Briar precisa de apenas duas coisas: sangue e vingança. A primeira sustenta a sua vida imortal, a segunda lhe dá sentido.
O primeiro lugar na sua lista de alvos é Gregor, o vampiro renegado que a educou na brutalidade, então a traiu e torturou. Para atingir seus fins mortais, Briar juntou-se a Reaper e sua gangue impenetrável e desajustada de vampiros que também estão caçando seu antigo mentor.
Mas assim que destrua Gregor ela vai embora. O grupo não significa nada para ela. Nem mesmo Crisa — descuidada, indefesa e apática em todos os sentidos — a criança vampira com quem Briar compartilha um vínculo de sangue. Ou Reaper. Embora eles compartilharam um momento de pura paixão, não é como se Briar possuísse sentimentos por ele.
Porque Briar não precisa de ninguém. Ela precisa apenas satisfazer seus dois desejos que finalmente podem vir a consumi-la.
Gregor não tinha necessidade de chegar muito perto para ver seu alvo. Afinal ele era um vampiro graças aos esforços de seus empregadores da CIA.
Eles o criaram, fizeram em grande estilo, ensinaram os segredos desconhecidos até mesmo para outros vampiros, tudo para servir a seus próprios propósitos. Pelo que disseram, sua missão era se tornar o vampiro mais notório e desonesto que se possa imaginar. Um vampiro renegado que matava seres humanos à vontade, sem remorsos ou cautela, um vampiro que não seria tolerado por muito tempo pelo resto da sociedade de vampiros. Eles mandariam alguém atrás dele, um Reaper seria a mais provável escolha. Tudo parte do plano.
Quando Reaper viesse atrás dele, era suposto que Gregor capturasse o ex-assassino da CIA que virou vampiro e um assassino de vampiros também, para devolvê-lo aos cuidados da agência.
O problema era que Gregor tinha mudado de ideia e tinha certeza de que seu supervisor sabia disso. Ele decidiu que gostava de ser um vampiro renegado. Gostava de tomar o que quisesse, sempre que quisesse, sem desculpas. Gostou da riqueza que foi acumulando ao tomar tudo que suas vítimas tinham para dar. E gostava especialmente do poder que ganhou quando assassinou um de sua própria espécie.
O sangue de Reaper era um dos mais poderosos que ele poderia imaginar. Ele foi criado por Rhiannon, que foi criada pelo próprio Drácula. Poderoso.
E agora tinha outras razões para querer se vingar do canalha morto-vivo arrogante. Reaper roubou sua mulher. Ele não tinha o direito de fazer isso. Gregor havia arrancado a vadia ingrata da sarjeta, transformou-a, recolheu e Briar pagou dormindo com o inimigo.
Oh, sim, os dois teriam muita dor a caminho. Mas primeiro as coisas prioritárias.
Se a CIA tinha adivinhado que Gregor não era mais seu cachorrinho obediente, mas em vez disso estava trabalhando sozinho, eles tentariam eliminá-lo. E desde que o agente que foi encarregado dele, Magnarelli, foi morto durante uma briga recente com Reaper e sua gangue, todo o caso tinha voltado para Derrick Dwyer, o agente especial que fora supervisor direto de Reaper e quem tinha comandado toda a operação nos bastidores o tempo todo.
Gregor não confiava em Dwyer. Mas ele precisava saber o que o filho da puta tinha reservado para ele. E, além disso, Dwyer poderia ter uma ligação com Reaper e Briar.
Então agora Gregor estava à espreita do lado de fora da casa de Dwyer em Connecticut na área rural. Ele estava a quinhentos metros de distância de Cape Cod escondido por arbustos e pinheiros recém plantados. De sua posição, podia ver Dwyer claramente enquanto o homem se movia além das janelas. Alto, magro e desajeitado, com um perfil de Ichabod Crane, do nariz ao pomo de Adão, Dwyer estava a seis meses da sua aposentadoria. Resgatar Reaper sob custódia e completar seu trabalho com Gregor — possivelmente colocar Gregor numa sepultura — seria sua missão final.
Gregor relaxou, rodeado pela fragrância dos ramos mais baixos dos pinheiros, observando pela luz de uma lua quase cheia. Ele tinha a noite inteira, afinal. Dwyer debruçou em um computador, em seguida saiu de sua visão. Quando voltou estava carregando uma caneca de café na mão, o vapor saía em espiral de sua boca. Ele colocou em cima da mesa, colocou um fone de ouvido minúsculo e depois parou, virou-se e olhou diretamente para a janela atrás dele.
Gregor se esquivou, mesmo sabendo que o mortal não podia vê-lo e muito menos senti-lo lá. Foi uma reação instintiva e um absurdo. Ou não? Enquanto observava, Dwyer se levantou, foi até a janela e abaixou as cortinas.
Droga.
Levantando-se de sua posição debaixo do pinheiro, Gregor pulou em movimento rápido. Ele acelerou em toda a curta distância entre o seu ponto de vista e da casa, parando ao lado da janela. E então olhou através das fendas na cortina e foi capaz de ver e ouvir tudo como se estivesse lá dentro olhando por cima do ombro de Dwye.
— Está tudo bem. — Dwyer estava dizendo em voz baixa, em seu sotaque irlandês muito leve. Restava muito pouco, mas estava claro para as percepções de um vampiro.
— Nada vai te ferir. Isso é perfeitamente natural. Não há nada a temer.
Franzindo a testa, Gregor olhou para a tela do computador. Estava escuro. Podia ouvir o que soavam como respirações rápidas que vinham através do fone de ouvido de Dwyer. Como uma criança se preparando para soltar e gritar.
— Abra os olhos para mim. Vá em frente. Quero que olhe ao redor, veja tudo ao seu redor.
A maneira que Dwyer falava também sugeria que estava falando com uma criança. Estranho, Gregor pensou. Ele esperava que Dwyer estivesse focado exclusivamente em um caso, o caso de Reaper. Mas, aparentemente, ele tinha algo totalmente diferente e alheio a isso acontecendo.
Ou não?
Enquanto Gregor observava, a tela preta mudou como se uma sombra tivesse sido retirada, no início ele não conseguia entender o que estava sendo mostrado. Depois percebeu o que era. Era a visão através do olho de uma câmera. Como se a câmera do outro lado estivesse andando por um longo corredor, virando à esquerda e à direita, movendo-se ligeiramente para cima e para baixo com a cadência dos passos.
— Você poderia ir lá fora, querida? Apenas um passo ou dois lá fora?
— Eu não posso sair sozinha. — Disse uma voz de forma clara, de repente fazendo com que Gregor prestasse mais atenção. Era uma voz feminina. Adulta e ao mesmo tempo ainda infantil.
— Você não está realmente indo a lugar algum. Apenas um passo fora da porta. Isso só vai levar um minuto, prometo. Então você pode voltar direto pra dentro.
Houve um movimento balançando na tela, como se a câmera estivesse balançando a cabeça. E então havia uma porta próxima na frente da lente, uma esguia mão pálida segurando a maçaneta e abrindo. A tela mostrou o que ela viu quando olhou para fora — uma rua molhada — com carros passando apressados pra lá e pra cá. Postes e faróis lançando seus reflexos brilhando na calçada preta e escorregadia, e sem lua brilhando no céu. Não era uma noite clara e quente, como estava aqui.
Dwyer observava os carros e murmurou.
— Placas de Nova York. Jersey. Flórida. Indiana. — Ele suspirou. — Faça-me um favor, moça, é só virar para a esquerda. O que pode ver nessa direção?
O ponto de vista da câmera mudou. Algo caiu sobre a tela, e quando Gregor franziu a testa tentando ver o que era, uma mão se levantou e o afastou. Era uma mecha de cabelo. Ele tinha caído sobre os olhos da menina e ela os afastou. Como se... como se... Gregor praguejou baixinho quando percebeu que a mulher do outro lado da conexão com o computador não estava apenas segurando a câmera. De alguma forma, ela era a câmera.
Sua mente rodopiava com perguntas, possibilidades, teorias, mas ele tinha que trazer seu foco de volta para o assunto em questão. Ele se voltou para a tela do computador e viu prédios de tijolos, estradas mais molhadas, mais postes. Nem um sinal ou um comércio à vista.
— Agora vire para o outro lado. — Dwyer ordenou.
— Eu não quero. — Disse a menina, mas virou.
Um posto de gasolina ficou à vista. Em sua placa lia-se SUNOCO. Seus preços estavam listados. Não havia mais nada para ajudar a identificar onde ela poderia estar.
— Eu preciso ir agora.
— Não, não, ainda não, querida. Você precisa caminhar um pouco mais. Apenas até a esquina, onde há uma placa de rua ou...
— Minha cabeça dói. — Ela lamentou.
E então houve um choro suave.
— Dói quando você se recusa a fazer o que te dissemos para fazer, temo. É apenas por causa disso.
A menina fungou.
— E o menino?
— Que menino? — Perguntou Dwyer.
— Ele entra na minha cabeça, assim como você faz. Só que eu posso vê-lo. Não posso ver você, só posso te ouvir, mas ele eu vejo. E ele precisa de mim e quero ajudá-lo, mas não sei quem ele é, onde está ou como ajudá-lo. Ele está com você?
— Não. — Disse Dwyer. — Olha, pelo que sei, essa outra visão, a do menino, não é real, amor. É provável que venha de uma parte diferente de sua mente, sua imaginação talvez. Penso que é só isso. Não é real, não é como eu.
— Ele parece tão real quanto você. Ele parece... parece mais real do que você.
— Vá até a esquina, Crisa, ou sua cabeça vai começar a doer de novo.
— Às vezes dói mesmo quando faço o que você me diz.
— Isso pode ser resolvido, Crisa. É um mau funcionamento e vou corrigir assim que eu ver você. Prometo. Vá para a esquina agora, garota.
A câmera escureceu e Gregor pensou que a mulher tinha fechado os olhos. Ela gemeu suavemente, e havia estática e neve no monitor, em seguida uma forma. Uma forma humana. Uma pequena. Ficou mais clara à medida que Gregor olhava, até que tomou a forma de um menino.
Um menino que conhecia muito, muito bem.
Era Matthias.
— Eu não posso ajudá-lo mais. — A garota lamentou. — Briar procura por mim. Boa noite.
Briar!
Gregor recuou, atordoado. Quem era esta Crisa, que tipo de conexão poderia ter com Matthias? Uma coisa era certa, ela era uma obra da CIA. De alguma forma, ela foi equipada com uma câmera e algum tipo de equipamento de comunicação e inserida na gangue dos benfeitores do Reaper — por que isso era, até onde ele sabia, onde estava Briar.
E de alguma forma, ele não podia imaginar como, ela conhecia Matthias. Ela conhecia seu filho.
— Aí está você. — Briar disse, seu tom plano e desinteressado quando encostou-se no batente da porta. O pequeno floco de neve estava de pé na calçada piscando na escuridão como uma corça pega em um holofote. A permanente aparência confusa em seu rosto estava tão irritante como sempre foi. — Que diabos você está fazendo aí fora, Crisa?
A menina pareceu atrair seu foco para longe de onde diabos esteve — A Terra do Nunca, provavelmente — e o fixou em Briar finalmente. O cabelo dela estava em seu estilo habitual. A primeira opinião de Briar era de que foi penteado com um batedor de claras, e isto ainda era a descrição mais precisa. Era castanho claro com mechas azuis, o corte curto e irregular. Seus cuidados com o cabelo pareciam ser “aplique mousse e bata até formar picos firmes”. Ela estava bastante arrumada esta noite, o que era raro. Delineador demais, mais grosso em um olho do que no outro, sombra verde brilhante, cílios parecendo com pernas peludas de uma aranha, linhas retas de blush do queixo até a orelha em cada lado do rosto, e batom cor de ameixa. Ela usava uma camisa de manga comprida marrom feita do mesmo material que eram feitas as ceroulas, com uma camisola de cor creme rendada por cima disto — uma combinação que não fazia sentido algum. Da cintura para baixo usava uma flamejante saia vassoura laranja e um par de Converse vermelho de cano-longo.
Enquanto pegava Crisa, Briar chegou bem perto de rir, e isso era algo que ela nunca fazia. Nem ela era insensível a ponto de querer chutar um filhote de cachorro. Ok, talvez um cachorro comum, mas não uma vampira menina-mulher de cérebro-frito como Crisa.
A menina ainda não tinha respondido sua pergunta. Estava apenas olhando, piscando os grandes olhos castanhos como se não entendesse a linguagem de Briar.
— Ei. — Briar desceu correndo os três degraus até a calçada e estalou os dedos na frente dos lábios roxos de Crisa. — Controle de terra para Major Tom. Você está me lendo?
— Hein?
— O que você está fazendo do lado de fora?
— Ah. Não sei, ele me disse.
Briar franziu a testa um pouco mais forte.
— Quem te disse?
— Eu não sei.
De repente alarmada, Briar apertou o ombro de Crisa em um aperto que era tão suave quanto protetor, e não se preocupou em se perguntar sobre isso, ou sobre a forma que suas entranhas e punhos cerraram simultaneamente quando queria chutar qualquer imbecil que estaria brincando com sua Crisa. Ela enviou uma rápida olhada de um lado para outro da calçada, junto com seus sentidos, em busca de inimigos. Mortal ou vampiro, podendo ser de qualquer tipo. Deus sabia que seu pequeno grupo de heróis fez o suficiente de ambos os tipos. Porém ela não via ou sentia nada.
— Crisa. — ela chamou, concentrando-se novamente na garota. — É importante que me diga quem te disse para vir aqui fora.
— Mas eu não sei. — Os olhos da garota começaram a diminuir, e ela apertou a mão na testa. — Por favor, não fique com raiva de mim, Briar.
— Eu não estou... — Briar mordeu os lábios, percebendo que estava vociferando as palavras para a garota. Ela suavizou seu tom e tentou diminuir sua frustração. — Não estou brava. Escute, você disse que alguém te disse para ir lá fora. Seria alguém da casa?
— Eu acho que não. Mais como... aqui dentro. — Conforme dizia isso, Crisa pressionou a outra mão na cabeça, colocando-a entre elas. — Deus, isso dói.
— Sua cabeça dói?
Crisa balançou a cabeça, os olhos fechados.
— Então era uma voz em sua cabeça que te disse para vir aqui fora?
— Sim. A voz de um homem.
Alguém se comunicava com ela mentalmente, Briar pensou. Tinha que ser um vampiro. Poucos mortais conseguiam dominar a telepatia com alguma real eficácia.
— Ele disse alguma coisa para você, Crisa? Será que pediu para fazer mais alguma coisa?
Crisa assentiu, abaixando as mãos para os lados, abrindo os olhos.
— Ele queria que eu caminhasse até a esquina e olhasse em volta. Mas então o menino veio e me... distraí.
— Um garoto chegou?
Seu gesto foi lento, seu olhar se tornando introspectivo.
— Ele vem o tempo todo. — ela sussurrou, quase para si mesma.
— No mundo real Crisa ou ele está em sua cabeça também?
— Na minha cabeça. Mas não como o homem. Posso ver o menino. Posso senti-lo. É mais como um sonho. — Ela apertou os olhos com mais força. — Dói, Briar!
— Tudo bem. Certo, vamos lá. Vamos para dentro.
— Você não está brava?
— Não, você é maluquinha. Porque estaria brava? Não é culpa sua que tenha uma festa na sua cabeça, não é?
— N-não.
— Aposto como Roxy pode ajudá-la com essa dor de cabeça, se você quiser. Ela e Ilyana estão com toda aquela merda de abracadabra. Cura com as mãos. Imagino que vão conseguir fazê-la se sentir um pouco melhor, para umas simples velhas mortais.
— Elas não são simples. São Escolhidas.
— Ainda assim, um mortal é um mortal, certo?
Crisa assentiu, um movimento agitado enquanto se moviam pelo corredor.
— Será que Reaper ficará bravo?
— Ninguém vai ficar bravo, ok? — Briar procurou tranquilizá-la, e então decidiu adicionar um pouco de esclarecimento para ajudar. Inferno, isto não machucaria. —Além disso — disse — e daí se alguém ficar bravo com você? Endureça, Crisa. Se alguém te fizer alguma merda, você devolve e mais algumas. Compreendeu?
Crisa olhou para ela e sorriu um pouquinho.
— É. Vou devolver.
— Com toda certeza você vai. Você tem um pouco do meu sangue em suas veias, afinal. Não vai se acovardar, vai se arrumar e se mover.
Briar abriu a porta no final do corredor e ainda segurando o braço de Crisa, levou a outra mulher para dentro do prédio. O edifício estava abandonado, mas ainda era basicamente habitável. O grupo deles, Reaper e sua gangue desajustada de vampiros novatos, vieram do norte do México viajando com cautela, tomando seu tempo. A princesa Topaz tinha oferecido sua mansão na Ilha Esmeralda para usarem como uma base temporária enquanto planejavam seus próximos passos na busca permanente de Gregor, o assassino renegado e sua gangue. Mas Reaper queria levar seu suave tempo para chegar lá, apenas para ter certeza de que os bastardos da CIA que estavam ansiando por ele já não o estivessem seguindo. Claro, os dois agentes que estavam na sua cola afundaram recentemente. Mas havia outras pessoas lá fora observando.
Este casebre decadente estava em Atlanta, e lembrava a Briar com pesar, das vezes em sua vida que seria muito melhor esquecer. Quando vivia nas ruas, lugares como este foram um lar para ela. Sim. Lar, doce lar.
Os outros estavam apenas voltando à vida em várias partes do prédio. O sol tinha se posto recente. Eles mal se levantaram e começavam a recolher suas coisas para continuar a viagem para o norte. A maioria deles pelo menos, Briar observou, percebendo que Jack e Topaz não estavam em evidência. Eles estavam, provavelmente, transando como um par de coelhos excitados. Novamente.
E a lendária estrela de cinema Mirabella, mãe de Topaz, estaria provavelmente ainda deitada na cama, na forma típica de estrela de Hollywood. Apenas porque acordava automaticamente ao pôr do sol, como qualquer outro vampiro, não queria dizer que sentia necessidade de levantar sua bunda e se pôr em movimento.
Vixen e Seth estavam próximos um do outro, empurrando roupas em uma mochila, esfregando-se e tocando-se muitas vezes, seus olhos dizendo muito mais do que Briar queria ou precisava ouvir de qualquer um deles. Repugnante.
— Roxy. — Briar chamou, desviando os pensamentos dos outros para o assunto em questão. — Crisa está com uma dor de cabeça muito forte. Acha que você e Ilyana podem trabalhar algumas dessas merdas que fazem e ajudá-la?
— Essa merda que fazemos é Reiki. — Roxy respondeu. Ela virou-se para enfrentar Briar enquanto falava, e isso criou um grande efeito no Kaftan escarlate estampado que usava. Isto rodou como uma capa, e seus cachos vermelhos selvagens se moveram com a mesma eficácia. —Isto é sagrado para nós duas.
Havia muito pouco que Briar gostava mais do que incomodar Roxy. A não ser assustar Ilyana.
— Sim, sim. — disse. — Para vocês mortais tudo é sagrado. Todo esse lixo espiritual deve ser uma muleta agradável para as pessoas destinadas à sepultura.
— Estamos todos destinados à sepultura, no final. — a ruiva com idade imprecisa disse. — Vampiros como você, Escolhidas como Ilyana e eu, não importa se eventualmente escolhermos sermos transformadas ou não, e seres humanos comuns como o resto do mundo. Não há tal coisa como a imortalidade. Não realmente. E você está enganando a si mesma se acha que existe.
— Sim, e vou estar enganando a mim mesmo muito tempo depois que você virar pó.
— Vadia. — Roxy murmurou.
— Puta. — respondeu Briar.
Ilyana seguia a troca parecendo um pouco nervosa, enquanto Crisa parecia francamente assustada com isto.
Reaper o bastardo arrogante, descansava na caixa de madeira que estava usando como uma cadeira, inclinado para trás na parede olhando levemente divertido.
Roxy enviou a Briar um último olhar duro, então pegou a mão de Crisa e suavizou sua expressão.
— Vamos Crisa. Você pode se deitar no velho sofá na sala ao lado e iremos tentar algum Reiki em você, ok?
Crisa assentiu, e Ilyana as seguiu para a sala ao lado.
Sozinha com Seth, Vixen e Reaper, Briar esperou até que a porta da sala ao lado fechasse.
— Eu encontrei Crisa do lado de fora parecendo desorientada. Disse que uma voz em sua cabeça disse para ir lá fora e dar uma olhada.
Reaper desceu o engradado à frente batendo no chão com um baque.
— Gregor?
— Isso não faz sentido. — disse Seth. — Gregor ainda não sabe que Crisa existe, muito menos que está com a gente.
— Pelo que sabemos, é isto. — Vixen disse suavemente. — Ele pode ter descoberto.
— Também pode ter sido algum outro vampiro que teima em nos destruir. — Reaper apontou. — Não é como se não tivéssemos chateado um pouco ao longo do caminho. — Ele olhou para Briar. — Você sabe disso muito bem.
— Eu não a conheço melhor do que o resto de vocês. — ela negou. Foi automático, o que era uma mentira.
— Você compartilhou sangue com ela, salvou sua vida. Sabe que isto é um forte vínculo, uma ligação psíquica.
— Eu sei. — Ela desviou os olhos. Os dele estavam muito escuros, com muito conhecimento e totalmente cheios demais do sexo que tiveram uma vez. Uma vez. Deus, você pensaria que foi um caso de três anos do jeito que o afetou. Isto ainda não a tinha perturbado.
Briar suspirou e chamou sua atenção para o assunto em questão.
— Mas ainda não sei o que está acontecendo com ela. Não sei se isso é realmente comunicação mental de alguém fora dela. Acho que isto poderia ser apenas... você sabe, as vozes em sua cabeça. — Ela fez um movimento girando em seu ouvido com o dedo indicador.
Reaper se levantou da cadeira.
— O que faz você suspeitar disto?
Ela deu de ombros.
— O fato de que ela também está vendo um garoto, diz que parece mais como um sonho para ela. O fato de que tem uma dor de cabeça do tamanho de Júpiter na maior parte do tempo. O fato de estar a alguns poucos biscoitos de um frasco cheio desde o primeiro dia em que pus os olhos nela. Ela está maluca, Reaper. Nós já sabemos disso.
Ele a estava estudando. Assim como Vixen, muito mais perto do que seria confortável. A pequena cabeça dela inclinando para um lado e depois para o outro, o longo cabelo cor de cobre caindo sobre o ombro e seu nariz se enrugando apenas ligeiramente.
— O que? — Briar exigiu.
— Você... você tem dor de cabeça também. — disse Vixen.
Briar revirou os olhos.
— Sim, tenho um monte de dores de cabeça. Três aqui fazendo perguntas estúpidas, uma dormindo, dois golpeando seus miolos, um par realizando abracadabra na sala ao lado, e uma locomotiva cujo vagãozinho vermelho passou voando pela curva.
Vixen sorriu, depois riu suavemente.
— Isso é engraçado. Eu não sabia que você podia ser engraçada.
— Não estava sendo engraçada.
— Você está sentindo a dor dela, não é? — Reaper perguntou.
Briar deu de ombros.
— Ou isso ou tenho uma simples dor de cabeça toda minha. A solução mais fácil é geralmente a certa, Reaper.
— Você poderia deixar Roxy e Ilyana trabalharem em você depois. — Seth sugeriu.
— Certo. Vou deitar em uma cama e deixar duas mulheres mortais colocaram as mãos em mim. Não nesta vida, amigo.
— Foi apenas um pensamento.
— Obrigado. Prefiro sofrer. Uma leve dor de cabeça ou agonias incalculáveis. De qualquer jeito.
Depois que disse isso, olhou para a porta fechada além da qual as duas mulheres estavam trabalhando em Crisa. Então notou que Reaper percebeu e desviou os olhos.
— Você está preocupada com ela. — acusou.
— Sim, certo. E também estou fazendo uma coleta para salvar as baleias. Quer contribuir? — Ela revirou os olhos e saiu da sala, indo para o quarto vazio onde passou a noite.
Afundando no chão e juntando seus joelhos, inclinou a cabeça e esfregou as têmporas. Fechou os olhos e tentou relaxar e afastar a dor de cabeça. Mas não conseguia relaxar ou massagear isto para longe ou mesmo mandar embora, porque não era sua dor.
Era a de Crisa. Então tudo o que podia fazer era esperar.
Felizmente para ela — as duas mortais mais irritantes do planeta eram curandeiras superdotadas. Essa merda que faziam, faziam muito bem, embora ela fosse morrer antes que reconhecesse para qualquer uma delas. Roxy já era muito arrogante, enquanto Ilyana estava petrificada com ela, e Briar preferia manter isto assim.
Ainda assim, ela as agradeceu em silêncio quando a dor de cabeça começou a diminuir e finalmente desapareceu para quase nada.
Descansou somente por alguns momentos, depois se levantou quando alguém bateu na porta. Ela abriu para ver Jack com seu cabelo loiro sujo que sempre foi um pouco longo demais e seu bigode um pouco desalinhado, fazendo-o parecer um rebelde, usando o sorriso de satisfação de um homem que teve sexo muito melhor do que merecia.
— Estamos nos preparando para sair, Bri. Você tem as suas coisas?
— Dois minutos. — disse a ele.
Ele acenou com a cabeça, seus olhos fazendo um levantamento rápido de seu rosto.
— Sua dor de cabeça melhorou?
— Desapareceu. — disse.
— Eu imaginei. A de Crisa também.
Ela franziu o cenho.
— Reaper nos instruiu, e vou ajudar você a manter um olho nela. Não se preocupe.
— Eu não estava. E não preciso de sua ajuda “fique de olho” com Crisa, porque não é trabalho meu manter um olho em Crisa. Nossa, quem me nomeou a guardiã do hospício?
Ele deu de ombros.
— Precisa de ajuda para empacotar?
— Vá pular em sua princesa esquisita novamente ou algo assim, e pare de me importunar, certo?
— Ok. — Ele piscou e deixou o quarto.
Por que diabos, perguntava-se, estavam todos tão determinados a ver coisas nela que não existiam? Ela não estava preocupada com Crisa. Não dava a mínima para Crisa — ou qualquer outra pessoa, no que lhe dizia respeito. Esta pilha de benfeitores simplesmente não conseguia aceitar isto dela. Eles não entendiam, procuravam projetar suas próprias besteiras morais sobre ela. Mas não acreditava nisso. Nunca acreditou.
Ela estava fora somente por si mesma, seus próprios interesses e no cumprimento de suas próprias necessidades. E agora essas necessidades incluíam apenas duas coisas. A necessidade básica de devorar sangue vivo para sobreviver e seu único objetivo para querer também.
Ela tinha que matar Gregor pelo que fez a ela.
Vingança era a única razão de continuar acordando a cada noite. Era a sua força de vida. E uma vez que isso estivesse acabado, bem, inferno, ela provavelmente estaria acabada também, apesar de sua conversa dura com Roxy sobre ser uma verdadeira imortal.
Isto realmente não era, até onde podia ver, muito mais que um ponto nisto, afinal.
Eu acredito que você esteja procurando por mim. — Gregor disse, falando como se estivesse perfeitamente calmo. Como se cada célula de seu corpo não estivesse enrolada firmemente com a noção do que estava prestes a fazer.
— Sim, isso é verdade. — confirmou o agente especial Dwyer. Ele manteve as mãos metidas nos bolsos profundos de sua capa de chuva, os ombros curvados, a gola levantada contra a garoa gelada que bombardeava os dois onde estavam em um acostamento de uma grande rodovia no meio do nada.
Eram três horas da manhã. Gregor estava no auge de sua vigília. Dwyer estava tendo problemas para manter os olhos abertos, apesar do fato de que tinha cheiro do café que tinha devorado.
— Então? — Gregor perguntou.
— Olha, apreciaria se você entrasse, Gregory.
— Gregor. — disparou. — Ninguém me chama de Gregory. Não mais.
— Sinto muito. — Dwyer tinha chegado um pouco para trás com a vociferada correção, e Gregor ficou contente de ver isto. Não seria bom este homem pensar nele como apenas outro agente mortal sob seu comando. Ele não era mortal. E não era qualquer outra coisa. Era um vampiro.
Ele era um deus.
— Desculpe. — Dwyer repetiu. — Ainda assim, é bom que você se decidiu a vir neste encontro. — Vai ter que percorrer um longo caminho para convencer os poderes existentes de sua sinceridade.
— Foda-se os poderes existentes.
Dwyer ficou em silêncio com a cabeça levantando lentamente e seus olhos parecendo refletir a incerteza, pela primeira vez durante a reunião clandestina deles.
— Eu sei muito bem que há uma ordem para me apagar, Dwyer. Francamente, estou surpreso que você não esteja tentado me levar agora.
— Ninguém está tentando matá-lo, Gregor.
— Você está bem certo sobre isso, pelo menos. — Gregor levantou uma mão e estalou os dedos. Imediatamente drones[1] saíram desajeitados da área arborizada atrás do acostamento.
Eles não eram bonitos, e não poderiam sequer começar a passar por humanos. Seu tamanho, sua marcha desajeitada, o olhar inexpressivo em seus olhos não-muito-certos. Eles estavam um passo à frente da versão popular do monstro de Frankenstein, mas apenas porque suas cabeças não estavam costuradas visivelmente em seus pescoços, nem tinham parafusos saindo em cada lado de suas gargantas.
Porém, fora essas pequenas diferenças, eles estavam muito perto disto.
Uma mulher saiu do banheiro, viu os drones desajeitados no gramado ligeiramente inclinados em direção a ela, uma dúzia deles, e correu gritando para seu carro. Alternando chocalhos parecidos com granizo sobre o pavimento enquanto um homem atordoado olhava com a mão parecendo perder sua capacidade de alcançar as moedas. Um carro que tinha virado para a área de estacionamento de repente acelerou, quase jogando outros veículos pra fora da estrada quando correu de volta para a estrada.
A desordem causada pelo aparecimento dos monstros durou apenas alguns segundos. E sim, Gregor pensou, talvez as testemunhas realmente não pensassem neles como monstros. Mas não havia dúvida sobre que algo neles não estava muito bem, não havia dúvida de que existia um monte deles, não havia dúvida que eram grandes, de grandes dimensões, poderosos e com a intenção de... alguma coisa. Isso era suficiente.
E ele gostava de pensar que alguém teria sussurrado a palavra monstro através de suas mentes.
— O que é isso? — Dwyer perguntou. Ele já estava puxando uma arma de dentro de um dos bolsos, sem dúvida com a qual tinha intenção de atirar em Gregor, e voltando em direção ao seu carro. O resto do lugar estava deserto.
— Isto é o que acredito que você chamaria de uma emboscada, Dwyer. Mas não se preocupe. Eles não vão matá-lo. — Ele sorriu lentamente. — Não imediatamente, pelo menos. — E então se escondeu atrás do edifício de concreto observando enquanto os drones o bloqueavam.
Dwyer levantou a arma, disparou uma rodada, e um dos drones caiu em uma pilha enorme no chão e ali ficou, gemendo e sangrando e malditamente idiota para fazer algo a respeito disso. Nenhum de seus companheiros correu em seu auxílio. Eles tinham um propósito. Obedecer a seu mestre.
Eles continuaram vindo. Dwyer continuou atirando. Alguns caíram, mas o resto chegou mais rápido. Dwyer lutou com a porta de seu carro, puxando-a aberta, tropeçando para trás no carro enquanto ainda atirava.
Um drone ferido agarrou seu tornozelo. Ele disparou novamente e se soltou, puxando a perna para dentro, batendo a porta do carro e travando as portas.
Ele pensou que estava livre enquanto lutava para encaixar a chave na ignição.
O idiota.
O drone arrancou a porta do motorista e mandou-a flutuando pelo ar. Outro agarrou o braço de Dwyer com a arma em punho, apertando o pulso até a pistola cair inutilmente no chão. Então pegou Dwyer facilmente enquanto o homem aterrorizado lutava.
Por que ele lutava, Gregor perguntou-se, quando sabia que seria castigado?
Uma patada no lado de sua cabeça e Dwyer não estava lutando mais. Gregor saiu de trás do bunker de concreto que abrigava os banheiros públicos e saboreou a vitória.
— Amarre-o e o coloquem no jipe. — ordenou. — Vou levá-lo daqui.
O cabeça dura com Dwyer sobre seu ombro deu um aceno descuidado e carregou o agente para o Jipe Wrangler, lançando-o na parte de trás como se fosse roupa suja, em seguida atando seus pulsos e tornozelos.
Gregor olhou ao redor do estacionamento. Havia três drones mortos, mais um punhado de feridos. Havia muito aqui para limpar. Balas, tripas, sangue.
— Deixe os mortos. — disse. — Deixe tudo, mas cuidem de suas feridas. Estanquem o sangramento do jeito que mostrei. Lembre-se de não atar as feridas com muita força. — ele disse, lembrando como um drone ferido perdeu um braço na primeira vez que tentou mostrar como dar primeiros socorros básicos de um vampiro.
— Assim que pararem o sangramento, ajude-os a voltarem para a mansão. Entendido?
Eles concordaram em silêncio, e os saudáveis ajudaram os desajeitados com as hemorragias, rasgando suas camisas para fazer torniquetes desse modo.
— Volto antes do amanhecer. — acrescentou, porque era como se fossem idiotas. Você tinha que dizer especificamente o que fazer. Eles não podiam pensar ou raciocinar sozinhos.
Tinha um monte de problemas pra resolver. E receber potenciais estoques de candidatos da CIA seria impossível agora.
Ele subiu ao volante de seu jipe, ligou o motor e olhou pelo retrovisor ao seu antigo empregador inconsciente.
— Você vai me contar sobre essa espiã que você plantou na gangue de Reaper, meu amigo. Vai me mostrar como se comunicar com ela, dizer exatamente como isto funciona e o que aprendeu.
Para sua surpresa, Dwyer se sentou devagar esfregando a cabeça com as mãos atadas.
— Eu não vou te contar nada.
— Oh, inferno, é claro que vai, com o tempo. — Ele levantou uma arma de dardos carregada com uma dose de tamanho humano de seu tranquilizante favorito, só pro caso do espião tentar alguma coisa. — Eu me tornei muito adepto da tortura, Derrick.
— Pois é, eu soube.
— E sei que era supervisor imediato de Rivera. Sei que foi você quem o recrutou em primeiro lugar, e sei que lutou com sua organização a cada passo do caminho em seu interesse desde então.
Dwyer desviou os olhos.
— Você não sabe de merda nenhuma.
— Sim, eu sei. Vi os arquivos. Você argumentou contra a lavagem cerebral... desculpe-me — programação — desde o início. Tentou encobrir o fato de que ele se tornou um vampiro quando você descobriu. Tentou convencê-los de tentar retomá-lo, e foi veementemente contra o plano de me usar para fazer isso. Você era contra tudo isso. Do lado dele o tempo todo.
O homem mais velho estava balançando a cabeça de um lado para o outro, mas suas negações não convenceram Gregor de nada, e ele sabia disso. Gregor sabia. Este bastardo estava secretamente advogando em nome de Reaper desde o início.
— Você foi tendencioso em tudo. O que eu não sei é o porquê.
— Você é louco.
—Talvez. Mas você é amigo de Reaper. Quer ele saiba ou não, é seu único amigo na agência. Não é, Derrick?
— Não sou amigo de ninguém. Estou encarregado de levá-lo de volta e então me aposentar. Ponto.
— Sim. Certo. Você saiu esta noite para me matar.
— Eu vim para conversar.
— Mentira. Então me diga Dwyer, qual é o sentido de ter uma unidade na pequena gangue de Reaper, se você não tem a intenção de trazê-lo de volta? Que outra razão poderia ter para querer manter o controle sobre ele?
— Nenhuma.
— Sabe que não acredito em você.
— Eu sei.
— E sabe que vou descobrir.
— De mim não, você não vai.
Suspirando, Gregor levou o Jipe até os imponentes arcos de ferro forjado dos portões do que um dia foi conhecido como a Propriedade Marquand. Agora sua.
Como Gregor esperava, as envelhecidas portas se abriram graças à eletrônica que tinha reparado, Dwyer olhou para elas através do chuvoso para-brisa respingado, então além das árvores altas sem folhas que estavam alinhadas em direção a mansão parecida com um castelo a frente deles, e os penhascos além da mansão.
— Pelo amor de Deus, esta é...
— Sim. A antiga casa de Eric Marquand. Ele a abandonou quando o DPI soube da sua existência, sabendo que nunca conheceria a paz aqui novamente. Ela caiu nas mãos do governo. A CIA perdeu o interesse em vigiá-la, mas não permitiu que fosse vendida por um longo tempo. E então venderam. Comprei-a pagando os impostos atrasados alguns meses atrás. Achei que seria... não sei, nostálgico ter uma das antigas casas de um dos verdadeiros anciões. Um lugar onde os vampiros lutaram com os agentes da DPI. Um lugar onde Rhiannon e Roland de Courtemanche e o próprio Eric uma vez caminharam. Seus laboratórios ainda estão no porão, você sabe.
— Não.
— Não seria de esperar que uma nova geração de não-mortos fixassem residência em um lugar que a CIA conhece tudo a respeito. Mas desde que deixaram de prestar qualquer atenção, o lugar não poderia ser melhor.
Dwyer não disse nada. Gregor atravessou os portões quando eles finalmente se abriram o suficiente, então esperou para ver se fechavam novamente antes de dirigir sobre o esburacado e mal cuidado caminho para a mansão propriamente dita. Ele amava a grandeza do lugar. Três histórias, todas feitas de blocos toscos de pedra, cada uma muito grande para três homens comuns levantarem. O lugar era magnífico. Mais ainda com as modificações que estava fazendo.
Ele parou bem na frente, abriu a porta na parte traseira do jipe e agarrou Derrick Dwyer por seus pulsos amarrados, puxando-o para fora. Dwyer não lutou muito. O caroço no lado de sua cabeça e o sangue no rosto e pescoço disseram a Gregor por que. O homem estava ferido, possivelmente tonto, bem como e sem dúvida, fraco. Ele também estava, Gregor pensou, cauteloso, afiado, inteligente e provavelmente, ganhando tempo para fazer um plano de fuga.
Ele arrastou seu prisioneiro até as escadas para a porta da frente e a abriu.
Caminhou para dentro puxando Dwyer atrás dele pelo pendente na ponta da corda que prendia suas mãos. O homem mais velho não tinha escolha a não ser segui-lo, os pés arrastando, tropeçando com frequência. Talvez fosse verdade ou talvez fosse um ato destinado a acalmar Gregor em complacência para tomar sua fraqueza como uma concessão e cometer um erro fatal.
Quando entraram no salão, um garoto se levantou de seu lugar no chão em frente à lareira, seus soldadinhos — o único brinquedinho que lhe era permitido —espalhando-se da formação quando se levantou.
Ele ficou parado encarando, os olhos castanhos arregalados sem pestanejar, densas franjas e quase desprovido de qualquer inocência que uma vez possa ter possuído.
— Bem? — Gregor exigiu.
O menino engoliu visivelmente, sua garganta inchou quando o fez.
— Olá, pai. Bem-vindo. Sua noite foi boa?
— Assim é melhor. E sim, na verdade minha noite foi muito agradável. Tire sua bunda do meu escritório e vá buscar minhas chaves. Você não pode ver que trouxe um prisioneiro que precisa ser trancado?
— Sim, senhor!
O menino girou sobre os calcanhares e correu para fora da sala o mais rápido que conseguiu se mover. Gregor riu baixinho, cuidando para não deixar Matthias ouvir. Melhor manter a criança com medo dele. Ele obedeceria muito mais fácil dessa maneira.
— Você tem um filho? — a voz de Derrick era um sussurro, e ainda alta o suficiente para transmitir o horror que sentiu claramente com a noção.
— Obviamente. — Gregor puxou a corda e atravessou a grande sala em frente a um corredor para uma porta do porão.
— Mas... onde está a mãe dele?
— Morta. Para mim. Para o resto do mundo também, se ela ousar chegar perto de Matthias novamente. — Então sorriu lentamente, concentrando-se novamente na tarefa à mão. — Mas isso não é da sua conta, é? Sua atenção deve ser apenas decidir quanta tortura pretende sofrer antes de me dizer o que preciso saber.
— Eu não sei nada que possa ajudá-lo.
— Mmm, mas você sabe. Sabe como se comunicar com esta Crisa. Você sabe como usá-la para manter o controle sobre Reaper. Sabe como trazê-la para dentro, imagino. Quero saber tudo isso. E quero saber mais. Quero saber como conseguiu. Será que ela trabalha para você?
— Ela ainda não sabe quem sou. Ela é inocente, Gregor.
— Realmente não me importo. — Desceram um lance de escadas para o que fora um laboratório no porão. Grande parte do equipamento ainda estava no lugar. Escalas, queimadores, garrafas e frascos, microscópios e outros aparatos que Gregor não podia identificar. Abriu uma porta para fora em um dos lados do laboratório. A sala uma vez pode ter sido um escritório. Uma mesa envelhecida estava ao longo de uma parede e armários vazios alinhados da outra. Havia uma cadeira, seu estofado de couro dividido em vários pontos. Fora isso, o lugar estava vazio. Mas a sala não tinha janelas e sua porta tinha uma boa tranca. Era o lugar perfeito para guardar um cativo.
Gregor empurrou o prisioneiro para a cadeira, em seguida começou a vasculhar nos bolsos do homem, rasgando suas roupas no processo. Eventualmente localizou um conjunto de chaves, e sorrindo as guardou no bolso.
Os olhos de Dwyer se arregalaram.
— Não há nada em minha casa que você possa usar!
— Não? Bem, tendo a discordar, pelo que observei tão recentemente através de suas janelas. Mas vou julgar por mim mesmo depois de passar pelo lugar. Diga-me, está esperando sua esposa em casa em breve?
— E-eu não... estamos divorciados.
— Conveniente. — Ele sorriu lentamente, então incapaz de se conter, deu uma risadinha no fundo de seu peito.
— O que... o que há de tão engraçado?
Gregor encontrou os olhos do homem frustrados e cheios de medo.
— Só estava pensando quantas pessoas matariam para estar na minha posição. Meu ex-empregador se tornou meu cativo. E posso fazer o que quiser com ele.
— A CIA foi boa para você, Gregor. Nós nunca te demos nenhum motivo para...
— A CIA me usou. Assim como você usou Reaper. Ele ficou contente de escapar e seguir em frente. Mas sou mais inteligente do que ele é, Derrick. Estou virando a mesa. Vou usá-lo agora para obter exatamente o que quero. E vou apreciar o processo.
— Você é um filho da puta.
— Sim, eu sei. Infelizmente nós perdemos muito tempo para me permitir ir visitar sua casa esta noite. Amanhã irei o mais cedo que puder. Vou mandar um dos drones jogar um pouco de comida e água para você durante o dia. Quero você vivo e chutando para isso, afinal.
Ele virou-se e caminhou até a porta.
— Vejo você esta noite, Derrick. Não posso dizer o quanto estou ansioso por isso.
Então entrou no corredor, fechou e trancou a porta, deixando o homem com seus pensamentos, o que faria, Gregor estimou, pelo menos metade do trabalho pra ele.
A caravana de veículos chegou na mansão de Topaz que parecia um lar na Ilha Esmeralda, Carolina do Norte, na calada da noite, esperando que fosse, Reaper especulou, para o melhor. Não quando muitos turistas davam uma olhada em “Shirley”, a brilhante e personalizada van conversível amarela que Roxy insistia que era quase humana. Poderia chamar muita atenção desnecessária.
A casa de Topaz assentava-se em uma elevação perto da ponta da longa e estreita ilha, cercada por arbustos e árvores de aparência miserável. Da estrada principal, ninguém nem podia ver os três metros que beiravam o lugar dentro do limite da flora.
O veículo carregado com seu pequeno desfile vampiresco era o Carrera de Jack, elegante e preto e de aparência perigosa, mas não muito fora do lugar. Topaz andava com Jack, naturalmente. Os dois raramente pareciam estar mais do que um pé separados nos dias de hoje. Jack costumava ser um cara durão, como ela, Briar pensava. Agora estava sendo suave. Apaixonado. Apaixonado por um conto de fadas, isto estava mais parecido, em sua considerável opinião.
Roxy dirigia o furgão amarelo-canário que conseguiu controlar, apesar de seu volume. Ilyana sentava-se no lado do passageiro, Reaper e Briar no conjunto de assentos do meio. No banco traseiro, Mirabella estava ao lado de Crisa, e ela estava massageando suavemente o pescoço da vampira infantil pelos últimos quilômetros. Fechando o grupo estavam Seth e Vixen no Mustang Shelby que Seth tinha liberado de seu antigo proprietário. Ele insistiu que teria sido presumivelmente destruído no incêndio que consumiu a casa da celebridade, e de qualquer forma estava coberto pelo seguro. Embora Briar duvidasse que qualquer quantia em dinheiro pudesse compensar um clássico como esse.
Seth tinha potencial, ela pensou. Ou pelo menos força de caráter. E isto valia muito.
Quando os portões foram abertos para admiti-los e o furgão ultrapassou, Mirabella prendeu a respiração.
— É aqui que minha filha vive?
— Sim. — disse Roxy do assento do motorista. — Ela aproveitou muito bem aquele dinheiro que você deixou, não foi?
— Ela usou extremamente bem. — disse Mirabella. — Isso é impressionante.
— É. — Reaper disse franzindo a testa para Briar, provavelmente devido ao sorriso de desgosto em seu rosto. Não pensava muito nos ricos e famosos. Ela cresceu dura, sem-teto, nas ruas. Provavelmente tinham muitos como ela que poderiam pensar bem daqueles que pareciam ter tudo, especialmente aqueles que nunca tiveram que trabalhar para isto.
Ainda assim, ela estava ciente de que Topaz tinha sofrido por sua riqueza. Não tanto quanto Briar tinha sofrido por falta dela, no entanto.
Quando pararam perto das portas e os portões fecharam lentamente atrás deles, Briar murmurou:
— Por que diabos uma pessoa precisa de tudo isso? Onde ela conseguiu ter tanto?
Crisa saltou.
— Eu acho isto bonito.
— Sim, é bonito, tudo bem. Muito extravagante ridículo.
— Oh, não acho. — Roxy disse. — Você realmente não pode julgar uma pessoa pelo que elas têm. Não mais do que pode julgar alguém por não ter nada. É o que eles são o que conta, não acha?
— Não estava julgando. Não me importo o suficiente para julgar ninguém. Apenas acho que é estúpido uma pessoa ocupar tanto espaço, isso é tudo.
Roxy desligou o motor, abriu a porta e saiu. Então estendeu as torções de suas costas e ombros, enquanto os outros desembarcavam e se dirigiam para a porta da frente.
Topaz hesitou perto da porta da frente, seu chaveiro na mão.
— O que há de errado? — Jack perguntou procurando seu rosto, a preocupação nublando o seu.
Briar revirou os olhos. Aqui vamos nós de novo com a melosa besteira emocional.
Topaz abaixou o olhar.
— E-eu não fui feliz neste lugar. Não por um longo tempo. Andando por aqui... parece como caminhar de volta para dores e lágrimas e...
Jack puxou-a gentilmente em seus braços.
— Não há mais daquilo para você, princesa. Não se eu tiver algo a dizer sobre isso. E acho que meio que posso dizer.
Quando a soltou e ela levantou a cabeça de novo, havia lágrimas em seu rosto, mas estava sorrindo através delas.
— Estou sendo tola. Tenho tudo que sempre quis agora. Aqui me segurando.
Ele sorriu para ela, mas não havia arrependimento em seus olhos. Jack foi um canalha com ela no passado, e Briar sabia que agora desejava que pudesse desfazer a dor que causou a mulher que — enganou —amou. Ele não deveria. Foi honesto. Ele era quem era. Pelo menos, costumava ser. Briar não tinha mais porra de certeza do que ele era mais.
— Tudo acontece por uma razão. — disse Roxy. — Vocês dois não seriam tão bom juntos agora se não tivessem passado pelo que passaram.
— Talvez não. — Topaz sussurrou.
— Sempre a filósofa, não é, Roxy? — Seth perguntou.
Roxy enviou-lhe uma piscadela e todo mundo sorriu de maneira doentiamente lunática, o que fez Briar pensar que vomitar seria adequado.
— Vamos para dentro ou o que? O castelo Beijinho no Rosto parece estar vazio por muito tempo, e estou desejando um tempo comigo mesma. — Ela lançou um olhar a Topaz. — Supondo que eu tenha meu próprio quarto.
— Uma suíte completa, se você quiser. — disse Topaz. — Quanto mais espaço colocarmos entre você e o resto de nós, melhor. — Ela encarou Briar enquanto disse isto e havia um toque de humor em seus olhos. — Puta mal humorada. — acrescentou.
Antes que pudesse se deter, um pequeno sorriso se espalhou no rosto de Briar, e queria que ninguém o tirasse com um tapa. Ela o mordeu de volta com resignação, mas era tarde demais. Todos eles viram. Droga.
— Eu não quero que você fique sozinha, Briar. — Crisa disse. — Quero ficar com você.
Briar fechou os olhos e pensou: Nossa, Topaz, preciso de uma pausa dela.
Eu ouvi você, Topaz respondeu, falando mentalmente com ela a sós. Há uma suíte de dois quartos na ala oeste. Será que está bom pra você, o que acha?
Não acho que possa alavancá-la mais longe de mim do que com um pé de cabra. O que acha?
Duvidoso. No entanto, não consigo descobrir o que diabos ela vê em você.
Foda-se, Topaz.
Sempre às ordens.
Ela quase sorriu de novo, mas desviou o rosto desta vez, apenas no caso disto aparecer em seus olhos.
Topaz inseriu a chave e abriu as imensas eornamentadas portas caras. Um foyer abobadado espalhava-se diante deles como algo saído de um conto de fadas, e todos eles marcharam para dentro.
— Vocês todos querem a excursão agora ou mais tarde? — Topaz perguntou.
— Quero meu quarto e uma caneca de sangue quente. — disse Briar.
— Tudo bem, vamos fazer isso. O resto de vocês, sintam-se livres para passear. Escolham um quarto, se quiser. Eles são todos vampiro-amigáveis.
— Como, com todas essas janelas? — Vixen perguntou. Ela estava com um olhar animado, enquanto seu olhar passava de uma coisa pra outra. A mobília, o lustre, a lareira, as pinturas, as esculturas, o chão de mármore.
— Elas escurecem automaticamente quando o sol nasce. — Topaz explicou. —O tom é tão escuro que fica opaco. Perfeito para a nossa espécie.
— Todas as janelas do lugar? — Vixen perguntou.
Topaz assentiu e Briar disse:
— Deve ter custado uma fortuna. — Em seguida mandou a Topaz uma olhada. — Meu quarto?
— Por aqui. Vamos Crisa, você pode vir também.
Crisa olhou para Briar como se pedindo permissão. Briar acenou para ela.
— Sim, vamos. Tanto faz.
O sorriso da garota era brilhante, e três deles se moveram através do foyer e começaram a subir as escadas.
Mas no terceiro degrau Crisa gritou. Isto assustou tanto Briar que ela quase saiu de sua pele, mas então quando se virou para a maluquinha, sentiu: uma dilacerante dor rasgando profundamente dentro de sua cabeça. Fez uma careta contra isto. Crisa pressionou suas mãos na cabeça, soluçando suavemente enquanto caía de joelhos.
Então Reaper estava lá ao lado delas, seguido imediatamente por Roxy.
— Crisa? Crisa, o que há de errado? — Reaper exigiu.
Briar subiu no degrau logo acima deles.
— É a dor de cabeça de novo. — ela disse e esperava que sua voz não parecesse tensa. — Esta atingiu mais forte desta vez.
— Melhor nós a levarmos para a cama Reaper. — Roxy disse.
Reaper dobrou-se e pegou a trêmula e soluçante garota.
— Por aqui. — Topaz chamou, trotando pelas escadas mais rapidamente agora. Reaper a pegou, enquanto Briar e Roxy seguiam logo atrás.
Roxy colocou a mão no braço de Briar.
— Você também, não é?
— Estou bem.
— O inferno que você está. Você está segurando a mandíbula tão apertada que estou surpresa que não tenha quebrado um dente.
— Se quebrasse voltaria a crescer enquanto dormisse durante o dia.
— Você está com dor, Briar. — Roxy franziu a testa enquanto caminhavam até as escadas, mais lentamente do que o trio à frente delas. — Não faz parte da... condição dela, não é?
— O que você quer dizer? — Briar perguntou.
— O que está acontecendo com Crisa... está acontecendo com você também.
Briar desviou os olhos.
— Talvez. Não sei.
— Eu acho que está. E acho que esse vínculo entre vocês duas é mais poderoso do que apenas o que viria da partilha de sangue. Acho que é... mais profundo.
— Oh inferno, o que nós somos, irmãs separadas no nascimento então?
— Você sabe o que estou dizendo, Briar. Para cada vampiro há um escolhido com quem o vínculo natural é ainda mais potente. Acho que Crisa é este para você, mesmo que ela já seja um de nós. Acho que ela é a sua... escolhida. Escolhida.
Briar fez uma careta.
— Esclarecedor pra caralho, Roxy, mas por outro lado, um pedaço inútil de especulação.
— Talvez isto seja útil mais tarde. No momento vou fazer alguns Reiki em você, ver se consigo trazer algum relaxamento.
Briar balançou a cabeça.
— Trabalhe nela primeiro.
Elas chegaram ao topo da escada interminável e estavam indo por um corredor forrado de portas agora, mas Roxy parou e olhou para Briar.
— O que? — Briar estalou.
— Você se importa com ela. Você faz. Você se preocupa com ela!
— Oh nossa, não vão irromper violinos aqui, Pollyanna. Se estou sentindo sua dor, então a melhor maneira de acabar com isso para mim é acabar com isso para ela. Estou pensando em mim. Em primeiro lugar. Sempre.
— Oh. — disse Roxy suavemente. Ela começou a andar de novo, mas desta vez o fez com uma mão tocando Briar no braço. Não segurando, apenas tocando. —Obrigado por esclarecer isso. Odeio pensar que você tenha um coração.
— Deus me livre. — Briar disse, e desviou o suficiente para quebrar o contato físico com a mulher. Então se apressou o resto do caminho ao longo do corredor, ignorando sua própria dor e ignorando também o brilho lustroso da rica madeira no chão, que combinava com as escadas e o corrimão curvo. Ignorou a arte nas paredes, provavelmente original em estilo Renascentista que ela mesma poderia ter escolhido. Ignorou as estantes elaboradas e os vasos e esculturas que levavam, cada uma ecoando alguma imagem na próxima pintura, como o corvo esculpido em um suporte em frente ao O Círculo Mágico, de Waterhouse.
Ela reconheceu relutantemente que aprovava o gosto da princesa, então varreu por uma porta aberta e para dentro do colo do luxo. Não que o resto da casa fosse nada menos que luxuoso, mas a ideia de que ficaria aqui, meio que abalou Briar.
Um carpete fofo revestia o lugar, que era da cor do creme Francês, assim com as cortinas que pendiam na frente das janelas altas e estreitas. O quarto tinha uma namoradeira elegante, uma cadeira estofada combinando, pufe e uma cadeira de balanço de carvalho. Cada peça tinha assentos verde-floresta: as almofadas jogadas, as almofadas que revestiam a cadeira de balanço, as braçadeiras sobre as cortinas, as passadeiras no carpete. Havia uma lareira a gás, a cornija de madeira ostentando duas lâmpadas a óleo que pareciam antiguidades, e um retrato pendurado na parede.
Era da mãe de Topaz, a atriz Mirabella Du-Frane. Embora para ela o sobrenome não teria sido necessário. Ela foi uma lenda antes que desaparecesse, deixando o mundo e sua filha acreditando que foi assassinada. Mas tornou-se apenas morta-viva.
Um suave gemido cheio de dor chamou a atenção de Briar para a esquerda, onde outra porta aberta mostrava um quarto. Seu corpo estremeceu em um movimento reflexivo sem aviso quando viu Crisa na cama, com as mãos pressionando ambos os lados de sua cabeça com lágrimas escorrendo por seu rosto. Briar estava se pendurando na cabeceira da cama antes que pudesse se deter, ombro a ombro com Reaper, que estava inclinado sobre a menina.
— Gostaria de saber o que diabos fazer por ela. — ele disse e parecia arrependido. — Não é como se nós pudéssemos levá-la a um médico.
— É claro que podemos.
Reaper franziu a testa, e do outro lado da cama Topaz fez o mesmo. Roxy não prestou atenção. Ela estava apertada entre Topaz e a cabeceira da cama, curvada ao lado e colocando as mãos suavemente sobre Crisa, sobre suas têmporas.
— Bem, vamos lá. — disse Briar. — Não me diga que de todos os vampiros no mundo não há um que fosse médico em vida.
Reaper sustentou seu olhar e sentiu que ele odiava pra caramba desapontá-la.
— Não que eu tenha ouvido falar. O mais próximo que temos é o cientista Eric Marquand.
— Então traga-o aqui. — ela retrucou.
Os olhos de Reaper estavam sondando-a, e percebeu que estava agindo de uma maneira emocionalmente fora de si.
— Você está sofrendo também, não é? — Reaper perguntou.
Ela abaixou a cabeça rapidamente, escondendo os olhos e tudo o que pudesse revelar do seu olhar de sondagem.
— Se eu não estivesse, acha que estaria exigindo que trouxesse um vampiro Einstein para mim?
Ele não respondeu, então ela olhou para cima para ver que ele estava esperando para encontrar seus olhos. Quando ela finalmente o fez, ele disse:
— Sim, Briar. Estou começando a pensar que talvez você estaria.
— Então você está se iludindo, Reaper.
— Estou?
Crisa movimentou-se — e a dor latejante da própria Briar — parou de uma só vez, e o gemido dela parou também. Briar voltou sua atenção para a garota, temendo por um instante, que ela tivesse morrido. Mas não tinha. Estava deitada com os olhos bem abertos olhando fixamente para algum ponto invisível a meio caminho entre ela e o teto.
Não dando a mínima para o tipo de motivos nobres que seus colegas de coração mole atribuíssem ao ato, Briar se aproximou, mas não tocou.
— Está melhor agora, não é?
— Eu o senti. Ele está chamando por mim agora. — disse Crisa.
Briar franziu a testa e os olhos de Crisa de repente travaram nos dela. Subitamente sua mãozinha fechou em torno do pulso de Briar e a puxou para baixo até que estivesse sentada na beira da cama.
— Ele precisa de mim.
— Quem precisa?
— O menino. O menino. — Ela franziu a testa para Briar. — Você não o vê?
— Não...
E então parou, porque ela podia vê-lo. Apenas ligeiramente, e talvez fosse sua imaginação ou talvez fosse outra coisa. Franzindo a testa tentou afinar seus sentidos com Crisa, e deslocou-se até sua mão encontrar a da menina e apertou, entrelaçamento os dedos para ajudá-la a solidificar o vínculo mental.
A visão não solidificou, no entanto. Ficou apenas uma forma nebulosa. Poderia ser de um menino. Poderia ser um bulldog. Ela estava fodida se soubesse.
Crisa sentou-se.
— Eu tenho que ir até ele.
— Você não está em condições de ir a qualquer lugar agora. — Reaper disse.
Ela lançou a ele um olhar desafiador, então transformou-o em uma súplica e apontou para Briar.
— Eu tenho que ir.
— Porém não sozinha, certo? — Briar disse. — Você vai querer que a gente vá também. Se esse seu garoto precisa de você tanto assim, deve estar em algum tipo de problema, certo?
— Eu não sei.
Topaz afagou o ombro da garota.
— Acho que ela está certa, Crisa. Se esse menino está com problemas, então temos de ajudá-lo. Mas precisamos ter certeza de que esteja bem primeiro. Você não será capaz de ajudá-lo se estiver com dor debilitante.
— Dói. — ela sussurrou. — Mas tenho que ir. — Ela empurrou as mãos de Roxy longe de sua cabeça como se fossem pedaços de teia de aranha presa em seu cabelo e balançou as pernas para o lado.
— Crisa, você não vai a lugar algum. — Briar disse e parecia impaciente, pensou, melhor ainda. Talvez o pelotão estranho pararia de pensar que ficou mole. —Minta, porra. Agora.
Crisa nem sequer olhou para ela, o que chocou Briar pra caralho. Em vez disso, a fábrica de biscoitos abaixou os pés para o chão, deslizando seu traseiro para a beira do colchão, então apoiando as mãos em cada lado dela começou a se levantar, contornando entre Reaper e Briar.
Briar virou-se para encará-la, bateu as mãos nos ombros de Crisa e empurrou até a bunda da garota bater no colchão de novo.
— Eu disse deite-se. — Briar repetiu. — Você não está bem.
— A dor de cabeça se foi.
Então,o que era o olhar vago, sem foco em seus olhos? Briar se perguntou. E por que não sentiu a vontade de Crisa de correr para o borrão imaginário em sua cabeça, quando sentia tudo o que a menina sentia?
— A dor de cabeça vai voltar, e quando ela te atingir, vai me atingir também. Eu gostaria de consertar isto, se você não se importa, antes de você ir decolando, ok?
— Você não pode me dizer o que fazer! — Crisa gritou, cerrando os punhos e agitando-os em frustração enquanto o fazia.
Isto atordoou tanto Briar que ela deu um passo atrás em reação e apenas encarou-a boquiaberta, estupefata.
Reaper pressionou a mão em suas costas como se estivesse demonstrando apoio, bem entre suas omoplatas. E ela se ressentiu disso.
— Crisa. — Roxy interrompeu, provavelmente em um esforço para acalmar a situação. — Você teve essas dores de cabeça antes?
— Antes quando?
— Antes de vir até nós. Antes de Reynold morrer.
Crisa abaixou a cabeça e fechou os olhos, mas não antes que se enchessem de lágrimas brilhantes.
— Não. Nunca. Rey-Rey saberia o que fazer. Ele teria feito isto melhorar.
— Alguma vez ele fez alguma coisa melhorar para você, Crisa? — Roxy pressionou. — Você já esteve doente ou com dor ou...
— Rey-Rey diz que vampiros não ficam doentes.
— Entendo.
— Eu me cortei uma vez. Tinha um vidro e estava correndo. Caí e isto cortou minha mão e sangrou muito. Mas Rey-Rey consertou isto.
— Sim. Mas sem dores de cabeça?
Crisa balançou a cabeça.
— Não.
— É tarde demais para ir a qualquer lugar esta noite. — Topaz fundamentou. —Você sabe que não pode ficar fora durante o dia.
— Eu sei.
— Então deve descansar até o amanhecer, e depois o sono do dia vai te restaurar e podemos falar mais sobre este menino no pôr do sol.
Crisa ergueu os olhos rapidamente.
— Sem conversa. — Então virou a cabeça para o outro lado, olhando fixamente para Briar. — Vou com ele. Tenho que ir.
— Você não sabe onde ele está. — disse Briar. — Diabos, você nem sabe quem ele é.
— Eu vou até ele. Tenho que ir. — Crisa repetiu.
A mão de Reaper deslizou das costas de Briar para seu ombro e apertou. Tente não agitá-la.
Agitá-la? Inferno, estou me preparando para bater nela.
— Você não pode me deter, Briar. — Crisa insistiu.
— Por que diabos iria querer? — Briar perguntou. — Olha, faça o que diabos você quiser, ok? Só não se meta em problemas no meio do nada e espere que eu vá correndo resgatá-la, Crisa. Não sou herói de ninguém.
Crisa virou o rosto no travesseiro e enterrou-o ali, enquanto Briar balançava a cabeça em frustração e pisava fora do quarto.
Topaz e Reaper a seguiram. Roxy permaneceu, suas mãos se movendo suavemente em Crisa novamente, uma em cima do ombro, a outra colocada em sua nuca.
Topaz puxou a porta do quarto, fechando suavemente.
— Seu quarto é o da direita. Não acho que ela deve ter um com varanda. Cada um tem seu próprio banheiro. Há um frigobar lá. — Ela apontou para o que parecia ser um suporte de madeira. É claro que era uma geladeira disfarçada para combinar com o resto da decoração. — Você pode se virar sozinha com sua alimentação.
— Tudo bem.
— Briar, ela está doente. Algo está errado. Ela não está se transformando em você, não realmente.
— Como se eu desse a mínima.
— Bem, só para constar. — Topaz suspirou. — Boa noite.
— Tanto faz.
Topaz os deixou. Mas Reaper permaneceu.
Ele não foi tão torturado quanto Gregor esperava. As agressões não deram resultado, mas assim que começou a esfolar Derrick Dwyer vivo, ele falou bastante. Na verdade, levou apenas uma pequena faixa de seu antebraço para fazê-lo ir.
Vergonhoso, isso.
De acordo com Dwyer, a garota Crisa era uma vampira mentalmente ajustada com um chip em seu cérebro. Alguma coisa experimental que deixava Dwyer ver através de seus olhos, ouvir com seus ouvidos, e até certo ponto controlá-la para falar com ela dentro de sua cabeça. Essa parte não foi completamente testada.
Havia mais. Nada disso importava, no entanto. Algo sobre isso apenas ser funcional por um curto período. Algo sobre isto ir se deteriorando até matar a garota, a não ser que fosse removido a tempo. Como se ele desse a mínima.
Tudo que Gregor sabia era que tinha uma maneira de rastrear Reaper, uma maneira de vê-lo para obter uma vantagem sobre ele. Queria aquele filho da puta. Queria seu poder, e queria vingança.
E quanto a Briar, oh ele iria desfrutar em machucá-la. Ela o traiu.
Ela morreria lentamente.
Mas, no momento Gregor tinha que se concentrar sobre o assunto em questão. Ele tinha deixado o agente pendurado — literalmente, pensou com um sorriso e disse a seu filho para cuidar de descê-lo e colocá-lo na cama. Ele teve que se apressar para chegar aqui, na casa de Dwyer e em seu computador, enquanto o suficiente da noite ainda permanecia.
E agora, mesmo com o amanhecer se aproximando, Gregor permanecia cravado na tela, observando e vendo tudo como Dwyer tinha descrito. Ele viu Reaper, seu rosto acima da garota quando ele aparentemente a carregou através de uma casa. Viu a casa muito bem através dos olhos da garota, apesar de sua visão parecer borrada. Viu a garota sendo colocada em uma cama e Reaper inclinado sobre ela. E Briar estava ao lado dele, maldita.
Ver os cabelos e os olhos escuros e selvagens de Briar novamente foi como sentir o toque da lâmina em seu peito. Ele não gostava desse sentimento.
Havia outros lá também, e enquanto assistia e ouvia, aprendeu seus nomes. Roxy, uma sexy ruiva mortal, e Topaz uma bela morena de classe. Ele pensou que a ruiva poderia ser uma das escolhidas, mas não tinha certeza.
E então, enquanto observava, a garota começou a discursar sobre a necessidade de ir, a necessidade de ir até ele, para o menino. O menino. E então a estática encheu a tela e uma forma tomou seu lugar, lentamente tomando forma no meio da neve.
Ele franziu o cenho e estreitou os olhos, inclinando-se mais perto da tela. Este era... era Matthias.
Droga! Como isso era possível?
É evidente que ele tinha mais perguntas a fazer para Derrick Dwyer. Mas elas teriam que esperar até o anoitecer. O sol estava puxando seus sentidos, entorpecendo-os. Teria que se refugiar na casa de Dwyer durante o dia. Mas tinha mais uma tarefa a cumprir antes que se rendesse ao poder do sono diurno.
Ele tinha drones em vigor em vários locais em todo o país prontos a obedecer aos seus comandos, alguns deles a oeste, onde ainda havia algumas horas de escuridão restando. Ele os telefonou agora, para pôr seu plano em movimento.
Briar ignorou a presença de Reaper e foi até a geladeira, abriu e tirou um saco plástico com o logotipo da Cruz Vermelha na frente. A geladeira tinha duas portas, uma baixa que era maior e uma superior que era menor. Ela parecia um modelo em tamanho real com o congelador na parte superior, apenas cerca de um quarto do tamanho. Mas quando abriu a porta de cima, surpreendeu-se ao encontrar um microondas em vez de um freezer.
— Droga, onde as pessoas acham merda como estas? — Ela jogou o saco e apertou o botão de 30 segundos. Então olhou ao redor por copos.
Reaper aproximou-se do outro lado da sala, uma taça de vinho em cada mão.
— Elas estavam naquele armário ali. — ele disse. — Aqui.
— Duas? Não me lembro de convidá-lo a se juntar a mim.
— Não me lembro de me oferecer para sair.
Ela apertou os lábios, mas abriu o microondas quando ele apitou e retirou o saco. Então encheu as duas taças. Havia um pouco de sangue no fundo do saco, de modo que o bebeu rapidamente, em seguida encheu o copo que colocou em uma mesa perto da porta do quarto, antes de bater suavemente.
— Há uma bebida para ela aqui fora, Roxy, quando você estiver pronta.
— Obrigado, Briar. — Roxy gritou.
Balançando a cabeça Briar virou-se, atravessou a sala e entrou no quarto que chamaria de seu enquanto estivesse aqui. Quando o fez, passou por sua mente que talvez não fosse seu por muito tempo. Poderia ser melhor para todos se apenas partisse.
Ela permaneceu apenas na soleira examinando o quarto. O mesmo esquema de cores que o quarto do meio: creme e pinho. Portas francesas, cortinas, além de uma varanda com móveis de ferro forjado, todas com arabescos de videiras e folhas. A cama era de aparência enorme e macia. Duas portas colocadas lado a lado deveriam conduzir a um closet e um banheiro.
O local era incrível.
Pena que não pudesse ficar muito tempo.
— Você vai ficar bem? — Reaper perguntou.
—S im. Sempre fico. — Ela esperou que ele dissesse boa noite e desse o fora. Ele não o fez, no entanto.
Finalmente ela se virou e olhou para ele.
— Você ainda está aí por alguma razão?
—Sim.
Ele encarou seus olhos. E não tinha necessidade de elaborar daí em diante, porque sentiu. Uma lenta chama de desejo se erguendo, piscando dentro dele. Ele a estava mantendo depositada desde a primeira e única vez que tiveram um alucinante sexo em um carro, em uma rua da cidade. Fez isso para distraí-lo e atrasá-lo, sob as ordens de Gregor.
Mas isso não significava que não houvesse gostado. E isto a tinha chocado. Nunca teve um orgasmo com um homem antes daquela noite.
— Eu poderia ficar. — ele disse. — Se você me quisesse.
Reaper observava as reações cruzarem o rosto dela, uma por uma. Não foi surpresa, uma ligeira elevação de suas exuberantes sobrancelhas escuras e um alargamento dos seus profundos olhos castanhos. Essa reação foi breve, pouco mais do que um flash. Isto foi seguido rapidamente por aqueles mesmo olhos estreitando-se, as sobrancelhas se juntando, um olhar de desconfiança e talvez até de aversão.
— Nós não vamos começar a ter relações sexuais regularmente, Reaper.
Ele deu de ombros.
— Eu não disse nada sobre regularmente.
— A próxima coisa que você sabe, é que estará com aquele olhar de peixe morto e piegas — como Jack está sobre a princesa. Isto me faria vomitar.
— Estava oferecendo sexo, Briar, nada mais. Se não estiver interessada, é tudo a mesma coisa para mim. Só não vá dormir com a ideia de que vou... como você chamou? Olhos de peixe morto ou piegas pra cima de você. Você não é o tipo de inspirar esse tipo de reação em um homem.
Ela virou-se enquanto a olhava, e ele se perguntou se sua farpa a picou apenas um pouco. Mas isso implicaria que tivesse sentimentos, e ela se esforçou bastante para garantir que todos soubessem que não tinha nenhum.
— Então você é igual a qualquer outro homem que já conheci. Você só quer transar.
— Se só quero transar, sou um canalha. Se sinto alguma coisa por você, sou piegas. Não posso ganhar com você, posso, Briar?
— Não. Você não pode. Porque não deixa por isso mesmo e encerramos na boa?
— Tudo bem. — Ele se virou e voltou para a sala de estar comum da suíte, e então parou. — A verdade é que pensei que você poderia se aliviar um pouco. Apesar de suas negativas, posso ver que está preocupada com Crisa, frustrada por sua repentina rebelião contra você, drenada por compartilhar sua dor. Uma pequena distração de tudo isso, soltar-se, faria um bem enorme.
— Parece extremamente sentimental para mim. Como se desse à mínima.
Ele virou-se para vê-la de pé na porta do quarto.
— Nem um pouco. Sou apenas um bastardo que quer transar.
Ela sorriu levemente.
— Assim é melhor. Vá encontrar uma vítima bonita, Reaper. Leve-a a força ou faça-a se submeter controlando sua mente, beba, transe com ela e aproveite. — Em seguida, jogou a cabeça para um lado. — Sem dúvida, você vai ficar por cima, fazendo-a esquecer que isso aconteceu ou dizendo para lembrar disso como um sonho agradável, erótico.
— É isso o que você pretende fazer com o que sobrou da escuridão? — ele perguntou.
Ela encontrou seus olhos, e uma faísca de desejo inconfundível brilhou no dela.
— Ciúmes?
— Nem um pouco.
— Então seguirá meu conselho?
— Não.
— Então, não é só sexo que você quer. Sou eu. — Ela estreitou seus olhos nele, curiosa agora, mais do que suspeita. — Por quê?
Levantando o olhar, Reaper encontrou seus olhos.
— Não por causa de algo sentimental ou emocional, não se preocupe quanto a isso. Boa noite, Briar.
Ele virou-se e caminhou até a porta.
— Por que, então? — ela gritou atrás dele.
Ele não respondeu, apenas abriu a porta e saiu do quarto.
Por quê? A questão o atormentou a noite toda. Por que ele a queria? O contato físico com os outros tendia a torná-lo extremamente desconfortável. Já tinha um longo tempo. Desde Rebecca...
Não, ele não pensaria sobre isso, sobre ela, ela estava fora dos limites. E ainda assim, desde que conheceu Briar, Rebecca esteve em sua mente em uma base regular. Mais e mais frequentemente, com insistência cada vez maior. E foi ficando mais difícil, noite após noite, manter as memórias guardadas.
Tinha uma hora para passar antes do sono do dia levá-lo. Quando retirou-se para o quarto que Topaz tinha separado para ele, observou a televisão de tela grande e o sistema de som, e sabia que ambos eram má ideia. Qualquer programa, qualquer música, poderia conter uma única palavra que o enviaria em uma fúria assassina, graças às técnicas de lavagem cerebral de seus velhos amigos da CIA.
Todos os seus desajustados sabiam qual era a palavra gatilho. Briar sabia. Eles não a pronunciavam em sua presença. Mas a televisão ou o rádio poderia.
Gregor conhecia a palavra gatilho também. A diferença era que Gregor também conhecia a palavra que o traria de volta. Essa era a informação pelo qual poderia facilmente matar.
Despiu-se e afundou na cama, confiando no escurecimento automático das janelas para mantê-lo seguro. Topaz não mentiria para ele sobre algo assim. Arrancou o celular do bolso da calça, antes de jogá-la de volta no chão ao lado da cama, decidindo matar o tempo restante tentando mandar uma mensagem para Eric Marquand.
Rhiannon respondeu ao primeiro toque.
— Olá, querido. — ela ronronou. — Eu me perguntava quando voltaria para me agradecer por minha ajuda naquela pequena aventura mexicana.
Reaper sorriu lentamente. Rhiannon não teria necessidade de ID para saber quem estava ligando. Ela era sua criadora. Eles compartilhavam um vínculo psíquico que não poderia ser mais forte.
— Olá, Rhiannon. Obrigada pela sua ajuda naquela pequena aventura mexicana.
— Certo. Porém não é por isso que está chamando, não é?
— Não.
— O que você precisa, Reaper? Aquela vampira cadela tem mordido muito duro?
— Se você está se referindo a Briar, não. Ela não me mordeu de modo algum.
— Você é um mentiroso. Está condenado, você sabe. Não tem nenhuma chance contra ela.
— Não estou contra ela.
— Mas quer estar. — Ela riu suavemente, apreciando atormentá-lo. — Eu gosto dela. — disse quando seu riso morreu.
— Você é a única então. — ele disse.
— Ah, acho que não. Você gosta dela também.
— Eu quero gostar dela. — admitiu. — Ela não está tornando isto fácil.
— Ela não faria. Mas há Crisa. Essa parece adorá-la.
— Não mais.
Rhiannon ficou em silêncio.
— O que aconteceu?
— Crisa está tendo dores de cabeça debilitantes, ouvindo vozes, vendo coisas. Briar recebe as dores de cabeça quando Crisa as tem. Nós não sabemos o que as está causando.
— É parte da condição da garota...?
— Acho que não. Ela diz que não. E está insistindo que há um menino em algum lugar que precisa dela, que continua chamando-a, e tem que ir até ele. Briar proibiu-a e Crisa a desafiou.
— Sério? Isso deve ter sido um choque para Briar.
— Foi um choque para todos nós.
— Bem, isto seria, não é? É o primeiro sinal de força de caráter que a menina mostrou.
Ele balançou a cabeça e suspirou.
— Você acha que Eric Marquand pode ser capaz de nos ajudar a descobrir o que está acontecendo com Crisa?
Rhiannon ficou em silêncio por um momento. Reaper podia ouvir as unhas longas tamborilando em ritmo constante em alguma superfície. Finalmente ela disse:
— Não sei ao certo, é claro. Mas não posso pensar em ninguém que provavelmente fosse mais capaz de ajudar. Onde você está?
— Na casa de Topaz, Ilha Esmeralda, Carolina do Norte.
— Vou passar seu pedido. — ela disse. — Vou ligar pra você quando obtiver a resposta. Enquanto isso... Tenho outra resposta para você.
Reaper franziu a testa.
— Uma resposta para o que? Não fiz uma pergunta.
— Bem, deve ter feito ou eu não teria uma resposta gritando em minha mente agora, iria? Não sei qual é a pergunta que o vem atormentando, querido, mas sei as palavras que precisa ouvir agora.
Fechando os olhos, Reaper abaixou a cabeça. Sabia muito bem qual pergunta o vinha ameaçando. Por que estava tão atraído por Briar? Mas não gostava de se abrir revelando suas fraquezas, seus sentimentos a ninguém. Mesmo Rhiannon.
— Quer que eu conte? — ela perguntou.
— Tenho escolha?
— Claro que não. A resposta é: porque você acha que não pode magoá-la.
— Porque acho que não posso magoá-la. — ele repetiu.
— Sim. É isso. Agora, sacie minha curiosidade ardente e diga, qual era a pergunta?
— Nada que seja da sua conta.
— É sobre aquela cadela espinhosa, não é?
— Está quase amanhecendo, Rhiannon. Tenho que ir. Bom descanso.
— Idiota teimoso. — ela murmurou. Em seguida desligou.
Reaper terminou a chamada e pôs o celular no criado mudo. Em seguida deitou-se na cama, puxou as cobertas e esperou o sono chegar, o tempo todo tentando não reproduzir sua própria pergunta — e a resposta de Rhiannon — em sua mente. Ele não precisa disso, não agora. Além disso, já podia sentir o sono do dia o atraindo. Seu corpo ficou pesado. Seus olhos caíram fechados. Em sua mente viu Briar cavalgando-o no carro, saltando pra cima e pra baixo em cima dele, beijando e mordendo enquanto o levava em direção ao clímax mais devastador que já experimentou.
Graças a Deus, pensou, que os vampiros não sonham durante o sono diurno. Caso contrário, achou que a memória desse único encontro explosivo o perseguiria até o anoitecer.
Ela provavelmente deveria tê-lo usado, Briar pensou enquanto examinava suas novas acomodações com apreço e a zombaria guerreava pela liderança em sua mente. Deu um longo olhar para a banheira Jacuzzi gigante, os frascos de óleos, perfumes, loções e sabonetes que enchiam as prateleiras em torno, as buchas e velas, todas com os pavios brancos e limpos. Ela se perguntou se Topaz jogava tudo fora e comprava novos a cada vez que um dos pavios enegrecia pelas chamas. Quão estúpido era isso? E o que eram essas toalhas? Ela perguntou, quando puxou uma da prateleira. Era tão grande como um lençol. Quem precisava de uma toalha tão grande?
Por um momento imaginou-se imergindo na Jacuzzi gigante e fazendo uso de toda essa merda de mocinha que a rodeava. Depois, com um revirar de olhos, optou pelo isolado chuveiro afinal.
Era opulento por si só. Em forma de L e enorme, com não um, mas três chuveiros para que pudesse lavar, enxaguar e se masturbar, tudo ao mesmo tempo, ela adivinhou.
Nada muito bom para a princesa.
Briar tomou um banho rápido e tentou mesmo não apreciar a pressão pulsante massageando suas costas e ombros, embora em particular supunha que tivesse que admitir que era bom.
Mesmo assim, passou o tempo todo julgando Topaz por seus hábitos caros — não que desse a mínima, disse a si mesma, estava simplesmente impedindo seus pensamentos de descer por este beco que eles realmente queriam explorar.
Mas não deu certo por muito tempo. Não foram suficientes os excessos do extravagante Palácio de Buckingham para impedi-la de pensar sobre isso. Sobre ele.
Reaper.
Ele queria algo dela. Estava tramando algo. Não era tão estúpida para pensar que homens faziam algo por qualquer outro motivo. E achava que ele estava um pouco além da mentalidade do nível do homem das cavernas. Não era apenas sexo, como com seu padrasto. Aquele Neandertal que não tinha outro pensamento na cabeça inteira. Não havia nenhum motivo, nenhum esquema, fraude ou razão. Apenas olhos redondos que eram muito próximos um do outro e desejava uma morte grave, que ela ainda tinha de cumprir.
Ele estava em sua lista. Gregor primeiro, no entanto. Então o querido padrasto. Então ela seguiria em frente com o resto deles. Os cafetões, os traficantes, os caras que pagavam por sexo. Todos eles. Eles pagariam.
Ela não era mais uma perdida, viciada, fraca e desabrigada. Era um vampiro agora. Graças a Gregor. Irônico isso.
Embora Reaper... fosse diferente. Esperto. Até mesmo decente. Também queria algo, ele tinha algo a ganhar, além de uma boa diversão, entrando nas suas calças novamente. O que era?
Ela não sabia. E não estava querendo descobrir entre seu banho e o nascer do sol, de forma que se despiu, atirou a toalha gigante em cima da prateleira larga para secar e caminhou para o quarto. Pegou um roupão de lã de um gancho no caminho. A coisa era tão suave por baixo, de cor creme na altura do joelho. Ela o puxou, e mesmo sem querer, abraçou-o ao seu redor um pouco. Em seguida, dirigiu-se pela sala de estar até a porta de Crisa. Estava fechada, mas o copo de sangue que tinha deixado na mesa deste lado foi levado.
Ela se aproximou, abriu a porta bem devagar, só um pouco, e espiou dentro.
Crisa estava na cama dormindo, mas inquieta. Ela se contraía a cada poucos segundos, e sua cabeça continuava se movendo de um lado para outro. Roxy ainda estava lá, mas levantou-se quando viu Briar espiando, atravessou o quarto na ponta dos pés e se juntou a ela na sala de estar.
Quando fechou a porta silenciosamente atrás dela, encontrou os olhos de Briar.
— Eu não gosto disso.
— Não, eu também não.
— Isso não faz nenhum maldito sentido. Se ela não ouvia vozes ou via coisas ou tinha essas dores de cabeça antes, por que agora? O que mudou?
— Eu não sei. Talvez seu maldito Rey-Rey dava-lhe algum tipo de medicação que não conhecemos. Algo que manteve toda essa merda sob controle.
— Que tipo de medicação funcionaria em um vampiro, Briar?
— Apenas dois que conhecemos. Tranquilizante e a poção de Rhiannon que nos permite ficar acordado de dia e nos torna mais cruéis do que o inferno e duas vezes mais nervosos. Mas isso não significa que não possa ter mais.
— Certo. Antipsicóticos para os mortos-vivos. Faz todo o tipo de sentido.
Ela lançou um olhar a Roxy.
— Se não é isso, então o que?
— Eu não sei. Algum tipo de possessão?
— Você não acredita que pode ser drogas, mas demônios parecem uma possibilidade para você? — Briar revirou os olhos.
— Talvez algum outro vampiro esteja mexendo com sua cabeça então?
— Por que alguém iria querer fazer isto?
— Estou condenada se sei! — Roxy abaixou a cabeça. — Eu sei, eu sei, você está tão confusa com isso quanto eu. Odeio vê-la com dor. E tão confusa assim. E a maneira como ela está mudando... Não, eu não gosto. Quero ajudar.
Briar abaixou a cabeça porque estava ficando muito pesada para segurar. O sol deve estar perto de subir.
— O Reiki ajuda. A nós duas.
— Isso já é alguma coisa, de qualquer maneira. — Roxy deu um tapinha no ombro de Briar. — Vá para a cama antes de entrar em colapso e eu tenha que carregá-la. Ela vai apagar durante o dia. Vai ficar bem até o anoitecer.
— Sim, mas e depois?
— Nós vamos decidir quando isto acontecer.
Briar assentiu e voltou para o quarto. Só conseguiu se arrastar para o ninho exuberante de tecidos de ursinhos de pelúcia, antes do sono tomá-la delicadamente em seu abraço.
No porão da mansão em Byram, Connecticut, o menino de dez anos de idade estava parado na porta aberta e olhava para o homem dentro do quarto. Derrick Dwyer balançava. Suas mãos estavam acorrentadas, a corrente pendurada sobre um gancho no teto. Seus dedos dos pés mal chegavam ao chão. A cabeça do homem pendia para baixo no queixo, tocando seu peito. Estava descalço. Sua camisa se foi, e assim como também uma tira de pele no seu antebraço. Era como se alguém o tivesse descascado ali, como descascava uma batata.
Ele não estava morto. Matt podia dizer porque ele ainda estava respirando. Era áspero o suficiente para ouvir sem chegar perto.
Seu pai deveria ter conseguido o que queria do homem, porque disse a Matt para soltá-lo e cuidar de suas feridas enquanto vinha correndo para casa. Isso foi há uma hora, e estava muito perto do nascer do sol, por isso Matt pensou que onde seu pai estava devia ser muito importante.
Ele sabia o que seu pai era. Um vampiro. Eles eram maus, criaturas ruins, mas não achava que poderiam ajudá-lo. E, além disso, agora que sua mãe tinha morrido, seu pai era tudo que tinha.
Então tentou obedecer e não ficar com medo demais, embora tenha visto um monte de coisas para ter medo.
Ele pegou uma cadeira de madeira e arrastou para mais perto do homem. Em seguida subiu em cima dela, mas não conseguia alcançar o gancho no teto. Enquanto estava ali pensando no que fazer, o homem gemeu e levantou a cabeça ligeiramente.
— Ei, você está acordado? — Matt perguntou.
O homem levantou a cabeça e olhou mais diretamente nos olhos de Matt.
— Papai disse que eu deveria soltá-lo agora. Só que não posso alcançá-lo.
O homem ficou olhando como se não o entendesse, assim Matt apontou para cima até o cara olhar para cima também e ver o gancho além do alcance do menino.
— Se você puder se levantar nesta cadeira, então provavelmente poderá tirá-lo você mesmo. Acha que pode?
O homem acenou de maneira fraca com a cabeça, então Matt pulou da cadeira, e em seguida estabilizou o cara mais velho para que ele pudesse se levantar. Demorou um pouco para fazer isto. O homem estava fraco e seus pulsos estavam sangrando. Mas finalmente levantou-se na cadeira e tirou a corrente do gancho. Ele abaixou os braços com um gemido, agarrou a parte de trás da cadeira e desceu novamente.
— Aqui, me dê suas mãos. — Matt puxou a chave do bolso do jeans e esperou. Quando o homem levantou as mãos Matt deslizou a chave na pequena fechadura, estremecendo com todo o sangue que estava sobre ele e abriu os grilhões de seu pulso.
Eles não foram algemados. Algema teria sido pior. Estas coisas tinham grandes bandas de metal que cortaram sua pele enquanto ficou pendurado, mas Matt tinha certeza que algemas teriam cortado até o osso.
O cara tirou um grilhão, em seguida o outro, rangendo e expondo os dentes em uma careta de dor.
— Você acha pode andar?
— Não muito longe. Por quê? Por que está cuidando de mim?
— Bem, não era para eu levá-lo a qualquer lugar. Apenas ajudá-lo e deixá-lo trancado aqui. Mas é dia e meu pai não voltou, então não vai estar em casa até escurecer. E estou sozinho porque os drones estão todos dormindo também. Não que sejam nada divertidos, de qualquer maneira. — Ele sabia que estava falando a mil por hora. Seu pai teria lhe dado um cascudo na cabeça e dito para se acalmar, ficar quieto, dizer apenas o que precisava dizer e calar a boca. Mas este velho parecia estar ouvindo com interesse, e talvez até mesmo com um pouco de diversão.
— Então você pode subir se quiser. Posso cuidar de você muito melhor lá em cima. E poderá tomar uma ducha ou um banho de banheira — se achar que não vai doer muito. Então podemos comer, nunca tenho alguém para comer. Porque, você sabe, eles não comem.
— Eu sei.
Matt pegou a mão do homem e liderou o caminho para fora do aposento, atravessou o porão até as escadas que levavam ao resto da mansão.
— Por que acha que seu pai não voltou para casa antes do sol nascer? — O prisioneiro perguntou.
— Provavelmente ficou muito ocupado. Tenho certeza que encontrou abrigo a tempo.
— Você ficaria muito chateado se ele não encontrasse?
Matt fez uma pausa nas escadas e olhou para o homem.
— Bem, eu seria um órfão então, e realmente não quero ser órfão.
— Ele disse que sua mãe está morta?
— Sim. — Eles chegaram ao topo da escada e entraram no nível principal da mansão. — Como devo chamá-lo?
— Você pode me chamar de Derry, se quiser.
— Derry. Eu gosto. Você pode me chamar de Matt. É como mamãe costumava me chamar.
— Tudo bem, Matt. Não quero que você entre em apuros por isso, você sabe. Tem certeza que não vai?
— Ele nunca vai saber.
Derry assentiu.
— Bem, o principal primeiro, Matt. Acho que é melhor cuidar destas feridas. Alguma pomada, algumas ataduras, uma boa lavagem e talvez alguns analgésicos, se tiver algum na casa.
— Nós temos tudo isso. Estou encarregado de fazer as listas de compras. Papai nunca me deixa ir ao supermercado, mas faço as listas. É uma das minhas tarefas. O banheiro do térreo será mais fácil para você. É por aqui.
O homem estava sorrindo para ele quando fizeram o caminho para o banheiro.
— Seu pai nunca deixa você ir a qualquer lugar, Matt?
— Ah, ele me leva, às vezes. Mas só à noite, é claro, e nunca perto de outras pessoas.
— Deve ser muito chato e solitário.
— É. Bem, você sabe, tenho toneladas de coisas. Um Xbox e um PS3 e um Wii, e cada jogo que já inventaram para qualquer um deles. Então não é muito chato, mas sim solitário, e fico louco de estar nesta casa o tempo todo.
— Hmm. — Eles entraram no banheiro e Derry sentou-se na tampa do vaso sanitário — fechada, é claro. Matt tirou todos os suprimentos de primeiros socorros do armário e colocou sobre o balcão da pia para ele. Embebeu uma gaze em peróxido e entregou a Derry, então encharcou outra e manteve para si mesmo. — Você trabalha nesses pulsos. Vou começar em suas costas.
— Ok. — Derry virou-se, em seguida fez uma careta quando Matt começou a limpar os vergões e cortes com a gaze encharcada. Matt tentou ter cuidado, mas sabia que ir doer como louco.
— Eu... estava me perguntando. — disse Derry, sugando ar por entre os dentes de dor.
— O que?
— Bem, se você tem certeza que seu pai não vai estar de volta até o anoitecer...
Inclinando-se para encará-lo, Matt disse.
— Ele não pode voltar antes do anoitecer. Vampiro, lembra? — Ele sorriu e ficou feliz quando Derry sorriu de volta. Então jogou a gaze na lata de lixo e pegou o tubo de pomada antibiótica tripla. — Isto não vai doer tanto. — ele prometeu. Tentou passar nos lugares feridos sem muito contato, então entregou a Derry.
— Você sabe, nós poderíamos fugir por um tempo. Talvez ir ao zoológico, um fast food para comermos hambúrgueres e batatas fritas, um jogo de árcade, um parque. Poderíamos nos divertir, Matt.
— Tem certeza de que se sente bem para isso, Derry? — Matt lançou as tiras de gaze sobre as feridas, depois prendeu-as no lugar com fita adesiva. — Não sei por que você apenas não disse o que ele queria saber desde o começo. — Ele balançou a cabeça triste. — É sempre melhor fazer o que ele diz. — Então terminou e deu a volta pela frente. — Você realmente se sente bem o suficiente para sair, Derry?
— Bem, não sei, claro, mas... se você me ajudar. Eu te devo uma. E esta pode ser a nossa única chance.
— Sim, isso é verdade.
— Se houvesse um carro... oh, espere, tem meu carro. Seu pai me trouxe aqui no dele, mas ouvi ele dizer aos drones para trazer o meu. Gostaria de saber se ainda o tem?
— Claro que tem. — disse Matt. Estava enrolando gaze em torno do pulso esquerdo coberto de pomada de Derry agora. — Está lá atrás.
— Sério? Isso é ótimo. Adoro aquele carro. — Então Derry franziu a testa. — Ainda assim não imagino se sabe onde ele guarda as chaves.
— Claro que sim. — disse Matt. Ele terminou o primeiro pulso prendendo a gaze no lugar, em seguida começou a envolver o outro.
— Então o que acha? Deveríamos fazer isso? Devemos sair daqui por um dia? — Derry perguntou.
Matt franziu o cenho com força jogando a gaze fora, em seguida virou-se para o balcão para tirar três comprimidos de um recipiente de analgésicos. Entregou a Derry e falou com firmeza, levantando seus olhos muito sério.
— Tudo bem, mas se começar a se sentir fraco ou doente ou qualquer coisa, nós vamos parar e voltar para casa, ok?
— É claro que está tudo bem. — disse Derry, e deu um tapinha na cabeça de Matt.
— E o meu pai nunca pode saber.
— Absolutamente. — Derry prometeu. — Você tem minha palavra.
Então Matthias cuidadosamente recolheu todos os itens que tinha usado e os colocou longe, então pegou a mão de Derry e levou-o pela casa em busca de roupas limpas.
Derrick Dwyer admirou-se com o garoto. Ele era maduro para sua idade, provavelmente porque foi forçado a aprender a cuidar de si mesmo. Era esperto também.
Porém não inteligente o suficiente para perceber que ele estava prestes a se tornar um refém.
Derrick foi forçado além do limite de sua resistência, e ainda que gostasse do garoto não hesitaria em usá-lo.
Ou até mesmo matá-lo, se necessário.
Quando acordou ao entardecer, Briar levantou-se instantaneamente. Ela nunca foi de ficar na cama. Quando o sol se pôs e o poder do sono diurno desaparecia, isso acontecia para ela, tudo de uma vez. Ela arregalou os olhos, a mente ficou nitidamente alerta e seus sentidos exploraram automaticamente os arredores por qualquer indício de ameaça.
Não encontrou nenhuma e sentou-se, tirou as cobertas, saiu da cama e ouviu. Mas a casa permanecia quieta. Os outros provavelmente estariam um pouco mais lentos para despertar do que ela. E quanto as mortais Roxy e Ilyana, deveriam estar dormindo ou em alguma outra parte da mansão.
Não havia nenhuma razão para se apressar, mas Briar sempre sentia como se houvesse, sempre se sentia apressada para fazer o que havia para ser feito, sempre sentia uma vaga sensação de que se abrandasse ou relaxasse afinal, alguma coisa a apanharia. Algo ruim. Nunca se preocupou em analisar esse sentimento. Era assim o jeito que ela era.
Além disso, haviam coisas a serem feitas. Coisas importantes. Roxy e Ilyana planejaram passar algum tempo na internet durante o dia, fazendo uma varredura sobre as notícias em busca de algum sinal de onde Gregor poderia estar. Localizá-lo era seu único objetivo agora, e estava totalmente focada nisto.
Quanto mais cedo soubesse onde estava, mais cedo seria capaz de ir atrás dele. Sozinha, sem esse bando de heróis influenciando-a, sondando sua psique, tentando encontrar algum ajeito de resgatar a qualidade de sua alma.
Eles nunca o fariam. Ela nem sequer tinha uma alma.
Briar escolheu roupas da mochila que não se preocupou em desfazer, já que não tinha a intenção de ficar aqui muito tempo. Em seguida, dirigiu-se ao banheiro para limpar-se, vestir e passar uma escova nos cabelos. No momento em que terminou, sentiu que os outros já estavam de pé e ativos. Estavam aglomerados agora em uma das salas abaixo. Ela podia sentir a energia deles lá. Havia uma sensação de excitação que chamou sua atenção. Roxy deveria ter encontrado alguma coisa então.
Briar correu de seu quarto, mas parou na sala de estar da suíte, sua atenção atraída para a porta fechada. Não estava sentindo Crisa. Ela poderia estar dormindo? O pensamento de que ela poderia tê-la vencido durante seu descanso, incomodou a parte de trás do cérebro de Briar, como garras arranhando sua mente, tirando sangue. Engolindo em seco, enfrentou a porta, levantou o queixo e avançou para escancará-la.
A cama de Crisa estava vazia, a coberta amassada e jogada. Sua mochila estava aberta, roupas espalhadas por toda parte no chão, incluindo as que estava usando quando foi dormir.
Uma brisa tocou o rosto de Briar e ela virou-se para a janela. Estavam escancaradas, as diáfanas cortinas brancas dançando como fantasmas.
Uma estranha corrida de pânico levou-a através do quarto para o parapeito da janela, e inclinando-se para fora olhou para baixo, meio que esperando ver o corpo quebrado de Crisa deitado lá embaixo.
Mas não havia sinal da garota problemática.
— Droga. Onde diabos está você, Crisa?
Quando aprimorou seus sentidos, Briar sentiu algo. Algo sombrio e que compelia. E então isto a afligiu completamente quando de alguma forma se fundiu com a mente de Crisa, sentiu o que ela sentia, via o que via.
Quando abriu os olhos, Briar viu árvores e arbustos ao redor dela e sentiu o movimento constante, poderoso, mas desigual de suas pernas se arrastando, definindo seus pés, um após o outro enquanto se movia no meio do mato. Ramos batiam em seu rosto, picando-a, mas ela os ignorou, impulsionada para frente. Sempre para frente.
Crisa! Briar gritou para ela mentalmente. Crisa, onde você está? Aonde vai? Por que não esperou por mim?
A resposta veio apressadamente com uma voz mental que não era mais como a garota que Briar conhecia. Não havia adoração inocente, esta não era a criança ingênua que não entendia a maneira dos mortos-vivos ou o mundo em geral. Em vez disso, essa resposta era sombria, profunda, com raiva e determinação.
Deixe-me em paz!
Crisa, ouça-me!
Não!
E assim, a porta para a mente de Crisa bateu e Briar desembarcou de volta em seu próprio corpo com tal choque que quase caiu. Teve que segurar na cabeceira da cama para manter o equilíbrio. Não imaginava que Crisa sequer soubesse como bloquear seus pensamentos dessa maneira. E, no entanto, ela o fez.
Algo estranho torcia o âmago de Briar. Soltou a cabeceira da cama e virou-se para a porta correndo, não andando, com a intenção de alcançar o grupo abaixo, Reaper, em particular.
E continuou correndo, sua mente correndo, até que estava no andar térreo e estourou pela sala onde todos estavam.
Ela fez uma pausa e tomou fôlego. Desde quando era seu primeiro instinto em momentos de dificuldade correr para eles? Correr para ele?
Reaper olhou para cima quando Briar estourou no covil onde estavam todos reunidos ao acordar. Roxy tinha chamado todo mundo lá, e estava exatamente naquele momento inclinada sobre um notebook, à cata de notícias. Ilyana estava ao seu lado, uns bons seis centímetros mais alta e dolorosamente magra, onde Roxy era exuberante e curvilínea.
— Houve quatro incidentes, todos iguais, cada um em um estado diferente e todos aparentemente ocorreram durante a noite. — Roxy disse.
— Tem que ser Gregor. — Ilyana acrescentou. — De alguma forma, ele é responsável por cada um deles.
— Mesmo um vampiro não poderia ter estado em quatro estados ao mesmo tempo, — Seth estava dizendo.
Reaper os ignorou, seus olhos focados no rosto de Briar, e um segundo depois estava ao lado dela, colocando a mão em seu ombro para tirá-la de onde ela foi dentro de sua mente.
— O que é, Briar? O que aconteceu? É Crisa, não é?
Seus olhos se voltaram para se focar de novo, encontrando os dele.
— Ela se foi.
— Foi? — Ele ficou em branco por um momento, antes do significado ficar claro em sua mente. — Crisa se foi?
Briar assentiu rígida. Seus olhos pareciam tensos com a preocupação e sua mandíbula estava apertada.
— A janela do seu quarto estava aberta. Ela trocou de roupa antes de sair. — Piscando duas vezes, olhando para baixo, mas claramente não vendo, ele pensou, ela continuou. — Nós temos que encontrá-la.
— Nós vamos. — Reaper virou-se para os outros que tinham caído em silêncio com a entrada de Briar. — Vamos nos dividir em equipes e partir em direções diferentes. Todo mundo tente localizá-la e...
— Acho que não, Reaper. — A declaração veio calmamente, mas em um tom firme determinado da mortal Ilyana. Ela endireitou-se longe do computador e aprumou-se. Quando ele lhe lançou um olhar de incredulidade, ela passou as mãos pelos cabelos curtos platinados, um gesto um pouco nervoso. E ainda assim continuou firme, dizendo: — Acabamos de receber nossos primeiros fios sólidos sobre Gregor. Encontrá-lo é a nossa missão ou estou enganada sobre isso?
Reaper sustentou seu olhar e não se incomodou de deixar sua voz suave.
— Minha missão é encontrá-la.
— Pode ser sua missão? — Disse ela, seu tom de voz mais suave agora. — Mas este é o meu objetivo na vida. Não há nada mais importante para mim agora.
Ela estava com medo deles, pensou. De todos eles, Briar em particular. Que estivesse mostrando coragem suficiente agora para discordar dele instigou uma onda de admiração por sua coragem, apesar da irritação que veio com isto.
— E ainda assim você nunca nos disse o porquê. — ele disse.
— Não dou a mínima para isso! — Briar deixou que as palavras estourassem apressadamente, impulsionada pela emoção que ele raramente via nela. — Olha, mortal, ele era meu objetivo na vida também. Mas agora Crisa está desaparecida, e você sabe que ela não pode cuidar de si mesma. Encontrá-la é prioridade.
— Isto de alguém que finge não se importar com ela. — Roxy murmurou. — Eu sabia o tempo todo, é claro, mas...
— Tanto faz, Roxy. — Briar balançou seu olhar ao redor da sala, deixando-o pousar sobre os outros. Seth e Vixen, Jack e Topaz, Mirabella. — Ninguém entre vocês quer chegar a Gregor mais do que eu, acredite. Mas é de Crisa que estamos falando.
— Ela é uma de nós. — disse Vixen. — Ela é mais importante do que qualquer missão.
— Ela não é mais importante do que a minha. — Ilyana disse suavemente. Ela compartilhou um olhar com Roxy, que acenou em acordo.
— Por quê? — Reaper exigiu.
Ilyana olhou para ele e em seguida, abaixou a cabeça e balançou-a lentamente.
— Oh, pelo amor de Deus Ilyana, basta contar a eles para que possamos continuar com isso! — Briar estalou. Quando Ilyana voltou seus olhos arregalados em direção a ela, Briar revirou os seus em troca, então virou-se e começou a andar para longe. — Não tenho tempo para foder com você e seus segredos enquanto Crisa está lá fora em perigo. — Ela virou-se novamente de frente para eles. — Ela teve um filho com ele. Com Gregor.
Reaper não tinha pensado que algo ainda poderia surpreendê-lo, mas isso certamente o fez. Ele olhou de Briar para Ilyana em descrença.
— Ela e Gregor estavam juntos e tiveram um filho, então Gregor levou o garoto. Ele ainda o tem, pelo que ela sabe. — Briar explicou. — É por isso que ela quer tanto encontrá-lo. Para ter seu filho de volta.
— Como você... — Reaper começou.
— Eu a ouvi dizendo a Roxy. E por que isto vale a pena, Ilyana, entendo totalmente. E não tenho nenhum problema de você ir atrás dele, e provavelmente eu mesma a ajudaria, cumprindo minha própria necessidade de cortar a garganta do bastardo e vê-lo sangrar. Lentamente, espero. Mas ninguém vai a lugar nenhum até que encontremos Crisa.
— Você tem um filho? — Topaz sussurrou, olhando para Ilyana e ignorando Briar agora. — Gregor está com seu filho?
— Oh, meu Deus. — Vixen sussurrou. — Oh, meu Deus, coitadinha. Pobre criança.
— Olhe, Ilyana. — Seth disse, movendo-se para ficar ao lado dela. — Eu sei que você não gosta de vampiros e todos nós entendemos isto. Mas está conosco agora. E é melhor acreditar que vamos ajudá-la a conseguir seu filho de volta são e salvo.
— Certamente. — Topaz concordou.
Jack tinha a testa franzida, o olhar saltando dos colegas de fraternidade para Briar, e finalmente balançou a cabeça com frustração.
— O garoto está bem. Crisa não está. Acho que é muito fácil descobrir onde nossa primeira prioridade tem que estar.
— Mas temos a nossa primeira pista real de onde Gregor está. — Ilyana parou, piscou e começou tudo de novo. — Como você sabe que ele está bem?
Jack segurou seus olhos.
— Eu o via de vez em quando quando estava com Gregor. Você deve ter visto também Briar. — acrescentou com um olhar na direção dela.
— Eu não sabia quem diabos ele era. Gregor o manteve praticamente afastado do resto de nós.
— Ele o trata bem, Ilyana. Ele está bem cuidado, alimentado, mantido saudável, nunca fisicamente abusado. — Jack acenou com a cabeça. — Ele vai ficar bem. Crisa não, se não a encontrarmos em breve.
— Temos uma pista sobre o paradeiro de Gregor. — Ilyana argumentou. — Se esperarmos, ele vai seguir em frente. Podemos perder nossa única chance. — Ela balançou a cabeça com firmeza. — Não, vocês todos vão atrás de Crisa, se quiserem. Vou encontrar meu filho.
— O que ela disse. — Briar estalou. — Você pode ir atrás de seu filho, se quiser, mas vou atrás de Crisa. Ao contrário da mortal aqui, não preciso da ajuda de ninguém.
— Espere, espere, acalmem-se por um minuto, vocês duas. — Reaper olhava de uma para outra, sacudindo a cabeça. — Roxy, diga-nos o que encontrou na Internet. — A versão curta.
— Uma casa cheia de corpos sem sangue, cada item de valor tomado, sem esforço para ocultar o crime.
Mesmo sem querer, Briar perguntou:
— Onde?
— Fresno, Salt Lake, Dallas e Oklahoma.
Briar franziu a testa.
— Eu não...
— O mesmo crime cometido em todos os quatro lugares, durante a noite. Corpos encontrados esta manhã, os de Dallas foram encontrados antes do amanhecer e os relatórios iniciais incluem perfurações nas gargantas dos cadáveres, embora mais tarde os exames médicos dizerem que não houvesse tais feridas.
— Eles desaparecem com o primeiro toque de luz solar. — Seth murmurou.
— Tudo bem. Tudo bem. — Reaper marchava, depois voltava novamente. — Não podemos deixar que Gregor escape com uma criança inocente. Também não podemos ignorar o fato de que Crisa, que é nossa responsabilidade para todos os fins e propósitos, é uma criança tão inocente quanto... quanto... — Ele enviou a Ilyana um olhar questionador.
— Matthias. Eu o chamo de Matt. — ela disse.
— Tão inocente quanto Matt e está em perigo. — Ele estreitou os olhos. — Gregor não poderia ter feito todos esses ataques de uma vez. Há algo fora do lugar aqui.
— Nós precisamos nos dividir. — disse Seth. — Por mais que odeie dizer isso, acho que é o único modo.
Jack acenou para o jovem.
— Concordo. Temos que verificar todas as quatro cenas do crime e procurar por Crisa. E não há nenhuma razão no mundo para discutir sobre o que fazer primeiro quando há número suficiente de nós para fazer tudo de uma vez.
Reaper assentiu e olhou para os outros.
— Todos concordam com isso?
Todos eles concordaram. Ilyana disse:
— Ótimo. Roxy e eu iremos...
— Vocês duas fazem uma grande equipe, Ilyana, mas não gosto de suas chances contra Gregor em seu próprio lugar. Você são mortais, ambas. Quero vampiros em cada equipe, apenas por segurança.
— Eu vou com elas. — disse Mirabella.
— Ótimo. Vocês três serão a equipe de apoio, caso alguém se meta em problemas. — Quando sentiu que Ilyana estava prestes a objetar, acrescentou. — Você também vai estar pronta para sair assim que não encontremos Gregor. Seth e Vixen irão para Oklahoma. Topaz e Jack, vocês pegam Dallas. Uma vez que vocês verifiquem as duas cenas do crime, podem decidir para onde ir a partir daí. Relatem para onde vocês irão. Não levem muito tempo e não sejam vistos. Isto não é um ataque a Gregor. Se vocês encontrá-lo, permaneçam no lugar, façam um reconhecimento e nos chamem. Não se movam pra cima dele até que estejamos todos juntos. Não quero que seus corpos sejam os próximos a serem encontrados deitados sem sangue em alguma casa mortal.
Ele olhou para eles, e viu e sentiu que todos eles concordaram — exceto Ilyana. Havia desafio em seus olhos. Roxy encontrou seu olhar, então disse:
— Verei isso.
— Ótimo. Vá então, trate disso. Enquanto estiver fazendo isto, Briar e eu iremos procurar Crisa. — Ele se virou para Briar, pegou-a pelo braço e a levou da sala, ignorando a maneira atordoada que ela olhou para ele.
Quando chegaram as escadas e pararam acima delas, ela sussurrou:
— Por quê?
— Nós precisamos colocar algumas roupas mais práticas, jogar alguns suprimentos em uma bolsa, no caso de demorarmos mais do que prevemos, arrumar alguns equipamentos de primeiros socorros no caso dela estar machucada. Vai levar apenas alguns minutos, então nós estaremos fora daqui, prometo.
Ela balançou a cabeça.
— Não. Eu quis dizer, por que você vem comigo em vez de ir atrás de Gregor? Ele é a sua missão. Não Crisa. Nem eu.
Ele encarou-a, então balançou a cabeça.
— Eu faria o mesmo se qualquer um dos outros tivesse desaparecido.
— Não estou tão certa disso.
— Bem, você deve estar, porque eu o faria. Nunca pedi para ser responsável por esse bando de desajustados, mas me sinto de qualquer maneira. Tenho que pensar que há uma razão de eu acabar com uma ninhada de filhotes para pastorear, mas estou fodido se consigo descobrir o porquê disto. — Ele parou do lado de fora do seu quarto. — Pegue o que acha que vai precisar. E não se esqueça de trazer uma arma tranquilizante e abundância de dardos no caso ... — Ele não terminou, mas não foi preciso. Briar sabia muito bem o que ele quis dizer: No caso de alguém dizer a palavra-gatilho e enviá-lo a um frenesi de violência.
— Você foi contratado para encontrar Gregor. — ela disse
— E vou. Diabos, não é como se fosse ficar sem tempo, Briar. Ele e eu somos imortais. — Ele tentou injetar um pouco de leveza em seu tom de voz porque ela parecia mais tensa e mais preocupada do que já a tinha visto.
Mais vulnerável também. Ele nunca tinha pensado nela dessa maneira, nenhuma vez desde que a tinha conhecido. Mas via isto agora. Estava claro para ele que se algo acontecesse com Crisa, uma menina que ela fingia tolerar e apenas raramente, ela seria destruída. Era uma fraqueza que odiaria como o inferno admitir, mas ele tinha certeza que ela sabia que podia ver isto. E, sem dúvida, ressentia-se por isso.
— Vou encontrá-la aqui dentro de dez minutos. — disse ele.
Ela assentiu, olhou para ele por mais um momento, em seguida sacudiu-se e foi para seu quarto, fechando a porta atrás dela.
Ele era um idiota, Reaper disse a si mesmo enquanto caminhava pelo corredor para seu próprio quarto. Ela não queria sua ajuda. Estava um pouco chocado dela até mesmo aceitá-la, mas sabia que isto era mais sobre ela do que sobre Crisa. Ela se preocupava com aquele garoto.
O conhecimento o fez sentir-se um pouco mais leve, embora não tivesse ideia do motivo.
Crisa só caminhava. Sua cabeça doía, mas ela ignorou. Sua barriga estava dolorosamente vazia, o que fez a dor de cabeça parecer pior, mas não tinha tempo para comer. Simplesmente continuou andando. Tinha que encontrá-lo. Tinha que encontrar o garoto.
E havia algo mais. Aquela voz na sua cabeça.
Ela havia mudado, aquela voz. Esta noite, quando a tinha acordado de seu sono profundo, não foi a mesma voz que tinha ouvido antes. Esta voz era profunda, com uma aspereza nela e uma frieza que não havia sentido antes. Mas parecia vir do mesmo lugar dentro da sua cabeça, reverberava e parecia ecoar, assim como a outra voz fazia. Doía quando a voz vinha. Mas doía muito mais quando tentava ignorá-la.
— Quero que venha para mim. — disse a voz. — Quero que venha a mim e quero que traga Reaper e Briar com você. Ninguém mais. Apenas os dois. Esse é o seu trabalho, Crisa, e não vou deixar você descansar até que tenha feito isso. Portanto, mexa-se.
— Quem é você? — ela sussurrou. — Você é diferente. Não te conheço.
— Eu sou o seu Senhor e Mestre, Crisa. Você faz o que digo ou vou te punir.
— Não posso. — As palavras vieram fracamente. Era cansativo ouvir esta voz, tentando se comunicar com ele, quando falando em voz alta não funcionava. Ela tinha que pensar em suas respostas e realmente focar-se quando fazia isso. Mas não poderia fazer isso em silêncio, de modo que falava em voz alta também.
— Você pode e vai. — ele disse.
— Não. Você pode me punir se quiser, mas não posso. Tenho que ir até ele.
— Você ousa me desafiar? Tem alguma ideia de quanto posso te fazer sofrer? Como eficientemente eu poderia tirar sua vida, Crisa?
— Eu tenho que ir até ele. — ela repetiu. Porque nada mais importava.
— Para quem? — a voz exigia. Ele estava cheio de impaciência e raiva, e essas emoções balançavam Crisa. Elas a assustavam.
— O menino. E-ele precisa de mim.
— O menino. Ah sim, eu vi o menino. Você sabe o nome dele?
— Não.
— Bem, eu sei. Seu nome é Matthias.
Ela piscou, sentindo-se com tudo dentro dela que isso era verdade. Matthias. Não. Matt.
— Seu nome é Matt. — ela corrigiu.
—A cho que sei o nome dele um pouco melhor do que você, Crisa. Mas, bem, chame-o de Matt se quiser. Isto não faz diferença. Você sabe onde ele está?
Ela piscou e tentou traduzir seus sentimentos, a bússola dentro dela que a mantinha voltada em direção a ele enquanto se arrastava por florestas, por estradas e através de campos.
— Norte. —ela disse. — Ele está no norte.
— Ele está comigo. — disse a voz.
E pela primeira vez desde que pulou da janela do seu quarto, Crisa parou de andar. Ficou muito quieta.
— Você... você é real?
— Claro que sou real. O que achou que eu era, parte de sua imaginação?
Ela respirou. Dentro. Fora. Dentro. Fora. Dentro e fora, dentro e fora, dentro e fora. Ela estava agitada. Doía mais agora. Sua cabeça pulsava ao mesmo tempo em que suas inspirações cresciam.
— Tantas coisas são. — ela disse. — Isso é o que Rey-Rey costumava me dizer. Que tantas coisas eram apenas minha imaginação. Que me diria o que era real e o que não era. Mas agora ele não está aqui para me dizer. Há apenas Briar, mas ela é um pouco ruim comigo, e...
— Sim, sim, isso é tudo muito interessante. Mas vamos voltar ao assunto em mãos, Crisa. Você quer o menino. Você está determinada a chegar ao menino. Tenho o menino. E a menos que você faça o que digo, vou machucar o menino. Você me entendeu?
— Não! Não, não o machuque. Não machuque-o. Não...
— Cale a boca!
As mãos de Crisa voaram para seus ouvido, enquanto caía de joelhos no chão da floresta. Ela gritou em voz alta com lágrimas brotando de seus olhos com o poder do grito dentro de sua mente. Era ensurdecedor e doloroso.
Enquanto os ecos lentamente morriam e ela espreitava com os olhos abertos novamente, procurou com cuidado a fonte, como cutucando um ponto dolorido. Ela encontrou dentro dela e sussurrou:
— Por favor, não grite mais. Vou fazer o que diz. Só não machuque o menino.
— Ótimo. Agora pegue Briar e Reaper, e traga-os para mim.
— Eu vou. — prometeu ela.
E então ele se retirou. Ela sentiu-o saindo de sua mente e desejou que soubesse como fechar bem a porta, o suficiente para mantê-lo fora. Sabia como bloquear seus pensamentos. Roxy a ensinou. Mas por alguma razão, essas técnicas não funcionavam contra este invasor.
Acreditou nele quando disse que tinha o menino.
Ela também sabia que ele poderia machucar ou ferir Matt, se dissesse que faria.
Sabia mais do que isso agora, no entanto. Sabia que era mau. Sua energia cheirava a isto. E sabia que era um vampiro. Não mais ou menos a gentil alma que tinha falado com ela da mesma maneira incomum antes. Aquele homem era mortal. Ela não tinha medo dele.
Este homem era sinistro, poderoso e perigoso. Crisa tinha muito medo dele.
Mas não faria o que ele pediu. Fingiria. Prometeria. Mas não faria. Não traria Reaper e Briar com ela. E havia várias razões para esta dança em torno do seu cérebro.
Em primeiro lugar, voltar para eles significaria perder tempo, e era obrigada a seguir em frente, sempre para frente, cada vez mais perto do menino. Não podia voltar. Literalmente. Estava convencida de que, mesmo se tentasse virar e ir para outra direção, seus pés não obedeceriam. Eles insistiram, assim como todo seu corpo e sua mente, em direção ao norte. Estava tendo problemas até mesmo para fazer seus membros cooperarem quando entrou uma barreira em seu caminho e teve que rodeá-la. O que não fazia sentido. Era como se seu corpo tivesse vontade própria. Como se estivesse sendo dirigida por alguma força externa.
Sua segunda razão para não voltar e buscar Briar e Reaper era porque sabia que eles tentariam impedi-la de sair novamente. Eles poderiam tentar impedi-la de ir até o menino. Para Matt.
E seu terceiro motivo era que sentiu algo na voz do vampiro do mal e na sua essência quando disse o nome deles dentro da sua cabeça. Ele queria machucá-los. Queria tanto que não podia nem mesmo impedi-la de sentir isto. Queria matá-los. Fazê-los ir embora para sempre, como Rey-Rey.
— Não posso deixá-lo fazer isso. — ela sussurrou enquanto seguia em frente desajeitadamente. — Eu os amo. Então não posso deixá-lo fazer isso.
E assim ela foi para o norte, e manteve sua mente bloqueada para impedir seus amigos de encontrá-la, perguntando por que podia manter Briar fora, mas não o intruso.
Quando chegou a um rio e decidiu virar para leste em busca de uma ponte, cada passo ficava mais difícil. Era como se houvesse um elástico gigante em volta dela puxando-a para o menino, e cada passo se estendia mais longe. Cada passo tornava mais difícil puxar para trás, até que não pode suportar colocar um pé na frente do outro novamente. Virou-se, e no momento que ficou de frente para o norte novamente, a resistência desapareceu.
Então ela entrou no rio, e foi mais e mais. E continuou andando.
A água subiu até a cintura, em seguida até seus seios, então para o pescoço dela e continuou subindo. A corrente tentou levá-la para o oeste, mas sentiu aquela resistência novamente mantendo-a no curso, apesar da corrente. Ela começou a nadar quando já não podia andar, e o poder que a puxava ajudou a cruzá-lo.
Logo seus pés cansados arrastavam-se no fundo, ela os plantou e andou, e o nível da água caiu enquanto se movia para seus seios, quadris e joelhos. Ela patinou para fora da água, para a margem e para frente.
Sempre para frente, em direção ao garoto.
Quando Gregor voltou para seu castelo Byram deixando todos os equipamentos, computador e arquivos de Dwyer no jipe, sentiu o problema imediatamente.
Sua testa franziu quando sentiu a ausência do seu prisioneiro. A alegria de saber que seus inimigos estavam a caminho de ser entregues a ele desapareceu. Batendo a porta e gritando para os drones, irrompeu pela mansão descendo as escadas do porão e na sala onde o prisioneiro estava sendo mantido.
Nada. As algemas estavam no chão, a chave ainda na sua fechadura. E isso era tudo. Porra!
— Matthias! — ele gritou, saindo da sala e subindo as escadas do porão. — Eu disse para soltá-lo, não deixá-lo ir. Matthias, onde diabos você está, garoto?
Nenhuma resposta.
E de repente, estava ciente de outra ausência que sentia: a do seu filho.
Quando entrou no corredor da escada do porão, um de seus drones chamado Brutus, embora todos eles se parecessem, ficou ali olhando para os próprios pés.
— Mestre, o prisioneiro e o garoto foram embora quando acordei do sono diurno. Nós não sabíamos o que fazer.
Em sua mão, o drone segurava uma folha de papel com uma letra manuscrita cobrindo um lado.
— O que diabos é isso? — Gregor exigiu.
— Isto estava no quarto do menino.
Gregor pegou a folha da mão do drone e leu rapidamente.
Eu tenho o seu filho.
Não vou machucá-lo, desde que você faça exatamente o que eu disser.
Transporte-se para a sede da CIA em White Plains. Vou dizer-lhes para estarem prontos para você. Você tem 48 horas. Se falhar, o garoto morre.
Posso jogar duro também.
D.D.
— Você prometeu que eu estaria em casa antes de escurecer! — Quando saiu do árcade para a calçada, Matt ficou chocado ao ver que estava escuro lá fora. O sol estava muito longe. Seu pai já deveria estar em casa agora, e ele estaria em apuros.
Ainda assim, foi o melhor dia que passou em um longo tempo desde antes de sua mãe ter morrido. Apesar de Derry de ter estado muito machucando a maior parte do dia, havia se divertido. Assim que entraram no carro, ele encontrou algum medicamento no porta-luvas que parecia fazê-lo se sentir melhor. Ainda deveria estar dolorido, no entanto.
Sua primeira parada foi para o almoço. Derry deixou Matt escolher o lugar, e Matt escolheu sua cadeia de fast food favorito, que visitou com sua mãe algumas vezes. Em seguida, eles foram ao zoológico. Derry alugou um carrinho de golfe para levá-los pelo local provavelmente porque estivesse muito dolorido para andar todo o caminho. Ele ficou no carrinho a maior parte do tempo, apenas descansou e tomou um pouco mais de suas pílulas, enquanto Matt estava ocupado olhando para os tigres.
Em seguida, eles se sentaram em um banco na sombra por um longo tempo, tomando limonada e descansando um pouco mais. E, finalmente, Derry o levou para o árcade, entregou-lhe um monte de moedas e depois sentou-se onde poderia vigiá-lo e deixá-lo jogar até que mal conseguia mover seus polegares.
Isto foi demais. Mas Derry estava parecendo mais e mais desgastado conforme o dia passava. E agora estava escuro.
— Estou em grandes apuros.
— Acho que perdi a noção do tempo. — disse Derry. Ele deu um tapinha no ombro de Matt. — Porém não quero que se preocupe com isso. Você não estará em qualquer dificuldade por causa disso.
— Você não conhece meu pai. — Matt disse a ele.
— Na verdade conheço, Matt. Conheço-o melhor do que você, acho.
Matt franziu o cenho para o homem.
— Eu sei que ele não é uma pessoa muito agradável. E que te machucou. Muito.
Derry assentiu.
— Eu o teria deixado ir mais cedo se pudesse.
— Isso não era problema seu, Matt. Não perca tempo sentindo-se culpado a respeito disso, ok?
— É que... meu pai é diferente. E especial. Muito especial para seguir as mesmas regras das outras pessoas.
— Ele te disse isso, Matthias?
Matt assentiu.
— Ele disse que sou especial também. Não tão especial quanto ele. Ainda não, mas vou ser um dia.
— E é isso que você quer? Ser como ele?
Matt franziu os lábios com o pensamento.
— Não... ruim como ele.
— Se você pudesse ter alguma coisa no mundo todo, que tipo de vida você iria querer, Matt? O que deseja para si mesmo?
— Isso é fácil. — Matt abaixou a cabeça. — Eu quero a minha mãe de volta.
— Eu não o culpo.
— Ela não era como ele. Ela não era má como ele, não era... você sabe.
— Sim, eu sei o que você quer dizer. Ela não dormia durante o dia e tinha força sobre-humana e todo esse tipo de coisa, certo?
— Certo.
— E seu pai disse que ela está morta, certo?
— Sim.
— Ele disse como ela morreu?
— Acidente de carro. — disse.
— Hmm.
Matt inclinou a cabeça para um lado olhando para Derry pensando que a maneira como ele disse “hmm” era estranha.
— No entanto, nunca acreditei nele. Não, você sabe, de nenhuma maneira.
— Por que não?
— Bem, nós não tivemos um funeral. Vocês não costumam ter um funeral quando alguém morre?
— Sim, normalmente.
— E vi o carro dela. Depois. Ele estava na garagem, como sempre. Não amassado nem nada. Vi mesmo antes do papai e fui embora.
— Onde você foi?
— Não sei. Num lugar após o outro. Sempre em uma casa bem grande em algum lugar que nunca fui antes. Não estou autorizado a sair ou ir à escola ou sair de qualquer modo, assim a casa é tudo o que eu conheço.
— Quanto tempo tem sido assim para você?
— Um ano. Antes eu morava com a mamãe. Meu pai nos deixou. Eu mal lembrava dele até que voltou. Então eles lutaram e depois ela morreu, e ele me levou e nós fomos embora. Mas uma noite eu juro que ouvi a voz dela gritando com ele.
Derry ficou em silêncio por um longo momento. Ele disse.
— Sabe, sou uma espécie de policial.
— Você é?
— Sim. Manter o rastro de seu pai tem sido grande parte do meu trabalho nos últimos dez anos. Nós não sabíamos que ele voltaria para você e sua mãe, e acabaria por levá-lo com ele. Diabos, nem sabia que tinha um filho. Mas sabíamos sobre sua mãe, e se houve um acidente de carro nós saberíamos sobre isso também.
A cabeça de Matt levantou lentamente, seus olhos se arregalaram quando procurou o rosto de Derry.
— Você quer dizer que não houve um?
— Não, Matt. Quando seu pai saiu com você, sua mãe ainda estava viva. Ela desapareceu um tempo depois, mas estou bastante certo de que ela passou a procurar você. E não tenho nenhuma razão para acreditar que esteja morta.
Matt sentiu algo enorme enchendo seu peito, algo tão grande que pensou que poderia abrir seu peito.
— Minha mãe está viva?
— Sim, até onde sei.
Os olhos de Matt estavam queimando, e piscou rápido para não deixar as lágrimas transbordarem.
— Você não mentiria para mim, não é Derry? Não sobre minha mãe.
Matt não achou que o homem estava mentindo. O talento que tinha — um que sua mãe tinha chamado de dom e o alertou para não contar a ninguém sobre isto — estava lhe dizendo que Derry não estava mentindo. Mas estava com medo de confiar em algo tão grande.
— Não, Matt. Não mentiria sobre isso. Seu pai mentiu para você, não eu. Então o negócio é o seguinte. Gostaria que ficasse comigo até que possa encontrar sua mãe para se reunirem novamente.
Os olhos de Matt se arregalaram.
— Mas se papai me encontra fora...
— Nós podemos impedi-lo de nos achar. Temos apenas que ter cuidado, e você vai ter que prestar atenção para o que digo e fazer o que eu disser. Mas podemos fazer isso.
— Ele me mataria se nos apanhar!
— Se ele nos achar — e ele não vai — mas se o fizer, vou dizer que eu o raptei. Você sabe, para me vingar por ter me machucado como fez.
— M-me sequestrou?
— Claro. Dessa forma, ele não pode ficar com raiva de você. Só de mim. Ok?
Matthias olhou fixamente para Derry, em seguida, estreitou os olhos.
— No entanto, é isso o que você está realmente fazendo, não é, Derry? — E quando Derry olhou para ele com surpresa, Matt continuou dizendo o que sabia, mas não inteiramente como sabia disso. Sentiu. — Vi você escrever a nota, deixando-a no meu quarto. Eu meio que percebi o que estava acontecendo.
— Você sabia que eu estava sequestrando você? E ainda assim veio comigo de qualquer maneira?
Baixando a cabeça, Matt suspirou.
— Acho que percebi que estaria melhor com um sequestrador do que ficando com meu pai. Acho que vai ser mais fácil fugir de você do que seria fugir dele. Você sabe?
— Você não tem que fugir de mim, Matthias. Você estará seguro comigo. Prometo.
Matt apertou os lábios e lentamente acenou com a cabeça. Mas não estava balançando a cabeça porque acreditava em Derry. Porque não acreditava.
Esse dom dele, o que Derry não sabia, que ouvia os pensamentos das pessoas. Nem sempre foi tão acentuado como era agora. Talvez tivesse ficado melhor por viver em uma casa cheia de vampiros e drones, que falavam mais um com o outro com suas mentes que com suas bocas. Mas qualquer que fosse a razão, tornou-se cada vez mais forte até que agora acontecia sem sequer tentar. Ele ouvia o que um monte de pessoas estava pensando.
E neste momento, ouvia os pensamentos de Derry.
Ele é um bom garoto. Com certeza espero não ter que matá-lo.
Matt esperava que sim, também. Mas não contaria com isso. Se quisesse sobreviver, teria que ser inteligente e não confiar em ninguém, além de si mesmo. Porque todo o resto do mundo sempre se colocava em primeiro lugar. Seu pai tinha razão sobre isso.
Matt se perguntou se sua mãe realmente ainda estava viva ou se Derry tinha acabado de mentir para conseguir o que queria. Ele tinha sentido isto como verdade quando Derry disse. Esperava que seu dom estivesse sendo honesto com ele.
Não importava. Descobriria. E apesar de Derry estar pensando em matá-lo, Matt pensou que estava melhor com ele do que estava antes. Um passo mais perto de ser livre. Assim como tinha planejado desde o dia que viu seu pai arrastar Derrick Dwyer pela casa até o porão. Um olhar para os olhos do homem e soube: este homem seria seu caminho para fora.
Briar se ajoelhou no gramado dos fundos bem abaixo da janela do quarto de Crisa, as palmas das mãos no chão, sentindo.
— Alguma coisa? — Reaper perguntou.
Levantando-se lentamente, Briar olhou na direção da moita na beira do gramado.
— Por aqui. — ela disse e começou a andar. Não correr, seria muito fácil fazer isto, é claro, perder o controle do sinal em favor da velocidade, o que faria mais mal do que bem.
Reaper foi arrebatado com sua curta ordem e caminharam pelo mato e ervas daninhas, empurrando através de ramos, galhos e vegetação rasteira. Crisa não tinha deixado um rastro físico, apenas o mental, e foi o que Briar seguiu através dos galhos emaranhados.
— Pode senti-la perto? — Reaper perguntou.
— Você não pode senti-la por si mesmo?
— Posso um pouco. Mas a minha ligação com Crisa está longe de ser tão poderosa como a que tem com você.
Ela revirou os olhos.
— Sim, e quem é o culpado por isso? — Ela lançou um olhar por cima do ombro para ele quando fez a pergunta, e viu um olhar divertido em seus olhos, que ele escondeu rapidamente.
— Alguém tinha que dar seu sangue para salvar sua vida, Briar. Você era a mais próxima.
— Eu não queria fazer isso. Não queria — isto.
— O que? Importar-se com ela?
— Isto não é preocupação, é uma compulsão. Não tenho escolha, senão ajudá-la. A porra do fato de que meu sangue está correndo em suas veias é o que está me levando, nada mais.
—Certo. E não há... sentimento por trás dele.
— Nenhum.
— Então, se ela morrer o vínculo seria quebrado, e você não sentiria...?
— Nada. — ela disse empurrando os galhos de lado, parando para olhar em volta, para tentar perceber onde Crisa foi.
— Não acredito nisso. — Reaper disse suavemente.
Ela virou-se para encará-lo.
— Você está certo. Eu sentiria alguma coisa. Alívio por me livrar dela. Ela é como um peso em torno do meu pescoço. Não gosto de me sentir responsável por alguém, além de mim mesma.
Ela virou-se para frente novamente, colocando-se de costas para ele e seu nariz para o vento, pegando a essência de Crisa, e mais uma vez começou a se mover em direção a ela.
— Isso eu entendo. — ele disse à medida que continuava a pressionar. — Não gosto também quando comecei a acumular esse... esse nosso bando. Sempre trabalhei sozinho.
— Então por que não vai embora?
— Pela mesma razão que você não vai, eu acho. Tenho um vínculo com Seth, desde que compartilhei o dom com ele. Então quando nos deparamos com Topaz, ela não nos deu nenhuma escolha além de levá-la junto. Não tivemos outra opção do que resgatar Vixen e Ilyana. E Roxy — bem, diabos dizer não a Roxy não é realmente algo que qualquer um possa fazer.
Ela fez uma pausa e virou-se para olhá-lo nos olhos.
— E quanto a mim? Não pode dizer que não teve escolha comigo. Você me sequestrou, levou-me à força.
— Nós estávamos planejando queimar a sede de Gregor e qualquer um dentro dela. A alternativa era levá-la ou deixá-la morrer.
— Você já pensou que eu poderia ter preferido isto?
Ele vasculhou seus olhos, sua alma, até que ela teve que desviar o olhar.
— Você preferia? — ele perguntou.
Ela deu de ombros e começou a andar de novo.
— De qualquer forma, você está errado sobre nós sermos iguais. Você pode não ser capaz de largar sua pequena família disfuncional, mas eu sou. Assim que Crisa estiver segura, vou embora.
— Sozinha?
— Sim, sozinha. O que acha que devo fazer, adotá-la?
Ele suspirou, mas não disse nada.
— Você não acha que vou fazer isso, não é?
— Eu acho que é algo muito mais fácil de dizer do que fazer. Essa tem sido minha experiência, pelo menos.
Ela pegou o ritmo, sentindo Crisa mais perto do que antes e gritou mentalmente: Crisa! Espere por mim. Estou indo ajudá-la. Basta parar de correr agora e esperar por mim.
Não! Você não vai me levar de volta!
E então sentiu a fuga da menina assumir uma nova urgência.
— Droga, isso foi um erro. Vamos. — Estendendo sua mão por trás sem premeditação, apertou a mão de Reaper e começou a correr pela floresta. — Nunca deveria ter dito que estava vindo. Ela está correndo mais rápido do que antes.
— Nós somos mais fortes. — Reaper disse a ela. — Nós vamos alcançá-la.
Eles correram por várias centenas de metros, antes de emergir do arbusto em um declive árido que descia para uma calçada, um estacionamento rodeado de um conjunto de edifícios: lojas de presentes, uma lanchonete — um paraíso para os turistas. Havia vários veículos ocupando os espaços. E Crisa não estava à vista.
— Briar?
— Ela está aqui. Sei que está. — Sentiu a mão de Reaper apertar a sua, um gesto querendo tranquilizá-la. Tudo o que fez foi lembrá-la que estava segurando-se nele e a fez querer saber porque. Ela imediatamente soltou-se de seu aperto. Ele não tentou detê-la.
Então viu Crisa. Ela estava escalando o lado do passageiro de uma caminhonete com um motorista, e antes de Briar poder gritar que ela simplesmente a proibia de ir, o caminhão saiu do estacionamento e se afastou.
— Droga! — Ela se lançou como se fosse correr atrás do caminhão, mas Reaper pegou o braço dela, segurando-a de volta.
— Você vai ser vista. Além disso, estarão fora da ilha em minutos, e se você não pode alcançá-los a pé em tempo — o que não pode — eles ainda estarão mais à frente. Vamos ter que voltar e pegar um veículo.
Ela abaixou a cabeça, suspirando de frustração.
— Nós vamos encontrá-la. Ela vai ficar bem.
Erguendo a cabeça, ela encontrou seus olhos e estreitou os seus.
— Por que você realmente está comigo, em vez de perseguir pistas sobre Gregor?
Seus lábios afinaram e ele balançou a cabeça muito ligeiramente.
— Por que está correndo atrás de Crisa em vez de Gregor? Pensei que encontrá-lo fosse sua prioridade.
— Eu disse a você, é o laço de sangue. Não tenho escolha.
— Talvez eu não tenha também. — ele disse suavemente.
Briar revirou os olhos.
— Não seja ridículo. Não há nenhum vínculo entre nós.
Ele ainda estava olhando para ela, olhando profundamente em seus olhos, e não tinha necessidade de sondar sua mente para saber o que ele estava pensando. Estava pensando que havia uma ligação entre os dois. Estava pensando naquela noite quando fizeram sexo em um carro na rua, e o quanto foi explosivo e intenso. Estava pensando que aquilo os tinha ligado, e estava desejando que pudesse acontecer novamente.
Sua garganta ficou seca. Ela engoliu em seco.
— Vamos encontrar um carro.
Crisa sentou ao lado do homem na picape e deixou sua mente, abençoadamente em silêncio por um momento, flutuando de volta apenas alguns minutos, para quando estava tropeçando pela floresta quase cega pela dor de cabeça. Estava sendo perseguida. Ela sabia disso. Braços à frente, movendo-se mais rápido, mesmo ao tentar evitar encostar nos ramos e galhos golpeando em seu caminho. Não foi fácil com a imagem do menino em sua mente e da voz em sua cabeça, que continuava exortando-a.
Venha para mim, Crisa. Venha aqui. Você tem que vir aqui. Byram, Connecticut. Basta vir aqui. Você sabe que tem que fazer isso. Pelo bem do menino, se não pelo seu.
— Sim.
Seu rosto doía. Estava certa de que havia arranhões em seu rosto e braços, e ainda assim mal notou a dor, a intenção apenas em direção ao norte. Sempre norte.
E de repente, a imagem e a voz em sua mente desapareceram completamente, substituídos pela certeza de que alguém estava se fechando sobre ela por trás. Não, não alguém. Briar. Ela percebeu mesmo antes de Briar falar com ela, dizendo para esperar, que estava chegando.
Não podia esperar. Briar tentaria impedi-la de fazer o que era obrigada a fazer. Ela correu mais rápido, explodindo em velocidade sobrenatural, movendo-se mais rapidamente do que qualquer olho humano poderia detectar. Parou apenas quando irrompeu das árvores para um espaço aberto, e depois ficou parada por um momento, lutando para se orientar.
Estava em uma colina, a floresta atrás dela. Abaixo e na frente havia construções e pessoas e... veículos.
Quando um homem saiu de um dos edifícios na direção de uma caminhonete azul, enquanto se atrapalhava com um molho de chaves, ela correu até a pequena colina em direção a ele, alisando o cabelo ainda molhado enquanto corria.
— Ei! — ela chamou. — Ei, senhor.
Ele virou-se em direção a ela sorrindo, mas seu sorriso congelou no lugar quando a viu. Uma carranca surgiu imediatamente, e ele olhou além dela, depois de volta novamente.
— Você está bem? Precisa de ajuda?
Ele era um jovem robusto com o cabelo escuro e grosso e uma sombra de barba em seu rosto e mandíbula. Usava calça jeans desbotada e uma camisa vermelha de botão até embaixo.
Ela parou a apenas meio metro dele e assentiu.
— Preciso de uma carona. Você tem lugar?
— Sim. Claro. Aqui, pule para dentro. — Ele abriu a porta do passageiro de sua caminhonete e olhou mais uma vez além dela.
Ela subiu na caminhonete e acomodou-se no assento, enquanto ele ficava parado lá, segurando a porta. Ele disse.
— Você está encharcada e toda arranhada. Tem certeza que está bem? Você teve um acidente ou algo assim?
— Estou bem... mas estou, hmm, tipo com um pouco de pressa.
Ele acenou com a cabeça.
— Tudo bem, então. — Ele fechou a porta, deu a volta correndo para o seu lado da caminhonete e entrou. Em questão de segundos o veículo estava em movimento. — Você está indo para algum lugar em particular?
— Norte. — ela disse.
Ele arrancou para a estrada, e logo estavam ganhando velocidade.
— Isso não é muito específico.
— Connecticut.
Ele sorriu um pouco, em seguida dobrou-se sobre ela para abrir o porta-luvas. Pegou uma caixa de lenços e deixou cair em seu colo.
— Isso é definitivamente mais específico. Só estou indo até Maryland, no entanto.
— Este é o caminho certo?
Ele deu-lhe uma olhada um pouco estranha.
— Sim. Maryland é muito mais perto de Connecticut do que você está agora.
Ela assentiu, em seguida franziu a testa.
— Será que vamos chegar lá antes do nascer do sol?
— Ah, com certeza.
— Ótimo. Então vou com você para Maryland. — Ela arrancou um lenço da caixa e enxugou os pontos doloridos em seu rosto.
— Há um espelho aí em cima da viseira. — ele disse, lançando a viseira para baixo enquanto falava para lhe mostrar.
Ela levantou-o de volta novamente, uma reação instintiva tão rápida que fez com que ele saltasse. Vampiros não produziam reflexo. E os mortais nunca deveriam saber o que eram. Rey-Rey disse isso pra ela inúmeras vezes. Isto estava entranhado nela, achava. Certamente não vinha com a prática. Tinha muito pouca interação com os mortais desde que foi transformada. Além de Roxy e Ilyana, que só tinha conhecido nos últimos dias.
O homem olhou para ela, então para a estrada, e para ela novamente.
Ela cobriu o pânico momentâneo com um sorriso falso.
— Devo parecer uma bagunça agora. Não quero ver o quanto está ruim.
Sua carranca desapareceu.
— Na verdade, além de alguns arranhões em seu rosto e um galho em seu cabelo — ele estendeu a mão e pegou uma pequena folhagem desagradável de sua franja —, você está muito bonita.
Seu sorriso falso se transformou em um de verdade.
— Gentileza sua dizer isto.
— Nada mais que a verdade. Qual é seu nome, afinal?
— Crisa. — ela disse. — E o seu?
— Bobby.
— É um nome legal. — Ela se acomodou em seu assento, sentindo-se confiante de que Bobby não representava nenhuma ameaça para ela.
— Você gosta de música, Crisa?
Ela assentiu fortemente.
— Sim, gosto. Gosto de todos os tipos de música.
Ele estendeu a mão e apertou um botão. Uma música country encheu a caminhonete e Crisa bateu o pé no ritmo, inclinou a cabeça dolorida contra o assento e fechou os olhos.
Mas o menino estava lá esperando quando ela o fez. Parecia perdido e assustado, e sabia que precisava dela, mas não tinha certeza de como sabia disso. Também sabia que se seguisse a voz dizendo-lhe para ir para Connecticut, encontraria o menino.
Então era isso o que tinha que fazer.
Topaz tinha um Mercedes Benz e um Land Rover em sua extensa garagem. A van de Roxy, Shirley junto a eles, como estava a Shelby de Seth e o Carrera de Jack. A van saiu agora. A anotação que Roxy havia deixado dizia que ela e sua equipe decidiram dirigir-se a oeste para se juntar aos outros no caso da van com todas as suas características e equipamentos especiais fosse necessário. As outras duas equipes voaram para seus respectivos destinos.
Reaper perdeu seu carro, que foi aniquilado pelo fogo quando um dos drones de Gregor passou com um caminhão-tanque cheio de gasolina por cima dele. Isto foi apenas há algumas semanas, embora parecesse muito mais tempo.
Ele não tinha nenhum veículo agora. Comprar um seria a primeira coisa em sua lista assim que Gregor fosse destruído. Parecia que este trabalho estava levando uma eternidade.
A Mercedes era uma SL500 vermelho sangue, um carro possante, mas Reaper temperou sua testosterona com uma boa dose de praticidade e escolheu o Land Rover. Seria muito mais eficiente se o terreno se tornasse irregular. Só Deus sabia até onde esta selvagem perseguição à Crisa os levaria, embora não pudesse imaginar quanto seria difícil ou se levaria muito tempo para localizá-la.
Então esperava realmente que matar Gregor fosse uma missão bastante simples também, e ver como isto resultaria.
— Vamos levar este. — ele disse, abrindo a porta traseira do Land Rover e jogando sua mochila dentro. Levava roupas, lanternas, um par de armas tranquilizantes com alguns dardos e nada mais.
A mochila de Briar parecia ainda mais leve do que a sua. Ela atirou-a na parte de trás sem dizer uma palavra, em seguida abriu a porta do passageiro e entrou.
Reaper tomou seu lugar atrás do volante e dirigiu o veículo para fora da garagem.
— Você vai ter que me guiar. — ele disse quando virou o carro com a frente apontada para a estrada, em seguida, pôs o veículo em movimento e atravessou os portões. Os faróis brilhavam e cortavam a escuridão, embora não precisava deles para enxergar, mesmo na mais escura das noites.
— Norte. — Briar disse suavemente. — Ela foi para o norte.
Ele virou à direita.
— Ela deve ter falado com o mortal para lhe dar uma carona pra fora da ilha. Eles terão que pegar a ponte.
Briar esquadrinhou a estrada enquanto passavam. Lojas, lanchonetes, um ou dois lugares para se obter gás e o básico alinhavam-se na estrada principal da ilha. O oceano era visível em ambos os lados, e havia várias áreas densamente arborizadas ao longo do caminho.
— Eu me pergunto o que eles fazem quando há um furacão aqui. — ela meditou enquanto sentia a noite por sinais de Crisa.
— Evacuam, eu acho.
— Eu não gostaria disso.
— Você não iria.
Ela olhou para ele bruscamente.
— O que faz você pensar assim?
— Você é teimosa. Você é difícil. É ruim. Não gosta de ser incomodada. Tornaria isto pessoal, como se a tempestade que ameaçasse sua casa fosse um ataque deliberado e premeditado contra você e iria querer lutar. — Reaper deu de ombros. — Desde que particularmente não liga se vive ou morre, não teria nenhuma razão para não fazê-lo.
Ela piscou com suas palavras.
— Você acha que me conhece muito bem, não é?
— Estava descrevendo o que eu faria. — ele disse. — Tenho um pressentimento de que iria reagir da mesma maneira.
Ele esperou, e quando ela não respondeu, pressionou.
— Estou certo?
— Não, porque eu nunca viveria aqui. Este não é meu estilo.
— Qual é o seu estilo, Briar?
Ela deu de ombros.
— Um beco. Um banco de parque. A masmorra de Gregor.
— Essas não são respostas reais.
— Tanto faz. — Ela suspirou e endireitou-se no assento. — Ela está se movendo mais rápido agora.
Reaper lançou-lhe um olhar, leu o pânico em seu rosto e viu a forma como seus olhos fixaram-se no nada. Seu olhar parecia se voltar para dentro, e ele sabia que a sensação dela em Crisa era mais poderosa do que a dele jamais poderia ser.
— O que, Briar? O que você está recebendo?
Ela piscou rapidamente, parecendo extrair-se para trás de uma só vez, e então lançou-lhe um olhar desesperado.
— Ela está ficando cada vez mais longe.
— Eles devem estar fora da ilha. Provavelmente na rodovia sem os limites de velocidade que não existem aqui.
— Fodam-se os limites de velocidade, Reaper. Essa coisa não pode ir mais rápido?
Ele pisou com mais força no acelerador, passou com a traseira levantada lentamente.
— Eu não quero nenhum policial em cima de nós.
— Então não pare se alguém tentar.
Sim, isso seria simplesmente brilhante, ele pensou, imaginando uma perseguição em alta velocidade com uma barricada de luzes e sirenes eventualmente bloqueando seu caminho. Helicópteros e equipes de notícias.
— Precisamos permanecer sob o radar. — disse para ela. — Não chamar atenção sobre nós.
Olhando para frente, ela ergueu o queixo.
— Eles ainda estão indo para o norte.
— Então é para lá que nós vamos.
O olhar de Briar pareceu aguçar, sua atenção chegando mais completamente de volta ao presente. Ela olhou para ele.
— Diga-me novamente, porque veio comigo em vez de sair para acompanhar uma dessas pistas sobre Gregor?
— Eu já disse. Duas vezes, se estamos contando. Crisa é mais importante para mim do que pegar Gregor.
— Crisa só esteve conosco alguns dias.
Ele inclinou a cabeça para um lado.
— Está dizendo que ela não é mais importante para você também?
Ela não respondeu, apenas cruzou os braços na altura do peito e ignorou a pergunta.
— Ela é uma criança inocente. —ele disse. — Ela seria mais importante, mesmo que só estivesse conosco por alguns minutos, Briar.
— Psss.
Era um som carregado de sarcasmo.
— O que? — perguntou.
— Ah, vamos lá, Reaper. Diga a verdade. Toda a verdade, pelo menos uma vez.
Ele deslizou seu olhar em sua direção, mas apenas brevemente. Estavam entrando na ponte agora, e teve que prestar atenção em sua direção.
— Esta é a verdade. Mas você está certa, não toda a verdade. — Ele engoliu em seco, virou-se para olhar para ela mais uma vez. — É você.
— Eu?
— Sim. Crisa é importante para você, admitindo isto ou não. Ela conseguiu tocar uma parte de você que nenhum de nós pôde. E você é importante para mim, mesmo que não tenha a menor ideia por que. Acho que ela é boa para você. Penso que vocês duas precisam uma da outra. Então eu a quero de volta para o seu bem.
Ela balançou a cabeça lentamente e não ridicularizou sua confissão, quando meio que esperava que o fizesse. Talvez ela apreciasse a honestidade. Inferno, ele não sabia.
— Por que sou importante para você?
— Se eu soubesse, diria. Embora quando falei com Rhiannon na noite passada...
— Você falou com Rhiannon? — Ela estava claramente surpresa. — Por quê?
Ele franziu a testa.
— Você me pediu para tentar entrar em contato com Eric Marquand para pedir sua ajuda. Rhiannon sabe como chegar até ele.
Mais uma vez seu olhar ficou intenso, focado internamente enquanto digeria isso.
— Você está surpresa de fazer o que me pediu?
Virando-se para ele apenas um pouco, ela disse:
— Acho que estou.
— Foi uma boa ideia, Briar. Realmente uma boa ideia.
Ela assentiu com a cabeça, não agradecendo o elogio.
— Então, o que ela disse?
— Disse que tinha uma mensagem para mim. Não sabia o que significava, mas sabia que era a resposta a uma pergunta que eu tinha. E que a resposta era: “Porque você acha que não pode machucá-la”.
Suas pálpebras pesadas voaram para cima.
— E qual foi a pergunta?
— A única que fiz recentemente era a mesma que você me perguntou antes de irmos pra cama esta manhã. Porque eu a quero? — Ele deu de ombros.
— Então acha que está atraído por mim porque não pode me machucar?
— Talvez.
— Já esteve atraído por alguém que... você fez mal então?
Ele ficou em silêncio por um longo momento, lutando contra a maré de memórias que tentaram subir dentro de sua mente. Quando pensou que tinha represado, disse.
— Sim. Já estive.
Ela virou-se para encará-lo totalmente, uma perna elevada no assento entre eles, o joelho dobrado.
— Vai me contar sobre ela?
Ele deu-lhe um olhar de lado e falou sem hesitação ou premeditação. Disse para ela as palavras que nunca dissera a outra pessoa, confessou o que nunca tinha confessado.
— O nome dela era Rebecca. — ele disse. — Eu a amava. E então a matei.
— Está confortável garoto?
Derry fez a pergunta, ao mesmo tempo que lançava a Matt um travesseiro extra. Matt pegou, colocando-o no topo embaixo de sua cabeça, e relaxou na cama do motel sujo onde Derry tinha reservado um quarto.
— Claro. Mas não vou conseguir dormir.
— Por que não? Você ainda está com fome?
— Como poderia estar depois dos tacos, da pizza e do milk shake? — Matt revirou os olhos. — Eu apenas não estou acostumado a dormir durante a noite, é tudo.
— Oh. — Derry suspirou, balançando a cabeça como se compreendesse, embora Matt não tivesse certeza de que podia. Durante um ano inteiro agora, Matt estava vivendo no horário de seu pai. Dormir de dia, vivendo apenas de noite. Hoje foi o primeiro dia que esteve no sol desde o que pareciam anos. Ele gostou, mesmo depois que descobriu que era mais ou menos refém de Derry. O cara era bom para ele. E não era como se tivesse alguma chance de machucá-lo. Seu pai rasgaria esse cara em pedaços quando o pegasse. E ele o faria. Matt só esperava estar muito longe até então.
Era uma pena. Derry parecia um cara decente, exceto por estar disposto a matá-lo e tudo mais. Afinal, não tinha gostado da ideia quando isto penetrou em sua mente. Realmente esperava que não ele não tivesse que fazê-lo. Matt sabia disso com certeza.
— Você esteve ocupado o dia todo. — o homem prestes a ser morto disse. — Talvez durma melhor do que pensa.
— Talvez. Possa deixar a TV ligada?
— Claro. Ouça, hmm... não tente fugir de mim enquanto estou dormindo, tá?
— Claro, para onde eu iria?
— Voltar para seu pai, imagino. Apenas... não faça. Prometa-me, ok?
Matt respirou fundo e suspirou. Em seguida, sacudiu a cabeça.
— Por que não? — Derry perguntou.
— Porque fico me perguntando se você está pensando em me matar, a menos que meu pai faça o que você diz. Eu seria muito estúpido de ficar por aqui, não seria?
Parecendo atordoado, Derry afundou no colchão.
— O que o faz pensar que eu o mataria, Matt? Fiz alguma coisa para sequer machucá-lo até agora?
— Não.
— E não vou machucá-lo, garoto. Quero levá-lo de volta para a sua mãe.
— Sim, é o que você disse. Porém essa seria uma boa maneira de me impedir de fugir, não é? Dizendo que minha mãe está viva e que pode me ajudar a encontrá-la.
— Eu não menti sobre isso.
— Certo. — Matt suspirou, porque seus sentidos diziam que isto era verdade. Mas queria acreditar tanto nisso que talvez seus sentidos estivessem desligados. — Se aprendi alguma coisa com meu pai, é que simplesmente não se pode confiar em ninguém. Em ninguém. Não quando você é como nós.
— Nós? — Derry estava confuso, Matt podia sentir isso nele. — Você não é como seu pai, Matt. Você não é um vampiro.
Matt decidiu que não seria inteligente dizer a Derry que ele seria um dia. Seu pai disse que era inevitável, que quando ficasse mais velho seria isso ou a morte, e seu pai não tinha nenhuma intenção de deixá-lo morrer. Disse que ele mesmo transformaria Matt, tão logo ele fosse adulto, tão logo estivesse mais forte, no seu auge. Foi assim que seu pai tinha colocado. Disse que não esperaria por Matt ficar doente e fraco. Iria mudá-lo enquanto ainda era jovem e forte. Mas não até que fosse um homem.
Matt decidiu que não seria inteligente dizer nada disso a Derry. Então, ao invés disso, ele apenas disse:
— Não importa. Meu pai vai te matar por me levar. Se fosse esperto, você me largaria em algum lugar e correria pra longe o mais rápido que pudesse. Porque ele não vai estar satisfeito enquanto não encontrar você.
— Seu nome era Rebecca. — Reaper disse suavemente enquanto Briar notava a mudança em seu tom. A intensidade de sua voz. A tortura em seus olhos. — Eu a amava. E então a matei.
Ela olhou para ele por um longo tempo, parte dela morrendo de vontade de perguntar mais — quem era esta Rebecca? Como a matou? Mas não o fez. Porque isto sugeriria que estava interessada quando na verdade realmente não se importava. Além disso, seu rosto assumiu uma expressão fechada como estivesse arrependido de dizer tanto quanto dissera.
— Você quer me contar sobre isso? — ela perguntou, incapaz de se conter.
— Eu já contei.
Mensagem recebida, ela pensou.
Briar ligou o rádio, encontrou uma música de rock e deixou bem alto, em parte para irritar Reaper e em parte para se distrair. Ela não era do tipo que se preocupava com mais ninguém. Mas continuou imaginando todos os tipos de problemas que Crisa poderia entrar sozinha. E mesmo com a música, as imagens não a deixavam em paz.
Reaper estendeu a mão e abaixou o volume.
— Eu posso não estar sintonizado com Crisa. Mas estou em sintonia com você.
— Oh, isso deve ser bom.
— Você está preocupada com ela.
Ela revirou os olhos, balançou a cabeça, pensou em aumentar a música de novo. Então disse:
— Quem sabe que tipo de cara era aquele, afinal? Aquele que deu carona, quero dizer.
Reaper inclinou a cabeça e a estudou por um segundo.
— Prefiro pensar que ele é o tipo de cara que vê uma garota em apuros e quer ajudar.
— O mais provável é do tipo que vê uma garota em apuros e pensa que pode tirar proveito da situação. Talvez transar. E talvez não esteja muito interessado se ela quer ou não.
— A maioria dos homens não são assim, Briar.
— Um monte que você conhece.
Ele franziu a testa, então ela se virou, olhando pela janela para a paisagem noturna.
— Onde diabos nós estamos, afinal?
— Virginia. Porém estaremos em Maryland em breve.
— Foda-se Maryland. Para onde diabos ela está indo?
Ele ignorou a questão e perguntou:
— A maioria dos homens que conheceu foi... deste tipo, não foi Briar?
— Não comece a me analisar, Reaper. Nem mesmo pense que vou pôr pra fora toda essa merda.
— Ok. — Ele suspirou, voltando sua atenção para a estrada. Mas achava que sabia alguma coisa. Pensou que tinha vislumbrado um de seus demônios interiores, e isto a deixou puta pela conclusão.
— Ela está indo atrás do menino que continua vendo em sua cabeça. — disse Briar, para distraí-lo, assim como a ela mesma. — O que diabos você acha que é isso tudo, afinal?
— Dane-se se eu sei. — Ele pensou sobre isso enquanto continuou dirigindo. — Você acha que ele poderia ser real? Não apenas algum tipo de ilusão ou uma parte do que esteja... errado com ela?
Ela levantou as sobrancelhas.
— Ela parece pensar assim.
— E se ela estiver certa?
— Isso não é muito provável, não é? Ela está enlouquecendo, Reaper.
— Sim, mas também é um vampiro. Então vamos apenas dizer que ele seja real, por suposição. Se esse for o caso, ele quase certamente é um dos escolhidos. E, provavelmente, o único, para Crisa.
— O único? — Briar perguntou.
— Nós todos nos sentimos compelidos a proteger os mortais com o antígeno Belladonna. Aqueles raros que podem se tornar o que somos. Você sabe disso. — ele disse a ela. — Mas para cada um de nós há apenas um com o qual essa conexão é mais poderosa do que com qualquer outro. Você sabe disso também.
Ela assentiu com a cabeça lentamente.
— Então, e se este menino é o único para Crisa? E se realmente está em algum tipo de problema, e ela é realmente necessária?
— Que bem ela poderia fazer? — Briar perguntou. — Ela mal consegue cuidar de si mesma.
— E no entanto, se ela parar de ir até ele, podemos estar interferindo em algo que não temos o direito de interferir. Poderíamos estar custando a esse garoto a sua vida.
Briar piscou, não gostando para onde esta conversa estava indo.
— Talvez não devemos tentar trazê-la de volta, uma vez que a alcancemos. — Reaper sugeriu. — Talvez devêssemos ir com ela, em vez disso. Ver se esse garoto é real, apoiá-la caso precise de nós.
Ela olhou para ele.
— Você realmente acha que ele pode ser uma pessoa real e não apenas uma invenção da sua imaginação?
— Eu acho que há uma chance, sim.
Ela ficou sentada, olhando para as mãos no colo e não querendo que estivesse certo.
— Se um dos escolhidos realmente estivesse com problemas, não teríamos que sentir isto também? — ela perguntou.
— Podemos quando estamos perto o suficiente. Mas esse garoto está aparentemente a vários estados de distância.
Ela franziu a testa de repente, e bateu a palma da mão com força contra o ombro de Reaper.
— Pare! Encosta! Alguma coisa está acontecendo. — Seus olhos estavam escurecendo, sua visão fechando dos lados quando um pulsar brutal profundamente dentro de sua cabeça começou de novo. Não a dor dela. Não dela absolutamente, mas de Crisa, ela sabia disso agora.
Reaper fez o que ela pediu, puxando para o acostamento perto de uma rampa de saída. Assim que o veículo parou, Briar abriu a porta e saiu andando com as mãos na frente do corpo, quase cega agora porque o rosto do menino estava em sua mente. Seus pensamentos teciam claramente através de sua psique, assim como faziam através de Crisa.
Eu acho que esse cara pode decidir me matar. É uma pena também porque parece legal. Mas ele vai fazer o que for preciso.
E então sentiu pânico, e sabia que ele também pertencia à Crisa. O menino estava calmo. Pensando em seu próprio assassinato tão friamente como se estivesse pensando sobre a chance de que poderia chover.
Briar estava se movendo, andando, sentindo por Crisa.
À distância, podia ouvir Reaper chamando seu nome, sua voz urgente. E então pôde senti-lo segurando seus ombros, segurando-a quando tentou se soltar.
— Briar! — Sua mão bateu em seu rosto, a aguilhoada nítida o suficiente apenas para trazê-la de volta a si. As vozes se desvaneceram e o sentimento de pânico junto com elas, mas ainda sentia a dor de Crisa.
Piscando os olhos claros, ela levantou a cabeça para ver que Reaper estava de pé na frente dela com as mãos nos seus ombros, os olhos fixos nos dela. Na estrada um pouco além deles o tráfego seguia. Os veículos em cada uma das três pistas aceleravam ao longo de 80 quilômetros por hora e levantavam uma brisa que chicoteava seu cabelo.
— Você está bem? — Reaper perguntou, e pelo seu tom deduziu que ele tinha repetido a pergunta mais de uma vez.
Olhando para ele com os olhos arregalados, ela balançou a cabeça.
— Não. O-o que...?
— Você pulou para fora do carro e começou a vagar. Pensei que você andaria diretamente para o tráfego. Que diabos aconteceu?
Ela olhou para onde o Land Rover estava estacionado perto da rampa de saída, em seguida viu que estava de pé no pequeno triângulo de grama entre a pista de saída curva para a direita e onde a rodovia principal continuava sempre para frente.
— Este é o lugar onde eles pararam. — ela disse, apertando a mão no alto de sua cabeça como se isto pudesse aliviar a dor latejante que se formava, então moveu-se para a placa até que pudesse lê-la. Baltimore. Então virou e se curvou com as mãos na grama. — Ela saiu a alguns minutos. Achou que o trajeto tinha acabado, mas depois voltou atrás e foi com ele de novo.
— Então ela vai para Baltimore? Deve ser onde o menino está. — Reaper refletiu. —Mas se for assim, pergunto-me por que não o está sentindo?
— Não. — Briar balançou a cabeça. — Não, não é para onde ela está indo. Norte, ela continua pensando. Mais ao norte. — Ela olhou para o céu. — Quanto tempo antes do nascer do sol?
Reaper olhou para o relógio.
— Cerca de uma hora.
Briar assentiu com firmeza. O movimento doía, e ela parou estremecendo, esfregando as têmporas doloridas.
—E la é mais capaz do que dei acreditei. Ela ficou com ele para que pudesse encontrar um lugar para descansar durante o dia. Tinha intenção de deixá-lo para seguir seu caminho —para Baltimore. Sim. E tentaria encontrar outra carona para levá-la mais longe, mais perto de... Byram.
— Byram? — Reaper perguntou.
Briar deu de ombros e massageou a parte de trás do seu pescoço em um esforço para aliviar a dor pulsante em sua cabeça.
— Deve ser o nome do menino. Enfim, ela percebeu que estava muito perto de amanhecer, então decidiu seguir para a cidade mais próxima com o caipira e encontrar um lugar para descansar.
— E você sabe tudo isto... como? — Reaper perguntou.
Ela desviou o olhar para encontrar e prender o dele.
— Meu sangue está em suas veias. Parte de mim está viajando com ela. Parte de mim tornou-se ela. Sinto tudo o que ela sente no momento.
— Incluindo sua dor.
— Especialmente sua dor.
Reaper deslizou sua mão para a parte de trás do seu pescoço, apertando alternadamente e depois relaxando o aperto, e ela o teria rechaçado, exceto que isto era tão bom. Estava com dor. Ela pegaria qualquer alívio que pudesse receber.
— Nós devemos encontrar um lugar para descansarmos. — ele disse. — Poderíamos muito bem pegar a mesma saída, ficar tão perto dela quanto pudermos.
Ele abriu a porta do passageiro e fechou-a quando Briar entrou. Em um minuto estavam se movendo novamente, pegando a mesma saída que Crisa pegou.
Ele dirigiu até que viu uma série de cadeia de hotéis, em seguida encostou no estacionamento do primeiro que eles chegaram.
— Ela não está aqui. — disse Briar.
— Não, mas nós estamos.
— Nós ainda temos tempo. — argumentou. — Poderíamos seguir minha sensação sobre ela um pouco mais longe e...
— Ela estará voltando diretamente para a estrada pela manhã, Briar. Você mesmo disse, ela quer continuar indo para o norte.
Suspirando, ela abaixou a cabeça derrotada.
— Vamos nos estabelecer. Usaremos o tempo extra para entrar em contato com os outros, ver se algumas daquelas pistas sobre Gregor resultou em algo, e tornar o quarto protegido contra a luz solar. Ok?
Nunca teve um período fácil sendo paciente. Mas por outro lado, quando teria?
— Tudo bem. E então... talvez possa me contar o resto da história que começou mais cedo.
— Qual história seria, Briar?
— Aquela sobre a mulher que você diz que amou e matou. Rebecca, não é?
Ele desviou os olhos, saindo do carro. Ela saiu também, e caminharam em direção à entrada. Cada clique de seus sapatos na calçada era como um pequeno prego falando em seu cérebro.
— Não falo sobre isso. — ele disse.
— Oh, vamos lá. Você sabe que quer. Contarei a você sobre um dos meus assassinatos, se você quiser.
Ele deu-lhe um olhar de esguelha.
— Realmente não quero ouvir sobre você assassinar inocentes, Briar.
— Oh, inferno nenhum deles era inocente. — Ela suspirou e deu de ombros, e quando entraram no saguão do hotel ela continuou falando mentalmente agora, em vez de em voz alta. Tudo bem, nós vencemos. Vou trocar as histórias de assassinatos, então. Vou te dar outra coisa em troca se me contar sobre Rebecca.
O quê?
Sexo.
Ele balançou a cabeça para ela tão rápido que o movimento chamou a atenção dos recepcionistas e de um casal relaxando em uma das cadeiras estofadas na área de estar do lobby. Isto tornava esse movimento quase antinatural. Especialmente desde que nenhum dos espectadores tinha ouvido uma palavra em troca.
Ela sorriu lentamente, apesar de sua dor de cabeça latejante. Você quer isso, não é?
Ele segurou seu olhar, em seguida virou, aproximou-se da mesa e disse:
— Nós precisamos de um quarto.
— O horário do check-in será em...
— Nós vamos pagar extra. Basta nos registrar agora.
— Tudo bem, senhor. Gostaria de uma king size ou duas camas de casal?
— King. — ele disse, olhando para Briar mais uma vez. — Uma cama.
— Duas camas. — ela corrigiu e acrescentou silenciosamente para Reaper apenas, disse que ia transar com você, não dormir com você. Enviou-lhe uma piscadela sexy, em seguida desviou o olhar e tentou não sentir seu estômago apertar com a necessidade e a deliciosa antecipação.
Mas ela sentiu de qualquer maneira.
Seth e Vixen voaram para Dallas, alugaram um carro e foram direto do aeroporto para o endereço mencionado na reportagem. Era um dos muitos edifícios de dormitórios em uma faculdade privada, e estava completamente cercado por fita amarela da polícia.
Vixen tocou o braço de Seth, em seguida encontrou seus olhos.
— Não acho que possa ir lá.
— Sim. A energia da morte é muito impressionante, não é?
— Foi brutal o que aconteceu lá. — Ela fechou os olhos e sentiu o pânico, a dor, o medo que tinha varrido pelo edifício tão pouco tempo atrás. Sentiu os golpes, viu o sangue que ainda manchava as paredes e pisos. — Eles não morreram no abraço de êxtase de um vampiro. — ela sussurrou. — Eles foram brutalizados, atacados. Ainda assim...
— Havia vampiros aqui. Mas a energia está desligada. — Seth arrastou seu olhar do edifício, focalizando sobre sua amada companheira ao invés disso. — Fique aqui, fora de vista. Vou entrar, dar uma rápida olhada por aí e voltar.
Ela balançou a cabeça.
— Vou com você.
— Você não precisa fazer isso.
— Eu quero. — Ela deslizou a mão na sua, e eles explodiram do abrigo das árvores em um impulso de velocidade vampírica para não serem vistos por qualquer pessoa que pudesse estar assistindo. E estava muito claro para ambos que alguém estava. Mesmo que estivessem no meio da noite, este lugar era uma cena de crime, e provavelmente a conversa do campus. A porta se abriu, como se apanhada por uma anormal rajada de vento ou pelo menos era assim que pareceria aos olhos dos humanos, e então estavam dentro.
Seth empurrou a porta fechada e os dois se moveram pela porta de entrada, pelas escadas e ao longo dos corredores. Nenhuma das portas estavam bem fechadas, muito menos bloqueadas. Isto era, Vixen pensou, um provável problema para os investigadores terem que desbloqueá-las cada vez que voltasse, e estavam sem dúvida longe de acabar o processamento desta cena de crime.
— Três garotas morreram neste aqui. — ela sussurrou, em pé no corredor do lado de fora da porta um pouco aberta, a cabeça baixa, olhos fechados.
Seth olhou para dentro, mas não tinha que olhar para saber o que ele via. Piscando, tentou não ver o que estalou em sua mente. A mancha de sangue na parede distante. A poça espessa que tinha secado no chão. As manchas na cama.
— Mais dois lá. — ela disse, apontando. — Havia mais do que um atacante. Não humanos, mas não vampiros também, ou não exatamente.
— Sei exatamente o que eram. — disse Seth. — Lutei com estes bastardos antes. — Ele encontrou os olhos de Vixen, os seus próprios cheios de raiva.
— Drones. — disse Topaz. — Uma meia dúzia deles, talvez mais.
Ela e Jack estavam na casa em Oklahoma, onde o assassinato em massa havia ocorrido. A cena fora limpa, mas treze vítimas foram mortas ali e a energia que suas mortes deixou para trás estava atada com dor, pânico e horror.
— Não sinto nenhuma sensação de Gregor, no entanto. — Jack disse enquanto se moviam pela casa. — Eu não acho que esteve aqui.
Topaz se virou para ele, olhando em seus olhos enquanto procuram interiormente por uma resposta.
— Mas sabemos que ele comanda um exército deles. Acha que esses drones agiram por vontade própria?
— Eu não sei por que razão eles teriam feito. — disse Jack. — Além disso, eles não têm cérebro suficientes para fazer qualquer coisa por conta própria. — Ele passou por cima de um vaso quebrado. — Eles não drenam as vítimas. Há sangue por toda parte. Assim como se estivessem em um acesso de raiva, mas nós dois sabemos que os palermas não sentem o suficiente para empregarem até mesmo raiva sobre nada. Só fazem o que mandam fazer.
— Então Gregor disse para virem aqui e matar essas pessoas. — Topaz olhou em torno do quarto. Havia ainda um copo meio cheio na mesa, bandejas cheias de petiscos, tigelas de batatas já rançosas e azedas. O sistema de som na parede distante tinha uma luz vermelha piscando, ligando e desligando incessantemente. Alguém tinha aparentemente ligado o botão de pausa, em vez de Pare.
Ela podia olhar para o chão e ver onde e como cada corpo tinha caído. E poderia ter percebido isso, mesmo sem as manchas de sangue e esboços marcando a giz as manchas.
— Por que Gregor enviaria seus drones para cometer assassinatos em massa aparentemente aleatórios?
O celular dela tocou. Xingando e olhando em volta rapidamente como se estivesse com medo de ser ouvida, Topaz puxou-o de sua bolsa e abriu, em seguida olhou para Jack.
— É Roxy. O que foi Rox? — ela disse ao telefone.
— Isto é uma distração. — disse Roxy. — Tem que ser. Espere, tenho Seth na outra linha. Vou conectá-lo. — Ela clicou em um botão, ativando a função do telefone de três vias ligadas. — Ouçam-me. Vocês estão encontrando as mesmas bagunças em ambas as cenas de crime. Não posso sentir as coisas da maneira que vocês podem, mas não acho que isso foi um vampiro.
— Foram os drones. — disse Seth.
— O que não consigo entender é por que. — Vixen acrescentou.
— Você não pode? — Roxy perguntou. — Veja, pense nisso. Quem comanda um exército de drones? — Ela respondeu sua própria pergunta antes que qualquer um deles pudesse dizer uma palavra. — Gregor.
— Mas nenhum de nós está sentindo a presença de Gregor. — Jack disse. — Não sei se ele esteve aqui.
— Talvez não. Talvez tenha encontrado uma maneira de esconder sua presença. — Seth ofereceu. — Ele tem de estar por trás disso. Escondido em algum lugar, puxando as cordas.
— Eu concordo. — disse Roxy. — Olha, encontrem abrigo para o dia. Ilyana e eu seguiremos em frente — direto para Oklahoma primeiro, porque é mais perto. Deveremos estar lá antes de amanhecer. Vamos pegar Jack e Topaz e então seguir em direção para atender você e Vixen em Dallas. Dela planejaremos nosso próximo passo. Tudo bem?
Todos eles desligaram e Topaz virou-se para Jack.
— Não tenho um bom pressentimento sobre isso. — ela disse.
Ele passou os braços em volta de sua cintura, e puxou-a para perto.
— Vai ficar tudo bem com Roxy, precisamos encontrar abrigo antes do nascer do sol.
Ela assentiu concordando, mas inclinou a cabeça para seu beijo antes de puxar-se de seus braços e virar para olhar para os arredores.
— Esta casa não é exatamente isolada. — ela disse suavemente. — E não podemos nos refugiar no porão, não com a polícia propensa a voltar. — acrescentou com um olhar através da janela para a fita amarela que cercava o local.
— Não queremos nos abrigar perto demais, de qualquer maneira. Esses bastardos desajeitados podem estar escondidos.
— Não podemos senti-los?
— Não se Gregor, o Grande, ensinou-os a se proteger. — Jack apertou sua mão quando começaram a voltar em direção ao carro alugado, e ela o pegou franzindo o nariz quando chegaram à porta do compacto de aparência comum.
— Sentindo falta de seu Carrera? —ela perguntou.
Ele encontrou seus olhos, sorriu um pouco timidamente.
— Não sou esnobe. Mas este é um grande passo para baixo.
— Você não é esnobe. — ela concordou, abriu a porta e entrou. — Mas você é o cara.
Em sua mansão, Gregor estava sentado em uma mesa em forma de ferradura, que uma vez pertenceu ao porão do laboratório de Eric Marquand, com os computadores ao redor dele. Ele tinha levado todo o equipamento de escritório do Dwyer, as coisas que usou para monitorar Crisa, e configurou-o aqui, bem ao lado de seus próprios sistemas.
Mas não era em Crisa que estava se concentrando agora enquanto observava os bips moverem-se ao longo da tela. Dois mapas diferentes enchiam seu monitor, cada um com uma pequena luz piscando enquanto avançavam ao longo da teia de linhas que representava as estradas. Seus drones estavam em movimento em busca de abrigo. Seus drones se saíram bem, surpreendentemente bem, no plantio de dispositivos de rastreamento GPS nos veículos, sem serem vistos ou sentidos. Quando os membros da gangue de renegados de Reaper parassem para descansar, ele saberia exatamente onde estariam.
E se tudo corresse como deveria, eles poderiam estar saindo a qualquer momento em breve.
O rapto de seu único filho não interferiria com o plano que elaborou, que passou horas intermináveis tramando. Ele não podia permitir que isto interferisse. Lidaria com Dwyer e traria Matthias de volta, tudo a seu tempo. Mas nada atrasaria sua missão de atrair Reaper e Briar para ele — sozinhos — para receberem o castigo merecido.
E não deveria demorar.
Reaper observou Briar sair do banheiro do hotel. Ela usava um roupão branco do hotel que chegava só até o meio da coxa, e tinha amarrado uma toalha em seus cachos desenfreados enquanto se movia. Seus cabelos eram escuros e selvagens. E ele pensou, enquanto observava seus movimentos através do quarto, que ela era escura e selvagem também.
Ela sentou-se na primeira cama que encontrou. Ele estava em pé perto da janela que dava para o norte, fora do alcance dos raios diretos do sol. Havia três camadas de proteção, além disso. Persianas verticais, forros diáfanos e pesadas cortinas de damasco. Eles estariam a salvo aqui.
— Então? — ela perguntou.
— Então... o que?
Ela parou de esfregar seus cabelos, jogou a toalha úmida no chão e encostou-se à cabeceira da cama.
— Você vai me contar sobre Rebecca?
Ele acenou com a cabeça lentamente.
— Nunca falei com ninguém sobre ela, sabe? Mas, por alguma razão, acho que quero te contar.
Ela levantou as sobrancelhas, olhando para ele de uma forma que sugeria que achava isto estranho, mas disse apenas:
— Por quê?
— Acho que é porque quero ter certeza de que saiba o quão perigoso realmente sou, antes desta... desta coisa entre nós ir mais longe.
Revirando os olhos, ela disse:
— Não há nenhuma coisa entre nós. — Então deixou seu olhar deslizar para baixo dele e olhou diretamente para seu zíper. — Ainda não, de qualquer forma.
— Você quer muito fazer isto. — ele disse.
— Fazer o quê? — Ela estava olhando-o nos olhos novamente.
— Quando a conversa desvia para algo profundo, algo real, você transfere para algo sexual.
— E o sexo não é real?
Ele não disse nada. Ela suspirou, estendeu a mão e pegou uma escova de cabelo do criado mudo. Então, cruzou as pernas sobre a cama e começou a escovar os cabelos, não olhando novamente para ele enquanto falava.
— É você quem está mudando de assunto, Reaper. Quem foi Rebecca?
Ele respirou fundo, porque não mentiu quando disse que ela deveria ser avisada. Porque apesar de suas negativas, havia algo entre eles. E haveria muito mais se pudesse romper as barreiras que ela passou a vida inteira construindo. Talvez contando esta história a deixaria mais propensa a compartilhar algo sobre sua dor mais profunda com ele.
Porque sabia que ela estava sofrendo. Muito. Ele nunca viu ninguém com tanta dor quanto Briar ou mais em negação quanto a isso.
Ela enviou-lhe um olhar.
Estava esperando. Tudo bem, então.
— Rebecca foi minha esposa.
Sua escova pairou no ar perto de sua cabeça. Ele pensou que tinha balançado um pouco. Sua mão tremeu em reação à sua revelação?
— Casei-me com ela antes que soubesse o que a Agência tinha em mente para mim. Nós dois sabíamos que haveria meses de separação enquanto passava por meu treinamento. Mas nenhum de nós sabia que eu não seria a mesma pessoa quando voltasse.
— Como ela era?
— Ela era... o que você chamaria de delicada, acho. Ela era sensível, emotiva, chorava o tempo todo. Quando estava feliz, quando estava triste, quando ficava nervosa. Havia uma vulnerabilidade nela.
— Ela estava usando uma placa de chute-me, hein?
Ele olhou para ela.
— Acho que você poderia ver dessa forma.
— Se você fica vulnerável, está apenas pedindo para se machucar. — ela disse. Terminou de escovar os cabelos e jogou a escova sobre a mesa de cabeceira, em seguida pegou um maço de cigarros em cima dela e tirou um. — Qual a aparência dela? — Então levantou uma mão. — Espere, espere, deixe-me adivinhar.
— Ok, eu acho.
Ela acendeu o cigarro, largou o isqueiro, deu uma longa tragada e recostou-se novamente, esticando as pernas para fora da cama.
— Provavelmente poderia ter sido uma modelo. Alta. Não muito alta, no entanto. Provavelmente um vara pau. Seios pequenos. Mas alegre, aposto.
Ela deu outro tragada.
— Loira?
Reaper olhou para ela.
— Isso é muito bom.
— Ela provavelmente nunca fumou, raramente bebia, e quando bebia, um ou dois a deixariam bêbada. E juraria ser um sinal de uma péssima educação, uma falta de classe ou inteligência ou apenas falta de educação.
Agora ele estreitou os olhos.
— Como você sabe de tudo isso?
— Fácil. Apenas imaginando o meu oposto. — Balançando a cabeça, ela disse. — Odeio mulheres assim. Fracas, carentes, sempre jogando de vítima. Ela deveria ter deixado você louco.
— Eu a amava.
— Claro que amava. Então por que a matou?
Ele desviou os olhos, talvez um pouco rápido demais. Ela bateu justo onde doía.
— Deixe-me adivinhar. Você disse que chegou em casa de seu treinamento, um homem diferente do que fora antes. E desde então, cada vez que saía em uma missão, saía para assassinar um ditador, matando para viver, você voltou um pouco mais frio. Um pouco mais duro. Um pouco mais distante.
Ele acenou com a cabeça.
— Não podia dizer-lhe o que fazia para a Agência. A mentira, esconder isto dela, o medo constante de que ela descobrisse... isto realmente abriu um buraco entre nós.
— Ela teria deixado você se soubesse.
— Gostaria que ela tivesse. — ele disse.
— Então ela descobriu e não pôde lidar com isso. Jogou-se de cabeça do telhado em algum lugar ou teve uma overdose de tranquilizantes. Algum suicídio fácil assim porque não foi forte o suficiente para deixar tudo confuso. E você esteve se culpando por isso desde então, certo?
Ele se virou e a olhou diretamente nos olhos.
— Não.
Briar soprou anéis de fumaça e deu de ombros.
— Não? Como sabe, eu consegui um erro. Então, como ela morreu?
Ele a encarou. Ela abaixou o cigarro de seus lábios e o apagou no cinzeiro na mesa de cabeceira, tudo sem desviar o olhar.
— Eu ia deixá-la. — ele disse. — Estava indo embora. Mas antes que tivesse a chance de contar, ela disse minha palavra gatilho. Matei-a com minhas próprias mãos.
Ele observou a reação dela, a maneira como seus olhos se arregalaram em choque e descrença. A maneira como piscou três vezes em rápida sucessão. A maneira como seu rosto suavizou um pouco.
— Enfureci até que desmaiei. Quando voltei, ela estava no chão a poucos metros de distância. Seu pescoço estava quebrado.
— Merda. — Briar sussurrou. — O que você fez?
— O que estava treinado para fazer quando estivesse em apuros. Chamei Dwyer — para começar, de qualquer forma. Ele estava lá antes que tivesse levantado minha bunda do chão.
Ela levantou as sobrancelhas em questionamento.
— Derrick Dwyer foi meu orientador na Agência. Aparentemente, Rebecca o chamou para ajudar, mas era tarde demais. No momento em que chegou lá, tudo estava acabado. — Fez uma pausa, respirando. — Ele trouxe uma equipe para limpar. Eles levaram seu corpo para longe, removeram todos os vestígios de provas, me tiraram de circulação e disseram para não falar com ninguém, nem fazer nenhuma pergunta. Uma semana depois, a família foi notificada de que ela havia morrido em um acidente de carro. Não houve perguntas, nenhuma investigação, nenhuma suspeita. Banquei o viúvo de luto até que foi enterrada. E esse foi o fim de tudo.
Briar balançou as pernas para fora da cama e sentou-se na beira do colchão, inclinando-se para frente.
— Como assim, foi o fim de tudo?
— Porque simplesmente foi. Foi isso. Concluído. Acabado.
— Você já se perguntou por que ela disse a palavra gatilho, Reaper?
Ele balançou a cabeça.
— Foi um acidente. Provavelmente surgiu na conversa.
— Uh-uh. Esta não é esse tipo de palavra. Nem me lembro a última vez que tive uma conversa onde esta palavra em particular surgiu. Você pode ouvi-la em um programa de TV ou em uma canção. Definitivamente em uma canção. Mas não em uma conversa casual.
Ele suspirou.
— Isso não importa. Aconteceu. Eu não posso desfazer isto.
— Seth não achou que iria matá-lo. Lembra-se quando Gregor esteve com você sobre o cano de uma arma? Quando ia me matar se você não cortasse os pulsos e o deixasse vê-lo sangrar? E eu disse a sua palavra gatilho porque não via outra maneira, e você disparou em todos nós?
— Seth é jovem e idealista. Eu o teria matado.
— Você não o fez, no entanto. Bateu em todos ao seu redor, mas não matou qualquer um de nós.
— Vocês são vampiros. Um vampiro pode receber muito mais do que uma mulher mortal.
— Roxy não é vampiro. Você não a matou também.
— De alguma forma acho que Roxy seria mais difícil de matar do que qualquer um de nós. Mortal ou de outro tipo.
Ela estava balançando a cabeça devagar.
— Não, há algo de errado com essa história. Há algo estranho com a coisa toda, estou dizendo. — Ela franziu a testa, como se estivesse procurando algo em seu rosto que não estava vendo. — Você trabalhou para a porra da CIA. Está me dizendo que essa coisa toda não fede para você?
Ele deu de ombros.
— Morto é morto, Briar. Os detalhes não importam tanto assim, e para ser honesto, não acho que possa falar sobre isso.
Ela ficou em silêncio por um longo momento, e então, com um suspiro disse.
— Ok. — Então ela saiu da cama. — Ok.
Ele olhou para cima, drenado por compartilhar seu passado com ela, perguntando se tinha conseguido fazer uma pequena fenda na armadura que ela usava dia e noite. Mas estava certo de uma coisa: Rebecca tinha sido seu oposto. De toda forma possível.
Ela aproximou-se dele agora, levantou uma mão e puxou o cinto que prendia seu roupão fechado e deixou-o abrir. Deixou-o apreciar o que tinha revelado. O interior volumoso de seus seios. A pele suave de sua barriga. O triângulo escuro de cachos entre suas pernas.
Ela veio para onde ele estava sentado na cadeira, esperando. E então montou nele e abaixou-se em seu colo. Agarrando um punhado de seus cabelos, inclinou sua cabeça para trás, cobrindo sua boca com a dela e o beijou. Seu gosto de cigarro, sexy e bom.
Ele deixou suas mãos deslizarem debaixo de seu roupão para aconchegar sua bunda nua e a apertou. Ela levantou a cabeça, e quando olhou nos olhos dele, os dela estavam em chamas.
— Você está pronto para a sua recompensa, garotão? Hmm?
Ele a olhou, tão excitado quanto ela. Estava duro, e não queria nada mais do que tomá-la ali mesmo. Mas em vez disso, balançou a cabeça.
— Não.
Seus olhos brilharam mais amplo apenas brevemente e ela ficou imóvel.
— Que diabos você quer dizer com “não”?
— Não te contei isso para que me fodesse, Briar. Contei apenas para que soubesse. E acho que talvez esteja na hora de parar de usar o sexo como moeda. Você não é mais uma garota de rua, e não é uma prostituta.
— Você não me quer? — ela perguntou com os olhos estreitos, com raiva.
— Não deste jeito.
Ela empurrou a mão entre eles, acariciou a protuberância em sua calça e disse:
— Você é um mentiroso.
Ele apertou-lhe a mão no pulso e empurrou-a para longe.
— Você está certa. Eu quero você. E vou tê-la. Mas quando o fizer, vai ser porque você quer isto também. Não porque você está negociando por alguma coisa. Ok? —
Ela levantou-se e virou para se afastar, mas ele ainda estava segurando seu pulso, de modo que ela não poderia ir longe. Então o encarou novamente, a cabeça balançando.
— O que diabos está tentando fazer, Reaper O que quer de mim? Você quer que venha pra você toda carente como sua maldita esposa morta ou algo assim? Você quer que implore por isso?
— Não. Não, não é isso que... eu quero que você queira. Isso é tudo.
— Querer torna você fraco. Eu não quero e muito menos preciso de qualquer coisa ou qualquer um. Nunca.
Ele balançou a cabeça e soltou sua mão, enquanto se levantava e ia para o banheiro tomar uma ducha fria. Parando na porta, ele disse.
— Você acha que sou fraco ou necessitado, Briar?
Ela levantou a cabeça e olhou-o nos olhos.
— Eu quero fazer sexo com você. — disse quando ela não respondeu. — Sem amarras. Sem justificativa. Sem acordos. Apenas sexo, não porque seja obrigado, mas com o único propósito de prazer mútuo. Quando você quiser isto também, me avise.
Sem esperar por resposta, entrou no banheiro, fechou a porta atrás dele, encostou-se e bateu com a cabeça na madeira três vezes, não se importando se ela ouvia.
Inferno, por que simplesmente não transou com ela? Ele pretendia fazer isto. Não sabia o que diabos tinha acontecido para mudar de ideia.
Sim, ele o fez. Ele sabia. Não queria ser apenas outro joguete. Queria que ela também o quisesse. Da maneira como tinha certeza de que ela uma vez quis aquele bastardo do Gregor, embora não pudesse imaginar o porquê.
Abriu a torneira e entrou no jato frio do chuveiro, sabendo que tinha que matar o homem. E não porque foi bem pago para fazer isso. Inferno, a esta altura faria de graça.
Talvez finalmente acabasse com Gregor e a dor que ele infligiu no sistema de Briar.
Roxy sentou-se no banco do passageiro e olhou para a paisagem que passava. O sol tinha levantado. Seus amigos vampiros estariam todos descansando agora, como Mirabella estava em uma das camas ocultas na parte de trás da van. Ilyana sentava-se atrás do volante, pegando sua vez de dirigir. O console entre elas continha dois sacos de papel que Roxy havia colocado ali, contendo lanches que pegou na última parada de descanso. Alcançou o maior deles agora e puxou uma caixa de isopor, em seguida a ofereceu à loira, que parecia que iria sair voando com um vento mais forte.
— Sanduíche de café da manhã? — Roxy perguntou.
Ilyana torceu o nariz, mas pelo menos seus olhos reagiram. Ela saiu do seu casulo auto imposto por tempo suficiente para encontrar o olhar de Roxy.
— Não posso comer.
— Você realmente deve. Está muito magra. — Conforme dizia isso, ela colocou a caixa que continha o presunto, ovos e croissant de queijo em seu colo, e pegou no segundo saco. —Tenho uma caixa de O’Joe do DD. Tome uma xícara? É o melhor café que existe.
— Isto eu vou tomar. — disse Ilyana. Então Roxy pegou a caixinha de café e colocou-a na posição e serviu dois copos. Não foi fácil nesta particular extensa estrada que era ridiculamente irregular, mas conseguiu, então tampou a caixa e colocou-a de volta na sacola.
Com sua expressão perturbada, ela tomou um gole de café e observou Ilyana fazer o mesmo.
— Você gostaria que já estivéssemos em Oklahoma, não é? — perguntou a Ilyana.
A outra mulher assentiu, passou a mão por seu cabelo platinado cortado rente e acenou com a cabeça novamente.
— Sim, gostaria. Gregor está por trás desses assassinatos. Não há nenhuma dúvida sobre isso, não é?
Roxy deu de ombros.
— Talvez uma pequena dúvida.
Ilyana suspirou.
— Ok, muito pequena. Mas, realisticamente, como poderemos ajudar estando lá? Temos quatro cenas de crime, dois dos quais já foram verificados por nossos... colegas — e não há prova sólida que Gregor alguma vez pôs os pés em nenhum deles. Claramente seus drones estiveram lá...
— Se esses palermas estavam lá, Gregor estava lá. — Ilyana estalou.
— Onde? Os assassinatos ocorreram em quatro estados diferentes, Ilyana.
Ela abaixou a cabeça de uma vez.
— Eu sei. Apenas...
— Você só quer estar indo atrás dele, onde quer que esteja. Quer seu filho de volta.
Ilyana não confirmou isso. Não precisava. Roxy nunca teve filhos, mas achava que tinha uma boa ideia do que a loira estava sentindo agora. Desamparo. Fúria. Desespero.
Ilyana estava segurando o amuleto de prata que usava no pescoço, esfregando-o distraída enquanto dirigia.
Roxy olhou para a coisa. Ela nunca tinha visto Ilyana sem ele.
— Isso é um medalhão?
Encarando-a bruscamente, Ilyana encontrou seus olhos, depois assentiu.
— Você tem a foto dele aí?
— Sim. — Ilyana aprumou-se, em seguida, abriu o medalhão e estendeu-o para Roxy.
Roxy se aproximou, tomou-o em seus dedos e olhou para os inteligentes olhos de um menino de pouca idade.
— Esse é o meu Mattias. — Ilyana disse. — Ele está com dez agora. Isto foi feito em seu último aniversário.
Roxy sorriu quando olhou para o menino com a cabeça cheia de cabelos caramelos em um corte tigela, e seus grandes olhos castanhos e um punhado de sardas na ponta do seu nariz.
— Ele é muito bonito, não é? — ela disse. — Você deve sentir terrivelmente falta dele.
Ilyana assentiu.
— Seu pai não pode cuidar dele da maneira certa. Gregor não o entende. Nunca entendeu.
— Como é que vocês três têm o antígeno belladonna? — Roxy perguntou. — É uma coincidência incrível, isso.
— Não é coincidência de maneira alguma. Gregor sabia que ele era um dos escolhidos; e sabia o que isso significava. Quando trabalhava para a CIA — eles o projetaram em parte devido ao antígeno. Então ele sabia. Procurou deliberadamente uma mulher que tivesse isto também. Fingiu se apaixonar por mim, desempenhou um papel, mentiu sobre tudo, até que me engravidou. Uma criança nascida de dois pais com o antígeno é quase certo que o tenha.
— Mas... por quê? — Roxy franziu a testa enquanto gentilmente fechava o medalhão sobre o rosto jovem de Matthias e o liberava. — Por que iria querer criar um filho com o antígeno?
— Ele viu Matthias como o início de sua dinastia. Gregor trabalhou quase sem parar antes que a CIA o transformasse no monstro de laboratório deles ou seja lá o que eles fazem por lá. Queria estar no auge de suas condições quando foi alterado. Eu não tenho dúvida de que pretende fazer com que Matthias seja ainda melhor do que ele. Jovem, forte, nem mesmo chegando perto de enfraquecer ainda. — Ela abaixou a cabeça. — Ele não vai dar a Matt uma chance de viver uma vida mortal antes que o transforme em um deles. E está fazendo só Deus sabe o que com a cabeça do meu filho neste momento. Ele é tão brilhante, tão sensível ...
— Ele tem a inteligência em seus olhos. — Roxy disse baixinho, desejando que pudesse oferecer mais do que palavras de conforto.
— Ele tem mais do que isso. — Ilyana abaixou a cabeça. — Ele é especial, meu menino. E prefiro estar em um dos quatro locais onde ele poderia ter estado, mesmo não sabendo qual é o certo, do que estar em outro lugar onde sei que não está.
— Aguente firme, Ilyana. Nós estamos a caminho. E prometo a você, no instante em que obter uma pista sobre Gregor, vamos atrás dele. Você e eu. Eu prometo.
Ilyana suspirou.
— Eu sei.
— Podemos saber de algo antes mesmo de chegar lá. Vai anoitecer no momento em que chegarmos a Cidade de Oklahoma.
— É verdade.
Isto foi verdade. Somente depois de escurecer foi que encontraram uma lanchonete e sentaram-se para aguardar o contato dos outros. Elas ainda estavam andando e preocupando-se quando o telefone de Roxy tocou, e quando atendeu ouviu a voz de Vixen que falava baixinho.
— Estamos completamente cercados. — disse Vixen. Ela soava como se estivesse à beira das lágrimas. — Não há maneira de sair.
Topaz despertou rapidamente, assim como sempre fez. Ela e Jack se refugiaram em uma casa abandonada a cerca de 60 quilômetros ao sul do local do crime, em Oklahoma. Eles estavam no meio do nada, e na medida do possível consertaram as fechaduras que manteriam intrusos comuns afastados.
Ela rolou para o lado e sorriu sonolenta quando Jack esticou os braços sobre a cabeça, os olhos ainda fechados, em seguida passou um braço ao redor dela e a abraçou apertado. Era bom estar com ele desta maneira. Segura. Não duvidando. Apenas sabendo.
Fizeram amor de forma lenta e deliciosa, saboreando os sentimentos que tinham finalmente admitido terem um pelo outro. Ela não achava que a vida poderia ser tão boa.
Ela beijou seu queixo, em seguida saiu de seus braços para fora de sua cama — um aconchegante sofá que foi deixado para trás. Pés descalços, vestida com sua blusa e calcinha, Topaz foi até a porta da frente e abriu o ferrolho. A coisa era tão velha e enferrujada que ficou surpresa que ainda funcionasse. Demorou um pouco de esforço para destrancá-la. Mas ela o fez.
— Correndo já de mim?
— Eu só quero ver que tipo de noite está.
— A Lua é uma lua crescente. Está frio e claro. Quase sem vento. E está escuro lá fora. Agora volte pra cama.
Ela enviou-lhe um sorriso.
— Paciência, homem das cavernas. Vou estar lá antes de você saber disto. — Em seguida, torceu a maçaneta e abriu a porta, dando um pequeno passo para a noite fresca antes de vê-los e congelar no lugar.
Homens. Homens do tamanho de lenhadores. Não. Não homens. Seus olhos sondando, percebendo que formavam uma barreira viva em torno do local, assim voltou para dentro da casa, bateu a porta e deslizou a tranca.
— Acho que estamos em apuros, Jack.
Seu tom de voz e a energia por trás dela, deve ter ficado muito claro para ele, porque estava ao lado dela quase antes dela terminar a frase, usando seu short de pugilista e alcançando a porta.
— Não. — ela disse. — Não abra.
Ele franziu a testa, depois moveu-se para a janela, separou as camadas de “cortinas” que penduraram e olhou pra fora. Ele piscou longo e lento, e então olhou novamente.
— Drones. — Ele disse isso como um palavrão.
— É. E parece que eles cercaram o local.
— Inferno. — Ele se moveu para o outro lado da sala e deu uma olhada na outra janela, confirmando seu palpite com um aceno de cabeça em sua direção.
— Merda, Jack, o que vamos fazer?
Ele encontrou seus olhos, então atravessou a sala para onde ela estava e envolveu-a em seus braços.
— Vamos pensar em alguma coisa.
— O que? Você viu quantos estão lá fora? Dezenas!
— Vinte e dois. — ele disse. — Eu contei somente vinte e dois.
— Somente vinte e dois?
Ele segurou-a mais apertado e até riu um pouco, mas ela sabia que era falso.
— Olha, nós vamos aguentar firme e ver o que eles têm em mente.
— O que eles tem em mente é nos rasgar em pedacinhos, Jack.
— Acho que não. — Ele recuou um pouco ainda a segurando, mas olhando em seus olhos. — Se quisessem nos matar, já teriam invadindo o lugar agora, não é? Por que fazer uma formação lá fora? Ao redor do lugar, como se...
— Como se não quisessem que nós fossemos capazes de sair. — ela disse lentamente. — Jack, onde diabos está Gregor neste momento?
— Não sei. — Ele pegou seu celular. — Temos que deixar que os outros saibam a situação, ver como estão as coisas com eles.
Ele abriu seu celular, discou o número de Roxy e esperou.
Baltimore.
Passou-se uma vida inteira desde que Briar deixou esta cidade com nada mais do que uma mochila recheada, tão cheia quanto poderia enchê-la, e as contusões que seu padrasto deixara em seu corpo. Ela estava com quinze anos, com destino a Nova York, determinada a viver por conta própria.
Ela não tinha. Teria sido morta se Gregor não a tivesse encontrado naquela noite. Ela tinha bebido vinho barato quando seu último cara a jogou pra fora do seu carro depois que vomitou em cima dele. Nem a tinha pago. Chamou-a de prostituta suja e saiu, seus pneus cuspindo cascalho quando se afastou. Foi onde Gregor a tinha encontrado. Foi onde a transformou.
Foi onde disse que ela não podia confiar em ninguém além de si mesma, uma lição que aprendeu da maneira mais difícil. Mas fora uma tola porque começou a confiar nele. E em troca, ele tinha chegado perto de matá-la. Teria, senão fosse por Reaper e seu bando de homens festivos. E as mulheres.
Ela conseguiria sua vingança sobre Gregor. Ela o faria.
Mas a lista de homens que pretendia matar era longa. E o homem cujo nome era o segundo da lista, ainda estava vivendo aqui em Baltimore. Era uma oportunidade boa demais para deixar passar. E iria distraí-la da tempestade agitando lá, profundamente dentro dela. Uma que Reaper agitava cada vez que tentava ver algo de bom nela. Estava tão errado. Talvez isso provasse a ele de uma vez por todas e a veria como realmente era.
Perversa. Ela era o mau personificado. Ele matou porque não podia evitar. Tinha tomado vidas porque era isso que foi programado para fazer por aqueles que obtiveram acesso à sua mente. Ele lamentava o sangue em suas mãos.
Ela não. Ela adorava.
Ela levantou-se antes dele, foi para o banheiro e abriu as torneiras do chuveiro. Em seguida, fechou a porta do banheiro e se arrastou para fora do hotel, para a recente escuridão.
A cidade estava voltando à vida. Ela chamou um táxi e deu ao homem o endereço da casa onde tinha crescido, cada nervo apertado e formigando enquanto se dirigiam.
E quando o táxi parou em frente à casa na periferia da cidade, ela ficou sentada ali, olhando para ela por um longo tempo.
— É este o lugar? — perguntou o motorista.
Ela mudou seu foco do quintal atrás da cerca de arame, onde costumava brincar, para o motorista, que estava franzindo a testa para o espelho retrovisor e chegando a ajustá-lo, sem dúvida se perguntando por que diabo não podia vê-la refletida no vidro.
Ela abriu a porta e saiu inclinando-se para trás em tempo suficiente para entregar-lhe uma nota de dez dólares. A tarifa era de US$ 8,50. Perto o suficiente. Então virou-se para olhar para casa, enquanto o motorista se afastava.
Tantas lembranças. Droga.
— Quem mora aqui, Briar?
Ela virou-se, primeiro assustada e em seguida, furiosa. Reaper estava a poucos metros de distância, as mãos enfiadas nos bolsos de seu casaco, o vento soprando seu cabelo escuro.
— Isto é problema meu, Reaper. Você não deveria estar aqui.
— A raiva vem de você em ondas.
— Eu fico assim quando as pessoas fuçam meus negócios. Ou quando estou sendo seguida.
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Você estava com raiva antes de saber que eu estava aqui, e muito focada nesta casa até mesmo para sentir minha abordagem. Quem mora aqui, Briar? — ele perguntou de novo.
Ela levantou as sobrancelhas, inclinou a cabeça para um lado.
— Eu morava. Uma vez.
— E agora?
Ela sacudiu a cabeça e encaminhou-se para a porta.
— Vá embora, Reaper.
— Eu não vou a lugar algum.
— Então você pode assistir. — Ela não interrompeu seu passo de novo, apenas foi até a porta da frente, torceu a maçaneta até a fechadura quebrar e depois entrou.
Uma mulher que Briar nunca viu antes se levantou de uma poltrona onde estava lendo uma revista e fumando um cigarro. Ela era de meia idade com cabelos loiros sujos, um permanente ruim que tinha saído de moda há vinte anos, e linhas de expressão ao redor dos olhos e da boca.
— O que... que... pensei que a porta estava trancada. O que é isso?
— Estou à procura de Martin Rose. Ele ainda vive aqui?
— Bem, sim, mas...
—S im, ele está aqui. Sinto o cheiro do bastardo. — Briar começou a avançar, atravessando a sala para o corredor que levava ao covil.
A mulher deu um passo, bloqueando seu caminho.
— Ele está dormindo.
Briar olhou para a mulher.
— Você pode querer ser cuidadosa, senhora. Isto não é da sua conta.
— Vou chamar a polícia se você não sair agora. — disse a mulher, levantando a voz com medo.
Antes que Briar pudesse reagir, as mãos de Reaper estavam em seus ombros, firme, segurando-a. Ela queria virar e socá-lo na mandíbula, mas em vez disso respirou com calma.
— Eu sou sua enteada. — Briar disse, suas palavras cortadas. — Por que apenas não diz a ele que estou aqui e tome cuidado com o que diz antes de chamar a Guarda Nacional?
A mulher piscou, olhando para ela.
— Ninguém pôde encontrá-la.
— Eu não queria ser encontrada. Quem é você, a mais recente substituta de minha mãe?
A mulher engoliu antes de falar, claramente chateada, mas agora parecia estar lutando para manter a calma.
— Sou sua enfermeira. Uma delas, pelo menos. Seu pai...
— Padrasto.
— Seu padrasto é um homem muito doente.
E prestes a ficar mais doente, Briar pensou.
— Diga-lhe que estou aqui ou saia do meu caminho, minha senhora. Não vou pedir novamente.
A mulher enviou um olhar suplicante além dela, sem dúvida silenciosamente pedindo a Reaper para controlá-la. Como se pudesse. Aparentemente, ele não deu qualquer sinal de que ajudaria sua causa, porque a loira suspirou e se afastou.
Briar olhou para o corredor para a porta fechada no covil e sem olhar para a mulher disse:
— Provavelmente seria uma boa ideia que desse o fora daqui, agora.
A enfermeira Nancy assentiu bruscamente, e pegando uma jaqueta da parte de trás de uma cadeira enquanto passava, correu para a porta e passou por ela.
Reaper disse:
— Ela vai chamar a polícia no segundo que estiver a uma distância segura de nós.
— Sim, posso ler pensamentos também. — Ela ainda estava olhando para a porta. —Estou pedindo para você ir embora.
— Não irei. Você não quer fazer isso, Briar.
— Não? — Ela virou-se para encará-lo. — Deixe-me dizer uma coisa, Reaper. Se você tentar me deter, vou usar a palavra gatilho e deixá-lo fazer o trabalho por mim.
A ameaça o atordoou. Ficou claro na maneira como se afastou um pouco, como se o tivesse atingido com um soco e o nocauteado. Mas ela ignorou isso, junto com o olhar de dor que brilhou em seus olhos e o desejo de que pudesse engolir as palavras de volta. Tarde demais.
Ela virou-se para a porta do covil, torceu a maçaneta e a abriu, entrando no quarto em um longo passo.
Mas não era mais um covil. Era um quarto, idêntico em todos os sentidos a um quarto de hospital, exceto que estava localizado em uma casa. Havia uma bomba IV em pé ao lado da cama padrão de hospital com três sacos pendurados nos ganchos acima dele, escorrendo continuamente para dentro de tubos que lesionavam e fundiam-se, juntando-se a um tubo maior que estava preso no braço de Martin.
Essa foi a primeira coisa que notou nele. Seu braço. Estava branco, mais branco do que o dela, e a pele era como papel. Entre a pele e osso, não havia muito mais. E quando levantou seu olhar, viu que o braço estava tão fino quanto o antebraço, antes de desaparecer sob a manga curta de uma camisola de hospital. Um cobertor cobria do peito para baixo, com os braços descansando em cima dele.
Levou um tempo para forçar o olhar para cima, para o seu pescoço, onde a pele pendurava solta como se o homem tivesse desaparecido debaixo disto, enquanto não estava olhando. Então finalmente olhou para seu rosto. Fundo. Encovado. Cinza. Ele não parecia estar respirando. Mas depois de um momento, sugou em um suspiro longo e gorgolejou. Então, nada de novo.
— Que bom que chegou aqui quando deveria. — Reaper disse. — Ele vai estar morto em um ou dois dias, se não pela manhã.
Ela não podia se mover, não podia responder. Houve um tremor trabalhando através de algum lugar lá no fundo, fazendo seu caminho lentamente para a superfície. Suas mãos começaram a tremer, seu estômago a apertar.
— Bem, o que você está esperando? — Reaper perguntou. — Faça-o. Mate-o.
Ela fechou os olhos, bloqueando a visão do monstro que tinha assombrado seus sonhos nos últimos sete anos.
— Você provavelmente vai querer acordá-lo primeiro. — Reaper continuou. — Embora não sei se isso é mesmo possível. Então, basta fazê-lo. Você quer estrangulá-lo ou apenas bater na cabeça com algo pesado?
— Cale-se.
— Diga a palavra e vou fazer isso por você. Você sabe qual palavra que quero dizer, certo, Briar?
— Cale a porra da boca!
Ele calou-se. Ela abriu os olhos de novo, toda a raiva inútil agrupada dentro dela se transformando em algo mais, algo pesado e denso.
Ao longe, uma sirene soou.
— Nós temos que sair daqui, Briar. — Seu tom de voz tinha mudado. Estava estranhamente terno agora. Delicado. Sua mão foi para seu ombro.
Ela soltou-se, secando com o nó dos dedos uma lágrima quente de seu rosto e se aproximou da cama. De pé diretamente ao lado do homem que tinha tomado sua virgindade com a tenra idade de onze anos, ergueu as mãos e inclinou-se, abaixando-as. Sua mão esquerda fechada em torno do seu pescoço. Ela não precisava da direita. Uma delas era suficiente para quase totalmente rodeá-lo. Travando os dentes contra a bile que subiu em sua garganta com o contato físico, ela apertou sua mão. Faça-o, disse a si mesma. Sufoque a vida fora do bastardo vil. Está muito atrasada.
Sua mão tremia. Por que estava levando tanto tempo? Ela era um vampiro, poderia esmagar sua laringe em um piscar de olhos. Bastava apertar, droga.
E ainda assim ela não o fez. Não podia. Sua mão tremia mais ainda e então relaxou seu aperto, empurrando sua carne longe do contato com a repugnante dele e virando as costas para o velho homem alquebrado deitado na cama.
— Você não pode fazer isso, não é? — Reaper perguntou.
Ela não podia olhar para ele.
— Só porque estaria fazendo-lhe um favor.
Ela passou por ele e saiu do quarto, em seguida, fora da casa.
Uma hora depois estavam de volta no Land Rover, rumo ao nordeste. Briar pediu a Reaper para deixá-la dirigir desta vez, e ele não teve objeções. Ela provavelmente precisava de distração, pensou. Tinha voltado a ficar em silêncio, melancólica, quase no estado clinicamente deprimido em que estava vivendo durante as duas primeiras semanas após Gregor tê-la torturado e tentado matá-la. Até Crisa juntar-se ao bando, e ela começou uma lenta emersão da escuridão. Mas este episódio com seu padrasto parecia tê-la mergulhado de volta nas profundezas mais uma vez. Brevemente, ele esperava.
— Eu sinto muito por isto não valer a pena.
— Sente pelo quê? — ela perguntou, sem olhar para ele. Os faróis dos veículos que passavam pintando seu rosto com pálidas listras azuis e brancas luminosas. Ele observou os tons de mudança, mas sua expressão não mudou. Não deu nenhuma pista sobre o que estava acontecendo por dentro.
— Por tudo isso. Tudo o que ele fez com v...
— Ele me estuprou. Repetidamente.
— E você nunca contou?
— Para quem iria contar?
— Sua mãe? — ele perguntou, olhando, sondando, sentindo a ponta de emoção que apareceu naquele breve momento antes que ela reprimisse.
— Ele me disse que me mataria se contasse à minha mãe. Disse que ela nunca acreditaria em mim, de qualquer maneira. Disse que ela iria me odiar por isso. Disse que a mataria. Essa foi a causa principal. Quando me disse que iria matá-la. Porque no final, eu tinha certeza de que iria.
Ele inclinou a cabeça para um lado.
— Ela morreu, sua mãe?
Ela assentiu, mordeu o lábio como para se impedir de dizer mais alguma coisa.
— Quantos anos você tinha?
— Quatorze. Ela tinha câncer no pâncreas. Mas eu não sabia desta merda, sabe? Percebi que deveria ter descoberto meu segredo. E isso a matou, como aquele bastardo disse que iria.
Ele acenou com a cabeça lentamente.
— Isso faria sentido, eu acho, para uma garota de quatorze anos de idade. — Olhou para o rosto dela, observando todas as suas nuances. — Você sabe que não foi culpa sua, certo?
— Claro. — Ela deu de ombros. — E o fato de que todo o homem que já conheci me tratou de maneira exatamente, realmente não significa nada.
Franziu o cenho fortemente, sentiu que ela terminou com o assunto, mas queria saber mais.
— O que aconteceu com você depois que ela morreu?
— Eu vivia com a mãe dele, minha avó, até que morreu também um ano depois. Então fui enviada de volta ao meu Querido Padrasto. Ou esse era o plano. Tinha outras ideias, no entanto. Fugi por conta própria e estive por minha conta desde então.
Ele balançou a cabeça lentamente e estava preparando sua próxima pergunta em sua mente quando ela disse:
— Eu teria feito isso, você sabe.
— Feito o quê? Matado?
— Ou forçado você, se tentasse me deter. Não teria hesitado em usar essa palavra gatilho em você para tirá-lo de si.
— Isso seria a pior coisa que poderia fazer comigo.
Ela levantou as sobrancelhas, virou a cabeça para ele momentaneamente. Foi a primeira vez que sua expressão tinha alterado de qualquer modo.
— A pior coisa que poderia fazer com você? Qual é!
— Não, é verdade. Se você torturasse seu cérebro por anos, mesmo sabendo tudo o que havia para saber sobre mim, minha história, meus segredos...
— Você tem mais segredos?
— Mesmo assim, você não poderia chegar com uma única ação, que seria mais do que uma traição ou que garantiria que eu nunca a perdoasse, por usar essa palavra gatilho para me forçar a matar alguém.
— Por quê? Você odeia matar tanto assim?
Ele se mexeu no assento, dando-lhe um olhar de lado e se perguntando como a mesa virou tão completamente. Ele estava sondando sua psique, e agora ela estava bisbilhotando na dele.
— Eu não odeio matar. Não me importaria de matar Gregor nem um pouco. Odeio é ter o controle da minha própria mente, do meu corpo, de minhas próprias ações, tiradas de mim. É como... — Ele procurou em sua mente por algo para comparar, algo que ela pudesse entender. E então jogou isto. —É como estupro.
Ele achou que ela se encolheu um pouco.
— Eu já fiz isso uma vez. — ela disse, depois de um longo momento de introspecção. —Usei a palavra gatilho.
— Você usou para salvar minha vida. E a sua. Você não tinha escolha.
Ela assentiu e reorientou-se na estrada, mas não antes de pensar ter vislumbrado uma sombra de alívio em seus olhos.
— Se você tivesse usado desta vez para me fazer matar aquele velho, teria sido diferente. Especialmente quando tudo o que tinha a fazer era pedir.
Suas sobrancelhas levantaram-se, e virou a cabeça para ele, seus olhos sondando.
— O que você quer dizer? Você o teria matado por mim se eu simplesmente pedisse?
Ele acenou com a cabeça.
— Não poderia matá-lo. Ele está em coma, desamparado, doente e com dor.
Reaper deu de ombros.
— Ele te machucou. Merece estar doente e com dor, e merece morrer violentamente. Embora acho que está sofrendo mais por estar vivo. Vagarosamente como está.
Ela assentiu com a cabeça, mas seus olhos estavam atordoados quando os focou de volta na estrada.
— Então por que não o matou por mim?
— É o que eu faço. Não me incomoda tanto assim quando é alguém que precisa morrer.
Ela franziu o cenho.
— Não posso acreditar. Você parece tão... não sei, bom moço. Você não tem qualquer problema ético de acabar com alguém assim? Brincar de Deus?
— Por que teria? — Ele respirou fundo, suspirou profundamente. — Sou um homem extremamente moral, Briar. Mas não vejo as coisas da maneira que outras pessoas o fazem. Nunca vi, não como um mortal, e nem agora. Olho para isso assim. Se uma pessoa tem um tumor canceroso crescendo dentro dele, eles o cortam. A humanidade é um corpo e os indivíduos formam suas partes. Bastardos como Gregor, como seu padrasto, são tumores malignos. Eles precisam ser removidos para um bem maior.
Ela estreitou os olhos.
— As necessidades de muitos superam as necessidades de poucos, citando o Sr. Spock.
— Ou citando a Bíblia. Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o.
— Um assassino de princípios. — Ela balançou a cabeça lentamente. — Quem diria?
— Eu não assassino. Executo. Há uma diferença.
Ela assentiu com a cabeça, em seguida, disse:
— O que aconteceu com Rebecca é o que você considera assassinato, então?
— Sim.
— E quem você condena por esse crime?
— Eu mesmo. E tenho.
— Mas não estava no controle. É como você disse, alguém se encarregou de sua mente e seu corpo sem sua permissão.
— Não importa. Eu era a arma.
— Sim. Bem, quando vejo uma espingarda na cadeira elétrica, eu concordo com você. — Ela dirigiu por cerca de um quilômetro sem uma palavra, e então de repente, virou-se para ele e disse: — Como o corpo dela parecia?
— Corpo de quem? — Ele se virou para ela. — Você está falando de Rebecca?
Ela revirou os olhos.
— Sim, Rebecca. Quando você saiu de sua raiva e encontrou-a morta, como ela parecia?
— Não vou falar sobre isso.
— Oh, vamos lá. Estou interessada, realmente estou. E você tem tentado me puxar por horas agora, então aqui estou. De volta. A morte me fascina. Então me diga como ela parecia.
Ele abaixou a cabeça, fechou os olhos.
— Ela estava deitada no chão.
— O rosto para cima ou para baixo?
— Para o lado.
Ela assentiu com a cabeça.
— O que estava vestindo?
— Uma saia. Uma longa saia branca com flores bordadas em torno da bainha. Uma regata branca. Um par de chinelos de dedo. — Ele fechou os olhos.
— Chinelos? Ainda em seus pés?
— Sim.
— E essa saia, estava rasgada? Manchada de sangue?
Ele balançou a cabeça, enquanto continuava.
— Como estava seu cabelo quando a encontrou?
— Deus, não faça isso. Eu não posso...
— Como estava seu cabelo? — ela exigiu.
Ele respirou firme.
— Com um rabo de cavalo. — Em seguida, abaixou a testa na palma da mão e sussurrou: — Não mais, ok?
— Tudo bem. Mas toda essa conversa de morte me deixou com fome. Podemos caçar?
Ele fechou os olhos muito lentamente, em seguida os abriu e focou nela. Ela poderia realmente ser tão fria e sanguinária como estava fingindo ser?
— Nós ainda temos reservas no refrigerador na parte de trás. — ele disse a ela.
— Estava esperando afundar meus dentes em algo quente e remexendo, no entanto.
— Você quer matar alguém hoje à noite, Briar? É isso que está dizendo? Porque teve a chance perfeita lá com seu padrasto e estragou tudo.
Ela deu de ombros.
— Quero matar algo que vale a pena beber. Teria vomitado se tivesse tentado engolir seu sangue imundo.
— Ou talvez saiba que estou começando a ver através da máscara que você usa e está tentando duramente colocá-la de volta no lugar.
— É isso que você acha? Que sou realmente boa, no fundo? Que só estou fingindo ser uma menina má?
— É isso o que acho.
— Besteira. — ela disse.
Ele lançou-lhe um olhar. Sem aviso, ela empurrou o volante e dirigiu o Land Rover para fora da estrada, para o acostamento, em seguida pulou para o outro lado da vala e saltou a ligeira elevação do outro lado, até que chegou a um ponto plano a uma centena de metros da estrada, onde finalmente parou. Arrancou o cinto de segurança, depois se virou em seu assento e desfez o dele também. Em seguida, segurando seu cabelo na parte de trás da sua cabeça, lançou a perna sobre ele, montando-o, os joelhos no assento de cada lado dele. Ela pegou um punhado de cabelo para puxá-lo para ela. Sua boca tomou a dele, aberta e com fome. Seus quadris arqueando, pressionando suas cavidades em sua saliência e deixando-o doendo por ela, do jeito que um homem que se afoga doía para respirar um pouco de ar.
Sacudindo a cabeça, olhou em seus olhos e os dela estavam em chamas.
— Lá no fundo você realmente não acredita que sou boa, não é, Reaper? Vamos, admita. É pela menina má que você está com tesão e sabe disso.
— Má, sim Não de natureza ruim, porém.
— Não?
— Você não é. É Briar.
— Ah, eu sou. E já que não vai me deixar ir esta noite à caça, só vou ter que provar isso.
E com um movimento rápido, ela inclinou a cabeça para trás e então abaixou a dela. A boca fechada em seu pescoço, molhada e buscando, abrindo e fechando, sugando e acariciando. Ele não lutou contra isso. Deus, isto era muito bom para querer lutar contra. Nenhum homem vivo teria lutado. Ela não iria machucá-lo. Não faria isso. Podia ameaçar tudo o que quisesse, mas ele a conhecia. Vislumbrou-a. Ela não era diferente dele no fundo.
Ele ergueu o queixo um pouco mais.
— Faça isso. — desafiou. — Vá em frente, faça isso. — E enquanto dizia, estendeu a mão entre eles e se desfez de suas calças. O som do zíper parecia excitá-la ainda mais, porque a próxima coisa que soube é que ela tinha saído se requebrando delas, tirou o jeans e depois voltou para sua antiga posição. Afundou nele sem hesitar até mesmo um segundo, já molhada, e sabia que ela poderia negar tanto quanto quisesse que o queria.
Também sabia que ela sentia as mesmas coisas que ele. A atração misteriosa, o desejo de saber mais, de chegar mais perto. Mas queria mais dela. Queria ver algum sinal de emoção em seus olhos.
Montou-o e ele se ergueu para ela, mais e mais, enquanto beijava a mandíbula dele e seu pescoço. Com os lábios perto de seu ouvido, ela disse:
— Não se esqueça de me avisar quando você chegar lá, cowboy. Vou fazer isto gostoso para você.
Ele queria dizer que isto era sobre ela, queria tornar bom para ela, mas estava dirigindo-o além da capacidade de falar, e então quando sua respiração começou a chegar mais rapidamente e saltava para cima e para baixo mais e mais rápido, ela sentiu. Ele nem precisou dizer.
Ela inclinou a cabeça para a garganta dele e afundou suas presas profundamente, tão profundo que sentiu raspar no osso. E continuou a castigá-lo com seu corpo, enquanto chupava o sangue de sua jugular. Ela bebeu e bebeu, e fodeu e fodeu, até que ele começou a ficar tonto, começou a ficar fraco. Ele explodiu dentro dela, e agora sua visão estava ficando embaçada e a escuridão estava começando a fechar em torno das bordas.
Puxando uma respiração irregular, ele sussurrou:
— Chega, Briar.
Ela levantou a cabeça. Graças a Deus. Por um segundo pensou que pudesse drená-lo completamente. Com os olhos brilhando vermelhos, olhou para ele e sussurrou:
— É o bastante quando digo que é o suficiente. — E então baixou a cabeça e retomou o banquete.
Briar levantou a cabeça do pescoço de Reaper quando ele parou de se mover. Ainda estava duro dentro dela, mas estava frio. Não morto. Ainda não. Mas ela tinha tomado demais dele. O suficiente para debilitá-lo. O suficiente para deixá-lo inconsciente.
— O suficiente para calar sua boca. — ela murmurou. E então saiu de cima dele, endireitou suas roupas e acomodou-se atrás do volante. — Talvez possa dirigir em paz por um tempo agora, sem você pegando na minha psique.
Ela olhou de lado para ele enquanto dirigia o carro sobre o terreno irregular e de volta para a estrada mais uma vez, e apesar de tudo, uma pontada de preocupação a atravessou. Teria que acompanhá-lo com cuidado, certificar-se que não acabasse morto. Se chegasse perto, teria que dar-lhe algumas gotas de seu próprio sangue para compensar um pouco do que tinha tomado.
Ela atingiu a estrada e levou-os para o norte, sintonizando sua mente com a dele de vez em quando só para ter certeza que não tinha expirado. Não tinha. Estava sonhando em enroscá-la, provavelmente pensando que ainda estavam transando.
Revirou os olhos e disse a si mesma que ele era ridículo, mesmo quando se remexeu em seu assento, despertada pelas visões que tinha vislumbrado na mente dele. Droga. Deslizou um olhar pra ele e franziu os lábios.
— Tudo bem. Admito. Eu quero você. Nunca senti esta atração por ninguém antes, e para dizer a verdade, nunca pensei na verdade que iria querer sexo. Isto foi forçado em mim ou foi uma necessidade de sobrevivência. Um meio para um fim. Nunca esteve em minha vida... até agora no carro com você. — Seus lábios se repuxaram em um pequeno sorriso. —Ei, esta é a segunda vez que fazemos isto, e nas duas vezes em um veículo. Gostaria de saber se isso significa alguma coisa? Aquela esotérica vadia da Roxy provavelmente teria todos os tipos de interpretações para isso.
Ela arrancou um pouco mais rápido, passando o tráfego sem problemas quando fez isto. Ligou o rádio, mas manteve o volume baixo e relaxante.
— Isto é bem legal. — disse. — Falar com você enquanto está apagado para ouvir uma palavra do que estou dizendo ou para tentar analisar ou cavar em minha mente ou provar a mim ou a você mesmo, que sou realmente algum tipo de coisa doce, lá no fundo. Porque não sou, você sabe. Sou uma puta fria, Reaper. Você chegou muito perto de mim, vou levá-lo para baixo com o resto deles.
Ela olhou para ele por um momento, e um sussurro de dúvida passou por sua mente como uma brisa quente. Não iria levá-lo para baixo. Sabia disso. Não iria machucá-lo do jeito que tinha a intenção de ferir todos os outros. Ele não fez nada para merecer isso. Nada além de tentar encontrar algo que valesse a pena se preocupar com ela. Era uma busca inútil, mas não podia odiá-lo por tentar. Sombrio e perigoso como era, ainda era um dos caras bons. E os bons tendem a pensar que eram bons em tudo.
Mas não era, não dentro dela. Nunca foi.
De repente, do noturno céu azul escuro, veio um flash ofuscante de dor batendo bem no centro de sua testa e explodindo para fora. Ela gritou em agonia, seus músculos esmagando, sua mão apertando duro sobre a direção em uma resposta reflexa à dor excruciante. Sentiu os pneus deixando o pavimento, sentiu o carro sair voando, mas mesmo quando o impacto veio, com seu metal esmagando e vidros quebrando, ela sentiu a dor em sua cabeça acima de tudo.
Reaper, felizmente fingindo seu estado de inconsciência, não tinha percebido que algo estava errado até o grito angustiado de Briar repartir seus tímpanos. E durante o tempo que levou para reagir, o carro já estava no ar e sua disputa pelo volante para tentar endireitá-lo foi completamente inútil.
Ele vislumbrou Briar quando o carro atravessou a noite, sua cabeça inclinada para frente, os olhos espremidos apertados contra suas lágrimas, seus dentes à mostra em uma careta de dor, as mãos apertadas, os nós dos dedos brancos sobre o volante. Ela abriu os olhos brevemente, brilhando vermelho e reconhecendo os dele, loucos de agonia pouco antes do carro bater em uma árvore na metade do lado de um barranco, com o nariz primeiro.
Seu corpo estalou para frente com tanta força que sentiu como se o cinto de segurança tivesse soltado seu ombro de seu encaixe. E depois... silêncio repentino. Fazendo uma careta, Reaper levantou a cabeça e estendeu a mão para desfazer o cinto de segurança, mesmo enquanto piscava para pôr sua visão em foco e procurar Briar.
Pânico alcançou-o quando percebeu que ela não estava lá. Não estava ao volante. Não estava em seu assento.
Merda, ela não tinha colocado o cinto de segurança de volta!
— Briar! — Reaper arrancou a porta aberta e saiu do carro. Estava machucado, mas não sangrando. E estava apenas ligeiramente enfraquecido de seu ataque anterior. Ele fingiu desmaiar, sabendo que ela não ia parar até que o fizesse. E se achando muito esperto também quando ela começou a falar com ele, revelando segredos como se ele não pudesse ouvir, quando estava ouvindo o tempo todo.
Mas se não estivesse fingindo poderia ter visto isso vindo.
Observou com um estremecimento que o para-brisa tinha explodido para fora e percebeu que Briar provavelmente havia voado por ele. Ele subiu em cima de alguns arbustos e finalmente a viu. Estava deitada em um riacho raso um pouco além da árvore que eles bateram. Correndo em frente, deslizou as mãos por baixo de seu corpo e levantou-a.
— Briar. Ei, vamos lá. Acorde.
Ela não acordou. Apenas ficou ali deitada mole em seus braços. Ele se arrastou para fora da água, procurando em vão por algum lugar para ir, um lugar para levá-la. Estava molhada, embora não sentisse cheiro de sangue ou sentisse sua força vital se esvaindo.
— Droga, Briar, acorde e fale comigo.
Ele encontrou um lugar seco na encosta gramada cheia de folhas caídas e dentes de leão e a deitou, então se inclinou sobre ela, examinando-a mais de perto. Seu rosto estava machucado e arranhado. Bem como suas mãos e braços, mas não havia cortes profundos, nem ferimentos que parecessem sérios o suficiente para ameaçar a vida de um vampiro.
Ele segurou seu rosto em suas mãos.
— Briar!
Seus cílios se agitaram, e em seguida lentamente seus olhos abriram, mas ela rapidamente apertou-os novamente.
— Não posso. Dói.
— O que dói? — ele exigiu.
— Minha cabeça. Deus, minha cabeça. — Ela levantou as mãos trêmulas e pressionou-as em ambos os lados de seus olhos.
— Você bateu no acidente?
Com os olhos ainda espremidos apertados, ela balançou a cabeça ligeiramente de lado a lado.
— Foi antes. Isso é o que causou o acidente. É Crisa. Droga, é Crisa.
Ela franziu as sobrancelhas quando seus olhos se abriram cheios de lágrimas incisivas.
— O que está acontecendo com ela, Reaper? O que a está machucando desse jeito?
— Não sei. Mas estaremos com toda certeza descobrir isto. — Ele alisou seu cabelo longe da sua testa. — Você pode ver alguma coisa sobre onde ela está?
Ela fechou os olhos novamente, tentou se concentrar, mas ele pôde ver que o esforço intensificava a dor.
— Ela está andando com alguém. Posso ver os faróis, a estrada... espere... eles estão parando.
— Existe alguma coisa em torno deles? Qualquer ponto de referência importante que possa nos dizer onde ela está?
— Ela está indo para o norte.
— Eu sei, mas...
— Ela está saindo. O carro está indo embora, deixando-a ali. Tem placas de Connecticut.
— Bom. Muito bom, isso é útil.
Ela assentiu com a cabeça.
— Está andando agora. Sua cabeça dói também e sua visão está borrada de dor. Está chorando, Reaper. E está fraca. Deus, nós temos que ajudá-la.
— Nós vamos. Iremos. Basta tentar ficar com ela mais um pouco. O que você vê?
— É uma rodovia. Parece como todas as outras estradas na maldita... — Ela parou ali e suas sobrancelhas se uniram em uma carranca apertada. —Tem uma placa.
— O que ela diz?
— Byram. — ela sussurrou. — Diz Byram. — Seu rosto relaxou, e ela lançou um suspiro longo e impressionante. Quando abriu os olhos, eles pareciam mais claros. — O que é Byram?
— Não é o nome do menino, aparentemente. Não juntei isto antes. É uma cidade em Connecticut. — Ele a ajudou quando ela tentou sentar-se. — A dor está mais fácil?
— Sim. A minha está, de qualquer maneira. A conexão foi interrompida. Está ficando cada vez mais difícil mantê-la. — Ela esfregou as têmporas, tomou algumas respirações. — Por que ela está indo para lá, Reaper? O que você sabe sobre o lugar? O que diabos há em Byram que poderia estar exercendo este tipo de atração nela?
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Sei apenas duas coisas sobre Byram. Uma delas é que é a antiga casa de Eric Marquand, embora ele tenha abandonado sua casa há anos quando o governo soube de sua existência.
— Isso não pode ser mais do que uma coincidência. — ela disse. — Qual é a outra? —
— É onde meu antigo chefe vive.
Ela ergueu a cabeça, as sobrancelhas levantadas, olhando para ele.
— Seu antigo chefe... na CIA?
— É. E isso parece uma enorme coincidência. — Ele abaixou a cabeça. — Sinto muito, Briar. Mas acho que há uma boa chance de Derrick Dwyer estar usando Crisa para chegar a mim. De alguma forma, ele fez alguma coisa para atraí-la para lá, sabendo que eu a seguiria.
— Como?
— Estou prestes a descobrir. — Ele puxou um celular do bolso, abriu e rolou através de uma lista até encontrar o número que procurava. Estava salvo com as iniciais DD.
O celular de Derry acordou Matt com seu toque. Ele olhou para o relógio no criado mudo. Uma e meia da manhã. Arregalou os olhos, o coração pulando no peito quando saltou da cama correu para Derry, que estava bloqueando completamente a porta do quarto, e sacudiu o homem fortemente.
Derry abriu os olhos. Ainda estava machucado, Matt poderia dizer. Eles encontraram-se com uma mulher antes, e ela fizera um bom trabalho em remendá-lo, até mesmo dando-lhe algumas pílulas para dor, tudo isso sem fazer nenhuma pergunta. Mas ficou olhando para Matt estranhamente o tempo todo. Depois que eles deixaram o apartamento dela, Matt perguntou a Derry quem ela era, e ele disse:
— Uma colega. Uma que confio. Isso é tudo que você precisa saber.
Com os olhos turvos agora, Derry piscou focando em Matt.
— Seu telefone está tocando. Tenha cuidado, provavelmente é meu pai. Se ele descobrir onde estamos...
Derry ficou totalmente acordado e pegou o celular que estava na cama ao lado dele. Ele fez um movimento com dedo nos lábios pedindo silêncio, olhando para a tela e lendo as palavras lá. Chamada privada.
Ele franziu a testa, abriu e disse:
— Dwyer.
Matt sentou-se no chão perto dele, fechou os olhos e abriu a mente. Tinha que ter cuidado para não deixar que ele notasse o que estava fazendo. Seria melhor se nunca deixasse Derry descobrir sobre seu dom. Mas suspirou de alívio quando ouviu a voz do outro lado e soube imediatamente que não era seu pai.
— Faz um longo tempo. — disse a voz.
Matt abriu os olhos para olhar para Derry e viu a surpresa em seu rosto.
— Reaper? Droga, tenho virado cada pedra no país tentando te encontrar. Onde você está?
— Estou seguindo uma amiga minha que está em apuros. Mas você sabe disso, não é?
— Não tenho ideia do que está falando.
Mesmo sem suas habilidades, Matt teria sido capaz de dizer que Derry estava mentindo.
O homem ao telefone podia dizer também. Ele disse:
— Então não tenho nenhuma razão para falar com você. Tchau, Derrick.
— Espere! Espere. Ok, eu sei. Você está falando sobre a garota. Crisa, certo?
— O que diabos vocês bastardos fizeram com ela?
Derry suspirou.
— As dores de cabeça já começaram?
— Se chamar aquilo de dores de cabeça, pode chamar um furacão de uma brisa forte. Ela está no inferno. O que você fez a ela, Dwyer?
— Nada que não posso desfazer, se puder chegar até ela a tempo.
— E o que quer em troca?
— Vou te dizer quando chegar aqui. Onde você está?
— Na I-95, na fronteira de Maryland e Nova Jersey.
— Você pode fazer isso hoje à noite então.
— Não, sem um carro não posso, e o nosso está abraçando uma árvore no momento.
— Vou cuidar disso. Vou fazer uma chamada e terá um carro esperando por você na agência de aluguel da cidade. Estou assumindo que pode retomar deste ponto.
O homem que Derry chamou de Reaper ficou quieto por um longo tempo. Então finalmente disse.
— Tudo bem. Ok. Estou indo. Mas se isso for algum tipo de truque, Dwyer, juro ...
— Sempre estive do seu lado, Reaper. Nunca armei para cima de você, sabe disso.
— Você não costumava ser o tipo de homem que teria abusado de um inocente para conseguir o que queria também. Não confio em você.
— Então confie nisso. — disse Derry. —Tenho uma prioridade muito maior aqui do que trazê-lo de volta para o rebanho para desprogramá-lo. Tenho um patife em minhas mãos, Reaper.
— Um que você criou e soltou no mundo. Isso tudo é culpa sua.
— A agência. Não eu. Era contra este projeto desde o início. Mas tenho que colocar um fim nisso antes de mais alguém morrer. E preciso de sua ajuda para fazê-lo.
— Eu teria caçado Gregor de qualquer maneira, por minhas próprias razões.
— Confie em mim, isso é tudo que quero de você agora. Tem minha palavra, eu não vou tentar trazê-lo de volta. Você pode confiar em mim.
— Quer minha confiança?
— Eu sei que é pedir muito.
— Diga-me onde ele está então. Onde está Gregor?
Derry mudou seu olhar para Matt, então Matt fingiu não estar prestando atenção.
— Ele está aqui, em Byram.
Houve um suspiro. Matt pensou que o cara não acreditava em Derry. Então ele disse.
— Você não precisa usar Crisa para me levar até aí, Dwyer. Estou chegando. Seja o que for que está fazendo com sua cabeça, pare com isso.
— Não posso fazer isso até que chegue. Mas quando ela chegar, prometo que vou cuidar disso. — Ele suspirou. — Isso é o melhor que posso fazer, Reaper.
— Nós vamos estar aí de madrugada. Mas vamos nos refugiar durante o dia.
— Posso te oferecer abrigo.
— Vou me sentir mais seguro descansando onde você não possa me encontrar, por isso não adianta tentar. Encontro você depois do pôr do sol.
— Tudo bem. Ligue-me em seguida e vou te dar o endereço. Você, hmm... você está vindo sozinho?
— Sim. Estou indo sozinho. — Mas Matt teve a nítida sensação de que não estava.
Reaper desligou o telefone, ficou de pé e estendeu a mão para baixo para Briar. Ela ignorou-o e levantou-se sozinha.
— Você pegou tudo? — ele perguntou.
Ela assentiu com a cabeça.
— Tudo exceto por que está confiando neste idiota. E por que disse a ele que estava indo sozinho.
— Estou confiando nele porque não tenho escolha. Temos que chegar a Crisa.
— E Gregor. — ela disse,a baixando os olhos. — Ele está lá também.
— Se Dwyer está dizendo a verdade, sim.
Ela assentiu com a cabeça.
— Vou matá-lo, você sabe. Quer acabe me odiando ou não por isto, é o que precisa ser feito.
Encontrou seus olhos, prendeu-os por um longo momento e decidiu não contar que sua única objeção para esse plano era que ela preferia fazer a matança. E ela pretendia. Mas se acreditar que ainda tinha algum sentimento distorcido por Gregor fosse manter Reaper no comprimento de seu braço pelo restante de seu tempo juntos, era melhor que continuasse acreditando nisso.
— Você estava fingindo antes. — ela disse. — No carro, você fingiu perder a consciência quando tomei seu sangue.
— Se não tivesse, você teria continuado a beber até que eu a perdesse de verdade. Pensei que seria melhor.
Ela assentiu com a cabeça.
— Isso não foi muito legal de sua parte, Briar. Tentar me derrubar.
— Eu não sou uma pessoa muito legal. Ou não percebeu isso ainda?
Eles começaram a andar, indo para a cidade vizinha onde Dwyer tinha prometido que um carro estaria esperando. Ele não pegou sua mão novamente. Ela disse a si mesma que estava feliz.
— Você queria me impedir de tentar ver através da máscara que você usa. De sondar sua mente com a minha.
— Eu queria te calar.
— Porém você se ferrou mais. Sabe disso, não é?
Ela franziu o cenho e lhe enviou um olhar de desgosto.
— Não sei nada disso.
— Não? Pare de andar por um minuto.
Ela parou de andar, sem saber onde ele queria chegar com isso.
— Nós não temos tempo para mais uma rodada, cowboy.
— Basta ficar parada por um minuto. — ele disse. Então ela o fez. E fez-se silêncio, além da brisa e do tráfego que passava de vez em quando. — Agora feche os olhos e abra os seus sentidos.
Ela fechou os olhos, abriu os sentidos. E sentiu um batimento cardíaco. Forte e estável, e que não era o dela no entanto, parecia bater em sincronia com seu pulso.
— Eu vivo dentro de você agora, Briar. Você me absorveu para dentro de você. Você me sente lá?
Ela o sentia. E isto impregnou-a com uma mistura de desejo, calor sexual e pânico. Ela estalou os olhos abertos.
— Não sinto nada.
— Mentirosa. — Seu celular tocou e ela começou a andar novamente, agradecendo ao destino pela distração e pegando o ritmo. As luzes da cidade estavam à vista agora. Estavam quase lá.
— Ei, Roxy. — ele disse quando o abriu. — Você pode chamar os outros. Sei de fonte segura que Gregor está em Connecticut.
— Bem, seus drones não estão. — Roxy disse.
— O que você quer dizer?
— Seth e Vixen estão cercados pelos bastardos. Estão reunidos em torno do lugar onde se refugiaram para passar a noite. A mesmo coisa com Jack e Topaz.
— Eles estão bem?
— Sim, até agora. Os drones estão lá apenas observando para que eles não possam sair. Até agora não fizeram nenhum movimento para atacar ou qualquer outra coisa. Eles estão apenas... à espreita.
Ele abaixou a cabeça, suspirando em frustração.
— As condições de Crisa estão ficando pior e Briar junto com ela. Falei com Dwyer e a CIA também está envolvida. Eles sabem algo sobre isso — estão por trás disso, acho. Tenho que continuar, Roxy.
— Eu acho que isso é o que Gregor quer que você faça. Ele quer que faça isso sozinho. Raphael, há alguma chance desse sujeito, deste Dwyer estar trabalhando com Gregor para ter você de volta nas mãos da CIA? Quero dizer, esse era o plano original, não era?
— É possível. É mesmo provável. Não tenho escolha aqui, Roxy. A condição de Crisa, qualquer que seja a porra que está causando isso, está cada vez pior.
Roxy suspirou.
— Estou supondo que você sabe disso porque os sintomas estão piorando para Briar também.
— É. Está ficando ruim.
— Faça o que for preciso então. Nós podemos obter um plano para lidar com os drones nós mesmos. Se o objetivo de Gregor é apenas impedir os outros de correr para seu lado, então ele não tem motivos para ordenar aos drones para atacarem. Se quer apenas manter o resto da equipe onde estão até que isto esteja terminado, eles devem ficar bem.
— Não gosto de estarem cercados durante a noite sabendo que estes bandidos podem atacá-los a qualquer momento, mas se você for tirá-los, precisa ser encoberto, Roxy. Não se envolva. Vocês estão em menor número. Chegarei o mais breve possível. E me ligue se houver alguma mudança.
— Tudo bem.
Ele desligou. Então estava se movendo mais rápido do que Briar estava.
— Precisamos continuar com isso. A equipe está em apuros.
— Eu ouvi.
Ele lançou-lhe um olhar.
— Ouviu?
— Não de propósito. — ela disse. — Embora eu teria. Apenas... não precisei.
— Estamos ligados agora. O sangue é o vínculo. Você entende o que isso significa? — ele perguntou.
— Significa que o sexo vai ser ainda melhor da próxima vez. Fora isso, não é merda nenhuma.
Ele balançou a cabeça, mas sentiu a onda de desejo que o transpassou com suas palavras. Sim. Ela ainda estava no controle aqui. Podia lidar com ele.
Só não tinha certeza de que poderia lidar com o que estava acontecendo com ela. Já era ruim o suficiente que ficasse doente de preocupação com Crisa, a pequena louca pé no saco. Agora estava sentindo uma corrida estranha e desconhecida de emoção em relação aos outros. A “riquíssima por conta própria e boa princesa Topaz”, o jovem arrogante Seth, a estranha pequena metamorfa Vixen. E Jack. Jack foi a coisa mais próxima que teve de um amigo em toda sua vida.
Ela tentou creditar sua preocupação por Crisa ao vínculo formado entre a partilha de sangue, quando a vida de Crisa estava se esvaindo. Mas isso não explicava por que estava preocupada com o resto dos bons moços. Havia um incêndio se formando em seu sangue, exortando-a a correr para eles, para desabafar sua raiva sobre as hordas de drones, para tirar a gangue fora de perigo. O que não fazia sentido algum. Desde quando se arriscava por alguém, além de si mesma?
Ela estava sinceramente dividida. Enquanto caminhavam em campo aberto, ao longo da estrada que levava à cidade mais próxima e desviaram-se para a agência de aluguel de carros, virou-se para Reaper.
— Vamos alugar dois carros. Vou pegar um e continuar procurando por Crisa. Você leva o outro e segue para o aeroporto mais próximo, em seguida voa para ajudar seu grupo de benfeitores antes que consigam ser mortos.
Ele parou de andar no meio do estacionamento.
— Você se preocupa com eles.
— Estou apenas tentando ser prática.
Ele balançou a cabeça.
— Olha, o que quer que Dwyer planeje, tem a ver comigo. Ele não vai desistir de qualquer coisa que o mantenha segurando Crisa até que consiga o que quer, e não é você, Briar.
Ela levantou uma sobrancelha, inclinando a cabeça para um lado.
— Inferno, todos os homens me querem. Ele só não me viu ainda.
Reaper deu um pequeno sorriso.
— E uma vez que você pegue Crisa?
— Vou levá-la comigo e me juntar a você para ajudar os outros. A menos que já os tenha resgatado até lá.
Ele franziu os lábios, assentiu lentamente.
— Você não está se esquecendo de algo?
— O que?
— Gregor. — ele disse. — Interessante.
Entraram e ele falou com um homem que não fez qualquer pergunta, apenas assentiu, seu carro estava esperando, entregou as chaves e apontou-lhes um Jipe Cherokee vermelho cereja no estacionamento.
Eles entraram e seguiram em frente, cruzando para Connecticut com uma hora antes de chegar o amanhecer.
Roxy esperou até pouco antes do nascer do sol para telefonar para Jack. Ele pegou no primeiro toque.
— Bem. — ela disse. — Você ainda está vivo.
— É. Os drones ainda estão de pé lá fora nos observando. É assustador, Rox. Topaz está uma pilha de nervos. Seu instinto lutar ou lutar faz com que salte a cada sombra. Não sei o quanto mais disso podemos aguentar.
— Sim, bem, a ajuda está a caminho.
— Reaper?—
— Não. Ilyana, Mirabella e eu. Reaper não pode ir, não tenho tempo para explicar porque você vai estar morto para o mundo em poucos minutos. Apenas me diga onde você está dormindo e como entrar.
— Onde você está?
— Oito quilômetros da Cidade de Oklahoma.
— Roxy, isso é perigoso. Você não sabe com o que diabos está lidando, se os drones estão sozinhos ou se Gregor conseguiu dar-lhes talentos que não conhecemos.
— Estou armada e perigosa, amigo. Não desperdice seu fôlego. Diga-me onde está dormindo e deixe o lugar destrancado para que eu possa entrar. Ok?
— Tenha cuidado, Roxy.
— É melhor dizer isto aos drones, garoto.
Vinte minutos após o nascer do sol, Roxy e Ilyana estavam dirigindo muito lentamente ao longo da faixa de terra esburacada que levava à casa que Jack descreveu. Mirabella estava mais uma vez dormindo no compartimento escondido sob a parte traseira da van personalizada, segura do sol. Elas não falavam, estavam quase prendendo a respiração à medida que se aproximavam. Ilyana olhava fixamente com os olhos arregalados a janela lateral, verificando cada árvore e arbusto que passava. Roxy fazia o mesmo, forçando sua visão tão fortemente que lhe daria uma dor de cabeça. O sol tinha alcançado o horizonte e ela estava apostando no fato de que os vampiros, até mesmo os drones de Gregor, não pudessem suportar a luz solar. Teriam que se abrigar. Em algum lugar.
Até onde ela sabia.
— Não vejo nenhum deles. — disse Ilyana.
— Eles seriam tostados se tentassem nos deter.
— Você tem esperança Roxy, sabe do que Gregor é capaz. — Roxy olhou para sua companheira e viu o medo em seus olhos. — Se ele está de alguma forma metido com a agência, e se estão ajudando-o de novo, não há como dizer o que ele poderia ter feito. Nós já sabemos que pode isolar uma sala ou um prédio inteiro para impedir a comunicação mental entre vampiros. Sabemos que parece ter um suprimento infinito de drones para lutar suas batalhas por ele, e que o obedecem sem questionar.
— Mas mesmo drones não podem sair durante o dia.
— Pelo que sabemos. Aprendemos no México que há um medicamento que pode permitir que os vampiros permaneçam acordados durante o dia. E se Gregor conseguiu isso?
— Ficar acordado durante dia é uma coisa. Mesmo acordado, o sol os matará, Ilyana. Eles não podem nos machucar.
— A menos que ele ou o laboratório de ciência da CIA encontraram uma maneira de resolver esse problema também.
Roxy engoliu em seco. Por mais que estivesse tentando tranquilizar Ilyana, sabia que a varapau loira platinada estava certa. Tudo era possível.
— Vamos tentar pensar positivo, ok? Ei, pelo menos mantivemos os sacos de cadáveres a prova de sol da última escaramuça no México. Eu sabia que essas malditas coisas viriam a calhar.
A casa estava na frente delas agora. Era um prédio em ruínas, mal se aguentando para um lado, velhas ripas desgastadas sem qualquer sugestão de pintura.
— Este é o Jack. Ele realmente sabe como escolher acomodações, não é?
Ilyana sorriu um pouco.
— Acho que pouco se importa com seu entorno, desde que esteja com Topaz. E ela sente o mesmo por ele, então...
— Sim. — Roxy balançou a van em uma curva, depois recuou até a porta da frente. —Tudo bem, este é o plano. Vou levar o primeiro saco de cadáver para dentro, fechar Topaz dentro dele, transportar sua bunda de volta até aqui e atirá-la lá trás, em seguida trarei o segundo saco de volta com Jack. Você se senta ao volante e mantém o motor em funcionamento.
Ilyana encontrou seus olhos e balançou a cabeça lentamente.
— Você não pode carregar nenhum deles sozinha. Pode ser capaz de arrastar Topaz, mas vai ser mais rápido se trabalharmos juntas.
Ilyana fazia sentido.
— Estava pensando que pelo menos uma de nós poderia fugir se os drones de alguma forma conseguissem atacar.
— Sei o que você estava pensando. — Então Ilyana deu de ombros. — Olha, essas... pessoas têm sido boas para mim. Sei que fui ingrata, com medo deles, nunca confiando neles, mas eu lhes devo. Preciso fazer isso.
— Ninguém a culpa por ter medo de vampiros. Não depois do que Gregor fez você passar.
Ilyana abaixou os olhos, claramente sem disposição para discutir o que tinha acontecido durante seu tempo como prisioneira e escrava de seu ex-marido.
— Vamos continuar com isso.
Com um aceno de cabeça, Roxy saiu do banco da frente indo para a parte de trás, abrindo caminho até a parte traseira. Ela pegou um saco de cadáver no caminho, então esperou que Ilyana se juntasse a ela, levando o segundo.
Depois olhando para fora das janelas e não vendo nada e ninguém, Roxy abriu as portas traseiras do furgão e saiu. Ela estacionou tão perto que as portas se abriam quase tocando na casa, nas laterais da porta da frente, formando uma espécie de corredor. Roxy tentou a maçaneta da porta e abriu com apenas um pouco de protesto. As dobradiças rangeram, fazendo-a estremecer e olhar ao redor, com medo de ter sido ouvida.
Não houve nenhum movimento. Encontrou os olhos de Ilyana. A outra mulher assentiu com a cabeça e as duas entraram.
Demorou muito pouco esforço encontrar Jack e Topaz, deitados juntos em uma sala ao lado, as janelas com venezianas quebradas, cobertas, pregadas com placas e pedaços de tecido surrado. Eles estavam deitados no chão sujo e pareciam um par de cadáveres. Pálidos, calmos, frios ao toque.
— Nunca vou esquecer como parecem mortos quando descansam. — disse Roxy, espalhando seu saco de cadáver ao lado de Jack e descompactando-o.
— Como é que podemos sequer saber se estão? — Ilyana perguntou. — Quero dizer, se foram assassinados, em seguida colocados aqui assim, como é que saberemos?
— Quando não acordarem ao entardecer, eu acho. — Roxy rolou o corpo de Jack no saco, então manobrou suas longas pernas para dentro, enquanto Ilyana estava fazendo o mesmo com muito menos esforço com Topaz. Uma vez que protegeram os vampiros, fecharam os sacos firmemente.
Ilyana levantou-se.
— Ok, vamos fazer isso então.
— Aqui vamos nós. — disse Roxy. Ela ficou em uma extremidade do saco de Jack, Ilyana do outro, e o levantaram. As duas conseguiram levar o corpo dele para a porta e o peso para dentro do furgão. Roxy rapidamente rolou para o lado e deu uma olhada ao redor, e então correu de volta para dentro para Topaz.
Houve um som, algo se movendo através da floresta próxima assim que empurram Topaz para dentro do furgão. Roxy enrijeceu, em seguida entrou rapidamente quase pisando nos sacos para cadáveres. Ela apertou a mão de Ilyana e puxou-a para dentro, em seguida mergulhou no banco da frente.
— Feche a porta... rápido. Vamos sair daqui! — Ela empurrou o furgão em marcha, mesmo antes de ouvir as portas traseiras baterem e colocou-se em movimento. Roxy manteve os olhos incertos em busca de um ataque. Mas tudo o que viu foi um alce saltando de uma pilha de troncos caídos e desaparecendo no mato.
Então atingiram uma estrada pavimentada, e ela voltou a respirar.
— Nós conseguimos! — Ilyana estendeu a mão para bater no ombro de Roxy. — Nós os tiramos de lá. Somos como super-heróis ou algo assim.
— Sim, dois fora, faltam dois. Vou colocar os escudos solares sobre aquelas janelas traseiras, Ilyana. Se você puder controlar isto, descompacte os sacos e tire-os pra fora. Nós vamos precisar dos sacos vazios para resgatar Seth e Vixen.
— Podemos fazer isso com eles antes do pôr do sol?
— É apenas algumas horas até o sul. Temos tempo de sobra.
Ela esperava.
Pouco antes do nascer do sol, Reaper parou o jipe no estacionamento de um pequeno motel na periferia de Byram.
— Gostaria que pudéssemos alcançar Crisa antes de descansarmos. — disse Briar. — Eu odeio que tenhamos que esperar.
— Eu sei. Odeio isso também, mas não podemos nos arriscar a sermos pego pelo sol. — Reaper abriu a porta do carro, saiu e guardou as chaves no bolso. — Vamos encontrá-la esta noite. Prometo.
— Espero que sim.
— Como está sua cabeça? — ele perguntou.
— Tudo bem no momento. Apenas uma dor maçante. Não sei o que é melhor, ser capaz de saber onde ela está, o que está fazendo, sentindo uma dor furiosa, ou sentir-me cortada dela inteiramente, mas sem a dor.
— Vamos. — Ele a pegou pelo braço e levou-a para longe do motel.
Ela olhou para ele com uma careta.
— Nós não ficaremos em um quarto?
— Não me sinto confortável ficando aqui. Dwyer arranjou este carro, então provavelmente sabe exatamente o que estamos dirigindo, até o número da placa. Ele pode se mover livremente durante o dia e tem as conexões para ser informado onde está o veículo suspeito. — Ele balançou a cabeça. — Nós vamos deixar o jipe aqui. Encontrar um lugar seguro para descansar em outro lugar.
Ela assentiu com a cabeça.
— E ao entardecer quando nos levantarmos voltaremos para ele? Quem pode dizer que não estará aqui esperando?
Reaper levantou as sobrancelhas.
— Você está certa. — Então virou-se, caminhou de volta para o jipe e jogou as chaves no interior apenas no caso de terem que abandoná-lo de vez. Quando voltou para seu lado, ele disse. — Você pensa como um policial, sabe disso?
— Penso como um criminoso. — ela disse a ele. — É uma grande diferença.
Eles caminharam até que encontraram um provável lugar de descanso, um armazém fechado à noite com uma janela aberta no segundo andar e apenas um solitário guarda de segurança à espreita do lado de fora.
— Pronta? — Reaper perguntou, olhando para a janela.
Briar estava olhando para o guarda.
— Eu poderia lanchar.
— Vai ter que esperar. Vamos. — Ele deu um impulso com suas poderosas pernas lançando-se no ar e infalivelmente direto através da janela, dando cambalhotas no chão do outro lado. Em seguida, levantou-se e olhou de volta para ela.
Ela deu uma última olhada desejosa ao guarda de segurança, suspirou e pulou para acompanhá-lo.
Matt esperou até a manhã seguinte quando ele e Derry foram tomar café da manhã para perguntar-lhe sobre o telefonema. Ele ficou na cama pelo resto da noite acordado. Mas já que Derry tinha voltado a dormir, achou que era melhor esperar. Decidiu não fugir na noite passada enquanto o cara estava dormindo. Não que confiasse em Derry nem nada, mas pensou que saberia se o homem estivesse chegando perto de tomar a decisão de matá-lo. Ele tinha certeza que ainda estava seguro — por enquanto, pelo menos. Além disso, com a cama de Derry colocada do outro lado da porta, seria impossível sair sem acordá-lo.
E a atração da promessa de que Derry poderia ajudá-lo a voltar para sua mãe era demais para resistir.
Derry parecia melhor na parte da manhã. Não parecia tão rígido quando saiu do banho, andou um pouco mais reto, o passo um pouco mais forte. E além de tudo isso, Matt podia sentir isso.
— Você está se sentindo melhor hoje. — ele disse.
Derry estava colocando sua camisa. Estava manchada de suor, mesmo depois de tê-la lavado na pia na noite anterior e pendurado na haste da cortina do chuveiro, para secar.
— Sim, um pouco.
— O medicamento está ajudando. Isso é bom. Então, quem é Reaper?
— Um amigo.
— Amigo vampiro ou um normal?
Derry deu-lhe um olhar de esguelha especulativo.
— Vampiro. Mas um dos bons.
— Há bons?
A forma como o homem olhou para ele fez Matt pensar que fez uma pergunta muito estúpida. Mas eventualmente, o cara deu um pequeno sorriso e despenteou seu cabelo, como se ele fosse uma criança.
— Os vampiros são como todo mundo, Matt. Há os bons e há os maus. E há alguns que estão em algum lugar no meio. Reaper é um dos bons.
— E o meu pai é um mau. — Matt disse suavemente. Quando Derry não respondeu, ele assentiu. — Está tudo bem, eu sei. Pensei que fossem todos como ele. Ele é o único que conheci realmente.
— Ele tinha outros com ele. Você nunca encontrou nenhum deles?
— Algum deles? Os reais, não. Meu pai me manteve longe deles. Acho que nem sequer sabiam que eu estava por perto. — Ele deu de ombros. — Mas no entanto via aqueles grandes idiotas de vez em quando. Eles me assustavam.
— Eles assustam a todos.
— Então o seu amigo está vindo para vê-lo?
— Sim.
— E quem é Crisa?
Os olhos de Derrick se estreitaram.
— Você realmente estava prestando atenção naquele telefonema, não estava?
Matt deu de ombros e desviou os olhos, com medo de que estivesse dando muito na vista.
— A verdade, Matt, é que estava com intenção de falar com você sobre Crisa. Percebo que seu seu pai não te ensinou muito sobre... sobre o que você é.
— Um dos Escolhidos.
— E você sabe o que isso significa?
— Isso significa que sou melhor do que as pessoas comuns. Como um deus ou algo assim.
Derry abaixou os olhos.
— Não. Significa apenas que você pode se tornar um vampiro, se você quiser.
— Sim, mas os vampiros são mais fortes e mais rápidos do que todos os outros. E vivem para sempre. Como isto não é melhor?
— Os elefantes são mais fortes do que as pessoas. Tigres são mais rápidos. Tartarugas vivem mais. Isto não os torna deuses, amigo.
Matt suspirou.
— Acho que não. — Ele podia sentir que Derry estava pensando outras coisas. Estava pensando em dizer-lhe que não viveria tanto quanto os humanos comuns viviam se não se tornasse um vampiro. E estava pensando em dizer que os vampiros não necessariamente vivem para sempre, ou seja, que poderia morrer como qualquer outra pessoa. Então ele decidiu deixar alguém lidar com tudo isso. E passou pela cabeça dele que talvez a mãe de Matt deveria ser quem tivesse essa conversa com ele.
Os assuntos — sobre morrer e estas coisas — deixavam Matt desconfortável, mas esqueceu tudo isto quando ouviu um pensamento final cruzar a mente de Derry: sobre sua mãe. Foi a primeira vez que teve certeza de que Derry não estava mentindo para ele. Sua mãe realmente deveria estar viva.
Seu coração parecia que estava inchando em seu peito, e teve que piscar rapidamente para manter os olhos secos.
— Conte-me sobre Crisa, então. — disse, sua voz firme e suave por que de alguma forma era muito difícil fazê-lo mais alto.
— Tudo bem. Bom, primeiro você precisa saber como os vampiros se sentem sobre o Escolhido. Pessoas como você, que têm um determinado sangue antígeno neles.
— Eles podem dizer o que somos?
— Oh sim. Eles sentem você muito fortemente. E há algum tipo de impulso instintivo que tem de protegê-lo, uma espécie de cuidado com você. A lenda diz que não podem machucá-lo mesmo se quisessem, embora eu tenha visto alguns vampiros que me fizeram duvidar disto. Mas, principalmente, são como seu anjo da guarda.
— Legal.
— Eles geralmente têm uma conexão muito poderosa com um de vocês do que com qualquer outro. E acho que quem tem a conexão mais poderosa com você é Crisa.
Aquilo fez a cabeça de Matt levantar rapidamente.
— Mas nem sequer a conheço.
— Não importa. A coisa é que ela não é... normal.
Matt levantou as sobrancelhas.
— Será que ela vai me machucar?
— Não. Ela é adulta, mas é como uma espécie de menina em um corpo de adulto. Você sabe o que quero dizer?
— Você quer dizer que ela é deficiente mental?
— Talvez. Um pouco. Ela acha que você está em apuros, e está a caminho daqui para tentar ajudá-lo. Mas deve saber que é muito mais seguro comigo. Como eu disse, ela não é normal, e não é tão forte como a maioria. Diabos, acho que tem uma compreensão mais firme sobre as coisas do que ela tem. Então se ela aparecer aqui, você não pode ir com ela, ok?
E agora Derry estava, Matt percebeu, olhando para seus próprios interesses. Mesmo que Derry pensasse que Matt poderia estar melhor com essa Crisa, no fundo. Mas ele não estava dizendo isso.
— Como ela sabe onde estou? — Matt perguntou.
— Não sei. Sentindo, eu acho.
— Por que ela acha que estou em apuros? — Porque estou, Matt pensou, respondendo à sua própria pergunta e sabendo que Derry não diria a verdade.
— Não sei. Como eu disse, ela não está muito bem.
— Mas os vampiros sentem quando o Escolhido está em apuros. Você disse isso. Então ela deve ser sensitiva, certo?
Ele encontrou os olhos de Matt.
— Você está seguro comigo.
— Sim, a menos que meu pai não faça o que você quer que ele faça. — Matt abaixou a cabeça e chacoalhou. — Meu pai sabe sobre ela?
— Acho que sim.
— E o seu amigo, Reaper? Será que sabe sobre ela?
— Sim. Ele está vindo até aqui por causa dela. Ela é sua amiga. Ele quer ajudá-la.
— Por quê? Ela está em apuros também?
Derry olhou para o garoto.
— Ela está tipo... doente agora.
— Oh. — Matt assentiu lentamente. Ele tinha ouvido o suficiente da chamada telefônica para juntar o resto por conta própria. Derry estava usando Crisa para conseguir que este Reaper viesse até ele. Assim como estava usando Matt para conseguir que seu pai se entregasse às autoridades. Derry usava as pessoas. Ele não merecia o que o pai de Matt fez com ele, parecia um cara decente, mas Matt pensou que estava lendo o homem razoavelmente bem. Tinha certeza de Derry faria qualquer coisa, machucaria qualquer um, para conseguir o que queria.
A única diferença entre Derry e seu pai era que os objetivos de seu pai eram ruins —dinheiro, poder e coisas assim. E os de Derry eram bons, supostamente, porque afinal trabalhava para o governo e estava tentando muito trazer um cara mau — seu pai — à justiça. Fazê-lo parar de matar pessoas o tempo todo. Isso era provavelmente um objetivo muito bom.
Mas, além disso, os dois não eram muito diferentes.
Matt perguntou-se brevemente o que Derry queria com esse cara, Reaper. E então se perguntou como Crisa era.
Seu protetor. Ele nem sabia que tinha um, além de sua mãe, e pensou que a tinha perdido há muito tempo. Era bem legal pensar que havia alguém que queria olhar por ele. Louco ou não, Matt teve um pressentimento de que estaria mais seguro com Crisa do que estaria com seu pai ou com Derry. E sabia que Derry pensava assim também.
— Quando acha que eles vão chegar aqui? — ele perguntou, de repente ansioso.
— Hoje à noite. — disse Derry. Então colocou a mão na parte de trás do ombro de Matt. — Vamos sair para o café da manhã, hein?
— Sim. Ok. Matt assentiu, quando no fundo de sua cabeça, pensava sobre o que iria fazer.
Ao cair da noite, Roxy e Ilyana tinham dirigido Shirley e seus passageiros inconscientes para 800 quilômetros mais perto de casa. Elas foram se revezando ao volante. Ilyana estava dirigindo no momento, com Roxy descansando no banco do passageiro.
Quando o sol desceu completamente e sentiu o movimento da parte de trás, Roxy endireitou-se e apertou o botão que abaixaria a barreira à prova de sol atrás do conjunto frontal de assentos, em seguida virou-se para olhar seus companheiros enquanto despertavam de seu sono mortal. Ela bateu outro botão para abrir o compartimento inferior, onde Mirabella já estava acordada e esperando para ser solta.
— Bem, bem, bem. — disse Roxy, uma vez que sentaram, um após o outro. — Tem alguma coisa que vocês gostariam de dizer para nós?
— Que diabos? — Jack olhou ao redor, então encarou-a novamente com um sorriso que o deixou mais bonito do que já era, o demônio. — Roxy! Você nos salvou!
— É claro que salvei. Quero dizer, nós fizemos. — Ela olhou para as unhas e deu de ombros. — Imagine que apenas um par de mortais, em sua maioria inúteis, salvaram seus lamentáveis traseiros de um exército de drones. Quem poderia imaginar isso?
Jack inclinou-se sobre o banco, agarrou sua cabeça e beijou-a direito na boca.
— Você arrebentou, Roxy. — E com um olhar para Ilyana acrescentou. — Ambas. Como diabos vocês fizeram isso?
— Nós entramos durante o dia, imaginando que os drones estariam tão em coma quanto vocês estavam. Usamos os sacos de cadáveres para transportar você e Topaz para o furgão, então repetimos todo o processo quando chegamos ao local onde Seth e Vixen estavam. Então depois de dar tapinhas nas costas uma da outra algumas vezes, fomos para o leste.
— Isso foi perigoso, Roxy. — Seth disse suavemente. — Gregor poderia ter pessoas mortais observando ou...
— Sim, sim. Você teria feito o mesmo por nós.
— Sim. — disse Vixen. — Teríamos.
— Obrigado, Roxy. — Topaz disse a ela. — E você também, Ilyana. Não poderia ter ficado outra noite ali sentada cercada por aqueles gorilas gigantes. — Ela suspirou e alisou o longo cabelo colorido de vison com uma mão. — Quanto tempo antes de chegarmos em casa?
— Oh, nós não estamos indo para casa. Estamos indo para o norte, rumo a Connecticut.
— Para Connecticut? — Jack perguntou. — É onde Reaper está?
— Sim. E Briar — e Crisa, pelo que sabemos.
— Também a disposição aparentemente, está o ex-chefe de Raphael na CIA, um cara chamado Dwyer. E de acordo com ele, Gregor está lá também.
Franzindo a testa, trocando olhares com os outros, antes de voltar seu olhar para ela, Jack perguntou.
— O que está acontecendo, Roxy?
— Nós ainda não temos certeza. Mas achamos que Dwyer está de alguma forma por trás dos sintomas de Crisa e que está atraindo-a para lá como meio de chegar a Raphael, sabendo que ele iria segui-la. Raphael e Briar estão supostamente indo se encontrar com ele esta noite.
— Eles estão loucos? — Seth perguntou, levantando a voz. —Reaper não percebe que provavelmente isto é uma armadilha? Esse cara quer levá-lo de volta para que possam mexer um pouco mais com seu cérebro, trazê-lo de volta ao rebanho, torná-lo sua própria maldita Arma de Destruição em Massa.
— Ele sabe disso, Seth. — Roxy disse. — Mas é a única maneira de Dwyer dizer a ele o que está acontecendo com Crisa. Ele disse a Raphael que estava esperando-a aparecer esta noite também.
— Como ele pode estar controlando Crisa assim? — Vixen perguntou.
— Não sei. — disse Roxy. — Mas ela está ficando pior. Pelo menos, se os sintomas de Briar é o que está passando.
— Ela está mal? — Jack perguntou.
Roxy assentiu, encontrando seus olhos e vendo a preocupação lá. Ele era mais afeiçoado aquela — demônio que qualquer um deles era, exceto talvez, Reaper. Em seguida, deslocou os olhos, olhando para Topaz.
— Ela estava dirigindo quando o pior episódio a atingiu. Uma dor ofuscante, Reaper disse. Receio que seu Land Rover esteja com perda total.
— Mas eles estão bem? — Topaz perguntou.
Roxy assentiu.
— Eles estão bem.
— Isso é o que importa. O carro tem seguro, de qualquer maneira.
— Qual é o nosso tempo estimado de chegada, Roxy? — Jack perguntou.
Roxy olhou para o sistema de GPS instalado no painel.
— Se dirigir a noite toda e o dia todo de amanhã, podemos chegar amanhã à noite. Acho que Ilyana e eu estamos prontas para nos revezarmos, dormindo na parte de trás. Vocês podem assumir a direção por um tempo.
— Amém. — Ilyana disse. — Há uma parada para descanso oito quilômetros à frente. Vou encostar e poderemos trocar. Roxy e eu precisamos de um banheiro e um pouco de comida de qualquer maneira.
— Eu dirijo na próxima. — Seth ofereceu. Ele olhou para as duas. — Vocês duas são demais, sabem disso?
— Claro que sim. — disse Roxy.
— Reaper sabe que estamos indo?
Ilyana encontrou seus olhos.
— Estamos sob ordens estritas de manter distância dele, no caso de ser uma armadilha. Mas acho que no fundo deve saber que não vamos ouvir. Ele não pode imaginar que eu ficaria longe sabendo que Gregor está lá. — Ela ligou a seta e mudou para a pista da direita, espiando as luzes da parada de descanso à distância. — Aquele desgraçado está com o meu filho.
Os vampiros na parte de trás assentiram. Jack disse:
— Nós vamos trazê-lo de volta, Ilyana. A salvo.
Ela franziu a testa, olhando para ele e depois para os outros que estavam todos concordando, e algo em seu rosto suavizou.
— Obrigado.
— Não. — disse Topaz. — Obrigado você.
Crisa tinha dois desejos dirigindo-a durante a noite, a pé, na chuva. O menino, que tinha de ficar com o menino. E além daquela necessidade, estava a voz do mal em sua cabeça, ordenando para ir até ele. Mas os dois não estavam no mesmo lugar.
Sempre que tentava resistir à voz de comando em sua cabeça, uma que ordenava que viesse até ele, a dor piorava. Quando se dirigia para ele, aliviava. E no entanto, o menino precisava dela. Ele precisava dela. Estava compelida por tudo dentro dela — tudo exceto aquela voz em sua cabeça — para ir até ele.
Assim, apesar da dor que parecia aumentar a cada passo que dava, era o que ela fazia.
Estava ficando fraca. A dor estava desgastando-a. Podia sentir Briar vindo para ela, aproximando-se o tempo todo. E o homem, o chefão gritando com ela, Venha para mim. Agora!
Estava ignorando-o, recusando-se a responder quando emergiu de um arbusto em direção a uma rua movimentada na aldeia de Byram. Ela espreitou através da chuva para o sinal de néon luminoso de um motel e sabia que era o lugar onde o menino estava.
O que você está fazendo, Crisa? Isso não é onde eu estou. Você tem que vir para mim. As palavras foram acompanhadas por uma dor excruciante que fez lágrimas escorrerem de seus olhos.
— Eu tenho que ir até ele. Tenho que ajudar o menino. — Ela falou em voz alta, sabendo que de alguma forma, a voz em sua cabeça podia ouvi-la. E que podia ver o que via também, embora não entendesse como. Ele era um demônio? Um fantasma? Outro vampiro? Quem era ele, e por que estava dentro de sua cabeça?
O menino? O menino está lá?
— Acho que sim.
Houve um longo momento de silêncio abençoado. Então, tudo bem. Pegue o menino então e venha para mim. Traga-o com você.
Ela parou do outro lado da rua.
— Por quê? O que você quer com ele?
Uma buzina explodiu, e ela se moveu para fora do caminho do veículo que passava.
— Não vou fazer isso. — Ela disse quando acabou de atravessar e parou no estacionamento do motel, aprimorando seu sentido do menino, encontrando o quarto, a porta com o número de estanho pregado à sua frente. 16. O seis pendurado torto, o prego da parte inferior faltando.
Você não tem escolha.
Ela fechou os olhos sabendo que tinha uma escolha. Ela poderia sofrer a dor, morrer com isto, em vez de fazer o que esta voz exigia.
Ele não está seguro onde está, Crisa. A voz suavizou e sentiu... quase bondade agora. Ele não está seguro. O homem que está come ele vai machucá-lo. Você tem que salvá-lo. Afastá-lo desse homem e trazê-lo para mim. Ele estará seguro aqui. Assim como você.
Ela olhou para a porta com os números nela.
— Ele não está seguro?
Ele precisa de você para salvá-lo. Ele está contando com você, Crisa.
— Ele está contando comigo. — ela sussurrou e então caminhou até a porta.
Matt estava sentado no chão assistindo TV, quando sentiu um comichão percorrer sua coluna e levantou a cabeça. Foi involuntário esse movimento. E a maneira como seu olhar cravou na porta do quarto do motel foi involuntário também.
Derry estava ficando cada vez mais nervoso e instável desde o momento que o sol se pôs. Ficava parado por cinco minutos, em seguida levantava-se e ia de uma janela a outra, olhando para fora.
Como se houvesse um vampiro vindo atrás dele, sua busca do lado de fora faria alguma maldita coisa para detê-lo.
E a dele estava chegando agora, Matt pensou. A Sua estava chegando agora. Ele a sentiu.
Crisa.
A porta bateu com força, como se alguém tivesse batido do outro lado com uma marreta. Bateu na parede e lá estava ela, meio curvada como um gato com as costas arqueadas. Estava encharcada, pálida, e tinha olheiras ao redor dos olhos que brilhavam com uma luz avermelhada. Seus cabelos estavam molhados e também grudados em toda parte, como as penas de um pássaro preso em uma tempestade de vento.
Matt estava meio surpreso que não estivesse com medo. Ele provavelmente deveria estar. Mas tinha certeza, direto de seus dedos do pé, que ela não era perigosa. Não para ele, pelo menos.
Derry havia congelado no lugar na porta do banheiro, onde foi para olhar pela janela novamente. Apenas olhando para ela.
Matt se levantou.
— Crisa? — ele perguntou.
O brilho em seus olhos piscou. Eles eram grandes e castanhos na luz pálida da sala, e quando ela o viu, seus lábios tremeram em um pequeno sorriso e ela entrou.
— Você está bem. — ela sussurrou.
— Sim, estou bem.
Ela lançou um olhar em direção a Derry.
— Você tem sorte, senhor.
— Ei, eu não ia machucá-lo.
— Não muito. — Matt murmurou.
Derry enviou-lhe uma careta, mas desviou o olhar rapidamente para Crisa novamente.
— Olhe — ele disse —, sei que você está com dor, sintomas estranhos e posso ajudá-la com isso.
— Eu não conheço você. — Ela estendeu a mão para Matt. — Venha comigo. Ninguém pode machucá-lo se estiver comigo. Mas temos que nos apressar.
Ele olhou para ela. Então olhou para Derry.
— Não faça isso, garoto. Ela está doente. Se não me deixar ajudá-la, não ficará muito tempo no mundo.
— E suponho que tenho que acreditar em você? — Matt agarrou seu casaco. — Você só me usou para chegar a meu pai.
— Matt! Tenho sido bom para você.
— Para me impedir de fugir, não é? Mas estava me usando, sei disso. Se você realmente quisesse me levar de volta para minha mãe como prometeu, então não teria se escondido em algum estúpido motel por todo esse tempo.
Encolhendo os ombros em seu casaco, Matt foi para a porta.
Derry saltou sobre ele e agarrou-o pelo ombro, como se para puxá-lo de volta. Mas Crisa, o pássaro afogado na porta, atacou tão rápido que Matt nem sequer viu seu movimento. Em um minuto ele estava caminhando em direção a ela enquanto estava lá na chuva, e no outro ela estava sentada sobre Derry, que estava deitado de costas no chão com falta de ar. Matt não tinha certeza, mas achou que ela poderia ter lhe dado um soco no peito e tirou todo seu fôlego.
Ou quebrou suas costelas.
— Não toque no menino! — ela gritou.
— Uh, meu nome é Matt—
Ela levantou-se lentamente com os olhos fixos onde Derry estava deitado, nunca vacilando.
— Você, ah... você acha que poderia me ajudar a encontrar minha mãe, Crisa?
— Vou ajudá-lo a fazer o que me pedir. — ela disse, enquanto recuava para a porta. —Você sabe onde ela está?
— Não. Seu nome é Ilyana e meu pai me disse que estava morta, mas esse cara diz que ela não está.
Isto trouxe o olhar dela em Derry para cima dele com urgência, e ela estava sorrindo de uma forma que o fez esquecer que estava uma bagunça molhada.
— Ilyana? Ela é sua mãe? — Seu sorriso ficou maior quando ele balançou a cabeça e o olhar em seus olhos parecia transmitir uma sensação calorosa e maravilhosa através dele. Era como um grande abraço, não apenas um. — Eu a conheço. — ela disse suavemente.
Matt sentiu suas sobrancelhas subirem.
— Ela é muito magra. E tem o cabelo muito curto, tão loiro quase branco e os seus olhos...
— É ela! Essa é minha mãe!
Seu sorriso tornou-se uma suave risada.
— Eu sei exatamente onde ela está. Vim de lá. — Em seguida, franziu a testa. — Não foi uma viagem fácil, no entanto. Levei um tempo e tinha de fazer passeios com estranhos e você é uma criança, e as crianças não devem andar em carros de estranhos. — Ela franziu a testa, trabalhando isto em sua mente. —Talvez precisemos de um carro.
— Ele tem um carro. — Matt disse, olhando para Derry.
Derry empurrou-se para trás, até que pudesse se arrumar em uma posição sentada contra a parede.
— Dê-me as chaves do carro, Derry. — disse Matt.
— Não. De jeito nenhum. Vocês não estão...
Houve um meio rugido, meio vociferar, e Crisa estava segurando-o no ar pela frente de sua camisa.
— Ok, ok! — Pescou as chaves do bolso e jogou-a para Matt.
— Você não deveria ir com ela, Matt. Ela vai levá-lo de volta para seu pai.
— Cale-se. — disse Crisa, sacudindo-o uma vez.
— Ele está controlando a mente dela, Matt. Há um chip na cabeça dela e ele tem o controle remoto. Ele pode fazê-la entregá-lo.
Ela bateu Derry na parede — dura — e seu pescoço estalou de volta. Então simplesmente largou-o. Ele bateu no chão com a cabeça pendendo para um lado, de olhos fechados. Havia uma mancha de sangue na parede, escorrendo de onde sua cabeça tinha feito contato, onde ele estava descansando agora.
Matt olhou para ele e piscou.
— Ele está... morto?
Crisa se ajoelhou e olhou para Derry. Ela inclinou a cabeça para um lado, então até o outro. Então se levantou.
— Não. Por quê? Você quer que ele esteja?
— Não. Ele foi um pouco gentil comigo mesmo que estivesse mentindo para mim e me usando. Então é verdade o que ele disse? Meu pai está controlando você?
Ela deu de ombros.
— Tem um cara malvado falando comigo dentro da minha cabeça, dizendo pra mim o que fazer. Quando desobedeço dói e às vezes dói por nenhuma razão. Mas ele não pode me obrigar a fazer nada. Apenas pode me machucar se não fizer. — Ela franziu a testa para Matt. — Você acha que o cara malvado na minha cabeça é seu pai?
— Sim, provavelmente. Crisa, não quero que ninguém a machuque. E ele vai, se puder.
— Eu não quero que ninguém machuque você também. — ela disse. — E não vou levá-lo de volta para seu pai... a menos que seja o que você quer. É? — Ela pareceu com um pouco de medo com sua resposta.
— De jeito nenhum.
Seu sorriso voltou.
— Ótimo. Então vamos. Nós vamos encontrar sua mãe para você.
Ela estendeu a mão.
Matt assentiu e entregou-lhe as chaves.
Ela olhou para elas e sorriu largamente.
— Isso deve ser divertido. Nunca dirigi um carro antes.
— Uh. Ok, talvez você deva dá-las para mim. — disse Matt. Ela olhou-o com o coração partido, mas entregou as chaves.
Matt pensou que ela era como uma menina, não como um adulto absolutamente. O que o fez confiar nela ainda mais. Isto ainda o fez sentir como se talvez fosse ele quem deveria estar cuidando dela.
Ele entrou no banheiro e pegou uma toalha grande e o enorme roupão felpudo que Derry estava usando.
— Aqui. Enfie isto sob sua camisa, e quando entrar no carro, pode se secar e colocar o roupão para mantê-la aquecida. Ok?
— Ok.
Matt ficou um pouco mais ereto quando viu a gratidão nos olhos dela e puxou o capuz de seu casaco para que ele pudesse ficar seco.
— O carro dele está por aqui, Crisa. Não está longe. Vamos.
Ela assentiu com a cabeça e seguiu. Mas enquanto fazia falou, e por um minuto Matt se assustou.
— Não. — ela disse. — Não, ele não quer ir até você e não vou levá-lo!
E então ela gritou de dor. Matt virou-se para vê-la de joelhos jogada no chão segurando sua cabeça.
— Tudo bem! — ela chorou. — Mate-me, então. Ainda assim não vou fazer isso. Não posso!
— Crisa? O que está acontecendo? — Matt ajudou-a a levantar, abriu a porta do carro e a colocou no lado do passageiro. Ele colocou o cinto de segurança afivelando ao seu redor e em seguida foi para o lado do motorista, entrou e puxou a cadeira o mais que podia à frente.
Ligou o carro, encontrou o interruptor do farol e acendeu-os. Então colocou o carro em marcha e dirigiu-se muito lentamente para frente. Não foi tão fácil quanto esperava que seria. Especialmente desde que mal podia ver acima do volante.
— Onde está minha mãe? — ele perguntou.
Segurando a cabeça entre as mãos e balançando para frente e para trás, ela sussurrou.
— Carolina do Norte.
— Ahh, Diabos. — Ele olhou para o velocímetro. Estava a cerca de um quarto, e estava com medo de acabar rapidamente. — Talvez seja melhor encontrar uma estação de ônibus e ver se podemos conseguir uma passagem. Você tem algum dinheiro?
— Não. — Ela apertou os olhos com mais força. Ele sabia que ela estava sofrendo. Seu pai estava fazendo isso com ela.
Ele provavelmente poderia roubar alguém. Deus sabia que ela poderia se a dor afrouxasse tempo suficiente para deixá-la. E então eles teriam dinheiro para o ônibus. Mas e se ela morresse antes de chegar lá? E se essa dor não parasse?
Ela fez todo o caminho da Carolina do Norte para chegar até ele, para levá-lo para longe de Derry, tudo sem um carro ou qualquer dinheiro ou até mesmo um casaco decente. Estava encharcada e exausta. E agora estava sofrendo muito em vez de entregá-lo a seu pai, só porque disse que não queria ir.
Ele estava certo em confiar nela, pensou. Ela foi provavelmente a melhor pessoa que já tinha conhecido, além de sua mãe. Disse a verdade quando falou com ele e se importava um montão, mesmo que nunca o tenha conhecido. Ele podia sentir o quanto ela se importava, apenas derramando dela. Era real. Isto o fazia sentir seu peito meio apertado, e isso o fez importar-se de volta.
— Vamos apenas encontrar um lugar para descansar, Crisa. Vamos ver se conseguimos descobrir alguma coisa. Você precisa de uma pausa. E provavelmente algo para — uh — beber.
Ela assentiu com a cabeça.
— Mas nós temos que sair daqui rápido. Meus amigos estão me perseguindo. E seu pai está atrás de mim, também. Além disso, acho que esse cara no motel virá também, muito em breve. Temos que nós esconder muito bem.
— Nós podemos fazer isso. — Matt prometeu.
Ela sorriu para ele através de sua dor.
— Eu sabia que seríamos amigos.
Ele também. Não sabia como ele sabia disso, mas sabia. Havia uma sensação de calor em sua barriga por ela. Adivinhou que era, em parte, algo a ver com o fato dela ser um vampiro e ele ser um dos Escolhidos, e talvez aquela coisa de Divindade que disseram sobre eles terem uma conexão especial não fosse totalmente falsa tampouco.
Era bom ter alguém que se preocupasse com ele, mais do qualquer outro. Não se sentia tão bem desde que estava com sua mãe.
Talvez quando eles ficassem juntos, sua mãe fosse deixá-lo ficar com ela. Como uma irmã mais velha.
Ele continuou dirigindo o carro, mas tirou uma mão do volante tempo suficiente para puxar a toalha de onde estava saindo debaixo de sua camisa.
— É melhor você se secar. — ele disse. — E se aquecer.
Ela olhou para ele, enormes olhos castanhos sondando.
— Obrigado. — ela disse. E então sorriu enquanto esfregava a toalha nos cabelos. —Vampiros realmente não passam frio, você sabe.
Sim, bem, ainda assim...
— Ele olhou para os controles de aquecimento, encontrando-os e virando para ela, enquanto continuava dirigindo lentamente, mas um pouco mais rápido do que antes, ao longo da estrada principal da cidade.
Tinha anoitecido. Briar e Reaper entraram no armazém onde passaram o dia bem próximo do amanhecer, para que não houvesse qualquer oportunidade para sexo ou para o abismo irritante de conversas enjoativamente emocionais que ele parecia preferir ter de antemão. E depois. Provavelmente tentaria analisá-la durante o sexo também se parasse de beijá-lo por muito tempo, pensou.
Mas isto não tinha importância nesta manhã. Esta manhã não houve tempo. Eles pularam pela janela e mal tiveram tempo de procurar um lugar, encontrar um confortável armário escuro do tamanho de um quarto com uma tranca no interior e se instalarem no chão antes que o sono do dia os reivindicasse.
Ela não esperava no entanto, acordar em seus braços.
Ele estava sentado semiereto em um canto, as longas pernas esticadas para frente com as costas apoiadas em duas paredes diretamente no canto do minúsculo quarto. Lembrou-se de se sentar ao lado dele, mas não perto o suficiente para tocá-lo, no entanto. Nenhum ponto tocava-o porque não pretendia transar com ele, pensou. Qualquer outra coisa era apenas bobagem. De qualquer forma, ela sentou ao lado dele, e supunha que deve ter adormecido antes dele porque acordou aconchegada ao lado dele, o grande imbecil. Seu braço estava em volta de seus ombros, embalando-a de modo que sua cabeça descansava na curva de seu pescoço.
Quando despertou e se encontrou ali, ela não se moveu imediatamente. Ficou muito quieta fazendo um balanço, cheirando-o e sentindo-o. A maneira como seu braço apertou um pouco quando despertou. A forma como seus dedos se moveram e depois parou, como se tivesse sido uma espécie de carícia em seu braço por um momento, antes que se contivesse.
Ela levantou a cabeça, olhou-o nos olhos.
— Besteiras românticas não funcionam em mim, você sabe.
— E que besteira romântica seria essa? — ele perguntou.
— A maneira como me segurou durante todo o dia enquanto eu dormia. A maneira que acordei para encontrar minha cabeça em seu ombro, e sua mão acariciando meu braço e seus lábios perto do meu cabelo. Essa besteira romântica.
— Não foi um esforço consciente para... trabalhar em você.
— Não? O que foi então?
Ele deu de ombros.
— Instinto? Não sei. Você se sentiu bem em meus braços. Sentir-se bem é uma grande coisa para os vampiros.
Ela franziu o cenho para ele, mas ele quebrou o contato visual e ficou de pé, em seguida aproximou-se da porta para ouvir antes de abri-la e sair tranquilamente do minúsculo quarto. Ela seguiu seu exemplo mantendo silêncio, estando alerta. Mas o lugar estava praticamente vazio.
Ele foi direto para a janela por onde entraram.
— Vamos encontrar Crisa. — disse.
— Sou totalmente a favor disso. — Porém ela não tentou se conectar com a garota. Não ainda. Melhor chegar ao chão antes que arriscasse outro episódio de dor incapacitante.
Reaper saltou da janela, caiu facilmente no chão e ergueu-se agachado para virar e esperar por ela.
Ela pulou também, aterrissando alguns metros distante dele. Assim que se levantou e conseguiu se equilibrar, fechou os olhos e sentiu com sua mente em busca de Crisa.
A dor veio como uma lâmina dirigindo através do centro de seu crânio.
Ela não caiu de joelhos porque era onde se encontrava. No chão, ajoelhada com a cabeça baixa, as mãos pressionando suas têmporas. E então nos braços dele quando a pegou e a trouxe contra seu peito, no meio da chuva para o carro que abandonaram na noite anterior. Ela podia supor apenas que ele tivesse examinado a área e não encontrou nenhum indício de emboscada.
Ele colocou-a no banco da frente e alisou seus cabelos para longe de seu rosto salpicado de chuva.
— Nós vamos chegar até ela. Nós vamos corrigir isso, juro.
Ela assentiu com a cabeça.
— Acho que é melhor se apressar.
Ela não tentou olhar para ele. Não conseguia abrir os olhos naquele momento, e tinha certeza de que sabia como ele estaria de qualquer maneira. Seus olhos estariam preocupados, avaliando seu rosto, olhando para tudo como se ele se importasse.
Era difícil entender o modo como seus olhos podiam procurar às vezes quando encontravam os dela. Ela sabia muito bem que ninguém podia sentir coisa alguma por ela da maneira como esses olhos pareciam estar dizendo que ele sentia. De jeito nenhum. Não por ela. Não era o tipo de mulher que provocava uma sensação dessa... profundidade. Suave. Poderosa.
Não podia ser real. Ela estava feliz que não tinha aberto os olhos para ver isto.
Um momento depois, o carro estava em movimento. Ela se atrapalhou com o cinto de segurança, em seguida mandou-o para o inferno e deixou-o fora.
— Vamos encontrar Dwyer agora? — ela perguntou.
— Sim.
Ele parecia triste. Não era de admirar, se estivesse tão duvidoso sobre isso como ela estava. Provavelmente era uma armadilha. Precisava recuperar-se e estar pronta.
— Está muito longe? — perguntou.
— Cinco minutos. Devemos parar e dar um tempo para você se recuperar antes de chegarmos lá.
Ela levantou a cabeça e abriu os olhos para encontrar os dele, forçando-se a parecer normal. Mas sabia que a dor aparecia neles. Podia ver seu reflexo em seus olhos.
Ele segurou em seu rosto.
— Eu estou bem. Estou pronta. Vamos.
Ele acenou com a cabeça, e então dirigiu.
Cinco minutos depois, estavam entrando no estacionamento de um motel que parecia ainda mais barato do que o último que tinha visto.
— Eu quero que você espere aqui. — ele disse. — Na verdade, pode ser uma boa ideia pegar o carro e dirigir para longe enquanto...
— Besteira. — Ela empurrou a porta aberta e tirou o cabelo de sua testa quando saiu.
Ele saiu também, encontraram-se na frente do carro e continuaram em frente.
— Você está com dor.
Ela deu de ombros.
— Não significa que irei me enrolar e tremer quando você tiver seu rabo morto. Sou uma vadia-vampiro, não uma flor delicada Reaper.
Ele observou-a enquanto caminhavam e finalmente suspirou e focou-se à sua frente.
— Número do quarto? — ela perguntou.
— Dezesseis.
Balançando a cabeça, virou a cabeça latejante e avistou.
— Lá vamos nós.
Eles caminharam até a porta juntos. Reaper levantou a mão para bater, mas Briar chutou a porta direto nas suas dobradiças antes que pudesse bater com os dedos uma vez sequer. Ela pulou para dentro, movendo-se como se fosse um grande alce, apesar da dor debilitante atualmente rasgando seu crânio em dois. Mentalmente congratulou-se — antes de avistar o mortal.
Reaper estava ao seu lado em um segundo, em seguida agachou-se próximo ao quase inconsciente agente da Cia.
— Briar o que você fez.
— Ei, não fui eu. E não foi a porta que bateu nele quando a chutei também. Ele estava assim quando chegamos aqui. — Ela sentiu algo, franziu o nariz e virou-se lentamente, não mais prestando atenção em Reaper ou seu amigo traidor.
— Dwyer, vamos. Preste a atenção. Diga-me o que aconteceu. — Reaper estava dizendo. — Quem fez isso com você?
— Foi Crisa. — disse Briar.
Reaper virou a cabeça, os olhos já não incidiam apenas sobre o homem confuso e atordoado no chão.
— Sinto-a. Ela esteve aqui, e recentemente. E... e mais alguém. — Ela levantou as sobrancelhas. — Um dos Escolhidos.
— O menino? — Reaper perguntou.
Ela estava tentando proteger sua mente de Crisa o máximo possível para evitar a inevitável corrida de dor, mas teria que se abrir para a outra mulher a fim de responder a essa pergunta.
Ou ela pensava que iria até que Dwyer respondeu por ela.
Ele levantou a cabeça fraca e disse:
— Como você sabe sobre o menino?
Reaper arqueou as sobrancelhas, inclinou um rápido olhar para Briar antes de voltar sua atenção para Dwyer. Ela poderia dizer pela ligeira curvatura de suas sobrancelhas que ele estava muito concentrado tentando ler os pensamentos do homem, enquanto Dwyer estava bem treinado em bloqueá-los, Briar por sua vez esperava que fosse esquecer ou vacilar, dadas as suas lesões e traumas recentes.
— Nós sabíamos sobre ele o tempo todo. — Reaper disse. — Crisa acha que ele precisa de sua proteção. O que você pensa disso, Dwyer?
— Eu não iria machucá-lo. Juro. Sim, eu o ameacei, a menos que Gregor se entregasse, mas nunca teria ido até o fim.
— E funcionou? — Reaper perguntou, pensando antes de falar.
— Não. Ele não iria se render, nem mesmo por seu próprio filho. — Os olhos de Reaper se encontraram com os de Briar de forma rápida e breve, mas Dwyer manteve-se falando. —Ele está me caçando, não tenho nenhuma dúvida sobre isso. E Crisa também, agora que ela o tem.
— Crisa tem o menino? — Briar perguntou.
— Sim. Ela o levou de mim.
— Para onde ela o está levando? — Briar continuou.
Dwyer deu de ombros e se levantou contra a parede e olhou para Reaper.
— Você vai me ajudar a ficar de pé?
Reaper agarrou seu braço e puxou o homem totalmente de pé. Uma vez que Dwyer estava de pé, apoiou um braço na parede e esfregou atrás de sua cabeça com a outra mão.
— O garoto quer voltar para sua mãe. Isso era tudo sobre o que falava. Você sabe que o bastardo lhe disse que ela estava morta?
Sua mãe. Ilyana. Briar não protegeu seus pensamentos, e Reaper os ouviu claramente. Ele acenou com a cabeça em confirmação.
— Você diz isso como se achasse que Crisa quisesse algo diferente.
— Crisa não sabe o que quer. — disse Dwyer.
— Talvez seja hora de você me dizer exatamente o que está acontecendo com ela. Eu sei que você sabe. E tenho certeza de que está por trás disso. — A voz de Reaper era baixa e calma, mas vibrando com raiva mal contida.
Briar não estava mesmo tentando conter a sua, e tinha certeza de que Dwyer poderia lê-la em seus olhos
Dwyer assentiu e caminhou para uma cadeira, em seguida afundou nela. Ele suspirou.
— É uma longa e complicada história.
Briar estava sobre ele, perto, ameaçadora e se aproximando.
— Dê-nos a versão curta e simplificada.
Ele olhou para ela, depois desviou o olhar rapidamente e assentiu.
— Quando você estava no México, teve um encontro com meus agentes. Os agentes levaram Topaz cativa daquela clínica de vampiro improvisada com ordens de forçá-lo a negociar a si mesmo por ela.
— Seus agentes. Trabalhando sob suas ordens. — Reaper disse.
Dwyer assentiu uma vez.
— Olhe, Reaper, estive sob intensa pressão para levá-lo de volta para o grupo. Minha vida estava em jogo. Ainda está. Se a agência descobrir que estou te ajudando, serei um homem morto.
— E se você continuar enrolando, já estará morto. — disse Briar. — Termine a maldita história.
Dwyer levantou uma mão para esfregar a parte de trás de sua cabeça.
— Seu povo foi neutralizado. Assim como Crisa. Eles implantaram um microchip em seu cérebro.
— Não houve tempo de... — Reaper começou.
— Foi um procedimento simples. O chip é minúsculo, a implantação realizada com um pequeno furo de broca e uma injeção. Levou apenas alguns minutos. Os idiotas deveriam colocá-lo em um de seu povo. Seth ou Vixen. Mas eles não sabiam quem era quem. Por pura sorte você levou Crisa quando saiu de lá.
— Nós não tínhamos escolha. Ela estava sangrando.
— Ela não deveria ter resistido. — Dwyer murmurou.
Briar o tinha pela frente de sua camisa antes que ele pudesse piscar, em seguida levantou-o da cadeira e mostrou os dentes quando olhou para ele, seus olhos reluziam vermelhos.
— Briar. — Reaper estalou.
Ela odiava o bastardo da CIA com todas as forças, mas o soltou. Ele caiu com força na cadeira, gemendo de dor.
— Conte-me sobre esse chip. — Reaper disse. Enquanto falava, aproximou-se de Dwyer, colocou a mão no ombro de Briar e moveu-a alguns passos de distância, efetivamente colocando-se entre ela e seu ex-chefe, um ato que a irritava enormemente.
— Alimenta-se de um sinal que é captado por satélite e transmitido para um receptor que se abastece meu computador. Através dele, sou capaz de literalmente ver através de seus olhos. Ouvir o que ouve. Posso me comunicar com ela, dizer o que quero que faça. É extremamente difícil para ela recusar.
— Por que isto resulta em dor quando ela o faz? — Reaper perguntou.
Dwyer enfiou uma rápida olhada em Briar.
— Sim. Mas não é a única razão para a dor. Há outras coisas acontecendo. — Ele balançou a cabeça. — Não entendi a princípio porque fui surpreendido por vislumbres do filho de Gregor em sua mente. Era como se ele estivesse lá também, competindo por sua atenção. É como se tivessem uma ligação, e acho que isso pode significar...
— Essa parte nós entendemos. — Reaper disse. — E não precisa saber mais sobre isto do que já sabe. Vamos manter o foco aqui. Então usou esse chip para comandar Crisa para vir até aqui?
— Não. Não, não fiz. A extensão do meu interesse era usá-la para descobrir onde você estava, para encontrá-lo. Removeria o chip tão logo o pegasse. Eu juro, Reaper.
— Então o que diabos ela estava fazendo aqui?
Dwyer abaixou a cabeça.
— Gregor me enganou, capturou-me, depois foi para minha casa e roubou meu equipamento, as notas, tudo. Ele está no controle dela agora, e mesmo que ela esteja com Matt, e provavelmente querendo fazer o que ele pede, não será capaz de dizer não a Gregor. Não enquanto ele estiver na outra extremidade desse chip.
— Então nós vamos ter que chegar a ele primeiro. — Reaper disse. — Onde ele está?
Dwyer engoliu em seco.
— Eu vou precisar de... proteção.
Briar lançou um esgar de descrença.
— Sim. De mim, seu desgraçado.
Ele a ignorou, olhando para Reaper.
— Sabia que estava vindo para cá esta noite. Não tinha uma emboscada esperando. Nem sequer informei à agência que estaria aqui. Falei de coisas que são altamente confidenciais, Reaper. Eles vão me matar por isso. E Gregor...
— Gregor é problema meu agora. Vou lidar com ele. Quanto a protegê-lo...
— Nem sequer pense nisso, Reaper. — Briar sussurrou.
Ele olhou para ela, levantou uma mão.
— Você usou e basicamente torturou um dos meus, Dwyer. Crisa é uma pessoa inocente. Você quase matou Jack e Topaz no México. Seus homens torturaram Jack tanto que não achei que fosse sobreviver.
— Eu não sancionei isso.
— Seus homens. Sua responsabilidade. Você foi longe demais para pedir minha ajuda agora.
— É mais do que isso, Reaper. — Briar disse.
Reaper se virou e encontrou seus olhos.
— Não...
— Nós não podemos deixá-lo vivo, e você sabe disso.
Reaper fechou os olhos brevemente, e Briar sentiu uma pequena pontada de arrependimento, sabendo que este homem foi amigo dele uma vez. Mas fatos eram fatos, e era muito prática para ignorá-los.
— Seus comparsas iram alcançá-lo antes que esta noite acabe. Ele irá dizer a eles onde fomos, o que estamos fazendo, e estarão sobre nós antes de percebermos. Quem vai salvar Crisa então? O que vai acontecer ao filho de Ilyana, se Gregor levá-lo de volta?
Os olhos de Reaper se estreitaram quando a estudou.
— Se você me matar, Crisa vai morrer. — disse Dwyer.
Briar sentiu seus olhos se arregalarem e com um balanço de seu braço, empurrou Reaper de lado e agarrou Dwyer pela nuca, puxando-o aos seus pés.
— Estou ficando muito cansada de ouvir suas besteiras, você sabe disso?
— É a verdade! — Ele não lutou, provavelmente sabia que seria inútil tentar. Seus olhos estavam arregalados de medo, no entanto. Sabia que estava olhando a morte de frente. — O chip está começando a se deteriorar, liberando metais tóxicos em seu cérebro, em sua corrente sanguínea. Tem que ser removido e em breve, ou isto vai matá-la. E sou o único que sabe como fazê-lo.
— Tenho certeza que podemos encontrar um cirurgião qualificado para cuidar de Crisa. — Briar disse mostrando suas presas, inclinou a cabeça, abrindo a boca.
A mão de Reaper pousou em seu ombro.
— Você está disposta a apostar a vida de Crisa nisso? — Perguntou suavemente. Ela hesitou. Ele sentiu sua hesitação e continuou. — Briar, precisamos dele. Pelo menos até que ela esteja segura.
— Se nós o deixarmos vivo...
— Nós vamos levá-lo conosco. — ele disse.
— Ele vai nos atrasar.
— Isto... não é tão longe. Honestamente. — disse Dwyer. Ele estava implorando pela vida dele e Briar sabia.
Ela ajeitou a cabeça e olhou-o, a morte em seus olhos.
— Vou matar você pelo que fez a Crisa. E vou saborear isto. Não tenha nenhuma dúvida disto. Você está com os dias contados, Sr. Dwyer. — Ela liberou o aperto de sua nuca e sua cabeça foi para trás, e ele foi arremessado com força contra seu agarre.
Com medo em seus olhos, esfregou o pescoço com uma mão e disse:
— Se vai me matar de qualquer jeito, então que razão tenho para ajudar Crisa, afinal?
— Seu filho da puta! — Reaper girou sobre ele, mas foi Briar quem pisou na frente dele, impedindo a agressão.
— Porque se você deixá-la morrer, sua morte vai ser muito menos agradável, meu amigo.
— Não sou amigo de vocês.
Empurrando a mão pelo cabelo, Reaper virou as costas para os dois. Ele tremia de raiva reprimida e frustração. E outra coisa.
Briar começou a sondar sua mente e percebeu o que era. Era medo. Ele, Reaper, o assassino solitário, o bastardo mais destemido que já tinha conhecido em sua vida, estava em pânico com medo desse fraco e ferido mortal.
E então bateu-lhe o porquê. Dwyer sabia as palavras-gatilho. A primeira que enviaria Reaper em uma raiva incontrolável, e a segunda, que o traria de volta outra vez. Ele poderia controlar Reaper, tão certo como Gregor podia controlar Crisa através desse chip em seu cérebro.
— Onde está Gregor? — Reaper perguntou a Dwyer, focando novamente no negócio em mão, empurrando seu próprio medo de lado, embora a consciência disso permaneceu em primeira linha para Briar.
— Ele permanece na velha Mansão Marquand, na península.
— Na mansão de Eric Marquand? — Reaper perguntou.
— Sim.
Reaper assentiu lentamente.
— Tudo bem então. Vamos.
— Ele provavelmente estará esperando por você.
— É claro que vai estar me esperando. Esse foi seu plano o tempo todo, não é? Colocar as mãos em Crisa, a fim de me atrair até ele? Parece que funcionou. Mas ele não vai sair desta vivo. Desta vez não. — Reaper deslizou um olhar para Briar. — Sinto muito Briar, mas essa é a forma como isto tem que acabar. Gregor tem que morrer.
Ela franziu o cenho e inclinou a cabeça para um lado. E outra revelação veio claramente para ela. Ele realmente acreditava que se preocupava com aquele bastardo.
Bem, inferno, era o que queria que ele pensasse, não era? Era uma maneira de mantê-lo à distância, uma maneira de convencê-lo de que seu desejo por ela nunca iria a lugar algum. Que nunca sentiria nada por ele
E isso ainda era verdade. Ela não conseguia sentir nada... por ele ou para qualquer outro homem. Os homens tinham aquela habilidade de fugir dela. Tinha desistido de boa vontade, como sua única defesa contra eles. Eles poderiam tê-la fisicamente sim, mas nada mais. Não haveria mais nada.
Não para ela.
Matt dirigiu o melhor que pôde, mas não estava indo muito bem. Ele mal podia ver por cima do volante, e mesmo na sua idade sabia que cinquenta quilômetros por hora não iria levá-los muito longe tão rápido.
Crisa estava sentada no banco do passageiro com a cabeça entre as mãos, gemendo mais alto a cada quilômetro que passava.
Ela continuava levantando a cabeça a cada passo e olhando para o nada, dizendo a palavra não. Como se estivesse tendo algum tipo de conversa consigo mesma.
Por fim, ele parou o carro em um local amplo ao lado da estrada que parecia como se tivesse sido feito para esse fim. Não uma parada de descanso real, claro. Nenhum banheiro ou mapas ou máquinas de venda. Apenas um sujo e gasto semicírculo do lado de fora da estrada e com um telefone público surrado.
Quando o carro parou, Crisa levantou a cabeça.
— Por que estamos parando?
— Porque a estrada está mais à frente. E não sei para onde ir.
— Sul. — Ela piscou lentamente. — Eu disse não!
Matt franziu o cenho.
— Crisa?
— Deus, isso dói. — ela choramingou. Lágrimas escorriam de seus olhos fluindo como rios em seu rosto.
— Crisa, tenho certeza que minha mãe vai ser capaz de encontrar alguém que possa ajudá-la. Mas temos que descobrir como chegar lá. Porque se tomarmos a estrada, acho que vamos chegar muito mais rápido. Quer dizer, não posso ir mais rápido do que cinquenta ou mais, e os policiais percebam que nós estamos rastejando quando todos os outros carros vão a setenta.
— Carolina do Norte. — ela sussurrou.
— Ok, mas onde na Carolina do Norte?
Ela inclinou a cabeça para trás contra o assento e fechou os olhos. Matt pegou o guia de estrada que encontrou no banco de trás e folheou para o primeiro grande mapa naquilo, um mapa dos Estados Unidos inteiro. Encontrou Connecticut, em seguida olhou para a Carolina do Norte. E então piscou.
— Cara, é um longo, longo caminho para a Carolina do Norte, Crisa. Mais longe do que eu pensava.
— Eu sei.
— Não acho que possa dirigir tão longe.
— Não posso dirigir também. — ela disse. — Mal posso enxergar. Toda vez que digo não, a dor piora.
Ele franziu a testa e estendeu a mão para tocar seu ombro.
— Talvez você devesse parar de dizer não, então. — Ele suspirou. — Derry diz que com vampiros há sempre uma pessoa — um dos Escolhidos que eles se sentem mais próximos. Algum tipo de conexão, você sabe? Ele achava que eu era a pessoa certa para você.
Ela apertou os olhos com mais força.
— Isso faz sentido, eu acho.
— Bem, isso explica por que você sabia que eu precisava de ajuda. E por que está deixando meu pai machucá-la assim, em vez de apenas fazer o que ele diz.
— Ele é ruim. — ela disse. — Eu sei que ele é ruim. Posso sentir isso.
— O que está dizendo para você fazer, Crisa?
Ela fez uma careta e começou a soluçar baixinho.
Matt esfregou seu ombro.
— Vamos lá, você pode me dizer. Você tem que me dizer, certo? Estamos juntos nisso agora.
Ela assentiu com a cabeça, e fungou.
— E-ele diz que tenho que levar você para ele antes do amanhecer.
Matt sentiu seu coração tropeçar dentro do peito.
— Ele diz que a dor vai piorar até que ela me mate se não fizer isto. Ele diz que pode. Diz que estamos indo pelo caminho errado. Diz que temos que voltar. Mas não vou. Não vou, Matt. Não vou levá-lo para o homem mau. Não importa o que ele faça, não vou.
Os olhos de Matt começaram a esquentar, enquanto observava ela lá sofrendo. Ninguém jamais se preocupou tanto com ele, pelo menos ninguém além de sua mãe. Deus, queria que ela estivesse ali para lhe dizer o que fazer.
— Talvez devêssemos fazer o que ele diz. — ele disse suavemente.
— Ele vai machucá-lo.
— Não, não vai. Ele não vai me machucar. Porém vai machucar você. Talvez deva me levar de volta. Só não... todo o caminho. Apenas parcialmente, e então pode se esconder em algum lugar, e eu irei o resto do caminho sozinho, e talvez...
— Não.
— Mas, Crisa, você está doente. Você está ficando pior.
Ela balançou a cabeça de um lado para o outro, muito lentamente.
— Nós não podemos sequer ter certeza de que é seu pai. E se Derry estava mentindo? E se for outra pessoa? Alguém que pode machucá-lo?
Ele respirou fundo, suspirou e decidiu partilhar seu segredo pela primeira vez.
— Crisa, eu sou tipo... especial.
Ela abriu os olhos mais ainda e olhou para ele como se estivesse olhando para o menino Jesus deitado na manjedoura ou algo assim.
— Eu sei que você é. — ela disse, e passou a mão no cabelo dele.
— Quer dizer, mais do que você sabe. Posso tipo... ler os pensamentos das pessoas, às vezes.
Ela franziu o cenho.
— Pensei que apenas vampiros pudessem fazer isso.
— Não, algumas pessoas comuns podem fazer isso também. Sempre soube como. Desde que me lembro, de qualquer maneira. Mamãe sabia sobre isso, mas ninguém mais. Ela me disse para manter isto para mim. Assim nunca contei a ninguém. Nem mesmo ao meu pai.
— É provavelmente inteligente não contar. Pessoas podem ser... horríveis... quando você é diferente.
— As pessoas têm sido terríveis para você? — ele perguntou.
Ela assentiu com a cabeça.
— Sim. Antes. Você sabe, antes de ser um vampiro, e antes que encontrasse Rey-Rey. Ele tomou conta de mim. Mas depois ele morreu e fui ficar com Briar.
— Briar? — Ele franziu a testa. Ele só tinha conhecido uma mulher chamada Briar. Um vampiro, membro do bando de seu pai. Apenas vislumbrou-a de longe, mas pelo que tinha visto, ela era perigosa. Má.
— Eu estava morrendo e ela me salvou. — disse Crisa.
— Huh. Deve ser uma Briar diferente da que estava pensando.
— Ela e os outros me levaram com eles. Eles tomaram conta de mim do jeito que Rey-Rey costumava fazer. Mas, então tudo isso começou e... os deixei. — Ela levantou a cabeça. —Sua mãe está com eles também.
— E eles são vampiros?
— Todos, menos sua mãe e Roxy. Roxy e sua mãe são muito próximas.
— Então esses vampiros... eles têm a minha mãe e esta outra mulher? Roxy?
Ela franziu o cenho.
— Oh, não é assim. Eles são amigos. Eles são todos amigos.
Ele estreitou os olhos, tentando imaginar vampiros amigáveis e falhando miseravelmente. Dwyer disse que existiam vampiros bons, mas Dwyer disse um monte de coisas, e teve dificuldade em imaginar que tal coisa pudesse existir. Exceto por Crisa. Mas ela era diferente.
— Crisa, uma vez que temos esta conexão... e posso ler pensamentos, talvez possa ouvir quando esse cara está falando com você. Então podemos dizer com certeza se ele é meu pai. Você acha que daria certo?
Ela piscou para ele.
— Talvez. Só que ele parou de falar agora. — Ela franziu o cenho duro. — E a dor parou também.
— Desde que o carro parou, aposto.
— Sim! Como você sabe?
— Ele deve saber onde estamos, para onde estamos indo. — Com os olhos arregalados, perguntou: —S erá que ele pode ouvir o que estamos dizendo?
— Só quando estou falando com ele, pensando nele, realmente.
— Você parou de se opor a ele, então deve pensar que está mudando de ideia, pensando em me levar para ele, fazendo o que diz.
— Oh. — Ela pensou por um minuto. — Então se começar a dirigir novamente, ele vai falar comigo de novo. E fazer isso doer de novo.
— Sim, mas não sei se posso escutar enquanto estou dirigindo.
— E se estivermos andando? — ela perguntou.
Ele engoliu em seco.
— Eu meio que quero ficar aqui. Contanto que você não esteja com dor, parece bobagem fazê-la voltar.
Ela piscou e assentiu.
— Não gosto da dor também, Matt. Mas não podemos ficar aqui para sempre.
Ele suspirou e balançou a cabeça.
— Tudo bem. Vamos tentar. Você está forte o suficiente para andar?
Em resposta, balançou a cabeça e abriu a porta do carro. Ela saiu, então fez o mesmo, pegando as chaves e colocando-as no bolso. Em seguida, caminhou para o seu lado do carro e pegou a mão dela.
— Basta pensar em mim, vou focar em você e ver o que acontece. Ok?
— Ok. — Ela apertou sua mão ao redor da dele, e juntos começaram a andar.
Eles tinham andado cerca de dez passos quando Matt sentiu. Uma dor como nada que pudesse imaginar atravessou sua cabeça e, com isto a voz de seu pai expandindo e com raiva.
Eu te disse para trazer o menino para mim. Faça o que eu digo, Crisa. Faça isso agora. Ou morrerá!
Matt colocou as mãos nos olhos e sua atenção foi conduzida diretamente para fora da mente de Crisa. Ela se enrolou em um canto de seu próprio cérebro como um cachorrinho que tinha sido chutado através de uma sala.
A dor e a voz desapareceram imediatamente. Ele baixou as mãos, levantou a cabeça e abriu os olhos.
Crisa estava deitada no chão. Seus olhos estavam fechados, seu rosto estava molhado, e seu corpo tremia visivelmente, mas além disso ela não se movia. A dor deve ter sido demais.
Matt sabia que tinha uma escolha a fazer, e não era uma da qual gostava, mas agora não tinha como pensar muito para fazer isso.
Poderia colocá-la no carro e tentar dirigir até a Carolina do Norte, mas se tentasse isso, sabia de duas coisas. Nunca seria capaz de dirigir até esse ponto, e ela nunca sobreviveria tempo suficiente para chegar até lá, mesmo se pudesse.
Poderia levá-la de volta para Derry. Mas Derry estava pensando em matá-lo. E ele sabia que isso ainda era uma possibilidade.
Ou poderia chamar seu pai.
Sabia que seu pai viria até ele. Não sabia se ele ajudaria Crisa ou não, no entanto. Também não sabia se iria puni-lo por sair em primeiro lugar ou acreditar nele quando dissesse que não teve escolha. Mas sabia que seu pai não iria matá-lo. E também sabia que seu pai poderia ajudar Crisa se quisesse. Sabia disso porque realmente não havia nada que seu pai não pudesse fazer.
Isso poderia significar perder a única chance de ver sua mãe de novo. Mas a alternativa era deixar Crisa morrer, e ele com certeza não poderia fazer isso.
Suspirando, Matt deixou-a deitada na chuva e arrastou-se até o telefone público. Ligou para o celular de seu pai — a cobrar.
Na outra ponta, ouviu o som metálico de um telefone tocando, seguido pela pergunta da operadora.
E então ouviu a voz de ódio que o fez tremer um pouco.
— Bem, já era tempo.
— Ele não está lá.
Reaper estava agachado nos arbustos fora da mansão. Era um lugar deslumbrante ou foi uma vez. O tempo tinha contribuído para sua decadência gradual, mas as sombras de sua glória de muito tempo atrás permaneciam. A cerca de ferro alta que cercava o local estava pontuada por pilares de pedras, cobertos com gárgulas que pareciam quase vivos. E a porta da frente estava trancada, apesar de seus componentes eletrônicos estarem provavelmente há muito enferrujados e inutilizados pelo vento e pela chuva. A cerca marchava ao longo de ambos os lados da propriedade, até o precipício na parte de trás, um penhasco com vista para o mar batendo lá embaixo.
Foi uma fortaleza. Defensável, privada, segura.
Ele não podia nem chegar perto o suficiente para olhar pelas janelas sem primeiro superar a cerca. E não tinha ideia se havia sensores ou outros métodos que pudessem alertar Gregor da sua presença uma vez que ele o fizesse.
— Você não pode ter certeza de que ele se foi. — disse Dwyer.
Ele e Briar estavam escondidos atrás de Reaper no mato, ao lado do caminho curvo um pouco além do portão. Briar não disse nada. Reaper sentiu que seu foco estava em toda a casa, embora estivesse buscando Gregor ou Crisa, ele não poderia dizer.
— Reaper, a CIA...
— Quer dizer você. — Reaper disse.
— Quer dizer eu. Nós. Ensinamos a Gregor algumas... técnicas para ajudá-lo em sua missão.
— Tendo quase perdido minha vida para ele duas vezes agora, sem mencionar a vida de vários dos meus...
— Filhotes. — Briar interviu.
Reaper deu um olhar severo para ela, mas continuou sem reconhecer sua interrupção.
— Dada minha experiência com ele, sim, sei que está travado com alguns métodos não muito conhecidos entre a nossa espécie. Como criar esse exército de drones que ele usa. Eles têm a força dos vampiros e a mente de idiotas. Obedecem sem perguntar.
— É um programa secreto. Que não posso discutir com você. E não é sobre isso que estava falando, de qualquer maneira. Ele pode selar uma sala ou um prédio inteiro usando eletrônica avançada, para que a comunicação mental fique impossível entre vampiros dentro da sala e para os que estão fora dela. Ele pode ligar um campo de força e desligar com uma única mudança.
— Sim. Sei sobre isso também. — Reaper disse. — Também sei que não está usando isto agora. Posso sentir os drones, uma dúzia ou mais deles, espreitando lá. Mas não há sensação de Gregor.
— Ele pode estar em seu próprio aposento, Reaper? — Briar perguntou. — Um lugar dentro da casa que selou contra a comunicação mental?
— Parece que saiu. — Reaper olhava para a estrada, a caminho da casa na distância dos portões antigos enferrujados a frente dele. Então colocou sua mão sobre a calçada de terra desgastada. — Apenas recentemente. Ele dirigia. E estava sozinho.
— Se você diz isso, eu acredito. Não pego qualquer sensação de Crisa. — ela disse.
— Alguma coisa sobre o garoto? —Dwyer perguntou.
Reaper e Briar olharam um para o outro, uma troca tão breve, tão rápida, que passou despercebido para Dwyer. Mas junto com isto estava a pergunta mental: Por que diabos ele está tão preocupado com o garoto?
— Não. Nenhuma pista do menino. — Reaper franziu a testa para Dwyer. — Você percebeu que ele é um dos Escolhidos, certo?
— É claro que percebi.
— Então sabe que está sob nossa proteção.
Dwyer encontrou os olhos de Reaper, prendeu-os por um segundo, em seguida olhou para longe.
— Ele está sob a minha também. Gosto de Matt. Não quero que nada aconteça com ele.
Reaper observou a carranca de Briar e as engrenagens que podia ver rodando atrás de seus olhos. Ele queria apanhar seu cérebro e ficou bastante surpreso com isso, então perguntou-se por que ficou surpreso. Ela era inteligente. Esclarecedora. Cautelosa, prudente e astuta. Ele valorizava sua opinião, particularmente sobre os homens que não eram de confiança. Deus sabia que ela tinha visto o suficiente deles para se familiarizar com o tipo.
E a partir da vibração que estava pegando agora, pensou que ela confiava em Derrick Dwyer ainda menos do que nele. Ele ainda achava que havia uma chance de Dwyer poder realmente estar preocupado com a criança.
— Seria um bom momento para dar uma olhada lá dentro, checar o lugar. — Briar sugeriu.
— Ele pode saber que nós estivemos lá. — Reaper respondeu.
— Sim, mas não até que esteja lá também. E aí já seria tarde demais.
— E ainda não sabemos onde Crisa e o menino estão. — Reaper disse. — Você sabe muito bem que ele nunca vai nos dizer. Nem mesmo sob tortura. Ele prefere morrer.
— Como sabemos que ele sabe onde eles estão? — ela exigiu.
Reaper suspirou e olhou para Dwyer.
— Tudo o que sabemos com certeza é que nenhum deles está lá agora. Vamos nos afastar. Tenho uma ideia de como podemos estudar tudo o que há para saber sobre esse lugar sem colocar o pé dentro. Isto vai nos dar uma vantagem.
Ele subiu ligeiramente, virou-se e começou a voltar ao longo do caminho. Então a mão de Briar fechou em seu ombro e o fez girar tão rápido que ele quase perdeu o equilíbrio.
—Crisa está morrendo, seu filho da puta frio. Não temos tempo para nos preocuparmos com pesquisa, reconhecimento e planejamento. Precisamos encontrá-la. Agora!
Ele estudou seu rosto.
— Você se importa com ela, não é? Você pode até amá-la.
— Não seja idiota, Reaper.
— É uma chamada telefônica. — Reaper viu a mão em seu ombro cair ao seu lado quando disse isso, então agarrou os ombros dela. Puxou-a um passo mais perto, assim havia muito pouco espaço entre eles, e não deu a mínima que Dwyer estivesse observando-os com um olhar especulativo nos olhos. Ele tinha que fazê-la entender.
— Não é nada mais do que uma chamada telefônica, Briar. Temos uma distância segura e farei uma chamada. E enquanto estiver fazendo isso, você pode abrir sua mente e tentar obter uma sensação de Crisa. Se você puder senti-la em qualquer lugar partiremos deste caminho. Prometo. Não estou tentando adiar isso, só estou tentando ter certeza de fazer as coisas direito. Isso é tudo.
Ela fechou os olhos, como se fizesse uma busca interior por paciência.
— Tudo bem. Tudo bem.
— Ela é mais importante para você do que ele, não é? — Reaper perguntou.
— Crisa? Mais importante para mim do que quem?
— Do que Gregor.
Ela olhou para ele e lambeu os lábios.
— Olha, querer encontrar Gregor não é baseado em eu querer Gregor. Isto não é assim. Nunca foi.
— Mas você me levou a acreditar...
— Eu não o levei a qualquer lugar. Apenas não corrigi seus equívocos.
Ele piscou enquanto ela continuava a andar diretamente por ele, e para trás ao longo da estrada sinuosa para onde deixaram o carro. E após a ficha cair, ele a seguiu novamente.
— Então por que está tão determinada a ficar com ele de novo?
— Não é da porra da sua conta.
— Eu acho que é.
Ela parou de andar, o carro apenas alguns metros de distância agora, parado na sombra debaixo de uma árvore de bordo quase sem folhas. Esqueléticos galhos estalavam uns contra os outros quando o vento aumentou.
— Não vou discutir isso. Não com você, e não com qualquer outra pessoa. Então esqueça. Tudo bem?
Ele sustentou seu olhar por um longo momento, então finalmente vendo a determinação e, mais do que isso — a dor em seus olhos quase negros, ele desistiu.
— Tudo bem.
Ele passou por ela para o carro, abriu a porta do passageiro e segurou-a para ela.
— Entre, relaxe e tente pegar Crisa. Vou nos levar apenas o suficiente para sair da faixa de Gregor, no caso dele voltar aqui. E então vou fazer essa chamada.
Ela entrou. Ele foi para o lado do motorista e entrou no carro, e depois os dois ficaram sentados lá esperando por Dwyer para seguirem. Ela olhou para Reaper enquanto esperavam e disse:
— Essa chamada. É para Eric Marquand, não é?
— Como você sabe?
Ela deu de ombros.
— Quem melhor para nos ajudar a conhecer os segredos deste lugar? Inferno, ele poderia saber coisas sobre isto do que até mesmo Gregor não conseguiu descobrir ainda.
— É isso exatamente com o que estou contando.
Ela assentiu com a cabeça e recostou-se contra o encosto de cabeça, enquanto Dwyer finalmente jogou-se caído no banco traseiro.
— Vamos. — ela disse. — A noite está acabando.
O carro parou na área de descanso, e os faróis ficaram imediatamente escuros. Era rebaixado e preto, e tinha a aparência de mau nele, se um carro pudesse parecer ruim. Para Matt, ele parecia.
Seu pai abriu a porta e saiu, então ficou lá com as mãos nos bolsos, olhando para Matt e a mulher que estava perto de onde estava ajoelhado na chuva.
— Olá, papai. — Matt ficou de pé, mas estava cansado e congelado até os ossos, para não mencionar encharcado. — Estou muito contente de ver você. — E sabia que isto era uma mentira. Mas talvez sua técnica de proteção fosse boa o suficiente para enganar até mesmo seu pai.
— Matthias. — Seu pai avançou, seu ritmo calmo e deliberado. Nem rápido, nem lento. Claro. Ele tinha certeza de que era tudo. Isto falava de confiança, impaciência e uma pitada de raiva. Quando chegou perto o suficiente, colocou as mãos nos ombros de Matt e olhou para seu rosto. — Será que aquele bastardo do Dwyer machucou você?
— Não. Mas tenho certeza de que ele estava planejando. É por isso que fugi dele assim que pude.
— Você fez, hein?
Matt arregalou os olhos.
— É claro que eu fiz. Esse cara me raptou. Não é como se quisesse ir com ele!
— Humm-humm. — Seu pai olhou para a mulher encharcada na lama e acenou com a cabeça em sua direção. — E este gatinho afogado?
— O nome dela é Crisa. Ela é um vampiro como você, papai. Ela me salvou de Derr... er ... Dwyer.
— Mas ela não o trouxe para casa. Eu me pergunto, por quê?
— Ela estava me levando. Estava tipo... — Ele parou por um momento, recordando as palavras que tinha ensaiado em sua mente inúmeras vezes enquanto aguardava a chegada de seu pai. — Ela estava querendo ter certeza de que você não estava sendo vigiado, que não havia algum tipo de emboscada à espera. Ela disse que como Dwyer estava com a CIA e tudo o mais, teria que ser muito cuidadosa. Mas antes que pudéssemos descobrir um jeito de ter certeza, ela... ela ficou muito doente. Desmaiou.
— Entendo. — Gregor agachou-se e inclinou a cabeça, como se estudando.
— Ela me salvou, pai. E ela tem sido muito boa para mim. Você pode ajudá-la?
— Não sei. Não sei ao certo o que há de errado com ela.
Era uma mentira. Matt tinha certeza disso.
— Bem... você vai tentar?
Seu pai encontrou seus olhos, e então balançou a cabeça duas vezes.
— Sim. Vou tentar. Se me fizer uma promessa, filho.
— Qualquer coisa.
Gregor estudou-o, com o rosto ameaçador por um longo momento.
— Da próxima vez que alguém tentar tirar você de mim... mate-os.
Matthias sentiu seus olhos arregalarem e sua garganta ficar seca. Tentou engolir e ficou malditamente perto de embargar.
— M-matá-los?
— Sim. Vou ensiná-lo como. Há muitas maneiras de matar alguém, mesmo sem precisar de uma arma. Mesmo quando são grandes e você pequeno. Deveria ter te ensinado há muito tempo, Matthias. Sinto por não tê-lo feito. Mas é um descuido que pretendo remediar.
— Tudo bem. Não precisei disso. Até agora.
— Sim. Bem, você poderia ter precisado. — Gregor suspirou, em seguida passou os braços por baixo de Crisa e levantou-a quando se endireitou. — Vamos lá, vamos levá-los para o carro aquecido. Vamos chegar em casa, e vou ver o que posso fazer por ela. Tudo bem?
— Você vai realmente tentar ajudá-la?
Fazendo uma pausa, Gregor se virou e olhou para seu filho, uma carranca profundamente gravada em sua testa.
— Eu disse que faria.
— Às vezes... você mente.
— Eu nunca...
— Você me disse que minha mãe estava morta. Isso foi uma mentira. Eu poderia odiá-lo por isso. Poderia. Mas não vou, porque sei que você só fez isso porque estava com medo que eu te deixasse, que fugisse para ir até ela.
Atordoado, Gregor sacudiu a cabeça e abriu a boca como se fosse falar, mas não conseguiu encontrar as palavras.
— Se você deixar Crisa morrer, vou odiar você. Vou tentar fugir sempre que tiver uma chance, até finalmente fugir. Ou se nunca conseguir, vou esperar até crescer e você fazer de mim o que você é, e então vou matá-lo e ir encontrar minha mãe. Mas odiarei você e nunca vou parar de odiá-lo se você deixá-la morrer.
— E se não puder...
— Sei que você pode. Não há nada que não possa fazer. Sei disso, porque você me disse isso. — Um grande soluço sufocou-o e as lágrimas brotaram de seus olhos. Ele as secou com a palma de sua mão e tentou tomar um grande fôlego em torno do nó em sua garganta, mas sua voz estava apertada quando continuou. — Você a salva e a deixa ficar com a gente, e eu nunca vou deixá-lo de novo. Vou ficar. Vou até mesmo tentar perdoá-lo por ter mentido sobre minha mãe.
Enquanto olhava para os olhos de Matt, Gregor parecia estar procurando uma resposta que não podia encontrar. Era estranho ver compreensão brotar em seu rosto enquanto ele olhava em direção ao céu, e quando abaixou a cabeça novamente, olhou para Matt com um tipo engraçado de admiração e uma espécie de rendição em seus olhos.
— Não foi realmente uma mentira sobre sua mãe. Ela se virou contra nós. O que somos. Para mim, foi a mesma coisa.
— Ela se virou contra o que você é, você quer dizer. — disse Matt. — Não sou o mesmo — ainda não.
— Mas será. E vai ser um dos mais fortes, mais altamente treinado, a mais divina das criaturas que o mundo imortal já conheceu. Porque vou ensiná-lo. Vou prepará-lo. Você vai ser como...
— Um príncipe. Eu sei.
— Você será. Eu te amo, filho. Quero o melhor para você. Juro.
— Então salve-a, pai. Eu nunca te pedi nada. Mas realmente quero isso. Por favor... salve-a.
Gregor lambeu os lábios, e então concordou.
— Sim. Você é meu filho, e quer isso. Então terá. É justo. Vou cuidar dela, Matthias. Você tem a minha palavra.
Reaper desligou o telefone e se virou para Briar. Eles estavam sentados juntos na sala de estar da suíte do motel, enquanto Dwyer fora para o quarto tirar uma soneca. Eles também teriam que dormir logo. Levou tempo para encontrarem Marquand. Ele esteve na estrada já a caminho de se juntar a eles a pedido de Rhiannon, e a conversa foi longa. A noite estava se esgotando.
— Eric vai se juntar a nós logo depois do pôr do sol. — Reaper disse. — Ele diz que a mansão tem uma entrada subterrânea que Gregor pode não conhecer. Ela foi instalada como uma rota de fuga de emergência, e se não cedeu até agora, ainda deve ser acessível.
— Isso é ótimo. — Uma frustrada Briar olhava para o quarto. — O que vai fazer com ele?
— Fazer?
— Nós não podemos deixá-lo livre para fugir enquanto dormimos. Ou ele estará muito longe no momento em que acordamos ou vamos nos encontrar em um calabouço da CIA em algum lugar.
— Não acho que ele vá nos trair.
— Como pode ter certeza disso?
Ele diluído lábios.
— Não posso. É por isso que nós vamos passar o dia em outro lugar.
— É? E vamos nocautear aquele Agente bastardo e amarrá-lo antes de sairmos?
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Ele vai estar aqui quando voltarmos ao pôr do sol. Não irá a lugar nenhum.
— O que o faz pensar assim?
— Ele quer alguma coisa. — Reaper levantou a cabeça e olhou para os olhos de Briar. — Sinto isso. Não tenho nada para me basear. Ainda não li todos os seus pensamentos errantes ou peguei quaisquer vibrações sinistras nele. Apenas sinto isto. Existe alguma coisa que ele está atrás, e está determinado a obter, como estamos a obter Crisa de volta. Apenas não sei o que é.
— Ou quem. — Briar disse suavemente. E olhou para ele como se estivesse incomodada com ele. Como se estivesse preocupada. Com ele. Imagine isso.
Sim, ele pensou. Era isso exatamente o que estava fazendo. Imaginando.
Ele suspirou balançando a cabeça, duvidando de suas próprias intuições sobre Dwyer, tanto quanto tinha dúvidas sobre esta mulher. Desde o início acreditava que havia algo mais profundo dentro dela, algo a mais. Algo real. Ainda acreditava. Mas estava muito consciente de que poderia estar errado.
Ela colocou a mão em seu ombro.
— Não. — ela disse.
— Você está certo, senti isso também. Mas o que é que ele pode querer depois, Reaper? O que... além de você?
— Não acho que seja isso. Ele teria tentado me levar agora. Poderia ter uma equipe esperando em uma emboscada,quando aparecemos pela primeira vez. Porque não o fez, se este fosse seu objetivo? Não, é outra coisa.
Ela olhou para a porta do quarto.
— Vamos sair daqui, ok?
Ele acenou com a cabeça, agarrou seu cotovelo e pensou em pedir-lhe para dizer o que queria com Gregor, mas depois pensou melhor. Ela pediu para não fazê-lo. Recusou discutir o assunto. Talvez precisasse respeitar isso.
Além disso, ele iria encontrá-lo em breve. Ele estaria cara a cara com aquele bastardo assim que a noite caísse.
Ele acenou com a cabeça, abriu a porta e liderou o caminho. Não se incomodando de acordar Dwyer para dizer-lhe que estavam saindo. Ele descobriria isso por conta própria quando acordasse.
Reaper conduziu-os a uma bonita e extravagante casinha pintada de branco com persianas rosa em bom estado e uma porta lavanda. Parecia um lugar onde a Moranguinho gostaria de viver.
Ele diminuiu a velocidade do carro quando cruzou lentamente passado a entrada da pequena garagem pavimentada.
— Será que isto servirá durante o dia?
Ela olhou para a casa enquanto passavam. Nas caixas de flores nas janelas, onde malmequeres amarelos e alaranjados estavam, era a única coisa que ainda florescia. Olhou para os recortes em forma de coração nas persianas rosa e fez uma careta.
— Felizmente, alguém vive aí.
— Eles estão de férias.
Ela levantou uma sobrancelha mais alta que a outra.
— Sinta-se em casa. — ele disse.
Suspirando, jurando que não passaria o dia nesta casinha fofinha de doce de hortelã nem se seu nome fosse Maria, ela concentrou-se no local, abriu a mente e deixou as sensações se apossarem dela.
Nada. Nem mesmo uma energia animal emanava de dentro.
— Há uma casinha de cachorro. — Reaper apontou. — E uma porta de cãozinho. Mas nada de cachorro. Parece que já faz algum tempo desde que alguém esteve aqui. Três, talvez quatro dias.
— Tudo bem. Mas como você sabe quando estarão de volta?
— Quem sai de férias por quatro dias? — ele perguntou. —Olha, vamos confirmar isto antes de descansarmos durante o dia, tudo bem? Vamos entrar e olhar.
Ela estreitou seus olhos sobre ele. Estava encostando o carro até parar a um quarteirão e meio de distância da pequena casa, em um parque onde não chamaria atenção.
— Por que esse lugar? — ela perguntou.
Ele deu de ombros.
— É aconchegante. Acolhedor.
— Duas palavras que não teria esperado que existisse no seu vocabulário.
— Elas não existem. — ele disse. — Não há muito tempo.
Ela suspirou e decidiu agradá-lo.
— Tudo bem, que diabos.
Eles saíram do carro e começaram a caminhar de volta pra casa. Era uma das três na quadra, mas não havia muito espaço entre ela e seu vizinho mais próximo, de modo que se mantinha nas sombras. Briar olhou para o céu. Havia pelo menos uma hora até o amanhecer. Talvez uma hora e meia.
Droga.
Eles cortaram através do quintal, os sentidos em alerta. Se um humano os notasse, teria sentido, mas ninguém o fez. Na porta de trás, Reaper alcançou a maçaneta, torceu suas sobrancelhas e olhou para a fechadura, como se tentasse fazê-la explodir em chamas.
Briar riu. Não conseguiu evitar.
Ele olhou por cima do ombro para ela, as sobrancelhas levantadas.
— O que há de tão engraçado aqui?
— Você. Está tentando derretê-la ou apenas matá-la de susto?
— Estou... me concentrando.
Ela riu de novo.
— O que?
— Uh, você se importaria se eu...
Ele mudou de lado, lançando a palma da mão para cima em direção à porta como se dissesse, é toda sua. Então ficou lá, de braços cruzados no peito, olhando para ela.
Briar colocou a palma da mão a uns cinco centímetros da porta, logo abaixo da maçaneta, em seguida moveu-a rapidamente para cima cerca de dois centímetros. Então apertou o botão e girou.
— Ah, vamos lá, você não pode ter... — Reaper começou. Mas calou a boca quando a porta abriu.
— Eu não posso, eventualmente, ter... o que? — ela perguntou, enviando um olhar inocente para ele enquanto entrava.
— Como é que você...?
Ela sorriu.
— Jack me ensinou. Ele é ainda melhor com isso do que eu. Porém não se sinta mal. Leva meses de prática.
— Eu tenho muita prática.
— Na telecinese — movendo objetos com a mente. Mas com fechaduras você tem que ir além de apenas empurrar linguetas em volta. Você pula os detalhes e apenas manda ela abrir.
— E isso simplesmente funciona?
— Sim. Eventualmente, quando você ficar bom o suficiente para fazer isso.
Fechou a porta atrás dele, sorrindo de volta para ela enquanto seus olhos percorriam seu rosto, e ela sentiu um estranho pequeno percalço em sua respiração. Então seu sorriso morreu e desviou os olhos.
— É bom ver você sorrindo, Briar.
— Sim, bem...
— Tudo vai ficar bem, você sabe. Vamos alcançar Crisa, tiraremos aquele maldito chip dela, e ela vai ficar bem. Mesmo que Dwyer não possa fazer muita coisa, pode apostar que Marquand pode. Ele é um gênio, você sabe.
Ela balançou a cabeça.
— Não. Não sei. Nunca tinha ouvido falar dele antes de conhecer você.
— Acho que você vai ter que confiar em minha palavra nisto, então.
— Ok.
Ela olhou ao redor da casa. Eles entraram numa cozinha limpa como um brinco, paredes amarelas ensolaradas, armários de madeira brancos, papel de parede com estampas padronizadas de girassóis na borda e cortinas combinando, panos de prato e pegadores de panelas.
— Isto é quase digno de vomitar.
— Não, realmente não é. Sinta a energia. As pessoas que vivem aqui são felizes. Eles amam este lugar.
Ela podia sentir isso, sem sequer tentar.
— O que torna ainda mais digno de vomitar. — observou ela. Em seguida, atravessou a sala e olhou para o calendário pendurado na parede. A foto de outubro apresentava uma abóbora com cara de espantalho reclinada sobre um fardo de feno em meio a folhas avermelhadas sob a lua cheia.
— Parece que você estava certo. — ela disse, e apontou para onde uma palavra estava escrita atravessando o espaço de sete dias. BAHAMAS. — Eles não estarão de volta depois de amanhã.
— Então estamos seguros aqui durante o dia.
Ela se moveu pelo lugar.
— Eu poderia fazer um lanche.
— Provavelmente não deveríamos caçar muito perto de onde estamos descansando. — ele disse.
Ela concordou.
— Isso pode esperar até o anoitecer. Talvez eu coma seu amigo Dwyer. Ele deve servir.
— Existem coisas que precisamos dele primeiro. — ele disse.
Ela assentiu com a cabeça.
— Mais do que você sabe. — Ele a olhou de forma estranha, mas ela mudou de assunto. — Então este é o tipo de lugar onde você viveu com Miss Fazendeira Sunnybrook?[2]
— Sunny...?
— Rebecca. — ela esclareceu.
— Ah. Uh, não. Nós tínhamos um apartamento em Washington, moderno e caro. Nada caro assim.
— Isso dispara uma teoria fora d’água. — ela murmurou.
Ele trocou os pés.
— Acho que vou encontrar um chuveiro e tomar um banho antes de dormir.
— Ok.
Ele se afastou e Briar tirou a mochila do ombro, abriu-a e tirou seu caderno de anotações. Ela tinha uma lista de itens que eram suas prioridades. Estava acrescentando a isso, alterando, mudando a ordem diariamente desde que tinha deixado esta missão. Às vezes, mais do que diariamente.
Agora ela lia:
Salvar Crisa
Matar Gregor
Matar o Querido Papai
Deixar a Gangue do Scooby
Esquecê-lo
Ela estudou a lista lambendo os lábios. Cruzou a parte de matar seu pai, porque isto deixou de ser necessário. Matá-lo teria sido uma misericórdia, por isso ele não estava mais na lista. Salvar Crisa ainda estava em primeiro lugar. Mas agora tinha muitas outras coisas em sua mente, coisas essenciais. Vitais.
Ela rasgou a página do caderno, amassou e começou uma nova lista em uma nova página.
Salvar Crisa
Devolver o garoto à sua mãe
Torturar Dwyer pelos segredos e dá-los a Reaper
Matar Dwyer
Matar Gregor... lentamente
Deixar a Gangue do Scooby
Esquecê-lo
Ela bateu a caneta na última linha várias vezes, por isso havia vários pontos em todo o espaço após a palavra final, esquecê-lo.
Ela não tinha mais certeza de que isso seria possível. E não gostou do que estava vendo na maneira que reorganizou sua lista. De repente suas próprias necessidades: vingança contra Gregor estava ficando bem longe dos bons moços, apagar seus sentimentos sobre Reaper de sua mente para sempre, o que não devia ser difícil porque esses sentimentos eram puramente físicos — foi empurrado do topo da lista em favor de coisas que tinham a ver com outras pessoas.
Como ajudar Crisa, o filho de Ilyana — uma mulher que ela nem gostava pelo amor de Deus e Reaper.
Ajudar Reaper. Sim. E se fosse realmente honesta consigo mesma aqui, passaria isso direto até o topo da lista. Bem, abaixo de salvar a vida de Crisa ou talvez até mesmo lado a lado com isto.
Porque apesar de tudo, e apesar do que sempre pensou que sabia sobre os homens, ele era um dos bons. Largou tudo para tentar ajudá-la a salvar Crisa. Deixou seus filhotes preciosos por conta própria, mesmo quando se meteram em problemas — o que era, imaginou, inevitável — e ficou preso com ela. Ele manteve sua promessa. Ela não tinha nenhuma razão para pensar que ele não manteria isto até o fim.
Ele não era como seu padrasto. Ou Gregor. Ou os cafetões que tinham tentado possuí-la e vendê-la. Ou os caras que jogaram um punhado de dinheiro para ela e a trataram como um pedaço de lixo. Ou aqueles que a estupraram e se recusaram-se a pagar de qualquer modo. Ou aqueles que a humilharam e denegriram de formas que prometeu jamais esquecer.
Ele não era como eles. Por mais que se convencesse de que todos os homens eram, ele estava de forma consistente provando que estava errada.
E por causa disso, era ainda mais importante que se afastasse dele uma vez que tudo tivesse acabado. Por causa disso — do fato dele tê-la convencido, que acreditava isso agora —isto era vital.
Ele uma vez lhe disse que achava que a razão pela qual estava atraído por ela era porque não acreditava que pudesse machucá-la.
Resistente como ela era, Briar sabia melhor. Embora preferisse morrer sob tortura lenta do que admitir para qualquer pessoa no mundo, não podia negar a verdade que tinha ficado tão claro para ela ao longo dos últimos dias.
Acreditava nele. Mais do que tinha acreditado em seu padrasto. Mais do que tinha em Gregor. Mais do que já acreditou em alguém. Alguma vez.
Isso dava a ele o poder de feri-la mais do que já foi ferida antes. E esse era um risco que simplesmente não estava disposta a assumir, uma situação que não estava disposta a aceitar, com a qual não era capaz de viver.
Ela tinha que deixá-lo.
Mas o mínimo que podia fazer, pensou, era tentar dar-lhe uma recompensa pouco antes que se fosse, uma pequena recompensa por tudo que fizera para ajudá-la, não importa o quão perversa e cruel tinha sido.
Então obteria informações de Dwyer. Duas. Uma que iria libertá-lo da condição que o fazia viver em constante medo, e a outra que o libertaria da auto aversão que tinha vivido por muito tempo.
Dwyer falaria. Ela não tinha nenhuma dúvida sobre isso.
Gregor entrou pelos portões, e dirigiu ao longo do caminho até a mansão, não parando até que fez todo o caminho até a porta da frente. Seu filho estava tremendo, apesar do fato de que o aquecedor do carro estava jateando com força total — e absorvendo a umidade. E a atenção do menino ainda estava totalmente no embrulho patético de carne e sangue no banco traseiro.
Crisa não tinha recuperado a consciência. Gregor não tinha certeza de que ainda o faria. Ele olhou para seu filho, e honestamente, esperava que pudesse salvar a garota. Claro, ela poderia apresentar um problema mais tarde. A lealdade de Matthias obviamente estaria dividida e poderia minar a autoridade de Gregor. Mas estava bastante certo de que poderia trazê-la sob controle, com ou sem a toxina que escoava do chip em seu cérebro. E se não, ele simplesmente a mataria.
Inferno, dada a mente infantil da garota, provavelmente poderia fazê-la sua adoradora mais devota. Assim como tentou fazer com Briar.
Muito danificada, aquela. Muito profundamente magoada e furiosa em busca de vingança. Muito irritada. Destruiria qualquer um que ficasse muito perto dela, voltaria-se contra todos eles, um por um. Reaper logo descobriria isso. Ela iria traí-lo. Odiava os homens, todos os homens, e era demasiado tarde para inverter esta situação.
O estrago estava feito.
Gregor abriu a porta e saiu, movendo-se rapidamente para a porta traseira para buscar Crisa. Ele juntou-a nos braços tão cuidadosamente quanto podia, e com Matthias correndo à frente para abrir as portas da mansão, levou-a para dentro.
Matt se dirigiu para as escadas.
— O quarto ao lado do meu? — perguntou.
— Não, temos de ir lá para baixo, e não para cima.
Matthias parou no caminho e se virou, e o olhar que enviou ao seu pai era de uma maturidade e fúria bruta tal que Gregor se perguntou se tinha cometido um erro grave.
Ele olhou para a mulher em seus braços. Ela causaria problemas entre ele e seu filho?
— Você não pode colocá-la em uma cela, pai. Ela não é um de seus prisioneiros, ok? Ela é minha amiga.
— Sei perfeitamente disso. E nós não temos neste lugar tempo suficiente para você saber todas as suas peculiaridades, por isso vou perdoar seu erro de julgamento por mim. Uma vez, Matthias. Apenas uma única vez. E não quero que esqueça quem está no comando aqui.
Matthias franziu os lábios com força, como se tivesse de pressioná-los bem apertado para não dizer o que pensava, ou pior.
Pelo menos estava mostrando alguma contenção. Tinha a clara intenção de fazer o que achava que era certo, embora seus motivos pudessem estar errados. Gregor levou a mulher para a porta que dava para as escadas do porão, deixando seu filho sem escolha, a não ser correr ao longo do seu caminho. Uma vez que chegou à porta, parou e acenou com a cabeça uma vez com firmeza, ordenando a Matthias sem uma palavra para abri-la.
— Por que o porão?
— Se você abrir a porta, vou te mostrar. Mas não tenho nenhuma intenção de justificar ou defender ou explicar aminhas decisões pra você antes de fazê-lo. Está decidido. Falo, você obedece. Eu disse que iria salvá-la se pudesse. A menos que você queira que retire essa promessa, sugiro que entre em concordância jovem, e obedeça sem questionar do modo como foi ensinado a fazer.
A rebelião que brilhava nos olhos do menino fez Gregor inchar de orgulho, ao mesmo tempo em que o perturbou. Tinha a sensação de que, se atirasse Crisa em uma cela, seu filho faria tudo em seu poder para tirá-la de lá. Ele teria que controlá-lo também.
Estava se tornando um homem. Seria mais e mais difícil de mantê-lo na linha. Talvez manter Crisa viria a ser mais útil do que tinha imaginado. Ele poderia usá-la para manter a lealdade de seu filho. Ameaçá-la, mantê-la segura sobre as vistas do menino. Sim, isso poderia funcionar em seu benefício a longo prazo.
Mas primeiro ele tinha que salvá-la.
Ele chegou ao fundo das escadas e saiu por outra porta, liderando o caminho através de lugares do porão que o menino nunca tinha visto antes, ele sabia. Parando diante de uma porta de aço grande, virou-se ligeiramente.
— Pegue a chave no meu bolso de trás e abra esta porta. Então vai ver por que a quero aqui.
Matthias obedeceu, encontrou a chave e abriu a porta. Ele empurrou-a e entrou, encontrando rapidamente os interruptores de luz e acendeu.
A sala inteira iluminou, tubos fluorescentes piscando para a vida no teto, um após o outro, iluminando o laboratório totalmente equipado em toda sua glória. Caixas com portas de vidro preenchidas com produtos químicos, líquidos e pós forrando uma parede. As outras três estavam preenchidas por balcões, um dos quais detinha uma pia de aço inoxidável com torneiras de grandes dimensões. O resto continha microscópios, queimadores, tubos de ensaio e frascos. No centro havia uma mesa semicircular, toda a superfície ocupada por computadores e monitores, e pilhas e mais pilhas de arquivos, aqueles que ele trouxe da casa de Dwyer. Encontrou este quarto recentemente, e ainda não tinha trabalhado rápido o suficiente para ter identificado a maioria dos equipamentos aqui, muito menos ter aprendido a usar tudo.
Marquand havia deixado a maior parte. O resto era o que tinha confiscado da casa de Dwyer.
Gregor olhou em torno por um local adequado para colocar Crisa. Não havia cama, mas havia uma maca num canto, perto de uma porta de entrada para uma sala menor que ainda não tinha verificado. Assim levou-a para lá e a deitou.
Então se virou para Matthias.
— Vou mandar alguns drones desarmar uma cama de cima, trazê-la até aqui e armá-la novamente para ela. Você pode supervisionar, se quiser. Se ela ficar aqui embaixo onde está o equipamento e as anotações, vai ser mais fácil descobrir o que fazer com ela e como fazer isto a tempo.
Matthias franziu a testa, inclinando a cabeça para um lado.
— Você sabe o que há de errado com ela, papai?
Lambendo os lábios e olhando para a vampira inconsciente, pálida e tremendo, Gregor assentiu.
— Vamos checar esta sala enquanto falamos, hein?
Matthias afivelou Crisa em segurança na maca para que não rolasse para fora. Então, juntou-se a seu pai, entrando no segundo quarto.
Gregor encontrou as luzes e acendeu-as. O quarto era branco e austero, mas continha uma cama de hospital perfeitamente utilizável, um poste IV e um criado-mudo funcional.
— Acho que não vou precisar dos drones afinal, não é?
— Talvez apenas alguns lençóis e cobertores. — disse Matthias.
— Você pode tomar conta disso enquanto começo a ler as anotações de Dwyer.
— Sim. Logo depois de me dizer o que você sabe. Eu sei que sabe de algo.
Gregor apertou os olhos e perguntou-se, não pela primeira vez, se seu filho não seria mais do que apenas intuitivo.
— Matthias, Crisa tem um chip no cérebro. Alimenta-se de um sinal via satélite em um computador remoto. A pessoa do outro lado pode sintonizá-la e ver o que está vendo, ouvir o que está ouvindo e também falar com ela. Eles podem controlá-la, mais ou menos.
— E causar dor quando ela não faz o que ele diz?
Gregor assentiu.
— Por que você faria isso com ela? Quero dizer, antes mesmo de me conhecer. Por que você...
— Você está tirando conclusões precipitadas. Não fui eu quem colocou isto lá. A CIA fez isso. Derrick Dwyer ordenou. Ele estava no controle dela até o dia que o capturei. Voltei e peguei seus computadores e todas as suas anotações. Na verdade, até que ligasse a máquina e a vi funcionando, não tinha ideia de nada disso.
— Mas você a usou. Você usou-a para machucá-la.
— E faria tudo de novo para trazer meu filho de volta para onde ele pertence, Matthias. Mas o que fiz não é o que há de errado com ela agora. As próprias anotações de Dwyer me dizem que o chip começaria a se decompor, e está acontecendo, liberaria toxinas em seu cérebro e circulação sanguínea. Isso é o que a está matando.
— M-matando-a? — Os olhos de Matthias arregalaram, úmidos.
— Pessoas morrem, Matt. Vampiros morrem. É um evento perfeitamente comum, não um para se ficar emocional. Anime-se.
Matt engoliu em seco, seu pomo de Adão inchando e retrocedendo.
— Nós vamos precisar tirar o chip então, dar-lhe algum tipo de medicação para limpar as toxinas. Preciso apenas rever as anotações. Estou certo de que há algum tipo de instrução em algum lugar.
— Você precisa... você vai... cortar seu cérebro?
— Bem, alguém tem que fazê-lo.
— Mas você não é médico!
— Bem, não. Não tenho certeza de que temos tempo de encontrar um médico em que possamos confiar, embora certamente preferisse isso, se fosse possível. — Ele suspirou. — Nós vamos tentar com o que temos, tudo bem? E, enquanto isso, você vai lá pra cima pegar alguns lençóis e roupa de cama, traga-os aqui, faça a cama e mude-a para lá. Eu tenho... — Ele olhou para o relógio. —Tenho um pouco mais de uma hora antes do amanhecer, e preciso passar cada minuto debruçado sobre essas anotações, se vou ter alguma chance de salvá-la. E acima de tudo, temos que ter certeza de que estamos preparados para os amigos dela. Eles virão atrás dela. E duvido que acreditem que estou tentando ajudá-la.
Matt olhou para cima bruscamente.
— Os amigos dela?
— Se eles vierem esta noite, já devem estar chegando. — disse Gregor. — Vão nos atacar amanhã à noite porém, Matthias. Tenho certeza disso. E não há nenhuma maneira de saber se vão chegar antes ou depois que eu a ajude, ou mesmo durante o procedimento. — Ele enviou um olhar pesaroso para Crisa. — Os esforços bem intencionados de resgate deles podem acabar matando-a. — Então balançou a cabeça e suspirou profundamente. — Vamos fazer o que podemos. Vá agora, traga essa cama aqui para baixo.
Reaper tomou banho rapidamente, e quando saiu do banheiro vestindo um roupão turco emprestado, sentiu-se como no paraíso, aí encontrou Briar na cama. Ela estava deitada por cima das cobertas, as costas contra a cabeceira, seu rosto enfiado em uma revista de moda.
Ela torceu o nariz e disse:
— Saltos finos. Deus, odeio essas coisas. Quem usaria isto, afinal?
— Topaz eu imagino.
Ela levantou a cabeça.
— Roupão legal. — ela disse.
— Há um combinando pendurado no banheiro. Sirva-se.
— Oh, eu pretendo. — Jogou a revista na cama e levantou-se, em seguida dirigiu-se ao banheiro.
— Algum artigo interessante? — perguntou quando ela passou por ele.
— Oh, diabos sim, se estiver interessado em pequenas sapatilhas pretas e em quais delas você poderia muito bem ser filmada usando. Descobri que é uma espécie de jogo divertido para tentar achar as diferenças. Até agora só encontrei uma.
— E qual foi?
— Os nossos sapatos custam cinco vezes mais do que os de fora. — Ela revirou os olhos. — O que não entendo é como você pode ser inteligente o suficiente para fazer esse tipo de dinheiro, mas idiota o bastante para acreditar nesse tipo de lixo e estragar tudo com tal bobagem.
Sorriu para si mesmo quando a porta do banheiro se fechou atrás dela, então passeou pela casa fechando todas as portas e janelas deixando tudo na escuridão, fechando todas as cortinas. Voltou para o quarto e passou um tempo prestando atenção nas janelas. Levou vários cobertores pesados que encontrou num baú ao pé da cama e colocou-os ao redor das hastes de cortina. Localizou fita adesiva e usou-a para fixar as bordas dos cobertores nas paredes, por isso nenhuma luz atravessaria. E o tempo todo ouviu o chuveiro ligado e imaginou Briar nua por baixo do jato. Sua pele suave toda cristalizada com gotas. Riachos minúsculos de água escorrendo pelo seu corpo. Por sua coluna, escorrendo sobre suas coxas, derramando sobre seus seios. Gotejando talvez de um mamilo retesado.
Ele fechou os olhos e reprimiu um gemido, em seguida, puxou as cobertas e entrou na cama.
O chuveiro parou. Ele perguntou-se o que estava para acontecer entre eles, se fosse acontecer. Ela abriu a porta e ficou ali, olhando para ele.
Ela não se incomodou com o roupão.
Ele olhou para ela. Estava nua, completamente nua, e seus cabelos pretos, encaracolados, selvagens e molhados caíam emaranhados sobre os ombros como as indomáveis vinhas espinhosas de uma rosa selvagem. E a água frisava em sua pele como havia imaginado. Ela mal tinha se secado.
Ela manteve os olhos nos dele, embora os seus estivessem por toda parte dela, enquanto caminhava lentamente para mais perto. Ela parou ao lado da cama, puxou as cobertas para trás, olhou para ele, duro como o inferno já, e então lambeu os lábios.
— Eu não acho... — ele começou.
— Não pense. Apenas foda. — Ela colocou uma perna sobre ele, montou nele e abaixou-se até que pudesse se esfregar sobre sua ereção. Ela estava ajoelhada ereta e ele a queria mais perto. Queria-a contra ele. Queria beijá-la.
Ele colocou as mãos sobre a parte de baixo de suas costas, mas quando tentou puxá-la para frente se manteve firme. Ela não gostava de intimidade. Beijo. Abraço. Nem mesmo preliminares. Apenas o ato. Apenas isso e nada mais.
Mas desta vez ele queria da sua maneira. Porque tinha a sensação de que poderia muito bem ser a última vez para eles.
Ela iria embora uma vez que Crisa estivesse segura. Ele sabia disso bem no seu âmago.
Então apertou os quadris dela em suas mãos, segurou-a e entrou dentro dela tão forte, tão rápido e tão incrivelmente profundo, que a derrubou em um laço. Um grito foi expulso de seus pulmões e a sensação tão repentina e inesperada enfraqueceu-a, de modo que seu corpo ficou frouxo.
Ele apertou os braços ao redor dela instantaneamente, puxando-a para frente até que seu peito estivesse em cima dele e então a beijou. Tomou sua boca com a dele e a beijou como se nunca pudesse ter o suficiente. Colocou sua língua dentro dela, provou tudo o que era, e então provou mais.
Ele provou o sal das suas lágrimas enquanto rolavam por seu rosto até seus lábios. E não se perguntou o motivo porque sabia que ela não responderia. Continuou beijando-a, continuou movendo-se dentro dela, segurando-a nivelada contra ele, continuou a pegar tudo o que ela tinha para dar, até que não houvesse mais.
Eles chegaram ao clímax juntos, engolindo os gritos de prazer um do outro, suas bocas ainda fundidas.
E quando o sol se levantou, foi assim que dormiram. Travados juntos. Ele dentro dela, enterrado profundamente. Ela completamente relaxada em cima dele. Seus braços segurando-a firme.
Sentiu o sono do dia mover-se sorrateiramente sobre ele, e continuou correndo os dedos pelos cabelos dela até que perdeu a capacidade de movê-los afinal. Pensou em contar-lhe que apenas poderia amá-la. E então decidiu que seria o caminho certo para fazê-la fugir.
E mesmo que tivesse certeza que ela o deixaria de qualquer maneira, pensou que poderia haver uma chance se fosse muito cuidadoso com ela. Poderia haver uma chance de que ela ficasse.
A noite caiu. Briar acordou nos braços de Reaper e experimentou uma onda de emoções tão intensas que a afligiu. Ela levantou a cabeça para olhar para ele, surpresa e assustada com o poder deles, e então quando olhou para ela com um sorriso terno tomando forma, rolou para longe dele e pôs-se de pé.
— Briar? — Ele sentou-se na cama quando ela começou a colocar suas roupas. — Você está bem?
— Por que não estaria?
Ele tinha o cenho franzido olhando-a vestir-se, elaborando alguma coisa para dizer. Provavelmente queria falar sobre... a noite passada. Esta manhã. Eles. Sentimentos e sexo e toda aquela baboseira sentimental. Mas antes que pudesse começar, ela se virou abotoando a blusa e disse:
— Nós precisamos ir, Reaper. O tempo é curto. E seu amigo Eric estará aqui em breve.
— E os outros também, se os conheço. — ele disse. — Poderia muito bem chamá-los no caminho de volta para o motel e dar-lhes instruções. — ele hesitou, suspirando profundamente, então se levantou e vestiu-se, e os dois dirigiram-se de volta para o motel. Entraram no quarto sem a chave e encontraram Dwyer bebendo whisky de um copo bojudo.
Ele não tinha feito a barba e Briar achou que não tinha tomado banho também. Não estava com boa aparência, mas estava obviamente com seus sentidos aguçados.
— Nervoso, não estamos? — ela perguntou.
Ele olhou para ela, não disse nada e tomou mais um gole. Houve uma batida na porta que o fez saltar. Os cubos de gelo bateram contra o copo.
Reaper abriu a porta e um vampiro entrou todo vestido de preto. Ele sondou o quarto com um único olhar, então focou-o em Reaper e estendeu a mão.
— Eric Marquand. — ele disse.
— Sou Reaper.
— Rhiannon fala muito bem de você. — E então, para surpresa de Briar, ele atirou-lhe um sorriso caloroso. — E melhor ainda de você, se for Briar.
— Sou. Mas estou surpresa que Rhiannon tenha alguma coisa de bom a dizer sobre mim.
Eric levantou as sobrancelhas. Ele tinha um rosto aristocrático e menor que o de Reaper, bonito de uma forma mais tradicional. Ele parecia... sofisticado, com uma espécie de estilo do velho mundo. Parecia velho, muito velho. Não tão antigo como Rhiannon, mas muito antigo. O poder que emanava dele era quase palpável.
— Rhiannon vê em você um reflexo de si mesma. — disse Eric Marquand. — E acredite quando digo, não há ninguém em que acredita mais do que nela mesma. — Então olhou para o mortal com a barba por fazer que estava sentado tremendo e bebendo. — E este seria...?
— Este é Derrick Dwyer. — Reaper disse. — Eu trabalhava para ele durante meus dias da CIA. Está tentando me levar de volta e Gregor era um de seus projetos. Como o chip no cérebro de Crisa, que está lentamente matando-a.
A expressão agradável de Eric ficou sombria.
— E ele está aqui conosco e ainda respira por quê?
— Porque sabe como remover o chip.
— E confia nele para fazer isso?
Dwyer levantou a cabeça. Em voz baixa disse.
— Eu nunca pretendia deixá-lo no lugar tempo suficiente para fazer qualquer dano permanente à garota. Não gosto de machucar as pessoas.
— Apenas fazendo seu trabalho, imagino. — Eric mal olhava para ele, sua atenção voltada para Reaper. — Pergunto a você novamente, confia nele?
— Não. — Reaper disse. — Mas se houver a menor chance de que possa nos ajudar a salvar Crisa...
— Entendido. Bem, vamos chegar ao que interessa então. Vou contar sobre o lugar pelo caminho. Você disse algo sobre os outros se juntarem a nós aqui?
— Sim. — Reaper disse. — Eles estarão aqui dentro de uma hora. Mas já os instrui a esperarem por nós em outro lugar.
Briar franziu o cenho.
— Você lhes disse que o filho de Ilyana está com Crisa?
Reaper encontrou seus olhos e balançou a cabeça.
— Não seríamos capazes de impedi-la de ir até lá se soubesse. Embora tenha certeza que já esteja especulando que Matt está com seu pai. Eu só... não quero colocar os outros em risco se puder evitar.
— Ainda bem. — disse Eric. — Se entrarmos em apuros, será bom ter alguém do lado de fora que possa ajudar. — Olhou novamente para Dwyer. — Ele virá com a gente?
— Prefiro esperar aqui. — disse Dwyer. — Se Gregor puser as mãos em mim novam...
— Ele virá com a gente. Não sei o quão avançada Crisa está, e se ela precisar de uma ação imediata, ele vai ser de ajuda.
— Vamos ter de levá-la a um cirurgião. — disse Dwyer. — Inserir o chip era muito mais simples do que removê-lo. E não sou nenhum neurocirurgião.
— Eu posso fazer a cirurgia, se necessário. — disse Eric.
Todos olharam para ele surpresos. Ele deu de ombros longe de se intimidar e abriu a porta.
— Venho estudando ciência e medicina por mais de dois séculos, afinal. Vamos indo.
— Uma coisa que precisa saber antes de irmos. — Reaper disse. Enfiou a mão no casaco e tirou uma pequena arma tranquilizante, então a entregou a Eric, que olhou para ela de forma estranha. — Você pode precisar usar isso. Em... mim.
Eric olhou para ele, depois assentiu lentamente.
— No caso de alguém usar a palavra-gatilho para enviá-lo em uma fúria assassina, você quer dizer? — Quando Reaper pareceu assustado, ele continuou. — Rhiannon me alertou sobre sua... condição. Ela não teria me enviado até você sem me dizer. — Olhou ao redor da sala. — Quantos sabem a palavra-gatilho, Reaper?
—T odos aqui, exceto você. E Gregor a conhece também.
Eric franziu o cenho.
— Talvez seja quem deva ficar para trás, meu amigo. Parece que está se colocando em um risco maior do que qualquer um de nós, indo lá.
— Não eu. Mas qualquer um ao meu alcance. Não hesite em usar essa arma, se você precisar. Não... me deixe fazer mal a alguém.
Briar olhou para Dwyer, com os olhos estreitos.
— Não acho que já tenha feito mal a alguém que você realmente se preocupava, Reaper. Nem mesmo nesse estado. Você concorda, Dwyer?
Dwyer olhou para ela com uma expressão de perplexidade.
— Nós dois sabemos que não é verdade. — Reaper disse.
— Será que sabemos? — Olhou para ele, mas seus olhos se voltaram para Dwyer novamente. — Nós realmente sabemos?
Roxy estava dirigindo com Ilyana no lado do passageiro quando desligou a chamada de Reaper.
— Temos algumas instruções específicas e desafiadoras de Reaper. E não um maldito tempo suficiente para realizá-las.
— Ele viu meu Matt? — Ilyana perguntou, seu tom esperançoso beirando o desespero.
— Não. Ainda não. Mas se seu filho está com Gregor como você suspeita, deverá vê-lo antes que esta noite acabe. — Roxy lambeu os lábios. — Contanto que tudo corra conforme o plano.
— Qual é a situação, Roxy? — Topaz perguntou da parte de trás da van.
— Gregor está com Crisa. O amigo de Rhiannon, o cientista vampiro Eric Marquand, está com Reaper e Briar. Assim como o ex-chefe de Reaper na Cia, Derrick Dwyer. Eles planejam entrar esta noite no esconderijo de Gregor.
— Por que diabos está levando um agente da CIA com ele? — Seth exigiu. — Ele sabe que o cara não é confiável.
— Dwyer sabe sobre a condição de Crisa. Os bastardos implantaram algum tipo de chip em seu cérebro quando estávamos no México. Era para ser um de vocês. Pegaram o vampiro errado, então tivemos sorte quando a levamos para dentro. Eles nos rastreariam através do chip. Não sei todos os detalhes, mas aparentemente, se a coisa não for removida em breve, irá matá-la.
— Esses animais. — Jack murmurou.
— Eles vão tentar tirá-la de lá e trazê-la para nós. Marquand pode fazer a cirurgia. Dwyer conhece os detalhes. Entre os dois, poderão ser capazes de salvá-la. Mas vamos precisar de um lugar seguro com equipamento médico para retirá-lo.
— E como diabos iremos conseguir isso? — Topaz estalou. — Retirá-lo de nosso...
— Jack vai nos ajudar lá.
— Vou? — Jack perguntou.
— Sim. E aqui vamos nós. — Roxy enfiou o furgão em uma garagem de uma estrutura de tijolos de um andar com uma placa na frente que dizia Saúde e Bem-Estar de Byram. Ela dirigiu até a parte traseira do edifício e desligou o motor.
— Jack, precisamos desativar as fechaduras e os alarmes para que possamos entrar sem sermos detectados. O resto de vocês precisa estar em alerta constante, escaneando as mentes de qualquer um que se aproximar para que ninguém descubra o que estamos fazendo.
— E se descobrirem? —Topaz perguntou.
— Não vamos machucar ninguém, vamos, Roxy? — Vixen deslizou mais perto de Seth e apertou sua mão.
— Espero que não. — disse Roxy. — Capturando alguém, apenas iremos trazer para dentro e mantê-lo quieto até esta coisa acabar.
— Incluindo a polícia? — Seth perguntou. Parecia assustado com a ideia.
Roxy simplesmente assentiu.
Jack esfregou as mãos e sorriu. Então olhou para a preocupação nos rostos de seus companheiros e levantou as sobrancelhas.
— O que? — disse. — Isso vai ser divertido.
— Vamos fazer isso então. — Roxy abriu a porta e começou a sair.
Jack colocou a mão em seu ombro para detê-la.
— Só um segundo. — E apontou. Ela olhou e viu a câmera de vigilância de vídeo montada acima da entrada. Ela pegaria alguém entrando ou saindo pela porta principal. — É melhor me deixar lidar com isso primeiro. Nós não vamos aparecer na fita, claro, mas você e Ilyana iram.
— Vamos fazer o menor dano possível Jack. — Roxy disse a ele.
— Se você insiste. — Ele assobiava enquanto saía da van e ia até a câmera. Um pequeno salto para alcançá-la e facilmente inclinou a lente para cima, então estava focada no céu noturno e nada mais. Em seguida, voltou sua atenção para a porta.
Os quatro caminharam silenciosamente pelo bosque do lado de fora da antiga mansão Marquand, bem além da cerca guardiã que cercava o local. Eric removeu alguns arbustos e um momento depois levantou uma porta oculta camuflada por ramos e galhos. A escada dentro levava para baixo para dentro da escuridão.
— Este é o nosso caminho. — disse Eric. — Este túnel leva diretamente para o laboratório subterrâneo. Ou pelo menos costumava levar. Caso não cedeu ou foi fechado, ainda seremos capazes de usá-lo. O único problema é que Gregor provavelmente vai nos sentir chegando. Podemos nos proteger até certo ponto, é claro, mas com certeza sentirá o mortal.
— Posso me proteger também. — Dwyer disse, soando na defensiva. Ele baixou a cabeça diante do rápido olhar de Eric. — Tenho trabalhado com vampiros por um longo tempo. Era uma habilidade essencial de dominar.
— Ele não pode bloquear completamente. — Reaper disse.
— Não estou conseguindo pegar Crisa. — Briar enviou a Reaper um olhar desesperado. — Mas posso sentir os outros lá dentro. Gregor está lá. Assim como o menino. E sinto a energia pesada dos drones estendendo-se — bastante. Mas não Crisa.
— Ela pode estar inconsciente ou talvez ele a tenha trancado em uma sala que está fechada. — Reaper disse.
— Ou já estar morta. — Dwyer acrescentou suavemente.
Briar balançou a cabeça para ele com os olhos brilhando.
— É melhor rezar a Deus que não seja o caso, porque se ela estiver, você vai se juntar a ela em breve, eu prometo.
Dwyer engoliu em seco — fortemente.
— Nós ainda não resolvemos o problema dele sentir nossa abordagem. — disse Eric.
— Vamos ter que deixar Dwyer aqui. Se ele chegar mais perto, será detectado. — Reaper disse. — Eric, você e Briar irão pelo túnel. Vou até a porta da frente. Com alguma sorte posso distraí-lo, dando-lhe tempo para localizar Crisa e tirá-la de lá.
— Se ela estiver lá afinal, provavelmente está sob guarda. — disse Briar. — E você não pode ir sozinho, não contra Gregor e seus capangas. Você não teria a menor chance, Reaper.
— Podemos nos preocupar com isso assim que Crisa esteja segura.
Ela procurou seu rosto.
— Ele vai matar você ao primeiro sinal, Reaper.
— Vou negociar com ele.
— O que diabos você tem para negociar?
— Dwyer, para começar. E você. Não se esqueça o quanto a quer de volta, Briar. Isso é um monte de motivação para um homem, acredite em mim.
Ela desviou os olhos e lutou contra o calor que impregnou-a com essa declaração inflexível.
— Isto vai me conseguir algum tempo. — ele continuou. — Tempo suficiente para você levar Crisa em segurança. O menino também, se puder localizá-lo. Então pode trazer os outros de volta para encenar um resgate, se necessário.
— É um risco muito grande. — Ela agarrou seu braço e arrastou-o a poucos passos dos outros, embora não tivesse sob nenhuma ilusão de que Eric poderia ouvir se quisesse.
Olhando nos olhos de Reaper, ela perguntou:
— Por que está fazendo isso? Por que está arriscando sua vida?
— Precisamos chegar até Cri...
— Mentira. Você faz isso para viver, Reaper. Colocou sua vida em risco várias vezes, antes mesmo de se tornar um de nós. Acho que vem fazendo isso desde que sua mulher...
— Não faça isso. Não vá por aí, Briar. Por favor.
— Você quer morrer? Ou talvez isto já esteja cortado e seco. Talvez não seja suicida, simplesmente não se importa particularmente se vive ou morre. Há uma parte de você que acha que merece morrer.
Ele fechou os olhos.
— Se isso for verdade, então é o que me torna bom no que faço. Se não tenho nada a perder, isso me dá uma vantagem.
—Talvez isto costumasse ser verdade. — ela disse. — Mas não mais. Você tem uma ninhada inteira de filhotes de vampiros esquisitos que adoram o chão que pisa. Eles se arrastariam descalços sobre brasas por você, Reaper. E precisam de você. Ficariam arrasados se morresse, e acho que você sabe disso.
Ele procurou seus olhos, esperando que dissesse mais alguma coisa. Quando não fez, perguntou-se o que ela esperava que não fizesse.
— E você, Briar? Ficaria arrasada se eu morresse?
Ela lambeu os lábios.
— Olha, não sou... eu não... — Então ela abaixou a cabeça. — Não sou capaz de...
— Está tudo bem. Eu entendo.
— Ficaria muito puta se morresse. Conheci um monte de homens na minha vida, Reaper, e você não é como qualquer um deles. Você é diferente. E eu... gostaria de ficar por um tempo, descobrir quanto é diferente. Você sabe?
— Você... não vai embora quando isso acabar?
— Estou... tendo dúvidas sobre ir embora quando isso acabar. — ela admitiu. — Então?
Ele levantou a mão e empurrou seu cabelo atrás da orelha.
— Então acho que é melhor eu não morrer. Agora vamos começar com isso.
Ela fechou os olhos, desejando que houvesse uma maneira de convencer seu cérebro de lebre a desistir deste plano, sabendo que não tinha. Suspirando, inclinou-se e beijou-o com força na boca.
— Você é um idiota.
Em seguida, pisou de volta para onde os outros estavam.
— Dwyer, se você não estiver aqui quando voltar, vou caçá-lo nem que leve o resto da minha vida. — disse ela. — Vamos continuar com isso, Eric. — E com isso, saltou para a abertura no chão e desapareceu da vista deles.
— Dwyer. — Eric instruiu. — Feche esta escotilha depois que sair. Cubra-a para que fique invisível novamente, e em seguida esconda-se, mas fique por perto.
— Tudo bem. Ouça, Gregor tem todos os meus arquivos lá. Se puder obtê-los, eles vão ser úteis mais tarde.
Eric assentiu.
— Vou tentar.
Reaper já estava caminhando para longe deles, circulando de volta para a estrada, para abordar o portão da frente da mansão.
Crisa estava deitada na cama, no quarto escondido fora do laboratório subterrâneo. Matt tinha conseguido lençóis limpos em um dos armários no andar de cima. Tinha levado três tentativas para encontrar um conjunto que realmente se encaixasse. Quando conseguiu, seu pai já tinha ido para a cama durante o dia, fechando-se no seu quarto privado no andar de cima.
Na sua antiga casa, no início Matt costumava passar os dias em uma escola particular, não muito longe de onde moravam. Seu pai tinha organizado e contratado um motorista de limusine para levá-lo e buscá-lo. Quando não estava na escola estava sozinho, andando pela casa, com exceção dos dias em que a empregada costumava vir. Ele gostava da governanta. Seu nome era May, ela era alegre, com cabelos prateados e uma forma redonda grande que sacudia quando ria. E ela ria muito.
Matt sabia que seu pai tinha mexido com sua mente de alguma forma. Vampiros podiam fazer esse tipo de coisa com os humanos, pelo menos com os fracos de vontade. Ela sabia, sem ser dito, quais os quartos deveriam ficar escuros. Sabia que nunca deveria chegar antes da luz do dia e sempre ir embora antes do anoitecer. E sabia que não deveria mencionar qualquer coisa que pudesse parecer estranho para ela.
Mas o mais importante para Matt, sabia como fazer os melhores biscoitos e como tornar o dia interessante para ele.
Ele perdeu May e o antigo lar. E até mesmo a escola particular, embora nada disso tivesse durado muito tempo. Seu pai tinha decidido que era um risco grande demais ter outras pessoas na vida do seu filho. Não havia ninguém para lhe fazer companhia neste novo lugar, e eles não ficavam lá tempo suficiente para seu pai conseguir qualquer outra criada, se alguma vez pretendeu. Portanto, não houve governanta, motorista de limusine, nenhuma escola particular. Nada para ele fazer durante o dia.
Ele adivinhou, ou pelo menos esperava, que seu pai conseguisse isso com o tempo. Mas, por ora era chato como o inferno aqui. Pelo menos tinha Crisa agora.
Matt estava ao lado da cama observando-a dormir, imaginando se realmente estava apenas dormindo ou se nunca mais acordaria. Antes do amanhecer ela tremeu algumas vezes. Gemendo um pouco de vez em quando. Mas uma vez que o sol apareceu, caiu em um sono profundo e mortal como qualquer outro vampiro fazia. E não poderia saber se estava viva ou morta até o anoitecer.
Conseguiu mudar os lençóis da cama sozinho. Então localizou alguns travesseiros nos outros quartos da casa, colocando fronhas limpas neles e trazendo-os para baixo. Empilhou sobre a cama e em seguida voltou em busca de cobertores, enquanto o tempo todo ela estava deitada na maca no laboratório, imóvel.
Uma vez que tinha os cobertores prontos, afofou os travesseiros e empurrou a maca para a sala, até o lado da cama de hospital. Travou as rodas para que a coisa não se movesse, e cuidadosamente rolou o corpo de Crisa da maca para a cama. Não foi muito difícil. Ela não pesava muito. E não estava preocupado em machucá-la, porque ela não conseguia sentir nada neste estado. Mais do que isso, sabia que esse era o momento em que os vampiros curavam-se de todas as feridas que receberam durante a noite anterior.
O que o fez se perguntar se o sono do dia era poderoso o suficiente para curar Crisa dos problemas que o chip em seu cérebro estava causando-lhe. Ou se isto poderia pelo menos reverter o dano um pouco, de modo que ela estaria mais forte quando acordasse hoje à noite do que esteve quando adormeceu esta manhã.
Ele levou seu tempo organizando sua cabeça no travesseiro e dobrou o lençol de cima e os cobertores quentes ao seu redor, mesmo sabendo que os vampiros não tendem a ficar com frio. Especialmente enquanto dormiam. Mas não tinha mais nada para fazer.
Depois disso, leu para matar o tempo. Teria jogado videogame, mas seu sistema estava em seu quarto e não se atreveu a ir tão longe de Crisa. Ficou bem ao seu lado. Quando tinha fome, ia até a cozinha e fazia um sanduíche, então o trazia de volta para baixo com ele. Quando cansou, empurrou a maca para o outro lado da sala, subiu em cima e tirou uma longa soneca.
Quando se levantou de sua sesta poucos minutos atrás, soube que estava escuro lá fora. Mas não conseguiu ouvir nada ainda de seu pai, e Crisa não parecia diferente do que esteve o dia todo. Pálida. Absolutamente imóvel. Fria ao toque.
Ele esperou alguns minutos, esperando que seu pai fosse aparecer para que pudesse perguntar quando eles tentariam tratá-la, e quando seu pai não apareceu Matt ficou nervoso. Estava se preparando para ir para cima e procurar seu pai quando ouviu uma porta se abrindo no laboratório.
Assumindo que fosse seu pai, esperando que com um cirurgião a reboque, Matt correu para o laboratório. Mas não era a porta se abrindo como esperava ver. Era uma parte da parede, com prateleiras e tudo.
Ele ficou ali, atordoado demais para se mover quando uma mulher e um homem —vampiro, ambos atravessaram a parede para o laboratório.
A mulher olhou em volta, os olhos nervosos. Ele a conhecia. Ele a tinha vislumbrado antes. Era Briar. Ela fazia parte da gangue de seu pai, e uma das malvadas, ou assim ele sempre pensou.
Mas Crisa disse que ela tinha salvado sua vida.
— Você deve ser Matt. — ela disse.
Ele acenou com a cabeça, dando um passo atrás.
— Você é Briar. Eu sei quem é você. Costumava estar com a gangue do meu pai. Ele me disse que você era uma das piores vampiros que já conheceu. Avisou-me para ficar longe de você. Disse que era perigosa.
— Você deve ter feito um trabalho muito bom, já que quase nunca pus os olhos em você. — Ela disse, sem negar qualquer coisa que ele disse. — Mas vislumbrei você uma ou duas vezes, de passagem.
— Papai não gosta que eu fique perto de outros vampiros. — Conforme disse isso, olhou para o homem estranho.
— Este é Eric Marquand. — Briar disse. — Esta costumava ser sua casa, foi como soubemos o caminho pra dentro. Eu o trouxe aqui para me ajudar a salvar Crisa.
Matt piscou quando Briar disse seu nome, tentando parecer intrigado.
— Quem?
— Não tente me enganar, garoto. Sei que ela está aqui.
— Ninguém está aqui, somente eu. E meu pai, mas ele está lá em cima. — Enquanto falava, moveu-se um pouco de lado, colocando-se diretamente entre Briar, Eric e a porta que dava para onde Crisa estava deitada.
— Sim, eu sei. Meu amigo Reaper foi para a porta da frente para tentar mantê-lo ocupado tempo suficiente para tirarmos Crisa daqui. Você também, se quiser vir.
— Já disse, ela não está aqui. E mesmo que estivesse, não iria deixá-los levá-la. Ela está doente. Meu pai vai ajudá-la.
— Ele te disse isso? — Briar perguntou. E quando Matt assentiu, ela disse: — E você acreditou?
Matt não tinha certeza no que acreditar. Ele pensou que Briar fosse má, mas Crisa disse que ela salvou sua vida. Crisa estava tão doente. Se fizesse a escolha errada, sabia que ela poderia morrer. Engoliu em seco.
— Eu seria muito estúpido para sair daqui com um par de vampiros estranhos.
— Só que o resto do grupo está à espera na cidade. E isso inclui sua mãe, Matt. Ilyana. Ela é sua mãe, certo?
Ele acenou com a cabeça, mas não sabia se acreditava. Ele estreitou seus olhos nela.
— Como vou saber que não está apenas mentindo para m
— Ela é um varapau. Cabelo loiro platinado que mantém em um tipo de corte curto e espetado, como um topete de penas de um frango exótico. Olhos realmente incomuns, uma espécie de violeta, como somente Liz Taylor — acho que você não sabe quem ela é, não é? E ela realmente não gosta de vampiros de qualquer modo, muito menos confia neles. Mas está começando a confiar em nós.
Matt inclinou a cabeça para um lado, simplesmente com uma sensação de tensão vindo de Briar golpeando sua própria cabeça. Em seguida, ela empurrou o menino de lado e passou por ele, através da porta e no quarto onde estava Crisa.
— Ei, eis minha louca pequena preguiçosa. — ela disse. Inclinou-se sobre Crisa, empurrando seu cabelo da testa com uma mão. — Baby, ei. Vamos, acorde, é a sua Hell-bitch[3] favorita.
Suas sobrancelhas se uniram e ela lançou um olhar em direção a Matt.
— Há quanto tempo ela está assim?
— Desde ontem. — disse Matt. — Ela está — não posso dizer, não sou um vampiro. Será que ela ainda está viva? — Ele sentiu as lágrimas em seus olhos e tentou piscar para contê-las.
— Oh, inferno, sim. — Briar caiu de joelhos, colocando-se ao nível dos olhos dele. —Sim, ela está viva. Está. Pobre criança. Você ficou sentado aqui enquanto não teve certeza disso, não é? — Ele acenou com a cabeça. — Por quanto tempo? — perguntou ela.
Ele deu de ombros.
— O dia todo. E um pouco antes disso.
Eric levantou a cabeça, olhando para cima sem focar nada realmente.
— Precisamos tirá-la daqui enquanto podemos. Matthias, pode vir com a gente ou ficar para trás. Cabe a você. Mas prefiro que venha com a gente.
Briar olhou para o homem. O que quer dizer, cabe a ele? Ela pensou nas palavras urgentemente, ignorando que Matt podia ouvi-los também. Nós não vamos deixá-lo, querendo ele ou não ficar com um assassino como Gregor. Se aparecermos sem ele, Ilyana nunca me perdoará. Nem Roxy também, e Deus sabe que nunca vi a galinha sem o pintinho. Além disso, o menino pode acabar morto se o deixarmos aqui.
Eric deu de ombros e olhou de novo para Matt.
— O que você acha, meu filho?
Matt olhou de um para o outro, e então concordou.
— Vou com vocês. — Então olhou para a mesa no laboratório. — Esses são os arquivos de Derry, uh, que o Sr. Dwyer tinha sobre ela. Podem precisar deles.
— Bom homem. — Eric disse, batendo no ombro do menino. — Vamos pegá-la e ir embora.
Rafael Rivera, Gregor disse mentalmente. Já era tempo.
Faz bastante tempo, Gregor. Reaper havia permitido que Gregor o sentisse quando se aproximou da porta da frente. Isto foi muito óbvio, mas muito desafiador também. E aparentemente, havia conseguido.
Gregor abriu a porta da frente, exatamente quando Reaper correu ao longo da calçada em direção a ela. Reaper tinha uma arma tranquilizante carregada, puxada e agarrada na sua mão pronta para disparar. Portanto observou como Gregor também tinha uma.
— Estava esperando por você. — Gregor disse.
— Oh, não tenho nenhuma dúvida. Mas não estou aqui por você, Gregor. Não neste momento. Isto é sobre Crisa. Ela é inocente em tudo isso. Deixe-me levá-la daqui e então você e eu vamos resolver o que há entre nós.
— Quem é Crisa? — Gregor perguntou, fingindo inocência.
Reaper verteu-se na velocidade vampírica, olhando para o rosto de Gregor em um instante, segurando a frente de sua camisa com um punho.
— Não brinque comigo, Gregor. Ela está morrendo. Precisa de ajuda imediatamente. — Ele segurava sua arma na cabeça de Gregor, mas este fazia o mesmo. Se Reaper atirasse, Gregor faria o mesmo. Impasse.
— Eu sei. — Gregor empurrou-se livre da aderência do outro homem, então alisou a frente de sua camisa para baixo, ainda segurando a arma firme. — É por isso que enviei os drones para me trazer um cirurgião.
As sobrancelhas de Reaper se juntaram. As palavras do homem não faziam nenhum sentido para ele.
— Por que você faria isso?
— Porque Crisa precisa que o chip seja retirado de seu cérebro ou vai morrer. E porque decidi mantê-la viva se puder. E se puder mantê-la viva, decidi então ficar com ela.
— O quê! — Reaper perguntou, seus olhos estreitando.
Gregor deu de ombros.
— Não tenho que me explicar pra você. No entanto, deve saber que não vou deixar você sair, mesmo que não seja capaz de lidar contigo até depois que fizer o que precisa ser feito por Crisa.
— É por causa do seu filho, não é? É por causa do menino.
Os olhos de Gregor se estreitaram.
— O que diabos você sabe sobre o meu filho?
— Eu tive uma conversa com Dwyer. — Reaper disse, debatendo consigo mesmo quanto deveria ceder e, ainda sem ter certeza de quanto Gregor sabia que Ilyana estava com Reaper e sua gangue. — Ele me disse que tinha o menino. Contou-me sobre o chip, o poder de controlar a mente que proporciona, o fato de que você tinha tomado os controles, e tinha-os aqui. Não levou nem um segundo adivinhar que tinha forçado Crisa a trazer Matthias de volta aqui para você. Então, onde estão eles, Gregor? Onde vocês os mantêm?
— Você é bom. Muito bom. Mas não te diria onde estavam, mesmo que atire em mim. — Gregor foi até a lareira onde o fogo estava queimando, mas a chama estava extremamente baixa.
— Interessante que coloque dessa maneira, uma vez que essas são precisamente suas opções. — Reaper disse seguindo-o, não querendo deixá-lo chegar muito longe. Ele estava sempre detectando os drones, monitorando constantemente a procura de um sinal de Briar, que ela, Eric e Crisa haviam deixado claro.
Mas não ouviu nada.
E então ouviu.
Ouviu as dobradiças de metal rasparem abaixo dele e sentiu o chão sumindo. Antes que pudesse reagir, foi caindo, um longo caminho para baixo. Por fim, caiu com força sobre o que sentiu como um piso de concreto frio em uma sala com uma escuridão absoluta. O único quadrado de luz de cima rapidamente desapareceu quando Gregor fechou o alçapão novamente.
— Aproveite sua estadia, Reaper. — Gregor gritou pouco antes de extinguir a última gota de luz. — Assim que conceder o pedido de meu filho para salvar sua amiga Crisa, vou voltar para baixo para drenar você de cada gota de sangue e de poder que possui.
— Vá pro inferno, Gregor!
Reaper girou em um círculo com os braços abertos à sua frente, os olhos se ajustando rapidamente. E logo pode ver e sentir a situação. Estava em um quarto pequeno. Paredes de concreto sem janelas em todos os quatro lados dele, e o alçapão por onde havia caído anteriormente. Nada mais.
Gregor caminhou para dentro do porão. A cela onde tinha selado Reaper estava em um subnível abaixo deste. A rampa por onde ele tinha caído era larga e completamente fechada. Daqui parecia uma chaminé de grandes dimensões, um pilar quadrado que chegava do chão ao teto. Ninguém diria que abria no chão da sala de cima e terminava em uma cova sepulcral abaixo.
Esperava ouvir Reaper gritar com ele o amaldiçoando, exigindo ser solto. Mas não ouviu nada. O homem tinha ficado em silêncio. Provavelmente planejando sua fuga. Gregor perguntou-se quanto tempo levaria para descobrir que não havia nenhuma.
Mas isso ficaria para ser contemplado mais tarde. E desfrutado. No momento, precisava mudar seu foco para Matthias e sua companheira patética e recém-descoberta. Esperava que os drones pudessem encontrar um cirurgião e trazê-lo aqui antes desta noite passar. Mesmo assim, ainda não havia nenhuma garantia que a mulher fosse sobreviver. Mas ele prometeu tentar, e pretendia.
Os pensamentos de Gregor paralisaram quando percebeu que não tinha nenhuma sensação de Matthias, em qualquer lugar próximo. Ele franziu a testa e aguçou seu foco, mas sentiu o vazio da sala antes mesmo que a alcançasse. Abriu a porta do laboratório subterrâneo e em seguida moveu-se através dele, e para dentro do quarto mais adiante.
A cama de hospital de Crisa estava vazia. Os lençóis limpos e montes de cobertores e travesseiros estavam amarrotados, como se tivessem sido utilizados. Mas ninguém estava usando-os agora. Um pequeno cobertor e um travesseiro estavam na maca no lado mais distante da sala, e adivinhou que deveria ter sido onde seu filho tinha tirado um cochilo hoje. Perto, ao lado de Crisa. Olhando por ela como se fosse um homem adulto e seu protetor, em vez de um menino. O peito de Gregor inchou com um sentimento de orgulho por seu filho, mesmo quando seu estômago embrulhou com a preocupação.
Alguém esteve aqui.
Briar!
Ele podia sentir o cheiro dela, quase saboreá-lo no ar. Ela esteve aqui e tinha mais alguém. Outro vampiro, um macho e um que Gregor não conhecia. Foram embora, como os dois podem ter ido e vindo sem serem vistos estava além dele.
Ele seguiu seus sentidos, sabendo que levaram seu filho e Crisa para longe. Enquanto se movia de volta através do laboratório, observou que a pilha de arquivos também tinha sumido. Os que tirou de Dwyer, os que tinham todas as informações sobre Crisa.
Então procurou na parte principal do laboratório subterrâneo, novamente seguindo seus sentidos. Uma das paredes tinha uma das prateleiras soltas contra ela, só que percebeu agora que não estava solta. Os tijolos por trás dela estavam realmente ligados a isto. As marcas no chão empoeirado mostravam-lhe a verdade. Era uma porta secreta. Ele passou as mãos sobre os livros, tocando somente onde eles haviam tocado até a prateleira saltar. Ele a abriu.
Girando de volta para a sala, uivou de raiva.
Qual é o problema, Gregor? A mente de Reaper estendeu-se para a dele, adicionando a sua fúria. Seu filho fugiu de novo?
Vou matá-lo por isso, Reaper. Não se engane. Vou trazê-los de volta. Todos eles, incluindo Briar. Mas você, meu amigo, não vai estar por perto para ver isto.
Gregor foi para a entrada escondida da cela subterrânea, depois parou.
Ele chamou seus drones, a maioria dos quais estavam patrulhando a floresta a pé ou de guarda. Há intrusos em torno da propriedade. Eles levaram minha prisioneira e meu filho. Encontre-os. Mate o homem e tragam os outros para mim. E não machuquem o menino.
Feito isso, arrastou o alçapão abrindo no chão do porão, desceu a escada até o fundo e parou na pequena área aberta, de frente para a porta sólida da cela de Reaper. Ele mataria o bastardo, e faria isso agora. Sem mais espera.
Estendeu a mão para a porta, abriu o ferrolho, segurou a alça grande e empurrou-a para dentro.
Mas a porta não se moveu.
Empurrou de novo, mas ainda não havia movimento.
Do outro lado, Reaper riu suavemente.
— Você esperava que fosse facilitar para você? Acho que sempre pode vir do jeito que eu fiz. Embora estarei esperando para rasgá-lo quando chegar, assim teria um maldito de um momento para sair de novo.
O desgraçado estava bloqueando a porta com não mais do que a força de sua mente! Telecinese, de uma espécie alimentada pelo poder de sua linhagem, talvez. Gregor tentou batalhar com a força de seus próprios poderes, mas já sabia que não era páreo para os poderes vampíricos de alguém descendente de Rhiannon e de Vlad, o Empalador, antes dela.
Gregor desistiu depois de um momento, sabendo que não poderia abrir a porta desse jeito.
— Não tenho que recorrer para entrar desta forma. — ele disse. — Você vai morrer, Reaper. Mesmo se nunca puder entrar nessa cela, você vai morrer. Ou lentamente de fome ou mais rápido.
— De qualquer maneira, você não poderá me drenar. Meu poder morre comigo.
Gregor estreitou os olhos.
— Honestamente, desde que esteja morto, não me importa muito.
— Besteira.
Gregor deu de ombros, nunca admitindo que realmente se importava, que desejava o poder de Reaper. O homem seria morto, de qualquer maneira. Ele subiu a escada e atravessou o porão, em seguida voltou a subir as escadas para a parte principal da casa. Na sala de estar, foi para a lareira e pegou o controle remoto que tinha deixado lá. Estava preparando este lugar há meses, antes de na verdade ter estabelecido sua residência, e esta característica especial era sua maior inovação. Com um polegar em um botão, o alçapão se abriu novamente. Então apertou outro botão e observou o chão quando um sólido painel vitrificado, impenetrável, deslizou silenciosamente transversalmente em seu lugar.
Faça-me um favor, Reaper. Olhe para cima.
Ele sabia muito bem o que seu inimigo veria quando o fizesse. Veria o longo alçapão através do qual havia caído. Veria que o alçapão no chão da sala estava aberto, uma janela em seu lugar, e bem acima disso no teto imponente, acima de Gregor, veria a claraboia quando seus tons eletrônicos recuassem.
Agora esta claraboia mostraria a Reaper apenas um vislumbre distante do céu noturno, as estrelas cintilantes, talvez até um canto da lua crescente. Uma pequena tentadora provocação da liberdade que nunca mais conheceria... e o lento alvorecer, percebendo que amanheceu, a janela para o mundo revelaria uma visão muito diferente. Uma visão da luz do dia e do sol. Quando isto se levantasse, seus raios fluiriam para dentro do alçapão, e no momento em que o sol atingisse seu apogeu, a minúscula cela de Reaper seria inundada de luz.
E ele arderia em chamas.
Briar seguiu Eric pelo túnel, em seguida virou-se para puxar o pedaço de parede fechando-a atrás deles enquanto o menino ficou tremendo ao lado dela. Com a porta fechada, a passagem ficou negra como breu e o medo da criança ficou palpável. Ela podia ver bem na escuridão como em plena luz, mas sabia que ele não podia, então quando ele tateou às cegas de olhos arregalados e lábios trêmulos, Briar pegou as mãos dele nas suas e apertou.
— Está tudo bem, Matt. — ela disse.
À sua frente, Eric estava carregando Crisa, que estava pendurada mole em seus braços. Estava tão quieta que Briar se perguntava se tinha alguma chance de sobrevivência.
— Crisa vai ficar bem? — Matt perguntou. Ele arrastava os pés enquanto andava, sem saber onde pôr o pé, diminuindo o ritmo de Briar. Ela segurou a mão dele com força mais ainda, puxando-o junto.
— Honestamente, não sei. — ela disse a ele. — Quero que ela fique.
— Meu pai vai saber onde estou. Vai tentar nos deter e vai ficar realmente bravo.
Ela assentiu, embora não pudesse vê-la.
— Será que ele sabe sobre essa passagem?
— Eu acho que não. Se sabia, nunca disse nada.
— Então vamos ficar bem. Estamos quase no fim. Aguenta aí, Matt, ok?
— Estou tentando. — A mão dele apertou seus dedos. — Você deve ter mudado, eu acho.
Ela franziu o cenho para ele.
— Apenas se mantenha em movimento.
— Você costumava ser um dos bandidos. Mas agora não é.
— Não estou diferente do que era. — ela disse. Deus, o garoto era tão mau quanto Reaper, procurando motivos nobres para tudo o que fazia. Não havia nenhum. Ela não havia mudado.
— Sim, você está. Está diferente. Você se importa agora.
— Você está louco, Matt. Não me importo com ninguém.
— Você se importa. Você se preocupa com Crisa... muito. E até um pouco comigo. E com seu amigo — Reaper? Você está preocupada com ele até mais do que está preocupada se vamos sair daqui ou não.
Ela parou de andar.
— O que é você, algum tipo de leitor de mentes ou algo assim?
Ele travou os lábios apertados e perdeu um pouco o passo. Ela bateu em alguma coisa lá, pensou. Para um mortal, o menino era afiado, perspicaz. Mais do que isso talvez, mas não queria que ninguém soubesse.
Ela observou seu rosto enquanto ele lutava contra seus medos e marchava para frente.
— Não quero que nada de ruim aconteça com Crisa. — admitiu. — Ou Reaper. Ou a você também. Isso não quer dizer que me importo.
— O que significa, então?
Inferno, ela estaria condenada se soubesse. E não tinha tempo de analisar isto, em seguida explicar para uma criança neste momento, de qualquer maneira.
— Nós estamos no fim. Há um alçapão no topo. Precisamos subir até lá. Ele dá na floresta, a alguns metros de distância da casa. Nós teremos que ficar muito quietos agora.
— Eu sei. Os drones estão lá fora provavelmente.
Eric parou e inclinando-se, colocou Crisa suavemente no chão de terra batida. Depois subiu, fazendo uma pausa para ouvir e sentir. Eventualmente, sussurrou.
— Dwyer? Você está aí?
— Aqui. — uma voz rouca sussurrou. E então o alçapão no chão da floresta abriu e Dwyer espiou por cima. — Deus, por que demoraram tanto? Há drones passando por todos os lados de tempos em tempos. É um milagre que não me encontraram.
— Nós vamos estar fora do alcance deles em breve. — Eric assegurou-lhe, em seguida retornou para baixo.
— Não acho que alguém esteja próximo. Nós nos moveremos rapidamente daqui, tudo bem? Você precisa levar o menino Briar, ou ele nunca vai acompanhar.
Carregar o menino? Inferno.
— Tudo bem? — Eric perguntou.
— Sim, tanto faz, embora como espera que Dwyer nos acompanhe está além da minha compreensão.
— Eu tenho cobertura.
Ela nem sequer perguntou como, apenas suspirou.
— Vamos continuar com isso então. Não tenho a noite toda. E nem estou ficando mais jovem.
Para sua surpresa o menino riu, só um pouco. Ela lançou-lhe um olhar e ele disse:
— Isso é engraçado. Nem ficando mais jovem. Nem ficando mais velha também.
— O garoto é um maldito comediante. — ela murmurou.
Eric Marquand pegou Crisa novamente, e escorando-a sobre seu ombro, subiu os degraus e saiu para a floresta. Briar se agachou na frente de Matt.
— Envolva seus braços no meu pescoço e suas pernas em volta da minha cintura.
— Como de cavalinho? — O garoto perguntou, enquanto obedecia.
— Sim, exatamente como um cavalinho. — Ela se levantou com a criança agarrada, subindo com ele e depois se ergueu rapidamente.
Assim que eles saíram, Eric se inclinou para abaixar o alçapão.
— Por aqui. — ele disse. E enquanto falava, bateu o braço em volta da cintura encolhida do mortal e puxou o homem para cima e sobre seu outro ombro.
Briar sentiu que algo, alguém se aproximava. Muitos deles.
— Os drones estão se aproximando. Vá!
Eric explodiu em uma corrida, embora sua velocidade fosse dificultada pela necessidade de transportar dois outros como ele. Briar não hesitou em fazer o mesmo. Mas os drones podiam se mover numa velocidade sobrenatural também, e não havia maneira de ter certeza de que não seriam interceptados, emboscados ou simplesmente capturados, antes de estarem seguros.
Tudo estava pronto. Roxy andava pela pequena clínica, movendo-se de janela a janela, constantemente olhando para fora em busca de Reaper e Briar, e a coitada e ferida Crisa.
— Roxy, você precisa ficar longe das janelas. — disse Jack pela décima vez. — Se nos virem aqui, nosso plano inteiro vira fumaça sem passagem de ida.
Ela fez uma cara feia para ele.
— Deveríamos ter ouvido falar deles agora. Não deveríam
— Sim, bem, vamos ouvi-los muito antes que você possa vê-los. Vamos pegar um grito mental logo que possam enviar um.
Ela assentiu, sabendo que Jack estava certo antes mesmo de Vixen vir colocar a mão em seu ombro e acenar com a cabeça em direção ao canto dos fundos da sala de espera. Ilyana estava sentada em uma cadeira lá, seus olhos fixos na porta. Estava tão quieta que parecia estar prendendo a respiração.
Roxy encontrou os olhos de Vixen e recebeu a mensagem. Ela controlou seu nervosismo e foi em direção a Ilyana, puxou uma cadeira ao lado dela e juntou-se a ela lá.
— Eles não vão trazer Matt. Sei que não vão. — Ilyana disse suavemente.
— O que a faz ter tanta certeza?
Ilyana encontrou os olhos de Roxy.
— Gregor está esperando um ataque. Ele esconderá Matt. E mesmo se não o fizer, Crisa é o principal objetivo aqui. Ela é um deles. Eles vão fazer dela prioridade.
— Mais do que uma criança inocente? — Roxy balançou a cabeça. — Você não conhece essas pessoas muito bem, se realmente acredita nisso.
— Eu conheço Briar bem o suficiente. Ela não levantaria um dedo para ajudar ninguém, apenas a si mesma. Inferno, ela disse isso vezes o suficiente. Duvido que estaria ajudando Crisa se não fosse o poder do vínculo de sangue que compartilham. Isso está contra a vontade de Briar.
Roxy balançou a cabeça.
— Briar tinha uma escolha. Deixar Crisa morrer ou compartilhar seu sangue com ela. Nenhum de nós poderia tê-la forçado. Existe mais coisa ali do que você sabe, acho.
— Hmm.
Claramente Ilyana não acreditava nisso.
— Mas há mais do que apenas Briar. — Roxy continuou. — Reaper está com ela e também Eric Marquand.
— Marquand é um estranho. Nós não sabemos nada sobre ele.
— Vou dizer o que eu sei, Ilyana, — Roxy disse suavemente. — Conheço Raphael. Ele é um bom homem.
— Ele é um ex-assassino da CIA. — Ilyana corrigiu.
— Ele é um bom homem. E se houver uma maneira de salvar seu filho para você, ele vai fazer isso.
— Alguém está vindo!
As duas se olharam bruscamente quando Mirabella virou-se para a porta. Seth e Vixen ladeando-a. Topaz puxou uma arma, uma das minúsculas armas tranquilizantes que todos carregavam para se protegerem da fúria de Reaper. Ela verificou para ter certeza de que estava carregada, então colocou-a na parte de trás da calça jeans de grife.
— É um mortal. — disse Jack. — Um policial.
— Inferno. — Roxy abaixou a cabeça e massageou a testa com a mão. — Não o matem, pessoal. Por favor? Não, a menos que realmente precisem.
Jack lançou-lhe um olhar brincalhão.
— Você está estragando toda a nossa diversão, sabe, não é?
— Estou nessa. — Topaz disse. — O resto de vocês, fiquem fora de vistas.
E com isso, ela foi até a porta assim que a maçaneta começou a virar. O oficial estava testando a fechadura. Quando envolveu-a, digitou o código que iria abri-la. Puxando sua arma, ele cautelosamente empurrou mais a porta e entrou.
Topaz estava bem na frente dele quando entrou. Ele deu um passo quando a viu. Sua mão apertou sua arma, mas algo o impediu de levantá-la. Algo nos olhos de Topaz, Roxy pensou, enquanto assistia do quarto ao lado, através de uma pequena rachadura na porta.
— Quem é você? O que está fazendo aqui? — O policial exigiu. — Esta é uma propriedade particular.
— Eu sei. O que você veio fazer? — ela perguntou.
— Apenas coloque as mãos pra cima e vire-se.
Ela balançou a cabeça lentamente.
— Oh, vamos lá. Não sou ameaça pra você. Você quer falar comigo. Pode ver que não há nada de errado aqui. Diga-me, o que veio fazer aqui?
— A recepção recebeu uma ligação. — ele disse, falando devagar. — O vizinho relatou alguém se movendo em torno aqui depois do expediente e levantou suspeitas.
— Eles devem estar imaginando coisas. — ela disse. — Não há ninguém aqui. Tudo está bem aqui.
— O que quer dizer que ninguém está aqui? — ele perguntou olhando para ela como se achasse que poderia ter problemas mentais. — Você está aqui.
Na sala ao lado, Roxy lançou um olhar preocupado para Jack. Jack sussurrou:
— Ele deve ter uma força de vontade excepcional.
— Não seremos capazes de deixá-lo sair, não é? — Roxy olhou para o homem. Ele era bonito. Seu cabelo castanho macio estava cortado e limpo, e seu corpo era forte e magro. Ele tinha olhos bondosos. Mordazes e inteligentes olhos bondosos. Ela olhou de novo para Jack, ouvindo quando Topaz fez outra tentativa de obter o controle da mente do homem.
— Não há ninguém aqui. — ela disse novamente, sua voz assumindo uma cadência suave e hipnótica. — Tudo aqui está bem, pode ver claramente. Você não encontrou nada de errado aqui. Precisa fazer seu caminho e informar que não há nada de errado aqui.
Ele franziu a testa até tocar as sobrancelhas.
— Você está parada de pé bem na minha frente, senhora. — Ele ainda não conseguia levantar a arma. — Vou ter que levá-la comigo. Há mais alguém aqui?
— Ninguém está aqui. — Ela estava começando a soar um pouco impaciente. Sem dúvida ele estava irritando-a por não ser capaz de encantar um homem com sua aparência e o poder combinado de sua mente e vontade.
O policial pegou o microfone do rádio que estava preso na frente de sua camisa do uniforme. A mão de Topaz fechou sobre a dele tão rápido que ele não poderia ter detectado o movimento. Ela segurou seu pulso.
— Não faça isso.
Ele encontrou seus olhos, e ela rapidamente agarrou a outra mão, a que segurava a arma.
— Não, Roxy. — Jack disse suavemente. — Receio que não vamos ser capazes de deixá-lo sair.
Assim quando Briar, Eric e seus “passageiros” estavam prestes a emergir da floresta para a estrada onde deixaram o carro, sentiram uma parede sólida de drones na borda da floresta. Briar caiu no chão atrás de um emaranhado de arbustos segurando o braço de Eric e puxando-o para baixo com ela. Ela desceu Matt ao chão, dizendo-lhe para ficar abaixado. A pobre criança ficou petrificada.
E ela também. Mas estranhamente não por si mesma.
De olhos arregalados olhou ao redor deles, e apesar de não poder ver nenhum outro nas proximidades, podia senti-los. Estavam se aproximando de ambos os lados, e mais estavam chegando por trás.
— Estamos cercados. — ela sussurrou.
Eric soltou Dwyer, quem se agachou ao lado dele tremendo de medo. Então colocou Crisa suavemente no chão.
— Como ela está? — Briar perguntou.
Eric encontrou seus olhos, e os dele estavam sombrios.
— Não muito bem. Precisamos retirar o chip de seu cérebro, e temos que fazê-lo logo.
— Tudo bem. — Briar moveu Matt, empurrando-o mais perto de Eric. — Você vai ficar com Eric e Crisa. Tudo bem?
— Ficar? Aqui? — M-mas... os drones...
— Vou cuidar deles. — Ela enfiou a mão no bolso para as chaves do carro que aguardava ao lado da estrada. Era o Mustang de Seth, e mais rápido do que o inferno. Ela entregou as chaves para Eric.
— O que você está pensando? — Eric perguntou. — Briar, você não pode...
— Olha, eu voltaria de qualquer jeito. Reaper ainda está lá. Isso só acelera meu plano um pouco.
— O que planeja? — Eric exigiu.
Ela abaixou os olhos, porque não tinha um plano. Não muito de um, de qualquer maneira.
— Vou para campo aberto, garantir que os cabeções me vejam, e depois fazer uma corrida por eles. Isto vai tirar os malditos drones daqui. Eles não são muito brilhantes. Virão atrás de mim, e no momento em que ocorrer a eles que Matt e Crisa não estão comigo, vai ser tarde demais. Porque no segundo que vierem atrás de mim e limpar seu caminho, Eric, quero que pegue Matt e Crisa e faça uma corrida para o carro. Entre, decole e não olhe para trás. Você sabe onde é a clínica, onde o resto da equipe está esperando?
— Sim. Mas não vou deixar você para combater essas criaturas sozinha. — Ele olhou para fora dos arbustos para eles. — O que diabos são eles?
— Eles começam como escolhidos, acho. Humanos com o antígeno beladona e outras características físicas em comum. Essa testa protuberante, os corpos de grandes dimensões, a força. Ouvi dizer que são lobotomizados antes de serem transformados, mas acho que há mais do que isso. O que vê é o resultado. — Ela enviou uma olhar a Dwyer. — O que não sei é onde vocês encontram essa fonte constante deles.
Dwyer engoliu em seco e abaixou a cabeça.
— Não posso te contar.
— Oh, você vai me dizer tudo o que quero saber, Dwyer. — Ela agarrou a frente de sua camisa e puxou-o para mais perto dela. — Ou não percebe que sua vida está em minhas mãos neste momento?
Ele encontrou seus olhos e engoliu em seco.
Eric bateu em seu ombro.
— Não há tempo, não agora. Os drones estão aproximando-se. Não tenha medo, Briar. Vou fazê-lo nos dizer o que sabe assim que sairmos deste lugar e os inocentes estiverem seguros.
— Ah, ele não vai com você. — disse Briar.
Os olhos de Dwyer arregalaram e sua cabeça se ergueu.
— Você e eu temos negócios inacabados, Dwyer. Mais do que um pequeno. Você virá comigo.
— Não posso voltar para lá. Eu não posso! Gregor vai me matar.
— Ele provavelmente vai me matar também se os drones não o fizerem primeiro. Anime-se amigo. É para um bem maior e toda aquela baboseira.
Matt balançou a cabeça.
— Espere. Se me levar com você eles não vão machucá-la. Papai deve ter dito para não me machucar. E às vezes eles me ouvem. Posso garantir que não a machuquem.
Briar sorriu levemente enquanto olhava para o menino, sentindo-se um pouco intimidada.
— Você é um bostinha valente, sabe disso? — Então despenteou seu cabelo, um ato tão diferente que se surpreendeu por fazê-lo. — Diga à sua mãe que eu disse que é melhor cuidar bem de você, amigo... e diga... que para um humano, ela não é tão ruim. — Ela olhou para Eric. — Faça tudo o que puder por Crisa.
— Você tem a minha palavra disso, Briar. — Então ele afinou os lábios e perfurou os olhos dela com os seus. — Rhiannon estava certa sobre você.
— Oh, inferno, aquela cadela arrogante não precisava ter dito isso. Só vai inchar sua cabeça mais do que já está.
— Tenha cuidado, Briar. — disse Eric. — Reaper nunca vai me perdoar por te deixar se alguma coisa ruim acontecer a você.
Ela franziu o cenho.
— Ele a ama, você sabe. E não o culpo. Você é bastante notável.
— Deus me livre dos homens piegas. Você é tão ruim quanto ele. — E com isso se levantou do seu esconderijo segurando Dwyer pela parte de trás de seu pescoço, assim ele foi forçado a levantar com ela.
— Deixe-me com eles! — Dwyer suplicou. Ele se soltou, caindo de joelhos novamente. — Vou contar como os drones são feitos. Vou contar tudo.
— Tarde demais. — Ela se agachou ao lado dele, pronta para arrancá-lo de pé e fazê-lo movimentar-se.
— Eu vou dizer a Eric assim que estivermos salvos, e vou contar ao restante também. Prometo que vou.
— Não.
Ela o puxou. Ele tinha lágrimas nos olhos agora.
— Eles não podem salvar Crisa sem minha ajuda. Sei como chegar ao chip.
Ela olhou para Eric por uma confirmação. Ele balançou a cabeça.
— Acho que posso gerenciar muito bem sem ele. Tenho os arquivos. — Bateu na bolsa pendurada no seu ombro.
Ela assentiu com a cabeça e puxou Dwyer novamente. Ele tentou mais uma tática.
— Vou te dizer a palavra gatilho de Reaper. Aquela que você ainda não sabe, a que vai quebrar a raiva depois que ativa a primeira palavra gatilho. A palavra que vai acabar com ela.
Briar hesitou, porque essa era justamente a informação que estava esperando e planejando com a exigência. Ela olhou para ele.
— Se descobrir que você mentiu para mim...
— Não vou mentir. E posso dar mais. Há um hipnotizador — o primeiro que programou Reaper da primeira vez. Vou dar a Eric seu nome, e se Reaper sobreviver a isto, ele pode localizá-lo, fazê-lo desprogramar sua mente. Mas no entanto, a palavra gatilho...
— E qual é? — ela exigiu.
— Você vai me deixar ir com Eric?
— Sim, diga-me. Qual é?
— Fuinha.
— Fuinha? — Ela revirou os olhos. — Vocês certamente não usam muita imaginação para esta merda, não é? — Ela olhou para o homem. — Há só mais uma coisa. Preciso saber o que realmente aconteceu com a esposa de Reaper.
O rosto do homem transformou-se em pedra.
— Ele a matou. Foi...
— Uh-uh. Quero dizer o que realmente aconteceu.
— Não sei do que você está falando.
— Sim, você sabe, Você é muito bom no bloqueio de seus pensamentos. Então não tenho escolha a não ser descobrir do meu jeito. Além disso, eu poderia usar um impulso de força. — Sem tirar os olhos dele, disse. — Você pode carregar a ambos até o carro, Eric?
— Consegui muito bem até agora. Não sei do que se trata isto, Briar, mas confio em seu julgamento. Faça o que acha que é necessário, mas faça rápido.
Ela assentiu e agarrou Dwyer pela frente de sua camisa.
— A esposa de Reaper. — ela disse. — Lembre-se. — E então o puxou para frente e afundou os dentes em sua garganta. Ele lutou enquanto ela o bebia para dentro dela. Ele lutou para bloquear sua mente de pensar na coisa que mandou que ele pensasse, mas bebeu profundamente, e continuou tomando, e disse mentalmente, vou tomar tudo se você me obrigar. E então vou saber de qualquer maneira.
E então veio. Imagens. Memórias. A verdade.
Ela o empurrou e soltou-se dele, os olhos ainda brilhantes, reforçados pelo sangue fresco cheio de energia e fúria crua. Quando soltou-se da camisa do homem, ele caiu no chão.
— Certifique-se de que ele fale Eric, uma vez que Crisa e o garoto estejam seguros. Precisamos saber como esses drones são feitos.
— E o resto?
— Tenho tudo que preciso.
— Você tem a minha palavra. — disse Eric. — Ele vai nos contar sobre os drones. E vou obter as informações do contato com o hipnotizador que ele mencionou também. Boa sorte, Briar.
— Obrigado.
Passando a mão na boca, saltou sobre o arbusto e começou a correr. Ela não tinha a intenção de usar sua velocidade máxima sobrenatural. Sabia que não podia esperar fugir dos drones, não quando a rodeavam de todos os lados. Além disso, precisava ter certeza de que a vissem e a seguissem. Seu objetivo era apenas levá-los tão longe dos outros quanto possível para dar-lhes a melhor chance possível de fuga.
Assim colocaria uma centena de metros entre ela e seus companheiros, parando, colocou dois dedos nos lábios e soltou um assobio ensurdecedor.
Chamou a atenção de todos os drones em tono da floresta em direção a ela. E então se virou e correu.
Mesmo enquanto corria pela floresta correndo em alta velocidade, que era ainda um ritmo quase mortal, sentiu algo inchando em seu peito. Uma sensação da qual mal podia acreditar que existisse dentro dela. Era, pensou, a percepção daquilo que vinha negando por tanto tempo, não era nada mais que a verdade. Ok, ela se preocupava com eles — com Crisa, com Matt, com todos aqueles piegas bons moços da gangue de Reaper — mais do que se preocupava com sua própria segurança.
Mais do que qualquer um deles porém, se preocupava com Reaper, e foi em direção a ele que se imaginou correndo, enquanto se movia através da noite.
E mesmo que estivesse enfrentando a morte naquele momento, a sensação da qual estava sendo inundada não era uma ruim. Realmente sentia bem se importando. Como se uma parte muito dormente de seu coração de repente fosse reativada. Iniciada. Eletrocutada à vida.
— Aí vêm eles!
Ilyana ouviu o grito de Topaz e girou para enfrentar a porta da clínica ao mesmo tempo que ela se abriu.
O primeiro homem que apareceu empurrado por trás era um mortal. Surpreendeu Ilyana que pudesse dizer a diferença agora com não mais do que um olhar rápido, mas podia. Tinha passado tempo suficiente ao redor dos mortos-vivos para ter aprendido as diferenças sutis. Este homem estava abatido, exausto, com medo, quando tropeçou para dentro do quarto.
Atrás dele estava Eric Marquand com Crisa nos braços. Ela estava mole e ainda morta, com todas as aparências, mas Ilyana sabia que as aparências poderiam ser enganosas com espécies como Crisa. Todos eles pareciam mortos, quando descansando.
Enquanto o observava, os outros vampiros lotaram a porta. Jack pegou o mortal pelo braço.
— Você é Dwyer? —
— Ele é. — disse Marquand. — Veja que ele seja incapaz de fugir.
— Entendido. — Enquanto Jack se afastava da multidão com Dwyer em um aperto firme, Marquand entregou Crisa para Seth. — Leve-a para uma mesa e consega um pouco de sangue em seu interior. Precisamos operá-la imediatamente.
Seth assentiu, pegando Crisa, virando-se e indo para a sala de tratamento. Vixen, Topázio e Mirabella o seguiram. E então Marquand baixou a cabeça e virou-se ligeiramente, estendendo uma mão.
— Vamos, filho. Está tudo bem agora.
Enquanto ele falava, Eric se afastou.
Matt entrou lentamente, seus olhos enormes enquanto olhava ao redor da sala. Ilyana sugou um suspiro e os olhos dele voaram direto para ela. Então ele correu para ela, atravessando a sala em um piscar de olhos e jogando-se em seus braços.
Abraçou-o com força enquanto as lágrimas rolaram pelo rosto. Ela passou as mãos por seu cabelo mais e mais, e o segurou como se nunca mais fosse soltá-lo. Quando finalmente o fez, foi apenas para se ajoelhar na frente dele e beijar suas bochechas úmidas.
— Meu pai me disse que você estava morta. — disse Matt, arquejando as palavras com a voz rouca. — Mas então descobri que não estava.
— Não, não estou. Estou bem, e agora você está comigo. Tudo vai ficar bem agora, baby, prometo. Nós nunca mais vamos nos separar de novo.
— Se ele nos encontrar...
Ela agarrou-o com mais força.
— Nós temos amigos agora, Matt. Amigos poderosos. — Enquanto dizia isso, levantou a cabeça para encontrar Roxy sorrindo para ela de pé muito perto. Além dela, os outros estavam olhando através de uma porta e Eric estava lá também. — Eles vão nos proteger. — disse Ilyana. — Ele nunca vai tirar você de mim de novo, não com eles nos ajudando.
Matt fungou e franziu a testa, afastando-se o suficiente para olhar em seu rosto.
— Mas eu pensei que você odiava vampiros.
— Eu pensei assim também. — Ela enxugou uma lágrima de seu rosto. — Mas eles o trouxeram de volta para mim. Não posso odiar alguém que me deu algo tão precioso, posso?
— Eles são bons. — disse Matt. — Realmente são. Posso dizer, você sabe.
— Sei que pode. — disse ela.
— Onde está Briar? E Reaper? Por que não estão com vocês?
— Não há muito tempo, então vou explicar como eu trabalho. — Eric entrou na sala de tratamento descarregando os arquivos da bolsa por cima do ombro enquanto fazia. Espalhou-os sobre uma mesa, observando enquanto fazia isto uma porta aberta de um armário, onde Dwyer se sentava no chão, amarrado e amordaçado ao lado de outro homem, um mortal, vestindo apenas uma camiseta e uma boxer.
Eric franziu o cenho.
— Policial. — Jack disse, fechando a porta sobre os dois cativos. — Veio para verificar a denúncia de um vizinho sobre movimentação aqui depois do expediente. O cara tinha muita força de vontade para o controle da mente, mas conseguimos forçá-lo a reportar que tudo estava limpo. Então coloquei seu uniforme para dirigir seu carro para fora daqui, caso o vizinho que chamou estivesse observando.
— Onde está o carro agora? — Eric perguntou.
— Escondido. Seguro. Mas pode apostar que sua ausência não vai passar despercebida muito tempo. Haverá mais deles.
Eric assentiu.
— Dê uma busca nesses arquivos. Preciso de alguma coisa que se pareça com um raio-X ou um diagrama do crânio de Crisa, então poderia ver onde o chip está.
Um dos cativos bateu na porta do armário. Eric ignorou o som e se virou para os armários, abrindo-os e removendo itens e instrumentos, um após o outro.
— Você conseguiu um pouco de sangue para ela?
— Tentei. — Vixen disse suavemente. — Ela não consegue engolir.
Balançando a cabeça, Eric foi até a mesa onde duas unidades de sangue descansavam. Ele pendurou um saco em um poste IV e rapidamente arrancou uma agulha de sua proteção de plástico e a inseriu em uma das veias de Crisa, fixou no lugar e finalmente ligou o longo tubo que escorreu pelo saco. Ele fez alguns ajustes e observou quando o sangue começou a fluir pelo corpo dela.
— Não sabemos ao certo o que aconteceu com Reaper. — disse enquanto trabalhava. — Ele foi para a porta da frente para distrair Gregor, dando a Briar e eu tempo para acessar o laboratório subterrâneo escondido por uma passagem que eu conhecia, mas tenho certeza de que Gregor não. Encontramos Matthias e Crisa lá e os levamos para fora. Porém não ouvimos nada de Reaper. E deveríamos, por isso minha melhor aposta é a de que Gregor o tem.
— Ou o matou. — Jack murmurou.
Mais uma vez um dos cativos bateu na porta do armário. Provavelmente com o pé, uma vez que suas mãos estavam amarradas.
— Cale-se aí dentro! — Jack ordenou. Então, voltou sua atenção para Eric novamente. — E quanto a Briar?
— Aquela. — disse Eric, e balançou a cabeça. — Fomos cercados por drones enquanto fazíamos nosso caminho pela floresta. Não havia nenhuma saída. Então ela saiu por conta própria, levou-os em uma perseguição para nos dar tempo de chegar até o carro e ir embora. — Ele olhou para eles um de cada vez, seu olhar demorando em Ilyana. —Tentei convencê-la a desistir, mas não quis ouvir nada disso. Disse que era mais importante que Matthias e Crisa chegassem em segurança, disse que voltaria de qualquer maneira por Reaper.
Ilyana piscou.
— Briar disse isso?
— Tentei fazer com que ela me levasse com ela, mãe. — disse Matt. — Eu disse que os drones não lhe fariam mal se eu estivesse com ela, mas não me deixou ir. Disse para te dizer... — Ele fungou e fechou os olhos.
Ilyana ajoelhou-se e apertou seus ombros.
— O que ela disse para me dizer, querido?
— Para cuidar bem de mim. E que para um humano, você não é tão ruim.
Ilyana olhou para ele estupefata. E então levantou-se devagar e olhou para Jack.
— Nós temos que tirá-la de lá.
Mais uma vez um dos cativos bateu na porta do armário. Jack fez uma careta, pisoteou até a porta e puxou-a abrindo, encarando Dwyer.
— Que diabos é isso?
Dwyer fez sons abafados por trás de sua mordaça, então Jack ajoelhou-se e puxou para baixo. O homem lambeu os lábios e disse:
— Você não vai encontrar nenhum raio-X nesses arquivos. Mas não precisa deles. O chip está do lado direito, na frente de sua cabeça. Se raspar o cabelo ali vai ver o local marcado por uma cicatriz em forma de X.
Eric veio em direção a ele.
— Vou precisar de uma broca para passar pelo crânio, correto?
— Não. — disse Dwyer. — Nós usamos um pequeno furo para remover um círculo do osso e não o substituímos.
Eric franziu o cenho.
— Puxe-o para fora do armário e desamarre-o. Claramente pode ajudar neste processo. — Ele acenou para o oficial que parecia confuso e aterrorizado. — Senhor, você tem minha garantia de que vai sair daqui tão logo possível, ileso. Seja paciente um pouco mais. — Então olhou para os outros. — É realmente necessário deixar o pobre homem tão desconfortável?
— Verei isto para ele, Eric. — Mirabella disse. — Concordo com você. — Os outros franziram a testa, e ela apertou os lábios. — Realmente, não há simplesmente nenhuma desculpa para a falta de educação.
Quando Jack arrastou Dwyer pra fora do armário e desamarrou-o, Seth falou.
— Precisamos ir atrás de Briar e Reaper. Quantos de nós você precisa aqui para ajudá-lo com Crisa e nossos dois relutantes convidados, Eric?
Eric considerou a questão por um momento.
— Deixe-me Roxy e Ilyana. E Matthias, é claro, precisa ficar aqui por sua própria segurança. Outro vampiro deve ser suficiente para garantir que nossos cativos se mantenham na linha e passar por isto despercebido. — Ele olhou ao redor da sala. — Mirabella, você vai ficar?
— É claro. — ela disse.
— Bom. — Ele olhou para Seth. — Pegue os outros e vão embora. Sabe onde fica a mansão?
— Sim.
— Tenha cuidado. Há cerca de duas dezenas de pessoas....... criaturas que guardam o lugar, e não tenho dúvidas de que Gregor vai estar esperando por você.
— Entendi. Vamos.
— Outra coisa, Seth. Todos conhecem a palavra que lança Reaper em uma raiva assassina descontrolada, certo?
— Rouxinol. — disse Seth.
— A palavra que o devolve ao normal é fuinha.
As sobrancelhas de Seth subiram.
— Como...
— Briar trocou a vida do homem da CIA por isto pouco antes dela sair para colocar a sua própria na reta. — disse Eric. — Achei que todos deveriam saber, só no caso. Usar a palavra é uma opção melhor do que alvejar com dardos o pobre homem, afinal.
— Obrigado. — Seth franziu o cenho. — Embora tenha que admitir, vou sentir falta de ter uma desculpa para atirar no filho da puta com uma arma de vez em quando. — Ele olhou para o relógio na parede da clínica. — Só temos algumas horas até o amanhecer. Movam-se.
— Seth, estacionei em torno do quarteirão para evitar que o carro seja visto daqui. — Eric atirou-lhe as chaves. Então olhou para os instrumentos na bandeja totalmente focado agora na tarefa diante dele: Crisa e remover o chip de seu cérebro.
Seth e os outros marcharam para fora da porta, fechando-a atrás de si. O grupo restante reunido em torno de Crisa que estava envolta em lençóis na mesa de aço inoxidável.
— Roxy. — disse Eric. — Preciso de algo para cortar seu cabelo e uma navalha, uma vez que encontre o local.
Roxy mexeu em algumas gavetas e trouxe os itens necessários para ele. Eric se inclinou sobre a cabeça de Crisa, movendo seu cabelo com os dedos. Quando encontrou o local que estava procurando, virou-se para a máquina de cortar cabelos que Roxy havia localizado que começou a zumbir suavemente.
Então, de repente, o corpo de Crisa começou a tremer e sacudir na mesa. Franzindo a testa, Eric colocou o cortador na mesa e estendeu a mão para ela, exatamente quando o tremor se tornou uma convulsão completa.
— Segure-a para baixo! — ele gritou. — Agora!
Ele não precisava pedir a elas. Roxy e Ilyana já estavam lá segurando as pernas, ombros e cintura de Crisa para impedi-la de tremer e cair da mesa.
Quando o espasmo aliviou, Roxy afastou os cabelos de seus olhos.
— Que diabos foi isso? — ela sussurrou.
— Agonia da morte, imagino. — disse Eric suavemente. — Temos que fazer isso agora. — Ele pegou a máquina de novo quando Matthias aglomerou-se ao lado da mesa e fechou sua mão ao redor da de Crisa.
— Fique bem. — ele disse a ela. — Crisa, você tem que ficar bem.
Os drones arrastaram Briar até a porta da frente da mansão. Eles não precisavam ser ásperos com ela como foram, pensou com raiva. Os bastardos. Nem tinha lutado com eles tão duro assim. Apenas o suficiente para tornar isto convincente. Eles a esmurraram de qualquer jeito, e tinha certeza de que não foi baseado em seu próprio desejo de infligir dor. Tinha certeza de que não fizeram nada baseado em suas próprias preferências. Inferno, nem tinha certeza que tinham preferências. O tratamento dela foi muito mais provável com base nas ordens de seu comandante. Gregor.
A porta da impressionante mansão Marquand abriu antes mesmo que os drones a arrastassem por todo o caminho até ela. Um drone agarrou cada um de seus braços e ela pensou que seus ombros estavam malditamente perto de serem arrancados de seu encaixe. Mas ela conseguiu levantar a cabeça e ver Gregor ali sorrindo.
— Esta foi uma longa jornada. — ele disse a ela.
— Longa demais. — ela respondeu. — Eu diria que é bom vê-lo Gregor, mas seria uma mentira.
— Traga-a para dentro. — Gregor estalou. — Pode depositá-la ali junto à lareira.
Os dois drones a arrastaram para dentro enquanto os outros marchavam atrás deles, como se Briar fosse uma ameaça maior do que, oh, digamos, Átila o Huno, ficaram para trás.
— O resto de vocês, patrulhem a propriedade. — Gregor ordenou. — Seus amigos vão tentar resgatá-la em breve. Não deixem ninguém passar por vocês. Matem quem tentar. — Ele bateu a porta quando os drones se arrastaram para longe, então virou-se lentamente para enfrentar Briar.
Os dois grandes cabeções permaneceram em ambos os lados da cadeira em que a tinham jogado, calmamente esperando novas instruções. Perguntou a si mesma com um pouco de maldade o que aconteceria se Gregor dissesse para irem se foder. Como eram estupidamente obedientes, seria certamente bom para dar umas risadas.
— Ela ficará no chão, não em uma cadeira. — disse Gregor.
Um drone resmungou e estendeu a mão, agarrando-a pelo pescoço, levantando seu corpo, em seguida empurrando-a com força para o chão, onde ficou deitada de bruços.
— Assim é melhor. Agora saiam. Guardem as entradas. Ninguém entra ou sai. Entendido?
Eles murmuraram sua aquiescência e arrastaram-se para longe. Quando a porta se fechou, Gregor trancou-a e voltou-se mais uma vez para enfrentá-la.
Briar se levantou em suas mãos, levantando a cabeça para olhar para ele.
— Você não é o que pensei que fosse. — ela disse.
— Isso é uma mentira, Briar. Você veio a mim pensando que todos os homens não fariam nada mais que usá-la para seu próprio benefício, seja para satisfação sexual, como para um impulso do ego ou como um saco de pancadas para aliviar seu stress. Você nunca realmente pensou que eu seria diferente. Não no fundo. Nunca acreditou em homem nenhum. Pelo menos não desde que seu pai biológico a abandonou.
Ele estava certo, percebeu. Ela não tinha. Pelo menos não até agora. Até Reaper.
— Ele não é diferente, você sabe. Seu heróico Reaper. Oh, você acha que ele é. Posso ver que sim ou não estaria aqui agora. Ele é o motivo pelo qual voltou, não é?
Ela abaixou os olhos. Não queria falar sobre Reaper com este animal.
Gregor atravessou a sala e afundou na cadeira que ela esteve sentada, apenas alguns momentos antes.
— Você foi embora com o meu filho, Matthias. Com sua amiga, a inválida mental. Você fugiu. Mas voltou. Não consigo pensar em nenhum outro motivo. Ou vai tentar me dizer que voltou por mim?
— Onde está Reaper? — ela perguntou.
— Oh, ele está por perto. Vivo, embora tenha certeza de que está bloqueando para impedi-la de perceber. Não quer que você se sacrifique por ele. Posso entender isso. Está sofrendo sob as mesmas noções equivocadas sobre você, que uma vez me alimentou, apesar de tudo.
— E quais poderiam ser essas noções, Gregor? Que eu seria sua escrava para sempre?
Ele deu de ombros.
— Eu salvei sua vida. Trouxe-a para dentro. Dei-lhe a imortalidade. Esperava gratidão. Esperava lealdade.
— Você esperava sexo.
— Bem, sim, isto também. — Ele sorriu lentamente. — Você está apaixonada por ele?
Ela se virou e fechou os olhos.
— O que faria para salvá-lo, eu me pergunto?
Lágrimas queimavam em seus olhos porque sabia o que estava por vir. Sabia o que iria fazer. Mas engoliu em seco e levantou seu olhar para enfrentá-lo.
— Faria qualquer coisa. — ela sussurrou. — Então pare de rodeios e vamos seguir com isso, está bem? Diga-me o que quer, como se eu já não soubesse.
Gregor sorriu lentamente.
— Estou feliz que esteja sendo tão razoável. Porque você me deve, afinal. — Ele levantou-se lentamente da cadeira e ficou sobre ela. — Levante-se, Briar.
Ela o fez, embora tivesse que se agarrar ao braço da cadeira para puxar-se para cima de pé. Mas tentou esconder sua fraqueza. Faria isso com a cabeça erguida e sua dignidade intacta. Ela vendeu seu corpo por pagamento que valeu muito menos a pena, afinal. Poderia fazer isso. Por Reaper.
— Vá lá para cima. — disse Gregor. Seu tom de voz era estável, mas havia um brilho novo e animado começando a aparecer em seus olhos. — Há um banheiro no corredor à direita. Nele vai encontrar roupas limpas, produtos de higiene pessoal, escovas de cabelo. Quero que tome um banho. Escove o cabelo. Ponha as coisas bonitinhas que comprei para você. E um perfume também. E sapatos. Seja rápida. E nem pense em tentar escapar. Se você fizer isso, ele morre.
Não faça isso, Briar.
Sua cabeça se levantou, olhos arregalados quando ouviu a voz de Reaper em sua mente e percebeu que ele estava vivo e nas proximidades, e que estava a par de toda a conversa.
Pelo amor de Deus, não faça isso. Eu prefiro morrer.
Gregor estalou os dedos, chamando sua atenção.
— Tentando entrar em contato com ele? Não adianta, você sabe. Ele está à minha mercê agora e você também. Se quiser que ele viva esta noite, vai fazer exatamente o que eu disser. — Virou seu pulso e olhou para o relógio. — Tem quinze minutos, Briar. Preciso terminar com você antes que seu pequeno exército de benfeitores apareça em uma tentativa inútil de salvá-la, o que nós dois sabemos que é inevitável. Para cima. Agora.
Briar!
Ela fechou sua mente para a voz de Reaper e subiu as escadas. E ainda assim ele rompeu sua resistência. Deveria saber que o faria. A ligação entre eles era mais poderosa do que jamais admitiu.
Ele vai matá-la de qualquer maneira. E a mim também, sabe disso. Basta sair, enquanto tem chance. Estou morto de qualquer forma, e maldição, não posso ter o sangue de outra mulher em minhas mãos. Não o seu, Briar. Especialmente não o seu.
Ela encontrou o banheiro, abriu a porta e olhou para o bustiê preto e a calcinha fio dental correspondente que pendia de um cabide na parede. Meias 7/8 estavam estendidas sobre um cabide também. Um par de sapatos de salto alto de bico aberto permanecia no chão abaixo delas.
Merda, ela pensou. Odeio salto alto.
Ela jurou que nenhum homem jamais iria tomá-la contra sua vontade de novo. Mas isto não era exatamente contra sua vontade. Isto era sua escolha.
Há uma chance de que possa escapar enquanto ele está distraído comigo, Reaper. Ela mandou o pensamento para ele, rezando para que a ouvisse. Você precisa pegar isto. E há algo que precisa saber antes que o faça. Você não matou sua esposa.
Ela entrou no chuveiro e abriu as torneiras, em seguida começou a despir suas roupas. Em um momento entrava debaixo do jato.
Do que está falando? Eu estava lá. Sei que eu...
Você não matou sua esposa. Sei que isto é um fato. Confie em mim o suficiente para acreditar nisso, Reaper. Se não passar por isto, preciso saber que você acredita em mim.
Mas... se não a matei, então quem foi?
Briar fechou os olhos de pé sob a água batendo, ensaboando seu corpo da cabeça aos pés, dor explodindo dentro de seu peito.
Ninguém o fez.
O quê?
Rebecca ainda está viva. Ela nunca morreu. Era tudo uma armação, tanto para estabelecer sua cobertura para a agência quanto para controlá-lo através de sua culpa. Mas ela está viva. Isto é um fato. Mantenha-se firme com esse conhecimento. Use-o para mantê-lo vivo, para fazer o diabo para sair daqui, então poderá encontrá-la e ser feliz novamente.
Reaper caiu no chão de sua cela segurando a cabeça entre as mãos, os olhos fechados. Não podia ser verdade. Deus, isso não podia ser verdade. Rebecca não o teria enganado dessa forma. Não deste jeito, não faria parte de algo que tinha arrancado sua alma e deixado uma ferida sangrenta aberta que jamais cicatrizou.
Ela não poderia ter feito isto.
Ele lembrou-se da noite em que tinha despertado para encontrar seu corpo espancado e quebrado no chão do seu apartamento. Lembrou-se de correr para ver como estava, só para ser interrompido pela porta escancarada, revelando Dwyer com uma equipe de homens. Dwyer o agarrou em um abraço esmagador, dizendo-lhe que tudo daria certo.
— Mas... mas Rebecca...
Um dos homens já estava inclinado sobre ela.
— Ela está morta. — ele disse quando se endireitou.
E Reaper sabia exatamente o que tinha acontecido. Lembrou-se dela falando — que tinham discutido. E disse a palavra, embora não se lembrasse qual era. Ele nunca lembrava.
Ele sabia apenas que seu mundo tinha se dissolvido em uma névoa vermelha e que gritou para que ela corresse antes que assumisse o controle completamente. Ele disse a ela para fugir.
Eles estavam sozinhos no apartamento. Ainda estavam, quando tinha se cansado e desmoronou inconsciente, que era a única maneira que a fúria terminasse sem que alguém usasse a segunda palavra gatilho. E ainda estavam sozinhos quando tinha despertado para ver a destruição do que tinha sido sua casa. Sua vida. Seu amor. Tudo com suas próprias malditas mãos.
Dwyer a tinha levado embora, prometendo tomar conta de tudo. A agência tinha inventado uma cobertura magistral. Um acidente de carro que nunca tinha acontecido. A cremação rápida. Um funeral onde ele foi forçado a dramatizar cônjuge de luto — e que não tinha atuado. Ele havia estado de luto. E no entanto, também fora culpado de assassinar a mulher que amava.
E agora Briar queria que acreditasse que nunca tinha acontecido?
Não cheguei muito perto de seu corpo.
Mas ele saberia, disse a si mesmo. Saberia se tivesse sido uma farsa. Ele poderia senti-la ou sentir a mentira em Dwyer.
O homem é bom. Ele pode bloquear. Pode mentir. E eu não era um vampiro ainda, não na ocasião.
Dwyer não era tão bom, ele disse a si mesmo. Mesmo como um mortal, Reaper possuía instintos excelentes e uma incrível capacidade de detectar um mentiroso.
Como ele sabia quando chegar? Como é que apareceu assim que voltei e a encontrou?
Era uma pergunta que fez a si mesmo antes. Até perguntou a Dwyer. Derrick tinha lhe dito que ele telefonou para o apartamento para falar com Reaper e que Rebecca conseguiu pegar o telefone e gritar por socorro no meio do ataque de seu marido.
Mas isso não fazia muito sentido. Se ela pôde chegar ao telefone, poderia chegar até a porta. E poderia sair. Poderia ficar longe dele. Não podia?
Quais eram as chances dela dizer sua palavra gatilho? Briar perguntou a mesma coisa. Ela disse que não era o tipo de palavra que apareceria em uma conversa casual, não particularmente em uma discussão. O que a teria possuído para dizê-la? A menos que fosse tudo parte de um plano maior?
Viva. Rebecca está viva.
O conhecimento era esmagador. E isso era conhecido agora. Ele acreditava em Briar, porque sabia melhor do poderia imaginar que ela não poderia mentir sobre algo assim. Dado o que estava prestes a fazer, em um último esforço para salvar sua vida, ele não poderia duvidar dela.
Não mais.
Talvez nunca mais.
Ele tinha que dar o fora desse buraco. Tinha que salvá-la.
Dobrando as pernas, parou bem debaixo da abertura do alçapão acima dele, empurrou saltando com toda sua força. E ainda não tendo força suficiente para chegar ao topo. Aterrissou com força, levou um momento para se recuperar e depois tentou de novo, e novamente caiu perto de sua meta.
Na terceira vez, reuniu uma força que não sabia que possuía. Desta vez, chegou ao topo — e sua cabeça bateu contra a clara barreira impenetrável que selava o topo de sua prisão. A luz passou diante dos seus olhos e a dor explodiu atrás deles. Então caiu no chão, desta vez sofrendo, sangrando de um corte em seu crânio e tonto com o golpe.
Quando abriu os olhos, viu ao longe o rosto malicioso de Gregor muito acima dele. O homem estava olhando para baixo para a barreira clara, sorrindo para ele.
— Vou tê-la de todas as maneiras imagináveis, Reaper. E vou fazer você assistir.
— Você vai ter que me deixar sair daqui para fazer isso.
— Não, não realmente. Olhe... — Ele ergueu um pequeno controle remoto e a tela vitrificada ficou opaca, e em seguida uma imagem veio à vida em sua superfície. Como uma tela de televisão, a coisa mostrou-lhe Briar. Ela estava em pé no chuveiro, nua, lavando os cabelos e chorando.
— Tenho a casa equipada com câmeras. — disse Gregor de algum lugar além da tela. — Vou ter certeza que teremos as nossas longas aventuras sexuais diretamente em frente a uma delas, apenas para seu benefício, Reaper. Não se preocupe. Pode me agradecer depois.
Ele deixou a coisa ligada, provavelmente como uma forma de tortura. E foi eficaz. Reaper não conseguia desviar o olhar, embora tentasse, enquanto Briar se enxugava. Notou cada centímetro dela, estremeceu a cada contusão estragando sua pele linda, o rosto dela. Seu pescoço. Tudo isso.
Ela pegou uma peça de roupa da parede e colocou-a. Um bustiê preto com uma calcinha fio dental minúscula que mal a cobria. Então sentou-se no vaso sanitário e puxou as meias, seguida pelos sapatos pontudos de salto alto, que Reaper sabia que ela detestava.
Isso não vai acontecer, Gregor. Prometo a você agora mesmo, se isto me matar, não irá tê-la. Nunca.
Sim, eu vou. Ela me deve. E apesar de toda a sua fúria, Reaper, não há absolutamente nada que possa fazer sobre isso.
Eric puxou o fragmento de metal do crânio Crisa e o deixou cair sobre a bandeja cirúrgica ao lado da cama. Então irrigou a ferida com solução salina, esperando enxaguar as toxinas que ainda não foram absorvidas pelo seu corpo. E finalmente, fechou a pequena ferida em sua cabeça e enrolou-a com força, para fazer um compressivo até o amanhecer, para que não sangrasse.
Depois que isto foi feito, endireitou-se longe da mesa e fechou os olhos.
— Isso é tudo que posso fazer. Não há nenhuma maneira de saber se ela vai se recuperar. Ou se vai ser... a mesma, se e quando acordar.
— Vamos esperar o melhor. — disse Roxy. — Tudo está feito, Eric. Dê a si mesmo um descanso. Ilyana e eu vamos fazer alguma cura Reiki para facilitar as coisas.
Eric assentiu, atravessou a sala e sentou em uma cadeira. Então, olhou para cima para ver Mirabella sentada ao lado do policial. Ela tinha soltado suas mãos e devolvido as roupas dele, prometendo deixá-lo livre, desde que cooperasse. Sua beleza inigualável provavelmente teve efeito, tanto quanto seu charme natural. Ela localizou uma pequena cozinha fora da sala de recepção da clínica e fez para o homem um sanduíche e um bule de café, em seguida sentou-se ao lado dele, fazendo-lhe companhia enquanto ele comia.
O agudo olhar do policial estava em Crisa, em seguida mudou com desconfiança para Eric. Ele não parecia perder coisa alguma, mas não fez nenhuma pergunta. Também não parecia excessivamente ansioso para fugir.
Então pela primeira vez, ele falou diretamente com Eric.
— Não tenho a pretensão de saber o que está acontecendo aqui, mas posso ver que você está tentando salvar a vida daquela garota. O que não entendo é por que apenas não a levou para um hospital?
Eric assentiu.
— Ela não é como você ou Roxy ou Ilyana, ou até mesmo como o menino ali. Ela é como nós. Nós somos... diferentes. Um hospital não saberia disso, e seus esforços para salvá-la poderiam ter acabado por matá-la em vez disso. E embora esteja extremamente cooperativo, isto é tudo que posso realmente contar. E mais do que provavelmente deveria ter feito.
O oficial assentiu, claramente curioso ainda, mas não exigindo mais.
— Eu já deveria ter reportado de novo. — ele disse. — Eles enviarão outro carro para minha última localização conhecida para me checar logo. — Ele olhou para o relógio na parede. — Na verdade, podem muito bem já estar a caminho.
Eric levantou as sobrancelhas, surpreso com a honestidade do homem. Então se virou para os outros.
— Precisamos removê-la. E temos apenas duas horas restantes antes do amanhecer.
— Mas não sabemos dos outros ainda. E se Gregor estiver com todos eles? — Roxy perguntou.
— Olhe. — disse o policial — Se esse cara Gregor é problema, posso conseguir algum tipo de ajuda.
Mirabella sorriu para ele, e Eric ficou bastante surpreso que o homem não derretesse em uma poça aos seus pés.
— Faria isso depois de termos mantido você aqui desta forma? Todo amarrado em um armário?
Ele encontrou seus olhos — e parecia perdido em si, na verdade.
— Eu vi uma criança reencontrar-se sua mãe. Vi a vida de uma mulher ser salva. Vi um monte de pessoas saírem para tentar resgatar seus amigos do tal Gregor. E tenho bons instintos. Meu instinto me diz que vocês são os mocinhos em tudo isso, mesmo que seus métodos estejam um pouco no limite.
— Seu instinto está certo. — Mirabella sustentou seu olhar por mais um momento, depois pegou o prato e copo dele. — Mais café?
Antes que ele pudesse responder, seu rádio estalou.
— Charlie-cinco, Charlie-cinco, reportar.
Ele pegou o microfone que estava mais uma vez preso ao seu peito onde era o seu lugar, e quando Eric começou a protestar, levantou uma mão.
— Está tudo bem. Não vou denunciar vocês.
Em seguida, ele respondeu a chamada.
— Aqui é Charlie-cinco. Está tudo bem. Tive um mau funcionamento do rádio. Não percebi isto até poucos minutos atrás.
— Charlie-cinco, qual é sua localização?
— Estou cruzando a Main Street. Está tudo tranquilo.
— Charlie-cinco, temos um segundo relatório de atividade na clínica. Você pode dar outra olhada?
— Afirmativo. Estou dentro. Charlie-cinco desligando. — Ele olhou para os outros. —Isso deve dar tempo suficiente para vocês sairem daqui.
— Obrigado. — Eric disse.
— Sim. — Mirabella ecoou. — Obrigado... Charlie, não é? — Seu sorriso foi rápido e genuíno.
— É Marcus Jones. Você sabe que parece Mirabella DuFrane? A atriz. Que morreu a anos atrás.
— Eu sei. Mas não sou. — Ela inclinou a cabeça para um lado, olhando-o para que decidisse se deveria ou não acreditar nela. No final, ele deixou isto passar.
— Não vou a lugar nenhum. — ele disse. — Não num futuro próximo, de qualquer maneira. Então, se tornar a voltar a cidade ...
— Oh, Charlie. Isso é tão gentil. Vou me lembrar de você.
Ele sorriu de novo e a deixou chamando-o equivocadamente de Charlie. Talvez ele fosse pensar nela com carinho um dia. Essa Mirabella, Eric pensou com um balançar leve de sua cabeça. Ela poderia encantar as pintas pra fora de um leopardo. Desde que fosse um leopardo macho.
— Vou pegar a van. — disse Roxy. — Precisamos encontrar um abrigo antes do amanhecer e então precisaremos descobrir o que diabos aconteceu com os outros.
— Leve o Charlie aqui com você. — disse Eric com uma piscadela na direção do policial. — Poderá mostrar onde Jack escondeu seu carro, e então ele poderá sair daqui e retomar a sua vida sem entraves.
— Tudo bem. — Roxy estendeu a mão. — Vamos... Charlie.
Ele balançou a cabeça e deu um último olhar de saudade para Mirabella.
Então impulsivamente ela o beijou no rosto.
— Obrigado por sua ajuda.
— Você é bem-vinda. Talvez um dia... possa me visitar e me dizer o que foi tudo isso.
— Talvez eu vá. — ela disse.
Eric suspirou, sabendo que Mirabella nunca daria ao pobre coitado uma chamada, enquanto Roxy e o policial saíam da clínica. Então virou-se para onde Dwyer tinha desmoronado em uma cadeira, exausto.
— Antes de deixar você tirar um merecido cochilo amigo, há algo que prometeu nos contar. Sobre os drones?
Dwyer abaixou a cabeça.
— Não é como se eu te desse uma escolha aqui. Estou sendo agradável, mas não tenho que ser.
Dwyer ainda continuou calado. Eric balançou a cabeça e virou-se para Ilyana.
— É melhor levar o seu filho para outra sala. Mirabella, você pode querer sair também.
— Oh não. — ela disse. — Eu poderia apenas querer ajudar. Não sou toda doçura e luzes, você sabe.
Eric levantou as sobrancelhas em surpresa absoluta.
Ela deu de ombros.
— Não deixe que ninguém nunca diga que não sou uma grande atriz.
— Você ainda é. — ele disse.
Ilyana levou Matt pela mão. Matt olhou para Dwyer, então para Eric.
— Não o machuque Sr. Marquand. Posso dizer o que você quer saber.
Todos os olhares do lugar fixaram-se no menino.
— Vá em frente. — disse Eric. — O que você sabe sobre isso, filho?
— Bem, que todos os estavam chamando pelo nome errado. Embora estivesse muito perto. — Eric franziu o cenho. Matt sorriu um pouco, como se pensasse que era engraçado. —Eles não são drones. São clones.
Dwyer saltou de pé.
— Como diabos você...
— Cale-se, Dwyer. — Mirabella disse e o empurrou pelo peito, então ele pousou firmemente de volta na cadeira.
— A agência vem trabalhando no projeto... há mais de 20 anos. — disse Matt. — Eles conseguiram fazer os primeiros drones, tendo alguns dos cativos Escolhidos e fazendo aquela coisa de lobo — lobotomia neles.
— Lobotomia. — disse sua mãe.
— Sim, isso. E então os transformaram e acabaram com esses muito obedientes e muito fortes Hulks. Então tentaram novamente com pessoas que só nasceram grandes e fortes e acabaram com uns ainda mais fortes. Então encontraram alguns caras que usaram esteroides — realmente grandes caras que ficaram ainda maiores — que também tinha aquela coisa de antígeno, mas provavelmente não sabiam. E eles acabaram com uns caras realmente grandes, muito fortes e realmente estúpidos. E estes foram aqueles que foram clonados. —
Eric agachou-se ao nível dos olhos do menino e apertou seus ombros.
— Como você sabe tudo isso, Matthias? Ouviu isso de seu pai?
— Não. Ele não sabe de nada.
— Então...
— Eric. — Ilyana interrompeu. — Eu acredito nele. E estamos com pouco tempo, para ser honesta, há razões nesta parte da discussão que seria melhor serem reservadas para mais tarde.
Eric olhou para ela. E então isto o atingiu. O menino era psíquico. Poderosamente psíquico, especialmente se conseguiu ler Dwyer, um homem acostumado a bloquear seus pensamentos. Assim, Dwyer provavelmente não estava vigiando tanto ao redor do menino como estaria em torno dos mortos-vivos.
— Tudo bem. — ele disse.
— Eles tem centenas deles, Eric. — disse Matt. — Eles os mantêm em algum tipo de lugar militar. Parece um cruzamento entre uma prisão e um hospital. Eles os têm de todas as idades lá, até mesmo bebês, e continuam a fazer mais, o tempo todo. E os mantêm drogados até que precisem deles. Então os transformam em vampiros e os enviam para qualquer missão que têm para eles. Os pais dos drones são apenas uma experiência. Eles tem planos muito maiores em mente.
— Aposto que tem. — disse Mirabella.
— Você sabe onde fica esta instalação militar? — Eric perguntou.
— Não. — disse Matt. E então olhou para Dwyer. — Mas ele sabe.
Faróis penetraram pelas janelas, quando a van parou do lado de fora. Eric assentiu.
— Vamos. Podemos lidar com o resto disto mais tarde. — Ele pegou Crisa em seus braços, em seguida acenou para Mirabella. — Traga Dwyer. E não o deixe ficar longe de você.
— Oh, não vou. Não se preocupe. — Ela olhou para Dwyer. — Bebês. — ela disse enojada.
— Eles são clones. — Dwyer rebateu, instantaneamente na defensiva.
— São seres humanos. Bastardo. — Ela o empurrou por um braço e o levou com ela até onde o furgão estava esperando.
— Gregor, vou desbloquear a porta para este calabouço em que me mantêm. — Reaper disse. — Não vou impedi-lo de entrar.
— Claro que não vai. — disse Gregor. Ele desligou o circuito fechado de televisão por um momento para que pudesse o olhar para Reaper através do vidro lá embaixo.
— Estou falando sério. Isso é o que você quer, não é? Vir aqui e me drenar? Tirar meu poder? É seu. Venha buscar.
— Você está me enganando.
— Não, prometendo. Eu desisto.
— Por quê? O que tem a ganhar, Reaper? Vou tê-la de qualquer maneira e matá-la quando terminar. Você sabe disso, sabe mesmo se dissesse o contrário. Então o que ganha por dar seu poder para mim?
Reaper ficou logo abaixo da janela para deixar Gregor vê-lo, ver as emoções em seu rosto e senti-las emanando de sua mente e alma.
— Se me matar primeiro, pelo menos não vou ter que vê-lo... deflorá-la. Não posso passar por isso, Gregor. Mostre um pouco de misericórdia.
Gregor abriu a boca e fechou novamente.
— Isto seria melhor, devastá-la enquanto seu sangue está batendo nas minhas veias. Eu estaria em alta potência... Tudo seria intensificado.
Reaper tentou bloquear a imagem de Gregor forçando Briar a suportar suas atenções, fora de sua mente, mas sem muito sucesso.
E então Gregor disse:
— Tudo bem. Estou descendo. Se não me deixar entrar instantaneamente, Reaper, vou voltar lá para cima e ter certeza de machucá-la ainda mais do que já tinha planejado. Você entendeu?
— Sim. Entendi. Venha para baixo. Estou esperando.
Reaper focou-se na porta e mentalmente garantiu que não estivesse mais bloqueando sua abertura, nem mesmo um pouco. Levou um esforço supremo manter a maldita porta fechada antes. E ainda não tinha certeza que poderia fazer isto funcionar. Agora estava certo que sua força estava completamente removida dela. Deixando Gregor entrar. Lutaria por sua vida e por Briar, e talvez perdesse. Mas tinha que tentar.
Seth puxou o Mustang para o lado da estrada a uns quatrocentos metros da antiga mansão Marquand, e desligou o motor e os faróis.
— Entraremos em direções distintas. — disse Jack. —A única maneira de fazer isso é lenta e pacientemente. Temos que encontrar os drones e tirá-los um por um.
— Enquanto Reaper e Briar estão lá passando Deus sabe o que? — Seth perguntou. —De jeito nenhum. Vai demorar muito. Digo para apenas atacarmos o lugar, tirar o máximo que pudermos do caminho e entrar rápido.
— Se fizermos isso, vamos ficar presos na casa, assim como Reaper e Briar estão. — Topaz disse suavemente. — Não seremos de qualquer ajuda para eles se formos capturados também Seth.
— Mas eles podem estar mortos pelo tempo que levarmos para chegar lá! — Seth cerrou os punhos e olhou pra fora da janela.
— Eles já podem estar mortos, Seth. — Jack disse. — Precisamos remover os drones. Quanto mais, melhor. Podemos trabalhar rapidamente, mas com cuidado. Temos que tentar não perder ninguém.
— Receio que ele esteja certo, Seth. — Vixen disse suavemente. — Temos que encontrá-los e então poderemos desativar ou... ou matá-los. E cada um que nós nos livrarmos, estaremos muito mais perto de salvar Reaper e Briar.
Seth fechou os olhos.
— Sei que faz mais sentido, eu apenas... droga, Reaper salvou minha vida.
— Ele salvou nossas vidas. — disse Jack. — A minha inclusive. Acredite em mim, quero recompensá-lo por isso tanto quanto você. Mas temos que manter a cabeça fria sobre isso.
— E vamos fazer um tempo melhor se nos separarmos. — Topaz acrescentou.
— Oh, não. De jeito nenhum, não vou concordar com isso. — Seth apertou a mão de Vixen e olhou em seus olhos. — Iremos em pares. Serei condenado se vou correr o risco de perdê-la também.
— Sobre isto estamos de acordo. — disse Jack, mas estava olhando para Topaz, não para Seth quando disse isso.
— Sim. — Topaz acrescentou. — Não vou deixar Jack arriscar seu pescoço sem estar por perto para salvá-lo.
Ele fez uma cara feia para ela.
— O que, você acha que será quem vai salvar meu lindo pescoço?
— Vamos torcer para que nenhum de nossos pescoços precisem ser salvos. — Jack a beijou rapidamente, em seguida abriu a porta do carro para sair. Os outros seguiram seu exemplo. Jack e Topaz armados até os dentes se moveram para o oeste do terreno da mansão, enquanto Seth e Vixen para leste. Eles bloquearam seus pensamentos, guardando a essência de si para manter os drones de sentir suas presenças, e começaram a se mover para a floresta em silêncio, prontos e observando o inimigo.
Briar desceu as escadas para encontrar-se sozinha na sala de estar. Gregor foi embora. Imediatamente chamou por Reaper.
Onde você está?
Distraindo Gregor com uma oferta que ele não poderia recusar. Caia fora Briar, antes que ele volte.
Não vou deixar você. Diga-me onde está.
Mesmo enquanto enviava o pensamento, começou a procurar pela sala. Não tinha certeza para quê. Itens que pudesse usar como armas? Uma pista de onde Jack e Gregor poderiam estar? A saída?
Ela foi até a porta trancada e olhou para fora. Um drone estava de plantão um pouco além. Droga. Deixou a fechadura da porta trancada para impedi-los de entrarem, em seguida virou-se para escanear o resto da sala com mais cuidado. Então viu. Uma janela vitrificada no chão com a escuridão acima dela.
O que é isso? O que é este painel de vidro no chão?
Esqueça isto e dê o fora, Briar.
Ela correu para o painel e olhou por ele. No início não viu nada, e então seus olhos se adaptaram. Uma cela muito abaixo. Um quarto escuro de concreto que deveria ser ainda abaixo do porão. Enquanto observava, Reaper apareceu andando para trás com os olhos em alguma coisa na frente dele.
E então Gregor entrou à vista.
— Bem. — ele disse parecendo surpreso. — Você manteve sua palavra, e realmente removeu o poder que tinha exercido sobre a porta para me impedir de chegar até você.
Briar abençoou seus sentidos aguçados de vampiro que permitiram que ouvisse a conversa dos homens, mesmo que apenas de leve.
— Eu disse que faria. — Reaper respondeu.
Posso vê-lo! E não vou sair, então me diga alguma coisa, droga. Qualquer coisa que possa ajudá-lo!
Gregor pulou em Reaper, proferindo um golpe esmagador em sua mandíbula que o mandou voando para trás. Mas apesar de Reaper bater na parede, recusou-se a cair. Ele impulsionou e foi atrás de Gregor, descarregando um soco no lado de sua cabeça, em seguida outro em seu plexo solar. Gregor dobrou-se, segurando o local.
— Eu sabia que você não manteria sua palavra. Felizmente vim preparado. — Quando Gregor endireitou-se novamente, ele tinha uma arma de algum tipo em suas mãos.
Ele apontou-a para Reaper e Briar pôde sentir a descarga do choque poderoso. Isto fez o corpo de Reaper ficar rígido de dor.
Ele caiu no chão tremendo.
Saia Briar, ele pensou para ela. Por favor...
Não. Vou encontrar uma maneira de descer até aí.
Gregor inclinou-se sobre ele e agarrou a frente de sua camisa.
Há um controle remoto. Acho que ele o mantém sobre a lareira.
Briar precipitou para o dispositivo, localizando-o e começou a apertar os botões. Ela ficou chocada quando um deles fez o painel de vidro no chão deslizar lentamente se abrindo.
Curvado sobre Reaper, Gregor olhou para cima, assustado com o som da abertura do painel, mas pouco antes que pudesse processar o que estava acontecendo, Briar guardou o controle remoto na frente da minúscula roupa que usava e pulou para o alçapão com salto alto e tudo.
Ela caiu firme em Gregor, um impacto de corpo inteiro que o levou ao chão.
— Estou farta de você, seu desgraçado. — ela resmungou e então o chutou no queixo. Sua cabeça estalou para trás. Ele passou os braços por baixo dele, fugindo para trás como um caranguejo, em seguida levantou a arma de choque que ainda segurava em uma das mãos.
Ela chutou novamente e a enviou voando. Em seguida, mais uma vez o impacto se conectou com sua mandíbula desta vez. E então abaixou o sapato de salto alto em sua garganta, enquanto ele se debatia embaixo dela.
— Você merece isso. Na verdade, merece um inferno de muito mais, mas quero que saiba que vou gostar disso, Gregor. Estou esperando muito tempo para matá-lo, seu desgraçado. — Ela levantou o pé, determinada a bater nele novamente.
Mas ele agarrou seu tornozelo, lançando-a fora de seus pés. Ela caiu de costas com um impacto que a surpreendeu. Gregor pulou enquanto Reaper ficava de pé. Os dois homens ficaram frente a frente. Então rapidamente Gregor olhou para cima, sabendo que estava em desvantagem numérica. Com a mesma rapidez, Briar leu sua intenção em seus olhos, arrancou o controle remoto de seu peito com o objeto para cima e apertou o botão.
Assim, quando Gregor pulou com cada grama de poder que possuía, a divisória clara deslizou fechando. Ele bateu nela e caiu de volta para baixo, caindo duro.
Reaper foi para ele, mas Briar agarrou seu ombro, empurrou-o de lado, correu para frente e depois abaixou o salto pontiagudo o mais forte que pôde. Isto espetou direto na garganta de Gregor.
— Como disse. — ela disse a ele, olhando para sua boca aberta e olhos irritados com uma sensação de poder como nada que já havia sentido antes correr por ela. — Estou farta de você. — Ela deu um toque antes de empurrar o calcanhar livre.
Ele ficou ali, contorcendo-se e sangrando. Agarrando em seu pescoço em um esforço de parar o fluxo, mas não adiantou. Quando o sangue espalhou pelo chão de concreto em volta dela, Briar pisou levemente para trás, fora do seu caminho.
E então, enquanto a luz se apagava dos olhos de Gregor pela última vez para sempre, Briar virou-se para Reaper. Ele olhou para ela, e ela para ele. E quando abriu a boca para falar, ela colocou o dedo sobre seus lábios e balançou a cabeça.
— Você está prestes a cutucar, não é? Vai dizer que sabia o tempo todo que eu era capaz de cuidar de alguém, além de mim mesma. Vai dizer que tenho provado isto, arriscando meu rabo para salvar Crisa e depois o garoto, e agora você. Vai dizer que estava certo o tempo todo. Então vai me dizer que você tem que ir. Para encontrar a Miss Sunnybrook Farm, que se transformou em nada tão ensolarado afinal. E isso tem que terminar antes que você possa...
Ele apertou sua mão e a moveu para longe de sua boca.
— Você não sabe nada sobre o que vou dizer, Briar.
Em seguida, ele a puxou para perto e a beijou. E ela jurou que seu coração derreteu bem dentro do seu peito então, porque era o que parecia. Ele se alimentou de sua boca como se estivesse morrendo de fome pelo gosto dela, e a abraçou tão perto dele que cada curva e linha de seu corpo fundiu-se ao dele.
Quando finalmente levantou a cabeça, ele disse:
— Vou dizer que estou realmente feliz que acabou tendo um coração aí dentro afinal, porque seria um inferno se estivesse apaixonado por uma mulher que não tem.
Ela piscou quase tonta, completamente confusa.
— Apaixonado?
— Eu te amo. Você, louca, vingativa, implacável, teimosa, fodona, eu te amo até o inferno e de volta.
Os lábios dela se alargaram em um sorriso. Um sorriso enorme, e depois uma risada borbulhou de algum lugar profundo dentro dela. Quando conseguiu finalmente falar, ela disse.
— Você, deprimido, solitário, máquina de matar, eu também te amo. Pelo menos, acho que é este sentimento que está malditamente próximo de dividir meu peito em dois tentando sair.
— Sim, acho que é isto.
— Então vamos sair daqui?
— Boa ideia. Bonito traje, a propósito.
— Obrigado. Foi um presente. Estou pensando em mantê-lo, na verdade. — Ela esticou a perna, esticou seu dedo do pé e olhou para seu pé, pensativa. — Estou começando particularmente a gostar desses sapatos.
— Eu também.
Ela apontou o controle remoto para o vidro acima deles, prestes a pressionar o botão para abri-lo, para que pudessem saltar para a liberdade.
— Briar. — Reaper disse. — Querida, a porta da cela está desbloqueada.
Ela encontrou seus olhos, adorou a brincadeira brilhando neles.
— Oh. — Ela uniu os braços com os dele e saiu pela porta, em seguida subiu a escada que levava ao porão.
Quando emergiram, Reaper olhou em volta e viu o laboratório e a maca vazia.
— Como Crisa está passando? — ele perguntou, seu tom de voz já não brincalhão.
— Eu não sei. Passei o inferno para tirá-la daqui junto com Eric e o garoto. Dwyer, também, uma vez que tirei a informação que precisava dele.
— Sobre minha ex-esposa?
— É. E sobre suas palavras gatilho. A segunda. Sabemos agora. Sabemos também o nome do idiota que programou você para a CIA, e uma vez que o encontrarmos, ele pode muito bem desfazer o que fez com sua cabeça ou sofrer as consequências.
— Inferno. Você realmente é útil para se ter por perto, sabe disso, não é?
Eles localizaram as escadas e dirigiram-se até elas, emergindo na parte principal da casa quando a porta da frente se abriu, e quatro de seus companheiros heroicos estouraram, parecendo como se estivessem à espera de enfrentar um bando de ursos raivosos.
Eles olharam ao redor da sala, armas em punho, avistando Reaper e Briar, e depois relaxando visivelmente, embora mantivessem suas armas tranquilizantes apontadas.
— Onde está Gregor? — Jack exigiu.
— Morto. — Reaper disse. — Ele teve um doloroso encontro com um salto agulha.
Jack olhou para os sapatos que Briar estava usando, então deixou seu olhar deslizar lentamente para cima até que encontrou seus olhos, as sobrancelhas levantadas.
— Como está Crisa? — ela perguntou.
— Uh... eles estavam operando sua cabeça quando saímos. Eric acabou de nos contatar mentalmente para dizer que tinha o chip, mas ela não recuperou a consciência. Nós ainda não sabemos nada com certeza.
— Provavelmente não será até o anoitecer. — disse Vixen. — Talvez o sono do dia irá acelerar a cura.
— Nós esperamos. — Seth guardou sua arma no bolso.
— Você não vai precisar disso para os drones? — Reaper perguntou.
— Que drones? — Seth deu uma piscadela. — Vamos, a luz do dia não está muito longe. Eric nos encontrou um lugar para nos escondermos durante o dia.
— Graças a Deus por isso. — disse Briar. — Estou acabada.
— Depois de você. — Jack disse, segurando a porta aberta. E quando ela e Reaper passaram, ele acrescentou: — Amei a roupa, querida.
Ela deu de ombros.
— Ela teve serventia.
Reaper enviou uma cara feia por cima do seu ombro, e Jack rapidamente levantou ambas as mãos.
— Não me mate, ok? Estava apenas brincando com ela. — Então olhou para Topaz. —Você sabe disso, não é?
Ela torceu o lóbulo de sua orelha, enquanto beijava seu rosto.
— Claro que sei. Só não deixe que isso aconteça novamente.
Reaper e Briar saíram e os outros os seguiram, então assumiu a liderança. Briar observou-os ir. Seth com o braço ao redor dos ombros de Vixen, abraçando-a de lado enquanto caminhavam no mesmo passo. Jack e Topaz de braços dados em volta da cintura um do outro, cada parte deles tocando-se enquanto se moviam.
E então, como uma resposta a uma oração que nunca teve conhecimento de proferir, Reaper colocou seu braço ao redor de seus ombros. Sorrindo, ela decidiu que gostava e deslizou seu próprio braço em volta da cintura dele, e andou muito perto ao seu lado.
— É bom ter alguém todo seu, não é? — ele perguntou.
— Eu poderia me acostumar com isso. — ela disse. Na verdade mal podia esperar para começar a fazer esse pequeno projeto. Ela levantou a cabeça. — Você fez isso, você sabe.
— Fiz o que?
Ela apenas sorriu misteriosamente, inclinou-se contra ele e continuou andando.
Eles passaram a noite em um celeiro vazio na periferia da cidade. Era o único que Eric conhecia quando viveu em Byram anos atrás, e expressou alívio ao vê-lo ainda de pé.
Reaper passou a noite com Briar nos braços e pensou que nunca tinha sentido uma sensação tão completa. Ou de amor.
Eles tinham algemado o pulso direito de Dwyer a uma viga, deixando comida e água por perto apenas por ser apropriado. Não tinham terminado com ele ainda, e não se atreveram a deixá-lo ir sabendo que não podiam confiar que não voltaria com reforços para matar todos eles. Ou levá-los de volta. Ninguém tinha muita certeza de qual lado o homem estava em tudo isso.
Quando o sol se pôs, eles se agitaram acordando, um por um. E um a um se reuniram em torno de onde estava Crisa, ainda imóvel.
Dwyer, amarrado a uma viga como um cachorro na coleira, colocou um pedaço de papel na mão de Reaper.
— O que é isso? — Reaper perguntou.
— O nome e último endereço conhecido do psiquiatra que mexeu com sua mente. Ele sempre disse que poderia reverter o processo, a programação.
— Como escolher para que ele faça isto é assunto seu. Dei isso para Eric e agora estou dando a você. — Ele olhou para os outros ao seu redor. — E agora que mantive minha promessa, realmente apreciaria se me deixar ir.
Reaper assentiu.
— Gostaria de saber mais uma coisa antes de fazer isto.
Dwyer suspirou.
— Disse aos outros, eu não sei o local da instalação em que a clonagem ocorre. Sabia antes. Mas se mudaram. Eles o removem regularmente, e ninguém sabe onde estará daqui a um ano, é informado quando está próximo. E essa é a verdade.
Reaper olhou para os outros.
— A clonagem?
— Vamos abastecê-lo mais tarde. — Eric disse.
Reaper assentiu e voltou sua atenção para Dwyer.
— Ele quer saber sobre sua esposa. — disse Briar. — Sobre Rebecca. Eu contei como ela não estava realmente morta. Como isto foi uma armação para estabelecer seu disfarce e carregá-lo de culpa suficiente para mantê-lo dançando conforme sua música pelos próximos anos. Ele provavelmente quer saber onde ela está agora.
Reaper olhou para ela. Estava em pé perto dele, tão perto, mas sem tocar. Ele viu o medo em seus belos olhos escuros e entendeu.
— Eu particularmente não me importo onde ela está agora. — ele disse suavemente. — Ela me fez pensar que a havia assassinado. O que queria saber era se trabalhava para você o tempo todo. Se nosso casamento foi apenas o primeiro passo no plano de me recrutar.
Dwyer assentiu.
— Foi. Sabíamos que era um dos escolhidos. Sabíamos que você tinha uma linhagem poderosa e poucas conexões mortais. Queríamos um vampiro que pudéssemos programar e treinar como assassino. Ela já trabalhava para nós, por isso assumiu o trabalho de trazê-lo e nos ajudou a mantê-lo sob controle.
Reaper assentiu lentamente.
— Agora tudo faz sentido. — ele disse. Então virou-se para os outros. — Há mais alguma coisa que precisamos dele?
Eric balançou a cabeça. Os outros concordaram, então Reaper liberou Dwyer e acenou com o braço em direção à porta do celeiro.
— Você está livre para ir. E ah, só para que saiba, Gregor está morto e também todos os drones que estavam no local.
Dwyer segurou o olhar de Reaper por um longo momento. Por fim, abaixou a cabeça.
— Sinto muito. Sei que não vale muito, mas você se tornou mais do que um projeto para mim ao longo do tempo. Passei muitas horas lamentando o que foi feito a você. — Ele engoliu em seco, em seguida começou de novo.
— Não estou pedindo seu perdão. Eu apenas... precisava dizer que sinto muito.
Reaper assentiu.
— Adeus, Dwyer.
Balançando a cabeça, Derrick Dwyer se virou e caminhou lentamente para fora do celeiro.
Briar aproximou-se mais perto de Reaper e deslizou o braço em volta de sua cintura, o que lhe deu uma sensação imediata de conforto e alívio.
— Bri? Briar? Você está aqui?
A voz suave de Crisa fez com os dois se virassem, então Briar soltou-se de Reaper e correu para frente, caindo de joelhos no feno onde Crisa estava deitada. Seus olhos estavam abertos, Reaper viu quando se agachou ao lado de sua mulher. Crisa estava piscando, focando todos e sorrindo um pouco torto.
— Isso é engraçado. — ela disse. — Minha cabeça não dói mais.
Em torno dela, cada rosto dividido em um sorriso aliviado. E então Matt chegou, passou por todos eles e abraçou-a com força, enquanto ela lutava para se sentar. Ela o abraçou de volta e passou a mão por seu cabelo.
— Ei, garoto. Eu disse que ficaríamos todos bem. — E então olhou acima dele, encontrando com os olhos de Ilyana. — Eu realmente amo seu filho. — ela disse.
Os outros se reuniram em torno de Crisa, ajudando-a a ficar de pé, todos falando ao mesmo tempo. Enquanto todos faziam isto, Reaper puxou Briar apenas ligeiramente afastada do resto, dobrou-a em seus braços e a abraçou.
Ela descansou a cabeça em seu peito.
— O que você quis dizer antes? — ele perguntou. — Assim que estávamos deixando a propriedade de Marquand, você disse que fiz tudo isso?
Ela aconchegou-se ainda mais perto, segurou-o ainda mais apertado.
— Você me arrastou esperneando e gritando para sua pequena tropa de escoteiros. Manteve-me ao redor deste bando até que eles começaram a ficar sob a minha pele. Tratou-me como se eu fosse... como se eu importasse. Como se você se importasse. E não mentiu, não me usou, nenhuma vez. Fui forçada a assisti-lo arriscar seu pescoço por esta equipe de renegados até que comecei a me importar também. Você me fez compartilhar sangue com Crisa ou vê-la morrer, e então adorei a maluquinha.
Ela fechou os olhos e engoliu em seco.
— E então eu amei você. É como se me mostrasse como ser... real. Mais do que apenas a casca de uma coisa viva que eu fui antes. E isso é bom, Reaper. É uma sensação muito, muito boa.
Ela fungou e abaixou a cabeça.
— Então por que está chorando? — ele perguntou.
Ela deu de ombros.
— Você me trouxe de volta à vida e não sei como te agradecer por isso. Estava morta por dentro, está entendendo? Morta por dentro. E você chegou e apenas...
— É mútuo. Sabe disso, não é? Eu não estava longe de estar morto por dentro.
Ela levantou a cabeça. Ele abaixou a sua. E pouco antes de seus lábios se encontrarem, ele disse:
— Mas se insistir em ficar por aqui e tentar retribuir, tenho que avisá-la, isto vai levar um longo, longo tempo.
— Não tem problema. Porque pretendo ficar por um longo, longo tempo. Assim isto funciona perfeitamente.
— Eu te amo, Briar.
Ela piscou, as lágrimas escorrendo.
— Sabe, um monte de homens disseram isto pra mim. Mas você é o primeiro que não está mentindo. Você quer dizer isso. E sei que não tenho dúvida, apesar de quantas vezes isto foi falso. E o amo por isso, tanto quanto por qualquer outra coisa.
E então seus lábios se encontraram e Reaper pode sentir o que ela sentia naquele momento. Briar sentia a verdadeira e pura felicidade brilhando dentro dela pela primeira vez na sua vida.
Era um brilho que Reaper pretendia nutrir e manter aceso durante o tempo que vivesse.
[1] Drones são seres sem vontade própria, como escravos, ou mesmo zumbis.
[2] - Sonybrook Farm -Rebecca de Sunnybrook Farm é um clássico americano de 1903, uma novela infantil escrita por Kate Douglas Wiggin que conta a história de Rebecca Rowena Randall.
[3] - Fazendo uma comparação ao personagem Hellboy
Maggie Shayne
O melhor da literatura para todos os gostos e idades