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Os criados os chamavam de malenchki, fantasminhas, porque eles eram os menores e mais jovens, e porque assombravam a casa do Duque como fantasmas risonhos, entrando e saindo dos quartos, escondendo-se em armários para espiar, esgueirando-se pela cozinha para roubar o último dos pêssegos do verão.
O menino e a menina tinham chegado com um intervalo de semanas entre um e outro, mais dois órfãos das guerras na fronteira, refugiados de cara suja, arrancados dos escombros de cidades distantes e trazidos para a propriedade do Duque para aprender a ler e escrever, e para aprender uma profissão. O menino era baixinho e atarracado. Tímido, mas sempre sorridente. A menina era diferente e sabia disso.
Encolhida no armário da cozinha, ouvindo os adultos fofocarem, ela ouviu Ana Kuya, a governanta do Duque, dizer: “Ela é uma coisinha feiosa. Nenhuma criança deveria ter aquela aparência. Pálida e azeda como um copo de leite que fermentou”.
“E tão magra!”, a cozinheira respondeu. “Nunca termina de jantar.”
Agachado ao lado da menina, o menino se virou para ela e sussurrou: “Por que você não come?”.
“Porque tudo o que ela faz tem gosto de lama.”
“Eu acho gostoso.”
“Você comeria qualquer coisa.”
Eles curvaram as cabeças, encostando de novo as orelhas na fresta das portas do armário. Um momento depois, o menino sussurrou: “Eu não acho você feia”.
“Shhh!”, a menina chiou. Mas oculta pelas sombras densas do armário, ela sorriu...
Leigh Bardugo é autora best-seller do The New York Times de romances e contos de fantasia, incluindo Six of crows e Sombra e ossos, do universo ficional conhecido como Grishaverse. Leigh nasceu em Jerusalém, cresceu na Califórnia e se formou na Universidade de Yale. Atualmente vive e escreve em Los Angeles.
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