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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A ALMA DO HIGHLANDER / Emilia Ferguson
A ALMA DO HIGHLANDER / Emilia Ferguson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Uma beleza frágil e inocente... um bonito e teimoso Highlander... e um homem calculista e dissimulado com uma trama assassina...
Uma Mente Envenenada...
Gentil e doce, Claudine Poitiers deseja ser como as outras garotas... capazes de girar e dançar, andar e brincar, mas ela não pode. Sua fragilidade é bem conhecida e uma fonte de provocação em seu pequeno círculo, levando a jovem beleza a uma falta de autoestima. Ela deseja ser amada, mas depende totalmente de seu remédio apenas para poder ficar à margem da vida.
O Filho de um conde...
O Highlander Francis McNeil por fora é ousado e confiante, mas por dentro acredita-se indigno do amor da mulher dos seus sonhos. Ele sabe que sua única esperança é encontrar uma mulher disposta a casar com ele, independentemente do fato dele ser um estranho meio Highlander. No entanto, quando conhece a beleza estonteante que se acha frágil e desajeitada, ele sabe que seu coração está perdido para sempre.
Receita para o desastre...
Desde que Claudine se lembra, ela foi levada a tomar o remédio... feito pelo tio, que também a lembra constantemente que ela é de pouca utilidade para ele ou para qualquer outra pessoa. Com um beijo de Francis, ela começa a ver a verdade, que também pode ser amada, desejada e querida, e pelo altivo e bonito Highlander, não menos! Quando ela descobre que o remédio pode ser a causa de sua fraqueza e problemas de saúde, ela sabe que apenas uma pessoa pode ser culpada... e é seu próprio tio.
Será que a própria família poderia ser culpada pela fragilidade que a deixou à beira da morte por tanto tempo ou é algo realmente sinistro no fundo do enredo venenoso?
Francis deve reivindicar a beleza como sua noiva, independentemente do fato de que ele acredita que sua família nunca poderia aceitá-lo como bom o suficiente?

 


 


As palavras passaram pelos ouvidos de Francis, deixando-o instantaneamente alerta. Ele entendia tanto o francês quanto o gaélico. No entanto, o Gaélico o excitava. Parecia mágico e fez com que ele se perguntasse por que seus pais haviam deixado sua pátria escocesa. Ele passou a mão pelo rosto comprido e magro e foi se juntar aos outros.

— Maman? — ele perguntou.

— Oui? — lady Leoa, condessa de Annecy, levantou uma testa clara.

— Maman? Pourquoi restons nous ici? Pourquoi ne retornos nous pas avec Oncle Brodgar? Mamãe? Por que ficar aqui? Por que não voltar com o tio Brodgar? Era uma questão que o atormentou durante toda a sua infância. Aos dezenove anos, ainda acontecia. Muito mais do que agora.

Tio Brodgar excitava sua imaginação. Com grandes ombros, barulhentos e engraçados, o tio Brodgar era fascinante. Ele também falava gaélico. Ele os estava visitando da Escócia. Francis estivera implorando para seus pais desde que podia se lembrar, se não poderia viajar para sua terra natal. Parecia mais pertinente agora, quando faltava um ou dois anos para começar sua própria busca por uma esposa.

— Pourquoi? — Ele perguntou novamente, suavemente. Por quê?

Sua mãe deu sua resposta.

— Parce que nous possédons ces terres maintenant. Nós somos donos dessas terras agora.

— Mais algum comentário? — Francis queria saber.

— C'est une longue histoire.

Francis suspirou. O que importava, se era uma longa história? Ele era rápido e habilidoso em suas aulas, quase tão apreciado quanto no campo de prática, onde Sir Anselm lhe ensinou as habilidades da espada. Ela deveria contar a ele!

Francis olhou para a mãe novamente, prestes a dizer-lhe algo nesse sentido. Ela já estava falando, fazendo algum ponto importante para o tio Brodgar e seu momento passou.

— Você fez bem em estender essas fronteiras, Brodgar — disse ela, erguendo uma sobrancelha franzida para o laird.

Brodgar riu.

— Sim. Como você pode imaginar, foi uma luta. O velho McAverly dirigiu uma barganha difícil. — Tio Brodgar parecia o que era, pensou Francis, um laird da Escócia. Ele usava um tartan verde que sua mãe dizia ser o verde de Dunkeld, sua própria família. Essa parte da descrição não fazia sentido para Francis. Ele nunca esteve na Escócia, e o silêncio de sua mãe sobre o assunto só aumentava sua curiosidade.

Ele conhecia um pouco da história da família. Sua mãe era a neta do conde de Annecy. Ela e seu pai, Conn McNeil, vieram para ser os governantes aqui. O pai de Francis, Conn, parecia muito pouco com os nobres franceses que Francis tinha visto antes.

O fato era uma fonte de preocupação. De todos os jovens da sua idade — Gaston, Louis, Mathieu — Francis era o único que se parecia com ele. O único jovem magro, de cabelos ruivos e olhos verdes em qualquer reunião ou justa no pátio da propriedade. As garotas notavam também.

Sua mente vagou para Millicent, uma jovem que seu pai sugerira como noiva para ele. Com cachos escuros e grandes pálpebras como as de sua mãe, lady Millicent era linda, equilibrada e francesa. Ela mexia com o sangue do jovem com sua figura curvilínea e seus lábios vermelhos, mas ela não gostara dele. Sabia que ela sussurrou depreciativamente sobre ele para sua serva. Como os outros jovens, ela o chamava de “Boina Vermelha”.

Tio Brodgar tem o mesmo tipo de cabelo que meu pai. Eu acho que pareço com ele. Por que não podemos voltar para a Escócia?

Era inútil perguntar a sua mãe.

Agora, Francis ouvia uma língua que ele mal entendia em seus ouvidos e era como o rio contra suas margens — doce, sussurrante, sedutora. Ele gostava dos sons nele. Ele tinha que ir. O pensamento de encontrar uma esposa ali também apelava. Ele imaginou uma mulher com a beleza delicada e de cabelos louros de sua mãe.

Francis decidiu perguntar ao seu pai. Sua chance veio depois. Seu pai estava em seu escritório, mas a porta estava aberta e Francis se aproximou cautelosamente de sua mesa.

— Pai?

— Sim? — Seu pai franziu a testa. — Qual é o problema, filho? Apenas deixe-me terminar de ler este documento...

Francis observou seu pai percorrer um longo pergaminho. Sempre impressionou Francis que seu pai pudesse ler. Todos os outros tinham pais que empregavam mordomos para fazerem isso para eles.

— Muito bem, — disse ele depois de alguns momentos. — Tudo feito. Qual é o problema, filho?

Francis franziu as sobrancelhas nervosamente.

— Papai?

— Se você quer saber se você e Mathieu podem pegar emprestado Blade e Blaze amanhã, — disse ele sem olhar para cima, — eu diria que espere um dia ou dois eles ainda estão se recuperando após a última caçada.

Blade e Blaze eram os cavalos de caça de seu pai. Isso não era o que ele queria perguntar.

— Papai? Você e mamãe me deixariam ir com o tio Brodgar? De volta à Escócia, quero dizer?

Seu pai franziu a testa.

— Por que, filho?

— Porque eu quero ir. Para ver outras pessoas como eu. É importante, papai. E além disso... — ele parou, tímido demais para perguntar ao pai sobre a ideia de encontrar uma noiva.

Seu pai fechou os olhos por um momento.

— Filho... eu sei que é difícil. Mas simplesmente não há ninguém como você lá. Não há muitos meio escoceses e meio franceses por perto. — Ele fez uma pausa. — Sei que é difícil. Tudo o que posso prometer é que um dia você verá esse fardo horrível como um grande presente. Eu sei isso. Destacar-se é uma coisa boa. Isso significa que você é notado. O que não é ruim quando se procura uma esposa! — Ele riu.

Francis sorriu timidamente.

— Talvez...

— Exatamente, — seu pai persistiu. — Algum dos outros jovens recebem tanta atenção quanto você quando luta?

— Não, papai, — ele respondeu.

Seu pai riu.

— Bem, aí está. Talvez eles estejam com ciúmes.

Francis balançou a cabeça em silêncio.

Com ciúmes? Dele?

— Bem, pense nisso, — disse seu pai solenemente. — As pessoas só tentam quebrar o que elas temem. E eles temem o que não entendem. Você sempre será diferente, Francis. E as pessoas sempre tentarão quebrar isso. Não os deixe conseguir.

Francis suspirou. Ele realmente não entendia o que seu pai dizia, mas tinha algum sentido reconfortante.

— Talvez eu acredite em você, — ele disse solenemente.

Seu pai riu.

— Boa. Eu espero que você creia... eu acho difícil ficar em pé na corte e não devo mentir para o meu próprio filho!

Ambos riram.

— Pronto, — disse seu pai com carinho. — Isso. Você vai ficar aqui e procurar uma esposa, hein?

Francis revirou os olhos.

— Eu vou tentar, pai.

— Bom, — disse seu pai. — Nunca se sabe e você poderá levá-la para visitar a Escócia um dia.

Francis assentiu. Ele poderia esperar.


CAPÍTULO UM

EM BUSCA DE UMA ESPOSA


O salão estava cheio de pessoas. Francis ficou na beira dele, sentindo-se um pouco desajeitado. Aos vinte anos, ele era alto e bem constituído, no entanto, sentia-se deslocado.

Eu ainda gostaria de parecer com todo mundo.

Não mais do que agora. Ele teria que estar se socializando com jovens damas.

— Francis! Filho! — Conn sorriu para ele. — Venha! Conheça lady Ettie. Você deve se lembrar do pai dela, o barão de Castelles?

— Eu lembro, — Francis curvou-se para a lady. Naquele momento, seu pai e sua propriedade eram a última coisa em sua mente. A doce e bem formada jovem lady com os seios enchendo o vestido de decote baixo que usava era tudo o que via. Ele olhou para ela.

— Lorde Francis. Meu Deus, mas você é alto.

Francis ficou vermelho.

— Ob... Obrigado, milady.

Ela sorriu para ele, seu rosto em forma de coração, limpo e bonito. Sua boca fez um pequeno “o” de surpresa. Ela riu.

— Você é engraçado, — disse ela.

Francis piscou. Ele não tinha certeza se isso deveria ser um elogio, mas ele esperava que sim.

— Obrigado, milady.

Lady Ettie revirou os olhos para a companheira, uma lady mais baixa com cachos e olhos escuros. Ela sorriu para Ettie.

— Vá em frente, Ettie! — Ela disse. — Dance com ele.

Ettie deu uma risadinha e deixou Francis levá-la para a pista de dança.

Respire fundo. Caminhe. Não caia sobre seus pés.

Francis sentia-se desesperadamente desajeitado na pista de dança. Ele tinha crescido e ficado mais alto que seus amigos, mais largo no ombro e com cabelo ruivo claro. Seu rosto era uma forma oval comprido e fino, com a testa e o queixo forte do pai. Com os lábios cheios como da sua mãe e os olhos de um falcão, ele tinha um rosto inegavelmente bonito. Apenas não parecia com mais ninguém. O que ainda era um problema.

Elas não tendem a gostar de mim.

Ele se curvou para Ettie e deixou que ela o levasse para a dança. Era um Pavane1, lento e majestoso. Ele se saiu razoavelmente bem, o que o surpreendeu. No entanto, quando lady Ettie fez uma reverência, ela desapareceu novamente no salão, corando e sorrindo, e procurando por sua amiga.

Francis suspirou.

Por que eu sou tão desajeitado com garotas?

Ele não tinha ideia.

Acho que não sou tão feio assim, pensou ele conscientemente. O pensamento o tranquilizou, especialmente esta noite. Na véspera, ele foi à Corte em Paris pela primeira vez. Ele rolou os ombros tensos e musculosos sob a túnica de linho e se virou para a mãe.

— Lembre-se, você é da casa de Dunkeld e Lochlann. Grandes propriedades na Escócia — disse sua mãe encorajadoramente. — Você tem muito do que se orgulhar.

— Sim mãe. Eu sei. Mas também sou meio francês. Era importante para ele, ser meio francês. Isso o fazia se sentir como se ele pertencesse aqui quando as pessoas insistiam em encará-lo ou chamá-lo de “estrangeiro”.

Sua mãe suspirou.

— Talvez, — disse ela. — Suponho que isso seja importante na corte. Onde, me lembro, caso tenha esquecido, você irá amanhã.

Francis sentiu-se entristecido.

— Mãe, duvido que alguém na corte sequer notará que eu estou lá. Não é como se Annecy fosse uma propriedade tão grande, afinal de contas.

Sua mãe levantou uma sobrancelha. Aqueles olhos azuis pareciam gélidos de dor.

— Também não é pequeno, Francis, — ela disse friamente. — Você não precisa nos tornar insignificantes.

Francis sentiu-se imediatamente culpado.

— Sinto muito, mamãe, — disse ele suavemente. — Eu sei. Eu falei bobagem outra vez. Eu estava apenas preocupado. Eu nunca estive na corte antes.

Sua mãe sorriu, sua raiva se evaporando.

— Eu só fui duas vezes, filho. Eu sei que é uma perspectiva assustadora. No entanto, confio que você vai gostar. É muito... divertido. E há muito mais oportunidades lá.

Francis assentiu devagar. Ele sabia que tipo de oportunidades sua mãe queria dizer. Oportunidades para ganhar renome. Para se conectar com pessoas importantes. E o mais importante ainda, oportunidades para encontrar uma noiva em perspectiva.

— Espero que eu goste, — ele disse cautelosamente. — E aproveite as... diversões... em oferta.

Sua mãe sorriu.

— Tenho certeza que você vai filho. Eu confio que você está pronto e deve ir já. Mas eu tenho algo para te dar. Está lá em cima na sua cama.

— Oh?

Sua mãe sorriu. Surpreendentemente adorável, quando ela sorria daquele jeito, perdia a aparência da idade e não poderia ser mais velha que ele próprio.

— Sim. Eu o fiz.

Depois do baile, quando Francis estava exausto e estranhamente desanimado, ele o encontrou. Ela mesma costurara, ele imaginou pela costura perfeita e caprichosa. Seu presente para ele era um gibão acolchoado na última moda. Era de uma bela seda verde, da cor dos campos verde-acinzentados sob o céu de inverno. Era elegante e exatamente o que ele precisava em sua busca para ser aceitável para os nobres e críticos franceses.

— Mãe! — Ele disse, a voz rouca. Ela não estava lá, mas ele não pôde evitar. Ele sentiu sua garganta apertar por um momento. Ela o entendia! Não sabia que ela se importava tanto com o que ele sentia ou o quão difícil era, potencialmente, para ele se misturar nessa terra.

Ele suspirou e subiu na cama. Lembranças do baile giravam em torno de sua cabeça. Ettie, rindo e dizendo o quão alto ele era. Desaparecendo depois da dança.

Eu já estarei meio caminho aceitável?

Ele não tinha ideia. Com grandes músculos e habilidades admiráveis no torneio e na prática, ele era exatamente o que um jovem deveria ser. De alguma forma, porém, nunca foi muito bem.

Deve ser apenas porque sou diferente.

Ele usava o gibão na manhã seguinte, quando deveria partir para a corte. Quando ele apareceu para o café da manhã no solar, sua mãe sorriu.

— Você o achou.

— Eu amo isso!

Francis riu com carinho, beijando o cabelo dourado de sua mãe. Perfumado com água de rosas, brilhante à luz do dia, ele mal podia ver os fios brancos que sabia que estavam ali.

— Ah bem! Você não parece bonito no gibão? — Sua mãe sorriu para ele, recuando para que ela pudesse admirá-lo do outro lado da sala. — Você faz uma boa figura, filho. Olhe para você.

Ela gesticulou para o espelho e Francis atravessou para olhar timidamente para si.

Um rosto magro e bonito o olhou de volta. Seus cabelos ruivos levemente ondulados, o rosto estava dotado de olhos verdes com pálpebras pesadas como as de sua mãe, o que lhe dava um olhar encoberto como um dos falcões de seu pai. Seus lábios carnudos eram vermelho pêssego e o pescoço firme e musculoso sob uma mandíbula forte.

Eu gosto da cor do gibão, ele pensou. Isso fazia seus olhos parecerem maiores, de alguma forma.

Um tom mais escuro do que seus olhos verde-claros, o gibão fazia o contraste com o cabelo e fazia seu rosto — que ele sempre achou engraçado — parecer indiferente e interessante. Ele sentiu um pequeno sorriso levantar o canto de sua boca e abruptamente o escondeu, tentando parecer sério.

— Obrigado, mamãe, — ele disse novamente em voz baixa. — É um presente maravilhoso.

Sua mãe riu.

— Combina com você, filho. Você tem uma figura bonita. Estou tão orgulhosa de você.

Francis engoliu em seco. Ele nunca tinha considerado isso antes — que sua mãe, linda, boa e talentosa — estava orgulhosa dele. Isso significava muito.

— Obrigado, mamãe, — disse ele gravemente. Sua voz estava cheia de emoção e ele limpou a garganta.

Ela sorriu.

— Tenho certeza que até Yves achou que combinava com você, — ela sorriu.

Francis assentiu. Yves servia como criado para si mesmo e seu pai. Ele era um velho ranzinza com um bom senso de humor e se ele achava que era adequado para ele, era porque era.

— Ele achou, Maman.

— Bem, então. Aí está você. Você deve saber que parece excepcional, se Yves disse que era aceitável.

Francis riu alto.

— Eu queria que você e o Pai viessem também... Vou sentir falta da sua boa companhia. Por que eu deveria enfrentar todo esse peso cerimonial sem vocês?

Sua mãe sorriu e impulsivamente beijou sua bochecha, lembrando a Francis a formidável e determinada garota que ela devia ter sido em sua juventude antes dele nascer.

— Bem, tenho certeza que você vai gostar. Não é tudo cerimonial e triste. É muito divertido se você se deixar aproveitar.

— Eu confio em você, maman, — Francis disse carinhosamente. — Se você diz que é divertido, provavelmente é.

— É, — disse sua mãe, inclinando a cabeça para trás e deixando uma risada escapar daquela longa e clara garganta. — Agora, então. Eu devo deixar você continuar com seus preparativos. Preciso descer e conversar com a cozinheira.

— Obrigado, mãe, — Francis disse carinhosamente. — Eu agradeço.

— Bem, verá se consigue persuadir a cozinheira a parar de usar o presunto defumado e te dar algo decente para levar com você na jornada? Já não é inverno... temos coisas mais frescas na despensa.

Francis riu e beijou sua mãe na cabeça com carinho.

— Eu vou deixar isso para você, maman. — Ele sorriu. — É improvável que ela aguente sua persuasão ativa.

A risada feliz de sua mãe o seguiu.

Mesmo, enquanto, viajava na carruagem, ele se viu revirando as previsões de diversão de sua mãe na corte em sua mente. Ele se perguntava se ela estava certa... Se a corte fosse divertida, alegre e se ele gostaria. Não era como ele imaginou isso acontecer.

Imagino longas e tediosas audiências cheias de protocolo e conversando com os lordes mais velhos sobre a produtividade das terras agrícolas aqui em Annecy.

Ele deixou sua imaginação fugir com ele. Encheu-o de um vasto castelo, amplos pátios, enormes salões de baile cheios de gente. Fontes. Bosques de árvores. Bailes, festas e oportunidades para conhecer outras pessoas do seu status social. Um tempo e lugar para fazer jogos.

O pensamento deixou Francis nervoso. Não só por causa das muitas jovens damas, mas a perspectiva de tentar escolher uma esposa era realmente difícil. Como alguém fazia isso?

Suponho que encontrei alguém de quem gostarei e perguntarei a maman se acha que ela é adequada.

Esse parecia o caminho mais simples para Francis.

Tudo o que importa para mim é que possa falar com ela.

Isso era, ele percebia, ser o problema.

As jovens e elegíveis damas que conheceu eram como pássaros exóticos: felizes, vibrantes e brincalhonas. Pareciam pensar principalmente em bailes e festas e quem dizia o que a quem ou de quem. Sentia-se confuso e não sabia nem como começar a falar com elas. Os poucos encontros que teve com elas foram tensos e assustadores.

Espero não achar nenhuma que seja como Marguerite, Henriette e Matilde.

Estas eram as filhas do Barão de Moreau, Castelles e o conde de Paysanne, respectivamente.

Mesmo só de vê-las me faz sentir estranho.

Lindas e refinadas, as três garotas eram como algo de outro mundo. Um mundo inacessível e que não tinha interseção com o dele.

Ele riu.

— Estou falando sozinho disso.

A ideia de casamento era atraente para Francis. Pensou nisso quando sentiu o solavanco e o rolar da carruagem debaixo dele. Ele tinha um exemplo maravilhoso em sua casa, afinal de contas... seus pais eram os melhores amigos assim como amantes. Ele gostava do pensamento de ter uma verdadeira companheira depois de uma vida onde tantas vezes e se sentia sozinho. É claro que a ideia de alguém com quem compartilhar o ato de amor atraia Francis, provocando um arrepio em sua virilha.

Ele balançou sua cabeça. Calma, Francis. Você não está considerando uma bela moça de uma das aldeias vizinhas. Esta será sua esposa, você vai escolher. Sua virilha estava agitada agora, e ele mordeu o lábio, desejando ter tempo de procurar Charmaine, a serva da cozinha, com quem ele teve alguns encontros felizes. A garota era amigável e disposta, mas ele sentiu que ela estava relutante agora que ambos estavam chegando a uma idade para encontrar um parceiro de casamento. Ele respeitava seus desejos de se manter para si mesma.

Ele precisava se concentrar em seu próprio futuro. Se ela pudesse ser tão equilibrada e prática, o mínimo que ele poderia fazer era seguir seu exemplo! Ele tinha a sucessão da propriedade a considerar.

— Especialmente agora. Quando estou indo a corte.

— Eiaaa! — O cocheiro estava gritando. Francis olhou pela janela, vendo a paisagem mudar de vastos campos cultivados para vales e colinas arborizadas. Eles estavam na estrada para o Norte. Para Paris.

O pensamento fez seu estômago formigar de excitação. Ele estava a caminho de Paris no verão. Para encontrar uma esposa.

O pensamento o assustara antes. No entanto, as coisas mudaram. Ele estava antecipando disso agora?

Estranhamente, depois de sua conversa com sua mãe e da percepção de que, embora diferente da maioria, não era feio, ele descobriu que era verdade.

Ele queria ver o que a vida tinha reservado para ele.


CAPÍTULO DOIS

UM ENCONTRO E UMA SURPRESA


O sol espirrava uma luz amarela brilhante nos ladrilhos de mármore. Ele brilhava ao largo da fonte no pátio, onde moças rindo dançava uma quadra nas lajes ao lado. Claudine Poitiers, filha do Duque du Pavot, observou o respingo de água e ouviu a conversa das jovens damas felizes. Ela suspirou.

— Tio Luke? — Ela virou um rosto oval de bochechas altas e suaves em direção ao homem atrás dela no terraço.

— Sim, — Respondeu seu tio. Macia e graciosa com o sotaque da corte, a voz de seu tio sempre foi capaz de acalmar Claudine, mesmo quando estava mais aborrecida.

— Por que eu não posso ser assim? Tão despreocupada? Tão capaz? — Ela sentiu seus dedos longos e afilados se enrolarem em um punho, sua frustração muda como uma dor torcendo seu coração.

Seu tio suspirou.

— É trágico, Claudine. Mas é como é. Não podemos mudar o que a vida nos entrega.

Claudine o olhou tristemente, grandes e tristes olhos azuis. Se ela pudesse se mover como aquelas damas faziam! Leve, despreocupada, sem ter que planejar. No entanto, Claudine estava doente. Durante o último ano ou um pouco mais, algum mal estranho a atingiu. Insidiosa e não diagnosticada, seu único sintoma era uma lenta letargia que lhe roubava a vitalidade e a respiração, fazendo até simples movimentos, como subir as escadas ou atravessar o pátio, uma luta exigente.

— Eu não deveria me sentir infeliz, eu sei, — Claudine suspirou musicalmente. — Eu sou abençoada pois tenho muito. Eu sei disso. Mas mesmo assim... — ela balançou a cabeça, pequenos dentes perolados mordendo o lábio pálido e pesaroso.

— Eu sei, Claudine. — Seu tio balançou a cabeça. — Não devemos permitir que o desânimo nos anule. Talvez algum grande médico vá a corte. Ele pode conhecer a natureza dessa debilidade.

Claudine suspirou. Ela tinha visto todos os médicos da corte, e nenhum deles sabia o que a afligia. Ela ouvira seus conselho, recebera suas receitas. Ela os havia tomado calmamente por alguns dias e depois desistira e perdera a esperança. Nada, ao que parece, poderia remediar o que a deixou doente.

— Talvez, tio, — disse ela com tristeza. Tudo o que ela podia fazer era esperar.

— Eu continuo dizendo ao seu pai que seria um benefício para você tirar um tempo longe da corte. Mas parece que ele não vai ouvir meus simples conselhos. — Seu tio levantou os ombros delgados e musculosos abaixo de um gibão de veludo.

Claudine se virou para sorrir tristemente para o tio.

— Eu sei, tio Luke, — ela disse com carinho. — Eu sei que você considera minha segurança importante. Pai, ele... ele é insistente em encontrar-me um marido. O herdeiro de Pavot parece mais importante que eu.

Luke sacudiu a cabeça. O sol brilhava em seus cabelos dourados, quase idênticos aos de Claudine, marcados, apenas, ligeiramente, por linhas de prata que mostravam sua idade superior. Não julgue seu pai com muita severidade. Laurence é um guerreiro duro e teimoso, mas ele também se importa com você — ele disse suavemente.

Claudine riu levemente. Ela atravessou o terraço, estava com tonturas, e encontrou uma cadeira para se sentar. Seu coração disparava às vezes sem razão aparente, a cabeça doendo. Ela fechou os olhos por um momento para se firmar. Oh, por que ela não poderia ser como todo mundo?

— Eu sei que meu pai cuida de mim, — disse Claudine suavemente. — Mas tio, você... você me ajuda. Eu sei que você entende o que me incomoda melhor do que ninguém.

Luke franziu a testa, chupando os lábios nos dentes por um momento, um gesto familiar para ela que mostrava sua preocupação. Ele não parecia inteiramente diferente do pai dela, com a testa alta e o rosto longo e elegante. Onde seu pai era elegante e alegre, seu tio era magro e vigilante. O irmão mais novo do duque era o conde de Blanchard, e parecia mais complexo do que seu próprio pai, despreocupado.

— Eu me preocupo com o estado de sua saúde, — Tio Luke disse suavemente. — Eu acho que seu pai... está menos envolvido nisso do que eu.

Claudine suspirou. Se seu tio queria dizer que seu pai estava alegremente alheio a qualquer outra coisa que não a caça, a luta e o governo do ducado, ele certamente encontrou uma maneira discreta de declarar isso.

— Eu sei que meu pai tem... outras coisas em mente.

— A sucessão. Ah, sim. — O tio Luke franziu a testa ligeiramente. — Por que ele está tão empolgado com a produção de um herdeiro, não tenho muita certeza. Qualquer um pensaria que ele está simplesmente me evitando.

Claudine riu.

— Tio, tenho certeza que não é isso. Qualquer um pode ver que você seria um grande duque.

— Eu não quero ser o Grão-Duque, — disse seu tio petulantemente. Então ele sorriu. — Eu sei o que você quer dizer, sobrinha, — ele brincou com carinho. — E obrigado. Sua fé em mim está me movendo. Se ao menos isso me desse mais capacidade, eu me deleitaria. Mas, infelizmente, isso não acontece. Eu sou como sou e não tenho como ajudar.

Claudine sacudiu a cabeça.

— Tio, você faz o que pode. Sou grata por sua ajuda como ela é. Ninguém teria me ajudado mais. Não há nada que possa me ajudar.

Claudine disse isso desesperadamente.

— Sobrinha... — seu tio disse gentilmente. — Paciência.

Claudine sentiu uma pontada repentina de inquietação, fora de seu caráter, com seu habitual eu tranquilo. Ela não sentia paciência. Por que ela deveria? Ela tinha vinte anos de idade! Por que ela deveria estar confinada a uma cadeira no terraço, incapaz de dar vinte passos sem cansar-se, quando outras moças da corte podiam pular, correr e dançar? Não era justo! Ela precisaria para tentar encontrar alguém que pudesse ajudá-la.

Ela se levantou e caminhou até a beira do terraço, desejando pelo menos observar as mulheres dançando e esquecer, por um tempo, o tio atento e preocupado que lhe dizia para ter paciência.

Se fosse ele incapaz de andar, dançar ou andar, confinado a uma cadeira a maior parte do dia, ele acharia a paciência um desafio.

Claudine se apoiou no corrimão, a cabeça limpando um pouco enquanto respirava o ar fresco e perfumado e observava as damas no pátio abaixo. Duas delas, Yvette e Mirabelle, estavam dançando juntas, Mirabelle segurando uma saia elaborada de seda amarela e brocado azul. Elas estavam rindo, de braços entrelaçados, enquanto praticavam algum novo passo de dança juntas.

— Oh, vamos lá, Mirabelle! Por que eu deveria dançar a parte do homem? Yvette protestou levemente.

— Podemos nos revezar — disse Mirabelle, seu cabelo brilhante e sedoso brilhando à luz do sol enquanto se voltava para encarar a prima com um sorriso travesso.

— Talvez ele possa ser útil? — sugeriu uma das outras damas, agrupadas em torno de Mirella, que tocava alaúde por causa de sua pompa.

— Ele? — Mirabelle perguntou.

— Sim. Perdoe-me, senhor? Mas qual é o seu nome? E já que nos observa tão intensamente do corredor, talvez você se junte à nossa diversão?

Claudine sentiu-se sorrir, um pouco chocada com o convite direto de Mirabelle para quem quer que fosse. O motivo do convite — um rapaz que Claudine sabia que devia ser — avançou incerto. Claudine o viu sair da sombra do corredor e entrar na luz do pátio abaixo.

Ela o olhou fixamente.

De ombros altos e largos, rosto de queixo forte, o jovem tinha uma postura ereta que não correspondia ao seu constrangimento. Foram os modos hesitantes que a atingiram primeiro, embora a atingisse quase ao mesmo tempo que a cor de seu cabelo.

Um marrom que se inclinava para um belo castanho avermelhado, como folhas no outono, beijado de sol, era de uma cor marcante, diferente de muitas que ela já vira antes. Nenhum outro jovem que conhecesse tinha esse cabelo.

A cor do cabelo, combinada com o sorriso incerto e o corpo largo e endurecido, o fazia impressionante e bonito.

Claudine sentiu o coração disparar de uma maneira que pouco tinha a ver com sua doença.

Eu nunca vi alguém que me interessasse assim.

— Eu me pergunto quem ele é? — Ela sussurrou, quase para si mesma. Ela observou-o andar para frente, o ar parado do pátio do verão permitindo que as palavras fossem levadas claramente até ela.

— Precisamos de alguém para nos ajudar a aprender a quadra, — explicou Yvette. Seu rosto magro e elegante estava vermelho, Claudine notou. Ela sentiu suas próprias mãos apertarem o corrimão de pedra enquanto observava o jovem franzir a testa, evidentemente bastante surpreso com o convite.

Ele sorriu. Claudine sentiu o coração derreter um pouco com a doçura da expressão.

— Milady, — disse ele, curvando-se baixo. — Lamento admitir que sei pouco da quadra. Eu seria de pouca utilidade... você parece tão admiravelmente bem treinada nela.

Ele sorriu novamente e Claudine viu Yvette ficar mais vermelha. As damas ao seu redor riram e Jacintha se abanou com a mão como se o pátio tivesse subitamente se tornado excessivamente quente para o seu gosto.

Sei como ela se sente, Claudine pensou, sentindo uma onda de calor lenta subir através de seu próprio corpo, embora não pudesse dizer exatamente por quê. Era algo a ver com o jovem, ela sabia, e sua confiança, sua graça. Sua amizade desarmante.

— Meu lorde! — Yvette disse, quando ela encontrou sua voz novamente. — Você é muito galante. Sabemos muito pouco sobre a dança e queríamos a certeza de que estaríamos dançando bem, se você tiver tão pouca experiência quanto parece professar.

Ele ficou vermelho e balançou a cabeça, ainda sorrindo abertamente.

— Eu protesto milady. Não sei quase nada e, embora esteja honrado pelo pedido, prefiro seguir meu caminho. Me desculpe. Mas eu só me desgraçaria se fizesse par com você, e odiaria fazê-lo em tal companhia bonita.

Ele deu às sete damas um sorriso deslumbrante e Claudine sentiu seu coração se contorcer com uma mistura de alegria e inveja. Alegria em ver algo tão lindo. Inveja ao vê-lo dirigido um sorriso para as mulheres abaixo dela, dançando e capazes de corpo.

Acho que estou me enganando ao olhar para ele, ela pensou duramente. Quem iria querer olhar para uma mulher inútil como eu? O tio está certo. Pai deveria desistir. Ninguém nunca me quereria... por que eles iriam querer?

Ela se virou para esconder as bochechas flamejantes, os olhos molhados de lágrimas repentinas. Enquanto ela fazia isso, uma pétala soltou da rosa que ela enfiara em seu corpete mais cedo. O jovem viu e olhou para cima, para a varanda.

Seus olhos se encontraram.

Claudine sentiu a cor inundar suas bochechas. Ele estava olhando para ela, olhando diretamente nos olhos dela. Seus próprios olhos eram de um verde claro. Ela piscou, sentindo o calor subir em seu rosto e seu coração começar a bater de um jeito completamente diferente de qualquer coisa que já sentira antes.

Ele está olhando para mim como se... como se eu fosse algo que valesse a pena olhar.

Ela tinha visto aquele olhar em rostos antes, admirando a beleza intensa dos jardins do palácio, olhando maravilhada para alguma nova rosa ou arbusto florido que os jardineiros haviam plantado. No entanto, ela nunca esperou que este jovem dirigisse tal olhar para ela.

Claudine tossiu, envergonhada e afastou os olhos.

— Sobrinha? O que a aflige?

— N... nada, tio, — gaguejou Claudine. Ela se debruçou sobre a borda da sacada novamente, e o jovem ainda a estava olhando. Ela corou e recuou rapidamente.

Seu tio estava franzindo a testa quando ela se virou para ele.

— Sobrinha? O que aconteceu? Você parece bem corada. Devo chamar sua serva?

Claudine sacudiu a cabeça.

— Estou bem, tio. Isso não é febre. Pelo menos... acho que não. — Ela forçou os dedos a relaxar, deixou-os estenderem-se pelos lados, apenas roçando o longo vestido de seda creme que ela usava.

— Bem, você pode ter me enganado, — disse seu tio impacientemente. Ele levantou a sobrancelha e, em seguida, deu-lhe um sorriso gentil. — Eu sinto muito, sobrinha. Mas eu me preocupo pelo seu bem-estar. Você parece muito corada.

— Estou bem, — repetiu Claudine, mais hesitante. O que ela poderia dizer? Ela mal sabia o que estava sofrendo. Ela olhou para as mãos, compondo seus pensamentos rapidamente. — Embora eu pense que talvez Bernadette possa me ajudar.

— Claro. Venha sobrinha. Você está cansada. Entre. Vou chamar sua serva imediatamente.

— Eu posso fazer isso, — disse Claudine hesitante. Ela sorriu timidamente para o tio. — Eu sei que você sempre se preocupa comigo, querido tio — acrescentou ela, apertando sua mão impulsivamente, um gesto terno. Ela gostava tanto do tio Luke, ele era tão engraçado e tão atento às suas necessidades. Demasiado atencioso por vezes. Ele a babava muito ligeiramente.

— Eu sei que você pode fazer isso, — disse Luke, franzindo a testa. — Mas se você precisa de alguma coisa... — sua voz sumiu hesitante.

— Eu vou ter certeza de que você saiba, tio, — disse Claudine rapidamente. Ela correu em direção ao seu quarto de dormir. Lá dentro, ela fechou a porta e se encostou nela. Seu coração estava batendo embora não doesse, mas ela se sentia animada.

Eu me sinto vivo, ela pensou. Feliz, mais capaz. Por quê?

Ela franziu a testa.

— Bernadette? — Ela chamou sua serva que dormia em uma sala menor adjacente à dela, separada por uma tela de madeira para que ela precisasse chamá-la durante a noite para qualquer coisa.

Ela ouviu alguém se levantar de um assento — o rangido suave dos móveis de madeira, o sussurro de uma saia ao longo do piso de pedra — e Bernadette apareceu.

— Sim, milady?

Seu doce rosto em forma de coração parecia satisfeito ao ver Claudine, sem nenhuma preocupação aparecendo ali, exceto possivelmente no fundo de seus olhos azuis. Bernadette era muito mais que uma ajudante — ela era a melhor amiga de Claudine.

— Bernadette! Aí está você. Eu me sinto muito cansada. Eu vou para a cama, você pode me ajudar com isso? — Ela indicou o longo vestido de seda creme, que precisava de outro par de mãos para desabotoar.

— Claro, milady, — respondeu Bernadette. — Nada te preocupou, não é?

— N... não, Bernadette, — disse Claudine, mordendo o lábio. Ela não sabia o que dizer a sua acompanhante. Ela não tinha certeza do que aconteceu ainda, muito menos qualquer outra pessoa.

Tudo o que sabia era que alguma coisa havia mudado no momento em que viu aquele jovem no pátio e ele a viu.

Algo estranho e maravilhoso aconteceu dentro dela.

Pela primeira vez desde que se lembrava, sentia-se animada com a vida. Como se ela realmente quisesse viver. Como se ela quisesse ver o que aconteceria a seguir.


CAPÍTULO TRÊS

UM BAILE PARA RECORDAR


— Eu pareço meio razoável? — Francis perguntou sem jeito.

Seu criado, Yves, franziu a testa e recuou criticamente. Então ele franziu os lábios.

— Você vai fazer boa figura, milorde.

Francis encontrou o olho do velho homem e viu um brilho ali. Ambos riram.

— Yves, sério! Você é tão reconfortante quanto o Juízo Final. E tão duro, provavelmente, — acrescentou.

Yves sacudiu a cabeça.

— Não se deve gracejar sobre questões de fé, senhor, — ele murmurou.

Francis suspirou.

— Sinto muito, Yves. São meus nervos. Estou tão nervoso e não consigo evitar. Já não sou eu mesmo.

Seu criado sorriu maliciosamente.

— Você vai fazer bem.

Filho de um antigo servo e inteligente, Yves era um homem instruído e digno de confiança. Francis estava feliz por sua opinião esta noite. Este era seu primeiro baile no palácio. Ele já tinha visto uma garota que esperava estivesse por lá.

Eu não consigo parar de pensar nela.

Ele sabia que era bobo, mas aquele momento no pátio, no início do dia, quando seus olhos atingiram os olhos da garota na varanda, ficou em sua mente. Com seu rosto suave em forma de coração e aquele cabelo dourado ondulado, ela se parecia com os anjos de porcelana no altar da igreja. Aqueles olhos azuis tinham cruzado com os dele, como se pudessem ver as profundezas de sua alma.

— Obrigado, Yves, — disse Francis nervosamente, sentindo o estômago apertar com os nervos enquanto caminhava pelo elaborado aposento que tinha sido lhe dado — menor, para um nobre ilustre como um duque, mas requintadamente mobiliado e decorado — e se dirigiu para a porta.

— Certo. Eu estou indo. — Ele respirou nervosamente e ficou ereto.

— Muito bem, senhor.

Francis abriu a porta, saiu para o corredor e fechou-a suavemente atrás dele. Então, com seu estômago tremendo ameaçadoramente, ele se dirigiu para a escadaria sinuosa que ia para o salão.

— Vamos Francis. Não é uma batalha, pelo amor de Deus. É um baile. Tenha algum sentido.

Ele não pôde evitar, entretanto — seu primeiro evento na corte era uma perspectiva aterrorizante. Ele não sabia se poderia navegar pelos mares desconfortáveis da etiqueta, se poderia ser um conversador popular, ou se poderia fazer as danças tão bem quanto o esperado aqui.

Eu não sei do que alguém deve ser capaz por aqui.

Tendo passado toda a sua vida em Annecy, com viagens ocasionais para caçar nas outras propriedades vizinhas, como Moreau e Paysanne, ele não tinha ideia do que seria esperado dele aqui.

Ele engoliu em seco.

Apenas há uma maneira de descobrir. Acabar logo com isso.

Ele avançou para o salão.

Antes que ele chegasse ao meio do limiar, um homem baixo com uma expressão severa se adiantou.

— Espere um momento, — disse ele.

Francis congelou.

O homem limpou a garganta.

— Francis McNeil, conde de Annecy.

Francis sentiu-se corar quando as cabeças mais próximas da porta se viraram. Ele desejou que o homem não tivesse que mencionar seu sobrenome. Ele se destacou uma milha entre todos os franceses, chamando a atenção para suas diferenças.

Maldito homem. Se ele não estivesse aqui eu teria acabado de entrar.

— Meu lorde de Annecy, — disse um homem mais velho, curvando-se baixo. — É um prazer vê-lo na corte. Novos rostos são sempre bem vindos. Não são, Matilde?

A mulher ao lado dele, uma mulher mais velha e de rosto doce, com uma expressão suave e cabelos grisalhos elegantemente penteados, assentiu.

— Sim, de fato, Richard. Bem-vindo rapaz. Por favor, junte-se a nós.

Francis engoliu em seco através de uma garganta apertada e assentiu timidamente. Ele não pôde evitar escanear a multidão enquanto olhava ao redor. Onde ela estava? Ele sabia que era bobo, havia talvez cem convidados aqui no salão. Por que ele iria vê-la? No entanto, o pensamento o sustentava, tornando esta noite um pouco menos amedrontadora.

— Obrigado, — ele conseguiu dizer. — Estou feliz em me juntar a vocês. É a minha primeira vez na corte — acrescentou, percebendo que já haviam adivinhado isso. Ele suspirou baixinho, sentindo-se desajeitado por ter feito ainda outra gafe. Ele só estava lá há cinco minutos depois de tudo.

— Sim, de fato, — a mulher mais velha assentiu com o mesmo sorriso suave.

Francis sacudiu a cabeça, lembrando de repente suas maneiras.

— Perdoe-me, madame! Eu sei que você sabe meu nome, mas devo me apresentar. Eu sou Francis McNeil, conde de Annecy.

— Lady Matilde, condessa de Chaudet, — ela disse educadamente.

— Encantado, milady, — ele engoliu em seco novamente, sentindo-se desajeitado.

— Você veio buscar alguma petição, milorde? — o conde perguntou gentilmente. — Ou apenas para o aspecto social? — Ele acrescentou com um sorriso caloroso.

Francis assentiu.

— Sim. Quero dizer, hum... para os dois, senhor conde.

Deus! Você não pode dizer nada sensato? Qual o problema com você esta noite?

— Ah! — O conde levantou as sobrancelhas com um olhar indagador. — Nesse caso, minha querida, — disse ele à condessa, inquiridoramente, — poderíamos apresentar nossa filha, Estella.

— Oh. — Francis engoliu, com a garganta apertada, quando uma jovem lady com o mesmo rosto oval e longo como o de lady Matilde apareceu, e uma massa de cachos negros empilhados em um estilo altamente elegante em sua cabeça.

— Eu... é uma honra, — ele disse, sem jeito.

— Meu lorde — disse a alta e elegante mulher da sociedade com uma voz suave, soltando uma reverência de tirar o fôlego, os olhos baixos e modestos. — Tenho o prazer de ser apresentada a você, meu senhor.

Francis tentou fazer um som, mas nada saiu. Ele limpou a garganta, sentindo-se desesperadamente no mar e um pouco tolo.

— Milady, — ele conseguiu dizer. — É um verdadeiro prazer.

Ele fez uma reverência e levantou-se rapidamente, aliviado de que a pior parte provavelmente terminasse. Ele sentiu seu prazer transformar-se em consternação repentina quando os dois nobres mais velhos — o conde e sua esposa elegante — se afastaram sutilmente. Deixaram Francis e lady Estelle de frente um para o outro.

— Você está aproveitando o clima, milorde? — Perguntou lady Estelle gravemente. Ela tinha olhos negros, pálpebras pesadas e inclinados nos cantos. O baixo “v” de seu corpete mostrava sua pele clara e seu seio a um nível atraente de esplendor. Francis engoliu em seco novamente, embora sua boca estivesse muito seca.

— Sim... milady Estelle, — ele conseguiu dizer fracamente. — Muito divertido, não é? Bom para caminhar. — O que devo dizer? Francis tentou ainda se mexer e se concentrar. Ele não podia acreditar no absurdo que estava saindo de sua boca.

— Oh, de fato. Embora eu não vá muito além do pátio, receio — disse ela em voz baixa. — Eu confio que você é um grande andarilho.

Francis franziu a testa. Ele não tinha ideia de qual seria a resposta adequada, então riu um pouco sem jeito.

— Oh, não sou um ótimo andarilho, — disse ele. — Eu apenas gosto de um passeio em direção às florestas. O rei tem campos de caça elaborados.

— De fato ele tem, — ela disse suavemente. — Embora eu saiba pouco de caça.

— Ah, — Francis disse, sentindo-se bobo.

Claro que ela não sabe, seu idiota. Damas não acompanham a caçadas. Pelo menos não damas como ela. Gentilmente delicadas, damas polidamente educadas.

— Ah... sim, — ele disse, sem saber o que mais dizer. — Eu suponho.

— Estelle, querida, — disse lady Matilde, aparecendo de repente no cotovelo da filha. — Venha cumprimentar o conde de Trevier.

— Sim, mamãe.

Francis fez uma reverência.

— Encantado por tê-la conhecido, milady, — ele murmurou.

— Da mesma forma encantou-me meu lorde, — disse ela, fazendo uma reverência baixa e elaborada.

Bem! Meu primeiro encontro com uma jovem elegível na corte. Eu sobrevivi a isso.

Francis não tinha certeza se tinha conseguido muito melhor que a mera sobrevivência, mas talvez ele melhorasse com a prática.

— Certo. Agora tudo o que preciso fazer é encontrar mais mulheres assim e me dar outra chance.

É como aprender na justa.

A primeira vez que você caiu do cavalo, só teve que voltar e se dar outra chance. Francis respirou fundo e foi mais para dentro do salão.

— Meu lorde? Venha e junte-se a nós. Eu sou lady Gertrude.

— Honrado, milady. Lorde Francis, — Francis se apresentou apressadamente.

Ele se viu atraído para o círculo, que incluía duas moças. Sentiu-se desconfortável e olhou em volta, concentrando-se nos arredores. Um quarteto tocava uma melodia imponente e os casais já estavam se preparando para a pista de dança.

— Vamos dançar? — Ele falou.

Lady Mirella, com quem ele estava falando, riu e fez uma reverência.

— Eu ficaria feliz, lorde Francis.

Mirella era uma mulher bonita — suave, curvilínea e compacta, com cabelo cacheado abundante e um peito cheio. Francis pegou sua mão macia e perfumada. Ele descobriu que estava tremendo enquanto ia para a pista de dança.

O que eu faço agora?

— Meu lorde? Você conhece a quadrilha?

— Eu... ficaria feliz em aprender, — Francis disse sem jeito.

Mirella deu uma risadinha.

— Bem, estou feliz em te ensinar. Neste lugar, ou em algum outro lugar, você deve seguir meu exemplo.

Francis ficou vermelho enquanto seu corpo respondia à declaração implícita. Ele não pôde evitar que as imagens que passavam por sua mente fossem de outros tipos de dança.

— Ob... Obrigado, — ele gaguejou.

— Agora, você fica aqui e eu vou até lá, — Mirella explicou rapidamente. — Lá. — Ela sorriu para ele em um espaço de talvez dez passos de distância, através de um piso de mármore polido.

Ele viu como outros casais saíam para a pista de dança — damas em vestidos de brocado elaborados, bainhas varrendo o chão, mangas sobrepondo as longas e finas mãos. A luz suave das velas brilhavam em cabelos com elaboradas tranças e se difundia suavemente nos gibões de veludo dos outros jovens cavalheiros, corteses e graciosos, que os acompanhavam.

O que diabos eu devo fazer agora?

Ele olhou para as mãos, sentindo-se desesperadamente desajeitado. A música começou e ele olhou ao redor um pouco descontroladamente.

Em caso de dúvida, copie o que as outras pessoas estão fazendo.

Ele ouviu o sábio conselho de seu pai.

Francis olhou para a esquerda e observou os outros cavalheiros. Todos pareciam estar esperando também. Ele ficou como estava.

O quarteto atingiu uma cadência particular. Todos os cavalheiros se curvaram e as damas fizeram uma reverência. Francis rapidamente fez o mesmo. Então eles se adiantaram, mãos direitas, para tocar as mãos certas de seus parceiros.

Francis encontrou-se fazendo a mesma coisa. Ele estava um pouco fora do tempo que os outros, já que ele tinha que copiar o que eles faziam. Não era que ele nunca tivesse aprendido nenhuma dança formal — ele sabia como dançar uma sarabanda, um gigue, uma gavotte... ele simplesmente não conhecia a quadra ou a quadrilha — danças mais elaboradas que deviam ter atingido a corte primeiro.

Eles estão todos recuando agora. Recue. Ah não. Você apenas pisou no vestido de alguém. Deixa pra lá. Avance de novo. Ninguém vai notar.

Francis podia sentir o calor de um rubor subindo em suas bochechas e seu coração batendo em seu peito.

Certo. Agora volte novamente. Respire, Francis. É um baile, não uma execução. Toque na mão dela; coloque a outra mão na cintura dela. Oh, meu Deus, que linda cintura.

Ele estremeceu quando tocou seu doce corpo, e então recuou timidamente, seguindo a liderança dos outros dançarinos. A dança os conduziu em um círculo gracioso, e então eles se curvaram e fizeram reverências um ao outro.

Eles deixaram a pista de dança e Francis pigarreou.

— Um... obrigado, milady. Foi uma honra dançar com você.

— Obrigada, milorde. Você dançou muito bem para um iniciante.

Ela riu, mas o tom não era tão amigável quanto poderia ter sido e Francis se sentiu insultado. Ele balançou a cabeça, surpreso com isso.

— Hum... — ele limpou a garganta novamente, mas Mirella já tinha ido embora, perdida na multidão de nobres no salão.

Bem, se isso não é uma surpresa.

Francis piscou. Não era uma sensação particularmente boa, ter suas habilidades de dançar insultados, mesmo que o insulto fosse emoldurado como uma piada. Ele suspirou.

Bem, ela está certa e eu nunca dancei uma quadra antes. Mas isso foi um pouco indelicado, na verdade.

Ele notou que o clima no salão estava mudando, ele havia chegado um pouco depois dos outros e parecia que uma pausa nos procedimentos estava na ordem. Os convidados que dançaram estavam indo em direção às mesas para ocupar seus lugares. Francis deu de ombros e seguiu-os. Ele se sentiu desajeitado e bobo e era como se ele se destacasse dos demais.

Ele seguiu os convidados até a mesa mais próxima e sentou-se cansado, cobrindo os olhos com a mão. O que ele achava que estava fazendo aqui? Ele desejou nunca ter vindo.

Quem você acha que é? Eu sou apenas uma desculpa de ser um nobre francês, um camponês sem ideia de como se comportar. Boina vermelha. Idiota.

— Desculpe-me? — Uma voz doce disse em seu ouvido.

Francis arrastou uma mão cansada pelo rosto.

— Sim? — ele perguntou. Então arregalou os olhos. Ele piscou e olhou novamente.

É ela! A garota da sacada!

A que ele havia notado ontem. Ela estava sentada ao lado dele, vestida de rosa, aquele lindo cabelo dourado uma massa de cachos suaves e reflexivos, caindo no rosto.

— Desculpe, milorde, — disse ela. — Eu só estava me perguntando se você tinha visto o meu tio?

Francis abriu a boca.

— Seu tio? — Ele perguntou, percebendo que não saberia se ele conhecia ou não.

— Sim. Só que... ele geralmente fica naquele lugar.

— Oh! — Francis corou vermelho. — Eu sinto muito... eu... eu simplesmente não consigo fazer nada direito aqui, certo? — Ele sorriu tristemente. Ele meio que se levantou.

— Não, fique, — ela disse. Ela deu-lhe um sorriso. Seus olhos azuis estavam tristes. — Eu me sinto assim também, às vezes, — ela disse levemente.

— Você também? — Francis ficou surpreso.

Ela olhou para as mãos. Ela parecia envergonhada com alguma coisa.

— Sim, — ela sussurrou.

— Por quê? — Francis desabafou. — Quero dizer, — acrescentou rapidamente, — por que alguém como você se sentiria assim? Parece que você se encaixa aqui ou, pelo menos, se você se destacar, é um bom caminho.

Francis teve o prazer de ver a garota corar. Ela tinha um tom doce e suave de rosa, a cor das pétalas de rosa que decoravam a mesa. Francis olhou, sentindo um calor doce também, apenas que esse calor estava por dentro, fazendo-o sentir-se subitamente feliz. Ela era tão bonita, das extremidades afiladas de seus dedos ao brilho suave de sua pele. O doce sorriso naqueles lábios rosados e úmidos fez todo o seu corpo formigar com desejo.

— Obrigada, milorde, — ela murmurou. — Eu... — ela suspirou. — Eu não sou como os outros. Eu não posso andar muito bem, sabe. Ou dançar. — Sua doce boca se transformou em uma linha dura e triste.

— Oh! — Francis ficou surpreso. Ele sentiu o queixo cair e depois fechou a boca. Pobre garota! — Entendo. Isso é... isso deve ser difícil.

Ela ainda estava olhando para as mãos. Ela olhava timidamente.

— Estou acostumada com isso, — disse ela, com o mesmo toque de amargura em sua voz.

Essa renúncia. Acertou um acorde em seu coração: um tom similar era algo que ele poderia ter usado ao discutir com sua própria família.

— Deve ser difícil chegar a... tais coisas, — Francis disse, sem saber o que mais dizer.

Ela riu.

— Na verdade não. Eu apenas sento e vejo os outros dançarem. Não é nada difícil. — Ela disse isso levemente, embora Francis pudesse ouvir a amargura em seu tom. Isso a entristecia, não ser capaz de andar, correr e dançar como o resto deles. Ele notou o quão triste ela parecia e sentiu necessidade de estender a mão para ela.

— Eu sinto muito por ouvir isso, — disse ele suavemente.

Suas mãos tocaram as dela antes que ele pensasse sobre isso. Ele se sobressaltou e retirou-as instantaneamente, mas o contato fora feito. Suave e macia, com a pele de cetim, Francis respirou fundo e desejou poder continuar a segurá-los. Ela era tão linda!

Ela sorriu. Suas mãos também se moviam para trás, mas parecia com a mesma relutância lenta que as dele. Ele balançou sua cabeça.

— Sinto muito, milady. Eu não tenho nenhuma desculpa para isso. — Ele sorriu abertamente.

Ela balançou a cabeça.

— Não milorde. Você tem boas maneiras. Mais do que aqueles que fingem sentir pena de mim e depois sussurram atrás de suas mãos.

Sua voz era dura e fria. Francis sentiu seu próprio coração apertar com empatia por ela. Como alguém poderia tratar uma garota tão gentil e bonita desse jeito? Isso o encheu de raiva.

— Milady, — disse ele suavemente. — Há algumas pessoas selvagens por aí. Eles podem ser todos gentis por fora, mas por dentro estão cheios de amargura e violência.

Os olhos azuis da moça olharam para o rosto dele. Francis sentiu seu coração se derreter quando ela olhou para ele maravilhada.

— Você acha isso?

— Eu sei disso, — Francis disse corajosamente. — Como alguém pode dizer algo contra você? Você é amável.

Ela olhou para ele, aqueles lábios úmidos separados em uma doce expressão de surpresa.

Francis mordeu o lábio, corando de um vermelho brilhante.

— Desculpe, milady, — disse ele rapidamente. — Eu falei bobagem de novo. Me perdoa?

A lady — que ainda não sabia o nome dela, ele percebeu timidamente, balançou a cabeça.

— Nada a perdoar, — ela disse suavemente. — E... obrigada.

Francis olhou para os olhos azuis e sentiu uma sensação curiosa, como se ele estivesse ao mesmo tempo enraizado no local e caindo, caindo e espiralando naquelas profundezas do céu de primavera.

— Não, — ele murmurou, a voz rouca com a sensação. — Não há nada para agradecer.

Seus olhos se trancaram. Eles ainda estavam olhando um para o outro quando alguém pigarreou atrás deles.

— Com licença — disse a voz baixa e culta de um homem, melodiosamente, fazendo Francis pular de surpresa. A lady olhou para cima, as mãos voando para o rosto em choque.

— Tio! Oh, me perdoe. Eu... Você pode tomar o lugar à minha frente? — Ela disse.

— Bem, isso é irregular, — disse o tio, franzindo a testa. Francis estudou-o rapidamente, observando um homem compacto e bonito em meados dos quarenta anos. — Mas sim, claro que vou, — disse ele, sorrindo graciosamente.

Francis sentiu-se envergonhado e meio parado, não querendo causar uma cena, mas o francês mais velho acenou para ele polidamente.

— Não, meu jovem. Você estava ai antes de mim. Não há razão para eu mudar para outro lugar.

— Sinto muito, — Francis murmurou, mas ele apenas riu.

— Eu não estou fixo no chão, posso me mover tão bem quanto qualquer homem, — ele disse levemente.

Francis viu uma expressão de dor atravessar o rosto da jovem lady e percebeu que as palavras deviam tê-la magoado. Ele sentiu uma cautela instantânea contra o educado e afável tio.

— Meu lorde — disse a jovem lady, com as bochechas vermelhas de novo, — deixe-me apresentar meu tio, o conde de Corron.

— Meu lorde, — Francis disse, acenando friamente para o homem.

— Prazer em conhecê-lo, jovem lorde, — disse seu tio afavelmente.

— Oh! Sim. Sou Francis, filho do conde de Annecy — disse Francis rapidamente. Ele viu os olhos da jovem lady se arregalarem de surpresa e percebeu que não tinham conseguido se apresentar. Ele não tinha ideia do nome dela. Estranhamente, isso não importava — era como se ele a conhecesse de sempre, nomes não eram importantes entre eles.

— Ah. Annecy, eh? Não é tão longe de Calais?

— Apenas três dias de viagem, — Francis o respondeu.

— Uma pequena fortaleza. Mas bastante ampla, imagino?

Francis engoliu em seco.

— Sim, meu lorde.

— E essa coloração interessante! Acho que temos um escocês em nosso meio, hein?

Francis sentiu seu coração cair ao chão. O homem tinha que apontar isso explicitamente para a jovem?

— Oh! — Ela parecia interessada. — Isso é longe.

— Sim, — Francis assentiu. Ele estava satisfeito, ela não tinha sido como algumas moças, rindo de surpresa e agindo de repente como se ele fosse um bárbaro de um mundo distante.

— Você deve se sentir sozinho aqui, — disse ela.

Francis piscou.

— Bem, meu pai o conde está aqui, — disse ele. — E minha mãe também. Mas, sim. Eu me sinto as vezes.

— Eu posso imaginar, — ela disse calmamente.

Mais uma vez, seus olhos se encontraram. Francis sentiu como se estivesse se encontrando com alguém que realmente o entendia. Eles eram bem parecidos, embora não pudessem ser mais diferentes.

Ele sentiu que precisava dizer alguma coisa, mas não sabia o que.

— Obrigado, — ele disse sinceramente. Foi tudo o que lhe veio à mente.

Ela corou.

Mais tarde, quando o jantar foi servido e o volume da conversa ficou mais alto, Francis e a lady conversaram menos, contentes apenas em roubar olhares um do outro.

Francis observou-a delicadamente provar uma maçã assada, estremecendo de prazer enquanto observava seus lábios deslizarem sobre a colher de prata. Ela era tão adorável.

— Mmmm, — disse ela. Ele sentiu sua pobre virilha doer e desesperadamente procurou se distrair, observando os servos entrarem e saírem do salão. Droga, mas ela era linda como um dia de primavera.

— Você está na capital há muito tempo, milorde? — perguntou seu tio educadamente, distraindo Francis da doce visão de sua sobrinha comendo sua sobremesa.

— Uh, uma semana, milorde, — ele respondeu.

— Ah. Bem, há muito para ver. Você não terá tempo para ver tudo, mesmo com uma semana — ele disse levemente.

— Eu acredito que sim, senhor, — Francis assentiu. Ele havia visto a construção da grande catedral na margem leste do rio Sena, e a magnífica visão e abrangência disso e da própria cidade eram impressionantes. — Acho que nunca verei toda essa cidade.

O homem mais velho riu.

— Esse é o espírito. Saiba o que você não pode fazer; o que nenhum homem pode ter.

Francis sorriu e acenou com a cabeça, mas enquanto bebia a cerveja e pensava nisso, o comentário pareceu estranho.

Ele está tentando dizer que sua sobrinha não é para homem algum?

Ele balançou sua cabeça.

Por que ele diria isso? Pare de pensar muito, Francis.

— Eu espero que você aproveite o seu tempo aqui, lorde Francis, — a moça disse suavemente.

— Tenho certeza que vou, — concordou Francis.

Ele passou o resto da noite observando-a, sentindo-se como se tivesse entrado em algum estranho paraíso até então inimaginável. Foi só quando ele deixou o baile, horas depois, e caminhava atordoado e feliz para seus aposentos, que percebeu que ainda não sabia o nome dela.

Eu sei que ela é a sobrinha do conde de Corron, no entanto. O que é mais do que sabia ontem.

A outra coisa que ele sabia era que certamente descobriria quem ela era. Ele tinha que saber.


CAPÍTULO QUATRO

LEMBRANÇAS E PLANOS


Claudine sentou-se na cama na manhã seguinte sentindo uma felicidade suave que não conseguia lembrar se sentira antes.

Francis.

O nome veio à sua mente no momento em que ela acordou e ficou deitada lá por um tempo, saboreando as lembranças da conversa na noite anterior. Em todos os seus vinte anos de vida, Claudine não se lembrava de ter conhecido alguém com quem tivesse tanta coisa em comum. Que lhe parecia ser alguém como ela mesma. Alguém que realmente a entendeu.

Ela riu e suspirou. Ele tinha sido tão amigável na noite anterior, mas quem sabia se ele seria novamente? Ela não devia definir nada por uma conversa. Mesmo assim...

Esta manhã, Claudine se recusava a ficar chateada. Ela sentou-se sorrindo e chamou sua serva.

— Bernadette?

— Milady! — A mulher apareceu quase imediatamente.

— Acho que vou tomar café da manhã no salão hoje. Você pode me ajudar a vestir?

— Claro, milady. Qual vestido?

— O rosa, por favor, Bernadette.

Bernadette sorriu.

— Muito bom, milady.

Claudine corou suavemente. Ela ficou surpresa com ela mesma, o vestido rosa era um que lhe servia muito bem, trazendo uma delicada cor a sua pele. Ela sabia que o escolhera porque o cavalheiro do baile poderia estar no café da manhã.

É bobo!

Ainda assim, ela não podia evitar. Ela se recusava a deixar que seu ânimo fosse diminuído esta manhã. Ela se sentou na cama e deixou Bernadette ajudá-la.

— Aí está você, milady...

Claudine olhou no espelho quando Bernadette terminou. Ela colocou a cabeça de lado, olhando a imagem refletida com aprovação reservada. Nem alta nem baixa, com uma doce cintura de ampulheta e seios cheios e altos, a garota no espelho era delicada, suave e adorável. Combinada com grandes olhos azuis e o botão de rosa da boca, um pouco mais escura que o vestido, a garota refletida era bonita e delicada. Ela era bonita o suficiente? Claudine sentiu uma pontada de nervosismo pela primeira vez. Ela deixou Bernadette terminar seu cabelo e então se virou para ela nervosamente.

— Você está linda, milady — assegurou Bernadette, embora Claudine não lhe tivesse pedido garantia.

Ela sorriu para sua serva e deu uma pequena volta na frente do espelho. Então ela desceu as escadas devagar. Ela estava encostada no corrimão em busca de apoio, tomando um tempo, ouvindo as vozes abaixo de onde elas subiam do corredor do lado de fora do grande salão.

— E é claro que teremos que ver se a estrada foi limpa naquela parte da floresta... — ela ouviu um homem dizendo. Ela reconheceu essa voz. Era o tio dela.

Ela sentiu os dedos se mexerem nas mangas e se perguntou por que se sentia um pouco nervosa ao ver tio Luke esta manhã.

Ele parecera um pouco desaprovador dos meus modos na noite passada. Eu suponho que estava fora do decoro com lorde Francis.

Ela reprimiu os nervos e desceu as escadas. Andando devagar, desejando poder usar a bengala que às vezes usava — mas nunca a usava em público, — ela andou na ponta dos pés pelo corredor, em direção à entrada em arco do grande salão.

— Sobrinha! — Gritou seu tio, avistando-a. — Um prazer te ver. Eu confio que você dormiu bem? Sem dores nas articulações ou nas costas?

Claudine sacudiu a cabeça. Naquele momento, ela desejou que ele não a lembrasse de sua debilidade. Às vezes ela preferia esquecer.

— Não, tio, — ela disse suavemente. — Eu dormi muito bem.

— Bom, — ele disse com um sorriso gentil. — Isso é bom. Eu estava prestes a tomar um café da manhã.

— Sim, eu também, — disse Claudine levemente. Ela entrou na parte de trás do grupo de seu tio e os seguiu para dentro.

O salão estava cheio de convidados. O palácio tinha dois salões, um onde os nobres residentes comiam e outro onde os cavaleiros e homens de armas tomavam as refeições. A família real geralmente comiam a sós no solar, a menos que fosse uma ocasião formal. Claudine seguiu seu tio para um assento em uma das mesas, sentando-se recatadamente.

— Ah, lady Claudine, — disse um conhecido de seu tio, um homem de cabelos castanhos da idade do tio com olhos azuis surpreendentes. — Eu confio que você dormiu bem depois de se recolher do baile. Eu mesmo não consegui... na ala leste você ouve todo o barulho vindo do pátio... é terrível.

Claudine sorriu para ele. O conde de Arras, era da parte Norte do reino e um bom amigo, franco e aberto.

— Eu posso imaginar, milorde, — ela comentou.

— Eu gostaria de ter poder! — Ele riu, pegando uma fatia de queijo de um prato central. — Eu teria pedido um quarto no lado oeste, então.

Claudine deu uma risadinha.

— Sinto muito por ouvir isso.

— Eu também.

Claudine notou que seu tio olhava na direção deles com um leve olhar de aprovação. Ela sentiu-se aliviada até que viu os olhos dele se estreitarem ligeiramente. Ela franziu a testa.

O que o incomodou?

Um momento depois, ela ouviu uma voz baixa e familiar em seu ouvido.

— Milady? Este lugar está livre para uso?

Oh! Claudine virou-se abruptamente. Ela sentiu a cor inundar suas bochechas quando percebeu quem era. O homem do baile.

— Claro, — ela murmurou.

— Obrigado, — disse ele e se deslizou para o banco ao lado dela. Ele estava a cerca de quatro lugares da mesa do seu tio, que estava sentado do lado oposto, mas ela notou que ele olhava para Francis e lhe dava um olhar frio. Ela franziu a testa.

Por quê?

Então Francis se virou e ela esqueceu seu tio de repente.

— Você também se levanta cedo, parece? — Ele perguntou.

Claudine assentiu timidamente.

— Sim, eu levanto. As manhãs são tão lindas aqui.

— Sim, — Francis concordou. — Eu vi o nascer do sol da minha janela... é tão bonito.

— Sim, sim — murmurou Claudine. — Embora eu esteja no lado oeste do castelo, não o veja diretamente.

— Oh. — Francis franziu o cenho. — Uma pena isso.

— Não realmente, — Claudine riu. — Meu lorde o conde de Arras me disse que era muito barulhento lá.

Francis piscou.

— Não muito, — ele contestou. — Embora sim, havia algumas pessoas barulhentas por aí. Acho que alguns homens de armas tinham um pouco de cerveja demais.

— Oh. — Claudine sorriu. — Eu posso imaginar que houve bastante barulho.

— Houve.

Ela sorriu-lhe e ele sorriu de volta. Ela corou. Com aqueles lábios cheios e aquela sobrancelha alta acima de um nariz longo e elegante, ele era tão bonito! Combinado com o cabelo vermelho e olhos verdes, ele estava a encantado. Ela poderia sentar e olhar para ele o dia todo! Ela percebeu que estava olhando e desviou o olhar para as mãos. Quando olhou para cima novamente, seu tio estava franzindo a testa para eles.

Lá está outra vez, essa desaprovação! Por que ele faria isso? Ele deveria estar feliz por eu estar falando com alguém, já que sempre me diz que tenho um jeito estranho com as pessoas.

— Milady? — Francis estava perguntando. Ela olhou em seus honestos olhos verdes.

— Sim, milorde?

— Perdoe-me, mas gostaria de ser apresentado?

— Oh! — Claudine sentiu as bochechas corarem e levantou as mãos, timidamente. — Escapou da minha mente! Me perdoe. Eu sou lady Claudine, filha do duque de Pavot.

— Oh. — Era sua imaginação, ou os olhos de Francis se arregalaram, quase como se ele estivesse com medo? Ela balançou a cabeça. Ela era filha de um duque, ele era filho de um conde. Sim, o status deles poderia não ser idêntico — na lista estrita de etiqueta ela se classificava um pouco acima dele — mas por que isso importava?

Não é como se alguém quisesse me casar com ele, é? O tio tinha dito isso com tanta frequência. Que vai ser difícil encontrar um marido que aceite uma mulher tão frágil.

Ela nem sabia se poderia suportar uma criança em sua condição atual.

— Milady? — Francis disse, interrompendo seus pensamentos pela segunda vez.

— Sim?

— Eu perguntei se você gostaria de dar uma volta sobre as ameias mais tarde?

Claudine olhou para as mãos, considerando sua resposta. Ela achava uma curta distância, mais que exaustiva, muitas vezes. Especialmente sem o auxílio de uma bengala. No entanto, ela não podia perder a oportunidade de andar com Francis.

— Sim, — ela murmurou. — Eu gostaria disso.

Francis parecia espantado, as sobrancelhas claras subindo em direção àquele impressionante cabelo ruivo.

— Oh? Quero dizer, obrigado minha lady. Estou honrado.

Claudine sorriu, sentindo um prazer lento se espalhar por ela. Ela olhou nos olhos dele.

— Eu ficaria feliz em falar um pouco, — disse ela.

— Boa.

O olhar deles se manteve e, sob a mesa, Claudine percebeu uma perna morna perto da dela. Ela respirou fundo quando o joelho dele bateu suavemente no dela e depois se retirou. Ela sentiu um rubor inundar seu rosto. Seu coração batia forte em seu peito.

Ela olhou de lado para Francis e ele a olhava também. Ela engoliu em seco quando viu a intensidade da expressão em seus olhos. Isso a fez sentir algumas coisas no fundo de seu corpo, coisas que ela nunca sentiu antes e sua mente racional não entendia. Seu corpo parecia saber exatamente o que eles eram, espantosamente era o suficiente. Ela latejava e queria se aproximar dele...

Quando os dois se aproximaram, Claudine sentiu-se de repente enrijecer. Seria absolutamente escandaloso se eles se beijassem aqui no salão, com todos os olhos sobre eles!

Ela corou e se inclinou apressadamente para trás. Ela tinha visto garotas beijando homens jovens antes, discretamente, nos cantos do salão onde ninguém podia realmente ver, ou pelo menos onde todos fingiam não ver. Ela nunca tinha pensado em fazer isso antes.

— Você está pronto para ir? — Perguntou Francis.

Claudine engoliu em seco, incapaz de pronunciar uma palavra. Ela assentiu.

— Sim.

Francis levantou em primeiro lugar e Claudine empurrou a cadeira para trás, sentindo um vago mal-estar dentro dela. O que seu tio pensaria? Ela franziu a testa.

Por que ela estava nervosa?

O tio sempre diz que eu deveria fazer mais esforço para ser como as outras pessoas, para ser simpática. Por que eu deveria fazer outra coisa senão satisfazer-me com este passeio?

— Partindo cedo? — Seu tio perguntou quando ela se levantou.

— Uh, sim, tio, — gaguejou Claudine. Ela olhou para Francis, que franziu a testa.

— Desculpas, senhor. Eu confio que não é inadequado escoltar sua sobrinha as ameias.

Todas as pessoas na mesa olharam para a conde de Corron. Ele dirigiu um sorriso neutro para Francis.

— Claro que não é inadequado, jovem lorde. Eu acho que não há nenhum lugar na França que seja assim.

Alguém na mesa riu e Francis enrubesceu.

Claudine respirou fundo. O homem foi rápido! Em duas frases ele conseguiu fazer Francis parecer um estrangeiro desastrado. Ao mesmo tempo, ele fizera isso enquanto parecia perfeitamente razoável e educado.

Francis pareceu intrigado, e Claudine encontrou as palavras em seus lábios antes de pensar muito.

— Tio, tenho certeza que Lorde Francis está ciente disso. Ele estava apenas exercendo a cortesia que é necessária dentro dessas paredes.

Claudine sorriu docemente, mas a farpa era inconfundível.

Você está sendo mais rude do que tem que ser, ela estava dizendo. Eu percebi.

— Claro, sobrinha, — seu tio sorriu. Ele pareceu diminuir, contente com essa explicação e Francis se virou quando Claudine saiu devagar.

Eles entraram no corredor. Quando eles estavam lá, Francis se virou para ela.

— Sinto muito sobre isso, — ele sussurrou. — Seu tio é...?

Claudine interrompeu suavemente.

— Eu não sei porque o tio está sendo tão estranho. Ele geralmente não é assim.

Francis franziu a testa.

— Espero que não seja nada que eu tenha feito?

Claudine sacudiu a cabeça rapidamente, sentindo ao mesmo tempo ternura por Francis e uma preocupação de que fosse, de fato, assim.

— Não pode ser isso, — disse ela com falsa certeza. — Eu não imagino que alguém encontraria algo para se opor em você.

Francis corou.

— Mesmo? Quero dizer, obrigado, milady.

Claudine sorriu para ele com um calor muito real.

— Lorde Francis, você é aceitável. Mais do que aceitável.

Ela ficou surpresa ao ver Francis corar. Ela mesma sentiu um rubor rastejar em suas bochechas, maravilhada com sua própria ousadia.

— Obrigado, — Francis disse timidamente. Claudine engoliu em seco. Ela tinha vinte anos de idade — a maioria das damas de seu conhecimento tinha encontrado maridos até agora, — mas tinha pouco conhecimento em falar com um homem da idade dela, sem se importar com mais nada.

No entanto, ela sentiu como se pudesse falar com Francis, dizer o que estava em sua mente.

— Claro, — ela disse com um sorriso tímido. — Agora, vamos inspecionar as ameias?

Francis sorriu.

— Sim, de fato, milady.

Claudine notou que ele hesitou na porta e ficou levemente surpresa quando lhe acenou. Ela se movia tão lentamente que sabia que as pessoas muitas vezes ficavam impacientes com ela.

— Obrigada, — ela sussurrou.

Francis parecia genuinamente surpreso.

— É claro, — ele repetiu, ecoando suas palavras.

Claudine caminhou ao longo do corredor ao lado dele timidamente.

Quando chegaram ao topo das escadas, ela estava sem fôlego. Francis recuou para a porta que levava às ameias e Claudine se apoiou na parede ao lado, respirando pesadamente. Ela sentiu como se estivesse andando o dia todo, com a cabeça tonta e o coração batendo forte. Corpo miserável!

— Eu... desculpe-me, — ela sussurrou.

— Não há nada para desculpar, — Francis disse, surpreendendo-a. Ele olhou seriamente para os olhos dela. — Milady, eu entendo sua própria impaciência consigo mesma. Mas ninguém mais tem o direito de ser impaciente. Você andar mais rápido é difícil para você, como é difícil eu mudar a cor do meu cabelo.

Claudine mordeu o lábio. Havia tanta melancolia, tanta dor em sua expressão, mesmo que ele sorrisse.

— Lorde Francis, — ela disse suavemente, — eu gosto do seu cabelo. Eu confio que você não se esforçará para mudá-lo.

Francis corou. Claudine sorriu. Eles se entreolharam no espaço do ápice da torre.

Claudine sentiu o mesmo desejo estranho enchê-la novamente e olhou para baixo abruptamente, tentando reprimir os sentimentos que estavam inundando seu corpo, acendendo suas veias e fazendo-a querer inclinar-se em direção a Francis e...

— Vamos para fora? — Ela perguntou rapidamente.

Ele limpou a garganta, o rosto vermelho.

— Sim. Claro. Você primeiro.

Claudine suspirou e levantou o pé, sabendo que dar esse passo para a ameia era difícil para ela. Ela conseguiu, e ficou contra a parede, sentindo o calor em sua pele enquanto o sol a aquecia.

Ela ouviu Francis vir ao lado dela e juntos eles olharam a paisagem. Os telhados de Paris se estendiam diante deles, azulejos e palha, quilômetros deles se estendendo até o brilho prateado da água do rio. O céu estava cristalizado de azul.

— Não é lindo? — Claudine sussurrou.

— Muito linda. — A voz de Francis estava cheia de emoção. — Tenho certeza de que não há cidade para comparar.

Claudine sentiu suas bochechas se encherem de rubor. Ela se sentia absurdamente orgulhosa de Paris. Era o lugar onde ela passara metade da vida — todos os anos, no verão, a família vinha à corte — primeiro ela, o pai e depois o tio.

O fato de que Francis gostou fez com que ela se sentisse orgulhosa.

— É de tirar o fôlego, — disse ela.

— De fato.

Eles observaram a cidade por algum tempo. Em algum lugar abaixo deles no pátio, estavam os homens armados com espada e cajado de madeira, os sons e gritos de seu treinamento se erguendo no ar quente.

Francis se apoiou na coluna da ameia. Timidamente, Claudine se juntou a ele. O cotovelo dela estava perto do dele, tão perto que ela podia sentir o calor do seu corpo através da túnica de linho. Ela corou.

Claudine! Como você pode pensar em tais coisas?

A proximidade de Francis e as maneiras a fez pensar em todos os tipos de pensamentos selvagens. Ela se viu imaginando como seria se ele a beijasse. O pensamento era tão deliciosamente perverso que ela olhou para as mãos, tentando esconder o sorriso.

— Milorde está aqui há muito tempo? — perguntou Claudine, decidindo que seria mais aconselhável se distrair com a conversa.

— Um... uma semana.

— Tanto tempo! Estou surpresa que sua família o deixe longe tanto tempo.

Francis riu.

— Tenho certeza que me deixariam mais tempo. Eu acho que foi um alívio terem me deixado vir.

Claudine sacudiu a cabeça.

— Lorde Francis, por que você imagina que as pessoas te desejam em outro lugar?

Ela viu os olhos dele se estreitarem e ele piscou, bastante surpreso.

— Sabe... eu nunca pensei sobre essa questão, — ele admitiu. — Eu suponho que... acabei de pensar em mim como um incômodo.

— Eu também — disse Claudine, de repente surpreendida por outra semelhança. — Desde que fiz dezenove anos e essa... debilidade... me invadiu, espero que as pessoas desejem que eu vá embora. Sou lenta demais, desajeitada demais para servir de companhia. — Ela mordeu o lábio, olhando impaciente para baixo.

Francis a surpreendeu estendendo a mão para ela. Gentilmente, ele pousou a mão no ombro dela, logo abaixo dos cachos suaves de seu cabelo. Ela sentiu como se seu coração saltasse da jaula de suas costelas em surpresa.

— Desculpe, — ele murmurou, confundindo sua reação por choque e gentilmente removendo sua mão. Claudine sentiu a impressão de seus dedos como o calor das brasas.

— Não, — ela murmurou, sua garganta apertada. — Não há necessidade de desculpas.

— Eu só... — Francis olhou para ela com total perplexidade. — Parece tão bonita e chocante que alguém pensaria que está cansada.

Claudine olhou nos olhos dele. Ela olhou fixamente. Ele a achava linda? Desde que ela pudesse se lembrar, ninguém, exceto seu pai e sua serva, jamais dissera isso a ela.

— Obrigada, — ela murmurou.

Francis estendeu a mão suavemente e antes que qualquer um deles tivesse alguma ideia do que aconteceria a seguir, seus lábios se moveram sobre os dela e ele a beijou.

Claudine fechou os olhos, sentindo um arrepio de espanto passar por ela. Ela suspirou espantada com a doçura da emoção. Ela nunca teria imaginado que ser beijada era assim — a doce suavidade de sua boca na dela, o jeito que a língua dele acariciava ao longo da parte de seus lábios.

Francis a beijou por mais tempo, suas mãos em seus ombros, puxando-a contra ele. Então, abruptamente, ele se afastou.

— Claudine. Eu... me desculpe.

Claudine olhou para cima, os lábios entreabertos, os olhos arregalados de surpresa.

— Eu...

Ela não conseguia pensar no que dizer. Seu corpo inteiro estava formigando de excitação e a doçura de seu toque em seu corpo permaneceu com ela, mesmo quando ele se retirou.

— Eu não deveria... — ele começou.

— Nem eu deveria, — disse Claudine.

Ela olhou em seus olhos e sorriu. Ambos sorriam embora Claudine não soubesse por que. Ela podia sentir uma alegria lenta crescendo em seu coração e fazê-la querer cantar, de tão feliz que se sentia.

Francis estava sorrindo.

— Eu sinto muito, — disse ele em uma voz suave. — Mas também não estou arrependido. Milady, estou confundido.

Claudine deu uma risadinha. Sua garganta estava apertada com a emoção.

— Eu também, — ela sussurrou baixinho.

Eles se entreolharam novamente. Claudine sentiu como se estivesse se afogando naqueles olhos quentes e amigáveis, quentes como uma poça de verão. Ela corou.

— Suponho que devamos voltar, — disse ela, indicando a porta atrás dela.

— Sim, — Francis sussurrou. — Devemos.

Claudine sentiu sua garganta apertar com a urgência em sua voz. Evidentemente, ele queria, como ela, ficar aqui e fazer isso de novo. Ela sabia que não era bonito, no entanto, se alguém a visse, teria que explicar ao tio que ficaria horrorizado.

Beijar no baile era muito bom — as pessoas até desculpavam, — mas à luz do dia nas muralhas era altamente repreensível.

Ela queria rir, então — ela, Claudine Poitiers, havia beijado um homem nas muralhas. Em plena luz do dia. Ela certamente, olhando para ele estava se perguntando, se faria de novo também.

Entrou rapidamente pela porta da sala da torre, decidida a salvar sua reputação, indo o mais longe que pudesse.

Francis a seguiu para dentro. Ele roçou contra ela enquanto fazia uma pausa, recuperando o fôlego, e sentiu seu corpo responder à sua proximidade novamente.

Sua mente ainda estava focada na doce sensação de proximidade e intimidade. Ela se virou para encarar Francis e ele sorriu um pouco sem fôlego.

— Devemos voltar para o salão? — Ele perguntou.

— Nós deveríamos. — Ela respondeu gravemente, sentindo seu coração de repente bater bastante apreensivo. O que seu tio diria sobre sua longa ausência nas ameias? Ela sentiu que se alguém, vendo-os juntos, pudesse adivinhar.

Ela sentiu uma mistura de timidez e alegria nisso. O fato dela ter desrespeitado o protocolo, e com esse homem, a fez se sentir timidamente orgulhosa.

O que as outras damas pensariam?

Ela sentiu um sorriso esticar seus lábios enquanto caminhava com Francis. Exótico, ele poderia não perceber, mas ela já havia notado como os olhos das mulheres se demoravam nele, mesmo naquela noite no baile ela tinha visto mais de um olhar.

Elas ficariam surpresas.

Um sentinela sorriu para ela e saudou quando eles passaram.

— Milady. Milorde.

Claudine sorriu de forma deslumbrante.

— Bom dia, Clement. — Reconheceu o homem, ele a ajudou em seu quarto uma ou duas vezes quando ela precisou de apoio extra para se levantar.

— Milady. — Ele sorriu. Claudine viu seus olhos vagarem em direção a Francis e sentiu suas bochechas coradas de orgulho e timidez.

Sim, ela queria dizer em voz alta. Este é lorde Francis, herdeiro de um conde. E ele apenas me beijou.

Ela sorriu, se controlando, apenas, para conter as palavras que a faziam querer rir de alegria.

— Eu devo ir, — Francis disse sem jeito quando chegaram ao fundo dos degraus juntos. — Eu preciso levar minha petição para a grande audiência.

— Sim, — disse Claudine suavemente. Ela não queria que ele fosse.

Francis sorriu. Lentamente, ele se inclinou para ela. Claudine sentiu o corpo inteiro responder quando ele estendeu a mão e segurou seu pulso. Seu coração cantou quando aqueles lábios, macios e acetinados, tocaram as costas de sua mão. Seus olhos nos dela, eram gentis e quentes.

— Até amanhã, então, milady, — ele murmurou, endireitando-se.

— Sim, milorde, — disse Claudine em voz baixa.

Sua mão lentamente deixou a dela e ela sentiu seu toque, mesmo quando ele se virou e caminhou levemente e rapidamente para longe. Ela o observou até que seu corpo alto e largo se misturou as sombras no final do corredor.


CAPÍTULO CINCO

CONSIDERAÇÃO E QUESTIONAMENTO


Claudine entrou suavemente no salão. Seu tio se fora junto com a maioria dos nobres convidados. Ela sentiu uma inundação repentina de alívio passar por ela.

Pelo menos se ele se foi, não vai adivinhar o que aconteceu comigo e Francis.

Ela sabia que o tio era terrivelmente perceptivo. A proximidade entre ela e Francis não ia passar despercebida. Ou sem referência.

Estranho. Por que isso me faz sentir medo?

Claudine cruzou o corredor devagar, dirigindo-se às escadas que levavam à ala oeste e ao seu quarto de dormir. Quando ela chegou lá, entrou e fechou a porta atrás de si, chamando Bernadette.

— Milady?

Claudine sorriu quando o familiar rosto em forma de coração apareceu em torno da borda da divisória.

— Aí está você, — ela disse suavemente. — Eu estava esperando que você estivesse aqui dentro

Bernadette assentiu.

— De fato, eu estou. Posso te ajudar, milady?

— Eu não sei, — disse Claudine francamente.

Bernadette franziu a testa.

— O que você quer dizer, milady? — Ela perguntou. — Você não está bem, sim?

— Não, — disse Claudine, — pelo menos, mais do que esse miserável milady. Mas meus pensamentos estão todos confusos.

— Como assim, milady? — Bernadette sentou-se no banco em frente à cama, os olhos castanhos arregalados.

— Bem, — Claudine suspirou. — Eu conheci alguém na outra noite... alguém diferente.

Bernadette apenas assentiu.

— Mmmm?

— Bem — Claudine sentiu a doce sensação que a enchia toda vez que simplesmente pensava em Francis. — Ele é... estrangeiro, mais ou menos. Do campos e é a primeira vez dele no corte, mas ele não é tão refinado... não como se esperaria.

Bernadette deu uma risadinha.

— Vá em frente, — disse ela.

— Bem, ele... — Claudine engoliu em seco. — Parece... parece bobo, mas parece que ele e eu partilhamos de muitas coisas.

Bernadette franziu a testa.

— Sério, milady...?

Claudinne sacudiu a cabeça.

— Eu sei, Bernadette. Você dirá que eu não deveria me sentir assim. Mas o que devo sentir quando estou tão debilitada, tão doente?

Bernadette suspirou. Ela olhou para as mãos.

— Vá em frente, — disse ela depois de um momento.

— Bem, — Claudine fez uma pausa. — Eu... o jovem e eu somos... parece que gostamos um do outro. Eu me sinto como nunca me senti antes, perto dele. Como todo o meu mundo é mais feliz só de saber que ele existe.

Bernadette sorriu.

— Parece maravilhoso, milady. Nada como o amor.

Claudinne lançou-lhe um olhar.

— O amor?

Bernadette assentiu.

— Sim, milady. Isso acontece. Você deve ter ouvido os menestréis cantarem coisas parecidas?

— Bem, — Claudine hesitou, corando lentamente. Ela supôs que Bernadette estava certa. Eles cantavam sobre essas coisas. — Sim mas...

— Não, não há “mas” sobre isso, — Bernadette interrompeu bruscamente. — Isso é uma coisa maravilhosa.

— É? — Perguntou Claudine. — Quero dizer, é. Claro que é. Mas...

— Mas o que? Existe alguma dificuldade? A linhagem do jovem está errada?

— Não — murmurou Claudine. — Quero dizer, é verdade que ele é de origem humilde para a filha de um duque, mas acho que meu pai teria alegremente me ver casada, só para ver um herdeiro nascido

Bernadette franziu a testa.

— Você sabe, não pense assim, — ela advertiu.

Claudine deu um suspiro sem alegria.

— Eu sei muito bem que o pai preferiria me ver casada com um nobre mesmo que fosse inconsequente e em segurança e fora de sua responsabilidade.

— Não, — Bernadette a acalmou, embora ambos soubessem que era bem provável que estivesse correta.

— Eu sei, Bernadette, — disse Claudine com tristeza. — Mas também sei que esse jovem é diferente. Não é como os outros. Não é superficial.

Bernadette sorriu.

— Você está certa, — ela assentiu. — Muitos deles são.

— Bastante.

Ambos riram. Depois de um momento, Bernadette pareceu séria novamente.

— Você ainda tem que me dizer. Porque está tão triste?

Claudine franziu a testa.

— É... o tio, principalmente. Ele está sendo estranho!

— Como estranho? Ele não aprova? — Bernadette perguntou.

— Não, — Claudine balançou a cabeça lentamente. — Pelo menos, acho que não. Ele é estranho com esse homem. Como se ele o desafiasse a cada passo.

— Talvez só tente descobrir se ele é digno de você, — disse Bernadette.

Claudine assentiu.

— Talvez sim, amiga.

Em seu coração, ela se sentia menos certa sobre isso. Ela nunca tinha visto seu tio contra alguém tão rapidamente. De alguma forma, sua abordagem não era como se ele tentasse testar Francis. Ele estava mais tentando assustá-lo.

Não! Pare de ser fantasiosa, Claudine... por que ele iria?

Ele era apenas o protetor dela. Preocupado com seu bem-estar. Isso era tudo.

Ela recordou suas palavras cortantes naquela manhã e estremeceu. Era diferente de seu doce, e geralmente afável tio, ser tão implacável. Por que agora ele seria? Deve ser para protegê-la. Não poderia ser outro motivo.

— Então, e esse jovem? — Bernadette perguntou lentamente.

Claudine se sentiu sonhadora quando sua mente se desviou abruptamente do tema de seu tio e voltou ao assunto de Francis. A sensação de seus lábios nos dela, seu corpo perto e suas mãos no ombro dela...

— Ele é fácil de encontrar? — Bernadette perguntou.

— Você quer dizer... — Claudine parou. — Quer dizer, para combinar um encontro? — Ela sentiu o coração bater lentamente no peito e olhou para Bernadette.

— Sim, — Bernadette assentiu. — Eu sou sua acompanhante, afinal, — ela acrescentou com um grande sorriso. — Então eu acho que seria justo e acima de qualquer reprovação se eu fosse acompanhá-la. Cautelosamente, claro.

— Bernadette! — Claudine sentiu-se sorrindo largamente. — Oh, você querida...

Bernadette corou quando Claudine a abraçou docemente. Ela se sentiu tranquilizada pela presença calma e sólida de sua serva.

— Agora, — disse Bernadette quando ela se afastou, com o nariz rosado e os olhos estranhamente úmidos, — a primeira coisa que precisamos fazer é encontrar um lugar para nos encontrarmos.

— Sim...

— Eu estava pensando no terraço, — disse Bernadette. — Com o tempo ensolarado, muitas pessoas estarão fora aproveitando a tarde. Não vejo nenhuma razão para você não o ver lá.

— Sim, — Claudine assentiu. Ela iria levá-la para o terraço. Era uma boa decisão, já que significava que ela poderia estar sentada no terraço. Era uma perspectiva que não exigia que ela fosse capaz de andar muito longe, ou de dançar ou andar. Uma das poucas oportunidades de socializar disponíveis agora.

— Bem, então, — disse Bernadette. — Devemos ir depois do almoço?

Claudine sentiu suas bochechas ficarem rosadas.

— Sim, por favor, — ela murmurou.

Fiel à sua palavra, Bernadette acompanhou Claudine ao terraço depois do almoço. Claudine estava sentada em um banco de pedra, com vista para o pátio abaixo, com a tapeçaria no joelho, tentando se concentrar em sua costura. Estava ensolarado, a luz refletia no tecido, dificultando a visão.

— Milady?

Claudine se virou. Bernadette estava olhando para o pátio com uma sobrancelha levantada. Claudine levantou-se e caminhou até a beira do terraço, a cada passo um julgamento ao sol do meio-dia. Ela estava apoiada no corrimão, a cabeça balançando um pouco de cansaço e olhou para baixo.

Lá no meio do pátio estava Francis.

Ela sentiu um arrepio de prazer passar por ela. Alto e ereto, com as costas eretas e majestosas, ele usava uma túnica que pendia de seus ombros musculosos, e seu cabelo brilhava ao sol enquanto praticava movimentos de luta de espadas sozinho.

Claudine olhou para Bernadette.

— Sim, é ele, — ela sussurrou. — Como você adivinhou?

— Ele é um estrangeiro, claramente, — disse Bernadette lentamente. Claudine sentiu uma momentânea impaciência com isso, — pobre Francis, ele teve que enfrentar isso o tempo todo! — mas ela viu a expressão séria com a qual Bernadette a encarou e soube que ela não queria dizer nada por essa declaração.

— Sim, — ela disse, desejando pensar em outra coisa a dizer para conter a rude declaração de suas origens de maneira tão branda. Não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso que não tornasse pior.

— Agora, precisamos trazê-lo até aqui, — continuou Bernadette.

— Nós precisamos? — Claudine sentiu-se corar.

— Sim, — disse Bernadette. — Eu tenho uma ideia. Você tem um lenço?

Sentindo-se completamente confusa, Claudine assentiu. Ela enfiou a mão na sacola de trabalho e depois, não encontrando lenços bordados, enfiou a mão no bolso e tirou um.

— Sim. Aqui.

— Perfeito.

Para surpresa absoluta de Claudine, Bernadette pegou e jogou sobre a sacada.

— Bernadette? — O que ela estava fazendo?

— Silêncio. Venha comigo.

Ela acenou para Claudine e se inclinou na grade da varanda bem a tempo de ver o lenço voar e cair no chão diante de Francis. Ele olhou para cima.

Ele a viu e sorriu. Ele levantou o lenço e colocou-o em sua manga, em seguida, caminhou em direção à entrada da colunata. Claudine franziu a testa.

— É ele...?

— Ele está vindo. Veja se ele não demora.

Para uma acompanhante, Bernadette parecia notavelmente satisfeita em trazer um jovem para a varanda.

Claudine se apoiou no corrimão, tentando se acalmar. Ele não estava vindo. Bernadette estava errada. Ele estava indo para dentro para fazer alguma coisa.

Ela estava apenas tentando se convencer de que talvez ele não se lembrasse dela quando ouviu uma tosse, baixa e surpreendentemente musical, no corredor.

— Ah. — Bernadette sorriu, virando-se com fluidez para encarar a porta. Claudine a seguiu, estremecendo quando a cabeça dela doeu quando fez o movimento súbito. Ela olhou fixamente.

Francis a viu e sorriu docemente. Então ele se curvou.

— Eu recuperei isto do pátio, — ele disse suavemente. — Eu tenho razão para acreditar que é seu.

— Sim... — Claudine assentiu. Estendeu a mão e gentilmente fechou os dedos em volta do quadrado de linho bordado com o monograma da casa de Pavot. — Isto é, sim.

Francis veio um pouco relutantemente. As pontas dos dedos roçaram as dela, suaves e sedutores. Ela ficou tensa.

— Você está aproveitando uma tarde livre? — Ela perguntou. Ela se sentiu tímida quando o sorriso dele a deslumbrou e ela olhou em volta para verificar se Bernadette ainda estava por perto. Contrariando seu dever como acompanhante, ou mantendo apenas a letra da regra, Bernadette estava a dez passos de distância ao longo do terraço, encostada na parede e olhando firmemente para o pátio abaixo.

Claudine olhou para Francis, que sorria para ela com aquela doçura peculiar novamente.

— Milady? — Ele perguntou gentilmente.

Claudine percebeu que ele havia dito alguma coisa e balançou a cabeça para limpá-la.

— Desculpe, meu lorde?

Ele sorriu timidamente.

— Eu acabei de perguntar se você gostaria de passear no gramado mais tarde? — Seus olhos se dirigiram para Bernadette, e Claudine se perguntou se ele estava pensando que nos gramados eles poderiam perder sua acompanhante em algum lugar do jardim convenientemente?

Seu coração bateu e ela limpou a garganta. Apenas o pensamento de que ele poderia querer ficar sozinho com ela novamente a fez se sentir verdadeiramente adorável. Mesmo assim, ele deveria saber que suas chances de caminhar eram limitadas.

— Milorde, infelizmente, — disse ela. — Eu não posso andar muito.

Ela falou baixinho, mas ele olhou de repente como se alguém lhe desse um soco.

— Claro. Me perdoe. Foi... uma omissão de minha parte...

Claudine riu.

— Não há nenhum dano feito, Francis, — ela disse suavemente. — Eu sei que você entende.

Ele soltou um suspiro irregular.

— Boa.

Ela sorriu.

— Bem, se não formos andar, talvez, você possa ficar aqui comigo por um tempo? Confesso que sua companhia é... muito divertida.

Ela pretendia manter essa afirmação cuidadosamente descompromissada, mas a maneira sem fôlego como disse a fez perceber, assim como ele, o quanto era simplesmente difícil se esforçar para ela. Ela sentiu suas bochechas ficarem vermelhas. Que coisa mais cruel de se dizer! O que ele pensaria dela? Ela tocou suas bochechas com vergonha chocante.

— Estou honrado, — ele disse suavemente.

Claudine corou. Ela voltou para o banco, sentindo nada mais do que um conhecimento fugaz de que andava devagar: o ressentimento e a timidez que ela tinha sentido a respeito há apenas alguns minutos parecia ter recuado um pouco.

Talvez porque, em sua companhia, deixasse de ser importante.

— Bem, então, — ela disse. — Vou me sentar aqui. Você fará o mesmo?

Ela esperava que ele permanecesse de pé, mas, para sua surpresa, ele moveu-se para encostar-se à parede, sentando-se em uma caixa ainda mais baixa do que o banco. Ele olhou para ela com um sorriso. Ele era tão lindo! Ela sentiu seu coração bater descompassado.

— Você está bordando uma cena de algo sazonal? — Ele perguntou.

Claudine ficou surpresa. A maioria das pessoas não teria prestado atenção em seu bordado. Ela olhou para a tapeçaria onde flores de verão se espalhavam sob um espectador céu azul celeste.

— Sim, — ela murmurou.

— Você é incomum nisso, — disse ele. — A maioria das tapeçarias tem fotos da insígnia da família nelas.

Claudine assentiu. Ela não gostava de fazer isso. De alguma forma, o nome da família e a história dela pareciam um fardo para ela querer retratá-la em todos os lugares.

Talvez se eu fosse filha de algum nobre menor ou mesmo de um comerciante, eu teria menos pressão sobre mim, menos motivos para me odiar e a essa fraqueza.

Era porque o pai dela era o duque que era tão chato. Ela era a única que foi deixada para fornecer o herdeiro ao ducado. Ela não tinha ideia se era capaz de fazê-lo. Sim, o brasão da família pesava em seus ombros.

— Eu prefiro não bordá-lo, — ela disse simplesmente. O brasão da família tinha divisas vermelhas e uma flor vermelha — a papoula do campo — sobre ele.

— Eu entendo, — Francis disse com um aceno de cabeça. — A coisa é uma lembrança do dever.

Claudine assentiu.

— Exatamente!

Francis riu.

— É estranho, — ele se aventurou depois de um longo silêncio entre eles. — Mas às vezes sinto como se nos conhecêssemos.

Claudine assentiu. Ela respirou fundo, sentindo-se profundamente comovida.

— Sim, — ela disse. — Eu também sinto isso.

Parecia estranho dizer isso. Embora precisasse ser dito. Eles se encararam.

Francis inclinou-se para a frente e seus lábios apenas roçaram um no outro antes que Claudine se afastasse.

Eu não deveria estar fazendo isso. Eu nem deveria estar aqui.

Mesmo assim, seu corpo se sentiu maravilhoso mesmo depois desse breve contato.

— Milady? — Francis murmurou. — Por favor, perdoe-me

Claudine sacudiu a cabeça.

— Nada a perdoar, — ela disse suavemente.

Francis estendeu a mão e suas mãos se encontraram. Claudine sentiu a doçura de seu toque nos dedos e fechou os olhos por um momento. Quando os abriu olhou para Bernadette.

— Stella! Onde você esteve? — Bernadette estava falando em voz alta com uma mulher no terraço. Parecia que ela estava fazendo uma demonstração de olhar para o outro lado e Bernadette sentiu seu coração inundar com uma deliciosa malícia.

Ela sorriu para Francis. Ele sorriu de volta.

Muito gentilmente, eles se beijaram.

Um momento depois, Francis estava de pé, as bochechas coradas. Seus olhos brilharam.

— Milady, — disse ele rapidamente. — Eu devo ir. Mas obrigado. Foi um prazer passar algum tempo com você.

— Nada... não foi nada, — Claudine murmurou. Ela sentiu seu rosto ficar vermelho em um rubor. — Obrigada, meu lorde. Eu também devo ir.

— Eu também. — Francis já estava de pé. Ele estava vermelho brilhante e parecia extremamente tímido. Claudine sentiu-se arrepiar quando ele levou sua mão aos lábios novamente. Seus olhos se encontraram.

Então Francis foi correndo pelo terraço até a porta. Claudine esperou até vê-lo ir e depois se sentou lentamente no banco novamente.

— Bernadette? — Ela chamou.

— Milady... sim? — Bernadette foi imediatamente para o lado dela, o rosto suave de preocupação.

— Obrigada, — ela disse suavemente. Por que ela estava tão cansada? — Eu agradeço.

— Agradece o quê? — Perguntou sua acompanhante e então piscou para mostrar que ela a provocava.

— Estou feliz por ter falado com ele de novo, — disse ela.

— Bem, essas coisas começam assim, — disse sua serva, fazendo Claudine olhar para ela em choque pela segunda vez em poucos dias.

— O que você quer dizer com isso? — Ela perguntou.

— Claro que começa assim, — Bernadette disse levemente. — As coisas começam como amigos, — disse ela. — Assim minha mãe costumava dizer. E se você tiver sorte, ela sempre acrescentava, vão ficar amigo, não importa o que aconteça.

Claudine assentiu.

— Eu me sinto assim, — disse ela. Era surpreendente, mas, além das sensações encantadoras que sentia em seu corpo sempre que Francis se sentava perto dela, ela também gostava de conversar com ele.

— Se eu pudesse andar, — disse ela, sentindo-se subitamente triste. Se ela pudesse andar, então estaria andando com Francis agora. Se ela pudesse andar, talvez não lhe parecesse como se as pessoas gostassem dela apenas por piedade ou algum outro motivo desagradável próprio.

— Você pode andar, — Bernadette respondeu.

Claudine olhou para ela.

— Você sabe o quão bem posso, — disse ela com algum sarcasmo.

As duas mulheres ficaram quietas por um tempo.

— Bem, milady, — Bernadette disse suavemente depois de um momento.

— Sim?

— Bem, parece-me que a única razão pela qual você se mantém tão distante do prazer é porque acha que ninguém a quer por perto.

Claudine assentiu devagar.

— Eu suponho que você está certa. Sim, Bernadette.

Ter dito isso com ousadia para ela foi bastante surpreendente. Sabia que Bernadette se importava com ela e que, se alguém soubesse de suas dificuldades, seria sua acompanhante. No entanto, ela não tinha notado o quão sábia ela era.

— Bem, então. A melhor coisa a fazer é ignorar a maioria delas. Elas só querem ser tão doces e amáveis como você.

Claudine engoliu em seco. Surpreendentemente, ela sentiu a súbita impaciência por um momento.

— Elas? Com ciúmes de mim? — Ela soprou. — Nunca.

Bernadette não disse nada e Claudine notou seu olhar cético. Ela suspirou.

— O que?

— Nada, milady, — disse Bernadette suavemente. — Agora, eu acho que vou fazer uma tapeçaria para combinar com a do solar em Pavot...

Claudine deixou-se envolver na conversa sobre a tapeçaria, permitindo que a impaciência e a tristeza que a preenchera havia um momento ou dois desaparecessem lentamente. Ela desejou não se sentir tão impaciente com seu corpo, mas ela estava. Agora mais do que nunca, ela se perguntava se começaria a se sentir digna das atenções de Francis em breve.

Talvez ele seja apenas educado.

Em tudo, ela pensou enquanto seguia Bernadette para dentro para encontrar mais bordados de seda em algum lugar, mas essa não era a explicação mais provável. Francis não era o tipo de ser educado só porque era conveniente ou esperado.

Suas relações com seu tio mostram isso bem o suficiente.

Claudine ficou surpresa com a rapidez com que ela parecia ter mudado de apoio — onde uma vez esteve com seu tio em qualquer assunto, em relação à sua própria conduta, de repente se sentiu relutante em aceitar sua palavra.

Às vezes, parece que o tio preferiria que eu não me recuperasse nunca.

Ela soprou e Bernadette olhou para onde ela vasculhava um baú em busca de tecido.

— Sim?

Claudine suspirou.

— Nada, Bernadette. Desculpe incomodar.

— Você não incomoda, — disse Bernadette rapidamente. — Eu estava apenas procurando por uma cor que faria esquecer-me o mundo na tapeçaria... O você diria dessa?

Claudine assentiu surpresa com o novelo de seda azul intensa, a cor do céu logo acima das colinas ao meio-dia.

— Essa parece perfeita, — ela balançou a cabeça.

— Boa.

Encontraram seus materiais e estavam saindo do depósito quando Claudine ouviu outras damas chegarem.

— Oh, e você viu? Eu ganhei a partida de luta e peteca...

— Oh! Muito bem, Emília.

Claudine ficou triste ao ouvi-los falar sobre suas atividades físicas — dançar, brincar no pátio, até andar de cavalo. Essas eram coisas que ela faria antes. Em vez disso não tinha feito há anos agora.

— Oh, lady Claudine, — uma delas disse, de pé na porta quando Claudine saiu. Ela reconheceu lady Nicole. — Eu não a tinha visto.

Claudine cerrou os dentes quando as cinco damas se afastaram para deixá-la passar, e ela sentiu o olhar delas enquanto caminhava lenta e dolorosamente entre elas. Bernadette estava ao seu lado, mas não se ofereceu para ajudá-la a ficar de pé, ciente de que Claudine se sentiria ainda mais desajeitada.

Ela suportou os olhares e o silêncio até chegar à porta. Quando elas se afastaram, ela sentiu lágrimas quentes de indignação picarem seus olhos.

— Oh, milady, — sua acompanhante sussurrou suavemente. — Oh meu Deus.

Claudine fungou ferozmente.

— Sinto muito, Bernadette, — disse ela em voz baixa. — É só... porque é que elas têm que ser assim? Tem que me fazer sentir tão desajeitada, tão tola? E não me diga que elas estão com ciúmes. Eu não vou acreditar.

Bernadette suspirou.

— Eu não vou te dizer, — disse ela. Claudine olhou de lado para ela.

— Mas...

— Mas isso não significa que não seja verdade, — acrescentou sua acompanhante.

Claudine não pôde evitar. Ela sorriu.

— Obrigada, Bernadette.

— Não é nada, milady.

As duas caminharam lentamente de volta pelo corredor até a ala onde os quartos estavam para o quarto de dormir. Era hora de descansar à tarde.


CAPÍTULO SEIS

CONHECENDO MAIS


Francis andou melancolicamente pela colunata. Não conseguia parar de pensar na moça que vira no baile e no pátio antes disso. Ele sabia que era tolice da sua parte, mas ela o havia tocado de uma maneira que nenhum outra lady jamais fizera.

São esses olhos. Não, sua boca doce de biquinho. Não, o cabelo dela...

Ele suspirou. Era tudo isso e mais do que qualquer um deles. Seu corpo estava atormentado pela luxúria por ela, mas seu coração já sentia uma garra feroz. Ela era especial. Ela era diferente.

Será ela?

Ele ficou tenso. Ele podia ver uma figura sentada no pátio, na beira da fonte. Ela estava inclinada sobre alguma coisa. Bordado. Ele se aproximou, sentindo seu coração batendo em seu peito.

Ele se inclinou contra um pilar, olhando por cima. Era ela. Os cachos de seu cabelo loiro ondulavam na brisa, seus lábios entreabertos em concentração, ela era deslumbrante.

Ele sentiu seu membro responder enquanto seus olhos pousavam em seus seios e se repreendia gentilmente. Ela era uma lady. Ela também não era para ele.

Ele atormentava seu cérebro. Ele não podia simplesmente ir embora. Aqueles cabelos loiros ao longo vestido azul acetinado, ela era linda demais. Ele não podia fingir que não a viu.

Pergunte a ela alguma coisa! Continue. Faça algo.

Francis caminhou para a frente, sentindo-se como se estivesse de frente para seu tutor e falhando tristemente em alguma aula.

— Milady, — disse ele. — Eu... uh... — ela estava olhando para ele, com grandes olhos azuis redondos e assustados. — Uh... você sabe onde estão as hortas da cozinha?

A lady mordeu o lábio. Um movimento inocente, no entanto, fez sua virilha latejarem de desejo. Ela tinha lábios tão doces e rosados, grandes e molhados. Ele sentiu uma pontada de desejo. Ele olhou para o chão, controlando sua respiração.

— Elas estão lá, eu acho, milorde, — disse ela naquela voz suave e gentil. — Pela cozinha, eu diria.

Francis fechou os olhos.

Como você poderia fazer uma pergunta tão estúpida?

Ele repreendeu a si mesmo, corando. Ele não estava apenas no oposto das hortas da cozinha, mas sua localização deveria ser óbvia para qualquer um.

— Uh, obrigado, milady, — disse ele.

Estúpido, estúpido eu sou.

Ele olhou nos olhos dela, estremecendo enquanto esperava ver o desprezo escrito naquelas profundezas geladas e claras. Com alguma surpresa, ele viu preocupação. Ternura. Curiosidade.

— Você quer se sentar no jardim das hortas por algum tempo? — Ela perguntou. Também gosto das hortas da cozinha. São perfumadas.

Francis assentiu.

— Uh, sim. Elas são. Você iria... — ele forçou as palavras através de uma garganta seca, — se junte a mim?

Os olhos de lady Claudine se arregalaram.

— Eu... eu gostaria disso, milorde. Mas eu estou sem acompanhante! Eu...

Ele sorriu ternamente.

— Bem, então, como respeito a sua honra, permaneceremos à vista da colunata. Mas posso ficar com você por um tempo?

Ela parecia confusa.

— Eu... claro, milorde. Se você quiser. — Ela parecia quase surpresa, como se fosse estranho ele desejar isso. Ele sentiu-se começar a franzir a testa.

— Eu desejo isso, — ele disse suavemente. Ele se abaixou no banco ao lado dela para que olhasse nos olhos dela. Ela piscou, parecendo um pouco assustada.

— Milorde. Eu...

Ela olhou em seus olhos, seu próprio coração batendo. De tão perto, ele podia ver a umidade em seus lábios e quase sentir sua respiração. Ele ficou tenso, resistindo ao desejo irresistível de se inclinar mais perto, para plantar um beijo naqueles doces lábios...

Antes que ele pensasse nisso, seus lábios tocaram os dela. Ela congelou.

— Milorde!

Ela ficou tensa e retirou-se instantaneamente. Francis fechou os olhos.

Francis! Seu idiota. O que você está fazendo?

— Milady. Eu... me perdoe por favor! — Ele implorou. — Eu não quis ofender. Vê? Estou indo embora.

Ele se levantou e recuou.

— Espere, — ela disse.

Francis criou raízes nas lajes. Ele olhou para ela. Ela olhou para trás, seus olhos azuis acesos com uma mistura de horror e incerteza.

— Milady, queria me perguntar uma coisa? — Francis perguntou.

— Eu... — ela olhou para baixo e quando olhou para cima novamente, Francis podia ver lágrimas em seus olhos. Ele se sentiu horrorizado e desgraçado. Ele se ajoelhou.

— O que foi? Oh! Minha lady. Oh! Eu sinto muito. Por favor. Não, não chore... — ele se atrapalhou no espaço entre a túnica e o cinto, procurando um lenço. Ele tirou um e passou para ela. Ela pegou, respirando com força.

— Eu sou tão estúpida, — disse ela. Seus olhos estavam fechados e ela balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Estúpida, inútil, feia e...

Francis olhou para ela.

— Milady! Você está falando sério? — Ele estendeu a mão e pousou uma mão gentil em seu ombro, respirando forte enquanto seus dedos contatavam aquela doce suavidade. Ela ficou tensa, mas não se afastou.

Ela arregalou os olhos.

— Sinto muito, — ela sussurrou. Ela balançou a cabeça. Seus olhos azuis nadavam tristes. — É verdade. Claro que é. É por isso que estou tão confusa.

— Confusa, — disse Francis. Ele não tinha ideia do que ela estava falando. — Milady?

— É você, — ela murmurou. — Você me confunde. Você é tão... tão atento. Tão gentil. Por quê?

Francis piscou para ela. Ela parecia zangada com ele.

— Eu... milady o que você quer dizer? Eu sou sem jeito, eu sei, mas...

Ela suspirou tristemente.

— Oh, vá embora, — disse ela. Ela parecia irritada.

Francis ficou olhando. O que foi isso? Sabia que havia transgredido seus limites beijando-a, mas esperava uma afronta, talvez, mas ser chamada de idiota e estúpida. Ele que tinha sido, afinal de contas. Por que ela estava com raiva de si mesma? Por que confusa?

— Eu vou, — disse ele, sentindo-se triste. Ele não podia ajudá-la, claramente. Melhor ir para longe.

Ela ficou olhando para ele, seu rosto resignado pela tristeza, as lágrimas seguindo lentamente pela pálida e brilhante bochecha. Ele não podia fazer isso.

— Milady, — disse ele depois de andar dois passos através do pátio. — Não. Eu não posso deixá-la. Por favor, me diga o que eu fiz?

Ela murmurou alguma coisa e ele voltou, ajoelhando-se diante dela mais uma vez.

— Eu sinto muito, milady. — Ele perguntou suavemente. — Eu não a ouvi.

— Por que você se importa? — Ela perguntou novamente, em voz alta desta vez.

Francis ficou olhando. Ternamente, ele estendeu a mão para acariciar sua bochecha, acariciar seus cabelos e docemente, retirar os traços de lágrimas. Ela se encolheu e olhou para ele. Ele retirou a mão.

— O que foi, milady? — Ele perguntou.

— Responda a pergunta? — Ela disse, quase implorando. — Por favor.

Francis se sentiu confuso. Então ele suspirou. Ela tinha o direito de saber.

— Sinto muito, milady, por minha imprudência. Mas você é a lady mais doce e mais adorável que já vi. É por isso que me importo. Porque eu estou aqui. Por que eu... a ofendi. — Ele olhou para o chão, sentindo-se o desgraçado mais repulsivo de todos os tempos.

Ele a ouviu dar um pequeno suspiro de exalação. Quando ela olhou para cima novamente, ele ficou surpreso que a tristeza e a raiva foi substituída pela crescente admiração. Seus olhos estavam enormes. Sua boca se separou novamente, fazendo um pequeno “O” maravilhado. A expressão disparou seu sangue.

— Você quis dizer isso, — disse ela. Não foi uma pergunta, mas ele assentiu.

— Sim. Eu quis.

Ela riu então.

— Mas como você pode...? — Ela balançou a cabeça, fazendo os cachos loiros pularem em seus ombros. — Eu sou uma aleijada.

Francis olhou para ela.

— Não! Não milady. Você tem... dificuldades para andar. Eu não nego isso. Eu sei que sua saúde é delicada. Mas por que isso prejudicaria de alguma forma sua beleza? Sua natureza?

Ela suspirou de novo, uma leve bufada de ar.

— Quem iria me querer?

Francis sentiu o coração se revirar, mesmo quando queria rir.

— Você deve brincar, milady. Não consegue ver os olhos que te seguem por toda parte? Quando eu estava falando com você, senti como se pelo menos três varões tivessem mergulhado suas adagas em mim.

— Não! — Claudine riu. — Você acha que eles teriam feito isso?

Ele assentiu.

— Você não viu o jeito que eles estavam olhando para mim, milady.

— Não, — disse ela. — Eu não acredito em você.

— Bem, você deveria, — disse ele com firmeza. — Você é linda.

Ela olhou para ele.

— Oh, meu lorde.

Ela fungou. Francis ficou consternado. O que ele disse agora? Ele continuou perturbando-a? Ele pegou seu lenço novamente para limpar suas lágrimas, mas quando ela olhou para cima, estava sorrindo.

— Você é a primeira pessoa que já disse isso, — disse ela, fungando. — Eu... obrigada, — ela terminou sem jeito, deixando a mão descansar perto da dele.

Ele olhou nos olhos dela. Ele sentiu como se estivesse se afogando em suas tenras profundezas azuis.

— Oh, minha lady.

Era tudo o que ele conseguia pensar em dizer. Não parecia ser possível, no entanto, sabia que ela estava dizendo a verdade. Como ela poderia não saber disso? Ele ficou horrorizado. Ela era tão linda! Como acreditara até agora que ela era feia?

Ele corou, percebendo que era o primeiro homem a falar com ela dessa maneira. Isso o fez se sentir orgulhoso e um pouco tímido ao mesmo tempo.

Ela sorriu, suas bochechas levantando as mais doces covinhas que ele tinha visto em sua vida.

— Eu devo ir, — ela disse suavemente. — Minha acompanhante estará procurando por mim.

— Eu devo ir também, — Francis concordou, se sentindo um pouco culpado pois prometeu ajudar Gaspard a encontrar o armeiro em algum lugar para afiar sua espada.

— Bem, então, — ela disse. Ela se levantou, alisando as saias com uma mão gentil.

— Bem.

Eles se entreolharam. Ele sentiu como se seu coração fosse derreter.

— Bom dia, — disse ela em voz baixa. Fez uma reverência e afastou-se devagar, com o corpo doce e gracioso, apesar da lentidão do ritmo. Francis ficou olhando para ela.

— Bom dia, — ele sussurrou.

Ele não conseguia parar de pensar nela.


CAPÍTULO SETE

UM ENCONTRO À NOITE


Claudine observou Bernadette, sua serva e acompanhante, melancolicamente. Ela estava colocando sedas e cetins na cama diante dela. A luz do sol se pondo e da noite que entrava, fazendo tudo brilharem suavemente.

— Eu devo escolher um? — perguntou Claudine.

— Você deve, milady, — disse Bernadette, sorrindo. — Pode ter certeza que vai ficar linda, não importa qual use. Embora eu ache que o aniversário do duque de Fouchet pede algo especial, não é assim?

Claudine suspirou.

— Eu suponho que sim. — Por que era tão difícil para ela ficar animada com essas coisas?

Eu gostaria de poder dançar como as outras jovens damas! Talvez, então, eu gostasse mais.

Mesmo a perspectiva de ver Francis na festa não ajudava a elevar seu espírito. Hoje a exaustão dela a depredava mais do que o normal. Ela mal havia encontrado a energia para ficar de pé. Ela não podia suportar a ideia de uma noite acompanhada de condessas de idade que teriam pena dela ou jovens damas e cavalheiros que tinha expressões e olhares estranhos para ela.

— Milady? — Bernadette solicitou gentilmente.

— Você escolhe um para mim, Bernadette, — disse Claudine com tristeza. — Eu não consigo decidir.

— Oh, milady. O que é isso?

— Eu não sei, — disse Claudine. — Eu suponho que estou me sentindo um pouco triste.

— É a sua cabeça? Minha pobre lady Claudine. Você gostaria de algo da cozinha? Um syllabub2? Você não comeu quase nada no almoço hoje.

Claudine sacudiu a cabeça.

— Não. Obrigada Bernadette. Eu só quero descansar.

— Como quiser, — disse Bernadette com uma pequena carranca. — Mas olhe aqui! Que tal esse vestido azul? Eu não a vi usar este ainda. E o azul é perfeito, para você. Isso realça seus olhos.

Claudine sorriu tristemente.

— Obrigada Bernadette. Eu usarei este.

Bernadette assentiu e levantou a roupa da cama. Com uma cintura em forma de v, uma saia larga e mangas compridas que se enrolavam nas mãos, o vestido era lindo. Fora feito de seda azul. Claudine sentiu uma empolgação quando Bernadette a ajudou a tirar o vestido e vestir o vestido de noite.

— Ora, milady! Você parece uma deusa.

Claudine se afastou do espelho, incerta sobre isso. Ela inclinou a cabeça de um lado, examinando o efeito.

— Eu suponho que pareço bonita, — disse ela.

Bernadette sorriu com carinho.

— Você está de fato, milady.

A mulher no espelho tinha uma cintura fina, quadris generosos e um busto cheio que usava a gola do vestido baixa. Seus longos braços estavam cobertos pelas mangas compridas e seus cachos loiros cascateavam soltos ao redor de seus ombros. Seus olhos azuis brilhavam. Eles eram um pouco mais claros do que o vestido, uma seda azul ardósia que piscava na luz da noite enquanto se movia.

— Você vai pentear meu cabelo agora? — Claudine perguntou. Ela se sentiu cansada de novo, o esforço tinha esgotado quase toda a sua energia.

— Claro, milady. Venha, sente-se.

Claudine observou a transformação com um interesse desapaixonado, estudando-se à luz bruxuleante das velas na penteadeira. Bernadette colocou os cabelos em um coque, com o rosto emoldurado por cachos suaves que escapavam.

Eu me pergunto se Francis vai estar lá?

Ela sorriu para o rosto rosado e encantador no espelho. Ela esperava que ele estivesse. Se ela tivesse de passar uma noite com pessoas que lhe davam piedade ou zombaria, pelo menos ele animaria as coisas.

E tenho que admitir que gosto dele.

Ela recordou a reunião deles no pátio. Ela gostava muito dele. Seria ótimo sentar e passar algum tempo com ele.

Ele certamente estará lá. Ele é um nobre e, se conheço o duque, ele convidará todos na corte.

— Sobrinha? — Uma voz chamou. — Você está pronta? Nós deveríamos sair.

— Estou saindo, tio. Obrigada, Bernadette — acrescentou ela. — Devo voltar antes da meia-noite.

— Muito bem, milady.

— Claudine! Minha sobrinha! Você está adorável. Eu me sinto muito orgulhoso de tê-la enfeitando meu braço, — seu tio Luke sorriu quando ela apareceu, dobrando seu cotovelo para que ela pudesse deslizar sua mão para apoiá-la.

— Oh, tio. Você é tão bom para mim. O que eu faria sem você?

— Eu gostaria de poder ser ainda melhor, — seu tio disse pensativo. — Mas tal é a vida.

Atravessaram a colunata e desceram as escadas, lentamente, para o grande salão. Quando chegaram às escadas, viram-se apanhados em uma multidão de outros convidados, cheirosos e elegantes, todos descendo as escadas. Claudine parou, querendo voltar para deixar os convidados mais rápidos passarem.

— Milady. Venha, vamos caminhar juntos. Não quero ultrapassá-la — disse o conde de Reims atrás dela. Claudine olhou para as mãos dela.

Se ele não desejava chamar atenção para minha doença, por que dizer isso? Por que ele não pode simplesmente ignorar isso?

— O conde é gentil, — disse ela em voz baixa.

Ela caminhou para baixo, mordendo o lábio para ignorar Mirella e Jacintha, que passou por ela.

— Eu não posso esperar para dançar, — disse Mirella. Ela olhou para Claudine. — Oh! Eu suponho que não deveria dizer isso. Eu sinto muito.

— Nem um pouco, — disse Claudine com firmeza. — Tenho certeza que você vai dançar.

Ela olhou de relance para o tio. Seus olhos se estreitaram e ele pareceu defensivo.

— Apenas diga a elas que você não está inclinado a participar, — ele sugeriu.

Claudine fechou os olhos enquanto as lágrimas corriam. Seu conselho tornou isso pior.

Eu gostaria de poder participar! Eu amava dançar. Eu era tão boa nisso e agora todos pensam que sou uma coisa aleijada e indefesa.

A tristeza era uma coisa viva dentro dela. Desceram as escadas juntos, onde foram parados na porta por um lacaio.

— Ah, aqui estamos nós. O conde de Corron, bom homem, e sua sobrinha, a bela lady Claudine.

Claudine corou. O lacaio na porta anunciou-os e ela entrou lentamente, firmada pelo braço forte do tio. Ela olhou para o chão, odiando a sensação de todos aqueles olhos nela. Ela podia ver compaixão em alguns olhos, desprezo nos outros. As damas de sua idade, principalmente, pareciam contentes por não serem elas que estavam tão doentes.

Por que elas têm que olhar com tanta pena?

Ela ficou tensa e seu tio deu um tapinha na sua mão gentilmente.

— Quase na mesa, — disse ele em voz baixa. — Acho que estamos sentados no final. Ah! Sim. Meu lorde duque! Um feliz aniversário para você — ele acrescentou quando um homem saiu para se socializar.

O duque, um homem baixo de cabelos grisalhos e grandes olhos azuis, sorriu vitorioso para o tio Luke e curvou-se para Claudine.

— Milady! Sempre uma beleza. Bem-vinda. Bem-vinda.

— Feliz aniversário, meu lorde, — disse Claudine fracamente.

— Obrigado, Claudine. — Ela beijou o duque nas duas bochechas com carinho, mas descobriu que não estava prestando atenção. Seus olhos já estavam examinando as longas mesas de convidados, procurando o único rosto que ela desejava ver. Onde ele estava?

Ele deve estar aqui!

Se Francis desejasse vê-la, ele teria vindo.

Eu suponho que ele estava apenas sendo educado ontem.

Ela se sentiu desapontada. Se ele estivesse aqui, se destacaria, então seu fracasso em localizá-lo significava que ele não estava.

— Venha, sobrinha, — disse seu tio. — Aqui estamos. Vamos sentar. Sinto fome o suficiente para não querer atrasar meu jantar.

Quando o jantar começou, ela pegou sopa, peixe, os ovos... ela mal sentiu fome e sua cabeça estava começando a doer.

— Sobrinha? — Seu tio sussurrou. — Você não está bem?

— Não — sussurrou Claudine.

— Pobre querida, — disse a condessa viúva de Beaufort ao lado dela. — Este Maladi deve ser debilitante para uma moça. Se você pudesse pelo menos dançar e tocar harpa como o resto pode fazer!

Claudine estremeceu, os olhos nublados pelas lágrimas. Era isso. De repente ela não aguentou mais os insultos sutis. Ela empurrou a cadeira para trás e se levantou.

— Com licença, tio, — ela disse com firmeza. — Eu estou indo para o terraço tomar ar fresco.

Seu tio levantou uma sobrancelha.

— Claro que sim minha querida.

Claudine se apoiou na cadeira e caminhou devagar pelo salão.

Pessoas miseráveis! Por que têm que ser tão cruéis? Eu sei que isso é injusto, que para eles não significam isso, mas... Oh! Como eu queria estar bem, curada e inteira.

Claudine mordeu o lábio, tentando segurar as lágrimas, quando as sentiu começarem a fluir apesar de seus esforços para contê-las, sentou-se pesadamente em um banco esculpido em pedra e soluçou.

A noite a escondia da porta, iluminada por chamas de uma tocha que oscilava e flutuava com o vento. Deixou o som e o tilintar de uma fonte distante, o grito de um pássaro noturno, a acalmá-la.

Eu quero ficar aqui fora. Estou segura aqui.

Escondida pela escuridão, ninguém poderia ser cruel com ela. Ela se inclinou para trás e fechou os olhos. Estar sozinho era o melhor.

Crack...

Um galho quebrou atrás dela e ela pulou.

— Quem está aí? — Ela sussurrou. Sua cabeça girou e ela olhou fixamente.

Com o cabelo ruivo iluminado pelos reflexos quentes das tochas, seu rosto comprido e magro ostentando um sorriso tímido, ele era tão bonito que seu coração pulou. Ela não podia desviar o olhar.

— Lady Claudine, — disse ele, e então franziu a testa.

Ela fungou, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— Lorde Francis. — Ela ergueu o rosto manchado de lágrimas para ele.

— Por que você está triste? — Ele perguntou gentilmente.

Claudine deu uma risada sem alegria.

— Por que você pensa isso?

Seus olhos verdes se iluminaram com os destaques da chama da tocha, fixos nos dela.

— Eu não tenho ideia, — disse ele. — Conte-me?

Claudine olhou para suas mãos.

— Eu não posso andar, Francis. Eu não posso dançar. Eu não posso tocar harpa, nem correr, nem cantar. Eu não posso fazer nada que alguém possa fazer. E as pessoas continuam me dizendo isso!

Ela estava com raiva, mais do que triste. Lágrimas ferozes e quentes corriam por seu rosto, juntando-se em seu queixo. Agora que ela começou a soluçar, não conseguiu parar. Foram dois anos de miséria armazenada. Ela soluçou tanto que seus ombros tremeram e suas lágrimas escorreram pelo rosto e se juntaram no colarinho de seu vestido. Ela soluçou até que existia mais lágrimas.

Então ela se endureceu quando um braço posou suavemente em seus ombros. Ela sentiu Francis se inclinar e se encostou nele, deixando sua presença gentil a aquecer. Ela se aninhou mais perto.

Ele se inclinou para encará-la e seus lábios se encontraram com os dela. Claudine se endureceu, os olhos arregalados. Então eles se fecharam enquanto sua boca gentilmente traçava a dela, mordendo um pouco os lábio dela. Ele deixou sua língua passar pela linha entre os lábios dela e ela sentiu seu corpo se derreter quando ele fez isso novamente, e então se retirou.

Mais, o seu corpo parecia chorar alto. Ela ficou tensa e olhou para os dedos entrelaçados. Ele os cobriu com uma mão grande e magra.

— Milady, — ele murmurou. Ele acariciou o cabelo dela suavemente com a outra mão, e sentiu o calor da mão direita dele. — Eu sinto muito que você esteja triste. Eu faria qualquer coisa para tirar isso de você.

Claudine sacudiu a cabeça.

— Lorde Francis, — ela disse entrecortada. — Eu que agradeço. Obrigada por tentar entender, — ela adicionou um pouco amargamente. Ela supôs que levou-lhe algum esforço. Ela não queria acreditar que ele estava fazendo isso tão sinceramente quanto parecia.

Ele ficou tenso e silencioso ao lado dela. Ela virou-se para encara-lo.

Para sua surpresa, ele estava sentado debruçado, as mãos entrelaçadas. Ele parecia estar em algum lugar entre amargo e triste.

— O quê foi? — Ela murmurou.

Ele riu.

— Não importa. Eu não quero sobrecarregar você. Quem sou eu para fazer isso?

Claudine sentiu seus olhos se arregalarem.

— Quem é você para não fazê-lo? — Ela disse suavemente. Sua mão se estendeu e cobriu a dele. Seus dedos estavam quentes. Ela descansou a mão sobre a dela.

— Eu sou apenas o filho de um conde de uma pequena propriedade rural, — disse ele suavemente. — Com exceção duvidosa para as pessoas, como um estrangeiro e selvagem. Eu nem deveria estar aqui, muito menos estar falando com você.

Claudine olhou para ele.

— Francis. O que foi? — Ela quase riu. — Isso é muito sério, não é?

Francis se virou para ela, sua expressão era de dor.

— Eu nunca fui mais sério. Eu não deveria estar sentado aqui com você — ele disse impaciente. — Seu guardião vai me odiar por isso.

Claudine reprimiu sua risada sem alegria.

— O tio ficaria feliz em ver alguém me notando, eu acho, — ela disse calmamente. — Acho que ele praticamente me venderia para qualquer um que parecesse um pouco interessado.

Francis olhou para ela. Para sua surpresa, ele estava com raiva.

— Não é assim que ele age comigo, — disse ele com veemência. — Eu não sei quem te disse tudo isso, mas eles mentiram.

Claudine quase quis rir. Ela olhou para ele impotente.

— Francis?

— O que?

— Eu não sei se posso acreditar nisso, ou se você está apenas sendo doce. Mas... obrigada. — Ela olhou para baixo enquanto sua voz tremia perigosamente.

Ele apertou a mão dela.

— Eu só disse a verdade, minha querida.

Claudine sentiu as palavras a atravessarem como uma onda na margem do rio. Minha querida. Ele a chamou de “minha querida”. Seu coração flutuou e ela sentiu seu corpo encostar-se ao dele.

Seu braço se moveu para descansar em seus ombros. Ele se inclinou, aqueles doces e marmorizados olhos verdes encarando os dela, e a beijou.

Claudine se derreteu em seus braços e seus corpos se uniram ao luar. Ela sentiu o coração bater com uma doce e crescente urgência. Ela se pressionou contra ele, gostando da sensação de seus seios achatados contra o peito largo.

— Claudine, — ele sussurrou, com os olhos fechados, o rosto enrugado com a intensidade da emoção. — Eu... nós não devemos.

Claudine expirou bruscamente. Ela sabia o que ele queria dizer. De alguma forma, o corpo dela estava levando-a a fazer coisas que ela sabia que eram docemente proibidas. Ela se sentou ereta.

Ele sorriu e estendeu a mão para acariciar seus cabelos.

— Você é tão bonita.

Claudine fechou os olhos.

— Você é tão lindo.

Ele riu.

— Você acha? — Ele perguntou. Ele parecia genuinamente surpreso e ela riu.

— Eu sei que sim.

Eles se beijaram novamente.

Foi só quando ouviu a porta do terraço se abrir e alguém se escorregar que Claudine se obrigou a ficar de pé e a andar devagar, o coração batendo forte. Francis a seguindo um instante depois.

Que momento maravilhoso e feliz.

Durante toda aquela noite ela não conseguia parar de sorrir.


CAPÍTULO OITO

ENCONTRO NO PÁTIO DE PRÁTICA


O som das espadas ecoou no pátio, brilhante, audacioso e duro.

— Cuidado! — Gaspard, filho do duque de Monteleon, gritou alto quando deu um soco em Francis. Ele saltou agilmente para trás, bloqueando o golpe com sua própria espada.

— É um bom golpe, — Francis comentou, sorrindo. — Mas como vai responder a isso? — Ele levantou a espada e balançou de lado.

As lâminas estremeceram juntas e Francis sentiu os braços doerem quando o ataque atingiu seus ossos.

— Haha. — Gaspard sorriu, embora não fosse um sorriso totalmente agradável.

Francis sentiu uma faísca de prazer. Aqui no campo de prática era um dos lugares onde ele realmente brilhava. Seu pai empregou um cavaleiro de Frankia como seu tutor e ele foi educado em todos os métodos de luta mais recentes.

Ele teve o raro prazer de ver o francês ficando frustrado. Despenteando seu oponente tentaria a melhor maneira de ganhar, ele sabia. Ele recuou, mantendo a calma, e deu um toque suave na lâmina, contrariando um golpe lateral com aparente facilidade.

— Bom trabalho, Annecy, — seu oponente disse calorosamente.

Francis sorriu, vendo o começo da raiva se formando nos olhos escuros do homem. Só demoraria um pouco até que ele conseguisse fazer algo tolo. Então, Francis venceria.

E para cima... e para fora... e de volta... ele falou-se através da dança, espada contra espada. Seus braços queimavam, seu coração disparava e a transpiração brilhava em seu perfil bonito e elegante. No entanto, ele estava quase sorrindo.

— Francis! Tenha cuidado!

A voz despedaçou sua calma quando o francês enfurecido soltou um ataque que, se fossem espadas de verdade, não lâminas cegas, teriam aberto sua cabeça. Desviou-o com um estremecimento forte e, em seguida, enviou seu próprio contra-ataque através da defesa do francês, nivelando a lâmina em sua garganta.

Ele olhou para cima, tirando uma mecha de cabelo vermelho dos olhos.

— Obrigado, — ele disse com tristeza.

Claudine o olhava do terraço com vista para o terreno. Seus olhos azuis brilhavam, úmidos de choque e medo.

— Francis, — ela murmurou. — Graças a Deus.

Gaspard grunhiu e saudou Francis com uma admiração relutante.

— Muito bem, amigo, — disse ele. — É o suficiente por hoje, hein? — Ele falou. — Mais amanhã?

Francis sorriu.

— Eu gostaria disso. Você é um bom espadachim, Gaspard.

— É fácil para você dizer — gritou Gaspard de volta. — Quando acabou de me ganhar. Seu safado.

O insulto foi bem intencionado e Francis riu. Então, com o coração derretendo, ele se voltou para a sacada. Ele protegeu os olhos do brilho da luz do sol e olhou para ela maravilhado.

Com seu cabelo loiro delineado pelo sol e um sorriso naqueles lábios rosados, ela parecia um anjo enviado para protegê-lo. Ela estava usando um vestido branco com um pescoço alto, seu decote era um brilho acetinado ao sol da tarde.

— Milady, — ele falou. — Você tem olhos penetrantes.

Claudine olhou para ele, os lábios rosados separados em uma expressão de choque.

— Você poderia ter sido ferido, meu lorde.

Francis sorriu para ela. Ela era adorável!

— Isso teria me deixado com frio mortal, certamente. E provavelmente cortaria meu couro cabeludo também. Essas lâminas ainda podem dar um corte desagradável quando empunhadas tão forte.

Claudine pareceu horrorizada.

— Pobre lorde Francis!

Ele sorriu.

— Posso me juntar a você ai em cima?

— Por favor, — ela disse timidamente.

Francis rolou os ombros e caminhou até o corredor de acesso ao terraço, piscando com o contraste agudo, parecia tão escuro aqui depois do reflexo brilhante do pátio.

Espero não cheirar muito a suor.

Francis respirou experimentalmente. Parecia que ainda não estava muito pungente. Ele subiu a escada correndo.

— Milady, — disse ele enquanto caminhava por trás dela. Ela se virou, seus cachos loiros flutuando na brisa. Havia uma fita de seda cor-de-rosa amarrada no pescoço e ela parecia bonita demais para se acreditar. Seu corpo doce e cheio de curvas estava envolto no linho branco e exibia sua cintura fina e quadris largos a perfeição.

— Lorde Francis. — Sua voz era doce e ele sentiu seu pobre membro doer, enquanto ele estudava seu doce corpo, os lábios úmidos brilhando onde ela estivera mordendo em consternação. — Você deve estar exausto.

Ele riu.

— Estou muito cansado, milady, — ele admitiu. — E me perdoe, mas um pouco suado também. — Ele passou a mão pelo cabelo que estava úmido de suor. — Espero não cheirar mal.

Claudine olhou para ele com horror. Então ela começou a rir.

— Lorde Francis! — Ela disse. — Garanto-lhe que você não cheira mal nem um pouco. Pelo menos, estou perto de você e não sinto nada.

Francis riu, sentindo os olhos se enrugarem nos cantos.

— Ufa! Que alívio, minha lady.

Claudine estava encostada no corrimão e ele percebeu que ela provavelmente estava muito doente para se aproximar mais, então ele se aproximou dela.

— Devo confessar que estou muito feliz em vê-la, — ele murmurou. Ele teve a satisfação de ver seus olhos azuis se arregalarem de surpresa.

— Oh. Obrigada, meu lorde.

Francis amava sua voz — baixa e melodiosa, mexia em sua virilha e parecia vibrar seus ossos. Ele respirou, notando que o ar ao redor dela cheirava a lavanda e rosas.

— Eu teria lutado muito melhor se soubesse que você estava me observando, — admitiu ele. — Na verdade, espero que você não tenha visto meu desempenho anterior... foi uma visão triste.

Claudine deu uma risadinha.

— Lorde Francis. Você é muito duro consigo mesmo. Você tinha que testar seu oponente, medir sua defesa, antes que pudesse brilhar. Eu entendi aquilo.

Francis olhou para ela.

— Milady? — Ela sabia mais sobre a luta de espadas do que muitos de seus oponentes masculinos! — Isso é muito perspicaz. Como você sabia disso?

Ele teve o prazer de ver Claudine corar.

— Eu assisti muitas justas, meu lorde, — ela disse suavemente. — Não é difícil obter algum conhecimento de como elas funcionam.

— Linda e inteligente, — Francis pensou em voz alta. Ele só percebeu que tinha falado um momento depois. Ele se sentiu chocado com sua própria franqueza e então, quando ela corou, se sentiu satisfeito.

Para sua surpresa, seus olhos azuis subitamente se encheram de lágrimas.

— Milady! — Francis sentiu o coração apertar em simpatia. — O que eu disse?

Ela balançou a cabeça.

— Eu... oh, Francis. Eu só... As pessoas sempre me dizem o quanto me falta algo, — ela suspirou. — Eu sou fraca, pequena e frágil demais para andar para longe. Você é a primeira pessoa que diz coisas tão lindas.

Ela sorriu para ele com tristeza e Francis olhou para as mãos, compondo-se antes de falar. Ele ficou com raiva. Como poderia uma pessoa tão bela e sábia ser tão humilhada?

— Eu só falo a verdade, milady, — ele disse duramente.

Ela fungou.

— Bem, talvez você agradável e veja uma verdade mais que a maioria.

Francis suspirou.

— Não. Eu vejo a verdade como é. Todo mundo está vendo bobagens.

Ela riu.

— Você tem uma visão muito definida sobre o mundo, meu lorde.

— Eu tenho uma visão realista de fatos, — disse ele, e sua própria tristeza coloriu essas palavras.

Ele ficou tenso de surpresa quando sentiu uma mão gentil em seu ombro. Mal ousando respirar, ele ficou parado e sentiu o doce toque de seus dedos em sua pele. Isso fez sua pele formigar e sua virilha começarem a latejar subitamente.

— Não diga isso, — ela disse suavemente. — Você é tão francês quanto eu.

Ele sorriu para ela com carinho.

— Obrigado, milady. Mas, na verdade, não sou.

— Bem, acho que não importa, então, — disse ela. — Não me importo se você é ou não francês. Eu gosto de você como é.

Francis olhou para o rosto dela. Os grandes olhos azuis abatidos, sua pele corou quando ela disse aquelas palavras. Ele se abaixou e gentilmente levantou seu queixo, olhando para aqueles doces olhos azuis. Quando ele tentou falar, sua voz estava embargada.

— Milady. Estou honrado. Eu também gosto de você.

Claudine sorriu timidamente para ele. Ele se inclinou e de repente não podia mais se afastar. Seus braços a envolveram e a seguraram contra o peito, e ele sentiu seus dedos agarrarem a doce carne de seu corpo, puxando-a contra ele. Sua língua penetrou entre os lábios macios e seu membro ficou duro em resposta. Ele explorou o doce calor de sua boca, deleitando-se com seu sabor.

Ofegantes, cegos de paixão, eles quebraram o beijo. Ela olhou para ele, seu peito arfando com a profundidade de seus sentimentos.

— Milady, — ele murmurou. Sua voz estava rouca. Ele teve que cerrar os punhos, lutando para controlar a paixão que surgiu e enroscava-se através dele. Imagens selvagens passaram por sua mente. Ele queria levá-la em seus braços, jogá-la em sua cama e pulsar dentro dela, enchendo-a com sua necessidade apaixonada.

— Oh, Francis, — ela ofegou. Ela o olhou, algo entre choque e prazer em seu rosto doce. Francis sentiu sua virilha pulsando de novo e abaixou-se para beijá-la, puxando-a docemente com suavidade, contra sua virilha dolorida.

Eles se beijaram novamente e Francis estremeceu com a intensidade disso. Ele esperava acalmar seu ardor, mas em vez disso parecia estar piorando. Ele afastou-se dela, deixando-a encostada na grade, seus lábios entreabertos em uma atitude suave que o fez querer ainda mais.

— Eu devo ir, — ele murmurou. — Antes... — ele parou.

Antes de fazer algo idiota. Algo que nos arrependeríamos.

— Eu suponho que sim, — ela disse suavemente.

Afastou-se dela, embora cada parte dele quisesse ficar ao lado dela, bebendo de seu aroma e da suavidade dela.

Enquanto ele andava para trás, os olhos fixos nela, ele sentiu alguém entrar. Ele se virou, horrorizado, mas não antes de Claudine gritar alarmada.

— Tio Luke!

Francis viu sua expressão mudar de felicidade para mortificação. Ele se virou para encarar o homem atrás dele, sentindo o coração afundar em suas botas. Por que ele, de todas as pessoas?

— Senhor... — ele começou, sentindo seu próprio rosto quente com o rubor.

— Boa tarde, — disse tio Luke suavemente. — Lorde Francis. É uma surpresa te ver aqui. Você estava praticando?

Francis engoliu em seco.

— Sim, eu estava. Desculpe, senhor — acrescentou ele, embora não fizesse a menor ideia do motivo pelo qual sentia muito. — Eu estava partindo.

— Mmmm, — ele comentou. — Percebi. Andar para trás parece um jeito meio estranho de se locomover.

Francis sentiu-se picado, mas não sabia exatamente por que ou o que dizer. Na superfície, o tio Luke estava apenas brincando, deixando claro o fato de Francis estar aqui. Parecia mais profundo, porém, mais insidioso.

Parece que ele quer me manter longe de Claudine.

— Sobrinha, — ele estava dizendo, dirigindo-se a ela como se Francis não estivesse lá. — Eu estava procurando por você. Você vai participar do jantar hoje à noite? Em homenagem à filha recém-nascida de lady Gertrude?

— Eu... — Claudine gaguejou. Ela olhou para Francis, trabalhando a garganta para responder. Ela parecia quase assustada. — Eu acho que sim, — ela murmurou.

— Boa. Nesse caso, se você pudesse me aconselhar sobre o que seria um presente apropriado para lady Gertrude? Não sou especialista em tais assuntos?

— Claro, tio — gaguejou Claudine. — Eu fiz um casaco para ela, e acho que você poderia dar uma pulseira de prata?

— Uma boa ideia, — ele pensou, mordendo o lábio.

— Acho que ninguém mais que eu conheço está dando de presente uma pulseira, — continuou Claudine.

Francis teve a sensação de que ele não era bem-vindo e saiu silenciosamente.

Bem, isso foi uma surpresa.

Ele estremeceu, tentando abalar a sensação de mal-estar que o preenchia. O que acontecia sobre o tio Luke que o incomodava tanto? O homem era perfeitamente decente, mas ele parecia perigoso de alguma forma. Ele suspirou.

Eu preciso de companhia.

Olhando para o relógio de sol abaixo, ele supôs que fosse por volta das cinco da tarde. Ele se dirigiu para dentro para encontrar alguém para conversar.

Ele olhou para a porta de um dos dois solares — este estava em uso pelos cavaleiros e lordes, o outro pelo rei e sua família. Parecia vazio e ele se afastou.

— Francis! — Uma voz familiar gritou.

— Gaspard, — Francis assentiu. O homem estava sentado em uma parte mais escura do salão e Francis mal podia vê-lo lá.

— Venha se juntar a mim, — ele apontou para as mesas e bancos. — Eu estou precisando de uma boa companhia.

— Eu também, Gaspard — suspirou Francis. Ele passou a mão pelo cabelo, ainda úmido com o suor de antes e desmoronou em um banco, cansado e confuso.

— Dia longo? — perguntou Gaspard. Ele alcançou o centro da mesa e se serviu de mais cerveja. Ele levantou uma sobrancelha para Francis, que encolheu os ombros e assentiu, segurando um copo de estanho para a bebida. Gaspard serviu-o.

— Obrigado, — disse Francis. — Foi um longo dia. — Ele tomou um gole grande da cerveja e se inclinou para trás, sentindo-se cansado.

— O que aconteceu? — Gaspard perguntou. — Além de me ganhar, que é isso? — Acrescentou. Seus olhos castanhos enrugaram-se com um sorriso longo e desossado, amigável na luz bruxuleante da fogueira na lareira. Deste lado do castelo, a luz do sol já começara a recuar, e as lareiras eram acesas contra o frescor da noite que se aproximava.

— É difícil dizer, — Francis explicou.

Gaspard deu uma risadinha.

— Como pode ser isso? — Ele perguntou brincando. — Ou aconteceu ou não aconteceu. Não pode ter as duas coisas.

— É... o que você diria se alguém com quem você se importasse parecesse estar sendo... influenciado? — Ele perguntou. A cerveja estava fazendo efeito em sua cabeça e ele sentiu como se o espaço tivesse se estreitado, deixando somente ele e Gaspard com suas preocupações.

— Influenciado? —Gaspard recostou-se na cadeira, franzindo a testa. — Como manipulado?

Francis franziu a testa.

— Sim, — disse ele. — Eu suponho que sim.

— Bem, — suspirou Gaspard. — Eu diria a eles o que penso. Faça-os ver isso ou, pelo menos, torná-los conscientes disso. Não vejo como ser outra forma. Por quê?

— E se você acha que essa pessoa não acreditaria?

— Você quer dizer, se seu amigo tem um outro amigo, e esse amigo está influenciando seu amigo?

Francis riu.

— Parece complexo, mas sim. Exatamente isso.

Gaspard franziu os lábios. Alguns anos mais velho que Francis, ele tinha um rosto bonito, com sobrancelhas escuras, nariz comprido e lábios carnudos. Ele era taciturno e quieto, e isso fazia as pessoas relutarem em se aproximar dele. Francis sempre gostou dele. Eles se conheceram quando Francis tinha dezoito anos e o duque visitara Annecy para caçar nas reuniões de clãs. Gaspard e Francis estiveram nas bordas, ambos observando o resto e era essa percepção atenta que ele valorizava mais. Foi o que o fez falar com ele agora.

— Bem, — Gaspard disse finalmente. — Eu acho que, nesse caso, uma abordagem gentil funcionaria. Espere até que o outro amigo tenha feito algo óbvio. Então gentilmente diga ao seu amigo. Ele, certamente, verá isso? — Ele perguntou.

Francis franziu a testa.

— Eu não sei se ela ficará satisfeita comigo por contar-lhe.

— Ah. — Gaspard franziu a testa novamente. — Ela é uma amiga?

— Mmmm, — Francis drenou seu copo, sentindo-se um pouco impaciente. — O que isso importa?

Por que faria alguma diferença? As circunstâncias são as mesmas.

Gaspard encolheu os ombros.

— Não, realmente. Apenas curiosidade e meu conselho ainda está de pé, apenas aponte para ela gentilmente. Ela vai ver isso eventualmente.

— Espero que sim, — disse Francis.

Eles ficaram quietos por um tempo e ele se viu pensando nas vezes que tinha visto lady Claudine com o tio dela. As mesmas vezes que ele a viu no total, ou quase. Isso por si só era preocupante.

Por que ele estava sempre lá? Por que Claudine não saia para o exterior com sua criada com mais frequência? Ele estava tentando assustar seus pretendentes? Oh, sai disso, Francis, por que ele iria? Ele iria querer que ela se casasse.

— O que há de errado? — Gaspard perguntou.

— Nada, — disse Francis. — Só tentando descobrir por que ele... seu amigo... está sempre por perto. E por que ele insiste em fazer minha lady se sentir inadequada?

Essa era a pior coisa de seu tio: ele parecia sempre enfatizar as inadequações de Claudine. Por que ele enfatizava sua deficiência? Não era tão restritivo quanto ele fazia parecer. E mesmo se fosse, certamente não era um motivo para ele fazer Claudine se sentir inútil!

— Sua amiga se sente inadequada, talvez?

— Eu não penso assim, não, — Francis observou. Isso parecia improvável. Por que então? Ele estava certo de que seu tio realmente não acreditava nas coisas que lhe falava.

Não é mais condenatório do que ter cabelos ruivos. Apenas algo que a faz diferente para todos os outros.

— Você fez um bom golpe nessa tarde — disse Gaspard, languidamente, interrompendo os pensamentos de Francis.

— Hummh? Oh. Obrigado, — ele disse.

Gaspard deu uma risadinha.

— Você está a milhas de distância, amigo. Essa garota está em sua mente, claramente.

Francis fez uma careta.

— Você percebeu.

— Francis, nunca te vi assim, — disse Gaspard. — Mais cerveja?

Francis balançou a cabeça em silêncio. A cerveja que ele bebeu já estava fazendo sua cabeça nadar. Ele não estava pronto para descobrir o que mais queria. E precisava uma cabeça clara.

— Bem então. Vou beber mais um pouco. — Gaspard serviu-se de outro copo e olhou para ele, os olhos turvos. — Agora, o que há sobre essa lady que o oprime tanto assim, hein? Beleza?

Francis sorriu apesar de seu melhor esforço para não fazê-lo.

— Sim, — disse ele. — Bem, não apenas isso. Claro. É tudo sobre ela, Gaspard. Seu rosto e corpo são... indescritivelmente adoráveis. Mas não é só isso. É o sorriso dela... sua doçura. Ela é apenas a pessoa mais encantadora.

Gaspard riu.

— Minha nossa. Você está pior do que eu por lady Eugenia.

Francis olhou para ele.

— Lady Eugenia?

Gaspard assentiu.

— A filha do conde da Bretanha. Você a viu?

— Não, — disse Francis.

Gaspard suspirou melancolicamente.

— Bem, eu recomendo. Ou não. Não quero que todos estejam tão apaixonados quanto eu.

Francis riu.

— Eu não estou apaixonado por Eugenia, — disse ele. — Embora eu já esteja sofrendo dessa doença.

— Eu notei, — Gaspard disse suavemente. — Felicidades.

Eles tilintaram suas canecas juntos solenemente. Depois de um tempo, Gaspard levantou os olhos, franzindo a testa.

— Até que ponto você está a cortejando?

Francis soltou um longo suspiro.

— Nós praticamente acabamos de nos conhecer, — explicou ele.

— Você já beijou?

Francis ficou vermelho, mas não disse nada.

Gaspard deu uma risadinha.

— Acho que é um sim, — disse ele.

Francis suspirou.

— Sim. É... Gaspard, eu a quero mais do que já quis alguma vez antes. É... é uma loucura para mim. — Até mesmo falar sobre isso fez sua virilha doerem.

— Mas? — Gaspard perguntou. — Qual é o problema, hein? Sua família?

— Não, — Francis disse, surpreso que ele sugerisse tal coisa. — Minha família ainda não sabe e, de qualquer forma, mesmo que soubessem, eles a aprovariam. É... bem, muitas coisas. O tio dela, a família dela... — ele parou, ofegando pelas bochechas em um longo suspiro.

Gaspard riu.

— Parece que você está em uma situação complicada, amigo.

— Hum rum, — Francis concordou dolorosamente.

— Bem — Gaspard limpou a boca com as costas da mão, jogando a caneca na mesa. — Quando estou em uma situação complicada, o que costumo fazer é trabalhar um pequeno pedaço de cada vez. O que você pode fazer primeiro?

Francis franziu a testa.

— Eu... eu acho que preciso saber se estou certo. Sobre o amigo dela, quero dizer.

— Alguém que a faz desconfiar de você?

— Não exatamente, — disse Francis. — É mais como... a pessoa que a deixa tão assustada que não quer falar comigo, ou acha que eu estaria interessado.

Gaspard levantou uma sobrancelha.

— Isso é um grande amigo manipulador. Por que ele iria agir assim?

— Eu não sei. É por isso que não sei o que fazer. Eu nem sei se estou certo, — disse ele.

— Se você pensa assim, não seria sem razão.

Francis soltou um longo suspiro.

— Obrigado, — disse ele. Isso foi bom. Pelo menos ele não estava sendo tolo.

— Bem, então — disse Gaspard, estendendo a mão para esticar os braços musculosos. — Talvez você possa me ensinar aquele balanço maligno de luta amanhã. E vou ver se consigo falar com a Eugenia, se alguém conhece os acontecimentos sociais por aqui, é ela. Descubra mais sobre essa sua lady e seu amigo.

Francis suspirou.

— Obrigado, Gaspard. Isso ajudaria.

— Bem, eu certamente vou tentar, — Gaspard se ofereceu. — Embora pudesse ajudar se eu soubesse quem é a lady?

Francis mordeu o lábio. Ele não queria comprometer Claudine contando a ninguém sobre sua atração. No entanto, ele podia confiar em Gaspard. Ele o conhecia desde a adolescência.

— É lady Claudine, — ele disse suavemente.

— Claudine Poitiers?

— Sim, — Francis disse, surpreso, ele soube imediatamente quem ela era. Talvez ela fosse a única Claudine, embora isso parecesse improvável. — Por quê?

— Nenhuma razão, — disse Gaspard suavemente. — Ela é uma grande beleza.

— Sim, — disse Francis, deixando escapar um suspiro. Ele percebeu que estava meio preocupado que Gaspard comentasse sobre sua deficiência. Ele teria ficado furioso se o tivesse! — Ela é.

— Bem, então, — disse Gaspard, levantando-se cansado. — Eu suponho que devo ir me lavar e encontrar meu caminho para o jantar. Há um grande evento hoje à noite. Comemora-se a nomeação de um recém-nascido. Você está convidado?

— Eu não estou familiarizado com lady Gertrude ou sua família, — Francis disse rapidamente.

— Bem, então, você é um cara sortudo. Você pode sentar aqui e beber cerveja e relaxar enquanto eu sento lá, bebo vinho bem aguado e sou educado.

Francis deu uma risada.

— Se você diz.

— Eu digo. Boa noite.

— Boa noite, Gaspard. E obrigado pela sua ajuda. Aproveite o banquete.

— Eu farei o meu melhor. Com ajuda, isso é. O banquete cuidará de si mesmo.

Francis riu e viu quando a forma sólida e grande de Gaspard se dirigiu lentamente para o escuro noturno que se aproximava.

Quando ele ficou sozinho, se inclinou para trás, cansado. Por que ele não conseguia afastar o pensamento de que Claudine estava em perigo? Não era o maladi que o preocupou. Era um perigo mais humano.

O tio dela.

Francis, você está sendo bobo. Ele é o tio dela. Ele não gosta muito de você e é por isso que é tão ameaçador. Ele não machucaria sua sobrinha. Por que faria, ora?

— Pare de ser bobo, Francis, — ele disse baixinho, em seguida, fechou os olhos, drenou o copo e ficou lentamente de pé. Talvez Gaspard pudesse descobrir para ele amanhã. Até então, ele poderia também encontrar o jantar e dormir um pouco. Amanhã ele precisaria estar pronto. Ele estaria ensinando a Gaspard algo novo.


CAPÍTULO NOVE

UM MOMENTO DE PREOCUPAÇÃO


— Bernadette? — Claudine disse suavemente. Era pela tarde e ela estava dormindo, tirando um o cochilo. Ela se sentia acordada e inquieta agora. Ela esperava que Bernadette ainda não estivesse dormindo. Ela queria sair.

— Milady? — O rosto em forma de coração de serva apareceu em volta da tela. — Você está bem?

— Eu estou bem, Bernadette, — disse Claudine, sufocando um bocejo delicado com dedos macios. — Eu me sinto inquieta. Podemos sair para o terraço um pouco? Eu gostaria de sentir o sol.

— Claro, milady. Devo pentear o seu cabelo? — Ela já estava andando até a penteadeira, pegando o pente prateado.

— Sim, por favor, Bernadette — disse Claudine, estendendo a mão para a trança solta que pendia de seu rosto, arrumada para que pudesse dormir sem enredá-la. — Apenas algo simples. Meu pescoço está muito dolorido para um penteado longo e complexo.

— Claro, milady.

Bernadette trabalhou rapidamente. Claudine observou-a distraidamente, refletida no espelho enquanto pensava.

Eu sei que só vou lá para ver Francis.

Observá-lo no campo de prática era algo que ela se encontrava ansiosa. Só de pensar nisso enviou um pequeno frisson de prazer através dela. Ele era tão lindo! Com aqueles grandes ombros largos e o rosto suado pelo esforço, seus movimentos graciosos. Ela podia vigiá-lo o dia todo. Ela se lembrou de tê-lo visto ontem e de como ele havia lutado tão bem com Gaspard, que era mais velho e mais alto.

— Minha lady ficará fora por muito tempo? — Bernadette perguntou de maneira neutra.

— Não muito tempo, assim penso Bernadette, — disse Claudine respeitosamente. Ela olhou para as mãos, para esconder a mentira branca. Ela pretendia ficar lá enquanto Francis estivesse praticando.

— Bem, mesmo assim, acho que você deveria levar uma capa. Você vai sentir frio quando o vento da noite que se aproxima começar a soprar de novo.

— Sim — Claudine murmurou, observando distraidamente enquanto Bernadette vasculhava o baú de roupas, encontrando uma capa de renda para ela.

— Agora, pelo que entendo que estamos indo para o pátio ocidental?

Claudine corou. Ela lançou um olhar para Bernadette, mas seu rosto estava tranquilo, sem demonstrar nada.

— Sim, — ela disse levemente. — Por quê?

— Nenhuma razão, — disse Bernadette suavemente. — Só querendo saber se precisaríamos de um guarda-sol de algum tipo.

Claudine olhou pela janela estreita, vendo um pátio encharcado de sol.

— Talvez, — ela concordou.

— Bem, então, — disse Bernadette, envolvendo um véu em torno de seu próprio cabelo para protegê-lo e seus olhos do sol. — Aqui está, pronta milady? O chapéu azul com o véu branco?

Claudine assentiu e Bernadette gentilmente pousou o chapéu sobre seu cabelo. Era mais como um bastidor para um véu, que flutuava sobre ele quase como as asas de uma grande borboleta, emoldurando o rosto. Ela olhou no espelho apreensivamente. Mostrava-lhe um rosto doce com grandes olhos azuis, a cor aumentada pelo lenço azul-claro.

— Eu suponho que pareço razoavelmente bem, — ela perguntou.

Bernadette riu.

— Verdadeiramente, milady! Você parece muito bem. Muito bonita de fato.

— Oh, Bernadette, — disse Claudine, olhando timidamente para as mãos. — Você é muito gentil.

— Não, eu não sou, — disse Bernadette sucintamente. — Outros que são críticos demais.

— Outros? — Claudine franziu a testa. — Quem, Bernadette? — Ela não podia querer dizer que era tio? Embora ele fosse a única pessoa com quem Claudine passava muito tempo além de sua acompanhante.

— Oh, não se importe com as minhas divagações, — disse Bernadette com carinho. — Vamos. Vamos para o terraço. Há pelo menos uma hora ou duas de sol naquele lado do castelo.

Claudine queria perguntar mais, mas sentiu que Bernadette estava relutante. Ela seguiu em silêncio.

O som de espadas batendo em espadas atingiu seu coração antes mesmo de chegar ao terraço. Sua respiração ficou presa na garganta de excitação. Andou o mais rápido que pôde até o terraço e sentou-se no banco à sombra. Seus olhos foram para as duas figuras no pátio imediatamente.

Um era alto e de ombros largos, o outro ainda mais alto, mas com uma rapidez mais forte sobre o corpo, que fazia seus movimentos fluidos como os de uma cobra.

Gaspard e Francis.

Apesar de si mesma, Claudine ouviu-se dar um pequeno suspiro ao ver Francis — alto e musculoso — fazer um movimento com uma graça tão fácil que fez seu coração disparar.

Ele é tão bonito.

Ela sabia que era uma descrição curiosa para um homem, mas era o que vinha à mente. Com aquele cabelo avermelhado e aqueles ombros largos, cintura estreita e coxas firmes, ele era uma bela figura, uma pessoa com a graça ágil de um magnífico cão de caça. Ele era uma força da natureza e, como tal, ele era lindo.

Ela podia ouvi-los conversando um com o outro, gritando sobre o som dos golpes. Instintivamente, ela se levantou e caminhou até o parapeito, apoiando-se na pedra, absorta na luta abaixo, enquanto observava o que eles estavam fazendo.

— Agora, você está se esquivando de novo.

— Cala a boca, Francis. Você está tentando me desencorajar. Eu conheço você...

— Haha!

O barulho das lâminas formou um contraponto para as conversas. Claudine sentiu-se sorrir enquanto ouvia o intercâmbio alegre e irônico deles.

— Eu poderia fazer melhor do que isso quando tinha dez anos.

— Quando eu tinha dez anos, tinha superado movimentos como esse..!

— Bem, se você tivesse, então poderia ter sido capaz de bloquear isso...

Francis deu um golpe lateral que fez os olhos de Claudine se arregalarem. Simples, mas incrivelmente eficaz, não havia como Gaspard conseguir bloqueá-lo se ele não tivesse adivinhado antes que ocorresse.

— Haha! — Ele disse, dando um grunhido triunfante.

— Bem feito.

— Demostre.

Claudine se apoiou na parede, apreciando a cena. A luz do sol estava sonolenta e as brincadeiras animadas. O homem, Francis, tinha uma habilidade excepcional. Ele conhecia seus impulsos e cortes e poderia usá-los de forma eficaz. Por muitas horas passara assistindo a esses torneios nas ameias de sua casa e aqui, Claudine sabia mais que muitos.

Eu conheço alguém excepcionalmente talentoso quando o vejo.

Ela se inclinou mais, seguindo a luta. A pedra da parede estava quente sob seus braços cruzados e ela podia sentir o cheiro doce de musgo, secando no calor da tarde.

— Sobrinha?

Claudine deu um pulo. Droga! Por que ele estava aqui? Ela colocou a mão em seu peito, seu coração de repente batendo de uma forma que a fez se sentir desorientada.

— Tio!

Por que isso me faz sentir medo? Por que eu acho que o tio desaprova Francis?

— Sobrinha. Eu estava procurando por você. Eu queria convidá-la para se juntar a mim para um refresco. A duquesa de Remy convidou-nos para partilhar cordialmente na torre superior.

— Oh. — Claudine franziu a testa. — Agora, tio?

— Em cerca de uma hora, — seu tio falou. — Mas achei que você gostaria de se preparar. Leva um tempo, e eu sei que você gosta de ser avisada de um compromisso com antecedência.

— Sim, tio. — Claudine disse baixinho. — Eu suponho que é melhor.

— Eu acho que Claudine e eu podemos estar prontas em meia hora, — Bernadette falou.

Claudine e o tio olharam para ela. O coração de Claudine bateu. Bernadette! Ela deveria ter cuidado. Uma serva não deveria falar assim com um conde, mesmo se ela fosse filha de um cavaleiro.

— Eu acho que sua serva está mais cansada do que você, Claudine, e seu cansaço a faz esquecer seu lugar.

Claudine sentiu suas bochechas se agitarem, embora fosse tanto com raiva de Bernadette quanto vergonha por ter que envergonhar seu tio.

— Bernadette está cansada por ter que cuidar de mim, — ela murmurou. — Eu suponho que eu sou um fardo.

O tom de seu tio imediatamente se suavizou.

— Por Deus não, doce sobrinha. Você não é um fardo para mim. Nem para aqueles que se preocupam com você, como poderia ser? — Ele veio para o lado dela. — E eu me importo. Entre e descanse. Você deve estar cansada.

Claudine viu o tio Luke olhar para Bernadette e ela o seguiu com os olhos baixos. Nenhum ponto daria para fazê-lo irritado com ela, se ele se irritasse, poderia optar por mandar embora sua acompanhante.

— Suponho que seja cansativo este calor — murmurou Claudine. Em seu coração, ela sentiu vontade de chorar. Era pedir muito, só para observar Francis praticar no pátio? Querer ficar do lado de fora no terraço e aproveitar o sol como as outras garotas?

— É cansativo. E você precisa de toda a sua energia para a festa. Seria triste decepcionar lady Irmgarde.

— Sim, seria, — disse Claudine em voz baixa. — Mas tenho certeza de que poderia estar pronta a tempo. As outras moças ainda estão nos jardins — acrescentou ela, indignada, enquanto caminhavam pelo terraço. Com certeza, ela podia ouvir lady Mirella e suas amigas rindo enquanto brincavam de baile no pátio abaixo.

— Elas então, — seu tio disse suavemente. — Mas você é diferente, Claudine. Muito delicada.

Claudine sentiu o coração se encher de vergonha. Por que ela tinha que ser tão frágil? Tão doente o tempo todo? Não era justo.

— Eu odeio isso, — disse ela com tristeza.

O tio Luke sacudiu a cabeça. Seus olhos claros estavam subitamente cheios de cuidado e ele parecia mais gentil e amigável. O tio Luke em quem ela confiara.

— Eu sei, sobrinha. No entanto, não devemos protestar contra isso. Não há nada a ganhar lutando contra o inevitável. É tolice protestar contra o que não pode ser mudado.

Claudine assentiu.

— Eu suponho que não.

— Isso é mais parecido com você, — seu tio sorriu. — Minha querida sobrinha estoica.

Claudine conseguiu sorrir para ele, embora em algum lugar em seu coração ainda sentisse vontade de chorar. Quando ela o seguiu para dentro, pareceu-lhe que suas pernas ficaram ainda mais pesadas, seu corpo ainda mais drenado e dolorido.

— Eu preciso parar um momento, — ela murmurou, se encostado na parede. Seu tio assentiu.

— Claro, querida filha. Leve o tempo que precisar.

Claudine assentiu em silêncio e descansou, depois se levantou devagar.

— Estou me sentindo um pouco melhor, — disse ela.

— Boa. Agora você vai e se veste. É melhor eu me vestir também. O céu proíbe que eles me vejam na mesma túnica e calças que ontem.

Claudine sorriu fracamente e seguiu o corredor sinuoso de volta ao seu quarto de dormir. Lá, ela fechou a porta atrás de si e desabou na cama, querendo soluçar, mas cansada demais para isso.

Ela ouviu alguém entrar atrás dela e viu uma sombra escura parada diante da janela. Bernadette.

— Eu não sei o que acontece com ele, — disse Bernadette com firmeza. Sua voz estava contida, mas Claudine podia ver a raiva, apertada em cada linha de seu corpo. — Dizendo essas coisas assim... — ela parou.

— Bernadette, me desculpe, — disse Claudine em voz baixa. — Eu sei que o tio é... pomposo às vezes... — ela parou quando Bernadette deu uma risada desesperada.

— Não é por isso que estou zangado milady — disse ela suavemente. — São as coisas que ele diz para você, as coisas sobre ser lenta, pesada e... — ela suspirou. — Eu não sei porque ele faz isso.

— O tio se importa comigo, — disse Claudine gentilmente. — Ele quer que eu cuide bem de mim mesma. Aceite as coisas como elas são, não como eu quero que elas sejam.

Ela deve ter se enganado, mas pensou que Bernadette riu.

— Isso é o que ele diz, — disse ela. — Eu não sei, no entanto.

Claudine franziu a testa.

— Claro que o tio se importa comigo, Bernadette. Ele cuida de mim desde que tenho dezenove anos. Desde que meu pai perdeu o interesse por mim.

Ela se forçou a dizer isto, entretanto as palavras rangeram em sua garganta e a fizeram querer chorar novamente. Seu pai não iria querer uma garota aleijada em sua casa. Por que ele iria querer?

— Interesse perdido! Oh, minha lady — Bernadette suspirou, sentando-se em frente a ela. — Por que você diz essas coisas? Venha, vamos nos preparar para essa festa já que ele é tão insistente com sua bela presença.

— Bela? Oh, Bernadette — disse Claudine rindo embora se sentisse triste. — Você é gentil.

— Não, eu sou sincera, — disse Bernadette. — Como todo mundo deveria ser, — ela acrescentou mal humorada quando chegou no baú de roupas. — O azul?

— O vestido azul com acabamento branco? Sim, por favor, Bernadette.

— Oh, é amável. Você vai ficar bela nele — disse Bernadette, sacudindo as dobras de um longo vestido de veludo azul-claro, suavemente brilhando contra sua guarnição de seda branca.

Claudine sorriu.

— Você é doce, — ela disse novamente.

Bernadette soprou quando Claudine se levantou para deixá-la soltar os botões.

— Você também, — ela disse.

Claudine sorriu tristemente para a amiga. Ela teve a sorte de ter Bernadette — firme, honesta e confiável Bernadette — em sua vida. No entanto, ela desejava poder pelo menos se permitir esperar que Francis demonstrasse realmente seu interesse. Não a deferência, não a paciência, mas um verdadeiro gosto por quem ela era.


CAPÍTULO DEZ

UM PLANO SOB DISCUSSÃO


— Era ela, sim?

Francis piscou quando Gaspard fez a pergunta, interrompendo seus pensamentos. Era tarde e eles estavam sentados no salão, o fogo quase encoberto por brasas vermelhas na lareira atrás deles.

— No campo de treino? Sim. Era Claudine.

— Pensei que sim. — Gaspard se esticou languidamente, os braços longos se estendendo à sua frente através da larga mesa de madeira. — Ela é uma beleza.

— Sim. — Francis assentiu. Ele franziu a testa, sentindo-se inquieto. Sim, ele sabia que Claudine era linda. Ele não precisava de Gaspard para lhe dizer isso. Ele precisava que lhe contasse o que descobrira.

— Ela saiu logo antes de realmente nos aquecermos, — Gaspard riu. — Tão cedo ou ela teria me visto ter derrotado você.

Francis riu.

— Eu prefiro o que ela fez e nos ter deixado de repente, — observou ele. — Se ficasse mais um pouco, ela teria visto o meu melhor contra-ataque.

— Hhaa, — Gaspard riu. Ele recostou-se e virou-se para Francis. — E o pai dela?

— Não. O tio dela. Tio Luke. — Francis forneceu.

— Luke. Conde de Blanchard?

— Mmm. — Francis assentiu. — Por quê?

— Bem, eu fiz algumas perguntas, — Gaspard disse casualmente. — Interessado? É apenas minha tentativa frustrada de coletar informações...

— Pare com isso, Gaspard, — seu amigo riu. — Apenas me diga.

— Muito bem. Acontece que sua amiga a lady é extremamente nobre. Uma parenta do rei pelo lado de sua mãe.

— Maravilhoso, — Francis disse com firmeza. — Se você quisesse me fazer perceber o quanto minha perseguição é inútil, acabou de conseguir por completo.

Gaspard deu uma risadinha.

— Eu não mencionarei sua nobreza por nascimento. Mas ela tem algumas... complicações interessantes.

— Ela está doente, sim, — Francis estalou. Como ele ousa dizer algo errado de lady Claudine? Ela era a pessoa mais notável.

— Ufa! — Gaspard suspirou, balançando a cabeça. — Muito bem. Sim, ela está doente. Seu tio tem sido seu guardião desde os dezenove anos. Ele parece muito protetor com ela.

— Ele não é apenas protetor.

Gaspard riu novamente.

— Ele não gosta muito de você, sim? Francis?

— Ele não gosta de ninguém, — Francis meditou.

Gaspard suspirou.

— Eu não sei. Ele parece um tipo muito afável. Minha querida lady falou muito bem dele. Ela disse que ele... como ela disse... era muito gentil. É isso aí. Muito gentil.

— Tenho certeza de que ele é, — Francis disse desanimado. — Mas ele me odeia. Ele não gosta quando eu falo com Claudine. E isso é parte do problema.

Gaspard franziu a testa.

— Bem? O meu conselho para você, se você quiser e não tenho certeza se vai ser útil.

— Pare com isso, Gaspard, — Francis disse timidamente. — Apenas me diga. Eu quero escutar.

— Bom, — Gaspard riu. — Bem, meu conselho para você é, pergunte à sua serva.

— A serva? A mulher morena que sempre a atende?

— Sim. Aquela que vimos hoje. Ela parece um tipo amigável. Afável. Claudine gosta dela. Pode-se ver.

— Como você sabe?

— Bem, elas estavam conversando quando saíram para o terraço. E Claudine é calma com ela. Quando o tio dela está perto, você notou o quanto ela fica rígida?

— Eu notei, — Francis balançou a cabeça lentamente. Ele não tinha realmente pensado sobre isso.

— Bem, exatamente, — disse Gaspard. — Assim, traga a serva para sua confiança e para o seu lado... ela vai te ajudar, você vai ver.

Francis franziu a testa.

— Pode funcionar.

Gaspard deu uma risadinha.

— Bem! Isso é o melhor que ouvi de você no que diz respeito ao elogio por meu conselho. Significa que estou falando com bom senso.

Francis sorriu para ele e eles compartilharam uma risada. Quando terminaram, ele se inclinou para trás, olhando para a distante abóbada de pedra do telhado. Ele suspirou.

— Estou feliz por tê-lo aqui, Gaspard, — disse ele.

— Fico feliz em tê-lo para conversar do que falar comigo mesmo. E de que outra forma eu não vou enlouquecer de tédio? Você é diferente, Francis. Nunca subestime o que é um verdadeiro presente.

Francis piscou, franzindo a testa.

— Obrigado, Gaspard, — disse ele. — Eu acho que entendo.

Gaspard riu.

Mais tarde, Francis ouviu as sentinelas na muralha trocando de turno, pelo horário.

Deve ser oito horas da noite.

Ele se levantou e se espreguiçou.

— Eu devo ir e encontrar a serva de milady. Enquanto ainda tenho os nervos descarado para fazer isso. O que não vai demorar muito...

Gaspard assentiu.

— Eu vou deixá-lo para isso. Eu vou jantar. É mais tarde do que pensei.

— Te vejo amanhã.

— De fato.

Francis correu pelo salão até as escadas. Enquanto seguia, tentou planejar o que fazer em seguida. Ele não podia muito bem entrar no quarto da lady e exigir falar com a criada, poderia? Além disso, como saberia se ela estava lá agora?

Eu só vou bater uma vez. Se ninguém responder, vou embora. Pense em outra coisa.

Ele caminhou até a ala oeste, sentindo-se extremamente desajeitado.

— Eu nem sei onde ela está. — Qual quarto era o dela, afinal? Não era tivessem nomes neles! Ele se sentiu um completo idiota. Ele estava prestes a desistir quando uma serva passou na escuridão azul-cinza.

— Moça? — Francis chamou.

Ela virou-se e olhou para ele. De olhos arregalados e rosto suave, ela não poderia ter mais de dezessete anos.

— Oh meu lorde. Você me assustou!

— Desculpe, — Francis engoliu em seco. — Eu sei que não deveria estar aqui, mas... Estou procurando a serva de lady Claudine, filha do duque de Pavot? Você sabe onde é seu quarto?

— Siga-me, — disse a mulher. Ela o levou de volta pelo corredor e para uma porta à sua esquerda. — Aqui.

Francis agradeceu e ela foi embora.

Ele ficou na frente da porta. Se sentia peculiar. Ele nunca se sentiu ameaçado por uma peça de mobília, mas aquela porta — escura, impermeável — fez com que se sentisse ameaçado.

Ele levantou a mão e bateu.

Nada.

Ele sentiu, se alguma forma, desapontado. Depois de toda a coragem necessária para vir aqui, bater à porta... e não ter resposta era verdadeiramente nivelador.

Ele suspirou e se virou. O que ele esperava?

Só então, a porta se abriu e um rosto apareceu. Obscurecido na sombra, tudo o que ele podia ver eram os olhos da mulher. Suave e luminosos na meia luz do corredor, ela olhava para ele gentilmente.

— Sim?

— Uh... desculpe-me, — disse Francis, sentindo-se estúpido. — Você é a serva de lady Claudine?

— Sim, — disse a mulher. Ele podia vê-la franzindo a testa. — Posso ajudar?

Francis podia sentir o cheiro de rosas e lavanda flutuando do quarto da lady e seus sentidos pegando fogo. Ele respirou profundamente e se recompôs.

— Eu queria falar com você.

Ela ergueu as sobrancelhas.

— Comigo, senhor? — Seus olhos se arregalaram, mas a expressão era mais de surpresa do que medo. — Você sabe de quem é essa câmara, sim?

Francis riu, surpreso por sua ousadia.

— Sim eu sei. De lady Claudine. — Apenas em dizer o nome dela o fez estremecer. Ele franziu a testa e tentou não parecer como se estivesse sonhando com lady Claudine. Pensou que a serva notou de qualquer maneira, porque sua expressão mudou de impermeável para interessada.

— Sim. Você queria entregar uma mensagem para ela? — Ela perguntou gentilmente.

Francis sacudiu a cabeça.

— Eu estava... Senhorita, posso confiar em você?

Os olhos da serva se arregalaram.

— Depende, — disse ela cautelosamente.

Francis sentiu seu coração bater, vendo-a suspeitar dele novamente.

— O negócio é que eu preciso ver sua ama. Para falar com ela. Vou embora depois de amanhã e tenho que contar a ela... — ele fez uma pausa, engolindo em seco. — Eu tenho que dizer-lhe o que sinto por ela.

O rosto da mulher limpou. Sua sobrancelha se levantou com surpresa.

— Bem, então. Eu... isso é irregular, espero que você esteja ciente, mas para isso... eu posso fazer concessões.

Francis sentiu vontade de cantar. Ela ia ajudá-los!

— Obrigado, — ele respirou.

A criada deu-lhe um olhar severo e depois sorriu.

— Agora, senhor, — disse ela. — Você está prestes a me pedir para substituir meus deveres básicos como acompanhante. Mas eu vou fazer isso e só desta vez. Se você me encontrar aqui às seis horas amanhã — ela sussurrou — eu deixarei você entrar.

— Aqui? — Francis engoliu em seco. Ele ia encontrar Claudine em seu quarto de dormir. Com aquele doce aroma de rosas ao redor deles?

A serva lançou-lhe um olhar.

— Eu estarei aqui, milorde. Nunca tema, — ela adicionou severamente.

Francis teve que rir.

— Tenho certeza de que você é uma verdadeira tigresa protetora de sua lady.

Ele ficou surpreso ao ver o rosto da serva amolecer.

— Eu me importo com ela como se fosse minha irmã, — disse ela em voz baixa. — E ai da desgraça de quem a machucar.

Francis assentiu. Sua voz foi tão dura quanto aço e ele sabia que ela seria um adversário formidável na cruzada.

— Sim, senhorita.

Ela sorriu para ele, surpreendendo-o.

— Você não fará isso, — disse ela.

Francis franziu a testa. Ele não tinha certeza do que ela quis dizer com isso. No entanto, soou como um elogio, então se curvou.

— Obrigado, senhorita. E... Obrigado ainda mais pelo risco que você corre para nós. — Se ela fosse descoberta deixando um homem entrar nos aposentos de sua ama, ela certamente perderia sua posição na casa.

Ela soprou.

— Eu arriscaria mais por ela. E o risco é para todos os três. Eu rezo para não ser um tolo. Agora vá, antes que alguém te veja.

Francis assentiu.

— Obrigado, senhorita, — ele disse novamente.

Ele andou pelo corredor rapidamente, com certeza ouviu uma risada zombeteira da serva enquanto fazia uma retirada apressada.

Ele não estava pensando sobre isso, no entanto. Ele estava pensando no amanhã. Sobre ver lady Claudine — estar sozinha com ela. Ter tempo para conversar sem tios, ou convidados ou Gaspard ou... alguém... para contê-los. Qualquer um, exceto a serva. Quem estava do lado deles?

Ele não poderia ter imaginado tal felicidade se tentasse.


CAPÍTULO ONZE

TOMANDO DOCES RISCOS


Na manhã seguinte, Francis estava impaciente e nervoso. Ele não conseguia acreditar que concordou em fazer isso. Como ele pode!

Se ele fosse flagrado visitando Claudine em seus aposentos, bem... desgraça seria o mínimo que aconteceria com ele. Não só para ele. Não suportava pensar no que aconteceria com ela. Sua reputação seria arruinada, suas perspectivas acabadas.

— Eu devo estar louco.

— O que é isso?

Gaspard falou atrás dele, fazendo-o pular.

Francis colocou a mão no peito, sentindo o coração bater.

— Oh! Gaspard. Você... — ele balançou a cabeça, ficando sem explicações adequadas. — Você me assustou.

Gaspard deu uma risadinha.

— Eu sinto muito. Você deve estar nervoso. Dormiu mal?

Francis deu-lhe um olhar duro.

— O que você acha? — Se sentia cansado, horrível e tinha certeza de que ele também estava.

— Eu acho que você esteve acordado e se voltando para a perspectiva de ganhar uma certa lady. Especialmente sobre no que fará agora que vai para casa amanhã.

Francis sentiu a mandíbula se apertar com impaciência. Amaldiçoo o homem por adivinhar com tanta precisão! Ouvir isso em voz alta não fazia parecer menos tolo.

— Sim. Está certo. Continue. Diga-me que eu sou um tolo, por que não diz de uma vez? — Ele suspirou, sentindo-se amargo. Todos os elogios de Gaspard sobre o quão bem criada e educada lady Claudine era, também não ajudaram muito.

Gaspard entrou na frente dele.

— Você não é um tolo. — Seus olhos castanhos estavam nivelados e sérios. — Por que diabos você pensaria isso?

Francis suspirou.

— É apenas... é impossível, não é? Por que uma garota como ela quereria um estrangeiro sardento como eu?

Esse era o dilema do seu coração.

Gaspard olhou para ele. Então ele riu.

— Você está brincando, com certeza.

Francis queria bater nele de repente. Ele cerrou os punhos e a mandíbula.

— Não, Gaspard. Por quê?

— Porque você deve ser um tolo, se pensa assim. Você tem tudo! Bom parecer, inteligência, habilidades... pelo amor de Deus, Francis. Por que você acha que as duquesas e condessas mais velhas querem que você conheça suas filhas, sobrinhas e protegidas? Porque você tem sardas? Acorde homem!

Francis olhou para ele. Ele não poderia ter ficado mais chocado naquele momento se Gaspard realmente o tivesse atingido.

— Você quer dizer..?

Gaspard deu uma risadinha.

— Para um homem cujos elogios eu acabei de cantar tão alto, você tem uma cabeça como um piso de mármore, às vezes, Francis. Sim. Quero dizer isso: você é um homem bem cotado por aqui.

Francis ainda o olhava. Ele balançou sua cabeça. Então sorriu.

— É isso que você quer dizer?

Gaspard sorriu. Ele deu a seu ombro um empurrão fraternal.

— Sim, eu quero dizer isso. Seu homem bobo. Vamos. Você já tomou café da manhã?

Francis sacudiu a cabeça.

Gaspard suspirou.

— Eu pensei que não. Bem, vamos lá então. Eu acho que ficar brincando no arsenal não vai ajudar muito a todos.

Francis riu.

— Obrigado, — disse ele.

No interior, ele ainda podia sentir um brilho doce em seu coração. Ele não tinha sequer considerado antes, era uma perspectiva promissora ao casamento. Como o tio de lady Claudine tinha sido tão desdenhoso, ele se considerou ainda menos.

Talvez Gaspard estivesse certo. Talvez seu tio tivesse alguma outra objeção além de sua óbvia estranheza e falta de status. Valia a pena considerar.

Sua atitude em relação a sua sobrinha ainda é estranha.

Como os dois problemas se encaixavam, Francis não fazia ideia. Ele só tinha a sensação de que eles se encaixavam.

O salão estava cheio de cavaleiros nos bancos, e alguns lordes sentaram-se no banco mais alto, aparentemente planejando uma cavalgada nas florestas locais. Francis ouviu trechos da conversa deles.

— Não se esqueça de trazer algo para Mirabelle, — disse um deles com um sorriso torto. — Ela vai ter a sua cabeça se não levar algo. Afiada, ela é.

Alguém riu.

— Eu não ousaria fazer o contrário.

Francis sorriu para si mesmo. Ao pensar em impressionar as damas, um sentimento de apreensão deliciosa passou por ele. Ele ficou imediatamente satisfeito e aterrorizado com a perspectiva de ver Claudine mais tarde.

Visite às seis horas do relógio. Seu tio estará no salão com o rei.

Ele ainda não conseguia acreditar que faria isso.

****

Claudine caminhou até a porta, perguntando-se por que Bernadette estava agindo de maneira tão estranha.

— Vamos agora, milady. Queremos voltar às cinco e meia, disse Bernadette.

Claudine se virou e franziu a testa para ela.

— Por que, Bernadette? Não há pressa. A menos que você pense como o tio. Que eu sou lenta? — Ela cuspiu as palavras, o coração cheio de dor. Bernadette era sua amiga! Como ela poderia pensar isso?

Bernadette fechou os olhos, aflita.

— Sinto muito, Claudine. Eu nunca quis dizer isso. Eu... não posso te dizer por que devemos nos apressar, mas posso explicar mais tarde. Vai se apressar?

O que aconteceu com ela?

Em todos os anos em que conheceu Bernadette, Claudine nunca soubera que ela fosse reservada antes.

— Eu suponho que tenho que concordar com isso, — ela disse suavemente. — Eu não gosto disso, sabe. Você não pode me dizer?

— Milady? Por favor? — Bernadette franziu a testa. — Confie em mim?

Claudine estremeceu. De todas as coisas em sua vida, ela achara algumas difíceis, confiar era uma das mais difíceis. Seu próprio pai tinha quebrado sua confiança quando ele decidiu que viraria as costas para ela, abandonando-a. Como ela poderia confiar em alguém depois disso? Ela suspirou.

— Vou tentar.

— Obrigada.

Claudine seguiu Bernadette pelo corredor. Elas se dirigiram para o solar, onde lady Cornelia tinha organizado mulheres para bordarem toalhas para o altar da Catedral. Claudine sentiu um genuíno prazer com esse pensamento, pois era uma excelente bordadeira e fora elogiada no passado. Se não fosse pela estranha impaciência de Bernadette, ela se sentiria genuinamente feliz hoje. Como estava, ela estava preocupada.

Claudine parou na porta para recuperar o fôlego.

Maladi miserável!

Ela fechou os olhos, sentindo sua impaciência se dissolver enquanto entrava no quarto.

— Lady Claudine, — lady Cornelia sorriu. Uma lady real vestida de linho branco com um toucado cobrindo os cabelos, ela tinha um rosto doce e gentil. Ela cheirava a água de rosas e lavanda, e Claudine sentiu sua raiva e impaciência se derreter um pouco.

— Lady Cornelia. — Ela fez uma reverência a mulher.

— Estou feliz por você estar aqui, — continuou a lady. — Eu só estava pensando, agora, onde estaria aquele jovem lady com os olhos aguçados e dedos ágeis? Você é muito bem-vinda, Claudine.

Claudine sentiu o rosto rosado pelo elogios e sentou-se ao lado de outra lady no sofá. Bernadette seguiu-a para dentro.

— Ah. Bernadette, sim? Bem-vindo também — disse lady Cornelia distraidamente.

Claudine estava zangada porque Bernadette ficava sempre de fora, embora fosse de se esperar.

Ela é como uma irmã para mim, não uma serva.

Ela certamente era mais companheira do que as outras jovens damas. Apenas um olhar sobre a sala deixou seus olhos pousarem em Berthe e Luella, ambas um par de gatos rancorosos.

Quando ela pegou sua agulha, ela sentiu sua tensão e raiva se dissolverem. Pontos rendados e finos de branco sobre branco, flores bordadas em volta de pequenos recortes que faziam seus centros, o trabalho ao redor da borda era sutil e magnífico. Ela podia ver alguns lugares onde tinha pontos apressados ou tinham sido mal formados e ela franziu a testa. Ela poderia adicionar algo ali.

Depois de uma hora, ela sentiu Bernadette aparecer em seu cotovelo.

— Mmm? — Ela perguntou quando sua amiga tocou seu braço. Ela olhou sonhadora, ocupada enfiando uma agulha. — O que é?

— Milady? São quase cinco e meia do relógio. Nós devemos ir.

Claudine se sentiu desapontada e um pouco impaciente novamente. Enquanto as outras damas davam-lhe olhares de inveja, a maioria parecia odiar as costuras e ao fazê-lo era apenas como uma razão para se reunir aqui e conversar, ela própria estava triste por terminar. Ela franziu a testa para Bernadette, mas lembrou-se da liminar anterior.

Confie em mim.

— Lady Cornelia?

— Sim, minha querida? — lady Cornelia olhou para cima com olhos escuros de ardósia o. — Posso ajudar? Você precisa de outro fio colorido?

Claudine sorriu.

— Não. Por mais que eu não queira, parece que tenho que ir.

Lady Cornelia franziu a testa.

— Bem, se você precisa, vá minha querida. Mas espero te ver de volta. Olhem, damas! Olhem o quão bom esses pontos são. Ah, Claudine! Se todas nós tivéssemos a sua agilidade.

Claudine olhou para as mãos, sentindo-se tímida.

— Obrigada, minha lady.

Ela já podia ouvir murmúrios enquanto algumas das damas se ofendiam com seu trabalho sendo destacado. Ela sabia que era apenas uma questão de tempo até que alguém fizesse algum comentário sobre seu trabalho — inevitavelmente envolvendo sua deficiência. Ela correu para fora do quarto perfumado e iluminado pelo sol, indo o mais rápido que podia antes de começarem a fofoca.

Elas correram pelo corredor e ela se encostou na parede por um momento para recuperar o fôlego.

— Bernadette, — ela sussurrou. — Você pode, por favor, me dizer... o que é tudo isso? — Por que a cabeça dela tinha que doer assim? Ela mal podia ver direito! Ela se concentrou no rosto de Bernadette com firmeza.

Bernadette olhou em volta, os olhos indo de um lado para o outro nervosamente.

— Ainda não, milady... por favor?

Claudine suspirou.

— Se você insiste.

Elas esperaram um momento enquanto ela recuperava o fôlego. Então subiram para o quarto dela, Bernadette com um ar furtivo, olhava para os corredores, acelerada à frente. Quando elas estavam lá, Claudine encostou-se à porta e encarou Bernadette.

— Certo. Agora, a verdade. Por favor Bernadette? Eu tenho o direito de saber.

Bernadette suspirou.

— Muito bem. Apenas deixe-me fazer o seu cabelo primeiro, sim milady? E pode mudar seu vestido? Talvez o rosa. Torna-a tão bem. —Ela parecia estar cheia de algum tipo de urgência.

Claudine sacudiu a cabeça, impaciente.

— O vestido rosa? Por que eu trocaria de roupa? Nós vamos ficar aqui esta noite! O tio tem uma audiência, não é? Por favor, Bernadette?

Bernadette suspirou.

— Confie em mim, milady?

Claudine sentiu a paciência se desgastar um pouco mais.

— Estou fazendo o meu melhor, Bernadette. Mas a confiança precisa de honestidade. Não de segredos. Conte-me?

Bernadette suspirou.

— Pode colocar o vestido?

Claudine revirou os olhos.

— Se você insiste, — disse ela.

— Sim, milady. — Bernadette disse. Então ela sorriu. — Sinto muito, milady. Mas você tem uma carranca cruel por uma mulher tão bonita.

Claudine queria ficar com raiva, mas Bernadette estava rindo tanto que não pôde deixar de participar.

— Oh, Bernadette, — ela suspirou. — Você é uma boa amiga.

Eles trabalharam juntas para ajudá-la a sair do vestido creme e entrar na rosa.

— Certo — Claudine disse firmemente enquanto Bernadette estava atrás dela, pronta para escovar seus cabelos. — Agora, o que é isso tudo? Conte-me?

Naquele momento, houve uma batida na porta. Claudine olhou para o rosto refletido de Bernadette no espelho, sentindo-se tensa com o choque. Quem seria? O tio tinha que estar na sala de audiências! Certamente não era ele...? Se não era ele, quem seria então? Ela sentiu o coração bater com o nervoso, piorava o olhar inexpressivo de Bernadette.

— Oh, céus, — sussurrou Bernadette. — Fique calma. Fique calma...

Claudine se virou.

— Bernadette! Em que...? — No entanto, Bernadette já estava abrindo a porta. Claudine ficou de pé, sentindo o coração bater de medo. Teria Bernadette perdido os sentidos? Quem era ela... Oh!

— Lorde Francis?

Ele estava lá. Alto, forte e bonito, vestido com uma túnica solta e calça creme e com o cabelo avermelhado um pouco mais comprido do que quando se conheceram. Eles se olhavam.

Claudine sentiu o corpo todo ficar vermelho com um grande rubor. Ele estava aqui. Em seu quarto de dormir?

Como pôde...

Seus pensamentos pararam completamente quando ele fez uma reverência tão baixa que sua mão roçou o chão de pedra.

— Lady Claudine.

Quando a olhou de novo, Claudine notou que ele parecia mais desconfortável do que ela. Seus olhos estavam brilhando e estava vermelho. Ela podia ver os pequenos traços de sardas no vermelho escuro do rosto dele. Estranhamente, seu desconforto agudo a fez se sentir um pouco mais calma.

— Meu lorde. Uh... o que você está fazendo aqui? — Ela perguntou. Seu coração batendo abaixo do corpete apertado de seu vestido.

— Eu tinha que vê-la, — disse ele. Sua voz estava apertada em sua garganta. — Eu... eu vou embora amanhã, lady Claudine. E eu não poderia sair sem me despedir.

Claudine olhou para ele. Ela sentiu como se o chão tivesse sido puxado debaixo dela. Ele estava partindo. Como ele poderia partir? Ele tinha acabado de se tornar parte de sua vida! Sua tensão e excitação ao vê-lo deram lugar à tristeza.

Ela sentou-se pesadamente na cama.

— Milady? — Ele lançou um olhar para ela.

Claudine piscou, espantada com o quão triste estava.

— Você disse que estava partindo em uma semana, — ela disse suavemente, tentando se tranquilizar entre qualquer outra coisa. Ela engoliu em seco, sentindo sua garganta se fechar com lágrimas repentinas.

— Eu sei, — disse Francis. Ele parecia tão miserável quanto ela. — Eu queria ficar, mas agora tenho que ir. Minha família... — ele sussurrou.

Claudine suspirou.

— Eu sei. Compreendo. Mas... sentirei sua falta.

Ela conseguiu dizer, embora as palavras rasgassem sua garganta e seus olhos realmente se enchessem de lágrimas. Ela fungou, sentindo-se idiota. Como ela poderia se sentir assim? Ela o conhecia menos de uma semana. Ela conhecia seu pai há dezoito anos e chorou menos quando percebeu que ele havia se afastado.

Então, Francis mostrou-me ser mais cuidadoso e genuíno em uma semana do que a maioria das pessoas o tem feito em metade da minha vida.

Ele era um amigo.

— Claudine, — ele murmurou.

Para seu espanto, ele se ajoelhou na beira da cama, segurando as mãos dela. Ele a olhava implorando. Então ele beijou as pontas dos seus dedos, seus lábios úmidos e quentes nas extremidades de seus dedos.

Claudine sentiu um arrepio de excitação percorrer seu corpo. Ela mordeu o lábio, tentando mapear os sentimentos complexos e maravilhosos dentro dela. Ela podia sentir sua barriga formigar e os dedos dos pés também estavam formigando, como se seu sangue pulsasse mais rápido através de seu corpo. Seu rosto estava corado e suas mãos tremeram um pouco quando ele estendeu a mão e então, para sua total surpresa, sentou-se ao lado dela na cama e a beijou.

Seu coração parou quando os braços dele se apertaram em volta dela. Sentiu-se atraída por seu peito e a princípio tentou lutar, sentindo-se como se essa intimidade indescritível, estivesse errada. Então ela desistiu quando o calor inundou seu corpo e sua língua se empurrou em sua boca e ela se entregou ao seu abraço.

Ele a beijou apaixonadamente e depois se retirou. Ela podia ver que ele estava vermelho e sua respiração estava difícil — ele parecia tão alterado quanto ela se sentia. Ela se inclinou para a frente nos cotovelos, suspirando. Ela se sentia drenada e exultante.

— Francis, — ela sussurrou.

Ele sorriu, um sorriso suave. Sua mão cobriu a dela.

Ela ficou tensa quando sentiu o dedo dele roçando sua coxa, a ponta dele fazendo cócegas e traçando contra sua perna através da seda fina de seu vestido. Sentia-se quente e fazendo cócegas e a doce intensidade de seu toque fluía através dela enquanto ele acariciava sua pele suavemente.

— Desculpe, — ele murmurou. Sua voz estava rouca. Ela percebeu que estava sentada com os olhos fechados, deleitando-se com os sentimentos que corriam dentro dela.

Ela balançou a cabeça.

— Não se desculpe, — ela murmurou.

Ele riu.

— Eu devo pedir. Eu tomo liberdades.

Ela corou.

— Eu que devo pedir desculpas por não ter parado você.

Isso deixou ele sorrir. Um sorriso repentino e fugaz, o sorriso fez seus dedos formigarem e seu coração disparar.

— Oh, Claudine, — disse ele.

Suavemente, hesitante, ela deixou os dedos se estenderem e apertar sua mão. Ela nunca havia iniciado algo tão inocente como segurar as mãos de um homem. A deliciosa emoção que enviou através dela surpreendeu-a.

Ele sorriu. Seus dedos se fecharam através dos dela e ele levou a mão aos lábios, gentilmente beijando-a.

Claudine suspirou. Cada aperto de seus dedos em sua mão, cada toque de seus lábios em sua junta, fazia seu corpo inteiro estremecer. Ela se aproximou e seu ombro roçou o dele. Ele soltou a mão dela e ela ficou tensa, prestes a se afastar. Ele passou o braço ao redor dela.

Claudine fechou os olhos. Suavemente, ela descansou a cabeça no ombro dele como um gatinho em busca de cuidado. Ele acariciou o braço dela.

Eles ficaram assim por muito tempo. Ela não conseguia se lembrar de uma época em que se sentira mais confortada, mais segura. Seu ombro musculoso contra ela a fez se sentir protegida, como se ele pudesse lutar contra qualquer coisa para salvá-la, até mesmo o mal-estar que atormentava seus dias.

— Oh, Claudine, — ele suspirou.

Ela deixou seu braço abraçá-lo e olhou para o rosto dele.

— Eu gostaria que não fizéssemos... que eu não fosse...

Ela sabia que ia chorar e olhou para o teto. Suas lágrimas escorreram por suas bochechas e ela piscou rapidamente, tentando detê-las.

Ela sentiu os lábios dele na sua bochecha e depois o polegar, acariciando seu rosto. Ela percebeu que ele estava secando suas lágrimas. Seu coração se derreteu. Ela abriu os olhos. Olhou para ele.

— Você tem uma coloração tão bonita, — ela murmurou. Era uma coisa boba, ela supôs, mas o vermelho de seu cabelo e a cor clara de seus olhos, era como a cor dos lagos sob a nuvem, o verde se refletindo no cinza lavada e era tão atraente. Ela estendeu a mão e acariciou seus cabelos.

Ele sorriu. Sua mão se estendeu e cobriu a dela, depois levou-a aos lábios.

De repente, Bernadette entrou no quarto.

— Certo. Rápido, vocês dois! Você tem que se mexer. Agora, são quase sete no relógio e tem que ir embora antes que ele chegue. — Ela revirou os olhos.

Claudine teria rido, exceto que a situação estava de repente mortalmente séria. Ela se levantou e olhou em volta.

— Onde você irá?

— Pelo caminho de volta, — disse Bernadette, pensando rapidamente. — Há uma porta do meu quarto para escada. Deve ser usada se eu precisar buscar qualquer coisa nas cozinhas.

— Perfeito! — Claudine disse, sentindo-se impressionada. — Agora, rapidamente.

Francis a olhou, ela o olhou, e de repente, sem pensar muito, ela estava abrindo os braços e eles se abraçaram. Seus lábios eram ferozes nos dela e ela abriu a boca para receber a língua dele, quente, doce e apaixonada.

Então, quase tão rapidamente, ele se foi.

— Esconda-se, esconda-se! — Disse Bernadette.

Claudine chamou sua atenção e correu para a porta externa, rapidamente afastando o cabelo do rosto e ganhando compostura.

Bernadette e Francis desapareceram da sala.

Claudine fechou os olhos e respirou fundo. Quando ouviu passos no chão de pedra, ela estava sentada na cama, olhando para as mãos. Seu coração estava vazio.

— Ele está a salvo, — murmurou Bernadette.

— Ufa, — disse ela. Ela adorava tê-lo aqui e lamentou sua brevidade. Mesmo assim, tinha sido perigoso e foi bom, ela disse a si mesma severamente, mas foi tão breve.

Ela nunca esqueceria isso — o que quer que tenha acontecido.


CAPÍTULO DOZE

UMA VIAGEM E UMA PONDERAÇÃO


A lenta subida e descida do movimento do cavalo sobre a terra embalava Francis meio adormecido. Ele não ficou surpreso com isso — ele dormiu mal naquela noite e foi acordado cedo naquela manhã para começar a viagem de volta.

Ele olhou em volta, forçando-se a ficar acordado. Ele podia ver o verde brilhante das encostas e a forma como a grama ondulava na brisa, pontilhada aqui e ali com minúsculos botões de ouro amarelos. Ele deveria estar se sentido feliz. Não tão dolorosamente triste. Como ele poderia sentir alguma outra coisa?

Eu sinto que estou indo embora sem meu coração.

Ele soprou. Ele sabia que era bobo. O que seu pai — prático e pé no chão — pensaria sobre como estava se comportando agora? Seus pais foram prometidos desde a infância. Ele provavelmente descartaria as fantasias de Francis — se eram apenas fantasias.

Bem, essas fantasias certamente doíam.

Ele suspirou. Ele lembrou das palavras de Gaspard para ele algumas noites atrás, o seu encorajamento. Ele não achava ser idiotice.

— Não é. — Ele se surpreendeu, dizendo em voz alta, e olhou em volta abruptamente, para ver se ele havia perturbado sua escolta.

O palácio lhe forneceu três guardas, que os levariam até o primeiro marco fora da cidade. No entanto, aqui, no campo, sua escolta consistia em apenas uma pessoa: seu homem, Yves.

— Senhor? — Yves chamou, cavalgando mais perto.

Francis se sentiu um pouco irritado. Ele queria tempo para ficar sozinho com suas tristezas, e não ter Yves fazendo comentários sobre como eles estariam em casa em três dias. Mesmo assim, ele se virou para encará-lo. Ele era uma companhia, o que era extremamente necessário aqui. Pensar demais o deixaria louco de preocupação por Claudine.

— Nada, Yves, — ele disse tristemente. — Eu estava apenas olhando para trás para ver o quão longe nós estávamos.

— Ah sim. É preciso dar uma última olhada, né? Lugar esplêndido. Surpreendente.

— É, — Francis disse suavemente. — Eu gostaria que tivéssemos ficado mais tempo.

— Eu também, senhor — concordou Yves. — Bem, nunca se sabe. Talvez seu pai tenha outra petição para levar ao rei em pouco tempo, hein?

Francis suspirou um pouco tristemente.

— Infelizmente não, Yves, infelizmente não.

O homem mais velho encolheu os ombros.

— Nunca se sabe, hein, senhor... E talvez pudéssemos provocar alguns danos menores, deixar o gado cruzar a fronteira para a terra dos Malviers e então precisaríamos obter novas designações de fronteira.

Francis inclinou a cabeça para trás e riu. Como Yves chegou a pensar nessas coisas?

— Eu acho, Yves, — ele disse com um sorriso lento, — que esse é um plano maravilhoso. Nós poderíamos passar nossas vidas na corte. Embora se Malviers tivesse alguma coisa a ver com isso, provavelmente seria em uma masmorra.

Yves riu.

— Ele não é tão ruim, senhor. Meu avô trabalhava na propriedade de Malvier, sabe, e nunca teve uma coisa ruim para relatar...

Francis sorriu e deixou-o falar sobre seu avô e a família de Malvier, sentindo seu ânimo se elevar. Era bom ter alguma companhia na estrada.

Chegaram a Annecy dois dias e meio depois. Chegaram à tarde, o vento agitando as ervas, o cheiro de terra seca e o calor no ar. Francis respirou, saboreando os aromas do verão e da casa.

Como aconteceu durante toda a jornada, seus pensamentos se desviaram para Claudine.

Será que ela está segura? Como está a sua saúde? Seu tio lhe causou alguma infelicidade?

Quanto mais ele pensava sobre aquele homem, menos ele confiava nele. Ele colocou muito de seus esforços para convencer Claudine de que ela era inútil.

Seus pensamentos foram quebrados por Yves, acenando com o chapéu no ar e chamando.

— Margerie! Olá! Olá!

Francis sorriu quando a filha de Yves vinha correndo para se juntar a eles, foi a primeira da família a vê-los. Ele desviou o olhar quando o homem mais velho desceu da sela e a abraçou carinhosamente.

Tenho o prazer de estar de volta em segurança.

Ele também desmontou. Ele, Yves e sua filha caminharam a última meia milha até a casa.

— Filho!

Francis viu seu pai e sua mãe nos degraus da imensa mansão ao se aproximar. Ele tirou o chapéu e subiu as escadas. Ele foi recebido por lady Leona, descendo.

— Filho! — Ela disse. — Você voltou.

Como sempre, ele ficou surpreso com a força em seus braços enquanto ela o abraçava ferozmente perto.

— Estou tão feliz por você estar seguro, — disse ela.

Francis sorriu e beijou sua bochecha.

— Agora, se isso não é ser bem recebido, não sei o que é.

Ele seguiu sua mãe e seu pai até os degraus em sua casa.

Lá dentro, um almoço generoso tinha sido colocado no solar e uma das criadas estava saindo quando ele chegou, alisando as mãos no avental. A mesa dentro da sala estava cheia de pratos de queijos, um prato de pequenos pães, ovos cozidos e todo tipo de coisas boas. Francis sorriu agradecido à mãe.

— Maman! Você sabe que estou pronto para comer toda a comida de Annecy.

Sua mãe riu, seus olhos azul-celeste macios.

— Eu sei como viajar com fome faz a um corpo, filho, — disse ela. — Mandei Yves direto para a cozinha para tomar a refeição também. Não que sua filha deixasse qualquer outra coisa acontecer. Ela é uma boa cabeça sobre seus ombros, aquela garota. Não é assim, Conn?

Francis viu seu pai sorrir e ficou comovido pela maneira como ele gentilmente acariciou sua mão enquanto falava.

— Você está certa, claro e estou feliz por você ter chegado em casa em segurança. Sua mãe é uma verdadeira tigresa.

Francis assentiu.

— Eu sei.

Lady Leona riu dele.

— Droga, filho. Você me faz sentir que devo ser difícil de conviver.

Ele riu e pegou uma fatia de queijo e um dos pães recém-assados.

— Nunca, mãe. Você é uma delícia para se conviver.

Sua mãe riu.

— Eu certamente sei como alimentar pessoas famintas,— ela comentou. — O que é útil.

Todos eles riram.

— De fato, minha querida, — Conn assentiu apreciativamente.

Leona fez uma careta.

— Oh, Conn.

Enquanto comiam, Francis se sentiu melancólico ao notar os pequenos sinais de ternura entre seus pais. Sempre perto, ele notava sua afeição mais agora. Provavelmente porque, pensou ele, mastigando devagar, acabara de conhecer alguém por quem sentia algo parecido. Pelo menos, parecia que era semelhante.

— Agora, — sua mãe disse enquanto passavam para as frutas cozidas de verão, — eu quero ouvir sobre Paris! Estava muito bonita?

Francis fechou os olhos, pensando nas casas caiadas de branco, na vasta extensão de telhados vistos das torres do castelo, o brilho da água do rio.

— Paris é... indescritível.

Leona riu.

— Eu sei! Eu vi uma vez, anos atrás... um prazer além das palavras.

Não havia nada a acrescentar a isso, então todos ficaram quietos por algum tempo.

— Sua jornada foi segura? — Seu pai perguntou, interrompendo suas ruminações. Ele estava pensado em Claudine, imaginando se ela estava aproveitando o sol de verão no terraço, ou se ainda estava tomando o almoço no solar.

— Uhh... sim, pai. Muito segura.

Ele viu seu pai e sua mãe trocarem olhares. Ele percebeu que devia estar agindo um pouco estranhamente e era a terceira vez durante a conversa que ele esteve divagando em seus pensamentos, pensando em Claudine e não prestando atenção. Ele supôs que eles deviam estar se perguntando o que estava em sua mente.

Se eles soubessem.

Ele não pôde deixar de sorrir um pouco com esse pensamento, se pudessem ler seus pensamentos, provavelmente estariam mais preocupados com ele do que estavam agora. Ele estava pensando em Claudine, em seu quarto de dormir. Sim, ele também estava imaginando todo o cenário com ela sem roupa, eles na cama juntos sem um ponto de roupas entre eles, seu corpo pálido e macio pressionando debaixo dele...

— Filho?

Ele olhou para a mãe. Ele suspirou.

— Desculpe, maman?

Ele ainda falava em francês, algo que levaria um tempo para fluir dele desde o retorno de Paris, onde falava por necessidade o tempo todo. Em sua casa, eles falavam gaélico às vezes e os criados até pegavam uma palavra ou duas. Era útil quando alguém queria transmitir uma mensagem em segredo, mas principalmente eles mantiveram o francês.

— Eu estava apenas perguntando se você conheceu alguém agradável lá? Na corte, quero dizer?

Francis suspirou. Essa era a parte difícil. Ele não sabia o que dizer. Ele queria contar-lhes tudo sobre Claudine, mas tinha suas próprias dúvidas e não estava totalmente à altura de sua posição social e seus pais seriam rápidos em ver isso. Além disso, ele tinha dúvidas se considerariam seu amor por ela como uma sugestão séria. Ele só tinha ficado lá uma semana!

— Eu conheci, — disse ele, decidindo ir em frente e dizer-lhes. Deixe-os pensar o que eles queiram, mais cedo ou mais tarde, para fazer uma sugestão. — Eu vi Gaspard lá, claro. E... — ele fez uma pausa, olhando para as mãos — lady Claudine.

Quando ele olhou para cima, ficou surpreso que a expressão de sua mãe tivesse se suavizado.

— Como ela é, filho?

Ele limpou a garganta. Seu pai estava sorrindo e ele sentiu como se eles pudessem apoiá-lo nisso depois de tudo.

— Ela é um pouco mais jovem que eu, — ele começou hesitante. — Ela é loira e de olhos azuis... como você, mãe, — acrescentou. — E bonita.

Ele viu seu pai sorrir com carinho. Sua mãe também riu.

— Bem! Ela parece um bom tipo. Me conte mais, filho?

Ele limpou a garganta.

— Bem, ela é a filha do duque de Pavot, e ela é... um pouco frágil.

— Frágil? — Sua mãe queria saber imediatamente. Como filha da Vidente de Dunkeld, sua mãe sempre foi rápida em se interessar pela saúde dos outros, embora ela mesma não fosse curandeira.

— Bem, — ele fez uma pausa, pensando em como descrever o mal de lady Claudine. — Ela... ela se cansa muito rapidamente. E ela não pode andar, não muito longe.

— Oh. — Leona assentiu devagar.

— Talvez uma estadia no campo seja benéfica para ela. É algo que eu notei. O ar da cidade é pesado, muitas pessoas respirando, muitos incêndios e montes de coisas para descartar.

Conn riu.

— Eu acho que você deveria mencionar isso para sua mãe, — ele comentou. — Todos os médicos que conheço dizem que não ter muito ar fresco é perigoso. Mas se você observou alguma outra coisa, eu quero ouvir sua palavra sobre isso.

Leona assentiu, sorrindo com satisfação.

— Estou feliz que você vai. — Ela se virou para Francis. — Você acha que ela poderia nos visitar aqui? No interior?

Francis franziu a testa.

— Eu não sei.

— Por que não? — Perguntou sua mãe.

Conn riu.

— Você deu ao pobre rapaz o livro de regras. Tenho certeza que ele vai nos dizer devagar. Em seu próprio tempo.

Leona revirou os olhos para o marido, embora ainda estivesse sorrindo carinhosamente para ele.

— Conn, você é teimoso... oh! — Ela sorriu maliciosamente. Então se virou para o filho. — Agora, filho. Por que não sabe?

Francis suspirou. Seu intercâmbio lhe dera um momento ou dois para pensar sobre isso, mas ele ainda não tinha uma resposta pronta.

— Acho que a família dela não me aprovaria, — disse ele lentamente. — Quero dizer... lady Claudine é a única filha do duque, e eu acho que eles querem o filho de um duque por ela.

Conn franziu os lábios.

— Você provavelmente está certo, filho, — ele disse suavemente. — Mas até então, não podemos saber disso. Você conheceu o pai dela? — Ele franziu a testa.

Francis balançou a cabeça devagar. Agora que ele pensava nisso, isso era estranho em si mesmo. Ele não tinha sequer ouvido falar do Duque du Pavot, a semana inteira. Sempre que ela ia ao palácio, estava com sua criada ou tio. Ou os dois, mas nunca com o pai dela. Isso parecia estranho.

— Eu me pergunto se o duque não morreu, — disse ele com cuidado. — Porque eu nunca o vi lá.

Deixou um servo encher com gratidão o prato vazio com ameixas cozidas e depois voltou-se para a mãe.

— Eu não sei, filho, — disse ela suavemente. — Conn? Você sabe?

Ele balançou sua cabeça.

— Eu não sei. Eu pareço lembrar algo sobre du Pavot. Eu não posso pensar o que é agora. Mas quando pensar nisso, vou lhe contar. — Ele sorriu para Francis.

— Obrigado, pai, — disse ele.

— Certo. Agora, se ninguém se importar, acho que vou pedir a Margerie para nos trazer um pouco daquele maçapão das cozinhas. Eu ainda sinto como se eu não tivesse preenchido meu estomago. — Conn sorriu.

Leona riu.

— Vocês dois! São tão parecido que às vezes me assusta. Não que eu seja contra um pequeno maçapão, lembrem-se disso. Eu poderia terminar um bom almoço só com isso.

Ambos sorriram afetuosamente para ela.

Quando o almoço acabou, Francis foi para seus aposentos, onde Yves tinha arrumado suas roupas do alforje para serem trazidas. Ele abriu o alforje de sela, tirando o rolo de documentos, um com um selo anexado.

— Devo levar isso para o pai.

Ele foi ao escritório de seu pai, uma pequena sala no final do segundo andar.

— Pai?

— Entre, filho. Apenas checando as contas antes de Yves entrar. Ou ele estará me olhando como um falcão e verá meus erros. É bom tê-lo de volta.

Francis riu.

— Boa. Pai? Eu tenho os documentos assinados. Aqui estão eles.

— Oh. Maravilhoso. Obrigado filho. Se pudéssemos mantê-los nesta gaveta aqui? Perfeito. Na próxima vez que o velho Malviers apresentar alguma história criativa sobre o seu gado se desgarrar, ele terá uma surpresa. — Ele riu.

Francis, lembrando-se de Yves e sua sugestão sobre Malviers e o gado, riu.

— Muito bem.

Ele se sentiu relutante em sair e permaneceu na porta, querendo falar com seu pai.

— O que é, filho? — Perguntou o pai.

— Pai? Eu queria te dizer uma coisa. Mas não tenho certeza de como começar.

— Você está apaixonada pela lady Claudine? — Perguntou seu pai.

Francis olhou para ele.

— Ahan... como você adivinhou?

Seu pai riu.

— Eu também estive apaixonado, uma vez.

Francis assentiu.

— Eu sei, pai. Eu vejo o amor entre você e a mãe muito mais claramente.

— Bem — Conn passou a mão pelos cabelos, a mesma cor avermelhada que a do filho. — Se você se sentir do mesmo jeito como eu me sinto sobre sua mãe, não poderia ser melhor. — Ele deu um suspiro de satisfação.

De tão perto, Francis podia ver os sinais da idade de seu pai — as rugas esculpidas no canto dos olhos, realçadas pelo do brilho do sol, as linhas gravadas em sua testa. Havia fios cinza em seus cabelos e a pele de sua bochecha estava mais solta do que antes. No entanto, a suavidade em seus olhos e sua ternura quando ele falava de Leona o rejuvenescia.

— Espero que sim, — disse ele.

Seu pai riu.

— Eu sei que sim. Agora, o que é tão preocupante?

Conn fechou os olhos por um momento. Por onde começar? A saúde dela. Seu status. O tio dela. Ele suspirou e baixou o corpo cansado da sela no banquinho almofadado do outro lado da mesa.

— É a saúde dela, principalmente, — ele confessou. — Talvez Maman esteja certa e uma temporada no campo possa ajudá-la. Eu gostaria que ela pudesse ter isso.

— Você sempre pode sugerir, — disse seu pai gentilmente. — Não pode ferir um convite.

Ele riu.

— Eu suponho que não.

— Bem, então. O que mais?

— É... — ele suspirou. — Sua família, principalmente. O tio dela. Eu não gosto do jeito que ela está tão desanimada com o que ele lhe diz.

— O que ele diz sobre ela?

Francis assentiu.

— Talvez eu esteja sendo fantasioso. Talvez ele simplesmente deseje protegê-la, afinal, ele é seu tio. Mesmo assim, parece-me que ele procura humilhá-la. Fazendo-a acreditar que está desamparada sem ele.

Seu pai suspirou.

— Eu não sei, filho. Poderia ser. Quero dizer, coisas estranhas acontecem. Talvez o homem não conheça outra vida além de cuidar de sua sobrinha. Iria querer que ela ficasse com ele para sempre, então.

Francis levantou uma sobrancelha.

— Pode ser assim tão simples, — ele concordou. De qualquer forma, isso não soa totalmente verdadeiro. Algo sugeria a Francis que Claudine não estivera sob os cuidados do tio toda a sua vida. Além disso, ele parecia sinistro de alguma forma. Não da maneira que alguém poderia colocar um dedo na abertura, mas... ele balançou a cabeça. — Eu só estou sendo imaginativo.

Seu pai sorriu.

— Quem pode dizer de onde vêm essas ideias? Eu não sou de desprezar a imaginação. Se eu fosse, provavelmente estaria morto agora. Imaginar que você ouve um cavaleiro o seguindo às vezes pode salvar sua vida.

Francis riu.

— Talvez você esteja certo. Talvez eu não devesse ignorar esse sentimento.

— Talvez, — seu pai concordou, balançando a cabeça lentamente. — Em qualquer caso. O que farei é descobrir algo deste Duque du Pavot. Se alguém sabe da nobreza, será Yves. Falando dele, onde está esse canalha? Yves?

— Senhor? — Uma voz ecoou do corredor.

Conn riu.

— Venha aqui, — ele chamou. — Vá em frente e verifique meus livros. Eles estão prontos para isso.

Yves levantou uma sobrancelha, seu rosto magro e inteligente divertido.

— Bem, senhor. Isso parece promissor.

— Promissor? Seu safado — Conn riu. — Bem, vamos ver. Qualquer erro que você encontrar pode tirar a diferença do cofre.

Francis piscou com a oferta arriscada.

Yves apenas sorriu.

— Isso me ajudará se você anotou demais. Não vejo como isso me ajudará se você escreveu muito pouco.

Todos eles riram. Francis se despediu e as risadas o seguiram. Isso aliviou sua alma, ainda atormentada com tanta preocupação. Com tantas perguntas também.

Claudine está segura? Eu a verei novamente? O que seu tio faria?

Nenhuma dessas perguntas teve respostas fáceis. Na verdade, Francis se perguntou se elas tinham respostas. O pensamento o fez sentir-se abruptamente triste e subiu pelo corredor escuro para seus aposentos.


CAPÍTULO TREZE

UMA DOENÇA REPENTINA


Claudine olhou melancolicamente pela janela para a propriedade. Ela estava na sala da torre do palácio, costurando. Ao seu redor, podia ouvir a conversa e as gargalhadas das outras jovens que compartilhavam o espaço com ela — todos elas em um grupo amigável agora — mas ela não podia compartilhar sua brincadeira, suas risadas brilhantes.

Nada disso faz mais sentido.

Francis foi embora. Ele tinha levado uma parte dela com ele. Ela sabia que era uma maneira estranha de se sentir — ele tinha sido tão brevemente em sua vida, — mas ele trouxera tanta luz e alegria.

— Milady?

Claudine olhou inexpressivamente para Bernadette diante dela, uma careta gentil em sua testa.

— Sim?

— Você gostaria de se recolher agora?

Claudine assentiu.

— Sim, Bernadette.

Ela se espreguiçou, percebendo que estivera sentada curvada sobre o trabalho de bordado durante a tarde inteira. Ela não se moveu por cerca de três horas. O pescoço e as costas doíam e seus olhos começavam a se apertarem.

— Você terminou o dia? — Fabienne, uma das damas, perguntou suavemente.

Claudine assentiu.

— Sim.

— Bem, eu acho que estou quase terminando. — Fabienne reprimiu um bocejo. — Eu tenho olhado para os tópicos por muito tempo. Eu vou dar um passeio.

Quando o grupo concordou com a cabeça e ficou de pé, guardando o trabalho de tapeçaria em cestas limpas, Claudine seguiu Bernadette para fora do salão.

Quando chegaram a seus quartos, Bernadette sussurrou para ela.

— Não fique tão triste.

Claudine suspirou e sentou-se na cama.

— Eu não posso ajudar, Bernadette. Está tudo tão... vazio agora. Não sei como me sentir melhor.

Bernadette suspirou.

— Eu sinto muito, minha querida. Talvez um passeio no campo fosse animá-la?

Claudine franziu a testa. Fazia um tempo desde que ela havia tentado uma cavalgada — mesmo descendo as escadas para os estábulos fazia suas articulações doerem e seu coração bater mais forte.

— Você acha que eu poderia? — Ela perguntou.

— Eu não sei, milady, — disse Bernadette. — Só você poderia saber. Poderíamos ir e sentar no terraço por algum tempo, se você preferir?

Claudine assentiu.

— Eu gostaria disso. O sol da tarde é tão agradável.

— Mmm. — Bernadette assentiu. — Devemos ter certeza de usar chapéus.

Claudine sorriu. Confiava em Bernadette para pensar em algo assim. Ela estava sempre pensando no futuro, considerando o que alguém precisaria para se sentir confortável.

— Sim.

Colocaram seus chapéus e Claudine usava um cachecol de cetim esvoaçante sobre uma estrutura engomada que pareciam como duas asas brilhantes em cada lado do rosto. Bernadette usava um semelhante, apenas mais modesto.

Elas saíram juntos para o sol.

— Passeando e aproveitando o sol, eh?

Claudine deu um pulo. Ela não esperava ouvir seu tio naquele momento.

— Uh, sim, tio. É uma boa tarde para isso, eu acho?

— Mmm, — ele balançou a cabeça. Ele franziu os lábios, o rosto bonito considerando. — Estou feliz em vê-la restaurada, minha sobrinha. Após o pedágio de todas as atividade sna semana passada fez uma mudança em sua saúde.

— Atividades? — Claudine franziu a testa. Seu coração bateu forte e ela sentiu Bernadette tensa ao lado dela. Como ele sabia? Teria ele visto Francis sair de seus aposentos?

— Eu me referi ao baile que você assistiu, — ele disse suavemente. — E o número de vezes que você assistiu as habilidades da espada praticadas no jardim.

— Oh. — Claudine sentiu-se relaxar um pouco.

— Você parecia intensamente ansiosa em acompanhar o progresso de nossos jovens nobres. — Ele levantou uma sobrancelha. — Eu fiquei surpreso.

Claudine corou.

— Bem, tio. Parece sensato ter interesse na força que poderia preservar a vida de alguém um dia.

Ele deu um suspiro.

— Bem, sua vida é delicada, minha querida. Demora muito para preservá-la. E não tenho certeza se o envolvimento com um espadachim seria compatível com isso.

Claudine se arrepiou. Ele estava sugerindo que ela estava procurando pretendentes assistindo aos combates? Ela corou com o pensamento de que ela estava fazendo exatamente isso.

— Não, tio, — ela murmurou baixinho.

— Exatamente, minha querida. Às vezes me pergunto se se casar sobrecarregaria demais sua saúde.

A sobrancelha de Claudine se levantou. Por que ele estava dizendo isso agora? O que ele descobriu?

Bernadette ao lado dela ficou tensa.

— Acho que confio nas palavras do padre Jeremy a esse respeito, — Bernadette disse baixinho. — Ele não fez tais previsões.

Claudine viu os olhos do tio se arregalarem e depois se estreitarem. Era sua imaginação ou desejava que ela não acreditasse no velho médico?

— Sua serva, como sempre, nos interrompe — disse ele em voz baixa.

Claudine o olhou como se ele tivesse lhe dado um tapa.

— Tio, tenho certeza que Bernadette não quis dizer...

— Não importa, — disse ele, sorrindo gentilmente. De repente, ele era o doce tio protetor que ela sempre conhecera. — Eu devo me apressar. Eu tenho uma audiência para assistir às quatro do relógio. Aproveite o sol, Claudine.

Claudine engoliu em seco. De repente, sentiu-se muito desleal por sua pontada de ressentimento em relação ao tio. O que ela estava pensando? Ele cuidou dela quando ninguém mais o fez.

— Obrigada, tio, — disse ela.

Ele sorriu com carinho e continuou pelo corredor.

Quando ele se foi, Claudine e Bernadette se entreolharam.

— Bem. Eu não gostei muito dessa conversa, — disse Bernadette. Seu rosto gentil exibia uma expressão intrigada, a boca baixa em preocupação.

Claudine sacudiu a cabeça.

— Oh, Bernadette. O tio não o disse por mal. Ele se importa comigo.

— Seja como for, não gostei — disse Bernadette, ameaçadoramente.

Claudine olhou para a borda do terraço, para o pátio onde, poucos dias antes, Francis estava praticando. Sentia-se melancólica e triste, mas ao mesmo tempo sentia um prazer gentil na lembrança.

Eu gostaria tanto de vê-lo.

A maneira como ele se movia era tão gracioso, quase como um dançarino selvagem. Com aquele golpe rápido e movimento animado e aqueles grandes ombros ondulando sob sua túnica de linho apertada.

Ela se sentiu corar ao pensar nisso. O que a possuíra ultimamente? Ela não pôde deixar de notar coisas sobre ele: os músculos fortes de suas costas, suas panturrilhas bem desenvolvidas, o modo como ele ficava tenso e flexionado quando fazia seus golpes com a espada. Aqueles braços longos, flexíveis e cheio músculos. A cintura estreita.

O que eu estou pensando? Por que meu pobre corpo fica todo arrepiado com esses pensamentos?

Era a coisa mais estranha. Claudine franziu a testa.

— Pensando em alguma coisa? — Bernadette perguntou gentilmente.

Claudine sorriu.

— Oh, nada, Bernadette. — Então ela fez uma pausa. — Bem, na verdade...

— Mmm? — Bernadette franziu a testa. — O que é, milady?

Claudine viu os olhos castanhos de Bernadette se concentrarem instantaneamente; sempre terno e consciente dela. Ela sorriu.

— Bem, eu me sinto um pouco boba te perguntando isso, mas... — ela parou, as bochechas queimando.

— Não, milady, — Bernadette protestou gentilmente. — Não precisa se sentir boba para me perguntar. Conte-me qualquer coisa.

Claudine sentiu-se mais ousada e lambeu os lábios, enquadrando a pergunta que estivera em sua mente nos últimos dias.

— O que... o que acontece quando homens e mulheres se casam? Eu entendo o aspecto espiritual, pelo menos tanto quanto qualquer uma. Mas as implicações físicas... — ela corou, a garganta se fechando com extremo embaraço.

Bernadette levantou uma sobrancelha. Então ela sorriu.

— Bem! Estou feliz por você ter perguntado isso, milady. É bom ter interesse em tais coisas. Isso significa que você é saudável.

Claudine sentiu as bochechas arderem, mas sorriu.

— Oh Bernadette! Realmente! — Ela a repreendeu, o rosto quente de vergonha.

Bernadette assentiu com firmeza.

— Eu quero dizer-lhe isso, milady. Todas as jovens desejam conhecer essas coisas. Não há vergonha nisso. Quando é entre dois que se desejam, eu acredito que é uma coisa gloriosa.

Claudine sentiu o coração bater mais rápido. Era uma coisa tão chocante para discutir! Seu pai, ela tinha certeza, nunca aprovaria. Nem lady Cornelia que foi nomeada sua guardiã quando ela nasceu. Todos eles franziam a testa sobre esta conversa.

— Realmente? — Ela perguntou suavemente.

Bernadette assentiu.

— De fato, milady. Uma coisa boa. Uma coisa saudável. O que eu sei é colhido de segundos, é claro... — ela olhou para as mãos, o primeiro sinal de timidez que fez até agora. — Mas minhas amigas me dizem que é digno de todos os cantores menestréis.

Claudine sorriu. Ela deixou seu coração se expandir com o prazeroso pensamento disso. Os menestréis não diziam muito sobre isso, a não ser que tal experiência era gloriosa e não excedida por qualquer outra coisa na vida. Soava bem.

E para fazer essas coisas com Francis...

Ela corou. Seu corpo pulsava de desejo. Seu coração pulou. Ela não sabia o que essas coisas eram, mas de alguma forma seu corpo sabia. Ela sentiu o desejo nas partes mais estranhas dela e se encheu de admiração pensando nisso.

— Bem, milady, — Bernadette suspirou. — Eu suponho que não podemos saber muito sobre isso até que nos casemos. — Ela parecia melancólica sobre isso.

Claudine assentiu, querendo rir da vontade da amiga. Então ela se sentiu triste.

— Bernadette?

— Sim, minha querida?

Ela lambeu os lábios nervosamente.

— O tio acha que não posso casar, não é? Que eu não posso... fazer os atos que fazem uma criança, ou suportar um... — Ela olhou para as mãos, a voz trêmula. Ela se sentiu bastante ousada, bastante chocante, por ter que pedir tal coisa. No entanto, ela precisava saber.

Bernadette franziu a testa.

— É um absurdo, — ela assegurou. — Absolutamente absurdo. Eu tenho confiança em seu médico e ele disse que você seria capaz de tal coisa. Verdadeiramente.

— Realmente? — Claudine sentiu seu coração levantar com esperança. — Ele disse isso? — Ela olhou para Bernadette, os olhos arregalados.

Bernadette assentiu.

— Sim, ele disse. E disse que você era frágil, mas forte. E ele não viu nenhuma razão para você não ter um filho um dia. Você teria que ser só mais cuidadosa, é claro... considerar sua saúde mais de perto do que outras mulheres da sua idade poderiam achar necessário. Mas você perceberia isso.

Claudine olhou para a amiga. Seu coração estava batendo. As terríveis previsões e ameaças de seu tio — pois isso era o que pareciam para ela, ameaças — relaxaram seu coração um pouco.

— Você não precisa duvidar de si mesma, — Bernadette continuou gentilmente. — Você é uma lady jovem e brilhante, com tantos recursos. Não deixe ninguém te dizer diferente.

Claudine sentiu o coração se encher de apreço pela amiga. Impulsivamente, ela estendeu-lhe a mão. Suas mãos se apertaram firmemente.

— Oh, Bernadette, — ela suspirou. — Eu sou muito grato a você.

Bernadette segurou sua mão com firmeza em troca.

— Como eu sou por você, — disse ela. — Você é a única pessoa com quem posso conversar sem nós. Sou abençoada por ter sido levada para serva em sua casa.

Claudine sentiu-se um pouco indignada.

— Você é minha amiga, Bernadette. A minha melhor amiga. Não pense em si mesma como nada menos.

Bernadette sorriu.

— Obrigada, milady. Eu acho que deveria ver mais em torno da intenção de seu tio. Tudo o que ele pensa, mas não compartilha suas opiniões afins.

Claudine tocou as bochechas com um suspiro.

— Você está certa, eu acho, — disse ela. Ela franziu a testa. — Tenho certeza de que ele não faria nada para nos separar. Você é minha acompanhante e eu não vou tolerar nenhuma alteração desse fato.

Bernadette sorriu com carinho.

— Obrigada, milady.

Elas ficaram sentadas ao sol por um tempo. Claudine sentia-se mais em paz do que antes — com a gentil, mas firme garantia de Bernadette de que poderia esperar coisas semelhantes em seu futuro como qualquer outra mulher, e sentiu-se esperançosa.

Talvez Francis e eu pudéssemos nos casar um dia. Não é impossível. Como a filha de um duque, eu estou acima dele, mas por que não deveria haver alguma exceção?

Ela sorriu. Se esticando languidamente, ela se virou para Bernadette.

— Todo esse sol está me deixando sonolenta. Vamos entrar?

Bernadette assentiu.

— Eu também. Sim. Nós devemos nos recolher, é provável que dê tempo de um refresco. O que você me diz, milady?

Claudine assentiu.

— Eu digo sim para isso, Bernadette.

Sua acompanhante sorriu e se levantou e Claudine se juntou a ela. Eles foram para seus aposentos.

Na sala, Claudine sentou-se na cama. Elas seguiam a mesma rotina na maioria dos dias. Bernadette servia uma taça de frutas para cada um delas e se sentavam e conversavam sobre coisas agradáveis e pacíficas. Então Claudine tirava uma soneca até uma hora antes do jantar. Era um momento agradável. Também era a melhor maneira de tomar o pó que o médico lhe dera para tomar — era moído e dissolvido em seu refresco. Isso tornava-o insípido e fácil de tomar.

— Certo, milady, — disse Bernadette, passando-lhe o copo de prata e sentando-se de frente a ela, sorrindo. — Eu não sei sobre você, mas essa luz do sol me restaurou muito.

— Eu também, — Claudine concordou contente. Era verdade, agora que ela pensava sobre isso. Ela se sentiu melhor do que durante semanas.

— Sim, é, — concordou Claudine. Ela tomou um grande gole, saboreando-o apreciativamente. Tinha um sabor gostoso e complexo — a doçura das bagas compensada por um sabor selvagem da floresta; ligeiramente almiscarado e muito atraente. O tio tinha trazido especialmente da sua propriedade. — Estou feliz.

— Mmmm. Eu também, — concordou Bernadette.

Quando ela terminou o refresco, Claudine sentiu a cabeça começar a doer. Seu coração pulou uma batida e a sensação terrivelmente fraca e letárgica a invadiu. Ela conseguiu passar a taça para Bernadette pouco antes de desabar, gemendo, na cama.

— Oh, milady, — disse Bernadette, colocando a taça na bandeja. — Descanse. Deixe-me te cobrir com algo... melhor se você ficar aquecida.

— Estou bem — murmurou Claudine.

Então o mundo ficou escuro e ela entrou em colapso, como muitas vezes, em um sono profundo e exausto.


CAPÍTULO QUATORZE

UM ENCONTRO REPENTINO


Francis desceu o comprimento do solar, sentindo-se inquieto. Ele andou até a janela, contemplando a abundante paisagem de verão. Não era apenas a precipitação fora de época e o fato de que ele estava confinado à mansão, fazendo-o sentir-se inquieto. Era sua mente preocupada.

— Eu não consigo parar de pensar nela.

— Meu lorde? — Yves, entrando para colocar a mesa para o jantar, pegou seu comentário ao entrar. Percebendo que ele havia falado em voz alta, Francis suspirou, sentindo-se impaciente consigo mesmo.

— Desculpe, Yves. Falando comigo mesmo. Eu preciso dar uma volta.

— Bem, se tiver bons efeitos, informe-me — disse Yves calmamente, colocando colheres e facas para comer na comprida mesa de madeira esculpida. — Eu adoraria saber como curar o desconfortável hábito de falar sozinho.

Francis riu, embora não se sentisse particularmente engraçado sobre isso.

— Você sabe o que quero dizer, Yves, — ele suspirou. — Eu preciso limpar a minha cabeça. Antes que meus pensamentos me deixem louco.

— É sabido o que acontece com isso, — disse Yves suavemente. — Eu conheci um velho, sempre tão louco que ele era... — Ele parou quando Francis o interrompeu um pouco irritado.

— Por favor, Yves. Eu não preciso saber quão perigosa é minha sanidade. Eu só preciso sair ao ar livre.

Yves assentiu.

— Como quiser, milorde. — Ele continuou calmamente colocando os talheres, sem ruptura em seu aspecto tranquilo.

Francis suspirou.

— Eu quero.

Enquanto caminhava pelo corredor até a entrada, ele pensou nos comentários de sua mãe sobre o ar fresco. Talvez ela estivesse certa sobre isso... poderia ser curativa. Quem sabia?

Eu preciso contar a Claudine. Ou a acompanhante dela. Talvez a ajude.

Sentindo-se inspirado para fazer isso, Francis caminhou rapidamente até os estábulos, jogando seu grande manto marrom de lã sobre os ombros enquanto saía. Como ele iria? Ele nem sabia se Claudine estava no palácio ou se ela já estava na propriedade rural do pai dela.

Bem, vou pensar em algo.

Lá fora, no ar frio e perfumado da terra, ele sentiu a possibilidade disso ser correto.

Uma vez que estava cavalgando — ele pegou Dusk Shadow, seu próprio cavalo de caça, uma égua cinza com vigor imenso e uma natureza doce — ele finalmente achou possível pensar em suas preocupações.

Preciso ver Claudine em segurança.

Ele estava preocupado com ela. Havia algo inegavelmente sinistro em seu tio. Descartou o pensamento de que simplesmente não gostava do homem porque ele era hostil com ele. Não, isso tinha algo mais.

Não é a atitude dele comigo que me preocupa. É a atitude dele com ela.

Durante todo o tempo desde que conhecera Claudine, ele não ouvira o tio dela fazer um comentário agradável e encorajador em sua direção. Ele parecia determinado fazê-la acreditar que estava doente.

— Que absurdo, Francis, — ele soprou para si mesmo ironicamente. — Por que ele faria isso?

Ele ouviu Dusk Shadow bufar em resposta e diminuiu o passo, deixando-os dar um passeio lento até a colina que dava para o vale. Sempre que ele estava aqui, achava mais fácil pensar.

Eu sinto que há algo sinistro pairando sobre o futuro de Claudine. Como esta maladi que ela sofre é de alguma forma... a culpa de alguma coisa. Não apenas sua saúde, sua constituição, mas outra coisa.

Impulsivamente, Francis decidiu ir ao mosteiro. Havia um velho frade lá — padre Matthias — que sempre tinha tomado a guarda dos cuidados da família. Ele era atencioso e estudioso. Se alguém soubesse alguma coisa sobre essa doença, seria ele.

Ele chegou ao mosteiro depois de meia hora de viagem. Ele olhou para o céu, imaginando se haveria uma tempestade mais tarde. Ele teria que passar a noite no mosteiro, com toda probabilidade se houvesse uma. Ele passou as rédeas para um jovem rapaz que veio para ajudá-los.

— Cuide do meu cavalo. Eu preciso falar com o abade. Ele está?

O monge que atendeu a porta franziu a testa.

— Eu vou perguntar. Venha para dentro, meu lorde. Está um clima turbulento lá fora.

Francis assentiu. O tempo estava tão turbulento quanto sua mente, ele pensou — perturbado e inquieto, com a possibilidade de muitas coisas diferentes acontecerem.

— Lorde Francis — disse o abade quando o noviço o conduziu silenciosamente. — Que prazer. O que posso fazer para você?

Francis olhou em volta. O escritório do abade era monasticamente simples — a grande mesa cheia de livros, uma única janela larga, uma lareira sem adornos onde o fogo queimaria no inverno. Havia duas cadeiras — uma atrás da mesa e outra na frente. Francis respirou os aromas de velhos pergaminhos, tinta nova e pó secante, e sentou-se em frente ao velho monge. Ele se sentiu relaxar um pouco.

— Padre Matthias, — ele disse suavemente. — Posso falar com ele?

— Eu lamento dizer que ele está em reclusão, meu jovem, — disse o velho abade, padre Samuel, com uma carranca. — Se eu puder passar uma mensagem para você?

Francis sacudiu a cabeça.

— Eu não penso assim, padre. Embora talvez você possa responder à minha pergunta também?

Padre Samuel franziu os lábios, pensativo.

— Eu poderia tentar, filho, — disse ele. — Embora eu me arrependa de ter menos conhecimento de assuntos médicos do que nosso amigo entendido. É por isso que você está aqui, não é? Perguntar sobre um assunto relacionado à saúde?

Francis suspirou.

— Você é perspicaz, padre. Sim. Eu queria perguntar se ele tem ouvido falar de uma doença chamada maladi. Uma espécie de enjoo que deixa a pessoa cansada e rouba sua força, dificultando a caminhada, o passeio ou a dança. Algo que deixa a pessoa sem fôlego e cansada. Atordoada. — Ele franziu a testa, tentando lembrar se lady Claudine havia mencionado qualquer outra pista sobre sua doença.

Padre Samuel franziu a testa, os dedos pressionados contra os lábios em pensamento.

— Há muitas dessas doenças, filho. Isso dependeria de mais informações. A pessoa é capaz de suportar dor? A doença vem de uma só vez, ou é progressiva? Qual é a palidez da pele? A taxa dos pulsos. Há muito que não sabemos.

Francis assentiu, sentindo-se miserável. Ele deveria ter percebido que não sabia o suficiente para fazer uma pergunta ao padre Matthias.

— Desculpe, padre. Eu não sei. Tudo o que posso dizer é que a pessoa envolvida sofre desta forma há vários anos. Desde a sua idade adulta anterior.

— Ah, — o padre levantou um arco, arregalando os olhos. — Então a pessoa que sofre é uma lady, sim?

Francis olhou para as mãos timidamente.

— Sim, Padre. Eu a conheci na corte... — ele parou, soltando um suspiro. De todas as coisas que o padre Samuel precisava saber, era a história de seu progresso na tentativa de cortejar a lady Claudine, ele percebeu, com algum choque, o que estava fazendo e isso não era uma delas.

— Ah, — padre Samuel meditou. — Bem, eu confio que ela tenha cuidados adequados lá. O corte tem médicos que me fariam sentir criança em comparação com o aprendizado deles. Embora, eu acho — acrescentou ele calorosamente — que nosso padre Matthias chegasse perto de suas habilidades.

Francis assentiu.

— Certamente, padre. Bem, — ele suspirou. — Suponho que tomei de seu tempo o suficiente para este dia, padre. Eu aprecio sua ajuda.

Ele parou quando o velho homem sagrado olhou em seus olhos. As dele eram uma espécie de castanho avelã, opaco e quase incolor com a idade, rugas ao redor delas testemunhas de longas horas gastas na leitura ou nas orações.

— Estou feliz em ajudar, meu filho, — disse ele gentilmente. — E se houver alguma coisa que te incomode ainda mais, por favor me diga. Fazemos o que podemos para consolar todas as almas aqui, não importa o que diga com respeito às suas mentes.

Francis suspirou.

— Padre, eu... eu gostaria de poder lhe contar mais, mas... parece bobo da minha parte tomar seu tempo tentando explicar o que eu não entendo.

— Estou sempre ouvindo.

Francis deu um longo suspiro.

— É a lady, padre Samuel. Ela está doente e... e seu tio parece... hostil. Eu não posso explicar isso. Sinto uma ameaça à segurança dela, embora não possa dizer de onde vem.

O padre deixou-o terminar, depois descansou os longos dedos nos lábios, fazendo uma torre enquanto ele franzia as sobrancelhas em pensamento. Ele limpou a garganta.

— Parece que há alguma necessidade de ação. E eu acho que é o que você sente, porque isso te impele a agir. Você deseja salvar a lady de qualquer coisa que a prejudique. E eu acho que é um bom objetivo. No entanto, você deve fazer uma parada. Considerar. Juntar informações. Então atue. Isso é tudo que podemos fazer. Isso e confiar no Deus Todo-Poderoso, — acrescentou.

Francis assentiu respeitosamente.

— Sim, Padre. E... obrigada.

O velho padre sorriu.

— De maneira alguma, jovem rapaz. Agora, se não estou muito enganado, esse é o som do trovão. Eu acho que não seria ruim se você ficasse conosco esta noite. Seria mais seguro partir de manhã, quando a ameaça de ser atingido por um raio diminua um pouco.

Francis inclinou a cabeça.

— Eu não poderia concordar mais com você, padre.

Ele riu.

— Boa. Bem, vamos chamar o padre Benjamin e pedir a ele que arrume um quarto. Nós nos sentaremos para jantar no refeitório às oito horas, uma hora antes do culto noturno das Completas. Você está convidado a se juntar a nós.

— Obrigado, — Francis assentiu. Ele saiu para deixar o velho sacerdote com o seu trabalho.

Sentindo-se mais em paz, ele encontrou seus passos levando-o ao jardim, onde se sentou em um dos bancos de pedra. Aqui fora, ele podia sentir o cheiro de ervas frescas e o cheiro da chuva. O crepitar da luz era quase um aroma no ar, uma ruga repentina que tinha o cheiro de fumaça.

Francis soltou o ar cansado. Ele aprendera pouco em sua jornada, mas recebeu bons conselhos.

Reúna mais informações.

Esse era o primeiro passo sólido. Ainda não sabia muito sobre o estado de saúde de Claudine, sua família ou seu passado. Ele sabia muito sobre o presente dela, no entanto.

Eu sei que ela é a mais doce, gentil e adorável...

Ele parou de meditar, sentindo suas bochechas queimarem quando encontrou seus pensamentos se voltando para descrições de seu corpo —- sua pele perolada, sua figura curvilínea, seus seios altos.

Este é um mosteiro, Francis! Imagine se eles pudessem ler seus pensamentos — o padre Matthias e Samuel ficariam chocados.

Ele pulou quando ouviu vozes na colunata.

— O jovem Dennis disse que viu uma carruagem presa na estrada para o Sul. Devemos enviar ajuda.

O outro monge parecia menos preocupado.

— Está indo para Evreux? Certamente, alguém lá vai ajudá-lo.

— Talvez, — o primeiro monge disse hesitante. — Mas você conhece o Duque du Pavot. Ele mantém os verderers ocupados na floresta. A manutenção da segurança na estrada é o que menos o incomoda.

O segundo monge soprou.

— Bem, ele certamente cuidará da carruagem. Se é parente dele, ele ficará de olho neles. Ele vai enviar ajuda.

— Você está certo, é claro, Frederic.

— Acho que sim. Agora... precisamos terminar de coletar essas ervas. O que o irmão Dominic disse que precisava?

— Um pouco de sálvia, para dar sabor ao guisado.

— Ah. Bem, nós temos muito este ano e é uma ótima colheita.

Quando os dois homens se afastaram, o impacto suave de suas sandálias no caminho de pedra abafado pela distância e o crepitar do trovão, congelou Francis.

O duque du Pavot detinha terras em Evreux? Claro que ele tinha! Essa era a propriedade do tio de Claudine. Havia também uma carruagem presa na estrada?

Claudine! Ele sentiu um alarme imediato. O que ele estava pensando, sentado aqui tão calmamente quando ela estava por perto? Talvez em grave perigo? As noites na estrada não eram tão seguras como deveriam ser — apesar dos esforços de seu pai e dos outros lordes locais, ainda havia vagabundos e bandidos nas estradas, homens desesperados que saqueariam uma carruagem que parasse sem pensar duas vezes.

Ele tinha que ir e descobrir mais sobre o relatório do monge de uma carruagem danificada, e logo.

Quanto mais ele pensava sobre isso, mais sabia que tinha que partir. Ele sabia que poderia parecer tolo, afinal, que prova tinha de que a carruagem trazia Claudine ou de fato alguma das relações do duque com sua residência? No entanto, ele tinha um senso de urgência que não podia ser negado.

Além disso, ele pensou enquanto se levantava, limpando a poeira de sua túnica enquanto se dirigia para as colunas e dentro de casa, ele tinha uma excelente chance de seguir o conselho do abade.

Ele poderia reunir informações.

Parecia a melhor chance que ele tinha para resolver o mistério em torno de Claudine.

Ou de ajudá-la.

Os dois pareciam entrelaçados de alguma forma.

Mesmo assim, apesar da gravidade da missão, Francis descobriu que não se sentia tão intimidado quanto inspirado por ela.

Ele poderia ver Claudine novamente.

Mesmo que eu não possa falar com ela, o que parece improvável. Vê-la de longe é bom o suficiente.

Teria que ser.

Enquanto se apressava para o espaço escuro e tranquilo do mosteiro, o som dos monges discutindo algo no scriptorium3 flutuava pacificamente para ele, sentiu seu coração se encher de excitação. Bem como uma chama brilhante de esperança. Ele seria capaz de descobrir alguma coisa. Primeiro, porém, ele tinha que se certificar de que a carruagem que os monges tinham visto estivesse segura.

Esse era o assunto mais urgente a ser tratado.

Ele correu para os estábulos, o coração batendo em seu peito. Ele sabia que era perigoso estar no exterior em uma tempestade de verão. Isso não importava, o perigo para lady Claudine poderia ser muito pior. Ele tinha que ir e assegurar-se de que ela estava bem.


CAPÍTULO QUINZE

PERIGO E ESCURIDÃO


A carruagem parou bruscamente. Claudine acordou. Ela abriu os olhos no interior revestido de couro escuro da carruagem e viu o rosto aflito de Bernadette.

— Milady? — Bernadette sussurrou. — Nós estamos..?

Ela parou. Lá fora, o cocheiro desceu com um baque de botas na terra dura. O som de seu humor descontente veio, abafado, pela lateral da carruagem. Houve silêncio, depois o trovão distante de uma tempestade chegando mais perto.

Claudine olhou para Bernadette com desânimo.

Bernadette assentiu com força.

— É a roda, milady. Estas estradas... com a chuva são tão escorregadias! Estamos presos em uma poça de lama.

Claudine levantou os dedos para os lábios nervosamente.

— Agora? Com o crepúsculo chegando. Bernadette. E se..?

— Seu tio vai enviar alguém em breve, — disse Bernadette tranquilizadora. — Você verá se ele não faz. Sua própria sobrinha, presa na estrada para Evreux? Claro que ele mandará lenhadores para procurar a carruagem.

Claudine assentiu.

— Você está certa, é claro, — ela concordou suavemente. Mesmo assim, o coração dela bateu de medo. Ela podia ouvir a tempestade aumentando acima. No espaço confinado da carruagem, todo pequeno murmúrio de trovão parecia tão ameaçador.

Dada a propensão de raios para atingir objetos altos, estamos em perigo profundo aqui.

Claudine estremeceu. Ela tinha ouvido e visto ataques suficientes aqui na parte Sul do país para saber que quanto mais alto era um obstáculo — ou árvore, — o mais provável era que ele fosse atingido. Nos campos de verão, em uma estrada, uma carruagem era o objeto mais alto por quilômetros ao redor.

Estamos em perigo.

Ela olhou para Bernadette, cujos olhos estavam tensos nos cantos. Ela sabia que, apesar do sorriso tranquilizador e do toque suave em sua mão, Bernadette estava tão preocupada quanto ela.

E com razão.

Não era apenas o perigo da morte instantânea que os incomodava. Era o perigo de um mais extenso nas mãos de vagabundos e foras da lei. Claudine estremeceu. A carruagem delas era o principal alvo.

Ela segurou a mão de Bernadette e tentou diminuir o fôlego. Ela procurou calma e encontrou.

O tio mandará alguém. A tempestade vai recuar. A chuva virá e o trovão acabará.

Ela respirou devagar.

Nesse momento, ela ouviu o cocheiro gritar para a escolta — elas haviam tomado apenas dois guardas armados como escolta, achando-se perfeitamente seguras aqui em suas próprias propriedades — com um som alarmado.

— Ei! François O que é isso aí?

— Um cavalo?

— Não é Benedict. Deve ser uma pessoa. Vá e veja.

Claudine respirou fundo. Por mais improvável que pudesse parecer que os ladrões estivessem armados — qualquer um que tivesse condições de ter um cavalo parecia ter pouca necessidade de roubar, — mas era possível.

Um fugitivo ou vagabundo poderia roubar um cavalo tão facilmente quanto roubaria nossa carruagem agora.

Ela apertou os dedos onde a mão de Bernadette descansava na dela como se fossem uma tábua de salvação. Bernadette recuou. As batidas dos cascos da escolta troaram e desapareceram na distância rapidamente, dominados pelo barulho do trovão.

As duas mulheres fecharam os olhos e começaram a rezar.

Claudine sentiu uma estranha inquietação a superar. Ao ouvir os homens gritando e o som de mais batidas de casco, sentiu a necessidade de sair da carruagem e investigar. Seu coração balançou, claramente com mais perspectiva do que ela mesma.

— Bernadette, — disse ela, voz suave, mas insistente: — Eu tenho que sair. Eu não posso simplesmente ficar sentada aqui.

— Milady, — implorou Bernadette. — Não. É perigoso.

Claudine sacudiu a cabeça. Ela sabia que tinha que sair dessa carruagem. A inatividade e a ameaça sem rosto a deixariam louca. Ela tinha que saber.

— Eu só vou ser um momento, Bernadette.

Ela abriu a porta e se deslizou para fora.

Do lado de fora, o mundo estava cinza e azul escuro, atravessado pela misteriosa onda de raios. Claudine olhou ao redor, cortando os olhos contra a escuridão. Uma brisa morna soprava, achatando a grama dos vastos campos. Ela olhou para a esquerda e pegou um movimento a cerca de trinta passos da carruagem.

Ali estava!

Um cavaleiro, aparecia à vista.

Claudine sentiu sua mão cobrir a boca assustada enquanto procurava novamente, localizando o sombrio cavaleiro na massa de cinzas, azuis e sombras escuras como o carvão. Ele estava mantendo-se no primeiro plano da floresta, onde se aproximavam da estrada estreitamente, a escuridão fazendo-o misturar-se com o escuro dos troncos das árvores, alguma coisa de sombra, iluminação e movimento.

Ela observou os dois guardas cavalgarem firmemente em direção ao homem sombreado.

Enquanto observava, os olhos se esticaram com horror, ela viu um dos guardas se aproximar para atacar o homem com sua espada. A luz brilhou no metal enquanto ele desembainhava, chocando prata pela lâmina.

Ela não podia ouvir o choque de espadas quando o cavaleiro respondeu ao ataque. Ela só viu o brilho de luz no metal polido quando a lâmina se chocou com a dele. Os sons da tempestade abafaram todos os outros ruídos.

— Socorro! — exclamou Claudine, um apelo aos maiores poderes. Ela observou o espadachim lutar com imensa habilidade. De repente, sua mente foi transportada de volta ao terraço.

Ela estava sentada no terraço, com vista para o pátio. No palácio, em uma tarde de verão muito ventilada. Ela viu o brilho do sol no aço e sentiu o coração subir para a boca. Ela viu a incrível habilidade do espadachim que ela admirava por tantas outras razões além de sua arte com a espada.

Francis!

O homem montado lembrou-a dele.

Ela balançou a cabeça. Não havia razão para que sua mente associasse as outras duas além da fantasia selvagem. Ou estava aqui? O jeito como ele empunhava aquela espada, esse homem não podia ser um simples vagabundo. Ele era muito adepto, muito habilidoso. Quem quer que seja que tenha tido acesso ao treinamento de um nobre, do qual ela não tinha absolutamente nenhum motivo para duvidar.

A luta desapareceu diante de seus olhos. O espadachim que parecia Francis, quase tinha vencido seus guardas que fizeram o possível para enfrentá-lo. De repente, o homem montado como Francis recuou bruscamente. Ela viu o cavalo dele cavalgar até as florestas, misturando-se quase imediatamente com a linha das árvores. Ela suspirou.

Quem quer que ele fosse, ele era habilidoso. Ele se foi agora. Seja grata, Claudine!

Ela estava a salvo e o espadachim recuara. Por que ela se sentia tão triste?

Eu suponho, ela pensou, sacudindo a cabeça com tristeza, que fiquei contente de ver alguém que me fez imaginar que ele estava aqui. Francis. Esse espadachim poderia ter sido ele de alguns ângulos. E quando ele partiu, especialmente.

Ela teve um vislumbre da postura das costas retas, ombros largos e quadris estreitos.

Poderia ter sido Francis, exceto pelo fato dele estar a quilômetros de distância. Por que ele deveria estar aqui, logicamente falando, quando ela precisava dele? Defendendo sua carruagem de vagabundos.

Até agora, o único vagabundo era o próprio cavaleiro. Agora ele se foi, podemos continuar. Pelo menos, isso era verdade se a carruagem pudesse se mover mais uma vez.

— Fabienne?

— Sim, milady? — Perguntou o cocheiro. Ele parecia muito abalado. Ela não podia culpá-lo.

— Já está consertado a roda?

— Quase milady, — ele confirmou. — Eu coletei pedrinhas, pedras e galhos e coloquei sob a roda. Assim que os homens voltarem, nós colocaremos a carruagem a caminho e veremos se conseguimos convencer a roda a não perdê-la.

— Uau, — Claudine sentiu a tensão drenar. — Boa. Meus agradecimentos por essa boa notícia.

Ele riu, através dela, ela podia ver mais tensão em seu rosto.

— Espero que sim, milady. Agora volte antes que você entre em colapso. Seu tio me mataria se eu deixasse algo acontecer agora.

Claudine sorriu gentilmente e agradeceu ao homem, subindo na carruagem com a ajuda de Fabienne. Quando ela entrou, virou-se para Bernadette, que franziu a testa. Ela estava branca de medo, sua pele em contraste tão acentuado com o resto dela que Claudine sentiu um alarme instantâneo por sua condição.

— Milady! — Bernadette disse, parecendo ao mesmo tempo aliviada e horrorizada. — Você está segura. Graças ao Céu... — ela parou, levantando os olhos para o céu em agradecimento.

Claudine assentiu.

— De fato. Mas... Bernadette?

— O que, milady? — Bernadette franziu a testa.

— Eu... — ela fez uma pausa hesitante. Ela deveria dizer a Bernadette o que ela pensara? Que Francis esteve lá cuidando deles? Ela balançou a cabeça.

Bernadette vai me achar cheio de fantasias. Eu penso o mesmo. Como poderia ser ele?

Mesmo assim, quando a carruagem recuou sobre as rodas e os homens deram grunhidos, tenso e depois gritos jubilosos, ela tinha que perguntar.

Se não fosse Francis, ela pensou, quem poderia ter sido? Um homem em um cavalo de guerra, armado com uma espada de aço, no campo à noite perto de Evreux. Se houvesse algum tipo de bandido à solta com essa descrição, certamente teriam ouvido mais sobre ele. Por que ele parece tão parecido com Francis? Tão ereto e tão habilidoso?

— Milady? — Bernadette interrompeu seus pensamentos.

— Oh, Bernadette. Desculpe, o que foi? — Ela perguntou quando a carruagem cambaleou para trás e então se balançou para frente, indo devagar.

— Eu estava pensando, graças ao Céu que estávamos tão perto de casa quando aconteceu. Estamos quase lá, eu acho. Essas colinas parecem as colinas que acabamos de sair de Annecy.

Annecy? Claudine ficou olhando. Ela queria rir. Claro! Como ela poderia ter sido tão estúpida!

Annecy estava a dez quilômetros de Evreux. Annecy era a casa do conde de Annecy. A casa dos pais de Francis McNeil.

Ela sentiu suas bochechas coradas de admiração e alegria. O cavaleiro poderia ter sido Francis! Pela primeira vez desde que deixou as terras do Norte perto de Paris, sentiu seu coração florescer de esperança.


CAPÍTULO DEZESSEIS

FAZENDO NOVOS PLANOS


A viagem ao mosteiro levou mais tempo do que Francis gostaria. Cansado e tenso após a luta, a pele suada, ele levou algum tempo para descansar nas florestas, deixando a si e seu cavalo recuperarem o equilíbrio.

— Eu não posso acreditar que fiz isso.

Ele suspirou. Ele havia lutado com o espadachim da guarda do vizinho, dois deles. Dois, contra um, na luz da tempestade. Ele tinha sorte de não estar morto.

Ele riu, balançando a cabeça. Seu sangue ainda fervia pela luta, seu coração estava leve, sua cabeça flutuando. Não era apenas a luta que o fez se sentir tão incrível.

Era a visão de uma cabeça de cabelos loiro.

Ele não podia ter certeza de que era ela. Ele não podia ter certeza do que ele tinha visto. Poderia ter sido um truque da luz, ele argumentou, reprimindo a alegria selvagem que saltou, correu e se deslizou em seus vasos sanguíneos.

Mesmo assim, havia o menor fio de possibilidade de que ele estava certo.

Era ela.

Francis sentiu suas bochechas se levantarem em um sorriso. Ele estava molhado, com frio e exultante. Ele estava exausto, cansado e esgotado. Ainda tinha uma boa meia hora de volta ao mosteiro.

— Pelo menos estará seco quando chegarmos lá.

A tempestade se dissipara, cedendo, como sempre, a um aguaceiro torrencial. Francis estava encharcado até a pele, tremendo e sorrindo como um homem selvagem.

Era sua mente brincando com ele, ou a figura de cabelo claro olhava para ele?

Ele riu.

— Pare de ser fantasioso, Francis.

Por que ela teria feito isso? Ele mal podia vê-la — apenas uma forma alta e clara na escuridão caprichosa — e, portanto, a probabilidade dela reconhecê-lo na distância de trinta e cinco passos era mínima.

Mesmo assim, parece que a figura alta e pálida o observava. A visão dela o esquentou e fez com que ele fizesse o melhor possível contra os cavaleiros que vinham para ele como seu inimigo.

— Eu deveria parar de pensar sobre isso... eu só estou sendo maluco.

Francis riu para si mesmo, sentindo suas bochechas frias e úmidas se erguerem com um sorriso torto. Ele estava encharcado, molhado e tremendo. Ainda, assim, ele estava feliz.

— Vamos, Nightshade, — ele sussurrou para o cavalo. Ele havia pegado emprestado um dos três cavalos dos monges, usado principalmente por mensageiros. As criaturas pobres foram nomeadas com nomes de diferentes ervas no jardim do mosteiro: Nightshade, Betony e Aconite. — Precisamos chegar em casa logo, antes de congelarmos.

Ele não pôde evitar a alegria que surgiu em seu peito. Todo o caminho de volta ele estava sorrindo. Deve ser Claudine! Quem mais poderia ser? Mesmo ter que desmontar e andar pela lama glutinosa para poupar os músculos de seu cavalo era insuficiente para diminuir sua alegria.

Claudine estava aqui. Na mansão a vinte milhas de sua própria casa! Quem mais com essa descrição estaria na carruagem sozinha? Na estrada para o norte? Com uma presença armada para protegê-la? O pensamento fez a ideia de ficar preso aqui no campo pelos próximos meses suportável.

Francis não conseguia parar de sorrir.

Quando chegou ao mosteiro, foi recebido pelo irmão Luc. Os olhos do homem se arregalaram de horror. Evidentemente, ver o filho do conde, as botas grossas de lama, os cabelos ruivos grudados na cabeça, era demais para o pobre homem.

— Meu lorde! — Ele gaguejou. — Você está... venha para dentro, antes de pegar sua morte pelo frio!

Francis deixou-se levar por dentro. Ele se sentou ao lado do fogo. Logo estava tremendo incontrolavelmente quando seu sangue começou a fluir mais rápido novamente, seu corpo se aquecendo. Os monges trouxeram-lhe uma tigela de caldo e o deixaram descongelar. A fala além do necessário foi proibida depois das Completas.

Enquanto ele estava sentado lá, Francis se viu fazendo planos.

Ele tinha que ir para Evreux assim que pudesse. Tinha que descobrir mais. Talvez ele pudesse se disfarçar, infiltrar-se na mansão...

Ele suspirou.

Francis, seu idiota. Como você pode esquecer? Você é conhecido do conde.

Não era como se ele se parecesse com qualquer outra pessoa também. Quantos servos altos, fortes, ruivos e de olhos verdes o conde poderia ter?

Nenhum. Ele já sabia essa resposta.

Não havia esperança para isso. Ele precisava de um disfarce.

Ou ajuda. Ele também precisava disso em breve.

Cedo na manhã seguinte, ele deixou o mosteiro. A viagem de volta foi mais rápida do que a que havia feito para vir e ele chegou à sua casa em alto astral.

— Francis! — Sua mãe exclamou quando ele apareceu. — Oh! Aí está você. Você deve ter ficado encharcado nessa tempestade. Eu estava preocupada...

Francis beijou sua bochecha perfumada com carinho.

— Oh mãe! Eu me abriguei na abadia perto de Bois. Você não deveria estar preocupada. Eu sou difícil de matar.

Sua mãe riu, mas seus olhos estavam sérios.

— Eu gostaria que fosse assim. Mas ninguém é imortal, meu filho.

Francis teve que concordar com a verdade disso. As pessoas poderiam ser levadas à morte de maneira angustiante e fácil. O pensamento o deixou ainda mais preocupado com Claudine.

Mais tarde, ele procurou seu pai. Ele o encontrou no escritório com Yves.

— Filho! Aí está você. Você encontrou abrigo da tempestade?

Francis sorriu.

— Sim, ou eu estaria em um estado lastimável, pai.

Yves levantou os olhos do livro.

— Você está um...

— Yves? — Seu pai interrompeu o comentário do antigo administrador. — Você não tem contas para adicionar?

Yves sorriu.

— Eu tenho, meu lorde.

Os dois esperaram enquanto ele saía. Ele ainda estava rindo para si mesmo.

— Você queria me perguntar alguma coisa, meu filho?

— Sim. Pai, posso precisar ficar longe por alguns dias.

Seu pai levantou uma sobrancelha.

— Muito bem, filho. Eu vou ficar aqui até a temporada da justa. Por todos os meios, tire seu tempo. Você precisa ir longe?

Francis sorriu. Ele amava a pronta aceitação do pai.

— Não, pai.

— Bem então. Se você precisar de uma escolta, me diga. Tenho certeza de que poderíamos poupar dois dos guarda da casa.

Francis sacudiu a cabeça.

— Eu não estou indo tão longe, pai.

— Bem, então. Por todos os meios me avise de algo.

Francis sorriu.

— Obrigado, pai. Há algo que eu possa fazer para ajudar nas contas?

Seu pai fez uma careta.

— Eu não penso assim, filho. Como você sabe, eu não pouparia esse trabalho de Yves se minha vida dependesse disso.

Francis riu.

— Exatamente.

Ele saiu.

No andar de cima, ele empacotou um alforje e depois se dirigiu aos estábulos. Ele descobriu que seu coração estava acelerado e sua mente não conseguia evitar o pensamento daquele rosto doce e do corpo bonito. Ele imaginou como Claudine seria nua, aquelas doces curvas descobertas diante dele, deitada na cama. Seus seios fartos, com o que ele imaginava serem mamilos cor de pêssego e ombros arredondados.

Droga Ele se repreendeu com um grande sorriso. Pare com isso.

Ele tirou o cavalo dos estábulos e cavalgou.

Quando partiu, ele não tinha nenhum plano em mente. No entanto, ele começou a inventar um a caminho. Entre no castelo em Evreux disfarçado de mendigo. Então ele tentaria descobrir dos criados se a lady Claudine estava em residência. De lá, ele encontraria uma maneira de levar uma mensagem para Bernadette. Ela o ajudara uma vez e ele tinha certeza de que o ajudaria novamente.

— Certo. Agora preciso encontrar um disfarce.

O plano tomou forma quando ele passou pela abadia. Ele parou, avistando o irmão Raymond nos estábulos. Um simpático e sorridente monge, ele sempre esteve disposto a participar de brincadeiras com Francis quando jovem. Sabia que ele iria ajudá-lo agora, se lhe pedisse.

— Irmão! Saudações — ele chamou. — Um bom dia.

— Lorde Francis! — O monge sorriu. — Realmente é. O que te traz até nós? Parando para se refrescar? — ele perguntou, pegando o freio do cavalo de Francis e levando-o para o estábulo.

— Uh, não, irmão, — Francis disse, pensativo. — Eu não queria ficar muito tempo. Eu queria pedir sua ajuda.

— Oh? — As sobrancelhas do monge abaixaram e ele se inclinou para frente conspirativamente. — Com o que?

— Bem, — Francis fez uma pausa. — É tipo isso: Eu preciso fazer entrar em algum lugar disfarçado. Você poderia me emprestar o hábito de um monge?

As sobrancelhas do irmão Raymond subiram.

— Representar um monge não é uma questão leve, meu jovem, — disse ele. — Você teria que ter uma razão muito boa para fazê-lo.

Francis sentiu-se embaraçado. No entanto, ele decidiu que seria melhor simplesmente sair com isso.

— Eu preciso disto para resolver um assunto com uma moça. Eu tenho que vê-la.

O irmão Raymond pareceu chocado por um momento. Então ele riu.

— Lorde Francis! Tenho que admitir que admiro sua coragem. Se saindo com uma coisa dessas. Bem! Eu não posso dizer que sou avesso a tais questões... Eu tinha outra vida antes de ser monge. Venha. — Ele o guiou pelo lado da abadia e parou. — Agora, então, eu confio que você vai usar isso em busca do amor, não do mal. Aqui estamos nós — acrescentou ele, entregando a Francis um pacote de tecido marrom grosso.

Francis ficou olhando. Este era o seu ingresso para o castelo. Também estava ao que estaria a seu alcance. Literalmente. Ele não conseguia acreditar.

— Obrigado, irmão.

O monge ficou vermelho. Ele riu.

— De modo nenhum. Agora vai. Que Deus esteja com você. Tenho certeza que vai precisar que Ele evite a tentação.

Francis riu.

— Eu espero que sim, padre.

O irmão Raymond sorriu e acenou para ele.

Demorou meia hora até que Francis estivesse à vista de Evreux. Quando chegou, começou a sentir as palmas das mãos suando de antecipação e nervosismo.

A antecipação superou os nervos, no entanto. Ele subiu e depois desmontou, sentindo-se estúpido. Por que ele deixou seu cavalo de batalha? Nenhum monge humilde teria um cavalo tão bom!

Eles vão dar uma olhada no cavalo que estou levando e saberam que não sou monge. Francis! Como você pode ser tão tolo?

Ele pensou rapidamente. Quando chegou ao portão, ele estava pronto.

— Quem vem lá? — O sentinela o desafiou. Ele viu os olhos do homem se estreitarem e sabia que estava pensando exatamente o que ele mesmo pensaria. Este era um bandido que roubara um manto de monge de um eremita errante e depois roubara o cavalo de um cavaleiro.

— Irmão Franc, senhor, — ele disse rapidamente. — Estou aqui com o cavalo de lorde Francis. Ele perdeu uma ferradura e não admitiu sob nenhum argumento de que deveríamos ferrá-lo.

O homem franziu a testa.

— O que há de errado com seu próprio ferreiro, irmão? Por que vir a Evreux?

Francis olhou para o chão, tentando manter uma postura humilde.

— Ele está de folga, senhor. O pulso está atormentando-o. Com as tempestades pioram. Sempre piora a dor nos ossos, então ele se recolhe.

A sentinela parecia cética, mas ele grunhiu e sacudiu a cabeça.

— Certo então. Então vá.

Francis soltou o que ele esperava que não fosse um suspiro audível. Ele estava tão aliviado! Ele estava em Evreux.

Ele seguiu a multidão de pessoas no portão. Eles estavam indo para o mercado. Quando chegou ao mercado, Francis olhou em volta. Era uma pequena aldeia a de Evreux. As casas eram limpas e cobertas de palha, as fachadas caiadas de branco e as janelas de preto. Ele viu padeiros e trabalhadores de couro, escultores, tecelões e vendedores de frutas estabelecendo suas mercadorias. Ele também viu guardas do castelo, para vigiar as coisas.

— Ei, monge! — Disse um deles. — Você está vendendo esse cavalo?

— N... não! — Francis disse, alarmado. — Eu não estou. Pertence a lorde Francis!

— Lorde Francis? — O guarda franziu a testa. — Ele está por essas partes, hey?

— Em Annecy, — Francis disse rapidamente. Ele tinha um capuz que cobria seu cabelo, felizmente, ou tinha quase certeza de que se destacaria como Francis para qualquer um que conhecesse alguma coisa sobre sua família. Felizmente, os guardas aqui em Evreux estavam sem saber.

— Ah. Bem, suponho que você não possa vendê-lo, então — disse o guarda amigavelmente. — Siga seu caminho, então. O ferreiro está ali. Naquela rua, na esquina.

Francis olhou na direção em que apontavam e se dirigiu para lá com resignação. Se ele estivesse aqui fingindo ser o irmão Franc, ele tinha que levar seu cavalo para o ferrador. Ou as pessoas ficariam desconfiadas. O homem poderia ter informações.

— Hey! — Um homem grande chamou quando ele se aproximou do lugar. — Você tem um bom cavalo, irmão!

Francis suspirou. Isso estava ficando cansativo.

— Sim, mestre Smith. É o cavalo do lorde Francis.

— Ah. Ele é um sujeito extravagante, hein? — o ferreiro sorriu, revelando uma carie grande como um dente. Ele era um homem vasto, alto, com um peito largo e ombros ondulados que faziam com que até Francis — que era um imenso — sentisse que enfrentava a concorrência.

— Ele é o filho do conde de Annecy, — explicou ele.

— Ah. Bem, traga o cavalo então. Vamos ferrá-lo para a satisfação de algum nobre mimado.

Francis se empertigou um pouco com isso, mas ele seguiu o homem rapidamente para a baia. Ele esperou que o homem verificasse os cascos de Dusk Shadow com um grunhido. Francis sentiu o coração afundar, pois sabia perfeitamente que haviam sido substituídos na semana anterior e que estavam perfeitamente bem por pelo menos um mês. Então, de repente, ele teve outra boa ideia.

— O que é problema? — ele perguntou, vendo o ferreiro franzir o cenho.

— Não há nada de errado com essas ferraduras, — disse o ferreiro, absolutamente perplexo. — Você tem certeza que ele mandou você aqui para ter seu cavalo ferrado, hein?

Francis assentiu.

— Eu tenho. Mas esta não seria a primeira vez que ele faria algo assim. Ele, lorde Francis é um pouco estranho. — Ele tocou seu cérebro sugestivamente.

— Ah. — O ferreiro riu. — Isso explica isso então. Loucos, esses nobres são às vezes. Vem do ar.

— Do ar? — Francis estava genuinamente interessado agora. Isso era algo que ele nunca ouviu alguém dizer antes.

— Sim. Aqueles castelos, tão altos, está vendo? Eles gastam muito tempo respirando o ar do alto. Isso não é bom. Basta perguntar a alguém. Você sobe nas montanhas, mas não pode respirar tão bem. Estar muito alto no ar é ruim para você.

Francis ficou surpreso.

— Bem! Isso explicaria, — ele disse com um sorriso. — Gostei disso! Transforma a mente, hein?

— Como o vinagre faz creme, irmão. Vinagre em creme.

— Os seus também estão loucos? — Ele perguntou, levantando uma sobrancelha na direção do castelo.

O ferreiro riu.

— Claro que estão, senhor. Aquele cara está louco, ou eu acho isso.

— Quem?

— Ele. O conde de Corron. Ele e o duque, ambos. Ambos vêm aqui no verão que é algum tipo de residência deles. Na maioria das vezes só temos o velho Brissot, o supervisor. Mas quando eles estão aqui... o barulho! — Ele cuspiu.

Francis esperou um momento, interessado em ver se o sujeito diria mais. Ele não o fez, então ele o estimulou.

— Louco. Como?

— Oh, apenas por causa da agitação. Nada é certo para eles. Costuma de ser assim, né? Louco.

Francis assentiu. Ele não tinha certeza se ia descobrir mais alguma coisa, então agradeceu ao ferreiro e saiu.

— O que você vai dizer a esse nobre, hein? Quando você voltar? — O ferreiro gritou atrás dele. Ele estava sorrindo ironicamente e Francis sentiu seu aborrecimento substituído por uma diversão relutante.

— Vou dizer a ele que você consertou as ferraduras, — Francis sorriu. — Como ele saberá? Não há ada de errado com eles, sim? Eu direi a ele que você os substituiu.

— Haha! — O ferreiro assentiu. — Uma boa resposta. Você tem uma cabeça rápida em seus ombros irmão. Um ótima cabeça.

Francis sorriu.

— Obrigado, filho. Que a paz esteja com você.

— E com você, irmão. Boa sorte com os loucos.

Francis saiu guiando seu cavalo. No momento em que ele estava indo em direção ao castelo, ainda estava se sentindo mais do que um pouco irritado. Loucos, de fato! O ar nos castelos fazia-os loucos! Ele se sentiu muito ofendido.

Pelo menos ele parecia pensar que eu tinha uma cabeça boa o suficiente nos meus ombros como um monge. Mas como nobre, sou louco, ou assim ele pensa. Estranho.

Ele tinha, no entanto, descoberto que o duque vinha aqui. Assim como seu irmão, o conde. Também que eles tinham reclamações.

Ele ainda estava ponderando sua loucura quando chegou ao portão do castelo. Ali, ele parou.

Ele estava olhando diretamente a um rosto. Era um rosto que ele reconheceu.

Era o conde de Corron.

Alto e louro, com a mão no freio do cavalo, o conde estava na entrada do pátio do castelo. Ele tinha se abaixado olhando para algo sendo apresentado a ele por algum oficial local. Quando ele olhou para cima, seus olhos foram direto para Francis.

Nesse ponto, a conde piscou. Seus olhos focados. Ele estava olhando diretamente para Francis. Ele o viu. Ele parecia reconhecê-lo também. Um estranho olhar passou pelo rosto dele. Então ele se virou para o séquito e afastou-se rapidamente.

Francis estava de pé perto da cabeça de seu cavalo, sua respiração ofegante e toda a sua mente em tumulto. Ele estendeu a mão e tocou o capuz do hábito. Ele havia recuado. Seu cabelo estava se mostrando. Deve ter sido apenas um vislumbre disso, mas já era fim de tarde e deve ter brilhado como um farol à luz do sol. Não havia nenhuma dúvida sobre isso. A conde sabia que ele estava aqui.

Por alguma razão, isso encheu Francis de pressentimento.


CAPÍTULO DEZESSETE

UMA GRANDE SURPRESA


Claudine abriu os olhos. Ela estava deitada de costas na cama no quarto do andar de cima que sempre usava quando estava em Evreux. Sua cabeça doía menos, o que era bom. Ela tentou se sentar.

— Bernadette? — Ela chamou.

Quando não houve resposta, ela fechou os olhos contra a dor ardente em sua cabeça e girou para o lado, jogando as pernas sobre a borda da cama. Ela tropeçou em seus pés e saiu para o corredor.

Ela se inclinou na parede, sentindo-se miserável. Qual era o problema com ela? Lembranças do dia anterior voltaram para ela. Estava em seus aposentos, tomando o remédio. Então ela se levantou e de repente desmoronou.

O médico veio me ver e me deu mais. Isso me fez sentir ainda pior.

Ela sentiu o coração batendo e descansou a mão no peito, encostada na parede, o mundo balançando ao seu redor.

— Sobrinha!

Claudine piscou, encontrando-se cara a cara com seu tio. Ele tinha uma expressão cansada e abatida e ela teve a sensação de que ele estivera acordado a noite toda.

— Tio, — ela disse.

— Você está andando! Oh, graças a Deus. Eu estava tão preocupado.

Claudine sorriu fracamente.

— Obrigada tio. Eu estou melhorando, eu acho.

Seu tio sorriu.

— Boa. Boa! Estou tão feliz em ouvir isso, Claudine. O médico disse que você deveria ficar por mais tempo, no entanto. E não se esqueça de tomar seu remédio. Eu entendo que ele aumentou a dose.

Claudine levantou uma sobrancelha.

— Oh? — Por que ela se sentia tão miseravelmente instável? O corredor mergulhou e balançou quando ela tentou se concentrar em seu tio. — Uh... desculpe, tio. Eu acho que deveria me deitar...

As fortes mãos de seu tio seguraram seu pulso.

— Claro, sobrinha. Deixe-me ajudá-la a voltar ao seu quarto. Você não deve se esforçar. Onde está essa sua serva? Ela deveria estar te ajudando!

— Eu estava procurando por Bernadette quando o encontrei, — sussurrou Claudine. Maladi miserável! Por que tinha que atacá-la agora, deixando-a tão mal? Agora, quando ela pensou que Francis poderia estar por perto.

— Eu vou chamá-la. O que me lembra que aquela garota é uma preocupação em si mesma... ela não conhece seu lugar. — Ele parecia irritado.

Claudine suspirou.

— Tio, não, — ela disse suavemente. — Não é culpa de Bernadette... — Ela sentiu o coração batendo forte no peito e descansou a mão sobre ele, sentindo a dor apertá-la em seu punho.

— Agora não se aflija, — disse seu tio baixinho. Sua voz parecia vir de quilômetros de distância acima de sua cabeça. — Está tudo bem. Eu vou buscá-la.

— Obrigada, — sussurrou Claudine. Ela deixou que ele a levasse para seu quarto e a deitasse na cama.

Algumas horas depois, ela foi acordada pelo som de Bernadette misturando algo em um copo.

— Seu remédio, ama.

Ela passou a taça para Claudine, que pegou e tomou um gole. Então fez uma careta.

— Eu... eu não posso beber isto, Bernadette. Eu me sinto muito mal. — Apenas o cheiro do suco de groselha familiar com seu tom nocivo a fez sentir-se doente.

A voz de Bernadette parecia vir de muito longe.

— Oh, milady. Você deveria tomar... bem, se não se importa. Nós vamos colocá-lo de lado enquanto você descansa um pouco mais.

— Não quero... descansar. Quer andar sair... fora — Claudine sussurrou. Por que falar estava tão difícil para ela?

Ela ouviu Bernadette se sentar ao lado da cama. Ela queria olhar para ela, mas abrir os olhos fazia a cabeça doer ainda mais.

— Oh, minha dama, — ela disse suavemente. — Compreendo. Bem, podemos andar devagar no jardim por um tempo... Vou mandar Henri levá-la para baixo.

— Obrigado, — sussurrou Claudine.

Henri — o criado de seu tio — chegou. Um homem vasto e musculoso, ele levantou Claudine facilmente e levou-a para o jardim. Claudine mal se apercebeu enquanto desciam para a clara luz do sol da tarde. Ela estava com dor e meio adormecida.

O que há de errado comigo?

Desde que chegaram, o maladi pareceu piorar. Ela não se lembrava de ter tido um ataque tão ruim. Ela mal podia se sentar agora. O que quer que fosse que sufocasse a vida dela, estava piorando.

— Milady? — Voz de Bernadette interrompeu seu devaneio.

— O que há de errado comigo? — Claudine perguntou fracamente. — Eu não entendo.

Bernadette suspirou.

— Eu não sei, milady. O médico disse que talvez seja sazonal. As tempestades no verão... talvez piorem a situação. — falou Bernadette.

Claudine suspirou.

— Talvez, — ela concordou, cansada. — Eu quero sentar no sol, Bernadette.

— Muito bem, milady.

Bernadette chamou Henri, que mudou a cadeira para o calor da tarde. Claudine se deitou, deixando a luz da tarde penetrar em seus ossos. Ela estava entrando e saindo da vigília quando ouviu vozes. A voz de Bernadette chegou primeiro.

— Eu sei. No entanto, não posso. E se... não! É muito perigoso.

Ela parecia desesperada. Outra voz respondeu. Claudine mal conseguia discernir. Ela tentou ouvir, mas as palavras a iludiam. Ela sentiu seu coração batendo com alarme. E se Bernadette estivesse traindo-a de alguma forma? Ela confiava nela, mas quem diria que sua confiança não era descabida? Ela não podia ouvir a outra pessoa e quase adormeceu novamente, empurrada de volta para a vigília pela resposta dura de Bernadette.

— Bem, muito bem, — disse Bernadette com tristeza. — Mas apenas uma vez, entende? Qualquer outra coisa é muito arriscada. Você deve saber disso.

O que era arriscado? Bernadette, o que você está fazendo?

Claudine deixou sua mente flutuar nas lembranças doces de Francis — a coisa mais deliciosamente arriscada que ela já tinha feito era tê-lo em seu quarto de dormir. Agora ela se lembrava daquelas lembranças com um delicioso formigamento dentro dela. O jeito que a mão dele a tocava, apertando o pulso dela. O doce calor de sua boca na dela. A maneira como sua língua sondava em sua boca tão suavemente, tão pesquisadora.

Ela caiu lentamente de volta ao sono.

— Milady! — Bernadette estava ao lado dela novamente, sacudindo-a gentilmente para acordá-la. Claudine se mexeu e abriu os olhos. Sua amiga estava corada e parecia agitada.

— Mmmm? Sim, Bernadette?

— Você deve entrar agora. Já tomou muito sol. O médico está aqui para te ver.

Claudine sentiu o coração acelerar em pânico.

— Não de novo. Bernadette, porque? Eu estou bem. Apenas com sono. Tão sonolenta... — ela parou, bocejando.

— Eu sei, querida, — disse Bernadette. Sua voz estava tensa, vibrando com uma nova urgência que Claudine não ouvira antes. — Compreendo. Mas você deve vir.

— Não, — disse Claudine com raiva. Pela primeira vez em sua vida, tentou lutar quando Henri se inclinou para buscá-la. Por que ela era assim? Ela não sabia. Tudo o que sabia era que ela tivera o suficiente de sigilo.

— Milady, por favor... — Bernadette a acalmou. Ela lutou, mas logo se cansou e Henri levou-a para o quarto. Ele a deitou na cama. Claudine manteve os olhos fechados, mas um pouco de seu desafio estava crescendo dentro dela.

— Bernadette, eu espero que você saiba que eu não aprovo isso, — ela disse suavemente. — Se você me tratar com tal desrespeito, eu vou ter... sabe que eu... — ela parou, ouvindo sua própria voz insultada.

— Oh, milady. Compreendo. Mas olhe! Aqui está o médico.

— Não quero... — Claudine protestou suavemente. Então ela sentiu uma mão sobre seu braço.

— Claudine?

A voz vibrou em seus ossos. Ela sabia disso quando reconheceu os dedos quentes e insistentes em seu pulso, a mão gentil que tocava seu pescoço.

— Francis?

Ela se atirou na vertical, os olhos se abrindo. Sua cabeça doía e ela fechava os olhos.

— Shhh, — ele sussurrou. — Eu sou o padre Alexandre por enquanto, — ele sussurrou. — Melhor se nós dois lembrarmos disso. Mas sim, sou eu. Como vai você, minha querida?

Claudine sentiu seu coração se derreter quando ele disse aquelas palavras.

— Oh, Francis, — ela sussurrou. — Eu... você não deveria estar aqui.

Ele riu.

— Eu sei. Mas eu estou. Além disso, estou tão preocupado com você, minha querida. Há quanto tempo você está doente?

— Não... muito tempo, — ela sussurrou. — Desde ontem.

Francis estava acariciando seus cabelos. Ela sentiu a mão dele se deslizar na dela, apertando-a. A vitalidade morna dele parecia infiltrar-se nela e ela abriu os olhos, olhando para os seus, verdes e suaves.

— Oh, meu querido, — ela sussurrou. — Estou tão feliz em vê-lo.

Ele sorriu. Seu sorriso era doce e ele se inclinou para beijar sua mão.

— Estou muito feliz em vê-la também, minha querida.

O toque dos lábios dele nos dedos dela era estranho e excitante. A maneira como ele acariciava seu cabelo era ao mesmo tempo gentil e despertava aquelas sensações estranhas e doces que fluía pelo seu corpo.

Ela se inclinou um pouco e ele se inclinou para frente.

Seus lábios se separaram e eles acariciaram os dela, seu corpo pressionando-a, empurrando-a para baixo na cama. Ela suspirou e sentiu o toque dele explorando-a lentamente. A mão dele se desviou do pescoço até a cintura, e ela ofegou e ficou tensa quando a língua dele sondou sua boca e seus dedos apertaram sua cintura, amassando a carne.

Ele ficou rígido também e retirou a mão bruscamente.

— Milady! Eu estou... me perdoe, — ele disse. Seu rosto estava vermelho, a respiração ofegante em sua garganta como se tivesse corrido muito. Claudine sacudiu a cabeça.

— Nada a perdoar, — ela sussurrou.

Seu corpo parecia estranhamente desprovido de seu toque, um sentimento que a surpreendeu. Ela teria esperado que um toque tão íntimo seria repugnante para ela, mas não foi - era maravilhoso. Ela podia sentir o calor doce formigando dentro dela e queria mais.

Francis riu.

— Eu sinto muito, minha querida. Eu permiti que minhas fantasias fugissem de mim. Eu estou tão feliz. — Seu rosto se iluminou. Ele estava sentado em frente a ela, na cadeira de madeira entalhada ao lado da cama, onde Bernadette às vezes se sentava para conversar com ela.

Ela riu com tristeza.

— Eu também, — ela sussurrou. Ela estendeu a mão para pegar a mão dele e ele suspirou enquanto seus dedos frios se fechavam ao redor dos seus. Ele olhou para ela com tanta ternura que Claudine sentiu seu coração se derreter. Sua mão se fechou sobre a dela.

— Claudine, — ele sussurrou. — Eu... nós temos que fazer alguma coisa. Há algo... perturbador... sobre este seu maladi. Eu pretendo chegar ao fundo disso. No entanto, sinto que você está em perigo aqui. Há algo que eu possa fazer?

Claudine sentiu os próprios olhos se arregalarem de surpresa. Em perigo? O que ele quis dizer?

— Eu estou... Francis, por quê? O que você acha que está acontecendo?

Ele mordeu o lábio, o rosto escuro.

— Eu não sei, minha querida. Mas acho que algo está acontecendo. Vou tentar vê-la todos os dias.

Claudine sentiu o coração disparar e subitamente ficou fria.

— Não, Francis, — ela sussurrou. — Você não pode fazer isso. É perigoso. Se fôssemos apanhados... você e eu estaríamos em desgraça. Expulsos da sociedade. Nós morreríamos na rua.

Francis sorriu melancolicamente.

— Eu sei. Sim, seríamos excluídos da sociedade. Nós não morreríamos, no entanto. Eu te protegeria.

Claudine sentiu o coração amolecer.

— Obrigada, meu querido. — Ela apertou a mão dele. Mesmo assim, ela sentiu uma pontada de apreensão.

Ele sorriu.

— Agradeço a Bernadette por nos ajudar. Sem ela, eu nunca teria permissão para entrar. Mas, como eu não podia, o padre Alexandre pode ser permitido a tratá-la. Eu conheço um pouco do folclore de ervas, graças aos monges. Acho que quase poderia manter esse disfarce, mesmo sob escrutínio.

Claudine deu uma risadinha. De alguma forma, a ideia do nobre bem construído ser seu médico era deliciosamente picante. No entanto, perigoso também. Sua barriga formigava de excitação.

Sua cabeça também estava se sentindo melhor. O coração dela bateu rápido, mas a sensação era diferente — mais saudável de alguma forma.

— Francis, — ela sussurrou. — Eu...

— Meu lorde! — Bernadette disse de repente. — Eu acho que... é melhor você ficar de pé. Alguém está vindo.

Francis se levantou com uma velocidade que fez Claudine estremecer. Ela o viu endireitar as saias de sua túnica — sim, Francis estava usando o manto de um monge franciscano — e encarar a porta. Ela se abriu para revelar o mordomo.

— Padre Alexandre?

— Sim... sim? — Francis respondeu. Ele limpou a garganta e sua próxima resposta foi para encorajada. — O que é, meu filho?

Claudine teve que morder suas bochechas para impedir que o sorriso se espalhasse por seu rosto. A ideia de Francis como um monge era tão engraçada que, mesmo nesse perigo real, ela tinha que ver o lado divertido.

— Eu tenho um quarto preparado para você no sótão. Se você me acompanhar ao andar de cima? É humilde, mas você o achará mais adequado. Um jantar leve foi preparado no andar de baixo.

— Eu vou participar dele depois de rezar a oração nas Vésperas.

Claudine queria rir de novo, ouvindo as palavras de Francis. Ele estava fazendo o papel de um monge à perfeição. Ela olhou além da porta do mordomo. Ele parecia um pouco desconfortável.

— Claro, padre.

— Abençoado seja você, meu filho.

Claudine olhou para ele e seus olhos encontraram os dela. Ele abaixou as pálpebras, e ela pôde ver a bochecha dele saltar como se quisesse rir e estivesse o suprimindo. Seu coração pulou de felicidade.

Quando o mordomo se foi, eles compartilharam um sorriso.

— Francis! Ah você...

— Eu realmente sou ruim, — ele começou, interrompendo-a.

Eles se entreolharam sorrindo. Ele limpou a garganta para começar de novo. A conversa deles foi interrompida por Bernadette.

— Meu lorde, milady... por favor. Precisamos ter cuidado. Você vai sair agora?

Francis assentiu.

— Sim, Bernadette. E obrigado.

Claudine se concentrou no rosto de Bernadette. Ela estava empenhada e preocupada. Ela sentiu seu coração se encher de gratidão.

— De modo nenhum. Se você conseguir não levar todos nós para a rua, ficarei agradecida — disse Bernadette com alguma aspereza.

Francis assentiu.

— Eu farei o meu melhor, senhorita.

— Boa. Agora vá. E vocês dois, lembrem-se. Este é o padre Alexandre. O novo médico.

— Sim, — Claudine assentiu.

— Você bem poderia fingir que não gostar dele, — acrescentou Bernadette. — Se você parecer entusiasmada, talvez seu tio o investigue mais de perto. Nós não queremos isso.

— Sim, Bernadette, — Claudine assentiu. Seus olhos foram para Francis, que sorriu.

— E eu? — Ele perguntou a Bernadette.

— É melhor que você mantenha seu capuz, seus olhos baixos e não fale muito, — disse Bernadette rapidamente. — Eu sei como seria fácil para ele reconhecer você. Agora vá. Por favor, meu lorde, Alguém está vindo.

Francis assentiu.

— Abençoada seja você, — disse ele a Bernadette. — Muito sinceramente eu quero dizer isso.

Ele se virou e saiu apressado.

Claudine olhou para Bernadette. Seus olhos castanhos estavam preocupados, mas ela sorriu para ela.

Claudine sorriu de volta. Ela mal podia acreditar em como ela se sentia maravilhosa, sabendo que Francis estava aqui! Sua vida nunca foi tão feliz. Bernadette se abaixou cansadamente para o assento ao lado da cama.

— Minha lady, eu não gosto disso, — disse ela. — Quero dizer... estou feliz em vê-la bem. No entanto, tenho esse sentimento dentro de mim de que isso terminará mal. Ele não deveria se arriscar assim.

Claudine mordeu o lábio.

— Eu sei, Bernadette. Mas, no entanto, estou muito feliz. — Ela apertou a mão de sua amiga impulsivamente. — Muito obrigada.

Bernadette sorriu para ela com carinho.

— Eu sei, minha querida, — disse ela. — Estou feliz também. E de alguma forma vamos garantir que tudo acabe bem.

Claudine assentiu, fechando os olhos.

— Eu rezo para isso, — ela disse sinceramente.

O sorriso de Bernadette era tão brilhante quanto as chamas na lareira.

— Estou tão feliz em ouvir isso, milady. Realmente estou.

Elas conversaram um pouco. Elas discutiam assuntos cotidianos simples: o modo como lady Mirella estava enrolando o cabelo, a nova moda das mangas e o progresso da tapeçaria do altar. Quando Bernadette se foi, Claudine fechou os olhos, um grande sorriso movendo seus lábios. Ela não podia acreditar no que acabara de acontecer. Francis estava aqui na mansão. Ele estava aqui, onde ela podia vê-lo todos os dias.

Ela se encontrou recordando cada sensação do toque da mão dele, o modo como sua boca acariciava a dela, a doce sensação de seu aperto em sua cintura.

Eu me pergunto se alguma vez estarei bem o suficiente para... fazer essas coisas?

Ela sabia no que estava pensando, o pouco do que entendia do que significava ficar com um homem. Era algo que ela nunca imaginou que seria acessível a ela. Agora ela esperava que fosse. Ela se sentou, sentindo-se revivida. Sua cabeça havia clareado milagrosamente, e ela se sentia bem o suficiente para se levantar e mover a cadeira para o terraço, observando o pôr do sol espalhar raios dourados pela terra. Ela se sentiu melhor do que ela sentira por meses. Foi só quando ela entrou que se lembrou de que nem sequer tomara o remédio diário. Ela riu.

Francis é um remédio muito melhor para mim do que o diário?

Parece que sim. Se ele ficasse, ela poderia ficar bem depois de tudo.


CAPÍTULO DEZOITO

AMEAÇA E FELICIDADE


O sol da manhã lavava pela janela as pálpebras de Francis. Lembrança de onde ele estava. Ele estava no andar de cima no sótão de Evreux. Com isso, ele se lembrou abruptamente do resto da situação. Claudine estava aqui. Ele era, para todos os efeitos, seu médico e um monge. Ele deveria manter esse disfarce.

— Certo. Vou para a cozinha e depois para os aposentos dela.

Depois do café da manhã, Francis sentiu o coração palpitar de excitação. Ele subiu as escadas elaborada da mansão, embora pequena, e se dirigiu para seu quarto de dormir. Lá, ele bateu na porta. Bernadette respondeu.

— Padre Alexandre! — Ela disse. Seus olhos se arregalaram e então sua expressão preocupada desceu. — Entre. A... paciente... está acordada e pronta para vê-lo.

Francis sentiu sua barriga apertar com doce excitação. Ele entrou rapidamente, com um grande sorriso no rosto. Ele encontrou Claudine sentada em sua penteadeira, um longo vestido branco, seu cabelo preso. Ela parecia indescritivelmente adorável e sua virilha doíam quando seus olhos se demoraram em seu busto cheio. Então ele olhou em seus olhos e seu coração se aqueceu.

— Milady, — disse ele, curvando-se. — Se assim posso dizer, você parece notavelmente bem esta manhã.

Ela sorriu, um leve rubor colorindo sua bochecha.

— Obrigada, meu lorde. Padre. Eu me sinto muito melhor.

Ele sorriu.

— Estou satisfeito em ouvir isso, — ele se virou para Bernadette e sussurrou baixinho para ela. — É seguro?

Bernadette assentiu.

— Sua Senhoria está fora. Você pode falar livremente. Eu vou ficar de olho na janela. Ele pode não ter ido embora por muito tempo.

— Obrigado.

Francis se abaixou para sentar na cadeira ao lado da cama. Ele estendeu a mão para pegar a mão de Claudine. Ela agarrou seus dedos com força.

— Francis, — disse ela. Seu rosto estava quente de felicidade. — Estou tão feliz em ver você. Eu confio que você dormiu bem?

Ele sorriu.

— Eu dormi. E realmente, você parece bem hoje.

Ela enrubesceu.

— Eu me sinto melhor. Obrigada.

Francis se inclinou e levou a mão à boca, beijando os dedos frios e perfumados. Sua mão e toda a sua pessoa cheiravam a alecrim e doçura. Seu corpo ficou tenso de desejo por ela.

— Claudine, — ele sussurrou. — Eu... você fugiria comigo?

A doce boca rosada de Claudine se abriu, surpresa.

— Francis! Eu não.

Francis piscou.

— Não? — A resposta o surpreendeu. Ele se sentia muito magoado, se fosse honesto consigo mesmo. De todas as coisas que ele esperava, a negação total não era uma delas. — Por quê?

Ela fechou os olhos. Ela parecia triste.

— Francis, por favor. Nós devemos ser sensatos. Você sabe que estou doente. Preciso perguntar se você já pensou nisso por apenas um momento ou dois?

Francis tossiu. Ele se sentia muito chateado com isso.

— Claudine! Por que você diz isso? O que há de errado?

Claudine parecia triste. Ela gentilmente moveu a mão para fora de seu alcance. Olhou para ele com aqueles grandes olhos úmidos de tristeza.

— Francis, não estou bem. Você sabe disso. Estou muito melhor, mas, seja como for, estou fraca. Eu posso nunca ter um filho. Você é o herdeiro de Annecy. Sua família não gostaria que você escolhesse... tal mulher como esposa. Não tenho utilidade para você.

Francis olhou para ela.

— Claudine, — ele respirou. Por que parecia que seu coração estava sendo esmagado dentro de um punho? — Claudine, não! Por que até pensar uma coisa dessas?

— Porque... — ela soltou um grande suspiro. — Porque é verdade. Você não quer uma esposa como eu, não é?

Francis ficou espantado. A emoção se intensificou quando ela começou a chorar, grandes lágrimas acariciando suas bochechas macias e pálidas.

— Claudine, — ele murmurou. — Não. Minha pobre querida. Como você pode pensar uma coisa dessas?

Claudine respirou fundo.

— Bem... é verdade. Meu tio... ele sempre diz que eu seria uma esposa inútil.

Francis olhou para ela.

— Isso me deixa com raiva, Claudine — mas não com você. Como você pode pensar nisso? Esse homem é mau!

Claudine sacudiu a cabeça insistentemente.

— Não. Não, ele não é. Ele é um homem gentil e solidário. Ele me salvou quando meu próprio pai virou as costas para mim. Como você pode falar sobre ele dessa maneira? Eu admito que o que ele diz me dói às vezes, mas ele diz isso para o meu bem.

Francis soprou.

— Não, Claudine, — ele disse suavemente. — Tenho certeza disso. Seja no que for que você acredite, não acredite nisso.

Claudine olhou para ele friamente.

— Eu não sei o que você está dizendo, Francis.

Francis fechou os olhos.

— Claudine, você não pode ver? — Ele perguntou gentilmente. — Seu tio desencoraja você de tudo. É possível que ele queira que você fique doente? Quer que você precise dele. Você já pensou nisso?

Claudine olhou para ele.

— Francis, por quê?

— Eu não sei. — No instante em que ele disse isso, Francis se sentiu um pouco estúpido. Por que o tio de Claudine a desejaria doente? Claro que ele não sabia.

Ele e Claudine se entreolharam. Ele suspirou.

— Claudine, me desculpe. Eu não quis insultar seu tio. Eu sei que falei apressadamente. Eu confio que você pode me perdoar por isso. Nada disso importa para mim. Tudo o que importa é que eu te amo.

No instante em que as palavras saíram de sua boca, Francis piscou surpreso. Ele não tinha pensado nisso antes. Ele sabia que sentia um calor delicioso derretendo seu coração ao mero pensamento dirigido a Claudine. Sabia que ver o sorriso dela o fazia feliz. Que apenas um olhar em seus olhos fazia seu coração disparar. Ele a amava.

Ela olhou para ele. Então, abruptamente, começou a chorar. Ela se inclinou para frente, os braços em volta um do outro e eles se abraçaram. Ele puxou-a com força para si, querendo senti-la contra ele, como se ele fosse fundir seu corpo frágil com o seu, unificando sua força com a dela. Ele acariciou o cabelo dela.

— Oh, Claudine, — ele murmurou. — Eu te amo. Minha querida eu a amo.

Ela riu e olhou para o rosto dele.

— Eu também te amo, Francis. Com cada batida do meu coração. Sempre.

Francis sorriu e sentiu sua garganta se fechar com lágrimas. Ele olhou em seus olhos azuis claros e se inclinou para frente. Delicadamente, eles se beijaram. Ele provou o sabor de suas lágrimas.

Eles estavam sentados com as mãos entrelaçadas, sorrindo um para o outro um pouco tolamente quando Bernadette apareceu.

— Vamos, vocês dois, — ela sussurrou. — Ele voltou. Rápido Francis, melhor se você for embora.

Francis assentiu. Ele se levantou e saiu em direção à porta.

— Eu vou ver você em breve, minha querida.

O sorriso de Claudine iluminou seu coração.

— Eu também vou te ver em breve, meu Francis.

Ele sorriu, curvou-se e passou pela porta. Ele quase colidiu com o médico no corredor, um monge francês sério e arrogante.

— Saudações, irmão, — disse ele.

A sobrancelha do monge se elevou.

— Saudações, — disse ele. — Posso perguntar o que você está fazendo aqui?

— Estou tratando lady Claudine, — disse ele rapidamente.

— Ah. Bem, esse é o meu escritório.

— Oh. — Francis se sentiu nervoso. — Bem, me pediram para aplicar minhas habilidades no caso, já que eu estava passando pela cidade. Minha reputação me precedeu, levando a criada a me convidar.

— Ah. — O monge parecia bastante descontente. Ele fungou. — Bem, eu confio em você não vai interferir com a minha receita.

— Eu... só se for necessário, — Francis se encontrou respondendo antes de realmente pensar.

A sobrancelha do monge se elevou. Ele parecia zangado.

— Bem, então. Tenha certeza de que a conde saberá disso.

— Por todos os meios, — Francis disse galantemente. — Eu suspeito que o próprio conde não vai se opor ao meu envolvimento no caso.

O homem deu-lhe um olhar frio de pedra.

— Vamos ver sobre isso, — disse ele em voz baixa.

Francis mordeu a bochecha para tentar não revelar seu sorriso. O homem estava com ciúmes!

— Deveras, — ele disse baixinho.

Antes que o médico pudesse fazer qualquer outro comentário, virou-se e afastou-se bruscamente. O encontro em si foi muito divertido, ele pensou enquanto se apressava para seu quarto no sótão. Mas na realidade ele deveria tomar nota disso. Se o tio de Claudine soubesse do novo médico, ele seria obrigado a investigá-lo. Era só uma questão de tempo antes que ele tivesse que deixar este lugar. Ou correr risco de ser descoberto. Mesmo assim, a conversa com Claudine naquela manhã valeu a pena todo risco que ele corria ao estar ao lado dela.

Ela era bonita. Ele estava apaixonado. Agora ela também sabia disso.

Francis retirou-se para seus aposentos.

Sentiu-se inquieto no instante em que fechou a porta do pequeno salão monástico no alto da casa. Ele precisava ir para fora ou a outro lugar. O pensamento do tio de Claudine vindo para entrevistá-lo irritou-o gravemente. O que ele ia dizer para ele?

Ele se dirigiu para a relativa paz e tranquilidade do jardim.

Lá fora, o sol surgira entre as nuvens e o jardim estava gloriosamente quente. Francis afundou agradecido em um banco no jardim de ervas, com o suor escorrendo pelo rosto. Ele estava com calor pelo hábito e limpou a testa, desejando poder tirá-lo.

Imagine o escândalo se eu fizesse!

Ele riu.

Com a imaginação da descoberta do “Irmão Alexandre” nos jardins em uma túnica simples e calças, praticando seu ofício de espada ou cavalgando, ele sentiu suas pálpebras caírem. Quando acordou, podia ouvir duas pessoas falando. Suas vozes se aproximaram dele e ele se viu ouvindo com vagos interesses suas palavras.

— ... e se não tivermos tempo suficiente, devemos garantir que não seremos tão rápido com isso, — disse a primeira voz. Uma voz masculina, Francis não reconheceu. Ele encontrou sua atenção vagando. A segunda voz trouxe sua atenção de volta com clareza horrorizada.

— Eu não sei se temos tempo. Há quanto tempo esse sujeito miserável vem bisbilhotando aqui?

Esse era o tio de Claudine! Ele quase se sentou, mas ficou onde estava, não querendo chamar atenção indevida para si mesmo. As próximas palavras o congelaram até o osso.

— Tenho certeza de que podemos cuidar dele.

Ele.

Eles queriam dizer o novo médico? Isso era irmão Alexandre? Ele mesmo?

— Bem, faça o seu melhor, — disse o tio de Claudine com irritação. — O céu proíbe se alguém descobrir.

A primeira voz riu duramente.

— Nunca tenha medo, meu lorde. Nós dois seríamos... muito infelizes... se isso acontecesse. Eu vou garantir que isso não aconteça.

— Tenho certeza disso, — respondeu tio Luke, irritado. — Para sua própria segurança.

— De fato, meu lorde.

Francis estremeceu. Havia algo muito desagradável nessa voz. Ele ouviu passos atravessando o gramado e ficou onde estava, deixando as pálpebras caírem sobre os olhos como se estivesse dormindo. Ele ouviu os passos pararem e depois, depois de um longo momento, continuarem para longe.

Alguém estava me observando.

Ele estremeceu. Somente coisa lhe dava certeza de que o “ele” era ele mesmo. Por que o homem de voz sinistra ficaria de pé e o observaria durante esse tempo? Alguém havia descoberto que ele não era quem parecia. Se fosse esse o caso, era apenas uma questão de tempo até descobrirem quem ele era. Ele estremeceu novamente. Eles tinham um plano para cuidar dele. Ele tinha quase certeza de que, qualquer que fosse o sentido, não era a maneira como os médicos usavam o termo. Eles pretendiam removê-lo permanentemente.

Mas por que?

Ele se levantou e caminhou rapidamente pelo gramado até o portão. Ele precisava sair deste castelo e pensar.

— Onde você está indo, irmão? — Um dos sentinelas chamou em um desafio.

— Para a floresta. Preciso coletar ervas selvagens — ele murmurou.

Ele se dirigiu apressadamente para a floresta, andando com a cabeça para baixo para evitar que alguém notasse seus olhos ou a linha tênue de cabelos ruivos que apareciam no hábito. Na cobertura da floresta, ele deixou sua mente retornar ao assunto em questão.

— Por que o conde quer que eu vá embora? E por que tão cedo?

Era o conde e o médico que estavam tramando juntos. Porquê?

Era contra Claudine que eles tramavam, claramente. Mas por que? Por que o conde desejaria que Claudine adoecesse?

Não fazia sentido para Francis. Claudine era a única filha do duque — Yves confirmou esse fato quando ele perguntou. Isso significava que havia apenas uma esperança para a casa de du Pavot: que Claudine pudesse ter um filho.

Seria o filho de Claudine quem herdaria a propriedade. No entanto, se ela não pudesse ter um...

Francis sentiu como se alguém lhe tivesse esbofeteado. Seu coração perdeu uma batida e depois começou a bater de novo, rapidamente. Claro! Como poderia ter sido tão cego?

Se Claudine não pudesse produzir nenhum herdeiro, então a propriedade — tudo isso — passaria para o irmão mais novo do duque.

Tio Luke

O pensamento horrorizou Francis.

— Como eu pude ser tão estupido? Eles querem que ela morra!

Não parecia possível e ainda assim ele sabia que era. O tio de Claudine não tinha motivos para desejá-la bem. Ele estava tentando garantir que sua doença durasse o maior tempo possível. Por isso ele queria que ela não recebesse nenhum tratamento novo. Ele queria que ela morresse desse estranho mal-estar. O que significava que ele e Claudine estavam em grave perigo.

Eles querem que Claudine morra. Eles tentariam fazer isso acontecer o mais rápido?

As palavras que ele escutou voltaram para ele com uma nitidez doentia.

Nós não temos muito tempo.

Com o coração batendo no peito, Francis pegou o manto e começou a correr. De volta para o castelo. Antes que fosse tarde demais.


CAPÍTULO DEZENOVE

PERIGO E DECISÃO


Claudine e Bernadette estavam sentadas no terraço ao sol, costurando o trabalho de tapeçaria. Claudine sentiu o vento arrepiar seus cabelos e percebeu algo. Ela se sentiu melhor hoje.

— Eu me sinto tão bem, Bernadette, — ela murmurou. — Eu tenho certeza que é porque... — Ela corou, não querendo dizer mais nada. Durante todo o dia ela não conseguiu pensar em nada além de Francis. Ele ocupou seus pensamentos em todo momento.

— É a felicidade de tê-lo aqui que está te fazendo bem, milady, — concordou Bernadette. — Eu não vi você tão bem em anos.

Claudine sorriu.

— Eu sei. Não me sinto tão bem em anos.

Bernadette se espreguiçou.

— Suponho que devamos entrar, milady. Você esteve no sol por algum tempo.

Claudine bocejou e sorriu para ela.

— Eu suponho que sim. Eu me sinto cansada. Mas nada como eu costumo estar neste momento.

— Nesse caso, milady, vamos ficar fora por algum tempo. Eu só vou em buscar mais linha. Desculpe. Eu... oh!

Claudine franziu a testa ao ouvir Bernadette suspirar assustada. Quando ela se virou, ela também ofegou de surpresa. Era seu médico — o verdadeiro, padre Jeremy, estava na porta.

— Milady, — disse ele duramente. — Perdoe-me, mas o que na Terra você está fazendo em pleno sol? É perigoso para sua saúde. Sua serva deveria saber disso — acrescentou ele, olhando para Bernadette. — Vou sugerir à conde que ela seja removida, pois claramente não respeita sua saúde.

Claudine sentiu a raiva enchê-la e tentou se levantar. Ela conseguiu, lentamente.

— Perdoe-me, padre Jeremy — disse ela com firmeza. — Mas Bernadette estava apenas obedecendo minhas ordens. Eu queria ficar aqui.

— Oh. — O padre Jeremy ficou imóvel. — Como você quiser, milady. Mas entre agora. Sua saúde vai sofrer por isso.

— Eu não quero. Eu... oh!

Henri se arrastou para dentro. Jeremy acenou para ele que a agarrou, levantando-a em seus braços como se ela estivesse sem peso.

— Padre Jeremy! — Claudine disse friamente. — Insisto que ouça minhas ordens sobre isso — protestou Claudine, mas ninguém a escutava. Ela olhou implorante para Bernadette, mas ela apenas olhou para trás, desajeitada, enquanto Henri a levava para dentro. Claudine sentiu um primeiro arrepio de medo.

Como este homem ousa achar que ele pode me dar ordens! Ele é o servo do meu tio! Não o contrário...

Ela estremeceu quando Henri baixou-a na cama. Suas articulações estavam começando a doer novamente com o manuseio brusco e ela sentiu uma dor onde seu coração batia rápido demais.

— Pronto, — disse seu médico acidamente. — Agora, senhorita Bernadette, pode me dizer quando a sua ama tomou o remédio?

Claudine sentiu-se desesperada. Ela não tinha tomado ontem ou hoje. No entanto, tinha sido às suas ordens! Bernadette não fizera nada de errado.

— Eu não tomei por dois dias, — disse ela rapidamente. — Mas não culpe minha serva. Ela seguiu minhas ordens. Como Henri seguiu a sua — acrescentou friamente.

— De fato, — respondeu o homem. Sua voz era suave. — Bem, nesse caso, sugiro que sua serva substitua sua preferência nesse sentido. Com todo respeito milady, você não sabe o que a aflige nem como melhor tratá-la. Eu conheço os dois. E eu insisto que você tome a dose...

— Você diz que sabe o que me aflige — disse Claudine com raiva. Ela sentou-se para encará-lo, uma cor brilhante em suas bochechas. — E ainda assim você não me curou totalmente nos últimos dois anos! Eu me senti melhor nesta semana do que me lembre e acredito que é mais importante do que você diz.

Ela sentiu uma dor no peito enquanto falava, a cabeça latejando enquanto o sangue corria mais forte. Mesmo assim, ela sabia que tinha que desafiá-lo. Alguma coisa dentro dela havia partido desde que Francis disse que a amava. Ela não era um fardo, nem uma desgraçada. Francis a amava! Esses homens não tinham o direito de tratá-la como se ela não fosse importante!

— Você já disse o suficiente, milady — disse o médico sombriamente. Ele estava branco de raiva. — Não tolerarei nenhuma interferência em meu tratamento, nem sua ou de outro. Você ficará em silêncio e fará o que eu digo. Ou Henri vai fazê-la tomar. Sim? Henri?

O grande criado olhou para as mãos miseravelmente. No entanto, ele assentiu.

— Sim, padre Jeremy.

Claudine sentiu o coração doer quando sua última fonte de apoio se dissipou. Se apenas Francis estivesse aqui! No entanto, o que ele seria capaz de fazer? Como irmão Alexandre, ele também estava em perigo. Se alguém descobrisse o artifício, ele e ela seriam expulsos da sociedade para sempre.

— Bernadette, — ela sussurrou.

Bernadette estava chorando. Ela balançou a cabeça em silêncio.

— Milady, eu não posso, — disse ela.

Claudine sabia o que ela queria dizer. Ela não podia ofender o padre Jeremy, ou arriscar ofender mais seu tio. Se o fizesse, perderia sua posição na casa de Claudine e nunca mais estaria lá para protegê-la novamente. Elas tinham que fazer o que aquele homem odioso dizia.

— Eu confio em você vai ver o sentido, — disse o médico suavemente. Ele pegou a taça em que Claudine costumava tomar o remédio. — Agora, você vai tomar o seu remédio hoje? Eu confio que já não é tarde demais para fazer-lhe algum bem. Você é uma garota tola às vezes, por toda a sua aparente idade e maturidade.

Claudine sentiu o coração afundar. Ela suspirou. Ele estava certo. Por que ela estava resistindo tão calorosamente? Era remédio. Ele ia fazer bem. Ele a tratou por anos e esta era a primeira vez que eles discutiram sobre qualquer coisa.

— Muito bem, — disse ela. — Eu vou tomar.

Ela ficou surpresa com o quão aliviado ele parecia.

— Bom, — ele disse suavemente. — Bem, então. Aqui. Eu permanecerei à sua cabeceira até você ter tomado tudo.

— Não há necessidade, — protestou Claudine baixinho. No entanto, ele sorriu. Não era um tipo de sorriso agradável.

— Se acha que eu vou deixar você me enganar, me subestima, — ele disse baixinho. — Essas artimanhas de mulher duraram a muito tempo — acrescentou ele, olhando friamente para Claudine e sua serva. — Beba tudo.

Claudine se sentiu infeliz, mas fez o que ele sugeriu. Ela levantou a taça e bebeu.

O tom amargo do remédio pegou sua garganta como sempre, e ela queria muito não estar doente. Ela lutou para mantê-lo baixo, engolindo devagar, um bocado de cada vez. Parecia, no mínimo, que depois de dois dias sem isso, o gosto era mais nocivo do que antes. Como ela tinha pensado que o gosto doce da baga disfarçava?

Forçando a bile, ela engoliu a última gota.

— Pronto, — disse ela em voz baixa. Ela entregou-lhe a taça vazia com o menor vestígio de resíduo em pó deixado dentro.

— Ah. Excelente, — ele disse. No entanto, tudo o que ele disse depois foi perdido por Claudine, que se sentiu caindo em um sono opressivo.

Quando ela acordou, estava escuro. Sua cabeça nadava e sua barriga doía amargamente. Ela se virou e lutou contra o desejo de vomitar. Então se sentou.

— Bernadette?

Quando ninguém respondeu no início, ela sentiu uma onda quente de pressentimentos. Onde ela estava? Certamente nada havia acontecido com Bernadette? Certamente seu tio... Ela fez uma pausa.

— Aqui, milady, — a voz familiar sussurrou.

— Bernadette! Eu... oh! — Claudine sentiu o estômago revirar e gesticulou impotente para Bernadette, tentando bravamente não ficar doente. Quando a náusea finalmente passou, ela olhou para a amiga, sua própria visão embaçada e nebulosa. — Eu sinto muito. Eu me sinto horrível. O que nós vamos fazer?

Bernadette sacudiu a cabeça.

— Milady, não sei. Não posso fazer nada. Eu sei que eles estão me observando. Seu tio tinha... palavras... para mim enquanto você dormia, milady. Ele disse que meus dias estavam contados.

Claudine sentiu o desespero apertar seu coração.

— Eles não iriam... Bernadette! Mas por que? Por que eles mandariam você embora? Você é minha melhor amiga. Minha única acompanhante. — Ela queria chorar.

Bernadette ficou quieta. A escuridão da sala tornava-a um pilar de sombra cambiante, a luz prateada iluminando sua pele pálida e destacando o quão grande, largo e vazio seus olhos estavam.

— Milady, — disse ela finalmente, — eu não sei. Tudo o que sei é que algo malvado está acontecendo. E você e eu não podemos corrigir isso. Não sozinhas.

Claudine assentiu.

— Não, nós não podemos. Especialmente eu não posso. Eu me sinto tão mal. — Ela balançou a cabeça tristemente. Ela queria chorar. Algumas horas atrás, ela se sentia muito melhor! Ela quase se lembrava de como se sentia livre daquele terrível maladi. Agora estava aqui, fechando-a.

— Eu sei, milady. Ah, pobre lady Claudine.

Claudine viu Bernadette começar a chorar. Ela ficou surpresa com a impaciência que sentiu. Ela não era alguém que precisava de pena! Ela era uma jovem forte. Uma mulher que, apenas algumas horas atrás, recordara como era se sentir livre da dor. Agora ela faria qualquer coisa para se sentir assim novamente.

Ela era forte. Francis a amava. Ele a queria como ela era.

Ela sentou-se.

— Eu vou chegar ao fundo disso, — ela disse suavemente. Ela se mexeu na cama, deslizou as pernas para o lado e se levantou.

— Milady? — Bernadette parecia quase assustada. Claudine olhou para ela, sentindo o quarto girar dentro e fora de seu foco. — O que você está fazendo?

— Eu vou — disse Claudine com firmeza — para encontrar meu tio. Isso já durou tempo suficiente.

Ela iria acabar com isso.

Bernadette olhou para ela infeliz.

— Milady, o que você vai fazer? É perigoso.

Claudine assentiu.

— Eu sei que é. Mas eu tenho que fazer alguma coisa. Eu sentei e deixei que isso ocupasse minha vida por tempo suficiente. Agora, por favor, Bernadette você vai arrumar meu cabelo? Algo impressionante. Eu quero parecer digna.

Bernadette assentiu com tristeza.

— Se você insistir, milady.

Claudine riu, sentindo um pouco do seu antigo humor restaurado para ela.

— Eu quero.

Bernadette deu-lhe um pequeno sorriso.

— Eu não posso recusar, posso?

— Não.

Ambos sorriam enquanto Bernadette acendia uma vela na penteadeira e começava a arrumar o cabelo. Enquanto trabalhava, fazendo uma elaborada seleção de tranças, Claudine permitiu que sua mente planejasse com antecedência. Ela não ia aguentar isso. Seu tio não era formalmente seu guardião. Essa ainda era a prerrogativa de seu pai. Cabia a ele decidir como sua doença seria tratada.

Ela soprou severamente. Ele a expulsaria? O mínimo que ele podia fazer era apoiá-la em um assunto que, segundo ela, afetava sua saúde até o ponto de vida ou morte.

Eu preciso de um novo médico. E se o tio não me permitir, falarei com meu pai.

Ela estremeceu. Ela mal via seu pai, tendo perdido todo o contato com ele — que havia sido breve a vida toda — quando tinha dezoito anos e ficara doente. Como ela se aproximaria de alguém que mal reconheceria com um pedido como esse? Quando ela mal conseguia andar, muito menos suprida de força para enfrentar um inimigo?

— Milady? — Perguntou Bernadette. Ela estava olhando preocupada para Claudine pelo espelho e percebeu que seus ombros estavam tremendo, embora fosse uma noite de verão e nem sequer remotamente fria.

— Estou bem, — disse ela em voz baixa. Então ela soprou. Ela estava longe disso! Ela estava bem nos últimos dois anos. Então, pelo menos se ela confrontasse o pai sobre isso, se ele mudasse o tratamento, ela poderia ter alguma esperança!

— Ajude-me com minha capa de viagem, Bernadette, e convoque a carruagem.

— Milady! São nove horas e está escuro lá fora! Onde você está... — ela parou quando Claudine se levantou e, silenciosa mas veementemente, ela a encarou.

— Vamos, — disse Claudine em voz baixa, mas distintamente: — Para Pavot. Para encarar meu pai.


CAPÍTULO VINTE

FUGA NA ESCURIDÃO


Francis acordou quando ouviu o grito. Ele rasgou seu coração como uma faca e o colocou de repente em pé. Ele estava se vestindo antes de pensar sobre isso.

Claudine! Não!

Agarrou a túnica e a calça e vestiu-as, depois pegou a faca que escondia sob o manto de monge. Foi só quando ele desceu as escadas que percebeu que havia deixado o hábito. Ele era Francis, filho do conde de Annecy. De cabelos ruivos, ombros largos, inconfundíveis.

Ele também ficou enfurecido.

— Claudine! — Ele gritou, ouvindo o grito, mais alto agora, ecoando novamente.

— Socorro!

Ele correu às cegas pelo corredor e foi recebido com o caos.

Claudine estava presa na parede, uma aparição e uma presença pairando sobre ela. Viu a presença desembainhar uma faca e ele gritou de raiva e caiu sobre ela por trás. Sua própria faca estava em sua mão e antes que pensasse, estava apunhalando a figura nas costas.

O homem gritou e girou e, Francis sentiu a lâmina raspar a cota de malha. Seu adversário olhou para ele, os olhos estreitados. Ele olhou fixamente. Era o médico.

O homem não é mais um padre do que eu, ele percebeu, horrorizado. Pelo menos, se era, ele era um padre que usava uma cota de malha sob seu hábito e que carregava uma faca. Ele também sabia, aparentemente, como usá-la.

Francis assistiu com num sonho a dissociação quando o homem o atacou com a faca. Ele sabia no último minuto que nunca seria capaz de se afastar com rapidez suficiente. Sentiu-se resignar-se ao rápido e forte golpe da faca em suas costelas, sabia que em breve sentiria o frio quase doloroso do impacto e depois, mais tarde, a dor impossível da ferida.

Claudine, ele pensou. Eu tenho que sobreviver. Para ajudá-la...

Ele se moveu lentamente, muito devagar. O homem avançou e sua faca quase entrou nele. Então, abruptamente, ele caiu.

Francis ficou horrorizado quando o homem gargarejou e gritou, depois caiu de joelhos, estirado.

Ele olhou para Bernadette, que estava atrás dele.

— Isso cuida dele, — disse ela em voz baixa.

Francis queria gritar. Então ele se virou para ver Claudine. Ela estava encostada na parede, seu rosto branco como fantasma.

— Claudine! — Ele disse, correndo para ela. Ele a pegou em seus braços e ela se inclinou sobre ele pesadamente, o coração batendo no peito como um fole.

— Temos que ir, — disse Bernadette rapidamente. — Os guardas estarão sobre nós daqui a pouco. Não espere que eles sejam nossos amigos também.

— Certo, — Francis disse rapidamente. — Melhor correr.

Ele ergueu Claudine em seus braços, sentindo a cabeça dela embalada contra seu peito. Então ele se virou e correu de volta pelo corredor do jeito que eles vieram.

Bernadette seguiu-os. Ele podia ouvir os sapatos dela clicando nas escadas, enquanto ele corria às cegas para baixo, seguindo com desesperada pressa para a entrada da fortaleza.

Ele também ouviu o som dos guardas, correndo e se arrastando pelas escadas.

— Corra! — Gritou Bernadette.

Francis não precisava ser informado. Ele correu para a porta. Quando chegou, se aproximou das sentinelas.

— Fora do caminho! Por ordem do conde de Blanchard.

Os homens pularam de lado no reflexo, e Francis e Bernadette passaram. Foi alguns segundos depois que ouviram os gritos de consternação.

— Atrás deles!

— Você é um idiota! Você os deixa ir!

— Pare!

Francis correu. Com Claudine aninhada em seu peito, ele correu como se tivesse perdido toda a sanidade. Ofegante, com o coração apertado, os braços doendo, ele correu em direção aos estábulos.

— Vamos lá, — ele chamou por Bernadette. Ela estava do lado deles. Eles não podiam deixá-la para trás!

— Eu estou... indo, — ela sussurrou.

Eles chegaram aos estábulos em uma explosão final de velocidade. Francis desmoronou no interior escuro e perfumado de feno.

— Feche a porta, — ele ofegou. Bernadette fez o melhor que pôde. Ela deixou cair o ferrolho no lugar, assim que os guardas o alcançaram.

Ela e Francis se olharam no espaço em silêncio.

— Quanto tempo antes de entrarem? — Bernadette perguntou-lhe gravemente. Francis podia ouvir os homens de armas batendo na parte de trás da porta, e mesmo quando eles estavam lá, as dobradiças rangeram e a porta estremeceu sob o impacto dos homens que se lançavam em direção a ela.

— Cinco minutos no máximo, — Francis julgou sombriamente. Ele olhou ao redor. Havia quatro cavalos, todos os observando ansiosamente. Eles não teriam tempo para selar dois deles. O que eles poderiam fazer?

— A carroça — sussurrou Claudine, sua voz leve como uma brisa. — Por trás dos fundos. Dois... cavalos.

Francis viu os olhos de Bernadette brilharem de alívio e admiração.

— Sim!

Ele franziu a testa.

Confiante mais uma vez, Bernadette acenou para ele.

— Me siga.

Eles escorregaram rapidamente para a parte de trás dos estábulos. Lá encontraram a carroça de feno.

— Certo, — disse Bernadette. — Agora, coloque milady na parte de trás. Vou pegar um cavalo, você pega o outro. Rápido, agora. Vamos atrelá-los em poucos momentos.

Francis assentiu. Ele correu para fazer o que ela disse. Ele podia ouvir homens gritando e viu a porta fender ameaçadoramente para dentro enquanto um homem mais pesado chutava contra ela. Eles estavam gritando, ansiosos e irônicos. Eles estariam a qualquer momento dentro.

— Aqui, — disse ele, levando um dos dois cavalos para a frente, entregando a Bernadette. — Agora... — ele se inclinou para o equipamento de atrelar, não tendo ideia clara do que estava fazendo. Os cavalos eram animais pacíficos, misericordiosamente e aparentemente imperturbáveis pelos gritos vindos de fora, pelas batidas, pelos gritos.

— Eu vou fazer o outro lado, — disse Bernadette rapidamente. — Aqui...

Francis ficou impressionado com o quão habilmente ela afivelou os cintos. Ele a olhou com um respeito renovado enquanto ela corria para a porta dos fundos do estábulo e abriu-a, então pulou na carroça.

— Agora! Você toma as rédeas eu não sou forte o suficiente. Eu vou guia-lo. Apresse! Não temos tempo.

Francis assentiu e seguiu seu exemplo, saltando para o assento alto. Ele pegou as rédeas e encorajou os cavalos a avançar, assim que os guardas do lado de fora perceberam que o portão traseiro estava aberto, eles avançaram, gritando e tentando pegar a carroça.

— Tututuh! Calma! Calma!

Francis fez um barulho reconfortante quando os cavalos reagiram aos homens que gritavam, gesticulavam e berravam, e depois se adiantaram. O caminho dos estábulos levava gradualmente para baixo, em direção ao portão, e Francis deixou os cavalos correrem em disparada, sentindo o coração disparar à medida que explodiam no meio da multidão.

— Yah!

— O portão não vai ser destrancado, — disse Bernadette enquanto rolavam rapidamente colina abaixo. — Ninguém vai nos deixar sair. Agora não.

Francis mordeu o lábio.

— Verdade. — O que eles poderiam fazer? — Existe um portão de água? Alguma outra entrada para o forte?

— O portão do feno, — disse Bernadette. — Nós poderíamos tentar. Vá para a esquerda no final desta inclinação.

Francis assentiu e foram abruptamente. Ele sentiu o coração batendo no peito. O que eles fariam se não estivesse aberto? Ele podia apenas imaginar as sentinelas disparando flechas sobre eles de cima. Eles arriscariam isso? Eles poderiam facilmente atirar em lady Claudine!

Ele percebeu com horror que o tio de Claudine não estava disposto a preservar sua vida. Longe disso.

— Avante! — Ele gritou para os cavalos. — Vamos lá! Mais rápido.

Bernadette estava agarrada ao lado da carroça enquanto corriam direto para o portão.

Ele mordeu o lábio, estremecendo e esperando pelo caos. Ele estava se arriscando e se o portão estivesse trancado, seus cavalos poderiam morrer, quebrando o pescoço quando se chocassem com o portão.

O portão estremeceu e se abriu. Eles correram.

— Yah! — Francis gritou. Ele ouviu um grito selvagem de alegria escapar da garganta de Bernadette e, por trás do ombro direito, vislumbrou olhos brilhantes.

Claudine! Ela estava feliz.

Todos gritavam como pessoas enlouquecidas enquanto desciam morro abaixo, os cavalos descendo o caminho da fortaleza e entrando na floresta.

Francis sentiu seu terror dar lugar ao assombro. Eles tinham feito isso! Eles estavam na floresta.

— Estamos fora, — Bernadette respirou.

— Francis, — Claudine sussurrou.

Francis sentiu seu coração se derreter. Ele diminuiu um pouco o ritmo dos cavalos, não querendo arriscar que eles saíssem do caminho e colidissem com um dos altos pinheiros. Sentiu o ritmo lento para um trote e depois, melhor ainda, para um passeio.

Temos que poupar os cavalos. Nós poderíamos precisar viajar para longe.

Ele suspirou. Para onde eles estavam indo?

A resposta veio a ele sem que ele sequer precisasse pensar. Eles iam aonde qualquer pessoa ferida ou doente iria nessas florestas. Eles iriam para a abadia de Bois.

— Onde estamos? — Bernadette sussurrou. Ela soltou a lateral da carroça e estava sentada na parte de trás ao lado da ama, com o braço em volta dela protetoramente. Francis sentiu o coração afundar. Claudine estava mortalmente branca, o rosto suave e os olhos arregalados de medo. Seu coração batendo abaixo do tecido de seu vestido branco, era visível.

— Estamos a cerca de vinte minutos da abadia de Bois, — Francis disse confiante. Na verdade, ele estava apenas vagamente ciente da direção que precisavam tomar para a abadia. Eles deviam seguir em frente e sair. A abadia ficava um pouco a Leste e ao Sul daqui.

— A abadia, — Bernadette respirou maravilhada. — Claro. Eu deveria ter pensado nisso.

Francis riu.

— Eu te devo minha vida, senhorita, — ele disse com alguma surpresa. — Eu acho que você fez mais do que as funções do seu dever.

Ele ouviu a mulher de cabelos escuros dar uma risadinha divertida.

— Não foi nada, — disse ela. — Eu gostei... pois nunca gostei dele.

Francis assobiou espantado. Ele percebeu uma batida no coração pois nem sabia quem ela era. Ele nunca ouvira o nome dela e lhe devia a vida.

— Senhorita, — disse ele. — Eu devo me apresentar. Sou Lorde Francis, herdeiro do conde de Annecy.

— E eu sou Bernadette Fresnel, — disse ela. — Prazer em conhecê-lo. Terei prazer em conversar mais depois. Mas agora temos trabalho a fazer.

— De fato, — Francis riu secamente. — Precisamos encontrar a abadia.

Nesse momento os dois ficaram assustados com Claudine, que se sentou e limpou a garganta.

— Olhe para as estrelas, — disse ela. Sua voz era um sussurro, mas ambos a ouviram. Francis ficou olhando. Então ele riu surpreso.

— Ela está certa, — disse ele. — Nós sabemos onde é! Pela estrela polar.

Eles seguiram as estrelas e seguiram em frente, depois viraram e seguiram a estrada à esquerda novamente. Demorou duas horas, mas a noite estava quente e os sons de perseguição tinham morrido há muito tempo. Quando as paredes altas e brancas do Abadia de Bois apareceram, todos estavam quase dormindo.

Francis parou a carroça apressadamente e pulou. Bernadette o seguiu. Ele ergueu Claudine suavemente, embalando-a contra o peito. Juntos eles foram para dentro.


CAPÍTULO VINTE E UM

DE VOLTA À SAÚDE


Claudine sentiu-se inconsciente. Sua cabeça nadava e seu coração doía. Ela deixou as águas negras que inundaram seu cérebro cobri-la.

Uma luz queimava, lenta, insistente e dourada. Ela sentiu suas pálpebras piscarem. Ela estava quente. Em algum lugar, suavemente, ela ouviu alguém murmurando baixinho. Ela lutou na escuridão e abriu os olhos.

— Eu não sei porque eles sempre me mandam. Estou ficando velho demais para isso. Com toda honestidade...

— Olá? — Claudine sussurrou. Ela ouviu quem estava resmungando parar e sentiu alguém próximo erguesse rigidamente tenso.

— Olá, — disse uma voz lentamente. — Acordou?

Claudine ficou nervosa. Era a voz de uma mulher, mas estava desnorteada, desconfiada e não soava segura.

— Sim, — disse ela com cautela.

— Ah!

A voz da mulher ficou repentinamente viva e firme.

— Boa. Agora, preciso que você se sente e tome um pouco desse chá. Ah! Está tudo bem querida. Eu não sei o que alguém fez com você, mas está segura comigo. Sou a irmã Adelaide e não vou te machucar.

Claudine deixou sua visão ficar clara e se viu olhando para uma mulher em um manto escuro. Ela era uma mulher magra, esquelética, com olhos escuros e não parecia totalmente limpa ou acolhedora. Mesmo assim, seus olhos escuros brilharam com alguma compaixão e Claudine se viu confiando nela.

— O que você está me dando para beber? — Ela sussurrou.

— Salsa, — disse a mulher com firmeza. — É um diurético. Isso significa que você terá vontade de se aliviar. Muito. Mas o que quer que esteja em você saíra com o xixi. Você se sentirá melhor por isso. Confie em mim.

Claudine franziu a testa.

— Isso é tudo o que é? — ela perguntou. Sua cabeça estava um pouco mais clara e ela relutava em tomar qualquer bebida da qual não conhecesse explicitamente o conteúdo.

— Deus, o que fizeram com você? — Perguntou a velha freira. Ela balançou a cabeça. Os olhos castanhos pareciam perturbados. — Salsa, milady. Nada mais.

Claudine assentiu. Mais uma vez, ela teve a sensação de poder confiar nessa estranha e desgrenhada freira. Ela pegou o copo e bebeu devagar.

O sabor não era desagradável — ela conhecia a salsa como tempero — e estranhamente acalmou um pouco seu estômago. Ela recostou-se contra um travesseiro, fechando os olhos. De repente, ela estava desesperadamente cansada. Era uma sensação boa, no entanto, no instante seguinte, se sentiu sonolenta e em letargia que seguia o remédio que ela tomava.

Um pensamento lhe ocorreu desagradável. Seu remédio sempre a fazia se sentir pior.

Por que ela nunca notou isso antes? Era estranho! Toda vez que ela bebia, quase dormia imediatamente. Foi um fato que a iludiu tanto tempo.

— Irmã, — ela murmurou.

— Sim, minha querida? — A voz da mulher perguntou carinhosamente.

— Eu... — Claudine fez uma pausa. Ela estava cansada. Tão cansada. As palavras da pergunta se formaram em sua cabeça e se difundiram, lentamente, não chegando a um questionamento. Ela suspirou e recostou-se nos travesseiros.

Logo ela estava dormindo.

Ela sonhou com Francis. A sensação de sua cabeça descansando em seu ombro, a doce sensação de seus braços fortes a segurando. A maravilha de seus lábios nos dela. No sonho ela estava na cama dele e eles estavam se abraçando. Ela não conseguia lembrar muito mais sobre isso, exceto que, quando ele a tocou, ela se derreteu com felicidade.

Quando ela acordou, ainda estava sorrindo.

— Café da manhã, — disse uma voz sobre a cabeça.

Ela sorriu e assentiu. Com a ajuda de outra freira, uma mulher mais jovem de olhos azuis, bochechas rosadas e redondas, ela foi até a porta e entrou no refeitório. Lá, ela se encontrou com Bernadette.

— Bernadette! — Seu coração cantou. Era tão bom vê-la! — Você está bem?

A aparência da mulher a alarmou, com os olhos escuros pela falta de sono, abatida e acinzentada, Bernadette parecia mais mal vestida do que jamais a vira.

— Eu vou conseguir melhorar, milady. Como você está se sentindo?

Claudine piscou. Só agora que lhe perguntaram, que ela percebeu algo maravilhoso. Ela se sentia bem. Ela estava cansada, machucada e abatida. No entanto, ela não sentia dor de cabeça ou náuseas e suas articulações não doíam. Ela não era uma carga de ossos dolorosamente cansada e não sentia aquelas facadas em sua cabeça que quase poderia deixá-la selvagem se tentasse abrir os olhos às vezes. Muito menos ficar em pé!

— Eu estou bem.

Bernadette sorriu para ela.

— Milady. Isso é maravilhoso. Agora, — ela adicionou, seu sorriso alargando quando olhou para a mesa. — Para o café da manhã.

Elas comeram. As freiras já haviam quebrado o jejum algumas horas antes, Claudine supôs, pois estavam sozinhas na sala, nas longas tábuas de madeira da mesa, nos bancos frios sob elas, o salão cinza em silêncio, mas não estava frio.

— Isso é bom, — Claudine murmurou. Havia pão, queijo e um pouco de mingau. Ela sentiu que a aquecia, parecendo entrar em seu estômago de uma maneira que a comida na corte não tinha conseguido.

— Eu concordo, — Bernadette sorriu. — Melhor pão assado que já comi.

Claudine assentiu. Com a letargia perdida, ela sentiu fome como não sentia há anos. Ela podia comer de novo e parecia que seu corpo estava determinado a recuperar o tempo perdido. Ela terminou comendo, pelo menos, o dobro do que costumava comer e depois se inclinou para trás com um suspiro.

— Isso foi bom.

Bernadette riu.

— Estou muito feliz em ouvir isso.

— Onde está Francis? — Claudine queria saber.

Bernadette sorriu.

— Ele está com os irmãos sagrados do outro lado do pátio. A abadia tem monges e irmãs sagradas, mas, como você pode imaginar, não se misturam. Também não são permitidas damas dentro do recinto dos monges.

— Ah

Bernadette sorriu.

— Mas, se perguntarmos, tenho certeza de que seremos autorizados a nos encontrar nos jardins da abadia.

Claudine sorriu.

— Boa.

Depois do café da manhã, elas se levantaram e saíram para o jardim. Claudine sentou-se em um banco sob a árvore e se perguntou por que ela nunca em sua vida se sentira tão tranquila. Parecia que toda a preocupação e tormento de seus últimos anos haviam desaparecido, substituídos por uma chama constante de esperança.

Era como se ela não estivesse mais doente, mas de alguma forma, não conseguia explicar, parecia que a doença estava diminuindo. Como se uma nova força estivesse crescendo nela e era apenas uma questão de tempo antes de florescer completamente dentro dela.

— Filha?

Claudine pulou para ver a pequena e escura figura vestida de hábito se aproximar dela. Ela se lembrava vagamente da noite anterior: a irmã Adelaide.

— Sim, — ela perguntou. Ela sentiu seu coração bater e imaginou que deveria ter se sentido apreensiva — a irmã Adelaide, com seu rosto magro e duro e olhos negros, era na melhor das hipóteses imponente, na pior das hipóteses assustadora — mas não tinha medo dela.

— Eu tenho uma mensagem da irmã Beatrice, que me disse que a recebeu do irmão Nicholas. Você tem alguém esperando para falar-lhe no caramanchão.

— Oh. — As bochechas de Claudine ficaram vermelhas e ela ficou surpresa ao ver um sorriso melancólico atravessar as feições magras da mulher mais velha. — Obrigada.

Ela sorriu.

— Não é nada, filha.

Com o coração batendo, Claudine seguiu a mulher para o jardim de ervas. Beatrice seguia atrás delas.

Ela se sentou em um banco, e então se levantou quando a figura de cabelos vermelhos com um manto apareceu.

— Claudine!

Francis correu para ela e seus braços se apertaram ao redor dela enquanto ele a beijava apaixonadamente. Pela primeira vez desde que o conheceu, Claudine se sentia livre para se entregar ao abraço dele. Ela também sentiu uma excitação selvagem. Parecia que agora que seu corpo estava se recuperando novamente, os sentimentos que surgiam nela sempre que o via estavam ficando ainda mais fortes.

— Oh, Francis. — Ela estendeu a mão e acariciou aquele cabelo vermelho macio. — Obrigada. Você me salvou.

Ela recordou o terror da noite anterior: o homem com a faca, a sensação de terror tão forte que a hipnotizava, enraizando-a no lugar. Ela estremeceu com a lembrança do brilho frio de seus olhos, o brilho prateado da faca.

Ela sentiu Francis se endurecer em seus braços, os vastos músculos dos ombros e das costas ficando tensos.

— Não posso acreditar no que quase fizeram. Eles devem responder por seus crimes.

Claudine sacudiu a cabeça.

— Não, Francis. Já passou. Meu tio vai lidar com o padre Jeremy.

Quando as palavras saíram de seus lábios, ela viu o rosto de Francis se escurecer e seu próprio coração disparou ao entender a conclusão que ele tinha.

— Não, — ela sussurrou. Ela sentiu-se afundar, afundando cansadamente no banco mais uma vez. Ela estava vestida com um vestido comprido e disforme, cortesia das freiras, mas mesmo assim seu coração batia com tanta força que estremeceu o tecido duro dele. Ele pensava o que ela, em algum nível, sabia o tempo todo.

Seu tio a desejava morta.

— Não, — ela disse novamente. Isso machucava. Ela tinha amado o tio Luke, com seu sorriso doce, seus modos engraçados e seu cuidado genuíno por ela. No entanto, era óbvio demais para ele fingir o que não era. Tio Luke a queria morta todo esse tempo.

— Sinto muito, Claudine, — disse ele. — Mas, sim. Seu tio esteve sabotando-a todo esse tempo.

— Quer dizer que ele ordenou ao padre Jeremy que me matasse? — perguntou ela em voz baixa.

Ela viu Francis olhar para Bernadette. Ela olhou para a serva a tempo de vê-la acenar com a cabeça.

— O quê é? — Ela perguntou.

— Eu acho que seu tio é pior do que você sabe, — Francis disse gentilmente.

— O que? — Claudine perguntou. Seu coração batia. Ela ouviu Bernadette atravessar a grama e a sentiu vir sentar-se ao lado dela no banco. Ao fundo, ela viu irmã Adelaide tensa e virou-se para enfrentá-los, seu rosto magro e velho oferecendo sua compaixão neutra.

— Temos motivos para acreditar, depois de conversar com o irmão Nicholas e nossa irmã curandeira aqui, — acrescentou Bernadette, inclinando a cabeça para a pequena freira, — que seu tio estava envenenando você.

Claudine fechou os olhos. Em seu coração, ela sentiu uma dor lenta. Ela queria chorar, mas percebeu que inconscientemente sabia disso sempre. Seu tio não queria que ela ficasse bem. Nem o irmão Jeremy. Foi por isso que, no instante em que parou de tomar o “remédio” em que insistiam, sentiu-se melhor. Não era remédio, mas veneno.

Ele a queria morta. Ou tão fraca que ela nunca poderia viver normalmente. Por quê?

Enquanto pensava, percebeu.

— Ele me queria fora do caminho para que pudesse ficar com o ducado de Pavot.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DURADOURO


O cheiro da enfermaria se agarrava às vestes de Francis, um aroma doce e picante de incenso e nardo. Ele respirou e desejou estar em outro lugar.

Quase tudo teria sido preferível, então, a ver a profundidade da dor nos suaves olhos azuis de Claudine.

— Sinto muito, — ele sussurrou. — Mas, sim.

Claudine se inclinou para frente, de modo que a cabeça dela descansou em seu ombro. Ele estendeu a mão e passou os braços em volta do corpo dela, segurando-a contra ele. Ele suspirou. Como ele poderia suportar vendo-a tão triste? Ele desejou poder cavalgar até Evreux. O que ele queria fazer com seu tio naquele momento era quase indescritível. O homem era mau por ter feito isso com ela. Canalha além de sua imaginação mais selvagem.

— Maldito, — ele sussurrou.

Claudine ficou rígida em seus braços. Ela olhou nos olhos dele. Muito gentilmente, ela estendeu a mão e tocou seu rosto.

— Não, meu querido.

Francis soltou um suspiro explosivo.

— Eu sei, — disse ele. — Mas, docinho, como não posso odiá-lo?

— Você não pode odiá-lo, — ela disse baixinho. — Eu desejo que você tente.

Francis sacudiu a cabeça. Ele sorriu para ela, um sorriso torto.

— Sabe, Claudine, você me surpreende.

Ela sorriu com seus olhos e ele sentiu seu coração revirar de excitação e espanto. Naquele momento, ele não tinha espaço para qualquer ódio dentro dele.

— Obrigada, — disse ela.

Ele se inclinou para frente e deixou seus lábios roçarem os dela. Ele se sentia de algum modo perverso, beijando-se aqui no recinto da abadia, mas era uma maldade doce. Mesmo assim, o beijo foi breve e casto, mas ainda disparou sua virilha além de qualquer coisa que ele já conhecera. Ele estremeceu e ficou de pé, sentindo uma necessidade quase incontrolável por ela.

— Claudine, — ele respirou. — Eu... você sabe o que eu perguntaria, se eu tivesse a liberdade de fazê-lo.

Ela deixou seus grandes olhos azuis se arregalarem.

— Não, Francis. O que você perguntaria?

Ele ouviu a si mesmo rindo baixinho.

— Eu iria... deixe-me fazer isso corretamente, — acrescentou, e ajoelhou-se, então ele olhou em seus olhos. — Claudine, filha do duque de Pavot. Você me daria a honra de aceitar minha mão?

Ele viu os olhos dela se arregalarem e depois se encherem de grandes lágrimas. Ela assistiu enquanto elas corriam por suas bochechas e então ele a envolvia em seus braços, enquanto ela se inclinava contra o peito dele e soluçava.

— Oh, meu querido, — disse ela. Ela estendeu a mão e colocou-a na bochecha dele. Então baixou o rosto dele para o dela e os lábios deles exploraram um ao outro desesperadamente. — Oh.

Ele sorriu.

— Bom?

Claudine deu uma risadinha.

— Oh, Francis. Meu querido Francis! Sim.

Francis sentiu como se seu coração fosse se derreter e ele a esmagou contra o peito, desejando que pudesse segurá-la assim, perto e quase indivisível de sua própria carne, para sempre. Ele a amava tanto e tê-la em seus braços parecia tão certo.

— Oh, Francis, — ela murmurou, olhando em seus olhos, ela própria brilhando com admiração e alegria.

Eles se beijaram novamente.

Mais tarde, Francis e Bernadette sentaram-se com Claudine no jardim. A irmã Adelaide estava do outro lado da mesa, onde se sentaram para almoçar, uma figura sombria que se misturava com as árvores que ficavam fora de vista.

— Não podemos deixar que as ações do tio Luke não sejam questionadas, — disse Francis. Ele sentiu sua determinação preenchê-lo. — Ele deve ser exposto. Além disso, nenhum de nós está seguro enquanto viver.

— Isso é verdade, — disse Bernadette. Ela tinha sido tão firme durante a fuga. À menção do conde, ele viu o rosto dela endurecer.

— Eu sei, — sussurrou Claudine. — Mas... estamos todos em perigo agora. Eu odeio pensar no que vai acontecer quando sairmos desse lugar. Vamos andar direto para o perigo novamente.

Francis sacudiu a cabeça.

— A abadia está nas fronteiras da terra de meu pai, — disse ele. — Eu acho que seu tio não é tão míope a ponto de buscar guerra com meu pai. Enquanto estivermos aqui, estaremos a salvo.

— Obrigado, — disse Claudine em voz baixa.

— A razão pela qual precisamos confrontá-lo não é tanto pela nossa própria segurança, — Francis continuou, — mas o fato de que o conde enganou a todos. Precisamos expor o que ele fez.

— Antes de mais nada, seu pai deveria saber.

Francis viu Claudine ficar em tom cinza com a menção do pai dela.

— Não, Bernadette. — Ela balançou a cabeça. — Por que devemos dizer a ele?

— O homem é seu irmão, — disse Bernadette severamente. — Ele tem o direito de saber.

— Mas meu pai não se importa comigo, — sussurrou Claudine. — O tio disse que ele queria se livrar de mim. Que eu era um incômodo... — ela parou. Francis olhou para Bernadette e todos se olharam.

— Eu acho que seu pai deveria ter o direito de contrariar essa acusação, — Francis disse gentilmente.

Claudine olhou em seus olhos. Ela parecia assustada.

— Eu não sei, Francis, — disse ela com tristeza. — E se você estiver errado? Talvez ele me odeie como meu tio transmitiu?

Francis levantou uma sobrancelha.

— Bem, talvez. Mas acho que devemos saber a verdade.

Claudine relaxou e assentiu devagar.

— Sim, Francis. Eu acho que você está certo. Além do mais, ele precisa nos dar sua bênção.

Francis sentiu seu próprio coração se iluminar.

— Sim. Você está certa. Realmente ele precisa.

Claudine sorriu um pouco tristemente.

— Eu acho que ele vai dar. Ele nunca esperou que eu me casasse, sabe. Ele ficará satisfeito em se livrar de mim.

Francis se sentiu olhando para Bernadette. Os olhos da mulher encontraram os dele significativamente. Francis assentiu.

— Vamos viajar até Pavot assim que se sentir mais forte, minha querida.

Pela primeira vez desde que mencionara a visita ao pai, Claudine sorriu.

— Bem, considerando todas as coisas, acho que será em breve.

Demorou uma semana. Francis ficou com os monges novatos e ajudou nas tarefas diárias. Ele encontrou-se aprendendo habilidades que nunca imaginou: consertar uma cerca, substituindo telhas quebradas no scriptorium, espanando as tapeçarias. Todos os dias ele visitava Claudine. Todos os dias ela ficava mais forte.

De manhã, uma semana depois da chegada deles, Claudine acompanhou-o até os campos. Era um dia quente de verão, uma leve brisa agitando as árvores.

— Um dia glorioso, sim? — Francis perguntou suavemente. — E uma visão gloriosa — acrescentou ele, agitando o braço para uma massa de ranúnculos floridos no campo em frente aos terrenos do mosteiro.

Claudine assentiu. Ela contraiu o nariz e depois respirou. Ela espirrou.

Francis riu.

— Você tem um lenço? — ele riu, caçando no cós da túnica para ver se colocara um sob as dobras. — Uh, sim, querido. Eu tenho um, aqui... — Claudine tirou um de baixo de seu kirtle, mas, quando o levantou, o vento o arrebatou. — Oh! Misericórdia de mim...

Ela riu e o perseguiu. Francis, rindo, saiu atrás dela. Foi só depois que ele a alcançou que eles se entreolharam. Suas bochechas coraram, seus olhos brilhando, ela olhou para ele maravilhada.

— Eu corri, — disse ela, completamente descrente.

Francis riu. Todo o seu ser se alegrava. Ele a beijou.

— Você correu! Minha querida. Você correu.

Isso mal parecia ser possível. Um mês atrás, Claudine mal conseguia andar. No entanto, agora aqui estava ela, correndo pelo campo, o vento acariciando seus cabelos dourados, suas bochechas coradas. Ela estava bem!

— Devemos ir a Pavot, — disse Francis.

Claudine assentiu devagar.

— Sim nós devemos.

Entraram no jardim de braços dados para encontrar Bernadette. Eles estavam indo embora na manhã seguinte.

****

Francis sentou-se na carruagem. Era o terceiro dia da viagem deles. Eles pegaram a carruagem de Annecy na estrada para o Norte e para Pavot. Agora, com a floresta de pinheiros diminuindo para campos de grama verde no verão, eles estavam quase lá.

— Nós vamos ter terminado o nosso negócio aqui antes que saibamos, — Francis disse suavemente. Em frente a ele, viu Claudine ficar tensa. Ela estava claramente nervosa e seus olhos azuis estavam tristes.

— Espero que sim, — ela sussurrou.

Francis pegou a mão dela, segurando os dedos suaves e frios da sua.

— Certamente que sim, querida.

Ela assentiu e apertou o doce lábio rosa entre os dentes em uma expressão triste. Por mais triste que fosse, Francis sentiu seu membro latejar. Ele a queria muito.

Ele disse a si mesmo para ser paciente. Uma das coisas que ele podia fazer agora era pedir formalmente a seu pai a mão dela. Logo ele poderia vir a ter a liberdade legal para se casar com sua filha.

Eu vou fazer isso se ele me conceder ou não.

Ele sorriu. Ele não podia esperar mais um momento. Logo eles estariam em Pavot.

— Eiaaa!

O grito do cocheiro atingiu Francis, fazendo-o pular. Estivera meio adormecido, embalado pelo movimento suave da carruagem no calor sonolento da tarde. Ele tentou se levantar.

Em frente a ele, o rosto de Claudine estava tenso e apertado de preocupação.

— Aqui estamos, — ela sussurrou. — Será cuidadoso?

Francis assentiu.

— Eu serei. Eu prometo. Espera por mim aqui?

Claudine assentiu com a cabeça e Francis esperou até que sua carruagem fosse admitido pelos portões largos e altos antes de descer, atravessando rapidamente o pátio até a entrada do grande salão.

— Pare! — Gritou um guarda. — Que negócio você tem com a Sua Graça?

Francis levantou uma sobrancelha. Ele não tinha paciência para isso.

Hoje não.

— Do tipo mais urgente.

Ele passou pelo hall, ouvindo a porta bater contra a parede de pedra enquanto ele a abria.

— Não! Pare! Criminoso...

O grito dos guardas desapareceu quando dois pares de olhos se voltaram para Francis. Um deles ele reconheceu imediatamente. O frio, cinza azul, olhar do tio Luke.

O outro era um largo olhar azul-celeste. Com grandes olhos redondos que eram tão parecidos com os de Claudine, o homem mais alto e elegantemente coberto com o cabelo fino e dourado devia ser o pai dela.

— Irmão! Chame os guardas — disse Luke rapidamente.

— Eh... espere, — o homem mais alto disse. — Não, Luke. Ainda não. Olá, — ele disse hesitantemente para Francis. — Um bom sujeito não vai invadir meu salão! Qual é o significado dessa intrusão? A verdade agora.

Francis piscou. Se dois homens eram completos opostos, esse homem e seu irmão. Onde Luke era magro e olhos de falcão, este homem era suave e relaxado. Seu olhar era grande como se ele estivesse constantemente surpreso com a vida. No entanto, ele sorria carinhosamente para Francis que sentiu que gostava dele imediatamente. Se esse homem tivesse rejeitado sua filha doente, ficaria surpreso.

— Senhor, eu venho como um enviado de Claudine, — disse ele rapidamente.

— Claudine! Que peculiar! — Ele se virou para Luke, franzindo os olhos e confuso. — Isso é possível?

Francis viu Luke balançar a cabeça e ele pigarreou, bloqueando o que quer que Luke estivesse prestes a dizer.

— É, Sua Graça. — Ele curvou-se extravagantemente baixo. — Eu estava há pouco com a lady e garanto que fui enviado por ela. Eu mostro este lenço como prova, — disse ele. Ele enfiou a mão no cinto e tirou o lenço que ele, três dias antes, havia perseguido com Claudine em um campo ensolarado e quente.

— Dê aqui, — disse seu pai. Ele olhou para ele, os olhos arregalados.

— Certamente tem seu monograma, — disse ele. — Como você veio a tê-lo? Eu pensei... — ele se virou para Luke, que suspirou.

— É um truque, irmão. Obviamente. Um truque nefasto, sua filha está agora sob os cuidados de monges em Blanchard. Temo que ela não sobreviva a esse último delírio. Como ela poderia ter entregue a este... estrangeiro perigoso... seu lenço? Não confie nele.

Francis sentiu suas bochechas levantarem em um sorriso sem alegria. Ele observou os olhos do duque se arregalarem e o homem olhou para ele.

— Bem, senhor? É como meu irmão me contou? Se não for, é melhor você ter uma boa explicação para oferecer! Eu não dou a mínima para dar aos meus parentes o nome de mentirosos.

Francis olhou para o chão com humildade.

— Não é verdade, senhor. Sua filha está bem. Eu a vi uma hora antes.

— Uma hora! Mas minha filha tem três dias... não, cinco dias... cavalgue daqui! Isso não é possível.

Francis sentiu-se tenso ao ver o duque acenar discretamente a um guarda. Ele estava em perigo extremo aqui. Ele olhou em volta descontroladamente.

— Claudine não está na propriedade do seu irmão, — disse ele. — Nem ela está doente. Ela está saudável e bem e, agora está em Pavot.

Ele viu Luke sorrir sombriamente.

— O homem é um louco perigoso ou um mentiroso. Ou delirante! Como você pode acreditar nele? Onde ela está, então?

Francis sentiu-se em perigo quando os olhos do duque se estreitaram. Ele era um homem formidável, claramente, por toda a sua polidez suave e calma.

— Meu irmão fala a verdade. Por que minha filha veio a Pavot? Por que ela ficaria na cidade sem entrar para ver seu pai? Eu não a vejo nestes últimos dois anos! Se ela está aqui, como você diz, por que ela não entrou?

Ele parecia triste, mais do que zangado, e Francis sentiu o próprio coração se retorcer dolorosamente em seu peito.

Ela não veio porque acredita que você a odeia, ele queria gritar. Ela não veio porque tem medo de você. Porque ela pensa que você se afastou quando ela lhe precisou.

No entanto, o que ele poderia dizer? Ele não podia provar nada disso. Desesperado, ele desejou que Claudine estivesse disposta a se juntar a ele.

— De fato! — Disse o tio Luke. — Por que ela se recusaria a ver o próprio pai, hein? Diga-nos isso, seu canalha. E sem mentiras.

— Sim — disse o duque, aproximando-se dele, descendo do estrado com as bochechas coradas. — Guardas! — Ele acrescentou, chamando os cinco homens para frente. — Diga-me, meu lorde, por que minha filha evitaria o pai?

Quando os homens correram para a frente e agarraram os braços de Francis, ele ouviu os dois nobres ofegarem. Olhou para os rostos deles, mas eles não estavam olhando para ele. Eles estavam olhando por cima da cabeça para algo atrás dele. Ou alguém.

— Evitei meu pai porque acreditei que ele me rejeitara — disse a voz de Claudine friamente. — Porque eu acreditei em você, tio. E agora quero ver se estava certo.

Francis sentiu o coração afundar. Ela estava aqui. Ela estava em perigo? Ele se virou e olhou para ela. Ela sorriu. Então seus olhos passaram por ele. Francis virou-se.

Olhava nos olhos do duque, que de repente e inexplicavelmente se encheram de lágrimas.

— Minha filha, — ele disse suavemente. — Minha amada filha.

— Pai! — Claudine soluçou. — Oh! Pai. Senti sua falta.

Francis ficou onde estava, ajoelhado no chão, um guarda de cada lado dele. Totalmente esquecido, tornado temporariamente invisível, ele não poderia estar mais feliz ou mais contente.

****

Depois sentaram-se para um delicioso jantar. O cheiro da deliciosa comida subiu até o nariz de Claudine: peixe assado com erva-doce. Isso a fez ficar com água na boca. Ela não tinha comido tanto desde o baile do palácio: aquela tinha sido a última vez que ela conseguiu encontrar energia para descer.

— Minha filha, — disse o pai. — É... notável... ter você de volta conosco. E com uma saúde tão maravilhosa.

— Obrigada, pai. — Ela sorriu timidamente para ele e, em seguida, olhou para seu prato.

Parecia estranho olhar para o rosto dele. Ela não o via há dois anos. Ela mal podia arrastar o olhar para longe agora. Tudo sobre ele — desde o contorno suave de seu rosto até os grandes olhos azuis e o jeito terno que ele sorria, as bochechas se erguendo, os olhos brilhando, quando ele olhava para ela — era indescritível e precioso.

Uma tosse do outro lado da mesa trouxe Claudine de volta ao presente. Ela pegou o olhar do outro lado da mesa e sorriu para Francis.

— Você quer cavalgar amanhã? — Ele perguntou. — Seu pai estava me contando sobre seus estábulos.

Claudine sentiu as bochechas corarem.

— Talvez, — ela disse suavemente. Só de pensar no fato de que ela poderia andar era mais maravilha em um dia que já tinha tantas maravilhas para oferecer.

Claudine sentiu como se seu coração fosse se derreter. Toda vez que ela olhava para ele e seus olhos se encontravam com os dele, ela sentia como se a primavera a tivesse visitado por dentro, fazendo seu coração florescer de amor.

— Claudine? — Seu pai disse suavemente.

— Mmmm? — Ela franziu a testa. — Desculpe, pai. Eu estava perdida em pensamentos.

— Eu lembro de você se perder em pensamentos, — seu pai sorriu com carinho. — Eu me perdia também. Eu queria perguntar sobre essas pessoas que ajudaram você. As freiras em Bois?

Claudine assentiu e engoliu um bocado do delicado peixe grelhado.

— Eu acho que elas ajudaram a salvar a minha vida, pai, — disse ela em voz baixa. — Bem, elas e Bernadette. E Francis.

Ela corou quando disse o nome dele. Do outro lado da mesa, seus olhos encontraram os dela. Ele sorriu e então ela abaixou os olhos antes que todo o seu corpo pegasse fogo com as crescentes sensações dentro dela. Seu estômago era um nó apertado de excitação e seu coração batia forte. Tê-lo aqui na sala de jantar, onde ela lembrava tão bem de seus anos de crescimento, era uma experiência estranhamente íntima.

— Espero poder falar com você depois, senhor, — Francis disse ao seu pai, surpreendendo os dois. Claudine viu os olhos do pai se arregalarem e depois voltarem rapidamente à sua forma normal e tranquila.

— Claro, meu filho, — ele disse gentilmente. — Eu sou fácil de encontrar... basta ir ao meu escritório na torre. Eu estarei lá fingindo trabalhar enquanto na verdade eu descanso depois deste jantar amplo.

Claudine deu uma risadinha. Do outro lado da mesa, Francis sorriu.

Claudine sentiu seu pulso bater. Inclinou-se para a frente e o joelho, por acaso, tocou em Francis por baixo da mesa. Ela pulou e ele sorriu quando ela retirou o joelho. Ele se pressionou para frente, então seus joelhos se tocaram. Sua perna escorregou entre as dela.

Claudine ofegou.

Seu pai olhou de lado. Ela ficou vermelha.

— Desculpe, pai, — ela murmurou baixinho. — O ensopado está quente.

Seu pai assentiu.

— Eu suponho que esteja, filha. São essas cenouras. Coisas peculiares. Elas seguram o calor. — Se ele não acreditasse qual era a fonte de seu desconforto, ele escondeu-o notavelmente bem.

Claudine ficou vermelha e assentiu.

— Sim, é isso.

Francis estava sorrindo e sentiu o desejo de gargalhar. Ela se forçou a manter um rosto neutro, mesmo que estivesse tremendo de rir por dentro. Ela podia sentir o joelho dele pressionando o dela e o seu dedo do pé acariciando seu pé, fazendo-a pular de novo.

— Está quente, não é? — Seu pai meditou. — Eu deveria falar com o cozinheiro chefe. Incentivá-lo a cortar essas cenouras um pouco menores. O que você me diz, hein?

— Você mantém um excelente cozinheiro, — Francis disse gravemente. — Eu me sentiria insensível sugerindo que ele fizesse algo diferente.

Claudine viu o rosto de seu pai amolecer.

— Obrigado, senhor Francis. Agora, se você não se importa, eu gostaria de ouvir a história da sua fuga. Na íntegra. Não deixe nada de fora.

Claudine sentiu o estômago se apertar. Ela se sentia mal ainda, apenas pensando nisso. A última coisa que ela queria fazer era ouvir tudo de novo. Ela preferiria simplesmente esquecer.

— Não podemos simplesmente esquecer, pai? — Ela perguntou, esperançosa.

Seu pai sorriu. Sua mão cobriu a dela, a sua grande, forte e reconfortante.

— Como você quiser, minha querida. Já decidi o que vou fazer.

— Obrigada pai. Eu aprecio isso.

— Compreendo. Queremos deixar esse desagrado para trás. Eu certamente quero. O que tem da sobremesa, hein?

— Meu lorde? — Um lacaio olhou com a menção de sobremesa. — Oh. Frutos cozidos, senhor.

— Ah. Apenas essa coisa? Bem, vamos comer em breve. E depois o queijo.

Todos sorriram e Claudine sentiu-se confortavelmente satisfeita pela primeira vez em muito, muito tempo.

Seu pai chamou sua atenção e sorriu.

— Bem, minha querida, estou encantada por ter você aqui. Embora seja uma pena não sabermos antes da sua chegada... Eu teria planejado um jantar mais luxuoso para celebrar!

Claudine sorriu para ele, o rosto corado.

— Pai, isso foi pródigo o suficiente, eu prometo a você.

— Bom, bom. — Ele acariciou a mão dela com carinho. — Oh! Roncelles?

— Sim, senhor? — O mordomo esquelético parou na porta.

— Tenha essas contas prontas para mim depois do jantar, você teria? Eu preciso checá-las.

— Sim, meu lorde.

Claudine deu a seu pai um olhar divertido e ele encolheu os ombros.

— Minha desculpa preciso sentar em silêncio na torre para digerir tudo isso.

Quando os últimos queijos foram degustados e Claudine quase dormia à mesa, o pai se levantou e empurrou a cadeira.

— Bem, desculpe-me, lorde Francis, filha. Eu irei e me retirarei para o meu escritório por um tempo. Vejo você em breve, senhor? — acrescentou ele a Francis.

Francis assentiu.

— Sim, Sua Graça. — Ele saiu logo depois, deixando Claudine sozinha ao lado do fogo.

Ela observou as chamas.

Eu mal posso acreditar que isso é possível, ela pensou, suas bochechas coradas de calor. Depois de anos acreditando que ela estava destinada a uma morte lenta, que nunca se casaria, que era um fardo tão nocivo que seu próprio pai a rejeitou, sua vida de repente se transformou.

É tão maravilhoso.

Ela mal podia compreender o quanto seu tio era perverso: como ele pode envenená-la ao longo dos anos, separá-la de seu pai, levou-a a acreditar que ela era tão inútil que nunca procurou ajuda?

Em seu coração, Claudine não queria que seu tio se machucasse.

Ele é irmão do pai. Ele carregaria a dor disso para sempre. E eu a dor de lembrar e acreditar que causei sua morte.

Não, ela queria esquecer.

— Claudine?

Ela pulou quando a voz suave veio para ela da porta do solar. Isso ressoou em seus ossos. Francis era simplesmente o homem mais bonito que já vira. Ela se virou e sorriu para ele.

Enquanto seu pai falava com seu mordomo, Claudine descobriu por Francis o que ele decidira fazer.

— Seu tio será banido, — explicou ele. Ele manteria seu título de conde de Blanchard e daquelas terras somente. No entanto, tudo o mais, incluindo a propriedade de seu pai, estava fora dos limites.

— Estou feliz, — ela disse suavemente. — Eu acho que o pai fez a escolha certa.

— E ele não irá a corte, — disse Francis.

Claudine sentiu alívio por isso. Ela nunca mais o veria, se não desejasse. Isso a agradou. Bernadette seria recompensada também.

— Embora ele diga que não sabe o que dar a ela. Ele também quer que as freiras recebam alguns agradecimentos. — Francis olhou para ela, os olhos verdes quase castanhos à luz do fogo.

— Acho que um presente de terra para a abadia agradaria mais a elas — disse Claudine em voz baixa.

Francis assentiu.

— Eu também acho.

— Filha, — uma voz chamou da porta. — Eu estava esperando que você estivesse aqui. Eu confio que Francis lhe contou sobre o nosso plano?

Claudine sorriu carinhosamente para o rosto sábio e amigável.

— De fato. Ele falou, pai. Bons planos.

Ele sorriu.

— Obrigado, minha querida.

— Lady Claudine propôs que você desse um presente de terra à abadia de Bois, — disse Francis.

— Mmmm. Uma grande ideia — seu pai assentiu.

A abadia receberia parte da terra em Evreux.

— E o resto? — Claudine perguntou suavemente. O fogo queimava na lareira, o leve estalido dele quase inaudível abaixo de suas vozes, a luz vermelha e intensa onde fluía pela sala.

— Bem, — sorriu o pai dela, — acho que se beneficiará em tê-la a primeira mulher que será proprietária exclusiva de qualquer propriedade que eu conheça.

Francis e Claudine se entreolharam. Claudine sentiu seu coração se encher de alegria.

— É isso que você quer dizer? Papai! Ela ficará encantada.

Seu pai apenas sorriu.

— Bem, então, — disse ele, em pé do lugar em que ele sentou na lareira. — Eu suponho que eu deveria ir e consertar tudo isso. E eu devo me recolher cedo. Estou cansado. Foi muita excitação hoje, hein? — Ele sorriu carinhosamente para Claudine.

— De fato, pai — murmurou Claudine.

— Filha, eu não posso te dizer como estou feliz.

Claudine engoliu em seco. Seu coração se derretia em carinho toda vez que ela olhava para ele. Ela ainda não conseguia acreditar! Quanto tempo ela sofreu, acreditando que esse homem gentil havia lhe dado as costas por estar doente? Foi cruel! Foi malvado. No entanto, agora finalmente estava terminado.

Ela sorriu para Francis, que estava sentado em frente à lareira. As chamas saltaram na grade e iluminaram os belos planos de seu rosto. Seu coração bateu de um jeito diferente quando ela olhou para ele. Um carinho que encheu todo o corpo dela com o fluxo lento do desejo.

Eles estavam finalmente sozinhos.

— Eu não posso acreditar, — sussurrou Claudine.

Ele sorriu para ela.

— Eu posso. Eu acredito.

Eles se beijaram. Seu beijo foi lento e terno, sua língua sondando em sua boca. Ele se moveu para que se sentasse ao lado dela no sofá e ela suspirou quando sentiu seu corpo se moldar ao dele, seus lábios macios e suaves por conta própria.

Ele acariciou-a suavemente, suas mãos descendo pelas costas em toques lentos e gentis que provocaram arrepios nas costas. Ela se inclinou para ele, faminta, seus seios pressionados contra o peito dele e seus braços em volta dela em um abraço duro que a esmagou contra ele.

— Oh, Francis, — ela engasgou quando ele se afastou. Ele se inclinou para trás e olhou nos olhos dela. Ela podia sentir um tremor bom correndo através deles. Combinava com o arrepio em seus próprios membros.

— Claudine, — disse ele, dando-lhe um sorriso torto. — Eu... acho que talvez eu devesse me retirar para o meu quarto agora. Antes de fazer algo quepodemos nos arrepender.

A boca de Claudine se curvou. Ela sabia o que ele queria dizer. Isso significa prometer votos. Era um pensamento tão adorável que fazia o corpo dela latejar de desejo, embora soubesse o quão chocante seria.

— Sim. Você está certo.

Ele sorriu.

— Eu estou. Por mais que eu não queira estar. Nós devemos esperar. Nós não vamos esperar muito.

— Oh. Francis! — O coração de Claudine subiu. Isso significava tudo! Seu pai havia concordado. Eles tiveram sua bênção! Eles estavam livres para amar.

— Sim, — ele murmurou. — Ele concordou. Fiquei surpreso, posso dizer-lhe! — Seus olhos verdes estavam arregalados e Claudine teve que rir.

— Eu não estou, Francis. Você é o melhor, o mais bonito, o mais valente, o mais corajoso...

— ...homem completamente sortudo e afortunado no mundo, — ele terminou.

Claudine deu uma risadinha.

— Oh, Francis.

— Meu amor.

Eles se beijaram.

Francis ficou em pé depois, com um grande sorriso no rosto.

— Mesmo. Eu preciso ir.

Todo o corpo de Claudine se derreteu com essa afirmação. Ela sabia o que ele queria dizer. Ela também podia sentir um empate profundo e latejante para fazer exatamente o que eles sabiam que não deveriam.

— Sim, minha querida. Boa noite.

— Boa noite, meu querido.

Claudine ficou onde estava depois que ele partiu. Ela sentiu como se seu coração fosse se derreter. Ela estava aqui com Francis e eles se amavam. Logo eles seriam casados.

Era como se todas as suas preces tivessem sido atendidas. Ela estava bem, ela era amada. Logo ela descobriria o que tudo isso realmente significava também. Ela estava tão feliz.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

UM CASAMENTO NO CAMPO


— Devo fazer o seu cabelo agora, milady?

Claudine sorriu.

— Não insistir em me chamar assim, castelã.

Bernadette fez uma careta. Vestindo um belo vestido azul, com o cabelo coberto por um véu de renda de Bruxelas, ela parecia descolada, mas adorável.

— Madame, você é muito gentil. Deixe-me fazer esta última coisa por você? É uma honra.

— Bernadette! Você não deveria me chamar de madame ainda - Claudine sorriu. — E você me chama de 'muito gentil'? Você é a melhor amiga que alguém já sonhou!

Bernadette piscou, parando as lágrimas que fluíam por suas bochechas.

— Oh, milady. Não, espere... Madame. Você fala doces bobagens. — Ela riu

Claudine também riu.

— Eu falo a verdade. Agora, por favor, me ajude a arrumar essas tranças, ou vou ficar com medo de atrasar, e é o dia do meu casamento.

Bernadette suspirou.

— Você parece tão amável. Você nunca pareceria estar com medo.

— Eu posso, ainda — brincou Claudine, sentando-se para que Bernadette pudesse terminar de pentear o cabelo. Enquanto trabalhava, Claudine não pôde deixar de se olhar no espelho por um momento ou dois — com os cachos loiros puxados para trás do rosto, os grandes olhos azuis pareciam enormes. Sua saúde tinha colorido suas bochechas de um tom delicado de rosa, embora sua pele ainda estivesse pálida como pétalas. A mulher no espelho com o cabelo elaboradamente trançado era uma adorável estranha.

— Ah. Pronto. Agora, levante-se, querida, e deixe-me adicionar o véu.

Bernadette estendeu a mão e colocou o leve véu de gaze sobre as costas de Claudine, onde desceu até o chão, misturando-se com a bainha de seu vestido.

Claudine ficou olhando. O vestido em si era branco e com uma saia longa e larga que estava moldada a uma cintura em forma de “v”, a cintura em si envolvida por um kirtle prateado que complementava sua forma curvilínea. O decote do vestido era baixo o suficiente para mostrar um pouco de sua camisola de baixo e ela usava uma coroa de flores no cabelo. Ela parecia elegante e mais que um pouco etérea. Isso a surpreendeu.

— Milady, — Bernadette suspirou. — Você realmente parece adorável. — Ela estava realmente chorando agora, as palavras pegando em sua garganta.

Claudine abraçou-a rapidamente e, em seguida, antes que as lágrimas brotassem em seus próprios olhos, ela estava passando rapidamente por ela em direção a escada.

Seu pai a encontrou no final da longa escadaria e a acompanhou até a carruagem. Eles realizariam a cerimônia na capela em Pavot onde, há muito tempo, seus próprios pais haviam se casado e antes deles seus avós.

Então eu vou ficar com Francis.

Ela não conseguia parar de sorrir.

A capela estava fresca e em tons verdes, a única luz que entrava pelas altas janelas de clérigos. A congregação era grande, como era de se esperar para a filha de um duque. Claudine olhou demoradamente para o chão enquanto caminhava ao longo do corredor, o som etéreo do coro ecoando no alto acima dela.

Ela piscou rapidamente, suas lágrimas começaram a fluir.

Francis.

Ela estava ao lado dele e não podia olhar em nenhum outro lugar. Ele usava uma túnica verde suave e calças escuras; a cor da túnica quase a cor exata de seus olhos. Seu cabelo ruivo contrastava nitidamente e a luz das janelas e das velas davam-lhe um tom dourado. Sua grande e musculosa estrutura estava claramente delineada pela densa luz e sombra da capela, e Claudine sentiu seu coração pular feliz.

Este homem bonito está se tornando meu marido.

Ela corou e levou sua atenção de volta para o padre. Ele estava falando com Francis. Então, soube,que ele iria se dirigir a ela.

— Francis Blaine McNeil, vis accipere Claudine Jocelynne Poitiers, hic præséntern em tuum legítimum uxorum iuxta ritum Sanctae Ecclesiae matris4?

— Volo, — disse Francis, baixo e distintamente. Eu quero. As palavras a emocionaram tanto com sua sinceridade.

Claudine Jocelynne Poitiers, em resposta Francis Blaine MacNeil. Hic præséntern in tuum original marítum iuxta ritum sanctæ matris Ecclésiæ?

— Volo5, — disse ela. Ela disse em tom suave, mas firme. Eu quero.

Seguiu-se mais latim, fluindo pelos ouvidos de Claudine com a familiaridade suave das orações da infância. Então eles se casaram. Ela ficou bastante surpresa quando Francis se virou para ela, pegando suas duas mãos na dele.

Ela olhou nos olhos dele e ele se inclinou para frente. Suavemente, ternamente, ele ergueu o véu dela e a beijou.

Eles eram marido e mulher.

Claudine sorriu até que ela pensou que suas bochechas se cansariam disso, todo o seu corpo impregnado de uma alegria brilhante.

Eles se juntaram à família na mesa alta do grande salão. Claudine descobriu que mal tomava conhecimento da conversa, dos parabéns e da conversa ao seu redor. Ela estava focada apenas em como estava consciente de Francis ao lado dela. Ela sentiu como se sua pele tivesse derramado uma camada e cada movimento que ele fazia alcançou o núcleo dela, fazendo-a tremer.

Estou pensando na cama.

Ela era filha do duque e seus filhos seriam os herdeiros disso. Sua família gostaria de ter uma cama formal, com suas damas em algum lugar do quarto, do outro lado da tela, é claro. No entanto, Claudine não queria isso. Ela queria Francis para si mesma. Sozinha.

Como se em resposta a seus pensamentos, sua perna pressionou seu joelho, fazendo-a saltar de surpresa.

— Sim, — ela sussurrou.

— Devemos fugir? — Ele perguntou.

Claudine olhou para ele.

— Francis! Como podemos fugir?

Os dois estavam sussurrando, mas ela podia ver seu pai olhar para cima, interessado, do outro lado da mesa. Ela cobriu a boca com a mão.

— Bem, meus pais fizeram isso, — Francis sorriu grandemente. — Por que não nós?

Claudine sentiu as bochechas esquentarem de excitação embaraçosa.

— Você acha que poderíamos? — Era tão deliciosamente perverso que ela nem sequer acreditou que poderia ser feito. No entanto, como ela queria!

— Bem, claro. Você vai primeiro. Diga que você precisa se arrumar. Eu vou seguí-la.

Claudine assentiu. Seu coração bateu e ela se sentiu nervosa. Ela olhou para o pai.

— O que é, querida?

— Eu tenho uma... uma necessidade de me arrumar, — disse ela, parecendo confusa.

Ele sorriu.

— É claro querida. Vá enquanto a sobremesa ainda está sendo preparada. Você não gostaria de perder, imagino.

Claudine sorriu.

— Não, pai. Eu não gostaria.

Ela se levantou e saiu, pensando que estava antecipando algo delicioso que deveria ocorrer depois da refeição e que nada tinha a ver com as peras cozidas com calda que a cozinheira estava servindo.

— Claudine! — Ela se repreendeu. — Que pensamento malvado.

Ela subiu rapidamente as escadas até o quarto principal, olhando apressadamente para a esquerda e para a direita. Ela foi seguida? Ela achava que não. Ela chegou ao quarto e se encostou na porta, tentando se misturar com as sombras no corredor.

Um momento depois, ela ouviu passos no corredor. Ela ficou tensa. Quem era?

— Claudine?

— Francis, — ela suspirou.

Seus braços a envolveram por trás e ele a puxou para perto. Seus lábios roçaram a pele de sua garganta e ela sentiu-se inflamar.

Gentilmente, ele a virou para si. Seus lábios desceram sobre os dela. Eles eram gentis no início, beliscando suavemente seu beicinho cheio, provando-a com a ponta de sua língua. Então, ele aprofundou o beijo e envolveu seus braços ao redor dela, inclinando-se ao mesmo tempo para que ela se levantasse contra ele.

Com os pés fora do chão, ele a levou pelo limiar da porta como se ela estivesse sem peso e a colocou de leve no chão.

— É de boa sorte, — disse ele. — Levar a noiva nos braços e atravessar a porta. Pelo menos, é na Escócia.

Ela riu.

— Oh, Francis. Que maravilhoso. — Ela estendeu a mão e acariciou seus cabelos. — Há muito que eu gostaria de aprender sobre você e sua família.

— Há muito que eu gostaria de aprender sobre você, querida, — ele respirou. Seu olhar era tão intenso que ela estremeceu. — Mas eu tenho toda uma vida para isso.

— Eu também, — sussurrou Claudine. Ela sentiu como se seu coração fosse se derreter. Eles teriam suas vidas juntos. Tudo começava a partir desta noite.

— Minha Claudine, — ele sussurrou em seu cabelo enquanto a abraçava novamente. — Meu amor. — Ela sentiu ele empurrar seu corpo em direção a cama.

****

Francis estremeceu ao deitar ao lado de Claudine na cama. Ele olhava para ela. Aquelas curvas generosas faziam sua virilha doerem com necessidade. Seus seios eram cheios e empurravam o decote do vestido, querendo ser libertados. Ele se abaixou e acariciou seu corpo, imaginando a doce suavidade dela. Ele podia sentir o cheiro de lavanda de seu vestido e queria enterrar seu rosto nela, respirar a mistura de doce e mulher que era seu perfume.

— Claudine, — ele sussurrou. Ele mal podia acreditar que ela estava aqui. Em cima da cama. Com ele. Tinha sido algo que ele sonhou.

— Francis

Ele lambeu os lábios carnudos e cheios, sentindo o contato disparar suas virilhas novamente. Ele tinha que tomá-la em breve ou ia realmente desmaiar de desejo. No entanto, ele queria fazer disso uma noite maravilhosa. Era só dela. Mimá-la. Fazendo-a saber o que ela significava para ele. Como ele a queria.

Ele se abaixou e acariciou seu cabelo macio e pálido. Olhou em seus olhos. Quando a beijou novamente, ele estendeu a mão e soltou o primeiro botão no topo de seu vestido. Ele a ouviu ofegar e então se inclinou para frente, gentilmente chegando mais próximo. Então mais próximo.

Quando o vestido dela estava aberto até o decote, ele estava realmente tremendo. Estava desnudando-a e estava doendo com a necessidade de chegar ao fim. No entanto, ele queria se provocar. Levar isso devagar ser tão agradável para ele quanto para ela.

Ele alcançou o quinto botão e o desfez. Então ele não podia esperar mais. Quando o vestido se afrouxou, ele estendeu a mão e puxou o decote para baixo, expondo uma camisola sob os seios. Eles estavam cheios e altos e ele se inclinou para frente avidamente, enterrando o rosto neles.

Ela engasgou e suspirou e ele aspirou seu cheiro e sentiu como se estivesse se afogando em prazer. Ele estava impaciente, então, desabotoando o vestido apenas o suficiente para que pudesse deslizar do corpo dela. Ele abaixou o vestido, tirando-o também.

Ele olhou para ela. Ele olhou-a fixamente.

Ela estava nua na cama, suas curvas doces desnudas.

Seu olhar a consumiu. Ele começou em seu pescoço claro, olhando para baixo em direção a seus seios cheios e altos. Então ele seguiu para baixo de sua barriga clara e para a doce separação de suas coxas suavemente arredondadas. Seus olhos demoraram-se na fenda doce entre suas pernas que ele ansiava por separá-las, sentir-se enchê-la. No entanto, ainda não. Ainda não. Tinha muito mais que queria fazer antes disso.

Ele se inclinou e chupou um seio. Ela soltou um grande suspiro e ele trabalhou um pouco mais no mamilo, amando o calor e bico em sua boca. Ele lambeu vigorosamente e depois se moveu para baixo, beijando seu corpo.

Quando ele alcançou a doce parte de suas coxas, olhou para ela. Seus lábios se separaram, os olhos fechados. Ele sorriu e gentilmente separou-as, testando-a com um dedo. Ela ofegou.

— Oh! Francis.

Aqueles olhos azuis o observaram maravilhosamente, mas ele não viu medo. Ele sorriu para ela. Ele separou suas coxas um pouco mais e então se inclinou para frente, lambendo-a.

Ela gritou e os sons que fez encorajaram-no a maiores esforços. Ele podia senti-la tremendo e sabia por experiência que, se ele não parasse logo, faria com que ela alcançasse seu próprio limite de prazer. Ele sentou-se rapidamente e despiu-se com a velocidade da luz.

****

Claudine observou Francis se despir com os olhos semicerrados de um espanto sonolento. Ela observou como ele rolou aqueles ombros grandes, músculos ondulando na luz. Ela olhou fixamente. Ela nunca tinha visto um homem nu antes. Ele era lindo. Isso a surpreendeu.

Os trovadores não mencionam isso.

Eles tendiam a não dizer que os homens eram lindos. Ainda mais este. Com aqueles músculos ondulados, o peito largo, a cintura fina, ela tinha certeza de que nunca tinha visto nada que a agradasse tanto. Ela o observou, seu corpo inteiro formigando e latejando pelas maneiras que ele a tocou, e sorriu para ele.

— Claudine, — ele murmurou. Ele separou suas coxas suavemente e ela o deixou fazer isso, surpresa quando ele veio se ajoelhar entre elas. Ela confiava nele, até agora ele não a machucara, apenas a fazia se sentir indescritivelmente bem. — Posso?

Claudine franziu a testa, então, com pressa, ela entendeu. Ela sabia agora o que as explicações haviam sugerido vagamente, ela ouvira falar disso uma vez, de uma babá, há muito tempo, e depois de uma serva conversando com outra. Ela não tinha imaginado isso.

— Sim, — ela murmurou. — Ai, sim.

Francis sorriu e tocou-a novamente, então gentilmente fez um movimento com a mão, guiando-se para ela.

A respiração parou. O batimento cardíaco parou. O mundo, naquele instante, pareceu parar. Tudo se derreteu em êxtase. Houve alguma dor, mas foi fugaz, e então a felicidade voltou.

— Oh! — Ela ofegou.

Então ele estava se movendo dentro dela. Ela recuperou o fôlego, sentindo as emoções passarem por ela e inundá-la enquanto ele fazia isso, e logo eram insuportáveis. Ela sentiu como se estivesse se derretendo, subindo, tremendo...

Ela gritou maravilhada quando a sensação se elevou a um tom quase tão doloroso que era agradável, e então explodiu e foi substituído por uma paz tenra e flutuante.

Ela o ouviu gritar um ou dois segundos depois e depois desmoronou sobre ela.

Ela suspirou e sentiu seus braços envolvê-lo, segurando-o perto.

Acordaram mais tarde e fizeram tudo de novo, mais devagar, mais ternamente. Ela sabia o que esperar agora e sua própria ansiedade a surpreendeu e o encantou. Eles cochilaram e fizeram novamente.

Estava cinza no quarto, o novo dia fluindo para a câmara, antes de finalmente encontrarem descanso.


EPÍLOGO


— Minha querida, você tem certeza?

Claudine sorriu. A voz preocupada de Francis rompeu sua sonolência.

— Mmm? — Ela perguntou, então, percebendo o que ele quis dizer, ela concordou. — Sim. De fato, sim.

Francis rolou. Eles estavam deitados lado a lado em sua cama, em Annecy, sua casa. O fogo queimava baixo na lareira, fazendo o cabelo ruivo brilhar. Claudine rolou e olhou em seus olhos carinhosamente. Ela, ainda, às vezes não conseguia parar de olhar para ele e sua beleza.

— Mas Claudine, não é um nome que sua família gostaria... — ele protestou.

Ela o interrompeu, sorrindo.

— Você sabe que podemos usar Lawrence como segundo nome. Meu pai ficaria satisfeito. Ele já disse que somos livres para escolher o que quisermos como nome.

— Eu sei, — disse Francis. — Mas como é, você já está aceitando minhas diferenças... e...

Ela riu, interrompendo-o novamente.

— Francis! Quantas vezes eu preciso dizer isso para convencer você? Eu amo suas diferenças, como você diz. Você é bobo, querido.

Ela beijou sua bochecha e ele se aconchegou mais perto, beijando seu rosto.

— Bem, muito bem, — disse ele. — Mas você deve me deixar insistir que esperemos antes de viajar para a Escócia. Um ano.

— Um ano! Oh, Francis. — Claudine se sentou, olhando para baixo com ternura. — Eu não estou doente agora.

— Eu sei. Eu nunca vi uma mulher mais saudável, — ele concordou com um sorriso. — Mas você deve descansar depois do nascimento. Todo mundo fala isso.

Claudine suspirou.

— Eu sei. E eu sei que você me trata tão gentilmente que tenho certeza que às vezes pensa que sou um vidro veneziano.

Francis riu.

— Você é mais preciosa que isso. Do que qualquer coisa. Você está mais perto do que meu próprio coração.

Claudine suspirou com carinho.

— Você diz coisas tão bonitas, querido.

— Eu quero dizê-las, — Francis disse com firmeza. — Como eu quero dizer, que não vou tolerar nada prejudicando-a.

Claudine sorriu com carinho. Deitou-se novamente, aconchegando-se mais perto de seu calor musculoso.

— Bem, se você insiste.

— Eu insisto.

— Bem, então, você deve me deixar insistir nisso também. Nosso filho será Conn. Ou Duncan, pelo seu avô. Qualquer que você escolher.

— Claudine... você está considerando demais.

Ela riu.

— Não há como estar pensando sobre isso. Eu gosto dos nomes. Sua família tem nomes lindos. Selvagem quando soa e diferente. Imagino que a Escócia seja como esses nomes. Eu iria para lá, visitar... veja se não estou certa.

Francis riu.

— Você está certa. Não que eu tenha estado lá, sabe. Mas o pai disse que é selvagem e diferente. — Ele riu com carinho. Ele beijou o cabelo dela. — Mas você tem certeza...?

— Sim.

Ele suspirou.

— Eu acredito em você.

— Sim.

Ele riu.

Eles estavam deitados lado a lado na cama. Claudine sentiu como se seu coração tivesse se derretido. Ela estava tão cheia de amor. Ela ainda se sentia surpresa com o quão cheia de beleza sua vida estava.

Aqui estou eu, com um belo marido que me ama e seu filho dentro de mim. E minha saúde está ótima e uma casa amorosa.

Foi tudo o que imaginou em suas fantasias mais felizes e agora estava realmente aqui.

— Claudine? — Francis sussurrou, puxando-a para perto de seu corpo enquanto a beijava de uma forma que fazia o desejo explodir novamente.

— Sim, querido?

— Se nós... e se for uma menina? — Ele persistiu. — Nós poderíamos... podemos chamá-la de Claudine, como você?

Claudine corou e riu.

— Oh, Francis. Você é tão fofo. Mas eu estava pensando que poderíamos chamá-la como sua mãe, talvez.

— Ou a sua, — Francis disse suavemente.

Claudine sentiu um nó na garganta. Ela nunca tinha pensado em lady Nicolene, sua mãe. Não desde sua morte quando ela tinha quatro anos e mal conseguia compreender.

— Sim, — ela sussurrou. — Vamos chamá-la de Nicola.

— Nicolene é lindo, — Francis concordou.

— Nicolene Bernadette.

— Perfeito, — Francis disse novamente. — Nós poderíamos adicionar “Leona” a isso também. Já tem um nome francês.

Claudine assentiu. Sua mãe era uma mistura de franceses e escoceses, ela veio aprender. Um lady gentil e adorável, ela admirava e gostava de sua mãe. Ela havia se tornado um forte apoio em sua própria vida.

— Sim. Nicolene Bernadette Leona.

Francis assentiu e então riu.

— Bem! Nosso bebê vai querer ser uma filha, eu acho. Temos tantos nomes adoráveis para ela e apenas dois para o nosso filho.

Claudine riu.

— Sim. Mas ele recebe nomes escoceses. E eles são melhores.

Francis sentou-se e olhou para ela com alguma surpresa.

— Você é uma querida mulher! Sabe?

— Eu sei que sim, — disse Claudine. — Pense nisso. Eu cresci com nomes franceses. Eu nunca ouvi os nomes Conn e Duncan antes de te conhecer. Eles são interessantes. Ela se inclinou, beijou-o e sentiu sua própria barriga vibrar de excitação. — Gosto de você.

Francis riu.

— Bem, os nomes franceses são lindos. Gosto de você.

Ele passou os braços ao redor dela e a abraçou, e Claudine teve que morder o lábio para resistir à emocionante e pulsante onda de desejo que começava a surgir dentro dela e fluir através dela e fazê-la suspirar.

— Iremos para a Escócia logo após o nascimento, quando você estiver pronta, — Francis prometeu.

— Obrigada, querido, — disse ela.

— Bem, então, — disse ele, rolando-a e inclinando-se para beijar seus lábios, sua mão já acariciando seu ombro de uma forma que a tornava fraca. — Estou ansioso para levar nosso filho, ou filha para ver seus parentes distantes.

— E eu também estou ansiosa por isso — murmurou Claudine. Francis estava acariciando com um dedo o seio dela de um jeito que a fazia estremecer de desejo. — Mas primeiro, estou ansiosa pelo nascimento.

— De fato, — Francis assentiu, sorrindo. — Eu também. Minha linda e querida esposa! Estou ansioso por cada segundo da minha vida com você, sabe disso?

Claudine fechou os olhos, sentindo as lágrimas se formarem ali.

— Estou ansiosa para isso também, com você.

Ela nunca pensou que tal felicidade pudesse existir. Eles se beijaram. Seu coração estava cheio de alegria.

 

 

 


Notas

 

[1] O pavane, a música mais conhecida pela qual foi publicada em Veneza por Ottaviano Petrucci , na Intabolatura de lauto libro in room , de Joan Ambrosio Dalza , em 1508, é uma dança de casal sossegada e digna , semelhante à danse basse do século XV .
[2] Syllabub é uma bebida doce e espumosa inglesa, popular entre os séculos XVI e XIX, e uma sobremesa à base dele, que ainda é consumida. A bebida era feita de leite ou creme, coalhada pela adição de vinho, cidra ou outro ácido, e muitas vezes adoçada e aromatizada.
[3] Scriptorium - é o espaço onde os livros manuscritos eram produzidos na Europa durante a Idade Média.
[4] Francês Blaine McNeil, quer tomar Claudine Jocelynn Paris, aqui presente como sua legítima esposa de acordo com a Santa madre Igreja?
[5] Quero.

 

 

                                                   Emilia Ferguson         

 

 

 

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