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Inglês de Sousa
Inglês de Sousa (1853-1918) foi testemunha de uma notável época de transformações políticas, religiosas e literárias no Brasil.
À questão social, vista na chaga vergonhosa da escravidão, segue-se a questão religiosa, abalando os alicerces do catolicismo, até então intocável.
A guerra do Paraguai mostra as deficiências da organização militar e faz a monarquia sofrer os primeiros abalos. O Segundo Império deixava escapar a sua falência, subjugado pelo espírito das campanhas abolicionista e republicana, que se acentuam a partir de 1870.
É nesse contexto que Inglês de Sousa escreve seus Contos amazônicos, publicados em 1893. Os contos são como capítulos seriados de um romance que situa e constrói a região amazônica aos olhos do leitor e em que o exótico é aos poucos transfigurado, transformando-se na coisa como ela é. Nietzsche falava que somente aquilo que é maior — o presente, seria capaz de julgar o passado.
É preciso parâmetro para se lançar ao julgamento do que é, de fato, boa literatura, a ser guardada nos manuais para a posteridade.
“Contos Amazônicos”, do paraense Inglês de Sousa, respeita esses preceitos, destacando-se na literatura nacional pelo que representou no naturalismo de língua portuguesa.
As nove histórias que compõem a obra mostram o vigor lingüístico do autor, dosando ficção com o relato descritivo e, portanto real, de uma das regiões do País mais suscetíveis a lendas e estórias — a Amazônia.
Inglês de Sousa enquadra-se no mesmo time de escritores influenciados pelo cientificismo nas últimas décadas do século XIX e através da literatura francesa, sobretudo de Émile Zola.
Para esses autores, a ciência seria capaz de justificar todos os fenômenos da natureza, inclusive o modo como o homem se sobressai às forças naturais. Alia-se a isso a série de mudanças que o autor acompanha no país, como a derrocada de crenças e instituições à época em falência. Esses cenários fizeram de Inglês de Sousa um personagem diferenciado entre os demais autores de sua escola literária.
Em “Contos Amazônicos”, o naturalismo aproxima os textos de Sousa, quase crônicas da selva, de um enfoque jornalístico ou histórico.
A literatura sai ganhando com as descrições minutas do cenário principal, a floresta, e com o vocabulário regional, inclusive citado ao final do livro em glossário.
“Contos Amazônicos” recupera a imagem da luta do homem com o meio selvagem, somando-se a isso os embates sociais e políticos do final do século XIX .
O compromisso de Inglês de Sousa, que também ocupou cargos públicos, é com a realidade, daí o realismo naturalista pulsante em seus textos, uma homenagem a região em que nasceu e viveu antes de mudar-se para São Paulo.
Carlos Cunha Arte & Produção Visual
Planeta Criança Literatura Licenciosa