Translate to English Translate to Spanish Translate to French Translate to German Translate to Italian Translate to Russian Translate to Chinese Translate to Japanese

  

 

Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


VIVER UMA GRANDE PAIXÃO / Carole Mortimer
VIVER UMA GRANDE PAIXÃO / Carole Mortimer

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

“Você ainda vai ser minha!" As palavras de Garrett ecoavam no ouvido de Sarah como uma ameaça, uma maldição. Por mais que o amasse, não conseguia esquecer que fora ele o causador da infelicidade de sua família. E, embora dez longos anos tivessem se passado desde a última vez que o vira, as lembranças ainda estavam muito vivas em sua mente. Ela teria coragem de abandonar tudo e entregar-se ao homem que um dia fora seu cunhado?

 

 

 

 

- Mamãe!

Jason Kingham deixou a palavra escapar dos lábios, antes que se desse conta da própria surpresa.

Uma mulher morena, de longos cabelos negros cacheados, virou­-se, descansando o pincel no cavalete e encarando-o com um brilho estranho nos profundos olhos castanhos. Sua silhueta esguia, as pernas longas e bem torneadas, reveladas pelo minúsculo short, e a pele de bronze acetinada pareciam fazer um conjunto perfeito com o mar de um verde intenso e o céu muito azul, sem nuvens, que se refletia na tela semi-acabada.

Sem jeito, Jason mumurou um tímido pedido de desculpas. De­pois, recobrando o controle, percebeu que ela continuava a encará­-lo em silêncio como se tivesse visto um fantasma.

Sarah Harvey engoliu em seco. Aquele olhar... Ela só tinha vis­to aqueles olhos cor de esmeralda num homem: Garrett Kingham. E o calor que percorrera seu corpo quando o fitava ainda a perse­guia, mesmo depois de dez anos. Sarah procurou pensar racional­mente; alto, pele bronzeada, cabelos longos e loiros, e aqueles olhos... era Jason, filho de sua irmã!

- Jason? - ela começou, hesitante, quase sem conseguir acre­ditar que seu sobrinho estivesse ali depois de tantos anos de se­paração.

- Você... Você sabe meu nome! Então deve ser minha tia Sa­rah! - ele concluiu, entre contente e aliviado. - Puxa! Por um momento pensei estar diante de minha mãe ... Ou melhor, do fan­tasma dela - acrescentou, aproximando-se com timidez para dar um abraço na tia.

Jason! Mas é você mesmo? - dizia Sarah enquanto o abraçava e beijava, com os olhos cheios de lágrimas. - Seu avô vai ficar muito contente em vê-lo. Quando chegou?

- Agora mesmo. Fui até o chalé, mas não havia ninguém.

- Se tivesse nos avisado, teríamos ido buscá-lo na rodoviária.

- Quis fazer uma surpresa, tia.

- E seu pai sabe que você está aqui?

Jason fez que não ouviu a pergunta. Deu alguns passos para a frente a fim de olhar as ondas que estouravam na praia da peque­na cidade .

Dá para praticar surf aqui?

Não, não dá. Mas muitas pessoas fazem windsurf.

- É, o vento é forte. Sempre venta desse jeito'l

Sim. A costa da Inglaterra é famosa por esse motivo.

Começando a recolher seu material de pintura, Sarah sentia-se intrigada com o modo de agir do sobrinho. O motivo de sua vinda à Inglaterra deveria ser muito importante, já que desde a morte de Amanda a família Kingham nunca havia procurado entrar em contato com ela e o pai.

- Seu pai sabe que você está aqui'! insistiu Sarah determinada a descobrir a verdade.

- Não sou mais uma criança . .Já estou bastante crescido para tomar minhas próprias decisões - argumentou Jason, teimoso, sem nada esclarecer.

Sentindo que o rapaz estava inseguro, o primeiro instinto de Sa­rah foi o de abraçá-lo e pedir que lhe contasse o que o estava inco­modando; porém sabia que ainda era muito cedo paral esse tipo de intimidade. Procurando ganhar a confiança de Jason, ela deci­diu agir com calma:

- Você pode carregar isto para mim? – perguntou tranqüila, dando-lhe o quadro. - E tenha cuidado, não está seco.

- Ei, isto está muito bom! Por acasoo você é artista?

- Oh, não. Mas bem que gostaria. Sou professora de educação artística e só rabisco um pouco durante as férias.

- Mas você não se parece com uma professora.

Sarah já estava acostumada a esse tipo de comentário, feito por adolescentes como Jason, Afinal, sua beleza exuberante parecia não combinar com a idéia que fazia de uma professora, sisuda e de óculos.

Caminhando lado a lado com Jason pela praia, em direção ao chalé onde morava com o pai, Sarah não pôde deixar de rir da imagem.

- E por que não? Será que professoras não usam short e top? - brincou, provocando-o.

- Não na classe... E as minhas, acho que em lugar nenhum, - Ele piscou divertido.

- Para falar a verdade, até que sou muito comportada na sala de aula!

- Sabe, tia, não é só o jeito como se veste ... É que você não parece ter idade para ser uma professora. Parece mais uma garota.

Rindo com vontade, Sarah subiu os degraus de pedra, abrindo a porta de madeira escura.

- Já ouvi muita coisa, mas nunca tinha sido confundida com uma de minhas alunas,

O ar fresco da sala suavizava o sol forte, tornando o ambiente muito agradável. Depois de guardar o equipamento de pintura num armário embaixo da escada, ela virou-se para o sobrinho:

- Você já comeu? Se quiser, posso preparar algo.

- Não, tudo bem. Comi por aí, obrigado.

Olhando ao seu redor, Jason notou os móveis rústicos e confor­táveis, os quadros nas paredes, a pequena varanda que dava para o mar. E num canto próximo à lareira, uma estante repleta de li­vros sobre os mais variados assuntos,

- É, talvez você seja mesmo uma professora.

- É, talvez eu seja - respondeu Sarah, brincalhona encostada no corrimão da escada.

- Quer beber alguma coisa?

- Tem refrigerante?

- Tem. Eu vou buscar.

Seguindo-, Jason sentou -se numa das banquetas de couro, apoiando-se no balcão que servia de divisória para a cozinha.

- Por que você veio? - Sarah perguntou direta, entregando-­lhe a bebida.

Ele sorriu, parecendo muito mais jovem do que o rapaz adulto que tentava impressionar a tia.

- Vocês têm uma linda vista aqui! - desconversou ele, olhan­do pela grande janela que dominava o ambiente, desvendando a praia e o mar.

- Jason! - O tom autoritário a voz da tia o fez sorrir.

- Você é persistente, não?

- E você não responde às minhas perguntas. O que demonstra que somos parentes.

- Acha que meu avô vai demorar muito?

- Sinceramente, não sei. Talvez de tenha encontrado um amigo e parou para conversar. - Sarah resolveu nao insistir, pois ti­nha medo de que o sobrinho se ressentisse, evitando uma aproximação maior.

Os dois se estudavam em silêncio. Jason bebia o refrigerante cal­mamente, sentindo que podia confiar na tia. Ela, porém, refletia apreensiva que com toda certeza o pai dele não tinha a menor idéia de que o filho estava ali, e, conhecendo Garrett Killgham como conhecia, sabia que ficaria furioso quando decobrisse que Jason fora procurá-los. Minutos depois, ouviram a porta da frente bater.

- Agora é ele! - Sarah sorriu, encorajando o sobrinho ao no­tar que parecia nervoso.

- Pensei que você ainda estivesse na praia, Sarah - O pai a cumprimentou, alegre. Era um homem baixo, de cabelos grisalhos e calorosos olhos azuis.

- Desci até lá para me juntar a você quan­do volt... - interrompeu-se ao dar-se conta de que a filha não es­tava sozinha. Meio ansioso, meio incrédulo, olhou fixamente para o rapaz a sua frente.

- Jason?

Levantando--se devagar, ele aproximou-se do avô secando as mãos úmidas no jeans surrado.

-Vovô? - perguntou, engolindo em seco.

Sarah sentiu um nó na garganta ao ver rosto do pai iluminar-­se. Durante anos ouvira-o falar do neto, dos passeios que fariam juntos, de todas as coisas que, como avô, sonhava em dividir com o menino. Viu os dois se encarando por alguns instantes, até que o sr. Harvey provocou Jason, percebendo sua hesitação.

- Será que não vou ganhar um abraço? - perguntou com voz emocionada.

Sarah não saberia dizer quem deu o primeiro passo, mas logo os dois estavam abraçados. Aos dezesseis anos, seu sobrinho já era quase um homem, e um dia seria tão alto e forte quanto o pai. Ao pensar em Garrett, Sarah estremeceu. Sabia que precisava avisá­-lo de que Jason estava com eles. E, quando o fizesse, tinha certeza de que ele viria à Inglaterra para levar o filho de volta, separando-o mais uma vez da família Harvey.

- ...por isso pensei que você deveria ter mudado de idéia ­ela ouviu o pai falar baixinho no ouvido do neto.

- Mudar de idéia sobre o quê? - interrompeu Sarah, des­confiada.

- Ahn ... Que tal uma xícara de chá querida? - disse o sr. Har­vey, tentando demonstrar que não ouvira a pergunta.

- Papai! - Ela olhou séria, sentindo que os dois tinham pla­nejado algo de que não estava a par.

- Ora, o que há filha? Seu sobrinho vem de tão longe e você não lhe oferece nada?

- Papai, o que você está me escondendo?

- Meu bem, não vamos discutir na frente de Jason, não é?

- Acontece, titia que telefonei para meu avô ontem e perguntei se podia vir visitar vocês - o rapaz apressou-se em dizer, nu­ma voz que soara muito cansada para alguém tão jovem.

Então era esse o motivo da alegria de seu pai! Não dera muita importância às suas atitudes, porque imaginara que ele tivesse encontrado a sra. Potter. Os dois estavam tendo um caso há algum tempo, embora ele tentasse esconder o fato.

- Por que você não me contou, papai? - perguntou Sarah com um ar de desapontamento.

- Mas, minha filha, eu não tinha certeza se ele realmente viria e... Não queria vê-Ia tristonha se isso não acontecesse.

Ela podia ler nos olhos azuis a satisfação que o pai sentia por estar finalmente ao lado de Jason. E, incapaz de contrariá-lo, mes­mo sabendo dos problemas que teriam, acabou concordando com tudo.

- Muito bem, seus dois conspiradores, vocês ganharam.

- Viu, Jason, não disse que ela não ficaria zangada?

- Vou fazer o chá. Vocês vão para a sala.

Sarah não conseguia parar de pensar no que Garrett faria quan­do soubesse do paradeiro do filho. Sabia que ele nunca acreditaria que ela não tinha a menor noção do que Jason e seu pai haviam tramado. De qualquer forma logo estariam frente a frente num en­contro nada agradável.

Apesar da ameaça que pairava sobre eles, Jason parecia muito à vontade e feliz, o que de certo modo dava a Sarah forças para enfrentar Garrett.

Ao acomodar-se no sofá, ele sorriu:

- Ele é exatamente como imaginei que seria - disse, satisfei­to, referindo-se ao avô.

Vendo o brilho do olhar do sobrinho, Sarah lembrou-se do ra­paz decidido e cínico que a irmã apresentara como seu marido dez anos atrás. Será que algum dia ele fora um garoto cheio de sonhos como o próprio filho? Tudo que lhe restara do homem alto, loiro e penetrantes olhos verdes era uma vontade imperiosa, o antago­nismo a atração que sentira com relação a ele quando tinha dezes­seis anos.

Ao entrar na sala carregando uma bandeja, Geoffrey Harvey fez com que a filha saísse de seu silêncio.

- Acho que sempre soube que você iria se parecer com seu pai. Mesmo quando bebê, não lembrava em nada a nossa família.

Sarah sentiu que Jason recebeu o comentário como uma crítica, e procurou amenizar o clima tenso que se instalou entre os três.

- Eu acho que ele herdou de Garrett a determinação e... A al­tura, não é, papai? Afinal, nós não somos famosos pela estatura. - Ela mal pôde conter o riso, sabendo que atingira o ponto fraco do pai. Jason percebeu a brincadeira e sorriu também. - Será que agora vocês não vão me contar como é que planejaram esse en­contro de hoje?

- Papai está na Inglaterra fazendo um filme. Por isso, pensei em vir visitá-los - Jason respondeu num tom que revelava rebel­dia e insegurança.

As mãos de Sarah ficaram geladas. Garrett ele volta! Há dez anos, pouco mais que uma criança, ela sentia algo estranho sempre que aquele homem estava por perto e o evitava; agora, teria de olhá-lo nos olhos sem permitir que isso a abalasse.

- Ele trouxe você em férias? - perguntou, tentando parecer calma.

- Não. Ele me trouxe por obrigação. Infelizmente para ele, meu tio Jonathan e tia Shelley estão viajando e não puderam ficar co­migo - Havia um toque de amargura no semblante carregado.

Em seu íntimo, Sarah se perguntava quantas vezes o rapaz fora levado "por obrigação" a algum lugar e maldizia o cunhado por nunca ter permitido que se aproximassem.

Depois que Amanda morreu, ele deixou claro que não aprovava a relação de seu filho com o avô e a tia maternos.

Com receio de causar problemas ao garoto, Sarah e seu pai res­peitaram a decisão de Garrett, apesar da mágoa que isso lhes causava.

Agora, porém, Jason estava crescido, já era capaz de tomar suas próprias decisões e parecia disposto a reatar os antigos laços. Sa­rah estava feliz por isso, embora soubesse que o cunhado os cen­suraria. De qualquer forma, não queria jogar o filho contra o pai, e, na tentativa de amenizar a situação, repreendeu o sobrinho com carinho.

- Tenho certeza de que ele não gosta de deixar você com seus tios.

- Como pode dizer isso? - ele retrucou indignado.

- Ora, Jason. Seu pai precisa trabalhar.

- Não, não precisa. É um homem rico.

- Você não acha que com 39 anos ele é jovem demais para se aposentar?

Um brilho de fúria acendeu os olhos verdes. Sarah pôde perce­ber então que ele não suportava vê-Ia defendendo seu pai.

Mesmo sabendo disso, precisava fazê-lo entender que deveria ha­ver uma explicação para tudo.

Geoffrey, que até então observara calado, decidiu que era hora de interferir para evitar uma situação ainda mais constrangedora.

- Jason... Desculpe por não ter ido buscá-lo no ponto de ôni­bus. É que ele está sempre atrasado, e por isso não liguei muito para o horário. Mas não é que justamente hoje o ônibus chegou no horário?

Então foi por essa razão que seu pai antecipara a ida à vila para comprar fumo para o cachimbo!

- Devo concluir que vocês se desencontraram, não? - comen­tou ela, seca, demonstrando desaprovação.

- É que... Bem, quando cheguei à vila o ônibus já havia parti­do. Aí fui até a sra. Hall e perguntei-lhe se tinha visto um rapaz loiro desembarcar. Pensei que talvez Jason tivesse mudado de idéia e desistido de vir.

- Não tem importância. Na verdade foi muito fácil. Quando cheguei, pedi informação no posto de gasolina. Lá, me disseram que seria mais rápido se viesse pela praia. E eu vim.

- Sem dúvida que é. Mas, para velhos como eu, caminhar na areia faz as pernas doerem.

- Não lhe dê ouvidos, Jason. Ele vem dizendo isso desde que me conheço por gente.

- Você não podia deixar de me contrariar, não é mesmo, Sa­rah? Acredite-me, Jason, depois de viver tantos anos em uma casa cheia de mulheres, é bom ter um homem com quem dividir o lu­gar. - E deu-lhe uma piscadela com ar maroto.

Arregalando os olhos, Sarah fitou um e outro.

- Jason vai ficar aqui... conosco? - Uma visita rápida era acei­tável, mas permanecer com eles alguns dias era algo que, ela esta­va certa, Garrett não permitiria.

- Se estiver tudo bem com vocês... - Jason se pôs na defensi­va, olhando para o avô.

- É claro que sim. O quarto de hóspedes está sempre pronto pára nossos convidados, não é, filha? - O tom de voz jovial não escondia a apreensão. - Você trouxe uma muda de roupa?

Jason concordou com um gesto de cabeça, esperando pela apro­vação de Sarah. Sentindo a ansiedade dos dois, ela não quis estra­gar tudo, mas não podia deixar de se sentir preocupada quanto ao que aconteceria depois.

- Seu pai sabe onde você está? - perguntou, temendo a resposta.

- Ele foi para a Escócia por alguns dias com outro dono de estúdio. E... eu estava ficando doente de ficar fechado naquele ho­tel. Então telefonei para o vovô.

- Isso quer dizer que seu pai não sabe que você está aqui...

Pronto para discutir, Jason recebeu a intromissão do avô com um suspiro de alívio.

- Filho, por que não pega suas coisas lá fora e as leva lá para cima? O seu é o primeiro quarto à direita. - Depois que ele saiu, Geoffrey tornou a falar: - Sei que está brava, Sarah. Mas quan­do ele me ligou, estava chateado, sentindo-se sozinho. O que mais eu poderia fazer além de convidá-lo a vir aqui?

- Ah, papai, você sabe muito bem que não é o fato de ele estar aqui que me aborrece, mas o modo como tudo aconteceu. Estou tão contente quanto você, só acho que deveria ter agido com mais responsabilidade e...

- Mas como eu poderia avisar Garrett se ele nem estava no ho­tel? - o pai a interrompeu, tentando se defender.

- Ora, poderia ter deixado um recado!

- Está certo, está certo. Mas eu... fiquei tão contente com a idéia de ver Jason que nem me lembrei.desse detalhe. Sei que fui um pouco egoísta, mas não é tarde demais para corrigir meu erro. Jason disse que Garrett ainda demora alguns dias. É só telefonar para lá e deixar um recado. Não sei por que o garoto deveria ficar lá sozinho em vez de passar uns dias aqui conosco.

- Você venceu. Vou telefonar e deixar um recado. Qual é o nome do hotel?

Sarah não se surpreendeu ao descobrir que Garrett estava hos­pedado no mais luxuoso hotel de Londres, e recordou-se de que o filho do poderoso senador Kingham só poderia ter do bom e do melhor. Sorriu com desprezo.

Quando a ligação foi completada e ela pediu para deixar um re­cado para o sr. Kingham, houve um barulho estranho na linha.

- Alô - começou ela, ao perceber alguém no aparelho.

- Quem é? - uma voz rude interpelou-a. De imediato, Sarah soube que não se tratava de Garrett.

- Alô, eu quero deixar um recado para o sr. Kingham. Acho que houve alguma confusão, porque a telefonista ...

- Qual é o recado? Diga logo.

Ela não estava entendendo nada. Quem quer que fosse aquele sujeito, mais parecia um animal grosseiro e mal-educado.

- Diga a ele que Sarah ligou e ...

- Sarah de quê?

- Bem, se me deixar acabar de falar. .. - Ela perdeu a paciência e numa voz irônica completou: - Talvez aí eu possa lhe dizer.

- Você está com o garoto?

Ignorando-o, ela continuou:

- Diga ao sr. Kingham que nós estamos com Jason ...

- Vocês quem?

- Quer parar de me interromper?

- O que você quer?

- Apenas que entregue o recado.

- É melhor saber que não está sendo muito inteligente. O pai do menino está muito, muito zangado. Se...

- Não pode estar mais zangado do que eu por estar sendo tratada desta maneira.

- Então diga de uma vez, o que quer?

- Jason está com os Harvey, e se ele quiser poderá vir buscá-lo.

- Que Harvey?

- Ele sabe. - Dizendo isso, ela bateu o telefone.

Vermelha de raiva, Sarah andava de um lado para outro na sala. Jason, que acabara de descer, a encarou, curioso.

- O que aconteceu, tia?

- Acabo de falar com o homem mais rude que já conheci.

- Papai? Mas ele só volta na...

- Se fosse seu pai eu saberia como tratá-lo. Esse homem parece um brutamontes sem nenhum cérebro.

- É Dennis! - concluiu Jason.

- Dennis? - Os olhos castanhos brilhavam, zangados.

- Com aquelas maneiras? Matador seria um nome mais apropriado!

- Ele é o segurança de papai.

- Bem, isso explica tudo - disse o sr. Harvey, que não via Sarah tão zangada assim há muito tempo.

- Aposto que Dennis adorou "conversar" com você - Jason comentou, irônico. -... Por falar nisso, que foi que ele disse?

- Nada. Não lhe dei nenhuma chance. Bati o telefone na cara dele. - Ela preferiu mentir a deixar o garoto apreensivo por saber que o pai já fora avisado de sua ausência.

Soltando uma risada gostosa, Jason pareceu vibrar com aquela demonstração de rebeldia da tia.

- E agora, que tal me ajudarem a preparar um belo jantar? - Sarah mudou de assunto, já mais calma.

Na minúscula cozinha, três pessoas pareciam um batalhão, e Ja­son não tinha a menor noção do que fazer, complicando ainda mais a preparação da comida.

Entre risos e conversas, a refeição foi muito agradável. Falaram sobre o passado, sobre a vida de Jason em Malibu, mas tanto Sarah quanto o pai perceberam que ele evitava qualquer per­gunta que levasse a um terreno mais pessoal. Era quase meia-noite quando foram dormir. Acomodando Jason, que adormeceu qua­se em seguida, Sarah dirigiu-se ao próprio quarto.

Ainda sorrindo, colocou a longa camisola de seda verde-água e o negligé da mesma cor. Enquanto penteava os cabelos negros, ouviu uma brecada forte na garagem e correu até a janela.

Era uma noite clara e quente, com o céu repleto de estrelas e um mar calmo e silencioso. Contra o luar, avistou a silhueta de um homem alto, de cabelos loiros com reflexos cor de prata.

Com um arrepio de excitação e medo, reconheceu-o de imedia­to: aquele era Garrett Kingham!

 

Bem, Sarah havia dito ao segurança que se ele quisesse o menino era só ir busca-lo, e Garrett não perdera um minuto.

Sem tempo para se trocar, ela desceu corendo a escada querendo evitar que as batidas imperiosas na porta acordassem o pai e o sobrinho.

 

Garrett Kingham batia sem parar, muito apreensivo. Quando Dennis telefonou para a Escócia avisando que Jason desaparecera, a notícia o atingiu como um golpe. Tomou o avião de volta imediatamente.

 

Ao chegar ao hotel, viu a polícia a postos para qualquer movimento dos possíveis “seqüestradores”. As longas horas de agonia quase o enlouqueceram. Depois quando soube do telefonema dos Harvey, convenceu a policia de que Jason estava bem e fora a casa do avô. Em Easton.

 

E agora lá estava ele, tantos anos depois, novamente no chalé.

Sarah hesitava diante da porta. Sabia que a hora da verdade chegara, Já não era uma adolescente, mas sentia-se trêmula por ter que enfrenta-lo.

Destravou a porta e quase não teve tempo de abri-la completamente, pois Garrett foi entrando sem a menor cerimônia, sem nem mesmo lhe dirigir um olhar. Ele não mudara em nada. Irritada, Sarah fechou a porta, seguindo-o em direção à sala. Ele ainda era tão bonito quanto se lembrava, com o mesmo porte altivo, os mesmos ombros largos, o mesmo corpo poderoso e atraente. Só que agora parecia mais maduro, mais seguro.

Sarah não conseguia tirar os olhos de Garrett, lembrando-se de como ele povoara seus sonhos durante aqueles dez anos.

 

Antes de se sentar no sofá, ele se virou e ficou encarando-a com os olhos penetrantes e magnético, a boca apertada numa linha fina e tensa. Sarah sentiu-se embaraçada com aquele exame que pa­recia desnudá-la, mas não desviou o olhar, disposta a mostrar a ele que não a amedrontava mais.

Quando o silêncio se tornou insuportável, Garrett falou numa voz cortante e gelada:

- Estou aqui, conforme as instruções. Onde está Jason?

- Dormindo lá em cima - ela o informou com frieza. - Quem sabe se você tivesse vindo numa hora mais apropriada o tivesse en­contrado acordado.

- Tive de voar da Escócia para cá e fazendo o resto do percur­so de carro. - Nem um músculo se movia no rosto sério e exas­perado.

- Oh! É mesmo! Eu me esqueci de que você largou Jason sozi­nho em Londres ... - comentou, sarcátisca, sentindo a fúria que . emanava do corpo tenso de Garrett.

- Eu não o larguei, como você está dizendo. Eu o deixei com seu guarda-costas, como sempre faço quando não posso levá-lo comigo.

- Guarda-costas? Ali, é claro ... Ele vem de uma família rica e poderosa - Sarah concluiu, mostrando todo seu desprezo . .:.­E, quando ele sumiu, o brutamontes pensou em seqüestro!

- Exato. E, ao receber seu recado, ele pensou que você estava me atraindo para uma armadilha. Mas eu lhe assegurei que era ape­nas minha cunhada. E que Jason havia resolvido fazer uma visita­ surpresa.

Os olhos de Sarah faiscavam de fúria.

- E de que outra maneira ele poderia nos ver? Você, com toda sua maldita fortuna, sua presunção e arrogância ... Além de infer­nizar a vida de minha irmã, ainda separou Jason de nós ..

- Acontece que Jason nunca mostrou interesse em conhecer vocês.

- Bem, obviamente ele mudou de idéia - ela retorquiu, cor­tante, incapaz de disfarçar o antagonismo que sentia por ele.

Olhos verdes a fitavam, furiosos.

- Jason tem apenas dezesseis anos e desaparecer do modo co­mo ele fez é algo um pouco mais sério do que ir a um cinema.

Ele estava certo, sem dúvida, mas o modo imperioso e prepotente como a estava tratando a fazia ter vontade de agredi-lo. Pro­curando se controlar, Sarah disse em tom conciliatório:

- Sei que ele não deveria ter feito isso, mas sei também que ...

- Como você é magnânima! - rele cortou, sarcástico.

Ela o encarou com intenso desprezo e, ignorando-o, continuou: - Sei também que, se ele fosse mais chegado a você, teria lhe dito como se sentia com relação a mim e meu pai.

Garrett respirou fundo.

- Em poucas horas de convivência com Jason, você já decidiu que não sou um bom pai, que o ignoro e que na melhor das hipó­teses o considero um fardo; não é?

- Não, é claro que não!

- Pois foi o que pareceu.

- Não é nada disso; é só que ...

- Eu tinha me esquecido - ele a interrompeu outra vez - que você sempre me detestou e que acreditaria com vontade em qual­quer coisa que se dissesse contra mim.

Aquilo não era verdade. Quando ele apareceu pela primeira vez no chalé, ela se apaixonara, mas Garrett era o marido de sua ir­mã, um homem proibido; então transformou a atração e o amor em ódio para que ninguém percebesse o quanto se magoava ao vê-­los juntos.

Agora precisava impedi-lo de descobrir a verdade. Encarando-o firmemente, concordou.

- Talvez porque sempre tenha sido tão fácil acreditar! Ele suspirou, cansado.

- Sarah, é tarde, fiz uma longa viagem e não estou disposto a discutir com você.

Ela ainda permanecia com uma atitude desafiante, apesar das linhas de cansaço que via ao redor dos olhos e da boca de Garrett. Não queria, não podia pensar naquele homem como alguém vul­nerável, porque isso o tornaria humano, acessível, e acabaria por minar suas defesas.

- Eu já lhe disse Garrett, Jason está dormindo, e você não vai levá-lo daqui como o fez depois da morte de Amanda, afastando-o de nós. Agora sou adulta, mais do que capaz de lidar com você!

Ao terminar de falar, Sarah desejou não ter sido tão impulsiva nem tê-lo desafiado. Viu-o estreitar os olhos, percorrendo seu corpo. Com um olhar insolente, fazendo-a sentir-se nua. Dirigiu-lhe o es­boço de um sorriso.

- Você não parece muito diferente de quando tinha dezesseis anos. Nem é capaz de lidar comigo...

- Não? Então talvez você queira tentar tirar Jason daqui novamente ...

Os olhos dele se tornaram duas esmeraldas brilhantes.

- Eu não gosto de ser ameaçado, Sarah.

- É mesmo? - ela o desafiou, jogando os cabelos para trás. - Bem, eu também não!

Continuaram a se encarar por segundos cheios de tensão; Sarah parecia determinada a não voltar atrás, embora não soubesse co­mo detê-lo se ele resolvesse tirar Jason de lá à força. Tudo o que sabia era que precisava enfrentar aquele homem, pois o sobrinho já não era mais criança, e se Garrett o convencesse a ir embora partiria o coração do velho. Geoffrey.

Por fim, ele baixou o olhar e estirou-se numa poltrona.

- Você ainda faz aquele café delicioso?

Sarah piscou surpresa. A última coisa que esperava ouvir dele era um elogio, ainda mais sobre algo tão banal!

- Sim, eu ainda faço o mesmo café.

- Bom. Então eu o quero forte, do jeito que gosto. Preto, por favor.

Sarah queria lhe dizer que já era mais de meia-noite, que tam­bém estava cansada e que não tinha vontade de fazer café para ninguém. Mas apesar de tudo isso, pôde ver que ele parecia exaus­to e que a tensão que passara por não saber sobre o paradeiro do filho o abatera de verdade.

Nas poucas ocasiões que ela deixara a mente vagar, voltando ao passado, Garrett sempre permanecera o mesmo; naquele instante, porém, Sarah se deu conta de que o tempo havia deixado suas mar­cas no rosto bronzeado e determinado; Se ele fizera infelizes aque­les que viveram à sua volta, tampouco parecia ter alcançado a felicidade.              

- Muito bem, sr. Kingham - ela cedeu. - Então eu sugeriria que...

- Meu nome é Garrett, Sarah, como voce sabe muito bem. Pro­ve que não é mais uma criança e use-o.

Ela sentiu as faces arderem enquanto se afastou em direção à cozinha para preparar o café. Era uma mulher, uma professora, e, contudo algo em Garrett Kingham a fazia sentir-se reduzida a uma garotinha petulante. Irritada, pensava em como a irmã podia ter-se apaixonado por um tipo como aquele, o que não deixava de ser uma contradição, refletiu, contrafeita, já que ela também fora vítima do mesmo fascínio. A despeito da casca de refinamento e sedução, Garrett era apenas um homem rude e ambicioso.

Ressentida, Sarah lembrou-se de como ele sempre ignorara a exis­tência da esposa, preocupado somente com sua carreira, fazendo Amanda sentir-se deprimida e miserável. Não, ela não podia per­mitir que fizesse o mesmo com o sobrinho e, armando-se de cora­gem para dizer-lhe isso, pegou a bandeja e foi para a sala.

Ao se aproximar não pôde evitar a onda de carinho que derru­bou suas defesas. Garrett havia adormecido! Colocando a bande­ja sobre a mesa de centro sem fazer barulho, fitou-o por um longo tempo. Ele parecia mais jovem, mais acessível. Entretanto, mes­mo naquele momento dava a impressão de manter a guarda sobre suas emoções. Sarah sentia que, mesmo dormindo, a figura más­cula dominava o ambiente, e sabia que ele não poderia permane­cer ali a noite toda.

- Garrett? - ela chamou com voz suave, tocando-lhe o om­bro com delicadeza. - Garrett, acorde!

A resposta dele foi afastar com brusquidão a mão sobre seu om­bro, olhando-a de maneira hostil.

- Que diabos pensa que está fazendo? - ele perguntou, endi­reitando o corpo.

Sarah afastou-se como se tivesse levado um tapa.

- Você dormiu e tive de acordá-lo, pois precisa ir embora. Não tinha idéia de que isso o ofenderia.

Sentindo a tensão abandoná-lo, Garrett esboçou um sorriso. - Acredite-me, não tenho aversão pelo toque de uma mulher bonita. Acontece que você me assustou.

Ela não estava interessada em ouvi-lo falar das mulheres de sua vida, mas não pôde deixar de sentir uma pontada irracional de ciúme.

- Posso lhe assegurar que não acontecerá outra vez. Trouxe-­lhe o café. Sugiro que o tome e vá embora.

Ele negou com um gesto de cabeça, antes de beber o líquido fu­megante com vontade.

- Não sem Jason - comunicou-lhe, sério.

- Escute, ele disse que você está trabalhando aqui na Inglaterra no momento. Não machucaria ninguém se você o deixasse ficar conosco alguns dias, não é? - Sarah pensava em seu pai e no quan­to ele ficaria desapontado se o neto partisse.

A expressão de Garrett era de poucos amigos.

- Talvez, se ele tivesse falado comigo primeiro...

- Você o teria impedido de vir. Do mesmo modo como fez com Amanda.

Ele semicerrou os olhos, retrucando com voz gélida: - Eu nunca impedi Amanda de vir aqui.

- Talvez não diretamente, mas sempre deixou claro que desaprovava suas visitas.

- Eu... Sarah, não vamos desenterrar essa história. - Ele sus­pirou pesadamente. - Jason sabe melhor dó que ninguém que não deveria ter enganado Dennis.

O modo como ele falou demonstrou que o garoto sabia o que sua atitude causaria e o quanto deixaria o pai aborrecido.

- Pela minha experiência, eu diria que o comportamento dele é uma forma de chamar sua atenção...

- E qual é a experiência que tem com filhos, srta. Harvey? . Ela ficou pálida, os olhos nublados como se fosse o prenúncio de uma tempestade.

- Eu disse a seu segurança que meu nome era Sarah Harvey somente para que pudesse me identificar; na verdade meu sobre­nome agora é Croft. E, embora eu não tenha filhos, lido com de­zenas de alunos adolescentes todos os dias!

Os olhos verdes se estreitaram, procurando uma aliança na mão esquerda dela.

- Está me dizendo que há um marido esperando por você no quarto?

A incredulidade que Sarah leu no rosto de Garrett fez seu san­gue ferver.

- Não! Eu já tive, não tenho mais.

- Você e sua irmã parecem ter o hábito de correr para o "papai" quando as coisas não saem como querem, não é?

- Eu não tive de correr para casa nem para papai, porque eu e David morávamos aqui. E, para sua informação, nós nos divor­ciamos de forma bastante amigável. - Até hoje ela se perguntava se seu relacionamento com o marido podia ser chamado de casa­mento, já que fora um erro do princípio ao fim.

- Talvez, se ele tivesse sido forte o suficiente para exigir que tivessem sua própria casa, isso não tivesse acontecido!

- Não tente julgar meu casamento, quando fez do seu o infer­no que todos sabemos!

- Se você e sua irmã não fossem tão mimadas, talvez não exi­gissem tanta atenção dos maridos.

- Ora, seu... seu...

- Sim?

- Idiota estúpido! - Sarah explodiu. - Amanda e eu fomos amadas, não mimadas. E esse é um sentimento que sua fami1ia não conhece, muito menos você!

Ele se levantou devagar, e no minuto seguinte agarrou-a, prendendo-a nos braços.

- Há muitos tipos de amor, Sarah - murmurou suavemente.

- A qual deles você se refere?

Ela arregalou os olhos ao perceber a súbita ameaça que havia na voz grave.

- Eu... Não, Garrett! - Ergueu as mãos na tentativa de afastá­-lo, mas tudo o que conseguiu foi sentir-se prensada contra o peito largo.     

- Sarah... - ele sussurrou com uma expressão séria. - Quem diria que aquela pequena de olhar desafiante iria se tornar uma bela mulher... Uma bruxinha de olhos castanhos - ele brincou antes de abaixar a cabeça em direção aos lábios femininos.

Sua boca era cálida, exigente, possessiva ao reclamar a dela, e o último pensamento coerente de Sarah, antes de se entregar ao beijo, foi o de que aquilo não devia estar acontecendo entre eles. Então, como um náufrago, agarrou-se a Garrett, sentindo as mãos macias acariciarem seu corpo por sobre a lingerie, estremecendo ao perceber que ele desfazia o laço do negligé e afastava a alça da camisola.

Seus dedos estavam quentes ao tocar a pele arrepiada dos seios de Sarah, e ela soltou um gemido abafado ao perceber que ele des­lizava os lábios úmidos por seu rosto em direção ao lobo da ore­lha, mordiscando-o com suavidade, para depois depositar pequenos beijos ao longo do pescoço macio até alcançar os mamilos, beijando-os, lambendo-os, sugando-os com urgência e avidez.

Sarah tremia, sentindo-se fraca, atordoada pelas emoções que Garrett lhe despertava. Mantinha os olhos fechados, perdida nas sensações, quando se viu subitamente afastada. Será que ele esta­va brincando, pretendendo dar-lhe uma lição que nunca esqueceria?

- Dê um jeito em suas roupas - ele falou ríspido. - Alguém está descendo a escada.

Garrett mal acabara de falar e Sarah escutou passos. Arrumou rapidamente a camisola e refez o laço do negligé; segundos depois seu pai entrava na sala.

- Garrett! - Geoffrey o cumprimentou sem esconder a sur­presa. - Não tinha idéia de que estava aqui...

Sarah ficou embaraçada. Sabia que devia estar corada, e, em­bora Garrett parecesse frio como sempre, tinha certeza de que seu pai notara algo no ar, pois ela não se sentia capaz de disfarçar o choque pelo que acontecera há pouco.

- Garrett estava... Nós estávamos...

- Como você já deve ter imaginado, vim para levar Jason comigo - ele a interrompeu. - Sarah estava tentando me persuadir a deixá-lo ficar por alguns dias. Vou pensar sobre isso. Nós não queríamos perturbar seu sono, Geoffrey - desculpou-se, um tan­to sem jeito.

O velho parecia contente pelo fato de Garrett estar consideran­do a possibilidade de deixar o neto permanecer ali mais algum tem­po, enquanto Sarah sentia-se arrasada ao se dar conta das implicações que haviam por trás das palavras do cunhado, que parecia pensar que ela estava tentando seduzi-lo para influenciar sua decisão!

Não saberia explicar o que havia acontecido, mas pela primeira vez sentiu que a presença daquele homem era muito perigosa. Irri­tada, desejou que ele e sua presunção fossem para o inferno.

- Não faz mal. - O pai de Sarah sorria, sem perceber a ambi­güidade daquele comentário sobre a filha. - Nós, velhos, já não temos mais necessidade de dormir tanto.

Conversaram mais um pouco e por fim Garrett anunciou que ia embora. Sarah só conseguiu respirar aliviada quando ouviu o barulho do carro à distância.

- Bem, o que acha disso, filha? - O pai a olhou esperançoso. Ela notou que ele parecia acreditar na resposta afirmativa do genro, e gostaria de poder ter a mesma certeza. - Acho que teremos de esperar para ver.

- Eu teria pedido para que ele deixasse o garoto ficar, mas...

- Por que se arriscar a ouvir um insulto, pai? Garrett Kingham continua o mesmo homem arrogante de dez anos atrás.

Ele balançou a cabeça tristemente.

- Nunca pude entender por que Amanda se envolveu com esse tipo.

Sarah sabia que seus pais haviam ficado muito aborrecidos quan­do a irmã apresentara Garrett como seu marido, mas tinham cons­ciência de que essa seria a melhor solução, já que ela estava grávida de três meses. Sentia que havia algo errado naquela história, mas seu pai nunca esclarecera nada, parecendo resignado com o curso dos acontecimentos. Ouviu-o suspirar.

- Quando ela partiu estava tão determinada a ser atriz... Foi uma grande surpresa vê-la de volta trazendo um marido e espe­rando um bebê.

- Parece que Garrett fez sucesso pelos dois - comentou Sa­rah, cínica.

- Pode ser, mas isso não o tornou um homem feliz.

Sarah se perguntava se ele algum dia fora feliz. Não que se importasse, é claro, pois já superara a paixão adolescente e o único sentimento que nutria no momento, pelo cunhado, era ódio.

- O que acha que ele vai resolver sobre Jason? - o pai insistiu.

- Olhe, não se anime demais. Temo que a minha "persuasão”, como ele falou, não vá adiantar nada.

Exceto, talvez, convencê-lo de que ela não era uma companhia adequada para o sobrinho...

 

Pela manhã Sarah estava apavorada com a expectativa da che­gada de Garrett. Temia ter de olhá-Io nos olhos depois do que acon­tecera na noite anterior. Não que compreendesse o que houvera. Poderia dizer que ambos se sentiram atraídos, que o desafiara ques­tionando sua autoridade sobre Jason, e até mesmo que o fato de estar de camisola tivesse soado com um convite. O que não conse­guia aceitar era o modo como permitira que um homem que odiáva e desprezava a tivesse beijado de um jeito tão ousado, tão íntimo!

Seu rosto queimava de vergonha cada vez que se lembrava da­queles lábios possessivos, das mãos grandes e quentes sobre seu seio nu, da boca exigente... Estremeceu ao pensar como reagira a ele, como não tivera forças para detê-lo.

Como poderia encará-lo outra vez?

Deixando de lado a angústia, ela recordou-se de modo como Ja­son recebera a notícia da chegada do pai. Cumprimentara-a alegre e bem-disposto, mas, ao tomar conhecimento da visita da noite an­terior, fechara-se num mutismo hostil, apenas beliscando o café da manhã. Enquanto arrumava a cozinha, ela observava o pai e o sobrinho jogando tênis na praia, contentes por estarem juntos naquele instante mesmo sabendo que muito em breve teriam de di­zer adeus. Pelo bem de ambos esperava que não tivesse de ser assim.

Seu pai sempre fora um homem muito ativo e ocupado, mas, depois que se aposentou, muito de sua alegria de viver se perdera. Porém, a chegada do neto parecia tê-lo reanimado, dando-lhe no­vas perspectivas.

Aqueles dois precisavam um do outro; ela só esperava que Gar­rett conseguisse enxergar isso.

Droga! Como se censurava pelo que acontecera à noite! Não fos­se isso, seria capaz de enfrentá-lo de igual para igual. Contudo, sabia que ele nunca a olharia como a professora capaz e a mulher segura que lutava pela felicidade de duas pessoas que amava, e sim como uma tola ingênua que não resistira a seu charme.

- Droga, droga, droga! - Sarah bateu a porta do armário com força, descarregando a raiva.

- Alguma coisa a está aborrecendo numa manhã tão linda e ensolarada?

Ela se virou de imediato, encarando o homem que lhe causara toda aquela angústia, estreitando os olhos enquanto ele se apoia­va, muito à vontade, no balcão. Estivera tão absorta observando Jason e o pai que não notara a chegada do carro de Garrett, nem sua entrada no chalé. E agora se via exatamente na posição em que não queria estar: na defensiva.

Ele vestia uma bermuda jeans e uma camiseta regata, e parecia ter dormido muito bem. Ao contrário de Sarah.

- Já tomou café? - ela perguntou, desanimada.

Ovos, bacon, frutas... - Não pedi detalhes.

- Você obviamente ainda não comeu - Garrett afirmou, olhando-a zombeteiro. - Não sabe que o café da manhã é a refei­ção mais importante do dia?

Ela engoliu em seco, procurando não se irritar. - Pois hoje será o almoço.

Ele pareceu estudá-la por alguns instantes.

- Se continuar assim, logo vai sumir.

Sarah resistiu ao impulso de dar-lhe uma resposta malcriada, sentindo-se, de repente, muito exposta no short cavado que fazia conjunto com o top vermelho. Imaginando que ele apareceria, censurou-se por não ter colocado uma roupa mais formal: porém não queria que o pai notasse nada de diferente em suas atitudes.

- Sempre fui magra.

- Não se preocupe. Você é cheinha nos lugares certos.

Irritada, ela achou melhor mudar de assunto.

- Garrett, sobre a noite passada...

- Às vezes eu me pergunto quantas conversas já não começaram com essas mesmas palavras...

Ele estava brigando de gato-e-rato com ela, e, como uma ado­lescente, Sarah se via sem saída. Então, chegando ao limite de sua paciência, falou ríspida:

- Eu não estou preocupada com outras conversas, somente com esta! E na noite passada...

- Eu beijei você - ele completou suavemente. - E você correspondeu.

Ela corou.

- Eu não encorajei você!

- Nem tentou me fazer parar.

- Só que não é esse o ponto. Num segundo estávamos discutindo, no seguinte você tentava provar sua masculinidade.

Garrett fez uma careta depois de ouvir aquela descrição do bei­jo que trocaram.

- Há muitas outras mulheres com as quais eu poderia ter feito isso, e que me trariam muito menos complicações.

Os olhos castanhos cintilaram de raiva. - Então por que me beijou?

- Talvez porque quisesse ver se a pequena gata brava que você era tinha mesmo crescido.

- E o que descobriu? - Sarah perguntou, incapaz de contro­lar a vontade de saber a resposta.

- Você deixou marcas em meu corpo - ele confessou, fitando-a com ar enigmático.

Garrett estava tão perto que ela podia sentir o calor de seu cor­po, odiando-o por forçá-Ia a ter consciência da atração e da inti­midade que havia entre ambos.

- Já não chega uma vez? Por que tem de magoar meu pai de novo? - Os olhos dela tornaram-se nublados, lembrando-se o dia em que Garrett levara Jason embora.

- Eu o estava levando para o lugar a que pertencia.

- Mas meu pai tinha acabado de enterrar a filha mais velha... Sua esposa!

Garrett suspirou profundamente ao notar a acusação na voz de Sarah.

Olhe, eu sinto muito pelo modo como Amanda morreu...

- Porque isso o salvou de ter de suportar um processo de divórcio, não é?

Os olhos verdes tinham um brilho perigoso. - Não teria havido divórcio.

- Amanda o deixou - ela rebateu, sem acreditar. - O próximo passo seria a separação legal.

- Não necessariamente. Não entre Amanda e mim. Sarah franziu a testa, intrigada, ante tanta certeza. - Mas ela o deixou...

- E teria voltado - ele afirmou, arrogante. - Sempre voltava.

- Sempre?- Sarah lançou-lhe um olhar surpreso. - Mas...

- Como vai indo com Jason? - Garrett fixou o olhar no filho, com uma expressão que deixava claro que não diria mais nada.

Sarah voltou o rosto para a janela, perdida em seus próprios pen­samentos. Amanda nunca havia deixado o marido antes daquela trágica ocasião; então por que ele insinuara que houve outras vezes? Por que sempre que falava na esposa a voz grave deixava transparecer um enorme ressentimento? O que acontecera entre eles, afinal? Confusa, Sarah percebeu que precisava descobrir a ver­dade.

- Sabe, Garrett, a gente acaba chegando à conclusão de que o velho e o jovem se entendem muito bem.

- Só nós, que estamos no meio da estrada, é que somos uns pobres diabos e levamos todo o fardo da incompreensão, não é?

Ela o fitou novamente.

- Nunca pude perceber em você o desejo de ser sociável, de ser querido pelos outros!

Garrett sorriu de maneira espontânea, o olhar quente, magné­tico.

- Ser querido é uma emoção apenas agradável.

- Não se preocupe. Não há muitas pessoas que sentem essa emoção tão indefinida por você.

A expressão dele suavizou-se ao encarar o rosto perfeito de Sarah.

- Você se tomou uma linda mulher. Seu marido foi um tolo por deixá-la.

De repente pareceu-lhe que os dois estavam afastados de tudo, num mundo particular, e ela sentiu medo. A última coisa que que­ria era sentir-se vulnerável perto daquele homem. Já era difícil con­trolar a vontade de tocá-Io discutindo o tempo todo. Caso se deixasse levar pelo fascínio de Garrett, estaria perdida.

Procurando um assunto mais seguro, perguntou-lhe se já havia chegado a alguma conclusão sobre Jason.

- Ainda não. Você não deve acreditar em tudo o que ele con­tar a você, Sarah. Garotos de dezesseis anos costumam achar que o mundo todo está contra seus propósitos.

Ela sabia bem disso, e deixara claro para o sobrinho que havia um outro lado na questão e que era preciso levar em conta o dese­jo de seu pai.

- Eu já lhe disse, sou uma professora, entendo o que se passa com Jason. Apesar disso, acho que ele e meu pai estão se enten­dendo e esse relacionamento faria bem a seu filho, caso você per­mitisse que ele ficasse aqui.

- Vamos ver. Qual é a matéria?

- Como? - Ela piscou, sem entender.

- O que você ensina?

- Educação Artística.

Ele fez que entendia com um gesto de cabeça sem se surpreen­der com a resposta.

- Você pintou o retrato de Amanda e o de sua mãe que estão na sala?

- Foi um presente que dei a meu pai.

- São muito bons. Um tanto emocional, mas você é assim mesmo.

- Garrett...

- Será que eu disse alguma coisa errada? - Ele franziu as sobrancelhas, nos olhos verdes um ar zombeteiro.

- Acho melhor nos juntarmos a Jason e papai.

- Por quê? Está entediada? - Ele deu de ombros. - Os dois parecem estar se arranjando muito bem sem nós.

Sem dúvida, avô e neto se davam muito bem, o que não aconte­cia com Sarah e o cunhado. Nunca conseguira lidar com aquele homem cínico e arrogante, que parecia disposto a deixá-la acuada como um animalzinho assustado.

- Tenho certeza de que Jason quer ver você - ela insistiu, firme.

Garrett deu uma risada irônica, um som gutural que a fez es­tremecer.

- E eu tenho certeza de que sou a última pessoa no mundo que ele quer ver. Jason possui o mesmo talento da mãe e não há nada que goste mais do que uma audiência cativa!

- Não está sendo um pouco injusto com ele? Tenho certeza de que os tios dele são pessoas ótimas, mas Jason não parece gostar de ser sempre deixado com parentes.

- Ele só fica com meu irmão e minha cunhada nas férias, e não sou de sair tanto assim. A principal objeção dele quanto a fi­car com os tios é que não tem nada para fazer lá. É óbvio que Jo­nathan é muito ocupado e Shelley não está acostumada a ter crianças por perto. Ela faz o melhor que pode dentro das circuns­tâncias, mas Jason parece não reconhecer isso.

- Você é o pai, deveria....

- Também faço o melhor que posso. Como qualquer outro pai que sai para trabalhar.

- Garrett, não quero discutir com você...

- Será a primeira vez, então. Mesmo quando adolescente você brigava comigo sobre a bebida que tomaria na lanchonete ...

Sarah corou fortemente ao lembrar-se daquela ocasião. Depois de muito relutar, aceitara sair com a irmã e o cunhado. Tinham ido a uma lanchonete e ela cismara em tomar vinho branco. O re­sultado foi que voltaram para casa depois de uma feia discussão; Sarah sem tomar o vinho e Garrett sem conseguir convencê-la de que ainda não tinha idade para beber álcool.

Agora, dez anos depois, sentia-se embaraçada por seu compor­tamento infantil no passado.

- Eu estava furiosa por você ter se casado com minha irmã, ­ela confessou, e depois acrescentou, depressa: - Você era um in­truso e eu não gostava do seu jeito.

Sarah sabia que aquilo era uma meia verdade apenas, pois o que sentira naquela época fora ciúme, um sentimento forte e novo que tivera de esconder de todo mundo. Precisava disfarçar sua paixão pelo cunhado; desafiá-lo, hostilizando-o o tempo todo, fora a saí­da que encontrara. Parecia ter tido sucesso, pois ninguém jamais desconfiara de seu amor por Garrett.

- E ainda não gosta - ele falou com voz arrastada. ­Mas sugiro que façamos uma trégua, pelo bem de Jason - con­cluiu suavemente, segundos antes de o filho e o sogro entrarem na casa.

Ela pensara que Garrett iria ter uma conversa com o filho e, de­pois de tomar uma decisão, partir com ou sem ele, mas teve a im­pressão de que se enganara.

Jason cumprimentou secamente o pai, comunicando-lhe que o avô o convidara para pescar. Ao fitar Geoffrey, Sarah notou-lhe o olhar cúmplice e soube que o desejo de agradar o neto suplanta­ra mais uma vez o bom senso.

- Por que não vamos todos? - Garrett sugeriu, animado. ­Sarah poderia arranjar comida para nós... O que acham?

A última coisa que ela queria era sair para pescar no iate dos Kingham, mas, caso se recusasse, estragaria o passeio de todos. Então se viu concordando com a idéia.

Sabia que, em segredo, Garrett se divertia ao ver frustradas to­das as suas tentativas de se manter afastada. Como odiava aquele homem!

Ele a ajudou a arrumar a cesta enquanto Geoffrey e Jason saíam à procura do equipamento de pesca, e parecia disposto a não deixá­-la esquecer sua presença, mantendo-se sempre por perto enquanto empacotavam as coisas, e fitando-a durante o percurso até a mari­na pelo espelho retrovisor do Mercedes alugado.

Para um estranho, eles deviam parecer uma família, Sarah pen­sou exasperada, comprimindo os lábios ao virar-se e deparar com Garrett, que a fitava divertido. Ele parecia totalmente à vontade recostado de maneira displicente na espreguiçadeira colocada num canto do convés, as longas pernas esticadas para a frente. Muito consciente do modo como ele a examinava, percorrendo seu corpo lentamente com os olhos verdes e brilhantes, Sarah de alívio por estar de óculos escuros, o que o impedia de descobrir o que seus olhos revelavam ..

- Você tem um bronzeado incrível- ele comentou, quebrando o silêncio.

Ela estremeceu.

- Você não acha que já temos problemas suficientes sem isso?

- Problemas? - ele olhou ao redor, admirando as gaivotas voando sobre o barco que cortava suavemente as águas azuis e límpidas, aprovando o riso fácil do filho que parecia se divertir muito com o avô, na cabine de controle.

Sarah suspirou.

- Você sabe muito bem o que quero dizer, Garrett. Meu pai está sendo educado porque quer ficar com o neto, mas não acho que o tenha perdoado pela desgraça que trouxe as nossas vi­das.

- A todos vocês? - ele repetiu baixinho, estreitando os olhos.

- O que foi que fiz a você?

Como explicar que depois da morte de Amanda ela se desdo­brara para que o pai não sentisse falta da irmã, que lutara para diminuir-lhe a dor, casando-se para dar-lhe um neto, e que nada disso dera certo? Parecia que tudo se transformara num rodamoi­nho de desilusões desde que Garrett entrara em suas vidas.

- Você destruiu minha fami1ia. Seduziu Amanda com riqueza e sucesso, e acabou por arruinar três vidas ao mesmo tempo,

Ele lançou-lhe um olhar gelado.

- Estou aliviado por ver que não incluiu meu filho nessa conta.

- Não tenho uma opinião formada ainda. Só quero que perce­ba que não preciso de seus avanços pouco sutis para me dizer o quanto é odioso! - Ela fuzilou-o com olhos brilhantes e zangados.

Garrett levantou-se, afastando-se tenso e silencioso em direção à cabine.

Por que ele estava fazendo aquilo? Que satisfação teria em ma­goar outra vez sua família? Será que já não fizera o suficiente ao transformar a vida de sua irmã num verdadeiro inferno e depois afastar Jason do próprio avô? Ele estava errado quando dissera que não haveria divórcio; Amanda falara sobre isso no dia em que morrera. Sem saber o que pensar, Sarah percebeu que tinham aca­bado de lançar âncora numa pequena baía ao longo da costa.

Pouco depois os três homens dirigiram-se para onde ela estava, devorando o almoço e preparando-se em seguida para pescar. Gar­rett porém permaneceu a seu lado.

- Por favor, sinta-se à vontade para se juntar a eles - Sarah sugeriu, apontando para Geoffrey e Jason.

- Como era ele? - Garrett perguntou de repente, os braços cruzados sobre o peito.

Ela o fitou, surpresa.

- Como era quem?

- Seu marido. Acho que você disse que ele se chamava David.

As mãos de Sarah tremeram, enquanto ela terminava de guar­dar as sobras do almoço.

- É um professor, como eu.

- Trabalhavam juntos na mesma escola?

Ela negou com um gesto de cabeça.

- Nós ainda estávamos fazendo estágio quando nos conhecemos. David vive e trabalha em Londres, agora.

Garrett semicerrou os olhos.

- Por quanto tempo permaneceram casados?

- Não muito. - Ela evitou dizer que o casamento durara apenas seis meses e que fora um erro desde o início. - Por que esse súbito interesse pelo meu casamento, Garrett?

- Não é súbito. Eu quis saber de tudo desde que você me con­tou que tinha sido casada.

- Por quê?

- Estou curioso sobre esses dez anos de sua vida, e seu casamento me pareceu um bom começo.

- Bem, posso lhe assegurar que meu relacionamento com Da­vid é só uma pequena parte desse tempo.

Ela tentou encerrar o assunto, enfiando a mão no bolso traseiro do short, e dando as costas para ele, deixando os olhos vagarem pelo imenso mar azul.

- Que parte? Realmente, Garrett...

Não estou perguntando à toa, Sarah. - Ele agarrou-lhe os braços, obrigando-a a sentar-se a seu lado. - Mulheres que foram... casadas... não fogem do contato de um homem do jeito co­mo você fugiu.

Os olhos dela brilhavam de raiva.

- Isso quer dizer que eu deveria estar faminta por um homem que mostrasse interesse por mim, mesmo que fosse você?

- Eu não disse isso...

- Não com essas palavras, mas o sentido é o mesmo.

- Sarah...

- Por que não me deixa em paz? - Lágrimas brilhavam em seus olhos. - Eu não quero nem mesmo que você me toque, eu não quero...

- Sarah! - ele gemeu, a boca exigente descendo sobre a dela.

Aquilo era errado! Ela odiava aquele homem, desprezava-o. Mas estava correspondendo ao beijo como se sua vida dependesse disso.

Sarah sentia-lhe o cabelo loiro como seda ao afundar os dedos por entre as mechas macias, perdia-se no fascínio dos lábios pos­sessivos, na linha rígida e máscula do queixo reto. Garrett era tão lindo, e ela o desejava tão desesperadamente... Um soluço esca­pou de seus lábios quando a boca úmida abandonou a sua.

Os olhos dele estavam escuros, nublados de desejo.

- Vamos lá para baixo - sussurrou.

- Meu pai e Jason...

- Estão dormindo. - Tornou a beijá-la. - Por favor, Sarah!

- Mas...

- Sarah, eu tenho de tocá-la! - ele gemeu, abrindo a porta da cabine e puxando-a para dentro.

Era um espaço pequeno, com uma pequena cozinha e dois beli­ches. Garrett a fez sentar-se num deles e acomodou-se a seu lado.

- Estive ansioso para tocá-la outra vez desde que seu pai nos interrompeu a noite passada. Se ele não tivesse entrado...

- Mas entrou - Sarah disse sentindo-se fraca. - E talvez de­vêssemos ser gratos por isso.

- Não. - Garrett aproximou-se, sério. - Eu quero você, Sa­rah, e acho que também me quer.

- Não...

- Sim - ele insistiu ao buscar a boca macia e úmida de Sarah uma vez mais.

Lágrimas escorriam por suas faces enquanto ela se perdia no calor do beijo de Garrett, odiando-se por corresponder a ele e, contu­do, incapaz de fazê-lo parar.

Essa era a razão por que odiara aquele homem, a razão por seu casamento ter fracassado sem nem mesmo uma chance. Amava Garrett Kingham. Na verdade, nunca deixara de amá-lo.

 

Sarah era pouco mais do que uma criança quando viu Garrett pela primeira vez, mas se apaixonou perdidamente e acabou trans­formando aquele amor em ódio ao perceber o quanto ele fizera a irmã infeliz. E enterrara tão fundo o sentimento verdadeiro que acabara por acreditar que estava morto. Até o beijo da noite ante­rior acontecer...

Quando ele a beijara e a tocara, mostrara-lhe que não era fria nem frígida, como o ex-marido a fizera crer; que apenas precisava que o homem certo a despertasse. Garrett era esse homem.

Durante a longa noite de insônia, ela tentara se convencer de que aquilo tudo era loucura, de que ainda o odiava, de que jamais poderia amar alguém como ele.

Mas o amava; soube disso no momento em que arqueou o cor­po de encontro ao dele para que os lábios ousados deslizassem pe­la pele acetinada até encontrar o vale entre os seios, roubando-lhe a respiração. Sentiu a boca úmida apossando-se do mamilo, de­pois de ter afastado o top, e estremeceu ao ser tocada pela língua morna e ávida.

Agarrava-se a Garrett, gemendo baixinho ante a tortura daque­le toque, ante o desejo de entregar-se, de fazer amor com loucura.

Sentiu o ar frio em seu corpo quando o tecido foi totalmente afastado. Fitou-o com olhos escuros de paixão, desejando que ele a deitasse na cama, sem se importar com o perigo de Geoffrey ou mesmo Jason resolverem entrar a qualquer momento:

- Você é linda, Sarah - Garrett murmurou ofegante, os olhos mais parecendo dois lagos profundos. - Tão linda e... Deus, eu quero você! - gemeu, deitando-se sobre ela, redamando a boca de Sarah num beijo urgente e possessivo.

Ela curvou o corpo, amoldando-se ao dele, tomada por uma necessidade primitiva ao sentir-lhe as mãos sobre os seios nus, acari­ciando os mamilos, apertando-os com a ponta dos dedos. Passou os braços em torno do pescoço masculino, trazendo-o mais para junto de si, à medida que o beijo se tornava cada vez mais íntimo.

Estava perdida, ávida pelo amor daquele homem, ansiando pe­lo seu toque, pela satisfação total.

Afastando-se um pouco, Garrett a fitou com os olhos cheios de fogo, mostrando o desejo que sentia.

- Não aqui, Sarah - murmurou frustrado... Mas logo, meu amor, logo - prometeu, tentando se controlar. - Agora preciso ajudar você a se vestir, senão não sei do que serei capaz...

Oh, Deus! O que ela estava pretendendo! Se não fosse pelo con­trole de Garrett, teriam feito amor ali mesmo!

Virou-se, afastando-se dele, agarrando a pequena peça de roupa, as faces pálidas de desespero e desprezo por si mesma.

- Sarah...

- Não, não me toque - disse-lhe numa voz tensa e abafada.

- Não se odeie querida. Foi lindo. Nós...

- É a você que eu odeio! Você com seu dinheiro e seu poder, com essa presunção de achar que pode ter tudo o que quiser e quem quiser! Recolocou o top mecanicamente, dirigindo-se, trêmula, para a porta. - Deixe-me sair! - ordenou com voz gelada, quando Garrett deliberadamente barrou-lhe a passagem.

A expressão no rosto claro era de dor. .

-Sarah...

- Eu disse para me deixar passar, Garrett - ela repetiu entre dentes, saindo da cabine de cabeça erguida; porém ar­rasada.

Desprezava a si mesma por ter-se apaixonado pelo homem que seduzira sua irmã, deixara-a grávida, magoara seus pais, destruíra seu casamento, separara Jason dela e do pai por anos e agora a chamava de "meu amor" e "querida", tentando seduzi-la.

Não havia explicação racional ou razoável para o amor que sen­tia por Garrett, que sempre sentira, e odiava-se por não ser capaz de deixar de amá-lo.

Droga! Ele devia estar se divertindo ao concluir que ela, como tantas outras: caíra em sua armadilha. Sarah sentia o coração cheio de dor, mas já não se importava, pois a sensação pelo menos blo­queava o desespero que parecia querer sufocá-la.

- Hei, o que aconteceu com você? - Jason perguntou, preocu­pado, ao encontrá-la apoiada na amurada, com o olhar vago.

Ela tentou disfarçar, procurando sorrir ao fitá-lo.

- Isso sempre- acontece comigo - mentiu. - Tenho enjôo quando passeio de barco. - Evitou o olhar surpreso do pai, pois ambos sabiam que ela nunca enjoara no mar. Mas aquela fora a melhor desculpa que encontrara. Como poderia explicar que se sen­tia descontente consigo mesma, e que o homem com semblante mui­to sério parado a seu lado era a causa?

Talvez devêssemos voltar... - Geoffrey sugeriu hesitante. Não quero estragar a pescaria...

Talvez devêssemos voltar agora - Garrett cortou ríspido. - Tenho que voltar a Londres ainda hoje.

Lembrar que estavam de partida acabou por fazê-los taciturnos na viagem de volta, e Sarah, mais do que todos, calou-se, evitan­do qualquer contato com Garrett.

Talvez fosse a última vez que veria Jason, e o pensamento aca­bou por deprimi-la profundamente. Garrett não tinha coração, disse a si mesma, era o ser mais egoísta que já encontrara, e detestava o que ele a estava fazendo sentir. Se ao menos pudesse odiá-lo...

Ele não fez menção de sair do carro quando chegaram ao chalé, mantendo o motor ligado.

- Não vou entrar - falou seco. - É uma longa viagem de volta. Fique, Jason - disse ao ver o garoto sair do Mercedes.

Jason o encarou com uma ponta de rebeldia no olhar, a costu­meira rixa contra o pai vindo à tona novamente.

- Tenho de entrar e pegar minhas coisas...

- Não há necessidade. Você ficará com seu avô e Sarah por alguns dias.

- Ficarei? - o rapaz repetiu incrédulo. Garrett fez que sim com um gesto de cabeça.

- Voltarei no fim da semana para buscá-lo. Mas queria falar com você primeiro.

- Obrigado, Garrett. - Geoffrey tocou-lhe o ombro. - Sig­nifica muito para mim.

- Sarah me convenceu. - Ele a encarou friamente. - Não vou demorar muito com Jason - assegurou a Geoffrey.

Sarah sabia que Garrett tentara atingi-la, e o pior era que con­seguira. Será que ele realmente pensava que ela se permitira atocá-lo daquele modo porque esperava persuadi-lo a deixar Jason ali? Se­rá que não percebia que o teria impedido se tivesse forças para tanto?

- Nunca pensei que ele fosse concordar. - O pai sorriu ao en­trar em casa. - Não sei o que disse a ele, filha, mas agradeço por isso.

Ele não se sentiria tão agradecido se descobrisse o preço que Gar­rett acreditava que Sarah teria pagado para convencê-lo.

- Eu não disse nada a ele, pai. Você conhece Garrett. - Seus· lábios se comprimiram. - Ninguém consegue convencê-lo do que não quer.

- É, tem razão. - Geoffrey franziu o cenho, pensativo. - O que aconteceu com você hoje? - perguntou, preocupado. - Nunca passou mal no mar.

- Deve ter sido algo que comi, porque me sinto bem agora ­ela mentiu, sentindo o estômago se contrair ao se lembrar do que acontecera na cabine.

- É estranho, porque todo mundo comeu a mesma coisa e nin­guém passou mal. Contudo, pensando melhor agora, Garrett pa­recia um pouco pálido depois do almoço.

- Como pode dizer isso? Ele está bronzeado!

- Você também está bastante bronzeada e ficou pálida no barco, Sarah.

Sem resposta, ela ficou pensando no quanto desejara tocar aquela pele amorenada. Quando era mais jovem, sonhara muitas vezes em correr os dedos pelo peito largo, pelo cabelo loiro, invejando a irmã por ter se casado com Garrett. Então, quando descobriu o mal que ele causara, suas fantasias se transformaram em ressen­timento.

No entanto o amor sobrevivera. Sarah não sabia como nem por que, mas o sentimento nunca morrera.

O que você acha que ele queria falar a Jason? - o pai per­guntou, preocupado.

Ela sorriu.

- Provavelmente o mesmo que eu lhe disse esta manhã: que ele agiu de maneira irresponsável, sem pensar nos outros, e que se fizer isso outra vez não sairá impune.

Geoffrey sorriu, aliviado.

- Então foi por isso que ele mal tomou café! Sarah o fitou com ar reprovador.

- Eu deveria ter-lhe dito o. mesmo, embora tenha certeza de que meu sobrinho conseguiu convencer você a ajudá-lo nesse pla­no maluco.

- Obrigado pela compreensão!

- Poderia ter havido sérias conseqüências, pai...

- Mas não houve. - Fez um gesto para que ela silenciasse quando a porta se fechou atrás do neto. - Agora vamos tratar de fazer com que a permanência dele aqui seja o mais agradável possível, está bem?

- É claro. Mas não vou deixar você o mimar demais. Os olhos azuis de Geoffrey sorriam.

- Não pensei vem por um minuto que você deixaria!

Sarah sorriu para Jason, deixando que o sobrinho percebesse que tudo estava bem. Mas, enquanto preparava o chá, não pôde deixar de pensar que em três dias Garrett estaria de volta e a tortu­ra recomeçaria.

Três dias não eram suficientes para recuperar dez anos de sepa­ração, mas os três se esforçaram ao máximo, nadando juntos, sain­do para pescar no bote de Geoffrey, indo à cidade para fazer compras. Tinham noites calmas, neto e avô descobrindo a mesma paixão pelo xadrez. E naquelas noites que Garrett telefonava para o filho Sarah sempre procurava se certificar de que seu pai ou Ja­son atendiam ao chamado, evitando a todo custo falar com ele.

Apesar de sua determinação, Sarah sabia que havia algumas coi­sas que gostaria de lhe falar. Tinha percebido um homem sempre por perto, todas as vezes que estavam na praia, e depois do que Garrett lhe dissera sobre a possibilidade de Jason ser seqüestrado ... Mas, por outro lado, sentia-se ridícula por desconfiar de um homem apenas porque coincidira de estarem sempre no mesmo horário, na mesma praia. Com toda certeza devia ser um turista em férias.

Naqueles poucos dias Jason tornou-se parte integrante da vida de Sarah e Geoffrey, transformando-se num garoto aberto e fa­lante, preocupado apenas em desfrutar a companhia do avô e da tia.

O tempo passou depressa, e na última noite Jason hesitava em ir dormir, embora o avô já tivesse se recolhido. Ficava perto de Sarah, observando-a remendar algumas peças de roupa.

- Espero que você não tenha ficado aborrecida comigo no dia em que cheguei... - Ele a encarou, sem jeito.

- Tudo que me lembro sobre aquele dia é que fiquei muito satisfeita por ver você - assegurou ela, largando a costura.

O rapaz deu de ombros, mostrando embaraço.

- Fui um bobo ao pensar que você poderia ser minha mãe. Sarah franziu a testa.

- Por quê? É claro que seu pai lhe falou que ela estava morta...

- É claro. Mas é que você se parece tanto com ela e... Tudo que consigo me lembrar sobre minha mãe é que ela desapareceu um dia, e então só havia papai e eu. Pensei... por um momento que ... que talvez ele tivesse dito que mamãe estava morta só por­que os dois tinham se separado e ele não queria que eu a visse.

Aquele pensamento não estava tão longe da verdade, mas fora da família de Amanda que Garrett mantivera o filho afastado. En­tretanto, depois de tudo, era bom que ele não se lembrasse da tra­gédia que vitimara sua mãe ou da cena que se seguira naquele mesmo chalé, quando o pai o levara embora.

No entanto incomodava-a saber, que o sobrinho achava que ela lembrava Amanda. Sarah não se parecia com a irmã...

- De certo modo, lamento que isso não tenha acontecido, pois então sua mãe não teria morrido. Mas posso lhe assegurar que ela nunca teria ficado longe de você por tantos anos. Amava-o demais para concordar com uma situação dessas.

Jason parecia triste.

- Você era a pessoa mais importante do mundo para ela - Sa­rah murmurou suavemente.

Ele pôs-se de pé.

- Estou contente por ter vindo, por ter ficado com você e com vovô. Eu... vou sentir falta dos dois - terminou com voz embar­gada, antes de subir correndo as escadas.

Eles também sentiriam muita falta do garoto, e Sarah sabia que o pai sofreria com a partida do neto, no dia seguinte, apesar de ser grato a Garrett por ter permitido aqueles poucos dias de convi­vência. Ela, contudo, não chegara a nenhuma conclusão a respei­to do que fazer sobre aquele amor sem futuro. Além disso, havia a eterna semelhança com a irmã.

Dirigindo-se ao espelho, Sarah viu uma mulher jovem e bron­zeada, com longos cabelos negros e olhos misteriosos. Prendeu a respiração ao ver o retrato da irmã na parede oposta à do espelho. As semelhanças eram muitas, embora apenas superficiais.

Será que Garrett as tinha notado também? Será que fora essa, a razão de ele parecer compelido a tocá-la, a beijá-la? Ele e Amanda não pareciam ter sido felizes; na verdade a vida do casal indicava que mal se suportavam. Ele, porém afirmara que não haveria di­vórcio. Tudo indicava que não tinham sido capazes de viver jun­tos; talvez, a seu modo, Garrett tivesse amado a esposa, e agora visse Sarah como uma substituta adequada.

- Não! - ela quase gritou, tentando convencer a si mesma de que nada daquilo era verdade.

Contudo, lembrou-se de que o primeiro beijo que trocaram acon­tecera depois de uma discussão sobre ele e Amanda serem infelizes juntos... E, ao encarar-se no espelho, a resposta veio clara e cor­tante como um raio. Por um breve período, Sarah se tornara Aman­da para Garrett.

Nenhum dos três sabia com exatidão o horário de chegada de Garrett. Assim resolveram passar o dia na praia. Já era quase fim de tarde e não havia nem sinal dele.

Mas o homem que Sarah tinha visto muitas outras vezes estava sentado numa elevação ali perto. A coincidência pareceu muito grande. Sempre que o fitava, Sarah via que eram observados dis­farçadamente. Seu pai e Jason pareciam não ter notado o tal ho­mem, mas, à medida que o dia passava e a praia começava a esvaziar, a inquietação dela aumentava, pois o desconhecido per­manecia exatamente no mesmo lugar.

Sem refletir, Sarah assegurou-se de que o pai e o sobrinho esta­vam bem e cruzou a pequena distância que a separava do estra­nho. Era encarada com curiosidade e começou a se perguntar se não tinha cometido um erro; ele não se parecia com um seqües­trador.

Era pouco mais alto do que ela, magro e quase calvo, com olhos castanhos e frios. E foram seus olhos que a fizeram guardar certa distância.

_. Eu não sei o que você espera ganhar nos espionando dessa forma - desafiou-o, ríspida. - Mas quero que saiba que sei exa­tamente o que está fazendo.

O homem ergueu as sobrancelhas. - É mesmo?

Aquela voz pareceu-lhe conhecida. Mas, antes que pudesse des­cobrir onde a ouvira, a areia sob seus pés começou a ceder e Sarah se viu perdendo o equilíbrio, caindo dentro do buraco que o ho­mem havia cavado. A reação dele foi rápida, amparando-a desajeitadamente, fazendo com que ambos caíssem no chão.

- Realmente, Dennis! - soou uma voz divertida e tão furio­samente familiar para ela. - Sei que pedi que desse uma olhada neles, mas eu quis dizer à distância!

Sarah se recobrou o suficiente para virar-se e fitar Garrett, as faces vermelhas ao encontrar a expressão zombeteira no rosto bron­zeado. Depois se voltou para o estranho.

- Dennis? - repetiu incrédula.

- Certo - ele respondeu colocando-se de pé.

Ela tirava a areia do corpo, mantendo os olhos baixos, incapaz de encarar os dois homens, mortificada pelo que acontecera. En­golindo em seco, começou a desculpar-se:

- Eu lamento. Não tinha idéia de que Garrett o mandara para cá. - Ou jamais teria se comportado como uma tola, pensou, dei­xando o rancor aparecer nos olhos castanhos.

Jason está sob minha responsabilidade - Dennis explicou secamente antes de se virar para Garrett. - Ela veio direto para mim e me desafiou, chefe. - Franziu o cenho carrancudo... - Pen­sou que eu estivesse atrás de Jason.

Garrett respirou profundamente, agarrando Sarah pelo braço e mantendo-a a seu lado.

- Obrigado, Dennis - disse sem sorrir, virando-se e puxando-a sem a menor cerimônia.

Sarah temera aquele reencontro, mas jamais esperara que acon­tecesse daquela maneira. Garrett parecia furioso, quase como se tivesse vontade de colocá-la sobre os joelhos e dar-lhe umas pal­madas. Acenou para o filho e o sogro e continuou andando para o chalé, apesar dos protestos veementes que ela fazia.

_ Garrett! - gritou, exasperada, tentando soltar-se das gar­ras que a mantinham cativa. - Garrett, solte-me! - ordenou furiosa.

- Não - foi a resposta lacônica e cortante.

Haviam acabado de entrar na sala quando ele se virou para Sa­rah, os dedos relaxando o aperto, fitando-a sério.

- Sua pequena tola! Que mulher mais tola!

Antes que ela pudesse desabafar a indignação que sentia, seus lábios foram tomados por uma boca selvagem, num beijo rude, e seu corpo preso de encontro ao dele como se fossem um só. Aque­le era um castigo, um beijo de punição, que a subjugava, que a deixava louca de amor, e, embora se sentisse fraca, sabia que pre­cisava se afastar.

Desviou-se, empurrando-o sem sucesso.

- Não sou Amanda! - explodiu por fim, desvencilhando-se dele, ao notar que ficara muito quieto.

Os olhos verdes fitavam-na de modo penetrante.

- Foi essa a desculpa que encontrou para explicar meus bei­jos? - perguntou ele com uma calma que estava longe de sentir.

- Acha que fingi que você era Amanda?   .

- Bem, foi isso, não foi? - Sarah desafiou-o, os olhos brilhando.

- Não.

- Mas...

- Eu sabia exatamente quem você era todas as vezes que a beijei e a toquei. Será que pode dizer a mesma coisa?

Ela o fitou, sem esconder a surpresa.

- O quê...

- Será que não fingiu que eu era seu ex-marido?

- Não, é claro Que não! - ela negou, decidida; nunca correspondera a David do modo como reagia a ele. - E jamais beijei você tentando convencê-lo a deixar Jason aqui - completou, com veemência.

- Eu estava furioso com você quando disse aquilo - ele desculpou-se. - Não estou acostumado a ver mulheres ficarem doentes apenas porque tentei fazer amor com elas!

- É tudo porque ...

- Por eu ser quem sou. Mas nós correspondemos um ao outro, Sarah, não por causa de Amanda ou de David, mas por nós mesmos. E não pretendo lutar contra essas emoções porque nunca as senti em toda a minha vida. Faz muito tempo que não me sinto assim, tão bem, como quando estou' com você!

Sarah engoliu em seco.

- Só que isso não faz diferença nenhuma, não é? - retrucou, sem fôlego. - Você e Jason vão embora hoje.

- Amanhã. - ele corrigiu; abrupto. - Fiz uma reserva para esta noite.

- Bem, então...

- Já desisti de muita coisa na vida para deixá-la, Sarah. Nós ficaremos juntos. Pode contar com isso!

Ela não queria pensar no assunto; tudo o que desejava era que Garrett fosse embora, para tentar sufocar o amor que sentia por ele, como fizera há dez anos.

- Não tenha tanta certeza!

Ele apertou os olhos, massageando as pálpebras como se sentis­se dor.

- Não consigo pensar direito desde que a vi, naquela noite. Gos­taria de poder fazê-la entender...

- Eu entendo - ela o interrompeu sarcástica - que você fez da vida de minha irmã um inferno!

Os olhos verdes brilharam perigosamente. - Eu também não fui feliz.

_ É o que geralmente acontece quando se é forçado a enca­rar a responsabilidade de ter engravidado uma garota de dezoito anos!

Garrett se retraiu como se ela o tivesse agredido fisicamente. _ Acho que vou ver como andam Jason e Geoffrey - falou com uma calma mortal.

Sarah ainda respirava com dificuldade mesmo depois de ele ter saído, tentando conter os pequenos soluços que se tornariam um pranto convulsivo se não conseguisse se controlar.

Por que nunca conseguira desejar David do mesmo modo apai­xonado e insano como queria Garrett? Por que tinha de amar o único homem que não podia ter?

O jantar foi uma ocasião estranha; seu pai e Jason pareciam ar­rasados com a partida, perdidos em seus próprios pensamentos, sem se dar conta da tensão que existia entre ela e Garrett.

Mas Sarah tinha consciência de tudo, e sabia que embora ele pa­recesse frio e controlado como sempre, aproveitava cada pequena desculpa para tocá-la, e ambos tremiam, incapazes de disfarçar a atração que sentiam um pelo outro. Ele a queria de fato, não con­seguia disfarçar a paixão. E ela jamais o teria.

_ O que acha de uma volta na praia, Sarah? - Garrett suge­riu depois do jantar, quando Jason e o avô estavam envolvidos em mais uma disputa de xadrez.

Ela se pôs na defensiva de imediato.

_ Ahn... Não, eu acho que não. Tenho de pregar alguns botões e ...

_ Você parece um tanto pálida, filha - o pai a interrompeu, deixando claro que aprovava a companhia do genro. - Um pou­co de ar fresco lhe fará bem!

_ Estive ao ar livre durante todo o dia, pai - rebateu ela suavemente, evitando o olhar persuasivo de Garrett.

_ Então apenas me faça companhia - ele insistiu apressado. Sarah ficou irritada. Aquele homem a colocava numa situação sem saída.

- Vou pegar um casaco... - disse aceitando o convite por não ter outra opção e saindo da sala rapidamente.

Andaram em silêncio por algum tempo, muito conscientes um do outro. Sarah tremia de expectativa cada vez que ele a tocava. Sentia-se em chamas, os pensamentos girando feito loucos, cau­sando uma sensação estranha em seu coração.

- Geoffrey e Jason parecem se dar muito bem - Garrett comentou por fim, ao pararem próximos à água.

Sarah sorriu.

- Muito bem. Papai vai sentir muito a falta do neto.

- Humm... - Garrett franziu o cenho. - Acho que a idéia que meu pai faz de ser avô é a de mandar presentes caros no Natal e aniversário, e fazer um discurso sobre a importância de ser um Kingman toda vez que encontra Jason!

- Acho que não agimos de modo melhor durante todos estes anos.

Garrett a olhou sob a luz difusa do entardecer.

- Jason sabe que a culpa não foi sua ou de Geoffrey.

- Tenho certeza de que seu pai é um homem muito ocupado... - ela procurou justificar a atitude do senador, tentando suavizar a censura que ele deixara transparecer na voz.

- Oh, sim... - Garrett confirmou amargo. - Ele sempre foi muito ocupado.

- Garrett...

- Pude ver a mudança que se operou em Jason em apenas três dias - ele continuou suavemente. - Meu filho estava se tornan­do um garoto petulante. Eu, com toda certeza, nunca o vi enxu­gando pratos do modo como fez hoje.

- Deve ser porque vocês têm empregadas, e ele...

-- Não é só isso. - Garrett balançou a cabeça. - A atitude dele é menos egoísta agora.

-- Estou contente por saber que você acha que pudemos ajudá­-lo em alguma coisa. Onde está Dennis esta noite?

- No hotel. Você foi muito tola esta manhã. E se ele estivesse de fato atrás de Jason? Poderia ter uma arma...

- Uma arma? - ela repetiu, dando-se conta da loucura que fizera.

- Desculpe. - Garrett franziu o cenho ao ver o rosto pálido de Sarah. - Passei a vida inteira numa sociedade em que armas são conseguidas facilmente, e esqueci que aqui as coisas são dife­rentes.

- Não, não são. É só que... Eu estava pensando que alguma coisa podia acontecer a Jason.

- Está tudo bem, Sarah. - Ele passou os braços ao seu redor com firmeza. - Não vou deixar acontecer nada com nenhum de vocês. Nunca.

Ela não podia permitir que Garrett continuasse a falar sobre aque­las coisas e tentou colocar uma barreira entre ambos.

- Por favor, deixe-me ir.

- Você não acha que eu deixaria, se pudesse? A última coisa que eu estava procurando quando cheguei aqui era um envolvimen­to com qualquer mulher, muito menos com você!

Tudo porque ela era a irmã de Amanda. E ele na verdade nunca amara a esposa!

- Então você não tem com que se preocupar, não é? - ela re­bateu, fitando-o com olhos brilhantes. - Porque não vai se en­volver comigo!

- Eu já me envolvi.

- É preciso dois para se dançar um tango, Garrett - ela retrucou, tentando se desvencilhar, já que ele parecia determinado a não soltá-la.

- Você está dizendo que não está envolvida?

- É claro que não estou! - Sara h estava ofegante pelo esforço que fazia ao tentar se libertar. - Eu não gosto de você, nunca gostei...

- Mas corresponde a mim. Já é um bom começo.

- Não...

- Sim! - Garrett a contradisse, a respiração tão ofegante quanto a dela. - Ambos sabemos que poderíamos nos deitar na areia neste exato momento e faríamos amor com loucura!

Ela estremeceu ante a imagem erótica que as palavras de Gar­rett evocaram; seus corpos nus, entrelaçados na areia dourada, sa­tisfazendo todos os desejos, todas as fantasias... Ser finalmente possuída por ele ... Não, não podia sentir-se daquele jeito com Gar­rett, não devia!

- Mas também sabemos que não vou fazer isso - ele parecia falar consigo mesmo, e Sarah sentiu-se mortificada com o desa­pontamento que aquelas palavras lhe causaram. - Você é espe­cial, e o que está acontecendo entre nós também é. Por isso, quando fizermos amor, não haverá nada de ilícito ou clandestino em nos­sa relação!

“Quando” fizessem amor! Não se fizessem, mas quando! Sarah soltou-se de seus braços, furiosa.

- Todas as atrizes que querem uma pequena ponta em seus fil­mes podem estar ansiosas para ir para a cama com você, mas ja­mais me confunda com elas!

- Nunca contratei ninguém para participar de meus filmes "por serviços prestados".

- Nem mesmo Amanda? Ela não foi para a cama com você esperando que pudesse ajudá-la na carreira e acabou grávida?

Os olhos de Garrett se transformaram em duas chamas verdes.

- É isso que você acha que aconteceu?

- Eu tinha só dezesseis anos quando minha irmã morreu, era muito jovem para que ela chegasse a me falar de sua vida sexual com você!

- Se ela tivesse discutido esse assunto com você, talvez percebesse que não foi bem assim que tudo aconteceu. - Amanda não amava você ...

- Não, mas me queria! - ele explodiu numa voz gelada.

- Você devia tê-la impedido! - Sarah gritou, tomada pela emoção. - Amanda tinha apenas dezoito anos, Garrett, dezoito!

Ele suspirou enfiando as mãos nos bolsos da calça.

- Gostaria de poder explicar meu casamento com Amanda...

- Não quero saber de seu casamento com minha irmã! Já é suficiente que ele tenha acontecido!

- Sarah...

- Não me toque outra vez! - ela avisou, cheia de ressentimento. - Apenas diga boa noite a meu pai e Jason e vá embora! Ten­tarei não estar por perto amanhã, quando vier apanhar seu filho! - girou nos calcanhares e correu de volta para o chalé.

Queria subir direto para o quarto, mas sabia que isso pareceria muito estranho. Então deu de ombros e foi juntar-se ao pai e ao sobrinho.

O jogo estava adiantado quando ela entrou na sala e ficou olhan­do para os dois, tão entretidos no tabuleiro que nem se deram conta de sua presença na sala.

Não importava o quanto fora dolorido ver Garrett novamente.

Valera a pena ter Jason ali por algum tempo. E, quando ele e o pai voltassem para os Estados Unidos, o velho Geoffrey teria a lembrança desses dias para iluminar o resto de sua vida. Quanto a ela, teria de se conformar com as lembranças daqueles beijos e do que poderia ter havido se as coisas fossem diferentes.

O pai lançou-lhe um olhar.

- Você deixou Garrett lá fora?

- Estou aqui, Geoffrey. - Ele entrou na sala e cobriu rapidamente a distância que havia até a lareira. - Que tal o jogo? ­perguntou tranqüilo, como se ele e Sarah não tivessem acabado de ter outra discussão.

- Vou perder meu companheiro de jogo - comentou Geof­frey triste, os olhos azuis nublados.

- Tenho de voltar a Londres por algum tempo - Garrett ex­plicou calmamente -- e quero que Jason vá comigo. Contudo, te­nho outra coisa em mente - acrescentou depressa, falando com Geoffrey, mas olhando para Sarah, que permanecia rígida num can­to da sala. - Por que vocês dois não vêm conosco para umas fé­rias em Malibu?

Sarah sentiu como se todo o ar tivesse saído de seus pulmões, sabendo, pela excitação de seu pai e de Jason,que estavam ado­rando a idéia e vendo, pela expressão vitoriosa de Garrett, que ele apresentara deliberadamente a idéia na frente dos dois para que ela não pudesse recusá-la!

 

Uma semana depois, Sarah e o pai desciam no aeroporto de Los Angeles. Ela ainda se perguntava como se deixara convencer a fa­zer aquela viagem. Não, não fora persuasão, e sim coerção ó que Garrett fizera.

Ela ainda se opusera com dezenas de objeções, derrubadas uma a uma tanto pelo pai quanto pelo sobrinho. Sabia que lutara nu­ma batalha perdida, mas não quis entregar os pontos até o último minuto.

Já que fora obrigada a ir, decidiu que tudo aconteceria a seu modo e insistiu em que não poderia partir de imediato, pois exis­tiam coisas as serem resolvidas antes de deixarem o país. Garrett concordou prontamente, embora ela soubesse que o fazia por já ter conseguido o que queria.

E lá estavam eles. Logo depois de passar pela alfândega, Sarah o veria novamente. Tinham recebido um telefonema dele na noite anterior, confirmando o horário da chegada e avisando-os de que iria apanhá-los. Sarah não atendeu à chamada, saindo do quarto e refugiando-se no banheiro. Ao retomar à sala, viu o pai muito animado ao ver que tudo estava saindo como haviam planejado.

Geoffrey praticamente a forçara a fazer aquela viagem. E, co­mo ela não queria estragar o humor do pai, controlou-se, engolin­do o comentário sarcástico que estava na ponta da língua.

Garrett manipulara a situação, de modo a fazê-la ir para sua ca­sa. O objetivo, Sarah tinha certeza, era tentar seduzi-la.

- Tudo funciona neste país, não? - Geoffrey comentou en­quanto se encaminhavam para o encontro com Garrett.

Sarah estava tensa demais para responder, desejando não ter de reencontrá-lo, tremendo com o esforço que fazia para permanecer calma.

Ela avistou Garrett no meio da multidão quase de imediato; o cabelo loiro brilhava com os raios do sol e o corpo atlético se mo­via com a graça de um felino por entre as pessoas. Um prazer in­tenso a dominou ao vê-lo caminhando em sua direção.

Antes que Sarah se desse conta, ele já acenava para um carrega­dor, cumprimentando Geoffrey em seguida com um caloroso aperto de mão. Então parou, determinado, à sua frente.

A apreensão toldou os olhos castanhos, enquanto ela esperou ansiosa, pelo próximo movimento que ele faria, prendendo a res­piração e soltando-a com um suspiro de alívio ao receber um beijo inocente no rosto.

- Covarde! - ele sussurrou baixinho junto a seu ouvido antes de se afastar com um olhar divertido.

Sarah mordeu o lábio, exasperada. Se fosse de fato uma covar­de, teria arranjado algum jeito de não ir, e deixaria que o pai fi­zesse a viagem sozinho. Mas isso apenas adiaria o momento de rever Garrett. Não tinha a menor dúvida de que ele a procuraria assim que retomasse a Londres. Era um homem que não aceitava um não como resposta...

Quando chegaram à calçada, Sarah reparou em como o dia es­tava abafado e seco. Minutos depois, o homem que levara sua ba­gagem estacionava uma limusine e segurava a porta, esperando que entrassem:

- Sempre sonhei em andar num carro desses - o pai de Sarah comentou, animado como uma criança, ao sentar-se entre a filha e o genro no espaçoso banco de couro.

Sarah lançou um olhar a Garrett que demonstrava seu desprezo por aquela óbvia demonstração de riqueza.

- O carro pertence ao estúdio - explicou Garrett. - Foi idéia de Jason que o usássemos hoje. Eu o avisei de que vocês provavel­mente o achariam ostensivo, mas ele insistiu.

- Estou contente que o tenha feito, embora você esteja certo.

- Geoffrey sorriu. - Seria muito engraçado ter um desses estacionado em frente ao chalé.

As sobrancelhas de Sarah se ergueram quando ela comentou irônica:

- Poderíamos dizer que se tratava do quarto de hóspedes!

Garrett deu um sorriso.

- Com toda certeza, é grande o suficiente para guardar uma cama!

Ela se voltou depressa ao sentir o calor em suas faces, tomando consciência de que a brincadeira inocente se virara contra ela. Na­da mudara durante aquela semana. Garrett ainda a queria, o calor nos olhos verdes dizendo-lhe quanto gostaria de levá-la para a cama.

- Onde está Jason? - Geoffrey perguntou curioso. - Espe­rava que ele viesse com você.

- E ele queria vir. - Mas eu o deixei em casa, fazendo as ve­zes de anfitrião. Espero que não se importem, mas meu pai, meu irmão e minha cunhada também são meus hóspedes.

"Era só o que faltava!", Sarah praguejou silenciosamente. Co­mo se não bastasse Garrett, ainda teria de enfrentar a família in­teira! Sabia que a irmã considerava o sogro rude a ponto de ser grosseiro, embora parecesse se dar bem com Jonathan e Shelley Kingham. Quanto mais pensava, mais Sarah se convencia de que aquela visita estava se transformando num pesadelo.

- É claro que não tem importância - Geoffrey assegurou tranqüilo. - Nós somos visitas aqui; você tem toda a liberdade de con­vidar sua família para ser sua hóspede.

Ele deu de ombros.

- Não é uma questão de convidar ou não. Eles sempre vêm para minha casa nesta época do ano.

- Tenho certeza de que tudo correrá bem. Agora trate de me mostrar os pontos turísticos que houver pelo caminho.

Como o pai, Sarah nunca saíra da Inglaterra e ouvia em silêncio enquanto Garrett indicava lugares e coisas que caracterizavam aque­la terra de ilusões chamada Hollywood.

Algum tempo depois, viraram à direita na ponta da praia che­gando a uma adorável construção no estilo de uma “hacienda”, pin­tada de branco e contrastando com o azul do céu. Ao descer do carro, Sarah pôde entrever a piscina aos fundos, palmeiras e fo­lhagens além do “deck” de pedra, e um casal que parecia estar se di­vertindo.

A mansão era tão bonita por dentro quanto por fora, com uma decoração luxuosa e aconchegante, uma atmosfera fresca e agradável.

- Venham, vou levá-los a seus quartos. - Garrett sorriu. ­Depois, poderemos tomar um drink na piscina e aí aproveito para apresentá-los aos outros.

O quarto de Geoffrey era sóbrio e elegante, decorado em tons de bege, e o de Sarah era uma luxuriante combinação de sensuali­dade e recato em tons de verde. Sua bagagem já havia sido arru­mada, e ela ansiava por um banho para se refrescar. Entretanto, Garrett não parecia ter pressa de sair. Ele a manteve cativa com o olhar, enquanto fechava a porta com lentidão, fazendo desapa­recer com poucos passos a distância que os separava.

Suas mãos seguravam as faces coradas de Sarah.

- Nunca pensei que pudesse sentir tanta falta de alguém como senti de você!

A respiração de Sarah tornou-se ofegante. Se ele tivesse sido agressivo ou prepotente, ela saberia como lidar com a situação, mas a tocara com tanta delicadeza, e sua voz não era mais que um gemido torturado, que sentiu-se tão vulnerável quanto ele. Durante dez anos não vira aquele homem, e aquela única semana depois do reencontro tinha sido um verdadeiro suplício.

- Garrett...

- Não me mande embora – ele implorou, olhando-a de forma penetrante. Suspirou de alívio ao ver a vulnerabilidade no olhar castanho. - Você sentiu minha falta também?

- Eu...

- Mentir não vai mudar a verdade que posso ler em seus olhos.

Sarah balançou a cabeça.

-O que você quer de mim? - gemeu desesperada.

- Só você. Só quero que mostre o que sente por mim.

- Acho que já o fiz - ela falou áspera, dando um passo para trás. - Eu o desprezo pelo que fez Amanda passar!

A expressão de Garrett tornou-se sombria, e ele deixou os bra­ços caírem ao longo do corpo. Apesar de tudo, Sarah não pôde deixar de notar o quanto aquele homem se revelava atraente de calça branca e camisa pólo verde.

- O que fiz Amanda passar? Por acaso bati nela? Tive outra mulher? O que foi que fiz?

Sarah engoliu em seco. Tinha certeza de que ele nunca batera numa mulher; sua força era algo muito além da simples superiori­dade física, e Amanda jamais mencionara outra mulher.

- Há outras formas de crueldade, além dessas que você men­cionou.

A boca de Garrett se comprimiu numa linha fina.

- Você se refere ao fato de eu sair para trabalhar para que con­tinuássemos a viver no luxo que ela tanto adorava?

- Amanda nunca esteve interessada em seu dinheiro!

- Você está certa, ela nunca se interessou por dinheiro... desde que houvesse o suficiente para gastar em roupas e festas exa­geradas.

- Amanda não era assim!

- Nem precisava ser - ele retrucou amargo. - Ela teve tudo o que quis, mas seu maior desejo era o nome dos Kingham! - Para o filho que esperava! - rebateu carinhosamente.

A fúria escureceu os olhos verdes, e Garrett inspirou profunda­mente, tentando recuperar o controle.

- Você não pode me aceitar como sou agora, aceitar que a que­ro, esquecendo que um dia casei com Amanda?

- Não! - Sarah gritou, cheia de desprezo.

- Você o fará. - Ele a fitou com um brilho determinado no olhar. - Eu prometo que o fará.

Sarah se sentiu acalorada e irritada depois que ele partiu, apesar de a casa ter ar-condicionado central. Só se esquecia de quem Garrett era quando estava em seus braços, e tinha de ficar longe deles se quisesse manter sua sanidade. Só que isso não seria uma tarefa fácil, pois ele parecia disposto a conquistá-la.

Sem vislumbrar nenhuma solução, ela tomou um banho e esco­lheu um vestido leve de algodão vermelho. Tinha acabado de se arrumar quando a porta do quarto se escancarou, depois de breves batidas. Sua expressão severa abriu-se num sorriso satisfeito ao ver Jason entrando, alegre.

- Sarah! - Ele rodopiou com ela nos braços, abraçando-a de­pois de colocá-la no chão.

Os dois tinham se dado muito bem na Inglaterra, mas era a pri­meira vez que ele mostrava tamanha espontaneidade. Sarah o abra­çou, piscando para afastar as lágrimas.

O rosto jovem parecia iluminado pelo entusiasmo.

- Essa semana se arrastou! - ele disse, fazendo uma careta.

-- E então meu avô, meu tio Jonathan e minha tia Shelley chegaram. - Não disfarçou o desagrado. - E isso acabou com meus planos de encontrá-los no aeroporto. Eu pretendia mostrar a você o Teatro Chinês, a placa que fica nas colinas, Beverly Hills.

- Suas instruções foram seguidas à risca, Seu pai fez tudo is­so. - Ela sorriu. - Seu avô adorou.

- Mas você não - ele concluiu perspicaz. - É tudo um pou­co esnobe demais, não é?

- Só um pouquinho. Mas não seria Hol1ywood se não fosse assim.

- Acho que não. - Jason sorriu. - Está pronta para descer e conhecer minha fami1ia? - Riu ao ver que ela não escondia o fato de não estar ansiosa. - Quer saber como sempre faço quan­do tenho de encontrar meu avô?

Sarah notou que ele sempre se referia ao senador de modo formal, sem o carinho que destinava a Geoffrey. Suspirou, desani­mada. Se o próprio neto, que convivera com ele a vida inteira, se sentia pouco à vontade em sua presença, que chances ela teria, sen­do a irmã da mulher que William Kingham desaprovara aberta­mente como esposa de seu filho mais novo?

-- Como? - perguntou, interessada.

- Sempre tento pensar que ele um dia deve ter sido um bebê e usado fraldas!

Ela se lembrava de que a irmã o havia descrito como um homem frio e rígido, que julgava saber o que era certo e errado . - Isso é possível? - perguntou descrente.

O sorriso de Jason se alargou.

- Bem, é um pouco difícil, mas se você tentar imaginar as fraldas ...

Ela lhe deu o braço...

- Isso não é um tanto desrespeitoso? Jason deu de ombros.

- Eu só estou lhe dizendo o que faço; você não precisa seguir meu conselho.

Mas, ao ser apresentada a William Kingham, um homem alto, de cabelos grisalhos, Sarah sentiu que o ressentimento dele era quase palpável, e que os lábios finos e os olhos frios e cortantes não per­deriam a menor oportunidade de espicaçá-la. Soube então que precisaria de toda a ajuda disponível. Imaginar aquele homem arrogante como um bebê envolto em fraldas fez seu sorriso tornar­-se mais descontraído.

Trocaram um aperto de mão formal; frio e desaprovador por parte do senador, quente e tenso para Sarah:

Garrett estava na piscina com uma bela loira, que Sarah con­cluiu ser Shelley, e seu pai sentava-se sob um enorme guarda-sol colorido com um homem alto e loiro, uma versão mais clássica da beleza de Garrett, que só podia se Jonathan.

Forçando-se a encarar o senador novamente, ela comentou polida:

- É um prazer conhecê-lo, senador Kingham.

- Você é bastante parecida com sua irmã.

O sorriso que havia nos lábios de Sarah desvaneceu-se, e ela fran­ziu a testa quando Jason, em pé atrás do avô, procurava atrair sua atenção. A piscadinha marota que ele lhe deu devolveu-lhe o sor­riso, e foi preciso que desviasse o olhar para não acabar rindo. Já controlada, voltou a fitar o senador, só que desta vez friamente.

- Acho que sou sim.

Ele continuou a encará-la de forma hostil por alguns minutos, antes de fazer uma súbita inclinação com a cabeça e se afastar.

- Ufa! -Sarah suspirou quando o sobrinho se juntou a ela

- Se seu tio Jonathan for tão hostil quanto seu avô, acho que vou precisar de uma trégua para agüentar outra dose.

Jason sorriu.

- Não se preocupe. Tio Jonathan é um dos políticos da nova escola; não importa o que aconteça, ele sempre se mantém calmo e charmoso. Mas, em todo caso, as fraldas servem para ele também.

O riso de ambos atraiu a atenção dos homens sentados sob o guarda-sol, e ela surpreendeu-se ao encontrar os olhos verdes de Jonathan receptivos e calorosos. Ele sorria. Trocaram um aperto de mão ·gentil e Sarah se sentiu bem-vinda, afinal.

- Estava ansioso para conhecer você - ele lhe disse, com voz rouca.

"Gostaria de poder dizer o mesmo sobre sua família", pensou ela consigo mesma, e apenas sorriu.

- Gostaria de uma limonada gelada? - Jonathan ofereceu, es­colheu um copo e o entregou a ela.

Sarah bebeu enquanto conversavam amenidades, consciente do charme que emanava de. Jonathan. Por fim, ele pegou o copo va­zio de suas mãos, recolocando-o sobre a mesa.

- E agora, que tal um pequeno passeio pela praia? - sugeriu, animado.

Jason sentara-se ao lado de Geoffrey. William Kingham estava parado, em pé, na varanda da casa, olhando-a de forma penetran­te e desaprovadora, e Garrett parecia não ter notado sua presen­ça, pois ainda continuava a conversar com Shelley dentro da água. Fora uma semana difícil, um longo dia, e um passeio ao longo da praia parecia tentador. Garrett com certeza nem sentiria sua falta.

- Acho que seria ótimo! - Sarah aceitou o convite com um sorriso. - A menos que eu o esteja tirando de algum compromisso... ou de·alguém - acrescentou incerta, por não saber como a esposa dele reagiria ao fato de vê-la com uma estranha.

O sorriso de Jonathan se alargou.

- Shelley e eu somos casados há vinte e um anos. Acho que já posso dizer que também somos amigos. Mas, mesmo assim, du­vido que qualquer um deles perceba que saímos.

Ao darem a volta à piscina, Sarah escutou a risada leve e fácil de Garrett, que, ao acenar para eles, parecia muito mais jovem. Os cabelos molhados, puxados para trás, o corpo musculoso e bron­zeado brilhando ao sol, uma ternura no olhar a fitar a loira ao seu lado...

Tirando-a de seus devaneios, Jonathan comentou:

- Garrett nos disse que você é professora.

- Eu tento - ela concordou, rindo, enquanto caminhavam pela areia dourada, acompanhando a linha do oceano muito azul.

- Jason acha você muito bonita.

_ É mesmo? - Ela sorriu de prazer, embora a enervasse um pouco pensar que Garrett talvez tivesse comentado qualquer coisa a respeito do que estava acontecendo entre eles. - É bom saber. _ Garrett parece muito... - ele se interrompeu, franzindo o cenho. - Alguém já lhe disse o quanto parece...

- Com Amanda? Sim.

- Garrett comentou isso? - Ele a olhava pensativo.

- Jason. E, agora a pouco, seu pai. - Parou, observando as ondas quebrarem na praia. - Mas Garrett também pensa assim.

Jonathan ficou parado ao lado dela, as mãos enfiadas dentro dos bolsos da calça de corte perfeito.

- É difícil saber o que se passa pela cabeça de meu irmão, ultimamente.

Sarah enrijeceu os músculos, olhando-o séria e afastando-se um pouco ao notar a expressão especulativa dos olhos de Jonathan. Enganara-se a respeito daquele homem; ele não era nem um pou­co diferente do pai. Apenas usava outras táticas de ataque!

- Posso lhe assegurar que não tenho nenhuma intenção com relação a seu irmãozinho!

Ele deu um sorriso.

- Garrett sempre decidiu as coisas por si mesmo, do modo como mais lhe agradava, e temo que você não aceite as decisões dele.

Sarah sentiu as faces arderem.

- Meu pai e eu estamos aqui somente por causa de Jason.

- Sarah, estou apenas tentando lhe oferecer meu apoio. - Ele parecia sincero. - Meu pai pode ser teimoso quando não aprova alguma coisa e ...

- Ele não me aprova - completou tensa, irritada consigo mesma por ter acreditado que aquele passeio iria livrá-la da pressão dos últimos dias. - Eu já lhe disse, não há nada entre mim e seu irmão para ser desaprovado.

Jonathan suspirou e pegou-lhe as mãos.

- Por favor, não se ofenda como o que falei...

- Ofender? - Ela se desvencilhou, os olhos castanhos brilhan­do intensamente. - Por que deveria me ofender só porque o irmão de meu anfitrião vem me prevenir sobre ele apenas alguns mi­nutos depois de minha chegada?

- Meu Deus, você é como Amanda...

- Apenas o suficiente para lhe dizer que, mesmo que eu e Garrett estivéssemos envolvidos, isso não seria da sua conta! Agora, se me dá licença... - ela se virou e parou de repente, ao ver Gar­rett a apenas alguns passos de onde estava.

Parecia um deus grego, alto, atraente e profundamente sensual na minúscula sunga preta que mal escondia sua masculinidade.

O olhar penetrante ia do rosto corado de Sarah para o mutismo do irmão, o que o fez comentar com voz gelada:

- Shelley gostaria que você fosse se juntar a ela agora, Jonathan.

O homem mais velho concordou.

- Irei em seguida. - Olhou para o rosto tenso e os lábios com­primidos de Sarah. - Eu não quis ofender você - disse-lhe com suavidade, antes de se afastar em direção à casa.

Sarah encarou Garrett desafiante, esperando que ele a criticasse pela explosão que certamente presenciara, e arregalou os olhos, surpresa, quando nada aconteceu.

- Você parecia estar precisando de ajuda - ele comentou apressado, parando a seu lado.

Ela suspirou aliviada.

- Tenho a ligeira impressão de que a estada em sua casa vai ser tudo, menos relaxante.

- Se alguém disse algo que a magoou, vou ...

- Seu pai está bravo porque me pareço muito com Amanda, e seu irmão parece satisfeito com isso! - explodiu Sarah, cansada. Garret balançou a cabeça.

- Eles vêem somente o que querem ver. Para mim você é apenas Sarah.

Ela não devia ficar contente, mas ficou.

- Bem, pelo menos papai parece feliz. Ele concordou, sorrindo.

- Ele e Jason já saíram à procura de um tabuleiro de xadrez! Sarah sentiu a tensão das últimas horas abandonarem-na e começou a relaxar ao lado de Garrett, coisa que jamais imaginou ser possível. Porém, logo em seguida pôs-se em guarda.

- Eu queria ir procurá-la em seu quarto - ele lhe disse, rouco, - mas Jason insistiu em ir buscá-la.

- Fiquei contente por ver meu sobrinho outra vez. _ Garrett suspirou, exasperado.

- Será que é tão difícil admitir que também gostou de me ver? Não consegui pensar em mais nada nem em ninguém além de você durante a semana toda! Não pode me dizer que pensou ao menos um pouquinho em mim?

Pensar um pouquinho nele? Sarah não fora capaz de se concen­trar em mais nada! Há uma semana ele a deixara dizendo-lhe que um dia fariam amor sem se esconder, que havia algo especial entre eles, e abalara todas as suas convicções anteriores, fazendo de­sabrochar uma sensualidade que ela nunca sonhara possuir. Como poderia não ter pensado nele e nas emoções que lhe des­pertava?

Depois que Garrett se fora, há dez anos, ela arranjara um na­morado, e depois outro, e mais outro. Então surgiu David. Plane­jaram se casar e ficaram noivos; só que nunca se relacionaram intimamente, e o rapaz não entendia a recusa de Sarah em consu­mar o amor que ele achava que sentiam um pelo outro.

Na noite de núpcias ela tentou convencer a si mesma que sua falta de interesse pelo marido se devia ao fato de ele a ter pressio­nado demais. Mas, com o passar dos dias, semanas e meses, descobriu que jamais poderia se entregar a David e ambos des­cobriram que não conseguiriam continuar vivendo daquela maneira.

Então veio o divórcio. Porque não queria magoar David ainda mais e porque ele desejara que fosse assim, separaram-se amiga­velmente, embora nada disso tivesse sido necessário, porque o ca­samento jamais fora consumado.

O marido a quisera demais, tentara despertar o desejo em Sa­rah, mas, quando suas tentativas falharam, ele afastou-se, cheio de desgosto, em vez de possuí-la com brutalidade, como muitos homens teriam feito.

Sarah era uma mulher de vinte e seis anos, fora casada e conti­nuava virgem porque nunca fora capaz de sentir desejo pelo mari­do. E contudo, se Garrett a tomasse nos braços e a deitasse na areia dourada naquele instante, iria se entregar apaixonadamente, co­mo ele jurara que aconteceria.

 

David acusara Sarah de frígida no fim do traumático casamen­to e, até Garrett reaparecer em sua vida, ela acreditara na afirma­ção do ex-marido. Agora, sabia que aquilo não era verdade.

- Critiquei sua arrogância e praguejei contra suas maquinações, portanto suponho que deva ter pensado em você, Garrett.

-Sarah... - Ele balançou a cabeça, linhas de tensão ao redor de seus olhos. - Estou sendo honesto com você. Por que não po­de agir da mesma forma comigo?

Ela franziu as sobrancelhas escuras. - Pensei que tivesse sido.

Garrett suspirou pesadamente.

-E tão errado admitir que me acha atraente?

- Sim, é! - Os olhos dela brilhavam. - É desleal para com Amanda!

Garrett respirou ofegante, deixando as mãos caírem ao longo do corpo.

- Amanda morreu há muitos anos! Você era quase uma criança, e meu casamento já estava em ruínas. Só seria desleal se ela ainda estivesse viva.

- Eu...

_ Não se iluda dizendo que não nos sentiríamos assim se Amanda fosse viva. Talvez não pudéssemos fazer nada a respeito, mas a atração ainda existiria! Sempre houve alguma coisa entre nós, mas você era muito criança e eu não consegui reconhecer a atra­ção que sentíamos até reencontrá-la há dez dias.

Sarah sabia, sempre soube o que se passava com eles. Virou-se, na defensiva.

_ Deixe-me sozinha, Garrett! Apenas me deixe em paz!

Não posso! - ele quase gritou. - Não posso prometer dar-lhe tempo para se acostumar à idéia! - Os olhos verdes estavam cheios de dor. - Eu já fiz sexo com outras mulheres nestes dez anos, mas tocar você me dá mais prazer do que jamais senti com qualquer uma delas. Eu acho... que vou morrer um pouquinho quando fizer amor com você!

- Não! - Sarah estava muito pálida, com o corpo trêmulo.

- Sim - foi o gemido rouco e desafiante de Garrett.

Ela não o contradisse dessa vez; apenas se virou e correu, respi­rando ofegante ao atingir os degraus da escada que levava à pisci­na. Ele continuou no mesmo lugar, observando-a silenciosamente.

Sarah não estava preparada para o choque que a esperava quando se aproximou do guarda-sol. Shelley Kingham havia saído da água e conversava com os quatro homens, com um sorriso feliz e sere­no no rosto. E estava em uma cadeira de rodas!

Amanda nunca havia mencionado o fato de sua cunhada ser pa­ralítica, em nenhuma de suas cartas, e Sarah ressentiu-se por isso, desejando não parecer surpresa demais, acabando por provocar uma situação embaraçosa.

Deu um gemido de surpresa ao sentir o calor da mão de Garrett contra a pele nua de suas costas. Virou-se, hesitante.

A expressão do rosto bronzeado era gentil.

- Não importa quantas vezes a gente discuta, isso não vai mu­dar o que sinto por você.

- Mas...

- Venha, vou apresentá-la a Shelley - ele convidou rápido.

- Depois de Jason, é o membro mais gentil da familia…

Foi exatamente essa a impressão que Sarah teve da bela mulher, calorosa e receptiva, contudo um tanto reservada. Apenas o sena­dor mantinha-se afastado, desaprovando sua presença.

Depois de conversar meia hora com Shelley, Sarah entendeu por que a irmã nunca lhe mencionara a invalidez; ela era uma mulher encantadora e inteligente, com olhos acinzentados francos e vivos, além de ter um temperamento sensível e agradável.

Jonathan também parecia mais relaxado ao lado da esposa, e,quando Sarah subiu para descansar um pouco antes do jantar, sentia-se um pouco mais à vontade.

Estava num estado de semiconsciência, meio acordada, meio dormindo, seu corpo nu relaxado entre os lençóis, quando notou uma figura embaçada ao lado da cama. O cabelo loiro brilhava devido aos poucos raios de sol que penetravam pelas frestas da cor­tina. Ele tocou seu rosto com delicadeza.

- Garrett... - murmurou sonolenta, sem saber se estava alar­mada ou excitada por sua presença no quarto.

- Volte a dormir... - a voz ordenou com ternura.

Sarah suspirou, desapontada, ao perceber a figura se afastan­do, saindo tão quieta quanto entrou...

Uma empregada veio acordá-la com uma bandeja de chá pouco antes das seis, e a lembrança da visita de Garrett retomou, fazendo­-a refletir se não fora apenas um sonho. Se tivesse sido apenas sua imaginação, então a forma íntima e apaixonada como reagira a ele seria um segredo seu. Mas, se ele realmente houvesse estado ali...

Gostaria de não ter de descer para o jantar, só que estava fa­minta e não queria que ele pensasse que a havia encurralado. En­tão se aprontou e desceu.

Infelizmente a primeira pessoa que viu ao entrar na sala foi o senador Kingham. No mesmo instante, certificou-se de que o ves­tido frente-única branco e justo caía muito bem, fazendo um lin­do contraste com a pele bronzeada, o cabelo negro e a maquilagem suave...

- Boa noite, senador! - cumprimentou-o, educada, sentando­-se numa poltrona para esperar pela chegada dos outros.

- Srta. Harvey - ele acenou com a cabeça, empertigado; per­manecendo em pé bem à sua frente.

Sarah encarou-o friamente.

- Garrett não lhe contou que meu nome de casada é Croft? - ela divertiu-se ao ver o homem perder a pose.

- Ele não nos contou que você tem um marido - o senador confessou a contragosto.

- Oh, mas eu não tenho. Não mais.

- Você parece muito jovem para ter sido casada e já estar divorciada.

Ela olhou-o dentro dos olhos com firmeza.

- Nós costumamos nos casar cedo em minha família. A boca de William Kingham tornou-se uma linha fina.

- Tenho consciência disso. E parece que vocês também têm a tendência de descartar seus maridos tão logo a lua-de-mel acabe.

Sarah levantou-se, brava.

- O senhor não sabe absolutamente nada sobre meu casamento...

- Como você está linda, meu bem! - Garrett interrompeu a discussão ao entrar na sala, e, mesmo irritada, Sarah lançou-lhe um olhar de admiração ao vê-lo num dinner jacket branco e calça preta. Ele curvou-se para beijá-la nos lábios, os olhos penetrantes indo de seu rosto para o do senador. - Não é mesmo, papai? - provocou com voz dura, sentando-se e levando Sarah com ele, des­cansando o braço sobre os ·ombros femininos.

O olhar do homem mais velho era totalmente hostil, mas sua voz soou neutra:

- Beleza parece uma coisa que não falta às mulheres da famí­lia Harvey.

- Ora, mas...

- Você está adorável, bruxinha. - Garrett beijou-lhe o ombro desnudo, com um brilho de aviso no olhar para que não se atrevesse a rejeitar a carícia.

Sarah pôde ver o quanto aquele comportamento irritava o sena­dor, e ela mesma não conseguiu disfarçar o arrepio de excitação pelo modo possessivo como era tocada. Sabia que ele dissera que se recusava a amá-la em segredo, com encontros clandestinos, mas isso...

- Com licença! - o Sr. Kingham falou, áspero. - Voltarei quando você terminar de acariciar sua amante! - Girou nos cal­canhares, deixando a sala.

Ela deu um suspiro, sentindo-se relaxar, embora estivesse mor­talmente pálida.

- Desculpe - disse Garrett, angustiado, cheio de preocupação.

- O que você esperava? - gemeu ela, os olhos brilhantes das lágrimas não derramadas. - Seu pai me despreza e à minha famí­lia, e você flerta comigo abertamente! - estremeceu ao recordar o olhar de ódio que vira no rosto do velho.

Ele tocou seu rosto com delicadeza.

- Talvez eu não devesse ter feito nada disso, mas tinha de mostrar a ele que você é importante para mim, e que eu espero que a trate com respeito... Algo que ele não estava fazendo quando entrei.

- Você espera que ele me respeite? A mulher que está tendo um caso com o marido da própria irmã!

- Ouça, já passamos por isso antes. E estou sozinho há anos. Não estamos tendo um caso e não sou marido de ninguém.

Ela balançou a cabeça, desalentada.

- Seu pai nunca vai enxergar dessa maneira.

- E você acha que estou preocupado com o que ele pensa? Vo­cê é importante demais para mim, você, Sarah. Sarah! - Ele ge­meu, apertando-a de encontro ao peito, sentindo os lábios trêmulos sob os seus, sem contudo beijá-la. - Deus, eu preciso tanto de você!

Ela também precisava daquele homem, e, abraçando-o como se sua vida dependesse disso, deixou-se envolver pela magia daquela paixão.

Os lábios finalmente se encontraram num beijo gentil, terno movendo-se juntos numa exploração lenta, trocando carícias, as línguas se tocando sutis, maliciosas.

- Talvez estejamos um pouquinho adiantados para o jantar...

Sarah saiu da letargia sensual que o beijo lhe provocara e aos poucos foi tomando consciência do que a voz divertida do pai sig­nificava. Ficou rígida ao encarar Jonathan, Shelley, Jason e Geoffrey.

O rubor queimou suas faces, e ela olhou para Garrett em busca de apoio.

- Eu... Nós...

Ele ainda mantinha o braço sobre seus ombros, e apertou-os com firmeza ao encarar a família, desafiante.

- Alguém aceita um aperitivo antes do jantar? -- perguntou de maneira casual, deixando claro que o que acontecera não ne­cessitava de explicação.

Sarah procurou os olhos do pai em busca de algum sinal de reprovação; contudo ele parecia apenas surpreso.

-Eu aceito - disse num murmúrio. - Um brandy duplo!

O momento embaraçoso foi superado graças a Shelley, que adiantou-se, envolvendo Sarah numa discussão acerca de um livro que ambas haviam lido. Quando o senador reapareceu a conversa fluía solta, embora ela tivesse consciência de que Jason a encarava como se nunca a tivesse visto. Se estragasse seu relacionamento com o sobrinho por causa disso...

Mas, e seu relacionamento com Garrett? Um momento de fra­queza e foi como se tivessem feito uma declaração pública! Ele tal­vez estivesse contente com aquilo, mas ela não estava!

O jantar se arrastou. Assim que a sobremesa terminou, Sarah alegou uma dor de cabeça e recolheu-se junto com o pai.

- Não seja tão dura consigo mesma, filha - Geoffrey disse quando ela o encarou apreensiva no quarto. - Não é vergonha nenhuma sentir-se atraída por aquele homem. Afinal, ele é livre e você também. - Tirou o paletó, guardando-o no armário.

- Ele foi marido de Amanda...

- Há muito tempo. Estou contente que você tenha encontrado alguém; tenho estado preocupado com isso desde que se separou.

Sarah nunca comentara com o pai os verdadeiros motivos de seu divórcio. Depois de algum tempo ainda tentou sair com outros ho­mens, mas sentia-se da mesma maneira com todos eles. Por fim, cansada de recusar avanços, desistiu de continuar aceitando con­vites, preferindo dedicar-se a seus alunos e à sua pintura. Mas ja­mais imaginara que a falta de interesse em iniciar outro relacionamento tivesse preocupado o pai.

- Mas logo Garrett?

- Por que não? - Geoffrey deu de ombros, sentando-se, cansado, na ponta da cama. ­

- Você sabe por quê.

- Sarah, Garrett não deixou Amanda grávida porque quis. Ela poderia tê-lo detido, se quisesse. Sei muito bem que ele não a vio­lentou.

Bela sabia muito bem o tipo de controle que Garrett exercia so­bre suas emoções. Já tivera provas disso.

- Eu não quero me sentir atraída por ele. O velho piscou os olhos muito azuis.

- De uma coisa eu sempre soube: quando Garrett quer algu­ma coisa, geralmente consegue.

- Eu não sou um script ou um carro, pai! - Sarah protestou, indignada.

- Não - ele reconheceu sério. - Acho que você é muito mais importante para Garrett do que qualquer coisa ou pessoa. E, considerando-se o modo como a família Kingham se sente sobre isso, admiro a honestidade e a franqueza dele.

Sarah franziu as sobrancelhas.

- Você fala de um jeito... Parece gostar dele!

- Eu nunca desgostei de Garrett, e sim do que ele e Amanda fizeram um ao outro e a Jason. Pelo menos tentaram que o casa­mento desse certo.

- Ele tornou Amanda tão infeliz...

- Tenho certeza de que o mesmo vale para ela. Sua irmã também sabia ser muito egoísta e cheia de vontades ...

- Papai!

- Oh, eu sei que você não tinha muita noção de tudo o que aconteceu e por isso tomou-a como um parâmetro, mas Amanda era um poço de egoísmo e vaidade. Sua mãe e eu sempre tememos que ela viesse para cá, mas já era maior de idade e não podíamos fazer nada para impedir. Quando ela voltou, seis meses depois, ca­sada e carregando o filho de Garrett, soubemos que o pior havia acontecido.

- Ele pode não tê-la forçado, mas com certeza a seduziu.

- Não, Sarah, ele não o fez, e eu não vou deixar você acreditar nessa mentira apenas porque não quer reconhecer que está apai­xonada. Tenho certeza de que ele não foi o primeiro amante de sua irmã. Mesmo aos dezoito anos, ela já era muito mais sofistica­da do que você é agora. - Tomou a mão da filha entre as suas. - Tem de entender que Amanda quis casar com Garrett e ter seu filho, embora eu não saiba bem porque, já que nunca o amou. Sarah, minha filha, escute: você não deve desistir de sua chance à felicidade apenas por causa do que aconteceu a sua irmã.

- Garrett nunca poderia me fazer feliz.

O pai lhe deu um sorriso triste.

- Céu e inferno podem estar muito próximos às vezes, Sarah.

De volta a seu quarto, ela pensava nas palavras do pai e sentia-se cada vez mais confusa com sua atitude. Ele parecia convencido de que Garrett era o único homem que poderia fazê-la feliz, em­bora tivesse transformado a vida de sua filha mais velha num in­ferno. Sem chegar a nenhuma conclusão, Sarah pôs-se a pensar em Jason. Sentia que estava tão confuso e perdido quanto ela, e achou que lhe devia uma explicação.

Saiu, então, à procura do sobrinho, e foi informada por· uma das empregadas que ele já se havia recolhido. Voltou para o quar­to e no caminho seu coração começou a bater descompassado: en­controu Garrett no corredor.

Havia um brilho satisfeito nos olhos verdes.

- Procurando por mim? - provocou-a, a voz rouca. Ela corou fortemente.

- É claro que não.

Ele ficou tenso, o olhar sério e ameaçador.

- Por quem, então?

- Jason. Quase não falou comigo depois que nos viu juntos. Eu queria...

- Falar com ele - Garrett completou, compreendendo seus te­mores. - Acabei de deixá-lo. Ele entende.

- Entende o quê?

- Que, embora nenhum de nós tenha procurado por isso, existe uma forte atração entre nós.

Sarah suspirou, exasperada.

- Você lhe disse isso? - perguntou, entre incrédula e indignada.

Garrett semicerrou os olhos, com uma expressão desafiante. - Disse.

- Pois não tinha esse direito! Eu queria...

- Estou começando a me cansar de lutar contra você, sabe?

- Ora, seu... O que pensa que está fazendo? - ela protestou ao ser agarrada pelo pulso e puxada sem a menor cerimônia.

Garrett estava serio.

- Estou levando você para o meu quarto, onde poderemos...

- Não, não! - Parou, apesar da dor que sentiu no pulso pelo movimento brusco.

Garrett a encarou ao notar que se recusava a sair do lugar.

- Muito bem! Se é assim que você quer ... - Abriu uma porta· a seu lado e empurrou-a para dentro, entrando em seguida.

Sarah surpreendeu-se ao notar que estavam num closet espaço­so e perfumado, cuja luz se acendia automaticamente quando a porta se abria.

Lembrando-se de como ele entrara em seu quarto naquela tar­de, refugiou-se na própria fúria, ignorando a sensação morna que lhe invadia o corpo, quando a porta se fechou e ambos se viram envoltos em completa escuridão.

- Espero que você não sujeite todas as mulheres que traz aqui a essa falta de respeito!

Os lábios úmidos deslizavam pelo pescoço esguio de Sarah.

- Eu a encontrei no corredor, bruxinha ...

- Eu não estou falando de agora, eu quis dizer esta tarde! - Ela se mantinha rígida entre os braços fortes. - Não aprecio o fato de que o único modo de dormir tranqüila será trancando a porta, pois você pode resolver aparecer outra vez em meu quarto e me tocar enquanto eu estiver adormecida!

A mordida que ele lhe deu foi forte demais para ser considerada um carinho, e Sarah se afastou brava.

A respiração quente de Garrett tocou-lhe o rosto como uma le­ve carícia.

- Você não gostou?

- Foi um golpe baixo e desprezível. - Ela deu graças pela escuridão esconder o rubor que lhe queimava as faces.

- Então não vai acontecer outra vez - ele prometeu muito sério.

Sarah se afastou, tanto quanto Garrett lhe permitiu, desconfiada.

- Você aceitou tudo muito rápido...

- Eu prometo. Agora, por favor, bruxinha me beije antes que eu fique completamente maluco!

Sarah sentiu as pernas amolecerem ante o gemido rouco e urgente, deixando que ele percebesse em sua reação e reflexo das pró­prias emoções. Enlaçou-o pelo pescoço, soltando um gemido de capitulação.

Não sabia mais o que fazer para resistir àquele homem, e já não tinha tanta certeza de que o conseguiria. Perdeu-se num mundo de emoções ao sentir o calor tomar conta de seu corpo, enquanto mãos ousadas deslizavam por seu vestido, desamarrando-o e to­mando o lugar do tecido contra sua pele quente.

 

O corpo de Sarah vibrava, cheio de excitação, enquanto a boca possessiva de Garrett reclamava a sua e as mãos fortes acariciavam­-lhe os seios nus, brincando com os mamilos até senti-los eretos de prazer.

Ela jogou a cabeça para trás, arqueando o corpo num pedido mudo de posse. Agarrava-se a Garrett, enquanto ele a enlouque­cia, beijando-lhe os seios, depois mordiscando-os, e reclamando sua boca uma vez mais. Sem timidez, ela mergulhou os dedos en­tre os cabelos dourados, beijando-lhe o pescoço, afastando ansio­sa o tecido da camisa para poder tocar o tórax musculoso e recoberto de uma penugem macia.

Soltou um gemido rouco e fraco quando ele puxou o vestido, deixando que caísse a seus pés, e Sarah sentiu o calor do corpo masculino mesclar-se ao seu, com mãos possessivas abraçando-a por inteiro.

- Sarah, não podemos fazer amor aqui... - ele sussurrou selvagemente. - Você...

- Não pare... - ela gemeu, sentindo-se no limiar de uma descoberta maravilhosa, a excitação se tornando insuportável. - Oh, Deus, Garrett, não pare! - encostou-se a ele, insinuante.

- Eu... Oh! Gostaria de poder vê-la ...

- Você não precisa me ver - ela lhe disse ofegante. - Apenas toque-me. Sinta-me!          .

Ávido, ele retirou-lhe a calcinha de renda e começou a acariciar-lhe o ventre, as coxas, a doce umidade de seu triângulo escuro. Incapaz de resistir, deitou-a no chão, o carpete silenciando o ruído, beijando-a apaixonadamente.

Sarah já não era capaz de controlar as pequenas explosões de prazer que percorriam seu corpo, querendo, exigindo que Garrett a acompanhasse na conquista do amor. Mas ele apenas continuava a acariciá-la, a boca úmida sugando-lhe os seios, as mãos ousadas transportando-a para além das fronteiras da razão. Depois, o abraço apertado e possessivo que acalmou-lhes o desejo, transformando aquele rodamoinho de sensações em pura ternura.

Sarah se virou para ele na escuridão.

- Garrett, mas nós não... Nós não...

- Está tudo bem, minha Sarah. - Ele a beijou lentamente. - Eu apenas quis lhe dar um pouco de prazer.

- Mas...

- Bruxinha, nunca conheci nada mais bonito que ter você em meus braços. - ele assegurou, ainda acariciando-a com movimen­tos suaves. - Mas não quero possuí-la aqui.

Ela corou, desapontada.

- Mas eu nem mesmo toquei em você...

- O prazer está em dar, Sarah. Ver o modo como você se entregou me fez sentir completo pela primeira vez em minha vida.

- Mas nós não fizemos...

- Nem faremos. - Ele a ajudou a se levantar, vestindo-a como se fosse uma deusa.

- Você é como um presente bonito e mui­to especial que, para meu tormento, estou abrindo aos poucos, para prolongar, o prazer de descobrir o que virá.

- Eu não o teria feito parar...

- Sei disso. - Ele sorria ternamente ao abrir a porta. Imediatamente a luz se acendeu, desvendando seus olhos escuros de pra­zer e levando-o a beijá-la mais uma vez. - Num closet, nunca mais - brincou, passando-lhe o braço pela cintura enquanto a acom­panhava até a porta do quarto.

Sarah sabia que, como ela Garrett estava feliz demais para se importar com o lugar onde se encontraram. Agora sentia-se uma mulher completa, como nunca, e embora não tivessem consuma­do seu amor era apenas uma questão de tempo para que ele a pos­suísse como ambos sonhavam.

Dormiu pesado, acordando tarde no dia seguinte e descendo an­siosa para vê-lo novamente.

Sentia-se maravilhosamente viva, livre dos temores, como se Gar­rett a tivesse libertado com aquela demonstração mágica de amor. Reconhecia seu desejo, ansiava por fazer amor com ele, e não ti­nha mais medo ou remorso de admitir seus sentimentos.

Porém, ao juntar-se a Shelley na varanda, soube que ele preci­sara ir ao estúdio e não foi capaz de esconder um profundo desa­pontamento, corando como uma adolescente apaixonada quando soube que lhe fora deixado um recado dizendo que estaria de vol­ta assim que fosse possível.

- Você o ama, não é? - Shelley perguntou, ao reconhecer o ar apaixonado do sorriso de Sarah.

Ela inspirou profundamente e tomou um gole de café antes de responder.

- Até ele nos procurar, há onze dias, eu quase nem o conhe­cia. - Receava falar de emoções tão novas.

A loira sorriu.

- Pois eu conheço Garrett há vinte e dois anos, e nunca o vi tão feliz quanto esta manhã!

Os olhos castanhos brilharam. - É verdade?

- É sim.

Sarah franziu a testa.

- Você não vai me dizer que sou parecida com Amanda, e o quanto sou inadequada para Garrett, como o resto da família?

- Você não tem nada de sua irmã. Soube disso cinco minutos depois que a conheci.

- Você e Amanda não se davam muito bem? - perguntou in­trigada, ao perceber a reação da outra.

- E por que deveríamos?

- Não me lembro de minha irmã muito bem. Mas estou começando a descobrir que havia diferentes personalidades para dife­rentes pessoas. - Deu de ombros. - Me pergunto o que ela seria para você...

- Bem, não éramos amigas, se é isso que quer dizer. Aquilo explicava a reserva que sentira em Shelley no dia ante­rior, e que perdurara até a outra perceber que ela nada tinha a ver com Amanda!

- Parece que ninguém da família de Garrett gostava de minha irmã - comentou Sarah achando tudo muito estranho.

- Eu não deixaria que isso a incomodasse; certamente não incomodou Amanda.

Sarah soltou um suspiro.

- Por que todo mundo parece censurá-la por ter se casado com Garrett?

- Ninguém a censura por ter-se casado com ele. É só que ela deixou cair a máscara depois que estavam casados.

As peças daquele quebra-cabeça ainda estavam muito embara­lhadas na mente de Sarah, que achou melhor mudar de assunto, pois não se sentia preparada para o que podia descobrir.

Ainda conversavam quando a hora do almoço chegou. Garrett continuava ausente, mas os outros apareceram pouco antes de a refeição ser servida. Geoffrey parecia mais relaxado e descansa­do, Jonathan mantinha o charme usual e até mesmo o velho King­ham não a importunou, permitindo que apreciasse as iguarias...

Mas era para Jason que Sarah olhava o tempo todo, ainda in­certa quanto a sua reação. Ele parecia mais à vontade, embora ela pudesse sentir que ainda havia alguma reserva no olhar do sobrinho.

- Posso ir com você? - perguntou a ele, depois do almoço, ao ouvi-lo anunciar que iria surfar. Jason a fitou, um tanto surpreso.

- Se quiser... - Deu de ombros.

- Eu gostaria, sim - reafirmou ela, ansiosa, apressando-se para pegar suas coisas.

Ficou um pouco desapontada por não ficar sozinha com o ga­roto, como queria, já que Jonathan decidiu se juntar a eles depois que Shelley e Geoffrey anunciaram que preferiam dormir um pouco.

Logo depois, Jason se afastava em direção ao mar, deixando-a sozinha com o tio.

Sarah sentia-se satisfeita por estar ali, e acenou para Dennis, em pé ali perto.

Jonathan olhou para o segurança...

- Esqueci que ele estava lá.

- Acho que a idéia é essa - comentou, embora ainda achasse a presença de um guarda-costas um tanto desconcertante. - Não é à toa que Jason achou as ondas na Inglaterra tão sem graça! - Sorriu, ao ver o sobrinho manobrar sua prancha com habilidade sobre a crista de ondas altas e fortes.

Jonathan riu, sentando-se na areia.

- Às vezes tenho a impressão de que ele já nasceu pegando onda!

- Você surfa?

Ele balançou a cabeça, negando.

- Não há muitos convites para isso em Washington.

- Eu quis dizer quando era mais moço. - Ela riu, divertida.

Jonathan fez uma careta.

- Será que já fui jovem? - Riu também, deitando-se na areia, com as mãos cruzadas sob a cabeça, os óculos escuros protegendo os olhos Claros do sol forte. - Garrett sempre pensou que era o filho rebelde, aquele que procurava por sua própria identidade. Nunca parou para considerar o quanto me foi difícil ter a identi­dade, a vida praticamente decididas por outra pessoa!

Não havia amargura em seu tom, e ela não pôde ver-lhe a ex­pressão do olhar, mas sentiu ressentimento naquelas palavras. - Sou o filho mais velho. Claro que tinha de seguir a carreira política, como meu pai.

Sarah o observava atentamente, muito quieta.

- Não era o que você queria?

Ele sentou-se, retirando a areia dos braços.

- Por incrível que pareça, era sim. -Deu de ombros: - É o que eu faço melhor.

- Então por que o ressentimento?

- Foi assim que soou? - Ele franziu a testa. - Não quis dizer isso. - Sorriu. - Mas é que há momentos como esse; quando ob­servo Jason aproveitando sua juventude, em que percebo que per­di algumas coisas em meu caminho, que segui uma vida cheia de códigos muito rígidos.

- E Garrett?

- Quando tinha dezessete anos, o senador já o estava chamando de ovelha-negra da família! É claro que isso só o tornava mais determinado a chocar nosso pai puritano. Durante anos os jornais estiveram cheios das escapadas do filho mais novo do senador King­ham! - Riu com vontade.

Sarah sorriu ao imaginar Garrett um pouco mais velho que o próprio filho, provocando deliberadamente o pai.

- Aposto como ele gostava disso. Jonathan deu de ombros.

- Gostaria de ter tido sua ousadia. Em vez disso, fui um estudante exemplar, fiz o casamento perfeito do ponto de vista social e me tornei um dos senadores mais jovens do país.

- Você se arrepende disso?

- Às vezes. Algumas ocasiões as regras podem ser bem estreitas para se conseguir viver bem dentro delas e ser feliz... A única coisa de que nunca me arrependi é Shelley; eu a amei desde o pri­meiro momento em que a vi.

Ela acreditava nessas palavras, pois já tinha presenciado o amor que havia entre o casal.

- E você? - Jonathan olhou-a de lado. - Meu pai me disse que já foi casada.

- Aposto que adorou comentar meu fracasso.

Jonathan sorriu.

- Depois que o conhecer melhor vai perceber que ele age as­sim por causa de seu amor pela família.

- Não acho que ficarei por perto tempo suficiente para desco­brir coisa alguma.

. Ele ficou sério.

- Mas eu pensei que você e Garrett... Vocês pareciam ... Tal­vez eu estivesse errado - desculpou-se, sem jeito.

Jonathan tinha pensado que havia algo sério entre ela e o irmão, que pareciam apaixonados; Sarah entendeu perfeitamente bem a mensagem muda.

Garrett estaria apaixonado por ela? Ele nunca dissera nada, em­bora fosse possessivo em relação a Sarah; mas ela também nunca lhe falara sobre seus sentimentos. E, mesmo que estivessem apai­xonados, não era ingênua a ponto de sonhar com casamento.

- É, acho que você estava errado - ela disse, gentil. Jonathan correu um dedo com delicadeza pelo rosto bronzeado de Sarah.

- Meu irmão será um tolo se deixar você se afastar. Ela sorriu, enrubescendo um pouco ante o elogio.

- Acho que todos somos tolos às vezes, não?

- Tem razão - ele concordou, a expressão subitamente fechada.

Sarah procurou Jason com o olhar, encontrando-o sobre as on­das uma vez mais. Ainda não tinha tido chance de conversar com ele, mas o sobrinho parecia amigável, e talvez tivesse mesmo en­tendido sobre ela e o pai.

Quando voltaram para casa, Jason a desafiou para uma corrida na piscina, e, enquanto os outros os observavam, disputaram vol­ta a volta até que Sarah desistiu sorrindo, admitindo a derrota. Saiu da água e viu de relance o sobrinho dar a volta da vitória na piscina olímpica.

A primeira pessoa que avistou ao sair da água foi Garrett.

Afastando-se dos outros, ele tomou suas mãos e baixou o rosto para roubar-lhe um beijo.

- Você tem o corpo mais bonito que eu já vi na vida - mur­murou suavemente, beijando-a de novo.

- Então é só o meu corpo que você quer? - Sarah provocou-o em tom de brincadeira, depois de se separarem.

- É? - ele sussurrou sensual.

Ela se entregara completamente na noite anterior, mas Garrett não a possuíra, apesar de desejá-la com loucura. Encarou-o com o olhar cândido.

- Talvez seja somente o seu corpo que eu queira. A expressão terna dos olhos verdes não mudou.

- É? - perguntou outra vez.

Ela sabia que não, mas no momento seu desejo e o amor que sentia por Garrett eram uma coisa só.

- Ouça, nós temos que falar sobre meu casamento com David...

- Porque ele nunca lhe deu o prazer que lhe proporcionei?

Sarah encarou-o, encontrando compreensão em seu rosto.

- Como sabe?

- Porque você tem um pouco de medo pelo que posso fazê-la sentir. E esse medo se deve à inexperiência. Não se preocupe, bru­xinha. - Ele desfez as rugas de tensão em sua fronte com uma carícia. - Você não é a primeira mulher casada que não atingiu o clímax ao fazer amor.

- Não é apenas isso...

- Bruxinha, esta conversa e nossa proximidade estão fazendo maravilhas com meu corpo!

Sarah podia sentir-lhe o desejo latente.

- Talvez você esteja precisando se refrescar... - disse ela, com uma expressão marota.

- O quê... Não, Sarah! - ele tentou recuar, ao notar o brilho dos olhos castanhos. - Sarah, nãããão... - gritou antes de cair na piscina, espalhando água para todos os lados.

Explodindo numa risada gostosa, ela o observou voltar à super­fície, jurando vingança, a camisa e a calça grudadas em seu corpo como uma segunda pele.

- Precisa de uma ajuda, pai? - Jason perguntou, antes de che­gar por trás de Sarah e jogá-la na água também.

Ela ainda teve tempo de ouvir Garrett murmurar um "muito obrigado, filho", antes de desaparecer no fundo da piscina, abrindo os olhos ao ser agarrada pelos ombros e sentir lábios ansiosos to­mando os seus.

Ainda estavam se beijando ao voltar á tona, embora se separas­sem respirando ofegantes em busca de ar.

- Gostou da água? - perguntou ela, zombeteira.

O cabelo loiro estava grudado na cabeça, a penugem do peito visível através da transparência da camisa.

- Um chuveiro frio teria sido menos dramático. - E ajudou­-a a sair, levando-a a engolir em seco quando viu seu peito nu. ­Mas esse banho teve o mesmo efeito, posso lhe garantir. Senti sua falta hoje.

- Senti· sua falta também - ela admitiu depressa, ao saírem da piscina lado a lado. - Eu...

- Quando vocês dois acabarem de se exibir na frente dos criados ...

Os olhos de Garrett adquiriram uma expressão gelada ao se des­viarem de Sarah, fixando-se no senador, que parecia furioso.

- Eu não tenho criados pai, apenas pessoas que trabalham para mim - explodiu Garrett. - E se Sarah e eu resolvermos tirar nos­sas roupas aqui e fazer amor, não creio que isso seja de sua conta.

- Esqueceu-se de que seu filho está vendo tudo?

Mãos firmes mantinham Sarah ao lado de Garrett, embora o olhar dele permanecesse fixo no pai.

- Ele, pelo menos, tem o bom-senso de não tentar me impedir! O sarcasmo em sua voz pareceu ter sido a gota d'água para o velho Kingham.

- Você pretende colocar essa mulher acima de sua família?

Garrett semicerrou os olhos.

- Terei que chegar a esse ponto?

- Eu não ficarei aqui presenciando seu comportamento desavergonhado com essa mulher! - O pai disse-lhe, desgostoso.

Ele concordou sério.

- Nesse caso, creio que o senhor sabe onde é a saída! William Kingham ficou branco como cera.

- É sua palavra final?

- Asseguro-lhe que não tenho a menor intenção de ficar longe de Sarah.

- Muito bem! - o senador falou entre dentes. - Quando vo­cê recobrar a razão eu estarei em Washington ... Esperando por suas desculpas.

- É melhor esperar sentado, pai. - Garrett murmurou, rude, enquanto o pai se afastava pisando duro.

- Garrett ...

Ele olhou para Sarah com luminosos olhos verdes.

- Quer vir comigo até meu quarto para me ajudar a vestir rou­pas secas?

Ela sabia que Garrett estava querendo muito mais do que aqui­lo, que a cena com o pai o havia perturbado mais do que gostaria de admitir e que precisava dela naquele momento.

-. Garrett, não posso ir. Não sou Amanda...

Ele deu um sorriso sem alegria.

- Sei exatamente quem é. Você sabe quem sou? Deixe-me di­zer - acrescentou antes que ela tivesse chance de falar qualquer coisa. - Eu sou o homem que vai fazer amor com você bem deva­gar. Até fazê-la esquecer tudo.

A respiração de Sarah ficou difícil.

- É isso que eu quero Garrett, é o que mais quero!

- Então vamos. – Aproximando-se dos outros com Sarah a seu lado, ele olhou-os com ar desafiante, a água escorrendo pelos corpos perfeitos. – Sarah e eu vamos nos secar.

- Não nos incomodamos de atrasar o jantar por causa de vocês - Jonathan respondeu, seco.

- Vocês podem voltar para Washington com meu pai, se quiserem - retrucou Garrett, ríspido.

- Acho que não queremos, não é? - o jovem senador olhou interrogativamente para a esposa, os olhos brilhando de humor.

Shelley sorriu, com uma expressão divertida no rosto.

- Estou aproveitando bastante e não quero ir embora - disse ao marido com suavidade.

- Nós ficamos Garrett - Jonathan falou.

Ele concordou em silêncio, caminhando em direção a casa.

- Você se importa? - perguntou a Sarah de repente.

- Com o quê?

Ele deu um suspiro impaciente.

- Que todos saibam que vamos fazer amor.

- Você acha que eles se importam? - perguntou Sarah bem-humorada, tentando livrá-lo da tensão.

- Acho que estão adorando esta situação! - Garrett fez uma careta.

Ela correu os dedos pelo peito largo e úmido.

- Então por que deveríamos nos importar?

Sentiu que Garrett começou a relaxar e teve a confirmação quan­do ele lhe deu um sorriso espontâneo.

- É, por que deveríamos? - abriu a porta do quarto dela, fechando-a em seguida. - Que tal começarmos agora? - murmurou rouco, os lábios se apossando dos dela.

Sarah o beijou com sofreguidão, sentindo-se apertada no abra­ço forte.

Garrett a afastou ao senti-la estremecer involuntariamente de frio quando suas roupas molhadas tocaram-lhe o corpo.

- Um banho quente primeiro, e já. - Ele a observava enquanto desabotoava o cinto da calça. - Não quero que você morra de frio!

Ela continuou parada, sem fazer nenhum movimento para tirar o biquíni. Uma coisa era a nudez da noite anterior, e outra, bem diferente, ficar despida na frente dele como se já tivessem inti­midade!

- Frio? Com você por perto? Acho impossível!

- Concordo. - Ele a tocou nos braços, sorrindo. - Você está gelada.

Sarah desviou o olhar, hesitante.

- Posso... usar o banheiro primeiro?

Garrett franziu a testa, com uma pergunta no olhar.

- Sarah, você está se sentindo tímida comigo?

Ela piscou brava, só se acalmando ao ver a expressão gentil no rosto bronzeado.

- Estou.

- Se preferir, não ...

- Oh, não é nada disso. - Corou, depois do protesto veemente. - É só... que eu gostaria de tomar um banho primei­ro.

Ele a fitou com intensidade.

- Você nunca tomou banho com seu marido?

- Não - ela respondeu, desejando ter esquecido a timidez e se despido; pelo menos seria melhor do que ter de responder a tan­tas perguntas.

Garrett sorriu.

- Então, por favor, use o banheiro primeiro - brincou, fa­zendo uma mesura - Vou até meu quarto e pegarei roupas secas enquanto espero.

Sarah ficara aliviada quando Garrett a levara até aquele quar­to, sabendo que não conseguiria fazer amor na mesma cama que ele dividira com Amanda durante o casamento. Mas estava curio­sa pelo súbito interesse que ele demonstrara com relação ao seu relacionamento com o ex-marido.

- Garrett... - ela o fez parar na porta. - Por que quis saber sobre David logo agora?

- Porque não vou permitir que você não compartilhe tudo co­migo, como fez com ele.

Sarah concordou com um gesto de cabeça, antes de entrar no banheiro. Pensava no pouco que dividira com David. Tinham em comum a carreira, sentiam uma amizade profunda um pelo outro, mas nunca tiveram nada que se parecesse como que ela vivia ao lado de Garrett.

Deixando o jato de água quente acariciar seu corpo nu, Sarah pensava em como dizer a ele que seu casamento nunca passara do papel. Sabendo que não podia mais adiar a. hora da verdade, foi para o quarto usando apenas um roupão.

Encontrou Garrett esperando, vestido da mesma maneira. Ele se aproximou, beijando-a com muita paixão. Sarah viu-o afastar­-se então, uma expressão confusa no olhar, ao não encontrar a mesma resposta sôfrega e cheia de desejo da noite anterior.

- Ele machucou você? - Quem?

- David.

Ela evitou-lhe o olhar.

_ Não. Eu... Você... não deveria tomar um banho antes que pegue uma pneumonia?

_ Já tomei, em meu banheiro - ele respondeu, ainda observando-a atentamente. - Sarah, o que há? Sinto que está com medo!

Ela umedeceu os lábios secos.

- Eu...

- Não vou fazer nada que você não queira - assegurou-lhe, rouco. - Nunca faria nada que a machucasse.

Sarah fechou os olhos, engolindo em seco.

- Você vai me machucar.

- Não - ele protestou, balançando a cabeça. - Que tipo de homem foi seu marido que lhe incutiu esse medo de fazer amor?

Ela manteve os olhos fechados.

- Ele era um homem bom, doce, gentil. - Umedeceu os lábios outra vez. - Só não era a pessoa certa para mim.

- Nós todos cometemos erros, bruxinha - Garrett consolou-a, gentil. - Ninguém é infalível.

- Não! - Os olhos castanhos estavam arregalados, fixos ne­le, enquanto a verdade explodia nos lábios trêmulos. - David era atraente, charmoso, tudo que eu poderia desejar num marido... Mas quando me tocava na cama eu não conseguia sentir nada!

Garrett prendeu a respiração ao perceber o que aquilo signifi­cava.

- Agora a pouco, quando disse que eu iria machucá-la, não quis se referira... a ...

- Eu sou virgem, Garrett.

Ele franziu a testa, tonto ao descobrir a verdade.

- Seu casamento foi anulado?

- Não... mas deveria ter sido. Só que eu não podia fazer David passar por mais essa humilhação.

Garrett respirava pesadamente.

- Eu... Você... Eu...

- Não estou surpresa por você estar sem fala. Acredite-me, não me sinto muito orgulhosa de meu comportamento. Acho que ar­ruinei a vida dele.

- Onde David está agora? Trabalhando em Londres. Casou outra vez?

- Sim, mas... - franziu a testa, intrigada com tantas perguntas.

- Filhos?

Deu um suspiro impaciente.

- Um bebê de colo.

- Então você não arruinou a vida dele coisa nenhuma.

- Mas eu era frígida e acabei com nosso casamento!

- Ambos sabemos que isso não é verdade, bruxinha. Olhou-a nos olhos, fazendo-a recordar-se dos momentos de paixão que com­partilharam. - Admito que você tenha tornado as coisas um pou­co turbulentas para David durante algum tempo, mas parece que ele foi sensível o suficiente para superar tudo isso e refazer a pró­pria vida. Se eu não soubesse que isso iria magoá-lo, gostaria de agradecer-lhe!

- Pelo quê? - Sarah perguntou confusa, sem entender o bri­lho de prazer nos olhos verdes.

Por deixar que minha noiva viesse a mim intocada.

Sarah pensou que fosse desmaiar. Ele não podia estar dizendo aquilo...

- Quer se casar comigo? – Garret perguntou ansioso - Quer ser minha mulher, bruxinha?

 

Sarah fitava Garrett, sem conseguir acreditar no que ouvira.

- Quer se casar comigo só porque descobriu que sou virgem?

- Não. Sei que a sociedade de hoje anda meio promíscua, mas tenho certeza de que não é a única virgem no mundo.

- Então...

- Quis me casar com você no momento em que a vi, há quase duas semanas. Eu já lhe disse como você estava sexy naquela noi­te, de negligé e camisola de seda?

- Garrett!...

- Tudo bem. - Ele ergueu as mãos num gesto de rendição. - Mas você parecia...

- Garrett, por favor! Você acabou de me pedir em casamento e eu gostaria de saber por quê!

- Pela mesma razão por que todas as pessoas se casam...

- E qual é essa razão? - ela insistiu, sentindo um pavor tomar conta de seu peito.

- Porque as pessoas se amam - Garrett respondeu, a expres­são se suavizando ao ver a confusão nos olhos castanhos. - Eu te amo, bruxinha. Desde o momento em que te vi outra vez.

- Porque eu me pareço com Amanda...

- Você não tem nada a ver com Amanda! Você é Sarah! A bruxinha de olhos castanhos sorridentes e corpo perfeito.

Ela franziu a testa, cheia de medo.

- Não acho que consiga acreditar nisso. Os olhos de Garrett se escureceram de dor.

- Não posso fazer meu casamento com Amanda "desaparecer".

- Nem quero isso. Se fosse assim, Jason não existiria.

Ele estava tenso, os lábios comprimidos.

- E você o ama.

- É claro,

- E não me ama.

- Eu não disse isso... – Sarah gemeu, suspirando pesadamente. – Garrett, eu não posso simplesmente esquecer que você foi casado com minha irmã. Que dormiu com ela. Que teve um filho com ela. Você pode?

- Estou tentando. Oh, Deus, Sarah, você sabe muito bem que meu casamento estava longe de ser considerado um sucesso!

Um forte rubor coloriu as faces de Sarah.

- O que o faz pensar que seria diferente conosco? Eu venho do mesmo lugar, tenho os mesmos...

- Eu não amei Amanda! - ele explodiu ríspido, os punhos fechados.

Ela engoliu em seco.

- Nunca?

- Não.

Sarah sabia que a maioria dos relacionamentos sobrevivia apenas com a parte física, sem o envolvimento amoroso, mas Aman­da e Garrett acharam necessário se casar quando a gravidez aconteceu. Claro que deviam ter se amado! Mesmo ela e David, depois de tudo, ainda tentaram salvar o relacionamento, recupe­rar o casamento. Por que com eles teria sido diferente?

- Preciso de tempo para pensar, Garret!.

- Por quê?

- Já tive um casamento fracassado...

- E você acha que eu não tive? - Ele a olhava duro. - Pen­sei que com você poderia ser diferente. Diabos, Sarah, eu só pedi uma mulher em casamento durante toda a minha vida; não estou lhe pedindo para ir a uma festa. Sei bem o que estou fazendo!

- Não me sinto segura...

- Bem, talvez você queira me comunicar quando se sentir!

Sarah estremeceu ao ouvir a porta bater com um estrondo depois que ele saiu. Garrett era um homem orgulhoso, que não mos­trava facilmente as emoções, e ela o magoara, ferira seu orgulho.

Mas o que poderia fazer? Conformara-se em ter um romance com ele, mesmo amando-o como o amava, e nunca se atrevera a pensar em algo mais duradouro, muito menos em casamento! O que faria agora? Não podia permitir que a consciência a perseguisse a vida inteira por ter se casado com o marido da: irmã! Só que não conseguia imaginar o mundo sem ele. Perdida em sua angústia, assustou-se quando viu o pai entrar no quarto, sem nem mesmo bater.

- O que aconteceu? - perguntou, sem cerimônia. Sarah sentia o rosto pegando fogo.

- Você viu Garrett?

- Se o vi? Saiu de carro na disparada, cantando pneus.

- Garrett saiu?

-O que você acha? Sarah, o que aconteceu? Num momento vocês dois estão agindo como... como...

- Amantes.

- Exato. Ele chegou a pedir ao pai que partisse por sua causa, e no minuto seguinte sai como um louco perseguido por demônios!

E talvez estivesse mesmo sendo perseguido por demônios, Sa­rah pensou, angustiada. Talvez pensasse que poderia ser feliz com ela e esquecer Amanda, mas duvidava que isso fosse possível. Bas­taria olhar para Jason, e Amanda sempre estaria entre eles.

- Não daria certo, pai - foi tudo que disse, enfiando as mãos nos bolsos do robe.

Geoffrey parecia confuso.

- O que não daria certo? - Relanceou um olhar pelo quarto, notando a cama arrumada, prova de que nem mesmo haviam fei­to amor. - Filha, o homem se importa com você...

- Não quero falar sobre isso agora...

- Parece que alguém tem de fazê-la falar. - Ele suspirou, impaciente. - Alguém tem de falar alguma coisa!

Sarah franziu as sobrancelhas, intrigada com a veemência do pai.

- O que quer dizer?

Ele suspirou novamente, balançando a cabeça.

- Não tenho certeza, mas há algo ...

- Sim?

Geoffrey balançou a cabeça outra vez.

- Talvez eu devesse falar com Garrett primeiro. Não tenho mui­ta certeza, e até que esteja seguro...

Do que está falando, pai?

O pai a olhou como se de repente se desse conta de que ela estava ali.

- Não é nada que eu queira mencionar até ler certeza, mas se eu estiver certo...

- Então?

Ele fez um gesto vago com as mãos.

- Você ainda não me disse por que Garrett partiu tão de repente.

Sarah suspirou.

- Acho que eu disse que não queria falar sobre isso.

A expressão no rosto do pai suavizou-se:

- Meu bem, sei que seu casamento com David foi um desastre...

-Você não sabe nem a metade, pai.

- Sei que ele costumava andar pelo quarto a maioria das noi­tes, quando vocês dois achavam que eu já estava dormindo, e que você costumava ficar na cama chorando!

Ela enrubesceu.

- Nós éramos incompatíveis, pai. Completamente!

- E Garrett saiu porque você disse isso a ele?

- Não. Não acho que você entenda tudo o que aconteceu entre mim e David, e ...

- Eu entendo perfeitamente. E, ao contrário do que todo mundo diz, fazer amor não vem naturalmente para qualquer casal, no começo da relação. Tem de ser praticado, construído passo a pas­so, e muitas vezes não chega a ser perfeito. Sua mãe e eu nunca a criamos com qualquer inibição quanto a seu corpo, mas a sociedade sempre tem um jeito de impor sanções a cada um de nós. Se você não gosta de fazer sexo com a primeira pessoa que encontra e se alguém a acha fria, então você se sente assim também. Não importa se isso aconteceu apenas porque aquela pessoa com quem você tentou fazer amor não era o homem certo!

- Você faz soar como se o que aconteceu entre mim e David fosse tão... tão normal! – Passou os braços em volta dele.

- E é! – assegurou ele com calma. – Sua mãe e eu praticamos bastante antes de fazer tudo certinho!

Sarah deu-lhe um sorriso por entre as lágrimas.

- Garrett me pediu em casamento.

- E você recusou?

- Não exatamente.

- Mas o suficiente para soar como um não para ele - o pai concluiu, perspicaz. - Por causa do que acabou de me contar?

- Deus, não! A última coisa que sinto quando estou com Garrett é indiferença!

- Eu percebi - ele concordou, seco. - Em todos os sentidos. Aquele empurrão na piscina foi uma boa mostra!

- Eu bem que gostei.

- Certo. Agora quero que se anime. - Garrett logo estará de volta e vai querer falar com você, sem dúvida.

Ela suspirou, angustiada.

- Nada vai mudar!

- Você quer dizer quer não irá aceitá-lo?

- Não posso me casar com o marido de minha irmã!

- Amanda era minha filha e eu a amava, mas mesmo depois de morta continua arruinando a vida das pessoas!

- Pai!

_ Filhota, se o que estou pensando for verdade... Ela pode ter sido infeliz, mas isso não justifica... Não vou dizer mais nada até que tenha falado com Garrett.

O pai de Sarah teve de esperar bastante; Garrett não voltou para o jantar nem dormiu em casa naquela noite.

Sarah preocupava-se com ele; queria saber onde estava, no que estaria pensando. Preocupava-se em saber como a família dele a julgaria, já que era a responsável por seu súbito desaparecimento.

Permaneceu acordada até quase amanhecer, esperando ouvir o barulho do carro chegando e acabou por cair num sono leve que a deixou com dor de cabeça quando acordou.

Ao descer, a empregada informou-lhe que os homens haviam saído para jogar golfe e que Shelley estava no pátio lendo um livro.

- Você não deveria se preocupar com Garrett. - Shelley dei­xou de lado a leitura para concentrar-se no rosto pálido de Sarah, que tomava uma xícara de café preto. - Ele já é bem grandinho, e se escolheu comportar-se como uma criança mimada ...

- Eu o magoei.

- Tenho certeza de que ele deve ter tido uma boa razão para sair do modo como saiu. Mas sempre foi muito esquentado. Ape­sar de gostar dele, estou contente por ter percebido antes que fos­se tarde demais que Jonathan combina muito melhor comigo.

- O que quer dizer? Shelley deu um sorriso.

- Conheci Garrett antes de conhecer Jonathan. Pensávamos estar apaixonados, mas éramos ambos muito jovens e... Bem, quan­do encontrei Jonathan percebi onde estava o verdadeiro amor. - Garrett deve ter ficado muito triste ao perdê-la para o irmão. - comentou Sarah, desanimada; não tinha a menor idéia de que ele havia amado aquela mulher.

Agora entendia a grande ligação que existia entre ambos.

- Foi a primeira vez que reparei bem no gênio de Garrett. De­pois disso tive oportunidade de presenciar muitas de suas explo­sões, mas a primeira foi definitivamente a pior!

- Vocês deviam ser muito jovens, não?

- Tínhamos dezenove anos. E Jonathan vinte e quatro. Saí com Garrett vários meses, com Jonathan foi amor à primeira vista.

- Garrett ainda se importa muito com você...

- Hei! Eu só lhe contei isso para tentar animá-la! Não comece a imaginar amor onde ele não existe. Sabe, gosto demais de Gar­rett, mas é outro tipo de amor. Só lhe contei o caso para que en­tendesse que, quando as emoções estão envolvidas, ele é ainda menos tolerante do que o usual. Mas logo se acalma, vai ver.

- Você o faz parecer um tirano!

- Ele é. Está acostumado a controlar todas as pessoas no estúdio, fazendo-os agir segundo seus desejos, e esquece que não pode fazer a mesma coisa com gente de verdade. A noite passada você desafiou-lhe a vontade.

Sarah deu um sorriso relutante.

- Tem certeza de que se casou com o irmão certo? Você parece conhecê-lo tão bem!

Shelley sorriu marota.

- Acredite-me, Jonathan é muito mais maleável!

- Foi por minha culpa que ele saiu daquele jeito.

- Ora vamos, não comece a se recriminar outra vez. Ele saiu batendo o pé. E, se você não pretende tomar café direito, sugiro que façamos um passeio e mais tarde procuremos um bom lugar para almoçar,

Sarah parecia hesitante.

- Não vai ficar sentada aqui esperando por ele, vai? - Shelley lhe disse, determinada, - Deixe-o pensar que você não dá a mínima.

- Mas eu...

- Está apaixonada por Garrett. Sim, eu sei, Nós lodos sabemos como se sente, inclusive ele. Mas depois de deixá-la preocu­pada a noite toda ... - lançou-lhe um olhar penetrante. ­ - tirando-lhe o sono, fará muito bem a ele voltar para casa e ter de esperar até você voltar!

Sarah seguiu-a até o carro.

- O "maleável" Jonathan sabe como você é mandona? perguntou Sarah, brincalhona, enquanto recolhia a cadeira de rodas, colocando-a no porta-malas e sentando-se no banco de passageiros, no carro adaptado.

Shelley riu com vontade.

- É claro que não!

O passeio serviu para acalmá-la, e ela surpreendeu-se ao descobrir o lugar que a outra tinha escolhido para o almoço.

Era o "Queen Mary", um barco ancorado permanentemente em Long Beach, que mantivera todo o luxo e elegância do tempo em que navegava pelo Atlântico, cheio de gente bonita e bem vestida. Sarah estava adorando a companhia de Shelley.

- Humm... - Shelley olhou para o relógio, quando já estavam no carro, depois do almoço. - Você acha que já ficamos fora tempo suficiente?

Considerando que eram mais de três horas, Sarah pensou que haviam exagerado. Estava ansiosa para retornar e ver se Garrett já chegara.

- Eu... Ahn...

A outra deu um leve sorriso.

- Pare de tentar ser educada, Sarah, e diga me para dirigir de volta para casa.

- Shelley, leve-me de volta para casa.

Ligando o carro, ela tomou a estrada em direção a Malibu...

- Aposto como você é uma professora formidável!

- Não tão formidável quanto a mulher de um político que conheço,

- Agora, não se esqueça - Shelley advertiu-a quando já esta­vam bem próximas da casa.- Foi ele quem a deixou sozinha.

A primeira coisa que Sarah viu ao contornarem a garagem foi o Mercedes vermelho de Garrett. O coração começou a bater feito louco dentro do peito, e as palmas de suas mãos estavam úmidas de suor.

- Vou para meu quarto descansar um pouco - Shelley despediu-se; deixando que ela fosse procurar Garrett sozinha.

Sarah encontrou-o na piscina, movendo-se dentro da água com movimentos longos e poderosos, cheios de uma velocidade tensa. Nesse momento soube que ele não se havia acalmado.

Pediu um refresco e sentou-se sob o guarda-sol em silêncio, es­perando que Garrett se cansasse e saísse da água·.

Foi quase meia hora depois, quando ele saiu da piscina e parou para enxugar o cabelo, que a viu tomando uma limonada gelada.

Depois de um olhar breve e duro continuou a se enxugar.

- Gostando do exercício? - Sarah perguntou, suave.

- Não exatamente - ele retrucou, a toalha jogada sobre os ombros.

Ela suspirou ante a atitude pouco amigável.

- Se você preferir não conversar ...

- Conversar! Que diabos me adianta falar, falar e falar?

Sarah mordeu o lábio inferior.

- Sinto muito se o magoei. ...

- Não procure se desculpar. Estou bravo, não magoado, bravo com sua falta de capacidade para entender as coisas.

Ela balançou a cabeça, pesarosa.

- Eu não posso ...

- Casar comigo. Eu sei - ele completou, seco. - E que tal um caso? Poderia viver com isso?

Sarah ficou pálida ao sentir o desprezo na voz de Garrett.

- Você nem mesmo está tentando entender!

- Oh, mas eu entendo muito bem! - Os olhos verdes pareciam esmeraldas. - Sou bom para ter um caso com você, mas não sir­vo para marido!

- Pensei que você quisesse só um romance ...

- E agora que viu o equívoco, está fugindo, assustada!

-Ainda estou aqui.

- Onde diabos você andou a manhã toda?

- Onde você esteve a noite toda?

- Suponho que se eu lhe disser que encontrei uma mulher num bar e passei a noite com ela você vai acreditar!

Sarah deu um soluço audível, respirando pesadamente para acalmar a raiva antes de responder:

- Do mesmo modo como acreditaria se me dissesse que passou a noite sozinho.

Ele a olhou com frieza.

- Passei a noite sentado no carro, olhando o oceano.

- Oh, Garrett...

Ele ergueu a mão, fazendo com que Sarah se calasse.

- Tentei encontrar um jeito de arrumar toda essa confusão, mas você está certa, não há nenhum modo de fazê-lo sem magoar um monte de gente inocente. - Suspirou, cansado. - Então va­mos nos separar no fim destas férias e nunca mais nos veremos.

Nunca mais? Ela não seria capaz de suportar.

- Mas ... e quando quisermos ver Jason?

- Eu não estarei por perto, pode ter certeza.

- Garrett...

Ele evitou a mão que Sarah lhe estendia.

- É assim que tem que ser bruxinha.

Talvez fosse, mas Sarah não suportava pensar que não o veria nunca mais.

- Eu te amo, Garrett.

Os olhos verdes brilharam intensamente para se nublarem depois, fazendo-o parecer mais derrotado do que nunca.

- Eu também te amo. Mas parece ser uma daquelas ocasiões na vida em que só isso não basta.

Sarah deixou o desespero vir à tona, soluçando convulsivamente enquanto corria para o quarto. As lágrimas a cegavam e ela ba­teu na parede sólida de um peito masculino.

- Me desculpe, eu ...

- Está tudo bem ... Meu Deus, Sarah, o que aconteceu? - Jonathan perguntou, preocupado.

Ela manteve o rosto abaixado.

- Me desculpe, eu... eu tenho de ir para o meu quarto!

Desvencilhou-se dos braços dele, limpando as lágrimas e ansiando por ficar sozinha.

Mais calma, procurou refletir racionalmente. Garrett tinha to­do o direito de estar zangado com ela. Que estava querendo, afi­nal, ao rejeitar o único homem que amara em toda sua vida? O casamento com Amanda não dera certo e Garrett tinha o direito de tentar outra vez. Ambos mereciam sua chance de felicidade. Se não desse certo, pelo menos teriam tentado.

Segura, como nunca estivera em sua vida, ela correu para a pis­cina, esperando que Garrett ainda estivesse lá.

- Quando eu quiser sua opinião, eu peço - Garrett estava di­zendo a Jonathan, com voz alterada. - Não tente me ensinar co­mo dirigir minha vida, não quando fez da sua uma grande confusão!

Sarah parou abruptamente, temendo interromper a séria discus­são entre os dois irmãos. Indecisa quanto ao que fazer, ouviu Jonathan dizer:

- Eu cometi um único erro, Garrett...

- Não foi um erro. Você sabia muito bem o que estava fazendo.

Ela viu o homem mais velho ficar muito pálido.

- Não fui capaz de me controlar ...

- Não quero ouvir suas desculpas. Só quero que fique longe de Sarah. Se aproximar-se dela novamente, eu o mato.

- Eu já lhe disse para não se preocupar com isso. Eu... é que ... ela é tão parecida com Amanda!

- Ela não tem nada a ver com Amanda! - Garrett retrucou ríspido. - Mesmo que Amanda fosse a mulher que você imagi­nou que fosse!

- Era tão linda, tão...

- Mesmo agora você não consegue esquecer o que teve com aquela víbora, não é? Você tem Shelley, sua carreira, e ainda pensa na mulher que o usou, que por tão pouco tempo dormiu em sua cama!

Amanda e Jonathan ...

Sarah não quis ouvir mais nada. Agora, todas as peças do quebra-cabeça começavam a. se encaixar.

 

Sarah ficou olhando para o vazio. Amanda e Jonathan. Quase não conseguia acreditar... mas tudo fazia sentido. O ódio de Gar­rett pela esposa, o prazer de Jonathan ao descobri-la tão parecida com a irmã, o ressentimento de William Kingham pela mesma ra­zão, a inimizade entre Shelley e cunhada e, mais do que tudo, a descrição que Geoffrey fizera da própria filha. Amanda tinha de ser egoísta e mimada para destruir a vida de tantas pessoas. O que Sarah não conseguia entender era o fato de a família continuar uni­da mesmo depois de descobrir a traição. A menos que Amanda tivesse morrido antes de isso acontecer... Ela parecia tão certa do divórcio com Garrett, e ele estava igualmente seguro do contrário...

Talvez fosse a isso que seu pai se referira, desconfiado... Como estaria se sentindo ao descobrir a irresponsabilidade da filha mais velha? Sarah pensava em quanto a irmã devia desprezar o marido para atirar-se nos braços de outro homem. Seu próprio cunhado! Não importava o quanto tivesse sido infeliz, nada justificava um caso com Jonathan, nada! Era cruel demais para com Shelley, des­leal para com Garrett!

Como ele devia tê-la odiado ao descobrir aquela história sórdi­da e vingativa: E pensava que o recusara por lealdade à irmã!

Se antes já estava decidida, agora nada no mundo a faria desis­tir do homem que amava. Se Garrett ainda a quisesse, iria se casar com ele e tentaria com todas as suas forças fazê-lo feliz!

Voltou para seu quarto, achando melhor deixar que os dois ir­mãos se entendessem antes de tentar uma nova aproximação. Vestiu-se com esmero para o jantar, escolhendo um vestido de se­da azul-cobalto e escovando os longos cabelos negros até deixá­-los brilhantes e sedosos.

Só que Garrett não apareceu, e, enquanto a noite tornava-se mais e mais escura, Sarah começou a pensar se não deveria ter falado com ele lá mesmo na piscina.

- Garrett está fazendo onda outra vez! - Shelley comentou quando já estavam tomando café.

Sarah olhou de relance para Jonathan, que estivera calado du­rante todo o jantar. Era óbvio que a discussão entre ele e o irmão fora bastante desgastante. Ela não ficara até o final, pois tinha cer­teza de que Garrett não gostaria de vê-la descobrir a humilhação que sofrera nas mãos de Amanda.

Não havia dúvida de que Jonathan amava a esposa. Mas ainda pensava no caso com Amanda, e tudo indicava que ainda sentisse sua falta. Como podia estar apaixonado por duas mulheres ao mes­mo tempo, mesmo que uma delas estivesse morta? Era algo que ia além de sua compreensão. E, pela atitude de Shelley com rela­ção à cunhada, parecia claro que sabia da traição do marido; mas, qualquer que tenha sido sua reação na época, ao que tudo indica­va já superara tudo.

Se Garrett aceitasse seu amor, Sarah lhe mostraria que jamais deveria ter duvidado de sua sinceridade, que ele era o único ho­mem que queria na vida.

- Papai não está fazendo onda - Jason defendeu-o. - Ele tinha serviço para terminar.

- Ouça, nós todos sabemos que ele se trancou no estúdio porque ainda está bravo com Sarah - a tia corrigiu, gentil mas firme.

Os olhos castanhos ficaram atentos.

- No estúdio? Aqui na casa?

- Exatamente. E a porta não está trancada...

Sarah se levantou devagar.

Será que Garrett a ouviria quando dissesse que cometera um er­ro ou continuaria furioso? Fosse qual fosse sua reação, tinha de falar com ele.

- Obrigada, Shelley.

- Cuidado com copos voadores. Ou garrafas! - Shelley avisou-a com um sorriso ... - A última vez que o ouvi, tinha acabado de pedir uma garrafa de scotch.

Sarah não conseguia imaginá-lo bêbado; aquilo feriria seu or­gulho, já que ele não conseguia se imaginar sem o controle das próprias atitudes; e ela não se perdoaria se fosse a responsável por aquela depressão.

Ao abrir a porta, a primeira coisa que viu foi a garrafa de uís­que ainda intocada, sobre a mesa.

- Posso entrar? - perguntou suavemente, ao notar os olhos verdes se estreitarem num misto de dor e raiva.

- O que quer?

Sarah umedeceu os lábios ressequidos, fechando a porta silenciosamente e aproximando-se passo a passo.

- Você.

Ele se recostou na poltrona, tenso e alerta.

- O quê?

Ela engoliu em seco.

- Eu cometi um erro, Garrett...

- Quando?

Respirando de maneira irregular, ela o encarou.

- Quando lhe disse que não poderia me casar com você.

-- Por quê?

Ele não estava tornando as coisas fáceis! E por que deveria? Sa­rah não podia ter se importado com quem ele fora casado; era quem amava no presente que contava.

- Porque eu te amo.

Garrett estava sério:

- Você me amava ontem e esta tarde também, mas ainda as­sim recusou meu pedido. Pergunto-me o que aconteceu para fazê-la mudar de idéia.

- Eu...

- Conte-me. Você voltou para pegar sua bolsa? Notei que a tinha esquecido na piscina, à tarde.

Sarah nem mesmo se lembrava de ter esquecido a bolsa, até que uma das empregadas a levou a seu quarto, mas era óbvio que Gar­rett suspeitara que ela fora buscá-la e acabara por escutar a dis­cussão·. Precisava fazê-lo entender a verdade, mesmo que o fato de ter percebido que não podia viver sem ele fosse pouco plausível depois de tudo o que lhe dissera.

- Você está certo. Eu escutei a conversa entre você e Jonathan.

- E daí?

- Sei que Amanda teve um caso com seu irmão enquanto estava casada com você.

Ele respirou fundo.

- E então?

Sarah balançou a cabeça.

- Ouvi apenas por alguns instantes, mas foi... o suficiente.

- Entendo - ele murmurou sério, o olhar gelado. - E agora você decidiu que me quer.

- Eu sempre quis você. Estava indo lhe dizer...

- Que agora que sabia que sua santa irmã tivera um caso com o próprio cunhado, sentia-se livre para se casar comigo!

- Não ...

- Sim. Obrigado, mas assim não a quero. Já casei com uma mulher por razões erradas; não vou repetir o equívoco. Eu a con­videi a vir aqui, esperando que visse por si mesma, percebesse... - Balançou a cabeça desolado. - Você está cega demais pelo pas­sado para ver o tipo de futuro que poderíamos ter juntos.

- Não estou! Vim para lhe dizer...

- Será que não entende, Sarah? - ele se levantou. -- Eu não a quero mais!

Ela ficou pálida.

- Se isso é verdade, suas emoções são muito instáveis...

- Não são nem a metade das suas. Você realmente acha que pode ouvir uma discussão sobre o caso de Amanda com Jonathan, vir aqui depois, pedir desculpas e achar que tudo vai ficar bem?

- Não foi assim que aconteceu. Tão logo o deixei, percebi que tinha cometido um erro, que não suportaria passar o resto da mi­nha vida sem você. Não fui atrás da bolsa; voltei para lhe dizer que eu estava errada!

Garrett fitou-a friamente.

- Mesmo que isso fosse verdade.

- Mas é!

- Só que eu nunca poderei ter certeza disso, não é?

Tarde demais. Já era muito tarde para eles.

- Garrett, eu te amo! Se não me quer mais como esposa, pelo menos... pelo menos, me aceite como amante.

- Não.

- Garrett, pelo amor de Deus ...

- Eu disse não! Arranjei uma esposa graças a uma armadilha, não quero outra do mesmo jeito!

Sarah se encolheu como se ele a tivesse agredido fisicamente.

- Você acha que eu ... que eu ...

- Por que não? As mulheres da família Harvey não gostam de ser contrariadas quando querem alguma coisa!

- Você... - ela tremia tanto que precisou se apoiar no braço de uma poltrona. - Garrett...

- Parto amanhã cedo. Tenho de ir à Espanha por alguns dias e não deverei voltar até que você esteja na Inglaterra.

Amortecida pela dor, Sarah mal o viu sair. Quando foi capaz de sentir alguma coisa, soluços fortes e descontrolados pareciam retirar toda a vida de dentro de seu corpo, deixando-a completa­mente vazia.

 

Fiel a sua palavra, Garrett partiu bem cedo. Depois das pala­vras cruéis e definitivas que trocaram, Sarah arrastou-se até seu quarto, permanecendo largada na cama, incapaz de reagir. Ouviu-o andar de um lado para outro pela casa, e ao amanhecer soube que partira quando o Mercedes deixou a garagem com um ronco sua­ve. Sentia-se meio morta, mas precisava sair do quarto e enfrentar o mundo. Vestiu-se mecanicamente e foi encontrar-se com os ou­tros no terraço.

Embora todos soubessem que ela era o motivo de Garrett ter deixado a casa, cumprimentaram-na calorosamente, o pai fitou-a preocupado ao notar-lhe a palidez e os outros conversando sobre amenidades, procurando acalmá-la.

Sarah olhou ansiosa para Jason, certa de que ele deveria odiá-la por causa da partida repentina do pai, mas tudo que encontrou foi compreensão e simpatia.

- Café? - Shelley perguntou.

- Obrigada - respondeu ela como se fosse um robô, segurando a xícara com mãos trêmulas.

- Papai foi embora - Jason lhe disse com suavidade.

- Eu sei.

- Partiu bem cedo.

- Eu sei.

- Você sabe ...

- Jason, será que poderíamos não falar de seu pai? - Ela o olhou, desafiante.

- Eu só queria saber se ele lhe disse para onde iria.

- Desculpe querido - Ela corou por sua falta de sensibilidade.

Estava tão mergulhada em seu próprio sofrimento que não per­cebeu a preocupação do sobrinho. - Eu pensei que ele lhe tivesse dito... Garrett falou qualquer coisa sobre precisar ir para a Espanha.

- Espanha? - O garoto franziu a testa. - Por que diabos iria para lá?

- Não tenho a menor idéia. Deve ter algo a ver com o filme que está fazendo.

- Mas ...

- Jason, deixe-a em paz. - interrompeu Jonathan, abrupto.

- Será que não vê que Sarah está aborrecida?

O sobrinho o fitou, cheio de ressentimento.

- É claro que vejo!

- Então não fique fazendo perguntas sem sentido!

- Está tudo bem, Jonathan - Sarah tratou de acalmá-lo ao notar a atmosfera tensa. - Jason está apenas preocupado.

- Isso não justifica ...

- Não justifica o quê? - o rapaz desafiou o tio. - Por que não cuida de sua própria vida ... e tira suas mãos de cima dela? - perguntou, furioso, o olhar fixo na mão de Jonathan que re­pousava confortadora sobre o ombro de Sarah.

- Jason!

Ele se levantou bravo, o corpo rígido.

- Ele não tem o direito de ...

- Por que nós todos não nos acalmamos um pouco? - Shelley interrompeu, procurando serenar os ânimos. - Jason, sente­-se e termine seu café.

- Não quero.

- Não fale com sua tia nesse tom! - Jonathan advertiu-o duramente.

- Ou então? - Jason desafiava-o, cheio de sarcasmo. -- Vo­cê vai me bater? Não é homem suficiente para isso.

- Jason, acho que já chega - o avô pediu, com uma autoridade calma e absoluta.

Ele calou-se, abatido, embora conservasse a expressão rebelde.

- Você não entende, vovô.

- Oh, eu acho que entendo, sim. Perfeitamente.

Sarah não conseguia compreender o que estava acontecendo. To­dos pareciam apreensivos desde a partida de Garrett, mas... isso! Jason parecia odiar o tio naquele momento.

O garoto olhou, incerto, para o avô. Entende mesmo?

- Sim, filho.

- Mas ... como?

- Juntando coisas aqui e ali. - Geoffrey explicou-lhe suavemente. - Não foi muito difícil depois desses últimos dias. E você?

- Também. Há semanas.

- Gostaria de ir para algum lugar calmo e falar sobre isso?

- Sim, eu acho que sim - murmurou ele, olhando ressentido para as expressões surpresas de Sarah e dos tios.

Passando o braço em torno da filha, Geoffrey lhe disse:

- Tenho certeza de que Jonathan vai explicar tudo, para você.

- Olhou com severidade para o outro homem. - Jason precisa de mim agora. - Afastou-se, com o neto, em direção à casa.

Sarah observou-os entrar, uma expressão confusa no rosto, e ao encarar Shelley e Jonathan viu o quanto estavam pálidos.

- Não estou entendendo nada. Será que alguém pode me ex­plicar o que está acontecendo? - perguntou, entre irritada e apreensiva.

- Eu posso - Jonathan falou.

- Eu também -. Shelley disse, seca, dirigindo-se ao marido.

Ele ergueu as sobrancelhas ao fitá-la, os olhos escuros de dor.

- Pode?

Shelley respirou fundo, falando com voz controlada.

-Posso.

- Mas ...

- Querido, Sarah não está entendendo esta nossa conversa. Não fica bem tratar assim uma hóspede de honra, não acha?

- Eu sei ... Há quanto tempo você descobriu?

- Há muito, muito tempo ... - Shelley suspirou. - Não acha que já é tempo de dizer a Sarah o que aconteceu?

Jonathan engoliu em seco.

- Não compreendo ... Por que você nunca disse que sabia de tudo?

- Poderemos falar depois, querido. - Virou-se para Sarah. - O que Jason de alguma forma parece ter descoberto, e que Geoffrey certamente adivinhou quando chegou aqui, é que ...

- ... Garrett não é o pai de Jason. Eu sou. - Jonathan com­pletou.

- Por que diabos contou a ela? -- gritou uma voz gelada e fria. Todos se viraram para olhar Garrett, que encarava o irmão com um brilho furioso nos olhos verdes ...

 

- É mentira, Shelley! - Garrett negou, com os olhos semicerrados. - Não dê ouvidos a ele!

- Garrett - ela o interrompeu, suave, - eu sei da verdade há muito tempo.

Ele estava muito quieto, e uma veia pulsava em sua têmpora.

- Como?

- Amanda fez questão de me dizer, pouco antes de partir pela última vez.

- Amanda! - ele explodiu, os olhos gelados ao encarar Sarah.

Ela se encolheu, sabendo que naquele momento ele odiaria qual­quer pessoa ou coisa que o fizesse se lembrar da mulher que fora sua esposa e que quase arruinara a vida de uma família inteira.

Sarah mal podia acreditar que Jonathan era pai de Jason e que a irmã tivera um caso com ele antes de se casar com Garrett. Era monstruoso!

- Sarah - Shelley chamou-a suavemente, libertando-a do es­tado de choque em que se encontrava, - eu não quis magoar vo­cê. Todos nós sabemos que amou muito sua irmã.

- Quero ouvir a verdade, não importa qual seja.

A outra concordou com um gesto de cabeça.

- Então eu acho que ...

- Shelley, não - Garrett interrompeu-a, brusco. - Sinto muito que você tenha descoberto a verdade, mas dizê-la a Sarah vai ape­nas magoá-la.

Sarah o encarou, buscando desesperadamente uma esperança na­quelas palavras. Talvez ele tivesse mudado de idéia, talvez ainda se importasse...

- Garrett, antes de ouvir toda a história, queria que soubesse que tudo que lhe falei ontem foi sincero e verdadeiro, e que não teve nada a ver com o fato de eu ter escutado um pedaço da dis­cussão entre você e Jonathan.

- Por que diabos acha que eu voltei se não por ter percebido que você me falou somente a verdade?

O amor que ela sentia por Garrett parecia iluminar-lhe o rosto ...

- Quero lhe falar, querido...

- N6s vamos conversar, sim. Mas não vai ser nada agradável Para nenhum de nós.

- Garrett, Jason também descobriu - Sarah lhe disse com voz carinhosa.

A fúria nublou os olhos verdes.

- Maldição! Quem contou?

- Ninguém. - Shelley suspirou pesadamente. - Ele parece ter juntado todas as peças sozinho.

- Droga! Eu bem que me perguntei por que ele se recusou a ficar com você e Jonathan desta vez, por que de repente resolveu desaparecer, indo procurar Geoffrey e Sarah! Tenho de vê-lo ...

- Meu pai está com ele - Sarah acalmou-o. - Acho que seria melhor deixá-los algum tempo sozinhos. Agüente um pouco, dê­-lhe tempo. O que ele sente por você não vai mudar.

- Deus do céu! - Garrett sentou-se, fraco, fechando os olhos.

- Espero que ele perceba que eu sou seu pai, que sempre fui, desde que o puseram em meus braços, pouco depois de nascer.

Sarah acariciou-lhe o cabelo, desejando que a força que agora sentia passasse para o homem que tanto amava.

- Tenho certeza de que ele sabe disso.

Garrett fitou-a, agradecido, ambos sabendo que a hora para as explicações viria depois, que Jason era mais importante naquele momento.

Sarah olhou com ar indagador para Jonathan, cujo rosto pálido realçava o verdadeiro parentesco com Jason.

Ele enrubesceu.

- Como Amanda pôde contar a Shelley?

- Não seja tolo, Jonathan - Garrett escarneceu. - Quando Amanda era contrariada, podia fazer qualquer coisa!

- Mas por que magoar Shelley?

- Porque Shelley estava em seu caminho. Você deixou claro que não pretendia se casar com ela e, quando se tornou um sena­dor, a amargura tomou conta de Amanda, que disse a Shelley a verdade sobre o caso de vocês. Deus, ela me propôs casamento por­que sabia que você não a queria!

Sarah olhou para Garrett como se nunca o tivesse visto. Aman­da lhe fizera a proposta! Então a outra mulher que ele pedira em casamento só podia ser Shelley ... ·. E ele se casara com Amanda ape­nas para protegê-la! Será que ainda a amava? Não, não como um homem ama uma mulher, disso tinha certeza.

Jonathan olhava para o irmão como se ele lhe vivesse dado um soco.     

- Mas eu pensei... eu sempre pensei. ...

- O quê? Que eu a amava, que eu quis me casar com ela? - Garrett completou a pergunta com voz dura. - Eu nunca a quis. Ela era vazia e egoísta. Mas carregava o filho de um Kingham. E ameaçou fazer um aborto, a menos que eu a tornasse minha esposa!

- Não! - Sarah e Jonathan gritaram ao mesmo tempo.

- Sim. Também tinha outras condições ligadas ao casamento, mas quando não concordei ela achou melhor agarrar o que já ha­via conseguido: minha aliança em seu dedo .

- Que outras condições? - Jonathan franziu a testa.

- Nada que lhe diga respeito. Eu me casei com ela, dei a seu filho um nome ... Mas assim que Jason nasceu, passou a ser meu filho!

- Fui um tolo. - Jonathan enterrou o rosto entre as mãos.

- Encontrei Amanda em uma de suas festas, fiquei encantado, louco por ela. Tentei ignorá-la, mas... Shelley querida, acredite, não amei Amanda como amo você.

- Sei disso. - Tomou-lhe as mãos. - Sempre soube. Se fosse de outro modo eu já o teria deixado a muitos anos.

- Amanda foi a única outra mulher ...

- Sei disso também. No início pensei que a causa fosse o fato de eu estar presa a essa cadeira ...

- Nem pense nisso. Ela era diferente, eu nunca tinha encon­trado ninguém como Amanda. Fiquei enfeitiçado. E então tudo se acabou; ela estava grávida de meu filho, mas disse que iria se casar com Garrett.

- Ela queria ser o centro das atenções, Jonathan - o irmão falou com desprezo. - Se não como a mulher do político, pelo menos como a esposa do diretor de cinema. Infelizmente para ela, foi só até onde a deixei chegar. Mas ser a Sra. Kingham, encenar seu papel de rica dama da sociedade, era melhor do que nada!

- Ela me disse que ia se casar com você porque te amava ­Jonathan confessou num gemido.

Garrett lançou-lhe um olhar cheio de pena.

- Para magoá-lo, só isso. Na melhor das hipóteses, nós nos desprezávamos...

- Arruinei tantas vidas...

- Não a minha - Garrett negou, olhando para Sarah.

- Jason me odeia ...

- Ele está com raiva. E tem todo o direito de estar. Quando se sentir pronto para falar conosco, iremos os dois vê-lo, tentar explicar. Mas lembre-se de que ele é meu filho, Jonathan.

- Deus, nunca tentei me colocar entre vocês! Ele me tolera, mas ama você.

- Nosso casamento sobreviveu também, Jonathan - Shelley assegurou-lhe, suavemente.

- Falando em casamento... - Garrett interrompeu-a. - Se nos dão licença, Sarah e eu vamos discutir o nosso... em particular.

Quando se afastaram, o outro casal conversava baixinho, sua­vemente, e Sarah sentiu que tudo iria se ajeitar.

Foram para o quarto de Garrett, permanecendo afastados e si­lenciosos por alguns instantes.

De repente, Garrett deu um suspiro trêmulo, agarrando-a e prendendo-a nos braços.

- Bruxinha, você se importaria se deixássemos as explicações para depois? Agora preciso senti-la minha, completamente minha ...

Sarah transbordava de amor e desejo.

- Pensei que você tivesse dito, quando.nos reencontramos, que era um homem de ação.

- Oh, bruxinha! Sarah, eu te amo!

Ela cobriu-o de beijos, no rosto e no peito.

- Eu também te amo. Eu te amo! Sinto muito pelo que minha irmã ...

- Silêncio... - Ele colocou um dedo sobre seus lábios, impedindo-a de continuar. - Neste momento, que agora sei que esperei durante minha vida inteira, quando você está se entregan­do a mim, só vamos pensar em nós dois.

Beijaram-se com volúpia, até que o desejo guiou-os pelos caminhos do prazer.         

Garrett despiu-a lentamente, depositando beijos rápidos pelo cor­po perfeito e bronzeado. Parou extasiado, contemplando os seios fartos e eretos, acariciando-os com a ponta dos dedos, arrancan­do um gemido dos lábios de Sarah. Tonta de amor, ela abriu um por um os botões da camisa de Garrett, fazendo-a cair ao chão. Deslizando as mãos macias pelo peito largo, Sarah foi descendo lentamente até alcançar o fecho da calça.

- Ah, bruxinha, se você soubesse o que está fazendo comigo ... Garrett gemeu, terminando de se despir rapidamente, beijando-a com sofreguidão quando os corpos nus se tocaram.

Tomando-a nos braços sem parar de beijá-la, deitou-a nos len­çóis macios; espalhando os longos cabelos negros pelo travesseiro.

Começou então uma lenta exploração, buscando, desvendando, descobrindo cada curva da pele macia e dourada que parecia estar em fogo. Tocou o rosto de Sarah com a ponta dos dedos, deixan­do que deslizassem depois pelos seios redondos, pelo ventre ansio­so, até alcançar o triângulo de pêlos negros, enlouquecendo-a aos poucos, refazendo a mesma trilha com a boca quente e úmi­da, a língua ousada levando-a a gritar seu nome no auge da paixão.

Incapaz de esperar mais, Garrett mergulhou na umidade do corpo tão desejado, sentindo que Sarah se contraía. Permaneceu quieto, beijando-a suavemente, até que ela relaxasse; iniciou então movi­mentos lentos e cadenciados, que a faziam delirar de prazer.

Tomada de desejo, Sarah arqueou-se, cravando as unhas nas cos­tas de Garrett, obrigando-o a penetrá-la mais profundamente, fazendo-o perder o resto de controle que ainda possuía.

- Garrett ... agora ... - implorou, rouca, clamando pela satis­fação total.

Arquejantes, os dois moviam-se num ritmo frenético, em per­feita harmonia, até que o mundo explodiu em cores e calor.

Permaneceram abraçados por muito tempo, deixando que os cor­pos saciados e suados descansassem.

Sarah o acariciava devagar, admirando-lhe a força e a masculi­nidade, sorrindo ao fitá-lo com brilhantes olhos cor de avelã. - Eu estava errado. Não morri ... Sinto-me mais vivo do que já me senti!

- Sabe, sempre tive medo desse quarto, mas agora sei que não tenho nada a temer. Você nunca fez amor com Amanda aqui ou em qualquer outro lugar.

Ele ficou tenso.

- O que a faz pensar assim?

Sarah sorriu novamente, desfazendo as rugas de preocupação na fronte de Garrett com um beijo.

- O fato de que, na noite em que você foi ao chalé e adorme­ceu na poltrona, eu o acordei e você me repeliu, pensando que fosse Amanda; além disso, sempre fez questão de ficar em hotéis quan­do nos visitavam, para que meus pais não percebessem que vocês dormiam em quartos separados ... e o fato de que dividir a cama com Amanda foi uma das condições com as quais você não con­cordou!

Garrett dirigiu-lhe um meio sorriso.

- Concluiu tudo isso sozinha, não é?

- Sim... finalmente.

Ele suspirou, apoiando-se sobre os travesseiros e abraçando-a possessivamente.

- Eu nunca quis Amanda. .

- Mas ela o desejava.

- Bruxinha, ela não era de todo ruim, mas estava infeliz porque Jonathan realmente amava Shelley e ...

- Na última vez que o deixou, ela nos contou que ia se divor­ciar ... Você acha que teria feito qualquer coisa que ela lhe pedisse para evitar isso?

- Não sei. Eu conhecia as condições dela e suponho que talvez as aceitasse. Não bastava que Amanda tivesse tudo o que o dinheiro podia comprar, nem a admiração de seus amigos e do filho que a adorava; ela vivia me chantageando com a ameaça do divórcio para conseguir o que queria, e daquela última vez ...

- Ela queria você - Sarah completou fracamente.

- Ela queria um casamento normal.

-Acho que posso entender.

- Sarah!

- Quero lhe contar uma coisa, Garrett, algo que eu acho que você tem direito de saber ...

Braços fortes a apertaram.

- Não vou deixá-la ir embora, não importa qual o segredo que vai me contar.

Ela deu-lhe um sorriso de entendimento. Já haviam passado por junta coisa que mais nada poderia separá-los.

- Era uma vez duas irmãs - começou ela, devagar. - A mais velha, e mais bonita, e ...

- Acho que sou melhor juiz que você.

Ela o fez calar-se com um pequeno beijo.

-... E a mais nova, muito tímida... A mais velha foi para Holly­wood, esperando um dia ver seu nome brilhando nos letreiros, mas em vez disso voltou trazendo um príncipe ... - deu-lhe um olhar bravo quando ele fez menção de interromper. - Um lindo prínci­pe de bronze que enfeitiçou a irmã mais nova, mas com um feitiço muito forte que todos os homens que ela encontrou depois dele vira­ram pó.

- Bruxinha ...

- A irmã mais velha viveu com seu príncipe de bronze na terra dos sonhos, enquanto a irmã mais nova suspirava por ele numa terra que perdera toda a cor.

- Bruxinha, você não tem que me contar isso! - ele gemeu, apertando-a junto a si.

- Então, quando a irmã mais bonita não estava mais feliz com seu príncipe de bronze e, finalmente o deixou, e quando disse à irmã mais nova que iria se divorciar, ela ficou contente, esperando que ele a enxergasse, que se apaixonasse por ela! - Agora Sa­rah tremia, e tinha os olhos cheios de lágrimas. - Antes que eu a visse de novo, Garrett, Amanda estava morta. E eu me senti co­mo se tivesse ajudado a matá-la, porque o queria para mim! Odeiei­-o por isso, mas odiei a mim mesma ainda mais! - Enterrou o ros­to no peito largo. - Então ataquei você.

- E quando o príncipe de bronze a viu, apaixonou-se perdida­mente. E você o recusou.

- Sim. Casei com David esperando poder dar a meu pai os ne­tos que ele sempre quis, e em vez disso descobri que não conseguia corresponder a meu próprio marido. Dois minutos depois de ver você, eu soube a razão: meu amor nunca morreu.

Garrett tremia, abraçando-a como se tivesse medo de que ela fugisse.

- Bruxinha ... Será que tudo acabou agora? Vai se casar comi­go para que sejamos nós e dar a seu pai mais netos?

Sarah concordou, emocionada.

- Amanda foi muito infeliz como sua esposa, mas ela mesma escolheu essa vida. Eu sei que nós vamos ser felizes juntos. - Pode apostar que sim. Esperei a vida toda por você.

- E quanto a seu pai? Acha que ele vai me aceitar?

- Talvez sim, talvez não. - Ele deu de ombros. - Eu nunca lhe disse que Jason não é meu filho, e ele sempre pensou que Aman­da me fez cair numa armadilha. Mas será problema dele se não aceitar você.

- Jonathan e Shelley vão ficar bem, não vão?

- Jonathan se transformou num completo idiota por causa de Amanda. E quase cometeu o mesmo erro em relação a você ...

- A mim?

- Não fui eu que entrei em seu quarto no primeiro dia - Garrett contou-lhe, com um pedido de desculpas no olhar. - Eu po­deria ter matado meu irmão quando você me acusou de invadir sua privacidade, tocando-a enquanto estava dormindo. Eu sabia que só podia ter sido ele. Ao conhecê-la, Jonathan percebeu que era completamente diferente de Amanda. - Seus olhos ficaram gelados. - Eu teria batido nele se tivesse tentado tocá-la outra vez!

Sarah odiou pensar em Jonathan entrando em seu quarto, tocando-a, mas sentia pena também.

- Ele se apaixonou por uma mulher que nunca existiu. Garrett concordou.

- Ou que existiu só em sua imaginação.

- Pobre Shelley ... Não sei se eu conseguiria permanecer em si­1encio por tanto tempo.

- Ela merece o melhor. Mas é a Jonathan que ama.

- Uma vez você me disse ter desistido de algumas coisas. Uma delas foi Shelley, não foi?

-Pensei que fosse. Para falar a verdade, não gostei de tê-la perdido para meu irmão . O acidente, enquanto eles ainda estavam em lua-de-mel, não ajudou em nada ...

- Acidente? Eu não sabia! Que terrível para eles!

Garrett concordou.

- Disse a mim mesmo que, se não os tivesse apresentado, ela nunca se apaixonaria por Jonathan, nunca teria se casado com ele e não teria estado naquele lugar naquela hora. Eu me sentia traído por ambos quando Amanda veio até mim e sugeriu que eu assumisse o bebê. Pareceu-me uma restituição justa na época; eu fica­va com Amanda e o filho de Jonathan, enquanto ele tinha a mulher que eu amava. - Balançou a cabeça. - Eu era muito jovem e mui­to tolo.

- E minha irmã fez de sua vida um inferno.

- Não completamente. Ela também me deu você. Mas ...

- Tudo aconteceu há muito tempo, bruxinha. E eu, pelo me­nos, quero esquecer essa história.

- Você ainda ama Shelley?

- Eu nunca a amei como amo você. Eu a amei como uma irmã, mas meu orgulho ficou ferido quando ela escolheu Jonathan. É claro que, se você quiser demonstrar o quanto me ama, não vou fazer nenhuma objeção... - E deitou-se completamente entregue.

- Posso ver.

- Bem?

- Bem, o quê?

Ele franziu a testa.

- Com certeza não fui um professor tão ruim, fui?

- Você é um grande sedutor de mulheres jovens!

- Ah!

- O que foi?

- Esqueci de uma coisa! - Sorriu, parecendo um garoto com sua primeira namorada.

- Acho que é um pouco tarde para pensar em anticoncep­cionais!

- Não me referi a isso. - Deitou-se por cima dela. - Embora fosse muito bom se você ficasse grávida - afirmou, acariciando a maciez do ventre de Sarah.

- Você não se importa de ter um filho logo?

- É claro que não, bruxinha, embora eu deva primeiro assegurar ao filho que já tenho que ele é amado, antes de lhe dar irmãos ou irmãzinhas.

Sarah tocou-lhe o rosto, cheia de carinho.

- Acho que você vai descobrir que ele já é adulto o suficiente para aceitar e entender o que aconteceu entre Amanda e Jonathan. Só acho que não seria justo dizer-lhe o quanto você foi infeliz por causa disso. Ele ama tanto a memória da mãe.

Garrett concordou.

- Tenho certeza de que ela falava sério a respeito do aborto, mas, na medida em que a gravidez avançava e o bebê tornava-se mais real, Amanda começou a amá-lo de fato. Seu amor por Ja­son era indiscutível.

- Talvez ela tenha realmente amado Jonathan...

- Talvez. Nunca mostrou a ele como podia ser venenosa...

- Como você mesmo disse, tudo isso é passado. - Sarah encerrou o assunto. - É o futuro que nos interessa.

- É mesmo? - Um brilho divertido apareceu nos olhos ver­des. - E que futuro seria esse?

- Eu gostaria muito de ser sua esposa, mas você não quer...

- Deixe-me dizer-lhe uma coisa, mocinha. Vou me casar com você uma dúzia de vezes só para que saiba o quanto eu a quero. Começando por hoje à noite.

- Hoje à noite? Mas ...

- Vamos nos casar em Nevada. Depois faremos outra cerimô­nia, na Inglaterra. Então um aqui, então...

- Garrett, uma vez só é suficiente!

- Uma vez nunca será suficiente para mim, bruxinha.

- Garrett Kingham!

- Sim ... Sarah Kingham?

Vou passar a vida inteira amando você.

 

Sarah deu um sorriso ao ouvir a confusão no corredor, que anun­ciava a chegada do marido.

O bebê era esperado para dali a cinco semanas, e ela assegurara a Garrett que haveria tempo de ir até a Inglaterra e voltar antes do nascimento. Teria ido junto para aproveitar alguns dias na com­panhia do pai e de Glynuis, a gentil senhora com quem ele se casa­ra no ano anterior, mas estava se sentindo muito cansada nos últimos dias e todos acharam que seria melhor que ficasse em casa.

Dezoito meses de casamento só fizeram aumentar seu amor e o de Garrett, e ela sabia que ele estava extasiado com a idéia de ser pai outra vez. -- Sarah! - Ele entrou no quarto, com as mãos cheias flores e chocolates, que obviamente comprara no caminho. - Você está bem? - Calma, pai - Jason disse, sorridente. - Não vê que ela es­tá bem?

Porque não pudera ir com ele, Sarah insistira em que Jason o acompanhasse, e o pobre garoto não parara de acalmá-lo durante toda a viagem de volta, desde que Shelley lhe telefonara na noite anterior para avisar que Sarah entrara em trabalho de parto.

Garrett parou ao lado da cama.

- Você já teve o bebê! - Olhou para o estômago achatado, depois de meses de espera, e sentiu-se como se fosse estourar de felicidade.

- Sim - ela confirmou, paciente.

Ele engoliu em seco, linhas de tensão em volta dos olhos, o ca­belo despenteado, as roupas amassadas.

- Shelley não me disse nada quando nos encontramos no ae­roporto. E Jonathan também não...

- Porque eu lhes pedi, meu bem. Queria dizer-lhe eu mesma. Os cunhados haviam ficado com ela durante alonga noite. - Jason, pegue uma cadeira para seu pai, porque ele parece que vai desmaiar!

Garrett sentou-se assim que a cadeira foi colocada a seu lado.

- Nada deu errado, não é? Foi tão cedo ...

- Tudo correu bem. - Ela sorriu, acalmando-o, e piscou para Jason, um rapaz já tão alto quanto o pai. - Venha cá - disse ao enteado.

- Tem certeza? - Ele parecia hesitante, com medo de ser um intruso.

- Não quer saber se tem um irmãozinho ou irmãzinha?

Ele sentou-se ao lado do pai. Ambos estavam curiosos.

Sarah respirou fundo.

- Garrett, eu já lhe falei sobre minha avó, a mãe de meu pai?

- Bruxinha, não é hora de discutir sua família. Eu quero saber do bebe...

- Não há nada errado com ele, Garrett. Como eu estava dizendo, foi uma dessas coisas que a família pensou que nunca aconteceria, já que nunca mais aconteceu desde...

- Sarah, quer me dizer se tenho um filho ou uma filha e parar de me assustar?

- Eu estava tentando tornar isso mais fácil para você.

- Não quero as coisas mais fáceis, só quero a verdade!

-Tudo bem - Sarah assentiu, alisando o cobertor. - Às duas e trinta e dois dessa manhã, nossa filha veio ao mundo ...

- Uma filha! - 0 rosto de Garrett brilhava, cheio de orgulho. - Nossa Dianna Louise.

- Pois é. E às duas e cinqüenta e seis nossa segunda filha nasceu ...

- Duas? - Ele engasgou, incrédulo.

- Vovó Harvey teve gêmeos - Jason concluiu, excitado.

- Bem ... não exatamente - Sarah negou devagar.

- Como "não exatamente"? - Garrett perguntou.

Ela respirou fundo mais uma vez.

- Às três e dez, um pouco mais depressa dessa vez, nossa ter­ceira filha nasceu:

- Trigêmeas! - Ele recostou-se, pálido. - Esse é o total. ... não é? Não há nenhum garotinho, há?

- Não. Quem sabe da próxima vez ...

- Próxima vez? - Ele se levantou nervoso. - Depois disso acho que eu não agüentaria uma próxima vez! Por que nenhum dos médicos suspeitou?

- Os médicos me avisaram de que havia uma possibilidade, mas era só uma possibilidade, e eu não quis deixá-lo preocupado.

- Ela "não quis me deixar preocupado"! – Garrett disse ao filho. - Oh, não, preferiu me dar um ataque do coração de uma vez! O que vou fazer com três filhas?

- Ficar orgulhoso delas, amá-las ...

- Preocupar-me com elas. -- Garrett virou se para Jason. - Nós dois vamos nos preocupar com elas. É trabalho do irmão pro­teger as irmãs, e se elas forem tão bonitas como a mãe...

- São muito mais bonitas do que eu – Sarah interrompeu-o suavemente.

- Meu Deus, bruxinha! - ele sentou-se na beirada da cama, tomando-lhe as mãos. - Você está bem?

- Estou. - Sarah riu do pânico que pareceu tomar conta do marido.

- E nossas filhas?

- Um quilo e oitocentos, um quilo, oitocentos e setenta, e um quilo, oitocentos e quarenta gramas respectivamente. Um pouqui­nho pequenas no momento, mas são todas perfeitas, sadias e lindas! Seu pai deu uma olhada nelas e teve de ir para casa descansar! ­Recordou-se com um sorriso. William Kingham não era propriamente seu amigo, mas passara a respeitá-la com uma admiração crescente.

- Todo mundo já conhece nossas filhas, menos Jason, e eu. Será que podemos vê-las?

- É claro. Se você me ajudar a sentar na cadeira de rodas, nós todos iremos ver as três belas Kingham.

Sarah observou a expressão de Garrett enquanto ele olhava ex­tasiado para as filhas, pelo vidro do berçário. Orgulho e amor dan­çavam nos olhos verdes enquanto ele ria para os três rostinhos redondos, com cabelos negros como os da mãe.

- Acho que vão ter olhos verdes - Sarah lhe disse num sussurro. Garrett falou com voz embargada, fitando a mulher amada com um brilho de paixão no rosto resplandecente de felicidade:

- Da próxima vez, quem sabe, possamos ter três garotos ...

 

 

                                                                  Carole Mortimer

 

 

              Voltar à “Página do Autor"

 

 

                                         

O melhor da literatura para todos os gostos e idades