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A DANÇA MORTAL / Laurell K. Hamilton
A DANÇA MORTAL / Laurell K. Hamilton

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Anita Blake, caçadora de vampiros, é agora ela própria uma caça. Quem colocou o preço de $500.000 por sua cabeça - um homem ou um monstro? Não é só a sua própria pele que ela precisa salvar; a rivalidade entre seu namorado lobisomem, Richard, e Marcus, o outro lobisomem alfa de seu bando, atinge o ponto máximo. E há sempre Jean-Claude, o vampiro que está simplesmente esperando pelo momento certo de escorregar para dentro da cabeça e do coração de Anita.

 


 


1

O cadáver mais lindo que eu já tinha visto estava sentado atrás da minha mesa. A blusa branca de Jean-Claude brilhava na luz vinda da luminária em cima da mesa. Uma espuma de cordões descia pela frente de sua blusa, vistosa de dentro da sua jaqueta preta de veludo. Eu estava parada atrás dele, minhas costas para a parede, braços cruzados no estômago, o que deixava minha mão direita confortavelmente perto da Browning Hi-Power, na pistoleira de ombro. Eu não ia sacar ela para Jean-Claude. Era com o outro vampiro que eu estava preocupada.

A luminária era a única luz na sala. O vampiro havia pedido para a luz do teto ser apagada. Seu nome era Sabin, e ele estava parado contra a parede mais distante, encolhido no escuro.

Ele estava coberto da cabeça aos pés em preto, com uma capa com capuz. Ele parecia com algo saído de um filme de Vicent Price. Eu nunca tinha visto um vampiro de verdade se vestir assim.

O último membro do nosso pequeno grupo feliz era Dominic Dumare. Ele sentou em uma das cadeiras para clientes. Ele era alto, magro, mas não fraco. Suas mãos eram largas e fortes, grandes o suficientes para cobrir meu rosto. Ele estava vestido em um terno de três peças, como um chofer, exceto pelo grampo de diamante em sua gravata. Uma barba e uma pequena linha de bigode estavam nos fortes ossos de seu rosto.

Quando ele entrou no escritório, eu senti ele como um vento paranormal descendo pela minha espinha. Eu apenas tinha encontrado duas outras pessoas que tinham essa essência neles. Um deles tinha sido a mais poderosa sacerdotisa voodoo que conheci. O segundo era o segundo mais poderoso sacerdote voodoo que conheci. A mulher estava morta. O homem trabalhava na Animadores Inc., assim como eu. Mas Dominic Dumare não estava aqui para uma entrevista de emprego.

"Srta. Blake, por favor, se sente." Dumare disse. "Sabin acha ofensivo se sentar quando uma dama está em pé."

Eu olhei por trás dele para Sabin. "Eu irei me sentar se ele se sentar." Eu disse.

Dumare olhou para Jean-Claude. Ele deu um gentil e condescendente sorriso.

"Você tem tão pouco controle sobre sua serva humana?"

Eu não tive que ver Jean-Claude para saber que ele estava sorrindo. "Ah, você está por sua conta com ma petite. Ela é minha serva humana, declarada pelo conselho, mas ela não responde as ordens de ninguém."

"Você parece orgulhoso disso." Sabin disse. Sua voz tinha sotaque britânico e era bem ousada.

"Ela é a Executora e tem mais mortes de vampiros que qualquer outro humano. Ela é uma necromante com tanto poder, que você viajou metade do mundo para consultar com ela. Ela é minha serva humana sem nenhuma marca segurando ela comigo. Ela se encontra comigo sem a ajuda do glamor de vampiros. Por que eu não ficaria orgulhoso?"

Ouvindo ele falar você pensaria que foi tudo idéia dele. O fato era, ele tentou ao máximo me marcar, e eu consegui escapar. Nós estávamos saindo porque ele estava me chantageando. Eu tinha que sair com ele ou ele mataria meu outro namorado. Jean-Claude conseguia fazer tudo trabalhar a seu favor. Por que eu não estava surpresa?

"Até que ela morra você não poderá marcar nenhum outro humano." Sabin disse. "Você se privou de uma grande quantidade de poder."

"Eu estou ciente do que eu fiz." Jean-Claude disse.

Sabin riu, e era chocantemente amargo. "Nós todos fazemos coisas estranhas por amor."

Eu daria muitas coisas para ver o rosto de Jean-Claude nesse momento. Tudo que eu podia ver era seu longo cabelo preto derramado por sua jaqueta, preto no preto. Seus ombros ficaram mais duros, mãos deslizando pela madeira da minha mesa. E então ele ficou imóvel. Aquela espantosa quietude de espera que apenas os vampiros mais antigos tinham, como se eles se segurassem por tempo o suficiente, eles iriam simplesmente desaparecer.

"É isso que o trouxe aqui, Sabin? Amor?" A voz de Jean-Claude era neutra, vazia.

A risada de Sabin passou pelo ar como vidro quebrado. Parecia como se o som dela machucasse algo dentro de mim. Eu não gostei.

"Chega de jogos." Eu disse. "Vamos acabar com isso."

"Ela é sempre impaciente assim?" Dumare perguntou.

"Sim." Jean-Claude disse.

Dumare sorriu, radiante e vazio como uma lâmpada. "Jean-Claude te disse por que queríamos ver você?"

"Ele disse que Sabin pegou algum tipo de enfermidade tentando parar maus hábitos."

O vampiro do outro lado da sala riu de novo, lançando a risada como uma arma pela sala.

"Maus hábitos, muito bom, srta. Blake, muito bom."

A risada chegou em mim como pequenas facas cortantes. Eu nunca havia experimentado nada como isso, apenas pela voz. Em uma luta, isso teria sido distrativo. Droga, era distrativo agora. Eu senti um líquido deslizar pela minha testa. Eu levantei minha mão esquerda até ela. Meus dedos vieram manchados de sangue. Eu saquei a Browning e desencostei da parede. Eu mirei na figura escura do outro lado da sala. "Se ele fizer isso de novo, eu vou atirar nele."

Jean-Claude se levantou lentamente da cadeira. Seu poder fluiu por mim como um vento gelado, levantando os pêlos dos meus braços. Ele levantou uma mão pálida, ficando quase translúcida com poder.

Sangue deslizava aquela brilhante pele.

Dumare continuou em sua cadeira, mas ele, também, estava sangrando por um corte praticamente igual ao meu. Dumare limpou o sangue, ainda sorrindo. "A arma não será necessária." Ele disse.

"Você abusou de minha hospitalidade." Jean-Claude disse. Sua voz enchia o quarto com eco de silabas.

"Não há nada que eu possa dizer para me desculpar." Sabin disse. "Mas eu não fiz isso de propósito. Eu estou usando tanto do meu poder para apenas me manter, que eu não tenho mais o controle que eu tive uma vez."

Eu me movi devagar pela parede, arma ainda apontada. Eu queria ver o rosto de Jean-Claude. Eu precisava ver o quanto ele estava machucado. Eu andei por volta da mesa até que pude ver ele pelo canto do meu olho. Seu rosto estava intocado, impecável e brilhante como pérola.

Ele levantou sua mão, uma linha fina de sangue ainda trilhando abaixo. "Isso não é um acidente."

"Venha para a luz, meu amigo." Dumare disse. "Você tem que deixar eles te verem, ou eles não irão entender."

"Eu não quero ser visto."

"Você está muito perto de gastar toda a minha boa vontade." Jean-Claude disse.

"A minha também." Eu adicionei. Eu estava esperando que eu pudesse, ou atirar em Sabin ou guardar a arma logo. Mesmo com um aperto de duas mãos na arma, isso não significava que você podia manter ela indefinidamente. Suas mãos começam a vacilar um pouco.

Sabin deslizou em direção a mesa. O casaco preto derramava em seus pés como uma piscina de escuridão. Todos os vampiros eram graciosos, mas isso era ridículo. Eu percebi que ele não estava andando no final das contas.

Ele estava levitando dentro do seu casaco escuro.

Seu poder fluía até minha pele como água congelada. Minhas mãos estavam de repente firmes de novo. Nada como ter em você o poder de um vampiro com severos anos para mexer com seus nervos.

Sabin parou no lado mais distante da mesa. Ele estava gastando poder apenas para se mover, apenas para ficar ali, como se ele fosse um tubarão, se ele parasse de se mover, ele morria.

Jean-Claude deslizou em volta de mim. Seu poder dançava pelo meu corpo, levantando os cabelos de trás do meu pescoço, fazendo minha pele se estreitar. Ele parou quase no alcance do outro vampiro.

"O que aconteceu com você, Sabin?"

Sabin ficou parado na beirada da luz. A luminária deveria ter iluminado dentro de seu capuz, mas não iluminou. Dentro do capuz era suave e preto e vazio, como uma caverna.

Sua voz saiu desse nada. Me fez pular.

"Amor, Jean-Claude, amor aconteceu comigo. Meu amor cresceu minha consciência. Ela disse que era errado se alimentar de pessoas. Nós todos somos pessoas, no final de tudo. Por amor a ela eu tentei beber sangue gelado. Eu tentei sangue de animais. Mas não era o suficiente para me sustentar."

Eu encarei aquela escuridão. Eu ainda estava apontando a arma, mas eu estava começando a me sentir boba. Sabin não parecia com medo da arma, o que era enervante.

Talvez ele não ligasse. Isso também era enervante. "Ela te convenceu a virar vegetariano. Ótimo." Eu disse. "Você parece ser poderoso o suficiente."

Ele riu, e com a risada, as sombras no capuz se diminuíram devagar, como uma cortina se abrindo. Ela se abriu em um rápido movimento.

Eu não gritei, mas engasguei e dei um passo para trás. Eu não pude me impedir. Quando eu percebi, eu tinha feito. Eu parei e me fiz dar um passo para frente de novo, olhar em seus olhos. Sem me encolher.

Seu cabelo era denso e reto e dourado, caindo como uma cortina brilhante em seus ombros. Mas sua pele... sua pele estava apodrecida em metade de seu rosto. Era como um leproso em último estágio, mas pior. A carne estava cheia de pus, gangrenosa, e deveria já ter ido para o purgatório. A outra metade de seu rosto ainda estava bonito. O tipo de rosto que pintores medievais teriam usado em querubins, uma perfeição dourada. Um olho de azul cristalino estava cambaleante naquela cavidade apodrecida, como se tivesse o perigo de se derramar em sua bochecha. O outro olho estava seguro e assistia meu rosto.

"Você pode guardar a arma, ma petite. Foi um acidente no final das contas." Jean-Claude disse.

Eu abaixei a Browning, mas não a guardei. Tive mais esforço que era educado para dizer calmamente, "Isso aconteceu porque você parou de se alimentar de humanos?"

"Nós acreditamos que sim." Dumare disse.

Eu tirei meu olhar do rosto estragado de Sabin e olhei para Dominic. "Você acha que eu posso ajudar a curar ele disso?" Eu não pude manter a incredulidade fora da minha voz.

"Eu ouvi sobre a sua reputação na Europa."

Eu levantei minhas sobrancelhas.

"Sem modéstia, Srta. Blake. Entre aqueles de nós que observamos tantas coisas, você está ganhando uma segura notoriedade."

Notoriedade, não fama. Hmmm.

"Guarde a arma, ma petite. Sabin fez toda a... qual é sua palavra... ostentação, pela noite. Não é Sabin?"

"Eu temo que sim, tudo parece ir tão mal agora."

Eu guardei a arma e balancei minha cabeça. "Eu honestamente não tenho a mais tênue idéia de como te ajudar."

"Se você soubesse como, você me ajudaria?" Sabin perguntou.

Eu olhei para ele e assenti. "Sim."

"Mesmo eu sendo um vampiro e você uma executora de vampiros?"

"Você fez alguma coisa nesse país que você precise ser morto por causa disso?"

Sabin riu. A pele apodrecida se estendeu, e um ligamento se soltou com um molhado som. Eu tive que olhar para longe. "Não ainda, srta. Blake, não ainda." Seu rosto ficou sério rapidamente, o humor abruptadamente sumindo.

"Você treinou seu rosto para não mostrar nada, Jean-Claude, mas eu leio o horror em seus olhos."

A pele de Jean-Claude tinha voltado para sua usual perfeição suave. Seu rosto ainda estava adorável, perfeito, mas pelo menos ele tinha parado de brilhar. Seus olhos azuis meia noite eram apenas olhos agora. Ele ainda estava lindo, mas era quase uma beleza humana. "Isso não vale um pouco de horror?" Ele perguntou.

Sabin sorriu, e eu desejei que ele não tivesse. Os músculos no lado apodrecido não funcionavam e sua boca caía torcida. Eu olhei para longe, e então me fiz olhar de volta. Se ele podia ficar preso dentro daquele rosto, eu podia olhar.

"Então você irá me ajudar?"

"Eu iria te ajudar se eu pudesse, mas é para a Anita que você tem que perguntar. Ela tem que dar sua própria resposta."

"Então, srta. Blake?"

"Eu não sei como te ajudar." Eu repeti.

"Você entende o quão terríveis são as minhas circunstâncias, srta. Blake? O verdadeiro horror disto, você compreende?"

"O apodrecimento provavelmente não irá te matar, mas é progressivo, não é?"

"Ah, sim. É progressivo, virulento também."

"Eu ajudaria você se eu pudesse, Sabin, mas o que eu posso fazer que Dumare não pode? Ele é um necromante, talvez tão poderoso quanto eu, talvez mais. Por que você precisa de mim?"

"Eu percebi, srta. Blake, que você não tem nada especifico para o problema de Sabin." Dumare disse. "O quanto eu sei, ele é o único vampiro de toda a história que está sofrendo este destino, mas eu pensei que se nós viéssemos para outro necromante tão poderoso quanto eu..." Ele sorriu modestamente. "... ou quase tão poderoso quanto eu, talvez juntos pudéssemos trabalhar em algum feitiço para ajudá-lo."

"Um feitiço?" Eu olhei para Jean-Claude.

Ele me deu aquele maravilhoso encolher de ombros francês que significava tudo e nada. "Eu sei pouco sobre necromancia, ma petite. Você saberia se um feitiço como esse seria possível mais do que eu."

"Não foi apenas a sua habilidade como necromante que nos trouxe até você." Dumare disse. "Você também tem agido como foco para pelo menos dois animadores diferentes, eu acredito que essa seja a palavra americana para o que você faz."

Eu assenti. "A palavra está certa, mas onde você ouviu que eu posso agir como foco?"

"Vamos, srta. Blake, a habilidade de combinar poder com outros animadores com o seu, e assim criar um magnífico poder, é um raro talento."

"Você consegue agir como foco?" Eu perguntei.

Ele tentou parecer humilde, mas na verdade pareceu bem orgulhoso consigo mesmo. "Eu devo confessar que sim, eu posso agir como foco. Pense no que nós dois juntos poderíamos realizar."

"Nós poderíamos levantar um inferno cheio de zumbis, mas isso não iria curar Sabin."

"Suficientemente verdade." Dumare se encostou na cadeira. Seu magro e bonito rosto estava ansioso, um verdadeiramente convertido procurando discípulos.

Eu não era lá muito uma seguidora.

"Eu iria oferecer a lhe ensinar a ser uma verdadeira necromante, não esse voodoo superficial que você esteve fazendo."

Jean-Claude fez um suave som que era metade risada e metade tosse.

Eu olhei para o rosto divertido de Jean-Claude mas disse, "Eu estou indo bem com esse voodoo superficial."

"Eu não quis te insultar, srta. Blake. Você precisará de um professor num futuro próximo. Se não eu, então você deverá achar outra pessoa."

"Eu não sei sobre o que você está falando."

"Controle, srta. Blake. O poder cru, não importa o quão impressionante, não é o mesmo que poder usado com grande cuidado e perfeito controle."

Eu balancei minha cabeça. "Eu irei te ajudar se eu puder, Sr. Dumare. Eu até irei participar do feitiço se eu checar antes com uma bruxa local que eu conheço."

"Com medo que eu vou tentar roubar seu poder?"

Eu sorri. "Não, medo de você me matar, o melhor que você ou qualquer outra pessoa pode fazer com meu poder é pegar emprestado."

"Você é esperta apesar de sua idade, srta. Blake."

"Você não é tão mais velho que eu." Eu disse. Algo cruzou pelo seu rosto, o mais suave vislumbre de algo, e eu soube.

"Você é o servo humano dele, não é?"

Dominic sorriu, juntando suas mãos. "Oui."

Eu suspirei. "Eu pensei que você tinha dito que não iria tentar esconder nada de mim."

"O trabalho de um servo humano é ser os olhos e ouvidos de seu mestre durante o dia. Eu não terei nenhum uso para meu mestre se caçadores de vampiros identificarem o que eu sou."

"Eu identifiquei você."

"Mas em outra situação, sem Sabin do meu lado, você teria?"

Eu pensei sobre isso por um momento. "Talvez." Eu balancei minha cabeça. "Eu não sei."

"Obrigado pela honestidade, srta. Blake."

Sabin disse, "Tenho certeza que estamos no limite de tempo, Jean-Claude disse que você tem um urgente compromisso, srta. Blake. Muito mais importante que meu pequeno problema." Havia um pouco de dor na ultima parte.

"Ma petite tem um encontro com seu outro namorado."

Sabin encarou Jean-Claude. "Então você realmente está permitindo que ela se encontre com outra pessoa. Eu pensei que era um rumor."

"Muito pouco do que você ouve sobre ma petite é rumor. Acredite em tudo que ouvir."

Sabin deu um pequeno riso, tossindo, como se estivesse lutando para manter a risada em sua boca arruinada.

"Se eu acreditasse em tudo que ouço, eu teria vindo aqui com um exército."

"Você veio com um servo porque eu te permiti apenas um servo." Jean-Claude disse.

Sabin sorriu. "Verdade. Venha Dominic, não devemos gastar mais do valioso tempo da srta. Blake."

Dominic se levantou obedientemente, muito mais alto que nós todos. Sabin era quase da minha altura. Mas é claro, eu não tinha certeza se suas pernas ainda estavam ali. Ele podia ter sido mais alto alguma vez.

"Eu não gosto de você, Sabin, mas eu nunca deixaria deliberadamente outro ser do jeito que você está. Meus planos para hoje a noite são importantes, mas se eu pensasse que pudéssemos te curar imediatamente, eu mudaria meus planos."

O vampiro olhou para mim. Seus olhos azuis eram como a água clara de um oceano. Não havia nenhum chamado neles. Ou ele estava se comportando, ou como a maioria dos vampiros, ele não podia me rodar com seus olhos mais.

"Obrigado, srta. Blake. Eu acredito em sua sinceridade." Ele estendeu uma mão enluvada de seu casaco volumoso.

Eu hesitei e então peguei sua mão. Ele apertou minha mão suavemente, e me custou muito esforço não puxar ela de volta. Eu me forcei a apertar sua mão de volta, a sorrir, e soltar, e não esfregar minha mão na saia.

Domic apertou minha mão também. A dele era gelada e seca. "Obrigado pelo seu tempo, srta. Blake. Eu irei entrar em contato amanhã e iremos discutir algumas coisas."

"Eu estarei esperando sua ligação, Sr. Dumare."

"Me chame de Dominic, por favor."

Eu assenti. "Dominic. Nós podemos discutir isso, mas eu odiaria pegar seu dinheiro quando não tenho certeza se poderei te ajudar."

"Poderei te chamar de Anita?" Ele perguntou.

Eu hesitei e encolhi os ombros. "Por que não?"

"Não se preocupe quanto ao dinheiro." Sabin disse. "Tenho abundantemente ele para todos os bens que ele pode me oferecer."

"Como a mulher que você ama lidou com a mudança de sua aparência?" Jean-Claude perguntou.

Sabin olhou para ele. Não era um olhar amigável.

"Ela me achou repulsivo, assim como eu. Ela se sentiu imensamente culpada. Ela não me deixou, nem está comigo."

"Você vive por quase 700 anos." Eu disse. "Por que ferrar as coisas por causa de uma mulher?"

Sabin se virou para mim, uma linha de lama se movia lentamente abaixo em seu rosto, como um lágrima negra. "Você está me perguntando se o esforço valeu a pena, srta. Blake?"

Eu respirei fundo e balancei minha cabeça. "Não é da minha conta. Me desculpe por ter perguntado."

Ele colocou o capuz de volta em seu rosto. Ele se virou de novo para mim, escuridão, sombras onde seu rosto deveria estar. "Ela irá me deixar, srta. Blake. Eu pensei que iria sacrificar qualquer coisa para mantê-la do meu lado, na minha cama. Eu estava errado." Ele virou sua escuridão para Jean-Claude. "Nós nos veremos amanhã a noite, Jean-Claude."

"Estou ansioso para isso."

Nenhum dos vampiros ofereceu um aperto de mãos. Sabin deslizou até a porta, a capa trilhando atrás dele, vazia. Eu me perguntei quanto de sua parte de baixo havia sobrado, e decidi que não queria saber.

Dominic apertou minha mão de novo. "Obrigado, Anita. Você nos deu esperança." Ele segurou minha mão e olhou em meu rosto como se pudesse ler algo ali. "E pense sobre minha oferta de lhe ensinar coisas. Há muito pouco de nós que são verdadeiros necormantes."

Eu puxei minha mão de volta. "Eu pensarei nisso. Agora, eu realmente tenho que ir."

Ele sorriu, segurou a porta para Sabin, e eles se foram. Jean-Claude e eu ficamos parados por um momento em silêncio. Eu quebrei ele primeiro. "Nós podemos confiar neles?"

Jean-Claude sentou na beirada da minha mesa, sorrindo. "Claro que não."

"Então por que você concordou em deixar eles virem."

"O conselho declarou que nenhum mestre vampiro nos Estados Unidos poderia brigar até que a desagradável lei que está acontecendo por Washington estiver acabada. Uma guerra entre mortos e o grupo de anti-vampiros iriam aproveitar a lei e nos fazer ilegais novamente."

Eu balancei minha cabeça. "Eu não acho que a Lei de Brewster tem alguma chance. Vampiros são legais nos Estados Unidos. Eu concordando ou não, eu não acho que eles não vão mudar isso."

"Como você pode ter tanta certeza?"

"É meio que difícil dizer que um grupo de seres são vivos e têm direitos, e então mudar de idéia e dizer que matar eles assim que os virem está certo de novo. A ACLU{1} teria um dia ocupado."

Ele sorriu. "Talvez. Apesar disso, o conselho obrigou uma trégua entre todos nós até que a lei seja decidida, de uma forma ou de outra."

"Então você deixou Sabin entrar em seu território porque se ele não se comportar, o conselho irá caçar ele e mata-lo."

Jean-Claude assentiu.

"Mas você ainda estaria morto." Eu disse.

Ele levantou suas mãos, graciosamente, vazias. "Nada é perfeito."

Eu ri. "Eu acho que não."

"Agora, você não irá se atrasar para seu encontro comMonsieurZeeman?"

"Você está sendo terrivelmente civilizado sobre isso." Eu disse.

"Amanhã a noite você estará comigo, ma petite. Eu seria um mau... esportista em invejar a noite de Richard."

"Você normalmente é um mau esportista."

"Agora, ma petite, isso é dificilmente justo. Richard não está morto, está?"

"Apenas porque você sabe que se você matar ele, eu mato você." Eu levantei uma mão antes que ele pudesse falar. "Eu tentarei matar você, e você tentará me matar, e por aí vai." Esse era um velho argumento.

"Então, Richard vive, você sai com nós dois, e eu continuo sendo paciente. Mais paciente do que eu já fui com qualquer outra pessoa."

Eu estudei seu rosto. Ele era um daqueles homens mais lindo do que maravilhoso, mas seu rosto era bem masculino, você não iria confundir ele com um mulher, mesmo com o cabelo comprido. Na verdade, havia algo terrivelmente masculino em Jean-Claude, não importa quantos cordões e laços ele usasse.

Ele poderia ser meu: mechas, sociedade e presas. Eu apenas não tinha certeza se queria ele.

"Eu tenho que ir." Eu disse.

Ele se levantou da mesa. Ele estava de repente parado perto o suficiente ao toque. "Então vá, ma petite."

Eu podia sentir seu corpo a centímetros do meu como uma energia irradiando. Eu tive que respirar antes de falar. "É meu escritório. Você tem que ir."

Ele tocou meus braços suavemente, um roçar de dedos. "Aproveite sua noite, ma petite." Seus dedos se curvaram em meus braços, logo abaixo dos ombros. Ele não se inclinou para mim ou me puxou para mais perto, naqueles poucos centímetros. Ele simplesmente segurou meus braços, e me encarou.

Eu olhei em seus escuros, escuros olhos azuis. Não fazia muito tempo que eu não podia olhar neles sem cair e me perder. Agora eu podia olhar em seus olhos, mas de alguma forma, eu ainda me perdia neles. Eu me levantei na ponta dos dedos, colocando meu rosto perto do dele.

"Eu deveria ter te matado há muito tempo atrás."

"Você teve suas chances, ma petite. Você continuou me salvando."

"Meu erro." Eu disse.

Ele riu, e o som deslizou pelo meu corpo como pêlo contra pele nua. Eu me arrepiei em seus braços.

"Pára com isso." Eu disse.

Ele me beijou suavemente, um roçar de lábios, então eu não pude sentir as presas. "Você sentiria minha falta se eu me fosse, ma petite. Admita."

Eu me afastei dele. Suas mãos deslizaram para baixo em meus braços, passando pelas minhas mãos, até que eu afastei as pontas dos meus dedos de suas mãos. "Eu tenho que ir."

"Você já disse."

"Apenas saia, Jean-Claude, sem mais jogos."

Seu rosto ficou sério de repente, como se uma mão tivesse passado nele. "Sem mais jogos, ma petite. Vá para o seu outro amante." Foi a vez dele levantar uma mão e dizer, "Eu sei que você não é uma amante{2} de verdade. Eu sei que você está resistindo a nós dois. Valoroso, ma petite."

Um vislumbre de algo, talvez raiva, passou pelo seu rosto e sumiu como uma onda em uma água escura.

"Amanhã a noite você estará comigo, e será a vez de Richard se sentar em casa e pensar." Ele balançou sua cabeça. "Mesmo por você eu não teria feito o que Sabin fez. Mesmo pelo seu amor, há coisas que eu não faria." Ele me encarou de repente mais feroz, raiva dando voltas em seus olhos, seu rosto. "Mas o que eu faço é o suficiente."

"Não venha todo cheio de si para cima de mim." Eu disse. "Se você não tivesse interferido, Richard e eu estaríamos noivos, talvez até mais, agora."

"E o que? Você estaria vivendo atrás de uma cerca branca pontiaguda com duas crianças exemplares quaisquer? Eu acho que você mente para si mesma, mais do que para mim, Anita."

Era sempre um mau sinal quando ele usava meu nome de verdade. "O que isso quer dizer?"

"Quer dizer, ma petite, que você nasceu para a benção doméstica tanto quanto eu."

Com isso ele deslizou até a porta e se foi. Ele fechou a porta silenciosamente, mas firmemente atrás dele.

Benção doméstica? Quem eu? Minha vida era uma linha entre uma novela sobrenatural e um filme de ação e aventura. Meio que As the Casket Turns conhecendo Rambo. Cercas brancas pontiagudas não combinavam.

Jean-Claude estava certo sobre isso.

Eu tinha a semana inteira de folga. Era a primeira vez em meses. Eu estive ansiosa por essa noite pela semana toda. Mas sinceramente, não era o rosto perfeito de Jean-Claude que estava me assombrando. Eu continuava vendo o rosto de Sabin. Vida eterna, dor eterna, feiúra eterna. Segunda vida bacana.


2

Haviam três tipos de pessoas na festa e jantar da Catherine: os vivos, os mortos, e os ocasionalmente peludos. Tirando oito, seis eram humanos, e eu não tinha certeza sobre dois desses, incluindo eu mesma.

Eu estava vestida em calças pretas, em uma jaqueta que veludo preta com lapelas de cetim branco, e uma blusa branca que tinha duas vezes o tamanho de uma blusa normal. A Browning 9mm na verdade combinava com as roupas, mas eu a mantive escondida. Essa era a primeira festa que Catherine dava desde seu casamento. Mostrar uma arma poderia depreciar as coisas.

Eu tive que tirar minha cruz de prata que eu sempre estava usando e coloca-la no meu bolso porque havia um vampiro parado na minha frente e a cruz começou a brilhar quando ele entrou na sala. Se eu soubesse que teriam vampiros na festa, eu teria vestido algo com uma gola mais alta para esconder a cruz. Elas apenas brilham quando estão fora da roupa, geralmente.

Robert, o vampiro em questão, era alto, musculoso, e lindo, meio que do jeito de um modelo. Ele tinha sido um stripper na Prazeres Malditos. Agora ele administrava o clube. De funcionário para administrador: o sonho americano. Seu cabelo ela loiro, encaracolado, e cortado meio curto. Ele estava vestindo uma blusa de seda marrom que o servia perfeitamente e combinava com o vestido que sua acompanhante estava vestindo.

A cor bronzeada de Monica Vespucci estava diminuindo um pouco, mas sua maquiagem ainda estava perfeita, seu curto cabelo ruivo arrumado no lugar. Ela estava grávida o suficiente para eu notar, e feliz o suficiente para ser irritante.

Ela sorriu brilhantemente para mim. "Anita, quanto tempo."

O que eu queria dizer era, "Nem tanto". A última vez que a vi, ela havia me dedado para a mestre vampira local. Mas Catherine pensava que ela era sua amiga, e era difícil fazer ela perder a ilusão sem contar a história inteira. A história inteira incluía algumas mortes sem aprovações, algumas delas feitas por mim.

Catherine é advogada e uma defensora da lei e da ordem. Eu não queria colocar ela em uma posição onde ela teria que comprometer sua moral para salvar minha bunda. Então Monica era sua amiga, o que quer dizer que eu teria que ser educada durante todo o jantar, desde os aperitivos até a sobremesa. Eu seria educada principalmente porque Monica ficaria do outro lado, no fim da mesa. Agora, infelizmente, nós estávamos alternados na sala de estar e não tinha como escapar.

"Não faz tanto tempo assim." Eu disse.

"Faz quase um ano." Ela sorriu para Robert. Eles estavam segurando suas mãos. "Nós nos casamos." Ela tocou o vidro no meio de seu cinto. "Nós estamos grávidos.". Ela disse soltando um risinho.

Eu encarei os dois. "Você não pode engravidar com um cadáver de cem anos." Ok, eu já tinha sido educada o suficiente.

Monica sorriu abertamente para mim. "Você pode se a temperatura do corpo ficar alta por tempo o suficiente, e se você fizer sexo frequentemente. Minha obstetra disse que a banheira com água quente ajudou."

Isso era mais do que eu queria saber. "Você já fez o exame da bolsa amniótica?"

O sorriso sumiu de seu rosto, deixando seus olhos assustados. Eu tinha lamentado ter perguntado. "Nós temos que esperar mais uma semana."

"Me desculpe, Monica, Robert. Eu espero que o teste volte limpo." Eu não mencionei a Síndrome de Vlad, mas as palavras planaram no ar. Era raro, mas não tão raro quanto costumava ser. Três anos de vampirismo legalizado e a Síndrome de Vlad era o defeito de nascença mais recorrente no país. Isso podia ocasionar em horríveis deficiências, sem mencionar a morte do bebê. Com tanto em jogo, você pensaria que as pessoas seriam mais cuidadosas.

Robert a abraçou contra ele, e toda a luz havia sumido do rosto dela. Ela parecia pálida. Eu me senti uma vilã.

"As últimas noticias disseram que vampiros com mais de cem anos eram estéreis." Eu disse.

"Eles deveriam atualizar a informação, eu acho." Era para ser confortante, como se eles não tivessem sido descuidados.

Monica olhou para mim, e não havia nenhuma ternura em seus olhos quando ela disse, "Preocupada?"

Eu olhei para ela toda pálida e grávida e queria dar um tapa nela de qualquer jeito. Eu não estava dormindo com Jean-Claude. Mas eu não ia ficar parada ali e me justificar para Monica Vespucci ou qualquer outra pessoa sobre esse assunto.

Richard Zeeman entrou na sala. Eu não vi ele entrar na verdade. Eu senti. Eu me virei e assisti ele andar até nós. Ele media seis pés e um palmo, quase um pé mais alto que eu. Mais alguns centímetros e nós não poderíamos nos beijar sem eu subir em uma cadeira. Mas subir em uma cadeira seria um esforço que valeria a pena. Ele andou pelos outros convidados, dizendo uma palavra aqui e ali. Seu sorriso radiava brancura e perfeição em sua pele eternamente bronzeada, enquanto ele falava com aqueles novos amigos, esbanjando charme pelo jantar. Não comsex appealou poder, mas com sua pura boa vontade. Ele era o maior garoto escoteiro, a pessoa mais sociável que já conheci. Ele gostava de pessoas e era um maravilhoso ouvinte, duas qualidades que eram altamente subestimadas.

Seu terno era marrom escuro, sua camisa de um profundo dourado alaranjado. A gravata era de um laranja brilhante com linhas com pequenas figuras no meio dela. Você tinha que ficar perto dele para perceber que as figuras eram desenhos da Warner Brothers.

Ele prendeu seu cabelo, que ficava na altura dos ombros, por trás de seu rosto, em uma versão de trança francesa, então parecia que seu cabelo castanho era bem curto. Fazia seu rosto parecer limpo e bem visível. Os ossos de suas bochechas eram perfeitos, esculpidos altos e graciosos. Seu rosto era masculino, lindo, com um toque de suavidade nele. Era o tipo de rosto que me deixaria tímida no colegial.

Ele percebeu que eu estava olhando para ele e sorriu. Seus olhos castanhos brilharam com o sorriso, enchendo o quarto com um calor que não tinha nada a ver com temperatura.

Eu o assistir andar aqueles últimos passos, e senti o calor subir do pescoço para meu rosto. Eu queria tirar as roupas dele, tocar sua pele nua, ver o que estava por baixo daquele terno. Eu queria tanto aquilo. Eu não faria isso, porque eu não estava dormindo com Richard, com nenhum deles. Eu não estava dormindo nem com o vampiro, nem com o lobisomem. Richard era o lobisomem. Esse era seu único defeito. Ok, talvez ele tivesse outro: ele nunca matou ninguém. Esse último defeito o faria ser morto qualquer dia.

Eu deslizei meu braço esquerdo em volta de sua cintura, dentro do terno desabotoado. O calor sólido dele batia como um pulso contra o meu corpo. Se nós não fizéssemos sexo logo, eu iria simplesmente explodir.

Qual o preço da moral?

Monica me encarou fixadamente, estudando meu rosto. "Esse é um colar adorável. Quem te deu ele?"

Eu sorri e balancei minha cabeça. Eu estava usando uma jaqueta preta com um camafeu na gola, com filigrana prata nos cantos.

Ei, combinava com a roupa.

Monica tinha bastante certeza que não tinha sido presente de Richard, o que quer dizer, para Monica, que Jean-Claude tinha me dado ele. Boa e velha Monica. Ela nunca mudou.

"Eu comprei para complementar a roupa." Eu disse.

Ele abriu bem os olhos em surpresa. "Oh, mesmo?" Como se ela não acreditasse em mim.

"Mesmo. Eu não sou muito de ganhar presentes, principalmente jóias."

Richard me abraçou. "Isso é verdade. Ela é uma mulher bem difícil de se comprar."

Catherine se juntou a nós. Seu cabelo colorido da cor de cobre estava ao redor de seu rosto em uma concentração ondulada. Ela era a única pessoa que eu conhecia que tinha mais curvas no cabelo que eu, mas a cor dela era mais espetacular. Se eu perguntasse, a maioria das pessoas descreveriam ela pelo seu cabelo. Uma maquiagem delicada escondia suas sardas e chamavam atenção para seus pálidos olhos verdes acinzentados.

Seu vestido era da cor de uma folha nova. Eu nunca tinha visto ela tão bonita.

"Casamento parece combinar com você." Eu disse, sorrindo.

Ela sorriu de volta. "Você deveria tentar qualquer dia."

Eu balancei minha cabeça. "Muito obrigada."

"Eu tenho que roubar a Anita por um momento." Pelo menos ela não disse que precisava de ajuda na cozinha. Richard saberia que era uma mentira. Ele cozinhava muito melhor que eu.

Catherine me guiou para o quarto onde os casacos estavam empilhados. Havia um casaco realmente peludo no topo da pilha. Eu estava apostando que sabia quem era a dona dele. Monica gostava de estar perto de coisas mortas.

Logo quando a porta fechou, Catherine agarrou minhas mãos e deu risadinhas. Eu juro.

"Richard é maravilhoso. Meus professores de ciência no colégio nunca tiveram aquela aparência."

Eu sorri, e foi um desses grandes e dopados sorrisos. Aquele meio bobo que dizia que você estava numa horrível luxúria, se não amor, talvez os dois, e a sensação era boa, mesmo que idiota.

Nós nos sentamos na cama, colocando os casacos mais pro lado. "Ele é maravilhoso." Eu disse, minha voz tão neutra quando eu podia controlar.

"Anita, não vem com essa. Eu nunca vi você ficar vermelha em volta de ninguém."

"Eu não fiquei vermelha."

Ela sorriu abertamente para mim e assentiu. "Sim, você ficou."

"Não fiquei." Eu disse, mas era difícil ficar mau-humorada quando eu queria rir. "Ta certo, eu gosto dele, muito. Feliz?"

"Você está namorando ele por quase sete meses. Onde está o anel de noivado?"

Eu franzi a testa para ela então. "Catherine, só porque você esta delirantemente feliz em estar casada, não significa que todo mundo tem que casar também."

Ela levantou os ombros e riu.

Eu encarei seu rosto brilhante e balancei minha cabeça. Deveria ter mais coisas em Bob do que o olho via. Ele tinha quase 30 libras a mais que deveria ter, era meio calvo, com pequenos óculos redondos em seu rosto bastante indefinível. Ele não tinha uma personalidade radiante também.

Eu já teria dado a ela minha desaprovação até ver o jeito que ele olhava para Catherine. Ele olhava para ela como se ela fosse o mundo, e era um bom, seguro, maravilhoso mundo. Um monte de pessoas são bonitas, e pensamentos rápidos estão em cada programa da tv, mas alguém que você confie, isso é raro.

"Eu não trouxe Richard aqui para você dar sua estampa de aprovação. Eu sabia que você ia gostar dele."

"Então por que você manteve ele como um grande segredo? Eu tentei conhecer ele uma dúzia de vezes."

Eu encolhi os ombros. A verdade era porque eu sabia que ela estava com aquela luz em seus olhos. Aquele brilho maníaco que seus amigos casados têm quando você não está casada e está saindo com alguém. Ou pior ainda, não saindo, e eles ficam tentando te animar. Catherine tinha aquele olhar agora.

"Não me diga que você planejou toda essa festa só para que você pudesse conhecer Richard?"

"Parcialmente. De que outra forma eu conseguiria?"

Houve uma batida na porta.

"Entre." Catherine disse.

Bob abriu a porta. Ele ainda parecia comum para mim, mas pela luz no rosto de Catherine, ela viu algo a mais. Ele sorriu para ela. O sorriso fez seu rosto inteiro resplandecer e eu pude ver algo brilhante e bom. Amor faz todo mundo bonito. "Desculpe por interromper a conversa de garotas, mas há um telefonema para a Anita."

"A pessoa disse quem era?"

"Ted Forrester. Disse que eram negócios."

Meus olhos se abriram mais. Ted Forrester era um pseudônimo para um homem que eu conhecia como Edward. Ele era um atirador que era especializado em vampiros, licantropos, ou qualquer outra coisa que não fosse humana. Eu era uma caça vampiros licenciada. Ocasionalmente, nossos caminhos se cruzavam. Nós estávamos até mesmo em algum nível de amizade, talvez.

"Quem é Ted Forrester?" Catherine perguntou.

"Um caçador de recompensas." Eu disse. Ted, pseudônimo de Edward, era um caçador de recompensas com papéis para provar, tudo certo e legalizado. Eu me levantei e fui até a porta.

"Tem algo errado?" Catherine perguntou. Poucas coisas passavam por ela, o que era um dos motivos que eu a evitava quando eu estava com a bunda em um rio de crocodilos. Ela era esperta o suficiente para perceber quando as coisas estavam fora do lugar, mas ela não carregava uma arma. Se você não pode se defender, você é soldado dispensável, daqueles que ficam bem no começo da linha de fogo, feito pra morrer. A única coisa que mantinha Richard de não ser um soldado dispensável, era que ele era um lobisomem.

Se bem que ele se recusar a matar pessoas quase o fazia ser um soldado dispensável, metamorfo ou não.

"Eu só estava esperando que não tivesse nenhum trabalho hoje a noite." Eu disse.

"Eu pensei que você tinha a semana toda de folga." Ela disse.

"Eu também."

Eu atendi o telefone no escritório que eles construíram. Eles dividiram a sala no meio. Metade estava decorada em um estilocountrycom ursosTeddye miniaturas de cadeiras de balanço, a outra metade era masculina, com caçadores e um navio numa garrafa na mesa. Harmonização no seu melhor.

Eu peguei o telefone e disse, "Alô?"

"É Edward."

"Como você conseguiu esse número?"

Ele ficou quieto por um segundo. "Brincadeira de criança."

"Por que você me caçou até aqui, Edward? O que está acontecendo?"

"Interessante escolha de palavras." Ele disse.

"Do que você está falando?"

"Apenas me ofereceram um contrato por sua vida, dinheiro o suficiente para valer meu esforço."

Foi a minha vez de ficar quieta. "Você aceitou?"

"Eu estaria te ligando se tivesse aceitado?"

"Talvez." Eu disse.

Ele riu. "Verdade, mas eu não vou aceitar ele."

"Por que não?"

"Amizade."

"Tente de novo." Eu disse.

"Eu percebi que vou matar mais pessoas te protegendo. Se eu aceitar o contrato, eu apenas vou matar você."

"Confortante. Você disse proteger?"

"Eu estarei na cidade amanhã."

"Você tem certeza que nenhuma outra pessoa vai aceitar o contrato?"

"Eu nem mesmo abro a minha porta pro menos de cem mil, Anita. Alguém vai pegar a chance, e vai ser alguém bom. Não tão bom quanto eu, mas bom."

"Algum conselho até você chegar na cidade?"

"Eu não dei minha reposta ainda. Isso vai atrasar eles. Quando eu disser que não, vai levar mais um pouco de tempo até eles contatarem outro atirador. Você deve ficar segura por esta noite. Aproveite sua semana de folga."

"Como você sabe que eu tive uma semana de folga?"

"Craig é um secretário muito comunicativo. Bem útil."

"Eu terei que conversar com ele sobre isso." Eu disse,

"Faça isso."

"Você tem certeza que não vai ter nenhum atirador na cidade hoje?"

"Nada na vida é certo, Anita, mas eu não iria gostar se um cliente tentasse me contratar e então desse o trabalho para outra pessoa."

"Você perde muitos clientes nas suas mãos?" Eu perguntei.

"Sem comentários." Ele disse.

"Então, uma última noite em segurança." Eu disse.

"Provavelmente, mas seja cuidadosa de qualquer forma."

"Quem colocou essa oferta contra mim?"

"Eu não sei." Edward disse.

"Como assim, você não sabe? Você tem que saber para você ser pago."

"Eu trabalho com intermediários na maioria das vezes. Abaixa as chances do próximo cliente ser um policial."

"Como você encontra os chefões se eles te enxerem?"

"Eu posso achar eles, mas leva tempo. Anita, se você tem um bom atirador na sua cola, tempo é uma coisa que você não tem."

"Ah, isso é confortador."

"Não era para ser confortador." Ele disse. "Você consegue pensar em alguém que te odeia muito e tem esse tanto de dinheiro?"

Eu pensei nisso por um minuto. "Não. A maioria do pessoal que se enquadra no perfil está morto."

"Os únicos inimigos bons, são os inimigos mortos." Edward disse.

"É."

"Eu ouvi um boato que você está namorando o mestre da cidade. É verdade?"

Eu hesitei. Eu percebi que estava com vergonha de admitir a verdade para Edward. "É. É verdade."

"Eu tinha que ouvir você falar." Eu quase pude ouvir ele balançar sua cabeça do outro lado da linha.

"Merda, Anita, você é mais esperta que isso."

"Eu sei." Eu disse.

"Você deu um fora no Richard?"

"Não."

"Com qual monstro você está hoje, chupador de sangue ou comedor de carne?"

"Nenhum da sua maldita conta." Eu disse.

"Certo. Pegue o monstro da sua preferência hoje a noite, Anita, tenha um bom tempo. Amanhã vamos começar a tentar te manter viva." Ele desligou. Se tivesse sido qualquer outra pessoa, eu teria dito que ele estava bravo sobre o fato de eu estar namorando um vampiro. Ou talvez desapontado seja a palavra certa.

Eu desliguei o telefone e sentei ali por uns minutos, absorvendo tudo. Alguém estava tentando me matar. Nenhuma novidade até aí, mas esse estava procurando ajuda especializada. Isso era novidade. Eu nunca tive um assassino na minha cola antes. Eu esperei o medo se apoderar de mim, mas ele não veio.

Ah, em um modo vago, eu estava com medo, mas não do jeito que eu deveria estar. Não era que eu não acreditava que isso estava acontecendo. Eu acreditava. Era apenas tão mais do que tem acontecido pelo último ano que eu não podia me exaltar ainda.

Se o assassino pulasse do nada e começasse a atirar, eu lidaria com isso.

Talvez depois eu até teria meu ataque de nervos. Mas eu não tinha tantos ataques de nervos mais. Parte de mim estava anestesiada, como em um combate veterano. Havia apenas tanto pra absorver, que você parava de tentar. Eu quase desejei que eu estivesse com medo. Medo te manterá viva, indiferença não.

Em algum lugar fora dali, amanhã, alguém colocaria meu nome na lista dos afazeres. Pegar a roupa na lavanderia, fazer compras no supermercado, matar Anita Blake.


3

Eu voltei para a sala de estar e encontrei os olhos de Richard. Eu estava meio que pronta para ir pra casa. De alguma forma, saber que havia um assassino lá fora, ou teria em breve, havia estragado a noite.

"O que há de errado?" Richard perguntou.

"Nada." Eu disse. Eu sei, eu sei, eu deveria contar a ele, mas como você conta ao seu docinho que haviam pessoas querendo te matar? Não ia ser em um quarto cheio de pessoas. Talvez no carro.

"Sim, tem algo. Você tem essa tensão entre suas sobrancelhas, o que significa que você está tentando não franzir a testa."

"Não, eu não estou."

Ele passou seu dedo suavemente entre meus olhos. "Sim, você está."

Eu olhei para ele. "Não estou."

Ele sorriu. "Agoravocê está franzindo." Seu rosto ficou mais sério. "O que está errado?"

Eu suspirei. Eu cheguei mais perto dele, não por romance, mas por privacidade. Vampiros tinham a audição inacreditavelmente boa, e eu não queria que Robert soubesse. Ele repassaria para Jean-Claude. Se eu quisesse que Jean-Claude soubesse, eu diria a ele eu mesma.

"Era Edward no telefone."

"O que ele queria?" Richard estava franzindo a testa agora, também.

"Alguém tentou contratar ele para me matar."

Uma expressão de total surpresa floresceu em seu rosto, e eu estava feliz que suas costas estavam para a sala. Ele fechou sua boca, abriu, e finalmente disse, "Eu iria dizer que você está brincando, mas eu sei que não está. Por que alguém iria querer você morta?"

"Há um bocado de gente que gostaria de me ver morta, Richard. Mas nenhum deles tem a quantia de dinheiro que foi oferecida ao atirador."

"Como você pode estar tão calma sobre isso?"

"Iria resolver alguma coisa se eu ficasse histérica?"

Ele balançou sua cabeça. "Não é isso." Ele pareceu pensar por um segundo. "É que você não está indignada com o fato de que alguém está tentando te matar. Você apenas aceitou isso, quase como se fosse normal. Não é normal."

"Assassinos não são normais, nem para mim, Richard." Eu disse.

"Apenas vampiros, zumbis e lobisomens." Ele disse.

Eu sorri. "Aham."

Ele me abraçou fortemente e sussurrou, "Te amar pode ser bem assustador as vezes."

Eu passei meus braços em volta de sua cintura, descansando meu rosto contra seu peito. Eu fechei meus olhos, e apenas por um momento eu respirei o cheiro dele. Era mais que sua loção pós-barba, era o cheiro de sua pele, seu calor. Ele. Por apenas um momento, eu me apertei contra ele e deixei todo o resto pra lá. Eu deixei seus braços serem meu refúgio. Eu sabia que uma bala bem situada iria destruir tudo isso, mas por alguns segundos, eu me senti segura. Ilusão as vezes é tudo que nos mantém são.

Eu me afastei dele com um suspiro. "Vamos nos lamentar para Catherine e dar o fora daqui."

Ele tocou minha bochecha gentilmente, olhando em meus olhos. "Nós podemos ficar, se você quiser."

Eu descansei minha bochecha contra sua mão e balancei minha cabeça. "Se a merda do atirador começar a me seguir amanhã, eu não quero perder essa noite em uma festa. Eu prefiro voltar para o meu apartamento e ficarmos juntinhos."

Ele me deu aquele sorriso que me aquecia até os dedos do pé. "Me parece um bom plano."

Eu sorri de volta porque eu não conseguia não sorrir de volta. "Eu vou falar com Catherine."

"Eu vou pegar os casacos." Ele disse.

Nós fizemos nosso dever e fomos embora mais cedo. Catherine me deu um sorriso malicioso. Eu queria que ela estivesse certa. Ir embora mais cedo para pular nos ossos de Richard estava meio longe da verdade.

Monica nos assistiu ir embora. Eu sabia que ela e Robert iriam reportar isso para Jean-Claude. Certo. Ele sabia que eu estava namorando Richard. Eu não menti para ninguém. Monica era uma advogada que trabalha na firma, apesar dela fazer tudo sozinha, então ela tinha uma legitima razão para ser convidada. Jean-Claude não havia ordenado isso, mas eu não gostava de ser espionada, não importa como.

A ida até o carro foi torturantemente tensa. Cada sombra de repente era um esconderijo em potencial. Cada barulho um passo.

Eu não saquei minha arma, mas minhas mãos doíam de vontade. "Merda." Eu disse suavemente. A anestesia estava indo embora. Eu não tinha certeza se isso era uma melhora.

"O que?" Richard perguntou. Ele estava de repente vistoriando a escuridão, não olhando para mim enquanto falava. Suas narinas se abriram apenas um pouco, e eu percebi que ele estava cheirando o vento.

"Apenas nervos. Eu não vejo ninguém lá fora, mas eu só estou olhando tão fixamente."

"Eu não sinto o cheiro de ninguém perto de nós, mas eles podem estar contra o vento. A única arma que eu sinto é a sua."

"Você pode cheirar minha arma?"

Ele assentiu. "Você limpou ela recentemente. Eu posso sentir o cheiro do óleo."

Eu sorri e balancei minha cabeça. "Você é tão malditamente normal, as vezes eu esqueço que você fica peludo todo mês."

"Sabendo o quão boa você é em detectar licantropos, isso é um belo elogio." Ele sorriu. "Você acha que assassinos vão cair das árvores e agarrar sua mão nesse instante?"

Eu sorri. "Eu acho que estamos a salvo, por enquanto."

Ele curvou seus dedos em volta da minha mão e uma formigação subiu pelo meu braço como se ele tivesse tocado algum nervo. Ele roçou seu dedão fazendo pequenos círculos atrás da minha mão e respirou profundamente.

"É quase bom saber que esse negócio de assassinos te deixa nervosa também. Eu não quero você com medo, mas as vezes é difícil ser o cara quando eu penso que você é mais valente que eu. Isso soa como um lixo machista, não é?"

Eu olhei para ele. "Há muito lixo machista pelo mundo a fora, Richard. Pelo menos você sabe que é lixo."

"Esse lobo chauvinista pode te beijar?"

"Sempre."

Ele inclinou seu rosto para baixo, e eu me levantei um pouco para sua boca encontrar com a minha, minha mão em seu peito, para equilíbrio. Nós poderíamos nos beijar sem eu me levantar um pouco, mas Richard tende a ficar com torcicolo.

Foi um beijo mais rápido que o normal porque eu tinha essa formigação no meio das minhas costa, bem entre a pistoleira de ombro se cruzava.

Eu sabia que era a minha imaginação, mas eu me sentia exposta demais em um lugar aberto.

Richard percebeu e se afastou. Ele foi para o lado do motorista e abriu sua porta, se inclinou até o assento do passageiro para destrancar a minha porta. Ele não abriu ela para mim. Ele era mais esperto que isso. Eu podia abrir a minha própria porta.

O carro de Richard era um antigo Mustang, 60 alguma coisa, um Mach One. Eu sabia tudo isso porque ele tinha me dito. Era laranja com linhas retas pretas. Os assentos eram de couro preto, os assentos da frente eram pequenos o suficiente para segurarmos as mãos quando ele não estava usando a marcha.

Richard parou na 270 Sul. O trânsito de uma sexta a noite estendia em volta de nós em luzes reluzentes. Todo o resto estava tentando aproveitar seu fim de semana. Eu me perguntei quantos deles tinham assassinos atrás deles. Eu estava apostando que era a única entre tantos.

"Você está quieta." Richard disse.

"É."

"Eu não vou perguntar o que você está pensando. Eu acho que sei."

Eu olhei para ele. A escuridão do carro em volta de nós. Carros a noite são como seu próprio mundo privado, silencioso e escuro, íntimo. As luzes do tráfego passava pelo rosto de Richard, iluminando ele, e então nos deixando de novo na escuridão.

"Como você sabe que eu não estou pensando em como você é sem suas roupas?"

Ele sorriu abertamente. "Provocação."

Eu sorri. "Desculpe. Sem insinuações sexuais a menos que eu realmente vá pular em seus ossos{3}."

"Essa é sua regra, não minha." Richard disse. "Eu sou um garoto crescido. Me dê toda a insinuação sexual que quiser, eu agüento."

"Se eu não vou dormir com você, não parece justo."

"Deixe eu me preocupar com isso." Ele disse.

"Por que, Sr. Zeeman, você está me instigando a abusar de você?"

Seu sorriso aumentou, uma brancura no escuro. "Ah, por favor."

Eu me inclinei até ele o quanto o cinto deixava, colocando uma mão atrás de seu assento, levando meu rosto a centímetros da extensão macia de seu pescoço. Eu respirei profundamente e deixei o ar sair devagar, tão perto de sua pele que minha própria respiração voltou para mim mais quente.

Eu beijei a curva de seu pescoço, correndo meus lábios suavemente para baixo e para cima em sua pele. Richard fez um pequeno e satisfeito som.

Eu levantei meus joelhos até meu assento, me esforçando contra o cinto de segurança para poder beijar o grande pulso em seu pescoço, a curva em sua mandíbula. Ele virou seu rosto para mim. Nós nos beijamos, mas meus nervos não estavam muito bons.

Eu virei meu rosto do dele. "Você olha a rua."

Ele mudou a marcha, seu antebraço roçando contra meus peitos. Eu suspirei contra ele, colocando minha mão na dele, segurando ela na marcha, mantendo seu braço pressionado contra mim.

Nós ficamos parados por um segundo, então ele se moveu contra mim, friccionando. Eu me afastei de seu braço, me sentando de volta em meu assento. Eu não podia respirar normalmente com o pulso na minha garganta. Eu me arrepiei, me abraçando. Sentir seu corpo contra o meu fez lugares em todo meu corpo se apertarem.

"O que foi?" Ele disse, sua voz baixa e suave.

Eu balancei minha cabeça. "Nós não podemos continuar com isso."

"Se você parou por minha causa, eu estava tendo um tempo bom."

"Eu também. Esse é o problema." Eu disse.

Richard respirou profundamente, deixando o ar sair em um suspiro. "Só é um problema porque você faz ser um, Anita."

"É, certo."

"Case comigo, Anita, e tudo isso pode ser seu."

"Eu não vou me casar com você só pra poder dormir com você."

"Se fosse apenas sexo, eu não iria querer que você se casasse comigo." Richard disse. "Mas é pelos momentos abraçados no sofá, assistindoSinging in the Rain. É por comer comida chinesa e saber que devo pedir caranguejo Rangoon extra. Eu posso pedir comida por nós dois na maioria dos restaurantes da cidade."

"Você está dizendo que eu sou previsível?"

"Não faça isso. Não menospreze." Ele disse.

Eu suspirei. "Me desculpe, Richard. Eu não quis dizer isso. Eu apenas..."

Eu não sabia o que dizer, porque ele estava certo. Meu dia era mais completo quando eu o dividia com Richard. Eu comprei para ele uma caneca que apenas aconteceu de eu ver em uma loja. Tinham lobos nela, e dizia, "Na loucura de Deus reside a esperança de um belo mundo novo, sem destruição, sem um deserto purgatório." Era uma frase de John Muir. Nenhuma ocasião especial, apenas a vi, soube que Richard iria gostar, e comprei. Uma dúzia de dias antes eu tinha ouvido algo no rádio ou em uma conversa, e eu pensei, eu devo me lembrar de contar isso ao Richard. Foi Richard quem me levou para minha primeira viagem para observar pássaros desde o colégio.

Eu tinha graduação em biologia, biologia sobrenatural. Uma vez eu pensei que passaria minha vida como uma bióloga de campo, como uma versão sobrenatural de Jane Goodall. Eu gostei da observação de pássaros, parte porque ele estava comigo, parte porque eu gostava disso há anos atrás. Era como se eu tivesse me esquecido que havia vida fora de gatilhos e túmulos. Eu estive com o pescoço afundando em sangue e mortes por tanto tempo, e então Richard apareceu. Richard que também tinha seu pescoço fundo em coisas estranhas, mas que conseguia ter uma vida.

Eu não conseguia pensar em nada melhor do que acordar ao lado dele, procurar pelo seu corpo era a primeira coisa que eu fazia, saber que eu voltaria para casa, para ele. Ouvir sua coleção de Rodgers e Hammerstein, assistir seu rosto enquanto ele assistia os musicais de Gene Kelly.

Eu quase abri minha boca e disse, vamos fazer isso, vamos nos casar, mas não disse. Eu amava Richard. Eu podia admitir isso para mim mesma, mas isso não era o suficiente. Havia um assassino atrás de mim. Como eu poderia envolver um gentil professor nesse tipo de vida? Ele era um dos monstros, mas ele não aceitava isso. Ele estava em uma batalha pela liderança do bando local de lobisomens.

Ele havia brigado com o atual líder do bando, Marcus, duas vezes, e duas vezes se recusou a matá-lo. Se você não matar, você não consegue ser líder. Richard era apegado à sua moral. Apegado à valores que apenas funcionavam quando as pessoas não estavam tentando te matar. Se eu casasse com ele, sua chance de ter uma vida normal iria sumir.

Eu vivia no meio de uma zona de tiros livre. Richard merecia algo melhor.

Jean-Claude vivia no mesmo mundo que eu. Ele não tinha ilusões sobre as gentilezas de estranhos, ou de qualquer outra pessoa que importava. O vampiro não ficaria chocado em saber as novidades quanto ao assassino. Ele simplesmente iria me ajudar a ter um plano sobre o que fazer. Eu não iria brigar com ele por isso, ou não muito.

Haviam noites que eu pensava que Jean-Claude e eu nos merecíamos.

Richard se virou na Olive. Nós estaríamos logo em meu apartamento, e o silêncio estava ficando um pouco denso demais. Silêncios normalmente não me incomodam, mas esse incomodava. "Me desculpe, Richard. De verdade, me desculpe."

"Se eu não soubesse que você me ama, isso seria mais fácil." Ele disse. "Se não fosse por aquele maldito vampiro, você se casaria comigo."

"Aquele maldito vampiro nos apresentou." Eu disse.

"Ele se arrepende, não pense que ele não se arrepende." Richard disse.

Eu olhei para ele. "Como você sabe isso?"

Ele balançou sua cabeça. "Tudo que você tem que fazer é olhar para o rosto dele quando estamos juntos. Eu posso não gostar de Jean-Claude, e eu odeio o pensamento de você com ele, mas nós dois não somos os únicos machucados aqui. É um jogo de três pessoas, não pense que não é."

Eu me encolhi em meu assento, de repente triste. Eu quase teria dado boas vindas ao atirador se ele aparecesse na escuridão. De mortes eu entendia. Relacionamentos me confundiam. Se bem que esse relacionamento é mais confuso que o da maioria.

Richard virou no estacionamento do meu prédio. Ele estacionou o carro e desligou o motor. Nós ficamos ali sentados no escuro, a única iluminação era um brilho distante de um poste.

"Eu não sei o que dizer, Richard." Eu olhei para fora, pelo parabrisa, concentrando em um lado do prédio, covarde demais para olhar para ele enquanto conversávamos. "Eu não iria te culpar por apenas dizer ‘pro inferno com isso’. Eu não iria tolerar esse tipo de indecisão de você, e eu não iria dividir você com outra mulher." Finalmente eu olhei para ele.

Ele estava encarando diretamente para frente, não olhando para mim.

Meu coração se acelerou. Se eu realmente era tão corajosa quanto pensava, eu teria que deixar ele ir. Mas eu amava ele, e não era tão corajosa assim. O melhor que eu podia fazer era não dormir com ele. Não deixar o relacionamento tomar o próximo passo. Isso já era difícil o suficiente. Até mesmo meu auto-controle era limitado.

Se nós estivéssemos planejando o casamento, eu poderia esperar. Com um ‘fim da linha’, meu auto-controle teria um fim, mas não havia fim da linha em vista. Castidade funciona melhor se você não ficar testando seu controle com muita freqüência.

Eu tirei o cinto de segurança, destravei e abri minha porta. Richard tocou meu ombro antes que eu saísse. "Não vai me convidar para subir?"

Eu deixei sair minha respiração que não tinha percebido que estava segurando e olhei para ele. "Você quer ser convidado?"

Ele assentiu.

"Eu não sei porque você continua comigo." Eu disse.

Ele sorriu e se inclinou até mim, me dando um gentil selinho. "As vezes eu também não tenho certeza."

Nós saímos. Richard ofereceu sua mão para mim e eu a peguei.

Um carro parou do nosso lado, do lado do meu próprio Jeep.

Era minha vizinha, Sra. Pringle. Ela tinha um enorme televisão amarrada em sua carroceria.

Nós andamos até a calçada e esperamos ela sair do carro. Ela era uma mulher alta, e quase dolorosamente magra pela idade. Seu cabelo branco como neve estava preso em um coque em sua cabeça.

Custard, seu Pomeranian, pulou do carro e parou latindo para nós. Ele parecia com uma bola de pêlos poderosa com pequenas patas de gato. Ela dava saltos com suas patas duras. Ele cheirou o pé de Richard e olhou para cima, para ele, com um pequeno rosnado.

Sra. Pringle puxou a guia da coleira dele. "Custard, se comporte."

O cachorro quietou, mas eu acho que foi mais pelo olhar fixo de Richard do que pela bronca da Sra. Pringle. Ela sorriu para nós. Ela tinha a mesma luz em seus olhos que a Catherine tinha. Ela gostava de Richard e não tentava disfarçar isso.

"Bom, agora, isso é vantajoso. Eu preciso de um jovem com fortes braços para carregar essa monstruosa TV escadas acima, para mim."

Richard sorriu para ela. "Feliz em servir." Ele andou em volta da caminhonete e começou a destravar a carroceria.

"O que você faz com o Custard enquanto você faz compras?" Eu perguntei.

"Eu carrego ele comigo. Eu já gastei uma boa quantia nessa loja antes. O vendedor quase saliva quando eu passo pela porta, então eles permitem Custard."

Eu tive que sorrir. Houve um barulho quando as cordas foram soltas. "Eu vou ajudar Richard." Eu andei até atrás da caminhonete. A corda estava densa e caída na calçada. Eu levantei minhas sobrancelhas para ele e sussurrei, "Oh, vovozinha, que mãos fortes você tem."

"Eu poderia carregar a TV sozinho, mas isso poderia parecer suspeito."

Era uma TV de trinta polegadas. "Você realmente poderia subir as escadas com essa TV, sozinho?"

"Facilmente." Ele disse.

Eu balancei minha cabeça. "Mas você não vai fazer isso porque você é apenas um professor de ciências, não um lobisomem alfa."

"Que é porque de você me ajudar." Ele disse.

"Vocês estão tendo problemas em desamarrar a corda?" Sra. Pringle perguntou. Ela andou até nós com Custard do lado.

"Não." Eu disse, dando a Richard um olhar. "Nós lidamos com a corda." Se as pessoas descobrissem que Richard era um licantropo, ele perderia seu trabalho. Era ilgeal discriminar, mas acontecia o tempo todo.

Richard ensinava crianças. Ele seria intitulado como um monstro, e a maioria das pessoas não deixam monstros ensinarem suas crianças.

Sra. Pringle e Custard guiaram o caminho. Eu estava na parte de trás, meio que firmando a caixa da TV, mas Richard estava segurando todo o peso. Ele andou escadas acima como se a caixa não pesasse nada, pressionando suas pernas, esperando eu dar outro passo. Ele fez uma cara para mim, soando um zumbindo por baixo de sua respiração como se estivesse entediado. Licantropos são mais fortes do que pobres seres humanos. Eu sabia disso, mas parecia um pouco inquietante ser lembrada.

Nós andamos pelo corredor, e ele me deixou ter um pouco do peso. A coisa era pesada, mas eu segurei, e nós continuamos a andar até o apartamento da Sra. Pringle, que ficava perto do meu.

"Eu deixei a porta aperta." Ela chamou.

Nós estávamos na frente da porta, começando a fazer uma manobra, quando Custard entrou no meio de nós dois, debaixo da caixa, fazendo um rastro com a guia de sua coleira.

"Custard, volte aqui."

Richard levantou seus braços, pegando todo o peso. "Pegue ele, eu posso entrar."

Eu deixei ele entrar no apartamento fingindo força e fui atrás do cachorro. Eu esperava que ele tivesse descido as escadas, mas ele estava farejando minha porta, choramingando. Eu ajoelhei e peguei o fim da sua guia, puxando ele de volta para mim.

Sra. Pringle apareceu na porta, sorrindo. "Eu vejo que você conseguiu pegar esse pequeno malandro."

Eu dei a ela a guia. "Eu tenho que pegar uma coisa no meu apartamento. Eu tenho certeza que Richard pode te ajudar a ajeitar a TV."

"Muito obrigada." Ele falou lá de dentro do apartamento.

Sra. Pringle riu. "Eu darei a vocês dois um chá gelado, ao menos que vocês tenham coisas melhores para fazer." Havia um olhar malicioso em seus olhos azuis que me fizeram ficar vermelha. Ela piscou para mim, juro por Deus.

Quando a porta esteve seguramente fechada com ela e Richard do outro lado, eu fui até o meu apartamento. Eu cruzei o corredor. Eu peguei a Browning e destravei a segurança. Eu me abaixei em volta da minha porta. Talvez eu estivesse sendo paranóica. Talvez Custard não tivesse cheirando ninguém no meu apartamento. Mas ele nunca choramingou na minha porta assim antes. Talvez a ligação de Edward tenha me deixado nervosa. Mas melhor nervosa que morta. Por mais paranóico que fosse.

Eu ajoelhei em frente a porta e respirei fundo, deixando o ar sair devagar. Eu peguei minhas chaves no bolso da minha jaqueta com a mão esquerda. Eu me agachei o máximo que pude para destrancar a porta e ainda ter uma posição decente para atirar. Se houvesse um cara mau ali, ele provavelmente atiraria na altura do peito. De joelhos, eu estava muito mais abaixo da altura do peito. Eu coloquei a chave na fechadura. Nada aconteceu. O apartamento estava provavelmente vazio, exceto pelo meu peixe pensado em que diabos eu estava fazendo. Eu girei a maçaneta, empurrando a porta para dentro e um buraco explodiu pela porta, trovejando pela minha cabeça como um tiro de canhão. Não houve nenhum som por um segundo. A porta bateu fechada com a força do tiro, e pelo buraco na porta eu vi um homem com uma escopeta levantada em seus ombros. Eu atirei uma vez pelo buraco. A porta balançou aberta, ainda balançando pela explosão da escopeta. Eu me joguei para um lado, a arma ainda apontada para a porta agora aberta.

A escopeta atirou novamente, enchendo o corredor com pedaços de madeira.

Eu atirei mais duas vezes, acertando o homem no peito nas duas vezes. Ele cambaleou, sangue fluindo em seu casaco, e caiu reto de costas. A escopeta caiu no carpete perto de seu pé.

Eu fiquei de joelhos, costas pressionadas na parede indo até perto da minha cozinha. Tudo que eu podia ouvir era o zunido em meu ouvido, e de modo tênue, meu próprio sangue correndo em minha cabeça.

Richard estava de repente na porta , como um alvo. "Abaixe-se! Ele pode não estar sozinho!" Eu não tinha certeza o quão alto eu estava gritando. Meu ouvido ainda estava zunindo. Richard se agachou do meu lado. Eu acho que ele tinha dito meu nome, mas eu não tinha tempo para isso. Eu me levantei um pouco, minhas costas na parede, a arma num aperto de duas mãos. Ele começou a se levantar. Eu disse, "Fique abaixado." Ele ficou. Ponto para ele.

Eu pude ver que não havia ninguém na frente do meu apartamento. Ao menos que houvesse alguém escondido no quarto, o atirador estava sozinho. Eu me aproximei dele, devagar, a arma apontada.

Se ele se movesse o mínimo que fosse, eu iria atirar nele de novo, mas ele não se moveu. A escopeta estava em seus pés. Eu nunca tinha visto ninguém usar uma arma com os pés, então eu deixei do jeito que estava.

Ele estava deitado de costas, um braço acima de sua cabeça, o outro do seu lado. Seu rosto estava calmo com a morte, seus olhos abertos e desprovidos de visão. Eu não precisava realmente checar seu pulso, mas eu chequei de qualquer forma. Nada. Havia três buracos em seu peito. Eu tinha acertado ele no primeiro tiro, mas não tinha matado ele de primeira. Isso quase tinha custado a minha vida.

Richard veio atrás de mim. "Não há mais ninguém no apartamento, Anita."

Eu não argumentei com ele. Eu não perguntei se ele sabia disso cheirando ou ouvindo. Eu não me importava. Eu chequei o quarto e o banheiro apenas para ter certeza e voltei para achar Richard encarando o homem morto.

"Quem é ele?" Richard perguntou.

Me ocorreu que eu podia ouvir de novo. Sorte minha.

Eu ainda tinha um pequeno zumbido no meu ouvido, mas iria passar. "Eu não sei."

Richard olhou para mim. "Ele era o... atirador?"

"Eu acho que sim." Havia um buraco na porta grande o suficiente que dava para passar por ele agachada. A porta ainda estava aberta.

A porta da Sra. Pringle estava fechada, mas o batente da porta estava descascado como se algo tivesse tirado um pedaço dele. Se ela estivesse parada ali, ela teria sido morta.

Eu ouvi distantemente o barulho das sirenes da polícia. Eu não podia culpar os vizinhos por ter ligado para eles.

"Eu vou fazer umas ligações antes que os policiais cheguem aqui."

"E então o que?" Ele perguntou.

Eu olhei para ele. Ele estava pálido, o branco de seus olhos aparecendo um pouco demais. "E então nós iremos com os bons policias até a delegacia para responder algumas perguntas."

"Foi auto-defesa."

"Sim, mas ele continua morto no meu carpete." Eu fui até meu quarto, procurando pelo telefone. Eu estava tendo um pouco de problema em lembrar onde eu tinha deixado ele, como se eu nunca tivesse tirado ele do criado. Surpresas sempre são divertidas.

Richard de encostou na porta. "Pra quem você vai ligar?"

"Dolph, e talvez Catherine."

"Um policial amigo eu entendo, mas por que Catherine?"

"Ela é advogada."

"Ah." Ele disse. Ele deu uma olhada para o homem morto, que estava sangrando por todo meu carpete branco. "Namorar você nunca é entediante, eu te dou essa."

"E é perigoso." Eu disse. "Não se esqueça do perigoso." Eu liguei para o numero de Dolph, que eu sabia de memória.

"Eu nunca esqueço que você é perigosa, Anita." Richard disse. Ele me encarou e seus olhos eram da cor de âmbar, a cor dos olhos de lobos. Sua besta se deslizava atrás daqueles olhos, espiando. Provavelmente por causa do cheiro de sangue fresco. Eu encarei esses olhos aliens e soube que eu não era a única coisa perigosa do quarto.

Mas claro, eu estava armada. O homem morto podia confirmar isso. Uma risada fez cócegas na minha garganta. Eu tentei segurá-la, mas ela saiu, e eu estava dando uma risadinha quando Douph atendeu o telefone. Rir era melhor que chorar, eu acho. Se bem que eu não tinha certeza se Douph também pensava assim.


4

Eu sentei em uma cadeira com a parte de trás reta atrás de uma pequena mesa arranhada em uma sala de interrogação. Ah, desculpe, sala de entrevista. Era assim que estavam chamando agora. Chame do que quiser, ainda cheirava como suor velho e cigarros, com uma camada de desinfetante. Eu estava bebendo meu terceiro copo de café e minhas mãos ainda estavam frias.

Detetive Argento Rudolph Storr estava inclinado na parede mais distante. Seus braços estavam cruzados em seu peito, e ele estava tentando ser discreto, mas quando você mede seis pés de oito palmos e parecia com um lutador, isso era difícil. Ele não tinha dito nenhuma palavra durante a entrevista. Estava lá apenas para observar.

Catherine estava sentada do meu lado. Ela estava com um blazer preto por cima de seu vestido verde, e tinha trazido sua maleta, e estava sentada usando seu rosto de advogada.

Detetive Branswell estava sentado do lado oposto da gente. Ele tinha por volta dos 30, tinha cabelos escuros, complexadamente escuro, com os olhos tão escuros quanto seu cabelo. Seu nome era inglês, mas ele parecia mediterrâneo, como se ele tivesse saído de um barco de azeitonas. Seu sotaque era inteiramente de algum lugar de Missouri.

"Agora, Srta. Blake, me conte o que aconteceu apenas mais uma vez. Por favor." Ele posicionou sua caneta em seu bloco, como se ele fosse escrever tudo que eu fosse dizer de novo.

"Nós ajudamos minha vizinha a carregar sua nova televisão."

"Sra. Edith Pringle, sim, ela confirmou isso. Mas por que você foi até o seu apartamento?"

"Eu ia pegar uma chave de fenda para ajudar a instalar a televisão."

"Você tem muitas ferramentas, srta. Blake?" Ele escreveu algo em seu bloco. Eu estava apostando que era algo idiota.

"Não, detetive, mas eu tenho uma chave de fenda."

"A Sra. Pringle te pediu para pegar essa chave de fenda?"

"Não, mas ela já tinha usado ela quando comprou seu som." O que era verdade. Eu estava tentando manter as mentiras no nível absolutamente mínimo.

"Então você supôs que ele precisava da ferramenta."

"Sim."

"E então o que?" Ele perguntava como se já não tivesse ouvido antes. Seus olhos pretos eram intensos e vazios, ilegíveis e ansiosos ao mesmo tempo. Nós estávamos chegando na parte que ele parecia não acreditar.

"Eu destranquei a porta e deixei as chaves caírem. Eu me abaixei para pegá-las e o primeiro tiro explodiu acima da minha cabeça. Eu devolvi o tiro."

"Como? A porta estava fechada."

"Eu atirei pelo buraco que a escopeta tinha feito na porta."

"Você atirou em um homem pelo buraco na porta e o acertou."

"Era um buraco grande, detetive, e eu não tinha certeza se tinha acertado ele."

"Por que o segundo tiro não te acertou, srta. Blake? Não havia sobrado muito da porta para você se esconder atrás dela. Onde você estava, srta. Blake?"

"Eu te disse, o tiro balançou a porta para dentro. Eu acertei o chão, no lado. O segundo tiro veio acima de mim."

"E você atirou mais duas vezes no peito do homem." Detetive Branswell disse.

"Sim."

Ele me olhou por um longo momento, estudando meu rosto. Eu olhei em seus olhos sem piscar. Não era tão difícil. Eu estava anestesiada, vazia e distante. Ainda havia uma pequena linha de zumbido no meu ouvido por estar tão malditamente perto dos dois tiros da escopeta. Os zumbidos iriam sumir. Normalmente eles somem.

"Você conhecia o homem que você matou?"

Catherine tocou meu braço. "Detetive Branswell, minha cliente tem sido mais que prestativa. Ela te disse várias vezes que não reconhecia o defunto."

Ele virou umas páginas para trás em seu bloco. "Você está certa, advogada. Srta. Blake tem sido prestativa. O homem morto era James Dugan, Jimmy "O atirador". Ele tem uma fama tão grande quanto a sua altura, srta. Blake. Ele é o músculo local. Alguém que você liga quando você quer algo barato e rápido e não se importa com o quão bagunçado isso vai ser." Ele me encarou enquanto falava, estudando meus olhos.

Eu pisquei para ele.

"Você conhece alguém que gostaria de te ver morta, srta. Blake?"

"Não de cabeça." Eu disse.

Ele fechou seu bloco e se levantou. "Eu irei reportar homicídio justificado para o DA. Eu duvido que iremos nos ver em um tribunal."

"Quando eu pego a minha arma de volta?" Eu disse.

Branswell me encarou. "Quando o pessoal da balística terminarem com ela, srta. Blake. E eu estaria malditamente grato por estar pegando ela de volta." Ele balançou sua cabeça. "Eu ouvi historias sobre você pelos últimos policiais que atenderam a chamada em seu apartamento. Algo envolvendo zumbis assassinos." Ele balançou sua cabeça de novo. "Não me leve a mal, srta. Blake, mas você não tem considerado a idéia de mudar de prédio?"

"Meu síndico provavelmente vai sugerir a mesma coisa." Eu disse.

"Aposto que sim." Branswell disse. "Advogada, Sargento Storr."

"Obrigado por me deixar acompanhar isso, Branswell." Douph disse.

"Você tinha dito que era um dos seus. Além do mais, eu conheço Gross e Brady. Eles eram os primeiros oficiais na cena dos zumbis. Eles disseram coisas boas sobre ela. Eu tenho conversado com quase uma dúzia de oficiais que disseram que a Srta. Blake salvou a bunda deles ou ficou do lado deles em uma linha de fogo sem nem piscar. Isso te dá muitos pontos, Blake, mas esses pontos não são ilimitados. Vigie suas costas, e tente não atirar em algum inocente passando." Com isso, ele se foi.

Douph me encarou. "Eu te levarei de volta para casa."

"Richard está me esperando." Eu disse.

"O que está acontecendo, Anita?"

"Eu disse a Branswell tudo que eu sei."

Catherine se levantou. "Anita respondeu todas as perguntas que ela vai responder por hoje a noite."

"Ele é um amigo." Eu disse.

"Ele também é um policial." Catherine disse. Ela sorriu. "Não é, Sargento Storr?"

Douph a encarou por um minuto. "Isso certamente é verdade, Sra. Maison-Gillette." Ele se desencostou da parede e olhou para mim. "Nós conversaremos depois, Anita."

"Eu sei." Eu disse.

"Vamos." Catherine disse. "Vamos dar o fora daqui antes que eles mudem de idéia."

"Você não acredita em mim?" Eu perguntei.

"Eu sou sua advogada. Claro que acredito em você."

Eu olhei para ela. Ela olhou para mim. Eu me levantei. Nós fomos. Eu me perguntei se Richard iria acreditar em mim. Provavelmente não.


5

Richard e eu andamos até o carro dele, no estacionamento da estação policial. Ele não tinha dito nenhuma palavra para mim. Ele apertou a mão de Catherine e foi direto para o carro. Ele entrou no seu lado. Eu deslizei pelo lado do passageiro. Richard começou a ligar o motor e a olhar pelo retrovisor.

"Você está bravo sobre alguma coisa." Eu disse.

Ele diminuiu a velocidade na rua. Ele sempre dirigia cuidadosamente quando estava bravo. "Com o que eu possivelmente poderia estar bravo?" O sarcasmo era denso o suficiente que eu poderia comê-lo com uma colher.

"Você acha que eu sabia que tinha um assassino no meu apartamento?"

Ele me deu um olhar que era de pura raiva. "Você sabia, e você me fez entrar e arrumar aquela maldita TV. Você me tirou da linha de fogo."

"Eu não tinha certeza, Richard."

"Eu aposto que você já estava com a arma na mão antes dele atirar."

Eu encolhi os ombros.

"Droga, Anita, você poderia ter sido morta."

"Mas não fui."

"Essa é sua resposta para tudo. Se você sobreviver, está tudo certo."

"Isso meio que acaba com as alternativas." Eu disse.

"Não faça brincadeiras." Richard disse.

"Olha, Richard, eu não saí caçando esse cara. Ele veio até mim."

"Por que você não me contou?"

"E aí você teria feito o que? Ido pela porta primeiro? Você teria levado um tiro certeiro no peito e sobreviveria. Como você explicaria isso? Iriam descobrir que você é um licantropo. Você iria perder seu emprego, no mínimo."

"Nós poderíamos ter ligado para a polícia."

"E falar o que para eles? Que Custard farejou minha porta? Se eles fossem lá investigar, eles teriam levado um tiro. O cara estava malditamente nervoso. Ele atirou pela porta, lembra? Ele não sabia quem ele estava atirando de primeira."

Ele virou na Olive balançando sua cabeça. "Você deveria ter me falado."

"O que mudaria, Richard? Exceto, talvez, que você tentaria bancar o herói, e se sobrevivesse, você teria perdido sua carreira."

"Merda, merda."Ele bateu suas mãos no volante de novo e de novo. Quando ele olhou para mim, seus olhos estavam tomados pela cor âmbar e meio aliens. "Eu não preciso que você me proteja, Anita."

"Digo o mesmo." Eu disse.

Silêncio encheu o carro como água gelada. Ninguém, além do cara malvado, havia morrido. Eu tinha feito a coisa certa. Mas isso era difícil de explicar.

"Não é que você tenha arriscado sua vida." Richard disse. "É que você se livrou de mim antes de fazer isso. Você nem ao menos me deu uma chance. Eu nunca interferiria com você fazendo seu trabalho."

"Você considera isso parte do meu trabalho?"

"Está mais perto da descrição do seu trabalho do que do meu." Ele disse.

Eu pensei nisso por um minuto. "Você está certo. Uma das razões que ainda estamos namorando é que você não é cheio de lixo machista pra cima de mim. Me desculpe. Eu deveria ter te avisado."

Ele me olhou com olhos que ainda estavam pálidos e em forma de lobo. "Eu acabei de vencer uma discussão?"

Eu sorri. "Eu admiti que estava errada. É a mesma coisa."

"Exatamente a mesma coisa."

"Então dê a você mesmo um ponto."

Ele sorriu abertamente para mim. "Por que eu não consigo ficar bravo com você, Anita?"

"Você é uma pessoa que perdoa fácil, Richard. Um de nós tinha que ser."

Ele parou no meu estacionamento pela terceira vez nessa noite. "Você não pode ficar aqui hoje a noite. A porta está em pedaços."

"Eu sei." Se eu fosse chutada do meu apartamento porque ele precisava de uma pintura, eu tinha amigos com quem podia ficar, ou tinham hotéis, mas os caras malvados provaram que não ligam pra quem vão machucar. Eu não poderia arriscar ninguém, nem estranhos em um hotel no quarto ao lado do meu.

"Venha para casa comigo." Ele disse. Ele parou o carro em espaço vazio perto das escadas.

"Eu não acho que essa seja uma boa idéia, Richard."

"O cara da escopeta não teria me matado. Eu iria me curar, porque não eram balas de prata. Quantos dos seus outros amigos podem dizer isso?"

"Não muitos." Eu disse silenciosamente.

"Eu tenho uma casa longe da cidade. Você não vai estar arriscando pessoas inocentes."

"Eu sei que você tem uma longe da cidade, Richard. Eu passei algumas tardes de domingo lá."

"Então você sabe que eu estou certo." Ele se inclinou na minha direção e seus olhos tinham voltado ao seu marrom normal. "Eu tenho um quarto de visitas, Anita. Não tem que ser mais do que isso."

Eu encarei ele a centímetros de distância. Eu podia sentir seu corpo como uma força apenas fora do alcance. Isso não era seus poderes de lobo. Era simplesmente pura atração física. Era perigoso concordar em ir para a casa de Richard. Talvez não para a minha vida, mas para outras coisas.

Se Jimmy, o cara da escopeta, tivesse um parceiro hoje a noite, eu estaria morta agora. Eu estava tão concentrada em matar ele, que um segundo maldito teria me jogado longe. Edward já deveria ter dito não para o contrato, e levava um pouco de tempo para acharem outro atirador do calibre de Edward. Então, em vez de esperarem, eles escolheram um barato e local, comprando a chance de que o mais barato poderia ter me matado e assim, teriam salvado várias quantias de dólares. Ou talvez, eles me queriam morta bem rápido mesmo, por uma razão que eu não entendia. De qualquer forma, eles me queriam realmente, bonitamente e malditamente morta. Normalmente, quando alguém te queria tanto assim morta, eles conseguiam. Não hoje ou amanhã, mas ao menos que Edward e eu pudéssemos descobrir quem está oferecendo esse contrato contra mim, a linhagem de talentos apenas iriam apenas continuar vindo.

Eu encarei o rosto de Richard, quase perto o suficiente para beijar. Eu pensei em nunca mais ver ele de novo. Sobre nunca mais tocar ele de novo. Sobre nunca satisfazer essa crescente vontade que perfumava o ar sempre que eu estava com ele. Eu toquei seu rosto, suavemente correndo a ponta de meus dedos abaixo em sua bochecha. "Ok."

"Você parece tão séria. Em que você está pensando, Anita?"

Eu me inclinei e beijei ele. "Sangue, morte e sexo. O que mais há lá fora?"

Nós saímos do carro. Eu enchi meu alimentador automático para peixe o suficiente para uma semana. No tempo de uma semana, se o assassino ainda estivesse atrás de mim, e eu ainda estivesse viva, eu voltaria. Tudo que os caras malvados tinham que fazer era esperar a comida no aquário acabar, e assim eles teriam a mim, se fossem pacientes o suficiente. De alguma forma, eu acho que eles não seriam.

Eu coloquei nas minhas malas várias coisa, dentre elas, meu pingüim de pelúcia, Sigmund, cada arma que eu tinha, algumas roupas, uma mais arrumada para meu encontro com o Jean-Claude amanhã. É, provavelmente eu não iria ir, mas eu não queria ter que voltar ao meu apartamento, para nada. Eu deixei uma mensagem na secretária eletrônica da Ronnie. A gente normalmente se via nas manhãs de sábado, mas eu não queria Ronnie na linha de fogo. Ela era uma detetive particular, mas ela não era uma atiradora, não como eu sou. Ela tinha um certo respeito à vida humana que poderia fazer ela ser morta.

Richard esperou enquanto eu trocava de roupa. Jeans preto, uma camisa pólo azul, meias brancas com linhas azuis, Nikes pretos, e assim eu me senti mais como eu mesma. Eu coloquei a pistoleira de ombro da Browning na mala. A Browning era a minha arma principal, e eu sentia falta dela. Em circunstancias normais eu teria apenas sentido falta dela, mas agora minha mão doía de vontade de ter ela.

Eu acho que era pra isso que armas extras serviam. A Firestar 9mm é uma boa arma e encaixa bem na minha mão. Minhas mãos são pequenas o suficiente para fazer várias 9mms serem apenas muito grandes. A Browning estava no limite de um aperto confortável. Eu coloquei a Firestar na pistoleira de calça, perto da cós, o que significa que você poderia ver a arma. Eu não tinha certeza se me importava hoje a noite.

Eu coloquei minha porta faca no braço com as facas, em ambos os braços.

Essas eram as duas das quatro que eu tinha mandado fazer para minhas mãos, com o máximo de prata possível nas lâminas.

Eu teria que repor duas delas, monstros comeram elas. Eu coloquei as duas novas facas na mala, ainda em suas caixas forradas. Elas eram bonitas e afiadas o suficiente para cortar sua pele se você passar seu polegar por ela.

Enquanto eu tinha as facas perdidas substituídas, eu pedi mais uma nova. Era quase do tamanho de um pé, era mais uma espada que uma faca. Eu não havia usado ela antes, mas eu tinha visto ela no catálogo e não consegui resistir.

Eu tinha aDerringer, uma escopetasawed-off, uma escopetapump-action,as duas de tamanho completo, UmaTwelve Gauge, e umaMini-Uzi.

A Derringer, a Uzi, e a escopeta Sawed-off eram presentes do Edward. Não de Natal ou de aniversário. Não, nós iríamos sair caçando vampiros juntos, e ele me deu um novo brinquedo. Eu pedi pela escopeta.

As escopetas de tamanho completo não foram colocada em nenhuma das malas ou na mochila de ginástica. Eu as coloquei cada uma em uma maleta individual com linhas. A mochila de ginástica tinha meu kit de caçar vampiros e minha parafernália para zumbis. Eu coloquei balas extras em cada mochila para contratempos. Droga, eu coloquei balas extras na mala também. Você nunca podia ter balas o suficiente.

Eu peguei um vislumbre meu no espelho. A arma estava bonitamente óbvia contra o azul da camisa. Eu finalmente coloquei uma jaqueta preta por cima, a que eles chamam de jaqueta do namorado, porque ela é meio que grande nos ombros e corpo. As mangas iam para trás exibindo um forro de seda. Eu gostava da jaqueta, e com um botão fechado, escondia a Firestar, se bem que não completamente. Você ainda podia ter vislumbres dela quando eu me movia, mas talvez as pessoas não iriam sair correndo e gritando.

Eu me senti nua sem a Browning, o que era meio engraçado considerando que eu tinha uma Uzi na mala. Mas ei, eu dormia com a Browning.

Richard não disse nenhuma palavra sobre as duas escopetas. Talvez ele iria reclamar sobre o resto se ele visse, mas ele pegou uma mala, colocou a mochila em seus ombros, uma maleta com a escopeta no mesmo ombro e me deixou pegar o resto.

"Você consegue carregar as duas malas?" Eu perguntei.

"Sim, mas estou espantado que você tenha perguntado. A última que vez que tentei carregar algo sem te pedir, você quase arrancou minha cabeça e jogou numa cesta."

"Eu quero uma mão livre pra alcançar minha arma."

"Ah." Ele disse. "Claro." Ele pegou a outra mala sem nenhuma palavra. Ele realmente era um homem muito esperto.

Sra. Pringle deu um passo para fora de sua porta como se estivesse saindo. Ele estava com Custard em seus braços. Ele rosnou para Richard, e ela danou com ele. "Eu pensei que tinha ouvido vocês aqui fora. Vocês estão bem, Anita?"

Eu olhei para o buraco na minha porta. "Eu estou bem. E você?"

Ele abraçou Custard, levantando o pequeno rosto peludo dele até seu. "Eu ficarei bem. Você vai ter que ir para o tribunal?"

"Parece que não."

"Bom." Ela olhou para as malas. Uma para roupas, outra para armas. "Onde você vai?"

"Eu acho que sou um pouco perigosa para ficar por aqui no momento."

Ele olhou em meu rosto como se estivesse tentando ler minha mente. "O quão ruim é essa bagunça, Anita?"

"Ruim o suficiente." Eu disse.

Ele tocou meu cabelo gentilmente. "Seja muito cuidadosa lá fora."

Eu sorri. "Sempre. Se cuide também."

"Custard e eu iremos tomar contra um do outro."

Eu passei a mão por Custard, coçando suas pequenas orelhas de raposa. "Eu te devo uma caixa de guloseimas para cachorros, bolinha peluda." Ele lambeu minha mão com sua pequena e rosa língua.

"Quando puder me dê seu novo número de celular." Ela disse.

"Quando eu puder, eu estarei de volta."

Ela sorriu, mas seus pálidos olhos azuis continuaram preocupados.

Nós fomos embora porque precisávamos. Minha imaginação sempre foi fértil demais para minha paz mental.

Eu tinha uma imagem muito clara da Sra. Pringle espalhada contra a parede, aquele adorável e envelhecido rosto golpeado fora. Se ela tivesse aberto sua porta no momento errado, não iria ser imaginação.

Tão perto, tão malditamente perto.


6

A casa de Richard era um andar, tipo uma casa de fazenda. Parecia como uma casa para crianças e uma mamãe fazendo biscoitos na cozinha. Não era muito longe da rua, mas havia verde abundante em cada lado e a parte de trás era um acre de bosque. Você podia olhar para os dois lados e para trás e não ver nenhum vizinho, exceto no inverno quando as árvores nuas revelavam vislumbres distantes pelo vale. Da frente da janela panorâmica, você podia ver a esquina da próxima casa meio obscurecida pelos arbustos abandonados. Ninguém morava ali no tempo que eu estava visitando.

O lugar era meio isolado. Richard gostava disso, e eu gostando ou não, precisava disso agora. O lugar parecia com um convite para emboscada, mas vizinhos seriam alvos fáceis. A maioria dos caras malvados tentam não acertar inocentes passantes. Não por ser uma atrocidade, apenas porque era ruim para os negócios. Policiais tendem a te dar uma dura se você perder muitos inocentes.

Richard apertou o controle e a porta da garagem abriu e ele estacionou o Mustang lá. Seu 4x4 já estava lá dentro. Eu segui ele em meu Jeep. Eu esperei na rua ele tirar o 4x4 dele para eu colocar meu carro no lugar. Estacionar ele em frente a porta da casa parecia fazer o trabalho dos caras malvados ser um pouco fácil demais. Ele tirou o carro. Eu coloquei o carro. Ele estacionou atrás de mim, na entrada, e andou até a garagem. Eu desci as malas, e ele abriu a porta interior.

A porta abriu levando à cozinha. As paredes eram forradas com desenhos de Hogarth com cachorros e mais cenas modernas de caça. Potes da Warner Brothers; Figuras do Piu-Piu estavam nos armários da cozinha. O azulejo era branco. A madeira dos gabinetes brilhava como mel. Haviam pratos escorrendo perto da pia, mesmo Richard tendo um lava-prato. Um copo,uma vasilha, uma colher, ele havia lavado o que usou no café da manhã antes de ir para o trabalho nessa manhã. Eu teria apenas enchido tudo com água e deixado na pia.

Mas claro, eu nunca comia café da manhã.

Richard andou até a sala de estar, carregando uma mala. Eu segui ele, carregando a mala com as armas. Eu também estava com as duas mochilas.

A sala de estar tinha um carpete de um verde profundo e pálidas paredes amarelas. Litografias de desenhos estavam na parede mais distante. A parede mais próxima estava coberta com um rack com um centro de entretenimento que Richard havia comprado ele mesmo. Havia uma TV com uma tela grande, uma miniatura de stereo system que fazia o meu parecer como um som chiador, prateleiras de livros, e portas fechadas que escondiam parte de sua extensa coleção de vídeos, e uma porção de CDs. O resto de seus livros estavam no sótão, colocados em prateleiras em cada parede. Ainda haviam caixas que ele não havia desempacotado porque não tinha mais espaço.

Havia um grande sofá e uma mesa de café de madeira pesada. O sofá era verde e marrom, decorado com uma manta amarela jogada nele que sua avó tinha feito. Um pequeno e antigo armário estava contra a parede mais distante. Não havia mais nenhum móvel na sala.

Ele deixou a mala no quarto menor. Havia uma cama twin{4}, um criado, e um abajur. As paredes, cortinas e cobertas eram todas brancas, como se ele não tivesse decido o que fazer com o quarto ainda.

Eu deixei as mochilas na cama e a mala no chão e encarei tudo aquilo. Minha vida em pequenas malas no chão. Parecia como se tivesse que ter mais delas.

Richard veio até mim e me abraçou por trás, braços em volta de meus ombros. "Eu acho que agora eu deveria perguntar o que está errado, mas eu já sei a resposta. Eu lamento que os caras maus tenham invadido sua casa."

Era isso, exatamente. Os caras maus não deveriam ir para casa com você. Deveria ser contra as regras. Eu sabia que não era, já aconteceu isso antes, mas não assim. Não eu não podendo voltar. Mesmo quando essa guerra acabar, eu não poderia arriscar a Sra. Pringle e meus outros vizinhos, de novo.

Eu me virei em seus braços, e ele soltou eles um pouco pra eu poder me virar. Eu o abracei com meus braços em volta de sua cintura.

"Como você sabia exatamente o que estava me incomodando?"

Ele sorriu. "Eu te amo, Anita."

"Isso não é uma resposta."

Ele me deu um beijo na testa. "Sim, é." Ele me beijou gentilmente nos lábios e deu um passo para trás. "Eu vou tirar esse terno. Coloque seu pijama se quiser."

Ele saiu, fechando a porta atrás dele. Eu abri a porta e chamei ele. "Posso usar o telefone?"

Ele respondeu do quarto. "Se sinta em casa."

Eu aceitei isso como um sim e fui até a cozinha. O telefone estava na parede. Eu peguei um cartão no bolso da minha pochete, que eu fui forçada a carregar como se fosse uma bolsa. Você podia fechar a jaqueta por cima da pochete, e a jaqueta aberta iria mostrar a arma.

O cartão era branco com um número pintado com letras pretas, nada além do número. Eu disquei e recebi o serviço de atendimento 24 horas do Edward. Eu deixei uma mensagem dizendo para me ligar e dei o número de Richard.

A secretária eletrônica de Richard ficava no balcão, conectada por fios até o telefone na parede. A luz de mensagens estava piscando, mas não era minha secretária, então eu não chequei ela.

Richard entrou na cozinha. Seu cabelo caia densamente em seus ombros, formando curvas, mais cheio delas que o normal por causa da trança que ele tinha feito. Seu cabelo era castanho, mas brilhava com um tipo de dourado, com um leve bronze. Ele estava usando uma camisa de flanela, verde floresta, com as mangas dobradas em seus braços, mostrado os finos músculos de seu ante-braço. Eu já tinha visto era camisa antes. Era uma flanela de boa qualidade, macia como uma manta ao toque. Ele estava com jeans e sem meias. Ele andou descalço até mim.

O telefone tocou. Era quase uma da manhã. Quem mais poderia ser além de Edward? "Estou esperando uma chamada." Eu disse.

"Fique a vontade."

Eu peguei o telefone e era Edward. "O que aconteceu?" Ele perguntou.

Eu disse a ele.

"Alguém quer você morta, rápido."

"É. Quando você disse não, eles saíram atrás de um talento barato local."

"Você recebe o que você pagou." Edward disse.

"Se tivessem dois deles, Edward, eu não estaria aqui."

"Você não vai gostar das minhas novidades."

"O quão pior isso pode ficar?" Eu perguntei.

"Eu atendi uma ligação logo antes da sua. Eles subiram a oferta para quinhentos mil dólares, se você fosse morta em 24 horas."

"Jesus Cristo, Edward, eu não valo esse tanto de dinheiro."

"Eles sabem que você matou aquele atirador, Anita. Eles sabem que ele falhou."

"Como?" Eu perguntei.

"Eu não sei ainda. Eu estou tendo descobrir quem está oferecendo o dinheiro, mas eu levarei um pouco de tempo. Os guardas de garantia que me mantém fora disso, protege o cliente também."

Eu estava balançando minha cabeça para frente e para trás. "Por que 24 horas para o serviço?"

"Algo vai acontecer e eles te querem fora do caminho, e vai ser algo grande."

"Mas o que?"

"Eu não sei o que é, Anita. Você pode não estar ciente que sabe, mas você sabe. Algo que vale esse tanto de dinheiro e que você poderia impedir. Não pode ter tantas opções assim."

"Eu não consigo pensar em nenhuma coisa, Edward."

"Pense mais." Ele disse. "Eu vou estar aí o mais cedo que puder amanhã. Se cuide e não dirija seu carro."

"Por que não?"

"Bombas." Ele disse.

"Bombas." Eu repeti.

"Por meio milhão de dólares, Anita, eles vão arranjar alguém bom. Um monte de profissionais irão fazer o serviço em uma boa e segura distância. Com uma bomba ou um rifle potente."

"Você está me assustando." Eu disse.

"Bom, talvez assim você seja cuidadosa."

"Eu sempre sou cuidadosa, Edward."

"Me desculpe. Você está certa, mas seja mais cuidadosa. Eu não esperava que eles contatassem um atirador local."

"Você está preocupado." Eu disse.

Ele riu, quietamente. "Por meio milhão de dólares as pessoas vão quebrar suas regras."

"Nada confortador." Eu disse.

"Não era para ser." Ele disse. "Eu estarei na casa de Richard amanhã cedo."

"Você sabe onde é?"

"Eu poderia descobrir, mas vamos parar com os jogos. Me dê as direções."

Eu dei. "Eu iria te dizer para ficar dentro de casa, mas você está saindo com Richard faz meses. Um bom tirador vai conseguir te achar. Eu não sei se você vai estar segura aí dentro ou mudando."

"Eu vou carregar mais armas e ser mais paranóica que o normal."

"Bom. Te vejo amanhã." Ele desligou, e eu fui deixada segurando o telefone mudo.

Richard estava me encarando. "Eu ouvi você dizer 24 horas para o serviço?"

Eu desliguei o telefone. "Temo que sim." Eu apertei o botão da secretária eletrônica por hábito. A fita fez um zumbido enquanto voltava.

"Por que, pelo amor de Deus?" Richard perguntou.

"Eu queria saber."

"Você mencionou o dinheiro duas vezes. Quanto?"

Eu disse a ele.

Ele se sentou em uma das cadeiras da cozinha, parecendo chocado. Não podia culpar ele. "Anita, não entenda errado, para mim você vale muito mais que dinheiro, mas por que alguém pagaria quinhentos mil dólares para matar você?"

Para alguém que não sabia nada de assassinos, ele chegou na grande questão de forma formidável. Eu andei até ele. Eu passei a ponta de meus dedos por seu cabelo. "Edward disse que eu já deveria saber qual é esse grande evento, que eu não valo esse tanto que dinheiro, nesse tipo de linha mortal, a não ser que eu já soubesse o que era esse evento."

Ele olhou para mim. "Mas você não sabe, não é?"

"Não tenho nem uma pista."

Ele colocou suas mãos em cada lado da minha cintura, me colocando contra ele, envolvendo minha cintura completamente com seus braços.

A secretária eletrônica clicou e nos fez pular. Nós rimos nervosamente, não apenas por medo. Havia um calor nos olhos deles enquanto ele me olhava que me fez querer ficar vermelha ou beijar ele. Eu não tinha decidido ainda.

Duas ligações perdidas, seu irmão mais novo Daniel, estava sentindo muito que ele tinha cancelado a escalação de amanhã.

Eu me inclinei em direção a Richard. Seus lábios eram os macios que eu já tinha beijado.

O gosto dele era intoxicante. Como eu poderia ter pensado em desistir dele?

A ultima mensagem começou a rodar: "Richard, é o Stephen. Ah, Deus, atenda. Por favor, atenda. Por favor esteja aí."

Nós paralizamos, ouvindo.

"Eles tentaram me pegar para um daqueles filmes. Raina não vai me deixar escapar. Richard, onde você está? Eles estão vindo. Eu tenho de ir. Ah, Deus, Richard." O telefone clicou mudo. Uma voz mecânica disse, "Fim das mensagens."

Richard se levantou, e eu o deixei. "Eu pensei que Raina tinha parado de fazer filmes pornográficos." Eu disse.

"Ela prometeu não fazer filmes snuff{5}, isso é tudo." Ele deu replay na mensagem. O horário era de 12:03.

"Foi menos de uma hora trás." Eu disse.

"Eu não posso te deixar sozinha aqui hoje. E se outro assassino vier?" Ele andou de um lado para outro. "Mas eu não posso abandonar Stephen."

"Eu vou com você." Eu disse.

Ele balançou sua cabeça, andando para o quarto. "Eu posso sobreviver jogando os jogos do bando, Anita. Você é humana, eles vão acabar com você."

"Eles irão acabar com você também, Richard."

Ele apenas continuou andando. "Eu posso cuidar de mim mesmo."

"Você vai pelo menos ligar para alguém do bando que esteja do seu lado? Vai conseguir reforço?"

Ele sentou em sua cama, colocando meias. Ele olhou para mim e então balançou sua cabeça. "Se eu levar meu exército, isso vai virar uma guerra. Pessoas vão acabar morrendo."

"Mas se você for sozinho, você apenas vai pôr você mesmo em perigo, é isso?"

Ele olhou para mim. "Exatamente."

Eu balancei minha cabeça. "E o que vai acontecer com Stephen se você for até lá e for morto? Quem vai salvar ele?"

Isso parou ele por um segundo. Ele franziu a testa, pegando seus sapatos debaixo da cama.

"Eles não vão me matar."

"Por que não?" Eu perguntei.

"Porque se Marcus me matar sem um círculo de desafio, ele não vai poder continuar sendo líder do bando. Seria como trapacear. O bando iria culpar ele."

"E se você acidentalmente morrer em uma luta com qualquer outro?"

Ele estava de repente muito interessado em colocar seus sapatos. "Eu posso cuidar de mim mesmo."

"O que quer dizer que se algum outro te matar em uma luta legitima, Marcus está fora da forca, certo?"

Ele se levantou. "Acho que sim."

"Raina é a parceira de Marcus, Richard. Ela tem medo que você mate ele. Isso é uma armadilha."

Ele balançou sua cabeça teimosamente. "Se eu chamar os lobos que estão do meu lado e for com eles, eles serão massacrados. Se eu for sozinho, eu talvez possa conversar com eles sobre isso."

Eu me encostei contra o vão da porta e queria gritar com ele, mas me segurei. "Eu vou com você, Richard."

"Você já tem problemas demais."

"Stephen arriscou a vida dele para me salvar uma vez. Eu devo ele. Se você quer bancar o político, ótimo, mas eu quero Stephen a salvo."

"Sair onde os assassinos podem te achar não é uma idéia inteligente, Anita."

"Nós estamos namorando a meses, Richard. Se um assassino profissional aparecer na cidade, não vai levar muito tempo pra ele me achar aqui."

Ele me encarou, maxilar apertado o suficiente que eu pude ver pequenos músculos do lado. "Você vai matar alguém se eu te levar."

"Apenas se for preciso."

Ele balançou sua cabeça. "Nada de assassinatos."

"Mesmo para salvar minha própria vida? Mesmo para salvar Stephen?"

Ele olhou para longe de mim, e então de volta, raiva deixando seus olhos quase pretos. "Claro que você pode se defender."

"Então eu vou junto."

"Certo, pela segurança de Stephen." Ele não gostou de dizer isso.

"Eu vou pegar minha jaqueta." Eu peguei a Mini-Uzi na mala. Era maravilhosamente pequena. Eu poderia atirar com ela usando apenas uma mão, mas com precisão, eu precisava das duas. Se bem que precisão e armas eram meio que mutuamente exclusivas.

Você aponta um pouco mais para baixo do que quer acerta e segura firme. Peguei balas de prata também é claro. Eu deslizei a corrente pelo meu ombro direito. Tinha um pequeno clipe que prendia a corrente no meu cinto, na parte de trás em minhas costas. O clipe mantinha a Uzi parada no lugar, mas deixada espaço o suficiente para eu pegar a arma e atirar. A arma estava nas minhas costas, o que era irritante, mas não importa o que eu tinha dito para Richard, eu estava assustada, e eu queria pelo menos duas armas comigo. A policia ficou com a Browning. Eu não tinha uma pistoleira grande o suficiente para a Sawed-Off, sem mencionar que era ilegal. Pensando nisso, não era tudo arma? Eu tinha permissão para comprar a Browning, mas eles não davam permissões para armas totalmente automáticas, não para civis, de qualquer forma. Se eu fosse pega com ela, eu acabaria indo para o tribunal no final das contas.

Eu coloquei a jaqueta e dei uma volta pelo quarto. A jaqueta era volumosa o suficiente para não mostrar a arma. Maravilhoso. A Firestar estava notável na pistoleira na parte da frente.

Meu pulso estava batendo forte o suficiente que eu podia sentir ele contra minha pele. Eu estava com medo. Richard ia bancar o político com um bando de lobisomens. Metamorfos não brincavam muito de político, eles apenas matam você. Mas eu devia uma para Stephen, e eu não confiava em Richard para salvar ele. Eu faria o que precisasse para salvá-lo, Richard não. Richard iria hesitar. Isso iria fazer ele ser morto um dia, quase certeza. Hoje a noite, pela primeira vez, eu percebi que eu poderia me fazer ser morta. De jeito nenhum a gente podia entrar no pequeno show da Raina sem mais pessoas. De jeito nenhum. Jean-Claude não iria nunca tolerar os jogos de Raina e de Marcus. Eles já teriam sido mortos, e todos estariam a salvo. Eu teria confiado em Jean-Claude vigiando minhas costas hoje a noite. Ele não iria hesitar. Mas é claro, ele teria levado seu pequeno exército de vampiros e feito uma verdade batalha.

A merda ia acertar o ventilador hoje e iria acabar pela manhã. Do jeito do Richard, a gente iria resgatar Stephen, sobreviver, escapar, e Raina iria ficar vida ainda. Nada seria seguro. Poderia até mesmo ser civilizado, mas era um jeito ruim de continuar vivo.

Richard estava esperando na porta da frente, chaves em mãos, impaciente. Não podia culpar ele.

"Stephen não disse onde ele estava. Você sabe onde ela faz os filmes?"

"Sim."

Eu olhei questionadora para ele. "Raina me levou para ver as filmagens algumas vezes. Ela achou que eu iria superar minha timidez e me juntar a eles."

"Você não se juntou." Não era uma pergunta.

"Claro que não. Vamos pegar Stephen." Ele segurou a porta para mim, e apenas por essa vez, eu não disse para não fazer isso.


7

Eu esperava que Richard dirigisse em direção a cidade, para alguma depósito pouco respeitável na região gasta da cidade. Mas em vez disso, ele dirigiu em direção ao Condado Jefferson. Nós descemos a Old Highway 21 entre suaves e onduladas colinas, prateadas na luz da lua. Era quase maio e as árvores já estavam cheias de folhas. Troncos estavam nos dois lados da estrada. Uma casa ocasional quebrava o cenário de árvores, mas na maior parte do percurso nós estávamos sozinhos no escuro, como se a estrada fosse infinita e nenhum outro humano tivesse nem colocado o pé ali antes.

"Qual é o plano?" Eu perguntei.

Richard olhou para mim, e então de volta para a estrada. "Plano?"

"É, plano. Se Raina estiver lá, ela não vai estar sozinha, e ela não vai gostar da idéia de você levar Stephen."

"Raina é a fêmea alfa, a Lupa. Eu não posso lutar com ela."

"Por que não?"

"Um macho alfa vira Ulfric, rei lobo, matando o antigo líder, mas o vencedor escolhe a Lupa."

"Então Raina não teve que lutar pela posição dela?"

"Ela não teve que lutar para ser Lupa, mas ela teve que lutar para ser a fêmea mais dominante do bando."

"Uma vez você me disse que o bando me considerava uma dominante. Qual é a diferença entre ser dominante e ser uma fêmea alfa? Quero dizer, eu posso ser uma alfa?"

"Alfa é o equivalente a ser um vampiro mestre, mais ou menos." Ele disse.

"Então o que é dominante?"

"Alguém que não é do bando, não é Lukoi, alguém que ganha nosso respeito. Jean-Claude é um dominante. Ele não pode ser mais do que isso, ao menos que ele se torne parte do bando."

"Então você é um alfa, mas não um líder do bando."

"Nós temos por volta de meia dúzia de alfas, machos e fêmeas. Eu era o segundo no comando de Marcus, seu Freki."

"Freki é o nome de um dos lobos de Odin. Por que o segundo lobo é chamado por algo que vem da mitologia?"

"O bando é muito antigo, Anita. Entre nós, nós somos o Lukoi. Pode haver dois segundos, Freki e Geri."

"Por que a lição de história e o novo vocabulário?"

"Para alguém de fora nós mantemos as coisas simples. Mas eu quero que você saiba quem e o que nós somos."

"Lukoi é grego, certo?"

Ele sorriu. "Mas você sabe de onde vem?"

"Não."

"O Rei Lykaon de Arcádia era um lobisomem. Ele não tentou esconder isso. Nós nos chamamos Lukoi em sua memória."

"Se você não é um Freki mais, o que você é?"

"Fenrir, desafiante."

"O lobo gigante que matou Odin no Ragnarok."

"Estou impressionado, poucas pessoas iriam saber isso."

"Dois semestres de religião comparativa." Eu disse. "Uma mulher pode ser Ulfric?"

"Sim, mas é raro."

"Por que?"

"Elas têm que vencer uma batalha física de golpes baixos e ganchos. Todo poder no mundo não irá impedir alguém de bater sua cara no chão."

Eu gostaria de poder argumentar, mas não pude. Ele estava certo. Não porque eu era uma mulher. Homens pequenos têm suas bundas chutadas também. Tamanho importava se ambas as pessoas eram treinadas igualmente.

"Por que as fêmeas alfas não têm que simplesmente brigar para ganharem seu título de Lupa?"

"Porque o Ulfric e sua Lupa são um casal, Anita. Ele não quer ficar preso à uma mulher que ele não agüenta."

Eu olhei para ele. "Espere um minuto. Você é o próximo na linha de liderança do bando. Se você vencer Marcus, você tem que dormir com a sua Lupa?"

"Tecnicamente, sim."

"Tecnicamente?" Eu disse.

"Eu não vou escolher nenhuma. Eu não vou dormir com alguém apenas para o bando se sentir mais seguro."

"Bom saber." Eu disse. "Mas isso põe em perigo sua posição no bando?"

Ele respirou profundamente, e eu ouvi o suspiro nela. "Eu tenho muito apoiadores no bando, mas alguns deles estão incomodados por causa da minha moral. Eles acham que eu deveria escolher um par."

"E você não vai por causa... de mim?"

Ele me olhou. "Essa é uma grande parte do por que. Mas não seria apenas por uma vez, Anita. Um casal alfa se une por uma vida. É como casamento. Eles geralmente se casam na vida real também, não apenas no bando."

"Entendi porque o líder do bando prefere escolhe seu par."

"Eu já escolhi meu par."

"Mas eu não sou uma lobisomem."

"Não, mas o bando te considera uma dominante."

"Apenas porque eu matei alguns deles." Eu disse.

"Bom, isso tende a impressionar eles." Ele diminuiu a velocidade. Havia uma linha de pinheiros no lado esquerdo da estrada, regular demais e densa demais para ser natural. Ele virou em uma estrada de cascalho no meio delas.

A estrada se curvava colina abaixo, e perto de um vale escuro tinha uma casa de fazenda. Colinas cheias de árvores se derramavam em volta da casa. Se houvesse mais campo, a floresta teria se estendido por ele.

A estrada levava a um estacionamento pequeno que estava cheio de carros, pelo menos tinham 12 deles. Richard parou o carro no estacionamento e saiu pela porta antes que eu pudesse desabotoar meu cinto de segurança. Eu tive que correr para alcançar ele e estava atrás dele logo quando ele entrou pela porta do celeiro. Havia uma parede de tecido denso pendurado dentro da porta, não era uma cortina, era mais uma barreira. Richard abriu ela para o lado, e luz fluiu até nós. Ele andou até essa luz, e eu o segui.

Haviam luzes em todos os lugares, saindo das vigas como uma grande e feia fruta [?]. Umas vinte pessoas estavam em pé espalhadas. Duas câmeras estavam montadas no set, feito por duas paredes e uma cama king-size. Doiscameramenestavam meio que inclinados nas câmeras, esperando. Uma mesa longa estava cheia com mochilas e pizzas geladas perto da entrada. Quase doze pessoas estavam agrupadas em volta da comida. Eles olharam para nós quando entramos. Alguns humanos pareceram apressados e começaram a ir para trás. Os licantropos nos encararam, seus olhos quase imóveis, decididos. Eu de repente soube como uma gazela devia se sentir perto de um bando de leões.

Pelo menos dois terços do pessoal ali era metaformo. Provavelmente eles não eram todos lobisomens. Eu não podia dizer que animais eles eram só de olhar, mas eu sabia que eles eram metamorfos. A energia deles queimou no ar como um toque de luz quente.

Mesmo com a Uzi, se as coisas dessem erradas, eu estava em problemas. Eu estava de repente brava com Richard. Nós não deveríamos ter vindo sozinhos assim. Foi descuidado demais para por em palavras.

Uma mulher deu um passo a frente do grupo. Ela tinha o que parecia ser um kit de maquiagem industrial em seu ombro. Seu cabelo escuro estava cortado perto de sua cabeça, deixando seu bonito rosto aberto e limpo, sem nem uma gota de maquiagem nele.

Ela se moveu incerta até nós, como se estivesse com medo de ser mordida. O ar vibrava em volta dela, uma pequena luz trêmula, como se a realidade fosse apenas um pouco menos firme que deveria ser em volta dela. Licantropo. Eu não tinha certeza da essência certa, mas realmente não importava. Seja lá qual fosse a essência, eles eram perigosos.

"Richard." Ela disse. Ela deu outro passo a frente da multidão espectadora, suas pequenas mãos correndo para cima e para baixo na alça de sua mochila. "O que você está fazendo aqui?"

"Você sabe por que eu estou aqui, Heidi." Ele disse. "Onde está Stephen?"

"Eles não vão machucar ele." Ela disse. "Quero dizer, o irmão dele está aqui. Seu próprio irmão não deixaria ele ser machucado, deixaria?"

"Soa como se você estivesse tentando convencer você mesma, não nós." Eu disse.

Seus olhos passaram para mim. "Você deve ser Anita Blake." Ela deu uma olhada para o pessoal nos assistindo atrás dela. "Por favor, Richard, apenas vá." A aura de sua energia em volta dela era vibrante, quase como uma invisível luz difusa no ar. Ela andava em minha pele como formigas.

Richard deu um passo em direção a ela.

Heidi se encolheu mas ficou firme no lugar.

Richard passou a mão suavemente logo em frente o rosto dela, não tocando sua pele. Enquanto ele movia suas mãos, a energia em volta dela diminuía, como uma água acalmando.

"Está tudo bem, Heidi. Eu sei a situação que Marcus te colocou. Você quer se juntar a outro bando, mas ele tem que te dar essa permissão. E para ganhar a permissão dele, você faz o que ele diz, ou então você vai ficar presa. Seja lá o que acontecer, eu não vou usar isso contra você."

A ansiedade dela sumiu. Sua energia alheia a este mundo se quietou até que mal estava lá mais. Ela poderia ter se passado por humana.

"Impressionante." Um homem deu um passo a frente. Ele tinha pelo menos seis pés e 4 palmos, talvez um pouco mais alto que isso, sua cabeça era calva como um ovo, apenas suas sobrancelhas se mostravam escuras em cima de seus pálidos olhos. Sua camiseta perto estava justa contra seus músculos no braço e peito, como se a camiseta fosse a pele de um inseto que iria sair e liberar um monstro. Energia saía dele como um calor de verão. Ele e moveu com a confiança de um touro, e o poder que andou pela minha pele dizia que ele talvez fosse capaz de nos afastar.

"Ele é novo aqui." Eu disse.

"Esse é Sebastian." Richard disse. "Ele se juntou a nós depois que Alfred morreu."

"Ele é o novo cúmplice de Marcus." Heidi sussurrou. Ela deu um passo para trás, ficando entre os dois homens, de costas para a cortina que nós entramos.

"Eu te desafio, Richard. Eu quero ser um Freki."

E simples assim, a armadilha tinha sido armada.

"Nós dois somos alfas, Sebastian. Nós não precisamos fazer nada para provar isso."

"Eu quero ser um Freki, e eu preciso acabar com você para isso."

"Eu sou um Fenrir agora, Sebastian. Você pode ser o Freki de Marcus sem lutar comigo."

"Marcus disse que não, disse que eu tinha que passar por você."

Richard deu um passo a frente.

"Não lute com ele." Eu disse.

"Eu tenho que responder o desafio."

Eu encarei Sebastian. Richard não era um homem pequeno, mas ele parecia pequeno ao lado de Sebastian. Richard não iria desistir disso para se salvar. Mas por alguma outra pessoa... "E se você for morto, como eu fico?" Eu perguntei.

Ele olhou para mim então, realmente olhou para mim. E então olhou de volta para Sebastian. "Eu quero passagem segura para a Anita."

Sebastian sorriu abertamente e balançou sua cabeça. "Ela é dominante. Sem passagem segura. Ela vai tentar suas chances como o resto de nós."

"Ela não pode aceitar um desafio, ela é humana."

"Quando você for morto, nós vamos fazer dela uma de nós." Sebastian disse.

"Raina nos proibiu de fazer Anita uma Lukoi."Heidi disse.

O olhar que Sebastian deu a ela, a fez se encolher mais na porta de cortina. Seus olhos estavam redondos de medo.

"Isso é verdade?" Richard perguntou.

"É verdade." Sebastian rosnou. "Nós podemos matar ela, mas não podemos fazer ela ser parte do bando." Ele sorriu abertamente de novo, um breve vislumbre de dentes. "Então, nós vamos só matá-la."

Eu saquei a Firestar, usando o corpo de Richard para camuflar o movimento dos licantropos. Nós estávamos em problemas. Mesmo com a Uzi eu não poderia matar todos eles. Se Richard fosse matar Sebastian, nós talvez pudéssemos dar um jeito na situação, mas ele tentaria não matar ele.

Os outros metamorfos nos assistiam com pacientes e ansiosos olhos. Esse tinha sido o plano o tempo todo. Tinha que ter um jeito de escapar dessa. Eu tive uma idéia. "Todos os cúmplices de Marcus são babacas assim?"

Sebastian se virou para mim. "Isso foi um insulto?"

"Se você teve que perguntar, então reafirmo o dito, e sim foi."

"Anita." Richard disse, baixo e cuidadoso, "O que você está fazendo?"

"Me defendendo." Eu disse.

Seus olhos se abriram mais, mas ele não tirou o olhar do grande lobisomem. Richard entendeu. Não havia tempo para argumentar sobre isso. Sebastian deu um passo a frente, suas grandes mãos em punhos. Ele tentou passar por Richard para chegar em mim. Richard se moveu para frente dele. Ele levantou sua mão com a palma para frente, como tinha feito com Heidi, e aquela energia agitada se abaixou, esparramando como água em um copo quebrado.

Eu nunca tinha visto nada como aquilo. Acalmar Heidi era uma coisa, forçar um licantropo a abaixar tanto poder era outra.

Sebastian deu um passo para trás, quase cambaleando. "Seu bastardo!"

"Você não é forte o suficiente para me desafiar, Sebastian. Nunca se esqueça disso." Richard disse. Sua voz ainda estava calma, com um toque tênue de raiva por baixo. Era uma voz racional, uma voz de negociação.

Eu parei atrás de Richard segurando a Firestar do meu lado, tão discretamente quando eu podia. A luta tinha sido suspensa, e meu pequeno show de braveza não era mais necessário. Eu subestimei o poder de Richard. Eu me desculparia depois.

"Agora, onde está Stephen?" Richard perguntou.

Um esbelto homem negro andou em nossa direção, se movendo como um dançarino em um banho de sua própria energia. Seu cabelo estava cheio de trançinhas na altura do ombro, com miçangas coloridas nelas. Seus traços eram pequenos e ordenados, sua pele de um rico e sólido marrom. "Você talvez consiga nos controlar um por vez, Richard, mas não todos nós juntos."

"Você foi banido de seu último bando por ser um causador de problemas, Jamil." Richard disse. "Não cometa o mesmo erro duas vezes."

"Eu não irei. Marcus vai vencer essa briga porque você tem maldito coração mole. Você ainda não entende, Richard. Nós não somos os Jovens Republicanos." Jamil deu mais um passo, mostrando sua altura de quase oito pés. "Nós somos um bando de lobisomens e não somos humanos. Ao menos que você aceite isso, você vai morrer."

Sebastian deu um passo para trás, ficando ao lado de Jamil. O resto dos licantropos se moveram para mais perto dos dois homens, atrás deles. Eles combinaram suas energias deixando-as fluir, enchendo o quarto como uma água morna com piranhas nelas. O poder acertou minha pele como pequenos choques. Ele subiu em minha garganta até que era difícil de respirar, e os pequenos cabelos da minha cabeça se levantaram com a estática.

"Você vai ficar puto comigo se eu matar alguns deles?" Eu perguntei.

Minha voz soava apertada e cortada. Eu me movi para mais perto de Richard, mas tive que dar um passo para trás. Seu poder fluiu em mim como algo vivo. Era impressionante, mas haviam vinte licantropos do outro lado, e de repente não era tão impressionante assim.

Um grito cortou o silêncio e eu pulei.

"Anita." Richard disse.

"Sim."

"Vá pegar Stephen."

"Foi ele quem gritou?" Eu perguntei.

"Vá pegar ele."

Eu olhei para os licantropos em massa e disse, "Você pode lidar com isso?"

"Eu posso segurá-los."

"Você não pode segurar todos nós." Jamil disse.

"Sim." Richard disse. "Eu posso."

O grito soou de novo, mais alto, mais urgente. O som veio de dentro do celeiro, que deveria estar dividido em quartos. Havia um corredor improvisado. Eu fui em direção a ele e então hesitei. "Você vai ficar bravo se eu matar pessoas?"

"Faça o que tem que fazer." Ele disse. Sua voz estava baixa, com uma ponta de rosnado nela.

"Se ela matar Raina com a arma, ela ainda não vai ser sua lupa." Jamil disse.

Eu olhei para eles. Eu não sabia que eu tinha sido considerada para o cargo.

"Vá, Anita, agora." Sua voz estava se diminuindo mais em um rosnado. Ele não tinha que adicionar o ‘depressa’. Eu sabia dessa parte. Ele poderia ganhar tempo, mas ele não podia lutar com todos eles.

Hiedi andou até mim, atrás de Richard. Ele não deu nenhuma atenção a ela, como se ele não considerasse ela um perigo. Ela não era poderosa, mas você não tinha que ser poderosos ou até mesmo forte para apunhalar alguém pelas costas, com garras ou faca, que diferença ia fazer? Eu apontei a arma para ela. Ela passou a centímetros de Richard e ele não disse nada. Minha arma era a única coisa guardando suas costas. Mesmo agora, ele confiava em Heidi. Nesse minuto, ele não deveria confiar em ninguém além de mim.

"Gabriel está com Raina." Ela disse. Ela disse o nome dele como se tivesse medo de Gabriel.

Gabriel não era nem mesmo um membro do bando. Ele era um homem-leopardo. Ele era um dos atores prediletos de Raina, na verdade.

Ele aparecia nos filmes pornôs dela casuais e até em umsnuff. Eu quase perguntei para ela de quem ela tinha mais medo, Raina ou Gabriel. Mas não importava. Eu estava prestes a confrontar os dois.

"Obrigada." Eu disse à Heidi.

Ela assentiu.

Eu fui pelo corredor seguindo os gritos.


8

Eu fui pelo corredor e segui o som de vozes que vinham da segunda porta a esquerda. Eu ouvi pelo menos duas vozes masculinas diferentes, estavam suaves, murmurando. Eu não conseguia entender as palavras. Os gritos mudaram para berros. "Pare, por favor, pare. Não!" Era um homem também. Ao menos que eles estivessem torturando mais de uma pessoa hoje a noite, tinha que ser a voz de Stephen.

Eu respirei fundo, e alcancei a porta com minha mão esquerda, arma na direita. Eu gostaria de poder saber como era o formato do quarto. Stephen berrou, "Por favor, não!"

Foi o suficiente. Eu abri a porta, batendo ela com força contra a parede, então eu sabia que não tinha ninguém atrás dela. Eu queria sair atirando pelo quarto, mas o que eu vi no chão me deixou congelada, como se fosse um flash de um pesadelo. Stephen estava deitado de costas, com um roupão branco aberto, relevando seu corpo nu. Sangue trilhava em seu peito em finas linhas escarlates, apesar de não ter feridas visíveis. Gabriel segurava os braços de Stephen, abaixo de seu corpo e atrás de suas costas como se ele já tivesse o amarrado. O cabelo loiro de Stephen estava jogado no colo de couro de Gabriel. Gabriel estava nu da cintura para cima, um brinco de prata em seu mamilo direito. Seu cabelo anelado e preto estava em seus olhos, e quando ele olhou para mim, ele parecia cego.

Um segundo homem estava ajoelhado no lado mais distante de Stephen. Cachos loiros caiam até sua cintura. Ele usava um roupão idêntico, fechado. Quando ele olhou para a porta, seu esbelto, quase bonito rosto, era um espelho do de Stephen. Tinha que ser seu imrão. Ele estava segurando uma faca de ferro. Ele estava em posição de cortar alguém quando eu abri a porta. Sangue fresco fazia um poça pela pele de Stephen.

Stephen gritou. Havia uma mulher nua curvada no corpo dele. Ela estava com uma perna em cada lado dele, abrindo as pernas dele. Seu longo cabelo ruivo caía como uma cortina, escondendo a última indignidade de vista. Raina levantou sua cabeça da virilha de Stephen.

Seus lábios cheios repartidos em um sorriso. Ela trabalhava nele para ele ficar ereto. Mesmo com os protestos dele, seu corpo estava reagindo.

Me levou uma batida de coração para ver isso tudo, como em câmera lenta. Eu senti um movimento na minha direita e tentei me virar, mas era tarde demais. Algo peludo e apenas meio humano me acertou. Eu acertei a parede forte o suficiente para tremer. A Firestar foi girando, e eu caí sem sentido no cão. Um lobo do tamanho de um pônei veio para cima de mim. Ele abriu seu maxilar o suficiente para engolir meu rosto, e rosnou, um som grosso e profundo o suficiente para parar meu coração.

Eu podia me mover de novo, mas aquele rosto estava a centímetros da minha bochecha. Eu podia sentir a respiração dele no meu rosto. Uma linha de saliva caiu de sua boca para deslizar na beirada da minha. Ele diminuiu a distância entre nós, lábios indo para trás como se ele fosse me morder. A Uzi estava presa entre minhas costas e a parede. Eu pensei em pegar uma das facas, mais eu sabia que não ia ter como.

Braços humanos se curvaram em volta do lobo, puxando ele para trás, para longe de mim. Raina se levantou segurando o lobo que lutava contra ela como se não fosse nenhum esforço. Seu bonito corpo nu se ondeou com músculos que não eram vistos a não ser quando usados. "Sem derramar nenhum sangue dela, eu te avisei." Ela jogou o lobo na outra parede. A parede rachou e tremeu. O lobo deitou imóvel, olhos para cima. Isso me deu o tempo que eu precisava. Eu peguei a Uzi. Quando Raina se virou de volta para mim, eu estava apontando a arma para ela.

Ela ficou parada acima de mim, nua, perfeita, reto onde tinha que ser reto e curvado onde tinha que ser curvado. Mas desde que eu tinha a visto esculpir seu corpo sozinha, não era tão impressionante assim. Quando você pode manipular seu corpo como ela podia, quem precisa de cirurgia plástica?

"Eu poderia ter deixado ela te matar, Anita. Você não parece estar muito grata."

Eu me sentei no chão, encostada contra a parede, não confiante ainda para ficar em pé. Mas a Uzi estava apontada firmemente. "Muito obrigada." Eu disse. "Agora, se afaste, devagar, ou eu vou te partir ao meio."

Raina riu, um baixo e alegre som. "Você é tão perigosa. Tão excitante. Você não acha, Gabriel?"

Gabriel veio ficar perto do lado dela. Os dois olhando para baixo, para mim, era demais, então eu usei a parede para me sustentar e me levantei. Eu podia levantar. Ótimo. Eu estava começando a pensar que poderia até andar. Melhor ainda.

"Se afaste." Eu disse.

Gabriel deu um passo para mais perto, ficando perto o suficiente que se esticasse o braço, me tocaria. "Ela é perfeita para qualquer um que gosta de dor e deseja morte." Ele levantou seu braço, como se fosse correr seus dedos pela minha bochecha. Eu apontei a arma para a sua cintura, porque ele poderia chutar ela se ficasse mais alta. Aponte muito para cima e você pode perder.

"A ultima vez que você me pressionou Gabriel, tudo que eu tinha era uma faca. Você sobreviveu comigo arrancando suas tripas, mas nem mesmo você pode se curar de uma arma de fogo. Nessa distância, eu vou te partir no meio."

"Você realmente me mataria por tentar te tocar?" Ele parecia estar se divertindo, seus estranhos olhos cinzas quase branco, como se ele se perdesse no emaranhado de seu cabelo.

"Depois do que eu vi, pode apostar." Eu me desencostei da parede. "Se afaste ou nós vamos descobrir que tanto de dano você pode agüentar."

Eles se afastaram. Eu estava quase desapontada. A Uzi com balas de prata iria fazer exatamente o que eu disse. Eu podia cortar eles, matar eles, sem barulho, sem bagunça, apenas uma maldita sujeira. Eu queria eles mortos. Eu olhei para eles por uma batia de coração e pensei nisso, pensei em apertar o gatilho e nos salvar desse tanto de problema.

Raina se afastou, puxando Gabriel com ela. Ela me encarou enquanto se movia, indo até a parede onde o lobo do tamanho de um pônei estava desmaiado em seu pé.

Raina me olhou e eu vi o entendimento em seu rosto de quão perto ela tinha chegado de morrer. Eu acho que até esse momento ela não tinha percebido que eu poderia matar ela e não perder o sono. Inferno, deixar ela viva que iria me dar mais falta de sono.

Um grito meio rugido veio do outro quarto. Um rugido o suficiente para vibrar o lugar. Houve um momento de um silêncio onde ninguém respirou, e então rosnados e chiados. O chão tremeu com um impacto de corpos distantes. Richard estava lutando sem mim.

Raina sorriu para mim. "Richard precisa de você, Anita. Vá para ele. Nós vamos cuidar de Stephen."

"Não, obrigada."

"Richard pode estar morrendo enquanto você desperdiça tempo."

Medo passou por mim como um banho gelado. Ela estava certa. Eles o atraíram aqui para morrer. Eu balancei minha cabeça. "Richard me disse para pegar Stephen, e é isso que eu vou fazer."

"Eu não achei que você aceitava ordens fácil assim." Ela disse.

"Eu aceito as que eu gosto."

Stephen se curvou para o lado, cobrindo seu corpo com o roupão. Seu irmão se sentou do lado dele, mexendo em seu cabelo e murmurando, "Está tudo bem, Stephen. Você não está machucado."

"Você fatiou ele, seu filho da puta."

Ele abriu o roupão de Stephen, expondo o peito dele. Stephen tentou fracamente fechar o roupão. Seu irmão deu um pequeno tapa nas mãos dele. Ele passou suas mãos pelo peito sangrento. A pele estava perfeita. O corte já havia se curado, o que quer dizer que todo aquele sangue era de Stephen.

"Saia de perto dele, agora, ou eu vou te fazer explodir."

Ele se desencostou um pouco dele, olhos bem abertos. Ele acreditou em mim. Bom para ele, porque era verdade.

"Vamos, Stephen. Nós temos que ir."

Ele levantou sua cabeça e olhou para mim, lágrimas correndo em suas bochechas. "Eu não consigo me levantar."

Ele tentou engatinhar, mas caiu no chão.

"O que você deu para ele?" Eu perguntei.

Uma coisa para relaxa-lo." Raina disse.

"Sua puta."

Ela sorriu. "Exatamente."

"Se levante e vá ficar perto dos outros." Eu disse para o irmão dele.

O homem virou seu rosto para mim, e como Stephen, seu rosto estava assombrado. "Eu não os deixaria machucar ele. Ele iria aproveitar se ele se soltasse mais."

"Ele está machucado, seu filho da puta! Agora levante, agora, ou eu vou te matar. Você me compreende? Eu vou te matar e me sentir feliz com isso."

Ele se levantou e ficou do lado de Gabriel. "Eu me certifiquei que ninguém iria machuca-lo." Ele disse suavemente.

As paredes tremeram. Houve um som de madeira se partindo. Alguém havia sido jogado na parede do quarto perto desse. Eu tinha que tirar a gente dali. Eu tinha que ir para Richard. Mas se eu fosse descuidada, eu não iria conseguir. Richard não era o único com o perigo de ter sua garganta arrancada fora. Com esse tanto de licantropos num quarto tão pequeno, eles estavam perto de fazer isso. Eles poderiam pular em mim se eu fosse ajudar Stephen a se levantar, mas com uma arma na mão, eu aposto que a maioria deles iriam estar mortos antes de me alcançarem. Era um pensamento confortante.

Eu vi a Firestar no canto mais distante. Eu a peguei e a guardei sem nem precisar olhar. Prática, prática, prática. Eu mantive a arma apontada. Isso me fez me sentir melhor. Eu ajoelhei perto de Stephen sem tirar os olhos dos outros. Era difícil sem nem ao menos dar uma olhadinha para baixo, mas eu estava tão malditamente perto deles. O lobo seria inacreditavelmente rápido, e eu acho que Raina não iria me salvar uma segunda vez. Eu tinha sorte que ela não me queria ferida. Eu coloquei meu braço em volta da cintura de Stephen, e ele colocou seus braços em volta do meu pescoço. Eu me levantei e ele era quase um peso morto, mas nós dois conseguimos nos levantar, e com minha ajuda, Stephen se manteve em pé. Eu estava feliz por ele ser quase da minha altura. Se ele fosse maior seria muito mais difícil. Seu roupão abriu, e ele tirou um braço de meus ombros e tentou fechar ele, mas ele não conseguia. Ele começou a tirar seu outro braço do meu ombro.

"Deixa, Stephen, por favor. Nós temos que ir agora."

"Eu não quero que as pessoas me vejam." Ele me encarou por centímetros, seu rosto vago e sem foco por causa da droga, mas uma única lágrima descia no canto de seu olho azul cornflower.

"Por favor." Ele disse.

Merda. Eu o abracei na cintura e disse, "Vá em frente." Eu encarei Raina enquanto ele amarrava o roupão, meio torpe e lento por causa da droga que ela tinha feito ele tomar. Ele estava fazendo baixos sons de gemido vindo profundamente de seu peito enquanto fechava o roupão.

"De alguma forma você é tão sentimental quanto Richard." Ela disse. "Mas você mataria a gente, todos nós, até o irmão de Stephen, e não sentiria nada."

Eu olhei em seus doces olhos marrons e disse, "Eu sentiria algo."

"O que?" Ela perguntou.

"A salvo." Eu disse.

Eu encaminhei nós dois até a porta aberta e tive que olhar para trás para ter certeza que nada estava vindo por lá. Quando eu olhei de volta para eles, Gabriel tinha se movido para mais perto, mas Raina tinha uma mão no braço dele, o parando. Ela estava olhando para mim como se ela nunca tinha me visto de verdade antes. Como se eu tivesse a surpreendido. Eu acho que o sentimento era mútuo. Eu sabia que ela era problemática, mas nem em meus sonhas mais doidos eu teria acusado ela de estuprar alguém que era do seu bando.

Stephen e eu demos um passo até o corredor, e eu respirei profundamente, sentindo que algo no meu peito tinha acalmado. Os sons de luta se quebraram ao redor de nós. Eu queria correr até a luta. Richard estava vivo, ou então eles não estariam brigando ainda. Tinha tempo ainda. Tinha que ter.

Eu chamei Raina, "Não mostre a cara por lá até que tenhamos ido embora, Raina, ou eu vou te expulsar a tiros." Não houve resposta do quarto. Eu tinha que ir buscar Richard.

Stephen tropeçou e quase nos levou ao chão. Ele se firmou nos meus ombros, seu braço pressionado em meu pescoço, e então se firmou de novo.

"Está bem, Stephen?"

"Estou. Apenas me tire daqui." Sua voz soava fraca, rouca, como se ele estivesse perdendo a consciência. Eu não podia carregar ele e atirar, ou pelo menos eu não queria tentar. Eu firmei meus dedos em sua cintura e disse, "Continue acordado, Stephen, e eu vou te levar para fora."

Ele assentiu, seu cabelo longo caindo em seu rosto. "Ok." Essa única palavra era quase baixa demais para ouvir junto com toda a luta.

Eu dei um passo para o quarto principal e estava um caos. Eu não podia ver Richard. Havia apenas uma bagunça de corpos, braços, pernas, uma garra formada se levantando acima do resto, um homem-lobo com quase sete pés de altura. Ele se moveu e tirou Richard de fora da bagunça, garras cavando no corpo dele. Richard empurrou uma mão, que era longa demais para ser humana, e não peluda o suficiente para ser de lobo, na garganta do lobisomem. A criatura chiou sem som, fazendo chuviscar sangue.

Um lobo quase tão grande quanto Richard deu um salto nas costas dele. Richard cambaleou, mas não caiu. A boca enfiou dentes em seu ombro. Garras peludas e mãos humanas o agarraram por todo o lado. Merda. Eu atirei no chão de madeira. Seria mais dramático se eu tivesse atirado em uma das lâmpada, mas balas descem na mesma velocidade que sobem, e eu não queria acabar acertando eu mesma. Segurar uma arma com uma mão só era um problema. Eu a segurei e me aproximei mais da cama. Eu terminei com a arma apontada para a luta.

Todo mundo tinha parado, congelado. Richard tinha saído engatinhando de dentro da bagunça, sangrando. Ele se levantou, cambaleando um pouco, mas movendo em seu próprio poder. Eu nunca conseguiria carregar ele e Stephen sem largar a arma.

Ele parou na frente da cortina, esperando eu ir até ele. Stephen tombou-se contra mim com os braços mais frouxos. Eu acho que ele tinha desmaiado. Foi angustiosamente devagar andar até Richard. Se eu tropeçasse e caísse, eles iriam para cima de mim.

Eles me assistiram mover com olhos lobos e humanos, mas com nenhum deles eu poderia ter um conversa. Eles me assistiam como se imaginassem qual gosto eu tinha e que iriam gostar de descobrir.

Um homem-lobo gigante falou, seu maxilar densamente peludo e estranho com palavras humanas. "Você não pode matar todos nós, humana."

Ele estava certo. Eu levantei minha arma um pouco. "Verdade, mas quem vai o ser o primeiro da fila?"

Ninguém mais se mexeu enquanto eu andava. Quando eu alcancei Richard, ele pegou Stephen de mim, carregando ele em seus braços como se ele fosse uma criança. Sangue descia em seu rosto de um corte em sua testa. Cobria metade de seu rosto como uma máscara. "Stephen nunca mais vai voltar aqui, nunca." Richard disse.

O homem-lobo falou de novo, "Você não é um assassino, Richard. Essa é sua fraqueza. Mesmo se trouxermos Stephen aqui de novo, você não vai nos matar por isso. Você vai nos machucar, mas não nos matar."

Richard não disse nada. Aquilo provavelmente era verdade. Droga.

"Eu vou matar você." Eu disse.

"Anita, você não entende o que você está dizendo." Richard disse.

Eu olhei para ele, e então de volta para a massa de criaturas esperando. "Assassinato é tudo que eles entendem, Richard. Se você não vai mata-los, Stephen não vai estar seguro. Eu quero ele a salvo."

"O suficiente para matar por isso?" Richard perguntou.

"Sim." Eu disse. "O suficiente para matar por isso."

O lobisomem me encarou. "Você não é uma de nós."

"Não importa. Stephen está fora do limite para vocês. Diga a Raina que se ele for trazido para cá de novo, eu vou culpá-la pessoalmente."

"Me diga você mesma." Raina parou no corredor, nua, e totalmente confortável, como se ela estivesse usando alguma seda fina. Gabriel estava atrás dela.

"Se qualquer um trouxer Stephen para cá de novo, tentar forçar ele nesses filmes, eu vou matar você."

"Mesmo se eu não tiver nada com isso."

Eu sorri, como se eu tivesse acreditado nisso. "Mesmo se, não importa quem faça isso, ou por que, vai ser a bunda quem vai pagar."

Ela assentiu com a cabeça, quase uma inclinação. "Então assim seja, Anita Blake. Mas saiba disso, você me desafio na frente do meu bando. Eu não posso deixar isso acontecer sem uma resposta. Se você fosse um metamorfo, nós iríamos duelar, mas sua pose de ser humana é um problema."

"Mantenha em mente isso, sua vaca. Eu sou humana, então se você espera que eu largue minha arma e brigue mão a mão, você é louca."

"Isso dificilmente seria justo, não é?"

"Eu não acho que você se preocupa muito sobre ser justa depois do que eu vi no quarto."

"Ah, isso." Ela disse. "Stephen nunca vai elevar seu posto no bando. Não há mais desafios para ele. Ele é a refeição de qualquer um com posto alto no bando."

"Não mais." Eu disse.

"Você está oferecendo a ele sai proteção?" Ela perguntou.

Eu já tinha respondido essa pergunta antes e sabia que isso significava mais do que parecia, mas eu não me importava. Eu queria Stephen a salvo, e eu faria o que fosse preciso, matar ou me fazer ser um alvo. Inferno, o atirador assassino iria me matar logo mesmo. "Sim, ele está sobre a minha proteção."

"Ele já está sobre a minha proteção, Anita." Richard disse.

"Até que você queira matar alguém para proteger ele, isso não significa muito para essas pessoas."

"Você irá matar para dar apoio a proteção que Richard tem direito?" Raina perguntou.

"Ela não entende o que você está perguntando." Richard disse. "Não é justo perguntar isso se ela não entende."

"Então explique a ela, Richard, mas não hoje a noite. Está ficando tarde, e se nós quisermos ter um filme terminado, nós temos que nos apressar. Leve sua pequena humana e explique as regras para ela. Explique o buraco profundo que ela cavou hoje. Quando ela entender as regras, me ligue. E eu pensarei em um jeito de fazer um duelo entre nós duas o justo que eu for possível. Talvez eu possa colocar um pano no meu olho e amarrar minhas mãos nas costas."

Eu comecei a dizer uma coisa, mas Richard disse, "Vamos, Anita. Temos que ir agora."

Ele estava certo. Eu podia matar um bocado deles, mas não todos. Eu não tinha trazido um pente de balas extra para a arma. Eu não pensei que precisaria. Inocência minha.

Nós saímos pela porta comigo andando de costas, pronta para atirar em qualquer que mostrasse a cabeça para fora da porta. Ninguém nos seguiu. Richard carregou Stephen pela noite e não olhou para trás, como se soubesse que ninguém iria vir atrás de nós.

Eu abri a porta, e ele deitou Stephen no banco de trás. "Você pode dirigir para casa?" Ele perguntou.

"Sim, que tanto você está machucado?"

"Não muito, mas eu queria voltar com Stephen no banco de trás, caso ele acorde." Eu não podia argumentar com isso. Eu dirigi. Nós estávamos a salvo. Nós estávamos vivos ainda. Mas se eles se apressassem, não estaríamos mais. Agora que estávamos a salvo, eu podia ficar brava. "Bom, nós sobrevivemos. Não graças ao seu pequeno plano." Eu disse.

"E ninguém morreu, graças ao meu pequeno plano." Richard disse.

"Apenas porque eu estava mais armada que o normal."

"Você está certa." Ele disse. "Era uma armadilha. Feliz?"

"Sim. Estou feliz." Eu disse.

"Bom saber." Por trás de sarcasmo, ele estava cansado. Eu podia ouvir em sua voz.

"O que você deve me explicar, Richard?" Eu olhei pelo retrovisor, mas não consegui ver seu rosto no escuro.

"Raina obedece as ordens de Marcus. Ela é sua Lupa. Ele usa ela para fazer coisas que ele não aprova, como tortura."

"Então eu me encaixo lá como sua Lupa."

"Sim, eu sou um Fenrir. Normalmente, eu já teria minha Lupa escolhida. O bando é dividido, Anita. Eu dou a minha proteção aos meus seguidores, então se Marcus tenta machucar eles, eu interfiro, ou meus seguidores irão agir como protetores um do outro com minha benção. Sem um Fenrir ou um líder do bando para te dar ordens, é meio que um motim ir contra as ordens do líder do bando."

"Qual a penalidade pelo motim?"

"Morte ou mutilação."

"Eu pensei que vocês pudessem se curar de qualquer ferida que não fosse uma mortal."

"Não se empurrarem um metal queimando em você. Fogo purifica e acaba com o processo de cura, ao menos que você reabra a ferida."

"Funciona desse jeito com vampiros também." Eu disse.

"Eu não sabia disso." Ele disse, mas não como se ele se importasse.

"Como você subiu seu posto sem matar ninguém? Você deveria ter lutado muitos duelos para chegar onde chegou."

"Apenas a luta para ser um Ulfric tem que ser mortal. Tudo que eu tive que fazer é dar uma surra neles."

"Que é o por que das suas aulas de karate e levantamento de peso, para que você possa ser bom o suficiente para bater neles."

Nós tivemos essa discussão antes quando eu perguntei se levantar pesos quando ele podia levantar carros não era meio desnecessário. Ele respondeu que era necessário já que a pessoa com quem você estava lutando também conseguia levantar carros. Ele tinha sua lógica.

"Sim."

"Mas se você não vai matar ninguém, então sua ameaça não tem a força de uma mordida, sem querer fazer um trocadilho."

"Nós não somos animais, Anita. Só porque as coisas tem sido sempre assim no bando, não quer dizer que elas não podem mudar. Nós ainda somos pessoas, e isso quer dizer que podemos nos controlar. Droga, tem que ter um jeito melhor do que massacrar um ao outro."

Eu balancei minha cabeça. "Não coloque a culpa nos animais. Lobos de verdade não matam um ao outro por dominância."

"Apenas lobisomens." Ele disse. Ele soava cansado.

"Eu admiro seu objetivo, Richard."

"Mas você não concorda."

"Não, eu não concordo."

Sua voz veio da escuridão do assento de trás. "Stephen não tem nenhuma ferida. Por que ele estava gritando?"

Eu encolhi meus ombros e me fiz sentar reta de novo. Eu virei na Old Highway 21 e tentei pensar em um jeito delicado de falar a ele, mas não havia nada de delicado em um estupro. Eu contei a ele o que eu tinha visto.

O silêncio no banco de trás durou um bom tempo.

Eu estava quase na rua de virar para a casa de Richard quando ele disse, "E você acha que se eu tivesse matado algumas pessoas há um tempo atrás, isso não teria acontecido?"

"Eu acho que eles tem mais medo de Raina e Marcus do que de você, então sim."

"Se você ajudar minha ameaça matando, isso vai contra tudo o que eu estou tentando fazer."

"Eu te amo, Richard, e eu admiro o que você está tentando fazer. Eu não quero ficar acima de suas ordens, mas se eles tocarem em Stephen de novo, eu vou fazer o que eu disse. Eu vou matar eles."

"Eles são meu pessoal, Anita. Eu não os quero mortos."

"Eles não são seu pessoal, Richard. Eles são apenas um grupo de estranhos que compartilham sua enfermidade. Stephen é seu pessoal. Todo metamorfo que te dão apoio e arriscam deixar Marcus bravo, eles são seu pessoal. Aqueles que arriscam tudo por você, Richard."

"Quando Stephen entrou para o bando, eu fui o único que disse a Raina que ela não podia ter ele. Eu sempre estive do lado dele."

"Suas intenções são boas, Richard, mas ela não te mantiveram a salvo essa noite."

"Se eu deixar você matar por mim, Anita, é o mesmo que eu fazer sozinho."

"Eu não pedi sua permissão, Richard."

Ele se inclinou no encosto do banco, e eu percebi que ele não estava usando cinto de segurança. Eu comecei a dizer ele para por, mas não disse. Era o carro dele, e ele poderia sobreviver sendo jogado pelo parabrisa. "Você quer dizer que se eles pegarem Stephen de novo, você irá matar eles porque você disse que os matariam, e não por mim."

"Uma ameaça não vale nada se você não quer ir em frente." Eu disse.

"Você mataria pelo Stephen. Por que? Porque ele salvou sua vida?"

Eu balancei minha cabeça. Era difícil de explicar. "Não só por isso. Quando eu vi ele hoje a noite, o que eles estavam fazendo com ele... Ele estava chorando, Richard. Ele estava... ah, inferno, Richard, ele é meu agora. Tem um bocado de gente que eu mataria por elas,mataria para mantê-las seguras, mataria por vingança. O nome de Stephen entrou para a lista hoje."

"Meu nome está na lista?" Ele perguntou. Ele descansou seu queixo no meu ombro por cima do banco. Ele passou sua bochecha no meu rosto e eu pude sentir uma leve barba ali, áspera e real.

"Você sabe que sim."

"Eu sei. Minha chance de ser Ulfric seria grande se eu decidisse matar, mas eu não tenho certeza se valeria a pena."

"Se você quer ser um mártir com seus ideais, ótimo. Eu não gosto, mas ótimo. Mas não se martirize por pessoas que confiam em você. Eles valem mais do que qualquer jogo de ideais. Você quase foi morto essa noite."

"Você apenas não acredita em alguma coisa quando é fácil, Anita. Matar é errado."

"Tudo bem." Eu disse. "Mas você quase me fez ser morta hoje. Você entende isso? Se eles tivessem nos cercado, eu não teria como escapar. Eu não vou cair em chamas porque você quer brincar de ser Gandhi."

"Você pode ficar em casa da próxima vez."

"Merda, não é isso que estou dizendo, e você sabe disso. Você está tentando viver em algum mundo de Ozzie e Harriet, Richard. Talvez a vida costumava funcionar assim, mas não mais. Se você não largar disso, você vai ser morto."

"Se eu realmente tenho que ser um assassino para sobreviver, eu acho que prefiro não sobreviver."

Eu olhei para ele. Sua expressão era calma, como um santo. Mas você só vira santo se morrer. Eu olhei de volta para a estrada. Eu poderia largar Richard, mas se eu o deixasse, ele ia acabar morto. Ele teria ido lá hoje a noite sem ninguém, e ele não teria matado ninguém. Lágrimas queimavam atrás dos meus olhos. "Eu não sei se eu sobreviveria se você morresse comigo perto, Richard. Isso não significa nada para você?"

Ele beijou minha bochecha, e algo quente e liquido desceu pelo meu pescoço. "Eu também te amo."

Eram apenas palavras. Ele iria morrer comigo perto. Ele iria fazer tudo que era sinônimo de suicídio. "Você está sangrando em mim." Eu disse.

Ele suspirou e voltou para a escuridão. "Estou sangrando um bocado. Uma pena Jean-Claude não estar aqui para lamber." Ele fez um som amargo, baixo em sua garganta.

"Você precisa de um médico?"

"Me leva pra casa, Anita. Se eu precisar de um médico, eu conheço um homem-rato que atende em casa." Ele soava cansado, exausto, como se não quisesse conversar mais. Não sobre feridas, ou sobre o bando, ou seus ideais. Eu deixei um silêncio crescer e não sabia como quebrar ele. Um suave som veio do quieto escuro e eu percebi que Richard estava chorando. Ele sussurrou, "Me desculpe, Stephen. Eu lamento tanto."

Eu não disse nada porque não tinha nada de bom para dizer. Só mais tarde eu percebi que podia matar pessoas e nem piscar. Sem ataques de consciência, sem pesadelos, nada. Era como se alguma parte de mim tivesse se desligado. Não me incomodava saber que eu poderia matar tão facilmente. Me incomodou saber que não me incomodava. Mas isso era útil, como em hoje a noite. Eu acho que todos peludos ali acreditaram que eu os mataria. Algumas vezes, era bom ser assustadora.


9

Era 4:40 da madrugada quando Richard carregou o ainda inconsciente Stephen para dentro do quarto. Sangue havia secado atrás da camisa de Richard. "Vá para a cama, Anita. Eu tomo conta de Stephen."

"Eu preciso ver seus machucados." Eu disse.

"Eu estou bem."

"Richard..."

Ele me olhou, metade de seu rosto coberto de sangue seco, seus olhos quase selvagens. "Não, Anita, eu não quero a sua ajuda. Eu não preciso."

Eu respirei profundamente pelo nariz e deixei o ar sair. "Ok, como quiser."

Eu esperei que ele se desculpasse por ser tão ríspido comigo, mas ele não se desculpou. Ele apenas andou até o outro quarto e fechou a porta. Eu fiquei parada na sala de estar por um minuto, sem ter certeza do que fazer.

Eu havia machucado os sentimentos dele, talvez até ofendido seu senso de honra masculina. Foda-se. Se ele conseguia lidar com a verdade, foda-se ele. As pessoas vivem como são. Eu não podia dar a Richard mentiras confortantes quando isso podia fazer pessoas serem mortas.

Eu fui até o quarto de visitas, tranquei a porta e fui para a cama. Eu coloquei uma camisa extra G com uma caricatura do Arthur Conan Doyle. Eu tinha feito a mala com algo um pouco sexy. Sim, eu admito.

Eu poderia me salvar de problemas. A Firestar estava embaixo do travesseiro. A outra estava debaixo da cama, onde eu podia alcançar. Eu deixei um pente de balas extra do lado. Eu nunca pensei que precisaria de tanto armamento, mas entre ameaças de assassinato e um bando de lobisomens, eu estava começando a me sentir um pouco insegura.

Quando eu estava enfiando as facas por baixo do colchão para que eu pudesse pega-las se precisasse, eu percebi o quão insegura eu estava me sentindo. Mas eu deixei as facas ali. Melhor insegura e paranóica do que morta.

Eu peguei meu pingüim de pelúcia, Sigmund, na mala e o abracei por baixo das cobertas. Eu tinha uma vaga idéia que passar a noite na casa de Richard seria romântico. Isso mostra o quanto eu sei das coisas. Nós tivemos três brigas em uma noite, um recorde até mesmo para mim.

Isso provavelmente não era um bom sinal de longevidade para uma relação. O último pensamento fez meu peito se apertar, mas o que eu deveria fazer? Ir para o outro quarto e me desculpar? Dizer a ele que ele estava certo quando ele não estava? Dizer a ele que estava tudo bem ser morto e levar o resto de nós junto? Não estava tudo bem. Não estava nem perto de estar bem. Eu abracei Sigmund até que ele quase se partisse em dois. Eu me recusava a chorar.

Pergunta: Eu estava mais preocupada em perder Richard do que com o assassino?

Resposta: Matar não me aborrecia, perder Richard sim.

Eu adormeci abraçando meu pingüim e me perguntando se Richard e eu ainda estávamos namorando. Quem vai manter ele vivo se eu não estiver por perto?

Algo me acordou. Eu pisquei no escuro e alcancei embaixo do travesseiro a Firestar. Quando ela estava segura em minhas mãos, eu ouvi. Um batida, alguém estava batendo na porta trancada. Baixo e hesitante. Era Richard querendo se desculpar? Isso seria muito conveniente.

Eu tirei as cobertas, deixando cair Sigmund no chão. Eu o coloquei de volta na mala, abaixando a tampa dela, sem fechar, e fui nas pontas dos pés até a porta. Eu parei em um lado dela e disse, "Quem é?"

"Stephen."

Eu deixei sair a respiração que eu não sabia que estava segurando. Eu fui até o outro lado da porta, arama ainda pronta, e destranquei a porta. Eu a abri devagar, olhando, escutando, tentando ter certeza que era apenas o Stephen.

Ele estava parado do lado de fora usando uma bermuda de Richard. Nele parecia quase uma calça. Uma camiseta emprestada cobria seus joelhos. Seu longo cabelo loiro estava bagunçado, como se ele tivesse dormido.

"O que foi?" Eu abaixei a rama do meu lado, e ele me assistiu fazer isso.

"Richard saiu e eu estou com medo de ficar sozinho." Os olhos deles não se encontraram com os meus quando ele disse a última parte, se encolhendo como se tivesse medo do que veria em meu rosto.

"O que você quer dizer ele saiu? Para onde?"

"Pra floresta. Ele disse que ia dar uma olhada atrás de assassinos. Ele quis dizer Raina?" Ele olhou para mim então, seus surpreendentes olhos azuis abertos, um começo de pânico cobrindo seu rosto.

Eu toquei seu braço, sem ter certeza se era a coisa certa a se fazer. Algumas pessoas não gostam de ser tocadas depois de serem molestadas sexualmente. Parecia confortar Stephen. Mas ele olhou para trás, para a sala vazia, esfregando suas mãos pelos braços.

"Richard me disse para ficar dentro da casa. Ele disse que eu precisava descansar." Ele não olhou em meus olhos de novo. "Eu estou com medo de ficar sozinho, Anita. Eu..." Ele deixou cair suas mãos, seu cabelo loiro caindo como uma cortina para esconder seu rosto. "Eu não consigo dormir. Eu fico ouvindo barulhos."

Eu coloquei um dedo por baixo de seu queixo e o levantei suavemente. "Você está pedindo para dormir aqui comigo?"

Seus olhos me encararam, bem abertos e cheios de dor. "Richard disse que eu podia."

"Repete." Eu disse.

"Eu disse a ele que não conseguia ficar sozinho. Ele disse, Anita está aqui, ela vai te proteger. Vá dormir com ela." Ele olhou para mim, seu rosto embaraçado. Algo deveria ter aparecido em meu rosto. "Você está brava agora. Eu não culpo você. Me desculpe... Eu vou..." Ele começou a se virar e eu peguei seu braço.

"Está tudo bem Stephen, eu não estou brava com você. Richard e eu tivemos um... desentendimento. Isso é tudo." Eu não queria que ele dormisse ali comigo. A cama era pequena demais para duas pessoas, e se eu fosse dividir ela com alguém, eu preferiria que fosse com Richard, mas isso não iria acontecer. Talvez nunca, pelo jeito que as coisas estavam indo.

"Você pode ficar aqui." Eu não acrescentei, mantenha suas mãos em você. Seu rosto estava coberto por uma necessidade que não tinha nada a ver com sexo. Ele precisava ser abraçado, ser dito que os monstros debaixo da cama não estavam ali. Eu não podia ajudar ele com esse último. Os monstros eram reais.

Mas quanto ao primeiro, talvez eu pudesse ajudar nisso. Assassina sangue frio que nem eu sou, talvez eu pudesse dividir meu pingüim de pelúcia com ele.

"Você pode pegar mais um travesseiro no quarto de Richard?" Eu perguntei.

Ele assentiu e foi buscar. Ele voltou com o travesseiro apertado em seu peito como se ele preferisse dormir com ele ali do que na cabeça. Talvez o pingüim não era uma idéia tão ruim.

Eu tranquei a porta atrás de nós. Eu poderia ter ido para o quarto de Richard. A cama era maior, mas ali também havia uma grande janela com uma varanda e casinhas de pássaros. O quarto de visitas tinha apenas uma janela pequena. Mais fácil para defender. Ao menos que eu quisesse sair pela janela, elas atrapalhavam, então ficamos no quarto mais seguro. Além do mais, eu teria que mover todas as armas e já teria amanhecido até que eu tivesse terminado.

Eu afastei a coberta e disse, "Você primeiro." Se algo viesse pela porta, eu queria ser a primeira a saudá-lo, mas eu não disse isso em voz alta. Stephen já estava nervoso o suficiente.

Ele subiu na cama com seu travesseiro, pressionado contra a parede porque realmente não havia espaço para dois travesseiros. Ele deitou de costas, olhando para mim, seu cabelo loiro com cachos caindo em seu rosto e ombros, como a Bela Adormecida. Eu não via muitos homens com cabelos mais compridos que o meu. Ele era um desses homem que era mais bonito do que maravilhoso, adorável como uma boneca. Me olhando com seus olhos azuis, ele parecia ter uns doze anos. O olhar em seu rosto que me dizia isso, como se ele estivesse esperando que eu chutasse ele, e ele deixaria que eu fizesse isso, porque ele não podia me parar. Eu entendi naquele momento o que Raina queria dizer sobre ele ser a refeição de todo mundo. Não havia nada de dominante em Stephen, e isso me fez pensar sobre sua história. Crianças que foram abusadas as vezes tinham esse olhar inocente em seus olhos. E eles iriam aceitar isso, porque era normal.

"O que há de errado?" Stephen disse.

Eu estava encarando ele. "Nada, só pensando." Hoje não era a noite para perguntar se seu pai batia nele.

Eu pensei em colocar uma calça jeans, mas seria desconfortável, sem mencionar o calor. Estava quase acabando a primavera, o calor ainda não havia estabilizado. Estava tendo apenas uns 17º, mas isso não era frio o suficiente para por um jeans, principalmente se você tinha outra pessoa na cama com você. Além do mais, eu não tinha certeza de como Stephen iria reagir comigo me vestindo para deitar do lado dele. Talvez ele ficasse insultado. Isso era complicado demais para mim.

Eu desliguei a luz e subi na cama ao lado dele. Se um de nós dois fosse um pouco maior, nunca teria cabido. Stephen rolou para o lado, assim como eu. Ele se aninhou contra minhas costas, colocando seu corpo contra o meu, um braço passando pela minha cintura, como se eu fosse um bichinho de pelúcia. Eu fiquei tensa, mas Stephen pareceu não notar. Ele enterrou seu rosto nas minhas costas, e deixou sua respiração sair em um suspiro.

Eu fiquei deitada ali no escuro e não consegui dormir. Há dois meses atrás, eu quase acabei virando uma vampira, isso me deu insônia. Com estar perto da morte, eu podia lidar. Estar perto de virar uma morta-viva, isso me assustava. Mas eu superei isso. Eu estava dormindo bem, muito obrigada, até agora.

Eu apertei o botão no meu relógio que o fazia acender a luz. Eram apenas 5:30. Eu tinha tido por volta de uma hora de sono. Maravilha.

A respiração de Stephen ficou mais profunda e seu corpo relaxou contra o meu, um músculo por vez. Ele murmurava suavemente em seu sono, braços se apertando em volta de mim, e então o sonho passava e ele deitava queito e quente.

Eu perdi contra o sono, abraçando os braços de Stephen contra meu corpo. Ele era quase tão bom quanto um bichinho de pelúcia, se bem que ele tinha a tendência de se mover em momentos estranhos.

A luz do dia brilhou contra a fina linha da cortina, e de primeira, eu pensei que a luz tinha me acordado.

Eu acordei rígida, na mesma posição que tinha caído no sono, como se eu não tivesse me movimentado nada durando a noite. Stpehen ainda estava curvado contra mim, uma perna em cima da minha perna esticada e com um braço em mim, como se estivesse tentando ficar o mais perto de mim possível, mesmo no sono profundo.

Eu fiquei deitada ali por um momento com seu corpo junto do meu e percebi que eu nunca tinha acordado com um homem antes. Eu tive um noivo no colégio e eu fazia sexo com ele, mas eu nunca passei a noite com ele. Eu nunca, na verdade, dormi na mesma cama que um homem. Era meio que estranho. Eu deitei no circulo de calor do corpo de Stephen e desejie que fosse o de Richard.

Eu tinha um sentimento vago que algo havia me acordado, mas o que? Eu me livre das cobertas e do corpo de Stephen junto ao meu. Ele rolou para o outro lado, suspirando, fazendo pequenos sons de protesto. Eu coloquei a coberta em volta dele e peguei a Firestar debaixo do travesseiro.

De acordo com meu relógio era quase 10:30. Eu tive umas cinco horas de sono. Eu coloquei meu jeans, peguei minha escova de dente e uma calcinha limpa e meias da mala. Eu coloquei tudo enrolado dentro de uma camisa pólo limpa e destranquei a porta. Eu mantive a Firestar na minha mão. Eu coloquei a arma em cima da pia do banheiro enquanto me limpava. Eu fazia a mesma coisa em casa.

Alguém passou em frente a porta, conversando. Duas vozes, uma delas feminina. Eu deitei as roupas no chão, destravei a segurança da arma e coloquei minha mão esquerda na maçaneta.

"Isso foi a trava de segurança de uma arma?" A voz de um homem disse do outro lado da porta. Eu reconheci a voz.

Eu cliquei a segurança de volta no lugar, coloquei a arma na parte de frente do meu jeans e coloquei minha camiseta. Armada, mas nada visível, e então abri a porta. Jason estava parado ali, sorrindo para mim. Ele era da minha altura. Seu cabelo loiro estava reto e da espessura da de um bebê, e cortado por cima dos ombros.

Seus olhos eram de um inocente azul de um céu de primavera, mas o olhar neles não era inocente. Ele deu uma olhada de mim até Stephen, ainda deitado na cama.

"Vai ser minha vez depois?" Ele perguntou.

Eu suspirei, peguei minhas roupas, as coloquei por cima do meu braço e fechei a porta atrás de mim. "O que você está fazendo aqui, Jason?"

"Você não parece feliz em me ver." Ele estava usando uma camiseta fishnet. Seu jeans era descolorido e brando, com um joelho completamente de fora. Ele tinha 20 anos e tinha sido um estudante antes de entrar pro bando. E agora ser o lobo de Jean-Claude, e bancar o segurança e café da manhã do Mestre da Cidade parecia ser seu único trabalho.

"Não é muito cedo parafishnet?"

"Espere pra ver o que eu vou usar hoje a noite, na festa de gala da estréia do clube de dança de Jean-Claude."

"Talvez eu não possa ir." Eu disse.

Ele levantou suas sobrancelhas. "Você passou uma noite debaixo do teto de Richard, e você faltou um encontro com Jean-Claude." Ele balançou sua cabeça. "Eu acho que essa não é uma boa idéia."

"Olha, nenhum deles é meu dono, ok?"

Jason se afastou com as mãos para o alto como se estivesse se rendendo. "Ei, não atire no mensageiro. Você sabe que isso vai deixar o Jean-Claude puto, e você sabe que ele vai pensar que você dormiu com Richard."

"Eu não dormi."

Ele olhou para a porta fechada. "Eu sei disso, e estou chocado, Anita, com a sua escolha de parceiro de cama."

"Quando você contar para Jean-Claude que eu dormi com Stephen, tenha certeza absoluta que ele sabia que nós dividimos a cama, e nada mais. Se Jean-Claude der ao Stephen um tempo difícil por causa dos seus jogos de palavras, eu ficarei brava. E você não quer que eu fique brava, Jason."

Ele me olhou por uma ou duas batidas de coração. Algo deslizou por trás de seus olhos, sua besta movendo em vida, apenas um toque. Jason tinha um pouco do que Gabriel tinha um bocado.

Uma fascinação com perigo, dor, e com simplesmente ser o tempo todo um pé no saco. Jason era tolerável, não era um cara mau, não de tudo; Gabriel era pervertido; mas ainda era a mesma personalidade, só que a de Jason era reduzida. Depois do que eu tinha visto na noite passada, eu me perguntei o que Jason teria pensado do entretenimento. Eu tinha quase certa que ele teria desaprovado, mas não cem por cento. Isso diz algo a você sobre Jason.

"Você realmente sacou uma arma para Raina e Gabriel ontem a noite?"

"Sim."

Um mulher saiu do quarto de Richard com a mão cheia de toalhas. Ela tinha por volta de cinco pés e seis palmos, com cabelos castanhos escuros, tão ondulados que tinha que ser natural. Ela estava usando calças de marinha e um suéter de mangas curtas. Sandálias abertas completavam sua roupa. Ela me olhou de cima abaixo, meio que me desaprovando, ou talvez estava desapontada. "Você deve ser Anita Blake."

"E você é?"

"Sylvie Barker." Ele me ofereceu sua mão e eu a apertei. No momento que eu toquei a pele dela eu sabia o que ela era. "Você está com o bando?" Eu perguntei.

Ela afastou sua mão e piscou para mim. "Como você soube?"

"Se você está tentando passar por humana, não toque alguém que sabe o que está procurando. Seu poder passeou pela minha pele."

"Eu não perderei tempo tentando me passar por humana então." O poder dela me inundou, passando por um como um golpe de calor quando você abre a porta do forno.

"Impressionante." Eu disse, feliz por minha voz estar firme.

Ela deu um pequeno sorriso. "Isso é um belo elogio vindo de você. Agora, eu tenho que levar essas toalhas para a cozinha."

"O que aconteceu?" Eu perguntei.

Sylvie e Jason trocaram um olhar. Ela balançou sua cabeça. "Você sabia que Richard estava machucado?" Ele fez disso uma pergunta.

Meu estômago se apertou. "Ele disse que ficaria bem."

"Ele ficará." Ela disse.

Eu senti minha pele ficar pálida. "Onde ele está?"

"Cozinha." Jason disse.

Eu não corri, não era tão longe assim, mas eu queria.

Richard estava sentado na mesa da cozinha, sem camisa, suas costas para mim. Elas estavam cheias de marcas de garras frescas. Havia uma marca de mordida em seu ombro esquerdo, onde um pedaço de carne estava faltando.

Sra. Lillian estava limpando o sangue das costas dele com uma toalha de cozinha. Ela era uma mulher pequena, por volta de 50 anos, com seu cabelo grisalho cortado em um curto e sem sentido jeito. Ela já tinha tratado de mim duas vezes antes, uma vez quando ela estava peluda e parecia com um gigante homem rato.

"Se você tivesse ligado para o atendimento médico noite passada, você não precisava estar passando por isso, Richard. Eu não gosto de causar dor aos meus pacientes."

"Marcus estava de guarda noite passada." Richard disse. "Naquelas circunstancias, eu pensei que era melhor deixar para lá."

"Você poderia ter deixado alguém limpar e cobrir as feridas."

"Sim, Richard, você deveria ter me deixado te ajudar." Eu disse.

Ele olhou por trás de seus ombros, seu cabelo caindo em seu rosto. Havia um curativo em sua testa. "Eu tive ajuda o suficiente para uma noite."

"Por que? Porque eu sou uma mulher, ou por que você sabia que eu estava certa?"

Lillian enfiou uma pequena faca de prata na ferida de garra. Ela deslizou a lâmina pela ferida, reabrindo ela. Richard respirou profundamente, e deixou o ar sair.

"O que você está fazendo?" Eu perguntei.

"Licantropos se curam, mas às vezes, sem uma assistência médica, nós podemos ficar com cicatrizes. A maioria dos ferimentos irá se curar, mas algumas delas são profundas o suficiente para ele precisar de alguns pontos antes que a pele comece a se fechar, então eu estou tendo que reabrir alguma das feridas e adicionar alguns pontos."

Sylvie deu para a Dra. Lillian as toalhas.

"Obrigada, Sylvie."

"Por que os dois pombinhos estavam brigando?" Sylvie perguntou.

"Deixe Richard te contar, se ele quiser."

"Anita concorda com você." Richard disse. "Ela acha que eu deveria começar a matar pessoas."

Eu andei até onde ele pudesse me ver sem ter que se virar. Eu me encostei contra a pia e tentei ver seu rosto, e não a faca deslizante de Lillian. "Eu não quero que você comece a matar pessoas indiscriminadamente, Richard. Apenas complemente suas ameaças. Mate uma pessoa e o resto vai sossegar."

Ele olhou para mim, indignado. "Você quer dizer, fazer de um deles um exemplo?"

Colocando dessa forma soava meio que sangue-frio, mas fato era fato. "Sim, é isso que eu quero dizer."

"Uh, eu gosto dela." Sylvie disse.

"Eu sabia que ia gostar." Jason disse. Eles trocaram um olhar que eu não entendi, mas parecia estar divertindo um bocado eles.

"Eu estou perdendo alguma piada aqui?"

Os dois balançaram a cabeça.

Eu deixei pra lá. Richard e eu ainda estávamos brigando, e eu estava começando a pensar que essa briga não teria fim. Ele fez uma careta de dor enquanto a doutora abria outra ferida. Ela estava apenas adicionando um ponto aqui e ali, mas ainda assim era mais do que eu gostaria de ter na minha pele. Eu não gosto de pontos.

"Sem anestesia?" Eu perguntei.

"Anestesia não funciona bem em nós. Nós metabolizamos ela muito rápido." Lillian disse. Ela passou a faca em uma das toalhas limpas e disse, "Uma das marcas de garras está em seu jeans. Tire ele para eu ver."

Eu olhei para Sylvie. Ela sorriu para mim. "Não se preocupe. Eu gosto de garotas."

"Era por isso que vocês estavam rindo." Eu disse para Jason.

Ele assentiu, sorrindo alegremente.

Eu balancei minha cabeça.

"Os outros vão estar aqui logo para a reunião. Eu não quero a minha bunda de fora quando todo mundo passar pela porta." Richard se levantou. "Vamos terminar no quarto." Havia uma ferida que era um circulo de perfuração logo abaixo de sua clavícula. Eu me lembrei do homem-lobo levantando suas garras noite passada.

"Você poderia ter sido morto." Eu disse.

Ele olhou para mim. "Mas eu não fui. Não é isso você sempre diz?"

Eu odiava ter minhas próprias palavras usadas contra mim.

"Você poderia ter matado Sebastian ou Jamil e o resto não teria pulado em você."

"Você já até decidiu quem eu deveria matar." Sua voz estava cheia de raiva.

"Sim." Eu disse.

"Ela está fazendo boas escolhas, na verdade." Sylvie disse.

Richard virou seus escuros, escuros, olhos para ela. "Você fica fora disso."

"Se fosse só uma briga de namorados, Richard, eu ficaria." Ela disse. Ela andou até ficar na frente dele. "Mas Anita não está dizendo nada que eu já não tenha dito. Nada que a maioria de nós já não tenhamos implorado você para fazer. Por alguns meses, eu queria tentar ir do seu jeito. Eu esperava que você estivesse certo, mas não está funcionando, Richard. Ou você é um macho alfa ou não é."

"Isso é um desafio?" Ele perguntou. Sua voz havia crescido de maneira bem quieta. Poder fluiu pelo quarto como um vento quente.

Sylvie deu um passo para trás. "Você sabe que não."

"Sei?" Ele disse. O poder no quarto aumentou, crescendo com um flash de eletricidade. Os pêlos do meu braço se levantaram de atenção.

Sylvie parou de dar passos para trás, suas mãos em punhos em seu lado. "Se eu pensasse que poderia vencer Marcus, eu já teria feito. Se eu pudesse proteger nós todos, eu protegeria. Mas eu não posso, Richard. Você é nossa única chance."

Richard se elevou por cima dela. Não era apenas seu tamanho físico. Seu poder fluiu por ela, enchendo o quarto, até que estava quase nos afogando.

"Eu não vou matar apenas porque você acha que eu deveria, Sylvie. Ninguém irá me forçar a fazer isso. Ninguém."

Ele virou seu olhar para mim, e me custou muito conseguiu olhar em seus olhos. Havia uma força neles, um peso que queimava. Não era o poder drenante de um vampiro, mas era algo. Minha pele se arrepiou com seu poder, sua energia, e eu não fugi.

Eu encarei as feridas logo abaixo de seu pescoço e soube que eu quase tinha perdido ele. Isso era inaceitável.

Eu andei para perto dele até que poderia ter levantado meu braço e alcançado ele.

Sua energia indescritível deu voltas em mim até que era difícil de respirar. "Nós precisamos conversar, Richard."

"Eu não tenho tempo para isso agora, Anita."

"Dá um jeito." Eu disse.

Ele olhou para baixo, para mim. "Converse comigo enquanto Lillian termina isso. Eu tenho pessoas vindo para uma reunião aqui, daqui 15 minutos."

"Que reunião?" Eu perguntei.

"Para discutir a situação de Marcus." Sylvie disse. "Ele já tinha programado essa reunião antes da aventura da noite passada."

Richard encarou ela, e não era um olhar amigável. "Se eu quisesse que ela soubesse sobre isso, eu teria dito a ela."

"O que mais você não tem me contado, Richard?"

Ele virou aqueles olhos zangados para mim. "O que você não tem me contado?"

Eu pisquei para ele, genuinamente confusa. "Eu não sei sobre o que você está falando."

"Dois tiros de escopeta acima da sua cabeça e você não sabe sobre o que eu estou falando."

Ah, isso. "Eu fiz a coisa certa, Richard."

"Você sempre está certa, não é?"

Eu olhei para o chão e balancei minha cabeça. Quando eu olhei de volta para ele, ele ainda estava bravo, mas eu estava perdendo a minha raiva. A primeira. Essa iria serabriga. Aquela que iria terminar tudo. Eu não estava errada. Nenhuma quantidade de conversas iria mudar isso. Mas se nós iríamos terminar, nós iríamos com força. "Vamos acabar com isso, Richard. Você queria ir para o quarto."

Ele se levantou, seu corpo rígido com raiva, que era mais profunda do que eu podia compreender. Era uma raiva que ele tinha que controlar, e eu não entendia de onde ela estava vindo. Era um mau sinal. "Tem certeza que você consegue lidar com me ver nu?" Sua voz estava inteiramente seca, e eu não sabia por que.

"O que há de errado, Richard? O que eu fiz?"

Ele balançou sua cabeça com vigor, fazendo ele fazer uma careta de dor quando o ombro pegou o movimento. "Nada, nada." Ele andou para fora da cozinha. Lillian olhou para mim, mas seguiu ele. Eu suspirei e me juntei a eles.

Eu não estava ansiosa pelos próximos minutos, mas eu não iria me acovardar. Nós iríamos falar todas as coisa feias e fazer delas as mais desagradáveis possível. O problema era, eu não tinha nada de desagradável para dizer. Isso faria a briga ser muito menos divertida para mim.

Jason sussurrou enquanto eu passava por ele, "Vai, Anita, vai, Anita."

Isso me fez sorriu.

Sylvie me olhava com olhos frios. "Boa sorte." Não soava completamente sincero.

"Tem algo errado?" Eu preferia muito mais brigar com ela do que com Richard.

"Se ele não está namorando você, então ele deve escolher um par. Isso ajudaria as coisas."

"Você quer o serviço?" Eu perguntei.

"Sim." Ela disse. "Eu quero, mas sexo faz parte e eu não quero isso."

"Então eu não vou ficar no seu caminho." Eu disse.

"Não, no meu não." Ela disse. O que implicava que haviam outras, mas eu não ligava merda nenhuma pra isso, não hoje.

Eu disse, "É tão malditamente cedo para políticas de bolas de pêlo. Se alguém quer um pedaço de mim, diga a elas para entrarem na fila."

Ela virou sua cabeça para um lado, como um cachorro curioso. "É uma fila grande?"

"Ultimamente, sim."

"Eu pensei que todos seus inimigos estavam mortos." Jason disse.

"Eu continuo fazendo novos." Eu disse.

Ele sorriu. "Olha só."

Eu balancei minha cabeça e andei até o quarto. Eu preferia encarar Raina de novo do que Richard. Eu quase desejei que o assassino pulasse pela janela para eu ter algo em que atirar. Iria machucar menos que terminar com Richard.


10

O quarto de Richard era pintado com um verde claro, um vibrante tapete estava jogado na frente da cama como um pedaço de vidro manchado. A cama era de quatro colunas, e mesmo machucado, ele tinha feito a cama, colocando uma coberta de um sólido vermelho por cima dela. Ele tinha três camadas de cobertas na cama, verde, azul e vermelho... combinando com as cores do tapete e do quadro acima da cama. O quadro era de uma cena de lobos no inverno. Os lobos estavam olhando diretamente para fora da pintura, como se você saísse de trás de uma árvore de repente você iria assustar eles. Havia um veado sangrando na neve, a garganta dele estava arrancada. Era uma estranha escolha para o quarto, mas combinava de certa forma. Além do mais, eu gostava. Tinha aquela qualidade que todas as boas pinturas tem, como se você deixasse o quarto, o quadro iria se mover, vida suspensa que era capturada na tela. O verde enfatizava os pinheiros, o azul se estendia pelo azul lavado do céu e azuladas sombras, o vermelho combinava com o sangue na neve.

Richard estava deitado com as costas para cima, por cima da roupa de cama carmesim. Ele estava totalmente nu, seus jeans jogados no canto da cama. Sua pele morena parecia mais escura e macia e inacreditavelmente tocável contra a coberta vermelha. Eu senti um calor subir pelo meu rosto enquanto eu seguia a curva de seu corpo, na macia expansão de suas nádegas. Lillian tinha acabado de costurar uma ferida de garra que estava baixo de sua bunda. Eu olhei para o outro lado.

Eu já tinha visto Richard nu quando conheci ele, mas nenhuma outra vez além dessa. Nós não estávamos nem pensando em namorar naquele dia. Eu tinha que olhar para o outro lado, principalmente porque eu queria olhar para ele. Eu queria ver ele daquele jeito, e isso era muito embaraçoso para por em palavras. Eu estudei as coisas que estavam na prateleira da parede de seu quarto como se eu fosse memorizar eles.

Pedras de quartzo, um pequeno ninho de pássaros[?? "a small bird's nest".. então ta né.]. Havia um pedaço de um coral fossilizado do tamanho da minha mão, era de um rico dourado escuro com mesclas de quartzo branco. Eu o achei numa viagem de campo e dei a ele porque ele colecionava um pouco disso, e eu não.

Eu toquei o coral, e não queria me virar.

"Você disse que queria conversar, então converse." Richard disse.

Eu olhei para trás. Lillian ainda estava costurando sua pele. "Pronto." Ela disse. "Você não terá nem uma cicatriz provavelmente."

Richard dobrou seus braços na cama, descansando seu queixo neles. Seu cabelo caia em seu rosto, denso e tocável. Eu sabia que era mais macio que parecia.

Lillian olhou de um para outro de nós. "Eu acho que vou deixar vocês sozinhos." Ela começou a colocar suas coisas na bolsa, que era de couro marrom e parecia mais como uma caixa de pescaria do que qualquer outra coisa. Ela olhou para Richard e então de volta para mim. "Aceite o conselho de uma velha senhora. Não ferre as coisas."

Ela nos deixou olhando para ela.

"Você pode se vestir agora." Eu disse.

Ele olhou para seu jeans jogado no chão, movendo apenas seus escuros olhos. Seus olhos voltaram para mim, e estavam com uma raiva que eu nunca tinha visto antes. "Por que?"

Eu concentrei em olhar aqueles olhos bravos e tentei não encarar seu corpo. Era mais difícil do que eu admitiria em voz alta. "Porque é difícil brigar com você quando você está pelado."

Ele levantou seus ombros, seu cabelo caindo em seus olhos, até que me encarou através da cortina de seu cabelo douradamente castanho. Me lembrava Gabriel, e isso era enervante pra caramba.

"Eu sei que você me quer, Anita. Eu posso cheirar."

Ah, isso me fez me sentir melhor. Eu fiquei vermelha pela segunda vez em cinco minutos. "Então, você é maravilhoso. E daí? O que diabos isso tem a ver com qualquer coisa?"

Ele se levantou de quatro, joelhos e mãos. Eu olhei para longe tão rápido que fiquei tonta.

"Por favor, coloque seu jeans."

Eu ouvi ele descer da cama. "Você não pode nem mesmo olhar pra mim, pode?"

Havia algo no jeito que ele disse que me deu vontade de olhar seu rosto, mas eu não podia me virar. Eu apenas não podia. Se essa iria ser a nossa última briga, eu não queria ter a memória de seu corpo presa na minha mente. Isso seria muito cruel.

Eu senti ele parar na minha frente. "O que você quer de mim, Richard?"

"Olhe para mim."

Eu balancei minha cabeça.

Ele tocou meu ombro e eu me afastei.

"Você não pode nem mesmo me deixar te tocar, não é?" Pela primeira vez eu ouvi dor em sua voz, crua e cortante.

Eu me virei então. Eu tinha que ver seu rosto. Seus olhos brilhavam com lágrimas não choradas, seus olhos bem abertos para que elas não caíssem. Ele puxou seu cabelo para longe de seu rosto, mas ele já estava caindo de volta. Meu olhos viajaram para baixo, para seu peito musculoso, e eu queria correr minhas mãos por seus mamilos, abaixo em sua esbelta cintura, e mais para baixo. Eu levei meus olhos de volta para seu rosto forçadamente, meu rosto pálido agora, mais pálido que vermelho. Eu estava tendo problema para respirar. Meu coração estava batendo tão forte, era difícil de não ouvir.

"Eu amo quando você me toca." Eu disse.

Ele me encarou, seus olhos cheios de dor. Eu acho que eu preferia a raiva. "Eu costumava te admirar por dizer não para Jean-Claude. Eu sei que você o deseja, e você continua recusando ele. Eu acho que isso é muito digno." Ele balançou sua cabeça, uma lágrima deslizando do seu olho, trilhando devagar em sua bochecha.

Eu toquei a lágrima de seu rosto com a ponta do meu dedo. Ele pegou minha mão com a dele, segurando um pouco forte demais, mas não machucando, apenas me surpreendendo. Era a minha mão direita, pegar a arma com minha mão esquerda seria um saco. Não que eu realmente pensei que eu precisaria da arma, mas ele estava agindo de forma tão estranha.

Richard falou, me encarando. "Mas Jean-Claude é um monstro e você não dorme com monstros. Você apenas mata eles."

Lágrimas caiam de seus dois olhos e eu as deixei cair. "Você não dorme comigo também, porque eu também sou um monstro. Mas você pode matar a gente, não é Anita? Você apenas não pode nos foder."

Eu me afastei dele e ele me deixou. Ele poderia ter me pressionado na pesada viga de madeira de cerejeira da cama, então ele me deixou ir. Eu não gostei muito disso. "Isso foi uma coisa muito feia de se dizer."

"Mas é a verdade." Ele disse.

"Eu te quero, Richard, você sabe disso."

"Você quer Jean-Claude também, então isso não é muito confortante. Você me disse para matar Marcus, como se fosse fácil. Você acha que não iria me incomodar matar ele por que ele é um monstro ou por que eu sou um?"

"Richard." Eu disse. Esse era um argumento que eu não tinha previsto. Eu não sabia o que dizer, mas eu tinha que dizer alguma coisa. Ele estava parado ali com lagrimas caindo em seu rosto. Mesmo desnudo e maravilhoso, ele parecia perdido.

"Eu sei que iria te incomodar matar Marcus. Eu nunca disse que não iria." Eu disse.

"Então como você pode me pedir para fazer isso?"

"Eu acho que é necessário." Eu disse.

"Você poderia fazer isso? Você poderia simplesmente matar ele?"

Eu pensei nisso por um momento e então assenti. "Sim, eu poderia."

"E isso não iria te incomodar?" Ele perguntou.

Eu olhei diretamente para ele, olhei diretamente em seus olhos cheios de dor e disse, "Não."

"Se você realmente quis dizer isso, isso te faz ser mais um monstro do que eu."

"Sim, eu acho que faz."

Ele balançou sua cabeça. "Não te incomoda, não é, saber que você poderia tomar a vida de um ser humano?" Ele riu, e era um som seco. "Ou você não considera Marcus um humano?"

"O homem que eu matei noite passada era um humano." Eu disse.

Richard me encarou, horror puro crescendo em seus olhos. "E você dormiu bem, não dormiu?"

Eu assenti. "Bastante, considerando que você mandou Stephen para a minha cama."

Um estranho olhar passou por seus olhos, e por um pequeno segundo, eu vi ele se perguntando.

"Meu Deus, você me conhece melhor do que isso."

Ele olhou para baixo. "Eu sei. É só que eu te quero tanto, e você continua dizendo não. Isso me faz duvidar de tudo."

"Merda. Eu não vou alimentar seu ego no meio de uma briga. Você mandou Stephen para mim porque você estava bravo. Disse que eu poderia proteger ele. Te ocorreu que eu nunca havia dormido, apenas dormido, na mesma cama com um homem antes?"

"E quanto ao seu noivo no colégio?"

"Eu tive sexo com ele, mas não dormi com ele." Eu disse. "A primeira vez que eu acordasse de manhã com um homem curvado contra mim, eu queria que fosse com você."

"Me desculpe, Anita. Eu não sabia. Eu..."

"Você não pensou. Ótimo. Agora, por que isso de ficar sem roupas? O que está acontecendo Richard?"

"Você viu a luta ontem a noite. Você viu o que eu fiz, o que eu posso fazer."

"Algo disso, sim."

Ele balançou sua cabeça. "Você quer saber por que eu não mato? Por que eu sempre paro antes disso?" O olhar em seus olhos era quase desesperado, selvagem.

"Me diga." Eu disse, suavemente.

"Eu gosto, Anita. Eu amo sentir minhas mãos, minhas garras rasgando a carne." Ele se abraçou. "O sabor do fresco, quente sangue na minha boca, é excitante." Ele balançou sua cabeça mais forte, como se ele pudesse apagar a sensação. "Eu queria partir Sebastian no meio, ontem. Eu podia sentir, como uma dor nos meus ombros, nos meus braços. Meu corpo queria matar ele, da mesma forma que eu quero você." Ele me encarou, ainda se abraçando, mas seu corpo estava falando por ele. O pensamento de matar Sebastian excitava ele, realmente excitava ele.

Eu traguei o ar fortemente. "Você tem medo de que se você se deixar levar e matar alguém, que você vai gostar?"

Ele me encarou, e havia o horror em seus olhos: o medo de que ele era um monstro, o medo de que eu estava certa em não tocar ele, não deixar ele me tocar. Você não fode monstros, você apenas mata eles.

"Você gosta de matar?" Ele perguntou.

Eu tive que pensar nisso por um segundo ou dois. Finalmente eu balancei minha cabeça. "Não, eu não gosto."

"Como isso te faz sentir?" Ele perguntou.

"Como nada. Eu não sinto nada."

"Você tem que sentir alguma coisa."

Eu encolhi os ombros. "Alivio, porque não fui eu. Triunfo por eu ter sido mais rápida, e ele fraco." Eu encolhi os ombros de novo. "Não me incomoda matar pessoas, Richard. Apenas não incomoda."

"Já incomodou alguma vez?"

"Sim, costumava me incomodar."

"Quando parou de incomodar?"

"Eu não sei. Não foi na primeira morte, ou na segunda, mas quando se chega ao ponto que você não consegue lembrar de todas... Ou isso pára de te incomodar ou você procura outro linha de trabalho."

"Eu quero que me incomode, Anita. Matar deveria significar algo mais do que sangue, e excitamento, ou até sobrevivência. Se não, então eu estou errado, e nós somos apenas animais." Seu corpo reagiu a esse pensamento também. E ele não parecia estar excitado. Ele parecia vulnerável e com medo. Eu queria dizer a ele para se vestir, mas não disse. Ele escolheu ficar nu deliberadamente, como se ele quisesse provar que com tudo isso ou eu não queria ele, ou queria.

Eu não gostava muito de testes, mas era difícil ficar puta com o medo em seus olhos. Ele andou para longe, para ficar na frente da cama. Ele esfregou suas mãos para cima e para baixo em seu braço, como se estivesse com frio. Era maio em Saint Louis. Ele não estava com frio, pelo menos não com esse tipo de frio.

"Vocês não são animais, Richard."

"Como você sabe o que eu sou?" E eu sabia que ele estava perguntando mais para ele mesmo do que para mim.

Eu andei até ele. Eu peguei a Firestar da frente da minha calça e deitei ela no criado do lado de seu abajur de vidro. Ele me assistiu fazer isso, olhos cautelosos. Quase como se ele esperasse que eu fosse machucá-lo. Eu iria tentar muito não fazer isso.

Eu toquei seu braço, gentilmente, onde ele estava esfregando. Ele congelou com meu toque. "Você é uma das pessoas mais decentes que eu já conheci. Você pode matar Marcus e não se tornar uma besta predadora. Eu sei disso porque eu conheço você."

"Gabriel e Raina matam, e olha o que eles são."

"Você não é como eles, Richard. Confie em mim nisso."

"E se eu matar Sebastian ou Marcus, e gostar." Seu lindo rosto estava cru com terror enquanto ele pensava.

"Talvez isso te fará se sentir bem." Eu apertei mais forte seu braço. "Se fizer, não há nenhuma vergonha nisso. Você é o que é. Você não escolheu isso. Isso escolheu você."

"Como você pode dizer que não há nenhuma vergonha em matar algo. Eu caçava cervos e eu amava. Eu amo a perseguição, e a morte, e comer a carne quente." Como antes, o pensamento excitou ele. Eu mantive meus olhos em seu rosto o quanto foi possível, mas era aquilo era distrativo.

"Todo mundo tem podres diferentes, Richard. Eu já ouvi coisas piores. Inferno, eu já vi coisas piores."

Ele me encarou como se quisesse acreditar em mim, mas estava com medo disso. "Pior do que isso?" Ele levantou sua mão direita do seu braço, ele a segurou na frente do meu rosto. Seu poder espinhando pela minha mão, descendo pelo meu braço, até que eu engasguei. Foi força de vontade que manteve a minha mão em seu braço.

Seus dedos ficaram mais longos, esticando impossivelmente longos e finos. Suas unhas cresceram até viraram pesadas garras. Não era a mão de um lobo, apesar de ser próximo. Nada mais mudou nele que eu pude ver. Apenas essa mão.

Eu estava tendo dificuldade para respirar, por razões diferentes de antes. Eu encarei aquela mão de garras e percebi pela primeira vez que ele estava certo. Assistir os ossos de sua mão se estenderem e saltarem havia me enjoado, me assustado.

Eu mantive minha mão em seu braço, mas eu estava tremendo. Eu achei minha voz, e ela tremia também. "Eu vi Raina fazendo isso uma vez. Eu pensei que não era uma habilidade comum."

"Apenas Raina, Marcus e eu conseguimos fazer isso, do bando. Nós podemos nos mudar parcialmente quando quisermos."

"Foi assim que você apunhalou Sebastian ontem a noite."

Ele assentiu, olhos procurando pelo meu rosto. Eu estava lutando para manter meu rosto em branco, mas o que ele viu não tinha sido tranqüilizador o suficiente.

Ele se virou para longe de mim, e eu não tive que ver seus olhos para sentir sua dor.

Eu peguei sua mão e curvei meus dedos em volta daqueles longos e finos ossos. Eu senti músculos por baixo da minha mão que nunca estiveram na mão de Richard antes. Me custou tudo que eu tinha segurar aquela mão. Tocar ele daquela forma. Tudo. O esforço me deixou tremendo e incapaz de olhar em seus olhos. Eu não confiava no que ele veria nos meus.

Ele tocou meu queixo com sua outra mão e me virou devagar para olhar para ele. Ele encarou para baixo, para mim. "Eu posso saborear o seu medo, e eu gosto. Você entende? Eu gosto."

Eu tive que limpar minha garganta antes de falar. "Eu percebi." Eu disse.

Ele teve a graciosidade de ficar vermelho. Ele se inclinou devagar para me beijar. Eu não tentei parar ele, mas eu não o ajudei também. Eu costumava me levantar na ponta dos pés para me encontrar com ele no meio do caminho. Eu fiquei parada ali, assustada demais para me mover, forçando seu corpo alto a se inclinar nos ombros, a descer todo até mim. A mão com longos e finos dedos que eu estava segurando se mexeu em volta de mim, as garras brincando suavemente no meu antebraço.

Eu fiquei tensa, e seu poder se derramou em mim. Eu segurei sua mão de novo enquanto os músculos e ossos deslizavam de volta para o lugar. Eu a segurei com as minhas duas mãos, sua mão se reformando por baixo da minha. Minha pele se arrepiou com o poder.

Seus lábios se roçaram no meu e eu o beijei de volta, quase cambaleando. Eu soltei sua mão, meus dedos passando pelo seu peito nu, brincando pelos seus mamilos endurecidos. Suas mãos deslizaram em volta da minha cintura, seus dedos se arrastando para cima, pela minha costela, pela minha coluna. Ele sussurrou na minha boca, "Você não está usando nada por baixo dessa camiseta."

"Eu sei." Eu disse.

Suas mãos deslizaram por baixo da minha camiseta, acariciando minhas costas, pressionando nossos corpos juntos. Seu corpo nu tocou o meu, e mesmo com o jeans, me fez arrepiar.

Eu queria tanto sentir sua carne nua contra minha, eu podia sentir como se a minha pele estivesse faminta. Eu tirei a minha camiseta e ele fez um som de surpresa.

Ele olhou para baixo, para meus seios descobertos e ele não era o único excitado. Ele correu suas mãos por eles, e quando eu não o parei, ele ficou de joelhos na minha frente. Ele olhou para cima, para mim, seus olhos castanhos cheios de uma escura luz.

Eu o beijei enquanto ele se ajoelhava, como se eu estivesse o comendo pela boca. Sentir ele contra minha pele nua era quase demais para mim.

Ele se afastou do beijo e correu sua boca por meus seios. Isso trouxe um gemido surpreso da minha garganta.

Houve uma batida na porta. Nós congelamos. A voz de uma mulher que eu não reconheci disse, "Eu não percorri toda essa distância para ouvir você agarrar alguém, Richard. Eu gostaria de te lembrar que todos nós temos uma audição inacreditavelmente boa."

"Sem mencionar nosso senso de olfato." Isso foi o Jason.

"Merda." Ele disse suavemente, sua cabeça enterrada contra mim.

Eu inclinei minha cabeça contra a dele, escondendo meu rosto em seu cabelo. "Eu acho que vou apenas fugir pela janela."

Ele me abraçou pela cintura e se levantou, passando suas mãos pelo meu seio uma última vez. "Eu não consigo dizer por quanto tempo eu quis fazer isso."

Ele pegou seu jeans e cueca ainda no chão. Eu toquei seu braço, trazendo sua atenção par mim.

"Eu te quero, Richard. Eu amo você. Eu quero que acredite nisso."

Ele me encarou, seu rosto ficando estranho e solene. "Você ainda não me viu mudando para a forma de lobo. Você precisa ver isso antes que a gente avance mais."

Esse pensamento não me excitou, e eu estava feliz por ser uma garota, então isso não era visível. "Você está certo, se bem que se você jogasse melhor as cartas, nós talvez poderíamos transar primeiro."

"Não seria justo com você."

"Então você está dizendo que mesmo se estivéssemos sozinhos você teria parado e se transformado?"

Ele assentiu.

"Porque não seria justo dormir comigo até que eu tenha visto todo o pacote?"

"Exatamente."

"Você é um puta garoto escoteiro, Richard."

"Eu acho que eu acabei de perder uma das minhas medalhas de mérito." Ele disse. O olhar em seu rosto fez um calor subir pelo meu pescoço.

Ele sorriu abertamente e subiu sua roupa de baixo. Ele usava boxers. Ele colocou seu jeans e estava cuidadosamente fechando o zíper. Eu assisti ele se vestir com um ar de propriedade. Um ar de antecipação.

Eu peguei minha camiseta no chão e a coloquei de volta. Richard veio por trás de mim, deslizando suas mãos por baixo da minha camiseta, curvando cada mão em volta de um seio meu, apertando eles. Eu me pressionei contra ele. Ele parou primeiro, me abraçando pela cintura, me levantando um pouco do chão. Ele me virou de frente para ele e me deu um beijo rápido. "Quando você decide uma coisa, você realmente decide, ein?"

"Sempre." Eu disse.

Ele respirou profundamente pelo nariz e deixou o ar sair pela boca. "Eu tentarei fazer essa reunião ser curta, mas..."

"Edward vai estar aqui logo, então não importa."

Ele assentiu, seu rosto se abaixando. "Eu quase me esqueci que há alguém querendo te matar." Ele pegou meu rosto entre suas mãos e me beijou, seus olhos procurando meu rosto. "Seja cuidadosa."

Eu toquei os curativos em seu ombro. "Você também."

Ele pegou uma camiseta preta na gaveta e a colocou. Ele a enfiou dentro de seu jeans, desabotoando e abaixando o zíper da calça, e eu me fiz olhar para o lado enquanto ele fechava de novo. "Se junte a nós depois que se vestir."

Eu assenti. "Claro."

Ele saiu, fechando a porta atrás dele. Eu suspirei e me sentei na beirada da cama. Droga. Eu não queria perder Richard. Eu realmente não queria. Eu queria dormir com ele. Eu não tinha certeza sobre como eu me sentiria sobre ver ele mudando todo seu corpo para a forma animal. A coisa com a mão tinha me incomodado o suficiente. E se eu não agüentasse isso? E se fosse tudo muito bruto?

Querido Deus, eu espero que não. Eu espero. Eu esperava que eu fosse uma pessoa melhor do que isso. Uma pessoa mais forte que isso.

Richard temia que se ele começasse a matar, ele apenas continuaria fazendo isso. Não era completamente um medo irracional. Eu me abracei fortemente. A sensação do corpo dele contra o meu estava presa na minha pele. A sensação da boca dele em mim... Eu me arrepiei, e não foi por medo. Era idiota amar Richard. Transar com ele iria ser pior. Ele iria ser morto logo se ele não matasse Marcus. Simples assim. Jean-Claude nunca teria se posto em perigo dessa forma. Nunca. Você sempre pode confiar em Jean-Claude para sobreviver. Era um de seus talentos. Eu tinha quase certeza que esse não era dos de Richard. Noite passava deveria ter me provado, sem duvidas, que eu deveria dispensar ele. Ou que ele deveria me dispensar. Você podia concordar em descordar em política, ou até religião as vezes, mas ou você mata pessoas ou não mata. Homicídio não é algo que você pode ser neutro. Jean-Claude não se importa em matar pessoas. Uma vez eu pensei que isso o fazia ser um monstro. Agora eu concordo com ele.

O verdadeiro monstro poderia, por favor, se levantar?


11

Eu finalmente me vesti, camisa vermelha pólo, jeans preto, Nikes pretos, a Firestar 9mm na pistoleira de calça. A arma era bem visível contra a blusa vermelha, mas ei, pra que tentar esconde-la? Além do mais, eu podia sentir um irritante poder logo atrás da porta. Metamorfos, nem todos eles felizes.

Emoções fortes dificultam eles de esconderem seus poderes. Richard era um dos melhores em esconder que eu já tinha conhecido. Ele me enganou por um tempo, me fez achar que ele era humano. Nenhum outro jamais conseguiu fazer isso.

Eu me olhei no espelho e percebi que não era encarar uma sala cheia de licantropos que me incomodava, era encarar uma sala cheia de pessoas que sabiam que eu e Richard estávamos nos agarrando. Eu prefiro perigo em vez de embaraçamento, a qualquer momento. Eu estava acostumada com perigo.

O banheiro dava logo para a sala de estar, então quando eu abri a porta, eles estavam todos ali, agrupados no ou em volta do sofá. Eles me olharam enquanto eu dava um passo para fora e balancei a cabeça assentindo. "Olá."

Rafael disse, "Olá, Anita." Ele era o Rei Rato, um líder do bando entre os homens-ratos. Ele era alto, escuro e lindo, com fortes traços mexicanos que deixava seu rosto severo. Apenas seus lábios davam dicas que talvez ele sorria mais que franzia a testa. Ele estava usando uma blusa sem mangas que deixava visível a marca em seu braço. Essa marca era do formato de uma coroa, e era a marca de um rei. Não havia uma marca semelhante entre os lobos. Ser um licantropo significava coisas diferentes, dependia do animal, culturas diferentes assim como formas diferentes.

"Eu não sabia que os homens-ratos estariam interessados nas brigas internas do bando." Eu disse.

"Marcus está tentando unir todos os metamorfos em um único bando."

"Me deixe adivinhar." Eu disse. "Ele quer ser o líder."

Rafael deu um pequeno sorriso. "Sim."

"Então você pensou em vir até Richard porque ele é menos maligno?" Eu fiz isso ser uma pergunta.

"Eu pensei em vir até Richard porque ele é um homem de palavra. Marcus não tem nenhuma honra. Sua prostituta, Raina, parece afetar ele assim."

"Eu ainda acho que se matássemos Raina, Marcus talvez conversaria conosco." Isso veio de uma mulher que eu achei que já tinha visto antes, mas não conseguia identifica-la. Ela estava sentada no chão, bebendo café em uma caneca. Ela tinha cabelos loiros e curtos, e estava usando um conjunto de roupas de corrida, de nylon, cor de rosa, sua jaqueta estava aberta relevando uma blusa também rosa. Era um conjunto para se olhar para ela, e nada mais, e eu lembrei dela.

Eu a tinha visto no Café Lunático, no restaurante de Raina. Seu nome era Christine. Ela não era um lobo, era uma mulher-tigre. Ela estava aqui para falar em benefício da independência dos metamorfos. Daqueles que não tinham pessoal o suficiente para ter um líder. Nem todo tipo de licantropo era igualmente contagioso. Você poderia ser cortado em pedaços por um homem-tigre e não ser infectado. Um lobisomem poderia simplesmente te dar um pequeno corte e você se tornaria um peludo. Quase nenhum licantropo baseados em gatos era contagioso como os lobos e ratos. Ninguém sabe por que. Era apenas assim que funcionava.

Richard me apresentou para os quase 15 outros, apenas pelo primeiro nome.

Eu disse oi e me encostei contra a parede perto da porta. O sofá estava cheio, e o chão também. Além do mais, eu gostava de ficar fora do alcance de qualquer metamorfo que eu não conhecia. Apenas uma precaução.

"Na verdade, eu já conhecia Christine." Eu disse.

"Sim." Christine disse. "Na noite que você matou Alfred."

Eu encolhi os ombros. "É."

"Por que você não matou Raina na noite passada, quando você teve a chance?" Ela disse.

Antes que eu pudesse responder Richard interrompeu. "Se nós matarmos Raina," ele disse, "Marcus irá caçar todos nós."

"Eu não acho que ele consiga." Sylvie disse.

Richard balançou sua cabeça. "Não, eu ainda não desisti de Marcus."

Ninguém disse nada, mas o olhar em seus rostos era o suficiente.

Eles concordavam comigo. Richard iria acabar sendo morto e levaria seus seguidores junto.

Louie veio da cozinha carregando duas canecas de café. Ele sorriu para mim. Louie era o melhor amigo de Richard, e ele havia ido há um monte de escalações conosco. Ele media cinco pés e seis palmos, tinha olhos mais escuros que os meus, verdadeiramente pretos, não apenas castanho escuro. Seu cabelo de bebê era preto e havia sido cortado recentemente. Ele usava ele longo pelo tempo que eu o conhecia, não do jeito da moda que nem o de Richard, apenas ele nunca ia cortar. Agora estava curto o suficiente para que suas orelhas fossem visíveis, e ele parecia mais velho, mais como um professor com um doutorado em biologia. Ele era um homem-rato, e um dos tenentes de Rafael. Ele me deu uma das canecas.

"Essas reuniões tem sido muito mais agradáveis desde que você deu essa cafeteira para o Richard. Muito obrigado."

Eu tomei um grande gole de café, e me senti bem instantaneamente. Café pode não curar tudo, mas chegava perto. "Eu não tenho certeza se todo mundo está feliz em me ver."

"Eles estão assustados. Isso faz eles serem um pouco hostis."

Stephen saiu do quarto de hóspedes vestido com roupas que o serviam bem demais para serem de Richard. Uma camiseta azul, enfiada dentro de jeans azul. O único homem na sala com o numero de roupa perto do de Richard era Jason. Jason nunca se importava em dividir suas roupas.

"Por que todo mundo parece tão sério?" Eu perguntei.

Louie se encostou contra a parede, tomando café. "Jean-Claude retirou seus seguidores de Marcus e os jogou para Richard. Eu não acredito que nenhum deles mencionou isso."

"Eles disseram algo sobre terem feito um trato, mas eles não explicaram." Eu pensei no que ele tinha me dito. "Marcus deve estar puto."

O sorriso sumiu de seu rosto. "Isso é uma atenuação." Ele olhou para mim. "Você não entende, não é?"

"Entende o que?" Eu perguntei.

"Sem o apoio de Jean-Claude, Marcus não tem chance de forçar o resto dos metamorfos a ficarem sob seu controle. Seus sonhos de construir um império serão acabados."

"Se ele vai ficar sem chance, por que todo mundo está tão preocupado?"

Louie deu um sorriso triste. "O que Marcus não controla, ele tende a matar."

"Você quer dizer que ele começaria uma guerra?"

"Sim."

"Não apenas com Richard e o bando, você quer dizer, mas uma guerra com todos os outros metamorfos da cidade?"

Louie assentiu. "Exceto com os homens-leopardo. Gabriel é o líder deles e ele está do lado de Raina."

Eu pensei nisso por um segundo ou dois. "Meu Jesus, isso vai ser um banho de sangue."

"E não terá jeito de parar, Anita. Algo disso irá espirrar para o mundo normal. Há pelo menos três estados nesse país que pagariam milhares de dólares por um metamorfo morto, sem perguntar nada. Uma guerra como essa poderia fazer essa prática parecer ainda mais prática."

"Vocês têm algo melhor para fazer?" Christine perguntou. Eu estava começando a não gostar dela. Foi ela quem bateu na porta e interrompeu Richard e eu. Francamente, por isso eu estava meio que grata. O pensamento de todo mundo ouvindo a gente era embaraçoso demais para palavras.

Louie voltou a se sentar no chão junto com os outros. Eu continuei encostada contra a parede, bebendo meu café.

"Você vai se juntar a nós?" Ela perguntou.

"Eu estou bem aqui." Eu disse.

"Boa demais para se sentar conosco?" Um homem por volta de seus trinta anos com olhos azuis escuros perguntou. Ele media por volta de cinco pés e oito palmos, era difícil de dizer com ele sentado no chão. Ele estava vestido em um terno, completo com gravata, como se ele tivesse a caminho de ir trabalhar. Seu nome era Neal.

"Não boa o suficiente." Eu disse. "Não boa o suficiente nem pela metade."

"O que diabos isso quer dizer?" Ele perguntou. "Eu não gosto de ter normais aqui."

"Esqueça isso, Neal." Richard disse.

"Por que? Ela está rindo de nós."

Richard olhou de mim para o canto do sofá. "Se junte a nós, Anita?"

Sylvie estava sentada do lado de Richard, não perto demais, mas do lado, não havia espaço o suficiente para mim. Rafael estava sentado no fim do sofá, coluna reta, calcanhar apoiado em cima de um joelho.

"O sofá parece estar cheio." Eu disse.

Richard estendeu sua mão para mim. "Nós damos um jeito."

"Ela não é nem mesmo do bando." Sylvie disse. "Eu não vou dar meu lugar para ela. Sem ofensa, Anita, você não entende." Sua voz estava atestando-um-fato, sem hostilidade, mas o olhar que ela deu a Richard não era exatamente amigável.

"Sem problema." Eu disse. Eu não tinha certeza se queria me sentar em um sofá cheio de licantropos, de qualquer forma. Mesmo com supostos amigos. Todos na sala eram mais fortes e mais rápidos que eu, isso era apenas um fato. A única vantagem que eu tinha era a arma. Se eu me sentasse logo ao lado deles, eu nunca sacaria a arma a tempo.

"Eu quero que minha namorada se sente comigo, Sylvie, isso é tudo." Richard disse. "Isso não significa um desafio à sua posição no lukoi." Sua voz soava paciente como se ele estivesse conversando com uma criança.

"O que você disse?" Sylvie disse. Ela parecia chocada.

"Nós somos lukoi. Anita sabe disso."

"Você compartilhou nossas palavras com ela?" Neal disse, ultraje denso em sua voz.

Eu queria dizer que eram apenas palavras, mas fiquei quieta. Quem disse que eu não estava ficando mais esperta?

"Houve um tempo em que dividir nossos segredos com normais geralmente era acompanhado de uma sentença de morte." Sylvie disse.

"Nem mesmo Marcus segue isso mais."

"Quanto de nossos segredos você sabe, humana?"

Eu encolhi os ombros. "Algumas palavras, só isso."

Sylvie me encarou. "Você quer sua namorada humana perto de você, é isso, Richard?"

"Sim." Ele disse. Não havia nenhum traço de raiva em sua voz. Pessoalmente, eu não gostei do jeito que ela tinha dito ‘humana’.

Sylvie se ajoelhou no sofá, me encarando. "Venha, humana, sente conosco."

Eu encarei ela. "Por que a mudança de humor?"

"Nem tudo tem que ter algo a ver com a hierarquia do bando. Isso é o que Richard está sempre nos falando. Se sente do lado do seu amor. Eu vou chegar para lá." Ela fez isso, chegando mais perto de Rafael. O Rei Rato olhou para mim. Ele levantou uma sobrancelha, quase como se estivesse encolhendo os ombros. Eu não confiava em Sylvie, mas confiava em Rafael, e em Richard, pelo menos aqui e agora. Eu percebi que eu teria confiado em Rafael na noite passada. Ele não teria as dúvidas morais que Ricahrd tinha. Pobre Richard, ele era que nem uma voz sozinha chorando num deserto. Deus me ajude, eu concordava com os pagãos.

Louie e Stephen estavam sentados no chão, perto um do outro. Eu estava entre amigos. Mesmo Jason, sorrindo abertamente para mim, não me deixaria ser machucada. Jason era o lobo para chamar de Jean-Claude, como tinha sido Stephen. Eu acho que se eles me deixassem ser morta, eles não iriam sobreviver por muito mais tempo que eu.

"Anita?" Richard fez disso uma pergunta.

Eu suspirei e me desencostei da parede. Eu estava entre amigos, mas por que os músculos das minhas costas estavam tão apertados que machucava me mover? Paranóica? Quem, eu?

Eu andei até o sofá, segurando o café na minha mão esquerda. Sylvie deu uns tapinhas no assento do sofá, sorrindo, mas não era um sorriso muito verdadeiro.

Eu me sentei do lado de Richard. Seu braço deslizou pelos meus ombros. Meu braço direito estava pressionado do lado dele, não muito apertado. Ele sabia o quanto eu odiava ter minha mão impedida para ir a arma. Encostada contra seu corpo quente, eu relaxei. A tensão em meus ombros diminuiu. Eu tomei um gole do café. Nós estávamos sendo terrivelmente civilizados.

Richard colocou seus lábios contra meu rosto e sussurrou, "Obrigado."

Essas duas palavras o fizeram ganhar um monte de pontos de bolinhos de chocolate. Ele sabia o que tinha me custado sentar entre os lobos, ratos e gatos. Não me sentar teria o enfraquecido na frente do bando e dos outros líderes. Eu não estava aqui para piorar a situação.

"Quem salvou você na noite passada, Stephen?" Sylvie perguntou. Sua voz estava doce, seu rosto agradável. Eu não confiava mesmo nela.

Todos os olhos se voltaram para Stephen. Ele tentou se encolher no chão, como se fosse ficar invisível, mas não funcionou. Ele encarou Richard, seus olhos bem abertos.

"Vá em frente, Stephen, diga a verdade. Eu não vou ficar bravo."

Stephen respirou fundo. "Anita me salvou."

"Richard estava brigando com uns vinte licantropos de uma só vez." Eu disse. "Ele me disse para ir buscar Stephen, então eu busquei."

Neal cheirou Stephen, correndo seu nariz logo em frente do rosto e pescoço do outro homem, e abaixo em seus ombros. Não era um gesto humano, e era enervante ver um homem bem vestido fazendo isso. "Ele tem a essência dela na sua pele." Neal olhou para mim. "Ele esteve com ela."

Eu esperei algum protesto, mas em vez disso, os outros foram em direção ao Stephen, cheirando sua pele, tocando ele e trazendo seus dedos para perto de seus próprios rostos. Apenas Sylvie, Jason, Rafael e Louie continuaram sentados. Um por um, o resto deles se viraram para mim e Richard.

"Ele está certo." Christine disse. "A essência dela está na pele dele. Você não fica com esse tanto de essência só por ser carregado por alguém."

A mão de Richard ficou mais forte em meus ombros. Eu olhei para seu rosto. Estava calmo, apenas uma ligeira tensão em volta de seus olhos o traia. "Eu estava patrulhando a floresta em busca de assassinos." Richard disse. "Stephen não queria ficar sozinho. Eu o mandei para a Anita."

"Nós sabemos sobre o atentado de assassinato." Sylvie disse.

Eu abri mais meus olhos. "Você sabe?"

"Richard quer que nós ajudemos a te proteger. Se vamos levar uma bala por você, precisamos saber o por que."

Eu olhei nos olhos dela. Seu bonito rosto estava severo, os ossos de suas bochechas altos.

"Eu não estou pedindo ninguém para levar uma bala por mim." Eu disse. Eu me afastei do braço de Richard, o que me deixou mais perto de Sylvie. Não foi uma boa melhora.

Richard não me impediu. Ele puxou seu braço de volta. "Eu deveria ter falado com você antes de contar a eles."

"Malditamente certo." Eu disse.

Sylvie deitou seus braços por trás do sofá, trazendo seu rosto a centímetros do meu. "Você vai punir nosso possível líder do bando, humana?"

"Você dizhumanacomo se fosse uma coisa ruim, Sylvie. Com inveja?"

Ela se afastou como se eu a tivesse machucado. Um olhar que era parte dor e parte raiva passou pelo seu rosto.

"A maioria de nós aqui sobrevivemos a um ataque, humana. Nós não escolhemos isso." Sua voz estava chocantemente dura.

Eu esperava um monte de coisas dela, mas não a dor de ser uma sobrevivente. Eu lamentei por ter feito a provocação. "Me desculpe. Eu não quis dizer nada pessoal com isso."

"Você não tem idéia do quão pessoal isso é."

"É o suficiente, Sylvie." Richard disse.

Ela se levantou ficando de joelhos para olhar o rosto de Richard por cima do meu.

"Você não tem nem mesmo colhões para ficar bravo por ela ter dormido com um subordinado do sexo masculino?"

"Espere um minuto." Eu disse. "Stephen e eu não fizemos sexo. Nós literalmente dormimos juntos, nada mais."

Neal colocou seu rosto entre as pernas de Stephen e cheirou. Não era um gesto humano. Stephen o deixou fazer isso, e isso não era muito humano também.

Jason se inclinou cheirando minha perna.

Eu coloquei minha caneca de café no meu joelho, na frente de seu rosto. "Nem pense nisso." Eu disse.

Jason sorriu abertamente para mim. "Não pode culpar um cara por tentar."

"Eu posso." Richard disse suavemente.

Jason sorriu para ele e se sentou no seu lugar de novo.

Neal levantou seu rosto e balançou sua cabeça. "Eles não fizeram sexo."

"Ele disse que ela ia me proteger." Stephen disse. O silêncio cresceu tão densamente que você poderia andar nele.

"Foi isso que você disse?" Sylvie perguntou. Ela estava encarando Richard como se ele tivesse feito uma coisa muito ruim.

Richard respirou profundamente, o suficiente para fazer seus ombros levantarem. "Sim, foi isso que eu disse."

"Stephen," Sylvie disse, "Você acredita que ela teria te protegido? Se Raina tivesse passado pela porta, você teria confiado em Anita para te salvar?"

Stephen olhou para o chão, e então para cima, seus olhos se precipitaram para Richard, e então para mim. Seus olhos finalmente pararam, me encarando. "Ela me fez dormir perto da parede, então ela ficou na frente no caso de algo vir pela porta."

E eu achando que eu tinha sido sutil.

"O que você teria feito se Raina tivesse passado pela porta?" Sylvie perguntou.

Todo mundo estava olhando para mim, exceto Richard. Seus olhos estavam bem concentrados e eu sabia que essa pergunta tinha mais significado do que parecia. "Eu teria a matado."

"Não apenas atirado nela ou a machucado?" Christine perguntou.

Eu balancei minha cabeça. "Ela teve seu passe livre ontem a noite. Se ela vier atrás de Stephen de novo, eu vou matar ela."

"Você quis dizer isso, não é?" Sylvie perguntou.

"Cada palavra." Eu disse.

Houve um zumbido de energia pela sala, quase como se eles estivessem compartilhando alguma mensagem via telepatia. Eu acho que não era bem isso, mas algo estava acontecendo. O nível de energia na sala estava aumentando, e eu não gostei. Eu coloquei minha caneca de café no chão. Eu queria minhas duas mãos livres.

Sylvie me agarrou pela cintura e nos rolou para fora do sofá. Nós estávamos no chão, com ela em cima das minhas costas antes que eu pudesse reagir. Eu tentei pegar minha arma, e sua mão estava lá primeiro.

Ela tirou a arma da pistoleira e a jogou longe.

Ela não era rápida, ela era milagrosa, e eu estava numa merda mais profunda do que eu conseguia sair.

A curva de seu braço estava presa por baixo do meu queixo, como um abraço estranho, posicionado justamente certo, então ela poderia me parar sem me matar. Suas pernas trancadas em volta da minha cintura, tão perto quanto ela podia sem levantar minha blusa.

Meia dúzia de lobisomens fluíram entre ela e Richard. Ele estava em pé, suas mãos em punhos em seu lado. Seu poder encheu o quarto, profundo e alto, até que parecia que eu estava sendo enterrada viva por algum tipo de carga estática.

"Não." Eu sussurrei. Eu não estava falando com Richard.

Eu senti algo abrir dentro de Sylvie, uma energia vibrante fluiu de sua pele até meu corpo. Era quase quente, como abrir a porta do forno. Onde sua pele me tocava, eu arrepiava. Era doloroso, como pequenos choques elétricos.

"O que você está fazendo, Sylvie?" Richard perguntou. Sua voz estava baixa e profunda como um rosnado, não soava humana. Eu esperava que seus olhos ficassem da cor de âmbar, mas eles estavam com o mesmo castanho sólido de sempre. Olhos humanos, mas o olhar neles não era. A besta começou a sair pelos olhos de Richard. Eu soube naquele momento que ele era verdadeiramente perigoso. Eu também soube que todo aquele poder impressionante não iria me salvar se Sylvie decidisse arrancar minha cabeça fora.

Meu pulso pulava contra seu braço como uma borboleta presa. Eu forcei minha voz para ficar calma.

"O que está acontecendo?"

"Eu vou fazer você ser a namorada de verdade dele."

"Você não é contagiosa na forma humana." Eu disse.

"Mesmo?" Ela disse. O braço em volta da minha garganta ficou mais quente, pulsando como um coração batendo. Eu senti os músculos dela se deslizarem por baixo da pele.

"Richard." Minha voz soava alta e fina. Medo faz isso com você.

Rafael e Louie estavam de pé agora. Os lobisomens que haviam se juntado a Sylvie nesse pequeno protesto de admiração, se juntaram na frente dos ratos também.

Eu não podia ver Stephen.

Ele estava em algum lugar atrás de nós, encolhido no chão, pela última vez que eu tinha visto.

Jason se agachou no pé de Richard, olhando para os outros lobisomens. Mas pelo menos dez deles estavam apenas sentados ali, olhando, sem tomar lados. "Você tem se escondido de nós." Jason disse.

Sylvie flexionou seu outro braço em volta do meu pescoço. Eu tive um vislumbre de uma mão com garras longas. "Apenas Raina é mais forte do que eu no bando, Jason."

Richard encarou os lobisomens. Ele levantou sua mão, fazendo um gesto calmo como ele tinha feito do set de filme. A energia trilhante da sala diminuiu. Ele estava forçando os poderes deles a voltarem.

"Tudo isso dá trabalho, Richard." Sylive disse. "Você nunca vai nos alcançar a tempo."

"Eu proíbo isso." Richard rosnou. "Ninguém será infectado contra a vontade. Principalmente Anita."

"Por que?" Sylvie disse. "Porque se ela fosse humana, você não iria querer ela? Não levar alguém do bando para sua cama é apenas outro jeito de negar o que você é, Richard."

Algo passou pelo rosto dele, por trás da raiva e do poder: incerteza.

Eu soube naquele momento que ela estava certa.

Sylvie sussurrou no meu ouvido, sua respiração quente no meu rosto. "Olha só o rosto dele."

"É." Eu disse.

"Ele te acusou de não conseguir dormir com ele porque você pensa que ele é um monstro, mas se eu te fizer ser uma de nós, ele não vai te querer. Ele acha que todos nós somos monstros, mas não ele, nosso bom e velho Richard. Ele é melhor do que o resto de nós."

"Eu vou te machucar, Sylvie. Eu vou te fazer sangrar, você entende isso?" Richard disse.

"Mas você não vai me matar, não é?" Ela disse. Seus braços se flexionaram mais, garras longas fazendo cócegas no meu rosto.

Eu coloquei minhas mãos em seu braço, tentado a segurar longe de mim, e não tendo nenhum sucesso. "Euvou matar você." Eu disse.

Ela ficou bem parada contra meu corpo. "Por mudar você, te fazendo ser uma de nós? Por te fazer perder o amor de Richard quando ele te ver monstruosa e peluda?"

Eu falei bem devagar, cuidadosamente. "Você odeia o que você é, Sylvie."

Seu braço se mexeu mais apertado, o suficiente para eu não conseguisse respirar por um segundo. "Eu não odeio o que eu sou. Eu aceito o que eu sou." Seu braço se soltou um pouco.

Eu respirei tremendo e tentei de novo. "Eu vi o olhar em seu rosto quando eu te acusei de estar com inveja. Você tem inveja por eu ser humana, Sylvia. Você sabe que tem."

Ela levantou sua outra mão na frente do meu rosto, me deixando ter uma boa visão daquelas longas e finas garras. A mão em minha garganta passava as garras em meu cabelo.

"Você sabe que Raina nos proibiu de fazer você ser uma lukoi. Ela tem medo de que se você se juntar a nós, você vai ser uma puta melhor que ela."

"Que lisonjeador." Eu sussurrei. Eu olhei para Richard através das costas dos lobisomens. Seus olhos estavam âmbares e aliens. Mesmo agora eu sabia que ele não mataria Sylvie. Mesmo se ela me fizesse sangrar, me infectasse, ele não mataria ela. Estava lá, na dor em seu rosto. A confusão substituía o medo.

Talvez Sylvie tinha visto isso. Talvez ela tinha feito seu ponto. De qualquer forma, ela se descurvou do meu corpo e se levantou cuidadosamente até o outro lado de mim.

Eu me afastei de quatro o mais rápido que pude. Não era muito bonito, não era habilidoso, mas era eficiente.

Eu engatinhei até a parede mais distante. Eu parei me sentando contra ela, o mais longe possível de tudo na sala.

Os outros lobisomens haviam se distanciado. Sylvie e Richard ficaram parados encarando um ao outro. Os olhos de Sylvie tinham ficado de uma cor de um estranho líquido cinza, olhos de lobos.

Richard estendeu mais seu poder. Ele comeu pela minha pele, arrancando um tossido da minha garganta.

Sylvie ficou parada naquela inundação de poder e não se encolheu. "O poder é impressionante, Richard, mas não significa nada enquanto Marcus estiver vivo."

Ele fez um gesto como de um jogador de tênis acertando a bola com a raquete, seu movimento rápido demais para ser seguido.

Sylvie foi jogada contra a parede e deslizou até o chão, tonta.

"Eu sou um líder do bando." A voz de Richard estrondou, e ele levantou suas mãos de garra para o céu. Ele caiu de joelhos e eu não fui ajudá-lo. Eu continuei encolhida contra a parede, desejando ter carregado uma arma extra.

Richard se agachou no chão, se balançando para frente e para trás, gentilmente. Ele curvou seus joelhos, em forma de uma bola, e eu o senti puxar seu poder de volta. Eu senti ele o drenar de volta. Ele continuou agachado no chão, se abraçando por um longo tempo depois que o poder foi banido do quarto, sua cabeça abaixada, seu cabelo escondendo seu rosto.

Sylvie ficou de joelhos e engatinhou até ele. Ela se agachou do lado dele, alisando seu cabelo de um lado. "Nós te seguiríamos para qualquer lugar se você matasse por nós. Ela mataria por nós. Se sua namorada, sua lupa, vai matar por nós, talvez isso seja o suficiente."

Richard levantou sua cabeça com um calafrio. "Ninguém vai ser infectado contra a vontade, essa é minha palavra e minha ordem." Ele se levantou, ficando de joelhos.

Sylvie continuou agachada, rosto perto do chão, um sinal de humilhação. "Mas você não irá matar para cumprirem isso."

"Eu matarei para proteger Anita." Rafael disse.

Todos olharam para ele.

Ele olhou nos olhos de todos e não se encolheu. "Se qualquer um tocar ela, contra sua vontade, eu e os meus iremos caçar essa pessoa."

"Rafael," Richard disse, "não faça isso."

Ele encarou Richard. "Você trouxe uma humana para entre nós, mas você não a protegeu. Alguém tem que proteger."

Eu queria dizer que eu podia me proteger, mas isso não era verdade. Eu era boa, mas eu era apenas humana. Isso não era o suficiente.

"Eu não posso te deixar fazer o trabalho sujo por mim." Ele disse.

"Eu sou seu amigo, Richard." Rafael disse. "Eu não me importo."

Sylvie abraçou o chão aos pés de Richard. "Você deixará o Rei Rato matar nosso bando? Ele é nosso líder agora?"

Ele encarou ela olhando para baixo e algo aconteceu em seu rosto, nada alheio a esse mundo, ou feroz, mas uma dureza, quase tristeza passou por ele. Eu assisti isso, e não gostei. Se eu tivesse a minha arma, eu teria atirado em Sylvia por ter feito aquele olhar passar pelo rosto dele. "Eu matarei qualquer um que quebrar minhas regras. Eu falei, e é lei."

Sylvie se baixou ainda mais, e os outros lobos vieram engatinhando pelo chão, se abaixando na frente dele. Alguns deles lamberam as mãos de Richard, tocaram seu corpo. Eles se moveram em volta dele até que ele estava quase escondido.

Richard se levantou, andando por eles, mãos pegando em suas pernas. Ele se abaixou e pegou a Firestar no chão e andou até mim. Ele parecia normal o suficiente, todas as mudanças de lobos tinham desaparecido. Ele me entregou a arma, pela parte de trás. "Você está bem?"

Eu peguei a arma com as duas mãos. "Claro."

"Eu valorizo a sua humanidade, Anita. Sylvie está certa. Como eu posso te pedir para aceitar a minha besta, quando eu mesmo não consigo?" A dor em seu rosto era de partir o coração. "Eu matarei para te manter segura. Isso te faz feliz?"

Eu encarei ele, olhando para cima. "Não." Eu disse. "Eu pensei que deixaria, mas não." Eu me senti como Rafael, eu mataria por ele. Eu mataria para manter a dor longe de seus olhos.

Eu guardei a arma e levantei minha mão direita para ele. Seus olhos se abriram mais. Ele entendeu o gesto. Ele pegou minha mão e me levantou em pé. Ele me guiou entre os lobos esperando.

Eu fui para trás, soltando sua mão.

"Eu disse que mataria por você, Anita." Sua voz era suave e dura ao mesmo tempo. "Você não acredita em mim?"

Seus olhos estavam inteiramente tristes. Era como se algo dentro dele, que ele tinha mantido vivo por todos esses anos, estivesse morto agora. Eu acreditava no olhar em seus olhos. Ele iria matar para me proteger, e essa decisão tinha custado muito a ele.

Os lobisomens fizeram uma roda em volta de nós.

Eu teria dito que eles se arrastaram em volta de nós, mas isso não cobria o que eles estavam fazendo. Arrastar não era gracioso, ou sensual, mas aquilo era. Eles se moviam como se tivessem músculos em lugares que pessoas não tinham. Eles nos cercaram e rolaram seus olhos para cima, para nós. Quando eu olhei naqueles olhos, eles olharam para longe, exceto Sylvie. Ela encontrou meu olhar e o manteve. Era um desafio, mas eu não tinha certeza sobre o que eu deveria fazer sobre isso.

Uma mão me tocou e eu me afastei dela. Apenas a mão de Richard na minha me segurou de não alcançar minha arma. Ele segurou minhas duas mãos nas suas e me trouxe para perto dele, nossos corpos não se tocando inteiramente. Ele olhou em meus olhos e segurou o olhar. Ele não estava com medo. Eu tentei relaxar, mas não estava conseguindo.

"Essa é minha lupa. Aprenda sua essência, sua pele. Ela derramou nosso sangue, e ela sangrou por nós. Ela está posta como protetora para aqueles mais fracos que ela. Ela irá matar por nós, se pedirmos. Ela é sua alfa."

Sylvie e Neal se levantaram. Os dois saíram do circulo. Eles se levantaram, me encarando, e encarando Richard. Os outros continuaram agachados no chão, assistindo.

"Ela não é dominante para mim." Sylvie disse.

"Ela não é nem mesmo uma de nós." Neal disse. "Eu não vou reverenciar ela. Eu poderia partir ela no meio com uma mão." Ele balançou sua cabeça. "Ela não é minha alfa."

"O que está acontecendo, Richard?" Eu perguntei.

"Eu tentei te trazer para o bando, fazer de você uma de nós, sem te contaminar."

"Por que?" Eu perguntei.

"Se você vai proteger Stephen, então você merece a proteção do bando. Se você vai correr riscos por nós, então você merece ter os benefícios de nossa proteção."

"Sem ofensa," eu disse, "mas eu não estive muito impressionada com a proteção de vocês até agora." No minuto que eu disse, eu desejei não ter dito. Seu rosto caiu.

"Você fez as coisas serem pessoais na noite passada com Raina, Anita. Você não tem idéia do quão perigosa ela é. Eu queria que você tivesse a proteção de todos no caso de algo acontecer comigo."

Eu olhei para ele. "Você irá matar Marcus se ele pular em você, certo? Sem mais hesitações?" Eu toquei seu braço. Estudei seu rosto. "Me responda, Richard."

Ele assentiu, finalmente. "Eu não deixarei ele me matar."

"Você vai matar ele, me prometa."

Seu maxilar ficou mais apertado, o músculo mais tenso. "Eu prometo."

"Bem, aleluia." Sylvia disse. Ela me encarou. "Eu retiro meu desafio. Você não é dominante para mim, mas você pode ser a alfa fêmea dele. Você é uma boa influência para ele." Ela deu um passo de volta para o circulo, mas não se ajoelhou. "Venha Neal." Ela disse. "Deixe para lá."

Ele balançou sua cabeça. "Não, ela não é uma de nós. Ela não pode ser. Eu não vou reconhecer ela como uma alfa."

"Tudo que você tem que fazer é provar para Neal que você é séria." Sylvie disse. "Você apenas tem que machucar ele um pouco."

"Sendo que ele provavelmente sobreviria a atropelamento certeiro de um caminhão monstro, como eu poderia machucar ele?"

Ela encolheu os ombros.

"Eu achei que ninguém iria desafiar você. Me desculpe." Richard disse.

"Você espera que as pessoas sejam boas, Richard. Isso é uma das suas melhores qualidades e uma das suas maiores fraquezas." Eu disse.

"Recuse o desafio, Anita."

"Se eu recusar, o que acontece?"

"Está acabado. Você não será um membro do bando, mas eu posso ordenar que eles te protejam de Raina. É quase tão bom quanto."

"Eu já te disse, eu não quero ninguém sendo ordenado a levar uma bala por mim. Além do mais, de jeito nenhum eu vou me voluntariar à uma briga cara a cara com um licantropo. Eu irei manter a minha arma, obrigada de qualquer forma."

A campainha tocou. Provavelmente era Edward. Merda. Eu olhei para aquele pequeno grupo, e mesmo eles estando na forma humana, ele saberia o que eles eram.

Ele era melhor em reconhecer os monstros do que eu, pelo menos os vivos. "Se vocês puderem deixar isso para lá um pouco, eu vou atender a porta."

"Edward?" Richard fez disso uma pergunta.

"Provavelmente." Eu disse.

Ele olhou para o grupo. "Todo mundo levante do chão. Ele é outro normal."

Eles se levantaram, devagar, quase relutantes. Eles pareciam quase intoxicados, como se o poder na sala tivesse afetado mais eles do que eu.

Eu fui até a porta. Eu estava na metade do caminho quando Richard gritou, "Não!"

Eu me joguei no chão, rolando, e senti o ar passar por mim onde Neal tinha passado. Se ele tivesse sido melhor em lutar, ele teria me unhado. O golpe perdido tinha feito ele perder o equilíbrio, e eu o acertei com perna para ele ir ao chão, mas ele se levantou de novo antes que eu pudesse me levantar, como se ele tivesse cordas em sua coluna. Era malditamente impressionante.

"Pare, Neal." Sylvie disse.

"Ela não recusou o desafio. Isso é um direito meu."

Eu me arrastei para trás, ainda no chão, sem ter certeza sobre o que fazer. As cortinas fechadas da janela estariam nas minhas costas se eu me levantasse. Eu não tinha certeza se me levantar era a melhor aposta. "Me dê as regras, rápido." Eu disse.

"Quem derramar sangue primeiro." Sylvie disse. "Apenas forma humana."

"Se ele mudar, você pode atirar nele." Richard disse.

"Combinado." Sylvie disse, os outros murmuraram concordando.

Moleza. Neal saltou até mim, saindo do chão completamente, mãos estendidas. Eu me levantei em um joelho, agarrei sua jaqueta e o rolei nas minhas costas, deixando seu incrível impulso carregar nós dois. Eu enfiei meus dois pés em seu estômago com tudo que eu tinha. Ele voou por cima de mim em um quase perfeito arco. Ele se deixou ser jogado com em um tomoe-nage.

Ele acertou a janela, levando a cortina com ele. Eu rolei nos meus pés e encarei a enorme janela.

Pedaços de vidro quebrado encheram o carpete e em volta. Neal lutou para sair da cortina, sangue correndo pelo seu rosto onde o vidro havia o cortado.

Edward estava o chão, em posição de combate, arma em mão. Ele apontou ela para Neal, enquanto ele se livrava da cortina.

"Não atire nele." Eu disse. "Eu acho que a luta acabou."

Neal se levantou, chutando a cortina em seus pés. "Eu vou matar você."

Eu saquei a Firestar e apontei para ele. "Eu acho que não."

Richard deu um passo, ao meu lado. "Ela derramou seu sangue primeiro, Neal. A luta terminou, a não ser que você queira lutar comigo também."

"E comigo." Sylvie disse. Ela deu um passo para o outro lado de Richard. O resto do bando deu um passo atrás de nós. Stephen se agachou no meu pé.

"Ela é do bando agora." Sylvie disse. "Você luta com um de nós, você luta com todos nós."

Edward levantou uma sobrancelha para mim. "O que está acontecendo, Anita?"

"Eu acho que fui adotada." Eu disse.

Neal olhou para mim.

"Faça, Neal." Sylvie disse.

Neal se ajoelhou no vidro e cortina. Os cortes já estavam começando a se curar em seu rosto. Vidro não era prata, ou garras de outro monstro, então ele se curava quase magicamente.

"Você é dominante. Você é alfa." As palavras foram arrastadas para fora de sua garganta. "Se essa janela não estivesse aqui, você não teria me feito sangrar."

"Por que você acha que eu me movi para a frente dela, Neil?" Eu perguntei.

Seus olhos se cerraram. "Você planejou isso?"

Eu assenti e levantei minha arma para o teto. "Eu não só mais um rostinho bonito."

Richard pegou minha mão esquerda, apertando gentilmente. "Essa é a mais pura verdade."

Eu guardei a Firestar.

Edward balançou sua cabeça, sorrindo, mas não guardou a arma dele. Ele parou de aponta-la para todo mundo. "Você é a única pessoa que eu conheço que leva uma vida mais interessante que a minha."

Jason me deu uns tapinhas nas costas. "Amanhã a noite nós vamos te levar para perseguir uns cervos."

"Eu pensei que você perseguia carros." Eu disse.

Ele sorriu abertamente. "Que diversão tem nisso? Carros não sangram."

Eu sorri, e então parei. Seus olhos eram tão inocentes quanto um céu de primavera, eram alegres, e olhando para eles, eu não tinha certeza se ele estava brincando ou não. Eu quase perguntei, mas deixei para lá. Eu não tinha certeza se queria saber.


12

Edward media cinco pés e 8 palmos, com cabelos loiros cortados bem curtos, perto de sua cabeça. Ele tinha olhos azuis e a epítome de uma criação da WASP{6}. Ele era também o homem mais perigoso que eu conhecia, entre mortos e vivos.

Ele parecia estar se divertindo um bocado com o grupo de licantropos. O grupo se separou logo depois de sua chegada, apenas porque todos os negócios já tinham sido resolvidos. A reunião era apenas um último esforço para convencer Richard a comprometer sua moral e matar alguém. Exceto isso, para ele escolher uma lupa que mataria por ele. Nós meios que acertamos dois animais com uma pedra só, sem querer fazer trocadilhos. Mas eu estava bem ciente que eu tive sorte com Neal. Se ele tivesse alguma faixa em alguma arte marcial, ele saberia alguma coisa sobre lutas, e eu estaria frita.

Richard tinha colocado uma tábua na janela quebrada e ligado para uma loja de vidros que estava feliz em ajudar, por um exorbitante honorário, e vir reparar o dano imediatamente. Eu ofereci pagar esses danos, já que tinha sido eu a causadora deles.

Edward, Richard e eu nos sentamos na mesa da cozinha. Edward e eu bebíamos café. Richard bebia chá. Um de seus sérios defeitos era não gostar de café. Difícil de se confiar em um homem não bebe café.

"O que você descobriu?" Eu perguntei.

Edward bebeu um gole de seu café e balançou a cabeça. "Não muito. O contrato já foi aceito."

"Mesmo com o limite de tempo?" Eu perguntei.

Ele assentiu.

"Quando as 24 horas acabam?" Eu perguntei.

"Vamos dizer que às duas horas. Eu recebi a oferta lá pela uma ontem, mas adicionamos uma hora a mais, para garantia."

"Para garantia." Richard disse. Eu acho que isso foi sarcástico.

"O que há de errado com você?" Eu perguntei.

"Eu sou o único aqui que está preocupado?"

"Entrar em pânico não vai ajudar, Richard."

Ele se levantou, jogando seu chá na pia e lavando a caneca automaticamente.

Ele se virou, encostando sua bunda contra a pia, braços cruzados no peito. "Você precisa de um bom plano?"

Eu assenti. "Aham."

Ele nos encarou. Eu assisti ele pensar em algo sério. Ele finalmente disse, "Eu não entendo como vocês dois podem estar tão calmos. Eu estou chocado que alguém tenha posto um contrato em Anita. Nenhum de vocês está chocado."

Eu olhei para Edward, e ele olhou de volta para mim. Nós tivemos um daqueles momentos de perfeito entendimento, e eu sabia que não conseguiria explicar isso para Richard. Eu não tinha certeza nem se conseguia explicar para mim mesma. "Eu continuo viva por esse tanto de tempo porque eu não reajo da maneira que outras pessoas reagem."

"Você continua viva por esse tanto de tempo porque você faz coisas que outras pessoas não fazem."

Eu assenti. "É, isso também."

Seu rosto estava bem sério, como o de um garotinho perguntando sobre as coisas da vida. "Me deixe fazer mais uma pergunta idiota e então eu vou calar a boca."

Eu encolhi os ombros. "Manda ver."

"Anita disse que não gosta de matar. Que ela não sente nada quando mata."

Eu percebi então que a pergunta era para o Edward. Eu não tinha certeza sobre onde isso ia dar.

"Você gosta de matar?"

Edward se sentou bem reto na sua cadeira, bebendo seu café quietamente. Seus olhos azuis estavam tão neutros e ilegíveis como os de um vampiro, e de alguma forma, tão morto quanto. Eu me perguntei pela primeira vez se meus olhos já pareceram assim antes. "Por que você quer saber?"

"Eu concordei em matar Marcus." Richard disse. "Eu nunca matei ninguém."

Edward encarou ele. Ele abaixou seu café cuidadosamente na mesa, olhando nos olhos de Richard. "Sim."

"Sim, você gosta?" Richard perguntou.

Edward assentiu.

Richard estava esperando ele explicar. Você podia ver no rosto dele.

"Ele respondeu sua pergunta, Richard."

"Mas ele gosta da sensação de matar? É uma coisa física? Ou é do planejamento que ele gosta?"

Edward pegou seu café.

"A sessão de perguntas e respostas está acabada, Richard." Eu disse.

Um olhar metade teimosia e metade frustração passou pelo rosto de Richard. "Mas ‘sim’ não me diz nada."

"Depois que você matar Marcus," Edward disse, "você pode me perguntar de novo."

"E você vai responder?" Richard perguntou.

Edward deu a ele o menor dos assentimentos.

Pela primeira vez eu percebi que Edward gostava de Richard. Não como amigo, talvez sim, mas ele não achava que Richard era uma completa perda de tempo.

Richard encarou o rosto de Edward por um longo tempo, e então assentiu com a cabeça. "Ok." Ele se sentou de novo. "Sem mais perguntas. Qual o plano?"

Eu sorri para ele. "Fazer o atirador não me matar."

"Esse é o plano?" Richard perguntou.

"E sumir com o cara do dinheiro." Edward disse. "Enquanto o dinheiro estiver sendo oferecido, Anita não estará segura."

"Alguma idéia de como conseguir isso?" Richard perguntou.

Edward assentiu e terminou seu café. Ele foi até a máquina e encheu a caneca de novo, como se estivesse em casa. Ele se sentou de novo. Bom e velho Edward, sempre confortável, não importa aonde.

Eu estava esperando, assistindo ele quietamente. Ele nos diria quando ele estivesse pronto, não antes. Richard estava praticamente dançando no lugar dele.

"Qual?" Ele finalmente perguntou.

Edward sorriu, eu acho para Richard, ou talvez para a eterna música que apenas ele podia ouvir. O ritmo que matinha ele contido e vivo.

"O assassino talvez apareça aqui hoje, e nós vamos tomar precauções quanto a isso. Uma manada de metamorfos é perfeito. Eu lidarei com o atirador sozinho quando a hora chegar."

Eu olhei pela quieta cozinha. O coldre entre meus ombros onde eu guardava as facas estava me beliscando.

"Você acha que estamos em perigo agora?"

"Talvez." Ele não parecia muito preocupado. "Mas eu acho que eles vão atirar em você hoje a noite, no seu encontro com o Mestre da Cidade."

"Como você sabe que eu tenho um encontro hoje?"

Edward apenas sorriu. "Eu sei que o Mestre da Cidade estará levando A Executora à inauguração de seu clube de dança, Dança Macabra. Eu sei que vocês vão até lá em uma limusine."

"Nem eu sabia disso." Eu disse.

Ele encolheu os ombros. "Não foi difícil de descobrir, Anita."

"Eu ia cancelar meu encontro de hoje e me esconder."

"Se você ficar aqui o assassino quase que certamente virá aqui."

Eu olhei para Richard. "Ah." Eu disse.

"Eu posso me cuidar." Richard disse.

"Você conseguiria matar um ser humano?" Eu perguntei.

Ele piscou para mim. "O que você quer dizer?"

"Eu quero dizer, se alguém vier com uma arma, você consegue matar ele?"

"Eu disse que mataria para proteger você."

"Não foi isso que eu perguntei, Richard, e você sabe disso."

Ele se levantou, andando em círculos pela cozinha. "Se ele estiver com balas habituais, ele não poderá me matar."

"Você só saberia se é ou não bala de prata tarde demais." Eu disse.

Ele abraçou seus braços, correu suas mãos pelo seu cabelo longo, e se virou para mim. "Uma vez que você começa a matar, você nunca pára, não é?"

"Não." Eu disse.

"Eu não sei se poderia matar um ser humano."

"Obrigada pela honestidade." Eu disse.

"Mas isso significa que você vai levar o assassino até um clube cheio de pessoas? Você colocaria todas elas em perigo para me manter a salvo?"

"Eu iria colocar quase qualquer pessoa em perigo para te manter a salvo."

Edward fez um pequeno som, quase uma risada. Seu rosto estava agradável e vazio. Ele tomou seu café. "Que é o porque de eu não querer que Richard fique na linha de fogo. Você ficará tão ocupada se preocupando com ele, que isso pode te fazer ser desatenta."

"Mas todas essas pessoas, vocês não podem colocar todas elas em perigo." Richard disse.

Edward olhou para mim e não disse o que estava pensando. Eu estava agradecida por isso. "Eu acho que Edward tem um plano para isso também, Richard."

"Eu acho que eles vão atirar em você no caminho de casa para o clube. Pra que fazer o serviço no meio de uma multidão se não for necessário? Antes colocar uma bomba na limusine, ou esperar até que você esteja sozinha na volta."

"Isso é o que você faria?" Richard perguntou.

Edward olhou para ele por um momento e então assentiu. "Provavelmente. Não a bomba, mas eu atiraria no carro."

"Por que não a bomba?" Richard perguntou.

Eu não perguntei porque já sabia a resposta. Os olhos de Edward passaram para mim. Eu encolhi os ombros.

"Porque eu gosto de matar cara a cara. Com a bomba eu não correria nenhum risco pessoal."

Richard encarou ele, estudando seu rosto. Ele finalmente disse, "Obrigado por responder minha pergunta."

Edward o saudou com um assentimento. Richard estava ganhando créditos de nós dois. Mas eu sabia que Richard tinha ilusões. Se começasse a parecer que Edward gostava dele, Richard iria supor que Edward não mataria ele. Eu sabia mais que isso. Se precisasse, Edward puxaria o gatilho para qualquer um.

"Vamos dizer que você está certo," Eu disse, "eu vou ao encontro e deixo o atirador fazer sua jogada. E então?"

"Nós matamos ele."

"Espere um minuto." Richard disse. "Vocês estão apostando que vocês dois são melhores que um assassino profissional? Que vão pegar ele antes que ele pegue a Anita?"

Nós dois assentimos.

"E se vocês não forem melhores?"

Edward olhou para Richard como se ele tivesse dito que o sol não iria nascer amanhã.

"Edward será melhor." Eu disse.

"Você aposta sua vida nisso?" Richard perguntou.

"Eu estou apostando minha vida nisso." Eu disse.

Richard pareceu um pouco pálido. Ele assentiu. "Eu acho que você está. O que eu posso fazer para ajudar?"

"Você ouviu Edward." Eu disse. "Você fica aqui."

Richard balançou sua cabeça. "Eu ouvi, mas no meio de uma multidão até o Super-Homem precisaria de mais visão e audição. O bando pode te ajudar na vigilância."

"Não te incomoda colocar eles em perigo?"

"Você disse que arriscaria quase todo mundo para me manter a salvo," Richard disse, "eu faria o mesmo por você."

"Se eles se voluntariarem, é uma coisa, mas não quero que você ordene eles a fazerem isso. As pessoas não tendem a ser bons seguranças quando fazem o serviço contra a vontade."

Richard riu. "Muito prático. Por um segundo eu pensei que você estava realmente preocupada com meus lobos."

"Praticidade me mantém viva, Richard, sentimentalismo não."

"Se tivermos observadores extras, isso vai me aliviar um pouco." Edward disse.

Eu olhei para ele. "Você confia em monstros para me vigiarem?"

Ele sorriu, e não era agradável. "Mostros são excelentes soldados de primeira fila{7}."

"Eles não são soldados de primeira fila." Richard disse.

"Todo mundo é um soldado de primeira fila." Edward disse. "Eventualmente."

"Se eu realmente pensasse que vamos colocar em perigo pessoas inocentes, eu não iria ao clube. Você sabe disso, Richard."

Ele me encarou por um segundo e então assentiu. "Eu sei disso."

Edward fez um pequeno som em sua garganta. "Pessoas inocentes." Ele balançou sua cabeça. Sorrindo. "Vamos nos trocar." Edward disse. "Eu trouxe novos brinquedos para você usar hoje a noite."

Eu olhei para ele. "Brinquedos perigosos?" Eu perguntei.

"E existe outro tipo?" Nós sorrimos abertamente um para o outro.

"Vocês dois estão gostando disso." Richard disse. Foi quase acusador.

"Se não gostássemos, estaríamos fazendo qualquer outra coisa." Edward disse.

"Anita não mata pessoas por dinheiro, você sim."

Eu assisti o humor desaparecer dos olhos de Edward como um sol atrás das nuvens, deixando eles gelados e vazios. "Pense no que quiser, sonhador, mas Anita poderia ter escolhido outra linha de trabalho, uma que não a colocasse em perigo. Mas ela não escolheu. Tem uma razão para isso."

"Ela não é como você."

Edward me olhou com olhos vazios. "Está mais perto do que costumava ser." Sua voz era suave, quase neutra, mas me fez arrepiar.

Eu olhei em seus olhos, e pela primeira vez em muito tempo, eu me perguntei do que eu tinha desistido para apertar o gatilho. Seria a mesma coisa que Edward tinha desistido dentro de si mesmo para conseguir matar tão facilmente? Eu olhei para Richard e me perguntei se ele conseguiria. Se, quando ele ficasse peludo, ele realmente mataria alguém. Algumas pessoas não conseguiam. Não havia vergonha nisso. Mas se Richard hesitasse, ele estaria morto. Não hoje ou amanhã, mas eventualmente, porque Marcus daria um jeito pra que isso acontecesse. Richard havia dado duas surras em Marcus, mas tinha se recusado a matar ele. Eu duvidava que Marcus daria outra chance para isso.

Eles tinham pego Stephen na noite passada, sabendo o que Richard faria. Se eu não estivesse com ele, ele talvez estivesse morto agora. Merda.

Tudo que eu tinha que fazer era matar o assassino antes que ele, ou ela, me matasse. Confiar em Richard para não deixar Marcus matar ele. Para manter Raina longe de me matar. E vamos ver, eu tinha certeza que havia mais alguma coisa.

Ah, é, decidir se vou dormir ou não com Richard, e se sim, o que isso significaria para Jean-Claude e eu. Havia dias em que minha vida era complicada demais, até para mim.


13

Achar alguma roupa de festa que esconda uma arma é um saco. Na verdade, eu não tinha planejado carregar uma arma no meu encontro com Jean-Claude. Mas claro, isso foi antes do assassino. Agora eu não a lugar algum sem ela. Se eu soubesse que precisaria de uma arma hoje a noite, eu teria usado meu pequeno vestido preto ontem e salvado a calça social. Mas quem poderia imaginar, e agora tudo que eu tinha na mala além do jeans era o vestido.

Era um pequeno vestido preto com tecido o suficiente para permitir um sutiã, se eu fosse cuidadosa. Eu tinha levado um sutiã preto, por segurança. Mostrar um sutiã com alça branca em um vestido preto sempre parecia feio.

A jaqueta era de um profundo veludo preto, um bolero que ficava na minha cintura. Bordados pretos estavam na gola e no punho. Ela estava pendurada na maçaneta do closet de Richard. Ele estava sentado abandonado na cama, me assistindo retocar o batom. Eu estava inclinada, me olhando no espelho do guarda-roupa. A saia do vestido era curta o suficiente para eu decidir usar uma black teddy{8} por baixo, não para roupa de baixo, mas para ficar em cima da minha meia, então tudo combinava. Ronie não confiava em mim para não mostrar mais do que devia, pelo menos uma vez na noite. Ela estava certa. Então mesmo se eu esquecesse, ateddycobria mais que biquines. Eu nunca teria escolhido algo tão curto sozinha. Ronnie era uma má influência para mim. Se ela soubesse que eu estava planejando usar isso com Jean-Claude, ela provavelmente teria escolhido outra coisa. Ela chamava ele de Fangface{9}. Ou pior. Ela gostava de Richard.

"Bonito vestido." Richard disse.

"Obrigada." Eu me virei na frente do espelho para checar o jeito que a saia caía. Ela era cheia o suficiente para balançar quando eu me movia.

O coldre de faca preto nos meus antebraços até que combinava com vestido. As facas davam um tom legal de prata. O coldre quase cobria as cicatrizes dos meus braços. Apenas o monte de cicatrizes no meu ombro esquerdo estava visível. Um vampiro tinha rasgado meu braço uma vez. O mesmo vampiro que tinha mordido minha clavícula. As cicatrizes eram normais para mim, mas sempre que eu saia com elas aparecendo e aproveitando meu tempo, sempre havia alguém olhando, encarando. Eles olham na hora para longe, ou olham em meus olhos. Não era que as cicatrizes eram horríveis para se olhar. Elas não eram tão ruins assim. Mas elas contavam uma história de dor e algo fora do comum. Elas diziam que eu estive em lugares que a maioria das pessoas não estiveram, e sobrevivi. Isso merecia uma olhada ou duas, eu acho.

As tiras pretas que seguravam a nova faca na minha coluna, mostrava um pouco dos meus ombros, mas mais na parte de trás. O cabo dela estava escondido por baixo do meu cabelo, mas eu não tiraria a jaqueta.

"Por que você não usou isso ontem a noite?" Richard perguntou.

"A calça parecia mais apropriada."

Ele me encarou, olhos passando pelo meu corpo mais do que pelo meu rosto. Ele balançou a cabeça. "Sendo que você vai se encontrar com alguém que não está dormindo, essa é uma roupa muito sexy."

Eu nunca tinha planejado que Richard visse o vestido, pelo menos não na noite que eu vestisse para Jean-Claude. Eu não tinha certeza sobre o que dizer, mas eu tentei. "Eu confio mais em mim mesma com Jean-Claude do que confio em mim mesma com você, então ele ganha a saia curta e você não." Isso era verdade.

"Você está dizendo que eu não ganho a roupa sexy porque eu sou muito irresistível?"

"Algo assim."

"Se eu correr minha mãos pelas suas pernas, eu acharia meias finas longas ou cinta-liga?"

Ele parecia tão solene, machucado. Com tudo indo água abaixo, eu não deveria ter que me preocupar com os sentimentos machucados do meu namorado, mas lá estava ele.

A vida continua, mesmo quando sua bunda está dentro de um rio com crocodilos.

"Meia fina longa." Eu disse.

"Jean-Claude vai descobrir que tipo de meia você está usando?"

"Ele pode perguntar, que nem você." Eu disse.

"Você sabe que não foi isso que eu quis dizer." Ele disse.

Eu suspirei. "Eu não sei como fazer isso ser mais fácil pra você, Richard. Se tem alguma coisa que eu possa fazer para você se sentir mais seguro com tudo isso, peça."

Para seu credito comigo, ele não me pediu para eu não ir. Eu acho que ele sabia que não iria gostar da resposta.

"Vem cá." Ele disse e estendeu sua mão para mim.

Eu andei até ele e segurei sua mão. Ele me sentou em seu colo, pernas de lado, como você se senta no colo do Papai Noel. Ele me rodeou com um braço, e então deitou sua outra mão na minha coxa.

"Me prometa que você não vai dormir com ele hoje a noite."

"Com assassinos prontos para pular de trás de uma árvore, eu acho que esta é uma aposta segura." Eu disse.

"Não brinque, Anita, por favor."

Eu passei minha mão por seu cabelo. Ele parecia tão serio, tão machucado. "Eu tenho dito não por tanto tempo, Richard. Por que você está preocupado com hoje a noite?"

"O vestido." Ele disse.

"Eu admito que é curto, mas..."

Ele alisou sua mão pela minha coxa até que desapareceu por baixo da saia. Ele descansou sua mão logo abaixo das rendas doteddy. "Você está usando lingerie, pelo amor de Deus, você nunca usa lingerie."

Eu teria explicado sobre tudo combinando, mas de alguma forma eu achei que isso não seria confortante. "Ok, eu não vou dormir com ele hoje a noite. Eu não tinha planejado isso pra começar."

"Me prometa que você vai voltar e dormir comigo." Ele sorriu quando disse.

Eu sorri de volta e desci de seu colo. "Você tem que mudar antes. Eu tenho que ver sua besta. É o que você vive me dizendo."

"Eu poderia mudar quando você voltar."

"Você poderia voltar a forma humana rápido o suficiente pra a gente fazer algo de bom hoje a noite?"

Ele sorriu. "Eu sou forte o suficiente para ser Ulfric, Anita. Uma das coisas que eu posso fazer é mudar minha forma quase sempre que eu quiser. Eu não passo mal quando eu volto para a forma humana como a maioria dos metamorfos."

"Prático." Eu disse.

Ele sorriu. "Volte hoje a noite e eu vou mudar para você. Sylvie está certa. Eu tenho que aceitar o que eu sou."

"Parte disso é tentar me deixar fora de mim, hum?"

Ele assentiu. "Eu acho que sim."

Olhando em seus sérios olhos, eu soube que se ele mudasse para mim hoje e pudesse lidar com isso, algo dentro dele seria destruído. Eu esperava que eu pudesse lidar. "Quando eu voltar hoje a noite, eu vou assistir você mudar de forma."

Ele parecia desolado, como se esperasse que eu saísse correndo. "Me beije e dê o fora daqui." Ele disse.

Eu o beijei, e ele lambeu seus lábios. "Batom." Ele me beijou de novo. "Mas por baixo disso eu ainda posso sentir seu gosto."

"Hmmm." Eu disse. Eu olhei para baixo, encarando ele e quase não quis ir. Quase. A campainha tocou e eu pulei. Richard não pulou, como se ele tivesse ouvido ela antes de mim.

"Seja cuidadosa. Eu queria poder ir com você."

"A mídia vai estar por todo o lugar." Eu disse. "Você não iria querer fotos suas em um grupo de monstros. Isso talvez acabe com seu disfarce."

"Eu acabaria com meu disfarce se isso fosse te manter segura."

Ele amava ensinar, e mesmo assim eu acreditava nele. Ele sairia do armário por mim. "Obrigada, mas Edward está certo. Eu ficaria tão preocupada em te manter vivo que eu não cuidaria de mim mesma."

"Você não se preocupa com Jean-Claude?"

Eu encolhi os ombros. "Ele pode cuidar de si mesmo. E além do mais, ele já está morto."

Richard balançou sua cabeça. "Você não acredita mais nisso de verdade."

"Não, ele está morto, Richard. Isso eu sei. Seja lá o que for que mantém ele vivo, é uma forma de necromancia, uma forma diferente dos meus próprios poderes, mas ainda é mágica."

Você pode dizer, mas em seu coração você não acredita nisso."

Eu encolhi os ombros de novo. "Talvez não, mas isso ainda é a verdade."

Houve uma batida na porta. Richard disse, "Seu acompanhante está aqui."

"Estou indo. Agora eu tenho que passar batom tudo de novo."

Ele passou seus dedos por sua boca, seus dedos voltando com uma mancha vermelha. "Pelo menos eu vou poder saber se você beijou ele. Essa coisa vai ficar visível como sangue em uma de suas camisas brancas."

Eu não argumentei. Jean-Claude sempre vestia preto e branco. Eu apenas tinha visto ele uma vez com uma camisa que não era branca. Era preta.

Eu passei o batom de novo e o coloquei na bolsa preta bordada com o vestido. A bolsa era pequena demais até para a Firestar. Eu tinha a Derringer, mas exceto em alvos em distancias pequenas, ela era bastante inútil. Com um assassino, eu talvez não quisesse chegar tão perto assim.

Edward tinha uma solução. Ele tinha me emprestado sua Seecamps. 32 auto recarregável. Era quase do mesmo tamanho de uma pequena 25, era apenas um pouco maior que minha mão, e eu tinha uma mão pequena. Era uma arma bem legal, e pelo calibre e tamanho, eu nunca tinha visto uma melhor. Eu queria uma dessas. Edward me informou que ele teve que esperar quase um ano para a arma chegar. Tinha bastante fila de clientes. Se não fosse por isso, ele teria me dado ela de presente. Ótimo, eu pediria a minha própria - se eu sobrevivesse hoje a noite. Se não, bem, eu não poderei pedir nada.

Eu me fiz não pensar muito nisso. Eu me concentrei em vestir, em colocar as armas nos lugares, em Richard, em qualquer coisa que não fosse que eu estava me fazendo ser o alvo de alguém bom o suficiente para valer 500.000 dólares o tiro. Eu estava tendo que confiar em Edward para me manter viva. Só porque Edward teria parado a limusine e atirado apenas quando ele pudesse ver meu rosto, isso não significava que o atirador fosse fazer isso também. A maioria dos profissionais preferem fazer o serviço de uma bom e segura distância.

Um rifle potente poderia alcançar a quadras e até milhas de distância. Não haveria muito que eu, ou até mesmo Edward, poderia fazer sobre isso. Eu não sabia nada sobre explosivos. Eu ia ter que depender de Edward para tomar conta de qualquer bomba. Eu estava me colocando nas mãos de Edward hoje a noite, confiando nele como eu nunca tinha confiado em alguém antes. Pensamento assustador esse.

Eu chequei minha bolsa de novo: ID, batom, dinheiro, arma. Eu normalmente teria carregado uma pequena escova de cabelo, mas não havia espaço. Eu poderia viver com o cabelo bagunçado por uma noite. O pensamento me fez me checar no espelho e passar uma escova nele uma ultima vez. Eu tinha que admitir que ele estava ótimo. É um dos meus melhores recursos. Nem Ronnie podia melhorar ele. Era todo com cachos naturais. Mesmo hoje a noite, eu passei um creme nele na altura do ombro e deixei secar naturalmente. Eu tive uma mulher brava comigo uma vez, na Califórnia, porque eu não disse a ele onde eu fiz permanente no meu cabelo. Ela não acreditava que era natural.

Eu coloquei a bolsa por cima do meu ombro, então a alça fina passava pelo meu peito. Ela combinava com o vestido bem o suficiente que ficava tão bem com ela quanto sem. Mas a bolsa rodava nas minhas costelas, logo abaixo onde eu usaria o coldre de ombro. Eu tentei sacar a arma varias vezes, e não era tão ruim. Não tão bom quanto sacar de um coldre, mas fazer o que? Eu coloquei minha jaqueta e me chequei no espelho pela milésima vez. Nem as facas ou a arma era visível. Ótimo. Eu coloquei minha cruz por ultimo. Eu tive certeza que a cruz estava dentro do vestido, e então coloquei um pequeno pedaço de fita adesiva nela. Era dessa forma que eu mantinha minha cruz de não sair da roupa e brilhar para Jean-Claude. Eu peguei a escova de novo e abaixei sem usar.

Eu estava enrolando. Não era só do assassino que eu estava com medo. Eu estava com medo do momento de Richard e Jean-Claude se vendo hoje a noite.

Eu não tinha certeza sobre como eles iriam reagir, e eu não era boa com confrontos emocionais. Eu raramente era.

Eu respirei profundamente e fui pela porta. Richard me seguiu. Era a casa dele. Eu não podia pedir para ele ficar escondido no quarto.

Jean-Claude estava em pé na frente da televisão, olhando os vídeos, como se estivesse estudando os títulos. Ele era alto e esbelto, se bem que não tão alto como Richard. Ele estava usando calças pretas e uma jaqueta preta curta, na altura da cintura, como a minha. Ele estava usando botas de couro que cobria quase totalmente sua perna, a macia parte de cima do couro estava sendo segurado por fitas pretas com pequenas abotoaduras de prata.

Seu cabelo se derramava em seus ombros, muito mais longos de quando eu o conheci.

Ele se virou finalmente, como se não soubesse que estávamos parados ali. Eu fiz um involuntário som de surpresa quando ele me olhou. Sua blusa era vermelha, de um puro vermelho que incendiava dentro de sua jaqueta aberta. A gola era alta, segurada no lugar com três antigas abotoaduras. A camisa continuava aberta logo abaixo da gola, mostrando uma fenda oval em seu peito. A cicatriz de cruz queimada nele se mostrava no circulo entre o vermelho, como um quadro para se ver. O circulo de pele nua terminava logo acima de sua calça preta, onde a camiseta estava seguramente dentro.

A camisa parecia esplendida contra sua pele pálida, contra seu cabelo preto cheio de curvas, seus olhos azuis da meia-noite. Eu fechei minha boca entreaberta e disse, "Bom, muito bom."

Ele sorriu. "Ah, ma petite, sempre dizendo as coisas mais perfeitas." Ele deslizou pelo carpete em suas elegantes botas, e eu me descobri querendo que ele tirasse sua jaqueta. Eu queria ver seu cabelo derramado naquela camisa, preto no vermelho. Eu sabia que iria parecer maravilhoso.

Richard veio por trás de mim. Ele não me tocou, mas eu podia sentir ele logo ali. Uma quente e nada feliz presença nas minhas costas. Eu não podia culpar ele.

Jean-Claude parecia com um anúncio da Wet Dreams "R" Us. Eu não podia culpar ninguém por ficar com ciúmes.

Jean-Claude parou na minha frente, perto o suficiente que eu poderia levantar minha mão e toca-lo. Eu fiquei parada entre os dois, e o simbolismo disso não passou desapercebido por nenhum de nós.

"Onde está Edward?" Eu tentei perguntei. Minha voz soava quase normal. Bom para mim.

"Ele está checando o carro. Eu acredito que está atrás de dispositivos de fogo." Jean-Claude disse com um pequeno sorriso.

Meu estômago apertou. Alguém realmente me queria morta até a meia noite. Edward estava varrendo o carro atrás de bombas. Mesmo para mim, isso não parecia inteiramente real.

"Ma petite, você está bem?" Jean-Claude pegou minha mão. "Sua mão está fria."

"Bela queixa, vindo de você." Richard disse.

Jean-Claude olhou para Richard pelos meus ombros. "Não foi uma queixa, mas sim uma observação."

Suas mãos estavam mornas, e eu sabia que ele tinha roubado esse calor de alguém. Ah, ele tem pessoas que fazem isso por vontade própria. Sempre haviam pessoas querendo doar sangue ao Mestre da Cidade. Mas ainda assim, ele era um cadáver sugador de sangue, não importa como ele parecia. Encarando ele eu percebi que parte de mim não acreditava nisso mais. Ou talvez, parecia não se importar mais. Droga.

Ele levantou minha mão devagar até seus lábios, seus olhos observando não a mim, mas Richard. Eu tirei minha mão da dele. Ele me olhou. "Se você quer beijar minha mão, tudo bem, mas não faça isso para atiçar os nervos de Richard."

"Minhas desculpas, ma petite. Você está certa." Ele olhou de mim para Richard. "Minhas desculpas a você também, Monsieur Zeeman. Nós estamos em uma... desconfortável posição. Seria criancice fazer isso ser pior com pequenos jogos."

Eu não tive que ver o rosto de Richard para saber que ele estava franzindo a testa.

Edward entrou e nos salvou. Nós iríamos todos calar a boca e ir embora. Esperançosamente.

"O carro está limpo." Ele disse.

"Feliz em ouvir." Eu disse.

Edward estava vestido para a noite. Um casaco de couro marrom batia na altura de seus tornozelos e se movia como algo vivo enquanto ele se movia pela sala. O casaco parecia estranhamente pesado em alguns lugares. Ele tinha me mostrado alguns de seus brinquedos que estavam posicionados aqui e ali. Eu sabia que havia um garrote escondido na dura gola de sua camisa. Um garrote era uma coisa muito pessoal, mesmo para mim.

Seus olhos passaram pelos dois homens da minha vida, mas tudo que ele disse foi, "Eu vou seguir a limusine. Não me procure hoje a noite, Anita. Eu estarei lá, mas nós não queremos o atirador alerta para ao fato que você tem um segurança."

"Um segundo segurança." Jean-Claude disse. "Seu, como você diz, atirador saberá que eu estarei ao lado dela."

Edward assentiu. "Sim, se eles acertarem a limusine, você estará lá. Eles terão que planejar como se livrar de você também, o que quer dizer que será um sério ataque de fogo."

"Eu sou tanto um impedimento quanto um convite ao jogo, é isso?" Jean-Claude perguntou.

Edward olhou para ele como se o vampiro finalmente tivesse feito algo de interessante. Se bem que Edward não olhou em seus olhos. Eu era a única humana que eu conhecia que podia olhar nos olhos do Mestre da Cidade e não ser enfeitiçada. Ser uma necromante tem suas utilidades. "Exatamente." Ele disse como se não tivesse esperado que o vampiro entendesse a situação. Mas se tinha uma coisa que Jean-Claude era bom, era em sobreviver.

"Podemos ir, ma petite? A festa nos aguarda." Ele fez um sinal deslizando seus braços, me direcionando até a porta, mas não pegando minha mão. Ele olhou para Richard, e então para mim. Ele estava se comportando terrivelmente bem.

Jean-Claude era um pé no saco numa categoria mundial. Não era do feitio dele ser um bom garoto.

Eu olhei para Richard. "Vá em frente. Se eu te der outro beijo de despedida, eu vou tirar seu batom novamente."

"Você já está usando o batom dela o suficiente, Richard." Jean-Claude disse. Pela primeira vez da noite, eu ouvi um quente tom de ciúmes.

Richard deu dois passos a frente, e o nível de tensão da sala aumentou. "Eu poderia dar outro beijo de boa noite nela, se isso te fizer feliz."

"Pare, os dois." Eu disse.

"Pelo que eu sei," Jean-Claude disse, "ela é minha pelo resto da noite. Eu posso me permitir ser generoso."

A mão de Richard ficou em punhos. O primeiro trilhar de poder ondeou pela sala.

"Eu estou indo agora." Eu fui até a porta e não olhei para trás. Jean-Claude me alcançou antes que eu chegasse a porta. Ele alcançou a maçaneta primeiro, e então hesitou, me deixando abrir a porta.

"Eu me esqueço que você domina portas." Ele disse.

"Eu não." Richard disse suavemente.

Eu me virei e olhei para ele parado ali, com seu jeans, sua camisa que modelava os músculos de seus braços e peito. Ele ainda estava descalço, seu cabelo em uma massa bagunçada em volta de seu rosto. Se eu continuasse ali, nós poderíamos ficar abraçados no sofá, vendo um de seus filmes favoritos. Nós estávamos começando a ter nossos filmes favoritos, musicas, dizendo que eram nossas. Talvez caminhássemos na luz da lua. Sua visão noturna era tão boa quanto a minha. Talvez mais tarde nós pudéssemos terminar o que começamos antes da reunião.

Jean-Claude deslizou seus dedos pelos meus, chamando minha atenção para ele. Eu olhei para cima, para aqueles olhos azuis, azuis, como um céu antes da chuva, ou água do mar, onde as pedras descansam profundamente e geladas. Eu podia toca aqueles três botões pretos e ver se eles eram realmente antigos. Meu olhar viajou para baixo, para o vislumbre de seu peito. Eu sabia que a marca em forma de cruz era áspera ao toque. Olhar para ele fazia meu peito ficar apertado. Ele era tão lindo.

Meu corpo sempre sentiria o chamado dele, como uma flor desabrochando na luz? Talvez. Mas estando ali, segurando sua mão, eu percebi que isso não era o suficiente.

Jean-Claude e eu podíamos ter um maravilhoso caso, mas eu podia ver minha vida passando com Richard. Amor é o suficiente? Mesmo se Richard matasse pela sua preservação, ele poderia realmente aceitar minha contagem de corpos? Eu poderia aceitar sua besta, ou eu ficaria horrorizada enquanto ele era ele mesmo? Jean-Claude me aceitava trava, cabo e arma. Mas eu não aceitava ele. Apenas porque nós dois olhávamos o mundo através de um vidro escuro, não significava que eu gostava dele.

Eu suspirei, e não era um som feliz. Se essa fosse a ultima vez que eu visse Richard, eu deveria ter pulado no corpo dele e dado a ele um beijo que ele nunca esqueceria, mas eu não podia fazer isso. Segurando a mão de Jean-Claude, eu não podia. Seria cruel demais para todos nós.

"Tchau, Richard." Eu disse.

"Seja cuidadosa." Ele disse. Ele soava tão sozinho.

"Louie e você vão ver filmes hoje a noite, né?" Eu perguntei.

Ele assentiu. "Ele deve estar aqui logo."

"Bom." Eu abri minha boca para falar mais, mas a fechei. Não tinha nada para dizer. Eu estava indo com Jean-Claude. Nada que eu dissesse mudaria isso.

"Eu esperarei por você." Richard disse.

"Eu queria que não esperasse."

"Eu sei."

Eu saí, andando um pouco rápido demais para a limusine ali esperando. Era branca. "Bem, isso é brilhante e reluzente." Eu disse.

"Eu achei que preto pareceria muito fúnebre." Jean-Claude disse.

Edward veio também. Ele fechou a porta atrás dele. "Eu estarei lá quando você precisar de mim, Anita."

Eu olhei em seus olhos. "Eu sei que vai."

Ele deu o menor dos sorrisos. "Mas só no caso, vigie suas costas como uma filha da puta."

Eu sorri. "Não vigio sempre?"

Ele olhou para o vampiro parado ao lado da porta da limusine aberta. "Não tanto quanto eu pensava." Edward andou até a escuridão onde estava seu carro antes que eu pudesse pensar numa resposta.

Era apenas que ele estava certo. Os monstros finalmente tinham me pego. Me seduzir era quase tão bom quanto me matar, e quase tão assustador quanto.


14

O nome do clube era Dança Macabra, escrito em letras de néon vermelho, com quase oito pés de altura. As letras eram curvadas e floreavam em um ângulo como se uma mão gigante tivesse escrito elas. O clube estava situado em um antigo depósito. O lugar ficava em Riverfront, grande e abandonado por anos. Tinha sido a única monstruosidade no meio de restaurantes chiques, clubes de dança e bares. A maioria deles tinha donos vampiros. O Riverfront também era conhecido como O Distrito, ou Quarteirão de Sangue, claro, não se estiver acompanhado de vampiros educados. Por alguma razão, o apelido incomodava eles. Vai saber por que.

A multidão estava esparramada pelo lado de fora, na rua, até que a limusine foi parada por um bocado de pessoas. Era tão ruim que eu vi um policial uniformizado tentando afastar o pessoal dos carros, para ter passagem. Eu olhei pelo vidro escuro da janela, para aquele tanto de gente. Estava o assassino ali? Uma dessas pessoas bem vestidas e sorridentes era ele, querendo me matar? Eu abri minha bolsa e peguei a Seecamp.

Jean-Claude olhou a pequena arma. "Nervosa, ma petite?"

"Sim." Eu disse.

Ele olhou para mim, sua cabeça inclinada de lado. "Sim, você está nervosa. Por que um assassino humano te deixa tão nervosa, mais do que as criaturas sobrenaturais que você já enfrentou?"

"Todo mundo que já quis me matar, foi por motivos pessoais. Eu entendo coisas pessoais. Seja lá quem quer me matar, é por causa de negócios. Apenas negócios."

"Mas por que isso é mais assustador para você? Você estará morta de qualquer jeito, independente dos motivos do assassino."

"Muito obrigada." Eu disse.

Ele tocou minha mão, a que estava apertada na arma. "Eu estou tentando entender, ma petite, isso é tudo."

"Eu não sei exatamente o que me incomoda. Apenas incomoda." Eu disse. "Eu gosto de colocar um rosto nos meus inimigos. Se alguém matar você, não deveria ser apenas por dinheiro."

"Então matar por dinheiro ofende sua sensibilidade moral?" Ele perguntou.

Sua voz estava bem insípida, muito insípida, como se ele estivesse rindo silenciosamente de si mesmo.

"Sim, merda, ofende."

"E ainda assim, você é amiga de Edward."

"Eu nunca disse que era coerente, Jean-Claude."

"Você é uma das pessoas mais coerente que já conhecia, ma petite."

"Quão coerente eu posso ser quando estou namorando dois homens?"

"Você acha que não ser capaz de escolher entre nós dois, te faz ser frívola?" Ele se inclinou em minha direção enquanto disse, sua mão subindo suavemente pela manga da minha jaqueta.

O problema era que eu já tinha quase escolhido. Eu quase disse isso para ele, mas fiquei quieta. Primeiro, eu não tinha cem por cento de certeza. Segundo, Jean-Claude tinha me chantageado para fazer eu namorar com ele. Ou namoro com ele, ou ele mata Richard. Ele queria uma chance para me persuadir a largar o Richard. O que quer dizer que eu realmente tinha que namorar ele.

Como ele tinha dito, "Se você permitir que Richard te beije, mas eu não, isso não será justo." Supostamente, se eu escolhesse Richard, Jean-Claude iria simplesmente nos deixar em paz. Eu acho que o ego dele era grande o suficiente para ele estar falando sério. O Mestre da Cidade não podia imaginar ninguém não querendo ele, eventualmente. Não se você tinha acesso ao seu corpo adorável. Ele continuava me oferecendo ele. Eu continuava recusando. Se eu escolhesse Richard em vez dele, ele realmente iria aceitar graciosamente, ou iria nos levar todos a um banho de sangue?

Eu encarei seus profundos olhos azuis e não sabia. Eu conhecia ele por anos. Namorava com ele por meses. Mas ele continuava sendo um mistério para mim. Eu apenas não sabia o que ele iria fazer. E eu não queria pressionar ele para descobrir, ainda não.

"No que você está pensando tão seriamente, ma petite? Não diga que é no assassino. Eu não acreditaria em você."

Eu não sabia o que dizer, então eu apenas balancei minha cabeça.

Sua mão deslizou pelos meus ombros, até que eu estivesse descansando na curva de seu braço.

Sentir seu corpo tão perto do meu, fez meu estômago gelar. Ele se abaixou como se fosse me beijar, e eu o parei, minha mão esquerda contra seu peito. Já que eu estava tocando sua pele nua agora, eu não tinha certeza se isso tinha ajudado.

"Você se comportou durando todo o caminho para cá. O que te deu agora?" Eu perguntei.

"Eu estou tentando te confortar, ma petite."

"Aham, ta certo." Eu disse.

Ele passou seu outro braço por minha cintura, virando todo meu corpo contra ele. A arma ainda estava na minha mão, mas estava começando a ficar incômoda. Eu não iria usar ela em Jean-Claude, e o assino não iria entrar pela porta trancada. Esse tanto te violência em uma multidão com policiais parecia um pouco audaz, até mesmo para um profissional.

Eu deslizei meu braço por suas costas, a arma ainda na minha mão. "Se você me beijar, eu vou ter que retocar meu batom."

Ele inclinou seu rosto perto o suficiente para me beijar, seus lábios tão pertos dos meus que ele estava respirando meu ar. Ele sussurrou logo por cima da minha boca "Não devemos fazer isso." Ele beijou minha bochecha, correndo seus lábios até meu maxilar.

Eu toquei seu rosto com a ponta da arma, movendo seu rosto até que eu pudesse vê-lo. Seus olhos tinham virado um azul afogante. "Nada de pescoço." Eu disse. E eu quis dizer isso. Eu apenas voluntariei sangue uma vez e só porque ele estava morrendo. Eu não divido fluidos corporais com Mestres de Cidade.

Ele passou sua bochecha contra a arma. "Eu tinha algo um pouco mais abaixo em mente."

Ele abaixou seu rosto até minha clavícula, lambendo minha pele abaixo. Por um segundo eu me perguntei quão baixo ele estava planejando ir, e então puxei ele para longe de mim.

"Eu acho que não." Eu disse, meio rindo.

"Você se sente melhor agora, Ma petite?

Eu encarei ele por uma batida de coração, e então ri. Ri de verdade. "Você é filho da puta problemático. Sabia disso?"

"Já ouvi dizer isso antes." Ele disse, sorrindo.

A policia havia afastado a multidão, e a limusine seguiu seu caminho.

"Você fez isso só para me distrair." Eu soava quase acusatória.

Seus olhos se abriram mais. "Eu faria uma coisa dessas?"

Eu encarei ele e senti meu sorriso sumir do meu rosto. Eu realmente olhei para ele por um momento, não apenas para o melhor objeto de luxuria do mundo, mas para ele, Jean-Claude. O Mestre da Cidade estava preocupado com meus sentimentos. Eu balancei minha cabeça. Ele estava ficando mais legal, ou eu estava apenas me iludindo?

"Por que ficou tão séria, ma petite?"

Eu balancei minha cabeça. "O de sempre, tentando descobrir o quão sincero você é."

Seu sorriso aumentou. "Eu sempre sou sincero, ma petite, até mesmo quando eu minto."

"O que te faz ser tão bom nisso." Eu disse.

Ele assentiu com sua cabeça uma vez, quase uma saudação. "Exatamente."

Ele olhou para frente. "Nós estamos prestes a embarcar em um mar de mídia, ma petite. Se você puder guardar sua arma? Eu acho que a imprensa acharia ela um pouco demais."

"Imprensa?" Eu disse. "Você quer dizer a mídia local?"

"Local, sim."

"O que você está escondendo de mim?"

"Quando a porta abrir, segure em meu braço e sorria, por favor, ma petite."

Eu franzi a testa para ele. "O que está prestes a acontecer?"

"Você está prestes a ser apresentada ao mundo."

"Jean-Claude, o que você está tramando?"

"Isso não foi feito meu, ma petite. Eu não gosto de estar em foco desse tanto. O Conselho me escolheu como seu represente para a mídia."

"Eu sei que você saiu do caixão dos vampiros locais depois de você vencer seu ultimo desafio, mas isso não é perigoso? Quero dizer, você tem fingido ser um misterioso mestre fodão número um. Isso te mantém seguro de desafios vindos de fora."

"A maioria dos mestres usam um intermediário anônimo, ma petite. Isso diminui os desafios e assassinatos humanos."

"Eu sei isso tudo, então por que você está indo em público?"

"O Conselho acredita que continuar nas sombras dá munição aos nossos opositores. Aqueles de nós que fazemos um bom retrato na mídia, foram ordenados a entrarem na luz, como agora."

Eu encarei ele. "Como assim entrar na luz?"

"Guarde a arma, ma petite. O chofer abrirá a porta e haverá câmeras."

Eu olhei para ele, mas devolvi a Seecamp para a bolsa.

"No que você me meteu, Jean-Claude?"

"Sorria, ma petite, ou pelo menos não franza a testa." A porta abriu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a mais. Um homem de terno segurou a porta. O flash das luzes das câmeras era cegante, e eu sabia que aquilo incomodava mais os olhos dele do que os meus. Ele estava sorrindo quando estendeu sua mão para mim. Se ele podia encarar aquele tanto de luz sem piscar, eu podia ser graciosa. Nós sempre podíamos brigar mais tarde.

Eu dei um passo para fora da limusine e estava feliz por ele segurar minha mão. Flashs por todo lado, como pequenos sóis capturados. A multidão se amontoou em volta, microfones surgindo na nossa frente como facas. Se ele não estivesse segurando minha firmemente, eu teria voltado engatinhando para a limusine.

Eu me movi para mais perto dele, apenas o suficiente para me manter em pé. Onde diabos estava o controle daquela gente?

Um microfone quase tocou meu rosto. A voz de uma mulher gritou perto demais, "Ele é bom de cama? Ou seria de caixão?"

"Que?" Eu disse.

"Ele é bom de cama?" Houve um momento de completo silêncio, enquanto todo mundo esperava pela minha resposta. Antes que eu pudesse abrir minha boca e dizer algo rude, Jean-Claude me moveu para frente, graciosamente como sempre.

"Nós não beijamos e contamos, não é, ma petite?" Seu sotaque francês era o mais denso que eu já tinha ouvido.

"Ma petiteé seu apelido para ela?" A voz de um homem disse.

"Oui." Ele disse.

Eu olhei para cima, para ele, e ele se inclinou como se fosse beijar minha bochecha. Ele sussurrou, "Me olhe assim depois, ma petite. Há câmeras por todos os lados."

Eu queria dizer que não me importava, mas eu me importava. Quero dizer, eu acho que me importava. Eu me senti como um coelho preso entre as luzes.

Se o assassino tivesse pulado com uma arma nesse momento, eu teria ficado parada ali e deixado ele atirar em mim. Esse pensamento, mais do qualquer outra coisa, me trouxe de volta, me ajudou a pensar novamente. Eu comecei a tentar passar pelas luzes, pelos microfones, alguns gravadores, e câmeras de vídeo. Eu contei pelo menos dois emblemas de rede de jornalismo nas câmeras. Merda.

Jean-Claude estava despistando as perguntas como um profissional, sorridente e gracioso, o vampiro perfeito de capa de revista. Eu sorri e me inclinei até ele, ficando na ponta dos dedos, colocando meus lábios perto de seu ouvido, o suficiente para eu poder ter lambido, mas eu estava esperando que os microfones não pegassem o que eu ia dizer para ele.

Eu tinha certeza que eu estava parecendo tímida e garotinha pra caramba, mas ei, nada é perfeito. Eu sussurrei, "Me tire daqui agora, ou eu vou sacar minha arma e fazer meu caminho sozinha."

Ele riu, e sua risada fluiu pela minha pele como pêlo, morna, e fazia cócegas, e era vagamente obscena. Os repórteres fizeram um monte de "oooohs" e ahhhhs". Eu me perguntei se a risada de Jean-Claude funcionava ouvida pelo vídeo. Esse era um pensamento assustador.

"Ah, ma petite, sua garota levada."

Eu sussurrei, "Nunca mais me chame assim de novo."

"Minhas desculpas." Ele sorriu, assentindo com a cabeça e começou a me guiar no meio dos repórteres. Dois vampiros porteiros vieram para fora para ajudar a abrir espaço. Eles eram ambos grandes e musculosos, e nenhum deles estava morto por muito tempo. Suas bochechas pareciam rosadas e quase vivas. Eles se alimentaram de alguém hoje a noite. Mas então, Jean-Claude também. Estava ficando cada mais difícil jogar pedras nos monstros.

A porta se abriu, e nós deslizamos para dentro. O silêncio era maravilhoso. Eu me virei para ele.

"Como você ousa me arrastar para esse tipo de cobertura de mídia?"

"Isso não te põe em perigo, ma petite."

"Te ocorreu por acaso, que se eu escolher Richard em vez de você, que eu talvez não queria que todo o mundo saiba que eu estava namorando com um vampiro?"

Ele deu um rápido sorriso. "Bom o suficiente para namorar, mas não o suficiente para ser visto?"

"Nós fomos em todos os lugares, desde sinfonias até balés, juntos. Eu não tenho vergonha de você."

"Mesmo?" O sorriso tinha sumido, sendo substituído por algo a mais, não exatamente raiva, mas estava perto. "Então, por que você está brava, ma petite?"

Eu abri minha boca, e então a fechei. A verdade era que eu preferia não ir tão a publico assim porque eu acho que eu realmente não acreditava que poderia escolher Jean-Claude. Ele era um vampiro, um homem morto. Naquele momento eu percebi o quão preconceituosa eu estava sendo. Ele era bom o suficiente para namorar.

Bom o suficiente para segurar mãos, e talvez até mais um pouco. Mas havia um limite. Sempre tinha um ponto onde eu sabia que diria ‘pare’ porque ele era um cadáver. Um lindo cadáver, mas um vampiro é um vampiro. Você não podia se apaixonar realmente por um. Você não podia transar com um. De jeito nenhum. Eu quebrei uma regra já por estar namorando os dois garotos. Eu nunca dei realmente para Jean-Claude a mesma chance que dei a Richard. E agora, com a cobertura da televisão nacional, o morcego tinha saído da mochila. Me envergonhava saber que todo mundo pensaria que eu realmente estava namorando ele. Que eu podia realmente estar me preocupando com um homem morto andante.

A raiva sumiu com o percepção que eu estava sendo hipócrita. Eu não sei o quanto disso ficou visível em meu rosto, mas Jean-Claude deixou sua cabeça cair para um lado. "Pensamentos estão passando por seu rosto, ma petite, mas quais pensamentos?"

Eu encarei ele. "Eu acho que te devo desculpas."

Seus olhos se abriram mais. "Então essa é uma verdadeira ocasião histórica. Pelo que você está se desculpando?"

Eu não tinha certeza de como colocar isso em palavras. "Você está certo, eu estou errada."

Ele colocou seus dedos no peito, seu rosto em uma encenação de surpresa. "Você admite que tem me tratado como um segredo culposo, escondido. Exilando seus verdadeiros sentimentos enquanto se abraça com Richard e sua carne viva?"

Eu franzi a testa para ele. "Chega. Viu por que eu nunca vou te pedir desculpas por nada novamente?"

"Uma dança seria o suficiente." Ele disse.

"Eu não danço. Você sabe disso."

"Essa é a grande inauguração do meu clube de dança, ma petite. Você é minha companhia. Você realmente vai me negar apenas uma dança?"

Colocando dessa forma, parecia mesquinho. "Uma dança."

Ele sorriu, perverso e atraente. O sorriso que a serpente deve ter dado a Eva. "Eu acho que vamos dançar bem, juntos, ma petite."

"Eu duvido."

"Eu acho que faríamos muitas coisas bem, juntos."

"Te dou uma dança e já quer o pacote todo. Bastardo folgado."

Ele deu um pequeno assentimento, sorrindo, seus olhos brilhando.

Uma vampira caminhou rebolando até nós. Ela era mais alta que Jean-Claude, o que fez ela ter pelo menos seis pés de altura. Ela era loira com olhos azuis, e se ela parecesse um pouco mais nórdica, ela seria uma garota pôster de corridas. Ela estava usando um macacão violeta com estratégicos buracos cortados. O corpo que aparecia por eles era de amplos ombros, musculosos e ainda tinha seios grandes. Botas de couro eram da mesma cor do macacão, cobriam aquela longa e musculosa perna, até as coxas.

"Anita Blake, essa é Liv."

"Me deixe adivinhar." Eu disse. "Jean-Claude escolheu a roupa."

Liv olhou para mim, com sua considerável altura, como se simplesmente por ela ser alta, ela fosse intimidante. Quando eu não me encolhi, ela sorriu. "Ele é o chefe."

Eu encarei ela. Eu quase perguntei por que ele era o chefe. Eu podia sentir sua idade me pressionando como um peso. Ela tinha 600 anos de idade. Duas vezes a idade de Jean-Claude, ou mais. Então por que ela não era a chefe? Eu podia sentir a resposta pela minha pele como um vento gelado. Ela não tinha poder o suficiente.

Ela não era uma vampira mestre, e nenhuma quantidade de idade mudaria isso.

"O que você está olhando?" Ela perguntou. Ela me olhou diretamente nos olhos e balançou sua cabeça. "Ela realmente é imune ao nosso olhar."

"Ao seu olhar." Eu disse.

Ela colocou as mãos no quadril. "O que isso quer dizer?"

"Quer dizer que você não tem suco o suficiente para isso." Eu disse.

Ela deu um passo a frente. "Que tal se eu simplesmente te pegar e espremer algum suco de você?"

Aqui era onde não ter uma arma em um coldre iria me fazer ser morta. Eu poderia pegar uma das facas, mas ao menos que eu quisesse deixar ela chegar bem perto, elas não iriam ajudar. Eu poderia deslizar minha mão pela bolsa, a maioria das pessoas não esperam que uma arma saia de uma bolsa tão pequena. Mas é claro, se Liv me pegasse indo para a arma, ela poderia me alcançar antes de eu sacá-la. Com o coldre, eu teria tentado. Com uma bolsa presa pela alça, eu acho que não. Vampiros são apenas rápidos demais.

"Quantos vampiros você matou até agora, Anita?" Jean-Claude perguntou.

A pergunta me surpreendeu, e minha resposta mais ainda. "Acima de vinte mortes legalizadas."

"Quantas mortes no total, ma petite?"

"Eu não sei." Eu disse. Deveria estar por volta de trinta agora, mas de verdade, eu não conseguia me lembrar mais. Eu não sabia quantas vidas eu havia tomado. Um mau sinal isso.

"Liv é minha, ma petite. Você pode falar livremente na frente dela."

Eu balancei minha cabeça. "Nunca admitir assassinato na frente de estranhos, Jean-Claude. Apenas uma regra."

Liv olhou para mim. Ela parecia não gostar do que viu. "Então essa é a Executora?" Ela balançou sua cabeça. "Ela é meio baixinha, não?" Ela andou em volta de mim como se eu fosse um cavalo à venda.

Quando ela estava nas minhas costas, eu abri minha bolsa. Pelo tempo que ela voltou à minha frente de novo, eu tinha a arma em mãos, atrás da bolsa, discreta, e por aquela distância, eu acho que poderia acertar ela através da bolsa. Mas pra que, se eu não precisava?

Liv balançou sua cabeça. "Ela é bonita, mas não muito impressionante." Ela parou atrás de Jean-Claude, correndo suas fortes mãos pelos ombros dele, seus braços. Ela terminou com suas mãos em volta da cintura dele, dedos pressionados no corpo dele.

Eu estava ficando realmente cansada de Liv.

"Eu posso fazer por você, coisas que nenhuma humana pode, Jean-Claude."

"Você está sendo rude com Anita. Eu não irei te lembrar isso novamente." Havia um frio, até mesmo uma ameaça em sua voz.

Liv desgrudou de Jean-Claude e ficou entre nós, mãos no quadril. "O grande Jean-Claude se entregando ao celibato por causa de uma humana. Pessoas estão rindo nas suas costas."

"Celibato?" Eu perguntei.

Jean-Claude olhou para mim, e então suspirou. "A menos que você desista do seu jeito freira de ser, ma petite, eu estou bancando o monge."

Meus olhos ficaram mais abertos. Eu não consegui evitar. Eu sabia que Richard e eu tivemos, cada um, um amor e escolhemos o celibato depois. Mas eu nunca pensei sobre Jean-Claude e sobre o que ele estava fazendo para satisfazer suas necessidades. Abstinência não era um dos meus palpites para ele.

"Você parece surpresa, ma petite."

"Eu acho que ninguém que venera sexo do jeito que você faz... Eu apenas nunca tinha pensado nisso."

"Ainda assim, se você descobrisse que eu estive dormindo com outra mulher, viva ou morta, enquanto estamos saindo, o que você faria?"

"Te chutaria em um segundo."

"Exatamente."

Liv riu, um alto e nada atrativo som zunido. "Mesmo sua humana não confia em você."

Jean-Claude se virou para ela, seus olhos eram um incêndio se chamas de safira. "Você disse que eles riem nas minha costas."

Ela assentiu, ainda rindo.

"Mas apenas você está rindo na minha frente."

Sua risada morreu abruptadamente, como desligar um interruptor. Ela encarou ele.

"Um pouco mais de submissão, Liv, ou isso é um desafio à minha autoridade?"

Ela pareceu sobressaltada. "Não, quero dizer... eu nunca quis dizer..."

Ele apenas olhou para ela. "Então é melhor você pedir meu perdão, você não acha?"

Ela caiu, ficando em um só joelho. Ela não parecia com medo, era mais como se ela tivesse feito uma terrível gafe social e agora queria compensar. "Eu imploro por seu perdão, Mestre. Eu saí de mim."

"Sim, você saiu, Liv. Não faça disso um hábito."

Liv se levantou, toda sorrisos, toda perdoada. Simples assim. As manobras políticas estavam densas no ar. "É apenas que ela não parece nada perigosa quanto você tem dito."

"Anita." Jean-Claude disse. "Mostre a ela o que você tem em mãos."

Eu movi a bolsa para o lado, mostrando a arma.

"Eu poderia ter sua garganta em minhas mãos antes que você pudesse me apontar esse brinquedo." Liv disse.

"Não." Eu disse. "Você não poderia."

"É um desafio?" Ela perguntou.

"Seiscentos anos de vida, mais algumas décadas." Eu disse. "Não jogue isso fora para apenas se provar."

"Como você sabe minha idade?"

Eu sorri. "Eu realmente não estou com humor para blefar hoje a noite, Liv. Não me ponha em prova."

Ela me encarou, seus extraordinários olhos se estreitando. "Você é uma necromante, não apenas uma levantadora de cadáveres. Eu posso te sentir dentro da minha cabeça, quase como outro vampiro." Ela olhou para Jean-Claude. "Por que eu não pude sentir ela antes?"

"O poder dela flui quando ela se sente ameaçada." Ele disse.

Isso era novidade para mim. Pelo que eu sabia, eu não estava usando nenhum poder agora. Mas eu não disse isso em voz alta. Agora não era a hora para fazer perguntas idiotas, nem mesmo inteligentes.

Liv deu um passo para o lado, quase como se ela estivesse com medo. "Nós abriremos em uma hora. Eu tenho trabalho a fazer." Ela se moveu até a porta, nunca tirando os olhos de mim.

Eu assisti ela andar, feliz por sua reação, mas sem entender ela.

"Venha, Anita." Jean-Claude disse. "Eu quero te mostrar meu clube."

Eu deixei ele me guiar até a área principal de lá. Eles tinham separado o depósito até que levantassem três alas com parapeitos em cada andar. O salão principal de dança, era enorme, brilhante e negro, refletindo com as luzes apagadas. As luzes no caminho estavam escondidas, então era difícil de dizer de onde aquelas luzes estavam vindo.

Coisas saíam do teto. A primeira vista eu pensei que eram corpos, mas eles eram manequins, como bonecos de tamanho de humanos, no estilo daqueles de testes de acidentes de carros. Alguns estavam nus, um coberto por celofane, alguns em couro e vinil preto. Um boneco usava um biquine de metal. Eles estavam presos em correntes, em diferentes alturas. Era um móbile.

"Isso é diferente." Eu disse.

"Um novo artista promissor os fez especialmente para o clube."

Eu balancei minha cabeça. "Isso parece ser um fato." Eu coloquei minha arma de volta na bolsa, mas a mantive aberta. Desse jeito eu poderia alcançar a arma surpreendentemente rápido. Além do mais, eu não podia andar por ai, a noite toda, com uma arma carregada na minha mão. Eventualmente, suas mãos começam a tremer, não importa o quão pequena a arma seja.

Jean-Claude deslizou pela pista de dança, e eu o segui. "Liv estava com medo de mim. Por que?"

Ele se virou graciosamente, sorrindo. "Você é a Executora."

Eu balancei minha cabeça. "Ela disse que podia me sentir na cabeça dela como outro vampiro. O que ela quis dizer?"

Ele suspirou. "Você é uma necromante, ma petite, e seus poderes aumentam com o uso."

"Por que isso assustaria uma vampira de seiscentos anos?"

"Você é implacável, ma petite."

"É uma das minhas melhores qualidades."

"Se eu responder sua pergunta, você irá aproveitar o clube comigo, ser minha acompanhante até que o assassino dê as caras?"

"Obrigada por me lembrar."

"Você não tinha esquecido."

"Não, não tinha. Então, é, responda minha pergunta e eu bancarei a acompanhante."

"Bancará?"

"Pare enrolar e responda a pergunta." Eu pensei em outra pergunta que queria uma reposta. "Duas perguntas."

Ele levantou suas sobrancelhas, mas assentiu. "Vampiros tem poderes no folclore e nos mitos populares que nós não possuímos: controlar o tempo, mudar para forma de animal. Necromantes supostamente são capazes de controlar todos os tipos de mortos."

"Controlar? Você não quer dizer os zumbis, quer?"

"Não, ma petite."

"Então Liv estava com medo de eu tomar ela?"

"Algo assim."

"Mas isso é loucura. Eu não posso mandar vampiros fazerem coisas." No momento que eu disse, eu desejei ter ficado calada. Era verdade. Eu levantei um vampiro uma vez. Uma vez. E uma vez tinha sido o suficiente.

Algo deve ter aparecido no meu rosto porque Jean-Claude tocou minha bochecha.

"O que foi, ma petite? O que encheu seus olhos com tanto... terror?"

Eu abri minha boca e menti. "Se eu pudesse mandar nos vampiros, Serephina teria me deixado em paz dois meses atrás."

Seu rosto ficou mais suave. "Ela está morta, ma petite. Bem e verdadeiramente morta. Você tomou conta disso." Ele se inclinou e deu um beijo na minha testa. Seus lábios eram macios como seda. Ele roçou seus lábios por minha testa, movendo seu corpo para mais perto, me confortando.

Me fez sentir culpada pra caramba. Eu ainda tinha pesadelos com Serephina, isso era verdade. Apenas dizer o nome dela em voz alta fazia meu estômago se apertar. De todos os vampiros que eu já tinha encarado, ela foi a que mais chegou perto de me pegar. Não para me matar, apesar que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Não, ela quase tinha me feito ser um deles. Quase me fez querer ser um deles. Ela havia me oferecido algo mais precioso que sexo ou poder. Ela me ofereceu paz. Era uma mentira, mas era uma boa.

Por que não contar a verdade para Jean-Claude? Bem, não era da conta dele. Francamente, o que eu tinha feito havia me assustado. Eu não queria lidar com isso.

Não queria pensar nisso. Não queria saber o que as ramificações filosóficas de levantar vampiros durante o dia significavam. Eu era muito boa em ignorar coisas que não queria lidar.

"Ma petite, você está tremendo." Ele me colocou longe dele para poder ver meu rosto.

Eu balancei minha cabeça. "Tem um assassino lá fora querendo me matar, e você me pergunta por que eu estou tremendo."

"Eu te conheço bem demais, ma petite. Não é por isso que você está tremendo."

"Eu não gosto de você me usando como um tipo de bicho-papão para vampiros. Eu não sou tão assustadora assim."

"Não, mas eu tenho encorajado a ilusão."

Eu me afastei dele. "Você quer dizer que você tem falado para os outros vampiros que eu posso controlar eles?"

"Apenas dei uma indireta ou duas." Ele sorriu, e com essa única expressão você sabia que ele estava pensando em coisas secretas.

"Por que, pelo amor de Deus?"

"Eu tenho aprendido uma lição com nosso diplomático Richard. Ele ganhou tantos lobos simplesmente prometendo tratar eles bem, não os forçar a fazer algo que não queiram."

"E daí?" Eu disse.

"Eu tenho convidado vampiros para juntar ao meu grupo com a promessa de não os fazer temer, ou de não intimida-los, mas sim, prometendo a eles segurança."

"Como Liv?"

Ele assentiu.

"Como você tem certeza que eles não planejam uma revolta no palácio?" Eu perguntei.

"Sempre tem modos."

"Como ameaçá-los com a necromante." Eu disse.

Ele sorriu. "Certamente."

"Nem todos acreditarão nisso."

"Eu sei que eu não vou." Uma voz disse.


15

Eu me virei para encontrar um novo vampiro. Ele era alto e esbelto, com a pele da cor de lençóis limpos, mas lençóis não tinham músculos se movendo por baixo dele, lençóis não deslizavam enquanto andavam silenciosamente pelo salão. Seu cabelo caía passando de seus ombros, era de um vermelho tão puro que era quase da cor de sangue. A cor gritava contra sua palidez. Ele estava usando um casaco preto, parecido com algo saído dos anos 1.700, mas seu peito brilhava magro e nu dentro dele. A roupa pesada estava quase inteiramente coberta por bordados de um verde tão vivo que brilhava. O bordado combinava com seus olhos. Verdes como olhos de gatos, verdes como esmeralda. Da cintura para baixo ele estava usando uma calça de lycra verde com uma margem. Botas na altura do joelho, pretas, completavam a roupa.

Eu achava que conhecia todos os sanguessugas da cidade, mas havia dois novos em menos de dois minutos. "Quantos novos vampiros estão na cidade?" Eu perguntei.

"Alguns." Jean-Claude disse. "Esse é Damian. Damian, essa é a Anita."

"Eu me sinto idiota nessa roupa." Ele disse.

"Mas você está esplendido, não está, ma petite?"

Eu assenti. "Esplendido é uma das formas de se expressar."

Jean-Claude andou até o novo vampiro, pegando pluminhas imaginárias no casaco dele. "Você não aprova, Anita?"

Eu suspirei. "É apenas que..." Eu encolhi os ombros. "Por que você faz todo mundo a sua volta se vestir como se tivesse acabado de sair de uma fantasia sexual, com roupas todas elaboradas?"

Ele riu, e o som se envolveu em mim, apertando lugares baixos que ele nunca iria poder tocar. "Pare com isso." Eu disse.

"Você gosta, ma petite."

"Talvez, mas pare mesmo assim."

"Jean-Claude sempre teve um senso de moda de matar." Damian disse. "E sexo sempre foi um de seus passatempos favoritos, não é?" Havia algo no jeito que ele disse essa última parte que não soou como um elogio.

Jean-Claude encarou ele. "E ainda assim, com todo esse meu jeito engomado, aqui está você, em minhas terras, procurando por minha proteção."

As pupilas dos olhos de Damian foram tragadas em um fogo verde. "Muito obrigado por ter me lembrado."

"Lembre-se de quem o mestre é aqui, Damian, ou você será banido. O Conselho, pessoalmente, intercedeu com sua antiga mestre, te resgatando dela. Ela não queria desistir de você. Eu falei por você. Eu te resgatei porque eu me lembro do que é ser preso. Do que é ser forçado a fazer coisas que você não quer. Do que é ser usado e atormentado."

Damian parou um pouco reto, mas não olhou para longe. "Você fez seu ponto. Eu estou... grato, por estar aqui." Ele olhou para longe, e então para o chão, e um arrepio correu por ele. "Eu estou feliz por me ver livre dela." Quando ele olhou de volta, seus olhos estavam normais de novo. Ele tentou dar um sorriso, mas ele não alcançou inteiramente seus olhos. "Usar algumas fantasias não é uma das piores coisas que eu já fiz."

Havia uma tristeza em sua voz que me fez querer pedir a Jean-Claude para deixar ele trocar sua roupa, mas não disse nada. Jean-Claude estava andando em uma linha muito fina aqui. Damian tinha por volta de quinhentos anos. Ele não era um mestre, mas ainda assim, ele tinha um tanto bom de poder. Jean-Claude talvez pudesse lidar com Liv e Damian, mas se houvessem alguns a mais, Mestre da Cidade ou não, ele não daria conta do recado. O que quer dizer que esses pequenos jogos de dominância eram necessários. Os outros não podiam esquecer quem o Mestre era, porque uma vez que eles esquecessem, ele estaria acabado. Se ele tivesse pedido por minha opinião, antes de chamá-los, eu teria dito não.

A porta, no lado mais distante, se abriu. Era uma porta preta, em uma parede preta, e parecia quase mágico quando uma mulher saiu de lá. Ela era por volta da minha altura, com ondulados cabelos castanhos na altura da cintura, que estavam caídos pelos ombros, em seu casaco preto na altura dos tornozelos. Ela estava usando calças turquesas de exercícios, com um sutiã esportivo combinando.

Tiras de panos iam da calça ao sutiã, enfatizando sua pequena cintura. Botas pretas de vinil iam até o joelho, com pequenas saliências que cobriam elas.

Ela desceu os degraus e andou pelo chão com um andar que era quase uma corrida. Ela entrou no salão como se fosse dela, ou talvez ela fosse seu próprio salão, sempre confortável, não importa onde.

Ela parou na nossa frente, sorrindo, agradável, seus olhos avelãs mais verdes por causa da tira turquesa ao redor de seu pescoço. "O que você acha?"

"Você está adorável, Cassandra." Jean-Claude disse.

"Você está melhor na sua roupa do que eu na minha." Damian disse.

"Isso é relativo." Eu disse.

A mulher olhou para mim. Seus olhos passaram pelo corpo de Damian. Ela olhou em meus olhos e nós duas rimos.

Damian parecia confuso. Jean-Claude olhou para mim. "Compartilhe seu humor conosco, ma petite, por favor."

Eu olhei nos olhos de Cassandra de novo, dei outra risada e balancei minha cabeça. Eu respirei algumas vezes. Quando eu tive certeza que podia falar sem rir, eu disse, "Humor feminino, você não entenderia."

"Muito diplomática." Cassandra disse. "Estou impressionada."

"Se você soubesse as outras diplomacias que vem de ma petite, você ficaria ainda mais impressionada." Jean-Claude disse. Ele tinha entendido a piada, como se não tivesse dúvida nenhuma.

Damian estava franzindo a testa para nós, ainda confuso. Era simplesmente bom demais.

Jean-Claude olhou de Cassandra para mim. "Vocês duas se conhecem?"

Nós duas balançamos a cabeça juntas.

"Cassandra, Anita. Minha nova loba, conheça a luz da minha vida. Cassandra é um de seus guardas para a noite."

"Você é muito boa. Eu não teria percebido."

Seu sorriso aumentou. "Richard disse que você não sabia que ele era um lobisomem no começo também."

Instantaneamente, uma pequena faísca de ciúmes apareceu. Claro, se ela era uma lobisomem e estava com Jean-Claude, então ela era um dos seguidores de Richard. "Você não estava na reunião."

"Jean-Claude precisava de mim aqui. Ele já estava sem o Jason, ele não conseguiria fazer tudo sem mim também."

Eu olhei para Jean-Claude. Eu sabia o que Jason fazia por ele. Ele se alimentava de Jason quando acordava, e sugar sangue era malditamente perto de sexo para um vampiro. "Mesmo?" Eu disse.

"Não se preocupe, ma petite. Cassandra não divide seu sangue comigo também. Ela e Richard tem muitas similaridades. Eu acredito que Richard a escolheu para mim porque ela tem uma certa semelhança com você também, não apenas física, mas um certoje ne sais quoi."

"Je ne sais quoinão significa nada em francês." Eu disse.

"Significa algo indefinível, que é difícil que colocar em palavras, ma petite. Uma qualidade que transcende o vocabulário."

"Ele fala bonito, não?" Cassandra disse.

"Ele tem seus momentos." Eu disse. "Você não pode sugar Jason toda manhã. Mesmo um lobisomem precisa de um pequeno tempo de recuperação."

"Stephen é um doador."

"Por que Stephen não estava com você noite passada?" Eu perguntei.

"Isso é uma acusação?" Jean-Claude perguntou.

"Apenas responda a pergunta."

"Ele pediu uma noite livre para passar com seu irmão. Quem sou eu para ficar no caminho de obrigações familiares?" Ele me encarou enquanto respondia, como se não estivesse completamente feliz com a conversa. Complicado. Eu também não estava.

O próprio irmão de Stephen tinha traído ele, agindo como uma isca para uma armadilha. Merda. "Onde está Stephen?"

"Ele está na sala de trás." Cassandra disse. "Ele me ajudou a entrar nessa coisa. Eu não conseguia alcançar todas as tiras." Ela tirou o casaco nos ombros e se virou, então eu pude ver suas costas. As tiras formavam várias linhas, a maioria delas em lugares que não dava para arrumar sem ajuda.

Ela colocou o casaco de volta e se virou, olhando para mim. "Você está levando essa coisa de fêmea alfa bem a sério, não é?"

Eu encolhi os ombros. "Eu sou séria quanto a segurança de Stephen."

Cassandra assentiu, seu rosto sério, pensativo. "Eu gosto disso. Algumas vezes, fêmeas alfas apenas pegam a posição. Apenas a palavra de ser a namorada do líder do bando. A maioria delas não são tão ativas quanto Raina."

Ela fez uma cara quando disse o nome dela, como se tivesse sentido o gosto de algo amargo.

Jean-Claude interrompeu. "Eu vou deixar as duas senhoritas conversando. Eu tenho coisas a checar antes que o clube abra." Ele deu um beijo na parte de trás da minha mão e se foi, nos deixando paradas no meio do clube, sozinhas. Damian foi atrás de Jean-Claude como se ele tivesse pedido. Por um momento, eu estava nervosa. Cassandra e eu estávamos em um lugar muito aberto. "Vamos sair daqui." Eu mencionei os degraus que guiavam ao próximo andar. Nós nos sentamos ali, eu tendo que abaixar minha saia enquanto isso. Mesmo isso não ajudava. Eu tive que manter meus pés e joelhos juntos, ou eu teria mostrado mais do que devia ao salão. É a vida.

"Me deixe adivinhar." Eu disse. "Raina quis você em dos filmes dela."

"Ela quer qualquer um que é remotamente atraente para os filmes dela. Se bem que algumas vezes dividir a cama com ela para um teste pode te tirar dali. Ela me ofereceu Gabriel para meu teste. Aquele maldito leopardo não é nem membro do bando."

"Se ele fosse, ela faria dele um líder do bando." Eu disse.

Cassandra balançou sua cabeça. "Gabriel não conseguiria derrotar Marcus, quiçá Richard. Ele é o líder dos homens-leopardos apenas porque não tem nenhum mais forte que ele. Ele é um alfa, mas ele é problemático. Isso o faz ser fraco."

"Perversões sexuais não te fazem sempre perder uma luta." Eu disse.

"Não é isso." Cassandra disse. "Ele gosta de sexo com perigo. Licantropos podem levar muitos danos." Ela arrepiou. "As coisas que ele queria fazer comigo." Ela olhou para mim, e o medo apossou de seus olhos. "Ele disse que você quase destripou ele uma vez enquanto você estava presa no chão."

Eu olhei para longe. "Foi."

Cassandra tocou meu braço, e ali não havia nenhum senso de poder. Ela era tão boa em esconder o que ela era quanto Richard. Ela fazia Sylvie parecer uma amadora. O toque me fez olhar de novo para ela. "Ele quer você, Anita. Eu não contei ao Richard porque, bem, eu sou nova no bando. Cheguei na cidade faz duas semanas. Eu estava com medo de que se eu contasse a ele o que Gabriel disse sobre você, ele talvez fizesse algo estúpido. Mas te conhecendo, talvez contar a você seja o suficiente. Você decide se Richard precisa saber."

Ela parecia tão seria. Me assustou. "O que Gabriel disse?"

Cassandra respirou profundamente. "Ele tem uma fantasia com você. Ele quer te deixar armada, com suas facas, e deixar você tentar matar ele, no filme, enquanto ele te estupra."

Eu encarei ela. Eu queria dizer, você está brincando, mas eu sabia que não estava. Gabriel era simplesmente louco. "Como o filme termina na versão dele?"

"Com você morta." Ela disse.

"Enquanto ele me estupra?" Eu disse.

Ela assentiu.

Eu me abracei, correndo minhas mãos por meus braços, minhas costas tensas, sentindo as armas que eu estava carregando. Eu estava armada. Eu estava segura, mas, porra.

Ela tocou meu ombro. "Você está bem?"

"Oh, isso não é tocante?" A voz de um homem apareceu atrás de nós. Cassandra estava de pé, encarando ele em um instante. Eu deslizei minha mão até a bolsa aberta e peguei a Seecamp. A arma prendeu um pouco no forro da bolsa e me custou alguns segundos tira-la, mas consegui. Eu me senti melhor. Eu me virei no degrau, levantando em um joelho, não me levantando completamente. As vezes, se levantar te faz ser um alvo melhor.

Sabin estava cindo passos de distância de nós. Assustadoramente perto para nenhuma de nós não termos sentido ele ali. Ele estava vestido com o que eu tinha visto no escritório, um casaco com capuz o cobrindo da cabeça aos pés. Eu podia ver por baixo do casaco agora. Não havia nenhum pé. Ele estava flutuando no degrau.

"Eu gostaria que você pudesse ver o olhar em seu rosto agora, Srta. Blake."

Eu engoli meu pulso pela boca e disse, "Eu não sabia que você estaria aqui hoje, Sabin."

Cassandra deu um passo em direção a ele, um suave rosnado saindo de sua garganta. "Eu não conheço você." Ela disse.

"Acalme-se, loba. Eu sou um convidado de Jean-Claude, não sou, srta. Blake?"

"Sim." Eu disse. "Ele é um convidado." Eu parei de apontar a arma para ele, mas não a guardei. Ele tinha que ser muito bom para chegar perto de mim e de uma lobisomem sem termos percebido.

"Você conhece ele?" Cassandra perguntou. Ela ainda estava parada na minha frente, bloqueando o caminho do vampiro. Ela estava levando essa coisa de segurança muito a sério.

"Eu sei quem ele é."

"Ele é seguro?"

"Não." Eu disse. "Mas ele não está aqui para me machucar."

"Quem está aqui para te machucar?" Cassandra perguntou. Ela ainda não tinha se movido nenhum centímetro. Sabin desceu um degrau, seu casaco ondeando em volta dele em um movimento estranho, como mangas em um amputado. "Eu vim para assistir o entretenimento da noite de hoje, nada mais."

Cassandra deu um passo para trás, ficando a um passo na minha frente. Eu fiquei parada, mas com a arma ainda em mãos. Eu estava mais atenta que o normal. Eu também me lembrei de como Sabin tinha me feito sangrar a distância com sua risada. Manter a arma em mãos parecia uma idéia muito boa.

"Onde está Dominic?"

"Em algum lugar por aqui." Seu capuz era um copo de escuridão, liso e vazio, mas eu sabia que ele estava me assistindo. Eu sentia seu olhar como um peso.

Ele ficou em seu degrau, apenas um passo longe de Cassandra, e dois de mim. "Quem é a sua adorável companhia?"

"Sabin, esta é Cassandra, Cassandra, Sabin."

Uma mão com luvas pretas deslizou para fora do casaco. Ele a levou até Cassandra, como se fosse acariciar o rosto dela.

Ela se afastou. "Não me toque."

Sua mão congelou no meio do caminho. Uma quietude tomou conta dele.

Eu já tinha visto outros vampiros com essa total quietude, mas eu achei que era efeito visual. Não havia nenhum efeito em Sabin, esse mesmo vazio fluía para fora. A ilusão era quase melhor dessa forma, como se fosse um casaco vazio de alguma forma, parado nas escadas.

Sua voz saiu daquela imobilidade. Era assombroso. "Meu toque é tão repulsivo?"

"Você cheira a doença e morte."

Sabin recolheu sua mão de volta para o casaco. "Eu sou um mestre visitante. Está em meus direitos pedir por um pouco de... companhia. Eu posso pedir por você, loba."

Cassandra rosnou para ele.

"Ninguém força ninguém a ir para a cama com alguém." Eu disse.

"Você tem certeza disso, srta. Blake?" Sabin perguntou. Ele flutuou em volta de Cassandra. O casaco roçou ela, e ela arrepiou.

Eu não podia cheirar ele, eu não tinha o senso de olfato de um lobisomem. Mas eu tinha visto algo do que estava por baixo do casaco. Valia um arrepio ou dois.

"Cassandra está apenas emprestada para Jean-Claude. Ela pertence ao bando, então sim, eu tenho certeza."

Cassandra olhou para mim. "Você está me protegendo?"

"Faz parte da descrição do meu trabalho agora, não é?"

Ela estudou meu rosto. "Sim, eu acho que é." Sua voz era suave, o rosnado era um sonho distante. Ela parecia terrivelmente normal, exceto pelas roupas.

"Você já viu o que eu sou, srta. Blake. Você teme o meu toque?"

Eu movi para baixo, até que estava no chão. Melhor ali que nas escadas. "Eu apertei sua mão recentemente."

Sabian flutuou no chão. A escuridão sumindo de dentro do capuz. Ele o afastou para revelar seu dourado cabelo e seu rosto estragado.

Cassandra deixou sair um chiado. Ela deu passos para trás até que acertar balaustre. Eu acho que Sabin poderia ter sacado uma arma e atirado em mim nesse segundo, e ela não teria reagido a tempo.

Ele sorriu para ela. Sua bonita boca deixando a carne apodrecida caída. "Você nunca viu nada como isso?"

Ela respirou fundo o suficiente que eu pude ouvir, como se ela estivesse tentando não vomitar. "Eu nunca vi nada tão horrível."

Sabin se virou de volta para mim. Um olho ainda estava claro, em um puro azul, mas o outro havia sumido em uma cavidade de pus e líquidos claros.

Eu dei minha própria respiração funda. "Seu olho estava bom ontem."

"Eu disse que era virulento, srta. Blake. Você achou que eu estava exagerando?"

Eu balancei minha cabeça. "Não."

Sua mão enluvada saiu do esconderijo mais uma vez. Eu me lembrei do jeito que sua mão era quando eu a apertei ontem. Eu não queria que ele me tocasse, mas havia um olhar em seu bonito olho, uma dor no que havia sobrado de rosto, que me fez ficar firme. Eu não iria me encolher. Eu sentia pena dele, era bem idiota, mas era verdade.

Aquela mão enluvada ficou do lado do meu rosto, não me tocando ainda. A Seecamp estava esquecida na minha mão. Os dedos de Sabin roçaram no meu rosto. A luva estava cheia de liquido, como um balão obsceno.

Ele me encarou. Eu encarei de volta. Ele deslizou sua mão pelo meu maxilar e pressionou meu queixo. Havia algo sólido dentro da luva, pedaços, e ossos, mas não era uma mão mais. Apenas a luva dava o formato.

Um pequeno som saiu da minha garganta. Eu não pude impedir.

"Talvez eu devesse pedir por você?" Ele disse.

Eu me afastei devagar de seu aperto. Eu estava com medo de me mover rápido demais. Com medo de um movimento brusco fazer a luva sair de sua mão. Eu não queria ver ele derramando aquele liquido asqueroso. Ele já era um show de horror sem isso.

Sabin não tentou me segurar, talvez ele estivesse com medo da mesma coisa.

"Você está abusando da minha hospitalidade novamente?" Jean-Claude disse. Ele parou na pista de dança, olhando para Sabin. Seus olhos eram de uma pura luz azul. Sua pele estava toda pálida e lisa, como mármore trabalhado.

"Você ainda não me mostrou uma hospitalidade de verdade, Jean-Claude. É costume me oferecer companhia."

"Eu não achei que ainda havia sobrado o suficiente em você para haver essas necessidades." Jean-Claude disse.

O rosto de Sabin ficou em desgosto. "É uma cruel enfermidade. Nem todo meu corpo está apodrecendo. A necessidade continua, mesmo que receptáculo é tão grotesco que ninguém me tocará, não por escolha." Ele balançou sua cabeça e a pele se repartiu em um lado. Algo mais preto e mais denso que sangue trilhou seu rosto abaixo.

Cassandra fez um baixo som. Minha guarda estava prestes a ficar doente. Talvez aquilo cheirasse mal para ela.

"Se alguém dos meus me deixar furioso o suficiente enquanto você estiver em meu território, você poderá ter essa pessoa. Mas eu não darei ninguém à você apenas porque quer. A sanidade de qualquer um não sobreviveria."

"Tem dias, Jean-Claude, que minha própria sanidade é questionável." Sabin olhou de Cassandra para mim. "Poderia quebrar sua loba, eu acho. Mas sua serva, eu acho que ela sobreviveria."

"Ela está fora dos limites para você, Sabin. Se você abusar da minha hospitalidade com tamanho insulto, com consentimento do Conselho ou não, eu irei destruir você."

Sabin se virou para ele. Os dois vampiros se encararam. "Houve um tempo, Jean-Claude, que ninguém falava comigo assim, ninguém abaixo do Conselho."

"Isso foi antes." Jean-Claude disse.

Sabin suspirou. "Sim, antes."

"Você está livre para aproveitar o show, mas não me provoque de novo, Sabin. Eu não tenho nenhum senso de humor quanto se trata de ma petite."

"Você divide ela com um lobisomem, mas não comigo."

"Isso é assunto nosso." Jean-Claude disse. "E nós nunca falaremos sobre isso de novo. Se falarmos, haverá um desafio entre nós dois, e você não está em condições para isso."

Sabin deu um meia reverência, difícil de fazer isso sem pernas. "Você é Mestre da Cidade. Sua palavra é lei." As palavras estavam corretas. O tom era dissimulado.

Liv apareceu e ficou atrás e de um lado de Jean-Claude. "É hora de abrir as portas, Mestre." Eu acho que essa ultima parte foi deliberada. Jean-Claude normalmente evita que seu povo o chame de mestre.

Jean-Claude disse, "Todo mundo em seus lugares então." Sua voz soava estrangulada.

"Eu acharei uma mesa." Sabin disse.

"Faça isso." Jean-Claude disse.

Sabin levantou o capuz de volta no lugar. Ele deslizou novamente pela escada, indo em direção às meses no andar de cima. Ou talvez ele apenas flutuou pelas vigas.

"Minhas desculpas, ma petite. Eu acredito que a doença tem progredido até sua mente. Seja cautelosa com ele. Preciso de Cassandra para o show. Liv substituirá ela."

Eu olhei para a vampira alta. "Ela não levará uma bala por mim."

"Se ela falhar nisso, eu a darei para o Sabin."

Liv ficou mais pálida, o que era um belo feito para um vampiro, até para um que já tinha se alimentado. "Mestre, por favor."

"Agora eu acredito que ela levará uma bala por mim." Eu disse. Se as escolhas fossem dormir com Sabin ou levar um tiro, eu ficaria com o tiro. Pelo olhar no rosto de Liv, ela concordava comigo.

Jean-Claude se foi para fazer sua entrada.

Cassandra encontrou meus olhos. Ela não estava apenas pálida, ela estava verde. Ela parou de olhar em meus olhos, como se estivesse com medo do que eu veria. "Me desculpe, Anita." Ela parecia embaraçada. Não podia culpar ela.

Cassandra havia falhado no teste de segurança. Ela era uma licantropo poderosa, mas Sabin tinha enervado ela totalmente. Ela provavelmente teria ido bem se o vampiro tentasse violência, mas ele só ficou ali apodrecendo para ela. O que você faz quando os monstros começam a ser lamentáveis?

As portas se abriram e a multidão fluiu como ondas, se derramando em um banho de barulhos. Eu guardei a arma na bolsa, mas não a fechei.

Liv estava atrás de mim. "Sua mesa é logo ali." Eu fui com ela porque não queria ficar sozinha naquela multidão empurradora. Além do mais, ela estava levando minha segurança muito a sério de repente. Não podia culpar ela. Sabin e seu corpo doente era uma bela ameaça.Eu teria me sentido melhor se não acreditasse que Jean-Claude realmente faria isso. Mas eu era mais esperta que isso. Ele daria Liv ao Sabin. Ele realmente daria. Havia um olhar nos olhos da vampira que dizia que ela sabia disso também.


16

A mesa era a maior em uma seqüência de pequenas, elas eram envernizadas de preto. Combinava quase perfeitamente com as paredes pretas. Meu vestido combinava com a decoração. Eu realmente precisava olhar para outra coisa de uma cor diferente. A mesa estava longe da parede, próximo ao parapeito, então a multidão crescente não podia bloquear minha vista da pista de dança. Também significava que minhas costas estavam expostas. Eu tinha movido minha cadeira, então minhas costas estavam para a parede agora, mas eu estava bem ciente do canto onde o parapeito se curvava no meu lado direito, onde alguém podia vir por lá e me dar um tiro, relativamente escondido de todo mundo.

Mas é claro, Liv estava comigo. Ela ficou atrás de mim, braços cruzados no estômago. Tudo que ela precisava era um letreiro na sua testa escrito ‘segurança’.

Mas eu confesso, minha bolsa estava aberta. A arma estava ao alcance, e era tentador colocar ela no meu colo. Eu estava assustada, mas esse não é o ponto. Nós tínhamos um plano. O plano não incluía ter o assassino saindo correndo assustado.

Eu toquei o braço de Liv.

Ela se inclinou.

"Você deveria ser discreta."

Ela pareceu confusa. "Eu deveria te manter a salvo."

"Então se sente e finja ser minha amiga. A armadilha não vai funcionar se parecer que estou sendo vigiada."

Ela se ajoelhou do meu lado, alta demais para se inclinar, eu acho. "Eu não arriscarei ser dada ao Sabin. Eu não ligo se o assassino sabe se eu estou aqui ou não."

Era difícil de culpá-la, mas eu iria fazer um esforço. Eu inclinei na direção dela. "Olha, ou siga o sistema ou saia de perto de mim."

"Eu obedeço ao Jean-Claude, não a prostituta dele."

Pelo que eu me lembre, eu nunca tinha feito nada na minha vida que me fizesse merecer ser chamada de prostituta. "Jean-Claude disse que se você falhar nisso, ele te dará ao cadáver podre, certo?"

Liv assentiu. Seus olhos procurando pela multidão. Ela realmente estava tentando fazer seu trabalho, e o esforço era visível.

"Ele não disse que você seria punida se eu fosse machucada, disse?"

Os olhos de Liv se viraram para mim. "Do que você está falando?"

"Se você assustar o atirador e arruinar o plano, isso será falhar."

Ela balançou a cabeça. "Não, não foi isso que ele quis dizer."

"Ele disse para não falhar com ele de novo."

Eu assisti ela trabalhando para entender a lógica. Eu estava apostando que lógica não era o ponto forte dela.

"Esperto, Anita, mas se você acabar sendo morta, Jean-Claude irá punir a mim. Você sabe que ele vai."

Eu estava errada. Ela era muito mais esperta que parecia. "Mas se você estragar nosso plano, ele vai te punir de qualquer forma."

Medo passou por seus olhos. "Eu estou encurralada."

Eu senti pena dela. Pena por dois monstros, não, três monstros, em uma noite. Eu estava perdendo a cabeça. "Se eu não for morta, eu me encarregarei para que você não seja punida."

"Você promete?" Ela disse a frase como se significasse mais. Dar a sua palavra não era uma coisa casual para ela. Um monte de vampiros vinham do tempo que a palavra de um homem ou de uma mulher era sua honra.

"Eu te dou minha palavra."

Ela continuou ajoelhada por mais um momento e então se levantou. "Tente não ser morta." Ela foi em direção a multidão, me deixando sozinha, como eu pedi.

O resto das mesas se encheram rapidamente. A multidão se esparramou pelos cantos do lugar, em volta da pista de dança. Tantas pessoas paradas por lá, que se a mesa fosse perto da parede, eu teria perdido de vista a pista. Em outras circunstâncias eu teria apreciado a obediência. Um outro segurança poderia vir pra cá a qualquer momento. Eu estava pronta para ter alguma companhia.

A multidão encheu os dois andares, a maioria em pé. Eu procurei pelo escuro casaco de Sabin, mas não o achei. A pista de dança principal estava intocada. O caminho para ela estava sendo vigiado por uns doze vampiros. Eles tinham quietamente, mas firmemente, mencionado para todo mundo se afastar para o outro lado da pista.

Ambos, homens e mulheres, estavam vestidos quase de forma idêntica, calças pretas de lycra, botas e camisetas de arrastão pretas. As mulheres vestiam sutiãs pretos por baixo de suas camisetas, mas essa era a única diferença. Eu aprovei. Saias curtas ou shorts para as mulheres teria me deixado puta. Me ocorreu que talvez Jean-Claude havia vestido elas comigo em mente. Ele me conhecia tão bem em algumas coisas e em outras, ele não tinha nem pistas.

Eu olhei pela multidão, procurando Edward e por qualquer coisa suspeita, mas era difícil separar uma pessoa visualmente entre aquele empurrante e risonho pessoal. Eu não podia dar um sinal para Edward. Eu tinha que apenas confiar que ele estava ali, em algum lugar. E ainda que eu confiasse nele para estar lá, o aperto em meu peito não afrouxava.

Edward tinha me avisado para ser casual, não parecer suspeita. Por fora, eu estava tentando. Por dentro, eu estava quase tonta procurando pelas pessoas e olhando para o doloroso e vazio canto da direita, e para quase atrás de mim, onde estava o parapeito. Eu coloquei minhas mãos no colo e me forcei a olhar para baixo. Se o assassino viesse agora, eu não estaria olhando, mas eu tinha que me segurar. Se eu não me segurasse, eu estaria tão ocupada pulando nas sombras, que quando alguma coisa real viesse, eu não estaria preparada. Eu estava começando a querer que eu tivesse deixado Liv ficar aqui.

Eu respirei profundamente várias vezes, concentrando no ritmo do meu próprio corpo. Quando eu pude ouvir o sangue fluindo na minha cabeça, eu levantei meu rosto devagar.

Eu encarei calmamente fora da multidão e da pista de dança. Eu me senti vazia, distante, calma. Muito melhor.

Um vampiro veio do parapeito até em frente a mesa. Willie McCoy estava vestido em um terno de um verde tão horrível que poderia ser chamado de musgo. Ele estava com uma camisa verde e uma grande gravata com o Godzilla destruindo Tókio nela. Ninguém poderia nunca acusar Willie de não combinar cores.

Eu sorri. Eu não pude evitar. Willie era um dos primeiros vampiros que havia cruzado a linha de monstro para amigo. Ele afastou uma das cadeiras para trás, então suas costas estavam para o espaço aberto. Ele se sentou como se não tivesse feito de propósito. Eu não tive que fingir que estava feliz em ver ele.

Ele teve que se inclinar um pouco em minha direção para ser ouvido por cima dos murmúrios da multidão. Eu pude sentir o cheiro da doce essência do creme que ele usou em seu cabelo curto. Ele tão perto assim nem me deixou nervosa. Eu confiava em Willie mais do que eu confiava em Jean-Claude.

"Como cê ta, Anita?" Ele sorriu abertamente, o suficiente para mostrar suas presas. Willie estava morto não tinha nem três anos ainda. Ele era um dos poucos vampiros que eu conhecia quando era vivo e agora.

"Já estive melhor." Eu disse.

"Jean-Claude disse que era pra gente ser seus seguranças, mas era pra parecer casual. A gente se amontoou por aí. Mas você parece com medo."

Eu balancei minha cabeça, sorrindo. "É tão óbvio assim?"

"Para alguém que conhece você, aham."

Nós sorrimos um para o outro. Olhando para o rosto de Willie, a centímetros de distância, eu percebi que ele estava na minha lista. Na lista que Stephen estava. Se alguém matasse Willie, eu iria atrás dessa pessoa. Me surpreendeu perceber que eu tinha um vampiro na lista. Mas Willie estava, e pensando melhor nisso, eu acho um outro vampiro também estava nela.

Jean-Claude apareceu no lado mais distante do clube. Falando no diabo.

Um foco de luz parou nele, vindo de algum lugar. Tinha vindo de algum canto alto, mas estava escondido, então era difícil de dizer. Era um lugar perfeito para o rifle potente. Pára, Anita. Pára de se atormentar.

Eu não tinha me dado conta de verdade do tanto de gente que estaria ali na inauguração. Para Edward mesmo, procurar um só assassino nessa massa de pessoas seria um saco. Talvez os lobisomens e vampiros eram amadores, mas ter seus olhos extras não iria machucar.

As luzes começaram a diminuir, até que a única iluminação estava em Jean-Claude. Ele parecia brilhar. Eu não tinha certeza se era um truque ou se ele estava fazendo sua própria luz sair de seu corpo. Difícil de dizer. De qualquer forma, eu estava no escuro com um assassino, talvez, e eu não era uma pessoa feliz.

Foda-se. Eu coloquei a Seecamp no meu colo. Muito melhor. Não perfeito, mas melhor. O fato que apenas o toque da arma na minha mão me fez me sentir melhor, provavelmente era um mal sinal. O fato que eu sentia falta das minhas outras armas, era pior ainda.

Willie tocou meu ombro e me fez pular, o suficiente para fazer algumas pessoas perto de nós nos olharem. Merda.

Ele sussurrou. "Eu estou vigiando suas costas. Calma."

Willie seria um ótimo soldado de primeira fila, mas ele não estava em altura de me proteger. Ele era um pouco jogador quando morreu, e morrer não mudou isso. Eu percebi que se o atirador viesse e os caras maus estivessem usando balas de prata, eu ficaria preocupado com Willie. Se preocupar com seu segurança não é bom.

A voz de Jean-Claude surgiu na escuridão, a enchendo com um som que acariciou minha pele. Uma mulher parada perto da mesa se arrepiou, como se tivesse sido tocada. O cara que estava com ela colocou seu braço em volta dos ombros dela, e eles se abraçaram no escuro, rodeados pela voz de Jean-Claude.

"Bem vindos ao Dança Macabra. A noite será cheia de surpresas. Algumas assombrosas."

Dois focos de luz acertaram a multidão. Cassandra apareceu equilibrando no parapeito do segundo andar. Ela tirou seu casaco, mostrando seu corpo, andando pela mesa de bar como se fosse o chão, quase dançando. Vários aplausos começaram.

A segunda luz acertou Damian no primeiro andar. Ele deslizou para fora da multidão, movendo o casaco bordado em volta dele como se fosse uma pequena capa. Se ele sentia bobo com a roupa, não aparentava.

Ele se moveu pelas pessoas com a luz o seguindo.

Ele tocou seu ombro ali, correndo suas mãos pelo seu cabelo na altura da cintura, colocando seus braços na cintura de uma mulher. Cada um, homem ou mulher, não parecia se importar. Eles se inclinavam contra ele ou sussurravam em seu ouvido. Ele foi até uma mulher com um longo cabelo castanho repartido ao meio. Ela estava vestida bastante simples em meio a multidão. Saia de negócios azul clara com uma jaqueta. Sua blusa branca tinha um daqueles laços grandes que eram para parecer uma gravata, mas nunca parecia. Em relação as mulheres em volta de Damian, ela parecia a mais normal.

Ele a abraçou tão perto que seu corpo roçou no dela. Ela se afastava de cada toque, seus olhos tão abertos de medo que eu podia ver, mesmo do outro lado do salão.

Eu queria dizer, "Deixe ela em paz", mas eu não queria gritar. Jean-Claude não permitiria nada ilegal, pelo menos não na frente de tantas testemunhas. Enfeitiçar um grupo de pessoas não era ilegal. Hipnose em massa não era permanente. Mas um por um, era. O que quer dizer que Damian poderia parar na janela de uma mulher e a chamar para ir na noite escura, sem limite de tempo.

Willie estava inclinado para frente em sua cadeira, seus olhos escuros na mulher e em Damian. Ele não parecia estar procurando por assassinos nesse momento.

Eu assisti o rosto da mulher ficar branco, sem expressões, até que ela parecia estar quase adormecendo. Seus olhos vazios encaravam Damian. Ele pegou na mão dela e a guiou contra o parapeito. Ele rolou suas duas pernas por cima dele, terminando em pé, ainda segurando a mão dela. Ela tomou dois passos hesitantes na inclinação do parapeito.

Ele colocou as mãos dele na cintura dela, por baixo da jaqueta, e a levantou no ar, sem esforço, a colocando na pista de dança, em seus sensíveis sapatos fechados.

As luzes em Jean-Claude e Cassandra morreram até que a única luz estava em Damian e na mulher. Ele a guiou até o centro da pista de dança. Ela andou olhando apenas para ele, como se o resto do mundo não existisse mais.

Droga. O que Damian estava fazendo era ilegal. A maioria do público não iria perceber. Vampiros podiam usar seus poderes para propósitos de entretenimento, assim como a mídia, se eles concordassem, estaria tudo bem. Mas eu sabia a diferença. Eu sabia a lei. Jean-Claude deveria saber que eu reconheceria o que estava acontecendo ali. Ela era uma atriz? Fazia parte do show?

Eu me inclinei até Willie, perto o suficiente para encostar no terno em seu ombro. "Ela é uma atriz?"

Ele virou seus olhos para mim, e eu vi que suas pupilas tinham sido engolidas por seus olhos castanhos. Profundamente naquele escuro túnel, havia um sinal de fogo.

Eu respirei fundo e me afastei dele, feliz em ter uma arma no meu colo. "É real, não é?"

Willie lambeu seus lábios nervosamente. "Se eu disser que sim, você vai fazer uma bagunça com o show. E Jean-Claude ficará bravo comigo. Eu não quero ele bravo comigo, Anita."

Eu balancei minha cabeça mas não discuti com ele. Eu já tinha visto o que Jean-Claude fazia com vampiros que o deixavam nervoso. Tortura é pouco. Eu tinha que descobrir o que estava acontecendo, mas sem ferrar as coisas e chamar mais atenção para mim do que eu queria.

Damian parou a mulher no centro da luz. Ele focou em seu rosto, em algo que nós não podíamos ver. Ela ficou parada ali, vazia e aguardando seus comandos. Ele parou atrás dela, a abraçando pela cintura, roçando sua bochecha contra a dela. Ele desfez o laço no pescoço dela, e desabotoou os três primeiros botões da blusa. Ele roçou seus lábios pelo pescoço exposto da mulher, e eu não agüentei mais. Se ela fosse uma atriz, tudo bem, mas se ela fosse uma vítima, isso tinha que parar.

"Willie?"

Ele se virou para mim devagar, relutante. Sua fome o fez querer assistir aquilo. O medo do que eu perguntaria o fez ficar mais lento.

"O que?"

"Vá dizer a Jean-Claude que o show acabou."

Willie balançou sua cabeça. "Se eu sair do seu lado e você for morta, Jean-Claude vai me matar. Devagar e dolorosamente. Eu não sairei do seu lado até que eu deva."

Eu suspirei. Ótimo. Eu me inclinei no parapeito e mencionei para um dos vampiros criados virem até mim. Ele olhou pela escuridão como se ele pudesse ver Jean-Claude, mesmo eu não podendo, e então andou até mim.

"O que é?" Ele sussurrou. Ele se inclinou perto o suficiente para que eu pudesse sentir seu hálito de menta. Quase nenhum vampiro que eu conhecia usava pastilhas de menta.

Eu ainda estava com a Seecamp na minha mão. Eu percebi que eu podia me permiti chegar perto do novo morto, então eu me inclinei e sussurrei de volta. "Ela é uma atriz?"

Ele olhou de volta para o pequeno quadro. "Apenas uma voluntária da audiência."

"Ela não é uma voluntária." Eu disse. Ali havia meia dúzia de pessoas que iria se voluntariar, mas o vampiro havia escolhido a que estava com mais medo. Aquele pequeno pedaço extra de sadismo - eles não conseguiam resistir.

"Diga a Jean-Claude que se ele não parar isso, eu vou."

Ele apenas piscou para mim.

"Apenas faça isso." Eu disse.

Ele andou pelos cantos da pista de dança, se perdendo no escuro. Eu podia meio que seguir ele, mas era mais uma impressão de movimento do que outra coisa. Eu não podia ver Jean-Claude de nenhuma forma.

Damian passou sua mão por cima do rosto da mulher, e quando ele tirou sua mão, ela piscou, acordando finalmente. Suas mãos foram para sua blusa, seus olhos frenéticos. "O que aconteceu?" Sua voz estava preocupada, fina com medo.

Damian tentou pegar ela em seus braços, mas ela se afastou, e tudo que ele pegou foi seu braço. Ela endureceu contra ele, e ela a segurou levemente. "Me solta, me solta, por favor!" Ela estendeu o braço para alguém na multidão. "Me ajuda!"

A multidão tinha ficado silenciosa, silenciosa o suficiente que eu pude ouvir a voz de seu suposto amigo, "Aproveite. Faz parte do show."

Damian a puxou para olhar ele, forte o suficiente que deixaria um roxo. Quando seus olhos olharam no dele, seu rosto ficou em branco. Ela cambaleou seus joelhos, ainda sendo segurada em um braço.

Ele a levantou de pé, gentilmente agora. Ele a agarrou contra ele, e colocou o cabelo dela em um lado, expondo uma longa linha do pescoço. Ele se virou em um lento circulo, como se estivessem dançando, mostrando seu pescoço nu para todos.

Willie se inclinou para frente, sua língua dançando pelo seu lábio debaixo, como se ele pudesse sentir o gosto da pele dela já. Willie era meu amigo, mas era bom lembrar que ele também era um monstro.

O vampiro criado estava voltando. Eu pude ver ele vindo na minha direção.

Damian repartiu seus lábios, expondo suas presas. Ele jogou seu pescoço para trás, deixando a vista de todos. Eu vi os músculos do pescoço dele ficarem tensos e estávamos sem tempo.

Willie olhou para cima como se percebesse que a merda estava indo pro ventilador, mas não havia tempo.

Eu gritei, "Não faça isso, Damian." Eu apontei a arma em suas costas, na altura de onde o coração deveria estar. Quando um vampiro tinha mais de 500 anos, um tiro no peito, com balas de prata ou não, nem sempre a morte era garantida. Mas eu juro por Deus que tiraríamos a prova se ele mordesse ela.

Willie estendeu sua mão em minha direção.

"Não, Willie." Eu quis dizer isso. Só porque ninguém mais tinha permissão de matar ele, não quer dizer que eu não podia.

Willie sentou de novo em sua cadeira. Damian relaxou o suficiente para virar sua cabeça e olhar para mim. Ele se virou com a garota na frente dele, como um escudo. O cabelo dela ainda estava de um lado só, seu pescoço ainda exposto. Ele me encarou, correndo um dedo pela pele nua dela. Me desafiando.

Um foco de luz acendeu em mim, e ela me seguia enquanto eu dava cuidadosamente dois passos, descendo os dois degraus em direção a pista de dança. Saltar o parapeito seria melhor, mas era muito difícil manter a mira enquanto pulava. Eu provavelmente poderia acertar ele na cabeça, do parapeito, mas com uma arma não familiar, seria muito arriscado. Eu não queria acertar a mulher acidentalmente na cabeça. Matar o refém sempre era uma coisa desaprovadora.

Os vampiros e vampiras serventes não sabiam o que fazer. Se eu fosse algum babaca saído das ruas, eles talvez teriam tentado pular em mim, mas eu era o amor do mestre deles, o que fazia as coisas um pouco mais complicadas. Eu mantive meio que um olho periférico neles. "Vocês, se afastem agora e me dê mais espaço. Agora."

Eles todos olharam um para os outros.

"Vocês não vão querer ficar perto de mim, garotos e garotas, então se movam!"

Eles se moveram.

Quando eu estava perto o suficiente para me sentir confiante que eu poderia atirar, eu parei. "Deixe ela ir, Damian."

"Ela não será machucada, Anita. Isso é apenas um pouco de diversão."

"Ela não quer. Isso é contra a lei, mesmo para propósitos de entretenimento, então deixe ela ir ou eu vou explodir essa sua maldita cabeça."

"Você realmente iria atirar em mim na frente de todas essas testemunhas?"

"Pode apostar." Eu disse. "E além do mais, você tem mais de 500 anos. Eu acho que um tiro na sua cabeça não vai te matar, não permanentemente pelo menos. Mas vai doer um inferno, e talvez te deixe cicatrizes. Você não vai querer estragar esse lindo rosto, vai?" Eu estava ficando cansada de manter meu braço levantado. Não era que a arma era pesada, mas era difícil manter a pose de uma mão por muito tempo, sem começar a vacilar. Eu não queria vacilar.

Ele me encarou pelo tempo de uma batida de coração. Ele bem cuidadosamente, bem devagar, lambeu o lado do pescoço da mulher, seus estranhos olhos verdes me encarando o tempo todo. Era um desafio. Se ele pensou que eu estava blefando, ele desafiou a garota errada.

Eu deixei minha respiração sair até que meu corpo se acalmasse, e eu pude ouvir o pulso em meu ouvido. Eu posicionei meu braço, minha arma, e... ele tinha sumido. Ele se moveu tão de repente que me sobressaltou. Eu tirei meu dedo do gatilho e apontei a arma para cima, esperando meu coração acalmar.

Ele estava posicionado no canto da luz, deixando a mulher com rosto vazio, esperando. Damian me encarou.

"Você vai interromper nosso entretenimento toda noite?" Ele perguntou.

"Eu não gosto disso," eu disse, "mas escolha um voluntário, e eu não vou implicar com você."

"Um voluntário." Ele disse, se virando em circulo para ver a audiência. Todos encararam ele. Ele lambeu seus lábios, e suas mãos começaram a subir.

Eu balancei minha cabeça e mirei nele. Eu peguei a mão da mulher. "Liberte ela, Damian." Eu disse.

Ele olhou de volta para ela e a libertou. Seus olhos se abriram, bem abertos, procurando freneticamente como se alguém tivesse acordado ela de um pesadelo e tinha descoberto que era real. Eu apertei sua mão.

"Está tudo bem. Você está segura agora."

"O que aconteceu? O que aconteceu?" Ela viu Damian e começou a soluçar histericamente.

Jean-Claude apareceu no canto da luz. "Você não tem porque nos temer, senhorita." Ele deslizou em nossa direção.

Ela começou a gritar.

"Ele não vai te machucar." Eu disse. "Eu prometo. Qual seu nome?"

Ela continuou gritando. Ela era mais alta que eu, mas eu toquei seu rosto, colocando uma mão em cada lado dela, forçando ela a me olhar. "Qual seu nome?"

"Karen." Ela sussurrou. "Meu nome é Karen."

"Nós vamos sair dessa pista de dança, Karen, e ninguém vai machucar você. Você tem a minha palavra."

Ela assentiu, de novo e de novo, sua respiração vindo tão rápida que eu estava com medo de que ela fosse passar mal.

Cassandra entrou na luz, mas se manteve afastada. "Posso ajudar?"

Jean-Claude não tinha se movido desde quando Karen tinha começado a gritar. Ele apenas olhou para mim, e eu ainda não conseguia ler sua expressão.

"Sim." Eu disse. "Eu gostaria de uma ajuda."

Karen se afastou dela. "Ela não é uma vampira." Eu disse.

Ela deixou Cassandra pegar seu outro braço, e nós a guiamos para fora da pista de dança, longe da luz. Jean-Claude parou no meio da pista, e sua voz nos seguiu na escuridão. "Vocês gostaram do nosso pequeno melodrama?" Houve um silêncio confuso.

Sua voz era como pêlo em volta da multidão no escuro, respirando o medo deles, dando a eles desejos reprimidos. "Nós não fingimos aqui no Dança Macabra. Quem gostaria de experimentar a realidade do beijo de Damian?" Alguém iria querer experimentar. Alguém sempre queria. Se alguém poderia salvar o show depois da histeria de uma mulher, esse alguém era Jean-Claude.

Liv veio ajudar, eu acho. Karen deu uma olhada na vampira musculosa e desmaiou. Ela não era uma mulher pequena, e isso surpreendeu Cassandra e a mim. Ela cambaleou no chão. Liv começou a chegar mais perto, mas eu a afastei.

Um mulher saiu da multidão, em direção a nós, hesitante. "Posso ajudar?" Ela perguntou. Ela era quase do mesmo tamanho de Cassandra e do meu, pequena, com longo cabelo vermelho que ia até sua cintura, reto e fino. Ela estava vestida com uma calça marrom escura, daquelas que eram largas e tinham barras, e geralmente eram lisas. Ela usava uma blusa com uma camisola de seda por baixo.

Eu olhei para Cassandra. Ela encolheu os ombros. "Obrigada, se você puder levantar ela..." Cassandra poderia ter colocado a mulher em seus ombros, como um bombeiro carrega as pessoas, mas a maioria dos licantropos não gostavam de mostrar sua força. Eu poderia ter carregado ela também, mesmo ela sendo alta assim. Eu poderia ter carregado ela por uma curta distância, mas não rapidamente, e não para muito longe.

A mulher colocou sua bolsa para um lado e pegou a mulher inconsciente, a deixando em pé. Nós nos movemos um pouco desajeitadas, mas conseguimos pegar um ritmo e Cassandra nos levou para o banheiro. Ou eu devera dizer, ao lounge. A parte da frente tinha um sofá e luzes na parede. Era branco e preto, com um mural na parede que tinha uma xilogravura que eu conhecia bem, intitulado "Demônio do Amor." O demônio nessa versão parecia suspeitamente parecido com Jean-Claude, e eu duvidei que fosse uma coincidência.

Nós deitamos Karen no sofá preto.

A mulher que estava nos ajudando umedeceu alguns papéis de toalha sem ninguém pedir, e trouxe de volta. Eu deitei eles contra a testa de Karen e pescoço. "Obrigada."

"Ela ficará bem?" A mulher perguntou.

Eu não respondi porque tudo dependia de Damian. "Qual seu nome?"

A mulher sorriu quase timidamente. "Anabelle, Anabelle Smith."

Eu sorri para ela. "Anita Blake. Essa é Cassandra." Eu percebi que não sabia seu sobrenome. Jean-Claude sempre chamava seus lobos apenas pelo primeiro nome, como um animal de estimação. "Me desculpe. Eu não sei seu sobrenome."

"Só Cassandra está bem." Ela apertou a mão de Anabelle. Elas sorriram uma para a outra.

"Nós devemos contar para a polícia o que aconteceu?" Anabelle perguntou. "Quero dizer, aquele vampiro ia forçar ela à aquilo. Isso é ilegal, não é?"

Karen virou no sofá, gemendo.

"É, é ilegal." Eu disse.

Anabelle levantou uma interessante questão. Eu poderia reportar isso aos policiais. Se um vampiro adquirisse três reclamações contra ele, ou ela, você poderia conseguir um mandato de morte, se você conseguisse o juiz certo. Eu conversaria com Jean-Claude e Damian primeiro, mas se eles não me dessem as respostas que eu queria, talvez eu fosse até os policiais. Eu balancei minha cabeça.

"No que você está pensando?" Ela perguntou.

"Nada que vale a pena compartilhar." Eu disse.

A porta do banheiro se abriu. Raina passou pela porta vestindo um vestido da cor de creme, tão curto quanto o meu. A meia fina preta e seu salto agulha fazia suas pernas parecerem ser compridas pra caramba. Ela estava usando uma jaqueta peluda com a cor avermelhada, provavelmente era uma raposa. Ela era a única metamorfa que eu conhecia que usava casacos de pele reais, que não fosse do próprio pêlo dela.

Ela colocou seu cabelo ruivo no topo da sua cabeça em um suave coque, com fios soltos curvando artisticamente em volta de seu rosto e pescoço.

Karen escolheu esse minuto para reganhar sua consciência. Eu não tinha muita certeza se ela iria gostar da hora que acordou.

Eu sabia que eu não gostei.

Eu me levantei. Cassandra se moveu na minha frente e um pouco do lado, não me bloqueando, mas perto o suficiente para levar o dano que eu levaria. Eu não estava acostumada com alguém me guardando. Eu me senti estranha. Eu podia tomar conta de mim mesma. Esse era o ponto, não era?

"O que está acontecendo?" Anabelle perguntou.

Karen estava olhando em volta, seus olhos bem abertos novamente. "Onde eu estou?"

"Anabelle, você pode se sentar com Karen, por favor?" Eu sorri quando perguntei, mas eu não tirei meus olhos de Raina. A porta estava fechada atrás dela, e não havia espaço o suficiente para manobras, não de verdade. Se Cassandra pudesse segurar ela por pelo menos uns segundos, eu poderia pegar minha arma, mas de alguma forma, eu não achei que Raina tinha vindo para uma briga. Eu acho que ela teria usado sapatos diferentes para isso.

Anabelle se sentou no sofá e literalmente segurou a mão de Karen. Mas ela estava assistindo o resto de nós. Inferno, é melhor que o show daqui de dentro seja melhor do que o de fora.

"O que você quer, Raina?" Eu perguntei.

Ela deu um sorriso aberto com sua boca carnuda, sem batom, e com brancos dentes. "É o quarto das garotas, não é? Eu vim para retocar a maquiagem. E para ver como nossa assustada convidada está."

Ela deu dois passos para frente, e Cassandra se moveu na frente dela, bloqueando o caminho. Raina encarou para baixo, para ela. "Você está perdendo a cabeça, loba." Sua voz segurava um tom baixo de rosnado.

"Não estou perdendo nada." Cassandra disse.

"Então dê um passo para o lado." Ela disse.

"O que você quer dizer com ‘nossa convidada’?" Eu perguntei.

Ela sorriu para mim. "Eu sou a parceira de Jean-Claude nessa pequena iniciativa. Ele não te disse?"

Pelo olhar no rosto dela, ela sabia minha resposta e gostava dela.

"Eu acho que ele esqueceu de mencionar." Eu disse. "Por que você não fez parte do show, então?"

"Eu sou uma parceira silenciosa." Ela disse.

Ela deu um passo em direção a Cassandra, seu corpo roçando no da pequena mulher. Ela ajoelhou no sofá. "Como você está se sentindo, minha querida?"

Karen gaguejou. "Eu apenas quero ir pra casa."

"Claro que quer." Ela olhou para nós e sorriu. "Se alguma de vocês puder me ajudar a levantar ela, há um táxi esperando ela para leva-la para onde ela quiser, por conta do clube. Ou você quer ir embora com seus amigos?"

Karen balançou sua cabeça. "Eles não são meus amigos."

"Você é esperta por ter percebido." Raina disse. "Tantas pessoas colocam sua confiança nas pessoas erradas." Ela me encarou quando disse a ultima parte. "E eles acabam saindo machucados, ou pior."

Anabelle se afastou de Raina. Ela estava encarando todas nós, segurando sua bolsa. Eu acho que ela não entendia tudo que tínhamos dito, mas era óbvio que ela não estava tendo um bom tempo. Uma boa ação e ela já estava sendo punida.

"Você pode levantar? Por que não me ajuda?" Raina perguntou à Anabelle.

"Não, deixe Cassandra te ajudar." Eu disse.

"Com medo que eu coma sua nova amiga?"

Eu sorri. "Você come qualquer coisa que não consegue fugir. Todos nós sabemos disso."

Seu rosto ficou mais duro, raiva passando pelos seus olhos castanhos âmbares. "No final, Anita, nós veremos quem come o que." Ela ajudou a mulher a se levantar.

Cassandra sussurrou, "Jean-Claude me disse para te guardar."

"Confira se ela entrou no táxi que realmente a levará para casa. E então você pode me seguir por aí pelo resto da noite, ok?"

Cassandra balançou a cabeça. "Jean-Claude não vai gostar disso."

"Eu não estou muito feliz com ele também." Eu disse.

"Um pouco de ajuda aqui." Raina disse.

Cassandra suspirou, mas pegou o outro braço de Karen, e elas ajudaram Karen a passar pela porta. Quando a porta se fechou atrás delas, Anabelle deixou sair um longo suspiro. "O que está acontecendo?"

Eu me virei para o espelho iluminado, deitando minhas mãos na pia. Eu balancei minha cabeça. "É uma longa história, e quanto menos você souber, mais segura você estará."

"Eu tenho que confessar que eu tive um motivo escondido." Eu assisti ela pelo espelho e ela parecia embaraçada. "Eu não ajudei vocês apenas pela bondade do meu coração. Eu sou uma repórter, autônoma. Uma matéria com a Executora realmente iria me colocar no mercado. Eu quero dizer, eu poderia ter um nome da praça, principalmente se você me explicar o que aconteceu aqui."

Eu balancei minha cabeça. "Uma repórter. Não é exatamente o que eu preciso hoje a noite."

Anabelle veio atrás de mim. "Tudo foi de verdade na pista de dança, não foi? Aquele vampiro, Damian, não é? Ele iria realmente morder ela, ali, como se fosse parte do show."

Eu olhei o rosto dela pelo espelho. Ela estava vibrando de ansiedade. Ela queria me tocar. Você podia ver as mãos dela mexendo, nervosas. Seria uma grande história se eu colaborasse. Iria dar uma lição em Jean-Claude se eu fizesse isso.

Algo apareceu nos olhos de Anabelle. Uma parte do brilho sumiu.

Muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Anabelle sacudiu minha bolsa, a alça dela quebrou, ela deu uma passo para trás, e tirou uma arma do coldre de calça dela, que ela estava vestindo. A porta se abriu, e três mulheres rindo entraram. A mulher gritou.

Anabelle olhou para a porta por apenas uma batida de coração. Eu peguei minha faca e me virei. Eu não tentei dar dois passos até ela. Eu me abaixei em um joelho e confiei meu corpo em uma linha, com a faca na frente.

A faca entrou por cima de seu estômago. A arma dela se movendo em minha direção. Eu usei minha mão esquerda para afastar ela. O tiro foi perdido, rachando o espelho. Eu enfiei a faca mais para cima, sob seu esterno, enfiei até que o punho encontrasse carne e osso, e enfiei a lamina para cima e lados.

Sua mão teve convulsões na arma e outro tiro acertou o chão com carpete. O silêncio fazia cada tiro parecer abafado, quase sem contraste.

Ela caiu de joelhos, seus olhos bem abertos, sua boca abrindo e fechando. Eu corri minha mão pelo braço dela e tomei a arma dela. Ela piscou para mim, seus olhos não acreditando, e então ela caiu abruptadamente, como se cordas tivessem sido cortadas. Ela se remexeu duas vezes e morreu.

Edward estava na porta, arma em mão, apontando. Ele encarou de mim para o cadáver fresco. Ele viu a faca ainda saliente no peito da mulher, a arma com silenciador na minha mão. Ele relaxou, apontando a arma no chão. "Que belo segurança eu seria, deixando você ser encurralada em um banheiro feminino."

Eu olhei ele. Eu me senti adormecida, distante com o choque. "Ela quase me pegou." Eu disse.

"Mas ela não conseguiu." Ele disse.

Eu ouvi vozes masculinas gritando. "Polícia! Todo mudo fique onde está. Nós vamos checar as coisas."

"Merda." Eu disse suavemente e com sentimento. Eu deitei a arma de Anabelle do lado do corpo dela e me sentei no carpete. Eu não tinha certeza se conseguia me levantar agora.

Edward guardou sua arma e passou de novo pela porta, se juntando a multidão que estava agrupada para ver o show. Apenas outra parte da multidão anônima. É, certo.

Eu sentei ali com o cadáver e tentei pensar em algo para dizer aos policias. Eu não tinha certeza se a verdade era uma opção agora. Eu estava começando a imaginar se eu veria uma cadeia pelo lado de dentro hoje a noite. Assistindo o sangue ensopar a frente da roupa de Anabelle, parecia que eu veria.


17

Eu estava sentada em uma cadeira reta no escritório de Jean-Claude, no Dança Macabra. Minhas mãos estavam algemadas atrás de mim. Eles não me deixaram lavar o sangue da minha mão direita, e ele tinha secado em uma pegajosa substância. Eu estava acostumada a ter sangue seco em mim, mas ainda assim, era desconfortável. Os oficiais uniformizados haviam me tomado minha outra faca, e haviam achado a Seecamp na minha bolsa. Eles não tinham achado a faca grande no coldre em minha coluna. Deveria ter sido uma busca descuidada para não terem visto uma faca mais comprida que meu antebraço, mas o uniformizado que fez isso, presumiu que eu era outra vitima. Ele ficou perturbado quando descobriu que aquela bonita e pequena mulher era uma assassina. Ah, me desculpe, acusada de assassinato.

O escritório tinha paredes brancas, carpete preto, uma mesa que parecia como um ébano esculpido. Havia um vermelho lacquer screen, com um castelo preto em cima de uma montanha preta. Havia uma moldura com um kimono na parede mais distante, vermelho com preto, e com bordados azuis. Duas pequenas molduras seguravam leques: um em branco e preto com o que parecia um chá cerimonial pintado nele, o outro era azul e branco com um bando de pássaros. Eu gostava mais de pássaros, e eu tive um bocado de tempo para fazer essa escolha.

Alguns dos uniformizados ficaram comigo na sala o tempo todo. Eles beberam café e não me ofereçam. O mais jovem teria tirado minhas algemas, mas seu parceiro havia praticamente ameaçado acabar com ele se ele fizesse isso. Esse parceiro tinha cabelos cinzas com olhos tão frios e vazios quanto os de Edward. O nome dele era Rizzo. Olhando para ele, eu estava feliz por ter colocado a arma no chão antes dele entrar no banheiro.

Por que, você perguntaria, eu não estou na estação policial sendo questionada?

Resposta: A mídia tinha nos ilhado. Quatro uniformizados conseguiram controlar o trafego e manteve a mídia longe de assediar qualquer um, até que eles ouviram pedaços da história. De repente, haviam câmeras e microfones por todos os lados, como cogumelos depois da chuva. O uniformizado chamou por ajuda e isolaram a cena do crime, e o escritório. Todo o resto estava coberto por câmeras e microfones.

Havia um detetive de homicídios parado quase como uma aparição, na verdade. Detetive Greely tinha por volta de seis pés de altura, com ombros tão largos que parecia um armário. A maioria das pessoas negras não eram verdadeiramente negras, mas Greeley estava perto. Seu rosto era tão escuro que ficava roxo com as luzes. Seu cabelo curto acinzentado parecia lã. Mas branco, preto ou marrom, seus olhos escuros eram neutros, secretos, olhos de policial. Seu olhar dizia que ele tinha visto de tudo e não estava impressionado com essas coisas. Ele certamente não estava impressionado comigo. De tudo, ele parecia entediado, mas eu era mais esperta que isso. Eu já tinha visto Dolph com esse mesmo olhar antes dele saltar em alguém e arrancar o álibi dessa pessoa.

Sendo que eu não tinha nenhum álibi, eu não estava preocupada com isso. Eu tinha dito a eles minha história antes deles lerem meus direitos. Depois das encaradas de Greely, tudo que eu disse era que eu queria um advogado. Eu estava começando a soar como um disco furado, até para mim.

O detetive pegou uma cadeira, então ele estava sentado me encarando. Ele até mesmo estava meio abaixado tentando não ser tão intimidante. "Se tivermos um advogado aqui," Greeley disse, "nós não poderemos te ajudar mais, Anita."

Ele não me conhecia bem o suficiente para me chamar pelo primeiro nome, mas eu deixei pra lá. Ele estava fingindo ser meu amigo. Eu era mais esperta que isso. Policiais nunca são seus amigos se eles suspeitam que você matou alguém. Conflito de interesses.

"Isso soa como um claro caso de auto-defesa. Me diga o que aconteceu, e tenho certeza que poderemos chegar a um acordo."

"Eu quero meu advogado." Eu disse.

"Uma vez que envolvermos um advogado, os acordos vão sair voando pela janela." Ele disse.

"Você não tem autoridade para fazer um acordo." Eu disse. "Eu quero meu advogado."

A pele em volta de seus olhos ficou mais tensa, mas de qualquer outra forma, ele parecia o mesmo, imóvel. Mas eu estava deixando ele puto. Não podia culpar ele.

A porta do escritório se abriu. Greeley olhou para cima, pronto para ficar bravo com a interrupção. Douph entrou no escritório, mostrando seu distintivo. Seus olhos deram o mais curtos dos assentimentos para mim, e então ficaram totalmente sólidos para Greeley.

Greeley se levantou. "Com licença, Anita. Eu voltarei logo." Ele até tentou dar um sorriso amigável. Ele estava colocando tanto esforço na atuação, que era quase uma vergonha eu não estar indo na dele. Além do mais, se ele realmente estava sendo amigável, ele teria tirado minhas algemas.

Greeley tentou levar Dolph para o lado de fora, mas Dolph balançou a cabeça. "O escritório é seguro. O resto do clube não."

"O que isso quer dizer?" Greeley disse.

"Quer dizer que sua cena de crime, completa com a vítima, está sendo mostrada na televisão nacional. Você ordenou que ninguém falasse com a imprensa, então eles tem especulado. Vampiros envolvidos nisso foi a escolha dos rumores."

"Você quer que eu conte a mídia que a mulher atacada por alguém da policia está sendo acusada de assassinato?"

"Você tem três testemunhas dizendo que a Srta. Smith sacou a arma primeiro. Isso é auto-defesa."

"Isso é algo que o Distrito Assistente de Advogados irá decidir." Greely disse.

Engraçado como quando ele estava falando comigo ele podia fazer um acordo. Agora que ele estava falando com outro policial, de repente o ADA era o único que podia fazer acordos.

"Chame eles." Douph disse.

"Simples assim." Greeley disse. "Você quer tirar ela disso?"

"Ela fará uma declaração quando levarmos ela e seu advogado até a estação."

Greeley fez um som rude em sua garganta. "É, ela realmente quer esse advogado."

"Vá falar com a imprensa, Greeley."

"E dizer a eles o que?"

"Que os vampiros não estão envolvidos. Que foi apenas uma coincidência infeliz que fez o assassinato acontecer no Dança Macabra."

Greeley olhou de volta para mim. "Eu quero ela aqui quando eu voltar, Storr. Sem nenhum ato que a faça desaparecer."

"Nós dois estaremos aqui."

Gleerey olhou para mim, toda sua raiva e frustração enchendo seus olhos por um segundo. A máscara amigável sumindo. "Tenha certeza que sim. Os outros talvez podem te querer nisso, mas esse é um caso de homicídio, meu caso." Ele apontou o dedo para Dolph, não o tocando. "Não ferre com isso."

Greeley passou por ele e fechou a porta firmemente. Silêncio denso o suficiente para andar nele, encheu a sala.

Douph colocou uma cadeira na frente da mesa, perto de mim, e sentou me olhando. Ele segurou suas mãos juntas e me encarou. Eu encarei de volta.

"Três mulheres disseram que a srta. Smith sacou a arma primeiro. Ela arrancou sua bolsa fora, então ela sabia onde sua arma estava." Ele disse.

"Eu a mostrei um pouco demais hoje a noite. Minha culpa."

"Eu ouvi sobre você se juntando ao show lá fora. O que aconteceu?"

"Eu tive que vigiar esse show um pouco. A mulher não queria participar. É ilegal usar poderes sobrenaturais para coagir uma pessoa a fazer algo que não quer."

"Você não é uma policial, Anita."

Era a primeira vez que ele me lembrava isso. Normalmente, Dolph me tratava como alguém do seu pessoal. Ele até mesmo me encorajava a simplesmente dizer que eu estava com esquadrão dele, então as pessoas iriam presumir que eu era uma detetive.

"Você está me chutando pra fora do esquadrão, Dolph?" Meu estômago estava apertado quando perguntei. Eu valorizava trabalhar com a policia. Eu valorizava Dolph e Zerbrowski, e o resto dos caras. Machucaria mais do que eu queria admitir, perder tudo aquilo.

"Dois corpos em dois dias, Anita, ambos humanos normais. É muita explicação para o quartel."

"Se eles fossem vampiros ou qualquer outro ser esquisito, todo mundo veria de outra forma, é isso?"

"Puxar uma briga comigo agora não é a melhor coisa a se fazer, Anita."

Nós nos encaramos por um segundo ou dois. Eu olhei para longe primeiro, e assenti. "Por que você está aqui, Dolph?"

"Eu manipulo a mídia com freqüência."

"Mas você deixou Greeley ir falar com a imprensa."

"Você tem que me dizer o que está acontecendo, Anita." Sua voz estava baixa, mas eu sabia pela rigidez em volta de seus olhos, pelo jeito que ele segurava seus ombros, que ele estava bravo. Eu acho que não podia culpá-lo.

"O que você quer ouvir, Dolph?" Eu perguntei.

"A verdade seria bom." Ele disse.

"Eu acho que eu preciso de um advogado primeiro." Eu não iria me arriscar apenas porque Dolph era meu amigo. Ele ainda era um policial, e eu tinha matado uma pessoa.

Os olhos de Dolph se estreitaram. Ele se virou para o uniformizado ainda encostado contra a parede. "Rizzo, vá pegar um café, puro, para mim. O que você quer no seu?"

Café estava a caminho. As coisas estavam melhorando. "Dois tabletes de açúcar, um de creme."

"Vá pegar um para você também, Rizzo, e leve o tempo que precisar,"

O Oficial Rizzo desencostou da parede. "Você tem certeza disso, Sargento Storr?"

Dolph olhou para ele, apenas olhou para ele.

Rizzo levantou suas mãos como se estivesse se rendendo. "Eu não quero que Greeley fique puto comigo por deixar vocês dois sozinhos."

"Vá pegar café, Oficial Rizzo. Eu me responsabilizo se houver algum dano."

Rizzo saiu, balançando sua cabeça, provavelmente pela estupidez dos detetives chefões.

Quando estávamos sozinhos, Dolph disse, "Vire-se."

Eu me levantei e dei a ele minhas mãos. Ele tirou minhas algemas, mas não me revistou de novo. Ele provavelmente presumiu que Rizzo tivesse feito isso.

. Eu não contei a ele sobre a faca que eles deixaram passar, o que iria deixar ele puto quando ele descobrisse mais tarde, mas ei, eu não podia deixar os policias confiscarem todas as minhas armas.

Além do mais, eu não queria ficar desarmada hoje a noite.

Eu me sentei de novo, resistindo a urgência de esfregar meus braços. Eu era a grande-destruidora-de-vampiros-fodona. Nada podia me machucar. É, ta certo.

"Converse comigo, Anita."

"Sem gravações?" Eu perguntei.

Ele me encarou, seus olhos planos e ilegíveis, bons olhos policiais. "Eu deveria dizer não."

"Mas." Eu disse.

"Sem gravações, me diga."

Eu contei a ele. Eu mudei apenas uma coisa: que uma ligação anônima havia me alertado quanto ao contrato em mim. Qualquer outra coisa, além disso, era absolutamente verdade. Eu pensei que Dolph ficaria feliz, mas ele não estava.

"E você não sabe por que alguém colocou esse contrato em você?"

"Por esse tanto de dinheiro, e com esse limite de tempo, não."

Ele me encarou, como se estivesse decidindo que tanto ele iria acreditar em mim. "Por que você não nos contou sobre a ligação anônima antes?" Ele colocou um bocado de estresse na palavra "anônima".

Eu encolhi os ombros. "Hábito, eu acho."

"Não, você queria fazer algo perigoso e chamativo. Em vez de se esconder, você veio pra cá e bancou a isca. Se a atiradora tivesse usado uma bomba, você poderia ter feito um monte de pessoas serem machucadas."

"Mas ela não usou uma bomba, usou?"

Ele respirou profundamente, deixando o ar sair devagar. Se eu não conhece ele tão bem, eu diria que ele estava contando até dez.

"Você teve sorte." Ele disse.

"Eu sei."

Dolph me encarou. "Ela quase te matou."

"Se aquelas mulheres não tivessem entrado naquela hora, eu não estaria falando com você agora."

"Você não parece preocupada."

"Ela está morta. Eu não. O que há para se preocupar?"

"Por esse tanto de dinheiro, Anita, haverá um outro alguém amanhã."

"Já passou da meia noite e eu ainda estou viva. Talvez o contrato será cancelado."

"Por que o limite de tempo?"

Eu balancei minha cabeça. "Se eu soubesse isso, eu talvez soubesse quem colocou essa atiradora atrás de mim."

"E se você descobrir quem está bancando isso tudo com o dinheiro, o que você vai fazer?" Ele perguntou.

Eu encarei ele. Sem gravação ou não, Dolph ainda era um policial. Ele levava seu trabalho muito a sério. "Eu te darei o nome dele."

"Eu queria acreditar nisso, Anita, eu realmente queria."

Eu dei a ele meu melhor olhar inocente, com olhos bem abertos. "O que você quer dizer?"

"Corta essa de garotinha, Anita. Eu te conheço muito bem."

"Certo, mas tanto eu quanto você sabemos que enquanto o dinheiro estiver ali, atiradores vão continuar vindo. Eu sou boa, Dolph, mas ninguém é tão bom assim. Eventualmente, eu perderei. Ao menos que o dinheiro suma. Sem contrato, sem atiradores."

Nós nos encaramos. "Nós podemos te colocar em custódia preventiva de proteção." Dolph disse.

"Por quanto tempo? Pra sempre?" Eu balancei minha cabeça. "Além do mais, o próximo assassino talvez use uma bomba. Você quer arriscar seu pessoal? Eu não."

"Então você vai caçar o cara do dinheiro e matar ele."

"Eu não disse isso, Dolph."

"Mas é isso que você está planejando." Ele disse.

"Não continue fazendo perguntas, Dolph. A resposta não vai mudar."

Ele se levantou, mãos na parte de trás da cadeira. "Não cruze a linha comigo, Anita. Nós somos amigos, mas eu sou um policial em primeiro lugar."

"Eu valorizo nossa amizade, Dolph, mas eu valorizo mais a minha vida e a sua."

"Você acha que eu não posso me cuidar?"

"Eu acho que você é um policial, e isso quer dizer que você tem jogar de acordo com as regras. Lidar com atiradores profissionais pode te fazer ser morto."

Houve uma batida na porta. "Entre." Dolph disse.

Rizzo entrou com uma travessa redonda e três canecas pretas do estilo oriental. Haviam pequenas gravura de café em cada uma. Rizzo olhou de Dolph para mim. Ele olhou minhas mãos sem algemas mas não disse nada. Ele colocou a travessa na mesa mais distante de mim, onde eu não podia alcançar ele.

. Oficial Rizzo parecia mais novo me tratando como uma pessoa muito perigosa. Eu duvidava que ele teria virado suas costas para Anabelle. Se ela não tivesse agarrado minha bolsa, ela poderia ter atirado nas minhas costas. Ah, eu teria visto isso pelo espelho, mas eu nunca teria minha arma na mão a tempo. Eu nunca teria deixado um homem, não importa o quão amigo ou inocente, ficar atrás de mim daquele jeito. Eu cometi o mesmo erro com Anabelle que as pessoas cometiam comigo. Eu vi uma pequena e bonita mulher e subestimei ela. Eu fui uma mulher machista repugnante. E isso quase tinha sido uma falha mortal.

Dolph me entregou uma caneca que estava com um café com uma cor clara. Era demais esperar que o creme fosse natural, mas de qualquer forma, parecia maravilhoso. Eu nunca conheci nenhum café que não fosse maravilhoso. Era apenas sobre o quão maravilhoso ele era. Eu tomei um gole hesitante daquele liquido cheio de vapor e fiz um som ‘hmmmm’ apreciativo. Era café natural com creme natural.

"Feliz em saber que você gostou." Rizzo disse.

Eu olhei para ele. "Obrigada, Oficial."

Ele murmurou e se moveu para se inclinar na outra parede.

"Eu conversei com Ted Forrester, seu caçador de recompensas de estimação. A arma que estava na sua bolsa estava registrada no nome dele." Dolph se sentou de novo, soprando seu café.

Ted Forrester era um dos nomes fictícios de Edward. Ele tinha entrado como objeto de investigação da policia uma vez quando nós terminamos com corpos no chão. Ele era, até o ponto que a policia sabia, um caçador de recompensas especializados em criaturas sobrenaturais. A maioria dos caçadores de recompensas ficavam nos estados ocidentais, onde ainda haviam caçadores de metamorfos. Nem todos deles eram particularmente cuidadosos em saber se o metamorfo que mataram realmente era uma ameaça a alguém. O único critério que alguns estados tinham acontecia depois da morte, o corpo passava por uma certificação médica, para ver se era mesmo um licantropo.

Um teste de sangue era suficiente na maioria dos casos. Wyoming estava pensando em mudar as leis por causa de três mortes ilegais que fizeram pro merecer para entrarem na corte suprema.

"Eu precisava de uma arma pequena o suficiente para caber na bolsa, com um bom poder de fogo." Eu disse.

"Eu não gosto de caçadores de recompensas, Anita. Eles abusam da lei."

Eu soprei meu café e fiquei quieta. Se ele soubesse o quanto Edward abusa da lei, ele teria o prendido a muito tempo atrás.

"Se ele é seu amigo o suficiente para cobrir sua bunda nesse tipo de problema, por que você não mencionou ele antes? Eu não sabia que ele existia até aquele último problema que você teve com aqueles metamorfos caçados."

"Caçados." Eu disse e balancei minha cabeça.

"O que foi?" Dolph perguntou.

"Metamorfos foram mortos e é caça. Pessoas normais são mortas e é assassinato."

"Você simpatiza com os monstros agora, Anita?" Ele perguntou. Sua voz ainda estava calma, estão você poderia pensar que ele estava calmo, mas não estava. Ele estava puto.

"Você está bravo com outra coisa além da contagem de corpos." Eu disse.

"Você está envolvida com o Mestre da Cidade. É assim que você continua conseguindo todas essas informações particulares dos monstros?"

Eu respirei profundamente. "As vezes."

"Você deveria ter me contado, Anita."

"Desde quando minha vida pessoal é assunto da policia?"

Ele apenas me olhou.

Eu olhei para minha caneca de café, encarei minhas mãos. Eu finalmente olhei para cima. Era difícil de olhar em seus olhos, mais difícil do que eu queria que fosse. "O que você quer que eu diga, Dolph? Que eu acho meio embaraçador que um dos monstros é meu namorado? Eu acho."

"Então largue ele."

"Se fosse fácil assim, confie em mim, eu largaria."

"Como eu posso confiar em você para fazer seu trabalho, Anita? Você está dormindo com o inimigo."

"Por que todo mundo supõe que eu estou dormindo com ele? Ninguém além de mim namora alguém e não transa com essa pessoa?"

"Minhas desculpas pela suposição, mas você tem que admitir que um monte de pessoas vão supor a mesma coisa."

"Eu sei."

A porta se abriu e Greeley voltou para dentro. Seus olhos pararam nas algemas perdidas, no café. "Você teve um bom bate papo?"

"Como sua declaração para a imprensa foi?" Dolph perguntou.

Ele encolheu os ombros. "Eu disse a eles que a srta. Blake estava sendo questionada sobre a conexão com a morte local. Disse a eles que nenhum vampiro estava envolvido. Não tenho certeza se acreditaram em mim. Eles ainda querem falar com a Executora. Se bem que a maioria deles estavam chamando ela de namorada do Mestre."

Isso me fez encolher. Mesmo com minha própria carreira, eu iria acabar sendo a Srta. Jean-Claude para a imprensa. Era porque ele era mais fotogênico que eu.

Dolph se levantou. "Eu quero levar a Anita daqui."

Greeley encarou ele. "Eu acho que não."

Dolph colocou seu café na mesa e foi ficar perto do outro detetive. Ele abaixou sua voz, e houve um monte de severos sussurros. Greeley balançou sua cabeça. "Não."

Mais sussurros. Gleerey olhou para mim. "Tudo bem, mas que ela esteja na estação antes que a noite acabe, ou será sua bunda que vai pagar, Sargento."

"Ela estará lá." Dolph disse.

Rizzo estava encarando todos nós. "Você vai levar ela daqui, mas não para a estação?"

Soava acusatório até mesmo para mim.

"Isso é decisão minha, Rizzo." Greeley disse. "Entendeu?" Sua voz rosnava as palavras.

De alguma forma Dolph havia usado seu cargo superior para conseguir o que queria, e Greeley não havia gostado. Se Rizzo queria fazer dele mesmo um conveniente alvo para a raiva de Greeley, por mim tudo bem.

Rizzo se encostou de novo na parede, mas ele não estava feliz com isso. "Entendi."

"Tire ela daqui." Greeley disse. "Tente pelos fundos. Mas eu não sei como vocês vão passar pelas câmeras."

"Nós daremos um jeito." Dolph disse. "Vamos, Anita."

Eu deixei minha caneca na mesa. "O que tá rolando, Dolph?"

"Eu tenho um corpo para você dar uma olhada."

"Uma suspeita de assassinato ajudando um caso. Os outros não ficarão bravos?"

"Eu dei um jeito." Dolph disse.

Eu olhei para ele, olhos bem abertos. "Como?" Eu perguntei.

"Você não vai querer saber." Ele disse.

Eu olhei para ele. Ele olhou de volta. Eu finalmente olhei para longe primeiro. A maioria das vezes quando alguém diz que eu não iria querer saber, significava o contrário. Significava que provavelmente eu precisava saber. Mas de algumas pessoas, eu aceito palavra por palavra disso. Dolph era uma dessas pessoas. "Certo." Eu disse. "Vamos."

Dolph me deixou lavar o sangue seco das minhas mãos, e nós fomos.


18

Eu não sou uma grande tagarela, mas Dolph me fez me sentir assim. Nós dirigimos pela 270 em silêncio, o barulho das rodas na rua e do motor eram os únicos sons. Ou ele tinha desligado seu rádio ou ninguém estava cometendo crimes em Saint Louis hoje a noite. Eu estava apostando que o rádio estava desligado. Uma das coisas boas em ser um detetive da força tarefa é que você não tem que ficar ouvindo o rádio o tempo todo, porque a maioria das chamadas não era problema seu. Se Dolph precisasse saber de alguma coisa, eles sempre poderiam bipar ele.

Eu tentei me segurar. Eu tentei fazer com que Dolph falasse primeiro, mas depois de quase quinze minutos, eu desisti. "Onde nós estamos indo?"

"Creve Coeur."

Minhas sobrancelhas se levantaram. "Isso é um pouco fora de rota para um monstro assassino."

"É." Ele disse.

Eu esperei por mais, mas não havia mais. "Bem, obrigado por ter me dado essa luz, Dolph."

Ele me olhou, e então olhou de volta para a rua. "Nós estaremos lá em alguns minutos, Anita."

"Paciência nunca foi um dos meus fortes, Dolph."

Seus lábios se moveram e ele sorriu. Finalmente, ele riu, um curto e abrupto som. "Eu acho que não."

"Feliz em ter melhorado seu humor." Eu disse.

"Você sempre é boa em fazer os outros rirem quando você não está matando pessoas, Anita."

Eu não sabia o que dizer para isso. Ele estava perto demais da verdade, eu acho. Silêncio encheu o carro, e eu deixei desse jeito. Foi um fácil e amigável silêncio dessa vez, colorido pela risada. Dolph não estava bravo mais. Eu podia agüentar um pouco de silêncio.

Creve Coeur era um antigo bairro, mas não parecia. A idade só era aparente nas grandes casas em longos e inclinados campos. Algumas das casas tinham passagens de carros circulares e quartos para os empregados.

As poucas habitações que estavam aqui e ali, não tinham sempre um grande gramado, mas elas tinham variedades, piscinas, jardins com pedras. Nada de casas pré-fabricadas, nada déclassé.

Olive era uma das minhas ruas favoritas. Eu gostava da mesclação de posto de gasolina, Rosquinhas do Dunkin, lojas de jóias de pronta entrega, negociantes da Mercedes-Benz, e a locadora Blockbuster. Creve Couer não era como a maiorias das áreas de elite, em guerra com os peões. Essa parte da cidade havia abraçado tanto o dinheiro como o comércio, como sair para comprar antiguidades confortavelmente, enquanto leva as crianças pelo drive-in do Mickeys-D’s.

Dolph virou em uma rua entre dois postos de gasolina. Era uma inclinação afiada, que me fez querer usar o freio. Dolph não compartilhava esse meu desejo, e o carro desceu a colina em uma velocidade legal. Bem, ele era da polícia. Sem multas, eu acho. Nós passamos por casas sequênciais que enchiam a estrada como um verdadeiro subúrbio. As casas eram ainda mais distintas, mas os campos tinham diminuído, e você sabia que a maiorias das casas que você tinha passado nunca tiveram quartos para empregados. A rua subia apenas um pouco mais, e então descia. Dolph deu seta enquanto ainda estávamos naquele vale profundo. Uma placa de bom gosto dizia Countryside Hills.

Carros da polícia entupiam as ruas estreitas da subdivisão, luzes piscando na escuridão. Havia um punhado de pessoas sendo afastadas por oficiais da polícia, pessoas com casacos por cima de seus pijamas ou parados com seus roupões bem presos. Esse punhado era pequeno. Enquanto saíamos do carro, eu vi um alguém se movendo em uma casa do outro lado da rua. Por que sair quando você pode espiar no conforto de seu próprio lar?

Dolph me guiou pelos uniformizados e pela fita amarela de não-ultrapasse. A casa que era o centro das atenções era de um andar, com paredes ladrilhadas tão altas como as paredes que formavam e cercavam o terreno. Havia até mesmo um portão de ferro na entrada, bem Mediterrâneo. Exceto pela varanda, a casa parecia um típico rancho suburbano. Havia um caminho de pedras quadradas, com roseiras banhando o jardim.

Focos de luzes enchiam o jardim, deixando cada pétala e folha com sua própria sombra. Alguém havia saído pelos cantos no chão iluminado.

"Você não precisa nem da luz de uma lanterna aqui." Eu disse.

Dolph olhou para mim. "Você nunca esteve aqui então?"

Eu olhei em seus olhos e não pude ler eles. Ele estava me dando olhos policiais. "Não, eu nunca estive aqui. Eu deveria?"

Dolph abriu a porta sem perguntar. Ele guiou o caminho para dentro, e eu segui.

Dolph tem orgulho de não influenciar seu pessoal, deixando eles virem e fazerem suas próprias conclusões. Mas mesmo para ele, ele estava sendo misterioso. E eu não gostei.

A sala de estar era estreita com uma grande TV e um centro de vídeo no fim dela. A sala estava tão cheia de policiais, que mal dava para ficar em pé. Toda cena de crime ganha mais atenção do que precisa. Francamente, eu me perguntava se mais evidencias eram perdidas com o tráfego do que achadas com todas aquelas mãos. Um assassinato pode fazer a carreira de um policial, principalmente se ele pular de um uniforme para uma farda. Ache a evidência ou a pista, brilhe na hora crítica, e pessoas vão te notar. Mas é mais que isso. Assassinato é o ultimato de insulto, a pior última coisa que você pode fazer com outro ser humano. Policiais sentiam isso, talvez mais do que o resto de nós.

Os policiais abriram caminho para Dolph, olhos passando por mim. A maioria dos olhos eram masculinos, e depois do primeiro olhar, a maioria deles continuavam o olhar pelo meu corpo todo. Você conhece esse olhar. Aquele que se o rosto e busto combinavam, eles apenas tinham que ver que as pernas eram tão boas quanto o resto. Funcionava ao contrário também. Mas cada homem que começou pelos meus pés e terminou no meu rosto, perdeu todo o crédito que tinha comigo.

Os corredores curtos guiavam da sala de estar para a sala de jantar, diretamente. Uma porta aberta revelava uma escada com carpete que levava ao porão.

Policiais estavam subindo e descendo a escada como formigas, com pedaços de evidências em sacos plásticos.

Dolph me guiou por um dos corredores, e havia uma segunda sala de estar com lareira. Era menor e mais quadrada, mas a parede mais distante era toda ladrilhada, o que fazia ela ser mais acolhedora, morna. A cozinha estava na esquerda visível em uma porta aberta. A metade da parede era de passagem livre, aberta como uma janela, então você podia trabalhar na cozinha e ainda falar com a pessoa na sala de estar. A casa do meu pai tinha um passagem livre.

O próximo aposento era obviamente novo. As paredes ainda estava com aquele jeito de tinta fresca de construções. Portas de vidro deslizantes estavam na parede do lado esquerdo. Uma banheira de hidromassagem usava a maioria do espaço no chão. Água ainda espalhada em volta dos cantos. Eles terminaram a banheira antes de pintarem o lugar. Prioridades.

Um corredor tão modificado que ainda estava com aqueles plásticos no chão para trabalhadores andarem, guiavam para longe da banheira. Havia um grande banheiro, ainda não terminado, e uma porta fechada no fim dali. A porta era moldada, madeira nova, envernizada. Era a primeira porta fechada que eu tinha visto na casa. Isso era meio sinistro.

Exceto pelos policiais, eu não tinha visto droga nenhuma fora aquilo. Parecia ser uma boa casa de classe média-alta. Uma casa do tipo família. Se eu tivesse andado direto para a matança, eu estaria bem, mas esse tanto de preliminares gelaram meu estômago, me encheram de medo. O que havia acontecido nessa casa legal, com essa nova banheira e lareira? O que havia acontecido que precisavam da minha perícia? Eu não queria saber. Eu queria ir embora antes de algum novo horror. Eu já tinha visto cadáveres o suficiente por uma vida toda.

Dolph colocou a mão na maçaneta. Eu toquei seu braço. "Não é uma criança, é?" Eu perguntei.

Ele me olhou por trás de seus ombros. Normalmente, ele não teria me respondido. Ele teria dito algo oculto como, "Você verá em um minuto."

Hoje ele disse, "Não, não é uma criança."

Eu respirei profundamente pelo nariz e deixei o ar sair pela minha boca. "Bom."

Eu senti o cheiro de paredes úmidas, cimento fresco, e por baixo disso, sangue. A essência de sangue fresco, tênue, logo atrás daquela porta. Como sangue cheira? Algo metálico, quase artificial. Não era demais sentir o cheiro dele. O cheiro não te faz passar mal, o que faz, está junto com ele. Nós todos sabemos no fundo de nós mesmo que sangue é a coisa. Sem ele, nós morremos. Se pudéssemos roubar ele de nossos inimigos, nós estaríamos roubando suas vidas. Havia uma razão que sangue era associado com quase toda religião no planeta. Era uma coisa primordial, e não importa o quão seguro nós fazemos nosso mundo, parte de nós ainda reconhece isso.

Dolph hesitou, sua mão ainda na maçaneta. Ele não me olhou enquanto disse, "Me diga o que você acha da cena, e então eu tenho que te levar de volta para uma declaração. Você entende isso?"

"Eu entendo." Eu disse.

"Se você estiver mentindo para mim, Anita, sobre qualquer coisa disso, me diga hoje a noite. Dois corpos em dois dias gasta muito explicação."

"Eu não menti para você, Dolph." Pelo menos, não muito, eu adicionei mentalmente.

Ele assentiu sem se virar e abriu a porta. Ele entrou primeiro e se virou para olhar meu rosto enquanto eu entrava no quarto.

"O que foi, Dolph?" Eu perguntei.

"Veja você mesma." Ele disse.

Tudo que eu pude ver primeiro foi um carpete pálido cinza e uma cômoda com um grande espelho contra a parede no lado direito. Um grupo de policiais bloqueava minha visão do resto do quarto. Os policiais deram um passo para o lado, dando um assentimento para Dolph. Dolph nunca tirando os olhos de mim, do meu rosto. Eu nunca tinha visto ele tão interessado na minha reação antes. Me fez ficar nervosa.

Havia um corpo no chão. Um homem, posicionado com as pernas e braços esticados, preso nos braços e tornozelos com facas. As facas tinham punhos pretos.

Ele estava deitado no meio de um grande circulo vermelho. O círculo tinha que ser grande para o sangue não sair dele e arruinar tudo. Sangue havia empapado o carpete, estendendo pelo quarto como uma ruína vermelha. O rosto do homem estava virado para o outro lado. Tudo que eu pude ver era um cabelo curto, loiro. Seu peito estava nu, tão cheio de sangue que parecia uma camisa vermelha. As facas seguravam ele no lugar. Não tinham sido elas que haviam matado ele. Não, o que havia matado ele era um enorme buraco na parte debaixo de seu peito, logo abaixo das costelas. Era como uma caverna forrada de vermelho, grande o suficiente para caber minhas duas mãos dentro.

"Eles levaram seu coração." Eu disse.

Dolph me olhou. "Você sabe disso apenas estando na porta?"

"Eu estou certa, não estou?"

"Se você vai tirar o coração, por que não por baixo dele?"

"Se você quisesse que ele sobrevivesse, como em uma cirurgia, você teria que quebrar as costelas e ir pelo caminho mais difícil. Mas eles queriam ele morto. Se tudo que você quer é o coração, ir por baixo das costelas é mais fácil."

Eu andei em direção ao corpo.

Dolph se moveu na minha frente, olhando meu rosto. "O que?" Eu disse.

Ele balançou sua cabeça. "Apenas me diga sobre o corpo, Anita."

Eu encarei ele. "Qual é o seu problema?"

"Nenhum problema."

Era mentira. Algo estava rolando, e não estava entendo. E isso não me faria nenhum bem. Quando Dolph decidia não dividir nenhuma informação, ele não divide, fato.

Havia uma cama do tamanho king-size, com lençóis roxos de cetim e mais travesseiros que você saberia o que fazer com eles. A cama bagunçada, como se tivesse sido usada para mais coisas que além dormir. Haviam manchas escuras nos lençóis, quase pretas.

"Isso é sangue?"

"Nós achamos que sim." Dolph disse.

Eu olhei para o corpo. "Do assassinado?"

"Quando você terminar de olhar o corpo, nós pegarem os lençóis e levaremos ele para o laboratório."

Um indireta para me fazer seguir com meu trabalho. Eu andei em direção ao corpo e tentei ignorar Dolph.

Era mais fácil do que parecia. O corpo meio que roubava a cena. Quanto mais perto eu chegava, mais detalhes eu podia ver, e mais eu não queria ver. Por baixo de todo aquele sangue, havia um peito legal, musculoso mas não muito, que era uma coisa boa. O cabelo estava cortado bem curto, encaracolado e loiro. Havia algo levemente familiar naquela cabeça. Os punhais pretos tinham fios de pratas curvado em volta deles. Eles tinham enfiados na carne, ossos e havia quebrado no meio do percurso.

O circulo vermelho era definitivamente sangue. Símbolos cabalísticos estavam dentro do circulo, traçados em sangue. Eu reconheci alguns deles, o suficiente para saber que estávamos lidando com algum tipo de necromancia. Eu sabia que os símbolos eram para se usar para mortes ou para algo que era contra isso.

Por alguma razão, eu não queria entrar naquele circulo. Eu andei cuidadosamente pelos cantos dele, até que pude ver o rosto. Com minhas costas contra a parede eu encarei aqueles olhos bem abertos de Robert, o vampiro. O marido de Monica. O logo-logo papai.

"Merda." Eu disse suavemente.

"Você conhecia ele?" Dolph disse.

Eu assenti. "Robert. O nome dele é Robert." Os símbolos de morte faziam sentido se você ia sacrificar um vampiro. Mas por que? Por que assim?

Eu dei um passo para frente e acertei o circulo. Eu parei congelada. Era como se um milhão de insetos tivessem andando e rastejando pelo meu corpo. Eu não podia respirar. Eu dei um passo para longe da linha de sangue. A sensação parou. Eu ainda podia sentir a memória na minha pele, na minha cabeça, mas eu estava bem agora.

Eu respirei profundamente, e deixei o ar sair devagar, e dei um passo a frente de novo. Não era como acertar uma parede. Era mais como acertar um vazio, um drenante, sufocante, cheio de vermes rastejantes vazio. Eu tentei andar mais para frente, tentei passar o círculo, mas não pude. Eu cambaleei para longe dele. Se a parede não estivesse ali, eu teria caído.

Eu me deixei deslizar por ela até que estava sentada nos meus calcanhares, meio ajoelhada. Meus pés estavam a centímetros do circulo. Eu não queria tocar aquilo de novo.

Dolph andou pelo circulo como se não estivesse ali e se ajoelhou do meu lado, parte dele ainda no circulo. "Anita, o que foi?"

Eu balancei minha cabeça. "Eu não tenho certeza." Eu encarei ele. "É um circulo de poder, e eu não posso passar por ele."

Ele olhou para seu corpo, atrás dele, parcialmente dentro do circulo. "Eu posso."

"Você não é um animador. Eu não sou uma bruxa, e eu não sei muito sobre magias oficiais, mas alguns dos símbolos são símbolos de morte ou talvez símbolos de proteção para a morte." Eu encarei ele, minha pele ainda arrepiada por tentar passar a linha. Um novo terror passou pela minha mente. "É um feitiço para ambos prender e manter fora a morte, e eu não posso cruzá-lo."

Ele me encarou. "O que isso quer dizer exatamente, Anita?"

"Quer dizer," uma voz feminina disse, "que ela não criou esse círculo."


19

Uma mulher estava parada na porta. Ela era alta, esbelta e estava vestida com uma saia social com uma blusa branca de costura masculina. Ela entrou no quarto com uma ansiedade que me fez tirar uns dez anos de sua idade. Ela parecia ter trinta, mas não tinha. Vinte e alguma coisa, e cheia de si mesma. Provavelmente ela tinha por volta da minha idade, mas havia um brilho jovem nela que eu perdi há anos atrás.

Dolph se levantou, me oferecendo uma mão para me levantar. Eu balancei minha cabeça. "A menos que você queira me carregar, eu não consigo ficar de pé ainda."

"Anita, essa é a Detetive Reynolds." Ele disse. Ele não soava inteiramente feliz com isso. Reynolds andou por volta do canto do círculo como eu tinha, mas ela estava vindo para ter uma visão melhor de mim. Ela terminou do lado oposto de Dolph. Ela olhou para baixo, para mim, sorrindo, ansiosa. Eu encarei ela, minha pele ainda pulando por ter tentado passar pelo círculo.

Ela se inclinou e sussurrou. "Você está mostrando os fundos para o quarto, querida."

"É por isso que minha roupa de baixo combina." Eu disse.

Ela pareceu surpresa.

Não tinha como eu esticar minhas pernas sem tocar o círculo de novo, então se eu quisesse parar de mostrar os fundos para o quarto, eu tinha que levantar. Eu estendi minha mão para Dolph. "Me levante, mas aconteça o que acontecer, não me deixe cair nessa coisa."

Detetive Reynolds pegou meu outro braço sem ser convidada, mas francamente, eu precisava de ajuda. Minhas pernas estavam parecendo espaguetes. No momento que ela me tocou, os pêlos do meu corpo se levantaram com atenção. Eu me afastei dela e teria caído no círculo se Dolph não tivesse me pegado.

"O que foi, Anita?" Dolph perguntou.

Eu me encostei nele e tentei respirar devagar e regularmente. "Eu não agüento mais mágicas nesse momento."

"Pegue uma cadeira para ela na sala de jantar." Dolph disse. Ele não falou com ninguém em particular, mas um uniformizado deixou o quarto, provavelmente para pegar a cadeira.

Dolph me segurou enquanto esperamos. Já que era difícil para mim me manter em pé, era difícil protestar contra isso, mas eu me senti bem idiota.

"O que é isso nas suas costas, Anita?" Dolph perguntou.

Eu tinha me esquecido da faca no coldre das costas. Eu fui salva de ter que responder por um uniformizado trazendo uma cadeira pelo quarto.

Dolph me colocou na cadeira. "A Detetive Reynolds tentou algum feitiço em você?"

Eu balancei minha cabeça.

"Alguém explique o que acabou de acontecer."

Uma nada saudável vermelhidão subiu pelo pescoço pálido de Reynolds. "Eu meio que tentei ler a aura dela."

"Por que?" Dolph perguntou.

"Apenas curiosidade. Eu já tinha lido sobre necromantes, mas nunca tinha conhecido um antes."

Eu olhei para ela. "Se você quiser fazer mais algum experimento, Detetive, peça antes."

Ela assentiu, parecendo mais nova, mais insegura de si mesma. "Me desculpe."

"Reynolds." Dolph disse.

Ela olhou para ele. "Sim, senhor."

"Vá ficar ali."

Ela olhou para nós dois e assentiu. "Sim, senhor." Ela andou até ficar junto com os outros policiais. Ela tentou parecer despreocupada sobre isso, mas ela continuava olhando para nós.

"Desde quando você tem uma bruxa assalariada?" Eu perguntei.

"Reynolds é a primeira detetive na história com habilidades sobrenaturais. Ela teve seu reconhecimento no trabalho. Ela queria se juntar ao nosso esquadrão."

Eu estava feliz em ouvir ele dizer "nosso" esquadrão. "Ela disse que eu não desenhei o circulo. Você realmente pensou que eu tinha feito isso?" Eu apontei para o corpo.

Ele me encarou. "Você não gostava de Robert."

"Se eu matasse todo mundo que eu não gosto, Saint Louis teria pilhas de corpos." Eu disse. "Pra que mais você me arrastou pra cá? Ela é uma bruxa. Ela provavelmente sabe mais sobre esse feitiço do que eu."

Dolph me encarou. "Explique."

"Eu levanto mortos, mas eu não sou uma bruxa treinada. A maioria do que eu faço, é apenas," eu encolhi os ombros, "meio que uma habilidade natural. Eu estudei a teoria básica de magia na universidade, mas foram apenas algumas aulas, então se você quiser detalhes sobre feitiços como esse aqui, eu não posso te ajudar."

"Se Reynolds não estivesse aqui, o que você iria sugerir que fizéssemos?"

"Ache uma bruxa que consegue desfazer o feitiço para você."

Ele assentiu. "Nenhum pensamento sobre quem ou por que?" Ele colocou suas mãos atrás de suas costas.

"Jean-Claude fez de Robert um vampiro. Isso é uma união forte. Eu acho que o feitiço era para evitar que ele soubesse o que aconteceu."

"Robert poderia alertar seu mestre nessa distância?"

Eu pensei sobre isso. Eu não tinha certeza. "Eu não sei. Talvez. Alguns vampiros mestres são melhores em telepatia do que outros. Eu não tenha certeza do quão bom Jean-Claude é nisso com outros vampiros."

"Tudo isso levou tempo." Dolph disse. "Por que matar ele dessa forma?"

"Boa pergunta." Eu disse. Eu tive uma idéia ruim. "É um jeito esquisito de fazer isso, mas isso talvez possa ser um desafio ao controle de Jean-Claude do seu território."

"Como assim?" Dolph estava com seu pequeno bloco de anotações em mãos, caneta posicionada. Era quase como nos velhos tempos.

"Robert pertence a ele, e agora alguém matou ele. Pode ser uma mensagem."

Ele olhou para o corpo. "Mas quem mandou essa mensagem? Talvez Robert deixou alguém bravo e isso é pessoal. Se é uma mensagem para seu namorado, por que não matar ele no clube de Jean-Claude? É onde ele trabalha, certo?"

Eu assenti. "Seja lá o que fez isso, não poderia ter feito algo tão elaborado no clube, com outros vampiros por lá. Sem chance. Eles precisam de privacidade. Eles talvez precisaram do feitiço apenas para manter Jean-Claude ou outro vampiro de vir resgatá-lo."

Eu pensei nisso. O que eu realmente sabia sobre Robert? Não muito. Eu conhecia ele como o lacaio de Jean-Claude.

Como o namorado de Monica, mais recentemente, marido. Um futuro papai. Tudo que eu sabia sobre ele era do ponto de vista de outra pessoa. Ele foi morto em seu próprio quarto, e tudo que eu podia pensar era que era uma mensagem para Jean-Claude. Eu estava pensando nele como um lacaio porque Jean-Claude tratava ele assim. Porque ele não era um vampiro mestre, ninguém iria querer matar ele por sua própria segurança.

Jesus, eu já estava pensando em Robert como um produto no mercado. A gente sempre poderia fabricar mais daquilo.

"Você pensou em alguma coisa." Dolph disse.

"Na verdade não. Talvez eu esteja andando demais com vampiros. Eu estava começando a pensar como um deles."

"Explique." Dolph disse.

"Eu presumi que a morte de Robert estava ligada ao seu mestre. Meu primeiro pensamento foi que ninguém iria matar Robert por sua própria segurança, porque ele não era importante o suficiente para ser morto por isso. Quero dizer, matar Robert não te iria te fazer ser um Mestre da Cidade, então pra que fazer isso?"

Dolph olhou para mim. "Você está começando a me preocupar, Anita."

"Preocupar, diabos," eu disse, "eu estou começando a me assustar." Eu tentei olhar para a cena de crime fresca, não como um vampiro. Quem iria ter todo esse trabalho para matar Robert? Eu não tinha nem uma tênue idéia. "Exceto por isso ser um desafio a autoridade de Jean-Claude, eu não tenho idéia do por que alguém iria querer matar Robert. Eu acho que eu não sei realmente muita coisa sobre ele. Poderia ser um dos grupos da oposição, Humanos Primeiro ou Humanos Contra Vampiros. Mas eles teriam que ter um bom conhecimento de magia e prática, e cada um desses grupos teria tacado uma pedra numa bruxa tão rápido quanto num vampiro. Eles consideram os dois frutos malignos."

"Por que esses grupos iriam caçar esse vampiro em específico?"

"Sua esposa está grávida." Eu disse.

"Outra vampira?" Dolph perguntou.

Eu balancei minha cabeça. "Humana."

Os olhos de Dolph se abriram um pouco.

Era a maior expressão de surpresa que eu já tinha visto nele. Dolph, como a maioria dos policiais, não se abala facilmente.

"Grávida? E o vampiro é o pai?"

"Sim." Eu disse.

Ele balançou sua cabeça. "É, isso poderia ter feito ele ganhar um ponto a menos na ficha desses grupos de oposição. Me fale sobre reprodução de vampiros, Anita."

"Primeiro, eu preciso ligar para Jean-Claude."

"Por que?"

"Avisar ele." Eu disse. "Eu concordo que isso provavelmente foi algo pessoal com Robert. Você está certo. Humanos Primeiro principalmente, não iria matar ele assim, mas só no caso, eu quero avisar Jean-Claude." Eu tive outro pensamento. "Talvez seja por isso que alguém me quer morta."

"O que você quer dizer?"

"Se eles quisessem afetar Jean-Claude, me matar seria um bom jeito de fazer isso."

"Eu acho que meio milhão de dólares é um pouco demais para a namorada de alguém." Ele balançou sua cabeça. "Esse tipo de dinheiro é para algo pessoal, Anita. Alguém teme você, não seu namorado dentuço."

"Dois atirados assassinos em dois dias, Dolph, e eu ainda não sei por que." Eu encarei ele. "Se eu não descobrir isso logo, eu serei morta."

Ele tocou meu ombro. "Nós vamos te ajudar. Policiais são bons para algumas coisas, mesmo se os monstros não falarem com a gente."

"Obrigada, Dolph." Eu dei um tapinha na sua mão. "Você realmente acreditou em Reynolds quando ela disse que eu poderia ter feito isso?"

Ele endureceu e então encontrou meus olhos. "Por um segundo, sim. Depois disso, foi porque eu precisava ouvir minha detetive. Nós contratamos ela para que ela pudesse nos ajudar com as coisas paranormais. Seria estúpido ignorar ela em seu primeiro caso."

Sem mencionar desmoralizante, eu pensei. "Ok, mas você realmente pensou que eu era capaz de fazer isso?" Eu fiz um gesto para o corpo.

"Eu já te vi estacar vampiros, Anita. Eu já vi você decapitando eles. Por que não isso?"

"Porque Robert estava vivo quando cavaram seu peito. Até o momento que eles tiraram seu coração, ele estava vivo. Inferno, quando eles tiraram seu coração, eu não tenho certeza por quanto ele viveu. Vampiros são estranhos com essas feridas mortais. Algumas vezes, eles resistem."

"É por isso que eles não arrancaram sua cabeça? Para ele sofrer mais?"

"Talvez." Eu disse. "Jean-Claude precisa ser avisado, no caso disso ser uma ameaça." Eu repeti.

"Eu pedirei a alguém para ligar."

"Você não confia em mim para contar a ele?"

"Deixa isso pra lá, Anita."

Dessa vez eu fiz o que ele pediu. Há um ano atrás eu não teria confiado em ninguém que namorava um vampiro. Eu teria presumido que essa pessoa era corrupta. As vezes, eu ainda presumo isso. "Certo, apenas ligue para ele agora. Seria ruim desperdiçar tempo enquanto estamos debatendo quem avisa quem."

Dolph fez um gesto chamando um dos uniformizados. Ele escreveu algo em seu bloco, arrancou a página fora, dobrou e deu para um dos uniformizados. "Leve isso para o Detetive Perry."

O uniformizado saiu, a folha em mãos.

Dolph olhou de volta para seu bloco. "Agora, me diga sobre a reprodução de vampiros." Ele olhou para o que tinha escrito no bloco. "Mesmo dizendo, isso parece errado."

"Homens mortos novos ainda tem espermas sobrando de antes de sua morte. Isso é o mais comum. Doutores recomendam que você espere seis semanas para transar com alguém depois de você se tornar um vampiro, é meio como se fosse um pós-vasectomia. Esses bebês normalmente são saudáveis. Ser fértil é uma baita raridade entre vampiros mais velhos. Sinceramente, até ter visto Robert e sua esposa na festa, eu não sabia que vampiros tão velhos podiam fazer bebês."

"Quão velho era Robert?"

"Um século e pouco."

"Vampiras podem engravidar?" Ele perguntou.

"Algumas vezes, com as novas mortas, pode acontecer, mas o corpo sofreria um aborto espontâneo ou reabsorver o bebê. Um corpo morto não pode dar vida." Eu hesitei.

"O que?" Dolph perguntou.

"Houve dois casos registrados de uma antiga vampira dando a luz." Eu balancei minha cabeça. "Não foi bonito, e certamente não foi humano."

"Os bebês sobreviveram?"

"Por um tempo." Eu disse. "O caso que foi melhor documentando foi antes de 1900. Logo quando Sr. Henry Mulligan estava tentando achar uma cura para o vampirismo, no prédio do Antigo Hospital de Saint Louis. Uma de suas pacientes havia dado a luz. Mulligan pensou que isso era um sinal que a vida estava retornando ao corpo dela. O bebê havia nascido com todos os dentes pontudos e tinha sido mais canibal do que vampiro. O Dr. Mulligan carregou uma cicatriz em seu braço desde esse dia até quando morreu, o que foi por volta de três anos depois, quando um de seus pacientes moeu seu rosto."

Dolph encarou seu bloco. "Eu escrevi tudo isso. Mas sinceramente, eu espero que essa seja uma informação que eu nunca precise usar. Eles mataram o bebê, não mataram?"

"Sim." Eu disse. "Antes que você pergunte, o pai não foi mencionado. Pelo que tudo indica, o pai era humano e talvez fosse o próprio Dr. Mulligan. Vampiras não podem fazer bebês sem um parceiro humano, pelo que sabemos."

"Bom saber que humanos são úteis para alguma coisa, além do sangue."

Eu encolhi os ombros. "Pois é." Se bem que o pensamento de dar a luz a uma criança com a grave Síndrome de Vlad me assustava um inferno. Eu nunca planejei fazer sexo com Jean-Claude, mas se eu perdesse minha cabeça, nós definitivamente tomaríamos precauções. Sem sexo espontâneo, ao menos que incluísse camisinhas.

Algo deveria ter aparecido no meu rosto porque ele perguntou, "Uma moeda pelos seus pensamentos."

"Apenas estou feliz em ter meu moralismo, eu acho. Como eu disse, antes de ter visto Robert e sua mulher, eu pensava que vampiros com mais de cem anos eram estéreis. E considerando o tempo que você gasta para manter a temperatura de um corpo alta-" eu balancei minha cabeça "- eu não consigo pensar em como isso pode ser acidental. Mas os dois afirmaram que foi. Ela ainda não tinha nem feito teu reste do líquido amniótico ainda."

"Teste amniótico pra que?" Ele perguntou.

"Síndrome de Vlad." Eu disse.

"Ela é saudável o suficiente para agüentar esse tipo de novidades?" Ele perguntou.

Eu encolhi os ombros. "Ela parece bem, mas eu não sou uma expert. Eu digo que ela não deveria ser avisada por telefone, e provavelmente ela não deveria estar sozinha. Eu apenas, não sei."

"Você é amiga dela?"

Eu balancei minha cabeça. "Não, e nem me peça. Eu não vou segurar a mão de Monica enquanto ela chora pelo marido morto."

"Tudo bem, tudo bem, isso está fora da descrição do seu trabalho. Talvez eu deixe isso para a Reynolds fazer."

Eu olhei para a jovem mulher. Ela e Monica provavelmente se mereciam, mas...

"Jean-Claude deve saber quem são os amigos de Monica. Se ele não souber, eu sei de uma. Catherine Maison-Gillete e Monica trabalham juntas."

"Monica é a advogada?" Dolph perguntou.

Eu assenti.

"Ótimo." Ele disse.

"Que tanto disso você vai contar para Jean-Claude?" Eu perguntei.

"Por que?" Dolph perguntou.

"Porque eu quero saber que tanto eu posso contar pra ele."

"Você não discute casos de homicídio em andamento com os monstros." Ele disse.

"A vitima foi companhia dele por um século. Ele vai querer falar sobre isso. Eu preciso saber o que você vai dizer a ele, para eu não soltar nada por acidente."

"Você não tem problemas em segurar informações de seu namorado?"

"Não de um homicídio. Seja lá o que fez isso, é pelo menos uma bruxa, e talvez algo mais assustador. É provavelmente um dos monstros, de uma forma ou de outra. Então não podemos contar a eles todos os detalhes."

Dolph me olhou firmemente por um tempo e então assentiu. "Não conte a ele sobre o coração ou os símbolos usados no feitiço."

"Ele vai saber do coração, Dolph, ou ele vai adivinhar. Cabeça ou coração, não há muito mais que possa matar um vampiro de um século."

"Você disse que seguraria informações, Anita."

"Eu estou te dizendo o que vai acontecer ou não, Dolph. Segurar dos vampiros a informação sobre o coração não vai funcionar porque eles vão adivinhar. Os símbolos, tudo bem, mas mesmo assim, Jean-Claude vai se perguntar porque ele não sentiu Robert morrer."

"Então o que podemos esconder do seu namorado?"

"Os símbolos exatos que foram usado no feitiço. As facas." Eu pensei nisso por um momento. "Como eles tiraram o coração. A maioria das pessoas ainda vão pelas costelas para arrancar um coração. Todos vêem programas de hospitais na TV e eles não pensam em ninguém fazendo de forma diferente."

"Então se conseguirmos um suspeito, nós perguntaremos a ele como ele arrancou o coração?"

Eu assenti. "Os mais doidos vão começar a falar de estacas. Ou serão vagos."

"Ok." Ele disse. Dolph me olhou. "Se alguém odeia monstros, eu pensei que esse alguém seria você. Como você pode estar namorando um deles?"

Eu olhei em seus olhos, sem me encolher. "Eu não sei."

Ele fechou seu bloco de notas. "Greeley provavelmente está se perguntando onde eu enfiei você."

"O que você estava sussurrando com ele? Eu apostaria dinheiro que ele me seguraria ali."

"Eu disse a ele que você era suspeita de outro caso de assassinato. Disse que eu queria assistir sua reação."

"E ele comprou essa?"

Dolph olhou para o corpo. "Foi perto da verdade, Anita."

Ele me pegou nessa. "Greeley parece não gostar muito de mim." Eu disse.

"Você simplesmente matou uma mulher, Anita. Isso tende a dar uma má impressão."

Ele tinha um ponto. "Eu tenho que ter Catherine comigo na estação policial?" Eu perguntei.

"Você não está em detenção." Dolph disse.

"Eu ainda gostaria de ter Catherine na estação."

"Ligue para ela."

Eu me levantei.

Dolph tocou meu braço. "Espere." Ele se virou para os outros policiais. "Todo mundo espere lá fora por um minuto." Houve alguns olhares, mas ninguém argumentou, eles apenas saíram. Eles todos trabalharam com Dolph antes, e ninguém presente desrespeitava ele.

Quando estávamos sozinhos e a porta estava fechada, ele disse, "Tira isso."

"O que?"

"Você tem um tipo de faca absurda nas suas costas. Vamos dar uma olhada nela."

Eu suspirei e alcancei por baixo do meu cabelo o punho dela. Eu tirei a faca. Me levou um tempo. Era uma faca longa.

Dolph estendeu suas mãos. Eu entreguei ela pra ele.

Ele balançou levemente ela em suas mãos abertas e deu um baixo assovio. "Jesus, o que você estava planejando fazer com isso?

Eu apenas olhei para ele.

"Quem te revistou no clube?"

"O parceiro de Rizzo." Eu disse.

"Vou ter que ter uma conversa com ele." Dolph olhou para mim. "Um ato falho dele não ter visto isso em alguém que provavelmente usaria ela. É a única arma que ele não viu?"

"Aham."

Ele me encarou. "Se incline na cômoda, Anita."

Minhas sobrancelhas se levantaram. "Você vai me revistar?"

"Sim."

Eu pensei em discutir com ele, mas decidi não fazer isso. Não haviam mais armas para achar. Eu me inclinei na cômoda. Dolph deitou a faca na cadeira e me apalpou. Se houvesse algo para achar, ele acharia. Dolph era minucioso em tudo que fazia, metódico. Era uma das coisas que o fazia ser um bom policial.

Eu olhei para ele pelo espelho, sem me virar. "Feliz?"

"Sim." Ele me entregou a arma de novo, pelo punho.

Eu deveria parecer tão surpresa quanto me sentia. "Você está me devolvendo?"

"Se você tivesse mentido para mim sobre ela ser sua última arma, eu teria ficado com ela e com tudo mais que eu achasse." Ele respirou profundamente. "Mas eu não vou tomar sua última arma, não com um contrato em você."

Eu peguei a faca e a devolvi ao seu lugar. Era mais difícil a colocar de volta do que tirar. Eu finalmente usei o espelho para meio que me direcionar.

"Eu vou presumir que essa é uma arma nova." Dolph disse.

"É." Eu joguei meu cabelo por cima do coldre, não era mais visível. Eu realmente teria que praticar mais isso. Era um bom lugar para se esconder coisas, eu deveria usar ele mais frequentemente.

"Mais alguma impressão sobre a cena de crime antes de voltarmos?"

"Forçaram a entrada?"

"Não."

"Alguém conhecido então." Eu disse.

"Talvez."

Eu olhei para a forma parada de Robert. "Podemos terminar essa discussão em outro lugar?"

"Esse aí incomoda você?"

"Eu conhecia ele, Dolph. Eu podia não gostar dele, mas conhecia ele."

Dolph assentiu. "Você pode terminar de conversar comigo no quarto do bebê."

Eu olhei para ele. Eu podia me sentir ficando pálida. Eu não queria ver o que Monica tinha feito com o quarto do bebê. "Você está sendo deliberadamente mau, Dolph."

"Parece que não consigo lidar com o fato de você estar namorando o Mestre da Cidade, Anita. Apenas não consigo aceitar."

"Você quer me punir por eu estar namorando um vampiro?"

Ele me olhou, um longo olhar procurando algo. Eu não olhei para longe. "Eu não quero que você saia com ele."

"Você não é meu pai."

"Sua família sabe dele?"

Eu olhei para longe então. "Não."

"Eles são católicos, não são?"

"Eu não vou ter essa discussão com você, Dolph."

"Você precisa ter com alguém." Ele disse.

"Talvez, mas não com você."

"Olhe para ele, Anita. Olhe para ele e me diga que você poderia dormir com isso."

"Para com isso." Eu disse.

"Não posso."

Nós nos encaramos. Eu não iria ficar parada ali e explicar minha relação com Jean-Claude para Dolph. Não era da conta dele. "Então nós temos um problema."

Houve uma batida na porta. "Agora não." Dolph disse.

"Entre." Eu disse.


20

A porta se abriu. Muito bom. Zerbrowski entrou. Melhor ainda. Eu sabia que estava sorrindo abertamente como uma idiota, mas não pude evitar. A última vez que tinha visto ele tinha sido no dia que ele tinha saído do hospital. Ele quase foi estripado por um metamorfo, uma mulher-leopardo do tamanho de um pônei. Quem atacou não era um licantropo, mas sim uma bruxa metamorfa. Que era o porque de Zerbrowski não ficar peludo uma vez por mês. A bruxa havia cortado ele terrivelmente. Eu matei ela. Eu segurei minhas mãos por cima do estômago dele e pressionei seu intestino de volta em seu corpo. Eu ainda tinha as cicatrizes feitas pelo mesmo monstro.

O cabelo de Zerbrowski normalmente era anelado e uma bagunça, preto ficando cinza. Ele tinha cortado curto o suficiente que ele ficasse parado no lugar. Fazia ele parecer mais sério, mais adulto, menos Zerbrowski. Seu terno era marrom e parecia que ele tinha dormido com ele. Sua gravata era de um azul médio e não combinava com nada do que ele estava vestindo.

"Blake, quanto tempo."

Eu não pude me impedir, eu andei até ele e o abracei. Havia benefícios em ser uma garota. Se bem que, antes de Richard entrar na minha vida, eu talvez resistiria melhor a esses impulsos. Richard trazia meu lado feminino a tona.

Zerbrowski me abraçou estranhamente, rindo. "Eu sempre soube que você desejava meu corpo, Blake."

Eu me afastei dele. "Bem que você queria."

Ele me olhou de cima abaixo, seus olhos brilhando com uma risada. "Se você se vestir assim todas as noites, talvez eu deixe Katie por você. Se essa saia fosse mais curta, eu gostaria de ser a sombra desse abajur."

Mesmo com as provocações, eu estava feliz em ver ele. "A quanto tempo você está volta ao serviço?"

"Não muito tempo. Eu vi você no noticiário com seu namorado."

"Noticiário?" Eu disse. Eu me esqueci da blitz de mídia que Jean-Claude e eu enfrentamos.

"Ele com certeza é bonito para um cara morto."

"Merda."

"O que?" Dolph perguntou.

"Foi mídia nacional, não só local."

"E daí?"

"Meu pai não sabe."

Zerbrowski riu. "Agora ele sabe."

"Merda."

"Eu acho que você vai ter que conversar com seu pai depois de tudo." Dolph disse.

Deveria ter algo na voz de Dolph ou no meu rosto, porque o humor sumiu do rosto de Zerbrowski. "O que ta rolando com vocês dois? Parece que alguém pisou no bichinho de estimação de vocês."

Dolph me olhou. Eu olhei ele. "Diferenças filosóficas." Eu disse finalmente. Dolph não acrescentou nada. Eu não esperava que ele acrescentasse mesmo.

"Ok." Zerbrowski disse. Ele conhecia Dolph bem demais para se intrometer. Comigo sozinha, ele teria me enchido o saco pra caramba, mas não com Dolph.

"Um dos vizinhos mais próximos é um sério odiador de vampiros de direita". Ele disse. Isso chamou nossa atenção.

"Explique." Dolph disse.

"Delbert Spalding e sua esposa Dora estavam sentados no sofá, segurando suas mãos. Ela me ofereceu chá gelado. Ele se opôs a mim quando eu disse que Robert tinha sido assassinado. Ele disse que não se podia matar um morto."

Zerbrowski tirou seu bloco de notas do bolso do seu terno. Ele virou algumas páginas, tentou alinhar uma página, desistiu, e citou. "Agora que alguém destruiu aquela coisa, a mulher deveria abortar aquele monstro que está carregando. Eu não sou a favor de abortos normalmente, mas isso é uma abominação, uma abominação pura."

"Humanos Contra Vampiros, pelo menos." Eu disse. "Talvez até Humanos Primeiro."

"Talvez ele apenas não gostava de ter um vampiro como vizinho." Dolph disse.

Zerbrowski e eu olhamos para ele.

"Você perguntou para o Sr. Spalding se ele pertencia a alguns dos grupos de oposição a vampiros?" Dolph perguntou.

"Ele tinha o jornal do HCV na mesa de café, ele me deu um."

"Ótimo." Eu disse. "Evangelização anti-monstros."

"HCV não defendem esse tipo de violência." Dolph disse.

O jeito que ele disse me fez imaginar que jornal Dolph assinava. Eu balancei minha cabeça. Eu não iria acreditar no pior dele apenas porque ele não gostava do fato de eu estar namorando um morto andante.

Uns meses atrás, eu teria me sentido do mesmo jeito. "Humanos Primeiro sim." Eu disse. "Nós descobriremos se o Sr. Spalding tem algum talento mágico." Eu disse.

"Como?" Dolph perguntou.

"Eu poderia conhecer ele, ficar no mesmo quarto com ele. Para ter certeza, eu teria que tocá-lo, apertar mãos."

"Eu apertei a mão do Sr. Spalding." Zerbrowski disse. "Foi como apertar a mão de qualquer outra pessoa."

"Você é um ótimo policial Zerbrowski, mas você é quase nulo. Você poderia apertar as mãos o grande Pooh-Bah e não sentir nem uma pontada. Dolph é um completo nulo."

"Como assim nulo?" Dolph perguntou.

"Um magicamente nulo. Alguém que não tem habilidades mágicas ou psíquicas. É o que te permitiu passar o circulo de sangue e eu não."

"Então você está dizendo que eu posso ter habilidades mágicas?" Zerbrowski perguntou.

Eu balancei minha cabeça. "Você é um pouquinho sensitivo. Provavelmente é uma daquelas pessoas que tem pressentimentos e confere ele."

"Eu tenho pressentimentos." Dolph disse.

"Eu aposto que seus pressentimentos são baseados na sua experiência, anos de trabalho policial. Zerbrowski iria chegar a uma lógica que não teria sentido, mas ele provaria estar certo. Estou errada?

Eles olharam um para o outro, e então para mim, e então assentiram. "Zerbrowski tem seus momentos." Dolph disse.

"Você quer ir apertar as mãos do Spolding?" Zerbrowski perguntou.

"A Detetive Raynolds consegue fazer isso. É uma das razões que ela está aqui, certo?"

Eles olharam um para o outro de novo. Zerbrowski sorriu abertamente. "Eu vou pegar a Reynolds e voltar lá." Ele parou na porta. "Katie me pediu para te convidar para um jantar, conhecer as crianças, uma coisa realmente bem doméstica." Ele me encarou com seus olhos castanhos ingênuos atrás de seus óculos com moldura escura. "Eu ia te dizer para levar Richard, mas você está namorando o Conde Drácula agora, eu acho que isso seria estranho." Ele me encarou, perguntando sem perguntar.

"Eu ainda estou vendo o Richard, seu manipulador filho da puta."

Ele sorriu. "Bom. Leve ela pra lá no sábado. Katie fará seu famoso prato de frango com cogumelos."

"Se eu estivesse namorando só o Jean-Claude, o convite ainda incluiria meu namorado?"

"Não." Ele disse. "Katie ficaria um pouco nervosa. Eu acho que ela não iria querer conhecer o Conde Drácula."

"O nome dele é Jean-Claude."

"Eu sei." Ele fechou a porta atrás dele, e Dolph e eu estávamos sozinhos com o corpo novamente. A noite não estava melhorando.

"O que nós estamos procurando, Anita?" Eu estava na verdade aliviada por Dolph estar falando sobre o trabalho. Eu tive bate-papo pessoal o suficiente pelo resto da noite.

"Mais que um assassino."

"Por que?"

Eu olhei para ele. "Eu não acho que existam muitos humanos no mundo que conseguem prender um vampiro no chão assim. Mesmo se fosse um outro vampiro ou metamorfo, precisaria mais de um. Eu diria que foram dois seres com força anormal para segura-lo, e um terceiro para enfiar as facas. Talvez mais para segurar, talvez mais um para fazer o feitiço. Eu não sei, mas pelo menos três."

"Mesmo se eles fossem vampiros?" Dolph perguntou.

Eu assenti. "Ao menos que um vampiro seja forte o suficiente para controlar mentalmente Robert." Eu olhei o corpo, cuidadosa para não tocar o circulo. Eu me forcei a encarar o que haviam feito com ele. "Não, uma vez que começaram a colocar facas nele, eu não acho que controle mental iria funcionar. Com um humano, sim, eles poderiam ter feito isso com um humano e ter feito ele sorrir enquanto isso, mas não outro vampiro. Algum dos vizinhos viram ou ouviram algo? Eu quero dizer, talvez os Spalding estejam envolvidos, então eles teriam mentido, mas outra pessoa tem que ter visto ou ouvido algo. Ele não sofreu calado."

"Eles disseram que não." Dolph disse.

Ele disse isso como se ele soubesse que alguns deles tinham mentido. Uma das coisas que os policiais aprendiam de primeira era que todos mentem. Algumas pessoas para esconder algo, algumas pessoas apenas para ser sacanas, mas todo mundo mente.

Presumir que todo mundo está escondendo algo economiza tempo.

Eu encarei o rosto de Robert, sua boa meio aberta, frouxa. Havia marcas de fricção em cada canto de sua boca, uma ligeira vermelhidão. "Você notou as marcas na boca dele?"

"Sim." Dolph disse.

"E você não ia mencionar elas para mim?"

"Você era uma suspeita."

Eu balancei minha cabeça. "Você não acredita de verdade nisso. Você apenas está bancando o misterioso, como sempre. Eu estou ficando cansada de juntar os pedaços do quebra-cabeça que você já terminou."

"Então, o que você acha que fez as marcas?" Ele perguntou, sua voz neutra.

"Você sabe muito bem o que eu acho que fez isso. Ele talvez foi amordaçado enquanto fizeram isso. Os vizinhos realmente podem não ter ouvido nada. Mas ainda assim, isso não diz como os assassinos entraram na casa. Se vampiros estão envolvidos, eles não poderiam cruzar a soleira sem um convite. Robert não teria convidado vampiros desconhecidos para entrar na sua casa, então algum deles tinha que ser conhecido, ou humano, ou pelo menos, não vampiro."

"Um humano poderia passar a soleira e convidar um vampiro para entrar?"

"Sim." Eu disse.

Dolph estava tomando notas, sem olhar para mim. "Então estamos procurando por um grupo misto, pelo menos um vampiro, pelo menos um não vampiro, e pelo menos um bruxo ou necromante."

"Esse último você pegou da Reynolds." Eu disse.

"Você discorda?"

"Não, mas como eu sou a única necromante da cidade, tem que ser um talento de fora." No momento que eu disse isso eu percebi que havia um talento que era de fora da cidade. Dominic Dumare.

"John Burke não poderia ter feito isso?"

Eu pensei nisso. "John é um sacerdote vodu, mas isso não é vodu. Eu não sei se os conhecimentos secretos dele vão tão longe. Eu também não sei se ele é poderoso o suficiente para ter feito isso, mesmo sabendo como."

"Você é poderosa o suficiente?"

Eu suspirei. "Eu não sei, Dolph. Eu sou meio que nova em necromancia. Quero dizer, eu levanto mortos faz anos, mas não com essa formalidade." Eu mencionei o corpo. "Eu nunca vi um feitiço como esse."

Ele assentiu. "Mais alguma coisa?"

Eu odiava ter que arrastar Dominic para isso, mas era uma malditamente grande coincidência que um poderoso necromante chegue na cidade e um vampiro é morto com necromancia. Se ele fosse inocente, eu pediria desculpas. Se ele não fosse, era um caso de pena de morte.

"Dominic Dumare é um necromante. Ele acabou de chegar na cidade."

"Ele poderia ter feito isso?" Dolph perguntou.

"Eu apenas vi ele uma vez, Dolph."

"Me dê sua opinião, Anita."

Eu pensei sobre o que senti quando Domic esteve na minha mente. Sua oferta de me ensinar necromancia. Fazer algo tão grande quanto matar Robert e deixar o corpo para nós era burrice. Dominic não parecia ser um cara burro.

"Ele poderia. Ele é o servo humano de um vampiro, então isso te daria dois do grupo misto."

"O vampiro conhecia Robert?"

Eu balancei minha cabeça. "Não que eu saiba."

"Você tem algum número em que poderemos encontrar o Sr. Dumare?"

"Eu posso ligar para nossa secretária noturna e pedir para você."

"Ótimo." Dolph encarou suas anotações. "Dumare é seu melhor suspeito?"

Eu pensei nisso. "É, eu acho que sim."

"Você tem alguma prova?"

"Ele é um necromante, e isso foi feito por alguém com conhecimento de necromancia." Eu encolhi os ombros.

"A mesma razão que suspeitamos de você." Dolph disse.Ele quase sorriu quando disse isso.

"Você fez seu ponto." Eu disse. "Que pequena preconceituosa eu sou."

Dolph fechou seu bloco de notas. "Eu vou te levar para sua declaração então."

"Tudo bem. Agora eu posso ligar para Catherine?"

"Tem um telefone na cozinha."

Zerbrowski abriu a porta. "A esposa está aqui, e ela está bastante histérica."

"Quem está com ela?" Dolph perguntou.

"Reynolds."

Pela porta aberta, eu ouvi uma mulher falando, apenas um pouco abaixo da escala gritando.

"Robert, meu marido, morto? Ele não pode estar morto. Ele não pode estar morto. Eu tenho que ver ele. Você não entende o que ele é. Ele não está morto." A voz estava se aproximando.

"Ela não precisa ver isso, Anita."

Eu assenti. Eu passei pela porta a fechando firmemente atrás de mim. Eu não podia ver Monica ainda, mas eu podia a ouvir. Sua voz estava ficando mais alta, crescendo mais fina com o pânico. "Você não entende. Ele não está morto de verdade."

Eu estava apostando que Monica não iria aceitar minha palavra de que ele estava bem e verdadeiramente morto. Eu acho que se fosse Jean-Claude deitado ali, eu não iria aceitar também. Eu tinha que ver por mim mesma.

Eu respirei profundamente e segui em frente para encontrar a desesperada viúva. Droga. A noite só estava ficando cada vez melhor.

O quarto do hospital era de uma cor suave, tom de malva, com quadros de flores na parede. A cama tinha um cobertor também com tom malva e lençol rosa. Monica estava deitada na cama presa a um IV e dois diferentes tipos diferentes de monitores. Uma fio em seu estômago controlava as contrações. Graças a Deus, as linhas no monitor estavam estáveis. O outro monitor era do coração do bebê. O som havia me assustado no início, muito rápido, como um coração de um pequeno pássaro. Quando as enfermeiras me asseguraram que as batidas estavam normais, eu relaxei. Depois de quase duas horas, a batida frenética havia se tornado um som confortante como um som de fundo.

O cabelo vermelho de Monica estava para trás com as tiras molhadas de pano na sua testa. Sua cuidadosa maquiagem havia borrado em seu rosto. Eles foram forçados a dar a ela sedativos, mesmo isso não sendo bom para o bebê. Ela tinha quase ido para a luz, em um sono febril.

Sua cabeça virou, olhos piscando por trás de pálpebras, sua boca se movimentando, ela estava tendo um sonho, um pesadelo provavelmente, depois da noite que ela teve. Era quase duas horas e eu ainda não tinha ido à polícia e feito minha declaração ao Detetive Greely. Catherine estava a caminho para ficar no meu lugar, ao lado de Monica.

Eu ficaria feliz em vê-la.

Eu tinha pequenas marcas de unhas na minha mão direita. Monica havia se prendido à ela como se minha mão é que a estava a mantendo inteira. No começo das contrações, quando parecia que Monica ia perder seu bebê, assim como seu marido, suas longas e pintadas unhas haviam se cravado em mim, e apenas quando sangue saiu da minha mão, em pequenas linhas escarlates, uma enfermeira interveio. Quando Monica se acalmou, eles insistiram em me dar um curativo. Eles usaram band-aid de desenhos animados que usavam em bebês, então minha mão estava coberta por Mickey e Pateta.

Havia uma televisão em um suporte na parede, mas eu não tinha ligado ela. Os únicos sons era o zumbido do ar-condicionado e o coração do bebê.

Um policial uniformizado estava do lado de fora. Se Robert tivesse sido morto por um grupo da oposição, então Monica e o bebê seriam alvos prováveis. Se ele foi morto por razões pessoais, Monica talvez soubesse de algo. De qualquer forma, ela estava em perigo. Então eles colocaram um guarda com ela. Por mim tudo bem, já que eu só tinha minha faca. Eu estava realmente sentindo falta das minhas armas.

O telefone no criado do lado da cama tocou, e eu voei da cadeira, com pressa de alcançá-lo, com medo de que fosse acordar Monica. Eu coloquei o telefone contra minha boca e falei quietamente enquanto meu pulso acalmava. "Sim?"

"Anita?" Era Edward.

"Como você sabe onde eu estou?"

"Tudo que importa é que se eu pude te achar, outra pessoa também poderá."

"O contrato ainda está sendo oferecido?"

"Sim."

"Droga. E quanto ao tempo limite?"

"Foi aumentado para 48 horas."

"Bem, merda. Eles estão determinados, hãn?"

"Eu acho que você deve ficar fora de evidência por um tempo, Anita."

"Você quer dizer, esconder?"

"Sim."

"Eu pensei que você me queria como isca."

"Se você continuar sendo isca, vamos precisar de mais guardas. Os lobisomens e vampiros são monstros, mas eles continuam sendo amadores. Nós somos profissionais, é o que nos dá nossa moral. Eu sou bom, mas não posso estar em todos os lugares."

"Como me seguir até dentro do banheiro feminino." Eu disse.

Eu ouvi ele suspirar. "Eu te deixei sozinha."

"Eu fui descuidada também, Edward."

"Então você concorda?"

"Em esconder? Sim. Você tem algum lugar em mente?"

"Na verdade, eu tenho sim."

"Eu não gosto do tom da sua voz, Edward."

"É o lugar mais seguro da cidade e está cheio de seguranças."

"Onde?" Essa única palavra soou desconfiada, até mesmo para mim.

"Circo dos Malditos." Ele disse.

"Você só pode estar louco."

"É o lugar de descanso durante o dia do Mestre, Anita. É uma fortaleza. Jean-Claude selou o túnel que passamos para pegar Nikolaos. É seguro."

"Você quer que eu passe o dia de castigo com os vampiros. Eu acho que não vai rolar."

"Você vai voltar para a casa de Richard?" Edward perguntou. "Quão segura você vai estar lá? Quão segura você ficará em qualquer lugar acima da terra?"

"Merda, Edward."

"Eu estou certo, e você sabe disso."

Eu queria discutir, mas ele estava certo. O Circo era um dos lugares mais seguros que eu já conheci. Inferno, o lugar tinha masmorras. Mas a idéia de voluntariamente dormir ali, fez minha pele arrepiar. "Como eu posso dormir rodeadas de vampiros, mesmo entre amigos?"

"Jean-Claude ofereceu a cama dele. E antes que fique brava, ele irá dormir em seu caixão."

"É isso que ele diz agora." Eu disse.

"Eu não estou preocupado com sua virtude, Anita. Eu estou preocupado com te manter viva. E eu estou admitindo que não posso te manter a salvo. Eu sou bom. Eu sou o melhor que o dinheiro pode comprar, mas eu sou só uma pessoa. Uma pessoa, não importa o quão boa ela seja, não é o suficiente."

Isso foi assustador. Edward admitindo que ele não era o suficiente. Eu nunca pensei que estaria viva para ver isso. Eu pensei sobre isso, e desejei não tem pensado.

"Ok, eu farei isso, mas por quanto tempo?"

"Você se esconde e eu checarei algumas coisas. Se eu não tiver que te vigiar, eu posso fazer mais coisas."

"Quanto tempo?"

"Um dia, talvez dois."

"E se seja lá quem for descobrir que eu estou no Circo?"

"Eles talvez tentarão chegar até você." Edward disse. Sua voz estava bem atestando-um-fato.

"E se eles tentarem?"

"Se você, meia dúzia de vampiros, e quase o mesmo tanto de lobisomens não podem lidar cm isso, então eu acho que nada disso importa."

"Você é ótimo confortador."

"Eu te conheço, Anita. Se eu fosse um pouco mais confortador, você talvez se recusaria a esconder."

"Vinte e quatro horas, Edward, e então outro plano. Eu não vou me esconder em um buraco e esperar pela pessoa que quer me matar."

"De acordo. Eu vou te buscar na sua declaração na delegacia."

"Onde você consegue suas informações?"

Ele riu, mas foi duro. "Se eu sei onde você vai estar, então alguém mais vai saber. Você poderia perguntar se seus amigos têm roupas mais equipadas."

"Você quer dizer a prova de balas?"

"Não machucaria perguntar."

"Você está tentando me assustar?"

"Sim."

"Você está fazendo um bom trabalho."

"Obrigado. Não saia da delegacia até que eu entre e te pegue. Evite ficar em lugares abertos se puder."

"Você realmente acha que outra pessoa vai tentar me dar um tiro hoje a noite?"

"Estamos planejando os casos com os piores cenários daqui pra frente, Anita. Sem mais chances. Eu te vejo lá." Ele desligou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

Eu fiquei parada ali segurando o telefone, assustada. No meio de todo o pânico com Monica e seu bebê, eu tinha me esquecido completamente que alguém estava tentando me matar. Provavelmente não era uma coisa boa esquecer isso. Eu comecei a colocar o telefone no gancho, mas em vez disso, liguei o número de Richard. Ele atendeu no segundo toque, o que quer dizer que ele estava esperando por uma ligação. Droga.

"Richard, sou eu."

"Anita, onde você está?" Sua voz soava aliviada, e então cautelosa. "Quero dizer, você vai voltar aqui hoje?"

A resposta era não, mas não pela razão que ele temia. Eu disse a ele o que havia acontecido, a versão mais curta possível.

"De quem foi a idéia de você ficar com Jean-Claude?" Havia um toque de raiva na sua voz.

"Eu não vou ficar com o Jean-Claude. Eu vou ficar no Circo."

"E a diferença é?"

"Olha, Richard, eu estou cansada demais para discutir com você sobre isso. Edward deu a sugestão, e você sabe que ele gosta de Jean-Claude muito menos que você."

"Eu duvido disso." Ele disse.

"Richard, eu não te liguei para brigar. Eu te liguei para contar o que está acontecendo."

"Eu aprecio a ligação." Eu nunca tinha ouvido ele soar tão sarcástico. "Você quer suas roupas?"

"Droga, eu nem tinha pensado nisso."

"Eu levarei elas para o Circo."

"Você não tem que fazer isso, Richard."

"Você não quer que eu faça?"

"Não, eu adoraria ter minhas coisas, e não apenas minhas roupas, se você pudesse levar tudo?"

"Eu levarei tudo."

"Obrigada."

"Eu vou fazer uma mala para mim também."

"Você acha que é uma boa idéia?"

"Eu já fiquei no Circo antes. Lembra, eu costumava ser um dos lobos de Jean-Claude."

"Eu lembro. Você não deveria pedir ao Jean-Claude antes de se convidar?"

"Eu ligarei primeiro. A menos que você não me queira lá hoje." Sua voz estava quieta.

"Se Jean-Claude concordar, tudo bem por mim. Eu poderia ser útil como apoio moral."

Ele deixou sair uma respiração como se a estivesse segurando. "Ótimo. Ótimo, eu te verei lá."

"Eu tenho que fazer uma declaração na delegacia sobre o incidente no Dança Macabra. Isso pode levar algumas horas, então não se apresse."

"Com medo de Jean-Claude me machucar?" Ele ficou quieto por um momento. "Ou com medo que eu machucarei ele?"

Eu pensei nisso. "Preocupada com você."

"Feliz em ouvir." Ele disse, e eu pude ouvir ele sorrir.

A razão que eu estava preocupada com Richard era que ele não era um assassino. Jean-Claude era. Richard poderia começar uma briga, mas Jean-Claude a terminaria. Eu não disse isso em voz alta. Richard não teria apreciado.

"Eu não vejo a hora de te ver hoje a noite." Ele disse.

"Mesmo no Circo?"

"Em qualquer lugar. Te amo."

"Te amo, também."

Ele desligou. Nenhum de nós dois dissemos tchau, um deslize Freudiano talvez.

Eu estava apostando que Richard e Jean-Claude achariam algo para brigarem, e eu estava realmente cansada demais para me preocupar com isso. Mas se eu tivesse dito para Richard ficar longe, ele teria pensado que eu queria ficar sozinha com Jean-Claude, o que certamente não era verdade. Então eles teriam sua pequena briga. Sinceramente, eu tinha minha própria briga para cuidar, uma incluindo eu, Jean-Claude e Damian.

Eles quebraram uma lei no Dança Macabra, quebraram o suficiente para que, com o juiz certo, talvez conseguissem um mandato de execução para Damian. Nós poderíamos ter uma grande e gloriosa briga sem fim.

Eu me perguntei onde todo mundo dormiria, e com quem.


21

O Circo dos Malditos era uma combinação entre uma viagem no carnaval, circo e um toque de inferno. Na frente, palhaços com presas dançavam nas luzes debaixo do letreiro. Pôsteres se estendiam aos lados da construção, dizendo, "Veja zumbis levantando do túmulo. Veja a lamia metade cobra metade mulher". Não havia enganos no Circo, tudo que era advertido ali, era absolutamente real. Era uma das poucas atrações vampirescas para turistas que recebiam crianças. Se eu tivesse um filho, eu não levaria ele nem perto daquele lugar. Mesmo eu não me sentia segura.

Edward tinha me pego na estação policial, do jeito que ele disse. Minha declaração havia levado três horas, não duas. A única razão que me fez sair tão cedo foi que Bob, o marido de Catherine e também advogado, havia finalmente dito a eles para ou me acusarem ou me deixarem ir.

Sinceramente, eu achei que eles iriam me prender. Mas eu tinha três testemunhas dizendo que a morte foi auto-defesa, testemunhas que eu nunca tinha conhecido antes, sem ser hoje. Isso ajudou. O DA normalmente não acusa pessoas em casos de auto-defesas. Normalmente.

Edward me deixou no Circo pela porta do lado. Não havia luz para marcar ela como especial, mas uma havia maçaneta no lado de fora reforçando que aquilo era uma porta. Edward bateu nela. A porta se abriu, e nós entramos.

Jason fechou a porta atrás de nós. Eu não havia visto ele mais cedo no Dança Macabra. Eu certamente me lembraria daquela roupa dele. Ele estava usando uma blusa de plástico sem mangas, moldada em seu corpo.

A calça era ondeada e azul, que parecia colorida como alumínio, com partes ovais de plástico, expondo suas coxas, panturrilhas, e quanto ele se virou, uma nádega.

Eu balancei minha cabeça, sorrindo. "Por favor, me diga que Jean-Claude não te faz usar isso onde pessoas podem te ver."

Jason sorriu abertamente para mim, e se virou para mostrar sua bunda. "Não gosta?"

"Não tenho certeza." Eu disse.

"Discutam moda depois, em um lugar mais seguro." Edward disse.

Ele olhou para a porta a nossa direita, que guiava para a parte principal do Circo. Ela nunca ficava trancada, se bem que havia uma placa acima dela que dizia: somente pessoal autorizado. Nós estávamos em uma sala com paredes de pedras com uma lâmpada elétrica balançando no teto. Era uma área de depósito. Uma terceira porta estava na parede mais distante. Atrás dela tinha um corredor com escadas, e também lugares onde os vampiros ficavam durante o dia.

"Eu estarei no subsolo, literalmente, logo logo, Edward."

Edward me olhou por um longo momento. "Você prometeu se esconder por vinte e quatro horas. Não saia por nenhuma razão. Nem mesmo ir até a frente do Circo quando ele estiver aberto ao público. Apenas fique abaixo das escadas."

"Sim, sim, capitão."

"Isso não é uma piada, Anita."

Eu dei uma palmada no colete a prova de balas que coloquei por cima do meu vestido. Era muito grande para mim, quente, e inconfortável. "Se eu pensasse que isso era uma piada, eu não estaria vestindo isso."

"Eu te trarei armas adequadas quando eu voltar."

Eu olhei em seus pálidos olhos azuis e vi algo que nunca tinha visto antes. Ele estava preocupado.

"Você acha que eles vão me matar, não acha?"

Ele não desviou do meu olhar. Ele não se encolheu. Mas o que vi em seu rosto me fez desejar que ele tivesse.

"Quando eu voltar amanhã, eu trarei ajuda comigo."

"Que tipo de ajuda?"

"Meu tipo."

"O que isso quer dizer?"

Ele balançou sua cabeça. "Vinte e quatro horas quer dizer que você se esconderá até o amanhecer de amanhã, Anita. Com sorte, eu terei um nome para nós, e nós poderemos matar ele. Não seja descuidada enquanto eu não estiver aqui."

Eu queria dizer algo casual, uma brincadeira, tipo, "eu não sabia que você se importava", mas eu não pude. Eu não podia brincar encarando aqueles olhos sérios.

"Eu serei cuidadosa."

Ele assentiu. "Tranque a porta atrás de mim." Ele saiu e Jason trancou a porta.

Jason se encostou contra ela por um segundo. "Por que ele me assusta?"

"Por que você não é idiota."

Ele sorriu. "Obrigado."

"Vamos pra baixo." Eu disse.

"Nervosa?"

"Tem sido uma longa noite, Jason. Sem jogos."

Ele desencostou da porta e disse, "Guie o caminho."

Eu abri a porta que guiava ao corredor de pedra com escadas, que guiava para baixo. Era largo o suficiente para andarmos lado a lado. Na verdade, quase havia espaço para um terceiro, como se a escada tivesse sido feita para ser ocupada por coisas maiores que corpos humanos.

Jason fechou a porta com um ressoante barulho. Me fez pular. Ele começou a dizer alguma coisa, mas o olhar em meu rosto parou ele. O último comentário de Edward havia me deixado nervosa.

Se eu não me conhece bem, eu diria que eu estava com medo. Nah.

Jason desceu os degraus na minha frente, exagerando em seu andar apenas um pouco para mostrar seu derriere{10}.

"Você pode cortar o exibicionismo." Eu disse.

"Você não gosta da vista?" Ele de inclinou contra a parede, as mãos atrás dele, mostrando seu peito.

Eu ri e passei por ele, passando minhas unhas por sua blusa. Era sólida e dura como a casca de um besouro. "Isso é tão desconfortável como parece?"

Ele deu um passo ao meu lado. "Não é desconfortável. As damas do Dança Macabra gostam bastante."

Eu olhei para ele. "Aposto que elas gostam."

"Eu gosto de flertar."

"Não me diga."

Ele riu. "Para alguém que não flerta, você tem um monte de caras atrás de você."

"Talvez seja porque eu não flerto." Eu disse.

Jeson ficou quieto enquanto descíamos as escadas. "Você quer dizer que porque você é um desafio, eles continuam insistindo?"

"Algo assim."

Eu não conseguia ver as curvas da escada. Eu odiava não conseguir ver os cantos. Mas dessa vez eu era uma convidada, eu não tinha vindo para matar ninguém. Vampiros tentem a ser muito amigáveis quando você não está tentando matar eles.

"Richard já está aqui?"

"Ainda não." Ele olhou para mim. "Você acha que é uma boa idéia ter os dois aqui ao mesmo tempo?"

"Não." Eu disse. "Absolutamente, não."

"Bem, pelo menos você concorda que é uma má idéia." Ele disse.

A porta no fim das escadas era de uma pesada e escura madeira, com fechadura de ferro. Parecia com um portal de outra época, quando calabouços eram tendências, e cavaleiros resgatavam inocentes damas ou massacravam alguns camponeses e ninguém ligava, exceto talvez os camponeses.

Jason tirou uma chave de seu bolso. Ele destrancou a porta e a empurrou. Ela abriu em um guincho.

"Desde quando você tem a chave?" Eu perguntei.

"Eu moro aqui agora."

"E quanto ao colégio?"

Ele encolheu os ombros. "Isso não parece mais ser muito importante."

"Você planeja ser o lobo de estimação do Jean-Claude para sempre?"

"Eu estou tendo dias legais." Ele disse.

Eu balancei minha cabeça. "Eu luto como louca para me livrar dele, e você apenas se doa a ele. Eu não entendo isso."

"Você tem uma graduação, certo?" Ele perguntou.

"Sim."

"Eu não. Mas mesmo assim, aqui estamos nós, terminando no mesmo lugar."

Ele me pegou aí.

Jason mencionou que eu passasse pela porta com um gesto teatral que era uma imitação de Jean-Claude descarada. Jean-Claude faria isso para ser cortês. Jason fez por brincadeira.

A porta guiava a sala de estar de Jean-Claude. O teto se estendia escuro, mas cortinas de seda desciam de lá em dobraduras pretas e brancas que formavam paredes cobertas em três lados. A quarta parede era toda de pedra, pintada de branco. Uma lareira de pedra branca parecia original, o que eu sabia que não era. A parte cima era de mármore branco e preto. A parte de dentro era prata e escondia o carvão.

Havia quatro cadeiras em preto e prata, agrupadas em volta de uma mesa de café de madeira e vidro. Um vaso preto estava na mesa, cheio de tulipas. Meus saltos altos enfiavam no denso carpete preto. Havia algo mais na sala que me parou.

Uma pintura logo acima da lareira. Três pessoas vestidas ao estilo dos anos 1600. A mulher estava vestida em branco e prata com um corselete mostrando um pouco do decote, seu cabelo castanho estava com cuidadosos cachos.

Ela segurava uma rosa vermelha, perdida em uma mão.

Um homem estava em pé atrás dela, alto e esbelto, com um cabelo dourado escuro com curvas nos ombros. Ele tinha um bigode e uma barba Vandyke, tão escuramente dourados que era quase castanho. Ele tinha um daqueles chapéus com penas, e estava vestido de branco e dourado. Mas havia outro homem nela que me fez andar até o quadro.

Ele estava sentado logo atrás da mulher. Ele estava vestido de preto, com um broche prata e gola alta e cordões e laços. Ele segurava um caído chapéu preto com uma única pluma branca e uma fivela prata em seu colo. Seu cabelo preto caía em curvas em seus ombros. Ele estava barbeado, e o artista havia conseguido capturar o profundo azul dos olhos dele. Eu encarei o rosto de Jean-Claude na pintura que foi feita centenas de anos antes de eu ter nascido. Os outros dois estavam sorrindo. Apenas ele estavam solene e perfeito, obscuro à luz deles. Ele era como uma sombra de morte capturada.

Eu sabia que Jean-Claude era séculos velho, mas eu nunca tive uma prova tão óbvia, isso nunca tinha sido jogado na minha cara. O retrato me incomodou por outra razão. Me fez me perguntar se Jean-Claude havia mentido sobre sua idade.

Um som me fez virar. Jason havia se jogado em uma das cadeiras. Jean-Claude estava em pé atrás de mim. Ele tirou sua jaqueta e seu enrolado cabelo preto havia se jogado em seus ombros, em sua camisa vermelha. As mangas da camisa eram longas e os punhos eram segurados por três botões antigos, assim como na gola. Sem a jaqueta para distrair os olhos, o pálido buraco oval fazia sua pele moldada reluzir pela cor vermelha. A camisa cobria seus mamilos, mas deixava seu estômago a vista, e chamavam os olhos para o começo de sua calça preta. Ou talvez chamavam apenas os meus olhos. Era uma má idéia ficar ali. Ele era tão perigoso quanto o assassino, talvez mais. Perigoso de maneiras que eu não tenho nem palavras.

perto, como um cervo pego nas luzes. Eu esperei que ele flertasse ou me perguntasse se eu tinha gostado da pintura. Mas em vez disso, ele disse, "Me diga sobre Robert. A polícia disse que ele está morto, mas eles não sabem de nada. Você viu o corpo. Ele está realmente morto?"

Sua voz estava densa em inquietação, preocupação. Me pegou completamente fora de guarda. "Eles pegaram o coração dele."

"Se ele apenas levou uma estacada no coração, ele pode sobreviver se retirarem ela."

Eu balancei minha cabeça. "O coração foi completamente tirado. Nós não conseguimos achar ele na casa ou arredores."

Jean-Claude parou. Ele se jogou de repente em uma das cadeiras, encarando o nada, ou nada que eu pudesse ver. "Então ele realmente se foi." Sua voz segurava um tom do mesmo jeito que as vezes havia em sua risada, então eu senti suas palavras como uma cinza e gelada chuva.

"Você tratava Robert como lixo. Por que todo esse choro e lamento?"

Ele me olhou. "Eu não estou chorando."

"Você tratava ele horrivelmente."

"Eu era seu mestre. Se eu o tratasse de forma gentil, ele iria ver isso como sinal de fraqueza. Ele teria me desafiado e eu o teria matado. Não critique coisas que você não entende." Havia uma raiva nessa última frase, o suficiente para me roçar um calor na pele.

Normalmente isso teria me deixado puta, mas hoje... "Me desculpe. Você está certo. Eu não entendo. Eu não achava que você se importava com Robert, ao menos que ele pudesse contribuir com seu poder."

"Então você não me entende em nada, ma petite. Ele foi uma companhia para mim por mais de um século. Por mais de um século, eu teria lamentado a morte até mesmo de um inimigo. Robert não era meu amigo, mas ele era meu. Meu para punir, meu para recompensar, meu para proteger. E eu falhei."

Ele me encarou, seus olhos ficando azuis e aliens.

"Eu estou grato que você tenha visto Monica. A última coisa que eu posso fazer por Robert é cuidar de sua esposa e criança. Eles irão precisar, mesmo não querendo."

Ele se levantou de repente em um movimento suave. "Venha, ma petite. Eu te mostrarei nosso quarto." Eu não gostei do ‘nosso’, mas não discuti.O novo, melhorado, emocional Jean-Claude havia me confundido.

"Quem são os outros dois na pintura?"

Ele olhou ela. "Julianna e Asher. Ela era a serva humana dele. Nós três viajávamos juntos, por quase vinte anos."

Beleza. Ele não me iria dar nenhuma pista sobre a época das roupas. "Você era novo demais para ter sido um mosqueteiro."

Ele me encarou, seu rosto cuidadosamente vazio, me dando nada. "O que você quer dizer, ma petite."

"Nem mesmo tente. As roupas são de 1600, lá pela época dos Três Mosqueteiros. Quando nos conhecemos você me disse que tinha duzentos anos. Eventualmente, eu percebi que você estava mentindo, que você tinha quase trezentos."

"Se Nikolaos soubesse minha verdadeira idade, ela talvez teria me matado, ma petite."

"Sim, a antiga Mestre da Cidade era um vadia de primeira. Mas ela está morta. Por que continua mentindo?"

"Você quer dizer, por que estou mentindo para você?" Ele disse.

Eu assenti. "Sim. É isso que eu quero dizer."

Ele sorriu. "Você é uma necromante, ma petite. Eu pensei que você podia julgar a minha idade sem minha ajuda."

Eu tentei ler seu rosto, mas não pude. "Você sempre foi difícil de se ler, você sabe disso."

"Fico tão feliz em saber que eu posso ser um desafio em alguma área."

Eu deixei essa passar. Ele sabia exatamente o tamanho do desafio que ele era, mas pela primeira vez em muito tempo, eu estava incomodada. Dizer a idade de um vampiro é um dos meus talentos, não é uma ciência exata para se ter certeza, mas eu era boa nisso. Eu nunca passei tão longe. "Um século mais velho, quem diria."

"Você tem certeza que é apenas um século?"

Eu encarei ele. Eu deixei seu poder passar por minha pele, rodei pelo sentimento dele nela. "Bastante."

Ele sorriu. "Não franza tanto a testa, ma petite. Ser capaz de esconder minha idade é um dos meus talentos. Eu fingia ser centenas de anos mais velho quando Asher era minha companhia. Isso nos deu liberdade para vagar pelas terras de outros mestres."

"O que te fez parar de tentar passar por mais velho?"

"Asher precisava de ajuda, e eu não era mestre o suficiente para ajudá-lo." Ele olhou para a pintura. "Eu... me rebaixei para ajudá-lo."

"Por que?"

"A igreja tinha a teoria que vampiros poderiam ser curados por itens sagrados. Eles prenderam Asher com esses itens e correntes de prata. Eles usaram água benta nele, gota por gota, tentando salvar sua alma."

Eu encarei aquele lindo e sorridente rosto. Eu fui mordida por uma vampira mestre uma vez e a ferida havia sido limpa por água benta. Eu senti como se um ferro quente houvesse sido enfiado na minha pele, como se todo meu sangue houvesse virado óleo fervente. Eu havia vomitado e gritado e me intitulei muito corajosa por não desmaiar. Isso tinha sido uma mordida, um dia. Ter uma quantidade ácido gotejada em você até que você morresse, estava no meu top 5 jeitos de não ir pro outro lado.

"O que aconteceu com a garota, Julianna?"

"Ela foi queimada como uma bruxa."

"Onde você estava."

"Eu tinha pegado um navio para ver minha mãe. Ela estava morrendo. Eu estava no caminho de volta quando ouvi o chamado de Asher. Eu não podia chegar lá a tempo. Eu juro por tudo que há de sagrado ou não-sagrado que eu tentei. Eu consegui resgatar Asher, mas ele nunca me perdoou."

"Ele não está morto?" Eu perguntei.

"Não."

"Quão machucado ele está?"

"Até conhecer Sabin eu pensei que as cicatrizes de Asher eram as piores feridas que eu já tinha visto em um vampiro que sobreviveu."

"Por que você mantém a pintura ali se isso te incomoda tanto?"

Ele suspirou e me olhou. "Asher me mandou como presente, para me parabenizar por me tornar um Mestre da Cidade. Nós três éramos companhias um para o outro, quase uma família. Asher e eu éramos verdadeiramente amigos, ambos mestres, ambos iguais em poder, ambos amávamos Julianna. Ela era devotada a ele, mas eu tinha sua apreciação também."

"Você quer dizer que eram um ménage à trois{11}?"

Ele assentiu.

"Asher não está rancoroso?"

"Ah, não, ele está rancoroso. Se o conselho permitisse, ele teria vindo com a pintura e teria feito sua vingança."

"Matar você?"

Jean-Claude sorriu. "Asher sempre teve um grande senso de ironia, ma petite. Ele pediu ao conselho por sua vida, não a minha."

Meus olhos se abriram mais. "O que eu fiz para ele?"

"Eu matei sua serva humana, ele mata a minha. Justiça."

Eu olhei de volta para aquele rosto maravilhoso. "O conselho disse não a ele?"

"Certamente."

"Você tem mais outros antigos inimigos por aí?"

Jean-Claude deu um fraco sorriso. "Muitos, ma petite, mas nenhum na cidade no momento."

Eu olhei para os rostos sorridentes. Eu não sabia como frasear isso, mas tentei de qualquer forma. "Vocês todos parecem tão jovens."

"Eu sou fisicamente o mesmo, ma petite."

Eu balancei minha cabeça. "Talvez jovens não seja a palavra que eu quero. Talvez ingênuos."

Ele sorriu. "Na época que essa pintura foi feita, ma petite, ingênuo não era a palavra para me descrever tampouco."

"Certo, tanto faz." Eu olhei para ele, estudando seu rosto. Ele era lindo, mas havia algo em seus olhos agora que não estava na pintura, algum nível de pena ou terror. Algo que eu não tinha palavras para descrever, mas estava ali mesmo assim. Um vampiro pode não enrugar, mas viver esse tanto de tempo, deixa marcas. Mesmo se for apenas uma sombra nos olhos, um rigidez em volta da boca.

Eu me virei para Jason, que ainda estava jogado na cadeira. "Ele dá essas pequenas lições de história sempre?"

"Apenas para você." Jason disse.

"Você nunca pergunta?" Eu perguntei.

"Eu sou apenas o animal dele. Você não dá respostas ao seu animal."

"E isso não te incomoda?"

Jason sorriu. "Por que eu ligaria para a pintura? A mulher está morta, então eu não posso ter sexo com ela. Por que eu me importaria?"

Eu senti Jean-Claude passar por mim, mas não pude seguir com meus olhos. Sua mão era uma macha. A cadeira caiu no chão com um barulho alto, Jason estava caído com ela. Havia sangue em sua boca.

"Nunca fale sobre ela novamente de tal maneira."

Jason passou as costas de sua mão em sua boca, que ficou machada de sangue. "Como quiser." Ele lambeu o sangue de suas mãos, com longos e lentos movimentos de sua língua. Eu encarei de um para o outro. "Vocês dois são loucos."

"Não loucos, ma petite, meramente não humanos."

"Ser um vampiro não te dá o direito de tratar as pessoas assim. Richard não sai batendo nos outros."

"Que é o motivo que ele nunca será um líder do bando."

"O que isso quer dizer?"

"Mesmo se ele superasse sua moral e matasse Marcus, ele não seria cruel o suficiente para assustar os outros. Ele seria desafiado de novo e de novo. Ao menos que ele comece a massacrar pessoas, ele eventualmente, irá morrer."

"Sair batendo nos outros não te mantém vivo." Eu disse.

"Ajuda. Tortura funciona bem, mas eu duvido que Richard teria estômago para isso."

"Eu não teria estômago para isso."

"Mas você faz pilhas no chão com corpos, ma petite. Matar é a melhor dissuasão de todas."

Eu estava cansada demais para ter essa conversa. "São 4:30 da manhã. Eu quero ir pra cama."

Jean-Claude sorriu. "Por que, ma petite? Você não é tão ansiosa normalmente."

"Você entendeu o que eu quis dizer." Eu disse.

Jean-Claude deu um passo em minha direção. Ele não me tocou, mas ele parou muito perto, me olhando. "Eu sei exatamente o que você quis dizer, ma petite."

Isso fez um calor subir pelo meu pescoço. As palavras eram inocentes. Ele a fez soarem íntimas, obscenas.

Jason arrumou a cadeira e se levantou, lambendo o sangue no canto de sua boca. Ele não disse nada, apenas nos observou como um cachorro treinado, visto mas não ouvido.

Jean-Claude deu um passo para trás. Eu senti ele se mover, mas não pude seguir com meus olhos. Havia tempos, apenas meses atrás, que eu teria visto isso como mágica, como se ele simplesmente tivesse aparecido um passo mais longe.

Ele estendeu uma mão para mim. "Venha, ma petite. Vamos nos ausentar pelo dia."

Eu já havia segurado sua mão antes, então por que eu fiquei parada, encarando, como se ele tivesse me oferecido o fruto proibido que uma vez degustado mudaria tudo? Ele tinha quase quatrocentos anos. O rosto de Jean-Claude de tantos anos na pintura estava olhando para mim, e esse rosto estava ali parado na minha frente com um sorriso também. Se eu precisava de provas, eu tive. Ele havia acertado Jason como um cachorro que ele não gostava. E ainda assim ele era tão lindo que me dava um aperto no peito.

Eu queria pegar a mão dele. Eu queria correr minhas mãos por aquela camisa vermelha, explorar aquela abertura oval em seu peito. Eu cruzei meus braços na barriga e balancei a cabeça.

Seu sorriso aumentou até que um pouco da sua presa aparecesse. "Você já segurou minha mão antes, ma petite. Por que hoje é diferente?" Sua voz segurava um tom de provocação.

"Apenas me mostre o quarto, Jean-Claude.

Ele deixou suas mãos caírem em seu lado, mas ele não pareceu ofendido. Dentre tudo, ele parecia satisfeito, e isso me irritou.

"Traga Richard aqui quando ele chegar, Jason, mas me avise antes que ele entre. Eu não quero ser interrompido."

"Qualquer coisa que diga." Jason disse. Ele sorriu malignamente para nós, para mim, um olhar de provocação em seu rosto. Todo mundo e os lobos acreditavam que eu estava dormindo com Jean-Claude? Mas claro, talvez esse era um caso apenas que a dama protestava demais. Talvez.

"Apenas leve Richard ao quarto quando ele chegar." Eu disse. "Você não estará interrompendo nada." Eu olhei para Jean-Claude quando disse a última parte.

Ele riu, um quente e tocável som, que cobriu minha pele como seda. "Mesmo sua resistência à tentação não é convincente, ma petite."

Eu encolhi os ombros. Eu gostaria de argumentar, mas ele sentia o cheiro de uma mentira. Mesmo um medíocre lobisomem pode cheirar desejo. Jason não era medíocre. Então todo mundo ali sabia que eu tinha tesão pelo Jean-Claude. E daí?

"Não é um das minhas palavras favoritas, Jean-Claude. Você já deveria saber disso a essa altura."

A risada desapareceu de seu rosto, deixando seus olhos azuis azuis brilhando, mas não com humor. Algo escuro e mais seguro de si mesmo apareceu em seus olhos. "Eu sobrevivo de esperança sozinho, ma petite."

Jean-Claude repartiu uma das cortinas brancas e pretas, revelando uma nua parede de pedras, assim como a da sala. Um longo corredor se estendia profundo em um labirinto. Tochas brilhavam contra a eletricidade da outra sala. Ele parou ali, uma sombra preta contra as chamas e modernas luzes. Algum truque de luz e sombras estava em metade seu rosto, o deixando escuro e isso trouxe uma fagulha de brilho em seus olhos. Talvez era apenas um truque de luzes. Talvez era apenas ele.

"Podemos ir, ma petite?"

Eu fui até aquela escuridão. Ele não tentou me tocar quando passei por ele. Eu teria dado a ele algum crédito por ter resistido a urgência, exceto que, eu conhecia ele bem demais. Ele estava apenas ganhando tempo. Me tocar agora iria me deixar puta. Depois, talvez não. Mesmo eu não podia garantir quando meu humor estaria bom.

Jean-Claude se moveu na minha frente. Ele olhou para trás pelos seu ombro. "Apesar de tudo, ma petite, você não conhece o caminho até meu quarto."

"Eu estive aqui antes." Eu disse.

"Carregada inconsciente e morrendo. Isso dificilmente conta." Ele deslizou pelo corredor.

Ele colocou uma leveza extra naquele andar, algo do tipo do que Jason tinha feito nas escadas, mas tinha sido engraçado com o lobisomem, Jean-Claude fazendo era totalmente sedutor.

"Você só quis andar na frente para eu ter que olhar sua bunda."

Ele falou sem se virar para trás. "Ninguém está te fazendo olhar ela, ma petite, nem mesmo eu."

E isso era a verdade. A terrível verdade. Se em alguma parte obscura do meu coração eu não tivesse atraída por ele, pra começo de conversa, eu já teria o matado a muito tempo atrás. Ou tentado. Eu tinha mais mortes legalizadas que qualquer outro caçador de vampiros no país. Eles não me chamavam de Executora a toa.

Então como eu acabei me escondendo por segurança nos departamentos do Circo dos Malditos, embaixo com os monstros, em vez de em cima com os humanos? Porque em algum lugar durante o percurso, eu não matei o monstro que precisava.

Esse monstro em particular estava deslizando pelo corredor na minha frente. E ele continuava tendo a bunda mais bonitinha que eu já tinha visto em um homem morto.


22

Jean-Claude encostou um ombro contra a parede. Ele já tinha aberto a porta. Ele mencionou para que eu entrasse, com um gracioso movimento com sua mão.

Meu salto alto enfiou no profundo carpete branco. Papéis de parede brancos com pequenos designes pratas davam uma elegância à parede. Havia uma porta branca no lado esquerdo perto da cama. A cama estava com lençóis de cetim brancos. Uma dúzia de travesseiros brancos e pretos estavam agrupados ali. Cortinas pretas e brancas caiam do teto, formando um dossel parcial na cama. Uma cômoda envernizada de preto estava no canto oposto. O papel de parede e a porta eram novos.

Adivinhe o que me incomodou mais.

"Onde essa porta leva?"

"Ao banheiro." Ele fechou a porta e andou passando por mim para sentar no canto da cama. Não havia cadeiras.

"Um banheiro. Isso não estava ali na última vez." Eu disse.

"Não desse jeito, mas estava ali ainda assim."

Ele se inclinou na cama, apoiado nos cotovelos. O movimento fez o tecido da sua camisa ficar mais justo, expondo quanta pele era possível. Uma linha de cabelos pretos começava baixa em sua barriga, eu tinha um pequeno vislumbre disso por baixo de sua camisa.

O quarto estava começando a ficar mais quente. Eu desfiz o velcro do colete a prova de balas e o tirei passando pela minha cabeça. "Onde eu posso colocar isso?"

"Em qualquer lugar que você quiser." Ele disse. Sua voz era suave e mais íntimas que as palavras em si.

Eu andei até o lado mais distante da cama, longe dele, e deitei o colete contra os lençóis de cetim.

Ele deitou contra os lençóis, seu cabelo preto marcando seu rosto pálido perfeito. Quente, definitivamente estava ficando quente aqui.

"Posso ir me refrescar?"

"O que eu tenho é seu também, ma petite. Você deveria saber disso a essa altura."

Eu fui até a porta e a abri com um sentimento de alivio. Eu fechei a porta sem realmente olhar para o banheiro. Quando eu olhei para cima, eu deixei sair um silencioso uou.

O banheiro era longo e estreito. Havia uma pia dupla e espelhos rodeados por lâmpadas.

As pias eram de mármore preto com detalhes brancos por elas. Cada torneira, cada metal, brilhava prata. O chão estava coberto por um carpete preto. Uma metade de parede prata e com grupos de espelhos escondiam um vaso preto contra a parede preta. Outra meia parede estava elegante no outro lado.

Então ali havia a banheira. Três degraus de mármore guiavam até a banheira que era grande o suficiente para quatro pessoas. A torneira era um cisne prata com asas abertas. Não tinha nenhum jeito de eu tomar uma chuveirada, que era meu método predileto, e o cisne era um pouco demais, mas além disso, tudo era adorável.

Eu sentei no canto do mármore gelado. Era quase cinco da manhã. Meus olhos ardiam de sono. A adrenalina de quase ter sido morta havia sumido fazia um bom tempo.

O que eu queria era ser confortada, abraçada. Sim, sexo estava em algum lugar por ali, mas não era minha maior prioridade hoje a noite. Eu acho que Richard e Jean-Claude diriam que isso nunca era minha prioridade, mas isso era problema deles. Ok, era problema nosso.

Se fosse Richard deitado na cama do quarto ao lado, eu teria pulado nele hoje a noite. Mas não era Richard, e quando Richard chegasse ali, nós iríamos dormir na cama de Jean-Claude.

Parecia bem dispensável fazer sexo pela primeira vez na cama do seu outro namorado. Mas não era apenas os garotos que estavam sofrendo pela tensão sexual, eu estava me afogando nela também.

Richard estava certo? O fato de Jean-Claude não ser humano era a única coisa que me mantinha fora da cama dele? Não. Pelo menos eu acho que não. Fora da cama de Richard? A resposta, infelizmente, era sim, talvez.

Eu me refresquei e não pude evitar de me checar no espelho. A maquiagem havia sumido um pouco, mas o lápis no olho ainda deixava meus grandes olhos pretos com um contraste dramático. O blush tinha quase todo sumido, e o batom já tinha acabado há muito tempo. Eu tinha batom na minha bolsa. Eu poderia retocar isso depois.

Mas retocar ele agora seria admitir que eu me importava com o que Jean-Claude pensava de mim. Eu me importava. Essa era a parte realmente assustadora. Eu não passei mais batom. Eu saí do banheiro, deixando as coisas ao acaso.

Ele estava deitado em um ombro, me assistindo passar pela porta. "Ma petite, você é linda."

Eu balancei minha cabeça. "Bonita, eu deixo passar, mas não linda."

Ele colocou sua cabeça para o lado, mandando ondas de seu cabelo pelo ombro. "Quem te disse que você não é linda?"

Eu me inclinei contra a porta. "Quando eu era pequena, meu pai vinha por trás da minha mãe. Ele colocava seus braços em volta da cintura dela, escondia seu rosto em seu cabelo e dizia, ‘Como a mulher mais linda do mundo está hoje?’. Ele dizia isso pelo menos uma vez por dia. Ela ria e dizia pra ele não ser bobo, mas eu concordava com ele. Para mim, ela era a mulher mais linda do mundo."

"Ela era sua mãe. Todas as garotas pensam isso de suas mães."

"Talvez, mas dois anos depois que ela morreu, meu pai casou de novo. Ele se casou com Judith, que era alta e loira, com olhos azuis, e nada parecida com minha mãe. Se ele realmente acreditava que minha mãe era a mulher mais bonita do mundo, por que ele se casou com um tipo de Princesa Nórdica do gelo? Por que ele não se casou com alguém pequena e morena como minha mãe?"

"Eu não sei, ma petite." Ele disse quietamente.

"Judith tinha uma filha, apenas poucos anos mais nova que eu. E então eles tiveram Josh juntos e ele era loiro de olhos azuis, como o resto deles. Eu parecia como um pequeno erro escuro nas fotos de família."

"Sua pele é quase tão pálida quanto a minha, ma petite."

"Mas eu tenho os olhos e cabelos da minha mãe. Meu cabelo não é castanho, é preto. Uma mulher perguntou a Judith uma vez, na minha frente, se eu era adotada. Judith disse que não, que era filha do primeiro casamento do marido dela."

Jean-Claude deslizou saindo da cama. Ele se moveu em minha direção, e eu tive que olhar para o chão. Eu queria tanto ser abraçada, ser confortada.

Se tivesse sido Richard, eu teria ido até ele. Mas não era Richard.

Jean-Claude tocou minha bochecha e levantou meu rosto até que eu olhasse para ele. "Eu tenho vivido por mais de trezentos anos. Nesse tempo, o ideal de beleza mudou muitas vezes. Seios grandes, pequenos, magras, altas, baixas, todos os tipos já foram ideais de beleza alguma vez. Mas em todo esse tempo, ma petite, eu nunca desejei ninguém do jeito que eu desejo você."

Ele se inclinou na minha direção, e eu não me movi para longe. Seus lábios roçaram os meus em um beijo gentil.

Ele deu um passo a frente para pressionar nossos corpos juntos, e eu parei ele, uma mão em seu peito, mas tudo que eu encontrei foi sua pele nua. A aspereza de sua cicatriz de cruz encontrou meus dedos. Eu movi minha mão e achei com seu coração batendo contra minha palma. Não era uma melhora.

Ele se afastou, respirando, e sussurrou na minha boca, "Me diga não, ma petite, e eu irei parar."

Eu tive que tragar o ar duas vezes antes de conseguir falar. "Não."

Jean-Claude se afastou de mim. Ele deitou novamente na cama, como mais cedo, inclinado em seus cotovelos, suas pernas na altura do joelho, soltas fora da cama. Ele me encarou, me provocando para eu me juntar a ele, eu acho.

Eu não era tão boba. Havia uma parte escura de mim que estava tentada. Luxuria é algo menos lógico que amor, as vezes, mas mais fácil de se lutar contra.

"Eu tenho bancado o mortal para você por todos esses meses. Eu pensei que em março, quando você abraçou meu corpo nu, quando você dividiu sangue comigo, que isso iria mudar as coisas entre nós. Que você se entregaria ao seu desejo e admitiria seus sentimentos por mim."

Um vermelho quente subiu pelo meu rosto. Eu não tinha nenhuma boa desculpa pelas preliminares que saíram do controle. Eu era fraca, me processa então. "Eu doei sangue porque você estava morrendo. Eu nunca teria feito isso por outro motivo. Você sabe disso."

Ele me encarou. Não foram truques vampiricos que me fizeram olhar para longe.

Era a honestidade pura que eu nunca tinha visto no rosto dele antes. "Eu sei disso agora, ma petite. Quando você voltou de Branson, você se prendeu nos braços de Richard como se ele fosse uma linha vital. Nós continuamos a namorar, mas você está distante. Eu sinto isso e não sei como impedir."

Ele sentou na cama, mãos juntas em seu colo. Um olhar de frustração e confusão passou pelo seu rosto. "Eu nunca tive nenhuma outra mulher me negando, ma petite."

Eu ri. "Oh, como seu ego é grande."

"Não é questão de ego, ma petite, é a verdade."

Eu encostei contra a porta do banheiro e pensei sobre isso. "Ninguém, em quase trezentos anos, disse não a você?"

"Você acha isso tão difícil de acreditar?"

"Se eu consigo, outros também podem."

Ele balançou sua cabeça. "Você não aprecia o quão dura é a sua força de vontade, ma petite. É impressionante. Você não tem idéia do quão impressionante."

"Se eu tivesse me rendido aos seus braços quando nos conhecemos, ou até mesmo na décima vez que nos vimos, você teria dormido comigo, se alimentado de mim, e me chutado."

Eu assisti a verdade das minhas palavras encherem seu rosto. Eu não tinha percebido até então o quanto de controle ele tinha de suas expressões faciais, como esse descuidos de reações o fez ser mais indescritível que ele era.

"Você está certa." Ele disse. "Se você tivesse flertado comigo ou me bajulado, eu não teria te dado um segundo olhar. Sua parcial imunidade aos meus poderes, foi minha primeira atração. Mas foi sua teimosia que me intrigou. Suas constantes recusas a mim."

"Eu era um desafio."

"Sim."

Eu olhei em seu de repente rosto aberto. Pela primeira vez eu pensei ter visto verdade em seus olhos. "Uma coisa boa eu ter resistido. Eu não gosto de ser usada e jogada de lado."

"Uma vez você foi um desafio, algo a ser conquistado. Então eu comecei a me intrigar com seus poderes aumentando. Eu vi possibilidades de usar você para reforçar minha posição, se você se juntasse a mim."

Algo como dor passou pelo rosto dele, eu queria perguntar se ela era real.

Se alguma coisa disso tudo era real, ou se era apenas outra encenação. Eu confiava em Jean-Claude para fazer qualquer coisa que precisasse para se manter vivo. Eu não confiava nele para dizer a verdade nem sentado numa pilha de bíblias.

"Eu salvei sua bunda várias vezes. Eu sou sua serva humana declarada. O que mais você quer?"

"Você, ma petite." Ele se levantou, mas não chegou mais perto. "Não é mais um desafio ou a promessa de poder que me faz olhar para você."

Meu pulso estava de repente pulando na minha garganta, e ele não tinha feito droga nenhuma.

"Eu te amo, Anita."

Eu encarei ele, meus olhos ficando mais abertos. Eu abri minha boca, e a fechei. Eu não acreditava nele. Ele mentia tão facilmente, tão bem. Ele era um mestre em manipulações. Como eu poderia acreditar nele agora?

"O que você quer que eu diga?"

Ele balançou sua cabeça, e seu rosto voltou às suas linhas normais. À aquela linda perfeição que se passava por normal. Mas eu sabia que até mesmo isso era uma máscara, escondendo seus sentimentos mais profundos.

"Como você fez isso?"

"Depois de tantos séculos sendo forçado a manter seu rosto em agradáveis e ilegíveis linhas, você perde a habilidade de algo a mais. Minha sobrevivência dependeu de minhas expressões, mais de uma vez. Eu queria que você entendesse o esforço que essa pequena amostra de humanidade me custa."

"O que você quer eu diga, Jean-Claude?"

"Você me ama um pouco, disso eu tenho certeza."

Eu encolhi os ombros. "Talvez, mas um pouco não é o suficiente."

"Você ama muito ao Richard, não é?"

Eu olhei em seus olhos e queria mentir, queria proteger seus sentimentos, mas esses tipos de mentiras machucam mais que a verdade. "Sim."

"Ainda assim, você não fez sua decisão. Você não me disse para deixar vocês com suas bênçãos matrimoniais. Por que isso?"

"A última vez que tivemos essa conversa, você disse que mataria Richard."

"Se isso é tudo que está te impedindo, ma petite, não tema. Eu não matarei Richard meramente porque você está na cama dele e não na minha."

"Desde quando?" Eu perguntei.

"Quando eu tirei meu apoio de Richard, Marcus se tornou um inimigo. Isso não pode ser mudado." Ele encostou seu ombro contra a madeira escura da cama, perto de mim. "Eu pensei em fazer uma petição para um outro bando. Sempre há um alfa ambicioso em algum lugar. Alguém que gostaria de seu próprio bando, mas sem pensamentos sentimentalistas ou falhas de força, se condenando a bancar o segundo para sempre. Eu poderia matar Richard e trazer um outro alguém para matar Marcus."

Eu ouvi seu plano dito de forma atestando-um-fato. "O que te fez mudar de idéia?"

"Você."

"Tente de novo."

"Você o ama, ma petite. Você verdadeiramente o ama. A morte dele iria destruir algo dentro de você. Quando Julianna morreu, eu pensei que nunca mais iria me apaixonar por alguém. E não apaixonei, até conhecer você."

"Você não matará Richard por que isso me machucaria?"

"Oui."

"Então eu posso contar ao Richard quando ele chegar aqui que eu escolhi ele, e que você nos deixará livres, para nos casarmos, ou seja lá o que for."

"Não há um outro obstáculo em seu casamento além de mim?" Ele perguntou.

"Qual?"

"Você deve ver ele mudar para sua forma de lobo." Jean-Claude sorriu e balançou sua cabeça. "Se Richard fosse humano, você o receberia na porta com um sorriso e um sim. Mas você teme o que ele é. Ele não é humano o suficiente para você, ma petite."

"Ele não é humano o suficiente para ele mesmo." Eu disse.

Jean-Claude levantou suas sobrancelhas. "Sim, Richard corre de sua besta, como você corre de mim. Mas Richard divide seu corpo com sua besta. Ele não pode fugir para sempre disso."

"Eu sei."

"Richard ainda está fugindo, ma petite. E você está fugindo com ele. Se você estivesse segura que poderia aceitar ele, todo ele, você já teria feito isso até agora."

"Ele continua encontrando desculpas para não mudar para mim."

"Ele teme sua reação." Jean-Claude disse.

"É mais do que isso." Eu disse. "Se eu puder aceitar sua besta, eu não tenho certeza se ele será capaz de me aceitar."

Jean-Claude colocou sua cabeça para um lado. "Eu não entendo."

"Ele odeia tanto o que ele é. Eu acho que se eu puder aceitar sua besta, ele não... ele não vai me amar mais."

"Ser capaz de aceitar a besta dele te faria ser o que... perversa?"

Eu assenti. "Eu acho que sim."

"Você está presa em um cruel dilema, ma petite. Ele não fará amor com você ou casará, ao menos que você veja e aceite sua besta. Mas se você aceitar isso, ele teme que não irá mais te querer."

"É."

Ele balançou sua cabeça. "Apenas você poderia escolher dois homens em uma vida humana que são tão confusos."

"Eu não fiz de propósito."

Ele se afastou da cama, parando dois passos pequenos na minha frente, olhando para baixo. "Eu tentei bancar o mortal por você, ma petite. Mas Richard é muito melhor em ser humano do que eu. Eu não tenho sido verdadeiramente humano por um longo tempo. Se eu não posso ser o melhor homem, me deixe ser o melhor monstro."

Meus olhos se estreitaram. "O que isso quer dizer?"

"Quer dizer, ma petite, que Jason me disse o que aconteceu essa tarde. Eu sei o quão perto você e Richard ficaram."

Que tanto um licantropo pode ouvir? Mais do que eu estava confortável em saber, com certeza. "Eu amo ser espiada."

"Não seja petulante, ma petite, por favor."

Ele me ganhou no por favor. "Estou ouvindo."

"Eu te disse antes que se Richard pudesse te tocar e eu não, que não seria justo. Isso ainda é verdade."

Eu me afastei da porta. Ele deu um passo a frente. "Você está me pedindo para deixar você me tocar onde Richard me tocou?"

Ele sorriu. "Eloqüente indignação, ma petite. Mas não tema. Me forçar em você de tal maneira seria beirar o estupro. Eu nunca estive interessado em tal coisa."

Eu dei um passo para trás, colocando um espaço entre nós. Ao menos que eu estivesse realmente brava, nunca era bom deixar tão pouca distancia entre nós. "Então, o que você está dizendo?"

"Você sempre me proibiu de usar truques vampiricos, como você os chama, em você." Ele levantou uma mão antes que eu pudesse falar.

"Eu não quero dizer enfeitiçar você com meus olhos. Eu nem tenho certeza se isso ainda é possível. Eu não posso ser humano, ma petite. Eu sou um vampiro. Me deixe te mostrar os prazeres que transcendem a humanidade."

Eu balancei minha cabeça. "De jeito nenhum."

"Um beijo, ma petite, isso é tudo que eu peço. Apenas um beijo."

"E a armadilha disso é?" Eu perguntei.

Seus olhos eram sólidos e resplandecentes azuis. Sua pele brilhava como alabastro na luz.

"Eu acho que não." Eu disse.

"Se você tem tanta certeza sobre Richard, eu te deixarei com ele. Mas o fato de eu te amar não merece nem mesmo um beijo?" Ele deslizou na minha direção. Eu me afastei, mas a porta estava bem ali, e não havia para onde escapar.

Ele era como uma escultura viva, toda de marfim e safiras, lindo demais para palavras. Lindo demais para tocar. Suas mãos passaram suavemente em meus antebraços, pelas minhas mãos. Eu traguei o ar. Poder passou pela minha pele em um banho suave, como ar dançando em meu corpo.

Eu devo ter ficado tensa, porque Jean-Claude disse, "Eu não te machucarei, isso eu prometo."

"Apenas um beijo." Eu sussurrei.

"Apenas um beijo." Ele sussurrou. Seu rosto se abaixou até o meu. Seus lábios roçaram os meus, gentilmente, devagar. O poder fluiu dos seus lábios para minha boca. Eu acho que parei de respirar por um segundo.

Minha pele parecia estar derretendo e eu iria me fundir ao corpo dele, naquele brilhante poder.

"Parece que eu cheguei bem a tempo." Era Richard no vão da porta.

Eu empurrei minha mão no peito de Jean-Claude o empurrando forte o suficiente para ele cambalear. Eu estava procurando ar como se estivesse me afogando. Minha pele pulsava e batia com o poder que andava por mim, dentro de mim.

"Richard." Eu sussurrei. Eu queria dizer que não era o que parecia, mas eu não conseguia ar o suficiente.

Jean-Claude se virou, sorrindo. Ele sabia exatamente o que dizer. "Richard, que bom que você se juntou a nós. Como você passou pelo meu lobo?"

"Não foi muito difícil."

Eu encarei os dois. Eu ainda estava tendo dificuldades para respirar. Eu sentia como se cada nervo do meu corpo tivesse sido tocado, de uma vez. A linha entre prazer e dor estava malditamente estreita, e eu não tinha certeza que lado isso se encaixava.

A luz estava deixando Jean-Claude, deixando ele pálido, adorável, quase humano.

Richard parou diretamente na frente da porta. Seus olhos brilhando, não com sua luz interior, mas de raiva, uma raiva que fez seus olhos dançarem, tencionando os músculos em seus ombros e abaixo em seus braços, tanto que o esforço era visível do outro lado do quarto. Eu nunca estive tão ciente de quão fisicamente grande ele era. Ele parecia preencher mais espaço que deveria. A primeira faísca de seu poder chegou em mim.

Eu respirei fundo, uma respiração tremida, e comecei a andar na direção dele. Quanto mais perto eu chegava, mais denso era o poder, seis pés de distancia dele, era como estar perto de uma massa sólida pulsante, uma energia vibrante.

Eu parei ali, tentando engolir meu coração que estava na garganta.

Richard estava vestido com jeans e uma camisa verde flanela com as mangas enrolada em seus antebraços. Seu cabelo caia solto em seus ombros, em uma massa bagunçada. Eu tinha visto ele assim centenas de vezes, mas de repente, tudo estava diferente.

Eu nunca tive medo de Richard, não de verdade. Agora, pela primeira vez, eu vi que havia algo a temer. Havia algo nadando atrás de seus olhos, sua besta, ele a tinha chamado. Estava logo ali, atrás daqueles olhos verdadeiramente castanhos. Um monstro esperando ser solto.

"Richard." Eu disse, e tive que limpar minha garganta. "O que há de errado com você?"

"Amanhã será lua cheia, Anita. Emoções fortes não são boas agora."

Fúria encheu seu rosto, fazendo aquelas adoráveis bochechas mais altas e densas. "Se eu não tivesse interrompido, você teria quebrado sua promessa para mim?"

"Ele ainda não sabe que tipo de meias eu estou usando." Eu disse.

Richard sorriu, parte da tensão diminuindo.

"Muito suaves para cinta-liga." Jean-Claude disse. "Meias finas, se bem que elas podiam ser de renda, disso eu não tenho certeza."

Richard grunhiu.

Eu olhei de volta para Jean-Claude. "Não me ajude."

Ele sorriu e assentiu. Ele encostou suas costas contra a cabeceira da cama, dedos brincando pela pele nua de seu peito. Era sugestivo, e ele fez de propósito. Maldito seja.

Um baixo e grave rosnado chamou minha atenção de volta para Richard. Ele andou em volta da cama como se cada movimento doesse. A tensão cantava no poder crescente. Eu iria ver ele mudar aqui e agora? Se ele mudasse, teria uma briga, e pela primeira vez eu fiquei preocupada com a segurança de Jean-Claude, assim como a de Richard.

"Não faça isso, Richard, por favor."

Ele estava encarando além de mim, para Jean-Claude. Eu não ousei olhar para trás para ver o que vampiro travesso estava fazendo. Minhas mãos estavam cheias com o lobisomem na minha frente.

Algo passou pelo rosto dele. Eu tinha certeza que Jean-Claude tinha feito alguma coisa atrás das minhas costas. Richard fez um som mais animal do que humano e se apressou em direção a cama. Eu não saí do caminho. Eu continuei firme, e quando ele estava quase perto de mim, passando por mim, eu joguei meu corpo no dele e o peguei em um quase perfeito rolamento. Seu impulso fez o resto.

Talvez se eu tivesse soltado seu braço, nós poderíamos ter evitado o resto, mas eu fiz um erro clássico. Eu não achei que Richard realmente me machucaria.

Ele agarrou o braço que eu estava o segurando e me jogou pelo quarto. Ele estava plano de costas e não teve muito espaço para impulso, e foi isso que me salvou. Eu fiquei no ar por apenas um segundo e rolei pelo carpete quando o acertei. O mundo ainda estava girando quando minha mão alcançou a faca. Eu não conseguia ouvir nada além do sangue correndo dentro da minha cabeça, mas eu sabia, eu sabia que ele estava chegando perto de mim.

Ele tocou meu braço, me rolando, e eu encostei a lâmina de prata contra seu pescoço.

Ele congelou, curvado, tentando, eu acho, me ajudar a levantar. Richard e eu nos encaramos por centímetros de distância.

A raiva havia sumido de seu rosto. Seus olhos estavam normais, adoráveis como nunca, mas eu mantive a faca contra a suave pele de seu pescoço, firmemente, então ele sabia que eram apenas negócios.

Ele respirou cuidadosamente. "Eu não quis te machucar, Anita. Me desculpe."

"Se afaste." Eu disse.

"Você está machucada?"

"Se afaste, Richard. Agora!"

"Me deixe te ajudar." Ele chegou mais perto e eu pressionei a lâmina forte o suficiente para fazer trilhar um pouco de sangue.

"Me solta, Richard."

Ele me soltou e se moveu lentamente para longe. Ele parecia confuso e machucado. Ele tocou o sangue em seu pescoço, como se não soubesse o que era.

Quando ele estava fora de alcance, eu me deixei tombar no carpete. Eu não havia quebrado nada, disso eu tinha certeza, e eu não estava sangrando. Se ele tivesse me jogado na parede com esse tanto de força, seria outra história. Eu estive namorando com ele por sete meses, quase dormi com ele mais de uma vez, e em todo esse tempo, eu não tinha percebido totalmente com o que estava lidando.

"Ma petite, você está bem?" Jean-Claude estava parado no pé da cama. Ele estava assistindo Richard, perto, enquanto se movia até mim.

"Estou bem, estou bem." Eu olhei para cima, para ele. "O que você fez nas minhas costas pra deixar ele puto?"

Jean-Claude pareceu envergonhado. "Eu provoquei Monsieur Zeeman. Talvez eu até mesmo quisesse uma briga. Ciúmes é um sentimento tolo. Como eu saberia que você não sairia do caminho de um lobisomem se transformando?"

"Eu não saio do caminho, para ninguém." Eu quase ri. "Se bem que na próxima vez, talvez eu faça uma exceção."

"Eu não quis te machucar." Richard disse. "Mas vendo vocês juntos assim... Saber que você estava com ele não é a mesma coisa que ter isso esfregado na cara." Sua raiva havia sumido no momento que ele havia me machucado.

Horror pelo que tinha feito, medo pela minha segurança e sanidade retornando de uma vez.

"Nós estávamos apenas nos beijando, Richard, mais nada, não importa no que ele quer você acredite."

"Eu estava de repente com tanto ciúmes. Me desculpe."

"Eu sei que foi um acidente, Richard. Eu apenas estou feliz que não havia uma parede por perto."

"Eu podia ter te machucado seriamente." Ele deu um passo na minha direção, mãos se estendendo e então ele se parou. "E você quer que eu deixe a besta livre o suficiente para matar. Você não entende o quão difícil é lutar pelo controle?"

"Eu entendo melhor do que há uns minutos atrás." Eu disse.

"Suas malas estão no corredor. Eu trarei elas, e então vou embora." Esse era o olhar que eu temia. Esse coração partido, esse olhar de cachorrinho. A raiva era fácil de se lidar, além de ser mais perigosa.

"Não vá."

Os dois me olharam.

"Jean-Claude planejou isso." Eu levantei minha mão antes que ele pudesse protestar. "Ah, eu sei que você aproveitou bem o tempo, mas você ainda queria que Richard nos visse juntos. Você queria começar uma briga. Você queria me mostrar que ele é tão monstro quanto você é. Você teve bastante sucesso em todas as contagens. Agora, cai fora."

"Você está me enxotando do meu próprio quarto?" Ele pareceu divertido.

"Sim." Eu me levantei e estava apenas um pouco cambaleante no salto alto.

Jean-Claude suspirou. "Eu estarei exilado para sempre no meu caixão então, nunca sabendo como é aproveitar sua companhia em meu cochilo."

"Você não vai lá para dormir, Jean-Claude. Você morre. Talvez eu tenha uma luxuria pelo seu quente corpo com respiração, mas eu não estou afim do pacote todo ainda."

Ele sorriu. "Muito bem, ma petite. Eu deixarei você e Monsieur Zeeman discutirem em um minuto. Antes, eu gostaria de pedir uma coisa."

"E o que é?" Eu perguntei.

"Que você não faça amor em minha cama quando eu não posso me juntar a você."

Eu suspirei. "Seria extremamente estranho fazer amor com Richard na sua cama. Eu acho que você está seguro quanto a isso."

Jean-Claude olhou para Richard. Seus olhos pareciam tomar cada centímetro do corpo dele, se entretendo na ferida aberta no pescoço dele, se bem que talvez fosse apenas minha imaginação. "Se alguém pode resistir à tentações, esse alguém é você, ma petite." Jean-Claude me olhou, seu rosto ilegível. "Eu lamento que você tenha quase se machucado. Eu não planejei que isso acontecesse."

"Você sempre tem boas intenções." Eu disse.

Ele suspirou, e então sorriu. Ele olhou para Richard. "Talvez eu não seja o melhor monstro, no final das contas."

"Sai daqui." Eu disse.

Ele saiu, ainda sorrindo. Ele fechou a porta atrás dele, e eu fui deixada com seu poder dançando na minha pele, com a sensação de seus lábios e mãos em meu corpo.

Foi apenas um beijo. Preliminares. Mas mesmo toda a adrenalina de quase ser jogada em uma parede, não conseguiu fazer sumir os efeitos.

Richard ficou parado me olhando, como se pudesse sentir o poder de alguma forma. "Eu vou pegas as malas." Ele disse. Ele poderia ter dito muitas coisas, mas isso foi seguro.

Ele saiu para pegar as malas, e eu me sentei na cama. Richard poderia ter me matado. Jean-Claude nunca perderia o controle dessa forma. Eu queria que Richard aceitasse sua besta, mas talvez, apenas talvez, eu não entendi o que isso significaria.


23

Eu me sentei no canto da cama, esperando Richard voltar para o quarto. Minha pele estava pulando pelo presente de despedida de Jean-Claude. Apenas um beijo e Richard quase tinha pulado em Jean-Claude e em mim. O que Richard teria feito se tivesse nos pegado fazendo algo realmente lascivo? É melhor não descobrir.

Richard colocou minha mala e ambas mochilas dentro do quarto. Ele saiu de novo e voltou com uma outra pequena mochila.

Ele parou ali, em frente a porta, me encarando. Eu encarei de volta. Sangue ainda trilhava em sua garganta, onde eu havia cortado ele. Nenhum de nós parecia saber o que dizer. O silêncio cresceu até que era tão denso que começou a pesar.

"Me desculpe por ter machucado você." Ele disse. "Eu nunca perdi meu controle assim antes." Ele deu um passo a frente. "Mas ver você com ele..." Ele levantou suas mãos e então deixou elas caírem ao seu lado, impotente.

"Foi apenas um beijo, Richard. Isso é tudo."

"Nunca é apenas um beijo com Jean-Claude."

Eu não podia argumentar isso.

"Eu queria matar ele." Richard disse.

"Eu percebi."

"Tem certeza que você está bem?"

"Como está seu pescoço?" Eu perguntei.

Ele tocou a ferida e seus dedos voltaram com sangue fresco. "Lâmina de prata, não vai curar imediatamente." Ele andou até ficar na minha frente, olhando para baixo, tão perto que suas pernas com jeans quase roçavam meus joelhos. Era quase perto demais. O toque persistente do poder de Jean-Claude fez minha pele ficar mais tensa. Richard tão perto assim, fez ficar pior.

Se eu me levantasse, nossos corpos se tocariam, ele estava perto o suficiente para isso. Eu me mantive sentada, tentando tragar os últimos pedaços do efeito do beijo de Jean-Claude. Eu não tinha certeza do que aconteceria se eu tocasse Richard agora. Eu me sentia como se seja lá o que for que Jean-Claude fez, havia reagido ao corpo de Richard. Ou talvez isso era eu. Talvez eu estivesse começando a ficar necessitada. Talvez meu corpo estava cansado de dizer não.

"Você realmente teria me matado?" Richard perguntou. "Você poderia ter realmente enfiado essa lâmina em mim?"

Eu encarei ele e queria mentir para aquela sinceridade em seus olhos, mas não menti. Seja lá o que estávamos fazendo um com o outro, seja lá o que significássemos um para o outro, isso não podia ser baseado em mentiras.

"Sim."

"Simples assim." Ele disse.

Eu assenti. "Simples assim."

"Eu vi em seus olhos. Gelados, sem paixão, como se fosse outra pessoa me olhando através deles. Se eu tivesse certeza que poderia matar tão sem sentimentos, isso não me assustaria tanto."

"Eu queria poder te prometer que você não desfrutaria isso, mas eu não posso."

"Eu sei disso." Ele me encarou. "Eu não conseguiria matar você. Por nenhuma razão."

"Iria destruir algo em mim te perder, Richard, mas minha primeira reação é me proteger a qualquer custo. Então, se nós tivermos outro desentendimento como esse de hoje a noite, não me ajude a levantar, não chegue perto de mim, até que eu tenha certeza que você não vai me comer. Certo?"

Ele assentiu. "Certo."

A energia que Jean-Claude havia me dado estava sumindo, acalmando. Eu me levantei e o corpo de Richard tocou o meu. Eu senti instantaneamente um ímpeto de energia quente que não tinha nada a ver com o vampiro. A aura de Richard me cobriu como um vento morno. Seus braços deslizaram por trás das minhas costas. Eu deslizei minhas mãos em volta de sua cintura e deitei minha bochecha contra seu peito. Eu ouvi as profundas batidas de seu coração, correndo minhas mãos pela maciez da sua camisa de flanela. Havia um conforto nos braços de Richard que simplesmente não existia quando Jean-Claude me abraçava.

Ele correu suas mãos pelo meu cabelo, colocando uma mão em cada lado do meu rosto. Ele se afastou de mim até que pode ver meu rosto. Ele se inclinou na minha direção, lábios repartidos. Eu me levantei na ponta dos pés para encontrar ele.

Uma voz disse, "Mestre."

Richard se virou comigo ainda em seus braços, então conseguimos olhar a porta.

Jason se arrastava pelo carpete branco, sangue caindo onde ele se movia.

"Meu Deus, o que aconteceu com você?" Eu perguntei.

"Eu aconteci para ele." Richard disse. Ele andou até o homem arrastado.

"O que você quer dizer, você aconteceu para ele?"

Jason se humilhou aos pés de Richard, seu rosto pressionado no carpete. "Me desculpe."

Richard ajoelhou e levantou Jason, o sentando. Sangue descia em uma ferida em seu rosto, por cima de seus olhos. Era profunda e precisaria de alguns pontos.

"Você jogou ele em uma parede?" Eu perguntei.

"Ele tentou me impedir de vir até você."

"Eu não acredito que você fez isso."

Richard me olhou. "Você quer que eu seja um líder do bando. Você quer que eu seja um alfa. Bem, isso faz parte." Ele balançou sua cabeça. "Você deveria ver seu rosto. Você parece tão ultrajada. Como você pode querer que mate outro ser humano e ficar tão desapontada com um pouco de violência?"

Eu não sabia o que dizer. "Jean-Claude disse que matar Marcus não seria suficiente. Que você teria que aterrorizar o bando para você realmente reinar."

"Ele está certo." Richard limpou o sangue do rosto de Jason. O corte já estava começando a fechar. Ele colocou seus dedos com sangue na sua boca e o lambeu, os deixando limpos.

Eu parei ali, congelada, encarando, como se olha um acidente de carro.

Richard se aproximou ao rosto de Jason. Eu pensei que sabia o que ele iria fazer, mas eu tinha que ver para acreditar. Ele lambeu a ferida. Ele correu sua língua pela ferida aberta como um cachorro faz.

Eu me virei. Isso não podia ser meu Richard, meu seguro e confortador Richard.

"Você não consegue olhar, não é?" Ele perguntou. "Você acha que matar era a única coisa que eu estava me recusando a fazer?"

Sua voz me fez virar de volta.

Havia um borrado de sangue em seu queixo.

"Assista tudo, Anita. Eu quero que você veja o que é ser um alfa. E então me diga se tudo isso vale a pena. Se você não tem estômago para isso, então nunca mais me peça novamente para fazê-lo." O olhar em seus olhos fez disso um desafio.

Eu entendia de desafios. Eu me sentei no canto da cama. "Vá em frente. Sou toda sua."

Richard jogou seu cabelo para o lado, expondo a ferida de seu pescoço. "Eu sou um alfa e eu alimento o bando. Eu derramei seu sangue, e agora eu o devolvo." Um ímpeto de seu poder quente encheu o quarto.

Jason olhou para ele, rolando seus olhos para cima, quase fazendo ele parecer cego. "Marcus não faz isso."

"Porque ele não pode." Richard disse. "Eu posso. Se alimente do meu sangue, de minhas desculpas, meu poder, e nunca fique contra mim novamente." O ar estava tão denso com poder que era difícil respirar.

Jason levantou de joelhos e colocou sua boca na ferida, cuidadosamente primeiro, como se estivesse com medo que Richard fosse se afastar ou machuca-lo. Quando Richard não disse nada, Jason pressionou sua boca na ferida aberta e bebeu. Os músculos de sua mandíbula trabalhavam, sua garganta engolindo. Uma mão nas costas de Richard e outra em seu ombro.

Eu andei até eles até que pude olhar o rosto de Richard. Seus olhos estavam fechados, seu rosto tranqüilo. Ele deve ter sentido eu olhando para ele, porque ele abriu seus olhos. Havia uma fúria ali, direcionada a mim, parcialmente. Não era apenas sobre matar Marcus, era sobre desistir de pedaços de sua humanidade. Eu não havia entendido isso, não até agora.

Ele tocou os ombros de Jason. "Chega." Jason se pressionou mais firmemente contra a ferida, como um cachorrinho enfermo. Richard o afastou de seu pescoço. Um roxo já havia se espalhado em volta da ferida.

Jason deitou de costas, meio segurado nos braços de Richard. Ele lambeu os cantos de sua boca, pegando as últimas gotas de sangue. Ele deu uma risadinha e rolou para longe de Richard, ajoelhando no chão. Ele esfregou seu rosto pela perna de Richard. "Eu nunca senti nada como isso. Marcus não pode compartilhar poder assim. Mais alguém no bando sabe que você consegue compartilhar sangue?"

"Diga a eles." Richard disse. "Diga a todos."

"Você realmente vai matar Marcus, não vai?" Jason perguntou.

"Se ele não me der escolha, sim. Agora, vá, Jason, seu outro mestre está te esperando."

Jason se levantou e quase caiu. Ele se endireitou, esfregando suas mãos em suas pernas e braços, como se estivesse se banhando de algo que eu não podia ver. Talvez fosse o poder quente que ele estava tentando grudar no corpo dele. Ele riu de novo. "Se você me alimentar, você pode me jogar na parede a qualquer momento."

"Sai daqui." Richard disse.

Jason saiu.

Richard ainda estava ajoelhado no chão. Ele me olhou. "Você entende agora por que eu não queria fazer isso?"

"Sim." Eu disse.

"Talvez se Marcus souber que eu posso compartilhar sangue, meu poder, ele se afaste."

"Você ainda tem esperanças de não matar ele." Eu disse.

"Não é apenas sobre matar, Anita. É tudo que vem com isso. É o que eu acabei de fazer com Jason. Centenas de coisas, nenhuma delas muito humanas." Ele me olhou, e havia uma dor em seus olhos castanhos que eu nunca tinha visto antes.

Eu entendi de repente. "Não é o matar exatamente, não é? Uma vez que você consiga dominar o bando com sangue e força bruta, você tem manter essa dominância com o sangue e força bruta."

"Exatamente. Se eu pudesse forçar Marcus a se afastar de alguma forma, se o fizesse quietar, então eu poderia ter a oportunidade de fazer as coisas diferentes." Ele se levantou, parando na minha frente, seu rosto ansioso. "Eu trouxe quase metade do bando para o meu lado, ou pelo menos estão neutros. Eles não estavam seguindo Marcus mais. Ninguém nunca dividiu um bando assim antes, sem mortes."

"Por que vocês não podem ter dois bandos?"

Ele balançou sua cabeça. "Marcus nunca permitiria isso. Um líder do bando tem esse título vindo de cada membro. Não iria cortar apenas seu poder, mas seu dinheiro."

"Vocês estão ganhando dinheiro agora?" Eu perguntei.

"Todo mundo continua pagando dízimo ao Marcus. Eu não quero o dinheiro, e isso é apenas mais uma briga. Eu acho que o dízimo tinha que ser abolido."

Eu assisti a luz em seu rosto, os planos, os sonhos.

Ele estava construindo uma base de poder dos contos de fadas e virtudes de escoteiros com criaturas que poderiam arrancar sua garganta e te comer depois.

Ele acreditava que poderia fazer aquilo. Assistindo aquele lindo e ansioso rosto, eu quase acreditei também.

"Eu pensei que você mataria Marcus e acabaria aí. Mas não vai acabar aí, vai?"

"Raina cuidará para que eu seja desafiado. Ao menos que eu passe medo neles."

"Enquanto Raina estiver viva, ela vai ser um problema."

"Eu não sei o que fazer com Raina."

"Eu poderia matar ela." Eu disse.

O olhar em seu rosto foi o suficiente.

"Estou brincando." Eu disse. Mais ou menos. Richard não concordaria com um ultimato prático, mas para ele ficar em segurança, Raina tinha que ser morta. Sangue frio isso, mas era verdade.

"No que está pensando, Anita?"

"Que talvez você esteja certo e o resto de nós errados."

"Sobre o que?"

"Talvez você não devesse matar Marcus."

Os olhos de Richard se abriram mais. "Eu pensei que você estava brava comigo por não querer matar Marcus."

"Não é sobre matar Marcus. É sobre deixar todo mundo em perigo por não matar Marcus."

Ele balançou a cabeça. "Eu não vi a diferença."

"A diferença é que matar é um jeito de terminar algumas coisas, mas não é finalizar tudo. Eu quero você vivo. Marcos fora. Os membros do bando que te seguem, em segurança. Eu não quero que você tenha que torturar o bando para manter seu lugar. Se nós pudéssemos juntar tudo isso sem ter que matar alguém, eu estou ok com isso. Eu acho que não tem opções que não incluem matar alguém. Mas se você tiver alguma idéia, eu vou te apoiar."

Ele estudou meu rosto. "Agora você está me dizendo que você acha eu não devo matar?"

"Sim."

Ele riu, mas era mais por ironia do que humor. "Eu não sei se devo gritar com você ou te abraçar."

"Eu afeto um monte de pessoas desse jeito." Eu disse. "Olha, quando fomos resgatar Stephen, você deveria ter chamado algumas pessoas. Deveria ir para uma situação que envolve posição de força, com três ou quatro tenentes com você. Há uma diferença entre bancar o Sir. Lancelot e ser o Vlad, O Impalador{12}."

Ele se sentou no canto da cama. "Ser capaz de alimentar com poder, através do meu sangue, é um talento raro. É impressionante, mas não será o suficiente. Eu tenho que ter alguma coisa mais assustadora para Marcus e Raina se afastarem. Eu sou poderoso, Anita, realmente poderoso." Ele disse como se fosse simplesmente verdade, sem egocentrismo, sem orgulho. "Mas eu não esse tipo de poderoso."

Eu me sentei do lado dele. "Eu vou fazer tudo que eu puder, Richard. Apenas me prometa que você não vai ser descuidado."

Ele sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos. "Eu não serei descuidado se você me der um beijo."

Nós nos beijamos. O sabor dele era morno e certo, mas por baixo disso estava o doce sal de sangue, e a loção pós barba de Jason. Eu me afastei dele.

"O que foi?"

Eu balancei minha cabeça. Dizer a ele que eu podia sentir o gosto do sangue de outra pessoa na boca dele não iria ser uma grande ajuda. Nós iríamos tentar dar um jeito para que ele não tenha que fazer coisas assim. Não era a besta dele que roubaria sua humanidade, era centenas de coisas menores.

"Mude para mim." Eu disse.

"O que?"

"Mude para mim, aqui, agora."

Ele me encarou, como se estivesse tentando ler algo no meu rosto. "Por que agora?"

"Me deixe ver tudo de você, Richard, o pacote completo."

"Se você não quer dividir a cama com o Jean-Claude, você não vai querer um lobo com você tampouco."

"Você não ficaria preso na forma de lobo pela manhã toda, você disse isso mais cedo."

"Não, eu não ficaria." Ele disse suavemente.

"Se você mudar hoje a noite, e eu aceitar isso, nós poderemos fazer amor. Nós poderemos começar a planejar o casamento."

Ele riu. "Posso matar Marcus antes que eu tenha que matar Jean-Claude?"

"Jean-Claude prometeu não te machucar." Eu disse.

Richard ficou bem parado. "Você já falou com ele sobre isso?"

Eu assenti.

"Por que ele não estava bravo comigo?"

"Ele disse que sairia do caminho se não pudesse me ganhar, então, ele está saindo do caminho." Eu não acrescentei a parte sobre Jean-Claude me amar. Deixa isso pra depois.

"Chame sua besta, Richard."

Ele balançou sua cabeça. "Não é apenas minha besta, Anita. É o lukoi, o bando. Você tem que ver eles também."

"Eu vi eles."

Ele balançou sua cabeça. "Você não nos viu no lupanar. Nosso lugar de poder. Nós somos reais ali, sem fingimentos, nem mesmo para nós mesmos."

"Eu acabei de te dizer que quero me casar com você. Você desistiu disso?" Eu perguntei.

Richard se levantou. "Eu quero me casar com você, Anita, mais do que qualquer outra coisas no mundo. Eu quero tanto você, que meu corpo dói com isso. Eu não confio em mim mesmo aqui hoje a noite."

"Nós já ficamos castos por tanto tempo." Eu disse.

"Da pele aos dentes." Ele pegou sua mochila. "Lukois chamam sexo de dança mortal."

"E daí?"

"Nós usamos a mesma frase para batalhas de sucessão."

"Eu ainda não entendi o problema."

Ele me encarou. "Você entenderá. Deus nos ajude. Você entenderá."

Havia algo tão triste, tão nostálgico nele de repente, que eu não queria deixar ele ir. Amanhã ele enfrentaria Marcus, e só porque ele concordou em matar, isso não significava que ele conseguiria. Quando o momento viesse, eu não confiava nele para não hesitar. Eu não queria perder ele.

"Fique aqui comigo, Richard. Por favor."

"Isso não seria justo com você."

"Não seja um maldito garotinho escoteiro."

Ele sorriu e me deu uma imitação muito ruim do Popeye. "Eu sou o que sou." Ele fechou a porta atrás dele. Eu não ganhei nem mesmo um beijo de despedida.


24

Eu acordei na escuridão e havia alguém curvado sobre mim. Eu não podia realmente ver, mas eu senti algo no ar acima de mim como um peso. Minha mão deslizou até embaixo do travesseiro e saiu de lá com a Firestar. Eu empurrei a arma em seja lá quem era, e ela sumiu como um sonho. Eu deslizei da cama, pressionando minhas costas contra a parede, me fazendo um alvo pequeno o quanto era possível.

Uma voz veio da escuridão. Eu apontei para ela, esforçando meus ouvidos a ouvir algo do intruso.

"É Cassandra. O interruptor da luz está em cima de você. Eu continuarei bem aqui enquanto você acende a luz." Sua voz era baixa, regular, o tipo de voz que você usava com gente louca, ou pessoas que tem armas apontadas para você.

Eu engoli meu pulso e me levantei pressionada contra a parede. Eu tateei pela parede, com minha mão esquerda, até acertar a placa do interruptor, então eu me ajoelhei de novo, dedos tocando o interruptor. Quando eu estive o mais baixa que pude e ainda conseguia acender a luz, eu apertei. A luz acendeu. Houve um momento de tontura cega enquanto eu estava agachada no chão, a arma apontada cegamente. Quando eu pude ver, Cassandra estava parada perto do pé da cama, mãos em seus lados, me encarando. Seus olhos estavam abertos um pouco demais. O laço de sua camisola vitoriana se mexia com sua respiração. Sim, camisola vitoriana. Ela parecia delicada, como uma boneca. Eu perguntei na noite passada se Jean-Claude havia comprado a camisola. Não, ela havia comprado. Por vontade própria.

Ela parou no carpete, congelada, encarando. "Anita, você está bem?" Seu tom dizia que ela achava que não.

Eu respirei profundamente e apontei a arma para o chão. "Sim, estou bem."

"Posso me mexer?"

Eu me levantei, segurando a arma do meu lado. "Não tente me tocar quando eu estou dormindo profundamente. Diga algo antes."

"Eu me lembrarei disso." Ela disse. "Posso me mexer?"

"Claro. O que foi?" Eu perguntei.

"Richard e Jean-Claude estão do lado de fora."

Eu olhei meu relógio. Era uma da tarde.

Eu tive quase seis horas de sono. Ou teríamos se Cassandra e eu não tivéssemos conversado por um hora. Eu não tinha uma colega de quarto em anos, e francamente, garota ou não, ela ainda era uma lincatropo que eu conhecia por apenas uma noite. Era estranho confiar nela como minha segurança. Eu nunca gostei de dormir com estranhos. Não é nada sexual. É simplesmente suspeita. Estar profundamente dormindo é uma forma de estar impotente para ser pego.

"O que eles querem?"

"Richard disse que ele tem um plano."

Eu não tive que perguntar plano pra que. Havia apenas uma coisa na cabeça dele no dia de lua cheia: Marcus.

"Diga a eles que eu vou me vestir primeiro." Eu fui até minha mala. Cassandra andou silenciosamente até a porta. Ela abriu ela, apenas uma fresta, e conversou em voz baixa. Ela fechou a porta firmemente atrás dela e voltou para onde estava. Ela parecia confusa. Com aquela camisola e um franzido de confusão em sua testa, ela parecia ter uns 12 anos.

Eu me ajoelhei do lado da mala, roupas em mãos, olhando para ela. "O que foi agora?"

"Jean-Claude disse que você precisa se incomodar em se vestir."

Eu encarei ela por uma batida de coração. "É, certo. Eu vou me vestir. Eles podem simplesmente esperar por mim todo esse tempo."

Ela assentiu e voltou para a porta.

Eu fui para o banheiro. Eu me olhei no espelho. Eu parecia tão cansada quanto me sentia. Eu escovei os dentes, tomei conta das minhas necessidades, e desejei tomar um banho. Isso ajudaria a me acordar. Eu poderia tomar um banho rápido, mas eu não tinha certeza se os garotos iriam esperar tanto assim. Além do mais, um banho era algo que eu fazia para ir pra cama, não acordar. Eu precisava de algo estimulante, não calmante.

Richard tinha um plano, mas Jean-Claude estava com ele. Isso quer dizer que o vampiro havia ajudado a elaborar esse plano. Era um pensamento assustador.

Hoje a noite Richard iria lutar com Marcus. Ele poderia estar morto amanhã. Pensar nisso fez meu peito ficar mais apertado.

Havia uma pressão atrás dos meus olhos que tinha mais a ver com lágrimas do que qualquer outra coisa. Eu poderia sobreviver com Richard morando em outro lugar. Iria me machucar ele não estar comigo, mas eu sobreviveria.

Eu poderia não sobreviver a sua morte. Eu amava Richard. Eu realmente amava ele. Eu não queria perder ele. Por nada.

Jean-Claude estava sendo um perfeito cavalheiro, mas eu não confiava nele. Como eu poderia? Ele sempre tinha uma dúzia de diferente razões para tudo que ele fazia.

Qual era o plano? Quão mais depressa eu me vestisse, mais rápido eu descobriria.

Eu apenas peguei qualquer coisa na minha mala. Você pode misturar e combinar quase todas as roupas que eu tinha. Jeans azul escuro, blusa pólo azul clara, meias brancas. Eu não estava me vestindo para impressionar ninguém. Agora que eu estava um pouco mais acordada, eu desejei ter escolhido algo menos prático. Amor faz com que você se preocupe com coisas assim.

Eu abri a porta. Richard estava parado perto da cama. Ver ele parou meu circuito.

Seu cabelo estava escovado até que caísse como uma massa espumosa em seus ombros. Ele não estava usando nada além de um short de seda, roxo royal. Ele tinham um corte em cada lado, dando vislumbres de sua coxa quando ele se virou para mim.

Quando eu pude fechar minha boca e falar, eu disse, "Por que você está vestido assim?"

Jean-Claude encostou um ombro contra a parede. Ele estava usando um roupão na altura do tornozelo com as pontas com pêlos pretos. Seu cabelo mesclava com a gola peluda, até que era difícil de se dizer onde um começava e o outro terminava. Seu pescoço pálido e um triângulo de seu peito era visível quase perfeitamente contra o pêlo.

"Vocês parecem como se tivessem acabado de sair de dois filmes pornôs diferentes. Cassandra disse algo sobre um plano. Qual é o plano?"

Richard olhou para Jean-Claude. Eles trocaram um olhar entre eles, que dizia melhor do que com palavras, que eles estavam conspirando atrás das minhas costas.

Richard sentou no canto da cama.

O short ficou um pouco mais justo que o necessário e eu tive que olhar para longe, então eu olhei para Jean-Claude. Não foi confortador, mas pelo menos a maior parte dele estava coberta.

"Você se lembra, há alguns meses atrás, antes do Natal, quando nós acidentalmente iniciamos algum tipo de energia mágica em seu apartamento?" Jean-Claude perguntou.

"Eu me lembro." Eu disse.

"Monsieur Zeeman e eu, acreditamos que nós três poderíamos compartilhar poder, virar um triunvirato{13}."

Eu olhei de um para outro. "Explique."

"Há uma conexão entre eu e lobos. Há uma conexão entre você, minha pequena necromante, e os mortos. Luxúria e amor sempre tiveram energias mágicas. Eu posso te mostrar feitiços individuais que poderia usar a conexão entre vampiros e seus animais, entre necromantes e vampiros. Não deveríamos estar surpresos de que há poder entre nós."

"Faça seu ponto." Eu disse.

Jean-Claude sorriu. "Eu acredito que nós poderíamos chamar poder o suficiente para afastar um certo Ulfric. Eu conheço Marcus. Ele não irá lutar se ele acreditar que ele não tem chance de ganhar."

"Jean-Claude está certo." Richard disse. "Se eu puder brilhar com poder suficiente, Marcus irá desistir."

"Como nós sabemos que podemos ao menos chamar seja lá o que for, de novo?" Eu perguntei.

"Eu tenho feito algumas pesquisas." Jean-Claude disse. "Há dois casos de mestres vampiros que podiam chamar animais, um que fez um desses na forma animal ser meio que um servo humano."

"E daí?"

"Isso quer dizer que há uma chance de eu ser capaz de atar vocês dois."

Eu balancei minha cabeça. "De jeito nenhum, sem marcas vampiricas. Eu já estive lá, já fiz isso, e não gostei."

"Não havia nenhuma marca em nenhum de vocês em dezembro." Jean-Claude disse. "Eu acho que irá funcionar sem agora."

"Por que vocês dois estão vestidos assim?"

Richard pareceu embaraçado. "É tudo que eu trouxe. Eu pensei que iríamos dividir a cama noite passada."

Eu mencionei o short. "Isso não iria ajudar a nos manter castos, Richard."

Calor subiu pelo rosto dele. "Eu sei, desculpa."

"Me diga que não há lingerie em sua mala, ma petite."

"Eu nunca disse que não tinha." Ronnie havia me convencido a levar uma só, no caso de eu decidir me entregar ao Richard. Ela queria que eu fosse para a cama com ele antes do casamento, se isso fizesse com que Jean-Claude saísse do caminho.

"Por quem você comprou ela?" Richard perguntou quietamente.

"Você, mas não me distraia. Por que o pijama legal?"

"Richard e eu tentamos chamar nossos poderes uma vez ou duas. Não funciona com apenas nós dois. Sua antipatia a mim o tornou inútil."

"Isso é verdade, Richard?"

Ele assentiu. "Jean-Claude disse que precisávamos de um terceiro, nós precisamos de você."

"E pra que as roupas?"

"Luxúria e raiva foram o que iniciaram o poder na primeira vez, ma petite. Nós temos nossa raiva. Estamos sentindo falta da sua luxúria."

"Espera um maldito minuto." Eu encarei de um para o outro. "Você está dizendo que vamos virar um ménage à trois?"

"Não." Richard disse. Ele se levantou. Ele andou até mim com seu pequeno short, dando vislumbres ao quarto. "Sem sexo, eu te prometo isso. Mesmo por isso, eu não concordaria em dividir você com ele."

Eu corri meus dedos pela seda de seu short, suavemente, quase como se eu estivesse com medo. "Então por que essas roupas?"

"Estamos sem tempo, Anita. Se isso for funcionar, tem que ser rápido." Ele pegou meus braços, suas mãos quentes na minha pele. "Você disse que me ajudaria se eu tivesse um plano. Esse é o plano."

Eu me afastei dele devagar e me virei para Jean-Claude. "E o que você ganha com isso?"

"Sua felicidade. Nenhum lobo irá desafiar Richard se formos um verdadeiro triunvirato."

"Minha felicidade, certo." Eu estudei seu calmo e adorável rosto, e tive uma idéia. "Você sentiu Jason, não foi? Você sentiu o poder que ele sugou de Richard, não foi? Não foi, seu filho da puta?" Eu andei até ele enquanto falava, lutando contra a urgência de bater nele quando eu cheguei perto dele.

"O que tem ele, ma petite?"

Eu parei bem na frente dele, jogando as palavras em seu rosto. "O que você ganha com tudo isso? E não me fale merda que é por causa da minha felicidade. Eu te conheço a muito tempo."

Seu rosto estava severo, quase desarmado. "Eu ganharia poder o suficiente para que nenhum vampiro mestre, além do conselho, poderia me desafiar."

"Eu sabia. Eu sabia. Você não faz nada sem uma dúzia de motivos escondidos."

"Irá beneficiar exatamente da mesma forma ao Monsieur Zeeman. Nós dois teríamos nossa base de poder segura."

"Ótimo, e o que eu ganho com isso?"

"A segurança de Monsieur Zeeman."

"Anita." Richard disse suavemente. Ele tocou meu ombro.

Eu me virei para olhar para ele. Minhas palavras enfurecidas morreram quando olhei seu rosto. Tão sério, tão solene. Ele pegou meu ombro, uma mão segurando o lado do meu rosto. "Você não tem que fazer isso se você não quiser."

"Você entende o que ele está sugerindo, Richard? Nós nunca ficaríamos livre dele." Eu toquei sua mão que segurava meu rosto. "Não nos ligue a ele dessa forma, Richard. Uma vez que ele tem um pedaço de você, ele nunca te deixa ir."

"Se você realmente acreditasse que ele é tão maligno assim, você já o teria matado há muito tempo atrás e se livrado dele."

Se eu não fizesse isso, e Richard morresse hoje a noite, eu seria capaz de viver com isso? Eu me inclinei em direção a ele, pressionando meu rosto em seu peito, respirando sua essência. Não. Se ele morresse e eu pudesse salva-lo, eu nunca me livraria da culpa.

Jean-Claude veio ficar perto de nós. "Pode ser um daqueles acidentes incomuns que não pode ser repetido em condições controladas, ma petite. Mágica é frequentemente assim."

Eu virei meu rosto e olhei para ele, minha bochecha ainda pressionada contra o peito nu de Richard, seus braços em volta das minhas costas. "Sem nenhuma marca vampirica em nenhum de nós, certo?"

"Eu prometo. A única coisa que peço é que nenhum de nós hesite. Nós precisamos de uma verdadeira idéia de quanto poder podemos chamar. Se não for muito, então está acabado, mas se for o quanto eu acredito, então resolveríamos muitos problemas."

"Seu bastardo manipulador."

"Isso é um sim?" Ele perguntou.

"Sim." Eu disse.

Richard me abraçou. Eu deixei seus braços me envolverem, me confortarem, mas era para os olhos de Jean-Claude que eu estava olhando. Havia um olhar em seu rosto que era difícil de descrever. O diabo deveria ter aquele olhar logo depois que você assinasse uma linha de um documento dando sua alma. Satisfeito, ansioso, e um pouco faminto.


25

"Você e Monsieur Zeeman fiquem a vontade. Eu vou ter meu tempo no banheiro, e então me juntarei a vocês."

Apenas ouvir ele dizer isso em voz alta me fez querer recusar. Mas não fiz isso. "Tem certeza que isso não é seu jeito elaborado de nos transformar em um ménage à trois?"

"Eu seria tão maléfico?"

"Aham."

Ele riu, e o som fez minha pele arrepiar, como se um cubo de gelo tivesse deslizado pela minha coluna.

"Eu deixarei vocês dois sozinhos." Ele passou por nós e entrou no banheiro.

Eu andei até ele e segurei a porta antes que ele a fechasse. Ele me olhou pela abertura. "Sim, ma petite?"

"É bom ter algo por baixo desse roupão além de pele."

Ele sorriu abertamente, o suficiente para mostrar um pouco de presa. "Eu seria tão rude, ma petite?"

"Eu não sei."

Ele assentiu e fechou a porta.

Eu respirei profundamente e me virei para olhar o outro homem na minha vida. As roupas de Richard estavam abandonadas na minha mala. Ele andou até mim. As fendas do short dele eram altas o suficiente que eu quase podia ver uma linha nua dos seus pés até a cintura.

Se estivéssemos realmente sozinhos, eu teria ido até ele. O que era para ser romântico estava de repente chocantemente esquisito. Eu estava muito ciente dos sons de água correndo no banheiro. Jean-Claude havia planejado nos juntar. Doce Jesus.

Richard ainda estava parecendo encantador com seu cabelo caindo por um olho. Ele parou de se mover para perto. Ele finalmente balançou sua cabeça. "Por que isso é tão estranho de repente?"

"Eu acho que a maior razão está no banheiro, se preparando para se juntar a nós."

Ele riu e balançou sua cabeça de novo. "Geralmente não demora esse tanto para estarmos um nos braços do outro."

"Não." Eu disse. Nesse ritmo, nós iríamos ficar nos olhando, como pré-adolescentes na hora da dança no baile, até Jean-Claude voltar.

"Me encontre no meio do caminho."

Richard sorriu. "Sempre." Ele andou até chegar em mim. Os músculos em seu estômago ondeavam enquanto ele se movia.

Eu estava de repente lamentando estar de jeans e camisa pólo. Eu queria que ele me visse na lingerie que eu trouxe. Eu queria as mãos dele correndo pela seda e pelo meu corpo por baixo.

Richard e eu paramos a centímetros de distância um do outro, nenhum de nós nos tocando. Eu podia sentir o cheiro de sua loção pós-barba. Eu estava perto o suficiente para sentir o calor de seu corpo. Eu queria correr minhas mãos por seu peito nu. Eu queria correr minhas mãos abaixo, na frente daquele short de seda. O pensamento era tão real que eu cruzei meus braços para manter minhas mãos ocupadas.

Richard se inclinou na minha direção. Ele correu seus lábios por minha sobrancelha, beijando minhas pálpebras muito gentilmente. Ele procurou pela minha boca, e eu levantei nas pontas do pé para encontrar ele. Ele deslizou seus braços em volta de mim.

Eu me joguei contra ele, minhas mãos passeando pelo seu corpo, minha boca pressionada contra a dele. Ele se curvou e deslizou seus braços por baixo da minha bunda, me levantando até nossos rostos ficarem na mesma altura. Eu quebrei o beijo e comecei a dizer, "Me coloque no chão", mas encarando seu rosto a centímetros de distância, eu não consegui. Eu passei minhas pernas por volta de sua cintura. Ele separou suas pernas para balancear o peso. Eu o beijei, e o primeiro ímpeto de poder se quebrou em mim passeando em uma linha na minha coluna, fazendo uma cócega quente no meu estômago.

Richard fez um pequeno som em sua garganta que era mais um rosnado que um gemido. Ele se ajoelhou no chão comigo ainda em seu colo, e quando ele me colocou no chão, eu não o parei. Ele levantou seu corpo em cima do meu, se sustentando com os braços, a parte de baixo de seu corpo pressionada contra mim. Quando ele encarou olhando para baixo, seus olhos haviam ficado ferozes. Algo deve ter aparecido no meu rosto porque ele virou seu rosto para que eu não pudesse vê-lo.

Eu me levantei por baixo dele, peguei uma mão cheia de seu cabelo e virei sua cabeça de volta para mim, não muito gentilmente.

Ou foi pela a dor ou por algo a mais, ele se virou de volta com um grunhido. Eu não me encolhi. Eu não olhei para longe.

Richard abaixou seu rosto em direção ao meu, eu me deitei de novo no chão. Sua boca permaneceu na minha. Houve um principio de calor quando nossas bocas se encontraram, como se eu estivesse sentindo o sabor de sua energia, sua essência.

A porta do banheiro abriu. O som me congelou, fazendo meus olhos rolarem para a porta aberta. Richard hesitou por um segundo, sua boca incerta na minha, então ele beijou o canto do meu queixo, correndo seus lábios por meu pescoço.

Jean-Claude ficou parado no vão da porta, vestido com pijamas de seda preta. A camisa com mangas longas estava desabotoada, então a camisa se movia em volta de seu peito nu enquanto ele me mexia. O olhar em seu rosto, em seus olhos, me deu pânico.

Eu bati levemente no ombro de Richard. Ele trabalhou na base do meu pescoço e estava passando o rosto pelo decote da minha blusa, como se fosse colocar seu rosto dentro dela. Ele levantou aqueles assombrosos olhos de lobo âmbares para mim, e a única coisa que eu pude ver em seu rosto era desejo, quase uma fome. Seu poder soprou pela minha pele, como uma linha de vento quente. Meu pulso pulou contra a minha garganta até que eu pensei que iria romper a pele.

"O que há de errado com você, Richard?"

"Hoje a noite é noite de lua cheia, ma petite. Sua besta o chama." Jean-Claude caminhou silenciosamente pelo carpete até nós.

"Me deixe levantar, Richard."

Richard se levantou pelas mãos e joelhos, me fazendo me retorcer para sair debaixo dele. Eu me levantei, e ele se ajoelhou na minha frente, colocando seus braços em volta da minha cintura. "Não fique com medo."

"Eu não estou com medo de você, Richard." Eu encarei Jean-Claude.

Richard correu suas mãos descendo minha costela, dedos enfiando na carne, como se estivesse massageando minhas costas. Eu levei minha atenção de volta para ele. "Eu nunca te machucaria por querer. Você sabe disso."

Eu sabia disso. Eu assenti.

"Confie em mim agora." Sua voz era suave e profunda, com um toque baixo que não era normal.

Ele começou a colocar minha blusa para fora da minha calça. "Eu quero te tocar, te cheirar, sentir você."

Jean-Claude caminhou em volta de nós, não chegando mais perto. Ele nos circulou como um tubarão. Seus olhos meia-noite ainda estavam humanos, mais humanos que os de Richard.

Richard levantou minha blusa, tirando ela da calça, puxando até que minha barriga estivesse a vista.

Ele correu suas mãos pela minha pele nua e eu arrepiei, mas não era pelo sexo, ou pelo menos não apenas pelo sexo. Aquele quente, elétrico poder dele fluia de suas mãos para minha pele. Era como ter pequenas correntes passando por mim. Não machucava exatamente, mas machucaria se aquilo não parasse. E também era bom, melhor que qualquer outra coisa. Eu não tinha certeza qual pensamento me assustava mais.

Jean-Claude parou fora do alcance, assistindo. Isso me assustou também.

Richard colocou cada mão dele em cada lado da minha cintura exposta, segurando a blusa levantada, presa em seus braços.

Jean-Claude deu um último passo, sua mão estendida. Eu fiquei tensa, medo na frente do desejo. Ele deixou sua mão cair sem nos tocar.

Richard lambeu minha barriga, um rápido e molhado movimento. Eu encarei abaixo, ele, e ele encarou de volta com seus olhos castanhos. Seus olhos humanos. "Eu não vou deixar nada acontecer com você, Anita."

Eu não soube o que havia custado para ele engolir sua besta de volta para dentro, mas eu sabia que não tinha sido fácil. Havia poucos licantropos que conseguiriam parar antes de mudarem sua forma, uma vez que começassem. Seria mais tranquilizador se seus olhos castanhos não tivessem um escuridão própria. Mas não era sua besta, era algo mais básico, mais humano: sexo. Mesmo luxúria não cobre aquele olhar nos olhos de um homem.

Jean-Claude estava parado atrás de mim. Eu podia sentir ele. Sem me tocar, eu podia sentir seu poder, como um vento gelado procurando.

Ele roçou seu rosto contra meu cabelo. Meu coração estava batendo tão alto que eu não conseguia ouvir nada além do meu próprio sangue fluindo na minha cabeça.

Jean-Claude colocou meu cabelo para um lado. Seus lábios tocaram minha bochecha e seu poder rompeu em mim em um quieto ímpeto de um vento gelado vindo se uma sepultura. Isso fluiu por mim, procurando o calor de Richard. As duas energias se encontraram, mesclando dentro de mim. Eu não pude respirar. Eu senti aquela coisa dentro de mim que podia chamar os mortos das covas magicamente, por falta de palavras melhores, eu senti um espiral de chamas dos dois.

Eu tentei me afastar de Richard, mas seus dedos se pressionaram na minha costela. Os braços de Jean-Claude ficaram mais firmes em volta do meu ombro. "Aceite o poder, não lute contra, ma petite."

Eu lutei contra o pânico, minha respiração vindo em gritos silenciosos. Eu iria hiperventilar e desmaiar se não conseguisse lidar com aquilo. Eu tentei guiar o poder e meu próprio medo, e estava perdendo.

A boca de Richard mordeu gentilmente minha barriga. Sua boca chupando minha pele. Os lábios de Jean-Claude tocaram meu pescoço, mordiscando ele levemente. Seus braços me apertaram contra seu peito. Richard era um calor crescente na minha cintura. Jean-Claude era como um tipo de fogo gelado nas minhas costas. Eu estava sendo devorada pelos dois lados como um pedaço de madeira em chamas. O poder era demais. Ele tinha que ir para algum lugar. Eu tinha que fazer alguma coisa com ele ou ele iria me queimar viva.

Minhas pernas amoleceram, e apenas as mãos de Richard e Jean-Claude me mantiveram sem cair.

Eles me deitaram no chão, eu ainda nos braços deles. Meu ombro tocou o chão, e então minha mão, e eu sabia o que eu poderia fazer com o poder. Eu senti isso surgir do chão, procurando, procurando mortos. Eu rolei, ficando com a barriga no chão. As mãos de Jean-Claude estavam nos meus ombros, seu rosto roçando no meu.

As mãos de Richard estavam por baixo da minha blusa, tocando minhas costas, vagando mais para cima, mas tudo isso era secundário. Eu tinha que fazer alguma coisa com o poder.

Eu achei o morto que precisava, mas não funcionou. O poder continuava a crescer até que teria gritado se tivesse conseguido ar o suficiente. Um passo, um ingrediente, algo estava perdido.

Eu rolei ficando de costas no chão, encarando os dois. Eles me encararam de volta. Os olhos de Jean-Claude estavam de um sólido azul meia noite. Os dois se inclinaram até mim juntos. Richard foi para a minha boca, Jean-Claude para o meu pescoço. O beijo de Richard era quase abrasador. Eu podia sentir o toque das presas, como se Jean-Claude estivesse lutando para não me morder. Tentações estavam em todos os lugares. A mão de alguém estava por baixo da minha blusa, e eu não tinha mais certeza de quem era. Então eu percebi que era dos dois.

O que era a coisa que eu precisava para levantar os mortos? Sangue. Eu devo ter dito em voz alta.

"Sangue."

Jean-Claude levantou seu rosto, me olhando a centímetros de distância. Sua mão estava logo abaixo do meu peito. Eu agarrei seu punho sem pensar. "O que, ma petite?"

"Sangue para terminar isso. Nós precisamos de sangue."

Richard levantou seu rosto como um homem confuso. "O que?"

"Eu posso lhe dar sangue, ma petite." Jean-Claude se inclinou até mim. Eu o parei com uma mão em seu peito, ao mesmo tempo que Richard colocou uma mão em seu ombro. O poder nos cobriu como uma onda, e eu acabei vendo pontos brancos.

"Você não vai me usar de desculpa para enfiar suas presas nela pela primeira vez." Richard rosnou para ele. Sua raiva alimentou a mágica e eu gritei.

"Me dê sangue, ou sai de cima de mim." Eu segurei meu próprio braço entre eles. "Eu não tenho uma faca, alguém faça isso."

Richard se inclinou até mim. Ele jogou seu cabelo para um lado do pescoço. "Aqui está seu sangue."

Jean-Claude não discutiu. Ele inclinou até Richard, lábios se afastando.

Eu assisti meio que em câmera lenta ela morder o pescoço de Richard em um lado. Richard ficou tenso, uma respiração fina saiu dele enquanto as presas se enfiavam. A boca de Jean-Claude se selou em sua pele, chupando, sua garganta trabalhando.

O poder emanou em mim, levantando todos os cabelo do meu corpo, se movendo pela minha pele até que eu pensei que ela iria se partir. Eu mandei todo o poder atrás de todos os mortos que eu conseguisse achar. Eu os enchi e ainda assim havia muito poder. Eu procurei mais para fora, e achei o que estava procurando.

O poder nos deixou em um ímpeto quente e gelado.

Eu acabei deitada no chão tossindo para respirar. Jean-Claude estava deitado à minha esquerda, levantado em um cotovelo. Sangue manchava seus lábios, trilhando abaixo em seu queixo. Richard estava deitado de barriga para o chão, à minha direita, prendendo meu braço por baixo de sua bochecha. Seu peito levantava e abaixava em grandes tossidas silenciosas, suor descendo pelo sua coluna.

O mundo era dourado, estava quase flutuando. Os sons retornaram devagar, e era como se eu estivesse ouvindo através de um longo tubo.

Jean-Claude lambeu o sangue em seus lábios, passando uma mão tremendo em seu queixo, lambendo sua mão para limpá-la. Ele deitou do meu lado, uma mão por minha barriga, sua cabeça em meu ombro. Seu peito nu e barriga encostavam em meu braço. Sua pele estava quase quente, fervendo. Ele nunca esteve assim antes. Seu calor pulsava contra minha pele como um pássaro capturado.

Seu cabelo caiu contra meu rosto. Cheirava a alguma shampoo exótico, e a ele. Ele me deu uma risada tremida e disse, "Foi glorioso para mim, foi bom para você, ma petite?"

Eu traguei o ar, e estava cansada demais até para rir. "Confie em você para saber sempre o que dizer."

Richard se levantou em seus cotovelos. Sangue trilhando seu pescoço onde duas marcas de presas estavam. Eu toquei a marca da mordida, e meus dedos voltaram manchados de vermelho.

"Dói?" Eu perguntei.

"Na verdade, não." Ele pegou meu braço, lambendo o sangue em meus dedos, os chupando para limpá-los.

A mão estranhamente quente de Jean-Claude acariciava minha barriga por baixo da minha blusa. Ele desabotoou minha calça.

"Nem pense nisso." Eu disse.

"Tarde demais, ma petite." Ele se curvou e me beijou. Eu pude sentir a doçura metálica do sangue de Richard em sua língua. Eu me levantei para ficar mais perto dele, me pressionando contra sua boca.

Eu havia pedido por sangue, não de nenhum deles. Mas a verdade era, nós não tínhamos terminado com as doações de sangue hoje. Seja lá o que eu havia chamado do túmulo, eu tinha que colocar de volta. Isso precisaria de sangue, sangue fresco. A única pergunta era quem iria doar esse sangue, e como ele iria ser recolhido. Ah, mais uma pergunta: quanto sangue precisaríamos?


26

As pontas dos dedos de Jean-Claude deslizaram pelo cós da minha calça. Richard pegou o pulso dele. Raiva fluindo dos dois, e aquele poder compartilhado faiscou em vida.

"Você não vai usar isso como uma desculpa de entrar na calça dela, tampouco." Richard disse. Sua voz era grossa e fria, com mais que raiva. Suas mãos apertaram mais no pulso de Jean-Claude.

Jean-Claude dobrou sua mão e curvou seu braço até os ombros. Concentração e raiva estavam no rosto dos dois. Eu podia sentir o tremendo esforço em seus peitos. Suas raivas trilhando pela minha pele. Era cedo demais para passar por toda aquela merda de novo. "Vocês podem ter sua queda de braço depois, garotos, nós temos que ver o que eu levantei dos mortos."

Houve um momento de hesitação e então os dois me olharam. Seus braços ainda estavam tensos um contra o outro. O rosto de Richard mostrava o esforço. O rosto de Jean-Claude estava vazio e curioso, como se não tivesse esforço em segurar o lobisomem. Mas eu podia sentir um fino tremor em seu corpo. Ilusão era tudo com Jean-Claude. Com Richard era tudo terminações nervosas e realidade.

"O que você disse, ma petite?"

"Ela disse que levantou mortos." Richard disse.

"Aham, então saiam de cima de mim. Vocês podem brigar depois, mas agora, nós precisamos checar o que eu fiz."

"Nós fizemos." Jean-Claude disse. Ele se soltou de Richard, e depois de um segundo, Richard abaixou sua mão.

"O que nós fizemos." Eu disse.

Richard se levantou, os músculos de suas pernas nuas se movendo por baixo da pele, e foi difícil não tocar eles, senti os movimentos deles. Ele me ofereceu sua mão para eu me levantar.

"Me dê um minuto." Eu disse.

Jean-Claude levantou como se tivesse sido puxado por cordas. Ele me ofereceu uma mão, também.

Eles ficaram parados olhando um para o outro. A raiva deles brincava pelo ar como faíscas invisíveis. Eu balancei minha cabeça. Eu parecia me mover de forma pior que os dois, eu era uma pobre humana. Eu na verdade até teria aceitado uma ajuda, o que era raro para mim.

Eu suspirei, fiquei de joelhos, e me levantei sem a ajuda de nenhum deles.

"Se comportem." Eu disse. "Vocês podem sentir o que está no ar? Raiva funciona simplesmente bem para chamar seja lá o que é isso, então parem. Nós talvez precisemos disso de novo para fazer descansar o que eu chamei da cova."

Jean-Claude pareceu instantaneamente relaxado, com facilidade. Ele me deu um pequeno assentimento. "Como quiser, ma petite."

Richard mexeu seu pescoço, tentando relaxar seus ombros. Suas mãos ainda estavam em punhos, mas ele assentiu. "Eu não entendo como chamamos zumbis."

"Eu posso agir como foco para outros animadores. É um jeito de combinar poderes e levantar zumbis mais velhos, ou mais de um ou dois zumbis. Eu não sei fazer mais nada além de levantar mortos, então quando você jogou tanto poder em mim..." Eu encolhi os ombros. "Eu fiz o que eu sei fazer."

"Você levantou todo o antigo cemitério de Nikolaos?" Jean-Claude perguntou.

"Se fomos sortudos." Eu disse.

Ele colocou sua cabeça de lado, confuso.

Richard olhou para baixo, para si mesmo. "Posso colocar uma calça?"

Eu sorri. "Vai ser uma pena," Eu disse, "mas sim."

"Eu vou buscar meu roupão no banheiro." Jean-Claude disse.

"A vontade." Eu disse.

"Sem comentários sobre ser uma pena eu me vestir?"

Eu balancei minha cabeça.

"Cruel, ma petite, muito cruel."

Eu sorri e dei a ele um pequeno assentimento.

Ele retornou o sorriso, mas havia um desafio em seus olhos enquanto ele andava até o banheiro.

Richard estava colocando seu jeans. Eu assisti ele levantar o zíper e abotoar a calça. Era divertido ver ele se vestindo. Amor faz os menores movimentos serem fascinantes.

Eu andei passando por ele, até a porta, deixando ele colocar sua camiseta, se ele fosse por uma. O único jeito de ignorar ele era apenas não olhar. A mesma teoria funcionava com Jean-Claude na maioria das vezes.

Eu andei até a porta. Minha mão alcançando a maçaneta quando Richard me abraçou por trás, me levantando do chão, me carregando me afastando da porta.

Meus pés estavam literalmente fora do chão. "O que diabos você está fazendo? Me coloca no chão."

"Meus lobos estão chegando." Ele disse, como se isso explicasse tudo.

"Me coloca no chão."

Ele me abaixou o suficiente para meu pé tocar o chão, mas seus braços continuaram em volta de mim, como se ele estivesse com medo que eu fosse até a porta. Seu rosto estava distante, ouvindo. Eu não ouvia nada.

Um uivo ecoou pelo corredor e levantou os pêlos do meu braço. "O que está acontecendo, Richard?"

"Perigo." Ele quase sussurrou isso.

"É Raina e Marcus?"

Ele ainda estava ouvindo coisas que eu não podia ouvir. Ele me colocou atrás dele e foi até a porta, ainda sem camisa, usando nada além de jeans.

Eu corri até a cama atrás das minhas armas. Eu peguei a Firestar debaixo do travesseiro. "Não vá lá fora com as mãos vazias, droga." Eu peguei a Uzi debaixo da cama.

Um coro de uivos começou. Richard abriu a porta de repente e correu pelo corredor. Eu chamei ele, mas ele já tinha ido.

Jean-Claude saiu do banheiro com seu roupão peludo alinhado. "O que é isso, ma petite?"

"Companhia." Eu coloquei alça da Uzi passando pelo meu peito.

O som de lobos grunhindo vieram distantes. Jean-Claude correu passando por mim, seu longo roupão voando atrás dele. Ele correu como um vento escuro. Quando eu saí no corredor, ele não estava mais a vista.

Eu seria a última a estar lá. Droga.


27

Correr a toda velocidade até uma luta não era a melhor maneira de se manter viva. Ser cautelosa era melhor. Eu sabia disso e não liguei. Nada importava além de chegar lá a tempo. A tempo de salvar eles. Eles. Eu não tive dúvida nisso. Eu corri, a Firestar presa firmemente na minha mão direita, e a Uzi na esquerda. Eu estava correndo como uma idiota, mas pelo menos eu estava armada.

Um rosnado estrondoso tremeu as paredes à frente. Não me pergunte como, mas eu sabia que era Richard. Eu achei que não podia correr mais rápido. Eu estava errada. Eu me joguei pelas aberturas, minha respiração vinda da minha garganta em tragadas, não olhando para esquerda nem direita. Se alguém tivesse uma arma, eles poderiam me explodir para longe.

Richard estava parado no meio da sala, um zumbi estava sendo segurado com os braços acima de sua cabeça. Um lobo do tamanho de um pônei havia prendido outro zumbi no chão, imobilizando ele ferozmente. Stephen estava atrás de Richard na forma humana, mas agachado e pronto para lutar. Cassandra estava parada atrás deles.

Ela se virou para mim quando eu derrapava entrando na sala. Havia um olhar em seu rosto que não pude ler inteiramente, e eu não tinha tempo para descobrir.

Jean-Claude estava mais distante no lado esquerdo, longe dos lobisomens. Ele estava me encarando também. Eu não podia ler seu rosto, mas ele não estava em perigo. Ele não tinha tentado passar pelos zumbis. Ele era mais esperto que isso. Richard não.

O quarto era um estreito retângulo, mas a parede mais distante se estendia para fora, se dispersando com escombros no chão. Parecia que os zumbis tinham se arrastado por trás daquela parede. Um cemitério que, eu pelo menos, não sabia que estava ali.

Os mortos pararam na frente das ruínas. Seus olhos mudaram para mim quando eu os vi, eu senti o peso do olhar deles como um golpe no peito.

O medo pela segurança de todos tinha sumido, sendo substituído por um ímpeto de raiva. "Richard, largue ele, por favor, ele não vai te machucar. Chame Jason para ele largar o outro." Tinha que ser Jason, ao menos que houvesse outro lobisomem ali. E se fosse outro, onde estava Jason?

Richard virou sua cabeça para olhar para mim, o zumbi, que uma vez foi um homem humano, ainda estava sendo preso sem esforço. "Eles atacaram Jason."

"Eles não teriam feito nada sem serem ordenados. Jason atacou primeiro."

"Eles não nos atacaram." Cassandra disse. "Eles começaram a vir pela parede. Jason mudou e atacou eles."

O lobo gigante havia aberto a barriga do zumbi e estava partindo o intestino dele. Tinha sido o suficiente. "Agarre o lobo." Eu disse. O zumbi embaixo dele trancou seus braços em volta da dianteira do lobo. O lobo enfiou suas garras na garganta do cadáver e arrancou ela fora, esparramando um fluido negro e carne.

O resto dos zumbis, de alguma forma entre sessenta e oitenta, surgiram em volta do lobo.

"Deixe ele levantar, Jason, ou eu te mostro como é ser atacado por zumbis."

Richard abaixou seus ombros e jogou o zumbi para longe dele. O corpo cambaleou pelo ar e se juntou a massa dos zumbis em espera. Eles pareciam um conjunto de alfinetes, exceto que esses alfinetes ficavam em pé, se bem que um deles tinha perdido um braço no processo.

Richard se agachou perto de seus lobos. "Você está atacando a gente?" Ele soava indignado.

"Tire seu lobo do meu zumbi e isso acaba agora."

"Você acha que pode dar conta de nós?" Cassandra disse.

"Com esse tanto de mortos, eu sei que posso." Eu disse.

O rosto de Stephen se encolheu, quase como se ele fosse chorar. "Você machucaria a gente."

Merda, eu tinha esquecido. Eu era a lupa deles agora. Eu ameacei matar Raina se ela machucasse Stephen de novo, e aqui estava eu prestes a dar ele como comida para os zumbis. Havia alguma diferença lógica nisso em algum lugar.

"Se eu devo proteger vocês todos, então vocês tem me obedecer, certo? Então ou Jason sai de cima do meu maldito zumbi ou eu faço ele pagar por isso. Não é assim o protocolo do bando?"

Richard se virou para mim. Havia um olhar em seu rosto que eu nunca tinha visto antes: raiva e arrogância, ou algo perto disso. "Eu acho que Jason não espera realmente seguir sua exigência de obediência. Eu acho que nenhum de nós espera."

"Então você não me conhece muito bem." Eu disse.

"Mes amies, se matarmos um ao outro, Marcus ficará muito satisfeito."

Nós todos nos viramos para Jean-Claude. Eu disse, "Pare." Todos os zumbis pararam de uma vez como uma cena congelada. Um caiu no chão, parando no momento repentino, em vez de terminar de dar seu passo.

Zumbis eram terrivelmente literais.

O lobo gigante arrancou outro pedaço do zumbi. O homem morto fez um pequeno e involuntário gemido. "Tire Jason dali agora, ou vamos começar essa briga de verdade. Foda-se Marcus. Eu me preocuparei com isso depois."

"Saia de cima dele, Jason, agora." Richard disse.

O lobo se afastou, arrancando o braço do zumbi. O osso quebrou. O lobo mordeu o braço como um cachorro com osso. Sangue e líquidos densos fluíram como um spray.

Richard agarrou o lobo pela pele do pescoço, o sacudindo tirando ele do chão. Ele segurou a frente da sua garganta peluda, o virando para olhar para ele. Os músculos em seu braço se curvavam com o esforço.

As garras do lobo lutavam no ar enquanto era estrangulado. As enormes garras arranharam a pele nua de Richard. Sangue fluiu em linhas vermelhas.

Ele jogou o lobo pelo quarto, até os mortos esperando. "Nunca me desobedeça de novo, Jason, nunca!" Sua voz estava perdida em um rosnado que se tornou um uivo. Ele jogou sua cabeça para trás e deu um profundo uivo. O som saiu de sua garganta humana. Cassandra e Stephen ecoaram ele. Seus uivos encheram o quarto com um estranho, ecoado som.

Eu percebi que Richard poderia evitar matar Marcus, mas ele nunca controlaria o lukoi sem brutalidade.

Ele já estava sendo casual com isso. Quase tão casual quanto Jean-Claude. Um bom ou mau sinal isso? Eu não tinha certeza.

Jason saiu com pressa de entre os mortos. Ele virou seus pálidos olhos verdes de lobo para mim, como se estivesse esperando algo. "Não olhe para mim." Eu disse. "Eu to brava com você, também."

Jason andou até mim com suas patas maiores que minhas mãos. Os pêlos em seu pescoço se levantaram como um arrepio na coluna. Seus lábios se curvaram para trás de seus dentes em um rosnado silencioso.

Eu apontei a Firestar para ele. "Não faça isso, Jason."

Ele continuou vindo, cada passo tão duro e cheio que tensão que parecia robótico. Ele encolheu seu corpo, pernas se abaixando, em posição de saltar. Eu não iria deixar ele terminar o movimento.

Se ele estivesse na forma humana, eu teria mirado para apenas machucar, mas na forma de lobo, eu não iria arriscar.

Um arranhão dele e eu seria uma alfa fêmea de verdade.

Eu abaixei a minha arma e senti aquela quietude me encher. Eu não senti nada enquanto encarava abaixo da arma para ele. Nada além de um frio e branco vazio.

"Pare, os dois!" Richard rosnou. Ele andou até nós. Eu mantive meus olhos no lobo, mas tive um senso periférico em Richard se movendo para mais perto.

Ele continuou vindo, se colocando entre mim e Jason. Eu tive levantar meu braço para continuar mirando em seu peito. Ele me encarou, seu rosto sério. "Você não vai precisar da sua arma."

Ele deu um golpe no grande lobo no chão, com seus punhos. O lobo caiu desnorteado. Apenas seu peito levantando e abaixando mostrava que ele ainda estava vivo.

Quando Richard se virou de volta para mim, seu olhos estavam âmbares, não mais humanos. "Você é minha lupa, Anita, mas eu ainda sou Ulfric. Eu não vou deixar você fazer comigo o que Raina faz com Marcus. Eu sou líder desse bando." Havia uma dureza em sua voz que era nova. Eu descobri seu ego masculino no final das contas.

Jean-Claude riu, um alto e deleitoso som que me fez arrepiar.

Richard abraçou seus antebraços como se tivesse sentido também.

"Você ainda não percebeu, Richard, que ma petite ou é igual a nós, ou nossa mestre? Ela não conhece outro jeito de ser." Ele veio ficar conosco. Ele parecia malditamente entretido.

"Eu quero que ela seja igual a mim." Richard disse.

"Mas não com o bando." Jean-Claude disse.

Richard balançou sua cabeça. "Não, quero dizer... Não, Anita e eu estamos igualados."

"Então por que você está enchendo o saco?" Eu disse.

Ele me olhou com seus olhos aliens. "Eu sou Ulfric, não você."

"Lidere, e eu te seguirei, Richard." Eu dei um passo para mais perto dele, quase o tocando. "Mas lidere Richard, realmente lidere, ou saia do caminho."


28

"Apesar disso tudo ser muito divertido," Jean-Claude disse, "e acredite em mim, ma petite, Richard, isto é divertido, nós não temos tempo para essa discussão em particular, não se Richard mantém alguma esperança de não ser forçado a matar hoje a noite."

Nós dois olhamos para ele, e ele deu aquele gracioso encolher de ombros que queria dizer tudo e nada.

"Nós devemos chamar a mágica novamente, mas dessa vez Richard precisará tentar colocar alguma dela em si mesmo. Ele precisa fazer alguma coisa para impressionar o bando. Isso," ele mencionou os zumbis, "mesmo impressionante, parece demais com um trabalho de Anita."

"Se você tiver alguma sugestão, eu aceito."

"Talvez." Ele disse. Seus olhos ficaram bem sérios então, o humor deixando ele até que seu rosto estava adorável e vazio. "Mas primeiro, eu acho que tenho um ou duas perguntas para você, ma petite. Eu acho que não foi apenas o ego de Richard que você enfraqueceu hoje."

"Do que você está falando?" Eu perguntei.

Ele deixou cair sua cabeça para um lado. "Talvez você honestamente não saiba." Ele soou surpreso. "Há um pequeno corredor a direita. Olhe dentro dele."

Eu podia ver um arco no canto no sala, mas os zumbis enchiam o espaço, escondendo o resto da vista. "Movam para o lado." Eu disse. Os zumbis se moveram como um único organismo, seus olhos mortos assistiam meu rosto como se eu fosse tudo que importava. Para eles, eu era.

Os zumbis se moveram como uma cortina se abrindo. Eu pude ver o pequeno corredor agora, e as figuras que estavam esperando lá dentro. "Parem." Eu disse. Os zumbis pararam como se eu tivesse apertado um interruptor.

Liv, a recepcionista loira do Dança Macabra, estava parada ali dentro do pequeno corredor. Ela ainda estava vestida com sua roupa violeta. Seus extraordinários olhos violetas me encaravam, vazios, esperando. Meu pulso foi parar na minha garganta. Havia outras figuras atrás dela.

Richard disse suavemente, "Isso não é possível."

Eu não discuti com ele. Seria muito difícil.

"Os traga para fora, ma petite, nos deixe ver quem você chamou dos caixões." Sua voz estava quente, com um começo de raiva.

"Qual seu problema?"

Ele riu, mas era a risada foi dura. "Eu ameacei meu pessoal com isso, mas você não disse nada. Você não me disse que verdadeiramente podia levantar vampiros como se fossem qualquer outro zumbi."

"Eu apenas fiz isso uma outra vez."

"Certamente." Ele assim.

"Não fique todo putinho comigo."

"Eu ficarei puto se eu quiser." Ele disse. "Eles são meu povo, minhas companhias, e você tem eles andando por aí como marionetes. Eu acho isso extremamente inquietante."

"Eu também." Eu disse. Eu olhei de volta para os vampiros. Liv, que havia sido tão animada noite passada, estava parada ali como um bem preservado zumbi. Não. Não, eu nunca a confundiria com um zumbi. Eu podia sentir a diferença. Mas ali estava ela parada, aquele corpo musculoso esperando pela minha próxima ordem. Havia outros atrás dela. Eu não podia ver quantos..

"Você pode devolver meus vampiros a seus caixões, ma petite?"

Eu continuei olhando para Liv, evitando os olhos de Jean-Claude. "Eu não sei."

Ele tocou meu queixo, virando meu rosto para ele. Ele estudou meu rosto, seus olhos analisando, como se algum detalhe de verdade talvez aparecesse. Eu deixei raiva encher meus olhos, raiva sempre era uma boa coisa para se esconder atrás.

"O que você fez com o último vampiro que você levantou, ma petite?"

Eu me afastei dele. Ele agarrou meu braço inacreditavelmente rápido. Rápido demais para ver. O que aconteceu depois foi simplesmente automático. Ele segurou meu antebraço direito, mas eu ainda podia curvar meus ombros e apontar a Firestar para ele. A Uzi na minha mãe esquerda estava apontada para ele também. Ele poderia quebrar meu braço antes de eu dar um tiro com uma arma, mas não ambas. Mas pela primeira vez, encarar do cano da arma para ele, foi problemático. A faixa de seu roupão havia ficado mais frouxa e eu podia ver um triângulo de sua pele nua. Eu podia ver onde seu coração estaria.

Eu poderia explodir seu coração fazendo ele sair por suas costas, rompendo sua coluna. E eu não queria fazer isso. Eu não queria espalhar aquele corpo lindo pela parede. Droga.

Richard chegou mais perto. Ele não tocou nenhum de nós. Ele apenas encarou de um para outro. "Ele está te machucando, Anita?"

"Não." Eu disse.

"Então você não deveria estar apontando uma arma para ele."

"Ele não deveria estar me tocando." Eu disse.

A voz de Richard estava bem suave. "Ele te soltou faz mais tempo que isso, Anita."

"Por que está ajudando ele?"

"Ele me ajudou. Além do mais, se você matar ele por algo pequeno e estúpido, você nunca se perdoaria."

Eu respirei profundamente. Parte da tensão diminuindo com ela. Eu abaixei a Uzi.

Jean-Claude abaixou seu braço.

Eu apontei a Firestar para o chão e olhei para Richard. Havia algo em seus olhos, mesmo através deles âmbares, que era muito humano. Dor. Ele sabia o quanto Jean-Claude significava para mim. Estava li em seus olhos. Esse único comentário dizia que ele entendia minha relação com o vampiro, talvez melhor do que eu.

Eu queria me desculpar com ele, mas eu não tinha certeza se ele entenderia pelo que eu estava me desculpando. Eu não tinha certeza nem se eu podia explicar. Se você ama alguém, verdadeiramente ama essa pessoa, você nunca devia causar dor a ela. Nunca encher os olhos dela com algo tão perto de aflição.

"Me desculpe por ter ficado brava com você mais cedo. Você quer o melhor para o bando, eu sei disso."

"Você acha que eu sou um tolo por querer menos violência." Ele disse.

Eu levantei nas pontas do pé e beijei ele gentilmente. "Não tolo, apenas ingênuo, terrivelmente ingênuo."

"Muito tocante, ma petite. E eu aprecio sua interferência a favor do meu benefício, Richard, mas eles são meu povo. Eu prometi a eles certas liberdades quando se juntaram a mim. Eu lhe perguntarei novamente. Você pode devolver eles para onde estavam?"

Eu me virei para Jean-Claude, uma mão ainda me equilibrando contra o peito de Richard. "Eu não sei."

"Então é melhor você descobrir, ma petite."

Soava demais como uma ameaça para o meu gosto, mas... havia uma figura atrás de Liv que eu não conseguia tirar meus olhos. Eu andei até os vampiros esperando. Eu abri minha boca, mas nenhum som saiu. Meu estômago se apertou, meu coração se estreitando. Eu finalmente disse: "Willie McCoy, venha para mim."

Willie saiu de trás da vampira alta e loira. Ele estava usando o mesmo terno verde que estava usando no Dança Macabra. Seus olhos castanhos pareciam me ver, mas eles estavam vazios daquela luz que Willie tinha. Ele não estava ali. Era como assistir um boneco se movendo, e eu era a mestre dos bonecos. Eu senti algo amargo atrás da minha garganta. Meus olhos estavam quentes e apertados. Eu não tinha certeza se ia vomitar ou chorar primeiro.

Eu parei ele uns dois passos longe de mim. Perto o suficiente para que eu não pudesse fingir ou desejar que não estava acontecendo. Eu respirei com dificuldade, e lágrimas quentes o suficiente para escaldar correram pelo meu rosto. "Eu não queria saber fazer isso." Eu sussurrei.

Jean-Claude veio ficar do meu lado. "Willie." ele disse, sua voz ecoava pela sala. O corpo de Willie atendeu ao som como se algo tivesse acertado ele. "Willie, olhe para mim."

O rosto vazio e familiar se virou lentamente para seu mestre. Algo passou por seus olhos por um segundo, algo que eu não tinha nome para, se moveu ali.

"Há possibilidades." Jean-Claude disse.

"Willie." Eu disse. "Olhe para mim." Minha voz não era nem um pouco impressionante como a do vampiro, mas Willie se virou para mim.

"Não." Jean-Claude disse. "Olhe para mim, Willie."

Willie hesitou.

"Willie." Eu disse. "Venha para mim." Eu estendi uma mão e ele deu um passo na minha direção.

Jean-Claude disse, "Pare, Willie, não vá para ela."

Willie hesitou, quase se virando para Jean-Claude.

Eu concentrei naquele poder ondulante dentro de mim, naquela coisa que me permitia levantar os mortos e deixei aquilo me banhar, fluir em mim.

. Eu chamei o corpo de Willie e nada que Jean-Claude fizesse iria fazer Willie se virar para longe de mim.

Richard disse. "Pare com isso, os dois. Ele não é uma marionete."

"Ele não está vivo, também." Eu disse.

"Ele merece coisa melhor que isso." Richard disse.

Eu concordava. Eu me virei para Jean-Claude. "Ele é meu, Jean-Claude. Eles são todos meus. Quando a noite cair, eles serão seus novamente, mas essas carapaças vazias são minhas." Eu dei um passo para perto dele, e aquele espiral de poder se expandiu.

Ele deu uma respiração chiada e se afastou. Segurando suas mãos como se eu tivesse acertado ele.

"Nunca se esqueça do que eu sou e o que eu posso fazer. Sem mais ameaças entre nós, nunca, ou será a última."

Ele me encarou, e apenas por um segundo, houve o vislumbre de algo que eu nunca tinha visto antes: medo. Medo de mim pela primeira vez. Bom.

Willie me encarava com seus olhos vazios, esperando. Ele estava morto, bem e verdadeiramente morto. Lágrimas desceram pelo meu rosto, densas e pesadas. Pobre Willie, pobre de mim. Ele não era humano. Todos esses meses sendo amiga dele e ele era um morto. Apenas um morto. Droga.

"O que aconteceu com o primeiro vampiro que você levantou, ma petite? Por que você não o devolveu ao seu caixão?" Um pensamento passou por trás de seus olhos. Eu assisti a idéia se formar e sair por seus lábios. "Como Monsieur Bouvier teve a metade debaixo de seu corpo derretida?"

Magnus Bouvier era o servo humano de Serephina. Era trabalho dele me manter perto do caixão de Serephina até que ela acordasse para acabar comigo. Eu esfreguei meu rosto, tentando me livrar das lágrimas. Chorar sempre acaba com o efeito. "Você sabe a resposta." Eu disse. Minha voz soava seca e pequena.

"Diga em voz alta, ma petite, me deixe ouvir de seus próprios lábios."

"Eu sinto como se estivesse perdendo parte da conversa." Richard disse. "Do que vocês dois estão falando?"

"Conte a ele, ma petite."

"A vampira agarrou Magnus na cintura e se segurou nele. Eu apenas planejei fazer ele ficar mais lento, nada mais. Eu abri a porta e corri para fora. A luz do sol acertou a vampira e ela começou a queimar em chamas. Eu esperei que Magnus voltasse para dentro, mas ele não voltou. Ele continuou vindo, arrastando ela para a luz." Dizer isso rápido não melhorou em nada.

Eu estava parada no meio dos mortos que tinha chamado, me abraçando. Eu ainda tinha sonhos com Serephina. Ainda via Magnus tentando me alcançar, me implorando para salva-lo. Eu podia ter atirado nele e nunca ter perdido uma noite de sono, mas queimar ele vivo era tortura. Eu não fazia tortura. Sem mencionar que Ellie Quinlan tinha acabado de se levantar como vampira, o que a fazia ser legalmente viva. Eu matei os dois, e não tinha sido bonito.

Richard estava olhando para mim, um olhar perto de terror em seu rosto. "Você queimou um homem e um vampiro, vivos?" Eu assisti o marrom de seus olhos voltarem a superfície. O formato inteiro de seus olhos mudaram enquanto eu assistia. Parecia quase como se devesse doer. Se doía, ele não mostrou.

"Eu não planejei, Richard. Eu não queria que acontecesse, mas eu teria feito qualquer coisa para escapar de Serephina. Qualquer coisa."

"Eu não entendo."

"Eu sei." Eu disse.

"Não há nenhuma vergonha em sobreviver, ma petite." Eu me virei para Jean-Claude. Não havia nenhum choque em seu rosto. Era adorável e ilegível como de um boneco.

"Então por que eu não posso ler seu rosto agora?"

Vida fluiu de volta ao seu rosto, enchendo seus olhos, movendo atrás de sua pele até que ele estivesse ali, me encarando. O olhar em seus olhos não era o que esperava. Medo ainda estava ali, e surpresa, mas por trás disso, preocupação.

"Melhor?" Ele perguntou.

"Sim." Eu franzi a testa. "O que está te preocupando?"

Ele suspirou. "Toda honestidade é eventualmente punida, mas não tão rápido normalmente."

"Me responda, Jean-Claude."

Seu olhar passou de mim para os lobisomens esperando atrás de Richard.

"Ninguém deve falar sobre o que aconteceu aqui, para ninguém."

"Por que não?" Richard perguntou.

"Iria constranger ma petite."

"Isso é verdade." Eu disse. "Mas não é isso que você quer dizer. Você não se importa em me embaraçar. Inferno, essa história seria uma bela de uma ameaça para seus vampiros. Assustaria pra caramba eles."

"Esse, ma petite, é o ponto."

Eu suspirei. "Pare de ser obtuso e apenas nos diga."

"Eu não quero isso," ele mencionou os vampiros, "indo parar na atenção dos vampiros do Conselho."

"Por que não." Richard e eu perguntamos juntos.

"Muito simples, ma petite, porque eles irão te matar."

"Eu sou sua serva humana registrada." Eu disse. "Você disse que fez isso para me manter a salvo."

"Por isso, eles iriam vir e ver por si mesmos, ma petite. Seja lá quem eles mandariam, saberia instantaneamente que você não tem minhas marcas. Você é minha serva humana apenas no nome. Isso não será o suficiente para eles. Sem nenhuma marca nos ligando, eles não confiarão em você."

"Então eles matariam ela, simples assim?" Richard perguntou. Ele se moveu para mais perto de mim, como se fosse me tocar, mas suas mãos hesitaram acima dos meus ombros.

Sem olhar para ele, eu disse, "Uma história sobre queimar pessoas vivas e você não quer me tocar. Pequeno lobisomem preconceituoso você." Eu tentei manter minha voz clara, mas um tom duro ficou nela.

Suas mãos apertaram meus ombros firmemente. "Isso realmente te incomodou, o que você fez, não é?"

Eu me virei para ver seu rosto, suas mãos continuaram em meus ombros. "Claro que me incomodou. Eu não apenas matei Magnus, eu torturei ele até a morte. Ellie Quinaln não merecia ser queimada viva." Eu balancei minha cabeça e tentei me afastar ele. Ele deslizou seus braços por trás das minhas costas, me segurando gentilmente contra ele.

"Lamento que tenha que ter feito isso." Ele tocou meu cabelo com uma mão, a outra ainda gentilmente contra minhas costas. "Seus olhos estão assombrados com isso, pelo o que você fez. Não entenda mal, mas eu me senti melhor vendo a dor em seus olhos."

Eu me afastei dele. "Você acha que eu poderia matar alguém através de tortura e não sentir nada?"

Ele olhou em meus olhos, mas pareceu custar a ele algum esforço. "Eu não tenho certeza."

Eu balancei minha cabeça.

Jean-Claude pegou minha mão esquerda, a outra ainda estava segurando a Firestar. Ele me virou para olhar para ele. Ele levantou minha mão até seus lábios enquanto ele se inclinava devagar na minha direção. Ele falou enquanto se movia, "Não há nada que você poderia fazer que não iria me fazer desejar o toque de seu corpo." Ele beijou minha mão. Seus lábios permanecendo ali mais do que era educado. Sua língua deslizou por minha pele, e eu me afastei.

"Te assustou saber que eu posso levantar vampiros assim."

"Talvez, ma petite, mas eu tenho te assustado por anos, e ainda assim, aqui está você."

Ele tinha um ponto. Eu olhei para Willie. "Vamos ver se eu consigo colocar eles de volta a onde pertencem." Eu esperava que pudesse. Eu queria Willie de volta, mesmo se fosse apenas uma mentira. Ele andava, ele falava, ainda era Willie. Ou talvez eu apenas queria que fosse Willie. Talvez eu precisasse que fosse Willie.


29

"Me leve até o quarto dos caixões." Eu disse.

"Por que?" Jean-Claude perguntou. Tinha alguma coisa no jeito que ele disse essas duas palavras que me fez olhar para ele.

"Porque eu pedi."

"Como meu rebanho se sentiria se eu permitisse que a Executora entrasse em seus aposentos privados enquanto eles estão dormindo indefesos?"

"Eu não vou matar ninguém hoje, não de propósito."

"Eu não gosto do jeito que disse isso, ma petite."

"Poder incontrolável é imprevisível, Jean-Claude. Todos os tipos de coisas desagradáveis podem acontecer. Eu preciso ver onde os vampiros descansarão. Eu quero tentar colocar eles de volta de uma maneira controlada."

"Que tipo de coisas desagradáveis?" Richard perguntou.

Era uma boa pergunta. Como eu estava meio que voando cega, eu não tinha uma boa resposta.

"Precisa de menos poder para coloca-los de volta do que para levanta-los. Se apenas chamarmos eles de uma fez e tentar os colocar de volta..." Eu balancei minha cabeça.

"Você poder extinguir a força vital deles." Cassandra disse.

Eu olhei para ela. "O que você disse?"

"Você vai colocar eles de volta em seus caixões como colocaria zumbis, mas com um zumbi você faria isso para eles ficarem realmente mortos de novo, correto?"

Eu não tinha pensado por esse lado, mas ela estava certa. "Se você colocar os vampiros de novo no caixão, você estará afetando a morte deles, assim como com a de um zumbi, certo?

"É."

"Mas você não quer eles permanentemente mortos."

Minha cabeça estava começando a doer. "Não, eu não quero eles permanentemente mortos."

"Como você sabe tanto sobre necromancia, Cassandra?" Jean-Claude perguntou.

"Eu tenho uma graduação em Teoria Mágica."

"Isso deve ser útil em um currículo." Eu disse.

"Na verdade não muito." Ela disse. "Mas parece ter sido útil agora."

"Você sabia que seus novos membros do bando eram tão cultos, Richard?" Jean-Claude perguntou.

"Sim." Ele disse. "Foi uma das razões que eu dei a ela permissão para se mudar para cá."

"Permissão de mudar?" Eu disse. "Por que ela precisaria da sua permissão?"

"Um lobisomem precisa de permissão do líder do bando local antes de entrar em um território novo. Se não pedir, é considerado um desafio a sua autoridade."

"Ela pediu a sua permissão ou a de Marcus?"

"Dos dois." Cassandra disse. "A maioria dos lobisomens não chegam nem perto de Saint Louis quando esta luta de poder está rolando."

"Por que você veio então, minha loba?" Jean-Claude perguntou.

"Eu gostei do que ouvi sobre Richard. Ele está tentando atualizar o bando para o século 20."

"Você veio planejando ser a lupa dele?" Eu perguntei. Sim, uma pequena pontada de ciúmes havia aparecido nessa mente feia.

Cassandra sorriu. "Talvez, mas o cargo está ocupado. Eu vim para evitar brigas, não começar."

"Você veio para o lugar errado, eu temo." Jean-Claude disse.

Ela encolheu os ombros. "Se eu esperasse até que a batalha terminasse e tudo ficasse seguro, eu não teria muito trabalho, não é?"

"Você veio para lutar ao lado de Monsieur Zeeman?"

"Eu vim porque eu concordo com o que ele está tentando fazer."

"Você não aprova assassinatos?" Eu perguntei.

"Na verdade não."

"Quem diria, Richard, você achou uma parente de espírito." Jean-Claude disse, sorrindo, e totalmente entretido.

"Cassandra acredita na santidade da vida, um monte de pessoas acreditam." Richard disse. Ele não olhava para mim.

"Se ela é um par melhor para você do que eu, eu não vou ficar no seu caminho."

Ele se virou para mim, um olhar de surpresa em seu rosto. "Anita..." Ele balançou sua cabeça. "Eu estou apaixonado por você."

"Você supera." Eu disse. Meu peito estava apertado com a oferta, mas eu quis dizer ela. Richard e eu tínhamos opiniões básicas de fundamento diferentes. Isso não iria para frente. Um de nós dois iria ter que mudar de opinião, e não iria ser eu. Eu não podia nem olhar nos olhos de Richard, mas não retirei o que disse.

Ele deu um passo ficando na minha frente, e tudo que eu pude ver era seu peito nu.

Havia um arranhão logo abaixo do seu mamilo esquerdo, sangue seco em sua pele, fazendo linhas escuras. Ele tocou minha bochecha, levantando meu rosto até que eu olhasse em seus olhos. Ele estudou meu rosto como se nunca tivesse visto ele antes.

"Eu nunca superaria te perder, Anita. Nunca."

"Nunca é tempo demais para se atar à uma assassina."

"Você não tem que ser uma." Ele disse.

Eu dei um passo para longe dele. "Se você estiver comigo esperando que eu amacie e vire essa pequena garota boazinha, também será melhor se você me deixar agora."

Ele agarrou meu braço, me puxando contra o corpo dele. "Eu quero você, Anita, tudo de você." Ele me beijou, braços trancados atrás das minhas costas, me colocando contra ele.

Eu deslizei minhas mãos por trás de suas costas, com a Firestar ainda em uma delas. Eu pressionei meu corpo contra o dele forte o suficiente para saber que ele estava feliz em me ver{14}.

Nós nos afastamos para respirar, meio que rindo, mas não saí de seus braços. Eu tive um vislumbre de Jean-Claude parado em um lado. O olhar em seu rosto tirou o sorriso dos meus lábios. Não era ciúmes. Era fome. Desejo. Nos ver juntos havia excitado ele.

Eu saí dos braços de Richard e vi que havia sangue em minhas mãos. Era difícil de ver na blusa azul, mas havia manchas molhadas onde eu me pressionei contra a ferida de Richard. Algumas de suas feridas eram profundas o suficiente que ainda estavam sangrando.

Richard estava olhando para Jean-Claude agora também. Eu dei um passo para longe de Richard, segurando uma mão com sangue. Eu andei até o vampiro, e seus olhos ficaram parados no sangue fresco, não em mim. Eu parei a menos de um passo dele, minha mão parada na frente do rosto dele.

"O que você preferiria ter agora, sexo ou sangue?"

Seus olhos passaram para meu rosto, de volta para minha mão, e então de novo para meu rosto. Eu assisti o esforço que ele teve para manter o contato de olhos. "Pergunte ao Richard o que ele preferiria ter logo depois que ele mudasse para lobo, sexo ou carne fresca?"

Eu olhei de volta para Richard. "Qual sua escolha?"

"Depois de mudar, carne." Ele disse como se eu devesse saber a resposta.

Eu me virei de volta para o vampiro. Eu coloquei a Firestar na frente da minha calça, e movi minha mão sangrenta em direção aos lábios dele.

Jean-Claude agarrou meu pulso. "Não me provoque, ma petite. Meu controle não é infinito."

Um tremor correr pelos braços dele e abaixo em suas mãos. Ele olhou para longe, seus olhos fechados.

Eu toquei seu rosto com minha mão direita, virando ele de volta para mim. "Quem disse que eu estou provocando?" Eu disse suavemente. "Nos leve ao quarto dos caixões."

Jean-Claude analisou meu rosto. "O que está me oferecendo, ma petite?"

"Sangue." Eu disse.

"E sexo?" Ele perguntou.

"Qual você preferiria ter, nesse minuto?" Eu encarei ele, vendo a verdade em seu rosto.

Ele deu uma risada baixa. "Sangue."

Eu sorri e afastei minha mão dele. "Lembre-se, foi sua escolha."

Um olhar passou por seu rosto que era uma mistura de surpresa e ironia. "Touché, ma petite, mas eu estou começando a ter esperanças que essa não será a última vez que me dará essa escolha."

Havia um calor em sua voz, em seus olhos, que apenas ficar parada perto de seu corpo me fez arrepiar.

Eu olhei de volta para Richard. Ele estava nos assistindo. Eu esperei ver ciúmes ou raiva, mas tudo que eu pude ler em seus olhos era necessidade. Luxúria.

Eu tinha bastante certeza que a escolha de Richard nesse minuto seria sexo, mas o pensamento de um pouco de sangue durante, não parecia preocupa-lo. Na verdade, parecia ter excitado ele. Eu estava começando a me perguntar se o lobisomem e o vampiro compartilhavam os mesmos gostos de preliminares. O pensamento deveria ter me assustado, mas não assustou. Isso era um sinal muito, muito ruim.


30

Na última vez que estive no quarto dos caixões abaixo do Circo dos Malditos, eu tinha vindo para acabar com a Mestre da Cidade. Eu tinha vindo para acabar com todos os vampiros do lugar. Uau, como as coisas tinham mudado.

Uma seqüência de luzes de um sólido branco estavam presas na parede, dando pequenos focos de luzes em cada um dos sete caixões. Três dele estavam vazios, suas tampas abertas. Todos os caixões eram modernos, novos, espaçosos. Eles eram todos de uma rica madeira envernizada, eram quase pretos. Alças de prata davam elegância à madeira. O forro de cetim dentro dos caixões abertos eram de diferentes cores: branco, azul, vermelho. O caixão com o forro vermelho tinha uma espada com uma bainha especial: Era uma porra de uma espada tão longa quanto minha altura. Um par dos mais feios dados de pelúcia que eu já tinha visto, estavam suspensos no cetim branco do caixão. Tinha que ser o do Willie. O de cetim azul tinha um pequeno travesseiro extra.

Do lado de fora do caixão, o cheiro de ervas e rosa úmida, era vagamente doce. Eu toquei o pequeno travesseiro e vi que ele estava cheio de ervas secas. "Ervas para doces sonhos." Eu disse para ninguém em particular.

"Há algum propósito para estar mexendo nos pertences pessoais deles, ma petite?"

Eu olhei para ele. "Qual lembrancinha você tem no seu caixão?"

Ele apenas sorriu.

"Por que todos os caixões são iguais?"

"Se você viesse para nos matar, por onde iria começar?"

Eu olhei em volta, para os caixões idênticos. "Eu não sei. Se alguém viesse, ele não poderia dizer qual é o mais velho ou qual deles é o do Mestre da Cidade. Mantém segura a sua bunda, mas põe em perigo a do resto."

"Se alguém viesse para nos matar, ma petite, seria um beneficio para todos se o mais velho não fosse morto primeiro. Sempre há uma chance do mais velho levantar a tempo de salvar o resto."

Eu assenti. "Por que a largura e altura extra no interior?"

"Você gostaria de passar a eternidade deitada de costas, ma petite?" Ele sorriu e veio ficar do meu lado, encostando sua bunda contra o caixão aberto, braços cruzados no peito. "Há tantas outras posições mais confortáveis."

Eu senti um calor subir pelo meu rosto.

Richard se juntou a nós. "Vocês dois vão ficar trocando tiradas ou vão fazer isso?" Ele se inclinou contra o fim do caixão fechado, descansando seus antebraços nele. Havia um arranhado sangrando no alto de seu braço direito. Ele parecia estar se sentindo em casa. Jason ainda estava peludo, e grande o suficiente para cavalgar nele, no chão de pedras, batendo suas unhas no chão. A cabeça do lobo era grande o suficiente que ele lambia o sangue do braço de Richard enquanto ainda estava de quatro. Havia momentos em que eu sentia que Richard era normal demais para se encaixar na minha vida. Esse não era um desses momentos.

"É, nós vamos fazer isso." Eu disse.

Richard se levantou, correndo seus dedos por seu denso cabelo, tirando ele do rosto, e mostrando seu peito nu que era uma grande vantagem. Pela primeira vez eu me perguntei se ele tinha feito isso de propósito. Eu procurei em seu rosto aquele toque de provocação que Jean-Claude tinha, aquele conhecimento que mesmo aquele simples movimento me afetaria. Não havia nada. O rosto de Richard estava ingênuo, lindo e vazio de motivos interiores.

Eu troquei um olhar com Jean-Claude. Ele encolheu os ombros. "Se você não entende ele, não olhe para mim. Eu não estou apaixonado por ele."

Richard pareceu confuso. "Eu perdi alguma coisa?" Ele começou a coçar o pescoço do lobo, pressionando a cabeça dele contra seu peito. O lobo fez altos sons de prazer. Feliz em voltar às graças do líder do bando, eu acho.

Eu balancei minha cabeça. "Na verdade não."

"Por que estamos aqui?" Stephen perguntou. Ele estava tão perto da porta quanto podia e não ficar fora do quarto. Seus ombros estavam tensos. Ele estava assustado, mas com o que?

Cassandra estava parada perto de Stephen, dentro do quarto, perto de nós. O rosto dela estava vazio, ilegível exceto por uma certa desconfiança em volta de seus olhos. Os dois estavam com jeans e camisetas grandes. A de Stephen era uma blusa masculina azul. Cassandra estava com um camiseta grande e verde com uma cabeça de um lobo grande, com enormes olhos amarelos.

"O que há de errado, Stephen?" Richard perguntou.

Stephen piscou e balançou sua cabeça.

"Todos nós ouvimos Anita dizer ao Jean-Claude que ela precisaria de mais sangue, sangue fresco." Cassandra disse. Ela me olhou quando terminou a frase. "Eu acho que Stephen está preocupado sobre de onde o sangue virá."

"Eu não faço sacrifícios humanos." Eu disse.

"Algumas pessoas não consideram licantropos humanos." Cassandra disse.

"Eu considero." Eu disse.

Ela me olhou, julgando minhas palavras. Alguns licantropos podiam dizer se você estava mentindo. Eu estava apostando que ela era uma das que podiam. "Então de onde você vai tirar o sangue?"

Era uma boa pergunta. Eu não tinha certeza se tinha uma boa resposta. "Eu não sei, mas não vou matar ninguém."

"Tem certeza?" Ela perguntou.

Eu encolhi os ombros. "Se precisa de morte para traze-los de volta, eles são mortos. Eu não vou matar mais ninguém para trazer eles de volta." Eu olhei para os três vampiros em espera enquanto disse. Liv, Willie, e surpreendentemente, Damian. Levantar vampiros era impressionante o suficiente, levantar um do tipo de Damian, estava mais para assustador. Ele não era um vampiro mestre, nunca seria, mas ele tinha me assustado em uma luta justa. Agora ele estava parado vestido apenas com uma calça de lycra verde e uma faixa pirata. A parte de cima de seu corpo brilhava como músculos de mármore embaixo das luzes. Seus olhos verdes me encaravam com uma paciência que apenas os mortos conseguem lidar.

"Você está arrepiando, ma petite."

"Se vamos chamar o poder de novo, então precisamos de sangue." Eu olhei para Jean-Claude e Richard.

"Se Richard tem que lutar com Marcus hoje a noite, eu não tenho certeza se deveria ser ele quem doará o sangue dessa vez."

Jean-Claude deixou cair sua cabeça para um lado. Eu esperei que ele dissesse algo irritante, mas ele não disse nada. Talvez até cachorros mais velhos podiam aprender novos truques.

"Ele não vai enfiar presas em você." Richard disse. Raiva fez seus olhos castanhos escuros brilharem, ele era adorável quando estava bravo. Aquela aura de energia acendeu em volta dele, perto o suficiente para se mover pela minha pele.

"Você não pode doar sangue duas vezes nesse pouco tempo, não com Marcus esperando por você." Eu disse.

Richard me pegou pelos braços. "Você não entende, Anita. Se alimentar é como sexo para ele."

De novo eu esperei que Jean-Claude replicasse alguma coisa, mas ele não disse nada. Eu tinha que dizer então. Droga. "Não vai ser a primeira vez que ele faz isso, Richard."

Os dedos de Richard se enfiaram meus braços. "Eu sei disso. Eu vi as marcas de presa no seu braço. Mas lembre-se, você não estava sob nenhum controle mental naquela vez."

"Eu lembro." Eu disse. "Doeu pra caramba."

Richard me puxou para ele com suas mãos ainda nos meus braços, até que eu estava com as pontas do pé no chão, como se ele quisesse me levantar até seu rosto. "Sem controle mental, será como violação, não vai ser a coisa real. Dessa vez será real."

"Você está me machucando, Richard." Minha voz era calma, firme, mas o olhar em seu rosto estava me assustando. A intensidade de suas mãos, seu rosto, seu corpo, era enervante.

Ele se acalmou, mas não tirou as mãos de mim. "Pegue sangue de Jason ou Cassandra."

Eu balancei minha cabeça. "Talvez isso funcione, talvez não. Se o sangue vier de um nós, eu tenho certeza que vai funcionar. Além do mais, você deveria mesmo estar oferecendo sangue de outra pessoa sem pedir a ela antes?"

Dúvida passou por trás de seus olhos, e ele me soltou. Seu longo cabelo caiu na frente de seu rosto, escondendo ele.

"Você disse que tinha me escolhido. Que você estava apaixonada por mim. Que você não queria fazer sexo com ele. Agora, você está me dizendo que quer que ele se alimente de você. Isso é tão ruim quanto sexo." Ele andou pelo quarto, indo até os vampiros esperando, andando de volta com passos agitados, enchendo o quarto com um quente poder crescente.

"Eu não disse que eu queria que ele se alimentasse de mim." Eu disse.

Ele parou no meio do quarto, me encarando. "Mas você quer, não quer?"

"Não." Eu disse, e era verdade. "Eu nunca estive interessada nisso."

"Ela diz a verdade." Jean-Claude disse finalmente.

"Você fica fora disso." Richard disse, apontando um dedo para ele.

Jean-Claude deu um pequeno assentimento e ficou em silêncio. Ele estava se comportando mais do que bem. Me fez ficar nervosa. Mas claro, Richard estava sendo agitado pelos dois.

"Então me deixe dar o sangue de novo."

"Não é sexual pra você também?" Eu perguntei.

Richard balançou sua cabeça. "Era pra você que eu estava olhando, Anita, não para ele. Um pouco de dor é aceitável."

Foi minha vez de balançar a cabeça. "Você realmente está dizendo que deixar ele enfiar as presas no meu corpo iria te incomodar mais que ele enfiar..." Eu deixei o pensamento fluir sozinho. "Eu acho que doar sangue é menos depravado, Richard. Você não acha?"

"Sim." Ele chiou. Seu poder estava enchendo o quarto como uma água quente e elétrica. Eu quase podia alcançar aquilo e tocar.

"Então por que você ta bravo?" Eu disse. "Nós poderíamos não estar fazendo isso, pra começo de conversa, mas você quis que eu fizesse. Você quis que fizéssemos isso." Eu andei na direção dele, finalmente brava comigo mesma.

"Você não quer matar Marcus, tudo bem, mas esse é o preço. Você queria poder o suficiente para acovardar o resto do bando sem perder a sua humanidade, ótimo, mas esse tipo de poder não vem de graça." Eu parei na frente dele, tão perto que seu poder dançava pela minha pele como agulhas finas, era como sexo que segurava aquela linha tênue entre prazer e dor.

"É tarde demais pra desistir agora. Nós não vamos deixar Willie e os outros porque você está dando pra trás." Eu dei o último passo, colocando nossos corpos tão pertos que uma respiração mais profunda tocaria ele. Eu abaixei minha voz em um sussurro, se bem que todo mundo no quarto poderia me ouvir. "Não é o sangue que te perturba. O que te perturba é que você gosta." Eu abaixei minha voz até que era quase apenas um movimentos de lábios com apenas o som de uma respiração. "Jean-Claude não está apenas seduzindo a mim, ele está seduzindo a nós."

Richard me encarou, e o olhar em seus sinceros olhos castanhos era perdido, sem esperança. Um garotinho que descobriu que os monstros embaixo da cama existiam de verdade, e eles comendo a mamãe.

O poder de Jean-Claude deslizou pelo quarto, mesclando com o elétrico e morno de Richard, como um vento gelado de um tumulo. Nós dois nos viramos e olhamos para o vampiro. Ele estava sorridente como nunca, mesmo o sorriso sendo pequeno. Ele desamarrou seu roupão e o deixou cair no chão. Ele deslizou até nós, vestido de nada além de seu pijama de seda e um sorriso de segundas intenções. Seu próprio poder fazia seu cabelo longo mover em volta de seu rosto como se houvesse um pequeno vento.

Richard tocou meu ombro e mesmo esse toque inocente mandou uma linha morna de energia pela minha pele que me fez arrepiar. O poder estava lá para eu chama-lo, logo na superfície. Nós não precisávamos de todos as indiretas sexuais.

Jean-Claude estendeu uma pálida mão para mim. Eu peguei ela, e esse único toque era o suficiente. Aquele gelado e queimante poder fluiu acima de mim, por mim, até Richard. Eu ouvi Richard tossir. Jean-Claude começou a se mover para mais perto, como se fosse pressionar o seu corpo contra o meu. Eu o segurei longe de mim com a mão que estava presa na dele, endurecendo seu braço. "Está aqui, Jean-Claude, consegue sentir?"

Ele assentiu. "Seu poder me chama, ma petite."

As mãos de Richard deslizaram pelos meus ombros, seu rosto roçando meu cabelo. "E agora?"

"Nós guiaremos o poder dessa vez, não ele nos guiará."

"Como?" Richard sussurrou.

Jean-Claude me olhou com seus olhos que estavam profundo como o oceano, e cheio de segredos. "Eu acredito que ma petite tenha um plano."

"É." Eu disse. "Eu tenho um plano." Eu olhei de um para o outro deles. "Eu vou ligar para o Dominic Dumare e ver se ele sabe como devolver um vampiro ao seu caixão." Dominic tinha sido investigado como assassino de Robert. Ele tinha um álibi incontestável. Ele esteve com uma mulher. Mesmo se ele não tivesse, eu teria pedido por sua ajuda. Eu queria salvar Willie mais do que queria a vingança de Robert.

Uma estranha expressão passou pelo rosto de Jean-Claude. "Você, pedindo por ajuda, ma petite? Isso não é comum."

Eu me afastei dos dois. Nós poderíamos ter o poder de novo, eu tinha bastante certeza disso.

Eu olhei para o rosto vazio de Willie e para os dados em seu caixão. "Se eu cometer um erro, Willie estará acabado. Eu quero ele de volta."

Houve um tempo que eu pensei que não era Jean-Claude quem me convenceu que vampiros não eram sempre os monstros. Tinha sido Willie e Dead Dave, ex-policial e dono de bar. Eram os menores vampiros anfitriões que pareciam, ocasionalmente, caras legais. Jean-Claude era um monte de coisas; legal não era uma delas.


31

Dominic Dumare apareceu usando uma calça preta largada e uma jaqueta preta de couro aberta por cima de uma camiseta cinza de seda. Ele parecia mais relaxado sem o Sabin a vista, como um empregado em seu dia de folga. Nem mesmo seu bigode e barba aparados pareciam mais formais.

Dominic andou em volta dos três vampiros que eu tinha levantado. Nós voltamos para a área principal cheia de cascalhos, então ele podia ver os zumbis e os vampiros de uma só vez. Ele andou em volta dos vampiros, tocando eles aqui e ali. Ele sorriu abertamente para mim, seus dentes contrastando com sua barba escura. "Isso é maravilhoso, realmente maravilhoso."

Eu lutei contra urgência de franzir a testa para ele. "Me desculpe se eu não compartilho do seu entusiasmo. Você pode me ajudar a devolve-los para onde estavam?"

"Teoricamente, sim."

"Quando as pessoas começam a usar a palavra teoricamente, isso quer dizer que eles não sabem como fazer alguma coisa. Você não pode ajudar, pode?"

"Ora, ora." Dominic disse. Ele se ajoelhou na frente de Willie, olhando para cima, para ele, estudando ele como um inseto num microscópio. "Eu não disse que não podia ajudar. É verdade que nunca vi isso feito. E você disse que já fez isso antes." Ele se levantou, passando as mãos pelos joelhos em sua calça.

"Uma vez."

"Essa uma vez foi sem o triunvirato?" Dominic perguntou.

Eu tive que contar a ele. Eu entendia o suficiente sobre rituais mágicos para saber que se eu segurasse dele como conseguimos esse tanto de poder, qualquer coisas que Dominic fosse sugerir para nós não funcionaria. Seria como dizer a polícia que foi roubo quando na verdade foi assassinato. Eles estariam tentando resolver o crime errado.

"Sim, na primeira vez foi só eu."

"Mas ambos durante o dia?" Ele perguntou.

Eu assenti.

"Isso faz sentido. Nós só podemos levantar zumbis depois que suas almas tenham voado. Faria sentido que vampiros só podem ser levantados durante o dia. Quando a escuridão cai, suas almas voltam."

Eu não ia nem tentar discutir sobre vampiros terem ou não almas. Eu não tinha mais tanta certeza sobre minha resposta como antes.

"Eu não consigo levantar zumbis durante o dia. Quiçá vampiros." Eu disse.

Dominic mencionou todos os mortos esperando, dos dois tipos. "Mas você levantou."

Eu balancei minha cabeça. "Esse não é o ponto. Eu não deveria poder fazer isso."

"Você já tentou alguma vez levantar um zumbi durante o dia?"

"Bem, não. O homem que me treinou disse que não era possível."

"Então você nunca tentou." Dominic disse.

Eu hesitei antes de responder.

"Você tentou." Ele disse.

"Eu não consegui. Eu não consigo nem mesmo chamar o poder embaixo da luz do sol."

"Apenas porque você acreditou que não podia." Dominic disse.

"Repete."

"Acreditar é uma dos aspectos mais importantes da mágica."

"Você quer dizer que se eu não acreditar que posso levantar um zumbi durante o dia, eu não levanto?"

"Exatamente."

"Isso não faz sentido." Richard disse. Ele se inclinou contra uma das paredes intactas. Ele esteve bem quieto enquanto eu falava sobre mágica com Dominic. Jason, ainda na forma de lobo, estava deitado aos seus pés. Stephen tinha limpado o chão de algumas pedras quebradas e se sentou do lado do lobo.

"Na verdade," eu disse, "faz. Eu já vi muitas pessoas com puro talento que não conseguiam levantar nada. Um cara se convenceu que isso era um pecado mortal, então ele apenas se bloqueou. Mas ele brilhava com poder, ele aceitando ou não."

"Um metamorfo pode negar seu poder o quanto ele quiser, mas isso não o impede de mudar." Richard disse.

"Eu acredito que é por isso que licantropia é referido como uma maldição." Dominic disse.

Richard me olhou. A expressão em seu rosto era eloqüente. "Uma maldição."

"Você terá que perdoar Dominic." Jean-Claude disse. "Centenas de anos atrás, nunca ocorreu a ninguém que licantropia poderia ser uma enfermidade."

"Preocupado com os sentimentos de Richard?" Eu perguntei.

"A felicidade dele é sua felicidade, ma petite."

O novo comportamento cavalheiro de Jean-Claude estava começando a me incomodar. Eu não confiava em sua mudança de sentimentos.

Cassandra disse, "Se Anita não acreditava que podia levantar os mortos durante a luz do dia, então como ela fez isso?" Ela tinha se juntado a discussão metafísica como em uma sala de graduação de teoria mágica. Eu conheci pessoas como ela no colégio. Teoristas que não tinham mágicas. Mas eles podiam ficar sentados durante quatro horas debatendo se um feitiço teórico funcionaria. Eles tratavam mágica como uma grande física, uma ciência pura sem nenhuma forma verdadeira de se testar.

Os céus proibiam suas torres de marfim para os magos que podiam tentar suas teorias em feitiços reais.

Dominic teria combinado bem com eles, exceto que ele tinha mágica.

"As duas situações são casos extremos." Dominic disse. "Funciona com o mesmo principio que permite uma avó levantar um carro de cima de seu neto. Quando se tem necessidade, nós frequentemente achamos habilidades acima das comuns."

"Mas uma avó não pode levantar um carro por vontade própria, apenas porque ela quer." Eu disse.

"Hm." Dominic disse. "Talvez a analogia não é perfeita, mas você entende o que estou dizendo. Se você disse que não pode, você está meramente dificultando as coisas."

Isso quase me fez sorrir. "Então você está dizendo que eu poderia levantar os mortos na luz do dia se eu acreditasse que posso."

"Eu acredito que sim."

Eu balancei minha cabeça. "Eu nunca ouvi falar de nenhum animador que consegue fazer isso."

"Mas você não é meramente uma animadora, Anita." Dominic disse. "Você é uma necromante."

"Eu nunca ouvi falar de nenhum necromante que consegue levantar os mortos em plena luz do dia." Jean-Claude disse.

Dominc encolheu os ombros graciosamente. Me lembrou Jean-Claude. Levava belas centenas de anos para fazer um encolher de ombros bonito.

"Eu não sei sobre a plena luz do dia, mas apenas alguns vampiros podem andar por aí durante o dia, contato que eles estejam bem abrigados, eu acredito que o mesmo principio se aplica a necromantes."

"Então você não acredita que Anita poderia levantar os mortos em pleno meio dia lá fora, também?" Cassandra disse.

Dominc encolheu os ombros de novo. E então ele riu. "Você me pegou, minha bela estudiosa. Talvez seja possível para Anita fazer exatamente isso, mas mesmo eu, nunca ouvi tal coisa."

Eu balancei minha cabeça. "Olha, nós podemos explorar conseqüências mágicas depois. Agora, você pode me ajudar a descobrir um jeito de colocar os vampiros de volta nos caixões sem ferrar com eles?"

"Defina ferrar com eles." Dominc disse.

"Não brinque, Dominic." Jean-Claude disse. "Você sabe precisamente o que ela quis dizer."

"Eu quero ouvir da boca dela."

Jean-Claude olhou para mim e me deu o menor dos perceptíveis encolher de ombros.

"Quando a noite cair, eu quero que eles se levantem como vampiros. Eu estou com medo de que se eu fizer isso errado, eles apenas serão mortos, permanentemente."

"Você me surpreende, Anita. Talvez sua reputação de açoitadora da população de vampiros local é exagerada."

Eu encarei ele. Antes que eu pudesse dizer algo que soasse como se eu estivesse me gabando, Jean-Claude falou. "Eu pensaria que o que ela fez hoje é prova o suficiente do quanto ela merece a reputação que tem."

Dominic e o vampiro se encararam. Algo pareceu passar por entre eles. Um desafio, um conhecimento, algo. "Ela seria uma maravilhosa serva humana se apenas algum vampiro a pudesse domar." Dominic disse.

Jean-Claude riu. O som encheu a sala com ecos que arrepiavam e dançavam na pele. A risada se curvou em meu corpo, e por um breve momento, eu pude sentir algo tocar profundamente dentro de mim, onde nenhuma mão pertenceria. Em outro contexto Jean-Claude talvez tivesse feito isso ser sexual, agora era apenas incomodava.

"Nunca mais faça isso." Richard disse. Ele esfregou seus braços como se estivesse com frio ou tentando apagar a memória daquela risada invasiva.

Jason andou até Jean-Claude, para colocar sua cabeça contra a mão do vampiro. Ele tinha gostado.

Dominic deu um pequeno assentimento. "Minhas desculpas, Jean-Claude, você fez seu ponto. Se você desejasse, você poderia causar o dano que meu mestre causou por acidente em seu escritório."

"Meu escritório." Eu disse. Pessoalmente, eu não achava que Jean-Claude poderia causar danos apenas com sua voz. Eu estive em situações que se ele pudesse fazer isso, ele teria feito. Se bem que não havia sentido em contar isso ao Dominic.

Dominic deu um assentimento menor ainda em minha direção. "Seu escritório, claro."

"Podemos cortar as exibições?" Eu disse. "Pode nos ajudar?"

"Eu estou mais que disposto a tentar."

Eu andei até ele, fazendo meu caminho por entre as pedras quebradas. Quando eu estava parada o mais perto que a educação permitia e talvez um pouco mais, eu disse, "Esses três vampiros não são experimentos. Eles não são algum estudo de graduação metafísica. Você ofereceu me ensinar necromancia, Dominc. Eu acho que você não da conta do trabalho. Como você pode me ensinar quando eu posso fazer coisas que você não pode? A menos, é claro, que você consiga levantar vampiros de seus caixões."

Eu encarei seus olhos escuros durante todo o tempo que falei, assistindo a raiva estreitar seus olhos, tensionar seus lábios. Seu ego era tão grande quanto eu esperava. Eu sabia que ele não iria me desapontar. Dominic iria fazer seu melhor por nós agora. Seu orgulho estava em jogo.

"Me diga exatamente como você chamou o poder, Anita, e eu irei fazer um feitiço que deverá funcionar - se você tiver o controle para fazer funcionar."

Eu sorri para ele, eu garanti que fosse condescende. "Manda ver, que eu faço."

Ele sorriu. "Arrogância não é uma característica de uma mulher."

"Eu acho muito que é uma característica." Jean-Claude disse. "Se for merecido. Se você tivesse levantado três vampiros de seus lugares de descanso durante o dia, você não estaria arrogante, Dominic?"

Seu sorriso aumentou. "Sim, eu estaria."

A verdade era, eu não me sentia arrogante. Eu estava assustada. Assustada que eu ferrasse com o Willie e ele nunca mais levantasse. Eu me senti mal também sobre Liv e Damian. Não era sobre gostar deles ou não, eu não quis fazer aquilo. Você não deveria extinguir a força vital de alguém por acidente.

Se eu me sentia pelos menos metade segura como minhas palavras para Dominic, por que meu estômago doía?


32

Dominic, Cassandra e eu conseguimos achar um feitiço. A parte do plano que era minha idéia era bem simples. Eu tenho devolvido zumbis para suas covas fazia anos. Eu era boa nisso. O quanto fosse possível, eu ia lidar com isso como se fosse mais um trabalho: deitando os mortos para descansarem, nada demais.

Deitar os zumbis primeiro, preocupar com os vampiros depois.

Eu pedi para Cassandra buscar uma das minhas facas em seu compartimento no quarto. Se eu estivesse atuando como foco para outro animador, eu não deixaria ele enfiar suas presas em mim, então por que o sangue tinha que vir através das presas de Jean-Claude? Não tinha, ou eu achei que não tinha. Dominic concordou comigo, mas ele não tinha cem por cento de certeza. Então, zumbis primeiro.

Eu tinha prática com eles. Se a faca não funcionasse, nós usaríamos as presas, mas o que me restasse de normalidade, eu iria me prender a ela.

Eu mandei Stephen buscar algum recipiente para o sangue. Ele voltou com uma pequena taça dourada. Eu imaginei se o tamanho foi de propósito, para me encorajar a não derramar muito sangue. Para um lobisomem, Stephen parecia não gostar muito de sangue. A taça era polida até brilhar tanto que quase resplandecia. Dentro dela havia ondulações feitas com trabalho manual. Era de ouro batido, e eu sabia logo quando toquei a taça, que ela era antiga. Por que todo mundo pensa que você precisa de algo especial para servir de recipiente para o sangue? Uma tupperware serviria.

Nós paramos na sala cheia de cascalho onde os zumbis estavam esperando, pacientes, como apenas os mortos podem ficar. Alguns dos olhos que estavam me assistindo eram brancos como olhos de peixes mortos, alguns crânios estavam vazios, e mesmo sem olhos, todos pareciam estar olhando para mim.

Eu parei, a faca no coldre do meu braço esquerdo, olhando para eles. Richard parou na minha esquerda, Jean-Claude na minha direita.

Eles não estavam me tocando, a pedido meu.

Dominic havia pedido por detalhes o suficiente sobre o triunvirato para me deixar embaraçada. Ele concordou comigo que o poder provavelmente estaria ali sem termos que nos pegar. Concordar com isso o fez ganhar créditos comigo. Depois de tudo, o plano era levantar a mágica hoje a noite na frente de todo o bando. Eu realmente não queria fazer sexo no meio de tantos estranhos. Ta certo, não era exatamente sexo, mas era perto o suficiente para eu não querer uma audiência.

O brilho estava sumindo. Encarando aqueles parcialmente zumbis apodrecidos, era difícil de recuperar o clima. "Meus zumbis normalmente são mais inteiros que isso." Eu disse.

"Se você tivesse pego esse tanto de poder de dois outros necromantes, os zumbis estariam melhores." Dominic disse.

"Talvez foi uma recaída de controle." Jean-Claude disse.

Eu me virei e olhei para ele. "Eu acho que Dominic quis dizer que parte do poder que levantou eles, veio de um homem morto."

"Você acredita que eu sou um homem morto, ma petite?"

Eu encarei aquele adorável rosto e assenti. "Os vampiros que eu levantei são apenas cadáveres. Seja lá o que você é, é uma forma de necromancia. Necromancia apenas funciona quando você tem um corpo morto."

Ele colocou sua cabeça de lado. "Eu ouço suas palavras, ma petite, mas eu acho que você não acredita nelas, não completamente."

Eu balancei minha cabeça. "Eu não sei mais no que eu acredito."

"Na verdade," Dominic disse, "eu acho que não importa se Jean-Claude é um vampiro. Eu acho que é mais para o lado que nem Richard nem ele sabem nada sobre levantar mortos.

Esse é seu talento em particular. Eu acho que com prática, você poderá canalizar o poder para fazer zumbis perfeitos, mas de certo modo, Jean-Claude está certo. O descontrole disso, a recaída de poder, fez os zumbis serem menos perfeitos."

Algo deve ter aparecido no meu rosto, porque ele disse.

"Você tem muitas coisas para controlar, para prestar atenção em todos os detalhes. Eu acho que você instintivamente deixou os zumbis assim, porque essa é a parte que você tem mais certeza. Você tem excelentes instintos."

"Obrigada, eu acho." Eu disse.

Ele sorriu. "Acho que nosso tempo está se encurtando. Como podemos ver pela presença de Jean-Claude, nem todos os vampiros dormem até o escurecer completo. Eu temo que se um dos vampiros perderem sua hora de acordar, que ele ou ela, estará perdido. Mas eu quero pedir a Anita uma coisa que não tem nada a ver com seu problema, mas tem tudo a ver com o meu."

"Qual problema?" Eu perguntei.

"Sabin." Jean-Claude disse.

Dominic assentiu. "O tempo de Sabin está se encurtando."

"Sabin, o vampiro do clube?" Cassandra perguntou.

"É." Eu disse. "O que precisa, Dominic? Faça isso rápido, e eu serei sua garota."

Sominic sorriu. "Obrigado, Anita. Concentre em um dos seus zumbis. Tente trazer um deles para perto da perfeição."

Eu franzi a testa para ele.

"Cure um de seus zumbis, ma petite."

"Não se pode curar um morto." Eu disse. "Mas eu posso fazer ele parecer mais humano."

Dominc assentiu. "Isso seria muito bom."

"Eu normalmente faço isso no ímpeto inicial de poder. Eu nunca tentei mexer no meu zumbi depois de levantado."

"Por favor, tente." Dominic disse.

"Nós podemos levantar o poder entre nós três, e então tentar." Eu disse.

Dominic balançou sua cabeça. "Eu não tenho certeza sobre o que isso iria fazer com o feitiço. Eu acho que isso iria arriscar seus companheiros."

Eu encarei ele por uma batida de coração ou duas. "Você está arriscando deixar Sabin apodrecer para salvar nossos amigos?"

"Você pediu minha ajuda, Anita. Eu acho que você não é uma mulher que pede ajuda frequentemente. Iria ser um pobre pagamento depois de tamanho elogio, se eu deixasse você arriscar seus amigos pelo meu. Se você conseguir curar seu morto como está, então assim seja. Se não conseguir, iremos proceder sobre o salvamento desses três vampiros."

"Um sentimento muito honrável." Jean-Claude disse.

"Há momentos em que honra é tudo o que resta." Dominic disse.

O vampiro e o homem pareceram ter um momento de perfeito entendimento. Uma riqueza de histórias, se não compartilhadas, então similares, passou entre eles. Eu era uma mulher estranha de fora.

Eu olhei para Richard e nós tivemos nosso momento de perfeito entendimento. Nós valorizávamos nosso pequeno intervalo de vida mortal.

A fatalidade na voz de Dominic era assustadora. O quão velho ele era? Eu normalmente podia dizer sobre um vampiro, mas nunca com um servo humano. Eu não perguntei. Havia um peso de idade nos olhos castanhos de Dominic que me fez ter medo de perguntar.

Eu olhei para o adorável rosto de Jean-Claude e me perguntei se eu seria tão honrada, ou eu teria arriscado alguém, qualquer um, para curar ele. Ver Jean-Claude morto era uma coisa, mas ver apodrecido como Sabin... Isso seria pior que a morte de várias formas. Mas claro, Sabin estava morrendo. Poderoso como ele era, ele não poderia se segurar para sempre. Ou talvez ele pudesse. Talvez Dominic pudesse colocar ele em um grande saco, como as luvas que o vampiro usava em suas mãos. Talvez Sabin pudesse continuar vivendo e depois de tanto tempo ser reduzido a um líquido. Ok, esse foi um pensamento horrendo.

Eu encarei os zumbis parados. Eles encararam de volta. Um dos zumbis estava quase intacto. Sua pele cinza estava presa no osso, mais parecido com argila que carne. Um olho azul me encarava. O outro olho tinha se enrugado como uma passa. Me lembrou o que tinha acontecido com o olho de Sabin.

Faria mais sentido dizer que eu toquei o olho e ele se curou. Ou que eu pensei nisso e alisei a pele como se fosse de fato, argila. Não foi nada como isso. Eu encarei o zumbi. Eu toquei aquela faísca dentro de mim que me permitia levantar os mortos. Eu trouxe parte disso para fora, como se estivesse alimentando uma pequena chama, e joguei isso naquele único zumbi. Eu sussurrei, "Viva, viva."

Eu já tinha visto antes, mas eu nunca parava de me surpreender. A pele se encheu, engordando, amaciando. Um tom de pele fresca se espalhou com um toque de calor na pele cinza. O seco, como palha, cabelo, cresceu e se encaracolou, marrom e suave. O olho morto se encheu como um pequeno balão, enchendo a cavidade.

Dois olhos bons olharam de volta para mim. Mesmo a roupa rasgada havia se emendado. Ele tinha um relógio com corrente antigo de bolso. Suas roupas eram de centenas de anos atrás, ou mais.

"Eu estou totalmente impressionado." Dominic disse. "Se você trocasse suas roupas, ele poderia se passar por humano."

Eu assenti. "Eu fiz um belo zumbi, mas isso não ajudará seu mestre."

"Chame um dos vampiros do quarto dos caixões."

"Por que?" Eu perguntei.

Dominic tirou uma pequena faca de parta de um coldre em suas costas. Eu não sabia que ele tinha uma arma. Descuido meu.

"O que você vai fazer com isso?" Jean-Claude perguntou.

"Com sua permissão, eu irei cortar um dos vampiros e pedir a Anita para curar a ferida."

Jean-Claude considerou o pedido e então assentiu. "Um pequeno corte."

Dominic assentiu. "Claro."

Vampiros podiam curar pequenos cortes sozinhos eventualmente. Se eu não pudesse curar ele, sem maiores problemas. Se bem que eu não tinha certeza se o vampiro iria concordar comigo.

"Anita." Dominic disse.

Eu chamei. "Damian, venha para mim."

Jean-Claude levantou suas sobrancelhas com a minha escolha, eu acho. Se ele esperava que eu chamasse Willie, ele não entendia. Willie era meu amigo. Mesmo morto, eu não queria ver ele ser cortado.

Damian tentou violentar mentalmente uma mulher hoje a noite no clube. Vamos deixar ele ser cortado um pouquinho.

Damian andou, olhando até que me achasse. Seu rosto ainda estava branco e vazio. Mais vazio do que adormecido, como só os mortos podem ser.

"Damian, pare."

O vampiro parou. Seus olhos eram os mais verdes que eu já tinha visto. Mais verdes que os de Catherine, mais felinos que humano.

Dominic andou até ficar na frente de Damian. Ele encarou o vampiro.

Ele deitou a lâmina de prata contra a pele da bochecha dele e a desceu, cortando.

Sangue fluiu naquela perfeita palidez e uma fina linha vermelha. O vampiro nunca reagiu, nem mesmo piscou.

"Anita," Dominic disse.

Eu encarei Damian, não, a concha de Damian. Eu lancei poder nele, dentro dele. Eu desejei que ele viesse para a vida. Que era a palavra que eu sussurrei para ele.

O sangue diminuiu, e então parou. O corte se fechou sozinho. Foi... fácil.

Dominic limpou o sangue do rosto de Damian com um lenço que ele tirou do bolso de sua jaqueta. O bochecha pálida de Damian estava impecável de novo.

Foi Cassandra quem falou primeiro. "Ela poderia curar Sabin."

Dominic assentiu. "Ela poderia." Ele se virou para mim com um olhar de triunfo, euforia. "Você precisaria do poder do triunvirato para levanta-lo durante seu descanso a luz do dia, mas uma vez levantado, eu acho que você poderia curar ele."

"Um corte um pouco profunda é uma coisa." Eu disse. "Sabin está... uma bagunça."

"Você tentará?"

"Se pudermos colocar esses três vampiros de volta sem machuca-los, sim, eu tentarei."

"Amanhã."

Eu assenti. "Por que não?"

"Eu mal posso esperar para dizer a Sabin o que eu vi aqui hoje. Ele tem estado tão sem esperança por tanto tempo. Mas primeiro, nós temos que devolver seus amigos. Eu vou te ajudar em tudo que eu puder."

Eu sorri. "Eu sei o suficiente sobre mágica, Dominic, para saber que tudo que você pode fazer é dar conselhos complementares."

"Mas serão ótimos conselhos." Ele disse com um sorriso.

Eu acreditava nele. Pela segurança de Sabin, ele queria que tivéssemos sucesso naquilo. "Ok, vamos fazer isso." Eu estendi minhas mãos para Jean-Claude e Richard. Eles pegaram minhas mãos obedientemente o suficiente, e era agradável segurar as mãos deles. Os dois estavam mornos e adoráveis, mas não houve nenhum instante de mágica. Nenhuma faísca. Eu percebi que de alguma forma estranha, as interações sexuais tomavam o lugar do ritual.

Rituais não eram absolutamente necessários na maioria das mágicas, mas eles servem como uma forma de foco, para nos prepararmos para o ato de fazer o feitiço. Eu não tinha nenhum circulo de sangue para andar por ele. Eu não tinha nenhum sacrifício para matar. Eu não tinha nenhuma parafernália para usar. Tudo que eu tinha era dois homens parados na minha frente, meu próprio corpo, e a faca no meu braço. Eu me virei para longe dos dois.

"Não está acontecendo nada." Eu disse.

"O que você esperava que acontecesse?" Dominic perguntou.

Eu encolhi os ombros. "Alguma coisa. Eu não sei."

"Você está tentando demais, Anita. Relaxe e deixe o poder chegar até você."

Eu mexi meus ombros, tentando me livrar da tensão. Não funcionou. "Eu realmente queria que você não tivesse me lembrado que alguns dos vampiros poderiam se levantar antes de anoitecer. Já está de tarde e estamos aqui em baixo. Já pode ser tarde demais."

"Pensar assim não ajuda." Dominic disse.

Jean-Claude andou até mim, e mesmo antes dele me tocar, houve um ímpeto de poder como um calor se derramando na minha pele. "Não me toque." Eu disse.

Eu senti ele hesitar atrás de mim. "O que há de errado, ma petite?"

"Nada." Eu me virei para olhar ele. Eu segurei minha mão logo a frente de seu peito nu, e aquela linha de calor viajou da sua pele para a minha. Era como se o corpo dele respirasse contra o meu. "Você sentiu isso?"

Ele deixou cair sua cabeça para o lado. "Mágica."

"Aura." Eu disse. Eu tive que lutar contra a urgência de olhar para Dominic, como olhar para um treinador para ver se esse era o jogo que ele queria. Eu estava com medo de olhar para longe, de perder aquele elo. Eu estendi minha mão para Richard. "Ande até mim, mas não me toque."

Ele pareceu confuso mas fez o que pedi. Quando minha mão estava logo acima de sua pele, aquela mesma linha de calor pareceu, como um pequeno vento capturado. Eu pude sentir a energia deles respirando contra minha pele, uma em cada mão.

Eu fechei meus olhos e me concentrei naquela sensação. Naquilo. Eu pude sentir a diferença, pequena, quase imperceptível, mas estava ali. Havia uma cócega, quase um tremor elétrico no de Richard. Jean-Claude era frio e suave.

Certo, nós podíamos tocar auras, e daí? Pra que isso nos serviria?

Eu pressionei minhas mãos de repente, passando pela energia, contra seus corpos. Eu forcei aquela energia de volta neles, e ganhei uma tossida engasgada dos dois. O choque correu pelos meus braços e fez minha cabeça inclinar, enquanto eu respirava aquele ímpeto de poder. Eu levantei meu rosto para olhar os olhos dos dois. Eu não sei o que se mostrava no meu rosto, mas seja lá o que fosse, Richard não gostou. Ele começou a dar um passo para trás. Eu enfiei minhas unhas em sua barriga, apenas o suficiente para ganhar sua atenção.

"Não quebre a corrente."

Ele respirou com dificuldade. Seus olhos estavam bem abertos e havia algo perto de medo neles, mas ele continuou ali. Eu me virei para Jean-Claude. Ele não parecia assustado. Ele parecia calmo e controlado, assim como eu me sentia.

"Muito bem, Anita." A voz de Dominic veio suave, baixa. "Combine seus poderes como se eles fossem simplesmente outros dois animadores. Você está agindo como foco. Você já fez isso antes. Você fez os mortos descansarem milhares de vezes. Essa é apenas mais uma."

"Ok, treinador." Eu sussurrei.

"O que?" Richard perguntou.

Eu balancei minha cabeça. "Nada."

Eu dei um passo para trás devagar, mãos estendidas para eles. O poder trilhou entre nós como duas cordas. Não havia nada para ver, mas pelo olhar no rosto de Richard, nós todos sentimos. Eu tirei a faca do coldre e peguei a taça dourada sem olhar para baixo, meu olhar estava nos dois. Havia uma diferença entre isso e combinar com outros animadores, ali havia luxúria. Amor. Algo. Seja lá o que fosse, eu agi como um combustível, ou cola. Eu não tinha palavras para aquilo, mas estava ali quando eu olhei para eles.

Eu segurei a taça na minha mão esquerda, faca na direita. Eu andei de volta para eles. "Segure a taça para mim, uma mão cada um."

"Por que?" Richard disse.

"Porque eu mandei."

Ele me olhou como se quisesse discutir. Eu deitei a lamina da faca contra seus lábios. "Se você questionar tudo que eu disser, você acabará com minha concentração." Eu afastei a faca da boca dele.

"Não faça isso de novo." Ele disse, sua voz baixa, quase severa.

Eu assenti. "Tudo bem." Eu estendi meu próprio pulso por cima da taça e passei a faca pela pele em um movimento cortante. Sangue saiu do corte, caindo em densas gotas, escorrendo pelos lados e caindo na brilhante taça dourada. Sim, doeu.

"Sua vez, Richard." Eu mantive meu braço na taça, não precisávamos desperdiçar o sangue.

"O que eu faço?"

"Coloque seu pulso por cima da taça."

Ele hesitou e então fez o que eu pedi. Ele colocou seu pulso acima da taça, mãos em punhos. Eu virei sua mão para expor a parte debaixo de seu braço. Eu firmei sua mão com a minha sangrando. A taça cambaleava onde sua mão livre estava segurando com Jean-Claude.

Eu olhei para seu rosto. "Por que isso te incomoda mais que Jean-Claude te saboreando?"

Ele tragou o ar. "Um monte de coisas não me incomodam quando eu estou pensando em sexo."

"Você fala como alguém que tem apenas um cromossomo X." Eu disse. Eu cortei sua pele em um único movimento firme, enquanto ele ainda estava olhando meu rosto. A única coisa que o manteve sem tirar seu braço dali, era meu aperto nele.

Ele não lutou mais daquela surpresa inicial. Ele assistiu seu sangue cair na taça, misturando com o meu. O fundo da raça estava escondido da vista, coberto com sangue quente. Eu soltei sua mão, e ele segurou seu pulso sangrando na taça.

"Jean-Claude?" Eu disse.

Ele estendeu seu próprio bonito pulso para mim sem ser pedido. Eu firmei ele como tinha feito com Richard. Eu olhei em seus olhos azuis escuros, mas não havia medo ali, nada além de talvez, uma suave curiosidade.

Eu cortei seu pulso e o sangue desceu vermelho contra sua pele branca.

Seu sangue caiu na taça. Era tudo vermelho. Humano, licantropo, e vampiro. Você não poderia dizer qual era de quem só de olhar. Nós todos sangrávamos vermelho.

Ainda não havia sangue o suficiente para fazer um circulo de poder em volta de uns sessenta zumbis. Não havia nenhum jeito, além de um verdadeiro sacrifício, para ter esse tanto de sangue. Mas o que eu tinha nas minhas mãos era um coquetel de poder muito potente. Dominic achava que seria o suficiente. Eu esperava que sim.

Um som tirou minha atenção do sangue, e do crescente poder quente.

Stephen e Jason estavam agachados perto de nós, um em forma humana, um em forma de lobo, com olhares praticamente idênticos em seus olhos: fome.

Eu olhei deles para Cassandra. Ela estava se mantendo firme, mas suas mãos estavam em punhos, e um pouco de suor brilhava acima de seus lábios. O olhar em seu rosto estava perto de pânico.

Dominic estava parado sorridente e nada afetado. Ele era apenas outro humano na sala.

Jason rosnou para nós, mas não era um rosnado de verdade. Havia um ritmo no barulho. Ele estava tentando falar.

Stephen lambeu seus lábios. "Jason quer saber se nós podemos lamber a taça."

Eu olhei para Jean-Claude e Richard. Os olharem em seus rosto era o suficiente. "Eu sou a única nessa sala que não está tentada pelo sangue?"

"Exceto por Dominic, eu temo que sim, ma petite."

"Faça o que tem que fazer, Anita, mas faça rápido. É lua cheia, e sangue fresco é sangue fresco." Richard disse.

Os dois outros vampiros que eu tinha levantado se arrastaram na minha direção. Seus olhos continuavam vazios de personalidade, como bonecos bem feitos.

"Você chamou eles?" Richard perguntou.

"Não." Eu disse.

"O sangue os chamou." Dominic disse.

Os vampiros não olharam para mim dessa vez. Eles olharam para o sangue, e no momento que eles o viram, algo acendeu neles. Eu senti. Fome. Não havia ninguém em casa, mas necessidade ainda estava ali.

Os olhos verdes de Damian encaravam a taça com aquela fome. Seu lindo rosto virando algo bestial e primitivo.

Eu lambi meus lábios e disse, "Pare." Eles pararam, mas continuaram encarando o sangue recém derramado, nunca levantando seus olhos para mim. Se eu não estivesse ali para para-los, eles teriam se alimentado. Se alimentado como mortos-vivos, vampiros animalescos que não conheciam nada além da fome e nunca reganharam a humanidade de suas mentes.

Meu coração bateu na minha garganta com o pensamento daquilo que eu quase perdi o controle, soltando a mercê de pessoas desavisadas. A fome não teria diferenciado entre humano e licantropo.

Eu peguei a taça cheia e sangue, segurando contra minha barriga, a faca ainda na minha mão direita.

"Não fique com medo." Dominic disse. "Coloque os zumbis para descansarem como você tem feito por todos esses anos. Faça isso e deixe acontecer."

"Um passo por vez, certo?" Eu disse.

"Certamente." Ele disse.

Eu assenti. "Ok."

Todo mundo além dos três vampiros olharam para mim como se acreditassem que eu sabia o que estava fazendo. Eu bem que queria. Mesmo Dominic parecia confiante. Mas ele não tinha que colocar sessenta zumbis de volta em suas tumbas sem um circulo de poder. Eu sim.

Eu tinha que vigiar meus passos no chão cheio de cascalho. Eu não queria cair e derramar todo aquele sangue, todo aquele poder. Porque era isso que aquilo era. Eu podia sentir Jean-Claude e Richard nas minhas costas como duas tranças de cordas se mexendo dentro de mim enquanto eu me movia. Dominic tinha dito que eu seria capaz de sentir os dois. Quando eu perguntei sobre como especificamente eu iria sentir eles, ele tinha sido vago. Mágica era individualista demais para ser exata. Se ele me dissesse de uma forma e eu sentisse de outra, me faria ficar em duvida. Ele estava certo.

Eu mergulhei a faca no sangue e joguei respingos dele nos zumbis esperando. Apenas algumas gotas caíam neles, mas cada vez que o sangue tocava um, eu podia sentir, um choque de poder, uma pulsação.

Eu acabei no meio da sala da parede quebrada, com zumbis na minha volta.

Quando o sangue tocou o último, um choque correu por mim que fez um tossido sair da minha garganta. Eu senti o sangue se fechar em volta dos mortos. Era similar a fechar um circulo de poder, mas era como se ele fechasse dentro de mim, se refletindo para fora.

"Voltem." Eu disse. "Voltem para suas covas, todos vocês. Voltem para a terra."

Os mortos se arrastaram em volta de mim, se posicionando como sonâmbulos em um jogo das cadeiras. Cada um que chegava em seu lugar, se deitava, e a terra crua os cobria como água. A terra os engoliu de volta e se alisou por cima deles, como se uma mão gigante tivesse limpado tudo.

Eu estava sozinha na sala com a terra ainda se movendo como um cavalo cheio de moscas. Quando o último movimento havia acabado, eu olhei da parede quebrada para os outros.

Jean-Claude e Richard estavam parados na abertura da parede. Os três lobisomens estavam agrupados em volta deles. Mesmo Cassandra tinha se ajoelhado no chão do lado do lobo que era Jason. Dominic estava atrás deles, assistindo. Ele estava sorrindo abertamente para mim, como um papai orgulhoso.

Eu andei até eles, minhas pernas vacilaram, e eu tropecei, derramando um pouco de sangue de dentro da taça. Gotas vermelhas caíram no chão curvado.

O lobo estava de repente ali, lambendo o chão. Eu ignorei ele e continuei andando. Próximo passo, vampiros. Todo mundo se moveu para me deixar passar, como se estivessem com medo de me tocar. Exceto Dominic. Ele chegou até perto demais.

Eu senti seu próprio poder crepitar entre nós, arrepiando minha pele, descendo pelas cordas de poder que me ligavam a Richard e Jean-Claude.

Eu traguei o ar e disse. "Se afaste."

"Minhas desculpas." Ele se moveu para trás até que eu não pudesse mais sentir tanto ele. "Bom o suficiente?"

Eu assenti.

Os três vampiros esperavam com olhos famintos.

Eu respinguei sangue neles. Eles me moveram quando o sangue os tocou, mas não houve nenhum ímpeto de poder. Nada. Merda.

Dominic franziu a testa. "O sangue ainda está quente. Deveria funcionar."

Jean-Claude chegou mais perto. Eu pude sentir ele sem me virar. Eu pude sentir ele vindo pela linha de poder entre nós como, como um peixe sendo puxado do carretel. "Mas não está funcionando." Ele disse.

"Não." Eu disse.

"Eles estão perdidos então."

Eu balancei minha cabeça. Willie estava encarando a taça de sangue. O olhar era feroz, pura fome. Eu achei que a pior coisa que poderia acontecer para Willie, era simplesmente ele deitar em seu caixão, e ficar realmente morto. Eu estava errada. Ter Willie saindo de seu caixão desejando nada além de sangue, conhecendo nada além de fome, seria pior. Eu não iria desistir dele, não ainda.

"Nenhum outra idéia brilhante?" Eu perguntei.

"Alimente eles como sangue da taça." Dominic disse. "Mas depressa, antes que esfrie."

Eu na discuti, não havia tempo. Eu coloquei a faca no meu jeans. Eu iria limpar ela para coloca-la no coldre depois, mas eu precisava das minhas mãos livres. Eu afundei meu dedo no sangue. Ainda estava quente, mas não muito. Os olhos ainda estavam castanhos quando seguiram minhas mãos, mas não era Willie me olhando neles. Apenas não era.

Eu levantei a taça dourada na boca de Willie e disse, "Willie, beba." Sua garganta moveu, tragando furiosamente, e eu senti aquele click. Ele era meu de novo. "Pare, Willie."

Ele parou, e eu tirei a taça dele. Ele não tentou agarra-la. Ele não se moveu. Seus olhos ainda estavam vazios acima de sua boca sangrenta. "Volte para seu caixão, Willie. Descanse até a noite cair. Volte para seu caixão para descansar."

Ele se virou e andou de volta pelo corredor. Eu tive que confiar que ele iria voltar ao seu caixão. Eu checaria mais tarde. Um feito, dois a caminho. Liv saiu como um bom pequeno animalzinho. O sangue estava ficando bem escasso na vez que levantei nos lábios de Damian.

Ele bebeu, sua pálida garganta engolindo. O sangue passou por sua garganta e algo me roçou. Algo que não era minha mágica. Era algo a mais. O peito de Damian se levantou em uma grande respiração, como um homem respirando depois de se afogar. E alguma coisa me acertou atrás, repartindo me poder, fazendo voltar para mim. Era como uma porta batendo, mas era mais que isso. Uma força me alcançou, me acertou, e o mundo girou a minha volta. Minha visão foi tomada por tons cinzas e pontos brancos. Eu ouvi meu próprio coração batendo impossivelmente alto. As batidas me seguiram na escuridão, então até isso estava perdido.


33

Eu acordei encarando as cortinas brancas acima da cama de Jean-Claude. Havia algum pano úmido na minha testas e vozes conversando. Eu fiquei deitada ali por alguns segundos, apenas piscando. Eu não conseguia lembrar como fui parar ali. Eu me lembrei da sensação de ser solta de Damian. Eu fui solta dele como uma intrusa, algo a ser protegido contra. A força que havia me tocado não era maligna. Eu já senti coisas malignas antes, e aquilo não era. Mas não tinha sido exatamente uma força benéfica também. Mais neutra, talvez.

As vozes eram de Jean-Claude e Richard. A conversa era sobre mim. Grande surpresa.

"Como você pode deixar ela morrer quando você podia salva-la?" Richard perguntou.

"Eu acredito que ela não esteja morrendo, mas mesmo que estivesse, sem a permissão dela, eu nunca invadiria sua mente."

"Mesmo se ela estivesse morrendo?"

"Sim." Jean-Claude disse.

"Eu não entendo."

"Você não tem que entender, Richard. Anita concordaria comigo."

Eu tirei o pano da minha cabeça. Eu queria me sentar, mas parecia me custar muito esforço.

Richard se sentou na cama, pegando minha mão. Eu não tinha certeza se queria que ele fizesse isso, mas eu continuava fraca demais para impedi-lo.

Jean-Claude parou atrás dele, me olhando. Seu rosto estava vazio e perfeito, uma máscara.

"Como você se sente?" Richard perguntou.

Eu tive que respirar antes de poder falar. "Não tenho certeza."

Dominic apareceu a vista. Ele tinha, facilmente, estado fora da conversa. Além do mais, ele já era o servo humano de um vampiro. O que ele iria dizer? Que me marcar era algo maligno, ou que não era grande coisa? Mentiras de qualquer forma.

"Eu estou muito feliz em te ver acordada."

"Aquilo me expulsou." Eu disse.

Ele assentiu. "Certamente."

"O que expulsou ela?" Richard perguntou.

Dominic me olhou.

Eu encolhi os ombros.

"Quando o poder que animou o vampiro voltou, ele achou Anita ainda dentro de seu corpo, o poder a fez sair de lá."

Richard franziu a testa. "Por que?"

"Eu não deveria estar ali."

"A alma voltou quando você o tocou?" Jean-Claude perguntou.

"Eu já senti o roçar de uma lama antes, e aquilo não era isso."

Jean-Claude me olhou.

Eu olhei de volta.

Ele foi o que olhou para longe primeiro.

Richard tocou meu cabelo que estava molhado por causa do pano. "Eu não ligo se era a alma ou o bicho-papão. Eu pensei que tinha te perdido."

"Eu pareço sempre sobreviver, Richard, não importa quem mais morra."

Ele franziu a testa para isso.

Eu deixei isso pra lá. "Damian está bem?" Eu perguntei.

"Parece que sim." Jean-Claude disse.

"O que vocês dois estavam discutindo?"

"Dominc, você pode nos deixar agora?" Jean-Claude perguntou.

Dominic sorriu. "Com prazer. Eu estou ansioso para falar com Sabin. Amanhã, você e Richard podem levantar ele, e você, Anita" - ele tocou meu rosto suavemente - "poderá curar ele."

Eu não gostei dele me tocando, mas havia quase uma reverência em seu rosto. Fez com que fosse difícil gritar com ele.

"Eu farei meu melhor." Eu disse.

"Em todas as coisas, eu acho." Com isso, ele nos desejou bom dia e saiu.

Quando a porta se fechou atrás dele, eu repeti minha pergunta. "Sobre o que vocês dois estavam discutindo?"

Richard olhou para trás, para Jean-Claude, então de volta para mim. "Você parou de respirar por alguns segundos. Não tinha batimentos também. Eu pensei que você estivesse morrendo."

Eu olhei para Jean-Claude. "Me conte."

"Richard quis que eu lhe desse a primeira marca novamente. Eu me recusei."

"Vampiro esperto." Eu disse.

Ele encolheu os ombros. "Você foi bem clara, ma petite. Eu não serei acusado de me forçar em você novamente. De nenhuma força."

"Alguém fez alguma reanimação cardíaca?"

"Você começou a respirar sozinha." Richard disse. Ele apertou minha mão. "Você me assustou."

Eu tirei minha mão da dele. "Então você me ofereceu a ele como uma serva humana."

"Eu pensei que tínhamos concordado em ser um trio de poder. Talvez eu não entendi o que isso significaria."

Eu queria me sentar, mas eu ainda não tinha certeza se conseguiria, então eu tinha que me contentar com franzir a testa para ele. "Eu compartilharei poder com vocês dois, mas eu não vou deixar Jean-Claude me marcar. Se ele se forçar em mim de novo, eu mato ele."

Jean-Claude assentiu. "Você tentará, ma petite. Essa é uma dança que eu não quero começar."

"Eu deixarei ele me marcar antes que eu saia para encontrar o bando." Richard disse.

Eu encarei ele. "Do que você está falando?"

"Jean-Claude não pode ir lá hoje a noite. Ele não é um membro do bando. Se nos ligarmos, eu ainda poderei chamar o poder."

Eu lutei para me sentar, e se Richard não tivesse me segurado, eu teria caído. Eu deitei em seus braços, dedos presos nele, tentando fazer ele me ouvir. "Você não quer ser o servo dele pela eternidade, Richard."

"A união entre um mestre e um animal não é a mesma coisa que entre um mestre e um servo, ma petite. Não é nem de perto tão intimo."

Eu não conseguia ver o vampiro pelos ombros de Richard. Eu tentei me impulsionar para cima, e Richard teve que me ajudar. "Explique."Eu disse.

"Eu não serei capaz de sentir o sabor dos alimentos através de Richard, como eu podia com você. É um efeito muito pequeno, mas sinceramente, eu sinto falta dele. Eu gostaria de sentir o sabor de alimentos sólidos novamente."

"O que mais?"

"Richard é um lobisomem alfa. Ele é igual a mim no poder, de alguma forma. Ele terá mais controle em minhas entradas em seus sonhos, seus pensamentos. Ele poderia me manter fora,se ele quisesse."

"E eu não." Eu disse.

Ele me olhou. "Mesmo antes de você explorar seus poderes de necromante, você era difícil de controlar do que deveria ser. Agora," Ele encolheu os ombros, "eu não tenho mais certeza de quem seria o mestre e quem seria o servo."

Eu me sentei sozinha. Eu estava me sentindo um pouquinho melhor. "Foi por isso que você não me marcou quando teve a chance e poderia por a culpa em Richard. Depois do que eu fiz hoje, você tem medo de que eu seria a mestre e você o servo. Não foi por isso?"

Ele sorriu suavemente. "Talvez." Ele se sentou na cama, no lado oposto de Richard. "Eu não trabalhei por quase duzentos anos para ser um mestre da minha própria terra e depois dar a minha liberdade para qualquer um, até mesmo para você, ma petite. Você não seria uma mestre cruel, mas você seria exatamente uma."

"Não seria puramente servo e mestre. Eu sei por causa de Alejandro. Ele não podia me controlar, mas eu também não podia controlar ele."

"Você tentou?" Jean-Claude perguntou.

Isso me parou. Eu tive que pensar. "Não."

"Você simplesmente matou ele." Jean-Claude disse.

Ele tinha um ponto. "Eu realmente seria capaz de te mandar fazer coisas?"

"Eu nunca ouvi falar de outro vampiro escolhendo um necromante com mesmo poder para um servo humano."

"E que tal Dominc e Sabin?" Eu perguntei.

"Dominic não é páreo para você, ma petite."

"Se eu concordasse com a primeira marca, você faria isso ou não?" Eu perguntei.

Richard tentou me abraçar contra seu feito, mas eu me afastei. Eu tive que usar meus dois braços para me equilibrar, mas estava sentando sozinha.

Jean-Claude suspirou, olhando para o chão. "Se verdadeiramente nos uníssemos, ninguém poderia nos enfrentar. Esse tanto de poder é muito tentador." Ele olhou para cima de repente, me deixando ver seus olhos. Emoções passavam por seu rosto. Excitamento, medo, luxuria, e finalmente, apenas cansaço. "Nós poderíamos nos unir pela eternidade. Nos unir em uma luta de poder de três pessoa. Esse não é um pensamento agradável."

"Jean-Claude me disse que não seria meu mestre." Richard disse. "Nós seriamos parceiros."

"E você acreditou nele?" Eu disse.

Richard assentiu, parecendo terrivelmente ingênuo.

Eu suspirei. "Jesus, Richard, eu não posso te deixar sozinho por um minuto."

"Não foi uma mentira, ma petite."

"Aham, ta certo."

"Se for uma mentira," Richard disse, "eu matarei ele."

Eu encarei ele. "Você não quis dizer isso."

"Sim, eu quis." Algo se moveu por seus olhos castanhos, algo baixo e escuro e nada humano.

"Uma vez que você decide matar alguém, fica mais fácil matar outros, não é?" Eu disse.

Richard não se encolheu ou olhou para longe. "Sim, fica, mas não é isso. Eu não serei servo de ninguém. Nem de Jean-Claude, nem de você, nwm de Marcus e nwm de Raina."

"Você entende que uma vez que você se unir a ele, que machucar ele pode machucar você? Matar ele, pode matar você?"

"Eu prefiro ser morto do que preso."

Eu assisti a certeza em seus olhos. Ele quis dizer aquilo. "Você vai matar Marcus hoje a noite." Eu disse;

Richard me olhou, e a expressão que passou por seu rosto era uma que eu nunca tinha visto antes, uma fúria que encheu seus olhos e mandou um poder arrepiante pelo quarto. "Se ele não desistir, eu matarei ele."

Pela primeira vez, eu acreditei nele.


34

Houve uma batida na porta. Richard e Jean-Claude falaram ao mesmo tempo.

"Entre."

"Pode entrar."

Eles se encararam enquanto a porta estava se abrindo.

Edward entrou. Seus olhos azuis gelados pegaram nós três em uma só olhada. "O que aconteceu com você?"

"Longa história." Eu disse. "Não foi o assassino, se é isso que te preocupa."

"Não é isso. Seus lobos estão guardando meu reforço. Eles não me deixaram trazer ele sem a aprovação de alguém." Ele olhou de Jean-Claude para Richard. "Eles não foram muito claros sobre a permissão de quem eu deveria pedir." Ele não sorriu quando disse isso, mas eu conhecia ele bem demais para saber que havia uma sombra de humor em seu rosto.

"Esta é minha casa." Jean-Claude disse. "Minha permissão que é necessária."

Eu deslizei pelo canto da cama e descobri que eu podia me sentar direito. O movimento me colocou entre os dois homens. Richard ficou mais perto para me ajudar caso eu caísse de cara. Jean-Claude ficou sentado ali, não me tocando, nem oferecendo nada. Em vários sentidos, ele me entendia melhor do que Richard, mas também, ele me conhecia a mais tempo. Era meio que um hábito para ele.

Jean-Claude se levantou. "Eu irei acompanhar nosso convidado até aqui."

"É melhor eu ir com você." Edward disse. "Harley não te conhece, mas ele saberá o que você é."

"O que isso quer dizer?" Eu perguntei.

"Se um vampiro desconhecido chegasse em você nesse lugar e dissesse me siga, você o seguiria?"

Eu pensei nisso. "Provavelmente não."

Edward sorriu. "Nem Harley."

Edward e Jean-Claude saíram para buscar o amigo de Edward. Eu tentei ficar em pé enquanto eles estavam fora, apenas para ver se eu podia. Eu sempre gostava de conhecer novas pessoas, principalmente novos músculos com poder de fogo, em pé.

Richard tentou me ajudar, e eu o afastei. Eu tive que agarrar a parede para não cair.

"Eu estava tentando ajudar." Ele disse.

"Não tente tanto."

"Qual o seu problema?"

"Eu não gosto de ficar impotente, Richard."

"Você não é a Mulher Maravilha."

Eu olhei para ele. "Eu desmaiei, pelo amor de Deus. Eu nunca desmaio."

"Você não desmaiou." Ele disse. "Seja lá o era aquilo, te jogou para fora de Damian. Eu ainda estava atado a você quando aconteceu, Anita. Eu senti me tocar." Ele balançou a cabeça, cruzando seus braços no peito. "Você não desmaiou."

Eu encostei minhas costas contra a parede. "Isso me assustou também."

"Assustou?" Ele veio ficar na minha frente. "Você não parece assustada."

"Você está com medo de se juntar ao Jean-Claude?"

"Isso te incomoda mais do que eu matando pela primeira vez hoje a noite, não é?"

"Sim."

A porta abriu antes que pudéssemos continuar a conversa. Por mim tudo bem. Nós acharíamos alguma outra coisa para discordar em breve.

Deixar alguém se atar na minha mente, na minha alma, me assustava mais que matar alguém.

O homem que seguia Edward não parecia muito impressionante. Ele era magro, apenas alguns centímetros mais alto que Edward. Ele tinha cabelos ondulados castanho avermelhados, descendo em círculos suaves desde a metade de sua cabeça. Ele era reto até quando andava, e eu não podia dizer se era um hábito ou algum tipo de problema na coluna. Ele usava uma camiseta marrom dentro de calça de veludo cotelê preta, e tênis. Tudo parecia como se tivesse vindo das Forças Armadas. Ele usava uma jaqueta de aviador que parecia ser do tema original do World War II. Por baixo da jaqueta, eu tive um vislumbre de armas. Ele estava usando um coldre de ombro duplo, então ele deveria ter uma 9 milímetros por baixo de cada braço.

Eu tinha visto coldres como aquele, mas nunca conheci alguém que usasse um na verdade. Eu pensei que eles eram mais para se mostrar. Poucas pessoas eram igualmente boas com ambas as mãos.

Havia alças cruzadas por baixo da camiseta que eu não entendi, mas eu sabia que era para carregar algo letal.

Ele tinha uma mochila duffel{15} em uma mão, parecia cheia e era grande o suficiente para carregar um corpo nela.

Ele não estava nem mesmo tenso. Ele era mais forte que parecia.

Eu olhei em seus olhos finalmente. Eles eram pálidos e acinzentados com cílios tão ruivos que eram quase invisíveis. O olhar em seus olhos era o mais vazio que eu já tinha visto em um ser humano. Era como se enquanto ele estava me olhando, ele não estava me vendo na verdade. Não era como se ele fosse cego. Ele via algo, mas eu não tinha certeza do que ele via. Não era eu. Não uma mulher. Era algo a mais. Esse único olhar foi o suficiente. Eu sabia que aquele homem andava no circulo de sua própria criação. Via uma versão da realidade que faria o resto de nós gritar. Mas ele convivia, e não gritava.

"Esse é Harley." Edward disse. Ele nos apresentou todos, como se fosse um encontro normal.

Eu encarei os olhos pálidos de Harley e percebi que ele me assustava. Fazia um bom tempo desde que outro humano havia me deixado com medo, só de entrar no quarto.

Richard ofereceu sua mão, e Harley apenas olhou para ela. Eu queria explicar para Richard o por que dele não poder fazer esse gesto, mas não tinha certeza se conseguiria.

Eu não ofereci um aperto de mãos.

"Eu consegui o nome do cara do dinheiro, que está atrás desses atentados a sua vida." Edward disse. Ele disse como se fosse uma introdução.

Três de nós encaramos ele. Harley, por outro lado, continuou me encarando. "O que você disse?" Eu perguntei.

"Eu sei quem temos que matar."

"Quem?" Eu perguntei.

"Marcus Fletcher. A cabeça do nosso bando de lobisomens local." Ele sorriu, feliz consigo mesmo, por causa dos efeitos que as novidades tiveram em Richard.

"Você tem certeza?" Richard disse. "Certeza absoluta?"

Edward assentiu, estudando o rosto de Richard. "Ele te odeia o suficiente para matar Anita?"

"Eu acho que não." Richard se virou para mim, o olhar em seu rosto era ferido, horrorizado. "Meu Deus, eu nunca sonharia que ele pudesse fazer como isso. Por que?"

"Quão bem você lutaria hoje a noite com ma petite morta?" Jean-Claude perguntou.

Richard encarou ele, tão obviamente abalado pela covardia do que Marcus tinha feito, que eu queria fazer um cafuné na cabeça dele e dizer a ele que estava tudo bem. Eu quase fui morta duas vezes e eu queria confortar ele. Amor é claramente idiota as vezes.

"É tudo tão conveniente." Edward disse, com uma feliz melodia em sua voz.

"O que você quer dizer?" Richard perguntou.

"Ele quer dizer que você supostamente matará ele hoje a noite, Richard, então a gente não precisará." Eu disse.

"Eu apenas não acredito que Marcus faria algo tão..."

"Perverso." Eu sugeri.

Ele assentiu.

"Isso me parece mais com uma idéia de Raina do que de Marcus." Jean-Claude disse.

"É retorcido o suficiente para ela." Eu disse.

"Marcus poderia ter dito não." Richard disse. Ele correu suas mãos por seu cabelo, tirando ele de seu rosto. Seu lindo rosto estava cheio de linhas teimosas. "Isso tem que parar. Ele fará qualquer coisa que ela peça, qualquer coisa, e ela é louca."

Meus olhos passaram por Harley. Eu não podia evitar. Ele me pegou olhando e sorriu. Eu não sabia exatamente o que ele estava pensando, mas não era agradável e não era bonito. Ter Harley como reforço me fez imaginar se eu estava no lado certo.

"Edward, posso falar com você um minutinho, em particular?" Eu não queria ser tão obvia assim, mas Harley realmente estava me incomodando.

Eu andei para longe dos outros e Edward me seguiu atrás. Era meio que legal andar pelo quarto, abaixar minha voz e saber que a pessoas que eu estava sussurrando sobre, não poderia me ouvir.

Jean-Claude e Richard poderiam.

Edward me olhou, e ali havia aquele toque de divertimento, como se ele soubesse o que eu iria dizer e pensasse que era engraçado.

"Por que ele continua olhando para mim?"

"Você quer dizer Harley?"

"Você sabe malditamente bem que sim." Eu disse.

"Ele só está olhando, Anita. Sem perigo."

"Mas por que eu?"

"Porque você é uma garota, talvez?"

"Pára, Edward. Seja lá o que ele está pensando, não é sexo, e se é, eu não quero saber os detalhes."

Edward me encarou. "Pergunte a ele."

"Que?"

"Pergunte a ele por que ele está te encarando."

"Simples assim?"

Ele assentiu. "Harley provavelmente vai responder."

"Eu vou querer saber?" Eu perguntei.

"Não sei. Vai?"

Eu respirei profundamente e deixei o ar sair devagar. "Você está me enrolando, Edward. O que ta acontecendo?"

"Se algo acontecer comigo durante a luta, Harley precisará de pelo menos uma outra pessoa para se lembrar."

"Lembrar?"

"Ele é absolutamente confiável, Anita. Ele fica atrás de mim, nunca hesita e mata todo mundo que eu peço, mas ele não é bom sem ordens específicas. E ele não aceita ordens de todo mundo."

"Então você me designou?"

Edward balançou sua cabeça. "Eu disse a ele para escolher alguém do quarto."

"Por que eu?"

"Pergunte a ele."

"Certo." Eu andei de volta para os outros, e Edward me seguiu. Harley nos assistiu como se estivesse vendo outras coisas. Era malditamente enervante.

"Por que você fica me encarando?" Eu perguntei.

Sua voz era quieta, como se ele nunca gritasse. "Você é a filha da puta mais assustadora do quarto."

"Agora eu sei que você não consegue enxergar."

"Eu vejo o que está aqui." Ele disse.

"O que diabos há de errado com você?"

"Nada."

Eu tentei pensar numa pergunta melhor e finalmente perguntei, "O que você vê quando olha todo mundo no quarto?"

"A mesma coisa que você vê: monstros."

"Por que eu acho que os monstros que eu vejo no quarto não são os mesmos que você vê?"

Ele sorriu, um pequeno levantamento de lábios. "Eles podem parecer diferentes, mas eles ainda são monstros. Todos são monstros."

Ele era um genuíno psicótico paciente de um hospício. Quando uma pessoa chega ao ponto onde não vê a realidade, ele está tão perdido que não há volta. Algumas vezes terapias com remédios ajudam, mas sem isso, o mundo era um lugar assustador, opressivo.

Harley não parecia assustado ou oprimido. Ele parecia calmo.

"Quando você olha para Edward, ele sempre parece o mesmo para você. Você quer dizer que reconhece ele?"

Harley assentiu.

"Você me reconheceria?" Eu disse.

"Se eu fizesse um esforço para te memorizar, sim."

"É por isso que você fica me encarando."

"Sim." Ele disse.

"O que acontece se eu e Edward morrermos?"

Harley sorriu, mas seus olhos mudaram para um lado, como se algo baixo no chão, bastante pequeno tivesse corrido pelo quarto. O movimento era tão natural que eu olhei para lá. Nada.

"Harley." Eu disse.

Ele olhou de volta para mim, mas seus olhos estavam olhando mais para cima do meu rosto que deveria.

"Sim." Ele disse, sua voz quieta.

"O que acontece se Edward e eu formos mortos?"

Harley me encarou. Seus olhos mudaram para meu rosto por apenas um segundo, como se a neblina tivesse sumido. "Isso seria ruim."


35

Não havia escapatórias para Marcus hoje a noite. Ele tinha que morrer, de um jeito ou de outro. Richard não estava discutindo mais. Mas ainda havia a chance de Raina liderar uma revolta com o outro lukoi. A lealdade deles estava dividida o suficiente para ter uma guerra, mesmo com Marcus morto. Jean-Claude apareceu com uma solução. Nós faríamos um show melhor.

Um show melhor que Marcus e Raina? Ele tinha que estar brincando.

Richard concordou em deixar Jean-Claude vesti-lo para a noite. Como sua lupa, isso significava que eu teria que me vestir especialmente, também.

Jean-Claude levou Richard para trocar a roupa dele. Ele mandou Cassandra para mim com uma caixa branca com um cartão. Ela deveria me ajudar a me trocar, ela disse.

Eu abri a caixa e tudo que eu pude ver foi uma pilha de pedaços de couro. Não estou brincando. Eu tirei aquilo da caixa e ainda assim não melhorou. "Eu não sei como entrar nisso, mesmo se estivesse disposta."

"Eu vou buscar Stephen." Cassandra disse.

"Eu não quero tirar minha roupa na frente do Stephen."

"Ele é um stripper." Ela disse. "Ele me vestiu noite passada no Dança Macabra, lembra?" Ela deu um tapinha na minha mão. "Ele será um perfeito cavalheiro."

Eu me sentei na cama e franzi a testa para a porta. Eu não iria vestir esse lixo.

Uma hora depois, Stephen e Casandra estavam me virando na frente dos espelhos do banheiro para eu poder me ver. Foi embaraçoso no começo, ter um homem me ajudando a me apertar dentro daquela coisa, mas Cassandra estava certa. Stephen não foi apenas um perfeito cavalheiro, ele simplesmente não pareceu se importar com o fato de eu estar parcialmente nua. Era como ter duas amigas me ajudando. Apenas acontece que uma delas não é uma garota.

A parte de cima era principalmente um sutiã de couro forrado, para conforto. Era um daqueles que levantada e mostrava seu decote dando uma bela vantagem a eles. Era apertado e segurava tudo no lugar. Nada caía. Minha cruz era visível, apesar de tudo. Eu prendi ela.

Eu peguei a fita quando eu ia para o Circo. O menu de hoje incluía lobisomens, não vampiros.

A parte de baixo era meio que um short de couro, exceto que onde o short acabava, tiras continuavam. Eu não seria flagrada viva ou morta usando algo como isso, nem mesmo para fazer um belo show por Richard, exceto pelos extras.

Dois coldres de couro cobriam meus braços, completos com uma faca cada um. As facas eram da mesma qualidade, com prata pesada nelas. Os punhos eram um pouco elaborados demais para o meu gosto, mas o balanço era bom, e isso é o que contava. Mais dois coldres cobriam meus antebraços com mais duas facas, menores, feitas para se jogar, se bem que ambas tinham punhos e não eram para se jogarem, na verdade.

O bojo por baixo da camisa de Harley era para facas de se jogarem, o verdadeiro McCoy, alto e inocente até que você ver ele usar aquilo.

Havia um cinto de couro em volta do topo do short, que meu coldre da Browning ajustava perfeitamente. Edward tinha me trazido uma nova Browning. Não era bem a minha própria arma, mas ainda assim era bom ter ela. Harley havia pego um coldre solto para a Firestar na sua mochila. O pequeno coldre rodava para um lado da minha cintura facilitando para sacar.

As tiras nas minhas pernas abaixo tinham pequenos vislumbres de prata, mais duas facas, uma em cada coxa. Sem coldres abaixo do joelho porque botas vieram junto com a roupa. Jean-Claude finalmente tinha me tirado dos meus Nikes. A bota era de camurça preta e suave com saltos apenas um pouco mais altos do que eu teria gostado. Um pequeno frasco redondo estava preso logo abaixo do topo de cada bota. Eu levantei na luz e sabia o que era. Água benta. Um presente legal do meu namorado vampiro, não?

Eu me encarei no espelho. "Faz quanto tempo que Jean-Claude está planejando essa roupa?"

"Um pouquinho de tempo." Stephen disse. Ele estava ajoelhado na minha frente, ajeitando as tiras no lugar. "Nós todos apostamos que ele nunca conseguiria fazer você usar ela."

"Quem é "nós"?"

"Seus lacaios." Stephen se levantou, dando um passo para trás e balançando a cabeça. "Você está maravilhosa."

"Eu pareço com uma vadia motoqueira do inferno conhecendo uma soldado pin-up."

"Isso também." Stephen disse.

Eu me virei para Cassandra. "Seja sincera."

"Você parece perigosa, Anita. Como se fosse uma arma de alguém."

Eu olhei para o espelho, balançando minha cabeça. "Um brinquedo sexual, você quer dizer."

"Uma dominatrix talvez, mas não um brinquedo de alguém." Cassandra disse.

Por que isso não me fez me sentir melhor?

Cassandra insistiu em me ajudar com a maquiagem. Ela era bem mais capacitada para isso que eu. Anos de prática, ela disse. Meu cabelo estava arrumado e cheios de curvas, caindo por meus ombros agora. Eu precisava de um corte. Mas para hoje a noite, o cabelo estava perfeito. O rosto ainda estava bonito. Maquiagem é uma coisa maravilhosa. Mas a roupa não me deixava mentir. Eu parecia com o que eu era: algo que mataria você antes que te beijasse.

Nós saímos do banheiro e achamos Edward e Harley nos esperando. Eles tinham trazido duas cadeiras e colocaram no carpete branco, encarando a porta do banheiro. Eu franzi a testa enquanto Edward me olhava. Ele não disse nenhuma palavra, só ficou sentado ali, com um tipo de meio sorriso em seu rosto.

"Então, fala alguma coisa, droga."

"Eu diria que essa não é você, mas de alguma forma, é."

Eu respirei profundamente. "É."

Harley me encarou com olhos distraídos. Ele estava sorrindo, mas não pela roupa. Sorrindo para alguma musica interna ou visão que apenas ele podia perceber.

Havia um casaco de couro comprido na cama. "Um dos vampiros deixou ele aí." Edward disse. "Ele pensou que você poderia querer algo para se cobrir até o grande momento."

"Você está se divertindo com isso, não é?"

"Eu me sentiria melhor se pudesse vigiar suas costas."

"Você vai fazer isso com o Rifle que tem uma das miras mais potentes, lembra?"

"Visão noturna e alcance. Certo. Mas eu não posso matar todos à distância."

Ele encolheu os ombros. "Eu sou seu guarda-costas. Se você morrer sob a minha proteção, os outros guarda-costas vão rir de mim."

Me levou um segundo para perceber que ele tinha feito uma piada. Harley olhou para ele com um olhar praticamente surpreso. Eu acho que nenhum de nós ouvíamos humor vindo de Edward com freqüência.

Eu andei até Edward. O couro fez aquele pequeno som que ele faz. Eu parei na frente dele, pernas um pouco separadas, encarando para baixo, para ele.

Ele abriu seus olhos um pouco mais. "Sim."

"Eu não consigo imaginar ninguém rindo de você, Edward."

Ele tocou uma das tiras de couro. "Se eu saísse por ai vestido assim, talvez iriam."

Eu tive que sorrir. "Você provavelmente estaria vestido assim, se tivesse que descer para o palco conosco hoje a noite."

Ele virou seus pálidos olhos azuis para mim. "Eu já vesti coisa pior que isso, Anita. Eu sou um bom ator quando tenho que ser." O humor foi drenado de seu rosto, deixando algo selvagem e determinado. Edward continuaria fazendo coisas que eu não faria, continuaria a ter menos regras que eu, mas de alguma forma, Edward era um espelho de mim. Um aviso sobre o que eu estava me tornando, ou talvez uma prévia. Richard teria dito que era um aviso. Eu ainda não tinha me decidido.

Houve uma batida na porta. Richard entrou sem ser convidado. Ele estava franzindo a testa, mas o olhar mau-humorado sumiu quando ele me olhou. Seus olhos se abriram mais. "Eu iria vir aqui e reclamar da minha roupa." Ele balançou a cabeça. "Se eu reclamar, você vai apenas me dar um tiro?" Um sorriso encheu seu rosto.

"Não ria." Eu disse.

O sorriso aumentou. Sua voz estava um pouco chocada, mas ele conseguiu dizer, "Maravilhosa. Você está maravilhosa."

Há apenas duas coisas que você pode fazer quando está vestida como Barbie faz Bondage{16}, você pode ficar com vergonha ou você pode ficar agressiva. Adivinha qual foi minha escolha.

Eu andei até ele, colocando mais rebolado no meu andar. As botas facilitavam, de alguma forma, dando apenas o ritmo certo. Eu coloquei em meus olhos, meu rosto, o que a roupa prometia: sexo, violência, calor.

O humor sumiu do rosto de Richard, substituído por um resposta quente e hesitante, como se ele não tivesse certeza se deveria fazer isso em publico.

Ele estava usando calça de couro com botas suaves de camurça que eram quase um par das minhas. Seu cabelo foi arrumado para trás, preso com uma tira prets. Sua blusa era de seda, de um vibrante azul, algo entre turquesa e royal. Parecia esplendido contra sua pele bronzeada.

Eu parei logo na frente dele, pernas separadas. Eu encarei ele, desafiando ele a pensar que eu estava engraçada. Eu coloquei um dedo em seus lábios, trilhando as pontas deles por sua bochecha, seu pescoço, acariciando sua clavícula, traçando sua pele até que meus dedos sumissem dentro de sua camisa abotoada.

Eu continuei andando até a cama, e peguei o casaco de couro. Eu o joguei por cima de um ombro, ele caiu como um corpo mole, não escondendo muito da roupa. Eu abri a porta e parei por um momento nela. "Vamos?" Eu disse. Eu saí sem esperar por uma resposta. O olhar no rosto dele foi o suficiente. Ele parecia como se eu tivesse acertado ele entre os olhos com uma marreta. Ótimo. Agora, tudo que eu precisava fazer era ver o efeito da roupa em Jean-Claude, e poderíamos ir.


36

A floresta em Maio era uma escuridão quente e fechada. Richard e eu paramos do lado de fora do celeiro onde Raina tirava suas fotos pornográficas. O lugar de encontro do bando era entre as árvores, em volta da casa de fazenda. Havia tantos carros que eles estavam estacionados em cada pedaço do chão, tão pertos da floresta que estavam tocando as árvores.

Deveria haver uma lua cheia em algum lugar lá em cima, mas as nuvens estavam tão densas, a escuridão era tão completa, que era como estar dentro de uma caverna. Exceto que essa caverna tinha movimento. Um pequeno vento passava pelos cantos da densa noite escura. Era como dedos de um gigante invisível passando por entre as árvores, por trás delas, balançando as folhas, dando movimento a noite, fazendo meus ombros ficarem mais tensos. Era como se a noite mesmo estivesse viva, de um jeito que eu nunca tinha visto antes.

A mão de Richard era quente e um pouco úmida. Ele diminuiu aquela energia silenciosa, então não era inconfortável tocar ele. Eu apreciei o esforço. Seu casaco de couro sussurrava enquanto ele chegava mais perto. Estava aberto no peito, cobrindo apenas um ombro. O casaco combinava com as mangas cheias da brilhante camisa azul, fez toda sua roupa parecer antiga.

Richard puxou minha mão, me trazendo contra seu corpo, no circulo de seus braços, roçando no seu casaco de couro. As nuvens se separaram e de repente estávamos banhados em uma densa luz prata. Richard estava encarando para cima. Ele parecia estar escutando algo que eu não podia ouvir. Suas mãos se mexeram contra as minhas, em um quase doloroso aperto. Ele me olhou como se acabasse de lembrar que eu estava ali.

Ele sorriu. "Consegue sentir?"

"O que?"

"A noite?"

Eu comecei a responder, não, e então parei. Eu olhei em volta pela floresta, sentindo o movimento. "A floresta parece mais viva hoje a noite."

Seu sorriso aumentou, um breve vislumbre de dentes, quase um rosnado. "Sim."

Eu tentei me afastar, mas suas mãos ficaram mais fortes. "Você está fazendo isso."

Meu coração estava de repente batendo na minha garganta. Eu pensei que ficaria com medo de várias coisas hoje a noite, mas não de Richard.

"Supostamente deveríamos estar dividindo poder. É isso que estou fazendo. Mas tem que ser meu poder, Anita. O bando não vai se impressionar com zumbis."

Eu engoli parte do meu coração batendo e me forcei a ficar bem firme. Me fiz devolver o aperto de sua mão. Eu não tinha pensado no que aquilo significaria. Eu não estaria no comando. Não seria meu poder, seria o dele. Eu iria ser o combustível para o fogo dele, não o contrário.

"É a marca de Jean-Claude." Eu disse. "É o que está fazendo isso."

"Nós esperávamos que funcionasse assim." Richard disse.

E eu sabia que aquele nós que ele estava se referindo não me incluía. "Como isso funciona?"

"Assim." Aquela energia tremente saiu de sua pele como ímpeto de calor. Ela saltou de sua mão para a minha. Ela rodou pelo meu corpo como uma onda, e em todo lugar que ela tocava, o cabelo e pele do meu corpo se levantavam e arrepiavam.

"Você está bem?"

"Claro." Mas minha voz era um sussurro ofegante.

Ele confiou nas minhas palavras. Alguma barreira caiu, e a energia de Richard me acertou como um soco. Eu me lembrei de ter caído, e de sentir os braços de Richard em volta da minha cintura, me segurando, e então foi como se eu estivesse em outro lugar. Eu estava em todos os lugares. Eu estava ali nas árvores, olhando para nós com olhos que tentaram se virar e me ver, mas eu não estava ali. Era como o vento que se abriu dentro de mim quando eu andei pelo cemitério, exceto que esse poder se estendia para fora. Era eu. Eu me via por dezenas de olhos, corpos juntos, alguns peludos, alguns ainda com pele. Eu me apressei mais para fora, mais para fora, e toquei Raina. Eu sabia que era ela. Seu poder chicoteou para fora como se fosse um escudo, me mantendo fora dela, mas não antes de eu sentir seu medo.

Richard me chamou de volta, sendo que chamar implica por voz. Eu voltei para dentro de mim em um ímpeto de uma energia ondulada e dourada.

Eu podia ver a cor atrás dos meus olhos, mesmo não tendo na verdade nada para ver. Eu abri meus olhos, mesmo não tendo cem por cento de certeza que estavam fechados. Aquela energia dourada ainda estava ali, agitando por minha pele e dentro dela. Eu curvei minhas mãos pelos ombros de Richard e senti a energia dele em resposta.

Eu não tive que perguntar o que eu tinha acabado de experimentar. Eu sabia. Aquilo era o que significava, pelo menos para alguém tão poderoso quanto Richard, ser um alfa. Ele podia lançar sua essência para fora e tocar seu bando. Foi assim que ele impediu que um lobisomem mudasse sua forma dois dias atrás. Era assim que ele podia compartilhar sangue. Marcus não conseguia, mas Raina sim.

O poder de Jean-Claude, até mesmo meu próprio poder, nunca se sentiu tão vivo. Era como se eu estivesse drenando energia das árvores, do vento, como ser plugada em uma enorme bateria, como se houvesse mágica o suficiente para sempre. Eu nunca tinha sentido nada como isso.

"Consegue correr?" Richard perguntou.

A pergunta significava mais do que suas palavras, e eu sabia disso. "Ah, sim."

Ele sorriu, e foi prazeroso. Ele pegou minha mão e nos lançou pelas árvores. Mesmo se ele fosse humano, eu não poderia vencer ele em uma corrida. Hoje a noite, ele não correu, ele flui pela floresta. Era como se um radar dissesse a ele onde cada galho, cada tronco de árvores, cada tronco caído, estava. Era como se as árvores se afastassem dele como água, ou talvez se movia entre eles como algo a mais que eu não tinha palavras para. Ele me puxou com ele. Não apenas com sua mão, mas com sua energia. Era como se ele tivesse entrado em mim e nos atado de alguma forma.

Deveria ter sido intrusivo e assustador, mas não era.

Nós acabamos dentro de uma grande clareira e o poder Richard encheu o local, fluindo pelos licantropos como um fogo espalhando de um galho seco para outro. Encheu eles e os fez virar para Richard. Apenas Marcus, Raina, Jamil, Sebastian e Cassandra estavam intocáveis.

Apenas eles mantiveram ele fora por força de vontade.

Ele passou seu poder em todos na frente dele, e eu sabia que parte do que deixou ele fazer isso, era eu. Distante como um sonho, ou um pesadelo levemente lembrado, estava Jean-Claude, abaixo daquele poder serpenteado, estava quase enterrado embaixo da luz brilhante de Richard.

Eu senti o movimento de todos. Era como se o mundo fosse de repente cristalino, quase como o efeito de um ímpeto de adrenalina, ou choque, onde tudo parecia esculpido em pedras e terrivelmente, assustadoramente claro. Era como levar um banho de realidade, como se tudo mais fosse um sonho. Era quase doloroso.

Marcus sentou na cadeira que havia sido feita de pedra, há tanto tempo atrás, que a beirada tinha sido desgastadas com o tempo, mãos e corpos. Eu sabia que aquela clareira havia sido o lugar de encontro para o lukoi há muito tempo.

Marcus usava um terno de cetim marrom com lapela. A camisa era dourada, não um dourado pobre, mas um dourado real, como se tivesse derretido uma jóia e pintado sua camisa.

Raina estava curvada no canto da cadeira de pedra. Seu longo cabelo ruivo estava em um elaborado coque, com curvas suaves, no topo de sua cabeça, caindo em seu rosto. Uma corrente dourada passava por sua testa com um diamante do tamanho do meu polegar. Mais diamantes caiam como fogo branco por seu pescoço. Ela estava absolutamente nua, exceto pelo brilho de seu glitter dourado em seu corpo, densos suficientes em seus mamilos, para parecerem metálicos. Uma tornozeleira de diamante brilhava em seu tornozelo direto. Três correntes douradas circulavam abaixo em seu quadril, e era isso.

E eu reclamando da minha roupa.

"Bem vindos, Richard, Anita." Marcus disse. "Bem vindos à nossa feliz família." Sua voz era profunda e densa. Flui com seu próprio toque de poder, mas não era o suficiente. Nunca seria o suficiente. Richard poderia estar com seu jeans e camiseta, e ainda assim, ele teria ganhado em tudo. Haviam coisas além de roupas que se fazia um rei.

"Marcus, Raina." Richard soltou minha mão devagar, e enquanto ele se afastava, o laço continuava. Era um sombra da forma que eu atei as auras de Richard e Jean-Claude a mim, mas era mais.

Ele deu alguns passos para longe, e ficou um pouco a minha frente. Eu podia sentir ele como uma grande e brilhante coisa. Sua energia era incrível. A coisa mais próxima desse poder que já senti, foi o poder de Daoine Sidhe, uma fairie da alta corte.

"Seu garotinho safado." Raina disse. "Você fez dela uma de nós."

"Não." Richard disse. "Ela é o que sempre foi: ela mesma."

"Então como você pode guiar o poder dela? Como ela pode guiar o seu?" Raina se afastou da cadeira, seguindo em frente, dando passos como um animal enjaulado.

"O que você fez, Richard?" Marcus perguntou.

"Ela é minha parceira."

"Raina, teste." Marcus disse.

Raina sorriu, desagradavelmente, e andou até o chão aberto. Ela se agitou, transformando o andar em um dança de sedução. Eu senti seu poder hoje a noite. Seu sexo rodou o ar como uma ameaça relâmpago, andando por minha pele, secando minha boca. Eu senti cada ser masculino assistir ela, até Richard. Eu não fiquei brava. Inferno, eu estava olhando ela. Ela estava magnífica em sua pura nudez luxuriosa. Poder era o mesmo que sexo para Raina, literalmente.

Eu tirei meu longo casaco preto e deixei ele cair no chão. Houveram sons de surpresa coletivos das gargantas humanas ali. Eu passei minhas mãos pela pele nua da minha cintura, descendo pelas tiras de couro na coxa. Eu ri. Um alto, alegre e curto som. Era Raina. Eu estava guiando o poder dela, dançando por sua energia.

Eu andei em direção a ela, sem esperar, mas parando de encontro a ela no meio do circulo. Nós nos movemos em volta uma da outra, e eu pude combinar com sua dança. Eu coloquei sua aura de sexo e violência em mim, coloquei como uma mão alcançando dentro dela e roubando pedaços. Medo abriu mais seus olhos, fez sua respiração ficar mais rápida.

Ela sabia como se proteger de outro lobisomem, mas minha marca de poder era apenas diferente o suficiente para ela não saber o que fazer comigo. Eu nunca tinha feito nada como isso antes, eu não entendia exatamente o que estava fazendo, até Raina se afastar. Ela não correu de volta para Marcus, mas seu brilho tinha sumido. Ela voltou com seu rabo entre as pernas, e eu pude saborear ela dentro da minha cabeça, como se eu tivesse lambido sua pele.

Eu me virei de volta para Richard e andei até ele com minhas botas de salto alto. Eu senti cada homem me olhando. Eu sabia disso. Eu me envolvi com aquilo e joguei aquilo tudo em Richard. Ele parou quase congelado, seus olhos escuros cheios com um calor que era parte sexo, parte energia, parte algo a mais.

E pela primeira vez, eu entendi esse algo a mais. Eu ouvi aquela música, eu senti aquela dança dentro do meu corpo.

Eu peguei o casaco de couro e o coloquei de volta. Nós nos beijamos e aquilo queimou, como se mais que nossas peles estivessem se mesclando. Eu me soltei dele de repente, e meus olhos não foram para seu rosto, mas mais para baixo. Sem tocar ele, eu sabia que ele estava duro e pronto. Eu ainda podia sentir o bando distante, mas tocável. A cabeça de lobo grande de Jason roçou minha coxa. Eu enfiei meus dedos naquele pêlo denso e sabia que se Richard e eu fizéssemos amor, o bando todo saberia. Aqui, hoje a noite, eles saberiam de tudo. Não era apenas o sexo. Seria a mágica. E não parecia ser vergonhoso ou pagão ou errado.

"Você não pode deixa-los fazerem isso." Raina disse.

Marcus ficou de pé. Ele parecia cansado. "Não, eu acho que não." Ele olhou para Raina, cansada, nua, bonita e temente. "Mas não será seu sangue que será derramado essa noite, será, meu amor?" A ironia era densa o suficiente para andar, e pela primeira vez, eu percebi que Marcus sabia o que Raina era, talvez mais do que nós.

Raina se ajoelhou na frente dele, mãos agarrando suas pernas. Ela roçou sua bochecha contra a coxa dele, uma mão acariciando perigosamente perto da virilha dele.

Mesmo agora, isso era o que ela conhecia melhor. Sexo e dor.

Ele tocou o cabelo dela gentilmente, encarando ela, e o carinho puro em seu rosto me fez querer olhar para longe. Era um olhar terrivelmente intimo, mais intimo que sexo, mais poderoso. O idiota amava ela.

Se ele não estivesse pagando para me matar, eu teria sentido pena dele.

Marcus afastou de Raina. Ele começou a andar pela clareira. Seu poder se abriu como uma porta, fluindo como uma água elétrica pelos lobos, por mim. Ele desfez seu gravata, abrindo os primeiros botões de sua camisa. "Sem mais preliminares, Richard. Vamos acabar com isso."

"Eu sei que você tentou fazer a Anita ser morta." Richard disse.

Marcus parou. Seus pequenos e confiantes dedos hesitaram. Surpresa cruzou pelo seu rosto, e então mudou para um sorriso. "Você me surpreendeu duas vezes hoje a noite, Richard. Vamos ver se você consegue uma terceira."

"Eu vou te matar hoje a noite, Marcus, você sabe disso."

Marcus se livrou de seu terno. "Você vai tentar."

Richard assentiu. "Eu planejei te dar a chance de apenas desistir."

"Eu tentei fazer sua parceira ser morta. Você não pode me deixar vivo agora." Ele desabotoou os punhos de sua camisa.

"Não, eu não posso." Richard desfez o laço da capa, deixando ela cair no chão. Ele tirou sua camisa da calça e a tirou pela cabeça em um rápido movimento. A luz da lua fez sombras nos músculos de seu braço e peito. De repente eu não queria que ele fizesse aquilo. Eu poderia atirar em Marcus, e tudo estaria acabado. Richard nunca me perdoaria, mas ele estaria vivo.

Eles não matariam um ao outro com poder. Eles usariam garras e dentes para isso. Todo o poder ansioso e cheio de tremores de Richard não iria impedir que ele tivesse sua garganta arrancada.


37

Richard se virou para mim vestido apenas com a calça de couro e botas. Marcus havia pedido que eles não ficassem totalmente nus, algo sobre salvar a velha dignidade de um homem. Enrolação dele. Havia algo no ar que eu não gostei, como se Marcus soubesse o que estava vindo e ele estava pronto.

"Como Ulfric reconhecido, Marcus ganha a escolha da forma da luta." Richard disse.

"Qual forma ele escolheu?"

Richard levantou sua mão na frente do meu rosto. "Toque minha mão."

Ele fez isso soar muito sério para um pedido tão pequeno. Eu toquei a parte de trás de sua mão suavemente.

"Pegue na minha palma, Anita."

Eu envolvi meus dedos em volta da parte debaixo de sua mão. Antes que eu pudesse olhar em seu rosto ou perguntar algo, eu senti. Energia estava acumulada em sua mão como um combustível para uma lâmpada. Sua pele fluía por baixo da minha. Eu senti seus ossos se alargarem. Eu senti seu corpo largar suas fronteiras que o confinavam naquela pele, e seus ossos e sua carne estavam mudando. Eu senti quase como se ele fosse sair de seu corpo como mais cedo, mas não era sua essência que estava querendo sair. Era seu corpo.

Ele levantou sua outra mão e eu a peguei. Eu tranquei meus dedos nos seus e senti seus ossos crescerem pela minha pele, assisti as garras se formarem enquanto a carne se expandia, como argila. Distante como um grito, eu sabia que eu deveria estar assustada ou enjoada. O poder fluiu abaixo de suas mãos transformadas para as minhas, fluindo entre nós como um fogo gelado.

Ele parou quando suas mãos eram humanas com garras que poderiam me rasgar no meio. O poder não parou abruptadamente, não era como desligar um interruptor. Era como desligar uma torneira, diminuindo o fluxo, até uma gota e então nada.

Eu estava de joelhos e não me lembrava de como fui parar ali. Richard estava ajoelhado na minha frente, mãos ainda presas nas minhas. Precisei de duas tentativas antes de conseguir falar. "Como você consegue parar assim?"

Ele tirou suas novas mãos cuidadosamente das minhas.

Eu arrepiei quando as pontas de suas garras trilharam por minha pele.

"Controlar a transformação é o que separa as ovelhas dos lobos." Ele disse.

Me levou um segundo pra perceber que ele tinha feito uma piada. Ele se inclinou até mim e sussurrou, "Se eu perder o controle na luta, ou se eu estiver perdendo, eu me transformarei por completo. Eu quero que você vá me tocar, se eu te pedir."

"Por que?"

Sua respiração era morna contra minha bochecha. Ele me envolveu com seus braços, me abraçando no circulo de seu corpo, garras brincando pelas tiras de couro da roupa. "Eu quero que você sinta o ímpeto de poder. Eu quero que você saiba o que poderia ser entre nós." Seus braços ficaram mais firmes. "Se eu perder, você pode guiar o poder e usar ele para tirar meus lobos daqui. Os outros irão matar qualquer um que eles acharem desleais."

Eu me afastei o suficiente para olhar seu rosto. "Como eu posso usar o poder para fazer isso?"

"Você saberá." Ele deu o mais gentil dos beijos na minha testa. "Salve eles, Anita. Me prometa."

"Eu prometo."

Ele se levantou, minhas mãos deslizando por seu corpo enquanto ele ficava de pé. Eu peguei uma de suas mãos. Minhas mão deslizou pela longa e curvada garra. Era dura e sólida, e irreal, como parecia. Eu senti seu corpo mudar, e ainda assim, olhando para o rosto lindo de Richard e para aquelas mãos monstruosas, eu estava chocada. Ainda assim, eu o segurei. Eu não queria deixar ele ir.

"Cuidado com as garras, Anita. Eu não estou na forma humana mais."

Ele quis dizer que um arranhão poderia me faria ser peluda, ou talvez não. Difícil de dizer. Mas foi o suficiente para me fazer soltar ele. Não importa o quão bem Richard se sentia, eu não estava pronta para largar para trás minha humanidade por completo.

Richard me encarou, e havia um mundo em seus olhos de coisas não ditas, coisas não feita. Eu abri minha boca e a fechei. "Você tem esse controle todo sob qualquer parte do seu corpo?"

Ele sorriu. "Sim."

Eu estava tão assustada que não podia falar. Eu fiz minha última piada. A única coisa que restava eram verdades. Eu me levantei, colocando minhas mãos em suas pernas para me apoiar e beijei sua mão. A pele ainda era macia, ainda tinha cheiro e o sabor de Richard, os ossos por baixo dela pareciam algo a mais. "Não seja morto."

Ele sorriu. Havia uma tristeza em seus olhos que não tinha fim. Mesmo se ele vencesse essa luta, iria custar muito a ele. Assassinato, era assim que ele veria as coisas. Não importa o quão justificado. Princípios morais são importantes, mas te fará ser morto.

Raina deu um beijo de despedida em Marcus, pressionando seu corpo tão forte conta o dele, que era como se ela estivesse tentando andar por ele, partir ele como uma cortina e entrar lá dentro.

Ela se afastou dele com uma rica risada saída de sua garganta. Era o tipo de risadas que fazia várias cabeças se virarem em um bar. Um alegre e um pouco perverso som.

Raina encarou pela clareira até a mim, a risada ainda brilhando em seus olhos, em seu rosto. Um olhar era o suficiente. Ela iria me matar se pudesse.

Desde que eu estava pensando praticamente a mesma coisa sobre ela, eu dei a ela um pequeno assentimento e uma saudação. Nós veríamos quem estaria morta na manhã seguinte. Talvez fosse eu, mas em algum lugar na lista dos mortos, estaria Raina também. Isso eu quase podia prometer.

Marcus levantou suas mãos cheias de garras por cima de sua cabeça. Ele se virou um circulo lento.

"Dois alfas lutando por você aqui hoje a noite. Um de nós irá sair desse círculo vivo. Um de nós irá se alimentar hoje a noite. Beba de nosso sangue, coma de nossa carne. Nós somos o bando. Nós somos o lukoi. Nós somos um."

Jason jogou sua cabeça para trás e uivou, tão perto de mim que eu pulei. Gargantas peludas ecoaram ele, gargantas humanas se juntaram ao coro. Eu fiquei parada sozinha pelo bando e não me juntei a eles.

Quando o último eco sumiu pela floresta, Marcus disse, "Morte entre nós então, Richard."

"Eu te ofereci vida, Marcus. Você escolheu morte."

Marcus sorriu. "Acho que escolhi."

Marcus pulou diretamente nele, sem cálculos, sem prática, apenas um borrão de velocidade. Richard rolou no chão, então levantou de pé de novo. Três linhas finas e vermelhas sangravam por sua barriga. Marcus não deu a ele a chance de se recuperar. Ele diminuiu a distancia entre eles como um sonho ruim. Eu não pude nem seguir com meus olhos. Eu já tinha visto licantropos se moverem antes, e achei que eles eram rápidos, mas Marcus era surpreendente.

Ele cortou Richard, o forçando a ir para trás, no canto da clareira onde Raina estava. Richard não estava sendo machucado, mas os ataques o forçavam a ir para trás, o impediam de atacar. Eu precisava fazer uma pergunta. Eu olhei para Jason. Ele virou seus pálidos olhos de lobo para mim.

"Se outra pessoa ajudar Marcus, é trapaça, certo?" Eu me senti vagamente idiota conversando com algo que parecia um animal, mas o olhar em seus olhos não eram de um animal. Eu não tinha certeza se era humano, mas não era animal.

O lobo assentiu com sua cabeça. Estranhamente.

As costas de Richard estavam quase ao alcance de Raina. Jamil, o lobisomem negro de duas noites atrás, havia se juntado a ela. Sebastian já estava lá. Merda.

"Se eles trapacearem, eu posso atirar neles?"

"Sim." Cassandra se juntou a nós, andando pelo vento morto e trilhante do bando. Eu tive o primeiro roçar real de poder e soube que ela seria uma lupa se quisesse ser. Eu tirei a Browning, e senti ela estranha na minha mão, como se não precisasse dela. Eu estava confiando no bando mais do que devia se não queria minha arma. Perigosamente muito mais. Eu envolvi meus dedos na arma, apertando ela, me lembrando de sua sensação. A memória sensitiva me trouxe de volta, afastando um pouco do poder reluzente.

Eu não vi a arma, mas as costas de Richard estava para Raina e Sebastian. Eu levantei a Browning, sem apontar, não ainda.

Eu gritei, "Atrás de você."

Eu vi as costas de Richard ter um espasmo. Ele caiu de joelhos. Tudo aconteceu devagar, cravado em um cristal. A mão de Sebastian se moveu mostrando uma lâmina de prata. Eu já estava apontando para ele.

As garras de Marcus se impulsionaram para trás e foi em direção a garganta desprotegida de Richard. Eu apertei o gatilho e virei a arma para Marcus, mas eu seria muito lenta, seria tarde demais.

O topo da cabeça de Sebastian explodiu. Eu tive uma fração de segundos para me perguntar que munição Edward tinha colocado na arma. O corpo começou a cair para trás. As garras de Marcus vieram violentamente abaixo, e Richard passou suas mãos por baixo do braço de Marcus, até a barriga dele. Marcus parou, congelado por um segundo, enquanto as garras enfiavam em sua barriga, abaixo de suas costelas. A mão de Richard entrou no corpo de Marcus por cima da cintura.

Eu mantive a arma apontada para Raina, no caso dela ter idéias sobre pegar a faca.

Marcus jogou suas garras em direção às costas de Richard. Richard enfiou seu rosto e pescoço contra o corpo do outro homem para se proteger das garras. Marcus tremeu. Richard se afastou dele, trazendo sua mão sangrenta do peito de Marcus. Sangue descia da parte mais baixa em suas costas, onde a faca havia entrado. Eu andei até ele, a arma ainda apontada para Raina. Eu me ajoelhei, ainda mantendo um olho nela. "Richard, você está bem?" Era uma coisa idiota de se perguntar, mas o que mais eu poderia dizer?

"Guarde a arma, Anita. Está acabado."

"Ela tentou te matar." Eu disse.

"Está acabado." Ele virou seu rosto para mim, e seus olhos já tinham mudado. Sua voz estava quase um rosnado. "Guarde."

Eu encarei Raina e sabia que se eu não a matasse agora, eu teria que matar depois. "Ela quer nos ver mortos, Richard."

A mão de Richard estava de repente ali, mais rápido que eu pudesse ver. Ele acertou minha mão e arma deslizou pelo chão. Minha mão estava vazia.

Eu tentei me afastar, mas ele me pegou, envolvendo com suas garras em meus braços. "Sem mais mortes... hoje a noite." Ele jogou sua cabeça para trás e uivou.

Sua boca estava cheia de presas.

Eu gritei.

"Guie o poder, Anita. Guie ou corra." Suas mãos tiveram uma convulsão em volta dos meus braços. Eu me afastei para trás, equilibrando no meu salto e tentei me soltar. Ele caiu em cima de mim, machucado demais para lutar, longe demais para impedir a transformação. Seu poder rodou por mim, dentro de mim. Eu não podia ver nada além do brilho do poder atrás dos meus olhos. Se eu pudesse respirar, eu teria gritado de novo, mas não havia nada além da força de seu poder, e ele se estendia para fora dele como uma pedra na água. As ondas tocaram o bando, e onde ele tocava, pêlos fluíam. Richard se transformou e levou todo mundo com ele. Todo mundo. Eu senti Raina lutar perto de nós. Eu senti ela lutar contra isso. Ouvi ela chiar, mas no final ela caiu no chão e transformou.

Eu segurei os braços de Richard, e pêlos fluíam por baixo das minhas mãos, como água. Músculos se formavam e mudavam, ossos quebravam e reconectavam. A parte de baixo do meu corpo estava presa embaixo dele. Um líquido claro saía de seu corpo, caindo em mim como uma onda morna. Eu gritei e lutei para sair debaixo dele. E poder me rodou, me enchendo, até que eu pensei que minha pele não ia segurar aquilo, que eu não poderia segurar aquilo.

Finalmente, ele se levantou de cima de mim, não como um lobo, mas um homem-lobo, coberto com um pêlo da cor de canela e ouro. Sua genitália estava suspensa grande e cheia abaixo dele. Ele me encarou com olhos âmbares e me ofereceu uma mão com garras enquanto se levantava em duas pernas meio curvadas.

Eu ignorei sua mão e me arrastei para trás. Eu fiquei de pé, um pouco instável, e rígida.

A forma de lobo era na verdade mais alta que sua forma humana, uns sete pés, ele estava musculoso, e monstruosos. Não havia restado nada de Richard. Mas eu sabia o quão bem ele tinha se sentido por liberar sua besta.

Eu tinha sentido aquilo levantar nele como uma segunda mente, alma, dentro dele, fora, enchendo ele, saindo de sua pele.

Minha pele ainda estava formigando com o roçar de sua besta. Eu podia sentir a densa suavidade de seu pêlo em meus dedos, como uma memória sensorial que iria me perseguir.

Marcus com seu corpo aparentemente muito humano, estava deitado no chão, aos pés de Richard. O cheiro de sangue fresco correu por ele, correu por todos eles. Eu senti aquilo estremecer meu corpo. Eu encarei o homem morto e queria me ajoelhar e me alimentar dele. Eu tive uma imagem visual muito forte de rasgar uma carne e vísceras quentes. Era uma memória. Me fez dar um passo para trás.

Eu encarei o homem-lobo. Eu encarei Richard e balancei minha cabeça. "Eu não posso comer. Eu não vou."

Ele falou, mas era retorcido e gutural. "Você não foi convidada. Nós teremos nosso banquete, então caçaremos. Você pode assistir. Você pode se juntar à caçada ou pode ir embora."

Eu me afastei devagar. "Eu vou embora."

O bando estava sigilosamente perto, a maioria eram lobos gigantes, mas aqui e ali haviam homens-lobos, me olhando com olhos aliens. Eu não conseguia ver a Browning que Richard havia tirado na minha mão. Eu saquei a Firestar e comecei a me afastar.

"Ninguém vai te machucar, Anita. Você é uma lupa. Parceira."

Eu encarei aqueles olhos frios do novo lobo. "Nesse momento, eu sou apenas comida, Richard."

"Você recusou o poder." Ele disse.

Ele estava certo. No final, eu entrei em pânico e não tive a dose completa. "Tanto faz." Eu andei até os lobos, mas eles não me moveram. Eu andei por eles, roçando por pêlos, como se estivesse caminhando na água, se bem que era um mar de casacos de peles. Cada respiração deles me assustava. Pânico subia por minha garganta, e eu ainda tinha brilho o suficiente para saber que meu medo excitava eles. Quanto mais assustada eu ficava, mais eu cheirava como comida.

Eu mantive minha arma pronta, mas eu sabia que se eles viessem atrás de mim, eu estava morta. Havia muito deles.

Eles me assistiram andar. Eles teimosamente se recusavam a se mover, me forçando a roçar em seus corpos peludos. Eu percebi que eles estavam me usando meio que como um aperitivo, meu medo era uma espécie de alimento, o toque da minha pele humana tinha o sabor de perseguição.

Quando eu passei pelo último corpo peludo, o som de carne sendo rasgada trouxe atenção aos meus ouvidos. Eu não pude me parar a tempo. O focinho de Richard estava levantado para o céu, cheio de sangue, depois de ter arrancando um pedaço de carne que eu tentei não reconhecer.

Eu corri. A floresta que eu deslizei com a ajuda de Richard agora era um obstáculo. Eu corri, e fui presa, e caí, e corri mais. Eu finalmente acabei no estacionamento. Eu tinha vindo dirigindo o meu carro, porque ninguém além de mim iria ir para casa hoje a noite. Eles iriam ficar ali e teriam uma diversão a luz da lua.

Edward e Harley tinham assistido tudo aquilo em uma colina perto, com suas armas com visão noturna. Eu me perguntei o que eles tinham achado do show.


38

Edward me fez prometer que eu voltaria para o Circo por apenas mais uma noite. Marcus estava morto, então não havia mais o dinheiro, mas se alguém tivesse aceitado o contrato, essa pessoa não saberia da morte dele ainda. Seria uma vergonha ser morta depois de todos esses esforços para me manter a salvo. Eu andei por toda aquela maldita escada até a porta de ferro antes que perceber que eu não tinha uma chave, e ninguém estava me esperando.

O líquido claro que havia saído do corpo de Richard havia se secado em uma viscosa e pegajosa substancia, algo entre sangue e cola. Eu precisava de um banho. Eu precisava de roupas limpas. Eu precisa parar de ver a boca de Richard enquanto ele comia pedaços de Marcus. Quanto mais eu tentava não pensar nisso, mais clara a imagem vinha.

Eu bati na porta até que minhas mãos doessem, então eu a chutei. Ninguém veio. "Merda!" Eu gritei para ninguém e todo mundo. "Merda!"

A sensação do corpo dele em cima do meu. Seus ossos e músculos se movendo por cima de mim como uma mochila cheia de cobras. O calor de seu poder, e naquele momento, quando eu percebi que queria ficar de joelhos e me alimentar. E se eu tivesse engolido todo o poder? Se eu não tivesse fugido? Eu teria me alimentado de Marcus? Eu teria feito isso e gostado?

Eu gritei sem palavras, batendo minhas mãos na porta, chutando ela. Eu caí de joelhos, minhas palmas ainda pressionadas na porta. Eu inclinei minha cabeça contra ela e chorei.

"Ma petite, o que aconteceu?" Jean-Claude parou atrás de mim na escada. "Richard não está morto. Eu sentiria isso."

Eu me virei e pressionei minhas costas na porta. Eu limpei as lágrimas no meu rosto. "Ele não está morto, nem perto."

"Então o que está errado?" Ele desceu os degraus como se estivesse dançando, gracioso demais para palavras, mesmo depois de uma noite com licantropos. Sua camisa era de um profundo e rico azul, não escuro o suficiente, as mangas eram cheias, e haviam muitos laços, e a gola era alta mas suave, quase como se fosse um cachecol.

Eu nunca tinha visto ele usar azul. Fez seus olhos azuis meia-noite parecem mais azuis ainda, mais escuros. Seu jeans era preto e apertado o suficiente para ser skin, as botas ficavam na altura do joelho, com os topos de couro preto que me movia com ele.

Ele se ajoelhou do meu lado, sem me tocar, quase como se estivesse com medo. "Ma petite, sua cruz."

Eu olhei para ela. Não estava brilhando, ainda não. Eu apertei a cruz e a puxei, arrebentando a corrente. Eu a joguei longe. Caiu contra a parede, sumindo em um vislumbre na luz fraca.

"Feliz?"

Jean-Claude me olhou. "Richard está vivo. Marcus está morto. Correto?"

Eu assenti.

"Então por que as lágrimas, ma petite? Eu acho que nunca te vi chorar antes."

"Eu não estou chorando."

Ele tocou minha bochecha com a ponta de um dedo, pegando uma única lágrima tremendo em seu dedo. Ele a levou até sua boca, a ponta da sua língua lambeu sua pele. "Você está com o sabor de coração partido, ma petite."

Minha garganta ficou mais apertada. Eu não conseguia respirar com as lágrimas. Quanto mais eu tentava não chorar, mais rápido as lágrimas vinham. Eu me abracei, e minhas mãos tocaram aquele grudento líquido que me cobria. Eu afastei minhas mãos do meu corpo como se tivesse tocado algo sujo. Eu encarei Jean-Claude com minhas mãos levantadas na minha frente.

"Mon Dieu, o que aconteceu?" Ele tentou me abraçar, mas eu o empurrei.

"Você vai ficar cheio disso."

Ele olhou para o denso e claro líquido em sua mão. "Como você chegou tão perto de um lobisomem se transformando?" Uma idéia passou por seu rosto. "Foi Richard. Você o viu transformar."

Eu assenti. "Ele se transformou em cima de mim. Foi... Ah, Deus, ah, Deus, ah, Deus."

Jean-Claude me colocou em seus braços. Eu o afastei. "Eu vou arruinar sua roupa."

"Ma petite, ma petite, está tudo bem. Está tudo bem."

"Não, não está." Eu me deixei cair contra ele. Deixei ele me segurar em seus braços. Eu me agarrei nele, mãos presas na seda de sua camisa.

Eu enterrei meu rosto contra seu peito e sussurrei, "Ele comeu Marcus. Ele comeu ele."

"Ele é um lobisomem, ma petite. É isso o que eles fazem."

Isso foi uma coisa tão estranha de se dizer, e tão terrivelmente honesta, que eu dei uma risada abrupta, quase um som bravo. A risada morreu em um choque, que virou soluços.

Eu me segurei em Jean-Claude como se ele fosse a última coisa sã do mundo. Eu me enterrei contra ele e chorei. Era como se algo profundo dentro de mim houvesse quebrado, e eu estava chorando pedaços de mim em seu corpo.

Sua voz veio tênue, como se ele estivesse falando há muito tempo, mas eu não tinha ouvido. Ele estava falando em francês, suavemente, sussurrando em meu cabelo, acariciando minhas costas, me balançando gentilmente.

Eu deitei em seus braços, quieta. Eu não tinha mais lágrimas sobrando. Eu me senti vazia e leve, anestesiada.

Jean-Claude tirou meu cabelo da minha testa. Ele roçou seus lábios por minha pele, como Richard tinha feito mais cedo. Mesmo esse pensamento não me fez chorar de novo. Era tudo tão recente.

"Consegue se levantar, ma petite?"

"Acho que sim." Minha voz soava distante, estranha. Eu me levantei, ainda no circulo de seus braços, me encostando contra ele. Ele me afastei gentilmente. Fiquei em pé sozinha, tremendo um pouco, mas era melhor do que nada.

Sua blusa azul estava colada no peito, coberta por líquido de lobisomem e lágrimas.

"Agora nós dois precisamos de um banho." Eu disse.

"Isso pode ser arranjado."

"Por favor, Jean-Claude, sem insinuações sexuais até que eu esteja limpa."

"Claro, ma petite. Foi cruel de minha parte, hoje a noite. Minhas desculpas."

Eu encarei ele. Era estava sendo muito legal. Jean-Claude era muitas coisas, mas legal não era uma delas.

"Se você estiver aprontando alguma coisa, eu não quero saber o que é. Eu não consigo agüentar mais nenhuma trama profunda e obscura hoje a noite, ok?"

Ele sorriu e deu um pequeno assentimento, nunca tirando os olhos de mim. Era um assentimento que nem no judô, quando você tem medo de olhar para longe e a pessoa de acertar.

Eu balancei minha cabeça. Ele estava aprontando alguma. Bom saber que nem todo mundo estava de repente se tornando algo a mais. Uma coisa que eu podia sempre depender, era de Jean-Claude. Mesmo sendo um pé no saco, ele sempre parecia estar lá. Confiável em seu próprio jeito retorcido.

Jean-Claude confiável? Eu devo estar mais cansada que pensei.


39

Jean-Claude abriu a porta do quarto e entrou, me guiando na curva de suas graciosas mãos. A cama me fez parar. Houve uma mudança de roupa de cama. Lençóis vermelhos cobriam ela. Cortinas carmesins formavam um meio dossel na madeira quase preta. Ainda havia uma dúzia de travesseiros na cama, e todos eles era de um gritante e brilhante vermelho. Mesmo depois da noite que eu tive, era surpreendente.

"Eu gosto da nova decoração, eu acho."

"Os lençóis precisavam ser trocados. Você sempre reclamou que eu deveria usar mais cores."

Eu encarei a cama. "Eu vou parar de reclamar."

"Eu irei providenciar seu banho." Ele foi até o banheiro sem nenhuma piada ou comentário picante. Era quase enervante.

Seja lá quem trocou a roupa de cama, tinha também tirado as cadeiras que Edward e Harley tinham usado. Eu não queria me sentar nos lençóis limpos ainda coberta com seja lá o que fosse que eu estava coberta. Eu me sentei no carpete banco e tentei não pensar. Não pensar era mais difícil que parecia. Meus pensamentos continuavam perseguindo uns aos outros, como um lobisomem perseguindo seu rabo. A imagem arrancou uma risada da minha garganta, e no fim ela soou como um soluço ou um gemido. Eu coloquei a parte de trás da minha mão na minha boca. Eu não gostava desse som saindo de mim. Parecia desesperado, derrotado.

Eu não estava derrotada, droga, mas estava machucada. Se o que eu estava sentindo fosse uma ferida de verdade, eu estaria sangrando até a morte.

A porta do banheiro abriu por fim. Um sopro de calor, e úmido ar, fluiu em volta de Jean-Claude. Ele tinha tirado sua camisa, e a cicatriz em forma de cruz combinava perfeitamente com a perfeição de seu peito. Ele segurava suas botas em uma mão, e uma toalha vermelha com os lençóis em outra.

"Eu tomei um banho no chuveiro enquanto a banheira enchia." Ele andou descalço no carpete branco. "Eu temo que tenha usado a ultima toalha limpa. Eu irei buscar mais."

Eu tirei minha mão da minha boca e assenti. Eu finalmente consegui dizer, "Tudo bem."

Eu me levantei antes que ele pudesse me oferecer ajuda. Eu não precisava de ajuda.

Jean-Claude se moveu para o lado. Seu cabelo preto deitava cheio de curvas estreitas contra a pele pálida de seus ombros, curvado pela umidade do banheiro. Eu ignorei ele o quão era humanamente possível e entrei no banheiro.

Ele estava quente e cheio de vapor, a banheira de mármore preta estava cheia de bolhas. Ele me ofereceu uma bandeja preta no canto da pia. Shampoos, sabonete, cristais para banho, e o que parecia óleos estavam agrupados nela.

"Saia pra que eu possa me despir."

"Precisou de duas pessoas para te vestir hoje a noite, ma petite. Você não precisará de ajuda para tirar essa roupa?" Sua voz estava inteiramente vazia. Seu rosto tão sério, seus olhos tão inocentes, que me fez sorrir.

Eu suspirei. "Se você conseguir tirar as duas tiras de trás, eu acho que posso lidar com o resto. Mas sem gracinhas." Eu segurei o sutiã com minhas mãos, porque uma das tiras iria se soltar. A outra tira, pelo que eu sabia, era o ponto principal do resto da roupa.

Seus dedos moveram pela tira. Eu assisti ele no espelho embaçado. A tira saiu, despreza, e o couro fez um pequeno barulho. Ele moveu a segunda tira sem nenhuma caricia extra. Ele soltou as tiras e deu um passo para trás. "Sem gracinhas, ma petite." Ele saiu do banheiro, e eu assisti ele fazer isso como um fantasma nos espelhos embaçados. Quando a porta se fechou, eu comecei a tirar as outras tiras. Era como estar tirando minha pele.

Eu coloquei a bandeja de acessórios para banho no canto da banheira e entrei na água. A água estava quente, apenas um pouco menos que quente demais. Eu mergulhei até a água ficar no meu queixo, mas eu não conseguia relaxar. O líquido havia pregado na minha pele como camadas. Eu tinha que me livrar daquilo. Eu me sentei na banheira e comecei a esfregar. O sabonete cheirava a gardênia. Os shampoos cheiravam a ervas. Confie em Jean-Claude para não comprar as coisas simplesmente em uma mercearia.

Eu lavei meu cabelo duas vezes, mergulhando na água, e voltando atrás de ar. Eu estava esfregada e virtuosa, ou pelo menos limpa.

Os espelhos haviam ficado mais desembaçados, e eu tinha apenas a mim mesma para olhar. Eu limpei toda a maquiagem cuidadosa. Eu tirei meu denso cabelo preto do meu rosto. Meus olhos estavam enormes e quase pretos. Minha pele tão pálida, que era quase branca. Eu parecia chocada, impalpável, irreal.

Houve uma suave batida na porta. "Ma petite, posso entrar?"

Eu olhei para baixo, para mim mesma. As bolhas ainda estavam ali. Eu puxei elas um pouco mais perto do meu peito e disse, "Entre." Me custou muito esforço não mergulhar na água. Eu sentei reta, confiando nas bolhas. E além do mais, eu não me escondia.

Então, eu estava pelada numa banheira cheia de bolhas. E daí? Ninguém pode te deixar com vergonha, ao menos que você deixe que elas façam isso.

Jean-Claude entrou com duas densas toalhas vermelhas. Ele fechou a porta atrás dele com um pequeno sorriso. "Nós não queremos que o ar quente saia."

Eu estreitei meus olhos, mas disse, "Eu acho que não."

"Onde você quer que eu coloque as toalhas? Aqui?" Ele começou a deixar as toalhas na pia.

"Eu não posso alcançar elas aí." Eu disse.

"Aqui?" Ele as deixou no canto das escadas. Ele parou ali, me encarando, ainda usando nada além do jeans preto. Seus pés estavam brilhantemente pálidos contra o carpete preto.

"Ainda está longe."

Ele se sentou no canto da banheira, deixando as toalhas no chão. Ele me encarou como se pudesse mandar as bolhas para longe. "Assim está perto o suficiente?"

"Talvez um pouco mais perto." Eu disse.

Ele passou a ponta de seus dedos pelas bolhas no canto da banheira. "Você se sente melhor agora, ma petite?"

"Eu disse sem intenções sexuais, lembra?"

"Se eu me lembro bem, você disse sem intenções sexuais até que você estivesse limpa." Ele sorriu para mim. "Você está limpa."

Eu suspirei. "Confie em você para ser literal."

Ele passou seus dedos pela água.

Ele virou seus ombros o suficiente para eu conseguir ver as cicatrizes de chicotes em suas costas. Elas eram lisas e brancas, e de repente eu tive uma urgência de traça-las com meus dedos.

Ele se virou para me olhar. Ele secou seus dedos molhados em seu peito, deixando linhas brilhantes e úmidas pela cicatriz de cruz, descendo por sua barriga. Seus dedos brincaram pela linha de cabelos pretos que desapareciam dentro de sua calça.

Eu fechei meus olhos e deixei sair um suspiro.

"O que foi, ma petite?" Eu senti ele se inclinar na minha direção. "Você vai desmaiar?"

Eu abri meus olhos. Ele tinha inclinado todo seu corpo de cima pela banheira, braço direito no lado mais distante, o esquerdo perto do meu ombro. Seu quadril estava tão perto da água, que se eu tocasse seu peito, ele cairia nela.

"Eu não desmaio." Eu disse.

Ele inclinou seu rosto na minha direção. "Feliz em ouvir isso." Ele me beijou suavemente, um roçar de lábios, mas mesmo esse pequeno movimentos fez meu estômago gelar.

Eu arfei e o empurrei para longe. Ele caiu na banheira, afundando completamente, apenas seus pés do lado de fora. Ele caiu no meu corpo nu e eu gritei.

Ele se levantou atrás de ar, seu longo e preto cabelo caído em volta de seu rosto, em seus ombros. Ele parecia surpreso, como eu nunca tinha visto antes. Ele saiu de cima de mim, apenas porque eu estava empurrando ele. Ele ficou de pé. Água caindo por seu corpo. Ele me encarou. Eu estava encolhida contra um lado da banheira, encarando ele, brava.

Ele balançou sua cabeça e riu. O som encheu o banheiro, brincando pela minha pele como uma mão. "Eu tenho sido um cavalheiro para as mulheres por quase trezentos anos, Anita. Por que é apenas com você que eu sou desajeitado?"

"Talvez isso seja uma dica." Eu disse.

"Talvez."

Eu encarei ele. Ele ficou parado ali, joelhos afundados nas bolhas da banheira. Ele estava ensopado e deveria estar ridículo, mas não estava. Ele estava lindo.

"Como você ser tão malditamente lindo quando eu sei o que você é?"

Ele se ajoelhou na água.

As bolhas cobriam sua cintura, então parecia que ele estava nu. Água trilhava em seu peito, em finas linhas. Eu queria correr minhas mãos por ele. Eu queria lamber a água em sua pele. Eu puxei minhas pernas para meu peito e tranquei meus braços envolta deles, não confiando em mim mesma.

Ele veio na minha direção. A água se movia e se curvava em volta do meu corpo nu. Ele continuou ajoelhado, tão perto que seu jeans roçava minhas pernas. A sensação dele na água, tão perto, me fez esconder meu rosto contra meus joelhos. Os batimentos do meu coração me entregavam. Eu sabia que ele podia sentir meu desejo no ar.

"Me diga para ir, ma petite, e eu irei." Eu senti ele se inclinar contra mim, seu rosto logo acima do meu cabelo molhado.

Devagar, eu levantei meu rosto.

Ele colocou uma mão no canto da banheira, um braço em cada lado meu, trazendo seu peito perigosamente perto do meu rosto. Eu assisti a água correr pela sua pele, do jeito que as vezes ele via sangue correndo pela minha: um desejo quase incontrolável para negar, uma urgência tão completa que eu não queria dizer não.

Eu soltei meus braços dos meus joelho e me inclinei para frente. Eu sussurrei, "Não vá."

Eu coloquei minhas mãos em sua cintura, tentativamente, quase como se fosse queimar, mas sua pele estava gelada por baixo da água. Gelada e suave ao toque. Eu olhei para seu rosto e sabia que havia algo perto de medo em meu próprio rosto.

Seu rosto estava adorável, e incerto, como se ele não soubesse o que fazer em seguida. Era um olhar que eu nunca pensei que veria no rosto de Jean-Claude quando eu estivesse nua em seus braços.

Eu mantive meus olhos em seu rosto enquanto movi minha boca até sua barriga. Eu corri minha língua por sua pele, um rápido e tentativo movimento.

Ele suspirou, seus olhos fechados, corpo quase curvado. Eu pressionei minha boca contra sua pele, bebendo a água nele. Eu não conseguia alcançar seu peito. Eu me movi, ficando se joelhos, mãos ainda me firmando em sua cintura.

O ar estava gelado contra meus seios nus.

Ter ajoelhado havia os deixado descobertos. Eu parei, de repente insegura. Eu queria desesperadamente ver seu rosto e estava com medo de olhar para cima.

Seus dedos roçaram meus ombros, deslizando abaixo pela pele molhada. Eu arrepiei e olhei para cima. O olhar em seu rosto me fez segurar minha respiração. Carinho, desejo, admiração.

"Você é tão linda, ma petite." Ele colocou a ponta de seus dedos em meus lábios antes que eu pudesse protestar. "Você é linda, ma petite. Nisso eu não minto."

Seus dedos moveram dos meus lábios para meu queixo. Ele deslizou suas mãos em meus ombros, abaixo em minhas costas, em lentas e provocativas linhas. Suas mãos pararam em cada lado da minha cintura, espelhando minhas próprias mãos na cintura dele.

"E agora o que?" Minha voz estava um pouco ofegante.

"O que você quiser, ma petite."

Eu passei minhas mãos contra sua cintura, sentindo sua carne, sentindo ele em minhas mãos. Eu abri minhas mãos, passando elas tensamente contra sua pele, subindo elas por sua costela.

Ele apertou seus dedos na minha cintura, pressionando suas mãos contra minha costela. Ele levantou suas mãos nos cantos da minha cintura. Seus dedos fortes pressionados na minha pele apenas o suficiente para me fazer suspirar.

Ele parou com seus polegares logo abaixo dos meus seios. Seu toque ali era leve como pluma, quase não me tocando de verdade. Mas esse pequeno roçar de sua pele contra meus seios, fez meu corpo reagir, se apertar, meus mamilos se endurecendo. Meu corpo queria ele. Queria tanto ele que minha pele pulsava com o pensamento.

Minhas próprias mãos estavam pressionadas contra seu peito. Então eu percebi que ele ainda estava se espelhando em mim, esperando meu próximo movimento.

Eu olhei seu rosto. Eu procurei aqueles lindos olhos escuros. Não havia nenhum chamado neles, nenhum poder, exceto aquelas densas linhas pretas, que eram seus cílios, e a rica cor, como de um céu pouco antes de escurecer, onde você acha que o mundo é todo escuro, mas ainda havia um tom de azul, escuro e rico.

Beleza tinha seu próprio poder.

Eu deslizei minhas mãos acima em seu peito, dedos roçando por seus mamilos. Eu encarei seu rosto enquanto fiz isso, coração batendo na minha garganta, minha respiração vindo mais rápida.

Sua mãos deslizaram para cima, envolvendo meus seios. O toque da sua mão me fez arfar. Ele se abaixou na água, ainda me tocando. Ele se inclinou até meus seios e deu um beijo gentil neles. Ele lambeu a água da minha pele, lábios trabalhando gentilmente.

Eu arrepiei e tive que me apoiar em seus ombros nus. Tudo que eu podia ver era seu longo e escuro cabelo abaixo de mim. Eu peguei um vislumbre de nós dois nos espelhos. Eu assisti sua boca se fechar em meus seios, senti ele os tomar em sua boca o máximo que podia. Presas pressionadas contra eles. Por um segunda eu pensei que ele iria enfia-las em minha carne, e drenaria meu sangue em uma fina linha quente, mas ele se afastou.

Ele ficou de quatro na água, o que me fez ficar mais alta, me permitindo olhar para baixo, para seu rosto.

Não havia incerteza nele agora. Seus olhos ainda estavam adoráveis, ainda humanos, mas ali havia um conhecimento agora, uma escuridão crescente. Sexo, por falta de palavras melhores, esse olhar no rosto de um homem era primitivo demais para palavras. Era a escuridão que nós todos temos dentro de nós, esperando sair. Aquela parte de nós que está presa em nossos sonhos e é negado durante o dia.

Ele continuou baixo na água com aquela luz feroz em seus olhos, e eu abaixei até ele.

Eu o beijei, suavemente, um roçar de lábios. Eu passei minha língua por seus lábios e ele abriu sua boca para mim. Eu segurei seu rosto com minhas mãos e beijei ele, saboreei ele, explorei ele.

Ele saiu da água com um som entre um gemido e um choro. Seus braços se trancaram atrás das minhas costas e ele nos rolou na água como um tubarão. Nós nos levantamos arfando. Ele saiu de cima de mim, se encostando no lado mais distante da banheira. Eu estava respirando com tanta dificuldade que estava tremendo.

Meu pulso batia atrás da minha garganta. Eu podia sentir ele na minha língua, quase podia rolar ele na minha boca como um doce. Eu percebi que não era apenas o meu coração que eu estava ouvindo. Era o de Jean-Claude. Eu pude ver o pulso em seu pescoço como algo vivo e separado, mas não eram apenas meus olhos que podiam ver. Eu podia sentir como se fosse o meu.

Eu nunca estive tão ciente do sangue fluindo em meu corpo. O pulso quente na minha pele. As batidas densas do meu coração. Minha vida tremia dentro de mim.

O corpo de Jean-Claude pulsava com o meu. Era como se ele estivesse guiando meu pulso, meu sangue. Eu senti seu desejo, e não era apenas o sexo, mas pela primeira vez, eu entendi que não era apenas o sangue também. Era tudo em mim. Ele queria se aquecer no meu corpo, como segurar mãos acima de uma fogueira, agrupar meu calor, minha vida, nele. Eu senti sua quietude, uma intensidade de quietude que nenhum vivo poderia tocar, como uma piscina cheia de água escondida no escuro.

Em um momento cristalino, eu percebi isso, para mim, isso era parte da atração: Eu queria colocar minha mão naquela quietude, naquele lugar tranqüilo de morte. Eu queria abraçar aquilo, confrontar, conquistar. Eu queria encher ele com um banho quente de vida, e eu sabia naquele momento que eu poderia fazer aquilo, mas apenas com o preço de beber alguma parte daquela quieta e negra água.

"Minhas mais profundas desculpas, ma petite, você quase me fez perder a cabeça." Ele sentou na água, se encostando contra o canto da banheira. "Eu não vim aqui para me alimentar, ma petite. Me desculpe."

Eu senti suas batidas de coração se afastando de mim, o levando para longe de mim. Meu pulso ficou mais devagar. O único coração batendo em meu ouvido era o meu.

Ele se levantou, água pingando pelo seu corpo. "Eu irei, ma petite." Ele suspirou. "Você rouba meu auto-controle. Apenas você consegue fazer isso comigo, apenas você."

Eu engatinhei pela água até ele, e deixei aquela escuridão encher meus olhos.

"Não vá." Eu disse.

Ele me olhou com aquele olhar que era parte admiração, parte diversão, parte medo, como se ele não confiasse em mim - ou não confiasse em si mesmo.

Eu me ajoelhei em seus pés, correndo minhas mãos pelo seu jeans ensopado. Eu enfiei minhas unhas suavemente no jeans em sua coxa e me levantei. Meu rosto estava perigosamente perto de lugares que eu nunca tinha tocado antes, nem mesmo com minhas mãos. Perto assim, eu não pude evitar de notar que ele estava estendido duro e firme dentro aquela roupa pesada. Eu tive uma urgência terrível de deitar minha bochecha em sua virilha. Eu corri minhas mãos suavemente por ele, mal tocando. Aquele pequeno movimento trouxe um suave gemido dele.

Ele me encarou como um homem afogado, meio desfocado..

Eu olhei em seus olhos. "Sem dentes, sem sangue."

Ele assentiu devagar. Ele tentou duas vezes antes de achar sua voz. "Como minha dama quiser."

Eu deitei minha bochecha contra ele, sentindo ele firme e grande contra minha pele. Eu senti todo seu corpo tenso. Eu esfreguei meu rosto nele como um gato. Um pequeno som escapou dele. Eu olhei para cima.

Seus olhos estavam fechados, sua cabeça jogada para trás.

Eu agarrei o cós da sua calça e usei para ficar de pé. Água correu pelo meu corpo, espumas presas em minha pele.

Suas mãos envolveram minha cintura, mas seus olhos foram mais para baixo. Ele encontrou meu olhar e sorriu. Era o sorriso que ele sempre tinha. Aquele sorriso que dizia que ele estava pensando em coisas secretas, coisas que você só faz no escuro em um desafio. Pela primeira vez, eu queria tudo que aquele sorriso prometia.

Eu puxei seu jeans. "Tira."

Ele desabotoou seu jeans cuidadosamente. Ele tirou sua roupa molhada de seu corpo. Se havia uma roupa de baixo, eu nunca vi. O jeans acabou no carpete. Ele estava de repente, de alguma forma nu.

Era como se ele fosse esculpido com alabastro, cada músculo, cada curva de seu corpo era pálida e perfeita.

Dizer que ele era lindo era redundante. Dizer ‘Meu Deus do Céu’ parecia bobo demais. Dar uma risadinha estava fora de questão. Minha voz veio pequena e meio estrangulada, rouca com todas as palavras que eu não conseguia achar. "Você não é circuncidado."

"Não, ma petite. Isso é um problema?"

Eu fiz o que eu queria fazer desde a primeira vez que o vi. Eu envolvi meus dedos em volta dele, apertando suavemente. Ele fechou seus olhos, estremecendo, apertando suas mãos em meus ombros. "Nenhum problema." Eu disse.

Ele me colocou contra ele de repente, pressionando nossos corpos juntos. A sensação dele duro e firme contra minha barriga era quase demais. Eu enfiei meus dedos em suas costas, impedindo meus joelhos fracos de me fazerem cair.

Eu beijei seu peito. Eu levantei na ponta do pé e beijei seus ombros, eu pescoço. Eu corri minha língua por sua pele e senti seu sabor, rolei a essência dele, a sensação dele na minha boca. Nós nos beijamos, um quase inocente roçar de lábios. Eu tranquei minhas mãos atrás de seu pescoço, arqueando meu corpo contra ele. Ele fez um som baixo em sua garganta.

Ele deslizou abaixo pelo meu corpo, braços trancados atrás das minhas costas, me segurando contra ele enquanto se soltava de meus braços e me deixou parada, olhando para baixo para ele.

Ele lambeu minha barriga com rápidos e molhados movimentos de sua língua. Suas mãos brincando por minha bunda, me provocando. Ele lambeu mais abaixo, onde a barriga terminava e as coisas mais baixas começavam. Seus dedos deslizaram por entre minhas pernas.

Eu arfei. "O que você está fazendo?"

Ele rolou seus olhos para cima, boca ainda pressionada bem abaixo em minha barriga. Ele levantou seu rosto só o suficiente para falar, "Te dou três palpites, ma petite." Ele sussurrou.

Ele colocou uma mão em cada coxa minha e as afastou. Sua mão deslizou por mim, me explorando.

Minha boca estava seca de repente. Eu lambi meus lábios e disse, "Eu acho que minhas pernas não vão agüentar."

Ele correu sua língua subindo pelo meu quadril. "Quando a hora chegar, ma petite, eu te segurarei." Ele beijou o caminho até minha coxa. Seus dedos deslizaram para dentro de mim. Minha respiração saiu como um suspiro.

Ele beijou a parte de dentro das minhas coxas, correndo sua língua, seus lábios pela minha pele. A sensação de seus dedos entre minhas pernas, fez meu corpo se apertar, e eu pude sentir o começo de algo grande e devastador.

Ele levantou, mãos ainda entre minhas pernas. Ele se inclinou e me beijou, longamente e devagar. Os movimentos de sua mão combinavam com de sua boca. Devagar e demorado, provocando meu corpo. Quando seus dedos saíram de mim, eu gemi, tremendo contra ele.

Ele me deixou parada na água, sozinha e arrepiando, mas não por frio. Eu não consegui nem mesmo pensar o suficiente para perguntar onde ele ia. Ele apareceu na minha frente com uma camisinha em sua mão, como se ele tivesse tirado do ar. Ele roçou ela abaixo em meu corpo.

Eu toquei ele enquanto ele desenrolava a camisinha. Eu o segurei em minhas mãos e senti a maciez de veludo dele. A pele era inacreditavelmente macia. Ele se tirou da minha mão gentilmente com uma risada curta.

Quando ele estava pronto, ele me levantou um pouco, mãos na parte de trás das minhas coxas. Ele se pressionou contra mim sem entrar, se esfregando onde suas mãos tinham tocado. Eu sussurrei, "Por favor." Ele afastou minhas pernas e entrou em mim. Devagar, tão devagar, como se estivesse com medo de machucar, mas aquilo não machucava.

Quando ele estava todo dentro de mim, ele me olhou. O olhar em seu rosto era fascinante. Emoções fluíam por ele. Carinho, triunfo, desejo. "Eu tenho esperado isso por tanto tempo, ma petite, tanto tempo." Ele se moveu levemente para dentro e fora, devagar, quase tentativamente.

Eu olhei em seu rosto até que todas as emoções eram demais, honestas demais. Havia algo como dor em seus olhos, algo que eu não chegava nem perto de entender.

O movimento de seus quadris ainda estavam lentos, cuidadosos.

Era maravilhoso, mas eu queria mais. Eu levei minha boca até a dele e disse, "Eu não vou quebrar." Eu pressionei minha boca na dele forte o suficiente para sentir suas presas.

Ele se ajoelhou na água, me pressionando contra um lado da banheira. Sua boca se alimentou da minha, e houve uma pequena e cortante dor. Doce e metálico sangue encheu minha boca, encheu a boca dele, e ele entrou dentro de mim, duro e rápido. Eu assisti ele nos espelhos. Assisti seu corpo entrar e sair de mim. Eu o segurei com meus braços, minhas pernas. Eu o segurei para mim, sentido seu corpo entrando e saindo do meu. Sentindo seu desejo.

Alguém estava fazendo sons altos de gemidos, e era eu. Eu prendi minhas pernas em volta da cintura dele. Os músculos mais baixos do meu abdômen tiveram um espasmo, ficando mais apertados.

Eu pressionei meu corpo contra Jean-Claude como se eu fosse passar pro ele, dentro dele. Eu peguei uma mão de seu longo cabelo e olhei em seu rosto a centímetros de distancia. Olhei seu rosto enquanto seu corpo batia contra o meu. As emoções tinham desaparecido. Seu rosto estava quase perdido em desejo.

Sangue desceu pelo canto da minha boca, e ele lambeu, seu corpo se apertando mais dentro de mim. Ele diminuiu o ritmo de seu corpo. Eu senti o esforço tensionar seus braços e costas. Ele ficou mais lento. Cada vez que ele entrava em mim, era como se eu pudesse sentir ele no meio do meu peito. Como se ele crescesse impossivelmente dentro de mim. Meu corpo teve um espasmo em volta dele, o apertando como uma mão.

Ele gemeu, e seu corpo perdeu o ritmo. Ele entrou e saiu de mim mais rápido, mais forte, como se fosse mesclar nossos corpos juntos, nos fazer ser uma carne, um corpo. Uma onda de prazer queimou por mim, trilhando por minha pele, e pelo meu corpo em um ímpeto. Me queimou como chamas geladas, e ainda assim ele não tinha acabado.

Cada movimento de seu corpo alcançava algo dentro de mim, acariciando coisas que ele nunca poderia ter tocado.

Era como se o corpo dele alcançasse lugares que sua voz alcançava, como se houvesse mais do corpo dele do que estava dentro de mim.

O mundo ficou por um momento mais brilhante e claro, alguma coisa se fundindo. Eu enfiei meus dedos nas costas de Jean-Claude. Sons saíam da minha boca que eram primitivos demais para gritos. Quando eu percebi que estava cortando as costas dele, eu arranhei meus próprios braços. Eu não tinha perguntado o que ele achava sobre dor.

Eu me curvei em direção a ele, deixando ele segurar todo o peso do meu corpo. Ele se levantou pelo canto da banheira, me levantando da água. Ele ficou apoiado nas mãos e pés na parte de cima da banheira comigo abraçada nele. Ele abaixou seu corpo e eu me afastei dele. Ele saiu de mim e ainda estava duro e pronto como quando começamos.

Eu olhei para ele. "Você não gozou."

"Eu não esperei todo esse tempo para acabar tão rápido." Ele se abaixou em um movimento rápido e correu sua língua por um dos arranhados no meu braço. Ele correu sua língua por seus lábios. "Se você fez isso para meu benefício, eu aprecio. Se você fez isso para não me machucar, não era necessário. Um pouco de dor não me incomoda."

"Nem a mim."

Ele deslizou seu corpo pelo meu. "Eu percebi isso." Ele me beijou devagar.

Ele abaixou do meu lado, e desceu até ficar deitado de costas e eu estava quase de volta a banheira. "Eu quero ver você se mexer, ma petite. Eu quero você em cima de mim."

Eu montei em sua cintura, uma perna em cada lado e deslizei devagar por ele. Era mais profundo nesse ângulo, mais cortante de alguma forma. Suas mãos moveram para cima em meu corpo, até meus seios. Ele deitou embaixo de mim. Seus longos, curvados, cabelos estavam quase completamente secos. Ficava em volta de seu rosto em densas e macias ondas.

Isso era o que eu queria. Ver ele assim. Sentir ele dentro de mim.

"Mova para mim, Anita."

Eu me movi para ele. Eu rodei em seu corpo. Ele ficou mais apertado dentro de mim, e eu arfei. Eu nos assisti nos espelhos.

Assisti meu quadril mexendo em cima dele.

"Ma petite," ele sussurrou, "olhe em meus olhos. Deixe ser entre nós o que sempre poderia ter sido."

Eu encarei seus olhos azuis escuros. Eles eram adoráveis, mas eram apenas olhos. Eu balancei minha cabeça. "Não consigo."

"Você tem que me deixar entrar em sua mente, como me deixou entrar em seu corpo." Ele teve um espasmo dentro de mim, e era difícil de pensar.

"Eu não sei como." Eu disse.

"Me ame, Anita, me ame."

Eu encarei ele e o fiz. "Eu amo você."

"Então me deixe entrar, ma petite. Me deixe te amar."

Eu senti como se uma cortina tivesse sido aberta. Eu senti seus olhos, e eles eram de repente drenantemente profundos, um azul meia noite sem fim de um oceano, que de alguma forma queimava. Eu estava ciente do meu corpo. Eu podia sentir Jean-Claude dentro do meu corpo. Eu podia sentir ele como um toque de seda na minha mente.

O orgasmo me acertou inesperadamente, abrindo mais minha mente a ele do que eu havia planejado. Me lançando aberta para ele enquanto eu caia em seus olhos. Ele gemeu embaixo de mim, e eu percebi que ainda podia sentir meu corpo, sentir minhas mãos em seu peito, sentir minha pélvis cavalgando ele. Eu abri meus olhos e por um momento aturdido, eu vi seu rosto perdido em total abandono.

Eu cai em cima dele, trilhando minhas mãos por seus braços, sentindo seu coração bater contra meu peito. Nós ficamos deitados quietos por alguns momentos, descansando, segurando um ao outro, então ele saiu de dentro de mim, se curvando do meu lado.

"Você não pode me segurar com seus olhos mais. Mesmo se eu te deixar, eu ainda posso quebrar ele a qualquer hora."

"Sim, ma petite."

"Isso te incomoda?"

Ele pegou uma mecha e meu cabelo, correndo ela entre seus dedos. "Digamos que não me incomoda quanto teria incomodado há algumas horas atrás."

Eu me levantei em um cotovelo, então pude ver seu rosto. "Quer dizer o que? Que agora que tive sexo com você, não sou perigosa?"

Ele me encarou. Eu não pude ler seus olhos. "Você sempre será perigosa, ma petite."

Ele levantou a parte de cima de seu corpo, curvando sua cintura, trazendo seus lábios contra os meus em um beijo gentil. Ele se afastou de mim o suficiente para falar, se equilibrando em um braço. "Houve um tempo em que você teria tomado meu coração com uma estaca ou arma." Ele pegou minha mão e a levantou em direção de sua boca. "Agora, você o tomou, com essas mãos delicadas e com a essência de seu corpo." Ele beijou as costas da minha mão, gentilmente como nunca. Ele deitou de novo, me levando com ele. "Vamos, ma petite, desfrute de sua conquista."

Eu segurei minha cabeça para trás, evitando o beijo. "Ninguém conquista você." Eu disse.

"Nem, ma petite, você." Ele correu suas mãos por minhas costas. "Eu estou começando a perceber que você nunca será conquistada, e isso é o maior afrodisíaco de todos."

"Um desafio para sempre." Eu disse.

"Por toda a eternidade." Ele sussurrou. Eu deixei ele me beijar, e parte de mim ainda não tinha certeza se eu tinha feito uma coisa boa ou ruim. Mas apenas por hoje a noite, eu não me importei.


40

Eu acordei rodeada por lençóis da cor de sangue e sozinha. Jean-Claude havia me dado um beijo de despedida e tinha ido para o seu caixão. Se eu acordasse com ele gelado e morto do meu lado... bem, digamos que eu já tinha levado todo o choque que podia agüentar dos meus namorados, por um tempo.

Namorado. Essa é uma palavra para alguém que te leva para o colégio. Não parecia ser a palavra certa depois da noite passada. Eu fiquei deitada ali, agarrando os lençóis de seda contra meu peito. Eu podia sentir o perfume de Jean-Claude nos lençóis, na minha pele, mas mais do que isso, eu podia sentir o cheiro dele. Eu abracei aquela essência em mim, deleitei dela. Ele tinha dito que me amava, e por um tempo, noite passada, eu acreditei nele. Na luz do dia, eu não tinha tanta certeza. Quão idiota era meio-acreditar que um vampiro me amava? Não tão estúpido como meio-amar ele. Mas eu ainda amava Richard. Uma noite de sexo maravilhoso não mudava isso. Eu acho que pensei que iria. Luxúria pode morrer fácil assim, mas amor não. Amor de verdade é muito difícil de matar.

Houve uma suave batida na porta. Eu tive que procurar embaixo de dois travesseiros antes que achar a Firestar. Eu a segurei do meu lado e disse, "Entre."

Um homem entrou no quarto. Ele era alto, musculoso, com um cabelo raspado dos lados, a parte de trás com um longo rabo de cavalo.

Eu apontei a arma para ele e apertei os lençóis no meu peito. "Eu não te conheço."

Seus olhos ficaram bem abertos, sua voz chocada, "Eu sou Ernie, eu deveria te perguntar se você queria um café da manhã."

"Não." Eu disse. "Agora, cai fora."

Ele assentiu, olhos na arma. Ele hesitou no vão da porta, mesmo encarando o cano da arma. Eu tive um palpite.

"O que Jean-Claude te disse para fazer?" Era incrível quantas pessoas tinham mais medo de Jean-Claude do que de mim. Eu apontei a arma para o teto.

"Ele disse que eu deveria estar a sua disposição, para qualquer coisa que quisesse. Ele disse para eu deixar isso bem claro para você."

"Está claro. Agora, cai fora."

Ela percebeu e cruzou seus braços. Ela sorriu, mas não era um sorriso feliz. "Eu tenho que consertar as coisas com ele, Anita. Eu lamento que você e os seus tenham virado parte de nossos problemas."

"O que eu tenho a ver com isso?"

Ele ainda estava hesitante.

Eu já tinha tido o suficiente. "Ernie, eu estou sentada aqui nua na cama, e eu não te conheço. Cai fora ou eu vou te dar um tiro por questões morais." Eu apontei a arma para ele para dar um ênfase dramático.

Ernie caiu fora, deixando a porta aberta. Ótimo. Agora eu tinha a escolha de andar até a porta pelada e fechar ela, ou arrastar o lençol king-size comigo, tropeçando até a porta e fechar ela. Merda{17}. Eu estava sentada na beirada da cama, com o lençol na minha frente e a maior partes das minhas costas descobertas, a arma ainda na minha mão, quando Richard apareceu no vão da porta.

Ele estava vestido com jeans, uma blusa branca, uma jaqueta jeans, e tênis brancos. Seu cabelo estava em volta de seu rosto em uma massa de ondas castanho douradas. Uma garra tinha acertado ele no rosto, deixando feridas vermelhas contra todo o lado esquerdo de seu rosto. A ferida parecia antiga. Tinha que ter acontecido depois que eu saí noite passada.

Ele estava com meu casaco de couro em uma mão e a Browning na outra. Ele apenas ficou parado ali no vão.

Eu sentei na cama. Nenhum de nós disse nada. Eu não estava endireitada e sofisticada o suficiente para isso.

O que você diz ao seu namorado A quando ele te acha nua na cama do namorado B? Principalmente se o namorado A se transformou em um monstro na noite anterior e comeu alguém. Eu aposto que Senhorita Boas-Maneiras não cobre tudo isso.

"Você dormiu com ele, não foi?" Sua voz era baixa, quase suave, como se estivesse tentando muito não gritar.

Meu estômago se apertou. Eu não estava pronta para essa briga. Eu estava armada, mas eu estava nua. Eu teria trocado a arma por roupas em um segundo.

"Eu diria que não é o que parece, mas é." Minha tentativa de humor não funcionou.

Ele entrou no quarto como um temporal vindo, sua raiva chegando antes dele como uma onda quebrante. O poder se derramou em mim e eu queria gritar.

"Pare de se jogar todo para mim."

Isso parou ele, quase literalmente no meio da ação. "Do que você está falando?"

"Seu poder, aura, está chovendo em mim. Pare com isso."

"Por que? É bom? Antes de você entrar em pânico ontem a noite, era bom, não era?"

Eu enfiei a Firestar embaixo do travesseiro e me levantei, agarrando o lençol comigo. "É, foi bom até você se transformar em cima de mim. Eu estava cheia daquela gosma clara, coberta dela." A memória era recente o suficiente para me fazer arrepiar e olhar para longe dele.

"Daí você trepou com Jean-Claude. Ah, isso é perfeitamente lógico."

Eu olhei para ele e senti uma resposta de raiva. Se ele queria brigar, ele tinha vindo para o lugar certo. Eu levantei minha mão direita. Ela estava coberta com belos hematomas multicoloridos. "Você fez isso quando jogou minha arma longe."

"Já tinha acontecido mortes o suficiente, Anita. Ninguém mais precisava morrer."

"Você realmente acha que Raina vai simplesmente deixar isso passar? De jeito nenhum. Ela vai te ver morto antes."

Ele balançou sua cabeça, seu rosto cheio de linhas teimosas. "Eu sou Ulfric agora. Eu estou no controle. Ela fará o que eu disser."

"Ninguém chefia Raina, não por muito tempo. Ela já te ofereceu para foder ela?"

"Sim." Ele disse.

O jeito que ele disse me parou, trouxe minha respiração cortada. "Você aceitou, depois que saí?"

"Seria perfeitamente bom se eu tivesse."

Eu não consegui olhar em seus olhos dessa vez. "Se você a fizer sua lupa, ela vai deixar isso pra lá. Ela só não quer perder a base de poder dela." Eu me forcei a olhar para cima, a olhar em seus olhos.

"Eu não quero a Raina." Algo passou pelo seu rosto que era tão honesto, que trouxe lágrimas em meus olhos. "Eu quero você."

"Você não pode me querer agora, não depois de ontem a noite."

"Foi por isso que você dormiu com Jean-Claude? Você pensou que isso iria te manter a salvo de mim?"

"Eu não estava pensando tão claramente assim." Eu disse.

Ele deitou o casaco e a arma na cama. Ele agarrou o fim da cama.

A madeira rangeu embaixo da força de suas mãos. Ele se afastou como se não quisesse ter feito aquilo. "Você dormiu com ele nessa cama. Bem aqui." Ele colocou suas mãos em seus olhos, como se estivesse tentando apagar a imagem de dentro da sua cabeça.

Ele gritou sem palavras.

Eu dei um passo na direção dele, mão estendida, e parei. Como eu poderia confortar ele? O que eu poderia dizer para melhorar as coisas? Malditamente nada.

Ele agarrou os lençóis de baixo, puxando até se soltarem. Ele agarrou a parte de cima do colchão e o jogou para fora da cama. Agarrou a parte debaixo da cama e a levantou.

Eu gritei, "Richard!"

A cama era de um antigo e sólido carvalho e ele a jogou para o lado como se fosse um brinquedo. Ele arrancou os lençóis. A seda rasgou como uma pele sendo levantada. Ele estava de joelhos com a seda rasgada em suas mãos. Ele estendeu suas mãos para mim e os lençóis caiam como sangue.

Richard se levantou, um pouco cambaleante. Ele se firmou contra a cama e deu um passo na minha direção. A Firestar e a Browning estavam em algum lugar no chão no mar de seda vermelha e colchão lançado.

Eu me afastei até acertar o canto, eu não tinha para onde ir. Eu estava prendendo o lençol em volta de mim como se fosse um tipo de proteção.

Eu estendi uma mão na direção de Richard, como se isso fosse ajudar. "O que você quer de mim, Richard? O que você quer que eu diga? Me desculpe. Me desculpe por ter te machucado. Me desculpe por não poder lidar com o que vi noite passada. Me desculpe."

Ele andou em minha direção, sem dizer nada, mãos em punhos. Eu percebi que estava com medo de Richard. Que não tinha certeza do que ele faria quando me alcançasse, e eu não estava armada. Parte de mim se sentiu como se eu merece ser acertada pelo menos uma vez, que eu devia isso a ele. Mas depois de ter visto o que ele tinha feito com a cama, eu não tinha certeza se sobreviveria.

Richard agarrou a frente do lençol, enrolando em seu punho, me puxando contra ele. Ele usou o lençol para me levantar na ponta dos pés.

Ele me beijou. Por um segundo eu congelei. Me bater, gritar comigo, isso eu esperava, mas não isso.

Sua boca se apertou contra meus lábios, forçando minha boca a se abrir. Por um momento eu senti sua língua, então joguei minha cabeça para trás.

Richard colocou uma mão atrás da minha cabeça como se fosse me forçar a beijar ele. A raiva em seu rosto era assustadora.

"Não sou bom o suficiente para se beijar agora?"

"Eu vi você comer o Marcus ontem a noite."

Ele me largou tão de repente que eu caí no chão, tropeçando no lençol. Eu tentei cair de joelhos, mas minhas pernas tinham se emaranhado. O lençol escorregou em um peito. Eu lutei para me cobrir. Envergonhada finalmente.

"Duas noites atrás você me deixou tocas eles, chupar eles. Agora, eu nem posso vê-los."

"Não faça isso, Richard."

Ele ficou de quatro na minha frente, então nossos olhos ficaram no mesmo nível. "Não fazer o que? Não ficar puto porque você deixou o vampiro te foder?" Ele engatinhou para frente até que nossos rostos estavam quase se tocando. "Você trepou com um cadáver ontem a noite, Anita. Foi bom?"

Eu encarei ele a centímetros de distancia, não mais envergonhada. De repente, eu estava ficando brava.

"Sim, foi."

Ele se afastou como se eu tivesse o acertado. Seu rosto se enrugou, e seus olhos passavam pelo quarto freneticamente. "Eu amo você." Ele olhou para mim de repente, olhos bem abertos, cheios de dor. "Eu amo você."

Eu mantive meus olhos bem abertos para que as lágrimas neles não caíssem por minha bochecha.

"Eu sei, e sinto muito."

Ele se virou para longe de mim, ainda ajoelhado. Ele bateu suas mãos contra o chão. Ele bateu de novo e de novo até que sangue manchou o carpete.

Eu fiquei de pé. Eu fiquei parada perto dele, com medo de tocá-lo. "Richard, Richard, não, por favor, não." As lagrimas caíram e eu não pude pará-las.

Eu ajoelhei do lado dele. "Você está se machucando. Pára!" Eu agarrei seus punhos, segurando suas mãos sangrando na minha. Ele me encarou, e o olhar em seu rosto era puro, humano.

Eu toquei seu rosto, gentilmente traçando as marcas de garras. Ele se inclinou na minha direção, lágrimas descendo por suas bochechas. O olhar em seus olhos me deixaram imóvel. Seus lábios roçaram os meus, suavemente. Eu não me encolhi, mas não o beijei de volta também.

Ele se afastou de mim, apenas o suficiente para ver meu rosto claramente. "Adeus, Anita." Ele ficou de pé.

Eu queria dizer tantas coisas, mas nada ajudaria. Nada iria melhorar as coisas. Nada iria apagar o que eu tinha visto ontem a noite ou como aquilo me fazia sentir. "Richard... eu... eu sinto muito."

"Eu também." Ele andou até a porta. Ele hesitou com suas mãos no vão. "Eu sempre vou te amar."

Eu abri minha boca, mas nenhum som saiu. Não havia nada restante para dizer além de, "Eu te amo, Richard, e eu lamento mais do que sei como dizer."

Ele passou pela porta sem olhar para trás. Quando a porta se fechou atrás dele, eu me sentei no chão, encolhida no lençol de seda. Eu podia sentir o cheiro do perfume de Jean-Claude na seda, mas eu podia sentar Richard agora, também. Sua loção pós-barba estava presa nos lençóis, na minha boca.

Como eu pude deixar ele ir assim? Como eu poderia ter chamado ele de volta?

Eu sentei no chão e não fiz nada, porque não tinha nada a fazer.


41

Eu liguei para o serviço de atendimento de Edward e deixei uma mensagem. Eu não podia ficar onde estava. Eu não podia ficar aqui encarando a cama quebrada e lembrando dos olhos machucados de Richard. Eu tinha que ir embora dali. Eu tinha que ligar para Dominic e dizer que não poderia ir. O tríade de poder não funcionava sem pelo menos dois de nós presentes. Jean-Claude estava em seu caixão e Richard estava fora da jogada. Eu não tinha certeza sobre o que aconteceria com nosso triunvirato agora. Eu não conseguia ver Richard andando por ali, me vendo me esgueirar com Jean-Claude, sendo que eu não estava me esgueirando com ele também. Eu não podia o culpar nisso.

Estranhamente, o pensamento dele dormindo com Raina ainda me deixava brava. Eu não tinha nenhum direito de ter ciúmes dele agora, mas eu tinha. Vai entender.

Eu me vesti com jeans preto, uma blusa com manga curta preta e um blazer preto. Eu tinha que trabalhar hoje a noite e Bert iria encher o saco sobre eu estar vestindo preto. Ele achava que isso passava a imagem errada. Dane-se ele. Hoje a noite, preto combinava com meu humor.

A Browning ainda estava no coldre de ombro, a Firestar no coldre auxiliar Uncle Mike's{18}, uma faca em cada braço, e outra nas minhas costas. Eu estava pronta para trabalhar.

Eu iria dar a Edward mais dez minutos e então ia cair fora dali. Se ainda tivesse um assassino escondido por aí, eu quase daria boas vindas a ele ou ela.

Houve uma batida na porta. Eu suspirei. "Quem é?"

"Cassandra."

"Entre."

Ela abriu a porta, dando uma olhada nos restos da cama e sorriu abertamente. "Eu já ouvi falar de sexo selvagem, mas isso é ridículo." Ela estava usando um longo vestido branco que caia quase até em seus tornozelos. Meias brancas e sapatos brancos fechados completavam a roupa. Ela parecia leve e com jeito de moda verão, com seu longo cabelo caído em suas costas.

Eu balancei minha cabeça. "Richard fez isso."

O sorriu sumiu de seu rosto. "Ele descobriu que você dormiu com Jean-Claude?"

"Todo mundo sabe?" Eu perguntei.

"Nem todo mundo." Ela entrou no quarto, fechando a porta atrás dela. Ela balançou sua cabeça. "Ele te machucou?"

"Ele não me bateu, se é isso que você quer dizer, mas eu estou me sentindo como merda."

Cassandra andou até a cama, encarando ela. Ela pegou o canto, levantando com uma mão e firmando com a outra. Ela segurou centenas de quilos de madeira e metal como se não fosse nada. Ela abaixou a cama, arrumando ela, gentilmente no carpete.

Eu levantei uma sobrancelha. "Isso foi impressionante."

Ela sorriu, quase timidamente. "Um dos benefícios de ser uma licantropo é que você pode levantar praticamente qualquer coisa que quiser."

"Eu vejo o apelo disso."

"Eu sabia que veria." Ela disse. Ela começou a pegar os travesseiros e lençóis rasgados. Eu me juntei a ela. "Nós provavelmente precisamos colocar o colchão lá primeiro." Ela disse.

"Ok. Precisa de ajuda?"

Ela riu. "Eu posso levantá-lo, mas é estranho."

"Claro." Eu peguei o outro lado do colchão.

Cassandra veio do meu lado, levantando o colchão com sua mão esquerda. Um olhar passou por seu rosto. "Lamento muito."

"Eu quis dizer aquilo sobre você e Richard mais cedo. Eu quero que ele seja feliz." Eu disse.

"Isso é muito lisonjeador. Eu gosto de você, Anita. Eu gosto muito de você. Antes não gostasse."

Eu tive tempo de franzir minha testa para ela, quando sua delicada mão em punho veio do nada, uma macha de velocidade que esmagou meu rosto. Eu me senti cair para trás. Eu caí no chão e não consegui salvar minha cabeça da batida contra o carpete. Não doeu. Eu não senti nenhuma maldita coisa enquanto a escuridão se fechava sobre mim.


42

Eu saí da escuridão devagar, me puxando para cima, como ser acordada em um sono profundo. Eu não tinha certeza sobre o que tinha me acordado. Eu não conseguia me lembrar te ter dormido. Eu tentei me mexer e não pude.

Eu estava de repente bem acordada, olhos bem abertos, corpo tenso. Eu já tinha sido amarrada antes, era uma das minhas coisas menos prediletas. Eu tive alguns momentos de puro pânico. Eu me mexi contra as cordas que me prendiam nos punhos e tornozelos. Eu lutei, me arrastando, até que percebi que os nós ficavam cada vez mais apertados enquanto eu lutava.

Eu me forcei a me deitar bem quieta. Meu coração batia em meus ouvidos tão alto que eu não podia ouvir mais nada. Meus punhos estavam presos acima da minha cabeça, em um ângulo agudo o suficiente para apertar meus ombros, e deixando tudo tenso até meus braços. Mesmo levantar minha cabeça um pouquinho para poder ver meu tornozelo foi doloroso. Meus tornozelos estavam presos juntos pé a pé em uma cama não familiar. Eu rolei minha cabeça para trás e vi a corda que amarrou meus punhos na cabeceira da cama. A corda era preta e suave, e eu tive um palpite, eu diria que era seda. Parecia com algo que Jean-Claude teria em algum armário. Eu considerei isso por apenas um milésimo de segundo e então a realidade entrou no quarto, e meu coração parou por um segundo.

Gabriel chegou no pé da cama. Ele estava usando calças pretas de couro tão apertadas que pareciam ter sido costuradas nele, e botas pretas de cano alto que iam até suas coxas, com tiras no topo para segurar o couro no lugar. Ele estava nu da cintura para cima, um brinco de prata estava no seu mamilo esquerdo e outro em seu umbigo. Mais prata estava em suas orelhas na curva, brilhando enquanto ele andava em volta da cama. Seu longo e denso cabelo preto caía em seu rosto, marcando seus pálidos e atormentantes olhos cinzas. Ele andou por trás da cabeceira, fora da vista, então lentamente de volta para o quadro de visão.

Meu coração começou a bater de novo.

Estava batendo tanto que eu iria ter um colapso.

Eles tinham me tomado a Browning e a Firestar, meus coldres e tudo. Os coldres de braço tinham sumido. Minhas costas ficaram tensas e eu pude sentir o coldre lá. Quando eu coloquei minha cabeça para trás, eu não senti o punho da faca. Eu acho que estava grata por eles não terem tirado minha roupa para tirarem aquele coldre. Pelo jeito que Gabriel estava circulando a cama, eu estava apostando que eu acabaria fazendo isso.

Eu tentei falar, mas não consegui, traguei o ar e tentei de novo. "O que está rolando?" Minha voz soava surpreendentemente calma. Até mesmo para mim.

Uma mulher riu, um som alto e rico encheu o quarto. Mas claro, não era um quarto. Nós estávamos na fazenda onde eles faziam seus filmes sujos. O quarto tinha apenas três paredes. As luzes acima de mim estavam mortas, não ligadas ainda.

Raina andou até meu quadro de visão, seus saltos da cor de sangue. Ela estava vestindo o que parecia com uma lingerie de couro vermelho, que deixava a maior parte de suas longas pernas e quadris nus. "Olá, Anita, você parece bem."

Eu respirei profundamente pelo meu nariz e deixei o ar sair. Meu coração diminuiu o ritmo um pouco. Bom. "Você deveria falar com Richard antes de fazer algo drástico. A vaga de lupa foi aberta justamente hoje."

Ela deixou cair sua cabeça para o lado, parecendo confusa. "Do que você está falando?"

"Ela dormiu com Jean-Claude." Cassandra veio ficar no canto do quarto falso, costas na parede. Ela parecia como sempre parecia. Se ela se sentia inconfortável por ter me traído por causa de Raina, não parecia. Eu odiei ela um bocado por isso.

"Você não vai dormir com os dois?" Raina perguntou.

"Não tenho planejado isso." Eu disse. Cada vez que eu abria minha boca e ninguém me tocava eu ficava um pouco mais calma. Se Raina tinha planejado isso pra me tirar do caminho, então ela não precisava ir mais longe. Se fosse uma vingança por causa de Marcus, eu estava afundada na merda.

Raina se sentou no fim da cama perto do meu pé.

Eu fiquei tensa quando ela fez isso, não pude evitar. Ela percebeu e riu. "Ah, você vai render muita diversão."

"Você pode ser uma alfa fêmea. Eu não quero o trabalho." Eu disse.

Raina suspirou correndo sua mão por minha perna, massageando os músculos na minha coxa, quase sem perceber, como você acaricia um cachorro. "Richard não me quer, Anita. Ele acha que eu sou corrupta. Ele quer você." Ela apertou minha coxa até eu achar que ela iria fazer crescer suas garras e cortar meus músculos. Ela forçou um pequeno som a sair da minha garganta antes de parar.

"O que você quer?"

"Sua dor." Ela sorriu quando disse.

Eu virei minha cabeça para Cassandra. Tinha que haver alguém são no quarto. "Por que você está ajudando eles?"

"Eu sou a loba de Sabin."

Meus olhos se estreitaram. "Do que você está falando?"

Raina engatinhou na cama, deitando do meu lado, insinuando seu corpo contra o meu, um dedo passando pela minha barriga. Era um gesto despreocupado, como se ela não estivesse realmente concentrada. Eu não queria estar ali quando ela começasse a se concentrar de fato.

"Cassandra era uma semente desde o começo, não é, meu bem?"

Cassandra assentiu, vindo ficar do lado da cama. Seus olhos avelã estavam calmos, calmos demais. Seja lá o que ela estivesse sentindo, estava trás daquele rosto bonito, cuidadosamente controlado. A questão era, tinha algo atrás daquele rosto que pudesse me ajudar?

"Dominic, Sabin e eu somos um triunvirato. Nós somos o que você, Richard e Jean-Claude poderiam ter sido."

Eu não gostei dela dizendo isso no pretérito. "Você é a mulher que fez ele desistir do sangue fresco?"

"Eu acredito na santidade da vida. Eu pensei que valorizava isso acima de tudo. Ver a beleza dourada de Sabin apodrecendo me fez mudar de idéia. Eu farei qualquer coisa, qualquer coisa para ajudar ele a se recuperar." Algo como dor passou por seus olhos e ela olhou para longe. Quando ela me olhou de novo, seu rosto estava forçadamente neutro, o esforço tremia suas mãos.

 

Raina deslizou seu braço pela minha barriga, colocando seu rosto perto do meu. "Dominic tem um feitiço para curar a doença de apodrecimento de Sabin. Uma essência de transferência mágica, você diria. Tudo que ele precisava é de um doador certo." Ela se inclinou tão perto que apenas eu ter virado minha cabeça impediu nossos lábios de se tocarem. Ela sussurrou contra minha pele, sua respiração quente, "Um doador perfeito. Um vampiro que compartilha do poder de Sabin perfeitamente, um par perfeito, e um servo, ou um lobisomem alfa ou um necromante, preso a esse mesmo vampiro."

Eu me virei e olhei para ela. Eu não consegui evitar. Ela me beijou, pressionando sua boca contra a minha, tentando forçar a entrada de sua língua. Eu mordi seu lábio, forte o suficiente para sentir o gosto de sangue. Ela se afastou de mim com um grito sobressaltado. Ela colocou sua mão na boca e me encarou. "Isso vai te custar muito."

Eu cuspi seu sangue nela. Ele espalhou um pouco no meu queixo. Foi uma coisa idiota de se fazer. Fazer ela ficar mais brava não ia ajudar, mas assistir o sangue descer pelo rosto adorável dela, quase fez valer a pena.

"Gabriel, entretenha a Srta. Blake."

Isso ganhou minha atenção. Gabriel deslizou pela cama, se colocando contra mim como Raina tinha feito no outro lado. Ele era mais alto, seis pés, então ele não encaixou tão bem, mas o que lhe faltava em combinação de tamanho, ele tinha em técnica. Ele subiu em meu corpo e se inclinou em uma meia flexão, trazendo sua boca cada vez mais perto da minha. Ele começou a lamber o sangue em meu queixo, um rápido movimento de língua. Eu joguei minha cabeça para longe.

Ele agarrou meu queixo com uma mão, me forçando a olhar para ele. Ele segurou meu queixo, seus dedos ficando mais firmes enquanto eu lutava.

A força em seus dedos era o suficiente para quebrar meu maxilar se ele apertasse. Ele lambeu o sangue no meu queixo em lentas e entretidas lambidas.

Eu gritei, e então me xinguei mentalmente. Era isso que eles queriam. Pânico não ajudaria. Pânico não ajudaria. Eu continuei repetindo isso de novo e de novo até eu parar de lutar contra as cordas. Eu não iria perder o controle, ainda não, ainda não.

Cassandra subiu na cama. Eu podia apenas ver seu vestido branco pelo canto do olho. Gabriel ainda estava me segurando imóvel.

"Solte o rosto dela para ela me olhar."

Gabriel olhou para ela e silvou.

Um baixo e ecoante rosnado saiu dos lábios dela. "Eu estou com disposição para brigar hoje a noite, gatinho, não facilite ainda mais."

"Não estão te esperando na cerimônia?" Raina disse. "Dominic não precisa de você lá para as coisas funcionarem?"

Cassandra olhou para trás, sua voz era baixa e saiu de seus lábios humanos com esforço. "Eu irei conversar com Anita antes de ir, ou eu não vou."

Raina veio ficar do outro lado da cama. "Você nunca encontrará outro vampiro mestre que combina com seu mestre perfeitamente, como Jean-Claude combina. Nunca. Você vai arriscar essa única chance de cura-lo?"

"Eu farei o que eu quiser nessa única coisa, Raina, por eu ser uma alfa. Quando Richard se for, eu irei liderar o bando. Não se esqueça disso. "

"Essa não foi nossa barganha."

"Nossa barganha foi que você mataria a Executora antes que chegássemos à cidade. Você falhou."

"Marcus contratou a melhor. Quem saberia que ela iria ser tão difícil de matar?"

"Eu sabia, desde o momento que a conheci. Você sempre está subestimando outras mulheres, Raina, é uma das suas fraquezas." Cassandra inclinou na direção de Raina. "Você tentou matar Richard antes de Dominic poder usar ele no feitiço."

"Ele ia matar Marcus."

Cassandra balançou sua cabeça. "Você entrou em pânico, Raina. Você e Marcus. Agora Marcus está morto, e você não consegue segurar o bando. Tantos deles te odeiam. E tantos deles amam Richard, ou pelo menos, admiram ele."

Eu queria perguntar onde Jean-Claude e Richard estavam, mas estava com medo de saber. Uma cerimônia, sacrifício, mas eles precisavam de Cassandra para fazer as coisas funcionarem. Eu não queria que ela se apressasse.

"Você era o álibi de Dominic." Eu disse. "Não que eu esteja reclamando, mas por que eu ainda estou viva?"

Cassandra olhou para mim. "Gabriel e Raina te querem em um filme. Se você me der sua palavra que você não tentará vingar a morte de nenhum dos dois homens, então eu lutarei para te libertar."

Eu comecei a abrir minha boca e prometi.

Ela balançou seu dedo na frente da minha boca. "Sem mentiras, Anita, não entre nós."

"Tarde demais para isso." Eu disse.

Cassandra assentiu. "Verdade, e isso me entristece. Em outras circunstancias nós poderíamos ter sido amigas."

"É." Claro, isso fez tudo doer mais. Nada é tão parecido com sal em uma ferida como ser enganado. Richard provavelmente concordaria comigo agora.

"Onde estão Richard e Jean-Claude?"

Ela me encarou. "Mesmo agora você acha que pode salvar eles, não é?"

Eu teria encolhido os ombros, mas não conseguia. "Foi um pensamento."

"Você foi a isca e refém para os dois homens." Cassandra disse.

Gabriel ficou em cima de mim, seu corpo pressionando ao longo do meu. Ele era pesado. Você nunca percebe quão pesado um homem é quando está tendo um bom tempo também. Ele havia se arrastado para baixo, então seu pé estava fora da cama e ele pôde dobrar seus braços em minha barriga. Ele deitou seu queixo em seus braços, e me olhou como se soubesse que ele tinha todo o dia, toda a noite, todo tempo do mundo.

"Eu estou muito surpresa que você tenha terminado com o Richard, Anita." Raina disse. "Nós mandamos a ele uma mecha do seu cabelo com uma nota dizendo que mandaríamos sua mão em seguida. Ele veio sozinho e não contou a ninguém, como dissemos para ele fazer. Ele é realmente babaca."

Isso soava como algo que Richard faria, mas me surpreendeu de qualquer forma. "Você não conseguiu fazer Jean-Claude se por em perigo com uma mecha de cabelo."

Raina se moveu para que eu pudesse ver ela melhor e sorriu. Seu lábio já estava começando a se curar. "Verdade. Nós nem tentamos. Jean-Claude saberia que mataríamos você de qualquer forma. Ele teria vindo com todos seus vampiros, todos os lobos que são leais a ele. Teria sido um banho de sangue."

"Como você conseguiu trazer ele então?"

"Cassandra enganou ele. Não foi, Cassandra?"

Cassandra apenas olhou para nós. "Se Richard não tivesse terminado com você, talvez você fosse capaz de curar Sabin. Procurar a cura dele foi apenas uma desculpa para entrar no território de Jean-Claude, mas você era mais poderosa que Dominic a primeira vista. Você nos surpreendeu por não ter nenhuma marca vampírica. Você deveria ser parte do sacrifício, mas sem nem ao menos a primeira marca, não vai funcionar."

"Viva" para mim. "Você viu eu curar o corte de Damian e o zumbi. Eu posso curar Sabin. Você sabe que eu posso, Cassandra. Você viu."

Ela balançou sua cabeça. "A doença se moveu para dentro de Sabin. Seu cérebro está acabando. Se você tivesse curado ele hoje, poderíamos ter discutido isso. Mas ele deve ficar são para o feitiço funcionar. Mesmo mais um dia pode fazer ser tarde demais."

"Se você matar Richard e Jean-Claude, não haverá poder para curar Sabin. Se Dominic veio aqui planejando sacrificar nós três, então o feitiço precisará de nós três para funcionar."

Algo passou pelo rosto dela. Eu estava certa. "Dominic não tem certeza se isso funcionará sem uma serva humana, não é?"

Cassandra balançou sua cabeça. "Tem que ser hoje a noite."

"Se você matar os dois e isso não curar Sabin, você terá destruído a única chance real que ele tinha. Nosso triunvirato pode curar ele. Você sabe que sim."

"Eu não sei de nada. Você me prometeria a lua se pensasse que isso te salvaria."

"É verdade, mas eu ainda acho que poderíamos curar ele. Se você matar Richard e Jean-Claude, a chance será perdida. Vamos pelo menos tentar. Se não funcionar, você pode sacrificar eles amanhã. Eu deixarei Jean-Claude me dar a primeira marca. Ou nós vamos curar Sabin amanhã ou seremos o sacrifício perfeito para o feitiço de Dominic." Eu encorajei ela a me ouvir. A acreditar em mim.

"Sabin poderá ler a parte dele do feitiço amanhã?" Raina perguntou. Ela se moveu para bem perto de Cassandra. "Uma vez que seu cérebro apodreça, não haverá nada para fazer além de trancá-lo em um caixão com cruzes. Escondê-lo."

As mãos de Cassandra ficaram em punhos. Um fino tremor correr pelo corpo dela. Medo puro cruzou pelo seu rosto.

Raina se virou para mim quase informalmente. "Sabin não morrerá, você sabe. Ele derreterá em uma pequena poça de lodo, mas não morrerá. Morrerá, Cassandra?"

"Não." Cassandra quase gritou. "Não, ele não vai morrer. Ele apenas ficará louco. Ele ainda terá todos os poderes do triunvirato, mas ele ficará louco. Nós teremos que tranca-lo e rezar que o feitiço de Dominic consiga segurar seu poder. Se nós não conseguirmos aprisionar seu poder, o Conselho irá nos forçar a queimá-lo vivo. Apenas isso daria uma morte certa."

"Mas se você fizer isso," Raina disse, "você e Dominic irão morrer, também. Todas essas marcas vampíricas te arrastarão para o inferno com ele."

"Sim." Cassandra disse. "Sim." Ela me encarou, raiva e impotência em seu rosto.

"Eu devo sentir pena de você?" Eu perguntei.

"Não, Anita, você deve morrer." Ela disse.

Eu traguei o ar com dificuldade e tentei pensar em algo útil. Era difícil com Gabriel deitado em cima de mim, mas se eu não pensasse em algo, nós todos estaríamos mortos.

Cassandra ficou atenta como se alguém tivesse tocado ela. Uma alfinetada de poder passou pelo meu corpo vindo do dela, levantando meus cabelos onde tocava. Gabriel tocou as pontas de seus dedos na pele em meus braços, fazendo o arrepio durar um pouco mais.

"Eu tenho que ir." Cassandra disse. "Antes que a noite acabe, você desejará ter sido sacrificada." Ela olhou de Gabriel para Raina. "Um corte em sua garganta seria rápido."

Eu concordava com ela, mas não tinha certeza sobre o que dizer. Aqui estávamos nós discutindo maneiras diferentes de me matar. Nenhuma delas me pareciam ser boas, particularmente.

Cassandra me olhou. "Lamento muito."

"Se realmente lamenta," Eu disse, "me desamarre e me dê uma arma."

Ela deu um sorriso condescendente. "Sabin me ordenou a não fazer isso."

"Você sempre faz o que ele manda?" Eu perguntei.

"Nisso, sim. Se você assistisse a beleza de Jean-Claude apodrecer na sua frente, você faria qualquer coisa para ajuda-lo."

"Quem você está tentando convencer, eu ou você?"

Ela cambaleou um pouco, e eu senti um balanço de poder sair do corpo dela até o meu. Gabriel lambeu meu braço.

"Eu tenho que ir. O circulo será fechado logo." Ela olhou de mim para Gabriel correndo sua língua pelo meu braço. "Eu realmente sinto muito, Anita."

"Se você está procurando perdão, ore. Deus talvez te perdoe. Eu não."

Cassandra me encarou por outra batida de coração. "Então assim seja. Adeus, Anita." Ela correu em uma mancha branca, como um fantasma extremamente rápido.

"Ótimo." Raina disse. "Agora nós podemos ligar as luzes e fazer algumas tomadas." As luzes brilharam me deixando tonta.

Eu fechei meus olhos contra ela.

Gabriel subiu seu corpo no meu, e eu abri meus olhos. "Nós iríamos tirar suas roupas e te amarrar num ângulo aberto, mas Cassandra não deixou. Mas agora ela está ocupada demais com o feitiço."

Ele colocou uma mão em cada lado da minha cabeça, puxando um pouco do meu cabelo.

"Nós maquiamos você enquanto estava desmaiada. Nós podemos fazer a parte de maquiar seu corpo parte do show. O que você acha?"

Eu tentei pensar em algo útil. Qualquer coisa. Nada veio em mente. Ele se inclinou até mim, trazendo seu rosto cada vez mais perto. Ele abriu sua boca o suficiente para eu ver presas. Não presas como de vampiros, mas pequenas presas de leopardo. Richard tinha me dito uma vez que Gabriel passou muito tempo na forma animal, então ele não voltou inteiramente para a forma humana mais. Maravilha.

Gabriel me beijou, suavemente, e então mais forte, forçando sua língua a entrar na minha boca. Ele se afastou de mim. "Me morda." Ele me beijou e então levantou seu lábios apenas o suficiente para sussurrar, "Me morda."

Dor excitava Gabriel. Eu não queria ele mais excitado, mas com sua língua quase na minha garganta, era difícil de não dar a ele o que ele queria. Ele correr suas mãos por meus seios, apertando eles forte o suficiente para me fazer arfar. "Me morda e eu paro."

Eu mordi seu lábio. Eu mordi ele até que ele tentasse se afastar, seu corpo ficando duro entre nós. Sangue derramou de sua boca para a minha. Eu o soltei e cuspi o sangue em seu rosto. Ele estava perto o suficiente para respingar como uma chuva vermelha.

Ele riu, passando seus dedos pelo lábio sagrando, os colocando em sua boca e chupando o sangue neles.

"Você sabe como eu virei um homem-leopardo?" Ele perguntou.

Eu apenas olhei para ele.

Ele me deu um tapa leve, casualmente. Estrelas explodiram em minha visão. "Me responda, Anita."

Quando eu recuperei o foco, eu respondi. "Qual foi a pergunta?"

"Você sabe como eu virei um homem-leopardo?"

Eu não queria jogar esse jogo. Eu não queria participar da idéia de Gabriel de conversa no divã, mas não queria que ele me batesse de novo, também. Não custaria muito para ele me bater até eu ficar inconsciente. Se eu acordasse de novo, eu estaria numa forma pior do que a de agora. Difícil de acreditar, mas era verdade.

"Não." Eu disse.

"Eu sempre gostei de dor, mesmo quando era humano. Eu conheci Elizabeth. Ela era uma mulher-leopardo. Nós transamos, mas eu queria que ela se transformasse no meio disso. Ela disse que tinha medo de me matar." Ele se inclinou na minha direção. Sangue pingava de seu lábio em lentas e pesadas gotas.

Eu pisquei virando meu rosto, tentando manter o sangue longe dos meus olhos.

"Eu quase morri."

Eu tive que virar minha cabeça completamente para o lado, enquanto seu sangue pingava do lado do meu rosto. "O sexo valeu a pena?"

Ele se inclinou mais para baixo e começou a lamber o sangue em meu rosto. "O melhor sexo que já tive."

Um grito começou a querer sair da minha garganta. Eu engoli ele, e doeu. Tinha que ter um jeito de escapar disso. Tinha que ter.

A voz de um homem disse, "Deite em cima dela como você estava no começo da tomada, e vamos fazer uma leitura de luzes."

Eu percebi que havia uma equipe ali. Um diretor, um cameraman, uma dúzia de pessoas por ali, não me ajudando.

Gabriel tirou uma faca de sua bota alta e negra. O cabo era preto, mas a lâmina era totalmente de prata. Eu fiquei olhando para a faca, não pude evitar. Eu já estive assustada antes, mas nunca assim. O medo queimava pela minha garganta, ameaçando sair em gritos. Não era ter visto a faca que tinha me assustado. Um momento atrás eu teria feito qualquer coisa para ele cortas as cordas. Agora eu daria qualquer coisa para ele não cortar as cordas.

Gabriel colocou sua mão na minha barriga e deslizou um joelho por entre minhas pernas presas. Não havia muito espaço. Eu estava grata por isso. Ele virou a parte de cima de seu corpo e se direcionou mais para baixo com a faca. Eu sabia o que ele ia fazer antes de sentir a corda afrouxar nos meus tornozelos. Ele cortou a corda em meu pé e firmou a parte de baixo de seu corpo contra mim ao mesmo tempo. Não tive tempo para lutar, não tive tempo para tomar alguma vantagem. Ele já tinha feito isso antes.

Ele firmou seu quadril contra o meu, abrindo minhas pernas o suficiente para eu poder sentir ele contra meu jeans. Eu não gritei, eu dei um gemido e odiei. Meu rosto estava pressionado contra seu peito nu, logo acima do seu brinco no mamilo. O cabelo em seu peito era áspero contra minha bochecha. Seu corpo cobria o meu quase completamente. Eles não deveriam estar vendo muito além das minhas mãos e pernas na câmera.

Eu tive uma idéia muita estranha. "Você é muito alto." Eu disse.

Gabriel teve que se afastar um pouco para olhar meu rosto. "O que?"

"A câmera não vai conseguir pegar nada além das suas costas. Você é muito alto."

Ele se afastou mais, se levantando em uma posição com pequeno impulso. Ele parecia pensativo. Ele se virou sem sair de cima de mim. "Frank, você consegue ver ela?"

"Não."

"Merda." Gabriel disse. Ele me encarou, e então sorriu. "Não vá a lugar algum. Eu já volto." Ele deslizou saindo de cima de mim.

Com meus pés livres eu pude me sentar. Minhas mãos ainda estavam acima da minha cabeça, mas eu podia me encostar contra a cabeceira. Era um avanço imenso.

Gabriel, Raina, e dois homens com roupas desalinhadas estavam conversando em um grupo fechado. Eu peguei pedaços da conversa. "Talvez se pendurássemos ela no teto?" "Nós vamos ter que mudar o cenário para isso."

Eu tinha ganho algum tempo, mas tempo para o que? Havia uma longa mesa perto do quarto. Minhas armas estavam nela, deitadas em uma linha reta como ferramentas. Tudo que eu precisava estava logo ali, mas como eu pegaria elas? Raina não iria me dar uma faca para eu poder me soltar. Não, Raina, não me daria, mas talvez Gabriel sim.

Ele andou até a cama, movendo como se ele tivesse mais músculos, mais alguma coisa, que humanos tinham. Ele se movia como um gato, um gato que podia andar com duas pernas.

Ele se ajoelhou na cama e começou a desamarrar a corda da cabeceira, mas deixando meus punhos presos.

"Por que não cortar a corda?" Eu perguntei.

"Frank ficou puto porque cortei a primeira. Isso é seda de verdade. É cara."

"Bom saber que Frank é o fiscal responsável."

Gabriel agarrou meu rosto, me forçando a olhar em seus olhos. "Nós vamos mudar o quarto e te amarrar em pé. Eu vou te foder até você gozar comigo dentro de você, então eu vou me transformar e te partir no meio. Talvez você sobreviva que nem eu sobrevivi."

Eu traguei o ar e falei cuidadosamente. "Isso realmente é a sua fantasia, Gabriel?"

"Sim."

"Mas não a melhor." Eu disse.

"O que?"

"Me estuprar enquanto estou indefesa não é a sua idéia de um sexo quente."

Ele sorriu, mostrando as presas. "Ah, é sim."

Não entre em pânico. Não entre em pânico. Não entre em pânico. Eu me inclinei até ele, e ele soltou um pouco o aperto em meu rosto para eu poder fazer isso, mas ele segurou a corda mais firme, tendo certeza que minhas mãos estavam bem presas. Ele definitivamente já tinha feito isso antes.

Eu me forcei a inclinar em seu peito nu, minhas mãos presas se pressionaram contra sua pele. Eu inclinei meu rosto na direção dele e sussurrei, "Você não quer uma lâmina dentro de você enquanto a gente transa?"

Eu toquei o brinco de prata em seu mamilo, puxando até que a pele se esticasse e ele arfasse.

"Não quer a sensação da prata queimando dentro de você enquanto você entra dentro de mim?" Eu fiquei de joelhos, então nossos rostos estavam bem pertos juntos. "Você não quer saber que estou tentando te matar enquanto transa comigo? Seu sangue derramando pelo meu corpo enquanto você me fode, não é essa a sua fantasia?" Eu sussurrei a ultima parte em seus lábios.

Gabriel estava muito, muito parado. Eu podia ver o pulso em seu pescoço batendo contra sua pele. Seu coração batia rápido contra minhas mãos. Eu arranquei o brinco de seu mamilo e ele deixou escapar um gemido alto. Sangue trilhou em seu peito. Eu levantei o brinco e ele soltou a corda para que eu pudesse mover minhas mãos. Eu levantei o brinco com sangue até entre nossos lábios, quase como se fossemos beijar ele.

"Você tem apenas uma chance de me foder, Gabriel. De um jeito ou de outro Raina vai me ver morta hoje a noite. Você nunca vai ter outra chance comigo."

A ponta de sua língua saiu de sua boca e pegou o brinco, lambendo ele dos meus dedos. Ele rolou ele em sua boca e trouxe de volta limpo e sem sangue. Ele segurou ele para mim na ponta da sua língua. Eu peguei o brinco e o prendi ele entre meus dedos.

"Você só quer que eu te dê a sua faca." Ele disse.

"Eu quero enfiar a lâmina de prata tão profundamente em você, que você irá sentir o toque do cabo dela na sua carne."

Ele teve um tremor, sua respiração saindo em um longo suspiro.

"Você nunca vai encontrar ninguém como eu, Gabriel. Brinca comigo, Gabriel, e eu te darei o melhor sexo que já teve."

"Você vai tentar me matar." Ele disse.

Eu deslizei meus dedos pelo começo da sua calça de couro. "Ah, sim, mas você já esteve realmente em perigo de morte desde que conheceu Elizabeth? Desde que ela se transformou embaixo de você, você já temeu por sua vida de novo durante o sexo? Você já andou por aquela fina e brilhante linha entre prazer e morte de novo?"

Ele virou seu rosto para longe de mim, sem olhar em meus olhos. Eu toquei seu rosto com minhas mãos atadas, virando ele para mim. "Raina não te deixa fazer isso, não é? Assim como não vai deixar você fazer hoje a noite. Você é um alfa, Gabriel, eu posso sentir. Não deixe ela roubar isso de você. Não deixe ela me roubar de você."

Gabriel me encarou, nossos corpos se tocando, rostos perto o suficiente para nos beijarmos. "Você vai me matar."

"Talvez, ou você vai me matar."

"Talvez você sobreviva." Ele disse. "Eu sobrevivi."

"Você ainda está transando com a Elizabeth, agora que sobreviveu?" Eu beijei ele suavemente, correndo meus dentes por sua pele.

"Elizabeth me entedia."

"Você vai ficar com tédio comigo, Gabriel? Se eu sobreviver, você ficaria entediado?"

"Não." Ele sussurrou.

Eu sabia que tinha ganhado ele, simples assim. Eu também já tinha o começo de um plano brilhante, ou pelo menos tinha ganhado tempo, e mais opções. Era um avanço. A verdadeira pergunta era, quanto tempo Jean-Claude e Richard tinham? Quanto tempo até Dominic cortar eles? Se eu não pudesse chegar lá a tempo, eu não queria chegar lá de forma alguma. Se os dois morressem, eu quase queria que Gabriel acabasse comigo. Quase.


43

Eles me mantiveram presa na cama, mas Gabriel devolveu as facas aos meus coldres de braço. Ele segurou a faca grande que ficava nas minhas costas contra a luz. Eu pensei que ele não me devolveria ela, mas no fim, ele colocou meu cabelo em um lado e deslizou ela no coldre.

"Não corte as cordas até que eu esteja enquadrado. Eu quero que a câmera saiba por que você está tão assustada. Me prometa não estragar as coisas."

"Me dê uma arma e eu vou esperar até que você esteja em cima de mim para apertar o gatilho."

Ele sorriu e balançou o dedo na minha frente como você dana com uma criança. "Na, na, não. Sem coisas pesadas."

Eu respirei profundamente. "Não pode culpar uma garota por tentar."

Gabriel riu, uma risada alta e nervosa. "Não, não posso te culpar por tentar."

Nós tínhamos as luzes, a câmera, tudo que precisávamos era da ação. Gabriel havia limpado o sangue em seu peito e colocado novamente o brinco em seu mamilo. Nós estávamos começando tudo de novo para a câmera. Eles tinham até mesmo limpado o sangue da minha boca e retocado a maquiagem. Foi a mulher mais jovem, Heidi, uma licantropo que fez a maquiagem. Seus olhos estavam abertos demais. Suas mãos em choque quando ela me tocou. Ela sussurrou enquanto mexia em meu rosto. "Seja cuidadosa quando ele te beijar. Ele comeu a língua de uma garota uma vez."

"Você pode me dar minha arma?"

Ela arrepiou, seus olhos ficando mais brancos e em pânico. Ela balançou sua cabeça. "Raina me mataria."

"Não se ela estiver morta."

Heidi balançou sua cabeça de novo e de novo e se afastou da cama.

A maioria do resto do pessoal estava junto fora do cenário. Quando o diretor percebeu que iríamos perder muitas pessoas no processo da coisa, ele ofereceu bônus. Grandes bônus, e algumas pessoas continuaram ali. O resto saiu. Eles não faziam filmes snuff. Eles não iriam assistir Gabriel me matar, mas eles não iriam o impedir também. Talvez um deles ligasse para a polícia. Era um pensamento bom, mas eu não coloquei nenhuma esperança nisso.

Poder passou por mim em uma onda pinicando minha pele. Puxou algo baixo e profundo em meu corpo. A sensação se foi quase tão rápido quanto veio, mas um cheiro passou pela minha pele como andar por um fantasma de alguém. Eu senti o cheiro do pós-barba de Richard. Richard estava tentando me dizer algo, ou de propósito ou porque ele estava sendo tomado pelo medo. De qualquer forma, o tempo estava correndo. Eu tinha que salvar eles. Eu tinha. Não havia outra escolha. Salvar eles significava trazer Gabriel perto o suficiente para mata-lo. Perto de mim. Uma ironia isso.

"Vamos logo com isso." Eu disse.

"Você está terrivelmente ansiosa para alguém que está prestes a morrer de uma forma horrível." Raina disse.

Eu sorri. Eu dei o sorriso que tinha tudo que Gabriel queria, confiança, perigo e sexualidade. "Eu não planejo morrer."

O suspiro de Gabriel veio. "Vamos com isso."

Raina balançou sua cabeça e deu um passo para trás da tomada. "Fode ela, Gabriel, faça ela chorar seu nome antes de você mata-la."

"Será meu prazer." Ele sussurrou. Ele andou pelo chão do quarto falso.

Eu alcancei o cabo da faca e cortei a corda que me prendia na cabeceira. Meus braços ainda estavam presos. Eu assisti ele enquanto eu virava a lâmina para cortar entre minhas mãos. Ele poderia ter pulado em mim, mas não fez isso. Ele deslizou em volta da cama enquanto eu cortava a corda da minha mão.

Ele terminou de joelho do lado da cama, me encarando. Eu me afastei dele, faca na minha mão direita. Eu iria sair daquela maldita cama.

Gabriel subiu lentamente na cama enquanto eu saia dela lentamente também. Ele imitava meus movimentos, mas fazia eles graciosamente e dolorosamente lentos. Ele brilhava com uma energia reprimida. Ele não ia fazer mais nenhuma maldita coisa além de engatinhar pela cama, mas a promessa de violência e sexo rodavam o ar como um foco de luz.

Ele era mais rápido que eu. Seu alcance era quase o dobro do meu. Ele era certamente mais forte que eu.

A única coisa realmente acontecendo era o fato que eu planejava matar ele o mais rápido possível, e ele planejava me estuprar primeiro. Isso quer dizer que eu faria coisas que ele não faria. Pelo menos, não primeiro. Se aquilo não acabasse rápido, eu estava perdida.

Eu fiquei com um joelho no chão, e me equilibrei com uma faca em cada mão. Ele queria chegar mais perto. Ele queria até mesmo ser machucado, então sem fingimentos, sem por em prova a habilidade dele. Eu fiz ele vir para mim, e o cortei.

Poder rodou dentro da minha barriga. Me queimou em uma onda de sensações. O cheio de madeira no verão era tão forte que chocava. Por um segundo, eu não podia ver o quarto. Eu tive um vislumbre de outro lugar, pedaços caóticos como um quebra-cabeça caindo pelo chão.

Eu voltei com três pensamentos: medo, impotência e necessidade.

Minha visão entrou em foco novamente com Gabriel franzindo a testa para mim. "O que há de errado com você, Anita? Cassandra te acertou um pouco forte demais?"

Eu balancei minha cabeça e dei uma respiração tremida. "Você é de falar ou de fazer, Gabriel?"

Ele sorriu, um lento e preguiçoso sorriso que mostrava suas presas. Ele estava de repente ali. Eu o cortei sem pensar, pura reação, sem pensamentos. Ele deu um salto para trás e sangue desceu por sua barriga em uma fina linha carmesim.

Ele passou seus dedos pelo sangue devagar, sensualmente, e então lambeu eles com longos e lentos movimentos de língua, brincando para a câmera. Ele andou até a cama e se envolveu com os lençóis, rolando até ficar emaranhado entre eles. Ele se inclinou para trás, expondo seu pescoço. Quase ao meu alcance. "Vem brincar, Anita."

Eu estava tentada, e era pra eu ficar, mas eu era mais esperta que isso. Eu já tinha visto Richard partir os lençóis mais cedo como se fosse papel. "Eu vou continuar aqui, Gabriel. Você vai ter que vir para mim."

Ele rolou ficando com a barriga para baixo. "Eu pensei que ia te perseguir. Isso não é divertido."

Eu sorri. "Chegue mais perto, e vai ser muito divertido."

Ele levantou de joelhos. Os lençóis estavam manchados com sangue enquanto ele se saía deles.

Gabriel estava de repente ali, rápido demais para minha vista. Ele estava a minha frente e passou por mim antes que eu pudesse reagir.

Eu cai de bunda no chão, tentando desesperadamente manter ele na minha vista. Mas ele parou ali, fora de alcance. Um segundo depois, um dor cortante correu pelo meu braço direito. Eu olhei e achei marcas de garras sangrando na parte de cima deles.

Ele levantou uma mão na frente de seu rosto, e garras saiam por baixo de suas unhas.

"Miau." Ele disse.

Eu tentei engolir meu coração batendo tão rápido, mas não pude. Isso queria dizer que mesmo que ele não me matasse, daqui um mês a partir desse, eu talvez ficaria peluda.

Não foi um grito que você podia ouvir com os ouvidos. Não era um som. Eu não tinha palavras para aquilo, mas eu senti Richard gritar dentro de mim. Seu poder se derramou em mim, e abaixo daquela longa linha, eu senti Jean-Claude. Algo apertado e doloroso os segurava. Eu tentei me levantar e cambaleei.

"O que foi, Anita? Eu não te machuquei tanto assim."

Eu balancei minha cabeça e me firmei em pé. Ele não iria vir até mim. Richard estava ficando desesperado. Eu alcancei mais para fora com aquela chama de poder e pude sentir o feitiço de Dominic. Ele esteve escondendo aquilo de alguma forma, mas ele não podia esconder de mim. O feitiço estava crescendo. A hora do sacrifício estava chegando. Eu não tinha tempo para Gabriel ficar brincando comigo. "Pare de ficar atuando, Gabriel, ou você não me quer?"

Seus olhos se estreitaram. "Você está tramando alguma coisa."

"Pode apostar. Agora, me fode Gabriel, se você tiver os colhões para isso."

Eu encostei minhas costas na parede e esperei que aquilo fosse o suficiente, e soube que não seria. Eu joguei uma ameaça de poder de volta para Richard, esperando que ele pegasse a dica e não interrompesse pelos próximos minutos. Se ele me distraísse na hora errada, tudo estará acabado.

Gabriel andou na minha frente, me desafiando a desencostar da parede e ir até ele. Eu fiz o que ele pensou que eu ia fazer. Eu tentei ir até ele e ele apenas não estava ali. Era como tentar cortar o ar. Ele me cortou com uma mão e deixou a parte de trás da minha mão esquerda aberta. Eu cortei ele com minha mão direita, tentando segurar a faca na minha esquerda. Ele acertou a mão de novo, não com garras, mas com as costas de sua mão. Minha mão teve um colapso e faca girou.

Seu corpo me acertou em cheio, me fazendo cair no chão. Eu enfiei a faca da minha mão direita dentro de sua barriga antes que minhas costas acertassem o chão. Mas enfiar a faca significava que eu levei toda a força da queda. Aquilo me parou por uma batida de coração. Uma batida de coração era tudo que ele precisava.

Ele correu suas mãos acima em meus braços, não tentando prender eles, mas forçando eles a subirem a faca em sua barriga. Ele me prendeu no chão com seu corpo. Eu esperei que ele tirasse a faca, mas ele não tirou. Ele pressionou o cabo dela contra meu corpo e apertou. Ele enfiou a faca dentro dele até o cabo e continuou pressionado. O cabo machucava minha barriga e ele o segurava no meio de nós dois.

Ele teve um tremor em cima de mim. Ele levantou a parte de cima de seu corpo em cima de mim, me prendendo com a parte debaixo, se aninhando entre minhas pernas, então eu pude sentir ele duro e firme. Ele tirou a lâmina cheia de sangue e a abaixou tão rapidamente que meus braços estavam no meio do caminho para proteger meu rosto quando a faca acertou o carpete. Ele enfiou a faca profundamente no chão de madeira, tão perto da minha cabeça que prendeu meu cabelo em um lado.

Ele soltou o botão do meu jeans. Ele não estava nem mesmo tentando controlar minhas mãos, mas eu apenas tinha uma faca restando. Se eu perdesse ela, eu não poderia mata-lo. Nós estávamos prestes a descobrir quão bons meus nervos eram.

O poder de Richard fluiu em mim de novo, mas não era o mesmo.

Era menos frenético, mais como se ele estivesse tentando sussurrar algo para mim, me oferecer algo. Então eu percebi o que era. A primeira marca. Jean-Claude e Richard, eles não iriam fazer isso agora sem minha permissão. Eu era poderosa demais para ser forçada, pelo menos psicologicamente.

Gabriel manteve minhas pernas presas com seu quadril e agarrou a parte da frente do meu jeans, dedos apontados para fora, longe do meu corpo. Suas garras passaram pela roupa, e ele a rasgou, partindo a roupa perto do meu osso púbico.

Eu gritei e deixei Richard fazer o que queria. Melhor o monstro que você conhecia do que o monstro que estava prestes a tirar sua calcinha. Uma linha de calor correu pelo meu corpo. Tinha sido tão simples quanto quando Jean-Claude fez sozinho uma vez. Mesmo sabendo o que era, eu não senti muito.

Mas eu me senti bem instantaneamente, minha mente ficando mais clara, mais... alguma coisa. Gabriel hesitou em cima de mim. "O que diabos foi isso?" A pele de seus braços nus estava cheio de cabelos arrepiados. Ele teve um toque do poder.

"Não senti nada." Eu disse. Eu peguei a faca do chão, puxando ela. Gabriel partiu meu jeans com as duas mãos, rasgando no meio, deixando nada entre mim e ele além da minha calcinha e sua calça de couro. Era um ângulo ruim para a faca e estava apenas metade solta quando ele deslizou suas mãos pela minha calcinha.

Eu gritei. "Richard!"

O poder fluiu em mim. Com Jean-Claude, eu tinha visto aqueles queimantes olhos azuis entrando em mim. Com Richard sendo o foco, não havia nada para ver, mas havia cheiros, o bosque, sua pele, o perfume de Jean-Claude. Eu podia sentir os dois na minha boca, como beber dois vinhos fortes, um grande gole depois do outro.

A mão de Gabriel congelou na frente do meu corpo. Ele estava me encarando. "O que você acabou de fazer?" Sua voz era um sussurro.

"Você achou que me estuprar seria fácil?" Eu ri, e isso enervou ele. Eu vi algo perto de medo em seus olhos cinzas. Ele moveu sua mão.

Não ter ele embaixo da minha calcinha era um avanço grande demais para palavras. Eu nunca queria que ele me tocasse daquela forma de novo. Nunca.

Eu tinha duas escolhas. Eu poderia blefar e ter esperançar de que eu poderia correr, ou eu poderia recomeçar com o sexo e matar ele. A segunda marca não me dava tanto poder extras. Na verdade, dava aos garotos mais arranco sobre meu poder do que o contrário. Então, era sexo.

"O que há de errado?" Raina perguntou fora do registro da câmera.

"Gabriel ta amarelando." Eu disse. Eu levantei meus ombros. A faca que ele tinha enfiado no chão segurava meu cabelo, e eu continuei me levantando, arrancando mechas do meu cabelo. A dor foi pequena, mas eu sabia que ia ser apelativo para Gabriel. E foi.

Eu estava sentada com minhas pernas em cada lado dele. Ele me pegou me levantando, mãos deslizando pela minha calcinha, segurando minha bunda. Ele se inclinou para trás de joelhos, segurando todo meu peso. Ele me olhou, e eu vi algo passar por seus olhos, senti o tremor em suas mãos. Pela primeira vez, ele pensou que eu realmente poderia matar ele, e isso o deixou aceso. Medo o deixava ligado.

Ele beijou o lado do meu rosto gentilmente. "Pegue sua última faca, Anita. Pegue ela." Ele se inclinou contra mim enquanto dizia, mordendo gentilmente meu rosto abaixo. Eu senti suas presas pressionando meu maxilar, até meu pescoço. Ele enfiou seus dentes em um lado do meu pescoço, descendo mais, cada vez mais forte, uma lenta e crescente pressão. Sua língua lambendo minha pele.

Eu não peguei a faca. Eu corri minhas mãos pelo seu denso cabelo, afastando ele de seu rosto. Seus dentes continuavam pressionados na minha pele. Suas mãos deslizaram para dentro da minha calcinha, segurando minha bunda nua.

Eu fiquei tensa, e então me forcei a relaxar. Isso daria certo. Tinha que dar certo.

Eu tracei meus dedos pelo seu rosto. Seus dentes me morderam o suficiente para fazer derramar um pouco de sangue. Eu arfei, e suas garras ficaram mais firmes em mim.

Eu corri meus dedos por cada lado de seu rosto, traçando suas bochechas, suas sobrancelhas. Ele me soltou para respirar, olhos bem abertos e sem foco, lábios semi-partidos. Eu acariciei seu rosto e o segurei para beija-lo. Eu tracei suas sobrancelhas. Quando ele me beijou, ele fechou seus olhos, eu coloquei meus polegares em suas pálpebras. Seus cílios passaram contra minha pele. Eu enfiei meus polegares nos dois olhos, cavando, tentando enfiar meus polegares até seu cérebro sair pelo outro lado.

Gabriel se afastou, chiando. Suas garras cortaram minhas costas. Eu arfei mas não tive tempo para gritar. Eu tirei a faca grande do coldre nas minhas costas.

Raina gritou instantaneamente.

Eu enfiei a faca na costela de Gabriel. Enfiei até acertar seu coração. Ele tentou cair para trás, mas meu peso o prendeu de joelhos, então suas costas foram para trás, mas ele não caiu. Eu enfiei a faca por ele. Eu senti a ponta dela chegar ao outro lado.

Raina estava de repente ali, me agarrando pelo cabelo, me lançando para longe dele. Eu voei pelo ar, batendo na parede falsa, e continuei indo. A parede lascou. Eu deitei com a barriga para baixo, reaprendendo como respirar. Minha pulsação estava tão alta em minha cabeça, que fiquei surda por alguns segundos. Meu corpo parou de ficar anestesiado em partes, e me deixou saber que eu estava arranhada e machucada, mas nada estava quebrado. Deveria ter quebrado algo. Duas marcas e eu era de repente a Anita, o carro-forte humano.

Quando aconteceu pela primeira vez, eu não apreciei. Agora eu apreciei. Eu não estava machucada seriamente, irrá, mas eu ainda tinha que passar por Raina. Todo o resto do pessoal iria se redimir e correr se ela fosse morta.

A pergunta era, como conseguir matar ela?

Eu olhei para cima e percebi que estava perto da mesa com minhas armas. Elas estavam carregadas? Se eu fosse até elas e elas não estivessem, Raina me mataria. Mas claro, se eu apenas ficasse deitada ali e sangrasse, ela me mataria de qualquer forma.

Eu ouvi seu salto alto vindo na minha direção. Eu me coloquei de joelhos e fui em direção a mesa. Ela ainda não podia me ver pela parede partida, mas ela podia me ouvir. Ela correu pelo lado dela da parede com aqueles saltos ridículos.

Eu agarrei a Firestar e rolei pela mesa enquanto me movia. Eu terminei com as costas no chão, encarando acima, enquanto ela saltava por cima da mesa. Eu apertei a trava de segurança com meu polegar e apertei o gatilho. A arma explodiu na minha mão e a acertou alto em sua barriga. A bala pareceu deixar ela mais lenta, no meio da ação, e eu tive tempo para outro tiro, mais alto em seu peito.

Raina caiu de joelhos, seus olhos castanhos como mel, bem abertos surpresos. Ela estendeu uma mão, e eu dei um passo para trás, ainda com as costas e bunda no chão. Eu assisti seus olhos apagarem, aquela luz sumindo. Ela caiu para o lado, seu longo cabelo caindo como uma água ruiva pelo chão.

O pessoal tinha sumido. Apenas Heidi estava agachada contra a parede, chorando, cobrindo seus ouvidos como se estivesse com medo de correr ou ficar.

Eu me levantei, usando a mesa como apoio. Eu podia ver o corpo de Gabriel agora. Sangue e fluidos claros corriam em seu rosto, em seus olhos. Seu corpo ainda não tinha caído. Ele estava ajoelhado em uma estranha paródia da vida, como se ele fosse abrir seus olhos e tudo fosse uma atuação.

Edward veio pela porta coberta. Ele tinha uma escopeta em seus ombros. Harley seguiu ao seu lado com uma arma automática. Ele estudou o quarto e finalmente se virou para mim.

"Anita está no quarto?"

"Sim." Edward disse.

"Eu não reconheço ela." Harley disse.

"Segure seu fogo. Eu irei achar ela para você." Ele andou até mim, olhos pegando tudo.

"Quanto desse sangue é seu?" Ele perguntou.

Eu balancei minha cabeça. "Como você me achou?"

"Eu tentei retornar suas mensagens. Ninguém sabia para onde você tinha ido. Então ninguém sabia onde Richard tinha ido, ou Jean-Claude, ou Raina."

Eu senti Richard gritar por mim e não lutei contra dessa vez, eu deixei o grito sair pela minha boca. Se Edward não tivesse me pegado, eu teria caído. "Nós temos que pegar Jean-Claude e Richard. Agora!"

"Você não consegue nem andar." Ele disse.

Eu agarrei seus ombros. "Me ajude que eu corro."

Edward não discutiu, ele simplesmente assentiu e deslizou um braço por minha cintura.

Harley entregou minhas facas e a Bronwing para Edward. Eu estava a centímetros de distancia mas ele não tentou me tocar. Ele olhou por mim como se eu não estivesse ali. Talvez, para ele, eu não estivesse.

Eu arranquei as pernas do meu jeans, o que me deixou sem nada além da calcinha e os Nikes da cintura para baixo, mas eu podia correr agora, e tudo que eu precisava era correr. Eu podia sentir. Eu podia sentir o poder crescendo na noite de verão. Dominic estava preparando a lâmina. Eu podia sentir.

Eu orei enquanto corríamos. Orei para que chegássemos a tempo.


44

Nós corremos. Eu corri até pensar que meu coração ia se romper, pulando pelas árvores e esquivando de coisas no escuro apenas me guiando pelo sentido, sem ver nada realmente. Galhos e ramos prendiam em minhas pernas, fazendo pequenos cortes. Um galho bateu na minha bochecha e me fez tropeçar. Edward me pegou. Harley disse, "O que é isso?"

Havia uma brilhante luz branca pelas árvores. Não era fogo. "Cruzes." Eu disse.

"O que?" Harley perguntou.

"Eles prenderam Jean-Claude com cruzes." Enquanto as palavras saiam da minha boca, eu sabia que era verdade. Eu corri até o brilho. Edward e Harley me seguiram.

Eu corri pelo canto da clareira com eles atrás de mim. Eu levantei a Browning sem pensar. Eu tive um segundo para ver tudo. Richard e Jean-Claude estavam tão presos com as correntes que mal podiam se mover, quiçá escapar. Uma cruz tinha sido colocado em volta do pescoço de Jean-Claude. Ela brilhava como uma estrela capturada, pendurada em uma corrente. Alguém havia colocado uma venda nele, como se tivesse medo que a cruz machucasse seus olhos. O que era estranho, já que eles queriam mata-lo. Também chamado de assassina-lo.

Richard estava amordaçado. Ele estava tentando deixar uma mão livre, e ele e Jean-Claude estavam se tocando com a ponta dos dedos, tentando manter aquele toque.

Dominic estava a frente deles com uma roupa branca cerimonial. O capuz estava para trás, seus braços abertos, segurando uma espada com o tamanho da metade do meu corpo. Ele segurava algo escuro em sua outra mão. Algo que pulsava e parecia vivo. Era um coração. O coração do vampiro Robert.

Sabin estava sentado no trono de pedra de Marcus, vestido como eu tinha visto da ultima vez, com o capuz levantado, escondendo ele nas sombras. Cassandra era um branco brilhante do outro lado do círculo de poder, formando a última ponta do triângulo com os outros dois homens. Meus dois homens estavam presos no chão.

Eu apontei a Browning para Dominic e atirei. A bala saiu da arma, eu ouvi, eu vi, mas não chegou nem perto de Dominic.

Não pareceu ir a lugar algum. Eu deixei minha respiração sair num impulso e tentei de novo.

Dominic me encarou. Seu rosto com sua barba escura, estava calmo, totalmente destemido. "Você está fora da morte, Anita Blake, nem você, ou qualquer um de vocês podem passar pelo circulo. Você veio apenas para ver eles morrerem."

"Você não perdeu, Dominic, por que matar eles agora?"

"Nós nunca mais acharemos o que precisamos de novo." O necromante disse.

Sabin falou, sua voz grossa, estranha, como se falar fosse difícil. "Tem que ser hoje a noite."

Ele ficou de pé e colocou seu capuz para trás. Sua carne estava quase completamente perdida, apenas mechas de cabelo e puro tecido apodrecido restavam. Um líquido escuro saia de sua boca. Talvez ele não tivesse mais um dia de sanidade. Mas isso não era problema meu.

"O Conselho proibiu qualquer um de vocês de brigarem até que a lei de Brewster é ou descartada ou aceita. Eles matarão vocês por desobedecerem." Eu estava meio que chutando nisso, mas eu tenho visto mestres de cidades o suficiente para saber o quão seriamente eles levavam essa coisa de desobediência. O Conselho era na verdade, o maior e mais malvado, mestre da cidade por aí. Eles não seriam perdoados, fato.

"Eu vou arriscar." Sabin disse, cada palavra cuidadosamente, mostrando o esforço que levava falar.

"Cassandra te contou sobre minha oferta? Se nós não pudermos te curar amanhã, eu deixarei Jean-Claude me marcar. Hoje a noite você tem apenas parte do que precisa para o feitiço. Você precisa de mim Sabin, de um jeito ou de outro, você precisa de mim." Eu não contei a eles que eu já estava marcada. Eles obviamente não tinham sentido isso. Se eles soubessem que eu já estava marcada, tudo que eu poderia oferecer era morrer hoje a noite com os garotos.

Dominic balançou sua cabeça. "Eu tenho visto o corpo de Sabin, Anita. Amanhã será tarde demais. Não restará nada para salvar." Ele ficou de joelhos do lado de Richard.

"Você não tem certeza disso." Eu disse.

Ele deitou o coração ainda batendo em cima do peito nu de Richard.

"Dominic, por favor!"

Era tarde demais para mentiras. "Eu estou marcada, Dominic. Nós somos o sacrifício perfeito. Abra o circulo, e eu entrarei nele."

Ele me olhou. "Se isso for verdade, então você está poderosa demais para se confiar. Vocês três juntos sem o circulo iriam nos destruir. Você vê, Anita, eu tenho sido parte de um triunvirato de verdade por séculos. Você não tem idéia do poder que pode tocar. Você e Richard são mais poderosos que Cassandra e eu. Você teria uma força que teria que ser considerada. O Conselho mesmo talvez temesse você." Ele riu. "Talvez o Conselho nos perdoe no final de tudo."

Ele falou palavras que fez poder ondular em mim.

Eu andei até o canto do circulo e toquei ele. Era como se minha pele estivesse tentando sair dos meus ossos. Eu caí para frente e deslizei por algo que não estava ali. Jean-Claude silvou. Doeu demais para eu gritar. Eu deitei encolhida perto do circulo, e mesmo quando eu respirava, eu podia sentir a morte velha, morte apodrecida em minha boca.

Edward ajoelhou do meu lado. "O que é isso?"

"Sem as outras partes, você não tem o poder para forçar o circulo, Anita." Dominic ficou em pé, levantando a espada com as duas mãos para um golpe para baixo.

Dolph havia passado pelo circulo antes, no quarto quando eles pegaram o coração de Robert. Eu agarrei a camisa de Edward. "Você, passe o círculo. Agora. E mate esse filho da puta."

"Você não pôde, como eu posso?"

"Você não tem mágica, é assim que você pode."

Foi um daqueles raros momentos quando você descobre o quanto confiam em você. Edward não sabia nada sobre a cerimônia, e ainda assim ele não discutiu. Ele aceitou o que eu disse, e simplesmente seguiu em frente.

Eu não tinha cem por cento de certeza que iria funcionar, mas tinha que funcionar.

Dominic abaixou a espada. Eu gritei. Edward passou pelo circulo como se ele não estivesse ali. A espada acertou o peito de Richard, prendendo o coração batendo contra seu corpo.

A dor da lâmina me fez cair de joelhos. Eu senti entrar no corpo de Richard. Então eu não senti nada, como se interruptor tivesse sido desligado. A explosão da escopeta de Edward acertou o peito de Dominic.

Dominic não caiu. Ele encarou o buraco em seu peito e então Edward. Ele tirou a espada do peito de Richard e tirou o coração ainda batendo dela. Ele encarou Edward com a espada em uma mão e o coração em outra. Edward atirou de novo e Cassandra pulou em suas costas.

Harley cruzou o circulo então. Ele agarrou Cassandra pela cintura e a tirou de Edward. Eles caíram, rolando no chão. Uma arma soou, e o corpo de Cassandra se sacudiu, mas seu gracioso punho subiu e esmurrou abaixo.

Edward atirou com a escopeta até que o rosto de Dominic virasse um jorro de sangue e ossos, e ele caísse lentamente de joelhos. Sua mão estendida jogou o coração no chão do lado de Richard que estava com o corpo terrivelmente imóvel.

Sabin levitou. "Eu terei sua alma por isso, mortal."

Eu corri meus dedos pelo circulo e ele ainda estava lá. Edward começou a mover a escopeta em direção ao vampiro. O coração pulsou e cruz brilhou.

"O coração, atire no coração!"

Edward não hesitou. Ele se virou e atirou no coração, explodindo ele em milhares de pedaços. Sabin o acertou um segundo depois e voou com ele. Edward acabou no chão bem imóvel com Sabin em cima dele.

Eu estendi minha mão. O ar estava vazio. Eu atirei duas vezes em Sabin enquanto andava na direção dele. Eu dei três tiros em seu peito, forçando ele a sair de cima de Edward. Sabin levantou uma mão na frente de seu rosto esquelético, quase um gesto protetor. Eu encarei do cano da arma para seu olho bom e puxei o gatilho. A bala acertou ele logo acima dos restos desmoronados de seu nariz. Ela fez uma bela ferida como deveria, espalhando sangue e cérebro pela grama. Sabin caiu para trás. Eu atirei mais duas vezes no crânio até que pareceu que e havia decaptado ele.

"Edward?" Era Harley. Ele estava parado em frente do corpo bem imóvel, bem morto, de Cassandra.

Seus olhos procuravam ansiosamente pela única pessoa que ele reconhecia.

"Harley, sou eu, é a Anita."

Ele balançou sua cabeça, como se eu fosse uma mosca zumbindo. "Edward, eu ainda vejo monstros. Edward!" Ele levantou sua arma para mim, e eu sabia que não podia deixar ele atirar em mim. Não, era mais do que isso, ou menos. Eu levantei a Browning e atirei nele antes que ele tivesse tempo para pensar. O primeiro tiro o deixou de joelhos. "Edward!" Ele deu um tiro que passou a centímetros da cabeça dos rapazes. Eu dei outro tiro em seu peito, e outro em sua cabeça antes dele cair.

Eu me aproximei dele, arma pronta. Se ele me movesse, eu teria atirado de novo. Ele não se moveu. Eu não sabia nada sobre Harley, além de que ele era genuinamente louco e muito bom com armas.

Agora eu nunca saberia mais do que isso porque Edward não voluntariava informações. Eu chutei a arma da mão morta de Harley e fui até os outros.

Edward estava se sentando, esfregando a parte de trás de sua cabeça. Ele me assistiu andar para longe do corpo de Harley. "Você fez isso?"

Eu encarei ele. "Sim."

"Eu já matei pessoas por menos."

"Eu também." Eu disse. "Mas se nós vamos brigar, podemos soltar os garotos primeiro? Eu não sinto mais Richard." Eu não podia dizer a palavra morto em voz alta, ainda não.

Edward ficou de pé, um pouco cambaleante, mas se firmou. "Nós brigaremos depois."

"Depois." Eu disse.

Edward foi se sentar perto de seu amigo. Eu fui ficar perto do meu amor e do meu outro namorado.

Eu guardei a Browning, tirei a cruz de Jean-Claude, e a atirei no bosque. A escuridão estava de repente intensa. Eu agachei para soltar as correntes e uma das conexões correu pela minha cabeça.

"Merda" Eu disse.

Jean-Claude se sentou, desfazendo de sua corrente como se fosse um lençol. Ele tirou sua venda por ultimo. Eu já estava engatinhando para Richard. Eu tinha visto a espada acertar seu coração. Ele tinha que estar morto, mas eu procurei pelo pulso em seu pescoço, e o achei.

Ele batia contra minha mão como um pensamento fraco, e caí no chão com alivio. Ele estava vivo. Obrigada, Deus.

Jean-Claude se ajoelhou do outro lado do corpo de Richard. "Eu pensei que você não aceitaria seu chamado, foi isso que ele me disse antes de amordaçarem ele. Eles estavam com medo que ele iria chamar o bando para curá-lo. Eu já chamei Jason e meus vampiros. Eles estarão aqui logo."

"Por que não posso senti-lo na minha cabeça?"

"Eu estou bloqueando. É uma ferida mortal, e eu tenho mais prática para lidar com essas coisas."

Eu tirei a mordaça da boca de Richard. Eu toquei seus lábios gentilmente. O pensamento de como me recusei a beija-lo mais cedo me acertou. "Ele está morrendo, não está?"

Jean-Claude quebrou as correntes de Richard, mais cuidadosamente que as dele. Eu o ajudei a tira-las do corpo de Richard. Richard estava deitado no chão com uma poça de sangue em sua camiseta branca que eu tinha visto nele da ultima vez. Ele era de repente Richard de novo. Eu não conseguia imaginar a besta que tinha visto. Eu de repente não me importava. "Eu não posso perder ele, não assim."

"Richard está morrendo, ma petite. Eu senti sua vida o abandonando."

Eu encarei ele. "Você ainda está me impedindo de sentir, não é?"

"Eu estou protegendo você." Havia um olhar em seu rosto que eu não gostei.

Eu toquei seu braço. Sua pele estava fria ao toque. "Por que?"

Ele virou seu rosto.

Eu o puxei com força, o forçando a me olhar. "Por que?"

"Mesmo com apenas duas marcas, Richard pode tentar drenar nossas vidas para ficar vivo. Eu estou prevenindo isso."

"Você está protegendo nós dois?" Eu perguntei.

"Quando ele morrer, eu posso proteger um de nós, ma petite, mas não nós dois."

Eu encarei ele. "Você está dizendo que quando ele morrer, vocês dois morrerão?"

"Eu temo que sim."

Eu balancei minha cabeça. "Não. Não vocês dois. Não os dois juntos. Merda, você não deveria poder morrer."

"Me desculpe, ma petite."

"Não, nós podemos compartilhar poder como fizemos para levantar os zumbis, os vampiros, como fizemos antes."

Jean-Claude caiu de repente, uma mão no peito de Richard. "Eu não vou te arrastar para o túmulo comigo, ma petite. Eu prefiro pensar em você viva e bem."

Eu enfiei meus dedos no braço de Jean-Claude. Eu toquei peito de Richard. Um vento estremecido correu pelo meu braço vindo do dele. "Eu estarei viva, mas eu não estarei bem. Eu prefiro morrer do que perder vocês dois."

Ele me encarou por um longo segundo. "Você não sabe o que está pedindo."

"Nós somos um triunvirato agora. Nós podemos fazer isso, Jean-Claude. Nós podemos, mas você precisa me mostrar como."

"Nós somos mais poderosos do que eu jamais sonhei, ma petite, mas nem mesmo nós podemos enganar a morte."

"Ele me deve uma."

Jean-Claude se encolheu com dor. "Quem te deve?"

"Morte."

"Faça, Jean-Claude, faça. Seja lá o que for, seja lá o que custe. Faça, por favor!"

Ele caiu por cima de Richard, sua cabeça apenas um pouco levantada. "A terceira marca. Ou vai nos atar para sempre, ou matar nós todos."

Eu ofereci meu punho para ele. "Não, ma petite, se essa vai ser nossa última vez, venha cá." Ele deitou na metade do corpo de Richard, braços abertos para mim. Eu deitei no círculos de seus braços e percebi quando toquei seu peito, que não havia batidas de coração. Eu me virei e encarei seu rosto a centímetros de distância. "Não me deixe."

Seus olhos azul meia noite se encheram de fogo. Ele colocou meu cabelo de lado e disse, "Abra para mim, ma petite, abra para nós."

Eu fiz isso, eu abri minha mente, soltando cada proteção que eu tinha. Eu cai para frente, impossivelmente para frente, descendo aquele longo e negro túnel até o fogo azul queimando. Dor cortou a escuridão como uma faca branca, e eu me ouvi arfar. Eu senti as presas de Jean-Claude se enfiarem em mim, sua boca selando na minha pele, me sugando, bebendo de mim.

Um vento passou pela escuridão que me fazia cair, me pegando como se eu tivesse caído em uma rede antes de tocar aquele fogo azul. O vento cheirava a terra e a tênue essência de pêlo. Eu senti algo a mais: Pesar. O pesar de Richard. Não sobre sua morte, mas sobre a minha perda. Morto ou vivo, ele tinha me perdido, e acima de todos seus defeitos estava a lealdade que ficava acima de todas as razões. Uma vez apaixonado, ele era um homem de permanecer ali, independente do que a mulher fizesse. A cavaleiro errante em todo o sentido da palavra.

Ele era um tolo, e eu amava ele por isso. Eu amava Jean-Claude em despeito dele mesmo. Richard eu amava por ele ser quem era.

Eu não iria perder ele. Eu me abracei na sua essência como se fosse um lençol, exceto que eu não tinha corpo. Eu o segurei na minha mente, meu corpo, e deixei ele sentir meu amor, minha tristeza, arrependimento. Jean-Claude estava ali também. Eu meio que esperei que ele protestasse, sabotasse as coisas, mas ele não fez isso. Aquele fogo azul subiu pelo túnel até no encontrar, e o mundo explodiu em formas e imagem que eram muito confusas. Pedaços de memórias, sensações, pensamentos, como três quebra-cabeças diferentes e misturados e jogados no ar, e cada pedaço tocado virava uma figura.

Eu caminhei pelo bosque aos nossos pés. Os cheiros separados eram intoxicantes. Eu enfiei presas em um delicado punho e não era eu. Assisti o pulso por baixo do pescoço de uma mulher e pensei no sangue, na carne quente, e longe e distante, em sexo. As memórias vinham rápidas, cada vez mais rápidas, fluindo como uma marcha de carnaval. A escuridão tomou as imagens, como tinta na água.

Quando a escuridão tomou tudo, eu flutuei por um segundo impossível, e então saí dali como uma chama de vela se apagando. Nada.

Eu não tive tempo nem de ficar assustada.


45

Eu acordei em um quarto de hospital com tons pastéis de rosa. Uma enfermeira com um uniforme rosa combinando sorriu para mim. Medo borbulhou em mim como champagne. Onde estava Richard? Onde estava Jean-Claude?

O que eu finalmente consegui perguntar foi, "Como eu cheguei aqui?"

"Seu amigo trouxe você." Ela mencionou o amigo com sua cabeça.

Edward estava sentado numa cadeira encostada na parede, largando uma revista. Ele olhou para mim, encontrando meus olhos. Seu rosto não transparecia nada.

"Edward?"

"Meus amigos me chamam de Ted, Anita, você sabe disso." Ele estava com aquele sorriso de garoto que apenas significava que ele estava fingindo ser Ted Forrester. Era sua única identidade legalizada que eu tinha visto. Até os policias pensavam que ele era o Ted em pessoa. "Enfermeira, você pode nos a sós por uns minutos?"

A enfermeira sorriu, olhando curiosamente de um para o outro de nós, e saiu, ainda sorrindo.

Eu tentei pegar a mão de Edward e descobri que minha mão esquerda estava presa a um IV. Eu peguei sua mão com a minha direita, e ele a segurou. "Eles estão vivos?"

Ele sorriu, um mero levantar de lábios. "Sim."

Um alivio como eu nunca tinha sentido antes passou pelo meu corpo. Eu caí de volta na cama, fraca. "O que aconteceu?"

"Você veio por causa de uns machucados feitos por um licantropo e uma bela mordida de vampiro. Ele quase te drenou até você ficar seca, Anita."

"Talvez isso foi preciso para salvar a gente."

"Talvez." Edward disse. Ele sentou no canto da cama. Sua jaqueta estava caída o suficiente para mostrar seu coldre de ombro com a arma. Ele me pegou olhando. "A polícia concordou que talvez os monstros podem estar guardando algum rancor. Há policiais do lado de fora da porta."

Nós não estávamos sendo amigáveis agora. Ele me encarou e algo muito frio passou pelo seu rosto. "Você teve que matar Harley?"

Eu comecei a dizer que sim, mas me parei. Eu relembrei o fato. Finalmente, eu olhei para cima, para ele.

"Eu não sei, Edward. Quando você estava apagado ele não conseguia me ver mais. Eu tentei falar com ele, mas ele não conseguia me ouvir. Ele começou a levantar sua arma." Eu olhei nos olhos azuis e vazios de Edward. "Eu atirei nele. Você viu o corpo. Eu meti uma bala até na cabeça dele. Um golpe de misericórdia."

"Eu sei." Seu rosto, sua voz não me entregavam nada. Era como assistir um manequim falar, exceto que essa manequim estava armado, e eu não.

"Nunca passou pela minha cabeça não atirar, Edward. Eu nem mesmo hesitei."

Edward respirou profundamente pelo nariz, deixando o ar sair pela boca. "Eu sabia que isso ia acontecer. Se você tivesse mentido para mim, eu teria te matado." Ele andou até ficar no pé da cama.

"Enquanto eu estou desarmada?" Eu tentei fazer soar como brincadeira, mas não funcionou.

"Cheque seu travesseiro."

Eu deslizei minha mão por baixo do travesseiro e ela saiu com a Firestar. Eu segurei ela no meu colo, deitando ela nas minhas pernas cobertas com lençol. "E agora?"

"Você me deve uma vida."

Eu olhei para ele. "Eu salvei a sua vida ontem a noite."

"Nossas vidas não contam, nós somos guarda-costas um do outro, não importa o que aconteça."

"Eu não sei do que você está falando então."

"Ocasionalmente, eu precisarei de ajuda, como Harley. Da próxima vez que eu precisar de ajuda, eu te ligarei."

Eu queria discutir porque eu não tinha certeza para que bagunça Edward poderia me arrastar, mas não disse nada. Olhando em seus olhos vazios, segurando a arma que ele tinha colocado debaixo do meu travesseiro, eu sabia que ele faria aquilo. Se eu recusasse sua barganha, sua proposta, ele apertaria o gatilho para mim, e descobriríamos de uma vez por todas quem nós dois era melhor.

Eu encarei a arma nas minhas mãos. "Eu já tenho a arma agora, tudo que eu tenho que fazer é apontar."

"Você está ferida. Precisa de apoio pra apontar." Suas mãos ficaram imóveis na traseira de sua arma.

Eu deitei a arma no lençol do meu lado e olhei para ele.

Eu deitei de volta no travesseiro. "Eu não quero fazer isso, Edward."

"Então, quando eu ligar, você virá?"

Eu pensei nisso por outro segundo e disse, "Sim, eu irei."

Ele sorriu, seu sorriso (de escoteiro) de Ted Forrester. "Eu nunca descobrirei quão boa você é até que você realmente me pressione."

"A gente sobrevive com isso." Eu disse. "De qualquer forma, porque me chamar para uma caça aos monstros agora? E não me diga que é por causa de Harley."

"Você matou ele, Anita. Você matou ele sem nem pensar. Mesmo agora, não há nenhum arrependimento em você, nenhuma dúvida."

Ele estava certo. Eu não me sentia mal sobre isso. Assustador, mas era verdade. "Então você me convidará pra entrar no jogo porque eu sou tão sociopata quanto você?"

"Ah, eu sou muito mais sociopata." Ele disse. "Eu nunca deixei um vampiro enfiar suas presas em meu pescoço. E eu não namoraria algum peludo."

"Você não namora ninguém, nunca?"

Ele apenas deu aquele sorriso irritante que significava que ele não ia responder. Mas ele respondeu.

"Mesmo a morte tem suas necessidades."

Edward namorando? Isso era algo que eu precisava ver.


46

Eu saí do hospital sem cicatrizes permanentes. Isso foi diferente. Richard havia tocado as feridas que Gabriel tinha me feito, seu rosto bem sério. Ninguém tinha que dizer em voz alta. Daqui um mês, todos nós saberíamos. O médico ofereceu me colocar em uma casa compartilhada de licantropos (leia prisão) pelo primeiro mês peluda. Tinha que ser voluntário, mas uma vez que você assinasse para entrar, era quase impossível sair. Eu disse a eles que tomaria conta de mim mesma. Eles me repreenderam e eu disse a eles para irem pro inferno.

Eu passei a noite da minha primeira lua cheia com Richard e o bando, esperando para ver se eu me juntaria à dança assassina. Eu não me juntei. Ou eu tive uma sorte inacreditável ou assim como um vampiro não pode se tornar um licantropo, eu também não podia. Richard não esteve muito aí para mim depois disso. Não posso culpa-lo.

Eu ainda o amo. Eu acho que ele ainda me ama. Eu amo Jean-Claude também. Mas não é o mesmo tipo de amor. Eu não consigo explicar, mas eu sinto falta de Richard. Por curtos momentos nos braços de Jean-Claude, eu me esquecia. Mas eu sentia falta de Richard.

O fato de nós dois estarmos atados ao Jean-Claude não ajudava. Richard acidentalmente invadiu meus sonhos duas vezes. Ter ele tão perto de mim assim era doloroso demais para palavras. Richard lutou contra isso, mas ele finalmente concordou em deixar Jean-Claude o ensinar a ter maior controle, então ele não invadiria nenhum de nós dois.

Ele fala com o Jean-Claude mais do que comigo.

O triunvirato é inútil. Richard está bravo demais comigo. Cheio demais de ódio por si mesmo. Eu não sei como ele está lidando com o bando. Ele proibiu qualquer um de falar sobre o bando comigo, mas ele não tinha escolhido uma alfa fêmea.

Willie McCoy e o resto dos vampiros que eu acidentalmente levantei, parecem estar bem. Grande alívio.

O bebê de Monica nasceu em Agosto. Seu liquido amniótico veio limpo. Sem síndrome de Vlad. Ela parece pensar que sou amiga dela agora. Eu não sou, mas a ajudo as vezes.

Jean-Claude está bancando o bom mestre e cuidando dela e do bebê. Monica continua falando sobre eu ser babá. Eu espero que ela esteja brincado. Tia Anita, ela me chama. Me amordace com uma colher. Continuando a graça, é Tio Jean-Claude.

Meu pai me viu na televisão nos braços de Jean-Claude. Ele me ligou e deixou uma mensagem bem preocupada na minha secretaria eletrônica. Minha família era católica devotada. Não havia coisas como vampiros nela. Talvez ele estivesse certo. Eu não sei.

Eu ainda posso ser do tipo que fuzila vampiros quando estou dormindo com o cabeça dos sanguessugas?

Pode apostar.

 

 


{1} ACLU é quem cuida dos direito da população no EUA.
{2} Esse amante não é de "o outro escondido no armário", é de amor mesmo.
{3} "Jump your bones" é uma gíria que significa que alguém quer transar com outra pessoa, literalmente seria "pular seus ossos", e como a gente não tem essa gíria aqui, acrescentei um "em" e ficou "pular em seus ossos".
{4} Aquelas que tem outra embaixo, que abre como gaveta.
{5} Filmes violentos de carácter mórbido e sexual em que depois de violada e humilhada a pessoa é assassinada.
{6} WASP é a sigla que em inglês que significa "Branco, Anglo-Saxão e Protestante".
{7} Aqueles soldados que sempre são mortos primeiro em guerras, já que ficam na frente.
{8} Uma lingerie que é uma blusa e calcinha juntas.
{9} Desenho do fim da década de 70 chamado Bicudo, o Lobisomem, aqui quer dizer algo como dentuço, cara de presa, etc.
{10} Parte traseira, nádegas, bundas e derivados, em francês.
{11} "Ménage à trois" ou simplesmente "ménage" é uma expressão de origem francesa que significa "mistura a três" e é utilizada para designar os relacionamentos sexuais entre três pessoas.
{12} Apelido do Drácula. Porque quando ele atacava as vilas, ele enfiava as pessoas nos galhos das árvores. Empalando elas. Ou no alto das lanças. E Lancelot era um herói valoroso, braço direito de Arthur.
{13} Um triunvirato ou troika é uma associação política entre três homens em pé de igualdade. A palavra triunvirato originou-se a partir de dois radicais do latim: trium- (três) e vir (homem).
{14} Para os poucos inocentes de plantão, "feliz em me ver" vem da famosa frase: "Isso é uma arma em seu bolso, ou você está feliz em me ver?".
{15} É um tipo de tecido.
{16} Bondage é um tipo específico de fetiche, geralmente relacionado com sadomasoquismo, onde a principal fonte de prazer consiste em amarrar e imobilizar seu parceiro.
{17} Na verdade ela faz um trocadilho entre "sheet" que é "lençol" e "shit" que é "merda".
{18} Um modelo de coldre.

 

 

                                                    Laurell K. Hamilton         

 

 

 

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