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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


Trilogia A PASSAGEM / Justin Cronin
Trilogia A PASSAGEM / Justin Cronin

 

 

                                                                                                                                                      

 

 

 

 

 

Quase um século depois que uma pesquisa científica financiada pelo Exército dos Estados Unidos foge do controle, tudo o que resta é uma paisagem apocalíptica. As cobaias utilizadas nos experimentos - prisioneiros a caminho do corredor da morte - escaparam do laboratório e iniciaram uma terrível carnificina, se alimentando de qualquer ser vivo com sangue nas veias e espalhando por todo o continente o vírus com o qual foram inoculadas.
Um em cada 10 habitantes pode ter sido infectado. Os outros nove se tornaram presas desses virais, criaturas animalescas extremamente ágeis e fortes cujos únicos pontos fracos parecem ser a hipersensibilidade à luz e uma pequena área frágil próxima ao esterno.
Em uma fortificação construída nas montanhas, cercada de muralhas de concreto e holofotes superpotentes, uma comunidade tenta sobreviver aos constantes ataques noturnos. Mas a precária estrutura que a protege está com os dias contados: as baterias que alimentam as luzes começam a falhar e uma invasão é iminente.
Não se sabe o que aconteceu ao resto do mundo: a comunicação foi cortada, não há governo e o Exército nunca cumpriu a promessa de voltar. Provavelmente estão todos mortos. Mas a chegada de uma misteriosa andarilha traz novas expectativas: ao que tudo indica, ela tem as mesmas habilidades dos virais, mas não sua necessidade de sangue. Agarrando-se a essa esperança, um grupo parte da Colônia para buscar mais sobreviventes - e a verdade fora dos muros.
Com uma narrativa tensa e bem estruturada, Justin Cronin constrói personagens de complexidade psicológica surpreendente. Na transição do mundo que conhecemos para um que não poderíamos imaginar encontra-se uma humanidade sitiada pelos próprios erros...

 

 

 


Tarde da noite, depois do jantar, da oração e do banho, se fosse noite de banho, e depois das últimas negociações para concluir o dia (Por favor, irmã, a gente não pode ficar mais um pouquinho? Por favor, mais uma história?), quando as crianças haviam finalmente adormecido e tudo estava muito silencioso, Amy as observava. Não havia regra contra isso e todas as irmãs haviam se acostumado com suas perambulações noturnas. Movia-se como uma aparição, indo de um cômodo silencioso a outro, deslizando pelas fileiras de camas onde estavam as crianças, com rostos e corpos adormecidos num repouso cheio de confiança. As mais velhas tinham 13 anos, à beira da idade adulta, as mais novas eram apenas bebês. Cada uma vinha com uma história, sempre triste. Muitas eram terceiros filhos deixados no orfanato pelos pais que não podiam pagar o imposto, outras eram vítimas de circunstâncias ainda mais cruéis: mães mortas ao dar à luz ou então solteiras e incapazes de suportar a vergonha, pais que desapareciam nos subterrâneos sombrios da cidade ou eram levados para fora do muro. As origens das crianças eram variadas, contudo seus destinos eram iguais. As meninas entrariam para a Ordem, dedicando os dias à oração, à contemplação e ao cuidado de crianças iguais às que elas próprias haviam sido, ao passo que os meninos se tornariam soldados, membros dos Expedicionários, fazendo um juramento de natureza diferente mas não menos inquebrável.
Mas nos sonhos elas eram crianças – ainda eram crianças, pensou Amy. Sua própria infância era uma lembrança tremendamente distante, uma abstração da história, e no entanto, ao olhar as crianças adormecidas, com sonhos saltitando pacíficos nos olhos sonolentos, ela sentia-se mais perto daquilo: de um tempo em que ela própria não passava de um ser pequenino no mundo, inocente do que havia adiante, da jornada longa demais de sua vida. O tempo era uma vastidão dentro dela, tantos anos que era difícil diferenciar cada um. E talvez por esse motivo ela perambulasse no meio delas: fazia isso para lembrar.
Era a cama de Caleb que ela deixava para o final, porque ele estaria esperando por ela. O bebê Caleb, mesmo não sendo mais um bebê, e sim um menino de 5 anos, rijo e enérgico como todas as crianças, cheio de surpresas, humor e verdades espantosas. Da mãe havia recebido os malares altos e esculpidos e a pele azeitonada de seu clã; do pai, o olhar obstinado, a especulação sombria e o cabelo preto e crespo, cortado curto, que no jargão familiar da Colônia era chamado de “cabelo de Jaxon”. Um amálgama físico, como um quebra-cabeça montado com as peças de sua tribo. Nos olhos dele Amy os via. Ele era Mausami, era Theo, era só ele mesmo...

 

 

 


O chão cedia com facilidade sob a faca, liberando um cheiro negro de terra. O ar estava quente e úmido; pássaros cantavam nas árvores. De joelhos, apoiando as mãos no chão, ela golpeava o solo, soltando-o. Um punhado de cada vez, e jogava de lado. Parte da fraqueza havia sumido, mas não toda. Seu corpo parecia frouxo, desorganizado, exaurido. Havia a dor e a lembrança da dor. Três dias tinham se passado, ou seriam quatro? O suor formava gotas em seu rosto; ela lambeu os lábios e sentiu gosto de sal. Cavava e cavava. O suor escorria, caindo na terra. É para onde tudo vai, no fim das contas, pensou Alicia. Para a terra.
O monte ao seu lado crescia. Que profundidade seria suficiente? A um metro o solo começou a mudar. Ficou mais frio, com odor de argila. Parecia um sinal. Jogou o corpo para trás, sentando-se sobre as botas, e tomou um longo gole do cantil. Suas mãos estavam em carne viva; a pele na base do polegar tinha se soltado quase inteira. Levou o dedo à boca e usou os dentes para cortar o pedaço de pele, que cuspiu na terra.
Soldado a esperava nos limites da clareira, a mandíbula trabalhando ruidosa num trecho de capim que ia até a cintura. A graça de suas ancas, a crina brilhosa, a magnificência dos cascos, dos dentes e dos grandes olhos negros: uma aura de esplendor o cercava. Quando queria, ele era dono de uma calma absoluta; depois, no instante seguinte, podia realizar feitos notáveis. Seu rosto sábio se levantou ao ouvi-la se aproximar. Sei. Estamos prontos. Ele se virou num arco lento, o pescoço abaixado, e a acompanhou na direção das árvores, até o lugar onde ela havia montado sua lona. No chão, junto ao saco de dormir ensanguentado, estava a trouxa menor, feita de um cobertor cheio de manchas. Sua filha tinha vivido menos de uma hora, mas naquela hora Alicia havia se tornado mãe.
Soldado observou enquanto ela saía de baixo da lona. O rosto do bebê estava coberto; Alicia puxou o pano para trás. Soldado baixou a cara para o rosto da criança, as narinas se abrindo, sentindo o cheiro. Nariz e olhos minúsculos, a boca um botão de rosa, espantosos em sua humanidade; a cabeça coberta por uma touca de cabelos ruivos e macios. Mas não existia vida, não existia respiração. Alicia tinha se perguntado se seria capaz de amá-la – aquela criança concebida em terror e dor, gerada por um monstro. Um homem que a havia espancado, estuprado, xingado depois de acabar. Como tinha sido idiota!...

 

 

 

 

 

 

 

O autor da trilogia, JUSTIN CRONIN, nasceu e foi criado na Nova Inglaterra e hoje, junto com a família, mora parte do tempo em Houston (Texas), parte em Cape Cod (Massachusetts).
Formado em Harvard, é professor-adjunto da Universidade Rice. É autor dos best-sellers A passagem, Os Doze, The Summer Guest e Mary and O’Neil (que ganhou os prêmios PEN/Hemingway e Stephen Crane).
Também foi ganhador das bolsas da National Endowment for the Arts e Pew Fellowship, além do prêmio Whiting Writers.
A passagem teve os direitos de lmagem adquiridos pela Fox 2000 e está sendo cotado para uma série de televisão.

 

 

                                         

 

 

 

 

 

 

      

 

 

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