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Series & Trilogias Literarias
Bryan está de queixo caído e boca aberta, com aqueles olhos verdes semicerrados, em chamas. Fúria e choque não parecem bons para ele. As emoções distorcem seu belo rosto, estragam as linhas suaves de sua pele, fazendo-o parecer bem mais velho. Seus punhos estão fechados, apertados em seus lados, mas ele pisca uma vez e a reação diminui. Há muitas coisas que eu não sei sobre Bryan Ferro, mas uma coisa eu sei, ele é uma merda em manter as coisas escondidas. Seus pensamentos dançam em seu rosto de vez em quando, e é por isso que ele está desconfiado de mim.
Virando abruptamente, Bryan pressiona seus dedos em sua têmpora direita. Sua voz sai como um grunhido.
— Eu lhe disse para ir embora.
— Seus ombros estão tensos, cada músculo está apertado a ponto de eu poder ver as curvas de seu corpo sob essa camisa. Ele flexiona a mão que está ao seu lado antes de deslizar em seu bolso. Bryan pode ser capaz de esconder tudo, de todos os outros, mas não de mim.
— Sim, eu ouvi essa parte. — Eu ajo como se eu não me importasse, deito-me no tapete, e dobro as minhas mãos atrás da minha cabeça. O piso é suave e difuso. Levanto os meus joelhos, eu deixo a queda do meu vestido em torno dos meus tornozelos e até meus pés, para sentir a pilha maci entre os dedos dos pés. O tapete no meu antigo quart parecia como um saco de batata, em relação a este material.
Mesmo com Bryan irado, eu estou sorrindo. A vozinha n parte de trás da minha cabeça me diz que eu perdi minh mente. Eu respondo de volta que eu nunca tive um control firme sobre isso de qualquer maneira.
Bryan pode ver meu reflexo no espelho, mas eu não
posso ver mais do que as suas costas e a maneira como ele
agarra sua cabeça como se fosse explodir. Ele está furioso
comigo? Não consigo entender sua raiva, mas transborda
para fora de sua boca de novo, espetando como espinhos,
neste momento.
— Se você não consegue entender os termos deste
acordo, então eu temo que nós não tenhamos um.
— O quê? — Sento-me e giro em torno, de modo que
estou de frente para as suas costas.
Bryan se vira, e a tensão que está estampada no seu
rosto é horrível. Eu encontro o seu olhar, mas eu não posso
olha-lo sem querer corrigir o que está fazendo com ele. Todas
as imagens na imprensa mostram a versão de Bryan que eu
conhecia, leve e despreocupado, mas este homem, aqui, não é
nenhuma dessas coisas. Algo está esmagando-o de dentro
para fora e deixando-o em pedaços. Seu corpo está tremendo,
ele está tão bravo. Ele tenta respirar fundo, mas isso só faz o
seu rosto ficar mais apertado.
— Você me ouviu. Se você não fizer as coisas do meu
jeito, eu vou arruinar você. Este não é o meu jeito, você sabe
muito bem disso. Saia daqui.
Ele não grita, mas suas palavras me fazem tremer. Não
há calor, não há compaixão. Talvez eu não o conheça mais e
ele está certo. Apertando os lábios, eu engulo minha resposta,
mas esta incha dentro de mim e enche meu peito. Eu peguei
meus sapatos saltos de volta e calcei em meus pés cansados
antes de levantar. Eu ando mais e pego minha bolsa.
Eu deveria sair. A vozinha dentro de mim canta como
um duende com uma voz agradável, sim, vá. Faça isso.
Agora.
Meus olhos estão fixos na porta como se fosse o
caminho para o inferno. Algo sobre sair agora parece errado,
mas não posso entender sobre o que está prendendo meus
pés no lugar. Caramba, é o pensamento que está me
segurando. Ele está me prendendo aqui e eu não posso me
mover. Parece como engolir o vômito e eu não posso fazê-lo.
Eu sou o cérebro danificado, mas não posso ser algo que não
sou.
Girando sobre meus pés, eu atravesso o piso acarpetado
e elegante, e caminho até ele. Bryan não se vira para olhar
para mim. Em vez disso, suas mãos estão segurando a parte
superior do bar como se ele quisesse arrancá-lo da parede.
Suas costas estão curvadas e sua cabeça está pendurada
entre os ombros, como se ele estivesse tentando não me
rasgar em pedaços. Outra mulher teria corrido agora mesmo,
mas eu sou a dopada que anda mais perto.
— Eu sou uma idiota, — eu digo, enquanto olho para os
meus sapatos, e rio de leve. É o tipo de som que não tem
alegria e revela uma alma torturada. Meus olhos levantam
para seus ombros. Eu fico lá por um momento esperando que
ele se vire, mas ele não vira. Bryan não fala ou levanta o
olhar. Ele permanece debruçado sobre o bar como um troll 1.
Eu continuo, — vê-lo hoje à noite foi terrível e
maravilhoso. Isso evocou memórias e sentimentos que eu
tinha tempo esquecido há muito. Escrever sobre, é uma
coisa, mas vê-lo novamente está além das palavras.
Desculpe-me se eu o machuquei, mesmo que eu não entenda
o que eu fiz. E seu eu pudesse corrigir. Eu...
Por que estou fazendo isso? Eu estou me desculpando
com as suas costas, o homem não tem sequer a decência de
se virar e encarar-me. Eu respiro fundo e endireito a minha
espinha.
— As pessoas cometem erros, Bryan, e parece que o
meu maior erro foi conhecê-lo.
1
Troll – é uma gíria que designa uma pessoa cujo comportamento tende sistematicamente a desestabilizar uma
discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nela. Há trolls de todo tipo, desde o mais ignorante e rude
que xinga e provoca, até o mais apto intelectualmente que discursa com o objetivo de desestabilizar o interlocutor
e levá-lo a fúria, para depois desqualificá-lo, matando seu argumento e abalando sua reputação.
A fúria me inunda quando eu corro pela sala. Eu agarro
a maçaneta da porta e não olho para trás, apesar de sentir
seus olhos em mim. Dane-se ele. Eu vivi coisas piores. Eu
digo essas palavras uma e outra vez, porque aconteceu.
Depois corro pelo corredor, aperto o botão para baixo no
elevador uma e outra vez, perguntando por que eu estou tão
chateada. Depois de um momento, eu sinto o pensamento
picar os meus olhos e apertar a minha garganta e eu sei
exatamente por que estou tão chateada.
É possível que as coisas estejam invertidas, e como eu
não conhecesse o verdadeiro Bryan Ferro, aquele com quem
dormi todos esses anos, era o falso.
CAPÍTULO 2
Eu não posso ir para casa e enfrentar Neil, por isso eu
telefono para Maggie. Ela atende no terceiro toque. Eu estou
andando na rua em frente ao hotel com o meu telefone
pressionado ao meu ouvido. É tarde e escuro. Evitando as
sombras, eu ando mais perto da rua do que no hotel.
— Maggie. — Eu tento esconder a tensão na minha voz,
mas ela ouve. Nós nos conhecemos há muito tempo. — Vou
tirar suas bolas fora.
— O que diabo aconteceu? Onde você está? — Ela me
enche de perguntas, até que eu possa finalmente fazê-la calar
a boca.
— Eu preciso de um lugar para dormir. Eu não posso
ver Neil agora e eu não tenho outro lugar para ir.
Maggie fica em silêncio.
— O que é meu, é seu. Você sabe disso, mas eu não
tenho certeza que você vá gostar.
— Em qualquer lugar é melhor do que aqui ou com Neil.
— Eu sinto uma náusea fazendo seu caminho até a minha
garganta. Lágrimas estão chegando, e tenho a sensação de
que vai ser um maremoto.
— Claro, claro. Eu estarei aí em cinco minutos.
— A linha de Maggie desliga, e eu fecho o meu telefone e
o coloco em minha bolsa.
A cidade se move em torno de mim, mas parece que eu
estou em uma bolha. As pessoas passam na calçada, mas eu
não as noto. Eu passeio, perdida em pensamentos, agarrando
minha bolsa perto do meu corpo. O ar da noite tem aquele
cheiro que é distintamente de Nova York. Eu o inspiro e
quando me viro, quase bato em alguém. O cara é uma
parede, de marrom e preto. Seu casaco tem cheiro de cigarros
velhos e naftalina.
Antes de eu ter tempo para descobrir o que está
acontecendo, ele pega a minha bolsa, em seguida, coloca a
mão no centro do meu peito e me empurra, com força. Eu
grito, tropeço e caio para trás, enquanto minha bolsa é
arrancada de minhas mãos. O cara se vira e está pronto para
correr, mas eu não estou com disposição para perder a bolsa.
Eu estou fodidamente quebrada. Todo o dinheiro que eu
tenho está lá dentro.
Antes que eu saiba o que estou fazendo, eu pego um dos
meus sapatos de salto alto e atiro em sua cabeça. Acerto e ele
cai na calçada. Poucas pessoas param para assistir, mas
ninguém faz nada - típico dos nova-iorquinos. Todo mundo
quer ver, mas ninguém ajuda.
Nesse ponto, tudo acontece em câmera lenta. Eu estou
em pé, mesmo que eu não me lembre de ficar pé. Um pé está
congelado, sobre o cimento frio, enquanto o outro ainda está
calçado. O ladrão levanta a mão e bota na parte de trás de
sua cabeça e puxa-a. Ele olha para os seus dedos, seus olhos
escuros apreciando o sangue vermelho e pegajoso em sua
mão. A ponta do meu salto que bateu com a parte traseira de
seu couro cabeludo, deve tê-lo cortado.
Meu coração para, quando o sujeito se vira para mim.
Seus olhos têm um olhar enlouquecido e os ombros tremem
como se ele fosse me rasgar ao meio.
— Você. — Ele diz isso como se fosse o meu nome e ele
me odeia.
O homem dá passos em direção a mim e fala
novamente, mas suas mãos lentamente movem para cima,
como se ele fosse me atacar ou me estrangular. Eu suspiro
alguma coisa, mas ele não sai antes de eu dar um passo para
trás, aterrorizada. Meu pulso ruge em meus ouvidos, então
olho em volta a procura de ajuda, mas não vejo ninguém. A
multidão se afastou, ou talvez eu tenha ido embora. Onde
está um policial quando eu preciso de um?
O resto acontece freneticamente rápido. Alguém grita
comigo, enquanto o homem procura o meu pescoço. Eu caio,
mas ele pega no meu ombro. Ele aperta-me com força,
fazendo com que o meu pescoço estale para trás enquanto ele
grita na minha cara.
— Sua pequena vadia!
O resto de suas palavras se tornam zumbidos, enquanto
ele me aperta mais. Estou ciente do vento, do ar da noite, e
do homem que está me estrangulando. Em algum momento,
as mãos deslizam até o pescoço. Eu agarro em suas mãos e
tento gritar, mas não sai nada. Eu não entendo por que
ninguém nos vê, por que eles simplesmente deixam esse
ladrão me machucar.
Balançando as minhas pernas, eu o chuto, mas não
adianta. Eu não sou forte o suficiente. Eu tentei tudo o que
sabia fazer e nada funcionou. O homem me atira e bate
minhas costas contra uma parede de tijolos. O frio me sacode
e me pergunto como chegamos ao beco ao lado do hotel, mas
os pensamentos cessam quando vejo o olhar em seus olhos.
Um sorriso mal aparece em seu rosto quando ele rasga o
ombro do meu vestido. O tecido sai em sua mão e permite
que o vestido deslizar alguns centímetros.
Abro a boca para gritar, mas sua mão imunda me cobre,
impedindo a saída do som. Sua mão me tateia, sentindo
meus seios enquanto ele sussurra em meu ouvido todas as
coisas horríveis que ele pretende fazer comigo. — Então, eu
vou levar a minha faca e... — Suas palavras desagradáveis
param imediatamente, após o som do estalar de madeira.
Assim como, de repente, a mão no meu pescoço se foi e
eu suspiro em uma respiração trêmula e olho para cima. Está
muito escuro para ver, mas há um homem vestido de
smoking, avançando sobre o ladrão. Ele lança socos uma e
outra vez, até que eles estão na parte de trás do beco, presos
por uma parede de tijolos. O ladrão é espancado e sangra,
mas ele não para de lutar. Nem o homem de smoking. Ele
distribui socos como um boxeador, tanto assim que é
hipnótico assistir. Quando a faca aparece, eu esperava que as
coisas se transformassem em favor do ladrão, mas isso não
acontece. O homem de smoking desarma o idiota e toma a
arma. Aconteceu tão rápido que eu não posso dizer como foi
feito. O homem de smoking recua seu braço como se
estivesse para empurrar a faca no peito do cara.
— Pare! — Eu chamo antes de perceber o que estou
fazendo. Uma das minhas mãos está segurando meu vestido
no busto e a outra está mal tocando meus lábios. Eu não
posso ver o cara morrer, mas eu não consigo desviar o olhar
também.
O homem de smoking não para. Um grito tremendo sai
dilacerado da minha garganta quando ele bate a faca no
ombro do ladrão. O bandido pega no seu braço e desliza para
baixo da parede, segurando seu ombro enquanto o casaco
fica encharcado de sangue. Ele olha diretamente para mim
com raiva.
O homem de smoking chuta o ladrão uma vez, e uma
voz familiar disse:
— Vá embora.
Eu tremo quando ouço isso, porque eu sei quem é ele,
Bryan. Ele deve ter me seguido. O medo agarra e azeda
dentro do meu estômago, enquanto eu olho para as suas
costas. Bryan não vira o rosto para mim. O ladrão comprime
os lábios e se levanta do chão do beco. Ele faz o seu caminho
passando por mim, e não diz nada.
Um tremor se apodera de mim e escorre pela minha
espinha, me fazendo ofegar. É quando ele se vira. O rosto de
Bryan está pálido e coberto de um brilho fino de suor. Ele
caminha de volta para mim e eu posso ver onde ele tomou
algumas pancadas. Há um rasgo em sua camisa, sob a lapela
do paletó, onde a faca cortou antes Bryan tomá-la do ladrão.
Passo a passo, ele caminha em minha direção, e eu
estou mais assustada por Bryan que qualquer coisa que já
encontrei. O que foi isso? Ele teria matado o homem se eu
não tivesse gritado? Eu não consigo parar de tremer.
Bryan alcança os meus ombros para me firmar, e eu
sinto aquele choque familiar que acompanha o seu toque.
Seu polegar esfrega suavemente sobre minha pele. — Você
está bem?
Mas, é muito. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso.
O pensamento não faz sentido, mas eu sei que tenho que
fazer com que ele me liberte. Seu toque tem uma maneira de
me desfazer, e eu estou caindo aos pedaços. Recuso-me a
deixá-lo ser o único a testemunhar isso. Eu empurro para
longe, e aceno com a cabeça rapidamente.
— Eu estou bem.
As mãos de Bryan permanecem paradas no ar por um
momento, antes de ele abaixa-las junto com seu olhar. Ele
observa o chão por um segundo e quando ele levanta o
queixo, vejo um sorriso nos seus lábios.
— Mentirosa. Você está longe de estar bem, mas eu
estou contente que você esteja parada.
Eu fico olhando para ele, incapaz de encontrar uma
resposta. Sua voz soa carinhosa, quase arrependida. Ele olha
por cima do meu ombro para alguém e, em seguida, diz:
— A sua carona está aqui. Da próxima vez, não tente
derrubar um assaltante por si mesmo.
Eu falo sem querer, mas as palavras saem e caem fora.
— Da próxima vez, não mate um homem por roubar minha
bolsa.
O canto dos lábios de Bryan puxa para cima, como se
quisesse sorrir, mas ele não sorri.
— Eu não iria matar um homem por roubar uma bolsa.
Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
— Honestamente, eu não sei mais. Eu achava que sabia,
mas depois disso... — Eu balanço minha cabeça e fico sem
palavras. Bryan mudou o ataque no último segundo. Essa
faca não estava voltada para o ombro do homem — estava
dirigida para o seu coração. — Você ia matá-lo. Eu vi, você
não pode me dizer que não iria.
Bryan se inclina mais perto, e quando ele fala seu hálito
quente sussurra contra a minha orelha.
— Talvez, mas não foi porque ele pegou sua bolsa. — Ele
se inclina para trás e desliza as mãos nos bolsos, enquanto
seus olhos verdes me percorrem. — Ninguém toca em você,
enquanto você está comigo.
— Eu engulo em seco e olho para ele, com o coração
ainda disparando.
Maggie aparece atrás de mim um segundo depois. Ela
pega meu ombro e me vira.
— Hallie, diabo está acontecendo, e por que você está
aqui no beco sozinha? — Ela vê a maneira que eu estou
segurando meu vestido e o tecido rasgado. A preocupação
persiste em seu rosto, esperando pela minha resposta.
— Eu não estou sozinha, — mas quando me viro para
olhar, Bryan já se foi.
CAPÍTULO 3
Eu estive em um casulo de tristeza e este evento o
quebrou. Minha atordoada indiferença fratura e estilhaça,
como vidro barato. Eu olho para a bolsa presa em minha mão
e me pergunto o que há de errado comigo, mas ainda mais,
eu não consigo parar de pensar em Bryan, como ele veio do
nada e quase matou o homem que tentou me machucar.
Pare de pensar assim, eu me repreendo. Bryan agiu
como um lunático. A imagem de Bryan esfaqueando o cara
persiste através dos meus olhos mais uma vez e faz o meu
estômago embrulhar.
Maggie está falando, mas eu não disse muito. Estamos
em seu velho Ford Escort. A coisa corre mal, mas eu não
posso reclamar. Eu nem mesmo tenho um carro, não mais.
Maggie olha para mim por trás do volante, enquanto suas
mãos o seguram com firmeza.
— Hallie, se você estiver com vontade de vomitar, baixe
a janela. Aqui já cheira estranho o suficiente. — Ela está
certa, o carro tem um odor não identificável que está lá desde
que ela comprou.
— Eu estou bem, — eu digo novamente, embora seja
uma mentira. Meus braços envolvem meu peito para
esconder como minhas mãos tremem.
— Ah, Hallie, eu sei que você não quer falar e que está
tudo bem, mas eu quero informa-la sobre a minha nova casa.
— Eu olho para ela, sem entender o que ela quer dizer.
Maggie me dá um sorriso tímido e encolhe os ombros até as
suas orelhas, enquanto dirige. — Vamos apenas dizer que
não é algo que você aprovaria.
Eu não tenho paciência para lidar com seus enigmas
neste momento. A vida de Maggie é mais difícil do que a
minha, e eu sei disso, mas ela nunca tinha escondido coisas
de mim antes. Desta vez, é claro que ela escondeu, e isso me
preocupa. As únicas coisas que eu desaprovo são as que
possam matá-la. A menina não tem nenhum senso. Às vezes
me pergunto sobre ela, e como ela escolhe o que faz. Sorrio
sem jeito e olho para o tapete sujo no chão, que alguma vez
foi azul.
— O que é tão engraçado? — Maggie parece indignada,
como se eu a tivesse ofendido.
— Nada. Vamos apenas dizer que, se você soubesse o
que eu estava fazendo esta noite, você não se sentiria tão na
defensiva. Tenho certeza de que sua casa é boa.
Maggie se tranquiliza. Ela suspira quando vira em uma
rua lateral e começamos a fazer o nosso caminho através de
um bairro degradado. As casas são marcadas e branqueadas
pelo Sol, com gramados mortos, mas os carros são
customizados e caros. Mesmo que seja tarde, as pessoas
movem-se, sem fazer nada. Eu olho para a minha porta,
querendo trancá-la, mas eu não me mexo. Enquanto nós
rodamos passando pelos grupos de pessoas, os olhos deles
viram e nos assistem passar, antes de voltar para o que eles
estavam fazendo.
Maggie finalmente diz: — Não é muito, mas acho que
vale a pena.
— Você não tem que defender o seu apartamento para
mim, Maggie. Eu sou uma maldita sem-teto. — Eu olho para
ela e inclino a cabeça para trás no assento. Minhas palavras
não a consolam, então eu acrescento: — Além disso, eu não
sou uma garota-propaganda da moralidade, também. Você
não vai acreditar no que eu fiz hoje à noite, e o que eu vou
fazer. — Minha voz falha e eu balanço a cabeça, pensando
nos lábios de Bryan. Estou horrorizada por reagir da maneira
como o faço, mesmo que com a memória.
Ela ri uma vez, rapidamente. — Sim, certo. Hallie, você
nunca faz nada de mau. Estúpido, sim. Mau, não.
Eu olho para fora da janela e não vejo nada. As casas
deram lugar a apartamentos que se estendem para o céu na
noite. Fachadas de tijolos já viram dias melhores. Muitos
parecem vazios, como se ninguém vivesse lá, por muitos
anos. Meu peito se aperta e eu me contorço na cadeira. Meu
Deus, ela mora aqui? Por que ela não me contou? Há carros
queimados, latas de lixo viradas e entulho, tudo espalhado
por toda parte. Parece que a rua foi saqueada e esquecida,
assim como Maggie.
Segundas decisões são as que mudam vidas. Eu faço a
minha e cuspo fora antes de me acovardar.
— Bryan Ferro está me chantageando. Se eu não dormir
com ele sempre que ele quiser, vai dizer às pessoas que ele é
o cara no livro e fazer o que for preciso para me arruinar. Ele
disse que ia usar tudo o que tem contra mim e me deu um
ultimato.
Os grandes olhos de Maggie viram em minha direção,
com o queixo caído e boca aberta.
— Puta merda! Quando isso aconteceu? Como você vai
detê-lo? — Ela pisca para mim e vira os olhos de volta para a
estrada, embora eu saiba que ela não quer.
Esta é a parte que me faz sentir um lixo. Eu não sou
quem ela pensa que eu sou. Eu não tenho uma estrutura
moral de aço. Eu não posso nem olhar para ela.
— Esta noite eu acabei fazendo o anúncio do prêmio no
show com ele, e então ele me encontrou no banquete. — Eu
digo. Eu tento fazer a minha boca mover-se para formar as
palavras, mas não vão sair.
— De jeito nenhum. — Ela estaciona em um parque de
estacionamento que parece que foi usado como um local de
explosão da força aérea e desliga o carro. — Pegue suas
coisas e tranque a porta. — Eu faço como ela diz e me
apresso atrás dela. — Mantenha seus olhos baixos e me siga.
Não fale ou olhe para ninguém.
Entramos no lado de um desses prédios de tijolos
antigos e subimos alguns lances de escadas, até o quarto
andar. No momento que chegamos ao seu andar, eu quero
jogar o resto do meu sapato para fora da janela. Eu poderia,
não há vidro no painel. Eu a sigo, até a porta e por um longo
corredor mal iluminado. Nós paramos em frente à sua porta.
Enquanto ela se atrapalha com a chave, a porta contrária à
dela se abre. Um homem pálido, com cabelo loiro descolorido
e vestindo uma camiseta regata branca e cueca está lá e olha
para nós. Eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Ele
se inclina contra o batente da porta e cruza os braços sobre o
peito.
Quando ele fala, soa rouco, como se ele fumasse um
maço de cigarros todos os dias desde que ele tinha dois anos
de idade. — Trouxe-me outra?
— Não, — Maggie diz com firmeza. Ela não se vira para
olhar para o cara. Se eu não a conhecesse melhor, eu acharia
que ela estava com medo dele. Eu não aguento mais stress
esta noite. Meu cérebro parece que vai partir em dois, antes
que eu murche e morra. Maggie pega a chave para abrir, mas
porta emperra. Ela chuta uma vez com o pé e a porta mexe
ligeiramente. — Maldita porta, — ela murmura.
— Qual é o seu nome, docinho? — O cara está falando
comigo. Viro-me e olho por cima do ombro, e nossos olhos se
encontram. Ele envia um olhar frio para mim, ao ver o jeito
como ele está olhando de soslaio. O cara é enorme, ele é todo
músculos e agora ele está sorrindo para mim, revelando uma
coroa de ouro em seu dente canino.
— Oi, — eu digo timidamente, e arrumo o meu cabelo
para atrás da minha orelha, tentando evitar o olhar dele
enquanto não respondo sua pergunta.
Enquanto o cara está de boca aberta, Maggie chuta na
porta. A porta se abre, ela agarra meu braço e me puxa. Eu
sigo, voando atrás dela enquanto ela grita por cima do ombro,
— eu vou lhe trazer alguém amanhã, eu juro. Boa noite, Vic.
— Ela bate a porta com o pé e parece abalada.
Seu apartamento é aproximadamente o mesmo tamanho
de um pequeno corredor. Há uma pequena janela com uma
folha grampeada sobre ela e sem móveis. Algumas das roupas
de Maggie estão jogadas ao redor do lugar, como se ela
tivesse saído com pressa. Se eu morasse aqui, eu iria embora
rapidamente, também.
— Obrigado por me deixar ficar com você.
— Sim, não há problema. É uma merda como este é o
pior lugar que eu já vivi, mas é um refúgio. Eu durmo aqui e,
em seguida, dou o fora. O aluguel não é horrível. — Ela
oferece um sorriso torto, mas é franco.
Eu preciso dela, e não há um muro entre nós. Ela acha
que eu sou perfeita, mas eu não sou. Eu fiz coisas que ela
não sabe. As palavras estão na minha língua e eu enrolo-as
em torno de minha boca, tentando descobrir como dizer isso,
enquanto a Maggie tagarela, enchendo o ambiente com sua
voz.
Um casal está brigando nas proximidades, e o som está
cada vez mais alto. Estão lutando, eu não quero dizer
discutindo. Há coisas batendo nas paredes e quebrando.
Chove gesso para baixo sobre nós como flocos de neve
quando algo cai de cima. Maggie olha horrorizada quando ela
puxa sua cama Murphy 2 para baixo da parede. Tomando
quase toda a sala. — Você pode dormir aqui. Eu vou dormir
no chão.
— Não.
Ela sorri. — Não seja boba, você é minha convidada. —
Palavrões ressoam acima de nós quando um homem irritado
grita. É prontamente seguido de um grito agudo. Maggie
morde as unhas do jeito que ela fazia quando éramos
crianças e olha em volta, como se ela desejasse poder
queimar o lugar.
2
— Eu não vou fazer você dormir no chão, mas há outra
coisa que eu preciso lhe dizer.
— Maggie olha para mim por debaixo de sua massa de
cabelo vermelho. Eu sou sua única amiga de verdade, sua
única família e ela a minha. Deus, o que é que ela vai pensar
de mim quando eu lhe disser o que eu concordei em fazer?
Eu não acho que eu vou ser capaz de suportá-lo. Meus
braços ainda estão dobrados sobre o peito, com as mãos
firmemente aninhadas nos meus braços.
— Hallie, qual o problema? — Maggie deixa de fazer a
cama e se senta. Ela dá um tapinha no lugar ao lado dela e
me sento.
Olhando para frente, eu engulo em seco e digo a ela.
— Eu disse que sim. — Você disse sim para o quê?
Hallie, você não está fazendo sentido, do que você está
falando?
Quando me viro para olhar para ela, e encontro com
aqueles grandes olhos verdes e sinto medo. Minha pele fica
arrepiada, mas eu não consigo desviar o olhar.
— Eu disse a Bryan Ferro que sim. Eu cedi. Ele ganhou
e eu perdi.
— O quê? — Ela está furiosa, pronta para voar para fora
do seu assento e defender-me até a morte.
Eu coloco minha mão no colo dela para fazê-la parar. —
Eu fui ao seu quarto de hotel para dizer-lhe para ir chupar
um prego, mas eu mudei de ideia quando ouvi sua voz. Eu
pensei que algo estava errado e esta era a sua maneira de
merda para me dizer. Conheci-o uma vez, pelo menos eu
pensei que tinha conhecido. Então, quando eu estava
esperando por você do lado de fora, eu... — minha voz está
trêmula e eu não posso mais esconder o meu horror, — um
cara tentou roubar minha bolsa. Para encurtar a história, ele
me pegou por trás do prédio e ia me machucar. Bryan
apareceu e ele... — Eu não posso dizer isso. Meu Bryan
perfeito fez algo que era tão diferente dele, tão terrivelmente
selvagem, que eu não sei o que pensar. Ele me protegeu, mas
ainda parece errado.
— Ele a machucou? — Maggie está furiosa, eu posso
ouvir em sua voz. Mas a forma como ela fala suas palavras
ondulando entre muito alta e baixa, dão a deixa.
— Não, ele atacou o homem, e esfaqueou-o. Se eu não
dissesse a Bryan para parar, acho que ele teria matado o
cara. — Olho para ela, mas eu não posso mais enxergar.
Meus olhos têm brilham com lágrimas que tudo fica
desfocado.
Maggie ergue os braços e eu caio neles. Ela sempre foi
como uma irmã para mim. Estivemos sempre uma para a
outra, e eu temo que a história com Bryan e o que eu me
tornei vá fazê-la me odiar. Meu pai teria vergonha de me
chamar de filha, e eu espero o mesmo de Maggie. Em vez
disso, ela fica lá no colchão gasto e me acalma.
Depois de um forte abraço, ela libera meus ombros e
pega meu queixo. — Você e eu passamos por tudo juntas.
Não pense que eu a estou socorrendo por causa disso. Se não
for por qualquer coisa, a vida fica mais interessante, isso é
tudo.
Eu enxugo as lágrimas dos meus olhos e rio, porque ela
está tão errada. — Esse é o eufemismo do ano.
— O meu ponto é, eu estou aqui por você. Eu sempre
estarei aqui para você. — Ela bate no meu ombro com a dela.
— Então, Bryan Ferro tem um lado negro por trás de todo o
brilho e deslumbre?
— Aparentemente.
— Foi divertido ou ele fez coisas estranhas?
Eu sorrio e limpo meus olhos novamente. — Não, não
hoje à noite de qualquer maneira. Ele me chamou para seu
quarto, eu fui, e nos beijamos. Então, ele me mandou ir
embora.
Os lábios de Maggie puxaram um pouco para cima. —
Ele a jogou para fora? Mas que inferno...?
— Eu não sei. É como se ele estivesse louco e deixando o
Hulk sair ou algo assim. Ele não olhava para mim. As coisas
estavam quentes e pesadas até então. — A intuição continua
me dizendo que algo estava errado, mas não posso entender o
quê.
Maggie sorri: — Ele foi melhor do que Neil, certo?
Eu faço uma careta e olhou para ela como se ela fosse
louca. — Uh, Bryan está me chantageando.
— E ele é mais quente do que Neil. Vá em frente, diga.
Eu sou sua amiga, então eu já sei.
Eu baixei meus olhos em direção ao chão e não disse
nada. Eu não tenho que dizer nada, a minha expressão diz
tudo. Bryan é muito mais quente do que Neil, não há
comparação. Os dois homens são noite e dia, e Bryan é a
noite sexy. Neil a voz racional que soa como o FDA 3,
lembrando-me de fazer todas as coisas com moderação, mas
não todas as coisas, somente as ações que ele aprova. Droga.
Eu enterro meu rosto em minhas mãos e suspiro.
Maggie acaricia minhas costas. — Está tudo bem.
Qualquer um é mais quente do que Neil. Não se sinta
culpada, mas eu não contaria exatamente ao Senhor Calças
Perfeitamente Passadas. Ele vai surtar ao saber que alguém
tocou em você. — Maggie está tirando as roupas e puxando
uma camisa de dormir e calças, enquanto ela fala.
— Na verdade, Neil sabe.
3 FDA - Food and Drug Administration - Agencia reguladora de remédios e alimentos.
— O quê? — Ela está pulando em um pé, tentando
enfiar o pé pela perna da calça e cai. — Como é que ele sabe?
Você disse que acabou de acontecer.
— Neil sabe por que foi ele quem me disse para fazer
isso.
CAPÍTULO 4
Maggie só ficou totalmente fora de órbita uma vez. Foi
quando nós nos separamos em um lar adotivo quando
tínhamos sete anos. Em três dias, eles nos colocaram de
volta, juntas, sob o mesmo teto. Maggie nunca disse o que ela
fez, só que ela ficou louca e lançou tudo o que tinha contra
eles. O olhar em seus olhos diz que quer colocar as bolas de
Neil em um copo do plástico.
Maggie se balança, em pé, com as calças metade dentro
e metade fora, enquanto sua mandíbula está apertada. Ela
olha para longe de mim e torce seu pescoço, como se ela fosse
matar alguém. Quando ela mexe os olhos verdes de volta para
mim, há um agradável, mas aterrorizante, sorriso em seu
rosto. Quando ela fala, ela parece cordial, como alguém que
trabalha em uma linda loja de flores e ama as pessoas, em
outras palavras, ela soa totalmente demente.
— Ele lhe disse para ir? — Ela ri levemente e pisca seus
cílios para mim, enquanto ela inclina a cabeça para o lado.
— E ele sabia que estava sendo chantageada?
Eu não quero falar sobre isso. Estou tão cansada que,
provavelmente, vou começar a babar em breve.
— Sim, ele sabia. — Eu não quero dizer a ela o resto.
Como está, ela já passa do terceiro estágio de lividez.
— Qual foi o motivo maravilhoso que ele deu, para ser
tão bom? — Ela aperta as mãos com calma, mas eu sei que
há uma erupção prestes a explodir sob a fachada tranquila.
Eu esfrego os olhos e puxo o zíper do meu vestido, mas
parece que ele prendeu no tecido.
— Maggie, coloque o seu pijama e vamos dormir. Eu não
quero falar sobre isso. Obviamente, eu estou brava com Neil
ou eu não estaria aqui com você.
Ela me estuda, por um momento, os olhos apertando
com suspeita, antes de dizer: — Mas Neil não percebe que
você está chateada, e você quer que ele pense em Bryan Ferro
pregado você. — Suas sobrancelhas se elevam quando eu
olho para ela. É o rosto de “eu sei o que você pensa”.
Infelizmente, ela percebe exatamente o que eu estou
pensando, mas isso não me faz querer discutir o assunto.
Neil não deveria ter me dito isso. Parece que ele me
abandonou quando eu precisei dele. Eu tenho problemas com
esse tema específico, que me faz invariavelmente ter uma
segunda suposição sobre mim mesmo, mas não desta vez. Eu
não teria feito isso com ele. Eu não o teria feito dormir com
alguém por dinheiro. Porra, isso me faz soar como uma
prostituta.
Apertando os olhos fechados, eu desvio o olhar.
— Talvez.
Talvez Neil deva sofrer um pouco por ser tão insensível,
porque isso é o que realmente era - insensibilidade. Ao
mesmo tempo, antes desta noite ter acontecido, Neil me deu
minha vida de volta. O cara era uma âncora quando a praia
estava longe da vista. Ele estava lá comigo, em minhas horas
mais escuras e parte de mim se sentia culpada por estar aqui
com Maggie, embora eu saiba que não deveria. Às vezes
desejo que não sentir nada. Parece que assim a vida seria
mais fácil.
No momento, as emoções de Maggie estão estampadas
em seu rosto, como giz de cera derretido.
— Puta merda, Hallie! Por que você está com ele? Neil
veio e pegou-a quando você era...
Eu a cortei. — Eu sei o que eu era, e talvez Neil estivesse
no lugar certo, na hora certa, mas ele nunca fez nada
parecido com isso antes, e nem eu mantive isso dele. — Eu
menti para ela, uma e outra vez.
— E ele está mantendo coisas para você! Será que você o
fez fazer algo que ele não queria? — Ela fez uma pausa, e
acrescentou: — Você não queria ver o Ferro de novo, não é?
Balanço a cabeça e olho para longe. Ela está certa. Não
há nenhuma maneira que eu tivesse feito Neil fazer algo
assim, mas ele realmente não me deu uma escolha. Eu não
tinha escolha, não se eu quisesse ficar com a minha vida. Há
muito dinheiro em jogo. Levantando a minha mão, eu digo: —
Eu não quero mais falar sobre isso hoje à noite.
Maggie faz um som irritado no fundo da garganta e
continuou a se vestir. Depois que ela puxou seu moletom, ela
vai até uma pia com manchas de ferrugem e escovou os
dentes. Embora espumando pela boca, ela se vira e olha para
mim e aponta a escova de dente na minha direção.
— Você sabe que eu chutaria um traseiro por você.
Apenas me diga quem e eu farei. — Na última palavra,
espuma de pasta de dente voa de seus lábios.
Eu ofereço um meio sorriso. — Eu sei que você faria,
mas eu não sei quem me irritou mais - Neil ou Bryan.
Maggie me joga uma camisa de dormir e continua
falando, mas minha mente está se recuperando. Eu estou
com raiva de Neil, mas Bryan... Eu não sei. A maneira como
ele falava, a forma como a sua voz ficou presa na garganta
quando ele disse certas coisas, é quase como se ele não
quisesse fazê-lo, mas ele fez, chantageou-me.
Ele não dormiu com você. Ele a beijou e atirou-a para
fora, aquela voz interior é como sinos tocando dentro da
minha cabeça, como um relógio.
As palavras de Bryan não correspondem às suas ações,
e se ele não dirigisse a faca no ombro do ladrão, eu teria
pensado que o homem que eu vi hoje, era o meu Bryan de
anos atrás, mas não era. O que quer que tenha acontecido
com Bryan, entre aquela época e agora, o mudou, e embora o
novo homem tenha me salvado, ele me assusta.
CAPÍTULO 5
A noite passa devagar, como sempre. Eu ouço a voz de
meu pai, embora ele já não esteja aqui. Minhas memórias
estão presas em retrocesso, repetindo coisas aleatoriamente,
enquanto elas voam para frente da minha mente. Isso me
assombra até onde eu não possa mais suportar.
Maggie está roncando próximo da minha cabeça. Eu
joguei papel e tesoura com ela pela cama, e ela ganhou.
Fizemos um pequeno estrado no chão para mim, mas é mais
como um cobertor e um lençol. Eles estão emaranhados do
meu virar e revirar. Eu os empurro de lado e sento-me,
esfregando os olhos que ardem. O velho relógio de Maggie
brilha suavemente ao lado de sua cama. São quase 6 horas
da manhã.
Meu corpo dói, como se eu tivesse sido empurrada pelo
poço de um elevador, mas eu me levanto do chão e vou até a
janela estreita. Os gritos que enchiam o prédio ontem à noite,
se tranquilizaram. A mulher no piso acima gritou uma última
vez há algumas horas, em seguida, algo pesado caiu no chão.
Gostaria de saber se um deles está morto. Os sons que
fizeram a minha pele se arrepiar, recuaram, agora só tem
silêncio.
Eu me inclino contra a parede e envolvo meus braços
em volta do meu corpo, enquanto olho para fora, pela janela
estreita e nebulosa. O sol ainda está para derramar-se sobre
o horizonte e a cidade ainda está na escuridão. As calçadas
estão quase vazias. Os grupos de pessoas que estavam juntas
se dissolveram. As figuras entre as sombras se foram.
Às vezes eu me pergunto se os monstros em minha
mente são piores do que os da rua. Eu vim das ruas, assim
como Maggie. Nós sobrevivemos e ainda assim, eu não posso
fugir das lembranças que me assombram, noite após noite.
Adicione a morte do meu pai à mistura, e eu sou uma bomba
relógio ambulante. Eu gostaria de poder dizer que eu sei
quem eu sou e que os acontecimentos de meu passado não
me mudaram, mas eu não consigo imaginar minha vida sem
essas ocorrências. Se minha mãe não tivesse me
abandonado, se ela não fizesse o que ela fez, que tipo de
mulher que eu seria? Se ela fosse uma boa pessoa e me
criasse, onde estaríamos agora?
Eu engulo em seco e forço as questões para longe. Elas
não servem para nada e só irão me puxar para baixo. Lutei
tanto para fugir daquela vida, mas ela vive para sempre na
parte de trás da minha mente. Eu ouço sua voz, a sua
familiar fala arrastada. Lembro-me da dor da sua mão no
meu rosto e muitas noites passadas tremendo em um
armário escuro, enquanto ela vivia uma vida na qual não me
incluía. A maioria dos pais querem proteger seus filhos, mas
não minha mãe. Ela não queria me proteger. Ela vivia para si
mesmo e isso é a uma coisa que me assusta, que eu me torne
como ela.
Meus dedos apertam em meus lados, enquanto eu tento
não tremer, porque o apartamento está congelando. Deus,
este lugar me faz lembrar-se daquela vida. Eu não sei como
Maggie aguenta. Olho para ela e penso sobre as coisas que eu
poderia fazer por nós, se eu tivesse esse dinheiro. Eu poderia
salvá-la disso.
Mas quem vai salvar você? A vozinha em minha cabeça
murmura.
Papai não virá e me salvará desta vez. Desta vez, a única
maneira de sair dessa bagunça é através de Bryan Ferro. Eu
tenho sofrido mais dificuldades do que a maioria das pessoas
tem em uma vida, eu posso sobreviver ao que ele quer
vivenciar. — Eu só não sei se vou gostar da mulher que me
tornarei por causa disso.
Algumas coisas não valem o preço. Eu aprendi, em
primeira mão, e agora aqui estou eu, repetindo as ações de
minha mãe.
Travo os dentes e murmuro baixinho: — Eu não sou a
mesma... Não é a mesma coisa.
Meu olhar cai no parapeito da janela e eu
instintivamente inclino-me para ele, pressionando meus
dedos contra o vidro frio. Eu não entendo o que estou vendo
no inicio. Alguém está em pé na sombra do prédio, do outro
lado da rua. Eles estão dentro de uma sala, um andar abaixo
de onde eu estou, no prédio de Maggie. A pessoa é uma
silhueta sem características definidas. Eu acho que é uma
mulher, mas eu não tenho certeza. Ela está pisando para trás
lentamente. As mãos dela levantam, quando um cachorro
está prestes a atacar em seu estômago. De repente, sua
coluna se endireita e ela para de se mover. A janela é tão
estreita que não consigo ver muito mais do que sua figura
esbelta através das cortinas.
Um momento depois, ela fica mole e cai para frente.
Suas cascatas de cabelo atrás dela, caindo em câmera lenta.
Não ouço nada, apenas as respirações nasais de Maggie, mas
seu grito silencioso está tocando em meus ouvidos. Uma
forma alta, um homem, dá passos até o local onde a mulher
estava. Seus ombros são arredondados, como se ele não
estivesse preocupado com uma coisa, enquanto ele balança a
cabeça e examina o chão como se houvesse algo divertido.
Minha garganta aperta enquanto observo com horror,
congelada no lugar. Naquele momento, o homem olha para
cima e olha para a janela. Nossos olhos se encontram e o
tempo para, como se uma força invisível roubasse o meu
fôlego. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço arrepiam
enquanto eu olho fixamente, incapaz de desviar o olhar.
Maggie me disse para manter meus olhos para baixo e
não dizer absolutamente nada a ninguém, mas eu não posso,
e ainda pior, eu o reconheço, a ele e seu cabelo loiro
brilhante. É o homem que vive do outro lado do corredor.
CAPÍTULO 6
Eu não tenho certeza se ele percebe quem ele está
olhando, mas eu estou certa de que ele sabe em que
apartamento está. Com o coração acelerado, eu giro sobre os
calcanhares e tropeço na cama de Maggie.
— Levante-se. — Minha voz está sufocada, e quase não
sai. Freneticamente, eu a balanço até acordá-la. —
Precisamos sair. Agora.
Maggie empurra-se nos cotovelos. Sua maquiagem está
manchada em todo o lado direito de seu rosto. Ela se parece
com um palhaço chorando. — O quê? — Ela está muito
grogue e não temos tempo para isso.
— Se mova. Agora. — Eu emito a ordem, atiro uma calça
jeans para ela e começo a recolher qualquer coisa importante.
Eu estou tremendo tanto que largo a braçada de itens e
minha bolsa derrama no chão. Maggie para perguntando o
que está errado. Ela pegou o meu humor e olho para a porta
como se ela já soubesse.
De repente, ela está acordada e se movendo como se ela
tivesse tomado algum energético.
— O que você viu? Foda-se, Hallie! Eu lhe disse para
não olhar para nada.
— Eu não posso acreditar que ela está me xingando,
mas eu não vou perder tempo discutindo com ela.
Ajoelhada, eu puxo todo o conteúdo de roupas e bolsa
em meus braços. — Vai, vai, vai! — Vou para a porta,
deixando o meu vestido de noite para trás. Corremos para o
corredor, meio vestidas, e começamos a descer as escadas.
Eu lanço tudo no banco de trás do carro de Maggie e salto
para frente. — Vai!
Maggie enfia a chave na ignição e o motor liga. Ela
agarra o volante com firmeza e se afasta. Por um segundo eu
acho que conseguimos escapar despercebidas, mas apenas
quando chegamos ao fim do quarteirão, eu olho para trás no
espelho retrovisor do lado. O homem do outro lado do
corredor está olhando nossas lanternas traseiras enquanto
vamos embora.
CAPÍTULO 7
— O que você viu? — Maggie gritou de novo, quando ela
olha para trás pelo espelho retrovisor. Seus olhos se
arregalam, mas ela nem pisca. Ela olha para ele enquanto ele
nos vê no carro.
— Porra, você está falando sério? Esse é Victor! Por que
ele está nos observando? Nós não o queremos nos
observando! Hallie, o que aconteceu? — A voz de Maggie sobe
uma oitava a partir do momento que ela começa a falar até o
momento que termina.
— Seu nome é Victor?
— Sim! Victor Campone. Ele é muito louco! — O corpo
de Maggie está tenso, e eu posso dizer que ele está segurando
um grande esforço para não disparar e fugir. Ela não quer
chamar a atenção para nós, então ela vai a uma velocidade
normal, mesmo que pareça que meu coração vá explodir.
— Ele matou alguém. — Minha voz é suave, quase
inaudível. Meu estômago está torcendo como eu tivesse
comido algo rançoso. A deglutição torna a sensação
incômoda, pior, então eu inclino a cabeça para trás e
pressiono os dedos na minha cara.
— Não, não, não! Diga-me que você não viu nada!
— Eu vi isso. Ele estava no apartamento em frente ao
nosso. Eu estava olhando para fora da janela.
— E ele viu você? — Eu aceno e esfrego a palma da
minha mão em meus olhos. A voz de Maggie sai com um
tremor que é tão diferente dela que me assusta.
— Ele não sabe que você viu alguma uma coisa, certo?
Quero dizer, não é como se ele estivesse a observando
enquanto ele fez isso. Nós não vimos nada. Nós não sabemos
nada. Tudo vai ficar bem. — Ela começa a divagar, mais para
si mesmo do que para mim.
— Quem é ele?
— Ninguém. Ele não é ninguém. Você não sabe o seu
nome, que você nunca viu seu rosto. — Os dedos de Maggie
ficaram brancos de segurar o volante com tanta força. — Nós
não saímos e voamos pela rua, então parece que eu estava
levando-a para casa.
Depois de um tempo, viramos para o meu bairro. Maggie
estaciona na frente do apartamento de Neil e desliga o carro.
— Eu vou voltar mais tarde e agir como se nada tivesse
acontecido. Ele vai ficar bem.
— O inferno que você vai! Você não pode viver assim
Maggie. — Em que ela se meteu? Simpatia atravessa meu
rosto antes que eu possa escondê-la, o que a irrita.
— Não olhe para mim assim. Eu posso cuidar de mim
mesmo.
— Não, não desta vez. Desta vez, você cometeu um erro.
Esse cara é louco. Como você sabe que ele não matou uma
mulher como você? Como você sabe que não vai ser a
próxima? — Ela não olha para mim, em vez disso, Maggie age
como ela não me tivesse ouviu nada. — Maggie, como você
sabe!
Virando-se, ela se encaixa. — Eu não sei, tudo bem!
Ninguém sabe quando seu tempo está acabando ou como eles
vão morrer, e nem eu! Deixe quieto, Hallie. Você já bagunçou
bastante as coisas. Eu posso corrigi-lo.
— Não, você não pode! Isso não é coisa que pode ser
corrigida! — Eu estou gritando com ela, e não posso parar.
Meu coração está batendo tão rápido que está batendo em
minhas costelas e minhas mãos estão tremendo. — A morte
lhe aguarda naquele prédio! Toda vez que você entrar lá, sua
expectativa de vida cai. Você não pode pensar seriamente que
não tem ramificações. Ele matou alguém! O casal que mora
acima de você brigaram, estavam fora de si até que um deles
caiu no chão. Você precisa esperar até que você seja a que
está morta no chão, para ver que você não está segura?
— Eu não tenho escolha! — Ela está respirando forte e
rápido como eu. Eu quero chorar e salvá-la de tudo isso, mas
eu não posso. Um momento se passa e nenhuma de nós fala.
Eu bato a minha cabeça contra o assento e olho para
ela. — O que você faz com ele?
— Eu não posso lhe dizer. — Maggie não olha para mim.
Em vez disso, ela olha fixamente para frente.
— Quem é ele?
— Você não quer saber. — Eu abro minha boca para
pressioná-la, mas ela me silencia com um dedo e me dá um
olhar severo. — Não faça isso. Saber só vai lhe trazer mais
problemas.
Eu não gosto disso, mas eu paro de perguntar. Eu
gostaria muito que as coisas não fossem assim. Eu tenho que
pegar o dinheiro do negócio do livro. Eu preciso disso, para
ela. Ela está sobrecarregada, e a parte horrível é, que eu
também
CAPÍTULO 8
Maggie me segue para a casa depois de pegar todas as
nossas coisas de dentro de seu carro. Depois que eu tomei
banho, fui para a cozinha e encontrei Neil esperando na
mesa. Ele está lendo o jornal como se ele não estivesse
minimamente chateado. Ele o dobra e coloca em cima da
mesa antes de olhar para mim.
— Então, como foi?
— Tudo bem. — Meu queixo está apertado. Eu mal
posso cuspir as palavras. Quero arrancar a sua cabeça fora,
mas se eu fizer isso eu vou ser uma sem-teto. Quando eu
virei uma fraca covarde? Hallie, a prostituta. A palavra que
você está procurando é prostituta. Eu não quero pensar sobre
isso, então eu pego uma xícara de café do armário e uso esse
tempo derramando o líquido quente, então eu não tenho que
olhar para ele.
Antes de eu saber o que está acontecendo, Neil está
andando em minha direção. Eu acho que ele vai brigar, mas
sua voz está tímida. — Eu não deveria ter feito você fazer
isso. Sinto muito, Hallie. — Eu posso sentir seus olhos em
minhas costas e o tom de súplica em sua voz faz meu coração
estilhaçar.
— Não, você não deveria ter feito, — é tudo que eu posso
controlar. Eu mantenho meus olhos focados no líquido negro
na minha xícara, assistindo o subir do vapor para a
superfície.
— Olhe, eu pensei na maneira como vocês dois estavam
atuando no palco, e eu pensei que você ainda gostava dele.
Sua confissão me pega de surpresa. Viro-me devagar e
olho por cima do ombro, para ele. Ele está falando sério? Por
alguma razão, parece que eu estou sendo jogada, mas eu
rejeito isso. Quanto eu estou cansada? O cara está tentando
pedir desculpas e eu quero algo seguro agora. Neil é o
epítome do seguro.
Por um momento, eu não posso falar. Então eu gerencio
um — eu não. — Minhas palavras são evasivas. Eu ia dizer
que eu não tenho sentimentos por ele, mas eu tenho. Eu
sinto algo por Bryan, mas eu não sei o que é. Medo? Luxuria?
Atração não significa nada mesmo, não é?
Neil acena uma vez e observa seus pés. Seu cabelo cor
de areia obscurece os olhos. — Então, você me perdoa?
— Se você puder me perdoar? — De onde veio isso? As
palavras me chocam, mas isso não as impede de sair da
minha boca. Eu não deveria ter que pedir-lhe que me perdoe
por amantes do passado, por coisas que aconteceram antes
de conhecê-lo, mas eu pedi.
Seus lábios puxam para um leve sorriso.
— Eu já perdoei. Eu entendo por que você não disse
nada sobre ele. Quero dizer, é constrangedor, certo? Você não
quer fazer coisas estranhas entre nós, ao mencionar isso. As
pessoas têm manchas escuras em seu passado, e ele é a sua.
Eu entendi. Desculpe-me, eu a empurrei de volta, e eu estou
tão feliz que você voltou para casa novamente. Eu pensei que
odiaria ter perdido você.
— Neil ergue os braços, como se ele quisesse um abraço.
Eu largo minha xícara e caio em seus braços. Neil me
abraça como se eu fosse frágil, e suavemente beija minha
face. Ficamos assim por um momento, até que uma voz nos
rompe.
— Eu deveria ter esclarecido os termos do meu silêncio.
— Bryan está em pé, na nossa frente, na porta entre a sala e
a cozinha. — Não vai haver intimidade de qualquer tipo entre
vocês dois, enquanto Hallie estiver comigo e eu não terminei
com ela ainda.
CAPÍTULO 9
Neil me libera e se distancia. Seu queixo cai, fica de
boca aberta e olha duas vezes, como se ele não pudesse
acreditar que Bryan teve a audácia de entrar em sua casa.
— Você não tem o direito de estar aqui.
Bryan sorri e desliza as mãos nos bolsos. Ele está
vestindo calça jeans escura e uma camiseta que moldava e
revelava o seu delicioso corpo. A jaqueta de couro desgastado
pende dos ombros e seu cabelo ainda está úmido, como se ele
apenas tivesse rolado para fora da cama.
— Eu sinto cheiro de café? — Bryan ignora Neil, o
empurra, passando por nós, e agarra minha xícara fora do
balcão. — Ainda bebe preto, hein, Hallie? — Ele pisca para
mim, antes de engolir a minha bebida.
— Puta merda. — Maggie aparece com o cabelo molhado
pingando e seu queixo arrastando no chão. Seus olhos vão de
Neil para Bryan, como se ela estivesse antecipando uma
explosão.
Bryan se inclina para trás em cima do balcão, o paletó
se abre, revelando mais do seu peito tonificado e essa
camiseta deliciosa. Quando ele sorri, ele parece como o velho
Bryan, com uma covinha lambível. — Ei, Ruiva, — ele acena
com a cabeça em direção a Maggie com seu sorriso mágico.
— Ei para você também. — Maggie ri e olha para mim e,
em seguida, para Neil.
Neil parece chocado e permanece congelado por alguns
segundos, antes de se encher e gritar irritado. — Saia ou eu
vou chamar a polícia.
Bryan dá de ombros como se não se importasse e não se
move. — Vá em frente. Chame-os e eu vou ligar para os meus
amigos, e fazer as coisas rolarem. — Ele puxa o celular do
bolso e o segura. — Bem, vá em frente.
Neil olha para mim e, em seguida, para Bryan. — Você
disse uma noite.
— Sim, mas eu mudei de ideia. Ontem à noite nada
ocorreu como planejado, e eu pensei, por que não pedia
mais? Se você disser não, você perde tudo. É uma espécie de
acéfalo, então eu vim para isso. — Bryan fala com Neil, mas
ele está olhando para Maggie quando fala.
Depois de descansar a minha xícara vazia no balcão,
Bryan caminha para mim. — Pronta?
— Você disse que ia ligar. — Minhas mãos estão
fechadas nas laterais do meu corpo, eu gostaria de ser mais
alta para que eu pudesse gritar com Bryan olho no olho.
Ele oferece um típico sorriso Bryan Ferro e encolhe os
ombros. — Sim, eu sou lunático. Eu pensei em vir fazer uma
visitinha e buscá-la. Além disso, eu precisava ter certeza de
que seu namorado idiota não tocasse em você.
— Estes não eram os termos. Você não pode mudar
suas exigências assim. — Neil está agitado, mas Maggie está
encostada no batente da porta com um olhar divertido no
rosto. Neil inala devagar, tentando manter a calma, mas está
lá, fermentando, e Bryan está atiçando o fogo.
— Na verdade, eu posso. Combina com o acordo que
Hallie e eu fizemos ontem à noite, certo? — Bryan me olha
por um segundo e, em seguida, acrescenta, com falsa
sinceridade: — Oh, me desculpe, você não teve a chance de
dizer a ele?
— Bryan. — Advirto, mas ele não para.
Ele caminha para o meu lado e coloca o braço por cima
dos meus ombros. — Ontem à noite eu disse a ela que uma
noite não era suficiente. Desculpe, eu pensei que você já
soubesse, e não é como se importasse para você de qualquer
maneira, porque é tudo a mesma coisa. Eu dormi com ela
antes, então o que é mais uma noite, certo? — A voz de Bryan
se transforma em navalha afiada quando ele diz as últimas
palavras. Ele me solta e dá passos em direção a Neil, então
eles estão perto o suficiente para socar um ao outro. — Você
disse algo nesse sentido, não é?
Neil apruma os ombros. Ele não vai ser repreendido por
um Ferro. Ele acha que Bryan é uma criança mimada e dá-
lhe o olhar mais condescendente que eu já vi. — Isso é como
se você quisesse uma mulher mais de uma vez. Isso não vai
contra o código de honra dos Ferro? Eu ouvi a sua irmã...
Antes de Neil poder terminar a frase, o braço de Bryan
arremessa para fora. Ele pega Neil pela garganta e sibila: —
Se você valoriza sua vida, você não vai terminar essa
sentença.
— A irmã gêmea de Bryan parece estar muito
frequentemente na imprensa marrom, o que é horrível,
porque ela é muito doce. Os jornais de fofocas nunca
executam esse tipo de história, porém, é sempre coisas sobre
a herdeira Ferro e suas ações irrefletidas e pouco castas.
Bryan reforça o seu aperto e depois o libera. Neil suga o
ar e esfrega sua garganta, mas não desvia o olhar. Eu quero
gritar com Bryan, mas eu não grito. Em vez disso, eu
pergunto: — O que você quer Bryan?
Seus olhos verdes se voltam para mim e seu olhar
suaviza.
— Você.
Ele fala como se eu fosse tudo que ele quer no mundo,
mas eu sei que não é verdade. Eu sou o que ele quer, agora,
para punição ou lazer, eu ainda não tenho certeza. Bryan
estende a mão.
— Vamos lá, eu tenho o nosso dia planejado.
Eu olho para Neil, mas ele não vai olha para mim. Por
um segundo, eu penso em dizer não, mas Maggie está lá
sorrindo. Quero manter essa expressão feliz no seu rosto e
para isso eu preciso de dinheiro. Tomando a mão de Bryan,
eu deslizo meus dedos em seu aperto quente.
CAPÍTULO 10
Eu estou sentada em frente a Bryan, de todos os lugares
que poderíamos ir, estamos em uma pequena cabine do
restaurante Friendly’s. A ironia não me escapa. Este é o lugar
para onde as pessoas felizes vêm, para comer e tomar
sorvete, sem os perturbados homens Ferro e os seus amigos
chantageados, ou o que quer que eu seja.
Espetando uma batata frita, eu finalmente pergunto: —
O que estamos fazendo aqui?
Bryan não fez qualquer menção de sexo desde que
saímos da casa de Neil nesta manhã. Antes que tivesse saído,
eu disse a Maggie para ficar ali, mas ela não vai. Eu a
conheço. Ela vai voltar para casa depois do trabalho e agir
como se nada tivesse acontecido e isso vai matá-la. Eu estava
esperando que Bryan fizesse o que ele queria e me jogasse
para fora outra vez para que eu pudesse impedi-la. Eu cutuco
o ketchup, antes de deixar cair nas batatas fritas.
Bryan não responde imediatamente. Ele tem aquele
sorriso ocasional que ele usa em seu rosto, como se a vida
fosse tão divertida que ele não se cansa. Às vezes, eu quero
lhe dar um tapa para tira-lo de lá. Como ele pode agir como
se nada importasse? Ele não é o homem que eu me lembro.
Ele pisca os olhos verdes para mim antes de sorrir
aquele sorriso lindo que faz com que uma pequena covinha
apareça em seu rosto. Lembro-me de traçar as linhas de seu
rosto com minha língua, anos atrás, e prestando atenção
extra para esse pequeno local. É como se ele soubesse,
porque a inclinação da sua boca muda, como se ele estivesse
tendo pensamentos sujos.
— Nós estamos almoçando.
— Eu sei disso, mas foi por isso que você me pegou hoje
de manhã? Porque você não queria comer sozinho?
Ele coloca uma batata na boca e acena. O movimento
faz cair o seu escuro cabelo sobre a testa. Ele o retira de volta
com a mão e inclina sua cabeça para o lado enquanto aponta
uma nova batata frita para mim. — Você odeia comer
sozinha.
— Este não é o ponto.
— Então, qual é o ponto?
— Este não era para ser um encontro! Sexo, Bryan, você
disse que queria sexo e é isso. — Eu digo, gritando com ele,
inclinando-me sobre a mesa, mas ele não para e a garçonete
escolhe esse momento para reaparecer.
Seus olhos se arregalam e a expressão mal-humorada
no seu rosto desaparece e é substituída por um olhar
divertido e um pouco interessado.
— Precisa de mais alguma coisa? Bem, tudo o que eu
puder fazer por você?
— Bryan quase vomita seu milk-shake, enquanto o meu
rosto fica vermelho cereja. A garçonete olha para mim, em
seguida, pisca antes que se afaste.
Bryan está praticamente sufocando, mas finalmente
consegue falar.
— Podemos adicionar ela ao acordo? Acho que ela está
afim de você. — Seu corpo treme, enquanto ele tenta reprimir
o riso e falha.
Eu caio para frente para esconder o rosto, ao mesmo
tempo deslizo para baixo na cabine. Alguém atire em mim. Eu
chuto Bryan por debaixo da mesa.
— Eu quero ir embora.
— Sim, você já disse isso. Todas as coisas boas vêm com
o tempo.
— Meus lábios estão apertados, tentando não dizer o
que passa pela minha cabeça. Bryan e eu costumávamos
brincar tão bem, mas eu não quero isso. Não é real. Ele está
me extorquindo. Eu não estaria aqui se ele não estivesse.
— Oh, vamos lá, Hallie. Eu sei que você quer dizer.
Basta dizer. Seja você e pare de agir como a versão reprimida
de si mesmo que o seu namorado a transformou.
— Eu não vou discutir o Neil com você.
— Sim, porque não há nada para discutir.
— Eu o odeio.
— Sim, você já disse isso.
A garçonete passa por nós e deixa cair um papel sobre a
mesa. Bryan pega e dá uma risadinha.
— Quer o número dela? — Ele segura o papel e me
mostra sua mensagem escrita à mão no topo: Ligue-me,
abraços e beijos. Seguido por seu número de telefone.
Eu faço um som grave e me saio da cabine. Temos que
começar com as coisas, então eu poderei parar Maggie. Eu
não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo. Eu desejo
somente que Bryan continuasse com as coisas, mas ele não o
faz. Eu tento sair do restaurante sem ele, mas ele pega a
presilha do meu cinto no meu jeans e me puxa de volta para
ele enquanto nós caminhamos para fora para tomar ar fresco.
Em seguida, o braço está em torno de minha cintura.
Ele está andando perto de mim e sussurrando em meu
ouvido: — Tem algum outro lugar para estar?
— Não, você é a única pessoa com quem estou me
prostituindo hoje.
— Ele se encolhe e sua mão desliza do meu lado. Eu
continuo a caminhar, sem perceber que ele está parado.
Quando me volto, Bryan está me observando e posso dizer
que há uma guerra travando dentro dele. Ele sabe muito bem
o que ele fez para mim, mas ele fez isso de qualquer maneira.
— Você não é uma prostituta. — O vento chicoteia o
cabelo dos seus olhos quando ele fica lá, sem piscar. Sua voz
está calma.
O canto da minha boca puxa para cima em um sorriso
triste e eu balanço minha cabeça.
— Eu sei o que eu sou, o que eu tenho que fazer, e já
disse que sim. Eu sou o que você me fez, então não vamos
adoçar as coisas. Eu não quero fingir.
— Eu finjo. — Sua confissão me surpreende.
Meus lábios se separam, mas eu não sei o que dizer,
então eu fico lá boquiaberta. Um carro para no
estacionamento e passa entre nós. Nenhum de nós se move,
só ficamos lá congelados com pensamentos não ditos. Ele
olha para o lado e dá um suspiro, antes daquele sorriso
brincalhão retornar ao seu rosto. É a máscara, um disfarce
que esconde cada pensamento de sua cabeça, de modo que
ninguém nunca saiba o que ele realmente pensa ou sente
sobre qualquer coisa.
Eu odeio isso. Eu quero que ele o jogue para fora, mas
eu não me atrevo a perguntar. O cara que eu conhecia não
está mais lá. Ele não pode estar. Eu caminho em direção a ele
e olho para seu rosto. A atração entre nós é forte e eu sei que
vou me arrepender disso, mas eu digo isso de qualquer
maneira.
— Então, vamos fingir. Eu vou ser eu e você será você. O
tempo não passou, nós nunca terminamos e você não me
odeia, oh, e você não me ameaça. Eu estou aqui porque eu
quero estar. Eu vou ser sua, eu vou ser a versão de mim que
você se lembra, porque é isso que você quer, não é? Eu
escrevi sobre o passado, mas você quer reviver isso, então
vamos.
Bryan estuda meu rosto enquanto eu falo, seus olhos
travam com os meus e não desvia o olhar.
— E então?
— E você vai agir como o homem que é agora e acabar
com essa porcaria falsa.
O peito de Bryan sobe e desce enquanto seus olhos se
dirigem para o meu cabelo escuro. Ele levanta um cacho e o
enrola em torno de seu dedo, estudando a suavidade dos
meus fios escuros, como se ele nunca tivesse feito isso antes.
— Você não quer isso.
— Uh, não, você não quer isso. Bryan... — minha voz
falha. Estou tão frustrada. Borboletas estão rodando no meu
estômago, e eu juro por Deus que elas estão indo para voar
para fora do meu nariz se eu não nem o beije e nem o afaste,
mas eu não posso. Estamos presos juntos, como duas peças
de um quebra-cabeça. Eu baixo meus olhos e aspiro um gole
irregular de ar. O olhar de Bryan aquece meu rosto,
acariciando-o lentamente, reaprendendo as linhas e curvas
que antes eram tão familiares para ele.
— Hallie. — Eu olho para cima quando ele chama meu
nome e antes de eu saiba o que aconteceu, suas mãos estão
em minhas faces e os lábios estão pressionados contra os
meus. É o beijo mais suave que eu já senti, suave carícia
como um floco de neve. Deixa-me tremendo e desejando mais,
mas ele se afastou.
Os lábios de Bryan estão separados, enquanto ele me
observa. Ele finalmente diz: — As coisas são assim por um
motivo. Confie em mim quando eu digo que você não quer
saber mais.
A amargura me sufoca. — Confiar em você. Que irônico.
— Eu confio em você. — Porra, esses olhos. Eles
penetram até meu interior, roubando vislumbres de minha
alma. Sua expressão é tão sincera que me assusta.
Eu dou uma reação instintiva e contrária: — Você não
deveria. Você não me conhece mais, e assim que eu tiver a
chance, eu vou acertar as contas com você por isso. Eu juro
por Deus, que eu vou.
Quero dizer cada palavra que eu digo. Vingança queima
através de mim e um fluxo constante de calor faz com que
meus dedos se fechem ao meu lado. Apesar da atração, eu
posso sentir quando alguém está a fim de me machucar e eu
sei que, sem sombra de dúvida, Bryan vai me dizimar. Eu
sinto a sensação de redemoinho dentro do meu interior, me
avisando para ficar longe.
O sorriso luminoso retorna ao seu belo rosto antes de
ele estalar a língua e levantar uma sobrancelha para mim.
Inclinando-se perto do meu rosto, ele sussurra: — Estou
ansioso por isso.
CAPÍTULO 11
Preciso de bebidas. Sério. Meu coração tem martelado
desde aquele beijo e não vai abrandar. A adrenalina
constante está me fazendo frenética. Eu quero correr, gritar e
dançar, tudo ao mesmo tempo. O riso maníaco tenta emergir
de dentro de mim, mas eu aperto minhas mãos e torço,
tentando força-lo de volta para dentro.
Bryan, por outro lado, parece completamente frio e
retraído. Estamos deitados no gramado atrás da mansão na
Bayard Cutting Arboretum. Há um enorme gramado que se
estende desde a parte de trás da casa por todo o caminho até
a água. Luxuosas casas se alinham à margem oposta, mas
nenhuma é tão grande como esta. É uma das casas mais
antigas na área e foi transformada em um parque estadual
antes que eu me lembre. Não há muitas pessoas de fora hoje.
É um bocado cedo também, mas Bryan não se importa e nem
eu.
Ficamos deitados na grama, lado a lado, e olhamos para
o céu. As mãos de Bryan estão dobradas atrás da cabeça
revelando o corpo tonificado que eu conhecia tão bem. Mas
ele está mais velho agora e as linhas de seu peito e cintura
mudaram. Ao invés de crescer mais suave, ele se tornou mais
angular com uma cintura moldada. Os músculos de seus
braços curvam perfeitamente. O pensamento de ter aqueles
braços em volta de mim pisca através da minha mente, mas
eu empurro o pensamento para longe. Eventualmente, ele vai
parar de jogar e exigir o que ele quer, mas por enquanto
Bryan se contenta em olhar para as nuvens e fingir que
somos amigos.
Depois de um silêncio prolongado, ele confessa: —
Quando eu era criança, eu queria viver aqui. Eu pensava que
eu poderia comprar esta casa. — Ele ri baixinho e olha para
mim.
— Essa foi a primeira vez que eu aprendi que algumas
coisas não podem ser compradas.
Eu não respondo por que sua afirmativa fica sob a
minha pele. Aparentemente, ele não pode comprar uma casa,
mas ele pode me comprar. Eu pressiono meus lábios juntos e
olho para uma nuvem que é tudo, linhas e curvas suaves.
Os olhos de Bryan estão ao lado do meu rosto, mas eu
não olho para ele. Quando eu faço, eu me perco nas
profundezas dele e só vê o que eu quero ver. Eu gostaria
tanto que permanecêssemos amigos, mas as coisas não
conduziram a isso, e agora estamos aqui, comigo conspirando
para ficar ainda com ele no gramado de uma das nossas
antigas saídas. Sim, estávamos estranhos. Bryan e eu
costumávamos andar por aqui quando estávamos juntos. Os
únicos outros seres ao redor são os idosos e os bandos de
gansos e patos que vivem perto da água.
Quando ele olha para longe, Bryan respira fundo, e
pergunta: — Por que você escreveu sobre mim? Quero dizer,
você poderia ter escrito qualquer coisa que você quisesse,
sobre qualquer um dos seus amantes, e você me escolheu.
Eu quero saber o motivo. — Ele tem problemas para fazer a
pergunta. A forma como a sua voz sai me diz isso.
— Eu não quero mais falar sobre isso. Além disso, eu já
lhe disse. Não foi minha intenção ofender ninguém.
— Dane-se isso, não foi feito para ser visto por ninguém.
Eu tenho uma sorte horrível. Para cada coisa boa que me
acontece, mais três coisas desagradáveis aparecem ao mesmo
tempo. Bryan é uma confusão de retorno para minha boa
sorte.
Eu roubo um olhar de seu jeito quando ele não
responde. Seus cílios escuros estão fechados e ele está
respirando profundamente, como se a minha resposta lhe
doesse. Ao abrir os olhos novamente, ele me vê. Bryan rola
para o lado e estamos nariz com nariz.
— Eu não me importo se essa coisa toda explodir na
minha cara, isso vale a pena o preço.
— Eu não digo nada enquanto o meu pulso dispara e
seus lábios se aproximam. Seus olhos esmeralda mergulham
do meu olhar, para os meus lábios e voltam. Em voz baixa,
ele diz: — Finja que você me ama. Beije-me, Hallie... Apenas
uma vez.
Essas palavras penetram no meu coração e o rasga
dentro do meu peito. Como ele pode dizer coisas assim para
mim? Depois de tudo que passamos, depois da maneira como
ele está me tratando. Eu firmo minha voz, não confiando que
ela saia tão severa quanto eu preciso que ela saia.
— Você não tem direito de dizer coisas assim para mim.
— Você não deseja essas coisas, Hallie? Você não sonha
com uma segunda chance?
Ele enfiou um punhal no meu coração e está torcendo-o.
Eu poderia muito bem ser o ladrão da noite passada, porque
suas palavras estão me matando. Eu percebo o que me
incomoda mais sobre tudo isso e é incapacitante — eu nunca
deixei de amá-lo. Não importava se nos separamos e nunca
mais nos falamos, meu carinho não morreu. Ele ainda está
lá, queimando brilhante e ele sabe. Eu não posso me proteger
dele, nunca fui capaz de mascarar minhas emoções dele.
Minhas palavras viram gelo e endureço a minha voz, —
não há essa coisa de uma segunda chance. Pergunte a minha
mãe ou meu pai, seja ele quem for. Pergunte ao homem que
me adotou e me poupou de tanto, por tanto tempo. Pergunte-
me porque eu não desejo ou quero mais. Pergunte-me Bryan.
— Mas ele não faz. Em vez disso, ele só olha para mim com
os lábios entreabertos, surpreso.
— Os sonhos são veneno. Eles se voltam para o pó
muito rapidamente e infectam cada parte de sua vida como
um câncer que não pode ser detido. Eu me recuso a
desperdiçar a minha vida olhando para trás Bryan. Não há
nada lá para mim, então me diga por que estamos revivendo
o passado? Por que você me trouxe aqui?
Bryan rola de costas e respira. Ele observa o céu por um
longo tempo antes de tomar minha mão e tecendo os dedos
juntos. Eu quero me afastar, mas não é porque eu não gosto
de seu toque, pelo contrário. Cada carícia de sua pele na
minha me deixa desejando mais.
— Você me odeia? — Ele finalmente pergunta.
Quando abro minha boca para responder, ele
acrescenta: — Diga-me a verdade. Eu vou saber se você está
mentindo e eu não preciso de mais mentiras, não de qualquer
um, especialmente você.
Sua mão continua segurando a minha. Minha primeira
reação foi dizer que eu não o odeio, mas eu não o conheço
mais.
— Bryan, eu não sei o que pensar de você ou disso.
Parece que você queria ficar comigo de novo, mas então eu
não entendo o porquê você... — Minhas palavras explodem
em um grito estridente quando eu sinto algo frio tocando no
meu tornozelo. Eu puxo meu pé, gritando.
Bryan registra e olha em volta para a fonte do meu
clamor. Um pato grande e gordo está no meu pé e olhando
para mim como se eu fosse louca. Está bem perto de mim e
eu não tinha ideia que estava ali. Estou histérica e
praticamente rastejando meu caminho para o colo de Bryan
enquanto a besta honks 4 caminha em minha direção.
Bryan não sabe o que aconteceu, mas não me afasta.
Seus braços se fecham ao meu redor e ele pergunta.
— Ele me mordeu! Vá embora! — Eu estou gritando com
o pato e chuto meu pé nele.
— Sério? — Ele sorri e olha de mim para o animal
excessivamente carinhoso.
— Sim! O filho da puta me mordeu! — Algumas
senhoras idosas no pátio suspiram com o meu linguajar, mas
o pato está ali, lambendo o bico, enquanto ele quer mais.
Freneticamente, eu gesticulo para minha perna e gaguejo
mais frases, a maioria dos quais são totalmente incoerentes.
— Acalme-se. Deixe-me olhar isso. — Bryan tenta me
erguer, mas eu não posso deixar. Aquele monstro ainda está
lá, esperando para comer minha perna. Eu me agarro a
Bryan, cavando minhas unhas em seus ombros, e me recuso
a libertá-lo.
Eu balanço minha cabeça furiosamente. — Não!
4 Honks – é o som que o pato faz.
— Ok, ok, — diz ele em voz baixa, sem tentar me colocar
para baixo. De alguma forma, ele consegue ficar em pé e me
leva a uma das cadeiras do gramado. O pato fica onde
estávamos, e olha para mim, piscando seus olhos negros
redondos. — Deixe-me ver o seu tornozelo.
Eu puxo a minha perna do meu jeans e espero para ver
a pele mutilada, mas não há sequer uma marca. Eu pisco,
sem entender. — Mas ele me mordeu.
Uma das velhinhas na varanda está perto o suficiente
para me ouvir. Ela diz: — Aquele é muito amigável para o seu
próprio bem. Ele lhe deu uma pequena bicada de amor, isso é
tudo. — Ela está tentando não rir, mas há um sorriso
divertido no seu rosto.
— Uma bicada de amor? — Bryan repete.
Ela se vira para ele e acena. — Esse deve ter sido um
animal de estimação. Ele tem dois irmãos e os três costumam
andar por aí como se eles tivessem crescido em um balde.
Meu palpite é que alguém os conseguiu para a Páscoa e, em
seguida, os jogou no rio quando ficaram grandes demais.
Este é muito amigável. Ele vagueia aqui e vai para a casa o
tempo todo. Ele gosta dela.
Deixei escapar um suspiro trêmulo e não sei se devo rir
ou chorar. — Eu fui atacada por um pato. — Eu pareço
chocada.
— Não querida, um pato tentou beijar o seu tornozelo.
Vou ter que tentar isso mais tarde. — Há riso em sua voz,
embora ele mantenha o rosto sério. — Está tudo bem, você
sabe. Você vai ficar bem. Você já passou por tanta coisa e eu
tenho certeza que você pode chutar o traseiro desse pato se
você tiver que fazer. — Os lábios de Bryan se contorcem
enquanto diz a última frase, que é contagiosa.
Risos e lágrimas irrompem, ao mesmo tempo e eu não
posso parar. Bryan envolve seus braços em volta de mim e
beija minha face antes de enxugar as lágrimas. Ele segura
meu rosto em suas mãos e olha nos meus olhos.
— A última coisa que eu preciso é de mais concorrência.
Diga-me, onde é que eu estou em relação ao Neil e ao
mordedor de tornozelo ali? Ele é meio quente, um tipo de
Howard, The Duck 5. Você não está nisso, não é? Eu só estou
perguntando por que já faz um tempo.
Eu me viro para bater com o cotovelo em suas costelas e
ele solta um som oof. — Não! Eu não faço com animais!
A velha senhora na varanda vomita seu chá e começa a
engasgar enquanto o pato dá um passo mais perto. Meu
controle sobre Bryan solta antes de eu ficar em pé e depois de
bater o pé no animal. Um pato normal teria corrido, mas essa
coisa estúpida apenas fica lá e olha para o meu pé como se
5 Howard the Duck é um personagem de quadrinhos do universo Marvel Comics criado pelo
escritor Steve Gerber e artista Val Mayerik.
fosse pornografia. Bryan ri enquanto a velha senhora limpa
sua mesa antes de seu chá derrame sobre seus amigos.
— Vamos lá, Hallie. — Bryan pega a minha mão e me
puxa para longe. Cortamos para o caminho que leva ao
estacionamento. — É hora de fazer algo que eu sempre quis,
mas nunca tive a chance.
Distraída, eu olho para trás. O pato maldito está nos
seguindo, gingando lentamente atrás, pelo caminho. Outros
dois patos brancos emergem dos arbustos e o ladeiam. —
Sim, e o que é isso? — Eu realmente não estou prestando
atenção.
Ele sacode o meu braço e me puxa para perto. Meu
corpo pressiona firmemente o dele e ele tem toda a minha
atenção.
— Eu quero provar cada centímetro de você. — O olhar
em seus olhos e o jeito que ele me abraça me diz que ele quer
dizer isso. Eu separo meus lábios para dizer algo, mas ele
oferece mais um daqueles beijos leves e eu esqueço o que eu
ia dizer. A forma como acaricia os lábios contra os meus é
como uma droga, obscurecendo todos os pensamentos,
exceto um, eu quero mais.
CAPÍTULO 12
É fim de tarde no momento que chegamos a sua casa —
correção — a mansão de sua família. Olho para ele como se
ele fosse louco, enquanto estaciona o seu pequeno carro
esporte para dentro do pátio. Ele desliga o motor e sai, antes
de caminhar ao redor e abrir a minha porta.
Enquanto ele mantém a porta aberta para mim e oferece
sua mão, eu provoco, — você ainda mora com sua mãe?
Deprimente. — Mas é tão longe de deprimente que não é
engraçado. Bryan tem a sua própria ala na vasta
propriedade. A fortuna Ferro é vasta e o tamanho de uma
mansão indica o quão profundo são seus bolsos. Minha mão
desliza na palma de Bryan e formigamentos disparam em
linha reta através de mim. Eu me esqueço de respirar.
Bryan oferece um sorriso enquanto me aperta, mas
escapa instantaneamente. Minha declaração foi tão ridícula
que não há nenhuma maneira que ele deveria ficar chateado
com isso, mas ele parece estar.
— Venha, Hallie. Sem mais brigas ou adiamentos.
Eu não posso evitar. Eu o provoco.
— Adiar? Eu não sou a pessoa que jogou a minha
bunda para fora na noite passada. Eu estava pronta para ir.
— Eu sou uma mentirosa e ele sabe disso.
Bryan me ronda, sua expressão é formidável, e traz os
lábios tão perto dos meus que eu acho que ele vai me beijar
ou morder-me. — Mentiras não servem para você.
— Elas não exatamente bajulam você, também. — Meu
coração está batendo tão alto que eu tenho certeza que ele
pode ouvi-lo. Por que não posso agir como se ele fosse um
idiota? Bryan Ferro é um idiota confuso e ainda assim, eu
viro mingau quando ele me toca ou pisca aqueles olhos
verdes surpreendentes para mim. A intensidade de seu olhar
me assusta e eu não posso esconder o tremor que provoca.
— Eu não menti para você.
— Você não me disse a verdade, também. Uma omissão
é uma mentira, então não vamos jogar.
Seus olhos mergulham em meus lábios. — Tudo bem,
então vamos fazer o que viemos fazer aqui.
Meu coração bate em minhas costelas por sua aspereza.
Não há nenhuma conversa sutil, não para ele, não desta vez.
— Eu vou leva-la para minha cama, deixá-la nua, e lamber
cada centímetro do seu corpo bonito antes de fazer você gritar
meu nome enquanto você goza. Você estará tão satisfeita que
você não será capaz de andar por uma semana.
Meu lábio inferior treme involuntariamente. Bryan fecha
o espaço entre nós e belisca meu lábio antes de se afastar e
puxar meu braço em direção à porta. Nós caminhamos
através da mansão, passando por empregados, todos eles nos
ignoram. De repente, eu estou tão nervosa que eu perco toda
a minha coragem. Ele é o único responsável e está no
controle.
Eu já estive aqui antes. Eu andei por estes corredores e
estive em sua cama. É como déjà vu e as emoções que
arremessam através de mim são um milhão de vezes pior do
que ontem à noite.
Eu empurro o braço quando estamos prestes a entrar
em seu quarto. — E se a sua irmã nos vir?
— Jos não está aqui.
Concordo com a cabeça e olho para o chão, enquanto ele
segue para a maçaneta. Eu não posso entrar naqueles
quartos. Eu vou ser atacada por flashbacks e cair aos
pedaços. — Como ela está? — Jocelyn é sua irmã gêmea e
demasiadamente boa para ser relacionada a qualquer um
deles. Ela tem cabelo escuro e olhos verdes, mas é aí que as
semelhanças terminam. Ela tem uma suavidade que para ela
é tão inocente, o que é estranho, já que ela cresceu com
quatro irmãos Ferro. Adicione seus primos transtornados e é
a coisa mais estranha que eu já vi.
Bryan dá de ombros e começa a abrir a porta.
— Mesmo o que ela tenha sido sempre muito suave. —
Ele faz uma pausa, como se ele estivesse pensando em algo.
Seus olhos mergulham a mão na maçaneta da porta e eu não
tenho ideia do que ele está lembrando, se é sobre mim ou
outra parte de sua vida desarrumada.
Eu deixo escapar: — E os seus irmãos?
— Eles não estão aqui também. — A mão de Bryan
escorrega o botão e ele se vira para olhar para mim. Um
sorriso malicioso se espalha por seus lábios.
— Você está com medo de estar aqui, Hallie? A última
vez que esteve neste corredor você praticamente derrubou a
porta para chegar à minha cama. — Minha cara queima de
rubor e eu tento desviar o olhar. A memória retrocede como
pavio seco e eu suspiro. Bryan leva meu queixo e vira meu
rosto de volta para ele. — E então?
— Eu não estou com medo. — Meu pulso acelera com a
mentira.
Bryan se inclina e sussurra em meu ouvido, isso dispara
uma corrente elétrica direta para o meu estômago. Minha
coluna endurece em resposta e eu paro de respirar. — Então
prove.
Ele se afasta e seu olhar desloca-se para encontrar os
meus. Eu sei quando estou sendo isca, mas a minha resposta
é juvenil. Eu não posso deixá-lo ver o quanto me tornei fraca,
e ainda assim, quando eu entro por aquela porta, as coisas
que eu escrevi no meu livro irão se tornar real novamente. As
memórias vão brotar e não haverá maneira de separá-las a
partir deste ponto, e eu vou perder toda alegria que elas me
trouxeram.
Empurrando por ele, eu alcanço a maçaneta e a giro.
Meu coração bate rapidamente, parece que há um leão do
outro lado, mas eu empurro a porta, abro e entro, Bryan me
segue e fecha a porta atrás de mim. Eu não me volto, mas eu
ouço o clique da fechadura.
Meus olhos vagueiam de uma superfície para outra, a
cômoda, a cama, a grande cadeira de couro, o peitoril da
janela, e eu me lembro dele lá e as coisas que ele fez comigo.
As sensações inundam-me, muitas delas, de uma só vez. Fico
ali congelada sendo bombardeada pelo meu passado,
escutando ecos de coisas que antes eram e não são mais.
Minha mandíbula aperta enquanto os meus ouvidos ouvem
apenas os ruídos de fundo juntamente com os sons de
gemidos profundos de antigos ecos. Os profundos gemidos de
prazer de Bryan e do jeito que ele iria gritar enquanto cravava
os dedos nos meus quadris, indo mais fundo em mim, como
ele o fazia. Ouço vozes que não existem mais e sento como se
eu estivesse presa em um sonho que está desmoronando em
pedaços.
Eu perco minha coragem e giro sobre os calcanhares,
correndo para a porta, mas Bryan me corta e caminha na
minha frente. Ele olha para a minha cara e descansa suas
mãos em meus ombros.
— Um acordo é um acordo. Não fuja agora, não quando
você está quase pronta.
Não posso fingir mais, eu não posso. Ele não pode
imaginar o que este lugar está fazendo comigo, como cruel é
submergir no passado desta maneira. Eu estou me afogando
em lembranças que antes eram felizes e agora ele está
fazendo-as murchar. Elas são tóxicas, me envenenando,
penetrando em meus pulmões e me afogando.
Corra Hallie... Corra. A voz na minha cabeça soa em
pânico.
Tento respirar, mas eu não posso. A pressão sobre as
minhas costelas está apertando com tanta força que parece
que eu estou presa debaixo de uma pilha de pedras, tendo
cada último suspiro espremido em meus pulmões.
— PARE! — Eu grito e bato os punhos em seu peito,
gritando o que vem em minha mente. — Você sabia o que isso
faria para mim, você sabia, e você me trouxe aqui de
qualquer maneira!
— Você disse que sim. — Sua voz é calma, mas ele
agarra meus pulsos, então não posso atingi-lo uma segunda
vez. Ele me aperta e puxa os braços para cima, fazendo-me
olhar em seus olhos. — Você tinha uma escolha e você veio
aqui de bom grado.
— Não faça isso comigo.
— Eu poderia dizer a mesma coisa para você, mas eu
não digo. Esta é uma transação comercial, Hallie. Não tem
que haver qualquer emoção, para definir o seu lado.
— Eu não estou morta por dentro, Bryan! Eu ainda
sinto e quero as coisas... — Eu estou respirando com
dificuldade, enquanto a minha voz está sumindo. Meu peito
sobe e desce como se eu estivesse correndo para longe, por
muito tempo.
Eu estou viva.
Pela primeira vez em muito tempo, eu sinto isso, e eu sei
disso. Eu ainda lamento a minha vida e as minhas perdas,
mas eu não quero chafurdar nisso por mais tempo. Eu quero
minha vida de volta e eu quero lutar por ela. Eu cerro os
dentes e puxo os pulsos de suas mãos, sem saber se ele está
fazendo isso de propósito ou se Bryan só me trouxe de volta
por causa de quem ele é, a minha outra metade.
A partir do momento que eu o conheci, ele tinha um
jeito nele. Tudo a partir de seu contato, a forma como ele
pensava, alinhava e complementava o meu. Às vezes eu não
poderia dizer onde eu terminava e ele começava. Eu não
acreditava em almas gêmeas, até que eu o conheci e não vi
nenhuma evidência delas desde então. Mas o mundo é cruel
para me combinar com ele. Bryan Ferro, o insensível.
Repito: — Eu não estou morta por dentro.
Sua voz é mais suave desta vez, me persuadindo de meu
medo. — Então prove Hallie. Eu sei que você já segurou tanto
por tanto tempo. Ponha para fora. Use-me, tenha-me de
qualquer maneira que você deseje, de qualquer maneira que
você precise. Não pense, apenas aja. Pegue o que você precisa
e não considere o amanhã. Viva o aqui e agora. Faça uma
memória que você não vá se arrepender. — Bryan me
acompanha de perto, seus olhos digitalizando meu rosto,
procurando sinais de minhas intenções. Ele está tão perto de
mim que a atração para ele puxa forte, arrancando uma e
outra vez para fechar a distância, mas não posso me mover.
Ele tem que entender, mas eu sei que ele não vai. — Eu
nunca quis lhe machucar.
— Eu sei.
— Nem naquela época e nem agora. — Ele balança a
cabeça lentamente, seus olhos nunca deixando os meus. Eu
engulo em seco esperando que ele dissesse alguma coisa,
mas ele não diz.
— Você acredita em mim?
— A verdade? — Ele aperta os lábios e olha para longe.
— Eu sei que você não queria, mas ainda me rasgou, às duas
vezes. Depois de todos esses anos, eu ouvir sobre você por
causa de um maldito livro e vê-la em uma porra de um palco.
Eu signifiquei tão pouco para você, que você iria... — Ele sorri
duro, falso, e balança a cabeça. — Não, é por isso que eu
escolhi fazer as coisas desta maneira. Não tem alternativa. O
passado é passado e não há futuro para nós, nós dois
sabemos disso, então vamos parar de contornar o óbvio. Eu
quero você e você me quer. Seu namorado atual não satisfez
você desde que você o conheceu. Se ele a tivesse satisfeito,
você teria escrito sobre ele. Por isso, o que vem naturalmente,
Hallie, e ser minha putinha mais uma vez.
— Sua voz torna-se fria quando ele fala e não há
nenhum indício do homem quente, brincalhão que eu
conhecia.
Minha mão voa e dá um tapa em seu rosto. O som é
ensurdecedor. Meu corpo se torna rígido e, por um momento,
nenhum de nós se move.
Bryan finalmente fica de lado e destranca a porta. —
Sua opção. Você pode voltar para aquele idiota ou ser minha
deusa do sexo por esta noite, mas se você voltar para ele cada
negócio que você tem em cima da mesa terá ido pela manhã.
Eu passo longe da porta, em direção a ele. Eu não estou
pensando no dinheiro ou suas ameaças, mas outra coisa.
— Por que você não me pediu?
— Pedir-lhe o quê?
Enfio meu cabelo atrás da minha orelha e digo. É a
pergunta que estava saltitando na minha mente desde que eu
o vi no hotel.
— Por que você não só pediu-me para dormir com você?
Por que você não veio para mim após a premiação e me
convidou para reviver os velhos tempos? Por que você tem
que fazer as coisas desta maneira?
Ele ri uma vez, mas não há felicidade nele. — Eu tenho
meus motivos.
— Galinha. — Dou um passo para mais perto dele. Eu
sei que estou brincando com fogo. Eu não entendo o seu
início súbito de raiva ou suavidade. Sua mente é um enigma
para mim.
— Puritana.
Eu rio. — Nós dois sabemos que não é verdade.
— Não, nós sabemos que não. As pessoas mudam, e
você reprimiu cada impulso que você já teve. Eu ficaria
surpreso se você pudesse até encontrar meu pau, não
importa o resto.
Meu queixo cai, mas meu choque dissipa e minha língua
afia.
— Idiota.
— Você costumava gostar disso também. — Ele sorri. Eu
empurro-o com minhas mãos, meio rindo e meio séria. Isso
traz um sorriso aos seus lábios maus. — Então você quer
algo selvagem? — Apertando minha boca fechada, eu balanço
minha cabeça. — Então o que você quer?
— Eu quero ser alguém diferente. — Eu sorrio
severamente. — Eu suponho ser leal e fiel, mesmo que Neil
me dissesse para fazer isso. Eu tenho que ser outra pessoa,
em qualquer outro lugar, mas aqui estou com você.
Bryan leva meu rosto em suas mãos e inclina a cabeça
para cima. Ele conhece o meu olhar e a onda de luxúria bate
em mim como uma onda. Ele desenha os meus pensamentos
de mim, um de cada vez.
— Mas você quer estar aqui? — Eu não posso olhar para
ele. — E você quer as coisas que você não deve?
— Bryan... — Eu cometo o erro de olhar para ele.
Seus olhos são tão vibrante, tão verdes e perfeitos. Seus
lábios estão cheios, com a mais suave sombra de rosa. Eu
quero inclinar-me em seu peito firme e pressionar meus
lábios nos dele. Eu quero seguir o curso que meu corpo
apresenta para nós e ver aonde ele vai, mas eu não posso. Eu
não posso, a frase se repete uma e outra vez.
— Hallie, me beije. — Sua voz tem o tom de um
comando, mas eu posso dizer que eu tenho uma escolha. Ele
não vai me forçar, mesmo que ele me ameace. Meu olhar se
fixa em sua boca e eu penso sobre o quanto eu quero esses
lábios e como estou desesperada para saborear o seu beijo.
O problema é que eu não sei se isso vai destruir tudo o
que eu tive com ele antes. Tenho tanto medo de perder as
únicas partes boas do meu passado que eu estou paralisada.
Eu não posso seguir em frente, mas eu não posso voltar.
Bryan esfrega o polegar ao longo da minha face e sussurra: —
Um beijo, Hallie.
A atração para ele, para os lábios, é impossível de
resistir. Um beijo não vai mudar as coisas, então eu paro de
lutar e me inclino. Meus lábios acariciam nos seus, enquanto
ele segura meu rosto com as mãos. É aquele leve beijo de
antes, o que me faz querer muito mais. No momento em que
ele se afasta, estou ofegante e tremendo.
Bryan não me libera, ao invés disso ele se inclina para
perto e beija minha face. Correntes fluem através de mim
enquanto eu resisto à vontade de cair em seus braços e
deixar que ele percorra o seu caminho comigo. Será que vai
ser como era? Isso foi há muito tempo. Eu não sou mais a
mesma pessoa e nem ele é. Eu estou perdida em meus
pensamentos quando ele diz: — Pare de pensar. — Ele planta
um beijo na base do meu pescoço e os pensamentos sopram
como folhas ao vento. Meus joelhos se dobram e eu caio em
seu peito firme.
Os lábios de Bryan varrem o meu pescoço e se afastam
muito cedo. Ele dá um passo para trás e leva todo o ar com
ele. Eu quase tropeço para frente, mas consigo me corrigir.
Eu odeio quando ele faz isso. Isso me faz querer mais e de
repente eu posso nos ver juntos, por um momento, os nossos
dois corpos deslizando um contra o outro e coberto por uma
camada de suor. Eu suspiro para mim mesmo. Eu não
deveria querer isso com ele. Ele está me usando... Mas, em
seguida, suas palavras se recuperam na minha mente. Ele
quer que eu o use. Posso fazer isso?
Isso pode ser apenas sexo e nada mais? O rosto de
Bryan está corado e ele está respirando com dificuldade. Seus
olhos estão cerrados e aquele olhar quente é persistente em
meus seios.
— Tire a roupa para mim, Hallie.
Eu não quero fazer o que ele diz, mas as minhas mãos
se movem sem o meu consentimento e eu retiro minha blusa
e remexo para fora da minha calça jeans depois descalço
meus sapatos. Eu estou em pé, descalça, vestindo nada além
de minha calcinha e sutiã, mas isso não é bom o suficiente.
— Tire tudo isso. — Bryan cruza os braços sobre o peito e
desliza aqueles belos olhos sobre meu corpo antes de
encontrar o meu olhar. — Eu quero você nua, agora.
Algo em sua voz me faz lembrar os velhos tempos, mas o
olhar em seus olhos é diferente. É como se ele estivesse com
fome, por mim, como se ele nunca fosse me ver de novo.
Atingindo minhas costas, eu solto meu sutiã e deixo-o cair. O
tecido cai no chão aos seus pés, enquanto meu pulso bate
mais forte. Cada centímetro de mim está formigando,
querendo ser tocada, mas que Bryan não se move.
— Continue. — Ele diz com um olhar de indiferença.
Estou lá, em pé, me perguntando o que diabos eu estou
fazendo. Eu poderia pegar minha roupa e correr ou render-
me, a parte lógica da minha mente está me dizendo para
correr como o inferno, mas eu não corro. Meus pés ficam
colados no chão, à sua frente, seminua. Os olhos de Bryan
levantam dos meus seios para encontrar meu olhar. Nós
olhamos, um ao outro, à medida que tomo a minha decisão.
Memórias dele voam sob as minhas pálpebras — beijos,
toques, e coisas muito íntimas para fazer com qualquer outra
pessoa, coisas carnais por natureza. Bryan nunca me julgou
por isso e, nesse momento, eu quero-o tanto que eu não
posso suportar isso. A força dele é tão intensa, tão ilógica. A
porta atrás de mim está destrancada e as janelas não estão
fechadas. Qualquer um podia me ver e ainda assim, eu não
me importo.
Eu o amei uma vez. Demorou tanto tempo para acabar
isso com ele.
Você nunca parou de amá-lo, a voz na minha cabeça me
repreende.
Apenas respire. Meus polegares engancham os lados da
minha calcinha e eu a deslizo pelos meus quadris e as
minhas coxas. Eu dou a volta no pequeno tecido rendado por
cima do meu pé e passo em direção a Bryan, entregando-lhe
da maneira que eu fazia no passado. Ele esconde suas
emoções, mas age da maneira como ele costumava fazer. Ele
levanta o fundo da calcinha para o nariz e inala
profundamente, fechando os olhos enquanto ele faz isso.
Quando aqueles olhos verdes abrem de novo, ele me observa
através dos cílios abaixados e enfia minha calcinha no bolso.
— Na cama.
Eu quero vê-lo e correr meus dedos sobre sua pele lisa,
mas que Bryan não tira a roupa. Eu olho para a porta e de
volta para ele. Ele oferece um sorriso. — Preocupada em ser
pega?
— Não, — eu minto, tentando ser mais confiante do que
eu realmente sou. — E você?
— Claro que não. Eu ficaria orgulhoso se alguém me
pegasse com você. — Isso me faz sorrir, eu não posso evitar.
Eu tento escondê-lo tagarelando por toda o quarto até sua
cama. É um quarto enorme, com uma área de estar e uma
sala de mídia para ambos os lados, mas a cama está do outro
lado da porta na parte de trás do quarto.
Bryan tem uma antiga cama antiga com dossel de
quatro colunas. As colunas são entalhadas em espirais altos
até o teto do quarto. As paredes são pintadas para parecer
couro e seus cobertores são diferentes do que da última vez
que estive aqui, mais maduro. Eles são marrons escuros e
pretos, sofisticados e caros. — Rasteje.
Eu faço o que ele diz, esperando que ele me diga para
virar, mas ele agarra meus quadris nus e me para. — Fique
assim e deixe-me provar você. — Bryan se inclina e antes de
eu sentir sua boca, seu hálito quente passa sobre minhas
partes sensíveis. Tremo e tento não engasgar, mas já o faço.
Quando sua língua lambe minhas dobras e empurra mais
profundamente, eu luto com as sensações disparadas em
mim. Tem sido assim por muito tempo desde que fui beijada
desta forma. Bryan é suave no início, mas depois ele me
lambe, me bebe como se ele nunca pudesse ter o suficiente.
Sua língua empurra mais fundo e ele puxa meu quadril para
trás, incentivando-me a balançar contra ele. Depois das mais
deliciosas lambidas, eu ainda estou dura.
Bryan levanta a cabeça. — Relaxe e divirta-se. Deixe ir,
Hallie. Eu não vou machucar você. Eu prometo.
Falsas promessas. O pensamento ressoa na minha
cabeça antes de sua boca voltar ao trabalho.
Cada passagem de sua língua me faz perder mais e mais
de mim, até que eu estou cercada por uma nuvem de luxúria,
incapaz de encontrar meu caminho. Eu pressiono para trás
em sua boca, enquanto ele empurra a sua língua, mais fundo
em minhas dobras. Minhas mãos se espalham na cama e eu
descanso minha cabeça, deixando meus quadris no ar para
que ele possa ter o seu caminho em mim. Eu o adoro,
sentindo coisas que não tenho sentido faz tempo. Eu estou
queimando, exigente, e pedindo-lhe para me empurrar sobre
a borda do êxtase.
Eu não sou mais Hallie, sou dele. Eu quero que ele faça
tudo e qualquer coisa. Peço para ele, dizendo coisas que eu
não disse antes, mas ele não para. Em vez disso, Bryan
movimenta, suga, e brinca comigo até que eu estou
prometendo qualquer coisa. — Essa é a Hallie que eu
conheço. Continue implorando baby, e eu vou ser bom para
você.
Bryan mergulha a cabeça mais uma vez e sua língua é
tão quente, tão perfeita. Ele me toca suavemente, enquanto
seus dedos se empurram para dentro de mim, esfregando o
local perfeito até que eu encontre a minha liberação. Eu grito,
empurrando de volta em seu rosto antes de gozar. Meu
coração continua a bater violentamente enquanto Bryan me
lambe até que ele esteja satisfeito. Seus toques são suaves, e
tão diferentes da última vez que estivemos juntos.
Entre respirações, os meus pensamentos nebulosos
sussurram bobagens sobre o amor e carícias suaves. Por um
segundo eu me pergunto se ele se esqueceu de mim. Ele não
disse nada sobre isso e suas ações são tão bipolares que este
poderia ser um capricho.
Talvez Bryan tenha ouvido falar de mim na televisão e
me quisesse de novo. Talvez ele esteja entre amantes e
pensou que seria mais fácil me chantagear, em vez de
encontrar uma nova namorada. Não, isso não soa como ele.
Bryan podia piscar aquele sorriso lindo para qualquer mulher
e seus joelhos enfraqueceriam. Ele veio atrás de mim por
uma razão, e embora ele aja como se fosse vingança, isso não
parece como ele. Parecia suave e puro — dois traços, que em
Bryan, estão normalmente ausentes.
Bryan ainda está vestido quando ele arrasta-se na cama
ao meu lado. Ele se senta na borda, ao meu lado,
observando. Seus olhos permanecem em minhas curvas
nuas. Isso me faz desejar que ele envolva-me em seus braços.
Fingir não soa tão ruim agora. Se isso acontecesse anos
atrás, eu ia rolar em seus braços e ele ia me beijar sem
sentido até que eu estivesse pronta para continuar, mas esta
não é a maneira como as coisas vão ser hoje à noite.
Quando ele fala sua voz soa difícil. — Vire para que eu
possa vê-la. — Eu faço o que ele pediu, mesmo que eu me
sinta tímida sobre isso. Passaram anos desde que ele me viu.
Meus quadris não são pequenos e minhas coxas estão muito
além de finas. Minhas curvas estão preenchidas, e não de
formas desejáveis para mim. Neil me incentiva a malhar, mas
eu não tenho — não desde que eu perdi meu pai.
O olhar quente de Bryan permanece em meus quadris,
antes de viajar até o meu pescoço, e depois descansar no meu
rosto. Ele sorri pensativo. Suavemente, ele diz: — Eu não
tinha ideia de que beleza se intensifica com a idade. Esta
curva aqui é a perfeição. — Ele pressiona o dedo para a base
do meu quadril e desenha uma linha até a minha cintura. Eu
sugo em uma respiração, mas tento ficar quieta. Toda vez que
ele me toca, eu desejo mais. É como se as fronteiras que
dividem o presente e o passado, desmoronasse. Eu não me
importo porque eu estou aqui, neste momento, eu só quero
que as coisas sejam do jeito que eram antes que ele me
deixasse.
Bryan se move até a cabeceira da cama e deita em seus
travesseiros antes de dar tapinhas no local ao lado dele. Eu
sigo sua diretiva silenciosa e rastejo para o espaço vazio ao
lado dele. Bryan envolve um braço em volta de mim e me
puxa para o seu lado.
Recuso-me a pensar. Eu não serei superada com o
ataque de emoções que este pequeno gesto traz. À medida
que deitamos juntos, sua respiração fica mais lenta e eu sei
que ele está adormecido. Quando eu o escuto respirar, ouço
aquele soluço — aquele pequeno suspiro de ar que estava lá
quando estávamos em seu quarto de hotel. Eu não imaginava
isso. Ele está chorando em seu sono? O que está causando
esse som? É de partir o coração ouvir isso.
Eu permaneço ao seu lado por uma hora ou mais. Até o
momento que eu levanto, está escuro e Bryan não mostra
nenhum sinal de despertar. Empurrando-me no meu
cotovelo, eu olho para o rosto sereno e escovo o cabelo escuro
da testa. Eu sussurro para ele coisas que eu provavelmente
não deveria dizer, mas a vida é muito curta para continuar
assim. — Eu senti tanto sua falta. Gostaria que as coisas
fossem diferentes. Eu queria que você ainda fosse meu.
CAPÍTULO 13
Eu dirijo-me para o seu banheiro — é maior do que o da
casa do meu pai — e tento arrumar meu cabelo. Está tudo
bagunçado, como se eu estivesse fazendo coisas
impertinentes. Se sua mãe estiver em casa, eu vou morrer.
Abro uma gaveta à procura de um pente ou algo para
suavizar o frisado dos meus cabelos, quando vejo uma
infinidade de pequenos frascos laranja de prescrição. Eles
rolam para frente da gaveta, facilitando ver o nome digitado
nas etiquetas: BRYAN FERRO.
Eu levanto um e olho para ele. Eu não reconheço a
droga, mas alguns dos outros são familiar. Frascos após
frascos de analgésicos, principalmente entorpecentes,
enchem a gaveta. Eu olho para trás, Bryan ainda dorme na
cama, e me pergunto em que ele está metido. Ele é um
viciado em pílulas? Eu não poderia mesmo dizer que ele
estava em qualquer coisa.
O ponto no centro do meu peito parece oco com esta
revelação. O Bryan que eu conhecia não mexia com drogas,
mas este homem mexe. Eu me pergunto o que mais ele faz,
que outras formas de entretenimento ele compartilha,
daquelas que são estranhas para mim.
Eu fecho a gaveta e abro outra, finalmente encontrando
uma escova. Eu corro através do meu cabelo e faço o melhor
que posso, dado o estado que meu cabelo está. Eu arrumo
minha maquiagem manchada e decido que é o melhor que
vou conseguir.
A questão de como chegar a casa, ainda está se
recuperando em minha mente. Eu preciso chegar a Maggie e
convencê-la a ficar comigo e Neil esta noite. Neil. Isso vai ser
estranho. Eu empurro de lado os pensamentos e na ponta
dos pés passo por Bryan e para fora de sua porta, fechando-a
em silêncio atrás de mim.
Quando eu me viro, eu bato em um peito firme e olho
para cima. Jon Ferro, primo de Bryan, está ali com um olhar
confuso em seu rosto.
Assim que ele me reconhece sua expressão feliz muda
para raiva.
— O que você está fazendo aqui?
— Jon é todo músculo, cabelo escuro, e olhos azuis
brilhantes, como seus irmãos. Ele é, para mim, a pessoa que
menos gosto para conversar. Então, tento passar por ele, mas
ele agarra meu cotovelo.
— Não me diga que ele voltou com você.
Deus, eu o odeio. Eu aperto os meus olhos e puxo meu
braço.
— Não me toque. — Minha voz é constante e até mesmo
baixa. — E ele está dormindo, por isso não deixe a sua
normal estupidez acordá-lo.
Jon olha para a porta com uma expressão confusa. Até
o momento que ele olha para trás, para mim, eu estou
correndo pelo corredor. Não me siga. Não me siga. Não me
siga. Eu digo as palavras dentro da minha cabeça, mas elas
não fazem bem. Na verdade, elas parecem fazer o oposto,
porque Jon me persegue e cai no passo ao meu lado.
— Você sabe que você não é querida aqui.
— Sim, eu sei. — Corro em frente, tentando sair pela
porta antes que Jocelyn ou o resto da família de Bryan me
visse. Eles não me suportam, mas não tenho ideia do por
quê. Foi Bryan que terminou comigo. Eu deveria ser
insignificante e esquecida.
— Então, por que você veio?
Eu paro abruptamente e olho para o cara. Ele não tem
ideia do que Bryan fez para mim, como ele apareceu e virou
minha vida de cabeça para baixo.
— Bryan não me deu muita escolha e agora que eu
estou tentando sair, você não está permitindo. O que você
quer Ferro? — Cruzo os braços sobre o peito como se eu fosse
uma merda dura, mas estou tremendo por dentro.
Jon estuda-me por um momento, olhando para a
mentira, antes de perguntar: — Como você chegou aqui?
— Bryan me trouxe.
— Como você está indo embora?
— Não faço ideia. Provavelmente andando até que eu
consiga que minha amiga venha me pegar.
Jon ri disso. — Você não pode andar. Alguma estrela de
cinema bêbada vai pegar a sua bunda do outro lado da
calçada. — Eu continuo andando, pronta para sair pela porta
da frente, quando Jon agarra meu braço novamente. —
Hallie, espere e não vá por esse caminho. Tia Lizzy está lá
fora, e você sabe como ela é, perpetuamente chateada. Venha
e saia por trás. Você pode pegar o meu carro. Eu pego com
você mais tarde, depois que eu bater algum sentido para o
meu primo idiota.
Ele me libera e eu o sigo. Quero protestar, mas eu não
vou acordar Bryan para pedir uma carona para casa. Além
disso, ele não deveria estar dirigindo, se ele está dopado, fora
de sua maldita mente. Eu olho para Jon, que é um dos
melhores amigos de Bryan e deixo escapar um suspiro,
porque eu tenho que saber o quão longe Bryan caiu desde
que eu o vi pela última vez. — Vocês rapazes costumam
festejar como vocês costumava fazer? Ou será que a sua
escolha em entretenimento amadureceu ao longo dos últimos
anos?
O rosto de Jon se torce quando ele olha por cima do
ombro para mim.
— O que diabos você está falando?
— Nada. — Eu sinto muito, eu perguntei. Jon me dá
mais uma olhada, mas não o deixo cair.
— Se você tem uma pergunta, pergunte a ele.
— Vocês festejam pesado? Drogas? Prostitutas? Você
sabe, esse tipo de coisa?
Jon dá uma guinada, para e gira sobre seus
calcanhares. Ele olha para mim com uma expressão que eu
não consigo ler.
— Isso é por causa de Trystan Scott?
— Não. — Isso foi uma resposta estranha. Por que eu
iria perguntar sobre uma estrela do rock?
Jon sacode a cabeça um pouco e deixa escapar um
suspiro irritado. Bryan está limpo. Ele não mergulha o pau
onde não deve, e mantém seu nariz limpo. A pior coisa que o
cara faz é geralmente comigo e Scott, que envolve álcool e
uma vasta quantidade de estupidez. — Ele sorri: — Mas
Bryan é engraçado como o inferno — despedaçado ou não. —
O sorriso de Jon desaparece e seus olhos cortam para mim.
— Por que você pergunta?
Minto. — Nenhuma razão.
Jon revira os olhos. — Tanto faz. Vou descobrir,
eventualmente, e se isso se origina de volta para você...
Meus olhos estreitam e eu endureço a voz. Quero dizer
cada palavra que eu digo. — Eu não iria machucá-lo.
— Sim. Tanto faz. — Ele não acredita em mim. Estamos
na parte de trás da casa e sigo Jon para fora até seu pequeno
carro vermelho.
Quando eu chego mais perto eu posso dizer o que é, e
eu sorrio. — Você está dirigindo um carro de mulherzinha.
Jon me lança um olhar ruim, quando ele me dá o
chaveiro. — Sim, cortesia de minha mãe e suas tentativas de
me castrar. Faça-me um favor e estacione-o em um bairro e
deixe as chaves no banco. Você vive em uma parte perigosa
da cidade, certo? — Ele sorri para mim e desliza as mãos nos
bolsos.
— Você quer que eu leve o seu carro para que ele seja
roubado? — Ele balança a cabeça. — Estúpido mimado. —
Eu resmungo e abro a porta antes de deslizar para o assento
do motorista.
Jon empurra a porta e fecha. — Eu tenho que me livrar
dele. Você tem uma sugestão melhor?
Eu ligo o motor. — Uh, sim. Vendê-lo como uma pessoa
normal.
— Tudo bem, você tem peitos, você quer? — Jon está
sendo grosseiro, tentando ficar sob minha pele.
Eu rio dele. — Eu não tenho dinheiro, espertinho.
— Mas você vai, certo? Que tal isso, dez mil e é seu —
ou o estacione em algum lugar horrível e deixe essa coisa ser
roubada. Você escolhe.
Dez mil? Ele é louco? — O carro é novo. O preço de
etiqueta tinha que estar perto de cinquenta mil. Isso está
errado.
— Novamente, então? — Eu considero isso por um
momento. Eu preciso de um carro e eu poderia dispor de dez
mil do meu adiantamento, para receber um presente. Eu
estava para comprar um velho Honda. Um novo Miata seria
bem mais legal. Jon sorri, quando ele percebe que me fisgou.
— Dê uma verificada enquanto você der uma volta nele. Os
documentos estão no porta-luvas.
Jon começa a se afastar, mas eu o chamo. — Ei! Será
que Bryan geralmente adormecer tão cedo?
Jon vira e me olha por um momento antes de balançar a
cabeça. — Não, talvez você o tenha cansado. Ah, e no caso de
eu não estar sendo claro, fique longe dele. Ele tem bastante
merda acontecendo sem você reaparecer.
Eu rio e vou embora resmungando: — Se você soubesse.
CAPÍTULO 14
Há um sorriso satisfeito nos lábios quando eu vou até a
varanda da frente. Entre Bryan e o carro, hoje não saiu nada
mal, bem, exceto ataque aleatório do pato. Devo estar louca,
porque eu estou feliz por ter sido chantageada para fazer sexo
e animada sobre ser jogada para comprar um carro. Desde
que eu, de fato, tenho peitos. — São um bom par, na verdade,
o pequeno carro vermelho é perfeito para mim.
Quando eu empurro a porta da frente, fico chocada ao
ver Cecília. Ela está sentada no sofá ao lado de Neil. Ambos
estão, e Cecily corre em minha direção e toma minhas mãos,
tagarelando sobre os contratos. Eu aceno para eles e olho ao
redor para ver Maggie, mas não a vejo.
Corto Cecily. — Me desculpe, um segundo. Neil, onde
está Maggie?
— Ela saiu um pouco. Ela disse que estaria aqui quando
você voltasse, mas ela está atrasada. — Neil tem um olhar em
seu rosto, como se ele estivesse orgulhoso de mim, por tomar
uma para a equipe, mas há um persistente desgosto
espanando sua expressão, também. Quando Cecília começa a
falar novamente, seus olhos cortam para ela.
Cecily me puxa para o sofá. — Sente-se, sente-se.
Estamos esperando por você. Eu tenho os contratos aqui.
Este é para o livro e esta é a opção de filme. Os contratos
para a compra dos direitos já estão em movimento, esta é
apenas uma formalidade e mais dinheiro. — Ela aponta para
as cláusulas e explica o que significam antes de lançar a
página final e entregar-me uma caneta. — É isso, Hallie.
Assine aqui e prepare-se para a sua vida mudar. Tudo o que
você sempre quis, e muito mais virá, inundando o seu
caminho.
Eu fico olhando para os papéis, sabendo que este é um
momento de mudança de vida. Neil está sorrindo para mim,
como se ele estivesse orgulhoso, mas no fundo ele deve estar
ressentido, certo? Ele falou todas as coisas sobre o trabalho
duro na vida, e eu ganhei o meu de sexo e sorte. Eu não devo
me sentir culpada por isso. Este deve ser um dia feliz para
mim, um dos melhores dias da minha vida.
Engolindo em seco, eu rabisco meu nome em ambos os
contratos e empurro-os de volta para ela. — Concluído.
Quando posso esperar para ver esse dinheiro?
Cecily ri enquanto ela pega os papéis e coloca-os em sua
pasta. — Vai ser um pouco antes que o primeiro pagamento
venha. Eu poderia adiantar um pouco por agora. O que você
precisa? — Ela pega um talão de cheques, e faz uma pausa,
esperando para me responder.
Quanto eu preciso? Tudo. O suficiente para me mudar,
salvar Maggie, e pagar pelo o meu carro. Antes que eu possa
dizer qualquer coisa, Neil me corta.
— Ela não precisa de nada. Eu vou cuidar dela, mas
obrigado. — Os dois trocam um olhar que tem muitos
sorrisos secretos. Cecily se afasta em direção à porta, dando
Neil muito espaço. Eu ainda estou sentada no sofá e Neil está
em pé na minha frente.
Ele desliza as mãos nos bolsos e sorri para mim. — Eu
estou tão orgulhoso de você, Hallie. Você já passou por tanta
coisa e você andou através disso mais radiante do que nunca.
Há poucas mulheres que têm a força que você tem, e menos
ainda que fariam qualquer coisa para agradar o homem que
ama. Você é a mulher certa para mim, a melhor
companheira, amante, e amiga que eu jamais poderia
esperar.
Neil fica sobre um joelho, ao mesmo tempo ele puxa um
anel do bolso. Ele possui uma faixa dourada com um
diamante enorme montado no centro. Meu queixo cai,
enquanto o choque rouba minha respiração quando ele
pergunta: — Quer casar comigo?
H. M. Ward
O melhor da literatura para todos os gostos e idades