Biblio VT
Eu trabalho num porão.
Pode parecer estranho, mas existe um mundo subterrâneo, vida no subsolo, onde às vezes é bom estar longe do mundo. Mas a verdade é que o mundo acaba esquecendo de você. Bom, eu prefiro encarar essa minha vida no porão da empresa onde trabalho como uma espécie de fuga. E possivelmente seja isso mesmo.
Mudanças aqui? Esqueça! Minha vida é toda planejada. Terminar a faculdade, arranjar uma colocação melhor no mercado de trabalho, viajar por aí com o meu dinheiro.
Não quero carregar caixas o resto da vida e ser conhecida como a “garota do arquivo”.
Amor? Palavra bonitinha, não? Mas ele não está nos meus planos. Meu último namorado rodou já faz um tempo. Isso significa também que não trepo com ninguém há algum tempo. Seria essa a razão do meu mau humor? De qualquer maneira, sem planos para o amor, sem grandes expectativas, tudo simples e direto. E sinceramente, não espero que isso mude, a não ser que a minha Fada Madrinha esteja perdida por aí, em alguma outra dimensão. Mas não. Contos de Fadas não existem...
- Preciso da caixa dezessete, rápido! - algum filho da puta que não tem noção alguma grita pelo batente da porta sem entrar. Realmente não é para entrar... Esse é meu inferno de sessenta metros quadrados, cercada de caixas de arquivos.
- Ok! Está aqui! - respondo no tom de rebeldia que a caixa foi solicitada, ser arquivista enquanto vive... Algo não combina nessa frase.
- Calma, mocinha... - minha chefe me repreende. A vaca não deve dar uma boa trepada há pelo menos dois milênios.
- Desculpe. - merda! Ainda levo uma bronca.
- Olá, estressada? - Ah não, era tudo que eu não queria. Vanessa Emanuelle invadindo meu purgatório, loura de voz fina e que adora saltos altos... deixa para lá.
- Não estou estressada! – ralho.
- Não? O grito que acabei de ouvir saiu daqui do arquivo e tenho certeza que você tem algo a ver com isso. - ela afirma cruzando os braços e batendo o pé direito no chão. Parece uma tia chata me chamando a atenção.
- Como não ficar tensa? Olha o que chegou do escritório da Av. Paulista! Estou duplamente fodida. Vou atravessar a noite trabalhando nesses arquivos, porque tenho menos de quarenta e oito horas para o inventário. - Explico enquanto levo as caixas para lugares previamente estabelecidos nas estantes de aço.
- Carol, você precisa de um namorado! - quero dar um soco na cara dela - Você é linda, pele clarinha, olhos azuis perfeitos e um cabelo castanho de dar inveja. Você precisa mostrar mais o seu corpo. - quero dar mais que um soco na cara dela. - Você está sempre de jeans e all star. - quero uma arma, e muita munição. Pensando bem, acho que a TPM se aproxima.
- Escute aqui, Vanessa, eu até colocaria um Dior para vir trabalhar, mas tenho que carregar caixas, esqueceu? Acho que essa alta costura que estou vestindo me cai melhor para a ocasião. - respondo grosseiramente enquanto estico a polo com o logo ARTAME sobre o peito direito.
- Ah, Carol, se eu tivesse esse par de coxas que você tem, eu já teria conquistado Sr. Axel. - ela sorri enquanto fala.
- Vanessa, frequente academia e treine por mais de dois anos e seus problemas de ordem física estarão resolvidos e, por favor, pare de chamar Pedro Villas Boas de
Axel. Ele não é o personagem do seu conto erótico favorito, ele é o dono das empresas ARTAME. - bufo e carrego mais uma caixa
- Ele é a cara do Axel! - ela responde.
- Eu nunca vi esse Pedro e também nunca li nada sobre Axel, então, eu não posso afirmar sua teoria!
- Em nome de Deus, Carol, ele vem aqui quase todos os dias!
- Eu não trabalho na recepção do prédio, eu trabalho no segundo andar do subsolo, ou você não percebeu isso?
- Não vou discutir com você. Ao menos poderia interagir mais na hora do almoço! – ela bronqueia e agradeço a Deus por não andar armada.
- Apenas para lhe manter informada, eu não quero saber o que acontece aqui na ARTAME, ou melhor, em nenhuma das ARTAMES. Eu quero apenas trabalhar e concluir meu curso, ok? – ela está me irritando mais do que o normal.
- Você não existe, tem vinte e três anos e vai se formar em Letras, é isso? –Será que bater nela com o grampeador causaria um dano irreversível?
- Engenharia, Vanessa! Engenharia de produtos, desinformada! - falo juntando as mãos em oração diante da cara lavada dela.
- E o que diabos você esta fazendo em uma sala com milhões de caixas de arquivos? – e definitivamente minha paciência chegou ao limite.
- Tentando de maneira fracassada ficar longe de pessoas chatas. – respondo ironicamente e abro a porta da minha sala. – Agora, por favor, me deixe trabalhar e volte para a recepção. De repente o Sr. Axel pode chegar. – cinismo puro. Vanessa sai da sala, mas antes me dá um beijo no rosto. É uma cretina mesmo.
- Carolzinha, meu amor, a mais gata da ARTAME! – mal me livro de uma, aparece outro.
- Oi, Gustavo. – então olho para o carrinho que ele está empurrando. – Ah, não, Gustavo, preciso terminar essas. – falo e aponto para uma pilha de caixas que estão à minha volta.
- Você é linda sempre, até me dando uma bronca, mas precisamos terminar hoje, no máximo até amanhã ao meio dia. – resmungo um belo de um palavrão.
- Eu sei... Mas é que ter apenas dois dias para fazer tudo isso é de foder! –desabafo com ele. Ele sabe que é um trabalho difícil, ele é o arquivista do outro prédio e foi promovido. Também pudera, há mais de sete anos na mesma função, eu estou há três e realmente não vejo a hora de sair.
- Vou deixar aqui. – ele dispensa as caixas e sai. Eu sei que vou perder a aula hoje, são mais de quatro horas da tarde. Penso em lamento enquanto tento ser rápida.
Tudo bem que temos que ter cópias de segurança, mas isso é um exagero.
Já havia organizado boa parte do estoque e, de verdade, nem me atentei em ver as horas; eu quero apenas terminar logo e ir embora. Um barulho vindo do meu celular
avisa que alguém está querendo falar comigo ou a empresa de telefonia avisando sobre meus créditos. Preciso mudar para pós pago.
PERDEU A PROVA DO GERALDO! – 23:43 – Sandrinha J
- Puta que pariu! – grito dentro da sala. Esqueci a prova de Cálculo hoje. Merda, inferno, vou pegar uma DP por conta dessa merda. Sempre pode piorar!
Saio da mensagem da Sandrinha e vou para o playlist, deixo rolar da primeira, gosto de todas as músicas e, também, o tempo que vou ficar aqui com certeza vou ouvir
todas umas dez vezes.
- Quase meia noite, vou virar abóbora! – falo alto enquanto trabalho e depois tento acompanhar Rihanna em “We found a love”. O meu ramal toca; pelo horário deve
ser a fada de Burbank avisando que eu me fodi e que ser abóbora será minha condição permanente.
- Caroline. – atendo meu ramal enquanto abaixo o volume da música.
- Quem? – uma voz baixa, séria e grossa do outro lado da linha pergunta.
- Caroline do arquivo! – respondo brava desligando a música do meu celular.
- Ok! – o filho da puta desliga o telefone na minha cara.
Vamos lá, Carol, faltam apenas quatorze caixas! Um otimismo que não é meu tenta entrar, mas eu não deixo...
- Caroline do arquivo... – a voz do telefone está na minha sala, ainda não sei se isso é bom.
- Apenas Caroline – respondo enquanto me viro e me deparo com um homem alto, não mais de trinta anos, cabelos castanhos e olhos azuis, como os meus, mas os dele
brilham, me convidam, me deixam de boca aberta. O belo homem que não usa o paletó de seu conjunto social cinza escuro, está olhando nos meus olhos e, por alguma
estranha razão, eu gosto disso. Acho que gosto dos olhos dele também...
- Apenas Caroline, muito tarde para estar trabalhando - o moço que empesteou meu arquivo com um perfume hipnótico, afirma sobre o horário enquanto dobra as mangas
de sua camisa branca. Quase uma provocação, calça bem alinhada, sapatos impecáveis, por cima da camisa um colete apenas para deixar mais sexy esse homem. Puta merda!
- Digo o mesmo! – cala boca, né, Carol! Minha última dose de bom senso ralha comigo.
- Correto. - ele afirma enquanto entrelaça os dedos entre seus cabelos ajeitando-os para trás. – Sou Pedro Villas Boas. – e põe boa nisso. – Acho que já ouviu falar
de mim.
- Não. – quase todo dia quando a Vanessa vem me encher o saco. Penso comigo – Sei quem é você, apenas isso.
- Certo, eu vou te ajudar com isso. – minha pele empoeirada pelas caixas ouriça.
- Não precisa, Sr. Villas Boas, estou quase acabando. – em nome de Deus, homem, vai embora, não respondo por mim.
- Faço questão. – ele retruca e suspende a caixa 81. Era a maior e o músculo de seu braço salta sob o tecido fino da camisa. Preciso de água.
- Bom, já que insiste, estou muito cansada pra me fazer de rogada, pode colocar na ala B, setor 3.a. - respondi e dei de ombros.
- Ok, mas onde fica? – soltei uma risada infame, sem educação, um metro e sessenta e cinco de puro desrespeito hierárquico.
- Não...sim...não... quero dizer, é que a forma como disse... – me perdi na explicação e o sorriso dele me deixou sem jeito.
- Apesar de estar rindo de mim, seu sorriso é lindo. – ops, será que foi uma cantada? Melhor do que me demitir...
- Obrigada. – agradeci e apontei a estante onde ele deveria guardar a caixa. Pedro Villas Boas está carregando caixas para mim. E ele é forte. Concentre-se, Caroline
de Francis, ele é seu chefe. Maldito bom senso.
- Por que não tenta uma vaga na recepção? – ele sugere.
- Por que eu não quero? – muito mal educada, Carol. Se você conseguir sobreviver com seu emprego até terminar essas caixas será um milagre.
- Calma...
- Estou calma, mas eu não entendo por que uma mulher bonita não pode ser bem sucedida e inteligente, isso me frustra.
- Não foi a minha intenção – ele tenta se redimir.
- Ok. – respondo e apanho outra caixa e ele também. Durante alguns longos minutos nos esbarramos com caixas nas mãos, em outros minutos ele apenas observava como
eu etiquetava as caixas e em outros segundos eu o flagrei me olhando como se quisesse descobrir algo importante. Não tenho nada de importante e trabalho no subsolo
da empresa dele.
- Escute... Como você vai embora? Está de carro?
- Não tenho carro, vou embora de taxi. – respondo e empurro uma das últimas caixas prateleira a dentro.
- De forma alguma, eu levo você. – por favor, não leve, penso comigo.
- Não há necessidade. – tento evitar. Esse homem mesmo descabelado causa certo pânico sexual nessa arquivista.
- Faço questão. – ele afirma e segura a última caixa e coloca na prateleira. Ele aprendeu rápido a disposição de cada setor do meu esconderijo.
- Tudo bem, vai me poupar tempo, assim eu posso dormir um pouco e terminar de etiquetar tudo amanhã de manhã. – dou satisfação do meu expediente para alguém que
com certeza nem vai lembrar quem eu sou pela manhã.
- Amanhã você não vai trabalhar. – ele rasga de forma rude.
- Claro que vou. – discuto esquecendo que ele é quem paga meu salário.
- É uma ordem, Caroline. Está proibida de trabalhar amanhã. São quase três horas da manhã e com certeza eu não me perdoaria. – se perdoar do quê, homem maluco?
- Você pedindo assim, tudo bem, assim eu descanso. – sem graça respondo e prendo meu cabelo com um coque alto.
- Boa menina... Sua família sabe que está trabalhando, certo? Por conta do horário, talvez estejam preocupados. – curioso demais. Penso comigo.
- Sou filha única, meus pais faleceram há quatro anos em um acidente de carro, moro sozinha. – por que estou contando minha vida para o Sr. Villas Boas? Penso.
- Sinto muito. – ele responde e continua. – E seu namorado? – mais que curioso.
- Não tenho,
- Nunca teve?
- Oi? Não entendi?
- Desculpe, não quis ser inconveniente. – gosto do interesse, apesar de me assustar um pouco.
- Não tem problema, terminei meu namoro há mais de dois anos e decidi me dedicar aos estudos, me formar é meu objetivo. – respondo firme. – E o Sr.? Por que está
aqui até esse horário? – posso ser curiosa também.
- Dois servidores travaram e um site de segurança foi bloqueado e, por favor, não me chame de Sr. Tenho apenas vinte e oito anos. – ele responde e se senta em minha
cadeira apoiando os cotovelos sobre os joelhos.
- Entendo, desculpe. – respondo e meus olhos alcançam seus dedos e olho algo que me incomoda. – Você vai casar? – ah! Que cacete, Carol! Muito intrometida, por que
não cala a boca? Uma voz racional me dá uma bela cotovelada. – Me perdoe, desculpa, apenas reparei na aliança.
- Não se preocupe, posso responder. – ele roda a aliança no dedo. - Vou me casar em duas semanas. – ele respondeu triste. Não sei, parece que não gostou da minha
pergunta. Fico imaginando como deve ser a noiva dele. Aquele tipo de mulher de pele bonita, rica, bem sucedida, fala no mínimo três idiomas, deve ter um corpo escultural
e com certeza deve se rastejar por ele, porque claro que ele deve gostar disso, colocar uma mordaça na mulher enquanto a fode.
- Parabéns. – falo baixo e saio da sala.
- Onde você vai? – ele questiona.
- Até a cozinha, preciso de um café. – droga ele vai casar. Por que estou triste por conta disso? Esquece, Carol, amanhã é outro dia.
- Acho que também quero. Se importa? – Ó, Deus, suja, cansada e tremendamente abalada pela informação sobre o casamento. Carol, seja sensata, você acabou de conhecer
esse homem! Um alerta é disparado dentro do meu crânio, deve ser o bom senso que esbarrou no alarme de incêndio.
- Ok, sem problema. – O celular dele toca, o som é Kings Of Leon, Beautiful War.
- Alô? – ele atende o celular enquanto caminhamos para a cozinha. – Jamile, ainda estou no escritório, eu te disse que trabalharia até tarde e pare de gritar. –
ele fica para trás e eu aperto o passo, não quero ouvir a discussão. – Escute, estou cansado e de saco cheio de seu ciúme incabível. – cacete, ele está bravo e parou
no corredor e eu corri para a cozinha e fechei a porta. – Eu falo o palavrão que eu quiser, caralho! – ele gritou – Você se tornou insuportável depois dessa merda
de noivado. – Pai eterno, ele não está feliz. – Eu vou desligar e conversamos pela manhã. – escuto seus passos em minha direção, ou melhor, em direção a cozinha.
- Me perdoe. – ele pede assim que entra na cozinha e também aperta o botão da cafeteira.
- Não precisa se desculpar e também não precisa me levar, eu pego um taxi.
- Eu vou levar você sim e esse assunto está encerrado. – ele ralha.
- Tudo bem, não vou discutir. – bebo um pequeno gole café.
- Ótimo. – ele bebe o café e o desenho ondulado de sua boca vermelha em torno do copo branco me faz pensar algo em alguns tons abaixo da safadeza. – E amanhã está
de folga, não se esqueça disso. – ele ordena.
- Está me dando ordens, Sr. Villas Boas?
- Sim, Caroline, estou. – ele me encara e eu acho que quero ele em mim, eu acho.
- Ok! Vou dormir o dia todo! – brinco para quebrar o clima.
- Muito bem, boa menina... – ele termina o café – Podemos ir?
- Sim, preciso pegar minha bolsa.
- Preciso pegar minha carteira. – ele diz e nesse momento ambos têm a brilhante ideia de jogar os copos no lixo ao mesmo tempo e nossas mãos se tocam, sinto o choque
e as mãos se repelem. –Te espero na recepção.
- Ok. – falo e saio em disparada para meu subsolo. Santo Deus!
E aí, a ficha caiu. Pedro Villas Boas, o magnata que está subindo mais de oitenta andares nesse exato momento, proprietário da rede ARTAME de segurança tecnológica,
passou horas me ajudando com caixas empoeiradas e agora vai me levar para casa. Cacete! Mas ele vai se casar... Apanho minha bolsa e meu celular e caminho rumo a
recepção.
Depois de poucos minutos ele aparece pela porta do elevador.
- Vamos! – ele pergunta.
- Sim. – atendo, gostando do que estou prestes a fazer.
- Está tudo bem? – ele pergunta enquanto caminhamos para o estacionamento.
- Sim, está, estou um pouco cansada, não vejo a hora de tomar um banho. – ele abre a porta da BMW M3, branca, com certeza blindada, perfeita. –Obrigada. – agradeço
e ele contorna o carro.
Ele coloca seu paletó no banco de trás, e acelera.
Ele segue o trajeto sem dizer nada. Às vezes, por entre as pontas dos meus cílios, percebo seu olhar. Me ajeito ao seu lado e o couro do banco faz barulho. Estou
encantada como ele conduz, a tecnologia com certeza ajuda. O rosto dele é como um insulto, os cabelos roçam o colarinho da camisa, o queixo bem desenhado angular,
nariz fino e reto entre sobrancelhas não tão grossas. Nossa, ele é muito bonito.
- Chegamos. – ele interrompe minha admiração
- Como você sabe onde eu moro? – digo espantada assim que percebo que estou na frente do meu prédio.
- Trabalha para minha empresa, então foi fácil acessar o sistema. – ele responde com naturalidade. Eu não acho natural, mas gostei...
- Ah! Entendi, mas como soube que eu estava no subsolo trabalhando? Estávamos muitos andares longe um do outro, por mais que eu fizesse barulho, você não ouviria.
- Câmeras. Sou proprietário de uma empresa de segurança de rede, preciso saber quem entra e quem sai da minha corporação, e principalmente, o que meus funcionários
estão fazendo, no seu caso estava dançando. – ele riu.
- Desculpe, foi para descontrair. – senti minhas bochechas esquentarem.
- Sem problemas, pelo horário eu permito. – ele sorriu mais lindamente ainda e algo amoleceu aqui dentro.
- Costuma espiar os funcionários com frequência?
- Sim, mas hoje enquanto eu lia o relatório de erros e sem querer olhei para o monitor e vi você rebolando, santo Deus, enlouqueci.
- Eu não estava rebolando!
- Estava sim, e confesso que olharia você fazer aquilo durante muito tempo.
- Você costuma falar assim com as pessoas?
- Apenas com as que rebolam no segundo andar do subsolo da minha empresa. – corei. – Posso subir com você?
- Pode. – não sei por que aceitei, mas não me arrependo. Saímos do carro e o porteiro espichou os olhos.
- Oi, Juan.
- Oi, Carolzinha! – essa intimidade me repele, penso enquanto ele abre o portão e andamos em direção ao elevador.
- Carolzinha? – Pedro perguntou ironicamente, como se não tivesse gostado. Ou será que foi impressão minha?
- Sim, ele é meu amigo, além de porteiro do prédio onde moro.
- Entendo. – ele diz num rosnado.
- Que bom que entende. – eu respondo assim que entro no elevador e, em seguida, Pedro entra e aperta o número dezessete.
- Fez a lição de casa! – brinquei.
- Quando me interessa eu faço. – ele retruca.
- Entendo...
- Que bom que entende. – ele responde com sarcasmo e eu gosto muito disso.
- Bom, agora estou tranquilo. – ele fala assim que a porta do elevador se abre. – Está segura. – ele continua ao meu lado andando em direção ao meu apartamento.
– Descanse, e como falei, espero não vê-la amanhã na ARTAME.
Ele beija meu rosto, e volta para o elevador.
Ok! Posso estar alucinando, talvez seja a falta de sexo, a vida no subsolo como uma minhoca, mas o fato é que eu realmente tive a impressão de que Pedro Villas Boas
queria e muito algo além de uma carona, do contrario não precisaria subir até aqui comigo. Entro no meu apartamento e bato a porta, esquecendo do horário. Inferno.
- MALDITO! – eu grito de dentro do meu apartamento. – Filho de uma puta, desgraçado! Me fez pensar que me queria, cretino, bastardo, lindo! Que ódio!
Tomei um bom banho e me joguei no sofá, sem sono e puta da vida. Não pensei que ficar um ano sem sexo, puta merda, mais de dois anos sem sexo, fosse me deixar assim.
Estou falando de sexo de verdade.
Alguém esta na minha porta agora, deve ser para reclamar da pancada que dei nela alguns minutos atrás.
- É um caralho mesmo! – estou xingando em voz alta. - Já vai! – respondo e caminho em direção à porta abrindo sem olhar pelo olho mágico e esquecendo que estou de
toalha, tanto na cabeça quanto no corpo. Tem que ser muito filho da puta para bater na minha porta a essa hora. Se for para reclamar, reclame amanhã, depois do almoço,
quando meu humor, o bom humor, voltar de sua temporada no Himalaia.
- Preciso disso! – Pedro invade meu apartamento, batendo a porta e me suspendendo em seus braços.
- O que você esta fazendo? – falei com a boca sendo esmagada pela boca dele, enquanto ele arrancava minha toalha e a arremessava.
- Estou beijando você e não vou parar, inclusive quero beijar você aqui. – o maldito enfia o dedo em mim. – Molhada? Assim? Posso pensar que você também estava querendo
isso.
- Não estava! – ralho e ele me leva até o sofá.
- Não? – ele abre a minha perna e lambe do inicio ao fim o meu sexo. – Depois de assistir essa sua bunda rebolando, eu precisava saber que gosto tinha, e eu estou
com fome disso agora. – ele abocanha e lambe vorazmente, circulando com sua língua macia me fazendo gemer alto e, de repente, ele me invade com a língua acrobata
e volta para o meu clitóris, em uma sucessão perfeita de sugadas e lambidas.
- Pedro...
- Preciso que você goze na minha boca, agora! – ele ordena e eu obedeço – Isso... boa menina. – ele responde assim que chego a um fodástico orgasmo, daqueles que
estremecem nosso joelho. – Quero mais! – ele fala e me vira de quatro. – agora vou experimentar tudo. Você tem ideia do quanto é gostosa? - e de novo ele faz um
verdadeiro percurso enlouquecedor, chupa como se estivesse com sede, lambe como se isso fosse matar a sua fome e mais uma vez eu gozo em sua boca, e ela permanece
ali, enquanto ele retira suas roupas. – Goza lindamente. – sinto meu joelho balançar, mas eu o quero dentro de mim.
- Quero mais... – imploro.
- Agora não, vou tomar um banho. – ele fala isso com naturalidade e anda procurando pela porta do banheiro
- Pedro, volta aqui e termine, por favor...
- Não, e peço que não grite. Primeiro vou tomar um banho, depois vou fazer você gozar de novo na minha boca, então, quando ainda sentir você pulsando em minha boca,
eu vou foder você forte. Preciso me vingar da sua rebolada que me deixou de pau duro, quase enlouqueci enquanto carregava caixas. Por Deus, não sei como eu não te
fodi ali mesmo.
- Você tem ideia do que está me dizendo? – pergunto assustada com a revelação dele, e ele volta rápido e bravo.
- Sim, eu tenho. Faz muito tempo que não tenho esse tipo de interação, faz tempo que uma bunda não pira a minha cabeça! – ele fala bravo e me invade com seus dedos
- Você é meu chefe!
- Me processe! Vou adorar encarar você em um tribunal. Vou olhar para você e pensar: “essa gostosa sabe como gozar’’, então não questione o que estou falando. Vou
tomar um banho, vou te dar um merecido orgasmo e vou te foder gostoso. – ele tira os dedos de mim e estou enlouquecidamente querendo que ele me foda, forte de preferência.
Ele começa a se despir e larga as roupas pelo meio do caminho.
- Posso não querer você mais... – provoco enquanto ele encontra o banheiro e abre o chuveiro.
- Duvido, Carol, vou sair daqui e vou cair de boca em você. – ele fala bravo, e isso me excita.
- Vai querer me bater também? – pergunto gritando da sala, estou deitada de pernas abertas, inferno!
- A não ser que peça! – caralho...
- Mas pensando bem acho que não quero mais, já gozei mesmo...
- Escute aqui. – ele sai do banheiro sem desligar o chuveiro, enrolando uma toalha em volta da cintura. Ele usou meu sabonete de morango. – Você não pode falar assim!
- Claro que posso! - desvio dele, que tenta me alcançar.
- Não faça isso, Carol...
- Faço sim, e estou pensando seriamente em processá-lo. – desvio mais uma vez de suas tentativas de me agarrar.
- Por favor, faça isso, me processe! Aí, vou dar um jeito de te foder em cima da mesa do juiz! – ele é louco.
- Você está molhado! – eu ralho. – E está gastando a água toda do prédio!
- Você também... – ele me alcança e me leva até o sofá. – Não sabe a vontade que estou de você. – ele me deita e começa tudo de novo, um inferno de língua, diabolicamente
suave, ele a rola em meu sexo e eu poderia morrer nesse momento.
- Pedro... não...para...eu...vou...huummmm...- sem condições, ele sabe o que fazer e como fazer.
- Você o quê? – ele pergunta assim que coloca o rosto diante do meu. –Termine a frase!
- Você sabe...
- Sim, eu sei. – o semblante dele estava mais calmo, menos afoito e ele se levantou. – Você é gostosa, em todos os sentidos, de qualquer forma que eu devore você.
– ele alcança um pacote laminado do bolso de sua calça. – Quero muito estar em você. – ele veste a camisinha, conversa comigo como se estivéssemos vestidos. – Gosto
de beijar você. – ele sela a minha boca. – Gosto de beijar você em qualquer lugar. – ele desce a boca em meu sexo e me suga mais uma vez.
- Com certeza eu vou te processar...
- Por favor, eu peço, me processe! – E de uma única vez ele me preenche. – Por Deus, Sinto você em torno de mim, forte... apertada... melhor do que imaginei. – forte,
duro e pulsante, ele estava em mim, presente de maneira intensa, fodendo duro, deliciosamente maligno. – Gostosa demais. – uma forma diferente de sentir um orgasmo,
me sinto obrigada a gozar para esse homem.
- Por favor, Pedro, não pare!
- Às suas ordens! – e mais forte ele me estocava, rude, bravo e ameaçador, tudo que sempre quis e não sabia.
Em uma sucessão frenética de estocar em mim, Pedro não cansa e eu gosto dessa disposição em me foder, me fazer gozar, céus.
Enquanto ele deslizava para dentro e para fora, sinto um solavanco e ele sai de mim, e num movimento rápido me posiciona sobre meus joelhos.
- Preciso olhar para sua bunda. – ele fala e eu não controlo mais nada. Remexo meu quadril com ele dentro de mim e chego a um orgasmo secular. – Oh! Não precisava
ter feito isso. – ele me enche, desistiu de segurar, senti meu sexo o agarrando com força e quando ele respirou fundo e gozou.
- Linda! Linda e gostosa! – ele abandona meu corpo, e sai em direção ao banheiro. Finalmente desligou a porra da água.
Ainda estou retomando o folego quando o percebo me olhando do corredor, estou deitada de bruços no sofá. – Você tem noção do quanto é bonita?
- Não exagere, rosto comum, corpo comum.
Ele balança a cabeça como quem discorda do que acabei de dizer e se aproxima.
- Modesta, corpo esculpido com malhação, uma bunda perfeita e um par de seios que me deixa tentado. Carol, você é linda! – ele conclui sentando na beirada do sofá
passando as mãos pelas minhas costas. Carinho depois de uma trepada, algo diferente havia acontecido.
- Preciso dormir! – reparo que a noite está chegando ao fim.
- Eu sei... onde fica seu quarto?
- Última porta do corredor. – conversamos como se nos conhecêssemos e praticássemos sexo com frequência.
- Vem, deixa eu colocar você para dormir... – gosto do pedido. Ele me leva no colo em direção ao quarto. Andamos pelo corredor como íntimos e acho que agora somos.
- É aqui.- Aponto para meu quarto simples.
- De que lado você dorme? – ele pergunta parando aos pés da cama e me colocando suavemente sobre ela.
- Direito.
- Temos um problema. – ele disse.
- Posso saber qual?
- Sim, eu também durmo do lado direito.
- Ok, então para evitar problemas, você dorme do lado direito da sua cama e eu durmo do lado direito da minha cama. – ironizo e alcanço meu robe de dentro do guarda
roupa.
- Outro problema...
- Qual, Pedro?
- Quero dormir aqui! – algo trepidou aqui dentro e o sexo sem emoção pulou da janela do décimo sétimo andar.
- Mas, sua noiva...
- Quero dormir aqui! – ele insiste, me cortando.
- Não!
- Estou pedindo... não quero ir embora. – disse quase em choramingo.
- Não pode, Pedro! – ele estende um edredom e se deita. – Você não está me ouvindo?
- Não! Deite aqui comigo, vou embora antes de você acordar, prometo. – ele se ajeita na cama.
- Pedro, agora mesmo você queria me foder e agora tem essa carência repentina?
- Uma das melhores fodas da minha vida e decidi dormir aqui com você.
- Tomou essa decisão assim, do nada?
- Não, você me ajudou a decidir...
- Não ajudei.
- Deite aqui, me deixa abraçar você?
Como recusar a um pedido desse vindo de um homem que o faz com cara de cachorro sem dono? Deito ao lado dele.
- OK. – o corpo quente dele me envolve.
- Durma bem. – ele beija meu ombro e me aperta contra ele.
Pedro Villas Boas está deitado em minha cama, e meus pensamentos vão para longe e eu o sinto relaxar. Me viro de frente para ele e deslizo minha mão em seu rosto.
Não posso querê-lo mais, não posso, ele vai se casar. Trepou comigo usando a aliança, isso não é certo. Viro-me de costas e minutos depois ele novamente me pressiona
contra seu corpo. Infelizmente gosto disso.
Décimo terceiro dia...
O sol reparte a cortina, a janela que não foi fechada por completo libera um rastro de luz quente, e revela que estou sozinha. Ele cumpriu a promessa. O alto poder
da solidão se faz presente. Sim, eu sou sozinha. Talvez a mais solitária, porque estar sozinha revela também que estou em péssima companhia.
Merda, Carol, era para ser apenas sexo, sem envolvimento, sem abraço ou encaixe para dormir. Era para ser aquela trepada que a gente vai lembrar quando chegar aos
quarenta anos e talvez seja esse tipo de relação que a gente busque, alguém que possa nos dominar. Porque isso é fato, ele me dominou e eu desgraçadamente gostei
muito disso, não poderia ter gostado tanto. Merda de novo, Carol! Acertou em cheio, ele não vai lembrar quem é você essa manhã. A voz que parece com um narrador
esportivo dentro da minha cabeça já estava bem desperta e me avisa sobre a minha sensacional capacidade de acertar algumas desgraças de minha vida. Em meu quarto
apenas o cheiro, em meu corpo apenas a sensação e as trepidações e em meu coração há um desejo inédito, porém tragicamente platônico. Pedro Villas Boas tem o melhor
sexo, mas vai se casar.
O que você queria, Carol? Que ele acordasse e dissesse – ‘’Bom dia, amor’’ – Santo Deus! Não posso me sentir assim.
Alcanço o despertador e vejo que o horário está mais propício para o almoço do que para o café da manhã. São quase onze horas e tomo um banho de quase quarenta minutos,
tentativa fracassada de afogar a voz sensata que tagarela sem parar em meu ombro direito e todas as suas observações sobre Sr. Villas Boas.
Visto uma camiseta que me cobre até o joelho com a cara do Garfield já desbotada e ganho o corredor do apartamento. Nesse momento eu poderia jurar que meu coração
parou.
Uma mesa posta, café da manhã digno de uma rainha e esticar os olhos até o sofá, traz à tona a sensação de gozar na boca dele. Foi a primeira vez que senti um orgasmo
assim, foi a primeira vez que gozei na boca de alguém.
Na mesa de centro um buquê de rosas vermelhas e brancas. Meu coração volta a funcionar de maneira boba e talvez tenha sido nesse momento que Pedro, em forma de avalanche,
tenha entrado em minha vida. Talvez tenha sido depois desse momento, que o Sr. Villas Boas conseguiu esculpir um sorriso em meu rosto apenas por lembrar que estive
em seus braços.
Seguro as flores e um cartão está entre elas:
Carol
Uma das melhores noites de minha vida... Não sabia que carregar caixas me daria de forma tão espetacular um prazer absurdo. Também não sabia que estava ajudando
a mulher que me faria extraordinariamente feliz, satisfeito. Pensar em seu gemido me faz querer estar dentro de você novamente...
Você não é ‘apenas Carol’.
P.
Merda, Carol! A maior de todas... ele vai se casar! Como um ato penitente, resolvo encarar minha vida e como de costume, me troco e saio em direção à ARTAME, desobedecendo
qualquer regra, qualquer ordem, e a essa altura, não consigo querer obedecer. Algo aconteceu no coração da arquivista, ainda não sei se é bom ou ruim.
- Bom dia, Cristina. – cumprimento minha chefe assim que entro em sua sala.
- Boa tarde, Caroline de Francis. – ríspida e sem me olhar. – Isso são horas?
- Trabalhei até as três da manhã. – tentei gentilmente me explicar, mesmo tendo autorização do Sr. Villas Boas para ficar em casa depois dele me foder tão bem, preciso
me conformar com isso. Foi apenas uma foda!
Antes dela pensar em esboçar qualquer reação, seu olhar pela vidraça de sua sala é de espanto, e isso me obriga a me virar também.
Uma correria, como se algum alien estivesse entrando no departamento de arquivos, as pessoas correndo como se quisessem se esconder. De repente, Pedro caminha entre
as mesas, chegando até a sala de Cristina.
- Posso saber o que você está fazendo aqui? – seco, direto e com raiva.
- Desculpe, mas trabalho aqui. – resposta óbvia, mas não consigo sentir raiva, ele faz meu sexo reagir.
- Você não deveria estar aqui!
- É meu trabalho! – respondo e do lado de fora olhos curiosos se amontoam sobre as mesas.
- Trabalhou até às cinco da manhã! – ele fala entre os dentes e eu sei de qual expediente ele está falando.
- Você não disse que trabalhou até às três? – Cristina entra no meio do fogo cruzado.
- Cristina Modera, poderia nos dar licença? – ele pede abrindo a porta para que ela saia, e ela sai sem entender.
- Você não acha que está se expondo? – um pouco de ironia contra ele.
- Você não acha que está desobedecendo demais? – ele rebate.
- Não tenho que obedecer você! Você não é nada meu! Não é meu dono!
- Mas posso ser e gosto de obediência. – ele responde de maneira furiosa, mas contém o tom de suas palavras.
- Você não pode ser meu dono.
- Claro que posso, mas o assunto não é esse, você não deveria estar aqui.
- Posso saber por quê?
- Claro que pode, trabalhou até tarde e não quero ser processado por trabalho escravo. - ele explica esfregando as costas do polegar na testa e meus olhos estão
atentos e minhas sobrancelhas arqueadas.
- Tem medo de um processo trabalhista? Não pareceu...
- Você deveria estar na sua casa! – ele dispara em protesto.
- E qual é o problema? Eu trabalho aqui!
- Eu estava indo pra sua casa! Quero você de novo, porque chupar você ontem me fez bem. Gosto do seu gosto, e francamente, olhar você de quatro rebolando é algo
que posso me acostumar facilmente, e com certeza eu teria feito novamente essa manhã, mas você dormia tão profundamente... tão lindamente. – ele faz uma reação em
cadeia judiar do meu corpo, preciso de outra calcinha.
- Você acha que seria fácil outra vez? Ou que vai ser fácil sempre? Não esqueça que você vai se casar! – não estou me entendendo, gosto de como ele quer me comandar.
- Fácil não, não pensei isso de você. Na realidade eu não tenho o hábito de tirar conclusões precipitadas, apenas achei que você havia gostado. –prepotente! Penso
comigo. Claro que gostei, mas ele não precisa saber disso.
- Gostei, mas já tive melhores! – Uau, Carol, que orgulho de você arquivista. Meu sub agora me ama.
- Ah! Já teve melhores?
- Sim, com alguém que não invadia meu apartamento dizendo que queria me foder, alguém que sabe como tratar uma mulher. – respondo baixo e espio, todo o departamento
está olhando para a sala da Cristina, querendo adivinhar nossa conversa. Deus salve a sala à prova de som!
- O que você queria? Que eu te levasse para jantar e fizesse toda a pompa? – ele enfia as duas mãos no bolso e nega com a cabeça.
-Talvez... mas eu não poderia esperar isso de você – falo olhando em seus olhos e encontro uma sombra. – Eu não esperava isso, jantar ou um passeio de mãos dadas.
Na realidade eu não esperava nada. Eu sou a menina do arquivo e nunca havia te visto pessoalmente, apesar de cuidar de todos os arquivos de sua empresa. Não, Pedro,
não esperava romance de alguém que vai se casar, a não ser que eu fosse a noiva. – Não tiro os olhos dos olhos dele, e meu tom baixo e triste o atinge de certa forma.
- Vou me casar em duas semanas, mas isso não é da sua conta. – a melhor defesa é o ataque, mas ele atacou demais, além do necessário.
- Me perdoe, não quis em nenhum momento invadir sua privacidade. Foi um prazer conhecer você e espero que isso não prejudique meu cargo e minha função, agora se
puder me dar licença. – uma lágrima se equilibra e ele impede que eu saia parando à minha frente.
- Desculpe, não quis ser rude, mas não quero falar do meu casamento. Eu gostei muito do que aconteceu ontem, fazia muito tempo que não me sentia tão bem. – ele fala
de forma mais carinhosa, mas não me encara.
- Não precisa se desculpar. Obrigada pelas flores e por ser tão gentil com o café que deixou pra mim. – Corro as costas do meu indicador sob meu olho e impeço que
a lágrima percorra minha face.
- Não me agradeça.
- Se puder fazer a gentileza de me deixar trabalhar, fique tranquilo, não vou processá-lo por assédio.- desviei dele e cheguei entre as prateleiras que me fazem
companhia.
Inferno! Falo enquanto me agacho entre as duas últimas estantes. Escuto o barulho de saltos em minha direção, pelo perfume forte só pode ser a chata.
- Será que em nome de Deus você pode me dizer o que está acontecendo? – alguma lazarenta fofoqueira ligou para a recepção e alarmou Vanessa que agora está na minha
sala fazendo uma inquisição.
- Agora não, Vanessa! – grito com ela, enquanto esfrego as palmas de minhas mãos nos olhos.
- Agora sim, Caroline! Você disse que não sabia quem ele era há menos de vinte e quatro horas, e agora o Sr. Axel despenca oitenta e sete andares e vai direto conversar
com você! Vai me dizer agora!
- Vanessa, trabalhei até tarde e não deveria ter vindo hoje, desobedeci uma ordem direta, foi apenas isso. – espero que ela acredite, porque eu não posso contar
para ela o que o Sr. Axel é capaz de fazer. Penso enquanto me levanto e vou até a porta.
- Sei, mas por que ele não falou com a Cristina?
- E eu vou saber? Volte pra recepção, eu preciso trabalhar. – expulso-a da sala.
- Não minta para mim.
- Não estou em clima de conversa, Vanessa, volte pra recepção, por favor, depois conversamos. – eu tento ser gentil.
- Ok.
- Ok – respondo e fecho a porta assim que ela sai.
Preciso de uma saída, não posso me sentir atraída por um homem que está para se casar. Por que ele me enviou flores? Era só ter ido embora, depois de uma foda como
aquela não havia necessidade de me encaixar em seu corpo para dormir ou de comprar os melhores croissants para meu café da manhã. Meu telefone toca, e mesmo sabendo
que devo atender antes do terceiro toque, eu espero e respiro fundo antes de atendê-lo.
- Caroline. – respondo desanimada, não quero falar com ninguém.
- Oi. – Pedro fala do outro lado da linha e também não quero falar com ele.
Eu desligo ao reconhecer sua voz. Se ele está achando que vai me foder de novo, esqueça, posso morrer de vontade, me torturar, mas não vai ser do jeito dele.
O telefone volta a tocar.
- Caroline. – atendo novamente meu ramal.
- Se você desligar eu vou descer aí e sua amiga loura da recepção vai voltar para interrogá-la!
- Então eu conto pra ela que o dono da empresa gostou muito de fazer sexo comigo e quer repetir a dose! – respondo sem medo de perder o emprego.
- Por mim, pode falar. – ele falou de um jeito triste, pode ser verdade ou ele é um ótimo ator.
- Fale o que você quer e seja rápido.
- Quero você de novo!
- Nossa, que evolução, não seria: ‘’quero te foder de novo’’?
- Para com isso. Você gostou do que aconteceu, eu sei que gostou. – convencido.
- Gostei, claro, foi diferente, foi bom, mas perdoe a minha intromissão, VOCÊ VAI SE CASAR! – desligo o telefone na cara dele. Que droga! Por mim eu subiria os mais
de oitenta andares e treparia com ele em cima da mesa de sua sala.
Terceira vez que o aparelho toca. Será que posso desligá-lo da parede?
- Caroline! – respondo alto ao atender o telefone.
- Por que você está gritando? – Cristina pergunta.
- Desculpe, deixei cair uma caixa. – tento me redimir.
- Arrume o que derrubou e suba até a sala do Sr Villas Boas. – Ah, você só pode estar brincado! Inferno, Pedro!
- Sim, subo em alguns minutos. – Filho de uma puta!
Falou com minha chefe, me encurralou, mas eu vou dar uma lição nele. Subo os oitenta e sete andares, pensando em algo que o ferisse. Treinei respostas olhando para
o espelho do elevador. Onde já se viu o cara me conhece e em menos de duas horas fala na minha cara que quer me foder? Puta que pariu, e o pior de tudo é que eu
não resisti. Antes disso ele nem sabia quem eu era, não sabia nem meu nome ou quantos funcionários tem lá no porão. Ajeitei meu cabelo e perguntei para Simone onde
é a sala do maldito. Sei que é Simone porque está escrito no crachá dela. Há mais de um ano que não subo acima do vigésimo andar.
- É a segunda porta à esquerda, aguarde um minuto que vou anunciar você. – frescura, bato o pé irritada. – Pode entrar. – ela diz enquanto se levanta e caminha na
minha frente, abrindo a porta para mim.
- Obrigada. – agradeço e entro no território inimigo.
- Boa tarde, Srtª Francis.
- Fale logo, Pedro!
- Calma, acho que começamos com o pé esquerdo.
- Acho que estamos perdendo tempo!
- Não, não estamos...
- Claro que estamos!
- Por que você acha isso?
- Porque você vai se casar e não tenho vocação para ser a outra. Já cometi o erro uma vez e não quero fazer de novo!
- Entendo...
- Que bom que você entende. – respondo lembrando desse mesmo diálogo à noite passada. - Você não me conhecia vinte e quatro horas atrás e agora está com essa obsessão.
Você pode ter quem você quiser! – falo sem encará-lo, olhando para a enorme janela atrás dele. Pedro incrivelmente atraente com um conjunto social preto me observa,
sentado em uma poderosa cadeira reclinável atrás de sua luxuosa mesa de mármore. Suas mãos estão com os dedos entrelaçados e ele me olha como se, no fundo, estivesse
se divertindo com a minha situação.
- E se eu te dissesse que já te conhecia? – Minha espinha gelou. Encaro-o surpresa.
- Já me conhecia?
- Sim, todos os dias eu olhava para o monitor esperando a menina que trazia um saquinho com um pão e um achocolatado em caixinha. – desconfio que estou piscando
aceleradamente.
- E por que só ontem falou comigo?
- Nunca tive a oportunidade que tive ontem. Na realidade, me deu muito trabalho pedir para remover um arquivo todo em um dia. – uma espécie de névoa está sobre mim
e eu me sento no sofá de dois lugares.
- Por que você me fez trabalhar como uma louca?
- Precisava que parecesse algo natural, sem querer. Qual motivo eu teria para falar com você? E a verdade é que ontem algo saiu do controle e ainda não sei se trepei
ou fiz amor com você. – ele me joga um notícia que por Deus eu gostaria que fosse verdade, mas como vou acreditar nele se ele traiu a noiva?
- Mas já conseguiu o que queria, arrume outra, ou não, tente ser fiel!
- Não posso mudar os planos sobre meu casamento. Envolve notícias no jornal e é algo que não quero nesse momento, mas eu tenho uma proposta para lhe fazer. Esteja
à vontade para recusar, não era para ser assim, era realmente para ser uma foda bem dada, mas foram mais de dois meses observando você e isso acumulou um tesão que
não foi suprido ontem. – ele se levanta e vem em minha direção.
- Se essa é a única maneira de você me deixar em paz... Ok, qual é a sua proposta? – Deus, eu não devia ter perguntado.
Ele senta na outra ponta do sofá de forma relaxada. Talvez a proposta dele não seja tão ruim assim.
- Como eu disse, sinta-se à vontade para dizer não. Fique tranquila porque não vou demiti-la e também não vou perseguir você, estamos fazendo um acordo, certo?
- Sim. – concordo com a cabeça.
- Meu casamento será na sexta feira da outra semana, ou seja, em treze dias.
- Sim...
- Gostaria que nesses treze dias que me restam, eu possa me encontrar com você. Que nesses treze dias eu possa esquecer que vou ter um compromisso para o resto de
minha vida e que eu possa pensar que você, Carol, é minha namorada. – escuto, mas não acredito.
- Você é louco?
- Não responda agora. – ele segura e beija minhas duas mãos.
- Como eu posso aceitar isso?
- Não responda agora. – ele pede com a voz calma e o fato de ter me olhado por dois meses balança meu caráter. Não sou santa e estou longe da perfeição.
- Ok, vou pensar, mas, se eu fosse você não teria tantas esperanças.
- Não tem problema, pelo menos fico feliz que vai pensar em mim até o anoitecer. – ele beija meu rosto. – Estes são meus números. Espero pelo seu retorno, mas agora
quero que vá embora para sua casa, descanse, trabalhou muito. – ele me entrega um cartão com todos os contatos e está totalmente diferente, e acho que gosto disso
também. - Martins, por favor, leve a Srtª Francis até seu apartamento. – ele liga e desliga o celular em menos de um minuto, ordenando para o motorista.
- Não precisa, eu vou embora de ônibus.
- Não vai andar de ônibus, pelo menos enquanto for minha namorada.
- Ainda não aceitei...
Ele coloca o indicador sobre os meus lábios me silenciando.
- Dá pra me deixar mimá-la pelo menos por algumas horas? Aguardo sua ligação. – ele sela minha boca com um beijo e eu deixo, gosto da boca dele.
Desci mais de oitenta andares do prédio da ARTAME, mas eu sabia que eu poderia descer muito mais que isso com minha dignidade. Poderia descer até o fundo do poço.
Revirei meu apartamento assim que o motorista me deixou, arrumei armários e meu guarda roupa. Deixei panelas como espelhos e a proposta indecorosa de Pedro era algo
terrivelmente maligno. Ele me observou por dois meses, ele foi sincero quando disse que iria se casar e que isso não iria mudar. De repente viver isso, pode ser
satisfatório para ambos. Para mim que não tenho nenhum compromisso pode ser uma fonte inesgotável de prazer e para ele, que vai se amarrar, pode ser uma bela despedida
de solteiro. Para com isso, Carol! O narrador agora trabalha em tempo integral na minha cabeça e me alerta. Eu sei que posso me envolver, mas é um acordo e estou
ciente que temos data para terminar, não haverá uma cena ou um motivo. Não sei o que fazer, gosto de estar com ele, mas isso definitivamente é errado.
Me fez trabalhar tanto apenas para ter uma foda? Filho da puta!
Passava das oito horas da noite quando liguei para o celular de Pedro.
- Villas Boas. – ele responde.
- Boa noite, Sr. Villas Boas. Sou eu, Caroline de Francis.
- Boa noite, Caroline, estava ansioso.
- Não fique mais, eu tenho uma resposta. – suspiro. Eu sei que posso me arrepender dessa decisão, mas não consigo pensar em alternativas paralelas.
- Pode me adiantar? – ele pergunta em tom de expectativa.
- Não, eu gostaria que fosse pessoalmente, posso exigir isso, certo?
- Claro, posso ir até você?
- Sim.
- Então avise Juan que posso subir, estou aqui embaixo. – cacete! Ele estava na portaria no meu prédio.
- Ok. – desligo o telefone e interfono para a portaria.
- Juan, Sr. Villas Boas pode subir. – peço.
- Tudo bem, ele esta aqui há mais de uma hora. – isso me perfura. Há mais de uma hora! Vejo o sorriso do meu subconsciente.
- Obrigada.
Pedro está subindo e tento me preparar para o que vou falar, apesar de que não há preparo, não há ensaio que possa tornar o que vou dizer fácil. A campainha interrompe
meu pensamento sobre a decisão.
- Boa noite, Srtª Francis. – ele não invadiu o meu apartamento e ele não me agarrou.
- Boa noite, Sr. Villa Boas. – respire fundo, Carol, e saiba que vai ter que arcar com a sua decisão. Meu sub se deita sobre um divã e me lembra sobre o que vai
ser da minha vida, o resto maldito dela...
Ele e todo o poder de me deixar desnorteada, entra em meu apartamento.
- Aceita uma água ou um suco? – tento ser educada enquanto ele afrouxa a gravata e senta no sofá. Ele apoia os cotovelos sobre os joelhos, entrelaça os dedos os
apoiando embaixo do queixo.
- Não, obrigado. Nesse momento aceito apenas sua resposta. – ele mantém a mesma posição e tenta me intimidar. Não vai conseguir mesmo me olhando desse jeito. Posso
comparar seu olhar com uma tempestade, gosto de olhar essa chuva.
- Espero que entenda minha decisão e que meu emprego não corra riscos, porque preciso muito dele. – falo de pé olhando-o, apertando uma mão na outra até que os nós
dos dedos ficam esbranquiçados.
- Como eu disse, nada vai lhe acontecer, muito menos com seu emprego caso recuse. – uma sombra triste paira em suas palavras.
- Pedro, você tem ideia do que me propôs, certo?
- Sim. – ele mantém a sombra e a tempestade.
- Pois bem, quero que compreenda, sou apenas uma arquivista que está cursando o último ano de engenharia. Graças a Deus sou bolsista e com o que ganho consigo fazer
de forma humilde uma poupança para comprar meu carro. – respiro fundo. – Como sabe, meus pais faleceram e eu tenho apenas esse apartamento simples, mas é meu e agradeço
por isso.
- Onde você quer chegar com isso? – ele me interrompe.
- Calma, você vai entender. Quero apenas que você saiba um pouco mais sobre mim. – cruzo os braços tentando me aquecer de um frio repentino. – Antes de você houve
apenas uma pessoa a qual me envolvi seriamente. Antônio era alguns anos mais velho, mas tão simples quanto eu, foi ele quem segurou minha mão no dia do funeral de
meus pais, ele foi meu primeiro amor. – ele parece não gostar do que está ouvindo. – Mas a distância desgastou e o que tínhamos acabou. – ele franze o cenho tentando
entender a história. – Estou contando parte da minha vida para você para que entenda que não me deslumbro com valores. – me aproximo dele e me ajoelho diante dos
seus pés. – Pedro, o que você espera de uma mulher em treze dias? – ele inclina a cabeça e cerra os olhos. – O que você acha que poderia acontecer até quarta-feira
que antecede seu casamento? – ele quase sorri. – O que você espera de uma garota, que apesar de não ser mais virgem, teve seu primeiro orgasmo há menos de vinte
e quatro horas? – enfim ele sorriu, com os olhos também.
- Não costumo esperar nada de ninguém, geralmente eu crio as oportunidades para que algo aconteça. – ele fala baixo olhando em meus olhos.
- Pois bem, não tenho experiência sexual o suficiente para manter você entretido, não tenho nada para lhe oferecer. Mas pensando bem, o que falta em sua vida? Você
tem dinheiro o suficiente para comprar o que quiser, quando quiser. – desabafo.
- Há uma lista interminável de itens que minha fortuna não pode comprar. – ele responde e abaixa a cabeça.
- Então me diga, me cite apenas um item desta sua lista impossível, algo que seu império não possa comprar. – peço enquanto descanso a mão sobre seu joelho.
- Paz. – ele suspira. – A paz que senti a primeira vez que vi você andar pelo corredor segurando seu café da manhã; a paz que sua imagem transmite através do monitor
de segurança. – ele inclina e se aproxima de mim. – A paz que me tocava em cada esbarrão carregando caixas em seu arquivo. – ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás
da minha orelha. – A paz que me invadiu quando te beijei, essa paz indescritível de tocar seu corpo. Meu dinheiro não pode comprar a paz que estou sentindo nesse
momento, por apenas poder repousar meus olhos sobre você, é a paz barulhenta que meu mundo cinza e frio precisava. – minha garganta entope.
- Paz? Como posso lhe oferecer algo que desconfio não ter?
- Claro que tem, e sinto ainda mais forte quando faz amor comigo. – fizemos amor? Pensei comigo, afinal achei que fosse uma trepada.
- Sr. Villas Boas, confesso que sua companhia é algo bom e que há muito tempo não sentia isso, mas tenho medo...
- Medo? De quê?
- Como vou trabalhar e encarar a todos, sabendo que estou sendo conivente com uma traição às vésperas de um casamento? O quanto sua noiva vai suportar suas escapadas
nos próximos dias?
- Jamile embarcou para Miami esta tarde, decidiu comprar algumas coisas para o enxoval e só vai voltar na quinta feira, véspera do casamento.
- Uma noiva que fica tanto tempo fora, ainda mais às vésperas de um dia tão especial, estranho. – abaixo a cabeça porque não gosto dela, apesar de não conhecê-la.
– Mas isso não é da minha conta.
- Ela estava muito estressada, e eu precisava respirar, ainda preciso. Mas ela volta, e nesse mesmo dia voltamos a ser apenas chefe e funcionária, e tudo volta ao
normal.
- Foi tudo premeditado? Você sabia dessa viagem?
- Em parte sim, quando decidi armar a mudança de arquivo. Pensei que seria um bom pretexto e talvez uma foda bem dada. – voltamos à foda. – Mas um dia antes de começarmos
a mudar o arquivo, Jamile decidiu que iria viajar. A princípio meus planos não foram alterados, mas depois que provei você, eu precisei elaborar algo.
- Então você não estava com os problemas que disse estar na noite passada?
- Não, demorei para ligar no seu ramal, porque estava apreciando sua dança, estava sexy demais, através do monitor alimentei meus demônios.
- Não era mais fácil ter me ligado?
- Isso não tem graça, simplesmente ligar, eu precisava de algumas certezas, se tinha namorado ou estava saindo com alguém. – ele de fato é diferente, qualquer um
teria ligado.
- Tudo bem, Pedro, mas, vamos imaginar que minha resposta seja ‘NÃO’...
- Então vou ter que sair por aquela porta e imaginar onde errei. Vou me arrepender por não tê-la acordado esta manhã e ter feito você gozar, nem que fosse a última
vez.
- Então você vai superar facilmente...
- Tudo bem. – ele levanta, desvia de mim e para diante da porta segurando a maçaneta. – Foi um prazer beijar você. – ele fala baixo enquanto me levanto e me posiciono
exatamente atrás dele, menos de um palmo de distância.
- O prazer também foi meu, mas tenho mais uma pergunta...
- Pergunte. – ele mantém a voz baixa.
- E se minha resposta for sim? – nunca, em toda a minha vida eu presenciei um sorriso tão magnificamente perfeito e feliz.
- Se a sua resposta for sim – ele tira o paletó, arranca a gravata, abre o colete e a camisa, e encosta-se a meu corpo –, eu ficaria dentro de você por muito tempo,
forte, fazendo você gozar, porque essa é a parte mais incrível de fazer amor com você. – ele arranca meu vestido e me suspende até sua boca. –Então, de alguma forma,
saberia que sou o filho da puta mais sortudo do planeta e alguém lá em cima perdoou alguns dos meus pecados. – ele me leva até a cama, me deita tirando minha calcinha
e leva a língua até meu sexo e lambe, me invade.
- Ainda não disse sim! - exclamo gemendo, quase gozando em sua boca.
- Mas também não disse não! – ele me invadia com sua língua hábil e macia.
- Gosta de proporcionar oportunidades? – pergunto em gemido me remexendo sob sua língua.
- Sim, essa é a parte que mais gosto. – derreto em sua boca e escuto o papel laminado ser rasgado. Ele veste a camisinha e entra de uma única vez. – Ah, Carol! Gostosa,
linda e apertada, por um inferno não sabe a força que estou fazendo para não gozar. – não sei por que, mas escutar isso me excita mais e de repente ele beija forte,
mordendo meu lábio inferior, forte, duro e altamente combustível. Como passamos de uma conversa civilizada a uma foda escandalosamente necessária?
- Estou quase gozando, Pedro! – protesto gemendo.
- Então, por Deus, goze comigo, junto comigo. – o ir e vir que me rasga docemente, nos une em uma fusão de orgasmos, o meu e o dele. – Por tudo nessa vida, o que
foi isso?. – ele pergunta pasmo, beijando meu pescoço e colo.
- Não sei, mas se puder repetir ficaria imensamente grata. – ele beija carinhosamente meu cenho.
- Farei o possível! – ele fala e rola para o meu lado.
- Ei, eu durmo do lado direito! – brinco.
- Ok, eu vou embora!
- Isso mesmo, é o mais prudente. – falo sério.
- Quer mesmo que eu vá embora? – ele pergunta desconfiado.
- Sim, eu quero, quero que você vá embora na quarta-feira, quando nossa brincadeira acabar, no dia em que deixo de ser sua namorada. – dou um sorriso.
- Não sabe o quanto está me fazendo feliz. – ele beija a ponta do meu nariz. – Mas nossa brincadeira vai funcionar de um modo diferente.
- Como assim? – me sento de pernas cruzadas e puxo o lençol para me cobrir. - Está me assustando...
- Não precisa ficar assustada, mas por um acaso você pensou que nossos encontros seriam à noite, depois do expediente?
- Sim, eu pensei. – não existe outro modo, a não ser escapadas na hora do almoço.
- Pensou totalmente errado. – ele riu ao falar. – Você achou que depois de eu ter passado dois meses imaginando como seria trepar com você, eu visitaria você aqui,
de vez em quando? Não, o que planejei hoje durante o dia é bem diferente de tudo isso.
- Poderia me explicar?
- Sim, claro que posso, mas antes eu quero tomar um banho, de preferência com você; depois vamos pedir comida e durante o jantar eu explico exatamente como tudo
vai funcionar. Peço que me perdoe, mas eu tive que pensar algo rapidamente, espero que goste.
- Me fale agora!
- Não! Durante o jantar, seja boazinha.
- Tudo bem, eu não vou voltar atrás, não sou mulher de voltar atrás!
- Eu não sou homem de deixar isso acontecer. – ele me convulsiona. –Vamos tomar um banho?
- Sim. – aceno com a cabeça. Como posso estar tão feliz? Eu nunca estive tão feliz. Penso enquanto alcanço duas toalhas de banho e caminhamos para o chuveiro.
Ele começa ligando o chuveiro e esperando que a água alcance a temperatura ideal. Depois me puxa para dentro do box com ele e desliza o sabonete pelo corpo esculpido,
enquanto eu tento me esconder dele, tenho vergonha.
- Posso? – ele mostra o sabonete e sugere um banho solícito.
- Sim. – respondo tímida. – É a primeira vez que faço isso. – admito.
- É a primeira vez que toma banho, Srt.ª Francis? – ele gargalha e eu também, um lado cômico que eu não conhecia.
- Claro que não, seu bobo! Estou dizendo que é a primeira vez que alguém me dá um banho. A verdade é a primeira vez que tomo banho com alguém.
- Sério? – ele sorri.
- Sim.
- Gosto de saber que faço parte de algo inédito em sua vida. – ele fala enquanto faz espuma, esfregando uma mão na outra.
- Você, em menos de vinte e quatro horas, tem-se feito presente em muita coisa inédita em minha vida. – falo enquanto sinto as mãos dele deslizarem facilmente pelo
meu corpo, começando pelo meus seios.
Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás tentando me esquecer de meu embaraço e me deixar levar por aquela sensação nova.
As mãos dele são divinas, pegando meus seios em concha, como quem mede seu peso, e deixando os polegares acariciarem o bico dos seios que já estão mais do que intumescidos.
Gentilmente as mãos deslizam para baixo acariciando minha barriga. Uma sobe e a outra desce até o quadril e retoma o caminho. Carinhosamente ele me gira e coloca-me
encostada em seu peito, e o acesso a meu corpo fica melhor. Enquanto uma mão me segura pela cintura, a outra desce até o meu sexo, e as pontas de seus dedos carinhosamente
tentam invadir a entrada. Seus lábios também fazem maravilhas enquanto beijos de leve passeiam pelo meu pescoço. Sufoco um gemido meio que tentando me livrar do
abraço dele, mas é claro que ele não vai me soltar tão fácil. Na verdade, o braço que me segura torna a apertar um pouco mais, enquanto a outra mão finalmente cumpre
seu propósito e me preenche.
Como posso descrever aquela sensação? Tudo tão novo. Pode parecer algo simples, ele apenas me banha, mas é algo mais que isso. Sinto-o tomando posse de algo que
nunca permiti ninguém tomar. E quando me dou conta, estou gozando na mão dele.
Saio do ar por alguns instantes, mas em nenhum momento ele me solta. Sinto os lábios dele deslizarem por meu rosto, minha orelha, meu pescoço, e só quando volto
a abrir os olhos, ele me solta.
- Tão bom ouvir você gozar. – ele me encabula e eu procuro outro assunto.
- O que você quer comer? – pergunto, enquanto tiro o sabão do corpo debaixo do chuveiro.
- Você! – ele responde com malícia.
- Isso foi grosseiro! – desligo o chuveiro e me enxugo. E só agora percebo que apesar de eu ter gozado, ele mesmo ainda se mantém ereto.
- Mas foi verdadeiro também. – ele se aproxima e sela minha boca. – Não se preocupe comigo. Precisamos passar a deixar camisinhas espalhadas pela casa.
- Isso é um ponto a seu favor. – tento manter a conversação leve.
- Pontos a meu favor? Tem uma lista? – ele sorri enquanto enxuga aquele belo corpo.
- Sim, mas me responda o que você quer para o jantar!
- Quero você no jantar. – ele veste sua cueca boxer preta e se aproxima de mim. – Quero você na sobremesa. – ele me laça pela cintura. – Quero você no café da manhã.
– ele beija minha boca intensamente.
- Pedro, estou falando sério!
- Eu também, mas já que insiste, não se preocupe com o jantar, apenas coloque algo que cubra esse corpo que me abre o apetite e eu peço nossa comida.
- Sim, senhor! – brinco.
- Gostei muito de ouvir isso...
- Gostei de falar também. – Deus, espero que meus pais, onde quer que eles estejam, não vejam a decisão que tomei. Em meio à clemência de meu pedido, escuto o pedido
de Pedro ao telefone.
- Villas Boas. Quero fazer um pedido que será retirado pelo meu motorista. Filé ao molho de aspargo, arroz branco e salada de palmito com tomate seco, para duas
pessoas. Obrigado. – ele desliga e penso na comida que está a caminho.
Escolho um conjunto de legging e regata preta, e vou até o corredor. Pedro está esparramado em meu sofá, mexendo em seu celular, de cueca boxer, os vincos de seu
abdômen são algo altamente combustível. Volto para o meu quarto e alcanço minha camiseta do Garfield, é a única peça que serve nele. No mesmo passo vou para a sala.
- Vista isso. – estico a camiseta em sua direção. – Você tomou banho quente e não é bom ficar assim, pode ficar doente e essa é única peça que serve em você por
aqui.
- Está preocupada comigo?
- Sim, não quero que fique doente...
- Tudo bem, eu visto, mas saiba que está enganada.
- Por que estou enganada?
- Porque existe algo aqui, que serve perfeitamente em mim. – ele me olha do melhor jeito.
- Me deixou sem jeito.
- Não fique, e então como esse gato ficou em mim?
- Lindo! Você esta muito charmoso com essa camiseta velha do meu gato favorito.
- Obrigado, você é muito gentil, além de linda.
- Às suas ordens. – brinco.
- Gosto de saber que você está às minhas ordens.
- Gosto de estar à sua disposição nesse momento.
- Gosta mesmo?
- Sim, há muito tempo eu não gosto de algo como gosto do que está acontecendo agora.
- Fico feliz em ouvir isso.
- Espero que fique mesmo, porque vou estar às suas ordens por treze dias.
- Realmente estou muito feliz em saber que vou ter você nesse período.
- Aproveite, porque depois de decidir aceitar, decidi aproveitar mesmo sabendo que está errado. Acho que me cansei de fazer sempre a coisa certa.
- Vou fazer desses próximos dias os melhores dias de sua vida, eu prometo.
- Obrigada! – sorrio, ele se aproxima e me beija como que selando nosso acordo.
- Está com fome?
- Sim, mas acho que não deveria comer, estou há dois dias sem treinar.
- Seu corpo é perfeito, duvido que dois dias tenham feito algo que desfavoreça suas formas, e amanhã você vai poder voltar às suas atividades.
- Muito bom ouvir isso, mesmo amanhã sendo sábado, espero que não peça pizza!
- Não, amanhã não será pizza, será um jantar especial, mas ainda não posso contar nada sobre o que vai acontecer.
- Se você acha que vou me revirar de curiosidade, saiba que está certo!
Ele gargalha e me agarra pela cintura.
Sinto nesse momento que posso estar vivendo a vida de outra pessoa, mas também, a minha vida estava tão chata.
O interfone toca e interrompe o momento em que eu me perco e me encontro nos braços do Sr. Villas Boas.
- Oi, Juan! Sim, pode deixar subir. Fica calmo, eu o conheço. – Juan está alterado - Juan, não quero ser indelicada, mas sei me cuidar sozinha! Pode deixá-lo subir.
– desligo e Pedro está de braços cruzados olhando com as sobrancelhas erguidas em sinal de total desaprovação do porteiro intrometido.
- Apenas para nível de informação, esse porteiro tem algum interesse em você?
- Não sei, ele sempre me entrega bombons ou flores que ele rouba. Confesso que amo flores e chocolate, mas nunca percebi nenhuma intenção diferente. – Pedro está
irritado.
- Ainda bem que tudo vai mudar amanhã. – ele fala em tom de revolta.
- Ah é? Por quê?
- Ainda não posso te contar nada. – ele se aproxima, beija minha boca e a campainha interrompe o momento em que por mais que eu tenha dúvidas, é o momento em minha
vida onde mais tenho certezas.
- Espero que goste do jantar. – ele caminha até a porta.
- Aqui está, Sr. – uma voz fala com Pedro.
- Obrigado. – ele agradece e entra sorrindo.
- Qual foi a graça?
- Meu motorista quase soltou uma gargalhada assim que me viu com sua camiseta. – ele caminha sorrindo até a cozinha com algumas sacolas de papel pardo. O cheiro
está ótimo.
- A camiseta é velha, mas eu amo esse gato, mesmo desbotado. – vou atrás dele e arrumo a mesa para o jantar.
- Caroline...
- Oi...
- Sua vida vai mudar um pouco nos próximos dias. – ele descansa as travessas sobre a mesa.
- Isso é uma boa notícia, já que minha vida estava parada há alguns anos. – coloco duas taças para o vinho.
Ele abre a garrafa de vinho e começa a encher nossas taças. Minha ansiedade quanto ao que ele planeja para nós nos próximos dias está em nível máximo.
- Por favor, será que pode começar a me explicar sobre nossa brincadeira?
- Sim.
- Então fale!
- A partir de segunda-feira você está de férias...
- Não posso entrar de férias agora!
- Na realidade você já está de férias, acertei tudo essa tarde. – ele fala tranquilamente.
- Por que, em nome de Deus, eu preciso de férias para nossa brincadeira? – não sei se estou feliz, brava, surpresa. – E se eu tivesse negado seu pedido?
- Confie em mim, você vai precisar delas... precisar de cada dia de suas férias, e se você tivesse negado meu pedido, teria treze dias para descansar e se arrepender
de ter recusado meu pedido.
- Prepotente!
- Realista, minha gostosa. – ele me beija antes de sentar à minha frente com seu celular ao lado do prato.
- Vai precisar do seu celular enquanto jantamos?
- Sim, é aqui que está nosso plano de treze dias...
- Ah! Tem direito a um plano de treze dias?
- Sim, está tudo acertado, arrumado e garanto que fiz o possível para que os treze dias possam ser realmente especiais.
- Ok, já sei que estou de férias e o que mais?
- Preciso que arrume seus objetos pessoais, suas roupas e coloque tudo dentro de uma mala. Assim que terminarmos o jantar, partiremos. É o máximo que posso dizer
por agora.
Jantamos e tentei não tocar em nenhum assunto pessoal. Ele perguntou sobre a faculdade e eu perguntei sobre a fundação da ARTAME. Falamos sobre a queda da bolsa
e como o mercado imobiliário tinha despencado, sei disso por que fui pesquisar quanto valia meu apartamento e fiquei desapontada.
Terminamos e ele me ajudou a limpar tudo, apesar de rico ele se vira bem com serviços de casa. Me troquei, arrumei minhas coisas e tentei não pensar nos resultados
dessa loucura, apenas fiz.
- Poderia ao menos ter a gentileza de dizer para onde estamos indo? – perguntei enquanto carregava uma mala rosa e uma bolsa transversal que era para ser branca,
mas devido ao uso contínuo sem a devida preocupação em lavar, ela está mais próxima de um pano de chão de uma oficina mecânica.
- Poderia sim. – ele sorriu alcançando a mala de rodinhas de minhas mãos. –Mas não vou dizer. – ele inclinou e beijou meu rosto, enquanto entrávamos no elevador
– Passei os dois últimos meses observando você e quando eu achei que tudo acabaria em uma noite, eu percebi que concluí errado e contra o tempo precisei pensar em
algo para mais treze noites. Então, minha linda, a grande sacada é que você não saiba de absolutamente nada antes de acontecer, certo? – ele respondeu e o elevador
chegou ao térreo.
- Não acha arriscado sequestrar pessoas? Você sabe que isso é crime?- sorrio com meu próprio sarcasmo.
- Acho que se eu fosse julgado e condenado à cadeira elétrica, eu morreria feliz, porque quando eu estivesse no corredor da morte eu lembraria do seu cheiro em mim,
do seu corpo ao meu redor e com certeza teria valido a pena. – se ele soubesse a força que tem cada uma dessas palavras, se ele soubesse a força que estou fazendo
para não deixar meu coração saber o que está acontecendo, ele com certeza ponderaria as palavras e as limitaria.
Ele guarda a minha bagagem no porta malas de uma Mercedez Classe GL. Eu sei porque li no tampão do porta malas, é um desses modelos SUV.
- Você está ouvindo o que está me dizendo? – ele fecha o porta malas e abre a porta do passageiro para mim.
Sorrindo ele fecha a minha porta e dá a volta no carro.
- Sim, cada uma das palavras e durante essa tarde rezei para que as horas se resumissem a minutos e que meu encontro com você terminasse assim. – ele entra, fecha
a porta e me beija.
- Poderia gritar que estou sendo sequestrada... já que não quer me falar – brinco.
- Por favor, eu peço, não grite agora, guarde seu entusiasmo em emitir um som acima do limite aceitável quando chegar a hora. – ele acelera e abandonamos meu prédio.
- Então está deixando claro que vai me fazer gritar?
- Sim, e como pode perceber, eu não minto. – ele está sério ao volante e ganha uma direção, que apesar do trânsito bem tranquilo, paramos por alguns momentos.
- Não mente? – penso em sua noiva neste momento, mas não sei se devo alfinetá-lo.
- Não, eu não minto, e odeio mentiras. – ele olha pela janela e volta o rosto em minha direção, o sinal está fechado. – Escute, fiz um esforço além da capacidade
humana ao organizar nossos próximos dias. Eu colocaria uma dessas regras logo mais, mas me senti neste exato momento sendo colocado em xeque por você, então Srtª
Francis, não quero e não admito o nome da minha noiva ou qualquer assunto nesse sentido, eu exijo. – ele olha para frente e acelera.
- Então começamos com as regras? Ok.
Ele sorri com seus lábios colados e um leve aceno com a cabeça.
Depois dessa tão sutil exigência, ficamos em silêncio até a minha voz aparecer com um pequeno ‘uau’.
- Você mora aqui?
Sabe aquela sensação de comer arroz a vida inteira, digo, comer apenas arroz, e depois de alguns anos alguém lhe oferece um bife de picanha? Pois bem, estou sentindo
isso.
- Sim, moro. – ele fala de uma maneira tão simples.
Ele mora no edifício L'Essence Vnc, percorremos quase nove quilômetros e chegamos à Vila Nova Conceição. Ele entra com o carro e um tsunami está em meu estômago.
Peguei minhas melhores roupas e acredito que estão à altura de serem jogadas fora. Santo Deus, onde fui me meter?
- Mora sozinho? Tipo com seus pais? – pergunta cretina, por que não cala a merda da boca?
- Moro sozinho há pelo menos cinco anos, quando comprei esse apartamento. – descemos do carro e entramos no elevador que é do tamanho do meu quarto.
- Ah! Sim, legal. – e nem por Deus eu calo a boca, uma asneira atrás da outra e o elevador sobe e não para. – Último andar? – por que estou tão preocupada? Já transei
com ele, aceitei sua carona, estou de mala e cuia no prédio dele, pouco importa se ele mora no ultimo andar ou na garagem, só eu mesma para ter essa tendência em
falar merda. Minha auto punição mental.
- Sim. – ele enfim limita as palavras, justo agora que quero um histórico completo.
- Ok. – respondo e olho com piedade para minha calça jeans surrada e minha regata preta. Por que eu não coloquei algo melhor? Pelo menos um sapato mais decente,
escolher esse all star preto merece um ‘troféu joinha’.
- Por favor, entre. – acho melhor não, posso ficar aqui no elevador mesmo. Pensei assim que olhei o tamanho das janelas da sala, pelo menos uns cinco metros de altura,
de fora a fora. Estamos na cobertura, talvez avaliada em todo dinheiro que a população do meu prédio possa ganhar em umas oito vidas.
- Obrigada. – estou tremendo de vergonha.
- Boa noite, Sr. Villas Boas. – uma jovem senhora, na casa dos quarenta e poucos anos o cumprimenta.
- Boa noite, Sara, minha convidada chegou. Quero que conheça a Srt.ª Caroline de Francis, Srt.ª de Francis, essa é Sara, minha governanta.
- Muito prazer, Srt.ª Francis. – oh não, por todos os anjos e santos, nada de formalidades.
- Muito prazer, Sara, mas eu ficaria extremamente grata, feliz e mais à vontade se me chamar de Carol. – eu peço encolhendo os ombros e sorrindo para ela. Sara é
bonita, cabelos negros, olhos escuros também, e me passa a sensação de trabalhar há muitos anos para o Pedro.
- Muito bem, Carol. – ela sorriu.
- Boa noite, Sr. Villas Boas. – um homem engravatado surge ao nosso lado. – A sua solicitação está pronta.
- Boa noite, Daniel, obrigado. – ele agradece e coloca minha mala cor de rosa e cafona ao lado de uma poltrona que levaria minha poupança de dois anos embora.
- Sara, quero a ala norte do apartamento isolada, totalmente. – ele dispara.
- Sim senhor. - o que está acontecendo?
- Daniel, sairemos na hora prevista, obrigado. – o engravatado sai e leva embora meu resto de raciocínio.
- Vem comigo. – ele retira a minha bolsa transversal dos meus braços e coloca em cima da poltrona cara, nunca mais eu lavo essa bolsa.
- Sim. – aceno com a cabeça, não apenas para aceitar, mas para dar um tranco, lembrar que meu cérebro precisa mandar a mensagem para os meus pulmões respirarem.
- É aqui que você vai ficar nos próximos dias. – quando ele abriu a porta, meu queixo sentiu o poder do mármore do chão, céus.
- Pedro, de verdade, não precisa de nada disso.
- Claro que precisa. – ele entra e me puxa para dentro de um quarto com suíte, o tom da madeira mel, o tapete alto em todo o quarto, uma cama gigante, muito grande
mesmo. – Preciso que fique confortável. – eu espio o banheiro e lembro do meu. Coitado do meu banheiro, ainda tem revestimento de flores, muito antigo.
- Olha, sou bem mais simples e talvez esse excesso não me deixe à vontade. – o lembrei que sou apenas uma arquivista.
- Você realmente pensa assim? Geralmente temos tendência a nos acostumarmos com o que é bom. – ele rebate.
- Sim, eu penso assim, mas a sensação de acostumar já não me agrada, é sinal que passei tempo demais fazendo a mesma coisa. Não sou deslumbrada por dinheiro, eu
nunca tive. – dou de ombros e ele sorri lindamente. – Qual é graça?
- Nada, é que talvez tenha sido a melhor espera da minha vida. – quero ouvir isso, mas quero pular da sacada magnífica dele, afinal de contas, ele vai se casar,
Porra! Não posso tocar nesse assunto.
- Que bom que até o presente momento eu esteja lhe agradando.
- Agora que sabe onde vai ficar, deve saber o que está para acontecer. – confesso que estou com medo. Penso comigo. – Vamos até meu escritório. – ele segura a minha
mão e me conduz por um corredor com arandelas bem postas, flores lindas, um aparador cumprido de ferro escuro que se destaca na parede em cor palha. Cacete, deve
ter quase uns mil metros quadrados.
-Entre. – ele diz e o que eu vejo são estantes até o teto, recheadas de livros. Na frente delas uma mesa grande de madeira escura assim como as estantes, uma confortável
cadeira reclinável e um sofá de dois lugares.
- Muito bonito aqui. – aleluia, uma frase sem asneira.
- Obrigado, gosta de ler?
- Sim, quando tenho tempo.
- Qual foi sua ultima leitura? – ele perguntou e fechou a porta.
- Apanhador no campo de centeio. – respondi baixo.
- Muito bom. – ele disse, e deslizou o dedo sobre a tela do IPad preto que estava sobre a mesa.
- E você? Qual foi sua ultima leitura? – perguntei me sentando no sofá.
- Inferno, Dan Brown.
– Amo os livros do Dan Brown, mas esse eu ainda não li.
- Muito bom também. – coloco minhas mãos sob minhas pernas e encolho os ombros. Meus cabelos escorregam detrás das minhas orelhas e eu os prendo de maneira bem horrível
com um coque no alto de minha cabeça.
- Você é linda, gostei de vê-la fazendo isso, tão hábil.
- É apenas um coque, mal feito por sinal. – apontei e abaixei a cabeça para que ele visse melhor.
- Linda do mesmo jeito, mas agora, o que vou te falar é sério e importante, para os próximos dias. Caso algo definitvamente não agrade, por favor, fale. – ele muda
de expressão e me senti a personagem do livro que Vanessa ficou por dias falando na minha cabeça. Deus! Vanessa! Quando ela souber ela vai me matar. Não! Ela não
vai saber nunca, já estou enganando uma mesmo.
- Pode falar. – tento ser séria.
- Todos os funcionários desta casa, trabalham para mim há pelo menos cinco anos, então, todos estão envolvidos, todos sabem o que vai acontecer. Estou te falando
isso porque quero você confortável com a situação. Isso está claro?
- Sim. – meu cérebro está brincando de ciranda-cirandinha com meu subconsciente.
- Muito bem, quero você disponível, todos os próximos doze dias. Eu vou explicar. – ele sai detrás da mesa e caminha em minha direção. Ele retira o terno e desabotoa
a camisa. – Vamos ter alguns compromissos, todos eles precisam de comprometimento com horário, isso é imprescindível. Você será avisada sobre o que vestir, mas não
para onde está indo, isso está claro para você?
- Sim, quero dizer, mais ou menos, você não vai estar aqui comigo nos próximos dias?
- O quê? Estou dizendo que você vai para lugares e compromissos sem ter ideia para onde está indo, e o que te preocupa é se vou estar com você?
- Sim, achei que fosse ficar mais tempo com você, não é essa a finalidade dessa brincadeira? Sua companhia é mais importante do que meu destino. – encolhi os ombros
com vergonha do que disse.
- Não faça mais isso! – ele ordena.
- O que foi que eu fiz? – pergunto me sentindo perdida.
- Me desarmou. – ele nega com a cabeça enquanto retira a camisa de dentro da calça. – Eu não posso ficar aqui o tempo todo, tenho que adiantar algumas coisas antes
do casamento.
- Sr. Villas Boas, peço que continue com suas normas e exijo que não toque no nome de sua noiva e nada nesse sentido. – falei séria e ríspida.
- Ok.
- Muito bem, por favor, continue. – cruzei os braços e o encarei.
- Eu devo estar louco por conta do... – ele interrompe a frase e eu apenas inclino a cabeça o advertindo. – Continuando, preciso trabalhar e apesar de não estar
o dia todo com você, vou estar presente de alguma forma, você vai ver.
- Muito bem, isto está claro para mim.
- Ok, você não vai sair daqui, a menos que receba essa solicitação. Certo?
- Certo, mas e meu treino? Minha faculdade?
- Boa colocação. Seu treino você pode fazer aqui mesmo, já que uma das cinco suítes foi transformada em academia. Quanto à sua faculdade, sei que perdeu uma prova,
e para isso pedi para Silvia, minha secretária, enviar para seu campus um aviso de que está fora a trabalho e, por isso, perdeu a prova. Você tem mais alguma duvida?
- Sim,
- Fale então.
- Você vai bater em mim? – ele riu e eu fiquei com medo.
- De onde tirou essa idéia? Não sou sadomasoquista. Nada contra, mas prefiro dominação em outro sentido. – ele ainda sorri.
- Você disse que vou gritar, que você vai me dar motivos para isso.
- Sim, mas não são esses motivos, darei bons motivos, serão bons gritos. – ele se aproxima e me beija demoradamente. Preciso doutrinar meu coração para que ele entenda
que se trata de um amor de verão e esse amor não vai subir a serra.
- Muito bem, pode continuar. – eu peço.
- Vou querer você, peço que entenda, foram dois meses e você me torturou das piores formas.
- Lembro de ter dançado uma única vez... – brinquei.
- Mas eu me lembro de muito mais. Lembro perfeitamente do dia em que tirou a polo da empresa. Quando olhei aquilo quase pirei, até que percebi que estava com uma
regata por baixo, estava quente aquele dia.
- Mas eu nem me lembrava mais disso, lembro apenas dos sorvetes. Vanessa foi levar o meu, amo sorvete de chocolate.
- Eu sei, por isso escolhi. – estou sendo vigiada e analisada há dois meses.
- Ok, você está me assustando. – olho com espanto para ele.
- Não precisa, mas achei que deveria saber, estava por perto em cada uma de suas ações e, como ser humano, você me atingiu em cheio quando a vi oferecendo seu almoço
para um cachorro na rua. – ele passa a mão pelos cabelos, mostrando uma agitação que antes não estava ali - Naquele dia você demorou para ir almoçar, e quando foi,
nosso refeitório estava fechado. Saiu e comprou algo para comer, mas na quadra da ARTAME estava aquele cachorro, e estava você e toda a sua bondade. Quando pensei
nos treze dias, pensei em algo bom para você, antes mesmo de ser bom para mim. – coração, favor deletar as mensagens recém recebidas, trata-se de um erro de envio.
- Ele estava com fome. – abaixei a cabeça e neguei. – Mas então foi você que pediu que me entregasse Mc Donalds?
- Sim.
- Mas quem fez o pedido?
- Silvia.
- Ela sabe? De mim?
- Sim.
- Mas, e se ela contar pra alguém?
- Silvia não vai contar, para ninguém, pode confiar.
- Pedro, eu não tenho nada a perder... já você...
- Nenhum assunto nesse sentido, lembra?
- Sim, desculpe. – abaixei de novo a cabeça. - Mais alguma ordem, Sr.?
- Sim.
- Então diga.
- Infelizmente, um dia isso vai terminar, e quando esse dia chegar eu não vou estar aqui, não vou me despedir. Vou sair pela manhã e depois você vai voltar para
seu apartamento. Na ARTAME, tudo vai ser como era antes, sem contato, nenhum. Isso é uma ordem expressa. Entendeu?
- Sim. – essa resposta saiu triste, porque ela me leva para minha realidade, me tira desse sonho bom acordada que estou vivendo, me joga contra o que sou nesse momento.
Sou a brincadeira.
- Muito bem. – ele saca o celular do bolso e digita apenas uma tecla. – Daniel, em duas horas sairemos, prefiro que use o Audi, não temos bagagem. Obrigado.
- E agora? O que eu devo fazer?
- Va até seu quarto e abra o roupeiro, do lado direito tem um vestido preto e abaixo dele um sapato da mesma cor, vista-os, você tem menos de duas horas. – ele ordena.
- Mas para onde eu vou?
- Regras, mocinha, saberá que vai sair, mas não para onde vai. – ele me levanta do sofá e me beija.
- Sim, senhor... mas o que eu faço com isso? – aponto meu cabelo. – Não vou sair com uma roupa legal e o cabelo assim.
- Eu sei, já providenciei algo que pudesse lhe ajudar, contra gosto, já que gosto muito dos seus cabelos, gosto de como despojadamente você os prende. – coração,
favor não funcionar nos próximos dias, estou apenas cobrindo férias.
- Ok, muito obrigada. – ele me acompanha até o quarto. – Sabe, achei que seria mais complicada essa brincadeira. – falei divertido.
- A brincadeira não é complicada. – ele olha em meus olhos. – Estabeleci algumas regras, para que não tivéssemos problemas quando tivermos que parar de brincar.
– ele sela minha boca e me deixa no meu quarto provisório.
Ok, Carol. Minha consciência senta sobre a bancada de madeira ao redor da hidro e começa a falar progressivamente em meus ouvidos. Você está bancando a prostituta
e sabe disso. Você sabe que daqui doze dias tudo terá terminado e você voltará ao seu porão cheio de arquivos.
Entro no banheiro que poderia ser tranquilamente um apartamento inteiro de muita família por aí e me dispo, indo para o banho. Não posso perder tempo. O sabonete
com cheiro de frutas vermelhas domina o ambiente ao entrar em contato com a minha pele. Ah, Carol! Sempre tão correta, e agora aceita essa proposta... O que seus
pais iriam dizer sobre isso? Deixo a espuma ir embora e quero parar de ouvir esse sermão interno.
TOC TOC. Alguém bate à porta e eu termino o banho, saindo de toalha para atender.
- Oi, Sara. – assusto com a governanta à minha porta.
- Olá, Carol, desculpe interromper, mas, Eduardo está à sua espera. – Eduardo? Pergunto em minha mente.
- Me perdoe, mas quem é Eduardo?
- Eduardo D’Marchi, do salão D’Marchi. – ela responde como se eu fosse obrigada a saber de que diabos essa mulher está falando.
- Ainda não sei do que se trata. – continuei.
- Eduardo é proprietário do salão mais sofisticado aqui da Vila Nova Conceição e foi contratado para atendê-la essa noite.
- Tudo bem, me dê alguns minutos, por favor. – peço gentilmente.
- Sem problemas, fique à vontade. – ela sai e me deixa de boca aberta.
Santo Deus, onde está minha mala? Ah! Cacete! Ficou na sala, perto da poltrona cara, vou ter que colocar o vestido preto novinho, penso e vou em direção do roupeiro.
- Cacete de novo! – falo alto assim que abro a porta do guarda-roupa. Tem vários cabides e todos preenchidos, com camisas finas, casacos, blusas caras e ao lado
uma série de cabides com robes e camisolas, short dols, um de cada cor, são treze no total e abaixo, sobre a prateleira, um bilhete:
Carol,
Um para cada noite, espero tirar todos eles,
P,
Coração, favor ter atendido ao pedido anterior, penso comigo. – Estou ferrada! E quando achava que a surpresa sobre o guarda roupa havia acabado, resolvo abrir as
gavetas, todas preenchidas, desde calcinhas até absorventes. Puta merda, estou mais que ferrada.
Escolho um conjunto de lingerie preto, uma camisa fina também preta e uma calça jeans clara, saio do quarto descalça e vou até a sala com os cabelos molhados.
Essa seria com certeza uma boa hora para o meu coração parar.
- O que está acontecendo? – olho para um bando de pessoas uniformizadas
- Estamos aqui, para atender você, por favor sente-se. – ele me conduz até uma cadeira poderosa, da coleção de cadeiras caras do apartamento e começa um estica e
puxa, lixa unha e tudo que um salão pode oferecer.
- Não estou entendendo nada. – resmunguei.
- Não entenda, querida, apenas aceite que você ficara uma diva. – Eduardo com uma voz afeminada finaliza meu cabelo e em seguida a manicure termina seu milagre em
minhas vinte unhas.
A equipe trabalha em uníssono. Desconfio que não seja a primeira vez que atendem a esse tipo de chamado.
- Obrigada. – agradeço com dúvida e como um pelotão todos arrumam a bagunça e abandonam o apartamento.
- Sara? – eu chamo pela governanta.
- Pois não? – ela me olha com espanto.
- Por que tudo isso? – pergunto encolhendo os ombros.
- Apenas uma exigência do Sr. Villas Boas. E se me permite dizer, você está linda. – ela diz sorrindo.
- Exigência? Não estou entendendo nada. – ela olha no fundo dos meus olhos e me sinto bem com isso.
- Sim, exigência. Você terá uma noite diferente e, como toda garota, com certeza gostaria de se arrumar. Ele entende um pouco do universo feminino.
- Você sabe as condições que estou aqui, certo? – pergunto e ela segue em direção de alguma das milhares de portas.
- Sim. – ela limita.
- Me ajude a não entrar de cabeça nessa situação. – peço enquanto paro diante dela.
- Será que já não é tarde demais para isso? – ela me arremessa a verdade. –Acho melhor você voltar para o seu quarto e terminar de se arrumar. – eu abaixo meus olhos
em direção das unhas bem feitas dos meus pés e saio apenas agradecendo.
Santo Deus, me ajuda! Nunca fui tratada assim! Claro, né, Carol, você nunca conheceu alguém assim.
Alcancei o vestido e os sapatos, os coloquei. Borrifei meu perfume, o único que tenho, já que enquanto estava sendo tratada pelo pelotão da beleza minha bagagem
foi trazida para o quarto, e conferi o visual no espelho ao lado da cama. Aquela não era eu... graças a Deus.
- Carol? – Sara me chama.
- Sim?
- O carro esta à sua espera no subsolo.
- Obrigada. – abro a porta e desço. Começo a sentir prazer nesse benefício em estar constantemente em dúvida.
O elevador desce até o subsolo e Pedro Villas Boas está me esperando.
- Oi. – digo com a boca tremendo.
- Você está linda. – ele beija entre minhas sobrancelhas e essa sensação é boa.
- Obrigada e você também está muito elegante. – Ele estava com um terno preto, perfeitamente alinhado em seu corpo, juntamente com a calça e o colete. Por baixo
uma camisa branca, destacada com uma gravata vermelha, no mesmo tom do lenço em seu bolso, vermelho sangue, vermelho paixão.
- Obrigado, temos que ir. – ele abre a porta do Audi e se senta ao meu lado; o motorista já está ao volante.
- Posso saber para onde vamos? – perguntei.
- Não. – ele beija meu rosto e eu desmonto, minha pele está arrepiada.
- Costuma falar não?
- Sim.
- Está me irritando. – sorrio querendo avançar nele.
- Perfeito, sinal de que posso piorar. – ele sorri novamente e olha dentro dos meus olhos, e meu estômago congela.
O carro ganha velocidade e os rostos nas ruas nem imaginam que dentro daquele carro com vidros negros está uma garota atrevida que resolveu brincar de casinha, por
treze dias.
O carro para minutos depois no Campo de Marte e sinto um colapso interno.
- Vamos de helicóptero?
- Sim, de carro seria inviável. – ele me assusta.
- É longe? – pergunto caminhando em direção ao helicóptero, onde o piloto nos espera.
- Sim e não. – ele responde assim que nos acomodamos nos assentos.
- Fico feliz que você seja tão claro. – uso de ironia.
- Quem bom que consigo lhe fazer feliz. – ele rebate na ironia e eu opto pelo silêncio. E logo ganhamos o céu de São Paulo.
Linda, o cinza iluminado e é a primeira vez que estou tão alta, tão longe do chão. Coloco minhas mãos sobre as minhas pernas e admiro as luzes diminuindo, e tudo
parece uma fazenda de formigas. Viro meu rosto e flagro Pedro olhando para mim.
- Bonita a vista não acha? – ele pergunta.
- Sim, é a primeira vez que vejo essa paisagem. – olho de novo pela janela e a admiro.
- Me refiro a você, faz tempo que não vejo algo tão bonito, algo tão encantador. – me perco em sua voz e entro em seus olhos.
- Obrigada. – ruborizo. Coração, peço encarecidamente que fique surdo.
- Essa viagem não é longa, mas me esforcei para que tudo fosse perfeito. – ele ainda me olha arrancando a minha roupa, ele não sabe o poder que tem em despir as
pessoas.
- Está tudo perfeito. – claro que está, né, Carol? Se você reclamar de alguma coisa eu te jogo daqui mesmo. Tento sufocar minha consciência mentalmente com um travesseiro.
Ganhamos o céu, mas por dentro eu perdia algo, ainda não sei definir, mas enquanto sobrevoávamos a cidade, pensei na minha vida antes, o que eu era antes e parece
que eu não era nada. Uma vidinha sem emoção.
- Esta tudo bem? – Pedro pergunta.
- Sim, está. – sorrio.
- Tem certeza?
- Sim, eu tenho, estou curiosa em saber para onde estamos indo.
- Vai saber assim que chegar. Apenas aproveite, porque essa também é minha intenção.
- Sim, senhor. – brinco
A viagem segue tranquila. Por conta do barulho da hélice não conversamos muito, mas durante todo o trajeto sinto a mão de Pedro acariciando a minha, como quem tenta
transmitir um pouco de conforto. Na certa ele já percebeu que estou me fazendo de corajosa, mas, na verdade, estou tremendo por dentro. Literalmente, daqui de cima,
sem sequer saber para aonde estou indo, me jogo no escuro. Pouco mais de uma hora depois novas luzes começam a surgir. A cidade lá embaixo parece fervilhar. Vejo
praia, calçadões e mais adiante a figura imponente do Cristo Redentor, todo iluminado, dando as boas vindas a todos. A mim. O helicóptero pousa sobre o Copacabana
Palace.
- O que estamos fazendo no Rio de Janeiro? – estou assustada.
- Temos uma reserva. – ele limita a resposta e tocamos o chão.
Santo Deus, eu nunca pensaria nisso. Meu estômago revira e penso nas pessoas me olhando, por que fui aceitar isso?
- Pedro, as pessoas vão te reconhecer, você é bem conhecido. – me preocupo com ele, com a imagem dele. Com a minha não, afinal, quem é Carol de Francis?
- Não se preocupe, o ultimo andar do hotel está reservado para mim, ninguém vai estar lá a não ser os funcionários que vão nos servir. – meu sistema neurológico
tem uma parada repentina e quase perco os sentidos.
- Você não acha exagero, tudo isso?
- Não, preciso viver isso antes... – ele interrompe a frase e eu franzo o cenho.
- Ok. – respondo brava, afinal não era para tocar no assunto e em nada nesse sentido. Andamos por toda a dependência e Pedro fala sobre o jantar que será servido
no quarto logo mais. Tento não me ater às sutilezas dele, tudo nele é encantador, é intenso e atraente.
Enquanto aguardamos o jantar, brindamos à beleza da cidade, vista através do varandão do quarto, brindando com champagne da melhor qualidade. O que estou dizendo?
Absolutamente tudo em Pedro é da melhor qualidade!
Alguém avisa que o jantar está servido na sala da suíte, caminhamos até lá e a mesa perfeitamente posta me deixa um pouco perdida. Mas me acho nos olhos de Pedro
que está me encarando.
Aproveitamos o jantar, a sobremesa e a melhor suíte. Desconfio que não é apenas sexo. Nossa conversa entra por diversas vezes em pontos tão comuns entre nós. Acho
o máximo ter tantas opiniões semelhantes mesmo sendo de mundos tão diferentes.
Pedro me olha, como se quisesse descobrir o que estou pensando, e tenho medo que ele tenha esse poder.
- Quero você. – ele diz de repente e acho que ele adivinhou. Ele se levanta e me puxa da poltrona confortável.
- Eu também quero você. – respondo soltando a taça e indo para os braços dele. Ao fundo o som de Adelle, Someone Like You. Ele começa a dança e me surpreende, ele
é sedutor e tem jeito com o corpo – Você dança bem. – elogio.
- Faz tempo que não danço. Precisava de uma parceira e um bom motivo. – ele me beija como se fosse a última vez enquanto me embala. Meu corpo entra em chamas e minhas
mãos percorrem suas costas e as mãos dele fazem meu corpo refém.
Ele desliza o zíper do meu vestido, sinto a peça se afrouxar do meu corpo, gemo. Ele continua e deixa a peça cair no chão, fico de lingerie na frente dele e ele
devora minha boca. Quero devorá-lo também.
- Quero que seja especial. – ele diz com a boca encostada na minha.
- Está sendo especial. – e aos poucos ele se livra das minhas peças, fico nua, molhada e querendo ele com força dentro de mim.
- Você me deixa louco. – sinto ele duro e ele se livra de suas roupas mais rápido do que fez com as minhas e me deita no sofá confortável do imenso quarto.
Ele fica de pé, diante de mim e como um impulso eu me sento e puxo-o para perto. Engulo-o, até a minha garganta e o sinto pulsar.
- Céus, Carol! Sua boca é majestosa. – o sugo com força e gemo saboreando cada milímetro dele, o rodeando com minha língua. Liberto seu membro de minha boca e percorro
toda a região com minha língua ávida por ele enquanto mantenho o movimento de minha mão em um ir e vir, fazendo-o ficar ainda mais duro.
- Está bom para você assim? – pergunto e engulo de uma única vez seu sexo.
- Por Deus! Se você não parar eu vou gozar na sua boca!
- Eu ficaria grata! – uma Carol nova e sedenta surge entre as pernas de Pedro.
- Eu vou gozar. – ele declara e enche a minha boca, sem pensar eu engulo cada gota.
- Gosto do seu sabor. – declaro.
-Você é fantástica, fez eu me perder em sua boca, sua língua e agora preciso compensar você. – ele se posiciona entre as minhas pernas e percorre o dedo em meu sexo.
– Molhada demais, Carol, gostosa demais. – ele fala e cai de boca em meu sexo.
- Hummm.... Pedro. – grito gemendo. – Por favor, continua. – mendigo.
Ele percorre sua língua até meu clitóris, e o lambe com força e em seguida o suga, suga continuamente. Sua língua, frenética, chupa a entrada do meu sexo e eu estou
à beira de explodir.
- Que delícia, Pedro! – ele retoma meu clitóris e enfia um dedo em mim. E eu explodo.
Sinto minha alma sair de meu corpo e pairar sobre nós, nesse imenso quarto. Mas, de alguma maneira, eu sabia que isso era apenas o começo.
- Molhada, gostosa e minha. – de novo a palavra minha e meu coração para.
- Quero você! – peço com clemência.
- Isso você já tem. – ele continua até que pela segunda vez explodo em sua boca. – Linda! – ele retoma o fôlego e eu escuto o papel laminado ser rasgado. – Preciso
estar em você! – ele declara e me invade, fundo, com força e me beija.
Ele enfia e retira, me fazendo gemer alto, gritar por ele.
- Pedro! – grito.
- Sim? – ele enfia com mais força.
- Quero mais! – exijo.
- Com prazer. – ele estoca mais forte e em uma série ininterrupta me faz gozar em seu sexo.
- Hummmm... – meu gemido sai alto e ele se acende ainda mais com isso.
- Preciso gozar agora em você! Você é uma delícia, molhada, apertada. – ele me enche e geme em meu ouvido. – Você é um vício, minha heroína.
Sinto meu corpo trepidar e vejo nos olhos dele algo além de uma foda, vejo seu total prazer e satisfação.
Ficamos uns minutos imóveis. Eu, deitada no sofá com as pernas no chão, e ele, sobre mim, ajoelhado aos meus pés. Não me incomodo com o peso dele sobre mim. Nossa
respiração começa a normalizar e ele tira um pouco do peso se escorando sobre os cotovelos no sofá.
- Foi especial. – declaro.
- Sim, acho que mais que isso.
Décimo segundo dia...
- Essa sou eu! – declaro baixo entre os dentes diante do nascer do sol.
- Por que você está dizendo isso? – Pedro pergunta encostado em mim. Estamos diante de um nascer do sol, vislumbro a imagem através da varanda. O que me cobre é
apenas um lençol.
- Digo porque me encontrei essa noite, gostei do que aconteceu e talvez eu precise te recompensar...
- Estar comigo agora já é uma recompensa, você está renovando minha vidinha barata - ele declara e a essa altura preciso de um transplante de coração.
- Muito obrigada. – digo e os raios de sol ficam mais fortes e Pedro apenas de boxer preta encosta seu sexo duro e pulsante em mim.
- Quero você. – ele sussurra em meu ouvido.
- Isso você já tem, basta usar. – solto o lençol e ele inclina sua boca até meu seio. – Bom menino, deve estar com fome! – declaro.
- Sim! Posso ficar onde estou por muito tempo. – e como uma criança ele suga meu seio e com a mão acaricia o outro.
- Então sirva-se! – como um passe de mágica ele encaixa minhas pernas em sua cintura e me leva até a sala.
- Muita fome! – ele me deita sobre o tapete alto, felpudo.
- Com aquela cama enorme, precisa mesmo me colocar no tapete? – faço graça.
- Quero tomá-la de todas as formas e em todos os espaços. – ele enfia um dedo em meu sexo e massageia meu clitóris com seu polegar. – Como você é linda! Sempre tão
pronta pra mim!
- Quero mais! – peço.
- Mais, minha linda? – ele mantém o movimento de suas mãos e mama como um bebê faminto.
Sua habilidade me deixa a ponto de explodir e gosto de ver sua boca engolindo meu seio, gosto de sentir seus dedos em mim. Pedro para por alguns instantes e me levanta
do tapete, deitando no lugar que eu estava.
- Agora me dê ela aqui! – ele me puxa e eu fico com os joelhos amparando sua cabeça. – Vem, desça ela até minha boca, preciso matar a minha fome ainda. – quase me
sento em sua boca e como algo alucinógeno, ele abocanha meu sexo em toda sua extensão, deslizando a língua e me sugando, até que com um golpe de misericórdia ele
chupa o alto do meu sexo.
- Pedro, vou gozar! – Grito e meus joelhos tremem e ele não para. Despejo em sua boca meu orgasmo, sinto ele sugar a entrada do meu sexo e engolir, gostoso pra caralho,
meu corpo pede mais.
- Uau! Acho que quero de novo... – choramingo.
- Seu desejo é uma ordem. – ele massageia meu sexo com a língua e com o dedo ele confere meu interior, tomado pelo orgasmo.
- Ainda com fome? – pergunto e ele apenas acena com a cabeça. – Bom menino. – seguro seus cabelos forçando-o a me sugar com mais força e de novo eu gozo.
- Quero sentir você agora! – apenas concordo com a cabeça e levanto minha perna para que ele se levante. Apoio meus braços sobre o sofá enquanto ele alcança uma
das camisinhas que estão sobre a mesa.
- Fique assim, Carol! – ele ordena que eu me posicione com as penas abertas, apoiada no sofá e sobre meus joelhos.
- Sim, senhor! – o pacote é rasgado e em um nano segundo ele está atrás de mim.
- Ah! Caroline...- ele segura meus cabelos pela nuca e estoca de uma única vez enquanto puxa meus cabelos. Com uma mão em minha cintura e com a outra em meus fios
judiados ele entra com força e eu gemo sob ele. – Gosto de ver você ao meu redor, sua gostosa, apertada demais, isso me enlouquece.
E quanto mais forte ele me invadia, mais eu o queria; e durante os golpes e os puxões de cabelo, sinto na entrada de meu útero sua presença e gozo, rebolo loucamente
com seu membro enfiado até o limite em mim.
- Por Deus, Carol! – ele anuncia, larga meus cabelos e com as duas mãos segura forte minha cintura. – Vou gozar em você, agora! – ele pulsa, me enchendo.
Ah! Como eu gostaria de senti-lo dentro de mim sem a barreira do látex. Mas precisamos ser cuidadosos.
- Gosta mesmo de fazer sexo! – declaro assim que ele se levanta e se livra da camisinha.
- Gosto mais com você, sinto meu sangue criar vida pra eu poder estar aí de novo, e de novo incansavelmente. Não gostaria de usar essa merda! – ele aponta para os
pacotes laminados.
Bingo! Parece que estamos em sintonia nisso.
- É preciso. – falo sem muita certeza me deitando de bruços sobre o sofá.
- Eu sei. – ele diz em lamento e entra em um dos quartos.
Coração, por favor entenda, seu músculo maldito, é só uma foda, a melhor do mundo, mas é apenas uma foda!
- Vamos embora? – pergunto ainda deitada e ele volta do banheiro.
- Não, ainda não, quero mais, mais de você sobre mim e ainda não usamos os brinquedos. – meu coração pula.
- Que brinquedos? – pergunto me sentando sobre meus calcanhares sobre o sofá.
- Alguns artigos pra deixar isso tudo mais divertido. – juro que estou pensando em algemas e chicote e isso não me agrada!
- Não gosto de dor!
- Não vai doer, você vai gozar!
- Não, Pedro, não quero nada que me faça mal!
- Oh, Carol, por Deus, nunca te machucaria, você vale milhões. – ele diz e aponta para o meu sexo.
- Valho?
- Sim, vale. Apertada, molhada, quentinha, uma delícia sentir você escorrendo para dentro de minha boca. Só de falar eu quero engolir você, como eu quero. – ele
fala e parte em minha direção. Me joga de costas no sofá e engole meu sexo forte.
- Pedro... huuummmmmm....
- Fala, mas fala desse jeito, com ela pulsando na minha boca, porque se tem algo que estou amando é chupar você assim. - ele me engole e passeia com sua língua dentro
de mim.
- Gosto de ver você de boca cheia... em mim.
- Oh, Carol! – ele chupa forte, gostoso, como nenhum filho da puta fez comigo e eu chego a um orgasmo histórico, puxando seus cabelos e pressionando ele contra meu
sexo.
- Gostei muito disso! – ele diz feliz ao me ver de um jeito pervertido.
- Gostou? – foda-se o pudor! Penso comigo. – Que bom que gostou e espero que continue fazendo isso pelos próximos dias, porque já estou mal acostumada. – poderia
morrer fazendo isso... gozando.
- Acho... – ele me lambe – que não vamos... – ele enfia a língua em mim. – ter problemas... – ele suga meu clitóris. – com meus brinquedos... - e finalmente gozo
de novo.
- Quero vê-los! – exijo.
- Não! Ainda não! – ele beija a entrada do meu sexo – Ela vale milhões e eu pagaria, com certeza pagaria. – essa declaração me excita mesmo me colocando à venda.
- Pagaria? – dou um rápido beijo nele.
- Sim! – saio de sua boca e caminho até o banheiro.
- Aonde você vai?
- Por que em vez de perguntar, você não vem até aqui e me dá um banho? – protesto do banheiro.
- Sim, senhora...
Ficamos na hidro por muito tempo. A água já estava morna e meu estômago pedia por comida. Estou exausta, satisfeita, mas ainda o quero, quero muito. Apenas por pensar
em sua boca me devorando eu fico realmente excitada, sinto meu sexo pulsar.
- Estou com fome.- admito saindo da hidro.
- Vamos alimentar esse seu delicioso corpo esculpido. – ele me olha de cima a baixo e meu sexo reage.
- Gosta do que está vendo, Sr. Villas Boas?
- Porra se gosto! Poderia morrer aí dentro de você! Realmente não havia necessidade de você ser tão estupidamente gostosa.
- Então aproveite, porque o tempo está acabando. – brinco e deixo todos os botões da camisa abertos.
- Não quero pensar no tempo que temos, quero pensar no que fazer com você! – ele vem em minha direção, me beija e pega o telefone do quarto. Solicita café da manhã
e eu o observo. Seu antebraço forte, seus músculos definidos, seu sexo grande e compensador. Pedro sabe fazer a porra do sexo bem feito.
Quando me dou conta, vejo Pedro indo em direção ao outro quarto e volta com alguns preservativos e joga sobre a mesa.
- Vem aqui. – ele diz e aponta para o sofá com vista perfeita para um céu azul. – Olhe para janela e me diga o que está vendo. – ele pede.
- Vejo um céu azul.
– Ótimo - ele responde e cobre meus olhos com um par de beijos. – Agora mantenha os olhos fechados.
- Mas assim não posso ver o que está fazendo! – protesto.
- Exato. Terá de saber por seus outros sentidos.
Estou sentada no sofá do jeito que ele pediu, ele tambem abriu um pouco minhas pernas e afastou os lados da camisa, deixando meus seios à mostra. Ele apoiou a mão
no meu seio e com o polegar brincou com o bico enrijecido. Segurei um gemido e escutei o momento em que Pedro disse ótimo novamente.
Ele saiu por alguns instantes e rapidamente voltou, colocou meus braços sobre o encosto do sofá e perguntou se eu gostaria de gozar em seus dedos, propondo uma masturbação
em mim. E eu nem sei como recusar esse tipo de convite.
Acenei que sim com a cabeça e ele me puxou um pouco para frente, fazendo meu corpo ficar envergado. Ele retira minha calcinha e pronuncia algum elogio do tipo: ‘foderia
essa boceta por dias... incansavelmente.’ Esse tipo de frase é complicado de assimilar sem que a dita mencionada não se sinta feliz.
Sinto-o me olhar e se aproxima lentamente do meu clitóris. Ele desliza a língua com perfeição, me cobre com a língua, não sobra nada da minha boceta sortuda a ser
preenchida pela língua do Pedro.
Ele para como quem fiscaliza minha reação e isso me excita mais e eu quero mais. Ele retorna a me lamber e geme enquanto me engole, e eu seguro sua cabeça e rebolo
sob a língua dele. Ele sabe que gozei e sorri e beija entre minhas pernas.
Ele se levanta, coloca o preservativo, me puxa e me apoia sobre o encosto do sofá.
- Não abra os olhos, Carol, ou terei de vendá-la. Agora quero que goze assim, em mim. – ele ordena e nunca me senti tão feliz em querer obedecer.
- Depende mais de você do que de mim. – provoco e ele puxa meu cabelo suspendendo meu queixo.
- Gosta de me provocar. – ele disse apenas isso e entrou de uma única vez. –Amanhã, quando você se sentar, vai se lembrar de mim, inevitavelmente. – ele batia com
força dentro de mim e isso é bom. Ele não tem dó, e também não quero. De repente ele para, se coloca todinho dentro de mim e me faz rebolar. Solto um gemido e em
seguida ele retoma, entrando e saindo, com mais força e eu grito gozando. – Muito bem. – ele disse me virando de frente para ele e me suspende. Agarro sua cintura
com minhas pernas e ele me leva até o corredor, encostando meu corpo na parede e mantém o movimento.
- Abra os olhos. Quero olhar dentro deles enquanto gozo.
Abro meus olhos e por rápidos segundos tenho a impressão de ter visto algo diferente dentro dos olhos dele. Como se tivesse prendido a respiração ao se deparar com
algo de tamanha beleza. Não, não poderia ser eu. Ou poderia?
-Você é muito bom nisso. – disparo e ele entra com mais força e de repente o sinto gozar.
- Obrigado, mas acho que preciso de mais treino, parece que não consigo controlar meu orgasmo quando estou dentro de você. – ele me diz e me coloca no chão, beijando
minha boca e mordendo meu lábio inferior. – Agora, vamos tomar café. – ele diz, vai em direção ao banheiro e volta em seguida. Eu visto a calcinha e mantenho a camisa
aberta. Nesse exato instante o serviço de quarto bate à porta com nosso café da manhã.
Pedro veste um short e vai atender. Já sei que ele não vai querer que eu apareça, então, espero a porta ser fechada para retornar à sala.
- Fiz um roteiro para nós hoje. Na realidade fiz um roteiro para nós nos próximos dias. – Pedro fala enquanto enche um copo com suco de laranja e olha para os meus
seios que propositalmente eu deixo à mostra de forma natural.
- Desde que eu esteja com você, não importa o lugar. – termino de falar e bebo um gole do suco.
Tomamos o café e meu olhar se perdeu pela suíte perfeita que estávamos. Pensei sobre o cuidado que ele teve em organizar minha bagagem e encaminhar para o hotel.
Talvez eu precise de ajuda quando isso acabar.
- Gostaria de visitar algum ponto aqui no Rio de Janeiro? – Pedro pergunta.
- Sim, o Cristo Redentor.
- Talvez isso seja um problema. – ele passa as mãos pelos cabelos.
- Eu sei, ninguém pode nos ver juntos, qualquer um te reconheceria. – uma névoa triste está sobre mim e eu me levanto do sofá e vou até a sacada.
- Escute, você sabe que temos um acordo, sempre soube e eu nunca menti para você. – ele encosta ao meu lado.
- Sim, eu sei...
- Então, por favor, não fique triste por não andarmos de mãos dadas por aí. – ele fala baixo em tom de lamúria.
- Não estou triste por isso. – estou triste porque você vai se casar e eu não sou a noiva.
- Você diz isso, mas seus olhos me falam exatamente o contrário.
- Pedro, estou aqui, vou cumprir nosso acordo e garanto que não vou lhe causar nenhum problema. – entro na suíte e ligo a televisão.
- Não viemos até aqui para assistir televisão. – ele me puxa e me beija forte. Gosto como sua língua aveludada me encontra, vou sentir falta disso.
- E o que viemos fazer aqui então? – pergunto com a boca encostada na dele.
- Viemos até aqui para eu me sentir vivo novamente. – ele arranca minha camisa e minha calcinha e seu short sai em seguida.
Pedro me coloca sentada sobre o balcão da sala e ali mesmo me deixa pronta para devorá-lo. Em minutos ele sai e volta já com a camisinha e me invade de uma única
vez.
- Pedro...huummmmm....- gemo com ele entre minhas pernas.
- Céus! – ele sussurra em meu ouvido enquanto me fode duro, com força, e eu gozo sobre ele. – Como é bom ver você gozar, não consigo me cansar.
- Quero mais! – exijo.
- Sim, senhora, é uma ordem. – ele me leva enroscada em sua cintura até a cama e sem cessar não para o ir e vir que me faz explodir sob ele. – Agora eu quero assim!
– ele me vira apoiada em meus joelhos e me pega por trás. – Gosto de ver o que estou vendo.
- Então por gentileza, capriche.
- Oh, Carol! Pedindo assim e rebolando comigo dentro de você pode ser que eu não resista por muito mais tempo. – ele mantém o movimento.
- Resista porque eu quero mais! – sinto ele gemer ao ouvir isso.
- Não sabe o que sinto quando você fala isso. – ele entra com mais força.
- Ah! Me conte então... – peço gemendo.
- Puta merda, Carol! – ele entra mais uma vez e me enche, massageando seu membro pulsante dentro de mim.
- Ah, é isso que você sente então?
- Você é muito gostosa, mas não é só isso. Como seu corpo devora o meu me deixa maluco, perco meus sentidos e acho que isso é um problema para mim.
- Um problema? – pergunto enquanto ele vai até o banheiro e eu me deito de bruços sobre a cama.
- Sim, o problema mais gostoso que tive durante toda a minha vida. – maldito coração, espero em nome de Deus que você não escute isso.
- Quer desistir?
- Não, não de você! – ele responde e me deixa com um pensamento bom e ruim ao mesmo tempo, será que ele desistiria dela, da vaca?
- Obrigada por querer me aguentar por mais alguns dias...
- Obrigado por aceitar essa ideia maluca. – ele fala e volta do banheiro. Ele está nu e o seu corpo torneado com apenas uma fina camada de pelos sobre o peito me
deixa sem reação.
- Por que maluca?
- Normal não é, afinal, é um risco muito grande.
- Sim, eu sei, alguém pode nos ver...
- Não é esse risco que estou falando.
- Não?
- Não! Risco é sentir seu sabor, seu orgasmo delicioso escorrendo para minha garganta e pensar que um dia eu não vou ter mais isso. – ele lamenta e sai do quarto
deixando a mim, meu subconsciente imprestavelmente sincero e meu coração desobediente ali, estarrecidos.
- Pedro! – grito assim que saio do quarto e vou atrás dele.
- Sim.
- Você não pode me falar essas coisas!
- Falar o quê? Que vou sentir falta de você rebolando, de você gozando, de beijar você? Falo, porque você deve saber que é importante, além de gostosa e gozar lindamente.
– desisto do meu coração. Esse filho da puta está escutando e salvando os arquivos assim como eu faço diariamente na ARTAME.
- Não fale, apenas faça. – lamento.
- Por quê?
- Porque tenho medo de quando isso acabar. – choramingo.
- Não vamos pensar nisso. Agora coloque uma roupa confortável, você vai visitar o Cristo. – ele fala e volta para o banheiro, escuto quando o chuveiro é ligado.
- Você não vai comigo?
- Não, Carol, e você sabe que não posso. – ele fala rígido e isso me entristece. Vou até as bagagens, escolho um short branco e uma regata cor de rosa e, para completar,
uma sandália de dedos em couro. Tomo um banho rápido e prendo meu cabelo com um rabo de cavalo e uso pouca maquiagem, apenas rímel e gloss.
- Estou pronta! – declaro entrando no quarto. Ele já estava vestido, parado à janela olhando a paisagem, mas não parecia realmente ver o que se passava lá fora.
- Você vai sair assim? – ele olha para mim dos pés à cabeça.
- Sim, por quê? Está feio? – dou uma volta para ele verificar.
- Claro que não, mas este short é muito curto e esse band-aid que está usando não é uma blusa.
- Pedro, está calor e eu vou sair assim, como eu vou até lá? Taxi?
- Claro que não, tem um motorista te esperando, e ali naquela mala – ele aponta para uma bolsa em cima da poltrona no canto do quarto. – tem uma máquina fotográfica,
ela é sua. – ele conclui. Pedro está lindo, mesmo usando calça jeans clara e tênis.
- Sim, senhor, mais alguma ordem?
- Não, tome, leve isto. – ele me entrega algumas notas, e meu olhar fica triste.
- Eu tenho o meu dinheiro, não precisa se preocupar. – alcanço a máquina e vou até o outro quarto onde está minha bolsa.
- Você é minha responsabilidade. – ele vem atrás de mim resmungando.
- Apenas continue me satisfazendo na cama, quanto a tudo isso. - viro as palmas das mãos fazendo menção ao hotel e ao requinte. – é apenas luxo, não faz parte do
meu mundo. Agora, se puder me dizer o que devo fazer para encontrar o motorista, eu agradeço.
Antes que eu pudesse me virar à porta, Pedro segura meu braço, firme mas sem machucar.
- Preste atenção, Carol. Eu sei que você não é interesseira, e não está comigo aqui por causa do meu dinheiro. Mas ainda assim toda essa ideia maluca dos dias juntos
é minha. Você é minha responsabilidade até que tudo acabe. Portanto, poupe seu fôlego sobre quem paga o que porque pagarei todas as suas despesas.
Mordo meu lábio inferior e abaixo meu olhar. Posso até pensar que estou me vendendo, mas ele está certo. Aceitei ficar com ele ao longo desses dias. Devo aceitar
as condições sem reclamar.
Pedro coloca a ponta dos dedos sob meu queixo e me faz encará-lo.
- Deixe-se ser mimada por uns dias, Carol. Isso não é pecado nem vergonhoso.
Aceno com a cabeça. Não quero discutir. O tempo ao lado dele é curto demais e o fato de não podermos ser vistos em público só diminui nosso tempo juntos. Pego o
maço de dinheiro que ele me dá e o coloco na bolsa sem sequer conferir quanto tem.
- Apenas desça até a recepção, Jorge é o motorista e ele vai levá-la até o destino que escolher. – ele me beija de leve nos lábios e saio sem conseguir sorrir.
Que grande merda você fez, Carol! E agora? Valeu a pena? Por que você está em uma cidade linda, mas não tem com quem dividir isso. No elevador minhas torturas são
constantes e a preocupação com meu coração também.
Vejo um carro preto, com vidros escuros e um homem de uniforme parado ao lado da porta de trás.
- Jorge?
- Sim, estou à sua disposição. – ele é alto, forte, porte de segurança e tem uma voz rouca, pele morena e cabelos bem curtos.
- Gostaria de ir até o Cristo Redentor, por favor.
- Sim, senhora. – ele educadamente abre a porta.
- Senhorita! – exclamo.
- Me perdoe, sim, senhorita. – ele fecha a porta e conduz o carro.
Não consigo fotografar nada, não sei se quero algum registro disso tudo. Já não basta meu coração, desobediente, insano, e que agora começa a doer. Claro que vai
doer, órfã, carente, trabalha no subsolo, sem contato social e sem nunca ter gozado, ótimo estou com um problema do caralho mesmo.
Por que eu fui aceitar? Mas também, por que eu não aceitaria? Se eu tivesse recusado, a essa hora eu estaria mergulhada em algum livro que conta a história que estou
vivendo. Merda, Carol! Agora é tarde!
- Chegamos. – Jorge declara assim que estaciona o carro e abre a porta para mim.
- Obrigada, você vai vir comigo? – fim do poço, Carol, sua carência pede a companhia do motorista.
- Não, vou aguardar aqui. – ele é sério e eu sozinha.
Entro em uma van, que faz o serviço de levar turistas mais próximo do Cristo. Compro a entrada e aguardo a saída do veículo.
Subo até o pé do Cristo lentamente, arrisco algumas fotos, mas apenas da paisagem. Daqui de cima dá para quase ver o mundo! Me encosto na mureta. Atrás de mim, o
homem que abriga meus pais, de braços abertos, como se me protegesse, mas eu preciso me proteger de mim mesma. Fico por alguns minutos, registro em algumas fotos
a imponente escultura que está iluminada pelos fortes raios de sol. Nada me ilumina, nada mesmo.
Caminho por todo o espaço, esbarro com turistas do mundo todo, mas meus pensamentos estão nele, nas mãos dele, na boca dele e mesmo estando perto do criador, vivo
um inferno pessoal e intransferível.
- Bom dia, moça! – um rapaz alto me cumprimenta.
- Bom dia. – respondo sem sorriso.
- Sozinha? – quase que respondo ‘não tem ideia do quanto’.
- Sim. – respondi porque não havia nada a perder mesmo.
- Também estou sozinho, faço intercambio e cheguei há duas semanas no Rio, só agora consegui visitar o Cristo.
- Legal, você é de onde? – perguntei para o moreno educado e com pele bronzeada.
- Florianópolis. – ele tem um sorriso bonito e cabelos escuros.
- Sou de São Paulo.
- Me desculpe, meu nome é Victor. – ele estende a mão para mim.
- Prazer, Victor, eu sou a Caroline. - apertamos as mãos e ficamos ali, conversando. Ele é bonito, desinibido e entramos nos assuntos que nos levaram até ali.
- Estou gostando muito da cidade e você, paulista? – ele pergunta brincando e sorrindo e isso me distrai por alguns momentos.
- Estou surpresa, sempre quis conhecer o Rio, mas não imaginava que seria tão lindo e aconchegante. – acho que estou pensando no corpo do Pedro ao responder essa
questão.
- Sabe que quando cheguei levei um susto, pessoas descontraídas, simpáticas e naturalmente felizes. – ele diz e eu concordo.
Entramos em outros assuntos, como o turismo, a quantidade de estrangeiros no Cristo e como ele é conhecido no mundo.
Victor fala algo sobre os pontos negativos do turismo.
- Ah, Victor! Eu não concordo – eu disse sobre o comentário dele e sinto um tranco em minhas costas.
- Victor, eu sou o Pedro, namorado dela. Se nos der licença... – ele me arrasta para longe do rapaz gentil.
- O que você pensa que está fazendo? – ralho com ele.
- Eu? Que merda é essa? Você veio para o conhecer o Cristo ou bostas como aquele cara?
- Você não deveria falar assim das pessoas. Deveria olhar para o espelho e não sentir vergonha do que vê, agradeça aos céus. – estou triste e abaixo minha cabeça,
uma lágrima pinga, estou sem controle.
- Escute... – ele fala, mas eu interrompo.
- Não quero escutar nada, você deveria estar escondido no quarto luxuoso que reservou para me foder. – tento sair dele, mas ele pressiona seus dedos em meus braço.
- Você não faz ideia de como estou querendo arremessar aquele cara daqui de cima. Ele não tira os olhos de você!
- E você, Sr. Villas Boas, não sabe o quanto quero pular daqui, de cabeça. Não sou nada sua, estava apenas conversando. – por que estou me explicando?
- Como assim você não é nada minha?
- Não sendo e por que você está aqui? E a parte do “não podemos ser vistos juntos”?
- Você é minha namorada de duas semanas sim, e quando espiei você entrando no carro, com essa roupa, eu sabia que algum maldito iria se aproximar, então chamei um
taxi e te segui até aqui. – ele acalmou a voz.
- Vamos voltar para o hotel, não quero causar problemas com você e sua noiva. – saio das mãos dele.
Em silêncio fazemos todo o caminho de descer as escadas rolantes e pegamos a próxima van que nos traz de volta até a área do estacionamento, onde o motorista nos
aguarda.
- Podemos ir. – falo para o Jorge e Pedro entra junto.
- Está correndo riscos fazendo isso. – sou irônica.
- Sim, estou. – ele está frio e alguns minutos depois chegamos ao hotel. Jorge parou o carro nos fundos para que Pedro descesse e eu desci na frente do Copacabana
Palace, mas não entrei no hotel. Atravessei a rua e fui caminhar pelo calçadão.
Acho que todo ser humano é vítima de suas maldições, aquelas pragas que jogamos em nós mesmos. Acho que joguei pragas demais em mim mesma.
A alguns metros vejo uma banca de jornal e me perco nas capas de revistas, modelos esqueléticas e de repente o rosto de Pedro, ali, estampado em uma dessas revistas
que falam sobre a alta sociedade. Isso me faz lembrar do meu banheiro com revestimento centenário e pobre. Compro a revista, e com ela meu ingresso para um purgatório
em vida.
Destaque da capa tem como brinde uma foto do casal do ano. ‘’Pedro Villas Boas, o magnata da segurança da informação, tem seu coração fisgado por Jamile Abraão,
a designer da maior empresa de arquitetura do país”.
Pronto, Carol, arquivista, vai lá e compete com essa loura aguada. Ela não é feia, mas também não é algo extraordinariamente belo. Na entrevista, a foto dos dois
em um desses jantares que custam mais de dez mil reais e a renda é para algum fim filantrópico. O casamento do ano deve acontecer em pouco tempo. Diz as palavras
nas linhas turvas pelas minhas lágrimas. Me contentei com migalhas, me transformei em uma formiga e agora preciso me livrar disso.
Volto para o hotel com a revista nas mãos e meu coração desobediente sangrando. Minha mente apenas repetia a frase ‘eu te avisei’.
- Onde você foi? – Pedro pergunta assim que entro na suíte.
- Ao inferno. – respondo e vou para o banheiro. Aciono a hidro e me deito, sem pressa, quero afogar o que está acontecendo.
- Pedi nosso almoço, apesar de ser quase três da tarde. – ele fala e se senta sobre o contorno da hidro.
- Obrigada. – agradeço de olhos fechados.
- Carol.
- Sim, pode falar estou te escutando.
- Algo saiu do controle...
- Não acho. – claro que saiu, sua estúpida.
- Não?
- Claro que não, sou sua foda gostosa por quase duas semanas, divirta-se antes de casar com a Jamile. Parabéns pela escolha. Rica, bem sucedida, cabelos e pele caros.
- Quê?
- Vocês estão na revista, casal feliz... – falo em tom de deboche. Uma arma para esconder o coração sangrando.
- Essas fotos são antigas!
Abro os olhos querendo acreditar na justificativa dele.
- Mesmo, Pedro? E acha que ainda assim está certo o que está fazendo? Foda-se! Me sinto um lixo! Em todos os sentidos! – levanto da hidro e me enxugo enrolando a
toalha em meu corpo.
- Viu como saiu do controle? Merda, Carol!
- Merda mesmo. Ela é conhecida, famosa, talentosa. – estou triste por pensar que não sou nada disso
- Ela é mesmo. – ele enfia o punhal de vez.
- Quero ir embora, quero acabar com isso tudo. – peço.
- Por quê?
- Porque eu cheguei a pensar que isso poderia ser bom, mas não está sendo. Não sou ninguém, Pedro. Não sou uma designer nacionalmente conhecida, trabalho no porão
da sua empresa, estou apenas deixando você usar meu corpo. – sento na cama e espalmo minhas mãos sobre minhas coxas.
- Não pode ir embora, não pode acabar tudo agora. Temos um trato e dentre ele, não éramos pra mencionar nada sobre o casamento ou Jamile.
- Sim, eu sei.
- Não quero terminar com isso agora, não estou preparado. – ele esfrega as mãos no rosto.
- Tudo bem, mas as coisas mudaram e a partir de agora tenho algumas condições. – exijo e levanto olhando em seus olhos.
- Ok, me fale suas condições. – ele pede.
- Os próximos dias, quero ficar integralmente na sua casa, não quero passeios de helicóptero ou andares de hotel, o que gosto de fazer com você não exige tanto espaço
ou luxo. Além do mais, não quero me esconder.
- Tudo bem, aceito. – ele se aproxima de mim. – Jogue a revista fora, aqueles rostos felizes não existem. – ele me beija e me abraça.
Almoçamos tarde e assistimos Meu Malvado Favorito. Eu já havia assistido, mas ele não. Se ele soubesse como sua gargalhada é linda.
Ele gosta de carne branca, e vinho tinto seco, tem bom gosto para ternos e uma queda radical por gravatas vermelhas, além de ter um par de olhos azuis que são como
o vitral de uma catedral. Me perco em Pedro enquanto ele cochila ao meu lado e acredito seriamente que eu possa estar envolvida além do limite.
Levanto-me e vou até a espreguiçadeira e miro meus olhos no céu dividido entre o azul escuro e o avermelhado do sol que se põe. Talvez eu possa viver bem depois
de tudo isso, talvez essa seja a história que nunca vou contar para os meus netos. Mas por enquanto, isso tudo é o momento o qual esperava viver, mas agora não sei
bem o que fazer com tudo isso...
Décimo primeiro dia...
- Acordou disposta, isso é bom! – Pedro declara assim que entra no quarto onde funciona sua academia.
- Sim. – respondo ofegante, estou correndo na esteira.
- Posso fazer companhia? – ele pergunta e se senta na ergométrica de frente a mim.
- Sim, mas fique quieto! – ordeno e meu rosto está molhado, estou correndo há mais de trinta minutos.
- Sim, senhora. – ele responde e começa a pedalar. Voltamos ontem à noite do Rio de Janeiro e ainda penso na sensação ruim de ter que me esconder. Ontem, assim que
me deitei ao lado dele, pensei em tudo de forma mais calma. Precisava encarar que não serão todos os dias que eu poderei ver o lindo pôr do sol no Rio de Janeiro.
Preciso aceitar que isso não faz parte da minha vida, é apenas uma amostra de um conto de fadas moderno. Mas a verdade é que ontem, assim que subimos ao heliporto
do hotel, eu desci de fato ao meu próprio inferno: Pedro não é meu!
Dormi pensando nele, cheguei a sentir seu corpo encostando no meu, mas era apenas a abstinência. Não posso estar apaixonada por ele, é como optar pelo suicídio e
escolher a data para cortar os pulsos.
Saio da esteira e sento no chão olhando ele pedalar. Corpo impecável. Sobe uma raiva de pensar em outra pessoa tocando-o. Preciso me conformar. Merda de coração
imprestável.
- Cansou? – sim, mas não de treinar, penso comigo.
- Não, mas acho que está de bom tamanho. – respondo seca.
- Certo, e o que você pretende fazer aqui nos próximos dias? – esse filho da puta esta sendo irônico.
- Pretendo ficar satisfeita, se é que me entende, mas pretendo dispensar a Sara essa noite, quero cozinhar para nós. – ele irônico e eu superior.
- Ah! Você quer cozinhar?
- Sim, sou uma exímia cozinheira e quando você provar minhas panquecas vai entender o que estou falando!
- Panquecas?
- Sim! As melhores do mundo! – ele sorri e se levanta abrindo a porta da academia.
- Sara! – ele chama no corredor.
- Pedro, o que você está fazendo?
- Não disse que vai cozinhar?
- Sim, eu disse.
- Então.
- Sr.? – Sara responde da porta.
- Está de folga hoje. – ele ordena – Ah! Dispense todos os funcionários, por favor. – ele conclui e fecha a porta.
- Eu disse à noite!
- Pois é, mas vai ter que me alimentar durante todo o dia também, e em todos os sentidos. – ele vem em minha direção e me agarra.
- Pedro! Preciso de um banho, estou treinando há muito tempo!
- Não! Quero assim! – ele tira meu top e revela meus seios. Estou suada, mas ele não se importa e ignora o gosto salgado do meu corpo.
- Um banho, por favor! – imploro pela ducha.
- Sim! – ele aceita e desce minha calça colada junto com a minha calcinha. –Um banho! – ele me deita no chão e engole meu sexo.
- Não esse banho! No chuveiro! – peço gemendo quase gozando.
- Quero sentir seu gosto assim, mas devo alertá-la que está uma delicia, como sempre.
Apesar de estar constrangida por ele fazer isso enquanto me sinto suja pelo exercício, não há como negar o tremendo poder que ele tem sobre meu corpo. Puta merda!
Como posso deixar de gozar com essa língua mágica subindo e descendo? E quando ele a enfia num ímpeto? Misericórdia divina!!!! Dá vontade de sair gritando “bingo”
feito louca.
- Pedro, não pare! – ordeno e gozo.
- Muito bem, minha primeira refeição está concluída. – ele sorri todo confiante e se livra de suas roupas, e eu termino de me despir.
- Camisinha, Pedro! – seu semblante muda.
- Sim. – ele responde e alcança o pacote laminado no bolso de sua bermuda
- Esta sempre preparado?
- Com você sim. – ele a veste e deita no chão, me chamando para sentar sobre ele.
- Ah! Quer me olhar de ângulo diferente?
- Sim, quero sentir você sentando em mim, com força. – puta merda, quase gozo só de ouvir isso.
- Assim? – ando até ele a paro com meus pés em cada lado de seus quadris. Vejo Pedro se retorcer e dou um passo adiante. Ele se contorce novamente e eu dou mais
um passo deixando que ele olhe tudo, de todos os ângulos e por fim me posiciono e me sento sobre ele.
- Céus! – ele geme e eu também. Subo e desço devagar, quase deixando-o escapar de mim e ele geme alto. – Caralho, Carol! – continuo o ritmo e de repente sento com
mais força e ele segura minhas coxas. – Gostosa pra caralho!
- Continuo? – mantenho um ritmo lento de vai e vem e sento vagarosamente sobre ele enquanto pergunto.
- Por piedade...
- Posso querer parar...
- Não faça isso...
- Acho que quero fazer...
- Carol, continua, por favor, eu peço. – ele tenta me levantar para eu continuar o movimento e de repente me levanto e saio. Sinto o vulcão Pedro entrando em erupção
e por algum motivo quero irritá-lo. E consigo.
- O que você pensa que está fazendo? – ele pergunta enquanto se levanta vindo em minha direção como uma avalanche, ou melhor, como um rio de magma.
- Parando, cansei, acho que enjoei de você. – nunca vi ninguém tão bravo.
- Parando? Cansada? Enjoada de mim? – ele me segura com força e me beija dolorido, mas eu gosto. – Como ousa? – ele me vira de costas para ele e me apoia na ergométrica
e me invade com força. - Santo Deus! Nunca mais diga isso! – ele me dá um tapa na bunda enquanto enfia com força.
- Não posso me cansar, enjoar e parar por conta de tudo isso? – pergunto com uma certa dificuldade na fala já que ele está batendo forte dentro de mim.
- Não, nunca! – ele continua e eu não resisto. Mas, analisando o nunca mais, isso me faz sorrir. Rebolo com ele dentro de mim.
- Agora sim! – ele gosta do que vê e mantém o movimento e eu, o rebolado, até que por fim ele esvai dentro de mim.
Ficamos parados com ele abraçado a mim, esperando que nossa respiração se acalme, assim como nosso ritmo cardíaco.
- Então nunca mais eu posso dizer o que eu disse?
- Nunca mais mesmo! – ele sai de dentro de mim e descarta a camisinha no lixo mais próximo.
- Nunca mais é um tempo com medição estranha... – comento enquanto nós dois nos vestimos.
- Sim, mas é o que quero nesse momento, pensar que isso não vai acabar. – ele me deixa sozinha e sai. Seu semblante está estranho e assim segue até a mesa posta
do café da manhã.
É manhã de domingo e apesar do calor lá fora, aqui dentro, desse rico apartamento, existe uma geleira colossal e acredito que eu possa não sobreviver por mais onze
dias. Vou em direção ao café da manhã.
Sentamos à mesa regiamente posta por Sara mas mantemos um silêncio estranho. Principalmente depois do que acabamos de fazer.
- Me passe a geleia. – peço de forma distante.
- Pode, por favor, parar com isso?
- Parar com o quê?
- Está me bloqueando, parece que gosta de fazer isso! – adivinhou.
- Claro que não, impressão sua, pode me passar o leite? Por que toda a comida está do seu lado da mesa? - pergunto cínica e quase rindo.
- Escute aqui. – ele vem em minha direção e me levanta, meu pãozinho cai em cima da mesa de mármore. – Para com isso!
- Vai me dar outro tapa?
- Não!
- Que pena! – respondo com um sorriso de canto e ele nega com a cabeça.
- O que você disse?
- Que adorei levar aquele tapa, como uma menina atrevida que fez uma traquinagem. – tiro de novo meu top e deslizo minha calça. – Não precisa pedir perdão por isso.
– laço sua cintura e me encaixo em seu quadril
- Não sei se vou conseguir ficar longe de você. – ele olha dentro dos meus olhos e segura meu rosto com as mãos.
- Não quero pensar nisso agora, quero você! – peço e ele me beija.
- Me quer? Aqui? Bem aqui? – ele pergunta deslizando seus dedos entre minhas pernas.
- Sim. – aceno com a cabeça.
Ele sai e volta rapidamente com algumas camisinhas em mãos, ele as joga em cima da mesa.
- Acho que preciso comprar mais...
- Provavelmente... - aceno de novo com a cabeça.
Nos perdemos um no outro, em cima da mesa, no balcão da cozinha, no chão da sala, mas nos encontramos também. Por diversas vezes eu o flagrei me olhando, me invadindo,
como se quisesse adivinhar o que eu estava pensando. Para ser franca estava pensando em como impedir esse casamento. Para ser franca acho que estou apaixonada por
ele.
O céu avermelhado anuncia o fim da tarde e meu cardápio para o jantar está pronto, pelo menos na minha cabeça está.
- Devo vestir algo diferente para o jantar? - ele entra na cozinha perguntando e para estarrecido com o que vê. Estou usando o avental da Sara. Apenas ele.
- Acredito que um smoking. – falo séria.
- Mesmo?
- Sim. – confirmo e ele sai.
Começo a mexer com os ingredientes, panelas e alguns minutos depois o cheiro está pelo apartamento.
São panquecas de massa bem fina, e fiz algumas doces também. Coloquei em alguns potes de cerâmica coberturas que combinassem: creme de chocolate, leite condensado,
mel e tínhamos sorvete no freezer como opção. Para as salgadas, pasta de ricota, fricassê de frango e queijo emental. Quando termino de arrumar a mesa e distribuir
as taças para o vinho, meu queixo se quebra em mil. Pedro em um smoking perfeito invade com seu perfume alucinógeno o ambiente e eu me sinto de fato uma cozinheira.
Ele está magnífico e eu louca de vontade dele. Controle-se, Carol, isso foi ideia sua!
- Estou à altura do que pediu? – o bastardo pergunta sabendo que minha boca está aberta por conta dele.
- Mais ou menos. – sorrio e volto para a cozinha.
- Cozinhar apenas de avental, deixando as laterais dos seus seios assim e sua bunda gostosa à mostra é realmente desconcertante.
- Posso piorar...
- Pode?
- Sim, claro.
- Me mostre...
- Com prazer... – ando em sua direção e retiro o avental e espero que ele puxe a cadeira para eu me sentar.
- Não sei por quanto tempo posso suportar isso. – ele avisa e eu apenas me sento nua e com muita fome, dele.
- Suporte, estamos à mesa, espero que goste do cardápio de uma solteira. –brinco e sirvo meu prato.
- Vou tentar, posso lhe fazer uma pergunta? – ele senta à mesa e como o cavalheiro que é, abre o guardanapo sobre o colo. Boas maneiras num homem é tudo!
- Claro.
- Enquanto tomava banho estava arquitetando tudo isso?
- Sim. – mordo com vontade um pedaço da panqueca que está com queijo e Pedro serve o vinho que acaba de abrir.
- Nunca jantei com uma mulher que estivesse nua!
- Nunca jantei com um homem de smoking.
Ele dá a primeira mordida na panqueca e fecha os olhos em êxtase.
- Está uma delicia! – ele come com tanto gosto.
- Obrigada! – sorrio e mordo uma panqueca com creme de chocolate, mas minha falta de coordenação faz o creme escorrer pelo meu colo, cobrindo parte do meu seio.
- Me perdoe, mas realmente eu não tenho condições de resistir mais. – Pedro empurra tudo que está sobre a mesa e lambe com gosto meu seio e desce até meu umbigo.
Sem fazer muita graça, me chupa majestosamente e eu grito.
- Sempre molhada, Carol, acho que estou viciado em você. – pensar nele de smoking me chupando é de fazer meu corpo estremecer.
Desgraçadamente ele apenas abre o zíper e veste a camisinha já posicionada em um dos bolsos e me fode gostoso, bem vestido e com força.
Deslizo minhas mãos entre seus cabelos e ele me olha diferente. Mesmo me invadindo com força, há algo em seu olhar, mas acho que não quero descobrir agora.
Um pouco antes de chegar ao orgasmo, ele encosta sua testa na minha e em seguida me beija, beija devagar e isso faz meu corpo agradecer. Eu desisti do meu coração
há algumas horas.
- O que você quer fazer agora? – ele pergunta me levantando da mesa.
- Quero deitar com você! – ele me olha com espanto.
- Na minha cama? – ele se assombra com a possibilidade.
- Não precisa ser na sua cama, desde que seja com você. – selo sua boca e vou para o banheiro de minha cela provisória.
- Um filme?
- Sim, escolha! – digo e ligo o chuveiro. Por favor, que ele desapareça da minha mente daqui onze dias.
Escuto o som alto da sala de vídeo ganhando o apartamento, não consigo adivinhar qual é o filme. Desligo e saio de roupão. Pedro foi tomar banho e eu fui espionar
seu quarto secreto, onde eu não posso deitar com ele.
É perfeito, quarto grande, cama grande e eu escuto o chuveiro desligar. Corro para a sala e me deito no sofá reclinável.
- Gostou do meu quarto? – ele pergunta da porta e meu coração gela.
- Ops. – sorrio amarelo.
- Vem aqui, mocinha! – ele ordena me chamando com o indicador.
Me levanto e obedeço.
- Está vendo isso aqui? – ele me leva para dentro do quarto e depois para o seu banheiro e aponta para uma tela de plasma. – A mesma câmera que te vigiou por dois
meses, é a mesma que flagrou você quase entrando no meu quarto.
- Me perdoa, só estava curiosa. – ergo um dos ombros em sinal de desistência.
- Por que curiosa? É apenas um quarto.
- Proibido pra mim. – falo e mordo o lábio sem jeito. - Por que foi o único lugar da casa que você não me apresentou?
- Tive um motivo.
- Qual? – perguntei com medo da resposta.
- Medo.
- Medo?
- Sim, medo de perceber que você combina com meu quarto, com a minha cama.
- Posso me sentar nela? – pergunto dando um leve sorriso.
- Pode. – ele me leva até o meio do quarto e eu me sento na cama gigante coberta por uma manta creme e azul. Cheira bem, cheira a Villas Boas.
O celular dele brilha em cima do criado mudo, fico com medo de que seja a vaca e quebre o clima.
- Alô? Sim, sou eu! Tudo bem, Sra. Bretan! – quem é Sra. Bretan? - Conseguiu falar com o gerente do hotel? Claro, tenho apenas que lhe agradecer pela dica e pela
indicação, espero vê-la em breve, Luciana, até logo. - ele desliga.
- Algo importante? – pergunto tão curiosa que nem me aguento.
-Sim, uma grande amiga, diretora de marketing de uma das maiores empresas de tecnologia do pais, é amiga pessoal de um gerente que pode me ajudar com um favor.
- Ok, posso saber qual favor?
- Ainda não, mas vai saber. Agora vamos, temos um filme pela frente. – ele me leva até a sala e aperta play para que P.S. - Eu te amo comece.
Qual seria esse favor? Penso enquanto o filme não começa. Penso também que hoje foi um dia de descobertas, descobertas minhas, surpreendentes.
Adormeço antes do filme terminar e apenas sinto Pedro me carregando no colo e me deitando na cama, a única coisa que sei é que não estou na cama de minha cela provisória.
Décimo dia...
O sol forte entra pelo vão da porta da sacada, estou em um quarto maior. Me sento na cama e há espaço suficiente para mais uma dúzia de Carol. Estou no quarto do
Sr. Villas Boas, nenhuma foto, nenhum porta retrato, apenas o escuro dos móveis, em contraste com o chão coberto por um carpete em tom marfim.
Levanto da cama, estou apenas de calcinha e Pedro não está nesse aposento. Sobre a mesa de canto ao lado da poltrona, um bilhete:
Carol...
Se soubesse como foi horrível desperdiçar minha ereção matinal... mas olhar você dormindo, com a boca ondulada pelo travesseiro foi muito mais compensador. Acredito
que tudo tenha realmente saído do controle, e acho que gosto disso. Prova do que estou escrevendo é que você acaba de acordar na minha cama... que ficou muito melhor
com você sobre ela.
P
- Claro que saiu do controle, do meu com certeza. – falo alto caminhando pelo quarto.
Um espelho gigante me chama a atenção. Em sua volta uma moldura larga de madeira, o espelho está a pelo menos vinte centímetros longe da parede. Olho dos dois lados
e uma discreta alça está do lado esquerdo, puxo como se fosse a porta de uma guarda roupa e o espelho se abre revelando um X em madeira, alças de couro em suas extremidades
e passo a ter medo de continuar ali.
Seria um artefato de tortura? Pensei comigo. Caminho até o closet e meu queixo se quebra ao tocar o chão. É maior do que meu quarto, e ele poderia usar um terno
por dia, sem repetir durante um ano. Céus! Para que tantas gravatas? Me espanto ao acender a luz do cômodo, o perfume dele ainda está por ali. Vejo um passaporte
sobre a prateleira interna do closet, lembro do meu, que apesar de estar de acordo para qualquer viagem, pertence a garota dura que ainda guarda dinheiro para um
carro seminovo.
O dinheiro patrocina essa organização de cores em seu cabide de calças. Ainda bem que não abri meu guarda roupa na frente dele, tenho certeza que tem uma família
de guaxinins morando por lá.
- Oi? – respondo ao escutar alguém batendo na porta, visto uma camisa social preta, é a que está mais fácil.
- Carol? - Sara abre a porta e eu vou até ela abotoando a camisa que cobre até minha coxa.
- Sim? – ela me olha já com um sorriso e gosto de olhar para ela assim.
- O café está servido e o Sr. Villas Boas pediu que lhe entregasse isso. – ela me entrega um envelope pequeno, do tamanho de um cartão de visitas.
Carol,
Estou indo para o trabalho... infelizmente...
Aprecie o café da manhã
Beijo
P,
Caminho até a sala de jantar e vejo um café da manhã de um hotel cinco estrelas, com certeza é muita comida. Lírios estão decorando o centro da mesa. Gostaria que
ele estivesse aqui.
O telefone toca, Sara atende.
- Residência Villas Boas.
- Sim, senhor, ela está aqui, na mesa do café da manhã. – Sara espicha os olhos para mim e entrega o telefone, em seguida ela sai, me dando privacidade.
- Alô? – respondo, minha voz ainda lembra o sono.
- Caroline... - ele suspira -...Acabei de lembrar do chocolate sobre seus seios e não sei se tenho força o suficiente para concluir esse expediente. – meu sexo reconhece
as palavras dele e pulsa.
- Sr. Villas Boas, estou diante de um pote cheio dessa especiaria, caso deseje, pode com certeza usá-lo onde quiser. – provoco, não posso ser a única a ficar excitada
assim.
- Carol, tem idéia do que está fazendo?
- Não, quer vir até aqui e me explicar? – provoco falando baixinho.
- Não fale assim...
- Quer que eu fale como?
- Não quero que fale nada... não devia ter ligado... agora quero ir embora. – ele suspira.
- Então venha, assim você me ajuda a tirar sua camisa social preta... não estou conseguindo...
- Cruel!
- Posso fazer pior...
- Use o computador do escritório, preciso desligar. – ele pede e desliga e eu enfio um pedaço de presunto na boca e corro para lá.
Ligo o computador que minha humilde poupança não pagaria nenhuma das parcelas, acesso minha conta de e-mail e vejo uma solicitação em minha rede social.
Adiciono o Sr. Villas Boas, percorro suas fotos, seus amigos e só existe eu em sua lista, automaticamente ele aparece no privativo.
V.B
Posso saber quem autorizou você a usar a minha camisa?
Não penso duas vezes e aciono a chamada com vídeo e ele aceita.
Caroline
- Me Perdoe. – eu falo e me levanto, girando 360 graus para que ele veja a camisa em mim, e para que ele me veja a retirando.
V.B
Desconectado
Chamo-o, digito algumas mensagens e nenhuma resposta. Acho que fiz besteira, não deveria ter me despido, mas ele elogia tanto meus seios... Arrependida, deveria
ter pensado que ele está trabalhando e por mais que ele seja o magnata que é, ele tem suas obrigações.
Acesso meu perfil e me perco nas fotos dos meus amigos. Vanessa está mais loura, faz tempo que não entro em minha rede social. Minha tia de Taubaté fez outra plástica.
Misericórdia, acho que não vou reconhecê-la se encontrar na rua. Ela está tão esticada que mantém um sorriso em tempo integral no rosto.
Pelo amor de Deus! Que foto é essa? Vanessa deveria escolher melhor suas roupas ou tirar foto antes da meia noite... graças a Deus não estava com ela.
O tempo passa e eu nem percebo; estou apenas de calcinha diante do monitor e totalmente desligada do mundo, esqueço o incidente há pouco ocorrido.
- Te peguei como eu queria! – Pedro invade o escritório, bate a porta e vem em minha direção. –Você tem ideia do que fez?
- Mas o que foi que eu fiz? – pergunto inocentemente e ele abre o zíper de sua calça e me coloca sentada sobre a mesa do escritório e quase ao mesmo tempo abre o
pacote laminado e veste o preservativo.
- Não tente me enrolar, mocinha! – ele tira minha calcinha e se encaixa entre minhas pernas, puxa meu cabelo pela nuca suspendendo meu queixo e o mordendo forte,
enquanto estoca de uma única vez dentro de mim. – O que você fez não tem perdão e vou ter que pensar em uma punição de acordo.
- Devo ficar com medo ou excitada aguardando pelo seu castigo? – ele me invade com mais força.
- Tem o hábito de se colocar diante de uma câmera e se mostrar assim?
- Tenho! – respondo gemendo, quase explodindo.
- Ousada! Poderia te bater nesse momento se não estivesse tão concentrado em fazer o que estou fazendo. – ele responde puxando com mais força ainda meu cabelo. Ódio
e tesão, não sei, o que sei é que me derreti sobre ele e suspirei.
- Não me bata – choramingo e ele me beija, dolorosamente, forte e morde meu lábio inferior.
- Não vou bater, mas você merecia. – ele me enche e suspira em meu pescoço.
- Por que eu mereço apanhar? Estou sendo uma boa menina...
- Não está, pode ter certeza. Boas meninas não fazem homens sair vinte minutos antes de uma reunião importante, boas meninas não mostram um par de seios perfeitos
e fartos via rede social. – ele me deixa e volta em seguida, após retirar a camisinha. – Não gosto de boas meninas. – ele me beija.
- Nunca mais eu faço isso, não deveria ter atrapalhado você. – lamento.
- Não mesmo. – ele ajeita sua roupa e me entrega a calcinha.
- Me perdoe, não foi essa a minha intenção. – ele está com a cara fechada.
- Já disse, não me peça perdão! – ele fala rosnando e eu gosto. Gosto?
- Por que não? Eu errei e estou me desculpando. – ele pega a camisa preta e me veste novamente.
- Porque você não errou, quem errou foi eu. – ele abotoa cada um dos botões e desliza as costas de seus dedos sobre meu rosto.
- Você errou?
- Sim, Carol, eu errei. – ele beija minha testa e suspira.
- Posso saber quando foi que você errou?
- Errei quando acordei essa manhã e tive a ideia imbecil de te deixar aqui por conta de uma merda de uma reunião.
- Mas é seu trabalho!
- É, eu sei. – ele me abraça e beija meu pescoço e inala profundamente. – Preciso ir. – Há uma espécie de tristeza invadindo o seu olhar, não está mais azul, seus
olhos estão como uma tarde chuvosa e de fato não tenho controle sobre isso.
- Vou ficar aqui te esperando... – sorrio tentando quebrar o clima.
- Gostei de ver você de social... – ele coloca sacanagem nas palavras.
- Obrigada, talvez possamos ter uma reunião de negócios mais tarde, uma reunião que exija esse tipo de vestimenta. – mordo o canto interno de meu lábio inferior
e ele inclina a cabeça, como um suplício.
- Garota má!
- Ponto com. Agora volte ao seu trabalho, mas não se esqueça da nossa reunião, será às vinte horas. – beijo seu rosto e o acompanho até a porta da sala, dispensando-o
de sua própria residência.
Ele saiu sem acreditar e eu tinha um plano em mente.
Primeiro eu preciso descobrir o que é aquele artefato no quarto dele, depois, eu tenho que saber sobre seus brinquedos, eu preciso ser a melhor que ele já teve.
Corro para o escritório e jogo no site de busca, palavras que lembram o adorno por detrás do espelho. Sara passa por mim diversas vezes no decorrer do dia e sorri
ao ver a estripulia.
Em uma das gavetas do closet, encontro seus brinquedos. Não sei se é normal, mas me sinto tentada a usar isso. Levanto um chicote, virei uma pervertida sexual.
Separei seus ‘itens’ e fui cuidar do meu visual, do meu jeito, sem uma equipe de profissionais. Elimino todos os pelos que ‘enfeiam’ o visual, depois meus cabelos,
preciso de cachos largos, sensuais e para isso Sara me ajudou comprando grampos e me emprestando o seu secador de cabelos. Minhas unhas estavam apresentáveis por
conta do bando que me arrumou há dois dias.
Faltava alguns minutos para as vinte horas. Minhas refeições durante o dia foram intercaladas entre goles de iogurte e pedaços de queijo. Sara se recolheu em seu
aposento depois de ter me trazido velas decorativas, algumas em formato de bolas, outras que boiam sobre a água, e umas pequenas que utilizei para indicar o caminho.
Vinte horas e eu estava pronta, no escritório, vestindo uma par de saltos altíssimos e uma gravata vermelha, umas das milhares que ele tem, mas essa é lisa, apenas
vermelho vivo, como o sangue que está fluindo cada vez mais rápido em meu corpo. Sinto minha temperatura subir e ouço a porta da sala se abrir.
Cabelos sexies, no corpo apenas meu hidratante e como instinto meu sexo percebe a presença dele. Baixinho deixei rolar The XX com a música Intro, longos minutos
e depois vamos ter um pouco de Kings Of Leon, e assim por diante. Acho até que Madonna com Like a Virgin está no repertório.
Ele se aproxima, ouço seus passos, estou sentada de pernas cruzadas sobre a mesa do seu escritório, apenas as velas iluminam o ambiente. Seu perfume chega em meu
corpo e meu corpo grita, de maneira molhada.
Ouço a porta do corredor se fechar, essa porta nos isola totalmente do restante do apartamento. Seus passos continuam e minha respiração acelera, meu coração teimoso
dispara e o rosto dele surge na porta. O brilho das pequenas chamas espalhadas denunciam a inclinação de seu rosto, como se estivesse diante de uma aparição.
Sim, sou eu mesma, a santa safada descoberta por você, Pedro, penso comigo enquanto ele caminha em minha direção. Nenhuma palavra, apenas seu terno e colete sendo
dispensados e os botões de sua camisa sendo arremessados para longe enquanto ele abre os lados de sua vestimenta com força, com pressa.
- Pronto para a reunião? – murmuro assim que encaixa entre minhas pernas.
- Espero por Deus que não! – ele responde me beijando e mordendo meus lábios. – Por que está fazendo isso comigo? – ele interrompe o beijo e me olha nos olhos. –
Por quê? – ele retoma o beijo e passeia com suas mãos pelos meus seios, apertando de forma carinhosa e em seguida brincando com meus bicos intumescidos.
- Porque preciso tratar de negócios com você esta noite. – permito que ele deslize o dedo pelo meu sexo.
- Oh, Carol! – ele lambe o dedo molhado e isso me convulsiona.
- Posso te castigar por isso! – ele enfia novamente seu dedo em mim e o lambe, com gula, em seguida enfia o mesmo dedo na minha boca.
- Experimente, veja o quanto você é gostosa. – chupo com tesão seu dedo, como se fosse seu sexo; abro sua calça e ela desliza pernas abaixo.
Continuo com seu dedo em minha boca, mantendo o movimento de um sexo oral. Os sapatos de Pedro já não estão mais em seus pés e sua calça está no canto embaixo da
mesa.
Estico minha mão e o agarro, duro, firme, pulsante, chego escutar o ofegar de Pedro enquanto chupo seu dedo e manuseio seu membro viril.
- Está me deixando louco. – mantenho os dois movimentos e de repente o agarro pela cintura com minhas pernas. Por instinto, Pedro me leva até o quarto e me senta
na cama. Ele olha para o espelho aberto e a Cruz de Santo André exposta, ele está intrigado, mas sua excitação é maior. Ele olha ao redor e vê seus brinquedos expostos,
mas apenas alguns. Minha falta de experiência me alertou que posso fazer besteira.
Pedro abre minhas pernas e empurra meu corpo contra o colchão. Ele não remove os saltos que estão em mim, ele não retira a gravata, apenas empurra a calcinha de
lado e desliza sua língua de norte a sul do meu sexo. E desgraçadamente ele volta a calcinha para o lugar certo.
- Vejo que achou meus passatempos...
- Sim... – mordo meu lábio inferior.
- Então hoje você vai brincar comigo! - Ele sorri e me levanta da cama. – Vem aqui! – ele ordena e me posiciona diante da Cruz de Santo André. Ele abre minhas pernas
e as prende pelos tornozelos, em seguida faz o mesmo com meus braços e os prende pelos pulsos. Não sei o que está acontecendo com a arquivista, mas estou muito excitada
com essa condição.
- Agora feche os olhos. – outra ordem e eu obedeço. Ele me venda e isso me molha ainda mais. As mãos dele passeiam pelo meu corpo e ele segura a gravata puxando-a.
Sinto a pressão do meu pescoço ir para frente enquanto meus braços estão presos. Ele me beija e morde minha boca. – Não sabe como é bom ver você onde está agora.
– ele solta a gravata e se afasta por alguns instantes. De repente, eu sinto uma lâmina gelada encostar em minha pele, quase um medo, mas confio nele. O objeto gelado
está na altura do meu quadril e eu sinto a calcinha se romper apenas de um lado e o restante dela desfalece pela minha perna. Sinto como estou molhada e Pedro vê
essa reação do meu corpo. Ele passa o dedo por cima do meu prazer líquido e enfia o dedo em mim, e outro dedo e eu grito. Eu o quero.
- Agora estou com fome... – ele abocanha meu seio e suga com força, mordendo suavemente. Porra! eu o quero dentro de mim. Ele repete o gesto com o outro seio e em
seguida desce até meu sexo, engolindo meu clitóris e me invadindo com seus dedos. Estou à beira de um orgasmo e ele para. Saindo de perto de mim.
- Pedro! – grito.
- Não grite! Foi você quem quis brincar. – ele sorri e volta encaixando seu corpo entre as minhas pernas. A posição perfeita da cruz permite a ele me invadir, mas
ele prefere me torturar. Ele esfrega seu membro duro em meu sexo encharcado e isso me leva a outro mundo.
- Eu quero você!
- Agora não! Estamos brincando! – ele declara e morde meu seio com um pouco mais de força e se afasta. Sinto o golpe do chicote que abre suas tiras de coro por cima
dos meus seios.
- Doeu? – ele pergunta vendo que dei um pulo.
- Não, apenas me surpreendeu! – respondo e o golpe vem mais forte e eu grito.
- Agora sim, um bom motivo para gritar! – ele fala com sorriso nas palavras e coloca uma mordaça em minha boca. – Mas não quero gritos, estamos brincando.
- Quero gozar! – tento falar com a mordaça na boca.
- Boa sugestão, realmente estou com sede, muita sede! – ele fecha minha boca com a mordaça e cai de boca em meu sexo que já estava pulsando. Suga majestosamente
bem, me invade com a língua e deixa minhas pernas trepidarem. Continua covardemente deslizando a língua para dentro de mim e em seguida suga o alto do meu sexo.
Gemo com a boca lacrada, gemo alto, o melhor orgasmo do mundo. Enquanto gozo, Pedro apenas mantém o movimento delicado de sua língua e depois a deixa sobre meu clitóris
sentindo ele pulsar depois de gozar loucamente.
- Carol, você é uma delícia, está satisfeita?
Não, aceno com a cabeça.
- Quer mais?
Sim, aceno com a cabeça.
- Seu pedido é uma ordem.- Mas ele me solta. Primeiro minhas mãos, depois meus pés e me leva até a cama, posicionando meu corpo apoiado sobre meus joelhos e palmas
da mão. Sinto a respiração dele em meu bumbum e sinto sua língua deslizar por toda a região. Ele segura a tira da mordaça enquanto passeia com sua língua por todo
meu sexo e redondezas. É como se estivesse de coleira e isso me excita mais.
Pedro mantém o banho oral e eu explodo para ele. Sinto ele se levantar, remover minha venda e minha mordaça, meus olhos estão confusos e ouço quando o pacote laminado
se abre.
- Preciso estar em você agora! – ele diz e enfia de uma única vez, segurando minha cintura e pressionando com força meu corpo contra o dele – Muito gostosa, Carol!
- Não pare, eu peço! – ele me invade com muito mais força, sinto-o bater dentro de mim, sinto também um tapa em meu traseiro e isso me faz gemer alto e ele se liberta
com meu prazer.
- Céus! – ele grita e eu rebolo com ele dentro de mim.
- Mais! – eu peço.
- Sim! – ele responde gemendo e isso me estremece por dentro.
Mantenho o rebolado e levo outro tapa, gosto dos tapas.
Pedro se inclina e alcança um dos meus seios. – Ah, Carol! - outro tapa, como punição por deixá-lo tão excitado.
- Mais! – peço e rebolo, gozo e ele delira. Ele segura com força minha cintura e estoca forte, varias vezes, rápido, com destreza e eu explodo gritando alto um gemido
de satisfação. Estava à beira da exaustão e ele me enche e eu o ajudo rebolando para ele.
- Por Deus! Foi a melhor reunião de negócios da minha vida! – ele deixa meu corpo e eu me jogo de saltos e gravata sobre sua cama.
- Espero que essa reunião tenha sido esclarecedora, Sr. - brinco com a gravata enquanto falo com aquele homem poderoso me encarando. O fato dele simplesmente me
olhar me faz sentir um orgasmo iminente a caminho.
- Sim, bastante, mas confesso que devemos nos reunir novamente. Esse assunto não está encerrado. – ele responde firme e vem em minha direção, beijando minha boca.
- Sim, senhor, temos mais nove noites, mais nove reuniões e espero poder atender cada uma das pautas aqui estabelecidas. – ele cerra seus olhos em minha direção
e sai.
- Pouco tempo... – ele diz baixinho enquanto caminha em direção ao chuveiro.
- O que você disse? – pergunto em tom alto da cama, fingindo não tê-lo ouvido.
- Nada. – ele responde seco e eu não insisto.
Meus olhos divagam pelo teto e meu corpo relaxa. Adormeço antes mesmo dele sair do banho. Sonho com Pedro e acordo com ele retirando meus saltos e a gravata.
- Quer que eu volte para meu quarto? – pergunto fazendo menção em levantar.
- Você já está no seu quarto. – ele beija minha testa e nos cobre com a manta marfim. Meu corpo encaixa no dele e o sono foi embora espantado com as palavras: Você
já está no seu quarto.
Sinto o rosto dele se afundar nos caracóis castanhos de minha cabeça, sinto seu inalar em minha pele e sinto lamentavelmente que talvez eu não possa mais viver sem
ele. E mais do que isso, percebi, quase sem querer, que já que não o terei para mim pelo resto da vida, não vou mais lamentar o pouco tempo que nos resta. A partir
de agora serei para ele tudo o que a vaca não é. Se eu terei somente as lembranças como consolo, ele terá que passar pelo mesmo que eu...
Nono dia...
São quatro e quinze da manhã, estou acordada há mais de duas horas, sem sono algum. Estou tentando entender tudo que está acontecendo e lamento não ter capacidade
mental para isso.
Me levanto, visto um robe cor de rosa, e vou até a varanda do quarto. O tempo está calmo e São Paulo ainda está em silêncio. Apenas alguns ônibus e carros estão
transitando, mas longe dali, muito longe.
Às vezes sinto vergonha de estar na situação que estou, mas isso passa assim que Pedro me abraça.
Ah, Pedro!, penso enquanto olho para aquele homem de corpo definido que está nu, deitado sob o lençol audacioso que o cobre apenas na região da pélvis. Inveja desse
lençol.
Caminho até ele e sua respiração profunda me acalma também, mas sinto o solavanco ao lembrar que os dias estão se acabando... não queria que acabassem. Não estou
preparada, preciso de mais uma vida inteira para me convencer de que temos um trato e não um relacionamento.
Me aproximo ainda mais do corpo perfeito do Sr. Villas Boas e olho seu volume sob o lençol marfim. ‘Desperdiçar uma ereção matinal’ vem à minha mente e eu retiro
o lençol e penso no quão sortudo é esse homem. Rico, lindo, corpo desgraçadamente perfeito e com algo que realmente não deixa nada a desejar.
Me inclino lentamente e deslizo minha língua sobre ele, tão duro, tão firme, macio... Não resisto e o engulo despertando seu dono, que geme ao perceber o que estou
fazendo.
Faço seu membro sumir e aparecer em fração de segundos e Pedro geme, alto.
Deveria ser um crime desperdiçar essa ereção matinal, e continuo a manobra. A sensação dele olhar o que estou fazendo me excita. Ele pulsa em minha boca e eu deslizo
minha língua de ponta a ponta, como se isso fosse matar minha fome, na realidade está abrindo meu apetite.
- Ah, Carol... – isso faz a parte de trás do meu umbigo pedir por ele, e mantenho o movimento, acelerando e parando, intercalando entre minha boca e minha mão.
Gosto do seu gosto e o engulo e ele geme cada vez mais alto. Gosto de fazê-lo se contorcer, gosto de ser a fonte do seu tesão.
- Minha Carol... – ele pulsa em minha boca e meu corpo o quer, mas essa manhã meu trabalho é em prol do não desperdício e ele enche a minha boca. Nenhuma gota encontra
liberdade. De fato, ele desce por minha garganta e eu sinto tesão em fazer isso.
- Bom dia. – olho para seu rosto corado, lindo e meu coração dispara.
-Bom? Esse tem tudo para ser o melhor dia da minha vida. Deus, como é bom acordar assim, com essa boca ao meu redor, puta merda, Carol. – ele me puxa para o seu
lado da cama e me agarra como conchinha.
- Oh, Sr. Villas Boas, gostou de ter fodido a minha boca? – pergunto em sacanagem.
- Não, eu não fodi a sua boca, sua boca fez amor comigo. – e o maldito do meu coração está sorrindo, tomando um drink à beira da piscina.
- Minha boca fez amor com você?
- Sim.
- Apenas pensei no desperdício de ontem e não gostaria de vê-lo com algum prejuízo. – brinco e ele sorri.
- Olhar pra você ontem enquanto dormia me fez pensar na vida que estou perdendo. – ele se levanta e olha por entre a cortina. Seu olhar se perde e eu também. – Não
sei mais, não sei de mais nada, Carol. – ele leva as mãos para os cabelos e respira fundo, buscando liberdade para seus pulmões.
- Não sei o que responder, porque não sei do que você esta falando. – claro que sei, mas quero ouvir dele, que esse acordo todo foi a maior loucura.
- Daqui dez dias, vou ter que aprender a viver de novo, pior ainda, viver sem você. – ele fala sobre o casamento, mesmo tendo proibido o assunto. Eu me calo e deixo
que ele prossiga. – Mas vou ter que aprender. – ele suspira e caminha até o banheiro e eu seguro o choro; porque não quero ser um acordo, não quero ser um período
previamente estabelecido, quero ser a noiva sortuda que vai poder despertar com ele todas as manhãs.
Me levanto e sento no chão da varanda do quarto e algumas lágrimas teimam em descer.
- O que foi? – Pedro de roupão azul me flagra lá fora e eu não sou forte o bastante para isso. Achei que seria capaz, mas não sou, deixou de ser brincadeira; virou
coisa de adulto e agora meu coração dói. Eu tinha avisado a ele, eu pedi, solicitei, mas ele não meu ouviu, ele preferiu ouvir o Pedro e todo seu encantamento.
- Nada, apenas pensei na minha vida daqui a dez dias. - na verdade pensei que talvez não tenha mais vida alguma daqui a dez dias, penso comigo. Dramática? Sim, mas
antes de me julgar, experimente conhecer o avesso de sua vidinha medíocre e saberá exatamente o que estou sentindo.
- Não chore. – ele me puxa para o seu corpo e ainda não sei se isso me salva.
- Ok, desculpe, foi apenas uma recaída que não vai mais acontecer. Durma mais um pouco, você precisa trabalhar depois.
- Não preciso. – ele me beija. – Posso tirar o dia de folga, ficar aqui com você.
- Não quero te atrapalhar.
- Você está se escutando, Carol? Definitivamente você nunca me atrapalha. – desisto de não gostar dele.
- Feliz em ouvir isso. - Me solto dele e tiro meu robe, fico nua e caminho em direção ao chuveiro.
- Você sabe que é gostosa e ainda faz isso...
- Isso o quê?
- Caminhar nua na minha frente!
- Perdão! Prometo NUNCA mais fazer isso. – coloco um sorriso nas palavras.
- Não! Nem por brincadeira, apenas esbocei de forma errada a vontade que tenho de ir até aí e me esconder dentro de você.
- E por que não vem?
Conversávamos com uma parede de distância e de repente eu o vejo entrando na hidro comigo.
Eu deveria lembrá-lo mais uma vez sobre tomarmos cuidado, mas não resisti à carinha dele, e quando dei por mim ele está em mim, ou melhor, estou sentada sobre ele
dentro da hidro e gostaria muito que o tempo parasse. Nossa primeira transa sem camisinha.
- Não vou conseguir trabalhar. Vou lembrar dessa manhã e com certeza vou querer mais e vou estar longe. – ele segura meu quadril e pressiona meu corpo contra o dele
e me enche.
- Então fique aqui comigo, fica não porque estou pedindo ou porque você pode fazer o quiser comigo, fique porque quer ficar, pelo simples prazer da minha companhia.
- Mendigo um ato de namorado e vejo algo que parece ser uma única e mínima lágrima no canto do olho esquerdo de Pedro. Estaria eu enganada e aquilo seria uma gota
do hidro?
- Sim, eu fico, pelo simples e mais perfeito prazer de sua sensacional companhia. Melhor companhia que tive nos últimos anos, e confesso que talvez não a mereça.
– a lágrima não cai, ela some entre as gotas de água que respingam da hidro.
- Obrigada. – digo enquanto apoio minhas mãos em seu rosto e o beijo. Amo sua língua, amo sua boca e covardemente amo Pedro por ser o pior e o melhor de mim.
O sol surge e estamos na varanda do seu apartamento, na varanda da sala, estamos de roupão e um lençol tenta nos cobrir. Pare, tempo, por favor, eu peço.
- Vamos viajar! – ele sussurra em meu ouvido.
- Não! Lembra que eu disse que minha condição era ficar aqui?
- Sim, mas gostaria de fazer uma viagem com você.
- Rio de Janeiro?
- Não! Você tem passaporte e visto?
-Sim, nem sei porque tenho, nunca viajei. Deve estar prestes a expirar. – resmungo.
- Então bem vinda à mais uma primeira vez. Levante, se troque e faça uma pequena bagagem, ou melhor, leve algumas trocas de roupas.
- Você ficou louco? Tento me aconchegar em seu colo novamente a fim dele esquecer essa ideia.
- Sim, fiquei. Agora só obedeça, não vai se arrepender. – ele me levanta e me abraça.
Acho que quero arriscar, mesmo sabendo que possa vir a me arrepender.
- Serão alguns dias, cinco ou seis, não sei, mas quero muito viver isso com você, nosso tempo esta acabando. – ele me beija e dentro de mim um cronômetro grita o
fim dos dias perfeitos.
Pedro passou a manhã agilizando a viagem e eu passei a manhã toda olhando aquele homem de ombros largos ao telefone. Estou esparramada no sofá da sala de jogos e
percebo que o sono começa a me cobrir.
Sonho com Pedro. Ele está virado de costas para mim e não me olha, eu o chamo e ele me ignora. Ele está de terno e uma mulher de branco está ao seu lado. Caio de
joelhos e choro.
- Carol! – ele fala baixinho em meu ouvido e eu me assusto.
- Pedro! Graças a Deus! – o abraço.
- Sonho ruim? – ele pergunta assim que me agarra pela cintura.
- O pior deles. – beijo seu pescoço.
- Percebi, você me chamava tanto.
- Não quero falar disso. – escondo meu rosto em seu pescoço.
- Então não fale. – ele me beija e me leva até a mesa de sinuca. - Gostei do amor que fizemos hoje pela manhã, sentir como você é aqui dentro - ele enfia o dedo
em mim, foi algo surreal.
Ele me senta sobre a mesa e encaixa sua boca em meu sexo. Sentir a respiração dele em mim já me obriga a gozar. E não demora muito para que isso aconteça e seus
lábios molhados de mim vêm em minha direção. Pedro se posiciona entre minhas pernas e eu o sinto, me preenche completamente e pulsa deliciosamente. Muito bom.
- Ah, Carol! Que delícia! - Ele enfia com vontade, mas ao mesmo tempo devagar. – Apertada, Carol, gostosa, céus, como pode ser tão gostosa?
- Gosta? – pergunto e olho para o ponto onde nossos corpos se encontram, se escondem.
- Se eu gosto? Por Deus, entregaria minha fortuna toda por você e seu abençoado corpo delicioso. – ele pressiona mais forte.
- Vou gozar, Pedro – sussurro em gemido.
- Não fala assim... tenho vontade de gozar junto com você!
- Seria uma honra! – eu respondo, ele entra com força e nós dois nos unimos, gemido, suor e prazer. Sim, foi mágico.
- Não sei se já disse isso, mas gosto muito de estar dentro de você! - Ele fala em meu ouvido assim que se retira do meu corpo.
- Seja sempre bem vindo. – eu o desmonto e vejo nos olhos dele uma luz perfeita, um brilho renovador, e por alguns segundos eu me vejo dentro dele.
Sara nos avisa sobre o almoço, e boa parte da tarde falamos sobre a infância. Bom, eu falei sobre a minha, falei que aprendi a andar de bicicleta depois dos doze
anos e que até hoje morro de medo, ele riu, nós rimos muito. Pedro é rico e simples e isso é encantador. Ele falou sobre o inicio da ARTAME, de como gosta do trabalho,
falou de alguns amigos, de como ele decidiu morar nesse prédio. Facilmente as horas somem quando a companhia é boa. De repente o celular dele toca.
- Alô? – ele atende e me olha triste - Sim, estou no escritório. – ele está falando com a vaca - Você ligou aqui no escritório e a secretária disse que eu não estava?
- ele está nervoso e impaciente, e acaba se levantando do sofá e se afastando um pouco de mim, como se isso pudesse me manter segura de algum ataque da vaca. - Escute,
Jamile, estou resolvendo um acordo, depois nos falamos. – ele tenta desligar, mas escuto a voz estridente da vaca incomodando-o. - Jamile, aproveite sua viagem.
– ele desliga e me olha. - Desculpe. – seu olhar triste revela sua infelicidade.
- Não se desculpe, eu sou a errada e não você ou ela. – saio do sofá e vou me trocar.
- Você está triste. – era uma afirmação óbvia.
- Sim, mas não é com você, é comigo mesmo.
- Por que ficaria triste consigo mesma?
- Porque não te conheci antes dela.
Ele esfrega as duas mãos no rosto, suspirando alto, como um sinal de derrota.
- Existe muita coisa envolvida, existe um interesse comercial muito grande e talvez isso dificulte ainda mais minha vida. – ele explica e me deixa em minha cela
provisória. Em seu rosto eu vejo a sombra de uma decisão que foi tomada, mas não foi a melhor.
Minutos depois e algumas ligações, estamos a caminho do aeroporto. Passei correndo pelo Juan na portaria. Ele estranhou e gritou meu nome. Subi e desci com o passaporte
virgem nas mãos. E agora, vendo esse percurso e comparando com a minha vida chata e sem brilho, talvez essa loucura tenha sido a decisão mais coerente que já tomei
em minha vida.
- Para onde estamos indo?
- Surpresa. – ele sorri de canto e conduz o carro. Gosto de suas mãos sobre o volante.
- Mas não acha prudente eu saber?
- Não... – ele sorri de um lado ao outro e existe muito dele dentro de mim.
Ele estacionou o carro, retirou as malas e fomos até um acesso, um jatinho nos aguardava e eu ainda não sei o meu destino. Confesso que gosto disso.
- Pedro, para onde estamos indo?
- Para um lugar onde eu possa andar de mãos dadas com você, um lugar que ninguém me conhece, um lugar pra você ser minha namorada à luz do dia. - Ele me beija e
o lugar para onde estamos indo agora é o que menos importa...
Oitavo dia...
Acordar com o barulho do vento contra as asas do jatinho me fez pensar rapidamente que talvez já não estivesse no Brasil... de fato eu não estava.
Sobrevoávamos o oceano e minha cabeça fraca, vivendo apenas no mundo do Sr. Villas Boas, não sabe dizer qual é o nome dessas águas.
Olho ao meu redor, e a suíte perfeita em tom madeira escura me dá golpes de quanto dinheiro esse homem tem. Esse homem... Pedro, dorme, lindo, apenas de cueca. Não
existe nada mais sexy do que um homem com o corpo devidamente torneado dormir como um bebê. Pedro é meu bebe por mais oito dias. Merda, Carol!, penso enquanto meu
coração cantarola algo meloso ao olhar para ele, estirado com as mãos por baixo do travesseiro, costas lindas, largas, cor perfeita, cheiro ideal e cruelmente o
detentor de tudo isso sabe fazer um sexo majestoso. Chego abrir a boca enquanto olho para o mestre do sexo adormecido.
Visto minha roupa e vou até a poltrona confortável. Ela é coberta por um couro em tom marfim e uma pequena faixa vermelha ao centro do assento.
Olhar os pontos luminosos do alto me lembra do passeio de helicóptero. Pedro tem me mostrado um mundo que vou ter que aprender a viver sem.
No reflexo da janela meus olhos brilham, me confundo, me perco dentro de mim e agora já é tarde, vou ter que conviver com esse carma, essa decisão. Maldição em ser
a temporária.
Acredito que por algum motivo celestial esse homem tenha entrado em minha vida. Confesso que respiro melhor porque sei que ele existe, ele existe dentro de mim,
de forma pulsante e barulhenta, de forma desrespeitosa e eu gosto dessa sensação.
- Arrependida? – Villas Boas está em minhas costas e pergunta.
- Muito! – viro meu rosto e o vejo vestido de jeans e camiseta, ele está descalço, essa despretensão dele em ser o que é me fascina.
- Quer voltar? – ele pergunta assim que beija o topo de minha testa e se senta ao meu lado.
- Por favor, acho que devemos voltar. – sorrio para ele e alcanço sua mão. – Acho que devemos voltar para nossas vidas antigas, você para o poder imperial que te
acompanha e eu para meus arquivos empoeirados do seu império. – ele leva minha mão até sua boca e beija meus dedos.
- Voltar para minha vida antiga...talvez não goste mais dela. – ele declara e se levanta. –Talvez essa minha vida antiga seja tudo que eu não queira nesse momento.
– ele permanece sentado ao meu lado, segurando minha mão, mas recosta a cabeça na cadeira e fecha os olhos.
Desisti do meu coração há alguns dias, ele pertence ao Sr. Villas Boas, meu namorado temporário e futuro marido da vaca.
Poderia pedir para ele adiar o casamento... Isso, sua imbecil! Vai lá e pede para o magnata esquecer de casar com a vaca, ele vai gargalhar. Ela é rica, fina, e
com certeza ela nem sabe onde fica o porão onde você trabalha!, meu subconsciente entrou em minha bagagem sem eu perceber.
- Gosto dessa vida nova, mesmo que temporária. – ele dispara.
- Estou aqui para lhe agradar, meu gentil senhor! – brinco para mudar o clima.
- Sou seu senhor? – ele gosta do que falo.
- Temporariamente, senhor. – respondo sorrindo.
- Sou seu senhor... – ele sorri ao repetir a frase e parece que não ouviu que se trata de estado temporário.
- Sim, é meu senhor. – ele sorri e ignora o fato de termos um tempo pré determinado para essa situação.
- Tenho a companhia da mulher mais linda, tenho que aproveitar. – ele sorri.
Permaneço em silêncio até o desembarque.
Pouco tempo depois estamos descendo as escadas do jatinho. Olho maravilhada à minha volta porque já começo a perceber onde estamos.
- Sabe onde está? – Pedro pergunta enquanto olha para mim, estou de boca aberta girando em meus calcanhares.
- Las Vegas...- suspiro.
- Sim. – ele me abraça sobre os ombros e sorri junto comigo.
- Estou nos Estados Unidos! – estou com olhos marejados.
- Sim, está, minha linda. Não pensei que fosse ficar assim. – ele me abraça forte e me suspende do chão em giro.
- Estou feliz!
- Estou vendo!! E acredito que eu nunca fiquei tão feliz em chegar em Las Vegas. – ser rico tem esses benefícios, ir inúmeras vezes, em inúmeros lugares.
- Vai ser legal! – falo ainda sorrindo e caminhamos para fora do aeroporto assim que passamos pela imigração.
Sabe quando vamos pela primeira vez no circo e olhamos os palhaços, a mágica, enfim, é a primeira vez que estou no circo. Olho tudo ao meu redor e me distancio de
minha situação temporária. Preciso aproveitar esse momento.
Enquanto caminhava pela aérea externa do aeroporto internacional de Las Vegas, lembrei de quantas vezes me engalfinhei na rodoviária do Tiete...Pai Nosso!
Um carro nos aguardava e nosso destino era o The Venetian Palazzo, um hotel esplendoroso e nossa suíte nada mais era que a Penthouse suíte onde chegamos minutos
depois.
Poderia me perder nessa cama gigante! Percebo Pedro me olhando, pareço uma tonta perdida no luxo que me cerca... temporariamente. A maldição desta palavra resolveu
fazer abrigo em minha casinha de papel.
- Por que uma suíte tão grande? – ando pelos milhares de metros cobertos de luxo e conforto.
- Porque eu gosto de espaço. – ele responde arrancando a camiseta e indo em direção ao banheiro. Escuto a hidro.
- Eu gosto de estar com você. – resmungo dando de ombros a tanto luxo desnecessário. Talvez se ele tivesse o mesmo número que eu em seu saldo bancário fosse mais
fácil pedir para ele não casar. Perco-me em uma vontade.
- O que você disse? – ele perguntou assim que voltou para o quarto apenas de cueca boxer branca. Se Pedro soubesse o que a visão do seu corpo faz com minha pobre
carcaça... por Deus esse homem é perfeito.
- Disse que gosto de estar com você. – confesso sentando na cama, tirando meus tênis com os pés mesmos e amontoando meus dedos das mãos.
- Achei que você tivesse gostado. – ele franze o cenho e senta ao meu lado alcançando meu amontoado.
- Gostei muito, quem não gostaria? Mas eu gosto de saber que é com você, independente de quanto ou quando, o que importa é você. – meu coração me delatou. Maldito
ser pulsante que age como se fosse independente do meu corpo.
- Estou surpreso. Acredito que qualquer um ficaria deslumbrado com esse quarto, com esse hotel, e pensei que fosse deixar você surpresa. – ele beija as pontas dos
meus dedos e me coloca de pé diante dele, entre suas pernas.
- Quer saber quando me surpreendeu? – pergunto e ele está desabotoando minha calça.
- Claro...
- Quando carregou caixas de arquivos junto comigo. – ele desliza e remove meu jeans.
- Você está falando sério? – ele fica de pé e tira minha blusa me deixando apenas de lingerie, suspiro ao ficar quase nua.
- Sim, estou. Você me surpreendeu quando usou minha camiseta do Garfield. – ele me leva até o banheiro.
- Mas não é nada demais, são coisas simples. – ele retira minhas peças íntimas e a dele também, e me conduz para dentro da hidro.
- Não é simples, são nesses momentos que vejo um homem em sua essência, de caráter, que não precisa de gritos ou grandes acordos; é nessa simplicidade que me encanto,
quando nossos mundos se colidem e se tornam iguais. – ele desliza a esponja em minhas costas.
- Dinheiro não te encanta? – ele troca de lugar comigo e se posiciona entre minhas pernas deixando aquelas costas desenhadas por Deus sob minhas mãos. Obrigada,
papai do céu, por essa esmola.
- Dinheiro é um facilitador, sem dúvida. Nunca tive dinheiro, o pouco que meus pais deixaram foi o suficiente para eu me virar. Não posso ficar encantada com algo
que não pode comprar momentos, posso comprar o material, mas o que de fato me encanta não, o essencial. – deslizo minhas mãos por seu pescoço e ombros.
- O que é essencial? – ele está interessado e continuo com meu passeio, gosto de passear nele.
- Essencial é dormir abraçado, sentir o suspiro um pouco antes do sono invadir, e saber que esse pode ser o fôlego que precisamos para continuarmos vivos; olhar
o sono que ondula a boca no travesseiro; olhar um banho ou uma refeição; saber que aquilo é que faz a vida valer a pena. Essencial é ter vontade de compartilhar
uma vida que parece não ter existido antes de tudo isso.
- Acho que eu deveria saber de tudo isso, talvez não tivesse tomado algumas decisões. – ele se senta de frente a mim.
- Está sabendo no momento certo, tudo acontece no momento certo. – solto meu cabelo e me ajeito diante dele.
- Você é linda, não só pelo corpo esculpido ou pelo singular rosto de boneca. É linda porque me leva para um nível humano que eu não sabia que tinha, me transporta
para o lado simples que faz minha vida alegre. – ele suspira. –Talvez eu não devesse dizer o que vou dizer, mas vou explodir se não dividir com você. – me aproximo
dele e seguro suas mãos.
- Me conte então...
- Talvez eu não consiga ficar longe de você depois que tudo isso acabar. – ele me encara como quem espera pela minha reação.
- Eu também, mas é algo que vamos ter que lidar. Não podemos ferir e nem sair feridos. É um plano com prazo pra começar e pra terminar. – juro que estou tentando
ser adulta e sensata.
- Eu sei. - Ele me puxa para o seu colo. – Mas, vamos aproveitar, estou com a minha namorada, minha linda namorada que está me ensinado a viver. – ele me beija,
diferente de todas as vezes que me beijou, sereno, tranquilo e um abraço perfeito que conduziu naturalmente a um sexo gostoso. A camisinha já não faz mais parte
de nós e, sendo bem franca, não estou preocupada, somos saudáveis.
Terminamos o banho, desfizemos nossa bagagem e guardamos tudo no guarda roupa. Eu escolhi um short jeans e uma camisa fina verde água e sandálias. Ainda estou pagando
por ela, fiz em quatro vezes em uma loja chiquérrima que fez um bazar com ponta de estoque. Ele escolheu jeans e camiseta branca, para completar um sapatenis lindo.
Pedro Villas Boas é lindo.
- Onde você quer arriscar? - ele pergunta assim que entramos no elevador.
- Não entendi a pergunta, você quer que eu aposte? – pergunto ajeitando minha roupa com ajuda do espelho que cobre todo o meio de transporte vertical
- Sim. – ele respondeu e me puxou para junto dele.
- Com a sorte que eu tenho, é melhor não cogitar isso. – ele beija a ponta do meu nariz.
- Saiba que eu posso apostar onde eu quiser. Descobri que sou o cara mais sortudo, tenho a menina mais linda do baile. – começo a ter medo de sentir o que estou
sentindo ao beijá-lo. Ele está me passando sentimento e isso não é bom. Se um transplante é complicado, imagina dois.
- Sou a mais bonita? – faço charme assim que nossos lábios se soltam.
- Sim, nunca me encantei por alguém assim. Meses de observação e um medo danado de me aproximar. – ele aproxima sua boca do meu pescoço e beija, inalando profundamente.
Meu mundo descola do sistema solar.
- Melhor não me dizer essas coisas. – confesso abraçando-o. Não preciso de um transplante, eu preciso reencarnar. O que eu vou fazer da minha vida sem ele?
- Eu preciso que você saiba. – a porta do elevador se abre e eu desejo imensamente que a vaca tenha um infarto fulminante.
- Roleta, minha gata! – ele me leva para lá e para outras mesas de aposta. Pedro ganhou nos dados e eu, no caça níqueis. Fiquei tão feliz com quatrocentos dólares
que ganhei na máquina e ele ganhou cinco mil. Prova de minha total vocação para pouca ou nenhuma sorte.
- Cansada? – ele pergunta enquanto olho uma vitrine com joias.
- Não! Pedro, aquilo ali custa vinte mil dólares? – pergunto sobre uma pulseira de ouro branco com pedrinhas coloridas.
- Sim, você gostou? – ele me dá medo.
- Não, é que estou surpresa com o valor, preciso de duas vidas para ganhar isso. – continuo andando e olhando a vitrine.
- Apenas vinte mil. – ele fala e eu giro meu pescoço como a menina do exorcista.
- Você é louco? – franzo o cenho e cruzo os braços.
- Não. – ele fica surpreso com a minha pergunta e a minha postura.
- Pedro, isso é muito dinheiro. Pais de família têm que sustentar uma casa inteira com quase setecentos reais, vinte mil dólares é muito dinheiro. – fico brava com
ele.
- Você está brigando comigo por conta de dinheiro?
- Sim, você tem uma visão enganada do mundo. Dinheiro traz conforto e pode até patrocinar alegrias, mas ele não consegue comprar sentimentos ou a saúde. Por exemplo,
imagina você, Pedro Villas Boas, milionário, sozinho e inválido, parabéns pelos seus milhões e lamento por sua vida. – aperto meus braços cruzados e bato o pé no
chão.
- Olha, Carol, primeiro admito que você está certíssima e em segundo, é que ficar zangada dessa forma, me deu um tesão. – ele tenta se aproximar de mim e eu quase
rosno para ele.
- Sei, mas agora o senhor não vai conseguir nada, me deixe quieta com minha raiva. – continuo andando e ele está pasmo.
- Você não pode ficar brava por conta da minha opinião! – ele ralha.
- Não estou com raiva por conta da sua opinião, estou com raiva porque olhamos para a mesma coisa e vemos tudo diferente. Com vinte mil dólares você não compra uma
outra BMW, mas para um pai de família com renda de setecentos reais, ele poderia sustentar sua casa por alguns anos.
- Carol, pare com isso! – ele segura meus braços e me dá uma leve sacudida. – Acho pouco porque tenho muito, isso não significa que não sei sobre as diferenças sociais.
Além do que, não posso ser culpado pela discrepância de uns terem muito e outros terem nada. Eu trabalhei duro pra chegar onde estou e não vou ter vergonha por ter
muito dinheiro ou por querer gastá-lo como bem me der prazer! – ele está bravo, ele não entende que estou assim porque eu gostaria que ele morasse no mesmo prédio
que eu, trabalhasse como eu, porque assim nenhuma vaca maldita seria sua esposa.
- Estou cansada! – fecho a cara, cruzo os braços e me sinto como uma completa idiota. Eu dando meus faniquitos e ele totalmente certo em seus argumentos.
- Tudo bem. – ele fala sério e subimos até o quarto em silêncio.
- Estou com fome. – falo em um tom melhor, arrependido mesmo.
- No frigobar deve ter alguma coisa, se não encontrar ligue na recepção e peça seu jantar, apenas para você, perdi o apetite. – ele está muito bravo, porque eu tenho
que abrir essa boca de merda?
Fico em silêncio depois da resposta. Sento na varanda e olho a onda de luzes que cercam o hotel de alto padrão. Não deveria ter falado nada, ele apenas achou pouco,
assim como achei pouco as parcelas de minha sandália. O mesmo pai de família não poderia comprá-las para uma de suas filhas. Idiota, Carol!
Fico ali por quase trinta minutos e o silêncio do quarto me chama a atenção. Entro e Pedro está deitado, olhos fechados e o seu celular toca The Police -Every Breath
You Take.
- Pedro? – o chamo baixinho sentando ao lado dele.
- Sim. – responde seco.
- Não está com fome?
- Não.
- Pode, por favor, abrir os olhos e olhar para mim?
- Sim. – ele abre os olhos e me sinto sozinha.
- Pode fechar novamente, eu só queria me desculpar, não deveria ter falado que falei. Você não tem culpa por tantos deverem tanto a tão poucos, exagerei. – olho
para meus dedos e ele se senta na cama e cruza os braços.
- Pode brigar comigo, Pedro, estou errada.
- Caroline, deixa eu explicar um detalhe muito importante sobre a minha fortuna. - Ele levanta meu queixo com o indicador. – minha fortuna é apenas resultado do
meu trabalho, e não uma forma física do meu caráter. Conheço perfeitamente as diferentes condições de nosso país, por isso evito dispensas em minha empresa e tento
recuperar as pessoas antes de demiti-las. – esse Pedro eu não conhecia e me causou pânico.
- Eu sei, me desculpa, não deveria ter dito. – se arrependimento matasse, estava fulminada no chão agora. Me levanto. – Não pensei nas consequências, não pensei
que fosse tomar essa proporção, eu não pensei, essa é a verdade. – termino de falar e ando em direção à varanda. Sento na mesma cadeira e desabo. Não choro apenas
pela discussão, choro porque agora ele ferido também me machuca. Minha cabeça está baixa e vejo seus pés diante de mim.
- Carol, pedi o jantar. – ele fala e eu olho para ele com o rosto molhado.
- Não! – ele me puxa. – Não precisa chorar, sei que não fez por mal e eu também fui grosso com você. – ele me abraça forte e beija meu rosto todo.
Fico em silêncio em seus braços e ele me aperta contra seu peito e eu queria que esse momento fosse eterno. Por alguns minutos ficamos ali, até o anúncio de que
o jantar estava à porta do quarto.
Fizemos a refeição e eu, por algumas vezes, o flagrei olhando para mim. Estava com fome e exagerei na comida.
- Vem aqui. – ele me puxa pela mão e me leva até o sofá. – Deita aqui comigo. – ele alcança o controle e liga a televisão.
- Pedro eu não entendo lhunfas do que ele está dizendo. Aponto para o Optimus Prime que está na tela.
- Não seja por isso. – ele aperta algum dos mil botões do controle remoto e pronto, depois de vários idiomas aparecerem para ser selecionados, aparece a opção do
português, e o caminhão fala a minha língua.
Pedro deitou e eu deitei apoiando meu rosto em seu tórax. Estava sem sono, mas fiquei em silêncio por muito tempo e Pedro acha que estou dormindo e desliza seus
dedos em minhas costas e braço. Mantenho a posição e deixo que ele continue, talvez essa noite ele queira apenas isso, que eu escute seu coração como estou escutando.
- Eu te amo, Carol. – como um suplício, o amor de Pedro chegou até meus ouvidos. Uma festa aconteceu dentro de mim. O coração que eu escutava funcionar me pertencia,
era meu! Então uma névoa me abateu, lembrei dos dias que esse amor me alcançaria, da data de validade para o mais perfeito sentimento e preferi continuar no suposto
sono que não chegou tão cedo.
Sétimo dia...
- Huuuummmmm! – gemo ao acordar com a boca de Pedro em meu sexo. Ele desliza sua língua por todo o perímetro, e eu me contorço em sua boca. Invade por alguns momentos
e suga em outros e eu explodo, lindamente.
- Bom dia! – ele diz sorrindo com a boca molhada.
- Eu poderia acordar assim todos os dias! – Não tive tempo de terminar a frase e ele me posicionou sobre meus joelhos e se colocou atrás de mim, dentro de mim.
- Posso resolver esse seu problema em despertar. – ele sussurra em meu ouvido e me invade fortemente. Ele está debruçado sobre mim e eu o sinto bater forte aqui
dentro. – Isso é bom demais, lembrei de sua ira ontem e isso com certeza alimentou minha excitação.
- Vou ficar brava muitas vezes então! – falo gemendo e explodindo ao redor de Pedro, que minutos depois se esvai dentro de mim.
- O que você quer fazer? – ele pergunta enquanto sai de dentro de mim e vai em direção ao banheiro.
- Ah! Deve ter algum tipo de distração nesse lugarzinho de quinta que você me trouxe. – brinco me largando de bruços sobre a cama.
- Você é sempre assim? – ele volta e me tira da cama me levando até o banheiro.
- Às vezes sou pior! – sorrio e levo um belo tapa no traseiro. Gosto do tapa.
- Já sei o que vamos fazer... - ele dispara com um sorriso e tomamos um longo banho, com direito a repeteco, por isso mesmo demorado.
Escolhi um jeans e uma regata preta, nos pés uma sapatilha. Preciso de conforto e Pedro também. Acabou escolhendo o jeans e o tênis, mas a camiseta polo perfeita
em tom verde foi de me deixar de boca aberta. Estupidamente lindo. Tomamos um rápido café da manhã e saímos.
- Já passeou de gôndola? – ele pergunta enquanto caminhamos.
- Sim, inúmeras vezes em minhas viagens até Veneza. – irônica do dedo do pé até o último fio de cabelo.
- Mas hoje você tirou o dia para ser mal criada? – ele me agarra.
- Sim, e pelo visto você gosta. – brinco e ele me beija mordendo forte o meu lábio.
- O pior é que gosto. – ele fala dentro da minha boca e como um vulcão tudo entra em chamas.
Pedro segura minha mão com dedos entrelaçados. Nesse momento sou sua namorada, aqui ninguém o conhece, somos normais, ninguém sabe que esse casal é simbólico, é
provisório, mas eu sei... nenhuma foto, exigência de Pedro e isso de certa forma fez com que meu mundo ficasse triste, mas eu compreendi. As melhores fotos ficarão
em minha memória.
Chegamos a um deck de madeira no interior do hotel e algumas gôndolas estavam disponíveis, um passeio ao ar livre. Pedro me avisa que vamos passear e eu sorrio olhando
para ele e para o barquinho engraçado à minha frente.
- Existe algo que você gostaria de fazer e não fez, Pedro? – pergunto me aconchegando ao seu lado na pequena embarcação.
- Muitas, mas não fiz por falta de tempo, ou falta de interesse, ou estava perdido em minha vontade em ser melhor. – ele beija meu ombro, sinto o lamento em suas
palavras.
-Tudo bem, mas me diga algo que você tem vontade de fazer e não fez. Algo simples que não conseguiu fazer por falta de tempo, já que falta de dinheiro não seria
um problema para você. – me viro de frente a ele e ajeito meu rabo de cavalo.
- Bom, primeiro prometa que não vai rir. – ele pede com um sorriso tão de criança que tenho vontade de esconder esse homem do mundo.
- Prometo! – beijo meus indicadores cruzados diante de minha boca e ele ri da cena.
- Tenho vontade de ir à praia, ver o nascer do sol na areia; tenho vontade de ir ao cinema; de viajar para o sul de Minas onde meu celular não funcione; tenho vontade
de ir ao Mc Donalds sem ninguém por perto para me cobrar ou vigiar o que estou comendo, ou me apressar sobre alguma reunião. Tenho vontade de ser menos atarefado
e poder ser comum e simples. – ele alcança minhas mãos e beija os nós dos meus dedos. – Ah! Tenho vontade de fazer um bolo também. – ele riu da brincadeira.
- Mas você pode fazer tudo isso, inclusive o bolo. – me espanta as coisas simples. – Por que nunca fez?
- Porque, Carol... – ele suspira. – isso não faria diferença pra ninguém, mas hoje sei que esse tipo de coisa simples te deixaria mais feliz. – ele está me conhecendo.
Isso é um bom sinal?
- Precisamos fazer tudo isso aí. A vida passa rápido. Ontem mesmo estava carregando caixas, sem saber que no instante seguinte estaria aceitando essa loucura, e
já se passaram alguns dias, lamentavelmente passaram rápido demais. – me inclino e beijo sua boca, ele me segura e prolonga o beijo.
- Faria tudo isso comigo? – ele pergunta com a boca encostada na minha.
- Sim, claro que faria, mas temos pouco tempo. – ajeito seus cabelos para trás e sento em seu colo. A gôndola balança com meu movimento e me ajeito entre as pernas
de Pedro.
- Não quero falar sobre o que fazer depois, quero viver o agora. – ele fala e eu posso sentir que ele busca alívio, busca calma.
- Você a ama? – por que a bosta desse coração não para ao invés de sair assim falando essa quantidade de porcaria?
- O que foi que você perguntou? – ele vai me jogar na água.
- Desculpe, não deveria ter perguntado. – tento desfazer a besteira.
- O que foi que você perguntou? – ele insiste.
- Perguntei se você a ama. – segurei a respiração e esperei pelo empurrão água dentro.
- Não mais. – ele ficou em silêncio e eu também. Pensei em falar qualquer coisa, elogiar o moço que leva o barquinho engraçado, mas acho que nada deveria ser dito,
pelo menos não por mim. - Em algum momento tudo que sentia por ela se perdeu, com o passar do tempo. Sua obsessão e ciúme foram minando o que eu sentia e de repente
estava trabalhando até as dez ou onze horas da noite.
- Por isso as traições? – perguntei ingenuamente.
- Carol, eu nunca havia traído Jamile. Em todos esses anos eu nunca estive com outra mulher. Eu a troquei várias vezes por trabalho, mas a única mulher que me fez
ter esse tipo de comportamento foi você. – ele me aperta sobre meus ombros.
- Mas por que eu? Sou a garota do porão...
- Não. – ele suspira. – você não é a garota do porão. Você é a menina gentil que doa sua comida pra cachorros na rua, você é a doce garota que ajuda a Marta do quinto
andar com o carrinho da correspondência quando aquele office boy falta, você é a mulher que guarda os segredos da minha empresa e nunca faltou, nem um único dia.
– ele beija a minha cabeça. – Carol, não estava procurando por ninguém, foi você que me encontrou.
- Ops, mocinho,muita calma nessa hora! Eu estava no porão, foi você e esse seu perfume que foram lá revirar minha vida. – brinco com ele.
- Não, mocinha, eu estava lá, no ultimo andar e foi você que inventou de circular nas frentes das câmeras ajudando todo mundo. Você alega não ter nada, mas divide
tudo que tem. – ele me agarra e beija meu rosto todo.
- Você é um bisbilhoteiro, isso sim! – ele me aperta e cutuca minha barriga com seu indicador. O moço que conduz a gôndola nos alerta sobre a bagunça, na realidade
alerta ele, porque eu não entendo nada do que ele diz.
- Sorry. – Pedro respondeu rindo e beijou minha boca de supetão.
- Estou com fome... – digo envergonhada.
- Gosto de ouvir você falando que tem fome, lembro de uma refeição com direito a chocolate sobre seus seios. – ele me aperta e percebo as palavras sobre o chocolate
em alto e bom som sob sua calça.
- Podíamos almoçar e depois pedir algo para sobremesa à base de leite e cacau, o que você acha? – provoco e ele aproxima sua boca à minha orelha.
- Posso também usar essa sobremesa sobre o que apreciei essa manhã, lembrar de você gozando na minha boca daquele jeito me tenta a voltar agora para o quarto e engolir
você inteirinha. – ele faz minha calcinha mudar de estado físico a líquido em segundos.
- Mas acho que devemos esperar um pouco mais, afinal de contas você já esteve aqui, mas eu não. – quero ele dentro de mim, mas quero conhecer o lugar também. Sou
de carne e osso, tudo bem esse conjunto de carne e osso estar perdidamente apaixonada por esse homem que me aperta.
- Está certa! - ele diz e logo paramos do outro lado do hotel.
Almoçamos no SushiSamba, andamos de mãos dadas e por diversas vezes me flagrei olhando nossos dedos entrelaçados. Gostaria que fosse para sempre, gostaria que fosse
em uma praça ou no sul de Minas, poderia ser dentro do Mc Donalds lá da Paulista também, mas não posso.
- Por que você olha tanto para nossas mãos? – Pedro percebeu meu encantamento sobre um ato tão simples.
- Porque eu gosto das suas mãos... gosto quando elas estão nas minhas. –confesso.
- Carol! – ele ralha comigo.
- Podemos fazer um trato. Seja menos carinhoso, menos encantador e faça um sexo horrível e eu prometo não me importar quando você segurar minha mão em público. –
imploro em tom de brincadeira e ele me laça pela cintura me girando.
- Não consigo. – ele beija meu queixo. – por mais que eu quisesse, eu não conseguiria fazer nada que fosse contra um sorriso seu ou plena satisfação do seu corpo.
- Olha, Pedro, sendo muito honesta não sei se quero pensar em tudo isso agora. Por favor, vamos mudar de assunto. – peço e me solto dele.
- Ok! Não falo mais sobre isso. – ele me alcança e me aperta contra ele.
Continuamos o passeio e francamente me diverti muito no Madame Tussauds, passamos quase a tarde toda dentro do museu de cera. A tarde estava chegando ao fim quando
voltamos à suíte.
- Preciso de um banho! – falo e vou arrancando minha roupa e caminhando para o banheiro.
- Saiba que esse tipo de atitude sacrifica meu corpo. – ele se aproxima de mim e desabotoa meu sutien e massageia meus ombros.
- Será que você poderia fazer essa massagem ali dentro. – aponto para a hidro e removo o restante da minha roupa.
- Com certeza. – ele aceita e minutos depois estamos lá dentro, cobertos de espuma e o relógio voa.
Gostaria que o tempo tivesse corrido assim quando meus pais faleceram, demorou tanto tempo para o tempo passar. As horas durante o velório duraram uma eternidade,
o cheiro das flores ficaram por tanto tempo em mim. E agora que estou feliz o tempo reage contra, como se eu não merecesse nada além de lágrimas nesse tempo de vida
que tenho.
- Sabe, esqueci de agradecer pelo excelente trabalho essa manhã. – provoco saindo da banheira e me enrolando em uma grande toalha branca e felpuda, dessas que a
gente quer roubar. Todo mundo já quis ou já roubou uma toalha de hotel.
- Estou aqui para deixá-la feliz. – ele sorri e alcança outra toalha e se enrola.
- Estando com você já sou feliz. – falo e abaixo a cabeça e sinto seu corpo colar no meu. Ele não conseguia mais ser brusco em suas atitudes. Ele era amável e suas
mãos percorriam meu corpo como se fosse um santuário, e era. Um lugar de Pedro, somente dele. Não era mais uma foda ou uma trepada, era amor, fazíamos amor. Pedro
me levou até a cama e beijando minha boca me deitou, ele apenas seguiu seu instinto e entrou lentamente e prazerosamente em mim. Eu já esperava por ele, sempre estou
à espera de Pedro. E acho que depois de tudo isso acabar, vou continuar esperando por ele, assim como no filme Eternamente Jovem. Vou me lembrar de cada exato momento
em que estive com ele, as risadas, os sonos, o sexo, isso tudo vai fazer parte do meu histórico de vida aproveitada. Por uma breve momento Carol aproveitou sua vida,
fez valer a pena o oxigênio de seus pulmões.
Me entrego e gozo sob ele, rendida, e ele beija minha boca enquanto rola para o lado, puxando meu corpo contra o dele e isso faz tudo valer a pena. O inalar profundo
em meu pescoço, as mãos que acariciam meu ombro e rosto, o beijo dele no V de minha testa e o suspiro de total satisfação. Eu amo Pedro Villas Boas, e francamente
não sei o que fazer com essa informação.
Deixo ele deitado e me enrolo no lençol assim que levanto da cama e caminho em direção a varanda.
Preciso contar para ele, preciso dizer que eu o amo, que nada disso teria importância se não fosse ele. Preciso dividir isso com ele e por alguns instantes me perco
dentro da minha própria armadilha. Foi culpa minha estar aqui, enrolada nesse lençol caro como a pessoa mais barata da face da terra, afinal de contas estou ajudando
em uma mentira. Tudo isso é uma mentira e não consigo mais pensar com sobriedade, estou perdendo-o mesmo nos amando.
Quando me dei conta já estava acordando Pedro.
- Por favor, Pedro, você não pode se casar. – falava soluçando, foi mais forte do que eu. – A gente tem que casar amando, apaixonado e não assim, você saindo de
um relacionamento de brincadeira e sem amor nenhum por ela. – falo alto e ele se senta na cama.
- Calma, Carol. – ele pede e me abraça, ele não está bravo comigo, ele está sendo solidário. – Vem aqui.- ele pede e me coloca em seu colo.
- Pedro, você não pode se casar com ela! – peço chorando entre os solavancos do soluço, enxugo meu rosto com o lençol.
- Por que eu não? – ele fala tentando me acalmar, deslizando sua mão sobre meus cabelos.
- Porque você não tem amor por ela, você ainda não foi para o sul de Minas e também não fez o bolo! – misturo a conversa toda.
- Carol, isso não é motivo para eu encarar os jornais diante de uma manchete como essa. – ele fala calmo, mas essas palavras me cortam.
- Uma manchete que com certeza vai embrulhar alguns peixes depois não pode ser mais importante do que sua vida, do que seu futuro. Sei que ela é rica, mas ela não
tem o que você tem de melhor. – me levanto e volto para varanda.
- Carol, por que eu não devo me casar com Jamile? – ele se aproxima. Está enrolado na manta azul marinho, um vento frio acompanha o gelo na espinha que estou sentindo.
- Não sei onde estava com a cabeça quando aceitei tudo isso, mas eu não me arrependo, mas acredito que não podemos dominar sentimentos. – suspiro.
- Por que eu não posso me casar com ela? – ele insiste e se aproxima de mim.
- Porque eu amo você. – meu coração está cantando outra melodia e agora espero pelo pior.
Faltam 6 dias....
Sabe aquela sensação de alívio, a mesma quando chegamos apertada em casa querendo urgente fazer um xixi ou quando tiramos aquele maldito sapato apertado? Me sinto
assim agora. Não que precisasse de um banheiro ou estivesse por hora com um Luís XV no pé, eu estava com o amor de Pedro entalado em minha garganta, o amor que sinto
por ele.
Estava algumas toneladas mais leve, porém estava preocupada com o que eu poderia encontrar essa manhã.
Abro os olhos para me certificar de que tudo não passou de um sonho e que eu realmente disse o que sinto, então vejo o dia imponente já posto. Desisto de olhar para
a janela e volto meus olhos para dentro de minhas pálpebras. Lembro de cada movimento e de cada minuto depois que eu confessei estar irremediavelmente apaixonada
por ele.
- Eu amo você, Pedro. – e esperei pelo pior. Sempre espero pelo pior e foi aí que me surpreendi com o melhor do Sr. Villas Boas, o meu Sr. Villas Boas.
- Você me ama, Carol? Acenei positivamente com a cabeça e ele sorriu o sorriso lindo, sorriso de criança com esperança sobre um baleiro giratório, sorriso de menino
ao ver sua pipa no ar. E o melhor beijo acontecera, o sublime toque de línguas confessas, o aperto de lábios molhados e o meu coração que pertence a ele junto ao
coração dele que pertence a mim.
Lembrar do tecido de mil fios escorrendo pelo meu corpo me faz estremecer, eu havia confessado meu amor, como se fosse um crime, como se fosse pecado, como se esperasse
pela punição de me sentir viva. Sim, estou viva, e a culpa é dele, desse sorriso perfeito e dessa incomparável habilidade em me fazer feliz.
- Minha linda me ama! – ele sussurrava dentro da minha boca e isso aumentava o volume da música que meu coração insistia em cantar há duas noites. Então Pedro traçou
um caminho de arrepios até meu seio, o sugar perfeito deixa meu corpo molhado, receptivo e desesperado, não há outra palavra para demonstrar como me sinto, desesperada
por Pedro e sua invasão plenamente satisfatória.
Estar sob a custódia de mãos tão dominadoras me faz feliz. Gosto desse cativeiro, dessa cela, dessa limitação, gosto de saber que estou aprendendo, mas também estou
ensinando.
Em um nano segundo os dedos de Pedro me invadem, fiscalizando a região que sabe dizer seu nome em todas as línguas, e em seguida sua língua ocupa o lugar dos dedos
e o deslizar de sua boca sobre meu sexo me faz gritar. Escuto o seu gemer em função de meu suplício e derreto em sua boca como prêmio.
- Minha Carol! – ele diz e sobe até meu pescoço, beija e inala profundamente. - Apenas minha...
Ele me invade com leveza e meu prazer é audível, me remexo sob o corpo desse homem terrivelmente gostoso, covardemente gostoso.
O bater na porta me acorda da noite anterior, estava tão bom lembrar de tudo. Estico minha mão para alcançar Pedro e alcanço dois travesseiros. Pulo da cama, estou
sozinha, me enrolo no lençol e vou para o banheiro, depois vou para a varanda e nada dele. Alguém insiste em bater à porta. Vou em direção ao guarda roupa e tomo
coragem para abrir. Passou pela minha cabeça que talvez ele pudesse ter me abandonado aqui. Mas suas roupas estão lá, no mesmo lugar.
Ando em direção a porta e a abro, o mensageiro abre a boca ao me ver de lençol apenas, lençol branco.
- Que merda você pensa que está fazendo? – Pedro surge do nada atrás do mensageiro e entra me levando para o quarto.
- Fui atender a porta. – respondi assustada com a forma em que ele me segurou.
- Assim, você atende a porta assim? – ele aponta para o lençol que revela e não revela meu corpo
- Eu não vi você na cama, e também não o encontrei no quarto, pensei que tivesse ido embora e me esqueci de como eu estava vestida. – me explico em tom triste olhando
para os meus braços vermelhos.
- Mulher minha não se exibe dessa maneira a outros homens! – ele está furioso em um grau desconhecido. Seu tom de voz está alto e eu sento na cama enquanto ele busca
o café da manhã com o mensageiro que não entende nada do que esta acontecendo.
Ele volta ao quarto e ainda estou sentada na cama olhando os vergões no braço da mão dele me apertando.
- Você não pode sair por aí assim. – ele anda de um lado para o outro e eu mantenho minha cabeça baixa, não me conformo com as marcas.
- Se puder me dar licença vou tomar um banho. – levanto e sigo em direção do banheiro e tranco a porta.
Estou com raiva. Mais ainda por não ter conseguido apontar o dedo na cara dele e dizer que não sou a vaca e que esse tipo de atitude de homem das cavernas não rola
comigo. Aciono a hidro assim que a água atinge a metade.
- Abra a porta, Carol. – ele pede assim que levanto o pé para entrar. Não respondo e ele insiste, decido não abrir.
Tomo um banho demorado enquanto penso que esse prazo está acabando e que o que sentimos não é forte para um casamento não acontecer.
Me enxugo devagar e abro a porta.
- Carol, me perdoa! – ele pede me abraçando e me beijando, ele olha para os meus braços e o vermelhidão está passando.
- Esqueça. – peço e me solto dele.
- Por favor, Carol, não pensei, simplesmente me enfureci ao vê-la quase nua e um homem tão próximo do que é meu. – ele anda atrás de mim e eu apenas escolho o que
vestir. Um vestido rosa até o joelho e uma lingerie da mesma cor, fico descalça porque não quero sair do quarto. Ele sabe falar alto e apertar meu braço, e eu sei
ficar em silêncio e machucar de forma pior.
- Carol, fale comigo! – ele pede e eu me jogo no sofá apertando aleatoriamente os botões do controle remoto
- O que você quer que eu fale? – seca, grossa, ríspida, rude, seria uma lista grande de características minhas nesse momento.
- Quero que me perdoe e pare com essa infantilidade de me ignorar! – ele dispara.
- Sr. Pedro Villas Boas, me recuso a falar com homens que gritam e deixam os braços de mulheres em um tom diferente do natural. Agora se puder me deixar quieta,
é melhor, afinal de contas, você não vai suportar meu barulho. – me surpreendo ao responder tudo isso em tom sereno e ainda olhando para a tela da televisão.
- Não sou assim. – ele abaixa o tom de voz e isso me atrai para uma possível conversa. – Você me deixou louco, ciúmes.
- Estou surpresa. – falo baixo.
- Com o quê? – ele pergunta.
-Você com o ciúme nesse nível. Não foi isso que levou o seu relacionamento permanente a procurar um relacionamento provisório? – arremesso contra ele os argumentos
infundados para a traição.
- Eu sei, me perdoa, não sou assim. Mas encontrá-la vestida daquela forma... e agora eu sei que daqui alguns dias vou ter que conviver com a possibilidade de outro
estar em meu lugar, pensar nisso está me matando. – com essas palavras deduzo que vai haver casamento, com a vaca.
- Nunca mais encoste em mim se for para fazer o oposto do que vem fazendo. Não precisa marcar território com violência, já que foi exatamente o contrário disso que
me atraiu em você.
- Nunca mais. – ele diz com vergonha.
- Tudo bem que tenho pouco ‘’nunca mais’’ com você, mas, por favor, sem agressões. – falo e paro em um canal de desenho. Não entendo nada do que estão falando e
eu levo o controle até ele. – Coloca em português, por favor?
- Sim. – ele diz sorrindo e alcança o controle de minhas mãos. – Você vai ficar aqui assistindo desenho? – ele pergunta e me senta em seu colo.
- Vou, afinal de contas se alguém chegar perto de mim eu posso levar uma surra! – brinco com ele, porque ele é importante para mim, mais importante do que o apertão
no braço.
- Você esta falando sério? – ele pergunta e eu volto para o sofá.
- Sim, estou. – falo rindo.
- Tudo bem então. – ele chega rápido como uma ventania de final de dia e se põe entre a televisão e eu. – Gosto de pensar que vamos ficar aqui. – ele me levanta
e lentamente começa a me despir. – Gosto dos seus seios. – ele remove meu vestido e sutien e acomoda meus seios em suas mãos.
- Eu sabia que ficar aqui seria uma boa ideia. – me inclino e facilito o beijo gostoso e intenso. - Preciso comer alguma coisa. – resmungo e caminho nua pelo quarto
em direção ao carrinho do café da manhã.
- Não vai se vestir para comer? – ele pergunta apoiando seu corpo sobre seus cotovelos.
- Não! – respondo e alcanço uma torrada e a lambuzo com geleia de alguma fruta vermelha.
Propositalmente deixo que parte da geleia na espátula caia em meu seio.
- Pretende continuar com isso? – ele aponta para geleia caída.
- Te incomoda? – continuo, nem penso em limpar.
- Não, apenas sugere que eu possa devorar você com todos os sabores. – ele fala e vejo seu corpo reagindo ao ver o meu... sujo de fruta vermelha.
- Sugestão? Posso ter feito um convite claro sobre o que eu quero... – provo e mordo a torrada vermelha de tanta geleia.
O caminhar lento que movimenta seu membro enrijecido estremece algo abaixo de meu umbigo; preciso dele aqui dentro, incansavelmente. Em um nano segundo, ele encosta
sua virilidade em mim e desliza a língua sobre a especiaria de frutas vermelhas.
- Está uma delícia, mas confesso que seu gosto já supre meu paladar. – ele acomoda meu seio em sua mão e o suga, deliciosamente, alternando com le-ves mordiscadas
que causavam uma reação elétrica.
- Isso é bom. – confesso e ele deixa seu rosto impecável diante do meu e inclina a cabeça com um sorriso lindo.
- Você gosta? – ele pergunta e eu me perco em sua boca perfeita.
- Gosto muito, acho que gosto de tudo que você faz com meu corpo. – confesso e abaixo minha cabeça.
- Você faz o meu mundo preto e branco ter vida. – ele puxa meu cabelo suavemente pela nuca fazendo meu queixo levantar. – Preciso ter você. – ele me beija apoiando
a outra mão sobre meu seio e o massageando.
Ele me leva até a cama e mantém o beijo enquanto entra fundo, duro e altamente prazeroso. O ir e vir de seu corpo dentro do meu me obriga a chegar a um orgasmo intenso
e ele se rende ao meu corpo também.
Talvez depois de tudo isso, daqui alguns anos quando as tentativas de esquecer esse homem forem bem sucedidas eu possa me conformar em ter sido a temporária.
Pedro rola para o meu lado na cama e, assim como eu, se perde na belíssima pintura do teto. Temos o mesmo sentimento, mas não o mesmo objetivo.
Não consigo pensar em como vai ser, o que vai acontecer daqui alguns dias quando eu tiver que me despedir e deixar seu apartamento e sua vida. Talvez eu não consiga
prosseguir na ARTAME, saber que ele vai estar lá e eu não estarei mais nele me causa medo. Ele com uma aliança no dedo e eu com meu coração burro e surdo, bela troca.
Não deveria ter aceitado.
– Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida! – ele interrompe meus pensamentos arrependidos e me aninha em seu tórax definido.
- Mas cheguei tarde, Pedro. – falo em lamento e uma lágrima que sai dos meus olhos encontra a pele macia que pousa como travesseiro sob meu rosto.
- Não faça isso, não sabe o quanto me incomoda vê-la chorar. – ele me aperta ainda mais e isso me desespera...
- Pedro. – me sento na cama cruzando as pernas e abraçando um travesseiro. – Apesar de querer nunca mais sair do seu lado, eu gostaria de dizer que estou gostando
de viver assim com você e talvez eu não seja forte o suficiente para continuar trabalhando na ARTAME depois disso. – desabafo.
- Você não pode sair da minha empresa! – ele se levanta com um susto da notícia.
- Posso e vou! Não vou conseguir ver você todos os dias e não tê-lo mais. – Tudo que é bom na minha vida acaba tão rápido; meus pais são o exemplo claro disso. Acho
que fui escolhida para viver feliz por pouco tempo e em prazos sazonais. Vai saber Deus quando essa felicidade que tenho nesse momento vai me ter novamente.
- Estava tranquilo porque sabia que olharia para você todos os dias, poderia saber se está bem ou se está precisando de alguma coisa. – ele suspira – Mas agora estou
triste, porque foi eu mesmo que cavei essa situação.
- Pedro, eu vou ficar bem. – talvez demore algumas vidas. – E quanto a precisar de algo, eu preciso de você e isso eu já tenho, nem que seja por pouco tempo. – eu
queria ele para sempre.
- Nada de ficarmos aqui contando a passagem dos ponteiros. Vem comigo! – ele diz me levando e minutos depois estávamos no cassino.
- O que é isso? – pergunto assim que ele me entrega uma bebida com um guarda-chuvinha espetado em um morango.
- Um brinde ao nosso tempo. – ele diz e toca em minha taça com a sua que está com um líquido azul e a minha, com um vermelho.
- Ao nosso tempo! – falo e bebo tudo e peço outra.
- Sim, ao nosso tempo.
Minutos depois estávamos apoiados no balcão experimentando quase todos os drinks, me sentia zonza, mas estava bem.
Passamos pelo caça-níqueis, roleta, vinte e um e outros que agora o álcool não me deixa lembrar o nome. Almoçamos e continuamos a jogatina até o final da tarde.
Saímos do hotel com nossos copos e pegamos um taxi sem destino. Pedro apenas pediu para o motorista seguir o caminho e nos mostrar a cidade.
O colorido das luzes, o brilho, as pessoas, precisava olhar para tudo porque eu não sei se teria uma chance dessa novamente.
- Carol? – Pedro me chama enquanto meu olhar estava perdido em uma limusine branca ao meu lado.
- Oi? - respondo com carinho e olho dentro dos olhos dele.
- Eu não sei se isso é possível, mas também não estou preocupado. – ele alcança uma caixinha de veludo preta e a abre. Meu coração surdo e burro salvou uma trilha
sonora para cada momento com ele. – Preciso saber como eu ficaria caso você fosse a minha noiva. Carol, quer casar comigo?
- Pedro, você não pode se casar duas vezes. – olho para o diamante em gota sobre a aliança e sorrio internamente. Queria estar no Brasil ao ouvir esse pedido.
- Talvez eu não queira me casar duas vezes. – ele me deixa com o benefício da dúvida. – Casaria comigo esta noite? – ele segura a minha mão e eu pouco tenho a perder
mesmo, já havia entregue meu coração para ele.
- Aceito! – a bebida ajudou na decisão... MENTIRA! Era tudo o que eu queria. Me tornar a Sra. Villas Boas, mesmo que seja por pouco tempo, maldição do tempo sobre
mim.
Poderia descrever passo a passo de como escolhemos a capela através do nome ou do tamanho do cupido que fazia parte do letreiro. Poderia também dizer que a grinalda
que compramos em uma das zilhões de lojinhas não combinava com meu jeans e minha blusa verde gola alta. Entramos rindo e saímos gargalhando e casados, casamos em
Las Vegas e olhar para o meu dedo com essa aliança temporária me fez feliz. Acho que estou me acostumando com essas doses de felicidade homeopática.
- Minha esposa! – ele sussurra em meu ouvido e entro em ebulição. – Tenho mais um presente para você. – ele me entrega uma caixa retangular e sinto medo de abrir.
Abra!
- Você é maluco! – a pulseira da discussão estava em minhas mãos e ele atenciosamente a colocou em mim.
- Sim, sou maluco. Não sei se quero ou gosto da minha antiga vida, estou feliz em ser o seu marido agora e quero muito voltar para o hotel e fazer você gozar na
minha boca. – ele me arremessa. Um choque acontece entre minhas pernas, na altura da virilha.
- Isso é muito caro! – olho para meu pulso totalmente sem reação.
- Não é pelo valor, foi pelos seus olhos olhando a peça. Sei que você havia gostado e, por favor, vamos embora! – ele pede e entramos na limusine, um serviço incluso
no preço do casamento.
Deus! Estou casada com Pedro Villas Boas! A ficha não cai e de repente me pego pensando como ele vai conseguir se casar no Brasil com outra mulher estando casado
comigo? Vamos ter que anular, eu acho. Não entendo nada sobre isso e também não preciso me preocupar, afinal de contas eu sou a parte singular da história. Por outro
lado, por ser singular, agora sou única. Engole essa, vaca!
Faltam 5 dias....
Com certeza existe um céu diferente para pessoas como eu. Não, eu não mereço ser recebida por anjos e querubins tocando alegremente suas harpas, mas também não mereço
o inferno. Acredito que deva existir um meio termo. Com certeza existe um lugar diferente para eu descansar minha alma, não pode ser no mesmo céu que meus pais,
porque eles eram bons e com certeza seriam contra esse tipo de relacionamento com regras estabelecidas, entre elas enganar alguém.
Mas eu não me importo se eu for para o inferno, acho que vivi nele todos esses anos e fui salva por ele... Pedro.
Ele está deitado e eu sentada na poltrona abraçada a minhas pernas. Intercalo o olhar entre ele e o anel que está em meu dedo, de certa forma tive meu instantâneo
final feliz, rápido e sem fotos, mas eu tive.
- Eu gostaria que fosse para sempre. – Pedro sussurrou em meu ouvido durante os votos na capela Angel Love. Meu corpo tremeu porque eu sabia que não era para sempre
e o prazo estava esgotando, assim como as minhas forças.
- E que esse fosse meu final feliz. – retribuí o sussurro e voltei para o estado de euforia que me encontrava. Sou feliz porque sei que ele existe.
- Bom dia. – Pedro me traz de volta do dia anterior e eu queria muito que esse dia anterior fosse eterno, e eu seria a esposa de Pedro, a última esposa dele.
- Bom dia. – respondo sorrindo.
- Minha esposa! – ele arremessa contra mim, tudo que mais desejo.
- Sim, sou sua esposa. – Falo sorrindo. Meu Deus! Desejo ter uma família com ele, desejo ter uma família com um homem que vai se casar de novo e com outra mulher
em alguns dias.
- Parece que temos um problema. – claro que temos, eu te amo, me casei com você e agora vou ter que me desfazer de tudo isso.
- Qual problema? – pergunto como se não soubesse a resposta que viria, tipo, vamos ter que cancelar ou anular esse casamento louco que aconteceu ontem.
- Talvez eu não queira me casar de novo. – ele fala baixo enquanto se levanta e vem em minha direção. – Gostei de acordar olhando para minha esposa.- ele beija o
topo de minha cabeça e vai para o banheiro.
Por que falar isso para mim? Penso comigo.
- Pedro, vamos ter que cancelar o casamento. – disparo entrando no banheiro e ele está sob a água do chuveiro.
- Sim. – ele responde entrando em contradição ao que acabara de me dizer.
- Então o que você vai fazer? – pergunto e me sento sobre a tampa do vaso sanitário.
- Vou cancelar o casamento. – ele diz calmamente e eu estou em guerra comigo mesma.
- Ok! Vou me trocar e vamos voltar à capela. – falo e me levanto e ele desliga o chuveiro.
- Por que vamos voltar a capela? – ele pergunta alcançando a toalha e se enxugando, mas lançava um olhar de dúvidas sobre mim.
- Oras, Pedro, para cancelar o casamento. – falo quase perdendo a paciência e cruzando os braços.
- Não me referia a esse casamento. – ele dispara contra mim uma metralhadora esperançosa e agora meu coração canta alto e eu não consigo deter esse sorriso que chega
a doer minhas bochechas.
- Você quer ficar comigo? – pergunto eufórica.
- Desde o instante em que te vi, só não sabia disso. – ele se aproxima, sela a minha boca e vai para o quarto. Caminho atrás dele, e meu coração virou o maior violinista
de todos os tempos.
- Mas e a vaca?. – pergunto distraída, com medo da resposta.
- Vaca? – ele me olha bem humorado, e eu só dou de ombros, não querendo retirar o apelido que lhe dei tão carinhosamente. - Não tenho mais noiva, tenho apenas uma
esposa linda. – ele vai largá-la antes do casamento, cinco dias antes do casamento. Eu estou arruinando a vida da vaca, ou melhor, da Jamile.
- E então por que você está se trocando com tanta pressa? – pergunto e me troco também.
- Porque estamos voltando para o Brasil. – ele fala e mantém seu foco em se vestir e agora arrumar as malas.
Eu o ajudo em silêncio, silêncio para ele, porque aqui dentro está uma gritaria; um coração feliz fazendo festa chamou todo mundo pra comemorar.
- Você tem certeza? – pergunto enquanto finalizamos as malas.
- Sim, não há nada nesse mundo em que eu tenha mais certeza. – ele fala e me beija, intensamente, aliviado, feliz e isso me leva para a noite anterior.
- Tem ideia da loucura que estamos fazendo? – pergunto assim que entramos na capela.
- Não acho que seja loucura eu me casar com você! – ele declara me olhando firmemente, como se buscasse a certeza que ele tem, em mim.
- Posso saber o que te oferece essa segurança de estar fazendo a coisa certa? – pergunto e me lembro que ele não disse que me ama, ao menos comigo acordada.
- Nunca estive tão feliz em toda a minha vida, nunca desejei tanto estar com alguém, nunca desejei tanto ficar com alguém como eu quero ficar com você. – ele encosta
sua testa na minha e percebo que não há mais nada nessa vida que eu queira do que esse homem.
- Vamos? – ele me traz do passado e eu volto com um suspiro.
- Sim, vamos. – seguro a sua mão estendida em minha direção e apenas confio que o melhor está por vir.
Descemos até a recepção e Pedro com seu inglês fluente me deixou com tempo para pensar nos votos da noite anterior.
- Porque se houvesse nessa vida algo que eu pudesse fazer para você ser feliz eternamente eu faria, porque é assim que me sinto ao seu lado. – ele falou em inglês
me deixando confusa e sorriu, repetindo a frase em português e eu derreti. - Talvez agora seja a vitória que Deus anota em nossa jornada, porque eu nunca pensei
em sentir o que sinto por você. Mais forte do que eu, mais forte do que você e eu me sinto bem sob essa força. Eu amo você.
- Está tudo bem, Carol? – ele pergunta e me tira do sonho bom da noite anterior.
- Está tudo perfeito. – enfim ele disse durante os votos que me ama.
Depois de algumas longas horas, desembarcamos no Brasil e meu olhar admirado sobre a aliança que ele teve o cuidado de escolher na manhã em que ele me apertou o
braço, denuncia a minha felicidade.
- Cansada? – ele pergunta assim que chegamos ao seu apartamento, já era madrugada.
- Sim. – respondi arrancando a regata e o jeans e indo para o meu quarto provisório da minha antiga vida provisória.
- O que vai fazer nesse quarto? – ele pergunta me puxando pela cintura e me levando para o seu quarto, talvez nosso quarto.
- Força do hábito. – respondi e ele me dá um tapa na bunda.
- Este é o seu quarto. – ele me coloca de frente ao espelho que esconde a cruz de santo André.
- Gosto desse espelho. – falo com segundas intenções.
- Gosto do que ele reflete neste momento. Vem comigo, quero tomar banho com você. – ele remove minhas peças íntimas e me encaminha para a hidro.
Apesar da imensa felicidade que estou sentindo, tenho medo dele voltar atrás e não manter o propósito de Las Vegas.
- Um doce pelos seus pensamentos. – ele sussurra em meu ouvido e desliza as mãos cheias de sabão sobre meus seios.
- Meus pensamentos sempre estão em você. – respondo e me viro olhando em seus olhos. – Estou feliz. – digo sorrindo e inclino a cabeça.
- Eu sou feliz, eu tenho você. – ele me puxa para o seu colo e como mágica escondo parte de seu corpo. – Não me canso de estar dentro de você. – ele segura minha
cintura e pressiona contra o corpo dele. Sinto-o na entrada do meu útero e essa é uma das mais gratas sensações, em poucos segundos chego ao orgasmo que Pedro merece
sentir. Ele geme alto e eu também, porque sei que ele está no ápice assim como eu.
Abraço-o e ele desliza suas mãos sobre as minhas costas descendo até as coxas e subindo pelo mesmo caminho.
- Amo você, Pedro. – suspiro em seu ouvido.
- Amo você, minha Carol. – ele retribui e meu mundo ganha uma cor nova, uma nuance macia e feliz.
Ainda tenho muito que conhecer esse homem, saímos do banheiro e eu podia jurar que iríamos dormir, afinal de contas passava das cinco da manhã.
- Mas agora quero você assim. – ele ordena me posicionando sobre meus joelhos e palmas da mão; meus pés estão para fora da cama e sinto a respiração de Pedro se
aproximar do meu sexo e isso me desperta. –Magnífica. – ele sussurra e desliza sua língua que, por Deus, sabe exatamente o que fazer.
- Pedro. – falo em gemido e rebolo em sua boca e ele continua, até que segura cada lado de meu traseiro facilitando o acesso. – Não pare, por favor! – pedia em tom
de clemência.
- Não posso parar até que goze na minha boca. – ele fala e eu não resisto, chego a um orgasmo cósmico e poderia repetir isso inúmeras vezes.
- Quero mais! – ordeno.
- Sim, senhora. – ele suga com força e em seguida se posiciona estocando de uma única vez. Escuto seu gemido e a força de suas mãos sobre meu quadril me leva à loucura.
Não me detenho e rebolo com ele dentro de mim e ele com mais força me invade e de repente, me vira de frente para ele e me joga na cama. Os raios de sol invadem
o quarto e Pedro me invade deliciosamente, amo como ele pulsa dentro de mim.
- Meu marido... – sussurro em seu ouvido enquanto ele entra com força.
- Sim... minha esposa... – ele se rende e seu corpo junto com o meu entra em combustão.
- Fantástico. – falo assim que ele sai de dentro de mim e se coloca ao meu lado.
- Sim, mas acho que é mais que isso. – ele me puxa para junto do seu corpo e quando achei que iríamos sucumbir ao sono, o celular dele toca.
Ele levanta com pressa e atende apreensivo. Não é a vaca, é um problema de trabalho; ele está nervoso, andando de um lado para o outro. Ele está gritando ao telefone
e não está conformado com o que acabara de ouvir.
- Não quero saber dessa porra! – ele berra e eu me levanto, alcanço uma camiseta no closet e vou para a cozinha, que, graças a Deus, é longe e os berros não chegam
com tanta força em meus ouvidos.
Abro a geladeira e não me concentro na comida em exagero que está ali. Fico por alguns minutos desperdiçando energia elétrica e tentando não ouvir os gritos. Alguém
está ferrado.
- Será que meu arquivo pegou fogo? – falo alto olhando para um pudim.
- Está com fome? – Pedro vem ao meu encontro e me abraça por trás.
- Não, apenas fugi dos gritos. – disse e alcancei uma maçã.
- Me perdoe, mas fizeram merda e perdemos um arquivo. Deixa para lá, não quero falar de um bando de incompetentes. – ele beija meu ombro.
- Não sendo o meu arquivo. – brinco com ele.
- Não, sua boba! – ele gargalha da piada e me vira e beija minha boca, me abraça forte e acho que felicidade é isso, um beijo demorado de frente para um pudim.
- Que alívio... – continuo brincando e fecho a porta da geladeira.
- Vamos dormir, passa das seis da manhã. – ele me leva no colo.
- Estou exausta. – resmungo em seu pescoço e ele me coloca na cama, me deixa por alguns instantes, tempo para fechar as janelas e porta e deixar o quarto escuro.
Como conchinha eu dormi com Pedro e seu rosto enfiado em meus cabelos. Acho que não há nesse mundo sensação melhor.
- Você vai até lá e vai resolver, não quero saber, isso é uma ordem. – desperto com Pedro de roupão falando ao telefone e eu não gostaria de ser a pessoa do outro
lado da linha. Definitivamente essa pessoa está com problema. - Acho que você não está me entendendo, isso é uma ordem e é claro que eu exijo ser prontamente atendido.
– ele desliga o telefone e desliza o dedo sobre a tela do telefone.
Eu me levanto da cama nua e caminho até o banheiro, passo pelas costas dele e prefiro o silêncio, o quarto já está barulhento demais.
Ligo o chuveiro e penso que Pedro talvez tenha seus problemas e que esses dias em Vegas possam ter gerado esse problema que o deixa furioso. Não gosto de vê-lo assim,
ele nem olhou em minha direção, apenas olhava para o celular e deslizava a mão com força em suas mechas.
- Bom dia! – ele entra no banheiro devolvendo meu fôlego.
- Bom dia? – brinco com ele, já passa das cinco da tarde.
- Sim, bom dia, acordou agora então o dia está apenas começando. – ele diz colocando a cabeça dentro do box e selando a minha boca que evito abrir, ainda não escovei
os dentes.
- Estou com fome. – meu apetite é mal educado.
- Imaginei, a mesa está posta e Sara foi dispensada de seus serviços hoje. – ele diz e me deixa terminar o banho.
Saio do banheiro assim que termino de escovar os dentes e vou em busca dele. Como um vício, dependo do meu marido para suprir esse vício.
A mesa linda esbanjando comida chama a minha atenção e eu refaço o laço do roupão, mas uma ideia surge e vou para a cozinha. Começo abrir as portas e colocar sobre
a ilha farinha, ovos, açúcar, leite e chocolate.
- O que você está fazendo? – Pedro entra e me surpreende assim que coloco uma tigela e uma colher de madeira ao lado dos ingredientes.
- Realizando seus desejos, ou melhor, um deles. – sorrio e o chamo com o indicador.
- Você está falando sério? – ele pergunta obedecendo meu chamado.
- Claro que estou falando sério. Vamos, coloque os ingredientes ali. – aponto para o recipiente de vidro e mostro a ordem e a quantidade de cada item que deve ser
misturado.
Pedro seguiu a minha orientação e não usou a batedeira, não teria graça e estaríamos limpos também. Tem farinha por todo o chão e desconfio que a ponta do meu nariz
esteja branca. Sob a bancada de mármore o chocolate em pó e algumas cascas de ovos.
- Para, Pedro! – falo, ele enche a mão de farinha e faz nevar na cozinha, sobre mim.
- Qual é a graça de fazer bolo e não se sujar? – ele diz me puxando para junto dele.
- Você acredita que essa mistura que você fez vai ficar boa? – olho com piedade para dentro do pote com mistura que era para ser um bolo de chocolate.
- Claro que sim, vai ficar ótimo! – ele diz gargalhando e levando a mistura para a assadeira e, em seguida, até o forno.
- Olha que bagunça! – olho à minha volta e vou até a área de serviço buscar uma vassoura.
- O que você vai fazer? – ele pergunta incrédulo.
- Limpar tudo isso, oras!
- Não, agora quero você assim! – ele me busca e me senta sobre o balcão e beija entre meus seios. Ele remove o meu roupão e desliza a ponta da língua sobre o bico
do meu seio antes de sugá-lo. A outra mão brinca com meu outro mamilo, isso é extremamente sexy, essa farinha e ele assim...
- Não posso pensar em ficar longe de você! – ele me beija e circula seu polegar sobre meu sexo.
- Então não fique! – imploro. – Fique perto... fique dentro de mim, assim como você já está em meu coração. – termino de sussurrar em sua boca. Ele desliza para
dentro de mim parte de seu corpo pulsante.
- Ah, Carol! Não sabe o quanto preciso de você! – ele enfia com mais força e eu o agarro pela cintura com minhas pernas. Como mágica ele me pega encaixado em mim
e me deita no chão, sobre a farinha.
- Preciso ter você onde você está agora! – imploro como uma pervertida, mas por ele eu sou.
Ele me olha dentro dos olhos e vê o quanto dele existe em mim, e no suave ir e vir eu me derreto e ele entra com mais força, e eu gosto cada vez mais até que ele
me beija enquanto deixa em minha pele cada gota do seu prazer.
- Eu te amo, minha Carol...
- Amo você também, meu Sr. Villas Boas...
Intenso como sempre, mas fazer amor com Pedro se tornou algo primordial e tem que ser feito com certa frequência. Nos levantamos e limpamos a bagunça toda e o cheiro
do suposto bolo domina o ambiente. Me atrevo a acender a luz do forno e começo a gargalhar.
- O que foi? – ele pergunta rindo de mim e se abaixa para olhar também. - Por que esta desse jeito? – ele olha para a mistura sem forma que assou mas não cresceu.
- Porque esquecemos o fermento! – rimos alto e enfim nos sentamos sujos mesmos à mesa posta.
- Agora precisamos ir para o sul de Minas! – ele brinca, mas tenho algo sério para conversar.
- Pedro, está tudo lindo, mas antes de irmos para uma nova viagem, você precisa conversar com Jamile. – jogo uma bomba atômica sobre ele, que apenas abaixa a cabeça
apoiando a testa sobre as palmas das mãos.
- Eu sei, mas acho que vou ter problemas. – ele fala como se não fosse levar adiante, mas eu ainda não sei bem do que ele quer desistir. Acabo de entrar em choque
com a possibilidade de não ser a esposa dele daqui alguns dias.
- Pedro... você e eu... bom, nós? – pergunto com medo da resposta e arrependida profundamente de ter colocado em pauta essa questão.
- Carol... eu não sei.
Faltam 4 dias....
“Eu não sei”...
Como uma bomba as palavras de Pedro explodiram em meus ouvidos. Arrastei-me da mesa de jantar até o quarto; sobre meus ombros o peso de dois mundos, o meu mundo,
sem equilíbrio algum e totalmente bagunçado, e o mundo do Sr. Villas Boas, o mundo perfeito dele, esculpido sobre uma pedra linda e cara.
Foi uma questão de tempo até que ele estivesse deitado sobre a espreguiçadeira do terraço e eu abraçada com meus joelhos, na sala de vídeo. Acho que foi depois de
quatro horas que dormi e não fui despertada do pesadelo. Pelo contrário, às duas da manhã eu tive certeza de que eu estava vivendo o céu que me esperava, uma espécie
de amostra grátis do inferno.
Passei o tempo todo pensando onde eu poderia ter errado, o que eu poderia fazer para recuperar a frase que me deixa feliz e não essa que lembra que sou a provisória.
Eu sou a maldita namorada provisória que resolveu casar com seu namorado provisório e agora ele não sabe o que fazer, e eu fico sobre qual melhor atitude tomar.
Sou a garota do arquivo, a órfã de pai e mãe e, possivelmente, órfã de amor. Deixei me levar por uma proposta incabível e agora estou diante de um possível mundo
que seria perfeito, de algo que se aproxima do paraíso. Não é o dinheiro dele, é o encaixe dele, é o arrepio involuntário que domina meu corpo quando Pedro sequer
respira perto de mim. É o hálito doce que inebria e ouriça meus sentidos; é a cor vermelha de sua língua que me cansa da melhor forma possível. É por ele todo que
me completa e me desorienta, pelas mãos que regem a orquestra desse corpo que nunca pensou em sentir o que sente sob suas ordens.
A escuridão da noite cedeu à mais ensolarada manhã, mas aqui dentro, onde a bomba pulsante deveria apenas não ter escutado nada e muito menos ter composto uma trilha
sonora para tudo isso que aconteceu, está sob a tempestade. É inverno aqui dentro.
Passei a noite pensando em tudo e o silêncio que estilhaçava os vidros do apartamento contribuía para meu castigo. Sempre houve silêncio em minha vida, ou melhor,
havia uma vida em meu silêncio.
O único ruído foi a porta da sala se fechando e Pedro saindo para trabalhar, sem se despedir de mim, sem saber que passei a madrugada rezando para que ele entrasse
na sala e dissesse que sou a escolhida, é comigo que ele vai ficar. Sou muito boa em me enganar. Afinal de contas, daqui dois dias a noiva oficial e capa de revista
vai voltar e, com certeza, eu estarei em um tempo distante da memória de Pedro.
Tomei um banho, coloquei meu velho e bom jeans, minha regata que um dia foi preta e hoje pende mais para um cinza estranho de tão velha. Nos meus pés, meu All Star.
Arrumei todas as minhas coisas, meus presentes, quero todos, eles compõem essa história que trouxe oxigênio para minha vida. Mas tudo cabe em uma única mala, e o
relógio anuncia o horário do almoço e meu estômago recusa qualquer alimento, incluindo água.
- Oi, Sara. – meus olhos inchados denunciam o choro e total falta de horas dormidas da última noite.
- Oi, Carol. – ela percebe como estou triste. Remexo o prato de comida e não saboreio nada. Ficamos em silêncio por quase uma hora até que comecei a chorar. Chorei
compulsivamente, levantei fui até o quarto de Pedro peguei minha mala e deixei perto da porta da sala. “EU NÃO SEI” era isso que pulsava em minha cabeça como uma
ferida infeccionada.
Voltei para a cozinha e soluçando abracei a Sara.
- Carol, ele gosta de você. – ela dispara sem saber que o gostar se tornou tão simples perto do amor que tenho por esse homem.
- Eu o amo, Sara, mais do que qualquer coisa. – desabafo e aos prantos me asseguro com o rosto apoiado em seu ombro.
- Tudo vai ser resolvido. – ela fala com esperança e eu temo tê-la perdido na noite anterior.
- Como pode ser resolvido? Ele vai se casar. – explico e enxugo meu nariz com as costas de minhas mãos.
- Está nas mãos de Deus. – ela desliza as mãos sobre meu rosto e coloca minha mechas atrás da orelha. Milagrosamente me acalmo e me sento sobre a cadeira alta em
volta do balcão.
- Posso te confessar algo? – pergunto encolhendo os ombros.
- Claro que pode! – ela sorri e isso me distrai. Ela tem um sorriso bonito, ela é bonita e me vejo com uma irmã mais velha.
- Não ria, por favor. – peço sorrindo e ela retribui.
- Não vou rir, eu juro.
- Eu gostaria de ser a noiva. – desabafo e abaixo a cabeça.
- Caroline, minha flor, e quem disse que você não é? – essa é a ultima frase antes da porta da sala se abrir e uma voz feminina, fina e aguda, em um nível irritante
de tão alto, se sobressai ao meu pranto e um iceberg se forma. A vaca estava ali.
No mundo que criei, ela não existia mais. Ela seria apenas o fantasma, as correntes barulhentas de um sótão vazio. Mas ela estava lá, marcando sua presença com saltos
caríssimos e sem querer me flagrei olhando para os meus pés, All Star, preto e velho. Sou apenas a garota do arquivo e por um instante desejei estar dentro das caixas
que amontoo na empresa do homem que escolhi para minha vida, mas infelizmente eu não sou a escolhida dele.
- Sara, peça para alguém pegar minha bagagem na portaria. – uma ordem sem qualquer compaixão pela doce Sara me irrita e eu vejo entrar na cozinha a mulher arrogante
e, nesse momento, eu percebo que estou com problemas. Ela é alta, loura, o cabelo dela é impecável, a pele é algo como pêssego e suas unhas são uniformes e médias.
Mas, o pior dela é o olhar, superior, indiferente e me coloca entre as caixas do arquivo.
- Quem é essa aí? – ela estica o indicador em minha direção e com desdém fala sobre a garota provisória que fez dos últimos dias da vida do seu noivo algo bom e
que merece o devido respeito. Mas acho que ela não precisa saber disso.
- Oi, meu nome é Caroline, sou sobrinha de consideração de Sara. – estico minha mão e a tentativa de cumprimento é fracassada, ela ignora meu membro e me ignora
por completo.
- E o que você está fazendo no apartamento do meu noivo? – pensa rápido Carol, pensa rápido, Carol. E como um estalo as palavras saltam de minha garganta e talvez
eu me arrependa, mas agora é tarde.
- Eu trouxe algumas roupas para doação. Estico meu braço esquerdo e aponto para a mala que esconde as memórias felizes. Que merda de desculpa eu arrumei.
- E não poderia entregar isso depois? – ela é autoritária, olhos claros e um perfume que custaria meu rim, mas ela é má, isso com certeza é seu ponto forte ou fraco...
não sei.
- Sim... não... é que... me desculpe. – me pego pedindo desculpas para a mulher que eu francamente gostaria que enfartasse. – Mas é que estou voltando hoje para
minha cidade e eu não tinha como deixar em outro lugar. –invento mais uma verdade nesse lixo de vida, merda.
- Você é casada? – ela aponta para a aliança que seu noivo me deu em Vegas.
- Viúva. – respondo e vejo uma molécula de piedade em seus olhos.
- Lamento. – ela diz e anda em direção a Sara. – Sara e suas caridades, nem sabia que era uma pessoa de alma altruísta. – ela bate com suas unhas vermelhas sob o
mármore do balcão.
Que vontade de dizer o quanto trepei com seu noivo sobre esse balcão, sem mencionar o alto número de vezes que gozei na boca linda dele. Sua vaca, eu não posso fazer
nada contra você, porque eu fiz tudo contra mim, está tudo contra mim, inclusive eu mesma.
- Vou providenciar que peguem sua bagagem. – Sara a ignora e ela sabe que o que acabei de fazer foi para salvar duas vidas e um emprego.
- Ah, Sara, como será que vamos dividir esse apartamento daqui alguns dias? – ela tilinta as unhas com menos velocidade e sinto que ela não gosta muito dessa secretária.
Sara continua a ignorá-la e eu ainda penso em uma morte súbita, a morte dela.
- Sara, eu já vou indo, a mala está ali. – depois ela daria um jeito de me devolver, mas meus planos foram por água abaixo.
- Carol, eu tenho uma instituição perfeita para receber essas doações, pode deixar que eu mesmo faço. - Acabo de ficar sem nenhuma peça de roupa e nenhum pedaço
do passado que enfim valeu a pena. Ali era o fim do meu final feliz. Comigo apenas o rosto de Pedro enquanto me devorava e o anel de nosso casamento.
Peço licença e saio do castelo. Como Pedro havia dito “Ao fim de nosso acordo eu não estarei aqui”. Aperto o botão do elevador e desço para meu castigo, sem dinheiro,
sem roupas e sem Pedro. Algo em mim havia morrido, e depois de horas caminhando, eu percebi que estava morta. Morri devagar e aos pedaços, cacos de uma Carol fraca,
sobras de uma garota provisória.
Caminhei por horas, muitas horas, olhava à minha volta e no lugar dos rostos, uma névoa. Era fim de tarde, era o meu fim. Não me despedi de Pedro, não houve o ultimo
beijo ou o abraço terno que combinamos ter ao final de tudo. Mas o fato é que pensei que não fosse haver esse final, torci desesperadamente para continuar ao seu
lado, mas minha ultima lembrança é a porta da sala se fechando e seu ruído que tomou conta de meu mundo.
Nada mais existia, a não ser ele aqui dentro de mim e tudo que ele me deu. A alegria em ser dele, sua calmaria ao dormir em meus braços, seu pulsar em minha boca
e útero, seu cheiro que dominava minha mente, meus dedos entrelaçados aos seus, meus seios sob seu tórax esculpido, minhas pernas em volta de sua cintura e ele em
minha boca de todos os jeitos e formas.
Acho que esse seja o castigo para quem desafia o destino, ficar sem o desafiado.
Ao abrir o guarda roupa vazio, vejo nosso ponto em comum. Meu celular desligado e sem bateria, meu mundo totalmente fora do contexto e minha vida em tom diferente.
Nenhum sinal de Pedro, e nesse momento eu percebo, que o contrato entre noivo infeliz e garota solitária havia sido reincidido.
Havia passado das dez horas da noite quando escuto uma movimentação na porta. Meu coração pulou, as lágrimas sorriram e meu rosto iluminou-se. Foi assim da primeira
vez em que ele esteve aqui, ele trepou comigo e foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
- Já vai! – grito e enxugo meu rosto com minha regata.
- Sumida! Isso é para você. – meu porteiro estica a mão e me entrega um punhado de contas para pagar.
- Obrigada. – agarro as contas e bato a porta. Jogo as provas de minha antiga vidinha sobre o sofá e me jogo por cima delas. Deixo o choro desesperado me invadir
e tomar conta. Melhor assim, soluçar de tanto chorar e por fim dormir por cansaço, cansaço de ser simplesmente quem eu sou.
Mas havia um casamento, o meu casamento que agora precisava ser anulado.
Faltam 3 dias....
Sempre tomei decisões baseadas em meu total interesse. Começo pelo casamento com Jamile. Claro que ela é uma mulher interessante, inteligente, mas é uma mulher sem
grandes mistérios. Em algum ponto seu encanto inocente se perdeu e isso fez com que meu relacionamento com ela fosse quase uma penitência. Mas eu precisava dessa
união, precisava, conjuguei perfeitamente o verbo. Precisava em um tempo que acreditei que a influência de sua família na cidade e principalmente na bolsa de valores,
pudesse de alguma forma deixar ainda melhor minha empresa.
Esse seria o primeiro de uma série de equívocos. O segundo foi achar que seria suportável aguentar a menina mimada que fez questão do melhor para o casamento que
apenas ela anseia nesse momento. Por um segundo fecho meus olhos e penso em meu casamento com minha linda Carol.
- Você tem certeza? – ela me perguntou tão linda. Me flagro sorrindo apenas por lembrar do rosto encantador da menina que cuida dos segredos de minha empresa e é
dona absoluta do meu coração.
- Sim, eu tenho a mais clara das certezas. – e o seu sorriso se abriu como um girassol ao ouvir minha resposta. Tudo muito simples. Ela, eu e alguns outros noivos
tão loucamente apaixonados como nós. Porque essa é a maior verdade de minha vida, sou loucamente apaixonado pela menina do arquivo, pela menina que fez bolo comigo
e fez o melhor amor que eu poderia ter feito. Desejo Carol nesse momento e me perco em seu sabor, seu gemido e me perco dentro do meu apartamento.
Escuto Jamile dando ordens expressas a Sara e penso em algo que eu possa usar como motivo e ir até ela, até minha Carol. Preciso ir até ela, preciso dela. Lembrar
do rosto de Sara assim que eu cheguei em casa me causa um calafrio, algo perto da morte eu diria.
Me lembro do que aconteceu horas antes, assim que entrei no apartamento.
- Boa noite, Sr. – Sara me cumprimenta e escuto um barulho no quarto, abro um sorriso porque pensei ser minha Carol, mas Sara me alerta.
- Não é a Caroline que está em seu quarto, Sr. – ela abaixa a cabeça e aponta para a mala de Carol e me conta de maneira triste como a minha linda do arquivo saiu
do meu apartamento. Doeu como nunca, queria correr até ela, trazê-la de volta e deixar claro que ali era a sua casa, mas eu sou fraco, precisei pensar antes de agir.
- Ela se foi, Sara. – abaixei meu rosto e olhei de lado para a pequena porção de Carol guardada em sua bagagem simples.
- Sim, ela se foi, de maneira triste a meu ver, porque ela protegeu o Sr. Não mencionou nada a respeito dos últimos dias e deixou para trás tudo que poderia levar
de Pedro Villas Boas com ela. – ela diz olhando para as coisas de minha garota.
- Jamile está no quarto?
- Sim, Sr.
- Não a quero aqui. – respiro fundo. – Não a quero mais em minha vida.
- Essa vai ser uma decisão muito difícil, Sr. Está a dois dias do seu casamento. - Sara me lembra da fortuna gasta com essa palhaçada toda e eu me lembro da alegria
de Carol apenas por fazer um bolo que não cresceu comigo.
- Eu sei, preciso pensar. – Apanho a mala de Carol e as chaves do carro de cima da mesa e do mesmo jeito que entrei em meu apartamento, eu saí. Preciso vê-la.
Saio com pressa e dirijo sem prestar atenção no caminho, apenas as lembranças de Carol estavam em mim; cada gesto, cada palavra, sua total falta de interesse em
meu mundo monetário, sua simplicidade e seus lábios em torno de mim.
- Carol! – falo alto e desejo que ela atenda meu pedido, vou resolver essa situação.
Acelero e paro diante do prédio de Carol. Desço do carro em disparada e pergunto sobre ela e para meu completo desespero o porteiro maldito que tem uma queda considerável
pela minha garota não a viu, na realidade não a vê há vários dias. Entro no carro e percorro as ruas, mas onde eu poderia procurar por ela? Ela não tem ninguém,
nunca mencionou ninguém além de um ex-namorado. Ela não pode ter ido atrás dele... Onde você está, Carol?, pergunto-me internamente.
- Pedro? – Jamile grita ao meu lado me trazendo de minhas recentes lembranças.
- Fala. – respondo seco e sem emoção.
- Fala? Ficou louco? Olha como você está falando comigo! – ela grita e eu adoraria arremessá-la daqui de cima.
- Estou cansado. – levanto e vou até o bar na sala de jogos.
- Você não pode sair e me deixar falando sozinha! – ela ainda está gritando.
- Jamile, me deixe sozinho por alguns minutos. – peço enquanto completo meu copo com Whiskey.
- Quero saber agora o que diabos está acontecendo! – fecho meus olhos e, mesmo errado em minhas atitudes, eu a culpo por não amá-la mais, acho que nunca amei.
- Estou cansado. – viro o copo em minha boca e o completo novamente.
- Está cansado de mim? – ela cruza os braços e por alguma maldição tudo nessa mulher me irrita.
- Sim. – mais sincero do que isso só se eu contar para ela que estou perdidamente apaixonado pela minha funcionária.
- Está ouvindo o que está me dizendo? – ela grita e gargalha sem humor, enquanto tento me ater ao som doce da voz de Carol.
- Sim. – bebo a segunda dose e desejo apenas que ela se cale. Carol, onde você está? Me perco em meus pensamentos na menina que bagunçou minha vida e a boca de Jamile
nesse momento apenas se movimenta. Não consigo me ater a nenhuma de suas palavras. Perco-me em Carol e sua adorável forma de me enfrentar.
- Você está me ouvindo, Pedro Villas Boas? – Jamile consegue me trazer a essa merda de presente.
- Estou, mas francamente preferia não. – disparo e viro a terceira dose.
- Que merda está acontecendo, Pedro? – Será que devo falar para ela que sou um homem comprometido e que ela não faz mais parte de minha vida? Acho que ela nunca
fez.
- Apenas cansado, preciso dormir. – viro uma nova dose de uma única vez e saio desviando da mulher que se tornou desconhecida e está no lugar onde Carol deveria
estar. Esse lugar é dela, da minha linda e perdida esposa.
- Pedro, eu exijo que você me fale o que está acontecendo!
- Pode exigir, mas eu posso não querer falar mais nada. – entro no quarto e tranco a porta. Aos poucos os murros de Jamile na porta da suíte vão desaparecendo, até
que lembro de Carol me entregando o controle da TV em Vegas.
- Coloca em português para mim. – linda e inocente. Não entendia uma única palavra, me sentia tão útil para ela apenas por mudar a linguagem de um desenho animado.
Levei-a aos melhores lugares e ela me mostrou o que realmente era bom.
- Tome, vista isso. – ela me entrega a camiseta velha do Garfield e eu daria meu mundo para vesti-la novamente. Não a camiseta, mas Carol, em mim.
Uma flecha de arrependimento atinge meu peito ao lembrar da noite anterior.
- Pedro, e nós? – ela perguntou com tanta esperança e o que consegui foi ser o pior para ela, porque eu sempre vou ser o pior e, mesmo assim, ela me aceitou. Novamente
conjugo o verbo corretamente ‘aceitou’, porque agora faço parte da pior parte da vida de Carol, faço parte do seu passado.
- Pedro! – Jamile esmurra a porta e eu removo minhas roupas e entro na hidro.
- Me deixe em paz! – grito para Jamile, como se ela fosse capaz de oferecer algo que apenas minha linda menina do arquivo é capaz. Onde você está, Carol?
Viajo para o mundo perfeito, viajo para dentro dela, sinto seu gosto em minha boca e apenas por pensar nela sinto meu corpo criar a rigidez que a levava para algo
que a satisfazia. Lembrar dela gozando em minha boca, em meu corpo, ela é perfeita para mim, ela é perfeita para essa alma velha, ela é meu abrigo, meu escudo e
minha calmaria.
- Pedro, abra agora essa merda de porta! – Jamile mantém a postura lunática e isso me irrita e me impulsiona para fora da banheira e, consecutivamente, para fora
do quarto.
- Fala logo o que você quer! – grito enrolando a toalha em torno de minha cintura. Não quero que ela me veja nu, eu pertenço a outra mulher.
- Quero que você me diga o nome da vagabunda que você andou saindo! – ela insulta a única mulher que fez meus dias valerem a pena, e a verdade é que odeio Jamile
nesse momento. Ela fez minha menina sair daqui sem nada, sem direção e eu como um grande filho de uma puta não estava aqui para protegê-la, porque ontem eu fiquei
com medo de tomar uma decisão que não posso esperar mais.
- Em primeiro lugar fale baixo, em segundo, não existe nenhum tipo de vagabunda envolvida nessa história, e em terceiro lugar essa casa é minha, então como proprietário
exijo que fale baixo. – seco ríspido, desvio dela novamente vou até o closet e coloco uma calça de moletom e uma camiseta.
- Você está estranho. Não me deu nenhum beijo desde que cheguei, e você assim que chegou saiu de repente, nem me avisou onde ia, sou sua noiva! – ela ainda grita,
mas em um tom mais baixo.
- Escute, Jamile. – olho nos olhos dela e não a encontro dentro de mim. Não posso enganá-la mais, não posso me enganar, não posso levar adiante uma situação apenas
por interesse comercial; afinal de contas, é a merda da minha vida que passou a fazer sentido. Eu preciso da Caroline aqui comigo, enroscada, dormindo, me enfrentando
e me fazendo o maldito mais feliz do planeta. – Talvez devêssemos repensar sobre o casamento. – eu sei que acabei de lhe entregar gasolina e fósforo. Falar para
uma mulher às vésperas do casamento que talvez não seja uma boa ideia seguir adiante é como pedir uma morte lenta.
- Como é que é? – ela cruza os braços e fala bem baixo. Péssimo sinal, ela pode nesse momento me matar, prefiro os gritos que anunciam seus atos.
- Me responda Jamile, você está feliz comigo?
- Claro!
- Não, não está. Responda friamente, esqueça o escândalo na imprensa, o casamento e todo o dinheiro investido, responda para você se você realmente está feliz. –
acontece algo que nunca pensei, ela ficou em silêncio e olhou à sua volta.
- Por que está me perguntando isso? – ela me deu o que eu precisava. Claro que tudo não passava de uma desconfiança tola minha, mas agora é hora de descobrir algumas
verdades.
- Porque há alguns meses eu recebi uma mensagem muito suspeita, porém eu não poderia simplesmente lhe acusar sem provas. Talvez nesse dia eu deveria ter entendido
que satisfazer seus caprichos seria algo difícil, porque você é filha única de uma família rica.
- Do que você está falando? – ela volta a gritar e eu nunca fiquei tão feliz em ouvir seus gritos. Eles eram a prova do desespero e ela sabia do que eu estava falando.
- Estou falando do final de semana que você passou em Jurerê internacional com um bando de amigas. Talvez nem todas fossem suas amigas, ou alguma delas era mais
minha amiga do que sua, o fato é que se você me traiu você teve seus motivos.
- Mas, Pedro, é ment... – eu a interrompo.
- Não fala nada. Contra fatos não há argumentos. Mas a verdade é que você deve estar se perguntando porque só agora, depois de tantos meses – respiro fundo e me
sinto tão bem em fazer o que estou fazendo. – O fato é que na época em que você viajou e possivelmente me traiu, eu fiz o mesmo, mas eu não tinha um sentimento realmente
puro e gigantesco como pensei que tivesse por você, então aceitei como chumbo trocado. – mentira, estou mentindo, eu queria matar essa filha da puta, mas o investimento
do seu pai em minha empresa era algo que realmente eu precisava para colocar a ARTAME no topo. Aceitei a traição, me vendi.
- Por que não me disse nada na época? Você também me traiu? – ela tenta virar a discussão, mas sinto pena porque não vai conseguir.
- Não falei porque estávamos errados, estamos errados, estamos a levar adiante uma situação por aparência. Sou um cara bem sucedido e você, uma mulher de grandes
negócios. Não existe motivo para tentarmos algo que já deu errado. – disparo e vejo uma Jamile irreconhecível, ela arremessa contra mim uma pequena estátua.
- Você me traiu, seu filho de uma puta! – e joga a cadeira, mas ela não tem força para fazer com que chegue em mim.
- Sim, eu te traí e você também me traiu, estou tentando não piorar as coisas. –começo a me exaltar, ela está destruindo meu quarto.
- Por que não disse antes? Agora o casamento está ai, eu vou ser motivo de piada! – ela grita e arranca as cortinas. Ela está fora de controle e eu me mantenho em
posição segura.
- Jamile! – grito. – Para com isso, você não me ama mais, eu não sinto mais nada por você e gostaria imensamente que você fosse embora. – ela vem em minha direção
e tenta me agredir. – Para com isso, você está sendo ridícula!
- Todos vão rir de mim! – ela tenta me acertar socos e chutes.
- Não vão! – grito também e de repente ela me abraça. Não esperava isso.
- Eu, eu errei muito. Errei quando escolhi o homem rico, escolhi o cara bom, mas não escolhi com o coração. Eu sempre me preocupei com a opinião alheia, como estou
preocupada agora. – ela desabafa em meu ombro e eu permito, mesmo pensando que talvez Carol não goste de saber sobre isso.
- Erramos! – sou solidário e sincero ao afirmar que o erro partiu dos dois. –Olha, amanhã colocamos uma nota sobre o adiamento do casamento devido à sua agenda e
comunicamos o mesmo para os mais próximos. Com o tempo as pessoas vão perguntar e depois vão esquecer. – eu a abraço. – Faça uma longa viagem, fique fora, eu assumo
a exposição diante da imprensa.
- Você é bom, Pedro, sempre foi para mim, mas acho que nunca te amei como deveria. – ela fala e eu me alivio ao escutar.
- Gosto de sua sinceridade, gosto de você e torço por você sempre. – eu sei com quem ela me traiu e talvez seja esse o motivo que eu nem considere algo tão pavoroso,
mas eu penso na reação da família dela.
- Vou embora, vou tentar embarcar hoje mesmo. – ela enxuga o rosto enquanto caminha em direção ao guarda roupa e retira suas coisas.
- Você vai ficar bem? – pergunto e a ajudo a guardar suas roupas dentro das malas.
- Sim, confesso que estou aliviada. Sua decisão me animou para tomar a minha. – eu sei, Jamile. Deve ser difícil esconder isso por tantos anos. Carol vem à minha
mente. Onde será que ela está? Ela precisa saber que em poucos minutos serei livre para ela, serei dela, eu sou dela.
- Bom que tudo acabou assim; precisamos de um novo começo, mas em direções diferentes. – ela termina de arrumar suas coisas e eu chamo um taxi para ela.
- Pedro, você sabe com quem eu estive, você sabe que isso me traria problemas, ainda mais com o pai que tenho, peço sigilo. – ela beija meu rosto e eu a abraço.
Não consigo ficar triste com a situação. Eu apenas quero encontrar minha Carol e trazê-la para minha casa, nossa casa.
- Seja feliz, Jamile. – ela entra no taxi e eu subo com um sorriso tolo e esperançoso em meu rosto, como se mil toneladas tivessem sido removidas de minhas costas.
Entro em meu quarto, me troco e saio com a esperança de voltar com a minha garota. Acelero e volto para o apartamento dela e de novo a mesma informação, ela não
apareceu.
Onde ela pode ter ido? Ela nunca mencionou nenhum lugar em São Paulo. Em uma busca sem direção, passo horas dirigindo, entre bares, academias e três horas depois
me dou conta que não tenho como localizá-la. Me dou conta que posso tê-la perdido.
Sigo de volta para meu apartamento e uma melancolia me domina, mas estou preocupado com ela. Suas roupas estão no porta mala do meu carro, e meu coração está em
suas mãos.
Carol, onde você está?
Faltam 2 dias...
Desperto sob os pensamentos resumidos de tudo que aconteceu ontem. Meu casamento de fachada que, graças a Deus, não vai mais acontecer e o sumiço de Carol, que me
entristece. Preciso dela, preciso encontrá-la e dizer que pela primeira vez não há interesse, há apenas meu amor por ela, por ela toda. Amo a Carol desde seu andar
lindo por esse apartamento, até o piscar de seus olhos que refletem o melhor que um ser humano pode ser. Ela é o melhor ser humano que conheci, faria tudo por ela,
faço tudo por ela. Mas eu preciso saber onde está.
Não posso entrar em turbilhão de desespero, mas estou realmente preocupado. Levanto e durante o banho penso e treino o discurso para Carol. Preciso levar flores,
preciso levar bombons, preciso que ela volte para mim e fique comigo enquanto eu respirar. É como se eu estivesse com ela desde que nasci; é como se sem ela nada
valesse a pena, e de fato não vale. Preciso que ela saiba que meu coração ganhou vida por causa dela.
Visto um jeans e uma camiseta preta, preciso de algo confortável e não quero pensar em pisar naquele escritório hoje. A única tarefa hoje é encontrar meu bem precioso,
é encontrar minha esposa.
Desço e não aviso a Sara que está na área de serviço. Entro em minha BMW e ligo o som, Caetano Veloso canta Sou Você, e eu imensamente gostaria de estar aos seus
pés e entre as suas mãos, Carol.
Paro em uma floricultura e compro o mais lindo arranjo de rosas brancas e depois sigo em direção do apartamento dela.
Percorro as ruas sem pressa, apesar de ter pressa, mas não posso cometer nenhum erro. Preciso lembrar-me de cada palavra do discurso. Então, durante o trajeto repito
em voz alta que meu maior desejo é ter filhos com ela, é envelhecer ao lado dela e fazer amor com ela todos os dias, porque sem ela eu não sou ninguém.
Estaciono o carro e respiro fundo. Apanho as flores no banco de trás e caminho em direção à portaria. O maldito porteiro que carrega um mundo por ela me olha atravessado,
e eu adoraria arrebentar a cara dele se não tivesse que salvar a minha própria vida nesse momento.
Pergunto por ela e ele sorri dizendo que ela não voltou. Ele sente prazer em ver minha tortura e eu juro por Deus que um dia eu vou dar um soco na cara desse filho
da puta por conta disso.
Volto para o carro quase arrastando as flores, não tenho onde procurá-la, apesar dela estar aqui dentro de mim, eu não sei aonde ir para poder abraçá-la.
Meu celular toca insistentemente
- Villas Boas! – atendo ríspido, é uma ligação do escritório. - Como? Mas que merda! – muita merda para um único dia. Bato com a palma da mão no volante tentando
descontar a raiva. Maldito seja quem deixou essa merda acontecer. Tenho que voltar para o escritório por conta de um imbecil, e o pior, estar lá sem a minha menina
do arquivo. Onde você está, Carol?
Existe um espaço entre os fatos e as consequências, acho que deveria ser chamado de desespero. Preciso resolver um problema que envolve uma empresa milionária e
um contrato tão grandioso quanto ela, mas meu problema que envolve algo que vale muito, mas muito mais do que isso eu não consigo. Não consigo porque não tenho ideia
de onde minha menina do arquivo possa estar, e se eu precisar de algo que só ela saiba onde está? Por exemplo, o que faz a minha vida ter sentido, porque apenas
ela pode me ajudar, apenas ela possui meu amor... ela possui meu coração.
Ganho as ruas e me perco dentro de mim mesmo, como um adolescente angustiado, preciso olhar para ela, preciso do olhar dela sobre mim. Preciso mais do que qualquer
coisa que já precisei nesse mundo.
Estaciono o carro e mal olho para o pobre manobrista, não estou com cabeça. Subo os andares e não reparo em ninguém, apenas sigo meu caminho e tento separar minha
empresa e a merda da minha vida.
- O que aconteceu com a plataforma? – grito com Alencar pelo telefone o fazendo surgir como mágica na minha sala.
- Sr... eu... não sei... eu... francamente... – ele gagueja como uma criança amedrontada e tenho que tentar ter equilíbrio e não despejar contra ele todos os meus
problemas.
- Pare! Pode deixar que resolvo. – disparo e ele entende o recado.
Alencar sai da minha sala e me afundo em um problema que pode me derrubar, mais um na verdade.
Entro com meu usuário e senha e começo a fazer o trabalho que algum maldito que ganha muito bem para fazer isso não fez.
Uma sequência de erros, é isso que percebo ao olhar o problema de perto e por alguns segundos esqueço-me do mundo fora da ARTAME.
Minha preocupação está voltada em fazer com que os números e as informações do meu cliente estejam seguras. São quase três horas entre digitar e alinhar informações
até que tudo esteja como eu gosto, perfeito.
Volto à minha realidade como se tivesse praticado horas de mergulho sem oxigênio, então, quando alcanço a superfície da água percebo que ainda estou sob ela. Em
uma tentativa confusa de querer saber onde ela está, me pego olhando para o monitor de segurança que está desligado, onde durante tanto tempo eu a observei. Lembro-me
do primeiro dia dela aqui, atrapalhada e encantadora.
- Senhora? – ela abordou a antiga mensageira, Dona Velma. – A senhora não quer que eu leve? – ela fazia menção sobre o carrinho com correspondências. Minha Carol
e sua gentileza, a mesma gentileza que teve ao me oferecer a camiseta do Garfield, a mesma gentileza que teve ao me deixar entrar em sua vida com uma proposta incabível
e feliz. Porque eu fui o homem mais feliz do planeta por quase duas semanas. Nesse tempo eu ganhei dias de vida, a melhor vida.
Perco-me em tudo nela que me atrai, porque tudo dela é atraente. Seu modo impetuoso de franzir entre as sobrancelhas enquanto busca alguma caixa nas estantes do
arquivo. Sua delicadeza ao etiquetar cada uma delas. Flagro-me suspirando e de fato volto a ter meus doze anos.
- Sr.? – minha secretária merece um palavrão por me separar de Carol ao me chamar na porta. Por que essa cretina não ligou? Eu não atenderia. Penso.
- Sim. – respondo seco, não quero falar com ninguém, a menos que me tragam notícias de Carol.
- Sr. Albuquerque está aqui. – ela fala com medo e o diretor da empresa que há poucos minutos estava com problemas me aguarda. Caralho! É a primeira vez que ele
vai me ver sem terno.
- Peça que entre. – digo e elaboro algo plausível.
Minutos depois o senhor de suspensórios por baixo do terno em tamanho gigantesco adentra minha sala com uma bateria de perguntas depois de medir meus trajes informais.
A essa altura espero que ele não fale nada sobre isso.
- Como isso foi acontecer? – ele explode e continua a falar sem parar. Eu não me atento em nada, não consigo assimilar nenhuma palavra rude que ele está dizendo.
Volto meus pensamentos à minha Carol, minha menina perdida.
Houve um problema semelhante ao de hoje, alguns meses atrás, não nas mesmas proporções. Precisávamos apenas de uma cópia de segurança e eu pedi para alguém buscar
no arquivo. Ela tão linda, subiu os dois degraus da escadinha e alcançou a caixa e pegou o que eu precisava. Torci tanto para que ela demorasse mais em achar, demorasse
mais em fazer um favor para mim. Santo Deus, Pedro! Ela é sua funcionária, ela não lhe faz favores! Penso e logo puno-me, ela me fazia um favor todos os dias, ao
sorrir, ao caminhar diante de todas as câmeras da empresa, ao olhar com caridade para cada funcionário. Ela me prestava o favor de fazer os meus dias felizes.
Em meio aos pensamentos de Carol, Sr. Albuquerque não parou de falar e eu não parei de pensar nela. O problema desse cretino foi resolvido, não houve consequências
e quanto ao meu problema? Inferno!
- Então, Sr. Villas Boas? – ele me questiona e juro que lhe desejo um infarto.
- O senhor tem razão, toda razão do mundo. – pela fortuna que ele investe aqui na ARTAME eu sou humilde em baixar a guarda e assumir que realmente ele estava certo
em sabe-se lá Deus o que ele estava falando. Eu só quero muito que ele levante essa bunda gorda e vá embora.
- Espero que isso não se repita! – ele urra como um leão...marinho, e sai da minha sala. Finalmente me livro e ando em direção à porta. Meu destino seria uma busca
implacável por Caroline de Francis.
- Sr., não pode entrar! – escuto minha secretária falar com alguém, que de fato não atendeu sua ordem e abriu repentinamente a porta.
- Villas Boas! – meu ex-futuro sogro invade a sala gritando meu sobrenome. Pela porta aberta vejo os olhos dos curiosos inúteis que me cercam.
- Boa tarde para o senhor também. – sou tão seco que quase trinco.
- Como pode me desejar boa tarde? – ele começa algo que não queria que acontecesse agora.
Ele dispara contra mim o cancelamento do casamento, possivelmente Jamile contou, só não sei de que forma ela explicou. Mas o que vejo aqui é um velho querendo minha
alma. Eu bem que gostaria de ter uma para ele arrancar pela minha garganta.
- Foi em comum acordo! – tento manter a calma, dois explodindo aqui não vai dar certo.
Esse homem mal sabe o que ele causou à sua filha. Ela segue uma linha tão ajustada ao ritmo do pai, por medo de decepcioná-lo. Pena que ele não imagina o que está
por vir e que eu fiz um grande favor para ela, para a família dela inclusive. Jamile não é uma pessoa má, apenas amarga por não ser quem ela é. Quem eu penso que
sou para fazer essa observação? Olho ao meu redor e vejo tudo que construí e me orgulho, mas quando olho para dentro de mim, percebo que falta muito a ser executado.
Preciso da Carol para isso, ela tem a fórmula, apenas ela.
- Você fez minha filha sofrer, seu bastardo! – ele arremessa contra mim as pedras que ele merece.
- Ela está mais feliz agora, posso lhe garantir. Mas acredito que sua visita não é pelo coração de sua filha, é pela sua exposição. – respiro fundo e busco serenidade.
– Acredite, tudo está sendo cancelado na maior discrição possível. Eu afirmo que estou sendo responsável em relação à sua imagem perante a imprensa.
- Você é um cretino! – ele anda de um lado para o outro, prestes a abrir um buraco.
- Sou um cretino por falar a verdade? Será que o senhor tem ideia do quão libertador é dizer a verdade? – penso na minha vida de mentiras que acabou junto com o
casamento e penso na melhor verdade que me aconteceu... minha menina do arquivo.
- Acha que não sou verdadeiro? – ele abaixa em um tom a sua voz, mas sinto que ele ainda quer me matar.
- O que eu acho a respeito do senhor realmente não importa. O que preciso que entenda é que ela também aceitou o cancelamento, ela não estava feliz comigo. – uma
paz me invade e acredito que Carol ficaria orgulhosa ao ouvir tudo que acabei de dizer.
- Imbecil. – ele não tem argumentos e perde a razão ao tentar me ofender.
- Sua filha e eu podemos decidir nossas vidas, agora se puder me dar licença. – eu ando em direção à porta e a abro. Quero que ele vá embora, perdi o dia todo aqui
em vez de procurar por ela, meu Deus, onde ela está?
- Você me paga! – ele urra de novo.
- Mande a conta. – disparo assim que ele sai e bato a porta.
- Não quero ver ninguém! – ligo e desligo para minha secretária, não dou chance dela respirar ao telefone.
Que merda de dia é esse? Penso enquanto olho pela vidraça as pessoas caminhando. Ainda tento pensar onde ela possa estar, ou o que ela está fazendo. Perco-me dentro
dos dias abençoados ao seu lado, ao nosso sexo, o melhor que tive, não consigo me lembrar de outra mulher que conseguiu por tantas vezes consecutivas o melhor do
meu corpo, ela conseguiu, sempre vai conseguir.
Preciso procurá-la! Mas onde?
A merda do telefone está tocando, é a cretina da minha secretária surda que não entendeu que não quero receber ninguém.
- Eu não disse que não quero falar com ninguém? – disparo e ela treme a voz e me avisa sobre um advogado.
Mas que merda é essa? Alguma pegadinha? Um dia de fúria 2? Autorizo a entrada e me arrependo de ter vindo resolver o problema do Sr. Albuquerque.
- Boa tarde. – um pinguim entra em minha sala cumprimentando-me.
- Boa tarde. – esfrego a nuca e analiso o engravatado. – Posso ajudá-lo? – pergunto totalmente intrigado.
- Meu nome é Rubens Cavalcanti, estou representando a Sra. Caroline de Francis. Ela adotou o Villas Boas, mas devido a situação não achei prudente pronunciar.
- Que situação? – pergunto perplexo.
- Estou aqui para lhe entregar os documentos de pedido de cancelamento do casamento que ocorreu em Las Vegas. – sem saber esse homem me mata. Não posso cancelar,
não posso não estar casado com ela, não posso ser ex-marido de quem eu desejo profundamente viver junto até o fim dos meus dias.
- Mas eu sou contra, eu não quero, eu... – a verdade é que não sei o que fazer. E de repente percebo que ele a viu, ele conversou com ela. – Quando ela falou com
você? – pergunto incrédulo.
- Hoje pela manhã. – ele responde em dúvida com a minha dúvida. – Por quê?
- Porque eu preciso falar com ela e não a encontrei. – me pego desabafando com o cara de queixo fino que nunca vi na minha vida.
- Ela me procurou essa manhã e pediu que agilizasse os papeis. – enquanto ele responde deduzo que ela gastou suas economias para o carro de segunda mão. Não quero
anular esse casamento, não posso anular a única decisão inteligente que tomei em minha vida.
- Preciso falar com ela, não vou assinar nada antes disso. – sou seco e abro a porta para que ele suma, desapareça e de preferência morra. Odeio esse mensageiro.
Ando de um lado para o outro e penso em tudo que vivemos. Como ela pode querer não me querer? Claro, Pedro, seu idiota, ela não sabe de nada. Ela não sabe que o
casamento foi cancelado e que sou o marido dela, não seria prudente eu casar com outra pessoa estando tão seriamente envolvido com Caroline de Francis. Meu Deus,
onde você está, Carol?
Em uma maneira de diminuir minha tristeza e recordar dos tempos em que eu vasculhava seus movimentos através do monitor de segurança, eu me sento e ligo a tela que
me dá acesso a todos os ambientes da ARTAME.
Passo por cada sala, cada corredor, cada dependência, incluindo o estacionamento e respiro fundo antes de olhar o arquivo vazio.
Câmera 182, entrada da sala de arquivo, a porta está aberta, alguém está no lugar da minha funcionária mais linda, mas quem está substituindo minha Caroline?
Câmera 187, estantes do lado direito, precisam trocar a lâmpada da segunda luminária, está queimada. Pela sombra vejo o movimento de alguém, mas ainda não consigo
descobrir quem está na sala da minha esposa.
Câmera 189, centro da sala e como uma descarga elétrica, olho para o rosto da mulher da minha vida. Ela está arrumando? Ela está saindo? Ela estava aqui o tempo
todo? Meu Deus!
Arremesso-me contra a porta e abro trombando e caindo por cima do carrinho de correspondências, me enrolo, me perco, estou confuso e quase esqueço o caminho que
me levaria para a salvação.
Desvio da bagunça e deixo tudo para trás, aperto o botão do elevador, os dois estão no térreo e me arrependo por ter escolhido o ultimo andar como minha sala, tenho
que descer até o inferno agora, para encontrar meu paraíso.
Merda de demora, penso na escada, mas os números aparecem de forma crescente e o elevador ganha os andares. Anda logo! Penso e ando de um lado para o outro socando
a minha própria mão contra a outra.
Quando o elevador chega, tenho que esperar toda a população do Brasil sair dele, e todos são vagarosos. Conversam entre si, até que olham para mim. Sinto como se
eu fosse um aviso de evacuação e todos somem da minha frente, liberando o elevador.
Desço e de novo tento decorar as falas do meu discurso que sumiu. Estou feliz em vê-la, estou feliz que ela esteja aqui, estou feliz porque eu amo a menina mais
linda e doce do planeta. Ela teve todas as chances de me destruir diante de Jamile, e o máximo que ela fez foi destruir a mim mesmo, destruiu porque decidiu ser
tudo de bom que um ser humano possa ser. Caroline tem que ser a mãe dos meus filhos, é ela que tem que estar ao meu lado. Cada andar demora, cada um que entra eu
me desespero. Ele para em quase todos os andares, eu xingo impiedosamente cada maldito que entra, mas xingo em meus pensamentos, não quero ter problemas de ordem
trabalhista.
Quando enfim o elevador para no subsolo, eu corro, e os funcionários me olham como se eu fosse um fantasma, e na verdade sou. Em disparada, vou em direção à porta
do arquivo e a abro, a sala está vazia.
- Onde está Caroline de Francis? – grito e ando olhando para todos.
- Ela acabou de sair... – um garoto franzino que carregava uma caixa responde trêmulo e parto em direção à rua. Olho a multidão de gente e procuro por ela, olho
em todas as direções e peço para Deus me ouvir, traga-a de volta, peço para que ele me mostre onde ela está.
- Carol! – grito e todos me olham. Mas meus olhos alcançam minha menina do arquivo, segurando a porta do taxi com uma mochila nas costas, do outro lado da Avenida
movimentada do Centro de São Paulo. Ela não teria muito para levar, suas coisas ainda estão comigo, ela está comigo.
Corro em sua direção
- Carol! - eu grito seu nome sem olhar para lado algum, apenas em sua direção, a única direção que preciso. – Carol! – de novo e sinto o impacto, vejo as pessoas
na vertical e sinto o gosto ácido do meu sangue em minha boca. Talvez esse fosse meu destino... morrer por alguém que amo, chamando alguém que amo.
- Pedro! – consigo escutar a doce voz de Carol. Ela se lembra do meu nome, ela sabe quem sou eu. – Pedro! – ouço mais próximo seu timbre e faço um esforço para manter
meus olhos abertos, mas escuto baixo dessa vez. – Pedro! - ela grita novamente e eu amo a melodia de sua voz. É como um canto, posso ouvi-la me dizendo bom dia todas
as manhãs, ou gemendo enquanto fazíamos o melhor amor do mundo.
- Pedro! – vejo sua boca se mexendo e sei que ela falou meu nome, mas agora não escuto nada, apenas vejo minha Caroline, minha menina do arquivo e minha linda esposa
sentada sobre seus calcanhares olhando para o meu corpo recém-atropelado caído no chão, ela é algo enviado por Deus. A multidão em volta de nós desaparece, ali é
apenas ela e eu.
Talvez seja esse meu destino, ser agraciado por Deus ao me conceder a extraordinária felicidade em olhar para o meu anjo, nem que fosse pela última vez...
Hoje ...... Primeira Parte
E tudo parecia um pesadelo. Minha vida sempre esteve muito próxima disso e agora sinto o gosto desse sonho que não acaba. É como se o sangue que verte do corpo de
Pedro estivesse em minha garganta, e acho que está.
Os rostos perderam suas formas e as vozes agora parecem distantes e as sinto sumirem. Tudo está em silêncio, fecho meus olhos e lembro de cada segundo ao lado dele,
meu marido, que não responde ao desfibrilador, não responde aos comandos dos pulsos do médico e não responde o meu pedido para que ele acorde.
‘Pedro, estou aqui, fique comigo’, pedia baixinho, um sussurro em meio as sirenes e minha dor não tem cura.
- Precisamos levá-lo agora! – o silêncio se desfaz com um médico falando alto e junto com os demais colocando-o sobre a maca.
- Eu vou junto com ele! – exclamo e o médico baixinho apenas diz não.
- Sou a esposa dele! – eles levam Pedro e eu tento entrar na ambulância, mas não caibo ali, Pedro precisa de todos os médicos, Pedro precisa voltar e continuar sua
vida comigo. Eu preciso dele para continuar a minha.
- Taxi! – grito desesperadamente para o veículo que me aguardava e essa é ultima visão que tenho. Entro no taxi e sigo a ambulância que abriga o que tenho de mais
precioso.
- Carol? – Vanessa me desperta das lembranças do dia anterior. Estou sentada no sofá da sala de espera, com a testa sobre os joelhos, em minha roupa o sangue de
Pedro que está há muito tempo na sala de cirurgia.
- Vanessa... – apenas exclamo e rezo para todos os santos que ela não comece uma inquisição.
- Promete que algum dia você vai me contar o que está acontecendo, ou melhor, o que aconteceu? – os olhos dela resplandecem dúvidas e eu quero apenas notícias dele.
- Prometo, mas agora não é uma boa hora. – falo e volto com a testa para os meus joelhos.
- Por que não? – inferno!
- Vanessa, deve ser porque estou esperando notícias do Pedro, e estou preocupada? – sou tão irônica que me sinto insuportável.
- Por que essa preocupação toda? Você nem o conhecia direito? – Tento ficar em silêncio, ignorá-la, mas ela não para de falar. Já rezei o terço inteiro para eu me
manter calma, mas ela não para.
- Vanessa! – falo em um tom de voz alto o suficiente para que os enfermeiros rosnem para mim. – Escuta, eu o conhecia, ou melhor, eu o conheço melhor do que ninguém.
Sei de coisas que possivelmente em toda sua vida sexual que planeja ter um dia você não vai saber e o homem que está lá dentro agora é meu marido.
Sinto os batimentos cardíacos dela pararem, percebo que ela também não respira e, graças a Deus, estamos em um hospital, morrer essa chata desgraçada não vai.
- Você bebeu? – essa é a reação da pobre? Ninguém merece e o médico que não aparece.
- Bebi. – respondo seca, não quero nem conversar mais. A voz dela está me cansando e ninguém aparece para me dar notícias.
- Caroline de Francis! Você me deve uma explicação! – agora os enfermeiros rosnam ao mesmo tempo para ela.
- Tem certeza? Realmente tem certeza de que quer ouvir tudinho? – desafio o olhar dela que tenta de maneira fracassada vencer o meu.
- Claro, sou sua amiga e você sempre soube do meu amor por ele! – ela realmente tem sorte... eu não ando armada.
- Escuta aqui, o que sabia sobre você em relação a Pedro é sua inestimável vontade de se casar com um cara rico, até onde sei isso não é amor.
- Você está me dando uma lição de moral? – ela cruza os braços e tenta estar com a razão.
- Não, meu tempo é precioso e não vou usá-lo acabando com você apenas com meu extenso e rico vocabulário, afinal de contas, estou aqui esperando meu marido!
Ela fica paralisada e eu responderia para qualquer um que aparecesse aqui me enchendo o saco.
- Carol, eu não estou te reconhecendo! – ela se acalma e percebe que estou aflita.
- Não vou ter tempo de te explicar nada, eu não quero explicar nada e você também não entenderia. – levanto e ando de um lado para o outro da sala de espera.
- Me conta, Carol! – ela pede segurando meus braços.
- Não quero te contar, porque envolve viagens, pessoas, dormir e despertar com ele, e isso me faria mal agora, porque eu não sei como ele está. – a deixo sozinha
na sala de espera eu vou para o banheiro. Chata do cacete! Penso enquanto caminho.
Imagina se ela sabe dos detalhes? Infarto na certa!
Olho para o espelho e o reflexo condena o quanto eu preciso dele, pelas olheiras, pelo cabelo, pelo olhar sem brilho. E algo me cutuca? Por que ele estava tão desesperado
ao atravessar aquela rua? Deus! O casamento dele é hoje! Será que... que alguém avisou à vaca? Será que vai ser cancelado? Será? Uma tempestade de dúvidas e a única
coisa que sei é que preciso dele, preciso que ele sobreviva e me conte o motivo por estar tão desesperado ao atravessar sem ao menos olhar para os lados. Cala a
boca, Carol! Quando ele te propôs tudo isso você olhou apenas em uma direção, na dele!
Tento arrumar um pouco o rosto abatido, o cabelo desgrenhado e saio do banheiro. A chata da Vanessa partiu.
Não tenho como pensar em nada a não ser na situação de Pedro. Preciso que alguém venha e me diga como ele está, preciso que me digam que ele está bem, preciso dele
bem, mesmo que eu tenha que assistir o seu casamento com a vaca.
Sento de novo na mesma poltrona e oro por sua saúde, oro pela minha sanidade e tento não entrar em pânico. Até que a porta se abre e o olhar do médico quase me sepulta.
Levanto-me e vou ao seu encontro e ele nega com a cabeça antes de pronunciar qualquer palavra.
- Por favor! – clamo diante dos olhos dele.
- Calma, ele está dormindo agora. Tivemos de colocá-lo num coma induzido, temos que esperar e refazer alguns exames. – o médico fala de maneira calma e eu quero
correr para dentro do quarto onde ele está.
- Posso vê-lo?
- Ainda não. – ele responde .- Ele precisa descansar.
- Ele vai ficar bem? – pergunto olhando nos olhos do médico.
- Estamos fazendo de tudo. O seu marido terá o melhor tratamento necessário. – ele coloca a mão em meu ombro, pede licença e sai.
Lembro de cada minuto ao lado dele, desde a proposta indecente até aquela manhã fatídica em que ele saiu para trabalhar sem se despedir de mim. Ele é tudo que preciso.
Ele é o amor da minha vida e precisa acordar sabendo que decidiria dormir para sempre sem ele, preciso dele ao meu lado, como minha prece e oração, preciso de sua
voz e seu gemido, preciso de suas mãos e olhos, preciso do conjunto Pedro que faz meu mundo melhor, faz meu mundo existir.
Talvez seja esse o tipo de céu que me espera, algo entre dois mundos, algo entre a felicidade e o desapontamento, talvez seja um tipo mais calmo de inferno, sem
fogo, mas que arde, queima. Talvez seja esse tipo de purgatório justo em minha vida. As horas passam e nada cura, nada acontece e Pedro dorme sem saber que morreria
por ele... com ele.
Busco uma pequena distração e coloco meus fones. No Cure na voz de Ben Saunders, me faz companhia. “Eu estive surda desde que você se foi”, Ben canta em meus ouvidos
e essa febre corre em minhas veias. Não cura.
- Ele acordou. – uma enfermeira alta e loura me acorda com a melhor notícia do mundo. A mesma enfermeira que estava aqui ontem quando chegamos e foi ela quem me
deu um calmante. Um bolinha branca que não me trouxe nenhuma paz.
- Posso vê-lo? – pergunto levantando-me rapidamente do sofá, meus fones estão caídos e eu os guardo.
- Sim, a primeira palavra que ele disse foi seu nome. – ela não faz ideia do que é ouvir isso.
- Então me leve até ele! – ando sorrindo e ela ao meu lado me acompanha. São poucos passos e eu caminho sorridente olhando para as portas dos quartos. Algumas abertas,
outras fechadas, enfermeiras risonhas caminhando com suas bandejinhas em inox, conseguia achar lindo até a forma arredondada dessas baixelas reluzentes.
Tenho tanto para falar, tenho tanto para escutar. Preciso dizer que ele fica lindo com minha camiseta velha do Garfield. Meu Deus! Precisamos ir para o Sul de Minas!
Pedro, como eu te amo!, penso e sorrio feliz. Olho por um instante para a enfermeira que me acompanha e a partir deste momento tudo acontece em câmera lenta. O rosto
apático que possuiu o sorriso da loura, os médicos entrando em disparada no quarto e eu sendo esbarrada por outra auxiliar da saúde. Essa correria era para o quarto
de Pedro, ele estava com problemas e eu também.
- Me solta! – grito, preciso ir até ele. Grito tentando me soltar da enfermeira.
- Você não pode! – a moça de jaleco branco tenta me segurar, mas eu me solto e corro para o quarto dele.
Existe um momento em que decidimos desistir, não por covardia, mas por conta do peso que teremos que aguentar... sozinhos. Sim, é por covardia mesmo, não adianta
florear as palavras, desistimos por covardia absoluta em não suportar algo, por não suportar a ausência de alguém.
- Pedro! – grito da porta do quarto enquanto fazem massagem cardíaca nele, enquanto o carrinho transportando o desfibrilador chega. Grito dentro da minha cabeça
que se nada disso funcionar, eu desejo desistir.
- Tirem ela daqui! – um médico ordena e tudo fica escuro, gelado, frio e aterrorizante.
“Quando decidimos desistir, é porque não caminhar mais é mais fácil do que caminhar vazio”
Primeiro dia
‘Caminhar para longe de Pedro seria impossível, por isso fui arrastada, expulsa e desejei profundamente visitar meus pais.’
- Sra. Villas Boas – ele me chama –, o seu marido sofreu uma parada cardíaca. – ele respira fundo.
- Me diga que ele está bem. – deixo uma lágrima cair.
- Ele se mantém em coma e agora depende dele acordar. – e como uma lança afiada, as palavras do médico entram em meu peito e me atravessam da pior forma.
- Posso vê-lo? – pergunto.
- Sim, mas terá que ser rápido. – ele fala e me conduz até o quarto onde Pedro adormece em um sono diferente, um sono com medicamentos e longe de mim.
Entro e olho o semblante dele, que impreterivelmente está lindo, ele é lindo, ele é meu marido. Mas ficaria feliz em vê-lo se casar com a vaca, porque saberia que
ele está bem e eu poderia respirar melhor sabendo que ele está em algum lugar.
- Pedro – sussurro em seu ouvido.- Pedro, eu preciso que você fique aqui, preciso de você vivo, preciso dizer que te amo e sem você não me sobra nada, absolutamente
nada. – as lágrimas se soltam e me vejo em desespero. Preciso dele, mais do que qualquer coisa nesse mundo.
O médico pede que eu tenha calma e sugere que eu descanse, não sei se quero, mas eu não poderia ficar ali, preciso de um banho e preciso mais ainda tentar me acalmar.
Caminho lentamente e não consigo pensar em nenhum lugar para ir se não ao único lugar onde fui feliz. Aperto o passo e caminho em direção à casa de Pedro, preciso
conversar com Sara, preciso estar no mundo dele de alguma forma.
Acho que em toda minha vida eu nunca rezei tanto, nunca pedi tanto, nunca senti tanto. Clamei pela recuperação dele, não estou preparada para perdê-lo, nem para
morte e nem para vida.
Chego ao prédio dele, me identifico e Sara autoriza minha entrada. O elevador demora anos e assim que ela abre a porta eu me jogo em seus braços.
- O que aconteceu? – ela pergunta e eu explico. Tento explicar, tento falar, e ela não sabia de nada, nem do acidente, ela pensou que ele estivesse comigo. Ele estava,
mas ele não sabia. Ela quer ir até o hospital mas eu aviso sobre o quadro dele e as ordens do médico que está cuidando do amor da minha vida.
- Sara, eu preferia vê-lo se casando com a Jamile! - disparo andando em volta da ilha da cozinha.
- Isso é uma cena que você não vai ver. – ela diz e as suas palavras salpicam um pouco de alegria, se é que isso é possível.
- Como assim? – pergunto quase com uma sombra de um sorriso por detrás dos lábios.
- Ele cancelou o casamento no mesmo dia em que você foi embora. Ele chegou a sair daqui e foi à sua procura. – ela ajeita uma travessa que está sobre o balcão. –
Ele voltou tão triste e Jamile escolheu o momento errado em ser ela mesmo. Minutos depois, após uma discussão terrível, ela foi embora e o Sr. Villas Boas sorria
como uma criança.
Nesse momento me flagro sorrindo, ele havia me escolhido e eu poderia então perdê-lo para morte.
- Ele não ia se casar mais? – pergunto chorando compulsivamente.
- Não. Ele cancelou tudo e eu escutei o momento em que ele disse sozinho no quarto: Sou da Carol, apenas dela. – Sara sorria e agora eu penso nesses dois dias que
fiquei trancada dentro do meu apartamento, pedi para o Juan avisar que eu não estava para ninguém, porque eu nunca pensei que ele pudesse ir até lá, afinal de contas
ele ia se casar.
- Deus! Sara ele escolheu a mim! A garota do arquivo! – eu caminhava e olhava para o meu dedo e a aliança que não tive coragem de tirar me lembra de como fui estupidamente
feliz e como fui uma estúpida em pedir para anular esse casamento. Algo dói, não posso anular, não quero anular, não posso me separar de quem eu amo.
- Ele havia lhe escolhido muito antes de vocês conversarem. – ela me fala algo novo e eu sento sobre a banqueta esperando que ela conclua a novidade.
- Como assim? – olho nos olhos dela e ela respira fundo.
- Carol, trabalho há um bom tempo para o Pedro, e esse apartamento é muito grande, e às vezes muito pequeno também. – ela alcança a minha mão e continua. – Há alguns
meses, lembro como se fosse ontem, ele chegou sorrindo. Fazia muito tempo que ele não sorria daquela forma e, pensando bem, fazia tempo que ele não sorria de modo
algum.
Ela sorria e isso me fez por alguns instantes não me lembrar dos fatos recentes.
- Ele entrou por essa porta e disse: ‘Sara, hoje eu pude presenciar algo em minha empresa que pensei que tivesse sido extinto da raça humana’ – Claro que fiquei
intrigada, mas eu sei meu lugar e deixei que ele falasse por livre e espontânea vontade. Ele sorria tanto.
- Mas o que era? – perguntei querendo saber cada detalhe; porque se a vida do Pedro me interessava antes, agora eu faço questão de saber minuciosamente tudo a seu
respeito.
- Sim, ele disse. – ela sorriu – Ele disse da forma mais linda que um ser humano pode falar, ele disse com o coração. ‘Sara, tenho os melhores motivos do mundo para
ir trabalhar, todos eles estão no subsolo’. Na hora eu não entendi nada, mas depois de alguns dias eu comecei a ver que ele acessava as câmeras de segurança da ARTAME,
aqui do escritório. Ele fazia isso no domingo, no sábado à noite; ele passou a evitar Jamile e a sorrir para o monitor.
- Sara, eu nunca havia visto ele, ele nunca me disse nada, ele nunca me procurou. – e uma ideia me ocorreu. – Posso ir até o escritório?
- Claro. – ela sorri e eu corro em direção ao lugar onde já fiz amor com ele, e onde ele bisbilhotava minha vida, se é que posso chamar o que eu tinha antes dele
de vida.
Sento-me diante do monitor e para acessar alguns arquivos é necessário uma senha. Penso em várias antes de arriscar a primeira. Eu erro assim que pressiono enter.
Penso em outras e erro novamente e por fim algo surge em meus pensamentos e digito: Caroline de Francis.
A barra verde mostra meu acerto e eu tento entender todos os campos. Depois de um breve momento, reparo em uma pasta: SUBSOLO. Claro que clico e com um tsunami de
memórias. Tudo à minha volta some e sou capaz de viver cada momento gravado ali: O dia em que empurrei o carrinho de correspondências, o dia que entreguei o meu
almoço para o cachorro, o momento em que Cristina Modera gritava comigo e o instante seguinte quando Vanessa foi até o meu porão e eu expliquei que entendia a amargura
de Cristina, que não deveria ser fácil ter a idade que tem e contar apenas com um punhado de gatos em seu velho apartamento no Ipiranga, que em minhas orações eu
pedia para não ter a mesma vida que ela.
- Pedro... – sussurro. E uma das gravações me chama muito a atenção. Ela é a primeira, a mais velha de todas, o dia da minha entrevista, o dia em que fiquei plantada
mais de duas horas esperando para ser atendida. Eu queria tanto esse emprego que não me importei na hora, mas xinguei um pouco assim que cheguei em casa.
Fazia pouco tempo que meus pais haviam falecido e eu precisava me ocupar, precisava de dinheiro, precisava fazer algo que me mantivesse viva.
‘Bom dia, meu nome é Caroline de Francis, estou aqui para entrevista’ foi o que disse, mas não saiu bonito assim, eu gaguejei e foram quase horas para eu conseguir
terminar o meu nome.
A atendente pediu que eu aguardasse e me sentei ao lado de um senhor. Simpático, conversou por muito tempo comigo e o tempo passou até que rápido enquanto aquele
homem de cabelos grisalhos falava sobre a sua infância em São Paulo. Falava sobre seus avós saindo da Itália e vindo para o Brasil. Em determinado momento ele olhou
em meus olhos e disse: ‘ Não há perdas, no plano de Deus existe apenas ganhos, tudo depende da forma como você enxerga’. Aquele senhor que segurava seu chapéu e
sua bengala, levantou-se e olhou para dentro dos meus olhos antes de seguir seu caminho para fora da ARTAME: ‘Existe algo em você, algo especial, algo que alguém
terá a sorte grande em descobrir junto com você, obrigado pela conversa, hoje em dia ninguém se interessa em conversar com velhos’. Ele sorriu e saiu da ARTAME.
Disso eu me lembro, mas eu resolvi assistir até o final dessa gravação e foi quando eu me surpreendo e meu coração dispara. O senhor que eu não tive a educação de
perguntar o nome, pisou na calçada e Pedro o recebe com um abraço, automaticamente eu procuro o áudio e não encontro, é uma câmera com acesso para a rua, nem sei
se seria possível escutar. Mas eu posso ver, que o senhor aponta para dentro da ARTAME e Pedro sorri beijando sua testa, minutos depois eles partem.
- Sara! – a chamo e ela corre para me atender.
- Sim. – ela diz.
- Por favor, você poderia me dizer quem é esse senhor? – volto a filmagem e mostro para ela o momento em que estamos conversando.
- Claro, é o Sr Joseph Villas Boas, avô paterno de Pedro. – escuto e sumo dentro de mim. Sorrio e vejo que Deus apenas coloca em nosso caminho aquilo que merecemos
e suportamos.
- Sara, obrigada. – a partir daquele momento eu sabia que não existem coincidências; não existe o por acaso e eu devo aplicar mais fé em minhas orações.
- Carol, você vai ficar aqui, certo?
- Sim, vou para o hospital. – digo e ela apenas remove o avental que está sobre seu vestido preto e disse que me acompanharia até o Hospital Sírio Libanês.
Daniel nos levou e durante o trajeto deixou claro que estaria à minha disposição.
- Obrigada, Daniel. – olho para os olhos dele pelo retrovisor.
- Srta. Francis, devo muito ao Sr Villas e devo a senhora também.
- Me perdoe, mas por que acha que deve algo a mim?
- Porque a senhora ajuda minha mãe com o carrinho de correspondências. –realmente Deus tem um plano de ganhos, independente de nossas perdas.
Fico em silêncio até o hospital e analiso rapidamente tudo que está acontecendo.
- Preciso ver Pedro Villas Boas. – digo à recepcionista que pede para eu aguardar.
Depois de vários minutos ela me deixa entrar, posso ficar pouco tempo, mas o que eu preciso, levará apenas alguns instantes.
- Pedro, meu amor, vou estar aqui esperando por você porque sei que você pode me sentir de alguma forma, assim como eu sinto você. – beijo seu rosto e naquela noite
eu deixo a primeira carta para ele. Ele precisa saber que estive lá o tempo todo, que estou lá o tempo todo. Dobro o papel e o deixo em seu sono desconhecido e longe
da capacidade humana de compreensão.
- Sara. – eu olho nos olhos dela enquanto caminhamos em direção ao carro. – Ele vai acordar e eu vou viver com esse homem o resto da minha vida. Esse é o plano de
Deus eu tenho certeza. – digo, mas dentro de mim algo machuca e penso que todos que amo um dia vão embora, eu tenho como infortúnio perder para morte as pessoas
que amo.
Acordei depois de poucas horas de sono. A cama imensa de Pedro me conduz a uma tormenta e um dia a ser encarado. E como um mantra, repito baixinho que tudo isso
vai acabar e que essa cama terá o corpo perfeito dele novamente. Olho para o que sobrou de mim no reflexo do espelho e entendo facilmente que podemos sobreviver
alguns dias sem comida, mas não sem amor.
Tomo um decisão e com ela caminho até a cozinha, onde Sara deixou o café da manhã que não me atrai. Nada me atrai e toda a esperança que tenho em que tudo vai dar
certo, se resume ao contraditório dia realista, ele não está aqui.
Um pouco de café puro para me despertar, apesar de não querer por completo isso. Observo no canto da sala a minha mala e um bilhete sobre ela:
Srtª Francis, encontrei essa mala no porta mala do carro do Sr Villas Boas, acredito que seja sua.
Daniel.
A minha realidade se resume no homem que amo estar adormecido depois de atravessar uma avenida. Ele olhava para mim, apenas para mim, e agora estou sem direção.
Troco de roupa, tento parecer o menos fantasmagórica e desço. Daniel me espera e além do bom dia, pronuncio apenas ‘Pedro’.
O carro segue e as ruas estão desfareladas. Não vejo forma, sinto apenas dor. Nas minhas mãos mais uma carta, mais um pouco da minha espera em forma de papel e tinta.
Ele precisa saber que estou aqui.
Ganho o corredor e tenho uma esperança absurda de que ele possa estar sentado na cama, me esperando, mas tudo acaba quando escuto as máquinas ligadas ao seu corpo
e barulho de seu coração traduzido por uma máquina fria e sem emoção.
Ao lado de sua cama, coloco o papel, próximo da carta de ontem e respiro fundo.
- Meu Sr. Villas Boas, estou sentindo tanto a sua falta que não acho que doa mais. É como se eu não existisse mais, é como se o tempo que sempre se encarregou de
fazer da minha vida algo triste, se pronunciasse novamente de forma cruel. Acho que não é possível doer mais do que está doendo agora. Mas eu estou aqui, sempre
vou estar. – beijo seu rosto e vou em direção à porta, orando para que ele possa ler cada uma das palavras que escrevi enquanto ele visitava um lugar entre dois
planos.
‘Pedro,
Estar com você não poderia ser diferente da perfeição, foi perfeito, é perfeito. Fez meu coração entender tudo que preciso para ser feliz, entender que somos capazes
de amar em uma proporção inesgotável. Você me mostrou o que é felicidade, os momentos perfeitos e felizes, o tipo de momento que preciso viver de novo com você.
Eu estou aqui.
Carol, a menina do arquivo.’
E tornou-se um hábito, acordar quando conseguia dormir, ir para o hospital, conversar com Pedro e deixar mais uma carta.
Todos os dias, como um ritual que não pudesse ser quebrado, eu estava lá, o dia todo, e muitas vezes dormi na recepção do hospital.
Ignorar cada um que tentava de forma fracassada obter informações da suposta namorada do proprietário da ARTAME, tentar não gritar aos quatro cantos que não sou
namorada, que sou a esposa dele e que estou sofrendo com a ausência dele. Fingir que tudo vai dar certo quando, na realidade, a esperança às vezes me abandona e
me sinto em um poço fundo de água gelada.
Ignorar minha atual vida e me perder na vida de quase catorze dias que tive ao lado dele. Choro a cada cinco minutos lágrimas que duram horas; me desespero e penso
por que não atravessei a rua com ele, por que não subi todos os andares dessa empresa e disse para ele: EU ESTOU AQUI!
Então, agora sinto culpa, medo e desespero, pois tudo que mais amo está longe e perto, dentro e totalmente presente e de novo a minha extraordinária capacidade em
ser a dor que sou, vence a Carol feliz, a Carol que foi feliz e agora não é absolutamente nada.
Choro desesperadamente. Choro porque isso é o que faço com mais naturalidade, faço com perfeição depois de tanto praticar. Passei mais tempo da minha vida chorando
do que rindo, passei mais tempo lamentando e não existindo. Deixei o tempo passar e agora quero apenas que ele volte, volte para o tempo em que fui feliz, para o
tempo que eu existia.
Hoje completa duas semanas que Pedro dorme e pela primeira vez em catorze dias eu decido que não vou até ele. Hoje vou direto para ARTAME e vou me afundar em trabalho,
afundar em mim mesma.
Daniel obedece meu pedido prontamente, e uma dúvida me atormenta durante o caminho: Onde está a família de Pedro?
- Daniel, posso fazer uma pergunta?
- Sim. – ele me observa pelo retrovisor.
- Onde está a família do Pedro? – ele arqueia as sobrancelhas e respira fundo.
- Srtª Francis, eles moram na Alemanha, ou melhor, ele mora na Alemanha, apenas o Avô paterno de Pedro, é a única família dele.
- Desculpe, como assim? – estou assustada agora. – Como assim, apenas ele?
- Pedro Villas Boas, o proprietário da ARTAME, cresceu em um orfanato. O Sr. Joseph Villas Boas o adotou de longe, nunca dividiram o mesmo teto, mas tinham contato
diário. Ele financiou todos os estudo do Sr. Villas Boas, tudo que ele precisou aprender foi Joseph que custeou. Sr. Joseph, sozinho, sem esposa ou filhos, se viu
diante de milhões e sentiu que por Pedro ele poderia fazer algo, e fez. Criou-o à distancia, o ensinou a chamá-lo de avô e passou para Pedro Villas Boas os melhores
valores de um homem, caráter e dignidade.
- Pedro... orfanato... Deus do céu! – balbuciava as palavras.
- Sim, Pedro Villas Boas foi encontrado ainda bebê em um terreno baldio, abandonado pouco tempo após o parto.
E me flagro olhando para minha vida, olhando para o que eu chamava de azar, azar por ter perdido meus pais? Deus, me perdoa, esqueci de agradecer pelo precioso tempo
em que tive o privilégio de tê-los por perto, o cheiro deles, as vozes deles, as broncas e o barulho de xícaras no café da manhã. Deus, me perdoa por eu chamar de
desgraça, me perdoa por eu esquecer ou não entender seu plano de ganhos, percebemos nossa riqueza ao olharmos para o nosso prato cheio e lembrarmos de alguém faminto.
Pedro é o faminto dessa situação.
Meu coração doeu, minha alma doeu e como um golpe senti culpa por ser quem eu sou.
O restante do caminho foi em silêncio, não havia mais nada a ser dito, nada poderia explicar a situação, nada estaria à altura dessa minha alma perdida.
Invadi minha sala e por lá fiquei trancada, ignorando Vanessa, Cristina e qualquer filho da puta que caminha sobre o império do homem que cresceu sozinho na pior
solidão.
Chorei por horas, pensei por horas e me arrependi de não tê-lo visitado hoje, mas eu vou essa noite, vou avisar que estou aqui.
Entre meu choro compulsivo, etiquetas e a poeira tanto do meu corpo quanto das caixas, o dia quase se fecha e um pouco antes de eu colocar a mão na maçaneta o meu
telefone toca.
- Caroline. – atendo com a voz embargada.
- Você fica melhor dançando do que chorando. - uma voz baixa, rouca e conhecida invade meu corpo e eu fico sem reação. Pode ser um sonho, pode não estar acontecendo
e eu fico em silêncio segurando o telefone.
- Fale comigo. – Pedro pede mas eu não tenho forças para falar, eu solto o telefone no chão e corro em direção à saída. Daniel me espera com um sorriso no rosto
e com a porta do carro aberta.
- Daniel... ele... ele. – eu não consigo falar, eu gaguejo e choro enquanto rio.
- Sim, hoje pela manhã assim que a deixei, meu celular tocou, era ele. – Daniel sorriu, Pedro é um bom patrão. – Ele havia acordado de madrugada, ele pediu o notebook
dele, deduzi que fosse para fazer o que faz há dois meses.
- Me espiar...- sorrio o melhor sorriso.
Chegar no hospital parecia impossível. O percurso ficou longo e meu coração entrou em colapso, comecei a conversar em disparada com Daniel que sorria ao me ver sorrindo.
Entrei sem olhar para os lados, um único destino, um único caminho. Corro e abro a porta do quarto, me vejo no céu.
- Pedro... – caio de joelho sem forças para chegar até ele.
- Minha menina do arquivo, minha Carol... – voz fraca, rouca, amo esse homem com toda força.
- Não pode simplesmente atravessar ruas sem olhar para os dois lados! – o advirto chorando, rindo e levantando-me. Preciso encostar nele, senti-lo com minhas mãos.
- Não consegui olhar para lado algum se não em sua direção. – ele rebate tão carinhoso e alcança minha mão.
- Pedro, eu te amo. – confesso e beijo sua boca.
- Acho que amo mais. Pensei que esse amor me fizesse segurar um carro com meu corpo. – ele faz piada. Meu menino do orfanato acordou do seu sono profundo e me olha
como se fosse a primeira vez, isso me renova.
- Você dormiu por catorze dias, eu morri nessas duas semanas. – confesso.
- Sonhei com você catorze vezes, catorze maneiras doces de Carol. Durante catorze noites você esteve aqui e hoje quando acordei, olhei para o lado e reparei em suas
cartas. – ele beija meus dedos. – Hoje você não veio. – ele mostra as cartas na sequência e falta a de hoje. – Você me devia essa visita.
- Me perdoa. – brinco como ele e beijo sua boca demoradamente. – Estou aqui, Pedro. – digo com os lábios encostados nos lábios dele.
- Sim, você está aqui. – ele coloca minha mão sobre seu coração. – Eu te amo, Caroline de Francis, a ponto de parar um carro ou um caminhão com meus dentes. Precisei
de catorze dias com você em mim e catorze noites com você em meus sonhos. Eu te amo da melhor forma, o que faz o melhor de mim.
- Sou apenas a menina do arquivo.
- Não, você é a minha Carol.
- Estou atrasada, Sara, muito atrasada!
- Não está! Calma!
- Ele não gosta de atrasos!
- Vai dar tudo certo! – ela fala e como uma brisa esses últimos dois anos me invadem, o pedido de casamento lindo que ele fez no Sul de Minas e definitivamente seu
celular não funcionou. Pegamos carona com um pessoal que estava de charrete, o carro quebrou e não tínhamos como nos comunicar. Rio alto e Sara para atrás de mim,
nosso reflexo está no espelho.
A equipe de Eduardo esteve aqui novamente, assim como na primeira vez que pisei nesse apartamento. As melhores lembranças, tudo que vivi com ele, de todas as formas,
a maneira intensa e todas as dores. Sim, as dores, as que fazem o ser humano crescer e ser sábio.
- Você está linda! – Sara exclama.
- Obrigada, será que ele vai gostar? – pergunto olhando o tomara que caia branco, justo até a cintura e esvoaçante e quase armado até o pé.
- Ele vai amar. – Sara responde enquanto ajeita a faixa em seda em tom rosa pastel que está disposta em minha cintura.
Caminho até a sala e desço pelo elevador privativo, estou sozinha e meu mundo está completo. As lembranças são as melhores, é como um sonho bom que sorrio ao lembrar.
Ele me ajudando com as caixas, nosso bolo que não cresceu, o ciúme dele aos pés do Cristo Redentor, nosso primeiro casamento... o que acontece em Vegas... fica em
Vegas! Não, não fica! Eu trouxe algo que aconteceu lá, e contei para todo mundo, notícia feliz em minha vida! A menina do arquivo e seu garoto do orfanato! As pessoas
mais sortudas do planeta!
Daniel me espera com a porta do Rolls Royce negro e reluzente aberta, alugado especialmente para hoje e nosso destino agora é a Catedral da Sé e depois uma festa
para comemorar a vida de duas vidas tão diferentes e tão iguais.
Ao som de Ave Maria eu entro na Catedral com meu braço em torno do braço de Joseph Villas Boas, o homem que amou Pedro simplesmente pelo ato de amar.
Lá do altar, Pedro sorriu para mim e uma nova canção se fez, à base de caixas de arquivos e murmúrios de prazer. Porque quando ele sorriu, enquanto eu caminhava
em sua direção, eu escutei o sim de nossos votos, de nossa vida e talvez seja esse o real plano de Deus. Encontrar a felicidade dentro de nossa alma. Um verdadeiro
plano de ganhos.
Fim
Cena Bônus
Depois dos dias...
Como explicar que ela é tudo que preciso, que nela me perco sabendo que posso me encontrar e me perder novamente? Ela entende meus desejos e a mim, minhas vontades
e sabe como ninguém deixar minha vida assim, perfeita.
O dia não poderia ser mais perfeito. Desde o céu azul radiante, a presença das pessoas que são importantes para mim, até este momento em que ela entra e passa a
tocar a canção que prova que não estou num sonho. A música escolhida é a Ave Maria, seguida pela marcha nupcial e meu coração salta ao ver a mulher que amo, amo
de maneira irreversível e quase sem controle, caminhando em minha direção. Ela me faz acreditar em coisas impossíveis, me faz entender que nem tudo é dinheiro ou
sobre o que os outros vão pensar.
Ela é a menina doce do arquivo, que guarda meus segredos e fabrica alguns comigo; ela é meu melhor ponto de vista sobre o mundo e meu porto seguro.
Carol caminha e meus olhos estão nela, assim como sempre estiveram, desde quando eu a vigiava através de câmeras de segurança, ao descobrir que dentro da minha empresa
havia alguém com alma e que poderia me salvar.
- Sou apenas a menina do arquivo! – ela disse e mal sabia o quanto faria diferença em minha vida. Mal poderia imaginar que apenas por caminhar todos os dias dentro
de sua sala apertada, já me fazia feliz.
Quando eu entrei em seu apartamento e declarei a foda que gostaria de ter, eu não sabia que estava prestes a fazer amor, mas tinha a esperança de que, de alguma
maneira, ela me salvasse de meu purgatório particular.
A menina sozinha, de apartamento simples, que guardava com esforço algum dinheiro para um carro semi novo, dividiu comigo algumas riquezas, seu precioso tempo e
agora vai dividir sua vida e eu sou o cara mais feliz do planeta por isso.
Enquanto ela caminha calmamente, me lembro da primeira vez em que a vi. Ela ajudou a Velma com o carrinho de correspondências; ele estava pesado e no olhar de Carol
havia bondade, havia tudo aquilo que pensei ter sido exterminado da raça humana.
Depois disso, passei a observar a pequena menina do arquivo e tudo se tornou um vício. Eu precisava da minha dose de Carol diariamente e passei a salvar cada dia
de gravação em pastas específicas: dia da dança, quando ela ficava até mais tarde e ao som de algum hit ela dançava e guardava as caixas; dia do cachorro, quando
ela colocou no chão sua marmitex para um cachorro que estava na rua, voltou para o trabalho e eu pedi que entregassem um lanche para ela; dia do strip, achei que
fosse morrer ao ver Carol arrancando a blusa. Naquele dia prestei uma linda homenagem a essa bela mulher do arquivo como não fazia desde a minha adolescência.
Sim, esta mulher de noiva que vem em minha direção me tirou do eixo muito antes.
Eu precisava trepar com ela, eu precisava da famosa foda sobre a mesa do meu escritório e teria que ser ela, e o tempo passava, e eu precisava elaborar algo, ter
uma ideia que pudesse ser convincente. Então tive a melhor ideia, antecipar a mudança do arquivo, eu precisava ir para cama com ela.
Liguei para o outro prédio e pedi a remoção imediata. Ainda tive que esperar por dois penosos dias, quando começaram a transportar as caixas do outro prédio, e eu
não saí dos escritório. Olhei cada movimento da mulher que logo mais eu conheceria pessoalmente e meu objetivo seria alcançado.
Já era tarde e ainda faltavam algumas caixas, resolvi ligar e escutar sua voz e, mesmo assim, decidi que era pouco, precisava de mais, precisava sentir o seu cheiro
e ver o quanto estava empoeirada.
Desço mais de oitenta andares e chego ao paraíso. Ela estava lá, trabalhando como poucos trabalham por aqui, e eu comecei a enxergá-la de outra forma, mas ainda
com o mesmo objetivo: eu vou fazer sexo com você, Caroline.
Eu a ajudei com as caixas e pensei que pudesse ser ali mesmo, mas não. Eu precisava de mais tempo com ela, e ela está cansada, suja e com um humor que iria transformar
nosso tempo juntos numa experiência ruim.
Eu precisava de um outro lugar, e então, partimos para seu apartamento depois de muita insistência para que ela aceitasse minha carona. Deixei-a dentro do seu apartamento
e esperei por quase trinta minutos, até que tomei coragem - essa é a palavra. Eu precisava de coragem para foder uma funcionária e depois disso torcer para que ela
não me processasse.
Apertei a campainha e quando eu a olhei, de toalha, cheguei a uma conclusão simples: ela é linda e possivelmente vou precisar de muito mais que uma foda; talvez
meus planos não tenham sido bem calculados, e hoje, olhando para minha ex-funcionária, agora minha sócia na ARTAME (sim, eu tive que demiti-la por assédio sexual),
agradeço por tudo ter saído exatamente diferente do que planejei. Saiu de forma perfeita.
- Oi. – ela disse sem som. Linda com um vestido branco perfeito.
- Oi, você conseguiu ficar ainda mais linda. – disparei e ela sorriu, e isso é o que preciso, seu sorriso, Carol.
Enquanto o padre faz todo o ritual, eu penso no quanto eu estaria infeliz se não tivesse tido a ideia absurda que tive, a maior de todas as loucuras.
Algo sobre alegria e tristeza é dito e eu conheço essas duas dimensões.
Ao longo da cerimônia fico observando minha esposa. Oh, claro! Ela já era minha esposa desde Las Vegas. Nunca anulamos aquele casamento! E nesse olhar, me dou conta
de que a felicidade deve ser alcançada diariamente, uma busca constante. Mas como diz um sábio, que agora não me lembro o nome, o buscar em si já é felicidade.
Não era para Carol ser minha. Eu estava às portas de me casar com Jamile e ter um casamento vantajoso. Alguns milhões a mais na conta corrente e zero amor no saldo
bancário da vida.
E como os melhores perfumes vêm nos menores frascos, aqui está minha Carol, que volta e meia ainda se chama de “apenas a menina do arquivo”. Mas o que ela não sabe
é que naquele porão, como num conto de fadas, ela tornou-se a minha princesa; salvou-me das garras do dragão e me apresentou um reino de sonhos. A minha Princesa
Arquivista que teve o poder de transformar meu mundo em 14 dias...
Conheça outras obras da autora
CLUBE 13 GAEL
Victoria Campbell uma garota ingênua, bailarina, que ao sair da Escócia e mudar-se para América, vê sua vida totalmente transformada. Ao conhecer Evan Maccouant,
um milionário sedutor e repleto de mistérios, deixa-se encantar pela perspectiva do que ele representa: finalmente conhecer o amor. O que ela não sabe é que esse
bonito sedutor faz parte de uma sociedade secreta denominada o CLUBE 13. Um jogo onde só milionários participam, onde as “peças” são usadas por todos, e o maior
prêmio só um irá conquistar...
Em sua jornada, Victoria ira descobrir que amadurecer nem sempre é fácil, e que o amor pode estar rodeado de conspirações, traições, e luxuria.
Barbara Biazioli
O melhor da literatura para todos os gostos e idades