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FUTURO DO AMOR / Melanie Milburne
FUTURO DO AMOR / Melanie Milburne

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio "SEBO"

 

 

 

A Casa Real dos Karedes

FUTURO DO AMOR

 

Uma família real dividida por orgulho e sede de poder, reconciliada pela inocência e pela paixão.

Ao ser acusada, condenada e presa pelo assassinato do próprio pai, Cassie Kyriakís deixa para trás a juventude rebelde e Seb, seu único amor... Anos depois, Sebastian Karedes deve assumir o trono! Mas ele estava disposto a renunciar ao reino em nome de seu amor por Cassie, apesar de ela o ter rejeitado. Finalmente livre, Sebastian não só desconfia que Cassie seja inocente, como descobre que ela deu à luz seu filho ainda no cárcere! Ele precisa escolher entre a honra e o dever, e é capaz de reivindicar seu herdeiro... Mas como lidará com seus sentimentos por Cassie?

 

CASSIE ESTAVA justamente se congratulando por ter conseguido se esconder, durante duas horas, atrás dos pilares e vasos de plantas do palácio de Aristo, esquivando-se da imprensa e também do príncipe regente Sebastian Karedes, quando, de súbito, deparou-se com ele.

Engoliu em seco, seu coração parecendo parar de bater enquanto ela olhava para as feições bronzeadas e inescrutáveis tão acima das suas. Abriu a boca numa tentativa de falar, mas sua garganta estava muito apertada para que pronunciasse uma única palavra. Sentiu o rubor colorindo seu rosto, e imaginou se ele tinha alguma ideia do quanto Cassie temera aquele momento, durante os últimos seis anos.

— Cassie. — A voz profunda de Sebastian era como uma mão de veludo acariciando seus braços nus e trêmulos. — Você acabou de chegar? Eu não vi você até alguns momentos atrás.

Cassie umedeceu os lábios secos com a ponta da língua.

— Uh... não — disse ela, desviando o olhar. — Estou aqui durante a noite toda...

Um breve silêncio tornou a atmosfera pesada, como a umidade antes de uma tempestade.

— Eu entendo.

Aquelas duas únicas palavras continham desprezo e desconfiança, e mais alguma coisa que Cassie não foi capaz de detectar.

— Então, por que você está aqui? — Sebastian inquiriu estreitando os olhos. — Não me recordo de ter visto seu nome na lista oficial de convidados.

Cassie umedeceu os lábios novamente, tentando manter o olhar disperso.

— Como parte de meu... programa de liberdade condicional, eu aceitei um emprego no orfanato — disse ela, detestando o rubor que ainda podia sentir no seu rosto. — Venho trabalhando lá nos últimos 11 meses.

Quando ele não respondeu imediatamente, Cassie se sentiu compelida a olhá-lo, mas desejou que não tivesse feito isso.

Um canto da boca de Sebastian estava curvado num sorriso inconfundivelmente zombeteiro.

— Você está cuidando de crianças? Ela irritou-se.

— Sim — replicou. — E aprecio cada minuto disso. Estou aqui esta noite com algumas outras pessoas do orfanato educacional. Eles insistiram para que eu viesse.

Outro silêncio tenso abalou os nervos de Cassie. Teria dado tudo para evitar ir lá naquela noite. Sentira como se estivesse brincando de esconde-esconde a noite inteira, e a tensão de permanecer longe da vista de Sebastian deixara seus nervos à flor da pele. Mesmo agora, uma forte pulsação nas têmporas estava dificultando que se comportasse de maneira fria diante dele. A presença autoritária e, ao mesmo tempo, carismática de Sebastian, atraía Cassie e a apavorava, mas a última coisa que queria era que ele percebesse isso.

Ela brincou com as pérolas do bracelete ao redor de seu pulso, a única coisa que ainda possuía de sua mãe, esperando que o ato lhe desse coragem e força para enfrentar os próximos minutos, até que conseguisse escapar.

― Certo, então — Sebastian murmurou, olhando-a fixamente, aquele sorriso sardônico ainda no lugar. — Como benfeitor régio do orfanato para o qual você trabalha agora, eu teria pensado que se esforçaria para participar desta festa, em vez de se esconder atrás dos arranjos de flores.

Cassie ergueu o queixo.

— E ter a imprensa me abordando para uma foto exclusiva e uma entrevista? — questionou ela. — Não até que a minha liberdade condicional termine. Talvez então eu pense sobre isso.

O olhar de Sebastian era intenso.

— Devo dizer que estou surpreso por você ainda não ter vendido sua história para a imprensa, Cassie. Mas talvez eu deva avisá-la que pense muito antes de fazer isso. Uma palavra sobre o nosso — houve uma pausa muito breve —, envolvimento passado, e eu a mando de volta para a prisão, onde a maioria da população de Aristo acredita que você ainda esteja. Fui claro?

Uma onda de raiva a percorreu.

— Perfeitamente — respondeu Cassie, os olhos emitindo faíscas de fúria. Como o odiava naquele momento. A injustiça que tinha sofrido já era ruim o bastante, mas tê-lo ameaçando-a de um modo tão rude era abominável. Todavia, até que sua liberdade condicional terminasse, o que mais poderia fazer, exceto fingir que não tinha nada a esconder? Aprendera, da maneira difícil, que o silêncio era sua melhor defesa... sua única defesa.

Sebastian estava consciente do tempo e da pressão do grande grupo de pessoas atrás deles. Havia pedido alguns minutos aos seus guarda-costas, mas sabia que logo viriam procurá-lo.

Seus deveres formais pela noite estavam praticamente acabados, e a multidão começaria a se dispersar em breve. Mas ele não via Cassandra Kyriakis há quase seis anos, e precisava se certificar de que ela não seria uma ameaça ao seu futuro como rei de Aristo, agora que saíra da prisão. Eles tinham se separado em termos tão amargos. Sebastian ficara furioso com a forma como ela acabara o caso, e a traição de Cassie ainda doía depois de todo aquele tempo.

Quando ele a avistara atrás de um dos pilares, pensou que estivesse tendo uma miragem, tamanho fora seu choque em vê-la novamente. Apenas 32 anos de treinamento dentro da família real haviam permitido a Sebastian a controlar sua reação. Tinha aberto o evento de gala, conversado com convidados, sorrido nas horas certas, mas durante o tempo todo, imaginando como poderia reservar cinco minutos em particular com Cassie.  

Agora questionava se procurá-la tinha sido uma atitude sábia. Cada poro de seu corpo estava reagindo à presença de Cassie, e seu baixo ventre lhe causava uma pulsação tão intensa, que era até difícil permanecer ali em pé.

Irritava-o descobrir que seu corpo ainda ardia de desejo por ela. Acreditara ter superado o que sentia por Cassie, entretanto, uma simples visão daqueles olhos cor de esmeralda o fez perceber que ainda respondia quase involuntariamente quando a olhava.

Por mais linda que ela fosse, Sebastian não poderia esquecer que Cassandra era uma socialite devassa que, de forma libertina, conquistara-o e o dispensara, sem dúvida pela glória de ter dormido com um príncipe. Ele conhecera muitas mulheres assim, mas não esperava a rejeição e traição de Cassie, e isso o irritava mais do que gostaria de admitir. Ninguém nunca esfregara seu orgulho na poeira daquela forma. Então Cassie chegara com aqueles belos olhos verdes, os cabelos louros longos e sedosos, e seu jeito sedutor, e lhe roubara o ar dos pulmões.

Ele a estudou agora. Cassie estava usando um vestido cor-de-rosa que se aderia lindamente à figura delgada, acentuando os seios pequenos, porém perfeitos, cada curva deliciosa, e as pernas longas que tantas vezes haviam se entrelaçado com as suas no calor da paixão. Os braços delgados estavam nus, um bracelete de pérolas adornava um pulso.

Sebastian precisava lembrar que Cassandra Kyriakis tinha matado o próprio pai com aquelas mãos muito femininas e delicadas. A sentença de homicídio culposo não a tornava menos assassina, ou pelo menos não de acordo com a imprensa e a opinião pública. Mas neste momento, ela não parecia capaz de machucar ninguém. Parecia nervosa, quase agitada, mordiscando os lábios, evidenciando tensão corporal.

Uma pontada de culpa o assolou. Sua ameaça poderia ter sido um pouco rude, mas ele não estava certo se Cassie manteria silêncio sobre o relacionamento passado deles. Precisava se certificar disso, embora qualquer assunto com Cassandra devesse ser conduzido em segredo absoluto. A imprensaria voraz no que dizia respeito à família real Karedes, e era arriscado até mesmo ser visto falando com ela. Todavia, valeria a pena se ele conseguisse o que queria. Diziam que a vingança era um prato melhor quando servido frio, porém o tipo de vingança que Sebastian tinha em mente estava longe de ser fria... era quente. Sabia onde a queria.

Na sua cama.

Um oficial do palácio se aproximou, e Sebastian trocou algumas palavras com ele, virando-se 30 segundos depois para descobrir que Cassie havia desaparecido. Olhou ao redor, porém não conseguiu avistá-la.

— Está procurando alguém em particular, Alteza? — perguntou o guarda do palácio. — Posso pedir que a segurança encontre a pessoa em questão, se desejar.

Sebastian assumiu uma expressão impassível. Só havia um criado no palácio em quem poderia confiar para ajudá-lo naquela situação, e infelizmente não era ele.

— Não. Isso não será necessário.

O jovem fez uma reverência educada e saiu. Somente então Sebastian viu o pequeno bracelete no chão, onde Cassie estivera parada momentos atrás. Abaixando-se, pegou a jóia, e ao ver outro guarda se aproximando, guardou-a no bolso da calça e sorriu.

A Cinderela poderia ter escapado do baile, mas aquele príncipe encantado em particular iria atraí-la de volta com algo ainda mais apropriado que um sapatinho de cristal.

 

— CASSIE, O que aconteceu? — Angélica, que dividia a casa com Cassie, quis saber assim que ela entrou. — Você parece perturbada. Alguma coisa errada?

Cassie fechou a porta, encostou-se contra a madeira e fechou os olhos numa tentativa inútil de aliviar a tensão que estava prestes a explodir atrás de suas têmporas.

— Não... não, eu estou bem. É só uma dor de cabeça. — Ela abriu os olhos e se afastou da porta.

— Sam está bem?

— É claro que está — Angélica assegurou. — Ficou um pouco agitado no começo, mas eu lhe prometi que você voltaria logo, e ele finalmente dormiu. Fui vê-lo agora há pouco, e Sam continua dormindo como um anjinho.

— Isso é bom — disse Cassie, dando um suspiro de alívio.

— Você se preocupa demais, Cassie — murmurou Angélica gentilmente. — Sam está com 5 anos agora. Precisa aprender a se separar da mãe ocasionalmente. Você não pode mantê-lo atado ao seu lado para sempre.

― Eu sei. É que ele nunca superou minha ausência enquanto eu ainda estava na prisão — disse Cassie, tentando não pensar na época em que ouvia o choro desesperado de Sam ecoando em sua cabeça por meses, depois que ele foi arrancado de seus braços. Cassie tivera permissão de dar à luz ao filho dentro da prisão de Aristo, e mantê-lo consigo até que Sam tivesse três anos. De todos os sofrimentos que experimentara durante aqueles anos, separar-se de seu filho havia sido o pior. Ainda tinha pesadelos sobre isso, e acordava transpirando, temendo que alguém tivesse entrado na casa no meio da noite e roubado seu bebê novamente.

— Você é que não superou isso — apontou Angélica com astúcia. — Deixe o passado para trás. Está com sorte agora, Cassie. Seu trabalho no orfanato é um ingresso para uma nova vida fora da ilha, assim que o período de liberdade condicional terminar. E, falando em orfanato, como foi o evento beneficente no palácio? Você viu o príncipe Sebastian? Ele é tão bonito quanto parece nas fotos?

— Humm... sim, ele é. — Cassie sentiu um aperto no coração ao visualizar Sebastian, lindo e poderoso. Ela correra um grande risco saindo do evento tão abruptamente, mas não pudera suportar mais nem um minuto torturante na companhia de Sebastian. O ar entre eles estivera carregado de energia sexual. Ela sentira o olhar ardente penetrar as camadas de seu vestido, como se Sebastian estivesse se recordando de cada parte íntima sua e de como a fizera sentir prazer no passado. Um arrepio percorreu sua coluna com o pensamento do quanto costumava se deleitar nos braços dele. Sebastian tinha adivinhado que ela ainda se sentia da mesma forma? Oh, Deus, não permita que ele tenha percebido!

Seus dedos foram automaticamente para o pulso esquerdo e seu coração disparou em pânico quando o sentiu vazio.

— Oh, não!

— O que houve? — perguntou Angélica. — Você está pálida como um fantasma.

Cassie andou para a porta.

— Eu perdi meu bracelete — disse ela, vasculhando o chão em desespero crescente. — O bracelete de pérolas da minha mãe. Deve ter caído no caminho para cá. Lembro-me dele no meu pulso quando eu estava no palácio.

— Talvez tenha caído no táxi — sugeriu Angélica. — Você pode ligar para a companhia e pedir que procurem.

Cassie virou-se para sua amiga.

— Eu não peguei um táxi para casa. Angélica arregalou os olhos.

— Você veio andando no escuro com estes sapatos? Não, eu vim correndo no escuro, Cassie teve vontade de confessar.

— Eu queria tomar ar fresco. O palácio estava muito cheio e... abafado.

— Vou buscar uma tocha para você — disse Angélica. — Eu cuido de Sam enquanto você refaz o caminho, ou acha que pode esperar amanhecer, de modo que nós duas possamos procurar o bracelete?

Cassie meneou a cabeça com determinação.

— Não, alguém pode pegá-lo até lá. Vou andar alguns quarteirões e ver se consigo achar. Não deve estar muito longe.

— Leve seu celular — sugeriu Angélica. — Você não sabe quem está nas ruas a esta hora da noite. E é melhor trocar de roupa e de sapatos.

Cassie deu uma olhada rápida em Sam no seu caminho até o quarto, a fim de vestir um conjunto de moletom e tênis. Ele dormia pacificamente, o lindo rostinho tão parecido com o do pai que lhe causou um aperto no coração. Seu filho nunca seria capaz de correr para o pai e jogar os bracinhos ao redor de seu pescoço; nunca poderia fitar aqueles olhos castanhos profundos tão iguais aos seus; ou sentir o apoio paterno que parecia precisar tão desesperadamente.

Sam já tinha sofrido tanto, mas ela iria fazer tudo que estivesse a seu alcance para recompensá-lo. Assim que sua liberdade condicional acabasse, ela partiria da ilha com Sam, para começarem vida nova, uma vida onde ninguém saberia quem Cassie era, o que supostamente fizera e... ainda mais importante... o filho de quem secretamente concebera.

 

HAVIA POSTES ocasionais de iluminação nas ruas, mas mesmo assim Cassie sentia as sombras ameaçadoras da noite arrepiando sua pele, a cada passo. A tocha que levara estava direcionada para o chão, mas até agora, não encontrara nada além de bitucas de cigarro e papéis de chiclete. O que a fez pensar no seu pai, em como ele, como prefeito da cidade, tinha organizado uma campanha para limpar as ruas de Aristo, mesmo que sua própria casa contivesse o mais sujo de todos os segredos.

Cassie tremeu de leve e forçou-se a se concentrar em sua missão, a cabeça baixa, os passos lentos e cuidadosos, enquanto se aproximava do palácio o máximo que era capaz de ousar.

Não estava a mais de três quadras de distância quando subitamente parou, o coração disparando de medo no momento em que um par de botas masculinas foi iluminado pela tocha. Ela ergueu o facho de luz e viu Sebastian Karedes, também vestido num conjunto de moletom, os olhos inescrutáveis enquanto prendiam os seus.

— Procurando algo, Cassie?

Cassie nunca imaginou que algum dia teria preferido encontrar um assassino numa rua escura, em vez do homem que uma vez amara com toda a sua alma. Já havia enfrentado medo antes, muitas vezes, medo de que a maioria das pessoas jamais enfrentara. Mas o medo agora era maior do que tudo. Sebastian tinha o poder de destruí-la de um jeito que nem mesmo seu pai fora capaz. Tudo pelo que Cassie lutara tanto parecia depender daqueles próximos momentos. A tensão se plantou em sua coluna e um nó de apreensão se formou em seu estômago.

― Eu... acho que perdi o meu bracelete — ela respondeu, abaixando a tocha. — Pensei que se eu retraçasse meus passos, poderia achá-lo.

— Você foi embora sem se despedir — murmurou Sebastian. — Eu estava esperando alguns minutos em particular com você, a fim de discutirmos alguns assuntos.

Cassie virou a tocha para evitar que a luz suave revelasse o medo em seu rosto.

— Não sei se é uma boa ideia sermos vistos juntos por alguém, Sebastian. Sabe como são os paparazzi. Você está prestes a ser coroado rei. Não seria bom para a sua reputação ser visto com uma ex-presidiária.

— Não há ninguém por perto agora — apontou ele. — Podemos voltar para a sua casa. Não seremos perturbados lá, tenho certeza.

Cassie estava satisfeita por ele não poder ver seu pânico na escuridão. Sam não tinha o sono muito pesado. Ainda molhava a cama ocasionalmente, o que o fazia acordar e chamá-la.

— Não — negou Cassie rapidamente demais. — Quero dizer... seria estranho... eu divido a casa com alguém.

— Um homem?

— Não.

— Você não tem um amante no momento?

Cassie sentiu um arrepio na nuca. A menos que movesse a tocha, não poderia ver a expressão de Sebastian, e mesmo se pudesse, não havia garantia de que seria capaz de decifrar o motivo por trás daquela pergunta. Ele era mestre em disfarçar sentimentos, se é que possuía algum. Cassie sempre se perguntara se o ar de indiferença de Sebastian era um disfarce ou parte inata da personalidade. Tinha sido treinado desde cedo para ocupar o trono após a morte do pai, apenas poucos meses atrás. O fato de que estava disposto a correr o risco de ser visto em sua companhia era tão surpreendente, quanto perturbador.

Cassie sabia que corria o risco de revelar demais. Podia sentir isso agora. Seus seios estavam rijos e sensíveis, e aquele ponto secreto feminino que ele possuíra tantas vezes, pulsava de forma quase dolorida.

— Estou saindo com alguém — mentiu ela, esperando que isso colocasse um fim na atração que poderia sentir na sua direção.

— A mesma pessoa com quem você estava saindo quando terminou o nosso caso? — perguntou Sebastian com voz amarga.

— Não... outra pessoa. — Oh, com que facilidade a segunda mentira seguia a primeira, pensou Cassie.

— Quão sério é o seu relacionamento com este homem?

— Sério o bastante.

— Sério o bastante para arriscar sua liberdade?

Cassie derrubou a tocha, mas mesmo quando ouviu o barulho sobre o pavimento, foi incapaz de se mover.

— O que... você está sugerindo?

Sebastian abaixou-se, pegou a tocha e ergueu-a para iluminar o rosto dela.

— Que tal voltarmos para os meus aposentos privados e discutirmos isso?

Cassie piscou contra a luz da tocha.

― Não acho que temos nada a discutir — respondeu ela.

― Ou pelo menos nada que me interesse.

― Pelo contrário, acho que o assunto será de grande interesse seu ― disse ele, então desligou a tocha, produzindo um ruído que pareceu alto na noite silenciosa. — Sabe, Cassie, eu tenho uma coisa sua.

Sim, eu também, pensou Cassie, mais uma vez satisfeita por ele não poder ver a apreensão em seu rosto.

― Meu bracelete? — perguntou ela esperançosamente.— Está aqui com você?

— Não, está no palácio.

Cassie não sabia se aquilo era verdade, mas não poderia pedir para revistá-lo. Mordiscou os lábios por um momento.

— Pode pedir que alguém me envie pelo correio?

— Não, a menos que você queira correr o risco de que a jóia seja extraviada ou talvez roubada — replicou Sebastian. — Eu prefiro entregar pessoalmente. Parece uma peça valiosa.

― É — confirmou ela, triste ao perceber que não teria escolha senão acompanhá-lo de volta ao palácio. Encontraram-se em segredo tantas vezes no passado que o pensamento de fazer isso de novo invocava muitas imagens íntimas. Imaginou se Sebastian também estava pensando naquilo.

— Vamos. — Ele segurou o seu cotovelo com firmeza. — Há uma entrada pelos fundos para o palácio, a poucos quarteirões daqui.

Cassie relutantemente andou ao lado dele, sua pele queimando pelo toque da mão máscula. Caminharam em silêncio, ela porque não sabia o que dizer, e ele provavelmente porque estivesse esperando até que chegassem a algum lugar isolado para falar o que pretendia. Sem dúvida, ele tinha algum plano. Homens orgulhosos como Sebastian Karedes não aceitavam rejeição, e a rejeição dela fora particularmente cruel.

Sebastian a conduziu através de um portão de ferro fundido, onde um criado esperava. Eles trocaram algumas breves palavras antes que o homem os conduzisse ao longo de um corredor de mármore, em cujas paredes eram alinhadas gerações da família Karedes.

O criado abriu uma porta que dava acesso a uma sala privada. Os móveis eram modernos e, apesar de o palácio ter séculos, a mistura de antigo e novo produzia um efeito magnífico.

— Então, Cassie — começou Sebastian depois que o criado saiu e fechou a porta. — Como nos velhos tempos, não é?

Cassie estudou-lhe o rosto, mas não conseguiu decifrar aquela expressão inescrutável.

— Não tenho certeza se entendo o que você quer dizer — murmurou ela, embora já pudesse adivinhar.

Ele estendeu um braço e ergueu-lhe o queixo com a ponta dos dedos longos. Ela sentiu um tremor percorrer sua coluna, assim como a eletricidade que passava do corpo de Sebastian ao seu. Sempre fora assim entre eles. O ar do ambiente estava carregado de tensão sexual. Cassie podia ver isso na intensidade dos olhos escuros, na curva sensual da boca bonita e, que Deus a ajudasse, podia sentir no centro de seu corpo, onde seus músculos íntimos já começavam a latejar.

— Você e eu sempre nos encontramos em segredo, certo? — disse ele, os olhos fixos na boca de Cassie. — Não vejo razão para mudar isso agora.

Cassie deu um passo atrás para se afastar do toque perturbador, quase tropeçando em sua pressa de estabelecer distância entre eles.

— Você certamente não está sugerindo que reassumamos nosso caso ilícito? — questionou ela num tom que o alertava a não se aproximar.

Sebastian deu de ombros.

― Nós éramos bons juntos, Cas — respondeu ele, usando o apelido particular que escolhera para ela, há seis anos atrás. ― Você sabe disso.

Cassie queria tapar os ouvidos e bloquear aquela voz profunda e aveludada. Deus, ele tinha ideia do quanto ainda a afetava? No instante em que ela o revira, seu corpo ganhara vida novamente. Vibrava agora sob a pele, causando uma leve tontura.

Ela havia sido tão forte durante todo aquele tempo. Não poderia se despedaçar agora. Não quando sua liberdade final estava tão perto. Faltavam poucas semanas até que o período de condicional terminasse. Então estaria livre, e partiria de Aristo com Sam, uma vida nova para ambos. Aquele não era o momento de ceder à sensualidade de Sebastian Karedes, por mais tentadora que essa ideia fosse.

Ela endireitou os ombros e o encarou.

― Você está esquecendo uma coisa, Sebastian. Terminamos a nossa relação há seis anos.

— Você terminou, Cassandra, não eu — ele respondeu com a voz carregada de amargura inconfundível.

Cassie ergueu o queixo.

— Eu ainda posso chamá-lo de Sebastian, ou você prefere Sua Alteza Real? Eu deveria ter me curvado numa reverência quando o encontrei na rua? Que negligência da minha parte.

Um músculo saltou no maxilar dele.

— Sebastian está bem. Pelo menos enquanto estivermos sozinhos.

— Eu não pretendo estar sozinha com você no futuro — Cassie declarou com um olhar deliberadamente arrogante. — Por favor, devolva o meu bracelete. Preciso voltar para casa.

Olhos escuros fulminaram os seus.

— Você não está se comportando bem, Cassie — censurou ele. — Esta não é a maneira adequada de falar com um membro da realeza. Eu a dispensarei quando achar conveniente não o contrário.

— O que vai fazer sobre isso, Sebastian? — perguntou ela lançando outro olhar irônico. — Vai me trancar na torre do palácio e jogar a chave fora? Tenho certeza que vou me adaptar rapidamente, considerando onde passei os últimos anos, não concorda?

Ele prendeu-lhe o olhar por um momento interminável, mas Cassie estava determinada em não ser a primeira a desviar os olhos.

Podia fazer isso. Tinha de conseguir.

A expressão de Sebastian evidenciava desdém enquanto ele continuava encarando-a.

— Sua raiva em relação a mim é inapropriada, Cassie. Você terminou o nosso caso, gabando-se de seus diversos amantes. Se alguém tem direito de estar com raiva, sou eu.

Cassie censurou-se mentalmente. Sebastian estava certo. Ela lhe contara uma boa quantidade de mentiras numa tentativa de fugir da ilha, nunca sonhando que aquilo se voltaria contra ela agora.

— Isso não é correto, Cassie? — pressionou ele com determinação.

Ela apertou os lábios e abaixou o olhar.

— Sim, é correto.

— É por isso que você está com pressa de ir agora? — questionou Sebastian. — Quer voltar para um de seus muitos amantes? Sem dúvida, deve estar ansiosa para compensar o tempo perdido?

— Só existe uma pessoa de quem gosto agora — respondeu ela.

Houve uma pausa curta, porém tensa.

― Você pretende se casar com este homem?

Ela voltou a fitá-lo.

― Não, eu não pretendo.

Cassie viu desprezo nos olhos escuros e, embora não dissesse as palavras em voz alta, ela podia ouvi-las em sua cabeça.

Prostituta.

Presidiária.

― Eu quero vê-la novamente — declarou Sebastian. — Aqui, amanhã, para o almoço, e não pense em recusar.

Cassie sentiu seus olhos se arregalarem e esforçou-se para controlar seu pânico.

― Eu... vou trabalhar no orfanato... amanhã — gaguejou ela ― Estamos com poucos funcionários lá. Não posso sair para o almoço.

A postura dele era implacável. Estava claro que, nos meses desde que o pai morrera, Sebastian tinha se acostumado a ter cada uma de suas palavras obedecidas.

— Mandarei meu secretário pessoal notificar o diretor do orfanato que você tem um compromisso oficial no palácio.

Cassie engoliu em seco.

— E se a imprensa descobrir?

— Eles não vão descobrir por mim — replicou. — Se, por outro lado, você informá-los sobre isso, eu já a avisei o que vai lhe acontecer.

Ela o olhou com fúria.

— Você acha que pode me chantagear, não é? Sebastian lançou um sorriso altivo.

— Se você quer o seu bracelete de volta, então, sim, posso chantageá-la para fazer o que eu quiser.

Cassie cerrou os punhos.

— Seu cretino.

— Cuidado, Cassie — avisou ele. — Não acho que uma acusação de agressão seria uma atitude positiva para a sua liberdade condicional, você acha?

Naquele momento, ela quase achou que valia a pena esbofetear aquele rosto bonito arrogante.

— Eu vou lhe pedir mais uma vez — murmurou ela em voz gélida.

— Devolva o meu bracelete.

Sebastian ergueu as mãos acima da cabeça.

— Venha pegar — disse ele, gesticulando em direção ao bolso traseiro esquerdo de sua calça.

O coração de Cassie disparou com o brilho de desafio que viu nos olhos dele. Ela respirou profundamente, então deslizou uma mão trêmula para dentro do bolso de Sebastian. Mas não havia bracelete ali. Removendo a mão, enviou-lhe um olhar fulminante.

— Tente o outro — disse ele com um sorriso irônico. — Posso ter esquecido de que lado eu guardei.

Cassie respirou fundo novamente e, com um pouco menos de cautela desta vez, enfiou a mão no bolso direito da calça masculina, mas antes que pudesse localizar o círculo de pérolas, Sebastian abaixou as mãos e segurou a sua contra a ereção pulsante. Ela o olhou em choque, o erotismo do momento fazendo seu coração bombear com violência.

— O quanto você quer o seu bracelete? — perguntou ele, os olhos agora quase pretos, com pura determinação.

Ela o sentiu se movendo contra a palma de sua mão e foi tomada por um desejo insano e avassalador.

— O que exatamente você quer que eu faça, Sebastian? Que eu me ajoelhe e o sirva como a prostituta na qual acha que pode me transformar?

Os olhos escuros eram intensos quando ele respondeu:

― Se alguém a transformou em prostituta, foi você mesma ― disse ele. — Sei o jogo que está fazendo, Cassie. Deixou este bracelete para trás esta noite de propósito, não foi?

Cassie lançou um olhar enraivecido.

― Isso seria como roubar a jóia antes do ladrão, não acha?

Ele afastou a mão dela de seu sexo, prendendo os pulsos de Cassie nas laterais do corpo dela, num movimento tão súbito que roubou o ar dos pulmões de Cassie.

― Devo dizer que gosto deste novo jogo duro que você está fazendo. — Ele pressionou a parte baixa do corpo rígido contra o seu. — Isso me deixa ainda mais determinado a possuí-la.

O olhar de Cassie foi para os lábios dele, e seu estômago se contraiu ao perceber a intenção de Sebastian. Mas em vez de se afastar, ela se aproximou mais quando a boca sensual desceu em direção à sua.

Foi um beijo zangado, construído a partir do ressentimento e amargura, mas mesmo assim, ela não pôde evitar responder. A língua de Sebastian não pediu permissão para adentrar sua boca; mas exigiu, inserindo-se entre seus lábios trêmulos com uma intenção tão erótica, quanto irresistível. O beijo a fez gemer, não de protesto, mas de prazer. Seu corpo moldou-se ao dele, deleitando-se ao sentir a ereção viril contra a sua barriga, o coração disparado ao pensar no jogo perigoso que estavam fazendo.

Sebastian deslizou a mão por baixo da blusa dela, redescobrindo o peso dos seios sem o sutiã. Cassie tremeu quando ele segurou-lhe um mamilo entre o polegar e o indicador, provocando e roubando o seu fôlego.

Como se por vontade própria, as mãos de Cassie lhe removeram a camiseta, de modo que ela pudesse sentir a pele quente sob suas palmas, as batidas fortes do coração, antes que Sebastian abaixasse sua mão para a virilidade potente. Ela o ouviu gemer enquanto acariciava a extensão rija, e Cassie aumentou a velocidade e pressão de suas carícias.

Sebastian levantou a cabeça e tomou-lhe um dos mamilos na boca, enlouquecendo-a e fazendo-a gemer de prazer.

Em seguida, afastou-a de seu corpo e a olhou com intensidade.

— Então é o mesmo para você e para mim — declarou ele. — Seis anos sequer alteraram a química entre nós.

Cassie queria negar aquilo, mas ele não acreditaria, então não disse nada.

Sebastian ergueu-lhe o queixo e a beijou nos lábios brevemente.

— Você poderá ter seu bracelete de volta amanhã — disse ele. — Eu lhe entregarei depois que almoçarmos juntos.

— Isso é chantagem.

Ele sorriu com indiferença.

— Não. Isso é uma promessa. Cassie comprimiu os lábios.

— Este bracelete é valioso para mim, mas não o bastante para que eu perca o respeito próprio — retrucou ela. — Se eu dormir com você novamente será porque quero, não porque fui forçada a isso.

Sebastian a estudou por um momento. Era um doce alívio para o seu orgulho saber que ela ainda o desejava. Sabia que poderia tomá-la ali e agora, mas queria mantê-la oscilante, exatamente como Cassie já fizera com ele no passado.

— Tudo bem — disse ele, movendo-se para o lado oposto da sala, onde havia uma mesa. Destrancou uma das gavetas e, removeu o bracelete e aproximou-se dela.

Depois, pegou-lhe a mão direita e depositou as pérolas sobre a palma suave, então gentilmente fechou-lhe os dedos sobre a pulseira, um por um.

― Acho que você deveria mandar consertar o fecho antes de usar a jóia novamente — murmurou ele.

Cassie engoliu em seco ao ver a promessa sensual nos olhos castanhos escuros.

— Se você não vier amanhã, como combinado, Cassie, eu irei buscá-la pessoalmente no orfanato.

Cassie foi tomada por uma onda de dúvida. Ele faria mesmo isso? Chamaria tanta atenção para si mesmo, ou estaria blefando? Como ela poderia arriscar, de qualquer forma?

― Eu... estarei aqui — disse desviando os olhos.

Sebastian acariciou-lhe o rosto com a ponta de um dedo.

― Até amanhã, Cassie. — Ele tocou o sino para chamar o criado. — Eu já estou ansioso pelo encontro.

Dentro de segundos, o criado de Sebastian a estava levando de carro para casa, e Cassie mal podia respirar, tamanha era a angústia em seu peito. Olhou para o palácio quando o carro saiu em direção às ruas pavimentadas e suprimiu um pequeno tremor.

Até amanhã...

 

A MÃOZINHA de Sam subitamente agarrou a frente do uniforme de Cassie, seus olhos grandes no rosto assustado.

— Você vai vol... voltar, não vai, mamãe?

Cassie agachou-se de modo que seus olhos ficassem na direção dos dele.

— Sim, querido, é claro que vou.

A expressão de Sam ainda era preocupada.

— Você não vai fi... ficar presa como antes, vai?

Cassie o abraçou com força. Sempre tentara ser o mais honesta possível com seu filho, sem estressá-lo com detalhes que ele não poderia compreender. Afinal, parecia sem sentido fingir que o prédio murado com cinco metros de arame farpado da prisão de Aristo fosse algum tipo de acomodação de luxo, mas ela nunca entrara em detalhes sórdidos sobre o motivo pelo qual estivera lá. Todavia, aquilo a fez imaginar quem falara sobre seu passado com seu filho. Ele tinha apenas 5 anos. À parte sua amiga Angélica, Sam passava o tempo todo com ela no orfanato. Mas estava claro que alguém lhe contara alguma coisa, ou talvez ele tivesse ouvido alguma conversa dos criados.

— Meu anjinho, isso foi há muito tempo atrás, e nunca mais vai acontecer, prometo — disse ela, segurando-lhe os ombros gentilmente. — Eu nunca mais vou me separar de você. Nunca.

O queixo de Sam tremeu, e ele continuou gaguejando, apesar do esforço para controlar isso.

― Eu ouvi Spiro fa... falando com alguém no orfanato ― murmurou Sam. — Ele falou que você ma... matou o meu avô ― Disse que foi um acidente, e que ninguém acredita em você.

Cassie mordeu os lábios. Deveria ter imaginado. O jardineiro do orfanato não gostava dela desde que Cassie rejeitara seus avanços alguns meses atrás. Mas discutir seu passado com pessoas que cuidavam das crianças era um comportamento repreensível. Ela adorava seu trabalho. Precisava do emprego. Não era somente o dinheiro... o salário mal poderia ser considerado lucrativo. Era o fato de que, pela primeira vez na vida, podia dar alguma coisa para os mais necessitados. Havia desperdiçado tantos anos preciosos de sua juventude sendo vista nas festas certas com as pessoas certas, vestindo as roupas certas e falando palavras superficiais que a marcavam como uma socialite procurando diversão.

Quanto mais seu pai controlador protestava, mais rebelde Cassie se tornava. Não precisava da psicóloga da prisão lhe dizer por que tinha se comportado daquela maneira. Soubera disso da primeira vez que percebera o que o seu aniversário significava. Certamente não era uma data a ser celebrada, mas Cassie só enxergara a ironia daquilo no momento em que enfrentara um juiz e um júri.

Cassandra Kyriakis não havia apenas matado seu pai, mas no dia que viera ao mundo também tirara a vida de sua mãe.

Cassie aconchegou Sam junto ao corpo, seu peito inchando, repleto de amor.

— Vamos conversar sobre isso quando eu voltar, e mamãe vai explicar tudo para você. Eu não vou demorar, meu anjinho. — Só vou almoçar com... um amigo.

Sam se afastou do abraço para olhá-la.

— Com quem, mamãe? Eu conheço?

Cassie meneou a cabeça e acariciou-lhe os cabelos sedosos.

— Não, você não o conhece — respondeu ela, triste ao pensar que o garotinho nunca conheceria o pai. Cassie nunca conhecera sua mãe, e frequentemente se perguntava se sua vida teria sido diferente se a tivesse conhecido. — Ele é uma pessoa muito importante em Aristo — acrescentou. — Logo será o rei.

Os olhos pretos de Sam se arregalaram.

— Você pode levar um desenho meu para que ele pendure no palácio? Acha que ele gostaria disso?

Ela sorriu-lhe carinhosamente.

— Sabe de uma coisa, querido? Acho que ele adoraria. Sam correu até a pequena mesa de madeira e trouxe um desenho colorido de um cachorro, um gato, e algo que parecia um cavalo.

— Se ele gostar deste, posso fazer outro para a próxima vez que você encontrá-lo — disse Sam com um sorriso tímido.

— Ótima ideia. — Cassie dobrou o desenho e guardou na bolsa. Não queria dizer ao seu filhinho que não pretendia ver Sebastian novamente. Então, levantou-se, pegou sua mãozinha e o levou para Sophie, uma das cuidadoras chefes do orfanato. Abaixando-se, deu-lhe um beijo e um abraço, e, enquanto Sophie o distraía com um quebra-cabeças, Cassie saiu.

 

O PALÁCIO NÃO era menos intimidador durante o dia do que tinha sido na noite anterior. Com vistas para a maior parte da ilha, inclusive para o resort, Baía de Apollonia, o cassino e o rio de Messaria, a residência da realeza era muito mais que marco. Toda vez que Cassie vira, da prisão, aquelas luzes brilhando do lado oeste da ilha, pensara na riqueza de Aristo como um reinado, e em como o pai de Sebastian, rei Aegeus, a construíra para ser o paraíso próspero que era hoje.

Foi somente ao parar diante dos portões imponentes que ela percebeu que Sebastian não lhe dera instruções de como ganhar acesso. Mas Stefanos, o criado que estivera presente na noite anterior, esperava à entrada. Após algumas palavras com os guardas, ele a conduziu ao interior do palácio, numa rota similar à da noite anterior, mas desta vez, levando-a para uma sala com vista para os jardins do palácio.

― O príncipe regente virá encontrá-la em breve — Stefanos a informou, então saiu e fechou a porta.

Cassie suspirou e olhou para onde uma pequena mesa com duas cadeiras haviam sido posicionadas na frente de uma das grandes janelas.

A porta se abriu, e ela se virou para ver Sebastian entrar na sala. Ele usava uma calça cinza e camisa branca aberta no colarinho. Independente do tipo de roupas que vestisse, Sebastian possuía um ar de autoridade que somente adicionava charme às suas feições bonitas.

— Fico satisfeito que você decidiu vir — disse ele.

— Achei que o orfanato não estava pronto para uma visita inesperada da realeza — replicou ela. — A atenção da imprensa poderia ter perturbado as crianças.

Ele se aproximou, olhando-a fixamente.

— Vê-la na festa ontem foi um choque. Um grande choque.

— Pensou que eu tivesse fugido da prisão e ido ao seu baile? — perguntou ela, incapaz de esconder certa amargura na voz.

Sebastian a estudou longamente.

— Não, Cassie, não pensei isso. Mas eu desejei que tivesse sido informado de quando você foi libertada!

— Você poderia ter feito suas próprias investigações ― apontou ela, então acrescentou:

— Discretamente, é claro. Um silêncio se seguiu.

— Você está muito amarga.

— Eu perdi quase seis anos da minha vida — disse Cassie.

— Imagina o que é isso, Sebastian? O mundo, de repente, é um lugar diferente. Sinto que não pertenço a mais nenhum lugar.

— Você matou seu pai, Cassie — Sebastian a relembrou.— Não sei o que a levou a fazer isso, mas as leis nesta ilha ditam que você deve pagar pelo que fez. Muita gente em Aristo acha que sua sentença foi muito leve.

— Bem, eles não conheciam meu pai, conheciam? — Cassie retrucou sem pensar.

Ele franziu o cenho.

— Seu pai era um homem respeitado por aqui. O que você está dizendo? Que, privadamente, ele não era o homem que conhecíamos em público?

Cassie desejou que não tivesse falado nada. Revelara mais do que pretendia. Nunca tinha contado a ninguém sobre o comportamento de seu pai ao longo dos anos. Quem acreditaria nela? Aquilo era um segredo sujo com o qual tivera de conviver sozinha. A vergonha sempre a mantivera calada, e assim continuaria. Ademais, o fato de Cassie ter se comportado como uma garota mimada pela maior parte de sua vida não ajudara em nada. Seu pai havia reclamado publicamente do comportamento da filha a todos os seus amigos e colegas.

Cassie desviou o olhar, e, mexendo em sua bolsa, removeu o desenho de Sam, numa tentativa desesperada de mudar de assunto.

― Humm... eu quase me esqueci de lhe dar isto — murmurou ela, estendendo-lhe o papel. —Uma... uma das crianças do orfanato desenhou para você. Insistiu para que eu lhe desse.

Sebastian pegou o papel e desdobrou, os olhos absorvendo o desenho colorido.

― É muito... tocante — disse ele, e ergueu os olhos para fitá-la ― Esta criança é órfã?

Cassie gaguejou:

― Humm... bem... eu... ele é...

— É um menino?

— Sim.

― E órfão. — Sebastian olhou novamente o desenho, arqueando as sobrancelhas. — Quantos anos ele tem? O coração de Cassie disparou.

— Cinco... ou cerca de cinco anos.

― Muito jovem para estar sozinho no mundo — murmurou Sebastian com profunda compaixão na voz. — Você sabe alguma coisa sobre o passado dele, quem são os pais ou o que lhes aconteceu?

O buraco no qual Cassie se enfiara estava se tornando cada vez maior. Ela podia sentir o pânico no coração disparado e na leve transpiração de sua pele.

— Cassie?

Ela afastou os cabelos do rosto e o olhou.

— Eu não sei bem os detalhes da história de cada criança. Tudo que sei é que as crianças do orfanato de Aristo estão lá porque não têm outro lugar para ir.

Sebastian pôs o desenho sobre a mesa como se fosse uma obra de arte inestimável.

— Fico emocionado que uma criança abandonada empenhe seu tempo para fazer isso por mim — murmurou ele. — Tenho desfrutado de privilégios a vida inteira, então é difícil imaginar como é não ter ninguém, especialmente quando se é tão pequeno.

Com certeza, concordou Cassie silenciosamente.

Ele virou-se para fitá-la.

— Eu gostaria de conhecer este menino, e agradecer pessoalmente a ele.

Cassie pensou que pudesse desmaiar. Olhou-o em choque, o coração bombeando tão violentamente que parecia querer explodir.

— Eu... não tenho certeza se isso pode ser arranjado — gaguejou ela.

Sebastian franziu o cenho.

— Não vejo por que não. Afinal, eu agora sou benfeitor do orfanato. É justo que eu dê meu apoio de outras formas, além de apenas financeiramente.

— Sim... mas mostrar preferência por alguma criança em particular não é aconselhável — argumentou ela. — A criança que lhe enviou este desenho é uma das muitas que desejam ser notadas.

Ele ainda a olhava fixamente.

— E se eu convidar todas as crianças para uma festa especial no palácio? — sugeriu Sebastian. — Desta maneira, ninguém se sentiria excluído.

— Eu... eu...

— No baile de gala me ocorreu que as pessoas mais importantes não estavam no evento... as próprias crianças — continuou ele. — Ontem à noite, pedi que meu secretário de eventos organizasse alguma atividade.

Cassie pensou em mais argumentos contra aquilo.

— Humm... será que é uma boa ideia? — questionou. — As crianças podem se sentir um pouco intimidadas pelo palácio...ou dizer, o protocolo da família real é excessivamente rígido até para os adultos...

― Meu pai tinha uma abordagem rígida em relação às organizações que ajudava — replicou ele. — Pretendo fazer as coisas diferentemente, e que melhor maneira de começar do que pelo orfanato que fica quase à entrada do palácio?

― Dificilmente à entrada do palácio. O orfanato é praticamente anexo à prisão.

Ele coçou o maxilar.

― É verdade. Mas isso é algo que quero discutir com você durante o almoço. — Ele puxou uma das cadeiras à mesa. — Sente-se.

― Obrigada. — Cassie estava grata pelo assento, uma vez que suas pernas tremiam muito.

Observou quando Sebastian se sentou, as pernas longas roçando nas suas por baixo da mesa. Ela respirou profundamente e afastou as pernas, mas ainda podia sentir o calor e força da proximidade dele.

Sebastian tocou um pequeno sino e, dentro de segundos, o criado chegou com um carrinho contendo a refeição, água gelada e vinho branco.

O jovem os serviu de polvo grelhado, salada grega e pães frescos.

— Gostaria de uma taça de vinho, Dhespinis Kyriakis?

— Não, obrigada — disse ela. — Água está bem.

Depois que Stefanos serviu bebida para ambos, Sebastian agradeceu, então perguntou:

— Uma data foi confirmada para o evento que discutimos?

― Sim, Alteza — respondeu Stefanos e entregou um pedaço de papel a Sebastian. — Os compromissos de sua agenda foram cancelados.

Sebastian olhou para a data no papel antes de dobrá-lo e guardá-lo no bolso da camisa.

— Você foi muito eficiente, Stefanos.

O criado fez uma reverência respeitosa e saiu da sala, fechando a porta.

Sebastian pegou sua taça de vinho e olhou pra Cassie.

— Você não bebe mais álcool, Cassie?

Ela fitou o vinho dentro da taça de cristal e imaginou se um dia seria capaz de olhar para bebida alcoólica novamente sem sentir vergonha. No passado, tinha feito muitas coisas enquanto embriagada, que jamais teria feito se estivesse sóbria. Grande parte de sua vida fora uma festa, suas preocupações diminuindo a cada gole e, apesar das ressacas no dia seguinte, ela se entregara ao alívio temporário que o álcool proporcionava.

Subitamente teve ciência de que Sebastian a olhava, esperando uma resposta.

— Eu perdi o gosto por álcool enquanto estive na prisão — respondeu Cassie. — Desde então, nunca mais bebi.

— Isso é bom — murmurou ele. — Eu também não bebo mais tanto, como bebia na juventude. Suponho que nós amadurecemos! Uma taça de vinho no almoço ou no jantar é o bastante.

— Você alguma vez reviu as pessoas com quem costumávamos sair? — perguntou Cassie enquanto provava a deliciosa salada.

— A turma dos rebeldes? — perguntou ele com um sorriso.

Cassie assentiu, pensando nas pessoas com quem eles haviam se associado seis anos atrás. Podia quase garantir que ela era a única que acabara com um registro criminal. Os outros eram como Sebastian, prontos para se divertir até que a família punha uma rédea. Não como ela, que procurava uma fuga para tirar da mente algo que não conseguia enfrentar...

― Vejo alguns deles, com os quais faço negócios ocasionalmente ― respondeu Sebastian. — Nunca mais vi Odessa, ouvi dizer que ela se casou com um bilionário do Texas, ano passado.

Cassie deu um pequeno sorriso.

― Ela tinha todas as intenções de encontrar um marido rico.

― Sim — Sebastian riu. — Odessa era divertida. E muito sensata.

― Diferente de mim. — Cassie não sabia por que tinha falado aquilo, muito menos como lidaria com isso, agora que falara. Pegou o garfo tentando desviar do olhar penetrante dele, mas seu apetite havia desaparecido.

― Conte-me sobre isso, Cassie — murmurou ele gentilmente. — Conte-me o que aconteceu naquela noite.

Cassie olhou para o prato e desejou que estivesse muito longe dali. Por que ele não esquecia o passado? Que bem faria discutir algo que ela não poderia mudar? Este tinha sido o primeiro problema.

Ela não podia mudar nada.

— Prefiro não falar sobre isso.

— Vocês tiveram uma discussão ou algo assim? — insistiu Sebastian.

— Ou algo assim — replicou ela. — Esqueça isso, Sebastian. Eu não gosto de ser lembrada do que aconteceu.

— Deve ter sido assustador ser levada para a prisão daquela forma — continuou ele, determinado a pressioná-la.

Cassie lhe deu um olhar ressentido.

— Eu não vi você no meio da multidão para me oferecer apoio.

As feições de Sebastian se fecharam.

— Teria aceitado meu apoio se eu tivesse oferecido? — questionou ele. — Você pediu que eu nunca mais a contatasse, lembra-se? De qualquer forma, passei diversos meses no exterior depois que você terminou o nosso caso. Ninguém da minha família me contou sobre o ocorrido, porque nem mesmo sabiam de nosso envolvimento. Quando voltei, meu pai já tinha avisado Lissa para nunca mais contatá-la, e a enviado para a universidade em Paris, antes que ela pudesse pensar em protestar.

— Então, quando você voltou, me deixou apodrecer na prisão porque não queria que seu pai descobrisse que nós tivemos um caso? — perguntou ela, amargamente.

— Errado! — Sebastian quase gritou. — Cassie, por que você não pode ver isso do meu ponto de vista?

Cassie se levantou num movimento tão abrupto que por pouco não derrubou seu copo de água.

— Oh, posso ver isso do seu ponto de vista — retrucou ela. — Alguns meses atrás, eu era apenas mais uma pessoa sem nome trancada numa cadeia. Alguém do seu passado de quem você nem ousava falar, muito menos defender. Agora descobre que eu trabalho no orfanato que você apoia, e acha que pode me acalmar o bastante para manter sua reputação, caso eu decida contar à imprensa sobre o nosso caso clandestino.

— Eu não me importo com a minha reputação — disse ele com um brilho de raiva nos olhos escuros. — É com minha família que me preocupo. Devo a gerações anteriores de Karedes agir de maneira compatível a um futuro rei.

Ela fez uma careta.

— Então é por isso que não estamos almoçando em público, certo, Sebastian? Para manter a honra de sua família?

Ele arqueou as sobrancelhas.

― Eu estava pensando sobre sua segurança. Eu lhe disse ontem à noite que há muitas pessoas na comunidade que acham que você deveria ter recebido a sentença de prisão perpétua.

― É como se tivesse sido perpétua! — exclamou Cassie à beira das lágrimas. — Você acha que algum dia vou me esquecer disso? Estou marcada pelo resto da vida como a filha que matou o próprio pai. Percebo o jeito como as pessoas me olham. Elas até mesmo atravessam a rua para evitarem me olhar de frente. Não me diga que já não fui punida o suficiente.

Sebastian se aproximou, mas ela se afastou, erguendo uma mão como uma barreira.

— Por favor, dê-me um momento... por favor.

Sebastian fechou as mãos para se impedir de tocá-la. Queria confortá-la, dizer que tudo ia melhorar agora que ela estava livre, mas não sabia se Cassie queria ouvir tais superficialidades. Mas também queria lhe dizer o quanto tinha ficado chocado ao saber da morte do pai dela, e da acusação de assassinato contra Cassie. Não podia acreditar que sua Cas fosse capaz de um ato destes. Mas então, não a considerara capaz de traí-lo, como ela própria lhe contara um dia antes da morte do pai.

Ela havia ido da cama dele para uma das de seus muitos amantes, provavelmente rindo pelas suas costas o tempo todo. De repente, não era a pessoa por quem Sebastian tinha se apaixonado. A mulher que amara era uma fantasia construída em sua cabeça. Fora um tolo em não enxergar a verdade. Cassie fizera o papel de amante devotada bem o bastante para convencê-lo. Ela era como um camaleão, mudando constantemente conforme lhe conviesse.

Mas quem era Cassandra Kyriakis agora? Ela passara anos na prisão e 11 meses em liberdade condicional, uma experiência que mudaria a vida de qualquer jovem, esperançosamente para melhor. De qualquer forma, seus dias vivendo à custa da fortuna do pai haviam acabado há muito tempo. Os bens de Theo tinham sido divididos entre parentes distantes, deixando Cassie sem nada. Enquanto o pai estivera vivo, Cassie gastara como se tivesse direito a cada euro de Theo.

Sempre que Sebastian lhe perguntava sobre uma carreira ou um emprego, ela costumava rir, dizendo que estava feliz levando vida de socialite.

Cassie parecia gostar do trabalho no orfanato agora, mas o que aconteceria quando o período de liberdade condicional terminasse? Como ela suportaria a crítica do povo, uma vez que sempre teria de conviver com a vergonha da morte do pai?

 

CASSIE SE recompôs com esforço e reassumiu seu lugar à mesa como se nada tivesse acontecido. Pegou seu copo de água e bebeu um gole, ciente do olhar de Sebastian.

— Você disse que tinha algo para discutir comigo sobre o orfanato — ela o relembrou, propositalmente consultando o relógio, deixando claro que tinha horário a cumprir.

Ele voltou para a mesa e se sentou.

— Você liga e desliga como mágica, não é, Cassie? Ela não respondeu.

— Ora, Cassie, mostre-me que é humana pelo menos uma vez na vida — murmurou ele. — Nunca deixou ninguém se aproximar de você.

Cassie fechou as mãos sobre o colo e o fitou do outro lado da mesa.

— O que quer que eu faça, Sebastian? Que eu chore, puxe os meus cabelos? Isso faria você se sentir melhor? Pensar que sou uma pessoa fraca, culpada e incapaz de reassumir meu lugar no mundo?

Ele a estudou por um longo momento.

― Para ser sincero, não tenho certeza do que quero de você.

— Talvez seja por isso que me convidou a vir aqui — continuou Cassie no mesmo tom ressentido. — Para poder observar uma ex-presidiária de perto. Suponho que não muitos príncipes têm a oportunidade de encontrar uma ex-criminosa pessoalmente.

A boca de Sebastian se comprimiu.

— Não é assim, Cassie.

— Então como é, Sebastian? Por que eu estou aqui?

— Eu queria vê-la de novo. Saber que você estava bem. — Sebastian suspirou. — Suponho que queria ver se você tinha mudado.

Cassie arqueou uma sobrancelha.

— E qual é o seu veredicto? Sebastian a estudou por longos segundos.

— É difícil dizer — respondeu finalmente. — Você parece a mesma, mas algo me diz que está diferente.

— O pessoal do presídio ficará satisfeito de saber disso — ela murmurou irônica. — Que desperdício de dinheiro público se minha prisão não tivesse produzido nenhum efeito em meu caráter rebelde.

— Você ainda não gosta de si mesma, verdade, Cassie? Cassie sentiu suas defesas se esvaindo, e esperou que pudesse se controlar até que estivesse sozinha.

— Sinto-me bastante à vontade com quem sou. Como muitas pessoas, há coisas que não gosto sobre mim, ninguém é perfeito.

— O que não gosta em você?

Ela mordeu os lábios, então, percebendo que Sebastian a observava, e parou.

— Eu não gosto... dos meus pés — respondeu, pressionada por uma resposta. — Tenho pés feios.

Sebastian sorriu.

― Você tem pés lindos, ágape mou. Como pode não ver isso?

― Eles são muito grandes. Eu queria ter pés pequenos como os de minha mãe. Ela era tão linda, tão pequenina e elegante.

― Eu vi uma fotografia de sua mãe uma vez que acompanhei meu pai ao escritório de Theo — murmurou Sebastian. ― Era realmente adorável, mas você é igualzinha a ela.

Cassie bebeu mais água.

― Às vezes me pergunto se nós teríamos nos dado bem...se ela tivesse vivido.

― É claro que vocês teriam tido um relacionamento próximo — disse ele. — Existe algo de especial sobre o amor materno. Minha mãe era muito mais suave do que meu pai. Ele foi um grande governante, mas mamãe era quem nos dava atenção e amor.

— Ela deve ter sofrido muito com a morte de seu pai — disse Cassie, então acrescentou:

— Sinto muito por não ter expressado minhas condolências antes. Eu devia ter dito algo assim ontem à noite.

— Não se preocupe. — Sebastian fez uma pausa. — Foi um choque terrível, principalmente porque aconteceu na festa de aniversário de 60 anos de minha mãe.

— Sim, eu soube. Enfarto, não foi? Ele assentiu.

— Durante a vida toda fui treinado para ocupar o lugar de meu pai quando ele morresse. Consequentemente, eu desenvolvi um forte senso de dever. Esta ilha é o meu lar. O povo que mora aqui é o meu povo. Todavia, eu não esperava ter de assumir a responsabilidade tão breve.

— Eu entendo — disse ela suavemente. Sebastian deu um sorriso que não alcançou os olhos.

― Mas agora quero falar sobre o orfanato. O fato de estar localizado ao lado da prisão é estranho, você não acha?

— Acho, mas até agora não houve problemas, pelo que sei — disse Cassie. — E pelo fato de a prisão ter sua própria creche, traz facilidade para as prisioneiras com bebês e crianças pequenas terem os filhos junto delas no local.

Sebastian franziu o cenho.

— Você quer dizer que há mulheres que ficam com os filhos na prisão enquanto estão cumprindo a sentença?

Cassie o encarou, mesmo que pudesse sentir seu rosto queimando.

— Sim... mas apenas até que a criança complete 3 anos. Depois disso, as crianças geralmente vão para lares adotivos até que a sentença da mãe chegue ao fim.

— Mas a prisão é o melhor lugar para um bebê ou uma criança pequena? — questionou ele.

— O melhor lugar para uma criança é com a mãe — replicou Cassie. — A criança não fez nada de errado. Por que deveria ficar separada da mãe numa idade tão vulnerável?

— Foi isso que aconteceu com o garotinho que me enviou o desenho?

Cassie abaixou os olhos e pegou seu copo de água novamente.

— Eu lhe disse que não sei nada sobre as circunstâncias de cada criança mas, sim, isso pode ter acontecido com ele. Os parentes nem sempre estão dispostos a ficar com a criança, especialmente com uma criança cuja mãe está na prisão.

Um silêncio se instalou entre os dois, e Cassie podia sentir seu coração disparado no peito. Tentou relaxar, concentrando-se em respirar devagar.

— Não gosto da ideia de uma criança com menos de 3 anos convivendo com criminosos violentos — disse Sebastian. — O mesmo arranjo jamais seria considerado para uma prisão masculina.

― Sim; é verdade, mas há boas razões para isso — murmurou Cassie. — Primeiro, quase noventa por cento das prisioneiras estão lá por crimes não violentos. A maioria cometeu delitos relacionados a drogas. São vítimas de abuso na infância que se perdem no uso das drogas, a fim de tentarem lidar com a devastação de suas vidas. Além disso, as pessoas agora reconhecem a importância do elo entre um bebê e sua mãe.

― Você fez amizade com algumas destas mulheres? — Sebastian parecia genuinamente interessado.

― É difícil evitar isso num lugar tão confinado — respondeu Cassie, pensando nas amigas que tinha feito, incluindo Angélica. — A perda da dignidade é um golpe duro, sem mencionar a perda da liberdade. Contar os dias no calendário pode ser uma tarefa muito solitária, a menos que você tenha com quem conversar.

— Você será capaz de seguir com sua vida agora? — perguntou ele suavemente.

— Gosto de pensar que sim. Uma vez que o período de liberdade condicional acabar, eu quero sair de Aristo e recomeçar.

— O que você vai fazer?

— Terei certas limitações, considerando o meu registro csk minai — disse ela. — Não será fácil arrumar um emprego. Mas eu gostaria de estudar. Tranquei a matrícula na faculdade, quero voltar e me formar. Depois disso, quem sabe? Contanto que eu consiga pôr comida na mesa para nós... quero dizer, para mim, ficarei feliz.

— Ouvi dizer que seu pai não a deixou bem-provida. Cassie lançou um olhar irônico.

― Não, engraçado isso, não acha? Ele deixou tudo que possuía para primos distantes. Devia saber que eu iria empurrá-lo da escada naquela noite.

— O que aconteceu, Cassie? — perguntou ele de novo, olhando-a intensamente.

Cassie abaixou o olhar.

— Nós discutimos. Mal me lembro sobre o quê... tudo parecia confuso na minha cabeça. Ele estava gritando comigo, eu gritei de volta e então... — Ela fechou os olhos para controlar a emoção que relembrar aquela cena horrível lhe causava. Quando os reabriu, estava controlada. — Subitamente ele estava deitado ao pé da escada com a cabeça ferida.

— O que você fez?

— Eu entrei em pânico. Tentei levantá-lo. Pensei que ele estivesse fingindo para me assustar, mas ele... não acordou.

— Então a polícia chegou e prendeu você? Ela meneou a cabeça.

— Não de imediato. Eles consideraram a morte acidental, mas algumas semanas depois, um de meus vizinhos foi testemunhar que nos ouviu discutindo naquela noite. Aparentemente, isso foi o bastante para me condenarem. Dentro de algumas horas eu fui algemada e levada para depor. Confessei homicídio culposo na manhã seguinte. Porque eu não tinha forças para lutar depois de ter sido interrogada por horas pela polícia, e ninguém acreditaria em mim se eu contasse a verdade de qualquer forma — afirmou Cassie silenciosamente. A sala de interrogatório estivera cheia dos colegas influentes de seu pai. Que chance ela possuía de limpar o seu nome?

— Deve ter sido muito assustador — comentou Sebastian com gentileza. — Você só tinha 18 anos na época.

— Acabou agora — disse ela. — Lamento o modo como lidaram com as circunstâncias, mas a polícia estava fazendo o seu trabalho. Meu pai era um homem público. As pessoas queriam um bode expiatório, e eu era isso.

— O que você está dizendo, Cassie? Que foi forçada a confessar um crime que não cometeu? — Sebastian perguntou com expressão intrigada.

Aqui está a sua chance, pensou Cassie. Conte a ele como foi. Conte tudo. Mas se lhe contasse sobre o seu pai, teria de lhe contar sobre Sam. E se Sebastian e a família real decidissem que ela não era boa o bastante para ser a mãe de um príncipe? Sam já sofrera por ter sido arrancado dos braços da mãe quando era pouco mais que um bebê; ficaria arrasado se isso acontecesse de novo. E se ele fosse tirado de seus braços, a devastação de Cassie seria completa. O único motivo que a fizera sobreviver ao inferno dos últimos seis anos tinha sido o amor por seu filho. Ter chegado tão longe para perdê-lo agora era impensável.

— Cassie?

― Não — respondeu ela. — Eu não fui forçada a confessar. Entendi o que estava acontecendo e concordei em aceitar a acusação menor de homicídio culposo.

— Você teve um bom advogado?

Cassie pensou no advogado asqueroso que lhe fora designado. Durante as longas semanas do tribunal, ele a olhara como se ela estivesse nua, lembrando-a tanto de sua última briga com o pai que Cassie teria concordado com uma acusações de assassinato se isso significasse livrar-se da presença detestável do advogado.

— Eu tive um advogado — replicou ela. — Não exatamente o melhor, mas mendigos não podem escolher, certo?

Sebastian sentiu outra pontada de culpa com o tom da voz dela. Sabia que havia fatos que Cassie estava omitindo, mas era óbvio que um advogado competente teria conseguido livrá-la, considerando a idade de Cassie na época. E se ela tivesse agido em autodefesa? Certamente não teria sido punida em tais circunstâncias?

Mas então ele pensou nos rumores na ocasião da morte de Theo Kyriakis. Rumores sobre o desespero de Theo devido aos problemas de álcool e drogas da filha. Sebastian sabia que Cassie bebia, mas nunca a vira usando ou agindo sob a influência de drogas. Isso não significava que ela não as usara, é claro. Poderia ter se drogado longe dele. O tempo dos dois juntos tinha sido limitado, afinal. Manter o relacionamento em segredo fora decisão sua, não querendo a interferência de seu pai dominador, sem mencionar os paparazzi sempre presentes.

Após descobrir sobre a traição de Cassie, Sebastian agradecera por ter mantido a relação secreta. Já era ruim o bastante imaginá-la rindo dele, sem que o povo inteiro de Aristo risse também. Entretanto, às vezes se questionava se havia feito a coisa certa.

Nunca comentara com ninguém, mas Theo Kyriakis sempre lhe parecera um pouco falso. Havia alguma coisa estranha sobre o homem. Se Theo tivesse sido um pai tão amável e preocupado, por que teria deixado aquele testamento, a menos que soubesse que ela iria matá-lo, como Cassie falara ironicamente? Isso não fazia sentido. O que fazia menos sentido ainda era o fato de que o advogado que a defendera não ter apontado isso na época.

— Como você está se virando com dinheiro agora? — perguntou Sebastian.

Orgulho brilhou nos olhos que encontraram os seus.

— Eu estou bem. Tenho o que preciso para... mim.

Isso seria verdade?, perguntou-se Sebastian. Havia algum indício em Cassie que sugeria desconforto na sua presença. Ela nunca evitava seu olhar ou mordiscava os lábios daquela maneira. Mas talvez o tempo na prisão a tivesse tornado desconfiada das pessoas. O que era compreensível. Ele não gostava de pensar no quanto Cassie tinha sofrido. Todos sabiam sobre a violência e a rivalidade atrás das grades, mesmo nos presídios femininos.

Cassie consultou o relógio e se levantou.

― Preciso ir. Meu horário de almoço quase acabou.

Ele a interceptou antes que ela pegasse a bolsa do chão, segurando-lhe o braço.

― Não, Cassie. Eu ainda não terminei com você.

Cassie olhou para os dedos bronzeados em seu braço nu e tremeu. Aquelas mãos haviam lhe ensinado tanto sobre paixão. Explorado cada contorno de seu corpo. E por quase seis anos, ela sonhara em como seria sentir o toque delas novamente. Não tinha coragem de olhá-lo, pois sabia que Sebastian veria o desejo estampado no seu rosto.

— Olhe para mim, Cassie.

Ela engoliu em seco e lentamente o fitou.

— Eu realmente tenho de ir, Sebastian. Algumas crianças tiram sonecas depois do almoço, e sempre leio para elas. Ficarão agitadas se eu não aparecer. Não gosto de desapontá-las.

— Pedi ao meu secretário que informasse ao diretor que você não voltaria antes das 3h.

Cassie estreitou os olhos.

— Você fez o quê? ― Dedos quentes desceram pelo braço dela e se fecharam ao redor de seu pulso, aproximando-a do corpo másculo.

— Eu cancelei os meus compromissos de modo que passássemos este tempo juntos.

— Você não tinha o direito de interferir assim! — protestou Cassie, tentando, sem sucesso, se desvencilhar do toque. Uma onda de pânico a percorreu. Podia ver o rostinho ansioso de seu filho à janela, esperando-a. Podia ouvi-lo gaguejando de nervoso ao perguntar para Sophie e Kara onde estava a mãe. Ele provavelmente molharia a calça, o que o perturbava, embora Sam não pudesse evitar isso durante períodos de grande estresse.

— Por que o drama? — perguntou Sebastian, ainda a segurando com firmeza. — Certamente você ganhou algumas horas de folga?

Cassie tentou abrir os dedos dele, mas Sebastian colocou a outra mão sobre ela. Então, olhos escuros se focaram na sua boca, o toque dos dedos se tornando gentil e sensual. O roçar do polegar no interior de seu pulso fez o coração de Cassie disparar e as pernas tremerem. Ele abaixou a cabeça...

O primeiro roçar da boca de Sebastian contra a sua foi um pouco hesitante, tão suave que ela pensou se poderia ter imaginado aquilo. O segundo foi mais firme, com a dica de um desejo crescente, mas o terceiro abalou-a até o âmago. Cassie abriu a boca para apreciar o delicioso contato erótico. O beijo se tornou mais voraz, mais apaixonado. Era tão maravilhoso estar nos braços de Sebastian novamente, absorver-lhe a força e o calor.

Abraçando-a na altura da cintura, ele a puxou para mais perto, e o baixo-ventre de Cassie pulsou com um desejo ardente. Ela se lembrou de como era tê-lo em seu interior, do prazer tão intenso que ninguém mais seria capaz de lhe dar. O pensamento de compartilhar seu corpo com outra pessoa tinha sido inaceitável desde a primeira vez que experimentara ter prazer nos braços de Sebastian. Cassie havia se resignado a uma vida celibatária, nunca imaginando que um dia ele voltaria para sua vida e poderia desejá-la novamente.

Sebastian levantou a cabeça e prendeu-lhe o olhar.

— Eu quero você, e pretendo tê-la novamente, mesmo que por apenas uma única noite. Pense sobre isso, Cassie. Uma noite para nos recordarmos para o resto de nossas vidas.

— Isso não pode acontecer, Sebastian — sussurrou ela, mesmo enquanto seu corpo balançava em direção ao dele.

― Você sabe que não pode. Nós somos de mundos distantes.

Vivemos em universos diferentes.

Ele traçou-lhe as sobrancelhas com a ponta de um dedo.

― Minha cabeça me diz isso, mas não o resto de mim. Por que você faz isso comigo, Cassie? Jogou algum feitiço sobre mim?

― Por favor, não torne isso mais difícil do que já é — suplicou ela. — Deixe-me ir, Sebastian, antes que façamos algo do qual nos arrependeremos pelo resto de nossas vidas.

Ele segurou-lhe o rosto nas mãos.

― Ninguém precisa saber sobre isso.

O coração de Cassie disparou mais uma vez.

— Você realmente fala sério sobre... Sebastian acariciou seu rosto com os polegares.

— Eu quero você, Cas. Ainda a quero. Assim que a vi na festa ontem, soube que não descansaria até que a tivesse novamente. Depois que nos beijamos... bem, isso confirmou que você se sentia da mesma maneira.

— Sebastian, há muitas coisas na vida que as pessoas querem, mas isso não significa que elas podem tê-las. Isto nunca vai dar certo entre nós. Você é o príncipe-regente de Aristo, e eu sou... bem, você sabe o que eu sou... todos sabem.

— O que importa quem você é ou o que fez? — questionou ele. — Estamos falando do aqui e agora, não do futuro. Eu não posso lhe oferecer casamento e, se o que me falou no passado for verdade, isso não é o que você quer. Estou lhe oferecendo um caso para satisfazermos nossos desejos.

Cassie saiu dos braços dele e estabeleceu alguma distância entre os dois.

― Isso é loucura, Sebastian. Você manteve nosso relacionamento secreto no passado, mas a ameaça de exposição era constante. Agora será muito pior. Todos observam cada movimento seu. Os paparazzi são como formigas num piquenique. Os guardas que o cercam poderiam ser facilmente subornados para contarem sobre seu paradeiro. Você não está mais na posição de controlar sua vida pública, muito menos a particular.

— Eu tenho meios para manter alguns aspectos de minha vida absolutamente privados — discordou ele. — Escolhi meu staff pessoal com cuidado. Eles não me trairiam.

— Este... este nosso relacionamento é somente sexo — disse ela em frustração. — Você tem ideia de como isso faz eu me sentir?

Sebastian lhe deu um olhar irônico.

— Sentimentos, Cassie? O que aconteceu com a Cassie Kyriakis do passado? Aquela que só queria se divertir, sem formar elos?

Ela nunca existiu em primeiro lugar, pensou Cassie e desejou que pudesse falar em voz alta. Tinha construído uma fantasia para evitar que as pessoas vissem a Cassie verdadeira. Quem iria querer a verdadeira? Até mesmo seu pai, seu único parente vivo, não havia sido capaz de olhá-la sem ódio e desgosto.

— Eu quero coisas diferentes agora — disse ela, tentando controlar o tremor na voz. — Passei muito tempo pensando onde errei. Não vou repetir os mesmos erros desta vez.

Um brilho de ressentimento surgiu nos olhos dele.

— Então você considera que seu envolvimento comigo foi um erro?

Cassie pensou em seu filho. No filho deles. Como poderia lamentar a única coisa boa que resultara do relacionamento secreto deles? Sam era tudo para ela. Era seu salvador, sua razão de viver. Ela jamais se arrependeria de nada que tivesse a ver com a maneira que Sam fora concebido.

— Não — respondeu ela com um suspiro. — Entrei no nosso relacionamento com olhos bem abertos.

― Sem mencionar suas pernas. Cassie estremeceu com o ataque verbal.

― Perdão?

― Ora Cassie — murmurou ele com um olhar sardônico. ― Você não era virgem quando pulou na minha cama.

Ela cerrou os dentes para conter a raiva.

― Isso não é a coisa mais sexy para se dizer. Você também tinha muita experiência, se bem me recordo.

— Mas ainda não o bastante para você — disse Sebastian. — Havia muitos homens fazendo fila para lhe dar prazer. Você me deu uma lista de nomes, lembra-se?

Cada mentira que ela contara parecia se voltar contra si mesma. A única coisa que poderia fazer era cobrir as mentiras anteriores com mais mentiras, e rezar para que ele nunca descobrisse a verdade.

― Tenho orgulho de meu comportamento na época, mas você nunca me deu nenhuma indicação de que estava desenvolvendo sentimentos sérios em relação a mim. Achei que queríamos a mesma coisa... divertimento sem compromisso.

— Começou desta forma, sim, mas você me enfeitiçou, Cassie, me fazendo querer mais — confessou ele. — Eu ia lhe dizer isso, mas antes que fosse capaz, você anunciou o término da nossa relação.

Cassie o olhou, o coração doendo com o pensamento do que tinha, sem querer, jogado fora. Por que Sebastian não lhe dera alguma dica antes? Ela não suspeitara nem por um momento que ele pudesse estar se apaixonando. Oh, Deus, que destino cruel os levara a este impasse torturante?

O silêncio se estendeu ao ponto da agonia.

— Você não vai me perguntar, Cassie? Ela saiu do estado de torpor.

— Perguntar... o quê?

— O que as mulheres sempre perguntam em situações como esta.

Cassie comprimiu os lábios e controlou as emoções.

— Certo, então... — Ela respirou fundo, ciente de que não ajudaria saber daquilo, e provavelmente seria ainda pior. — Você ainda sente algo por mim?

Sebastian a estudou por um longo momento antes de responder, e surpreendê-la:

— Eu não a amo — disse ele. — Não confunda desejo físico com sentimentos mais nobres. Não há nada nobre nisso que sinto por você agora, Cassie. Quero apenas um caso. É esperado que eu me case, e me case bem. Creio que já existe uma noiva em potencial.

Cassie sentiu como se uma faca estivesse atravessando seu coração. Queria chorar de dor, mas o orgulho a manteve firme.

— Oh, verdade? — Ela fingiu um tom de desinteresse.

— Isso lhe poupa bastante trabalho de campo, não é? Pense... menos horas desperdiçadas com flertes, sem dinheiro gasto em flores e refeições em restaurantes exclusivos. Que sorte a sua.

Os olhos escuros emitiram faíscas de raiva.

— Nossa história não acabou, Cassie. Eu não a teria trazido aqui se não acreditasse que você quer o mesmo que eu. Deixou isso claro correspondendo ao meu beijo ontem à noite.

— Bem, é somente porque eu não beijo há muito tempo...— Cassie parou e mordeu os lábios, subitamente percebendo que tinha tropeçado em mais uma de suas próprias mentiras...

 

SEBASTIAN SE aproximou de onde ela estava parada, e, segurando-lhe o queixo, ergueu-lhe o rosto para que Cassie o olhasse.

― Então não há um homem atualmente em sua vida. Que outras mentiras você me contou, hmm?

Cassie sentiu o coração bombeando erraticamente. Sua boca secou e um nó se formou em sua garganta.

― Somente esta — disse ela, calculando quantas mentiras havia lhe contado em menos de 24 horas.

— Pergunto-me que outros segredos você está guardando. — Sebastian a estudou. — Por exemplo, onde você mora?

— Onde moro não é um segredo.

— Se é assim, por que, quando Stefanos a deixou em sua casa ontem à noite, você não entrou, mas desapareceu, virando uma rua antes que ele pudesse segui-la?

— Humm... eu...

Sebastian sorriu ironicamente.

— Está com medo que o futuro rei de Aristo decida lhe fazer uma visita espontânea?

Pode apostar que sim.

— Tenho certeza de que você está muito ocupado para fazer visitas a ex-criminosas — retrucou ela, umedecendo os lábios secos. — Além disso, você não se exporia para a mídia desta forma.

Sebastian acariciou-lhe o queixo com o polegar.

— Estou tentado a arriscar. Por você, ágape mou, acho que eu seria capaz de arriscar muita coisa.

Cassie meneou a cabeça.

— Você me odeia por... tê-lo traído. Por que arriscaria sua reputação e credibilidade por alguém como eu?

Ele pôs uma mecha de cabelos dela atrás da pequena orelha.

— Por que, realmente?

— Sebastian. — Ela colocou a mão no peito dele para empurrá-lo.

Uma mão muito maior cobriu a sua.

— Uma noite, Cas — pediu ele com voz rouca. — Dê-me apenas uma noite.

Cassie fechou os olhos contra a tentação crescente.

— Sebastian... — Eu quero, oh, como quero! Ela estava quase confessando. Como ele podia não ver isso? Passar uma noite ao seu lado, uma noite da qual se lembraria para o resto da vida seria um vislumbre do paraíso.

— Olhe para mim, Cassie — comandou ele.

Ela abriu os olhos lentamente. A expressão de Sebastian era suave, como se uma parte sua ainda não tivesse substituído o amor que sentira por ela por ódio. Uma noite despertaria os sentimentos do passado? Ou, como ele esperava, o faria esquecê-la de uma vez por todas?

— Você está pedindo demais — disse Cassie num sussurro fraco.

— Eu quero sentir aquilo de novo, Cassie. — Ele deslizou as mãos pelos seus braços e circulou os pulsos delicados. — Lembra? funcionávamos!

Cassie lembrava-se muito bem, esta era a questão. Quase todo dia pensava sobre a magia explosiva que sentira nos braços dele. Não soubera que seu corpo poderia responder tão fervorosamente até que ele a possuíra. Seu breve contato íntimo com outro homem aos 17 anos não preparara Cassie para a resposta cataclísmica que o toque de Sebastian evocava.

― Não pode me dizer que foi igual com outros homens para você — ele continuou quando não teve resposta. — Eu tive amantes antes e depois de você, Cassie, e nunca foi igual. Existe uma química incrível entre nós, que torna tudo pálido se comparado.

― Você está perseguindo uma fantasia, Sebastian. Nós dois mudamos. Não somos mais as mesmas pessoas agora.

— Talvez, mas esta química em particular não mudou — afirmou ele, então, se inclinando, cobriu-lhe a boca com a sua.

Cassie sabia que havia um milhão de razões para empurrá-lo, mas de alguma maneira, não conseguiu fazer isso. Seus sentidos foram despertados com o beijo apaixonado, fazendo-a se entregar às sensações por alguns momentos. Não havia cura para aquela loucura?, pensou atordoada. Tudo sobre ele parecia tão perfeito. O beijo, o movimento das mãos que foram de seus pulsos para sua cintura, então para baixo de seus seios, não exatamente tocando, porém provocando o bastante para fazê-la ofegar e querer mais.

Ela aconchegou-se contra o corpo forte e envolveu-lhe o pescoço com os braços, entrelaçando os dedos nos cabelos grossos enquanto correspondia ao beijo com ardor.

― Você ainda me quer — afirmou Sebastian contra sua boa. — Posso sentir isso em cada beijo que trocamos.

Cassie abriu os olhos para fitá-lo.

— Eu sempre desejei você...

Uma das mãos dele segurou-lhe um dos seios, enquanto o polegar começava a brincar com o mamilo.

— Eu jurei que nunca mais a deixaria me reduzir a isso— disse ele, mordiscando-lhe o lóbulo. — Mas não consigo evitar. Quando estou ao seu lado, sinto que vou explodir de desejo.

Cassie sentiu a ereção viril pressionada contra sua barriga, e uma onda de desejo a inundou. Abaixou uma das mãos para o cós da calça dele, antes de descê-la.

Sebastian emitiu um gemido gutural no momento em que ela traçou sua extensão rígida sobre o tecido, sua reação fazendo-a descer o zíper e deslizar a mão por baixo da cueca.

Ele gemeu novamente.

— Você tem de parar, Cassie — disse ofegante. — Eu não posso aguentar mais.

Cassie ignorou seu apelo e continuou acariciando-o, mas ele segurou-lhe os ombros com firmeza. Ela o fitou, incerta.

— Você não quer que eu...

— Eu quero, mas não aqui e agora — respondeu Sebastian.

— Venha me encontrar na próxima quinta-feira. Eu me certificarei de que não sejamos perturbados. Você poderá passar a noite.

Ela abaixou o olhar.

— Eu não posso passar a noite...

— Eu mandarei um carro para você.

— Você não está me ouvindo, Sebastian. Eu não posso passar a noite.

— Por que não?

Cassie pensou numa desculpa plausível.

— Preciso trabalhar no dia seguinte. Não quero comprometer a situação do meu trabalho. Se eu chegar atrasada, posso perder o emprego.

― Você não vai perder o emprego — murmurou ele. —eu já requisitei sua presença na festa que darei no palácio para as crianças na próxima sexta-feira. Cassie arregalou os olhos em alarme.

― A festa é na sexta?

― Sim por isso que Stefanos confirmou quando trouxe o nosso almoço.

Cassie estava com dificuldade de encará-lo. Teve de lutar para não mostrar o quanto a notícia da festa a perturbava. E se algum dos funcionários do orfanato mencionasse para Sebastian que ela era a mãe de Sam? Pedir segredo para Sophie, Kara e os outros levantaria suspeitas. Ela teria de ser vigilante, ficar perto de Sam o tempo inteiro.

― Não posso passar a noite — repetiu Cassie. — Tenho de começar a trabalhar cedo na sexta, a fim de preparar a festa das crianças.

― Tudo bem — concordou ele após uma pausa. — Você pode retornar para sua casa após o nosso encontro.

Nosso encontro.

— Você realmente mudou, Sebastian. Não costumava ser tão frio.

— Se estou um pouco mais frio que antes, a culpa é sua — retrucou ele. — Você fez um bom trabalho em mim, Cassandra Kyriakis. Sempre que me envolvo com uma mulher, assumo o controle desde o início, e me certifico de mantê-lo até o final.

Cassie fechou as mãos nas laterais do corpo.

— Não vou ser sua última prostituta — declarou ela com orgulho. — Eu preferiria ser presa novamente pelos próximos 20 anos a sofrer este destino.

Sebastian teve a audácia de rir.

— Oh, palavras tão amargas, mas você tem ideia de corno está sendo tola?

— Eu seria mais tola se aceitasse ser um brinquedinho na sua mão, que você usa quando tem vontade.

— Acha que eu quero que seja assim? — Sebastian questionou com raiva. — Eu gostaria de poder olhar para você e não sentir nada, mas não é isso que acontece.

— É o seu orgulho — disse ela. — Quer reescrever o passado porque eu... porque... não fui fiel a você.

— Não é o meu orgulho — discordou Sebastian. — Eu a quero, porque nunca desejei ninguém como desejo você.

Cassie engoliu sua angústia diante dessa confissão. Sentia-se exatamente da mesma forma, mas o segredo do filho deles era como uma barreira intransponível entre os dois. Se ele descobrisse sobre Sam, a vida de Sebastian mudaria irreparavelmente.

Tudo que ela precisava dizer era: Cinco anos atrás eu tive um filho seu.

Cassie se sentiu prestes a chorar, lembrando-se do quanto amara Sebastian, embora ele a tivesse ignorado quando lhe enviara uma carta da prisão, embora a estivesse humilhando mais uma vez, oferecendo-lhe um caso clandestino tão similar ao oferecido seis anos atrás.

— Eu realmente preciso ir — disse ela, olhando para o relógio.

Ele se aproximou e acariciou-lhe o queixo.

— Uma semana, Cassie. Acredite, eu não vou descansar enquanto não tiver uma noite com você.

Cassie desejou que tivesse forças para negar. Mas não lhe devia aquilo? Tinha o filho dele. Certamente lhe devia algumas horas de seu tempo, de modo que um dia pudesse contar a Sam que tipo de homem era seu pai, sem revelar sua verdadeira identidade.

Ela tivera sorte até agora. Sam estava cercado de crianças sem pai nem mãe. Ainda não ocorrera ao seu filho perguntar por que não tinha pai, mas sem dúvida, logo a questionaria. E Cassie não sabia como lidaria com o assunto. Mentir para seu filho parecia errado, todavia, também seria errado destruir o objetivo de Sebastian de reinar seu povo, informando-o da existência de um filho.

― Se você quer me ver na quinta-feira, isso pode ser arranjado — disse ela.

― Eu quero, ágape mou. — Sebastian roçou um beijo nos seus lábios. — Quero muito.

Uma batida soou à porta e ele a afastou gentilmente para atender.

― Perdão, Alteza — disse Stefanos. — Eu vim lembrá-lo sobre sua reunião com o conselho real, em 15 minutos.

— Obrigado, Stefanos. Dhespinis Kyriakis já está de saída. Pode levá-la ao orfanato com segurança?

— É claro, Alteza.

Sebastian observou Cassie pegar a bolsa e passar por ele, evitando olhá-lo.

— Até quinta, Cassie — sussurrou ele.

Cassie assentiu com um gesto de cabeça quase imperceptível e seguiu seu criado pelo corredor.

Sebastian suspirou. O que tinha dito a Cassie era verdade. Por mais estupidez que aquilo fosse, estava disposto a arriscar muito para tê-la de novo em seus braços, ainda que por uma única noite.

 

NA REUNIÃO alguns minutos depois, Sebastian batia a caneta sobre a mesa, impacientemente.

— Então, ainda não há sinal do diamante Stefani? — ele pressionou o seu conselho oficial.

— Lamento, mas ainda não — respondeu o oficial mais velho. — Os planos para a coroação continuam certos, mas esse detalhe dificulta tudo.

Sebastian não tinha tempo para declarações óbvias. Sabia o que estava em risco. O símbolo do palácio real de Karedes era o inestimável diamante Stefani, o maior e mais raro diamante cor-de-rosa encontrado na ilha vizinha de Calista. O fato de que a metade de Anstan havia desaparecido misteriosamente causava grande desordem na família real, pois, segundo a tradição, ninguém poderia se tornar rei sem o diamante Stefani em sua coroa. O rei Zakari de Calista já estava procurando pela metade Anstan do diamante, e se esta fosse encontrada, ele poderia unir Aristo e Calista no reinado de Adamas mais uma vez. O que tornava mais imperativo que Sebastian resolvesse o mistério e encontrasse o diamante desaparecido.

— Eu quero que a investigação continue até que o diamante seja encontrado — ele instruiu os oficiais. — E não preciso lembrá-los que isso deve permanecer dentro das paredes do palácio. Não quero que nenhuma informação vaze para a imprensa.

 

DEPOIS QUE a reunião acabou, Sebastian chamou Stefanos de lado.

— Quero que faça duas coisas imediatamente, Stefanos. Primeiro, eu apreciaria que você ajude Demetrius a fazer uma lista de convidados com o nome de cada criança e seu cuidador. Também gostaria que um pequeno presente para cada criança fosse preparado, apropriado para sua idade e sexo. Deixarei isso em suas mãos capazes.

— Sim, Sua Alteza.

― Segundo, quero que você investigue algumas coisas. Discretamente.

― É claro, Sua Alteza.

― Descubra onde Cassandra Kyriakis está morando, e se ou quando foi a última vez que ela se envolveu com um amante ― disse Sebastian em tom determinado.

― Farei isso, imediatamente, Sua Alteza. Algo mais?

― Por enquanto, não — respondeu Sebastian, cerrando os dentes.

 

APÓS UMA rápida palavrinha com Angélica, Cassie entrou no quarto de Sam e se sentou na beira de sua cama, admirando o rostinho inocente, relaxado num sono abençoado.

Ao acariciar-lhe os cabelos de leve, pensou naquelas primeiras semanas na prisão, como tinha tentado se adaptar à vigilância constante, às noites de terror em claro. E no dia fatídico, três meses depois, quando o médico da prisão lhe entregou o resultado do exame de sangue realizado uma semana antes. A notícia de sua gravidez fora um choque. Por diversos dias, Cassie acreditara que havia um erro... uma troca dos exames no laboratório. Como poderia estar grávida se tomava pílulas anticoncepcionais desde os 17 anos? Seu ciclo não tinha parado, e, à parte uma sensibilidade maior nos seios, enjoos e cansaço, não sentia nada que indicasse uma gravidez. Estresse, má alimentação, a morte de seu pai... aquela última cena horrenda quando ele tentara... tudo isso justificaria seu mal-estar.

Mas no final, não pudera escapar da verdade. A notícia de sua gravidez e o nascimento subsequente de Sam miraculosamente não tinha vazado para a imprensa. As autoridades do presídio haviam lhe permitido ficar com o bebê até que Sam completasse 3 anos, quando ele fora enviado para um lar adotivo até que ela fosse libertada.

Pelo menos, Cassie conseguira recuperar seu filho, o que nem sempre acontecia com as outras mulheres. Ela pensou na fotografia que Angélica mantinha do garotinho de cabelos escuros sobre o criado-mudo. Ela perdera a custódia de Nickolas no período em que usava drogas. O pai do menino tinha desaparecido, levando a única razão de Angélica para viver. Isso já fazia quatro anos e meio, e Angélica ainda não sabia se seu filho estava morto ou vivo.

Cassie se inclinou e beijou a testa de Sam. — Eu não vou deixar ninguém tirar você de mim outra vez — prometeu num sussurro. — Mas as palavras pareciam ecoar com fraqueza, como se o destino estivesse ouvindo e pensando numa maneira de interferir.

 

― SUA Alteza, tenho a informação que me requisitou — disse Stefanos ao levar uma xícara de café para Sebastian alguns dias depois.

Sebastian abaixou o jornal, e lhe deu total atenção.

— O que você descobriu?

— Cassandra Kyriakis mora numa pequena casa em Paros Lane com uma ex-viciada em drogas, uma mulher chamada Angélica Mantoudakis. — Aparentemente, elas se conheceram na prisão, mas Mantoudakis foi libertada há dois anos. Ela trabalha em um dos hotéis locais, como faxineira.

As sobrancelhas de Sebastian se uniram.

— E quanto a um homem? Stefanos meneou a cabeça.

— Não há homem. Todavia, há uma criança, um menino por volta de 5 anos.

Os pelos da nuca de Sebastian se arrepiaram.

— Um menino? De quem?

― Descobri que Angélica Mantoudakis deu à luz cinco anos atrás a um menino chamado Nickolas — disse ele. — Não conseguiu descobrir mais nada. Os vizinhos são reservados naquela área, mas uma delas disse que vê Cassandra Kyriakis levando o menino para a escolinha do orfanato todos os dias talvez porque o horário de trabalho da mulher Mantoudakis a impeça de fazer isso.

Sebastian deu um suspiro de alívio e de alguma emoção que não podia definir.

— Obrigado, Stefanos. Bom trabalho.

— O conselho ainda não tem ideia do paradeiro do diamante Stefani — continuou Stefanos. — Há uma equipe de investigadores particulares trabalhando nisso, assim como o príncipe Alex, mas até agora nenhuma pista surgiu.

Sebastian ficou tenso novamente. Tinha acordado no meio da noite, imaginando se o diamante seria encontrado a tempo. Embora os investigadores fossem particulares, mais cedo ou mais tarde alguém iria suspeitar que algo estava errado, e rumores começariam a circular. Sebastian queria que o começo de seu reinado de Aristo fosse o mais tranquilo possível. Queria construir a confiança do povo, mostrar-lhes que não era como seu pai autocrático, mas que ouviria a comunidade e agiria para o bem de todos. Tinha planos para reinar aquela ilha, mas a menos que o diamante fosse encontrado, sua coroação não aconteceria.

— Mantenha-os empenhados nisso — ele instruiu seu criado.

— Certamente, Alteza — disse Stefanos e, após uma pausa, acrescentou:

— Acabei de conversar com Demetrius sobre a festa das crianças. O diretor do orfanato está encantado com o convite. Considera seu gesto magnânimo.

— Elas são crianças, Stefanos. Crianças indefesas e sem pais. Isso é o mínimo que eu posso fazer.

— Realmente, Sua Alteza — concordou Stefanos. — O jantar com Cassandra Kyriakis acontecerá na quinta-feira? Terei de informar o chef.

― Sim ― Sebastian recostou-se. — Eu quero levá-la a Kionia para um piquenique.

― Providenciarei isso imediatamente — replicou Stefanos e partiu.

 

CASSIE ESTAVA perto da janela quando o carro preto brilhante parou em frente à sua casa na quinta-feira à noite. Ela pegou a bolsa e saiu antes que o motorista pudesse chegar à campainha.

O motorista uniformizado abriu a porta de passageiro e Cassie entrou, se deparando com Sebastian, que estava sentado no banco de couro oposto.

― Vejo que você está com pressa para o nosso encontro, ágape mou ― observou ele com um sorriso. — Quão lisonjeador.

― Este não é o caso — replicou ela friamente. — Eu não quis chamar a atenção de ninguém. Pode imaginar o que os vizinhos diriam ao me verem entrando numa limusine?

— Entendo — murmurou Sebastian ainda sorrindo. — Gostaria de tomar um drinque? Eu lhe ofereceria champanhe, mas você não bebe mais, ne? Tenho suco de laranja ou água mineral.

— Suco de laranja está ótimo, obrigada.

Uma vez que estava com o copo de suco na mão, Cassie se recostou e tentou relaxar. Dando um gole, olhou-o sobre a borda. Ele estava magnífico, de calça de linho e uma camisa branca aberta no colarinho, com as mangas enroladas. Também estava barbeado e com os cabelos ainda úmidos do banho. O aroma cítrico da colônia pós-barba era inebriante.

— Como foi o seu dia? — perguntou ele. Cassie abaixou o copo com uma mão trêmula.

— Meu... dia?

― Sim, Cassie, seu dia. Você trabalhou no orfanato?

— Sim...

— Como está Nickolas? Cassie o fitou em confusão.

— Nickolas?

— O filho da moça que divide a casa com você — disse ele. — Aquele que leva à escola do orfanato todos os dias.

Cassie umedeceu os lábios subitamente secos.

— Humm... ele... como você descobriu... sobre ele?

— Pedi que Stefanos fizesse uma investigação discreta sobre a pessoa com quem você mora.

O coração de Cassie estava batendo tão alto que teve certeza de que até ele poderia ouvir.

— O que mais você descobriu sobre mim? Sebastian deu um gole no seu drinque.

— Angélica é ex-prisioneira. Viciada em drogas. Dificilmente uma boa companhia, se você está querendo mudar de vida, não acha?

Ela ergueu o queixo.

— Espero que você não faça nada contra ela. Angélica é uma das pessoas mais sinceras e amáveis que conheço. Merece uma segunda chance.

— Ela está limpa agora?

— Sim, está.

— Faz sentido, já que é mãe de uma criança pequena. Então ele tinha presumido que Sam era filho de Angélica, pensou Cassie com certo alívio. Isso era bom... por enquanto. Contanto que ela pudesse manter a farsa com a cooperação de Angélica até que saísse da ilha, daria tudo certo... ou assim esperava.

— Você a conheceu na prisão? — perguntou Sebastian.

— Sim.

— A criança estava com ela na prisão? Mais uma mentira.

— Sim.

Ele a estudou longamente.

― O garotinho cujo desenho você me deu outro dia tem uma história passada de violência ou crimes?

A mão de Cassie tremeu de leve quando pegou o copo de suco.

― Não diretamente.

Sebastian arqueou a sobrancelha.

— Como assim?

― A mãe dele nunca sonharia em ser violenta com o filho.

Ele franziu o cenho.

— Mas você disse que ele era órfão. O coração de Cassie pareceu parar de bater.

— Humm... eu disse?

— Sim, disse.

— Bem, devo tê-lo confundido com alguma outra criança.

— Qual é o nome dele?

— N... nome?

— Do garotinho que me mandou o desenho. Ela mordiscou os lábios.

— É... Sam.

— Estou ansioso para conhecê-lo amanhã na festa — disse Sebastian. — Organizei um mágico para entreter as crianças, assim como um presente para cada uma, além de bexigas, bolos e sorvetes.

— E muita generosidade sua — comentou Cassie, o coração ainda bombeando erraticamente. — Tenho certeza de que elas irão adorar, e lembrarão do evento para o resto da vida.

― Eu gostaria que este fosse um evento anual. Também quero visitar o orfanato em breve.

― O diretor ficará encantado com isso — murmurou Cassie, apesar de estar morrendo de medo. A festa no palácio já era arriscada, mas com Sebastian visitando o orfanato, a chance de alguém comentar quem era a mãe de Sam era muito maior. Cassie já lhe contara tantas mentiras, e sentia que cada vez se enrolava mais e caía em contradições. Era como se pudesse ser desmascarada a qualquer minuto.

— Adivinhou para onde eu a estou levando? — Sebastian a tirou desses pensamentos.

Cassie olhou pela janela. Eles tinham saído da cidade e se dirigiam para a Baía de Kounimai, onde ela sabia que a família Karedes possuía uma propriedade chamada Kionia. Sebastian nunca a levara lá, mas lhe contara sobre a vista fabulosa da faixa sobre o mar que separava Aristo da ilha vizinha de Calista.

— Estamos indo para Kionia? — perguntou ela.

— Sim. Achei que alguma privacidade seria boa para nós. Pedi que Stefanos organizasse um piquenique. Está uma noite agradável, sem muito vento, de modo que poderemos apreciar o pôr do sol.

— Parece adorável — disse Cassie. — Não me lembro da última vez que fiz um piquenique. Sam está sempre me pedindo... — Ela parou subitamente, o coração parecendo que poderia explodir no peito.

Sebastian inclinou a cabeça.

— Sam? O menino que me fez o desenho? Cassie piscou, seu cérebro girando sem controle.

— Ele é... o filho de Angélica — ela finalmente conseguiu gaguejar.

Ele franziu o cenho.

— Pensei que o nome dele fosse Nickolas. A menos que Stefanos tenha se enganado.

— Não, não, está certo. O filho de Angélica se chama Nickolas, mas... ele prefere o segundo nome.

― Como minha irmã prefere Lissa ou Liss em vez de Elissa ― disse Sebastian.

Cassie já podia sentir as costas transpirando com o nervosismo.

― Sim, exatamente.

― Eu contei a ela que encontrei você — murmurou ele.

― Lissa estava estudando em Paris. Veio para o funeral de nosso pai, mas agora está na Austrália, trabalhando para um amigo de Alex, um empresário com o nome de James Black.

― Como ela está? — perguntou Cassie, pensando da adolescência rebelde das duas. Era difícil lembrar quem encorajara quem, mas Cassie suspeitava ter sido a maior responsável.

— Você conhece Lissa — respondeu ele com um sorriso. — Se há uma festa, ela está lá, e é o centro das atrações. Não gostou muito da ideia de ir para Sidney, mas nós todos achamos que seria bom para ela passar um tempo no mundo real. Lissa sempre foi independente demais para o seu próprio bem.

Cassie olhou para as mãos.

— Tenho certeza de que a experiência de trabalhar no exterior será ótima para ela. Quando você falar com sua irmã, diga-lhe que mandei lembranças.

O carro passou pelos portões do esconderijo privado dos Karedes.

— Sem dúvida, Lissa irá contatá-la a qualquer hora — disse Sebastian. — Quando meu pai descobriu sobre os cartões postais que ela lhe enviava, proibiu qualquer contato com você enquanto ele estivesse vivo. Acho que Lissa se sente culpada agora. E provavelmente por isso que ainda não a contatou.

Eu entendo. Nós provavelmente não éramos a melhor dupla. Costumávamos despertar o pior em cada uma. Lissa sempre gostou muito de você.

— Eu ainda gosto muito dela. Tínhamos mais em comum do que Lissa percebia.

Sebastian a olhou com expressão intrigada:

— Como assim? Ela desviou o olhar.

— Crianças de pais famosos têm muito em comum. Somos constantemente perseguidas pela imprensa, e tudo que fazemos ou dizemos é usado contra nós. Lissa e eu estávamos cansadas disso e tentamos viver como adolescentes normais. Mas é claro que nunca conseguimos ser normais, Lissa menos do que eu, uma vez que ela tem o sangue da realeza correndo nas veias.

— Você tem razão — concordou ele. — O peso da responsabilidade não foi fácil para mim também. Mesmo que meu pai não tivesse morrido inesperadamente, eu já sentia necessidade de me acomodar.

Uma onda de dor a percorreu ao lembrar que uma noiva adequada já tinha sido selecionada para Sebastian. Podia vê-lo casado com uma linda mulher, que era tudo que Cassie não era nem poderia ser: graciosa, estudada, com uma reputação imaculada, e à vontade em situações sociais. Sem dúvida, a esposa adequada lhe daria um herdeiro, e talvez mais algumas lindas crianças que seriam parecidas com Sam...

Mesmo se estivesse a quilômetros de distância, como Cassie suportaria isso?

 

SEBASTIAN INSTRUIU o motorista para armar o piquenique em algum lugar isolado perto das tamargueiras que proporcionavam um tipo de abrigo, a pequena distância da residência de férias da família real.

Dentro de minutos, uma mesa coberta por uma toalha de linho estava posta, com copos de cristal, talheres de prata e um arranjo de rosas vermelhas no centro. Os pratos da refeição eram artísticos estimulava o apetite de qualquer pessoa.

Sentaram-se frente a frente, e Sebastian chamou o motorista-garçom para servi-los.

Cassie não estava com fome, mas assim mesmo não pôde resistir. Polvo grelhado, camarões gordos e rosados, uma variedade grande... e para completar, um pudim de caras cerejas.

Ela não provou o excelente vinho, mas sentiu como se tivesse sido transportada para anos da comida repugnante da cadeia, não tinha percebido quanta falta sentia dos prazeres de uma boa refeição.

Sebastian valorizava as coisas de qualidade. Refeições deleitáveis eram consumidas o tempo todo, preparadas por chefs mundiais! Nunca precisara barganhar ou suplicar por prato de comida. Roubar para conseguir um pedaço de pão.

Sebastian se serviu de vinho tinto, sempre com os olhos fixos no rosto de Cassie. Ela permanecia calada durante a refeição, saboreando cada garfada devagar, como se quisesse que os sabores durasse o impossível. Usava os talheres com a graça e pessoa refinada .

― Foi solitário para você crescer sem mãe. ― Falou Sebastian abruptamente.

Ela o fitou com uma expressão misteriosa.

— Não sei se é possível sentir falta de algo que você nunca teve — respondeu Cassie. — Tive uma série de babás que cuidavam de mim quando meu pai estava no trabalho. Eu tinha brinquedos e entretenimento, mais do que muitas crianças.

Sebastian a estudou.

— Você não respondeu a minha pergunta.

Cassie desviou o olhar. Por que ele estava fazendo aquilo? No passado, quase não lhe perguntara sobre sua infância. O caso de amor deles... o caso de sexo... não tivera nada a ver com conhecimento pessoal, concentrando-se em luxúria, proibida e excitante. O medo de serem descobertos fizera parte da carga de adrenalina.

— Suponho que teria sido bom ter mãe... especialmente durante a adolescência — respondeu ela. — Tento não pensar muito nisso. Muitas pessoas não têm mãe e sobrevivem. Eu não sou a única.

— Com certeza, mas você nunca falou sobre sua infância — apontou Sebastian. — Suponho que eu deveria ter sido mais maduro para questioná-la sobre isso no passado.

Cassie suspirou. Tinha passado os anos de sua infância tentando desesperadamente agradar seu pai, sem sucesso. Não se recordava de quando mudara suas táticas e se tornara rebelde com ele. Tudo que se lembrava era das discussões, das brigas violentas que quase sempre acabavam com ela sendo...

— Cassie — soou a voz profunda de Sebastian.

Ela piscou, a mente ainda no seu quarto, com seu pai a olhando com fúria, salivando de raiva, cerrando os dentes de forma audível, erguendo o punho cerrado pronto para atacar...

Um nó se formou em sua garganta, e uma onda de náusea, juntamente com uma tontura tão intensa, a fez pensar que desmaiaria. Respire profundamente, pensou. Há anos não tinha crise de pânico. Sabia como controlá-la. Era preciso somente um pouco de disciplina e foco.

Inspire... expire... inspire... expire...

― Cas?― Sebastian se inclinou para a frente e pegou-lhe as mãos geladas nas suas. — O que houve? Você está pálida de repente.

― Nada. — Ela tentou forçar um sorriso. — Esqueci sobre o que estávamos falando. Estava pensando em outra coisa.

Sebastian franziu o cenho.

― Um pensamento certamente perturbador. Tem alguma coisa a ver com seu tempo na prisão?

Cassie recostou-se e cruzou as pernas. Estava perto de desmoronar, mas somente puro orgulho a fez permanecer no controle.

― Você parece fascinado pela minha vida na prisão. Talvez tenha alguma fantasia sexual com uma ex-prisioneira.

Sebastian sentiu seu desejo por ela aumentar com a força de um terremoto. Um desejo que o sacudia, mas principalmente o desafiava.

Ele a teria.

Teria Cassie novamente para acabar com aquela dor em seu corpo que se recusava a desaparecer. Afinal, não era assim que ela brincara com ele no passado? Provocando-o, enlouquecendo-o, até que Sebastian não pudesse mais tirá-la da cabeça. Tinha tudo sido um jogo para Cassie, mas desta vez, ele jogaria com suas próprias regras.

Sabia como a mente de Cassie funcionava. Ela estava pobre agora. Claro, parecia gostar do trabalho no orfanato, mas a Cassie que ele conhecera seis anos atrás teria empinado o nariz para um emprego mal remunerado. Ele não podia imaginá-la confortando bebês ou trocando fraldas. Uma vez ela lhe dissera que não queria filhos, que pretendia passar a vida se divertindo, desfrutando da riqueza que o pai acumulara.

Sebastian não se importara muito com isso na época. Muitas mulheres ricas pensavam assim. E estivera ciente de seu dever régio, de que chegaria a hora de encontrar uma esposa impecável que lhe daria herdeiros. Nem por um momento considerara Cassie Kyriakis uma candidata.

Então por que nenhuma mulher que conhecera havia se comparado a Cassie? Isso não significava que não existisse uma mulher capaz de satisfazer suas necessidades da mesma maneira, ou melhor. De qualquer forma, apenas tolos românticos acreditavam que existia uma alma gêmea para cada pessoa.

Que bobagem!

— Gostaria de mais um pouco de água? — perguntou Sebastian educadamente.

— Não, obrigada. — Cassie pôs o guardanapo sobre a mesa. — A refeição estava deliciosa.

Houve um longo silêncio, e só o barulho do mar podia ser ouvido.

— E quanto ao café? — ofereceu ele. — Stefanos preparou café e chocolates do lado de dentro. O vento aumentou e o sol já baixou. Você está arrepiada... quer o meu paletó?

Cassie não queria lhe dizer que seu arrepio era de apreensão, e não de frio. Mas antes que pudesse recusar o paletó, Sebastian já estava de pé atrás de sua cadeira, cobrindo-lhe os ombros com as lapelas do tecido com aroma cítrico.

Cassie inalou a fragrância, sentiu o roçar dos dedos dele em suas costas e seu desejo foi despertado imediatamente, deixando-a ciente de que seu coração estava em grande risco de cometer o mesmo erro de seis anos atrás.

Sebastian a escoltou para a residência da família real, uma casa imensa, com vistas magníficas de todos os pontos.

Stefanos não estava em lugar algum, mas Cassie presumiu que ele fora instruído a não aparecer. Imaginou quantas outras vezes Sebastian tinha dado as mesmas instruções a Stefanos enquanto entretinha outras mulheres.

Como se lesse o seu pensamento, ele revelou enquanto entravam no foyer opulento:

― Acho que deve saber que você é a primeira pessoa que trago aqui. Esta é uma casa de férias privada, somente para a família e amigos próximos.

Cassie arqueou a sobrancelha quando ele fechou a porta.

― Então, Sebastian, em que categoria eu me encaixo? Certamente você não me considera uma amiga próxima ou um futuro membro da família real?

Houve um silêncio tenso.

— Considerando nossa história, Cassie, você não é elegível para nenhuma destas posições — replicou ele.

Ela desejou que pudesse revelar a identidade de Sam e fazê-lo perceber o quanto era parte da família real, gostasse ele disso ou não, mas a autopreservação a impediu de fazer isso. Então, deu-lhe um sorriso calculado.

— Estou profundamente honrada, Alteza — murmurou ela fazendo uma reverência. — É realmente um privilégio ser considerada digna de visitar a residência privada da família Karedes, considerando minha procedência de nível tão baixo.

— Sua procedência não tinha nada de vergonhoso até que você decidiu degradar seu pai em cada oportunidade que teve — disse Sebastian. — A opinião pública sobre Theo piorou muito pelo modo como você se comportava.

Vinte e quatro anos de sofrimento ameaçaram vir à superfície, como um vulcão prestes a entrar em erupção, mas de alguma maneira, Cassie conseguiu conter a emoção que sentiu ao lembrar que ninguém conhecera seu pai como ela. Ninguém tinha ouvido as palavras destruidoras que ele lhe falara em seus vários momentos de descontrole. Ninguém vira os ferimentos que as mãos brutas deixaram em seu corpo, sem mencionar outros objetos ao alcance de seu pai.

Sebastian não tinha visto a cicatriz que Theo cravara em suas costas naquele dia fatídico. Era como uma tatuagem de tormento, a marca que seu pai lhe deixara para lembrá-la do controle absoluto que exercera sobre ela, um controle contra o qual Cassie havia lutado durante o tempo todo que o cinto batia cruelmente, ferindo sua pele.

Cassie sentira tanto orgulho por não ter chorado. Cerrara os dentes até achar que eles quebrariam sob a pressão, mas aguentara até o fim.

Esta tinha sido sua vitória.

Seu pai podia culpá-la pela morte prematura da esposa, podia culpá-la por ter sido uma criança carente e insegura, e até mesmo por ter sido uma adolescente rebelde, mas não podia culpá-la por reivindicar por sua vida e pela vida de seu filho. Este fora seu único consolo. Theo não soubera da existência de Sam. Nem mesmo Cassie sabia que estava grávida na época da terrível cena. Se seu pai teria agido diferentemente se soubesse que ela carregava um bebê da realeza, era algo que nunca saberia.

Mas agora Cassie sabia que tinha escolhas, uma delas era permanecer de cabeça fria. A presença de Sebastian dificultava esta tarefa, mas precisava manter uma capa sobre suas emoções, o tempo inteiro e em todos os lugares.

Cassie ergueu os olhos para ele.

— Theo não foi um bom pai — disse ela. — Pode ter sido um prefeito brilhante e um homem de negócios astuto, mas não me amou e me protegeu do jeito que deveria ter feito. Você não o conhecia bem, Sebastian. Julgava-o pelo que seu e outros oficiais do palácio falavam dele. — Seus olhos se encheram de lágrimas subitamente. ― Mas você não o conhecia.

Sebastian suspirou e, dando um único passo, envolveu-a em seus braços. Descansou o queixo no topo de cabeça de Cassie e perguntou-se por que ainda se sentia assim sobre ela. Cassie podia passar de uma mulher fria para uma menininha perdida em segundos. Então, para tornar tudo ainda mais confuso, podia se transformar numa deusa sensual num piscar de olhos, fazendo-o querer beijá-la, sentir o gosto doce e único, a essência do corpo feminino... Ele sentiu a rigidez de seu sexo e imaginou por que ela não se afastara.

Erguendo-lhe o queixo, Sebastian estudou os olhos verdes.

— Você tem razão. Eu não o conheci pessoalmente. Theo parecia muito afável, mas sei, por experiência própria, que o acontece em público nem sempre representa o que acontece em particular.

— Estou com frio — murmurou Cassie, e ele a sentiu tremer.

Sebastian pegou sua mão e a levou aos lábios. Beijou cada um dos dedos delicados.

— Então, vamos entrar e aquecê-la — sugeriu ele, conduzindo-a para o interior da casa.

 

CASSIE ENTROU num estúdio privado que Sebastian abriu um pouco depois, seus sentidos aguçados pelo leve toque dos dedos quentes quando ele removeu o paletó de seus ombros e colocou-o sobre uma cadeira.

Então ele parou à sua frente e pegou-lhe ambas as mãos nas suas.

— Não está com frio agora? Ela meneou a cabeça.

— Não, nem um pouco de frio.

Sebastian levou as mãos à cintura delgada e a puxou contra o seu corpo.

— Eu deveria lhe servir um café — disse ele, fitando-lhe a boca.

Os lábios de Cassie começaram a formigar.

— Deveria? Ele sorriu.

— Você não quer um café neste momento, ágape mou. Cassie respirou fundo, o coração disparando com uma mistura de nervosismo e expectativa.

— Não é exatamente para isso que estou aqui, não é, Sebastian?

Ele segurou-lhe a nuca, os dedos quentes e tentadores em sua pele sensível.

― Você ainda quer negar o que existe entre nós, Cassie?

Como ela poderia negar? Dizer não a Sebastian Karedes nunca fora fácil, muito menos agora. Ambos sabiam que estava lá porque queria estar.

― Não — respondeu Cassie, pondo as mãos no peito largo enquanto lhe encontrava o olhar. — Eu não vou negar.

Ele inclinou a cabeça num assalto lento aos seus sentidos, esperando até que ela abrisse a boca antes de começar a provocá-la com a língua. As pernas de Cassie tremeram no momento que ele aprofundou o beijo, e continuou beijando-a com ardor, até que tudo que ela podia pensar era em como seria tê-lo invadindo seu corpo novamente.

Com mãos frenéticas, Cassie tirou-lhe a camisa de dentro da calça, então, abriu-lhe o zíper e o tocou intimamente. Sebastian gemeu em reação ao toque de seus dedos ao longo da extensão poderosa. Ela brincou com ele, massageando-o, provocando-o, enlouquecendo-o, enquanto se deleitava com o beijo cada vez mais desesperado.

Sebastian murmurou alguma coisa ininteligível quando suas bocas se afastaram, os olhos escuros brilhando com puro desejo, as mãos já levantando sua saia, e os dedos habilidosos procurando pelo sexo de Cassie, por trás da renda fina da calcinha.

Ela tremeu contra os toques insistentes, arqueando as costas até que estivesse gemendo alto, as ondas de liberação reverberando através de seu corpo.

As ondas de reação ainda a abalavam quando ele a pressionou contra a parede mais próxima, parando apenas tempo suficiente para pegar um preservativo do bolso do paletó.

Cassie estremeceu em deleite enquanto o ajudava a vestir o preservativo, a urgência dos movimentos dele construindo seu desejo novamente.

Quase delirou no momento em que a extensão poderosa se introduziu em seu corpo, enviando onda após onda de prazer, a cada investida mais profunda.

Sebastian estabeleceu um ritmo rápido, como se estivesse cavalgando contra uma tempestade que se aproximava, cada movimento do corpo sólido contra o seu levando-a mais perto de um ponto sem retorno. Ela sentiu a excitação se construindo no corpo de Sebastian, a rigidez dos músculos, a respiração ofegante dele, a contorção das feições bonitas quando ele parou por aquele instante infinitesimal, antes de liberar seu prazer, cada investida final acompanhada por um gemido primitivo de profunda satisfação masculina.

Cassie ouviu a respiração ofegante de ambos, enquanto Sebastian a abraçava com força após o ato, perguntando-se como tinha sobrevivido sem a magia dos toques dele por tanto tempo. Seu corpo se sentia abençoado pela possessão quase bruta, mas ela jamais admitiria isso. Não o deixaria pensar que poderia usá-la sempre que lhe desse vontade. Isso apenas a faria sofrer mais com sua partida inevitável da ilha.

O toque do celular dentro da bolsa sobre a cadeira, tirou Cassie de seus pensamentos.

— É o seu telefone? — perguntou Sebastian, liberando-a. Cassie endireitou as roupas no corpo.

— Sim... mas alguém já deixou um recado. Ele franziu o cenho ao consultar o relógio.

— Quem lhe enviaria uma mensagem de texto a esta hora da noite?

Cassie esperou que sua expressão não revelasse o pânico que estava começando a sentir.

― Provavelmente Angélica, a amiga com quem divido a casa. Sem dúvida, ela quer saber onde estou.

― Você contou a ela com quem estava?

― Claro que não — respondeu Cassie, abaixando o olhar.

Sebastian ergueu-lhe o queixo.

― Ninguém pode saber sobre o nosso encontro, Cassie. Espero ainda poder contar com você nisso.

Ela o fitou com ressentimento.

― Realmente acha que eu anunciaria para o mundo que escolhi servir ao futuro rei de Aristo sempre que ele assim o deseja?

Sebastian comprimiu os lábios.

― Você estava comigo nisso o tempo todo, Cassie.

Ela retirou a mão de seu rosto.

— Quero ir para casa.

— Ainda não. Eu ainda não terminei com você.

Sem responder, Cassie olhou para sua bolsa sobre a cadeira.

— Você não vai ler a mensagem? — perguntou ele. Ela umedeceu os lábios.

— Tenho certeza de que não é nada importante... Sebastian andou até a cadeira, pegou a bolsa e estendeu-lhe.

— Por que não checa, para ter certeza?

A hesitação dela fez a desconfiança de Sebastian aumentar. Cassie com certeza estava escondendo alguma coisa. Talvez um amante, apesar de Stefanos não ter descoberto nada em sua investigação. Sentiu uma onda poderosa de ciúme. Não a dividiria com ninguém.

       Observou quando ela abriu o telefone, os dedos tremendo enquanto acessava a mensagem. Os olhos verdes se arregalaram por um momento, antes que Cassie vestisse uma máscara inexpressiva enquanto fechava o telefone e o guardava de volta na bolsa.

— Nada urgente? — perguntou ele, observando-a de perto.

— Angélica não está se sentindo bem. Acho que vou voltar agora para ver se ela precisa de minha ajuda.

Sebastian sabia que ela estava mentindo. Podia sentir isso. Podia ver nos olhos verdes que não sustentavam os seus. Todavia, tinha muito tempo para descobrir a mentira. Oferecera-lhe um caso, o qual começara naquela noite e continuaria enquanto ele quisesse. O que eles haviam compartilhado fora um pequeno gosto do prazer que roubaria de Cassie até que estivesse satisfeito.

— Vou pedir para Stefanos trazer o carro — disse ele e, indo até a mesa, pressionou um botão num sistema de interfone.

Cassie estava sentada ao lado de Sebastian na limusine alguns minutos depois, uma expressão proposital de indiferença no rosto. A mensagem de Angélica dizia que Sam tinha acordado de um sonho ruim e se recusava a voltar a dormir até que a mãe chegasse em casa.

Quando o veículo se aproximou, seu medo aumentou. E se Sam ouvisse o barulho do carro e abrisse a porta da frente? E se estivesse numa crise de nervos agora e seus gritos pudessem ser ouvidos da rua?

A limusine parou do lado de fora da casa.

— Vai me convidar para um café? — perguntou Sebastian, enquanto a ajudava a descer.

Cassie engoliu em seco.

— Está tarde. Eu não quero perturbar Angélica. Ele a estudou por um longo momento.

— Diga à sua amiga que estimo suas melhoras — murmurou e deu um sorriso enigmático.

— Eu... direi. — Cassie virou-se e andou a curta distância até a porta, sentindo os olhos escuros fixos em suas costas.

Cassie entrou em sua casa, e assim que fechou a porta, Angélica apareceu no corredor estreito.

― Sam está bem? — perguntou ela.

Angélica assentiu.

― Ele voltou a dormir logo depois que enviei a mensagem. Espero não ter interrompido alguma coisa mais importante.

Cassie desviou o olhar. Contaria tudo para Angélica em algum momento, mas não estava pronta agora.

― Não — replicou ela, indo em direção ao quarto de Sam.

― Nada importante...

PELA MAIOR parte do dia seguinte, as crianças do orfanato estavam excitadas por causa da festa naquela tarde. Cassie e suas colegas, Sophie e Kara, tiveram dificuldade em acomodar os pequenos para suas sonecas da tarde, e até mesmo as crianças maiores estavam estranhamente agitadas. Sam, por outro lado, estava quieto e obediente.

Quieto demais, pensou Cassie com uma pontada de culpa. O pesadelo dele na noite anterior era o resultado do estado perturbado da mãe durante a última semana? Sam era uma criança sensível e intuitiva. Havia molhado a cama pela manhã, a primeira vez em semanas, e ficara tão envergonhado que tentara esconder a evidência estendendo uma toalha sobre os lençóis quando ela entrara no quarto. Cassie o abraçara e lhe dissera que era perfeitamente normal aquele tipo de acidente, e que ele não deveria se culpar, mas não sentiu que teve sucesso em tranquilizá-lo.

Agora, observou-o entrar na fila para pegar o ônibus que o palácio enviara para as crianças. As pequenas sobrancelhas estavam unidas numa expressão concentrada, fazendo-o parecer-se com Sebastian, mais que nunca. Ela tremeu ao pensar no encontro dos dois. Sebastian veria alguma coisa que ninguém tinha visto até agora? Cassie olhou para as duas filas de crianças; tantas possuíam cabelos e olhos escuros, exatamente como Sam. Seu filhinho não se sobressairia... assim esperava.

Maravilhadas, as crianças ficaram em silêncio ao entrar no palácio alguns minutos depois, e então, num salão incrivelmente decorado. Enormes bexigas coloridas estavam penduradas do teto, as mesas cobertas de delícias... bolos, sorvetes, chocolates... fazendo as crianças arregalarem os olhinhos pela expectativa.

O príncipe-regente foi anunciado por um dos oficiais, e Cassie prendeu a respiração quando Sebastian entrou no salão. Ele a olhou brevemente, antes de voltar a atenção para as crianças, que tinham sido instruídas a se levantarem quando ele entrasse. Ela o observou fazendo um esforço concentrado para deixar seus convidados à vontade. Sebastian logo dispensou a formalidade, e foi de mesa em mesa, abaixando-se e conversando com cada criança, enquanto lhes dava um presente de uma sacola grande que seu criado carregava.

Cassie engoliu em seco enquanto Sebastian se aproximava cada vez mais de Sam. A semelhança notável entre os dois parecia tão óbvia, agora que eles estavam no mesmo cômodo. Óbvia e... apavorante.

Ela permaneceu ali por perto, encontrando os olhos de Sam certo momento e lhe dando um sorriso de encorajamento.

— Olá, qual é o seu nome? — perguntou Sebastian quando se agachou diante da criança ao lado de Sam.

— Eu sou Alexis — a garotinha de 8 anos respondeu com seu usual jeito precoce. — E este é Sam. Vou abrir o presente para ele. Sam provavelmente não vai falar com você, porque é tímido. Ele ainda faz xixi na calça, às vezes.

Cassie sentiu uma pontada de dor com a crueldade impensada de Alexis. O rostinho de Sam ficou vermelho e ele apenas abaixou a cabeça, envergonhado.

― Olá Sam — disse Sebastian. — Eu estava ansioso para conhecer você.

Sam levantou a cabeça.

― Estava? — perguntou num sussurro.

O sorriso de Sebastian foi caloroso.

― Sim! Parece que temos alguma coisa em comum. Nós dois adoramos desenhar. Adorei o desenho que você me enviou. Eu o coloquei na mesa do meu estúdio.

Um sorriso tímido curvou os lábios de Sam.

― Você é muito melhor do que eu era na sua idade — continuou Sebastian, ainda sorrindo. — E não é tão tímido quanto eu era na época. Eu costumava ter medo de conhecer pessoas, mas após um tempo, me acostumei. Tenho certeza de que você também vai se acostumar.

Cassie teve vontade se abraçar Sebastian. Ele não poderia ter falado nada melhor para deixar seu filho à vontade. Sam estava sorrindo agora, a vergonha anterior já esquecida.

Ela esperou que Sebastian se movesse em frente, mas ele permaneceu mais tempo com Sam do que com qualquer outra criança. Cassie prendeu a respiração por tanto tempo que sentiu lágrimas se acumularem nos seus olhos. Piscou para reprimi-las, mas somente quando Sebastian se dirigiu à outra criança, ela relaxou, num alívio apenas temporário.

Sebastian passou pelas mesas até que trocasse algumas palavras com todas as crianças, e o som de risadas infantis e presentes sendo abertos encheram o salão de alegria.

Cassie fizera o possível para evitá-lo, mas agora que o mágico começara sua apresentação, ele se aproximou de onde ela estava parada no fundo da sala.

— O mágico é muito bom, não é? — disse Sebastian, indicando o homem que puxava um lenço longo da orelha de uma das crianças.

Cassie olhou para o mágico.

— Sim, ele é.

— As crianças estão encantadas — murmurou ele após um momento. — Estou muito satisfeito pelo sucesso desta tarde.

— Sim, você fez algo muito especial por elas.

Um silêncio se estendeu por alguns segundos tensos.

— Eu quero vê-la esta noite novamente, Cassie. Desviou os olhos dos dele.

— Eu não posso esta noite... alguma coisa surgiu. Tenho certeza que você entende como...

— O que entendo, Cassie, é que quero continuar a nossa relação — interrompeu ele com um olhar intransigente. — Por enquanto, pelo menos.

Cassie umedeceu os lábios, olhando onde as crianças estavam sentadas, parecendo hipnotizadas pelo mágico.

Sebastian pegou-lhe o braço e a conduziu para longe da visão das mesas.

— Ouça, Cassie. Desta vez serei eu quem dirá quando o nosso caso vai acabar.

Ela enterrou as unhas na mão forte que rodeava seu pulso.

— É muito perigoso. Você não pode ver isso? Ontem à noite foi um erro. Nós não deveríamos estar juntos. Acabou, Sebastian. Acabou muito tempo atrás.

— Mamãe? — Uma voz infantil soou atrás de Sebastian. Mamãe?

Sebastian virou-se para ver o garotinho de cabelos escuros, chamado Sam, que estava mordendo o lábio enquanto olhava para Cassie.

— Mamãe, preciso ir ao banheiro, mas não sei onde é. Você pode me levar?

Sebastian sentiu um arrepio percorrer sua coluna, como gelo derretendo lentamente. Olhou para Cassie.

― Você é a mãe de Sam? — perguntou com uma voz que não parecia sua.

Ela estava completamente pálida.

— Eu... eu ia lhe contar...

Sebastian franziu o cenho enquanto refletia. Deus, Cassie tinha um filho. De alguma maneira, isso doía mais do que deveria. Como ela mantivera aquilo em segredo? Por que lhe dissera que a criança era da mulher com quem dividia a casa?

Sebastian olhou para o menininho de novo, seu peito subitamente comprimido, como se um enorme peso tivesse sido colocado ali e lhe tirado o ar dos pulmões. Não conseguia respirar. Não conseguia falar. Permaneceu imóvel, em estado de choque.

Cassie tivera um filho enquanto estava na prisão, uma criança que se parecia muito com ele. Cabelos pretos, grossos e cacheados, olhos castanhos-escuros, pele cor de oliva e um corpinho delgado.

Ele tinha um filho.

Um filho que fora mantido em segredo até agora. Cinco anos haviam se passado, nos quais cada minuto da vida de seu filho lhe fora roubado. Quantas coisas importantes ele perdera? Quando Sam tinha dado seu primeiro passo? Falado a primeira palavra? Pelo amor de Deus, Sebastian nem sabia em que dia seu filho havia nascido! Cinco aniversários nos quais não estivera presente para comemorar.

— Desculpe, mamãe — murmurou Sam com a voz tremendo enquanto olhava de um para o outro. — Eu tentei segurar, mas tomei dois copos de limonada. Estou encrencado?

— Não... é claro que não, querido — disse Cassie, envolvendo o menino num abraço. — Você não está encrencado. Pode tomar quanta limonada quiser.

Sebastian observou quando Cassie endireitou o corpo, finalmente encontrando-lhe os olhos. Ele pensara que a odiara pelo que ela havia lhe feito antes, mas isso era muito pior. Mantivera seu filho em segredo. Por quê?, perguntou-se. Planejara destruir a família Karedes com uma declaração para a imprensa na hora certa? Sebastian a encarou.

— Nós precisamos conversar — ele conseguiu falar, mesmo com o nó que se formara em sua garganta.

— Não aqui. — Cassie abraçou a criança de forma protetora. — Não agora.

Ele cerrou os punhos e tentou manter o controle sobre suas emoções enquanto a via levar Sam embora. Sentia uma dor tão intensa que parecia consumi-lo.

Precisava pensar, e pensar rapidamente. A festa estava quase acabando. Necessitava levar Cassie para algum lugar seguro, onde pudessem discutir aquilo. A raiva o assolou pela maneira como Cassie mentira, repetidamente. Entregara-se a ele na noite anterior, enquanto ainda guardava o segredo. Isso o deixava mais furioso do que qualquer outra coisa. Cassie tinha concordado com um caso amoroso para que quando jogasse a bomba, Sebastian fosse a pessoa que pagaria o maior preço. Ora, ele já havia pago o preço mais alto. Ela se certificara de mantê-lo na ignorância de uma criança de seu próprio sangue.

Sebastian reprimiu a raiva e pensou no garotinho encantador. Seu filho. As palavras ainda soavam estranhas na sua língua, uma vez que não esperara dizê-las por muitos anos ainda. Mas não havia dúvida de que o menino era seu. Ninguém mais podia ver isso? Alguém tinha visto? Ele pensara que a notícia sobre o diamante Stefani seria devastadora, mas nem chegava perto disto.

Sam era a sua imagem viva. Não era de admirar que Sebastian fora atraído como um ímã pelo garotinho. Devia ter sentido uma conexão quase visceral.

Seu coração disparou ao ver Cassie e Sam se aproximando.

A criança obviamente havia percebido a atmosfera; o queixo tremia e lágrimas brilhavam nos olhos escuros. Quantas vezes Sebastian se comportara exatamente assim, agarrando--se à mãe, choroso, tímido e como medo?

― Minha mamãe está en... encrencada? — gaguejou Sam, olhando para Sebastian. — Ela não vai ser levada embora de novo, vai?

Sebastian sentiu um aperto insuportável no coração. Agachando-se, pôs uma mão no ombro magrinho do menino.

― Ninguém vai levar sua mãe embora, Sam — disse ele― mas eu preciso conversar com ela. Você gostaria de ir com mamãe para o meu esconderijo especial por alguns dias? Já viajou de férias antes?

Sam meneou a cabeça solenemente.

— Não.

Sebastian sorriu e bagunçou-lhe os cabelinhos.

— Então está na hora de fazer isso. Vou arranjar estas férias imediatamente.

Cassie pigarreou.

— Desculpe, mas eu não quero...

Ele endireitou o corpo e a olhou fixamente, sussurrando para que Sam não pudesse ouvir:

— Não fale comigo até que estejamos sozinhos. Você tem muitas explicações a dar, e prepare-se para oferecer uma boa explicação, ou juro que não vai gostar das consequências.

Cassie estremeceu diante da raiva evidente na voz dele. Seus joelhos batiam um no outro, enquanto ela tentava controlar o ritmo descompassado de seu coração. Apesar do que Sebastian dissera para Sam, ele poderia facilmente tirá-lo da mãe. Seria a vingança perfeita. Ela lhe negara conhecer o filho durante os primeiros cinco anos da vida da criança. Que melhor maneira de feri-la do que tirar-lhe Sam indefinidamente? Cassie acabaria como Angélica, sobrevivendo com um coração vazio por um filho perdido que provavelmente nunca mais veria.

Ela observou em desespero quando Sebastian se aproximou de Stefanos, trocou algumas palavras com o criado, antes de voltar para onde Cassie e Sam estavam parados.

— Você e Sam serão imediatamente levados para Kionia — anunciou ele num tom que não aceitava recusa. — Irei contatar o orfanato e dar uma desculpa por você e Sam não retornarem.

Os olhos de Cassie brilharam com lágrimas, mas ela manteve a boca fechada. Podia sentir o tremor nos ombros do seu filho sob suas mãos, e não queria assustá-lo ainda mais.

— Ma... mamãe?

— Está tudo bem, Sam — ela o tranquilizou, acariciando-lhe os cabelos com uma mão trêmula. — Eu não vou abandonar você.

Sebastian lhe deu um olhar de desafio antes de agachar-se para falar com Sam.

— Minha antiga babá estará na casa — murmurou ele. — Ela vai cuidar de você nos momentos que mamãe não puder. Ela é adorável, igualzinha uma avó.

— Eu não tenho uma avó — disse Sam, mordendo os lábios. Sim, você tem, pensou Sebastian. Sua mãe não receberia bem aquela notícia. Ela amaria Sam. Não estava em sua natureza agir de outra forma, mas aceitar Cassie Kyriakis era outra história.

Ele se levantou para se dirigir a Cassie mais uma vez:

— Stefanos vai acompanhá-la até sua casa, para que você pegue as coisas essenciais, mas é imperativo que você não fale com ninguém.

― Mas e quanto à Angélica? Não posso ir embora sem nenhum tipo de explicação.

Sebastian a estudou.

― Angélica sabe sobre isso?

― Não, eu nunca lhe contei.

― Alguém sabe? — questionou Sebastian, tentando manter o tom de voz baixo. — Alguém no orfanato?

Ela umedeceu os lábios secos.

― Todos sabem que ele é meu filho, mas não sabem quem é o pai. Eu juro que ninguém sabe.

Sebastian pensou se deveria acreditar. Ela já lhe contara tantas mentiras que dificilmente poderia ser de fato confiável.

— Eu a vejo esta noite, depois que você colocar Sam na cama — disse ele. —Tenho alguns compromissos agora, mas Stefanos irá cancelar os dos próximos dias.

Ele já avisara Stefanos que ela poderia tentar escapar com a criança. Tinha instruído seu criado para mantê-la trancada até o seu retorno. Não arriscaria nada àquele ponto. Com poucas palavras para a imprensa, Cassie seria capaz de fazer uma fortuna e arruinar sua coroação para sempre.

A única questão que o perturbava era por que ela ainda não fizera isso.

 

CASSIE ANDAVA pelo estúdio, onde Stefanos a instruíra para esperar Sebastian. Sam estava dormindo, exausto, mal resistindo ao sono quando Eleni, a babá idosa, porém competente, dissera-lhe que cuidaria dele enquanto a mãe estivesse no andar inferior.

Os nervos de Cassie estavam à flor da pele. Sentia-se agitada e irrequieta, e as paredes imponentes da casa luxuosa pareciam uma prisão novamente. Sua agonia anterior havia se transformado em raiva. Ele estava fazendo aquilo de propósito? Obrigando-a a esperar, lembrando-a de que possuía o poder nas mãos para fazer o que bem entendesse?

A porta se abriu de repente e ela se virou.

— O que você acha que está fazendo me trancando neste lugar? — questionou Cassie assim que Sebastian entrou.

Então percebeu que sua raiva era pequena se comparada à dele. Jamais o vira tão furioso antes. O corpo másculo estava rígido de tensão, as mãos cerradas, uma pulsação errática batendo visivelmente no pescoço.

— Sua vadia mentirosa — gritou ele com agressividade. Cassie deu um passo atrás, a voz presa na garganta.

Ele se aproximou, tanto que ela teve de lutar contra cada instinto para não se encolher.

― EU não pensei que você pudesse descer tão baixo, usando uma criança inocente para cobrir cada uma de suas mentiras desprezíveis.

Ela engoliu em seco, enquanto uma onda de culpa a inundava.

― Foi tudo um jogo para você, não foi? — perguntou Sebastian quando ela não falou.

Cassie fechou os olhos para tentar escapar daquela fúria.

― Olhe para mim!

Ela abriu os olhos, seu corpo inteiro começando a tremer.

— Não foi assim...

― Como foi, então? — perguntou ele. — "Aqui está o desenho de um pequeno órfão" — acrescentou, imitando a voz dela. — Deus, eu poderia sacudi-la.

Cassie mordeu o interior da própria boca até sentir o gosto de sangue.

— Você mentiu para mim inúmeras vezes. Como pôde usar uma criancinha inocente para cobrir suas mentiras?

— Eu sei... — gaguejou ela. — Sinto muito... Sebastian estreitou os olhos.

— Você sente muito! Sente muito por ter se esquecido de mencionar que teve um filho meu cinco anos atrás, mas agora está tudo resolvido? — Ele passou uma das mãos pelos cabelos. — Deus, dê-me forças.

— Eu tentei lhe contar... mas você não respondeu à minha carta.

Ele franziu o cenho.

— Carta? Que carta?

— Eu lhe escrevi uma carta assim que descobri que estava grávida. Quando você não respondeu, presumi que não estava interessado em ouvir o que eu tinha a lhe contar. Não tentei de novo. Era muito perigoso, de qualquer forma. Eu não podia escrever que estava carregando seu filho... todas as cartas eram lidas. Ele a olhou.

— Você continuou escondendo isso de mim até a hora perfeita para esta revelação, certo, Cassie? Faltam apenas algumas semanas para a minha coroação como rei. Não poderia ter escolhido um momento mais efetivo.

— Não, isso não é verdade — replicou ela. — Eu não ia lhe contar em momento algum. Sam e eu vamos embora assim que expirar o prazo de minha liberdade condicional. Eu... já comprei as passagens.

Um silêncio ameaçador se seguiu.

— Então... deixe-me entender melhor — disse ele, prendendo-lhe o olhar. — Você ia levar meu filho embora da ilha sem nunca me contar sobre a existência dele, correto?

Parecia horrível quando colocado daquela forma, pensou Cassie.

— Eu achei que seria melhor assim. Você está prestes a ser rei. Pensei que a última coisa que gostaria de saber era sobre um criança ilegítima.

— É assim que você o chama... uma criança ilegítima? — perguntou Sebastian com ironia. — Nunca houve amor, houve, Cassie?

Ela ergueu o queixo.

— Eu amei você. — Eu o amo.

A risada amarga de Sebastian ecoou na sala.

— Oh, sim, eu me recordo agora. Você alegava me amar, mas abria as pernas para qualquer um que aparecesse.

— Não era assim — defendeu-se ela num sussurro. — Nunca houve mais ninguém.

Ele se aproximou, os olhos escuros emitindo faíscas de raiva.

― Não há fim para as suas mentiras? Acha que eu acredito em você?

Cassie sentiu como se uma mão fria estivesse apertando seu coração.

― Eu só lhe disse isso de um modo que pudesse terminar nosso relacionamento. Tive medo...

— Do quê?

― De... de como as coisas eram entre nós — disse Cassie, incapaz de sustentar o olhar de Sebastian.

— Eu não acredito numa palavra que saia de sua boca — declarou Sebastian. — Você é tão mentirosa quanto seu pai dizia. Fui tolo em pensar o contrário. Por anos, pensei que ele falasse mal de você para servir aos seus próprios fins, mas depois disso, percebo que tudo que Theo disse era verdade. Você não tem consciência, nenhum senso moral do que é certo. Mentir é sua segunda natureza.

Cassie não respondeu. Sentiu seu mundo começar a desmoronar novamente. Estivera muito perto de lhe contar como seu pai tinha sido, e agora Sebastian não acreditaria. A dor que ela sentia era maior do que poderia supor. Era como se sua vida, todo seu sofrimento e desespero, fosse uma fantasia criada para protegê-la.

Não havia sido sempre assim? Todos acreditando no seu pai, mesmo agora que ele estava morto? Cassie não tivera ninguém para defendê-la no passado, e não teria no futuro.

― Você sabia que estava grávida quando terminou nosso relacionamento? — perguntou ele, olhando-a com fúria.

― Não. Eu só descobri depois que estava na prisão. Fiz um check-up médico, e exame de gravidez era procedimento padrão. O resultado deu positivo. Fiquei chocada. Eu nem sabia que era possível engravidar enquanto tomava pílulas.

Sebastian ouviu a angústia por trás das palavras e sentiu sua raiva enfraquecer. Cassie tinha 18 anos na época. Claro, agira de modo inaceitável, mas descobrir que estava grávida na cadeia devia tê-la abalado muito.

— Foi quando eu lhe escrevi — continuou ela, os olhos marejados —, pedi que você fosse me ver. Não achei que seria apropriado lhe contar de qualquer outra maneira, exceto pessoalmente.

— Eu não recebi esta carta — disse ele, pensando se deveria acreditar nela. Cassie era tão boa em mentir que já começava a tocar o seu coração. O que ela esperava conseguir, Sebastian não sabia ao certo. Talvez uma grande soma de dinheiro para impedi-la de ir à imprensa, mas se ele pagasse, como poderia ter certeza de que Cassie não o enganaria? Ademais, queria reconhecer Sam como seu filho. Aquele menino merecia muito mais do que recebera da vida até agora.

Sebastian sentiu a raiva retornar ao pensar em seu filho nascendo numa prisão, em vez de no palácio ao qual pertencia. Ficou mal ao pensar que criminosos e pessoas que desobedeciam à lei conheciam Sam melhor que ele.

— Você não acredita em mim, acredita? — questionou Cassie amargamente.

Ele hesitou tempo demais para que sua resposta fosse convincente.

— Só posso dizer que se uma carta foi enviada, eu não recebi. Alguém deve tê-la interceptado e a destruído.

— Seu pai?

Sebastian considerou essa hipótese por um momento.

— Eu não gostaria de considerá-lo responsável por um ato como este, mas não tenho como provar o contrário.

— Então você prefere acreditar que sou capaz de mentir do que manchar o nome do seu pai com suspeitas?

Ele praguejou.

― Cassie, você não fez outra coisa senão mentir para mim desde o momento que nos conhecemos. Se eu tenho dificuldade de acreditar em você agora, então culpe a si mesma.

Lágrimas brilharam nos olhos verdes.

― Por favor, não tire Sam de mim — suplicou ela. — Ele não aguentaria, eu sei que não. Por favor... não o leve para longe...

Sebastian tentou endurecer o coração, mas era impossível. Ela claramente amava o filho e enfrentara um verdadeiro inferno para mantê-lo.

― Eu não vou fazer isso — murmurou ele com voz rouca. ― Posso ver que Sam a ama tanto quanto você o ama. Quero apenas algumas respostas, e quero, uma vez na vida, sua honestidade. Certamente me deve isso?

— Não tenho certeza se posso confiar em você — disse Cassie. — Trouxe-me para cá contra a minha vontade e me trancou aqui. Eu não suporto isso.

— Não há outro jeito. Eu não posso deixar que esta informação vaze para a imprensa.

— Isso é tudo que lhe importa? — questionou ela. — O que, as pessoas vão pensar?

— Ora, Cassie, eu não me importo com o que as pessoas pensam. Estou tentando proteger Sam. Ele é totalmente inocente em toda esta história. Perdi cinco anos da vida de meu filho. Como poderei recompensá-lo um dia? Por onde eu começo?

Cassie se sentiu envergonhada por não ter considerado os sentimentos de Sebastian no presente. Ele tinha acabado de descobrir a existência de Sam. A chance de estar ao lado do filho fora roubada. A mesma chance tinha sido roubada de Cassie durante o último ano de sua sentença judicial, deixando-a arrasada. Quão pior ele poderia estar se sentindo por não saber que era pai até agora?

— Eu não contei a Sam que você é o pai dele — murmurou ela no silêncio doloroso.

— Planejava contar-lhe em algum momento?

— Como eu poderia? — disse ela num sussurro trêmulo.

Sebastian passou uma das mãos pelos cabelos. Suas emoções estavam um caos. Cada célula de seu corpo sofria com o conhecimento de que ela havia dado à luz ao seu filho sozinha. E se alguém tivesse interceptado a única tentativa de Cassie de contatá-lo? Como poderia culpá-la por não tentar novamente, uma vez que ele não respondera à carta? Até mesmo a melhor amiga de Cassie, sua irmã Lissa, abandonara Cassie obedecendo a ordem do pai deles.

E então havia Sam, o pequeno e tímido Sam que parecia esperar que a qualquer momento alguém destruísse seu mundo cuidadosamente construído. A mãe era tudo para o garotinho, sua âncora, como fora a mãe de Sebastian para ele. Como assumir o controle de tudo sem considerar o efeito que isso teria em seu filho adorável?

— Ele precisa saber — declarou Sebastian. — Eu gostaria de ser a pessoa a lhe contar.

Cassie o fitou com expressão preocupada.

— Você quer reconhecê-lo como seu filho?

Ele posicionou o punho fechado contra o coração.

— Ele é meu filho, Cassie. Você realmente acha que eu o rejeitaria?

— Não... apenas pensei que com a coroação e tudo o mais...

— Isso não é importante agora — disse ele. — Eu quero passar as próximas semanas conhecendo-o. Preciso tomar uma decisão quanto ao futuro de Sam, assim como em relação ao meu próprio futuro.

― Eu não estou lhe pedindo que abra mão do trono — esclareceu Cassie. — Jamais pediria isso de você.

Sebastian a estudou por um longo momento.

― Por que você concordou em ter outro caso comigo? Sabia que eu era pai dele... Para que mergulhar no perigo, envolvendo-se comigo novamente?

Ela mordiscou os lábios e abaixou o olhar.

― Eu sabia que era perigoso, mas...

— Mas?

Cassie ergueu os olhos para ele.

— Eu não pude evitar.

Sebastian esperou que aquilo não fosse mais uma mentira. Ela aparentava estar exausta, pálida e frágil, nada parecida com a Cassie audaciosa do passado. Estava se encolhendo de medo desde o instante em que ele entrara na sala, o que o fazia questionar...

— Você se importa se eu for dormir? — pediu ela, pressionando o ponto entre os olhos. — Estou com uma dor de cabeça terrível.

— Eu não sabia — murmurou ele, preocupado. — Vou pedir que Stefanos lhe mostre seu quarto. É ao lado do quarto de Sam e perto do meu, se você precisar de alguma coisa durante a noite.

— Obrigada.

— Cassie?

Ela virou-se para fitá-lo, os olhos verdes opacos e inexpressivos.

— Sim?

— Obrigado por não ter se livrado dele. Você tinha muitas razões para fazer isso, mas não o fez.

— Eu jamais poderia — respondeu ela quase com ferocidade. — Aborto ou adoção nunca foi uma opção para mim. Cresci sem conhecer minha mãe, e existe um vazio na minha vida por causa disso. Eu não suportaria que meu filho sofresse o mesmo.

Sebastian podia sentir a dor contida naquelas palavras. Como não vira isso sobre Cassie antes? Mas então, os encontros clandestinos deles tinham sido sempre para satisfazer um desejo físico intenso, e não para descobrir detalhes íntimos da vida do outro.

Subitamente percebeu que contara ainda menos sobre sua vida para Cassie. Não havia compartilhado sua frustração pela autoridade de seu pai. Nem falado sobre o senso de dever, que às vezes era como um fardo. Simplesmente apreciara um caso ardente com ela, não pensando em nenhum momento que Cassie fosse mais do que uma garota para diversão.

Podia ver como ela estava frágil agora, passando os dedos nervosos nos cabelos louros, o que despertou cada instinto seu de envolvê-la nos braços e confortá-la.

— Cassie. — Ele tocou-lhe o braço de leve, mas ela se encolheu como se Sebastian a tivesse esbofeteado.

— Eu não quero mais conversar. Estou cansada, e minha cabeça parece que vai explodir. Se existe alguma compaixão em você, deixe-me ir para a cama.

Ele prendeu-lhe o olhar por um longo momento antes de suspirar.

— É claro — disse Sebastian, e abriu a porta. — Kalinichta, Cassie.

Ela não respondeu, o que ele já esperava, mas desapontou Sebastian da mesma forma. Viu a sombra nos olhos cor de esmeralda e soube que ajudara a colocá-las lá. Agora queria saber como as removeria.

 

CASSIE NÃO tinha certeza do que a acordara cerca de uma hora depois. O silêncio, provavelmente, pensou enquanto se levantava para ir checar Sam, que dormia no quarto ao lado. Após anos na prisão, a quietude da noite ainda a perturbadora.

Abriu a porta do quarto de Sam suavemente, mas parou de modo abrupto ao ver quem estava ao lado da cama, segurando uma das pequenas mãos de Sam na sua.

— Está... está tudo bem? — perguntou Cassie num sussurro. Sebastian pôs a mãozinha de Sam debaixo das cobertas.

— Sim. Eu só vim dar uma olhada nele antes de ir dormir. Cassie esperou até que eles saíssem para o corredor antes de falar.

— Você ainda não foi para a cama? Já passa da meia-noite. Ele esfregou uma das mãos no rosto.

— Eu precisava cuidar de algumas coisas. Como está sua dor de cabeça?

A preocupação genuína na voz de Sebastian fez a pele de Cassie formigar de desejo. Assim como o fato de estar diante dele com uma camisola fina, coberta apenas por um penhoar.

— Passou... quase.

Ele ergueu uma mão e gentilmente afastou-lhe os cabelos do rosto, o toque tão leve que a fez tremer. Cassie permaneceu imóvel, sem respirar, sem pensar... apenas sentindo.

— Você quer um drinque ou alguma coisa? — ofereceu Sebastian, pondo a mão no bolso, como se estivesse arrependido de tocá-la. — Eu ia descer para preparar um.

Ela arqueou as sobrancelhas.

— Você prepara seus próprios drinques?

— Às vezes. Só porque vou dormir tarde, não significa que meu staff precisa ir também.

— Sam chamou? — perguntou Cassie enquanto ele a conduzia para o andar de baixo.

— Não, ele não chamou — replicou Sebastian. — Eu só queria me sentar com ele.

— Oh...

Ele encontrou os olhos de Cassie.

— Tenho o direito de me sentar com ele, não tenho?

— É claro... Eu não quis sugerir...

Ele abriu a porta de uma das salas, ainda olhando-a.

— Não há dúvida sobre a minha paternidade, há, Cassie? Cassie sentiu como se tivesse levado um tapa no rosto.

— Não. Não há a menor dúvida.

— Sob essas circunstâncias, o protocolo da realeza pode exigir uma prova.

Ela o fitou, seu coração se contraindo com a falta de confiança que podia ver nos olhos dele.

— Sem problemas — replicou Cassie, andando para o meio da sala. — Eu não tenho nada a esconder.

— Ah, mas isso não é verdade, é, Cassie? — Ele se aproximou. — Você é bastante adepta a esconder coisas de mim.

Cassie deu um passo atrás.

— Eu falei que tentei lhe contar sobre Sam...

― Não estou falando somente sobre Sam.

Os olhos dela foram automaticamente para a porta.

― Sobre... o que está falando, então?

― Sobre o que você acabou de fazer. Sobre esta sua tendência a desviar os olhos como se tivesse medo que eu a atacasse. Pensei que isso se devesse ao que você passou na prisão, mas esta noite estive refletindo, e percebi que já vi esta sua expressão de medo antes.

Cassie endireitou os ombros com esforço.

― Você tem um comportamento ameaçador às vezes, Sebastian.

― Eu nunca levantei a mão em raiva — disse ele. — Você sabe disso. Já lhe dei algum motivo para pensar o contrário?

— Não... é claro que não.

Parecendo satisfeito com a resposta, Sebastian serviu um suco de laranja para Cassie e um conhaque para si mesmo.

— Você teve tempo de dar uma olhada ao redor hoje? — perguntou ele, entregando-lhe o copo. — Ocorreu-me que eu não lhe mostrei a propriedade da última vez que estivemos aqui.

— Não realmente. Eu quis passar o tempo acomodando Sam... ele estava um pouco nervoso sobre vir para cá. Além disso, preferi evitar os criados, pois eu não sabia que informações eles têm sobre Sam e eu, portanto ficamos no quarto.

— Eleni, Stefanos e a governanta que trabalha aqui há muitos anos, sabem que é meu filho, porém, ninguém mais — esclareceu Sebastian. — Eu levarei Sam para um tour amanhã, para que se sinta mais seguro. Tome seu suco e vou lhe mostrar este andar. Acho que você vai gostar das vistas.

Cassie o seguiu para a próxima sala, onde a vista para o mar de grandes janelas era deslumbrante, especialmente à luz prateada do luar. Luzes de balsas de passageiros para Grécia ou Turquia podiam ser vistas a distância.

— Deixe-me lhe mostrar a vista de uma das salas do lado leste — disse Sebastian. — Você pode ver o Porto de Áquila em Calista.

Cassie o seguiu para outra sala, onde havia mesa e cadeiras para o café da manhã e jantares informais, assim como um sofá de aparência confortável. Ele estava certo sobre a vista, pensou ela ao olhar para o mar agitado abaixo.

— Como vê, é um lugar muito privado —murmurou Sebastian ao seu lado. — Os penhascos e pedras abaixo impossibilitam que alguém acesse o terreno dos três lados da costa.

Cassie podia sentir o calor do corpo dele parado tão próximo, e o timbre profundo da voz era quase como uma melodia.

— É muito lindo aqui. E certamente muito privado, como você diz.

— A privacidade é mais valiosa do que você imagina para pessoas como nós. Na verdade, é inestimável.

Cassie ouviu a melancolia na voz dele e virou-se para olhá-lo.

— Você não parece muito ansioso para ser coroado rei e tudo mais que isso representa.

Ele desviou os olhos da paisagem para fitá-la.

— Não, isso não é verdade. Estou bem preparado para esse papel, e tenho esperado ansiosamente por isso a maior parte de minha vida, mas às vezes... — Sebastian parou e deu de ombros.

— Às vezes? — incentivou Cassie. Ele desviou o olhar.

— Venha. Acho que você vai gostar da biblioteca e da sala de música. Ainda toca piano?

— Não vejo um piano há anos — replicou Cassie enquanto ele a levava para outra sala na ala oeste da casa. — Eu não era muito boa, de qualquer forma. Só tocava porque meu pai for...quero dizer... achou que ter alguma proficiência nas artes era parte essencial para o crescimento de uma dama.

Sebastian abriu a porta da sala de música, notando como ela tropeçara na escolha das palavras. Ele respirou fundo, e a mistura do perfume de jasmim de Cassie com sua colônia cítrica provocou uma série de memórias do passado.

― Toque alguma coisa para mim — pediu Sebastian, fechando a porta. — Algo que combine com seu humor atual.

Ela o olhou por um momento, antes de pousar os olhos no piano branco.

― Não sei se me lembro de alguma coisa de ouvido.

Sebastian observou quando ela circulou o instrumento, como um oponente cauteloso encarando um adversário temível.

― O piano não vai mordê-la se você tocá-lo, Cassie.

Ele esperou que ela se sentasse no banquinho, então levantou a tampa para que o som pudesse reverberar pela sala espaçosa.

Cassie abriu e fechou os dedos, sua pulsação acelerada. Detestava tocar piano na frente de audiência. Tinha tocado apenas uma vez para Sebastian, e fora totalmente por acidente. O apartamento que ele pedira emprestado de um amigo para os encontros secretos dos dois tinha um velho piano desafinado, e, chegando mais cedo do que ele um dia, Cassie se sentara e começara a tocar uma música para experimentar o piano. Levara alguns minutos antes de perceber que Sebastian estava encostado contra a porta de madeira, olhando-a fixamente enquanto ouvia...

Cassie afastou os pensamentos do passado e começou a tocar agora, hesitante no começo, como uma criança em seu primeiro exame ao piano. Precisava se lembrar que seu pai estava morto. Ele não podia bater em sua mão com uma régua se ela errasse uma nota. Não podia gritar do outro cômodo, criticando sua técnica. Nem poderia entrar na sala e fechar a tampa do piano com tanta violência, que ela quase perdia o controle intestinal da maneira mais humilhante possível.

Não, ele devia estar apodrecendo no inferno, o local a que pertencia. Lágrimas de repente nublaram sua visão, mas ela continuou tocando, deixando a emoção fluir enquanto pensava em tudo que tivera nas mãos e jogara fora, como migalhas de pão para as gaivotas aninhadas nos penhascos abaixo das janelas.

Sebastian se descobriu hipnotizado. Não era apenas a música que era profundamente triste, mas também a expressão no rosto perfeito de Cassie. Ele estava perto o bastante para ver lágrimas escorrendo pela face dela, como se a música a tivesse tocado de maneira inesperada.

Ela nunca chorara na sua frente no passado, não abertamente pelo menos. Tendo crescido com irmãs, Sebastian estava acostumado a lágrimas femininas, e entendia as mudanças de humor que os hormônios causavam nas mulheres. Mas aquele era um lado que nunca tinha visto em Cassie. Ela sempre fora tão controlada emocionalmente. Não parecia mais a mesma. Agora, estava mais quieta, observadora e profunda.

Cuidado, avisou a si mesmo quando outra nota ao piano arrepiou os pelos de seu braço. Ela não seria para sempre; era somente para agora. Precisava lembrar-se disso, mesmo se uma parte sua gostaria que as coisas fossem diferentes. Não teria sido o primeiro membro da família real a se casar com uma plebeia, mas o passado de Cassie tornava tal aliança impossível. Por isso sentia aquele aperto na garganta?

Ela estava tão linda sentada ali, os dedos longos dançando sobre as teclas enquanto sua confiança aumentava. Ele reconheceu a sonata de Beethoven, mas subitamente Cassie errou uma nota e parou de modo brusco.

— Cassie? — Ele se aproximou.

Ela se levantou, o banco do piano quase caindo em sua afobação.

― Desculpe — murmurou Cassie sem olhá-lo. — Eu nunca fui boa nesta música em particular.

Sebastian tirou um lenço limpo do bolso e gentilmente secou as lágrimas no rosto de Cassie.

― Acho que você tocou lindamente, Cassie. Eu não sabia que tinha tanto talento. Mais um segredo que guardou de mim.

Os olhos cor de esmeralda se inundaram de lágrimas novamente, mas antes que ele pudesse se mover, ela tirou-lhe o lenço da mão.

― Posso ir a algum toalete para me refrescar?

Sebastian sentiu o nó em sua garganta se apertar mais. Cassie o estava evitando. Por quê? Por que ele testemunhara mais do que ela queria mostrar? Tantas coisas começavam a fazer sentido, como um quebra-cabeças que não pudera ser solucionado por falta de uma peça. Ele precisava saber mais, porém, instinto lhe dizia que forçar não era o caminho. Se o que Cassie tinha dado a entender fosse verdade, e Sebastian suspeitava que era, então ela precisaria de tempo e gentileza para se sentir segura, antes de revelar tudo sobre o seu passado.

— Claro — disse ele, e a conduziu para fora da sala de música até a escadaria. — Há um banheiro de hóspedes no próximo andar, segunda porta à direita. Fique à vontade.

Ela deu um sorriso que parecia quase doloroso.

— Obrigada.

Sebastian suspirou enquanto Cassie subia a escada, o perfume de jasmim provocando seus sentidos muito tempo depois que ela desaparecera de sua visão...

 

CASSIE SE encostou contra a porta do banheiro e lentamente deslizou para o chão, descansando a cabeça nos joelhos e dando vazão às emoções.

A quem estava enganando? Como poderia esperar estar na presença de Sebastian depois da noite anterior e não se sentir vulnerável? Esteve vulnerável à presença de Sebastian Karedes desde o começo. Todavia, agora era muito pior. Ele estava começando a ver coisas que ela tanto quisera esconder Sentia isso nos olhos escuros observadores, como se ele estivesse tentando montar um quebra-cabeça complicado.

Cassie quase riu quando se levantou. Um enigma, exatamente o que ela era. Ninguém poderia entendê-la, porque era assim que queria. Que alternativa possuía, de qualquer forma? Quem iria lhe dar crédito agora?

Uma batida à porta quase a fez saltar de susto.

— Cassie? — A voz de Sebastian soava preocupada. — Você está bem?

Ela assoou o nariz e jogou o lenço de papel no lixo, então abriu a porta e saiu.

— Estou bem.

O silêncio agiu como um manto descendo sobre eles. Sombras dançavam nas paredes, tornando-a ciente do quanto os dois estavam isolados ali. Sam dormia no andar de cima com Eleni por perto. Não havia guarda-costas, criados nem membros da imprensa, apenas o silêncio e a memória da última noite nos braços dele. Sebastian podia notar essa atmosfera? Era por isso que a olhava daquela maneira intensa?

— Eu tenho algo para lhe mostrar — disse ele. — Está no meu quarto, no fim do corredor.

Cassie ergueu as mãos em protesto.

— Oh, não tente esta linha comigo. É muito banal. Eu não vou ver seus desenhos ou algo assim, apenas para que você possa me levar para a cama mais rapidamente.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Acha que é isso que eu estava fazendo?

— Eu sei que é isso — replicou ela. — Vamos, admita. Você ia me atrair ao seu quarto, então um beijo levaria a outro, ambos sabemos o que aconteceria. Eu lhe disse que ontem foi um erro. Nunca devíamos ter cedido à tentação.

― Ontem não foi um erro — discordou ele. — Eu a queria e você me queria. Nada mudou, Cassie.

Cassie tampou os ouvidos com os dedos.

― Pare com isso agora mesmo!

Ele afastou as mãos dela do rosto.

― Não. Vai ouvir o que tenho a dizer — declarou Sebastian, mortalmente sério. — Eu quero você. Sei que isso é loucura e que é perigoso, mas eu a desejo com tanto desespero que é como uma dor que mal posso suportar.

A emoção fechou a garganta de Cassie.

— Por favor, Sebastian. Você não sabe o que está fazendo... São hormônios... ou alguma coisa...

Ele a sacudiu de leve, e viu o tremor nos lábios sensuais antes que ela pudesse controlá-lo.

— É está "alguma coisa" que me preocupa — murmurou ele descansando a testa contra a dela. — O que vou fazer com você, Cas, meu belo camaleão complicado?

Cassie se sentiu como uma vela se derretendo sob uma fonte poderosa de calor. Seus músculos relaxaram, seus ligamentos se suavizaram, seu coração alegrou-se, e sua resolução... bem, não estava tão firme de qualquer forma.

— Você precisa me soltar — disse ela, sem soar tão convincente quanto gostaria. —Agora... antes que seja tarde demais.

Pareceu levar um longo tempo antes que Sebastian se afastasse com um suspiro.

― Eu ia lhe mostrar uma fotografia — declarou ele. — No meu quarto, tenho uma foto sua que tirei um dia que você não estava vendo. Nunca tive a chance de lhe mostrar.

Cassie arregalou os olhos, e sua voz tremeu quando falou.

— Você... tem uma fotografia minha? Quero dizer, não a queimou depois que eu o dispensei?

— Não gosto desta palavra: dispensar. Cassie lhe deu um olhar irritado.

— Acabei com o nosso relacionamento, então.

— Mas não está acabado, está, Cassie? — perguntou ele num sussurro tão profundo que enviou um arrepio à coluna dela.

Cassie cerrou os dentes.

— Eu quero que acabe. Acha que quero me sentir assim? Você apenas me olha e eu... — Ela parou, subitamente percebendo que estava traindo seus sentimentos.

Ele se aproximou de novo. O calor do corpo másculo penetrava as roupas de Cassie; os olhos escuros queimavam com a promessa de paixão e paraíso.

— E você o que, Cassie?

Cassie respirou profundamente e jogou a cautela ao vento.

— E eu quero você — confessou.

O silêncio que se seguiu era quase uma entidade palpável. Ela estendeu um braço e tocou-lhe o rosto, sentindo o roçar dos pelos que despertavam ali.

Não tinha certeza de quem fez o próximo movimento depois disso. De repente, as bocas de ambos estavam fundidas, os corpos unidos, as mãos se movendo freneticamente, a fim de tocarem e estarem o mais perto possível.

Cassie entregou-se ao beijo, saboreando a promessa do que estava por vir. Sentiu a energia sexual inundando seu corpo e ameaçando consumi-la.

Sebastian a impulsionou contra a parede mais próxima, roçando a pélvis contra a sua, provocando-a, até que ela teve vontade de gritar de frustração por não tê-lo onde mais o queria.

Ele afastou a boca da sua para murmurar:

— Eu disse a mim mesmo que não ia ser assim.

― Assim como? — perguntou Cassie, deslizando a língua sobre os lábios dele e provando o sabor único e maravilhoso.

Os olhos que prenderam os seus estavam escuros e intensos.

— No passado, sexo sempre foi apressado entre nós — sussurrou ele, mordiscando-lhe o lábio inferior. — Ontem à noite foi também. Prometi a mim mesmo que da próxima vez, iríamos viver uma experiência lenta e sensual, de modo que jamais nos esquecêssemos.

Cassie não queria ser lembrada que aquilo não seria para sempre. Sabia que era algo do momento, mas era difícil raciocinar com clareza quando sentia mãos quentes roçando seus seios sobre a barreira das roupas.

Ela abaixou a mão para acariciá-lo sobre o tecido da calça, a extensão viril pulsando contra o seu toque, lembrando-a de como ele era grande, e de como seu corpo, mesmo pequeno, tinha sempre se acomodado ao de Sebastian com perfeição.

— Não aqui — disse ele, afastando-a gentilmente. — Não aqui no corredor. Quero que seja na cama desta vez. Não contra a parede, contra o balcão da cozinha, mas na minha cama.

Cassie inclinou-lhe a cabeça para mais um beijo.

— Uma cama seria bom — murmurou com voz rouca.

— E, geralmente onde isto acontece primeiro — disse ele, roçando-lhe o pescoço com o nariz. — Acho que nunca estivemos juntos numa cama antes.

― Então está na hora. — Ela levou as mãos ao peito largo e abriu os botões da camisa dele.

Sebastian removeu a camisa e, jogando-a de lado, pegou-a nos braços e carregou-a para o quarto, no fim do corredor.

― Você está vestida demais — disse ele quando a deitou na cama e cobriu-lhe o corpo com o seu.

— Você também — respondeu ela, e Sebastian resolveu o problema com uma destreza que era excitante.

Pele com pele.

Cassie podia sentir os poros de sua pele se abrindo para absorver o máximo dele. Podia sentir o cheiro almiscarado do corpo másculo, o calor que a estava enlouquecendo, mas ele estava indo devagar. Os beijos eram suaves, demorados. Cada carícia das mãos grandes a torturavam de modo que ela nunca experimentara antes. Sebastian segurou-lhe os seios, usando o polegar para provocar os mamilos sensíveis, até que Cassie estivesse gemendo com impaciência. Queria sentir a língua sensual sobre seus mamilos, o roçar dos dentes. Queria-o em seu interior. Ela abriu as pernas, mas ele não fez o esperado. Continuou beijando-a, na boca, no pescoço, nos lóbulos da orelha, os seios, até que ela estivesse ofegando e a ponto de abrir mão do seu orgulho, até suplicar.

— Eu sei o que você quer e não vou lhe dar — Sebastian sussurrou entre beijos. — Ou pelo menos ainda não.

Cassie arqueou a coluna num esforço de sentir a virilidade de Sebastian mas, pela primeira vez em sua experiência com ele, fracassou.

— Se você não me possuir neste minuto, eu vou...

A risada rouca em resposta apenas aumentou o desejo de Cassie.

— Vai, o quê? Esta noite, eu vou levar o tempo que quiser. Ela gemeu baixinho, e entregou-se ao ritmo lento que Sebastian estava estabelecendo.

Havia alguma coisa especial sobre fazer sexo demoradamente, decidiu alguns minutos depois. Estava se tornando ciente de seu corpo de uma maneira que nunca acontecera antes. Sentia o fluxo de sangue no centro feminino, o quanto pulsava, implorando para ser acariciado. Ela se movimentou lentamente sob ele, tentado a preenchê-la, mas não funcionou. Sebastian continuou provocando-a, enlouquecendo-a.

— Você está fazendo isso de propósito — reclamou Cassie, mesmo enquanto se agarrava a ele. ― Quer que eu suplique...

Ele sorriu e abaixou a cabeça para um dos seios, finalmente mordiscando-o até que todo o corpo de Cassie vibrasse.

— Se serve de consolo, estou tendo muita dificuldade de manter o controle — disse Sebastian. — Quero levá-la ao topo como ontem à noite, mas não vou fazer isso. Não desta vez.

Desta última vez... As palavras quase ecoaram no silêncio.

Cassie ignorou a realidade.

— Faça isso agora ou nunca — exigiu ela com um brilho feroz nos olhos.

— Você não está falando sério. — Sebastian trilhou beijos pelo seu corpo, descendo para a barriga, e então para o centro úmido da feminilidade.

— É claro que... estou. — Cassie arfou no momento que os lábios sensuais tocaram suas dobras inchadas. — É direito de uma mulher mudar de ideia a qualquer momento durante o procedimento.

— Conheço a lei, Cas — disse ele, abrindo-a suavemente. — Deus, você parece uma orquídea. Tão linda.

Cassie sempre se intrigara com as questões do corpo. Seus pequenos lugares secretos eram tão diferentes dos dele. Sebastian não tinha como esconder sua reação física, mas ela poderia esconder... Quase.

Homens e mulheres também eram diferentes emocionalmente. Mulheres eram mais vulneráveis no que dizia respeito a sexo. Ela sentia alguma coisa quando compartilhava seu corpo com Sebastian. Algo visceral, instintivo e totalmente consumidor. Seu coração respondia da mesma forma. Não estaria fazendo aquilo se não gostasse dele. Era um amor sem futuro mas naquela noite teria de durar para sempre.

Cassie faria durar para sempre.

Tinha vivido seis anos no inferno e conseguido sobreviver. Mais sessenta anos não seria fácil, mas pelo menos havia amado e perdido. Não era melhor do que nunca ter amado? De alguma maneira, duvidava disso.

Ela voltou ao momento presente quando a língua dele penetrou seu centro, provocou-a, levando-a a um clímax que nunca tinha experimentado antes. Seu corpo parecia desconectado da mente, enquanto sensações indescritíveis a percorriam, deixando-a sem energia, tremendo da cabeça aos pés.

— Bom? — perguntou Sebastian com um sorriso.

— Melhor do que bom — ofegou ela. — Um dos melhores...

Ele moveu-se sobre o corpo de Cassie.

— Acho que devemos colocar isso em teste, não acha?

Ela não conseguia falar. Em vez disso, observou-o vestir o preservativo, a visão do membro poderoso excitando-a novamente.

Sebastian posicionou-se sobre ela, apoiando o peso sobre os cotovelos, os olhos brilhando de desejo quando lhe apartou as pernas. Cassie arqueou a coluna para receber a primeira investida maravilhosa do corpo másculo, um gemido escapando de seus lábios no momento em que ele começou um ritmo lento e torturante. Ela enterrou os dedos nas nádegas firmes, seu ser inteiro suplicando por maior velocidade. Ele acelerou o ritmo aos poucos, a respiração ofegante a informando que Sebastian estava cada vez mais quase perdendo o controle. Ela o acompanhou o tempo todo, movendo os quadris sensualmente para encontrar as investidas. Atingiu o clímax primeiro, Sebastian liberou seu prazer em seguida, os tremores fortes ao esvaziar-se preenchendo Cassie de prazer.

Ela ouviu o som da respiração de ambos, enquanto um silêncio abençoado os envolvia no aconchego, o rosto de Sebastian pressionado contra seu pescoço, o hálito quente roçando-lhe a pele enquanto Cassie fechava os olhos e gradualmente caía no esquecimento...

Sebastian saiu de dentro dela gentilmente, livrando-se do preservativo antes de voltar para remover os cabelos do rosto de Cassie. A boca suave estava inchada pelos seus beijos, as faces coradas pelo prazer sexual. Esta era a Cassie que ele passara a amar no passado. Somente quando ela abaixava a guarda assim, era possível ter um pequeno vislumbre de quem ela realmente era. Sua Cas era uma mulher complexa e intensa. A mulher que ele nunca poderia ter.

Ela se mexeu sob ele, abrindo os olhos para fitá-lo.

— Seb? Ele sorriu.

— Faz muito tempo que você não me chama assim. Cassie tocou-lhe o rosto com a ponta dos dedos.

— Isso porque nós não podemos voltar ao passado — murmurou ela com uma ponta de tristeza na voz. — Não somos mais Cas e Seb. Somos Cassie, a ex-criminosa, e Sebastian, o príncipe regente de Aristo, duas pessoas que nunca poderão se unir.

— Isso não é o bastante, Cassie — disse ele, traçando-lhe os lábios com a língua. — Eu quero mais.

Cassie engoliu em seco, uma esperança brotando em seu peito.

— Como assim?

― Pensei que se fizéssemos isto algumas vezes seria o bastante, mas não é. Quero você novamente.

Ela o fitou, suspensa entre a esperança e o desespero.

— Não sei se entendo o que você está dizendo... Sebastian deu-lhe um beijo suave na boca.

— Eu gostaria de ter mais tempo, Cas, mais algumas noites com você. Isso é tudo que estou pedindo.

— Por quê? Ele suspirou.

— Porque pela primeira vez desde que eu a conheci, seis anos atrás, estou começando a ver quem você realmente é. Quero ver mais.

Cassie abaixou o olhar, sentindo um peso no peito.

— Não existe futuro nisso, Sebastian. Nunca poderá haver nada além de um caso entre nós. — E um muito breve e secreto, pensou ela com uma onda de dor.

Sebastian a beijou demoradamente, antes de erguer-lhe o queixo para fitá-la.

— Vamos ter o que podemos ter pelo tempo que for possível. Cassie demorou demais para negar. Por alguns segundos, teve a chance, mas não disse nada. E quando a boca de Sebastian clamou a sua mais uma vez, entendeu exatamente por que não negara.

Ela ainda amava Sebastian.

 

CASSIE ESTAVA ajudando Sam com o café no dia seguinte quando Sebastian entrou na cozinha. Ela olhou para cima, sabendo que enrubescera pela intimidade que eles tinham compartilhado durante a noite, antes que voltasse ao seu próprio quarto nas primeiras horas da manhã, enquanto ele ainda dormia.

Ele encontrou-lhe o olhar antes de se sentar ao lado do filho.

— Bom dia, Sam. Você dormiu bem?

Sam pôs a colher sobre a mesa educadamente.

— Sim. Eu podia ouvir o mar. Mamãe falou que talvez eu possa ir à praia construir um castelo de areia.

— Acho que esta é uma ótima ideia — concordou Sebastian. — Mas primeiro, eu gostaria de conversar uma coisa muito importante com você.

Os olhos grandes de Sam assumiram uma expressão preocupada instantaneamente. Ele olhou para a mãe, o queixo começando a tremer.

— Eu... fiz alguma coisa errada?

Sebastian sentiu um aperto no coração e pegou as mãos de Sam nas suas, maravilhando-se em como eram pequenas comparadas às suas. Estudou aqueles olhos castanhos iguais aos seus e perguntou-se se aquela expressão assustada era resultado de seus primeiros anos vivendo na prisão. Como seria possível fazer aquele garotinho se sentir seguro? Levaria meses, se não anos. Entretanto, ele tinha tão pouco tempo à sua disposição.

— Você não fez nada errado, Sam. — Oh, Deus, por onde começava? Como podia contar àquele menino inocente que, sem querer, não estivera perto de mãe e filho desde o seu nascimento.

Cinco anos.

Ele havia perdido tudo. Nem mesmo vira uma foto de Sam quando bebê.

— Sam. — Sebastian pigarreou e recomeçou: — Eu recentemente descobri que sou seu pai.

Sam olhou para a mãe.

— Mas eu não tenho pai, tenho, mamãe? Sebastian viu Cassie engolir em seco.

— Querido... eu nunca disse realmente que você não tinha pai.

— Não, mas Spiro falou que eu não tinha pai — respondeu Sam. — Eu o ouvi dizendo isso para Kara.

Cassie franziu o cenho.

— O que ele disse?

— Disse que ninguém sabia de quem eu era filho. Sebastian olhou para Sam e apertou-lhe as mãozinhas.

— Você é meu filho, Sam. Sempre será meu filho, independentemente do que aconteça no futuro.

Cassie foi tomada por uma onda de medo. O que ele estava implicando? Que qualquer futuro de Sam seria com o pai, e não com ela? De jeito algum, Sebastian teria tudo.

— Então, você, mamãe e eu ficaremos sempre juntos? — perguntou Sam com uma esperança brilhando nos olhos.

― Por enquanto, pelo menos — respondeu Sebastian.

Os olhinhos castanhos se encheram de lágrimas.

— Mamãe vai me deixar aqui?

— Não — exclamou Cassie de modo estridente, olhando para Sebastian.

Sebastian pôs as mãos nos ombros do filho.

— Sam eu sei que é difícil para você entender, mas sua mãe e eu não somos casados. Mas isso não significa que ambos não amamos você. Nós amamos, muito.

Sam engoliu um pequeno soluço.

— Mas não quero ficar em nenhum lugar sem minha mamãe— disse ele. — Nós não podemos ficar com você? Não vamos dar trabalho, vamos, mamãe?

Cassie mordeu o interior da boca para não chorar.

— Querido, não é tão simples...

Sam se levantou da cadeira e correu para ela.

— Mas por que você não pode se casar com papai, e então podemos viver todos juntos? — ele arriscou. — Eu gosto daqui. Vejo barcos da janela do meu quarto, e há um grande jardim. Eleni disse que tem até uma piscina.

Cassie agachou-se e abraçou o filho.

— Meu anjinho, seu pai é um homem muito importante. Não pode viver conosco o tempo todo. Ele precisa viajar ao redor do mundo, às vezes. Mas tenho certeza de que vamos resolver alguma coisa que nos deixe todos nós felizes.

— Eu não quero voltar para o orfanato — disse Sam, começando a chorar. — Quero ficar aqui com você e o papai.

Sebastian esfregou o rosto, pensando em como as coisas poderiam ser diferentes se seis anos atrás soubesse o que sabia agora. Teria feito qualquer coisa para evitar o olhar sofrido que via estampado no rosto do menininho.

Cassie o olhava de modo crítico, culpando-o silenciosamente por ter aborrecido o filho deles, e Sebastian podia entender isso. Não lidara bem com a situação. Sam era muito pequeno para entender a dinâmica do que estava acontecendo. Precisava ser protegido e confortado até que alguma decisão fosse tomada.

Por tanto tempo, a procura do diamante Stefani e sua coroação como rei tinham sido seu foco principal. Não pensara em nada mais, exceto em como iria reinar seu povo; entretanto agora, encontrava-se diante de uma decisão agonizante.

Como poderia tirar Sam da mãe, mesmo para uma visita de alguns dias? Sam era inseguro e tímido. Além disso, que garotinho não precisava da mãe naquela idade?

E então havia Cassie. A jovem mulher que Sebastian nunca fora capaz de apagar da mente. As duas últimas noites haviam trazido tudo à tona, o jeito que ela o fazia se sentir, a paixão tão ardente entre os dois. Ele ficara desapontado ao acordar e descobrir que Cassie tinha saído do quarto em algum momento durante a manhã. Permanecera deitado lá, respirando o aroma dela, seu corpo ávido por possuí-la novamente.

O povo de Aristo jamais a aceitaria como sua noiva. Já teria muita dificuldade para aceitá-la como mãe de seu filho. O passado de Cassie sempre seria um empecilho. Mas, sentada ao piano na noite anterior, ele vira um lado dela muito diferente de uma socialite festeira, fazendo-o questionar se fora muito apressado em julgá-la; na verdade, se todos não tinham sido muito apressados em julgá-la. Sebastian vinha notando uma estranha tristeza em Cassie, especialmente quando ela não sabia que estava sendo observada.

Eleni entrou na cozinha naquele momento, chamando Sam para ver alguns brinquedos que encontrara no quarto de bebê.

Cassie virou-se para olhá-lo.

— Você não podia ter esperado até que Sam estivesse sentindo um pouco mais seguro, antes de jogar a bomba?

Sebastian passou uma das mãos pelos cabelos.

― O que eu deveria fazer? — questionou. — Sou o pai dele quero que ele saiba e aceite bem isso.

— O que você queria era reivindicá-lo — disse ela com fúria.— Eu não vou deixar você tirar meu filho de mim, Sebastian.

— Eu não farei nada que não seja para o bem do meu filho— replicou ele.

— Oh e o que isso significa? Que será muito melhor para ele ficar longe de sua mãe presidiária?

— Eu não disse isso, Cassie.

— Não precisava dizer. Posso ver isso cada vez que você me olha. Está pensando em como vai contar ao mundo quem é a mãe de seu filho, não está, Sebastian?

O maxilar dele enrijeceu.

— Ouça, Cassie, esta é uma situação difícil para nós dois. Tenho muito pouco tempo para conhecer Sam antes de anunciar sua existência. Perdi tanta coisa, e quero fazer o possível para compensar este fato. Percebe que eu nem mesmo vi uma foto de Sam quando bebê?

A postura de Cassie relaxou um pouco.

— Eu trouxe algumas fotos. Peguei-as quando arrumei a mala.

Sebastian ficou surpreso por ela ter pensado em fazer isso, considerando que ele insistira que suas ordens fossem obedecidas sem demora.

— Eu gostaria de vê-las — murmurou ele, tentando disfarçar sua emoção.

― Eu vou buscar. Estão em meu quarto. O celular de Sebastian tocou, e ele o removeu do bolso e olhou para a tela.

— Preciso atender esta ligação. Você pode achar o caminho para o meu estúdio? Eu a encontro lá em dez minutos.

Ela assentiu e saiu do cômodo, enquanto Sebastian falava ao telefone com Stefanos. Ainda não havia notícias do diamante Stefani, mas nada sobre Sam vazara para a imprensa também. Felizmente.

 

CASSIE PEGOU os pequenos álbuns de fotografias que tinha montado e foi ao estúdio de Sebastian. Parou do lado de fora da porta por um momento, abraçando os álbuns contra o peito, tentando se preparar para outra jornada emotiva através do tempo. Cada vez que via as fotografias documentando a vida de Sam, sentia imensa tristeza por não ter sido capaz de dar a ele uma vida normal, desde o começo. Sam tinha aberto os olhos pela primeira vez dentro das paredes de uma prisão, não no palácio ricamente mobiliado, a que, por sangue, pertencia. Não houvera ninguém com ela quando Cassie dera à luz depois de vinte horas agonizantes em trabalho de parto, ninguém exceto uma parteira brusca e um guarda antipático que assistira cada detalhe íntimo com uma expressão desdenhosa no rosto.

Cassie havia desejado que Sebastian aparecesse de repente. Tivera de morder os lábios para se impedir de gritar o nome dele cada vez que uma forte contração a assolava.

Nunca sentira tanta falta de sua mãe antes, quando Sam finalmente fora colocado em seus braços. Cassie nunca tinha segurado um bebê na vida, nem imaginava como pareciam frágeis, preciosos e inocentes. Sua mãe vivera tempo o bastante para segurá-la?, perguntou-se. Olhara-a do jeito que Cassie havia olhado para Sam naquele momento, jurando amar e proteger seu bebê, independente de qualquer coisa?

A porta do estúdio se abriu à sua frente.

― A quanto tempo você está parada aí? — perguntou Sebastian com olhos estreitos. Cassie engoliu em seco e o olhou. — Não muito. Eu me perdi algumas vezes no caminho pra cá — Aquilo era verdade.

Ele prendeu-lhe o olhar por um momento, antes de indicar para que ela entrasse.

— Sente-se no sofá. Quer café ou chá?

— Não, eu estou bem, obrigada. — Cassie se sentou e prendeu a respiração quando ele se acomodou ao seu lado, roçando a coxa na sua.

— Mostre-me.

Ela abriu o primeiro álbum, pensando no quão pobre era comparado aos álbuns provavelmente decorados em ouro da infância de Sebastian. Mas eram tudo que tivera condições de comprar.

— Aqui foi logo depois que ele nasceu — disse Cassie, indicando a foto.

Sebastian estudou a fotografia de seu filho bebê deitado sobre o peito de Cassie, o corpinho minúsculo ainda manchado de sangue. Ele não chorava desde que era criança, mas lágrimas inundaram seus olhos agora, dificultando sua visão, fazendo-o piscar.

— E aqui ele tinha duas semanas de vida. — Cassie virou outra página, os olhos baixos no álbum.

Ele viu o cobertor com o nome do presídio cobrindo seu filho, e outra onda de culpa o arrasou. Foto após foto causou o mesmo efeito devastador sobre ele. Fotos de Sam brincando dentro de um pátio cercado por arame farpado, presidiárias por toda parte, algumas parecendo mais ameaçadoras do que outras.

Cassie virou outra página do álbum e lhe mostrou algumas mechas dos cabelos de Sam. Sebastian estendeu o braço e tocou os fios de cabelo; os cachinhos escuros poderiam ser seus quando tinha a mesma idade. Emoção apertou sua garganta.

— Eu não tenho muitas fotos de quando ele tinha 4 anos — disse Cassie, ainda olhando para o álbum aberto sobre as coxas de Sebastian.

— Por que não? Ela o olhou então.

— Porque este foi o ano em que ele foi tirado de mim — replicou amargamente. — Os pais adotivos não pensaram em tirar fotos para mim. Por que fariam isso? Eu era apenas uma prisioneira.

Sebastian começou a entender um pouco do que ela passara. Ele havia perdido cinco anos da vida de Sam, mas Cassie também perdera muito. Perdera seis anos de sua juventude, e a presença de seu filho durante um ano inteiro, sem ao menos uma fotografia para confortá-la. Não era de admirar que Sam fosse tímido e sentisse tanto medo de ser separado da mãe. Em cada uma das fotos até os 3 anos de idade, Sam era um garotinho feliz e sorridente. Foi somente quando Cassie lhe mostrou as fotos restantes, incluindo as mais atuais, que Sebastian pôde ver o que um ano sem a mãe tinha provocado à criança.

— Posso ficar com estes álbuns por alguns dias? — perguntou ele após um momento. — Quero mandar fazer cópias.

Cassie não tinha certeza, mas pensou ter visto umidade nos olhos escuros.

— É claro. Mas, por favor, tome cuidado. Eu já perdi uma ou duas fotos onde a cola soltou.

— Eu tomarei o devido cuidado — murmurou ele. — Obrigado por mostrá-las para mim. Não posso lhe dizer o que isso significou.

Cassie comprimiu os lábios, esforçando-se para conter suas próprias emoções. Levantando-se, cruzou os braços e o encarou.

― Eu queria dar muito mais a ele. Sam merece muito mais. Eu tenho tanto medo que ele nunca supere... você sabe, ter sido separado de mim. Aquele ano em que ele foi para um lar adotivo eu não pude protegê-lo. E se alguém o machucasse? E se alguém o tratasse como meu pai me tratou? Eu não estava lá para ajudá-lo, Sebastian. Não estava presente para protegê-lo, assim como não havia ninguém para me proteger...

— Seu pai — Sebastian se levantou abruptamente —, machucava você?

Cassie não conseguia falar. Um nó apertava sua garganta, e lágrimas escorriam de seus olhos e deslizavam em seu rosto.

Sebastian a envolveu nos braços, acariciando-lhe as costas, murmurando palavras de conforto, enquanto ela dava vazão às emoções. Ele sentiu cada tremor do corpo pequeno, cada soluço o devastando até que seus próprios olhos estivessem marejados.

— Sinto muito.

Ela tentou se afastar, mas, embora lhe permitisse algum espaço, ele não a liberou. Segurou-lhe as mãos nas suas.

— Conte-me tudo, Cassie. Você está segura agora. Ninguém irá machucá-la. Eu não permitirei.

Cassie o olhou, o queixo tremendo de um jeito tão parecido com o de Sam, que outra onda de emoção inundou Sebastian. Tinha perdido tantas coisas, mas começava a perceber que a maior parte da culpa por isso era sua. Havia caído na mesma armadilha de todos os outros, julgando-a sem conhecê-la. O quebra-cabeças estava finalmente montado.

― Ele quebrou o meu braço. — Assim que começou a falar, ela não pôde mais parar. — Meu pai quebrou meu braço quando eu tinha 4 anos. No caminho para o hospital, falou que se eu contasse o que acontecera para alguém, ele faria muito Pior. Mandou que eu dissesse a todos que tinha caído da cama. Eu estava tão assustada. Aquela não era a primeira vez que ele me batia. Sempre me bateu, mas depois disso, passou a ser um pouco menos violento. Afinal, precisava mostrar ao povo que amava sua filha rebelde.

Sebastian acariciou-lhe as mãos frias.

— Oh, Cassie. Oh, minha pobre Cas.

Ela continuou falando no mesmo tom desprovido de emoção:

— Quando eu me tornei adolescente, deliberadamente planejei envergonhá-lo. Não podia contar a ninguém sobre os abusos físicos, mas ainda era capaz de atingi-lo com minha rebeldia, ou assim acreditei. Suponho que não parei para pensar sobre as consequências para a minha própria vida.

— Você era uma criança, pelo amor de Deus — disse Sebastian. — Uma criança apavorada sem ninguém para apoiá-la.

— Na noite que nós terminamos — ela pausou, a expressão se tornando sofrida pela memória — eu senti que não tinha escolha. Meu pai havia renovado o aviso tantas vezes... Pensei em ir à polícia, mas ele era o melhor amigo do delegado. Possuía amigos poderosos em todos os lugares. E tudo que eu possuía era uma reputação manchada.

Sebastian franziu o cenho.

— Então você inventou mentiras sobre dormir com outros homens para me tirar de cena?

Ela assentiu.

— Sinto muito. Isso deve ter magoado você, mas eu não conseguia pensar em mais nada para fazer. Não podia enxergar nenhum futuro no nosso relacionamento. Eu ia embora assim que completasse 18 anos, de qualquer forma. Meu pai me viu fazendo as malas e... e foi isso.

— Ele agrediu você? — As palavras eram mais uma declaração que uma pergunta.

― Sim eu Pensei que ele fosse me... — Cassie fechou os olhos por um momento, como se não pudesse falar a palavra em voz alta.

Sebastian estremeceu ao perceber que sabia que palavra ela evitando. Envolveu-a num abraço, tentando confortar uma dor que não poderia ser confortada.

— Eu lamento tanto. Gostaria que estivesse lá para protegê-la Gostaria que você tivesse confiado em mim o bastante para me contar.

Ele a afastou gentilmente para estudar-lhe os olhos vermelhos.

— Você considerou contar o que sofreu para alguém no tribunal? — perguntou Sebastian. — Poderia ter lhes mostrado o raios X de quando era criança. Certamente alguém teria ouvido.

Cassie lhe deu um olhar melancólico.

— Considerei isso algumas vezes, mas podia ver desgosto nos olhos de todos. Eu era a prostituta rebelde que tinha levado desgraça e vergonha ao pobre pai trabalhador. Foi tudo tão amedrontador. — Ela suspirou. — Quando descobri que estava grávida, entendi porque não havia lutado muito. Sentia-me tão cansada, nauseada e desesperada com tudo aquilo que permaneci sentada lá como um robô, sem oferecer uma palavra em minha própria defesa.

Sebastian pegou-lhe as mãos.

― Vou falar com os meus advogados — declarou ele. — Eu limparei seu nome. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ver a justiça sendo aplicada.

― Não ― disse Cassie, afastando-se. — Eu não quero passar por tudo isso de novo. Só quero sair de Aristo. Um silêncio se estendeu.

— Você não vai embora.

O coração de Cassie disparou no peito.

— Como assim, eu não vou embora?

— Eu não permitirei que você leve meu filho embora — replicou ele. — Acabei de descobri-lo. Preciso de tempo para conhecê-lo antes de anunciar à imprensa minhas intenções no que diz respeito a Sam.

Cassie tentou conter o pânico íntimo. Entendia o ponto de vista de Sebastian, mas não poderia ser aprisionada novamente, nem mesmo numa gaiola de ouro, como a propriedade privada dos Karedes era.

— Eu não permitirei que você me prenda nesta casa — disse ela, encarando-o com raiva. — Quero ter a liberdade de ir e vir quando quiser.

— Lamento, mas isso é impossível — respondeu ele com intransigência. — Preciso tomar todas as precauções para lidar com esta situação da maneira mais secreta.

— E tudo sobre seu precioso trono, não é?

— Isso não tem nada a ver com o trono. Quero passar algum tempo com Sam sem que os paparazzi balancem suas câmeras no rosto dele, que é tímido e...

— Então, é tudo culpa minha? — interrompeu ela. — Tudo por causa da mãe horrível que ele tem... é isso que você está pensando, não é?

Ele meneou a cabeça, suspirou como se estivesse buscando paciência.

— Eu não impliquei nada disso, Cassie. Quando o momento certo chegar, não hesitarei em anunciar para o povo de Aristo que você é a mãe do meu filho.

Cassie lhe deu um olhar hostil.

— Bem, aposto que você não vai fazer isso até que tenha o resultado do teste de paternidade nas mãos.

― O que você faria se estivesse no meu lugar? — questionou com irritação crescente. — Responda, Cassie, o que faria?

O sussurro quase não era audível.

Ela hesitou.

— Eu... faria o mesmo.

— Fale mais alto.

Cassie ergueu o queixo.

— Você ouviu.

— Fale mais alto — comandou Sebastian novamente.

Ela cerrou os punhos, sua voz crescendo juntamente com a raiva.

— EU DISSE QUE FARIA O MESMO.

Sebastian capturou-lhe as mãos antes que elas se conectassem ao seu rosto, como supôs que era a intenção de Cassie.

— Pare com isso, Cassie. Acabou, ágape mou, acabou. Não estou brigando com você. Perdoe-me se eu a pressionei demais.

Ela reprimiu um soluço.

— Não ouse ser gentil comigo... Posso lidar com você quando não é gentil.

Ele deu um sorriso triste.

— Este é o problema, não é? Você não está acostumada com pessoas a tratando com respeito e consideração, então se defende antes.

Cassie tentou evitar-lhe o olhar, mas ele segurou-lhe o queixo.

Não se feche comigo agora, Cas. Você pode confiar em mim. Sabe disso, não sabe?

Eu não estou acostumada a confiar em ninguém.

— Eu sei, mas isso tem de mudar. É importante que aprenda a confiar em mim, de modo que Sam também confie. É em você que ele se espelha, não esqueça.

Cassie o estudou.

— Posso confiar que você não vai tirá-lo de mim?

— Eu poderia lhe fazer a mesma pergunta.

— Não vou levá-lo embora sem avisá-lo antes. — Ela olhou para a boca de Sebastian. — Eu não tinha certeza que você veria a semelhança. Posso ver, mas então, sou a mãe dele.

— Eu vejo.

Cassie voltou a fitá-lo nos olhos.

— Isso significa que não questiona ser o pai de Sam?

— Cassie, o teste de paternidade não é para mim — disse ele, segurando-a pelos ombros. — Sei que Sam é meu filho. Senti uma conexão quando você me deu aquele desenho. Não pude entender na ocasião, mas tive um súbito impulso de conhecê-lo.

— Você era realmente tão tímido quanto Sam quando criança? — perguntou ela.

Sebastian alisou-lhe o rosto suavemente.

— Fui tímido por um longo tempo. Um dia, superei, como tenho certeza que ele vai superar. Você é uma mãe maravilhosa, Cassie. Lembra-me tanto a minha própria mãe. Posso ver o quanto Sam a adora. Você é o mundo dele.

— Eu o amo mais do que você pode imaginar. Sam é minha única razão para viver. Antes de descobrir que estava grávida, eu queria...

Ele pressionou um dedo contra os lábios dela.

— Não, Cassie, não diga isso. Não posso suportar ouvi-la falando assim. Detesto pensar no que você passou. Não é de admirar que tenha ficado tão zangada por eu não ter respondido sua carta.

Cassie o estudou.

— Então, acredita agora que eu lhe enviei uma?

― Esta foi outra coisa sobre a qual refleti depois que você saiu da minha cama esta manhã — respondeu ele. — E óbvio que meu pai deve ter mandado peneirar minhas correspondências. Afinal ele proibiu Lissa de contatá-la. Não pode haver outra explicação.

Cassie sentiu seus ombros começarem a relaxar.

— Fico feliz que acredite em mim. Tem sido muito difícil não ter ninguém do meu lado.

Sebastian deslizou as mãos pelos braços delgados e circulou-lhe os pulsos.

— Estou do seu lado agora, Cassie. Nunca se esqueça disso. Farei o possível para recompensá-la pelo passado.

Ela queria acreditar naquilo, mas sabia que Sebastian não podia fazer tudo que quisesse. Qual seria a escolha final dele? Era doloroso até mesmo pensar sobre isso. Tudo que sabia era que ambos precisariam fazer uma escolha, mas a escolha de Sebastian provavelmente não a incluiria, por mais que ela ansiasse por isso.

 

CASSIE PASSOU os próximos dias observando Sebastian com Sam. Era tão tocante vê-los juntos, as cabeças escuras unidas sobre um quebra-cabeça, um livro ou um desenho que tinham feito, seus sorrisos tão similares. Sam estava começando a florescer, sua confiança crescendo a cada dia. Claramente adorava o pai, e Sebastian não tentava esconder o amor profundo que sentia pelo filho.

Cassie tentou não se preocupar, mas Sebastian não lhe pedira que dormisse com ele novamente. Estaria tentando se distanciar? Era tão difícil dizer. Quando Sam estava por perto, ele sorria e conversava com ela, mas assim que Sam ia para a cama, Sebastian se recolhia em seu estúdio, alegando que tinha cartas para escrever, telefonemas a fazer... aparentemente qualquer atividade que os mantivesse separados.

Aquilo a fez se sentir insegura, principalmente depois de ter lhe revelado seu passado. O que ele estaria pensando sobre sua história?

— Agora, jovenzinho — disse Sebastian, pegando Sam do chão e acomodando-o sobre os seus ombros — eu vou levá-lo para a cama, onde você já deveria estar mais de uma hora atrás.

Sam riu enquanto enterrava os dedos nos cabelos do pai para manter o equilíbrio.

— Você vai me levar à praia amanhã de novo?

— Sim e vou até lhe mostrar uma caverna onde meus irmãos e irmãs costumavam esconder coisas, como um tesouro enterrado.

— Estas coisas ainda estão lá? — perguntou Sam, inclinando a cabeça para que pudesse ver os olhos do pai.

Sebastian sorriu.

— Se não estiverem, enterraremos algumas de suas coisas. Agora, dê um beijo de boa-noite na mamãe.

— Eu quero que vocês dois me levem para dormir — disse Sam.

Cassie e Sebastian se entreolharam por um momento, antes que ela erguesse os olhos para o filho.

— Deixe papai levá-lo sozinho — murmurou ela. — Eu já fiz isso tantas vezes.

— Mas eu quero você lá também, mamãe.

Sebastian transferiu Sam de seus ombros para os seus quadris.

— É claro que mamãe pode me ajudar nesta tarefa — disse ele. — Agora, que história quer que eu leia para você esta noite?

— Mamãe me contou uma história sobre um príncipe que achou um sapato depois de uma festa, e procurou a linda garota que o perdeu. Você conhece esta história?

Sebastian sentiu o peito se contrair.

— Sim, conheço. Chama-se Cinderela.

— Isso mesmo — exclamou Sam animadamente. — Papai não é inteligente, mamãe? Ele conhece as mesmas histórias que você.

― Sim, ele é muito inteligente, querido.

Alguns minutos depois, Sebastian se levantou da cama de seu filho. Sam dormia pacificamente, o rostinho angelical mostrando um quadro de contentamento.

Observou Cassie se inclinar para beijar a testa do filho, a expressão amorosa no rosto bonito fazendo-o lamentar mais uma vez tudo que ela havia sofrido.

— Tem um minuto para conversar? — perguntou ele assim que saíram do quarto.

Ela lhe deu um olhar irônico.

— Tenho todo o tempo do mundo, Sebastian. É você que está sempre muito ocupado.

— Você está se sentindo negligenciada. — Ele suspirou. — Desculpe, mas estar longe do palácio significa que preciso cuidar de muitas coisas todas as noites. Quando fui ao seu quarto, você estava sempre dormindo. Eu não quis perturbá-la.

— Você foi ao meu quarto? Ele franziu o cenho.

— Por que a surpresa, Cassie? Deixei bem claro o quanto quero você.

Ela baixou o olhar por um segundo.

— Sim, mas pensei que tivesse mudado de ideia. Sebastian pôs as mãos na cintura dela.

— O problema, Cassie, é que quero o que não posso ter. Cassie o fitou.

— Eu não estou pedindo para sempre, Sebastian.

— Eu sei — murmurou ele com um suspiro. — E isso é o que mais me preocupa. — Você e Sam merecem "para sempre". Ambos merecem a felicidade que lhes foi roubada.

Cassie o estudou. Havia sombras escuras sob os olhos dele, como se não tivesse dormido pelas últimas noites. Queria lhe dizer o quanto o amava, mas sabia que isso apenas dificultaria a decisão de Sebastian. Ele já estava carregando uma carga de culpa e fazendo o possível para recompensar Sam. — Você é um pai maravilhoso. Sam o ama muito.

— Eu também o amo. Você não imagina quanto.

— Já sei quanto — disse ela. — Sinto a mesma coisa.

Sebastian abaixou as mãos.

— Tenho algo para lhe mostrar. Chegou esta tarde.

Cassie o seguiu para o estúdio no andar de baixo, onde ele lhe mostrou todas as cópias das fotos de Sam organizadas em quatro álbuns de couro, cada um deles com a coroa dourada da família Karedes na capa. Sem fala por um momento, Cassie se sentou, traçando o dedo sobre a coroa da realeza. Ele estava tornando a disparidade da vida deles mais aparente. Mostrando-lhe qual era o lugar de Sam, para onde ela nunca poderia ir.

— O que você acha? — perguntou Sebastian. Ela o olhou com mágoa.

— Acho que você está sistematicamente tentando me tirar da vida de Sam.

Ele franziu o cenho.

— Do que você está falando? Eu mandei fazer estes álbuns para você. Tenho outros iguais para mim.

Ela se levantou e cruzou os braços sobre o peito.

— O que você fez com os originais?

— Joguei fora. Eles estavam danificados, de qualquer forma.

Cassie o fitou com fúria.

― Jogou fora? Você jogou os meus álbuns fora?

― Cassie, por que o drama? — questionou ele. — Você certamente os teria substituído quando tivesse tempo.

― Você não tinha o direito de jogar fora o que era meu ―exclamou ela, lutando contra as lágrimas. — Tive de trabalhar duro a fim de pagar por aqueles álbuns. Tive de trocar dinheiro por comida e vender privilégios para comprá-los, e agora você os joga fora como se não valessem nada. Tem ideia de como isso faz eu me sentir?

Sebastian se aproximou.

— Acho que começo a entender seus sentimentos — murmurou ele gentilmente. — Você tinha tão pouco para dar a Sam, mas lhe deu tudo que podia. Estes álbuns representavam alguns dos sacrifícios que foi forçada a fazer. Sinto muito, Cassie. Vou ligar para Stefanos e pedir que ele os devolva. Errei ao presumir que não eram valiosos para você.

Cassie sentiu suas defesas baixando. As lágrimas que tentara conter escorreram pelo seu rosto, e Sebastian as secou com um toque gentil da ponta dos polegares.

— Desculpe — disse ela. — Eu não deveria ter reagido a isso de forma tão exagerada.

Ele prendeu-lhe os olhos.

— Não sei como recompensá-la por todas as suas perdas, por tudo que eu poderia ter impedido se tivesse me dedicado a conhecê-la. Theo tinha amigos em tantos lugares que você não tinha a quem recorrer. Pedi que meu criado requisitasse os registros médicos do hospital da época que você tinha 4 anos, e não há registro nem mesmo de sua admissão lá.

Cassie suspirou.

— Eu não tenho chance, verdade?

— Eu vou fazer justiça a você, Cassie — prometeu ele, puxando-a para mais perto. — Não vou descansar enquanto não conseguir.

Antes que ela pudesse responder, Sebastian inclinou a cabeça e roçou os lábios nos seus. O desejo a inundou instantaneamente. Sentiu a extensão rígida contra a barreira fina de seu vestido, enquanto ele aprofundava o beijo, determinado a fazê-la ceder.

Ainda beijando-a, Sebastian a conduziu de costas para o sofá, as pernas musculosas roçando as suas em cada passo do processo. Ela sentiu as almofadas na parte de trás dos joelhos e abaixou-se com um gemido.

Deslizando as alcinhas pelos ombros delgados, ele desceu o vestido até a cintura de Cassie, então tomou um dos mamilos rijos na boca, fazendo-a tremer inteira.

Em minutos, Cassie estava se contorcendo sobre o peso sólido, suas mãos freneticamente o despindo, de modo que pudesse sentir a pele quente na sua.

Ele capturou-lhe as mãos e ergueu-as acima da cabeça dela, os olhos escuros brilhando com puro desejo.

— Não seja tão impaciente, ágape mou — provocou Sebastian. — Eu vou chegar lá.

— Eu o quero agora — disse ela, arqueando-se. — Você está demorando muito.

— É mais gostoso assim, Cassie. Não pode sentir o prazer se construindo?

Cassie podia e aquilo a estava enlouquecendo.

— Eu quero tocar você. Solte-me para que eu possa tocá-lo. Ele a olhou com intensidade por um momento antes de liberar-lhe as mãos e remover a camisa.

— Toque-me quanto quiser, Cassie.

Ela não precisou de mais encorajamento. Tinha aberto o cinto e a calça de Sebastian em segundos, envolvendo-o na mão e o fazendo gemer de prazer. Continuou manuseando-o, enquanto o assistia lutar para manter o controle.

Quando ele tentou detê-la, Cassie empurrou-lhe as mãos e, dando-lhe um olhar ardente, levou a boca ao sexo potente. A tensão do corpo de Sebastian era eletrizante; ela podia sentir se construindo ao ponto da explosão. Os gemidos dele eram tanto eróticos quanto irresistíveis, enquanto Cassie continuava torturando-o.

— Basta, pelo amor de Deus — suplicou ele e afastou-se. Cassie deslizou a ponta da língua sobre os lábios, sabendo que aquilo o excitava.

— Estou indo rápido demais para você? — perguntou ela com um olhar travesso.

— Não o bastante. — Sebastian deitou-a e cobriu-lhe o corpo com o seu.

Cassie tremeu quando ele removeu seu vestido com total indiferença pelo tecido delicado. Ouviu o tecido se rasgando, mas estava excitada demais para registrar o fato. Ele apartou-lhe as pernas e a preencheu numa única investida feroz, estabelecendo um ritmo acelerado desde o primeiro instante, mas ela se deleitou com cada segundo da experiência, seu corpo em chamas, escalando rumo ao auge do prazer. Cada nervo gritava por liberação, enquanto ele a levava ao extremo repetidas vezes, apenas para recuar no último momento.

— Não me faça implorar — murmurou ela, ofegando contra a boca de Sebastian.

— Eu quero que você implore. Quero que grite comigo para receber o que quer.

Cassie lhe deu uma mordidinha de brincadeira.

— Alguém pode nos ouvir.

— Eu não me importo. Diga-me o que você quer, Cassie.

— Quero que você me faça atingir o clímax — disse ela. Sebastian a beijou ardentemente, levando uma das mãos entre os corpos para acariciar o centro do desejo. Cassie reprimiu um grito no momento em que cada onda de liberação fez seu corpo inteiro se convulsionar. Chorou durante o orgasmo, um poder diferente de qualquer coisa que já sentira antes.

Ele liberou seu prazer em seguida, o corpo ficando tenso para a investida final, cada músculo sob os dedos dela enrijecendo antes que Sebastian se esvaziasse.

Cassie acariciou-lhe as costas e ombros, o coração ainda disparado, a respiração ainda errática. Era em momentos como aquele que quase podia imaginar uma vida diferente para si mesma, uma vida onde acordaria todas as manhãs ao lado de Sebastian, as pernas de ambos entrelaçadas. A essência dele ainda quente e úmida entre suas coxas...

Seu coração pareceu parar de bater por um minuto.

— Oh, não... Sebastian rolou de lado.

— O que houve, Cassie? Machuquei você? Fui muito bruto?

Ela o olhou, alarmada.

— Você não usou um preservativo.

— Eu sei — disse ele, sorrindo. — Mas eu estou saudável, não se preocupe.

Cassie procurou seu vestido e calcinha, tentando não entrar em pânico.

— Não acredito que você não usou preservativo — exclamou ela, jogando as almofadas do sofá de lado.

— Cassie, eu lhe disse, não vou lhe transmitir nada.

— Não — murmurou ela, virando-se de costas para ele, a fim de pegar seu vestido no chão. — Ou pelo menos nada que você já não tenha me dado no passado.

Mas Sebastian não estava ouvindo. Olhava fixamente para a cicatriz branca no cóccix dela.

― Há quanto tempo você tem esta cicatriz?

Ele a viu ficar tensa antes que Cassie se virasse para encará-lo.

— Que cicatriz?

Ele se levantou e aproximou-se.

— Acho que você sabe sobre o que estou falando. Eu nunca vi esta cicatriz antes.

— Bem, eu nunca fiquei totalmente nua com você antes— replicou ela com irritação.

Sebastian tocou-lhe os ombros com firmeza.

— Você não precisa mais dar cobertura ao seu pai, Cassie. Se ele fez isso, então não há motivo para que não me conte.

Ele a sentiu tremer sob suas mãos e viu lágrimas nos olhos cor de esmeralda.

— Ouça, isso foi há muito tempo, e eu prefiro não falar sobre o assunto — disse ela.

— Quanto tempo? Cassie mordiscou os lábios.

— Na noite que cheguei em casa depois de terminar o relacionamento com você.

Sebastian fechou os olhos e a envolveu num abraço carinhoso.

— Eu sei que isso não é consolo, mas se tivesse me contado, seria eu quem estaria na cadeia, não você — disse ele. — Eu o teria matado pelo que Theo fez com você. Juro que o teria desmembrado inteirinho.

— Eu não teria gostado que você fizesse isso.

Sebastian ergueu-lhe uma das mãos e levou-a aos lábios, beijando-lhe os dedos.

— Vamos subir. Quero passar a noite abraçando-a. Cassie deu um sorriso triste.

— Suponho que devemos aproveitar o máximo do tempo que nos resta...

Sebastian não queria pensar como os dias pareciam voar. Apenas esperava poder passar mais alguns dias com Sam e Cassie, enquanto analisava suas opções. Tudo tinha acontecido tão rapidamente, e ele ainda estava tentando absorver a situação. Não somente a existência de Sam, mas seus sentimentos por Cassie, os quais haviam subido à superfície após anos sendo reprimidos.

Ele a levou para seu quarto e fechou a porta.

— Vou tomar um banho. Gostaria de se juntar a mim?

Cassie se sentou na beira da cama.

— Prefiro esperar você terminar, antes de tomar o meu banho.

Ocorreu a Sebastian então como ela era tímida. Sem dúvida, tinha vergonha da horrível cicatriz. Raiva o assolou novamente pelo que Cassie sofrera nas mãos daquele homem louco.

— Não — murmurou ele. — Vá você primeiro. Preciso dar alguns telefonemas, de qualquer forma.

Quando ele voltou para o quarto, ela estava deitada entre os travesseiros, parecendo pequena, frágil e insegura. Sebastian se aproximou e, pegando-lhe uma das mãos, levou-a aos lábios, beijando cada um dos dedos delicados.

— Passei para ver Sam. Ele está dormindo pacificamente. — Ele inclinou-se para lhe dar um beijo na testa. — Vou tomar um banho rápido. Não durma ainda, certo, ágape mou.

Ela sorriu, mas havia um ar de tristeza nos olhos verdes.

— Não vou dormir.

Cassie esperou, seu coração disparando no peito quando ele saiu do banheiro com nada além de uma toalha enrolada na cintura. Sebastian tinha um corpo tão magnífico, tão másculo. Ele tirou a toalha e virou as cobertas para entrar na cama ao seu lado, aconchegando-a nos braços por um longo tempo antes de falar.

No silêncio abençoado, começou a acariciá-la, o toque das mãos suave e quase reverente.

— Sua pele é como seda — sussurrou Sebastian contra o seu ouvido.

Cassie tremeu quando ele a beijou de maneira ardente e possessiva.

Ele afastou a boca para beijar cada um dos seios, devagar a língua rolando, lambendo e provocando, até que ela arqueou as costas do colchão. Sebastian continuou uma trilha sensual, descendo para o umbigo, antes de chegar ao coração secreto feminino, excitando-a até que Cassie ofegasse na liberação de seu clímax.

Cassie queria lhe dar prazer, mas ele parecia sem pressa, enquanto continuava adorando seu corpo. Empurrava suas mãos, beijava-a no silêncio, tirando-lhe toda a tensão com o deslize sensual das mãos hábeis.

Em determinado ponto, Sebastian a virou de bruços. Cassie resistiu no começo, mas ele foi tão gentil que a fez render-se. Ela sentiu cada beijo ao longo de sua coluna, os lábios se demorando sobre a cicatriz, como se quisessem remover sua dor e suas memórias ruins.

Quando a virou de novo, Sebastian viu as lágrimas no rosto bonito e secou-as com a ponta do lençol.

— Eu gostaria de poder fazer o passado desaparecer para você, Cassie. Quero esclarecer esta história, contar ao povo desta ilha, quão injustamente você foi tratada.

Cassie se afastou do abraço.

— Acabou, e preciso seguir adiante, para o bem de meu filho. Não quero que ele saiba desta história, por isso quero ir para um lugar onde ninguém me conheça. Ele já ouviu coisas demais.

— Cassie, eu não posso deixá-la sair de Aristo até que considere apropriado. Você entende isso?

— Eu entendo a sua situação e não estou exigindo nada de você além de minha liberdade.

Ele a olhou por diversos segundos tensos.

— Não vou deixá-la ir embora, Cassie. Se eu precisar trancar todas as portas atrás de você, farei isso.

Furiosa, Cassie se afastou, puxou a colcha aos pés da cama e se cobriu.

— Suponho que o fato de você não ter usado um preservativo lá embaixo faça parte de seu método para me prender, certo?

— O quê? Ela o encarou.

— Eu não estou tomando pílulas, Sebastian, portanto, é melhor você cruzar os dedos e rezar para que o raio não atinja o mesmo lugar duas vezes.

Sebastian a fitou em perplexidade.

— Acha que isso é possível? Em que período do ciclo você está?

— Não existe um período seguro — replicou ela. — Se eu engravidei tomando pílulas, só Deus sabe quão rapidamente eu engravidaria sem elas.

Ele passou as mãos pelos cabelos.

— Preciso de algum tempo para pensar sobre isso.

— Por que você não volta para mim, vamos dizer, talvez em seis anos? — murmurou ela ironicamente.

Ele suspirou.

— Sei que mereço sua raiva, Cassie, mas eu não pretendi colocá-la numa situação comprometedora. Não da primeira vez, e certamente não agora.

― Acha que eu queria que isso acontecesse de novo? — questionou ela. — Foi você quem sugeriu que dormíssemos juntos novamente.

Ele sabia que ela estava certa. Tinha pressionado Cassie para um caso que só poderia ter um resultado.

— Posso dizer não para qualquer pessoa, exceto para você Sebastian. Eu o detesto por isso.

Ele moveu-se sobre ela, segurando-a pelos braços, o aperto firme, porém gentil.

— Sei que você me detesta, Cas. Para ser honesto, eu também me detesto. Mas ódio não nos levará a lugar algum. E importante que Sam nos veja numa relação harmoniosa, como qualquer casal maduro e sensato tem.

— Mas nós não somos um casal — retrucou ela, desvencilhando-se do aperto dele. — Nunca fomos e nunca seremos.

Sebastian não conseguiu ler a expressão dela, o que o frustrou. O que Cassie estava implicando? Que queria algo mais permanente, que sempre quisera um relacionamento mais duradouro? Ele pensou nos obstáculos que enfrentaria se apresentasse Cassie ao povo como sua parceira escolhida. E havia Sam para considerar. Como o garotinho reagiria sendo o centro das atenções? Sebastian sabia que o povo da ilha jamais aceitaria Cassie Kyriakis como sua rainha. Mesmo se limpasse o nome dela, não tinha certeza se obteria tanta aprovação. Pessoas formavam opiniões e não gostavam de mudá-las, mesmo se um caso sólido fosse colocado diante delas.

Quanto aos seus próprios sentimentos, bem, Sebastian estava tentando analisá-los. O amor que sentira por ela seis anos atrás havia sido trancado... ele acreditara que para sempre. Tinha deveres a cumprir, responsabilidades para as quais fora preparado durante toda sua vida. Abrir mão de tudo isso e não corresponder às expectativas do povo de Aristo não seria fácil.

E havia seu irmão Alex para considerar. Alex e a esposa estavam esperando o nascimento de seu primeiro filho dentro de pouco tempo. Alex sempre expressara relutância para assumir o trono. Como se sentiria se Sebastian não lhe desse outra escolha?

— Cassie, não é minha intenção aprisioná-la. Você estará salvo da imprensa aqui. Acredite, minha única motivação é manter você e Sam seguros.

— Tudo bem — replicou ela com um suspiro. — Você tem duas semanas, mas isso é tudo.

 

— PAPAI diz que eu posso ter tintas de verdade para pintar, e pincéis e um... um... cavatete! — anunciou Sam orgulhosamente numa manhã, quatro dias depois.

— Cavalete — corrigiu ela, e abaixou-se para lhe beijar a testa.

— Cavalete — repetiu Sam e continuou entusiasmadamente:

— Eu tenho um novo caminhãozinho e uma pipa, que papai e eu vamos usar na praia, e papai prometeu me dar uma câmera fotográfica quando eu fizer 6 anos.

Cassie forçou um sorriso, apesar de seu tumulto interior. Como podia dizer a Sam que aquela semana de mimos logo acabaria? Não havia dúvidas de que Sebastian continuaria contatando Sam. Em tão pouco tempo, pai e filho tinham estabelecido um relacionamento tão amoroso que muitas vezes levava lágrimas aos seus olhos. Todavia, apesar da paixão que eles haviam compartilhado todas as noites, Sebastian nunca mencionara nada sobre o lugar dela em sua vida. Cassie sabia que Sam sempre seria considerado um filho ilegítimo do rei, um erro do passado dele. E não haveria lugar para a mãe da criança, uma vez que subisse ao trono.

― Papai vai tomar café da manhã comigo — disse Sam. — Vou comer panquecas. Ele falou que posso comer o que eu quiser.

— Querido. — Cassie segurou-lhe as mãozinhas. — Eu não acho que é...

— Está tudo bem — murmurou Sebastian atrás dela. — Eu lido com isto.

Sebastian abaixou-se na frente de Sam.

— Sam, mamãe e eu precisamos conversar. Eleni vai lhe dar o café da manhã hoje, mas prometo almoçar com você.

— Sobre o que você vai conversar com a mamãe? — perguntou ele com o semblante preocupado. — Eu não vou voltar para o orfanato, vou? Não quero voltar. Gosto de estar com você, papai, e mamãe também gosta. Não é, mamãe?

Cassie forçou um sorriso.

— Eu adoro estar em qualquer lugar que você está, meu amorzinho.

— Sei que você gosta daqui, Sam — disse Sebastian. — Eu adoro tê-lo aqui comigo.

— Posso ficar para sempre? — Os olhinhos escuros brilharam com esperança. — Eu amo você. Vou ser muito bonzinho, prometo. Não vou mais fazer xixi na calça. Vou tentar muito, muito.

Um nó de emoção apertou a garganta de Sebastian.

― Sam, não precisa fazer nada além de ser você mesmo. Eu o amo exatamente como você é.

― Então, por que eu vou ser mandado embora? — perguntou Sam.

Sebastian podia sentir a tensão emanando de Cassie.

― Aí está Eleni. Eu voltarei para vê-lo mais tarde. Cassie observou seu filho sair com Eleni antes de virar-se Para encarar Sebastian.

— Bom trabalho, Karedes. Em pouco mais de uma semana, você conseguiu subornar um garotinho para que ele fique longe da mãe.

Os olhos escuros emitiriam faíscas de raiva.

— Eu não fiz uma coisa dessas! Vamos para o meu estúdio e para longe dos ouvidos dos criados.

— Eu sei o que está fazendo — acusou ela, acompanhando-lhe os passos largos. — Está tornando Sam tão dependente de você que ele nem vai notar quando eu for embora. Este é seu plano, não é? Tirar a mãe de cena, assim que for possível. Está oferecendo a Sam brinquedos e oportunidades que eu nunca pude oferecer. Isso o fará pensar que eu não o amo tanto quanto você supostamente o ama.

Sebastian arqueou as sobrancelhas.

— Acha que o que sinto por Sam não é genuíno?

— Não... eu não disse isso. Sei que o ama, e que ele ama você.

— Como eu poderia não amar meu filho? — questionou Sebastian, abrindo a porta do estúdio. — Sam é adorável e inocente, e quero protegê-lo o máximo possível. Ele já sofreu tanto, e ainda é tão pequeno.

— Exatamente. Eu não quero que ele sofra mais — exclamou Cassie. — Sam não entende as circunstâncias de sua vida. Pensa que tudo vai continuar como está, e você precisa prepará-lo para a verdade.

Ele fechou a porta e foi para o meio da sala, pegando um jornal.

— Se você não quer que Sam sofra, então por que fez isto? — perguntou Sebastian, estendendo-lhe o jornal.

Cassie olhou para a manchete, abaixo de uma fotografia de Sam na primeira página: "FILHO ILEGÍTIMO DO FUTURO REI REVELADO PELA EX-PRISIONEIRA CASSIE KYRIAKIS". Olhou para Sebastian, atordoada.

— Você acha que eu sou responsável por isto?

Ele cruzou os braços, encostando-se contra a mesa numa postura acusatória.

— Não faça jogos comigo, Cassie. Sei que no fundo você sempre quis se vingar pela maneira que eu a decepcionei no passado. Mas usar Sam para isso é levar as coisas longe demais. A imprensa enlouqueceu com a notícia. Há jornalistas e vans da televisão ao portão enquanto falamos aqui.

Cassie engoliu em seco.

— Eu não falei com ninguém. Como você pode pensar que eu faria uma coisa dessas?

— Falou com a moça que divide sua casa nos últimos dias?

Cassie lembrou-se do telefonema que recebera de Angélica alguns dias atrás. Angélica ouvira rumores e queria saber o que estava acontecendo. Cassie tinha confessado tudo, e feito sua amiga jurar segredo sobre a paternidade de Sam.

— Cassie? — A voz de Sebastian era aguda. — Você falou com Angélica sobre isso?

— Sim, mas ela nunca... Ele praguejou.

— E você confiou naquela drogada?

— Na verdade, confio em Angélica mais do que em qualquer pessoa — replicou ela com irritação.

— Reconhece a foto?

Cassie olhou para a fotografia novamente.

— Sim. E uma daquelas que perdi em algum lugar. Sobrancelhas escuras se arquearam.

Perdeu ou vendeu para a imprensa através de sua amiga drogada?

Cassie pôs o jornal sobre a mesa com uma mão trêmula. Angélica não é uma drogada. É minha melhor amiga... esteve do meu lado quando ninguém mais esteve.

— Este é o motivo, não é? Eu não fiquei do seu lado quando você mais precisou, portanto é hora da vingança.

— Como pode pensar que eu trairia você ou Sam dessa forma? — perguntou Cassie, com os olhos cheios de lágrimas. — Amo muito vocês dois para agir assim.

Ele ficou imóvel, o semblante se suavizando um pouco.

— Você me ama?

Cassie comprimiu os lábios.

— Desculpe... eu não devia ter deixado isso escapar. Não quero complicar as coisas mais do que já estão complicadas.

Sebastian afastou-se da mesa.

— Isso é uma coisa nova ou antiga?

— Meu amor por você? — Ela o olhou intensamente. — É uma coisa antiga... seis anos, para ser mais exata. Eu sempre o amei, Seb.

Um silêncio tenso seguiu suas palavras. Ela prendeu a respiração, imaginando se ele responderia alguma coisa ou apenas ignoraria sua declaração.

— Lembra quando eu lhe contei que tinha uma fotografia sua que você nunca viu? — murmurou ele num tom de voz mais suave.

— Sim. Esqueci de pedir para você me mostrar. Sebastian andou para uma mesa e pegou um porta-retrato ao lado de um vaso de flores. Voltando, estendeu-lhe. Cassie olhou para a fotografia por um longo momento, sem falar. Estava de perfil na foto, olhando para o mar num fim de tarde ensolarado, algumas mechas de cabelos soprando em seu rosto. Podia lembrar-se do dia. Dois dias antes da morte de seu pai. Tinha ido à praia após uma discussão com ele, sabendo que Theo iria beber até o esquecimento, e que quando voltasse, ele já estaria dormindo.

Cassie caminhara sozinha ao longo da praia, parando de vez em quando para admirar o mar, angustiada sobre o que fazer de seu relacionamento com Sebastian. Quanta ironia ele ter capturado o exato momento em que ela decidira terminar relação. Ficara parada ali, ensaiando mentalmente o que ia lhe dizer, até que se sentisse confiante de que o convenceria de cada mentira.

Cassie soubera que um dos hobbies de Sebastian era fotografia, mas havia alguma coisa sobre esta foto em particular e mostrava o quanto ele era talentoso. Capturara o humor, tornando-o quase tangível.

Muito perto das lágrimas, ela lhe devolveu o porta-retrato e forçou um sorriso para disfarçar suas emoções.

— Você deveria ter me dito que ia tirar a foto. Eu teria arrumado meus cabelos, pelo menos.

Sebastian pôs a foto sobre a mesa.

— Eu ia chamá-la naquele dia, mas então parei. Decidi capturar sua imagem sem que você soubesse que estava sendo fotografada.

— Por que você a guardou? Ele a olhou com intensidade.

— Você já teve uma peça de roupa em seu armário que não usa mais, porém ainda não se sente pronta para descartá-la?

Ela lhe deu um olhar irônico.

— Certamente não é você quem arruma a gaveta de meias e cuecas em sua casa. Tem inúmeros empregados para fazer esta tarefa.

Ele assentiu.

― Sim, talvez você esteja certa. Não há muitas coisas que faço sozinho hoje em dia.

— Inclusive escolher uma esposa?

Sebastian prendeu-lhe o olhar por um momento interminável. Como futuro rei, é esperado que eu me case bem. Mas não permitirei que ninguém faça a escolha final por mim.

Um silêncio se estendeu.

— Tenho uma reunião com meu irmão Alex esta manhã no palácio — anunciou Sebastian. — Logo darei minha declaração à imprensa sobre Sam.

Cassie arregalou os olhos.

— O quê?

— Quero apresentar Sam como meu filho, Cassie. Não quero escondê-lo como se me envergonhasse dele, pois não me envergonho.

— Mas e quanto ao que eu quero? — questionou ela. — Tem ideia do que a imprensa vai fazer comigo? Eles irão me crucificar novamente. Sam ouvirá coisas horríveis a meu respeito.

— Eu entendo as implicações para você, Cassie, e farei o possível para defendê-la.

— Você não estava muito ansioso para me defender minutos atrás — apontou ela. — Estava me acusando de vender este escândalo para a imprensa. Isso mostra o quão pouco me conhece.

— Peço desculpas por ter tirado conclusões precipitadas — murmurou Sebastian. — Não pensei de modo lógico. Você é a última pessoa que falaria com a imprensa. Minha ausência da ilha sem dúvida aumentou a especulação, juntamente com o problema do diamante desaparecido.

— Que diamante desaparecido?

Sebastian contou-lhe. Tinha certeza de que podia confiar nela agora. O amor de Cassie por ele era algo que não esperara, entretanto, que aquecera enormemente seu coração. Queria apenas mais alguns dias para dar a Alex tempo para pensar na proposta que lhe fizera.

— Então, você não pode ser rei sem o diamante? — Cassie perguntou depois que ele lhe contou tudo.

― A coroação ainda está sendo planejada, mas não há garantia de que o diamante será localizado a tempo — respondeu Sebastian. — Isso não pode sair destas quatro paredes, Cassie.

— Pode confiar em mim, Sebastian.

Ele inclinou-se e roçou-lhe os lábios com os seus.

— Sei que posso, ágape mou. Eu só gostaria que tivesse confiado em você desde o começo.

 

A NOTÍCIA SOBRE o filho ilegítimo de Sebastian teve repercussão por diversos dias, o que, ironicamente, deixou Cassie satisfeita por ele ter insistido em mantê-la em Kionia com Sam. Ela mal o vira nos últimos quatro dias. Sebastian chegava tarde da noite, passava longas horas no estúdio, ou andando de um lado para o outro no quarto. Ela quisera se aproximar, mas decidira respeitá-lo. Apesar de ter confessado seu amor, ele não tinha falado dos próprios sentimentos, deixando-a desejosa por algo que jamais teria.

O último dia de sua liberdade condicional chegou, e Cassie tomou uma decisão. Ligou para Angélica, que concordou em encontrá-la, juntamente com Sam, aos portões frontais do esconderijo no horário em que os guardas trocavam turnos. Era um movimento arriscado, mas Cassie sentia que quanto mais tempo levasse para partir, mais Sam sofreria. Arrumou duas sacolas de viagem, guardando o maior número possível de presentes que Sebastian dera a Sam.

Enquanto Eleni estava ocupada em algum outro lugar, Cassie levou as sacolas para o andar de baixo, mas no momento em que ia guardá-las num armário, Sebastian abriu a porta da frente e entrou.

Os olhos escuros foram para as sacolas em suas mãos.

— O que você está fazendo?

Ela colocou as sacolas no chão e o encarou com determinação.

— Estou indo embora com Sam — anunciou. — Nada que você diga vai me impedir. Estou decidida. Meu período de liberdade condicional acabou. Eu sou uma mulher livre.

— Você ia embora sem se despedir? — perguntou ele em tom incrédulo. — Nem mesmo ia me deixar falar com Sam?

Cassie podia sentir a raiva emanando dele.

— Você mal o viu nos últimos dias. Achei melhor partir antes que ele se envolva ainda mais com o pai.

— Você achou melhor tirar meu filho de mim? — gritou Sebastian. — Como isso pode ser a melhor coisa para Sam, ou para mim?

— Nós não pertencemos à sua vida. — Cassie lutou contra as lágrimas. — A imprensa continua falando sobre o meu passado. Não aguento mais. Não posso olhar para o jornal agora, sem que meu estômago se revolva.

— Então, você não viu o jornal de hoje? Ela meneou a cabeça.

— Não.

— Há uma entrevista exclusiva com alguém do orfanato, chamado Spiro, que alega ter dormido com você diversas vezes.

Desespero a inundou.

— E você acreditou nele? Houve uma breve pausa.

— É claro que não. Tenho razões para acreditar que ele está por trás da informação que vazou para a imprensa.

— Muito obrigada por acreditar em mim — disse Cassie emocionada. — Independentemente do que aconteça, jamais vou deixar Sam esquecer o quanto você foi maravilhoso comigo.

Ele lhe deu um olhar indecifrável e abriu o jornal de novo.

— Uma vez que você não leu o resto das notícias, acho que quer saber que meu irmão mais novo, Alex, e sua esposa Maria, tiveram uma menininha ontem à noite. Chama-se Alexandria.

— Oh, esta é uma ótima notícia — murmurou ela. — Espero que tenha ido tudo bem com o parto.

Sebastian suspirou e deixou o jornal de lado.

— Sim, foi tudo bem. Alex estava radiante, contando como cortou o cordão umbilical e segurou a filha antes que qualquer pessoa a tocasse. Obviamente foi uma experiência muito tocante para ele, e para Maria, é claro.

Cassie mordeu os lábios ao ver a emoção no rosto dele. Sabia que Sebastian ainda lamentava não ter estado presente no nascimento de seu filho e nos anos seguintes. Talvez no fundo, ainda a culpasse por não ter insistido mais em contatá-lo e contar sobre a gravidez.

— Eu tenho de ir, Sebastian — disse ela. — Certamente você entende. Isso tudo será esquecido depois que Sam e eu sairmos da ilha. E o melhor caminho... o único caminho. Se você ama Sam verdadeiramente, então vai me deixar levá-lo para onde ele não pode ser machucado por toda essa especulação.

Sebastian sabia que ela estava certa sobre Sam. Ele era muito pequeno e vulnerável para lidar com a imprensa, mas como poderia deixar seu filhinho partir? Acabara de começar a conhecê-lo. Precisava estar perto de Sam.

E então havia Cassie. Como poderia deixá-la ir embora agora que sabia o que sentia por ela, o que sempre sentira? As últimas semanas haviam lhe mostrado o quanto a julgara mal. A culpa pesava em seus ombros como um fardo. Houvera tão pouco tempo para consertar as coisas do passado, se realmente pudessem ser consertadas.

Ele já falara com seus advogados sobre limpar o nome de Cassie, mas eles não tinham sido muito otimistas, argumentando que pareceria que o príncipe regente de Aristo estava manipulando o sistema para limpar o nome de sua amante. Sebastian entendia aquilo politicamente, porém estava mais preocupado em fazer a coisa certa por Cassie e Sam. Mas talvez a coisa certa fosse deixá-los partir de Aristo, pelo menos até que o escândalo perdesse força.

— Tudo bem — concordou ele com um suspiro. — Vou deixá-los ir, mas você deve me informar onde estarão o tempo todo. Irei prover vocês dois, e quero ver Sam quando isso puder ser arranjado. Eu também gostaria de passar algum tempo com você, antes que saia pela manhã.

— É claro — disse Cassie, reprimindo a vontade de chorar. Ele os deixara ir. Tinha tomado uma decisão, e esta não incluía Sam ou ela. Mas então, por que se sentia desapontada? Já soubera que eles nunca ficariam juntos.

Sebastian tinha responsabilidades que passavam de geração em geração. Famílias reais já haviam lidado com aquele tipo de situação muitas vezes no passado. A amante e a criança eram sustentadas longe dos olhos do público, e com o tempo, completamente esquecidas.

Sebastian se aproximou e deu-lhe um beijo suave, que teve o gosto de despedida para Cassie.

Ela deu um passo atrás e murmurou:

— Obrigada pelas memórias que vou levar comigo. Ele a fitou com seriedade.

— Obrigado pelo meu filho — disse Sebastian, aproximando-se de novo e acariciando seu rosto com um dedo.

Cassie sabia que se não se afastasse agora iria, desmoronar. Forçou um sorriso.

— Obrigada pela minha liberdade — então se virou e seguiu em direção à escada.

 

CASSIE FOI cercada pela imprensa em seu caminho até a balsa com Sam, na manhã seguinte. Sam já estava chorando, sem entender o que acontecia. Sebastian passara algum tempo com ele mais cedo, mas tinha saído antes que Cassie pudesse vê-lo pela última vez. Eleni dissera que ele havia sido chamado com urgência ao palácio, mas Cassie questionara se isso era verdade, ou se Sebastian evitara uma despedida.

— Mas eu não quero deixar o papai — choramingou Sam, enquanto Cassie o conduzia para a balsa de passageiros.

— Querido, não podemos mais ficar aqui — disse ela lutando contra as lágrimas ao ouvir insultos à sua pessoa vindos do cais.

Finalmente eles estavam a caminho, e Sam, exausto, dormiu no seu colo, o rostinho inchado de tanto chorar. Cassie acariciou-lhe os cabelos, lágrimas escorrendo enquanto a ilha começava a diminuir a distância.

— Dhespinis Kyriakis? — Uma mulher de aproximadamente 30 anos pareceu surgir do nada. — Posso me sentar ao seu lado e ao lado de seu garotinho?

Cassie não poderia negar, uma vez que o lugar estava vago; na verdade, era o único lugar vago daquele lado da balsa.

— Se quiser — replicou ela, e aninhou Sam mais junto ao corpo.

— Eu ouvi o que as pessoas estavam lhe dizendo lá no cais — murmurou a mulher após um momento. Cassei a olhou.

— Se tem algo a acrescentar ao que foi dito, esqueça. Eu já ouvi o bastante.

— Não estou aqui para insultá-la — disse a mulher. — Estou aqui para acabar com os mal-entendidos. Eu... conheci seu pai.

Alguma coisa no tom triste da mulher despertou o interesse de Cassie.

— Verdade?

— Trabalhei para ele dez anos atrás — contou ela. — Ele me molestava constantemente, me ameaçava, e me agrediu fisicamente mais de uma vez. Mas sempre que eu tentava denunciá-lo, ele ameaçava manchar minha reputação, espalhando rumores falsos. Eu era muito jovem e inexperiente para lidar com aquilo, então me demiti do emprego. Levei anos para me reerguer novamente. Poucos anos atrás, consegui um emprego como jornalista em Londres.

Cassie ficou tensa.

— Você é jornalista?

— Por favor, não se preocupe — disse a mulher. — Eu estava visitando parentes em Calista e soube sobre o filho ilegítimo do príncipe regente. Vi seu nome no jornal. Quando li sobre sua prisão por homicídio culposo de Theo Kyriakis, soube que alguma coisa devia estar errada. Eu queria conhecê-la, entrevistá-la, de modo que você possa me contar seu lado da história e receber a justiça que lhe foi negada até agora. Irei ajudá-la, e, fazendo isso, receber a justiça que também me foi negada anos atrás.

Cassie refletiu. Deveria fazer isso, pelo bem de Sam, senão pelo seu? Afinal de contas, Sam teria de viver com o estigma de ter uma mãe ex-prisioneira. Se limpasse seu nome, este seria um passo na longa estrada para recuperar sua vida. Além disso, também ajudaria a jovem jornalista que sofrera nas mãos de seu pai.

— Nem sei por onde começar — disse ela.

A jornalista ofereceu-lhe a mão.

— Meu nome é Alexia, e sempre acho que o melhor lugar para começar é do princípio.

 

SEBASTIAN OBSERVOU a balsa se afastando, desaparecendo de vista. Seus olhos lacrimejavam, e não era por causa da brisa no cais.

Atrás deles, seus guarda-costas lutavam para conter as pessoas reunidas ao seu redor, algumas delas segurando placas com palavras desgostosas escritas sobre Cassie.

Ele virou-se e encarou a multidão, ignorando os protestos de seus guarda-costas. Estava ciente das fotos sendo sacadas e de cada palavra que dizia sendo gravada, todavia, não se importava mais. Sebastian falou para a imprensa e para o povo, contando-lhes sobre a injustiça que Cassandra Kyriakis tinha sofrido, não somente nas mãos do pai desde criança, mas nas mãos da justiça, que erroneamente a prendera apenas porque ela tentara se proteger da violência do pai.

A multidão gradualmente começou a se dissipar, como cachorros que haviam sido punidos; com os rabos entre as pernas enquanto fugiam.

Stefanos abriu a porta do carro para Sebastian.

— Sabe que isso estará em todos os jornais amanhã, Alteza?

Sebastian deu de ombros. Eu não estarei aqui para ler.

— Posso lhe perguntar onde estará, Alteza? Sebastian olhou para o palácio, então para o leve contorno da balsa.

— Vou deixá-lo adivinhar — replicou ele, esboçando um sorriso amplo.

— Isso significa que vai requisitar o helicóptero da família real?

Sebastian olhou para o seu criado, ainda sorrindo.

— Pode apostar. Leve-me para o heliponto imediatamente.

 

APÓS ACOMODAR Sam para uma soneca na pequena casa que escolhera na ilha grega Ithaki, Cassie saiu no terraço para respirar o ar puro e salino. A ilha menos populosa a atraíra, uma vez que o pequeno número de turistas significava que ela e Sam poderiam passar despercebidos até que ela decidisse onde reconstruir sua vida.

O som de passos vindo de trás a fez virar-se, seus olhos se arregalando quando viu Sebastian parado ali.

— Você está aqui para tecer seu véu? — perguntou ele. Cassie franziu o cenho em confusão.

— Como?

O divertimento brilhou nos olhos escuros.

— Não conhece a lenda de Penélope e Odisseu?

— Mais ou menos...

— A antiga ilha de Ithaca, agora conhecida como Ithaki, foi o lar de Odisseu por um longo tempo — explicou ele. — A lenda diz que Penélope ficou sentada esperando pelo retorno dele, tecendo um véu a fim de manter seus pretendentes em expectativa, dizendo-lhes que quando o véu ficasse pronto, ela escolheria um deles. Mas toda noite, desmanchava o trabalho feito durante o dia, enquanto esperava pelo retorno de Odisseu.

Cassie sentiu alguma coisa se mover dentro de seu peito.

— Eu nem saberia começar a tecer...

— Talvez isso seja bom — murmurou ele. — Pois eu não gostaria que este pretendente em particular fosse rejeitado.

Ela continuou olhando-o, tentando dar sentido àquelas palavras a esperança como uma chama se acendendo em seu interior, lutando para aquecer o frio que envolvera seu coração ao partir naquela manhã.

— Você não vai dizer nada? — perguntou ele.

Ela hesitou.

— Se você veio ver Sam, lamento, mas ele acabou de dormir. Enjoou um pouco no caminho.

— Eu adoraria ver Sam, mas antes quero falar com você.

Cassie mordiscou os lábios.

— Ouça, se é sobre a jornalista com quem conversei na balsa...

— Não é sobre jornalistas, e se você falou com uma delas, não pode ter sido pior do que eu disse aos paparazzi e para o povo da ilha no cais — murmurou ele sorrindo. — Estou quase ansioso para ler os jornais de amanhã.

Ela franziu o cenho.

— Você falou com a imprensa? Ele devolveu um olhar terno.

— Achou que eu não a defenderia, ágape mou?

Cassie não sabia o que pensar. Estava lutando para conter suas emoções, seu coração bombeando tão forte que fez sua cabeça girar.

Sebastian se aproximou e pegou-lhe as mãos nas suas.

― Cas, eu deveria ter dito isso no dia em que você me contou sobre Sam... Na verdade, deveria ter falado quando soube sobre seu pai e como ele a tratou.

— Falado... o quê?

— Não pode adivinhar?

Cassie meneou a cabeça. Ele levou-lhe as mãos à boca e beijou cada um dos dedos enquanto prendia o olhar dela.

— Eu amo você — declarou. — Eu a amo há tanto tempo que senti como se tivesse perdido um membro quando você e Sam partiram. Fui chamado ao palácio com o falso pretexto de um assunto urgente, porque suspeito que todos sabiam que eu ia tentar impedi-la de ir se passasse mais um minuto ao seu lado.

— Nós não temos futuro, Seb — disse ela. — Você sabe disso. O trono está...

— Vazio até que Alex se decida se vai ou não assumi-lo — completou Sebastian. — Eu não quero reinar, a menos que você esteja ao meu lado. Você me completa, Cas, de um jeito que ninguém mais poderia fazer. Não é somente por causa de Sam... preciso que saiba disso. Se o povo não vai aceitá-la como minha esposa, então fico feliz em abandonar o trono e tudo o que ele representa.

Cassie não podia acreditar no que estava ouvindo.

— Sua... esposa? — gaguejou ela. — Quer que eu me case com você?

Ele sorriu-lhe com amor brilhando nos olhos.

— Assim que isso puder ser arranjado. Tanto tempo foi roubado de nós. Quero torná-la minha esposa e começar a providenciar um irmão ou irmã para Sam. Podemos ser uma família finalmente. Não me importa se é em Aristo ou em qualquer outro lugar. Todavia, suspeito que depois do que falei para a imprensa esta manhã, logo você se tornará a princesa do povo.

Cassie não pôde conter as lágrimas; escorriam pelo seu rosto enquanto abraçava Sebastian.

― Eu só quero ser a sua princesa.

Sebastian passou os braços ao seu redor, pressionando-a contra si.

— Você Sempre foi minha princesa, Cas, a princesa do meu coração.

Houve o som de pequenos passos no terraço, então uma vozinha infantil gritou:

— Papai! Você veio visitar!

Sebastian sorriu e ergueu o filho nos braços.

— Não somente visitar, Sam — Sebastian respondeu abraçando o filho bem apertado.

— Eu vim para ficar.

 

                                                                                Melanie Milburne  

 

                      

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