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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


4 O DIABO É UM MARQUES / Elisa Braden
4 O DIABO É UM MARQUES / Elisa Braden

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Quando um libertino está além da redenção.
Benedict Chatham, o novo marquês de Rutherford, é um escândalo ambulante que sobrevive com pouco mais que engenho, uísque e destrezas perversas.
Profundamente endividado até seu último xelim, deve casar-se com nada menos que uma fortuna absoluta, ou arriscar-se à ruína. Deve casar-se por dinheiro.
Passemos à Srta. Charlotte Lancaster, uma herdeira deselegante mas com fortuna, que foi um desastre desajeitado e ruivo em suas cinco temporadas em Londres. Enquanto ela sonha sair da Inglaterra e ter uma vida de comerciante na América, seu pai planeja trocar seu dote por um título, e o de Marquesa de Rutherford servirá muito bem. Charlotte quer sua independência, não um marido, e certamente não um diabo de má reputação que a debilita e a faz cambalear com um só olhar abrasador. Mas ela é do tipo prático, e um ano com o diabo poderia comprar sua liberdade... desde que ela resista a seus encantos sedutores. Isso não deve ser um problema, porque ele possivelmente não iria querer alguém como ela, e o sentimento é mútuo. De verdade. Ele é.
O amor cresce nos lugares mais inesperados.
Quando seu pai exige um preço tão surpreendente pela mão de sua filha, um ano de fidelidade e sobriedade, Chatham deve trocar suas formas libertinas... ao menos temporariamente. E quando o faz, Charlotte começa a vê-lo sob uma nova luz, não como o escandaloso encantador com o qual se casou, mas sim como o marido que poderia adorar.

 


 

CAPÍTULO 1

“Os demônios não renunciam a sua maldade simplesmente porque herdam um título. Se fosse assim, o Parlamento se veria obrigado a dedicar cada sessão a tais declarações, sem sobrar tempo para arruinar o império”.

A marquesa viúva de Wallingham a Lady Gattingford, sobre as reflexões da dama acerca do escandaloso novo marquês de Rutherford.

26 de março de 1818

Londres

Algo sobre as costas nuas de uma mulher enganou a Benedict Chatham. A curva inclinada da coluna vertebral. A pele como a nata caindo de uma jarra.

— Estou encantada, meu lorde —, ronronou a senhora Knightley desde seu ninho de mantas na cama enredada. — Como sempre, é inesgotável. Uma raridade, sem dúvida. Não é de se estranhar que seja meu favorito.

Com preguiça, olhou as nádegas avermelhadas, as costas vertidas em nata, uma cascata loira lançada engenhosamente sobre um ombro e os lábios inchados por três horas de satisfação. Levantou seu copo para ela e logo lançou para trás outro copo de uísque nas chamas.

De sua perspectiva na cadeira de frente a sua cama, à Chatham parecia uma pintura perversa. Um pouco de Boucher, talvez. Uma beleza exuberante e depravada rodeada de linho branco e seda azul céu. Um anjo que saboreava os prazeres do inferno.

Exceto que a senhora Knightley não era nem nunca tinha sido um anjo.

Ficou de lado, deixando descoberto os mamilos avermelhados, e baixou o olhar por seu peito nu até sua entreperna, agora quieta e coberta por calças.

Seus lábios se assentaram em um beicinho. — Sentirei sua falta.

Olhou para baixo e logo se encontrou com seus olhos ambiciosos. — O que se pode perder? Não vejo nenhuma razão para alterar nosso acordo.

Ela apoiou a cabeça em seu pulso. — Vê agora, carinho. É possível que não te leve a cadeia como devedor, mas terá que casar-se com uma fortuna se não desejar que os credores de seu pai lhe acossem pelo resto de seus dias.

Levantou uma sobrancelha e pôs seu copo brandamente no batente da janela. — Seu ponto?

Seus olhos apareceram quando deslizou seu braço sensualmente por cima de sua cabeça e pôs sua bochecha ao longo de seu antebraço. — O que pensará a futura marquesa de Rutherford de como ganha seus recursos?

Seu meio sorriso não continha humor. Nada sobre suas circunstâncias atuais era divertido. — Assume que haverá uma. Inclusive se houvesse, uma esposa não teria nada que dizer sobre o assunto.

Ela riu entre dentes, o som baixo e rouco. Calculou que estava à beira do sono. Bom. Sua conversa estava minando a pouca força que restava. Já, sua cabeça nadava, causando que a luz se ondulasse ao redor de seu cabelo como um halo.

— Querido Chatham —, suspirou ela. — Agora lorde Rutherford, suponho. Não, sempre pensarei em ti como Chatham. Meu lorde malvado. Meu prazer comprado.

Com cuidado, levantou-se da cadeira, com uma mão apoiada discretamente no marco da janela. Diminutos pontos negros se divertiram como fadas em sua visão. Esperou que se acalmassem, alcançando despreocupadamente a camisa branca de linho que cobria o respaldo da cadeira e arrastando-a sobre sua cabeça. O tecido raspou contra as marcas das garras da senhora Knightley. Preocupou-se de não fazer uma careta.

— Isto soa como uma despedida —, disse, encolhendo rapidamente de ombros enquanto colocava seu colete e casaco da temporada passada. Cada objeto cheirava a ela, lilás e almíscar. Há três horas, o aroma tinha sido aceitável. Agora, revolveu-lhe o estômago. Possivelmente era o licor.

— O que devo fazer com todo esse uísque escocês? — Agora sua voz era insossa, seus olhos fechados. — Ninguém o bebe, exceto você.

Devido às leis de impostos especiais da Inglaterra e os deveres onerosos que estrangulam o melhor produto da Escócia, a maioria dos que apreciavam a bebida a obtiveram de destilarias ilegais. Isso só fazia com que o uísque fosse mais satisfatório, segundo a estimativa de Chatham. — Vende-o ao Reaver —, sugeriu.

— Nunca o conheci.

— Poucos o conhecem —, respondeu. Como proprietário de um clube em decadência que estimula a sede de risco e luxo nos cavalheiros, Sebastian Reaver entendia o valor dos segredos. Enquanto recolhia os de seus patrões, guardou os próprios com zelo. Uma armadura, de algum tipo. Muitos lordes e herdeiros jovens tinham perdido fortunas inteiras dentro dos muros dourados do Reaver, e a alguns estavam estranhamente fascinados com suas pistolas de duelo.

Chatham não perdia frequentemente nas mesas de jogo, mas então, sempre tinha tido um bom caminho com os números. E as mulheres, como era o caso. Entre jogos e benfeitoras como a Sra. Knightley, tinha vivido comodamente durante sete anos.

Até em novembro passado. Até que a apoplexia se apoderou de seu pai e enviou ao segundo marquês de Rutherford a unir-se a sua primeira esposa. Deixando a seu filho, a vergonha, para reclamar o título e herdar cada maldita má decisão que o Rutherford anterior tinha tomado, mais dívidas do que poderia pagar em toda sua vida. Era certo que como um par do reino, Chatham não podia ser lançado a prisão de devedores. Mas já se vira obrigado a vender tudo o que seu pai não tinha vinculado à propriedade. E não foi o suficiente.

Em algum lugar, seu pai ria dele.

Chatham recolheu a bolsa de veludo cinza da mesa de jacaranda junto à cadeira.

As moedas se chocaram enquanto as pesava em sua palma. O enjoo sacudiu sua cabeça, sacudiu suas mãos. Necessitava de uma bebida. Mas não podia ficar mais tempo ali.

Colocando a bolsa dentro do bolso de seu casaco, tirou sua bengala de trás da cadeira.

A senhora Knightley suspirou e se envolveu nas roupas de cama enquanto dormia.

Não olhou para trás enquanto passeava lentamente pelo dormitório, desceu para o vestíbulo de paredes vermelhas, abriu a porta pintada de negro e saiu a uma brilhante rua do Marylebone bordeada por fileiras de casas de tijolos similares.

— Reaver, meu lorde? — Perguntou o chofer de seu pai em voz baixa.

Ele assentiu e subiu a velha carruagem de seu pai. Cheirava a mofo, pó e tempo. Inclusive isto deveria ser vendido. Suspirando, apoiou a cabeça no assento. Fechou os olhos. Resistiu a vontade que sua mente sentia de girar. Precisava de planejamento.

Inútil, a sorte.

O uísque se estava indo. Necessitava mais. Um banho, também. Sua cabeça se inclinou para um lado. Quando a carruagem girou em Oxford Street, logo ao sul em Mayfair, suas pálpebras se abateram, o peso em seus músculos foi uma espécie de dor. Quando voltou a piscar, a carruagem se deteve com uma sacudida na pequena praça de St. James, onde aguardava o modesto tijolo e a distintiva porta vermelha de Reaver.

Chatham tentou clarear sua cabeça lhe dando uma sacudida. Um engano de julgamento, descobriu um momento depois, quando sua cabeça se deteve, mas o mundo não.

— Meu lorde? — O interior do vagão era mais brilhante com a porta aberta. — Está bem?

Sorriu ao chofer, só um reflexo. A cabeça grisalha e com cartola do homem nadava e balançava no quadrado da luz solar. Talvez deveria ter comido antes de visitar a Sra. Knightley, pensou. Mas ele não tinha tido fome. Não sentia há anos.

— Como as árvores — respondeu ele, com cuidado de usar sua bengala enquanto descia da carruagem. O chão de pedras chegava muito rápido a suas botas. A luz lhe queimava os olhos. Lilás e almíscar brincavam em seu nariz.

Entrou pela porta vermelha, detendo-se junto à deusa Fortuna derramando sua recompensa para que qualquer homem a recolhesse. Cadela enganosa. Mas a falsa promessa da figura coincidia com o interior do clube: espelhos com arcos dourados, paredes de seda dourada e lustres sempre acesos. Estava adornado sem um toque de sutileza.

Shaw, o mordomo, aproximou-se por uma misteriosa porta debaixo da escada. O homem magro e de pele morena arqueou as sobrancelhas negras e comentou com tato e delicadeza: — Você está espantosamente cinza, meu lorde. Devo chamar um médico ou a um coveiro?

Os lábios de Chatham se curvaram. — Deixe de brincadeiras, bastardo descarado. Não tem o talento para elas. Por que não providencia uma garrafa de uísque e um banho? Seja um bom homem.

Ao cabo de uma hora, Shaw fazia exatamente isso, adicionando a tudo uma bandeja de lombo em fatiadas e pão quente da cozinheira francesa de Reaver. Depois de tirar uma noite de lilás, almíscar e depravação, Chatham descansou em suas habitações no terceiro piso do clube, desfrutando da escuridão provida por pesadas cortinas, o falso luxo de um espelho pintado de ouro e o aguilhão do uísque ilícito lhe queimando a garganta e o estômago. Deveria comer um pouco da carne. Ele não queria. Possivelmente um pouco de pão, em troca.

Tomou a taça e terminou o gole final, logo se levantou para cambalear-se para o aparador, onde esperava a garrafa. Um consolo. Um amigo. Verteu mais e viu como salpicava o líquido dourado pálido contra um vidro branco. O uísque do Reaver era mais suave que o da senhora Knightley. Mais quente, como a baunilha, o âmbar e o carvalho. Picava-lhe contra a língua e os lábios. Apagou-se toda a lembrança dela.

Gostava muito do uísque do Reaver.

Soou um golpe. Shaw, sem dúvida. Esperou que o índio se impacientasse. A porta demorou menos de um minuto em abrir-se. O homem deveria estar preocupado de que o cadáver de Chatham já estivesse gerando fedor. — Meu lorde, o senhor Reaver o verá em suas habitações.

— Pedi uma reunião?

— Ele o fez. E não chamaria isso uma petição.

— Ah —. Chatham deixou seu copo e levantou sua bengala, levantando-o em um gesto casual. — Me mostre o caminho —. Seguiu Shaw por um corredor atapetado e fofo, e passou pelas sete portas até a oitava, que estava dobrada em uma esquina e se encontrava em um recesso.

Esta porta era de rica madeira escura e singela. Adaptava-se a seu ocupante.

Dentro do hall estava o secretário de Reaver, um homem jovem e sério com o hábito nervoso de ajustar seus óculos. Como muitas coisas dentro deste clube, sua aparência era enganosa. Podia imobilizar a um convidado ingovernável em menos de dez segundos. Reaver mesmo poderia fazê-lo em três, mas mesmo assim. Para um homem pequeno, o Sr. Frelling era bastante hábil.

— Lorde Rutherford — Frelling cutucou o aro dos óculos com o nó do dedo e pigarreou. — Sim, de fato. O senhor Reaver se alegrará de que tenha vindo tão rápido.

— Vivo para agradar.

Shaw fechou a porta com um suave clique quando partiu, e Frelling fez um gesto com a mão a Chatham para passar a habitação do lado. Sebastian Reaver estava sentado atrás de uma mesa de grande tamanho, feita de carvalho tingido de escuro. Era pesada e enorme, carecia de elegância. Igual a seu dono.

Quando estava de pé, Reaver era meia cabeça mais alto que Chatham, que media um metro e oitenta e oito. Seus ombros eram facilmente o dobro de largura que os seus, que estavam bem magros na atualidade. Talvez deveria ter comido as oferendas do francês.

Olhos escuros brilhavam debaixo de sobrancelhas pesadas. As características contundentes formavam uma expressão especulativa. — Estará morto no inverno se seguir desta maneira —. A voz era tão profunda como um estrondo.

Chatham se afundou na dura cadeira de madeira em frente ao enorme escritório. Para o dono de um clube envolto em ostentação, o homem era positivamente espartano. — Suponho que o convite a conversar sobre seus — olhou ao seu redor à madeira escura, as paredes nuas, os móveis lisos, — quartos privados tem um propósito além de profetizar meu desaparecimento, é óbvio.

Reaver se recostou em sua cadeira e cruzou pesadamente os braços sobre um peito pesadamente musculoso. — Perdeu até seu último objeto de valor, e se comporta como se nada tivesse mudado.

A mandíbula do homem, tão quadrada como seu escritório, apertou-se brevemente. Os olhos escuros caíram sob um livro de contas. Uma ponta dos dedos riscava de um lado do livro de contabilidade ao outro.

— Posso lhe dar até na próxima terça-feira. Shaw o ajudará a empacotar suas coisas.

Chatham manteve seu silêncio enquanto Reaver fazia uma notação. — Parece que a utilidade de um em seus olhos se reduz a sua pontualidade com o pagamento do aluguel.

— Sua utilidade não é o problema.

Assentiu ao homem de grande tamanho. — Naturalmente não. Minha influência comprou seu êxito, depois de tudo. Possivelmente nosso mal-entendido seja uma questão de ingratidão.

Sua voz se converteu em um riso. — Foi útil, Chatham. Isso não te dá direito à residência permanente.

— Todos os jovens lordes que seguiam meus passos me seguiram até aqui.

— Não o nego.

Chatham inclinou a cabeça e juntou as gemas dos dedos. — Os segredos escandalosos da alta aristocracia que tanto desfruta colecionar? Também os entreguei.

— Vendeu-me isso.

— Posso te dar seu maldito aluguel —, disse Chatham em voz baixa, esperando que a senhora Knightley não o tivesse cortado.

Os olhos de Reaver se endureceram, piscando brevemente. — Por quanto tempo? Uma quinzena? Estender seu crédito me faria um imbecil, considerando suas perspectivas.

Chatham sentiu que surgia uma resolução mortal como fumaça dentro dele. Colocou cada grama em sua resposta. De pé e apoiado negligentemente com um quadril contra a beirada mesa do escritório de Reaver, sorriu ao rosto de granito do dono do clube e disse: — E, entretanto, está muito disposto a trair um aliado sobre cuja influência se construiu seu império dourado. Antes de marcar minha conta saldada em seu livrinho, considere se a maré de tal influência pode reverter-se. A imbecilidade vem em uma variedade infinita de padrões.

Reaver não ficou de pé. Ele não se alterou nem olhou para o outro lado, nem sequer piscou. Seu olhar era firme, como um verdugo que desempenhava seus deveres com reticência e rapidez misericordiosa. — Se pudesse ver-te agora mesmo Ben, saberia o absurdo que me soa sua ameaça —. Seus olhos, negros como o carvão, posaram no lugar onde Chatham se manteve firme entre a mesa e sua bengala. Reaver sempre tinha visto através dele. Algo enlouquecedor — Um dia, pode julgar isto como benevolência em lugar de traição. Caso sobreviva tanto tempo.

— Você gostaria de fazer uma aposta? — Chatham grunhiu, seu gênio ardendo em seu estômago, amargo e ácido. Separou-se da beira da mesa de carvalho.

Os lábios duros de Reaver se curvaram em um sorriso, débil e breve. Era uma vista estranha. — Um conselho de um velho amigo.

— Não somos amigos.

— Sobreviva a passagem do inverno. Então, ponha sua inteligência a um melhor uso.

Sem outra palavra, Chatham lhe deu as costas e deixou os domínios de Reaver. Passou junto ao Frelling e seus espetáculos nervosos. Retornou a suas habitações, onde recolheu seu casaco e chapéu. E logo deixou o clube de Reaver sem nenhuma ideia de para onde ir. Aparentemente, entre piscadas, ficou cambaleando na pequena praça fora da porta vermelha, suas botas agarrando os paralelepípedos, sua mão agarrando a cabeça chapeada de sua bengala.

Por que tinha acreditado em Sebastian Reaver? Estúpido pensar que alguém fosse digno de fé ou capaz de lealdade. Não é que Reaver e ele fossem amigos particulares, mas tinham feito negócios ao longo dos anos. Mutuamente benéfico, pensou.

Assegurou o chapéu sobre sua cabeça giratória e esperou que sua carruagem chegasse. Chegou minutos depois, convocado pelo sempre eficiente Shaw, conduzido pelo homem de seu pai. Por que o velho servente continuava conduzindo para o novo Lorde Rutherford, de um lado a outro entre Rutherford House e Reaver’s, só podia especular. Não era como se lhe pagasse muito. — Levo-lhe a casa, meu lorde?

Chatham levantou a vista, protegendo os olhos do sol atrás da cabeça do chofer. Abriu a porta da carruagem mofada. — Não foi meu lar em anos, homem. Por que lhe devo recordar isso constantemente?

A voz crepitante debaixo do chapéu do chofer quase soava divertida. — Desculpe, meu lorde. Esqueci disso, suponho.

Dez minutos mais tarde, chegou a grande casa de pedra branca na praça Grosvenor, onde cinco homens corpulentos estavam carregando dois carros. O primeiro casal levava um marco de cama de uma das câmaras de convidados. Outro casal carregava uma grande caixa de madeira, e um quinto homem segurava pinturas dos antepassados de Chatham em cada braço, de uma forma muito pouco delicada.

— Maldito seja —, murmurou ao mofo e ao pó. — Pryor se move tão rápido como fala, ao que parece. — A casa tinha sido vendida fazia algumas semanas a Lorde Gilforth, cujo advogado, o Sr. Pryor tinha uma predileção por discursos que Chatham encontrou exaustivo.

No vestíbulo, foi recebido pela visão abominável de sua mãe. Sentada no degrau inferior da escada, com as mãos cobrindo a cara e os ombros curvados enquanto sufocava os soluços. Seda rosa e frisada ondulada ao redor de sua forma esbelta. Quando ela escutou o clique de sua bengala no frio mármore do vestíbulo, sua cabeça se levantou com uma sacudida.

— Sério, mãe. Rosa?

Secando os olhos de forma perfeita e logo abaixo de seu nariz pequeno e perfeito, rapidamente organizou seu penteado branco-loiro perfeitamente arrumado com uma mão delicada. — Se espera que chore por seu pai...

Riu e se moveu para apoiar seu ombro contra uma coluna ao lado do corrimão. — É obvio que não. O negro nunca te caiu bem. Entretanto, você não é uma rosa em sua primeira floração. Agora, escarlate, por outro lado, seria mais apropriado. Ou, possivelmente, verde. Entendo que às damas do Covent Garden pensam que disfarçam as manchas de sua profissão.

Olhos frescos e prateados brilhavam com rancor. — Deveria sabê-lo.

Uma vez mais, riu entre dentes. — Apareceu o senhor Pryor?

Agarrando o corrimão, ficou de pé. Inclusive de pé no degrau acima, sua testa só chegava a seu queixo. — Não. — Ela sorveu e esfregou de novo o canto de um olho. — Por que está aqui? Para te deleitar com minha miséria, suponho.

Não tinha se recordado que esse era o dia em que Lady Rutherford se veria obrigada a procurar outro alojamento, assim não, não tinha a intenção de atormentá-la. Prestava-lhe pouca atenção, e certamente não o suficiente para lhe desejar tal coisa.

Um dos homens corpulentos, construído ao longo das linhas do Reaver, cruzou o mármore e parou frente a Lady Rutherford, cujos rasgos se fundiram em uma súplica. — Por favor, senhor. Eu... não tenho para onde ir —, suplicou.

O homem contratado por Pryor olhou ao Chatham com as primeiras etapas de pânico.

Chatham suspirou e agarrou a parte superior do braço de sua mãe, tirando-a do caminho e arrastando-a a alguns metros das escadas. — Lady Rutherford está sobrecarregada —, disse. — Continue com seus assuntos — Logo que o homem começou a subir as escadas, Chatham soltou o braço de sua mãe.

Ela o esfregou como se a tivesse machucado. Ridículo. Teatral. Ela poderia ser uma puta nascida e casada com a aristocracia, mas ela tinha lhe dado a vida. Além disso, a brutalidade não estava em sua natureza.

Nunca tinha machucado uma mulher em sua vida. A menos que a pessoa solicitasse esse tratamento especializado e pagasse uma tarifa adicional, é óbvio. Essa, entretanto, foi a única exceção, e uma das quais não era particularmente aficionado.

— Onde vou dormir? — Vaiou ela. — Tomaste um momento de reflexão para comigo em seu afã de prescindir das posses de seu pai?

— Não. Não me importa um ápice onde dorme. Tampouco a ele. Provavelmente seja o melhor, tendo em conta em quantas camas aterrissaste.

De repente, os olhos chapeados sem lágrimas se reduziram a frestas. — Asqueroso, homem egoísta. Desprezo-te com cada fibra de meu corpo. Deveria ter te sufocado em seu berço. Eu deveria...

— Vamos, mãe. — Tocou-lhe ligeiramente a têmpora com a ponta dos dedos. — Recorda a veia que se sobressai aqui quando solta sua ira sobre o mundo. Muito pouco atraente.

Dois homens mais entraram e passaram por eles em direção à sala de jantar.

Seu rosto ficou um tom mais escuro quando olhou por cima do ombro a suas costas, quando batia em retirada. À luz do dia, podia ver linhas finas nos cantos de seus olhos e boca. Em cinco anos, calculou, sua beleza a abandonaria por completo. Perguntou-se o que venderia então. Mentalmente, encolheu os ombros. O problema era dela, não dele.

— Estão levando tudo, Chatham. Tudo. Não ficará nada. — era lamentável. Uma rameira choramingando, indefesa.

Ele suspirou. — O advogado de Rutherford já havia organizado a distribuição de sua união. Isso deveria ser mais que suficiente para alugar uma casa ou...

— Gastei.

Ele piscou. — Gastou. Quatro mil libras.

Ela alisou uma de suas mangas e respondeu. — Não tinha estado em uma costureira nos últimos dois anos...

— Incrível.

— E essa velha carruagem cheira a mofo.

— Mãe —. Seus olhos posaram no brilhante colar que rodeava sua pálida garganta. Ele tinha assumido que era de cristal, como todas suas “joias” tinham sido durante os últimos quatro anos quando seu pai tinha fracassado. Agora, suas suspeitas mudaram. — Me diga que um de seus amantes lhe deu isso.

— Um filho apropriado não faria tais perguntas.

— Estabelecemos que não tenho nenhum desejo de ser seu filho, propriamente ou não. É real?

Seus dedos roçaram o que pareciam ser rubis. — Não levo imitações.

Soltando uma gargalhada, sacudindo a cabeça, logo a agarrou pelos ombros e a separou dele.

— Aonde vai? — Ela miou.

Agarrou o corrimão liso e polido e subiu as escadas. Não lhe respondeu. Ela não valia a pena seu fôlego. Quando chegou ao topo e caminhou pelo largo corredor, notou os espaços retangulares nas paredes onde uma vez se exibiram os antecessores de seu pai. Velhos, homens mortos. Gerações de Chathams de muito tempo atrás. Agora se foram.

Fracamente, escutou sua mãe rogar: — Não o aparador. Foi esculpido pelo próprio Thomas Chippendale.

Continuou para a parte traseira da casa. Abriu um jogo de portas e entrou no grande salão de baile de Rutherford House. Mármore com veias cinzas, paredes de nata de manteiga e molduras brancas, colunas e nichos davam à habitação um brilho saudável. Lentamente, caminhou para o extremo esquerdo da habitação, ouvindo o golpe e o clique alternativo das botas e a bengala ao caminhar, ecoando contra as superfícies duras. Dentro de um nicho recolhido havia uma estátua branca de Poseidon. Com que frequência, durante os frequentes festejos de sua mãe tinha tomado um posto aqui, bebendo algo prazenteiramente adormecedor, examinando o aglomeramento, compadecendo-se com o deus do mar? Sim, são muitos parvos, não é assim? O observava em silêncio. Notando quem leva um espartilho. Não, ela não. Ele. Acredita que está enganando a alguém? E esse cabelo. Certamente é uma peruca. Não, a ele não. Naturalmente, o deus nunca respondeu. Os deuses estavam acima.

— Lorde Rutherford?

Fechou os olhos. Alguém deve estar chamando por seu pai.

— Lorde Rutherford.

Seus olhos se abriram. Não. A voz perguntou por ele. O terceiro Marques de Rutherford. A desgraça. — Sim? — virou-se. — Senhor, Pryor. Perguntava-me quando chegaria.

O homem baixo e calvo avançou através do salão de baile, agarrando um montão de papéis contra seu centro volumoso. — Meu lorde, não recebeu minhas mensagens?

Chatham abriu a boca para responder, mas o advogado não lhe deu nenhuma oportunidade.

— Este assunto é do mais urgente. O mais urgente, por certo. Meu cliente deseja falar com você imediatamente. O menino que enviei com as mensagens deve...

— Senhor. Pryor.

— ... ter sido enrolado, ou talvez simplesmente se foi com o dinheiro que lhe paguei.

Chatham suspirou e interrompeu o fluxo de palavras. — Supus que nosso negócio estivesse concluído, como o demonstra a disposição dos objetos de valor de Lorde Gilforth.

A pequena boca que corria como um puro sangue em Ascot se deteve temporariamente em uma O. Os olhos postos debaixo de uma testa infinita piscaram rapidamente. — Um cliente diferente, meu lorde. Um grande mal-entendido é isso tudo. Não. Este cliente deseja reunir-se com você com um assunto completamente diferente. E é do mais urgente.

— Mmm. Estou ficando com essa impressão. — Chatham passou roçando ao piedoso advogado e se dirigiu para as portas. Vir até aqui tinha sido um engano. Supôs que deveria encontrar alojamento em outro lugar. Possivelmente um dos hotéis. — Pode dizer a seu cliente que não tenho nada mais que vender. A menos que esteja ansioso por adquirir uma carruagem com um desafortunado problema de mofo.

— OH, mas...

— Bom dia, senhor Pryor.

Estava na metade do caminho pelo corredor antes de que as respirações sibilantes e o papel enrugado indicassem a busca do advogado. — Meu ... Meu lorde... é uma oferta... que desejará escutar.

Juntos, chegaram ao topo das escadas. Em um momento de grave engano de cálculo, Pryor o agarrou pelo cotovelo. Chatham se deteve. Assombrado a mão gordinha se retirou apressadamente, a testa interminável se tornou rosa pela vergonha.

— Desculpe, — ofegou Pryor. — Mas deve considerar...

Chatham baixou a cabeça para encontrar-se diretamente com os olhos do homem mais baixo. — Não há nenhum ‘dever’ no que a mim diga respeito. Você, e seu cliente, deveriam saber isso sobre mim. — Ele começou a baixar as escadas, observando como dançavam os babados rosados de sua mãe enquanto se levantava sobre os dedos dos pés para agarrar um vaso que se estendia sobre a beira de uma caixa. O corpulento homem que sustentava a caixa girou ligeiramente para mantê-la fora de seu alcance enquanto ambos saíam pela porta principal.

— O cliente é Rowland Lancaster, meu lorde.

As botas de Chatham congelaram, uma no terceiro degrau sobre o piso de mármore e outra no quarto. Seu punho tentou esmagar o corrimão onde o estabilizava.

— O americano?

— Em efeito. Não posso expressar o muito que acredito lhe interessará sua oferta.

Chatham alisou uma mão ao longo da cintura de seu casaco. Sentiu o pequeno vulto das moedas da senhora Knightley debaixo da lã. Junto com uma quantidade suficiente de uísque, seriam suficientes por quinze dias, não mais. Lancaster, por outro lado, poderia significar toda uma vida. Possivelmente várias vidas. Sem dúvida, teria um preço, mas estava acostumado a tais transações. — Bom, meu bom homem —, disse com falsa jovialidade. — Por que não o disseste antes?


CAPÍTULO 2

“Na falta de beleza e graça, uma jovem deve confiar em sua fortuna ou em seu intelecto, para assegurar um bom casamento. Espero que seu pai lhe tenha devotado um dote generoso, querida”.

A marquesa viúva de Wallingham à senhorita Penélope Darling em seu almoço semanal.

Olhando para baixo nos olhos ardilosos de seu prestamista favorito, a senhorita Charlotte Lancaster pôde ver seu momento de triunfo aproximando-se como um navio que chega ao porto. — Estas são pérolas de semente genuínas, Sr. Pegg. Granadas e safiras da melhor qualidade — Ela passou um dedo enluvado através do fio duplo no pulso. — Sete é menos da metade do que ganhara.

A avareza brilhava nos olhos do senhor Pegg quando a luz das cristaleiras dançava sobre as pedras preciosas. — Cinco —, disse com voz rouca, a cicatriz sobre sua sobrancelha esquerda tremendo em um tom familiar. — Nem um xelim a mais.

Com calma retirou o pulso e inclinou o queixo. — Sete. Ou levarei meus assuntos à senhora Willey.

Soprou e limpou o nariz com a manga. — Essa velha maluca não diferenciaria uma pérola de uma bolsa de areia.

— Ela sabia o suficiente para me dar nove pelos pentes de ouro que te ofereci no mês passado.

Os olhos ambiciosos brilharam e se estreitaram. — Você é minha cliente.

— Não sei, senhor Pegg. — Chupou os dentes frontais, o som soou rude. — Sete, né?

Ela esperou enquanto ele esfregava seu queixo arrepiado.

— Muito bem.

Seu sorriso se abriu de par em par quando desabotoou com calma o bracelete que tinha usado precisamente duas vezes e o pôs sobre o mostrador do prestamista.

— Uma excelente decisão. Seus clientes estarão clamando por esta peça.

Grunhiu e logo contou sete libras de moedas no interior de uma caixa de madeira com dobradiças. Sua palma esmagou contra eles, raspando enquanto os deslizava para ela. — Diz isso o todo o tempo.

Ela arqueou uma sobrancelha e depositou as moedas dentro de sua bolsa com um ligeiro tinido. — Equivoquei-me alguma vez?

Uma vez mais, ele grunhiu e lhe lançou um olhar áspero. — Não. O que não é natural, se me perguntar isso.

Isso só fez com que seu sorriso crescesse. — Até a próxima, senhor Pegg. Um prazer, como sempre —. Saiu da poeirenta loja de Oxford Street através da entrada lateral, que estava desenhada para aqueles que não queriam que os vissem entrar ou sair desse estabelecimento E ela, certamente seria reconhecida. Não havia muitas mulheres de cabelo alaranjado de sua estatura em Londres, não que importasse. Depois de quatro e meia temporadas humilhantes em Londres, ela era conhecida por sua notoriedade.

Mas isso trocaria logo que seu pai se desse conta de que nenhum lorde a queria como esposa, Charlotte estava segura de que admitiria a derrota. Seria livre para viajar a América e começar a vida que deveria ter vivido todo o tempo Não mais temporadas. Não mais dançar. Não mais nessa busca implacável para comprar um título inglês Se tivessem se incomodado em lhe perguntar sua opinião, ela poderia ter explicado a loucura desse plano há cinco anos Ela tinha tentado, Deus sabia, tentando romper esse muro de incredulidade e falhando miseravelmente.

Suspirou e deixou que suas longas pernadas a levassem do beco até Oxford Street, onde o ruído das rodas da carruagem, os gritos de um condutor zangado e o regateio de um comerciante vizinho a vigorizavam a cada passo Quando chegou a Londres para sua primeira temporada, tinha esperado acabar-se em sua própria miséria, mas tinha desfrutado muito vivendo no Surrey com sua tia Fanny e seu tio Frederick. Em Farrington House, podia passear livremente por longos campos e suaves elevações, sem escutar nada mais que a brisa e os pássaros, as ovelhas que mugiam. Ali, o ar era verde perfumado com erva esmagada e chuva suave, não afogado com fumaça acre e restos de animais.

Na distância, viu uma carruagem de aluguel e levantou o braço para saudar o condutor. Sua mão golpeou o chapéu de um homem que passava. — Desculpe —, murmurou ela reflexivamente. O homem grunhiu mas continuou.

Não, ela não tinha esperado desfrutar de Londres, mas ela o fez. A energia buliçosa, o movimento constante, Era certo que os aromas frequentemente eram desagradáveis, mas em que outro lugar da Inglaterra se podia encontrar a intensidade do comércio que oferecia Londres? Frequentemente imaginava que Boston ou Nova Iorque eram o mesmo.

A carruagem negra se deteve frente a ela. Uma das vantagens em ser extraordinariamente alta era que nunca tinha que preocupar-se com usar o banquito para subir. — Brook Street, por favor. Número sessenta e oito —, disse ao condutor, que puxou a ponta de seu chapéu. Subiu e fechou a porta, só para encontrar a borda de sua capa enganchada na portinhola.

— Estúpida —, murmurou, logo suspirou, rodando os olhos para si mesmo. Quando a carruagem começou a mover-se, puxou a capa de sarja esmeralda em vão. Retorceu-se na cintura, alcançando o cabo da porta, mas o movimento da carruagem a desequilibrou, e o capô caiu sobre sua cabeça enquanto raspava o teto.

Decidindo esperar até que a carruagem estivesse quieta, tratou de acomodar-se no assento, mas descobriu que só podia colocar a metade de seu traseiro no banco. A posição resultou terrivelmente incômoda; ao menos sua viagem era curta.

Podia percorrer a rota facilmente, mas se arriscaria que seu pai descobrisse do que se tratava. E isso seria mais que incômodo. Seu pai não reagia bem ao ser superado em manobra.

Rowland Lancaster tinha chegado a Londres de Boston há dois domingos atrás.

Era a primeira vez que via seu rosto em cinco anos, um olhar lhe havia dito que sua cruzada gigantesca tinha chegado ao topo de seu ardor. Estava focado, centrado, com determinação. Mas então, ela também. E ela entendia melhor o campo de batalha. Londres era seu território, não o dele. Logo descobriria o que ela sabia desde o começo: além do dote, nunca seria a eleita de nenhum duque, marquês ou conde. Isso era simplesmente fato.

No momento em que a carruagem parou e ela tinha conseguido empurrar a porta para abri-la, a nádega que tinha suportado a maior parte de seu peso estava adormecida. Esfregou-a discretamente, disfarçando seus movimentos com o ajuste de suas saias, antes de baixar e pagar ao condutor. Enquanto enfrentava ao exterior de estuque da casa alugada de tia Fanny e tio Frederick, respirou fundo e sorriu satisfeita.

— Um sorriso assim deve ter uma causa fascinante —, disse uma voz masculina logo a sua direita. — Conte-me.

Charlotte pôs os olhos em branco ante o dandy de cabelo oleoso que era duas polegadas mais baixo que ela, e Charlotte replicou: — Somente um tolo compartilharia esse conhecimento contigo Andrew, visto o terrível fofoqueiro que é.

Seu primo começou a rir, suas covinhas apareceram, seus olhos marrons dançavam. Ofereceu-lhe seu braço. — Foi sensato o senhor Pegg hoje?

Tomou seu braço e deixou que a acompanhasse ao interior, detendo-se no vestíbulo com painéis brancos. Soltando as cintas debaixo de seu queixo, tirou o gorro antes de soprar. — Que homem tão obstinado e fastidioso. Mesmo assim, sua loja está perto, o que é conveniente quando o tempo está curto.

Durante os últimos cinco anos, o furão gordinho que era o advogado de seu pai, o Sr. Pryor, tinha monitorado cada centavo de seu generoso subsídio, assegurando-se de que só se gastasse com vestidos, sapatilhas, chapéus e joias, todo o necessário para o êxito de uma dama elegante no mercado matrimonial. Se tivesse sido sua escolha, a maior parte teria reservado para um objetivo muito mais valioso Mas não era sua escolha. De fato, a única razão pela qual uma caixa de moedas jazia debaixo de sua cama, inclusive agora, era que tinha prescindido com cuidado, discretamente, de artigos cuidadosamente selecionados, trocando-os com proprietários de lojas como o Sr. Pegg, por uma quarta parte de seu valor. Tudo porque seu pai estava quase obcecado em converte-la em duquesa, ou uma condessa, ou uma marquesa.

Esquecendo que ela não desejava semelhante destino. Esquecendo que, apesar de ter sido criada na Inglaterra, sua alma era completamente americana. Esquecendo-se de que seu destino se estendia milhares de milhas através do mar e não envolvia nenhum homem, muito menos um inglês sem valor, nascido em privilégio. Não. Suas súplicas e persuasões, cuidadosamente elaboradas em uma carta atrás da outra, não tinham feito nenhuma diferença a Rowland Lancaster.

Ela revolveu a bandeja de correspondência sobre a mesa perto da porta. Uma estava dirigida a ela, com a letra pequena e ordenada do Sr. Pryor, maldição. Gostava da ideia de livrar-se de sua interferência, o homenzinho irritante.

Andrew tirou o chapéu e as luvas antes de olhar sua capa — Te dá conta de que o assunto do Pennywhistle começa em uma hora.

Seus olhos se acenderam e gemeu brandamente. Não, ela não se deu conta — Maldição —, murmurou de novo. — Pode atrasar sua partida?

— Para ti? É óbvio — Sorriu e se dirigiu para as escadas. — Embora não muito mais. Encontro-me antecipando este jantar com grande entusiasmo.

Ela o seguiu, franzindo o cenho. — Os Pennywhistles não são conhecidos por sua estimulante conversa.

Lhe sorriu por cima do ombro. — Não são a razão de meu entusiasmo.

Uma vez mais, ela gemeu. — Deve deixar de persegui-la, Andrew. Seu traje não tem remédio. Hei-te dito isto.

— A esperança só se perde quando a gente reconhece a derrota. Não pretendo fazê-lo.

Quando se detiveram frente à porta de seu dormitório, ela apoiou uma mão em seu cotovelo. Na verdade, sua fixação em Viola era cada vez mais preocupante. — A senhorita Darling é encantadora, mas...

— Ela é mais que encantadora —. Seu primo, normalmente jovial, ficou repentinamente sério. — Ela é deliciosa, sem comparação. Nunca presenciei semelhante beleza, tanta graça.

Charlotte voltou a pôr os olhos em branco. — Homens —, murmurou ela entre dentes enquanto ele abria a porta. — Andrew. Ainda não tem vinte e um.

Ele se deteve. Seu rosto convertido em pedra. Seu coração se afundou. OH, foi inútil, de fato.

— A idade não tem relação com o amor, Charlotte —. Seu queixo, uma vez adoravelmente arredondado, agora firme e afiado, elevou-se. — Se alguma vez o tivesse experimentado, saberia.

Suas palavras lhe chegaram. O sangue formigava em suas bochechas. É certo, ela era um fracasso quando se tratava de paquera e cortejo. Um fracasso espetacular, inclusive. Talvez não era a pessoa adequada para oferecer conselhos. Mas Andrew era seu primo, um irmão, na realidade. E Viola era sua amiga. Andrew não sabia nada das coisas que sabia sobre o diamante desta temporada.

— Amor —, ela se burlou, vendo o vermelho elevar-se ao longo das maçãs do rosto. — Está ébrio por seu próprio amor; É óbvio e absurdo. Deve cessar em sua busca pelo bem de seu orgulho...

— O que saberia do orgulho, Pernas longas Lancaster?

Sua cabeça se sacudiu e seus olhos se estremeceram ante o malvado apelido. Ela esperava tais crueldades da sociedade. Não dele. Não de sua família. Engolindo saliva, ela levantou seu próprio queixo para igualar a inclinação dele. — Isso é algo odioso para me dizer. Se não deseja ouvir a verdade...

Seus olhos entrecerrados se arredondaram imediatamente com remorso. — Foi somente uma explosão. Sinto muito, Char...

— ...essa é sua decisão. Mas te agradecerei que siga sendo um cavalheiro.

Passou uma mão pelo cabelo, maltratando-o como quando era um menino. — Imploro-te perdão. Por favor, Charlotte. Sou um desgraçado. Deveria ser torturado e esquartejado. Pendurado pelo pescoço até morrer. Miserável atrás do cavalo do rei...

Seus lábios se torceram. — Nada tão drástico. Entretanto, pode me emprestar seu cavalo amanhã pela manhã. Um passeio seria muito refrescante.

— O que aconteceu com o cavalo que comprou em fevereiro? Pensei... — Ele se deteve ante sua sobrancelha levantada. — Ah. Obteve uma grande soma, suponho.

— Suficientemente grande, diria eu.

A estrondosa correria e o bufo de dois moços ruidosos que corriam entre si pelas escadas e pelo corredor serviram de interrupção. Maldição. Desejava que os gêmeos fossem mais prudentes. Mas, só tinham quinze anos. Eram meninos ainda, de muitas maneiras. Freddie se estrelou contra as costas de Edward, foi quando viram ela e ao Andrew.

— Nós.... Nós pensamos que tinham partido —, começou Edward.

— Foi ideia do Edward —, continuou Freddie, uma mecha de cabelo castanho caindo sobre um olho. — As corridas não estão permitidas. Eu lhe adverti.

Edward se girou para enfrentar a seu irmão. — Mentiroso! Isto exige um duelo. Eu lhe desafio...

— Meninos! — Charlotte pressionou sua frente ligeiramente, sentindo que se formava uma dor de cabeça. — Não há duelos. Não há corridas. Se tiver que subir e escavar, faça-o no parque. Sua mamãe e seu papai lhes deixaram isso perfeitamente claro.

Edward atirou de seu colete timidamente enquanto Freddie sorriu com um brilho de maldade. — Não seriam você e Andrew a acompanhá-los a outro jantar tedioso? —, Perguntou Freddie. — A casa será nossa.

Suspirando, encontrou-se com o sorriso de Andrew e negou com a cabeça. — Talvez possa falar com eles. Devo trocar o vestido. Não vá sem mim.

Duas horas depois, quando entrou no salão do Sr. e a Sra. Pennywhistle, vestida de seda cor ameixa com sua mão enluvada descansando ligeiramente sobre o braço de Andrew, os olhos de Charlotte posaram em Viola, mas não antes de que o fizesse seu primo. Ela voltou a colocar sua mão para lhe apertar o cotovelo. — Se comporte, agora.

— Ela é uma visão, verdade?

De fato, Viola Darling era uma beleza impressionante. Cabelo da cor dos corvos, pele de marfim, rasgos tão delicados que pareciam irreais, como se tivesse sido evocada pela magia de fadas em lugar da natureza. Era uma criatura diminuta e perfeita em anil diáfano, revoando, brilhando e deslumbrando como uma magnífica mariposa em meio de seus cortesãos. Precisamente o tipo de criatura oposta a Charlotte, embora eram amigas apesar de suas diferenças.

Viola também era completamente indiferente a Andrew, um fato que ainda não tinha penetrado em seu cérebro debilitado. Tal era o feitiço de beleza sobre a metade masculina da humanidade, supôs.

Charlotte observou como um cavalheiro, Sr. Barnabus Malby, ficou boquiaberto quando a senhorita Darling voltou o brilhantismo de seu sorriso para ele.

Ela tinha advertido a Viola que não respirasse perto deste libertino. Só na temporada passada, viu-se obrigada a “acidentalmente” ensanguentar o corpulento nariz do barão com seu cotovelo quando “acidentalmente” roçou seu braço contra seu peito quatro vezes durante uma dança. Entretanto, parecia que seu conselho tanto para sua amiga como para seu primo estavam destinados a cair em ouvidos surdos. Puxando o braço de Andrew. — Encontremos tio Frederick e à tia Fanny, de acordo?

— Devo falar com ela.

— Andrew — ela apertou seu braço, puxando com mais força.

Ele a ignorou e se dirigiu para a senhorita Darling como um esquife transportado por uma corrente decidindo que poderia deixá-lo ir ou ser arrastada por sua esteira, soltou seu braço e o viu unir-se à multidão de admiradores. Rapidamente, olhou pela habitação. Em certo modo, ser mais alta que a maioria dos homens e quase todas as demais mulheres era uma dificuldade, mas havia uma maneira em que fosse útil: ver através de habitações cheias de gente. Muito bem, de duas maneiras, se se contasse alcançando artigos em prateleiras altas, mas isso o considerava um benefício menor.

Quando a multidão de convidados e as irmãs Pennywhistle se moveram, viu sua tia e seu tio de pé perto de uma das chaminés, conversando com Penélope Darling, a prima de Viola. Penélope se pôs-se a rir, o ruído similar a um ganso em pânico.

Igual a Charlotte, Penélope tinha sido durante muito tempo uma floreira, embora isso tenha trocado na temporada passada. Agora tinha um pretendente, Lorde Mochrie, um escocês de pele avermelhada que se acreditava terrivelmente divertido. Charlotte não estava de acordo. Mas, então, talvez sua relutância a rir de todas as más piadas e o aborrecimento engenhoso que emanava de um cavalheiro tão pouco gracioso explicava por que seguia sendo uma floreira e Penélope tinha conseguido liberar-se desse estado em particular.

Agora, enquanto abria caminho através de um bosque de seda cor pastel e superfina negra, calculou a probabilidade de que esta temporada fosse a última. Pensou que as probabilidades eram boas, talvez noventa por cento. Tinha quase vinte e três anos, a idade suficiente para ser considerada uma solteirona. O cabelo alaranjado, a pele sardenta e a altura monstruosa a tinham eleito desfasada e pouco atraente. Sua tendência à estupidez tinha provocado o esmagamento dos dedos dos pés de muitos cavalheiros, assim como sua humilhação culminante no inverno passado, com um incidente que preferia esquecer. Nenhum homem, titulado ou não, ia comprometer-se com ela.

Apesar de tudo, tinha superado todas as indignidades dos salões de baile, todas as brincadeiras sobre a “magricela Lancaster”, e com planejamento e cuidado, tinha conseguido acumular uma soma substancial com a qual começar uma nova vida. Uma vida melhor.

Seria suficiente? Não sabia. Mas sua vitória sobre seu pai estava perto. Seria sangrento, no fundo era uma negociante, Rowland Lancaster era um homem de negócios, um comerciante, um americano. Certamente chegaria a compreender a inutilidade de vender um produto que ninguém queria.

A meio caminho de seu destino, uma sombra enorme se elevou, obscurecendo o fluxo de velas na habitação. Girou-se, agitando-se enquanto suas sapatilhas se enredavam umas com as outras. Uma mão maciça agarrou seu braço para estabilizá-la. Levantou a vista, uma das circunstâncias mais incomuns, para encontrar a seu salvador e ao dono da enorme sombra.

— Lorde Tannenbrook —. Riu aliviada ao ver os traços toscos e o cabelo loiro escuro de seu amigo, James Kilbrenner. — Pensei que talvez uma montanha tinha cobrado vida. E me estava caçando. Vejo que tinha razão.

Um meio sorriso se curvou em um canto de sua boca. Em qualquer outra pessoa, teria sido uma gargalhada. James não carecia de humor, precisamente; simplesmente guardava seus sentimentos com cuidado e guardou a maioria deles para si mesmo, além dos ocasionais desgostos. Mas ele tinha ido em sua defesa em novembro passado sem saber sequer seu nome. Quando um aborrecedor odioso a tinha insultado e ridicularizado, o conde de Tannenbrook tomou medidas, o que obrigou ao indivíduo a desculpar-se. Ele foi honorável, até o final. Gostou disso e tinham se tornado amigos.

Baixou a cabeça cortesmente. — Senhorita Lancaster, um prazer, como sempre. Confio em que o cavalo que te recomendei no Tattersall’s ainda seja de seu agrado.

— OH! Claro. Sim, de fato, o cavalo é bastante. Não é, o que quero dizer é...

Suspirando, seus ombros incrivelmente largos se desabaram. — Você o vendeu.

Sua careta foi uma desculpa. — De verdade, a teria conservado. Deveria.

Deveria havê-la conservado.

Ele negou com a cabeça, pondo um sorriso em seus lábios. — Minha culpa por não me dar conta. Deveria ter adivinhado. Não importa. Ela era tua para fazer o que quisesse. — Ele levantou uma sobrancelha. — Me diga que ao menos obteve um alto preço por ela.

Com um amplo sorriso, ela assentiu. — Um excelente preço. Mais do que paguei.

Os olhos de James de repente se encontraram com algo sobre seu ombro, e seu cenho se franziu.

Tentou dar a volta e jogar uma olhada, mas ele a deteve com uma mão no cotovelo e um agudo, — Não. Ela se dará conta.

— Quem?

— Não importa. Tenho que ir.

— OH, bom, foi um prazer verte... — Para quando sua última palavra saiu de sua boca, ele tinha virado e tinha passado por sete pessoas. Ela suspirou. Se esperava esconder-se, necessitaria um vaso de barro do tamanho desta habitação.

— Charlotte! —, Gritou tia Fanny atrás dela como se não tivessem se visto tão recentemente, durante o café da manhã. Charlotte girou para ver sua tia, Lady Farrington. Era uma mulher agradável e suave que se parecia muito a sua falecida mãe, esbelta e alta, com uma cor mais clara que a luz do sol. Charlotte nunca temeu esquecer sua mãe porque tia Fanny era quase sua gêmea. — A senhorita Darling estava compartilhando uma história muito divertida.

Penélope, cujas características de cavalo se complementavam muito mal com as de sua prima, pôs-se a rir e sua mão se sacudiu. — Lady Farrington é muito amável. Simplesmente estava informando do que presenciei esta manhã, quando Viola e eu retornamos a casa depois de umas compras. Inclinou-se mais perto, as pérolas atadas através de sua touca frisada ricocheteando comicamente contra sua orelha. — Vocês ouviram falar das desafortunadas circunstâncias que aconteceram a Lady Rutherford depois da morte de lorde Rutherford, é óbvio — Penélope fez uma pausa como se esperasse uma resposta. Charlotte fez uma expressão de que não sabia, mas só para obrigar à garota a continuar. Sabia, mas não porque quisesse. Honestamente, a alegria carnívora da alta sociedade era do que menos sentiria saudades de Londres.

— Bom, quando nossa carruagem passou por Rutherford House, nós vimos ela de pé ao lado do carro de um trabalhador, recolhendo suas posses junto ao braço. Um dos homens tentou argumentar com ela, mas ela insistiu em que eram ladrões por levarem seus móveis. Aí estava ela, parada em uma carreta — ela soltou um risinho —, com um vestido rosa, agarrando um vaso como se fosse um bebê. Nunca vi tal coisa.

Charlotte não riu. Ela franziu o cenho. — O que aconteceu depois com ela?

— OH! Já sabe, não estou segura. Viola disse que viu lorde Rutherford, o novo, é óbvio, que partia da casa alguns momentos mais tarde, mas nossa carruagem tinha girado em outra rua antes de que pudesse vê-lo bem.

O novo lorde Rutherford. Bom, Lady Rutherford não receberia ajuda nesse trimestre. Benedict Chatham, anteriormente Visconde Chatham, era uma vergonha, um libertino, um escândalo ambulante. Era tão provável que ajudasse a sua mãe quanto Charlotte casar-se com um príncipe prussiano.

— Rutherford —, soprou o tio Frederick, com uma expressão azeda no rosto. — Má sorte, esse.

Charlotte sorriu pela metade em acordo. O talento distintivo do tio Frederick era resumir uma situação com a menor quantidade de palavras possível.

O novo Marquês de Rutherford tinha herdado mais que um título depois da morte de seu pai. Os rumores tinham estado girando durante meses que devido às dívidas de seu pai, viu-se obrigado a vender todas as propriedades e posses não vinculadas. Naturalmente, a alta sociedade tinha saboreado a queda de Benedict Chatham, que tinha passado sua vida burlando as regras da sociedade e marinhando-se na bebida e na libertinagem.

Charlotte recordou tê-lo visto no inverno passado, quando ambos tinham estado em Londres e ele ainda era Lorde Chatham. Parado casualmente, frente a um deus do mar de mármore branco, o demônio de cabelo escuro a tinha olhado cuidadoso através do salão de baile de sua mãe. Seu olhar turquesa encapuzada a tinha apanhado em um longo e tenso apertão interno e tinha enviado calafrios através de sua pele. Até esse momento, não tinha entendido por que tantas mulheres arrulhavam e suspiravam ante a mera menção de seu nome. Para ela, ele representava o pior da sociedade inglesa: um lorde esbanjador com privilégios e um aborrecimento sardônico. Não tinha alterado sua opinião. Entretanto, seu atrativo já não era um mistério.

Atrás dela, sentiu que as mãos enluvadas se aplanavam contra os flancos de seus braços, dando um toque delicado de advertência. — Não te mova, Charlotte — murmurou uma voz familiar e feminina. — Ou ele me verá.

Charlotte se retorceu, tentando ver a proprietária da voz. — Viola?

— Shh. Esteve me evitando toda a noite —, sussurrou Viola Darling, aparentemente utilizando Charlotte como sua própria planta em vaso de barro. — Desejo apanhá-lo de surpresa.

Perplexa, Charlotte sorriu cortesmente para Penélope, que lhe lançou um olhar inquisitivo. — Quem? — Perguntou-lhe à garota escondida atrás dela.

— Tannenbrook.

Ah, sim. O objeto amoroso da implacável Viola Darling. É óbvio, James ainda não havia devolvido dito afeto, mas isso não dissuadiu Viola no mínimo. — Não o vejo. Possivelmente tenha ido.

— OH, mas ele estava ali perto da janela —. Viola a empurrou para um lado. Logo, a pequena beleza de cabelo negro ficou de pé junto a ela, ficou nas pontas dos pés para ver a multidão e suspirou com decepção. — Foi-se.

Charlotte se inclinou para a orelha de Viola. — Te anime, Vi. Outra tarde talvez, a temporada acaba de começar. — Deu-lhe uns tapinhas no ombro vestido de anil de seu amiga.

— Suponho que minha caça por lorde Tannenbrook deve continuar outro dia — Ela sorriu a Charlotte. — Minha prima Penélope compartilhou notícias sobre o peculiar avistamento desta manhã?

— Ela mencionou que viu Lady Rutherford.

Viola riu ligeiramente, o som se parecia com uma fonte tilintando. Seus olhos azuis brilhavam. — Assombroso, de verdade. Espero que ela tenha conseguido manter seu vaso. Parecia bastante apegada a ele.

— A senhorita Darling disse que lorde Rutherford também estava ali —, interveio tia Fanny. — Talvez ele foi capaz de ajudá-la.

Alguém mais deu uma cotovelada ao braço de Charlotte por trás, e ela tropeçou, golpeando o ombro de tio Frederick. — Peço-lhe perdão, tio —, murmurou ela automaticamente.

— Duvidoso —, respondeu Viola a Fanny. — Passou junto ao carro sem olhar e pareceu não prestar atenção a sua difícil situação.

— Charlotte.

Ela se virou ao escutar o assobio de seu nome, golpeando acidentalmente o ombro do tio Frederick de novo. Que classe de velada era esta, com todo mundo arrastando-se sobre ela por trás? Era muito aborrecimento. — Andrew?

Seu primo lhe deu uma cotovelada no braço, sua cabeça oleosa se meneou e se sacudiu em direção à entrada.

— O que na terra...?

— Pryor —, sussurrou, com os olhos avermelhados.

Ela tragou saliva ante a menção do nome do advogado de seu pai. — Aqui? — Só podia significar uma coisa: seu pai desejava vê-la com bastante urgência. Recordou a carta que tinha deixado sem abrir antes. Maldição.

— Você pode levar a carruagem se quiser. Posso distrai-lo — ofereceu Andrew.

Ele era muito querido, seu primo. Tinha sido seu campeão durante muito tempo, do momento em que chegou a Inglaterra aos cinco anos, sem mãe e perdida em um país que não era o seu. A tinha chamado sua “irmã” envolvendo uns braços gordinhos de dois anos ao redor de seu pescoço e lhe deu um beijo descuidado.

Agora, ela pôs um beijo próprio em sua bochecha. — Não é necessário —, suspirou. — Vou ver o que quer.

Momentos mais tarde, enquanto descia as escadas até o vestíbulo do Sr. Pennywhistle, o Sr. Pryor, calvo e endinheirado, deixou de discutir com o mordomo Pennywhistle e exclamou: — Senhorita Lancaster! Estava explicando ao Briggs, aqui, a urgência de...

— Senhor Pryor, — disse ela, com sua voz cortante. Honestamente, o homem era o pior tipo de praga. — Suponho que meu pai deseja me ver.

Piscou rapidamente, logo assentiu, depois soltou uma rápida corrente de palavras que a fizeram desejar as leves moléstias dos gêmeos. — Sim, sim, sim. De fato, faz senhorita Lancaster. Não recebeu minha carta esta manhã? Simplesmente devo encontrar um melhor meio de entrega. Esses moços que contratei não são mais que ladrões de carteira.

— Não pode esperar até manhã? Como pode ver, estou as participando de um jantar. Ela fez um gesto com a mão para seu vestido de seda cor ameixa com seus bordados negros e lentejoulas chapeadas, e logo subiu as escadas para a sala de estar, onde a risada e a conversa ressonaram fracamente.

— Minhas desculpas, mas não o recomendaria. O senhor Lancaster é muito insistente.

— É ele quem insiste em que participe a estes tipos de eventos, Sr. Pryor. Como assinalou anteriormente, minha atribuição depende disso.

As ligeiras sobrancelhas do advogado se elevaram ao longo de sua testa. — Sim, sim, sim. Ele deseja discutir esse assunto. — limpou a garganta e lhe dirigiu um estranho sorriso. — Dado seu descontentamento com tais obrigações, acredito que ficara satisfeita depois de ter falado com ele. Muito agradada, por certo.

Seu fôlego gaguejava, seu coração se detinha e logo chutava em seu peito com uma sacudida dolorosa. Não podia dizer... acabou? Estava seu pai rendendo-se ao inevitável? Conceder-lhe-ia, por fim, a liberdade que ela desejava?

Sentindo a possibilidade golpear sua corrente sanguínea com a força de um forte brandy, cambaleou para o advogado e agarrou um punhado da manga do homem.

— Ele ... está preparado para ...?

As sobrancelhas do Pryor se elevaram a novas alturas com seu agarre. — Eu... eu só posso dizer que seu pai tem a intenção de te apresentar uma oferta — Sua pequena risada se afiou pelo nervosismo. — Se aceitar, então esta será sua última temporada.

Sua última temporada. Ela quase tinha medo de acreditar.

— Então, não percamos outro momento, senhor Pryor. — Ela sentiu seu sorriso abrir-se por seu rosto como uma flor. — Nem outro momento abençoado.


CAPÍTULO 3

“Hmmm. Suponho que inclusive o diabo deve pagar sua renda.

A Marquesa viúva de Wallingham a Lorde Gilforth, ao inteirar-se da compra de Rutherford House, em Grosvenor Square, por parte de dito cavalheiro.

Um raio de luz da tarde atravessou o escritório, que de outro modo era lúgubre, e fez com que o grosso e ardente cabelo de Rowland Lancaster ardesse.

— Um homem em um apuro tão grave como o teu deveria estar mais disposto a minha oferta, Rutherford.

Chatham sorriu lentamente a seu futuro sogro e juntou os dedos.

— Ela está em sua quinta temporada.

— Sim. E?

— É mais alta que a maioria dos homens. Ruiva. Muitas... sardas.

A mandíbula do americano se esticou.

— Isto por não falar de sua falta de graça. É um milagre que tenha conseguido somente humilhação e não seu próprio escândalo.

— Agora, olhe...

Permitiu que seu sorriso se desvanecesse e sua voz se endurecesse.

— Além disso, seu parentesco na nobreza é tênue. A irmã de sua mãe está casada com um barão, Farrington, verdade? Insuficiente para a quota no Almack, e muito menos para casar-se com um par.

— A conexão é sólida. — O agudo olhar de Lancaster se estreitou, seu gênio cintilando, mas bem controlado. — Particularmente dado o incentivo de seu dote.

Chatham soprou com desdém, mexendo deliberadamente com o “cogumelo de cabelo ruivo.”

— Minhas dívidas são onerosas, sim, mas não me convertem em suicida.

Lancaster ficou de pé e se aproximou da cadeira de Chatham, cruzando os braços e intimidando com o impacto total de sua enorme altura.

— Sinto discordar. Terminar sua vida pode ser sua única outra opção. Deve dar a minha oferta devida consideração. E a minha filha também.

Reconhecendo o óbvio intento de intimidação de Lancaster, Chatham não se encolheu.

Casualmente, pôs suas mãos nos braços de sua cadeira.

— Supus que preferiria a honestidade à adulação. — Inclinou a cabeça como se cedesse. — Perdoe minha presunção.

Era um baile que tinham realizado durante mais de uma hora. Rowland Lancaster tinha saudado Chatham detrás de sua escrivaninha, levantando-se para mostrar sua altura, lendo cuidadosamente uma lista de propriedades que Chatham tinha vendido nos últimos quatro meses, e logo lhe ofereceu um assento. Chatham respondeu encolhendo os ombros, e Lancaster continuou sua litania, assinalando o que ambos já sabiam: as finanças de Chatham estavam completamente minguadas.

Logo, Lancaster tinha oferecido sua filha, junto com uma soma ainda sem nome, em troca do consentimento de Chatham para convertê-la em uma marquesa.

Para um americano, era menos direto em suas negociações do que Chatham teria esperado.

Encontrou-se com o olhar do homem ameaçador com um sorriso.

— Tem uísque? Escocês, preferencialmente. A gente pode sentir sede quando faz negócios.

Os olhos cinzas se estreitaram de novo, logo se voltou lentamente e se dirigiu ao aparador. O tinido e o chapinho da comodidade iminente foram um alívio para os ouvidos de Chatham. Tomou um sorvo do copo que Lancaster lhe entregou e observou como o homem se sentava uma vez mais atrás de sua escrivaninha. A leve ardência e a onda de calor dourado acalmaram sua repentina inquietação.

Supunha este americano realmente que um par do reino poderia ser comprado tão facilmente, inclusive um tão empobrecido como ele?

— Duzentos.

Chatham poderia ter se afogado com a bebida, que ainda não tinha chegado a seu estômago. Tal como estava, sua respiração se deteve metade do caminho, seu peito palpitava dolorosamente.

Era obsceno. Esse tipo de dinheiro era absolutamente impossível de possuir entre todos, menos a realeza.

— Não pode possuir tal soma.

Desta vez, foram os lábios de Lancaster os que se levantaram.

— Exceto sim que a possuo. E a utilizarei para comprar quão único importará quando estiver morto. — inclinou-se um pouco para frente, apoiou seus antebraços na madeira e entrelaçou os dedos. — Agora, você não é minha primeira opção, Rutherford, nem a segunda. Mas é minha última. Isto poderia ser uma bênção para você, mas tenho outras opções.

— Se duzentos for seu dote, sua fortuna deve ser... Como demônios a adquiriste?

A pergunta escapou de seu controle habitual. Provavelmente pela bebida. Ou pela surpresa. Era realmente uma soma assombrosa.

Lancaster grunhiu e relaxou em sua cadeira, aparentemente tranquilo agora que Chatham lhe prestava atenção.

— Primeiro, com remessas, antes da guerra e dos malditos ingleses com seus bloqueios e invasão, era um bom negócio. Mais recentemente, os bancos. — Seu sorriso cresceu. — Um negócio superior, por toda parte.

— Evidentemente. — Piscou e sacudiu a cabeça, ainda um pouco aturdido.

Possivelmente outro sorvo de uísque ajudaria. — Diz que não fui sua primeira ou segunda opção. Suponho que tem feito esta proposta a outros.

— A um.

— E ele se negou? Meu Deus. Está grávida?

Os olhos cinzas se estreitaram de novo.

— Grávida? Rutherford. — Seu título era uma advertência, áspera e ominosa.

Levantou uma mão.

— Simplesmente estou tratando de compreender, minha boa sorte.

— Suponho que isto significa que está de acordo.

— Bom, agora não diria isso. Ela pode estar doente. Ou louca. Ou grávida. Talvez ela está zangada porque está doente. Ou talvez seu filho seja...

— Minha Charlotte é tão pura e sã como os números.

Chatham levantou uma sobrancelha, gostava mais desta conversa.

— Comparação intrigante. É tão obscena como duzentos? Porque, nesse caso, considero que meu interesse despertou em grande medida.

— Dirigir-se-á a ela com a devida cortesia, Rutherford, ou rodearei este escritório e lhe colocarei esse copo...

— Tranquilo, não há necessidade de violência. — Suspirou. — O que aconteceu com sua segunda eleição?

Lancaster franziu o cenho e murmurou sua resposta.

— Morto.

Chatham leu os olhos do outro homem e assentiu.

— Os velhos são terrivelmente pouco confiáveis nesse sentido.

— Você não parece ter melhor saúde.

Chatham levantou seu copo.

— Nada que duzentos não possam aliviar.

— Não receberá a soma completa sem que se cumpram certas condições.

— Ah, sim — respondeu com sabedoria. — Por fim, chegamos ao miolo da oferta. E em só o quê? Uma hora? O tempo passa voando quando intimidam alguém.

— É um bêbado, Rutherford. Normalmente atiraria a ti e a essa maldita bengala à rua a qual pertence.

— As melhores negociações sempre começam com a adulação.

Lancaster o fulminou com o olhar, flexionando a mandíbula e alargando as fossas nasais.

— Cumprirá meus términos ou não verá nem um centavo. Nem um centavo, entende?

A mão de Chatham fez um gesto detalhado para que continuasse. Não estava seguro de quais seriam as condições do homem, mas suspeitava que as encontraria desagradáveis. Outro sorvo de uísque parecia justo o que procurava.

— Primeiro — disse o recém-chegado americano, — O dia que se celebrar seu matrimônio com minha filha, suas dívidas serão pagas em sua totalidade.

Agora, este era um começo auspicioso. Dívidas pagas e um dote monstruoso?

— Segundo, pelo tempo de um ano, manterá fidelidade matrimonial completa. Não mais visitas a Sra. Knightley, Rutherford. Nem nenhuma outra mulher. Será fiel a minha filha.

Interessante. E aborrecido. E realmente, quando pensou, não terrivelmente difícil. Supôs que poderia sentir-se diferente se tivesse sido capaz de limpar melhor o fedor de lilás e almíscar de sua pele nesta manhã.

Ele assentiu com a cabeça a Lancaster.

— Terceiro, por não menos de um ano, manterá uma sobriedade perfeita.

A mão de Chatham se deteve a meio caminho de sua boca, o cristal pendurando de seus dedos repentinamente frouxos.

— Se descobrir que continuou consumindo licor ou qualquer outro que lhe intoxiquem ou provoque sua embriaguez durante este período, perderá o dote em sua totalidade.

Tragou saliva, quase engasgando com a espantosa demanda.

— Quarto, você e minha filha viverão juntos. Nada de residências separadas. Em troca disto, junto com sua fidelidade e seu abandono da bebida durante um ano, receberá a soma de cem mil libras.

Cem? Que demônios aconteceu com os dois?

Lancaster leu seus pensamentos em seu rosto.

— A segunda centena te será concedida quando nascer meu primeiro neto.

Poucas coisas surpreendiam Benedict Chatham. Como um experiente explorador das cavernas mais escuras da humanidade, fez muito e viu ainda mais, deixando seu véu de cinismo completamente intacto. Mesmo assim, isto era muito peculiar. Obviamente, ao não ter um filho para levar a cabo seu legado, Lancaster desejava obter um grande título para sua filha, e ele estava disposto a pagar um alto preço para incentivar seu marido a que se deitasse com ela.

O que trazia a pergunta de por que seria necessário tal incentivo.

Lutou por recordar as poucas ocasiões em que tinha visto Charlotte Lancaster.

Era incomum: surpreendentemente alta, com o cabelo vermelho fogo e a pele salpicada de sardas. Sua franqueza e seu olhar direto zangaram a alguns pares do reino e ofenderam a outros. Sua estupidez e seus acidentes, como deslizar-se sobre o gelo e cair com as saias recolhidas ao lado da Serpentina no inverno passado, haviam lhe valido o apelido desafortunado de “Pernas longas Lancaster”. Não tinha visto a queda, mas segundo suas fontes, a denominação era bem merecida.

Deixando de um lado as deficiências, entretanto, não era espantosa de olhar. Supôs que se imaginasse uma cor extravagante e extremidades muito, muito longas, até poderia encontrá-la atraente. Não ele, é óbvio. Mas outro homem. Um que desfrutasse ter sua alma dissecada por olhos verdes e dourados e sua pele esfolada pela língua ácida de uma bruxa. Franziu o cenho.

— Há um prazo de tempo para ter ao menino?

Lancaster limpou a garganta com brutalidade.

— Se acontecer de passar o transcurso do ano, e ela dar a luz a um menino dentro... desse período, você receberá a totalidade dos cem. Se ela der a luz a uma menina, receberá vinte e cinco e setenta e cinco adicionais pelo nascimento posterior de um menino. Se não engravidar durante o primeiro ano, mas um filho ser entregue mais tarde, ainda receberá cinquenta depois de seu nascimento.

— E se nenhum menino vem de nossa bendita união?

— Então somente receberá os primeiros cem, sempre que houver completado com os términos.

Chatham se inclinou para frente para colocar seu copo sobre a borda da escrivaninha de Lancaster, logo se voltou para trás e uma vez mais agitou seus dedos, deixando que sua mente trabalhasse no problema. Lancaster não era nem estúpido nem descuidado.

Teria formas de verificar que se cumpriam seus términos. Como, não era importante. A pergunta relevante para Chatham era se os términos eram acessíveis. Passível. Valia a pena.

Primeiro, pensou que a resposta era sim. Escolheu estar com mulheres como a Sra. Knightley. Ele poderia fazer uma escolha diferente. Escolheu beber sua bebida favorita e deixar que o doce intumescimento descesse como um manto reconfortante através de seus sentidos. Estritamente falando, poderia optar por abster-se. Seria agonizante. Só de pensá-lo fez com que sua garganta se levantasse em protesto. Mas não era impossível.

Agora passível, por outro lado. Esse era um assunto diferente.

E se o custo valeria a pena pela recompensa ao final... isso também era discutível.

Entretanto, seria um ano. Um maldito e repugnante ano de sobriedade. E fidelidade, também, embora esse sacrifício parecia menor em comparação. E teria que deitar-se com a senhorita Charlotte Lancaster, provavelmente mais de uma vez. Por alguma razão, isso lhe incomodava menos que nada. Estranho, por certo.

— Bom, agora — murmurou, golpeando as pontas de seus dedos como se ainda estivesse contemplando. — Uma coisa que não revelou: tem a intenção de pagar as dívidas em nosso matrimônio, cem depois de um ano, e cem mais depois do nascimento de meu herdeiro.

Lancaster assentiu, seu olhar direto, seco e familiar.

Chatham inclinou a cabeça.

— Como proverei a sua filha durante o ano? Cada propriedade minha foi vendida. Minhas posses, como você tão amavelmente descreveu anteriormente, poderiam ser empacotadas em uma mala não de grande tamanho.

Não gostava do sorriso de resposta do Lancaster. Recordava a um antigo oponente no Gentleman Jackson, que frequentemente sinalizada um cruzamento de direita com uma estranha contração da boca. Cheirava a iminente triunfo e prazer sádico.

— Nunca lhe contrataria para trabalhar para mim; sabe por quê?

— Hmm. Um desgosto irracional das R corretamente pronunciadas?

— Nada me incomoda mais que o desperdício. Perda de dinheiro. Perda de tempo. Desperdício de potencial. É o maior desperdício que jamais tinha visto.

Com cuidado e controle, Chatham conseguiu manter sua expressão sardonicamente neutra. No interior, entretanto, a acusação se afundou em sua carne como uma espada afiada, reta e sem deter-se. Inclusive o uísque não o deteve. Perfurou-lhe o fôlego.

— Sinceramente, não espero que minha filha permaneça com você mais de um ano, nem você com ela — continuou o homem ruivo de olhos de aço. — Mas esse ano se converterá em um melhor homem, até se tiver que gastar cada dólar que possuo para vê-lo assim.

Quando Chatham respondeu só com um olhar fixo, o americano se levantou de novo detrás de sua mesa e levou as mãos às costas, observando a postura casual de Chatham.

— Você desperdiça sua inteligência em trivialidades. Jogos de azar. Vendendo segredos. Meteu-se em assuntos de espionagem. — Ao vê-lo levantar a frente, respondeu: — OH, sim. Sei muito. Suficiente para julgar que é capaz de manter a minha filha, se se irrita em aplicar sua mente e, Deus não o queira, seu esforço. Tem uma casa. A propriedade relacionada em Northumberland. Leve-a ali.

A voz de Chatham era sedosa.

— Um montão de escombros. Se souber “muito”, então sabe que não é um lugar apropriado para levar a uma esposa.

O olhar de aço se endureceu ainda mais.

— Encontre a maneira, Rutherford. — Seus olhos se posaram nas costelas de Chatham. Presumivelmente, o desgosto que curvava as fossas nasais do homem era ofensivo ante a magreza de Chatham. — Ou não o faça. Se morrer de fome e deixar viúva a minha filha, não lhe pagarei nada e ela será livre para casar-se com outro.

— Caso ela não mora de fome.

— Não conhece Charlotte — disse Lancaster simplesmente, logo se sentou na beira da mesa e tirou um relógio do bolso de seu colete. — Proverei um ou dois serventes e lhes pagarei pelo ano.

— Ah, sim — murmurou Chatham. — Falando de espionagem.

Lancaster o ignorou.

— Não se proporcionarão recursos adicionais. — Cruzou os braços sobre o peito e se encontrou com o olhar de Chatham. — Temos um trato?

Ali, observando o fogo e o aço, Chatham descobriu quão cansado estava realmente. Maldição, cansado até os ossos. Doíam-lhe as coxas e a parte inferior das costas. Sua cabeça flutuava a um pé de seu pescoço. Seus braços se negavam a levantar o copo. Nunca tinha estado tão tentado de encontrar outras doze garrafas e deixar que a escuridão o tragasse.

Algo queria que ele ficasse, no entanto, encontrou-se abrindo a boca. Sua voz respondendo.

Sua fadiga eterna retrocedeu o suficiente para suspirar e dizer: — É uma barganha.

E sua mente lutou contra a intrusão do horror com a tranquilidade: depois de tudo, só era um ano.


CAPÍTULO 4

“Um trato é uma batalha de engenho a que alguns trazem pistolas e outros trazem tijolos.

Deixo a seu critério qual será o vencedor”.

A Marquesa viúva de Wallingham a seu filho, Charles, depois da venda de um campeão puro sangue ao Duque de Blackmore.

Charlotte chegou à casa alugada de seu pai justo quando se punha o sol. A luz dourada fez que a pedra pálida da estrutura de quatro pisos brilhasse na cor amarela alaranjada.

— Não te incomode, Oliver — disse ao lacaio de seu tio, enquanto ele começava a baixar desde sua posição. — Arrumei-me bem o suficientemente, como pode ver. — Lhe sorriu da passarela, sua alegria borbulhante derramando-se.

Oliver piscou e deslizou de novo no banco do condutor, tocando brevemente o chapéu.

— Sim, senhorita. Como desejar.

— Não demorarei muito. — Girou nos calcanhares e entrou na casa do lado norte de Cavendish Square, com a esperança de arrebentar as costuras de seu coração.

Pode ser isso. Este poderia ser o momento que seria posta a cargo de sua própria vida. O senhor Pryor lhe tinha pedido que esperasse sua chegada, mas ela não podia.

Simplesmente não podia.

Com uma respiração profunda, subiu três dos quatro degraus para a porta e chamou. Um servente, tão azedo como um corvo e adequadamente vestido de negro, respondeu.

— Senhorita Lancaster, suponho. — fez-se a um lado e lhe indicou que entrasse. — Entre, por favor.

— Obrigado. — Subiu o último degrau e entrou na casa, tirou as luvas, o gorro e o casaco azul de seda e os entregou ao servente. — Posso saber seu nome, senhor?

O cenho franzido do corvo se aprofundou, seu corpo dobrado se congelou no lugar como se lhe tivesse pedido direções ao mítico Monte Olimpo.

— Townsend.

— Muito obrigado, senhor Townsend.

Lhe devolveu o olhar, sujeitando seu casaco, seu chapéu de roseta azul e suas luvas de seda branca com as mãos frouxas.

— Há algum problema?

Limpou a garganta, sacudiu a cabeça e respondeu bruscamente: — Não, senhorita. Frequentemente não me pedem meu nome. A maioria não se incomoda.

— Que peculiar.

Continuou olhando-a, suas olhados de esguelha faziam óbvio de onde procedia seu assombro. Provavelmente nunca tinha visto uma mulher tão alta como ela.

Entretanto, estava muito acostumada a tais reações.

— Talvez possa me levar para meu pai agora.

— É óbvio.

Conduziu-a por um corredor que ela presumia era o estúdio de seu pai. A casa estava ricamente decorada, as paredes revestidas de branco, as molduras classicamente singelas, os pisos de madeira polida. Apesar de seu bom gosto e seu encanto, tinha estado dentro de dúzias de casas urbanas de Londres que eram virtualmente iguais. Elegante, sim, com tapetes grossos na sala de música e a sala de jantar e a sala de desenho, frontões triangulares nas portas dianteiras e janelas largas alinhadas em perfeita simetria. Quando tivesse uma casa própria na América, não seria uma estrutura construída a partir de um molde. Seria única.

Uma pequena emoção correu da base de sua espinha dorsal até a parte superior de sua cabeça. Ela não estava destinada a ser igual a todas as demais, tampouco. Sabia desde seu primeiro fôlego, tinha sentido em cada momento de suas cinco temporadas em Londres. E, quando o senhor Townsend golpeou ligeiramente a porta de painéis brancos ao final do corredor, soube com uma certeza similar que seus dias de seguir o baile ordenado da sociedade, de aderir-se a todas as regras e convenções, estavam chegando a seu fim.

— Entre — disse a voz profunda e grave de seu pai através da porta.

Sorriu a Townsend e girou seu sorriso para seu imponente pai de cabelo resplandecente enquanto entrava com passos largos.

— Papai. Você parece bem. — Ela ficou nas pontas dos pés para lhe beijar a bochecha.

— Quanto me custou esse vestido? — queixou-se, acariciando a parte posterior de seu ombro em seu habitual incômodo abraço. — E o que te deixa tão alegre?

Ela riu ligeiramente e passou uma mão amorosamente sobre a suave seda sobre seu quadril.

— Não é esplêndido? Minha costureira é uma das melhores da cidade. Ela é italiana, mas suspeito que inclusive uma francesa não se poderia comparar com ela. É óbvio, alguém deve pagar pela qualidade, não estaria de acordo?

— Hmmm — foi sua resposta antes de assinalar a uma cadeira estofada de veludo frente a seu escritório. — Sente-se, menina. Temos muito que discutir.

Uma vez mais, sorriu-lhe e fez o que lhe pedia, afundando-se em veludo e olhando para a janela. O sol se ocultou no horizonte, deixando um tênue céu crepuscular e três velas para projetar um resplendor superficial ao redor do escritório. Sentia-se quente e acolhedor, o fogo crepitava alegremente atrás dela, a perspectiva da liberdade lhe fazia gestos.

Ela se encontrou com o olhar de seu pai. Não parecia estar desfrutando do ambiente.

— O senhor Pryor mencionou que tem uma proposta.

— Charlotte, sabe que desejo que te case.

Ela assentiu, resistindo ao impulso de oferecer uma resposta sarcástica. Ela dificilmente estaria em sua quinta temporada se fosse o contrário.

— Infelizmente, tornou-se óbvio que atrair o tipo de partido que desejo não está dentro de suas capacidades.

Ela levantou um dedo.

— Adverti-lhe isso, papai

Ele continuou como se ela não houvesse dito nada.

— Portanto, organizei um matrimônio para ti.

Esperando um minuto inteiro para que lhe desse mais detalhes, ela escutou o crepitar do fogo e piscou lentamente.

— Um matrimônio?

— O cavalheiro em questão aceitou meus términos...

Ela negou com a cabeça, sentindo primeiro dor em seu estômago e logo que afundava como uma pedra no fundo de um lago.

— Não.

— Casará contigo, e viverá com ele durante ao menos um ano.

— Não.

Um cenho franzido posou sobre as cheias sobrancelhas vermelhas de seu pai, as empurrando para baixo sobre seus duros olhos.

— Fará isto ou deterei seu subsídio.

— Isso deveria me preocupar? Será uma bênção desfazer do arnês...

— Todos os pagamentos a sua tia e seu tio também terminarão.

Desta vez, o “não” foi um gemido dentro de sua cabeça. Tentou regular sua respiração, lutando por mantê-la uniforme e constante. Queria saltar e gritar que ele não podia fazer isto, que a tia Fanny e o tio Frederick tinham estado apoiando a sua mãe quando ela tinha renunciado à posição. Que ele lhes devia muito mais que os recursos que lhes tinha dado para sua manutenção, e ela também. Que Andrew e os gêmeos necessitariam esses recursos para seus grandes planos e sua educação. Mas ela conhecia seu pai. Ele não seria persuadido por prantos ou súplicas emocionais.

Com cuidado, entrelaçou seus dedos em seu regaço. Desejou ter mantido suas luvas postas. De repente, o frio da habitação se assentou debaixo de sua pele, fazendo que suas mãos se movessem com frieza.

— Nesse caso, talvez gostaria de explicar suas... demandas com maior detalhe — disse brandamente, orgulhosa de si mesmo pela uniformidade de seu tom.

— Deveria saber que isto iria ocorrer, Charlotte. Falamos da possibilidade quando cheguei faz semanas.

Sim, tinham-no feito. Seu pai tinha visitado Brook Street uma quinzena depois de atracar em Liverpool e rapidamente anunciou que sua amizade com um determinado conde indicava que tinha estado resistindo ativamente seus objetivos para ela.

Ela tinha argumentado que Lorde Tannenbrook era simplesmente um homem amável que tinha defendido sua honra em uma ocasião anterior, e que tinham se tornado amigos, nada mais. Ele não tinha acreditado. De fato, aproximou-se de Tannenbrook e quase ameaçou a vida do homem para que tomasse sua mão em matrimônio.

Era outra humilhação mais para adicionar a uma pilha interminável, James tinha se negado rotundamente, dizendo que não seria comprado e aconselhando a Rowland Lancaster que permitisse a sua filha, a dignidade de tomar suas próprias decisões. Seu pai não o tinha tomado bem.

Agora, ela podia ver que o rechaço de sua oferta, de fato, não tinha dissuadido seu pai de seu objetivo, mas sim tinha alimentado ainda mais sua determinação. Deve ter retornado ao Tannenbrook e lhe ofereceu uma soma muito grande para rechaçá-la. Ela soube que James tinha passado uma década reconstruindo a desmantelada propriedade que lhe tinha deixado um parente distante. Como resultado, não era particularmente rico e provavelmente poderia usar os recursos. Estava surpresa de que não tivesse mencionado nada esta noite, mas era um tipo taciturno, e possivelmente não tinha desejado pressioná-la.

Casar-se com ele não seria nenhuma dificuldade. Era um homem decente, honorável, sólido e estável. Não havia uma gota de romance entre eles, mas certamente, havia piores eleições entre a família. Seus filhos, em caso de os ter, provavelmente seriam extremamente altos. Além disso, ela tinha poucas razões para objetar.

Exceto que tinha outros planos para sua vida. E os estava vendo se queimarem e se converterem em cinzas no fogo das ambições de seu pai.

Engoliu saliva, sentindo essas cinzas queimando suas vísceras, levantando-se para lhe chamuscar a garganta.

— Você... — Ela engoliu de novo. — Disse um ano.

Ele assentiu, a dobra profunda entre suas sobrancelhas vermelhas se converteu em uma barra negra à luz tênue.

— De acordo com o matrimônio. Viverá com ele durante um ano. Logo, se ambos desejarem separar-se, podem fazer o que quiserem. Nem divórcio nem anulação. Mas será livre para viver como quiser.

Livre para viver como quisesse. Um ano, e seria livre. Não era o que ela tinha querido, mas tampouco era a situação desesperada que tinha pensado. Ela devia casar-se com alguém a quem não amava, sim. Mas então ela seria livre. Ser uma mulher casada em lugar de uma solteirona poderia inclusive ser benéfico à medida que desenvolvia seus negócios nos Estados Unidos. Sim, isto poderia funcionar bastante bem, particularmente se ela negociasse melhores condições.

Jogando uma olhada a seu pai, que estava sentado e franzindo o cenho atrás de sua mesa, ela disse: — Ganhará um grande dote, suponho.

Seu pai assentiu.

— Mmm. — Lhe deu o mesmo sorriso que frequentemente dava ao Sr. Pegg. — E o que eu recebo como recompensa?

Seu peito se inchou um pouco. Um bom sinal, em sua opinião.

— O maldito título não é suficiente para ti, menina?

— Nunca quis um título. De novo, pergunto, que recebo?

— Que desejas?

— Meu subsídio para o ano. Triplicado.

O peito que se inflou soltou uma risada sufocante como um fole.

— Disparates.

Ela sorveu.

— Triplicado, papai. Toda a soma a minha inteira disposição. Não ao Sr. Pryor. Nenhum marido para pôr suas mãos sobre ela. Todo meu por completo.

Sacudindo a cabeça, Rowland Lancaster burlou: — Sairia correndo depois do primeiro pagamento.

— Possivelmente. Esse é o risco que se corre ao te comportar desta maneira tão autoritária.

— O dobro.

— Triplo.

— E o conseguirá ao fim de um ano. Uma soma global.

— Triplo, papai. Então aceitarei tomá-lo como uma soma global.

Seus olhos se estreitaram sobre ela, brilhando à luz do fogo.

— Feito.

O triunfo inchou em seu peito. Ela queria gritar de novo, mas desta vez, de uma alegria ressonante. Triplicar sua atribuição era uma fortuna absoluta. Não só podia financiar completamente os negócios que desejava, mas também podia comprar a maior e mais incomum casa dos Estados Unidos para viver.

E só tinha que casar-se com James e ser sua esposa por um pequeno ano. Não era o ideal. Viola ficaria angustiada, sem dúvida, e o coração de Charlotte doía por seu amiga. Mas se isto era o que Tannenbrook queria, então o fato tinha sido arrojado. E ele era uma opção muito melhor que muitos outros cavalheiros. Charlotte desfrutava de sua companhia. Estava segura de que se levariam bem, e estava contente de que sua vida se faria mais cômoda com seu dote. Quando considerou tudo o que tinha suportado nos últimos cinco anos, este trato não era tão mau.

Seu sorriso deve ter sido bastante presunçoso, porque seu pai se inclinou para frente e disse: — Não quer saber quem será seu marido?

— OH, já o adivinhei. Como convenceu Lorde Tannenbrook para que mudasse de opinião? Quando falou com ele pela última vez, mostrou-se inflexível...

— Não é Tannenbrook.

Não... OH, querido Deus. Seus lábios formaram a palavra “não”, mas não havia fôlego para que saísse. Quando seu ar finalmente retornou, só tinha suficiente para uma palavra: — Quem?

Os olhos de Rowland Lancaster passaram sobre seu ombro, para a chaminé. Não foi seu pai quem respondeu. Em troca, a resposta veio detrás dela em meio de chamas crepitantes e o mais leve rangido da roupa.

— Sempre me pareceu acertado afirmar todas as condições de uma negociação antes de chegar a um acordo, senhorita Lancaster. Lástima que nunca tenha aprendido a mesma lição.

Ante o som de sua voz, sedosa e profunda, zombadora e irônica, levantou-se da cadeira, deu-se a volta e se enredou com as sapatilhas provocando que se agarrasse contra as costas de veludo da cadeira. Sentado no rincão mais escuro, apenas visível. A luz laranja jogava com seus rasgos, mas inclusive isso revelava sua palidez, seu aspecto duro e magro, mais severo que quatro meses antes, quando a tinha apanhado como um pássaro com seu olhar indefeso no salão de baile de sua mãe.

— Chatham — suspirou ela.

— Rutherford, em realidade. Entretanto, pode me chamar como quiser.

Levou o copo que tinha na mão aos lábios sensuais.

— Suspeito que seu vocabulário crescerá imensamente depois de que nos casemos.


CAPÍTULO 5

“No matrimônio, as negociações nunca se concluem, minha querida menina. Simplesmente se iniciam, suspende-se o acordo com as necessidades e a disposição de cada um.

Recomendo manter sua inteligência sobre você.”

A marquesa viúva de Wallingham à duquesa de Blackmore, ao inteirar-se da solicitude do duque de Blackmore de limitar o orçamento dos livros de dita dama.

Enquanto a amazona de cabelo ondulado girava para enfrentar-se a seu pai, Chatham riscou suas linhas femininas do pescoço longo e pálido até a prega escura e sedosa. Ela possuía curvas, sem dúvida. Ele podia vê-las quando uma mão se apoiava em seu quadril, obrigando ao tecido púrpura a acariciar a plenitude natural, a delinear uma parte posterior não desagradável e uma cintura bem proporcionada.

— Como nosso acordo se fez de má fé, papai, por este meio, retiro meu consentimento —. Sua voz, notou, também era agradável, suave e gutural sem um toque de gemido nasal. A diferença de seu pai, ela falava inglês corretamente sem inflexão americana. Bastante doce para o ouvido, na realidade.

— Disparates. Nosso acordo foi acordado, e o fará...

Sacudia a cabeça, seu cabelo simplesmente atado brilhava como o cobre à luz do fogo. — Sabia que assumiria que Lorde Tannenbrook tinha reconsiderado...

— Como disse Rutherford, esse foi seu engano. Tannenbrook é somente um conde —, burlou-se Lancaster. — Obstinado como esse velho cavalo que sua mãe se negou a vender.

— Hannibal não era obstinado. Ele estava discernindo a respeito de seus amigos. Como é James.

James, verdade? Pensou Chatham, bebendo o último gole de seu uísque, colocando cuidadosamente seu copo no chão junto a sua cadeira. Interessante.

— Hmmm —, soprou Lancaster, dando um olhar zombador a sua filha. — Discernir é uma palavra para isso. Lorde Tannenbrook se negou a te levar por qualquer soma. Acredite, pressionei-o.

Chatham observou como a brilhante cabeça vermelha da amazona girou, respondendo bruscamente ao cru insulto. Era a primeira vez que ela mostrava debilidade. Ele franziu o cenho, esperando que se recuperasse. E não esperou muito.

Seus ombros, surpreendentemente magros agora que os olhava, quadraram-se. — Lorde Tannenbrook não responde bem à intimidação. Eu tampouco.

A forma imponente de Lancaster se dirigiu para sua filha. Alcançando sua bengala, Chatham sentiu que os músculos de sua coxa se esticavam ante a possibilidade de que tivesse que interpor-se entre eles. Felizmente, não se requereu tal ação, o homem se deteve a menos de um metro dela.

— Deixei-te a eleição de marido, e fracassou.

Ela suspirou, seus ombros caindo. — Expliquei o porquê mais de mil vezes, papai. A conversa se voltava aborrecida.

O cenho franzido do americano mostrou uma genuína amostra de consternação. — O que tem de difícil dirigir as artimanhas de uma mulher? Vejo-o todos os dias. Garotas mais jovens que você, menos inteligentes. Elas revoam aqui e lá, agitam suas pestanas. É singelo. Os homens são simples.

Um longo silencio encheu o espaço, engrossando-se em meio da escuridão e salpicado pelo estalo e o chiado da lareira. Quando respondeu, sua voz era tranquila, como se o chão que pisava se desgastou tão profundamente, o som que emergiu foi amortecido. — Não me querem. Pode envolver todo meu corpo em bilhetes de cem libras, e a reação será a mesma. É isso o suficientemente simples?

Em um instante, Chatham decidiu que estava equivocada. Charlotte Lancaster nua, salvo por uns quantos pedacinhos de papel? Eles a desejariam. Talvez não o suficiente para casar-se com ela, mas para leva-la à cama, sem dúvida. Depois do incidente do inverno passado, quando tinha caído ao lado do Serpentine e tinha a mostra sua metade inferior a um punhado de estúpidos boquiabertos e fofoqueiros, tinha suportado intermináveis brincadeiras de jovens no Reaver sobre como se sentiria escalar entre elas. Duas extremidades de tal longitude. Se ela achava que o pau de um homem se importava se sua cor estava na moda, não entendia aos homens nem um pouco.

Agora, Lancaster negava com a cabeça, rechaçando sua resposta. — Não te incomodou em tentá-lo.

— Isso é absurdo —. Ela sacudiu suas saias. — Visto-me com os melhores vestidos.

— Não vem ao caso.

— Assisti a bailes, festas, jantares, veladas e malditos musicais.

— Cuida da sua linguagem, menina.

— O tenho feito durante cinco anos. Odeio. Cada maldito pedaço disso. Mas o tenho feito, porque é o que fazem as belas damas inglesas quando procuram um marido. E. Não. funcionou.

— Obviamente —, Lancaster brincou. — Foste distraída por suas noções masculinas a respeito de entrar no comércio. “Absurdo” está imaginando que uma mulher pode administrar uma empresa como a minha. Só você tem a culpa de ter chegado a isto.

Ante isto, seus ombros se esticaram de novo. — Não importa quem tem a culpa.

— Importa quando te envolveste em uma sabotagem para frustrar minhas ordens.

— Sabotagem? Fiz tudo o que me pediu! Simplesmente te nega a compreender a realidade porque não se ajusta a seus desejos. Não importa. Aqui é onde termina minha complacência. — Seu longo e magro braço saiu disparado de seu flanco e girou para apontar em direção a Chatham. — Não me casarei com ele. É um desonroso...

Lancaster protestou: — Agora, veja aqui: — ... libertino, passar um momento em sua companhia...

Chatham assumiu que ela tinha esquecido que ele ainda estava na habitação. Limpou a garganta de propósito.

— Muito menos um ano inteiro, é insustentável.

— Senhorita Lancaster —, disse ele arrastando as palavras.

Deu-se a volta e golpeou o pulso contra o respaldo da cadeira. Fazendo uma careta, ela embalou o braço ferido e lhe deu um olhar verde e dourado. — Não tenho nada que te dizer.

— Que refrescante.

Com queixo elevado. — Está cheio de bebida. Posso cheirá-lo daqui.

Desconcertado por sua franqueza, tirou uma penugem imaginária do joelho. — Mmm. Faz com que o mundo seja mais suportável. Possivelmente deveria tentá-lo.

— Não me casarei com um bêbado. Nem um canalha luxurioso que agrega seguidores para unir-se a ele na libertinagem.

Sorrindo, ele respondeu: — A libertinagem é melhor quando se compartilha, amor.

Abriu a boca para contra-atacar, mas Lancaster interveio primeiro. — Independentemente de seus hábitos passados, Rutherford aceitou cessar toda embriaguez e permanecer fiel a ti durante todo o ano.

O bufo de Charlotte foi acompanhado por um giro dos olhos. Chatham os encontrou estranhamente encantadores. — Benedicto Chatham não tem nenhuma relação com a honra, papai. Se confiar nele para que cumpra sua palavra, será muito...

— A honra é um chá débil, senhorita Lancaster —, interrompeu Chatham. — Como alguém que gosta do comércio, deve compreender que um dote considerável é um incentivo muito superior. Se consigo sobreviver ao ano como seu abstêmio marido, minha recompensa será... substancial.

Ela se aproximou dele, a seda rangeu. — Quão substancial?

Lancaster clareou a garganta e começou a protestar, mas a Chatham não importava quais segredos o americano desejava guardar. — Cem —, disse brandamente.

Uma mão magra e sardenta deslizou sobre sua barriga enquanto os olhos verde dourado se arredondavam e as sobrancelhas vermelho laranja se arqueavam. — Mil?

— Em efeito. Então, como podem ver, meus hábitos devem ser sacrificados sobre um altar de ouro.

Ela se aproximou vários passos, seu assombro aparentemente a atraia como uma linha invisível. — Impossível —, sussurrou ela.

Ele riu, assentiu para a mesa. — Pensei o mesmo, mas o acordo foi elaborado. Seu pai está obrigado a cumpri-lo, assim como eu.

Deteve-se ante ele, suas saias lhe roçando os joelhos. — Não desejo me casar contigo. — Seu olhar era solene, quase desculpando-se, como se ela o renegasse a contra gosto.

Mas sua negação não podia ser permitida. Desprezava ser pobre. Uma coisa era que a sociedade o conhecesse por seu escandaloso comportamento, e outra completamente distinta por falta de recursos.

Lentamente, apoiou as mãos nos braços da cadeira e ficou de pé. Agora estavam parados a centímetros de distância, seus olhos brilhando ante sua proximidade.

Enquanto cambaleava torpemente para trás, lhe agarrou a parte superior dos braços, obrigando-a a ficar em silêncio. Logo, aproximou-a mais e lhe torceu o pescoço para encontrar-se com seu olhar. Para ser mulher, ela era anormalmente alta, mas sua testa só chegava a seu nariz. — Os desejos têm pouca relação com as circunstâncias, senhorita Lancaster. Seu pai tem a mão ganhadora.

Ela estava sacudindo a cabeça, sua respiração se acelerava. — Não posso me casar contigo. Contigo não. — Seu sorriso se desvaneceu. — Entretanto, estava preparada para te casar com o gigante.

— Lorde Tannenbrook é um amigo. Você é...

Esperando, afrouxou seu agarre, deixou que sua palmas descobrissem a suavidade da pele sardenta e se assentassem debaixo de seus cotovelos. — Sim? Eu sou?

Seus lábios se separaram, seus olhos procuraram seu rosto. — Um diabo.

Voltou a sorrir, provocando um estremecimento que ela tentou reprimir. Com cuidado, deixou que seus dedos permanecessem em sua pele um momento mais antes de deixar cair suas mãos aos flancos.

Ela não se moveu, mas se balançou ante ele, seus olhos cravados nos dele.

— A observadora, senhorita Lancaster. Um diabo, por certo. Mas isso não troca meu título. Nem a influência de seu pai.

Lancaster escolheu esse momento para voltar a entrar na conversa.

— Charlotte, cumprirá os términos de nosso acordo. Não tenho vontade de ouvir sua tia e seu tio mendigando. Não me obrigue a fazê-lo.

Chatham observou que seus olhos se fechavam, via como as pestanas acobreadas se assentavam brevemente ao longo das bochechas com sardas e sentia uma pontada de algo estranho, como uma trepadeira que brotava da neve. Fez-lhe acariciar seu braço de forma encoberta com o dorso de seu dedo, fê-lo inclinar sua cabeça outra vez para encontrar-se com o desespero grafite em verde e ouro. Disse o que lhe ofereceu como a única segurança que pôde. — É só um ano.

Sua boca se endureceu, sua mandíbula delicadamente quadrada se apertou enquanto dava um gole visível. Então, assentiu. Respirando lentamente, lambeu seus lábios rosados e retrocedeu um passo. Enfrentou a seu pai e selou seu destino com só duas palavras roucas: — Muito bem.

Só um ano. Somente um ano — sussurrou Charlotte, cravando as unhas no braço que apertava. — Arrumar-me-ei com isso. Tudo estará bem. Só um ano.

~~~

— E... Charlotte? Este casaco é terrivelmente caro. Está-me machucando o braço. O sorriso de Andrew foi doloroso e cheio de diversão.

— Desculpe —, murmurou ela, tratando de acalmar seu coração palpitante.

Encontravam-se no pórtico de St. George’s em Hanover Square, enquanto o fresco ar da manhã lhe esfriava da cabeça até aos pés. Ou, talvez foram os nervos. As portas escuras estavam abertas ante ela, uma enorme porta para o inferno com o diabo esperando ao final do corredor. Engoliu contra uma garganta seca e limpou a palma discretamente na manga de Andrew.

Seu pai entrou em sua visão, um demônio grande e ruivo que falava com seu mais baixo e calvo súdito, o Sr. Pryor. Obviamente, papai tinha a intenção de entregá-la a sua perdição.

Apesar dos numerosos rogos da semana passada, não tinha trocado de opinião. Ela tinha retornado a sua casa em Cavendish Square quatro vezes, decidida a lhe fazer ver a razão. Tinha discutido, enrolado, suplicado.

Fazia três dias, de fato, que tinha descartado toda aparência de decoro e havia descrito a reputação de Chatham, inclusive os elementos que nenhuma dama deveria conhecer, até o detalhe mais íntimo.

Seu pai só havia dito: — Pryor é extremamente minucioso, Charlotte. Já sei mais do que possivelmente possa imaginar — Ele franziu o cenho e voltou a olhar suas contas. — Mais do que me importa, francamente.

— Sabe o que me disse ontem? —, Tinha replicado ela, suas mãos agarrando os braços da cadeira, a indignação se elevou às mais altas alturas da irritação.

Tinha guardado silêncio, sua cabeça tremia sobre seus números.

— Chamou-me de sua nova benfeitora.

A pluma de seu papai se deteve.

— Não será a primeira, note, mas sem dúvida a mais rica.

A cabeça vermelha brilhante de seu pai tinha subido por fim, mas somente para dizer: — Provavelmente estava bêbado.

— Precisamente! Esta é seu pior ideia, papai. Ainda há tempo...

— Pare, Charlotte. Terminamos aqui. Aceita-o.

Tinha pensado durante vinte e quatro horas completas, logo tinha retornado para negociar condições mais favoráveis: não uma carruagem na qual viajassem, a não ser duas, ambas extravagantes, cada uma puxada por seis cavalos principais, mais um modesto fundo para gastos imprevistos durante a viagem para o norte. A Northumberland.

O próprio Chatham lhe tinha informado sobre seu futuro lar, justo antes de que a insultasse ao insinuar que tinha comprado seus “serviços”. A pouca distância da costa. Chatwick Hall, havia dito. Traga roupa de cama, havia dito. Queremos estar cômodos, disse.

Logo, sorriu como o diabo que era, seus olhos turquesa encapuzados enviavam calafrios de calor sobre cada centímetro de sua pele.

— Charlotte —, murmurou Andrew, puxando seu braço. — Não deveríamos entrar?

— Só um ano —, sussurrou de novo, fechando os olhos e apertando-os.

Quando os abriu de novo, viu que seu pai a fulminava com o olhar. Além de seu ombro, entretanto, de pé, alto, magro e deslumbrante, apoiado em uma fortificação ao final do corredor, estava o homem que seria seu marido. Benedict Chatham, o marquês de Rutherford. Um homem que nenhuma mulher respeitável aceitaria, muito menos casar-se.

— Não posso —, sussurrou, apartando sua mão de Andrew. Retrocedendo vários passos, ouviu que algo caía sobre as pedras a seus pés. Suas flores, muito provavelmente. Agora, estava se afastando da porta, girando para procurar qualquer extremo do pórtico.

Este não pode ser meu destino. Este não era meu plano.

— Charlotte... — protestou Andrew.

Ela nunca entrava em pânico. Sua mente sempre procurava e frequentemente encontrava um caminho através do medo e da dificuldade, como o capitão de um navio que navega por mares turbulentos. Entretanto, este momento parecia ser uma exceção. Todo pensamento racional tinha fugido. Seu coração palpitante brincava com o ritmo de sua respiração, acelerando loucamente e afogando todo som.

— Charlotte! — Esse era seu pai. Mas ela já tinha virado para a rua.

Procurando a carruagem que a havia trazido aqui. Estava rodando, lentamente ao princípio.

Posso alcançá-la, vou subir. Recuperar o cofre debaixo de minha cama. Levar a carruagem a algum lugar longínquo. E escapar.

Aferrou-se a suas saias, com seda iridescente de pérolas pela qual a senhora Bowman tinha cobrado a Papai uma fortuna, que quase lhe arranca nas mãos. Suas sapatilhas patinaram sobre as pedras enquanto baixava os poucos degraus até à rua.

— Oliver! — Gritou ela, mas sua voz era fina, sem fôlego. O condutor não a ouviu. Ou, ao menos, não se deteve. Perseguiu a carruagem, suas longas pernas trabalhavam e sua visão se centrava por completo em alcançá-lo. Devia apanhá-lo. Devia fazê-lo.

Atrás dela, alguns gritos masculinos pronunciavam seu nome, registrou vagamente. Suas pernas ardiam enquanto corria, o ar frio passava assobiando. Ela devia apanhar a carruagem.

Ela devi...

Escorregou seu pé, de repente, estava voando, paralisando, golpeando o caminho com os joelhos e as palmas. Uma dor abrasadora atravessou seus joelhos e raspou a carne em suas mãos. A comoção, a brutalidade de sua nova posição, deixou-a atônita.

Sacudindo a cabeça, ela ouviu algo... horrível.

Levantando-se, estremeceu quando se sentou agachada e examinou seu vestido. Um grito afogado de riso brotou dela inesperadamente. — À perfeição —, ofegou, retrocedendo com cuidado, afastando-se da enorme pilha de esterco de cavalo.

Sentiu que seu lábio inferior tremia, seus olhos começaram a chorar, apertou a mandíbula firmemente contra o impulso de deixar que a risada se convertesse em soluços.

— Charlotte! —, Gritou-lhe seu pai, suas grandes botas negras se detiveram junto a ela. — Que demônios está fazendo?

Seu peito estremeceu. Seus braços. Tudo.

— Aterrissei em um montão de merda de cavalo, papai.

— Está louca, menina. Isso é o que é. E cuida de sua linguagem. O que pensaria sua mãe?

Olhou ao lugar onde a parte superior de suas botas se encontrava com a parte de baixo de suas calças. Ambos eram negros. — Talvez é uma pergunta que deveria ter-lhe feito antes de decidir vender sua filha por um título —, disse Charlotte.

— Ponha-se de pé, pelo amor de Deus —. Sua mão grande agarrou seu braço.

Ela o sacudiu.

As botas se embaralharam. A brisa soprava através dela quando um cavalo galopava a seu lado, diminuindo a velocidade para ficar boquiaberto e logo fugir. O aroma putrefato do esterco de animal lhe picou o nariz.

Seu vestido estava arruinado. Uma preocupação risível, realmente, considerando o estado de sua vida na atualidade.

— Rowland, o que passou? O sacerdote está esperando — Era tia Fanny, que vinha da igreja. — Charlotte. — Ela estava mais perto agora. — Está bem? — Uma mão suave posou em seu ombro.

A garganta de Charlotte se apertou com força. Suas mãos, agora sangrando, roçavam distraidamente a sujeira na parte superior de seus joelhos. Seus movimentos simplesmente manchavam a pálida seda com marrom e vermelho. Arruinado, pensou. Bem e verdadeiramente arruinado.

— Aí está, querida —. Uma mão lhe acariciou o cabelo, alisando-o justo por cima da orelha, como tinha feito a tia Fanny desde que era uma menina. — Tudo vai ficar bem. Nos deixe te ajudar a se preparar.

— Não quero estar de pé. Desejo ficar aqui. — Seu pai soprou.

— Prefiro me derrubar no esterco em lugar de me casar com um homem que não sabe nada de honra, nada de dignidade, nada de ganhar o caminho na vida.

As mãos da Fanny se retiraram, suas saias verdes se uniram às botas negras de papai.

O ritmo lento e deliberado de uma fortificação que se aproximava por traz. — Dignidade? — Disse uma profunda e sedosa voz de cima, sobre sua cabeça. — É possível que deseje considerar suas próprias circunstâncias antes de te coroar como a rainha desse reino em particular.

Fechou os olhos, mas isso só piorou o aroma. — Não quero me casar contigo, Chatham.

Ele riu, um risinho baixo com uma borda perversa. Logo os sons da rua se amorteceram quando seu corpo se inclinou, sua boca flutuando junto a sua orelha, seu fôlego quente contra sua bochecha. — Pode que me falte honra, amor, mas não sou tolo.

Não, ele não o era. Era muito preparado para seu próprio bem. Muito irritante também... tudo.

— Se levante. — Seu cheiro cortou o desagradável aroma de esterco de cavalos. Cheirava a cítricos. Surpreendentemente, não como o uísque. Uns dedos frios e magros deslizaram pelo pendente de seu ombro, sobre sua pequena manga e sobre a carne nua de seu braço. Envolveram-se e se aferraram. Levantou-a até que não pôde fazer nada mais que o que ele queria.

Logo, ele estava parado completamente atrás dela, sua mão persistente, acariciando seu braço com pequenos movimentos. — Agora dá se vire e nos deixe avaliar o dano.

Obedeceu. Não sabia porquê. Não havia nada mais que fazer, supôs. Tinha ganho igual a seu pai.

Seus olhos se alargaram enquanto olhava seu rosto. Chatham sob a vela de um salão de baile era tão pálido como o papel, inclinado até o ponto de magreza. Bonito, é óbvio, com sobrancelhas baixas sobre esses ferozes olhos turquesas.

Hoje, a plena luz do sol, entretanto, era da cor do sal. Seus olhos estavam com veias vermelhas, esses cílios grossos e escuros que o faziam tão belo quando olhava a uma mulher com intensidade, que emergiam de pálpebras de beira vermelha, inchados como se não tivesse dormido durante anos. Uma mecha escura de cabelo caiu sobre sua testa. Parecia doente, suas bochechas fundas, seus ossos ásperos contra sua pele.

Ela somente o tinha visto dias atrás, ele não estava tão... mal. Era alarmante.

Enquanto ela estava catalogando o desgaste em suas feições, ele estava examinando seu vestido. Agora, seus olhos voltaram para os dela. Sua cabeça inclinada, seu nariz enrugado. Ele farejou e logo se encolheu. — Deveríamos nos casar com toda pressa. Você vai querer se lavar e —, tossiu, sua tez se tingiu de verde, — Trocar seu vestido, antes de partir para Northumberland.

Ela observou sua garganta, ondular-se em um gole duro. Por alguma razão, divertia-a.

Alívio. Não era feito de alabastro impermeável, depois de tudo.

Outro impulso imprudente se apoderou dela, uma fantasia de diabo travesso que clamava por enfrentar-se ao arrogante lorde. Com um sorriso que não pôde evitar, olhou a saia, onde o esterco se condensou sobre capas de seda em dois grupos proeminentes.

— Quer dizer isto? —, Perguntou inocentemente.

— Não é precisamente que cheire a flores, amor. Quanto antes pronunciemos nossos votos, antes poderá te desfazer disto.

— OH, mas estou bastante convencida disso — Lhe deu uma pequena advertência antes de juntar um pouco de esterco com uma de suas mãos. Logo, com uma bofetada sólida, ela esfregou sua ardentes palmas nas lapelas de seu casaco. — Olhe? Esta é a beleza do matrimônio. O que é meu é teu.

Era infantil. Ridículo. Algo, como uma brincadeira que os gêmeos teriam feito a Andrew.

Suas fossas nasais se alargaram. Seus olhos ardiam. Ela esperava que se enfurecesse.

Mas não o fez. Não se moveu absolutamente. — Terminaste? —, disse sinceramente.

Piscando, esperou que ele rompesse, e declarasse que não se casaria com semelhante bruxa por qualquer quantidade de dinheiro. Em troca, viu seu controle, e o cansaço em seus olhos.

Possivelmente necessitava um empurrão mais.

Lhe dirigiu seu sorriso mais brilhante e fez uma reverência com seu vestido sujo. — Terminei. Sim, assim acredito. Vê-se muito arrumado, meu lorde.

Tia Fanny foi a primeira em reagir. — Charlotte, ficaste louca?

Chatham sustentou o olhar de Charlotte rapidamente, levantando a mão para deter o protesto de Fanny. — Louca ou não, casar-nos-emos agora. Não é assim, senhorita Lancaster?

Seus olhos posaram em sua obra, logo retrocedeu além de sua mandíbula magra, seu nariz e sua tez verde para encontrar-se com o turquesa ardendo, frente a ela. Ele era diferente do que tinha suposto. Mais... humano. Mais disciplinado.

Uma ideia absurda começou a formar-se: seu matrimônio com Benedict Chatham não tinha por que ser miserável. Talvez poderia trabalhar com este homem. Possivelmente, poderiam encontrar um acordo similar ao que tinha imaginado com lorde Tannenbrook.

Em qualquer caso, parecia que Chatham ia ser seu marido, desejasse ou não.

Tirar o melhor das circunstâncias desafortunadas era o que melhor estava acostumada a fazer.

— De fato assim é, Lorde Rutherford. — Ela o agarrou pelo braço com a mão ainda suja e se moveu a seu lado, logo o guiou de novo para a entrada de St. George. — Vamos cair neste montão de merda de cavalo juntos, de acordo?


CAPÍTULO 6

“Um matrimônio adequado começa com um casamento adequado. Parece que as núpcias de Benedict Chatham eram mais aptas a sua natureza”.

A marquesa viúva de Wallingham à condessa de Berna, ao escutar os detalhes da recente cerimônia em St. George.

Não houve café da manhã de bodas. Não houve desejo de cortar o bolo ou lágrimas de queridos amigos. Charlotte e Chatham tinham entrado na igreja, escoltados pelo corredor, junto ao senhor Pryor, a tio Frederick e ao primo Andrew, pronunciaram seus votos sucintos com aroma fedorento. Tia Fanny tinha chorado tranquilamente no banco, mas Charlotte suspeitava que tinha mais que a ver com suas flores pisoteadas e seu vestido arruinado que com a ocasião.

Agora, dias mais tarde, Charlotte olhou pelo guichê da carruagem com adornos dourados que tinha recebido de seu pai e sentiu uma perversa satisfação. Enquanto ela e Chatham se aproximavam do altar, papai tinha sido obrigado a seguir seu rastro odioso. Mais tarde, não tinha derramado nenhuma lágrima, nenhuma, já que tinha jogado seu vestido sujo ao fogo e tinha visto desaparecer a delicada seda. Ela já tinha se lavado e terminado de empacotar suas coisas. Abraçou uma desconcertada tia Fanny e a tio Frederick, beijou as bochechas de seus primos e partiu para seu destino nos limites de Northumberland.

Até agora, tinha sido uma viagem tediosa. Havia trazido livros, um dos quais tinha aberto em seu regaço, mas seu estômago achou que a leitura e o movimento da carruagem eram incompatíveis. Tinham estado viajando quatro dias, nesse tempo, ela tinha visto seu novo marido precisamente seis vezes. Cada instância a tinha alarmado ainda mais. Na verdade, parecia à beira da morte.

— Lorde Rutherford chegou a seu apogeu esta manhã, não está de acordo, Esther? — Charlotte não sabia por que seguia tentando conversar com a donzela taciturna.

A mulher de meia-idade, de rosto pálido e sentada no banco oposto, tinha sido contratada por seu pai por muitas razões: um corpo robusto, quase brutal, uma experiência de toda uma vida como donzela de todo tipo de moças, um ódio febril para com os bêbados, mas o engenho faiscante não estava entre eles.

— Hmmm. Serve-me bem, se me perguntar isso. — Esther não se incomodou em levantar a vista de sua costura, nem em dirigir-se a Charlotte com a devida cortesia. A criada de cabelo de ferro era irritante, não respondia e era grosseira às vezes.

Tinha sido uma viagem muito longa.

A carruagem balançou quando saíram da estrada para uma faixa estreita. Este pequeno povoado aparentemente se formou inteiramente de posadas e carruagens. Charlotte suspirou e esfregou a parte inferior das costas. A carruagem em si era deliciosa, com almofadas e cortinas de veludo vermelho escuro. Com painéis de couro suave, adornos nas paredes. Embora nenhuma carruagem era cômoda depois de quatro dias, a sua era luxuosa e espaçosa. Ela sorriu para si mesmo. Faria uma pequena fortuna depois que chegassem a seu destino.

Seu sorriso se desvaneceu quando se detiveram no pátio de outra estalagem para carruagens, notavelmente similar a da noite anterior, com tijolos, madeiras e uma placa oscilante sobre a porta. — A Galo Mais Rápido —, murmurou, entrecerrando os olhos ante o pôster através do entardecer violeta. — Eles têm os nomes mais estranhos para estes lugares, não é assim?

A criada nem sequer se incomodou em grunhir.

Por fim, detiveram-se, deixou de lado seu inútil livro e rapidamente se apressou a descer.

A carruagem de Chatham, uma igual a sua tinha chegado primeiro, mas a porta permanecia fechada. Uma vez mais, seus pensamentos se dirigiram a seu marido, com quem não tinha querido casar-se. Tinha parecido muito doente antes, mordendo os lábio, se perguntava se deveria olhá-lo. Se ele morresse, seria viúva. Poderia ser viúva se não tinha beijado a nenhum homem?

Sacudindo a cabeça, ajustou o arco de seu chapéu e decidiu que o melhor caminho era assegurar-se de que seu marido não morrera. Ela poderia ter sido forçada a este trato, mas ao final teria sua recompensa. Um ano com Chatham, e seria livre.

Além disso, se sofria uma morte prematura, o céu sabia o que seu pai lhe exigiria a seguir. Segundas núpcias? Quanto tempo mais demoraria a chegar em seu legítimo destino? Calculou um período de luto adequado, mais o tempo para localizar e convencer a um cavalheiro titulado suficientemente desesperado para casar-se com uma viúva com grande dote, Charlotte estremeceu. A esse ritmo, chegaria a América em dez anos ao invés de um.

Uma forte tosse soou atrás dela.

— OH! Desculpa, Esther.

Desta vez a resposta foi claramente um grunhido.

— Acredito que falarei com Lorde Rutherford —, disse a ninguém em particular, porque a donzela já se dirigiu para a porta da “Galo Mais Rápido.”

Olhando para a outra carruagem, notou que o chofer falava com um velho ossudo, curvado e capeado, perto da primeira fila de cavalos. Seus olhos se dirigiram de novo à porta fechada da carruagem. As cortinas estavam fechadas. Ele ainda não tinha saído. Antes que pudesse pensar melhor, respirou fundo e caminhou dez passos para agarrar o cabo da porta.

— Eu não faria isso, se fosse você, minha Lady —. Era o chofer, outro dos homens contratados por seu pai.

Dando uma piscada ao homem de cabelo cinza e olhos chorosos, ela respondeu: — Por que não?

— Pode estar muito ruim? Tendo alucinações e tudo isso. Lhe dê um dia ou dois, e estará bem.

Alucinações? Seu estômago deu um apertão peculiar. Ele deve estar muito pior do que pensava. — Mais uma razão para perguntar por seu bem-estar —. Ela girou a maçaneta e abriu a porta.

Quase caiu para traz ante o mau cheiro.

— Eu avisei, minha Lady. Bêbados que param de beber de repentinamente, sofrem muito por seus pecados, fazem-no. Melhor deixá-los.

O ar condensado e azedo desabou do interior, e sua fonte era uma figura encurvada e sombreada apoiada contra uma parede adornada. Tudo o que podia ver dele na penumbra era a pele branca cinzenta e a roupa escura.

Mas ele tremia e ofegava de uma maneira que nunca tinha visto antes, especialmente em alguém tão controlado como Benedict Chatham.

— Comeu ou bebeu algo? —, Perguntou ao chofer.

O homem esfregou a nuca. — Não sei com segurança.

— Traga minha garrafa do outro carro, por favor.

O servente robusto e de rosto sombrio a olhou como se tivesse começado a falar francês.

— Agora!

Ele assentiu e obedeceu.

Voltou-se para seu marido, que parecia estar sofrendo as agonias dos condenados. Ele murmurou tolices em voz baixa. Uma mão magra agarrou sua bengala tão forte, que a coisa tinha começado a dividir-se. Sua outra mão raspou sua cara e logo caiu para formar um punho no banco.

— Saia, saia. — A voz normalmente sedosa estava tão quebrada como uma árvore golpeada por um raio.

— Chatham —, disse com calma, girando sua cabeça um momento para respirar ar fresco. — Estou entrando.

— Não.

Ela o ignorou, agarrou o marco da porta e se incorporou até que se dobrou pela metade, agachando-se junto aos joelhos de seu marido dentro do interior. Meu Deus, o cheiro era repugnante, azedo e picante, como se tivesse vomitado durante horas e suado durante mais tempo. Olhando a seu redor para o veludo vermelho e couro, não pôde encontrar evidência de tais fluídos, mas então estava terrivelmente escuro.

— Isto é o que desejava, minha Lady? — Sua garrafa foi empurrada além de sua cintura por uma mão carnuda.

— Sim, obrigado —. Tomou o recipiente prateado e afrouxou a tampa. — Chatham, vai beber isto agora, entende?

Sua cabeça balançava para frente e para trás. — Maldita bruxa ruiva. Tratando de me destruir —. Sua respiração estremeceu. A bengala se quebrou com a força de seu punho.

Ela se aproximou mais, atrevendo-se a posar no banco junto a ele. Os olhos turquesa seguiram seus movimentos, girando e ondulando como um cavalo assustado, enquanto colocava cuidadosamente sua mão enluvada sobre o punho apertado ao lado de sua coxa. Acariciando seus nódulos brandamente, sustentou seu olhar. E ordenou: — Abre para mim.

— Bruxa, — sussurrou.

— Deixe tomar sua mão. — Ela pressionou com mais força, fazendo alavanca em seus dedos, finalmente conseguindo afrouxá-lo o suficiente para enroscar seus próprios dedos dentro de seu agarre. Levantando sua mão, ela o obrigou a agarrar o metal em relevo, logo tomou suas mãos ao redor das suas e levou o bico a sua boca. — Bebe, agora. Continue.

Surpreendentemente, fez o que lhe pedia, fechando os lábios pálidos ao redor da abertura do frasco oval e tomando todo o conteúdo em vários goles longos. Seu fôlego assobiou quando terminou, seus olhos nunca abandonaram seu rosto. — Não é o que quero.

Sua boca se torceu. — Disso estou segura. Mas é o que necessita.

De repente, a mão que sustentava se retorceu e a agarrou pelo pulso, atraindo-a para mais perto para que seu ombro se pressionasse contra seu peito.

Ela o empurrou para criar mais distância (ele cheirava espantoso) e a apertou com mais força até que temeu que lhe provocasse marcas. — Chatham —, ela disse, mantendo sua voz baixa. — Deixe-me ir.

— Bruxa de fogo —, disse com voz áspera. — Me afogando. Me queimando.

— Está fora de si —. O frasco deslizou pesadamente entre sua perna e onde tinha caído. — Chatham! — Ela ofegou enquanto ele apertava mais forte, moendo seus tendões. — Por favor, deixe ir.

— Minha Lady? — Veio uma voz rouca de fora. — A senhora necessita ajuda?

— Não —, disse por cima de seu ombro. — Meu marido necessita algo para beber. Entra na estalagem e pergunte se têm água ou chá. Preferivelmente chá. Faça-o agora. Por favor.

Enquanto falava, o apertão ao redor de seu pulso se afrouxou. Agora, seu polegar acariciava o osso de um lado.

— Charlotte? — Seu murmúrio soava confuso. A diferença do Chatham, que nunca perdia o controle de si mesmo, nem sequer no fundo das taças.

Ela se virou para olhá-lo. Pedaços de sua bengala jaziam destroçados a seus pés.

Estava tremendo, tremendo tanto que se perguntava se ele também se desfaria em pedaços irregulares. Seu corpo estava tão magro como ela o tinha conhecido, como se lhe importasse tão pouco a vida que mau podia incomodar-se em sustentar-se. Pela primeira vez, olhando ao lorde com o qual se casou, contemplou ao homem que estava dentro. Uma alma tão pervertida e até decadente sem obsessão pelo título. Quanto era real? Havia algo sólido sob todo o engenho sarcástico e a apatia depreciativa?

— Libera minha mão, marido.

Centrou-se onde ainda estavam conectados, um vinco se estabelecendo entre suas escuras sobrancelhas.

— Marido? murmurou. — Nunca serei isso.

— Bom, você é um. Eu gostaria que me devolvesse a mão, por favor.

Seus tremores agora sacudiam seu braço, transferiu-se de sua perna para a dela onde se tocavam.

— Isso significa que tenho direito a te foder?

Considerando que ela tinha usado profanidade própria no dia de suas bodas, a vergonha para ela era mais uma velha amiga que um visitante ocasional, sua declaração de fato não deveria lhe haver enviado uma onda expansiva por todo o corpo. Mas o fez. A mera ideia do que tinha falado provocou um estalo de calor, sangue e uma luz crepitante explorassem desde seu centro para fora até que, sem dúvida, deixo-lhe a pele de uma cor carmesim.

— Você... você...

Seu lento sorriso não deveria ter sido tentador. Dado seu odor e sua condição e o fato de que parecia que pertencia à tumba, não deveria ter sido atraente no mínimo. — Sou-o, verdade? Titulado. — Soltou-lhe o pulso com uma carícia pausada e se recostou no canto do assento. — Muito bem.

Seu coração pulsava com força, golpeando os ossos de seu peito até que ela quis ofegar. O que em nome dos céus estava errado com ela?

— Minha Lady, não tinham chá, mas trouxe água do poço da estalagem —. A mão carnuda do chofer sustentou um copo cambaleante.

Ela estava muito contente pela distração. Tantas coisas estavam mal que não sabia por onde começar. — Me traga um pano... desculpe, mas qual é seu nome?

O criado grisalho levantou sua boina de uma espessa mecha de cabelo cor cinza e arranhou brevemente a cabeça antes de voltar a assentar o chapéu. — Booth.

— Obrigado pela água, Sr. Booth. Poderia agora me trazer um pano?

O robusto e pouco inteligente Booth entrecerrou os olhos e a olhou, logo assentiu e se afastou.

— Quer que eu morra —. O comentário de Chatham se rachou no meio, de modo que a segunda parte saiu como um sussurro. Não foi a emoção que o rompeu, a não ser uma garganta que tinha suportado muita bílis nos últimos quatro dias.

— Duvido —, murmurou ela enquanto recuperava o frasco e se inclinava para enchê-lo com água fresca.

— Ele disse. Disse que é o que mereço.

Ela piscou e se sentou, seus dedos frios gotejavam onde sustentavam o frasco.

Chatham ainda estava tremendo, mas sua respiração se acalmou, suas mãos sem apertar, seu olhar fixo. Lúcido.

— Embora. Acredito que meu pai contratou serventes que têm certo... desdém pelo álcool e pelos que se excedem com ele. — Ela estendeu o frasco para ele. — Toma mais.

— Por que está aqui? — Tomou o frasco e bebeu. Quando terminou, um brilho de umidade permaneceu em seus lábios. por que deveria dar-se conta, não podia dizê-lo.

Mas ela encontrava perturbadora sua consciência.

— Necessitava de ajuda. — Ela aceitou o frasco de sua mão, tentando ignorar o roçar de seus dedos, e voltou enchê-lo pela segunda vez. — A diferença do Sr. Booth, não desejo que morra.

— Por que, senhorita Lancaster. Tal sentimento. Acreditei que era do tipo prático.

Entregou-lhe o recipiente metálico curvado a ele novamente. — Já não sou a senhorita Lancaster.

— De fato, não.

— Entretanto, tem razão a respeito da praticidade. Sua morte não me beneficiaria de maneira nenhuma.

Engoliu e baixou o frasco, limpando uma gota de seu lábio com um nódulo. — É mesmo?

— Se levar em conta o período de luto (dois anos, talvez) o tempo necessário para conseguir um novo título para satisfazer a meu pai, minha liberdade sofrerá um atraso insustentável. Contigo, somente tenho que esperar um ano.

Booth chegou com o tecido, uma ampla peça de linho. Ela assentiu com a cabeça e o inundou no balde, logo torceu, e o pôs em Chatham. Ele não se moveu, não apartou o olhar dela.

— Bem, agora —, disse ela, movendo a coisa que goteja para frente e para trás.

— Usa-o. Sentir-se-á melhor.

Mesmo assim, não disse nada. Perguntou-se se ele estava se retirando de novo para a insensibilidade. Estalando a língua, ela se aproximou mais e se inclinou para ele, pressionando o pano úmido contra sua testa. Brandamente baixando-a sobre a maçã do rosto afiado e sua mandíbula rangente, ela riscou cuidadosamente um canto do tecido ao longo da curva debaixo de seu lábio inferior.

Uma mão capturou a sua. — Posso fazê-lo. — Sua voz era irregular e fria.

Sobressaltou tanto seus sentidos como umedecê-lo com o balde que havia trazido Booth.

— É óbvio —, murmurou ela, afastando-se. Clareou a garganta e assinalou com a mão para o frasco que ainda sustentava em sua outra mão. — Fique com ele, deve seguir bebendo água ou chá se quiser melhorar.

— Não é para preocupar-se. A morte é muito lenta em me reclamar, embora o tentei de vez em quando. Terá seu ano, esposa. — Com isso, os olhos de Chatham a abandonaram. Virou -se e pronunciou uma ordem final. — Agora, me deixe em minha miséria.

Depois de longos minutos, ela o fez. A relutância que sentia não significava nada, disse-se a si mesmo. Nada do que seja.


CAPÍTULO 7

“Se agora está colhendo feixes de miséria, jovenzinho, pode-se agradecer por plantar sementes enquanto estava bêbado.”

A Marquesa Viúva de Wallingham a seu sobrinho, por suas queixas sobre as tentações do conhaque francês.

Chatham nunca havia se sentido tão desgraçado em sua vida. Cada parte de seu corpo estava sendo devorada por insetos sob sua pele, logo empapada com vinagre e depois presa pelo fogo. Seu crânio estava sendo esmagado e destroçado por um sádico. Além disso, tremia como a carne de um homem gordo em um cavalo fugitivo. Queria correr por milhas. Queria dormir durante anos. Cada momento era uma tortura.

E isto significava uma grande melhora com respeito a ontem, quando tinha sido atormentado por visões do inferno. Visões de uma bruxa cujas mãos e cabelo eram chamas, que lhe oferecia água quando queria uísque.

Passou uma palma tremente pelo rosto e olhou pelo guichê da carruagem para a paisagem plana de Northumberland. Ela se tinha compadecido dele, sua esposa. Não tinha gostado. Concedido, havia se sentido melhor depois de beber vários jarros de água e ter limpo o suor rançoso de sua pele. E era certo que ela tinha determinado que sua habitação fosse abastecida com mais água, toalhas e sabão. Sua ajuda tinha aliviado seu sofrimento. Mas ela não deveria haver se aproximado dele. Era perigoso neste estado.

Ao longe, notou sinais familiares de que estavam se aproximando de Chatwick Hall, os campos de erva tinham crescido até a altura da cintura, ultrapassando sob o muro de pedra de duzentos anos de vento e chuva costeiros. O bosque de salgueiros, carvalhos e olmos que bordeavam o lado ocidental do imóvel se tornou alto, grosso e estridente. Mas ainda estava ali, recém verde e carregado de musgo.

Recordou a última vez que o tinha visto. Tinha oito anos.

Sua parte favorita do bosque tinha sido onde o Rio Fenn atravessava no extremo norte. De menino, tinha vagado pela erva daninha, imaginando a si mesmo como o capitão de um navio afundado, fatalmente preso em uma ilha remota. Um ramo largo tinha sido sua espada. Preso a seu braço com uma corda, uma bandeja chapeada de sua mãe, tinha sido seu escudo. Um de seus professores mais vigorosos lhe tinha tirado a bandeja e o tinha golpeado com o ramo por seu roubo, mas ainda recordava o momento com carinho. Tinha sido livre para perambular, construir, escalar e imaginar batalhas em grande escala embaixo destes extremos musgosos.

A carruagem se sacudiu e desacelerou, logo avançou um ângulo novo. Uma árvore longa e podre bloqueava tudo, menos uma estreita faixa do caminho, que estava tão cheia de buracos que a carruagem ricocheteou e cambaleou quando o chofer gritou a seus cavalos.

A este ritmo, Chatham pensou em sair da carruagem para caminhar o resto do caminho.

Mas a luz ainda lhe incomodava os olhos, e em algum momento tinha quebrado sua bengala. Não recordava como.

Finalmente, saíram do bosque e avançaram um lance reto para aproximar-se da casa. A várias centenas de metros de distância, via-se notavelmente igual à última vez que a tinha visto: duas asas de pedra, uma o dobro de largura da outra, que sobressaíam orgulhosamente enquanto se erguia entre elas uma larga coluna de pedra com três afiados tetos que ressaltavam seu quarto piso. O telhado bruscamente inclinado era de piçarra negra, as janelas expansivas e com painéis. A arenisca de mel escuro parecia mais cinza que antes, mais desgastada, mas pelo resto, a casa coincidia com sua memória.

Perguntou-se ociosamente o que pensaria Charlotte disso.

Minutos mais tarde, detiveram-se poucos pés da porta principal, e ele já não o perguntou. Um lento sorriso se estendeu em seu rosto. Odiá-lo-ia. Qualquer mulher sensata o faria. Deteve-se na entrada circular, apoiado contra a lateral da carruagem, e a observou descer desajeitadamente de sua carruagem antes de proteger os olhos contra o brilho branco do sol. Seu peito se elevou em um suspiro visível.

— O que pensa de seu novo lar, Lady Rutherford? —, disse em voz baixa, zombeteira.

Ela ignorou a brincadeira. De fato, parecia não havê-lo ouvido absolutamente, com o olhar fixo na pilha de arenito, madeira podre e cristais quebrados que se derrubavam ante ela. Não podia decidir se sua expressão assinalava desgosto, horror ou assombro.

Possivelmente eram as três.

Enquanto a observava dirigir-se lentamente para a porta principal, estirando o comprido pescoço por toda parte, aproveitou a oportunidade para examinar sua esposa do chapéu de palha até a prega azul escura. Por Deus, ela era uma Long Meg1. Seus braços eram como ramos de salgueiro, magros e pendentes, aparentemente sempre em movimento, raramente em controle total. Seus peitos eram leves onde pressionavam contra os fechamentos de sua pelissa2. De fato, pareciam bem pequenos para seu corpo, inclusive com a ajuda de um espartilho. Mas seus quadris eram...perfeitos. Uma deliciosa curva que tentava a um homem em agarrar-se e montar com força.

Que diabos?

Ele franziu o cenho profundamente, observando que seu traseiro balançava de um lado a outro enquanto subia os três degraus para a porta. Mais visões, supôs.

Maldito Lancaster, ao inferno por este maldito contrato. Era tal a intolerância de Chatham à abstinência de todo tipo, que inclusive estava contemplando os seios e os quadris de sua esposa. Ou suas pernas muito longas. Ou o que havia entre elas. E como gostaria...

Cristo, isto é uma loucura. Sacudiu a cabeça para limpá-la e se empurrou para longe da carruagem suficientemente forte para mover a coisa sobre suas rodas. Ele falaria com ela. Isso deteria estes impulsos injustificados. Ela estava acostumada a dizer coisas que o recordavam quão desagradável a encontrava.

Quando ela girou e puxou a maçaneta de ferro na ampla porta de carvalho, ele se apertou atrás dela porque sabia quão desconcertante encontrava sua proximidade. — Necessita uma chave? — Sua cabeça voou para trás, a parte superior de seu chapéu quase lhe golpeou a cabeça.

Só foram seus rápidos reflexos os que o salvaram da colisão. — Não —, disse com calma, evitando sua reação de surpresa. — Tirei-a do bolso de seu casaco esta manhã. — Mantendo-se de costas a ele, agitou a chave de metal entre os dedos levantados. Então, fez um tic tac com sua língua e suspirou. — A porta está enferrujada, acredito.

— Quando teve acesso a meu bolso?

— Saiu tarde de sua habitação esta manhã, assim entrei para me assegurar de que não me tinha deixado viúva durante a noite. Estava dormido, não morto, mas previ a necessidade de ter a chave na mão em caso de que ficasse...incapacitado. — Sua mão enluvada voltou a girar a maçaneta e usou seu ombro para empurrar ligeiramente a porta.

— E, em sua opinião, o que te dá direito a tomar tais liberdades? —, perguntou em voz baixa.

Ela soprou. — Estiveste fora de seu juízo durante dias, Chatham. Alguém tinha que comandar. — Ela se virou para olhá-lo.

Suas sardas eram como um pingo de canela sobre uma tigela de nata. Seus cílios e sobrancelhas brilhavam como cobre brilhante. Observou com interesse como rosa fresca se mesclava com o cobre, a nata e a canela.

— Te peço perdão, meu senhor. — Seus lábios estavam apertados, seus olhos fixos cuidadosamente em seu queixo.

— Os rogos são sempre bem-vindos, amor.

O rosa se intensificou. — Eu gostaria de olhar ao redor da parte traseira da casa.

— Faça o que queira. Não é minha intenção me pôr em seu caminho.

— Entretanto, faça isso. Está justo no meio de meu caminho. — Suas palavras se tornaram nítidas, seus olhos se elevaram para olhar seu rosto. Um diminuto sulco se assentou sobre a ponte de seu nariz, e o rubor se desvaneceu. — Me deixe passar. Devemos abrir a casa para que possa te recostar.

Sua diversão, que tinha aumentado junto com o rubor dela, morreu. Na atualidade, examinava-o com a preocupação que mostraria a um tio ancião e sóbrio que cambaleava a beira da tuberculose.

— Estou perfeitamente bem.

— Você parece horrível.

Dirigiu seus olhos deliberadamente até seus peitos, amarrados e cobertos modestamente detrás de uma pelissa azul e provavelmente outras três capas. — Estou melhor do que aparento —, respondeu.

Revirando os olhos, ela empurrou seu ombro até que ele virou para lhe dar espaço, e desceu as escadas sem outra palavra. Enquanto observava seus passos largos, que a levaram para outra asa da casa, suspirou. Tinha tido a intenção de irritá-la, e parecia que o tinha feito muito bem.

Com um encolhimento de ombros mental, voltou-se para a porta. A mulher simplesmente não se esforçou o suficiente. Ante uma madeira grossa que tinha suportado mais de duzentos invernos em Northumberland, devia emparelhar a teimosia com a força. Girou a maçaneta oxidação e empurrou com o ombro. Além de um gemido resistente da madeira, a porta não se moveu.

Apertou a maçaneta com mais força e empurrou com mais força. Ainda nada. Humilhado, sem fôlego, e agora estando de acordo com a avaliação de Charlotte de que deveria deitar-se, deu-lhe à porta um último empurrão com o ombro.

Cedeu.

Repentinamente.

Com um forte estalo, um irritado gemido.

E um “oooph” feminino seguido de um golpe forte.

Empurrou a pesada porta de par em par para encontrar a sua esposa estendida em um chão sujo, com os olhos fixos nele, a cara vermelha.

Sorrindo, cruzou os braços sobre seu peito e se apoiou contra a soleira. — Não se preocupe, querida. Somente necessitava um pouco de persuasão varonil. De nada.

Seu desgosto saiu como um vaio. — Chatham.

— Sim?

— Vá embora.

Umas botas golpearam com força as pedras atrás dele. — Os estábulos são um desastre, meu lorde —, disse Booth antes de deter-se, olhando fixamente onde ainda estava sentada Charlotte. — Minha Lady, posso lhe ajudar a ficar de pé?

A velha bruxa que Lancaster também tinha contratado para vigiar os “hábitos” de Chatham abriu passo entre o Booth e ele, resmungando: — Bobos, os dois. — Esther Hazelwood estendeu uma mão calosa para Charlotte, que aceitou a ajuda e ficou rapidamente de pé. Logo, a donzela cinza e severa avançou para o desastre que era Chatwick Hall.

De maneira discreta, Charlotte limpou as saias com luvas que só estendiam mais a sujeira. Olhando ao chofer, levantou o queixo. — Temos muito que fazer, senhor Booth. Felizmente, ficam várias horas de luz diurna. Os cavalos devem estar alojados em algum lugar. Podem os estábulos fazer-se habitáveis temporariamente?

Tirou a boina e arranhou a cabeça antes de voltar a colocar o chapéu desgastado. — Sim. Mas o teto está cheio de ocos e podridão. Terá que ser reparado...

O chofer girou e se encontrou com o homem mais ligeiro e jovem que tinha servido como condutor de Charlotte. — Desculpe, minha Lady —, disse o moço, agachando a cabeça como se enfrentasse a uma rainha em lugar da uma marquesa.

— Meu lorde.

— Ah, Joseph. Tem-no feito maravilhosamente bem. — Charlotte levantou um dedo, logo colocou a mão no bolso da pelissa e tirou um pacote pequeno, plano, envolto em um tecido engordurado e preso com uma corda. O deu ao menino, que o apertou com entusiasmo com ambas as mãos. — Agora, dentro está tudo o que necessitará. Uma carta de referência, nossa soma acordada e instruções para vender o cavalo. Deve segui-las ao pé da letra, entendido? Há muitos mercados que lhe enganarão tão rápido como pode piscar. O Sr. Hinton é mais honesto que a maioria. Ele te dará um preço justo. Uma vez que tenha seu capital, deve investir em mais cavalos. Entende-o? Assim é como construirá seu negócio.

O menino assentiu com entusiasmo. — Obrigado, você é muito amável, minha Lady.

Lhe sorriu. Um sorriso radiante, de verdade. Pareceu aturdir ao moço, que era muito jovem para ela. Além disso, era sua esposa, por isso provavelmente não deveria estar sorrindo a um condutor humilde, especialmente a um que ainda não tinha aplicado uma navalha a seus bigodes.

— Joseph, verdade? — interrogou Chatham.

— Sim, senhor.

— Se for agora, deve chegar ao Alnwick antes do anoitecer. Recomendo-o.

O menino engoliu e assentiu, apressando-se a recolher o que parecia ser seu pagamento pela viagem ao norte.

— Não havia necessidade de ser grosseiro. — As mãos de Charlotte estavam apoiadas em seus quadris, mas seu comentário foi suave, seu tom distraído. Estava olhando ao redor do vestíbulo de entrada com o que só poderia chamar de intensidade.

Ele se uniu a sua leitura. Desastre era uma palavra muito amável. À sua direita, ao longo da grande escada que subia em forma de U aos pisos superiores, faltava o balaustrado, deixando aqui e lá um esqueleto de balaústres que se sobressaíam tristemente dos degraus podres e arqueados. Nas quatro paredes faltava gesso em grandes partes, expondo ripas e hastes de madeira bruta abaixo. O piso no qual esteve recentemente a parte traseira de sua esposa tinha sido de pedra calcária polida. Agora estava rachado, manchado e coberto em cinco anos de Deus sabia o quê. Curiosamente, Charlotte não parecia perturbada.

— Deve ter sido formoso um dia. — girou-se lentamente, estirando o pescoço para olhar as molduras adornadas no teto. Estavam intactas, provavelmente porque só os pássaros podiam as alcançar, e os pássaros não tinham dedos para as soltar. — Quanto tempo passou da última vez que esteve aqui? —, perguntou ela.

— Mais de vinte anos.

Agora lhe dava as costas. Seus olhos se detiveram em suas saias, onde o círculo de terra em forma de coração de sua parte posterior estava flanqueada por dois rastros de pó. Sentiu um sorriso atirar contra sua vontade.

— Era somente um menino então.

— Mmm.

Abriu passo através do espaço, passando um dedo sobre esta superfície e aquela, examinando o dano. Provavelmente calculando quanto custaria ficar em uma estalagem durante um ano inteiro.

— Será formosa outra vez, Chatham. Não se desespere.

Ele piscou. — Diga-o de novo?

Agachou-se e recolheu um dos balaústres que se quebrou e que estava sobre a pedra calcária coberta de imundície. Logo, encontrou-se com seu desconcertado olhar com um sorriso mais brilhante que o que tinha dado a Joseph. Seus olhos verdes e dourados brilhavam como o sol resplandecente através das folhas de salgueiro.

— Vamos arruma-la. E será gloriosa.

Perguntou-se ociosamente se estava experimentando visões outra vez. — Se por “nós” refere-se a ti e ao número incalculável de ratos que sem dúvida habitam nestes restos, desejo-te o melhor.

Deixou cair o balaústre no chão antes de desempoeirar as mãos e franziu os lábios. — Ratos? Espero que não. Os roedores me dão calafrios. Não, quis dizer você e eu e Esther e...

— Você e eu não temos nem duas libras entre nós. — Sua dor de cabeça piorava a cada segundo.

Ela agitou sua mão em desacordo. — Uma limpeza completa custa somente tempo e esforço.

— Com uma limpeza não se pode reparar o gesso quebrado ou transformar um teto prejudicado em um em bom estado. — esfregou em vão os ossos por cima dos olhos. — Por que devo explicar estas coisas?

— Chatham, vê se encontra uma cama. — Tinha a preocupação franzindo o cenho outra vez. Era malditamente irritante.

Queria beijá-la até que a preocupação desaparecesse. Logo, colocar sua mão debaixo de suas saias e lhe demonstrar quão equivocada estava sua compaixão. — Talvez deveríamos encontrar uma cama juntos, amor.

— Poderia deixar suas tolices? Somente... vai para cama. Podemos falar da casa quando se sentir melhor. — E, com uma demissão final, voltou-se e saiu do vestíbulo da entrada através de uma porta revestida que uma vez tinha tido portas duplas.

Bom Deus, ela era irritante. Como areia debaixo de suas pálpebras. Como espinhos dentro de suas botas. A maneira enérgica. O discurso contundente. O tom maternal.

Tudo nela o fazia se irritar, até que quis apertar os dentes. Ou agarrá-la pelos ombros. Ou afundar seus dedos nesses quadris.

Olhou as escadas e logo virou para olhar ao exterior para a grande entrada circular.

A terra dura e rachada estava salpicada de erva daninha. No centro do círculo, um ninho de ratos de arbustos descuidados desabou sob um vaso de barro de tijolos em mal estado. A metade de seu conteúdo estava morto, a outra metade muito grande. O desenho tinha sido ideia de sua mãe, quando ainda acreditava que seu marido a queria aqui.

Catherine o tinha planejado como uma surpresa, recordou.

— Quero que os arbustos caiam em cascata como a água —, disse ela enquanto Benedict a observava da janela do viveiro. Tinha ela aberta apesar das ordens de seu instrutor porque o terceiro piso era sufocante no verão. Apoiando as mãos no batente, observou-a, sua formosa mãe. Levava sua cor favorita, o rosa, assinalando e gesticulando com graça. Ela fazia todas as coisas com graça.

Para ele, ela se parecia muito às deusas míticas das que tinha lido, exóticas e remotas.

Ela nunca o tocou, é óbvio. Nunca lhe falou a menos que seu pai estivesse envolvido.

Embalando seu cavalo de madeira em sua mão, inclinou-se sobre o batente, usando seus cotovelos para obter uma melhor vista dos trabalhadores. Ela também seguia seus movimentos, e seu olhar se detinha estranhamente aqui e lá sobre suas costas e ombros.

Se debruçou um pouco mais quando um dos trabalhadores, um sujeito com um braço comprido que se apoiava sobre uma pilha de madeira em seu ombro, aproximou-se muito à casa para que Benedict visse o que estava fazendo. De repente, sua mão estava vazia, e viu seu cavalo cair três pisos sobre o chão poeirento.

Ofegando, correu escada abaixo, sem pensar nem um momento na advertência de seu instrutor de permanecer dentro do quarto de crianças. Ele mesmo tinha esculpido o cavalo. Tinha encontrado a madeira na primavera passada perto do rio. O tinha levado à casa e usou uma faca que tinha descoberto na biblioteca de seu pai para esculpir, raspar e dar forma até que o cavalo se tornou real. Assim, em lugar de obedecer a seu instrutor, correu sobre os pisos de pedra calcária do vestíbulo de entrada, seus sapatos deslizaram sobre a pedra polida. Logo se deslizou inadvertidamente pela porta entreaberta.

Do chão, os operários pareciam enormes. Seu pai também era alto. Seu instrutor frequentemente dizia que provavelmente seria alto porque seu pai o era. Não estava seguro de lhe acreditar.

Viu o cavalo atirado na terra onde se raspou o cascalho e se apressou a recuperá-lo. Foi então quando o ouviu. O clop-clop-clop de cavalos reais. Voltou-se e viu seu pai, sentado alto e severo no alto de suas arreios, detendo-se ante sua mãe.

— Rutherford, — ofegou. — Retornaste cedo. O que pensa? — Ela fez um gesto gracioso. Tudo o que fazia era elegante. Tudo.

Seu pai não sorriu. Nem sequer olhou as mudanças no caminho de entrada. Em troca, olhou-a fixamente durante longos minutos, sua cara como as pedras de Chatwick Hall. — Quem te deu permissão para fazer isto, Catherine? Perguntou Rutherford.

Ela colocou sua mão, uma não muito maior que a de Benedict, sobre a perna de seu pai. — Pensei que ficaria satisfeito.

Seu pai desprendeu seu braço como uma serpente. — Não tem nenhum direito —, respondeu. Logo, inclinando-se, aproximou-se de seu rosto, segurando o queixo em sua mão. — Esta não é sua casa.

Sua mãe retrocedeu como se a tivesse golpeado. Sem outra palavra, seu pai se dirigiu aos estábulos, passando pelo lugar onde estava Benedict. Seus olhos cor turquesa se encontraram com os de Ben, mas houve pouco reconhecimento, como se Benedict fosse um fantasma. Então, Rutherford desapareceu além da esquina da ala leste. Nem sequer ficou o eco dos cascos do cavalo. E mamãe desapareceu dentro de um dos quartos, com um dos trabalhadores durante várias horas, o que tinha levado a pilha de madeira, pensou.

Vários meses depois, Benedict tinha visto através do guichê traseiro de uma carruagem de viagens como Chatwick Hall tinha desaparecido de vista. Nem ele nem sua mãe tinham retornado mais.

A lembrança não era agradável, particularmente agora que era maior e entendia melhor os matizes do matrimônio de seus pais.

Dolorido em cada osso, esgotado e enervado de uma só vez, Chatham abriu passo através do corredor e provou os primeiros degraus da escada. Embora os degraus eram débeis e esponjosos, suportavam seu peso com apenas um rangido ou dois. Quando chegou ao segundo piso, viu que os pisos de tábuas de madeira não estavam melhor que a pedra calcária. O gesso estava intacto ao longo das paredes do corredor, mas estavam manchados de água e tudo o que tinha infestado este lugar nos últimos cinco anos.

Chutou dois balaústres de seu caminho e foi em busca de uma habitação para acalmar sua miséria. O que descobriu o fez amaldiçoar baixinho. Cada cama, junto com cada móvel, tinha sido vendida ou saqueada. Todas as camas, exceto uma: a enorme monstruosidade esculpida e com dossel na câmara principal, provavelmente porque era muito pesada para arrastá-la. Ficou olhando-a, balançando-se sobre seus pés enquanto contemplava os desconfortos de dormir em uma carruagem.

Os postes de nogueira escura estavam intrincados com imagens marinhas: ondas do oceano, sereias, folhas de algas marinhas. Era fantasioso e ridículo. A lareira dupla que flanqueava a sala larga tinha um desenho similar, só que eram de mármore branco, agora estilhaçado e manchado. Três largas janelas ao longo da parede oeste tinham sido despojadas de suas cortinas, que originalmente tinham sido iguais às da cama: veludo de brocado pesado que atualmente se pendurava em farrapos cinzas do marco do dossel. Pensou que o tecido devia ter sido azul escuro, mas suas lembranças eram confusas. Não tinha passado muito tempo nesta habitação quando menino. Primeiro tinha sido o domínio de seus pais, e logo só a câmara de seu pai. As poucas lembranças que tinha, eram feias e era melhor deixá-las sem tocar.

— Por favor —, sua mãe rogou, caindo de joelhos junto ao Benedict, abraçando-o contra seu corpo, pressionando sua bochecha contra a dele. O calor tinha sido impactante para ele, a sensação de seus braços a seu redor. Sua suavidade.

Ficou congelado. Sua mãe nunca o havia segurado. Agora, ela estava acariciando seu cabelo, enviando sensações a seu couro cabeludo. Às vezes, seu instrutor lhe revolvia o cabelo ou lhe dava tapinhas no ombro, mas ninguém o tocava, de verdade. Especialmente não sua mãe.

Ela olhou a seu pai, seus olhos brilhavam com lágrimas. — Pelo bem de nosso filho, Rutherford, por favor. Não faça isto.

— Pode tomar a antecâmara nesta ala, disse Rutherford. Os calafrios percorreram as costas de Benedict.

A mãe soluçou, as lágrimas se derramavam sobre as bochechas suaves e brancas. — Não significa nada, juro-o. Se somente me amasse, não precisaria procurar consolo em outro lugar. Nunca me amou. Nem sequer ama a seu próprio filho.

Benedict observou como as longas pernas de seu pai se aproximavam. — Libera o menino, Catherine.

Ela cheirava como flores. Moradoras do pomar, ligeiras e frescas. Ela o apertou mais forte, lhe fazendo difícil respirar. — Dei-lhe seu filho, Rutherford. Eu o fiz. Não ela. Ela não te deu nada. Deixou-te com nada mais que esta cama e sua dor. E mesmo assim, nega-me a mais mínima parte de seu afeto.

Rutherford começou a rir. Não foi um som agradável. — Sim, deu-me um filho. Seu dever está completo, como o meu. Agora, consegue seu carinho onde prefira. O jardineiro. O menino do estábulo. O lacaio. Passaste sua última noite em minha cama. Esta ala leste, Lady Rutherford. Ver-te-ei no café da manhã.

Seu pai saiu da habitação, a luz brilhava em suas botas polidas. Os braços de mamãe se afrouxaram contra Benedict enquanto soluçava. Ela cobriu o rosto com ambas as mãos. Uma dor no coração e na garganta de Benedict lhe fez querer tocá-la. Alcançou seu cabelo, encaracolado, suave e brilhante quase branco. Acariciou-o, como tinha feito sua babá quando tinha quatro anos. Gostava muito dessa babá. Rose, era seu nome.

Mamãe se calou e o olhou com os olhos úmidos e avermelhados. Logo, com dois dedos, ela apartou a mão dele, ficou de pé e escovou as saias longas. — Vá procurar seu instrutor.

Ele ficou de pé durante longos segundos, olhando sua formosa mãe, esperando que ela o tomasse em seus braços de novo. Tinham sido tão quentes.

— Parta! — espetou ela, limpando a bochecha e movendo os dedos em um movimento para afastá-lo. — Não tenho necessidade de um menino tão inútil.

Por isso não queria voltar para Chatwick Hall. Muitas misérias ficaram empapadas nessas paredes, e agora se liberavam os vapores de seu aroma esquecido.

Com uma mão trêmula, esfregou os olhos, banindo a memória. Seu pai estava morto, e ele tinha deixado sua mãe fazendo Deus sabia o quê em Londres.

Ali era onde deviam permanecer.

O que precisava era dormir. Suspirou e logo provou o colchão de duas camadas, que estava coberto com um grande lençol de tecido que continha uma profunda capa de pó. Alentador, pensou, antes de tirar o tecido e arrastá-lo até que caísse com um som no chão. Efetivamente azul, a colcha ainda era rica e sem danos. Se os roedores não habitavam as vísceras do colchão, pensou que o aroma de umidade poderia ser o pior. Agarrou um canto da parte superior da cama e sacudiu. Como não escutou um chiado, nem viu insetos revoando, decidiu arriscar-se. Precisava dormir, por Deus. A luz na habitação começava a dançar e vacilar.

Enquanto se deitava na velha cama de seu pai e deixava que a dor ardente em sua pele e músculos se assentasse, o aroma úmido do mofo e o pó assaltou seu nariz.

Mas a fadiga invadiu com uma força veloz, golpeando-se tão repentinamente, que não teve vontade de resistir. A luz penetrante não importava. O aroma de mofo não importava. Sua tremente miséria não importava. Nada importava, exceto o doce e escuro esquecimento e o pequeno fio de satisfação quando imaginava a consternação de Charlotte.

A única cama na casa.

Pela primeira vez em semanas, Chatham dormiu com um sorriso.

~~~

Quando o sol se afundou sob o horizonte ocidental, Charlotte entrecerrou os olhos através das janelas da sala de estar e observou as partículas de pó que dançavam nos raios dourados. Doía-lhe todas as partes, a parte inferior das costas, seus ombros, seus braços, suas pernas e suas mãos, e era esplêndido. Depois de cinco dias de confinamento dentro de uma carruagem, as dores residuais do trabalho, o movimento e o progresso deleitaram sua alma laboriosa.

— Esther, temos feito bem este dia. Já posso ver a beleza em que se converterá este lugar.

— Hmmm —, respondeu a criada. Com um som surdo deixou seu balde no chão.

Com um plop colocou seu trapo no balde. — Então necessitamos um par de olhos diferente, para estar seguros.

Charlotte sorriu e assentiu com a cabeça, admirando o desenho da flor de lis no mármore esculpido ao redor da lareira. Era certo que estava enegrecido pela fumaça. E o grande espaço estava vazio de móveis. E dois painéis da janela mais ao sul estavam quebrados. Mas a cor das paredes, profundo e vibrante carmesim, só necessitava uma boa limpeza para ser revivido. Levantou a vista para o teto, que alguma vez tinha sido branco, cujas intrincadas molduras projetavam largas sombras formando redemoinhos na luz minguante.

— É uma habitação magnífica —, suspirou, esfregando a parte externa do pulso na frente.

— Uma casa única, sem dúvida.

Esther voltou a grunhir e declarou: — A luz quase se foi. Melhor procurar nossas camas agora se queremos encontra-las.

— Em efeito. Obrigado por seu incansável trabalho hoje, Esther.

A criada não disse nada mais, simplesmente recolheu seu balde e se dirigiu para a cozinha. Charlotte olhou seu vestido. Provavelmente estava arruinado, mas não lhe importava. O que era um pouco de pó, depois de tudo?

Sem deixar de sorrir, seguiu Esther por alguns degraus de pedra até a cozinha do nível inferior. De todas as habitações que ela e a donzela tinham limpado nas horas desde sua chegada a Chatwick Hall, a cozinha era a mais alarmante. Não ficava nada. A baixela tinha sido roubada ou destroçada. A mesa de trabalho jazia em duas peças, rachadas pelo centro. Inútil. Entretanto, o lar estava em bom estado, por isso tinham reunido suficientes partes de madeira dos escombros no vestíbulo e no salão, e tinham aceso um fogo para que pudessem esquentar a água. Um pequeno triunfo, sim, mas um triunfo afinal.

Rapidamente, verteu água da panela fumegante sobre o fogo em um balde recém saído do poço. Logo tomou uma toalha das caixas de fornecimentos que o Sr. Booth tinha comprado anteriormente no povoado, empilhados em um rincão da despensa.

Depois de cobrir o fogo, Esther grunhiu uma resposta ao “boa noite” de Charlotte enquanto se retirava pela porta arqueada. Charlotte, enquanto isso, recolheu a toalha e o balde e acendeu uma vela antes de que quase arrastasse seu corpo exausto pelas escadas para encontrar sua cama.

As escadas chiaram ruidosamente, mas se sustentaram, tal como o tinham feito antes quando ela tinha subido para explorar as habitações neste piso.

Quando chegou à habitação ao final do corredor, viu o mesmo que tinha visto nesse momento: seu marido, deitado na metade da única cama da casa. Não se tinha movido em horas. Estava de costas, com o rosto afastado das janelas, o braço esquerdo sobre o estômago e o outro a seu flanco. Ainda levava seu casaco e gravata.

Brandamente, deixou o balde no chão nu e deu a seu rosto, mãos e pescoço uma lavagem superficial. A sujeira-da-cabeça-aos-pés-coberta-de-suor, desprendeu-se com bastante facilidade, mas rapidamente escureceu a água. Ou, talvez isso era simplesmente a luz desaparecendo. Suspirando ante o quente alívio da água, desabotoou seu vestido e o dobrou de dentro para fora até que as partes sujas estiveram contidas e pôde usá-la como travesseiro. Pôs o objeto na metade vazia da cama antes de levar a vela ao lado de Chatham.

Estava pálido. Mas podia ver seu peito subindo e baixando, e isso a tranquilizou.

Homem confuso. Ou, mas bem, os sentimentos que ele causava a confundiam: frustração, moléstia, desgosto, tudo enredado grosseiramente com simpatia e fascinação e um calor estranho. As estranhas sensações se intensificaram quando ele a tinha levantado de um montão de esterco no meio da rua Maddox, quando ela o tinha provocado e ele tinha reagido não com mau gênio a não ser com resignação. Ela tinha visto seu cansaço. Ela via agora as sombras sob seus olhos, quando ele estava dormido e incapaz de distrai-la com flerte escandaloso e palavras provocadoras.

Lentamente, para não despertá-lo, riscou um só dedo ao longo dos ossos de sua testa. Uma mecha de seu cabelo, murcho e escuro, roçou como a seda fresca contra seus nódulos. Desenhando um caminho sobre suas sobrancelhas baixas e maçãs do rosto altos, encontrou-se inexplicavelmente atraída por seus lábios. Eram lisos, definidos. Formosos, de verdade. Moveram-se sob seus dedos, e ele suspirou, lhe esquentando a mão.

Engolindo contra uma repentina inquietação, retirou-se, alisando sua palma úmida ao longo da musselina em seu quadril. Não se sentia febril. Isso era bom. Booth lhe tinha assegurado que Chatham simplesmente estava expulsando o “veneno” de seu corpo e que melhoraria com o tempo. Repetiu essas palavras para si mesmo quando um giro de preocupação se apoderou de seu coração. Ela não queria que ele morresse, nem sequer que sofresse muito.

Simplesmente é a compaixão que alguém sente por qualquer criatura vivente, Charlotte, disse a si mesmo, movendo-se a seu lado da cama. Sentiria o mesmo por Andrew ou Edward ou Freddie. Ou, para o caso, um cão deixado para morrer de fome.

Seu olhar voltou para sua forma quieta, larga, magra e bem proporcionada, apesar de estar muito magro. Nada tão carinhoso como um cão, corrigiu. Um lobo, talvez. Um lobo muito faminto e perigoso.

Sacudindo-se de sua estúpida fantasia, sentou-se e tirou as botas, suspirando quando o ar fresco tocou seus dedos cobertos de meias. Logo, recuperou uma grande manta de lã dobrada aos pés da cama, onde Esther a tinha depositado antes. Deixou a vela no chão e, com um gesto e sacudindo os braços, estendeu a manta sobre seu marido dormido, reservando a metade para ela. Com uma baforada, apagou a vela. Melhor não deixar que seus olhos permanecessem nele muito tempo. Sua preocupação a afligiria, e se sentaria durante horas, olhando-o fixamente. Em troca, deitou-se com um suspiro a seu lado, o colchão de plumas surpreendentemente cômodo, embora o aroma úmido teria que remediar-se.

Suspirou, acomodando seu vestido dobrado debaixo de sua bochecha. Provavelmente pensou que ela se perturbaria compartilhando uma cama. Quase riu entre dentes. A cama era luxuosa e enorme, com espaço mais que suficiente para que dois corpos dormissem profundamente sem tocar-se. Se imaginava que ela dormiria no chão por algum tipo de modéstia, estava delirando. Esta cama era tão dele como dela, e tinha a intenção de ficar com sua metade. Além disso, ela não se fazia iluda a respeito de que Chatham a desejasse, simplesmente não o fazia. Seus flertes estavam desenhados para desconcertar, não seduzir. E uma vez que se deu conta de que ela queria quão mesmo ele, terminar o ano juntos e separar-se de maneira amistosa, ele voltaria a ignorá-la e se levariam bastante bem.

Sim, pensou, seus lábios formando um sorriso. Uma vez que ele entenda que somos sócios comerciais, tudo se encaixará em seu lugar. O matrimonio é somente outra forma de contrato, depois de tudo.


CAPÍTULO 8

“Se não ficar zangado de vez em quando, não está casado. É tão simples como isso”

A Marquesa viúva de Wallingham a Lady Atherbourne, ao escutar a exasperação de dita mulher pela contínua inimizade de Lorde Atherbourne para com Sir Barnabus Malby.

O dia de Chatham começou com um braço feminino envolto nele, mas não de maneira atraente. A extremidade longa e esbelta estava virtualmente esmagando sua garganta, uma mão pega no rosto o fez pensar que estava meio cego e além disso, algo pressionando contra seu quadril que parecia com um joelho.

Ao esquadrinhar a luz temprana que brilhava através das janelas, tirou os dedos do rosto e com cuidado desembrulhou o braço.

— Mmmrph, — grunhiu uma voz feminina perto de seu ouvido. O braço, que tinha sardas, resistiu brevemente e logo relaxou.

Ele suspirou, fazendo uma careta quando ela afundou o joelho em seu flanco. Ao que parecia, sua esposa o considerava um travesseiro para adaptar-se a sua forma favorita. Deu a volta e se sentou, notando que a manta de lã, a qual tinha usado uma pequena parte, estava envolta ao redor de sua cintura e de suas longas pernas. Ela claramente não tinha duvidado em meter-se na cama com ele.

Mulher exasperante.

Passou uma mão pelo rosto e foi em busca de água. Curiosamente, a dor em sua cabeça tinha diminuído a um batimento do coração suportável, embora seus olhos estavam secos e arenosos, precisava barbear-se. E um grande galão de uísque.

Encontrou Esther na cozinha, resmungando para si mesmo e golpeando com um machado a perna de uma mesa quebrada e caída. O barulho resultante o fez sentir como se ela estivesse batendo aquela coisa em sua cabeça.

— Suponho que um café da manhã está fora de questão.

Ela atirou o machado com mais força, cortando a perna.

— Hmm. Água quente, talvez?

A donzela se deteve, secou a testa larga com seu carnudo antebraço e lhe disparou adagas antes de assinalar para a panela sobre o fogo.

— Ah. Sua gentil assistência não tem paralelo, minha querida Esther.

A resposta foi começar a cortar a outra perna da mesa.

Encontrou um balde vazio e cinco caixas de fornecimentos empilhados nas prateleiras da despensa, suspeitava que tinha sido Charlotte. Como demônios se tinha arrumado para comprar tanto? Só pôde concluir que Lancaster lhe tinha dado recursos extras. Provavelmente o pai dela tinha decidido não confiar em que a manteria alimentada, vestida e protegida, isso era muito arriscado. O pensamento, inexplicavelmente, fez que quisesse usar seu próprio machado.

Em vez disso, desembrulhou rapidamente tudo, desde velas até pães envoltos em papel marrom. Só lhe tomou alguns minutos encontrar o que necessitava, encher um balde com água quente e levar o necessário à câmara vazia onde Booth tinha depositado seus baús. Quando terminou de lavar-se, barbear-se e vestir-se, sentiu-se marginalmente humano.

Colocando o frasco de metal curvo de Charlotte dentro do bolso de seu casaco de cor bege favorito, encontrou seu caminho escada abaixo e saiu através da espessura selvagem do pomar, onde se deteve brevemente no poço do jardim para voltar a enchê-lo. Notou as flores gravadas no metal do frasco (crisântemos e lírios) junto com suas iniciais. Um cenho franzido vincou sua testa enquanto metia o contêiner muito feminino em suas calças, o guardou no bolso e se dirigiu aos estábulos.

A estrutura de tijolos, construída talvez trinta anos antes por seu pai, parecia com um rápido olhar estar em melhor estado do que tinha previsto. Até que olhou o teto e viu que havia mais buracos que piçarra.

Deus, este lugar é um desastre.

— Chatham! — uma voz veio atrás dele, muito alegre para esta hora ímpia.

Ignorou-a.

— Chatham! — Mais insistente e mais perto desta vez, maldita sejam suas longas pernas.

Ela trotou até deter-se a seu lado.

— Estava te procurando.

— Assim supus.

— Vais ajudar ao Sr. Booth a reparar os estábulos?

— Não.

— OH. Bom, ele poderia necessitar sua ajuda. Os cavalos...

Deteve-se, observou-a deslizar e girar para olhá-lo.

— Charlotte.

— Sim? — Na luz amarela e açucarada, seu cabelo era como o fogo, um vermelho tão brilhante como o que jamais tinha visto. Sua expressão estava perplexa.

Seus olhos posaram em seu vestido, hoje de cor marrom. Supôs que era mais singelo que o azul, embora o sutiã se reduziu significativamente. Suspeitava que ela tinha sardas em todas as partes, mas teria que vê-la completamente nua para sabê-lo com certeza.

As sardas rosadas estavam ao longo de sua clavícula. Ela levantou o queixo meia polegada.

— Detenha.

— O quê?

— Já sabe.

— Eu sei? — Ela soltou um suspiro de exasperação.

— Isso não funciona comigo, — Ele não disse nada e só se limitou a olhá-la.

Seu rubor se fez mais profundo, seu peito ligeiro subia e baixava mais rápido.

— Aonde vai, se não aos estábulos?

— Aonde vou não te concerne, esposa.

Deu dois largos passos e, de repente, estava tão perto que ele podia cheirá-la. Limpa, doce e complexa, seu aroma era lírio do vale misturado com peras amadurecidas e um pouco mais esquivo. Tinha o impulso mais estranho de devorá-la pedaço por pedaço até conhecer o ingrediente final.

— É óbvio que sim, somos sócios. Ainda não te deste conta? — Seus olhos verdes e dourados tinham um brilho quase avarento. — Poderíamos ser brilhantes juntos, se o desejar.

— Curiosamente ia dizer-te o mesmo.

Ela agitou sua mão com desdém frente a seu nariz.

— Chatham, deixa de lado as brincadeiras, pelo amor de Deus. Sei que não tem nenhum desejo de me seduzir.

Nenhum desejo? Estava fora de sua maldita mente? Além de seus gloriosos quadris e as restrições irracionais impostas por seu pai, o fato de deitar-se com ela valia cem mil libras. Mas a caso, ela não sabia?

— Pode falar a sério por um momento, — continuou, com as mãos agora apoiadas em seus deliciosos quadris. — Chatwick Hall se apoia em milhares de acres, a maioria dos quais produzem rendas miseráveis a um ritmo muito abaixo de seu potencial. — Agora enunciava cada palavra como se fosse um imbecil.

Ele inclinou a cabeça.

— E descobriu esta informação como, precisamente?

— O Sr. Pryor, paguei-lhe uma pequena quantia por seus serviços.

— Subornou o advogado de seu pai?

— Não foi a primeira vez, embora seja resistente ao suborno em uma escala maior, é uma pena.

— O imóvel é meu, Charlotte, não teu. Se não fosse assim, teria vendido a terra junto com todo o resto.

— Sei! Mas agora podemos arrumá-la em seu lugar. Se trabalharmos juntos, não há razão para que não possamos fazer com que o patrimônio volte a ser solvente. Inclusive rentável. Por que está franzindo o cenho?

— Não quero arrumá-lo. Além disso, não tenho os recursos, por isso me casei contigo, recorda-o?

Ela pôs os olhos em branco.

— Os recursos são simples, tenho um pouco separado, o que deveria dar para os primeiros...

— Separado...?

— Meses, se formos moderados. Por isso é imperativo que comecemos... — continuou dizendo Charlotte.

— Desejas utilizar seus próprios recursos para arrumar minha casa? — interrompeu Chatham — Trabalhando juntos... — Ela piscou enquanto registrava seu estado de ânimo e então deu um passo cauteloso longe dele. — Parece que te opõe.

Ele sorriu sombriamente.

— Sim, parece que o faço.

Sua boca se movia franzindo os lábios. Deve tê-la surpreendido mas também surpreendeu a si mesmo. O ressentimento se inchou dentro dele como fumaça, acre e pouco familiar.

— Ch-Chatham, eu... devemos viver aqui.

Ele a punha nervosa.

Fechando a distância entre eles, viu-a tropeçar e retroceder antes de tomar seus braços em suas mãos e aproximá-la. A luz do sol brilhava em seu cabelo, destacando as sardas em sua testa, nariz e bochechas. Ele atraiu sua boca sentindo o suspiro dela.

— O que sou eu para ti? — Murmurou.

Seus lábios se separaram, suaves e delicados. Seu quente fôlego lhe roçou o queixo.

— M-meu marido.

Lentamente, ele roçou seus lábios sobre os dela. Não foi um beijo a não ser uma carícia, uma carícia de carne contra carne.

— Não é um projeto, então? Não sou nenhum menino, nem um imbecil. Sou um homem.

Ela engoliu, o ouro no centro de seus olhos se obscureceu enquanto olhava sua boca.

— É óbvio que é um homem, tolo, eu sei disso.

A fome feminina estalou em seus olhos um instante antes de que seus lábios se balançassem para os dele como o ferro para o ímã, só por um momento considerou retirar-se, mas o calor de sua pele aquecida pelo sol e a brisa que soprava atrás dela trazendo seu aroma, fez que sua própria fome respondesse de maneira surpreendente. Tomou sua boca com sua língua, deslizando-se dentro de sua úmida boca com um gemido sem pensar em sua inocência. Ela tinha sabor de manteiga derretida, sal e pão. Era doce como as ameixas frescas e amadurecidas. Suas mãos alcançaram cegamente seus quadris, obrigadas por uma força muito mais forte que uma habilidade sedutora ou uma razão fria, tudo o que queria era agarrar-se e aprofundar. Seus dedos deslizaram sobre a cintura recortada que florescia em exuberantes curva. Sua língua palpitou e parou deliberadamente, provocando a dela em um baile enquanto suas mãos se aferravam por sua própria vontade, apertando-a contra sua dureza crescente.

As mãos dela agarraram a parte superior de seus ombros, empurrando e logo atraindo-o como se não pudesse decidir se suplicava por mais ou menos. Ele avivou a fricção de seus lábios e línguas até que se converteu em um fogo que precisava ser apagado.

Ela era suave em todas as partes onde ele a tocava, mais suave do que tinha imaginado. O calor se intensificou até que quis estar dentro. Inclusive queria sentir esses peitos pequenos, consistentes. Queria apoiá-la contra os tijolos do estábulo, tirar as saias de seu caminho e estender essas pernas excepcionalmente longas para enterrar seu pênis até o punho, uma vez e outra e outra, só pelo simples prazer de ver como se via sua esposa quando a fizesse gozar.

Agarrou-lhe a nuca e lhe soltou a boca. Ela estava ofegando, seus olhos completamente dilatados, seus mamilos afiados contra o tecido marrom. Seus lábios 9 cor de rosa estavam inchados, o desejo era muito agudo e doloroso, queria voltar a entrar.

Reunindo todas as reservas que ficavam forçou-se a afastar-se. Não era nada, disse a si mesmo. Simplesmente uma reação às limitações impostas pelo contrato, isso era tudo. Seu ressentimento ressurgiu, lhe recordando seu propósito.

Lhe deu um meia sorriso cínico e zombador.

— Ah, então existe uma mulher debaixo de todas as tolices masculinas. Eu tinha ouvido rumores, algo sobre o Serpentine. Muito revelador, ou isso me disseram.

Ao repetir sua humilhação do inverno passado, ele pretendia afastá-la. O forte puxão de seu corpo e o vermelho em seu rosto lhe disseram que tinha tido êxito.

A palma de sua mão golpeou seu ombro com uma força surpreendente, e ele a soltou, suas próprias mãos palpitavam com a lembrança de onde a haviam tocado.

Assegurando-se de que sua expressão não revelasse mais do que ele desejava que ela soubesse, disse:

— Faça o que queira com a casa, queime-a até os alicerces e reconstrua um palácio.

Ele inclinou a cabeça e, casualmente, estendeu o braço para acariciar com o nódulo seu mamilo ainda duro. Ela ofegou e estremeceu, logo lhe deu um tapa na mão, cruzou os braços e retrocedeu.

Negou-se a sentir remorsos. Precisava entender com quem se casou e os limites do que ele toleraria.

— Seja qual seja o projeto que deseje administrar, me deixe fora dele, — disse com voz baixa e fria. — Só quero duas coisas: uma bebida e uma foda. A menos que planeje me dar uma ou ambas em grande abundância, sugiro-te que mantenha a distância.

E, com isso, virou sobre seus calcanhares e caminhou além dos estábulos, para o povoado.

Caminharia em vez de passear até que já não pudesse saboreá-la, nem cheirá-la e até que a dor em seus olhos verdes dourados desaparecessem como uma sombra ao meio dia. No momento, suspeitava que seria uma caminhada muito, muito longa.

Ele me beijou, Charlotte golpeou com sua enxada o centro de um grupo de ervas daninhas e puxou. O chão do pomar era rico mas estava cheio de ervas e trepadeiras. Minha primeira vez, beijaram-me oficialmente. Sete horas depois de que acontecesse, ainda não podia acreditá-lo. Benedict Chatham, notório libertino, a tinha beijado. Com sua língua, que assombroso giro dos acontecimentos.

— Está fazendo errado, — queixou-se Esther do lado oposto do poço. Era a primeiro vez que falava desde que havia saído para ajudá-la.

— Te afaste um pouco mais e puxe com força para que se remova também as raízes.

Charlotte fez uma pausa e voltou a tentá-lo, seguindo o conselho de Esther e quando o grupo de ervas daninhas se liberou com o firme puxão, lhe dirigiu um sorriso distraído.

— Obrigado por sua amabilidade, foi muito útil.

A donzela grunhiu e reatou sua própria tarefa de limpar o rincão mais ao sul.

Dando uma olhada a uma larga e áspera videira, Charlotte considerou as sensações que lhe tinham causado essa manhã. Seu sabor era diferente do que tinha suposto.

Enquanto cheirava a cítricos, tinha gosto de fresco e erval, como hortelã ou tomilho. Talvez tenha sido seu pó de dentes. A mescla tinha sido embriagadora, especialmente em contraste com o calor e a astúcia de sua língua contra a dela. Durante horas, tinha estado revivendo a extraordinária sensação dele, suas mãos agarrando seus quadris com tanta força que cada ponta de seus dedos formavam covinhas em sua carne através das dobras do vestido, Tinha-a atraído para seus próprios quadris até que ela não pôde evitar notar ... a dureza. Uma crista que parecia fora de proporção com seu corpo. Sabia o que era, em teoria. Desfrutou expandindo sua educação a temas tipicamente reservados para homens. Entretanto, sua mente estava tendo alguns problemas para conciliar as imagens desenhadas, com o propósito de lições de anatomia e a longitude total de...

A videira que tinha conseguido envolver completamente ao redor do final da enxada se rompeu repentinamente, atirando-a torpemente para trás e de lado enquanto puxava com todas as suas forças. Seu quadril, o mesmo que Chatham tinha segurado antes, estrelou-se contra o muro de pedra que rodeava o poço.

— Ai, Videira maldita!

Esfregou-se no que certamente seria uma contusão na manhã seguinte. Apoiando-se em sua enxada, secou a frente com o dorso de sua mão e avaliou o progresso. Tinha limpo um campo de uns vinte pés de comprimento e largura; e passaram a primeira parte do dia dentro da casa, limpando as habitações restantes da piso inferior antes de passar ao jardim. Semeadura deveria começar logo para que tivessem uma colheita respeitável no verão.

“Beijar-me-á de novo?” perguntou-se, estavam casados e era possível. Ela queria que ele o fizesse, seu corpo inteiro ainda vibrava de forma agradável, algo inquietante. Mas no momento não podia estar segura de que o beijo tinha ocorrido espontaneamente e por um sentimento honesto ou se sua intenção tinha sido silenciá-la. Ela suspeitava que era o último.

É evidente que desfrutava dirigindo esses olhos assombrosos e artimanhas sedutoras para distrair e ofuscar. Talvez tinha tratado de ofender sua sensibilidade. Mas esqueceu que a humilhação tinha ocorrido quase todos os dias durante suas cinco temporadas.

Seus pequenos golpes e vulgaridades insolentes foram pouco mais que picadas temporárias. O que ficava de seu interlúdio, persistente como uma mancha em sua pele, era seu contato. Esses lábios, seu fôlego quente e suas mãos.

— Terminamos por esta tarde?

Quando levantou a vista, viu Esther que olhava a enxada que estava utilizando e que agora a tinha como apoio para sua mão enluvada.

— É obvio que não. Simplesmente... estava descansando um momento. Essas videiras malditas se enredam muito facilmente.

Ambas viraram quando Booth subiu o atalho dos estábulos, limpando as mãos em seu casaco.

— Minha Lady. — Ele assentiu com a cabeça cortesmente, isso foi mais cortesia do que Esther oferecia, mas de algum jeito Charlotte pensou que estava ganhando pouco a pouco à mulher. Tinha havido menos grunhidos hoje que ontem e isso era um pequeno progresso.

— Seu encontro teve êxito, senhor Booth?

Tirou uma bolsa marrom áspera de seu casaco cor parda, estava carregada com moedas que soavam e com bilhetes de uma libra, também.

Seus olhos aumentaram e seu sorriso cresceu.

— Você vendeu tudo?

— À carruagem foi comprado por Haulin e todos os cavalos foram vendidos, menos um par. As duas coisas mais decentes foram vendidas, o resto terá que ser reparado antes de voltar a vender.

Apoiou o cabo da enxada contra a parede do poço e aceitou a pesada bolsa em mãos em conchas, pressionando-a contra seu peito.

— Esplêndido. Simplesmente esplêndido, senhor Booth.

Ele sorriu brevemente para trás antes de piscar ao ver a enxada.

— Er..., senhora, devo limpar o resto?

Olhou ao redor de seu jardim.

— Não. Obrigado. Eu gostaria de terminar eu mesma. — Olhou-o aos olhos e ela assinalou para os estábulos. — Tem um projeto próprio, espero. Pôde encontrar os fornecimentos que necessitava no povoado?

Ele franziu o cenho, levantou sua boina e arranhou a cabeça.

— Sim.

Charlotte ao ver seu desconforto, suas suspeitas cresceram.

— O que aconteceu?

— Nada, minha senhora.

— Senhor Booth...

Seus olhos posaram em suas botas.

— Sua senhoria estava ali.

— Na aldeia?

— No salão.

Seu coração começou a pulsar com força. OH, não. Certamente ele não queria, depois de sofrer tão horrivelmente, não sucumbiria à tentação.

— Ele não estava bebendo, minha senhora. O que pude averiguar é que ele perguntava...

— Sim? Perguntava pelo que?

O homem robusto se retorceu e tragou.

— Jogo, minha senhora. Se havia um local de jogos por perto.

O alívio a alagou.

— E encontrou um?

O senhor Booth assentiu.

Ela suspirou. Como Chatham havia dito, seus bolsos estavam quase vazios, por isso é pouco provável que um pouco de jogo termine em desastre. Ele poderia voltar para casa sem botas, mas de resto havia pouco risco.

— Mantenha-me informada, sim? Não devemos permitir que Lorde Rutherford danifique um plano perfeitamente sólido.

Viu o cenho franzido de Esther e as sobrancelhas de Booth um momento antes de que escutasse uma voz que enviou calafrios sobre sua pele.

— Sabe o que dizem dos planos...

Fechou os olhos e logo se virou para Chatham, que entrou no jardim pela esquina da casa. Estava um pouco menos pálido do que tinha estado, possivelmente era porque tinha comido algo. O vento agitou seu cabelo, enviando uma mecha sobre sua testa enquanto se aproximava dela com passos largos e resolvidos. De repente, recuperar o fôlego parecia uma tarefa impossível.

— Agora bem, esposa. Tenho uma lembrança clara de te haver dito que me deixasse fora de...

Ela levantou uma mão.

— Falemos sozinhos. — Com isso, ela passou por diante dele para a porta da cozinha, detendo-se brevemente para lhe dar a entender que se aproximasse. Não sabia se ia faze-lo, somente tinha a certeza de que deviam manter uma conversa breve e totalmente livre de todo tipo de tolices sedutoras que tinham ocorrido essa manhã. Havia assuntos que discutir, uma relação sensata para estabelecer, e ela não podia permitir que sua peculiar fascinação por seus lábios e seu corpo a distraíssem de seu propósito.

Ao entrar no salão carmesim, tirou os dedos de suas luvas e as tirou antes de girar para enfrentar Chatham.

Seu coração quase parou e logo começou a pulsar com força. “O que foi que aconteceu com ele? Seus olhos, certamente têm uma cor tão incomum. Pare com isto Charlotte, ele é seu possível sócio em uma empresa lucrativa. Isso é tudo”.

— Você me convocou, minha senhora? — inclinou-se burlonamente e logo fechou as portas duplas com um clique.

Engoliu saliva e assentiu com firmeza, colocando suas luvas no suporte de mármore.

— Chatham, você e eu entramos neste matrimonio com um propósito similar. Isso é o que tentei discutir esta manhã, antes de que você...

Seu meio sorriso foi acompanhado por uma só sobrancelha levantada.

— Sim? antes de que eu...

Limpou a garganta e se obrigou a falar apesar de seu desconforto.

— Antes de que me beijasse. Agora entendo que estamos casados, mas escolhi considerar nossas circunstâncias como uma espécie de sociedade comercial.

— Sou um marquês e não me dedico ao comércio. — Ele sorriu. — Não sou do tipo a que te refere, em qualquer caso.

Fechou a distância entre eles, detendo-se vários pés de distância. Quanto mais se aproximava dela, mais cauteloso se via até que seu sorriso se desvaneceu por completo.

— Este ano devemos passá-lo juntos, — começou ela, perguntando-se qual seria a melhor maneira de persuadi-lo. O homem era um enigma para ela em muitos aspectos. — Não precisa ser desperdiçado. Tenho um plano, se estiver de acordo.

Seus olhos eram frios e calculadores, estava avaliando.

— Sua voz é inglês puro amor, mas soa suspeitosamente americano.

Encheu-se de orgulho ante sua observação. Sim, ela era americana, cada centímetro.

— Obrigado, — disse ela sorrindo.

— Não foi um elogio.

— Mas tomarei como um. — Sem pensá-lo, aproximou-se mais até que o ligeiro aroma a cítricos subiu por seu nariz. Não havia nenhum indício de licor e se alegrou ao notá-lo.

— Escute minha oferta. Por favor.

O turquesa de seu olhar a percorreu por todo seu corpo até deter-se em seu rosto.

— Claro que sim.

Ela suspirou e assentiu.

— Como sabemos, Chatwick Hall está com uma grande necessidade de reparos, mas isso é só o começo dos problemas do imóvel. A razão pela que seu pai já não pôde manter a casa é que as rendas não são suficientes para mantê-la. Segundo o Sr. Pryor, a terra é suficientemente sólida, mas a negligência de seu pai ao longo dos anos tem feito que muitos contratos expirassem. Algumas granjas estão abandonadas; outras estão ocupadas, mas os contratos de arrendamento são curtos e os inquilinos se mostram resistentes a assinar novos acordos.

— Propõe o desalojamento, então?

— Não, claro que não. Necessitamos que os inquilinos voltem a confiar em nós, reparar a casa é parte desse esforço. Devemos infundir confiança neles uma vez mais, lhes mostrar que o novo Lorde e Lady Rutherford...

— Eu não gosto aonde vai isto, — disse rotundamente.

— Devemos estar dispostos a fazer as mudanças necessárias para restaurar o patrimônio. Uma vez que vejam...

— Charlotte.

Ela se deteve.

— Seu ponto, por favor, — exigiu-lhe Chatham.

Apertando os lábios, ela elevou o olhar para a expressão gelada de Chatham.

Podia sentir como se preparava para rechaçar seu plano e devia romper sua resistência.

— Encontrei as publicações dos bens de seu pai hoje. Estavam colocados dentro de uma caixa em uma prateleira da biblioteca.

A mais ligeira contração de um músculo ao lado de seu olho, era o único sinal de uma resposta.

— Indicam que os rendimentos aqui, certa vez foram bastante lucrativos. Dez mil ao ano tirando os gastos. Suas fronteiras terrestres são com Lady Wallingham e as granjas do Castelo de Grimsgate também são extremamente produtivas. Simplesmente não há razão para deixar esta terra deserta quando poderia estar prosperando. — Respirou fundo e lhe fez uma oferta. — Proponho que você e eu trabalhemos juntos para restaurar o patrimônio e trazê-lo novamente à solvência. Logo dividimos as lucros do ano entre nós.

Sua mandíbula estava dura quando perguntou: — Em que porcentagem? A meu ver... me deixe adivinhar, metade e metade. — Ela piscou e assentiu.

Rindo, olhou ao redor da habitação.

— Desejas converter isto em uma empresa rentável? Isto!

Charlotte levantou seu queixo.

— Não menospreze Chatwick Hall, a propriedade não é culpada de que a tenham deixado apodrecer.

— Minhas desculpas, Lady Rutherford. — Levantou uma mão magra e elegante para assinalar as janelas quebradas e a chaminé enegrecida. — Que brutal de minha parte sugerir que sua proposta não é descabelada no mínimo. — Com os olhos muito abertos, deixou cair o braço a um lado e uma vez mais se centrou nela. — Claramente, estou errado.

A frustração se assentou em seu abdômen como carvões quentes. Como de costume, estava burlando de propósito, tratando de irritá-la.

— Chatham, — espetou ela, suas mãos aterrissando em seus quadris. — Quanto ganhou hoje?

Uma faísca de surpresa acendeu seus olhos um momento antes de que desaparecesse.

— Suficiente.

Ela se aproximou mais.

— Quanto ganhou?

Tomou um minuto completo para murmurar.

— Quatro libras.

— E, a esse ritmo, como espera que vivamos? Tenho alguns recursos...

— Nunca te pedi que gastasse seus recursos, — disse bruscamente.

Ela ignorou seu arrebatamento.

— Meus recursos nos ajudarão por um tempo, mas devemos encontrar uma maneira de nos sustentar.

O ressentimento em seus olhos era o mesmo que ela tinha visto esta manhã. O mais estranho é encontrar o orgulho ferido em alguém que até agora, não tinha padrões de nenhum tipo.

— De novo, querida, fala como se necessitasse de um pano para absorver minha saliva. Possivelmente nosso interlúdio desta manhã não tenha podido esclarecer que sou um homem completamente adulto.

Perdendo toda sua paciência, ela golpeou seu pé no chão de madeira com um estalo agudo. — Chatham, — ela grunhiu, — Só ... pare, pelo amor de Deus, persiste em te comportar como se este matrimônio pudesse ser outra coisa que o que te estou propondo. Sei que não me quer, não sou desejável dessa maneira. As últimas cinco temporadas me ensinaram essa lição muito bem.

Baixou as sobrancelhas e franziu o cenho, mas não negou sua afirmação. Por que deveria? Se era a verdade.

— Não precisa fingir comigo, não o vê?, — continuou com seriedade, agarrando suas mãos entre as suas sentindo a frieza que estavam. — Deveria pensar que seria um alívio.

Apartou-se como se ela o tivesse queimado.

— Está supondo muito.

— Sim estou, mas também sabe que tenho razão. Não necessita outra mulher para se deitar, o que precisa é de um amigo, um sócio e eu posso ser isso, se me permitir.

Seu cenho franzido agora era feroz e tinha a mandíbula apertada. Claramente não gostou do que lhe havia dito, mas como antes, tampouco o negou.

— Um amigo que tem a intenção de ir-se depois de um ano.

Ela se aproximou mais até que sentiu seu fôlego em seu rosto.

— Essa é a beleza de nossa associação, Chatham, ambos entendemos os términos.

Ele procurou em seu rosto detendo-se em seus lábios, seguiu com o olhar por sua clavícula antes de voltar a encontrar-se com seus olhos. Acesos com uma emoção que ela não pôde identificar.

— Por que deveria estar de acordo com algo assim? Só preciso esperar um ano e cobrar o que me corresponde.

— Porque tem um ano para esperar, — disse com ironia. — Aqui, comigo, vagando nesta grande casa vazia com buracos no teto e uma escada que se adapta melhor a um fogo. — Ela lançou um breve olhar ao redor da habitação.

— Desculpa, menina. — Logo, emitiu seu último argumento, um desafio ao orgulho latente de Benedict Chatham.

— Por que não passar seu tempo com um amigo em uma busca que vale a pena? Considere como uma saída para o aborrecimento, uma mudança refrescante.

Não lhe devolveu o sorriso, mas sim simplesmente levantou uma sobrancelha. Os olhos que tinham ido do ressentimento ao fogo ardente, agora pareciam mais tranquilos, controlados. Ele estava tomando sua decisão, se ela fosse fantasiosa, poderia descrever sua expressão como predadora.

— Amigos, — disse ele com essa voz que provocava calafrios. Então, um canto de seus lábios se curvou em um leve sorriso. — Sim. Isso eu gostaria muito, de fato.


CAPÍTULO 9

“Os descarados não mudam. Simplesmente se tornam mais tortuosos.”

A marquesa viúva de Wallingham a seu companheiro, Humphrey, ao inteirar-se do regresso de Benedict Chatham a Northumberland.

Durante duas semanas, Chatham a estudou, a forma em que ganhava o respeito de Esther simulando interesse nas técnicas superiores de limpeza da donzela. Sua inclinação por secar a testa com o dorso da mão e sussurrar elogios à casa quando pensava que ninguém estava olhando.

Suas observações mais reveladoras ocorreram na noite quando ela jazia a seu lado na cama. Por alguma razão, gostava de falar com ele. Fazia cinco noites, por exemplo, ela se virava de lado para encara-lo enquanto ele se acomodava debaixo das mantas com sua camisa e um par de calças velhas, desgastadas. Ela tinha suspirado e metido uma mão debaixo do queixo.

— Acredita que é mais quente nos Estados Unidos, Chatham?

Ele levantou uma sobrancelha e refletiu sobre sua pergunta.

— No verão, em todas partes é mais quente.

Soprando e revirando os olhos, levantou-se para apoiar a bochecha na mão. — Fala Sério.

— Muito bem, depende. Onde planeja te instalar?

— Nova Iorque ou Boston ou Virgínia. — Ela suspirou de novo e sorriu, seus olhos brilhavam. — Não estou segura.

— Virgínia, sim. Boston ou Nova Iorque, não.

— OH.

— Decepcionada?

— Bom, eu... quero entrar para o comércio. Meu pai está em Boston, ali é onde nasci. É um lugar robusto, tenho lido. Mas, logo está Nova Iorque. OH, Chatham! Parece uma cidade tão emocionante. Comprei um guia de viajante no ano passado. Os bancos e os negócios estão prosperando ali. Segundo um relatório, há mais estrangeiros que americanos, já que muitos se reúnem ali para o comércio. Pode imaginar?

— E Virgínia? — Seu nariz se enrugou da maneira mais cativante.

— As descrições das granjas são encantadoras. Temo que sentirei muita saudade do campo se vivo na cidade.

— Mmm...Talvez poderia ter uma casa em Nova Iorque e uma granja na Virgínia.

— Realmente acredita?

— Por que não? Aqui, pensamos em ter uma casa em Londres e outra no campo.

Seus olhos se acenderam até que brilhavam.

— Que ideia brilhante. Passarei os verões em Nova Iorque e os invernos na Virgínia. — desabou-se sobre seu travesseiro e virou sobre suas costas, olhando o dossel. — Obrigado, Chatham. Deste-me algo para sonhar.

Um calafrio deu procuração a ele quando viu que seus olhos se entrecerravam e se fechavam. Parecia muito como a consciência. É pouco provável que seu sonho se fizesse realidade se ele a deixasse com um filho. Descartando o momento da dúvida, tinha apagado a vela e se pôs de lado. Ela ficaria contente quando lhe desse uma parte dos duzentos. Poderia comprar tantas granjas da Virgínia e casas na cidade de Nova Iorque quanto quisesse.

Suas conversas vespertinas continuaram lhe brindando novos descobrimentos.

Sua estupidez, conforme tinha aprendido, era o resultado de um crescimento acelerado aos quatorze anos. Cada parte dela se alargou tão rápido, havia dito, que nenhum movimento havia sido natural depois. Um gesto que antes era simples, enviaria seus braços às paredes e aos móveis. Uma menina que se tinha encaixado perfeitamente no buraco do sacerdote na mansão de seu tio, tinha crescido tanto que diminuiu seus primos varões e inclusive a seu tio. Suas pernas tinham sido a pior parte, havia dito. De repente, cada passo era mais longo que dois. Inclusive agora, não podia acostumar-se a isso. Então, riu de si mesma, o som como sinos da igreja, só mais ligeiro. Ressonante e rico.

Gostava de sua risada. Seu cheio. Sentou-se durante horas a seu lado na cama cada noite, respirando enquanto ela dormia e estudava os diários de seu pai.

Gostava que ela fosse lenta para zangar-se e rápida para perdoar. Com Esther. Com Booth. Com ele.

Gostava de sentir seus olhos sobre ele em momentos estranhos, e quando se encontrava com seu olhar, ela sorriria em lugar de olhar para outro lado.

A afeição tinha crescido à medida que passavam os dias, apesar de que alguns costumes dela ainda o incomodavam. Por exemplo, todas as manhãs, despertava com o joelho nas costas ou a cabeça colocada torpemente debaixo de seu braço ou seus dedos enredados em seu cabelo. Nenhuma vez tinha dormido com uma mulher. A maioria de suas interações terminaram antes de que começasse a dormir, por isso logo não era um perito nesses hábitos. Mas a forma em que se movia de noite parecia anormal, terminando nas posições mais peculiares.

Seu pênis esteve de acordo. Queria que pusesse em ordem a situação, estendendo as coxas e arrastando-se sobre ela. De fato, exigiu que o fizesse com um crescente sentido de urgência. Por agora, ignorou-o, mas a necessidade estava se voltando irritante, uma forte dor no cérebro que persistia e pulsava como um dente com cárie.

Por isso, ia montar a cavalo todas as manhãs, explorando os campos sem cultivar e os acres descuidados da propriedade de Chatwick. Dos dois cavalos no estábulo, tinha eleito o mais escuro, um cavalo cinza que Charlotte tinha chamado Franklin, em honra a Benjamin Franklin, o inventor e diplomata americano. Não estava seguro se ela queria que fosse atrevido, já que o cavalo era bastante robusto. Seu humor, tinha descoberto, poderia ser muito negro.

Franklin era tranquilo e robusto, uma presa em vez de um caçador, mas o animal deu a Chatham um bom passeio. Não era o tipo de viagem que desejava com ela em mente. Mas o vento revigorante e o exercício vigoroso aliviaram um pouco sua tensão, e isso lhe permitiu retornar a casa cada noite e meter-se na cama a seu lado sem arrancar a fina musselina branca de seu corpo e deslumbrá-la até que esta dor eterna diminuísse. Isso deve esperar. Ela não estava pronta para ser seduzida.

Outra moléstia mais, em sua opinião. Patentemente se negou a aceitar que ele a queria ou que qualquer homem iria quere-la. Sua fé devota nessa duvidosa noção a fez soprar e pôr os olhos em branco cada vez que fazia um comentário sugestivo ou um avanço casual. Ela o apartou ao lado como um menino jogando uma brincadeira. Estava-o conduzindo à distração.

Respirou fundo, cheirando a chuva recente e o chão rico e a erva úmida.

Empurrando Franklin mais forte, saboreou o ar da manhã de uma maneira que não tinha feito desde... não sabia. Antes de ir-se a Eton, supôs. Fazia mais de vinte anos.

Hoje, explorou a parte sudeste do imóvel, onde sua terra se elevava com a do castelo de Grimsgate. Inclusive agora, podia ver a enorme extensão medieval de pedra erguida na distância, escondida como uma gárgula em uma colina sobre o mar. A Marquesa viúva de Wallingham permaneceu em sua residência durante grande parte do ano, visitando Londres brevemente durante o apogeu de cada temporada. Ela mesma era uma gárgula, uma figura inexplicavelmente influente dentro da sociedade, cujos julgamentos lhes concedeu um peso reservado para as rainhas e patronas do Almack. Em resumo, Lady Wallingham era uma fervorosa intrometida que nenhuma vez se incomodou com a cortesia e se negava a tolerar a quem considerava menos inteligentes que ela mesma, quer dizer, a todos.

Gostava bastante dela, entretanto, não devolveu o sentimento.

Diminuindo a velocidade quando alcançou o limite entre suas propriedades, notou o marcado contraste entre sua terra e a dela. O seu estava coberto de ervas daninhas, salpicado de rochas de uma parede esmiuçada faz muito tempo. A sua era lavrada e escura, os sulcos limpos preparados para o plantio. Estreitando a vista sobre um homem que dirigia um arado no campo, tomou uma decisão rapidamente e fez que Franklin cruzasse com o caminho do agricultor.

O homem, que parecia ter mais ou menos sua idade e altura, mas significativamente mais musculoso, levava roupa singela, lavada e um chapéu de asa larga. Deteve sua equipe de cavalos quando viu que Chatham se aproximava.

— Castle está nesse caminho — disse o homem, sacudindo a cabeça na direção óbvia.

— Bem, obrigado por tranquilizar-me — disse Chatham com ironia. — Tinha-me perguntado o que era essa monstruosidade.

O homem o olhou com os olhos entrecerrados, tirou o chapéu e secou a frente com um lenço manchado. Um brilho de bordado chamou sua atenção, mas o tecido desapareceu no bolso do granjeiro antes de que pudesse estar seguro.

— Posso lhe ajudar com algo?

Chatham se perguntou por um momento que diabos estava fazendo antes de descer das costas de Franklin e aproximar-se do granjeiro.

— Não sei, precisamente. — As palavras terrivelmente tímidas apareceram antes de que ele pudesse detê-las. O homem deixou cair o chapéu na cabeça.

— Bom, está parado em meu campo. Suponho que tem algum propósito para fazê-lo.

Sentiu-se tolo, foi uma sensação desconcertante. De todas as coisas, Chatham não era tolo. Mas então, tampouco era tipicamente sóbrio ou celibatário. Muito tinha mudado no último mês.

Sacudindo a cabeça, olhou a seu redor e viu uma casa de pedra de dois pisos, modesta, a umas centenas de metros de distância.

— É essa sua casa?

— Sim.

— Parece estar em bom estado.

— Está.

— Seus campos também estão bem atendidos.

— É você o novo administrador de sua senhoria, então?

— Er..., não de tudo. — Chatham deu um meio sorriso e lhe devolveu a saudação com a mão para os campos sem cultivar e infestados de ervas de onde tinha vindo — Isso é meu.

— As botas são um pouco luxuosas para um granjeiro, a terra parece necessitar de trabalho.

— Sou lorde Rutherford, na realidade. — pela primeira vez, sentiu um fio de vergonha ao pronunciar o título. — A terra é minha, os inquilinos a abandonaram faz vários anos. O granjeiro simplesmente lhe dirigiu um olhar duro e assentiu. Sem reverência, sem “sua senhoria”. Só um olhar de olhos escuros.

— De qualquer modo, herdei o lugar no inverno passado. Não sabia por que estava explicando isso. O granjeiro não era nada para ele, nem um par, nem sequer um latifundiário. — Lady Rutherford e eu estamos no processo de renovar Chatwick Hall e restaurar a terra. — por que mencionou a sua esposa? Eram sócios no esforço, era certo, mas nunca antes considerou a si mesmo como a metade de um “nós”, sempre tinha estado sozinho. Sempre. O olhar do granjeiro se afrouxou, e olhou o chão e logo a sua casa.

— Minha esposa já terá o café da manhã preparado. — Sentindo-se tão envergonhado como se tivesse vagado no cenário em meio de uma obra estrangeira, Chatham assentiu ao homem.

— Então te deixarei — Deu a volta e colocou sua bota no estribo, preparando-se para montar em Franklin.

— Você poderia unir-se a nós, se o desejar, claro. — O granjeiro fez uma pausa antes de adicionar — Minha esposa é uma boa cozinheira, asseguro.

Há um mês, poderia ter rido, poderia ter-se burlado. Poderia ter subido em seu cavalo e ido embora sem lhe dedicar outro pensamento. Mas isto não fazia um mês, por que, de repente, seu estômago estava grunhindo? Ele estava faminto, pela primeira vez em anos.

Desenganchou a bota, voltou-se para o granjeiro e lhe deu obrigado com a cabeça.

Meia hora mais tarde, enquanto estavam sentados ao redor de uma mesa grossa e resistente dentro da cozinha da casa de campo, descobriu o milagre divino dos bolos recém assados da senhora Jameson. O granjeiro, Peter Jameson, tinha-os mencionado em seu caminho através de seu campo recém arado. Mas Chatham raramente achava a coisa real superasse à descrição. Esta foi a exceção. Ela tinha enchido a crosta escamosa com carne suculenta e molho rico, batatas e cebolas finamente cortadas em cubinhos. Colocou outro bocado em sua boca, e o prazer disso lhe fez fechar seus olhos contra sua vontade.

— É um príncipe? — A voz jovem veio de seu cotovelo direito. Uma pequena e gordinha mão acariciou com assombro a manga de seu casaco azul. — Posso me casar contigo?

— Lucy! — a senhora Jameson repreendeu. — Lorde Rutherford está comendo e já está casado. Cuide de suas maneiras! — Era uma coisinha pequena, provavelmente quatro ou cinco anos, com os olhos marrom escuro de seu pai e o cabelo dourado claro de sua mãe. Suas bochechas eram sua característica mais chamativa, sem dúvida, já que eram perfeitamente redondas e com covinhas profundas. Lhe deu seu melhor sorriso, as mulheres suspiravam. Seus olhos aumentaram, e os cobriu com um grito.

Ele riu entre dentes e deu outro bocado.

— Deveria tentar com a aveia, a mesma variedade da igreja — disse Peter do outro extremo da mesa. — Se começar logo, poderia estar semeando em uma semana ou mais e ter a colheita em julho.

Chatham engoliu saliva. — Um problema, vários na verdade, não tenho arado. Nada, na realidade, exceto um par de cavalos de carruagem e um carro.

— Agradar-lhe-ia um pouco de cerveja, Lorde Rutherford? — A Sra. Jameson levantou a jarra, preparando-se para lhe servir uma taça.

Queria, queria algo mais forte, sentia o peso de uma sombra vivaz e perniciosa agachada dentro de sua cabeça. — Não, obrigado.

— Dói-me a barriga — sussurrou Lucy — Tampouco eu gosto.

A senhora Jameson, uma mulher bonita com feições suaves, sorriu para sua filha. — Temos que te fazer uma beberagem especial, não? A menina assentiu e deu a Chatham um amplo sorriso. Faltava-lhe um dente, ela empurrou sua taça para ele. — Pode tentá-lo, se quiser.

Ele olhou a sua mãe com ceticismo. A senhora Jameson assentiu com sua permissão. — É um chá feito com ervas e um pouco de mel. Vamos, então tome um sorvo.

Tinha adquirido uma forte sede depois de seu passeio, tomada a decisão rapidamente, olhou à menina aceitando sua taça de madeira e tomando um gole.

Os sabores deslizaram através de sua língua, doce, hortelã e forte, mas também com notas de flores e bagos e uma especiaria subjacente. O néctar era a ambrósia.

Ambrósia melosa, tomou outro gole e sustentou o delicioso líquido em sua boca, tratando de determinar seus ingredientes.

— O que há aí? — Perguntou quando finalmente engoliu. — Encantador, tenho que saber.

A Sra. Jameson sorriu em segredo e se levantou para recuperar outra taça de madeira e uma segunda jarra. Ela colocou a taça diante dele e a serviu.

— Aí está, agora, este chá é o mesmo que o de minha mãe. Ela o bebia todos os dias, disse que curava todos os lugares feridos.

Ele o bebeu descaradamente. — Pagar-lhe-ei para que me proporcione isso, senhora Jameson. Os bolos também, o que queira.

— Não há necessidade de pagar. Só venha nos visitar quantas vezes queira, e eles estarão aqui.

Deixando sua taça vazia lentamente, olhou seu prato e se deu conta de que tinha comido três empanadas. Sua taça tinha sido preenchida várias vezes. Tinha consumido ambas as coisas como um homem morto de fome. Sedento até a morte.

— Estou agradecido por sua hospitalidade — disse a seu prato.

Ouviu raspar uma cadeira e viu Peter de pé, recuperando seu chapéu do gancho da porta. — Fields está esperando o melhor retorno para eles.

Chatham também se levantou e assentiu com a cabeça à senhora Jameson, piscou um olho à pequena Lucy e seguiu Peter para fora. Estava a ponto de despedir-se quando Peter disse:

— Uma vez que eu tenha terminado, poderia lhe emprestar o arado, terá que comprar primeiro sementes. Cranston no povoado vende e é boa.

Por um momento, Chatham ficou mudo. Outra vez, aparentemente era seu dia para experimentar desconforto.

— Por que me ajudaria? Os olhos de Peter se moveram do horizonte a Chatham. Não havia submissão em sua expressão, nem desafio, nem lástima. Parecia... tranquilo, como se estivesse enraizado em um poço mais profundo que a terra, e nenhum vento pudesse sacudi-lo. O granjeiro colocou o chapéu e se dirigiu para seu arado, gritando por cima do ombro:

— Melhor vista, suponho.

Chatham o viu afastar-se, logo desatou e montou em Franklin. Enquanto cavalgava de retorno para Chatwick Hall, tratou de imaginar a si mesmo planejando, semeando ou inclusive limpando as rochas e reconstruindo o muro baixo ao longo da esquina sudeste. Riu em voz alta, provocando que as orelhas de Franklin tremessem.

Benedict Chatham era um par do reino. Não trabalhava, apoiou-se no dinheiro da senhora Knightley e bebeu seu uísque, jogou às probabilidades e contou cartas no Reaver. Quando estava de humor para o esporte, visitou Gentleman Jackson ou Angelo. Quando o aborrecimento crescia muito, inventou seus próprios jogos, descobrindo segredos e vendendo-os ao melhor pagante.

Não era o tipo de homem que levantava as mangas de sua camisa até o cotovelo e dirigesse um arado, pelo amor de Deus, o pensamento era absurdo.

Ociosamente, perguntou-se se Charlotte riria quando lhe contasse a oferta de um dos granjeiros de Lady Wallingham. O mais provável é que ela se burlasse e o acusasse de ser um tipo sem valor, e logo o empurrasse a aceitar a ajuda de Jameson.

Ela era dolorosamente americana em seus pontos de vista. A noite anterior, em sua cama, com seu cabelo vermelho fogo sobre um ombro, vestido branco, tinha lido em voz alta as tolices desse escocês, Adam Smith.

Tinha revisado os olhos ante suas rapsódias sobre negociações livres. Lhe tinha golpeado o braço com seu livro, e ele havia se sentido tentado aproximá-la, sujeitá-la por sua cintura e lançar o livro ao fogo através da habitação, em troca, não disse nada e voltou a estudar as tediosas gravações de seu pai sobre os rendimentos dos cultivos a partir de 1793.

Quando viu Chatwick Hall adiante, justo mais à frente da seguinte ascensão, uma emoção peculiar subiu da base de sua coluna vertebral, e insistiu com Franklin para que se movesse mais rápido. Ele queria vê-la na cama para assegurar sua fortuna na forma em que sempre o tinha feito. Era Benedict Chatham.

Sentiu-se bem em reafirmá-lo, como colocar uma jaqueta bem equipada.

Era um libertino, não um granjeiro, podia despojar a uma mulher de sua resistência com um só olhar. Decidiu que era hora de aplicar suas habilidades onde resultassem mais frutíferas: seduzir sua esposa de uma vez por todas.


CAPÍTULO 10

“O propósito dos serventes é garantir que não tenha que me preocupar muito por coisas como pó. Portanto, se houver pó, talvez requeira novos serventes”.

A Marquesa viúva de Wallingham a seu mordomo ante um desafortunado colapso da disciplina doméstica.

— Venha agora —, ofegou Charlotte, estirando-se para sua presa. — Não deve resistir mais. Ter-te-ei.

A perigosa cadeira de madeira sob seus pés rangeu e cambaleou.

— Maldição — Agarrou o respaldo da cadeira com uma mão e uma vassoura com a outra. Enquanto estendia a vassoura sobre sua cabeça em um vão intento de varrer as teias de aranha da sala de jantar, seu equilíbrio voltou a fraquejar. A fibra se afastou, jogada por uma baforada de ar, escapando de seu longo e tremente alcance.

Seu estômago se apertou quando seu equilíbrio começou a inclinar. Então, ouviu um arranhão detestável quando a cadeira deslizou sobre a madeira polida. Um grito soou por trás dela, mas ela estava agitando-se, seu joelho direito era incapaz de girar quando a cadeira começou a deslizar e inclinar-se e...

Umas mãos agarraram seus quadris e puxaram seu corpo para trás em braços duros e magros. Um braço esmagou sua cintura e a baixou enquanto suas botas se agitavam e a vassoura voou de sua mão.

“Ergh!” ao longe ouviu o ruído da vassoura aterrissando na habitação.

— Que diabos está fazendo? —, Uma voz sombria e furiosa grunhiu em seu ouvido, quando seus pés tocaram o chão. Outro braço lhe rodeou os ombros e a apertou com força contra um magro corpo masculino.

— Chatham? — Ela ofegou, sua cabeça girando ante seu cheiro, sua cercania. Em sua ira, ainda não a tinha soltado. De fato, seu fôlego estava quente contra sua orelha e bochecha. Quente, úmida e ofegando como se lhe tivesse dado o susto de sua vida.

— Este é meu limite —. Seus braços se cravaram mais duro, uma espécie de castigo. — É um maldito desastre, tola mulher.

Ela piscou ante seu calor tão repentinamente rodeando-a. — Ch-Chatham.

Sacudiu-a contra seu corpo. — Alguma vez pensa antes de mergulhar em cheio na calamidade? Doce Cristo, obviamente não, ou evitaria cair sobre seu traseiro, sacudir as saias e dar aos cavalheiros do Hyde Park o melhor espetáculo de suas vidas.

Suas acusações doeram. Ela era um desastre. Mesmo assim, sua ferocidade foi desorientadora, já que o gênio de Chatham estranha vez era mais quente que o chá morno. Certamente nunca fervia. — Eu ... eu ... a cadeira parecia suficientemente resistente ... e eu era a única suficientemente alta ...

O braço atualmente bloqueado em sua clavícula se moveu, e seus dedos se envolveram ligeiramente ao redor de sua garganta. — Poderia haver quebrado o pescoço, maldita parva. — Os dedos a acariciaram sem pensar, enviando pequenos calafrios ao longo de sua pele para seus seios.

Estava agradecida de que ele não pudesse ver sua reação, a forma em que seus mamilos alcançaram seu ponto máximo. Faziam-no frequentemente quando estava perto. E neste momento, estava muito perto. Envolto completamente ao redor dela, de fato. Seu polegar traçou seu pulso, desenhou pequenos círculos. — Se alguma vez te descubro fazendo algo tão estúpido de novo, atarei a essa monstruosidade da cama...

— Estou ilesa, Chatham. — Sua mão posou sobre seu pulso. — Pode me deixar ir. —. Seus músculos se sentiam como aço sobre ossos. A suas costas, seu peito se elevava.

— Por agora —, ele apertou, relaxando gradualmente, seus braços se soltando até que caíram.

— Mal posso te deixar sozinha por meio-dia sem que te dobre o tornozelo ou coloque fogo a seu avental.

Tomou um momento mais para recuperar-se. O homem era tão potente, inclusive quando simplesmente evitava que rompesse a cabeça, a deixou tonta. Finalmente, girou para enfrentar a seu feroz cenho franzido.

— Isso só aconteceu uma vez, como bem sabe. E não o vestia naquele momento.

Seus dedos arrancaram algo de cima da sua cabeça. Uma teia de aranha pulverizada pelo pó deslizava para o chão. — Onde está Booth? — Exigiu. — Ou Esther?

— Estão atendendo outras tarefas. Além disso, não são suficientemente altos para alcançar...

— Evidentemente, tampouco é você.

Suas mãos aterrissaram em seus quadris. — A habitação deve estar limpa antes que se entregue nossa nova mesa.

— Que mesa nova?

— A que comprei ontem. Do carpinteiro em Alnwick.

Olhos turquesas brilharam e resplandeceram com renovada indignação. — Maldito inferno, mulher. Você está fazendo o trabalho de uma donzela, e em lugar de contratar pessoal adequado para varrer as teias de aranha e limpar as lareiras, e compra móveis?

— Não se preocupe. — Ela não pôde evitar sorrir. — Negociei um preço muito favorável. Uma só mão elegante passou sobre seu rosto. — Não somos cães —, disse ela em um tom preguiçoso. — Devemos ter um lugar para jantar. Se tiver que comer pão, manteiga e presunto frio enquanto fico parada dentro da despensa um dia mais...

— Charlotte.

Ela o ignorou para recuperar a vassoura.

— Charlotte —. Desta vez, sua voz foi um estalo ameaçador. — Toque essa vassoura, e a usarei para açoitar seu traseiro.

Ela se deteve, seus olhos se alargaram. — Não o faria.

— Me ponha a prova.

Voltou a olhá-lo com os olhos entrecerrados e replicou: — Se deseja evitar novos contratempos, talvez poderia oferecer sua ajuda. Um conceito estranho, estou segura. Mas você é mais alto que eu, estritamente falando.

Suas largas pernas o levaram junto a ela, e ele agarrou a vassoura, murmurando: — Tola, torpe, teimosa ...

— Durante muito tempo me perguntei o que é o que as mulheres encontraram tão irresistível em ti —, comentou ela. — Agora o vejo. Insulta-as até que se deprimem.

Voltou a colocar a cadeira em seu lugar e subiu a ela, arrojando habilmente a vassoura para cima e apanhando-a em um extremo, e logo prescindindo rapidamente das teias esquivas e elusivas. Cada um de seus movimentos foi elegante, sem esforço.

Ela ficou assombrada e com muita inveja.

— Aparentemente —, observou, — Uns poucos centímetros a mais fazem toda a diferença.

Ficou imóvel, com uma mão ainda agarrando a vassoura, a outra agarrando a cadeira.

Ela sorveu — Poderia ter feito o mesmo se não houvesse...

— Nada mais de limpeza, entende? — baixou-se, aproximou a cadeira à parede com bastante força, e apoiou a vassoura a seu lado antes de aproximar-se dela. — Não mais trabalho de donzela.

— Alguém tem que fazê-lo.

— Contrate um pessoal.

Ela suspirou. — Chatham, nós não nos podemos permitir isso.

— Podemos. Plantarei no terreno sudeste. Teremos nossa primeira colheita em julho.

Suas sobrancelhas se elevaram sem sua permissão. Esta era uma notícia, de fato.

— Como? Quero dizer, isto é o mais laborioso de sua parte, e o aprovo totalmente, mas...

— Um dos inquilinos de Lady Wallingham se ofereceu a ajudar — Curvando a boca, dirigiu-lhe seu habitual sorriso cínico. — Dúvidas de minhas capacidades, verdade, amor?

Algo em seus olhos, um brilho de vulnerabilidade, talvez, fez com que tomasse a sério sua pergunta.

— Não, — murmurou ela, aproximando-se. — Eu não o faço.

Seu sorriso se desvaneceu, substituído por um pequeno vinco entre suas sobrancelhas.

— Chantageou Prinny e vendeu seus segredos por um ganho colossal. Jogou com a reputação de Lady Pulôver e logo escapou com pouco mais que uma reprimenda. Proporciona serviços não divulgados ao Escritório do Interior por tarifas não reveladas. Seu pai te isolou à idade de vinte anos, e à idade de vinte e oito anos, você foi o popular. Entre todos os bêbados, como um proverbial senhor. — Ela riu e negou com a cabeça. — É um dos homens mais inteligentes que conheci, Chatham. E Rowland Lancaster é meu pai.

— Inteligente não faz que alguém seja um granjeiro.

Seu coração se retorceu dolorosamente até que não pôde suportá-lo. Ela tomou suas mãos.

— Esta é sua terra. Sua. Inteligente significa que pode aprender o que for necessário para que seja grandioso. Acredita que limpar lareiras e polir pisos foi algo natural para mim?

— Deixará de fazer essas coisas.

Ela revirou os olhos. — Não seja tolo.

— Não estou brincando, Charlotte. Contrate um pessoal. Um pequeno, se for necessário.

Suspirando, ela soltou suas mãos, embora ele não soltou as dela. — Só tenho os recursos que juntei e economizei. — Cada xelim que gasto é um xelim a menos que terei quando for a América.

Ele piscou e se sacudiu. Seus dedos estavam repentinamente livres. Deu-se a volta e se dirigiu ao outro extremo da habitação.

Chatham não era do tipo de mostrar emoções. Simplesmente nunca ficou tão agitado. Preocupava-lhe um pouco.

— Você, você sabe de meus planos —, aventurou-se.

Agitando uma mão, caminhou para ela. — Sim. Seus planos para ir. Sou muito consciente deles.

— Então entende. Começar uma nova empresa é bastante custoso se a gente tiver intenção de ter êxito, particularmente em um lugar desconhecido.

Ele veio alguns centímetros perto dela e se deteve, avaliando seu olhar. — Se obtivermos novos inquilinos, o custo de contratar um pessoal será insignificante. Como sugeriste, é mais provável que os inquilinos assinem contratos de arrendamento se virem que se está restaurando a propriedade. Considera-o como um investimento. Seus gastos serão reembolsados dos ganhos do patrimônio, e o benefício restante se dividirá em partes iguais, como sugeriu.

Agradada de que ele estivesse chegando a seu ponto de vista, ela sopesou sua sugestão e, vendo seus méritos, assentiu.

— Talvez tenha razão. — Logo, riu entre dentes e olhou as saias, onde as manchas de pó quase tinham arruinado a musselina verde folha. — Desfrutei do trabalho em um grau surpreendente, mas minhas habilidades, e meus vestidos, podem ser mais adequadas para a gestão.

— Contratar trabalhadores, também. — Seu olhar era plano, determinado. — Quanto mais tempo deixemos o teto sem reparos, mais danos teremos.

— E os inquilinos?

— Deixe isso comigo.

O prazer a encheu. Por fim, ele estava dando voltas, vendo que ele e ela eram sócios. Verdadeiros sócios. Lhe sorriu com prazer. — Esplêndido. Seremos um grande êxito, você e eu. Espera e verá.

Olhou-a fixamente, sem piscar, sem sorrir, durante longos momentos. Logo, apartou o olhar como se tivesse olhando ao sol. — Deveria ajudar Booth a terminar de reparar os estábulos.

Enquanto Charlotte observava Chatham sair pelas portas, sua forma alta e elegante se movia rapidamente em passos largos e elegantes, experimentou um eco de sensações anteriores. Os que sempre a desconcertaram e produziram dor e calor inexplicáveis nas regiões ao sul de seu umbigo. Com um suspiro tremente, seus dedos percorreram o caminho de sua mão ao longo de sua garganta.

Perguntou-se como o toque de um homem poderia permanecer tanto tempo depois que ele tivesse deixado a habitação.

~~~

Era tarde, e Chatham esperava por Deus que estivesse adormecida. Igualmente, esperava que ela estivesse acordada. E nua. E esperando-o como um sacrifício virgem e sardento.

Abriu caminho pelas escadas debilitadas, saltando as que rangiam mais forte. Com uma vela solitária em uma mão e seu casaco de montar e colete sobre o braço, não estava disposto a cair em meio da densa escuridão.

Quase riu de suas próprias dores rangentes. Para um homem que nunca enfaticamente trabalhava, estimou que o tinha feito bem hoje. Booth o havia dito, ao menos no final. Durante as primeiras três horas, Chatham tinha alcançado mais estilhaços que progresso.

Ao entrar no dormitório, encontrou a enorme cama vazia. A decepção cavernosa estrelou sobre ele. Onde estava?

— Onde estiveste? — Veio uma voz feminina desde sua direita. — Estava começando a me preocupar —. Estava de pé em um atoleiro de luz, uma donzela ruiva de vestido branco que estava na porta do vestidor.

Não estava nua. A seu corpo não importava. Encheu e se endureceu, exigiu e doeu. Maldito inferno, tinha pensado que se esgotou o suficiente. Pôs o casaco e o colete sobre o respaldo de uma cadeira de madeira recém colocada e se moveu para pôr sua vela na mesa irregular ao lado da cama. — As reparações estão completas. Os cavalos têm teto e paredes sólidas, uma vez mais.

Ela riu ligeiramente, o som que corria por sua espinha dorsal em uma cascata. — Se só pudéssemos dizer o mesmo.

Abraçou a si mesmo e se moveu mais para dentro da habitação, indo a seu lado da cama. — Sei que logo poderemos. Temo que a paciência nunca foi uma de minhas virtudes.

Tampouco a sua. Observou-a se afastar tirando-a bata e meter-se na cama. Notou os pontos afiados de seus mamilos empurrando contra a fina musselina debaixo. Apertou os punhos e a mandíbula e os músculos de seu abdômen. Engoliu em seco com a necessidade.

— Deveria... me lavar —. Levando a luz com ele, foi rapidamente ao vestidor. Ali, tirou a camisa e se lavou com a água morna que ela tinha deixado em uma jarra no lavabo. Ela fazia todas as noites, sempre proporcionando suficiente para ambos.

Na verdade, o que deveria estar fazendo é seduzi-la. Tirou o sabão da gaveta. E terminou de se lavar, logo enxaguando-se, depois secando o peito e os braços energicamente. O batimento do coração em sua virilha não diminuiu. As visões de seus pequenos peitos afiados não abandonavam sua maldita mente. Não eram nada, assegurou-se. Certamente, não era do tipo exuberante e arredondado a que estava acostumado. Logo que não valia a pena lhe jogar uma olhada.

Queria-os em sua boca. Queria seu pênis dentro dela.

Agarrou a beira do lavabo e deixou cair sua cabeça para frente. A sedução será mantê-la aqui. Plantar seu herdeiro em seu ventre e terminar com esta privação tortuosa.

A ideia de vê-la inchar-se com seu filho deveria tê-lo horrorizado. Não gostava dos meninos. Eram sujos e tolos. Quando era menino, não tinha entendido por que seu pai o ignorava, por que sua mãe só mostrava afeto quando desejava manipular Rutherford. Agora que era maior, viu que os meninos eram um inconveniente no melhor dos casos, um incômodo na pior das hipóteses.

E uma necessidade se quiser a outra metade de sua fortuna. A fortuna deve ser dela. Razão para querer deitar-se com ela, para ver como se enchem seus peitos e seu ventre com o fruto de sua união.

Entretanto, os cem mil não tinham nada que ver com isso. Algo baixo e sem refinar nele queria plantar uma parte de si mesmo dentro dela, atá-la a ele de uma maneira que não pudesse romper-se. Era egoísta. Mas, então, ele sempre tinha sido assim.

Por que não deveria? Ela é sua esposa. Leve ela.

Respirando profunda e constantemente, Chatham se separou do lavabo e rapidamente puxou uma camisa limpa pela cabeça. Passou ambas as mãos pelo cabelo. Sentou-se na cadeira solitária e tirou as botas e as meias. Lavou e secou seus pés.

Mesmo assim, o desejo por ela era como uma praga. Não o deixava.

O que precisa é esquecer. Possivelmente haja uma garrafa de vinho ou duas na adega.

Queria que essa maldita e persistente voz voltasse a deslizar-se em seu buraco escuro e morresse. Queria que a tensão que se apoderou de sua virilha diminuísse. A tentação de consumi-la ou perder-se nos felizes braços da bebida foi uma batalha liberada em duas frentes. Quanto tempo poderia seguir lutando?

Tome-a, sussurrou a voz. Mantenha-a contigo.

Ficou de pé bruscamente, sua nobreza inexistente afligida pela necessidade. O desejo o levou de volta ao quarto, seus movimentos foram rápidos e decididos. Até que a viu.

Estava adormecida, respirando levemente, com uma mão sardenta curvada junto a sua bochecha. Queria gemer. Então desperta-a. Com sua boca.

Em seu lugar, deixou sua luz tremular sobre a mesa, sentou-se com um golpe derrotado no colchão e arrastou a cesta dos diários de seu pai debaixo da cama. Enquanto olhava as capas de couro, pensou se uma excursão de meia-noite às geadas águas do mar poderia dominar esta luxúria indisciplinada.

Um delicado suspiro soou atrás dele. — Estou emocionada, Chatham —, murmurou sua esposa, adormecida e suave. — Estou emocionada de ver Chatwick Hall retornar a sua glória. — Não respondeu. Não poderia. O diário em sua mão se enrugou quando seu punho se apertou. — Recorda-o? Desde antes?

Em um esforço por liberar a tensão para poder conversar com ela em lugar de saltar sobre ela, Chatham usou uma técnica que tinha empregado em várias ocasiões para sufocar uma luxúria persistente; imaginou deliberadamente sua última instrutor , uma velha bruxa envelhecida e grisalha com dentes podres e uma tendência a beliscá-lo até que lhe caiam lágrimas dos olhos.

Logo, a acuidade de sua excitação se aliviou o suficiente para que atirasse as mantas e se arrastasse debaixo delas. Evitando cuidadosamente olhar para Charlotte ou seus seios, arrancou as páginas do diário de seu pai e tentou responder a sua pergunta.

— Passou muito tempo. Lembro de algumas partes melhor que outras.

— Por que demorou tanto tempo para retornar ?

Sua mão alisou uma página. Olhou-o sem ver.

— Esta foi a casa de meu pai com sua primeira esposa.

— Oooh. Muitas lembranças. Trágico. Para ele, quero dizer.

— Mmm.

— Ela morreu de tristeza, não é assim?

O garrancho de ferro de seu pai dançava à luz da vela. — Sim.

— Escutei que eram horrorosamente felizes juntos. Um verdadeiro casal apaixonado.

— Horrorosamente. Não estava dormindo?

Estirou-se e bocejou, logo riu entre dentes. — Estive-o por um momento, acredito. Mas logo veio à cama. Eu gosto de falar contigo. Quando ele não disse nada, lhe deu uma cotovelada no quadril. — Me conte a história.

— Que história?

— Sobre seu pai. Sua primeira esposa, sua mãe e você.

— Isso seria um longa história, Charlotte. Vá dormir.

Ela se aproximou mais a seu flanco e envolveu suas mãos ao redor de seu braço, apartando-o do diário e agarrando sua mão entre as suas.

— Por favor. Me diga. Desejo saber quem viveu neste lugar. Como eram suas vidas.

Necessitava que ela deixasse de tocá-lo. Estava meio adormecida. Não podia seduzi-la muito bem agora. Por que não? Ela é tua. Para sufocar a voz e a crescente necessidade, gentilmente retirou sua mão. — Muito bem. Dar-te-ei uma versão abreviada. Então deve dormir. Tem um pessoal para contratar pela manhã.

Ela colocou as mãos sob a bochecha e lhe sorriu. — Abreviado então.

Suspirando, começou com o primeiro matrimônio de seu pai. — Foram, como se diz, muito felizes juntos. Meu pai se dedicou a ela e ela a ele. Entretanto, nunca puderam ter filhos, e como a maioria de seus pares, Rutherford desejava engendrar um herdeiro. Então, quando ela morreu, por tristeza, ele esperou um período apropriado antes de casar-se com uma mulher vinte anos mais nova que ele e tê-la. Assim é como cheguei a nascer. O fim.

— Chatham.

— Pensei que tínhamos acordado que iria dormir.

— É um cortador de histórias espantoso.

— Não recordo haver dito o contrário.

— Vê agora. Não dormirei até que o diga corretamente.

Ele levantou uma sobrancelha.

Parecia decidida, com os olhos bem abertos e brilhantes à luz do fogo.

Quanto antes pudesse fazê-la dormir, melhor, decidiu. Com uma respiração profunda, elaborou, — Rutherford, mas bem... adoeceu sem sua amada Margaret. Este era seu lar juntos, obviamente. Por dez anos. Depois de sua morte, passaram outros dez antes de que pudesse voltar a casar-se.

— Isso é muito tempo —, sussurrou ela.

— Mmm. Em qualquer caso, minha mãe foi a joia da temporada quando finalmente decidiu procurar uma égua de reprodução.

Lhe deu um tapa no braço.

— Não diga essas coisas.

— Tais coisas são verdade, amor. Rutherford não tinha afeto por minha mãe. Lady Catherine Delsworth era uma beleza estranha, ainda o é, para sermos justos a respeito. Bom caldo. Essa foi sua única consideração. Tinha quarenta anos e desejava uma deusa fértil. Tinha dezenove anos e desejava um título com bolsos transbordando. Uma combinação perfeita.

— Exceto que não foi.

Sua boca se torceu. — Em efeito. Minha mãe convenceu a si mesmo de que se apaixonou por ele, correndo totalmente contra sua natureza. Lady Catherine nunca amou ninguém tanto como a seu próprio reflexo. Rutherford, estou seguro, logo se deu conta de que se casou por um filho, e quando este veio, perdeu o interesse. Não é que seu interesse tenha sido particularmente entusiasmo desde o começo. Sempre teve a sensação de que simplesmente estava olhando o relógio, esperando a morte.

— Mas tinha só quarenta anos. E, se ele era algo como você...

Curioso a respeito de onde ela dirigia sua sentença, lhe perguntou: — Sim?

— Bom, só quero dizer... quer dizer, muitas mulheres lhe encontram... já sabe.

— Não. Por que não me diz isso?

— Deixa de incomodar. Você sabe — Ela puxou sua manga. — Agora, continua com a história, por favor.

Ela o encontrava “já sabe”. Interessante, por certo. Guardou a informação para futuras análises.

— Não fica muito que contar, na verdade. Nasci um ano depois de casarem-se. Passei meus primeiros oito anos mais ou menos aqui e em outro imóvel em Sussex. Logo me enviaram a Eton, onde causei estragos e em geral demonstrei ser uma má influência para todos os outros moços. Vamos a Oxford para um feitiço onde o mesmo era verdade. Uma típica infância cheia de travessuras e caos.

— De algum jeito, duvido que ‘típico’ te descreva de algum jeito.

Ele a olhou aos olhos e lhe dirigiu um lento sorriso.

— Mencionei quanto admiro sua astúcia, Lady Rutherford?

Lhe devolveu o sorriso, mas seus olhos falavam de tristeza.

— Quais eram seus companheiros quando vivia aqui?

Seu próprio sorriso se desvaneceu.

— Estamos nas zonas selvagens de Northumberland. Os companheiros eram difíceis de conseguir. Tive numerosos instrutores. Assusta-los foi um de meus jogos favoritos.

— Um menino tão mau. Certamente posso imaginar isso. O que acontece aos companheiros de jogo? Não tinha irmãos nem irmãs, mas possivelmente primos ou...

— É tarde, Charlotte. Hora de dormir.

Os olhos verdes e dourados se umedeceram e brilharam à luz das velas.

Seu coração deu um apertão peculiar, de pânico. — Maldito inferno, o que te passa?

Uma lágrima se derramou e se deslizou por uma bochecha sardenta enquanto seu lábio inferior bem formado tremia.

— Sinto muito, Chatham. Limpou a bochecha com o dorso da mão.

— Sente-o por quê? Doce Cristo, não tem feito nada...

— Todo o dia vaguei pelas habitações nesta casa —, sua voz era cambaleante e distorcida pelas lágrimas. Atirou-lhe como garras. — Vazia e ecoando. Imaginei ser um menino pequeno correndo. Jogando com seus soldados de madeira perto da lareira. Correndo através da madeira na beira da propriedade. Ninguém que lhe fizesse companhia.

— Embora. Não tinha soldados de madeira, assim que o quer que tenha te angustiado, deve te tranquilizar.

Contra sua vontade, ela voltou a tomar sua mão e a esquentou entre as suas.

— Suas mãos estão sempre tão frias. Como se sempre estivesse encerrado dentro de uma habitação gelada, completamente sozinho.

— Para com isto.

Ela sorveu, mas não se deteve. Entretanto, deu um giro inesperado.

— Quando cheguei da América, tinha cinco anos. Minha mãe estava morta. Meu pai não podia suportar me olhar. Contratou a uma instrutora que me levasse pelo oceano em um de seus navios. Eu mau me recordo da viagem, só que estive muito mal grande parte dela. Enviou-me para viver com pessoas que não conhecia em um lugar onde nunca tinha estado. Um lugar que não era meu lar.

Ele não sabia, não se tinha dado conta de que a tinham enviado a Inglaterra pouco depois da morte de sua mãe. Seu desejo por retornar aos Estados Unidos tinha mais sentido agora.

Ela golpeou com impaciência outra lágrima. Usou seu polegar para ajudá-la e logo franziu o cenho. — Parece te haver ajustado o suficientemente bem. Não há rastro da América quando fala. Um alívio para meus ouvidos, asseguro-lhe isso.

— Eu era miserável. No primeiro e segundo ano, especialmente. Nada era familiar. A tia Fanny tentou, mas era difícil de digerir.

Tentou distrai-la de suas lágrimas.

— Você? Isso não pode ser certo.

Seus lábios se franziram.

— O primo Andrew ainda estava em fraldas. Os gêmeos ainda não tinham nascido. Estava sozinha, Chatham. Muito sozinha.

Engolindo, apartou os olhos, não querendo imaginá-la como uma menina, tão pequena e inocente como Lucy. Uma menina de cabelo vermelho brilhante que tinha sido arrancada de sua casa e enviada através do mar para viver com estranhos.

— Sempre acreditei que a América é onde realmente pertenço. Se simplesmente pudesse encontrar uma maneira de retornar ali, não sentiria este... vazio por mais tempo. Na Inglaterra, sempre me equivoquei. Eu não me encaixo. Sou muito alta, descuidada. Meu cabelo...

— Não há nada mau contigo. Se não se encaixa, talvez seja a Inglaterra o problema.

Ela suspirou e lhe deu um sorriso aquoso. — É por isso que eu gosto tanto de você. Debaixo de sua crueldade e cinismo há um homem que entende... tudo.

Ele não soube o que dizer. Seus olhos úmidos estavam resplandecentes agora.

Ninguém gostava dele , não um pouco, muito menos “ tanto”.

Ele, malditamente , não sabia o que dizer. Ela assustou ao diabo.

— Não tenha medo Chatham. Às vezes me deixo levar e me sinto sentimental.... Desculpa se te angustiei.

Uma de suas mãos se aproximou de seu travesseiro, enquanto que a outra se acomodou em sua parte inferior do ventre como se lhe doesse.

Suas sobrancelhas se elevaram quando a verdade penetrou. Com cuidado, com os dedos agora relaxados fora de seu agarre, ele afastou a última lágrima da comissura de sua boca, acariciou-lhe o cabelo vermelho fora de moda e se inclinou para depositar um beijo em sua cabeça.

Não sabia por que o fez, exceto não podia ajudar a si mesmo.

— Dorme —, sussurrou contra seu cabelo, o doce aroma dela se levantou para saudá-lo. Lírio dos vales, peras e algo mais. Elusivo. Mais escuro.

— Dorme agora, amor.

Com um suspiro, ele se afastou e tomou o diário de seu pai, decidido a centrar-se em algo mais que ela: Charlotte. A mulher que merecia algo melhor que ser seduzida e utilizada como égua de cria. Melhor que ter sido enviada a Inglaterra e vendida ao título mais alto que o dinheiro de seu pai poderia comprar. Melhor do que se casar com ele. A quem tinha devotado amabilidade, aceitação e amizade, merecia não menos que iguais medidas em troca.

E ele os daria, decidiu. Conceder-lhe-ia o amparo que merecia tal dama, sem importar como deveria negar-se a si mesmo. Charlotte seguiria sendo sua esposa, sua amiga. Quando terminarem o ano juntos, deixá-la-ia ir para que ela pudesse retornar a América.

Ele a deixaria ir, jurou.

Inclusive se isso o matasse.


CAPÍTULO 11

“Um lorde não se envolve no comércio, nem no trabalho, fazê-lo é vulgar. E enquanto a vulgaridade pode ser rentável, inclusive prazenteira para alguns, reza a tentação de revelar suas tendências plebéias ao resto de nós.”

A viúva marquesa de Wallingham a seu filho Charles, ao inteirar-se de certos investimentos recomendados por uma certa viúva.

O suor lhe pegava o tecido da camisa as costas. Seus músculos estavam tensos e flexionados. Suas mãos estavam em carne viva, sua garganta seca, sua espinha dorsal dolorida. E não era suficiente. Devia estar completamente esgotado ao cair a noite ou não poderia dormir absolutamente.

— Só mais três metros, sim ? Parece que tem uma habilidade especial para colocar a pedra —. O comentário de Peter puxou a cabeça de Chatham quando colocou a pesada rocha e a girou até que ficasse em posição.

Respirando com um risinho irônico, Chatham respondeu: — Se por habilidade você quer dizer que conseguir empilhar uma grande quantidade de rochas durante dois meses, então estarei de acordo contigo.

Peter se sentou na parede de um metro e tirou o chapéu para limpar a testa com o lenço com babados que a senhora Jameson tinha bordado para ele. Semanas antes, Chatham tinha perguntado sobre a coisa branca adornada com um bordado e rosas. Além de ser muito branco para ser útil, resultava vergonhoso que um homem fosse visto com um objeto tão delicado em seu poder.

Peter lhe dedicou um leve sorriso e disse: — Fez isso antes de que nos encontrássemos na feira de Alnwick; era tudo que ela precisava me dar. A próxima vez que nos encontramos na feira de Newcastle quinze dias depois, ela disse que estava destinado a seu marido e logo me pôs isso na mão. Minha mãe pensou que tinha golpeado a cabeça. — riu com carinho. — Eu não. Ambos sabíamos que eu seria seu marido no momento em que a olhei.

Soprando, Chatham tinha tirado seu frasco e tinha tomado um longo de gole de chá de mel o qual Charlotte tinha adquirido a receita. Agora fazia para ele todos os dias. — Lixo sentimental. É o lenço de uma mulher. Talvez deveria usar suas saias também.

Peter dirigiu um olhar tranquilo ao metal com flores em relevo gravado no agarre de Chatham e replicou: — Ou usar sua garrafa. — Depois disso, Chatham não havia tornado a mencionar o lenço.

Agora, deu a volta e olhou para os campos de seu canto sudeste, recostado contra a parede que estava construindo e cruzando os braços sobre seu peito.

Largas fileiras de grão se estendiam por acres, um mar ondulado de verde. Tinha sido uma primavera suave, e o começo do verão tinha chegado cedo. Agora, em meados de junho, os cultivos estavam prosperando.

Nunca havia sentido isto... era gratificante. Assim que tinha entendido de realização, não o tinha previsto. Mas tinha lavrado a terra. Tinha plantado as sementes.

Tinha cuidado e regado e matado aos malditos insetos que cavaram e formaram montículos debaixo de seus cultivos. Em um mês mais ou menos, teria sua primeira colheita. Ele, Benedict Chatham, era um granjeiro. Era gracioso, de verdade.

— Parece que sua senhoria retornou ao Grimsgate.

Distraído em seus pensamentos, Chatham piscou ante Peter. — Lady Wallingham?

— Sim. Chegou faz dois dias. Trouxe uma dúzia mais ou menos de Londres.

— Escutei que haverá uma grande festa na casa.

Tirou o frasco de Charlotte de seu bolso e tomou um gole. — Bom, vou esperar meu convite com grande entusiasmo.

Peter rio de seu sarcasmo e bebeu de seu próprio frasco, maior que o do Chatham e esculpido em madeira.

Tinham encontrado um ritmo fácil durante os últimos dois meses, já que Peter o tinha ajudado a plantar o canto sudeste. Acostumado a compreender conceitos rapidamente, tinha lutado por absorver o conhecimento que parecia ter sido introduzido nos ossos de Peter. Mais de uma vez, tinha acusado ao homem de beber a agricultura como a teta de sua mãe. Peter só riu e explicou novamente com paciência, a respeito das condições climáticas, o tempo de colheita e a modificação do chão e muitos outros fatores, muitos dos quais se apoiam mais no instinto que na informação.

Para Chatham, a experiência de ser o ignorante era terrivelmente desconhecida. Em Eton e Oxford, tinha sido notoriamente rebelde, ganhando uma reputação bem merecida pelo caos e a libertinagem. Parte de seu comportamento tinha como objetivo castigar Rutherford, mas sobre tudo, aborreceu-se. Os estudos foram fáceis. As mulheres eram fáceis. Tudo foi fácil. Sua mente tinha girado constantemente como uma roda que viajava a nenhuma parte, desejando estimulação, desejando algo para resolver, desenhar ou dominar. Algo que o ocupe e detenha o frenético giro. Logo descobriu o doce intumescimento da bebida e o igualmente doce esquecimento do sexo, duas comodidades das quais se encontrava atualmente privado.

Para seu grande alívio, a tontura não tinha retornado desde seus primeiros intentos de dirigir um arado. Essa tortura tinha terminado com ele sendo miserável com quatro mil metros através do chão costeiro de Northumberland. A experiência tinha sido humilhante, mas ele não se aborreceu. Alegrou-se pelo trabalho físico. Deu-lhe uma saída que era muito necessária quando precisava estar junto de Charlotte cada noite sem tocá-la.

— Lucy se afeiçoou a Lady Rutherford. — Peter assinalou com a cabeça para a casa de campo, onde Emma Jameson e Charlotte conversavam e faziam recortes do jardim de ervas enquanto Lucy entregava a Charlotte um punhado de margaridas.

Ao ver Charlotte dobrar-se e beijar a bochecha da menina, logo endireitar-se e rir de algo que disse Emma, seu coração deu patadas e se retorceu enquanto seu sangue corria como fogo. Ela tinha esquecido seu gorro. Seu cabelo brilhava quase da cor carmesim à luz, seu corpo alto envolto em capas de musselina quase do mesmo tom que sua pele sem as sardas.

Quando a brisa soprava, o fino tecido se amoldava a seus quadris, nádegas e coxas.

Engoliu saliva e afastou o olhar para levantar a seguinte pedra.

— Minha esposa também gostou, da mesma maneira as duas cantam seus louvores até que um homem reze para ficar surdo.

Chatham grunhiu uma resposta. Não era um grunhido, em geral, mas neste caso, era tudo o que podia fazer.

— Emma está um pouco cansada do bate-papo sobre levar chá ao mercado, mas está contente pela companhia.

— A Lady Rutherford interessa pelo comércio, — respondeu Chatham, olhando em busca da seguinte pedra. — Se ela é persistente, é porque vê potencial.

— Sim, assim Emma diz —. A longa pausa de Peter provavelmente significava algo, mas não lhe importou desentranhar o enigma.

Levantando uma rocha de cinquenta quilos com facilidade, Chatham a colocou em seu lugar na base da parede em crescimento. Sua força tinha aumentado substancialmente nas últimas semanas, os músculos dos ombros, os braços, o peito e as pernas cresceram até que mal reconhecia seu próprio corpo. Em parte, foi o resultado de trabalhar de madrugada ao ocaso todos os dias, mas também era devido à quantidade de comida que agora comia. Seu apetite tinha retornado com força voraz em mais de uma área. Charlotte tinha trabalhado para satisfazer a fome que ela conhecia. E ele se esforçou por protege-la da outra.

Empilhando outra pedra sobre a última, secou o suor na parte posterior de seu pescoço. Ele deveria se esgotar. Não havia outra maneira.

Peter baixou para ajudar Chatham a levantar uma pedra particularmente pesada. — Por que não contrata mais mãos para isto, igual fez para Chatwick Hall?

Chatham soltou um suspiro e tomou ar, usando suas coxas como tinha aprendido a fazer. Os olhos escuros do Peter se encontraram com os seus, divertidos e sábios enquanto a deslizavam pela distância até o nível das rochas e a baixavam a seu lugar.

— Lady Rutherford necessita ajuda mais que eu.

— Vê, na colheita não terá outra opção. O milho amadure quando está preparado, não quando você está. — Peter sacudiu as mãos. — Os arrendamentos lhe pagaram em maio, não é assim?

Irritado pelo giro da conversa, Chatham tratou de cortá-lo. — Vou contratar para a colheita. Satisfeito?

Um sorriso de cumplicidade enrugou os olhos de Peter. — Não é pela minha satisfação que deve se preocupar.

Chatham limpou as palmas nas calças e entrecerrou os olhos para o granjeiro. — Sugiro-te que cuide de seus próprios campos e deixe o meu.

O sorriso de Peter cresceu. — Terá que arar antes de que a semente possa ser plantada. Suponho que aprendeste muito —. Logo pôs-se a rir. Nunca tinha sido particularmente intimidado por Chatham ou seu título, para seu desgosto.

— Muito divertido. Tem a intenção de ajudar, ou simplesmente está aqui para me atormentar?

Um risinho de menina veio detrás dele. O som da risada da resposta de Charlotte foi levado pela brisa. Cobriu-lhe o corpo, agarrando seu pênis com tanta segurança como se ela o tivesse tomado em sua mão. Apertou os dentes e fechou os olhos, lutando por lembrar-se a instrutora de dentes podres. Inclusive isso não funcionou na maioria dos dias.

Estavam se aproximando. Podia ouvi-la dizer algo a Emma Jameson sobre a venda de chá de mel.

— Chatham, lhe diga que digo a verdade, — chamou Charlotte do outro lado da parede. — Seu chá é diferente de tudo que provei em minha vida. Deve haver muitos que não possam tolerar a cerveja e que não possam pagar as folhas de chá, isto é o ideal.

— Deixa-o, Charlotte, — disse bruscamente. — Ela está esgotada desta conversa, como eu. — Com isso, puxou suas luvas e sem girar-se, caminhou ao longo da parede até que já não pôde escutar sua voz nem cheirar seu aroma ou morrer pela falta dela.

~~~

Enquanto se balançava ante o ardor de seu rechaço, Charlotte engoliu o nó que se alojava em sua garganta e observou seu marido afastar-se dela, com os ombros recém alargados rígidos. Um dia que tinha começado tão brilhante e cheio de promessas se apagou até que o céu em si parecia cinza em lugar de azul.

Uma pequena mão puxou sua saia. Ela olhou rapidamente pela extremidade do olho, furtivamente para assegurar-se de que Emma e Peter não a estavam olhando. Peter ajustou o chapéu, limpou a garganta e se afastou para atender seus campos. Emma fingiu interesse em um corvo que aterrissou perto. Charlotte deixou escapar um suspiro tremente antes de inclinar-se para Lucy. — O que acontece, pequena?

— Não desejo me casar mais com ele, — sussurrou ela.

Charlotte sabia que seu sorriso vacilava, mas lhe sorriu de todos os modos e acariciou o cabelo dourado pálido da menina.

Emma deu uns tapinhas no ombro de sua filha e a conduziu para a casa de campo. — Lucy, recupere o chapéu de Lady Rutherford e traga-o aqui, seja uma boa garota.

Passou uma mão distraidamente sobre seu cabelo e se deu conta de que o tinha esquecido de novo. Quando Chatham se encontrava perto, concentrava toda sua atenção nele até que perdia a pista de quase tudo. Seus chapéus, seus pensamentos, seu fôlego. E ele não podia suportar estar perto dela. Tinha começado fazia algumas semanas atrás, sutilmente no início. Desde o começo, ela tinha apreciado suas conversas noturnas, manteve-se acordada deliberadamente para saudá-lo quando retornava a casa depois de ter trabalhado tão duro. Lhe ajudava a tirar o casaco, dava-lhe uma camisa fresca e água morna, e curava os cortes e machucados de suas mãos.

Falavam do dia, rindo dos desgostados murmúrios de Esther e os contratempos de Chatham com o arado. Gostava de tocá-lo, cuidá-lo. Gostava de adormecer com seu cheiro em seus pulmões. Ansiava olhá-lo, a forma em que seu corpo mudava e se fortalecia. Nunca tinha estado tão orgulhosa de alguém quanto por ele, pela forma em que tinha assumido o desafio da agricultura com absoluta ferocidade, quase com devoção cega. Logo, gradualmente havia se tornado mais frio, mais tranquilo. Primeiro, tinha rechaçado sua ajuda com seu casaco, logo suas feridas, logo retornava a casa cada dia mais tarde até que ela não conseguia manter os olhos abertos para saudá-lo, para acariciar seu braço e colocar sua mão entre as suas enquanto caía adormecida.

Sentir saudades era uma dor que mau conseguia suportar. Mas, então, vê-lo era uma dor diferente, sentia calor, saudade e inquietação, só pensar em seus braços, suas mãos e seus ombros, mas sobre tudo em seus olhos, ela poderia derreter-se em um atoleiro.

Sabia que ele não sentia a mesma atração. Um homem de antigos hábitos como Chatham certamente teria exigido seus direitos de marido a estas alturas, já o teria feito, já que seu pai tinha feito de Charlotte sua única opção. Mas ao menos ela tinha pensado que ele valorizava sua amizade.

Sentindo que o vazio de seus dias sem ele se aprofundavam rapidamente, tinha decidido buscá-lo, apesar de que tinha respondido com mais brutalidade que boas-vindas. Assim tinha começado suas visitas à granja e sua amizade com Emma.

A amável esposa do granjeiro agora a olhava com calma e simpatia. — Está tudo bem, minha Lady?

Apertando os lábios, ela assentiu e tratou de sorrir.

— Esta cansado, isso é tudo. — Moveu a mão ao muro de pedra de um metro e meio que seu marido tinha construído com suas próprias mãos, mãos que uma vez tinha considerado inúteis. — A parede está quase terminada, e ele trabalhou muito. — Sua voz estava constrangida pela dor que brotava de seu peito. Não queria chorar diante de Emma.

— Posso falar claramente, minha Lady?

Franzindo o cenho, Charlotte piscou. — Claro que pode. Sempre o faz. E eu gostaria que me chamasse de Charlotte.

— Não posso fazer isso, mas te darei um pequeno conselho, se aceitar —. Os traços de Emma eram bonitos e suaves, seu cabelo loiro brilhava como o trigo ao sol. Sua amabilidade a tornava ainda mais brilhante.

Charlotte assentiu com sua permissão, temendo escutar o que ela diria.

— Te deite com ele.

Ela deve ter ouvido mau. — Perdão?

— Deite-se até que nenhum dos dois possa caminhar em linha reta.

Ela não sabia como responder. Era como escutar uma pessoa perfeitamente sã, de repente falando tolices.

— Minha Lady, é tão simples ver que este homem está sofrendo, pelo motivo que o impediu de aproximar-se de sua cama.

— Compartilhamos uma cama. Isso é... OH! Dormimos na mesma cama. — OH, querida! Seu rosto se sentia positivamente queimado pelo sol.

Seu olhar cético se levantou e os lábios de Emma se curvaram.

— Se dormir é tudo o que faz, não é de se admirar que esteja fora de si.

Não podia explicar as circunstâncias de seu matrimônio para Emma e não estava segura de que ela desejasse fazê-lo. Admitir que estava “fora de si” não tinha nada que ver com ela, como a maioria dos homens não a achava atraente, era uma humilhação que não estava disposta a compartilhar. Entretanto, talvez sua inquietação e mau humor se devia à falta de... atividade... em certas áreas.

E talvez se ela se oferecesse a aliviar seu mal-estar, somente como amiga, então ele reataria sua prévia amizade, e poderiam passar o resto do ano em feliz acordo. Não desejava que ele sofresse, e de tudo o que tinha aprendido de seu passado amoroso, deveria ter se dado conta de que privar-se desse modo poderia lhe causar dificuldades. Realmente, estava surpresa de que ele não tivesse abordado o tema antes; mas, então isso poderia ser uma medida de sua falta de interesse. Teria que apresentar sua solução com cuidado para não dar a entender que sua intimidade seria outra coisa mais que um remédio para seu problema.

Depois de pensá-lo, sorriu e apertou a mão de Emma.

— Obrigado por sua franqueza. Deste-me muito para pensar e estou agradecida.

Nesse momento, Lucy retornou com seu chapéu, e Charlotte se despediu delas antes de retornar a Chatwick Hall. Em seu longo caminho de volta à casa e durante todo o dia, refletiu sobre a ideia de se oferecer a Chatham... bem, comodidade, supôs.

Enquanto observava os campos da propriedade de Chatwick, maravilhou-se de que ele tivesse conseguido obter contratos de arrendamento para tudo, menos uma pequena porção, que aquelas granjas agora ocupadas estavam semeadas de trigo, cevada, aveia e batatas; e que as terras de pastos verdes estavam agora ocupadas por gado e ovelhas. Ele tinha completado sua parte no trato a um custo não muito pequeno. O homem que ela tinha visto como indolente, privilegiado e bastante inútil, tinha trabalhado incansavelmente em uma tarefa que nenhum lorde entenderia.

Agora, ele estava sofrendo, e ela nem sequer tinha se dado conta. Que classe de amiga era?

Enquanto escutava a irritável Esther queixar-se da “maneira de falar da nova cozinheira”, assentiu como se estivesse escutando, mas na verdade não podia apartar sua mente de Chatham.

Ele a necessitava, decidiu. Pode ser que não a queira, mas necessitava alívio masculino, e ela era sua esposa. Sua decisão de oferecer-se era um verdadeiro ato de compaixão.

Uma medida prática. Nada a ver que seu corpo se ruborizava e o desejava quando seus olhos o percorriam e posavam em seu peito, ou quando olhava seus ombros recém alargados e seus grossos braços.

Nada bom.

Enquanto revisava os orçamentos e os planos de comidas com a cozinheira a Sra. Quigley, teve que admitir que não focava em sua conversa. Em troca, seus pensamentos se desviaram repetidamente para seu marido e o que ela poderia lhe dizer quando chegasse em casa essa noite.

Como, precisamente, alguém se oferecia? Especialmente para um homem como Chatham, que certamente deveria estar acostumado à sofisticação em seus casos amorosos. Ao final, depois de muito desacordo com ela mesma, decidiu-se pela sinceridade. Não tinha sentido fingir que não tinha experiência, nem atuar como se isto fosse algum tipo de sedução. Seria uma oferta de conforto singela e direta.

À medida que se aproximava o entardecer, organizou um banho completo, o bater de asas em seu ventre se intensificou até que teve que pressionar suas mãos sobre seu abdômen para acalmar as sensações, as duas donzelas e uma resmungona Esther levaram a água fumegante pelas escadas reconstruídas ao vestidor, onde tinha colocado a banheira de metal junto à cadeira e o lavabo. Sua única preocupação era que ele pudesse responder com desgosto. Ela esperava que ele aceitasse a oferta com o espírito que lhe tinha dado, e que se decidisse rechaçá-la o fizesse com suavidade. Talvez simplesmente riria, pensou. Possivelmente também tomaria.

Enquanto se despia tirando tudo exceto sua camisa, meteu-se na água fumegante, pegou seu sabão e esfregou o cabelo e a pele, deixando que a camisa a lavasse a fundo ao mesmo tempo. A água, quente e pouco profunda, elevou-se quando dobrou seu corpo e afundou até os quadris.

Decidiu que os preparativos deviam fazer-se. Ele iria querer um banho próprio, por isso ela providenciaria água fresca, aquecida e pronta, junto com uma bandeja de bolos e uma jarra de chá de mel. Logo, uma vez que tivesse se refrescado, ela apresentaria tranquilamente sua oferta, deixando claro que não tinha nenhuma obrigação de aceitar.

Além disso, ela estipularia que sua intimidade não implicava um compromisso permanente por parte dele ou dela.

Penteou-se cuidadosamente seu cabelo molhado e estremeceu ante os nós encontrados, antes de trançá-lo sobre seu ombro. Logo tirou a camisa, torceu-a e a colocou sobre o respaldo da cadeira antes de secar-se e colocar o vestido, uma capa diáfana de musselina de damasco bordada com folhas e trepadeiras brancas no sutiã e na prega. Estava nua por baixo, seus mamilos alcançavam seu ponto máximo no frio da habitação, embora não sentia o mínimo frio.

Isto seria uma extensão de sua amizade decidiu, correndo as mãos trementes sobre seus quadris e pelos lados de suas coxas..

Isso era tudo. Realmente


CAPÍTULO 12

“Ofereça a um homem faminto sua comida favorita ou uma noite de pecado, e descobrirá rapidamente que órgão pensa.”

A marquesa viúva de Wallingham à duquesa de Blackmore, ao escutar os planos de dita dama para um jantar tardio com o duque de Blackmore.

Inclusive depois de seu banho, a pele de Chatham se sentia tensa, avermelhada e muito sensível. Bebeu duas taças do chá de mel que Charlotte lhe tinha deixado no lavabo do vestidor, logo tirou outra massa do prato e deu um grande mordida antes de entrar na habitação.

Deteve-se meia pernada e ao meio de mastigar, ela estava ali, acordada, sentada na ridícula cama cheia de criaturas marinhas e algas, um livro em suas mãos e o cobertor debaixo dos braços. O dossel e a colcha de brocado azul tinham sido substituídos semanas atrás com veludos mais leves e sedas em tons dourados. As cores ficavam bem. Seu cabelo de cor vermelha fogo estava, como sempre, jogado sobre seu ombro em uma trança arrumada, entretanto, seus ombros estavam cobertos pelo que parecia ser musselina de cor pêssego em lugar de branco, sua clavícula sardenta estava exposta por um sutiã de decote baixo, não oculto por uma fileira de botões modestos. Decepcionantemente, seus peitos estavam cobertos pelos lençóis de veludo de seda embora era uma agonia, teria gostado de vislumbrar os mamilos que apareciam contra a fina musselina como se estivesse fazendo beicinho por ainda não ter lhes dado a devida atenção.

Engolindo a saliva em sua boca repentinamente seca, quase se afogou, o bolo de gado agora parecia o gesso usado para reparar as paredes no vestíbulo de entrada.

Olhos ouro verde disparam para cima, e um leve rubor de morango floresceu em suas bochechas

— Chatham —, suspirou ela. Seu livro se fechou e foi deixado a um lado — Não percebi quando entrou. Teve suficiente para comer?

Baixou o olhar ao meio bolo que tinha na mão, tinha fome, mas não de comida.

— Sim — Rouco e cru, a única palavra revelou mais do que gostaria — Ainda não estou cansado, entretanto, estarei na biblioteca. — Sem olhá-la, dirigiu-se à porta.

— Marido. — Ele se deteve. — Eu... eu gostaria de falar contigo.

Uma negativa se abatia na beira de seus lábios.

— Por favor.

Suspirando, lançou o resto do bolo na lareira e se voltou para olhá-la, com as mãos ligeiramente apoiadas nos quadris — Sim?

Ela lambeu os lábios, visivelmente incerta.

— Eu gostaria de me desculpar.

A mulher desconcertada lhe tinha demonstrado nada mais que amabilidade — Por quê?

— Estiveste com alguma... angústia, e como sua amiga, deveria havê-lo notado.

Ela engoliu e lambeu os lábios de novo.

Que diabos estava dizendo? E por que não podia manter sua língua rosada e úmida em sua maldita boca? Ao parecer, notando seu cenho franzido, precipitou-se a continuar — Ficou claro que algumas das estipulações de meu pai para nosso matrimônio provocaram seu desconforto, sua insatisfação em certas áreas.

Ele não entendia o que estava tentando dizer, mas seus lábios estavam úmidos e brilhantes, tão rosados como o rubor.

— Não tive uma queda da noite anterior a nossas bodas, se isso for o que te preocupa de vez em quando, sinto-me tentado a me embriagar, mas não tenho nenhum desejo de voltar a suportar as agonias que sofri depois.

Ela sacudiu a cabeça e, estranhamente, evitou seu olhar então, começou a mover-se com a colcha, atirando dela — Isso é... não é o que quis dizer — Suas bochechas se acenderam e se incharam, o rubor se estendeu até que consumiram suas sardas — Tem que permanecer fiel a mim durante todo o ano.

Piscando rapidamente, lutou por controlar sua reação ao despertar seus dedos se apertaram e logo se afrouxaram deliberadamente — E assim o tenho feito.

Seus olhos voltaram para os seus, cheios de uma corrente de emoções: compaixão, arrependimento e uma faísca febril lhe recordou como se via quando tinha a boca entre os dentes em um novo projeto — Chatham, eu lamento que tenha demorado tanto em me dar conta de sua angústia. — Sacudindo a cabeça, riu entre dentes, o som era afrodisíaco — Minha única desculpa é que não tenho... experiência...nestas áreas.

OH bom Deus, ela se referia a sua frustração sexual evidentemente, não o tinha ocultado tão bem como tinha esperado.

— Devo ir agora, — apressou-se, virando-se.

Detrás dele, o sussurro das roupas de cama e a “maldição” brandamente murmurada precederam uma série de vários desastres, tropeçou, com os pés, pisando fora do ritmo os chãos de madeira. O que requeria que se voltasse para ela, o que revelou sua forma de extremidades longas cambaleando-se para ele em um vestido que bem poderia ser água por tudo o que escondia. Apanhou seus braços antes de que se estrelasse contra seu peito, mas o dano já aparecia. A semi-dureza se converteu em aço de fornalha dentro de um segundo.

— OH! Perdão, obrigado por me pegar.

Seios minúsculos e consistentes, com mamilos de cor rosa fresca, flertando com pura musselina cor pêssego, queria engolir a um deles em sua boca, mamar até que ela gritasse por ele, então prodigalizaria ao outro, preferia distribuir seus cuidados de maneira equitativa para não desperdiçar nada.

— E... Chatham.

Podia ver uma palha de fogo entre suas coxas, ela não levava nada debaixo da bata, nem sua camisa. Nada de nada. Ele poderia arranca-la de seu corpo com um firme puxão e apagar sua fome sobre cada centímetro de seu corpo.

— Pode me soltar estou firme agora, prometo-o.

O mistério se suas sardas tinham sabor de canela e essa palha ardente tinha sabor de peras amadurecidas ou um pouco mais forte, mais picante, poderia resolver facilmente. Ela estava ali, mal coberta.

— Honestamente parece um pouco acalorado. Estava a água muito quente? Disse ao Esther que necessitaria mais tempo para esfriar, mas ela insistiu...

Obrigou suas mãos a soltar seus braços, mas eles queriam a carne sob sua palmas firme e larga, a pele tão suave como ele recordava. Mas não podia ter esta conversa com ela, e certamente não enquanto a acariciava como a seu mascote favorito.

— Volte para a cama — Mal reconhecia sua própria voz, tão desajeitada era.

Seus braços, repentinamente soltos, cruzaram-se sobre sua cintura a postura juntou seus delicados peitos, acomodando-os e ressaltando os mamilos duros, sua respiração profunda só piorando o efeito — Talvez deveríamos ir à cama. Disse.

— Não quero dormir.

— Não mencionei o sono.

— Então, de que diabos está falando, Charlotte? Porque devo te dizer que minha paciência terminou.

Ela limpou a garganta com delicadeza — Sei que não me quer, especialmente da maneira em que um homem quer a uma mulher.

A declaração foi tão absurda que não pôde idear uma resposta, só um bufo incrédulo.

Seu queixo se elevou para cima — Entretanto, não desejo ver-te sofrer, já que foi a desafortunada consequência de nosso acordo —. Ela se aproximou dele, e ele se andou para trás, uma pequena ruga de dor se formou em sua testa e logo se desfez , quase imediatamente — Se... se quer ter alívio, sou sua única opção como sua amiga , eu gostaria de me oferecer.

Durante três segundos, sua mente se deteve como se estivesse suspenso no ar, então, a explosão dentro dele se inchou e estirou sua pele com mais força, palpitou, retumbou e se agitou em sua corrente sanguínea até que pensou que estava morrendo.

Sua garganta, essa encantadora e sardenta coluna, agitou-se em outro gole nervoso, seguiu cada movimento de sua pele, cada pulsação , a elevação tremente e a queda de seus peitos.

— Puramente sem compromisso, é obvio se não poder obtê-lo, eu... o entenderei.

— Fá-lo-á, agora? — Ele arrastou seus olhos aos dela — Duvido e é muito claro que não entende nada.

Logo, para enfatizar seu ponto, moveu-se lenta e deliberadamente para ela, fechando a distância que tinha criado anteriormente, espreitando-a como um lobo a sua presa, sua intenção era em parte intimidar, mas sobre tudo a ação foi instintiva, se sentia completamente predador neste momento.

— Bom —, disse sem fôlego, com uma mão colocando-se ao longo de sua clavícula — Admito um certo desconhecimento das relações conjugais.

Agora, a poucos centímetros dela, sentiu uma curiosa satisfação pelos sutis sinais de excitação e a precaução feminina.

— Também ignora as consequências, Lady Rutherford?

— Eu... supus que saberia algo sobre como impedir de conceber uma criança.

— O sim, há dispositivos, dos quais atualmente não tenho nenhum em meu poder, e técnicas que podem reduzir as possibilidades de conceber mas nenhum método é uma certeza — Inclinou a cabeça e se aproximou, agora flutuando o suficientemente perto para sentir seu fôlego em seu queixo em sua boca — Arriscaria a América Charlotte, simplesmente para me oferecer liberação?

Ela deu uma longa piscada, logo sua testa se enrugou de novo, desta vez não com dor a não ser com ternura, dedos longos e magros se elevaram para acariciar sua mandíbula.

— Que faça essa pergunta, demonstra por que minha resposta é sim —, murmurou ela.

Ele apanhou sua mão contra seu rosto, saboreando seu toque por um momento antes de apartá-la — Minha resposta é não.

— Porque não me quer?

Seu suspiro foi um vaio

— Maldito inferno, Charlotte.

— Se essa for a razão, então possivelmente possamos simplesmente realizar os atos necessários na escuridão tenho alguns conhecimentos de anatomia.

— Charlotte.

— Sei que sua carne deve endurecer-se, possivelmente possa imaginar uma de suas antigas amantes, enquanto lhe libero com minha mão. Seria isso suficiente?

— Isto é um maldito pesadelo. Não, não seria suficiente esse é o eterno problema.

— OH bom, então, talvez poderíamos tentar nos beijar de novo. Devo te dizer, que achei bem agradável, nunca antes tinha contemplado ter a língua de outra pessoa dentro de minha boca, mas...

— Detenha-se, não posso... — passou ambas as mãos pelo rosto — Está me matando.

— Não seja parvo estou tentando ajudar.

Não havia outro remédio, ele deveria lhe dar um desgosto, parecia que nada mais a dissuadiria. Deixando cair as mãos aos flancos, ignorou sua feroz excitação e encontrou seu olhar, seus lábios, esses lábios finos, suaves e rosados, estavam franzidos em consternação.

— Charlotte, sabe como adquiri recursos antes de nosso matrimônio?

— Sim.

— De verdade?

Ela assentiu. — O jogo, principalmente, embora alguns informações indicam que também é um perito na recopilação e venda de segredos.

— Essas não eram minhas únicas fontes de ganhos.

Um rubor emergiu, e ela piscou — Não sei.

— E sabe por que essas mulheres estavam dispostas a pagar por meus serviços?

O vermelho se fortaleceu até que desapareceram suas sardas seus olhos posaram em sua boca.

— P-presumivelmente é muito similar a qualquer outra transação: sentiram que oferecia um serviço de maior qualidade que...

— Não me dê a armadilha de seu comerciante

Se ele era severo, era porque ela o tinha empurrado até que não ficasse nenhuma cortesia

— Eu fodia essas mulheres por dinheiro.

Tremia-lhe o lábio inferior — Sei, — sussurrou ela.

— Beijei-as, agradei-as e realizei atos que lhe enviariam a correr por seus sai aromáticos pela mera menção...

Agora com os lábios apertados e planos, levantou uma mão para detê-lo. — Os detalhes são desnecessários, conheço suas benfeitoras, a Sra. Knightley e o resto, estou segura de que é um amante muito hábil Chatham, e embora não posso dizer o mesmo, minha oferta segue de pé.

Não estava funcionando, estava quase cuspindo epítetos vis em sua cara, e não estava funcionando muito bem. Passando uma mão pelo cabelo, sentiu que a frustração lhe queimava as vísceras — Me chateia muito.

Ela pôs os olhos em branco.

— Isso é óbvio, embora não entendo porquê. Te ofereço uma solução a suas dificuldades e me dá de presente descrições de seu passado. Um passado, por certo, no que não tenho nenhum interesse.

— Meu passado é relevante.

— Não vejo como.

— Precisa retirar sua oferta, Charlotte, e nunca voltar a mencioná-la.

— Por quê?

Aproximou-se mais e baixou a cabeça até que seus narizes quase se tocaram.

— Porque uma vez nunca será suficiente.

Suas pestanas revoaram, sua respiração se acelerou. Não mencionaram limites ou a quantidade, segundo lembrança.

— Cada vez será um risco e meus apetites são difíceis de saciar esposa; por que acredita que obtive somas tão generosas?

Com os lábios separados em um suspiro, ela emitiu um pequeno gemido que foi direto a seu pênis.

— Chatham, — murmurou ela — Se isto tiver a intenção de me dissuadir, devo te dizer que está tendo o efeito contrário, além disso, desfruto muitíssimo de nossas conversas na noite. Escuta-me, realmente escuta, como poucos outros o têm feito é por isso que fiz minha oferta. Desejo que reatemos nossa amizade, desejo que as coisas sejam como eram.

— Nunca poderão voltar a ser assim, certamente te dá conta disso. Consumar nosso matrimônio mudará tudo.

Ela sacudiu sua cabeça.

— Pensei nisto, uma vez que suas necessidades sejam atendidas adequadamente, seu bom humor anterior voltará e seremos amigos novamente.

— Amigos — Esfregou a ponta do nariz — Você é a mulher mais enlouquecedora que conheço.

De repente, ela estava ali frente a ele, lhe abraçando os pulsos com as mãos, seu toque queimou sua pele, enviou tremores em espiral ao longo de seus músculos queria afastar-se, mas seu cérebro não podia convencer a seus braços.

Ela pôs suas mãos em seus quadris, aproximou-se a ele até que seus mamilos tentadores e em ponta, roçaram seu peito, raspando como pequenos diamantes através de sua musselina e sua roupa de cama. Logo, seus braços se deslizaram sobre seus ombros e se enroscaram ao redor de seu pescoço.

— Charlotte — Sua voz era uma advertência crua.

— Talvez estas desculpas que oferece são um intento de evitar ferir meus sentimentos, talvez não me deseja, — Sussurrou ela, seus lábios roçando o músculo tremente em sua mandíbula — Mas eu não tenho tal impedimento, farei o que necessite, tudo o que se deve fazer. Pedir-te-ia que ao menos tente.

Com os dedos curvados em seus quadris, ele gemeu e baixou a testa até seu ombro, respirações pesadas não ajudaram, o suor que brotava sobre sua pele não o esfriava, a dor palpitante em sua virilha não diminuiu.

— Recorda que tratei de fazer o correto, — disse com desespero.

Suas mãos acariciaram sua nuca, seus dedos se enroscaram em seu cabelo, seus lábios se moveram para sua orelha e o fôlego quente fez que seu coração se acelerasse cada vez mais — Benedict Chatham, honrado? — Ela riu, baixo e rouco, como uma sereia cantando, incitando sua luxúria. — Não é de estranhar que esteja tendo tanta dificuldade.


CAPÍTULO 13

“Vamos, então tome o que queira, suspeito que há pouco que possa fazer para o dissuadir”.

A Marquesa viúva de Wallingham a seu companheiro, Humphrey, com respeito a um tentador pedaço que caiu inesperadamente a seus pés.

Charlotte se alegrava de não levar quase nada, porque nunca havia sentido um calor tão febril em um momento, ela estava rindo de algo que ele havia dito, logo que podia recordá-lo, e no seguinte, suas mãos se afundavam em seus quadris, puxando seu corpo contra o seu. O homem era como uma pedra queimada pelo sol, quente, duro e estranho, apertando seus músculos em um grito afogado, colocou seus lábios onde exigiam estar, em sua garganta, acariciando e respirando contra sua pele. Por ela não poder dizer tudo, foi instinto e sensação e reação, seus peitos eram fogo, a dor entre suas coxas era uma coisa viva e evidente.

Sua língua ondulou contra seus lábios, sua respiração ofegante e úmida contra seu ouvido.

— Nua, te necessito nua. Agora.

Ela assentiu e apertou sua cabeça com mais força, apertando os ambiciosos dedos em sedosos fios de sabre e esfregando seu corpo contra o seu, como um gato que se arqueia. Algo puxou seu cabelo, e logo se afrouxou, caindo afresco sobre seus ombros e costas. As mãos duras se apoderaram de sua cintura, empurraram-na, mas ela não queria distância nem sequer uma polegada. Desejava sentir seus mamilos aplanados e pressionados contra ele, desejava sentir esse comprido e misterioso objeto contra sua implacável dor.

— Charlotte, — grunhiu ele contra sua orelha — Vou arrancar-te este vestido se não lhe tira isso.

Ela se apoiou contra ele, gemendo ante o prazer ditoso e insatisfatório, suas mãos deslizaram desde sua cintura até suas costas e seu cabelo, seus dedos se apertaram e forçou sua cabeça para trás. Ela abriu os olhos, os calafrios percorreram sua espinha dorsal enquanto um turquesa ardente a percorria desde seus lábios até sua garganta.

Logo sua boca caiu sobre a dela, apertando os lábios, uma língua doce como o mel invadindo, acariciando e brincando. Ela bebia dele como alguém que nunca tinha tido mais de uma gota. Precisava espiralar , ela empurrou sua língua contra a dele. Sabia que estava fazendo mau, porque seus movimentos eram bruscos e desesperados, nada como seu baile controlado, rítmico e prazenteiro.

Um estrondo dentro de seu peito vibrou através de seus seios, ecoou contra seus lábios. Os dedos dele escovaram sua coluna superior, riscando a borda de seu vestido onde se aferrava a musselina, ele rasgou seu vestido até a cintura, sua mão segurou sua nuca, sustentando-a em seu lugar. Sua boca deixou a dela com um empurrão.

— Chatham, — ofegou. Não sabia o que vinha a seguir mas ele sim, agarrou-lhe os pulsos e lhe tirou os braços do pescoço, empurrando-a a um braço de distância. Em uns segundos, tinha-lhe tirado a camisa sobre a cabeça e a jogou três metros pelo quarto. Então, seus olhos deleitaram-se, o calor se inchou dentro de seu ventre até que teve que acalmá-lo com a palma da mão, pressionando contra seu abdômen.

Ele era a perfeição, um peito que uma vez tinha sido longo e magro, engrossou e endureceu até converter-se em ondas de mármore polvilhados com pelos macios, os ombros, uma vez elegantemente magros, alargaram-se e agora estavam avultados com uma força brutal, as costelas uma vez proeminentes, agora estavam cheias de músculo, que se estendiam por seu ventre.

— Tire a camisola, — disse, seus dedos trabalhando nos botões de suas calças.

Charlotte nunca se embebedou, nunca tinha desfrutado da perda de controle que alguém sentia com a intoxicação, e portanto tinha pouca experiência da sensação. Mas imaginou que este sentimento era similar, não podia deixar de olhá-lo enjoada e quase doente de desejo, estava fascinada com cada gota de suor em sua pele, os pequenos mamilos de cobre, o cheiro enchendo sua cabeça em uma mescla de cítricos, almíscar, hortelã e mel limpo, masculino e delicioso.

— Maldição, mulher, isto vai durar somente cinco segundos se não fizer o que te digo.

Seus olhos se deslizaram até onde os botões se afrouxaram e a braguilha estava... caindo... com o coração palpitando, com a boca seca, esperou o que se revelaria, suas mãos se detiveram enloquecedoramente — Charlotte.

— Desejo ver, — murmurou ela, com medo de piscar.

— Se quer ver, deve tirar a camisola.

Sem pensar, aferrou-se à musselina por cima de sua cabeça e começou a tirar a camisola sobre os ombros, ajudada pela larga abertura que tinha rasgado nas costas. O borda da blusa deslizou sobre seus mamilos e caiu até sua cintura, onde se agrupou e empurrou até que o tecido de damasco se agrupou ao redor de seus pés.

— Agora você, — exigiu ela.

Sentiu que ele estava divertido, mas não queria mover seu olhar de suas mãos e sua braguilha e seu... OH, querido. Talvez tinha desfeito por completo das calças, talvez não, tudo o que ela viu foi seu... Como se chama? O livro de anatomia o tinha denominado pênis, soava bastante débil e inadequado para ela, dado o grande tamanho e grossura e as veias e a cor...

— São todos os homens de similar... magnitude?

— Vá e te deite na cama, Charlotte.

— Se for assim, temo que o Sr. Cheselden tenha cometido um grande engano.

— Quem demônios é o senhor Cheselden?

— O autor de meu livro de anatomia, nenhum dos homens retratados nesses esboços se parecem com...

— Doce Cristo...

— ...você nem um pouco. Ele espera que seus leitores também aceitem um camundongo como um semental? A exatidão é importante, depois de tudo.

— Te deite, Charlotte. Agora.

Ela piscou e logo se encontrou com seu olhar, suas bochechas estavam avermelhadas, seus olhos brilhavam com uma luz claramente depredadora, uma estranha sensação lhe apertou o ventre. Engoliu saliva e assentiu, moveu-se a seu lado da cama e fez o que lhe pedia, os lençóis deslizando-se frios e suaves contra sua pele. Quando olhou para onde ele estava parado a seu lado, viu que passava as mãos pelo rosto, os músculos dos braços, o peito e o ventre apertados, a haste comprida e grossa de sua virilidade que se estendia para cima ao longo de seu ventre, zangado, palpitante de cor vermelha.

Rapidamente, deu-se a volta e se sentou na beira do colchão, curvado, como se lhe doesse, sua respiração ofegante — O farei agora, — disse com voz gutural — O farei o mais agradável possível, mas haverá um pouco de dor a primeira vez.

Ela suspirou — Sei tudo isso.

Suas costas se endireitaram — Você sabe?

— Eduquei-me a fundo de como deveria proceder.

Os ombros tremendo suspeitosamente, ele balançou a cabeça, logo deslizou-se debaixo da colcha, para sua decepção. Gostava de olhar sua nudez. Mas quando ele a atraiu para seus braços, deslizando seu corpo junto ao dela, redescobriu o prazer de seu calor e ficou de lado para pressionar seus seios contra seu peito.

Ele gemeu seu nome, ela beijou o canto de seus lábios e a ponta áspera de sua mandíbula, ele agarrou seus quadris, afastando-a dele.

— Me deixe te agradar, Charlotte apenas deite — se.

— Não desejo deitar, — murmurou contra seu pescoço, suas mãos alcançando seu peito e encontrando cabelo nítido , músculos duros e pele quente — Desejo te tocar simplesmente, em todas partes.

— Não disse que faria o que eu necessitava? — Fez uma pausa.

— Suponho que sim.

— Necessito que se deite.

— Por quê? Esta posição parece estar funcionando bastante bem embora, desejaria que me deixasse tocar você...

— Charlotte, — espetou ele, capturando seus pulsos e rolando em cima dela. — Se continuar pressionando, perderei o pouco controle que fica, e esta noite resultará muito insatisfatoria para ti. É isso o que quer?

A sensação dele pressionando sobre ela, seu peso cuidadosamente controlado e ainda dominando-a, era um prazer em si mesmo, possivelmente tinha tido razão ao deitar-se sobre suas costas — Quero que me beije de novo.

Um sorriso malicioso, o primeiro desde que começou esta noite, curvou seus sensuais lábios — OH, eu pretendo, amor. Mas talvez não onde está antecipando.

Lhe mostrou onde, e tinha razão: ela não tinha ideia de que ele desejaria tal coisa, seus lábios mordiscaram ao longo de seu pescoço até sua clavícula, deixando um rastro de calor úmido enquanto acariciava sua pele com sua língua e chupava partes aqui e lá, enviando os calafrios mais encantadores através de seu couro cabeludo e até os dedos dos pés. Mas então, chegou a seu verdadeiro destino, capturando um mamilo dentro do interior escaldado de sua boca, ela ofegou e se arqueou, o fogo era muito intenso. Mas ele se negou a soltá-la, agora acariciando e girando com sua língua, sugando até que ela pensou que não podia suportar outra passada, agora mordiscando delicadamente com seus dentes, foi este último o que a fez arquear-se e gritar.

— Shh, amor, — disse com voz áspera, acariciando seu peito com o queixo — Estes mamilos estão belamente macios, requerem muita atenção, não está de acordo?

— É muito, Chatham.

— OH, acredito que ainda não é o suficiente. — Com isso, prestou uma atenção similar a seu outro seio, causando a tensão em espiral aumentasse e doesse e se torcesse na parte inferior de seu ventre e entre suas coxas.

Lhe arranhou os ombros e se retorceu sob sua boca — Por favor. Por favor, marido. Não posso...

Ele se moveu, seus músculos se agitaram sob suas mãos quando agarrou um de seus joelhos e lhe separou as pernas para que pudesse acomodar-se entre elas. Enquanto se apoiava sobre ela, tirou- lhe o cabelo do rosto , beijou-lhe os lábios e deslizou a língua dentro, então uma de suas mãos desapareceu e se enganchou debaixo de um de seus joelhos, levantando sua coxa junto a seu quadril.

Sentiu a longitude de sua virilidade, quente, sólida e palpitante, assentar-se ao longo da costura de seu núcleo, se esfregou contra os nervos que se incharam expostos, e ela se sacudiu ante as selvagens e voláteis sensações.

Alguém estava ofegando e gemendo, provavelmente ela, mas estava fundida e maleável, controlada por sua mão debaixo de seu joelho, e logo a mercê de seus dedos explorando suas dobras líquidas apertando contra a invasão de um dedo, ela grunhiu.

Ele rompeu o beijo para sussurrar ordens em seu ouvido.

— Me deixe te tocar, Charlotte é tão sensível aqui, vê? — O que sentiu foi um segundo dedo afundando-se em seu canal, estirando e agradando seu canal empapado e apertado — Inferno sangrento.

— Faça algo, Chatham — Seus quadris se retorceram contra sua mão — Eu estou morrendo, isto é uma tortura.

Seus dedos se deslizaram dela, deixando-a terrivelmente vazia. Mas, antes de que ela pudesse protestar pela retirada, foram substituídos pela ponta quente do que obviamente era sua virilidade, sua mão uma vez mais agarrou seu joelho e a empurrou para cima até que sua perna estava apoiada contra suas costas — Envolve suas pernas a meu redor.

Colocando sua outra perna em seu lugar antes de que ele terminasse a ordem, ela o sentiu penetrá-la lentamente, estirando-a ao princípio de forma prazerosa, logo dolorosamente. Seu fôlego se deteve quando o ardor cresceu e ele pressionou mais e mais dentro.

— Chatham?

— Sim. Só um pouco mais. Bem, não um pouco. Mas mais, sem dúvida.

Mais mesmo. Mais e mais em um dispositivo aparentemente interminável. Retirando uma polegada e penetrando mais duas. Ela estremeceu. A dor era aguda, mas não insuportável. Entretanto, tinha diminuído consideravelmente seu calor. Uma vez que estava completamente dentro, detendo-se e ofegando, ela apertou experimentalmente.

O que provocou um gemido agonizante e profundo do homem que atualmente se encontrava sobre ela e dentro, gostou bastante do som assim que o fez de novo.

Ela retorceu seus quadris e apertou suas pernas ao redor de suas costas.

— Está tentando me matar.

Ela enroscou os dedos através de seu cabelo e beijou seus lábios.

— Acredito que eu gosto de te ter dentro de mim, — confessou em um sussurro.

Um momento de agonia se mostrou em seus olhos antes de que algo mudasse , seu peito se agitou, e seus quadris empurraram forte e profundo a pressão resultante contra seu útero e o estiramento ardente em sua abertura a fizeram dar-se conta de que não tinha estado completamente incorporado. Mas ele estava agora tão profundo, era tanto uma nova dor como um novo prazer.

Exceto que estava se retirando de novo e empurrando de novo e fora de novo, e dentro outra vez mais forte e, OH, isso foi bastante... OH, adorável ... OH, sim.

A forma em que seus mamilos roçavam seu peito, a forma em que sua virilidade pressionava e arrastava contra ela em cada golpe, a tensão em seus músculos e o suor e o calor. OH, o calor estava de volta e foi detonante, e as espirais de antes estavam se acumulando , e as faíscas ao longo de sua espinha se encontraram com o fogo em seus peitos e tudo isso foi...

Agonizante, brotando em uma larga cascata sobre um precipício por sua própria vontade, seu corpo apertou, agarrou e gritou seu nome. Chatham.

Tanto prazer, que ela não podia contê-lo, ondulando ao longo de todos seus nervos, brilhando intensamente detrás de suas pálpebras. E ele ainda estava empurrando, com os olhos fixos em seu rosto, uma mão agarrando seu quadril, a outra delicadamente tocando seus cabelos. Lendo a verdade nos olhos dilatados. Respirando fundo, ele cerrou os dentes e se afastou, tomando distância, sua mão automaticamente subiu para apoiar na borda da cama. Ele tentou se concentrar em algo mais do que seu corpo longo e delicioso. Seus olhos caíram em sua cama ridícula, maciça e aconchegante, que lhe havia adornado com novos lençóis e cortinas; no entanto, ela não havia comprado uma segunda cama para que eles pudessem dormir separados. Até aquele momento, ele se acostumara a dormir ao seu lado e não se incomodava em perguntar, supondo que seu motivo fosse a escassez de fundos. Agora, no entanto, o desejo que ele tinha visto em seus olhos o fez fazer a pergunta.

— Por que você ainda não comprou outra cama ?

— Nós não podemos comprar uma.

— Bobagem, você comprou móveis para muitos quartos nesta casa. Mas não há camas novas, por quê?

Ela respirou fundo e cruzou os braços sobre a cintura. — Eu gosto de dormir com você. — Sua declaração contundente o atingiu simultaneamente no coração e na virilha, mas ela não havia acabado. — Anteriormente, eu nunca tinha dormido ao lado de mais ninguém, e você é muito quente. — Sua mão acariciando gentilmente seus cabelos, o contraste da ferocidade e ternura roubou sua respiração tão seguramente quanto o prazer. Sua sobrancelha franziu em agonia e, em seu próximo impulso, ele se retirou completamente, deslizando para fora dela e tendo seu próprio prazer contra sua barriga com um gemido duro e ofegante e um tremor poderoso, sua semente pulverizada quente e úmida em sua pele.

Grandes respirações pesadas abalaram os dois enquanto acariciava os fios frios de seus cabelos e saboreava seu peso sobre ela, seus lábios mordiscando seu pescoço.

— À próxima vez ser a melhor, amor. Eu prometo.

— Melhor? Marido, se isso melhorar, não vou durar uma semana.

Então ele desabou completamente sobre ela, provocando um “oof ” antes de começar a tremer. Risos mais risos rico e barítono escalaram e explodiram nele. Ela bateu levemente no ombro dele. E logo se juntou a ele.


CAPÍTULO 14

“Estou a favor de visitas de curta duração e convidados de engenho abundante. Se não poder ter o último, o primeiro é duplamente importante”.

A Marquesa viúva de Wallingham para seu companheiro, Humphrey, enquanto formulava a lista de convidados para uma festa de verão.

Depois de limitar-se a só três sessões de fazer amor com Charlotte, Chatham tinha despertado pela manhã, sentindo-se marginalmente satisfeito e surpreendentemente refrescado, considerando que tinha dormido somente quatro horas durante a noite. Ele gentilmente levantou a perna que tinha enredada ao redor de sua pantorrilha e a palma da mão de onde cobria seu olho direito, depositando um beijo em seu pulso interno, antes de levantar-se da cama para olhar sua forma nua.

Tinha sardas ao longo de seus braços e ombros e desde seus peitos até seu pescoço e rosto. Mas o resto de seu corpo, incluídas essas pernas infinitas, era suave e cremosa. Adorou as manchas de canela. Amava sua cabeleira ardente.

Amava seu pelo acobreado entre suas coxas e os doces mamilos de morango. Amava seus olhos, que se acenderam com uma chama dourada e lhe queimou a esmeralda quando despertou. Como se suavizaram e adoraram depois de que lhe trouxe prazer.

Amava seu cheiro sobre ele, fresco, doce e sensual. Não queria lavá-lo.

Tampouco queria deixá-la. Queria virá-la sobre seu ventre e enterrar-se novamente dentro. Mas não pôde. Ela certamente estava dolorida.

Além disso, a obsessão era um luxo. Em questão de meses, deixá-lo-ia. Devia recordar isso por cima de tudo.

Assim, em lugar de reunir-se a ela dentro de seu ninho quente e dourado, vestiu-se e encheu o frasco de Charlotte com chá frio, guardou a coisa no bolso e se dirigiu ao canto sudeste.

Enquanto colocava a pedra final em seu lugar na parede, sentiu a queimadura do sol da tarde sobre seu pescoço, a coceira do suor entre sua pele e sua camisa. Entretanto, nada apartou seus pensamentos dela.

Perguntou-se como se sentiria, se saberia que banhar-se com água morna ajudaria a aliviar o mal-estar mais rapidamente.

Perguntou-se se seus olhos brilhariam de orgulho e alegria quando lhe dissesse que tinha terminado a parede.

Perguntou-se como se esperava que um homem se contivesse quando ela era tudo no que podia pensar.

— Quase terminou, já vejo. — Peter chamou desde seu campo de nabo. — Bom trabalho para um nobre.

Chatham sorriu e saudou. — Somente fica uma parte para reparar a porta com o passar da sebe, e estaremos bem preparados para a colheita.

Peter se aproximou mais para apoiar-se na parede enquanto Chatham sacudiu a terra das pedras e voltava a colocar uma para um melhor suporte. — Brindamos? — Perguntou o granjeiro?

Com um sorriso mais amplo, Chatham assentiu e tirou o frasco de Charlotte do bolso de seu casaco, que estava sobre a sebe adjacente. Levantou o recipiente de metal para Peter e tomou um gole refrescante.

— Seu espírito parece ter melhorado, se posso dizer. Teve uma boa noite, então?

Chatham voltou a fechar o frasco e o voltou a meter em sua casaco. Levantando uma sobrancelha a Peter, ele respondeu:

— O sol está brilhando e uma parede está completa. Não é isso suficiente?

Peter lançou uma gargalhada e logo levantou seu próprio frasco à Chatham. — Nae. Mas isso também responde a minha pergunta.

Rindo, Chatham negou com a cabeça. Examinou a parede para assegurar-se de que nenhuma das pedras se soltou ou se assentou torpemente.

— Vi alguns dos convidados da marquesa sairem para umas pastagens ocidentais esta manhã. Um gigante era certo. Não sabia que a nobreza chegasse nesse tamanho.

De repente, o humor de Chatham se obscureceu. Era Tannenbrook. Tinha que sê-lo.

Peter tinha razão: o conde era inconfundível. E, recordou, Lady Wallingham tinha um carinho bastante inexplicável pelo homem. Por que estava aqui, de repente vindo para “uma visita”?

Tannenbrook e Charlotte eram amigos, ou isso havia sido dito, ela tinha estado preparada para casar-se com ele, entretanto, isso falava de mais. Se o senhor de ossos grandes não tivesse resistido a coação de seu pai, ela poderia pertencer a Tannenbrook neste preciso momento. Dormindo em sua cama. Retorcendo-se sob o corpo monstruoso do gigante. Tendo a seus filhos monstruosos.

Engoliu e apertou os dentes, tratando de deter as visões que surgiram dela com Tannenbrook. Rindo e acariciando a mandíbula do homem com suas mãos sardentas como fez com ele.

Um vento quente procedente da direção do mar esfriou o suor de sua pele, mas não fez nada para aliviar seu ódio irracional por Tannenbrook. Encontrou-se com o homem um punhado de vezes e o tinha encontrado passível.

Sólido, inteligente, leal. Mas agora, odiava-o. As características toscas. A altura gigantesca, que provavelmente atraía Charlotte, já que ela se sentiria mediana em comparação.

— Disse algo errado, sim?

Chatham lutou com seu temperamento desacostumado, perguntando-se pela perda de controle. — Esta festa na casa de Lady Wallingham, há alguma indicação de quanto tempo pretende que continue?

— Não escutei. As reuniões da senhoria do conde tendem a durar até que se cansa deles. Três semanas no máximo, apostaria.

Queria ver Charlotte. Precisava falar com ela e lhe perguntar se sabia que Tannenbrook estava sozinho a um vizinho de distância. Se planejava vê-lo.

Ou talvez simplesmente a levaria a sua cama e a manteria completamente ocupada durante as três semanas em que Tannenbrook estaria perto. Essa parecia a melhor ideia que tinha tido em todo o dia.

Tirou o casaco da sebe, despediu-se de Peter e se dirigiu a Chatwick Hall, onde o esperava sua esposa. Sua esposa. Gostou do som disso.

~~~

— Aqui temos a escada — assinalou Charlotte o óbvio. — Foi completamente reconstruída. Tinha pensado em preservar grande parte do original. Infelizmente, entre a podridão e o dano, a maior parte era insalvavel — Ela limpou a garganta e entrelaçou os dedos. — A madeira é nova. Nogueira.

De pé junto a ela, uma presença silenciosa e corpulenta com suas enormes mãos cruzadas atrás de suas costas, Lorde Tannenbrook assentiu educadamente, como tinha feito durante a última hora durante sua excursão por Chatwick Hall. — Excelente artesanato.

— O cavalheiro que fez o corrimão foi carpinteiro por mais de quarenta anos. Negociamos um acordo... muito agradável.

Os lábios de Tannenbrook se curvaram. — Agradável, sim?

— Desculpa. Estou distraída.

— Quando descreveu a sala de jantar como o lugar onde a gente come, confesso que me ocorreu tal conclusão.

Suspirou e se voltou para seu amigo, que tinha chegado para visitar o castelo de Grimsgate. — James, supõe... quero dizer, acredita que é possível, possivelmente inclusive recomendável, reavaliar os objetivos anteriores?

Sua sobrancelha grossa se enrugou.

— Só quero dizer que possivelmente o que alguém supõe que quer em uma etapa determinada de sua vida já não é relevante, em um certo intervalo e depois de certos eventos. Ou possivelmente, é preferível outro resultado, embora um...

— Charlotte. Estiveste falando com Vi-...er, senhorita Darling?

Ela piscou

— Recentemente?

Ele levantou uma sobrancelha.

— Sim, é obvio que te referia recentemente. Não, porque pergunta?

Seu grande peito deixou escapar um suspiro como se estivesse tratando de reunir paciência. A diferença de Tannenbrook, em sua opinião. Acima de tudo, o homem era paciente. — Ela é aficionada a este tema —. A resposta murmurada estava surpreendentemente ressentida.

— OH. Bom, simplesmente estava expondo uma pergunta retórica. — agitou uma mão com desdém. — Não importa.

Ficaram em silêncio durante vários minutos, admirando a escada.

Tannenbrook suspirou de novo e logo esfregou a mandíbula com uma mão grande.

— Se as circunstâncias se alteraram de tal maneira que um objetivo já não serve para um propósito lógico, então sim, os planos podem trocar. Entretanto, deve estar bastante segura de seu raciocínio e não te deixe levar por tentações fugazes.

Lançando um suspiro para igualar o seu, Charlotte respondeu: — Meus pensamentos precisamente. Por que alguém deve permanecer em dívida com um sonho que já não serve?

— Isso não é precisamente...

— E, entretanto, o que trocou realmente? E é a mudança permanente, ou simplesmente uma fantasia passageira? E quem pode adivinhar se os sentimentos de um homem estão comprometidos, quando se nega a permanecer na mesma habitação contigo, além de levantar você ao pier...?

— Charlotte..., possivelmente possa me mostrar os novos estábulos. Ou o jardim.

Ela parou frente a ele, estirando o pescoço de uma maneira que era estranha para ela, para ver suas feições contundentes e escarpados. — Poderíamos ter sido nós, já sabe. Você e eu.

Olhos verdes suavizados e enrugados. — Eu ter-te-ia enlouquecido em questão de semanas —. Sorrindo.

Ela perguntou:

— Por que acredita nisso?

— Valoriza a conversa.

Ela riu.

— Meu pai fez parecer como se tivesse preferido a morte a te casar comigo.

Seu rosto se endureceu como pedra. — Eu não gostei do que seu pai queria para ti e o disse. Forçosamente.

Lhe deu uma tapinha no braço. — Bom, felizmente, não foi tão mau como tinha temido, por isso não deve preocupar-se. — Essa falta flagrante, quase a fez ruborizar, por isso rapidamente trocou de tema. — Vem, me deixe te mostrar o jardim. Então podera ver a nova fonte. Deve ser colocada sobre uma nascente com tubulações para a cozinha. Chatham projetou ele mesmo. Ele é realmente muito inteligente.

— Está te tratando bem, então?

Ela considerou suas feições de granito, o nariz romano e a mandíbula quadrada, o olhar sério e o cenho perene.

— Sim. Convertemo-nos em amigos, depois de nos conhecer melhor.

Parecia cético, mas não persistiu, simplesmente assentiu. — Bom.

Quando entraram no jardim, o sol brilhante fez que seus olhos picassem. Tinha esquecido seu chapéu de novo. Honestamente, cada vez que Chatham entrava em sua mente, todo o resto voava fora como se houvesse lugar somente para ele dentro de seus pensamentos.

Tannenbrook limpou a garganta. — Então, ainda não falaste com a senhorita Darling.

Notou que uma erva daninha brotava em sua plantação de hortelã e se agachou para arrancá-la. — Não. Recebi sua carta depois que ela chegou ao Grimsgate, e antecipação que me visitará logo.

— Talvez possa convencê-la de sua loucura.

De pé e atirando a erva ao caminho, colocou as mãos nos quadris e protegeu os olhos para vê-lo melhor. Sua expressão era estranhamente atormentada.

— Que loucura, James?

— Ela está decidida a me perseguir. É ridículo.

Suas sobrancelhas se arquearam em surpresa, não porque Viola estivesse perseguindo James, mas sim, lhe estava afetando suficiente para lhe pedir ajuda.

— Não sei se ” ridículo ” é a palavra que escolheria...

— Totalmente apropriada. Ela é a metade de minha tamanho. Poderia rompê-la com uma mão. Além disso, ela é uma criatura da temporada. Quando sua mente de plumas não se enfoca singularmente nas frivolidades, centra-se em mim. É incompreensível.

À medida que sua diversão crescia, Charlotte reprimiu um sorriso.

— Por que simplesmente não a ignora? Certamente...

Com um cenho franzido, James grunhiu: — A gente não ignora Viola Darling —. Ela sorriu.

— Sim, ela é bastante atraente, estou de acordo. Extraordinária, de verdade.

— Isso não é o que eu...

— Meu querido primo, Andrew, consumiu-se positivamente com amor por ela. Falou de pouco mais durante a temporada. — Com os olhos bem abertos, a voz baixa, ela apertou as mãos e imitou o falatório do Andrew. — A senhorita Darling é uma joia deliciosa —, disse. — Senhorita Darling é um tesouro mais glorioso que a coroa da rainha. A senhorita Darling é mais formosa que o amanhecer mais impressionante da Inglaterra. Segue e segue com suas rapsódias —. Ela revirou os olhos. — Honestamente, considerei encher meus ouvidos de lã em numerosas ocasiões.

James se calou, olhando-a fixamente.

— E ele não era o único com tal amor. Atrever-me-ia a dizer que a totalidade do Beau Pode se dedicou a escrever poesia em sua honra —. Ela enrugou o nariz. — Isso é muita podridão. Sabem muito pouco dela e, entretanto, os cavalheiros a rodeiam como abelhas sobre um pote de mel, ansiosos por um sorvo de seu néctar.

Seu rosto se nublou e se enrugou, tornando-se ensurdecedor. Afastou o olhar, com a mandíbula de granito.

Claramente, não gostava do que estava dizendo. Mas tinha algo que fazer, e ele o escutaria. Viola também era sua amiga. — Não sabem nada de sua amabilidade ou sua determinação, sua generosidade ou seu senso de humor. Não lhes importa. Ela poderia ser a melhor harpia, e só veriam sua beleza. Nunca seu coração ou sua mente, ambos dos quais são bastante encantadores por direito próprio, por certo.

— Por que te incomoda em me dizer o que já sei?

Lentamente, aproximou-se dele, notando como seus ombros gigantescos se esticavam, como suas mãos se curvavam em punhos. Era um dos poucos homens que tinha conhecido que a faziam sentir normal. — Porque não estou segura de que o faça.

— A forma em que os homens a olham não é um mistério. Como se apropriam, ficam boquiabertos e... — Sua mandíbula se apertou, os músculos se flexionaram visivelmente. — Ela é um espetáculo.

— Ela é muito mais que isso, James, não o vê? Seu engano é o mesmo que todos esses outros cavalheiros. Está confundindo o envoltório com o presente.

A tortura voltou para seus olhos. — Não pertenço a seu mundo, e ela não pertence ao meu. Ela é simplesmente muito mimada e obstinada para reconhecê-lo.

Charlotte suspirou, reconhecendo em sua expressão de lábios apertados a própria teimosia da qual ele reclamou.

— Vou falar com ela —, admitiu. — Mas devo te dizer que é improvável que escute. Uma vez que Viola põe seu coração em algo, ou em alguém, nem a morte, nem Lady Wallingham podem dissuadi-la.

A porta da cozinha se abriu e Esther limpou a garganta. — Tem outro convidado.

— Obrigado, Esther. Talvez possa mostrar ao convidado o salão.

— Não sou seu mordomo.

— Sim, dou-me conta disso.

— Ela me seguiu. Se quiser que esteja na sala de estar, leva-a você mesma.

Charlotte piscou. — Ela?

A criada grunhiu e partiu. Em seu lugar apareceu Viola Darling, pequena e resplandecente com um vestido azul claro e uma jaqueta de ponto, com um gorro adornado de rosas vermelhas que cobria seu cabelo negro.

— Charlotte! — Gritou Viola, deslizando-se para frente com suas mãos estendidas para agarrar as de Charlotte.

Charlotte sorriu com impotência e abraçou à diminuta jovem. Viola era como um brilhante candelabro em uma habitação escura: resplandecia, brilhava e te atraía com sua implacável alegria. — Que adorável surpresa.

Deu a Charlotte um sorriso radiante, seus vívidos olhos azuis dançavam.

— Depois de tudo o que descreveu em suas cartas, soube que devia ver as maravilhosas mudanças que trabalhou em seu novo lar. É esplêndido, Charlotte. Simplesmente esplêndido.

— Estava a ponto de mostrar a Lorde Tannenbrook a nova fonte...

Longos e negros cílios curvados emolduravam dramaticamente os olhos arredondados enquanto Viola fingia assombro. — Lorde Tannenbrook? — Olhou por cima do ombro de Charlotte ao grande lorde que estava a três metros de distância. — OH! Não lhe notei ali, meu lorde.

— É obvio que não —, murmurou. — Tampouco me seguiu. Tampouco é o melhor espinho em meu flanco. — Visivelmente zangado, Tannenbrook se deteve enquanto passava junto a elas para olhar à encantadora cara de Viola. — Talvez o seguinte que não deva fazer é me conceder cinco minutos de maldita paz.

Ela piscou, o movimento lento e exagerado. Possivelmente devido ao comprimento dos cílios. — Concedi-te uma hora. Bastante generoso, em minha opinião.

Sua mandíbula se apertou, mas sua única resposta foi dirigir-se a Charlotte. — Lady Rutherford, suas renovações são grandiosas. Meu agradecimento pela excursão. Temo que agora devo me despedir. Bom dia. — Ele assentiu educadamente, e ignorando a Viola, saiu do jardim pela porta, para os estábulos onde esperava seu cavalo.

Enquanto Viola via desaparecer suas amplas costas dentro da estrutura de tijolo, Charlotte observou o rosto de sua amiga. Por um momento, o desejo e a vulnerabilidade ficaram descobertos, seus perfeitos lábios curvados tremiam, sua perfeita e cremosa garganta ondeava ao engolir duramente.

Charlotte pôs uma mão tranquilizadora em seu ombro. — Lamento que ele não veja seu valor como eu, Viola. Tentei-o. Possivelmente se lhe dá um pouco de espaço para respirar...

Os olhos de Viola se fecharam por meio segundo antes de que sua expressão se esclarecesse. Então sorriu, brilhante e falsa.

— Bobagem. Ele cairá. É simplesmente resistente a deixar seu eterno celibato. Não me rendo tão facilmente. — Lhe piscou os olhos e agitou as mãos com desdém. — Chega disso. Você deve me contar tudo, querida Charlotte.

— Er... bom, poderíamos começar com o vestíbulo de entrada, suponho. Foi um desastre total quando cheguei...

— Não sobre a casa, tola. Rutherford.

— Ch-Chatham? — Ela sentiu que o vermelho se elevava como um formigamento de calor a suas bochechas. — Ele está bem.

Viola saltou sobre seus dedos dos pés, uma dança de impaciência, e golpeou ligeiramente o braço de Charlotte. — Casou-te com um dos homens mais escandalosos e deliciosos da Inglaterra, e isso é tudo o que tem que dizer? Ele está bem?

— Muito bem?

Lábios perfeitos franzidos e olhos incrivelmente azuis entrecerrados. — Está evitando o tema. É do mais intrigante.

— Não estou evitando-o. Precisamente.

Viola entrelaçou alegremente seu braço com o de Charlotte e a puxou em direção à cozinha. — Vem então. Me mostre suas grandes renovações, e falemos de homens deliciosos que estão bastante bem.

Quando entraram juntas no salão carmesim, Viola ofegou e soltou o cotovelo de Charlotte para girar e dar voltas pela habitação em um elegante baile de fadas. — É maravilhoso, Charlotte. A cor!

Encantada pela resposta, o entusiasmo de Viola era uma grande melhora com respeito ao grunhido neutro do Tannenbrook, Charlotte sorriu e passou uma mão amorosa pelo restaurado muro de seda carmesim adornado com um patrão de concha. — Encantador, não é assim? É meu quarto favorito. Exceto, talvez, o hall de entrada. A escada, já sabe. E a sala de jantar. Que molduras tão intrincadas. — Continuou acariciando a seda com as gemas dos dedos sensíveis. — E o dormitório principal, é obvio —, murmurou ela. — Possivelmente esse é meu favorito, agora que o penso.

A risada tilintante de Viola entremeteu nos pensamentos de Charlotte.

— Simplesmente deve me falar de Rutherford, querida. Expirarei pela curiosidade se não o fizer.

Charlotte apartou a mão da seda e a colocou detrás das costas. — O que quer saber?

— Por que suas bochechas atualmente coincidem com estas paredes, para começar.

— Estive ao sol sem chapéu, minha pele é muito sensível ao sol.

— Charlotte —. As delicadas mãos se acomodaram no respaldo de um sofá da primavera. — Me fale dele.

“Ele é mais delicioso do que pode imaginar. O melhor amigo que alguém teria esperado. É sensual e formoso, em ocasiões é tão amável que te deixa sem palavras. Deito a seu lado na noite, saboreio sua voz e a devastadora peculiaridade de seus lábios. Quero-o até que não possa suportar a dor.”

Ela não podia dizer nada disto, porque não deveria senti-lo. — Chatham é... não tão magro ou pálido como antes. Pode que te surpreenda pela sua aparência. Dedicou-se à agricultura em uma das mais assombrosas...

— A agricultura? — Uma vez mais, o som de sua risada. Então, Viola dançou através da habitação para pegar as mãos de Charlotte. — Querida, quero saber, beijou-te?

— OH.

— Bem?

— Er... sim.

— E foi maravilhoso?

Charlotte engoliu saliva. — Sim.

Os olhos azuis de Viola brilharam, e ela estreitou as mãos de Charlotte exigentemente. — Vamos agora, me conte — Sua língua foi uma surpresa.

Seus olhos se arredondaram como pensamentos. — Língua? Como em...

— Viola, não me sinto cômoda com isto.

— Muito bem. Foi agradável ?

Recordando a primeira vez que a tinha beijado, parada no caminho entre o jardim e os estábulos, recordando cada momento lhe impactaram , só pôde suspirar.

— Oooh, essa é toda a resposta que necessito, querida. — Ela apertou suas mãos. — Tem a expressão mais formosa em seu rosto.

Charlotte apertou os lábios e olhou para baixo, onde uns dedos de cor branca leitosa se uniram a uns cheios de sardas. — Não deveria... ele é...

— Pode falar livremente. Contei-te tudo sobre minha caça ao Tannenbrook. Bom, quase tudo. Quão segredos temos entre nós seguirão sendo-o, por minha honra.

— Ele é quase irresistível —, sussurrou ela. — Literalmente. Não posso resistir a ele. — Uma vez que começou, a confissão derramou como vinho de uma garrafa aberta.

— Acreditei-me imune. Ao princípio eu não gostava. Em Londres, foi um escândalo. Cínico e malvado. Aqui, no imóvel, trocou mais que seus ombros ou seus braços, embora essas são... não importa. O ponto é que somos amigos, Viola. Reais, verdadeiros amigos. Desespero-me se passo muito tempo sem vê-lo e falar com ele, rir com ele, ou simplesmente escutá-lo respirar. — De repente, as lágrimas brotaram de seus olhos. Negou com a cabeça e tratou de as afastar. — Eu... acredito que talvez... o amo.

A resposta de Viola foi chiar e lançar seus braços a seu redor.

Sentiu-se um pouco como abraçar a uma boneca para lhe devolver o abraço, mas sorveu e aplaudiu os ombros de Viola. — Não deveria haver me permitido desenvolver tais sentimentos por ele.

Viola se separou do braço e franziu o cenho.

— Por que não? Merece-te amor e felicidade.

— Vou. No próximo ano.

— Tolices. Não pode ir agora. É Lady Rutherford, loucamente apaixonada por Lorde Rutherford.

— Sonhei vivendo nos Estados Unidos desde que tinha treze anos. Você sabe.

Viola encolheu de ombros. — Os sonhos trocam.

— Mas isto é para o que trabalhei. Tudo o que tenho feito, todas as humilhações que suportei, cumprindo com as demandas de meu pai e guardando todas as moedas que pude obter do Sr. Pegg e seus semelhantes, tudo estava destinado aos Estados Unidos. Se for renunciar a isso, então, o que fica? Onde pertenço?

— Aqui! Em Chatwick Hall. Com seu marido.

— Nunca quis ser uma esposa.

— Mas agora é uma. — Viola negou com a cabeça. — Charlotte, deve decidir o que quer e persegui-lo. Possivelmente antes era a América. Agora, é Rutherford.

— Não me encaixo aqui na Inglaterra. Nunca o fiz. Nós... não somos convenientes, este lugar e eu.

— Como pode dizer isso? Sua mãe era inglesa. Viveste aqui a maior parte de sua vida. Inclusive fala como uma inglesa. Meu Deus, Charlotte, a chuva da Inglaterra corre por suas veias.

Charlotte negou com a cabeça. Não era certo. Se a Inglaterra não era o problema, então isso só a deixava como a peça mau encaixada do quebra-cabeças. E isso era tudo muito cruel.

As brincadeiras dos jovens e debutantes verdadeiras, ela era muito alta, muito contundente, também incômoda e torpe, pouco atraente. Simplesmente incorreta. A larguirucha Lancaster. A filha meio americana que simplesmente não encaixava... em nenhuma parte.

Viola leu algo de seus pensamentos em seu rosto e se apressou a tranquiliza-la. Se os Estados Unidos for honestamente o que quer, então deve te esforçar por obtê-lo. Mas, querida Charlotte, deve acreditar que se encaixa aqui na Inglaterra.

— Não vejo como.

Seus lábios se franziram. — Você tem amigos de todos os cantos, e o primeiro e mais importante, sou eu. — Ela revirou os olhos. — Obviamente. E Tannenbrook, é obvio. E seus primos. E minha prima Penélope. E Sarah Lacey. E a duquesa de Blackmore. E...

Charlotte levantou uma mão. — Muito bem, tenho amigos. O que significa isso?

— Não tinha terminado. Também aconselhou a metade dos comerciantes em Bond Street. A Sra. Bowman me disse durante a temporada que sua sugestão sobre um acordo entre ela e o moleiro a três portas de distância foi uma bênção absoluta.

— Mmm —, ela assentiu, franzindo o cenho. — Um aumento de dezoito por cento em vendas durante o primeiro mês. Ambas as lojas se beneficiaram, na realidade.

Viola agitou as mãos com as palmas para cima como se fosse um presente. — Vê?

— Receio que não.

— Você pertence. Não porque tenha nascido para isso, mas sim porque tem feito seu lugar aqui. — Viola se girou e abriu os braços. — Como esta casa. Tomou algo desastroso e o reivindicou, reformou e o restaurou até que lhe convenha perfeitamente. É seu agora. E, se o que disse sobre Rutherford é certo, parece que possivelmente tenha feito o mesmo com ele.

Charlotte jogou uma olhada ao redor da habitação carmesim, viu a lareira que tinha limpo, os móveis que tinha comprado, a seda adornada com conchas que tinha decidido restaurar. Viola tinha razão. A casa era dela. Sentia-se como dela.

Mas sobre Chatham, ela estava equivocada. Uma casa aceitava a quem quer que habitasse seus muros. Inclusive os verdes caminhos e as ondulantes ruas e as pradarias empapadas de chuva da Inglaterra não tinham nada que dizer sobre os pés que vagavam por suas terras.

Um homem tinha um coração, uma mente e um corpo, nenhum dos quais tinha feito declarações de afeto. Qualquer dos quais poderia rechaçá-la. Tinha mostrado amabilidade, inclusive afinidade, em ocasiões. Nos últimos tempos, entretanto, suas necessidades físicas insatisfeitas tinham diminuído sua relação e tinha evitado em grande medida sua companhia. Além disso, enquanto ele tinha tomado seu prazer com ela a noite anterior, tinha enfatizado seu desejo de evitar a concepção de um menino. Para que incomodar-se se ele não desejava que ficasse? E logo se foi antes de que ela despertasse. A decepção tinha sido esmagadora.

Onde a deixava isso? Amar a um homem que não te devolve seu afeto, aí é onde.

Renunciar a um sonho sensível e duradouro para perseguir o que, no melhor dos casos, é uma incerteza.

— Ao menos posso estar segura de que nos Estados Unidos me aceitará quando estender a mão para abraçá-la.

Charlotte não tinha a intenção de sussurrar o pensamento em voz alta.

— OH, Charlotte.

As lágrimas brotaram de novo, mas tinha tido suficiente por um dia. Fez um gesto com a mão a Viola. — Falemos de outros assuntos. Por favor.

Com os olhos azuis brilhando com lágrimas de simpatia, Viola assentiu, sorveu, sorriu e disse em seu tom mais alegre: — Ouviste que Lady Wallingham tem a intenção de organizar um baile de máscaras? Deve comparecer, querida Charlotte, simplesmente deve fazê-lo.


CAPÍTULO 15

“Em Northumberland querida, nunca deve perguntar se o clima seguirá sendo tediosamente aborrecido. No momento em que formulou a pergunta, chega uma tormenta em forma de visita, despertando o interesse de alguém.”

A marquesa viúva de Wallingham à senhorita Viola Darling, sobre os planos para uma saída amistosa em um bom dia de verão.

— Tannenbrook esteve aqui —. Chatham não sabia por que se incomodava em repetir as palavras de Booth, exceto que necessitava um momento para conter seu caráter sempre enegrecido que parecia ter criado raízes.

— Sim, meu lorde. Passou uma hora mais ou menos. — Booth afastou a forquilha e esfregou o nariz de Franklin, onde o cavalo espiava sobre a porta de sua baia.

— E quanto tempo durou sua visita, você diria?

Booth o olhou com receio. — Duas horas no máximo. Er... Milady lhe mostrou as reparações de...

Sem esperar o resto, Chatham girou sobre seus calcanhares e saiu dos estábulos para a casa, cruzando o pátio do estábulo e rodeando esta ala a um ritmo rápido.

Era um homem racional. Era-o. Mas agora mesmo, o interior de seu peito ardia como se tivesse tragado fogo. Sangue bombeado em seus ouvidos, mais forte que o assobio do vento e o ruído surdo de suas botas.

Tinha tido duas malditas horas a sós em sua casa, com seu amigo Tannenbrook.

Não há razão para suspeitar de nada, aconselhou a si mesmo racionalmente quando entrou neste pátio. O maldito gigante não é conhecido por suas entrevistas nem por seu encanto. Provavelmente, Charlotte o aborreceu demais com suas histórias sobre a importância das lareiras e o uso de vinagre como solvente de limpeza. Ou apenas teria se sentido entusiasmado e a teria levado contra uma parede.

Os avisos resultaram inúteis. Porque Charlotte poderia despertar a paixão de Chatham falando da necessidade de desfazer-se dos estábulos. Ou a falta de tubos adequado na pia. Ou qualquer maldita coisa.

As suaves notas de sua voz eram como a melhor luz da lua deslizando por suas veias. A faísca dourada em seus olhos inspirava fantasias de vê-los arder. O brilho da chama pura brilhava no meio do acobreado e carmesim de seu cabelo, deslumbrando sua visão. Tudo nela o fazia deseja-la.

E neste momento, estava tendo uma dificuldade excessiva para acreditar que outros homens não podiam vê-lo. Que não sentiriam a mesma agonia do desejo.

Quando entrou no corredor escuro que conduzia da sala de jantar até o vestíbulo, passou junto a Esther.

— Onde está ela? — Ladrou. Mau reconheceu sua própria voz. Não sabia como recuperar seu controle. A necessidade de vê-la, de escutar suas respostas sobre Tannenbrook, de beijá-la e acariciá-la, e malditamente, reclamá-la novamente, o fez totalmente irrazoável e sem controle.

As severas sobrancelhas de Esther se elevaram.

— Sala de desenho.

Ele se apressou a passar junto à donzela, notando vagamente seu queixume de rebelião:

— Já não sou sua donzela, sou um mordomo, já sabe.

Em questão de minutos, estava abrindo as portas com painéis do salão, revisando e encontrando-a rapidamente sentada frente a outra mulher nos dois sofás amarelos que tinha comprado na semana passada. Ambas ficaram de pé quando entrou.

Seu coração palpitante se fez mais lento enquanto devorava seu cabelo, suas sardas e seu vestido verde maçã. Ela não se parecia com uma mulher que tinha sido recentemente violada ou seduzida? De fato, pareceu inusualmente contida.

— OH, milorde Rutherford? Está olhando... bem. — O comentário sem fôlego veio da companheira de Charlotte, uma pequena e pálida beleza com cabelo tão negro que brilhava quase à luz. — A gente poderia dizer supremamente bem. O ar do campo obviamente o fez isso muito bem.

Encontrou-se com o amplo e admirado olhar da dama, tempo suficiente para fazer um gesto cortês. Vagamente, recordou seu nome, Viola Darling. O diamante sobre o que muitos lordes jovens tinham perdido seus sentidos coletivos durante a temporada.

Ele não via o atraente, francamente. Estava completamente desprovida de sardas.

Suas feições eram anormalmente simétricos, como uma figura de porcelana. E era muito baixa, suas pernas aproximadamente tão largas como seus braços.

Certamente insuficiente. Seu cabelo era brilhante e bonito encaracolado, supôs, mas era negro. Ele preferia o cabelo que queimava os sentidos de um homem como uma chama líquida.

— Rutherford, lembra da senhorita Darling, verdade? A maioria dos cavalheiros o fazem. — O comentário pontual do Charlotte foi um pouco mais agudo que o habitual, e seus olhos se estreitaram nele.

— É obvio —, murmurou, aproximando-se do par de mulheres desiguais e dando uma pequena reverência cortês. — Senhorita Darling. Um prazer.

— O prazer é meu, Lorde Rutherford, o asseguro —. A senhorita Darling lhe sorriu com um sorriso brilhante, que logo se voltou para Charlotte.

Charlotte não estava olhando sua amiga, entretanto. Estava olhando a Chatham, com um detestável brilho esmeralda. Ele franziu o cenho, desconcertado por sua reação.

Em todo caso, deveria estar zangado com ela depois de passar duas malditas horas com um conde muito grande.

A senhorita Darling limpou a garganta com delicadeza. — Lady Wallingham organizou divertidos entretenimentos musicais para esta noite, assim temo que devo me despedir. Prometi tocar a harpa. Resultará muito caótico, suponho, mas agradável apesar de tudo.

O falatório da jovem senhorita Darling estava desgastando seus nervos. Queria estar a sós com Charlotte. Para escutar sua voz gutural, gemendo seu nome.

Sentir seus suaves e rosados lábios curvados contra os seus.

Na atualidade, seus olhos verdes e dourados o sustentaram constantemente, com uma sobrancelha arqueada como se lhe exigisse algo.

— Bem! —, Disse a senhorita Darling. — Desejo a ambos um bom dia, então. Charlotte, voltamos a nos ver logo, querida.

— Mmm. Bom dia, Viola — respondeu Charlotte com um distraído movimento de seus dedos.

Mas não apartou o olhar de Chatham.

Ouviu que as portas se fechavam detrás dela quando a jovem se foi. — Um dia ocupado com os visitantes, esposa —, disse, inclinando a cabeça.

Seu queixo se levantou. — A senhorita Darling se hospeda no castelo de Grimsgate durante a festa na casa de Lady Wallingham.

— Tannenbrook também, verdade? — Rodeou a pequena mesa de palisandro entre eles, observando sua postura rígida. Era culpa em seus olhos ou algo mais? — Surpreende-me que a senhorita Darling viajasse aqui sem escolta com ele.

Charlotte piscou.

— Ela não veio com ele. Chegou logo depois dele.

— Ah —, assentiu. Embora tomou cuidado de manter sua calma, a escuridão fumegante de sua anterior agitação se apoderou e rasgou suas vísceras. Aproximou-se, seus passos lentos e deliberados.

— Assim que ele estava aqui sozinho. Contigo.

Franzido a sobrancelha , encolheu os ombros. — Suponho.

— E o que fez com ele, sozinha, durante duas horas? — Enquanto se movia a centímetros dela, podia ver sua respiração acelerada, cheirar a doçura de sua pele.

— Fazer? Bom, servi-lhe um pouco de chá e logo lhe mostrei as reparações que temos feito na casa. Interessa-lhe porque realizou renovações similares em sua própria propriedade em Derbyshire. Foi que grande ajuda para oferecer conselhos.

— Conselho.

— Sim.

— Hoje?

— Bem, não. Estivemos nos correspondendo. — Um olhar de crescente alarme se apoderou de sua testa sardenta. — Por que está zangado?

— Eu não estou zangado.

— Sim, você está. Seus olhos brilham com ira. Ficam do tom mais brilhante de uma turquesa...

Ele avançou para ela, e ela se afastou, sua respiração agora ofegando.

— Não entendo. — Levantou a mão e ele seguiu vindo. Aproximou-se até que essa magra palma se encontrou com seu peito. — Chatham, eu deveria ser a que esteja irritada por seu flerte.

— Com quem? — Honestamente não pensava em ninguém mais. Todo seu ser (olhos, pele, coração, ossos) era consumido por ela. Precisava tocá-la. Sua mão cavou um lado de seu pescoço, seu polegar acariciou sua mandíbula e posou sobre seu pulso. Era mais rápido que sua respiração, palpitante e frenética.

— Senhorita Darling, — esclareceu ela. — Você... a estava olhando.

— Estou-te olhando.

— Bom, sim. Agora que ela se foi.

— Sempre. Inclusive quando fecho meus olhos, está queimando em mim. Não vejo nada mais. — Desejou ter o controle do que disse. Mas todos seus anos de aprumo, incômodo, de observação calculada e de engenho cortante, eram nada. Tinham-no despojado de tudo o que alguma vez tinha sido, deixando-o em bruto, exposto e com desejos. Querendo-a como nunca tinha desejado nada. Uísque. O respeito de seu pai. O amor de sua mãe. Nada o comparava. Ele resistiu ao desejo. Arrependeu-se disso.

Quando suas costas se chocaram com uma parede de seda carmesim, ela gritou, ofegou e lambeu os lábios nervosamente. — Chatham, certamente sabe que não precisa me cortejar com palavras bonitas.

Apoiou uma mão ao lado de sua cabeça, inclinando-se mais perto, sentindo o calor de seu corpo alcançando o seu. — Quanto tempo mantiveste correspondência com o maldito gigante, Charlotte?

— N-nós... desde o inverno. Você estava ali quando ele defendeu minha honra.

— No último baile de minha mãe, sim? — Recordou havê-la visto essa noite. Ela o encarou do outro lado da sala , seu primeiro olhar especulativo, logo curioso e logo irritado. Tinha sido uma das poucas convidadas que não tinha desfrutado do ponche de rum de sua mãe. Agora que a conhecia melhor, desejava poder dizer o mesmo. Talvez tivesse sido ele, e não Tannenbrook, quem teria atirado a feia criatura que a tinha insultado na mesa de refrescos.

Esfregando a têmpora, acariciou delicadamente o dorso de dois dedos em sua bochecha, baixou a curva de sua esbelta mandíbula e logo lhe acariciou a orelha. A carne aveludada de seu lóbulo arrepiou ligeiramente entre o polegar e o dedo. Sua resposta, um calafrio e uma pitada de arrepios agradaram seu pênis, que inchou agradecido.

Ela ofegou e assentiu sua resposta a sua pergunta. — Ele foi amável comigo. Somos amigos. Isso já sabia.

Sua mão percorreu sua pele lentamente, como uma gota de chuva em um cristal de uma janela, até que seus dedos chegaram ao bordo da cinta de seda de seu vestido, logo acima do ligeiro inchaço de seus peitos. Logo seus lábios seguiram o mesmo caminho, mordiscando e acariciando com movimentos ocasionais de sua língua. Tinha sabor de sal, luz do sol, flores e mulher.

Ela ofegou. Logo gemeu. Onde sua mão descansava contra seu peito, meteu-se no linho de sua camisa, aproximando-o mais.

— Nunca te agradará como eu, Charlotte. Entende-o? — Ele aperto seu mamilo suplicante, duro como um diamante, através das capas de seu vestido e espartilho, correndo seus nódulos ritmicamente para trás e para frente através da protuberância sensível.

Sua resposta foi soluçar seu nome.

— Sim, amor. Benedict Chatham. Seu marido. O único homem que tem permissão para te tocar. Está claro? — Seguiu acariciando seu mamilo com uma mão, Chatham empregou a outra para afrouxar os botões de seu vestido, logo arrastou e amontoou as suaves capa de sua saia verde em seu punho. Lhe descobriu as longas e deliciosas pernas.

Dedos femininos se moveram torpemente para abrir sua braguilha até que seu pênis se liberou. Os olhos ambiciosos, verdes e dourados se fecharam quando esses dedos o agarraram com força. Acariciando sua excitação.

Lhe encantava tocá-lo, tinha descoberto isso durante a noite. Ela tinha trabalhado para conseguir a pressão exata que ele gostava. Neste momento, sua habilidade recém adquirida o estava voltando louco.

Enterrou seu rosto em seu pescoço, doce, suave e sardento. Sua mão se afundou debaixo das capas de seu vestido e se moveu até que encontrou sua coxa suave, e o centro mais suave e doce. Os lábios de seu sexo estavam inchados e escorregadios. Queria uma prova. Queria que sua língua dançasse sobre o pequeno e sensível nó até que ela gemesse de prazer e gritasse seu nome. Mas suas mãos apertaram e atiraram dele, enviando um prazer em espiral ao longo de sua coluna e descendo por suas coxas. Dobrando os joelhos e arrastando-o muito perto da beira.

— Chatham —, soluçou ela em seu ouvido. — Eu... eu preciso de você.

Ele afundou dois dedos profundamente em seu apertado e úmido núcleo, saboreando seu gemido de êxtase, observando como se separavam seus lábios de morango, preparados para sua boca. Lhe deu isso. Deu-lhe sua língua. Entre seus outros lábios, ela recebeu seus dedos, bombeando e acariciando, enganchando e pressionando. Encontrando sozinho... o lugar correto...

Ela se aferrou a ele, seu grito zumbiu contra sua boca, seu canal se apertou com espasmos agudos e intermináveis, e seus dedos deixaram seu pênis para afundar-se em seus ombros quando ela ficou nas pontas dos pés e apoiou os quadris entre a parede e sua mão.

Apesar de que seu corpo estremeceu com pequenos espasmos como consequência de seu clímax, começou a agitar as brasas uma vez mais, usando a ponta de seu polegar para pressionar brandamente a protuberância descoberta no centro dela.

Girando e estendendo seus sucos, ele rodeou implacavelmente até que sua coluna começou a ondular-se como ondas que chegavam à borda.

Arrancou sua boca do doce mel dela. — Abre os olhos —. Sua ordem rouca foi ignorada, assim que a repetiu. — Abre os olhos, Charlotte.

Verde e dourado, brilhante e resplandecente, fechou-se sobre ele. A mão que tinha usado para trazer seu mamilo em plena floração alcançou seu joelho. O levou ao quadril. Deixou a um lado a seda verde maçã para que pudesse ter o que queria mais que seu próximo fôlego.

Estirando sua coxa alta ao redor de sua cintura, tirou seus dedos de seu refúgio quente, úmido e os substituiu com a cabeça de seu pénis.

— Mantenha seus olhos abertos —, ordenou, obrigado por algo muito além de si mesmo. — Me deixe ver tudo.

Aproximando-se, ele dobrou seus joelhos, e com um forte empurrão, afundou-se a meio caminho dentro dela. Um gemido agudo de seus lábios e umas afiadas unhas em seu pescoço indicaram sua recepção, igual ao doloroso aperto de seu canal inchado ao redor dele.

Mas ela obedeceu sua ordem. Não fechou os olhos.

O ouro foi quase tragado pelo negro, o verde um anel vibrante. Para ele, a única luz era seu rosto. O único cheiro era de suas flores brancas, fruta verde, sal, mar e um rastro de especiarias femininas. O único som foi seus ofegantes gemidos de prazer, sua voz gutural repetindo seu nome.

— Você gosta de ter meu pênis dentro de ti, amor? — Ele não sabia por quê perguntou.

As palavras não vieram de sua mente. Estavam brotando de um lugar dentro dele que tinha pensado que estava vazio. Empurrou mais profundo, levantando-a sobre os dedos de seus pés, estirando suas coxas mais longas. — Me diga como se sente.

— É muito, Chatham. Eu... não posso mais.

— OH, mas pode. Mostrar-lhe-ei isso, verdade? — Ele empurrou firmemente, suas nádegas apertando com a necessidade de lhe dar tudo. Ainda não. Ela estava muito apertada.

Era muito cedo.

Seu suspiro lhe disse o perto que estava entre o prazer e a dor. Deixaria que ela se acostumasse a ele outra vez. Tinham passado horas, depois de tudo, da última vez que esteve dentro dela.

— Eu já disse como me agradam seus mamilos?

Ela sacudiu a cabeça, balançando a de um lado a outro contra a parede. Seus olhos permaneceram com os seus, seguindo perfeitamente sua anterior ordem.

— O fazem. — Ele deslizou com cuidado dois de seus dedos, ainda úmidos com seus sucos, entre seu espartilho e o doce casulo que continha. Usando o alavancamento de sua palma na borda de seu corpete , retirou brandamente o tecido até que uma protuberância amadurecida apareceu sobre a borda de uma fita verde maçã.

Adorava que fosse suficientemente alta para apoiar a coxa sobre seu quadril. Ele amava que tivesse a altura perfeita para que seu pênis afundasse quase por completo dentro dela. Acima de tudo, adorava poder afundar a cabeça e chupar esse doce mamilo de morango enquanto sentia os impulsos de prazer e suavidade que respondiam dentro de seu canal.

Mas isso não era tudo o que amava. Seu corpo saboreou cada detalhe, o puxão e o estremecimento de seu torso enquanto ele lambia a ponta dura como um seixo, agora vermelha e inchado em sua boca. O profundo e dilacerador gemido de seu peito quando lhe deu seus últimos centímetros, esticando em sua boca, sentindo suas boas-vindas ondulantes ao longo de toda a sua longitude, seu calor o afogou até que ele respirou vapor, suor e ela. Só ela. Charlotte. Normalmente, ele poderia fazer isto durar. Podia passar horas vivendo dentro dela e fazer que viesse uma e outra vez. Mas o que sentia agora não era normal. A urgência de terminar se apoderou dele. Forçou seus quadris a retirar-se e empurrou profundamente, sacudindo-a. Fez de novo. Olhou-a nos olhos. Seguiam abertos. Lhe dando tudo.

E lhe deu o que pôde. Outra vez. E outra vez. O canal se esticou, sua carne se apertou, a necessidade e o calor e sua obsessão com ela se agitou, acumulou-se e queimou.

Mais duro, empurrou. Mais rápido. Golpeá-la com mais dureza do que deveria.

Ela o levou lindamente. Ansiosamente. Ela acariciou o rosto dele, passou os dedos em seu cabelo, rangendo seus dentes para conter seus gritos. Seu canal se apertou quando seu prazer explodiu sobre ele e seu pênis perdeu todo o controle.

Perdeu todo o controle.

E o geiser de seu próprio êxtase deslizou dentro dela, seus quadris bombeando sem poder fazer nada, sem piedade. Sua semente a encheu enquanto um prazer imaculado chispava por suas veias, abrindo cada parte dele, as costelas e o coração, o crânio e a carne.

Seus lábios estavam abertos contra sua garganta agora, seu nome era uma bênção.

Repetindo, repetindo

Charlotte... Charlotte...

Ela o tinha destroçado, separou as peças e forjou um novo homem.

Ela era sua esposa. Sua Charlotte.

E não podia suportar deixá-la ir. Agora não.

Nem nunca.


CAPÍTULO 16

“Pelo contrário, durmo como um bebê. Quando a gente sempre tem razão, pode descansar profundamente, sem ter nenhum pingo de dúvida ou arrependimento”.

A marquesa viúva de Wallingham ao conde de Tannenbrook durante uma discussão sobre a falta de um acompanhante apropriado para a senhorita Viola Darling.

A seu lado na cama, o suave e uniforme fôlego de Charlotte se uniu a uma orquestra de sons noturnos: o uivo do vento do mar, o chiado da chuva contra as janelas, o crepitar de um fogo moribundo e o longínquo rangido de uma casa centenária que se levantava estoicamente contra outra tormenta em Northumberland.

Chatham olhou a forma nua de Charlotte, seus longos e sardentos braços se abriram de par em par onde jazia sobre seu ventre, seu rosto virado para ele, sua metade inferior coberta de veludo dourado. Depois de tomá-la no salão, não pôde deixá-la ir. Assim, que a tinha levado a sua cama, onde tinha passado a tarde e a noite explorando cada sarda, cada camada de seu perfume, cada doce pétala de seu corpo.

Duas vezes mais tinha entrado nela. Estava errado. Não sabia o que lhe tinha passado.

Sim, sim que sabia. Quer mante-la. Acariciando um fio vermelho pr6ximo de sua mão, saboreou a suavidade. Ela era todo fogo, sua Charlotte. Contida e independente como uma caldeira, claro. Mas ela o fazia arder.

Nunca havia sentido algo assim. E ela não tinha ideia do muito que lhe afetava.

Ao sentar-se contra os travesseiros, deixou cair sua cabeça sobre a madeira de sua ridícula cama. O marco do dossel, sombreado e esculpido, assemelhava-se ao mar durante uma tormenta. Uma tímida sereia aparecia entre as ondas.

Não podia dormir. Embora seu corpo estava satisfeito e seus músculos relaxados, sua mente estava girando de novo, pensamentos desconectados, lutando por unir-se.

Deveria deixar a seção noroeste mais um ano em repouso ou plantar pasto?

Quem convenceu Rutherford para que comprasse uma cama tão ostentosa? O homem não possuía nenhuma só gota de extravagância. Desconcertante.

Ela o deixará a menos que lhe dê uma razão para ficar.

Se continua te liberando dentro dela, ela carregará seu bebê e ficará presa aqui.

É um canalha egoísta. Deveria deixá-la ir.

Possivelmente a primeira esposa de Rutherford foi do tipo extravagante e marinheira. Possivelmente tenha desejado agradá-la com uma enorme e tola cama de sereia. Se pudesse fazer Charlotte feliz apor meios tão singelos, não hesitaria

nem por um momento.

Devia tomar uma decisão com respeito à área noroeste. O plantio para o trigo no inverno, começa pouco depois da colheita.

Suas mãos cobriram seus olhos, tentando acalmar o maldito tumulto de seus pensamentos. O problema era esta pausa no cuidado de seus cultivos. As plantas devem simplesmente crescer e maturar. E ele devia esperar.

Antes, sempre tinha sido capaz de amortecer e frear seus pensamentos com o agradável e aborrecido manto do licor. Tinha se formado uma almofada entre ele e seus pensamentos e lhe importava um nada. Uma insidiosa voz sussurrou que possivelmente deveria... não. Dessa maneira, era uma loucura. Não podia voltar a se enterrar nisto. Devia encontrar uma maneira de lutar contra isso.

Seus olhos ardiam. Queria dormir. Queria enroscar seu corpo ao redor de Charlotte e deixar que seus suaves suspiros o acalmassem. Estranhamente, quando tinha estado trabalhando na parede, abrindo caminho através do canto sudeste e o novo desafio de aprender a cultivar, sua única razão para não dormir tinha sido a dura e irritante necessidade de Charlotte. Do contrário, seu sonho teria sido profundo e tranquilo.

Sacudindo a cabeça, suspirou. Possivelmente uma distração era necessária, algo em que sua mente devia concentrar-se até que se assentasse. Atirou a um lado as mantas e colocou as calças e a camisa, logo levantou a vela acesa da mesinha de noite, inclinou-se para beijar a suave bochecha de Charlotte e se dirigiu pelo corredor para a biblioteca.

Tinha mudado os livros de seu pai para lá, para ter um lugar aonde ir quando a tentação de Charlotte dormindo a seu lado afligisse seu controle. Retirou-se regularmente ali, à habitação revestida com painéis de mogno dourada e forrada com estantes.

Estas estavam vazias neste momento. Alegrou-se disso. Charlotte já tinha gasto muito mais do que tinha previsto para restaurar a casa. Duvidava que pudesse pagar a soma com os benefícios deste ano.

Só outra preocupação se ela se fosse. Outra boa razão para persuadi-la a ficar.

Beliscou a ponta do nariz e afugentou o pensamento. Cada vez que a ideia de que ela partiria entrava em sua mente, uma dor dilaceradora se estabelecia entre seu coração e seu estômago, como se um punho se apoderasse de suas vísceras e as retorcesse de uma forma maníaca.

Movendo à cadeira ao lado da fria lareira, usou sua vela para acender um trio de velas no suporte. Junto à cadeira estava a cesta dos diários. Sentou-se e tomou dois deles, folheando rapidamente para encontrar referências à zona noroeste.

Depois de alguns minutos esquadrinhando através de entradas tediosas, descobriu a que tinha recordado.

14 de setembro de 1778. Um forte vendaval do norte alagou os pastos do nordeste. Falei com o inquilino Sr. Culverton sobre o novo esquema de drenagem. Na superfície sudoeste, comecei a semear sementes de trigo compradas no condado de Durham em 8 de agosto; a dúvida segue sendo se a resistência reputada é real. Meg está segura de que produzirá 70 alqueires. Veremos. Recebi uma resposta amável do Sr. G. Culley descrevendo a raça de ovelhas Dishley. Comprarei doze quando estiver no Alnwick. Meg prefere as raças de lã larga.

Chatham passou rapidamente as páginas até que chegou à entrada para o seguinte verão, quando o trigo de inverno seria colhido. Ao encontrar só um para junho e outra para outubro, que simplesmente descreviam o tempo, franziu o cenho, curioso pela brecha. Voltou a procurar as datas, desta vez lendo mais de perto as anotações de seu pai.

20 de setembro de 1778. O Sr. Culver pôs quatro mãos a trabalhar em um novo esquema de drenagem; o trabalho se deteve quando um afloramento de rocha impediu o progresso durante a escavação. Considere a possibilidade de realizar um jateamento ou de revisar a rota para a drenagem.

Plantação de trigo completa. Meg retornou de sua visita a Grimsgate cedo com uma queixa pulmonar. Sugeri-lhe que se recuperasse imediatamente, já que necessitarei de sua companhia em minha viagem a Alnwick.

A seguinte anotação foi mais curta, mais dura.

5 de outubro de 1778. Saída atrasada ao Alnwick. O médico não foi de muita ajuda.

A última anotação para o ano foi uma pequena frase.

21 de dezembro de 1778. Hoje nevou.

Logo, não houve nada até junho. Nenhuma anotação obsessivamente detalhada, nem sequer uma menção dos dias que passaram.

Deve ter sido o período no qual sua primeira esposa, Margaret, tinha ficado doente. Como recordou, ela tinha morrido na primavera de 1779. Tinham compartilhado um grande afeto, dizia-se. Quase uma década depois, Rutherford se casou com Lady Catherine.

Uma década.

Revisou as páginas seguintes, notando a natureza esporádica das anotações de seu pai, a implacável aleatoriedade de suas observações. Inclusive a caligrafia alterada, cada vez mais ligeira, mais fina e inclinada, como se não pudesse se incomodar em manter sua pluma em posição vertical por mais tempo.

Pela primeira vez, perguntou-se sobre a dor de seu pai. Não da perspectiva de um filho esquecido, a não ser da perspectiva de um homem. Um marido.

Um que amava uma mulher muito profundamente para perdê-la.

Um que a perdeu de todos os modos.

E logo perdeu a si mesmo.

De repente, a dor pareceu familiar. Estas anotações poderiam ser seus registros, notas sobre ovelhas e trigo e esquemas de drenagem. E se Meg fosse Charlotte...

Não. O pensamento se apoderou de suas vísceras, rasgou-o e enfureceu. Inclusive se ela o deixava, ao menos estaria viva. Se fosse obrigado a ver como se consumia e logo...

Não. Deus, não. Inundar-se-ia em licor. Afogar-se-ia nisso, só para poder unir-se a ela.

Como o tinha suportado Rutherford?

Ausentemente, sua mão raspou sua boca e queixo. Ficou olhando a anotação de dezembro. Nevou hoje. Como se não houvesse nada mais o que dizer.

Chatham queria que Charlotte tivesse a América. Queria que fosse feliz.

Mas, igualmente, negava-se a deixá-la. Talvez fosse egoísta. Que assim fosse. Queria despertar com seus longos dedos enredados em seu cabelo e suas longas pernas envoltas ao redor de sua cintura. Queria ver seus olhos dançarem quando o visse na entrada do vestidor. Queria plantar sua semente dentro dela e vê-la crescer e ficar exuberante com seu bebê. Queria vê-la alimentar, nutrir e ler ao bebê seus malditos tratados econômicos.

Devia encontrar a forma de retê-la. Certamente poderia ser persuadida.

Seduzida. Devia fazê-lo, pois diferente de seu pai, não era suficientemente forte para sobreviver a sua perda.

E não havia nada mais que dizer.

~~~

Um sonho escuro despertou Charlotte. Estava nevando e estava congelada; não podia encontrar o caminho dentro da casa. Aproximou-se automaticamente de Chatham e encontrou frio no seu lado da cama. Franzindo o cenho, estirou-se, notando como a chuva seguia golpeando as janelas, o vento gemendo através da escuridão exterior. O fogo estava baixo, mas arrojava uma tênue luz.

Ela se sentou, com a parte interna de suas coxas protestando pelas atividades não habituais das horas anteriores. Um impotente sorriso curvou seus lábios, e o calor se assentou em seu ventre. Chatham era... indescritível. Incansável, é obvio.

Deliciosamente centrado. Um amante assombrosamente hábil, não é que ela tivesse muito com o que compará-lo. Mas ele era mais que isso. Seus olhos tinham adorado seu rosto e seu corpo tão certamente como suas mãos e seus lábios e outras partes relevantes de sua anatomia. Tocou-a com intensidade e reverência. Estava encantada.

Engolindo, mordeu o lábio ante as lembranças, seu corpo vazio, dolorido e necessitado. Onde está ele quando o necessito?

Rindo ante a exigente ideia, arrastou o cobertor ao redor de sua nudez e procurou seu vestido na habitação. Fora de seu refúgio com dossel, o ar estava suficientemente frio para fazê-la tremer. Apressou-se a entrar no vestidor e localizou uma de suas camisolas brancas, e logo adicionou uma bata em cima, lhe acrescentando um xale para que ficasse bem ajustado. Fazia muito frio. Devia persuadir a Chatham para que a esquentasse.

Sorrindo em antecipação, colocou um par de sapatilhas e acendeu uma vela antes de aventurar-se pelo corredor. Só havia dois lugares nos quais poderia estar, e ela acabava de sair do vestidor. Isso deixava a biblioteca.

Uma luz piscante brilhava debaixo da porta, que rangeu quando entrou.

— Ah há — murmurou ela, ao ver seu marido descansando com um cotovelo apoiado no braço de sua cadeira, com os dedos estendidos sobre seus lábios— . Parece que é imune ao maldito frio. Decidi que é seu dever me esquentar, marido.

Olhos turquesas voaram para recebê-la. Quase lhe parando o coração.

— Chatham — sussurrou ela— . O que acontece?

— Venha aqui. — Sua voz era rouca, os músculos de sua mandíbula flexionados e tensos.

Foi, em parte porque ele a necessitava e em parte porque ansiava seu calor, sua proximidade.

Seus braços alcançaram seus quadris e a puxaram para seu colo. Ela envolveu seus braços ao redor de seu pescoço, enterrando seu nariz em seu cabelo e beijando um caminho pelo rosto até seus lábios.

— Algo está mau. Me diga — insistiu ela.

Seus braços eram de ferro, rígidos onde a agarravam e a pressionavam contra seu corpo. Seu fôlego quente golpeava contra sua pele. Quanto mais tempo passavam sentados, abraçando-se e acariciando-se, mais tranquilo ele ficava. Possivelmente ele tinha tido um pesadelo, como ela.

Ele apoiou sua testa com a dela. — Fica comigo — sussurrou.

— É obvio que o farei. Todo o tempo que necessite. Mas, não estaremos mais cômodos na cama?

Seus lábios se curvaram, o primeiro sinal de que saía do cru desespero que tinha brilhado em seus olhos desde que ela chegou.

— Não podia dormir. — disse — Minha mente... gira, saltando de um pensamento a outro, desde que era um menino. Suficiente para deixar louco a um homem.

Ela acariciou seu cabelo negro, a fria seda um prazer para seus dedos.

— O que melhora?

— A bebida intumesce os pensamentos. Os tranquiliza. Do contrário, a única medida efetiva que encontrei é me concentrar em um problema singular, um desafio de suficiente complexidade para ocupar minha mente por mais de um momento.

Assentindo, passou sua mão brandamente pelo rosto.

— Como aprender a cultivar.

— Esse desafio diminuiu um pouco, eu temo.

— Estava lendo os diários de seu pai outra vez.

— Devo decidir o que fazer com a seção noroeste. Atualmente está descansando, e a fazenda não tem inquilino.

Levantando suas pernas até que cobriram o braço da cadeira, ela se aproximou mais a seu calor, sentindo uma dureza em resposta que inchava contra seu traseiro.

— Talvez poderia ser pasto. — Ela pôs um suave beijo em sua orelha, logo outro em sua mandíbula. Os cabelos de seu bigode roçavam seus lábios, fazendo-os sentir um formigamento.

Sua mão acariciou sua pantorrilha, fez-lhe cócegas atrás do joelho e logo lhe apertou a parte externa da coxa antes que respondesse.

— Talvez. Há problemas de drenagem, segundo o diário. Além disso, o Rio Fenn serpenteia por seu centro, dividindo-o em dois. — Sua mão deslizou por debaixo do xale para colocar-se sobre um peito. — Entende, o centro verdade, Charlotte? — Puxou seu distendido mamilo, rolando - o entre seu polegar e seu dedo, fazendo que ofegasse e pusesse seus quadris contra ele. — Este é o centro. Entretanto, se deseja ser perfeitamente exata. — Sua mão deixou seu peito para alcançar a prega de seu vestido, encontrando habilmente o caminho a vértice de suas coxas em segundos, — Isto também é um centro. E, ao parecer, também um rio.

— Chatham — ofegou ela. — Talvez deveríamos voltar para a cama.

— OH, mas acredito que ainda não resolvemos o problema. É essencial que compreenda a situação para que juntos possamos encontrar uma solução satisfatória. — Seu polegar posou entre suas dobras, movendo-se brandamente para cima para expor seu ponto mais sensível.

— Acredito que tenta me distrair.

— O rio corre profundo e exuberante, amor. — Dois de seus dedos se afundaram dentro, pulsando sutilmente enquanto seu polegar dava voltas. Sua abertura estava dolorida onde penetrou, mas a leve picada só acrescentou uma borda dura ao prazer. — Se houver tormentas de suficiente força, transborda, apressa-se a saturar a terra circundante. — Seus dedos a estiraram deliberadamente. — Se estende mais à frente. — Seu polegar pressionou com firmeza, atraindo o prazer de Charlotte até que a pressão foi quase insuportável. — E se nega a retirar-se até que tudo esteja empapado e alagado.

— Chatham — disse ela, retorcendo-se contra sua mão, apertando seus dedos, e correndo suas unhas ligeiramente contra seu peito. — Espero que tenha a intenção de terminar o que começaste.

Sorriu, lento e malvado. Lhe encantava esse sorriso, saboreou a visão quando a última de suas tensões anteriores abandonou seus olhos.

— Ah, amor — murmurou com voz sedosa. — Sempre o faço.


CAPÍTULO 17

“Não pode durar, Humphrey. Recorda minhas palavras. Um diabo pode disfarçar-se de santo só até que seus chifres comecem a perfurar seu chapéu”.

A marquesa viúva de Wallingham a seu companheiro, Humphrey, ao inteirar-se da notável transformação do escandaloso marquês de Rutherford.

— Esse canalha é positivamente diabólico — entoou a marquesa viúva de Wallingham de sua posição na sala de estar do castelo de Grimsgate. — Se for tão inteligente para desenterrar informação clandestina e de outros tipos, por que iria necessitar meus conselhos em seus assuntos de suas terras? Talvez deveria consultar o Ministério do Interior. Ou esse rufião mau educado, o Sr. Reaver.

Charlotte lutou para manter sua expressão educada ante o evidente desagrado de Lady Wallingham por Chatham. A mulher de cabelo branco e nariz afiado era diminuta em contraste com sua voz, que ressonava e fazia eco em vastas habitações como aquela onde estavam sentadas, bebendo chá.

Charlotte tinha decidido visitar Lady Wallingham depois da conversa da vespera à noite com seu marido. Obviamente, Chatham necessitava uma direção para seus pensamentos hiperativos, um enfoque para sua mente, e ela pensou que possivelmente Lady Wallingham, sendo mais velha que o próprio chão, poderia ter conhecimento do melhor uso de suas terras.

Sua terra, corrigiu ela. Dele. Não nossa.

Tinha tido problemas ultimamente para recordar isso. Seu lugar era na América. Assim era. Infelizmente, essa história se parecia cada vez mais a uma história que tinha escutado faz muito tempo de um amigo que já não encontrava.

Limpando a garganta, tentou de novo, dirigindo-se à viúva com um sorriso.

— Surpreender-se-á da mudanças de Lorde Rutherford nos últimos meses, Lady Wallingham. E no imóvel. Talvez poderia vir me visitar...

— Sei tudo o que preciso saber a respeito. Benedict Chatham é um descarado. Os descarados desse calibre não mudam. Simplesmente se voltam mais matreiros, mais preparados para disfarçar sua perfídia. Ou morrem. Possivelmente morra antes que descubra a verdade de minhas palavras. Infelizmente, vem de uma estirpe de longa vida. Suspeito que durará mais que todos nós, é uma lástima.

Pondo sua xícara de chá em seu pires antes de romper a delicada porcelana, Charlotte respirou fundo. Não serviu de nada.

— Lady Wallingham, tenho entendido que lhe tem pouco respeito a meu marido...

A anciã declarou.

— Se for possível ter uma aversão mais profunda para alguém, ainda não o tenho descoberto. Para ser clara, desagrada-me muita gente.

— Disso estou segura — disse Charlotte. — Na sociedade não se pode evitar escutá-lo o tempo todo.

Os agudos olhos verdes da mulher se entrecerraram ameaçadoramente.

Mas Charlotte já tinha falado bastante das qualidades de Chatham. Lady Wallingham só sabia quem ele tinha sido em Londres. O bêbado. O jogador. O caveira. Era uma enfermidade comum da maioria das pessoas reconhecer só a superfície e não o caráter mais profundo de um homem.

Ignorando o desgosto da viúva, defendeu Chatham.

— Seu ceticismo é compreensível, minha Lady. Entretanto, devo lhe dizer que o Rutherford que conheço é um homem melhor que a maioria dos que chamam a si mesmo de cavalheiros. Suportou muito sofrimento sem nenhuma queixa. Trabalhou incansavelmente para melhorar as terras do imóvel quando só precisava vadiar e perder o tempo enquanto espera o pagamento de meu dote. Ensinou a si mesmo novas habilidades que a maioria dos cavalheiros se burlariam de alcançar.

— Sim, bom, as habilidades incomuns são sua especialidade, não? Suspeito que sua apaixonada defesa de seu duvidoso caráter provém desse lado. — Com uma só sobrancelha branca elevada, Lady Wallingham sorveu seu chá com calma.

Charlotte não sabia como responder. A intransigência da dama era ilógica, sua malícia como ácido sobre o temperamento de Charlotte.

— Suponho que não tem intenção de ajudá-lo de maneira nenhuma.

— Entendeste-o bem.

— O que tem feito Chatham para que o odeie tanto?

Os brilhantes olhos verdes piscaram. Uma xícara de chá se acomodou em seu pires.

— Nasceu.

O veneno de sua resposta foi surpreendente, mas antes que Charlotte pudesse continuar, Viola entrou, sustentando com uma coleira ao sabujo de Lady Wallingham, de cara amável e de cor marrom.

Os olhos da dama se iluminaram e sorriram.

— Ah, Humphrey, retornaste, e justo quando necessitava da melhor companhia. Sua pontualidade, como sempre, é impecável.

Viola sorriu e piscou os olhos a Charlotte.

— Sim, orgulha-se de sua pontualidade, verdade, Humphrey? — Seu amiga arranhou as orelhas pendentes do cachorrinho, fazendo que se movessem comicamente. — Os esquilos, entretanto, são terrivelmente pouco colaboradores.

Lady Wallingham se levantou de sua cadeira e tomou a coleira de Humphrey.

— Lady Rutherford, comparecerá a meu baile de máscaras. — O queixo da mulher estava elevado, sua ordem foi uma surpresa.

— Farei-o?

— Traga o descarado contigo. Depois de ver-te elogiar os dedos de seus pés durante várias horas, talvez me incline a te oferecer minha ajuda.

— Bom, eu... obrigado pelo convite. É muito amável de...

— Necessito de diversão. — soltou ela. — Você e esse patife me proporcionarão isso. — Sem dizer uma palavra mais, virou- se e tirou Humphrey da sala de estar.

Viola afogou uma risada e apertou o braço de Charlotte.

— Que peculiar. Acredito que gosta de você.

— É uma parva.

— Não, digo a sério. Passou toda a hora em sua companhia e logo a convidou a seu baile. Para Lady Wallingham, isso é virtualmente uma declaração de afeto eterno.

Charlotte revirou os olhos.

— Poderia viver feliz sem tanto afeto. — Logo sorriu a Viola

— Está desfrutando de sua estadia aqui em Grimsgate?

— Pergunta pela caçada ao Tannenbrook?

— Estou.

Viola suspirou.

— Ele é resistente. Admiro sua fortaleza, francamente. Entretanto, admito com um pequeno grau de irritação que não me encontra tão irresistível como eu a ele.

Rindo entre dentes, Charlotte puxou Viola para o grande salão, onde as paredes de seis metros estavam adornadas com tapeçarias mais antigas que Lady Wallingham e um extremo estava adornado por uma lareira maior que a maioria das carruagens.

— Sua harpa não o convenceu?

— Ria se quiser, mas muitos cavalheiros disseram que me consideravam que nem um anjo, que toquei tão docemente.

— Ouvi-te tocar, Viola. Com o maior afeto, devo te dizer que mentiram.

Rindo impotente, Viola golpeou o braço de Charlotte.

— Sei, tola. Embora admire sua honestidade. É uma das coisas que mais amo.

— Lady Rutherford. — O estrondo veio detrás delas, na direção aos jardins. Ela se virou e acidentalmente tirou sua amiga do equilíbrio.

— OH, desculpa, Viola. Lorde Tannenbrook! Que alegria voltar a lhe ver.

— E você — disse, movendo-se para elas como uma enorme nuvem. Uma nuvem de tormenta, se não se equivocava. Uma com bordas negras e ondulantes cheirando a cinzas.

OH, querido. Algo o zangou bastante. Tratou de captar o olhar de Viola para determinar a causa, mas estava fixa nele, respirava rápido e seus dedos se assentavam ao longo de sua garganta.

— Tannenbrook, eu... — disse a pequena senhorita Darling ao gigante que agora se abatia sobre ela, com o olhar resplandecente como se quisesse lhe apertar o pescoço com um punho do tamanho de uma rocha. Ou possivelmente beijá-la.

Charlotte inclinou a cabeça, curiosa por sua expressão. Estar casada com Chatham lhe tinha proporcionado bastante educação nos sinais masculinos de luxúria, um tema que antes lhe tinha parecido pouco interessante. Agora, ela leu os sinais no rosto carrancudo e enrugado de Tannenbrook, e viu claramente que não era imune aos encantos de Viola, depois de tudo. Muito interessante, por certo.

Por detrás de suas costas, Tannenbrook revelou uma parte de linho branco bordado com uma fruta púrpura de algum tipo. Uma ameixa, talvez. Ou uma uva.

— Acredito que isto é teu — grunhiu.

Viola mordeu o lábio, engoliu e piscou rapidamente, seus cílios pareciam leques negros como plumas.

— Eu... o fiz para ti.

— Quantas vezes devo dizê-lo, senhorita Darling? Eu. Não. Quero. Seus favores. Nem seus presentes. Nem sua mão em matrimônio. — Com um movimento de seu pulso, jogou-lhe a parte de linho aos pés. — Nem a ti. Basta de tolices. Agora. — Virou sobre seus calcanhares e caminhou para os jardins, movendo-se como se o diabo o estivesse perseguindo.

Ao lado de Charlotte, Viola dobrou lentamente seus joelhos e recuperou com graça o linho de cima de sua sapatilha, acariciando a pequena mancha púrpura e pressionando o pano entre suas mãos. Charlotte observou como uma só lágrima escapava por sua bochecha e seu pequeno nariz ficava vermelho. Viola deu um forte grito afogado e levou os dedos aos lábios.

Incapaz de suportar sua angústia, Charlotte envolveu sua amiga em um abraço, agradecida nesse momento de que seus braços fossem suficientemente longos para apertá-la com força. A formosa cabeça de Viola caiu sobre seu ombro, e Charlotte lhe acariciou a bochecha.

— OH, Viola. Não chore.

Escaparam mais lágrimas. Mais ofegos e tremores fortes.

Charlotte poucas vezes tinha visto Viola tão angustiada. Mas dado seus sentimentos pelo homem, o que disse Tannenbrook foi suficiente para romper o coração de qualquer mulher, inclusive a indomável Senhorita Darling.

— Tenho que ir lavar meu rosto. Estou segura de que me encontro terrível — disse Viola, com voz vacilante, olhos abatidos e úmidos.

Charlotte afrouxou os braços mas não a soltou.

— Me diga o que lhe fez, Viola.

Sua amiga colocou os dedos na borda desigual do linho.

— Gosta de pescar. Assim que lhe fiz um lenço com uma truta bordada no canto.

— Uma truta? É essa a parte púrpura?

— Fiquei sem fio prateado.

— E o caule verde é uma... cauda?

— Também fiquei sem púrpura.

Charlotte assentiu, engolindo um sorriso. As habilidades de Viola no bordado eram ainda piores que sua habilidade para a música.

— Possivelmente é hora de considerar a suspensão da caçada a Tannenbrook — sugeriu brandamente. Imediatamente, sentiu o rechaço de Viola à ideia em seus rígidos ombros.

— Só por um curto tempo, Vi. Somente para dar a ambos, tempo para considerar...tudo.

Ela negou com a cabeça, mas sua reação foi mais incerta do que Charlotte antecipou.

— Deveria ir lavar-me. — Secou os olhos e logo aplaudiu a mão de Charlotte.

— Estarei bem. Obrigado por... — Seus lábios se apertaram e tremeram, sua voz se afogou

— Obrigada, querida Charlotte. Por ser uma verdadeira amiga. — Ela se afastou e correu, agarrando o lenço em seu punho.

~~~

— Por muito tentador que pareça Charlotte, não desejo dançar a valsa pelo prazer de um velho dragão que não pode dizer meu nome sem cuspir fogo. — Chatham tirou sua bota, suspirando aliviado quando um pé úmido se liberou. Tinha estado caminhando pela seção noroeste a maior parte do dia, e o terreno empapado era um inferno para as botas Hessians de um homem.

— Mas, Chatham, precisamos. Como expliquei, Viola está em grave angustia. Necessito-te para que me ajude... a conspirar.

— Se meter.

— Não sou uma intrometida competente. Por exemplo, tentei todos os argumentos possíveis para persuadir Andrew de que abandonasse seu interesse pela Senhorita Darling, e só consegui atrito entre mim e meu primo. Você é muito mais ardiloso.

Grunhiu ao soltar sua segunda bota.

— Certo. Entretanto, a maioria de meus casacos já não ficam bem.

Suspirou com nostalgia.

— Sim, está maior...

Lhe lançou um sorriso por cima do ombro. Ela se ruborizou. — Mas isso se remedeia facilmente com um pouco de alteração. Temos mais de quinze dias para nos preparar. Além disso, Lady Wallingham há dito que se comparecermos a seu baile de máscaras, compartilhará o que sabe de suas terras. Pode ser que tenha ideias úteis que nos beneficiem. — Ela se ajoelhou junto a onde ele estava sentado em um divã baixo perto do lavabo

— Por favor, Chatham.

Apoiou um cotovelo no joelho e virou a cabeça para olhá-la. Já tinha solto o cabelo. Chama em espiral se desataram sobre seus ombros. Sua camisola era branca e não suficientemente transparente para que gostasse, mas o decote era muito baixo, deixando descoberto suas sardas. Eventualmente ela deixaria de incomodar-se em usar uma camisola para ir à cama, uma vez que se desse conta de que ele só a tiraria.

— Muito bem, amor. Porque me pediu isso.

Lhe sorriu.

— Esplêndido.

Absorveu sua felicidade sem poder fazer nada, como a luz do sol cobrindo seus ossos, expulsando a desgraçada umidade e o esgotamento. Como podia esperar que vivesse sem esta mulher? Só de pensá-lo já adoecia seu estômago.

Estendendo a mão para acariciar sua bochecha, ele saboreou sua calidez. — Não espere muito de Lady Wallingham. Ela me despreza.

— Muito desconcertante. Ela é amarga com todos, mas por ti, parece ter uma inimizade particular.

Assentiu e sorriu ironicamente. — Acho divertido. Se comentar sobre o tempo, ela me acusa de causar raios.

— Terrivelmente rancorosa, inclusive para ela. Conhece a causa?

Encolheu de ombros, ficou de pé e tirou a camisa por cima da cabeça, atirando-a sobre o montão com suas meias molhadas. — Ela se ressente por minha existência.

— Ela insinuou. Não entendo.

Salpicou seu rosto e pescoço com água morna da bacia. Charlotte pôs uma toalha em sua mão antes de perguntar. Para uma mulher que nunca tinha planejado ser esposa, e muito menos ajudante de câmara, era espetacularmente boa nisso. Limpou o rosto e passou uma mão pelo cabelo. — Sabia que tinha uma irmã?

Um cenho franzido enrugou sua testa.

— Não. O que tem que ver isso com...?

— Sua irmã era Margaret. A primeira esposa de meu pai. — Os olhos verdes e dourados se abriram e os suaves lábios rosados se converteram em um O.

— Mmm. Compreensão ficou clara. Lady Wallingham lamentou a esterilidade de sua irmã, e logo sua morte. Ela via minha mãe como uma usurpadora do título de Margaret e a mim como um usurpador do de meu pai. Temo que meu comportamento passado não melhorou muito sua opinião.

— Mas isso é espantoso. Como é justo culpar a um menino por ter nascido?

— A justiça é uma ilusão, amor. Sua reação está enraizada no sentimentalismo, não na razão.

Charlotte ficou de pé e pôs as mãos nos quadris. — Isto não ficará assim. A lealdade a sua irmã é admirável, mas Margaret morreu dez anos antes de que nascesse. Terá que fazer que Lady Wallingham veja seu engano.

Levantou uma sobrancelha. — Planeja fazê-la mudar de opinião, verdade?

— Amanhã lhe farei outra visita.

— Não fará nenhuma diferença.

— Veremos. — Fez um gesto de desdém com a mão, quase derrubando a jarra do lavabo. Apanhou-a justo quando se inclinava. — Desculpa — murmurou distraidamente, cruzando os braços sobre seu peito. — Sei que me considera tola, mas não posso tolerar seu ódio irracional contra ti. Visitá-la-ei e voltarei a falar com ela.

— Muito bem, faz o que queira. Não é que eu pudesse te deter.

— E também falarei com Tannenbrook. Ele também deve ver o engano de seus métodos.

Ao longo de sua conversa, Chatham tinha conseguido pensar com clareza. É certo que as visões do que planejava fazer a Charlotte mais tarde em sua cama corriam como um estandarte vermelho sob cada pensamento, mas ele manteve seu equilíbrio. Nenhuma só vez lhe tinha agarrado a nuca e lhe tinha levado a boca à sua. Tinha sido disciplinado. Controlado.

Até que mencionou ao gigante.

— Pensa ver Tannenbrook? — O estandarte vermelho adquiriu um tom mais escuro, estendeu-se como uma manta sem fim, inclusive obscurecendo sua visão.

— Sim. Está se comportando abominavelmente, e está fazendo muito dano. Alguém deve fazer que encontre a razão, e a tarefa recaiu sobre mim.

Respirou contra a maré vermelha que subia dentro dele. A noite anterior, depois de jurar que a manteria por qualquer meio necessário, sustentou-a em seus braços, acariciou-a até completá-la e se deu conta de que não podia simplesmente apanhá-la em sua vida impregnando-a com seu filho. Ele queria. Seu lado desumano, que o tinha governado durante tanto tempo, exigia-o. Mas com ela embalada em seu regaço, desejando seu prazer e lhe dando tudo o que lhe pedia sem duvidá-lo um só momento, tinha sido golpeado pela consciência. Assim que se deteve antes de voltar a liberar-se dentro dela, decidindo que devia lhe permitir determinar seu futuro.

Naturalmente, ele seria desumano em seus esforços para convencê-la a ficar com ele, mas a decisão final devia ser dela.

Isso foi ontem à noite. Antes de falar com audácia de encontrar-se com Tannenbrook. Antes que o vermelho quente de ira se envolvesse ao redor de suas boas intenções e as rasgasse.

— Não o verá — disse, sua voz como silencioso estalo de um látego.

— O que...?

— Em particular, não o verá sozinha. Está claro?

— Er- não. Temo-me que não.

Moveu-se para ela. Lentamente. A propósito.

— Que parte não entende?

— A parte em que você dita a qual de meus amigos posso visitar.

— Sou seu marido.

Sua sobrancelha refletia sua consternação.

— E?

— E eu digo que não o verá.

Sua cabeça estava inclinada.

— Por quê?

Aproximou-se dela, seu corpo quente e febril, sua ira se elevou ante sua resistência. — Porque é minha.

Exasperada, soprou.

— Estamos casados, Chatham. Não sou uma de suas ovelhas para ser confinada ao pasto de sua eleição.

— Obviamente, a compreensão de sua posição é insuficiente. Me permita te explicar.

— Moveu-se para ela, forçando-a a retroceder até que suas pernas golpearam o divã

— Me pertence. Nunca te tocará.

— Você... está sendo ridículo. Por que me tocaria? — Ela parecia realmente confusa e mais que um pouco exasperada.

— Se tivesse desejado tal coisa, teria aceito a oferta de meu pai. Como expliquei uma e outra vez até que estou completamente esgotada do tema, os homens não me veem como um objeto de desejo, Chatham. Inclusive você teve que ser persuadido para... participar de seus... direitos de marido, e só aceitou porque não teve outra alternativa.

Se algo conseguisse tira-lo de seu estado de ânimo cada vez mais negro, era isto.

Charlotte estava cega a seu próprio atrativo. Não entendia sua maldita obsessão com seu cabelo, suas sardas e sua risada e o estranho funcionamento de sua mente meio americana. Tampouco suspeitava os motivos de outros homens para “cercar amizade com ela”. Se acreditava indesejável. Apesar de que tinha que apertar os dentes para manter-se sob controle cada vez que ela estava perto. Apesar de que lhe tinha feito amor inumeráveis vezes só nos dois últimos dias, empurrando seu corpo virginal muito mais longe do que deveria ter feito.

— Charlotte — disse com voz áspera.

— E outra coisa — disse ela, ignorando sua interrupção. — Viola está apaixonada por Tannenbrook. Nunca trairia sua confiança perdendo tempo com ele, embora fosse muito baixo de caráter para romper meus votos.

— Char...

— O que não sou, por certo.

— Sinto muito.

— E bom, deveria fazê-lo. Não só me insultaste , mas também ao Tannenbrook. Sua honra é irrepreensível.

— Me interpretou mal. Não me arrependo de minhas suspeitas. Lamento não ter podido transmitir a magnitude da luxúria que me inspira.

Seu queixo se levantou, seus olhos permaneceram firmes e ligeiramente irritados.

— É um homem luxurioso. Dada outra opção, suspeito que sua atenção aterrissaria em outra parte. Não tente mitigar suas acusações com falsas adulações.

Não lhe acreditou. A mulher estava decidida a ver a si mesmo sob uma só luz: a de uma floreiro pouco atraente. Esfregou uma mão pelo rosto. — Estou dizendo a verdade, mulher obstinada.

— Cinco anos, Chatham. Cinco anos fui desprezada e rechaçada por um desfile de cavalheiros, todos os quais sabiam que vinha empacotada e entregue com um considerável dote. — Golpeou-se a têmpora.

— Pode ser que não seja atraente, mas minha mente está bem. Se fosse mercadoria, negaria a me oferecer. Eu mesma. Já sabe a que me refiro.

— Ofereceu-te para mim.

— Isso foi diferente. As circunstâncias se me lembro se limitam a um de seus ...

— E aceitei, não é assim?

— A contra gosto. Depois de que lancei meu ser nu sobre ti.

A lembrança dessa noite: a beleza de seu corpo velado pela musselina de pêssego, a sensação desses mamilos encontrando-se com seu peito, a angústia de pensar que devia negar-se, e a agonia de controlar sua luxúria o tempo suficiente para ver seu prazer; esquentou seus sentidos.

Não houve ajuda para isso. Devia lhe demonstrar que estava equivocada para que ela se protegesse da natureza luxuriosa de outros homens. Uma mulher que acreditava em não ser desejada podia ver-se comprometida antes de dar-se conta de que algo inapropriado tinha ocorrido: um roce de uma mão aqui, uma conversa sussurrada lá, um olhar acalorado, que conduzia a um baile acalorado, que conduzia a um beijo roubado, que conduzia a um encontro roubado. Tinha-o visto; e o tinha feito, tantas vezes que podia fixar um relógio segundo a rotina.

Qualquer homem que passasse mais de uma hora em companhia de Charlotte se encontraria de repente acossado pelas fantasias. Sobre pernas longas. Sobre cabelo vermelho. Sobre murmúrios guturais, sardas de canela, peras amadurecidas e suculentas.

Se Tannenbrook não teve pensamentos luxuriosos sobre ela durante sua “ amizade”, então é um homem mais forte que eu. Ou cego e tolo.

Queria romper a mandíbula de Tannenbrook com um murro.

Primeiro, entretanto, devia iluminar Charlotte. Segundo, devia assegurar-se de que nunca se desviasse e que nunca se fosse. Para fazer ambas as coisas, aplicaria toda sua experiência sexual com precisão e dedicação. Atá-la-ia a ele com todas as armas que tinha ao seu dispor. Encantaria e seduziria com palavras doces e sedutoras tecidas com maestria como um tecido de aranha.

— Charlotte.

— Sim. — Piscou, dobrando as mãos educadamente.

— Eu quero você. — Não era precisamente o giro sedutor da frase que tinha planejado, mas possivelmente seria suficiente para começar.

— Bom, ainda estou um pouco irritada contigo. Entretanto, a visão de seus ombros e seio é muito intrigante, e posso me inclinar para as relações quando chegarmos à cama.

Poderia fazê-lo? Esta foi uma notícia deliciosa, embora não era o que ele pretendia.

— Os homens não têm seios.

Ela agitou uma mão negligentemente. — Seu peito, então. Eu gosto dos músculos e seu cabelo e sua pele e... realmente é muito atraente, sabe? Não são só seus olhos, embora sejam assombrosos. As damas sempre falavam de seus olhos até que quis gritar que eram simplesmente órgãos oculares, pelo amor de Deus.

Ele estava tonto só de ouvi-la. Charlotte estava balbuciando. Nunca antes a tinha ouvido balbuciar. Gostava de conversar, sim, e gostava de falar com ela. Tinha uma mente ferozmente inteligente e franca que era suficientemente similar à sua como para que ele seguisse sua lógica com facilidade, mas sempre descobria alguns caminhos e desvios exóticos com o passar do caminho.

Mas isto era diferente. Charlotte estava nervosa. Extraordinário.

— Órgãos oculares — repetiu.

— Nunca tinham visto tal cor. Eu tampouco o tinha feito.

— Os de meu pai eram similares.

— As damas desmaiariam e suspiravam pelo malvado Lorde Chatham. Não entendi. Então, no inverno passado, olhou-me assim. — Ela engoliu em seco. — Não sei porquê. Talvez estava de pé frente à poncheira e você suspirava por um gole.

— Estava vestida de azul — disse, recordando aquela noite. Foi a noite em que morreu seu pai. — Azul escuro, rico, com lentejoulas brilhando no sutiã. Seu cabelo era mais brilhante que qualquer outra coisa na habitação.

Sua respiração se voltou desigual. — Senti o motivo, então. A razão pela qual todas se desmaiaram e... e suspiravam.

— Eu queria você.

Ela agitou a cabeça. — Não. Estava bêbado.

— Eu queria você.

— Não poderia havê-lo feito.

— Fi-lo.

Pequenos músculos ao lado de sua boca puxaram para baixo. Então seu lábio inferior começou a tremer. Então sua sobrancelha começou a enrugar-se. — Não minta, Chatham. — As lágrimas brilharam em seus olhos. Ela piscou. — Por favor.

— Não mentiria sobre isto. Qual seria o ponto?

— Buscas me consolar, mas não é um consolo quando conheço a verdade.

— Juro que te desejava nessa noite, Charlotte. Por minha honra, juro-o.

— Não tem nenhuma honra.

Agachou-se e agarrou uma de suas magras e sardentas mãos, esmagando a palma de sua mão contra seu peito. — Então juro por meu coração. Tenho um desses?

Uma lágrima corria por sua bochecha enquanto ela olhava para onde ele tinha sua mão contra sua pele, diretamente sobre seu esterno.

— Sente como pulsa e golpeia por ti. Como um touro chutando às portas de seu estábulo. Isso é a necessidade, amor. É a necessidade, a luxúria, o desejo e a maldita obsessão.

— Não. — Seu soluço desesperado lhe destroçou.

— Sim. Um homem não pode falsificar tal coisa.

— Então, por quê? — Gritou, lhe rasgando as vísceras. — Cinco anos, Chatham. Cinco anos humilhantes e nenhuma só oferta. Nem sequer uma inapropriada.

Ele segurou sua preciosa bochecha, seus dedos apanharam mechas de seu cabelo, seu polegar arrastando uma lágrima.

— Não sei. Para mim, era simplesmente porque não tinha nenhum desejo de me casar com ninguém naquele momento, e obviamente merecia algo melhor que te converter na amante de um descarado. Outros podem haver resistido porque não poderiam te igualar em nenhum aspecto, seja de engenho ou de altura. Ou pode ser que se escaparam pelos elevados padrões de seu pai.

— Esperava um título de algum cargo, já sabe.

Seus dedos amassaram sua carne, sua bochecha posou sobre sua mão. Seus braços responderam atraindo-a fortemente a seu corpo.

— Chatham — sussurrou ela.

— Hmm?

— Eu também te desejo.

Um profundo suspiro estremeceu em seu peito. — Graças a Deus. Disse-te que a libertinagem é melhor quando se compartilha, se recordar.

— Nunca, nunca senti algo assim. Não posso pensar em outra coisa. É muito alarmante.

Ele teria rido, mas ela não estava brincando. Ele sentia o mesmo.

— Acredita que se acalmará com o tempo? — perguntou. — Tem mais experiência nestes assuntos.

Abriu a boca para lhe dizer que esperava que não, mas suas seguintes palavras mudaram tudo.

— Não posso imaginar como lidar com isso quando terminar nosso ano juntos — disse, soando como se se tratasse de uma mera reflexão. Algo para contemplar por um momento e encolher os ombros.

Depois de tudo o que ela tinha feito, fazendo-o seu amigo. Fazendo-o empilhar pedra e arar terra e fazer mil outras coisas ridículas só para agradá-la.

Oferecendo-se a ele tão docemente, que pensou que poderia queimar-se até as cinzas.

Quando terminar nosso ano juntos.

Como se tudo isso não significasse nada.

Uma vez, ele caíra no gelo. Brincando sozinho na beira do Rio Fenn, pensou que a superfície era suficientemente estável para lhe aguentar. Não tinha sido assim. Quase se afogara antes de chegar ao banco.

O impacto de suas palavras foi a mesma. Terra sólida rachando sob seus pés.

Permaneceu no vestidor com os braços ao redor de sua esposa enquanto a água gelada o envolvia, roubava-lhe o fôlego e lhe detinha o coração.

Ela ainda planeja te deixar. Inclusive agora, enquanto confessa seu desejo, seu primeiro pensamento é ir-se.

A pele estava adormecida, as pernas débeis, a mente lenta.

É um parvo. Um maldito parvo.

Seu peito apertava até que o ar do interior se endureceu e queimou.

Ninguém te amou algum dia. Por que deveria ela deveria?

— Chatham?

A que estiveste brincando? Agricultor. Marido. Pai, inclusive.

— O que é... o que é o que está errado?

O cúmulo do absurdo, tudo. Você não é nenhuma dessas coisas. Não sabe nada de como manter uma mulher como Charlotte.

— Está terrivelmente pálido. — A palma de sua mão cobria sua testa. — Hmm. Não há febre. Talvez deveria te deitar.

Ele circulou seu pulso com os dedos, afastou-a, e empurrou até que estivesse completamente separada dele.

— Me deixe — disse roucamente, sua voz tão fria como sua pele.

— É obvio que não o farei. Agora, me diga o que está passando. — Suas mãos apoiadas em seus quadris. — É todo esse maldito barro por onde estiveste se arrastando, não é assim?

— Adoeceste e não quis dizer nada. Bom, isso é uma tolice. Pedirei ao cozinheiro que te prepare um pouco de caldo...

Incapaz de suportar outro momento de cuidados maternais, simplesmente deu a volta e saiu do vestidor, olhando a sua redor em busca de outra camisa.

Felizmente, alguém tinha colocado em sua cama. Charlotte de novo. Agarrou-a e a jogou sobre sua cabeça.

Um gole. Isso era o que necessitava. O ardente líquido dourado aliviaria sua garganta e estômago. O enjoo, o doce silêncio de seus pensamentos, o intumescimento de seu cérebro. Algo para sentir algo mais. Ou nada absolutamente.

Particularmente esta dor insuportável.

Nem sequer podia dizer que a tinha perdido. Porque nunca a tinha tido.

Ela sempre te deixará. Todo mundo o faz.

— — Chatham? Pare. Aonde vai?

Fugiu de seu quarto, abrindo a porta, sem preocupar-se com o forte rangido quando golpeou contra a parede. A adega de seu pai não podia estar completamente vazia.

O cozinheiro tinha usado vinho em algumas de suas comidas. Subiu as escadas de dois em dois e se dirigiu diretamente pelo corredor para as cozinhas.

— Chatham! — Ela estava muito longe, sua voz ressonando fracamente.

Dobrou a esquina e quase se chocou com Esther.

— Olhe por onde vai — ladrou ela, seu balde salpicando.

Ignorando-a, passou pela criada corpulento pelo estreito corredor, e se dirigiu à cozinha e logo à abertura arqueada frente à despensa, onde uns degraus de pedra conduziam à adega. Detendo-se só o tempo suficiente para recuperar um lanterna, desceu os desgastados degraus de pedra, notando que as paredes tinham sido limpas de teias de aranhas. Agachando a cabeça, entrou na câmara, mantendo a lanterna no alto para dar uma olhada a seu redor. Três longas prateleiras de madeira estavam alinhadas no centro. Vazias. Atrás deles, entretanto, havia uma contra a parede de pedra. Continha ao menos dez garrafas.

Suspirando com satisfação, correu para ela, pôs a lanterna no piso desigual, e agarrou uma das garrafas pelo pescoço. Francês, parecia pelo selo. Bordeaux. Seu coração pulsava constantemente agora, embora se sentia lento. O vidro pesava como gelo em sua mão. Devia tirar a cortiça.

— Chatham — ofegou sua esposa do fundo dos degraus de pedra. Seguiu a luz do farol se deteve, balançando-se a um metro e meio de distância, seu vestido branco brilhando no escuro porão, sua prega roçando o poeirento chão.

— Saia. — Ele mau podia olhá-la, o frio em guerra com a dor.

Ela ofegou, tirando o cabelo da bochecha. — Seja o que seja que tenha passado, não deve fazer isto.

Esther veio atrás de Charlotte, um profundo resplendor de desprezo sobre suas ásperas feições.

— Lhe disse — disse isso. — Não poderia durar o verão. Os bêbados nunca mudam. Um terreno sem valor.

Sem apartar o olhar do seu, Charlotte deu uma ordem a Esther. — Volta para a cozinha. Agora.

— OH, vou. E também escreverei ao Sr. Lancaster.

— Esther — disse Charlotte com cautela. — Não beberá. Tem minha palavra.

— Não é a sua mão nessa garrafa.

— Ele me escutará. Só... nos deixe em paz. Por favor.

Esther grunhiu e se afastou, golpeando a porta ao sair com um rangente gemido e um forte ruído surdo. O som fez que Charlotte estremecesse. Mas nunca se separou dele. Nem por um momento o liberou de suas garras verdes e douradas.

Molhou os lábios.

— Chatham.

— Não te quero aqui, esposa.

— Por favor, me diga o que acontece.

Ele sorriu. — Tenho sede.

Ela se moveu para ele, detendo-se um metro de distância. Sua mão se estendeu em uma demanda infrutífera. — Dê para mim.

— Você está com sede também? Aposto que você não gostaria do preço dessa garrafa em particular. — Soltando o braço, ela ficou respirando, segurando-o cativo.

Porque não posso simplesmente empurra-la? Deveria ser fácil. Ela iria deixá-lo lo. Ia foder com ele durante nove malditos meses e tirar cada grama de prazer dele, e logo iria embarcar em um navio e navegar rumo a um continente diferente. E deixa-lo de pé atolado no maldito barro de Northumberland.

— Está furioso comigo — sussurrou ela. — Posso ver. Mas não sei por quê.

Ele estava. Tinha chegado a ele inesperadamente, uma explosão vulcânica lançando fogo. Como a maioria das mulheres, Charlotte desejava usá-lo. Para seu prazer.

Para seus projetos. Para seus propósitos. Igual a Sra. Knightley. Igual a sua mãe. Igual a cada uma delas. Ele acreditava que seria diferente, mas ela não era. Ela era igual.

Talvez ele deveria tratá-la como correspondia. Possivelmente esse tinha sido seu engano.

— Chatham, por favor. Não posso ajudar se não saber o que está errado.

Inclinou a cabeça e a olhou por debaixo de suas sobrancelhas.

— Deseja ajudar, verdade? Querida Charlotte. Sempre a que acerta. — Sua risada continha um fio de ameaça, uma mera fração do que sentia.

— Se quiser esta garrafa — a levantou pelo pescoço — Pode tê-la. Mas necessitarei uma compensação.

Ela franziu o cenho.

— Tenho algumas moedas, suponho.

— Moedas não, esposa. — Sorriu. — Você.


CAPÍTULO 18

“Não terá que falar do diabo para que apareça, querida, só terá que esperar já que não pode resistir a tentação de revelar-se e arruinar um babado perfeito.”

A marquesa viúva de Wallingham a Lady Gattingford, sobre o escandaloso marquês de Rutherford.

O estômago de Charlotte se agitou, engoliu em seco tentando de acalmar-se.

É o mesmo Chatham, o homem que há poucos minutos, sustentava seu coração em suas mãos e lhe dava vida, e o que te deixa sentir como faz pulsar seu coração com um desejo improvável.

Mas, na verdade, este não era o mesmo Chatham. Este era lorde Chatham, o demônio desumano e manipulador que tinha pensado que não voltaria a ver nunca.

— Já me tem, — observou ela em resposta a sua flagrante provocação. — Há agora uma boa negociação, talvez você gostaria de devolver a garrafa para que possamos reatar nossa conversa lá de cima, onde faz calor e há uma cama.

— Charlotte, — disse, com voz baixa e sedosa. — Aqui. E agora. Essa é minha oferta.

Seus pés estavam frios sobre a pedra, e a sua pele não estava muito melhor. Além disso, todos seus sentimentos anteriores de calidez e proximidade com ele tinham desaparecido.

Agora, ela simplesmente se sentiu alarmada e nervosa. A forma em que seu olhar faminto estava observando seu corpete, dava-lhe um pouco de formigamento , mas foi um efeito mínimo, na verdade, quase nada.

— Não sei por que importa em que habitação estejamos — disse ela com um suspiro

Inclinou-se para diante e deixou a garrafa no chão com movimentos fluídos.

— Porque esta é a habitação de minha eleição, pode fazer o que quiser com a garrafa e eu posso fazer o que quiser contigo. Esses são os términos, aceita-os ou parta.

Se ela partisse, ele beberia toda a adega, podia vê-lo em sua cara. Algo o tinha empurrado suficientemente longe para quebrá-lo, deve ter sido ela, mas não sabia o que havia dito para enfurecê-lo.

Não importa, nunca mais poderia vê-lo sofrer enquanto liberava seu corpo ao demônio venenoso. Mal tinha sobrevivido e se negava a perdê-lo, inclusive se necessário fosse ter que atá-lo para mantê-lo a salvo.

— Aceito, — disse com voz rouca.

Reunindo coragem, levantou o queixo e fechou a distância entre eles. Rapidamente agarrou a garrafa do chão, evitando o lobo confinado no porão com ela e voltou a deixar o vinho na prateleira ao qual pertencia, saboreando o ruído surdo.

Braços fortes e musculosos se apoiaram em ambos os lados dela, ele a tinha enjaulada contra a parede, seu calor se filtrava por suas costas.

— Onde vou saborear primeiro, hmm? — Sua boca acariciou seu cabelo.

— Está perguntando minha preferência?

Ela envolveu sua mão ao redor de seu pulso e a colocou sobre seu peito.

— Eu gosto quando me toca aqui.

Ele grunhiu, sua respiração se acelerou enquanto seus dedos a apertavam.

— Você é meu prêmio, — gritou — E o que importa é o que eu quero.

— Então, — murmurou ela, girando a cabeça para que seus lábios se aproximassem dos dele — Toma seu prêmio, meu senhor marido.

O braço de Charlotte deslizou para baixo para sujeitar a cintura dele, atraindo sua parte dura contra seus quadris. Estava excitado, podia sentir sua dureza pressionando com o passar da dobra de suas nádegas, e seu corpo respondeu derretendo-se, suavizando-se, preparando-se.

— Não me diga o que fazer, está claro? Se escolho te agradar, será porque desejo fazê-lo.

— Hmm. É obvio — respondeu ela, seu sangue começava a esquentar ante sua proximidade. O homem podia fazer com que ela o desejasse inclusive quando estava sendo bestial.

— Posso converter seu prazer em um tortura, esposa, e sua tortura em prazer.

— Estou a seu serviço.

A mão que permanecia apoiada na parede se levantou e bateu na pedra.

— Não diga isso, — grunhiu, apertando o braço ao redor de sua cintura. — Perdeste seus sentidos, mulher?

Ah, ali estava seu Chatham. O homem que depositou beijos tenros em sua bochecha quando acreditou estar adormecida. O homem cujo coração pulsava tão freneticamente como o dela quando a desejava, que escutava enquanto ela passeava pelo gesso e a carpintaria. Seu amigo. Ela tinha esperado esse homem surgir. Graças a Deus, provou-se que tinha razão, ou isto poderia ter saído terrivelmente mal.

Respirando profundamente, Charlotte lentamente se estirou para tomar sua bochecha.

— Meus sentidos estão bem sintonizados, posso sentir o calor de sua pele na minha, a força de seu braço ao redor de minha cintura e o batimento do coração, do seu coração contra minhas costas, você me faz sentir segura, Chatham, sempre.

— Segura. Poderia te danificar facilmente...

— Mas não o fará. — Ela pressionou sua bochecha para voltar sua boca para a dele, beijando seus lábios com ternura.

Ele se afastou para murmurar.

— Tal fé em minha melhor natureza infelizmente está equivocada.

— Se quem é, somos amigos e isso não está equivocado.

O braço ao redor de sua cintura se afrouxou e deslizou sua mão sobre seu ventre, acariciando-a sutilmente. — Tive um amigo uma vez, Lucien, fomos inseparáveis em Eton e ele também pensou que me conhecia. Estava equivocado.

As carícias suaves e rítmicas em seu ventre estavam avivando um fogo estranho. Ela lutou por controlar sua respiração.

— Como assim?

Ele passou sua língua ao lado de seu pescoço, deixando em seu caminho um formigamento.

— Ele era mais velho quando se foi de Eton, perdemos o contato, temo-me. Nossa amizade não pôde ter sido muito importante, ao menos para ele. Anos depois chegou a Londres e me falou como se tudo seguisse igual, como se me conhecesse o suficientemente bem para me salvar de mim mesmo. — Chatham riu, o som tingido de amargura.

— Eu fiz sua esposa acreditar que ele tinha sido infiel, uma obra prima, porque Lucien estava doente de amor por ela.

— Por que faria isso?

— Para demonstrar o que agora te mostrarei, meu amor.

A palma de sua mão pressionou mais firmemente contra seu ventre, acariciando mais abaixo e mais profundo, enquanto seus dedos flutuavam brincando sobre seu sexo.

— Subestima seu próprio risco.

Ela gemeu quando seus dedos deslizaram deliciosamente para baixo, empurrando o tecido de seu vestido entre suas dobras e aplicando pressão ... OH, a forma mais diabólica. Agarrou um punhado de seu cabelo, seus quadris apertando-se contra ele enquanto tratava de escapar e aumentar o prazer.

Ela sentiu seus dentes mordiscar e provocar o lóbulo de sua orelha, logo seu quente fôlego floresceu justo debaixo dele. Sua mão continuou acariciando com seus movimentos lentos, seus dedos girando e pressionando firmemente, logo brandamente, logo firmemente outra vez.

— Deixaste-me estar dentro de ti uma e outra vez, Charlotte.

Sua palma girou profundamente, causando que seu prazer em espiral se expandisse até que ela queria arranhar seu pescoço, lhe exigindo que o fizesse de novo.

— Não deveria querer, é possível que meu filho já esteja crescendo em ti e, entretanto, contínuas separando as pernas para mim, inclusive sabendo que um bebê complicará seus planos para ir aos Estados Unidos. Seu descuido, — disse-lhe burlonamente.

Ela gemeu, era quase insuportável, necessitava-o dentro, enchendo o vazio e prolongando o prazer. Inclusive agora, queria abraçá-lo intensamente enquanto ele liberava seu prazer uma vez mais. Foi descuidada e ele tinha razão mas não pôde evitá-lo, durante esses momentos, fundiram-se em um só. Toda sua vida havia se sentido só e só ele tinha apagado o vazio.

Ofegando, deu-lhe uma explicação passável, uma que esteve repetindo a si mesmo quando podia pensar com clareza.

— A minha mãe tomou quatro anos de matrimônio para ter um bebê, eu fui sua única filha e nunca mais voltou a conceber, embora meu pai queria desesperadamente um filho. Calculei o risco e o considerei mínimo.

Dada a forma em que sua mão se deteve e seu corpo se esticou, isto não pareceu agradá-lo. O que era estranho, porque tinha começado a pensar que ele estava zangado com a possibilidade de converter-se em pai. Sua infância tinha sido solitária e miserável, se ela não se equivocava em suas hipóteses. Ou possivelmente lhe preocupava que se unisse a ele e ficasse na Inglaterra, isso certamente causaria estragos em qualquer plano que tinha de retornar a sua vida anterior de libertinagem e vício.

Em sua conversa anterior, ela recordou justo antes dele se calar, que tinha confessado sua intensa preocupação por ele, “talvez ele não está assustado pela paternidade, mas sim está zangado porque sentia que está apaixonada por ele”.

Ante este pensamento, o desespero se assentou ao redor de seu coração, perdendo a cálida e crescente esperança de que tinha encontrado seu lar adequado com ele. “Ele pode desejar seu corpo, Charlotte, mas isso está muito longe de te desejar para sempre em sua vida”.

— Apoia os braços contra a parede, — ordenou, sua mão ainda trabalhando em seu prazer. Seu cheiro de pele cítrica igual a seu calor, rodeava-a.

Mordendo o lábio, ela obedeceu, as pedras frias e arenosas contra sua palmas, tinha aceito isto, depois de tudo. Nunca lhe tinha mentido, ela tinha feito isto a si mesmo.

Lhe acariciou o pescoço enviando calafrios por sua coluna.

— Muito bem, agora arqueia suas costas só um pouco,... perfeito.

Enquanto uma de suas mãos seguia acariciando e pressionando seu ventre e entre suas pernas, a outra abandonou a parede para recolher o tecido de sua saia, levantando-a até que o ar frio beijou seu traseiro nu.

— Abre suas pernas; mais largo; é uma boa menina.

Seu coração pulsava com força, desejou poder ver seu rosto.

— Chatham, — sussurrou ela. — Vamos subir , por favor. — Uma de suas coxas se encaixou entre os dela, agora esfregando-se junto com sua mão.

Ela sentiu seu outro braço contra suas costas, presumivelmente afrouxando sua braguilha.

— Sabe o que me agrada de seu corpo nu, Charlotte?

Ela engoliu em seco e sacudiu a cabeça, a pressão rítmica de sua mão sobre seu ventre gerando um forte calor.

— Ah, então te negligenciei. Me permita te explicar, comecemos com seus mamilos.

Sua mão livre deixou seus botões para afundar debaixo da prega dobrada de seu vestido solto e dar voltas para encontrar seu seio.

Ela se sacudiu quando ele agarrou firmemente o seio entre seu polegar e índice, girando com a mais doce pressão, enviando faíscas de fogo explorando sobre sua carne.

— São extraordinariamente sensíveis, veja você. Vejo-os endurecer por mim inclusive antes de que te faça meio doida. Quando os chupo, o que eu gosto muito, voltam-se de um vermelho mais intenso, como os morangos amadurecidos; mencionei que os morangos estão entre minhas comidas favoritas?

Seus quadris se retorciam agora, a espiral de prazeres se encontrava em seu núcleo e em seu peito.

Sua mão deixou seu mamilo com um golpe final de seu polegar através da ponta. Sua outra mão controlou as indefesas ondulações de seu ventre, obrigou seus quadris a ficarem quietos.

— Também estou a favor da curva de seus quadris, — continuou, arrastando os dedos pela parte superior de seus quadris. — E pela parte traseira. — Sua mão cavou apertando uma de suas nádegas. — Notei estas curvas, muito exuberantes, convidando a um homem a acomodar-se para uma viagem muita longa.

Ela grunhiu, seus dedos se curvaram contra a pedra áspera.

— Chatham. — Seu nome era uma advertência e uma súplica ao mesmo tempo.

— Agora, isso me leva a minha parte favorita de todas.

Sua coxa se retirou e logo sentiu que o calor de seu longo e grosso pênis deslizava nu e sedoso ao longo de suas dobras até que a ponta se incrustou contra a entrada de seu necessitado e úmido núcleo.

— Isto amor. — Acariciou-lhe as dobras femininas com a ponta, aumentando sua umidade e inflamando sua necessidade. — Este é o céu puro. — Ele a penetro de repente, afundando-se completamente dentro dela com um forte impulso para cima de seus quadris.

Seu grito, foi tanto de prazer como de comoção, seu pescoço e costas se arquearam quando sua mão controlou os giros da parte inferior de seu corpo. Seus dedos não detiveram seus movimentos, empapando a musselina de seu vestido onde ele esfregou, acariciou e rodeou seu centro. Sua palma pressionou ainda mais forte, criando uma pressão explosiva dentro dela quando ele a invadiu.

— É como estar rodeado de fogo líquido, cada vez que estou dentro de ti me queimo vivo.

Ela ofegou quando ele entrou mais profundo, tão profundo e enorme dentro dela, que mal podia respirar.

— Chatham, — ofegou ela. — Por favor. É... é ... muito.

Respondeu lentamente, centímetro a centímetro, retirando-se, só para reverter o rumo e deslizar-se para dentro. Repetiu os movimentos outra vez, e outra vez, e outra vez, a fricção era cada vez mais dura e aumentava seu prazer, a pressão e o calor floresciam e doíam. Era insuportável.

Seu corpo tremia inverificado e seus braços tremiam onde se apoiavam contra a pedra. Seu sexo o agarrou com força com cada impulso, tentando mantê-lo dentro dela, para alcançar a satisfação, enquanto que ele mantinha seus movimentos frenéticos.

Manteve-a sobre o precipício entre o prazer torturante e a tensão agonizante, ele não permitiria sua liberação. Cada vez que ela se aproximava das ondas do prazer e se apertava a seu redor, ele retirava tudo menos a ponta, aliviando a pressão de sua palma até que ela se acalmava e então começava de novo, sem dizer nada.

Foi como ele tinha advertido, tortura por prazer.

Quando ele deteve sua estimulação pela quarta vez, ela deixou cair sua cabeça para frente entre seus braços estendidos, soluçando seu nome e lhe suplicando que terminasse.

— Ao fim compreende, — disse, sua voz como a de um demônio. — Deixo-te agora, Charlotte? Levar-te-ei a beira da felicidade e te deixarei ali flutuando sem nada, fria e sozinha?

Ela negou com a cabeça, além das palavras, além de preocupar-se com seu orgulho ou se era correto deixar que ele a controlasse desta maneira.

— Qualquer coisa , dar-te-ei tudo o que queira Chatham mas por favor, Deus, por favor.

Ele se inclinou sobre ela, sua respiração era áspera e agitada contra suas costas, contra sua orelha. Não estava tão afetado como ela, notou com satisfação.

— Algo? — Murmurou. — Está segura disso?

Ela assentiu, um gemido impotente escapou de seus lábios.

— Recorda sua promessa, amor, farei que a mantenha.

Seus quadris empurraram, duro e profundo, comprido e verdadeiro.

Sua mão pressionou e acariciou, levando-a mais alto, envolvendo-a mais forte, irresistivelmente apertado.

Suas pernas tremiam, úmidas e dolorosas.

Recolheu seu cabelo em seu punho e pôs sua boca aberta sobre seu pescoço, sugando e mordiscando enquanto seu pênis trabalhava dentro dela, esquentando-a e acariciando-a e suspendendo-a como um pássaro sobre uma corrente ascendente, colocada de maneira insuportável no ar.

Então se rompeu e se separou em mil pedaços, gritando e soluçando com voz rouca. Ela nem sequer podia formar seu nome, só lançou sua cabeça para trás sobre seu ombro e chorou de prazer sem palavras, gemendo.

Seis impulsos mais, e ele se uniu a ela, o calor de sua semente a encheu com a música de seus gritos ressonantes e gemidos ásperos. Quando seus estremecimentos se dissiparam, um braço musculoso se envolveu ao redor de suas costelas e a apertou com tanta força contra ele, parecia que ele absorveria seu corpo no seu.

Seus próprios braços trementes se levantaram da parede, caindo fracos a seus flancos sem poder fazer nada. Felizmente, ele a manteve erguida, ainda enterrado profundamente em seu interior. Finalmente, ela levantou uma mão para sua cabeça, deixando cair seus dedos brandamente sobre seu cabelo sedoso.

Ela não deveria haver-se apaixonado por ele. Nada bom poderia sair disto a não ser dor para ambos.

— Manterá sua promessa para mim, esposa, — suspirou contra seu ouvido. — Encarregar-me-ei disso.

Ela já suspeitava qual seria sua demanda, temia-o como o faria com a própria morte porque a mataria deixá-lo, mas deveria fazê-lo quando chegasse o momento, a menos que ele pudesse ser persuadido do contrário. Mas ela não era Viola, assim descartou o pensamento como fantasioso e enganoso.

Mesmo assim, com seus braços rodeando-a e seu pênis ainda firmemente dentro dela, pensou que possivelmente haveria uma oportunidade...A oportunidade de tentar ao diabo para que a tenha com ele para sempre.


CAPÍTULO 19

“Os advogados são um mal necessário e em algumas ocasiões, questiono sua necessidade”

A marquesa viúva de Wallingham a seu filho, Charles, durante uma discussão sobre assuntos de patrimônio e os males da profissão legal.

— Ele está aqui, agora? — disse Charlotte com voz chiante. Acabava de ser informada de um evento calamitoso, qualquer expressaria surpresa e não havia nada para isso.

— Sim, minha senhora, no caminho não faz mais de um minuto, — informou Booth, suas mãos girando seu chapéu em círculos com nervosismo. — Suponho que está aqui para dar más notícias, então, devo me manter em posição, senhora?

Ela colocou um rosto calmo para Booth e tirou o avental, pendurou-o na cabide ao lado da porta do jardim e escovou as laterais do cabelo.

— Não nos preocupemos com o desconhecido, Sr. Booth. Estou segura de que isto é simplesmente uma visita amistosa.

Ela não estava segura disso. Quantos advogados de Londres viajaram até Northumberland para fazer uma visita social? Apostaria que não muitos.

Caminhando através da cozinha, respirou profundamente o aroma dos bolos assados e olhou em seu redor em busca de Esther. A cozinheira estava separando a cabeça de uma truta que Tannenbrook tinha entregue a sua porta essa manhã.

Mas a criada áspera não estava por nenhuma parte, isso era interessante.

Enquanto transitava pelo corredor dos serventes para a parte dianteira da casa, escutou os rápidos golpes na porta principal e a abriu.

— Senhor Pryor, — exclamou ela. — Afastou-se muito de Londres, verdade?

Com o chapéu na mão, o ardiloso advogado fez uma reverência.

— Lady Rutherford, espero que perdoe minha visita inesperada. Vim por uma questão de importância.

— Bom, entre.

Quando Charlotte se afastou para deixar passar ao homem, viu Booth no caminho circular atendendo aos cavalos. Ele lançou um olhar inquisitivo, ao que ela encolheu os ombros sutilmente, logo assentiu para indicar que devia continuar seu trabalho. Inclinou-se e levou a carruagem e o servente de Pryor para os estábulos.

Claramente, não foi o Sr. Booth quem alertou ao irritante Sr. Pryor, por isso só poderia ter sido Esther. Charlotte deveria ter percebido que não devia confiar nela.

Pryor estava estirando o pescoço e girando em círculo dentro do vestíbulo de entrada.

— Minha nossa , Lady Rutherford. Este lugar não é absolutamente como o descreveu Lorde Rutherford, devo dizer que é uma beleza. Ele o fez soar terrível, chamou de uma pilha de escombro, mas no caminho para aqui, vi campos abundantes, terras ricas e férteis. E esta escada...esplêndida, simplesmente esplêndida.

Uma parte dela estava tão agradada como uma mãe orgulhosa ao escutar os elogios de Pryor, mas estava impaciente por saber por que estava ali.

— Fizemos reparações extensas, Sr. Pryor. Estou contente com as mudanças, embora estejam longe de ser completas. Importar-lhe-ia ver o salão? Pedirei à cozinheira que nos prepare um pouco de chá.

As curtas sobrancelhas do homem se arquearam em surpresa.

— Tem uma cozinheira?

— Mmm e muito boa, na realidade.

— E você? Me perdoe minha Lady, não é isso terrivelmente caro?

Além do fato de que sua pergunta era grosseira, ela sempre se encontrava irritada com o irritante Sr. Pryor com seu rápido discurso e sua natureza intrusiva. Se ele fosse seu advogado, não o teria sido por muito tempo mais.

— Lorde Rutherford fez um trabalho admirável ao adquirir novos inquilinos, — respondeu ela. — Suas habilidades na negociação são excelentes.

Isso era verdade, ela tinha descoberto quão magnífico era seu marido nas últimas duas semanas. Mas não desejava pensar nisso agora, porque ficaria nervosa e avermelhada, e não podia distrair-se frente ao senhor Pryor.

— Sim, sim, sim. Onde está lorde Rutherford, se posso perguntar? Também devo falar com ele. Assuntos de soma...

— Importância. Sim, temo que ainda não retornou de seu passeio pela manhã. Espero que volte para casa logo. Talvez para quando estivermos no salão, ele se unirá a nós.

Ela o levou acima ao salão carmesim e logo se apressou a ir à cozinha para falar com a cozinheira sobre o chá. E Esther...

— Encontre-a, — ordenou Charlotte, respirando pesadamente. — Diga que desejo falar com ela imediatamente, me avise quando estiver localizada. Ah, e quando chegar Lorde Rutherford, lhe diga que se una a nós no salão imediatamente.

Correndo pelas escadas, deteve-se frente às portas da sala para recuperar o fôlego. Poderia ser nada, pensou, talvez papai deseje proporcionar recursos adicionais ou talvez foi golpeado pela consciência ou possivelmente apareça um dragão e trague ao senhor Pryor e seu alto chapéu para logo cuspi-los ao mar.

“Acreditaste em coisas impossíveis ultimamente, verdade, Charlotte? Colocando uma mão sobre seu ventre, abriu as portas e entrou.”

E ali estava Chatham, recostado em um de seus sofás de prímula, luzindo um dos casacos que tinha modificado para ele de cor azul, quatro tons mais escuros que seus olhos. Ao vê-lo ali, bonito e devastador, com um sorriso sardônico e uma conversa graciosa com o advogado, fez que seu coração saltasse um batimento. Os dois homens ficaram de pé quando a viram.

— Marido, — disse sem fôlego, aborrecida de sentir o calor formigando em todas partes. Um meio sorriso zombador curvou sua boca.

— Esposa.

Ela rodeou a pequena mesa de palissandro para sentar-se a seu lado.

— Confio que seu passeio tenha sido agradável.

— Meus passeios sempre o são, sempre que o animal eleito seja o suficientemente enérgico.

Clareou a garganta, sentindo que o rubor crescia.

— Lorde Rutherford fez maravilhas com o imóvel, Sr. Pryor — disse apressadamente. — As terras florescem sob sua mão. Em seu cuidado, quero dizer. Seus conhecimentos e capacidades são assombrosos, de verdade. A aveia está quase amadurecida e preparada para a colheita. Na próxima semana, não, lorde Rutherford?

A seu lado, ela podia sentir o calor de seu olhar em sua bochecha.

— Talvez, — respondeu. — Não se deve apressar estas coisas. A maturidade perfeita requer paciência. Uma certa disposição a permitir que o calor e a umidade aumentem e façam seu trabalho, produzindo frutas tenras e suculentas. Muito disto é instintivo, terá que olhar, cuidar, preparar e logo, quando for o momento adequado, colher com grande vigor.

Ela deveria ter trazido um leque, a este ritmo, estalaria em chamas e o que fosse que o senhor Pryor tivesse vindo a lhes dizer, não importaria nem um ápice.

Pryor parecia alheio à corrente subterrânea.

— Devo dizer que os campos parecem estar florescendo, Lorde Rutherford. É trigo o que você cultiva principalmente?

— Entre outras coisas.

— Uma boa colheita para esta região, ou pelo menos me disseram.

— Sua visita tinha a intenção de obter um propósito, senhor Pryor, ou ficou sem conversa em Londres?

Charlotte se virou, com os olhos completamente irritados sobre seu marido. Parecia despreocupado, sua expressão ligeiramente sardônica e sua postura relaxada. Inclusive estava acariciando o lado de sua coxa com os nós dos dedos, e óbvio, sua mão estava oculta à vista, colocada entre eles e coberta pelas dobras de suas saias. Mas ele não estava tomando a sério esta visita absolutamente, o homem claramente carecia de sentido comum.

Pryor nervosamente limpou a garganta.

— Temo que recebi algumas informações bastante angustiantes, meu lorde. Os términos de seu acordo de matrimônio, segundo uma fonte, podem ter sido violados.

OH Deus. Foi Esther. Sabia que deveria ter ameaçado à ingrata e que suas súplicas obviamente tinham caído em ouvidos surdos.

— Agora, com um só relatório, e incerto, seria um mau serviço para você e para o Sr. Lancaster se o relatório cometeu engano e se chegou a uma decisão apressada.

Charlotte abriu a boca para responder, com a intenção de dizer a este odioso, oficiante e terrível homenzinho que se dirigisse para o sul, girasse à esquerda e não parasse até que tenha encontrado o fundo do oceano. Mas Chatham falou primeiro.

— Que sugere? Chamemos um magistrado?

— OH, nada tão oficial, — disse o advogado, agitando uma mão e alheio por completo ao sarcasmo de Chatham. — Simplesmente realizarei uma entrevista com você e com Lady Rutherford, e com qualquer membro do pessoal que tenha conhecimento dos eventos em questão.

— E que eventos estão em questão? — A voz de Chatham era suave, mas Charlotte podia escutar o fio mortal debaixo dele. Não estava contente, não.

O advogado retirou uma carta do arquivo junto a ele.

— Ocorreu na tarde de 17 de junho. Aproximadamente faz duas semanas. Você foi acusado de beber vinho de sua adega aqui em Chatwick Hall. Suspeita-se, mas se desconhece se obteve um estado de embriaguez. — Deixou a carta de um lado. — É por isso que estou aqui, para averiguar os fatos sobre o assunto. Como sabem, não é proibido beber, meu lorde, só ficar em estado de embriaguez.

Charlotte odiava poucas pessoas, mas desprezava a este homenzinho calvo com seus pequenos olhos e seus tecnicismos.

— Não aconteceu, — espetou ela. — A acusação é absurda. Meu marido não tomou nenhum só copo de cerveja desde o dia de nossas bodas.

Pryor franziu o cenho.

— Não entrou no porão em 17 de junho?

— Sim, fê-lo.

— E tomou uma garrafa de vinho com a intenção de obter a embriaguez?

Chatham pôs sua mão na coxa de Charlotte para deter sua próxima resposta. Em troca, levantou uma sobrancelha ao advogado.

— Não sabia que a embriaguez era considerava um lucro, então deveria ser um campeão.

— Chatham, — sussurrou ela. — Não está ajudando.

A cozinheira entrou com a bandeja de chá e a colocou na mesa de palissandro.

Charlotte lhe deu obrigado e logo lhe pediu que enviasse Esther ao salão.

— Senhor Pryor, — disse ela, — Sei quem enviou a carta, e devo lhe dizer que ela está equivocada em suas hipóteses. Lorde Rutherford se absteve de tomar licores de todo tipo, e com um grande custo para sua saúde inicialmente. O incidente no porão foi um... mal-entendido.

Serviu o chá, lutando por estabilizar suas mãos enquanto escorria e gotejava sobre os lados das xícaras. Uma xícara estava lascada , a daria ao senhor Pryor. OH, como o odiava. Ele tinha dirigido seu subsídio de anos com este tipo de interrogatórios, “comprou dois cavalos em um só mês, senhorita Lancaster. É realmente necessário tal gasto, senhorita Lancaster? Talvez poderia montar menos, senhorita Lancaster”.

Depois que distribuiu as xícaras, irritada pelo eco de suas palavras, deixou-se cair de novo no sofá ao lado de Chatham, ansiosa por vê-lo desarmar ao advogado calvo e agravante. Nesse momento, outro golpe soou na porta. Quando viu quem era, voltou sua ira sobre a criada severa, que caminhava de forma estranhamente envergonhada. Ela queria verter o bule cheia de chá sobre a cabeça da traidora.

— Ah, senhorita Hazelwood, — disse Pryor. — Tenho perguntas para você com respeito ao assunto que descreveu em sua recente carta sobre o incidente da adega.

A mandíbula de Esther se endureceu e levantou o queixo desafiante.

— Enviei a carta e não me arrependo. — Estava olhando diretamente a Charlotte, como se a mensagem fosse somente para ela.

Depois de toda a paciência que lhe mostrou, as concessões que tenho feito por suas descortesias e insultos, assim é como me agradece? Tinha dado à mulher o benefício da dúvida e possivelmente não deveria havê-lo feito. Tinha trabalhado ao lado de Esther durante longas horas, às vezes rindo de seus comentários bruscos. Inclusive tinha conseguido provocar um sorriso em alguma ocasião pensando que o respeito ou ao menos um entendimento, era compartilhado entre elas, duas mulheres que faziam as coisas a sua maneira. Equivocou-se.

— O que recorda dessa noite, senhorita Hazelwood? — perguntou o Sr. Pryor.

Esther trocou seu peso de um pé ao outro.

— Estava limpando depois do jantar, quando o senhor ali, — fez um gesto com o dedo a Chatham, — Vem de um canto e quase me atropela, parecia que o próprio diabo o levava voando. E depois seguindo-o, passou a senhora empenhada em salva-lo de si mesmo.

O senhor Pryor se inclinou para frente, escutando com atenção.

— E quando chegaram à adega, o que viu?

— Aquele que está ali, — uma vez mais assinalou a Chatham, — Apareceu com uma garrafa na mão e a senhora lhe suplicou que não a bebesse, mas não estava escutando. Ela me disse que partisse, não queria estar com bêbados, é arriscado, fui fechar a porta mas fiquei na despensa.

Repentinamente, Charlotte estava menos preocupada com um relatório errôneo do que por um preciso, possivelmente deveria detê-la.

Era muito tarde, Esther não se deteria.

— O seguinte que ouço é à senhora suplicar misericórdia, inclusive a escutei rezar ao bom Deus como se estivesse morrendo. Isso foi tudo. Charlotte ia se queimar justo em frente do Sr. Pryor, Chatham e sua faxineira. As paredes carmesim se atenuaram em comparação com suas bochechas e não podia olhar Chatham. Enquanto, o diabo tinha reatado as carícias em sua coxa.

Esther soprou, parecendo genuinamente angustiada.

— Era minha intenção ajudá-la e o teria feito, senhora, deve me acreditar, mas a cozinheira me deteve, disse que não era minha ocupação e que era um assunto de casados, — disse ela.

Charlotte cobriu seu rosto ardente com suas mãos. Necessitaria uma semana de banhos frios para refrescar sua pele depois disto.

— Agora, não posso dizer com certeza se estava bêbado, não cheirei nada nesse momento nem depois. Mas lhe digo a verdade, estivemos procurando em qualquer momento do dia, entrando nesta habitação e fechando as portas, às vezes por horas. E mais que lamento e pranto, suficiente para romper seu coração...

— OH Esther, — grunhiu Charlotte em suas mãos.

A criada não a tinha traído, pensou que a estava ajudando ao envolver o Sr. Pryor. Em troca, ela tinha instigado um dos momentos mais mortificantes de sua vida. E tinha havido mais de uns poucos.

— Alegra-me que tenha vindo, senhor Pryor. Aquele que está aí, — assinalou pela terceira vez a Chatham — Deveria envergonhar-se de si mesmo. Essa é a verdade disto.

O senhor Pryor, que parecia terrivelmente incômodo, clareou a garganta três vezes antes de despedir com a cabeça a Esther.

— Obrigado, senhorita Hazelwood. Eu... tomarei seu relatório sob conselho. Asseguro-lhe que, se existir alguma causa para, né, sua preocupação, verei que se corrija.

Esther assentiu, deu-se a volta para ir, e logo, quando chegou às portas abertas, voltou a olhar para Charlotte.

— Sinto muito, minha Lady. De verdade.

Então, ela partiu. E Charlotte ficou sustentando suas próprias bochechas, incapaz de falar. O que havia para dizer, de verdade?

Chatham respondeu a sua pergunta com indiferença.

— Então, Sr. Pryor. Consideramos que sua consulta concluiu ou gostaria de escutar uma versão mais detalhada dos eventos dessa noite?

~~~

Charlotte golpeou a testa com o pulso e tirou outro ramo de hortelã para o chá de Chatham e o colocou na cesta junto a seus pés. Estava sozinha no jardim, a luz do sol caía sobre seu chapéu e para trás. Não é que ela necessitasse calor, sua humilhação anterior lhe tinha proporcionado calor em abundância.

Ela quase quis rir. Quase. Não podia estar zangada com Esther, porque a mulher tinha pensado que estava sendo maltratada. Embora não gostasse do senhor Pryor no mínimo, sabia que ele simplesmente estava fazendo o que seu pai lhe tinha pedido. A única pessoa em quem podia focar sua frustração era Chatham.

Certamente, não tinha melhorado a situação com seu sarcasmo zombador e suas mãos errantes.

O Chatham das últimas duas semanas perfeitamente sóbrio e sem outra só ameaça de rompimento, tinha atendido todos seus deveres habituais, comportando-se como um lorde responsável. Inclusive tinha começado a esboçar um novo sistema de drenagem para a seção noroeste.

Mas, contrariamente, seu comportamento foi o de Lorde Chatham, o libertino de Londres: cínico, calculador, manipulador. Desejava que isso o fizesse menos tentador para seu corpo rebelde porque debaixo dessa carapaça estava o homem que amava, escondendo-se dela e tentando manter uma distância entre eles para que ela não se apegasse muito. Poderia lhe haver dito que era muito tarde para tais medidas, mas ele evitou qualquer intento de falar sobre as emoções, seduzindo-a.

As descrições de Esther tinham sido coloridas e precisas nesse aspecto, só esperava que o Sr. Pryor pudesse lavar sua mente. Saber detalhes sobre sua relação sexual com Chatham era simplesmente insustentável. O único bom disto foi que tinha chegado à conclusão de que não se violou o contrato de matrimônio.

Naturalmente, Pryor tinha insinuado que deveria ser convidado a ficar com eles como convidado antes de retornar a Londres. Ela tinha aceito isso porque deveria assegurar-se de que partisse sem incidentes.

Ela cortou um raminho de alecrim com um estalo de suas tesouras, com movimento mais cruel do que deveria ter sido. Por sua parte, Chatham tinha permanecido no salão só o suficiente para escutar as garantias de Pryor de que sua investigação tinham sido concluídas satisfatoriamente. Logo, tinha-a deixado ali, com o rosto avermelhado e furioso, frente ao irritante advogado.

Agora, Pryor estava instalado em uma das habitações de convidados, seus serventes e seus cavalos alojados nos estábulos, e seu estômago corpulento se preparava para assistir ao jantar em sua mesa. No que dizia respeito a ela, a situação dificilmente poderia ser pior.

— Minha Lady, desculpe incomodar , — disse Booth, com o chapéu na mão frente à porta do jardim.

Ela suspirou e jogou um punhado de bálsamo de limão em sua cesta.

— O que acontece, senhor Booth?

— Há outra carruagem na entrada.

Protegeu os olhos do resplendor do sol e entrecerrou os olhos ante o servente de cabelo de cor cinza.

— Outro? Quem é?

— Não estou seguro, minha Lady. O lacaio é negro, a carruagem é antiga, sem marcas e tampouco reconheci ao cocheiro.

Agora o quê? Com os ombros cansados, assentiu. Parecia que era seu dia para receber hóspedes não desejados. Jogando as luvas e as tesouras na cesta, depositou-a sobre a mesa da cozinha, tirou o chapéu e o avental e, uma vez mais, dirigiu-se ao vestíbulo.

Uma vez que meu dote esteja em minhas mãos, contratarei um mordomo, decidiu, isso se ainda estiver aqui. Chatham não tinha demonstrado ser suscetível a sua companhia nesse sentido. Ignorando a estranha pontada em seu coração, abriu a pesada porta para ver quem tinha chegado. Era uma mulher baixa, loira, estava assistida por um servente negro envelhecido e um chofer igualmente envelhecido. A mulher levantou a cabeça, permitindo a Charlotte vislumbrar seu rosto mais à frente da borda de seu luxuoso chapéu de seda vermelha.

— OH, querida, — murmurou para si mesmo.

Chatham não ia gostar disto.

O rosto sem rugas da mulher parecia vinte anos mais jovem que sua verdadeira idade. Os olhos prateados devoravam a vista de Chatwick Hall como se estivessem vendo um antigo amante. Esses olhos a viram na porta segundos depois, estreitando-se quando sua cabeça, de maneira delicada se inclinou. A Charlotte tal inclinação era familiar, recordou a seu marido.

— Senhorita Lancaster, — disse sua sogra com voz ardilosa e sedosa. — Peço-te perdão. Lady Rutherford, agora, não? Alguém se esquece quando não foi apresentada corretamente.

— Lady Rutherford, — reconheceu Charlotte assentindo. — Que... visita inesperada.

— Bem, pensei que era hora de fazer uma visita a meu descendente rebelde.

Catherine afrouxou delicadamente os dedos das luvas e se deslizou para ela, com seu vestido de seda vermelho roçando os degraus de pedra, antes de que se desse conta de que tinha a intenção de entrar. Estranho, ela tinha que saber que não era bem-vinda. Os olhos prateados piscaram e uma pálida sobrancelha loira se elevou.

— Pode ser que seja tão alta como uma grade senhorita Lancaster, mas me atrevo a dizer que inclusive Rutherford não lhe exigirá que atuei como tal.

O comentário áspero junto com o uso do sobrenome de solteira, foi intencional e lhe fez querer fechar a pesada porta de madeira, no formoso rosto da mulher. Em troca, apertou os dentes e ficou de lado, saudando com a mão para dar a bem-vinda à mãe de Chatham, na casa dele.

Com a cabeça alta, Catherine passou altiva mais à frente da soleira, seus olhos vagando por toda parte de uma vez. Um misto de tristeza se apoderou de suas feições, tão brevemente, que pensou que tinha imaginado.

— Catherine!...Lady Rutherford, — exclamou o Sr. Pryor do patamar da escada. Sua cabeça calva estava avermelhada, seu peito inchado e sua barriga arredondada para dentro. — Você chegou por fim. Estava começando a me preocupar de que talvez os vagabundos tivessem levado sua carruagem.

— Archibald, meu amor, se preocupa desnecessariamente, embora teria gostado que viajássemos juntos na mesma carruagem. — Catherine fez uma careta com seus lábios um lindo gesto quando as duas mãos se uniram na base da escada. — Muito mais estimulante.

Archibald? Ao ver a mãe de Chatham e o advogado de seu pai saudar-se com tanta familiaridade, sentiu a repentina necessidade de vomitar.

— Não me dava conta de que estava familiarizado com a viúva, senhor Pryor.

Ela não pôde evitar a faísca de satisfação ao ver a careta de Catherine. Talvez a viúva pensaria duas vezes antes de referir-se a ela como senhorita Lancaster novamente.

— Sim, sim, sim. — Sorriu à formosa mulher vestida de vermelho brilhante. — Facilitei a venda da casa de sua senhoria na praça Grosvenor. Um momento difícil para minha bela flor, mas nosso encontro foi muito fortuito.

O falso e brilhante sorriso de Catherine voltou as bochechas do homem positivamente rosadas.

— Quando Archibald mencionou que tinha a intenção de visitar Chatwick Hall, soube que devia acompanhá-lo, porque faz meses que não vejo meu amado filho. Como senti sua falta. — voltou-se para Charlotte, com os olhos agudos e ardilosos.

— Onde está Rutherford, querida?

— Onde sempre estou, mãe, — a voz de Chatham, suave e fria, veio de trás de Charlotte. — Tão longe de ti como posso estar.

Entrou pela passagem leste, luzindo elegância e surpreendentemente imperturbável.

Seu coração, como sempre, deu um tombo ao escutá-lo e logo golpeou com mais força ao vê-lo.

— Supus que Northumberland seria suficientemente longe, — disse e se colocou junto a Charlotte. Sua pele formigava onde sua manga roçava seu braço.

— Suas brincadeiras não são divertidas, Chatham. Venha dar um beijo em sua mamãe. — Catherine estendeu os braços e agitou os dedos.

Chatham a olhou como estivesse louca.

— Há uma estalagem nos subúrbios do povoado, vá ali e deixe Northumberland, não encontrará nada que te beneficie aqui.

Uma vez mais, a mulher, que era muito velha para enfurecer-se tão abertamente, fez uma careta e inclinou a cabeça.

— Passaram séculos da última vez que estive em Chatwick Hall. As mudanças são... interessantes.

— Minha esposa está fazendo isso. — disse ele. — Seus talentos são excepcionais.

Charlotte piscou, logo deixou que o brilho de seu elogio brilhasse ainda mais em forma de um sorriso. A sua mãe Catherine golpeou a condescendência.

— Sim, bem, mas poderia ter usado mogno, em lugar de nogueira, para a escada. Um grão muito superior. É obvio, como saberia uma americana um pouco de qualidade superior?

Chatham se aproximou de sua mãe e baixou a cabeça para que não lhe escutasse mal.

— Esta é a casa de Charlotte, mãe. Não é tua. Nunca foi tua. Confio em que estou sendo claro.

O resplendor de antes se expandiu e encheu como uma bolha, iridescente e maravilhosa. Sua casa. Dela. Ela nunca tinha escutado palavras mais doces. Talvez ele estivesse se aproximando, depois de tudo.

Mas então Catherine sorriu, lenta e tortuosamente.

— É dela?, — perguntou ela, burlando-se de sua voz. — Ou pertencerá a seu herdeiro?

Chatham ficou imóvel, olhando a sua mãe, muito mais pequena, com um ódio furioso e visível.

Charlotte franziu o cenho. Por que Catherine deveria mencionar ao futuro herdeiro de Chatham, e de uma maneira tão zombadora? E por que deveria fazê-lo zangar-se?

— Pode dormir na habitação amarela na parte dianteira da casa, mãe, — disse, as palavras fizeram que Charlotte se perguntasse se tinha perdido algo ou talvez se tornou louca.

Por que convidaria Catherine a ficar depois de insultá-la tão a fundo?

Estranho, por certo. E bastante irritante, considerando que era a última pessoa com a qual Charlotte desejava jantar essa noite.

— Uma noite, — grunhiu. — Então partirá. Se o fizer ou não por sua própria vontade, será sua escolha, mas amanhã partirá.

Sorrindo com triunfo, Catherine assentiu e se dirigiu à porta para chamar seu cocheiro.

— Traga os baús para dentro, Bernard. À habitação amarela, no alto da escada.

Charlotte ficou olhando a parte posterior da cabeça de seu marido, tratando de entender o que lhe tinha passado.

— Bom, isto promete ser uma visita bastante agradável, atrever-me-ia a dizer, — opinou o alheio Sr. Pryor, passou uma mão pelo ventre. — A que hora disse que se serve o jantar?


CAPÍTULO 20

“Ora! Uma mulher repugnante. Esperava que sucumbisse a alguma enfermidade desafortunada. Dadas suas predileções, esse destino era uma possibilidade clara. Entretanto, frequentemente são os odiosos os que demonstram ser mais resistentes”.

A marquesa viúva de Wallingham a Lady Gattingford, durante uma discussão sobre a repugnante mãe de certo marquês.

— E sabe o que fez depois, George? — Charlotte perguntou ao cavalo marrom que estava montando. — Exigiu outro banho. “Leve-o ao quarto”, disse, como se fosse um travesseiro ou uma xícara de chá, em lugar de uma hora carregando pesados baldes por minha nova escada.

George, o cavalo moveu as orelhas, claramente menos indignado pelo comportamento grosseiro, exigente e arrogante de Catherine do que Charlotte. George era tranquilo e nobre por natureza, é obvio, muito parecido a seu homônimo, o Sr. Washington. E não tinha estado sujeito à presunção da mãe de Chatham durante vinte e quatro horas agonizantes.

Charlotte já tinha tido o bastante, e tinha a intenção de dizer a Chatham. Por isso se dirigia à seção noroeste do imóvel, onde Booth havia dito que estaria seu marido. Ao subir uma colina perto da curva interior do rio, viu-o, alto e elegantemente vestido com o casaco verde de montar que tinha sido arrumado.

Estava junto a outro cavalheiro, que vestia roupa escura e desmantelada e um chapéu de disquete. Parecia que estavam examinando a beira do rio com interesses indevidos.

Ela deteve George e desmontou, deixando que o cavalo pastasse enquanto se aproximava do homem que, por Deus, expulsaria sua mãe de sua casa embora tivesse que lhe prometer a lua.

À medida que se aproximava, os fragmentos da conversa dos cavalheiros se dirigiam a ela com a ligeira brisa. Algo sobre “veias” e “amostras” e “cavar”. Deve ser o novo sistema de drenagem que Chatham pretende instalar.

— Boa tarde, cavalheiros. — disse ela.

Chatham girou para olhá-la por cima do ombro, mas não se virou, suas largas pernas separadas, uma bota plantada na borda, a outra perto da água. Em vez disso, continuou falando com seu companheiro, um homem de cabelo escuro que, como agora via, possuía as feições ásperas de um operário.

Aproximando-se, as botas de Charlotte deslizaram sobre o lodo escorregadio, seus braços girando para recuperar o equilíbrio. Com o coração palpitando, deteve-se para estabilizar sua posição.

De repente, Chatham estava ali frente a ela, sua sombra movendo-se sobre o solo salpicado de erva. Seu coração pulsava ainda mais forte.

— O que está fazendo aqui, Charlotte? — Disse bruscamente, segurando seu braço.

— Esse barro é muito escorregadio para alguém com suas calamitosas tendências.

Seu desprezo não era nada novo: quando não a tinha estado seduzindo com uma intensidade vertiginosa durante as últimas duas semanas, tinha estado ausente, afastado, sarcástico e, em ocasiões, pouco amável, quase como se lhe causasse dor de forma deliberada. Mas se negou a lhe deixar ver como seus golpes a danificavam. Em vez disso, como agora, deixou que a espetada picasse por um momento antes de responder a sua pergunta. — Sua mãe está me deixando louca. Deve enviá-la longe. Não posso suportá-la outro instante.

Franziu o cenho e a soltou. — Ainda está aqui?

— Ela queria outro banho. — Revirou os olhos. — Esther ameaçou colocar fogo nos muitos baús de Catherine. Disse-lhe que isso só atrasaria sua partida, assim agora está ajudando à cozinheira a preparar o jantar.

Soltou um suspiro, esfregou a ponta de seu nariz, e olhou detrás dele, onde seu companheiro permanecia curvado, examinando as capas de rocha ao longo da borda do rio. — Volte para casa. — disse — Falarei com ela quando terminar aqui.

— Quando será isso?

— Quando terminar.

Pôs suas mãos sobre seus quadris e se inclinou para olhar além de seu ombro. — O que está fazendo, exatamente? E quem é ele? Um novo inquilino?

— É um carvoeiro de Newcastle.

Seus olhos brilharam com surpresa. — Um carvoeiro. Há carvão debaixo do imóvel Chatwick?

— Nesta seção, talvez. Devemos cavar se quisermos descobri-lo.

— Por que não me disse isso?

— O que faço e com quem não é de sua incumbência. — Fez a declaração do corte com uma precisão tão fria, que ela quase cambaleou. Ultimamente, sua crueldade tinha sido difícil de suportar, mas estava segura de que, com o tempo, ele se suavizaria de novo, que seu verdadeiro eu emergiria, e possivelmente ela poderia lhe fazer ver os benefícios de tê-la a seu lado.

— Somos sócios, Chatham.

— Precisamente por isso devo extrair o carvão se é que existe. Gastaste muito ao mobiliar Chatwick Hall, e devo ter alguma forma de te reembolsar como estipula nosso acordo. — Seus lábios se enroscaram em uma careta de desprezo, seus olhos brilhando com uma luz estranhamente amarga. — Como indicaste, estabelecer uma nova vida na América não será barato.

Ela engoliu com força, sentindo como se ele a tivesse golpeado no estômago com o punho. Queria que partisse quando terminasse o ano. Ela sabia. Mas a malícia em seus olhos era esmagadora. Odiava tanto a ideia de que ficasse na Inglaterra? Devia fazê-lo.

— Houve um tempo no qual compartilhou seus planos e preocupações sobre a propriedade comigo. — disse, tentando-o pela última vez. — Valorizou meu conselho, ou ao menos isso acreditei. Entretanto, não me há dito nada em mais de quinze dias. Não sei o que tenho feito, Chatham, por que estiveste tão... amargurado comigo.

— Vai. Não há necessidade de que te envolva. — Outra vez, a careta de desprezo. — Não deves te apegar.

Negra e espumosa, a agitação em seu estômago piorou até que pensou que poderia vomitar sobre suas botas. Tropeçou para trás, incapaz de dizer uma palavra mais.

Incapaz de olhar seu rosto por mais tempo.

Incapaz de deter as lágrimas que transbordavam de seus olhos de forma tão inesperada, nem sequer podia as deter com suas mãos. Não se incomodou em tentá-lo.

Simplesmente deu as costas a seu marido, encontrou o caminho de volta até George e cavalgou para o sul. Longe do homem que finalmente a tinha quebrado, o único homem ao qual tinha amado.

~~~

Chatham não podia mover-se. O chumbo encheu seus pés e pernas e braços e peito.

E seu coração. Logo que pulsava.

Olhou para onde ela tinha desaparecido, a parte superior de seu chapéu de palha baixando além da elevação até que já não pôde vê-la.

A dor tinha sido feroz durante duas sangrentas semanas. Sabendo que o deixaria.

Querendo que ficasse. Vê-la cumprir com seus deveres como se seu mundo não estivesse sendo consumido pelo fogo e a agonia.

Mas de pé aqui, vendo sua esposa voltar-se completamente branca, seus lábios cinzentos em lugar de rosados, seus olhos cheios de lágrimas indefesas. Isso o tinha destruído. Neste momento, não era mais que uma casca, oco e uivando.

Machuquei-a. Fiz. O conhecimento era insustentável. Arranhou-lhe e rasgou sua carne.

A princípio, estava tão surpreso pela reação dela, que não o entendia.

Como pôde machucá-la? Ela não sentia nada por ele, ou não falaria em partir, certamente. Para quando se deu conta de quanto, ela já tinha ido mais à frente da ascensão. E não podia mover nem um músculo, só estar de pé dentro dos gelados restos do que tinha feito.

— Desculpe, Lorde Rutherford. — Foi o carvoeiro, Sr. Gladhill. Era um latifundiário de Newcastle, conhecido por empregar os últimos avanços em suas minas. Sua eficiência foi quatorze por cento melhor que a de qualquer outro em Northumberland.

— Devo seguir meu caminho se não desejar viajar à luz da lua. Se lhe parecer bem, retornarei com uma equipe dentro de um mês, e poderemos começar a escavação. Não há garantias. Mas a veia desse afloramento parece sólida. A água subterrânea será nossa maior preocupação, mas com a adequada...

Durante uns minutos mais, o homem seguiu divagando. Chatham deixou de escutar.

Nada nele funcionava. Tinha os pulmões apertados e cãibras, tinha deixado de respirar quando a perdeu de vista. Charlotte. Ela deveria estar aqui agora. Deveria havê-la envolvido. Ela tinha razão. Eram sócios. Confiava em seus conselhos. Tudo o que disse era certo. E ele a tinha machucado.

— Isso é tudo, então. É melhor que vá, milorde.

— Sr. Gladhill — disse Chatham, sua voz tão áspera como o cascalho. — Eu gostaria de envolver a minha esposa no processo. Quando retornar.

— Lady Rutherford? OH, bom, a mineração é um tipo duro de...

— Ela tem interesse nestes assuntos. Acredito que encontrará suas ideias úteis. Sempre o tenho feito. — E o faria de novo. Ele se desculparia. Então, voltaria a tratá-la como sua amiga e companheira, como deveria havê-lo feito todo o tempo.

Talvez tinha a intenção de deixá-lo. Todos o fizeram eventualmente. Talvez estava se convertendo em sua mãe, rogando a alguém que o amasse quando ninguém o faria. Mas nunca mais poderia suportar lhe causar dor como o tinha feito hoje.

Nunca mais, nunca mais. Se o preço de sua felicidade era seu orgulho, pagá-lo-ia com gosto.

— Mui... muito bem, milorde. Se agradar a sua senhoria, suponho que não há nada mau.

Respirando com mais facilidade agora que tinha tomado a decisão, Chatham assentiu.

— O mesmo penso, Sr. Gladhill. Exatamente o que penso.

Cavalgou durante duas horas sem rumo pelas planícies do imóvel Chatwick, deixando que a luz difusa do sol e os ventos fortes lhe secassem o rosto. Ela esperava que os aromas da terra e do barro, a erva verde e o débil sal do mar a acalmassem como frequentemente o faziam. Depois de duas horas, seu rosto estava seco, mas não se sentia melhor. Então, sentiu que George estava cansando e tinha voltado para casa.

Não em casa, Charlotte. Não é seu lar. Deixou-o muito claro.

Enquanto desmontava, Booth a olhou com preocupação. — Me permita ajudá-la, minha Lady.

— Obrigado, Booth — disse em voz baixa. — Temo que pressionei George mais do que pretendia.

— Não se preocupe. Necessitava um pouco de exercício. Muita aveia.

Lhe deu um leve sorriso e se afastou para os estábulos, dirigindo-se pelo caminho para o jardim. Tudo acontecia muito lento, como se estivesse sob a água. A minguante luz do sol piscava através das folhas do fresno que se sobressaía de perto do jardim, mas o som era longínquo e apagado. Mal podia levantar os pés para arrastar-se através da porta. Talvez deveria recostar um momento.

Ester, de pé na erva derramava água sobre a lavanda, levantou a vista quando o trinco da porta se fechou. Sua cabeça se sacudiu ao aproximar de Charlotte, e franziu o cenho com ferocidade. — Sente-se mal, minha Lady? Esta cinza como as nuvens.

Charlotte se deteve vários metros da criada, balançando-se em seu lugar. — Só cansada, Esther.

— Vá recostar-te, então. Levar-lhe-ei um pouco de chá.

Tentando sorrir, Charlotte só conseguiu que seus lábios tremessem. Ela engoliu em seco, assentiu e entrou na casa. Em seu caminho através da cozinha, a cozinheira pôde lhe haver feito uma pergunta, mas não estava escutando.

Precisava estar sozinha.

Precisava decidir como viver sem ele.

Ao entrar em seu dormitório (o deles) tirou o chapéu e as luvas. Logo, tirou o traje de montar de veluda esmeralda e ficou com um suave vestido de musselina branco de manga larga. Simples e macio, pensou que poderia ajudá-la a respirar corretamente. Não o fez. Lavou o rosto com água da jarra no vestidor.

Isso tampouco ajudou.

Congelou quando voltou a encontrar-se cara a cara com sua cama, aquela em que tinham falado durante horas das lembranças de sua mãe, de como se faziam os bolinhos, se o trigo de inverno ou da primavera era superior, e de mil coisas mais. Aquela em que lhe tinha feito amor como se fosse uma deusa do prazer, onde o tinha tomado com sua boca e seu corpo, e em que lhe tinha beijado as pálpebras enquanto ele dormia, maravilhando-se ante suas densos e escuros cílios

Ali, entre travesseiros dourados e lençóis de seda, converteu-se em uma mulher, sua esposa. E tinha se apaixonado tão profundamente que não podia imaginar sua vida sem ele.

Um soluço a agarrou despreparada, dobrando seu corpo. Colocou uma mão sobre a boca para sufocá-lo. Ele não a queria. OH, possivelmente seu corpo, sim. Mas a ela não. E se negava a ficar onde não a queriam. Já tinha tido suficiente disso para uma vida.

Respirando profundamente e tremendo, forçou sua dor mais fundo e fechou os olhos. Não podia suportar pensar mais nisto. Devia encontrar uma tarefa em que trabalhar. Algo útil que fazer. Esta manhã, Booth tinha entregue uma caixa nova de livros enviados pelo tio Frederick para a biblioteca. Ela abriria a caixa e começaria a classificá-los. Agora sim. Uma tarefa, e muito útil.

Piscando para afastar as lágrimas obstinadas, engoliu em seco e partiu pelo corredor para a porta da biblioteca. Curiosamente, estava fechada. Girou a fechadura e entrou. O primeiro que notou foi o fogo na lareira. Por que alguém necessitaria um fogo no meio do verão em um piso superior? Em todo caso, tinham que manter as janelas abertas neste nível a maior parte do tempo para que a brisa refrescasse as habitações.

— Senhorita Lancaster — disse uma voz feminina e mal articulada do canto escuro da habitação, perto da caixa. De fato, enquanto Charlotte entrecerrava os olhos, deu-se conta de que a mulher estava sentada sobre a gaveta, uma garrafa balançando alegremente em sua mão

— Por fim. Sua criada deve ser despedida imediatamente. Ela é atrozmente grosseira.

O ressentimento se elevou dentro do peito de Charlotte. — Marquesa Viúva. O que está fazendo aqui?

Catherine brincava com a seda laranja de sua saia, riscando um dedo com o passar da borda de uma roseta. — Revisando suas coleções. Riu e agitou a mão ante as prateleiras vazias.

— Este era o domínio do Rutherford. Eu raramente me preocupava em entrar. Muito pó. Enrugou o nariz e levou a garrafa de vinho aos lábios.

Charlotte suspirou, já cansada até os ossos de sua terrível sogra.

— Está bêbada. Deveria dormir. Pela manhã, ajudar-lhe-ei a empacotar suas coisas para que possa frequentar outra biblioteca e chatear outra relação desafortunada.

O cabelo loiro e brancos brilhavam à luz da janela, uma mecha de seu penteado caindo com indiferença por sua bochecha enquanto Catherine lutava por ficar em pé. A mulher se inclinou ameaçadoramente de um lado a outro antes de apoiar-se contra uma das prateleiras.

— Sabe o que fez nesta habitação? Rutherford. Sabe?

— Ler, suponho.

Catherine se inclinou para frente. — Nada. Sentou-se durante horas e horas e horas. Sozinho. Olhando por essa janela. — Ela agitou a garrafa para a janela oeste, onde um pequeno assento fazia um lugar acolhedor para ler.

— Muito bem, deixe-me levá-la a seu dormitório. — Charlotte fez um gesto com a mão à mulher bêbada para a porta. — Vamos, Catherine, deve deitar-se.

— Não. Sentar-me-ei. — cambaleou até a cadeira perto da lareira na qual Chatham tinha agradado a Charlotte tão docemente.

Não devo pensar nestas coisas. Se concentre em Catherine.

Pondo seu traseiro sobre a almofada de espuma laranja, Catherine se inclinou sobre o braço da cadeira, colocou sua garrafa no chão e tirou um dos diários de Rutherford da cesta de Chatham.

— Deixa isso em paz — ordenou Charlotte.

— Mmm. — Catherine abriu. Estes são seus diários, não é assim? Tudo sobre o imóvel. — Ela folheava, lendo aqui e lá. — Os li uma vez. Bom, dei uma olhada através deles, na realidade. Terrivelmente aborrecido. Infinidade de informe de chuva, sol, trigo e ovelhas. — As delicadas sobrancelhas loiras da bela mulher se moveram e se arquearam no que parecia ser algum tipo de angústia. Então, começou a chorar.

De repente e em voz alta. Foi horrível.

— Catherine, honestamente, está completamente bêbada.

— Nunca me amou. Nenhum momento. Sabe o que é isso? — Charlotte escolheu não responder. Ela, de fato, sabia.

— Aqui dentro — Catherine meneou o diário como tinha feito antes com a garrafa, as páginas caindo como asas de pássaro, — há uma menção de Meg em cada página. Meg prefere as batatas aos nabos. Meg teceu um xale. Meg adora ver o amanhecer. Meg pediu ervilhas para o jantar. Meg, Meg, Meg, Meg!

Chatham também o havia dito. Ela achou isso doce e triste. Agora, vendo a reação de Catherine, viu como uma devoção tão capitalista podia cegar a um homem, voltar seu coração tão frio como a cinza para qualquer outra pessoa.

Pela primeira vez, viu o que Catherine tinha enfrentado, e sentiu... empatia.

Catherine podia ser superficial, vã, infiel e uma mãe desastrosa, mas lhe tinha sido negado o afeto do único homem que deveria havê-lo.

Amar a alguém que não podia devolver esse amor era uma angústia insuportável, como Charlotte podia testemunhar.

— Ele a amava. Nunca a mim. Não me menciona nem uma vez nestes malditos diários. Nem sequer o dia de nosso matrimônio.

— Sinto muito — disse Charlotte amavelmente. — Merecia algo melhor, Catherine.

Os úmidos e prateados olhos se entrecerraram sobre ela. — O que sabe você disso?

Charlotte piscou, surpresa pelo repentino ataque. Cruzou os braços sobre seu peito e se recostou contra a parede de painéis junto à porta. — Sei o que me há dito.

— Sim, mas não tem a menor ideia do que é ter ao homem que amas te olhando como se fosse lixo na sola de suas botas. Algo para ser raspado. Descartado.

Recordando a reação de Chatham o dia de suas bodas ante a delicada “melhora” de sua elegância; seu peito começou a doer. Ela pensou, nesse momento, que tinha visto o verdadeiro Benedict Chatham. Que está cansado de fingir, cansado dos jogos. Aparentemente, tinha visto o que queria, não a verdade.

— Talvez sim. — Murmurou para a sua sogra perturbada.

Os olhos da mulher mais velha se encheram de uma ira estranha e faiscante. — Não sabe nada! — Rugiu. — Nada. Você é a Meg.

Desconcertada, Charlotte balançou a cabeça.

— Sim. Sim, é. A forma em que lhe olha quando se afasta, como se estivesse aterrorizado de que desapareça e tão obcecado contigo, poderia registrar todos seus movimentos em seu diário. Vi-o. Não pretenda saber o que sinto. Você é sua Meg. — Limpou o nariz com impaciência. — Provavelmente pensa sobre se prefere suas ervilhas quentes ou frias.

Não. Catherine estava bêbada. Ela estava fora de si. Certamente não se referia aos sentimentos de Chatham por ela. Depois da forma em que a tinha tratado durante as últimas duas semanas, e logo suas palavras de hoje, não podia imaginar como Catherine tinha tirado uma conclusão tão errônea. Chatham não estava apaixonado por ela. Não poderia estar.

Uma página se rasgou.

— Catherine.

Outra página, enrugando-se em seu punho apertado.

— Catherine, para. Esses não são teus. Pertencem a Chatham.

— São do Rutherford. Ele está morto. Morto junto com sua Meg. Morto.

Charlotte se dirigiu para a louca. — Me dê isso. — Ela procurou o diário.

Catherine afastou seu braço violentamente, de pé e retorcendo-se, recolhendo os diários da cesta em seu peito. A mecha de cabelo loiro caiu sobre um olho prateado. — Devia ter feito isto quando me expulsou de sua cama. — Para horror de Charlotte, Catherine começou a jogá-los no fogo, trabalhando com grandes movimentos de coleta da cesta.

Correndo para frente, puxou o cotovelo da mulher, girando-a com força e empurrando-a para trás. Alguns dos diários se dispersaram no chão, deslizando e abrindo. Os que tinha atirado ao fogo estavam ardendo e fumegando, com as bordas se curvando. Eram o único vínculo de Chatham com seu pai.

Tinha-os estudado todas as noites durante meses. Em um abrir e fechar de olhos, a escolha de Charlotte foi feita. Ela agarrou um instrumento de ferro ao lado da lareira e o pôs debaixo dos livros. Levantando com ambas as mãos e as sustentando no alto sobre a longa barra de ferro, procurou um lugar para apagá-los. Ao ver a garrafa de vinho de Catherine, baixou-os ao chão e derramou o vinho.

Uma harpia vestida de laranja se chocou contra seu flanco. — Isso é meu!

Charlotte tropeçou e se agitou, chocando-se contra a beirada do assento da janela. No momento em que olhou para cima, viu Catherine cambaleando-se pela porta da biblioteca com sua garrafa de vinho.

Foi então quando notou um brilho laranja que não deveria ter estado ali.

Era a cesta. Em chamas.

— Maldito, maldito inferno. — Respirou. Como se tivesse esperado anos para ter a oportunidade, o fogo assobiou e envolveu a cesta, e logo estalou quase tão alto como a cadeira quando chegou à pilha de papel e couro que havia dentro.

Empurrando-se para cima, olhou por todos os lados, tentando encontrar algo para apagar o fogo antes de que levasse a cadeira e possivelmente mais. Não havia nada. Sem manta, sem líquidos.

Dirigiu-se para a porta, rodeando o crescente incêndio, e logo correu, agarrando a maçaneta. Caiu freneticamente enquanto corria pelo corredor. — Fogo! — Gritou — Esther! Necessitamos água!

Sua sapatilha deslizou sobre a madeira recém polida. Seu joelho paralisou e logo golpeou com força, uma dor aguda e maldita. Ela a ignorou. Sustentou-se na parede, ficou de pé. — Esther! Alguém! Por favor. A biblioteca está em chamas!

A criada subiu as escadas com uma bandeja. E um bule. Charlotte agarrou o bule e ofegou. — Baldes. A biblioteca. Agora.

Assentindo, Esther trocou de rumo, gritando à donzela. Charlotte voltou correndo à biblioteca. Deteve-se na porta, com o coração duro.

Necessitariam mais que chá. Muito, muito mais.

Mas esta era sua casa. Dela. Nesta habitação, ela tinha desempoeirado gentilmente e reparado as prateleiras. Nesta habitação, tinha sido beijada, acariciada e embalada nos braços de seu marido. Era dela, tudo. E não tinha intenção de deixar que se queimasse.

Não sem uma boa briga.


CAPÍTULO 21

“Quando a calamidade está perto, a gente não pergunta quem tem a culpa. Primeiro se descarta a circunstância desafortunada e só então se descarta a causa desafortunada”.

A marquesa viúva de Wallingham a seu mordomo, enquanto discutia a inesperada demissão de sua mais recente donzela.

A volta do Chatham a Chatwick Hall foi constante, mas muito lenta para seu gosto, já que se balançava sobre o lombo de Franklin em um amplo campo verde cheio de ovelhas brancas. Tinham atravessado seus doze mil acres de um canto ao outro, e tanto ele como o cavalo estavam cansados.

Mas sua necessidade de ver Charlotte, de falar com ela e desculpar-se por seu comportamento de antes, carcomia-lhe. Tinha-o feito ao concluir sua conversa com o Sr. Gladhill. A sensação havia roído ainda mais enquanto examinava o canto sudeste, falava com Peter sobre a próxima colheita, e deixava que Emma Jameson preenchesse seu frasco com seu chá. Agora preferia a versão de Charlotte, é obvio.

Tudo recordava a ela.

Divisou o teto da casa, suas afiadas telhas eram um alívio para seus olhos. Queria tomá-la em seus braços. Queria pressionar seus lábios ao longo de sua testa acobreada e sussurrar quão arrependido estava de havê-la feito chorar. Queria vê-la sorrir de novo como o fazia quando estava irritada com ele mas disposta a perdoar.

À medida que se aproximava, aproximando-se pelo sul, uma estranha sensação apareceu em sua nuca. Pôde ver vários serventes correndo pelo jardim, mais rápido e mais frenético do que o normal. Então viu Booth correndo dos estábulos para a cozinha.

O alarme ressonou por sua coluna, assentando-se como uma rocha fria e pesada dentro de seu estômago.

Algo estava mau. Animando Franklin a galopar, fechou a distância rapidamente, desmontando em um salto justo fora dos estábulos, deixando as rédeas penduradas.

Correu pelo caminho até a porta aberta do jardim.

Uma garota a que reconheceu como uma das donzelas passou correndo para o poço do jardim, e lhe agarrou o braço. — O que está se passando?

— Um incêndio, milorde. Na biblioteca.

Seu coração pulsava forte em seus ouvidos, seu único pensamento, onde está Charlotte?

Correndo dentro da cozinha, notou Esther enchendo baldes das novas torneiras que tinham instalado. Não foi suficientemente rápido. — Esther — — lavrou. — Onde está minha esposa?

Os olhos da criada se voltaram para ele. Nunca antes a tinha visto assustada. Fez que lhe gelasse o sangue. — Ela... ela está lá em acima. Na biblioteca.

A luz se obscureceu e logo piscou. Sua cabeça ficou nebulosa. Suas pernas o levavam. Outra piscada e subia as escadas de três em três. Todo o tempo, seu nome se repetia ao ritmo dos batimentos de seu coração. Charlotte. Charlotte.

Charlotte.

Ao final das escadas, viu Booth.

— Formem uma fila! — O servente gritava a dois lacaios. Chatham não se deteve. Correu mais rápido que nunca, direto pelo comprido e maldito corredor da asa oeste. Charlotte. Charlotte. Charlotte.

A fumaça se elevou onde a porta da biblioteca estava entreaberta. Podia ouvir as chamas rangendo, rugindo. Deslizou-se até deter-se. Também seu coração.

Charlotte.

Ela estava ali, com um braço brandindo uma manta e o outro com um bule de prata.

Lutou contra o fogo devorador como um guerreiro que mata a um dragão.

Charlotte. Charlotte. Charlotte.

De repente, inclinou-se para frente, tremendo e tossindo. A habitação era negra com fumaça, alaranjado com calor. Despertando de sua paralisia, moveu-se detrás dela, enganchando seu braço ao redor de sua cintura e arrastando a de volta para a porta.

Ela pode ter que se agitado e gritado um pouco. Não sabia nem lhe importava. Ela era seu coração.

Sua vida. Não podia tê-la em perigo.

— Booth — ofegou, — Deixe-me ir! Devo detê-lo antes que se estenda.

— Não sou Booth. — Rosnou em seu ouvido. — E nunca te deixarei ir, ouve-me?

Agora, no corredor, empurrou-a a meio caminho da ala oeste antes de que ela conseguisse afrouxar seu agarre. — Ch...Chatham? Me solte.

Agarrou-a pelo braço e a sacudiu, voltando-a de cara com ele, apoiou-a contra a parede.

Os olhos verdes e dourados brilhavam com lágrimas. As faixas de cor carne esfaqueavam a fuligem de suas bochechas onde se derramaram. De repente, dobrou-se pela metade, tossindo a fumaça acre de seus pulmões.

A fúria o encheu ante seus indefesos estremecimentos. Rasgou-se em ondas através de seus músculos e pele.

— Eu... eu devo... — Ofegou e tossiu, os sons dilaceradores. — Devo salvá-la, Chatham. A casa. É nossa. Tua e minha. Não a perderei. — A mão dela aterrissou sobre seu braço, impotente.

— Ficará aqui até que retorne, entende?

— Não, eu...

— Fique. Aqui. Se te mover um passo para a biblioteca, vou torcer seu lindo pescoço.

Uma vez mais, viu-se envolta em um ataque de tosse. Aproveitou a oportunidade para voltar correndo pelo corredor, jogando a um lado o bule vazio que tinha atirado e agachando-se brevemente para recuperar a manta. O calor dentro da biblioteca era uma imensa parede, golpeando sua pele dolorosamente. Levantou um braço para proteger seu rosto. A cadeira estava envolta, igual a um banco de prateleiras de madeira, o fogo retorcendo-se para o teto como uma grande garra. Girou a manta para a cadeira, tentando apagar as chamas. Só conseguiu prender fogo a uma parte da manta. Atirou a coisa ao chão e a pisoteou com sua bota.

Tirou o casaco de montar, e golpeou e golpeou as chamas, sentindo como a fumaça afogava seus pulmões, lhe queimando por dentro. Com um braço sobre a boca e o nariz, pressionou a ligeira lã de seu casaco sobre o braço da cadeira até que também o apanhou. Maldito inferno. Procurando freneticamente no chão, agarrou a manta chamuscada e a jogou sobre as chamas que se estendiam.

Atrás dele, escutou gritos. Uma brisa mais fresca fazia girar a fumaça. Alguém tinha aberto a janela. A água voou através da visão de Chatham para a parede em chamas que se dirigia para o teto. Deu-se a volta. Booth empunhou outro jogo de quatro baldes, levantando e lançando, apagando um quarto do fogo mas não o suficiente para detê-lo. O servente saiu correndo da habitação, enquanto Chatham seguia golpeando a cadeira com sua manta. A lã voltou a queimar-se, e a deixou cair para as esmagar com suas botas. Pela extremidade do olho, viu um brilho de prata.

Seu frasco. Jazia no chão em meio das ardentes ruínas de seu casaco. Tossindo, limpando o suor de seus olhos com a manga, saltou para frente e, só com a ideia de que não poderia perder esse pedaço dela, agarrou o frasco de prata em sua mão.

Durante segundo meio, sua palma congelou. Então o ardor penetrou, quente e repugnante. Piscou, gritou e abriu os dedos. O frasco de metal golpeou as pranchas do chão. Maldita seja.

Booth havia tornado com mais baldes. Enquanto estava ocupado molhando a parede, Chatham tirou o colete e cobriu sua mão ilesa com o tecido, logo agarrou o frasco, girou-o e o deixou cair em um dos baldes cheios no piso perto da entrada.

Segundos depois, inundou sua mão ferida na água, contente pelo frio alívio, e tirou o frasco com dedos débeis. Voltou a envolver o frasco em seu colete e empurrou o entre sua cintura e a parte inferior de suas costas.

— Milorde, temos mais baldes a caminho. — Gritou Booth.

Chatham assentiu e recolheu a que tinha usado para esfriar o frasco. Ignorando o estranho intumescimento que lhe rodeava a mão direita, ficou a trabalhar jogando água sobre a cadeira.

Longos minutos depois, ele e Booth observaram com satisfação como a última das chamas suspirava e chispava até deter-se. Precisaram de dúzias de baldes e todos os serventes trabalhando juntos, mas o tinham feito.

Tinham matado ao dragão.

Seu coração pulsava agora a um ritmo novo e mais estável. Charlotte está a salvo, seu coração cantava. Charlotte está a salvo.

— Chatham? — Era sua voz, áspera e rouca, tremente e chorosa.

Virou-se, viu-a pairando na porta, seu rosto manchado de fuligem e lágrimas frescas, seu branco vestido se virou cinzento pela fumaça. Seu lábio inferior tremia.

Abriu os braços.

Então ela estava ali, suas mãos agarrando suas costas, sua cabeça colocada entre seu pescoço e ombro. Seu precioso fôlego umedeceu a pele sobre o linho de sua camisa.

Ou possivelmente foram suas lágrimas. Não importa. Sustentou-a mais forte que nunca, apertando até que ela chiou.

Embora a janela aberta ajudou, o ar seguia sendo pesado pela fumaça. Sem dizer uma palavra, inclinou-se e enganchou um braço detrás dos joelhos de Charlotte, levantando-a para seus braços.

Outro chiado. Mas não houve protesto.

— Chatham, — disse suspirando a palavra e acariciando seu cabelo.

Levou-a junto a Booth, que lhe fez um gesto respeitoso, e logo passou por Esther, que surpreendentemente fez o mesmo.

— Milorde — disse a criada em voz baixa. — Há água para lavar-se em seu vestidor. Também chá fresco.

Assentiu com a cabeça seu agradecimento e continuou o caminho ate o quarto, usando seu cotovelo para fechar a porta. Levando a sua esposa diretamente ao vestidor, sentou-se sobre o divã, embalando-a em seu colo. Ambos cheiravam a fumaça. Não lhe importava. Agora mesmo, tudo o que queria era absorver sua proximidade, sentir seu fôlego sobre sua pele, o calor e a vida nela.

— Tinha tanto medo por ti. — Sussurrou ela, suas mãos agora penteando através de seu cabelo. — Tão assustada.

Fechou os olhos com força. Tentou escovar o cabelo dela com a mão, mas o intumescimento deu passo à agonia. Ofegou e se sacudiu.

— O que passa, Chatham? Está ferido? — Para sua consternação, ela saiu de seus braços e ficou de pé, inclinando-se para lhe passar as mãos sobre ele de uma maneira maternal.

— Estou bem.

Ela agarrou seu pulso e puxou em sua direção. A expressão de horror em seu rosto quando levantou a palma de sua mão fez com que quisesse cobrir a horrível lesão.

Tratou de afastar-se. Ela se manteve firme.

— Está queimado. — Sua voz estava tensa e oxidada, como se estivesse lutando contra mais lágrimas.

Não desejava vê-la chorar de novo. Nunca.

— Fui um idiota. Procurei algo quando devia havê-lo deixado. Curar-se-á, amor.

Soluço e engoliu em seco, sua garganta ondulando. Lhe soltou o pulso para recuperar a jarra e encher a bacia. — Vêm — disse ela. — Ponha na água. Acalmar-te-á.

— A única coisa que me tranquilizará é te tirar o vestido e te lavar cada centímetro de pele para que possa ver que está bem. Depois, só me reconfortará estar a seu lado, te observando respirar durante os próximos quatorze anos ou mais.

Grandes olhos verdes e dourados se chocaram contra os seus.

— Quatorze anos...?

— Talvez vinte. Depois disso, pode deixar nossa cama de vez em quando para um passeio matutino ou uma viagem a Londres, sempre e quando eu esteja contigo.

Sua respiração se acelerou, seu olhar se fixou nele, absorta e incrédula.

— Anos, Chatham?

— Sim. Quatorze deveriam ser, sempre e quando aceitar não voltar a te pôr em perigo nunca mais. Acrescentarei outros quatorze por cada nova petição, embora isso parece insuficiente para recuperar a prudência. — Estava controlando sua fúria admiravelmente, pensou. Ela parecia não saber o que ele sentia. — Pode ser que tenha pensado em me deixar. Isso já não será permitido.

— Não o será?

— Ficará comigo. Terá meus filhos. Nunca mais te arriscará de maneira nenhuma. Confio em que esteja sendo claro.

Piscou. Cobriu a boca com a mão. Então deixou sair um soluço. Seus olhos se fecharam, apertando mais lágrimas sobre suas pálpebras.

Ficando de pé, tomou o lado de sua cabeça com a mão esquerda e baixou a testa à dela.

— Sinto muito, amor. Sei que desejava ir a América. Mas sou terrivelmente egoísta. Por favor, não chore. Levar-te-ei de visita tantas vezes quiser. Veremos Nova Iorque, Boston e Virgínia, os três. Mas não posso deixá-la ir. Pensei que poderia.

— Não posso.

Ela agitou a cabeça. Então, assombrosamente, seus braços rodearam seu pescoço, e se pegou a ele. Beijos. Seus beijos estavam por toda parte em seu rosto: suas sobrancelhas, seu nariz, seus lábios e seus olhos. Seu rosto estava molhado, sujo e deixava rastros úmidos por onde passava. Ela continuou soluçando seu nome uma e outra vez.

Por fim, ele recuperou o fôlego o suficiente para perguntar: — Eu... suponho que está...satisfeita? — Por incrível que parecesse, sua declaração a afetou precisamente da maneira oposta a que tinha esperado.

— Eu te amo, Chatham — soluçou contra seu pescoço. — Muitíssimo.

A terra o abandonou, deixando-o sem ataduras e flutuando. Ela o amava? Apenas se atreveu a mover-se.

Ela beijou sua garganta, subindo por sua mandíbula até seus lábios. — Eu te amo. — Sussurrou antes de mergulhar dentro, sua língua brincando e dançando com a sua.

Seu corpo respondeu automaticamente, e ele alcançou seus quadris. A agonia lhe atravessou a mão direita.

— OH, Chantam — exclamou. — Sua mão. Me deixe atendê-lo. Vêm aqui, ponha na água.

Obedeceu só porque sua mente ainda estava aturdida e lenta. A água refrescou a palpitante e ardente picada. Sua mão acariciou sua bochecha. Olhou aos olhos.

— Me Ama? — perguntou, honestamente desconcertado.

Ela assentiu, agora com lágrimas nos olhos.

— Te amo. E seguirei sendo sua esposa com a maior alegria, meu amor.

Ninguém o tinha amado nunca. Não sua mãe. Não seu pai. Não seus professores ou seus amigos da escola. Não suas amantes ou suas benfeitoras. Ninguém.

Exceto Charlotte.

Não sabia o que dizer.

— Desejo a ti — disse com voz rouca. — Agora.

Seu polegar lhe acariciou meigamente a maçã do rosto.

— Me deixe atender sua ferida. Então, lavaremos um ao outro neste dia e nos deitaremos juntos em nossa cama. — Ela pôs o beijo mais suave sobre seus lábios. — E então, marido, mostrar-me-á o que Benedict Chatham pode fazer com uma só mão.


CAPÍTULO 22

“Complacência, querido Humphrey. A presunção de que tudo está bem e permanecerá assim, é a principal debilidade da humanidade.”

A viúva Marquesa de Wallingham, a seu companheiro, Humphrey, ao descobrir os resultados de uma instrução inconsistente detrás de sua cadeira de leitura favorita.

Inundada em magníficas plumas violetas, Lady Wallingham fez a Charlotte uma inspeção arrogante, do penteado enrolado até as sapatilhas com contas de cor azul safira. O fato de que a viúva obtivesse um olhar semelhante através dos orifícios de sua máscara e estirar o pescoço para observar todo o corpo de Charlotte era uma maravilha.

— Tenho sua aprovação, minha Lady? — perguntou Charlotte, levantando uma sobrancelha sobre seu aveludado dominó negro.

A viúva soprou antes de responder.

— Mais que a de seu acompanhante, atrevo-me a dizer.

Charlotte deixou que um pequeno sorriso curvasse seus lábios. — Meu marido, quer dizer. — Sorveu sua surpreendente e saborosa limonada, saboreando as palavras. Seu marido. Seu amor.

Ele se encontrava a seis metros de distância perto de um topiário de hera em vaso de barro, escutando pela metade, ao alto e discreto filho de Lady Wallingham, o marquês de Wallingham, sobre técnicas de criação de cavalos. Ela assumiu que ele estava escutando pela metade porque não lhe tinha tirado os olhos de cima nos últimos dez minutos.

Foi do mais comovedor. Sua simples máscara negra (fazia jogo com a dela, embora a sua tinha mais pontos nos cantos). Suas bochechas se emolduraram de cor rosa, tão dramaticamente pelo calor que sentiu, surpreendeu-se de que seu coração conseguisse permanecer em seu peito. Tal como estava, não era mais que uma cálida geléia, e se ele a avivava mais, ela se derramaria como xarope.

— Então, suspeitas que o carvão possa estar sob o chão de Chatwick, certo?

O breve comentário chamou a atenção de Charlotte de novo para Lady Wallingham. — Chatham o faz. Terá que cavar para descobri-lo. Como soube?

— Estou muito bem informada. — Seu agudo queixo se elevou enquanto a anciã examinava a paisagem de seu baile de máscaras. O grande salão de baile do castelo Grimsgate estava repleto de farristas mascarados, vestidos de festa, rindo e dançando. Alguns eram membros da casa, outros eram latifundiários vizinhos.

Todos estavam de muito bom humor.

E estavam outros, como Tannenbrook e Viola. Charlotte suspirou ao vê-los, o corpulento James se encontrava apoiado em uma parede de seda dourada, olhando com dureza o séquito de admiradores de Viola, que tentava desesperadamente comportar-se, como se não se fixasse em James. Mas Charlotte podia ver a tensão que havia no pescoço e os ombros de sua amiga. Viola queria pôr ciumento ao Tannenbrook. Estava funcionando, mas possivelmente em troca de um grande preço.

— Ele te decepcionará. É inevitável.

— Hmm? Quem, minha Lady?

— Chatham. Ele não é mais que um descarado. Somente olhe a forma em que te olha. É obsceno.

Um agudo e estranho grasnido escapou dos lábios da viúva. Charlotte piscou.

Isso foi uma risada? De Lady Wallingham?

— Alegra-me que não morresse no incêndio de ontem, querida menina. Você me entretém.

Charlotte riu. — Um grande elogio, de fato. O que lhe provocou este dilúvio de sentimentos, se me permite perguntar?

Com sua mão embainhada em luvas brancas, fez um gesto à multidão, para indicar que a rainha, aparentemente, estava agradada com seus súditos. — Estar entretida por uma noite é o propósito de tudo isto. Você é meu entretenimento.

— Bom, sinto-me adulada. — Charlotte bebeu sua limonada. — Vocês têm um pouco de carvão em suas terras, se não me equivocar.

— Não tente falar de comércio. Ora! Americanos. Terrivelmente vulgares.

— Pensei que o “vulgar” lhe divertia.

— Falar de idiomas me diverte. — a anciã olhou Charlotte por um desconcertante momento. — Faria bem em recordar onde esteve essa língua. E onde sem dúvida estará de novo. Os descarados não trocam.

— Lady Wallingham. — disse Charlotte em voz baixa. — Valorizo sua amizade. — Ela realmente o fazia. Durante o transcurso de várias semanas, tinha visitado a viúva repetidamente, frequentemente permanecendo durante uma hora ou mais, para beber chá e envolver de conversas engenhosas sobre tudo, da Guerra da Independência dos Estados Unidos (ou, como preferia a viúva, a Grande Manha de criança Colonial) até a condenada oferta de Lady Gattingford de converter-se na patrona do Almack. Desfrutava da companhia de Lady Wallingham, mas não tolerava a constante denigração que fazia ao homem que amava. — Por favor, não danifique as coisas com críticas ao Chatham. Sabe que é meu marido, e isso nunca mudará. Ele é filho de sua mãe e de seu pai.

— Hmm. Isso é o que você há dito. Os mesmos olhos, suponho.

Charlotte se surpreendeu pela pequena concessão.

— Chatham é um homem extraordinário. Deveria vir de visita. Gosta, sabe? Diz que é mais inteligente que a metade do Parlamento e está melhor conectada que a outra metade.

A viúva suspirou.

— Como a maioria dos homens, está equivocado. Sou mais inteligente e estou melhor informada que todos juntos. É uma maravilha que a Inglaterra não se desabou no mar com esses parvos ao leme.

— Mmm. — Charlotte sorriu. — Melhoraríamos nossas vidas enormemente se lhe considerássemos nossa capitã e seguíssemos suas ordens.

— O hei dito ao Humphrey em numerosas ocasiões. —. As plumas de Lady Walingham se moveram ao girar sua cabeça. — Por que não está dançando?

— Meu par tem uma lesão. Sua mão se queimou gravemente enquanto resgatava nossa biblioteca, e a mim, adicionalmente, de uma destruição segura.

— Tolices. As cadeias do matrimônio não são literais, querida. Dance com Lorde Tannenbrook. Antes que esmague aos pretendentes da Srta. Darling sob suas colossais botas e a leve a uma bárbara surra. Meu salão de baile não é lugar para teatros.

Charlotte olhou para onde estava Tannenbrook. Ainda estava ali, apoiado contra a parede, mas agora suas mãos eram punhos, e seu olhar era profundo e ensurdecedor. — Falarei com ele.

Enquanto se abria passo através dos apaixonados, deteve-se brevemente para colocar sua taça vazia em uma bandeja, escutou a música, uma tenra e repetitiva valsa, observou aos bailarinos girando, seus casacos escuros, vestidos brilhantes e máscaras festivas, um festim para os olhos. Então, inesperadamente, sorriu. Era realmente divertido. Ela, Charlotte, estava se divertindo em um baile. Que extraordinário.

A diferença entre essa noite e os três meses anteriores era evidente, já não era a senhorita Lancaster, a anormalmente alta e meio-americana com o cabelo vermelho, infelizmente. Era Lady Rutherford. Agora a buscavam. Além disso, estava loucamente apaixonada por seu inteligente e diabólico marido. Um resplendor a envolvia ao pensar nele, como se a luz do sol a tivesse tragado.

Tannenbrook, por outro lado, parecia haver tragado o carvão mais ardente do poço mais escuro de Hades e a isso teria que lhe somar uma jarra de vinagre, no caso. Permaneceu a seu lado durante vários minutos, com as mãos entrecruzadas pacientemente, perguntando-se se ele a notaria. Tinha seus olhos detrás de uma máscara de couro marrom, os quais estavam muito ocupados arrancando a pele dos ossos de Viola.

— Pode tê-la se a quer, sabe. — pensou que era hora de que alguém falasse, tinha passado tempo suficiente para assinalar o óbvio ao teimoso James Kilbrenner. — Tudo o que deve fazer é te deter, dar a volta e deixar que corra a seus braços.

— Lady Rutherford — disse, suas palavras inusualmente entrecortadas. — Sempre é um prazer ver-te.

— Bom, não me viu precisamente. Vá, a Srta. Darling está radiante esta noite, não crê ?

— Como pingente, sempre é um prazer. Mas lhe agradeceria que mantenha à margem seus conselhos. Já tive suficiente. — Charlotte piscou

— OH, isso não foi um conselho. Um conselho seria lhe sugerir que deixe de comportar-se grosseiramente. Ou que reconsidere a hipótese de que ela não pode ser ferida, porque nunca sabe quando essas feridas possam começar a importar. — Deu-lhe um tapinha no braço. Os músculos estavam tão tensos que era como acariciar uma rocha. — É um homem sensato, James. Confio em que chegará às conclusões corretas. Eventualmente. Talvez inclusive antes de que seja muito tarde.

Finalmente, virou-se para olhá-la, apartando-se da parede com um empurrão de seu enorme ombro. Seu coração se afundou quando viu seus olhos. Eram uma tortura, puros e verdes.

— OH James... — lhe disse em voz baixa.

Não pronunciou outra palavra, deslizou junto a ela e desapareceu pelas portas do jardim.

Mordeu-se o lábio, doía-lhe o coração por ele. Estava em muito mal estado. Não deveria lhe haver dado um sermão assim. Viola estava sofrendo, sim, mas ele também. Decidindo que devia encontrá-lo e desculpar-se, seguiu-o até os jardins. Uma lua cheia se desvencilhava nas exuberantes e elaboradas plantações de prata, mas não revelava sua presa. Os insetos cantavam alegremente, o ar era quente e úmido. Respirou fundo, olhando ao redor do terraço de laje e da grande fonte, além dos degraus do caminho.

A ironia das palavras que escutou quase a fez rir. Em troca, voltou-se para enfrentar-se à pequena beleza vestida de rosa brilhante. — Catherine. A Chatham não agradará te encontrar aqui.

Isso era subestimar as coisas de forma bastante substancial. Depois de fazer amor com Charlotte durante várias horas na noite, Chatham finalmente lhe tinha perguntado sobre a causa do incêndio. Quando lhe explicou que tinha sido sua culpa por tratar de resgatar os diários, mas Catherine tinha sido quem os tinha atirado ao fogo, ele não tinha perdido tempo em jogar Catherine de sua casa.

Havia dito a sua mãe que se voltasse a vê-la, a colocaria no próximo navio para a Austrália, onde poderia viver seus dias com aqueles que se adaptassem a seu caráter.

Por sua parte, Catherine o desafiou, logo lhe suplicou, por último apelou ao Sr. Pryor, quem tinha ficado de pé com cara de consternado e incômodo. Finalmente, Catherine disse a Chatham de forma desagradável, que desejava que nunca tivesse nascido, depois ordenou ao Pryor que a acompanhasse. Os dois partiram em suas respectivas carruagens nessa mesma manhã de Chatwick Hall.

Agora, Catherine, levava uma máscara vermelha estranhamente desajustada, cruzou as pedras em direção a Charlotte, com passo lento e presunçoso. — Não, Chatham não ficará contente. Não. Mas isso é menos do que se merece depois de me deixar sem um centavo.

Charlotte franziu o cenho. — Me perdoem, mas sua união não implicava milhares de libras — Seu dote diminui a miserável soma que recebi. Chatham podia assegurar minha comodidade facilmente, esse era seu dever como herdeiro de Rutherford. Em vez disso, abandonou sua própria mãe, deixando-a com uma carruagem mofada e umas poucas posses.

— Não sei que projeto tenha planejado, Catherine, mas te asseguro que não te servirá de nada. Ele não receberá meu dote até a primavera. Além disso, depois da classe de mãe que foste, duvido que se comova pelo sentimentalismo.

— Nunca quis ser mãe. Foi um desastre terrível. Não, eu queria Rutherford. Um menino era simplesmente o preço que tinha que pagar. Tal como aconteceu, paguei muito. — ela inclinou a cabeça, dessa maneira tão peculiar que tinha Chatham de fazer às vezes. Seu olhar era calculador. Malicioso. — Mas, então, meu filho não valia cem mil libras.

Charlotte franziu o cenho. — Está confusa. Meu dote é de cem mil libras. Ele o receberá um ano depois da data de nosso matrimônio. Não há nenhuma estipulação para um menino.

— Pobrezinha, querida. Temo-me que a confusão é dela. Um ano de matrimônio lhe dá os primeiros cem. Um menino nascido dentro dos dois primeiros anos ganha a segunda centena.

Duzentos? Não. Seu pai não o teria feito... muito bem, o teria feito. Mas Chatham não lhe teria ocultado uma informação tão crucial. — Está equivocada — disse Charlotte, sua voz soava menos segura do que gostaria. — Está mentindo. Não existe tal acordo.

— Sim. Há-o. — Catherine sorriu, seus dentes tão brancos como seu cabelo, brilhando à luz da lua. — Quer provas?

Seu coração começou a palpitar e a golpear, Charlotte engoliu em seco. — Eu... eu não...

— Aqui, agora. Me deixe te explicar quão bem meu filho mente. Archibald?

Pryor emergiu como uma sombra calva e pançuda de trás de um arbusto em vaso de barro, perto das portas. O advogado levava uma máscara, mas nada podia dissimular seu desconforto. Encurvava-se como se a vergonha lhe pesasse muito. — Lady Rutherford.

— Sr. Pryor — respondeu Charlotte. — O que está fazendo aqui? Pensei que voltaria para Londres imediatamente.

— Lady Rutherford me pediu que a acompanhasse. — moveu-se nervosamente com sua máscara muito pequena. — A viúva marquesa. Não você, obviamente. —.

Ante o olhar funesto de Catherine, Pryor engoliu saliva. — Rogo-lhe que me perdoe, Cath... er, Lady Rutherford. — Olhou Charlotte. — Não gosta da denominação de viúva.

— É suficiente, Archibald. Agora, diga-lhe, — sua voz ressonando rancor e triunfo. — lhe diga que digo a verdade.

— Senhor Pryor? — Charlotte temia saber, antes mesmo que ele sequer abrisse a boca.

— Sim, há uma cláusula, em caso de que se produza um filho no prazo acordado...

Com o queixo elevado, Catherine interrompeu — E quanto receberá meu filho quando nascer seu herdeiro?

Pryor suspirou. — Cem mil libras. Existem cláusulas para circunstâncias alternativas, mas essa é a medula do assunto.

Catherine lhe fez um gesto com os dedos. — Obrigado, Archibald. Isso é tudo. — O advogado assentiu com a cabeça e voltou para o salão de baile.

Algo se apertou dentro do peito de Charlotte. Doía-lhe, nem sequer podia recuperar o fôlego. Cem mil libras mais, por um menino, seu filho. Sentia-se mal. As maquinações de seu pai eram legendárias, mas não imaginou que ele chegaria tão longe. Duzentas libras, tinham que ser quase toda sua fortuna. E Chatham. Por que não o disse? Possivelmente acreditava que não era importante, já que não tinha planos de atuar em consequência. Depois de tudo, evitou a consumação durante meses.

Sua sogra obviamente pensou que se desmoronaria e ficaria histérica, pelo brilho quase triunfal que tinha nos olhos. Mas Charlotte era feita de material mais sólido.

— Possivelmente Chatham deveria haver me contado isso tudo. Claramente, você acredita que ganhou algum tipo de vitória com sua revelação, mas não o tem feito. Meu marido me quer. Algo do que sabe pouco.

Catherine tirou sua máscara lustrosa de cor vermelha, pendurando-a na cintura e balançando-a de um lado a outro. — Faz? Quer-te?

Charlotte engoliu em seco. A confiança da mulher resplandecia como a prata e a cor branca. Era inquietante.

— Sim, fá-lo. Pediu-me que fique com ele quando terminar nosso ano. Insistiu, de fato.

— É obvio que o tem feito. Não poderá ter a seu filho se perder o acesso a ti.

Sua pele se ruborizou mais, do que pelo frio do ar noturno. — Não, isso não é... inclusive você o disse. Eu sou sua Meg. Ontem o expressou.

De novo, fez a inclinação com sua cabeça. — E você é muito ingênua, Srta. Lancaster. Ontem, acreditava que meu filho estaria disposto a desprender-se de uma fração da fortuna absoluta que ganharia de seu pai. Interessava-me fomentar você...teimosa como ele.

— Não — sussurrou Charlotte, com o estômago agitado, sua mente lutando por descobrir uma falha em sua lógica. — Ele me ama. Está mentindo para lhe fazer dano.

— Ele há dito que te ama?

Tinha-o feito, certo? Lutou por recordar. Quando estavam no vestidor, tinha sido cuidadoso com um desespero inquietante, lhe dizendo que acreditava que podia deixá-la ir, mas não podia. Afirmando que devia ficar junto a ele. Seu coração quase tinha estalado por aquilo, tão cheio de amor que não tinha podido contê-lo. Seus sentimentos pelo Chatham se derramaram de seus olhos e logo depois de seus lábios.

Ela tinha repetido seu amor uma e outra vez. Ele em troca havia dito... que a desejava.

Que a desejava...não que a amasse.

Nas horas posteriores, tampouco o disse. Ela, em troca, tinha-o pronunciado cem vezes. Mas ele não o tinha feito. Havia-a meio doido, beijado, acariciado e agradado.

Tinha sussurrado de necessidade e desejo. Liberou-se dentro dela uma e outra vez, como o fez durante as semanas seguintes, aparentemente sem preocupar-se com tê-la com um filho.

— Meu filho é incapaz de amar, igual a seu pai. — disse Catherine, sua aguda voz se escutava como um ruído distante na mente de Charlotte.

— Não o conhece. — respondeu com voz rouca e desesperada. — Ele é brilhante e amável, preocupa-se comigo. Lutou contra um incêndio para proteger nossa casa e a mim. Ele...ele sempre é carinhoso...

Catherine se pôs-se a rir. — Carinhoso. Um término interessante para a luxúria. Minha querida senhorita Lancaster, ele te salvou porque vale cem mil libras viva, estando morta não terá nada.... O “carinhoso” de maneira regular porque esse é o método mais efetivo para gerar a um menino. Meu Deus, é pior do que eu jamais fui. Ao menos com Rutherford aceitei a verdade uma vez que me impuseram isso.

Ela agitou a cabeça. — Não — sussurrou — Não.

Não lhe faria isso. Não se envolveria em tal pretensão. Que traição. Lady Wallingham tinha razão. Os descarados não trocam. Ele foi fiel. Porque tinha que sê-lo. Era parte do acordo. É meu amigo, meu companheiro.

Porque necessitava que confiasse nele! — que lhe deixasse deitar-se contigo! Inclusive as arrumou para que parecesse que foi tua ideia. Lançou a ele... — Não! — Ele me quer. Dificilmente pode haver dúvida disso. Provavelmente suas outras benfeitoras acreditavam o mesmo.

Charlotte levou uma mão à testa, a cabeça lhe dava voltas com os argumentos, seu estômago começou a se agitar, sentia a tensão como borbulhas internas. Precisava pensar com claridade. Precisava estar sozinha. Longe do veneno de Catherine. Longe das tentações de seus olhos e boca.

De repente, a limonada que tinha bebido estava azeda e instável em seu estômago.

Levantou uma mão para colocá-la sobre seu ventre, mas possivelmente deve tê-la colocado sobre sua boca, já que o impulso chegou tão rápido que pouco podia fazer.

Inclinou-se para frente e vomitou sobre os sapatos de Catherine. O conteúdo de seu estômago tinha sido expulso de maneira espetacular. Ao terminar, Charlotte se endireitou, sua cabeça nadando pelo mal-estar, com sua mão enluvada limpou sua boca. Lástima que o rosto de Catherine se salvou, infelizmente, mas o vestido e o decote da mulher eram um desastre. A satisfação, pequena e indecorosa, esquentou a fria pele do Charlotte.

— Desculpa — murmurou. — Parece que derramei algo sobre seu vestido.


CAPÍTULO 23

“Um baile, com a adição de máscaras e a ilusão da intriga, segue sendo um mero lugar para que os farristas insípidos consumam grandes quantidades de refrescos a minha custa. Mas encontro seu ponto de vista sobre a máscara de plumas muito persuasivo. Estou a favor das plumas, como sabe.”

A viúva marquesa de Wallingham a Lady Gattingford, por sugestão da senhora de uma mascarada.

Perseguindo uma pluma púrpura como a cauda de uma raposa através do amplo salão de baile de Grimsgate, Chatham deslizou entre dois cavalheiros que discutiam sobre suas novas caixas de rapé, passando junto a uma dama de cabelo escuro com a que uma vez tinha tido uma flerte no Vauxhall Gardens. Ela o olhou com desejo. Ele a ignorou.

A única mulher que lhe importava era sua esposa, agora e para sempre. Não foi capaz de localizá-la durante quarenta malditos minutos. Um pânico estranho se instalou, lhe apertando o intestino. Vendo as plumas de certa viúva perto do retrato de um metro de um dos reis Túdor, Chatham se dirigiu à última pessoa que tinha visto falando com Charlotte.

— Lady Wallingham. — disse à parte posterior da diminuta cabeça emplumada de dragão.

Ela se virou para ele, seus olhos verdes se viam como se fossem uma navalha de barbear, levantou sua testa branca e curvou seu nariz. — Rutherford. Mal te reconheci sem sua habitual nuvem de vapores ilícitos. Perdeste sua taça?

Não tinha tempo de competir com o dragão. Assim preferiu perguntar — Perdi a minha esposa. Sabe onde está?

Ela suspirou, apertando sua boca em um beliscão. — Já a perdeu, certo? Mais rápido do que tinha calculado.

— Responda a minha pergunta — disse, sua voz baixa e suave.

O queixo da mulher se elevou. Estudou-o durante longos segundos, a ruga em seu nariz e os lábios se dissiparam lentamente. — Compartilha os olhos de seu pai. — Ela suspiro de novo — E sua natureza possessiva, tal parece.

— Meu pai não era possessivo, o que é bom, considerando a inclinação de minha mãe pela variedade.

Sua boca se curvou em um canto.

— Quanto a sua mãe, tem razão. Mas Margaret não podia viajar três metros sem que seus olhos a seguissem como um sabujo.

A tristeza escureceu brevemente sua frente antes de que sua expressão voltasse para sua acostumada altivez.

— A última vez que vi Lady Rutherford, estava seguindo a um conde bastante grande para os jardins.

Tannenbrook. Ela tinha seguido Tannenbrook. Chatham se virou para as portas de cristal. Abriu passo através da multidão de convidados, a frustração lhe queimando as veias. Por que seguiria ao gigante a um jardim escuro? Acaso queria vê-lo golpear ao homem?

Atravessou rapidamente o conjunto de portas abertas do centro. Mas no processo se chocou contra um homem calvo, pequeno e rechonchudo, que levava uma máscara muito pequena para seu rosto.

— Pryor? O que está fazendo aqui?

— Lorde Rutherford, eu... eu... quer dizer, eu...

Os olhos de Chatham se entrecerram, para o irritante advogado, suas suspeitas despertaram. — Onde está minha mãe?

Os ombros do homem se desabaram timidamente. — Ela me pediu que a acompanhasse, meu lorde. Eu estava relutante Mas Lady Rutherford, quer dizer, a viúva, pode ser muito persuasiva.

— Sei, posso imaginar isso. Onde está ela agora?

— Não sei. Desapareceu do jardim depois de concluir sua conversa com Lady Rutherford, quer dizer, sua esposa.

O sangue de Chatham congelou. — Minha mãe lhe pediu que a acompanhasse aqui para que pudesse falar com minha esposa a sós. Que assunto era tão urgente?

Pryor engoliu em seco, visivelmente, retrocedendo um passo, suas botas revoando sobre as lajes. — Não era meu desejo revelar...

Com o punho esquerdo Chatham agarrou a lapela do homem menor.

— O que disse a Charlotte?

— Ela... Lady Rutherford... a viúva, informou-lhe sobre os términos adicionais de seu contrato de matrimônio. Sobre o menino e as cem mil libras. Só confirmei a informação, o asseguro.

Maldito inferno. Deveria ter reservado a passagem de sua mãe a Austrália. Tivesse-a presa ao mastro do navio ele mesmo. — Onde está Charlotte?

— Sinto muito, meu lorde. Não sei. Dez minutos depois de deixá-las retornei, mas nenhuma das duas se encontrava. Estava me preparando para voltar ao salão de baile quando você, humm..chegou. — Pryor estava dizendo a verdade. Chatham podia vê-lo em sua cara apesar da ridícula máscara. Estúpido bode. Empurrou ao advogado.

As mulheres tinham estado no jardim fazia só dez minutos, assim que talvez Charlotte estava se recuperando antes de retornar ao baile. Mas as frias pedras que residiam dentro de seu peito, filtrando gelo em suas veias, pressentiam o contrário.

Possivelmente estaria sentindo-se ferida ou traída. Por ele.

Era insustentável. Deveria ter lhe falado da segunda parte de seu dote. Deveria saber que sua mãe revelaria alegremente a informação depois de tê-la expulsado de Chatwick Hall. Para ser sincero, não tinha pensado muito nisso.

Depois do incêndio, sua fúria havia retornado mais dura, sua mente se fechou a tudo o que não fosse amar Charlotte e desfazer-se de sua mãe. A cadela vingativa de sua mãe.

Durante o quarto de hora seguinte, percorreu os jardins, em busca de sua esposa.

Encontrou quatro casais luxuriosos e um lorde bêbado, mas não Charlotte. Retornou ao salão de baile, interrogando a cada lacaio que pôde encontrar. Os criados sempre tinham sido suas melhores fontes de informação. — Viu Lady Rutherford? — perguntou uma e outra vez. — Alta. Cabelo vermelho. — Cada um negou com a cabeça. Até o final, um tipo robusto com sobrancelhas escuras e pesadas.

— De fato, meu lorde. Vi-a faz menos de meia hora, no caminho à frente do castelo.

— No caminho? Estava esperando uma carruagem?

— Não parecia. Via-se que tinha a intenção de caminhar, meu lorde.

Chatham não perdeu mais tempo. Quando Charlotte estava angustiada, as arrumava caminhando, fazendo ou movendo-se. Dizia que isso dava a seu corpo algo que fazer, enquanto sua mente trabalhava no problema. Se estava irritada, e claramente o estava, seus longos passos a levariam a uma grande distância em meia hora. Teria que atuar rapidamente para interceptá-la.

Depois de pedir ao lacaio que enviasse sua carruagem de volta a Chatwick Hall, tirou a máscara e começou a correr. Devia encontrá-la; isso era tudo o que sabia.

Tinha que lhe explicar que nunca teve a intenção de machucá-la. Tinha lutado contra sua luxúria durante meses para lhe permitir ter seu sonho na América. Que só quando já não podia suportar a ideia de perdê-la, rendeu-se a seus impulsos mais baixos. Queria ter um filho com ela, sim, mas não pelo dinheiro.

Explicar-lhe-ia, pensou, seu peito ardendo enquanto corria com o passar do caminho iluminado pela lua, passando pela porta da casa da senhora Wallingham e pelos altos carvalhos de ambos os lados do caminho de cascalho. Ele explicaria e ela o entenderia. Sua Charlotte era razoável.

Sensata. Era uma das coisas favoritas que gostava dela.

Ao fim, ao dobrar uma curva bordeada por uma sebe, viu-a. Tão alta, com seus braços balançando-se como ramos de salgueiro, enquanto que seu vestido azul de contas brilhava à luz da lua. Movia-se a grande velocidade para alcançá-la.

— Charlotte. — ofegou. — Devagar, amor.

Mas ela não diminuiu a velocidade. Tampouco se deteve, não disse uma palavra e nem sequer o olhou.

Deteve-se seu lado, seguindo seu ritmo. — Me fale, por favor.

Sua pele estava inusualmente pálida sem sua máscara. Inclusive à luz da lua, suas sardas se viam muito claras.

— Sei o que minha mãe te disse. Também sei que está irritada. Se lhe explicar isso, escutar-me-á?

De repente, ela se deteve. Girando para enfrentá-lo. Cruzou os braços sobre seu pequeno e formoso peito. — É óbvio, escutar-te-ei. Vamos, te explique.

Limpando a garganta, ainda seguia sem fôlego e inexplicavelmente se encontrava nervoso. — Deveria te haver dito a respeito da cláusula.

— Sim. Deveria tê-lo feito.

— Sinto não havê-lo feito. Minha única desculpa é que, para mim, não importava.

Ela soprou. — Cem mil libras não importavam? Que ascético de sua parte. Possivelmente deveria te unir a um mosteiro.

— Seu dote é mais que suficiente. Não necessitamos a soma adicional.

— Então, alguma vez pensou em me deixar grávida? Inclusive sabendo meus planos originais de ir a América? Nunca esperei que isto ocorresse.

Durante um longo momento não pôde responder, perguntando-se quanto devia confessar. Ao final, optou por lhe dizer a verdade, porque só a tinha machucado fazendo o contrário. E não suportava seguir machucando-a. — Sim, considerei-o.

Sua respiração se voltou irregular, seu lábio inferior tremia.

— Mas não pelo dinheiro. — apressou-se a tranquilizá-la. — Isso foi... pensei por um momento ou dois, nos dias posteriores a nossas bodas. Mas os recursos adicionais mal cruzaram por minha mente.

Ela engoliu em seco. — Por que não contemplaria a ideia de um menino?

Não queria dizer-lhe. Era uma parte de si mesmo, escura e vil, que preferia manter escondida. Mas ela o tinha amado, acreditado nele, tinha sido honesta, fiel e sua amiga.

Merecia honestidade em troca.

— Queria ficar contigo. — Sua voz soava crua em seus próprios ouvidos. — Foi egoísta de minha parte. Lutei contra o impulso de te ter durante muito tempo. Tanto tempo, que pensei que morreria por isso. Pela forma em que falava dos Estados Unidos, sabia que ficar aqui como minha esposa, dando a luz a meus filhos, não era o que você queria. Mas era o que eu queria. Foi o que eu queria...

O silêncio se produziu logo depois da confissão, uma coruja piou e o vento soprou, brincando com os pequenos cachos vermelhos das têmporas de Charlotte. Ela virou sua cabeça para observar o caminho, estava abraçando a si mesmo como se necessitasse de consolo.

Com o peito apertado, esperou que ela o olhasse de novo, para falar. Quando não o fez, ele deu um pequeno passo para ela. Mas a observou endurecer. — Deve acreditar em mim, amor.

Finalmente, seus olhos o observaram, cheios de lágrimas que brilhavam à luz da lua cheia. — Não sei se posso, Chatham — sussurrou com dor. — Quando sua mãe me disse a verdade, quis acreditar em seu amor por mim. Mas logo me dava conta de que nunca me disse isso.

Ele franziu o cenho. — Dizer o quê?

— Que me ama.

O ar se sentiu pesado e fino em seus pulmões.

— Eu já disse que te amo — continuou ela, sua voz aguda. — Porque o faço. O que sinto é maior que eu. Maior que a lua, o céu e todo o trigo de Northumberland. Tão grande que não posso contê-lo dentro de mim, Chatham, assim lhe devo dizer isso uma e outra vez. É a única forma de aliviar a pressão.

Chatham tentou recuperar o fôlego, mas o ar não era suficiente. Sentia como se estivesse afogando-se.

— Pode dizê-lo? — sussurrou ela. — Se o disser, acreditarei. Inclusive te perdoarei. — Uma lágrima rolou por sua bochecha, levando consigo a luz da lua. — Ficarei, e poderá ficar comigo para sempre, seja com um bebê ou não.

Nunca antes tinha sido amado por ninguém e o estranho disto, é que a intensidade, desorientava-o. Suas reações para ela tinham sido instintivas, porque ele não tinha experiência para as temperar ou as informar.

Ninguém o tinha amado, nunca.

Mas ele tinha amado, e cada vez tinha sido uma lição. Quando tinha quatro anos uma babá tinha sido amável, e ele se obstinado a suas saias, gritando de dor quando ela se foi a um novo posto. Sua mãe o tinha abraçado uma vez, e ele tinha ido consolá-la, só para que lhe afastasse a mão. Inclusive seu melhor amigo, Lucien Wyatt, tinha-o abandonado em Eton, preocupando-se mais pelas novas aventuras que por responder às cartas de seu amigo Ben.

Eventualmente, com o tempo aprendeu a verdade sobre o amor; que era o pior tipo de dor quando não lhe pagava em espécie. Que a maioria das pessoas indevidamente resultavam ser uma decepção, e que alguém era sábio ao não apegar-se.

Com Charlotte, entretanto, não tinha defesa. Não há uísque para entorpecer seus sentidos. Não há esporte de cama que a reduza a uma mera fonte de prazer. Nem sequer uma oportunidade de evitar suas tolas discussões sobre teorias econômicas radicais. Ela tinha se aproximado sigilosamente enquanto ele estava na cama escutando sua risada, e ela tinha reclamado seu coração como se a coisa negra tivesse sido sua todo o tempo.

Deveria ser fácil lhe dizer que a amava, porque o fazia. Estava louco por isso, doente e afogando-se por amor. Queria lhe dizer as palavras que estavam se formando em sua mente. Mas não queriam sair.

Na distância, escutou o rangido e o clop de sua carruagem. Logo, Booth se deteve, chamando desde sua posição. — Milorde. Minha Lady. Boa noite. Com muito gosto os levarei a casa, se o desejarem.

Charlotte estremeceu e se abraçou com mais força. Seu olhar caiu em seus pés, seus lábios pressionando juntos. Ela assentiu e respirou fundo. — Obrigada, Booth. Acredito que Lorde Ruherford deseja andar, mas eu levo a carruagem. — Logo, sem olhar a Chatham, Charlotte subiu ao interior. Booth estalou sua língua, rompeu as rédeas, pondo Franklin e George em movimento.

Pareceu que passaram horas, antes que Chatham se movesse. Os sons das rodas que rangiam sobre o cascalho tinham desaparecido, deixando só quão insetos cantando, a coruja piando e o vento lhe sussurrando.

Dentro dele, entretanto, a discordância se construía a cada segundo, desde que a viu desaparecer de sua vista. A pressão das palavras o empurravam, enfurecidas se expandiam por seus pulmões, os quais sopraram por tudo o que sentia. Caiu de joelhos...

Sua cabeça ficou pendurando do cascalho. Algo úmido salpicou o chão.

Ela tinha razão. O que sentia era muito grande. Não podia conter-se mais. Ia explodir se não o deixava sair.

Ofegou procurando ar, sua mão arranhando seu joelho. — Eu te amo — disse às rochas e à terra, as palavras se liberaram dele, rompendo seu domínio. — Te amo, Charlotte. Maldita seja. Tanto que dói.


CAPÍTULO 24

“Ele é um homem. Deve esperar ser decepcionado com frequência. Considere-se afortunada se ocasionalmente reconhecer sua própria loucura”.

A marquesa viúva de Wallingham a Miss Viola Darling, durante uma discussão sobre a resistência de Lorde Tannenbrook à persuasão.

Charlotte não tinha falado com ele em cinco dias. A primeira noite, ele havia retornado para descobrir que se mudou ao quarto amarelo. À manhã seguinte, depois de entregar uma carta para o pai de Charlotte ao Sr. Pryor, na única estalagem de carruagens do povoado, Chatham recorreu a perguntar a Esther pelo paradeiro de sua esposa.

— Não algo anormal, espero —, respondeu a criada mal-humorada. — Ela se sentia mau e disse algo a respeito de necessitar um pouco de ar.

Charlotte não esteve ausente da casa, cumpriu com seus deveres com seu habitual entusiasmo. Vislumbrou-a aqui e lá, conversando com Esther ou com a cozinheira. Compilando ervas do jardim. Mas o evitou estando ocupada a maior parte do tempo e o ignorou no resto.

Ele tinha retornado tarde do baile com a intenção de confessar seu amor por ela, para forçar as palavras, devia fazê-lo. Ela não permitia que a encontrasse sozinha. Foi enlouquecedor, como tratar de apanhar a um pardal com apenas suas mãos. Para quando ele esteve o suficientemente perto para agarrá-la, já se tinha ido com o vento.

Era um homem perdido e vazio sem sua Charlotte. Patético, na verdade. Continuou caminhando e falando, comendo e bebendo, lavando-se e vestindo-se. Inclusive dormia uma ou duas horas a cada noite. Entretanto, tudo havia se tornado cinza, como se estivesse cheio de pó.

Sua mãe tinha fugido de Northumberland, o que provavelmente era o melhor. A lei desaprova o matricídio, supôs. Pryor tinha partido a Londres na manhã seguinte ao baile de máscaras, com o rosto vermelho e desculpando-se quando Chatham entregou a carta para Rowland Lancaster. Chatham tinha advertido ao homem fastidioso que se Lancaster recebesse algum “relatório” desfavorável sobre ele ou Charlotte, também receberia notícias sobre a tendência de seu advogado a menear a mandíbula e afrouxar os lábios em presença de um bolo de flerte.

Esta manhã, estava montando Franklin para a seção sudeste para revisar o progresso da colheita. Os homens que tinha contratado para a tarefa já estavam trabalhando duro, embora o sol só tinha saído uma hora antes. O murmúrio e roce de suas foices soava como contraponto rítmico dos cascos de Franklin. Chatham viu Peter apoiado contra a parede de pedra, limpando a testa com o lenço de Emma. Passou com Franklin pela porta da sebe e deu a volta para desmontar, movendo-se para saudar o fazendeiro.

— A aveia chegou bem este ano —, comentou Peter, assentindo a Chatham. — Bom tempo. Poderia tomar sessenta alqueires por acre.

Chatham assentiu e olhou o grão dourado, agora talhado e estendido em franjas cortadas. Logo, os coletores e comerciantes viriam atrás deles para recolher os recortes nos feixes, empilhá-los para que as carroças retirarem e a aveia de Chatham estaria a meio caminho do mercado. Ele deveria sentir-se gratificado por completar o processo. Foi uma culminação, um desafio completo e correspondido. Mas nada disso importava.

Sentia falta de Charlotte. Queria Charlotte. Amava Charlotte.

— Como estão curando as queimaduras?

Olhou as mãos. A esquerda estava enluvada em couro. A direita estava fortemente enfaixada. Ainda lhe doía. — Sarando. Dói um pouco. O unguento parece eficaz. Obrigado de novo por isso.

— Agradece a Emma.

— Farei-o. — Olhando Peter, Chatham se sobressaltou ao se chocar com os olhos escuros do fazendeiro. — Quer dizer agora?

— Você tem um tempo melhor?

— Estamos em meio de uma colheita.

— Vou manter um olho. Faça uma visita. Lucy gosta de sua companhia.

Chatham sorriu pela metade. — Muito bem.

Deixou Franklin preso à porta e, em troca, cruzou os campos de Peter a pé, evitando as áreas onde os homens ainda estavam rastelando. Quando chegou à casa de campo, viu que a porta estava aberta, o que provavelmente permitiria que a brisa refrescasse a casa. O ar úmido já era sufocante, e nem sequer tinha tomado o café da manhã.

Enquanto golpeava o marco da porta, viu um brilho pela extremidade do olho, um brilho de cobre vermelho. Virou-se para ver Charlotte, pálida como o leite de nozes, olhando-o e balançando-se na porta da cozinha.

— Charlotte —, disse com voz áspera, tirando o chapéu e entrando. — Está bem? — Ela negou com a cabeça, seus olhos revoando estranhamente.

Moveu-se mais rápido do que jamais tinha se movido, correndo todo o comprimento do corredor em um abrir e fechar de olhos, apanhando-a justo quando se inclinava para trás. Quando a agarrou pela cintura, uma dor aguda lhe subiu pela mão direita até o cotovelo, mas não lhe importou. Sua esposa estava mole, com a cabeça pendurando sobre seu pescoço como um trapo. — Emma! — Gritou sem poder fazer nada, inclinando-se para levantar Charlotte em seus braços. — Necessitamos sua ajuda!

A esposa do fazendeiro saiu correndo da cozinha, seguida de perto por Lucy. — Vem, meu lorde. Leve-a à sala. — Ela passou junto a ele, dirigindo-se para uma porta à direita da entrada. Um comprido sofá estava perpendicular à lareira. Levou Charlotte ali e, tão gentilmente como pôde, deitou-a, dobrando seus joelhos para que pudesse caber, acariciando seu rosto com sua mão enluvada.

— Amor? Acorde, agora. — Ele se inclinou para beijar a testa sardenta. Ela estava quente, mas não muito. — O que acontece, Emma? Está doente?

— Oh Deus, não. Ela se esqueceu de romper o jejum antes de vir. Estava disposta a comer um ou dois bolos quando lhe ouviu chegar. Provavelmente se levantou muito rápido. — Emma soava confiante e despreocupada, o qual era desconcertante, considerando que seu coração pulsava como os cascos de Franklin em uma corrida mortal.

— Está dizendo que se desmaiou porque tem fome? — Muito peculiar. — Charlotte tem uma constituição vigorosa. Ela não desmaia.

Emma riu entre dentes. — Vigorosa ou não, está claro que sim, desmaia. — Ela encolheu os ombros. — Ocorre de vez em quando. Quando uma mulher está esperando. Mantenha-a bem alimentada e anime-a a deitar-se quando sentir a necessidade. Devera sentir-se melhor em um mês ou dois.

Chatham não escutou nada mais depois da palavra “esperando”. Sua cabeça girou e girou e girou até sentir que ele que iria desmaiar. Seu traseiro golpeou o chão com um ruído surdo.

— Mamãe, necessita Lorde Rutherford um travesseiro para o assento? — A voz de Lucy veio da porta.

— Não, bonequinha. Está um pouco preocupado por Lady Rutherford. Mas não há razão para isso. Ela simplesmente está criando uma pequena vida em seu ventre. Logo despertará e lhe daremos de comer um pastelinho e um pouco de chá de mel, e tudo estará bem.

— Esperando —, murmurou, com o olhar fixo no ventre de Charlotte. Seu ventre totalmente plano.

— Aí, agora, vamos dar uma olhada a essa mão. Lucy, me traga a cesta. Aquela com sálvia e tecido.

Tirou a luva de couro da mão esquerda. Colocou sua palma sobre o abdômen de sua esposa. — Crescendo.

Sua mão direita foi confiscada por Emma Jameson e desembrulhada eficientemente. Bordas do linho se arrastavam dolorosamente contra suas feridas. Fez uma careta, mas não afastou seus olhos nem seu toque de sua esposa. Sua esposa e seu... bebê.

— Lorde Rutherford, algumas destas bolhas estão gotejando. Devo lavá-los e aplicar unguento novo. Poderia ser um pouco mais colaborador.

Ele assentiu distraidamente.

Crescendo. Com seu bebê. Extraordinário.

— Estas queimaduras vão deixar cicatrizes. Entretanto, estão com boa aparência. Parece um pouco familiar.

A sádica Emma Jameson olhou suas feridas por um minuto ou dois antes de que brandamente aplicasse o unguento e voltasse a envolver sua mão com ataduras frescas.

— Já não deveria estar acordada, Emma? — estava ficando impaciente. Ele queria ver seus olhos. Falar com ela sobre o bebê.

— OH, ela esteve acordada por um tempo —, disse Emma com calma. — Não é assim, Lady Rutherford?

Os olhos verdes e dourados se entrecerraram. Charlotte suspirou e olhou a Emma, que estava ao final do sofá perto de sua cabeça. — Você disse a ele?

Emma sorriu. — Não o fez?

Charlotte o olhou aos olhos. A sua estava sombreada e oca, as manchas escuras sob seus olhos realçavam o efeito. — Acabo de descobrir, eu mesma, Chatham. Não lhe estava ocultando isso.

Ele não respondeu. Sua garganta estava afogada com palavras e emoções que lhe faziam doer.

Sua esposa se levantou das almofadas. Tratou de ajudá-la pondo uma mão por debaixo de seus ombros, mas ela se separou de seu toque, deixou cair seus pés ao chão e ficou de pé antes de que ele pudesse protestar.

— Charlotte —, ele pressionou enquanto ela tentava passar por suas pernas.

— Aqui não. Discutiremos mais tarde.

— Charlotte, devemos...

— Mais tarde. Por favor.

Engoliu sua frustração. Apertou os dentes. Ficou de pé. Logo, assentiu, recolheu sua luva e seu chapéu, e deixou a sua esposa com seu bolo e seu chá.

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Charlotte observou Lucy juntar migalhas com a ponta dos dedos, logo as meteu na boca antes de agarrar uma taça de madeira com chá de mel com ambas as mãos e tomar vários goles. O corpo da menina se retorceu enquanto balançava alegremente suas pernas debaixo da mesa. Charlotte acariciou o cabelo de Lucy com uma mão. Um grande sorriso com covinhas foi sua recompensa.

— Terá um desses logo —, disse Emma. — Uma moça pequenina com seu cabelo vermelho, talvez.

— Se for uma menina, por seu bem, espero que tenha a cor do Chatham —, murmurou Charlotte. — O meu é terrivelmente antiquado.

— Terminei, mamãe —, anunciou Lucy.

— Muito bem. Recolhe os ovos, como te mostrei.

Lucy desceu de sua cadeira, fez uma reverência a Charlotte, que fez uma reverência real e saiu correndo pela porta da cozinha.

Emma suspirou. — Sente-se melhor agora?

Charlotte assentiu, mas o bolo e o chá se sentaram incertos em seu estômago. Não podia decidir se era a enfermidade normal causada por carregar um bebê, ou se simplesmente eram os pedaços de seu coração que não se curaram depois de terem sido destroçados no caminho de Grimsgate.

As lágrimas encheram seus olhos de novo. — Maldição —, sussurrou ela. Era o último.

A mão de Emma pousou sobre a dela sobre a mesa e a apertou brandamente. — Agora pronto. Tudo estará bem —. Entregou a Charlotte um lenço surpreendentemente grande. A peça era tão grande como um prato e estava finamente bordada com um cavalo negro em um canto.

Charlotte piscou, logo sorveu, esfregou o bordado entre o polegar e o indicador. — Este é um trabalho encantador —, disse. — É teu?

— Realmente. Fiz isso para meu marido faz dois anos. Girando o tecido em suas mãos, ela comentou: — Parece novo.

— Sim. Prefere outro que fiz antes de nos casarmos. Leva-o a todas as partes. Fiz para minha mãe, mas quando conheci Peter, soube que devia lhe dar algo para que ele lembrasse de mim, e isso era tudo o que tinha. É uma coisa bonita, também. Com flores e um pouco de bordado ondulado.

— Ele ... usa um lenço de dama?

Emma assentiu, seu sorriso radiante de afeto. — Ele diz que é como ter um pedaço de mim com ele ‘Sempre estou com ele’. — Ela riu entre dentes. — Maldito homem.

O sorriso de Charlotte se voltou instável. — Ele te ama.

Os suaves olhos de Emma se encontraram com os dela. — Aye —. Ela apertou sua mão outra vez. — Assim como seu marido te ama.

Sacudindo a cabeça, Charlotte afogou um soluço. — Não.

— Sim, faz. Não viu como estava quando desmaiou. Suas ataduras tinham mais cor que ele.

— Perguntei-lhe se me amava. Não pôde dizê-lo.

Emma levantou o queixo de Charlotte com um dedo. — Ofereci-te um pequeno conselho uma vez.

Charlotte assentiu.

— Saiu bem, não é assim?

Outra piscada.

— Quando voltar a Chatwick Hall, procure-o antes de decidir como ele se sente, lhe pergunte pelas queimaduras na mão.

Franzindo o cenho, Charlotte sorveu e secou as bochechas e o nariz com o lenço de cavalo.

— Por quê? Sei sobre o fogo.

— Pergunte. Você terá um filho. Isso merece uma oportunidade, não?

— Suponho.

— Bem, agora. — Emma deu uns tapinhas na mão de Charlotte. — Vamos discutir quanto mel você vai comprar neste belo dia.


CAPÍTULO 25

“O amor é intoxicante. Se um deseja andar machado e fazendo-se de parvo, é obvio, participa. Supõe-se que é menos custoso que o conhaque francês”.

A marquesa viúva de Wallingham a seu filho Charles, depois de sua declaração de afeto por uma certa viúva esquiva.

Com o pescoço rígido e dolorido depois de passar um dia cavalgando em cada acre, Chatham suspirou enquanto subia as escadas.

Possivelmente esta noite poderia dormir mais de uma ou duas horas. Esfregou o pescoço e pensou em Charlotte. Talvez não.

Lentamente, suas pernas o levaram a seu quarto. Seus dedos esfregavam os olhos cansados. Dentro da habitação, o último e tênue resplendor do dia tinha pintado o céu de cor violeta. Dirigindo-se diretamente ao vestidor, jogou seu casaco sobre o respaldo da cadeira, perto do lavabo, escutando o frasco batendo com força contra a madeira. Tirou o colete, sem preocupar-se com enrugar a coisa enquanto a atirava também sobre a cadeira. Vestir e despir-se com uma só mão tinha provado ser o mais difícil que tinha feito nos últimos seis dias, mas tinha aprendido a administrar, melhorando bem sua velocidade e eficiência, considerou. Se lavando rapidamente antes de tirar as botas e as meias e, finalmente, as calças, Chatham entrou nu no dormitório.

E se deteve.

Sua mão tinha estado no processo de passar por seu rosto cansado, por isso congelou brevemente sobre sua mandíbula inferior quando a viu.

Charlotte com um de seus muitos vestidos de musselina branca e pura. Sentada em sua cama, com o cabelo vermelho fogo solto e encaracolado sobre seus mamilos duros como diamantes. Luzindo tão formosa para ele, ele queria cair a seus pés para poder beijar cada polegada sardenta, começando com os dedos dos pés.

Seus olhos também estavam fixos. Em seu pênis.

Olhou para baixo. Para ser justo, a coisa se estava pondo em uma exibição extravagante.

— Eu... desejava falar contigo, Chatham.

Passando uma mão por seu cabelo, ele respondeu: — Fala tudo o que queira, amor. Os dois estamos escutando com grande antecipação.

Ela se ruborizo. Doce, cor rosa fresca. — Acredito que estou grávida.

— Mmm. Essa foi minha impressão de nossa conversa desta manhã. A palavra ‘esperar’ foi lançada com certo abandono, pelo que me lembro.

Sentou-se ali, com as mãos cruzadas no regaço, compostas e plácidas. Ela atuou como se tivesse ensaiado este discurso quarenta vezes.

— Portanto, não precisa fingir que me deseja por mais tempo. Decidi ficar na Inglaterra. Uma vez que termine nosso ano juntos, será livre para retornar a sua vida anterior.

Ele não pôde responder. Algo estranho se alojou dentro dele, frio e escorregadio. Similar à raiva que havia sentido no dia do incêndio. Mas se esfriou em lugar de queimar-se.

— Ficarei aqui e criarei nosso filho —, continuou. — Usaremos o dote para restaurar o patrimônio por completo, e logo dividiremos o que fique em partes iguais entre nós. Administrarei o patrimônio e utilizarei minha metade para qualquer projeto futuro e gastos imprevistos. Pode usar sua parte como desejar, mas o patrimônio permanecerá sob meu controle. Se houver uma soma outorgada para o menino, se reservará para ele. — Charlotte falou estas coisas como se fossem certas.

Não o eram. Dirigiu-se para ela, seus passos lentos e deliberados. — Isso é tudo?

Seus dedos se entrelaçaram e apertaram até que ficaram brancos no cobertor dourado. — Sim. Se estes términos forem aceitáveis para ti, então...

— Não, eles não são.

— N-não? Bom, pensei-os bastante...

— Charlotte.

— Sim?

— Isto te parece uma pretensão? — Olhou para baixo.

Obviamente, ela estava tendo problemas para decidir onde descansar seu olhar. Durante seu discurso, tinha vagado de seu pênis a seu peito e de sua boca a seus olhos, e logo depois de novo. Agora, estava firmemente sujeita às partes inferiores de sua anatomia.

— Não —, sussurrou ela em resposta a sua pergunta.

— E teria alguma razão, alguma absolutamente, para meu estado atual se o fato de ter um filho fosse o único objeto de meus impulsos amorosos?

Ela negou com a cabeça, seus dedos jogando com os painéis de seda da colcha.

— O que outra coisa poderia ser, então? — Exigiu.

— Deseja-me.

— Sim. Desejo-te. Suficientemente para me voltar louco.

— Mas você não me ama.

Suspirou, passando uma mão por seu cabelo outra vez. — Eu não disse isso.

— Não disse que o fizesse.

— Encontro tais declarações... difíceis.

Um pequeno cenho franzido enrugou sua testa. Atirou a colcha de um lado, levantou-se da cama e se aproximou dele. Sua camisola era branca e fino, um véu tentador para seus seios, pernas e quadris. Seu coração deu um salto em seu peito, ansioso por sua proximidade.

Passou por diante, dirigindo-se ao vestidor.

— Vou recuperar seus calções. Distrai-me muito de pé aí.

A fria decepção o invadiu, apagando as chamas da antecipação. Escutou os sons do tecido rangente. Logo um golpe seco. Logo um murmúrio “maldição”.

Logo silêncio.

— Charlotte?

Mais silencio.

Girou e entrou no vestidor. Ela estava de costas a ele, olhando algo em sua mão. Aproximou-se mais. — Se tiver trocado de opinião sobre os calções, amor, não obrigarei a isso.

— Chatham? — Sua voz era suave, vacilante.

— Sim?

Ela se virou. Sustentava o frasco dele. O frasco dela. O fogo tinha manchado a prata. Tinha limpado o melhor que podia com uma só mão.

— Por que leva meu frasco?

Ele franziu o cenho. — Sempre faço.

Uma lágrima deslizou por sua bochecha. Seu peito estremeceu com um ofego.

Desconcertado, aproximou-se e limpou a umidade com o dorso dos dedos. — O que é? — Murmurou. — Vem agora, não te angustie. Comprar-te-ei outro.

Verde e ouro brilhavam para ele com uma ternura devastadora.

— Me deixe ver sua mão —, disse ela.

Ele estendeu seus dedos diante de seus olhos. — Sua outra mão, a que tem as queimaduras.

Pensou brevemente se estar grávida era causa de loucura. Com cautela, estendeu seu membro enfaixado para sua inspeção. Ela colocou o frasco sobre a cadeira e lentamente desembrulhou sua mão direita.

Quando sua palma foi revelada, ela cobriu um ofego. Lhe escaparam ainda mais lágrimas nas bochechas.

— Honestamente —, disse sem poder fazer nada. — As queimaduras me doem um pouco, mas estão sarando. Não chore amor. Por favor, não o faça

— O inchaço foi terrível na noite do incêndio —, disse ela, sua voz era aquosa e distorcida pela estranha emoção que a tinha tomado. — Eu... não me dei conta...

Engoliu em seco, sua garganta apertada e seca. — Não faça conta. O unguento da Emma é muito benéfico.

Ela embalou sua mão como algo precioso, seus dedos acariciando ligeiramente as costas ilesa, percorrendo suas veias. Logo, inclinou-se para frente e lhe deu um beijo que lhe deteve o coração no pulso interno, cuidando de não tocar suas feridas.

— Você me ama —, sussurrou à palma de sua mão, onde as queimaduras feias formavam redemoinhos no formoso patrão de iris, lírios e a forma de suas iniciais: CL. Charlotte Lancaster.

De repente, seu coração sentiu como se pudesse romper a gaiola de suas costelas. Seu cheiro, flores brancas e fruta verde, chegaram até seu nariz, encheu seus pulmões, envolveu-se ao redor de seu interior e apertou com força. Suas pernas se debilitaram até que quis cair de joelhos. Sua mão debaixo de seu pulso o manteve erguido.

Então, seus olhos voltaram para os seus. Uma luz cegadora e radiante ardia dela em verde e ouro. O amor incandescente iluminou sua pele e suas sardas. Amor por ele.

— Você me ama —, disse ela de novo. — Realmente o faz. Queria falar, mas tudo o que podia fazer era assentir.

No seguinte instante, ela agarrou sua nuca e aproximou sua boca a dela. Seu beijo foi a alegria mais pura, sua boca se abriu contra a dele, suas lágrimas umedeceram sua bochecha. Seu braço esquerdo rodeou sua cintura, uniu-a com força, forçando seus peitos e quadris, seus braços em suas costas. Suas mãos cavaram sua mandíbula, seus lábios agora se arrastavam com ternura sobre cada centímetro que podia alcançar.

Apoiou sua testa contra a dela.

Reuniu sua coragem, sabendo que se alguma vez o deixasse, ele não sobreviveria. E, então, soltou um suspiro. Logo outro. Só deixe que a onda de ar leve suas palavras, as que ela merecia escutar. As que deveria ter pronunciado faz muito tempo.

— Eu te amo, Charlotte —, sussurrou.

Ela riu. Ela riu com lágrimas eufóricas e assentiu freneticamente.

— Sei, idiota. Deixou que meu frasco te marcasse em lugar de perdê-lo. Só o amor seria tão tolo.

— Não podia perdê-lo. É a parte de ti que guardo comigo.

— OH, Chatham.

— Eu te amo. — Felizmente, as palavras se voltaram mais fáceis de pronunciar cada vez que as disse. — Deveria havê-lo dito quando pediu. Tarde, de verdade. Lamento não havê-lo feito. Lamento te haver machucado. — Ele engoliu em seco. — Na verdade, o amor é um tema do qual sei pouco. Poucas pessoas me amaram algum dia. Nenhuma que recorde, na realidade. É a primeira.

Lhe acariciou o rosto com ternura, seus polegares suavizaram suas sobrancelhas, sua expressão suave e gentil. — Sua mãe merece ser enforcada.

Ele levantou uma sobrancelha interrogativa debaixo de seu polegar.

Respondendo a sua pergunta tácita, ela explicou: — Catherine deveria ter te amado primeiro: você é seu filho, seu sangue.

— Faz muito tempo, dei-me conta de que ela é incapaz do afeto de uma mãe. Inclusive seu amor por meu pai era uma espécie de egoísmo. É sua natureza.

— Tentou me convencer de que não me queria, que só fingia para me atrair a sua cama. Me alegro de ter vomitado sobre ela.

A risada brotou dele ante suas rancorosas palavras. — Fez isso?

Um pequeno sorriso de satisfação curvou seus rosados lábios. — Eu fiz. Seu vestido era uma confusão terrível.

— Me lembre de nunca te incomodar, amor. Seja esterco de cavalo ou outras substâncias nocivas, sua vingança é rápida e desagradável.

— Estive um pouco... decomposta nos últimos dias. Emma diz que é o bebê. Aparentemente, esperar um menino te converte no melhor regador. Em ocasiões, tenho um claro desejo de te golpear. Mas então começo a desejar sua boca sobre meus seios. Entretanto, deve ser muito amável, já que estão mais sensíveis que de costume.

Ele depositou um beijo em seus doces lábios. — Serei tão suave como a chuva que desliza sobre uma pétala. Você quase não sentirá minha língua.

Sua respiração se acelerou. — Talvez não tão amável.

Sua mão deslizou entre eles para estender-se sobre seu ventre. Seu filho descansava ali, uma parte dele crescendo dentro dela. Permaneceu aturdido, inclusive horas depois de descobri-lo.

— Não sei como ser pai, Charlotte —, sussurrou.

— OH, Chatham. Eu também tenho medo de ser mãe —, disse em voz baixa. — A minha foi tomada faz muito tempo, apenas tenho lembranças. Tudo o que podemos fazer, suponho, é nos amar uns aos outros e amar a nosso bebê e fazer nosso melhor esforço. Aprenderemos juntos, você e eu.

Ele assentiu, engolindo um caroço.

— Eu te amo. — Realmente se fez mais fácil com a repetição. Agora, as palavras quase se sentiam naturais em seus lábios, como se deveriam ter estado ali todo o tempo.

Ela sorriu.

— E eu te amo, meu amor. Muito loucamente. — Olhando sua mão e logo a sua nudez, seu sorriso cresceu. — Agora, talvez possamos continuar esta discussão em nossa cama. Estar grávida requer muitos mimos. Numerosos.

Lhe deu um beijo nos lábios. Logo, sobre sua testa acobreada e suas sardas de canela e novamente sua boca de morango.

— Sou teu para mandar, amor. Agora e sempre.

Sorrindo de felicidade, lhe acariciou a bochecha. — É meu para sempre —, murmurou ela. — Eu gosto do som disso.


EPÍLOGO

“Os descarados não mudam, querida. Entretanto, reconheço que alguns podem aprender a dirigir sua maldade em uma direção mais desejável”.

A marquesa viúva de Wallingham à Marquesa de Rutherford, durante uma das mais divertidas caminhadas pelo campo de Northumberland.

Algo sobre as costas de sua esposa, a parte sardenta de seus ombros, a labareda onde a curva de sua coluna se unia aos quadris exuberantes, seduziu Benedict Chatham.

Mas, então, tudo que era relacionado com sua esposa ele adorava. Surpreendentemente, ela sentia o mesmo por ele.

— OH, Chatham. Como adoro te ter dentro de mim.

Estavam juntos, deitados de lado em seu ridículo leito marinho, com seu pênis enterrado até o punho, acariciado e amado por seu estreito canal.

Sua mão baixou a perna com cuidado sobre sua coxa e logo alcançou seus seios, acariciando os mamilos recém obscurecidos. Ela estava ainda mais sensível que antes, inchada e macia, assim manteve seu toque leve, piscando, brincando. Seu braço subiu à parte de atrás de sua cabeça, aproximando sua boca a dela.

Pouco a pouco, deliberadamente, seus quadris se retiraram até que só a ponta de seu pênis permaneceu dentro. Seu gemido zumbiu contra sua boca, seu prazer se acelerou quando lhe rodeou o mamilo com a ponta de seu dedo e logo o apertou muito brandamente entre esse dedo e seu polegar. Mantendo a pressão constante durante um longo minuto, sentiu que seu núcleo exigia mais dele, ondulando e agarrando e necessitando.

Afundou-se de novo no interior com um forte empurrão, amando a forma em que ela o recebeu, amando seu ofego e sua mão agarrando seu cabelo com impotência. Sua boca se separou dele, ofegando, aberta, inchada e úmida. — Estou morrendo, Chatham. OH Deus. Morrendo.

Alisando a palma da mão sobre seus seios recém exuberantes, passou a mão por seu ventre arredondado. — Não amor. Está cheia de vida. Está cheia de mim.

— Sim —, ela gemeu. — Mas necessito que me deixe ter minha liberação. Passaram horas.

Ele riu entre dentes. — Só uma. Devo assegurar que minha esposa esteja bem agradada.

— OH, estou. Tão contente. Agora, por favor, marido. Rogo-lhe isso.

Apoiando sua testa contra a dela, ele respondeu a sua súplica com impulsos firmes e rítmicos. — É melhor assim, meu amor?

Seus gemidos de prazer e suas unhas serviram de resposta. Enquanto faltava a paciência de Charlotte, disciplinou a si mesmo para tomar seu tempo com ela durante o último mês, explorando cada sarda, saboreando cada gota de seu prazer, sabendo como teria que abster-se por longas e agonizantes semanas depois que nascesse o bebê.

Assim, apesar de suas demandas, ele diminuiu seu ritmo. Rodeou seu mamilo com seus dedos. Cavou seu peito e levou o mamilo a sua boca, dando ao nó duro e avermelhado um movimento de sua língua.

— Chatham —, ela pressiono. — Direi à cozinheira que deixe de servir seus bolos favoritos.

Respondeu com um firme puxão de sua boca. Ela gritou de prazer, lhe puxando o cabelo. A pequena dor valeu a pena.

O cheiro dela vivia em sua pele, enchia sua cabeça e fazia que a luz da manhã formasse redemoinhos em sua visão. É óbvio, poderia atribuir o enjoo à falta de fornecimento de sangue a seu cérebro, por cada parte que reside atualmente em seu pênis. Possivelmente era o momento, depois de tudo, de dar a ambos um orgasmo.

— Está seguro de que está preparada, amor? —, Sussurrou ele, lambendo seu mamilo amadurecido e sensível.

Ela grunhiu uma baixa demanda, sem palavras.

— Muito bem. — Empurrando forte e profundo, Chatham enganchando sua perna longa sobre seu braço para estirá-la mais. Os compridos e fortes golpes fizeram que sua bela esposa gemesse e ofegasse, fizesse-a afundar as pontas dos dedos em seu couro cabeludo, apertasse-a e a sujeitasse e, finalmente, apoderasse-se dele com força, enquanto seus soluços e gritos de seu nome assinalavam seu deslumbrante e aditivo êxtase.

Para ele, era um catalisador. Soltou as rédeas, deixou que seu próprio prazer detivesse sua cabeça, golpeio, golpeio em um galope que lhe detivera o coração até um explosivo e devastador final. Grunhindo e enterrando seu rosto em seu pescoço, Chatham sentiu que ela o apertava amorosamente enquanto descia do vértice, a emocionante corrida de prazer que corria por suas veias e sua pele e inclusive seu cabelo.

Ela foi um milagre, sua esposa. Renascia cada vez que a tocava.

Enquanto jaziam juntos, recuperando o fôlego e deixando que a tormenta se acalmasse, Charlotte tomou sua mão entre as suas. Brandamente, ela abriu seus dedos e olhou as cicatrizes em sua palma. Iris e Lírios e suas iniciais. Ele foi marcado com ela. Para ele, parecia-lhe bastante apropriado.

Ela levou a mão à boca e lhe deu um tenro beijo na palma da mão, como frequentemente fazia. — Eu te amo, Chatham, — sussurrou ela contra sua pele.

— Eu te amo, Charlotte. Agora e sempre.


~ ~ *


O pai de Charlotte chegou bem depois do meio-dia, as rodas de sua carruagem rangeram até deter-se na neve. Abraçando seu xale ao redor de seus ombros, Charlotte olhou da janela do salão a seu marido, que parecia irritado e depravado no sofá amarelo perto da lareira. — Está seguro, Chatham? Ainda há tempo para reconsiderá-lo.

— Estou seguro, amor. Estava seguro quando entreguei a carta a Pryor. — Tomou um gole de seu chá de mel de uma xícara de porcelana. No inverno, preferia-o quente.

Ela sentiu que o bebê chutava dentro de seu ventre. Era muito vigoroso ultimamente. Igual a seu pai. Sorrindo, cruzou a habitação para sentar-se junto a seu marido, apoiando-se no braço do sofá, inclusive quando Chatham embalava seu cotovelo para ajudar. Estava muito redonda e fazia que os assuntos simples, como sentar-se, parar e respirar, fossem um pouco laboriosos.

Uma mecha de cabelo caiu sobre a testa de Chatham, e ela o afastou com os dedos. Os olhos cor turquesa se encheram de um amor que lhe deteve o coração, sorrindo perversamente sobre a borda de sua xícara.

— Cuidado, esposa. Temos um visitante. Não desejaríamos mantê-lo esperando enquanto temos uma longa e pausada sesta, verdade?

Rindo, ela negou com a cabeça.

— É incorrigível.

— Mmm. Uma de minhas melhores qualidades.

Esther apareceu na porta aberta, anunciando:

— Meu lorde, minha Lady. O senhor Lancaster está aqui.

Alto, ruivo, e com um aspecto rude pelo frio, Rowland Lancaster passou roçando à donzela, que grunhiu um protesto antes de afastar-se.

— Papai —, disse Charlotte com calma, apesar de que seu estômago parecia estar em nós. É obvio, esse poderia ser o bebê. Ele favoreceu explorá-lo. — Confio que sua viagem não tenha tido contratempos.

— Pryor me informou que ainda tem a intenção de renunciar ao dote, Rutherford. — Tirou as luvas das mãos, aparentemente sem preocupar-se com detalhes tão bonitos como saudar sua filha.

— O que é toda esta tolice?

Chatham sorveu seu chá com indiferença antes de assentir para o sofá de frente. — Talvez você gostaria de se sentar, Lancaster. Temos um inverno terrivelmente frio.

— É quase março. Meu neto está a ponto de nascer. Este não é tempo para que perca a cabeça, homem.

— OH, estou de acordo. Minha cabeça se perdeu durante o verão, não acredita, Charlotte? Possivelmente na primavera. Estas coisas são graduais, suponho.

Seu pai franziu o cenho sombriamente, seu rubor aumentou. Pareceu sem palavras, uma condição muito incomum.

— Papai —, disse em voz baixa. — Sente-se. Por favor.

Finalmente, olhou-a, seus olhos cinzas posaram em seu ventre. Engolindo em seco ondulando sua garganta. Um músculo puxou perto de sua boca. Respirou fundo e se sentou, colocando suas luvas a seu lado na almofada. — Charlotte. Como, como está o bebê?

Ela sorriu brandamente.

— Está bem, papai. Muito vigoroso.

Ele assentiu.

— E você?

— Estou incrivelmente feliz. E muito redonda. — Ela se pôs a rir.

Seu pai não o fez. Suas sobrancelhas se torceram em um tipo diferente de cenho franzido. Um cenho franzido de pena.

— Parece-te com ela. Ela brilhava da mesma maneira. Formosa.

As lágrimas brotaram de seus olhos. Seguia sendo um regador depois de todos estes meses.

— Sei que sente a falta dela papai.

Se recompôs rapidamente, sua testa se enrugou. Olhou a Chatham.

— Como planeja manter minha filha, então? E meu neto?

Chatham olhou a seu redor e logo a Charlotte. Inclinou-se para frente para pôr sua xícara na mesa de palissandro.

— Pretendemos que esta propriedade seja bastante rentável.

— Nós?

— Charlotte e eu.

Seu pai a olhou, desconcertado ao que parecia.

Ela explicou:

— Chatham e eu somos sócios, papai. Administramos o imóvel juntos. É realmente um grande êxito até agora, particularmente desde que descobrimos o carvão. Parece-me que é como administrar uma grande empresa. De fato, é um negócio. Toda uma indústria, na verdade. Isto me entusiasma. E Chatham é brilhante e capaz de tudo. Desejamos ter êxito por nossos próprios méritos, por isso não exigiremos nem o dote nem o pagamento por nosso filho. Pode guardar ambas as somas ou pode deposita-las com alguém de confiança para nossos filhos. Essa é sua decisão.

— Rutherford? Não está tão louco. Duzentos mil são suficientes para dar a minha filha a vida de uma rainha.

Os olhos de Chatham adquiriram um brilho claramente mortal, um que sempre conseguia provocar um calafrio em sua coluna.

— Sua filha não está à venda —, disse em voz baixa. — Tampouco nosso filho. Ambos são presentes incalculáveis. E os presentes são preciosos por direito próprio. Adicionar dinheiro é desnecessário e insultante.

— Bobagens.

— É nossa decisão, papai —, disse Charlotte. — Tenha a segurança de que Chatham é o mais resolvido. Tentei dissuadi-lo. Ele é inflexível, e estou de acordo com ele.

Seu pai soprou com incredulidade. Limpando sua garganta mais de uma vez. Sacudiu a cabeça repetidamente. — Tolice —, gabou-se. — Pura insensatez.

— Bom, alegrar-te-á saber que ainda tenho a intenção de aceitar meu subsídio. Triplo, acredito que esse foi o acordo.

Lançou uma gargalhada, seus olhos agora brilhando com algo como... aprovação.

— Pode ser que te pareça com sua mãe, menina, mas pensa muito como eu. — Suspirou. — Onde pode um homem obter uma xícara de café decente? Amaldiçoo este lugar tão frio com nada mais que chá e cerveja por milhas.

Charlotte sorriu primeiro a seu pai e logo a seu marido. Como de costume, Chatham estava olhando-a. Com seu coração, seu formoso e diabólico coração, em seus olhos. O turquesa era positivamente incandescente. Ela sentiu que seu próprio coração se derretia, revoava e logo se fundia novamente. Levantou a mão dela para seus lábios, seu quente fôlego suave contra sua pele.

— É feliz, amor? — Perguntou ele. — Não está pensando na América, espero.

Ela não tinha que pensar em sua resposta. Surgiu de sua alma completamente formada. A verdade. Não mitigada. Sem filtrar. Pura.

— Estou feliz, meu amor. América foi um sonho. Você é meu coração.

Ele sorriu com seu sorriso de canalha e lhe acariciou a bochecha. — Então tem um coração negro, por certo.

Sacudindo a cabeça, inclinou-se para frente para sussurrar contra seus lábios:

— O que tenho, meu amor —, beijou-o uma vez, duas vezes, três vezes... — é meu próprio diabo e pretendo ser sua para sempre.

 


[1] forma zombadora de referir-se a uma mulher alta. Fazia referência a Long Meg e suas filhas, o círculo de pedras maior da Inglaterra
[2] Tipo de jaqueta curta

 

 

                                                    Elisa Braden         

 

 

 

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