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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A APOSTA MAIS ATREVIDA / Brenda Jackson
A APOSTA MAIS ATREVIDA / Brenda Jackson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

- Não farei isso, Malcolm! – Brooke Chamberlain respondeu claramente enquanto colocava uma mecha de seu cabelo escuro para trás da orelha.

Se soubesse para que seu chefe a tinha chamado, teria inventado uma desculpa para não ir a seu escritório.

Parecia que o que ele estava lhe pedindo era inaceitável. Em primeiro lugar, acabava de retornar de uma missão em que tinham surpreendido um vinicultor produzindo algo mais do que vinho. E em segundo, queria que voltasse para o oeste para, literalmente, espionar o homem que mais odiava nesse mundo: Ian Westmoreland.

Malcom Price passou a mão pelo rosto com frustração.

- Sente-se, Brooke - pediu-lhe -, e me deixe explicar por que decidi atribuir a você essa missão.

Ela suspirou de maneira muito pouco feminina. Não havia nada que explicar. Malcolm era mais do que seu chefe. Era um bom amigo, tinha sido desde que tinham começado a trabalhar juntos no departamento, quando eram só companheiros. Como eram amigos, era uma das poucas pessoas que sabia da relação que tinha tido com Ian e por que tinha acabado cada um para um lado.

- Como pode me pedir que faça isso com Ian? – Brooke perguntou, indo e vindo pela habitação.

- Porque se você não fizer, mandarão Walter Thurgood.

Ela se deteve bruscamente.

- Thurgood?

- Sim. E se enviarem ele, o caso estará completamente fora das minhas mãos.

Brooke se sentou na cadeira que Malcolm tinha lhe oferecido anteriormente. Walter Thurgood, que tinha estava a um par de anos no departamento, era conhecido por ser um arrivista. Tinha grandes aspirações e uma delas era ficar à frente do FBI. Depois de várias missões, tinha conseguido a reputação de ser um desses agentes que sempre cumpria com seu trabalho, apesar dos meios para consegui-lo serem questionáveis.

- Embora Ian Westmoreland esteja limpo, quando Thurgood tiver terminado com ele, todo mundo pensará que Ian é o pior homem do planeta se é que isso beneficia Thurgood.

Brooke sabia que Malcolm tinha razão. E também sabia o que Malcolm insinuava, quando se é o filho de alguém importante, os que lhe rodeiam são mais permissivos contigo mesmo que não tenha se comportado adequadamente.

- Mas se você acha que Ian está limpo e não suspeita dele, qual é a razão desta investigação? - inquiriu Brooke.

- O dono anterior do cassino, Bruce Aiken, foi declarado culpado em um caso de apostas ilegais e não queremos que nenhum de seus velhos amigos saia de seu esconderijo durante o julgamento e retome o negócio sem o conhecimento do Westmoreland. Assim, na verdade, estará lhe fazendo um favor.

Ian não entenderia assim, os dois sabiam. Sua presença só aumentaria a falta de confiança que existia entre ambos. Mas, não obstante, não podia permitir que dessem a missão a Thurgood. Isso seria um completo desastre para Ian.

Brooke levantou a cabeça e olhou Malcolm nos olhos.

- E não é uma investigação oficial?

- Não. Irá para lá porque precisa de umas férias, e enquanto isso, manterá os olhos e os ouvidos bem abertos.

- Ian é um dos homens mais honestos que conheço.

- Nesse caso, não tem nada com que se preocupar.

Brooke observou Malcolm, pensativa, e finalmente concordou.

- De acordo.

- Quer dizer que irá?

Brooke franziu o cenho. Encontrava-se entre a espada e a parede, e ambos sabiam.

- Você sabia que eu diria sim.

Malcolm sacudiu a cabeça e ela viu algo mais refletido em seus olhos azuis. Sabia que quatro anos depois de sua ruptura, Brooke ainda era apaixonada por Ian Westmoreland.

 

 

 

 

                                         Capítulo Um

Ian Westmoreland se sentou em seu escritório, aonde os papéis lhe chegavam até os joelhos. Não havia razão aparente para que sentir um nó no estômago. Aos seus trinta e três anos, tinha aprendido a confiar em sua intuição tanto como em seu raciocínio dedutivo. Levantou a cabeça e olhou a parede revestida de madeira que estava a sua frente.

Incorporou-se, apertou um botão e viu como a madeira se apartava e deixava à vista uma enorme vitrine de cristal. As pessoas que estavam do outro lado iam e vinham pelo cassino. Jogavam fichas nas máquinas, apostavam nas mesas, e não tinham nem idéia de que estavam sendo observadas. Em certas zonas do cassino, até podiam ser escutadas. As câmaras de segurança tinham captado mais de uma vez conversas que teria sido melhor não ouvir. Mas em um cassino tão grande como o Rolling Cascade, tudo aquilo era por motivos de segurança. Nem todo mundo ia ao cassino para jogar. Havia aqueles que iam para se aproveitar dos enganos de outros. Seu cassino podia prescindir dessa gente e para isso servia a sala de segurança que tinha instalado no terceiro andar, em que peritos em segurança observavam mais de cem monitores vinte e quatro horas ao dia.

Na inauguração do cassino, muitas pessoas foram lá só para ver como tinha ficado o complexo turístico depois da remodelação e para comprovar se eram certos os rumores de que o cassino voltava a ter vida. A revista People tinha anunciado em uma edição especial que o Rolling Cascade tinha levado o ambiente de Las Vegas ao lago Tahoe com classe, integridade e decoro.

Ian ficou em pé e se apoiou em uma quina da mesa enquanto seguia observando à multidão. Tinha que haver uma razão para estar tão tenso. A inauguração tinha sido um sucesso, e ele estava encantado por ter deixado de ser um capitão de navio para dirigir um cassino com soltura.

Foi poucos minutos depois, quando já ia se dar por vencido e voltar a trabalhar, que a viu.

Brooke Chamberlain.

Todo seu corpo ficou tenso. O que ela estava fazendo ali? Decidiu que não ia perder tempo com suposições e agarrou o telefone que havia em cima da mesa. O chefe de segurança do cassino respondeu à chamada.

– Sim, Ian?

- Há uma mulher na mesa de Black Jack com um traje de calça cor azul clara. Traga ela ao meu escritório imediatamente.

O chefe de segurança lhe fez uma pergunta, que ele respondeu depois de fazer um breve silêncio.

- Sim, sei seu nome. Trata-se de Brooke Chamberlain.

Pendurou o telefone e voltou a dirigir a atenção à mulher que um dia quase tinha pedido em casamento… antes que o traísse. A última vez que a havia visto tinha sido três anos antes, em Atlanta, no casamento de seu primo Der. Brooke tinha sido convidada porque tinha trabalhado para seu primo, que era xerife. Naquela ocasião, Ian a tinha ignorado deliberadamente.

Mas nesta ocasião estava em seu território e ia fazer saber.

Ian a estava observando.

Brooke não sabia exatamente desde onde, mas o agente federal que havia nela sabia. Câmaras de vídeo estavam por toda parte, colocadas de maneira tão discreta que duvidava que a maioria das pessoas que estavam ali jogando fosse consciente de que estavam sendo observadas.

- Perdoe, você é a senhorita Chamberlain?

Brooke virou e se encontrou com um homem alto e robusto, de algo menos de cinqüenta anos. Tinha o cabelo loiro e os olhos azuis escuros.

- Sim?

- Sou Vance Parker, o chefe de segurança do cassino. O dono do estabelecimento, Ian Westmoreland, quer conversar com você em seu escritório.

Brooke sorriu. Duvidava que Ian quisesse “conversar” com ela.

- Está bem, senhor Parker, eu o seguirei.

Enquanto Vance Parker a conduzia ao elevador mais próximo, ela ia rezando para ser capaz de sobreviver durante as duas semanas seguintes.

Com os olhos fixos no cristal, Ian tinha observado o intercâmbio de palavras e sabia exatamente o momento que Vance tinha mencionado seu nome. Brooke não tinha reagido com surpresa, assim era evidente que sabia quem era o dono do cassino. Tinha entrado na boca do lobo de propósito e ele ia averiguar a razão.

Ficou em pé e se moveu ao redor do escritório. De repente, o nó que tinha no estômago parecia estar crescendo. E quando ouviu o sinal que anunciava que havia alguém em seu elevador privado, sentiu-se ainda pior. Embora não quisesse admitir, ia voltar a ver a mulher que nunca tinha conseguido esquecer. Durante os dois anos que tinham estado juntos, Brooke tinha posto o fita de seda muito alto em relação ao resto das mulheres. Durante o dia tinha sido ajudante do xerife e de noite, uma mulher com todas as letras da palavra. E todas as mulheres que tinha estado depois não haviam chegado nem à altura dela. Gostasse ou não, Brooke Chamberlain tinha sido seu verdadeiro amor. A mulher que tinha lhe tirado o apetite pelo resto das mulheres e que tinha conseguido domar seu coração selvagem.

Não só o tinha domado, também o tinha roubado.

As lembranças lhe fizeram sorrir com amargura. Mas tinha amadurecido e era mais inteligente, e o coração que um dia o tinha controlado se tornou de pedra. Embora isso não evitasse que sentisse falta de ar quando se virou para olhar para a porta do elevador, que já se estava abrindo.

Seus olhares se encontraram e Ian se deu conta de que a química que sempre havia existido entre eles continuava lá. Podia sentir seu calor, sua intensidade e como seu coração se emocionava. Quando sentiu que o chão tremia debaixo de seus pés, apoiou as mãos na mesa para manter o equilíbrio.

Era o mais perto que tinham estado um do outro desde aquela manhã em que ele tinha descoberto a verdade e partido de seu apartamento, depois de uma acalorada discussão. Durante o casamento de Der e Shelly, ele tinha mantido distância, apesar de ter sentido essas mesmas vibrações que tinham feito seu estômago se encolher.

Durante esses anos de separação, tinha sido difícil esquecer o dia em que a havia conhecido, no escritório de Der, quando ela tinha vinte e dois anos. Até vestida com uniforme tinha tirado seu fôlego do mesmo modo que o tirava nesse momento, com vinte e oito.

Apesar da separação e das circunstâncias que tinham feito com que ele terminasse sua história de amor, Ian tinha que admitir que ela fosse possivelmente a mulher mais bonita do mundo. Sua pele era dourada; seus expressivos olhos marrons trocavam de cor dependendo de seu estado de ânimo; a forma de seus lábios, que faziam que todo seu corpo se estremecesse; e a massa de cachos que lhe caía sobre os ombros e que agarrava encantado enquanto faziam amor.

A idéia de que Brooke o fazia desenterrar lembranças não desejadas o enfureceu e se obrigou a separar o olhar dela e dirigir-se a Vance.

- Obrigado, senhor Parker. Isso é tudo.

Ian viu como seu amigo levantava uma sobrancelha e encolhia os ombros antes de se dirigir ao elevador. Assim que a porta se fechou, Ian voltou a se fixar em Brooke, que tinha se virado e lhe dava as costas. Estava olhando algumas fotografias, em uma ele aparecia com o Tiger Woods e em outra, com o Dennis Rodman.

- Ouvi dizer que Tiger e Dennis têm casas por aqui - disse Brooke para romper o silêncio.

O comentário do Brooke surpreendeu Ian. Queria que falassem de coisas sem importância? Ian devia ter esperado. Brooke estava acostumada a falar muito quando se via de frente com uma situação que a deixava nervosa, o que tinha lhe parecido muito simpático durante sua primeira entrevista. Mas nesse momento, isso lhe incomodava.

- Não pedi ao Vance para te trazer aqui para falar das casas do Woods e Rodman. Quero saber que demônios está fazendo aqui, Brooke.

Tinha chegado o momento da verdade. Brooke tinha aproveitado para separar os olhos dos de Ian quando este tinha pedido a Vance Parker que partisse. Embora tivesse se preparado para esse momento, não se sentia capaz de enfrentá-lo. A única coisa que podia fazer era virar-se e ter confiança em que, algum dia, se Ian se inteirasse da verdade, iria perdoá-la pela mentira que ia lhe contar.

Virou-se e seus olhos tornaram a se encontrar. Brooke sentiu que sua temperatura subia e que todo seu corpo estremecia.

Não conseguia falar, Ian tinha talhado literalmente sua respiração. Sempre havia sido um homem bonito e, três anos depois da última vez que o tinha visto, seguia sendo. Em especial com a barba que havia deixado crescer. Sempre tinha chamado a atenção das mulheres e, nesse momento, irradiava uma sensualidade masculina e selvagem.

Quando Brooke tinha ido a Atlanta, para trabalhar com Der Westmoreland, tinha ouvido falar dos dois primos Westmoreland, que tinham mais ou menos a mesma idade, Storm e Ian, e que deixavam todas as mulheres loucas.

Os rumores diziam que terminar na cama com Ian fazia que uma velada fosse perfeita. Mas o sedutor havia mudado quando começou a mostrar interesse por ela, que havia se feito de difícil e não tinha cedido aos seus encantos com facilidade.

Como resultado, Ian tinha passado dois anos dedicando exclusivamente a ela toda sua perícia sexual.

Os rumores não tinham sido falsos, apesar de que não só as noites na cama eram perfeitas, mas também o despertar. Ninguém sabia despertar uma mulher pelas manhãs como ele. As lembranças de suas sessões de cama seguiam deixando Brooke arrepiada. Ian tinha sido seu primeiro amante, seu único amante.

- Vai ficar aí parada sem dizer nada ou vai responder a minha pergunta, Brooke?

As palavras acaloradas de Ian a tiraram de seu pensamento, e lembrou onde estava. Cruzou os braços e respondeu no mesmo tom que ele havia lhe falado.

- Responderei a sua pergunta com muito prazer.

Ian cruzou os braços. Como podia ter esquecido quão rápido o fogo se desprendia de seus olhos quando se zangava? Tinha sentido falta desse gênio.

As mulheres que tinha conhecido depois dela tinham sido muito brandas e dóceis para seu gosto.

- Estou aqui pela mesma razão que todo mundo. Precisava descansar do trabalho e tirei duas semanas de férias.

Ian suspirou. A resposta não se enquadrava.

- Por que aqui? Podia ter ido a outros lugares.

- É verdade, e quando contratei a viagem não sabia que você era o proprietário deste lugar. Pensei que ainda fosse capitão de navio.

- Deixei esse cargo depois do furacão Katrina. Mas já tinha decidido comprar este lugar meses antes. Só era questão de tempo eu me instalar em terra firme.

Ian ficou olhando-a por um momento, e depois perguntou:

- E quando ficou sabendo que o cassino era meu?

- Faz poucos dias. Mas me disse que, no final, meu dinheiro valia o mesmo que o das outras pessoas e que eu não poderia passar o resto de minha vida me preocupando se por acaso iria me encontrar com você ao dobrar uma esquina. Ian, temos um passado que podemos recordar como feliz ou infeliz, mas temos que seguir adiante. Ouvi dizer que este lugar era muito bonito e pensei que era justamente o que eu precisava. E, para ser honesta com você, não gostei nada que me trouxessem aqui como se eu fosse uma delinqüente ou algo assim. Mas se você acha que não podemos respirar o mesmo ar durante duas semanas, basta me dizer e irei gastar meu dinheiro em outro lugar.

Ian moveu a mandíbula, zangado. Brooke tinha razão, é obvio, tinha que deixar o passado para trás. Mas o que mais o incomodava não era o fato de que tivessem terminado, a não ser a razão da ruptura. Foram fiéis um ao outro. Ela tinha sido a única mulher com que tinha considerado se casar. Mas também tinha sido a única mulher que havia quebrado seu coração.

Inclusive quando ela havia decidido aceitar trabalhar para o FBI em Washington e ele partiu para Memphis para ficar à frente do Delta Princess, tinham conseguido manter a relação.

Mas Brooke não acreditava suficientemente nele. Não havia lhe dito que estava investigando um de seus sócios, e isso tinha quebrado a confiança entre eles. Quando Ian quis averiguar a verdade, um homem tinha perdido a vida e uma família ficara em pedaços.

Ian preferia que não ficasse no Rolling Cascade. Mas possivelmente a maneira de deixar o passado para trás fosse demonstrando que era capaz de respirar o mesmo ar que ela.

- De acordo, fique se quiser. Você decide.

- Então, eu fico. Agora, se me desculpar, eu gostaria de começar a desfrutar das minhas férias.

Brooke se dirigiu ao elevador e, sem olhar para trás, chamou-o e entrou quando as porta se abriram. Quando se virou, seus olhares voltaram a se encontrar. Foi quando Ian pareceu vislumbrar algo em seus olhos. Petulância? Tristeza? Desejo?

Como ia esquecer o passado se continuava a se zangar quando pensava no que Brooke tinha lhe feito?

Foi até a mesa do escritório e pressionou um botão. Vance respondeu imediatamente.

- Sim, Ian?

- A senhorita Chamberlain está descendo.

- Certo. Quer que a vigie enquanto estiver aqui?

- Não.

Não queria que nenhum outro homem a olhasse. Mas decidiu que tinha que dar uma explicação a seu amigo.

- Brooke e eu temos uma velha história para enterrar.

- Já imaginava.

- Outra coisa, Vance. Ela trabalha para o FBI.

- Está aqui por negócios ou por prazer?

- Diz que por prazer, mas eu me encarregarei de vigiá-la.

- Não teria lhe contado se estivesse aqui por trabalho?

- Não. A lealdade é uma das virtudes do Brooke Chamberlain.

Brooke atravessou o cassino com naturalidade, sabia que as câmaras seguiam observando-a. Não deu rédea solta às lágrimas até que chegou em seu quarto. Ian a recebeu com ódio e isso ela não podia suportar. Se soubesse para o que ela estava ali na verdade…

Respirou profundamente e limpou as lágrimas. Tinha que entrar em contato com Malcolm. Tirou o telefone celular de sua bolsa.

- Estou no Rolling Cascade, Malcolm.

- Dou por certo que já viu Ian Westmoreland - comentou seu chefe ao notar que estava muito tensa.

- Sim.

- Já sabe que não é uma investigação oficial, Brooke. Trata de se divertir, mas se enquanto isso você ver algo que pareça interessante, nos conte.

- Isso não deixa de ser espionagem.

- Sim, mas beneficia o Ian Westmoreland. Está aí para ajudá-lo, não para prejudicá-lo.

- Ele não veria assim. Olhe Malcolm, se eu observar algo eu te chamo. Se não, nos vemos dentro de duas semanas.

- Certo. Se cuide.

Brooke pendurou e guardou o telefone em sua bolsa. Passeou pelo salão e olhou ao seu redor tentando deixar de pensar em Ian. O complexo vocacional estava comunicado com o cassino através de elevadores, e os edifícios tinham sido construídos para que as pessoas que quisessem correr ou andar de bicicleta utilizassem os caminhos que contornavam o lago. Estavam em meados de abril e o inverno tinha ficado para trás. A vista das montanhas era impressionante e, dadas as instalações que tinha ao seu dispor, era um lugar muito bonito.

Deu uma volta pela habitação e se sentiu contente, era como um pequeno paraíso. Um lugar para desfrutar.

Tanto de seu quarto como do salão havia uma impressionante vista do lago Tahoe, de onde poderia ver o pôr-do-sol. Era um lugar para se esquecer das preocupações, embora para ela, o efeito fosse o contrário.

Entrou no banheiro, que era tão grande como o salão e parecia um pequeno balneário. Dirigiu-se para o jacuzzi, que cabiam quatro pessoas, e observou algo que tinha ouvido falar que existia em todos os banheiros: uma cascata que caía sobre uma preciosa fonte.

Voltou a respirar profundamente. Estava orgulhosa de Ian e recordou as noites que havia compartilhado com ela o sonho de dirigir um lugar como aquele.

Suspirou, tinha que deixar o passado para trás. Mas os dois anos que tinha estado com ele tinham sido os melhores de sua vida.

Franziu o cenho. Quatro anos antes, Ian tinha se negado a escutar o que ela queria lhe dizer. Não quis reconhecer que se o FBI não tivesse descoberto que Boris Knowles fazia parte do crime organizado, teriam investigado todos os seus negócios, incluindo o que compartilhava com Ian.

Deveria andar com pés de chumbo enquanto estivesse ali. Ian era inteligente e observador. E não confiava nela. Estava certa de que ele a vigiaria.

A respiração de Brooke acelerou só de pensar que Ian a observaria e pouco depois, sorriu. Deixaria que ele a vigiasse e, ao mesmo tempo, faria com que ele visse o que perdeu desde que havia saído de sua vida, quatro anos antes.

Ian olhou o relógio de seu escritório e decidiu parar de fingir que estava trabalhando. Não era capaz de se concentrar.

Não era a primeira vez que se continha para não olhar o que estava acontecendo no cassino, com a esperança de ver Brooke com essa desculpa. Era patético. E Brooke ia ficar ali por duas semanas.

Demorou um minuto para se dar conta de que sua linha privada estava piscando, e desprendeu rapidamente o telefone.

- Sim?

- Ian, como está?

Sorriu ao reconhecer a voz da Tara, a esposa de seu primo Thorm. Ela era pediatra, e ele, um conhecido fabricante e piloto de motocicletas.

- Estou bem, Tara. A que devo o prazer desta ligação?

- À festa de aniversário surpresa da Delaney. Shelly e eu estamos terminando a lista de convidados e queríamos te perguntar algo.

Ian se apoiou no respaldo da cadeira. Era difícil acreditar que sua prima Delaney iria fazer trinta anos. Seu marido, o príncipe Jamal Ari Yasir queria celebrar a data por todo o Rolling Cascade. Parecia que tinha sido ontem quando ele, seus irmãos e seus primos tinham cuidado da única mulher Westmoreland de sua geração.

Delaney não havia sido fácil, mas acabou se tornando a princesa de um país chamado Tahran e mãe do futuro rei. E, se por acaso fosse pouco, estava grávida de seu segundo filho.

- Quem você gostaria de incluir? Brooke Chamberlain.

Ian passou a mão pelo rosto. A vida estava cheia de coincidências. Só de ouvir seu nome, sentiu-se zangado.

- O que tem Brooke?

- Sei que Delaney adoraria voltar a vê-la, mas queríamos te perguntar antes de convidá-la. Não queremos te colocar em uma situação desagradável. Sei o que aconteceu no casamento de Der e Shelly.

Ian duvidava que alguém soubesse como fora duro vê-la no casamento.

- Não se preocupe por mim. Eu suporto.

- Tem certeza?

- Sim, tenho certeza.

Decidiu omitir que Brooke estava no cassino nesse momento.

- Superei Brooke faz anos - acrescentou Ian – Ela já não significa nada para mim.

Ian suspirou e desejou que isso fosse verdade.

 

                                                       Capítulo Dois

De onde estava sentado, Ian podia observar tudo, e viu como Brooke entrava no Blue Lagoon Lounge. Normalmente, não teria se detido para olhar nenhuma outra mulher atraente. Mas nesse caso, não foi assim. Brooke sempre tinha sido uma mulher que chamava a atenção dos homens e despertava inveja nas mulheres.

Ian respirou profundamente e franziu o cenho ao comprovar que vários homens a olhavam com interesse enquanto atravessava o bar com confiança, sofisticação e estilo. Mas o que mais o incomodava era seu próprio interesse. E a maneira como estava vestida não facilitava as coisas para ele. Estava tão sexy…

Estava com o cabelo preso em um coque, o que permitia apreciar a graça de seu pescoço e seus cílios escuros. E tinha pintado os lábios de vermelho.

Mas era o vestido preto que sem dúvida tinha monopolizado todos os olhares. Marcava suas curvas e evidenciava suas pernas grossas, já que o curto vestido possuía duas aberturas do lado. Ian ouviu como vários homens limpavam a garganta enquanto Brooke se sentava em um tamborete do bar e deixava à vista boa parte de suas coxas. Ainda não estava acomodada quando vários homens ficaram em pé dispostos a aproximar-se dela.

Ian deu um gole em sua bebida. A não ser que Brooke tivesse mudado muito, seria muito difícil para os pobres tipos. Embora provavelmente gostasse que a olhassem como todas as mulheres, não era das que se deixava enrolar. Ele tinha aprendido a lição no dia em que a conheceu e, depois, não havia tornado a subestimá-la como mulher.

E depois de ter conhecido Brooke melhor, era o único homem que a observava essa noite que sabia as inseguranças com que ela tinha vivido durante sua juventude. Seu pai e seus dois irmãos maiores tinham formado o que se conhecia como a Banda dos Chamberlain e se dedicaram a roubar bancos até que o FBI tinha posto fim a seis meses de assaltos.

Quando Brooke era adolescente, se mudou para Atlanta com sua mãe para começar de zero. Tinha sido então, no instituto, que Brooke decidiu devolver a dignidade a seu sobrenome trabalhando para as forças da ordem.

Ian se concentrou no que ocorria no bar e riu quando viu que Brooke ia recebendo a vários homens, um após o outro, com um sorriso antes de rechaçá-los educadamente. Ele levantou sua taça e, antes de dar outro gole, murmurou:

- A sua saúde.

Brooke pensou que devia ser lua cheia e que todos os homens lobos do lugar tinham saído a rondar e a tinham confundido com sua presa.

Que mulher não gostava de se sentir atraente? Mas alguns homens pensavam que a beleza andava de mãos dadas com a estupidez. Um homem até propôs que ela se tornasse sua segunda esposa, apesar de assegurar que seguiria felizmente casado com a primeira.

- Vejo que não perdeu suas habilidades.

Brooke olhou para o homem que acabava de se sentar ao seu lado.

- Obrigado, tomarei como um elogio - disse, dando um gole na bebida, já que sua garganta tinha ficado repentinamente seca.

Tentou não tremer e, para se controlar, estudou sua própria imagem na taça que estava em sua mão. Tinha que evitar concentrar sua atenção em Ian.

- Pensei que não voltaria a te ver esta noite - comentou ele.

Brooke o olhou. Havia tirado o traje que usava para trabalhar e colocado outro, também feito sob medida e que lhe caía muito bem. Ambos representavam seu status como homem de negócios.

- Por quê? - perguntou ela – Pensou que eu ia me esconder depois de ter visto você? Como já te disse, não posso passar a vida inteira me preocupando em não me encontrar com você, como se tivesse feito algo ruim para você.

- Custou a vida a um homem.

- Sim – ela admitiu friamente - Mas Boris Knowles tinha que ter considerado as conseqüências. Os homens com quem ele tratava não eram aficionados, Ian. Faziam parte do crime organizado. Não tente fazer com que me sinta culpada.

- Mas se eu soubesse…

- Não teria podido fazer nada. Por que não aceita que Boris era culpado? Se eu tivesse lhe contado isso, não teria mudado nada. Só colocaria você em uma situação em que não tinha por que estar.

Brooke não sabia mais o que dizer para colocar isso na cabeça dele.

Ouviu-o amaldiçoar em voz baixa e pensou que havia sido um erro ir ao bar, onde imaginava que Ian estaria.

- Olhe, é evidente que nunca estaremos de acordo com o que aconteceu e com a razão pela qual ocultei determinadas coisas de você. Estou cansada de que pense que sou a má do filme.

Brooke ficou de pé e deixou um par de bilhetes no balcão.

- Até mais tarde.

Ian voltou a jurar enquanto a viu desaparecer pela porta, deixando atrás de si seu aroma sensual. Sentiu uma dor tão familiar que o invadia quando pensava em sua traição. Embora as palavras do Brooke lhe recordassem o que Der havia lhe dito, que também tinha sido agente do FBI. O crime organizado era algo sério e Boris tinha tomado suas próprias decisões.

Der também havia tentado fazer Ian entender que Brooke fazia um juramento de confidencialidade, e que se tivesse informado a ele o que estava acontecendo, tanto a vida do Brooke como a de outros agentes, podia ter estado em perigo.

Apesar de entender isso, Ian seguia pensando que quando duas pessoas estavam comprometidas, não podia haver segredos entre eles. Para ele, Brooke tinha escolhido entre seu trabalho ou ele. Isso era o que mais lhe doía. Mas concordava com o fato de que não podia continuar fazendo com que ela se sentisse mal, sobre tudo depois de ter se tornado agente do FBI. Tinham rechaçado sua solicitação para o posto duas vezes por causa de sua história familiar, e Der, que seguia tendo contatos no departamento, tinha tido que escrever uma carta de recomendação para ela.

Ian suspirou. Havia chegado o momento de Brooke e ele fazerem as pazes. Embora soubesse que o que havia acontecido fazia com que não pudessem voltar a se amar como o tinham feito, ao menos poderiam tentar ser amigos.

Brooke tirou o vestido, zangada. Ian Westmoreland era mais teimoso que uma mula. Não se dava conta de que se, quatro anos antes, tivesse lhe contado no que trabalhava, teria posto sua vida em perigo. Não, ele só pensava no que havia acontecido com um homem que tinha enganado a sua família, seus amigos e seus sócios.

Se quisesse continuar com essa postura, pior para ele. Ela não ia permitir que ele amargurasse sua existência. Ia passar as duas semanas seguintes se divertindo, e ele não poderia lhe impedir.

Colocou um biquíni, pensando que um banho noturno a faria sentir melhor. Nadar sempre a tinha agradado, e estava considerando construir uma piscina em sua casa de Washington. A questão era se teria tempo para desfrutá-la. Faltavam alguns meses para que fizesse cinco anos no departamento, e teria que decidir se queria continuar fazendo trabalho de campo ou se preferia dedicar-se a fazer trabalhos administrativos. Seu bom amigo e mentor, Der Westmoreland, tinha-lhe advertido de que o trabalho como agente poderia cansá-la, como havia acontecido com ele depois de sete anos.

Brooke estava pondo um roupão quando ouviu que batiam na porta. O serviço de quarto devia ter se enganado, pensou enquanto cruzava a habitação. Olhou pela mira que havia na porta e sentiu o estomago encolher. Era Ian.

Abriu a porta, zangada, e disse:

- Olhe Ian, eu…

Antes que pudesse terminar a frase, ele havia posto uma rosa branca em sua mão.

- Venho em missão de paz, Brooke. E tem razão. É hora de que deixarmos o passado para trás.

O coração de Ian deu um tombo. Não estava preparado para ver Brooke em traje de banho e com um minúsculo roupão amarrado à cintura que não a tampava nada.

Seus seios generosos e firmes quase saíam da parte de acima do biquíni, e seguia tendo a cintura magra e quadris bem delineados que continuavam com o par de pernas mais impressionantes que já tinha visto. E seus pés… Como pôde se esquecer de seus pés sensuais? Só estavam com uma sandália rasteira.

Seu aroma era feminino e provocador, o mesmo que tinha impregnado o bar e que enchia o ar que o rodeava. Ian quase não podia se controlar.

Suspirou e tentou se concentrar em outra coisa que não fosse seu corpo nem seu aroma. Quis olhar a rosa que tinha lhe dado, mas a única coisa que viu foi seu umbigo, que costumava ser uma das partes preferidas de seu corpo. Lembrava-se que estava acostumado a lhe emprestar toda sua atenção antes de descer até…

- Ian?

Ele clareou a garganta. Maldita seja. Estava ali para fazer as pazes, não para fazer amor com ela.

- Sim?

- Obrigado pela rosa. Alegro-me em podermos seguir vivendo nossas vidas, e espero que possamos ser amigos algum dia.

- Eu também espero.

- Bem.

- Vai sair?

-Sim, ia tomar um banho. A piscina com a enorme cascata tem uma ótima aparência.

Ian assentiu. Tinha passado por lá fazia um minuto e se deu conta de que havia mais homens do que mulheres. Então recordou que havia uma Convenção de Eletricistas no Rolling Cascade. Dos oitocentos assistentes, oitenta por cento eram homens.

- Conheço outra piscina cem vezes melhor.

- De verdade? Onde?

- No meu apartamento da cobertura.

Brooke o olhou nos olhos e ele imaginou o que estava passando por sua mente. Ian não tinha direito de ficar possessivo, ela já não era dele. Mas isso não queria dizer que não tivesse o instinto protetor.

Pegou-a pela mão e tentou convencê-la.

- Olhe, só queria te convidar para que utilizasse minha piscina privada. Além disso, assim poderia me contar como foram às coisas durante todo este tempo. Mas se não quiser, não tem problema.

Brooke parou para refletir por um instante. Ian queria que voltassem a ser amigos, e nada mais que amigos. Provavelmente não sabia que ela estava acostumada a perguntar a Der por ele quando falavam por telefone e que este havia lhe dito que ele voltara a ser um mulherengo e não tinha intenções de se casar.

- Eu adorarei ir a sua piscina privada.

- Certo. Está preparada?

- Sim. Só tenho que procurar uma toalha.

- Não se incomode. Tenho muitas.

- Certo.

Fechou a porta, e enquanto caminhava para o elevador ao lado do Ian, se deu conta de que ele estava lhe observando. Não quis devolver o olhar; se visse por um momento desejo em seus olhos, provavelmente faria algo estúpido, como ceder à atração que sempre tinha existido entre eles e pedir que ele a beijasse. Embora conhecendo Ian, estava certa que ele a rechaçaria.

- Bem-vinda a minha casa, Brooke Chamberlain.

Ian ficou de lado para deixá-la entrar, e a respiração de Brooke se cortou quando viu a habitação. A moradia estava no andar acima do escritório, que se comunicavam através de um elevador privado.

Brooke teve a sensação de que entrava no paraíso. Tinha imaginado que, como dono do Rolling Cascade, viveria em um lugar bonito, mas sua imaginação estava curta. Ian gostava da natureza e havia diversas plantas nos dois pisos do apartamento da cobertura, que estavam comunicados por uma escada caracol. A primeira coisa que Brooke apreciou foram os vitrôs e os altos tetos, assim como às cores ecléticas das paredes: uma mescla de vermelho, amarelo, laranja, verde e azul. Ela se surpreendeu que as cores ficassem tão bem umas com as outras. Para dar simetria ao lugar havia duas chaminés brancas, em cima das quais havia quadros pintados à mão.

O desenho dos móveis parecia sobressair à comodidade e várias plantas tropicais davam a certas partes da habitação um efeito de jardim.

- Venha, mostre-me – Brooke disse, tomando-o pela mão.

O calor mão forte de Ian fez com que Brooke estremecesse. Tentou não pensar em como essas mãos eram peritas e em como Ian estava acostumado a utilizar o polegar para lhe percorrer o corpo, começando pelos seios e descendo depois, e alternando-o em ocasiões com a língua.

Sua maneira de tocá-la a fazia ronronar, retorcer-se e fazer todo tipo de sons. E quando chegava à altura do umbigo, o desejo já consumia todo seu corpo e a fazia sussurrar seu nome como resposta incontrolada a suas carícias.

- Você está bem? - perguntou Ian.

- Sim – ela respondeu, saindo de seus pensamentos - por que pergunta?

- Por nada.

Brooke se perguntou se, sem querer, fizera algum som que ele tinha reconhecido.

As portas tinham cristaleiras e a espaçosa cozinha, com uma ilha no meio, mostrava um bom uso do espaço. Notava-se em todas as partes a mão de um decorador de interiores. Brooke pensou que era o maior apartamento de cobertura que tinha visto, ainda maior do que sua casa de Washington.

Ian lhe contou que o príncipe Jamal Ari Yasir era o principal investidor do complexo e que seus irmãos, Spencer e Jared, assim como seu primo Thorm, também tinham investido no Rolling Cascade. Brooke sempre tinha apreciado o fato de que os Westmoreland fossem uma família unida.

Quando lhe mostrou seu quarto, Brooke pensou nas mulheres com que compartilhara essa cama, e sentiu inveja. Mas se lembrou rapidamente de que a vida amorosa de Ian já não era assunto dela.

- O que achou?

- Estou orgulhosa de você - respondeu ela, levantando os olhos da cama para olhar para ele - E tem a sorte de pertencer a uma família que te apóia. São maravilhosos.

- Tem razão.

- Como estão os seus pais?

- Bem. Sabe que Storm se casou? - perguntou-lhe, enquanto começava a descer as escadas para se dirigir à piscina.

- Sim. Parece mentira.

- Ele e sua esposa Jayla tiveram gêmeas e ele está encantado. As Adora.

- E também ouvi dizer que seu tio Corey tinha trigêmeos.

- Certo. Ficou sabendo que uma antiga namorada tinha tido trigêmeos quase ao mesmo tempo em que ele se casava com sua esposa. Vive feliz em sua montanha.

Brooke assentiu. Tinha ido a casa dele com Ian e sabia como aquele lugar era bonito.

- Também me disseram que Chase e Durango se casaram.

- Sim, com duas irmãs, Jessica e Savannah Claiborne. Durango e Savannah se casaram aqui. Vejo que Der tem te informado bem.

- Sim. Você não gosta que tenhamos contato?

- Absolutamente. Der te conheceu muito antes de mim. Não quero que deixe de ser amiga dele porque não funcionou conosco. Os Westmoreland não são assim. Também sei que continua sendo amiga da Delaney. Bom, aqui estamos.

Aquilo sim que era o paraíso. A piscina coberta de Ian era enorme, havia uma cascata e várias plantas tropicais e, ao lado, um ginásio privado e uma sala de jogos.

- Gostou?

- É maravilhosa. Tinha razão, é muito melhor que as outras.

- Pegue uma toalha. Esqueci de perguntar da sua mãe.

- Está bem. O casamento lhe fez bem. Quando papai ainda estava vivo, apesar de estar na cadeia, sempre negou o divorcio, embora ela merecesse algo melhor.

- Fiquei sabendo sobre a morte de seu pai, sinto muito.

- Faltava pouco para ele sair e provocou uma briga que custou sua vida e a de outros internos.

- E seus irmãos?

- Bem. Mamãe continua tendo mais contato com eles do que sua mãe biológica - comentou, referindo-se à primeira esposa de seu pai - Eu lhes escrevo cartas e levei a mamãe para vê-los. Acho que por fim aprenderam a lição e que não farão tolices quando lhes derem a liberdade provisória.

Brooke gostou que Ian lhe perguntasse por sua família. Ela amava a seu pai e a seus irmãos apesar de seu passado criminal. E adorava a sua mãe, que tinha tido a coragem de deixar a seu pai para lhe dar uma educação melhor.

- Você vai tomar banho também? - perguntou a Ian.

- Esta noite não. Tenho que fazer algumas ligações. Você se importa se eu te deixar sozinha?

- Não, muito obrigado por me emprestar sua piscina privada. E… gostei muito de conversar com você.

- Eu também. Voltarei dentro de uma hora para te acompanhar até seu quarto.

- Certo.

Ian partiu rapidamente, e Brooke se perguntou se ele se preocupava por vê-la em traje de banho.

Possivelmente não fosse tão forte como ela tinha pensado.

A possibilidade de que voltassem a se sentir atraídos um pelo outro fez com que uma onda de calor percorresse seu corpo. Tirou o roupão e mergulhou na água.

A mão de Ian tremia enquanto se servia de uma taça de vinho. Precisava de um gole. Não sabia como havia se contido em várias ocasiões para não tomar Brooke em seus braços. Havia sido duro estar ao seu lado e não poder fazer com ela o que teria feito no passado.

“Isto não é o passado, a não ser o presente. Brooke é só uma amiga”, pensou Ian.

Ian jurou e, ao mesmo tempo, soou o telefone de sua linha privada.

- Diga?

- Como você está?

Era seu primo Storm, com quem tinha uma relação inclusive mais estreita que com seu gêmeo, Quade. E com Storm ocorria o mesmo com seu gêmeo, Chase.

Quade trabalhava para o serviço secreto e não sabiam onde ele estava na maior parte do tempo. Chase era o único que estava à corrente de tudo. Do mesmo modo, Ian sabia que só Storm podia saber quando algo ia mal, por mais longe que estivesse.

- O que faz você pensar que não estou bem? - perguntou ele, sentando-se no sofá de couro, de onde podia ver a piscina.

- Te conheço e estou preocupado com você.

- Preocupado?

Ian viu Brooke sair da piscina como se fosse uma deusa e tirar o cabelo molhado do rosto. Embora não fosse o cabelo o que chamava sua atenção, a não ser seu corpo perfeito. E o biquíni, que lhe caía tão bem. Só de pensar que ele tinha acariciado esse corpo, que o tinha gasto de cima abaixo e que lhe tinha feito amor, sentiu um calafrio.

- Maldita seja - murmurou Ian.

- Me diga algo. O que está acontecendo?

- É Brooke. Ela está aqui. Veio passar duas semanas no Rolling Cascade, para descansar. Mas nesse momento ela está tomando banho em minha piscina. Estamos tentando deixar o passado para trás.

- Estupendo. Não me diga isso, estão tentando deixar o passado para trás e querem ser amigos. Vamos, Ian. Tem certeza que pode ser amigo da única mulher que conseguiu chegar ao seu coração?

- É obvio. Faz anos que já não estou apaixonado por ela.

- Isso é o que você diz.

- E falo sério. Boa noite, Storm.

 

                                                       Capítulo Três

Ian ficou em pé e se dirigiu ao corredor que dava no lago Tahoe.

Ao voltar a abrir o cassino depois de gastar muito dinheiro em sua reforma, havia lhe dado algo mais que do que um novo nome e uma nova imagem, havia lhe dado uma nova atitude. Soube combinar o encanto da paisagem de Nevada com a grandeza de um cassino de talha mundial e tinha acrescentado uma vida noturna que atraía à clientela mais sofisticada.

Seu apartamento da cobertura tinha as melhores imagens do lago e estava separado dos alojamentos dos clientes, das lojas e restaurantes, dos campos de golfe e de tênis. Sua moradia era como seu santuário privado, mas, desde que tinha ido viver ali, nove meses antes, não tinha tido muito tempo para pensar em sua vida privada e não tinha convidado nenhuma mulher, salvo às de sua família e Brooke.

“Brooke”.

Ouviu como se atirava à piscina e sorriu. Por alguma razão, gostava de saber que ela estava ali, embora o máximo que pudessem voltar a ter fosse uma amizade.

Depois de nadar várias vezes, Brooke se sentiu rejuvenescida e exausta ao mesmo tempo. Decidiu sair a descansar em um banco acolchoado que havia na borda. Deitou-se de costas e olhou o teto. Só conseguia pensar nos olhos escuros de Ian e em como tinha sido cuidadoso antes de partir. Tentava se distanciar dele e, apesar de não ter lhe contado a verdadeira razão de estar ali, não podia evitar se sentir atraída por ele. Os instintos básicos eram isso, básicos.

Ficou de barriga para baixo e tentou se concentrar nas plantas que a rodeavam, mas não conseguiu esquecer Ian. Fechou os olhos e recordou os tempos em que ele percorria seus seios com a boca, sugava-lhe os mamilos e, ao mesmo tempo, introduzia a mão por debaixo de suas calcinhas.

Ian não sabia quanto tempo havia passado olhando o lago. No dia seguinte tinha muito trabalho. Tinha que se reunir com Nolen McIntosh, o gerente do cassino, com Vance e com Danielle, a chefe de relações públicas. Também tinha que revisar os detalhes da festa de Delaney. Demorou um minuto em se dar conta de que não ouvia nenhum ruído da piscina. Deixou a taça de vinho e se dirigiu para onde tinha deixado Brooke quase uma hora antes.

Viu Brooke deitada no banco que havia na borda da piscina, dormindo. E sentiu que um amontoado de emoções o invadia. Fazia anos que Brooke não dormia em sua casa. Recordou a última discussão que tinham tido. Ela tinha tentado se explicar, mas ele não a tinha escutado. Não quis voltar a vê-la nem pensar nela.

Por que tinha permitido que invadisse seu espaço privado?

Ela gemeu em sonhos, ele se aproximou mais e percorreu seu corpo com o olhar. Sua pele parecia suave e cálida ao tato. Queria acariciar suas coxas e passar os lábios por seus seios.

Suspirou. Era normal que sentisse desejo por ela. Em outra época, teria lhe despertado fazendo amor. Mas nesse momento as coisas eram diferentes. Já não tinham esse tipo de relação.

Pensando nisso, pegou uma toalha e a cobriu com cuidado. Não queria despertá-la. Deixaria que ela descansasse, mas queria estar ali quando despertasse. Possivelmente fosse uma tortura, mas se encantava quando a via dormindo e a maneira como olhava para ele quando despertava, que fazia com que ele se excitasse como nenhuma outra mulher havia conseguido.

Tirou a jaqueta, dobrou-a e colocou no respaldo de um sofá antes de se sentar em uma cadeira de vime.

Voltou a lembrar do dia que se conheceram, seis anos antes. Desde aquele dia, sua vida não havia sido a mesma.

Brooke despertou pouco a pouco de um sono profundo. Não havia nada como um banho para relaxar todos os seus músculos, e isso a fez lembrar de onde estava e por que sentia o perfume de um homem que conhecia muito bem.

Abriu os olhos devagar e seu olhar cruzou imediatamente com o de Ian. Estava sentado do outro lado e estava um pouco despenteado, havia desabotoado alguns botões da camisa e a abriu. Tinha as pernas estiradas e as calças grudavam em suas coxas.

Brooke sentiu que um calafrio de desejo a percorria. Deu-se conta de que estava coberta com uma toalha e uma onda de calor invadiu seu corpo ao ver Ian tão perto dela.

Queria se sentar, estirar as pernas e se desculpar por ter dormido. Mas não podia se mover, quase não podia respirar. O olhar de Ian tinha deixado Brooke imóvel e a fez lembrar tempos mais felizes, cheios de paixão. Perguntou-se se ele estaria pensando no mesmo.

Todo seu corpo reagia diante da presença desse homem que não era um homem qualquer. Ian tinha sido o homem que havia lhe ensinado os prazeres que um casal podia compartilhar. Estava acostumado a despertá-la pelas manhãs lhe acariciando e beijando, o homem que, além de ser um amante sem igual, tinha sido seu confidente e seu melhor amigo.

Ele se levantou e caminhou até ela, não podia ocultar a prova reveladora do quanto a desejava. O vulto que havia à altura do zíper de suas calças não podia mentir. O corpo do Brooke respondeu imediatamente reconhecendo a química sexual que emanava de Ian.

Ela se sentou e estirou as pernas. Não podia evitar se perguntar no que ele estaria pensando, embora imaginasse. Conhecia aquela maneira de olhá-la. Ainda havia muitas coisas pendentes entre eles. Embora nada fosse voltar a ser como antes.

No fundo, Brooke teria gostado de poder tirar Ian de seu coração como ele tinha feito com ela. Possivelmente continuava a desejá-la, mas já sabia que não a amava. Embora isso fosse o de menos nesse momento. O que queria era sentir seu corpo e seus braços ao redor de seu corpo e sua boca sobre sua pele.

Ian se deteve diante dela e, sob a luz da lua, sua pele escura contrastou ainda mais com a camisa branca que vestia.

Brooke ficou de pé e ouviu que ele deixava escapar um leve gemido. Sabia que estava lutando para resistir. Mas quando se aproximou mais, soube que tinha cedido à tentação. O desejo era mais forte que o sentido comum. Suas bocas se uniram, suas línguas se tocaram e Brooke sentiu que perdia o controle.

Ian beijou Brooke com grande perícia. Precisava dela. Quatro anos não tinham sido suficientes para acabar com o desejo, mas possivelmente esse fosse o melhor modo de acabar com ele. Não obstante, quanto mais a beijava, mais perdia o controle e mais a queria. Desejava voltar a deitá-la no banco, tirar seu biquíni e fazê-la sua.

Sua de novo.

Isso fez com que levantasse a cabeça bruscamente, sabia que isso era a ultima coisa que queria. Nada poderia voltar a ser igual. Havia a amado muito, mas, intencionalmente ou não, ela tinha destruído esse amor.

Percorreu seu corpo com o olhar e disse que podia voltar a desejá-la, mas não voltaria a querê-la.

- Te acompanharei até o seu quarto.

Brooke assentiu, envolveu-se em uma toalha e o seguiu até seu elevador privado.

- Não quis abusar da sua hospitalidade – ela conseguiu dizer finalmente.

- Não abusou.

Brooke não podia acreditar. Sabia que Ian era um homem que não perdoava nem esquecia facilmente. Havia dito que queria que fossem amigos, mas ela se perguntava se ele seria capaz de suportar isso. Brooke abriu a boca para dizer algo e logo voltou a fechá-la. O mais provável era que Ian mantivesse distância durante o resto de sua estadia ali.

Brooke abriu a porta de sua habitação e imaginou que Ian se despediria dela ali, mas a surpreendeu tomando sua mão e entrando com ela.

- Há câmeras escondidas nos corredores - murmurou antes de abraçá-la e voltar a beijá-la. Momentos depois, os lábios de Ian percorriam seu pescoço e Brooke sentia um calafrio por todo o corpo.

- Quer navegar comigo amanhã, Brooke?

- Está certo de que é isso o que quer? – ela perguntou, surpreendida.

Ian ficou em silêncio por um momento e a olhou fixamente nos olhos.

- Sim, estou certo. Estou começando a me dar conta de algo, Brooke.

- Do que? - inquiriu ela, tragando saliva com dificuldade.

- De que não vai ser tão fácil como eu pensava me esquecer do que compartilhamos.

- O que quer dizer?

- Que nunca poderemos ser amigos. E como não podemos continuar assim, o melhor é pôr um ponto final nisso.

Ela sabia que Ian tinha razão, embora doesse escutar isso de sua boca.

- O que sugere que façamos? Quer que eu vá embora? – ela perguntou, sabendo que isso não era possível.

- Não. O que eu quero é que saia para sempre da minha vida. E sei como conseguir isso. Só tem um jeito.

Brooke suspirou. Sabia do que Ian estava falando, mas isso só faria com que ela precisasse dele ainda mais.

- Não funcionará.

- Confie em mim.

Brooke levantou o queixo e o olhou.

- Possivelmente pode funcionar para você, mas não para mim.

- Eu adorarei te demonstrar que está enganada, Brooke. Nós dois sentimos desejo e recordamos como as coisas eram antes, as noites que passávamos fazendo o amor.

- Ian.

- E como fazíamos amor no chão, no sofá e como eu te dava tudo o que precisava. E você…

- Para já, Ian - protestou ela, saindo de seu lado - Não permitirei que aconteça o que você esta sugerindo.

- Certo. Passo para te pegar ao meio dia para ir navegar.

Ian deu meia volta e saiu do quarto. Ela se dirigiu ao banheiro. Precisava de uma ducha. Devia estar cheirando a cloro da piscina, mas tinha o cheiro dele. Tinha que lhe dizer que havia mudado de idéia a respeito de ir navegar com ele.

Possivelmente Ian gostasse da idéia de brincar com fogo, mas ela não.

 

                                                           Capítulo Quatro

- Temos razões para acreditar que um dos clientes está fumando em seu quarto - comentou Joanne Sutherlin, a gerente do complexo, aos empregados que estavam sentados ao redor da mesa.

- Ainda não encontramos nenhuma prova, mas a senhora da limpeza diz que cheira a tabaco, embora o cliente tente dissimular o aroma com colônia. Se conseguirmos provar isso, poderemos tirá-lo do hotel - acrescentou.

Todos assentiram. Sabiam que Ian era muito rígido com as normas e que era proibido fumar no Rolling Cascade.

Depois falaram das atividades de ócio. Mariah Carey iria duas semanas em junho; Michael MacDonald, em setembro; e Phil Collins, em dezembro. Smokey Robinson começaria nessa mesma noite com suas atuações e já haviam sido vendidas todas as entradas para as duas semanas de concerto que ia dar.

Nolan, o gerente do cassino comentou que a segurança o tinha alertado de que duas prostitutas tinham tentado vender sua mercadoria no cassino. Embora em Nevada a prostituição fosse legal, só se permitia em bordéis com licença. E Ian se comprometeu a manter o Rolling Cascade limpo de prostitutas.

- Estamos nos ocupando disso - assegurou-lhe Nolan.

Ian assentiu, isso era exatamente o que queria ouvir. Olhou o relógio. Havia pedido que lhe preparassem uma cesta com o almoço e tinha deixado uma mensagem para Brooke dizendo que iria se buscá-la ao meio do dia e que estava desejando navegar com ela.

Lembrou de sua conversa da noite anterior. Tinha saído do quarto sem olhar para trás deliberadamente. Assumir que tinha ferido o orgulho do Brooke era muito, não tinha feito nada mais do que confrontá-la. Era muito tarde para jogos. Sabia do que ambos precisavam. Tinham que tirar um ao outro de suas cabeças, se não, sempre estariam unidos por essa espécie de tira e afrouxa emocional.

Enrugou o rosto ao pensar na tarde que tinha planejado, e sorriu. Apesar de Brooke ser uma mulher dura, quando a tivesse em seu navio e a fizesse recordar de todas as coisas que ela queria esquecer, o dia terminaria como os dois desejavam na verdade.

Uma hora mais tarde, quando terminou a reunião, sentiu que seu pulso começava a se acelerar. Dirigiu-se rapidamente para seu apartamento da cobertura para trocar de roupa.

- Senhor Westmoreland? – Cassie o chamou, uma jovem que trabalhava no escritório do complexo.

- Sim?

- Deixaram-lhe uma mensagem esta manhã.

- Obrigado - disse, tomando o envelope que ela trazia. Abriu-o e tirou a nota que havia dentro: mudei de opinião a respeito de ir navegar com você. Brooke.

Ian franziu o cenho. Se Brooke acreditava que ia se dar por vencido tão facilmente, estava enganada.

- Quer que faça algo, senhor?

Levantou o olhar e se deu conta de que Cassie continuava ali. Olhava-o com desejo, e Ian sabia reconhecer um comentário insinuante quando o ouvia. Lembrou o que sabia sobre ela. Tinha um diploma de gestão hoteleira e acabava de sair da universidade. Ian havia decidido há muito tempo que não teria relações com suas empregadas. Como trabalhava tanto, estava quase um ano sem dormir com ninguém. E a mulher que mais desejava acabava de cancelar seu encontro.

Brooke observou as roupas que havia colocado em cima da cama. Todas eram adequadas para aquela tarde, mas não sabia o que vestir.

Teria colocado a calça capri se tivesse ido navegar com Ian. Tinha mais uso do que as calças curtas de algodão. Mas com as calças curtas estaria mais confortável para ir às compras. Estava pendurando a roupa no armário quando ouviu que batiam na porta. Perguntou-se se seria a senhora da limpeza, que não tinha passado antes porque ela tinha decidido tomar o café da manhã ali.

Brooke não queria aceitar que era uma covarde, mas o certo era que ficou ali porque não queria se encontrar com Ian. Precisava se distanciar dele por alguns dias para refletir a respeito do que ele havia sugerido. Enquanto isso desfrutaria do complexo. Precisava descansar.

Olhou pela mira e seu coração deu um salto. Era Ian. Será que não haviam lhe entregue sua mensagem?

Abriu a porta e o encontrou vestido com calça cáqui e uma camisa pólo azul. Tinha na mão uma cesta com comida. Já havia se esquecido de como ele ficava bonito com roupa informal.

- Está preparada? – ele perguntou.

- Não lhe deram minha mensagem?

- Sim. Mas suponho que houve um engano - confessou ele, entrando na habitação sem que o convidassem.

- Pois supôs mal. Não quero ir navegar com você.

Ian deixou a cesta em cima de uma mesa, cruzou os braços e a interrogou:

- Por quê? Está com medo de ficar a sós comigo?

- Não. Só estou tentando ser precavida.

- E por que pensa que tem que ficar na defensiva, Brooke?

Como ele podia lhe perguntar isso!

- Conheço seu jogo, Ian.

- Que jogo?

- Seu jogo de sedução.

- Se o conhece, por que se preocupa tanto em passar um tempo comigo? Antes sabia como me tratar. Ou ao menos pensava que sabia.

- Claro que eu sabia como te tratar. Demonstrei-te que não era como essas estúpidas com as que estava acostumado a sair. Além disso, suas mutretas não vão funcionar comigo.

- Por que não? Sempre funcionaram até agora.

- Sempre funcionaram? Veremos. Estarei pronta em cinco minutos.

- Precisa de ajuda para se vestir?

- Não, obrigada. Além disso, se não se lembra, foi perito em me despir.

Brooke fechou a porta do dormitório com uma batida e Ian não pôde evitar sorrir. Ela tinha razão. Parecia que ia ter que mudar sua estratégia, mas estava certo de que acabaria se saindo bem com a sua.

Estava um dia maravilhoso para navegar. A última vez que Brooke havia subido em um navio fazia dois anos, quando Malcolm tinha tentado atá-la com um amigo dele. Tinham ido dois casais, mas o amigo de Malcolm e ela não tinham nada em comum e ela passou todo o tempo comparando-o com Ian. Felizmente para ela, seu acompanhante enjoou e teve que voltar para terra firme antes do planejado.

- No que esta pensando?

As palavras de Ian a fizeram sair de seus pensamentos. Olhou-o e desejou imediatamente não tê-lo feito. Estava muito sexy no papel de capitão de navio. Tentou se concentrar no navio, que Ian havia dito que era do cassino.

- É um navio muito bonito, Ian.

Conduzia-o pelo lago Tahoe com soltura, o que tinha surpreendido Brooke. Além de estar um dia perfeito para navegar, até o momento Ian estava se comportando como um cavalheiro.

A comida foi simples, mas deliciosa: sanduíches de presunto e queijo, batatas fritas, vinho e um bolo de queijo. Tinha se encantado em compartilhá-la com ele.

Ian lhe contou como Stone e sua esposa se conheceram em um avião. E lhe falou dos três filhos de seu tio Corey: Clint, Colle e Casey.

- Você gostaria de Casey. Seus irmãos tentam espantar seus pretendentes como nós fazíamos com os de Delaney.

Brooke olhou o céu e respirou o ar puro do mês de abril. Alegrou-se de ter ido, era justamente o que precisava. Se tivesse ficado no complexo teria passado o dia gastando dinheiro.

- Suponho que deve ter sido duro para eles descobrir, já adultos, que seu pai estava vivo, que não estava morto.

- Sim. Clint e Colle ficaram melhores do que Casey. Quando ela soube que sua mãe tinha mentido durante todos esses anos, se sentiu muito ferida.

Ian surpreendeu Brooke ao se sentar do seu lado.

- Já falamos o suficientemente dos meus primos, chegou a hora de jogar - anunciou Ian.

Brooke pensou que havia acreditado muito cedo que ele era um cavalheiro.

- O que quer que joguemos?

- Estive te observando na outra noite, quando estava sentada à mesa de Black Jack.

- E?

- Joga mal.

Brooke começou a rir. A conversa não ia por onde ela tinha pensado, mas tinha que dar razão a Ian.

- Vai me dar algumas lições?

Ele assentiu e tirou um baralho de cartas.

- Parece justo. Não quero que perca todo seu dinheiro no cassino. Fique atenta.

Passaram a hora seguinte jogando às cartas.

- Adorei o passei, Ian – Brooke admitiu quando voltaram para terra e enquanto ele a acompanhava até seu quarto.

- Então, vem comigo a uma atuação esta noite – ele propôs, tomando sua mão.

- Uma atuação?

- É a apresentação do Smokey Robinson.

- Smokey Robinson? Acho que ele é o único homem que minha mãe quis além do meu pai.

- Então terá que ir por ela.

- Está certo, eu vou.

- Te pego por volta das dez.

- Não prefere que nos encontremos em algum lugar?

Não queria. Se ficasse tão bonita como na noite anterior, não gostaria que ela passeasse pelo hall sozinha.

- Não, não me custa nada passar por aqui.

- Certo.

Ficaram lá um minuto, olhando um para o outro.

- Quer entrar por um momento? – Brooke o convidou.

Ian sabia que se entrasse, não seria por um momento. A chave estava em ter paciência. Embora não tivesse levado a cabo seu plano inicial, tinha passado um dia muito bom com ela. E teria outras oportunidades. Estava certo disso.

- Não, tenho que fazer algumas coisas. Mas espero que volte a me convidar esta noite depois do espetáculo.

- Pensarei a respeito – ela disse, sorrindo.

A sala estava cheia de gente. Todos com olhar voltado para o homem que ocupava o centro do cenário e que cantava The Tracks of My Tears. Sua voz de tenor era sua carta de visita e a letra tinha significado. Toda a sala se encheu de amor e romance.

Depois fez uma composição de canções e, quando começou a cantar Oh Baby, Baby, Brooke olhou para Ian, e descobriu que ele também a estava olhando. Estariam pensando na mesma coisa? Que ambos tinham cometido enganos em sua relação, ou continuaria jogando a culpa de tudo nela?

Brooke estava tão perdida em seus pensamentos que se surpreendeu quando todo mundo se levantou para ovacionar Smokey Robinson. Momentos depois chegou o número final com o Going to Go-Go e todos na sala começaram a dançar. Os casais de mais idade foram para a pista recordando os velhos tempos. Brooke não pôde evitar se lembrar de sua mãe dançando ao som dessa canção quando ela era pequena.

- Quer dançar? – Ian lhe perguntou.

Viu a dúvida nos olhos de Brooke, e acrescentou:

- Não temos nada a perder.

- Possivelmente parte do nosso rosto, olhe como movem os cotovelos.

Ian riu, a risada deu nostalgia em Brooke e recordou os tempos que saíam juntos para dançar, festejar e se divertir. Se alguém houvesse lhe dito dois dias antes que seriam capazes de deixar de lado o ressentimento para passar um dia juntos, não teria acreditado. Os dois tinham sofrido muito.

Ian se aproximou dela e a pegou pela mão.

- Vamos. Ensinaremos esses coroas como se dança.

Segundos mais tarde estavam na pista movendo o corpo como todos os outros. Ian já a tinha elogiado no começo da noite pela escolha de seu vestuário: um vestido curto de seda cor chocolate, que lhe permitia toda a mobilidade que precisava para dançar.

Brooke não se lembrava da última vez que tinha ido dançar, que tinha se deixado levar pela música e se sentido livre. Só lembrava se sentir assim com Ian.

Quando terminou a música Ian a puxou para ele, e lhe disse:

- Vêm, quero te ensinar algo.

Brooke sabia que devia perguntar o que era isso que ele queria lhe ensinar e aonde a levava. Mas não o fez.

Tentou não ficar nervosa enquanto subiam no elevador privado de Ian. Ele estava de frente para ela, muito bonito com um de seus trajes sob medida. Ele a olhou e um calafrio percorreu o corpo de Brooke, que estava fazendo todo o possível para não sucumbir.

- Aonde esta me levando? – ela perguntou enquanto iam para o apartamento da cobertura.

- Tenha paciência.

A única coisa que Brooke sabia era que estavam na zona privada de Ian e que já tinham passado pelo oitavo andar.

O elevador parou. Brooke tinha que admitir que Ian havia despertado sua curiosidade. A curiosidade, e algo mais. Estar presa em um elevador com ele não tinha sido boa idéia. Brooke precisava de uma ducha de água fria. As portas se abriram e ela o seguiu.

Ian a tinha levado a sua estufa privada. Dali se via tudo. Era uma bonita noite de abril, o céu estava estrelado e havia meia lua.

Aquele lugar era ideal para criar um refúgio acolhedor e relaxante. As luzes eram tênues e os móveis, de ratán, eram peças únicas. O sofá e as cadeiras convidavam a sentar-se e o resto, uma mesa de café, uma mesinha e um repouso de pés, faziam com que o lugar fosse ainda mais espetacular. Tudo na habitação era harmonioso, até o homem que estava ao lado de Brooke.

-O que achou?

Era evidente que estava impressionada. Ian não deixava de surpreendê-la, apesar de saber que era um homem inteligente, que tinha estudado física na Universidade de Yale. Tinha trabalhado um ano para a NASA, mas tinha voltado para casa quando seu avô havia falecido. Como queria estar perto de sua família, tinha trabalhado para uma empresa de investigação em Atlanta, onde o mundo dos cassinos começou a lhe atrair. Para ele, as probabilidades científicas eram a base das apostas, não a sorte. Felizmente, as ciências eram seu forte.

- É um lugar maravilhoso, Ian. E os móveis e as plantas realçam sua beleza.

Ian assentiu. Ele pensava exatamente o mesmo. Sempre tinha gostado de olhar o céu de noite, e a astronomia era um de seus principais entretenimentos.

- Vêm aqui - disse, pegando-lhe pela mão e levando-a até um enorme telescópio.

Brooke observou o céu e sorriu ao ver uma estrela fugaz. Ergueu-se ao notar o calor de Ian por trás dela, tão perto, que podia sentir sua respiração na nuca.

-Você vem aqui freqüentemente? – ela conseguiu lhe perguntar por fim.

- Quando preciso de um pouco de tranqüilidade ou simplesmente pensar.

Ian sabia que nunca iria lhe dizer que estava acostumado a pensar nela quando estava ali, que era o único lugar que se permitia recordar o amor que tinham compartilhado.

Brooke tinha sido sua estrela, que tinha brilhado até quando o céu estava nublado e as nuvens cinza ameaçavam com tormenta. Sempre tinha sido seu sol depois de um temporal.

Não tinha sido fácil passar de ser cientista a proprietário de um cassino, mas ela o tinha animado, assim como sua família, a perseguir seu sonho. Brooke também estava ao seu lado quando comprou o Delta Princess.

Ian suspirou. Tinha que tirar Brooke da cabeça. Estremecia só de pensar em voltar a tê-la em sua cama pela última vez. Mas não seria justo se jogar sobre ela, embora fosse o que os dois precisavam.

Tinha que ser paciente.

Brooke olhou o céu para tentar se esquecer das sensações que seu corpo estava experimentando com a presença de Ian.

- Olha essa estrela.

Ian sorriu e a agarrou pela cintura, aproximando-se ainda mais dela.

- Sinto te decepcionar, mas é um satélite.

O coração de Brooke deu um salto ao sentir o peito de Ian contra suas costas e, não só o peito, também sentiu a ereção que se endurecia cada vez mais debaixo de suas calças. Brooke não sabia como resolver a situação, embora imaginasse que Ian tivesse suas próprias idéias de como solucionar o problema.

Decidiu que o melhor seria sugerir que voltassem para hall, mas ao se virar e ficar de frente para ele foi um engano. Ao olhá-lo nos olhos, se esqueceu de todo o resto.

Ele acariciou-lhe o queixo e ela sentiu um calafrio. Ian aproximou seu rosto do dela que, tendo-o tão perto sob o céu estrelado, ela se deu conta de que ainda continuava amando Ian.

- Sabe o que significa alguns beijos sob uma estrela fugaz? – ele perguntou.

- Não, o que significa?

- De acordo com a mitologia grega, Zeus oferece ao casal o dom da paixão incontrolável.

Paixão incontrolável? Brooke tragou saliva e pensou que já deviam ter se beijado antes sob uma estrela fugaz.

- Então será melhor que não nos beijemos – ela comentou.

- Não estou de acordo. Um pouco de paixão de vez em quando não é nada mal.

Brooke fechou os olhos quando seus lábios se tocaram e pensou que não havia nada como beijar a luz da lua, ainda mais quando se beijava o homem que amava.

Sempre havia gostado que Ian a beijasse, e a maneira como sua língua a acariciava estava fazendo com que se derretesse. Sentiu calor entre as pernas e uma excitação que só ele era capaz de despertar assim.

Era como se a habitação estivesse começando a dar voltas, e Brooke se agarrou com força a seus ombros.

Quando Ian se separou dela, Brooke quase não podia respirar, e, apesar de tentar contê-lo, um gemido de prazer escapou. Sentiu sua ereção contra as pernas e soube o que seu corpo queria.

Ele continuou acendendo-a ao passar a mão pelo braço, ombros, e beijá-la brandamente ao redor do nariz e da boca.

- Tenho que ir à cidade por dois dias - anunciou Ian.

- O que?

- Tenho que ir amanhã pela manhã ao Memphis para fechar a venda do navio. Estarei fora dois dias.

- Oh.

Brooke tentou ocultar sua decepção, mas aparentemente, não foi capaz, porque lhe perguntou:

- Vai sentir minha falta?

Ela sorriu. Claro que sim, mas a separação ajudaria a voltar a pensar com a cabeça.

- Absolutamente - brincou Brooke.

- Então… possivelmente eu deva te dar uma razão para que sinta minha falta e fique desejando a minha volta.

Antes que Brooke pudesse se dar conta, Ian a tinha em seus braços.

                                                         Capítulo Cinco

Felizmente para Ian o sofá não estava longe, já que seu estado de excitação ia romper suas calças. Só ela podia deixá-lo assim com tanta rapidez e fazer com que desejasse lhe arrancar a roupa e fazer amor ali mesmo, naquele momento.

Embora com Brooke, nunca tinha se limitado a fazê-lo, sempre tinha se comprometido emocionalmente. Nunca tinham tido sexo, sempre tinham feito amor. E inclusive nesse momento, que queria tira-la de sua vida para sempre, sabia que significaria algo.

Esse era a essência da questão.

Embora Ian não quisesse reconhecer, sabia que se fizesse amor com ela, se impregnaria mais fundo. Apesar de isso o desconcertar, continuava desejando-a como não tinha desejado a ninguém em quatro anos. Precisava fazer, mas só com essa mulher.

Deitou-se no sofá com Brooke em seus braços e a beijou intensamente. O pulso disparava a toda velocidade e as mãos percorriam todo seu corpo, sobre tudo por debaixo do vestido.

Em menos de cinco segundos, tinha chegado ao lugar que havia entre suas pernas. Era uma loucura. Era o que acontecia entre Ian e Brooke.

Sempre tinham excitado um ao outro e isso não tinha mudado. Estavam atuando espontaneamente. Quando seus corpos se uniam, só tinha que pensar em um orgasmo para tê-lo.

Ian viu nos olhos do Brooke que ela o desejava tanto como ele, mas precisava ouvir o dizer. Antes de ir mais longe, tinha que saber que ela não se arrependeria depois.

-Brooke?

O modo como Ian disse seu nome a excitou ainda mais. Sabia o que ele queria. Também sabia o que estava lhe perguntando e, nesse momento, não podia lhe negar nada. Tinha quatro anos de abstinência e não agüentava mais. A única coisa que sabia era que o desejava.

- Não consigo entender por que isto é tão intenso - murmurou Brooke com sinceridade.

- Deixa que eu te explique isso sem palavras.

Voltou a beijá-la e deslizou para a ponta do sofá. Mudou de postura e colocou as pernas de Brooke ao redor de sua cintura. Ela estava com o vestido enrolado até os quadris e sentiu sua ereção contra seu próprio sexo. Já não havia como voltar atrás.

Brooke sentiu uma onda de calor quando Ian tirou seu vestido. Deixou de beijá-la e concentrou toda a atenção em seus seios nus. Não estava de sutiã. Ian agarrou um mamilo com a boca e ela soube que aquilo era só o começo.

- Ian.

Ele se retirou, voltaria para os seios mais tarde. Sabia o que os dois precisavam nesse momento. Ficou em pé com Brooke nos braços e, nesse preciso instante, seu telefone móvel soou.

- Maldito seja - resmungou, tirando o telefone do bolso da jaqueta - O que está acontecendo?

- Temos uma briga doméstica - anunciou o chefe de segurança - Um dos eletricistas recebeu a visita surpresa de sua esposa.

- E?

- Ela o pegou na cama com… outro eletricista. Outro homem.

- O que?

- Foi o que ouviu. E a mulher está histérica.

Ian passou a mão pelo rosto. Era normal que estivesse histérica.

- Continua. Estou certo de que há algo mais.

- Sim. Ameaçou denunciar todo mundo: ao grêmio, à companhia aérea que os trouxe aqui e ao cassino por permitir semelhante conduta.

Ian não gostava da palavra “denunciar”

-Onde você está?

- No quarto andar.

- Vou para aí.

Pendurou o telefone e olhou para Brooke, que estava muito sexy despenteada e com os lábios inflamados por seus beijos.

- Tenho que ir - disse a contra gosto, colocando a jaqueta.

- Entendo, a obrigação te chama.

- Obrigado.

Como já eram duas da manhã e ia demorar um bom tempo para esclarecer a situação, sabia que não a veria até dois dias mais tarde.

- Pense bem nisso enquanto estou em Memphis - acrescentou.

- Pensarei.

- Mas não muito.

- Certo.

Ian pensou em convidá-la para ir com ele a Memphis, mas tirou rapidamente a idéia de sua cabeça.

- Jantará comigo quando voltar?

Sabia que era melhor perguntar nesse momento. Tinha a sensação de que uma separação de dois dias faria com que Brooke pensasse que o que tinha ocorrido essa noite havia sido um engano. E ele não queria que isso ocorresse.

- Ian, eu…

- Não Brooke - interrompeu-a com um beijo – Temos ao menos que terminar o que começamos.

- Você acha?

- Sim - disse ele, voltando a beijá-la.

- Certo.

- Vou te acompanhar até sua suíte.

- Não precisa. Há um problema que requer sua atenção imediatamente. Além disso, acho que vou jogar Black Jack.

- De acordo.

- Tenha boa viagem, Ian.

- Obrigado.

Quando o elevador chegou ao quarto andar, Ian a soltou de seu abraço e um sentimento de perda lhe percorreu todo o corpo.

- Não se esqueça do jantar da sexta-feira.

- Não se preocupe.

- No meu apartamento da cobertura. As sete em ponto.

Ela assentiu e continuou olhando-o até que as portas do elevador se fecharam.

Brooke sentou para tomar um café e pensou na conversa que tinha tido com Tara Westmoreland essa manhã. Tara era a melhor amiga do Delaney e estava casada com o irmão desta, Thorm Westmoreland. Havia convidado Brooke para a festa surpresa que estavam preparando para celebrar o trinta anos do Delaney no fim de semana seguinte no Rolling Cascade.

Brooke se surpreendeu que Ian não tivesse comentado nada com ela. Possivelmente não quisesse que ela fosse. Recordou a tensão no casamento de Der e Shelly. Naquela época a relação entre eles estava muito mal, enquanto que, nesse momento, embora não tivessem voltado a ficar juntos, ao menos voltavam a se falar… e a se beijar. Contudo, possivelmente Ian não queria dar a sua família uma impressão errada se os vissem juntos.

- Está se divertindo, senhorita Chamberlain?

Brooke levantou a cabeça e encontrou com o antipático olhar do Vance Parker. Tinha surpreendido Vance várias vezes observando-a como se estivesse vigiando ela, e se perguntou se Ian teria lhe pedido que o fizesse antes de partir. Se tivesse feito, isso queria dizer que não confiava nela.

Brooke repreendeu a si mesma por tirar conclusões precipitadas. Esse homem era o chefe de segurança do cassino e seu trabalho devia ser vigiar todo mundo.

- Sim, estou me divertindo. É um lugar muito bonito.

- Eu também acho.

- Por favor, me chame de Brooke.

- De acordo, eu sou Vance.

Brooke assentiu. Sabia perfeitamente quem era. O homem que a tinha levado ao escritório de Ian no primeiro dia. Tinha a sensação de que, se aquele dia se negasse a segui-lo, ele teria conseguido levá-la até lá sem montar nenhum escândalo. Por sua maneira de agir, perguntou-se se o homem não teria nada a ver com o FBI.

- Quer um café, Vance?

- Se não se importar – ele respondeu, surpreendendo Brooke e sentando-se na cadeira que havia em frente.

Ele tinha começado perguntando, e nesse momento era sua vez. Era evidente que tinha sido militar, mas Brooke queria saber mais coisas sobre ele.

- A que Forças Especiais ou agência federal pertenceu, Vance?

- O que te faz pensar que fui militar ou que trabalhei para uma agência federal?

- Sua maneira de agir.

- Suponho que é fácil me conhecer. Sei que você é agente secreto. Ian me contou isso porque sabe que sou de confiança.

- Não é um segredo. Mas não importa a ninguém a que me dedico.

- Ian mencionou porque sou o chefe de segurança do cassino e pensou que eu deveria saber.

- Ainda não respondeu a minha pergunta – ela lembrou.

- Trabalhei por um tempo no departamento antes de conseguir um posto no Serviço Secreto.

O ramo executivo, Brooke pensou.

- Suponho que conheça o Quade – ela disse, referindo-se ao irmão gêmeo de Ian.

- Sim. Eu o preparei para sua primeira missão. Trabalhamos vários anos juntos, por isso conheço Ian. Quando decidi me retirar depois de vinte e cinco anos de serviço, Quade sabia que eu gostaria de continuar trabalhando, e comentou que Ian procurava alguém para trabalhar aqui.

- E tal como faz, acho que é o homem certo para o cassino.

- Obrigado.

Brooke tinha visto como Vance dirigia várias situações delicadas: com perícia e profissionalidade e com a autoridade que só alguém com muitos anos de experiência nas costas poderia ter.

- E se eu não soubesse que não é assim, teria pensado que você fazia parte do meu pessoal, Brooke.

Ela o olhou. Vance não era um novato e, apesar dela ter tentado ser discreta, se deu conta de quais eram seus interesses.

- É parte do meu trabalho.

- Sim, mas não veio aqui por razões de trabalho, não é? Ao menos, isso é o que Ian me disse, que tinha vindo para descansar.

- É isso. O que quero dizer que é parte do meu trabalho, quando se é agente, há coisas que faz automaticamente.

- Ah, como ser muito observadora?

- Exatamente.

Brooke se perguntou se Vance acreditaria.

- Suponho que um par de olhos a mais não faz mal a ninguém. Mas quero deixar uma coisa bem clara. Ian é um bom homem. Apesar de ser muito mais jovem que a maioria dos donos dos outros cassinos, é um bom empresário. E este lugar é um testemunho disso. Meu trabalho é ser seus olhos, seus ouvidos e lhe cobrir as costas. E, o que é mais importante, Ian não é só meu chefe, também o considero um bom amigo.

- Está me dizendo tudo isto por alguma razão concreta?

- Isso só você pode me dizer, Brooke.

- Pense o que quiser, eu confio no Ian.

- Mas…

- Mas parece que vamos ter que terminar esta conversa – Brooke disse, franzindo o cenho. Já tinha falado o bastante.

Vance não era tolo. E provavelmente sabia que ela havia mentido ao dizer que só tinha ido ao cassino para descansar.

- Você é boa, Brooke, e, porque gosto de você, vou te ensinar como Ian leva o negócio. Me acompanha?

Duas horas mais tarde, Brooke chegou em seu quarto para descansar um pouco e trocar de roupa antes do jantar. Vance a tinha levado a sala de segurança do cassino e ela tinha tido que admitir que estava a par de quase tudo o que ocorria ali. Embora não houvesse câmeras nos quartos, havia nos elevadores, corredores, no hall e no resto de áreas comuns do complexo.

Vance também tinha lhe contado que, como Ian era um homem muito diplomático, tinha conseguido controlar a situação da noite anterior.

Brooke acabava de entrar no banheiro quando o telefone soou. Cruzou a habitação rapidamente para responder.

- Alô?

- Já está sentindo a minha falta?

Por ouvir a voz de Ian, sentiu um calafrio. Não o esperava.

- Não, estive muito ocupada para sentir a sua falta.

- O que estive fazendo?

Brooke olhou pela janela. A vista das montanhas era impressionante, mas o mais importante nesse momento era o homem com quem estava falando.

Supôs que Ian não iria gostar de saber que Vance tinha lhe mostrado a sala de segurança.

- Estive fazendo muitas coisas. Sobre tudo, jogar Black Jack.

- Espero que não arruíne o cassino antes que eu volte.

- Tentarei não fazê-lo, embora tenha tido sorte em várias ocasiões.

- A sorte não tem nada a ver com isso. Como já te disse, tudo é questão de probabilidades.

- Se você diz. Volta amanhã de noite?

- Pretendo. Por enquanto as coisas estão saindo conforme estavam previstas. Fecharei a venda pela manhã e chegarei ao cassino no final da tarde.

Brooke assentiu. Não queria reconhecer, mas tinha sentido falta dele.

- O que vai fazer o resto do dia?

- Ir às compras - respondeu ela, e decidiu mencionar algo que tinha pensado durante todo o dia – Tara me ligou esta manhã para me convidar para o aniversário de Delaney. Por que não tinha mencionado isso?

- Não tinha me lembrado. Além disso, imaginei que mais cedo ou mais tarde alguém da minha família te chamaria.

- E você quer que vá?

- Por que está me perguntando isso?

- Não sei. Sei que no casamento de Der fiz você se sentir mal.

- Creio que era normal que ambos estivéssemos incômodos naquela época.

- E agora?

- Agora estamos muito bem juntos, não acha?

- Não quero que você se incomode se sua família tirar conclusões a respeito de nós.

- Conheço minha família, Brooke. A questão é se você estará desconfortável. Minha mãe se nega a acreditar que não vamos voltar a ficar juntos, embora eu tenha assegurado a ela o contrário. Sempre gostou de você.

Brooke sorriu. Também gostava da mãe de Ian.

- Então, vai pensar em ir? - perguntou Ian.

- Provavelmente.

Esperava que sua aparição não fosse à causa de uma grande comoção. Desgraçadamente, não ia ser possível evitá-la. Todo mundo sabia, como a relação entre ele havia sido séria, e estava certa de que alguns não tinham nem idéia da causa da ruptura. Apesar de ser uma pessoa muito familiar, Ian era muito reservado no que se referia a sua vida privada.

- E você tem certeza de que não se importará que vá?

- Sim, tenho certeza. Além disso, já é hora de dar a minha família algo do que falar. Desde que Durango se casou, não aconteceu nada interessante, e sou o primeiro a admitir que os Westmoreland precisam de um pouco de emoção de vez em quando.

Meia hora depois, Ian refletia a respeito de sua conversa com Brooke. Havia tornado a lhe perguntar se tinha sentido falta dele antes de desligar, e ela tinha admitido que sim. Isso significava que estava fazendo progressos. Embora o certo fosse que ele também estava sentindo falta dela.

Nunca teria permitido que Brooke voltasse a fazer parte de sua vida, mas isso estava acontecendo e ele tinha um problema. Era incrível o que simples beijos podiam fazer a um homem.

Embora houvessem tido algo mais que do alguns beijos.

- Quer mais alguma coisa para beber, senhor?

Ian olhou para o garçom. Tinha jantado sozinho em um restaurante famoso por sua deliciosa carne. A comida tinha sido excelente, mas tinha passado a noite pensando em Brooke, ela sim que era deliciosa.

- Não, isso é tudo.

Ian só queria desfrutar o vinho e suspirar pela mulher que desejava mais que tudo no mundo. Tinha vontade de voltar a vê-la, abraçá-la, fazer amor e levá-la a um lugar que não tinha ido desde que tinham terminado. Um lugar que tinham descoberto juntos fazia alguns anos e que se tornou seu universo próprio.

Agarrou a taça com força ao sentir que se formava um nó em seu estômago. Como era possível que uma mulher despertasse dessa maneira sua paixão e seu desejo?

- Ian?

Levantou a cabeça e olhou à atrativa mulher que estava em pé, ao seu lado. Sorriu.

- Casey, o que está fazendo em Memphis? - perguntou a sua prima enquanto ficava de pé. A última vez que a tinha visto tinha sido no casamento de seu irmão Durango, em Atlanta.

- Vim a trabalho – ela respondeu, sorrindo - Vou passar dois dias aqui. E você?

- Negócios, mas parto amanhã. Sente-se. Quer tomar algo?

- Não, obrigada. Acabei de jantar e já estava partindo. Achei que fosse você, mas não tinha certeza. Parecia absorto em seus pensamentos.

- E estava – ele assentiu sem lhe dar mais explicações – Você vai à festa de aniversário de Delaney semana que vem?

Casey fez uma careta e ele se deu conta de que ainda não tinha tomado uma decisão. Enquanto que seus irmãos Clint e Cole tinham se integrado rapidamente na família Westmoreland, ela continuava sendo um pouco reservada.

- Sabe se meu pai vai? – ela perguntou.

- Acho que sim. Não perderia por nada do mundo.

Ian sabia que Casey ainda tentava fomentar uma relação com seu pai, que havia conhecido fazia pouco tempo.

- Estou pensando em ir passar um mês em Montana com ele – Casey comentou.

- Parece uma boa idéia. E estou certo de que tio Corey e Abby ficarão encantados de ter você lá.

Conversaram por um tempo a respeito dos irmãos de Casey. Ambos iriam à festa de Delaney, mas Ian se deu conta de que, no fim, ela não havia dito se ia ou não.

Aproximadamente uma hora depois, Ian chegava à habitação de seu hotel. Olhou a seu redor. A mala aparecia e ele estava preparado para partir. Estava querendo voltar para lago Tahoe e teria pegado um vôo nessa mesma noite se tivesse algum.

Tinha vontade de ligar para Brooke, mas se recordou que já tinha falado com ela fazia pouco tempo. Sacudiu a cabeça e se perguntou o que estava acontecendo. Tinha sido voltar a ver Brooke, e para voltar a ficar louco.

Estava começando a se deixar levar, a sentir emoções que não tinha experimentado fazia anos. Isso não era bom, mas no momento não podia fazer nada para evitar.

 

                                                         Capítulo Seis

Brooke tinha passado os dois últimos dias fazendo compras e desfrutando do complexo turístico e, enquanto fazia isso, havia mantido os olhos e os ouvidos bem abertos. Ian voltaria nesse mesmo dia e ela se sentia nervosa.

Mergulhou na água do jacuzzi e tentou relaxar. Fechou os olhos e deixou que as borbulhas a levassem a outro lugar.

Ao se mover e receber um jato de água entre as pernas, deixou escapar um gemido. Sorriu, embora soubesse que o único que conseguiria relaxar a tensão que estava em todos os seus músculos de seu corpo era Ian.

Fechou os olhos e imaginou o jantar que iriam compartilhar. Sabia como os jantares juntos costumavam acabar. As lembranças a fizeram estremecer.

Duas horas mais tarde, depois do banho e de ter dormir um pouco, Brooke começou a se vestir. Estava de acordo com ele de que precisavam fazer amor uma vez mais para poder pôr fim ao que um dia tinha sido uma linda relação.

Doía-lhe pensar que ia ser o fim, mas tinha que ser assim. Tinha que virar a página. Era jovem e mais cedo ou mais tarde esqueceria Ian. Quando voltasse para Washington, pediria a Malcolm que lhe desse duas semanas livres.

Precisava de um pouco de tempo para pôr sua vida em ordem. Também precisava tomar certas decisões a respeito de seu futuro. Se decidisse deixar o trabalho de campo, tinha que saber as outras opções que o departamento poderia lhe oferecer. Quando havia falado disso com Vance, ele havia sugerido que trabalhasse na Casa Branca. Parecia que lá havia postos interessantes para mulheres, para velar pela segurança da Primeira Dama.

Sorriu ao pensar em sua conversa com Vance. Acabou gostando dele porque sabia que olhava pelos interesses de Ian e que era leal com as pessoas que lhe importavam. Ian também era assim. Por isso tinha se zangado com ela no caso de Boris Knowles.

Olhou a roupa intima que estava em cima da cama e que havia comprado nesse mesmo dia. Ian sempre tinha gostado de conjuntos pretos.

Se perfumou e pegou o vestido que tinha escolhido especialmente para impressioná-lo. Queria que essa última vez fosse especial.

Ian se sentiu bem de volta a casa. Embora tivesse chego ao seu apartamento da cobertura um pouco mais tarde do que o previsto.

A primeira coisa que teria gostado de fazer ao chegar ao cassino era ver Brooke, mas Vance havia dito que a tinha visto sair do complexo. Parecia que fora a cidade, fazer compras. Assim Ian havia subido para seu apartamento decepcionado e largou a mala pensando que Brooke não esqueceria aquela noite durante muito tempo.

Duas horas mais tarde, olhou o relógio. Eram dez para as sete. Onde Brooke estava? Sabia que sempre chegava adiantada.

Conteve a respiração ao ouvir o timbre que indicava que alguém estava subindo em seu elevador privado. Havia colocado calça preta e uma camisa branca e, para dar um toque mais informal ao conjunto, ficou descalço. Queria parecer depravado.

Aproximou-se do elevador para estar lá quando a porta se abrisse. Só de olhar para ela, um nó se formou em seu estômago. Estava com um vestido preto de renda que cortava a respiração.

- Já sei que estou adiantada, mas não vai me convidar para entrar?

Maldita seja, Ian ficou completamente sem fala. Deu um passo atrás para deixar que ela saísse do elevador.

- Bem-vindo a casa, Ian.

Havia sentido saudades dela. Somente em dois dias, havia ocupado novamente seu coração. Ian abriu a boca, mas não disse nada. O vestido preto de renda tinha o deixado aturdido. Brooke sabia melhor do que ninguém de como gostava disso, sobre tudo quando era ela quem havia colocado. Excitou-se só de vê-la.

Tinha tanta vontade de tocá-la que seus dedos queimavam e o coração quase saía do peito. Deu um passo adiante e estudou seu rosto. Um rosto que tinha invadido seus sonhos tantas vezes durante os últimos quatro anos, um rosto que não tinha conseguido esquecer por mais que tivesse tentado.

Ian acabou aceitando que não era o vestido de Brooke, ou como ela estava sexy com ele, o que tanto o atraía para ela. Era a própria Brooke que sempre tinha chamado sua atenção.

- Ian?

Voltou a olhar para ela. Viu como seus lábios tremiam e decidiu beijá-la. Iria receber o mais puro estilo de Ian Westmoreland. Aproximou-se mais dela, acariciou-lhe o queixo, os lábios e saboreou o momento, desfrutando de seu sabor doce e do contato de seus lábios contra os dele.

Teria gostado de se entreter por mais tempo, mas o desejo em seu corpo não o permitiu. De repente, todo o que sentia por ela e que tinha tentado ignorar até então veio à tona.

Abraçou-a forte e ela percorreu o interior de sua boca com a língua, tirando seu fôlego e chegando a lugares escondidos que sabia por experiência que o deixariam louco de desejo.

Uma das coisas que Brooke e ele haviam feito quando estavam juntos foi explorar novos horizontes na cama. E tinham inventado inclusive suas próprias formas de beijar.

E ela continuava lembrando-se delas, Ian pensou enquanto a apertava contra seu corpo, e as estava pondo em prática. Estava demonstrando, com uma destreza que quase fazia seus joelhos tremerem, por que tinha se apaixonado por ela alguns anos antes. Brooke sempre tinha sabido como surpreender Ian.

E o estava surpreendendo nesses momentos. Ian não esperava um beijo que fosse além de qualquer fantasia que pudesse ter. Tinha pensado que ela se mostraria receosa e que lutaria contra a intensidade da química que havia entre eles. Mas não estava sendo assim. Estava demonstrando que ela precisava tanto quanto ele virar a página. Aceitava que nunca poderia haver uma reconciliação. Ambos precisavam pôr fim ao tema, e essa era a única maneira de consegui-lo. Brooke o estava beijando com tanta paixão que sentia um calafrio percorrendo todo seu corpo.

- Brooke – Ian murmurou quando soltou finalmente os lábios. Mas antes que ela pudesse dar um passo atrás, abraçou-a e ela voltou a beijá-lo.

Poderia ter continuado a beijá-lo eternamente, Brooke pensou, já que Ian devolvia o beijo com igual ardor. Momentos depois, quando ele se separou para pega-la nos braços e conduzi-la até sua habitação, Brooke sentiu a respiração falhar.

Olhou para Ian e viu desejo em seus olhos.

Ao chegar ao quarto, deixou-a no chão e ela voltou a se colar em seu corpo, e sentiu o vulto que crescia em suas calças e que era a prova do desejo que sentia por ela.

- Quero te fazer minha.

A respiração dela acelerou. Fazia quatro anos que não ficava com um homem. Ian tinha sido o único com quem tinha mantido relações íntimas. Começou a se preparar para o prazer que sabia que só ele podia lhe proporcionar com suas maravilhosas mãos, com sua habilidosa língua e com seu corpo grande e forte. Excitava-se só de pensar.

- Eu também te desejo, Ian. Esta noite, preciso de você.

- Não tanto como eu de você - respondeu enquanto tirava o vestido de Brooke.

Ian assobiou quando comprovou que debaixo havia mais renda negra. Ajoelhou-se ali mesmo e apoiou o rosto em seu estômago, cheirando-a e acariciando-a com a língua.

Chupou seu umbigo enquanto lhe baixava as meias e só se deteve um momento para que ela acabasse de tirar, antes dele continuar a descer.

Se afastou para observá-la e a olhou nos olhos enquanto punha uma das mãos entre suas pernas e acariciava com os dedos sua carne úmida. Quando Brooke o agarrou pelos ombros, começou a gemer e a apertar-se contra sua mão, soube que se continuasse a lhe acariciar, teria um orgasmo em breve.

Deixou de olhar para ela, para percorrer seu corpo com a língua e agarrar os quadris com força. Sentiu como seu corpo tremia e a ouviu murmurar seu nome, mas se negou a parar.

Ian gemeu quando sentiu que ela deixava de se sacudir. Ficou em pé e a beijou. Depois, tomou-a nos braços e a levou até sua cama, onde a colocou em cima da colcha de cetim.

Desabotoou-lhe o sutiã e o tirou. Sempre havia pensado que ela tinha os seios mais bonitos do mundo. Se adiantou e os lambeu com força, ignorando os gemidos do Brooke, e quando não pôde agüentar mais, virou-se para tirar a roupa rapidamente. Quando voltou para a cama, ela tomou sua ereção entre as mãos, como se precisasse tocá-la, senti-la.

- Devagar, céu - sussurrou Ian - se não, não vou durar nada.

Separou as pernas de Brooke com a ajuda de um joelho e a olhou nos olhos. Sabia que Brooke tomava pílulas há anos para regular seus períodos, mas pelo bem de ambos, procurou um preservativo.

Brooke o tirou das mãos e o colocou.

Acariciou-lhe o rosto.

- Te desejo tanto, Brooke - murmurou enquanto a penetrava.

Ela estava tensa, quase tanto como a primeira vez que tinham feito amor, quando ainda era virgem. Ian a olhou nos olhos e entendeu o que significava tanta tensão.

- É a primeira vez desde que…?

Não pôde terminar a pergunta. Quatro anos era muito tempo, e lhe enterneceu pensar que continuava sendo o primeiro e único que a tinha amado.

Nesse momento, desejava-a com uma paixão que nunca havia sentido antes. Agarrou-se a seus quadris e começou a se mover, penetrando-a cada vez mais profundamente.

Tinha que olhar para ela e recordar esse momento para o resto de sua vida. Olhou-a nos olhos e soube que, apesar de ambos quererem prolongar o momento, nenhum deles agüentaria muito. Seria a última vez que faziam amor.

- Ian, eu…

Ele a beijou, sem deixar que ela falasse. Não havia nada a dizer, e quando sentiu que uma explosão de prazer percorria seu corpo, deixou escapar um gemido. Sentiu como ela também chegava ao clímax, e isso lhe provocou um segundo orgasmo. Ian pensou que se tivesse que morrer, esse seria sem dúvida o melhor momento.

Voltou a penetrá-la o mais profundo que pôde, e sentiu que os dois voltavam a sentir outro orgasmo.

Tinha pensado que, depois de fazer amor com ela pela última vez, poderia esquecê-la definitivamente, mas enquanto a segurava pelo quadril e sentia como suas coxas se apertavam contra seu corpo ao mesmo tempo em que ele se esvaziava em seu interior, soube que estava se impregnando ainda mais fundo.

-Fique aqui descansando, te aviso quando o jantar estiver preparado – Ian sussurrou ao ouvido de Brooke antes de sair da cama.

Ian olhou por cima do ombro e viu como Brooke entreabria os olhos, sorria e se arrumava entre os lençóis.

- Humm, certo.

Ian sorriu também. Sabia que a tinha deixado exausta. Precisava descansar. Assim, Ian vestiu a calça e saiu do quarto.

Tinha decorado o salão com velas, que alagavam a sala com a doce fragrância de baunilha. Sabia que Brooke adorava comida tailandesa e tinha pedido a um dos restaurantes que preparasse um jantar especial para eles. Esperava que ela gostasse do que tinha escolhido. Atravessou a habitação em direção ao telefone e pediu ao serviço de quarto que levassem o jantar a seu apartamento de cobertura.

Como não tinha mais nada para fazer, aproximou-se da janela para desfrutar da vista. Estava escuro, mas ainda assim podia distinguir a forma das montanhas mais à frente do lago. Teria ficado encantado em compartilhar aquela imagem com Brooke.

Mas sabia que se voltava para o quarto, não se conformaria em lhe mostrar a vista. Já ia ser difícil ter que despertá-la quando o jantar chegasse. Brooke era uma tentação e, depois de ter feito amor com ela, Ian continuava querendo mais e mais. Se excitava só por lembrar seus corpos unidos em cima da cama. Mas devia se comportar com cautela. Brooke já lhe tinha feito mal uma vez e podia voltar a fazer.

- Ian?

Ficou tenso por ouvir sua voz. Tomou ar e virou. Imediatamente, desejou não tê-lo feito. Brooke tinha posto sua camisa, mas tinha deixado desabotoada.

Gemeu sem querer. Não havia nada mais bonito do que Brooke nua ou meio nua.

Lutou para manter a compostura e para não pensar em como acabavam de fazer amor. Se o que queria era voltar a excitá-lo, era uma completa perda de tempo, porque já estava.

- Sim? O que quer?

Olhou Brooke nos olhos e se deu conta de ela queria que voltassem a fazer amor. Não ia poder resistir. Uma nova ereção voltava a crescer debaixo de suas calças.

- Me diga o que quer carinho, e seus desejos serão ordens para mim – Ian acrescentou.

Brooke conteve o fôlego e tentou lembra a última vez que ele a tinha chamado de carinho e não foi capaz, fazia muito tempo. Mas tinha chamado com a mesma naturalidade que no passado. E estava olhando para ela de um modo que a fazia desejá-lo ainda mais. Possivelmente ainda houvesse a esperança de que…

Afastou esse pensamento de sua mente. Possivelmente Ian continuasse a desejando, mas não a queria. Havia dito que seus desejos eram ordens para ele e tinha decidido que iria testá-lo.

- Quanto tempo o jantar vai demorar?

- Para quando você quer?

- A verdade é que não tenho pressa...

Ainda não havia terminado a frase quando ouviram o sino do elevador que anunciava que a comida já estava lá. Brooke parecia decepcionada.

- Não temos por que jantar agora mesmo. O jantar pode esperar.

Ela sorriu e se moveu de tal maneira que deixou descoberto muito mais que uma perna.

- Não se mova – Ian disse, se dirigindo ao elevador.

Brooke sorriu, mas não conseguiu ficar quieta ali. Ao entrar na habitação, ver todas as velas acesas e Ian de pé de frente para a janela, tinha tido que se controlar para não se aproximar dele e acariciar todo seu corpo, tirar sua calça e saborear sua pele como ele tinha feito antes com ela.

Suspirou e se esforçou por manter a calma. Olhou pela janela e tentou se concentrar nas montanhas.

Momento mais tarde viu Ian refletido no cristal. Seus olhares se encontraram e Brooke se sentiu tentada a virar.

Mas ficou quieta enquanto ele se aproximava e a abraçava por trás. Ela se deixou cair e apoiou a cabeça em seu peito. Sentiu a necessidade de voltar a se fundir com ele, não só em corpo, mas também em alma. Amava-o e nada poderia mudar isso.

- Brooke.

Pronunciou seu nome com voz sexy, e a beijou em um lugar de seu pescoço que a excitava. Logo sentiu como lambia seu rosto e detinha a língua justo debaixo de sua orelha.

- Me sinta - murmurou Ian.

E ela notou como ele cravava sua ereção em suas costas e suas mãos lhe acariciavam debaixo da camisa. Quando uma das mãos de Ian desceu até chegar à zona entre suas pernas, Brooke sentiu que voltava a arder de desejo.

- Tem certeza de que não quer jantar? – ele perguntou.

- Tenho – Brooke sussurrou quase incapaz de falar.

- Então, o que quer?

- Você. Ian, quero você – ela respondeu, virando e olhando-o nos olhos.

Ele a levantou em seus braços e a deixou na mesa de Black Jack. Depois, tirou as calças e lhe arrancou a camisa, que também foi parar ao chão. Ajudou Brooke a enrolar as pernas ao redor de seu corpo, e lhe disse:

- Eu também te desejo. Deixa eu te demonstrar quanto.

E antes que Brooke tivesse tempo de voltar a tomar ar, já a tinha penetrado e estava se movendo dentro dela com um ímpeto que beirava a obsessão.

Se alguém houvesse dito alguns dias antes que Brooke ia estar ali, em seu santuário privado, não teria acreditado. Não havia nenhuma explicação científica que pudesse explicar isso, embora nesse momento Ian não quisesse parar e raciocinar. Só queria pensar em fazer amor com Brooke em cima de sua mesa privada de Black Jack.

Era o que precisava nessa noite. Precisava dela.

Só queria se concentrar nas sensações que o invadiam cada vez que afundava em seu corpo. Segurando seus quadris cada vez com mais força para poder chegar mais profundo. Beijou-a intensamente e desfrutou de seus gemidos. Era a primeira vez que fazia amor com uma mulher em uma mesa de Black Jack e, em sua mente, era ele quem repartia a mão. Jogava com seu corpo e tinha uma rajada de sorte. Estava convencido de que ganharia a partida.

Quando deixou de beijá-la, olhou-a nos olhos e viu que ardiam de desejo por ele. E como se tivessem telepatia, Brooke sussurrou:

- Tenho um três e um cinco.

Ian sorriu. Colocou-a de maneira que pudesse penetrá-la mais profundamente, até deixá-la louca de desejo.

E o conseguiu.

Brooke gritou seu nome. As vibrações de seu corpo ricochetearam diretamente nele, que jogou a cabeça para trás e desfrutou do orgasmo de Brooke, sabendo que ele também não demoraria a consegui-lo. Quando chegou ao clímax, estremeceu e se esqueceu de tudo, salvo da mulher que estava fazendo amor.

Ela o agarrou por rosto e voltou a atraí-lo para seu corpo, beijando-o com paixão. Ian notou como voltava a se excitar. Quando teriam o suficiente? Era como se quisessem recuperar o tempo perdido, não importava. Naquela noite precisavam um do outro. Os dois eram ganhadores.

Se preocupariam com o futuro quando ele chegasse.

 

                                                       Capítulo Sete

- O que achou?

Brooke levantou a cabeça do prato, ruborizada. Se Ian estava perguntando pela comida, responderia que estava deliciosa. Se estava se referindo ao que tinham feito antes, não poderia descrever com palavras como havia sido maravilhoso. Acontecesse o que acontecesse quando voltasse para Washington, sempre recordaria de cada momento que tinha passado com ele no Rolling Cascade.

- Já sabe que eu gosto muito de comida tailandesa, e seu chef cozinhou estupendamente. E se está me perguntando por outra coisa… - disse muito devagar, provocando-o, enquanto levantava sua taça de vinho e dava um gole – Só posso dizer que foi como se eu tivesse tomado a sobremesa antes do prato principal.

- Me alegro de que tudo esteja ao seu gosto - respondeu ele, rindo.

Bebeu vinho e pensou em como Brooke estava sexy vestida só com sua camisa. Estava abotoada no fim.

O homem primitivo que havia nele queria abrir a blusa e desfrutar do reflexo da luz das velas em sua pele escura.

- Foi muito melhor que isso – ela comentou, reclamando sua atenção – Você se superou. Não acredito que voltarei a ser capaz de olhar uma mesa de Black Jack sem ficar ruborizada.

Ian estremeceu só de recordar. Ele não se ruborizaria ao ver uma mesa de Black Jack. Se excitaria. Observava como Brooke acariciava a taça de vinho e lembrava de como tinha acariciado ele. Mas sabia que tinha que deixar de pensar em voltar a fazer amor com ela, assim lhe perguntou:

- Quais os planos que tem para amanhã?

- Só sei que não vou às compras.

- Você gostaria de passar o dia comigo?

A pergunta a surpreendeu. Pensava que, depois dessa noite, Ian a evitaria para ver se conseguia virar a página de verdade. Olhou para ele pensativa enquanto apoiava o queixo nas mãos.

- Isto… depende. O que está pensando em fazer?

- Tenho uma reunião importante para verificar se a festa de aniversário de Delaney está indo bem. Depois, estarei livre para o que você quiser. Alguma sugestão?

- Em todo, jogar Black Jack, não.

- Se você disser…

- E se jogássemos golfe?

- Sabe jogar?

- Não – ela admitiu - Mas eu gostaria de aprender. Poderia me ensinar um pouco?

- É obvio.

- E eu adoraria voltar a mergulhar em sua piscina se não se importa.

Ian a estudou e lembrou a noite que ela havia ido se banhar.

- Não me importo, mas dessa vez, eu te acompanho.

Ela o olhou, sua resposta era exatamente a que tinha esperado. Depois, olhou para o relógio e ficou de pé.

- É tarde. Será melhor que eu me vista para partir.

- Fica esta noite comigo, Brooke.

Seu coração quase saiu do peito ao ouvir o convite, mas pensou rapidamente em todas as razões para não aceitar o convite. A principal razão era que se Ian descobrisse a verdadeira razão pela qual tinha ido ao Rolling Cascade, sentiria-se decepcionado.

- Não acredito que seja boa idéia, Ian. Supõe-se que isto era o final, lembra?

- Lembro. Mas nesse momento só posso pensar em celebrar a inauguração contigo.

- A inauguração?

- Sim, deixa eu te mostrar isso - disse, desabotoando a camisa que ela vestia e depois colocando as mãos por debaixo da camisa de Brooke acariciando seus mamilos.

- Precisar que eu explique isso? - perguntou Ian.

Os olhos de Brooke brilhavam de desejo e paixão, e quando Ian foi descendendo a mão até chegar a seu sexo, ela ficou com a respiração entrecortada.

- Não, as palavras não fazem falta.

Então entrelaçou as mãos ao redor de seu pescoço e o convidou a beijá-la, decidindo que encerrariam o que tinham pendente em outra noite.

- Perdão Margaret, o que estava dizendo?

Margaret Fields sorriu. Era evidente que seu chefe estava pensando em outra coisa. Aquela manhã não estava tão atento como de costume. Parecia preocupado. Ela se perguntou se seria a única a se dar conta disso.

- Que falei com a senhora Tara Westmoreland ontem e que ela me enviou o menu por fax. E já o passei para o restaurante.

- Quantas pessoas vão ser?

- Há trezentas reservas confirmadas.

Ian sabia que, além da família e dos amigos mais próximos, e devido à posição que Jamal ocupava nos círculos internacionais, também haveria alguns famosos.

- É possível que a Secretária de Estado venha. Confirmarão isso dentro de um dois dias – Margaret continuou.

- Dou por certo de que não teremos problemas de segurança – Ian disse, olhando para Vance.

- Sim - respondeu ele, sorrindo - Se a Secretária de Estado vier, entrarei em acordo com o Serviço Secreto para que ela possa desfrutar de sua estadia aqui.

Ian sabia que o príncipe xeque Jamal Ari Yasir também tinha reservado parte do complexo para alojar os convidados. Ian olhou o relógio.

- Certo. Mantenham-me informado de qualquer contratempo. Embora tudo pareça estar sob controle.

Ficou de pé. Tinha ficado com Brooke meia hora mais tarde e não queria fazer ela esperar.

- Isso é tudo. Parabéns a todos por trabalhar tão duro. Quero que todos façam o que estiver ao nosso alcance para que essa noite seja muito especial para a princesa do Tahran.

 

Brooke suspirou e olhou a seu redor. O campo de golfe exibia uma grama viçosa e a casa-clube era impressionante. A revista Golfe Digest o nomeava como um dos melhores campos, e a razão era evidente.

Ian havia lhe dito na noite anterior que as últimas fossas se encontravam perto do lago Tahoe, e uma das saídas estava instalada em um escarpado. Nada desmerecia o ambiente do campo. Salvo o homem que estava esperando.

Ian.

Brooke estremeceu só de pensar como havia sido maravilhoso despertar entre seus braços essa manhã. Fizeram amor uma vez mais, e depois ela tornou a adormecer. Ao despertar, aproximadamente uma hora mais tarde, ele já estava vestido e a observava da porta de seu quarto.

Olharam um para o outro durante o que pareceu a Brooke uma eternidade, até que Ian tirou a jaqueta com cuidado, aproximou-se dela e a abraçou e beijou como se sua vida dependesse disso. Depois de um beijo longo e intenso, partiu, prometendo se encontrar com ela as onze em ponto no clube de golfe.

Como Ian havia comentado que no clube de golfe do Rolling Cascade teria que respeitar as normas de roupas, Brooke havia passado por uma das lojas de golfe para comprar uma roupa adequada. Os vendedores haviam dito que as roupas para jogar golfe eram normalmente com cores fortes, e ela comprou uma camiseta preta e uma calça curta verde limão com prega. Também tinham sugerido que comprasse uma viseira para evitar que o sol batesse em seu rosto. Como havia chegado cedo ao clube de golfe, tinha entrado e alugado um par de sapatos.

Brooke virou e reconheceu à mulher que caminhava em sua direção. Havia esbarrado nela no dia anterior, quando tinha ido às compras. Brooke estava tão concentrada em um vestido de renda preto que havia na vitrine, que nem sequer a tinha visto.

- Olá, olá de novo - saudou Brooke, sorrindo.

A outra mulher a olhou, surpreendida, e agiu como se não a tivesse visto nunca, assim decidiu lhe refrescar a memória.

- Nos vimos ontem. Esbarrei em você em uma loja e fiz com que todos os pacotes que estavam em suas mãos caíssem e…

- Ah, sim. Agora me lembro. Sinto muito. Estava pensando em outra coisa – ela se desculpou. Era loira, atraente, e devia ter uns trinta anos - Olá. Sinto muito não ter te reconhecido.

- Não tem problema - respondeu ela - vai jogar golfe?

- Sim. Tinha marcado com meu marido no hall, mas cheguei tarde.

- Então não te atrasarei mais. Tenha um bom jogo.

- Obrigada.

Brooke franziu o cenho ao vê-la partir. Era como se a outra mulher não se lembrasse de seu encontro na loja.

- Oi, linda. Por que está de cenho franzido? Está a muito tempo me esperando?

Brooke virou e sorriu ao ver Ian dirigindo um carro de golfe.

- Não.

- Então por que está séria?

- Por nada. É que vi uma mulher que esbarrei ontem em uma loja e hoje parecia que ela não se lembrava de mim. Surpreendi-me, porque derrubei todos os pacotes que ela tinha nas mãos e teve que recolher tudo. Ontem pareceu muito faladora.

- O que! É impossível que alguém não se lembre de você – ele brincou - É inesquecível.

- Não seja tão lisonjeiro – ela riu enquanto atravessavam um arvoredo.

Mesmo assim, não pôde evitar se perguntar o que ele pensava de verdade. Teria tentado esquecê-la tanto como ela a ele? Também se perguntou se sempre seria assim, embora se lembrasse depois que em uma semana voltariam a se separar e seria difícil saber quando seus caminhos voltariam a se cruzar.

Como não gostava de pensar em tudo aquilo, Brooke dirigiu sua atenção à paisagem pelo qual foram passando.

Finalmente, Ian parou ao chegar a um escarpado que dava ao lago.

- E o que faço se a bola cair na água?

- Não pense que vou te mandar para procurá-la. Só vamos praticar, e se perder uma bola, pegaremos outra. Trouxe muitas.

Desceram do carro e Brooke esperou que Ian tirasse todo o que precisavam da parte traseira. Não pôde evitar notar como ele estava bonito com a roupa de golfe.

- Vamos. Com certeza te disse que para jogar golfe terá que andar muito? – Ian perguntou, lhe estendendo um taco. Logo ficou ao seu lado.

Brooke estava a ponto de lhe responder que não, e que se não se afastasse um pouco dela, não seria capaz de se concentrar. Mas não parecia que Ian estivesse afetado com contato de seu corpo.

Colocou os braços ao redor dela e sujeitou suas mãos para lhe ensinar como mover o taco.

- Lembre – ele sussurrou ao ouvido -, quando fizer um backszuing não mova o corpo mais devagar que o taco. E para fazer um dorunszuing, não o mova mais rápido que o taco.

Ensaiaram diferentes tacadas durante a hora seguinte, embora Brooke custasse a se concentrar com Ian colado em suas costas.

- Certo, quando começaremos a jogar com as bolas?

- Não devia me perguntar algo assim nesse momento – ele murmurou, atraindo-a contra seu corpo para que notasse como estava excitado.

Ela riu e se separou dele.

- Sinto muito. O que fazemos agora?

- Te beijar não seria má idéia - respondeu ele.

Estavam tão perto, que suas pernas nuas se roçavam. O contato era suficiente para que Brooke sentisse um calafrio percorrer todo o corpo, e saber que ele estava excitado piorava as coisas. Deixou-se invadir por seu aroma, e suspirou abrindo os lábios.

Isso era exatamente o que Ian estava esperando para beijá-la. Nunca tinha desejado mais um beijo e não era o momento de pensar com a cabeça.

Enquanto ensinava a Brooke as diferentes tacadas, o roçar do traseiro dela contra suas coxas quase o deixara louco. Naquele momento, se soubesse que não havia ninguém perto, a teria despido ali mesmo. Mas não podia arriscar que os surpreendessem, encontraria uma ocasião para estar a sós com ela mais tarde.

Agarrou Brooke pela cintura e continuou a beijá-la. Sabia que deveria ir devagar, mas seu sabor fazia com que quisesse mais.

Ouviram um carro e ambos se separaram rapidamente. Mas Ian não pôde resistir e a beijou outra vez.

- Ainda quer ir nadar? – ele perguntou, que precisava se refrescar.

- Sim, e você?

- Claro.

- Ian. Quando vai acabar de me ensinar a jogar?

- Não se preocupe - respondeu, sorrindo e tomando-a pela mão para levá-la até o carro.

- Posso te fazer uma pergunta, Ian?

- Claro.

- Já conseguiu me tirar da sua cabeça?

- Não, nesse momento está tão dentro que quase dói.

- Quer uma aspirina?

Ian parou e lhe acariciou o rosto com a palma da mão.

- Quem agora é o lisonjeiro? Não, não quero uma aspirina. Quero você, Brooke. E sabe o que me dá medo?

- Não.

- Jurei que se voltasse a te ver fugiria de você como da peste. Mas agora tenho a sensação de que não suportaria ter você longe.

- Acho que temos um problema.

Ian riu, embora, no fundo, a situação não parecia nada divertida.

- Sim, também acho. Venha. Vamos procurar algo para comer.

- Qual é o próximo esporte que quer praticar? – Ian perguntou enquanto dava um gole em seu refresco.

Estavam sentados no terraço de uma das cafeterias do complexo comendo cachorro quente e batata frita.

- Não tenho preferência, sempre quando não for um esporte com contato físico.

- Quer dizer que meu toque te incomoda?

- Não, não me incomoda exatamente.

- O que acontece então?

- Revoluciona meus hormônios.

- Explique.

Brooke ficou sem palavras. Como ele podia pedir isso? Estava certa de ele que sabia perfeitamente o que queria dizer. Mas se o que queria era que lhe desse detalhes, então ela faria.

- Cada vez que me toca, ou que nos roçamos, só posso pensar em coisas relativas a sexo.

- Quer dizer, que fica quente.

- Não, Ian, são os homens os que ficam quentes, nas mulheres há uma revolução nos hormônios.

- Ah, entendi.

Brooke não podia acreditar que estivessem tendo essa conversa enquanto comiam. Alguns dias antes só havia amargura e ressentimento entre eles. E nesse momento, tal como Ian havia admitido enquanto jogavam golfe, nenhum dos dois parecia querer acabar com aquilo.

- O que tem feito durante os últimos quatro anos? – Ian perguntou.

Brooke levantou uma sobrancelha. Não era tola. O que ele queria saber era o que não tinha feito. Seu corpo não podia fingir e Ian a conhecia melhor do que ninguém. Estava certa de que ele já havia se dado conta de que não tinha ido para a cama com nenhum outro homem.

- Trabalhar. Tive duas missões difíceis.

Ian assentiu. Nunca tinha gostado que ela arriscasse sua vida em cada missão. Mas teve que aceitar que esse era seu trabalho. Afina, quando a conheceu ela já era ajudante do xerife. E já a tinha visto em ação algumas vezes e era evidente que sabia se defender.

- Por quanto tempo mais vai trabalhar nisso? - perguntou.

Quando tinham falado de casamento, Brooke havia dito que trabalharia como agente até que decidissem formar uma família.

- Não estou certa. Ultimamente tenho pensado estou muito velha para continuar fazendo trabalho de campo. Já tenho cinco anos de trabalho e gostaria de deixá-lo antes de me queimar, como aconteceu com Der.

Ian ia responder quando se telefone celular soou.

- Perdão - desculpou-se enquanto procurava pelo telefone - Diga?

Momento depois se despedia de seu interlocutor.

- Sinto muito. Era o gerente do cassino. Precisa de mim imediatamente.

- Eu compreendo.

- Nos encontramos mais tarde para tomarmos um banho em minha piscina?

- Sim.

- Até voltarei a te dar de comer.

- É difícil resistir a um convite como este.

- Essa era minha intenção. Nos vemos por volta das cinco, certo?

- Perfeito.

- Bem.

Ian se inclinou para ela, e sussurrou ao seu ouvido:

- Leve uma bolsa com suas coisas e uma camisola para que eu possa te ajudar com seu problema de hormônios.

Deu meia volta e partiu. Brooke o observou até que ele desaparecesse de sua vista. Foi quando suspirou. Duvidava que ele pudesse ajudá-la com sua revolução hormonal. Certamente, pioraria as coisas.

Deu um gole em seu refresco e se fixou em outro casal que havia sentado no terraço. Era a mulher com quem tropeçou no dia anterior. Franziu o cenho. Havia algo nela que a incomodava, mas não sabia o que era.

Ian havia dito que Brooke era inesquecível, embora ela soubesse que não era verdade. Porém, não entendia como a mulher não a tinha reconhecido. Pouco depois, pensou que talvez fosse porque estava com o cabelo preso e uma boina. Tinha que ser isso. Mas havia algo mais.

Brooke chegou ao apartamento da cobertura de Ian dez minutos antes do horário que tinham marcado. Havia colocado um atrevido vestido de crochê de cor vermelho que deixava a mostra suas lindas pernas. Ian soube assim que a viu que tinha um problema.

- Humm. Estou surpreso que tenha chegado inteira até aqui - comentou, imaginando os outros homens teriam olhado para ela.

- Esqueceu como sei me defender? - disse ela, deixando uma bolsa de fim de semana a seus pés.

Não, não tinha esquecido e sempre a tinha admirado por isso. Voltou a olhá-la de cima abaixo.

- Pensei que fossemos nadar.

- Vamos nadar. Mas ainda tenho que colocar o biquíni. Vejo que você já está preparado.

Estava preparado em mais de um aspecto, Ian pensou, embora soubesse que ela se referia ao fato de que já estivesse com traje de banho.

- Sim, assim podemos tomar banho primeiro e depois desfrutar do jantar. Dentro de algumas horas trarão o jantar. Mas se quiser que jantemos antes…

- Não. Assim ficaremos com fome.

Ian sorriu. Faria todo o possível para que ela estivesse faminta em algumas horas.

- Deixa que ele leve sua bolsa.

Ao agarrá-la, se deu conta de que pesava muito.

- Já sabe que não sei viajar com poucas coisas – ela disse, sorrindo.

- O que faz quando sai para uma missão?

- Isso é diferente.

- Levarei suas coisas para o quarto. Pode se trocar lá se quiser. Se não quiser, pode utilizar a o quarto de hospedes.

- Me trocarei no seu quarto.

Ian se afastou para deixá-la passar, e sentiu como se excitava ao vê-la subir as escadas na frente dele.

Decidiu não subir atrás dela, para não perder o equilíbrio. Ao chegar em cima, Brooke se deu conta de que Ian não a seguia, e virou. Ian ainda estava no quarto degrau.

- Aconteceu alguma coisa?

- Nada. Só vamos ter que fazer algo com esse vestido.

Ela se apoiou no corrimão, e Ian se perguntou se ela sabia que de onde estava e com essa pose, podia ver por debaixo de seu vestido.

- O que sugere que façamos?

Ian piscou e a olhou nos olhos. Sua mente deu um branco.

- Que façamos com o que?

- Com meu vestido – ela riu.

- Podemos queimá-lo.

- Isso não. É de marca.

- Sério?

- Sim. Você não gostou?

- Eu gostei muito. Será melhor que coloque o biquíni antes que eu mude de opinião e queira fazer outra coisa melhor do que nadar.

Começou a subir as escadas. Quando chegou em cima, estendeu-lhe a bolsa de viagem.

- Será melhor que eu fique aqui senão…

- Senão o que?

- Não me importaria em fazer amor com você aqui mesmo, apoiada no corrimão.

Ian estava sonhando com ela desde que se despediram na cafeteria. Brooke sorriu e agarrou a bolsa.

- Vai ser uma tarde muito interessante.

- Não duvide.

Ian não podia esperar mais. Tinha que ir para a piscina para se refrescar. Ou isso, ou subiria para procurar Brooke. Mas sabia que assim não jantariam.

Pensou em Brooke no campo de golfe. Sempre havia aprendido rápido e o golfe não era uma exceção. Se praticasse um pouco, poderia se tornar uma boa jogadora.

E durante a refeição, tinha estado a ponto de beijá-la. A maneira como tinha posto o canudo de plástico em sua boca para beber o refresco tinha o deixado excitado.

Estava nadando na piscina quando ouviu sua voz.

- Não me esperou?

Virou-se e agradeceu por estar na parte que dava pé. Senão, teria se afogado. Brooke tinha colocado o menor biquíni que Ian já tinha visto em toda sua vida.

Ficou em pé e lhe estendeu a mão para ajudá-la a entrar na água.

- Vem aqui.

Brooke tragou saliva, ao se levantar Ian tinha deixado em evidência como estava excitado. Com tudo, se aproximou de onde ele estava e aceitou sua mão.

- Sabe que está brincando com fogo, Brooke? – ele perguntou quando ficaram tão perto que Brooke podia sentir sua ereção contra seu corpo.

- Não acredito - foi a única coisa que ela pode responder, já que seus olhos a tinham cativada.

- Pode acreditar. E já que está brincando com fogo, quero ver quanto é capaz de esquentar.

- Isso você já sabe, Ian.

Ele a tomou pela cintura e a aproximou ainda mais dele. Ian sorriu. Claro que sabia. Essa era uma das coisas que mais gostava em Brooke, sua capacidade para se deixar levar quando faziam amor. Quem já estava ardendo era ele. Nada havia mudado nesses quatro anos.

Brooke havia dito que seus hormônios estavam em revolução. Mas isso era porque não tinha tido vida sexual depois dele. Não precisava ser cientista para saber isso. Havia se dado conta disso na primeira vez que tinham feito amor. Qualquer que fosse a razão pela qual não havia ido para a cama com nenhum homem, ele tinha a intenção de fazer com que recuperasse o tempo perdido.

Nesse momento não podia pensar em tirá-la de sua vida para sempre. De repente, todo o sangue de seu cérebro estava em baixo da cintura. Naquela parte de seu corpo que mais a desejava.

- Pensei que fossemos nadar – Brooke murmurou quando viu que seria beijada.

- Depois.

Seus lábios a devoraram com todo o desejo que tinha contido desde que tinham feito amor pela última vez. Tinha sido naquela mesma manhã? Não era possível.

Como de costume, os lábios do Brooke tinham sabor de glória. Beijou-a com paixão, mas não foi suficiente. Sem separar seus lábios dos dela, desatou a parte de cima do biquíni. Só ficava a parte de baixo.

Separou-se dela, ajoelhou e começou a lhe abaixar as calcinhas enquanto lhe acariciava a parte interna das coxas. Depois ficou em pé.

- Ponha suas pernas ao redor da minha cintura, Brooke.

Quando o fez, ela a penetrou no mesmo instante em que colocava a língua dentro de sua boca. Assim enganchados, Ian se dirigiu até a beira da piscina. Nunca tinham feito amor em uma piscina. Ele tinha ouvido que a água era um lugar ideal para fazer amor e queria comprovar isso. Quando Brooke estava apoiada contra a parede, ele começou a se mover em seu interior.

Brooke fechou os olhos e desfrutou da intensidade das investidas de Ian. Agarrou-o pelos ombros e gemeu. Ian era um amante incrível, que sabia dar justamente o que mais precisava. O que queria. Alguns segundos antes de ter um orgasmo, Ian saiu dela e a pôs de costas para ele.

- Se apóie na beirada, carinho - sussurrou-lhe ao ouvido.

Agarrou-a pelos quadris e lhe separou as pernas, penetrando-a por trás. Ian a abraçou e beijou no ombro ao mesmo tempo.

- Está bem?

- Sim. Mas já sabe o que quero.

- Não. O que quer?

- Quero mais. E agora!

Ian suspirou e começou a se mover. Cada vez que a empurrava, fazia com que um calafrio lhe percorresse o corpo. Ela gemia cada vez que sentia os quadris de Ian se chocar contra seu corpo.

Brooke gritou ao mesmo tempo em que ele dizia seu nome e lhe agarrava os quadris com força. E quando se esvaziou em seu interior, o líquido quente a estimulou ainda mais e experimentou um segundo orgasmo.

Brooke ronronou como um gatinho que acabava de ser alimentado. Sabia que, quando se separassem, aquele momento seria dela e nada mais do que dela. Ninguém poderia tirar essas lembranças.

 

                                                     Capítulo Oito

Em vez de sua relação esfriar, Ian e ela se desejavam cada vez mais, Brooke pensou quase uma semana depois, enquanto passeava pela beira do lago à tarde. Todas as manhãs despertavam abraçados e ela estava passando mais tempo no apartamento da cobertura de Ian do que em seu próprio quarto.

Faziam quase tudo juntos. Tinham saído outra vez para navegar, haviam voltado a jogar golfe mais algumas vezes, Ian havia ensinado Brooke a jogar pôquer e uma noite tinham cozinhado juntos na cozinha do apartamento da cobertura.

Passeavam e conversavam sobre muitas coisas: o que pensavam sobre a situação econômica do país, da guerra e dos furacões, que cada vez eram mais fortes. Só não falavam era do que aconteceria quando ela partisse do cassino no domingo, três dias mais tarde. Brooke sabia que as coisas não voltariam a ser como antes. Por mais que estivessem bem nesse momento, não haveria uma segunda oportunidade. Sabia que Ian não confiaria nela como a princípio.

Durante os dois últimos dias, Ian havia estado muito ocupado com os preparativos da festa de Delaney. Tinha pedido a Brooke que fosse à festa com ele e havia dito que explicaria a sua família que não estavam juntos novamente, mas que tinham decidido serem amigos.

Amigos e nada mais.

Cortava o coração de Brooke, mas não podia fazer nada para mudar as coisas. Tinha acontecido o que ela havia imaginado que ocorreria. Tentando esquecer Ian, havia se apaixonado ainda mais por ele. Mas ele não a amava.

O som de seu telefone celular a tirou de seus pensamentos.

- Alô?

- Como vão as coisas, Brooke?

Surpreendeu-se ao ouvir a voz de Malcolm. Haviam combinado de que ela o ligaria caso tivesse algo para informar a ele. Partiria do Rolling Cascade em dois dias e, até esse momento, sabia apenas que Ian estava limpo.

- Esta tudo bem, Malcolm. Para que está me ligando?

- Me inteirei de algo que pode te interessar.

- O que?

- O príncipe Jamal Ari Yasir vai dar uma festa de aniversário para sua esposa, e vai dar de presente um cofre com diamantes no valor de mais de quinze milhões de dólares.

- Já sabia disso.

- Como conseguiu essa informação? Supõe-se que não sabe ninguém sabe disso.

- Ian me contou. Você sabe que a esposa do xeque é prima-irmã dele.

- E confia em você para contar isso?

Brooke pensou no que Malcolm estava perguntando. Sim, Ian confiava nela o suficiente.

- Não deve parecer importante para ele. Sabe que não vou contar isso por aí. O que isso tem a ver conosco?

- Nos informaram que é possível que haja um roubo no Rolling Cascade este fim de semana. E o objetivo são os diamantes.

- Ian tem uma equipe de segurança excelente. Eu os vu trabalhando. Além disso, as jóias chegaram esta manhã e estão em um cofre vigiado por vídeo vinte e quatro horas ao dia.

- Sei, mas estes ladrões são profissionais. Dizem que se trata da Banda do Waterloo.

- Tem certeza? – Brooke perguntou, tragando saliva.

A banda estava especializada em roubo de obras de arte e jóias. Era um grupo com muita mobilidade, que ia de cidade em cidade e de país em país. O FBI estava a anos atrás de suas pistas. Em seu último golpe, no começo deste mesmo ano, tinham saqueado uma joalheria de São Francisco e levaram mais de dez milhões de dólares em jóias. Seis meses antes tinham roubado um museu em um valor de trinta milhões.

- Não posso te dar certeza de que a informação esteja certa. Mas não queremos nos arriscar. Apesar de o príncipe Yasir estar casado com uma americana, ele ainda é considerado um aliado muito importante para nosso país, e não queremos que as relações esfriem.

- Imagino que não gostaria que roubassem o presente de aniversário de sua esposa.

- Não viu nada estranho?

- Na verdade não. Há psicopatas, adúlteros e gente com dupla personalidade - comentou, pensando na mulher com quem tinha tropeçado na semana anterior. Havia tornado a vê-la, e alguns dias estava muito mais simpática que em outros - O normal em um cassino.

- Bom, me informe se vir algo. O motivo pela qual esta banda tem tanto êxito é que sua gente está acostumada chegar ao lugar do roubo muito antes de dar o golpe, para estudar o lugar.

- Vai informar Ian sobre isso?

- Não até que saibamos se a informação é certa.

- Isso não está certo, Malcolm – ela comentou, franzindo o cenho - Pode ser que seja muito tarde. Ele também tem que tomar precauções. Não me peça para não contar a ele.

Fez-se um silêncio e Brooke esperou que seu chefe lhe proibisse de contar a Ian. Ia dizer de todas as maneiras. Se a despedissem por isso, correria o risco.

- Quero que saiba que deram o Caso Waterloo para Walter Thurgood.

- Por quê?

- Porque se nosso informante tem razão e ele conseguir pegá-los, isso lhe daria muitos pontos. Alguém lá de cima quer que Thurgood fique bem nas coisas.

- Sim, como se não soubéssemos quem é – Brooke comentou com sarcasmo - Sinceramente, a única coisa que me importa é que Ian saiba o que pode acontecer.

- Me ligue se souber de algo. Mas lembre que não temos certeza de que o roubo irá acontecer.

- Certo.

Ian sorriu enquanto falava por telefone. Sempre havia gostado de conversar com sua mãe. Sarah Westmoreland estava feliz por já ter casado dois de seus filhos, e estava empenhada em casar o resto mais cedo ou mais tarde.

E naquele dia estava encantada. Durango havia dito que era possível que Savannah estivesse grávida de gêmeos.

Ian sacudiu a cabeça. Não conseguia se acostumar ao fato de que Durango estivesse casado e, muito menos, que fosse ser pai, mas isso demonstrava que algumas coisas eram inevitáveis.

Como o que estava acontecendo entre Brooke e ele.

Aproximou-se da janela e observou o lago Tahoe, que estava mais bonito do que nunca. Ou possivelmente parecia para ele, que estava de muito bom humor. Graças a Brooke.

Ao passar tanto tempo com ela, se deu conta de que o que faltava em sua vida era o que tinha tido quatro anos antes. Mas naquele momento, ao despertar ao seu lado, olhar em seus olhos e desfrutar de seu sorriso, sentia-se feliz. Os momentos que haviam passados juntos ao longo da última semana e meia haviam sido maravilhosos. E só de pensar nas noites que tinham compartilhado, o ar lhe faltava.

Durante os últimos anos havia tentado esquecer e substituir Brooke com outras mulheres. Mas não havia conseguido desejar outra mulher e, é obvio, nenhuma havia conseguido conquistar seu coração. Não era possível que Brooke fosse partir em três dias. Queria esquecer o que os tinha separado no passado e seguir desfrutando do presente.

Sorriu mais ao pensar que nessa mesma noite confessaria a Brooke o que sentia. Amava-a e sempre a amaria. Não contava que voltaria a se apaixonar por ela outra vez e, se fosse honesto consigo mesmo, tinha que admitir que, na verdade, nunca havia deixado de querê-la. Como tinha podido querer se esquecer dela? O que queria realmente era que fizesse parte de sua vida para sempre.

Dirigiu-se ao telefone. Queria que aquela noite fosse inesquecível para ela.

- Brooke?

Ela ia em direção ao escritório de Ian quando ouviu que alguém a chamava. Cruzou o hall para abraçar Tara Westmoreland.

- Tara, quando você chegou?

- Faz algumas horas. Jamal pediu que fiscalizasse os preparativos da festa de Delaney, e pensei que seria melhor chegar com alguns dias de antecipação. Ian está com Thorm, mostrando algumas melhorias, e eu resolvi dar uma volta. Mas o que você faz aqui? Também decidiu vir alguns dias antes da festa?

- Não. Estou aqui faz uma semana e meia. Estou de férias.

- Humm.

- Não é o que você esta pensando.

Tara sorriu e a agarrou pela mão.

- Vem. Vamos ter uma conversa entre mulheres.

- Um daiquiri virgem de morango – Tara pediu a garçonete.

- O mesmo para mim – Brooke acrescentou - Como vocês vão surpreender Delaney?

- Jamal vai trazê-la diretamente de Tahran. Ela pensa que vem para uma reunião com Ian, Thorm, Spencer e Jared, assim não suspeitará quando nos vir aqui. Também pensa que depois Jamal vai levá-la à França para celebrar seu aniversário.

Fez uma pausa quando a garçonete levou as bebidas.

- A maior parte da família e dos outros convidados chegará no dia da festa, ou um dia antes. Jamal terá que mantê-la ocupada para que não os veja – Tara continuou - O bom é que todos vão estar alojados na outra parte do complexo, assim haverá menos possibilidades de Delaney os encontrar.

- E quando ela vai chegar?

- Amanhã.

- Não acha que ela suspeitara se eu for?

- Não – Tara negou, sorrindo - Dará por certo, igual ao resto, que você e Ian fizeram as pazes e voltaram a ficar juntos. É isso, não é Brooke?

Brooke teria gostado de responder que sim. Mas não podia.

- Não. Decidimos que voltaríamos a ser amigos. Acho que é o correto. Eu sinto muito carinho por Ian.

- Claro que sim. Ainda está apaixonada por ele - riu Tara.

- Eu minto tão mal assim? – Brooke perguntou, ruborizada.

- Eu também estou apaixonada por um Westmoreland. E uma vez que se apaixona por eles, é difícil esquecê-los.

Brooke estava de acordo com ela. Em quatro anos não havia conseguido deixar de querê-lo.

- E o que acha que eu devo fazer?

- Eu gostaria de poder te ajudar – Tara disse - Todos sabemos que Ian é um homem inteligente. Mas, infelizmente, tem uma tendência de analisar muito as coisas. Com tudo, estou certa de que se o pensar bem, ele vai se dar conta de que você é a melhor coisa que aconteceu em toda sua vida.

Brooke tinha a esperança de que Tara tivesse razão. Mas havia muitas coisas que ele não sabia, como a verdadeira razão pela qual tinha ido ao Rolling Cascade. Se Ian não conseguia esquecer o que tinha ocorrido quatro anos antes, como se sentiria se soubesse que havia mentido a respeito da verdadeira razão de sua viagem?

- Não olhe, mas chegaram nossos dois homens – Tara anunciou - Estou certa de que podem nos cheirar. É impossível se esconder deles.

Brooke olhou e seus olhos cruzaram com os de Ian. Seu pulso acelerou tanto que sua mão começou a tremer e teve que deixar a taça em cima da mesa para que não caísse.

Ficou surpresa por ser Thorm quem a fizesse se levantar da cadeira para lhe dar um abraço. Thorm, que normalmente era o mais áspero de todos os Westmoreland, tinha mudado muito. Parecia que o casamento tinha lhe caído muito bem. Brooke lembrou que no casamento de Der a relação entre Thorm e Tara não era melhor que a sua com Ian. Alguns meses mais tarde, Delaney ligou para Brooke e havia lhe contado que Thorm e Tara iriam se casar. Tinham-na convidado para o casamento, mas para não incomodar Ian, havia dito que não poderia ir.

- Tara já te deu a notícia? – Thorm perguntou a Brooke.

- Não, que boa notícia é essa?

- Que vamos ter um bebê.

Brooke deu um forte abraço em Tara.

- Parabéns. Não sabia.

- Ficamos sabendo faz apenas alguns dias, ainda não contamos pra ninguém – Tara lhe explicou, sorrindo.

- É maravilhoso. Temos que celebrar, não acha Ian? – Brooke sugeriu, olhando-o.

- Sim, mas não pode ser nesta noite, já tenho planos para o jantar.

- Oh - Brooke ficou surpresa.

- Vá até a estufa as seis.

- Certo.

- Odeio correr, mas tenho uma reunião as quatro – Ian anunciou, olhando o relógio.

Brooke sabia que deveria lhe contar sobre sua conversa com Malcolm.

- Ian, posso falar com você um minuto?

- Agora estou com muita pressa, céu. Mas logo poderemos nos falar. Prometo.

E partiu.

Brooke se olhou de cima abaixo enquanto subia no elevador privado de Ian. Vestia calça cor chocolate e uma camisa bege de manga curta. Apesar de Ian ter dito que era um jantar especial, não havia lhe dito que deveria se arrumar muito. Ela deu por certo que estariam a sós e imaginou que não haveria problemas se fosse com roupa informal.

Parecia que o elevador subia mais rápido que nos outros dias. Antes que tivesse tempo de tomar ar, já estava na estufa.

A porta se abriu automaticamente e lá estava ele, esperando-a. De repente Brooke sentiu calor. Ian deu um passo à frente e ela viu que atrás dele havia uma mesa com velas para duas pessoas.

- Espero não ter chego muito cedo.

- Estou encantado em ter você aqui – ele disse, lhe dando um beijo de boas-vindas.

Naquele momento, nada importava, nem sequer o fato de que talvez naquela noite Ian quisesse se despedir dela antes que a festa de Delaney o absorvesse por completo. Se essa era a intenção, Brooke não se importava. Não se arrependia do tempo que tinha passado com ele durante esses dias.

Ian separou os lábios dos dela, mas continuou abraçando-a.

- Acho que naquela noite nos beijamos sob uma estrela fugaz - comentou em voz baixa – Pois só houve paixão entre nós.

Ela sorriu, pensando em todos os momentos que tinham acontecido desde aquela noite. Estava de acordo com ele.

- Sempre houve muita paixão entre nós, Ian - recordou-lhe.

- Sim, sempre foi assim. Sabe que por sua culpa não sou capaz de ficar com nenhuma outra mulher?

- Sério?

- Sim. Tentei esquecer você, Brooke. Mas não pude.

Ela suspirou. Não era a despedida que ela tinha imaginado. Era mais uma confissão. Decidiu fazer o mesmo que ele.

- Eu nem sequer tentei te esquecer, Ian. Não teria servido de nada. Você foi meu primeiro amante, e as garotas nunca esquecem o primeiro.

- Céus, acho que fui o primeiro e que sou o único. Vais negar?

- Não. Não podia suportar a idéia de que outro homem me tocasse.

Ian a abraçou. Comovido por ouvi-la admitir semelhante coisa.

- Ian?

- Sim?

- Não entendo por que estamos falando disto - admitiu, confusa.

- Vamos jantar. Logo te explicarei tudo.

- Certo. Mas tenho que te contar algo.

Ele voltou a se aproximar dela e lhe deu outro beijo.

- Depois do jantar.

Ian a acompanhou à mesa e a ajudou a sentar-se.

- Quer vinho?

- Sim, por favor.

- Pedi ao chef que preparasse algo especial para esta noite.

- O que?

- Já vai ver - ele respondeu, rindo. Nesse momento soou o timbre do elevador – O jantar já chegou.

Meia hora depois, Brooke estava convencida de que não havia nada mais romântico que jantar sob o céu estrelado, em especial, em companhia de Ian Westmoreland. O jantar estava delicioso. Rolinhos de levedura que se desfaziam na boca, um file à brasa, batatas assadas, brócolis e a salada mais fresca que tinha provado em toda sua vida. Para terminar, sua sobremesa favorita: bolo de queijo com geléia de morango.

Durante o jantar, Ian dividiu com ela seu sonho de abrir outro cassino nas Bahamas. Também mencionou a conversa que havia tido com sua mãe e como ela estava contente com a idéia de que Durango tivesse gêmeos.

- Não posso imaginar Durango casado – Brooke disse.

O irmão de Ian havia sido o homem mais paquerador que ela tinha conhecido. Mas também era muito agradável, e Brooke gostava dele.

- Muito menos eu podia acreditar no princípio. Mas entenderá quando conhecer Savannah. Se casaram porque ela estava grávida, mas agora tenho certeza de que Durango a quer. Parece que outro solteiro da família se cansou.

-Sim, parece.

Brooke baixou a cabeça para beber um pouco de vinho e evitar olhar para Ian nos olhos. Tinha o surpreendido olhando-a fixamente em várias ocasiões.

Quando terminaram de jantar ele se levantou da mesa e colocou uma música, um tema lento, instrumental, de Milhares Davis. Logo foi para onde ela estava e lhe ofereceu a mão.

- Dança comigo, Brooke?

Brooke suspirou e se perguntou aonde queria ir parar. A idéia de que Ian tivesse preparado tudo aquilo como despedida a inquietava. Quando ele a abraçou, ela apoiou a cabeça em seu peito e lutou por reprimir as lágrimas. Ainda não tinha terminado a canção quando Brooke se separou dele, não podia suportar mais.

- Brooke? O que aconteceu?

- Sinto muito, Ian, mas não agüento mais. Não tinha que te se incomodado em preparar tudo isto. Diz o que tem que me dizer e partirei.

Ian teve a sensação de que, o que ele queria lhe dizer não era exatamente o que ela esperava.

- O que acha que eu vou te dizer, Brooke?

- O típico. Adeus. Sayonara. Arrivederci. Au revoir. Pode escolher. Todas significam a mesma coisa.

- E se eu te disser, J'e t'aime. Kimi ou ao shiteru. Nakupenda. Amo-te. Também ouvi Ana dizer em árabe para Jamal, behibek.

Agarrou Brooke pelo queixo para obrigá-la a olhar em seus olhos, e acrescentou:

- Digo isso de verdade, Brooke. Nunca deixei de te querer, embora seja certo que tentei. Mas não pude. Depois de passar estes últimos dias com você, me dei conta do você significa para mim. Vivi sem você durante os últimos quatro anos, mas isso é tudo. O dia que entrou em meu escritório e voltei a sentir seu perfume, soube que tinha sentido sua falta, e nesta mesma manhã, quando por fim decidi admitir como você é importante em minha vida, decidi que não deixaria você partir novamente.

Brooke teve a sensação de que seu coração ia sair do peito, porque sabia que se Ian soubesse da verdadeira razão de sua visita, mudaria imediatamente de opinião. Tinha que contar tudo a ele.

- Ian, tenho que te contar algo.

- Parece sério, mas nesse momento só quero ouvir que você também me quer.

- Oh, Ian. Claro que eu te quero. Eu nunca deixei de te querer.

- Isso é o mais importante para mim.

Aproximou-se mais dela e lhe deu um beijo que fez com que Brooke se esquecesse de todo o resto.

Quando Brooke despertou na manhã seguinte na cama de Ian, ele já havia partido. Fizeram amor sob as estrelas e depois tinham descido para seu apartamento para voltar a fazer amor na cama.

Se descobriu, tinha que encontrá-lo imediatamente e lhe contar o que estava acontecendo. Quanto antes soubesse, melhor. Meia hora depois, encontrou com Vance no vestíbulo.

- Oi! - exclamou ele, agarrando-a - Aonde vai tão depressa?

- Onde está Ian, Vance?

- Está com Jared e Der, chegaram com suas esposas nessa manhã. Aconteceu alguma coisa, Brooke?

- Espero que não, mas terá que tomar todas as precauções.

- Certo. Quer me contar isso?

- Sim, mas antes eu tenho que encontrar o Ian.

- Isso não é um problema – ele disse, tirando o telefone celular do bolso de sua jaqueta - Ian? Precisamos de você. Brooke e eu vamos para seu escritório. Vemos-nos lá.

Vance desligou e voltou a guardar o telefone na jaqueta, sorriu e agarrou o braço de Brooke amavelmente.

- Vem. Ian vai para lá.

Ian chegou alguns minutos depois deles. Entrou no escritório com Der. Der Westmoreland era alto e muito bonito, como os outros homens Westmoreland. Em outras circunstâncias, Brooke teria ficado muito contente ao ver seu mentor, mas nesse instante teria preferido não ter público quando dissesse a Ian tudo o que tinha que lhe dizer, incluindo a razão pela qual tinha ido até lá para passar duas semanas. Pensou rapidamente que o melhor seria omitir essa parte no momento. Contaria depois. Mas tinha que lhe contar sua conversa com Malcolm.

Der a abraçou carinhosamente. Quando se separou dela, foi Ian quem a tomou em seus braços.

- Brooke, o que aconteceu? Está bem?

- Sim – ela respondeu, sorrindo-, mas ontem fiquei sabendo de algo e tenho que te contar isso Eu tentei ontem à noite, mas…

- Certo, quer me contar isso agora? Ou é particular, entre nós dois?

- Não, de fato, Vance tem que estar informado e é possível que Der possa nos ajudar com sua experiência.

- Parece importante - disse Ian, franzindo o cenho.

- Possivelmente será.

- Então, nos conte o que é.

Durante os vinte minutos seguintes, Brooke repetiu sua conversa com Malcolm e Der e Vance a foram interrompendo com suas perguntas. Ambos conheciam a banda do Waterloo.

- O que você acha? – Ian perguntou a Vance.

- Que deveríamos fazer o que Brooke está dizendo e tomar certas precauções.

- Estou de acordo – Ian admitiu, e logo olhou para Brooke - Segundo o que nos contou, esta banda está acostumada a chegar ao lugar do roubo com antecipação, verdade?

- Sim.

- Isso quer dizer que é provável que já estejam aqui.

- É mais que provável - acrescentou Brooke - Mas tem que pensar que não é uma informação constatada. O departamento ainda está investigando sua veracidade.

- Nesse caso, quem te deu autoridade para compartilhar a informação com Ian? –Der perguntou.

Brooke olhou Der nos olhos. Sabia o que ele estava perguntando e por que.

- Ninguém Der, mas senti que Ian tinha que saber sobre isso. Inclusive se não for verdade, é melhor que esteja preparado.

- E se for verdade – Vance comentou, zangado – estaremos esperando eles.

- Teremos que nos preparar. Vamos à sala de segurança - disse Ian - Quero falar um momento com Brooke, vão vocês dois na frente.

Quando Vance e Der partiram, Ian se apoiou em uma quina de sua mesa. Suspirou e olhou para Brooke fixamente.

- Vejo que você esta muito nervosa. Há algo mais que queira me contar? Está me ocultando algo.

Brooke suspirou. Tinha chegado a hora da verdade.

- Sim, não lhe queria dizer isso na frente de Vance e Der.

- O que aconteceu?

- Vim passar duas semanas no cassino por outra razão.

- Não veio descansar?

- Não.

- Veio seguindo à banda do Waterloo?

- Não, não tem nada a ver com isso - admitiu, aproximando-se da janela e tentado manter a compostura.

- A que veio então?

- Por você. Me pediram para comprovar que estava limpo. Mas nunca…

- O que? Está dizendo que veio me espionar e que todas as noites que passamos juntos não eram nada mais do que trabalho para você? Só fui mais uma missão?

- Não! Eu não disse isso! Como pode pensar uma coisa dessas? Na verdade não era uma missão oficial e…

- Não quero ouvir mais nada! – Ian exclamou, zangado.

- Ian, por favor, deixa eu te explicar isso - ela pediu, lhe agarrando a mão.

- Não. Não tem nada a me explicar. Já disse tudo.

 

                                                 Capítulo Nove

Vance e Der olharam para Brooke quando esta entrou na sala de segurança.

- Onde está Ian? – Vance perguntou.

- Não sei. Ele saiu do escritório alguns minutos antes de mim.

- Pedi para meus homens colocarem as fitas do cofre para ver se houve alguém que passou perto de lá com freqüência – Vance explicou a Brooke.

Logo ele se virou para o homem que estava sentado diante de uma tela, e lhe pediu:

- Mostre o que tem Bob.

Antes que Bob pudesse fazer alguma coisa, Ian apareceu. Todos olharam para ele, mas ninguém disse nada. Era evidente que não estava de bom humor. Vance lhe explicou o que iriam fazer.

- Vá em frente, Bob.

Viram meia hora de gravação, durante a qual nada chamou a atenção. Em um determinado momento, Brooke virou-se para Ian e o surpreendeu olhando-a. Sua expressão quase rompeu seu coração. Tinha jogado fora todos os progressos que haviam feito nessa semana e meia.

- Para um momento – Vance disse a Bob, chamando a atenção de Brooke - Aproxime a imagem.

Na tela apareceu uma mulher ruiva. Vance encolheu os ombros, e disse:

- Certo, continue. Por um instante pensei que ela me lembrava alguém.

Brooke ficou em pé e olhou para a mulher mais de perto.

- Espera um momento.

- O que? – Der perguntou.

- Tenho um pressentimento.

- Isso quer dizer que possivelmente temos algo – Der disse, rindo.

- Podemos dar uma olhada no cassino? – Brooke pediu.

Vance assentiu e Bob mudou de tela, viram então as pessoas que estavam jogando no cassino. Der voltou a rir.

- Minha mulher está gastando mais do que o normal - comentou quando Shelly Westmoreland apareceu na tela.

- Pode nos dizer o que estamos procurando? – Ian perguntou.

- Lembra que mencionei que na semana passada tinha esbarrado em uma mulher em uma loja e que no dia seguinte ela não se lembrava de mim?

- O que tem ela? – Ian inquiriu.

- Me chamou a atenção que cada vez que eu me encontrava com ela no cassino agia de uma maneira diferente. Sempre me deu más vibrações. Era como se tivesse dupla personalidade.

- Possivelmente não estava tendo um bom dia quando lhe encontrou - comentou Der.

- É possível. Mas há mais coisas, embora não sei muito bem o que. No primeiro dia que a vi, quando esbarrei nela, disse-me que não tinha problema por ter derrubado suas coisas, estava indo não sei aonde, mas que sempre chegava cedo e estava bem adianta. Na outra vez, quando a vi no campo de golfe, comentou que estava atrasada.

Brooke voltou a observar o monitor.

- Aí está. A loira que está ao lado desse homem alto de cabelo comprido. Supõe-se que é seu marido.

Todos olharam o monitor com curiosidade.

- Quero saber quem são, Bob – Vance pediu.

Momento depois aparecia na tela a informação. A mulher era Kasha Felder, e o homem, Jeremy Felder. Viviam em Londres. Não tinham antecedentes.

- Agora faça o mesmo com a mulher ruiva.

- Que estranho – Bob comentou - Não aparece seu perfil. É como se não existisse.

Brooke assentiu e olhou para Vance. Ele soube imediatamente o que queria.

- Compare os rostos das duas mulheres - ordenou Vance.

Momentos depois todos se deram conta de que, apesar da cor de cabelo não ser a mesma, a estrutura facial era idêntica. A mulher era na verdade loira, e na outra fita estava com uma peruca ruiva.

- É a mesma? – Ian perguntou, colocando-se ao lado de Brooke.

- Acho que não - disse Brooke.

- São gêmeas?

- Pode ser, o que explicaria a dupla personalidade. Mas tenho a sensação de que há algo mais. Podemos ver as fitas do cofre da semana passada?

- É obvio - assentiu Vance.

Brooke riu. Quase podia sentir a adrenalina correndo pelas veias do chefe da segurança.

- O que estamos procurando exatamente? – Ian perguntou.

Brooke levantou a cabeça para olhá-lo e seu pulso acelerou.

- Uma terceira mulher.

- Trigêmeas? – Der perguntou.

- É possível. Estas duas usam um bracelete no braço direito. Em um dos dias que a vi estava com o bracelete na mão esquerda.

Momento depois se dirigiu a Bob:

- Rebobine um segundo e paralise a imagem. Isso. A mulher morena, com cabelo encaracolado. Amplie a imagem.

Bob fez o que Brooke pediu e todos se deram conta de que era evidente que havia três mulheres diferentes com a mesma estrutura facial. As três eram loiras naturais. Trigêmeas.

- Maldita seja - disse Vance - Não é para menos que tenham êxito em suas operações. Trigêmeas. E não sabemos quem mais esta comprometido.

- Acha que podem ter um cúmplice no cassino? – Ian perguntou a Vance.

- É muito provável. Bob mostre as gravações dessas duas ultimas semanas. O que quero saber é se encontraram com algum de nossos empregados, embora pareça que é por acaso.

Encontraram a resposta três horas mais tarde. As trigêmeas morenas de cabelo encaracolado se encontraram duas vezes com Cassie, que trabalhava nos escritórios do cassino. Viram inclusive quando Cassie deu algo para uma delas.

- Parece que vimos o suficiente – Ian sentenciou, zangado.

- Sim - assentiu Vance - por agora. Vou procurar Cassie e lhe fazer algumas perguntas. Só tem vinte e três anos, e quando mencionar que vai para a cadeia com certeza acabara nos contando tudo.

- E depois? - perguntou Ian, lembrando de todas as vezes que a jovem tinha tentado se aproximar dele.

Vance sorriu. Era evidente que sua mente não parava de trabalhar e que estava analisando várias possibilidades.

- Depois faremos uma armadilha para a banda do Waterloo. Uma armadilha que os deixará fora de jogo para sempre.

Vance tinha razão, Cassie acabou confessando e explicou que tinha conhecido um homem no cassino, um tal Mark Saints, um britânico que queria ficar com ela. Havia subido até seu quarto uma noite e tinham se drogado. Enquanto ela estava inconsciente, ele havia gravado um vídeo que utilizou para chantageá-la e obrigá-la a fazer o que ele queria: dar informações a respeito das jóias e do lugar onde estava o cofre.

Cassie não sabia de muita coisa, não tinha nem idéia de como iriam dar o golpe. Mas mencionou que Mark e uma mulher que dizia ser sua irmã estavam especialmente interessados pelo sistema de segurança e pela localização das câmaras de vídeo.

Brooke saiu da sala de segurança no final da tarde. Não era capaz de continuar suportando o desdém de Ian. Caminhava pelo hall quando ouviu que a chamavam. Sorriu ao ver Tara, Shelly e a outra mulher que não conhecia. A apresentaram, era Dana, a esposa de Jared, outro irmão de Ian. Brooke gostou dela imediatamente.

- Quer jantar conosco? – Shelly perguntou, sorrindo - Nossos maridos nos abandonaram para jogar pôquer e irão para o apartamento da cobertura de Ian para ver mais tolices que podem fazer.

- É obvio - acessou Brooke.

Nos últimos dias tinha jantado com Ian, mas tinha a sensação de que naquela tarde, ele não iria querer sua companhia.

- Delaney já chegou? - acrescentou.

- Sim - Tara riu - Chegaram ao meio-dia.

- E continua sem se preocupar que ela possa se encontrar com alguém?

- Não. Ordenaram a Jamal que mantenha sua esposa ocupada durante os próximos dois dias, e estou certa de que ele conseguirá. Delaney vai passar muito tempo em seu quarto… não sei se sabe a que me refiro.

Brooke sacudiu a cabeça, sorrindo. Imaginava o que Tara queria dizer.

- Não está grávida?

- Sim, mas acredite em mim, isso não é um obstáculo. Depois de cinco anos de casamento a atração entre Delaney e seu xeque continua sendo tão forte que Jamal não terá nenhum trabalho em mantê-la ocupada durante quarenta e oito horas.

Brooke desfrutou do jantar com as outras três mulheres. Depois, visitaram várias lojas juntas, especialmente a de lingerie que havia no vestíbulo. Decidiram que iriam se deitar cedo, assim que cada uma se dirigiu para seu quarto antes das nove da noite.

Brooke tomou banho no jacuzzi e vestiu uma camisola.

Haviam feito uma armadilha para a banda do Waterloo para surpreendê-los com as mãos na massa.

Brooke havia tomado a decisão de que quando apanhassem aos ladrões, partiria. Não iria à festa de aniversário de Delaney. Apesar de ser a acompanhante de Ian, imaginava que ele não iria gostar que o acompanhasse.

Uma vez na cama, não pôde conter as lágrimas por muito tempo. Se ao menos Ian a tivesse deixado se explicar. Havia decepcionado Ian novamente. Ele não confiava nela e, sem confiança, não podia haver amor.

- Ei, Ian. Quer jogar Black Jack conosco?

Ian continuou olhando pela janela de seu apartamento de cobertura. Fechou os olhos e lembrou a noite em que havia feito amor com Brooke na mesma mesa de Black Jack em que Jared, Der e Thorm estavam sentados.

- Ian?

Jared parecia preocupado com ele. Era o irmão mais velho, e se sentia responsável por seus irmãos mais novos, apesar de que todos tivessem mais de trinta anos.

- Joguem sem mim – ele respondeu, dando a volta.

Sorriu ao ver que os outros pareciam aliviados. Todos sabiam que Ian jogava Black Jack muito bem.

- Repartam enquanto falo por um momento com Ian – Der disse aos outros dois.

Ian olhou para o teto. Der era o maior de todos, e também se sentia responsável por seus irmãos e primos pequenos. Levava tão a sério que às vezes era um verdadeiro chato.

- Temos que conversar - disse a Ian.

- Se for sobre Brooke, não temos nada de que falar - replicou ele.

- Claro que temos. Vamos a algum lugar onde possamos estar sozinhos.

Der o seguiu até uma sala que Ian utilizava como um pequeno escritório e fechou a porta. Ian se sentou atrás da mesa, enquanto que Der ficava em pé, com as mãos na cintura e cara de poucos amigos.

- Diga o que tem pra me dizer, Der, para que possamos acabar com isto o mais rápido possível.

- Para um homem tão inteligente como você, não estas atuando de maneira muito brilhante.

- Por quê? Porque não quero que a mesma mulher me quebre o coração duas vezes?

- Não, porque em ambas as ocasiões ela cuidou de você, mas você está cego e não se dá conta. Sei por que tudo acabou, mas se você tivesse deixado ela se explicar, saberia que se ela não tivesse vindo, viria um agente que teria tornado sua vida impossível. Embora Brooke soubesse que você não gostaria, veio porque confiava em você e sabia que não ia encontrar nenhuma ilegalidade.

- Ela te contou isso?

- Não, Vance me contou.

- Vance? E como ele sabe?

- Porque tem contatos no departamento. Não acreditou que ela estivesse aqui de férias e fez algumas ligações. Aproximou-se dela quando você estava de viagem, embora não tenha lhe contado isso. E, antes que me pergunte, direi que se Vance não lhe contou é isso porque não acredita que Brooke seja uma ameaça, especialmente depois do que ela lhe disse, que confiava cegamente em você.

Como Ian não disse nada, Der continuou:

- Não sei quantos homens podem presumir que uma mulher lhes seja tão leal. Mas você pode, Ian.

Sem dizer mais nenhuma palavra, Der deu meia volta e saiu da sala.

Ian ficou lá sentado, em silêncio, refletindo a respeito do que Der havia dito. Ficou em pé e começou a passear pela sala, recordando todos os momentos que tinha passado com Brooke desde que ela havia chegado ao Rolling Cascade. Sabia que Der tinha razão. Ela tinha ido lá para velar por seus interesses.

Esfregou o rosto. Por que o amor tinha que ser tão complicado? E por que ele era tão propenso a deixar que suas emoções nublassem sua razão no que se referia a Brooke? Possivelmente porque a queria muito. Também, porque tinha medo de expor seu coração. Mas tinha que fazer isso. Sabia que tinha que fazer. Tinha que passar por cima de seu orgulho e se deixar vencer.

Sentiu necessidade de ver Brooke imediatamente. Nesse preciso momento seu telefone celular soou.

- Diga?

- É o Vance. Parece que vão dar o golpe antes do que estávamos pensando.

- Está tudo preparado?

- Ao pé da letra. Será como ver um filme. E reservei a primeira fila para você.

- Vou para aí.

Saiu do escritório e olhou para Der.

- Parece que as trigêmeas já vão começar o espetáculo. Venham.

 

                                                         Capítulo Dez

Ian fixou o olhar em Brooke ao entrar na sala de segurança ao lado de Der. Queria se aproximar dela, pedir que o perdoasse e dizer quanto a amava, mas sabia que não era nem o momento nem o lugar adequado.

Mesmo assim, não pôde evitar estudá-la. Ainda não eram onze da noite, mas dava a impressão de que a tinham levantado da cama. Parecia sonolenta, embora Ian soubesse que, dadas as circunstâncias, estava alerta.

Como sabia que se continuasse a observá-la acabaria atravessando a sala para lhe dar um beijo, lutou contra a tentação e se virou para Vance.

- O que temos?

- Fizeram exatamente o que esperávamos que fizessem – ele explicou, rindo. - Congelaram a imagem dos monitores de tal forma que meus homens estão vendo as imagens de três horas atrás. Elas não sabem que instalamos mais câmaras e que podemos ver tudo que está acontecendo na verdade. Dê uma olhada.

Ian se aproximou do monitor. Viu duas figuras vestidas de preto que se aproximavam do cofre.

- Onde estão a terceira mulher e o homem?

- No cassino - respondeu Brooke, apontando outro monitor e evitando olhar para Ian.

- Estão estabelecendo um álibi – ela explicou – Estão há uma hora percorrendo todas as mesas e jogando Black Jack, Pôquer, falando com os empregados do cassino e fazendo todo o possível por serem notados. Seu álibi será que é impossível estar em dois lugares diferentes ao mesmo tempo.

- É possível, quando se tem trigêmeas idênticas – Der comentou, franzindo o cenho - Mas ele acham que ninguém sabe disso.

Ian sacudiu a cabeça. O quarteto teria armado seu golpe e teria conseguido roubar as jóias se Brooke não tivesse suspeitado daquela mulher. Incapaz de continuar se controlando, ficou ao lado de Brooke e ouviu como esta respirava profundamente.

- Sabemos por que não podemos obter os dados das outras duas trigêmeas? - perguntou a Vance.

- Sim. Parece que foram separadas ao nascer e cresceram em três famílias diferentes. Voltaram a se encontrar na universidade e nenhuma tem antecedentes. As três foram criadas em boas famílias. O pai adotivo de uma delas trabalha como cientista em Bruxelas.

O chefe de segurança sacudiu a cabeça e depois continuou:

- Parece que fazem isso apenas para se divertir, para ver se podem armar um golpe. Estão há quatro anos fugindo da lei, o que tem feito com que sejam cada vez mais atrevidos e incontroláveis – os olhos de Vance brilharam - Até que decidiram vir ao meu território.

Todos se instalaram ao redor do monitor e observaram como as duas figuras tentavam entrar no cofre.

- Conseguiram evitar o alarme, o que me faz pensar que uma delas é uma verdadeira profissional – Brooke comentou.

Ian sabia que não tinha que lhe perguntar se seus homens estavam em seus postos. O que as duas intrusas não sabiam era que quando entrassem no cofre poria em andamento um mecanismo que as prenderiam dentro.

Decidiu se afastar de Brooke. Simplesmente seu aroma estava o deixando excitado. Fico ao lado de Der, que estava concentrado nas imagens do monitor. Do mesmo modo que sabia que não era o momento nem o lugar para beijar Brooke, também sabia que não era o momento nem o lugar para agradecer seu primo por ter aberto seus olhos com respeito a ela.

- Olhem o relógio que esta com a loira – Brooke disse, assinalando à mulher que estava com seu marido, conversando com um empregado do cassino - Estou certa de que emite e recebe sinais das outras duas que estão no cofre. Se algo não der certo, será a primeira a saber.

- E meus homens estarão preparados se tentarem algo – Vance acrescentou – Todos os olhares estão sobre eles. De fato, a mulher com quem a loira está falando é uma de minhas melhores empregadas. Mas esta noite está se fazendo passar por empregada do cassino.

- Vance, você pensou em tudo - disse Ian, sacudindo a cabeça.

- É pra isso que você me paga o que paga.

Todos observaram como estava o cofre. Para fazer com que as duas mulheres entrassem, a equipe de Vance havia colocado jóias falsas em um cofre enorme, que uma só não seria capaz de mover.

O plano funcionou como previsto. Quando as duas estavam dentro, a porta se fechou. Todos olharam imediatamente para a tela que mostrava o que estava acontecendo no cassino. Tal como Brooke havia previsto, a loira ficou em pânico quando recebeu o sinal de que suas irmãs tinham um problema.

A mulher se aproximou de seu marido e sussurrou algo em seu ouvido, sem saber que também estavam sendo escutados.

- Algo esta errado. Recebi um sinal do Jodie e Kay.

O casal deu meia volta, sem dúvida para escapar, e caíram nas mãos de vários seguranças que estavam esperando por eles.

- Esses dois já estão presos – Vance comentou, sorrindo - Vamos ver as outras duas.

Duas horas mais tarde o escritório de Ian estava repleto, entre homens do FBI e a imprensa. Todo mundo queria saber como a equipe de segurança do cassino havia conseguido deter uma banda que a polícia não tinha sido capaz de capturar.

- Todo o mérito é de uma agente do FBI, que estava de férias no Rolling Cascade – Ian declarou - Foi ela que começou a suspeitar de uma das mulheres e falou sobre isso para mim e meu chefe de segurança. Se não tivesse feito isso, não teríamos conseguido surpreendê-los. Estou certo de que o príncipe Yasir está muito agradecido.

Ian olhou a seu redor, mas não viu Brooke em nenhuma parte e imaginou que, depois de toda tensão, estaria em um dos bares tomando algo.

- Também tenho que agradecer a colaboração de meu primo, o xerife Der Westmoreland, que veio de Atlanta e que nos ajudou com a investigação.

Ian olhou para Vance e sorriu.

- E, é obvio, estou orgulhoso da equipe de segurança do Rolling Cascade, que se assegurou de que a banda do Waterloo não conseguisse ter êxito e de ter as provas necessárias para colocá-los entre grades. Tudo está gravado em vídeo. Já entregamos as fitas ao FBI.

Ian olhou o relógio. Eram quase duas da madrugada. Tinha que ir procurar Brooke e pedir que o perdoasse, beijá-la, fazer amor com ela…

- Senhor Westmoreland, ficou surpreso em saber que a banda dos Waterloo era formada por trigêmeas?

- Sim - respondeu, decidindo que aquela seria a última pergunta que responderia aquela noite. Precisava ver Brooke - Se tiverem mais perguntas, dirijam-se, por favor, ao meu chefe de segurança, Vance Parker.

Ian pegou o elevador para descer até o hall e olhou ao seu redor. Suspirou aliviado ao ver Tara e Thorm nas máquinas caça-níqueis. Antes que pudesse perguntar se tinham visto Brooke, Tara, toda emocionada, interrogou-o:

- É verdade os rumores que ouvimos? Sua equipe de segurança apanhou uma banda de ladrões de jóias?

- Sim, com a ajuda de Brooke e de Der. Viram Brooke recentemente?

Tara deixou de sorrir e franziu o cenho.

- Sim, eu a vi faz alguns minutos. Estava partindo.

- Pra seu quarto?

- Não, partia do cassino.

- O que quer dizer com isso de que partia do cassino?

- Foi isso mesmo. Deixou seu quarto. Pediu-me desculpas por não ficar para o aniversário de Delaney, mas disse, que dadas às circunstâncias, era melhor que fosse embora. Depois eu a vi subir em um carro de aluguel e partir.

- Maldita seja. Ela te disse para onde ia?

Tara olhou para Ian e colocou as mãos na cintura.

- É possível. Mas não sei se devo te contar isso Já é a segunda vez que desperdiça a oportunidade.

Ian olhou para Thorm para lhe pedir ajuda. Seu primo riu e se limitou a dizer:

- Ei, não me olhe. É o mesmo olhar que Tara me joga quando quer que eu vá dormir no sofá.

Conhecendo Tara, Ian sabia que Thorm não tinha passado muitas noites no sofá. Sacudiu a cabeça. Também sabia que as mulheres Westmoreland eram extremamente leais umas com as outras e que, para elas, Brooke fazia parte da família. Isso era bom, porque esperava que algum dia ela fosse uma Westmoreland. Mas antes tinha que encontrá-la.

Para isso, tinha que convencer Tara de que merecia o carinho de Brooke.

- Certo Tara, reconheço que estraguei tudo. Já sei. Devo desculpas a Brooke.

- Isso é a única coisa que lhe deve? – ela inquiriu, cruzando os braços.

- Está pensando em mais o que? – Ian perguntou, suspirando desesperado.

- Um enorme diamante estaria bom.

Ian teve vontade de estrangulá-la, mas sabia que então teria que se ver com Thorm. E todo mundo sabia que era melhor não deixar ele zangado.

- Certo, um enorme diamante. Na verdade ela merece muito mais que isso.

Tara o olhou fixamente, como se estivesse considerando suas palavras. Logo lhe perguntou:

- Você a quer?

- Sim - afirmou ele sem duvidar nem um instante - Mais que à vida. Só espero que ela me perdoe por ter sido tão tolo.

- Eu também espero – Tara admitiu, encolhendo os ombros - Esta noite Brooke parecia muito triste, e eu não consegui convencê-la a ficar.

Ian assentiu e voltou a tentar a sorte.

- Aonde ela foi?

- Pra Rena. Não havia vôos para esta noite, assim ela ia dormir em um hotel em Rena e comprar uma passagem de avião para amanhã.

- Sabe em que hotel ela está? – Ian perguntou, começando a ficar nervoso.

- No Hilton.

Ian saiu do cassino correndo.

- Sim Malcolm, estou bem - disse Brooke, mordendo o lábio inferior para não chorar - Não, não estou no cassino. Estou em Rena, em um hotel. Volto amanhã.

Momentos depois continuou conversando com ele.

- É uma história muito longa Malcolm, e não gostaria de te dar detalhes nesta noite. Te ligo quando tiver chegado à cidade e lhe contarei tudo.

Brooke desligou o telefone. Segundo Malcolm, todo mundo no trabalho estava encantado de que tivessem apanhado por fim a banda do Waterloo. O diretor queria vê-la para lhe agradecer pessoalmente. Todo mundo havia celebrado. Todo mundo, a não ser Walter Thurgood, que estava incomodado porque teria gostado de levar todo o mérito. Brooke estava encantada de que as coisas tivessem terminado assim. Se Thurgood tivesse ido para o cassino, teria tentado ser o chefe de tudo, enquanto que Der, Vance e ela haviam demonstrado formar uma boa equipe. E também havia Ian.

Ian.

Só de pensar nele seu coração doía. No transcorrer da noite, havia sentido como a olhava e, cada vez que havia sentido seu olhar sobre ela, seu coração havia quebrado um pouco mais. Tal como tinha tentado explicar a Tara, que não queria que se fosse do Rolling Cascade, não podia ficar no cassino sabendo o que Ian pensava dela.

Ouviu que batiam na porta. Atravessou o quarto se perguntando quem poderia ser a essas horas. Eram mais das três da manhã.

- Sim?

- Brooke, é o Ian.

Seu coração quase saiu do peito. Ian? O que ele estava fazendo ali? Tinha seguido até Rena para voltar a lhe dizer que não confiava nela? Pois ia surpreendê-lo, ele acreditasse ou não, ela sabia que não havia feito nada de mau e não iria suportar durante muito tempo sua atitude.

Tirou o trinco e abriu a porta, zangada.

- O que está fazendo…?

Antes que pudesse terminar a frase, ele pôs diante de seu rosto uma rosa branca, seguida de outra vermelha. Por trás delas Ian se escondia.

- Vim te pedir perdão, Brooke, por muitas coisas. Posso entrar?

Ela não respondeu, mas, depois de alguns segundos, se afastou para que ele entrasse. Quando Ian passou ao seu lado, seu aroma a aturdiu. Brooke fechou a porta e se virou para olhá-lo. Parecia tão cansado como ela, mas mesmo assim, continuava tão bonito como sempre.

- A imprensa ainda esta no cassino? – Brooke decidiu perguntar.

-Sim, ainda estão lá. Deixei-os nas mãos de Vance.

Ela assentiu.

- Deveria te oferecer algo de beber, mas…

- Não se preocupe. Tenho que te dizer muitas coisas. Mas não sei por onde começar. Acho que a primeira coisa é que sinto muito por ter tirado conclusões precipitadas. Lamento não ter confiado em você, não ter acreditado em você. A única desculpa que tenho, na verdade nem sequer é uma desculpa, é que te quero tanto, Brooke, que tinha medo de voltar a sofrer como da outra vez.

- E não acha que eu também sofri, Ian? – ela perguntou – Nem tudo girava ao seu redor, a não ser nós dois. Eu te queria tanto que teria feito tudo para te proteger. E, a pesar do tempo ter passado, nada mudou. Se não tivesse continuado a te querer, não me importaria que o departamento mandasse alguém para o cassino para demonstrar algo que eu já sabia. É um homem honesto e não seria capaz de fazer nada ilegal.

Brooke tomou ar antes de continuar.

- Essa semana foi real. Meus sentimentos e minhas emoções eram autênticos. Não usei você para obter informações. A simples idéia de que você pudesse pensar que eu havia…

Ian atravessou a habitação e lhe acariciou o rosto.

- Admito que me enganei, carinho. Me chame de estúpido. Me chame de tolo. Me diga que fui muito precavido. Mas estou aqui te pedindo, te rogando que me perdoe e que nos dê outra oportunidade. Minha vida não é nada sem você. Pude comprovar isso durante os últimos quatro anos. Eu te quero, Brooke. Acredito em você. Cometi um grande engano e pretendo compensá-lo durante o resto de minha vida. Por favor, diga que me perdoa e que ainda me quer.

Ela o olhou fixamente nos olhos. Deixou as rosas em cima da mesa e o pegou pelas mãos.

- Eu te quero Ian, e te perdôo.

Ele se sentiu imediatamente aliviado, e a beijou. Foi um beijo longo, intenso, precisava voltar a se sentir unido a ela, sentir seu carinho e que ela estava lhe dando mais uma oportunidade. Ir buscá-la havia sido sua última aposta. E tinha merecido a pena.

Brooke o abraçou e ele a levantou em seus braços. Precisava tocá-la, prová-la, fazer amor com ela. Precisava começar o que seria uma nova vida juntos, para sempre. Sabia que só havia um modo de chegar ao mais profundo dela, algo que ele desejava. Levou-a até a cama e a deixou lá, movido pelo amor e pelo desejo. Momentos depois, suspirava ao vê-la nua. Separou-se da cama e a observou.

Depois, ele também tirou a roupa e voltou para a cama.

- Eu te amo, Brooke. Não havia me dado conta do quanto te queria até que voltei a ficar com você durante as duas últimas semanas. E sei que nascemos um para o outro.

- Eu também te amo – ela sussurrou quando ele a agarrou pelo quadril e a apertou contra sua ereção.

Logo voltou a beijá-la, expressando com gestos o que já havia dito com palavras. O amor o movia para que percorresse seu corpo e sentisse como gemia sob seus lábios. E quando Ian soube que ela não agüentaria mais, sussurrou-lhe ao ouvido:

- Eu te quero.

E então a penetrou, formando um só corpo. Logo Ian começou a se mover para frente e para trás, até conduzi-la a um clímax tão intenso que teve que se controlar para não se deixar levar pelos espasmos.

Ian fez amor com ela meticulosamente, com toda a precisão e o amor com que um homem podia tratar uma mulher. Teve calma, queria que Brooke sentisse todo o amor que sentia por ela. Queria lhe demonstrar que era a única mulher com quem se importava, a única a que poderia querer em toda sua vida.

- Ian!

E quando a explosão chegou, os levou para outro mundo. Ian gemeu ao sentir que se esvaziava dentro de seu corpo, e quando Brooke apertou as pernas a seu redor, ele soube que aquele era o lugar que sempre pertencera.

Quando voltaram para a realidade Ian a abraçou, precisava disso. Fechou os olhos por um segundo, sabendo que se encontrava no paraíso e no céu ao mesmo tempo. Logo os abriu. Sabia que devia fazer mais uma coisa se quisesse que sua vida estivesse completa.

Incorporou-se e olhou nos olhos da mulher que amava.

- Casa comigo, Brooke? - perguntou-lhe - Quer compartilhar sua vida comigo, para sempre?

Viu como seus olhos se encheram de lágrimas, seus lábios tremeram e a voz murmurou, emocionada:

- Sim, eu me caso com você.

Sorrindo, Ian esfregou seu rosto contra o pescoço dela. Sentia-se o homem mais feliz do mundo.

- Vem aqui, carinho - voltou a lhe dizer.

E a abraçou de novo, decidido a fazer amor com Brooke até o amanhecer e inclusive depois.

 

                                                                       Epílogo

A festa de aniversário surpresa de Delaney foi um grande evento. Ele caiu no choro quando as luzes do salão se acenderam e encontrou sua família e seus amigos. Até a Secretária de Estado se apresentou.

Com o rosto radiante de felicidade e os olhos brilhantes, virou-se para seu marido e lhe deu um beijo de agradecimento, que Brooke havia pensado que era tão apaixonado como voraz.

Sempre havia pensado que o príncipe Jamal Ari Yasir era um homem extremamente bonito, e aquela noite, vestido com um traje típico de Oriente Médio, era também um elegante xeque. E, evidentemente, estava muito apaixonado por sua esposa. O momento mais especial foi quando o príncipe deu de presente a sua princesa o cofre com diamantes. Delaney se tornou nesse instante alvo da inveja de todas as mulheres do salão. Salvo de uma…

Brooke sorriu enquanto observava o homem alto, gentil e bonito que estava ao seu lado. Quando a família de Ian os viu juntos, haviam começado a fazer perguntas. Ian e Brooke tinham respondido com sinceridade e querendo compartilhar sua felicidade: “Sim, estamos juntos e estamos planejando nos casar aqui, no Rolling Cascade, no mês de junho”.

Quem estava mais contente com a notícia foi a mãe de Ian, que tinha abraçado Brooke e sussurrado em seu ouvido:

- Sabia que Ian encontraria a razão. Bem-vinda à família, carinho.

E, falando de família…

Brooke pôde conhecer por fim os trigêmeos do tio Corey. Clint e Cole eram muito bonitos, como o resto dos homens Westmoreland. E Casey Westmoreland, cuja beleza era impressionante, teria atraído toda a atenção masculina. Brooke também conheceu algumas das esposas de outros Westmoreland. As irmãs Claiborne, Jessica e Savannah, que estavam casadas com Chase e Durango, a esposa do Storm, Jayla; e a do Stone, Madison. Tio Corey havia lhe dado um enorme abraço antes de apresentar sua esposa, Abby. Abby era, além disso, a mãe de Madison, assim tudo ficava em família.

Depois da festa de Delaney, Ian havia levado Brooke para sua estufa, e lá, de joelhos e sob o céu estrelado, havia tornado a lhe pedir em casamento e havia lhe dado um lindo anel com um enorme diamante.

As lágrimas brotaram dos olhos de Brooke enquanto ele lhe punha o anel. Quando Ian ficou em pé, seus olhos transbordavam de amor. Ele a abraçou.

- Quero te beijar sob uma estrela fugaz – Ian murmurou enquanto lhe enchia o pescoço de beijos.

- Acha que seremos capazes de suportar mais paixão?

- Acredito que sim. Juntos, suportaremos tudo.

Então, ele a beijou, e Brooke acreditou. Tendo em conta como haviam sofrido, poderiam suportar tudo. 

 

                                                                  Brenda Jackson

 

 

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