não consumar o ato sexual, podia ver em seus olhos.

-É prova suficiente - assegurou ela comovida.

Luke sentiu um nó na garganta ao ver os formosos seios nus, mas, com esforço deu um passo atrás.

-Quero sua resposta agora. Lori. Não posso esperar mais. Casara-se comigo?

-Sim - não duvidou sabendo que ele a amava tanto como ela tinha desejado para levar a cabo sua vingança.

Então, por que se sentia deprimida, quando deveria estar contente?

Luke fechou os olhos, um fundo suspiro foi à prova de seu alívio diante da resposta dela e se inclinou junto à cama para lhe dar um doce beijo na boca.

-Me diga - insistiu.

Sabia o que ele queria que ela dissesse, entretanto se negava a mentir, dando-se conta de que Luke era muito mais inocente do que ela pensava.

Tinha decidido se vingar do Jacob Randell através de seu filho, mas nunca tinha lhe ocorrido pensar nos sentimentos de Luke.

Ele era um homem que não se apaixonava com facilidade: entretanto, nunca ocultou seu amor por ela. Amava-a, e sofreria um golpe muito duro quando tivesse que terminar.

Por que não teria pensado antes de metê-lo nisso? Não levou em conta Luke. Em nenhum momento lhe interessou o que pudesse acontecer ao se vingar de seu pai.

Mas lhe importava mais do que tinha imaginado.

-Eu te amo - disse-lhe e soube que era a verdade. Apaixonou-se pelo Luke sem se dar conta: amava o filho da pessoa que mais odiava. Luke não era um homem que perdoasse facilmente. Quando soubesse a verdade, iria destruí-la com a mesma frieza que ela quis destruir seu pai.

-Eu te amo Luke! -levantou os braços e lhe atraiu para si. Tinha os olhos cheios de lágrimas enquanto lhe beijava com doçura.

O que podia fazer? Como poderia deter seus planos de vingança, que estavam voltando-se contra ela da maneira mais cruel.

 

Lori não pôde dormir na véspera da visita ao pai de Luke, pela manhã estava muito alterada. Luke partiu pouco depois de que lhe dissesse que o amava. Quando Sally chegou, decidiu fingir que dormia para não ter que responder a suas perguntas.

Passou toda a noite chorando. Quando aconteceu? Como? Não soube; a única coisa que sabia era que quando Luke desaparecesse de sua vida, ela desejaria morrer.

Era como se vivesse um desses terríveis pesadelos que a afligia fazia tempo. Mas o sonho tinha terminado, e o único que ficava era a contundente realidade de seu amor pelo Luke.

Queria-lhe, amava tudo o que representava a cor castanha de seu cabelo, no qual apareciam algumas mechas, o tom de seus olhos cinza quando a olhava, seu forte nariz, a atrativa curva de sua boca e a esbeltez de seu corpo. Amava a rapidez de sua mente, sua força e autoridade. Queria-lhe, e sabia que ele a amava de maneira igual.

Mas estava no torvelinho da vingança, a qual, finalmente, destruiria o amor que Luke sentia por ela. Não havia maneira de deter aquele louco espiral a que conduzia sem remédio ao seu plano, o final estava fora de seu controle. Seria amargo, porque esse maravilhoso homem já tinha dado sua opinião sobre Lorraine Chisholm, por sua reação ante a ruptura do Nigel.

Quando soubesse que ela era Lorraine Chisholm nunca a perdoaria. Não tinha dúvida de que o amor de Luke era sincero, mas uma vez que soubesse quem era ela... tremeu de medo.

-Aconteceu algo, querida? -Luke a olhou preocupado ao senti-la tremer. - Sinto ter dado uma impressão equivocada. Meu pai não é exatamente um ogro. Não nos damos bem, mas estou certo que você o adorará - riu. – Ele gosta das mulheres lindas.

Lori mordeu o lábio inferior. Temia que a reconhecesse. Tinham se passado doze anos. Doze longos anos durante os quais tinha deixado de ser uma jovem confusa para tornar-se uma mulher segura. Entretanto, basicamente, sua aparência continuava sendo a mesma. Tinha amadurecido, mas continuava tendo as mesmas feições.

-Não se preocupe, gatinha - Luke lhe acariciou a face, - eu estou do seu lado.

Necessitaria de apoio quando tivesse que enfrentar Jacob Randell.

A casa frente à qual deteve o carro se encontrava a uns cinqüenta quilômetros de Londres, em um pequeno povoado tranqüilo de Surrey; era de um tom branco igual a todas as demais.

Luke saiu do carro para abrir a porta para Lori.

-Não era precisamente o que esperava de Jacob Randell, não é verdade? -disse em tom de brincadeira.

Francamente não. Mas se a casa a tinha surpreendido, Jacob Randell a surpreendeu ainda mais. Estava em uma cadeira de rodas!

A faxineira os acompanhou até o jardim, onde Jacob Randell estava lhes esperando. Tinha o cabelo completamente branco; os olhos cinza, que antes foram penetrantes e pareciam chegar à alma das pessoas, tornaram-se tristes e refletiam cansaço.

A única coisa que Lori pôde sentir por aquele homem foi pena, riu de seus próprios desejos de vingança.

-Espero que me desculpe por não me levantar. Mas como vê, é impossível - sorriu diante das suas palavras.

-Sim, já me dei conta.

Ao vê-lo experimentou uma grande compaixão, coisa que tinha lhe parecido impossível de sentir por aquele homem. Lembrou o refrão que dizia que quanto mais alto sobe, pior é a queda. Sem dúvida Jacob Randell tinha caído.

-Tem uma linda casa, senhor Randell.

-Sim - suspirou sem impressionar-se e se voltou para seu filho. - Esta é a moça que queria que eu conhecesse.

Lori olhou para Luke, um Luke que jamais tinha visto. Parecia ausente, olhava seu pai sem demonstrar através de sua expressão sentimento algum.

-Sim, ela é Lori - moveu o braço para rodear sua cintura. - Minha noiva.

-Sério? -Jacob Randell a olhou com olhos diferentes.

Ficou tensa diante da inspeção. Reconheceu-a como a filha de Michael Chisholm? Poderia reconhecê-la sob o sofisticado disfarce de Lori Parder? Não estava muito segura de poder controlar a situação se a reconhecesse, afastou-se instintivamente de Luke, sentindo como o braço dele se apertava mais a sua cintura.

-Como de costume, Luke, tem um gosto impecável - disse-lhe o pai. - Poderia ir pedir à senhora James que nos sirva o chá?

Luke pareceu ficar indeciso; depois assentiu devagar e olhou Lori com pesar, antes de dirigir-se a casa para procurar à faxineira.

-Sente-se, querida.

Voltou-se, nervosa, para Jacob Randell, o temor brilhou em seus olhos ao ver a saída do Luke.

-Não sou tão temível. Ou sim, Lori? -Jacob Randell brincava do nervosismo dela.

A garota umedeceu os lábios enquanto se sentava em uma das cadeiras do jardim.

-Este... eu, o que quer dizer?

-Está um pouco pálida - sorriu inquisitivo.

Ela conhecia muito bem esse sorriso.

-Chama-se Lori, não é?

Era um homem magro, tinha perdido sua antiga força, condenado a permanecer em uma cadeira de rodas. Tinha o rosto marcado pelos anos e a amargura retratada em seus olhos.

-Ou só meu filho a chama assim?

-Não, não - respondeu com voz alta. - Meu nome é Lori.

-Estranho.

Suas bochechas avermelharam e o olhou preocupada.

-Sim.

-Assim desejas se casar com meu filho.

-Sim - assentiu, sabendo que nunca poderia ser a esposa de Luke.

-E quando será o casamento? -perguntou enrugando o cenho.

-Este... ainda não marcamos uma data -ruborizou-se.

-Não?

-Comprometemo-nos ontem - explicou agitada.

Jacob Randell voltou a sorrir.

-Meu filho não acostuma perder tempo uma vez que decidiu fazer algo.

Não lhe ocorreu nenhuma resposta, sabia que isso era certo, ela mesma tinha sido vítima de sua impaciência.

-Sua prometida não parece estar muito a vontade comigo - comentou ao filho.

Lori fechou os olhos tranqüilizada ao se dar conta de que Luke se aproximava. Sorriu ao ver que ele arqueava as sobrancelhas em uma atitude de interrogação.

Sentou-se junto a ela e pegou a mão entrelaçando seus dedos com os dela.

- Meu pai esteve brincando com você? -perguntou-lhe preocupado.

-Pois...

-Desde quando fui eu um brincalhão, Luke? -falou o pai, tenso.

-Nenhuma vez - respondeu Luke. - Lori?

Ela franziu o cenho, não queria ser a causa de uma discussão entre pai e filho, embora soubesse que Luke e seu pai não necessitavam de nenhum motivo para iniciar uma discussão.

-Seu pai e eu estávamos conversando - assegurou-lhe com voz firme.

-Eu perguntava a Lori quando ia ser o casamento – comentou o pai.

O olhar de Luke posou no pai

-Te avisarei quando Lori e eu tenhamos marcado a data. Irá?

-É claro - assentiu o pai, tenso.

-É claro - repetiu Luke.

O antagonismo entre os dois homens diminuiu um pouco enquanto tomavam o chá, servido por uma gorda mulher que retornou a casa assim que deixou a bandeja na mesa.

-Vejo que continua aterrorizando à senhora James comento Luke enquanto Lori lhe servia chá.

-Ainda corre como um coelho assustado se for a isso que se refere - o pai riu ante a ocorrência do filho.

A cena dos três no jardim teria parecido muito agradável a qualquer pessoa que fosse alheia a eles, só Lori parecia se dar conta do que acontecia entre pai e filho de seu nervosismo e da bomba que dormia neles, esperando explodir.

Sentiu-se tranqüila quando Luke anunciou a partida uma hora depois. Levantou-se com rapidez.

-Sua futura noiva parece estar desejando ir - murmurou Jacob olhando-a com olhos zombadores. - Acredito que lhe parecemos entristecedores juntos:

-Muita gente pensa - comentou Luke. - Minha também mãe acreditava.

A expressão do pai se endureceu.

-Não deixe sua mãe de fora desta conversa.

-Sim é melhor - assentiu Luke. - Avisarei para que venha ao casamento.

-Foi um prazer te conhecer, Lori - disse Jacob controlando a ira que seu filho tinha despertado nele fazia alguns momentos.

Luke não disse nada no trajeto de volta a Londres. Lori se afundou em seus pensamentos. O encontro com o Jacob Randell tinha sido terrível, como ela tinha imaginado.

Mas tinha deixado de temer ao onipotente Randell; era um velho amargurado que só lhe inspirava lástima. Estava pacote a uma cadeira de rodas sem o amor de seu filho. Tudo o que ficava eram lembranças de sua passada carreira e uma aterradora solidão.

-Não sabia que seu pai estava em uma cadeira de rodas - olhou Luke, muito séria.

-Não gosta de divulgar e se tiver que ser justo, eu quase nem notei - disse. - Não parece existir nenhuma diferença, é o mesmo de sempre. Segue tendo uma língua ferina!

-Como aconteceu?

-Um acidente automobilístico. Minha mãe morreu nele - acrescentou Luke com voz rouca.

-Sinto muito.

-Eu também, devia ter sido ele, não ela. OH! sinto muito! -exclamou, ao ouvir que ela deixava escapar uma exclamação de horror. - Quando visito meu pai sempre me fico de mau humor. Já se deu conta de que não há amor entre nós.

-Sim.

Ele respirou fundo.

-Já lhe conheceu... Está contente?

-OH Luke! -entrelaçou suas mãos angustiada. - Tivesse querido...

-Já sei - os dedos dele procuraram os dela.

Mas não sabia; não podia conhecer a amargura que a invadia desde muito tempo, e que seu amor por ele tinha conseguido enterrar. Poderia ter vivido com esse ódio e terminar velha e amargurada como Jacob Randell.

Tremeu ao pensar; pensou com ironia que quem a tinha salvado desse destino tinha sido o próprio Luke Randell. Era possível que no final perdesse Luke, mas nunca mais seria uma mulher cheia de ódio, temerosa de amar.

-Acha que sou igual a ele? -perguntou Luke em voz baixa.

-Não. Você não é como seu pai – isso ela tinha compreendido tarde, muito tarde!

-Vamos amanhã comprar seu anel de noivado?

-Amanhã?

-Não há por que esperar – encolheu os ombros. - Pobres Paul e Nikki! Vão se deprimir quando voltarem. Claude no hospital, e você e eu comprometidos.

-Poderíamos manter em segredo um pouco mais? –perguntou Lori suplicante.

Franziu o cenho.

-Por quê?

-Porque, bom, não estamos há muito tempo saindo juntos - sorriu nervosa. - Pensei que provavelmente poderíamos...

-Quero que todos saibam que me pertence. Uma pessoa em particular - acrescentou, sorrindo.

Compreendeu imediatamente a quem se referia.

-Jonathan. Mas se você souber que não significa nada para mim, Luke - afirmou a garota.

-Não estarei seguro disso até que tenha eliminado todo vestígio de outro homem em seu coração. E vou fazer Lori! -exclamou. - Custe o que custar.

-Luke - umedeceu os lábios com a ponta da língua tragando saliva. - Não há nenhum homem, nunca houve, nem em meu coração.

Descobriu que nunca tinha amado Nigel; o que sentia diante da possibilidade de perder Luke não podia comparar mais com o que sentiu quando Nigel decidiu abandoná-la.

-Menti com respeito a isso.

-Por que? -perguntou.

-Porque eu... eu...

-Porque fui um arrogante - respondeu ele imediatamente. - Mas provavelmente não devia me dizer a verdade, gatinha - sorriu com uma careta.

Ela abriu os olhos.

-Por que não?

Olhou-a apaixonadamente.

-Porque tentava te levar para casa comigo para te demonstrar o quanto te amo. Agora acredito que devemos esperar.

-Não! Não. Luke. Quero ir para sua casa – as faces dela ficaram vermelhas ao ver o rosto de surpreso dele.

Luke ficou sem fôlego.

-Está segura? -perguntou emocionado.

-Muito segura.

Lori pensou que nunca voltaria a ser a mesma mulher, fria e calculista de antes, apaixonou-se, seus planos de vingança se viraram contra ela, e sabia que teria que sofrer as conseqüências de sua própria debilidade.

Luke pisou no acelerador até o fundo.

-Espero que não tenha uma multa por excesso de velocidade - murmurou conduzindo com rapidez.

Lori riu feliz ao seu lado, seus olhos brilharam com uma felicidade jamais conhecida por ela. Não se sentia nervosa nem sequer quando entrou no apartamento de Luke. Era enorme, quatro vezes maior que seu apartamento.

Mas não lhe importou; a única coisa que desejava era sentir o amor de Luke; sabia que sua felicidade não ia durar muito tempo. Ele pegou seu rosto com as mãos e a beijou.

A garota ficou nas pontas dos pés e entreabriu os lábios, acariciou-lhe o cabelo que lhe caía sobre a nuca, apertando os seios contra seu peito.

Luke se deu conta de que as bochechas de Lori estavam um pouco irritadas.

-Preciso me barbear. Não quero marcar todo seu lindo corpo - pegou uma de suas mãos e a levou até o quarto, a luz da lua entrava pela janela. - Dois minutos... depois toda a noite será nossa.

Ficou observando como ele tirava a camisa antes de começar a barbear-se.

De repente, lhe deu vontade de tomar um banho que a relaxasse depois de todas as emoções do dia, antes que ela e Luke fizessem amor.

Tirou toda a roupa e se dirigiu ao banho. Luke reprimiu uma exclamação de desejo ao vê-la nua.

Lori sorriu satisfeita diante da excitação de Luke.

-Vêem comigo - disse quanto estava sob a água morna.

Luke se meteu sem se despir. Tinha o olhar fixo nos lábios dela, suas calças se encharcou em questão de segundos e seu cabelo também quando inclinou a cabeça para beijá-la.

-Tire a roupa - pediu-lhe tremula enquanto Luke lhe beijava a suave pele do pescoço.

-Tire gemeu ele. - Me ame, gatinha.

Jamais tinha despido um homem. Beijou-lhe os ombros, abriu sua calça e a abaixou, tirando de uma vez a cueca negra. Luke ficou nu em frente a ela.

-Me faça sua Luke - pediu-lhe. Agora! – estava muito excitada para esperar mais, o desejo lhe queimava a pele.

-Querida...?

-Agora!

Rodeou-lhe o pescoço com seus braços. Seria Lori que teria que levar a iniciativa até o final. Abraçou-lhe com força.

-OH Luke...

Gemeu, à medida que ele fazia tremer todas e cada uma das fibras de seu corpo; o prazer aumentava e a jovem se deu conta de que Luke conhecia muito bem o jogo erótico do ato amoroso.

O coração de Luke pulsava cada vez mais depressa. Ela gemeu quando uma onda de prazer percorreu todo seu corpo

Sentiu uma cãibra quando Luke abriu a água fria e esta começou a cair em cima dela.

-Não, Luke! -as lágrimas brilharam em seus olhos diante daquela inesperada crueldade. -Luke...? -começou a tremer, sentia as gotas de água como pequenas espetadas sobre a pele.

Levou-a até a cama e imediatamente se uniu a ela. Estava molhada. Começou a lhe fazer amor de novo, a frieza da água tinha despertado seus sentidos de tal maneira, que agora cada carícia parecia queimar, e a união tão ardente como a anterior.

-É terrível - sussurrou ela depois.

-Bruxa! -exclamou Luke esfregando uma mordida no ombro que ela tinha feito com os dentes. - Terei que suportar as feridas de sua paixão durante toda a vida!

-Eu também.

O doce tom da voz dela contrastava com o rouco dele, de novo seus olhos se acenderam. Pertencia a Luke de corpo e alma, embora soubesse que ele não demoraria em deixar de querê-la, voltou-se para ele com um desejo desesperado nos lábios.

-Por favor, faça amor de novo.

Ele sorriu com regozijo.

-Se quando nos casarmos for assim tão exigente, nunca chegarei ao trabalho, e se chegar não terei forças para fazer nada. Bom e quem se importa agora o trabalho? -perguntou enquanto a beijava.

Passadas das oito, Luke a levou ao apartamento. Lori insistiu em ir sozinha ao trabalho, sabendo que teria que dar alguma explicação a Sally pela noite anterior.

-Outro tolo que cai - disse brevemente à moça quando entrou no apartamento e encontrou a sua amiga sentada na cozinha tomando o café da manhã.

-Não acredito - Sally se levantou. - Luke te ama isso se nota; qualquer poderia se dar conta. Quer uma torrada?

Lori não sentiu mais pena, e em parte se devia à atitude da Sally, que lhe pareceu muito distante.

-Não. Obrigada - dirigiu-se ao quarto para trocar de roupa. - Já tomei o café da manhã.

Sally assentiu, e ficou parada na porta, enquanto Lori se vestia.

-Como foi com seu pai? É tão formidável como dizem? -perguntou interessada.

-Não. Não é mais que um triste ancião. Que tal no sábado com o Gary? -não tinham tido muitas ocasiões para se falarem.

Sally encolheu os ombros.

-Bem, ontem voltei a sair com ele. Não acredito que vá ser a grande paixão de minha vida, mas é agradável. A propósito, ontem vieram te buscar.

-A mim? -Lori procurava no armário o sapato negro que faltava.

-Sim.

-Quem? -perguntou.

-Não disse quem era - respondeu encolhendo os ombros.

-Ele? -repetiu Lori interessada.

-Sim. Só perguntou por você e quando lhe disse que não estava aqui, assegurou que te buscaria.

-Espero que não me encontre quando Luke estiver presente - sorriu. - É muito possessivo.

-Já me dei conta! -exclamou Sally rindo.

Lori olhou o relógio.

-Será melhor que vamos ou chegaremos tarde. Nikki e Paul retornam hoje - sorriu.

-Nikki não poderia estar mais feliz do que se encontra você hoje. Está muito bonita, Lori.

-Obrigado - ruborizou sabendo que a noite passada nos braços de Luke era o que tinha feito adquirir aquele magnífico aspecto.

Quando chegou ao escritório, a porta de Luke estava fechada, mas não se importou. Um momento a salvo do apaixonado olhar permitiria ao menos abrir a correspondência, pois sabia que seria incapaz de fazê-lo quando estivesse perto dela, olhando-a.

A noite anterior tinha vivido a experiência mais linda de sua vida, sobre tudo quando despertou e se encontrou entre os braços dele. Beijou-a com ternura e lhe disse que a amava e necessitava dela, pedindo que se fosse morar com ele até que pudessem se casar no fim de semana seguinte.

Ela sabia que não haveria bodas, mas estava disposta a desfrutar do que pudesse antes que a felicidade fosse arrebatada uma vez mais.

A porta do escritório de Luke se abriu. Levantou a vista com um sorriso encantador, sorriso que se congelou ao reconhecer o homem que estava ali. Nigel Phillips. E tinha visto o Luke!

O que lhe teria dito? Soube a resposta. Tinham-lhe arrebatado à felicidade muito antes do que esperava.

 

Nigel fechou a porta e se dirigiu para onde ela estava Quase não tinha mudado; usava o cabelo muito curto, como antes, e continuava muito magro, só umas finas rugas em seu rosto evidenciavam o passar dos anos.

Pareceu-lhe um estranho. Como tinha sido possível que o amor que sentisse por ele no passado a empurrasse para tomar aquela estranha revanche contra Luke? Era bonito, mas tinha um ar de submissão que o fazia parecer medíocre.

-Nigel! -assentiu distante.

-Lori - seu tom de voz era cortante. - Sabe por que estou aqui?

A garota fez uma careta, embora não quisesse lhe deixar entrever a pena que havia em seu coração.

-Não é difícil adivinhar - e era verdade. Nigel havia se sentido humilhado cinco anos atrás e não era um homem que esquecesse facilmente.

-Não - comentou olhando de maneira insolente seu corpo. - Está mais bela que nunca - disse-lhe como se tiver descoberto lhe causasse surpresa.

Ela se assombrou ao ver brilhar em seus olhos uma emoção que lhe era muito familiar. Nigel continuava amando-a e, entretanto, tinha ido ali, com o único propósito de lhe arruinar a vida.

-Foi você quem me foi procurar ontem?

-Sim - assentiu. - Tinha saído com o Randell, me disse sua companheira, Randell, Lori? -falou. - Jamais imaginei que escolheria Luke! Em uma ocasião me disse muito claramente o que pensava dele.

Suas bochechas se tingiram de vermelho ao lembrar a conversa. Fora de si Lori havia dito ao Nigel e a seu pai que sempre odiaria Jacob Randell.

-Agora parece estar apaixonada por seu filho - falou Nigel. - E me é muito difícil de acreditá-lo. E também a ele!

Lori empalideceu tão rapidamente como se ruborizou minutos antes.

-O que lhe contou?

-Só a verdade - disse Nigel, sentando-se na borda da mesa. - Seu único propósito era se vingar de seu pai.

-E acreditou? -escutou o murmúrio de Luke no escritório, falando com alguém por telefone. Provavelmente a jogaria para fora.

-É obvio - confirmou-lhe Nigel com desprezo. - É a verdade, ou não?

-Sim. Margot me reconheceu? -perguntou em voz baixa.

-Sim. Disse-me quando retornei de minha viagem de núpcias no fim de semana passado.

-Sua esposa é muito bela - comentou consciente de que Luke continuava falando por telefone na outra sala.

-Sim. Seu pai é Lorde Maughan.

-Isso eu li.

Lori se perguntou no que estaria pensando Luke nesses momentos, por que não tinha saído para lhe pedir uma explicação, o que tivesse sido próprio de seu caráter.

Mas a porta que havia entre os escritórios permanecia firmemente fechada.

-É um juiz, sabe - acrescentou Nigel.

Não, não sabia, mas sim sabia que se casaria por interesse. Lori se dava conta de que ela tinha sido uma de suas debilidades. Nigel era ambicioso e ter um juiz como sogro, daria-lhe grande impulso a sua carreira. Era possível que estivesse encaminhando já os passos de sua profissão nessa direção.

-Me alegro por você - exclamou com indiferença.

Ele assentiu sem se dar conta do sarcasmo dela.

-Caroline é uma esposa excelente.

-Que bom!

-De verdade se alegra? -olhou-a friamente. - Fez-me muito dano há cinco anos.

-E quer me devolver o golpe.

-Sim - Nigel se levantou arrumando os punhos da camisa.

-Já encontrou sua felicidade.

-Sim - inclinou-se para lhe olhar o rosto, - mas não sabe o desejo que tenho de que tivesse sido com você. - Eu te amo. Lori come nunca amei ninguém, incluindo Caroline. Provavelmente quando estiver livre de Randell.

-Sim?

Não podia acreditar no que estava escutando. Não podia acreditar que a queria humilhar dessa maneira.

-Não há razão para que você e eu não nos vejamos - disse Nigel suave. - Se nos dois gostamos...

Fechou os olhos, cheios de ira.

-Não acredito que eu goste - replicou entre dentes.

-Por que não? Randell e você são amantes. Sei muito bem. A propósito, zangou-se quando lhe disse quem foi. Mas eu sei tudo e continua te querendo.

Lori se levantou furiosa.

-Saia daqui! Não sei como pude me apaixonar por você! É desprezível! Um verme! Já me fez muito dano, pode se dar por satisfeito.

Olhou para ela, seu assombrou era incrédulo.

-Está apaixonada pelo Randell!

-Sim.

-Meu Deus! Pobre Lori! -exclamou secamente e partiu.

Fez-se um tenso silêncio. Nenhum movimento saía do escritório de Luke, que tinha deixado de falar ao telefone. Lori quis bater na porta, mas não se atreveu a fazê-lo.

-Posso entrar?

Nikki apareceu, estava radiante: era evidente que suas primeiras semanas de casamento tinham sido um êxito. Entrou diretamente para saudar Lori.

-Já me contaram que não se deve entrar sem bater em uma sala onde estão juntos Luke e você.

Lori sorriu, não queria desgostar Nikki, a moça estava muito contente.

-Sério? E quem lhe contou isso?

-Claude - riu Nikki. - Fomos vê-lo ontem. Está muito bem, melhor que há meses.

-Sim - assentiu Lori.

-Claro que Paul se zangou porque não disse, mas eu lhe admiro, teve muito valor - Nikki se sentou. - Meu marido está falando com o Luke por telefone agora.

Lori sabia que não. A conversa tinha terminado fazia uns minutos, e Luke permanecia em seu escritório. O que estaria fazendo?

-O que acha de seu novo chefe? -perguntou brincando.

-Eu gosto.

-Claude pensa que há algo mais - Nikki a olhou inquisitiva.

Seu sorriso era brilhante.

-Não acredito. Prefere que você trabalhe para ele.

- Sério? -perguntou sua amiga, confusa.

-Sim. Se importaria?

A outra moça encolheu os ombros.

-A verdade não. Entretanto, Paul decide. Eu...

A porta se abriu e por fim saiu Luke totalmente irreconhecível, não era o homem que a tinha tido em seus braços essa manhã. Estava pálido, seu olhar era frio e em seus olhos se refletia uma profunda tristeza.

Respondeu ao alegre saudação de Nikki com uma brutalidade que a deixou pasma durante alguns segundos, e a fez escapar em seguida. Lori se sentiu obrigada a dizer algo.

-Luke, eu...

-Quer passar? -deu um passo atrás e abriu a porta para que ela entrasse.

-OH, Luke...

-Deve esperar até que estejamos no escritório para dizer algo - estava muito zangado.

Passou junto a ele e se sentou em uma cadeira, enquanto Luke passeava pela sala. A garota retorceu as mãos, nervosa.

-É inútil pensar que é mentira, não é assim? -a voz dele rompeu o silêncio.

-Sim - afirmou Lori com voz entrecortada.

-Por que não me disse? Não, me deixe adivinhar. Se eu tivesse sabido quem foi jamais teria podido levar a cabo sua vingança. Não é assim? -perguntou com dureza.

-Não - Lori tinha a vista cravada nas mãos.

-Assim não nega que se aproximou de mim com a idéia da vingança na mente.

-Não. Mas...

-E o de ontem à noite? Também foi parte da vingança?

Levanto os olhos para lhe olhar com dor.

-Não - disse com voz suplicante.

-Não? -repetiu, olhando-a com frieza, não havia rastro do amor de horas antes. - Não foi se assegurar de que quando me cravasse a faca, me revelando sua identidade eu sentisse a agonia de te perder?

-Não...

-Pois já conheci a agonia, Lori. Ontem à noite pensei ter em meus braços à mulher que amava e que me amava, e, entretanto foi tão cruel que me deu sua virgindade para fazer da minha dor maior. - Olhou-a depreciamente.

-Me diga... Quando pensava me revelar que era a filha do Michael Chisholm, antes ou depois do casamento?

-Depois... mas...

-Claro depois - seu tom era cada vez mais amargo. - A filha do Michael Chisholm, minha esposa!

Lori se levantou agitada. Luke tinha direito a ficar zangado e ela não sabia como justificar-se. Até esse momento o que havia dito era certo...

-O que era o que Nigel Phillips estava te dizendo faz alguns momentos? -quis saber Luke. - estive escutando sua conversa, mas não pude ouvir tudo - falou com um sorriso.

-Pediu-me que fosse sua amante - sussurrou com altivez.

O olhar de Luke se transformou.

-E aceitou?

-É obvio que não.

-Por que não? -grunhiu. - Ele é a causa de tudo isto. Não é tanto seu pai, como pretende acreditar, a não ser Nigel Phillips.

Não quis lhe olhar aos olhos.

-Não sei a que se refere.

-Quando Nigel chegou aqui e me disse que você era Lorraine Chisholm, e que uma vez tinha jurado se vingar de meu pai, minha primeira reação foi ir a seu escritório e te mandar ao diabo. Mas, de repente, recordei que sua atitude para comigo mudou no fim de semana quando se inteirou do casamento do Nigel. Eu sabia tudo o que Nigel tinha feito a Lorraine Chisholm, essa foi à razão pela qual não quis ir ao casamento desta vez.

-Não compreendo - Lori franziu o cenho.

-Não, claro que não compreende - torceu a boca. - Parece que apesar de ter passado a noite comigo, não me conhece ainda muito bem, ou sim? Acha que aprovo o que meu pai fez com o seu? Pensa que eu combinaria com um homem que perseguiu outro de tal forma que lhe obrigou a tirá-la vida? Pois não!

Luke estava furioso; não só lhe doía que o tivesse enganado; sobre tudo, doía-lhe que lhe tivesse julgado mal.

-Desprezei a maneira tomou o caso de seu pai, a forma que lhe torturou mentalmente, fosse ou não culpado, e o odiei quando seu pai, no desespero fundo, tirou a vida.

Lori estremeceu ao escutar a referência que tinha feito da noite passada juntos, e ficou pálida quando lhe revelou seus próprios sentimentos a respeito da maneira como seu pai tinha sido empurrado para a morte.

Pôde se dar conta de que Luke desprezava seu pai. Havia muitas provas, a forma como abandonou a Inglaterra, a tensão entre eles, ou mesmo o comentário do Claude a respeito das diferentes personalidades dos dois, o fato de que nunca tivessem podido trabalhar juntos. Muitas evidências que a cegueira lhe impediu de ver por causa de seu desejo de vingança.

-Desprezo o que fizeram a sua mãe, e a você - continuou Luke com voz cerrada. - Inclusive quis procurar sua mãe depois. Deus sabe que tentei. Queria lhe dizer, ao menos, quanto o sentia. Embora soubesse que nada podia consolá-la nesses momentos.

Falava com voz entrecortada.

-Não tinha idéia dos efeitos que isso causaria em você. Ainda ama o Nigel, é isso? -perguntou-lhe frio.

-Amo a você.

Estava profundamente comovida por tudo o que lhe havia dito. Não duvidava de uma só palavra, conhecia-lhe o suficiente para saber que essa teria sido sua reação diante da crueldade pública de seu pai com outro homem.

-Me convença.

-É a verdade.

-Não acredito - negou com a cabeça. - E embora acreditasse jamais nos daríamos bem. Cada vez que discutíssemos, e o fazemos com bastante freqüência, me lembraria o que meu pai fez ao teu. Não poderia suportar.

-A única coisa quero é estar com você - as lágrimas apareceram em seus olhos. - Pode me pedir que vá quando quiser.

A expressão dele era dura.

-Estou-te pedindo que vá agora.

Luke se voltou, lhe dando as costas, e meteu as mãos no bolso da calça.

-E falei com o Paul para que Nikki seja minha secretária a partir de manhã. Neste momento estará dizendo a ela.

-Se preferir. Vou agora mesmo.

-Não - falou. - Claude ainda não está muito forte, e saber que sua secretária favorita partiu poderia o fazer piorar. Quero que fique até que Claude esteja totalmente recuperado.

-E depois irei? -perguntou olhando suas rígidas costas.

-Sim. E depois irá.

Voltou-se reprimindo um soluço e saiu correndo do escritório.

A semana seguinte foi a pior de sua vida. Quando rompeu com o Nigel sofreu muito e pensou que nunca voltaria a sofrer da mesma maneira. Entretanto, essa semana se deu conta de que a dor que tinha causado seu antigo noivo não era nada comparada com o que sentia pelo Luke.

Luke não era mais que uma figura arrogante que passeava pelo edifício, sem falar com ela para nada, sem lhe devolver uma só das olhadas lhe dirigia.

Passava os dias e as noites em um terrível sofrimento. Sally notou seu desespero, embora jamais fizesse nenhum comentário. As duas saíam juntas, e se consolavam mutuamente.

O dia que almoçou com Nikki, a garota lhe contou que Luke tinha muito mau humor, reconhecia seus méritos como advogado, mas era insuportável. Os dois sofriam por uma situação que ela tinha criado. Uma situação sem saída, já que não tinha solução.

-O que se passa? -perguntou-lhe sua tia, preocupada, no domingo que chegou para visitá-la. - Está horrorosa!

-Por isso vim, para que me dê ânimos - sorriu zombadora.

-Não me venha com sarcasmos, jovenzinha - disse a tia Jessie. -E onde está Luke?

Não falava com rodeios; assim era a tia Jessie.

-Terminamos - respondeu Lori com igual franqueza.

-Por quê?

-Eu tive culpa.

A tia franziu o cenho.

-Já imaginava! -grunhiu, - ele não sabia que você era a filha do Michael.

-Quer dizer que sabia quem era Luke? -Lori ficou sem fôlego por causa da surpresa.

-É obvio que sabia. Não sou tola, menina! Soube quando escutei seu sobrenome. Supus que tinha decidido esquecer seu ódio dos Randell, mas já vejo que me equivoquei.

-Não - confirmou Lori.

-É boba, Lorraine - a tia moveu a cabeça. - O passado é o passado, e não terá que removê-lo. Ama-o, não é?

-Sim.

-E ele também te ama. Então... por que não esquecem o passado?

-Eu o tenho feito. Ele não pode. Vê em mim a culpa de meu pai...

-Já se deu conta – interrompeu a tia com suavidade, - de que é a primeira vez que reconhece que seu pai pôde ser culpado?

Lori assentiu.

-Mas não foi.

-Sim - disse a tia Jessie em voz baixa, - sim foi culpado.

Lori piscou assombrada, acreditando que tinha escutado mal.

-Tia Jessie...

A anciã suspirou.

-Não posso continuar te enganando, Lorraine, tem que saber a verdade. Sandra devia ter dito, mas não quis.

-Me dizer o que?

-Seu pai, minha sobrinha, era culpado de todas as acusações que lhe fez o pai de Luke. Suicidou-se porque Jacob Randell ia apresentar no dia seguinte uma testemunha que lhe condenaria. A amante de seu pai testemunharia contra ele.

Lori tragou saliva, estava pálida.

-A... mante?

-Seu pai tinha uma amante, querida - assentiu a tia. - O dinheiro que tinha roubado serviria para estabelecer-se uma vez que tivesse abandonado a sua mãe e a você.

-Mas e... a carta. Sempre disse que era inocente - Lori moveu à cabeça incrédula.

-Essa carta nunca existiu. Lorraine. Ao menos seu pai nunca escreveu nenhuma.

-Mamãe...

-Ela a escreveu - confirmou-lhe a tia.

-Mas, por quê? -perguntou confusa. - Por que mentiu?

-Tinha doze anos, tinha sofrido muito e sua mãe não quis que soubesse a classe de homem que era seu pai e a verdadeira razão pela qual havia se suicidado.

-Entretanto, mamãe se foi quando papai morreu.

-O apoiou durante todo o julgamento, acreditava em sua inocência. Mas depois ficou sabendo da amante, e de seus planos para deixá-la. Aquilo quebrou seu espírito. Lorraine, já não tinha por que lutar: nem sequer por você.

A anciã fechou os olhos, cansada. Dava-lhe trabalho para lembrar o que tinha acontecido fazia tanto tempo, o que acreditava completamente esquecido.

-Eu deixei você acreditar em todas essas mentiras a respeito de seu pai muito tempo - contínuo. - Nem sequer senti remorso quando o jovem Judas te deixou, era muito pouco para você. Mas Luke é um bom homem, e não tolerarei que perca ele pela mesma razão.

-Mas a verdade não muda as coisas - murmurou Lori. - Não se dá conta, tia Jessie? Só prova que o pai de Luke sempre teve razão.

-Não se dá conta? Já está na hora de que Luke lhe perdoe. Claro que sim...

A tia Jessie se interrompeu, e ambas as mulheres se olharam durante alguns segundos.

-Eu sei que entre eles não há boas relações. Ele me disse que não se dava bem com seu pai, embora não me explicasse por que, nem é obvio quem era seu pai. Mas o fato de que viva confinada neste asilo, não quer dizer que não me dê conta do que passa no mundo, ou que não possa saber o que tem que fazer-se para pôr as coisas em seu lugar.

A tia Jessie estava muito excitada, Lori se assustou, nunca a tinha visto nesse estado.

-Isto terá que ser arrumado, Lorraine. Já te disse a verdade, e agora quero que vá até o Luke e conte a ele.

-Tia Jessie - disse Lori assustada, - se Jacob Randell teve sempre a evidência de que meu pai era culpado, e sabia da outra mulher, e do dinheiro por que não contou a Luke?

-Acredito terá que perguntar ao senhor Randell.

Perguntar ao Jacob Randell? Não, ela não poderia fazer isso, não teria a coragem de enfrentar o cruel e irônico homem e lhe dizer que ela era Lorraine Chisholm.

Entretanto, duas horas mais tarde, encontrou-se conduzindo o carro rumo à casa do advogado.

-Diga que a senhorita Chisholm deseja lhe ver - pediu a senhora, depois que esta lhe disse que o senhor Randell estava em casa.

Não tinha a mínima idéia do que ia dizer lhe ao Jacob Randell quando o visse, só sabia que os dois deviam esclarecer muitas coisas.

Pensou em sua mãe. Deve ser terrível para ela viver conhecendo a terrível verdade, tendo que fingir que acreditava na inocência de seu marido.

-Quer entrar senhorita Chisholm?

Levantou a vista para olhar a sorridente faxineira e assentiu:

- Obrigado.

Jacob Randell estava sentado na sala, olhando pela janela. Deu a volta na cadeira ao escutar os passos dela e lhe sorriu, lhe dando as boas-vindas.

-Lori - saudou-a afetuoso. - Luke veio com você?

-Não estou sozinha - afirmou, franzindo o cenho. - Não parece surpreso em me ver.

Jacob Randell arqueou as sobrancelhas.

-Porque senhorita Chisholm? -perguntou sorrindo. - Não. Reconheci-te ao te ver. Lembro-me muito bem de você e da sua mãe: não mudou muito em doze anos, Lori - falou. - Agora me diga no que posso te servir?

-Me ajude - suplicou sentando-se. - Por que nenhuma vez disse a verdade a respeito de meu pai?

Pareceu pensar durante alguns segundos, depois suspirou.

-Não te parece que já causei dado suficiente? Ele já está morto.

-Porque era culpado!

-Sim - assentiu Jacob. - Mas provavelmente, se eu não tivesse me empenhado tanto em comprovar sua culpabilidade...

-Você sabe que de qualquer forma teria se suicidado.

-Talvez, mas deixou a sua mãe e a você completamente desamparadas.

-Por isso nuca foi publicada a verdade?

O homem assentiu.

-Não havia motivos para seguir atormentando a sua mãe. Seu pai tinha morrido, o banco estava contente porque tinha seu dinheiro – encolheu os ombros. - Isso era o final de tudo.

-Mas você perdeu o amor e o respeito de Luke por aquilo. O sorriso do homem desapareceu.

-Era o preço que tinha que pagar.

-Mas já não é mais - Lori se levantou decidida. - Provavelmente eu tenha perdido Luke, mas vou assegurar-me de que você o recupere. Direi-lhe a verdade.

-Periferia que não o fizesse - interrompeu-a Jacob com frieza.

-Por que não? -perguntou assombrada.

-Porque para nós já é muito tarde. Pode ser que não seja culpado de tudo o que Luke acha, mas de muitas coisas sim, sou. Sempre fui ambicioso, o caso de seu pai era outro degrau em minha ascensão, acossei-lhe. Inclusive apanhei a Janet Raynes, a amante de seu pai. Sabia que tinha uma amante? -perguntou preocupado.

Lori assentiu.

-Minha tia me contou tudo.

O homem lhe acariciou uma mão.

-Sinto muito.

-Eu não, acho que não.

Jacob suspirou.

-Bom, consegui que Janet Raynes testemunhasse contra seu pai com a promessa de que a punição contra ela seria mínima.

-Então, por isso lhe traiu.

Ele assentiu.

-Ela não estava apaixonada por seu pai, era muito interesseira. -Quando se deu conta de que ele não tinha dinheiro, traiu-lhe. Janet Raynes era muito ambiciosa e enquanto pôde se servir de seu pai o fez. Assim que o descobriram, lhe deu as costas.

Estava muito triste, notava-se que lhe custava muito lembrar esse doloroso episódio de seu passado.

-Eu não pude imaginar que seu pai reagiria dessa forma ao inteirar-se de que Janet o tinha traído.

-Você não tinha por que saber - assegurou Lori. - E Luke deve entendê-lo.

O homem moveu a cabeça com tristeza.

-Já é muito tarde. Lori.

-Sua mulher - perguntou devagar. - Sabia a verdade? Ou também se voltou contra você?

Ele sorriu de repente.

-Bárbara me amou até o final, como eu a ela, embora meu filho não esteja muito convencido - acrescentou com tristeza.

Jacob lhe segurou a mão.

-Sério, eu gosto de você como nora, Lori.

-Até sabendo de meu pai? –perguntou, evitando o olhar nos olhos.

-Você não é seu pai - assegurou-lhe. - As desonestidades não se transmitem por herança, embora digam o contrário. Sinto muito que Luke e eu lhe fizéssemos passar um mau momento no outro dia - sorriu com pesar. - Nos dois estávamos zangados. Mas eu gostaria que se casasse com ele. Acha que poderá ser?

Ela negou com a cabeça.

-Temo que não.

A boca do homem se apertou com raiva.

-Esse meu filho é tão teimoso como...

-Você - sorriu Lori.

-Provavelmente - reconheceu. - Voltará a me visitar?

Havia uma intensa sinceridade na voz dele, e ela ficou convencida de que perguntava a sério.

-Tentarei.

Era muito tarde quando retornou a Londres. Estava muito cansada, mas não o suficiente para deixar de visitar Luke Randell. Tinha que lhe ver tinha que contar a verdade. Não podia permitir que Luke seguisse acreditando que seu pai era um homem sem escrúpulos.

Luke só usava um roupão quando foi abrir a porta, tinha o cabelo alvoroçado como se tivesse dormindo, entretanto as profundas olheiras mostravam que não tinha podido dormir muito bem ultimamente. Olhou-a surpreso.

-Quero falar com você.

Falava com tranqüilidade. Estava decidida a lhe dizer tudo o que sabia, sem omitir um só detalhe.

Ele não se moveu.

-Não vale a pena.

Olhou-o decidida, só encontrou frieza em seu rosto.

-Acabo de lhe dizer a seu pai que ainda estamos em tempo - Comentou muito calma vendo como ele se surpreendia.

-O meu pai? -repetiu. - Foi ver meu pai?

-Sim.

-Por quê?

-Posso entrar ou quer que discutimos na porta? Tratou de aparentar tranqüilidade, mas não conseguiu. Parecia uma penca de nervos.

-Para que foi ver meu pai? -quis saber enquanto se dirigiam para a sala.

-Porque precisava saber a verdade.

-A respeito do que?

-A respeito de por que tinha ocultado o comportamento de meu pai. Isto lhe fez adquirir má reputação, e perder seu respeito, alguma vez lhe pediu que te dissesse a verdade, Luke?

-Já sabia.

-Meu pai era culpado, agora sei. Tia Jessie me contou tudo.

-Já havia te dito que não me importa se seu pai era culpado ou não - dirigiu-se ao bar e se serviu de um copo de whisky.

- Até consegui que se suicidasse!

Lori moveu a cabeça.

-Está equivocado.

-Não, não estou - tomou o conteúdo do copo de um só gole. - Não sei o que te disse meu pai, mas te advirto que é um grande mentiroso. Enganou a minha mãe durante trinta e cinco anos.

Lori levantou a mão e lhe estampou uma forte bofetada na bochecha sem alterar-se diante da ferocidade que mostraram os olhos masculinos.

-Se sirva de outro gole, Luke. Acredito que vai necessitar - aconselhou-lhe.

-É uma...

-Sente-se, Luke - gritou zangada. - E me escute um momento.

-Lori...

Antes que ele pudesse acrescentar algo mais, começou a falar e logo seus irados protestos terminaram quando a jovem começou seu relato, escutando com atenção. Luke se sentou no sofá.

Ao chegar ao final, Lori estava tão pálida como ele, tinham sido muitas emoções.

-Sente-se - a voz de Luke era muito mais amável. Ofereceu-lhe um copo de conhaque.

-Obrigado - deu um gole, e imediatamente desapareceu sua inquietação. - Assim veja Luke. Seu pai teve muito cuidado de não permitir que se soubesse a verdade, embora isso significasse que lhe culpasse para sempre. Perdoa-lhe agora, não é mesmo? –perguntou ansiosa.

-Sim – Em sua voz transparecia uma grande emoção.

-Graças a Deus! -exclamou feliz.

-Por que me contou tudo isto, Lori? -perguntou ansioso.

-Para que se reconcilie com seu pai.

-Não há outra razão?

Ela ruborizou.

-Não.

-Nenhuma?

Lori colocou o copo sobre a mesa e se levantou com intenção de partir.

-Será melhor que eu vá.

-Não abriga também a esperança de que ao me contar tudo isto, pudesse esclarecer o mal-entendido entre nós? -perguntou com voz alterada.

Ela se agarrou a sua resposta.

-Não...

-Se não dizer que sim, Lori, juro que sou capaz de fazer algo - disse-lhe.

Olhou-a com olhos ternos.

-Luke... !

-Eu te amo. Lori - murmurou. - E acredito que você também me ama.

-Seu plano se voltou contra você não é verdade meu amor? Rodeou-a com seus braços, tremendo. -Apaixonou-se por mim apesar de tudo. Há apoiou a cabeça em seu peito.

-Minha pobre menina. Assim se entregou para mim por amor.

-Sim – logo que podia acreditar que seu sonho estivesse se tornado realidade.

Luke riu meigamente.

-Não tem que dizer que sim a tudo, querida - pegou-lhe o rosto com as mãos, olhando-a fixamente. - Sou incapaz de te fazer mal.

Lori sentiu um nó na garganta.

-Eu te amo.

Deixou escapar um grito triunfal, e seus lábios procuraram os dela. -Apagaremos a amargura do passado com nosso amor, Lori – comentou, beijando-a.

-E seu pai? –No meio de sua imensa felicidade lembrou do Jacob e o sacrifício que tinha feito durante tantos anos.

-Irei lhe ver.

-Amanhã - falou-lhe ela.

-Bom, amanhã não, vou ligar para ele, e nos dois iremos lhe ver outro dia. Tenho outros planos para amanhã.

-Quais?

-Por exemplo, fazer os acertos necessários para nos casar. Por que se casará comigo, não é Lori? -perguntou.

-OH, sim! - exclamou radiante.

-Mas não irá me deixar esta noite, ou sim? -o desejo fazia brilhar os olhos masculinos.

Ela sorriu.

-Se ficar pode ser que não saiamos amanhã para preparar os papeis e...

-Iremos na terça-feira - sussurrou beijando-a apaixonadamente.

-Sim - gemeu ela entre seus braços.

- Iremos na terça-feira. Ou provavelmente na quarta-feira... ou na quinta-feira...

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

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