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Três crianças estão estendidas sobre as rochas à beira da água. Uma rapariguinha de cabelo escuro. Dois rapazes, ligeiramente mais velhos. Esta imagem permanece gravada para sempre na minha memória, como uma frágil criatura preservada em âmbar. Eu própria e os meus irmãos. Lembro-me de como a água ondulava à medida que eu corria os meus dedos ao longo da sua superfície brilhante.
— Não te inclines tanto, Sorcha — disse Padriac. — Podes cair.
Era um ano mais velho do que eu e servia-se dessa pequena diferença para exercer uma certa autoridade sobre mim. O que era compreensível, suponho. No fim de contas, éramos seis irmãos, cinco dos quais mais velhos do que ele.
Ignorei-o, tentando alcançar as misteriosas profundidades.
— Ela pode cair, não pode, Finbar?
Um longo silêncio. Como este se prolongasse, olhámos ambos para Finbar, que estava deitado de costas, estendido sobre a rocha tépida. Não estava a dormir; os seus olhos reflectiam o cinzento-pálido do céu outonal. O seu cabelo estava espalhado sobre a rocha num emaranhado negro selvagem. Havia um buraco na manga da sua jaqueta.
— Os cisnes vêm aí — disse Finbar por fim. Sentou-se lentamente e apoiou o queixo nos joelhos dobrados. — Vão chegar esta noite.
Por trás dele, uma brisa fez mover os ramos de carvalhos e ulmeiros, freixos e amieiros e espalhou em todas as direcções as folhas douradas, cor de bronze e castanhas. O lago estava rodeado por montes cheios de árvores, abrigado como num grande cálice.
— Como é que sabes? — perguntou Padriac. — Como é que podes ter a certeza? Pode ser amanhã ou no dia seguinte. Ou podem ir para outro lugar qualquer. Tens a mania de que sabes sempre tudo.
Não me lembro de Finbar responder, mas mais tarde, nesse dia, quando a noite se aproximou, levou-me de novo até à margem do lago. Naquela meia luz, sobre a água, vimos os cisnes a regressarem a casa. Os últimos raios de sol apanharam um movimento branco no céu que escurecia. Em seguida já eles estavam suficientemente perto para podermos ver o seu voo em formação ordenada...
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Juliet Marillier nasceu na Nova Zelândia, em Dunedin, uma cidade com fortes raízes na tradição escocesa. Licenciou-se com distinção em Linguística e Música, na Universidade de Otago, e tem tido uma carreira variada, que inclui o ensino, a interpretação musical e o trabalho em agências governamentais.
Juliet vive numa casa de campo centenária, perto do rio, em Perth, na Austrália, onde escreve a tempo inteiro. É membro da ordem druídica OBOD. Partilha a sua casa com dois cães e um gato.
É uma autora internacionalmente reconhecida e os seus romances já conquistaram vários prémios.
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