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Das sombras ele surgiu, com sangue na face, malícia no olhar e a sede tão intensa quanto a eternidade... E para sombras ele retornou... E num instante, apenas o vazio da escuridão.
Não havia mais ferimentos, somente o sangue seco recobria a pele nua, formando uma casca enegrecida e quebradiça que se esfarelou ao toque. A loucura parecia ter passado também, apesar de algumas memórias estranhas e dolorosas voltarem em relances desconexos.
Não diferenciava, ainda, as visões imaginárias e reais. E vultos vivos dançavam na frente dos olhos.
O corpo e a mente estavam curados. O primeiro, sem qualquer sequela.
Minhas roupas eram farrapos empoeirados. A camisa havia se desfeito como se roída por traças. O meu fedor era insuportável, igual ao dos corpos em decomposição. Eu parecia um morto que não fora aceito no outro mundo e jogado de volta para a vida. Os ossos estavam salientes e a pele se afundava na carne. Todas as minhas juntas estalavam devido à longa imobilidade.
Eram os únicos sons que quebravam o silêncio da cripta.
Não... Eu também podia ouvir meus pensamentos ecoarem e cada inspiração ribombava nos ouvidos.
Estava um breu total. Mas...
Eduardo Kasse é paulistano, nascido em 10 de abril de 1982. Escritor, palestrante e analista de conteúdos, vive nos mundos do planejamento estratégico da informação, edição de textos e literatura. É autor da série de fantasia histórica Tempos de Sangue.
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