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Series & Trilogias Literarias
Irlanda, 2003.
Noah, Liam e Konan desceram a montanha em uma corrida desenfreada. Em forma de lobos, eles eram muito rápidos. Os gritos e a confusão que podiam ouvir e visualizar acontecendo na sua vila eram angustiantes.
Seus amigos e familiares corriam de um lado para o outro tentando escapar dos dardos tranquilizantes que o imenso grupo de mercenários atirava.
De um lado, os lobos atacavam e mutilavam os humanos; de outro, um por um dos lobos eram abatidos.
Tudo era um pandemônio.
Noah saltou sobre um dos mercenários, lhe rasgando a garganta e rosnou alto em fúria, então em meio aos gritos e uivos, ouviu um uivo de socorro que lhe atordoou. Ele visualizou Laila, em forma de loba, correndo para o penhasco, por isso Noah mudou sua direção e correu até ela.
Atrás dela havia quatro homens em um jipe, que atiravam com um rifle contendo dardos de tranquilizantes. Noah uivou de raiva e avançou, pois precisava ajudar sua companheira. Iria matar aqueles humanos que ousaram invadir sua vila. Como tinham descoberto sobre eles? Agora, os humanos os estavam caçando e eram muitos.
Um dos dardos tranquilizantes atingiu Laila e ela cambaleou, mas continuou correndo. Ela tentou pular as pedras, quando mais dois dardos a atingiram.
Por estar sobre pedras soltas e atordoada pelo tranquilizante, Laila escorregou sem conseguir firmar as patas e caiu no penhasco; embaixo, as pedras eram afiadas e Noah somente ouviu um choramingo e o silêncio.
Ele grunhiu ferozmente e atacou os humanos, que haviam descido do jipe para olhar o penhasco.
Noah pulou e rasgou a garganta de um deles, depois saltou sobre o outro; dois deles atiraram vários dardos, que o atingiram no corpo. Ele ainda lutou, ferindo-os quanto pôde, mas o sedativo era tão forte que era impossível continuar lutando; então dois homens chegaram com mais dardos.
Quase inconsciente, Noah rastejou na beirada do penhasco e a última coisa que viu antes de desmaiar, foi Laila caída sobre as pedras, nua e com o pescoço quebrado. O sangue saía de sua boca e estava com os olhos abertos e aterrorizados.
A alma de Noah morreu. Sua companheira e o filho que ela esperava no ventre estavam mortos.
Ele nunca amaria novamente.
Isso era o que ele pensava, até aparecer... a herdeira.
Capítulo 1
Oldemburgo, Alemanha, 2013.
Ester olhou boquiaberta para a mansão. Nunca imaginaria que, nos arredores de Oldemburgo, existia uma área tão arborizada e com uma propriedade tão rica escondida no meio dela.
A casa parecia muito com um castelo medieval, construída em pedra. Na frente havia uma gigantesca fonte redonda de pedra com uma estátua de uma mulher, que parecia uma viking, ou algo semelhante. Realmente parecia muito antiga, e ela sentiu um frio percorrer sua espinha.
Ela olhou ao redor e não viu nenhum movimento, então respirou fundo e procurou a campainha, mas não encontrou. Porém, franziu o cenho quando percebeu que teria que usar uma aldrava com a cara esculpida de um lobo.
Já sabiam que ela estava ali, pois teve que falar em um interfone que tinha uma câmera, e depois alguém abriu o enorme portão eletrônico. Ela deu de ombros e bateu com a aldrava. Aquelas pessoas não conheciam campainha?
Logo, uma senhora um pouco rechonchuda e com cabelos grisalhos abriu a porta.
— Olá, eu sou a Dra. Ester Klaus, a veterinária. Eu estou aqui porque recebi uma chamada na minha clínica de que havia um animal ferido.
— Ah sim, venha por aqui — disse a senhora movimentando a mão. — Eu me chamo Dada.
— Prazer em conhecê-la, Dada.
Ester seguiu a senhora que andava apressada e subiram umas escadas enormes.
— Você é mais bonita pessoalmente — disse e sorriu para Ester.
— Desculpe, eu não entendi.
A senhora resmungou algo que Ester não entendeu. Ia perguntar o que ela havia dito, mas, então, a senhora abriu a porta de um quarto.
— Vamos, entre. — Ester entrou no quarto e paralisou. — Veja, ele feriu a pata. Pelo que vimos, ela está quebrada.
Ester ficou boquiaberta quando olhou para uma cama de casal gigantesca com dossel, e avistou um enorme lobo negro deitado sobre ela, com a cabeça sobre o travesseiro.
Ester sentiu o medo lhe atravessar o corpo e ficou parada como uma estátua, e seus dedos doeram apertando a alça de sua maleta médica.
— Meu Deus, isso é um... lobo? — Ester sussurrou.
— Sim. Não se preocupe, ele não vai atacá-la. É mansinho, não é, Luca? — a senhora disse acariciando a pelagem negra e com algumas mechas brancas. Era muito brilhante, ele virou a cabeça e choramingou.
— Como vocês têm um lobo domesticado? Deitado numa cama? — Ester perguntou extasiada.
Ela sempre fora apaixonada por lobos, tinha diversas fotos em seu computador e gostava de ler sobre eles, sua vida selvagem, onde viviam, seus costumes e, claro, adorava ver filmes de lobisomens. Inclusive, seu animal de estimação era um Husky Siberiano por ser muito parecido a um lobo. Seu nome era Thor, um adorável e fiel companheiro, e ela o amava profundamente.
— Ele foi criado pelo Dr. Klaus desde novo, é um filhote mansinho e adorável. Ele aventurou-se pelas pedras da encosta. Mesmo sabendo que seria perigoso, ignorou todas as advertências, caiu e quebrou a pata. Luca tem muita energia e curiosidade. Gosta de brincar e, infelizmente, ele se acidentou. O Dr. Klaus cuidava pessoalmente deles quando se feriam ou algo estava errado, mas, agora que ele morreu, precisamos de uma médica, quer dizer, uma veterinária, bem ou algo do tipo... Você vai ser mais útil do que imaginamos.
Ester tentou prestar atenção em tudo o que a senhora disse, mas se fixou em algo.
— Ele é um filhote? Deste tamanho? Creio que a senhora deve estar enganada. É impossível um filhote ser deste tamanho. Ele é até maior do que um adulto deveria ser! E o que disse? O dono desta casa se chamava Dr. Klaus?
Ester olhou estranhamente para a senhora, não entendendo exatamente o que a mulher falava. Devia ser meio louca, pois não falava coisa com coisa.
A cada segundo, Ester estava mais e mais atordoada. Parecia que havia entrado em um mundo paralelo.
— Sim, senhorita, depois isso será explicado. Agora, você precisa cuidar da pata de Luca, porque ele está com muita dor.
— O lobo chama-se Luca? Que tipo de nome é este para um lobo?
— Ficaria espantada se eu lhe dissesse.
Ester se aproximou do lobo e ele choramingou novamente. Ela passou levemente a mão em sua pelagem e viu que era muito macia. Ester olhou bem para ele e ficou boquiaberta com a cor de seus olhos. Era um âmbar brilhante, cor de ouro.
— Ele é enorme, nunca imaginei que um lobo poderia ser deste tamanho.
— Todos eles são e, acredite, são bem maiores. Como eu disse, Luca é um pequeno moço.
Ester olhou para ela espantada.
— Há mais dele?
— Sim. Por favor, moça, a perna dele, quer dizer, a pata. Ele está com dor. Dei medicamento para amenizar a dor, mas ele não fez efeito, o metabolismo dele precisa de algo muito forte, e eu não sei mexer nestas coisas. Eles toleram bem a dor, mas Luca é só um menino. Quem cuidava disso era o doutor, mas agora que se foi, Erick disse que era hora de chamá-la.
— Ok... — Ela olhou para o lobo, meio perdida. — Olá, bonito. Vou cuidar de você, está bem? Fique tranquilo que não vou machucá-lo. Vou aplicar uma injeção de sedativo, que vai fazer sua dor passar rapidamente e, então, vou ver sua pata.
Ela abriu sua maleta e preparou uma seringa.
— Este é o sedativo mais rápido e eficiente para sua dor. Logo, ele ficará bem.
Após alguns minutos o lobo parou de choramingar e adormeceu.
— Eu deveria levá-lo à clínica, precisaria tirar raio-X para ver a gravidade da lesão.
— Raio-X? Acho que tem uma máquina disso lá embaixo, onde o doutor tinha sua clínica. Pedirei ao Erick que o busque. Venha comigo e lhe mostrarei.
Ester a seguiu e desceram as escadas. A senhora meteu a cabeça dentro de uma sala e falou alguma coisa para que alguém levasse Luca ao laboratório. Logo desceram uma escada para outro andar.
Ester ficou boquiaberta com o lugar, era basicamente uma clínica médica, que tinha vários aparelhos muito sofisticados.
— Veja, moça, acho que é esta máquina aqui, não? — disse mostrando um imenso aparelho sobre uma maca.
— Oh Deus, sim é esta. Quem me dera ter uma dessas na minha clínica.
— Poderá usufruir muito dela agora, quer dizer, espero que não, pois isso significaria mais patas quebradas. — A senhora riu. — Vá, vá, eu vou para a cozinha preparar um chá fresquinho para a senhorita.
Ester ia dizer que não precisava, mas a senhora saiu da sala, então foi mexer na máquina de raios-X, que para sua sorte era uma parecida com a que tinha na sua clínica, só que maior e mais sofisticada. O raio-X era automaticamente mostrado em um painel digital, dispensando as chapas e painéis luminosos. Ela estava entretida com sua análise, porém, quando ouviu um barulho vindo da porta, se virou.
Ela ficou atordoada e deu um passo atrás, batendo em uma mesinha que estava encostada na parede, quando um homem enorme, usando um rabo de cavalo e óculos escuros, entrou na sala, carregando Luca desacordado nos braços.
Ele o deitou suavemente na mesa, passou a mão em sua cabeça e ficou no canto da sala com os braços cruzados, sem dizer uma palavra, porque estava carrancudo. Ester não conseguia tirar os olhos dele, deveria medir quase dois metros de altura.
Os músculos de seus braços eram enormes, e a camiseta preta agarrava seu corpo como uma segunda pele. Ela pôde perceber que seu cabelo era loiro com mechas largas de castanho, e era comprido até o meio das costas e liso. Era um deus.
Ester engoliu em seco e forçou-se a falar:
— Olá, eu sou Ester, a veterinária — disse timidamente.
— Sei quem você é, eu sou Kirian — disse sem demonstrar sequer uma emoção na face.
— Por que vocês possuem esta clínica aqui? Estes aparelhos são muito caros.
— O doutor cuidava de todos nós aqui mesmo. Para ele tudo tinha que ser do melhor para os lobos.
— Há muitos lobos aqui?
— Alguns.
Apesar de todo seu espanto, Ester tirou o raio-X, examinou as imagens geradas no painel digital e com cuidado imobilizou a pata do lobo com uma tala.
— Pronto, está acabado. Agora ele deve descansar em sua cama... Bem, eu não sei onde ele ficará, ele tem um local para dormir?
— Ele voltará para o seu quarto.
— Para a cama de dossel? Mas vai deixá-lo ficar ali?
— É o seu quarto.
O gigante se moveu sem que ela pedisse, pegou Luca no colo novamente e ia saindo da sala quando parou.
— Vá até a biblioteca, Erick quer conversar com você — ele disse e saiu.
Todos eram meio doidos naquela casa. O que era aquele homem, um guarda-costas?
Ester suspirou e guardou suas coisas na maleta e seguiu para o andar de cima onde deveria ser a biblioteca.
Ela bateu na porta fechada e esperou até que um homem a abriu, ostentando um sorriso enorme. Ester literalmente abriu a boca de espanto. O homem era enorme e lindo. Automaticamente, ela deu um passo atrás.
— Finalmente nos conhecemos, Dra. Ester Klaus. Sou Erick, o advogado de Herbert Klaus e beta de Noah.
Ela olhou para ele com os olhos arregalados.
— Hum... Muito prazer. Bem, o que exatamente é um beta?
— O segundo no comando. Entre, por favor.
Ela engoliu em seco, entrou e olhou ao redor percebendo que se tratava de uma imensa e decorada biblioteca, lotada de livros.
— Comando de quê? E quem é Herbert Klaus? Que coincidência, meu pai se chamava Herbert Klaus.
— Sou o advogado de seu pai.
— Você é o advogado de meu pai? — Ela soltou uma gargalhada, incrédula.
— Não estou brincando, doutora. Isto é sério. Sente-se.
Ela parou de rir e sentou-se na cadeira, cruzando os braços. Bem, tudo estava louco mesmo, um pouquinho a mais nem faria diferença.
— Bom para você. Então, isso foi um engodo? Por que me procurou? Meu pai está morto há mais de oito anos.
— Bem, como você viu, Luca realmente precisava de um médico. E quanto ao seu pai, eu lamento dizer isso, mas ele morreu há duas semanas. Esta era a sua casa.
Ela literalmente abriu a boca, aturdida.
— Isso é mentira!
— Sinto muito, mas é verdade. Ele forjou sua morte e tem vivido escondido desde então. Escolheu morar aqui onde a senhorita vivia. Queria ficar por perto, mesmo sem falar com você. Mas ele usava outro nome para o mundo, usava o nome de Herman Klain. Somente nós o chamávamos por seu verdadeiro nome.
— Espere aí! — ela disse levantando-se da cadeira. — Quer dizer que meu pai morava na mesma cidade que eu e nunca me procurou? Quer dizer que a morte dele foi uma mentira? — perguntou incrédula.
— Há muitas coisas que precisa saber, senhorita Ester.
— Para começar, não me chame de senhorita, me chame de Ester.
— Tudo bem, Ester.
— Olha, isso é uma piada?
— Não. Seu pai teve motivos fortes para forjar sua morte. E a morte dele há duas semanas foi inesperada. Ele teve um ataque cardíaco fulminante durante a noite e não pudemos fazer nada para salvá-lo. Mas ele tinha um testamento e eu estava ciente de sua existência. Você está aqui porque precisa ocupar o lugar dele.
— O quê? Ocupar o lugar dele? Ele não queria saber de mim em vida e acha que vou cuidar de alguma coisa dele? Ora, não me conhece mesmo, senhor.
— Quando você ouvir tudo o que tenho a dizer, vai entender as razões de seu pai.
— Não quero saber de suas razões! Nada justifica o que passamos por causa da sua ausência. Quer dizer que ele vivia nesta mansão, tão perto de nós e nem sequer quis saber se precisávamos de alguma coisa?
— Ele deixou muito dinheiro para sua mãe.
— Dinheiro? Não estou falando de dinheiro! Minha mãe precisava dele, eu precisava dele! Era muito nova ainda quando ele nos abandonou. Forjou sua morte?! Tem alguma ideia do quanto choramos num túmulo que pensávamos que era dele? Quem eram aquelas pessoas que estavam no carro que pegou fogo?
— Ester, seu pai estava envolvido com algo muito grande e perigoso, por isso ele precisou sumir no mundo. Ele pensou que, forjando sua morte, era a maneira mais segura de proteger vocês duas. Ele pretendia se aproximar de você, sendo que já era uma mulher adulta e podia assumir a responsabilidade dele. Ele ficou muito feliz quando soube que você havia escolhido ser uma médica veterinária. Tinha orgulho de você. Não se preocupe que aqueles que estavam no carro eram do lado do mal.
— Não me interessa a responsabilidade dele! Nada no mundo pode ser mais importante do que a família! Ano passado, quando minha mãe morreu, ele nem estava lá para me consolar!
— Seu pai soube de sua mãe e, acredite, foi até o túmulo dela deixar flores e ficou de luto. Morreu de preocupações por você. Ele amava sua mãe, mas precisava ficar longe para protegê-las.
— Proteger-nos do quê?
— Por favor, sente-se, eu vou lhe explicar, mas você precisa entender que isso deve ser mantido em segredo absoluto e seria muito bom se viesse morar aqui.
— O quê? — perguntou aturdida.
— Erick?
Os dois se viraram e Ester ofegou quando avistou o homem parado na porta. Ele era muito alto, com quase dois metros de altura, estava vestido todo de negro e era muito másculo. Tinha uma tatuagem de um lobo no braço.
Era extremamente bonito e tinha os olhos verdes tão claros que pareciam translúcidos, de uma beleza que ela nunca tinha visto. Seus cabelos eram negros e compridos com uma mecha branca do lado direito. Era como uma visão.
— Sim, Konan? — Erick perguntou.
— Konan? Tipo Conan, o bárbaro? Isso é o quê, um clube de gigantes vikings?
Erick riu e ela olhou aturdida para ele. Ela tinha entrado no paraíso, pena que eram todos loucos.
— Conan, o bárbaro, esta é uma nova visão sobre você, Konan. — Erick disse, rindo ainda mais. — A propósito, Conan era sumério.
Ester bufou e podia jurar que o homem na porta rosnou. Ele olhou atentamente para Ester e ela sentiu um frio lhe percorrer a espinha. Ele exalava poder, e ela sentiu medo.
— Quem é ela? Parece-me familiar.
— Konan, esta é Ester Klaus. Veio tratar de Luca.
— A herdeira?
— Sim.
— Bem que o pai disse que ela era formosa, mas tem cabelo diferente das fotos. Pensei que a herdeira fosse loira.
Pai?
— Meu pai era seu pai? — Ester perguntou irritada.
— Konan, assim como os outros, são protegidos de seu pai. Nós o chamávamos de pai, porque sentíamos carinho por ele.
Ela ia fazer outra pergunta quando Konan desviou o olhar dela para Erick.
— Erick, temos um problema. As câmeras de segurança do bosque e da estrada principal estão desligadas, precisamos arrumar isso imediatamente. Preciso que entre com a senha nova que Harley criou para acessar os computadores de segurança, pois ele não está. E a propósito, Noah acabou de chegar.
— Certo, irei ver sobre a senha.
— Ele mandou chamá-la?
— Não, ainda tenho que comunicar Noah sobre ela estar aqui.
— Acho que ele não vai gostar disso.
Erick grunhiu assustando Ester.
— Por favor, Ester, eu peço um minuto para resolver isso e já voltarei para continuar nossa conversa.
Ao saírem, Konan a olhou atentamente e lhe sorriu. Sorrindo, o homem era deslumbrante. Ele tinha covinhas na bochecha e Ester quase suspirou, se não estivesse tão aturdida.
— Bem-vinda à sua nova casa, Ester.
Ela ficou boquiaberta quando eles saíram.
— Minha casa? Essa gente é louca? — Ela olhou para o relógio e gemeu. Precisava se apressar, tinha clientes para atender na clínica veterinária. Ela bufou e pegou sua maleta. — Esperar uma ova. Danem-se vocês, eu não quero ouvir mais nenhuma besteira. Minha casa é minha casa, foda-se!
Ela seguiu pelo corredor e, sem olhar para trás, saiu pela porta da frente e entrou em seu carro.
Soltando palavrões e amaldiçoando seu pai por ter enganado sua mãe e ela, deu meia volta no seu furgão, que usava para transporte de animais feridos até a clínica e pegou a estrada para a saída. Esta era rodeada dos dois lados por árvores e era longa. A propriedade realmente era enorme.
Estava ainda com seus pensamentos fervilhando quando, de repente, um animal apareceu no meio da estrada. Era outro lobo, e era enorme. Ela gritou e desviou o furgão para não atingi-lo. Perdendo o controle da direção, entrou no bosque e bateu num tronco.
A sorte é que Ester não estava correndo muito e o cinto a protegeu de bater contra o volante. Seu coração estava descompassado e estava atônita. Olhou pela janela para ver o lobo, mas ele não estava mais ali. Ela tentou ligar o carro para sair, mas ele não ligou.
— Droga! — disse furiosa e bateu com as mãos no volante. — Meu Deus, que dia estranho. O que mais falta acontecer? Eu vou ter que voltar para a casa e pedir um táxi, porque a burra aqui saiu apressada e não trouxe o celular. Inferno!
Ester saiu do furgão, bateu a porta furiosa e começou a andar. Ela parou com um susto quando avistou na sua frente o lobo de cor caramelo e marrom, com alguns fios prateados e brancos sobre suas orelhas. Era deslumbrante, enorme e parecia bravo. Ele rosnou para ela e mostrava os longos e afiados caninos. Ele era realmente enorme e Ester viu toda sua vida passar diante de seus olhos. Ia atacá-la.
— Calma, lobinho. Não precisa ficar bravo comigo. Se você me deixar passar, logo sairei da sua propriedade. Veja bem, não sou uma intrusa, fui convidada para cuidar de outro lobinho ferido, Luca, que deve ser seu amigo.
Ele rosnou novamente e deu um passo à frente.
— Droga!
Ester virou e começou a correr pelo meio do bosque, mas não foi muito longe. Ela ouviu um rosnar ensurdecedor e algo chocou contra suas costas. Ela caiu no chão e rolou de costas, e uma pata com garras afiadas lhe cortou a blusa. Ela pôde sentir a pele cortar e viu tudo escurecer.
Capítulo 2
Ester tentou abrir os olhos e piscou algumas vezes para recobrar a consciência. Seus braços estavam levantados por cima de sua cabeça; ela os puxou, mas percebeu que estava presa. Olhou ao redor rapidamente para se localizar e se assustou por ver que estava sentada em uma cama, escorada em vários travesseiros.
Sua blusa e o jaleco estavam abertos e rasgados, e seu peito sangrava. Havia um corte longo entre os seios e um menor ao lado, não parecia profundo, mas os fios de sangue escorreram até sua barriga. Ester sentiu o pânico correr através dela e choramingou, tentando soltar-se. Puxou fortemente as mãos e as torceu para sentir os pulsos ferirem.
Ela ouviu um rosnado e olhou assustada para o canto do quarto e viu que havia um homem acocorado, que a olhava sério. Ela abriu a boca e ofegou. Ele era a coisa mais linda que já tinha visto na vida. Apesar de ela estar apavorada por estar amarrada a uma cama e ter um estranho a espreitando, o choque de ver aquele homem fez o cérebro de Ester entrar em curto-circuito.
Ele tinha os cabelos longos e castanhos com mechas largas de cor caramelo e uns fios mais dourados, enquanto outros eram prateados, e ostentava uma barba por fazer. Ele tinha os olhos mais incríveis que já vira, de um azul muito claro. Eram até mais incríveis do que os de Konan. Sua pele era dourada como se fosse bronzeado do sol e era musculoso, muito grande. Parecia muito alto, mas não tinha certeza de sua altura, até que lentamente ele se levantou.
Ela ficou boquiaberta com sua altura, beleza e com sua masculinidade tão fora do comum. Ele tinha uma cicatriz que passava pela sobrancelha e caía sobre a maçã do rosto e aquilo o deixava ainda mais sexy.
Ao redor de seu braço direito havia uma tatuagem tribal, não sabia o significado, mas tinha um estilo celta. Ele estava descalço e a única coisa que usava era uma calça de couro preta, que só evidenciava suas coxas musculosas.
Ester não sabia o que aconteceria, mas teve a certeza de que aquele deus grego de aproximadamente dois metros de altura iria revirar seu mundo, de um jeito ou de outro.
Quando ela conseguiu sair do estupor da visão deslumbrada daquele estranho, percebeu que estava em uma grande enrascada. Finalmente ela conseguiu voltar à realidade, e essa lhe caiu como um balde de água gelada. Ela estava presa em uma cama com um estranho, e isso era muito ruim.
— Quem é você? Solte-me — Ester sussurrou.
— O que está fazendo aqui?
Ele tinha a voz muito grave e Ester assustou-se com o som dela. Foi como se um trovão retumbasse em seus ouvidos. Ela entrou em pânico. Aquele deus ia matá-la, torturá-la, estuprá-la? Ela puxou as mãos com força e olhou para cima, estava presa com uma faixa de tecido na cabeceira da cama.
Ele deu um passo à frente, agachou um pouco e saltou sobre a cama, ficou sobre as suas pernas e quase encostou o nariz no dela.
Um grito involuntário saiu da boca de Ester e ela prendeu a respiração, olhando-o com os olhos muito arregalados.
— Shhh, não puxe suas mãos assim, vai ferir-se. O que está fazendo aqui? Responda-me.
Ester engoliu em seco e tentou encontrar sua voz.
— Eu sou veterinária. O Sr. Erick me chamou — disse rapidamente.
— Mentira, Erick não a chamaria.
— Sou médica, juro. Vim aqui cuidar de um lobo ferido, o chamam de Luca, estava com a pata quebrada. E um lobo me atacou no bosque quando eu estava indo embora. Você me salvou dele?
— Não a salvei, linda — ele disse e tocou seu rosto.
Ester se surpreendeu com a delicadeza de seu toque.
Noah estava enfeitiçado por sua beleza, tê-la ali, na sua frente, o estava deixando louco, mas ele estava tentando dominar seu ódio. Ia matar Erick por ter provocado tudo aquilo. Deveria mandá-la embora o mais rápido possível. Tinha-a prendido na cama para deixá-la imóvel, não queria que ela se assustasse mais do que já a tinha assustado e acabasse se ferindo mais, na ideia torpe de fugir.
Tinha que cuidar do ferimento que havia infligido nela, seu remorso o estava matando e ao mesmo tempo sentia vontade de beijá-la. Estava confuso com a enxurrada de sentimentos que o assolavam.
Noah percorreu lentamente seu corpo com o olhar. Ela era perfeita, seios cheios, cintura fina e quadris largos. Sua pele era branca e lisa, macia e perfumada, e o estava deixando duro como uma rocha. A única coisa que rolava pela sua cabeça era saboreá-la.
Ester se apavorou quando o viu olhá-la com tanto desejo, estava exposta, somente de sutiã, para um gigante desconhecido.
— Uma coisa que deve aprender sobre lobos. Nunca fuja de um, isso somente vai atiçar seu instinto de predador, ele vai caçá-la.
— Por favor, não me machuque. Eu vim aqui cuidar de um lobo ferido. Aqui é a propriedade de Herbert Klaus, não é? Erick me chamou. Por favor, solte-me. Herbert era meu pai!
Ele se aproximou mais, sentando sobre suas coxas e colocou o nariz em seu pescoço. Ester ficou rígida, ofegou e prendeu a respiração.
— Sei quem você é, doçura. Não vou machucar você, prendi suas mãos para deixá-la imóvel, agora vou limpar seu ferimento. Desculpe-me por isso, não reconheci você. Por que pintou e cortou seu cabelo?
Ela sentiu aquela vibração de sua voz em seu ouvido lançar um arrepio pela sua espinha que lhe excitou, e ainda mais quando ele arrastou o nariz em sua bochecha.
— Só queria mudar o visual. Resolvi pintar de castanho, o fiz esta manhã. Mas como sabe que mudei o cabelo? Você me conhece?
— Sim, doçura, eu conheço você. E aqui não era onde deveria estar.
Ele a olhou com aqueles olhos tão estranhos e lindos.
— Então, me deixe ir — ela sussurrou.
— Fique quietinha, vou fazer um curativo no seu peito.
— Deixe-me ir.
— Não posso deixá-la ir agora.
Ester estava com medo e uma lágrima caiu pelo seu rosto.
— Por quê?
— Nós teremos que colocar as coisas às claras entre nós. — Ele secou a lágrima de seu rosto, suavemente. — Não chore, não vou machucá-la.
— Noah! — Veio uma voz da porta.
Ester olhou para o lado e lá estava outra visão. Ela gemeu. Nunca em sua vida tinha visto homens tão belos e exóticos num metro quadrado. O que era esta propriedade? O Olimpo?
Noah rosnou ferozmente como se fosse um cão e de quatro virou-se na cama e rosnou novamente para o homem na porta.
Ester se assustou com o que ele podia fazer com sua voz e garganta. Liam, no entanto, não pareceu se assustar, estava sereno e nem sequer piscou.
Ele estava vestindo uma calça jeans e uma camiseta preta. Usava coturno preto e era quase da altura da porta, ombros largos, belíssimo, mas o que mais chamou a atenção de Ester foram os cabelos e os olhos. Ele tinha cabelos totalmente brancos, lisos e longos até abaixo dos ombros e seus olhos eram brancos, quase como se fossem de prata. Ela ficou boquiaberta olhando para ele. O homem parecia uma visão de outro mundo.
— Solte-a, Noah — ele disse calmamente.
— Ela é minha, Liam.
— Ela não é sua, Noah, e não pode feri-la.
— Foi um acidente, não a reconheci na hora, pois estava muito zangado. E, além disso, o cheiro da tinta de cabelo é muito forte, confundi seu cheiro. Saia, ela está comigo, vou fazer um curativo.
— Feriu-a, Noah, deixe que eu tome conta dela, precisa se acalmar.
— Sou seu alfa. Vai me desafiar, Liam?
— Preciso desafiá-lo, meu alfa?
Noah virou e olhou para ela, que estava assustada e com os olhos muito arregalados. Liam suspirou.
— Noah, sei que você está nervoso e zangado, eu entendo, juro, mas não pode deixá-la amarrada contra a sua vontade, nem ferir esta mulher. Ela é Ester Klaus, a herdeira. Sabe disso, não sabe?
— Por que, inferno, todos me chamam de “a herdeira”? — ela gritou com raiva. — Tire-me daqui!
— Tudo que era do pai agora é seu. Inclusive, nossos segredos.
— O quê?
— Noah, por favor, desamarre-a. Ela precisa se lavar e se curar. Veja, está sangrando. Vou levá-la para a mansão e lhe fazer um curativo. Confie em mim, vou cuidar dela e protegê-la com minha vida. Você não quer assustá-la mais do que já está assustando, não é?
Noah a olhou e agora Ester percebeu que ele estava totalmente aturdido e confuso. Como se tivesse saído de um transe e caído na realidade.
— Eu a feri — ele falou baixinho.
— Sim, ela está ferida e assustada, mas vai te perdoar. Você estava confuso e não queria machucá-la intencionalmente. Foi um acidente.
Ele uivou, um uivo alto e assombroso. Ester ofegou, o olhando com os olhos arregalados e, então, ele olhou para ela novamente. Ester teve vontade de chorar quando vislumbrou nos seus olhos uma dor profunda. Ele saltou da cama num salto incrível e anormal, que o levou até a porta e saiu do quarto.
O homem de cabelos brancos respirou fundo, olhou para ela e foi em direção à cama. Ester se encolheu de medo.
— Não tema, eu não vou machucá-la. Está segura aqui.
— Jura? Não me sinto segura no momento.
Ele desamarrou seus pulsos e ela o olhou, desconfiada.
— Sou Liam. Eu sinto muito pelo que aconteceu, mas Noah, às vezes, entra em uma espécie de surto. Tem verdadeiro horror por jaleco branco. Ele acha que todos são cientistas malvados e quer sangue. Você realmente está parecida com a doutora que ele matou e tanto odiava. Esse corte novo de seu cabelo e a tinta escura o confundiu. Mas ele é uma pessoa muito boa, somente ainda não esqueceu seu passado.
— Ele matou uma mulher? — ela perguntou assustada.
— Sim. — Ele suspirou. — Mas ela mereceu, acredite. Sinto muito ter demorado, porém com as câmeras desligadas não sabia onde você estava. Não passou pelo portão e quando encontrei seu carro no bosque, logo vim aqui. Imaginei que estava com Noah.
— O que acontece com seus olhos? Você pode ver?
— Sim, melhor do que qualquer um. Meus olhos são assim desde que nasci; minha mãe era uma loba branca também.
— Uma o quê? — Ester perguntou espantada.
— Venha, Ester. Vamos voltar para a mansão. Erick precisa contar toda a verdade e eu vou fazer um curativo neste ferimento. Sinto muito, talvez em outro dia você e Noah possam conversar e apagar esta má impressão que teve dele. Ele vai ficar martirizando-se pela eternidade por ter ferido você.
Ela olhou para baixo e tentou fechar sua camisa rasgada para cobrir seus seios. Sorte que estava usando sutiã.
— Ele poderia ter me matado? — ela perguntou num sussurro.
— Poderia e muito rápido, Ester, mas graças a Deus ele percebeu quem você era antes que rasgasse sua garganta. Você estava em seu bosque, sem sua permissão, usando um jaleco de médica, e isso era uma ameaça para ele. E por estar tão perto da cabana de Jessy, aflorou seu instinto de proteção.
— Pode me chamar um táxi? Eu quero ir pra casa agora e mandarei um guincho pegar meu furgão. Quero sair deste hospício.
— Desculpe, Ester, mas você precisa entender algumas coisas.
— Entender o quê? Que vocês colocam lobos em camas? Que todos os homens aqui são gigantes halterofilistas e usam lentes de contato? Que um lobo me atacou e quase fui comida viva? Que este louco me amarrou na cama? Ele é um assassino, matou uma mulher, você mesmo disse. A polícia...
— Nada de polícia. Ninguém deve saber que vivemos aqui. É por isso que precisamos de você. Muitos de nós não podemos sair sem sermos notados. Seu pai tinha planos e precisamos seguir com eles. Isso tudo agora é seu e nós moramos aqui; você precisa entender-nos para poder cuidar de nós, caso precisemos de médico.
— Cuidar de vocês? Caso não saiba, eu sou uma veterinária e não médica de humanos.
— E quem disse que somos inteiramente humanos?
Ela abriu a boca de susto. Nem conseguiu perguntar do que, diabos, ele estava falando.
— Vocês são loucos! Loucos e gigantes.
— Shifters são maiores que os homens comuns.
— Shifters? O que, diabos, é isso? Vocês devem fumar algo para deixá-los falando tanta porcaria.
Ele suspirou, pegou-a pelo braço e a puxou para fora da cama.
— Venha, Luca acordou e se transformou. Você vai ter que arrumar a perna dele novamente com uma nova tala. Konan foi até a cidade comprar uma daquelas botas que imobilizam, deve servir?
— Bota? Essas botas são para pessoas e não animais.
— Eu sei, mas ele se transformou.
— O que isso quer dizer? Já coloquei tala no lobo.
— Venha e veja por si mesma.
Quando eles saíram da casa, ela olhou para ver ao redor. Ela não era muito grande, mas era muito bonita, toda feita de toras e havia uma bela varanda com duas cadeiras de balanço.
— Isso é bonito.
— Há mais duas dessas casas, o pai mandou construí-las para quem quisesse ter sua própria casa e não querer ficar na mansão. Noah prefere ficar aqui, gosta de ficar sozinho. Outra casa é ocupada por Jessy, ela gosta de decorar as coisas e o pai a deixava comprar muitos mimos. Ele realmente gostava de Jessy e era louco pela pequena Lili, fazia de tudo para mimá-las. Sua casa é cheia de flores e rendas. Coisas de mulheres.
— Jessy? Quem é Jessy? Por que meu pai mantinha vocês aqui?
— Vivemos escondidos. Raramente algum de nós vai à cidade. Konan é um dos mais andarilhos. Ele gosta de andar na cidade. Erick usa lentes de contato e mantém os cabelos cortados, assim pode se misturar sem chamar muito a atenção, mas isso irrita os olhos, por isso nenhum de nós gosta de usar. Jessy nunca saiu da propriedade depois que nos mudamos para cá. Ela tem medo dos humanos.
— Quando você diz humano, parece que você é um extraterrestre. É o que vocês são?
— Acha que pareço um extraterrestre? — perguntou rindo.
— Você parece com os Wraiths, do Stargate Atlantis, só que bonito.
— Não somos extraterrestres, somos lobos. — Ele riu novamente.
Ela ficou olhando para ele, séria, e então soltou uma gargalhada.
— Sim, claro, e eu sou o Coelhinho da Páscoa. Meu pai era louco por dar guarida para outros loucos e psicopatas. Bravo! Foi para isso que ele nos abandonou. Ainda bem que minha mãe já está morta, porque morreria de desgosto ao saber de toda esta porcaria. Espero que aquele lobo enraivecido não tope comigo novamente.
— Nenhum lobo a atacará novamente. Como eu disse, Noah a confundiu e Erick não o avisou que teríamos visita. Ele fica estressado às vezes. Ninguém tira a razão de Noah quando quer cortar a garganta de algum cientista ou médico.
— Estou falando do lobo que me atacou antes e não do Noah. Foi ele que me salvou do lobo, não?
— Noah é o lobo que a atacou.
— Cara, você realmente acredita em histórias de lobisomens? Vai me dizer que vira um monstro horroroso com caninos de dez centímetros?
— Não somos horrorosos como mostram nos filmes, somos lobos normais, na realidade, maiores que os lobos normais e mais bonitos.
— Sei. Olha, lobinho, eu realmente preciso ir embora, entendeu? Tenho compromissos, tenho animais para cuidar.
— Acredite, não vão faltar animais para você cuidar.
— Preciso ter uma conversa muito séria com este advogado do meu pai. Vou chutar sua bunda se me fizer perder mais tempo aqui neste hospício.
— Suba no jipe, Erick vai ter que consertar esta bagunça.
Ela subiu no jipe e seguiu muda enquanto ele dirigia para a mansão.
Ester não tinha muita opção, se corresse ele a alcançaria. Se gritasse, seria somente para irritar a garganta. Estava presa ali com aquele bando de homens que pareciam deuses da mitologia.
Ela deveria estar sonhando. Talvez tivesse tomado alguma droga no café antes de sair da clínica. E o pior de tudo, a imagem de Noah não saía de sua cabeça.
Capítulo 3
Quando o jipe parou na frente da mansão, Liam desceu e abriu a porta para Ester sair, mas ela continuou imóvel. Ela estava com a cabeça entre as mãos, com os olhos fechados e pensava fortemente que queria acordar daquele pesadelo, mas não funcionou.
Ela ofegou quando Liam a tirou do jipe e a levou para dentro da mansão. Ele era cuidadoso para não machucá-la, mas ainda assim queria esbofeteá-lo. Ela estava se sentindo horrível e deprimida, suas roupas estavam arruinadas, estava praticamente seminua, toda suja de terra e seus cabelos estavam emaranhados. O ferimento em seu peito estava doendo e havia uma dor latente em suas têmporas.
Uma Ester muito mal-humorada entrou na biblioteca da mansão sendo puxada pelo braço por Liam.
— Oh, inferno! — Erick resmungou quando a viu machucada e naquele estado deplorável. — Você está bem?
Ester o fulminou com o olhar.
— Pareço bem? Bati com meu furgão novinho numa árvore, fui atacada por um lobo e depois um psicopata me amarrou na cama e agora este alien das neves aqui, me arrasta de volta para este hospício. Como acha que estou?
— Quem atacou você? — perguntou confuso.
— Noah — Liam respondeu.
— Oh merda! — Erick xingou.
— Pois sim, e você vai ter que explicar toda esta merda para Noah, Erick. Você não podia ter trazido Ester sem seu consentimento. Vai estar muito zangado, é melhor se preparar.
Erick suspirou e esfregou os olhos.
— Vou me entender com ele depois. — Ele, então, olhou para Ester. — Eu sinto muito por isso, Ester, não foi nada disso que planejei quando a chamei para tratar de Luca. Precisa perdoar Noah. Acredite, ele vai sentir muito remorso sobre isso. Liam, por favor, pegue a caixa de primeiros socorros, ela está sangrando.
— Volto logo. Veja se ninguém a mata até que eu volte.
Ester olhou para ele com os olhos arregalados e depois se virou para Erick.
— Vai me dizer que inferno está acontecendo aqui? — Ester perguntou zangada.
— Sim, vou lhe contar tudo. Agora já não dá para ocultar nada. Por favor, Ester, sente-se.
Erick foi a uma mesinha ao canto e serviu um copo de água fresca que havia em uma jarra e deu para Ester beber.
Ela tomou um gole, olhou ao redor e percebeu que a estante atrás da gigantesca mesa de carvalho estava lotada de livros, era um local parecido com os dos filmes, como ela desejou ter uma um dia. Ela suspirou e bebeu mais um gole de água. Colocou o copo sobre a mesa e foi fazer uma pergunta, mas foi interrompida.
— Olá, você é a médica? Por favor, você pode olhar minha perna? Aquela tala pequena agora não me serve mais.
Ester olhou para a porta e viu um rapaz jovem, tinha aparência de ter uns onze ou doze anos. Então, ela olhou para a sua perna, que estava quebrada.
— Santo Deus!
Ester levantou da poltrona e ficou olhando para o garoto com os olhos arregalados.
— Luca, por que não ficou na cama? Poderia ter caído na escada — Erick disse.
— Não está doendo muito, mas acredito que ela precise enfaixar isso primeiro antes de colocar a bota que Konan foi buscar, não é? Vi isso na televisão.
Ele entrou na biblioteca dando saltos com uma perna só e sentou em uma das poltronas, estilo barroco.
— Você se chama Luca? — ela perguntou espantada.
— Sim.
Ela olhou bem para ele; tinha os cabelos negros com algumas mechas brancas dos lados e os olhos eram amarelo ouro. Como o do lobo na cama. Então, ela lembrou o que Liam havia dito, sobre serem lobos, sobre Luca ter se transformado.
— Você... Você era o lobo que estava com a pata quebrada? — perguntou atordoada.
— Sim.
Ela olhou boquiaberta para ele e depois se virou para olhar para Erick, ele estava retirando as lentes de contato e colocando na caixinha. Porém, quando elevou os olhos para ela, seus olhos eram amarelos da cor do ouro e cintilavam.
Ela ofegou e deu dois passos para trás.
— Ester, somos uma alcateia de lobos. Podemos nos transformar em homens e depois em lobos. Por isso seu pai nos escondeu aqui, ele nos libertou de um laboratório. Nossa alcateia inteira foi presa e servimos de experimentos e estudos até que seu pai nos libertou. Ele era bom para nós e, um dia, com a ajuda de mercenários que ele contratou, invadiu o laboratório e nos libertou. Então, nos trouxe para cá e desde então vivemos aqui, escondidos do mundo. Seu pai achou que seria muito perigoso envolver você e sua mãe. Pois eles poderiam nos encontrar e matar a todos, ou capturar-nos novamente. Então, seu pai forjou a sua morte, pois isso cortaria totalmente a razão de perseguirem você e sua mãe. Os cientistas pensaram que ele e mais dois de nós morreram naquele carro e que os outros lobos fugiram. Entendeu agora por que ele precisou fingir sua morte?
Ela apenas ouvia e não conseguiu articular nenhuma palavra. Estava muito aturdida para conseguir assimilar tudo aquilo rapidamente.
— Você é um lobo?
— Sim.
— Igual ao que me atacou?
— Sim, foi Noah quem a atacou. Ele tem muito ódio de humanos, exceto alguns e o pai. Eles mataram a companheira dele quando nos capturaram. Por isso, eu peço que o perdoe. Ele nunca mais vai machucar você, acredite, assim como nenhum de nós. Todos nós devemos nossa liberdade ao seu pai, ele cuidou de nós todos estes anos. Ensinou-nos muitas coisas e nos ajudou a encontrar os nossos. Todos nós estamos de luto pela morte dele. Mas ele queria contar a você. Queria trazer você para cá, depois que sua mãe morreu, ele sofria por não poder estar com você.
— Ele podia, mas não fez.
Erick foi até a mesa e pegou um porta-retratos e deu a ela.
— Depois do acidente ele quis trazer você, mas outro motivo o impediu, na verdade somente Noah sabe o motivo.
— Por que só Noah sabe sobre isso?
— Bem, isso é outra história que você saberá com o tempo. Olhe, seu pai gostava de ficar na biblioteca e esta foto sempre esteve aí. Ele tem vários porta-retratos com suas fotos e de sua mãe em seu quarto. Se quiser, eu posso lhe mostrar.
Ela pensou que desmaiaria e se sentou na poltrona, olhando sua fotografia abraçada à sua mãe, num dia de verão que foram passear no parque. Estavam sentadas no banco e sua mãe jogava milho para as várias pombinhas que estavam no chão. Alguém havia batido uma foto delas.
Ester não conseguia raciocinar direito. Ela fechou os olhos por um minuto e quando abriu havia um lobo branco e negro, com alguns rajados de marrom e branco, e com os olhos amarelos na frente dela. Ela gritou e se apertou na poltrona. Então, como se fosse uma mágica, o lobo se transformou em Erick novamente e ele estava nu.
Ela gritou novamente, deixando o porta-retratos cair no chão, pulou da poltrona e correu para a porta, somente para se chocar com uma parede humana. Konan. Ela gritou e caiu de costas no chão.
— O que está acontecendo aqui? — Konan perguntou olhando para ela e depois para Erick.
— Estou contando a ela — Erick disse.
— Estou vendo, está nu — Konan falou e Erick suspirou.
— Sou péssimo em contar histórias, eu achei que mostrando a ela entenderia mais facilmente.
— Droga, Erick, o que fizeram à moça? — disse olhando para o monte esfarrapado e assustado que o olhava do chão.
— Foi um contratempo, espero sanar os danos e esclarecer tudo — Erick disse.
— Não parece estar dando muito certo. Desse jeito, a moça vai fugir para outro continente.
Konan segurou Ester pelos braços e a levantou do chão, e ela realmente se perguntou por que ainda não tinha desmaiado. Ela gemeu vendo que sua blusa estava aberta, mostrando-a somente de sutiã e ela tentou cobrir-se.
— Ei, moça, não vamos machucá-la. Nós não nos envergonhamos do corpo, estamos acostumados a nos ver nus. É uma condição natural — Konan disse.
— Como pode ser isso? É algum tipo de magia?
— Sim, é magia. Nosso povo existe há séculos. Os mais velhos contavam que foi uma maldição lançada por um bruxo. Com o tempo foram crescendo e as alcateias foram se separando formando grupos isolados, mas não consideramos isso uma maldição. É um dom e nossos filhos já nascem com o dom de transformar-se.
— Nascem filhotes?
— Não. Nascem como humanos, geralmente não se transformam antes de um ano de vida. Se você quiser, mais tarde, eu contarei a nossa lenda. Agora você precisa cuidar de Luca e de seus próprios ferimentos.
— Pode vestir a roupa, por favor? Sabe, eu não sou uma loba e não fico confortável conversando com um homem nu, principalmente com um que não é meu amante.
Erick riu e vestiu suas calças novamente, que estavam emboladas no chão, respirou fundo quando Liam entrou trazendo uma caixa de primeiros socorros.
— Você pode cuidar da minha perna agora? Eu realmente acredito que você precisa me colocar esta faixa e essa bota — disse Luca.
— Dada também é um lobo? — Ester perguntou num sussurro.
— Dada não é uma de nós, ela trabalha aqui há oito anos e cuida da casa e da comida, ela se considera uma mãe. É divertido vê-la mimando os gigantes da casa com seus bolos e como eles a obedecem em troca de mais um pedaço — Erick disse rindo.
— Vou cuidar de você antes que cuide de Luca — Liam disse.
— Não, eu estou bem. Primeiro ele — Ester disse.
Ester estava cheia de perguntas, mas tratou de Luca calada, tentando manter o pouco juízo que restava. Liam se ajoelhou na sua frente quando ela sentou na poltrona novamente. Estava uma lástima.
— Deixe-me cuidar deste ferimento no seu peito. Não é grave, é somente um arranhão — ele disse.
— Um lobisomem me arranhou, agora virarei um lobisomem e uivarei para a lua cheia?
— Você é engraçada — Erick disse, rindo.
— Um humano não se transforma em um de nós por um arranhão, não se preocupe, você ainda é a mesma — disse Liam com um sorriso.
— Isso me deixa mais confortável.
— Você gostaria de tomar um banho? Posso levá-la a um dos quartos e você se banha enquanto eu arrumo uma roupa limpa para que possa vestir e depois coloco um curativo, os arranhões não são profundos, mas precisam ser desinfetados — disse Liam.
— Eu quero ir para casa.
— Olhe, Ester, se acalme, sei que foi um dia difícil, mas deixe-me cuidar de você por um momento. Um banho quente, um analgésico, roupa limpa e, então, você vai para casa. Está bem? Dou-lhe minha palavra.
Ela pensou um pouco e suspirou.
— Sim, está bem. Prefiro tomar um banho antes de fazer o curativo, estou toda suja de terra.
— Como preferir — disse Liam.
— Quando estiver recuperada, nós voltaremos a conversar, Ester.
Ela olhou para Erick. Ele realmente era um homem lindo com aqueles olhos exóticos.
— Vocês querem que eu assuma o lugar do meu pai para cuidar de vocês? Por isso me trouxeram aqui?
— Não é somente isso. Esta é sua casa, Ester. Seu pai tinha muito dinheiro e fez muitos investimentos. Tudo isso agora é seu. Sei que é difícil de você entender, mas nós pertencemos a você agora, de certa maneira.
— Vocês não pertencem a mim — disse atordoada.
— É uma maneira de falar, precisamos de um médico que seja de confiança para caso precisemos. Há coisas que você não pode entender agora, mas nós realmente não podemos ter uma vida fora destes portões, até encerrarmos o que precisamos descobrir. Um dia, alguém nos descobriria e nos prenderia. Isso não pode acontecer, nunca. Alguns de nós não suportaríamos voltar para os laboratórios. Pense em Luca que ainda é tão jovem. Jessy é muito traumatizada, sente muito medo dos humanos depois do que fizeram a ela. Ela confiava apenas no pai e Dada. Seu pai mudou sua vida por nós. Ele realmente nos amava e era fascinado por nossa natureza, mas nunca nos explorou para nos prejudicar ou para que obtivesse lucro sobre isso.
— E esse Noah, o que devo saber sobre ele?
Ester mordeu o lábio inferior por ter perguntado, estava tão atordoada que mal conseguia pensar, mas quando viu já havia perguntado sobre o homem que havia a prendido na cama.
— Noah é nosso alfa e o seguimos. Ele sente muita raiva, vive praticamente todo seu tempo sozinho. Você é mais importante do que você pensa, e eu juro que com o tempo eu vou explicar tudo e você vai entender. E tem mais uma coisa. Nós precisamos encontrar o restante de nós. Talvez, depois disso, possamos voltar a ter nossa vida como antes.
— Em quantos vocês são?
Erick suspirou tristemente.
— Aqui moramos eu, Konan, Liam, Noah, Luca, Jessy, Lili, Kirian, Petrus e Harley. Mas há outros.
Ela olhou-o atordoada.
— Há mais de vocês?
— Sim, há mais. Há os que já mandamos para nosso novo lar, onde estão longe daqui e seguros. E há os que estão presos em algum lugar, servindo de cobaias.
— Cobaias?
— Pense, Ester, conhece o termo cobaias, testes em animais? Pois é, era isso que éramos para eles. Nós descobrimos um laboratório em Amsterdã onde mantinham Konan e mais quatro fêmeas. Faz três anos. Três malditos anos sem conseguir descobrir mais nenhum. Temos pistas fortes e estamos aguardando confirmação para um possível resgate, mas neste último, não conseguimos chegar a tempo para salvar uma delas, eles a mataram. A outra fêmea estava viva quando a trouxemos, mas ela não resistiu e morreu dois dias depois. Luna foi mandada com os outros para sua família, e Jessy ficou aqui conosco por causa de Noah, ela se recusou a ficar longe dele. E foi um inferno para lidarmos com ela e Lili.
Ester não percebeu, mas as lágrimas escorreram pelo seu rosto.
— Isso é horrível.
— Nós poderíamos ter ficado calados sem entrar em contato com você. Nós ficaríamos aqui usufruindo do dinheiro do seu pai e você nem ficaria sabendo de nada. Agora, se você quiser, pode nos jogar na rua, afinal a casa é sua. Mas o pai nos prometeu que você assumiria o lugar dele, caso algo acontecesse a ele. Que você nunca nos trairia. Nós estamos em suas mãos, Ester Klaus. Sabe nosso segredo e deve mantê-lo, e com o tempo saberá de um fato muito importante sobre você e essa alcateia.
— Que fato importante?
— Você está ligada a nós mais do que pensa.
Ester quase não conseguia assimilar tudo, e essa última frase de Erick havia dado um choque em seus sentidos. Não sabia o que dizer; e estava com medo de perguntar, então somente suspirou e soltou um sussurro:
— Eu realmente preciso daquele banho agora.
Liam a pegou pelo braço e a levou da biblioteca, e Erick suspirou.
— Acho que ela levou as coisas bem — Erick disse.
— Você acha? — Konan disse irônico.
— Ela é humana e nem desmaiou, humanas sempre desmaiam quando entram em choque.
Eles ouviram um uivo vindo do bosque; Konan e Erick olharam em direção à janela e depois se olharam.
— Parece que nosso alfa não levou as coisas muito bem — Konan disse.
— Droga, ele vai quebrar meu pescoço.
Capítulo 4
Quando Ester saiu do banheiro, estava vestindo somente a calcinha e o sutiã, havia uma camiseta e uma calça de moletom sobre a cama, provavelmente Liam havia colocado ali para ela vestir. Realmente ela precisaria usar o moletom, sua calça branca estava rasgada e suja.
Ela sentou na cama, retirou a toalha da cabeça e passou a escova que havia encontrado no banheiro pelos fios, desembaraçando-os. Pegou o kit de primeiros socorros que estava sobre a cama e colocou no colo.
Ela olhou para o quarto e era muito bonito, tudo estava impecavelmente ordenado e limpo. A cama era de dossel e havia muitos travesseiros, a coberta era macia e perfumada. Eles podiam ser lobos ou o que fossem, mas, uma coisa era certa, viviam bem.
Ester estava tão atordoada e cansada, que podia sentir o esgotamento de seu corpo, e sua mente estava lenta, como se não conseguisse assimilar mais nenhuma informação que fosse.
Ela ficou ali por alguns minutos e depois se jogou para trás, deitando na cama, e suspirou com os olhos fechados.
— Eu posso ajudar você — disse uma voz que veio do canto do quarto.
Ester gritou e tentou sentar, gritou outra vez quando escorregou da cama e caiu sentada no chão. Olhou assustada para Noah que estava escorado na janela.
— Não grite, Ester, eu não vou machucar você — ele disse calmamente.
Ela nem percebeu quão rápido ele a pegou nos braços e a colocou sentada na beirada da cama.
— Não... — ela choramingou.
— Pare! — disse firme. — Já disse que não a machucarei. Deixe-me fazer isso.
Ela ficou paralisada. Ele se ajoelhou na sua frente, colocou suas enormes mãos sobre seus joelhos e a olhou nos olhos. Lentamente abriu suas pernas e meteu-se entre elas. Olhou para seus olhos por mais alguns instantes e pegou a caixa de primeiros socorros que ela havia derrubado no chão, abriu-a e pegou um algodão e um vidro de remédio.
Ela ficou olhando para ele como se fosse uma visão e respirava com dificuldade.
— Vai doer um pouco — ele sussurrou.
Ela gemeu quando ele aplicou o algodão embebido em sua ferida.
— Sinto muito, Ester. O cheiro de tinta me impediu que eu a reconhecesse de imediato. Quando a vi com aquela roupa, enlouqueci. Pensei que era uma cientista que veio aqui para nos machucar. Estava tão furioso que deixei meus instintos tomarem conta de mim ao invés de agir com a razão. Só vi que era você quando a derrubei e olhei mais para seu rosto.
— Erick me disse.
— Você vai embora e revelar para alguém que estamos aqui?
— Não! Eu jamais os prejudicaria. Entendi, pelo menos um pouco do porquê estão aqui. Nunca os entregaria, Noah. Sinto muito pelo que fizeram com vocês.
Ele colocou uma pomada anti-inflamatória nos cortes e colocou um curativo. Depois levantou, pegou-a nos braços e a sentou no centro da cama, escorando-a nos travesseiros.
Ele subiu sobre suas pernas ficando montado nela e Ester ofegou, olhando-o com os olhos arregalados.
— Você gosta muito desta posição, pelo que vejo — ela sussurrou.
Ele a olhou profundamente e ela podia jurar que viu um sorriso no canto de sua boca. Ele pegou um frasco de comprimidos, abriu e retirou um, depois pegou um copo de água e ofereceu o comprimido na frente de sua boca.
— Abra estes doces lábios pra mim — ele disse aquela frase de forma tão sedutora que Ester jurou que poderia fazer qualquer coisa que ele pedisse.
— O que é isso?
— Analgésico. Abra.
Ela abriu a boca e ele colocou o comprimido em sua boca e depois a fez beber a água. Ele depositou o copo na mesinha de cabeceira e colocou as duas mãos na lateral de sua cabeça, escorando-se na cabeceira da cama.
Ela ofegou novamente, ele era tão grande e ela ficava oprimida sob ele, mas seu corpo ficou quente. Ele ainda estava sem camisa e descalço, como antes. Ela ficou atordoada vendo aquelas coxas enormes e musculosas oprimidas sob o couro, encurralando-a entre suas pernas.
— Preciso saber se me desculpa, Ester.
Ela voltou a olhar em seus olhos e suspirou.
— Sim, Noah, eu o desculpo.
Ele lentamente se aproximou mais, sem parar de olhar diretamente em seus olhos, o que a fez tentar ir para trás, mas estava presa na cama. Ele passou o nariz na sua bochecha e seguiu até seu pescoço.
— O que está fazendo, Noah?
— Você cheira tão bem, menos o cheiro da tinta. — Ela ofegou e gemeu quando sentiu que ele tocou sua pele com a língua. — Você está excitada, doçura.
Ela ficou espantada e o olhou com os olhos arregalados.
— Eu acho que você deveria sair de cima de mim. Nossa experiência anterior foi um pouco traumática para mim.
— Acha que vou feri-la novamente?
— Você disse que não iria — ela sussurrou.
Ele olhou nos seus olhos e ela sentiu vontade de beijá-lo. Ele era tão lindo e quente, mas ao mesmo tempo em que a excitava, sentia medo dele. Ele emanava um poder que ela nunca sequer imaginaria.
Como que poderia realmente existir criaturas míticas como os lobos? Se eles existiam, deveriam existir outras espécies também? Ester estava divagando, até que a forte voz de Noah cortou seus devaneios.
— Ester Klaus, eu me sinto em dívida com você. O que posso fazer para que você me perdoe e fique?
— Eu não sei. Não precisa fazer nada. Só não me coma.
Ele baixou os olhos e olhou para sua boca, era tentadora. Noah sentiu vontade de beijá-la até desvanecer e estava tão excitado que pensava que perderia a razão. Ela o tinha enlouquecido, a luxúria havia batido nele como um martelo.
— Doçura, comê-la é a única coisa que consigo pensar. — Ela arregalou os olhos e ele sorriu, um sorriso lento e malicioso. — A maneira que a quero comer, você iria gostar.
— Oh. — Ela entendeu ao que ele se referia e ruborizou.
— Está muito excitada para quem está com medo de mim.
— Ora, como pode dizer isso?
Ele tocou o nariz.
— Meu nariz capta muito fortemente os cheiros, querida, muito mais que os humanos. Está me deixando embriagado. Se eu tocasse em você saberia que está muito molhada para mim. Permitiria isso?
— Oh, o quê? Não! Eu percebo que sua modéstia não é compatível com seu tamanho.
Ele riu e o som de sua risada retumbou pelo corpo de Ester, e então ele encostou a sua bochecha na dela e enquanto a acariciava lentamente, deslizou os lábios até o canto de sua boca e depositou ali, um beijo lento e suave, depois a olhou profundamente nos olhos.
Ester estava hipnotizada, se ele não parasse com aquelas carícias iria enlouquecer. O que ele queria fazer, torturá-la?
Sem medir o que fazia, Ester levantou a mão e tocou seu rosto, acariciou sua barba e sorriu. Era extremamente macia.
— Deus, seus olhos são incríveis. Nunca imaginei ver isso na minha vida — ela sussurrou e levemente tocou suas sobrancelhas com a ponta dos dedos.
— Posso beijá-la? — ele sussurrou.
— Me beijar? — perguntou atordoada.
— Só um beijo.
— Não sei se é uma boa ideia — ela sussurrou.
— Prometo deixar minhas mãos na cabeceira. Preciso sentir seus lábios novamente.
— Novamente? — ela perguntou espantada. — Quando foi que me beijou?
— Em meus sonhos.
Noah sabia que não devia fazer isso, mas ela era como um ímã e ele não estava conseguindo se afastar, desejava-a. Ele havia provado seus lábios uma vez, foi apenas um roçar enquanto ela dormia, mas aquilo havia levado seu mundo ao inferno. E havia sonhado com a chance de prová-la devidamente.
E ela nem sequer sonhava que isso havia acontecido.
Ester olhou para seus lábios e imaginou o beijo, mas não respondeu, pois somente de pensar no que seria beijá-lo, seu cérebro novamente entrou em curto.
Noah não esperou que ela desse uma resposta e a beijou. Um beijo suave e lento, a pura perdição, e quando sua língua invadiu sua boca, foi o céu, e a fez soltar um suspiro.
Os lábios dele eram quentes, macios e seu beijo era como provar ambrosia.
Ester colocou as duas mãos em seu peito nu e isso foi demais para Noah manter sua sanidade. Ele apertou fortemente a cabeceira até seus nódulos ficarem brancos e a madeira maciça estalou.
Ester não soube como, mas Noah saltou de cima dela, e ela arfou assustada, escorando-se nos cotovelos para ver para onde ele havia ido.
Noah estava do outro lado do quarto, seu olhar estava escuro, emanando desejo, e percebeu também que seus punhos cerrados ao lado do corpo.
— Você vai ficar? — ele perguntou entre os dentes.
Ela piscou algumas vezes para voltar à realidade.
— Tenho minha casa, Noah. Eu vou embora, mas não vou tirar a casa de vocês. Não vou contar nada a ninguém sobre vocês, eu juro.
— Você é boa.
— Juro que nunca machucaria nenhum de vocês.
— Você nos aceitou?
— Noah, vocês são diferentes e eu estou espantada, assustada, e curiosa e... Eu nem sei o que sinto. Foram muitas emoções e informações para um dia só, mas eu não faria nada contra vocês.
— Então fique.
— Posso voltar outro dia, ver se Luca está melhor, mas não vou ficar, vou voltar para minha casa.
Ester piscou os olhos, ouviu um rosnar e olhou com a boca aberta para um enorme lobo mesclado. Noah havia se transformado. Ela gritou e ficou de cócoras na cama. Ele deu dois passos à frente, lentamente, e Ester tentou gritar novamente, mas sua voz sumiu. Mais dois passos à frente e Noah estava na beira da cama.
— O que vai fazer? — ela sussurrou apavorada.
Ele saltou sobre a cama e lentamente se aproximou de Ester que estava paralisada como uma estátua. Ela gemeu quando aqueles olhos incríveis estavam da mesma altura dos seus. Noah colocou o focinho em seu pescoço e depois desceu para seu colo e desceu até entre suas coxas.
Ele estava a cheirando e ela gritou, e caiu sentada quando ele subiu sobre ela. Agora Ester estava em pânico e pensou que desmaiaria com aquele gigantesco lobo sobre ela.
Mas, então, ele choramingou, olhou em seus olhos novamente e lambeu seu rosto, saltou da cama e correu para o corredor.
Ester ficou ali, tremendo, arfando, queria chorar, mas seu corpo estava quente e pulsante. Assustou-se quando Erick apareceu na porta.
— Você está bem? — ele perguntou.
Ela somente gemeu, puxou a roupa para cobrir-se e Erick foi até a cama.
— Deus, ainda bem que eu não sofro do coração — ela sussurrou.
— Noah feriu você? O vi sair correndo daqui.
— Não, ele não me feriu.
— Venha, vou ajudar você a se vestir e depois pode tomar algo para relaxar.
— Um uísque iria bem.
— Não temos uísque. Às vezes, o pai bebia um licor, nós tomamos cerveja. Tem na geladeira.
— Então serve.
— Venha, Ester.
Ele a pegou pelo braço e a levantou da cama.
— Posso me vestir sozinha.
— Está tremendo.
— Meus nervos estão em frangalhos.
— Sinto muito. Noah não devia ter abordado você novamente. Vocês precisam de tempo para acalmar os ânimos e se entenderem.
— Ele me pediu desculpas.
— Isso é bom. — Erick suspirou tristemente. — Solte a roupa, Ester — disse puxando o moletom que ela segurava fortemente sobre os seios.
— Eu não quero que você me veja de calcinha e sutiã.
— Como já dissemos, nós não ligamos para a nudez, não vou olhar para você com cobiça, somente quero ajudá-la. Confie em mim.
Relutante, ela entregou a roupa a ele.
— Parece que eu estou em um sonho e estou esperando acordar. Noah tem o dom de me deixar mais desnorteada que todos vocês juntos.
Ela segurou em seus ombros, quando ele se abaixou e tocou sua perna para que vestisse as calças.
— Por um lado, fico feliz de ouvir isso, mas precisa saber... Noah está quebrado por dentro, Ester. Afastou-se de tudo, vive em sua própria raiva. Abriu mão de uma parte do que ele é para viver em seu mundo triste. Como se ele tivesse entrado lá e não conseguisse sair.
— O que ele é?
— Noah é nosso alfa, lidera nossa alcateia. Sempre tentou nos proteger, mas quando Laila morreu e nosso povo foi preso, ele se perdeu, pois não conseguiu nos salvar e menos ainda a si próprio e, por isso, fechou-se em si mesmo. Ele sente uma culpa que o assola. Ninguém o culpa, mas ele não pensa assim.
— Por que ele se culpa?
— Desconfiamos que quem nos traiu foi nosso primo. Joan queria ser alfa e desafiou Noah, eles lutaram e este tipo de luta geralmente termina em morte, mas Noah o perdoou e o baniu. Esse foi o erro. Nós sabemos que foi um dos nossos que nos entregou aos humanos. E como conhecemos a natureza bestial de Joan, acreditamos que foi ele.
— Como pode ter feito isso ao seu povo?
— Vingança e dinheiro. Eu sou o beta da alcateia e tento guiar tudo, ajudar a manter o grupo unido. Noah trata do resgate dos nossos e segurança da propriedade, e está empenhado na construção de nosso novo lar, mas dificilmente participa de alguma festa ou comemoração que fazemos ou um simples jantar. É como se sua alma tivesse murchado e nada lhe importasse. Não se permite relaxar e usufruir da liberdade.
— Ele a amava tanto assim?
— As companheiras dos lobos são sagradas.
O coração de Ester doeu. Ela sentiu algo que não entendeu exatamente, era como inveja e ciúmes daquela mulher desconhecida.
Ester saiu de seu devaneio, quando Erick passou dois dedos sobre sua bochecha. Ester olhou para ele espantada e aqueles olhos amarelos a olhavam atentamente.
— Você é muito bonita e Noah vai precisar de você.
— Precisar de mim?
— Com o tempo, você vai entender.
— Não gosto dessa relação tão profunda que está fazendo sobre mim e Noah, Erick.
— Sei que não entende agora, mas um dia vai entender e, acredite, não tem como negar.
Aquela declaração assustou Ester.
— Quero ir para casa agora.
— Vamos tomar aquela bebida, eu acompanho você.
— Não! Quero ir pra casa agora. Chame um táxi.
— Ester...
— Agora, Erick! — ela gritou.
Ele a olhou atordoado e deu um passo atrás.
— Vou levá-la para casa.
Ela vestiu a camiseta, colocou os sapatos e saiu do quarto como se ele estivesse pegando fogo, Erick somente suspirou e a seguiu.
Ele a levou para casa e já havia escurecido. Quando ele parou o Range Rover em frente à casa de Ester, ele desligou o carro e a olhou.
— Nosso segredo está seguro com você, Ester?
— Sim, eu juro.
— Pode voltar amanhã? Eu gostaria de lhe apresentar os outros e você precisa tomar conhecimento do testamento de seu pai.
— Talvez.
Ela não disse mais nada, agarrou-se à sua maleta como se fosse de ouro e saiu do carro. Entrou correndo em casa e passou as trancas na porta. Foi até a cozinha, colocou a maleta sobre a bancada de mármore, pegou uma garrafa de uísque no armário, um copo e foi para o quarto, sentou no chão, aos pés da cama e bebeu uma dose de uísque. Tossiu quando a bebida destilada desceu queimando sua garganta.
Fechou os olhos e só então soltou um soluço. Sentiu suas bochechas molhadas pelas lágrimas e tomou outra dose de uísque.
Tudo o que havia passado pela tarde, tudo que havia ouvido ficava rolando na sua cabeça como um looping infinito e não sabia o que fazer. Seus sentimentos estavam desencontrados e aflorados.
Ela ouviu a campainha e gemeu, não queria ver ninguém, somente queria se embebedar, mas quando ela tocou novamente foi atender.
— Já vou! Merda! Será que não posso ficar bêbada em paz? — gritou.
Ester olhou no olho mágico e não viu ninguém. Curiosa, ela abriu a porta, mantendo a corrente. Não havia ninguém; ela ficou espantada ao olhar para o chão e ver um buquê de rosas vermelhas. Ela abriu a porta, pegou o buquê e cheirou as rosas, amando seu perfume doce e inesquecível, olhou para a rua novamente e foi para a sala, tomou um gole do uísque, sentou no chão e abraçou as flores. Abriu o cartão e o leu:
“Hoje ansiei mais de você como nunca. Durma em paz, já que isso está sendo impossível para mim.”
— Meu admirador secreto... Gostaria que você aparecesse. Um ano me mandando flores e presentes e nem sequer um nome, um telefone. Por um momento pensei ser meu pai que enviava, mas, se ele está morto, então não é ele. Pai... nunca vou perdoar você por ter nos abandonado.
Capítulo 5
Erick gemeu quando bateu no chão. Noah o havia jogado na parede com um soco, que quase lhe quebrou a mandíbula.
— Isso é por trazer Ester aqui sem minha permissão! — Noah rosnou.
— Inferno, homem, é que você nunca ia trazê-la — resmungou.
— Tenho um motivo para isso, Erick. Não a queria aqui.
— Até quando vai mentir para si mesmo e negar que ela é sua companheira?
— Ela não é minha companheira. Laila era.
— Noah, Laila está morta e ela não era sua verdadeira companheira, sabe disso. Você a amava, eu sei, mas Ester sim é sua companheira verdadeira. Não adianta mentir para mim, porque eu sei, eu vi como enlouqueceu quando ela sofreu aquele acidente de carro ano passado. Eu sei que a vigia secretamente, achando que nós não sabemos. Eu sei que seu cheiro mudou, e eu sei que a quer afastada daqui porque sabe que, se ela vier, você vai reivindicá-la como sua.
— Isso é minha decisão, não sua!
— Herbert tinha tudo planejado para aparecer para Ester e sua mãe na semana do acidente e iria trazê-las para cá. Ele somente não trouxe Ester depois disso, porque descobriu que você era seu companheiro, e que você não estava preparado, que você e ela precisavam de mais tempo. Você ousou dizer a ele que se ela viesse você iria embora. É isso, não é? Este é o segredo que vocês dois mantinham. Quão egoísta você foi com o homem que salvou sua vida?
— Não fale assim comigo, Erick. Deve-me respeito.
— E eu sou a pessoa que o respeita sempre, a vida toda, incondicionalmente, e eu falo isso para seu bem, para que pare com o que anda fazendo. Ester é uma realidade e não há mais por que fugir dela.
— Eu não conseguia acreditar que ela era minha companheira.
— Você foi egoísta e pensou somente em você, não pensou nela nem no seu pai.
Noah grunhiu ferozmente enquanto Erick se levantou e limpou o sangue da boca.
— Sim, vamos. Me bata, brigue, xingue, pode quebrar meus braços, faça o que quiser, mas sabe que estou dizendo a verdade. Inclusive, eu sei que tem uma foto dela na sua mesinha de cabeceira. Mas há mais do que isso, não é, Noah? Sinto algo de errado, algo grande, mas não consigo decifrar.
— Não se meta em meus assuntos, estou avisando. Se você preza sua posição de beta, pare com as armadilhas, Erick.
Erick suspirou e ergueu as mãos em rendição.
— Ok, eu paro, já que insiste. Já que você não quer que ela venha, nem precisa se preocupar, pois ela disse que não vai voltar tão cedo. Eu poderia ir buscá-la, mas não vou.
— Por quê? — Noah disse a Erick, que o olhou carrancudo.
— Não posso amarrá-la aqui se não quer voltar, Noah. Acredito que ela não tenha gostado de ser atacada e amarrada e nem de nossa companhia.
— Mas ela tem que assumir sua herança, não tem? Devemos isso ao pai dela. Era o que ele queria. E você fez o favor de dizer a verdade, agora não há como voltar atrás.
Erick revirou os olhos. Noah estava louco. Não a queria, mas agora que estava vendo que talvez ela não quisesse estar ali, estava entrando em pânico. Hora de dar o troco. Então, Erick sorriu.
— Ela tem uma vida lá fora e está feliz. E você fez o bom trabalho de quase matá-la de susto, obrigado.
— Eu pedi desculpas.
— Ela está assustada e disse que não ligasse, pelo menos por enquanto.
— Ela está bem?
— Sim, ela está bem e trabalhando na sua clínica, que, aliás, está cheia de cachorrinhos recebendo seus adoráveis cuidados, mas se recusa a vir aqui novamente. Fica dando desculpas esfarrapadas, dizendo como está ocupada, blá-blá-blá, mas na realidade ela não quer se envolver conosco.
Noah olhou para ele, com a dor resplandecendo em seus olhos.
— É minha culpa. Todos estavam esperando ela vir e por minha causa não virá mais.
— Noah, ninguém está culpando você. Todos nós entendemos sua reação. E eu sei que deveria tê-lo avisado que a tinha chamado, mas Luca estava ferido e precisávamos dela. Você estava fora cuidando da construção dos novos lares e deixou que eu tomasse as decisões.
— Suas decisões não envolviam Ester.
— Certo. Olhe, quem sabe é melhor você assumir que ela é sua companheira e lutar por ela e acabar logo com esta bagunça?
— Não posso.
— Você pode, é nosso alfa, precisamos de você e se ela é sua companheira, nós precisaremos dela também. Logo iremos embora, Noah, vai ter coragem de deixá-la para trás, de uma vez?
Noah deu voltas pela sala, com seus pensamentos fervilhando.
— Ela... é a herdeira, deve ter o dinheiro e assumir seu lugar. Quer dizer, Jessy e Lili precisam dela. Luca também, ainda é muito filhote... — ele resmungava para si mesmo.
Erick cruzou os braços, o que fazia com que parecesse mais musculoso.
— Sim, você está certo, mas parece que ela não quer isso. Então, o quê pensa fazer? E quanto aos seus ímpetos sexuais, fique longe dela. A pobre poderia morrer de medo.
Noah rosnou para ele.
— Não vou machucá-la!
— Ela tem medo de você.
— Isso vai mudar.
Noah rosnou novamente, virou nos calcanhares e saiu da biblioteca. Erick deu um sorriso lento e cheio de satisfação.
***
Ester saiu da sua clínica e trancou a porta, já havia anoitecido e ela fechou o casaco para se proteger do vento. Sua casa ficava a uma quadra da clínica e ela não usava o carro, a não ser que estivesse chovendo e fosse fazer algo depois do trabalho, como ir ao mercado ou à feira.
Ela tinha dificuldade de dirigir, depois do acidente que matou sua mãe e que ela era a motorista, muitas vezes se pegava com medo no trânsito. Não tinha sido culpa dela, um motorista havia feito uma ultrapassagem e se chocou de frente com o carro que dirigia.
Sua mãe não resistiu aos ferimentos e faleceu na hora. Ester ficou ferida, mas saiu do hospital a tempo de comparecer ao enterro. Os médicos haviam dito que foi um milagre ela ter sobrevivido.
Ester teve sorte de ter conseguido comprar a casa onde abriu a clínica tão próxima de sua casa nova. Depois da morte de sua mãe, ela vendeu a casa onde moravam e comprou uma menor e saiu do emprego para abrir sua própria clínica veterinária.
Ester sentiu como se estivesse sendo seguida. Ela olhou para trás e não viu nada, andou mais um pouco e olhou novamente, e, então, ela viu o lobo, parado na calçada olhando para ela.
Estava escuro, mas ela pensou que era Noah, pela cor da pelagem e a cor dos olhos. Sentiu um frio cruzar sua espinha, virou-se e andou mais rápido, olhou para trás e viu que o lobo estava a seguindo. Olhou ao redor e não havia uma alma viva na rua. Coisas de cidade pequena, cultivavam o sagrado horário do jantar.
Ela, então, correu e entrou no seu jardim. Pegou a chave para abrir a porta, mas ela caiu de sua mão e, quando se abaixou para pegá-la, ouviu um rosnado às suas costas. Lentamente se virou e deparou-se com aqueles brilhantes e incríveis olhos azul-acinzentado. Ela prendeu a respiração e encostou-se à porta, ainda acocorada.
Ela ofegou quando ele, lentamente, deu um passo à frente.
— Noah, é você? — gaguejou.
Ele deu mais um passo à frente e lentamente colocou o focinho sobre seus joelhos e choramingou.
— Oh, meu Deus, é você mesmo. Você poderia parar de me assustar.
Ele choramingou novamente, lambeu seu rosto e ela riu.
— Pare com isso.
Ela o olhou por alguns segundos e, então, acariciou sua pelagem e era macia. Ester sentiu um prazer enorme de tocá-lo. Era o lobo mais lindo que já tinha visto e, então, se lembrou do homem descomunal que ele era.
Aquilo não havia sido um sonho, sabia disso, e sabia que não havia volta. Eles haviam entrado em sua vida de forma irrevogável, prova disso era que aquela criatura mitológica e bela estava novamente na sua frente.
Ela não conseguia tirá-lo de seus pensamentos, os últimos dias tinham sido uma tortura.
— Você é tão bonito — ela sussurrou fascinada. — Acredito que tenha vindo para uma visita e vai querer entrar? — Ele a lambeu novamente e Ester riu. — Certo, mas você precisa sair de cima de mim para que eu possa me levantar e abrir a porta.
Noah se afastou e ela levantou do chão, abriu a porta e o lobo entrou em sua casa sem que ela convidasse.
Ela respirou fundo.
— Bem, entre e sinta-se à vontade — disse zombeteira.
Ela fechou a porta e quando se virou, Thor estava na porta da cozinha, latia e rosnava para Noah que rosnava de volta, como se fosse uma advertência.
— Thor, calminha garoto, ele é amigo — Ester disse.
Noah rosnou forte e Thor choramingou e saiu correndo. Ester ficou boquiaberta e quando ela se virou, Noah havia se transformado, estava nu na sua frente. Ester gritou e deu um passo atrás, batendo com as costas na porta.
— Droga, Noah, você precisa parar de fazer isso.
— Você se assusta muito facilmente, doçura.
Ester gemeu, ela havia esquecido como a voz dele atingia-a como um raio. Ela não entendia como aquilo podia soar tão erótico e perturbador.
— Sério? Talvez seja somente porque não sou acostumada a ter homens nus na minha sala.
— Isso é bom — ele disse seriamente.
— Por que está me seguindo?
— Estou há três dias observando você.
— Por quê?
— Queria saber se estava bem, queria entender por que você não quer ficar conosco. Na sua casa.
— A mansão não é minha casa, esta é.
— Você não gosta de nós?
— Nada contra.
Ele deu um passo à frente e ela gemeu. Então, ele a cheirou.
— Está excitada!
— Droga, homem, você está nu na minha frente, você tem um corpo lindo, você é lindo e... Droga!
— Quer fazer sexo? — ele perguntou aturdido.
Estava loucamente excitado por ela, mas ficou espantado de saber que ela estava por ele.
— O quê? Não! Só se afaste um pouco, ok? Você deveria ir e colocar uma roupa e esconder... isso.
Ele olhou para baixo e viu sua ereção forte e dura. Aquilo o estava matando, mas, ao invés de se afastar, ele deu mais um passo à frente e ela gemeu, fechando os olhos fortemente. Quanto mais ela gemia, mais excitado ele ficava.
— Seu cheiro é tão doce, deixa-me embriagado.
— Noah... Você não devia estar aqui assim.
— Abra os olhos e olhe para mim, doçura.
— Só depois de se vestir.
— Olhe para mim, Ester.
Ele sorriu, aproximou seu rosto do dela e lentamente sentiu seu aroma e acariciou seu rosto com a ponta dos dedos.
Ela soltou a respiração num bufo, somente aí percebeu quanto estava segurando-a nos pulmões e apertou mais os olhos, e ele sorriu mais.
— Está com medo de mim?
Ele sabia que seu medo era o menor dos sentimentos, podia sentir as vibrações e aromas que vinham dela.
— Não, mas me nego a conversar com um homem nu.
— Me acha repugnante de olhar?
— Oh Deus, não. É... É muito atraente.
Ele a segurou pela nuca, puxou-a para si e a beijou, e todo o mundo ao redor se apagou. Ela levou um choque, tentou se afastar, mas era impossível. Ele era enorme, másculo e estava imprensando-a contra a porta. Ester sentiu sua enorme ereção contra sua barriga e contorceu-se. Seu corpo vibrava.
Aquele homem sabia como beijar e atiçou todas as suas extensões nervosas. Ela não teve outro remédio, senão beijá-lo de volta, pois, além de seu cérebro, seu corpo também a estava traindo miseravelmente.
Quando se entregou foi como abrir as portas do êxtase. Ele domou sua boca com maestria, devorou-a e nunca, jamais, Ester pensou que teria tanto prazer em um beijo.
Noah rosnou contra sua boca, agarrou sua cintura e a ergueu, instintivamente ela abraçou sua cintura com as pernas e enrolou seus dedos em seu cabelo, ofegando pelo movimento brusco.
Com muito custo ele conseguiu afastar seus lábios dos dela, estava embevecido, encantado, atado.
— Ester, você é tão linda. Eu queria fazer isso por anos. Observar você de longe era uma maldita tortura, mas você cometeu o erro de entrar no meu território e agora eu não consigo deixá-la ir, não mais.
— Você me observava? — perguntou confusa.
— Sim, o fazia.
— Por quê?
— Há muito que você não sabe.
— Diga-me.
— Não é o momento.
Ele arrastou os lábios por sua mandíbula a fazendo gemer e ele a beijou, devorando sua boca. O gosto dela era espetacular, viciante e seria um rato se a deixasse ir novamente. Jamais.
— Noah...
— Oh doçura, vou devorá-la, você é minha.
Ester o queria, estava perdida naquela nuvem de desejo, morrendo por aquelas mãos enormes a tocando. Ele era um homem másculo e quente.
Noah beijou sua mandíbula e seu pescoço novamente e gemeu com o gosto de sua pele na sua boca. Ele, então, abriu sua blusa, fazendo os botões voarem e apoderou-se de seu mamilo mesmo sobre o sutiã. Ester gritou com a sensação e ele gemeu, elevando o grau daquela luxúria fora de controle. Era o céu.
Ele passou a mão no centro de seu peito e seus dedos encontraram o curativo do ferimento que ele havia infligido nela. Isso foi como receber um balde de água fria em seu prazer e ele rosnou.
O que estava fazendo? Assaltando-a daquela maneira, imprensando-a contra a porta. Ele olhou para seus lábios e estavam inchados por seus beijos, seus olhos estavam nublados pelo desejo. Aquilo não deveria ser assim.
— Noah?
Ele a segurou pelos quadris, a tirou de sua cintura e a soltou, depois pôs distância entre eles. Ester quase caiu por mal conseguir sustentar suas pernas. Estava atordoada.
— Noah? O quê?
— Sou um lobo, você é uma humana. Eu não quero feri-la. Não foi para isso que eu vim.
Ela gemeu, seu corpo estava doendo e pulsava.
— Devia ter pensado nisso antes de me beijar e rasgar minha roupa. O que pensa que sou? Droga, nem eu sei o que estou fazendo.
— Desculpe — ele disse baixinho.
Ela gemeu novamente e foi até a cozinha, ele ficou olhando aturdido para ela e a seguiu. Ester foi à geladeira e pegou uma garrafa de água gelada, bebeu no gargalo e colocou a garrafa na testa.
— Você está bem? — ele perguntou.
— O que fez comigo? Estou queimando.
Ela olhou para ele quando o ouviu rosnando.
— Pare de rosnar para mim. O que quer dizer que é um lobo? Você tem o corpo igual ao de um homem. Transformar-se em lobo é somente uma mágica, certo? — Ela o olhou de cima a baixo. — É perfeito para mim e quando me machucou foi sem querer, não iria me machucar agora. Não gosto que me aticem e depois me deixem a ver navios, isso me irrita, não sou uma adolescente idiota.
Ele a olhou aturdido, não esperava que ela fosse tão direta ou estivesse zangada por ter parado. O desejava também.
Ester se sentiu mal, estava agarrada a ele como uma depravada, nem sabia que podia ser tão depravada com um estranho, sentiu suas bochechas queimarem de vergonha. Ela respirou fundo e tomou mais um gole da água.
— É melhor que não continuemos com isso, somente complicaria tudo, de qualquer maneira. Pelo menos você caiu em si, porque eu já nem sabia o que fazia... E da próxima vez que vir aqui, venha vestido, ok? Sabe, as pessoas costumam usar roupa quando visitam as outras. Droga, eu estou falando como um papagaio... — Ela o olhou e ele continuava a olhando como se fosse louca e Ester suspirou novamente. — Desculpe... Já que não veio aqui para isso, então por que veio, Noah?
— Por que não voltou à mansão?
— Eu... Eu estava confusa, ok? Precisava de tempo para pensar em tudo. Tudo aquilo que vocês despejaram em cima de mim foi demais. Quer dizer, eu nem acredito que vocês sejam de verdade.
— Você me viu transformar, sou de verdade.
Ela respirou fundo e bebeu mais um gole de água.
— Sei que é de verdade, Noah, mas é uma novidade para mim. É tudo muito difícil de digerir. E essa atração é absurda, você deve exalar algum afrodisíaco, meu Deus! Isso é coisa de lobo?
Ele suspirou.
— Em parte sim.
— Bem, quero perguntar, mas sei que vou me arrepender de ouvir a resposta, então vou mudar de assunto. Por que veio?
— Vim pedir para que volte.
Ela olhou-o confusa.
— Por quê? Viveram sem mim estes anos todos. Ficarão bem sem mim de agora em diante.
Noah tinha que pensar em algo. Uma desculpa.
— Você pode ser amiga de Jessy?
— Não conheço Jessy.
— Ela é uma de nós, a única fêmea-lobo na propriedade. Ela mora numa cabana no bosque. Ela tem medo da maioria dos humanos e é solitária. A única mulher na propriedade é Dada e elas conversam, mas Jessy fica muito isolada na cabana cuidando de Lili, que é apenas um bebê e, às vezes, ela chora. Eu já ouvi muitas vezes.
— Por que ela chora?
— A machucaram e o companheiro dela morreu. Já faz muitos anos, mas ela não esquece.
— Como ele morreu?
— Foi dissecado.
— O quê? — ela perguntou assustada.
— Os cientistas queriam saber como que nos transformávamos. Eles mataram muitos dos nossos para poder estudar por dentro.
Ela gemeu e encolheu-se.
— Como puderam fazer isso?
— As pessoas não entendem o que é diferente, Ester, e a primeira coisa que querem é destruir ou apoderar-se, e lucrar com isso. Somos iguais a todo mundo, temos família, sentimentos, uma casa. Eles destruíram tudo. Estávamos tranquilos em nosso mundo até que nos descobriram.
— Onde vocês moravam?
— Morávamos em uma pequena vila ao norte da Irlanda. Havia alguns humanos lá também, mas éramos amigos. Vivíamos em paz. Até que, um dia, um grupo enorme de humanos invadiu a vila e nos capturou. Fomos separados e enviados a laboratórios diferentes. Estamos tentando encontrar os últimos que faltam, mas tudo é muito secreto. É difícil encontrar os laboratórios. Ninguém sabe da nossa existência, portanto, tudo é feito às escondidas. Quer dizer, isso não saiu em um noticiário.
Ela suspirou, voltou para a sala e sentou no sofá.
— Estamos tendo uma conversa longa, Noah. Fico contente que não me veja mais como sua inimiga.
— Nunca foi minha inimiga. O pai falava sempre de você, tem muitas fotos, e eu acompanhava você... — Ester olhou-o espantada e ele disfarçou. — Você era importante para ele, então é nosso dever proteger você agora.
— Isso soa bem, primeiro você queria arrancar minha cabeça, agora quer me proteger, sem contar isso... Bem, o que estávamos fazendo há minutos atrás — ela disse com um sorriso e o coração de Noah disparou no peito.
Ela era linda e ele estava mais excitado. O olhar dele baixou para seu corpo, ela estava com a blusa aberta, aparecendo seu sutiã branco; e ele sentiu a luxúria lhe enevoar os pensamentos. Queria agarrá-la e deleitar-se naquele corpo. Amá-la até que ela implorasse para ser sua para sempre.
O sorriso dela sumiu e só aí ele percebeu que estava rosnando.
— Melhor eu ir.
Ele se virou e ia saindo.
— Noah? Aquelas coisas que disse sobre nós...
— Desculpe, eu não deveria ter dito nada, eu perdi o controle. Se não quer que a toque novamente, não o farei.
— Bem, eu não vou mentir e dizer que eu não gostei que me tocasse.
— Não brinque comigo, Ester, posso seguir adiante e não parar mais. Acredite, estou segurando o inferno aqui.
Ester estava muito tentada em dizer que queria que ele prosseguisse; ele era um homem difícil de não desejar, mas talvez precisassem de um pouco de tempo. Tudo era muita loucura, mas ela não queria que ele fosse embora, deveria pensar num assunto, então perguntou:
— De quem Lili é filha?
Ele rosnou até que ela lhe deu um olhar inquisitivo e ele parou.
— Lili é filha de Jessy. Ela tem três anos e ainda não se transformou.
— O que isso quer dizer?
— Nossos filhotes se transformam quando completam um ano. Lili tem três e ainda não se transformou. Pensamos que ela é inteiramente humana.
— O marido de Jessy não era um lobo?
— O companheiro de Jessy morreu há oito anos. Lili é filha de um dos médicos que a tomava sem seu consentimento. Eu arranquei a cabeça dele com minhas mãos, quando a libertei.
— Oh Deus, eu não devia ter perguntado! — Ester gemeu.
— Apesar disso, Jessy ama Lili e nós também. É uma garotinha adorável, apesar de não ser uma loba.
— Sinto muito que vocês tenham passado por isso.
— Isso é passado. Eu vim aqui para dizer que eu gostaria que você voltasse.
Ela fechou os olhos e esfregou as têmporas.
— Por que, Noah?
Quando ela viu que ele não respondeu, abriu os olhos, olhou ao redor e ele havia sumido. Ela respirou fundo e gemeu abraçando seu corpo, que ainda estava queimando.
Capítulo 6
Ester quis negar a sua vontade absurda de ir à mansão. Depois da visita de Noah, ela tinha conseguido ficar mais dois dias se segurando.
Apesar de ter controlado seus desejos, havia dormido mal e não conseguia parar de pensar em Noah a imprensando contra a parede, seus beijos, o toque ardente de suas mãos, que ainda pareciam queimar sua pele.
Seu corpo estava em um calor latente interminável, ela deveria perguntar se ele havia lançado uma magia ou algo, pois nunca se sentiu dessa maneira antes, nunca se sentiu tão atraída por um homem. Mas Noah não era um homem comum e isso aumentava sua excitação e seu encanto por ele.
Pela tarde ela estava andando pela clínica sem conseguir parar, se não fizesse algo teria uma síncope. Queria ignorar tudo o que havia descoberto, queria esquecer que aquelas pessoas mágicas, deslumbrantes e tão curiosas existiam, mas ela não sabia como fazer isso.
Erick havia ligado e dito que queria ler o testamento, mas ela havia recusado. Sabia que era somente mais um subterfúgio para que ela voltasse, e Ester sabia que na noite passada Noah estava ao redor de sua casa novamente, podia senti-lo.
Ester ficou divagando sobre Noah enquanto olhava pela janela, a chuva estava suave e se sentiu nostálgica. Ele era bruto, mas havia a beijado tão suavemente da primeira vez. Adorou como ele a chamava de doçura, aquilo era tão carinhoso da parte dele, mesmo que seu olhar hipnotizante fosse selvagem e transmitisse tanta fome. Fome por ela.
Ele devia estar sentindo o mesmo que ela, uma atração imensa que era difícil de pensar? Não seria errado ter um relacionamento afetivo com um shifter, ou seria? Eles tinham uma vida como todo mundo, como Noah havia dito. O fato de poderem se transformar não era um impedimento.
Apesar de estar confusa e com mil questionamentos, a única coisa que Ester tinha certeza era de que Noah havia a marcado a fogo e sentia ânsia em vê-lo de novo.
Ela não havia perdoado seu pai pelo que fizera e temia que não o fizesse nunca, mas realmente agora ela se perguntava como ele teria conseguido ficar longe, se afastar daquelas pessoas mágicas?
Se ela estava tendo dificuldade, imaginava como seu pai se sentiu em relação a eles, tudo que observou, vivenciou e como era apegado a eles, como lutou para salvar suas vidas, livrá-los daquele destino cruel e desumano.
Ela ainda pensava em como eles todos o chamavam. Pai. Ele deveria amá-los como seus filhos. Como ele deveria tê-la amado. Eles pareciam como ímãs que faziam as pessoas ficarem perto deles. Porém, seu pai não os abandonou, mas havia abandonado a ela.
Ester suspirou quando chegou à conclusão de que o único bálsamo para suas dúvidas e curiosidades seria ir à mansão e ver o que aconteceria, afinal, nunca foi uma mulher medrosa.
Então, deixou a sua assistente encarregada de tudo na clínica e pegou o seu carro particular, já que a sua van ainda não havia ficado pronta no conserto; e foi até fora da cidade para encontrar a entrada de terra que levava à propriedade de seu pai, que era sua agora.
Quando chegou, parou o carro em frente ao portão de ferro enorme que estava fechado. Bem, ela não tinha avisado que viria, e provavelmente ele sempre estaria bem fechado.
Ela abriu o vidro do carro e esticou o braço para alcançar o interfone e assustou-se quando um rapaz vestido de negro apareceu do lado de dentro do portão.
Ele tinha os cabelos castanhos com mechas loiras e alguns fios platinados, presos em um rabo de cavalo. Usava um óculo BL que cobria seus olhos, e sua mandíbula perfeita e máscula movia-se, prestando atenção ela percebeu que ele mascava um chiclete. Ele estava vestido todo de preto, botas militares, calça cargo e uma camiseta colada ao corpo perfeito e musculoso, e estava protegido por um colete à prova de balas.
Ela se perguntou se ele era um deles, mas pelo tamanho de mais de um metro e noventa, e aquilo tudo de gostosura, ela deduziu que sim. O homem era um senhor de uma capa de revista.
Ela arregalou os olhos quando avistou a enorme arma de atirador que ele segurava contra o peito. Suprimindo o medo que sentiu, colocou a cabeça para fora da janela e com um sorriso agradável disse.
— Olá, sou Ester Klaus, a veterinária. Vim ver como Luca está, o atendi dias atrás por causa de sua perna quebrada.
Bela desculpa esfarrapada; o que ela queria mesmo era ver Noah, já que ainda não estava no tempo de retirar a tala do jovem lobo.
— Sei quem você é — ele disse com um sorriso e levantou os óculos. Ela ofegou quando viu seus olhos inteiramente brancos, como os de Liam. — Eu sou Petrus.
— Muito prazer em conhecê-lo, Petrus.
Ele fez sinal para a câmera e o portão se abriu, alguém devia estar observando-os. Quando ela entrou e o portão se fechou, ela pensou em seguir pelo caminho, mas parou novamente e saiu do carro, estava curiosa e ele sorria lindamente, queria apenas olhá-lo melhor e descobrir de onde era seu lindo sotaque.
— Isso é necessário? — ela perguntou apontando para a arma.
— Acredite, é necessário.
— Seu nome é muito bonito. De que origem é?
— Sou grego.
— Vocês têm nacionalidades diferentes? — perguntou espantada. — Pensei que eram de um mesmo lugar.
— Eu e minha família somos da Grécia. Meu irmão e eu fomos capturados quando fomos visitar a alcateia de Noah, na sua vila na Irlanda. Dr. Klaus nos libertou de um pequeno laboratório secreto em Hesse. Eu e meu irmão resolvemos ficar com Noah para ajudar a encontrar os outros. Talvez, um dia, nós voltemos para casa.
— Existem alcateias em outros países?
— Sim, moça. Algumas são grandes, outras bem pequeninas. Vivemos entre os humanos por séculos.
Ela literalmente abriu a boca de espanto.
— Mas... Mas com estes olhos e cabelos e este tamanho, como que ninguém nunca falou de vocês? Quer dizer, eu nunca vi que alguns de vocês tenham sido encontrados até agora.
— Somos bons em nos ocultar. Tintas de cabelos, perucas, lentes, chapéus, óculos escuros sempre foram um bom disfarce. Muitas pessoas nos viram. De onde você acha que surgiram as lendas dos lobisomens? — Ele riu e ela continuava boquiaberta. — Os humanos exageram um pouquinho na bestialidade de qualquer forma, somos lindos lobos, não acha? Pelo menos, na maioria do tempo. A senhorita poderia fechar sua linda boquinha agora, pode entrar algum inseto voador, pois estamos num bosque.
Ela espantou-se com as brincadeiras dele e fechou a boca.
— Desculpe.
— Pode entrar agora, Luca vai gostar de vê-la. Ele gostou de você. Vou avisar o alfa que você está aqui. Não cometeremos o mesmo erro da primeira vez, ninguém a atacará, Ester, fique tranquila.
— Obrigada, foi um prazer conhecê-lo.
— Igualmente.
Ele fez uma reverência e ela estranhou, mas entrou no carro, dirigindo até à frente da casa. Ela desceu e olhou ao redor, mas não viu ninguém. Ao bater com a aldrava na porta principal, já estava nervosa.
— Srta. Klaus! — Dada gritou alegre quando abriu a porta.
— Olá, Dada.
— Eu fico feliz que tenha voltado. Soube que nosso Noah andou a assustando de morte, mas é um moço adorável, assim como todos os outros. A senhorita precisa se acostumar com essa coisa toda de lobos, mas eu amo estes meninos, podem ser grandes, mas para mim são como filhos e não me aterroriza em nada, nadinha mesmo.
— Vejo que eles a consideram muito. Fico feliz que não a assustem.
— No começo sim, eles uivavam e rosnavam e eu me assustava, mas agora não, são dóceis como filhotinhos quando são bem tratados, mas ferozes como monstros, quando se sentem ameaçados e atacam.
Ester sorriu; a senhora era encantadora e devia mimá-los muito. Gostaria de ver isso.
— Bem, eu já percebi isso. Vim ver como está Luca.
— Oh, Luca está ótimo. O Sr. Erick gostará de vê-la, está a esperando na biblioteca.
— Ele está me esperando? — perguntou espantada.
— Minha querida, uma coisa que deve saber sobre os lobos, eles têm audição aguçada, olfato e instintos muito desenvolvidos, sabe?
Ela assentiu e seguiu para a biblioteca que estava com a porta aberta. Ela espantou-se ao entrar e ver Erick. Ele usava um terno muito elegante e bem cortado, podia apostar que foi feito sob medida e que custara uma pequena fortuna. Uma gravata impecável adornava uma camisa muito alva e os sapatos eram incríveis e bem lustrados, e ele estava sem lentes para ocultar seus magníficos olhos cor de ouro. Era toda uma visão.
Ester franziu o cenho quando percebeu algo. Ela achava todos eles lindos e ficava impressionada com sua beleza, seu tamanho e reconhecia que eram extremamente sexy, mas não ficava excitada como quando via Noah. Somente ele despertava seu corpo de uma forma tão intensa que chegava a ser assustadora.
Ester saiu de seu devaneio quando Erick falou, com um lindo e gigante sorriso.
— Olá Ester, como está? Fico feliz que tenha retornado, finalmente.
— Vim fazer uma visita.
— Esta casa é sua, pode vir aqui a hora que desejar.
Ela sorriu quando ele segurou sua mão e beijou seus dedos. Aquilo era encantador. Ele esbanjava simpatia, era impossível não gostar dele.
— Como está Luca? — ela perguntou.
— Bem, retirou a bota esta manhã.
— Retirou? Mas ainda é cedo para andar sem a bota! — disse espantada.
— Ele é novo e se curou rápido.
— Curou? Isso é coisa de lobo?
— Sim, curamos mais rápido que os humanos.
— Ora essa — disse espantada.
— Vai aprender tudo sobre nós com o tempo, mas mesmo assim pode olhar sua perna. Ele gostará de vê-la, tem perguntado se você voltaria.
— Ele é um jovem muito querido. Onde estão seus pais? — perguntou com receio.
— Nós ainda não os encontramos.
— Não estavam juntos?
— Não, seus pais foram levados para outro lugar.
— Oh, eu sinto muito — disse tristemente.
— Temos uma pista que estamos investigando, eu espero que logo tenhamos a confirmação de que os encontramos.
— Oh, torcerei para que seja verdade.
— Gostaria de jantar conosco esta noite? Pedirei que todos se reúnam aqui para recebê-la, então poderá conhecer a todos. Creio que conheceu Petrus no portão.
— Sim, o conheci e ele é muito simpático.
Ester sorriu quando sentiu a vontade de emendar mais elogios como lindo, sexy como o inferno e gostoso ao deus grego, mas calou-se.
— Petrus é um dos mais amistosos de nós. Quando não estamos ameaçados, claro, pois em forma de lobo ele é muito feroz e um dos poucos, além do alfa, que consegue se manter como Dhálea por um longo tempo.
— Dhálea?
— Nossa forma intermediária. “Leath fear, leath Mac Tire”, seria meio-lobo, meio-homem.
Ester arregalou os olhos.
— Creio que eu não gostaria de ver isso.
Erick riu e se aproximou muito dela.
— Os humanos usam muitos nomes. Os antigos belgas chamavam esta forma abreviada de Ker, onde o corpo exibia a forma não totalmente humana, nem animal. Mas sim um momento de transformação de duas almas expostas que habitam o mesmo corpo. Um é o espírito de um humano, o outro de um lobo. Nós, irlandeses, chamamos nossa forma intermediária de Dhálea. Portanto, se você se encontrar com um de nós em forma Dhálea por aqui, não se assuste, não machucará você.
— Vou tentar acreditar nisso — disse assustada.
— Há muitas coisas sobre nós que acharia diferente e interessante, Ester. E uma coisa que você deve saber. Somos muito leais com aqueles que amamos.
Ele acariciou sua bochecha com o dedo e ela o olhou com os olhos arregalados.
Ester se assustou quando um forte rosnado veio da porta, ela se virou e ficou olhando para o enorme lobo ali parado.
Erick pareceu não se incomodar em nada, pois ostentou um sorriso que Ester podia jurar que era malicioso.
— Seja bem-vindo à conversa, Noah, mas espero que não assuste Ester com esses rosnados. Lembre-se, assustá-la está fora da lista de opções.
Noah rosnou novamente, arreganhando os dentes e mostrando os afiados caninos. Parecia muito zangado. Mas não olhava para ela, olhava para Erick.
— Vai me atacar, Noah? Não vejo o motivo, apenas estava tendo uma conversa muito agradável com nossa querida Ester — Erick disse calmamente com um sorriso e Ester olhou espantada para ele.
— Por que ele está bravo?
— Acha que estou invadindo seu território.
— Seu território?
Noah rosnou novamente, mas Erick o ignorou e falou calmamente.
— Jantará conosco? Por favor, aceite, seria uma honra tê-la conosco para o jantar.
— Está bem, eu aceito.
— Ótimo! Vou avisar a todos. Tenha uma boa-tarde, Noah.
Com um sorriso, Erick saiu da biblioteca e Ester olhou para Noah.
— Pare de rosnar que você está me deixando nervosa. O que está acontecendo?
Ele se aproximou dela e se transformou, e logo estava nu diante dela. Ela ofegou e deu um passo atrás.
— Droga. Nunca vou me acostumar com isso.
As narinas de Noah queimaram ao captar o perfume dela, isso entrou em sua mente como uma bebida que embriaga rapidamente, seus olhos se estreitaram e seus músculos contraíram enquanto se encorpava lentamente em toda sua altura impressionante.
Muito alto, ela pensou.
Será que ele podia cheirar seu nervosismo junto com sua excitação? Provavelmente, mas quem não ficava nervosa perto dele? Ela percebeu que havia prendido a respiração, somente não estava tremendo e babando porque estava muito hipnotizada para tal. Seu coração se aqueceu, assim como todo seu corpo, somente de olhá-lo.
Apesar de seus esforços, ela não conseguiu conter seu olhar fascinado por ele.
Seus olhos estavam fixos nela, o brilhante azul-acinzentado ardendo com fúria. Ela engoliu em seco. De maneira nenhuma ele estava feliz em vê-la, isso entristeceu Ester. Não o estava agradando que tivesse vindo?
— Eu vim para uma visita, como me convidou — ela sussurrou.
— Estou vendo.
— Sinto muito que minha presença o desagrade, talvez seja melhor eu ir embora.
— Nunca mais deixe que ele a toque.
Ela demorou alguns segundos para atinar sobre o que ele estava falando.
— Oh! E eu faria isso, por quê?
— Ninguém deve tocá-la.
Ela bufou.
— Eu sou livre e posso deixar qualquer um que eu queira me tocar. E já que eu o aborreço, vou embora.
Noah não disse uma palavra, deu alguns passos tão rápidos que Ester não teve tempo de reagir. Ele passou a mão atrás de sua nuca, a outra na base de suas costas, a puxou para seu corpo e a beijou.
Ester gemeu quando ele devorou sua boca, não esperava que ele fizesse isso. Ele rosnou quando ela gemeu de prazer e ela se esfregou contra seu corpo, sentindo como se tivesse entrado em um poço de lava.
O beijo foi profundo e intenso. Então, ele soltou de seus lábios, com a respiração irregular, e esfregou o rosto na sua bochecha, e depositou um beijo suave nos seus lábios, ainda segurando-a firme contra ele.
Ester somente estava ali, desmanchada em seus braços.
— Não o deixe tocar em você novamente — disse sussurrando suavemente, sem deixar de tocar os lábios com os seus.
— Por quê? — sussurrou com dificuldade.
— Você é minha.
— Sua? Não sou sua. É muita pretensão de sua parte, homem das cavernas.
— Nenhum lobo pode tocar em minha companheira.
— Companheira? Do que está falando?
Ele a ergueu do chão e, quando ela percebeu, estava deitada no divã, com um Noah enorme e excitado sobre ela.
Ele a beijou até que Ester perdesse o sentido de orientação que necessitasse mais. Ele passou a mão pela sua perna, deslizando para debaixo de sua saia até encontrar sua calcinha. Ele, então, gemeu quando sentiu a sua calcinha molhada. Ester se sobressaltou com o contato que lhe atingiu diretamente em seu centro.
— O que está fazendo?
— Demonstrando o quanto estou feliz por você ter vindo.
— Oh. Não sei se podemos fazer isso.
— Está molhada para mim — murmurou.
— Por favor. O que... isso...
Ele a beijou novamente, e ela gemeu e sentiu suas entranhas se contraírem quando ele passou a mão por dentro de sua calcinha e alcançou seu clitóris e o acariciou. Logo um dedo entrou nela fazendo-a gemer novamente e ofegar por ar.
— Qual é o seu gosto, doçura? Deixa-me provar? Somente o seu cheiro já me deixa louco, sentir seu gosto vai me matar. Deixa-me?
Ela ficou tonta com aquela voz tão grave e sexy, seus pensamentos ficaram embaralhados e com um novo roçar de seus dedos a fez contorcer-se e gemer.
— Sim — ela soltou num bufo.
— Sim o quê? — ele ronronou.
— Prove-me.
Ela sabia que não devia ter dito isso, mas que o inferno congelasse, se ela impediria que ele continuasse o que estava fazendo. Se ele queria prová-la, deixaria, afinal, o que havia de mal nisso se o desejava também?
Ele desceu os lábios pelo seu pescoço, seu colo e mordeu o bico de seu seio que estava forçando e pedindo liberdade sob o sutiã e a blusa de seda. Ester soltou um grito sufocado e sentiu Noah erguer sua saia e sua calcinha descer por suas pernas.
Ester estava hipnotizada, derretendo de luxúria quando sentiu seus beijos por seu corpo, descendo para sua virilha, e soltou um grito quando Noah a lambeu. Ela pensou que perderia a sanidade. Ele lambeu, mordeu e chupou, deleitando-se como se estivesse em um banquete real, e o orgasmo veio com uma força que ela jamais pensou ser possível.
Ester não teve noção de quão alto foi seu grito e seus gemidos, mas sentiu a garganta vibrar e apertou os olhos fortemente, jurava que viu algumas estrelas, na verdade muitas.
— Noah...
Ele subiu sobre ela e a beijou, afogando seus gemidos desesperados.
— Eu poderia ficar o dia todo me deleitando com seu sabor, admirando seu corpo, sentindo seu cheiro. Quer ser amada por um lobo, doçura? Não aguento mais me segurar para não tomá-la. Não consigo mais raciocinar. Tentei ficar longe, mas agora não consigo mais. Você é a coisinha mais deliciosa que já senti em minha boca. Doce e quente. Eu não quero que Erick a toque outra vez.
— O quê? — perguntou meio sem entender as últimas palavras.
Nunca tinha ouvido coisas tão inebriantes e eróticas na vida. Sua mente estava uma névoa, apenas conseguia pensar em ter mais dele, queria tudo dele.
— Não estou pensando em Erick, só quero saber de você.
Então, ela entrelaçou os dedos em seus longos cabelos e o puxou para seus lábios, o beijando.
Foi muito desorientada que ouviu um rosnado forte e soltou de seus lábios.
— Noah! — Ester ofegou.
Ester não soube como, mas Noah foi arrancado de cima dela com violência, e quando percebeu, ela tinha caído do divã e estava no chão, com um baque surdo que pensou que seu quadril ficaria roxo.
Ester ofegou e arregalou os olhos quando avistou um lobo negro, um pouco menor dos que já tinha visto antes e rosnava ferozmente para Noah, com suas presas arreganhadas.
Noah estava de quatro no centro da biblioteca e rosnava, enfrentando o lobo negro. Ele estava em forma de homem, mas Ester ficou assustada com seu rosto, seu maxilar estava maior, mais longo, e seus caninos eram longos e afiados, seus olhos cintilavam e seus rosnados eram ferozes.
Ela ofegou quando viu garras em seus dedos, era como se suas unhas tivessem crescido muito. Aquilo deveria ser a forma Dhálea que Erick havia comentado; não toda ela, mas o suficiente para deixar qualquer um aterrorizado. Era uma visão aterradora.
Ester, então, se deu conta de onde estava. Na biblioteca e seminua. E naquele momento ela não sabia se sentia raiva, vergonha ou medo. O choque era muito intenso para seu cérebro decidir.
A única coisa que fez, foi baixar a saia rapidamente e pular para trás do sofá.
Capítulo 7
Noah soltou um rosnado tão forte e alto que Ester gemeu e se encolheu atrás do sofá, espiando com medo.
— Acalme-se, eu não a estava machucando — Noah disse com a voz rouca e severa.
O lobo negro rosnou para ele novamente.
— Recue agora, antes que você me aborreça mais. Não a forcei, acredite em mim, é minha companheira! — Noah rosnou, agora ele parecia muito mais bravo e seus olhos cintilavam mais.
Foi boquiaberta que Ester viu o lobo negro se transformar em uma mulher extremamente linda. Ela tinha os cabelos muito lisos, longos até a cintura, negros como a noite e usava uma franja reta e perfeita, tinha os olhos verdes muito pálidos contornado de negro.
Ela estava nua e seu corpo era perfeito, sua pele era lisa e alva e parecia muito suave. Ela era mais alta que Ester, devia medir mais de um metro e oitenta.
Ester piscou algumas vezes para ter certeza de que a estava vendo realmente.
Foi, então, que a fabulosa mulher finalmente tirou os olhos irados de Noah e olhou para Ester, que ainda se escondia atrás do sofá.
— Ele feriu você? — ela perguntou.
— Não — Ester respondeu rapidamente.
— Ele a forçou a fazer sexo?
— Não! Ele não me forçou.
Ester olhou para Noah que agora estava em pé estirado de toda sua altura. Havia voltado ao normal fisicamente, mas estava muito zangado.
— Acredita que eu machucaria a humana, Jessy? — Noah perguntou incrédulo.
— Você não gosta de humanas.
— Gosto dela.
Agora Ester olhou novamente para Noah. Ele gostava dela?
A bela mulher olhou de um a outro, parecendo totalmente desorientada como se estivesse forçando o entendimento. Então, ela olhou para Noah com os olhos tristes e envergonhada. Ester pensou que ela fosse chorar.
— Desculpe, alfa. Fiquei assustada. Ouvi-a gritar e... quando o vi sobre ela, eu... Ela parecia com dor, eu pensei mal. Por favor, me desculpe. Sei que você não a machucaria.
Noah rosnou fortemente.
— Inferno! — ele gritou com raiva.
Jessy se assustou com a raiva de Noah e se virou para sair, mas ele a segurou pelo braço.
Noah sabia que Jessy havia entrado em pânico e relembrado seus próprios fantasmas. Queria matar alguém por isso.
— Não! Não fuja de mim!
— De... Desculpe.
— Shhh, está tudo bem. Vou perdoá-la, Jessy, mas não volte a fazê-lo. Meu lobo poderia revidar e eu poderia feri-la, entendeu?
— Sim, não ocorrerá novamente, me desculpe. O que disse é verdade, sobre ser sua companheira? — perguntou confusa.
— Deixe-a por agora, não é o momento.
Ester agora sentiu que seu rosto estava muito vermelho de vergonha. Ela estava começando a colocar os pés no chão novamente, tomar as rédeas de seus sentimentos e nervos. E a realidade não lhe foi muito agradável.
Estava fazendo sexo praticamente com um desconhecido. Um homem que virava lobo, numa casa cheia deles, e a tinham ouvido gemer e gritar como uma louca descarada. Havia sido pega. Ester queria que o chão se abrisse para ela desaparecer.
— Preciso ir! — Ester disse, rapidamente movendo-se para a porta.
Num minuto, Noah que estava de um lado da sala aterrissou na frente dela, impedindo a passagem pela porta.
Ela assustou-se e gritou, dando um passo para trás.
— Por favor, não vá, Ester — ele pediu.
— Eu preciso, sinto muito, isso foi... Não devia ter acontecido.
— Ester! Eu sinto muito se eu a assustei. Erick me disse que a herdeira estava aqui, quis conhecê-la. Não fiz por mal, foi um mal-entendido, por favor, me desculpe — Jessy disse.
— Prazer em conhecê-la, Jessy, mas agora eu realmente preciso ir. Eu volto outro dia para conhecê-la melhor. Saia da minha frente, Noah.
— Não. Precisamos conversar — ele rosnou.
— Olhe, sei que é grande e tapa toda a porta, mas lhe darei um chute em suas bolas, se não sair da minha frente para que eu possa ir para minha casa. Agora. E já lhe disse para não rosnar para mim!
— Sua casa agora é aqui — Jessy sussurrou.
Ester olhou para trás para ver a mulher que não exalava mais raiva e sim, estava tímida e temerosa, completamente nua no meio da sala.
Ester suspirou. Sua vida tinha virado uma bizarrice. Olhou para Noah e ele estava ali, como um muro, impedindo-a de passar. Era lindo e poderoso e parecia determinado a não recuar. O corpo de Ester ainda estava latejando, sentindo todas aquelas sensações do orgasmo, de seus beijos, de suas mãos a tocando.
Estremeceu de vergonha de ter sido pega. Ela esfregou os olhos com os dedos e suspirou, tentando pensar.
— Senhorita Ester, veio para ver minha perna?
A voz veio detrás de Noah e Ester balançou a mão para que ele saísse da frente. Noah suspirou exasperado, então como se soubesse que não podia fugir de uma imensa plateia, saiu da frente e pôs-se ao lado.
Ester colocou um sorriso no rosto e olhou para o garoto. Ele era realmente lindo, quando fosse um homem adulto mutilaria muitos corações. Ester olhou para sua perna e parecia normal. Ele estava somente de shorts e sem camisa, estava um pouco molhado.
— Olá, Luca. Você parece bem, mas não devia estar caminhando.
— Minha perna está boa, olhe.
Ele a ergueu e ela realmente se espantou como curara.
— Incrível. É inacreditável que esteja andando e esteja com sua perna curada. Eu gostaria de tirar uns raios-X para me certificar de que realmente o osso está curado para que não haja um dano posterior.
— Oh, pode fazê-lo, mas eu acredito que esteja bem.
— Quantos anos você tem?
— Doze.
— É alto para doze.
— Bem, todos os lobos são altos.
— Sim, já vejo — disse com um sorriso.
— Não sabe que não pode entrar molhado na casa, Luca? — disse Noah.
— Desculpe alfa, eu estava nadando na piscina. Konan nos exercita sempre, disse que preciso de exercícios para ficar forte e que isso seria bom para minha recuperação. Mas daí Erick disse que estava aqui para ver-me e corri para vê-la, descobri-a na biblioteca porque senti seu cheiro.
Ester gemeu.
— Sentiu meu cheiro?
— Sim, humana na casa.
— Erick disse que aceitou jantar conosco hoje para conhecer todos — Jessy disse. — Dada já foi preparar as carnes com a ajuda de Harley. Consumimos muita carne, como deve imaginar.
Ester suspirou. Sim, tinha prometido, mas somente o que queria fazer era sumir dali.
— Olha, acredito que seria melhor deixar isso para outro dia, agora eu devo ir.
— Você pode tomar um banho no quarto de hóspedes se desejar, Ester, creio que é por isso que está querendo ir embora.
— Tomar banho? — perguntou confusa.
— Para que se sinta mais confortável, pois todos sentirão o cheiro de sexo e saberão que esteve com Noah, que carrega também seu cheiro, como já deve saber — Jessy disse.
Ester gemeu de vergonha e Noah rosnou para Jessy. Não queria que Ester perdesse seu cheiro.
— Está passando dos limites, Jessy — Noah a repreendeu.
— Vai evitar comentários, Noah. Ela está envergonhada, não vê?
— Se parasse de falar e armar cenas, talvez ela não se envergonhasse.
— Desculpe, mas eu não tenho o costume de mentir ou ocultar coisas. Lobos são muito honestos e diretos.
— Eu já percebi isso, Jessy. — Ester suspirou e olhou para Noah. — Sim, prometi e ficarei para o jantar, mas vou aceitar o banho, porque não quero mais comentários sinceros e diretos por hoje.
— Você gostaria de conhecer o quarto do pai? Talvez pudesse usar sua suíte para o banho, se você não se importa — Jessy perguntou.
Ester sentiu um frio no estômago e uma raiva contida.
— Sim, claro, por que não? O que pode ser mais bizarro do que ver a cama de um defunto?
— Eu a levo — disse Noah e a pegou pelo cotovelo, puxando-a para fora da biblioteca.
Bem, Ester pensou que isso poderia ser mais bizarro, andava pela casa com um gigante nu ao seu lado. Ela olhou ao redor enquanto subiam as escadas, não queria ver nenhum outro andando nu pela casa, como se fosse tão natural quanto beber água.
Ester realmente achava que deveria se acostumar com isso. Ela somente tinha visto Noah e Erick nus, e estava petrificada como Jessy agia tão naturalmente na frente de Noah, sem nenhuma vergonha de seu corpo. Não que ela tivesse algo a se envergonhar daquela perfeição, mas pudor? Ela realmente não tinha nenhum e Noah muito menos se incomodou. Este pensamento lhe causou ciúmes.
Imagina se ela sobreviveria em vê-los nus num grupo. Provavelmente enfartaria. Anotou mentalmente que deveria rever seu plano de saúde para ver se cobria ataques cardíacos.
Neste momento ela se perguntou se eles jantavam vestidos ou nus. Estava delirando, talvez precisasse de um calmante, além do banho.
Seu devaneio foi interrompido quando entraram em um imenso corredor e Noah abriu a porta de um dos quartos.
Ester seguiu Noah calada, ainda tentando controlar sua vergonha. Não sabia o que dizer a ele e nem podia olhá-lo diretamente.
— Este é o quarto de Kirian, somente vou pegar uma calça emprestada antes de seguirmos, como sabe não moro na casa e já que você se incomoda com a nudez, isso vai confortá-la.
— Oh, claro, isso me conforta.
— Desculpe pelo que houve lá embaixo.
— Por que ela pensou que me forçaria?
— Ela estava confusa, como deve ter percebido, pelo motivo que já contei a você. Ela ficou com trauma.
— Oh, isso é horrível.
— Sim, malditos, um dia pagarão por isso. Ela nunca me viu com uma mulher, deve ter estranhado o que estava acontecendo entre nós.
— Não?
— Não depois de Laila.
— Oh!
— Você se arrependeu?
— Do quê?
— Do que estávamos fazendo.
Ester ficou vermelha como um tomate e desviou o olhar.
— Não, não me arrependo.
Ester quis dizer algo mais, mas parou quando ele se virou, abriu uma gaveta, pegou um moletom preto e se vestiu. Depois ele andou até ela e parou na sua frente, e gentilmente segurou seu rosto entre as mãos.
— Depois discutiremos sobre isso.
Ela assentiu.
— Ou talvez não devêssemos discutir isso — ela disse olhando-o intensamente.
Ele se aproximou dela e encostou seu nariz no dela e delicadamente o acariciou. Noah precisava se curvar para alcançá-la, mas ele não se importava. Faria qualquer coisa para tocá-la.
— Apreciei muito o seu gosto, poderia já estar viciado.
— Isso é mau — ela disse com um sorriso.
— Mau seria se não o repetíssemos.
Ester sentiu seu corpo esquentar, Noah estava excitado contra ela, podia sentir seu membro contra sua barriga, forte e inchado.
— Foi uma experiência interessante.
— Teria transado com você se Jessy não tivesse nos interrompido. Estava tão embriagado por você que nem percebi que ela se aproximou. Isso nunca aconteceu comigo. Os lobos sentem a presença já ao longe, é o instinto animal, e eu nem sequer a senti.
— Vou considerar isso como um elogio a mim.
— Considere que sim — disse sorrindo.
— Sinto muito por Jessy — ela sussurrou.
— Com o tempo ela vai superar isso. Mas você não respondeu minha pergunta.
— Que pergunta?
— Quer ser montada por um lobo?
Ela mordeu o lábio inferior e ficou pensando. Noah não a soltou e esperou pacientemente que ela respondesse sem tirar os olhos dela.
— Gostei do que estávamos fazendo.
— Ester, você está nublando minha mente.
— Não só a sua. Acredito que deveríamos continuar de onde paramos.
Ele rosnou cheio de satisfação e desejo e a beijou. Ester devolveu o beijo, lento e profundo, fazendo-os emergir para fora da realidade. Saborearam os lábios um do outro, compartilharam uma dança sensual em um abraço e carícias suaves.
O brutamonte sabia ser suave. Aquilo levou Ester ao nível superior. Amar a este homem seria como entrar no paraíso.
— Doce céu, doçura, isso é realmente viciante — Noah sussurrou.
— Deveríamos estar fazendo isso no quarto de Kirian? Realmente, eu não gostaria de ser pega seminua em atos sexuais por mais ninguém. Não sou acostumada a isso.
Noah rosnou e ficou carrancudo.
— Não. Vamos resolver isso em um lugar que não nos interrompam.
Ester bufou e riu.
— Com a multidão de lobos que vive nesta casa?
— Então, que seja na minha casa, na minha cama, como deve ser. Depois do jantar, com tempo, pois vou levar a noite toda para sentir cada pedacinho de você, e eu te prometo que nunca mais você vai esquecer-se do que é ser possuída por mim.
Oh, aquilo foi uma promessa e Ester sentiu seu centro fervilhar e ela soltou um gemido afogado.
— O que isso quer dizer?
Ele lentamente sorriu, aquele sorriso malicioso de canto de boca e ele deu um suave beijo em seus lábios. Ester pensou que viraria uma manteiga, queria esquecer o jantar, esquecer o mundo, somente queria estar a sós com ele.
Ela pensou que agora ele a abraçaria e daria um daqueles beijos que a faziam perder a razão, mas ele se afastou.
— Você descobrirá, minha doçura, mas primeiro você terá seu banho.
— Vai tomar banho comigo?
— Não.
Ester se envergonhou. Tomar banho junto era muito íntimo e ela se arrependeu de ter perguntado, logicamente que ele não queria.
— Entendo.
— Não que eu não queira, querida, mas Deus me ajude se eu não tomá-la neste maldito banho.
— O que há de errado de sexo no banho?
— Está me provocando, talvez consiga o que deseja.
— Deus queira... — ela sussurrou.
Ester não teve tempo de argumentar mais nada, ele a pegou pelo braço e a levou para fora do quarto e seguiram pelo corredor.
Ester teve certeza de uma coisa, eles gostavam muito disso, agarrar pelo braço e conduzi-la de um lado a outro. Talvez isso fosse por dois motivos: um, era algum costume destes homens; outro, que ela estava sempre meio torpe e tivesse que ser conduzida.
Ester suspirou e se deixou ser conduzida pelo excêntrico corredor.
Quem ainda, por todos os infernos, tinha uma casa com um corredor gigantesco com tantas portas e com decoração barroca? Aquilo parecia um hotel vintage.
Quando chegaram ao fim do corredor, Noah abriu uma porta e fez Ester entrar.
— Este era o quarto de seu pai.
Ela ofegou quando olhou ao redor do imenso quarto, impecavelmente limpo e arrumado. Ester tapou a boca com a mão e sentiu as lágrimas encherem seus olhos.
— Oh, meu Deus... — ela sussurrou.
Capítulo 8
O quarto que era de seu pai estava cheio de porta-retratos, de diversos tamanhos, dela e de sua mãe por todos os lados. Desde seus quinze anos, quando ele supostamente morreu, até seus vinte e três.
— Ele amava você, Ester — Noah disse.
Ester não conseguiu segurar as lágrimas quando pegou uma foto de sua formatura de veterinária.
— Ele estava lá?
— Sim, ele estava. Quando ele não ia a algum lugar, ele enviava alguém para bater as fotos. Nesse dia, ele pintou os cabelos e deixou a barba crescer por dois meses para parecer diferente.
— Não consigo perdoá-lo por isso. Ele me amava? Sim, mas nos deixou no sofrimento. Eu o teria ajudado com vocês, mas o queria por perto. Minha mãe chorou por ele todos esses anos. O amava.
— Ele também amava sua mãe.
— Quem ama não abandona, Noah.
— As coisas nem sempre são tão simples.
— Penso que é bem simples.
Ela engoliu um soluço quando olhou para as outras fotos. Sobre uma cômoda havia uma foto gigantesca de sua mãe, emoldurada e presa na parede. Ela estava linda e sentada em uma cadeira vitoriana, com as mãos postas sobre o colo, impecavelmente vestida com um tailleur e bem penteada, exibindo o colar de pérolas e brincos que ele havia lhe dado de presente, e ostentava aquele sorriso doce que somente sua mãe poderia ter.
Uma lágrima escorreu pela sua bochecha. Ester sentia muito a falta de sua mãe, elas tinham se apoiado uma na outra, com a morte de seu pai.
Outra lágrima caiu quando ela olhou sobre a cômoda e viu outras tantas fotos dela com sua mãe, dela com Thor, quando era um filhote. Dela na rua e em várias situações e passeios que havia feito. Quando inaugurou sua clínica. A primeira vez que sentou na varanda de sua nova casa, com um sorriso no rosto e um drink na mão, sentada em uma espreguiçadeira e com os pés descalços sobre uma mesinha de vime branco.
— Quando você sofreu o acidente no ano passado, quando sua mãe morreu, ele esteve no hospital para vê-la também, assim como no enterro. Porém, ele somente se aproximou do túmulo quando todos foram embora. — Ela o olhou. — Ele queria trazer você para casa.
— Por que não trouxe?
Noah hesitou em responder.
— Ele ouviu minha conversa com você, e fez isso por mim, por ambos.
— Não entendo, eu nunca falei com você.
— Você estava dormindo, no hospital.
— Você esteve lá?
— Sim, eu estive lá, todas as noites.
Ester ficou boquiaberta.
— O que disse nessa conversa que supostamente eu deveria ter ouvido?
— Eu disse que não conseguiria ficar muito tempo com você por perto sem reclamá-la. Eu tive o conhecimento sobre você.
— Que conhecimento? Não estou entendendo.
Noah suspirou.
— Ele somente pensou que você precisaria estar mais madura para enfrentar tudo isso. Para me aceitar. Você estava muito frágil para nos conhecer. Ele sabia o quanto você era importante para mim, mas eu não estava pronto também, não podia ficar com você.
— Eu era importante para você desde aquela época?
— Sim, você era.
O coração de Ester aqueceu e o olhou atentamente, se afastando dele.
— Meu pai me queria aqui, mas você não.
Noah se sentiu encurralado e trocou o peso nas pernas. Deus, conversar era uma coisa difícil. Ela o odiaria agora?
— Não queria, porque não estava pronto para você. Não a aceitei de fato.
— Você gostou de mim, mas não queria aceitar o fato, é isso?
— Sim, moça, é isso.
Ela ficou olhando boquiaberta para ele, não conseguia assimilar exatamente o tipo de sentimento a qual ele estava se referindo. Estava apaixonado por ela e não a queria? Ester sentiu uma dor no peito. Ela teve que fazer um esforço para puxar os pensamentos para a razão.
— E por isso meu pai continuou escondido?
— Sim. Um prazo, foi o que ele disse, daria a chance de nos encontrarmos no tempo certo. Ele não imaginou que a morte o levaria tão cedo. Ester, eu preciso que entenda que eu não podia. Você não podia ser minha companheira, eu não podia com isso, porque eu tinha Laila e não sabia que podia ter outra pessoa para gostar. Eu estava muito quebrado para poder dar o que você precisava.
Ela estava ainda mais atordoada, ele estava dizendo que gostava dela há mais de um ano.
— Ah, Noah, tudo são desculpas e mais desculpas dele para não me trazer. Meu relacionamento com meu pai não tem nada a ver com você.
— Eu gostaria de fazê-la entender, mas não sou bom com conversas.
— Não se dê ao trabalho. Talvez o perdoe um dia, o entenda, mas não posso fazê-lo agora. Quanto a você, realmente preciso pensar sobre isso.
— Sinto muito que tenha raiva dele. Ele salvou minha vida, não posso ser ingrato a ele, apesar de ter sido sem querer, mas te entendo.
Ela suspirou, secou as lágrimas e tapou o rosto com as mãos.
— Ele amava mais vocês que a mim.
— Isso não é verdade, Ester.
Ele a puxou para seus braços e a abraçou. Ester deixou-se levar pelo abraço, sentiu-se tão quente e segura nos braços dele. A sensação era estranha e acolhedora. Não entendia como ele lhe parecia ser tão próximo, mesmo sem conhecê-lo, e não entendia como não tinha a mínima vontade de repeli-lo, ao contrário, precisava estar perto dele.
— Com o tempo vai entender seu pai, foi para seu bem.
— Sei que comparando com o que vocês sofreram, parece muito egoísta eu dizer isso, mas era meu pai. Eu ainda era uma criança e precisava dele, e ele me abandonou.
— Entendo. E entendo que não queira ficar aqui conosco e que não goste de mim.
Ester se afastou dele e o olhou.
— Por que você acha que eu não gosto de você?
— Somos diferentes.
— Eu sei.
— Posso machucar você sem querer, é humana e eu sou forte.
— Não o vi me machucando há alguns minutos.
Ele rosnou franzindo os olhos.
— Não me provoque, doçura. Com um puxão lhe quebraria a espinha.
— Você quebraria minha espinha?
— Poderia.
Ester ficou muda olhando para ele e tentando entender o que aquilo significava, e tudo parecia bem similar ao que já ouviu antes e suspirou de forma cansada.
— Oh, eu já percebi. Isso é algum tipo de fora dos lobos?
— Um o quê?
— Um chega pra lá. Você disse que não me quis ano passado, então também não me quer agora.
— Ester, eu estou tentando ter um pensamento decente com você.
— Desculpe, mas seu comportamento não parece decente. Então, eu deveria ir embora agora, e continuar a minha vida com outros homens que não quebrarão minha espinha. Posso fazer isso.
Ele rosnou ferozmente.
— Não!
— Sinto, mas acabou de me liberar a ter relacionamentos com outros homens, pois você pode me quebrar. Espero que você fique bem, Noah. Vou viver minha vida fora destes portões e longe de você. Está bem assim?
— Você não vai tocar em outros homens!
— Sim, eu vou. E não sei o que se passa na sua cabeça oca, e nem sei quantos neurônios um lobo possui para poder me entender, mas estou indo embora após o jantar que prometi a Erick e você não tem nada a ver com minha vida! — disse aumentando o tom de voz.
Noah ficou tão boquiaberto que nem conseguiu dizer uma palavra por alguns minutos.
— Entendo que esteja zangada.
— Entende uma merda! Droga, eu nem sei o porquê estou tão zangada! Vocês acham que sabem sobre mim, que eu não sou madura o suficiente para decidir minha própria vida, então me fazem de idiota, mas vocês não sabem coisa nenhuma sobre mim. Deus me perdoe, mas eu não tenho sido eu mesma desde que entrei no seu mundo. Você não me quis ano passado, agora me quer, então me deixa confusa com suas falas estranhas e tudo mais. Uma hora me beija, me faz ver estrelas e diz que não me deixará ir e outra hora diz que pode me quebrar. Cansei! — gritou.
Noah rangeu os dentes, não gostava que o enfrentassem assim, mas ela era forte para enfrentar alguém como ele, sem pestanejar. Admirou isso e sabia que ela tinha razão, mas as coisas seriam assim e ponto. Ela seria perfeita para ser a companheira de um alfa. Seu coração se encheu de amor e orgulho por ela.
Ele cruzou os braços sobre o peito, o que realçou seus músculos, além do peitoral, e falou seriamente. Era intimidante.
— Vou ser mais claro agora. Não vou deixá-la ir embora. Não estou dando o fora. Já disse antes, já estive afastado de você o suficiente, agora não mais. Lide com isso.
Ester sentiu o coração acelerar e segurou o sorriso. Agora ela gostou do que ouviu.
— Vai fazer o quê? Amarrar-me na cama novamente?
— Isso pode ser necessário. Não me desafie.
— Eu adoro desafios e não está autorizado a fazê-lo, não sou chegada a esse negócio de estar amarrada. Por que você não é tão civilizado quanto Erick?
— Fique longe de Erick — ele rosnou.
— Por quê?
— Porque ele está interessado em você.
— Está? Não reparei — disse com um sorriso malandro.
Noah percebeu o que ela estava fazendo, ela era uma pestinha, como havia dito seu pai e ele a adorou ainda mais por isso.
— Ester... Você está jogando comigo?
— Oh, estou? Nem percebi — disse com um risinho. — Vou tomar o meu banho agora. Quero estar perfumada para o jantar em minha honra que Erick mandou preparar.
Ela virou e foi passar ao lado dele, em direção ao banheiro. Noah rosnou e a envolveu pela cintura e a levando num salto incrível, caiu com ela sobre a cama. Ester não teve tempo nem de gritar e ofegou, sentindo o baque no colchão e todo o peso dele sobre ela.
Então, Noah cravou os olhos nos seus.
— Provocar-me desta maneira não é saudável para você, doçura.
— Eu? Provocando você? De onde tira estas ideias? — Ela riu.
— Cuidado, estou me segurando muito para não foder você.
— Jura? Por que está fazendo isso?
Ele rosnou e a beijou, ergueu sua saia e esfregou seu membro excitado entre suas pernas e ela gemeu, sentindo seu corpo acender como um estopim.
— Está sem calcinha — ele sussurrou sentindo o calor que emanava de seu sexo.
— Você a tirou. Oh, meu Deus! Minha calcinha ficou na biblioteca em algum lugar! — disse espantada e ele sorriu quando ela o olhou com os olhos arregalados e as bochechas muito vermelhas. — Noah, você precisa pegar minha calcinha.
— Não sairei daqui sem ter você. Isso é um fato.
— Que respeito você quer que eu tenha aqui nesta casa cheia de homens, se verem minha calcinha jogada no chão da biblioteca? Por favor! Todos vão saber que estive com você intimamente.
— Ninguém se importa com isso, somos lobos. Não temos vergonha do corpo, nem de sexo. Tudo isso é muito natural para nós.
— Eu não sou uma loba e tenho vergonha.
— Acho bonito quando você fica vermelha de vergonha.
Ele se esfregou novamente empurrando-se contra seu centro e Ester gemeu.
— Está me maltratando.
— Sim, minha doçura, eu estou.
Ele deslizou sua mão pela sua coxa até seu traseiro, acariciando-a, sentindo sua pele suave. Ele nunca tinha sentido tanta suavidade, seus dedos pareciam tocar seda, seu cheiro era doce e suave e o deixava tonto de prazer.
Então, ele tomou a sua boca num beijo que a deixou fora de seu juízo. Sua língua devastou a dela, acariciou e fez abrir todas as portas para o prazer, preparando seu corpo, instigando, provocando.
Enquanto a beijava, deslizou a mão pelo seu corpo e acariciou seu seio, envolvendo o mamilo entre os dedos, fazendo as sensações atravessarem seu corpo. Quando deixou seus lábios, deliciou-se com seu pescoço.
— Você faz isso como homem, não é? — ela perguntou um tanto embriagada.
Ele riu com a pergunta. Ela era curiosa e tinha receios, mas seus recuos não eram tão veementes quanto ele pensava que seriam. Ela o desejava, e isso só fez Noah querê-la mais.
— Sim, doçura, como um homem, só que melhor.
Ele pegou a bainha de sua blusa e a retirou pela cabeça e depois seu sutiã. Ergueu mais sua saia e encontrou seu centro com os dedos, que estava banhado de sua excitação e acariciou-a, fazendo com que recebesse uma descarga de sensações. Ela gemeu alto quando ao mesmo tempo ele se apoderou de seu mamilo com a boca.
— Oh, Deus! — ela gemeu.
— Você me quer, Ester? — ele ronronou antes de lhe dar uma longa e demorada lambida pelo seu seio.
— Sim, eu quero — ela disse ofegante.
— Não terá volta.
— Eu sei.
Foi em um piscar de olhos que Noah saiu de cima dela e saltou até a porta e a trancou.
Ela se espantou, se ajoelhou na cama e ficou olhando fascinada para seus movimentos. Lentamente, Noah se virou e cravou os olhos nela, logo retirou a calça que vestia, deixando-a abandonada no chão, sem desviar o olhar.
Ela estava nua, somente com a saia embolada em seu quadril e com os sapatos. Seu cabelo havia se desprendido da presilha e lhe caía pelo lado do rosto, seus lábios estavam entreabertos e seus olhos brilhavam, dando-lhe um ar selvagem.
Noah rosnou pela visão dela, era escandalosamente perfeita e linda, e uma corrente de excitação lhe atravessou o corpo, deixando-o tão excitado que poderia matar alguém com seu membro. Queria devorá-la.
— Agora, Ester Klaus, eu vou lhe mostrar como eu amo minha mulher. Como um lobo ama sua fêmea.
Aquela informação entrou em seu cérebro como um raio, atiçando todos os seus sentidos. Ester sentiu um pouco de medo pela forma predadora que ele a olhava e se movia. Era intimidante, mas era sexy como o inferno e sabia que dele somente viria prazer, puro e simples, nunca a machucaria ou forçaria nada. Já havia percebido sua índole.
Ester o havia provocado, ela sabia e agora ele a teria.
Só com este pensamento, ela sentiu seu centro aquecer e palpitar.
Noah andou lentamente até a gigantesca cama, espreitando, conquistando, a desafiando a impedí-lo e protestar. A cada passo chegava mais perto, com os olhos fixos nela e Ester podia jurar que eles cintilavam.
— Você disse que faria isso em sua casa, depois do jantar — ela sussurrou.
— Mudança de planos. Temos tempo e não há uma alma viva que fará com que eu saia deste quarto sem ter você. Eu vou cumprir minha promessa, doçura.
— Está falando sério?
— Pensei que você estava me provocando a sério, Ester. Nunca desafie um lobo, ele sempre aceitará.
Ele lentamente se ajoelhou na cama e logo ficou de quatro, engatinhou até ela e quase encostou seu nariz no dela.
Ela olhou para seu rosto magnífico, seu corpo perfeito, de cor dourada, exalando excitação, exalando poder, detendo os olhos em sua ereção que ela queria tocar, sentir. Por um momento pensou se poderia tomá-lo, pois ele era grande, muito mais do que os jovens estúpidos com quem namorara, mas o pensamento somente fez correr uma onda de excitação pelo seu corpo. Noah não era um jovem estúpido, era um macho alfa. Sua boca quase salivou de antecipação.
— É tarde para recuar, minha doce Ester, e seu corpo está me chamando. Nunca poderá me enganar nisso, meu lobo não permitiria.
— E quem disse que eu vou recuar?
Ele soltou um leve rosnado de aprovação e acariciou sua bochecha com a dele. Aquilo era doce e delicioso e Ester sabia que era um movimento que os lobos faziam para agradar sua fêmea, e ele a olhou profundamente em seus olhos. Ali, ela percebeu muitos sentimentos misturados. Ele a aceitava, a queria e a adorava.
— Neste momento, eu te faço minha companheira.
Ele a beijou, e com seu corpo a empurrou para a cama, a amando e reivindicando o que era seu.
Capítulo 9
Noah devorou-a com seus beijos, ora lento, ora profundo e avassalador, tudo era válido para sentir o máximo que podia, sentia-se embriagado pelo sabor dos lábios de Ester, de tocar seu corpo, de ouvir seus gemidos. Nesse momento odiou-se por não tê-la reclamado antes, por ter privado a ambos estes sentimentos, estes gostos, este prazer inigualável.
Senti-la sob seu corpo, entregue, foi como alcançar a paz. Uma paz que há anos não conhecia, nem imaginava que poderia sentir. Era muito mais que isso. Tanto que nem conseguia colocar em palavras, ou descrever seus reais sentimentos.
Agora, que o inferno todo congelasse, não abriria mão dela por nada no mundo e mataria qualquer um que tentasse afastá-la dele.
Noah ficou de joelhos, pegou um dos pés de Ester, retirou o sapato, beijou seu tornozelo e fez o mesmo com o outro, e foi deslizando os lábios e depositando beijos por toda sua perna até chegar ao seu quadril.
Abriu o zíper de sua saia e a puxou pelas pernas, deixando-a nua. Noah a olhou com adoração e a tocou com os dedos, sentindo-a molhada e quente. Ela soltou o ar, que só agora percebeu que estava preso em sua garganta.
— Se abra para mim, doçura, quero sentir seu gosto.
Ela o fez, já sabendo o que ele queria. Dobrou os joelhos e abriu as pernas. Só de lembrar-se do que ele havia feito com ela na biblioteca, perdeu o rumo de seus pensamentos e sua respiração ficou difícil.
— Tão linda.
Ele a tomou com a boca e sua língua brincou, e excitou-a. Ester contorceu-se, mas ele a prendeu no lugar com as mãos. Ele foi feroz lhe dando prazer, até mais do que tinha feito na biblioteca. Ele a saboreava com vontade, com deleite, apreciando seu gosto, excitando-se cada vez mais com cada gemido que ela dava.
Ester não demorou em ter um orgasmo, pensou que toda sua prudência havia fugido voando e não conseguiu deter seu corpo de convulsionar pelo prazer.
— Noah...
— Deliciosa e toda minha — ele sussurrou entre um beijo e outro.
Noah beijou sua barriga e veio cobrindo seu corpo de beijos e leves mordidas e sugou com força um de seus mamilos, junto com um rosnado. Ele veio sobre ela, posicionou seu duro membro em sua entrada e ao mesmo tempo que tomou sua boca, invadindo-a com a língua, deslizou lentamente dentro dela.
Ester gemeu e quase não conseguia respirar, soltou dos lábios dele e virou a cabeça para trás, pois precisava de ar. Ele era grande, mas ela se sentia preparada, pois Noah a estimulara como nenhum homem havia feito em sua vida.
Ele tomou sua boca novamente com seus beijos, afogando seus gemidos e deslizou mais, saiu e empurrou. Ela gritou quando ele se colocou inteiro dentro dela, indo ao limite. Aquilo era demais. A sensação de estar preenchida por ele foi como ver estrelas.
— Oh Deus...
— Você é tão quente e apertada. Maravilhosa. Nunca terei o bastante de você, Ester.
Ele investiu, lenta e profundamente a fazendo ofegar, enlouquecendo-a, uma e outra vez.
Ester teve a certeza de suas desconfianças: amar a este homem era como entrar no paraíso.
— Sabe como os lobos fazem sexo com suas fêmeas? — sussurrou enquanto beijava seu pescoço.
— Não.
— Oh, sim, você sabe, responda.
Ester tinha dificuldade de raciocinar e tomou fôlego, mas mesmo assim não respondeu.
Ele, então, acariciou abaixo de suas costelas a fazendo ofegar.
— Responda pra mim.
— De quatro — ela sussurrou num bufo.
— Quer que a tenha assim?
— Sim.
Ele beijou seus lábios e saiu dela, fazendo-a ofegar e se sentir vazia. Ele a virou e a colocou de quatro, a abraçou pela cintura e entrou nela, debruçando-se sobre suas costas.
— Você é minha — gemeu em seu ouvido e ela choramingou. Ele a puxou contra seu peito e com a mão virou seu rosto e devorou sua boca num beijo avassalador, que lhe roubou o ar, e investiu profundamente.
Ambos ficaram perdidos com a sensação, era demais, intensa e Ester gritou seu nome quando ele empurrou novamente até o fundo. Ele a consumiu com tanto prazer.
Ester não era nenhuma santa e já tinha tido alguns namorados, mas nunca tinha sido tão preenchida, tão brutalmente fodida e ela soube que não conseguiria ficar sem aquilo depois disso. Ela gritou novamente quando Noah a tocou com os dedos, estimulando-a e ela sentiu um intenso orgasmo atravessar seu corpo.
— Isso, Ester, me dê tudo o que tem. Se entregue para mim, companheira.
Ester gritou quando ele foi ao fundo novamente e ficou lá, apenas sentindo o calor de seu corpo quase queimá-lo vivo. Ela quase caiu, sem conseguir se segurar naquela posição, mas ele a segurou mais forte contra seu peito.
— Minha! — ele rosnou.
Noah rosnou de forma feroz que fez os cabelos da nuca de Ester se arrepiar e ele teve seu orgasmo, forte e poderoso. Ele sentiu seu sêmen escoar dentro dela, sentiu seus caninos doerem e aumentarem, o desejo de mordê-la era tão violento que era doloroso.
Seus olhos cintilaram fortemente, mais do que o faziam quando se transformava e Noah teve que jogar a cabeça para trás para evitar mordê-la e empurrar seu lobo para dentro e amenizar a vontade de completar o ato que a uniria a ele para sempre. Iria fazê-lo, mas não agora, não ainda.
Ele alcançou sua liberação de forma tão violenta que mal conseguia pensar ou respirar.
A magia de Noah encheu o quarto e a envolveu, deixando-a tonta, parecia que ouvia sinos em seus ouvidos e ele rosnou novamente.
— Noah... — ela ofegou.
Ele tentou se controlar e puxou a magia de volta. Ela era sua companheira, ele sempre soube, apesar de não ter aceitado de pronto, mas naquele momento a necessidade de reclamar o estava golpeando incessantemente.
Ele não havia invocado a magia, ela se liberou sozinha e isso somente seria por sua companheira verdadeira, a que dividia sua alma como dizia a lenda. Noah lutou forte, rosnou e sussurrou algumas palavras em gaélico que fariam a magia recuar.
Ester não entendeu as palavras e foi muito fracamente que as ouviu, apenas soube que era em uma língua desconhecida. A onda de energia estática se acalmou e ele conseguiu empurrar suas presas de volta, seus olhos pararam de resplandecer e ele tomou fôlego. Estava cansado, esgotado e todo suado, mas o prazer latejava por todo seu corpo e sua mente.
Ela tombou na cama, não conseguindo mais se segurar, já que ele não a firmava mais, e ele tombou sobre ela; mas logo virou de lado para não esmagá-la com seu peso e a manteve presa em seus braços.
Ficaram daquela maneira por longos minutos, ambos, mudos e unidos, sentindo a dificuldade de centrar seus pensamentos, de respirar, sentindo como seus corpos estivessem formigando.
— Merda — Noah resmungou.
Tudo estava em andamento, ele já sabia, mas não contava com muitas coisas. Isso nunca aconteceu com Laila, pois ela era uma loba, e com Ester tudo era diferente, tudo era novidade, era intenso e fora do controle. Noah mentalmente se amaldiçoou novamente.
Ele teria que começar a colocar Ester a par das coisas, era necessário que os segredos não ficassem mais ocultos. Ele finalmente baixou sua guarda e aceitou Ester e deveria encontrar a maneira correta para lhe contar tudo sobre ser a companheira de um lobo alfa. E depois deveria rezar para que ela o aceitasse.
Não que ele soubesse como fazer isso. Ele havia ficado recluso e sozinho por dez anos e já tinha gravado na sua mente que ficaria assim para o resto de sua vida. Mas agora tinha uma companheira e teria que aprender a conviver com ela, agir como um bom companheiro, dar tudo o que ela precisava e ele sabia que isso envolvia conversas, algo que ele não era muito bom.
Jessy e Lili eram as únicas fêmeas por quem ele morreria protegendo. E, agora, ele também tinha Ester. Seu coração se alegrava por finalmente tê-la em seus braços, onde ela sempre pertenceu. Era sua verdadeira companheira.
Havia muitos mitos sobre isso, que haviam seres feitos para eles, como se fossem uma alma que foi dividida e com a bênção dos deuses um dia conseguiriam unir-se. A magia do lobo seria mais forte que nunca e nesta união existiria amor intenso e verdadeiro.
Ele nunca acreditou exatamente nisso, mas como alfa nunca as negou para seu povo. Se ele não acreditava, não tinha o direito de fazer com que os outros lobos também o fizessem.
Erick acreditava, e sempre disse que um dia ele encontraria a outra parte de sua alma. Erick esperava ansiosamente por sua companheira e aquele bastardo tinha jogado com ele e jogado Ester em seu colo. O homem estava certo e Noah queria esmurrá-lo por isso, novamente.
Noah lembrou-se de sua esposa, mas afastou os pensamentos, não queria se lembrar dela. Ele suspirou e mentalmente sussurrou: “Perdoe-me, Laila”.
Ele completaria o ritual, mas antes Ester precisaria fazer a escolha. Saber a verdade. Uma companheira deveria vir por livre e espontânea vontade. Noah somente não sabia como isso ocorreria.
— Oh Deus... — Ester sussurrou.
Noah espantou-se ao voltar à sua realidade.
— Estou machucando você? — ele perguntou.
— Não — ela sussurrou.
Ela não conseguia se expressar ou externar o que estava sentindo, felicidade e ao mesmo tempo vontade de chorar, como se não coubesse nela os sentimentos intensos que sentia por ele. Mas não seria estúpida, não se desmancharia sobre ele, melosa. Sabia que isso não agradava aos homens e por mais que tivesse dificuldade de colocar seus pensamentos em ordem e com coerência, era melhor ficar com a boca fechada.
— Não minta para mim, Ester, eu a feri? Desculpe se eu assustei você, as coisas ficaram um tanto fora de controle.
— Não, foi maravilhoso.
Eles ficaram assim por mais alguns minutos, com ele a abraçando forte para que ela não se movesse. A sensação de estar naquela posição, ainda unidos e suados, trouxe um sentimento que ambos não conheciam, era algo novo e intenso. Ele a envolveu de uma forma que ela estava em um casulo, completamente amada por ele. Noah beijou seu pescoço e seu ombro lentamente.
— Nunca pensei que pudesse sentir estas coisas — ela sussurrou.
— A minha magia foi liberada sem que eu desse conta, desculpe. Estar dentro de você foi mais do que imaginei, não queria assustá-la.
— Me assustou um pouco, mas foi muito bom.
— Não quero que tenha medo de mim. Eu nunca machucaria você, eu juro.
— Eu sei.
— Não sei se conseguirei ficar sem repetir isso novamente em breve — ele disse baixinho, beijando seu ombro.
Ela sorriu, assim como seu coração.
— Podemos fazer isso novamente e, em breve, se eu conseguir andar.
Ele a olhou assustado.
— Por quê? Está ferida?!
Ela riu.
— Não estou ferida, só um pouco dolorida. Fazia tempo que não tinha sexo. Estava meio enferrujada e isso, foi... Eu nem tenho palavras para descrever. Nunca senti algo parecido, foi mágico.
Ele saiu dela e a virou em seus braços, para que ficasse de frente para ele.
— Não quero saber quando teve sexo — disse seriamente.
— Bem, não sou uma virgem como pode ver. — Ele resmungou em desagrado. — Você também teve sexo com outras mulheres, se meu lado te desagrada, o seu também a mim. Então, acho melhor que não falemos do assunto, pois assim nenhum dos dois se aborrecerá.
— Você não tem ninguém lá fora, não é?
— Não, Noah, eu não tenho ninguém lá fora.
Ela se lembrou do admirador que lhe enviava as flores, mas não era um relacionamento real, então não disse nada.
— Você tinha um homem ano passado.
— Como sabe?
— Hum... Bem, seu pai disse.
Era uma mentira, ele a seguia quando saía com ele. Hans era o nome do rapaz. Noah ainda se perguntava como não tinha quebrado o pescoço dele por tocá-la. Mas o que podia fazer? Se não a reclamava não tinha direitos sobre ela e não podia impedir de ter relacionamentos com outros homens, mas ele teve sorte que não durou, pois estava no seu limite.
— Ah. Sim, tinha um namorado, mas terminamos. Tive alguns namorados, mas todos tinham a tendência de me colocar chifres, então estava um pouco cansada dos homens e dei um tempo.
— Colocar chifres? O que é isso?
— Trair-me com outras mulheres.
— Lobos não traem suas companheiras, somos inteiramente leais.
Aquilo soou como um cântico nos ouvidos de Ester. Como gostaria de um homem que a adorasse tanto que não a traísse nunca.
— Vocês têm sorte então, a dor de ser traída é muito ruim.
Ele rosnou.
— Humanos são estúpidos.
— Concordo. O que aconteceu com esta cicatriz? — ela disse tocando a cicatriz que atravessava seus olhos.
— Quando fomos capturados, houve luta. Eles atiraram dardos com tranquilizantes. Quando caí, creio que bati em uma pedra afiada. A cicatriz atravessava todo meu rosto. Cicatrizamos rápido e ela diminuiu, mas ainda ficou a marca e a minha sobrancelha ficou falhada. Creio que já não sou tão bonito pra você.
— Não diga isso. Você é lindo e a cicatriz deixa você mais sexy.
— Sexy?
— Sim, meu lobo, você é tão sexy que meus olhos doem só de olhá-lo. Quase fiquei insana de vontade de vê-lo.
— Está brincando comigo?
Ela riu e se moveu, deitando sobre seu peito.
Noah se espantou com o movimento dela, mas adorou a sensação de tê-la nua, estirada sobre seu corpo, ela parecia tão à vontade que sua alma sorriu.
— Não, eu não estou brincando.
Ela o beijou e ele acariciou suas costas fazendo sua pele eriçar. Suas mãos eram enormes contra a cintura fina.
— O que houve na hora do sexo, é sempre assim?
— Confesso que foi uma novidade para mim, nunca foi tão forte.
— Nunca?
— Não.
— Quer dizer que sou especial para você?
Ele sorriu, pois ela nem imaginava quanto. Se ela soubesse o quanto significava para ele. Noah morreria por ela, mas só precisava de tempo para arrumar aquela bagunça.
— Sim, doçura, você é muito especial.
Ela sorriu e se esfregou contra seu peito e beijou seus lábios.
— Está me deixando duro novamente.
— Humm... Noah, o que é companheira? É tipo uma namorada?
Alguém bateu na porta e Ester se assustou. Ambos a olharam.
— Ester e Noah? O jantar vai sair daqui a meia hora.
Ela não identificou de quem era a voz, mas era um dos lobos e com certeza ele sabia o que estavam fazendo. Ester ficou vermelha como um tomate e escondeu o rosto no peito de Noah.
— Oh, meu Deus! Eu esqueci onde estava. Você tem o grande dom de me fazer passar vergonha.
Ele riu.
— Já disse que adoro quando fica vermelha de vergonha.
— Vou tomar banho e você vai encontrar minha calcinha, por favor.
— Está bem, eu vou. Não quero que se sinta constrangida nesta casa, Ester.
— Obrigada. Você deveria tomar banho também, todos vão cheirar isso. Ai, meu Deus.
— Não me importo. Assim todos saberão que você é minha e ninguém se atreverá a tocá-la.
Ela se virou e olhou estranhamente para ele.
— Não sou sua.
— Não era até meia hora atrás. Agora que se entregou a mim, reivindico-a como minha.
Ela abriu a boca de assombro.
— O que é isso “é minha”?
— É muito simples, é minha e de mais ninguém.
— Olha, homem-lobo, depois discutiremos, vou tomar banho.
— Não há o que discutir.
— Oh, há sim, moço. Se existe uma coisa que você vai aprender sobre mim é que nunca faço o que não quero e não sou boa recebendo ordens. Conversaremos sobre isso de minha e de companheira depois, ok? Agora preciso do banho, chegar atrasada no jantar seria deselegante.
— Não me quer mais no banho com você?
— Bem, eu adoraria, mas você tem que ir lá embaixo procurar minha calcinha, lembra?
Ele rosnou desgostoso e ela riu.
Ela o beijou e se afastou, mas ele a segurou pela nuca, a puxou e a beijou novamente, com um beijo longo e lento.
Oh, aquilo era uma delícia pura e Ester simplesmente amou, ele era carinhoso, atencioso, tudo o que ela queria para sua vida. Tirando o pequeno detalhe de ele ser um lobo, mas adoraria ter este homem na sua cama novamente. E pelos seus comentários estranhos, ela achava que ele estava a levando a sério.
Ela deveria estar muito zangada com ele sobre o que houve com seu pai, mas Ester preferiu ter Noah a ficar zangada com ele, afinal, ela também estava assustada com seus sentimentos, ela o entendia.
— Pode ir agora. — Ele finalmente a soltou, deslizando os nós dos dedos sobre sua bochecha.
Ela sorriu, levantou e foi para o banheiro e Noah ficou a olhando até que ela sumiu no boxe e ligou o chuveiro.
Ele suspirou e sussurrou:
— Ah Ester, só espero que me perdoe pelo que fiz.
Capítulo 10
Ester estava deslumbrada por dois motivos desta vez, não que ela não estivesse em estado de deslumbramento nas últimas semanas em função de certos lobos, e muito menos pela sessão de sexo que ela e Noah tinham tido, porque até agora as sensações ainda pareciam retumbar por todo seu corpo e pensamentos.
Primeiro, ela estava em choque ao ver Noah inteiramente vestido, pois aquela era a primeira vez que o fazia. O homem estava com uma calça de couro preta, botas de motoqueiro e uma camiseta preta justa. Uma verdadeira delícia para os seus sentidos.
Ela quase salivou ao contemplá-lo na porta do quarto, quando veio pegá-la para o jantar e segurava sua calcinha pendurada na mão ostentando um sorriso malicioso e sexy. Ela não salivou, mas não conseguiu evitar de soltar um suspiro.
A outra parte de seu deslumbramento naquela noite foi ao olhar a imensa mesa retangular na sala de jantar, que estava forrada de homens belos e gigantes.
Pelo menos, eles estavam todos vestidos.
Cada um era uma cota de beleza e excentricidade, sexy como o inferno, mas vê-los todos reunidos foi um choque.
Ela nunca havia se sentido baixa em sua vida. Com seus 1,75m de altura era relativamente alta, mas no meio daquela manada de gigantes, ela se sentiu um ovo. Definitivamente, ela estava em um mundo paralelo. Se contasse isso a alguém, iria taxá-la de louca.
Quando ela entrou na sala de jantar com Noah, todos a olhavam ansiosos e alegres até que congelaram e ficaram os olhando de maneira inquisitiva e até diria assustada, como se ela tivesse chifres ou algo, e Erick estava com um estranho sorriso no rosto.
Ester podia jurar que a estavam cheirando e ela deu graças a Deus pelo perfumado sabonete líquido que havia no banheiro e que usou em abundância, mesmo com Noah dizendo que preferia que ela ficasse com seu cheiro.
Aquilo foi realmente estranho, eles pareciam confusos e até olharam um para o outro. Quando Ester pensou que comentariam algo, Noah os interrompeu:
— Não digam uma palavra. Deixem o assunto por ora, depois conversaremos.
Ele falava algumas coisas estranhas que ela não entendia, mas Ester estava aprendendo a relevar, senão ficaria louca. E, como já que estava no hospício dos deuses, por que não se divertir?
Todos a cumprimentaram muito educadamente, e um deles que ela não tinha conhecido ainda, se aproximou e fez uma reverência, como se ela fosse uma rainha ou uma figura importante.
— Sou Harley, irmão de Petrus. É uma honra conhecê-la, senhorita Ester, filha de Herbert.
— O prazer é meu, Harley. Por favor, chame-me de Ester. Parem com estas formalidades comigo.
Ele sorriu e Ester ficou abismada com a beleza do rapaz. Tinha os olhos verdes claríssimos, quase brancos como Petrus, mas seu cabelo era mais loiro que o do irmão, longo até o meio das costas e liso. Ele parecia um elfo musculoso de dois metros de altura. Ester teve vontade de suspirar em deleite.
— Você é linda, Ester Klaus, ainda mais que nas fotografias que seu pai carinhosamente tem espalhadas pela casa. Ele ficaria orgulhoso de vê-la aqui conosco. Meus sentimentos pela sua passagem.
Ela se virou assustada quando ouviu um rosnado e viu que Noah estava com uma carranca e rosnava para Harley, que se virou e rosnou de volta de forma pícara.
— Não rosne para mim, filhote, sou seu alfa — Noah disse.
Agora todos olharam para Noah como se ele tivesse duas cabeças e Ester não entendeu nada.
— Desde quando você voltou a ser oficialmente o nosso alfa, Noah? Desde que chegou aqui, abriu mão de sua posição.
— Reiterei. Você tem algum problema com isso?
— Eu? Não — respondeu Harley.
— Se alguém tiver e quiser me desafiar, nós podemos lutar para saber quem é o novo alfa.
— Ninguém aqui vai desafiá-lo, Noah. Todos nós sempre o consideramos nosso alfa e assim vai continuar. Alegra-nos que você tenha saído de seu estupor e voltado para nós. Nico somente está brincando — Erick disse.
— Nico? Pensei que seu nome fosse Harley. Apesar de que este nome não me parece grego.
— Meu nome é Nico Papolus, mas todos me chamam de Harley porque sou apaixonado por Harley Davidson. Tenho duas motos que cuido como se fossem meus bebês, assim como jaquetas, camisetas e todo o resto.
— Oh, e ele está namorando uma terceira, não sei para quê o menino-lobo precisa de tantas motos — Erick disse.
— As moças gostam de motoqueiros — ele disse sorrindo.
Ester suspirou quando a tensão dissipou-se e ela olhou para Jessy que segurava uma linda menina no colo. Ela era muito parecida com Jessy, com os cabelos negros e muito lisos, cortados retos nos ombros e com uma impecável franja, os olhos eram verdes com o negro ao redor, não eram tão claros como os da mãe, mas eram lindos. A menina parecia uma boneca. Com um sorriso, Ester se aproximou.
— Oh, meu Deus! Essa é a Lili?
— Sim, minha filha.
— Ela é muito linda, Jessy.
Jessy sorriu.
— Obrigada.
— Oi linda, sou Ester — disse acariciando sua bochecha e a menina sorriu timidamente. — Quero agradecer por tentar me defender mais cedo.
— Oh, agradecer por tê-la envergonhado?
— A sua intenção é o que ficou clara pra mim, Jessy. Você achou que eu estava em perigo e mesmo sem me conhecer foi me ajudar.
Jessy deu um lindo sorriso e Ester gostou dela. Era meiga e tímida, simplesmente adorável. Estava muito bonita usando um vestido verde.
— Sente-se, seu lugar vai ser aqui. Noah, como você é nosso alfa e como o pai não está mais entre nós, seu lugar será na cabeceira. Estou muito feliz que tenha voltado para nós e vá participar do nosso jantar. Hoje é um dia especial — Jessy disse.
Noah olhou para Jessy e sentiu-se desconfortável. Ele tinha emergido para a vida de forma absurda depois que Ester apareceu na sua vida. Era como se ela tivesse lhe dado uma descarga de 200 Volts bem no coração. Ele tinha saído de sua mórbida hibernação.
Ele olhou para Ester e ela sorriu lindamente fazendo seu coração derreter. Estava perdido por ela. Teria que tomar uma decisão logo sobre Ester, mas ainda estava confuso sobre o que fazer. Até o momento, ele tinha sobrevivido das lembranças de Laila e não sabia que seria possível amar outra que não fosse sua companheira. Mas descobriu que sim, e essa admissão o chocou imensamente.
Dada colocou o restante dos pratos com muita carne e legumes distribuídos na mesa e Ester serviu-se.
Enquanto comia, ela observava como todos eles comiam, conversavam e riam. Ela estava encantada, pois todos eram educados, inteligentes e parecia uma família muito unida. Até mesmo o carrancudo Kirian estava contente e ela ficou paralisada quando o viu sorrindo para Lili, que havia agarrado seus cabelos e queria brincar com eles. Ela riu quando viu Konan se servir de mais um bocado de carne. Todos eles comiam muita carne, isso era certo.
— Vocês deveriam criar vacas, ou comprar um abatedouro ao invés de comprar isso no açougue. Com tanta carne, imagino que o açougueiro esteja rico — Ester sussurrou para Noah e, involuntariamente, ele soltou uma gargalhada.
Ele parou quando percebeu que todos à mesa haviam parado de conversar e comer, e estavam olhando para ele com os olhos arregalados. Por isso, Ester olhou para todos com curiosidade.
— O quê? — Noah rosnou.
— Você riu — disse Erick com um sorriso imenso.
— Por quê? Qual o problema de ele rir? — Ester perguntou sem entender.
— Nunca mais o tinha visto rir — Harley disse com o cenho franzido.
— Não me aborreça, garoto.
— Bem, parece que nossa herdeira tem dons milagrosos.
— Deve ter sido o sexo — disse Luca despreocupadamente, colocando um pedaço de carne na boca.
— Sim, deve ter sido um sexo e tanto pelos gritos e gemidos — disse Petrus e riu, também comendo sua carne.
Ester ficou vermelha novamente. Acabaria tendo uma convulsão de tanto sua cabeça esquentar como uma fornalha e avermelhar.
Noah rosnou para eles.
— Parem com isso, respeitem minha companheira!
Petrus se engasgou com a bebida que tinha levado à boca e Erick riu. Todos olharam para Ester e ela quis se enfiar embaixo da mesa.
— O que foi agora? — Noah rosnou.
— Você está a reivindicando como sua companheira? — Konan perguntou assustado.
— Sim, eu estou. E Erick, tire seus olhos babões de cima dela e você também Harley, se os dois não quiserem virar um ensopado de lobo. Não me custaria nada pregar suas peles na parede. Ela é minha!
— Ei! Eu não sou sua — Ester protestou.
— Sim, você é — Noah disse.
— Você não se acasalou com ela, não vejo nenhuma mordida — Liam disse.
— Mordida? — Ester perguntou espantada.
— Ela é humana, estúpido, não posso mordê-la, estamos acasalados, é minha companheira e ponto-final — disse Noah seriamente.
— Precisa mordê-la, alfa, ela precisa ser uma de nós, senão vai envelhecer e morrer antes que o senhor — Luca disse sem pensar.
— Luca! — Jessy o repreendeu.
O menino ficou vermelho e abaixou a cabeça.
— Desculpe-me, alfa.
Houve um silêncio sepulcral e Ester ficou com medo de olhar para Noah. Ficou olhando para seu prato como se quisesse que ele a engolisse.
Ela colocou o guardanapo na mesa e lentamente se levantou, olhou para eles e sorriu forçadamente.
— O jantar foi muito agradável. Obrigada pelo convite. Agora já está tarde e eu preciso ir para casa, porque amanhã cedo tenho que trabalhar.
— Ester, não pode ir embora — Noah disse.
Séria, ela se virou para Noah.
— Observe-me. Eu disse há poucos minutos que eu jamais faço algo que eu não quero. E neste momento eu não quero ficar aqui e ninguém vai me obrigar.
— Precisamos conversar sobre isso.
— Talvez outro dia, ou talvez em outra vida, mas definitivamente não neste momento. Boa noite rapazes. Jessy, eu admiro você por ter que aguentar tanta testosterona reunida num só lugar. Boa noite.
Ela virou e saiu da sala e Noah olhou furiosamente para todos e rosnou, batendo na mesa fazendo tudo sacudir. Queria seguir Ester, mas primeiro tinha que tratar com seus lobos.
— Seus estúpidos! O que vocês têm na cabeça de falar estas coisas para ela desse jeito? Querem espantá-la para que nunca mais volte? — Noah gritou.
— Pensei que você era o especialista em quase matá-la de susto — Erick disse.
— Sua intromissão está começando a me irritar, Erick. Toque em Ester deliberadamente como fez na biblioteca, com o intuito de me irritar, e eu quebrarei seus dedos.
Erick bufou.
— Claro que quebraria. Já que você quer acasalar com ela, ela precisa saber o que é ser sua companheira.
— Não sabia que ele poderia ter outra companheira, quer dizer, sempre soube que seria uma companheira para a vida toda — perguntou Petrus.
— Ele está sozinho, Petrus. Se eles se acertarem, acho que pode ter outra companheira — Jessy disse.
— Ester é a sua companheira de alma, não é, Noah? — Erick perguntou.
— Como na lenda? — Petrus perguntou espantado e todos olharam para Noah.
Ele rangeu os dentes. Ser alfa às vezes era uma merda. Ele não sabia como responder àquilo.
— Sentimos a vibração, Noah, não negue. Você liberou sua magia, mas não a mordeu — Erick disse.
Noah encostou-se à cadeira e suspirou cansado.
— Sim, acredito que a lenda é verdadeira. Nunca foi assim com Laila. Com Ester é tudo muito diferente e tão intenso que fico perturbado. Não consigo controlar a magia e meus instintos são muito mais fortes. Evitar mordê-la é o mesmo que travar uma briga com um leão.
Muitos deles ofegaram e se olharam de um a outro.
— Com lenda ou sem lenda, isso não importa, todos estão agindo errado. Vocês pensam que tudo é simples com ela como é para nós. Ela se assustou — disse Jessy. — Mulheres humanas são muito independentes, Noah, ela vai recuar se você a pressionar deste jeito ou não conversar com ela e explicar as coisas.
— Inferno, eu estou tentando contar aos poucos e conversar, mas tudo está indo rápido demais, e, por todos os infernos, vocês não estão ajudando com suas bocas grandes.
— Por isso, precisa conversar mais com ela — Jessy disse.
— Desde quando entende de humanos, Jessyka? — Konan perguntou.
Ela fez uma carranca por ele chamá-la por seu nome inteiro. Odiava seu nome.
— Me chame de Jessyka novamente, Konan, e quebrarei seus dentes. O fato de não gostar de todos os humanos ou ter medo deles, não impede que eu tenha um cérebro. Eu assisto TV e nós vivíamos com alguns humanos na nossa vila. Eu observei.
Konan suspirou.
— Desculpe, Jessy, eu esqueci.
— Está desculpado, Konan, eu sei que não fez por mal. — Ela suspirou e se virou para Noah. — Você tem que mimá-la, Noah, fazê-la se sentir amada e segura entre nós. Você deve conquistar seu coração, mostrar que ela estaria feliz conosco e com você. Só aí ela vai saber que vai querer viver por mais de trezentos anos ao seu lado. E o mais importante, ela deve aceitar o seu lobo e o que deve se tornar para ser sua companheira.
— Mas, e se ela não quiser? — Liam perguntou.
— Isso nós teremos que descobrir — Noah resmungou.
Capítulo 11
Ester chegou à sua casa, jogou o sapato longe e sua bolsa foi atirada sobre o sofá com brutalidade. Foi até a cozinha e abriu uma garrafa de vinho, encheu uma taça e sentou no sofá, tomou um enorme gole e esticou os pés sobre a mesinha de centro.
Não tinha entendido muita coisa do que eles disseram durante o jantar, mas o que entendeu é o que a estava apavorando. Virar um deles, Luca disse. Como seria virar uma loba? Noah queria mordê-la?
Ester estremeceu com o pensamento, isso estava fora de cogitação. Ela estava muito bem como estava, adorava muito o fato de não uivar para a lua cheia.
— Definitivamente não — ela disse e bebeu um gole do vinho.
Noah não havia mencionado nada sobre isso. Como havia sido burra de não ter perguntado sobre isso? Mas quando Liam disse que ela não viraria uma deles por causa do arranhão que Noah havia infligido nela, ela não cogitou as outras opções. Burra!
Nunca foi uma pessoa tola de confiar rapidamente, mas com ele fazia, talvez porque estava muito atraída por Noah. Havia perdido completamente a compostura e havia transado com ele de forma enlouquecida. Ela ainda sentia por todo seu corpo as mãos dele, seu cheiro e como a enlouqueceu. Como a tinha feito apreciar o sexo. Tinha sido um sexo inesquecível, maravilhoso e todos os adjetivos juntos.
Inacreditável como estava louca de se envolver com uma criatura metamórfica, transou com ele sem reservas, sem medo e nem sequer cogitou se isso seria saudável ou não. Tomava contraceptivos, não havia risco de ficar grávida, mas ele não passaria nenhuma doença, ou sim?
— Oh Deus, o que foi que eu fiz?
Ela tomou outro gole de vinho e suspirou desolada.
Estava apaixonada por um homem-lobo. Estava perdida. Ela ficou ali remoendo tudo na sua cabeça como se fosse um filme.
Ela se assustou quando ouviu a campainha. Era tarde, quem poderia ser a esta hora?
Ester suspirou, colocou a taça de vinho sobre a mesinha, foi até a porta e espiou pelo olho mágico. Era Noah. Ela ficou olhando para a porta de boca aberta, e demorou a decidir se abria ou não. Não esperava que ele viesse atrás dela.
— Abra, Ester, eu sei que está aí olhando para a porta. Ficarei aqui até que abra.
Ela se assustou com sua constatação. Como sabia que estava ali?
— Deveria ir para casa.
— Não irei. Abra a porta, doçura. — Ela não respondeu. — Por favor, Ester, não me agrada a ideia de derrubar sua bonita porta.
Ela arfou e a abriu. Os dois ficaram se olhando por alguns segundos.
— Posso entrar?
Ela o olhou de cima a baixo. Ele estava com a mesma roupa do jantar, só que agora ainda vestia um casaco negro de couro longo até os quadris. Santo Deus, ele estava lindo e poderoso.
— Está vestido.
— Bem, da última vez que vim aqui, você disse que eu deveria vir vestido para visitas. Não queria ser rude outra vez.
— É tarde para visitas.
— Desculpe por hoje, foi um dia cheio.
— Sim, tão cheio que transbordou e me fez entrar em colapso.
— Desculpe por isso.
Ela estreitou os olhos, pensativa.
— Se não veio como lobo, pois está de roupas, como veio?
— Eu tenho um carro, uma carteira de motorista. Eu não sou uma besta selvagem da floresta, Ester, eu sou tão civilizado quanto Erick... quando quero.
Ela virou a cabeça e espiou atrás dele e havia um carro esporte negro, novo e brilhante parado na rua.
Ela olhou mais para a rua, mas não havia outros carros, seu bairro era um dos mais antigos da cidade, com antigas casas e os moradores não eram chegados a carros velozes. Tinha escolhido aquele bairro justamente pela paz do lugar.
— Não me diga que aquela coisa ali é sua — ela disse espantada.
— Aquela coisa ali, é um Porsche Panamera S E-Hybrid. Petrus disse que combinava comigo. Veloz, poderoso e com estilo. Eu gosto, apesar de achá-lo um tanto apertado para meu tamanho.
Bem, aquilo a espantou.
— Então, de qualquer forma, você é um playboy, ou melhor, um playlobo — disse rindo. — Isso deve custar caro.
Ele sorriu.
— Como sabe, a Alemanha é um dos maiores fabricantes de carros do mundo, com muitas fábricas. Existem poucos deste modelo que foi fabricado em Leipzig, um deles é meu. Temos alguns carros desta marca, sempre dão um bom desconto para acionistas.
— Acionistas? — perguntou espantada.
— Sim. Na verdade, eu tenho ações da Porsche, assim como você.
— Eu? — perguntou mais espantada ainda.
— Os carros de seu pai são seus agora, inclusive as ações. Se você aceitasse que Erick lesse o testamento de seu pai, saberia.
Ela ficou olhando para ele com os olhos muito arregalados e soltou o ar preso nos pulmões.
— Meu pai tinha ações de uma montadora de carros?
— Sim, assim como em outras empresas. Tem certeza de que você quer falar de ações agora, Ester?
— Não, não realmente. Por que cada vez que me conta alguma coisa sobre vocês ou meu pai, eu penso que meu cérebro vai explodir de susto?
Noah deu de ombros.
— Você vai se acostumar com o tempo.
— Claro. Estou me cansando de ficar ouvindo isso o tempo todo.
— Posso entrar ou devo passar a noite na porta? Não acredito que queira chamar a atenção dos seus vizinhos.
Ela se debateu com suas vontades, sim ou não? Deveria?
— Eu não quero conversar, Noah, estou cansada. Vá para casa.
— Se não percebeu, nós já estamos conversando.
Ela o olhou com uma carranca.
Ele suspirou e entrou, Ester revirou os olhos. Como é que ele aceitaria ser rejeitado? Então, ela fechou a porta, cruzou os braços e o olhou, ficando praticamente sem ação. Ela estava na defensiva.
— Olha... Eu sei que o que Luca disse de forma brusca a assustou, mas, por favor, não me olhe como se, de repente, eu fosse arreganhar os dentes, pular sobre você como uma besta selvagem e mordê-la, como nestes filmes toscos de terror que deve ter assistido. Já disse que nunca a machucaria, precisarei repetir isso para o resto da vida? Vim aqui passar a noite contigo, não mordê-la, a menos que me peça — disse com um sorriso malicioso e ela viu que Noah a estava provocando, mesmo estando muito chateado.
— Quer passar a noite aqui?
— Eu pensei que hoje à tarde nós tínhamos feito sexo e isso, penso eu, quer dizer algo entre nós, então, sim, vim passar a noite contigo.
Ela demorou a assimilar o que ele dizia.
— É que você dormir aqui é estranho, eu sou acostumada a dormir sozinha.
— E eu estou cansado de estar sozinho.
O muro de Ester desmoronou quando olhou para seu olhar triste e seu cansaço. Viu tanta solidão, tanto tormento naqueles lindos e exóticos olhos que seu coração se partiu.
Ele queria passar a noite com ela, isso deveria ser uma coisa boa. Bem, isso provava que o que ele disse antes do sexo era verdade, não estava pulando fora. E se quisesse mordê-la já o teria feito, não?
Ela ficou se debatendo com seus pensamentos e ele se aproximou, segurou seu rosto entre as mãos e a beijou. Ela parou de respirar quando ele invadiu sua boca, como se quisesse devorá-la. Logo, ele soltou de seus lábios e a olhou nos olhos.
— Vim por você, doçura, só queria estar contigo esta noite — sussurrou, lhe acariciando as bochechas com os polegares.
Argumento válido, registrado e bombástico. Ester suspirou e sentiu vontade de chorar, porque ele disse aquilo de uma maneira tão intensa que cravou em seu coração.
— Vou deixar você ficar, mas eu não quero conversar, ok? Nem uma palavra sobre lobos. Por favor, apenas poderia fingir que é um namorado normal e esquecer esse negócio de lobos? Deixe-me apenas dormir.
Ele suspirou.
— Eu prometo que não faremos nada e muito menos falaremos.
Ela assentiu. Podia continuar com aquilo ou mandá-lo embora para sempre.
Sabia que deveria mandá-lo embora, para evitar confusão em sua vida, uma que ainda viria. Era o que os sinos badalavam no seu cérebro, alardeando o perigo, mas não conseguia. Por algum motivo maldito o queria, o necessitava.
Ela ficou olhando para ele, lindo na sua frente, com um mundo tão fantástico ao seu redor, um mundo que ele queria dividir com ela. Não sabia por quanto tempo, mas valeria a pena tentar? O que poderia ser tão ruim, afinal?
— Vamos com calma, doçura, prometo — disse e beijou seu nariz.
Com calma era bom. Não que ela acreditasse que isso iria realmente acontecer, já que ele chegou à sua vida como uma avalanche.
Sem medir seu ato, ela ficou na ponta dos pés e envolveu seu pescoço com os braços, lhe dando um abraço e Noah suspirou de deleite. Um abraço, ele nem se lembrava mais como era isso. Ela o abraçava com ternura e isso preencheu seu coração. Um simples abraço que para ele significava tudo. Um abraço que podia curar suas feridas.
Ele passou o braço por seu traseiro e a ergueu, Ester entrelaçou as pernas em sua cintura e ficaram assim por uns minutos, num abraço perfeito, encaixado, com carinho, com o calor fluindo de seus corpos. Era uma novidade, mal se conheciam e pareciam tão unidos.
O medo se abateu sobre ela. Era louco, mas parecia tão certo. Noah se virou e andou pela casa com ela daquela maneira, colada em seu corpo e seguiu para seu quarto.
Ele a soltou no chão e Ester ficou boquiaberta o olhando, enquanto ele retirou toda a roupa, subiu na cama e se deitou.
Ela parecia uma múmia ali parada olhando para ele, até que se envergonhou da sua atitude pateta, quando ele colocou um sorriso no canto da boca e estendeu a mão para ela.
— Venha, doçura, venha dormir nos meus braços.
Merda. Quem poderia negar algo assim para ele? Ela suspirou, tirou a roupa, colocou uma camisola curta de seda, subiu na cama e deitou em seu peito. Aquilo era muito bom.
Após alguns minutos quietos ela suspirou, relaxando em seus braços, já sonolenta.
— Não quebre meu coração, Noah. Se o fizer, eu não saberei consertá-lo — sussurrou.
— Não o farei, Ester. Durma, doçura, descanse sua cabecinha.
Ele suspirou e beijou sua testa e logo os dois dormiram.
***
Noah nunca mais tinha dormido uma noite inteira e com o sentimento de paz, desde que foi capturado e trancafiado, isso eram dez anos de sua vida. Para um lobo ser privado de correr na floresta, de sentir o vento no pelo e de caçar, era a pior das torturas, além de toda a dor, raiva e revolta que teve que suportar.
Lobos necessitavam de liberdade e de estarem junto à natureza. Ele havia sido libertado dos laboratórios, das frias e torturantes jaulas e experimentos, além do fato de ver o sofrimento de seus amigos e tantas mortes, mas seu coração continuou preso.
E agora, finalmente, se sentia livre, livre ao embalar a pequena e forte humana em seus braços.
O sentimento que o invadiu quando acordou com Ester em seus braços foi tão intenso que ele sentiu vontade de chorar. Não que o fizesse, pois seu coração estava muito endurecido para deixar que ocorresse, mas aquela humana devastou seu coração com sentimentos que ele desconhecia.
Sua mulher era perfumada e suave, adormecida em seus braços. Agora ele agradeceu aos deuses por terem lhe dado Ester. Ele somente suspirou, cheirou o perfume de seus cabelos e a puxou para mais perto de seu peito, ela suspirou em seu sono e se aconchegou. Era perfeito.
Quando despertou, Ester sentiu um braço lhe envolver a cintura e uma perna sobre as suas, Além de um corpo másculo e grande colado em suas costas, então ela sentiu seu cheiro embriagante. Noah. Ela suspirou sentindo aquele aconchego, o calor que emanava dele, e só aí percebeu que estava nua. Ele estava acordado e beijou seu pescoço.
— Você tirou minha roupa — ela sussurrou.
— Queria sentir sua pele. Sua camisola era macia, mas queria seu corpo junto ao meu, sem nada para interpor. Você é tão macia e delicada — ele sussurrou e Ester suspirou sentindo aquela voz forte e rouca em seu ouvido. — Adoro seu cheiro, Ester.
Ela se esfregou contra seu corpo, empinando seu traseiro. Ele gemeu na sua orelha fazendo com que o corpo dela todo tremesse de prazer.
— Não me provoque se não quiser ser montada.
— Hum... E se eu quiser?
Ele riu e mordeu seu pescoço e ela gemeu.
— O que estavam conversando ontem sobre morder?
— Você disse que não queria conversar. Quero somente estar com você agora, Ester. Não quero uma discussão.
— Eu não vou brigar. Se me morder, vou me transformar em uma loba?
Ele rosnou desgostoso. Lá ia ele para a sessão conversa novamente.
— Entre os lobos, morder quer dizer se acasalar, é o sinal da reclamação que o macho faz pela fêmea. Mesmo ferindo a pele, não sente dor e sim prazer. Mordemos quando estamos fazendo sexo, assim todos saberão a quem ela pertence. A fêmea, sua companheira, também morde o macho para marcá-lo, pois ele também é seu. Todos respeitam isso porque os casais são leais entre si. Se nós simplesmente mordermos um humano, não acontece nada. Mas se mordermos duas vezes e eu passar a minha magia, então, sim, ele se tornará um de nós e poderá ser um shifter. Sem magia, a mordida é só uma mordida. Raramente acontece de um lobo reivindicar uma humana ou uma loba a um homem, mas já aconteceu.
— Dói virar lobo?
— Dizem que no início é desconfortável para os iniciantes. Para nós nunca é, pois nascemos assim.
— Por que Luca disse para me morder?
— Porque eu disse que estava reivindicando você como minha companheira.
— Você quer me transformar numa loba?
— Nunca, se você não quiser, Ester. Nunca a transformaria em uma de nós sem sua permissão. A companheira deve aceitar e vir de livre vontade. Agora, eu quero estar somente com você, o resto não importa. — Ela ficou quieta e ele preocupou-se. Ele deslizou a mão por seu braço. — Olhe-me, Ester.
Ela se virou em seus braços e ficou de frente para ele para olhá-lo e ele a beijou antes que ela fizesse mais perguntas. Não queria discutir ou aborrecê-la. Somente queria amá-la, abrandar suas preocupações, pois não gostava de vê-la temerosa.
— Não vou fazer nada que não queira, doçura. Eu prometo. Sei que isso é tudo muito novo para você.
— Companheira quer dizer namorada?
— Bem, acredito que seja mais que isso.
— Mais quanto? — perguntou receosa.
Ele abriu a boca para dizer que companheiros eram para a vida toda, era como um casamento, sem dissolução, a não ser pela morte.
Ele percebeu que ela recuou e aquilo poderia fazê-la fugir dele, afinal ela era independente e moderna. Iria prepará-la mais para lhe contar tudo, ainda não era tempo. Decidiu que contaria aos poucos. Precisaria que ela fosse adquirindo confiança nele. As coisas estavam andando rápido demais, não para ele que estava doendo por ela há tanto tempo, mas por ela. Jessy tinha razão, se o amasse, não o negaria. Só precisava de um pouco mais de tempo.
— Noah?
— Sim, é como um namoro, só que sério. Teremos um compromisso, eu serei seu e você será minha, sem compartilhar. Eu serei fiel a você e você a mim. E assim vamos conhecendo melhor um ao outro.
— Está me pedindo para que seja sua namorada? — perguntou sorrindo e ele sorriu de volta com o termo humano. Diabos, ele teria que aceitar seus termos, afinal era diferente dos seus costumes, e não lhe custaria agradá-la nisso. Um passo de cada vez.
— Sim, quero que seja minha namorada — disse acariciando sua bochecha.
— Eu gostaria de ser sua namorada.
— Oh, verdade? Então, você poderia me mostrar o quanto ficou contente por ser minha namorada? Saiba que sou muito exigente.
— Também posso ser exigente.
Ela o beijou e ele deslizou sua mão pelo seu corpo enquanto a beijava, acariciando-a, sentindo a suavidade de sua pele. Ester nem conseguia pensar quando ele fazia aquilo. Com apenas um toque, o seu corpo reagia violentamente. Ele aprofundou o beijo e alcançou suas partes íntimas, acariciando-a lentamente, fazendo-a gemer.
— Você já está tão molhada para mim. Você me deixa louco. Tão quente e deliciosa.
— Você faz isso tão bem. Quero senti-lo novamente.
— Deseja-me?
— Sim, muito.
Ele estimulou-a com os dedos e tomou seu seio na boca, manipulando o mamilo com os dentes e sua língua se divertiu no paraíso. Ele simplesmente adorava ouvi-la gemer e gritar sem controle quando o orgasmo irrompia através de seu corpo.
Ele retirou o dedo e ela sentiu a ereção dele entrar cortando sua respiração e a fazendo soltar um gemido sufocado. Ele prendeu seu quadril, dominando-a e deslizou sua língua na sua boca novamente.
Ester estava sem fôlego enquanto Noah a devorava. Nenhum homem jamais tinha feito amor com ela de forma tão intensa. Como se ele não pudesse conseguir o suficiente dela. Como se estivesse desesperado para estar dentro dela, sempre querendo mais, exigindo mais, querendo que seu corpo reagisse, e ela reagia, violentamente.
Havia tanto poder e força nos braços envoltos ao redor dela. Os braços que a sustentavam. Com cuidado, mas firme, dominando-a. Cada poderoso golpe pulsava prazer através dela e Ester somente conseguiu pensar que doce era acordar e ter esse homem lhe dando prazer.
Noah queria apenas sentir e dar prazer a ela. Não estava com pressa, não queria provar nada a ninguém. Ele ia lento e profundo, era uma tortura, um eterno prazer. E assim foi por um longo período, acariciando seus seios, apertando seus mamilos, beijando-os e deslizando dentro dela e sentindo-a envolvê-lo.
— Amo como me toca — ela sussurrou.
— Amo tocar você. Venha pra mim, companheira.
Então, ele aumentou o ritmo e ela chegou ao orgasmo, enquanto ele a penetrava até a beira do esquecimento. E ele logo seguiu atrás, liberando seu orgasmo com um rugido resguardado. Ele tentou, mas foi inútil. Noah sentiu a magia fluir, mas sabendo o que viria, ele rosnou ferozmente e a bloqueou. Seus olhos cintilaram, mas se afastou rapidamente de seu pescoço para não mordê-la.
Ele rosnou alto, rolou na cama, ficando de costas e a puxou para ficar sobre ele e a abraçou, mantendo-a ali sobre seu corpo. Estava difícil de respirar, mas beijou-a com beijos doces e lentos em sua testa, esperando que seus corações voltassem ao normal.
Nenhum dos dois falava. Noah percebeu algo mudar para Ester, podia sentir uma vibração de medo vindo dela.
— Você está bem, doçura? — perguntou acariciando seus cabelos.
— Isso é muito para mim — disse triste.
Ele virou-se na cama novamente e a colocou ao seu lado, retirando as mechas de cabelo que caíram nos seu rosto. Ergueu seu queixo com o dedo, fazendo-a encará-lo, e ele não gostou do que viu em seus olhos.
— O que é muito pra você?
— Esse negócio de virar loba. Não desejo isso, quero ficar como eu sou.
Ele deu um suspiro triste, tentou suprimir a dor que sentiu no seu peito. Este era seu medo, um deles, e o primeiro golpe que ele temia doeu, doeu como uma punhalada em seu coração. Para empurrar a dor que sentiu, engoliu em seco e repetiu na sua cabeça. Com o tempo, ela virá; com o tempo, ela virá. Ele não pediria, pelo menos por enquanto.
— Está tudo bem, querida, não vou pedir isso.
Ester suspirou, estava perdida. Seu cérebro estava em uma espécie de curto-circuito e seus sentimentos estavam tão aflorados e intensos que a assustava. Acabava de conhecer este homem e estava tão entregue e encantada como jamais pensou que pudesse estar. Não sabia até onde poderia ir naquela história. A ideia de ser uma loba não a agradava. Para uma pessoa que nunca foi medrosa, esse sentimento foi tenebroso.
— Mas podemos namorar sem isso, não é? — ela perguntou.
Noah a olhou e queria dizer algo, mas apenas tentou sorrir.
— Sim, minha doçura. Podemos ficar juntos sem isso. — A maneira como ele falou partiu o coração de Ester. Ela soube que havia algo não dito, mas estava com medo de perguntar.
— Não estou rejeitando você, Noah, só que... isso é demais, entende?
— Eu entendo. Vamos encontrar nosso jeito, tudo vai ficar bem.
— Bem, continuamos namorados, então?
— Sim, não deixarei que me deixe, doçura. Daremos nosso jeito, mas ficaremos juntos.
Ela ficou olhando para ele e Noah queria chutar algo. Estava triste por dentro, mas ver o temor nos olhos dela era mais uma dor para ele carregar no peito.
— Não me olhe com estes olhos tristes, Ester. Gosto quando está feliz. Isso me deixa feliz também.
— Fico feliz quando estou contigo.
— Eu também. Você me trouxe de volta à vida, Ester, eu quero poder fazer algo por você também.
— Vou pensar em algo — disse com um sorriso tímido, e ele pegou sua mão e beijou seus dedos.
— Pense que eu te darei o que quiser. — Ela acenou com a cabeça.
— Isso me abre várias opções.
Ele riu.
— Imagino. Sabe que eu nunca fiquei tanto tempo na cama?
— Está ruim? — ela perguntou com um sorriso e acariciou sua barba suavemente.
— Não, por mim eu ficaria aqui o dia todo.
— Eu também, mas devo ir trabalhar, porque eu tenho uns bichinhos dóceis para cuidar.
— Tem que cuidar de mim. Sou um lobo que precisa de cuidados.
— Oh sim, cuidarei deste lobo bravo e perigoso, quem sabe lixar suas garras e suas presas — disse rindo.
Ele riu alto e ela amou sua risada, como sua face ficou iluminada.
— Beije-me agora, doutora, e então a deixarei cuidar de seus bichinhos.
— Sim, senhor lobo mau.
E ela o beijou apaixonadamente.
Capítulo 12
Ester recostou-se na poltrona que ornamentava a biblioteca da mansão. Olhou para Noah que estava sentado ao seu lado em outra poltrona, e logo para Erick, que estava sentado em uma cadeira de respaldo alto, de couro, do outro lado da mesa de mogno.
— Oh, meu Deus! Mas isso é muito dinheiro. Como ele conseguiu tanto dinheiro assim? — ela perguntou espantada.
— Seu pai não era um simples médico, era um cientista e era muito bem pago para cuidar de nós e nos estudar.
— Sim, mas e estas ações?
— Quando nós fomos libertados conseguimos descobrir várias contas que bancavam o projeto de pesquisa dos lobos. Nós invadimos estas contas, pegamos o dinheiro e investimos em ações de diversas empresas, investimos grandes quantias e isso nos deu um bom retorno.
— Como podiam entender de ações?
— Ora, contratamos pessoas do mercado.
— Espere aí, roubaram este dinheiro?
— Não exatamente. Eles nos roubaram quando nos capturaram, tínhamos um imenso patrimônio na nossa vila, não era uma tapera de madeiras, Ester, eram casas boas, empresas, carros, eles confiscaram tudo. Nós somente pegamos tudo de volta com juros. Interceptamos muitas contas e retiramos o dinheiro, interceptamos investimentos e muitas outras coisas — Erik disse. — Noah já era muito rico antes, ficou um pouco mais agora e, por sorte, ele tinha uma conta na Suíça, onde havia um grande montante, que ninguém conseguiu tocar.
— Somente pegamos o que é nosso e o que era necessário para recomeçarmos. Se eles nos roubaram, pegamos de volta. E merecemos uma indenização pelos danos, não que isso apagasse o que meu povo sofreu — Noah resmungou. — Tínhamos que fazer por nossa conta, pois um processo judicial estava fora de questão. E claro que eles não puderam ir à polícia reclamar de um roubo.
Ester ficou pensativa por um minuto.
— E com isso não encontraram o responsável?
— Alguns, mas não o cabeça. Ele está muito bem escondido por trás de uma rede. Pegamos alguns.
— Como assim, pegaram alguns?
— Você quer mesmo saber? — Noah perguntou.
— Não — disse suspirando. — Isso parece justo.
— Mais que justo.
— Mas é tanto dinheiro...
— Ester, isso é o que você tem, não adianta ficar quebrando a cabeça de como seu pai adquiriu isso tudo. Ele já era muito rico bem antes disso, tinha muitos negócios que você nem sonhava, e agora isso não importa. Temos uma pessoa muito responsável que administra tudo através de uma empresa, ele poderá continuar fazendo o trabalho para você, cuidando de suas ações como sempre fez. Seu pai confiava nele e você pode continuar confiando.
— Quem é este homem?
— Kugar. Ele é um lobo e faz um mês que se mudou de vez para nosso novo lar, para ajudar nos empreendimentos por lá. Você irá conhecê-lo.
— Sua fêmea estava prenhe e ele quis tirá-la daqui — Erick complementou.
— Oh, entendo — Ester disse.
— Nesta pasta estão todos os imóveis com descrições e endereços detalhados, escrituras e uma cópia do testamento. Olhe com mais cuidado em outro momento.
— Sim, o farei.
— Aqui consta que Noah se encarregaria de prover uma residência adequada e bem protegida para você, onde ele decidir viver. Que, no caso, como poderá ler aí, esta nova residência está na nossa nova morada.
Ester não gostou de escutar isso.
— Nova morada? De que ilha está falando? Vocês pretendem voltar para a Irlanda?
— Bem, a princípio voltaríamos para lá, mas achamos arriscado que alguém vazasse nossa antiga residência, e seria muito na cara para quem nos capturou, então decidimos ir para um lugar diferente e mais isolado. Petrus nos recomendou uma ilha no mediterrâneo, por sorte conseguimos comprar uma ilha na Grécia, de um multimilionário. Lá estamos construindo uma nova comunidade. Por ser uma ilha, será fácil de protegê-la e manterá os outros afastados por ser privada.
— Uau, vocês compraram uma ilha na Grécia? Meu Deus, quanto dinheiro vocês desencavaram?
— Alguns punhados de euros — Noah disse dando de ombros.
— Iniciamos as construções e uma delas era uma casa para seu pai, que agora também pertence a você.
— Eu terei uma casa em uma ilha na Grécia?
— Sim, mas claro que preferirá a de nosso alfa agora, tem uma vista maravilhosa para o mar com uma lateral inteira de vidros. Você gostará.
Ela olhou boquiaberta para Erick e depois para Noah.
— Não entendi isso.
— A parte dos vidros? — Erick perguntou.
— A parte onde eu estou na casa de Noah! — disse irritada e Erick estreitou os olhos e depois olhou para Noah.
— Quer explicar isso, Noah? — Erick perguntou com um sorriso malicioso para ele, que rosnou em advertência.
— Ali no testamento diz que eu seria responsável por você, caso acontecesse algo a seu pai. Devo cuidar para que viva em um local seguro, para sua proteção.
— Você não é responsável por mim, Noah, posso muito bem me cuidar sozinha. Tenho o feito há muito tempo, muito obrigada, não preciso de babá e não irei a nenhuma parte.
Noah rosnou.
— Era o pedido de seu pai e assim eu me encarregarei de cuidar de você, ponto-final. Você assumiu o lugar dele e eu mantenho o seu traseiro seguro.
— Amigos, não discutam, por favor. Ester, é somente uma maneira de falar. Você cuida de nós com seus cuidados médicos e nós cuidamos de você com sua proteção. É tão simples, uma troca de favores, não lhe parece agradável? O fato de seus cuidados constarem aqui no testamento, como sucessora de seu pai, é mero detalhe, afinal nos tornamos amigos, não? E, além do mais, você e Noah são companheiros agora.
— Namorados — ela emendou.
— Namorados? — Erick olhou para Noah que rosnou novamente.
— Cale a boca, Erick. Não se meta nisso.
— Por que tenho a sensação de que vocês dois falam com o intuito de me enrolar? E estes olhares estranhos de um ao outro, hein?
— Enrolar? Acha que a estamos enrolando? Que expressão descabida — Noah disse.
— Não passa pela nossa cabeça tal coisa — Erick disse.
Ela abriu a boca para questionar, mas Erick a interrompeu.
— Veja, estes são seus novos cartões de banco, cartões de crédito. Essas são suas contas bancárias, com tudo certo e prontinho para você usufruir.
— Mas...
— Não recuse. Pegue e use, Ester. Pare de questionar tudo — Noah disse irritado.
— Noah, é do meu pai que estamos falando, se o dinheiro não é seu, não é da sua incumbência o que eu quero usar ou não!
— Santo Deus, como é teimosa!
Erick assoviou.
— Bem, aí está moça, testamento lido, contas e cartões entregues, missão cumprida. Acho que agora deveríamos beber algo e relaxar.
— Erick, você é um embromador descarado — ela disse.
— Oh, seu pai sabia disso, querida, e ria muito de minhas artimanhas. Acostume-se a elas, é meu lado mais divertido.
Noah rosnou novamente.
— Noah, querido, seus rosnados estão me dando dor de ouvido, posso jurar que meu lado direito já está danificado — Ester disse e Erick riu.
— Olá, Ester — Jessy disse da porta e todos olharam para ela.
Ela estava segurando Lili pela mão, e vestia uma calça jeans e uma camiseta preta justa. Lili estava graciosa com um vestidinho branco com floral rosa e com uma saia rodada. Seu cabelo estava muito bem penteado e adornado com um laço de fita. Adorável! Ester sorriu olhando para Jessy, porque a mulher estava com uma roupa tão básica, mas era linda e tão sexy que ficou abismada.
— Jessy! Como vai?
Jessy se aproximou.
— Bem, obrigada. Espero não estar atrapalhando. Ouvi que já haviam terminado seus assuntos.
— Você não atrapalha em nada, nós já terminamos — Noah disse.
— Já? — Ester perguntou, olhando-o com uma sobrancelha levantada.
— Sim, já acabamos, porque não há nada para argumentar, querida, é apenas aceitar e pronto — Noah disse e Ester revirou os olhos.
— Vai sonhando.
Ester levantou-se da poltrona, pegou Lili no colo e sentou no sofá.
— Pedi que Dada preparasse um lanche pra você, deve estar com fome depois de tantas horas aqui dentro ouvindo Erick falar e Noah rosnar.
Ester riu.
— Realmente todo esse falatório me deu fome.
— Olá, boa tarde, senhorita Ester, eu trouxe o lanche. Uma xícara de chá e quiches de queijo — disse Dada entrando com uma bandeja e a colocando na mesinha em frente aos sofás.
— Oh, obrigada Dada. Isso parece delicioso.
— Cheirei quiches de queijo?
Ester olhou para a porta e Kirian estava ali, sério como sempre, ocupando toda a entrada com seu corpo grande e musculoso. Ela, literalmente, abriu a boca de espanto, pois, além de seu longo e multicolorido cabelo estar solto, estar sem óculos escuros, onde pôde ver seus magníficos olhos verdes, ele estava vestindo um kilt. Senhor amado, o homem era escocês?
O homem deveria se chamar montanha. A montanha carrancuda. Uma montanha deliciosa e carrancuda, de kilt.
Ester devia estar muito deslumbrada olhando para ele, porque ela se assustou com o rosnado que Noah lhe deu.
Ester riu para Noah, porque ele estava demonstrando ciúmes.
Ela sentiu seu ego inflar, mas voltou a olhar para Kirian e sorriu quando ele olhou para a bandeja com os olhos famintos. Ele deu alguns passos à frente, então parou.
— Posso? — ele pediu para Ester.
Ela ficou espantada e demorou um minuto para responder.
— Claro, Kirian, fique à vontade.
Ele se aproximou e quando foi pegar uma quiche da bandeja, Dada lhe deu um tapa na mão.
— Não seja grosseiro, Kirian, estes são para a visita. Oh! E uma para você, doce Lili. — Olhou para a menina que estava roubando uma também, com um sorrisinho malandro.
Kirian grunhiu e Ester riu.
— Dada, pode deixar. Kirian, por favor, se sirva.
— E a senhorita pensa que esse pequeno moço se contenta com uma quiche? — A senhora olhou para Kirian com as mãos na cintura. — Tenho uma fornada somente para ti, Kiki. Venha e pode devorá-la toda. Contanto, que depois me compre aquelas revistas na cidade, quero a de decoração para poder tirar algumas ideias para arrumar minha casa nova. Sim, terei uma casinha, o alfa me prometeu.
— Sim, eu lhe darei muitas revistas se tiveres feito também torta de uvas — Kirian disse.
— Oh, e quando é que eu me esqueço de sua torta de uvas, hã? Vamos, deixe-os com seus assuntos, você estará mais feliz na cozinha devorando meus quitutes. — A senhora saiu e o gigante Kirian seguiu atrás. Risonha e impressionada, Ester olhou para Erick e Noah que estavam com um sorriso no rosto.
— Kiki? — Ester perguntou, rindo.
— Oh, ela dá esses pequenos apelidos para cada um de nós. Ela nos mantém enrolados em seu dedo. Todos na casa a adoram e não se importam com suas maluquices. Ela mima todos como se fossem crianças.
— Kirian derrubaria uma montanha por uma quiche, Dada o mantém como um cãozinho adestrado com suas guloseimas.
— Isso foi legal. Ele é escocês?
— Kirian é irlandês, assim como nós, ele gosta de cultivar a antiga cultura. Usa o kilt e é ótimo com as espadas.
— Jura, espadas?
— Oh sim, como nos filmes. — Erick riu.
— Uau, eu gostaria de ver isso. Você também sabe usar espada? — perguntou para Noah.
— Todos nós, é uma espécie de jogo para nós, usamos a luta com espadas para nos exercitar, os moços gostam para se divertir.
— Doce céu, brincadeiras com espadas, irlandeses de kilt que viram lobos, era só o que me faltava.
— Sim, somos descendentes dos antigos celtas e de nórdicos, preservar a cultura é uma coisa boa.
— Uau, certo.
— Mas não dispensamos as automáticas — Erick disse piscando para ela.
Ester riu acariciando os cabelos de Lili, que estava comendo sua quiche e lhe fazia caretas para chamar sua atenção. Ela pegou uma e deu uma mordida, fazendo graça para a menina, e riu ainda mais.
Noah adorou-a. Quando Ester ria, seu coração aquecia, amava vê-la rir e era doce e atenciosa com a pequena, certamente seria uma boa mãe. Seu coração saltou no peito ao pensar em ter um filho com ela. Ter uma família.
Noah tomou nota mentalmente de que deveria aprender maneiras de fazê-la rir sempre, para que ele próprio pudesse se alegrar ao ouvir sua risada. Era como se o próprio sol brilhasse em seu coração.
— Hum... Isso é uma delícia, Dada é ótima cozinheira. Eu acho Kirian tão fechado, fiquei admirada com seu comportamento com Dada. Ele parece gostar muito dela, assim como adora umas guloseimas.
— Kirian tem problemas de relacionamentos com pessoas e comida — Jessy disse.
— Por quê? — Ester perguntou.
— No nosso confinamento, ele foi muito abusado e o deixaram passar muita fome. Dada o mima com comida e ele tem horror ao pensar em ver algum de nós com fome — Noah disse. — Herbert burlava a segurança, entrava escondido nas celas e dava comida a ele.
Ester olhou com os olhos arregalados para Erick, e Noah assentiu.
— Por que faziam isso?
— Castigo. Ele sempre tentava fugir ou agredir a algum guarda. Isso quando cometiam algum erro de deixar passar o efeito dos tranquilizantes, ou se aproximar demais da jaula. Matamos muitos deles no tempo que estávamos presos, mas isso só servia para que ficassem mais zangados e alguém sofria como retaliação.
— Acho que prefiro que não falemos mais disso — disse Ester.
Ela também tentou suprimir as imagens que pipocaram em sua mente e o pensamento de que Noah havia matado pessoas era horrível, mas entendia que era para se defender.
— Ninguém gosta de recordar essas coisas — Noah disse.
— Acredito que Kirian deveria levar esta moça do restaurante para a ilha — Erick disse pensativo e suspirou cansado.
— Que moça? — Noah perguntou.
— Há um restaurante na cidade e estou desconfiado de que Kirian está muito interessado na dona dele.
— É sua companheira? — Noah perguntou espantado.
— Não o pesquisei a fundo, mas com a frequência que sei que está frequentando seu restaurante, eu desconfio. Liam disse que, quando ele não vai comer, ronda o restaurante.
— Isso pode não ser nada.
— Kirian somente saía da propriedade para as missões de busca, nunca para ficar perambulando pela cidade, mas agora sai muito.
— Isso é bom, assim ele se distrai e deixa o passado para trás, ficar sentado aqui remoendo não levará a nada — Ester disse.
— A casa nova de Kirian comporta uma companheira e filhotes, é grande. Tomei cuidado para que fossem boas para uma família — Noah disse.
— Bom, mas duvido que a leve.
— Por quê? — Ester perguntou.
— A moça acabou de chegar à cidade e abriu um negócio, Kirian anda espreitando-a, mas ele não se aproximará dela devidamente, creio.
— Por quê? Ela não entenderia?
— Ela é casada.
— Oh! — Ester disse espantada e Noah rosnou.
— Uma companheira casada com outro é muito ruim.
— Oh, se apaixonar por uma mulher casada deve ser muito triste.
— Se é sua companheira, ele deverá tomar uma atitude e reivindicá-la.
— O que está dizendo, Erick, que Kirian deve investir na moça e destruir seu casamento?
— Se ela é dele, sim.
— Isso é absurdo, Erick! Se ela é casada, deve gostar do marido.
— Ester, uma companheira...
— Erick, deixe estar — Noah rosnou.
Erick olhou carrancudo para ele.
— Vejo que ainda está nas meias palavras, Noah. Porra, homem, pare com isso porque vai acabar se ferrando.
Noah rosnou ferozmente.
— Oh, rapazes, não briguem — Jessy disse. — Parecem duas crianças brigando o tempo todo.
— Do que estão falando? — Ester perguntou.
— Esqueça, Ester — Noah rosnou.
— São primos, sabe? Eles brigam assim o tempo todo. Talvez por isso ainda não mataram um ao outro — Jessy disse.
Ester riu e quando foi perguntar novamente do que estavam falando, para que começassem uma briga, foi interrompida.
— Noah! — Konan entrou na biblioteca a passos largos.
— O que houve? — Noah perguntou.
— Encontramos o laboratório, as nossas suspeitas estavam certas.
Lentamente, Noah se levantou da poltrona e Ester sentiu um arrepio atravessar sua coluna, a aura ao redor dele havia mudado drasticamente. Ele agora estava furioso e prestes a matar alguém. Noah e Erick exalavam poder, como dois predadores. O ar descontraído de cinco minutos atrás havia desaparecido.
— Onde? — Noah perguntou.
— No subúrbio de Berlim. Sasha já está na propriedade, estará aqui em cinco minutos.
— Quem é Sasha? — Ester perguntou.
— Ele é o mercenário amigo de seu pai. Ele encabeça a equipe que busca nosso povo. Ele é um ex-soldado e agora trabalha para nós.
— Vocês têm uma equipe de mercenários?
— Ah sim, querida, nós temos, e armados até os dentes — Noah disse.
— Meu pai tinha amigos mercenários? Tipo estes dos filmes?
— Seu pai não tinha a quem recorrer quando quis nos salvar. Se ele fosse à polícia ou à imprensa todo mundo ficaria sabendo de nossa existência. Era nos tirar das mãos de uns para nos jogar nas mãos de outros. Não estaríamos seguros novamente. Então, ele estudou uma maneira por meses, pagou ali, falou acolá até chegar à Sasha, que convocou alguns amigos. Eles bolaram o ataque, invadiram o laboratório e nos trouxeram para cá. Depois eles continuaram conosco, para que encontrássemos os outros. Seu pai já havia comprado esta casa e elaborado sua morte.
Ester estava espantada, abriu a boca para argumentar e fazer mais perguntas, mas um homem entrou na biblioteca. Ester estava ficando cansada de ver tantos homens lindos, mas aquele ali era humano.
Esse deveria ser Sasha. Media 1,88m de altura, tinha o corpo atlético, estava vestido de preto e usava um colete à prova de balas. Tinha uma arma automática pendurada ao lado do quadril em um coldre, uma faca embainhada na perna e usava pesados coturnos negros. Tinha os cabelos curtos, loiros e olhos verdes cor de esmeralda. Ela olhou para seus braços e percebeu várias tatuagens que sumiam debaixo das mangas da camiseta negra e justa.
— Noah, bom ver você. Konan me disse que você ressuscitou, estou vendo que é verdade — disse com um sorriso simpático.
— Sim. Estou mais vivo do que nunca e posso rasgar sua garganta se começar com gracinhas.
Sasha riu. Ester viu que eram brincadeiras entre eles. Isso era divertido.
— Sasha, esta é a filha de Herbert, Ester Klaus.
Ele abriu um enorme sorriso e lhe ofereceu a mão.
— Muito prazer, senhorita Ester.
— Somente Ester. O prazer é meu, Sasha.
— Sinto muito pelo seu pai.
— Sim, obrigada.
— Então, nos passe o relatório — Noah disse.
Eles esperaram que Sasha falasse, mas ele ficou mudo de repente. Quando Ester prestou atenção para ver o que tinha tomado toda a atenção do homem corpulento, percebeu que Sasha estava olhando para Jessy, e Ester ficou interessada naquele olhar sem piscar.
— Como vai, Jessy? — Sasha perguntou suavemente.
A maneira que ele a olhou poderia derreter um iceberg e sua pergunta soou mais como um ronronar do que uma pergunta.
— Bem, obrigada. Com licença, vou voltar para minha casa.
Ela deu passos rápidos, pegou a pequena Lili dos braços de Ester e saiu rapidamente da sala, quase correndo. Sasha não tirou os olhos dela até que sumiu porta afora, e mesmo assim, ele ficou alguns segundos olhando para o corredor vazio.
Ester soube que havia algo ali. Ela podia ver além do prazer de ele olhar para ela, mas agora havia pesar. Porém, não ousou perguntar, talvez mais tarde perguntasse algo à Noah. Sasha virou-se e olhou para eles que estavam olhando-o, sem dizer nada. Ele ficou sem jeito e pigarreou.
— Quantos de nós você acha que há lá? — Noah perguntou.
— Pelo menos três estão confirmados. Gion acredita que há um casal e estamos esperançosos que sejam os pais de Luca. Acredito que há mais, mas Gion não conseguiu a confirmação sobre os outros, mas estamos aguardando mais informações e quando chegarmos, iremos nos certificar.
Ester prendeu a respiração e seu coração saltou no peito. Havia esperança de encontrar os pais do garoto.
— Então, não falaremos isso para Luca até termos certeza. Não quero que crie expectativa e depois sofra por não serem eles. Isso já ocorreu uma vez e não quero que ocorra novamente.
— Estamos traçando o plano e estudando o procedimento mediante a planta que Gion conseguiu do prédio. Não parece ter muitos guardas na área externa, mas acreditamos que a área interna é bem guardada. Quanto mais lobos, mais guardas. Eles não arriscariam uma fuga.
— Se eles ficam a maioria do tempo acorrentados ou dopados, o risco de fuga é mínimo.
— Gion conseguiu subornar um funcionário, logo ele me passará as informações que precisamos para traçar nosso plano. Faremos tudo limpo e rápido. Preciso saber quem vai nessa missão.
— Eu vou — disse Noah. — Konan, Kirian e Liam também. Erick, Petrus e Harley ficarão para cuidar da segurança da mansão.
Ester sentiu o coração espremer.
— Konan, fale com Jessy. É necessário que ela fique na mansão com Lili enquanto estivermos fora. Estará mais segura aqui.
— Sim, Noah.
— Quando vocês irão? — Ester perguntou.
— Amanhã à noite. Se não tivermos contratempos ou falta de informações que podem colocar em risco a missão.
Noah rosnou com raiva.
— Amanhã à noite! Não deixarei aqueles bastardos com meu povo nem mais um dia. Consiga o que precisa até amanhã, Sasha, senão eu irei sem vocês. Quero todos mortos e se há alguém que possa nos delatar onde vive o cabeça, o traremos vivo. Isso vai acabar agora, de uma vez por todas!
— Eu conseguirei tudo, Noah, confie em mim — disse Sasha.
— Ester, eu preciso de você aqui. Se houver feridos precisaremos de você para tratá-los. Não podemos levá-los a um hospital — Noah disse.
Ester ficou com os olhos arregalados e sentiu um peso enorme sobre seus ombros. Ora bolas, agora ela estava entendendo porque queriam tanto que ela estivesse por perto.
Todos se viraram para ela, esperando sua resposta e Ester engoliu em seco.
— Eu estarei aqui.
Capítulo 13
Berlim, Alemanha, 2014.
Noah, Kirian, Liam e Konan, assim como Sasha e os membros de sua equipe, espreitavam entre as árvores. O isolado prédio no subúrbio de Berlim parecia abandonado, se não fosse os guardas armados de fuzis, prostrados ao redor.
Segundo as informações levantadas por Sasha, o estacionamento era coberto e ficava nos fundos da propriedade. Aquele era um centro de pesquisas farmacológicas, totalmente inocente e idôneo que havia fechado as portas. O que o resto da população não sabia é que clandestinamente as pesquisas escusas continuavam acontecendo, e envolvendo espécies que o mundo nem sequer sonhava que existia.
Era tarde da noite, mas naquele horário haveria funcionários, além dos guardas. A primeira sugestão é que a operação fosse em um horário onde haveria menos gente, mas Noah recusou. A ordem era matar o maior número daqueles bastardos. Não importava a função, se trabalhava ali, era culpado e merecia morrer.
Noah rosnou, olhou para Sasha e deu sinal. Sasha retransmitiu e dois atiradores equipados com rifles Colt M4A1 com silenciadores atiraram, derrubando os dois guardas que ficavam na frente do prédio.
— Mac, alvo? — Sasha perguntou no rádio auricular.
— Na mira, senhor — respondeu um dos seus homens que estavam posicionados, à espreita, nos fundos do prédio.
— Agora — Sasha ordenou.
Sasha ouviu três disparos, logo a mensagem retornou.
— Três abaixo e limpo.
— Kolt? — Sasha falou.
— Na mira, senhor.
— Agora.
Logo ouviu dois tiros.
— Dois abaixo e limpo.
Sasha olhou para Noah e assentiu.
Ele levantou e uivou. Um uivo contínuo, onde ele transmitia aos lobos no interior do prédio uma mensagem. Ele sabia que os prisioneiros estavam abaixo do solo, que um humano não ouviria naquelas condições, mas com a audição aguçada dos lobos, esperava que ouvissem. Estava avisando que estavam chegando para salvá-los e que não deveriam agredir a equipe humana. Uma vez soltos, poderiam agredir Sasha e seus homens.
Um guarda de dentro do prédio olhou para o outro, e para um recepcionista que estava folheando uma revista despreocupadamente e chupava um pirulito.
— Ouviu algo? Parece um uivo vindo de fora — um deles disse.
— Ah, deve ser aqueles animais lá embaixo — respondeu o outro.
— Certo.
Ronan empertigou-se em sua cela. Estava sentado no seu precário catre, usava uma calça cargo surrada e estava com uma camiseta de malha suja e rasgada. Seu magnífico cabelo longo, de quatro cores havia sido cortado e pairava bem acima dos ombros. Ele se levantou e foi até a grade.
— Ouviu isso? — perguntou.
— Ouvi — disse Thorman também levantando na sua cela e indo até a grade.
Cada um possuía uma cela particular, era de três lados de grades, possuía um catre, um vaso sanitário e uma pia. Havia cinco celas naquele ambiente todo isolado em metal, mas apenas três estavam ocupadas.
— Não entendi direito. Você entendeu, Ronan? — Zian perguntou da outra cela.
— Não, somente um som distorcido, mas parece um uivo sim.
— Seriam algumas de nossas fêmeas? — Thorman perguntou.
— Não. Naya não uiva assim, é um macho. Fiquem atentos para ver se ouvimos mais alguma coisa.
Noah, Konan, Liam e Kirian e a equipe invadiram o prédio, Sasha matou um dos guardas que ficava na área de recepção com tiros, o outro teve a caixa torácica arrebentada com um soco de Konan.
O recepcionista, que mal teve tempo de tirar os olhos de sua revista, foi atacado por Noah, que o agarrou por detrás do balcão, e após rosnar ferozmente em sua cara fazendo-o gritar de pavor, o fez voar por todo o saguão e chocou-se nas portas de vidro, caindo morto no pátio.
Eles seguiram pelo corredor, uma parte da equipe desceu pelas escadas, e outra pelo elevador. Enquanto Noah esperava que o elevador descesse, foi retirando o colete à prova de balas e a camiseta, assim como os outros lobos.
— Vamos lá, irmãos, vamos vingar nossa gente — Noah rosnou. — Matem todos, sem dó.
A porta do elevador se abriu e quatro lobos em transformação Dhálea saltaram para fora fazendo com que um rosnado feroz ecoasse pelas paredes frias e metálicas. Estavam furiosos, mortais. O sentimento de vingança estava aflorado, a necessidade de salvar seus amigos os dominava, e não haveria nada, simplesmente nada que os impediria.
Noah, como alfa, estava à frente e rosnou mais alto e intermitentemente e logo uivou e os três lobos o acompanharam, como se fosse um grito de guerra.
Ronan agarrou as grades com firmeza, com o coração descompassado no peito, os olhos brilhantes de esperança e o ar travado nos pulmões.
— Noah! — gritou.
Agora eles puderam ouvir perfeitamente, seu alfa havia chegado para salvá-los.
Thorman e Zian fizeram o mesmo, seus olhos cintilaram e se prepararam para lutar, agarrados à grade tentavam abrir as portas da cela, mas estavam trancadas. Eles rosnaram furiosamente, então uivaram fazendo com que Noah os ouvisse.
Noah rosnou em entendimento. Finalmente havia os encontrado. A resposta somente inflamou mais sua raiva, impulsionando-o a seguir.
Noah e os outros invadiram sala por sala dos laboratórios, matando qualquer um que aparecesse na frente: guarda, médico ou enfermeiro. Estavam em uma fúria intensa. Sasha e sua equipe entravam atirando, procurando as salas lacradas.
Um dos guardas apareceu de repente em uma porta e apontou a arma para Noah e atirou, acertando seu braço. Ele rosnou e cambaleou pelo impacto e pela dor, mas não se abateu; isso somente aumentou ainda mais sua fúria. Ele deu um impulso, saltou mais de três metros e caiu sobre o homem. Porém, com uma patada jogou-o contra uma parede, fazendo com que seu corpo estilhaçasse.
Noah gemeu, seu braço doía e sangrava, mas isso não era importante agora.
Eles desceram mais algumas escadas, Kirian saltou sobre dois homens de uma vez, batendo suas cabeças tão fortemente que somente ouviu ossos quebrando. Konan estava já em forma de lobo e correu mais à frente, farejando à procura dos seus e chegaram a um enorme corredor.
Sasha entrou com os seus homens, dando cobertura para eles.
— Um andar abaixo é onde devem estar as jaulas dos machos e onde as fêmeas estão, é para a esquerda — Sasha disse.
Eles correram e a equipe foi atirando e matando todos que apareciam na frente, um deles usando um jaleco correu para fugir, mas Noah saltou sobre ele e quebrou seu pescoço. Chegando a uma gigantesca porta metálica, Konan batia contra ela, mas era impossível derrubá-la.
Sasha correu e digitou um código no painel eletrônico. Dois mercenários carregaram o médico morto e colocaram a mão dele sobre um painel, captando suas digitais.
— Bem-vindo, Dr. Sherman. Acesso concedido — disse uma voz eletrônica de mulher.
Assim que uma luz verde acendeu, um clique foi acionado. Eles jogaram o corpo do homem longe, e quando a porta se abriu, saltaram para frente. Atiraram em dois soldados que apareceram, e Noah cravou as duas mãos com as garras estiradas no peito de outro, fazendo seu sangue espirrar sobre si. Ele rosnou alto e num solavanco as tirou fora e o homem caiu morto. Ao longe, Ronan assim como Thorman e Zian responderam, chamando-os.
Noah virou-se para os uivos e Sasha correu a uma mesa de controle que ficava em um canto e digitou um código e as celas abriram.
Os lobos saltaram para fora das celas e se abraçaram.
— Noah, já tinha perdido as esperanças de que alguém nos libertasse, pensei que estava morto.
— Nunca desistiria, Ronan. Lamento não ter conseguido achá-los antes. Temos seu filhote.
Os olhos de Ronan lacrimejaram de emoção e segurou os ombros de Noah.
— Luca? Meu filho está bem?
— Ele está bem e seguro. Está um belo rapaz.
Thorman rosnou para a equipe de Sasha que acabou de entrar na imensa sala metálica.
— Thorman, eles são amigos, não ataque.
— Humanos não são meus amigos — disse olhando-os com raiva.
— Ataque algum deles e se verá comigo, são meus homens e estão aqui salvando sua pele. Recebem minhas ordens.
— Se acalme, vamos pegar nossas mulheres e sair daqui — Ronan disse segurando Thorman pelos ombros.
— Onde elas estão? — Noah perguntou.
— Por ali.
Eles correram e com outro código, Sasha abriu outra porta. Eles correram entrando em outra ala do laboratório e Ronan rosnou alto quando avistou sua esposa sobre uma maca. Ele saltou através dos vidros, estilhaçando-o e chegou até ela, não se importando com os cortes que o vidro quebrado lhe causou nos braços.
— Naya!
Ele ficou apavorado a olhando, acariciando com as mãos trêmulas seu belo rosto; estava pálida e inerte, nua sobre a maca, estava coberta apenas por um fino lençol branco. Ele arrancou as agulhas que lhe enviavam alguma droga na veia e os fios que a ligavam a uma máquina de monitoramento, e o que fosse que estava preso a ela. Depois envolveu-a no lençol e tirou-a da maca, aninhando-a em seu peito.
— Minha vida, aguente, nós vamos para casa — disse em lamúria. — Naya, fique comigo, vai ficar tudo bem. Vamos encontrar nosso filhote.
Thorman pegou a outra mulher desacordada na outra maca. Dois cientistas correram na outra sala para fugir, mas Kirian e Konan não deixaram que chegassem muito longe.
— Quem mais está aqui? — Konan perguntou.
— Clere. Deve estar em alguma destas salas — Ronan disse.
— Logan e Julian não estão aqui? — Noah perguntou.
— Estão mortos, só há nós.
— Inferno! — Noah suspirou tentando se controlar.
Eles continuaram explorando e encontraram uma cela, Clere estava nela, agarrada às grades, com os lindos olhos amarelos banhados em lágrimas.
Ela era muito jovem e linda, sempre usara seus cabelos longos, que ostentavam três tons de loiro, mas agora estavam muito curtos e tortos, seu rosto estava roxo e seu lábio com um corte. Usava uma camiseta longa que estava rasgada, suja e com manchas de sangue.
— Alfa, alfa! — disse estendendo o mais que podia os braços entre as grades.
Noah rosnou de raiva e alcançou suas mãos que tentavam segurá-lo desesperadamente e ele a abraçou, mesmo com as barras entre eles.
— Clere!
— Por favor, me tire daqui, por favor — disse entre soluços.
— Está tudo bem, vamos para casa agora, está a salvo. Fique calma, eu a levarei para sua mãe, prometo.
— Minha mãe está viva?
— Sim, querida, sua mãe está bem e em um lugar lindo e seguro, esperando por você.
Ela soluçou e ficou desesperada quando ele a soltou e se afastou. Estava morta de medo que a deixassem.
— Sasha! — Noah gritou.
Sasha estava lidando nervosamente com o painel para conseguir abrir a cela para libertá-la e com um sopro de alívio viu a porta abrir. Aquela cena foi como uma punhalada em seu peito, pois se lembrou de quando resgataram Jessy.
Ele virou-se rapidamente quando um guarda entrou correndo na sala atirando, por uma porta oculta ao lado das celas. Sasha recebeu um severo tiro no peito e tombou para trás.
Ronan, segurando Naya nos braços, se virou de costas para protegê-la e recebeu dois tiros em suas costas, gritou, rosnou e caiu no chão, derrubando Naya. Ele tentou não cair para segurá-la, mas não conseguiu.
Kirian a pegou nos braços e Konan saltou sobre o soldado o derrubando no chão e mordeu seu pescoço, estraçalhando-o. Os homens de Sasha atiraram nos outros dois que vieram atrás e espreitaram pela entrada misteriosa para ver se havia mais alguém.
Aquela maldita porta não estava na planta do prédio que estudaram, porque não contavam que alguém os atingiria vindo daquele lado.
Noah amaldiçoou, virou Ronan no chão e ele estava gemendo de dor e sem controlar sua magia transformou-se em lobo, logo em homem, e em animal novamente e então ficou inconsciente.
— Merda! — Noah rosnou. — Aguente amigo, você vai ficar bem. Eu prometo. Konan! Leve Ronan para o furgão, estamos de saída. Onde, inferno, está Liam?
— Estou aqui!
Liam apareceu na sala carregando um homem engravatado, estava apavorado e gemia, apavorou-se mais ainda quando viu todos os lobos soltos. Zian rosnou e quis agredir o homem, mas Liam o impediu.
— Acredito que este verme pode nos responder algumas perguntas, precisamos de informações, Zian. Prometo deixar que o mate mais tarde.
— Sim, eu arrancarei sua cabeça.
— Noah, eu preciso que veja algo — Liam disse.
Liam jogou o homem apavorado para as mãos de dois homens de Sasha e Kirian deu Naya para Zian. Eles levantaram Sasha do chão e o levaram para fora.
— Levem-nos para os furgões — disse Noah. — Logo estaremos fora.
Noah e Kirian seguiram Liam para um corredor e entraram em uma sala toda branca, mas estava lacrada com barras de ferro; lá havia uma moça, embolada no canto. Noah podia sentir seu verdadeiro pânico. Seu rosto estava banhado em lágrimas e seus olhos tão arregalados que Noah sentiu dificuldade de analisar a fêmea.
— É humana — Liam disse.
— Porra! — Noah rosnou.
Ele esperou que abrissem a porta e os três entraram na cela.
— Quem é você? — Kirian rosnou e bateu no catre, jogando-o contra a parede, estilhaçando-o. A moça gritou em pânico e correu para o canto da sala. — Fale quem é você ou arranco sua cabeça.
— Sami, eu me chamo Sami! — disse atropelando as palavras.
— Você trabalha aqui? — Noah perguntou.
— Sim.
Kirian rosnou ferozmente e avançou para ela, iria matá-la. Ela gritou, bateu contra a parede, escorregou para o chão e cobriu o rosto com os braços. Kirian a levantou do chão e imprensou-a contra a parede.
— Maldita por ferir meu povo. Vou matar você lentamente para que sofra.
— Não os feri, eles feriram a mim! — ela gritou, apavorada.
Ele rosnou, arreganhando dentes afiados e ela virou o rosto para o lado e ele estreitou os olhos e a cheirou.
Ele puxou com força a gola de sua camisa e viu uma marca recente de mordida em seu ombro.
— Quem mordeu você?
— Não sei — disse soluçando.
— Noah! — Kirian chamou. — Olhe isso.
Ele a colocou na frente de seu corpo e puxou sua blusa e Noah olhou e rosnou ferozmente. Ela gritou, tentando ir para trás, mas bateu contra o peito de Kirian e ele a agarrou pelos braços.
— Leve-a, precisamos sair daqui antes que alguém chame a polícia. Depois cuidaremos dela.
Kirian rosnou e a puxou pelo braço, fazendo-a quase correr para segui-lo e a levou para fora do prédio. Ela começou a gritar e tentou fugir, mas ele a girou e a encarou nos olhos, e tapou sua boca com a mão.
— Se der mais um grito, por menor que seja, eu quebro seu pescoço, entendeu? Agora, cale a boca e me obedeça.
— Para onde vão me levar? — perguntou apavorada quando ele retirou a mão de sua boca.
— Para nosso refúgio. Não se preocupe, se for uma vítima e não a bandida, nenhum de nós a machucará, mas se machucou um dos nossos, sua vida não vale nada.
Ele saiu do prédio, puxando-a pelo braço, andaram até três furgões negros que estavam estacionados na frente do prédio, dirigidos por homens de Sasha. Assim que se afastaram, o prédio começou a explodir e a ser consumido pelas chamas.
Ali não sobraria nada, nenhum vestígio de lobos.
Eles seguiram por uma estrada deserta até um campo, onde dois helicópteros estavam esperando. Todos correram entrando e colocando os feridos e prisioneiros e logo levantaram voo em direção à Oldemburgo.
Noah suspirou olhando para Sasha, que estava desacordado. Algumas coisas haviam saído do planejado. Mas era sempre assim, ele nunca conseguia dominar tudo e todos. Era impossível evitar que um ou outro se machucasse. Como alfa, esse era um desejo que nem sempre se realizava.
— Ele está bem? — Noah perguntou.
— Feriu-se um bocado, mas o colete o protegeu, vai ficar bem.
— Se os outros estão mortos, nossa luta terminou aqui, Noah. Não há mais quem resgatar — Liam disse com um misto de tristeza e alívio, enquanto vestia sua calça. Havia pegado a roupa de volta quando saíram do prédio.
— Ainda não pegamos quem financiou tudo isso e nem Joan.
— Você não sabe se foi Joan que nos traiu, pode ter sido qualquer um que nos temesse.
— Ou nos odiasse — Konan complementou.
— Vamos para a ilha, alfa, vamos recomeçar nossa vida longe daqui, longe dessas lembranças ruins.
Noah olhou para Clere que estava sentada no canto, com a cabeça encostada na janela e os olhava, abraçada a si mesma, prestando atenção no que conversavam, mas não dizia uma palavra. Só de olhá-la, seu sangue fervia de ódio, estava tão machucada. Alguém havia batido nela e nem queria saber o que mais lhe haviam feito. Só esperava que não ficasse traumatizada como Jessy.
Noah gemeu segurando seu braço e fechou os olhos, escorando a cabeça no encosto do banco.
— Está bem, Noah? — Liam perguntou.
— Sim — rosnou. — Somente quero chegar logo e abraçar minha mulher.
— Não acredito que somente queira abraçá-la — Konan disse e Noah rosnou.
— Dispenso provocações, Konan — Noah disse.
Ester era uma imagem viva agora na sua mente, necessitava dela, seu lobo necessitava dela, precisava sentir o cheiro de sua pele. As imagens dela nua em seus braços começaram a dançar em sua mente. O som dos seus gemidos era como uma música para seus ouvidos. Sua boca quase salivou ao lembrar-se de seu gosto, de seus doces lábios.
— Um lobo sempre deseja sua mulher depois de uma batalha, é o frenesi — Liam disse.
— Sim.
— Penso que deveria se limpar antes de encontrar sua fêmea, porque ela é humana e quase vai morrer de susto ao vê-lo assim, você é a personificação de uma poça de sangue.
— Minha companheira é forte, aguenta sangue. Como minha esposa ela deve ser forte para obter respeito da alcateia, e como médica não tem problema com isso.
— Sim, Noah, ela deve. Mas você deve lembrar-se de algo importante também, os humanos necessitam de uma cerimônia para sentirem-se casados, necessitam de um papel, anéis, estas coisas. Com sua pequena humana, não deve ser diferente. Já fez a proposta?
— Não, não achei que precisasse disso — Noah rosnou.
— Bem, acho que deveria pedir.
Ele aceitou a toalha que um dos homens lhe entregou para limpar-se e rosnou novamente quando Konan amarrou um pano em seu ferimento.
— Como médica, eu duvido que vá deixar amá-la antes que lhe costure.
— Ela tem uma fila de pacientes e Ronan é a prioridade. Ele precisa viver.
— Você também.
— Este tiro não vai me matar.
— Certo, ela cuidará dele primeiro.
— Bem, ter uma médica como companheira tem seu lado ruim.
Noah suspirou. Teria que aliviar seu frenesi com um banho gelado.
Pedi-la em casamento? Ora, era só o que faltava. Mas Liam estava certo, se isso a faria feliz, deveria fazê-lo. E ele ainda nem havia pedido que se transformasse em loba, mas quem sabe se a pedisse em casamento, ela aceitaria mais facilmente.
Mas agora a única coisa que lhe importava era chegar à mansão logo, salvar a vida de seus amigos feridos e amar a sua mulher.
Capítulo 14
Oldemburgo, Alemanha, 2014.
Erick ficou um segundo olhando para Ester que estava adormecida no sofá. Ela havia andado de um lado para o outro durante toda a noite. Sua preocupação era imensa e todas as palavras de Erick não serviram para que se acalmasse. Só fazia uma hora que ela havia perdido para o sono e dormido no sofá.
Liam havia telefonado e avisado para estarem prontos que estavam chegando. Por isso, agora Erick estava aliviado, porque havia corrido quase tudo bem na missão e estavam voltando com seis de seu povo.
Ele tinha ficado atormentado porque desejava ter acompanhado e ajudado no resgate, mas quando Noah designou que ele ficasse na propriedade, era porque sabia que ele daria sua vida para defender Ester e Jessy, caso acontecesse algo na sua ausência.
A mensagem estava ali, no olhar de Noah quando ordenou-lhe que ficasse. Noah confiava plenamente nele e isso abrandou o coração de Erick, mas o desejo de matar estava sob sua pele.
Erick se abaixou de cócoras e tocou o braço de Ester.
— Ester?
Ela acordou e olhou assustada para ele. Em seguida, Ester sentou, esfregando os olhos que arderam pelo pouco sono.
— Eles estão aqui?
— Não, estão chegando — disse Erick.
— Tudo está preparado. Noah está bem? Há feridos?
— Sim, um lobo com dois tiros nas costas, duas fêmeas desacordadas, mas sem ferimentos aparentes. Clere está ferida, mas não parece nada grave e Sasha levou um tiro no peito, mas pegou no colete.
— Noah?
— Seu helicóptero está descendo primeiro, mas ele pode esperar.
— Pode esperar? Noah está ferido? Responda Erick! — perguntou impaciente.
— Sim, está, mas Ronan precisa de cuidados primeiro, os tiros podem ter sido muito graves. Está recebendo os primeiros socorros por um dos homens de Sasha enquanto voam.
Ester saltou do sofá quase derrubando Erick, que se levantou.
— Onde Noah está ferido?
— Levou um tiro no braço, mas está bem. Liam disse que a bala atravessou.
Ela girou nos calcanhares para sair da sala.
— Ester, eu preciso que vá lá para baixo e espere que nós levemos os feridos até você.
— Vou lá fora esperar Noah.
— Não é uma boa ideia, querida. A aconselho a ir lá para baixo.
— Preciso ver Noah primeiro.
— Merda. Não pode ficar ao redor de Noah agora. Acredite em mim, é melhor descer.
— Pois eu quero ver quem vai me impedir.
— Ester, ele está em frenesi. Se vê-la, acredite, priorizará as necessidades dele.
— O quê?
— Bem, é que um lobo acasalado entra em frenesi após uma batalha. Se a vir, ele vai querer sexo.
Ela piscou diversas vezes e olhou confusa para ele.
— Deixe de conversa mole, Erick, temos trabalho a fazer. Noah está ferido e precisa de cuidados, se chegou primeiro poderei ir atendendo-o antes que os outros cheguem.
— Me escute e desça agora, sim?
Ela saiu da sala e correu para fora quando o barulho do helicóptero pairou sobre a mansão.
Erick suspirou.
— Por que sua filha tinha que ser tão teimosa, Herbert?
Ester observou quando o helicóptero aterrissou no imenso gramado plano que ficava na parte de trás da mansão. Ela estava nervosa, preocupada, tinha que ver Noah e tratar seu ferimento logo. Não sabia o motivo, mas saber que estava ferido e com dor, lhe afligia muito, quase à beira da agonia.
Ela observou todos descerem do helicóptero e correu para Noah que estava sem camisa, com calças de couro e com uma faixa ensanguentada amarrada no braço, mas parecia bem.
Porém, nem tanto quando ele se virou e a viu, pois retesou o corpo e rosnou, parecia zangado. Ela correu até ele e, então, parou no meio do caminho.
Ele rosnou novamente e desta vez ela estremeceu. Por um momento sentiu medo dele, mas ficou ali parada e ele andou até ela, com passos firmes, duros e rápidos.
Ester pôde sentir que algo estava errado. Quando ele pairou sobre ela parecia bem maior, talvez sua aura desse esta impressão. Estava com os punhos cerrados firmes ao lado do corpo, porque podia ver que trincava os dentes.
— Oh Deus, Noah! Está ferido, eu estava tão aflita.
Ela foi abraçá-lo, mas ele recuou um passo e Ester estranhou.
— Se afaste! — ele disse bruscamente.
Ela se retesou e o olhou espantada, mas mesmo assim esticou o braço para ele.
— Está sujo de sangue e Erick disse que levou um tiro. Venha, que vou ver isso.
Ele deu mais um passo atrás.
— Porra, Ester, tire este traseiro da minha frente e entre logo na casa. Vá cuidar de Sasha enquanto Ronan não chega. Precisa cuidar deles, faça seu serviço e fique longe de mim.
Noah mordeu sua própria língua. Havia falado de forma ríspida com ela e Ester, então, deu um passo atrás e ele pôde ver em seus olhos que havia ferido seus sentimentos.
Inferno, ela estava demonstrando que estava preocupada e que queria cuidar do seu ferimento, mas não entendia que precisava ficar longe dele.
Ester sentiu como se uma faca tivesse cortado o seu coração. Por que ele estava tão zangado com ela? Olhava-a com raiva e seus olhos estavam cintilando. Aquilo era assustador.
Ester virou nos calcanhares e partiu para a mansão.
— Ester!
E logo ela começou a correr dele. Isso impulsionou o lobo de Noah a saltar.
— Porra, inferno! — ele rosnou e deu um passo à frente, mas parou, tentando conter seus instintos de ir atrás dela.
— Ester! Pare agora — gritou.
Ela não parou e correu mais rápido. Então, ele correu.
— Oh, merda! — Erick suspirou quando os viu.
— Não avisou a ela para ir à clínica e ficar longe dele? — Konan perguntou.
— Eu disse, e ela por acaso escuta alguém? Leve Sasha para baixo, Jessy está em prontidão lá embaixo, vai atendê-lo.
— Jessy vai atendê-lo? — Konan perguntou confuso.
— Ester é que não vai fazê-lo no momento. Jessy vai ter que superar isso e cuidar dele. Vá, homem.
Konan estava com Sasha no colo e assentiu, logo entrou na mansão com dois dos seus homens o seguindo. Era estranho ver Konan carregando um homem tão grande como Sasha como se não pesasse nada, mas os lobos eram muito fortes.
Erick somente suspirou quando olhou para o outro lado e viu Noah saltar sobre Ester. Só esperava que ele tivesse um pouco de bom senso e não a machucasse.
Ester foi levantada do chão quando pisou dentro da mansão. Noah a agarrou pela cintura e a ergueu.
— Não corra, doçura.
— Solte-me, Noah! — gritou.
— Tarde demais, tem que aprender algumas coisas. Quando damos uma advertência, ela deve ser seguida. Ela nunca é em vão e nunca fuja de mim, mulher.
— Oh, foda-se! Solte-me e vou cuidar de Sasha. Já que você, seu brutamonte, não quer que o toque. Pode costurar-se sozinho. Nunca mais passarei uma noite em claro por preocupar-me com você!
Ela esperneou e tentou soltar-se, mas nem em sonho ela conseguiria tal feito. Ele rosnou e a carregou para uma sala de estar e fechou a porta, virou-a nos braços e a imprensou contra a parede, fazendo-a abraçar sua cintura com as pernas.
Ela gritou de susto e ficou com a respiração difícil quando olhou para seus olhos cintilantes.
— Eu não a tocarei não por não desejá-la, me entende? Tocar você é a única coisa que mais desejo e o que está me matando agora mesmo, mas não é adequado e não queria machucá-la. Se a tocasse, eu perderia o controle e iria querer sexo!
Oh, Ester teve uma tontura súbita. Santo Deus, este homem a deixaria insana!
— Não entendo.
— Erick não disse para ficar longe de mim?
— Disse, mas...
— Então, não deu atenção.
— Eu não achei que fosse sério.
Ele se esfregou contra ela, fazendo-a gemer, sua ereção pulsava exigindo liberar-se e um rosnado retumbou no peito.
— Tudo sobre mim é sério, querida. Lobos possuem instintos mais fortes que os humanos. Não consigo pensar, somente quero montar você — sussurrou beijando sua mandíbula.
— O quê? Há feridos, solte-me! Você está machucado, não é hora para isso. Vai machucar ainda mais seu braço. Não sente dor?
— Sinto dor por desejar você.
Ele a olhou nos olhos, rosnou e a beijou. Beijou-a com loucura, devorando sua boca e Ester gemeu. Ela se assustou quando ouviu sua roupa rasgar e tentou se afastar, mas não por medo dele.
— Noah, o que está fazendo? Pare!
— Preciso de você, companheira.
— Não é hora para isso.
Ele rosnou novamente e rasgou sua blusa e logo sua lingerie. E, então, a pegou nos braços e a imprensou contra a parede. Ela ofegou e o olhou com os olhos arregalados.
— Doçura, eu preciso de você, entende? Não consigo ir devagar, mas não quero machucá-la.
— Isso é o frenesi que Erick disse?
— Sim, seu cheiro está mais forte, me deixa tonto e minha vontade de montá-la é imensa. Estou me segurando, se entregue pra mim.
— Mas...
— Diga que me aceita.
— Sim.
Ele a beijou novamente e o corpo de Ester se aqueceu e ela gemeu. Deus, o homem era o quê? Um pote de afrodisíaco? Ela gemeu novamente quando ele a tocou com os dedos, estimulando-a, acariciando-a, e isso a deixou excitada. Seu corpo se rebelou e ela gritou quando ele mordeu seu peito, lambeu e logo tomou seu mamilo na boca, como se fosse um alimento para sobreviver.
— Minha, minha Ester, minha companheira, me dê o que preciso.
— Noah...
Ela ofegou quando sentiu que sua ereção entrava nela. Ele gemeu e rosnou em seu ouvido, e ela pôde sentir suas presas pressionarem seu pescoço mas sem mordê-la. Logo, ele a lambeu em toda sua mandíbula e devorou sua boca, enquanto Ester arfou, tentando respirar. Como ele conseguia lhe dar tanto prazer, ela não sabia.
Ele moveu-se rapidamente, imprensando-a ainda mais contra a parede da sala. Uma e outra vez, ela gritou quando ele soltou de seus lábios e disse umas palavras em outra língua, rosnando alto; seu centro se contraiu, e um espasmo forte a afligiu, fazendo-a gritar e ter o seu orgasmo enquanto Noah rosnou ainda mais alto e feroz.
Noah teve sua liberação poderosa e quente dentro dela e tomou sua boca em outro beijo. Quando soltou de seus lábios, ele enterrou seu rosto em seu pescoço e ficou ali tentando respirar e voltar ao normal. Sua vontade era de cair no chão, pois suas pernas estavam trêmulas e mal conseguia puxar ar para os seus pulmões.
Essa merda toda ia matá-lo. Havia a assustado até o infinito e, por um milagre, se controlou para não colocá-la de quatro e montá-la como um louco, como seu lobo exigiu. Não a mordeu por um pequeno triz.
Mas o ato era assim, e as lobas adoravam quando seus machos entravam em frenesi, porque ambos liberavam sua magia e isso resultava em um sexo quente, mas Ester não era uma loba.
— Desculpe. Eu a machuquei? — ele sussurrou.
— Não.
Ele saiu dela e a colocou no chão, ele a segurou pelos braços quando suas pernas cederam e ela quase caiu.
Ela não o olhou no rosto e isso o matou.
— Desculpe, doçura, mas deveria ir agora.
Ela olhou-o confusa e olhou para si, sua roupa estava estraçalhada no chão e seu corpo formigava. Então, ela olhou para Noah, cujos olhos ainda cintilavam e ainda exibia uma ereção. Era uma coisa estúpida querer ficar com ele após o sexo, aquelas coisas de carinhos e palavras doces, mas aquilo tudo havia sido tão louco que não sabia o que esperar dele agora e não sabia o que fazer.
— Fique aqui, vou buscar uma roupa e você vai para a clínica para tratar dos ferimentos de Ronan e dos outros.
Ela abriu a boca para falar, mas ele abriu a porta e saiu. Ester ficou ali olhando para a porta fechada. Não sabia se chorava, se estava feliz por ele precisar tanto dela dessa forma ou se isso era ruim.
Ela ainda tinha que se acostumar com o jeito dos lobos, sem vergonha do corpo, sem pudor nenhum. Eles eram livres e bem resolvidos com seu corpo e sobre tantas coisas, ela sentia-se envergonhada muitas vezes. Mas as diferenças é que tornavam as coisas excitantes, pois era uma descoberta a cada minuto. E o que ele disse a ela, servia também para Ester, ela nunca deixaria de desejá-lo, nunca. Sentir-se atraída por ele, excitada, era quase como a necessidade de respirar. Fazia parte dela.
Abraçou a si mesma e ficou ali, nua no meio da sala. Logo ele voltou com um moletom e uma camiseta e deu a ela.
— Deve apressar-se, o helicóptero acabou de pousar. Estão levando Ronan e os outros para baixo.
Noah a ajudou vestir-se, calado, e ela deu a volta para sair da sala, mas ele a segurou pelo braço e a puxou de volta para si.
— Tenho que ir — ela sussurrou.
Então, ele segurou seu rosto entre as mãos, fazendo-a olhá-lo.
— Está zangada comigo?
Ela negou com a cabeça.
— Sei que fui grosseiro, desculpe.
— Não foi grosseiro.
— Pode me perdoar, se eu prometer uma noite romântica para você depois que tudo isso passar? Essa que os humanos fazem para conquistar suas fêmeas?
Ester sentiu seu coração aquecer. Como não amá-lo?
— Isso seria agradável.
Ele sorriu e beijou seus lábios docemente.
— Sempre vou desejar você, pois é preciosa pra mim. Vá agora, doçura, cuide de seus pacientes, senão quererei tomá-la outra vez, pois poderia ficar nisso nos próximos dois dias.
— Tanto assim?
— Não queria deixá-la ir, queria levá-la para nosso quarto e amá-la como você merece. Com tempo e carinho, mas não temos isso. Você é deliciosa demais para me deixar insano. Vá agora, meu bem, nós nos veremos mais tarde.
Ele beijou docemente seus lábios e ela sorriu, assentiu e saiu da sala sem dizer nada. Noah suspirou olhando para o teto e gemeu.
Seus caninos doíam como se fossem cair e ainda continuava excitado. Deixá-la ir era como o próprio inferno. Lobos eram muito sexuais, apreciavam muito o sexo, mas ele não queria que fosse algo que constrangesse ou assustasse sua companheira humana, o que ele somente queria era agradá-la e satisfazê-la como fosse.
Eles ainda tinham que aprender a conviver e aprender um com o outro, mas tudo com ela era magnífico e prazeroso, exatamente tudo. Era diferente, mas amava isso. Amava sua Ester.
— Droga, Ester! Você vai acabar comigo.
Precisava saber agora como era um encontro romântico para proporcionar isso a ela, como havia prometido. E se não contasse a verdade logo, sabia que ia se ferrar.
Capítulo 15
Jessy não conseguiu parar de olhar Sasha, que estava deitado na maca, com os olhos arregalados.
— Jessy, consegue fazer isso?
Ela olhou para Konan.
— Ele está muito ferido?
— Está desmaiado pelo impacto da bala no peito, mas não o perfurou.
— Onde está Ester?
— Ester está um pouco ocupada lidando com Noah, precisa cuidar disso até que ela desça. Ele está desacordado e nunca faria mal a você, Jessy, porque é um bom homem. Noah e Erick confiam nele, e sabe como Noah é difícil de confiar em um humano. Isso deveria servir para você confiar que ele não te machucará.
Ela engoliu em seco e assentiu.
— Cuidarei dele. — Ela não queria, mas faria.
— Certo, eu estarei aqui no corredor. Se precisar de mim, basta chamar.
Jessy assentiu e demorou mais um minuto para olhar Sasha novamente e engoliu em seco. Em seguida, andou até ele, respirou fundo e colocou as luvas. Depois cortou sua camiseta no peito, retirando-a e olhou o imenso hematoma que estava se formando em seu peito. Ela examinou para ver se estava com algum osso quebrado e se havia outro ferimento.
Ela olhou para seu rosto e sem resistir tocou lentamente sua bochecha com as pontas dos dedos.
— Você é tão bonito. Gosto quando sorri, essas covinhas na sua bochecha são bonitas — sussurrou.
Ela suspirou e olhou para a porta para ter certeza que ninguém a viu fazer isso. Respirou fundo e tratou de seu ferimento e ficou ali, segurando sua mão.
— Jessy, o outro helicóptero pousou, Ester está descendo e precisa de você — Konan disse da porta.
— Estou indo.
Konan saiu e Jessy fez menção de ir embora, mas estava apreensiva de deixá-lo sozinho, mas não queria que ele acordasse e a visse ali. Seus sentimentos estavam confusos e queria que ele ficasse bom logo. Saber que estava ferido causou uma imensa dor em seu coração.
Quando estava saindo da sala, parou, mas não se virou. Ela soube que ele havia acordado e a estava olhando, mas não teve coragem de olhá-lo. Ela podia sentir sua loba se debatendo, o que a deixava ainda mais nervosa. Aquilo não era natural.
— Lhe dei um medicamento para a dor, deve melhorar logo — ela disse de costas.
— Obrigado por cuidar de mim, Jessy — ele sussurrou.
— Eu faria por qualquer um.
— Não, não faria.
— Acho que está certo.
— Me dê uma chance, Jessy. Só uma — ele sussurrou.
— Não Sasha, eu não sou mulher para você. Deveria procurar uma humana para amar.
— Amo você. Eu a amo desde que a vi dentro daquela jaula.
Jessy se virou lentamente e o olhou com os olhos cheios de lágrimas.
— Não tenho amor para retribuir.
— Está com medo, e entendo, mas posso mostrar que um homem pode ser gentil e amá-la como se deve, só precisa deixar. Posso ser seu companheiro e cuidar de você e Lili.
— Meu companheiro está morto e não há lugar para mais nada.
Ela se virou, saiu da sala e Sasha suspirou triste. Aquela bala devia tê-lo matado, seria melhor que morrer por ser desprezado por ela.
Sua vida era uma merda.
***
Ester entrou correndo na sala cirúrgica e colocou a roupa especial e as luvas, assim como Jessy que iria ajudá-la. Ronan já estava deitado na mesa, em forma de lobo.
Ester fez uma careta quando percebeu Jessy a olhando fixamente com os olhos arregalados.
— Jessy, se disser que eu estou cheirando a sexo, vou espetar você com o bisturi. E muito menos diga que todos estão tendo conhecimento disso. — Jessy sorriu e ergueu as mãos em rendição. — Sabe fazer isso? — ela perguntou mostrando a bandeja de instrumentos cirúrgicos.
— Seu pai me ensinou muitas coisas e li muitos livros, posso ajudar.
— Pai? — uma voz fraca soou atrás dela.
Ester virou e viu que Luca estava parado na porta, olhando para o lobo. Ele correu e acariciou seu pelo. O lobo estava desacordado e havia sangrado muito até que conseguiram estancar o ferimento, seu pelo estava todo sujo de sangue, aquilo devia ser uma visão assustadora para o garoto.
— Pai! Por favor, não morra. — O menino chorou.
O coração de Ester apertou ferozmente e foi até Luca, puxando-o pelos ombros para que se afastasse e o virou para ela, olhando-o firmemente nos olhos.
— Querido, preciso que você saia agora, eu vou cuidar de seu pai. Juro que vou fazer todo o possível para que ele fique bem logo.
Luca a olhou com os olhos banhados em lágrimas.
— Onde está minha mãe?
— Eu não sei, querido. Há duas mulheres no outro quarto. Vá até lá e veja se uma delas é sua mãe, ok? Assim que cuidar de seu pai, eu vou cuidar delas. Agora vá, rápido.
— Não vai deixá-lo morrer?
— Não, eu prometo que ele não vai morrer. — Luca olhou seu pai e saiu da sala. — Oh, droga! — disse olhando para as luvas.
Não deveria ter prometido algo assim, mas nem que o inferno congelasse ela não deixaria que o pai do menino morresse.
Rapidamente Ester trocou as luvas, pegou os instrumentos e começou a retirar as balas e cuidar de Ronan.
***
Após ter terminado de cuidar de todos os feridos e atender as mulheres, uma Ester cansada retirou as luvas e levou um susto quando viu uma moça na porta.
— Oh, olá — Ester disse confusa. — Sou Ester.
— Sou Clere. Erick disse que você me atenderia.
— Sim, claro, você está machucada, sente-se aqui. Oh, seu olho está feio.
— Pode me dar algo para dor? Erick me prometeu que posso confiar em você, que não vai me drogar ou me fazer mal.
O estômago de Ester revirou-se e queria esmurrar alguém.
— Nunca, jamais a machucaria, Clere.
— Você é a companheira do alfa.
— Sim, eu sou.
— Não imaginei que ele teria uma humana como companheira, mas todos parecem gostar de você. Jessy me arrumou estas roupas e disse que você é boa, apesar de não ser uma loba.
Ester sorriu diante disso.
— Oh, alguns humanos também podem ser bons.
— Os que nos mantinham presos não eram.
— Eu sei, querida. Se eu pudesse, eu mesmo dava um jeito neles por terem machucado você. Quantos anos você tem?
— Vinte.
Ester teve vontade de chorar, sua juventude estava perdida. Ela rangeu os dentes para não gritar e passou o remédio no corte de seu supercílio e colocou o curativo que faria o corte fechar e cicatrizar. Com certeza, com o processo de cura dos lobos, ela nem ficaria com cicatriz, depois cuidou de seu lábio cortado.
— Pronto, assim os cortes vão fechar rápido. Vou aplicar uma injeção e assim sua dor vai passar mais rápido do que se eu lhe der comprimidos. Há machucados em seu corpo? Preciso ver algo? Algum corte? Sente dor em algum lugar? — disse enquanto lhe aplicava a injeção.
— Só algumas manchas roxas, o sexo não me machucou dessa vez. Ele bateu em mim porque eu revidei, pois as drogas ainda não tinham feito efeito completo.
Os olhos de Ester lacrimejaram.
— Sinto muito.
Clere deu de ombros.
— Vou estar bem agora, o alfa vai me levar para minha mãe. Ele disse que a ilha é muito bonita e que ninguém vai nos machucar lá.
Ester a olhou atentamente.
— Seu cabelo está... — Ela parou, não sabia como dizer sem ferir os sentimentos da moça. — Está com um corte fora de moda, querida, você gostaria de ir ao salão para cortá-lo? Deixá-lo mais bonito?
— O que é um salão?
— É onde existem pessoas profissionais que deixam as mulheres mais bonitas. Podemos fazer sua unha, eu posso comprar umas roupas bonitas, e você gostaria de ir a um restaurante? Comer algo especial? Um bolo, qualquer coisa? O que você quiser, eu posso providenciar.
Clere virou a cabeça para o lado e prestou atenção em Ester, que secou uma lágrima que escorreu pela sua bochecha.
— Não chore por mim, Ester, vou ficar bem agora.
— Você é corajosa.
— Naya me disse que eu precisava ser. Ela sempre disse que um dia sairíamos dali, mas eu precisava ser forte e sobreviver. Eu tentei.
— O que gostaria? Pode me pedir qualquer coisa.
— Eu me lembro de que minha mãe fazia pães doces deliciosos. Você tem pães doces?
— Dada é especialista em pães doces, vou pedir a ela que faça para você hoje mesmo, certo?
Clere assentiu.
— Você é boa como a outra moça.
— Que outra moça?
— A que tentou impedir que o Dr. Hertz me machucasse. Ela bateu nele e o deixou desacordado no chão. Quando estava tentando soltar as correntes de minhas mãos, um lobo entrou na cela e a levou. — Clere ficou pensativa por um momento. — Engraçado, ele era um lobo, mas eu nunca o tinha visto antes e ele estava solto. Onde ela está? Antes de subir no aparelho que voa, eu a vi com Kirian. Ela deveria estar aqui.
— Não sei de que moça está falando, Clere, mas vou ver isso, certo? Ela era uma de vocês também?
— Não, ela era humana, se chama Sami.
— Ok. Clere, você deveria deitar naquela cama ali e dormir um pouco, aqui está segura e pode dormir tranquilamente.
— Erick me deu um quarto lá em cima. Um muito grande e bonito com uma cama fofa e cheirosa.
— Oh, ótimo, então vá para lá, deite e durma um pouco. Quando você acordar, eu lhe prometo que terá pães doces quentinhos esperando por você e depois veremos como podemos ir ao salão. Acredito que precise colocar uma lente de contato, estes seus lindos olhos chamariam muito a atenção.
A moça sorriu, lentamente.
— Obrigada, Ester. O alfa deve estar contente por ter você.
A moça saiu e Ester retirou as luvas e ficou ali esfregando as têmporas, tentando suprimir a dor de cabeça e a de seu coração.
Ela subiu as escadas, foi em direção à cozinha pegar algo para beber. Estava muito sedenta e cansada. Queria ver se Noah havia ido descansar como recomendou, após tratar e costurar o ferimento de seu braço.
O procedimento de costurá-lo foi uma tortura porque ele não parava de rosnar e olhar para ela como se quisesse jogá-la na cama e fazer sexo até que desmaiassem, mas dessa vez ele se controlou, agarrando as bordas da maca até seus dedos ficarem brancos.
A não ser pelo fato de tê-la puxado para seu colo e tê-la beijado de forma ensandecida, mas antes que ela mesma saltasse sobre ele, Noah a colocou sentada na maca e saiu como um raio da sala médica.
Ester precisava beber uma água fresca. Na verdade, adoraria uma cama, porque estava muito exausta. Deveria ligar para sua clínica novamente para saber se tudo continuava nos eixos por lá.
Quando entrou na cozinha, parou bruscamente vendo várias pessoas ali. Eram todos gigantes e fortes e Ester ofegou e deu um passo atrás, vê-los juntos era uma visão temerosa. Mas o que a espantou não foi os rapazes que já conhecia, foram os outros dois novos que estavam presentes e cravaram os olhos nela.
Quando ia abrir a boca para cumprimentá-los, ouviu um feroz rosnado e um deles cintilou e se transformou em um enorme lobo marrom, com outros diversos tons mais claros e saltou sobre a bancada da cozinha, rosnou novamente para ela, arreganhando os dentes afiados.
Ester gritou e saltou para trás, chocou-se com as costas em uma pequena mesinha de vidro que ficava colada na parede e sobre ela havia um vaso de flores, que com o baque caiu e se espatifou no chão. Ela viu o lobo saltar e ela se embolou no chão, cobrindo a cabeça com os braços. Ouviu gritos e rosnados, mas nada a tocou.
Assustada, olhou para cima e viu Noah em forma de lobo na sua frente, Konan e Erick estavam sobre o lobo marrom e falavam com ele dando mensagens curtas e severas, acalmando-o.
Ele bufou algumas vezes, rosnou e choramingou pelo sofrimento dos dois o segurando e mal conseguindo respirar pelo cotovelo de Konan pressionando sua garganta, mais um movimento e o lobo estaria morto. O ouvido de Ester zumbia.
— Entendeu, Thorman? Ela é a dona desta casa, ela está cuidando dos feridos, de Ronan, e o pai dela salvou todos nós. Ela é a companheira do nosso alfa. Se tocar nela, você morre.
O lobo se transformou em homem e Ester viu o belíssimo homem com os cabelos loiros e curtos, com mechas coloridas. Ele a olhou diretamente e ela pôde ver seus lindos olhos verdes, carregados de sofrimento e muito ódio. Ester mal conseguia respirar.
— Thorman, responda se você entendeu quem é esta humana para nós e para você.
— Entendi — ele rosnou.
Konan e Erick o soltaram e ele tossiu. Ele sentou no piso e abaixou a cabeça entre as pernas enfiando os dedos entre os cabelos. Noah se transformou em homem, foi até ela e a levantou do chão.
— Está ferida?
— Estou bem.
— Está sangrando.
Ester olhou para seu braço e havia um corte que sangrava.
— Tudo bem, não foi fundo, vou fazer um curativo.
— Não se aproxime dela novamente, Thorman. Ela é amiga, e matarei você se machucá-la. – Noah rosnou furiosamente.
Ester teve vontade de chorar, mas respirou fundo e com uma voz macia e baixa falou:
— Thorman... Eu juro que não vou machucá-lo nunca, a nenhum de vocês. Você precisa me dizer o que sabe sobre as mulheres. Por que elas estão dormindo? Eu quero tratá-las, mas preciso saber se você sabe o que deram a elas. Os sacos que elas estavam tomando era apenas soro, provavelmente para se recuperarem de algo.
— Não sei o que davam para elas. A única coisa que sei era que os testes que faziam em nós eram para descobrir sobre nossa longevidade.
Nesse momento Thorman ergueu a cabeça e olhou para ela. Noah e Erick soltaram palavrões.
— Longevidade? — Ester perguntou sem entender.
Noah respirou fundo, olhou para o teto e depois para Ester.
— Nós vivemos mais tempo que os humanos normais. Este é um dos motivos para nosso confinamento. Eles queriam descobrir como podemos viver tantos anos — Noah respondeu.
Ester estava com medo de perguntar, respirou fundo e fechou os olhos por alguns minutos.
— Sei que eu não vou gostar disso, mas quanto tempo? — ela sussurrou.
— Muito tempo.
— Noah, desembuche logo. Quanto tempo?
— Cerca de quatro a cinco vezes mais que os humanos.
Ela o olhou com os olhos arregalados. Ela queria perguntar mais, mas estava sem palavras. Seu estômago ficou embrulhado, ela olhou de um a outro e todos a olhavam calados.
— Quantos anos você tem?
Ele respirou fundo.
— Duzentos e doze anos.
Ela piscou algumas vezes, soltou o ar que estava preso nos pulmões, engoliu em seco e lentamente se afastou de Noah indo até a geladeira, depois pegou uma garrafa de água enquanto saía da cozinha.
— Ester? — Noah chamou baixinho.
Ela se virou e o encarou.
O coração de Noah afundou. Ali, em seus lindos olhos verdes, ele viu um entendimento e uma grande tristeza. Ela havia finalmente entendido o que Luca quis dizer durante seu primeiro jantar. Se não virasse uma loba, ela morreria, enquanto Noah continuaria vivendo. Ela envelheceria enquanto ele ainda pareceria jovem.
— Vou ficar com meus pacientes. Só quero que Jessy e um dos homens fiquem junto, caso eles acordem e queiram me fatiar também. A propósito, seu amigo Ronan está se recuperando bem e não sei quem é Sami, mas ela tentou salvar Clere de ser estuprada e, como não a vi, digam a ela obrigada por mim. Digam a Dada para fazer pães doces para Clere e chocolate quente. Essa moça precisa ser um pouco mimada. Amanhã comprarei roupas para ela. Erick, consiga lentes de contato para ocultar seus olhos, eu a levarei ao meu spa e passaremos um dia de garotas, talvez convença a Jessy ir também.
— Obrigado por se preocupar com nossas mulheres, Ester — Erick agradeceu.
— Talvez seja muito cedo para Clere sair. Ela não conhece praticamente nada do mundo lá fora, Ester, só tinha dez anos quando foi capturada — Noah disse.
Ester deu de ombros.
— Não custa tentar, ela precisa começar em algum momento e precisa que lhe arrumem o cabelo que algum miserável fatiou com um maldito facão. Quem me dera eu mesma tivesse um facão agora para causar alguns estragos em pessoas que me ocultam coisas.
Ela virou e saiu e Noah, cansado, soltou a respiração.
— Ela fala muito, mas não pareceu se importar com sua idade — disse Petrus.
— Está enganado, Petrus. Ela fala sem parar quando está nervosa e assustada. Isso não vai ajudá-la a aceitar facilmente — Noah respondeu tristemente.
— Não entendo. Todos querem a imortalidade, viver mais, por isso fomos trancafiados, mas por que ela não quereria isso?
— Ester não tem um pingo de ganância por poder, Kirian. Poder é o que mais implica no fato de as pessoas quererem viver mais, ter algo que os outros não têm. Ela nos admira, mas está feliz como é. Ester não quer ser uma loba. Tempo é o que ela precisa, é o que estou dando a ela.
— Mas se ela é sua companheira, pode ficar como humana? Quer dizer, nunca soube que um alfa tivesse uma humana como companheira, pois ela irá morrer logo.
— Uma humana não deveria ser a mulher de um alfa — Thorman disse.
Noah rosnou para ele.
— Ester não é uma simples humana, Thorman, é a companheira de alma de Noah — Erick disse e Thorman arregalou os olhos.
— O quê? Está dizendo isso para me convencer a aceitá-la?
— Não, é a mais pura verdade e todos nós já a aceitamos. Não acredito que você seria tão estúpido de não fazer o mesmo — Erick disse.
— Faça ou você terá que deixar a alcateia, Thorman. Eu não admitirei um ataque contra minha companheira. O de hoje foi perdoado, por você estar recém-liberto e não estar inteirado de tudo, mas no futuro, não tolerarei.
Thorman ficou olhando com os olhos arregalados para Noah e, então, olhou de um a um e coçou o queixo, confuso.
— Não pensei que isso fosse verdade.
— Nem eu até que tive que admitir. Acredite, eu custei a acreditar, mas agora não há nada no mundo que me afaste dela. É minha companheira e com o tempo ela será uma de nós.
— E se ela não quiser?
— Então, eu terei que conviver com o fato de que ela morrerá e eu passarei o resto de minha vida sozinho.
Houve um silêncio mordaz.
— Não entendo o porquê de você contar as coisas a ela aos poucos. Fale logo tudo de uma vez e acabe com as revelações a conta gotas — disse Konan.
— Assim ela aceitará as coisas mais facilmente.
— Uma hora ela vai achar que estava mentindo para ela, Noah.
— Deixem que eu cuide de minha mulher, arrume um quarto para Thorman e os outros.
— E quanto à moça, a tal Sami? — Petrus perguntou.
— Eu vou conversar com o maldito verme que prendemos, não vou interrogá-la agora, deixo que você e Harley cuidem dela e depois eu mesmo conversarei com ela. Quero saber quem de vocês a mordeu.
— Nenhum de nós mordeu a humana. Nunca a tinha visto antes — Thorman respondeu.
— Eu também não — disse Zian.
— Se não foi vocês, quem foi?
— Inferno, não acredito que havia alguém de nosso povo ali e, sabendo que nós estávamos presos, não fez nada.
Noah olhou pensativo para Thorman e suspirou cansado.
— Descubra sobre isso, Petrus, sobre ela ter ajudado Clere e quem foi que a mordeu. Se havia um lobo naquele prédio, eu quero saber quem era o maldito, pois rasgarei sua garganta quando eu puser as mãos nele.
***
Era tarde da noite quando Ester tombou em uma poltrona na clínica e adormeceu, depois de tomar um banho e comer o jantar que Dada havia lhe levado em uma bandeja. Jessy chamou Noah para que cuidasse dela, que estava exausta. Ele não parava de rondar pelos corredores, de um lado para o outro, impaciente para levá-la para a cama para que descansasse, mas ela o estava evitando. Até ameaçou jogar uma bandeja de instrumentos nele se não saísse dali.
Noah a pegou no colo devagar para que não despertasse e a levou para o quarto que era de seu pai, deitou-a na cama, tirou sua roupa e deitou ao seu lado, puxando-a para seus braços.
Ela suspirou e deslizou um pé entre suas pernas e aninhou-se em seu peito, suspirando em seu sono profundo.
Ele adorava isso, a necessidade do toque que sentia quando ia dormir. Depois de anos vivendo em pura miséria, sozinho, em jaulas, agora tinha o conforto de uma boa cama e sua liberdade. Mas com ela, ele encontrava o sopro de vida, a maravilhosa sensação de deitar-se na cama com ela, tê-la em seus braços, ouvir quando sua respiração mudava ao adormecer e ver como ela se enroscava nele, mesmo dormindo.
Noah estava cansado e mentalmente esgotado, seu lobo gritava para que a reivindicasse, estava excitado, dormente de desejo, mas somente a abraçou e dormiu, permitindo que ambos descansassem em paz.
Capítulo 16
Ester acordou quando estava quase amanhecendo e esfregou os olhos cansados. Estava de costas para Noah e ele estava abraçado a ela.
Não se lembrava de ter chegado ao quarto; ele provavelmente a resgatou da clínica, pois a última coisa que se lembrava, foi de ter ficado sentada na poltrona no quarto das mulheres e pensado nele.
Era delicioso sentir seu corpo quente, podia sentir em suas costas o seu peito levantar e abaixar com sua respiração suave. Ela se virou e olhou para ele. Sem querer acordá-lo tocou seu queixo suavemente, acariciando sua barba macia, sua bochecha.
Ela estava apaixonada e não tinha a mínima ideia de como se afastar dele. Estava ali novamente, compartilhando a cama com ele sem cerimônia nenhuma, sem ressalvas.
Estava enrolada nele como se fosse um novelo de lã, e por mais que tudo a assustasse, lhe dando vontade de correr até outro continente, continuava ali, nos braços dele, ajudando-o, compartilhando sua história. Só que havia algumas coisas que não podia compartilhar.
Ela assentiu com a cabeça em silêncio, suspirou, saiu da cama e foi ao banheiro. Ela fechou a porta e colocou a banheira para encher, foi na frente do espelho e ficou olhando sua imagem refletida. Estava nua, pois Noah havia retirado sua roupa.
Ficou por alguns instantes observando os objetos de higiene pessoal que eram de seu pai, sua colônia, sua escova de dente. Aquilo lhe deu uma punhalada no peito, deveria retirar aquelas coisas dali.
Olhou novamente para sua imagem no espelho, estreitou os olhos e olhou a si mesma, tocou a sua cicatriz no meio do peito, a cicatriz que Noah havia infligido nela. A cicatriz havia quase desaparecido, somente havia uma linha, ela não tinha percebido como havia cicatrizado tão perfeitamente.
Então, olhou sua mão, a cicatriz de uma mordida que havia levado de um cachorro ao tentar atendê-lo, que também havia suavizado. Aquilo era estranho. Ela ficou ali pensando em como havia acontecido. Estar com Noah poderia fazer isso? Regenerar-se? Riu do absurdo, ele não a havia mordido, não haveria como isso estar acontecendo, era somente coisa da sua cabeça.
Ela fechou a água e entrou na banheira, suspirando em deleite, mas aquele pensamento não a deixou.
Ora, agora mais isso, o que estava acontecendo? Ela passou a mão no seu braço perto do cotovelo, ali havia uma cicatriz grande, uma que conseguiu pelo acidente no ano anterior, e para seu espanto estava mais suave. O estranho era que não havia percebido porque já havia se admirado de como havia cicatrizado rápido, mas agora estava muito mais. Estava ficando paranoica?
Ester não percebeu que lágrimas haviam escorrido pelo seu rosto até que soltou um soluço e depois outro.
A cada dia uma parte bombástica do modo de vida dos lobos a atingia como um raio, e o pior, a cada dia se apaixonava mais por Noah, como se cada dia estivesse entrando mais em um labirinto e se perdesse nele. Não sabia como sair ou o que fazer.
Cada dia que voltava para casa, ela pensava em não voltar mais para a mansão e esquecer que eles existiam, mas falhava miseravelmente. Quando via, já estava no carro seguindo pela estrada para chegar à mansão. Pensava que já estava tão envolvida com o mundo deles que não conseguiria mais sair.
Teria coragem de ser uma loba e viver tantos anos, assim como eles?
Estar ao lado de um homem por tanto tempo era assustador, ouvira sobre amor eterno e estas coisas românticas, mas tornar aquilo realidade era outra coisa.
E se Noah desistisse, e se cansasse dela? Estava perdidamente apaixonada por um homem que virava lobo e tinha duzentos e doze anos de idade. Porém, agora sabia o que ele esperava dela, que vivesse tanto quanto ele. O medo de viver desta maneira a assustou como a morte.
Ela soltou outro soluço e tapou a boca com a mão.
Logo veio um movimento brusco na fechadura, assustando-a, mas estava trancada, então veio a batida na porta.
— Ester, abra a porta! — gritou Noah.
— Estou na banheira.
— Se não abrir, eu vou arrombar.
— Sinto muito, mas vai ter que esperar eu acabar meu banho, senão molharei todo o chão.
Logo a porta abriu num estrondo e bateu na parede, desconjuntando os trincos. Ela gritou de susto segurando as bordas da banheira com força e olhou para Noah cobrindo toda a porta. Ele parecia uma montanha de músculos com raiva.
— Por que está chorando? — ele rosnou.
Ela ficou boquiaberta olhando para ele e piscou algumas vezes tentando centrar seus pensamentos e engoliu em seco.
— Cada vez que eu chorar, você vai arrebentar uma porta? — ela perguntou baixinho, e ele rosnou.
— Por que está chorando? Está ferida? Está com dor?
— Só estou cansada e é muita informação para minha cabeça. E tem você...
Ele chegou à sua frente, se abaixou ao lado da banheira e olhou para seus olhos.
— Está zangada comigo por causa de ontem? Eu a machuquei?
Ela negou com a cabeça e ele suspirou.
— Sinto muito que esteja infeliz.
— Eu não estou infeliz — disse num sussurro.
Mas que inferno! Ela nem sabia definir o tipo de sentimento que a assolava.
Ela tocou sua bochecha e ele segurou sua mão e beijou sua palma. Ela pôde ver a apreensão em seus olhos.
— Algo está errado, doçura. Não acredito que tenha o costume de levantar no meio da noite, se trancar no banheiro e chorar somente porque está cansada.
— Não tenho este costume, só estou com muitas coisas na cabeça e estou confusa.
— Conheço o sentimento. Mas isso não muda o que acontece com você para fazê-la chorar, verdade? — disse com um sorriso e a beijou novamente. — Eu só vou permitir que minta para mim esta vez, doçura.
Ele, então, a surpreendeu entrando na enorme banheira e encostou-se à beirada, na sua frente, e ficou olhando para ela.
Por um momento ela havia se esquecido de todas suas aflições. Ele deveria fazer estas coisas para confundi-la?
— Venha aqui, doçura.
Ester moveu-se e sentou escarranchada sobre suas pernas e Noah rosnou baixinho. Estava muito excitado para arriscar estar tão próximo dela desta maneira, mas ela o olhava tão profundamente, estava tão linda, que era quase como estar olhando para uma pintura, uma obra de arte.
— O que a está deixando confusa? — sussurrou abraçando sua cintura.
— É que antes eu não tinha você na minha vida e não estou sabendo como lidar muito bem com isso.
— Eu acho que está se saindo muito bem. A maioria das mulheres teria gritado, desmaiado e saído correndo, mas você ficou.
— Fiquei por você.
— Sou um bom motivo para ficar?
— Sim, é um bom motivo. Porém, às vezes, fico muito confusa.
— Sinto muito por isso, sei que não estou ajudando muito, mas como disse, sou péssimo em conversas. Eu acho que também não estou sabendo lidar muito bem com você.
— Companheira não é simplesmente uma namorada, não é? Estava somente dizendo isso para me agradar e me poupar.
— Sim, querida, companheira é para sempre, ou seja, até que a morte nos separe. Nós levamos esta frase ao pé da letra, não somos como vocês humanos que desmancham casamentos.
— Quer ficar comigo para sempre? — perguntou espantada.
— Sim, eu quero.
— Mal me conhece.
— O que conheço é o suficiente, o que conheço entrou na minha alma e não vejo um jeito que você saia e não a rompa em mil pedaços.
— Oh Noah...
— Erick acredita piamente que é minha companheira de alma, e eu acredito agora, então nossos laços são muito mais fortes, estamos mais unidos do que pensamos.
— Como almas gêmeas?
— Se é assim que vocês chamam, sim. Há uma lenda na nossa espécie que quando nascemos, nossa alma é separada em duas. E um dia encontraríamos nossa companheira de alma, e teríamos um amor puro, grande, inquebrável. Um amor que pode suportar tudo. Superar os problemas, cuidar um do outro. Uma união perfeita.
— Você acha que esta sou eu?
— Sim, eu acho.
Ela ficou pensativa enquanto o olhava sem dizer nada. Uau, aquilo era uma revelação bombástica! O que sentia por ela era isso tudo?
Outra lágrima escorreu pela sua bochecha e Noah suspirou e a puxou para seu corpo, abraçando-a mais.
— Tudo bem, minha doçura, nós ficaremos bem, eu prometo. A única coisa que me importa é que seja feliz ao meu lado. Não quero que chore, porque rompe meu coração.
Ela o beijou suavemente e o abraçou.
A alma de Ester engrandeceu com suas palavras, seu coração inflamou de prazer e alegria. Queria ser feliz ao seu lado.
— Minhas cicatrizes estão sumindo, não sei há quanto tempo, pois não estava prestando atenção mais nelas. Somente por estar com você, isso pode acontecer? É pelo seu esperma ou algo assim? Quer dizer... você não me mordeu, então trocamos apenas a intimidade de beijos e sexo. Pode ser estupidez da minha parte, mas eu sei que minhas cicatrizes estão suavizadas e eu só encontro esta explicação. É como se eu estivesse me curando.
Ela se afastou e olhou para ele, que estava com os olhos arregalados, pois parecia realmente assustado.
— Noah, está tudo bem? Há algo errado comigo?
— Meus fluídos podem estar fazendo isso sim, porque não sei sobre humanas e lobos, ok? Não sei exatamente como isso a afeta.
— Mas não estou parando no tempo e me transformando, não é?
— Não, isso acontece somente se eu mordê-la e passar minha magia.
— Isso então não vai acontecer, ainda não mudei de ideia.
— Queria poder te pedir para ser minha loba.
— Não posso, não ainda.
— Está com medo.
Ela assentiu.
— Quero estar com você porque sinto o mesmo, como se não conseguisse ficar longe, e nunca pensei que pudesse sentir algo tão forte que me deixasse sem chão. Assusta-me o fato de me tornar alguém diferente do que sou, se mexer com esta magia que você quer passar para mim. Viver tantos anos. Não posso com isso.
— É minha companheira, Ester. Não pode negar isso.
— Não, eu não posso negar porque eu quero estar com você, com estas suas convenções ou não.
— Mas não quer ser uma loba.
— Não quero. Já lhe disse, eu gosto de mim como sou. Vai gostar menos de mim se não for como você quer?
— Nunca disse isso.
— Então, eu posso negar de me transformar em uma loba.
— Pode, isso pode.
— Talvez com o tempo eu mude de ideia e perca o medo, mas não agora. Estou tentando me acostumar com tudo. Viver tantos anos é assustador.
— Tentarei ser paciente. Como eu já disse, jamais o faria sem sua permissão.
— Obrigada.
— Há algo mais que preciso que saiba, mas eu não sei como contar.
— Oh Deus, sinto medo somente de pensar no que seria isso.
— Quer que tenhamos esta conversa agora?
Ela negou fortemente com a cabeça e ele suspirou aliviado.
— Certo, eu realmente tenho medo de sua reação e acho que deveríamos deixar esta conversa para outro dia e agora nos concentrarmos em algo mais divertido.
— Divertido?
— Acho que deveríamos sair desse banheiro, pra começar.
— Você quebrou a porta.
Ele rosnou.
— Nunca coloque uma porta trancada entre nós novamente, principalmente se estiver chorando. Entendeu?
— Às vezes, estes seus rompantes assustam.
— Nunca usaria minha ira contra você, apenas para chegar até você, se eu pensar que pode estar ferida. Só de pensar que estava sofrendo e chorando e eu não podia chegar até você, fiquei louco. Farei de tudo para poupá-la, sempre. A única coisa que quero é ver você sorrindo e feliz.
— Bem, desculpe, vou tentar lembrar-me disso, mas o fato de saber que você é um velhinho e que algo pode estar acontecendo em meu corpo, me deixou aterrorizada.
Ele ficou olhando seriamente para ela, então sorriu quando percebeu sua brincadeira.
— Acha que sou um velhinho?
Ela sorriu e olhou para seu tórax musculoso, torneado e firme, lindo como o próprio pecado.
— Sim, um velho bem sexy e gostoso.
Ele a puxou mais para seu colo, e rosnou quando ela se empurrou contra sua ereção. Ela o abraçou e lhe deu um beijo nos lábios e ele acariciou suas coxas e sua bochecha com a sua e mordiscou sua orelha.
— Sei que está assustada e sei que está com vontade de correr e esconder-se de mim, mas não faça. Você pode ter motivos para se zangar comigo e pensar que sou errado pra você, mas tudo o que estou tentando fazer é protegê-la e mantê-la perto de mim.
— Eu também quero mantê-lo perto de mim, gosto de estar nos seus braços, Noah. E eu também quero vê-lo feliz, quero que você somente olhe pra frente e esqueça seu passado. Esse que te dá pesadelos.
— Não me deixaria?
— Não.
Ele realmente achava que ela teria forças para deixá-lo? E era isso que a assustava mais que tudo. Não teria.
Ele beijou-a, segurando-a pela nuca. Varreu sua boca com a língua. Ela segurou sua ereção e a acariciou, fazendo-o gemer. Ela devolveu o beijo com sofreguidão, com paixão. Este homem a deixava louca, literalmente, e agora queria somente que ele a amasse. Ambos gemeram quando ela sentou-se sobre sua ereção, encaixando-o dentro dela, fazendo-o olhar para ela espantado.
— Não diga nada. Só me ame, Noah.
— A amarei, companheira, a amarei para sempre.
Eles se abraçaram e juntos entraram no mundo do prazer.
— Sabe como foi difícil me segurar ontem? — ele sussurrou, perdendo o compasso de sua respiração.
— Não imagino.
— Oh, mulher, não tem ideia de como meu dia foi um inferno e depois dormir com você sem poder tê-la.
— Podemos tirar o atraso agora, não há nada que impeça de me ter agora, Noah.
— Eu vou, vou fazer sua cabeça girar.
Noah tomou posse de seus seios e deleitou-se com eles, arrancando gemidos doces de Ester, que só serviam para excitá-lo ainda mais.
Os grandes olhos verdes o olhavam, cheios de prazer, de luxúria. Podia ver a faminta necessidade, nua e crua exalando dela. E ao vê-la assim entregue, mesmo com todas as ressalvas que ela possuía e medos que a atormentavam, ela sempre se entregava a ele, inteira, de coração aberto.
Antes ele tomou, agora ela estava dando de livre e espontânea vontade, e isso fez a sua cabeça girar.
Ele levantou da banheira com ela nos braços, com as pernas ao redor de sua cintura e foi para o quarto, não se importando se estavam molhando tudo por todos os lugares. Ele tombou com ela na cama e tomou sua boca, beijando-a, profundo, suave e ao mesmo tempo de modo devastador. Logo arremeteu dentro dela novamente, uma e outra vez e rosnou alto quando alcançou sua liberação, Noah podia jurar que seus olhos chegaram a obscurecer estando prestes a desfalecer.
Eles ficaram ali respirando, recobrando a consciência e, então, ele olhou dentro de seus olhos e viu outra vez o medo. Momentos depois do mais incrível prazer, ainda podia sentir o medo dela.
Talvez o tempo cuidasse disso para ele, ela o perderia se tivesse um tempo com ela. Ela aprenderia que não tinha nada a temer.
— Eu não gosto de ver esse medo em seus olhos — ele disse suavemente enquanto lhe dava um suave beijo nos lábios.
— Vou arrancá-lo de meu peito, eu prometo.
Ele assentiu. Ester agora sabia que ele daria sua vida por ela, sem pensar. Sabia, sem sombra de dúvida, que a vida sem ele já não era algo que pudesse enfrentar. Essa fome, esse desejo, a total realização do prazer sexual era diferente de tudo que ela conheceu em sua vida, mas havia muito mais.
E sabia que nunca quereria outra coisa além de Noah. Era como se não houvesse nada depois dele. Talvez aquelas coisas que ele disse sobre ser sua outra metade da alma fosse verdade. Seu coração gritava que sim.
Ela se sentiu plena, se tornando uma parte dele. Sentia seu corpo aceitando-o, e soube que em sua vida, nunca conheceria este prazer sem ele.
— Você é uma luz na minha vida e quero fazê-la feliz — ele sussurrou.
— Eu estou feliz. Expulsarei qualquer outro sentimento, pois também quero fazê-lo feliz.
Noah amou o toque suave de seus dedos em sua pele, ela estava o acariciando lentamente no braço. Seu toque era um bálsamo e um conforto para seu coração ferido e um estopim para seu desejo.
Era a outra metade dele, era parte de sua alma que faltava e agora estava completa. A fome por sua companheira cresceu até mais forte que seu desejo por liberdade. A sensação de posse, a necessidade dela.
— Devo me levantar e ver meus pacientes.
— Eles estão bem, se houvesse algo errado Jessy teria chamado. Você fez um ótimo trabalho, estou orgulhoso.
— Obrigada.
Oh, e aquilo era importante para ela, pois eles depositaram nela uma expectativa através de seu pai, e isso deixou Ester muito apreensiva e nervosa, mas felizmente tudo tinha corrido bem.
— Mas agora vai dormir mais um pouco. Ainda é muito cedo.
— Como posso pensar em dormir, com você ainda dentro de mim?
— Mulher, não se mova, senão vou querê-la de novo.
— Mas preciso ir para minha clínica, tenho trabalho lá também.
Ele beijou seus lábios.
— Certo, mas antes de fazer isso tudo, eu não conseguirei soltá-la.
— Hum... Homem-lobo, quando este seu frenesi vai passar, hein?
— Nunca, companheira, meu desejo por você não passará nunca, com frenesi ou sem, a única coisa que penso é estar dentro de você.
E assim eles fizeram amor novamente.
Capítulo 17
Kirian, Petrus e Harley entraram no quarto onde Sami estava presa. Era um quarto confortável, havia uma cama, um sofá e uma mesa de jantar pequena, havia televisão e alguns livros em uma estante. Calculavam que havia sido destinado a algum empregado, já que do outro lado do corredor ficava o quarto de Dada. Era limpo e espaçoso, mas impossível de sair com a porta trancada e uma grade na janela.
Quando Sami viu os três gigantes exóticos, belos, mas com cara de poucos amigos, ela se encolheu sobre a cama e abraçou as pernas, olhando-os com medo. Na verdade, estava apavorada. A cena daqueles três gigantes dentro do quarto pequeno era, no mínimo, assustadora.
Eles estavam sérios, calados, somente a olhando por um momento.
Kirian rosnou.
— É uma médica?
— Eu não sou médica.
— O que é então? O que fazia no laboratório?
— Eu analiso amostras, sou técnica de laboratório.
— Você sabia que havia pessoas lá? Presas em jaulas e que eram usadas e machucadas, muitas vezes mortas?
— O quê? Não, eu não sabia. Fui contratada somente para fazer as análises, mas fui obrigada a assinar um termo de confidencialidade e havia algumas amostras que não conseguia decifrar.
— Quer dizer que não sabia que essas tais amostras eram de minha espécie?
— Sua espécie? Que espécie? Nunca tinha visto nenhum de vocês lá, eu não sabia de nada disso, que havia pessoas presas lá, que havia... Vocês, seu tipo, seja lá o que for.
— Mentira! Sabe o que eu faço com pessoas mentirosas que machucam meu povo? — Kirian disse com raiva. — Eu dilacero suas gargantas.
Kirian deu um passo à frente e ela gemeu.
— Eu não fiz nada. — Kirian chegou próximo à cama e pairou sobre ela, que se encolheu ainda mais. — Por favor, não me machuque, não fiz nada de errado, só bati nele porque estava machucando a moça, só quis ajudá-la.
— Kirian, se afaste — Petrus disse.
— Ela está mentindo quando diz que não sabia dos lobos.
— Que lobos?
— Logan e Julian eram meus amigos e agora estão mortos!
Kirian rosnou alto, se transformou em lobo e rosnou para ela, arregaçando os dentes. Ela gritou e gritou tentando se afastar na cama, mas estava já imprensada contra a parede.
— Suficiente, Kirian! Homem, você vai matá-la de susto, pare agora! — Petrus disse firmemente.
Kirian se transformou novamente em homem e ficou nu na frente dela. Sami estava mais apavorada que nunca e chorava.
— Vamos, Kirian, se afaste. Não me faça chutar sua bunda! — disse Harley.
Kirian bufou olhando para ele. Seus cabelos haviam se soltado do elástico e estavam selvagens caindo sobre seu corpo nu e brutal e seus olhos cintilavam. Era uma visão temível e descomunal. Sami nunca pensou que pudesse ver algo assim.
— Pois queria ver isso — Kirian rosnou, olhando para Harley com raiva.
— Se não se acalmar, teremos que lutar.
Kirian rosnou para ele e depois para ela novamente e se afastou, respirou fundo, cruzou os braços no peito e ficou no canto da sala. Sami olhava-o tão assustada que não sabia como não havia desmaiado.
— Fique calma, moça, não vamos machucar você, só queremos saber a verdade. Não ligue para Kirian, ele não machucaria uma fêmea, só que está com raiva por nosso povo. Nós descobrimos que mais dois de nossos amigos estão mortos, então não consideramos uma funcionária daquele maldito lugar uma amiga — Petrus disse e se aproximou dela.
— Mortos? Ali? Mas eu juro, não sabia disso, somente estou ali há dois dias e onde trabalho não existia ninguém preso. Somente materiais para análise e pesquisa. Disseram-me que estavam desenvolvendo pesquisas para amenizar o envelhecimento. Juro, é tudo o que sei.
— Sasha disse que o local era isolado, parecia abandonado, e havia guardas armados. O maior expediente era à noite, você não desconfiou que isso fosse algo incomum?
— Sim, eu questionei por que havia homens armados, mas disseram que era para proteção, que havia milhões em equipamentos e que as pesquisas eram muito importantes. Aquilo era uma grande chance para mim.
— Por quê?
— Porque passei minha vida toda estudando, acabei de terminar meu Ph.D., sou uma cientista, uma pessoa ávida para o desenvolvimento e descobertas, e mesmo não sendo o cargo pelo qual fui contratada, eu passei por um teste rigoroso; e se eu passasse nos primeiros testes de experiência no trabalho poderia fazer parte da equipe. O salário era muito bom, eu estou falida, precisava do dinheiro e precisava muito trabalhar.
Kirian rosnou novamente.
— Kirian, você está muito zangado para ouvi-la agora, eu acredito que assustá-la assim não vai fazê-la falar.
— O medo sempre faz estes humanos estúpidos falarem. São covardes!
— Certo, devo concordar com isso, mas eu sei que você não tocaria nela para lhe machucar, até mesmo porque ela não feriu nenhum de nós.
— Como tem certeza disso?
— Porque eu sei ler quando alguém está mentindo e ela não está. Vamos homem, se acalme. Noah está interrogando o humano verme, eu acredito que ele pode deixar você se divertir com ele e não vai se importar se você quebrar alguns ossos. Deixe que eu e Harley tomemos conta dela.
Kirian interiormente se debateu, mas sabia que estava muito zangado, até mesmo descontrolado. Ele não machucaria a fêmea, pois, na verdade, conseguia ver que estava apavorada e não havia maldade nela. Contudo, ele adorava quando os humanos tinham medo dele.
Um lobo conseguia farejar esse tipo de coisa, o instinto animal repelia a maldade e mentira dos humanos, era como um formigamento na nuca, uma que fazia o lobo entrar em alerta e aflorar os instintos de proteção.
Kirian olhou para ela, rosnou ferozmente, fazendo-a gemer e se encolher, e saiu do quarto. Petrus suspirou e olhou para ela.
— Algum lobo a mordeu, precisamos saber mais sobre isso.
— O que vocês são? Lobisomens? Oh, meu Deus! — ela choramingou e tocou seu ombro.
— Ele a mordeu só uma vez? Se sim, não irá se transformar como está pensando. Precisa de duas mordidas e magia para transformá-la. Seu cheiro mudaria e eu perceberia.
— Que eu me lembre, sim, foi uma mordida e desmaiei depois.
— Você realmente não sabia sobre nós?
— Não, fiquei até mais tarde no meu turno porque as amostras que tinha para analisar estavam imprecisas e não queria sair antes de terminar, pois queria mostrar trabalho. Então, desci ao outro andar para ver se o Dr. Hertz ainda estava no prédio, para ver se havia mais amostras, e, então, ouvi gritos e corri para aquela cela onde estavam ele e a moça. Eu nunca havia entrado ali, não tenho permissão. As portas são lacradas e com senhas diferentes, mas ele havia deixado uma delas aberta.
Harley sentou em um pequeno sofá que ficava no canto do quarto e olhou atentamente para ela, que o olhou assombrada.
Sami estava apavorada, seu coração batia violentamente contra o peito, estava com dor de cabeça e seu ombro doía, mas uma coisa tinha que admitir, aqueles homens exóticos eram a coisa mais linda que já viu na vida. A voz do gigante com olhos brancos era como uma melodia dos deuses.
— Como pode ter os olhos assim?
— É uma característica de nosso povo — disse dando de ombros. — Respondendo sua pergunta, e como já pode ver, somos shifters de lobos.
Ela piscou algumas vezes para assimilar a informação e sair do seu estupor delirante.
— Shifters de lobos?
— Somos homens que se transformam em lobos, como Kirian fez. Prenderam-nos naqueles laboratórios para nos estudar, mataram muitos dos nossos. Éramos cobaias, entende?
— Oh Deus... Isso é uma brincadeira, isso é mitologia. Isso não pode ser real, eu devo estar delirando.
— Acredite, minha doce Sami, somos reais.
— Você acabou de ver Kirian se transformar, ainda acha que é irreal?
— Devo estar alucinando, deve ser uma febre.
— Não está — Harley disse.
— Quem a mordeu, moça? — Petrus disse se aproximando muito dela. Ela ofegou, olhando para ele com assombro. — Não vou machucar você, mas Noah parece muito zangado, sem contar com Kirian. Se eu chamá-los para interrogar você, é provável que desmaie de terror.
— Deixe-me ir, por favor.
— Ah moça, acredito que não será possível, e acredito que terá uma maldita estadia conosco.
Petrus deu um passo e a olhou firmemente nos olhos. Ela foi indo para trás enquanto ele foi avançando sobre ela.
— Moça, seu medo a está sufocando, não vou ferir você.
— O que vai fazer comigo?
— A única coisa que tenho vontade de fazer é beijá-la até que perca os sentidos.
Ela se espantou e arregalou os olhos.
— Petrus, não comece com isso — Harley disse.
— Ela está me embriagando com seu cheiro.
— Porra, homem! Então se afaste, sim?
Ela olhou de um para outro, com os olhos tão arregalados que pensou que sairiam de suas órbitas.
Petrus rosnou espremendo os olhos para controlar sua luxúria e olhou para ela, então se afastou.
— Quem a mordeu?
Sami engoliu em seco e piscou algumas vezes, aturdida.
— Um homem me agarrou na cela, quando eu estava tentando soltar a moça, ela estava acorrentada na cama e... estava drogada, foi horrível. Somente queria tirá-la dali, então peguei uma bandeja que havia numa mesa e bati na cabeça do Dr. Hertz. Mas, de repente, este homem corpulento apareceu e me carregou para fora e me levou para outra cela. Eu gritei e tentei me soltar, mas ele era enorme e muito forte, tinha os olhos amarelos e cabelos negros, compridos. Ele me jogou na cama e me beijou, falou algumas coisas em outra língua, que eu não entendi e me mordeu, eu só me lembro de ter gritado e desmaiado. Quando acordei, vi que estava presa, sozinha naquela sala, e não o vi mais. Isso é tudo o que eu sei. Juro.
— O que está havendo aqui? Eu encontrei Kirian no corredor e ele estava muito zangado, quase me atropelou como uma jamanta.
Todos se viraram e olharam para Ester que estava parada na porta, usando seu jaleco branco e com as sobrancelhas erguidas.
— Deveria ir, Ester, nós estamos ocupados.
— Oh, sim. Eu vejo três brutamontes, a julgar que Kirian estava aqui antes, assustando uma moça. Se não estivesse me acostumando com vocês, teria eu mesma morrido de susto. Não vê que está ferida, Petrus? Você a machucou? — perguntou espantada.
— Eu? Não.
— Como se chama? — Ester disse olhando para Sami. — Está tudo bem, querida, eu sou humana como você.
Sami ficou olhando estupefata para Ester e engoliu em seco.
— Sami.
— Sami? Você é a moça que salvou Clere daquele bastardo?!
— A moça que estava na cela? Oh sim, ela está bem?
— Sim, ela está bem e você está ferida. Venha, vamos à sala médica e verei seu ombro.
— Ela não vai sair daqui.
Ester olhou para Petrus boquiaberta.
— Por que não?
— Ela é uma prisioneira até que saibamos a verdade.
— Ora essa... — Ester ficou pensativa. — Bem, esta é minha casa e eu mando aqui, portanto ela vai para a sala médica para que eu trate seu ferimento. Se ela é uma ameaça, então venham e mantenham guarda, mas ela virá.
Petrus e Harley ficaram espantados olhando para Ester e depois olharam de um para o outro.
— Ela é a companheira do alfa, acho que devemos fazer o que ela diz — Harley disse sussurrando para Petrus.
Ester teve vontade de rir, os dois belos gigantes não sabiam receber ordens de uma mulher.
— Vamos, moços, não acredito que queiram deixar a moça que salvou uma de vocês aqui com dor e sofrendo, não é? Afinal, ela arriscou sua vida para salvar Clere. Devíamos estar cuidando bem dela e não a jogando aqui embaixo e quase a matando de susto.
— Bem, como sabe disso, que ela salvou Clere?
— Clere me disse isso quando eu estava cuidando de seu rosto. Esta moça não é uma ameaça, ela está do nosso lado. — Ester ajudou Sami a sair da cama. — Venha, isso parece feio, mas logo estará bem. Como se feriu?
— Um homem me mordeu. Ele virou um monstro e me mordeu. Foi horrível!
Ester olhou para Petrus, que olhava espantado para Sami.
— Nós não somos monstros — disse ofendido.
— Mas são assustadores quando mostram os dentes, Petrus. Quem a mordeu desta maneira grosseira?
— Isso é o que tentávamos descobrir antes de sua salvadora aparecer — disse ironicamente.
Ester olhou carrancuda para ele.
— Você gosta de torturar mulheres, Petrus?
— Moça, a única tortura que gosto de infligir em uma mulher é fazê-la gritar meu nome enquanto tem um orgasmo.
Ester ficou vermelha como um tomate, Sami olhou para Petrus com os olhos arregalados e foi para trás de Ester.
— Petrus, isso foi rude, você está espantando as damas — Harley disse com um sorriso malandro no canto da boca. — Ele está somente querendo impressionar, Ester. Somos lobos apreciadores de uma fêmea quente e desejosa em nossa cama, a única coisa que gostamos é de delicadeza, talvez um pouco de sexo selvagem, mas nunca machucamos uma fêmea.
— Muito menos esta que é pequena e parece quebrar com um puxão, ainda mais se ajudou Clere. — Petrus riu divertido. — Obrigado por elucidar as moças com nossa vida sexual, irmão, talvez agora a doce Sami aprecie nossa companhia.
— Oh Petrus, está de brincadeira! — Ester disse indignada.
Ele soltou uma doce gargalhada e aquilo soou como uma erótica melodia, Sami engoliu em seco e agarrou o braço de Ester.
— A parte de saborear uma fêmea é a mais pura verdade, só que ela gostaria de qualquer coisa que eu fizesse a ela. Quer desfrutar da experiência, doce Sami? Estou aqui salivando para provar você. Seu cheiro é delicioso e posso jurar que está tendo fantasias sexuais comigo neste exato momento, já que também posso cheirar sua excitação.
Ela demorou a assimilar todas as informações e ofegou confusa e olhou para Ester.
— Pode me tirar daqui, por favor?
— Deixe estes tolinhos para lá e vamos logo, antes que isso infeccione e sua presença os impulsione a tagarelar mais aventuras sexuais. Acredite, estes homens são como o puro pecado e são irresistíveis. Adoram falar besteiras somente para nos ver ficar roxas de vergonha. Mas se Noah pensa que o deixarei estragar minha bonita pele desse jeito quando pensa em me morder, pode dar meia-volta. Olhe isso, que horror — disse puxando sua blusa e olhando o ferimento.
— Acredito que isso não é o que Noah faria a você, Ester, isso não é uma mordida de paixão. Um lobo não feriria uma humana assim, muito menos sua companheira.
— Mas ela não é a fêmea do tal lobo, ou é?
Todos olharam para Sami, que ficou envergonhada.
— Ele fez sexo com você? Reclamou-a como sua companheira?
— Ele o quê? — Sami perguntou sem entender.
— Ele montou você? — Petrus rosnou zangado.
Ela ficou olhando ainda sem entender.
— Não me estuprou, ok? Se for a isso que se refere. Ele me beijou e ficou repetindo que eu era sua companheira e falou em outra língua e me mordeu. Nunca o vi antes e espero nunca mais vê-lo, parecia um louco.
— Oh, pelas gárgulas! — Petrus sussurrou espantado.
— Acho que temos um probleminha — Harley disse.
Ester somente ficou olhando para Sami com os olhos arregalados.
Capítulo 18
Kirian estava oculto nas sombras, observando o beco escuro do outro lado da rua. Ali ficava os fundos do restaurante que havia se tornado sua obsessão, na verdade, a dona dele.
Ela era sempre tão gentil com Kirian, quando ele tomava coragem para ir jantar. Ele colocava as lentes de contato que odiava para parecer mais humano, prendia o cabelo em um rabo de cavalo e vestia uma roupa elegante. Ela sempre havia o atendido com um doce sorriso, lhe oferecendo o melhor vinho, o prato especial do dia.
Aquilo havia enchido o coração de Kirian de um prazer inimaginável. Ela era doce e pequena, tinha os cabelos loiros cacheados e os olhos azuis, sua pele era perfeita e parecia muito suave, seu perfume era delicado como ela e praticamente tinha o embriagado.
Annelise era seu nome.
Hoje ele não jantaria, somente queria vê-la, precisava de um momento de alegria, um momentinho que fosse da visão dela. Era como se sentisse uma sede absurda e ela fosse a água cálida que o saciaria. Mas o que viu atiçou todos seus instintos assassinos. Em vez de se acalmar, foi possuído por puro ódio.
Ele tinha bisbilhotado e espiado pela vidraça, e viu que um homem discutia com ela quando pegou os sacos de lixo. Logo Kirian deu a volta e os viu no beco, onde havia uma porta que dava para os fundos do restaurante.
O maldito humano estava discutindo ferozmente com ela agora que estavam sozinhos. Com a audição aguçada, Kirian escutou o que diziam. Ele estava furioso, acusava-a de dar atenção para os homens no restaurante. Ela se defendeu dizendo que somente estava sendo gentil e cortês com os fregueses, mas o homem não parecia convencido.
Kirian estava como humano e nu, pois havia ido à cidade como lobo, mas sem perceber ele estava entrando em sua forma Dhálea. Seus olhos cintilavam e suas unhas eram garras que arrancavam enormes lascas da árvore na qual estava escondido. Estava contendo seu lobo que estava com o instinto de matar aflorado.
Kirian rosnou quando o homem empurrou a mulher com força contra o contêiner de lixo, fazendo-a gemer pela dor nas costelas. O seu último fio de controle rompeu e ele se transformou em lobo, correu para o beco e a próxima coisa que sentiu foi o gosto de sangue na boca.
O homem caiu no chão aos gritos com uma perna dilacerada. Os gritos histéricos de Annelise foi o que trouxeram Kirian de volta de sua fúria, e impediu que rasgasse a garganta do homem, mas sua raiva estava fora de controle.
Kirian saltou sobre o homem, com as patas em seu peito, imprensando-o no chão e rosnou ferozmente, fazendo o homem gritar de medo e dor.
Então, Kirian não soube o que o atingiu, só que foi jogado longe, com um baque nas costelas. Ele levantou, virou e rosnou, pronto para dilacerar qualquer coisa, mas se espantou quando viu Noah e Erick entre ele e os humanos, ambos em forma de lobo.
“Recue agora, Kirian!”, Noah disse mentalmente.
Era um dom que eles possuíam, podiam comunicar-se mentalmente quando estavam na forma de lobo.
“Eu vou matá-lo!”, Kirian rosnou e respondeu.
“Saia agora! Logo mais humanos estarão aqui e não podem nos ver assim. Vá agora, antes que eu mesmo o morda. É uma ordem, Kirian!”
Kirian rosnou furiosamente e olhou para a mulher que estava histérica, se esgueirando pelos latões, com os olhos arregalados e apavorados. Ela chegou até a porta e entrou gritando por socorro.
Não era isso que Kirian queria. Queria protegê-la e não matá-la de susto.
Ele virou e correu para fora do beco, Noah e Erick fizeram o mesmo. Os três correram velozmente, se esgueirando pelas sombras até sair da cidade e chegar à avenida deserta. Kirian parou e se transformou em homem, assim como Noah e Erick.
— O que deu em você, Kirian? Perdeu o juízo? — Noah gritou.
— Por que estão me seguindo? — Kirian perguntou ofegante.
— Liam disse que havia saído e parecia fora de si de tanta raiva, Petrus também nos disse o quanto estava descontrolado ao confrontar a mulher. Nós deduzimos onde estaria e viemos atrás para ver se estava bem, mas pelo visto não está.
— Inferno, ele deveria morrer! — Kirian gritou.
— E por quê? Meu Deus, o teria feito na frente da mulher, uma testemunha? — Noah perguntou.
— Ela é a mulher do restaurante, a que você anda espreitando — Erick sussurrou.
— Isso não é da sua conta, Erick — Kirian rosnou.
— Por que atacou o homem?
— Ele estava agredindo Annelise. Acha que eu ficaria parado olhando?
— É o marido dela?
— Sim, um maldito covarde. Ela deve ser protegida, é doce e bondosa. Sempre me trata com respeito e docilidade quando vou comer ali. Não tem medo de mim.
— Mas teria medo agora se soubesse que você quase matou o marido dela como uma besta selvagem. O que ela pensaria de você se soubesse disso, hã?
Kirian sentiu que seu coração despedaçou-se.
— Ela pensaria que sou um monstro.
Noah e Erick ficaram olhando espantados para ele.
— Homem, isso não é somente raiva, você está em frenesi — Erick disse num sussurro.
Noah olhou espantado para Erick.
— Ele não é acasalado.
— Não, mas isso poderia acontecer se esta mulher fosse sua verdadeira companheira.
Kirian olhou espantado para Erick.
— Está virando um maldito casamenteiro, Erick. Não se meta em meus assuntos!
— Temos direito de nos meter em seus assuntos quando você põe em risco nossa identidade e ataca um humano em público. O que quer, que amanhã estejamos nos jornais?
Kirian ficou nervoso e envergonhado.
— Desculpe alfa, perdi o controle.
— Porra homem, eu sinto muito — Erick disse.
Kirian os olhou e a dor em seu coração era tão forte que a vibração atingiu Noah e Erick.
— O que foi que eu fiz para ofender tanto os deuses? Depois de tudo que tive que suportar naqueles malditos laboratórios, ele me dá uma companheira que não pode ser minha? — disse com a garganta sufocada.
Noah sentiu seu coração sofrer por ele, seu amigo estava perdido e sua dor era tão latente que doeu em si mesmo. Entendia o sentimento, pois ele morreria sem Ester. Kirian estaria no inferno se essa humana fosse sua companheira e a primeira impressão que a mulher teve de seu lobo não foi nada agradável.
— Vamos encontrar um jeito, Kirian — Noah disse.
— Quero permissão para ir para a ilha, alfa.
— Kirian, precisa se acalmar. Com a cabeça fria e quando o frenesi passar, você pensará mais claramente.
— Não há o que pensar. Com ou sem sua permissão, eu estou indo embora. Com sua licença, alfa.
Noah quis falar algo para confortá-lo, mas Kirian se transformou em lobo novamente e saiu correndo pela estrada, rumo à mansão.
***
Ester entrou na sala médica onde Naya e Shay estavam se recuperando. Ester tinha feito todos os exames e não tinha encontrado nada de errado com elas. O que fosse que haviam feito não as prejudicou fisicamente, pelo menos desta vez. Elas somente estavam muito desnutridas. Mas eles possuíam um metabolismo diferente, muitas coisas Ester não entendia e não sabia como lidar.
Noah havia dito que seu pai tinha muitos livros e cadernos de anotações, inclusive em seu computador particular. Estava na hora de Ester tomar conhecimento destas pesquisas de seu pai, assim aprenderia mais sobre eles para poder tratá-los.
Ester olhou ao redor e viu que as camas estavam vazias. Ela estranhou, pois se Naya e Shay acordaram, onde haviam ido? Jessy também não estava por perto, o que não era uma boa coisa, mas devia estar com Lili.
Ester suspirou e foi ao outro quarto onde Ronan estava. Era impressionante, mas ele estava se recuperando muito rápido e estava fora de perigo. Agora Ester entendia como aquilo havia desencadeado a ganância dos que prenderam os lobos. Aquilo era uma mina de ouro.
Só o pensamento de vê-los presos e sofrendo lhe causou repulsa e seu estômago embrulhou.
Ester parou bruscamente na porta, quando viu as duas mulheres ao lado da cama de Ronan. Naya segurava sua mão e chorava, conversando com ele baixinho e com a outra mão acariciava seu rosto.
Logo que Ester parou na porta, as duas olharam rapidamente para ela e rosnaram furiosas. Quando conseguiu reagir e correr, Shay já havia se transformado em loba e saltou sobre ela.
Ester gritou, deu somente duas grandes passadas pelo corredor e um braço a agarrou pela cintura, ergueu-a do chão e a girou rapidamente.
Ela sentiu um enorme baque em suas costas e um rosnado feroz, logo bateu contra a parede sendo imprensada com força pelo corpo. De quem, ela não sabia, só sabia que era um dos lobos.
Ester gritou, mas saiu somente um gemido sufocado, porque todo o ar saiu de seus pulmões. Logo o gigantesco corpo que a imprensava contra a parede se afastou, rosnou pela dor, mas ainda a segurava fora do chão.
A loba havia saltado e Liam protegeu Ester com o próprio corpo.
— Shay, não ataque. Ela é nossa amiga e estava cuidando de você — ele rosnou.
— Solte-a Liam, deixe-me matar esta puta! — Shay disse com raiva.
— Graças a ela, vocês estão bem e Ronan a salvo. Deixe-a.
— Onde estamos?
— Esta é a casa dela, não estão mais nos laboratórios, estão livres agora. O alfa a matará se machucar sua companheira.
— O quê? — Shay perguntou confusa.
— Ester é a companheira de Noah.
— Companheira? Noah está vivo? E fez o quê? Ele não pode ter uma humana como companheira! — disse incrédula.
— O que está havendo aqui? — Noah rosnou e foi como um raio até Liam, que ainda segurava Ester. Quando ele a soltou, Noah a abraçou. Ela estava tremendo em seus braços e abraçando-o fortemente.
— Está bem, doçura? — Noah perguntou, acariciando seus cabelos.
— Sim — sussurrou assustada.
Ester virou e olhou de soslaio para a loba, que a olhava com raiva e confusa para Noah.
— Oh, está vivo e que bom que nos salvou. Até que enfim!
— Não consegui achá-los antes, isso é tudo.
— Reivindicou essa puta como sua companheira? — rosnou com desdém.
— Chame-a de puta novamente e arrancarei seus dentes, Shay. Demonstre respeito, Ester é a minha companheira agora.
— Oh, enquanto estávamos lá morrendo e sofrendo, você ficava aqui com uma humana?
— Não fale assim e me julgue como se não estivesse me importando com vocês, que tivesse deixado vocês lá, presos, simplesmente porque eu queria. Repita isso novamente e vamos nos enfrentar.
— Não pode fazer isso. Sempre fui sua pretendente, depois da morte de Laila, você teria que me reivindicar como companheira.
Noah suspirou cansado.
— As coisas mudaram, Shay, esta humana é minha companheira e não há nada que faça eu abrir mão dela.
— Não pode me substituir por uma humana! — gritou.
— Não estou substituindo você, já que nunca esteve em meus planos tomá-la como companheira. Pare com essa merda agora.
— Meu pai não permitirá isso.
— Seu pai está morto, sinto muito por isso. Queria lhe dizer de outra maneira, mas não está me dando alternativa. Sou seu alfa e você vai acatar o que eu disser. Acabe com isso agora mesmo! — disse bravo.
Naya estava parada na porta do quarto, olhando muito confusa a tudo, com os olhos arregalados. Estava usando uma camisola de paciente que Ester havia conseguido para elas.
Ester teria que dar um jeito no cabelo dela também, estava como o de Clere, cortado muito curto e todo torto. Ela era muito bonita, tinha os olhos azuis incríveis, eram doces e assustados. Shay também era muito bonita, alta e tinha os olhos amarelos como âmbar, mas o ódio que emanava dela deixava-a muito feia. Ester queria estar com raiva dela, mas na verdade sentia pena.
— Ester salvou a vida de Ronan, entende Naya? No resgate dos laboratórios, Ronan levou dois tiros e ela o salvou. Esta casa é dela, somos seus convidados aqui. Se não fosse o pai de Ester, todos nós estaríamos presos ainda, mas somos livres. Machuquem ela e se verão comigo.
Naya estava aturdida, tentando assimilar tanta informação que não disse uma palavra e assentiu.
— Ronan vai ficar bem?
— Sim, ele vai ficar bem, Naya. Fico contente que tenha acordado e esteja bem também — Ester disse, sem soltar Noah. — Sabe que estamos com seu filho? Luca está aqui e tem ficado ao lado de sua cama desde que chegou.
Os olhos de Naya se arregalaram e encheram-se de lágrimas.
— Luca? Onde? Onde ele está?
— Estava na cozinha comendo um sanduíche quando desci. Deve voltar em um minuto — Noah disse.
Naya olhou para o corredor e ficou ali se debatendo como se não soubesse o que fazer. Cozinha? Ela nem sequer sabia direito onde estava. Como seria seu filho? Ele era um menino pequeno quando os separaram. O coração dela estrangulou e sua garganta se fechou. Seria um moço agora e ela havia perdido toda sua infância.
— Está segura aqui, Naya, ninguém vai feri-la e pode andar pela casa, é bem protegida. Pode ir lá fora e apreciar o ar fresco, o bosque. Esta será sua morada até irmos para nossa própria casa.
— Nossa casa? Vamos voltar para a Irlanda?
— Não, vamos para outro lugar, garanto que vai apreciar. Lá poderá viver em paz com sua família e nosso povo.
Logo Luca apareceu no corredor e parou como uma estátua. Em seguida, ele e sua mãe ficaram se olhando, emocionados. Naya, então, saiu de seu estupor e correu aos prantos.
— Luca! Luca, filho!
— Mãe!
Os dois se abraçaram. Naya ria e chorava ao mesmo tempo, beijava as faces do filho, mexia em seu cabelo, admirava seu rosto e o abraçava.
Ester tapou a boca com as mãos para suprimir um soluço, mas não conseguiu conter as lágrimas. Abraçou Noah fortemente e ele a envolveu com os braços e beijou o topo de sua cabeça, ele também estava emocionado.
— Muito bem, doçura, talvez devêssemos deixá-los sozinhos. Luca, leve sua mãe até a cozinha, acredito que esteja com fome e sede. Peça a Dada para providenciar comida para ela e Shay.
— Sim, alfa. Mamãe, você não vai acreditar como Dada faz coisas gostosas para comer. Seu assado é muito gostoso e seus doces... — Luca puxou sua mãe pela mão e começou a tagarelar sobre muitas coisas: videogames, o que estava aprendendo, como gostava de nadar na piscina, o que estava estudando. Como todos o ensinavam a ser um homem e um lobo feroz, forte e corajoso.
Noah olhou para Shay e ela estava com o olhar fixo sobre eles.
— Sobe com eles. Vá comer alguma coisa, Shay, e não agrida Dada, por favor. É uma doce senhora humana.
Ela abriu a boca para retrucar, mas Noah levantou a mão para que ela parasse e ela fechou a boca e rangeu os dentes.
— Sobe agora! Dada vai arrumar um quarto para você, um bom banho, uma boa refeição e você vai se sentir melhor. Poderá rever alguns dos nossos que estão na casa. Pedirei a Jessy que providencie roupas para vocês.
Ester olhou para Liam que colocou as mãos nas costas e trouxe à frente, estava cheia de sangue.
— Está ferido, Liam! — Ester sussurrou espantada.
— Não foi nada, só uns arranhões.
— Venha, vou cuidar disso. Obrigada por receber isso por mim.
— É uma honra.
Noah seguiu para a sala médica, abraçado a Ester e Liam os seguiu. Shay estava olhando para eles boquiaberta e furiosa, sem saber o que fazer.
Logo Ester foi limpar os longos rasgos nas costas de Liam. Noah ficou observando em pé ao lado da porta, com os braços cruzados no peito. Havia um silêncio muito incômodo.
— Sua ex-pretendente parece morrer de ódio de mim, e nem nos apresentamos formalmente — Ester, enfim, disse.
— Shay vai demorar um pouco para se adaptar, não é fácil administrar a raiva que sentimos quando somos recém-libertos.
— Ela queria ser sua companheira.
— Shay é irmã de Laila, então seria a segunda opção como minha pretendente.
— As duas queriam se casar com ele, mas Noah escolheu Laila. Shay sempre teve muitos ciúmes dele e com a morte de Laila, a lógica era que Noah a escolhesse — Liam disse.
— Obrigado pelas informações, Liam — Noah rosnou e Ester olhou espantada para ele. — Não pergunte e não ouse questionar sobre isso, doçura, nada neste mundo fará com que eu abra mão de você.
O coração de Ester suavizou e ela sorriu.
— Confio nisso.
Noah sorriu e ficou olhando-a com cobiça.
— Ei, não esqueçam que estou aqui — Liam disse.
Ester riu quando olhou para Liam e ficou envergonhada.
— Não diga mais nada, Liam, senão espeto-o com a agulha, não se mova, vou costurar estes cortes.
— Certo, ficarei mudo.
Ester limpou os ferimentos e examinou bem os cortes.
— Ela é forte, fez um belo estrago aqui.
— Lobas são fortes.
— Ela teria me matado se me pegasse — Ester resmungou.
— Sim, como humana você não teria nenhuma chance contra Shay — Noah disse.
— Espero que ela não me tome como inimiga.
— Não fará, com o tempo se acostumará, logo vamos para a ilha e ela poderá reivindicar um companheiro.
Ester assentiu, mas não acreditou naquelas palavras, calou-se e começou a costurar Liam.
***
Ester deu duas batidas na porta e ela se abriu, estava somente encostada e, como Kirian não respondeu, ela entrou no quarto. Ele estava olhando pela janela, com os braços cruzados no peito e usava seu kilt. Ele nem sequer se moveu, sabendo de sua presença.
— Kirian?
Ele não respondeu. Ester foi até ao lado dele e só aí Kirian olhou para ela, de canto de olho, e voltou à sua posição novamente. Ester sentiu tristeza por ver sua fisionomia, estava sério, como se o mundo todo pudesse cair que ele não ligaria, mas a dor estava ali, nos seus olhos.
— Noah me contou o que houve na cidade e que você vai embora. — Ele não disse nada. — Saiu no jornal sobre o que houve no beco. — Kirian olhou para ela e ergueu uma sobrancelha. — Bem, o homem está no hospital. Disseram que Annelise afirmou que eram lobos, mas o oficial de polícia disse que provavelmente ela se confundiu pelo pânico do momento, que se tratavam somente de cachorros grandes, que ela deveria estar em choque, estas coisas. Ele vai ficar bem, depois de algumas cirurgias. Ela está bem, somente um pouco... Hum... Traumatizada, mas não está ferida. Pensei que gostaria de saber.
Kirian continuou calado, olhando para a janela.
— Dada estava preocupada porque você não comeu nada o dia todo.
— Não tenho fome.
— Kirian, olhe, eu trouxe o jantar. Dada fez com muito carinho, bolo de carne, quiches de queijo e sua torta de uvas.
— Não tenho fome.
— Não faça isso. Está se punindo. Noah me disse que o deixavam passar fome no seu cativeiro, para puni-lo. Você agora adora comer, não acredito nem por um minuto que não tenha fome. Está com tanta revolta e está usando isso para punir a si mesmo, talvez nem esteja percebendo o que está fazendo, mas é exatamente o que está fazendo. Por favor, coma pelo menos um pouco.
Ele a olhou pensativo e depois olhou para a janela novamente. Ester suspirou e colocou a bandeja sobre a mesinha.
— Eu sinto muito sobre Annelise, mas pode haver esperança. Quer dizer... Os humanos não levam o casamento como vocês parecem fazer. Quando não estão felizes com seus parceiros, ou se apaixonam por outras pessoas pedem o divórcio assim, num estalar de dedos, e cada um segue sua vida, separados. — Kirian olhou assombrado para ela. — Sim, eu sei. Isso parece idiota e ruim para os casamentos, que hoje em dia já não são mais sagrados e dissolvem-se rapidamente. Eu particularmente acho errado, mas prefiro isso a estar com um companheiro que não é bom e me faria infeliz, essas coisas. Às vezes, as coisas não dão certo como imaginamos. Os sentimentos mudam, as vontades e desejos mudam. Se essa moça é sua companheira, você poderia tentar se aproximar dela. Ela pode se separar dele, já que ele não parece ser um bom marido. Ela pode corresponder aos seus sentimentos. Quer dizer, parece uma coisa horrível o que estou dizendo. Antes eu era contra você interferir, porque ela é casada, mas agora eu acredito que mudei de ideia. Acho que não deve desistir, deve tentar conquistá-la. Deveria lutar por sua companheira, ela não foi apresentada a você em vão... Desculpe, eu estou falando como uma louca aqui...
Houve um silêncio entre os dois até que Kirian a olhou.
— Por que se importa? — ele perguntou.
— Olha, acredite, eu não sei por que, mas eu me importo muito com todos vocês e parte meu coração vê-lo assim. Porém, se eu puder ajudá-lo, o farei, juro.
— Você é uma boa humana. Noah teve sorte de encontrar você, mas quanto a mim, não se preocupe, estarei bem.
— Kirian...
— Nós nos veremos na ilha.
Kirian virou-se nos calcanhares e saiu do quarto, e Ester suspirou tristemente porque seu coração se partiu por ele.
E todos agora repetiam isso, que ela iria para a ilha. O inferno era que ninguém havia perguntado se ela queria ir para a droga de ilha. Por acaso todos esqueceram que ela tinha uma vida fora daquela casa?
Ester suspirou novamente, pegou a bandeja e saiu do quarto.
Capítulo 19
Era tarde quando Ester saiu da clínica e chegou à sua casa, havia tido muito trabalho, um cachorrinho havia chegado com seu dono e precisou ser operado às pressas, assim como outros com pequenos machucados.
Apesar de cansada, ela estava contente porque sua clínica veterinária estava prosperando e teria que contratar mais um funcionário para lhe ajudar.
Ao abrir a porta de sua casa, percebeu uma caixinha no piso. Alguém a havia colocado pela porta de entrada de Thor, que logo veio latindo e pedindo carinho.
— Oi, amigão. Você não comeu a mão do moço que deixou isso aqui, não é? — disse rindo e ele latiu. Ester abriu e leu o cartão: “Use-o em uma ocasião especial”.
Ela abriu a caixinha e literalmente abriu a boca de espanto quando vislumbrou um lindo par de brincos. A joia era delicada, com um curto pingente contendo uma pequena esmeralda em forma de gota.
— Oh, meu Deus, mas isso deve ter custado muito caro! O que acha Thor, eu devo usá-lo hoje à noite? Afinal, é um momento muito especial, não?
Thor latiu e Ester riu.
— Você não acha que este cara é um psicopata, não é? Quem manda um presente assim? Se bem que ele mandou um colar caro no meu aniversário ano passado.
Ester se debateu se usaria ou não, ainda mais na presença de Noah. Deveria contar a ele que alguém lhe enviava presentes?
— Bem, seja quem for, obrigada.
A única vontade que tinha era de tomar um banho, cair na cama e dormir por três meses seguidos, mas em vez disso correu para o guarda-roupa, escolheu um vestido preto elegante, com um detalhe em renda transparente nas costas, um sapato de salto, uma bonita lingerie preta e colocou sobre a cama, logo correu para o banheiro tomar banho.
Ela queria estar muito bonita para Noah. Afinal, aquele seria como um primeiro encontro, na verdade um decente. Ela riu lembrando-se do primeiro encontro deles, nada convencional.
Noah havia ligado à tarde convidando-a para jantar em um encontro na cidade. Ele iria cumprir a promessa de uma noite romântica. Ele queria agradá-la e ela se encheu de felicidade.
Quando estava pronta, olhou no relógio e já estava na hora que haviam marcado. A campainha tocou e correu para abrir a porta, e sorriu lindamente quando viu Noah.
Ela ficou boquiaberta o olhando, ele estava usando um terno preto com uma camisa de seda preta, aberta na gola, seu cabelo estava penteado em um rabo de cavalo e estava usando lentes azuis mais escuras e cheirava divinamente.
Oh, o homem estava como o puro pecado e Ester deliciou-se com sua visão. E o que a espantou mais e a fez sorrir como uma tola foi quando ele lhe ofereceu um buquê de rosas vermelhas.
Certo, aquilo era o clichê mais lindo de sua vida. Nunca pensou que o gigante que arrombava portas, que não tinha muita paciência, que era bruto às vezes, rosnava frequentemente, podia ser tão doce e gentil.
— São lindas! — ela disse e pegou as flores.
— Me disseram que em um encontro romântico não pode faltar flores.
— Seu informante estava certo, obrigada.
Ele sorriu e se abaixou para lhe dar um suave beijo em seus lábios. Aquilo foi tão prazeroso que Ester suspirou. Seu perfume era embriagante e a deixou meio tonta. Mais um momento para ser lembrado eternamente.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça e olhou para ela de cima a baixo de uma maneira lenta e prazerosa, e tão sexy que Ester ruborizou e apertou o buquê de flores.
— Você está linda, doçura. Quase chego a salivar por vontade de provar você — ele disse lentamente.
Ester quase teve um orgasmo bem ali na porta, mas tentou recompor-se e arranhou a garganta.
— Obrigada. Você também está muito bonito e elegante.
— Obrigado. Bonitos brincos.
— Oh, isso foi um presente.
— Um presente? De um admirador?
— Bem, na verdade sim.
— Eu deveria ficar com ciúmes?
— Não, porque não sei quem é, e somente o considero um amigo, disse que era para usar em um momento especial e a única coisa especial na minha vida é você.
Ele sorriu.
— Hum, isso me agrada. Se conhecesse este admirador, me trocaria por ele?
— O quê? Não! Nunca o trocaria por ninguém.
— Sério?
— Sério.
Ele a puxou para seus braços e a beijou longamente. Quando a soltou ambos estavam ofegantes.
— Deveríamos ir, pois temos reservas, e terei a chance de mostrar a todo mundo como tenho uma mulher maravilhosa. Se não tirá-la daqui, logo eu a jogarei na cama e passarei a noite toda lhe dando prazer.
— Uau, isso soa bom.
Ele riu e fez sinal para ela sair e Ester colocou as flores na mesinha que ficava próxima à porta e a fechou.
E pela primeira vez ela saiu com ele em público, no seu carro esporte, como um homem normal. Ele era totalmente gentil e adorável, sem contar que era lindo, sexy e emanava um poder natural.
Ele a levou a um restaurante muito elegante e caro no centro. Ester estava inebriada com ele, e obviamente Noah chamou a atenção de todos no restaurante pelo seu tamanho, e das mulheres por sua beleza, mas em nenhum momento ele olhou para elas. Somente olhou o ambiente e as pessoas, como uma forma de reconhecimento do local. Ele somente tinha olhos para Ester, era como se tudo ao redor não existisse.
Ele pediu a comida e champanhe para celebrar.
— Espero que esteja do seu agrado.
— Está perfeito, obrigada por esta noite.
— Fui relutante, mas cumpro minhas promessas e estou me divertindo. Você vale a pena.
Ester engoliu em seco e bebeu um gole do champanhe. Agora já estava em dúvida se suportaria uma noite inteira com ele sendo um príncipe de contos de fadas. Ela quase riu com o trocadilho, mas ele era um lobo. E muitas vezes, o lobo mau.
— Há outros shifters? Quer dizer, outros homens que podem virar outras espécies de animais?
— Sim, há outros.
— Sério? — perguntou espantada. — Quais animais?
— Eu conheço águia e pantera; ouvi que há outros, mas nunca os vi pessoalmente.
— Oh, isso é incrível! — exclamou espantada.
— Talvez um dia conheça algum deles.
— Oh, agora vai me dizer que existem vampiros, fadas e duendes?
Ele ergueu uma sobrancelha, com um sorriso.
— Você adora ler ficção.
— Você para mim era uma ficção, então?
— Eu não sei, mas se nós existimos, por que eles não poderiam? Nunca vi nenhum.
O garçom trouxe o jantar e ela sorriu quando deu uma olhada ao redor e viu algumas mulheres o observando. Havia uma que praticamente estava babando, debruçada sobre a mesa.
Mas Ester voltou a olhar para ele e sorriu.
— Fica bem com estas lentes.
— Fico contente que tenha gostado. Acho incômodo, mas penso que não seríamos discretos com óculos escuros ou com meus olhos tão claros.
— Você chama a atenção de qualquer jeito e eu gosto de você de qualquer jeito.
— Oh, isso é uma confissão que muito me agrada. Então, a noite está sendo agradável? Pode me desculpar pelo outro dia?
— Sim, está desculpado.
— Ficará longe de mim quando eu entrar em frenesi outra vez?
Ela suspirou.
— Acredito que não.
Ele a olhou espantado.
— Não?
— Bem, eu gostei. Quer dizer, foi um sexo quente e você não me machucou. Não vejo o motivo de achar que me magoou, Noah. Você não fez isso.
— Estava assustada.
— Sim, eu estava, mas porque não estava entendendo o que estava acontecendo. Erick me avisou, mas não dei ouvidos. A culpa foi minha por ser teimosa, não fiquei magoada com você, ou pensei que me forçou ao sexo. Eu só mandei que parasse porque não queria que sentisse dor, pois estava baleado. É que me esqueci de como é forte e pode tolerar a dor. Achei isso de frenesi uma coisa estúpida, pois essas coisas de lobos são uma novidade pra mim. Eu vou aprender.
— Nunca a machucaria ou a forçaria.
— Eu sei.
Eles comeram e conversaram sobre coisas triviais um do outro, perguntando sobre gostos e se conhecendo. Quando acabaram de jantar, o garçom veio retirar os pratos e oferecer sobremesa.
— Eu quero sorvete de chocolate com nozes e calda quente — Ester pediu.
— Sim, e o senhor? — o garçom perguntou.
— Isso é bom?
— É o melhor — Ester disse.
— Então, quero este.
O garçom não demorou em trazer as taças e Ester deliciou-se com o doce e ela ficou observando Noah tomar o sorvete. Ele colocou uma grande colherada na boca e revirou o sorvete ali por alguns segundos, devagar, como se estivesse experimentando.
— Isso é bom.
— Nunca tinha tomado sorvete?
— Já, mas faz muitos anos, por isso esqueci-me do sabor.
Noah rosnou baixinho quando viu que um grupo de jovens o olhava.
— Não precisa agir como um grande lobo mau e devorador de criancinhas o tempo todo, Noah. Você pode sorrir e ser mais sociável de vez em quando.
— Claro, viu como a menina da recepção olhou para mim?
— Ela olhou para você porque é um gigante sexy. Acredito que ela gostaria de lambê-lo como um sorvete, isso é tudo.
Ele a olhou como se ela fosse louca e franziu o cenho.
— Como? — ele perguntou sem entender nada.
— Estamos comendo o sorvete de colher e numa taça, mas você sabe como se lambe sorvete, Noah? — disse sorrindo.
— Não, não sei.
— Deus, você esteve dentro de uma redoma de vidro, querido?
— Não Ester, eu estive trancado em uma jaula por dois anos, sendo espetado, cortado e tendo meus ossos quebrados; já nos outros oito, eu estive somente pensando em salvar meu povo e me martirizando.
Ela o olhou em choque e com os olhos arregalados. Não sabia o que dizer por alguns minutos, até que suspirou.
— Oh, me perdoe, Noah, eu não queria... Desculpe, eu esqueci — disse tristemente.
Noah rosnou e se lamentou mentalmente. Foi rude sem querer, deixando-a triste.
— Está tudo bem, eu não devia ter falado assim. Desculpe-me, Ester.
Ele tocou sua mão e ela suspirou. Ester assentiu, mas tinha estragado o momento e se odiou. Eles tomaram o resto do sorvete, calados.
— Quer dançar?
— Dançar? — Ester perguntou espantada.
Ele levantou, pegou sua mão e a levou para o lado do restaurante onde havia um piano de cauda, sendo tocado por um senhor de idade enquanto um jovem tocava saxofone. Ela estava aturdida, mas teve um deleite tão imenso quando ele a tomou nos braços e começou a embalá-la ao som da música que pensou que seu coração pararia.
— Nunca imaginei que dançasse — ela sussurrou.
— Eu tive a oportunidade de dançar algumas vezes na minha vida.
— Você sempre me impressiona.
— Você sempre me deixa encantado.
— Está encantado agora?
Ele tocou seus lábios com o dedo polegar, contornando-o docemente e sorriu sedutoramente.
— Todo o tempo. Queria beijá-la.
— Pode me beijar.
— Aqui, na frente de todo mundo?
— Deixe que morram de inveja, não me importo.
E ele a beijou. Foi um beijo suave, delicado, com sabor de sorvete de chocolate, embalado com a mais bela melodia.
— Se não parar, eu a terei aqui na frente de todo mundo — ele sussurrou entre um beijo e outro.
— Seria um escândalo.
Ele riu.
— Sim, seria. — Ele deu outro beijo em seus lábios. — Eu não sei o que mais de romântico eu poderia fazer para lhe agradar, doçura. Os itens da minha lista acabaram.
— Está perfeito! — Ela riu.
— Há algo que você queira? Pode pedir que eu lhe dou.
— Queria estar em casa com você.
— Verdade?
— Sim, verdade.
— Não está agradável aqui?
— Sim, muitíssimo, mas eu acredito que podemos ter a outra metade da noite romântica em minha cama. Eu sei que está fazendo um esforço muito grande para estar perto de muitas pessoas.
Ele suspirou e sorriu, apreciando sua preocupação.
— Certo, e acho que seria rude eu não aceitar este convite descarado.
— Muito rude. Um homem não pode recusar tal pedido de uma namorada.
— Companheira — ele a corrigiu com um sorriso.
Ela ruborizou e ele riu. Depois lhe deu um beijo doce e a levou de volta à mesa, chamando o garçom e pedindo a conta.
— Eu vou pegar um bocado de sorvete para levar — ela disse.
Ele estranhou o pedido, mas não disse nada. Assim que saíram do restaurante, eles foram para a casa dela. Ver Noah dirigindo aquele Porsche era muito sexy e também amedrontador, porque ele era ousado na velocidade. Apesar da adrenalina, Ester ficou feliz de chegar em casa.
— Quer que eu lhe mostre como se lambe sorvete, Noah?
— Já não comeu o suficiente? — perguntou confuso.
— Não, não o suficiente. — Ela pegou sua mão e o levou até o sofá.
— Sente-se.
Ele sentou e ela foi até a cozinha e voltou com uma colher, colocou o pote no chão e se ajoelhou. Ela retirou seu paletó e abriu a camisa, enquanto ele estava estarrecido olhando-a, sem entender nada.
Ela pegou um bocado de sorvete com a colher e espalhou em seu peito musculoso. Ele rosnou pela sensação do gelado em sua pele e pela atitude estranha.
— O que está fazendo, mulher?
— Agora eu vou lamber o sorvete.
Ester se encaixou entre suas pernas e lambeu o sorvete de seu peito, lentamente, sedutoramente e Noah pensou que morreria de tão petrificado que ficou, com o choque do doce gelado, e de sua língua quente sobre sua pele, de sua ousadia e erotismo.
— Oh, droga! Que inferno, Ester! — resmungou trincando os dentes.
A excitação de Ester subiu a outro nível quando ele a chamava pelo nome. O seu nome era perfeito com aquele seu sotaque gaélico.
— Eu posso parar, se você não gostou — ela disse lambendo lentamente seus próprios lábios, provocando-o.
— Nem que o inferno congele. Por favor, continue, mas eu juro que esta brincadeira vai ter volta.
— Tem minha permissão.
— Em breve estarei enterrado dentro de você, tão fundo que implorará por mais.
— Seu ego é bem elevado, lobo.
— Teste-me, querida, e saberá se tenho razão de dizer isso ou não.
Ela sorriu e deliciou-se com ele e o sorvete, e Noah ficou estarrecido quando ela abriu sua calça e o olhou maliciosamente. Nunca a tinha visto tão solta, tão sexy e aquilo o deixou louco.
Ele rosnou forte quando ela colocou seu membro na boca e lentamente ela o lambeu, sugou, levando Noah ao céu várias vezes.
— Oh Ester, isso é o puro céu. Sua boca é tão suave e quente.
Quando não aguentava mais, ele a afastou. Depois retirou o vestido que ela usava. Noah passou os dedos sobre sua calcinha e rosnou novamente, pegou-a nos braços e levou-a para o quarto onde caíram na cama. Ele a beijou, devorando sua boca, fazendo-a gemer de prazer. Em seguida, desceu pelo seu pescoço e, quando alcançou seus seios, deleitou-se com eles, e assim continuou descendo por sua barriga.
Ele deu um beijo em sua pelve sobre o tecido da calcinha e ela contorceu-se. Com os dentes, ele agarrou o elástico da calcinha e puxou pelas suas pernas.
— Eu poderia proibi-la de usar calcinhas.
— Achei muito sexy você a tirando — disse rindo.
Ele sorriu e com um olhar malicioso e sem desviar do dela, deu uma lambida longa e lenta em seu sexo. Ester choramingou e ele fez uma festa com a boca por um longo tempo, levando-a ao orgasmo.
— Oh, meu Deus! — ela gemeu e se contorceu.
Ele saiu do quarto num piscar de olhos. Ela mal teve conhecimento disso, pois estava perdida na sua névoa de prazer. E quando ele voltou, ela demorou a saber o que estava fazendo, mas gritou e riu quando ele colocou sorvete em seu seio e lambeu.
— Tem razão, isso é delicioso. Acredito que de agora em diante teremos sempre sorvete no freezer e fez jus ao seu apelido, doçura.
Ela riu e entrelaçou os dedos em seus longos cabelos e somente apreciou o prazer que ele lhe deu.
— Ame-me, Noah.
Ele rosnou e entrou nela, roubando o ar dos seus pulmões e investiu uma e outra vez, enquanto devorava sua boca.
Então saiu dela, virou-a e a tomou por trás, puxou-a contra ele, preenchendo-a totalmente. Ele roçou os dentes em seu ombro e se afastou evitando que afundasse as presas e beijou suas costas. Noah rosnou em seu ouvido, mordiscando sua orelha.
— Você é minha, Ester Klaus, só minha!
— Sim, só sua.
Seu orgasmo foi arrebatador e Noah rosnou como se estivesse com dor, trincou os dentes e seus olhos cintilaram. Em seguida, ambos tombaram na cama, puxando o ar profundamente. Ele repetiu as palavras gaélicas afastando a magia. Logo a puxou para seus braços e ficou ali, aninhando-a. Ela estava tão calada que ele se preocupou.
— Ester? Eu a machuquei?
Ela negou, e ele acariciou sua bochecha e beijou seus lábios.
— Eu assusto você?
Ela negou com a cabeça.
— Mentirosa — disse sorrindo e ela riu.
— Não, só que isso tudo está indo tão rápido e sinto coisas estranhas. Minha pele parece estar formigando, minha mente está nebulosa.
— É a magia, tento bloqueá-la, mas é forte. Posso evitar a mordida, mas não posso evitar que a magia a afete e tenta reclamá-la, sinto muito.
— É estranho, me assusta, mas eu gosto.
— Eu entendo, vou evitar o quanto eu puder. Só que não posso evitar de amar você.
Ester olhou espantada para ele. Oh, aquilo foi golpe baixo e se não estivesse deitada, teria caído.
— Me amar? — perguntou com um sussurro.
— Sim, eu a amo, doçura, e estou tão assustado quanto você.
Ester estava muda o olhando. É que poderia morrer agora mesmo, nem encontrou as palavras para falar.
— Não é isso que está lhe assustando tanto, Ester? O fato de sentir o mesmo por um ser tão diferente de você? — ele sussurrou.
Ela engoliu em seco.
— Sim.
— Então, diga pra mim, doçura. Quero ouvir.
Ester estava confusa e completamente atordoada, o mundo de Noah era diferente até nisso? Os lobos não tinham receio de dizer que amavam? Os homens humanos corriam disso como parvos, como se dizer que amava a mulher era uma demonstração de fraqueza. Custavam a admitir seus sentimentos e declará-los. Noah não, ele era direto como um míssil. Apavorante... e lindo.
Ela ficou olhando para seus olhos, porque ele havia retirado as lentes de contato. E quando foi o momento que ele fez isso? Ela nem sequer percebeu. Mas ali estava somente ele na sua frente, como realmente era, e o amava perdidamente.
— Sim, eu amo você, Noah.
O coração de Noah saltou no peito, sentiu vontade de gritar de felicidade e a beijou. Foi um beijo longo, profundo. Ele suspirou e beijou sua testa demoradamente.
— Então, tudo ficará bem, doçura. Vamos resolver tudo. Agora durma.
Ester suspirou e deitou a cabeça em seu peito e logo dormiu.
Noah ficou ali olhando para o teto, acariciando seus cabelos.
Ester o amava, isso era perfeito. Ela era perfeita, e ele nunca se sentiu tão feliz na vida. Ela resgatou seu coração que ele pensou estar perdido para sempre.
Pela primeira vez em dez anos sentia seu coração quente, cheio de sentimentos bons e uma esperança de ter um futuro melhor.
Ele se virou na cama, puxou Ester mais próxima ao seu corpo e se enroscou todo nela, para senti-la inteira contra seu corpo. Suavemente, ele beijou sua bochecha, seus olhos, sua testa e seus lábios.
— Estou feliz que me ame, doçura. Agora você virá livremente a mim, pois não poderá me negar, assim como eu não posso negá-la. Então será minha loba, minha amada loba — sussurrou.
Noah deu mais um beijo em seus lábios, suspirou e logo adormeceu, com sua doce Ester em seus braços.
Capítulo 20
Erick cruzou os braços e olhou incrédulo para Ester, Clere, Sami, Jessy e Naya, e depois para Petrus e Harley. Eles haviam desembarcado do furgão em frente à mansão.
— O que, diabos, é isso? — Erick perguntou com um sorriso e Ester gargalhou.
— Isso se chama diversão, lobinho. Dei às garotas um momento de prazer e garanto que todas estão felizes.
— Eu estou feliz! — Clere disse rindo. — Eu adorei meu cabelo. Veja minhas unhas, estão com esmalte — disse mostrando as mãos ao Erick. — Minha pele está tão perfumada que parece que deitei em um campo de flores e Hans pintou meus olhos e meu rosto, e eu me achei muito bonita.
— Você é linda, Clere — Ester disse.
— Obrigada Ester, eu amei tudo! E Erick, nós dançamos. Eu comi chocolate e canapés divinos e as marcarinas estavam deliciosas.
— Margaritas — Petrus corrigiu e suspirou.
Ester gargalhou e Naya tapou a boca com a mão para ocultar o riso.
— Estão bêbadas? — Erick perguntou abismado.
— Não, bêbadas não, somente um tantinho alegres — Ester disse, ainda rindo. — Olhe, Erick, diga se elas não estão lindas e felizes, hein? Merecem se divertir. Tudo correu maravilhosamente bem. Exceto o susto que Hans levou quando Clere perdeu uma de suas lentes e ficou o olhando com um olho castanho e o outro amarelo cintilante — disse rindo. — Pensei que meu amigo teria um enfarte, mas depois ele achou fascinante e tomou algumas margaritas, sorte que já havia cortado seus cabelos. Boa ideia que eu tive de pedir que ele fechasse o salão exclusivamente para mim. Afinal, para que se tem dinheiro se não pode fazer extravagâncias?
Erick olhou para Petrus e ergueu uma sobrancelha.
— Ora, não me olhe assim, sabe colocar rédea nessa humana? É louca. Talvez devêssemos ter levado Noah para controlá-la.
Harley riu alto.
— Eu achei divertido, principalmente depois que transformamos o salão de beleza em uma danceteria — Harley disse rindo.
— Eu gostei muito, nunca tinha dançado assim e os humanos ali eram gentis — Jessy disse.
— Oh, Hans se ajoelhou e rezou quando viu os cabelos de Jessy, uma perfeição para qualquer cabeleireiro. Certo que ele ficou um tanto assustado quando ela disse que se ele machucasse alguma delas com a tesoura rasgaria sua garganta. — Ester disser rindo. — Ele riu disso, claro, quando eu disse que era brincadeirinha.
— Certo. Vou pegar Lili com Dada e ir para minha casa, já é tarde. Boa noite e obrigada, Ester. Eu gostei muito.
— Fico muito contente que consegui convencê-la a ir.
Jessy sorriu e entrou na casa. Apesar de muita relutância em ir, Jessy tinha realmente se divertido e rido com todas elas e até dançado.
— Tudo foi ótimo, salvo a parte que Sami tentou fugir — Harley disse.
— Oh sim, esta parte foi um bocado ruim — Ester disse e suspirou. — Eu tenho que falar com Noah sobre isso. Não se preocupe Sami, eu prometo resolver isso.
— Qual é o problema? — Erick perguntou confuso.
— O problema é que me disseram que eu não sou mais prisioneira, no entanto, não me deixam ir embora! — Sami disse brava.
— Quantas vezes temos que repetir que corre perigo, Sami? — Petrus perguntou.
— Corro perigo estando perto de você seu, seu... Argh... — Ela saiu a passos largos e entrou na mansão.
— Ela parece amar você, Petrus — Erick disse irônico.
— É teimosa como uma mula — Petrus rosnou.
— Nunca o vi se incomodar tanto com uma fêmea — Harley disse.
— Tenho vontade de bater em seu traseiro.
— Suas cantadas parecem não funcionar com ela e saiba que ameaçar bater em seu traseiro nem sempre é adequado, moço. Não são todas as garotas que acham isso um fetiche ou o que seja — Ester disse.
Petrus rosnou e entrou furioso na casa.
— É impressão minha ou estes dois se odeiam? — Clere perguntou.
— Temo que seja outra coisa — Harley resmungou para si mesmo.
— Espero que tenha gostado, Naya, ficou linda — Ester disse olhando para ela com um sorriso. — Fico contente que tenha confiado em mim.
— Sim, eu apreciei muito, Ester, obrigada. Venha Clere, vou levá-la para o quarto e colocá-la na cama, depois vou ver meu Ronan. Ele vai gostar de me ver assim bonita.
— Oh Ronan já estava nervoso com sua demora. Mas acredito que depois de lhe ver vai se esquecer de lhe dar um sermão, Naya.
— Ele ligou várias vezes para o celular de Ester, ficou pendurado no telefone. Estava preocupado — Naya disse envergonhada e sorriu.
— Oh, então vá logo ver seu lobinho, ele a achará linda — Ester disse.
— Oh Harley, amanhã você vai me levar para dar uma volta na sua moto, não vai? — Clere perguntou.
— Promessa é dívida, querida — ele respondeu com um sorriso.
— Viu Naya? Vou andar de moto! — disse entusiasmada.
— Perfeito, querida.
— Oh, acho que vou lhe arrumar umas roupas de couro — Ester disse e Clere e Naya riram e entraram na casa.
Erick olhou para Ester, sacudiu a cabeça e riu.
— Obrigado Ester, parece que foi divertido para elas e estão bonitas, sem resquício de maus tratos por aqueles malditos.
— Foi divertido e fiquei feliz por elas. Pena que Shay não quis nos acompanhar, ela disse que preferia raspar a cabeça a ir a algum lugar comigo.
Erick suspirou.
— Shay precisa de tempo.
— Sei, mas suas abordagens estúpidas e agressivas estão começando a me irritar.
— Vou falar com ela. Talvez seja melhor mandá-la para a ilha logo, assim se acalma.
— Certo. Bem... — Ester suspirou e bateu as mãos. — Lobinhas lindas, perfumadas e felizes entregues. Agora eu vou para minha casa. Ops, eu acho que preciso de um táxi — disse rindo.
— Eu a levo — Harley disse.
— Não vai ver Noah? — Erick perguntou.
— Oh, ele já voltou? Disse que estaria até tarde em uma reunião com Sasha.
— Está em sua cabana.
— Ok, então eu irei vê-lo. Obrigada pela sua gentileza, Harley.
— Disponha. Quer que a acompanhe até a cabana de Noah?
— Não, eu a encontro, obrigada. Boa noite.
Ela se virou e foi em direção ao bosque.
***
Sami andava a passadas rápidas para seu quarto quando foi puxada e imprensada contra a parede. Ela ofegou e olhou com os olhos arregalados para Petrus, que a escorou com seu enorme corpo, e o cheiro inebriante dele impregnou em suas narinas.
— Não gosto quando foge assim de mim, princesa. — ele sussurrou.
— Se não ficasse o tempo todo cruzando meu caminho, eu não precisaria fugir.
— Só estou tomando conta de você.
— Segundo Noah, eu não sou mais prisioneira — disse Sami.
— E não é.
— Então, não preciso de babá.
— Não sou uma maldita babá, se não percebeu.
— Jura? Não percebi. — Ele rosnou.
— Só quero agradar você, deixe-me fazê-lo.
— Quero ir para casa, eu preciso trabalhar.
— Seu antigo emprego não existe mais, o maldito prédio explodiu, lembra-se?
— Como vou esquecer? Mas eu preciso de outro emprego, tenho contas a pagar, Petrus, não posso ficar aqui!
— Essa marca em seu ombro diz outra coisa. Qual foi a parte que você não entendeu de que há um lobo lá fora que reivindicou você como companheira e a mordeu? Um que não é bonzinho, Sami.
— Não sou companheira de nenhum maldito lobo!
Ele olhou para seus lábios e quase salivou, e ela espantada o olhou.
— Solte-me, Petrus — sussurrou.
— Está tão cheirosa. Quando aquela massagista estava massageando suas costas, eu morri por fazer o mesmo.
— Suas cantadas furadas e descrições sexuais não funcionam comigo, agora me solte.
Ele rosnou e a soltou.
— Zeus, é uma maldita mal-humorada!
— O que esperava depois de me manter aqui contra a minha vontade?! As pessoas que amo devem ter achado que morri naquela explosão. Isso não te importa? — disse segurando o choro e rangendo os dentes.
— É um homem, a quem ama?
— Sim, é! — gritou.
Ela virou e escapuliu pelo corredor e Petrus suspirou.
— Merda.
***
Ester seguia caminhando e explorando o bosque a cada lado. O bosque era muito bonito e tranquilo. As árvores eram antigas com troncos grossos, a vegetação era muito verde, mas era com relva limpa e o cheiro de mato era embriagante. Fazia tempo que não andava livre na natureza e isso era fabuloso.
Podia ver certa distância, embora a diminuição da luz do fim da tarde tornava a visão difícil. Pensou que era a direção da cabana de Noah, mas Ester estava desconfiada que estivesse equivocada. Ora, que maravilha era perder-se dentro de sua própria propriedade. Culpa das várias margaritas.
Ela riu disso.
Então, ela viu luzes entre a mata e algum barulho, sentiu seu pulso acelerar. Nunca tinha tido medo de bosques antes, mas por outro lado nunca havia vagado em um bosque onde viviam lobos.
Os cabelos em sua nuca arrepiaram-se, seu ventre se estremeceu. Ela semicerrou os olhos, tratando de ver com claridade. Um brilho de movimento por trás dela a fez virar-se, mas não havia nada, então continuou andando. Um estalo ecoou nas árvores, acompanhado por um som, que soou como a voz de Noah. Bem, talvez tivesse chegado à sua cabana.
Aproximou-se cautelosa, pisando brandamente. Então, ela viu a cabana e sorriu, finalmente havia encontrado, mas paralisou e ficou boquiaberta quando olhou ao longe e viu Shay no degrau da escada com Noah. Ele estava no degrau abaixo, muito próximo e ambos estavam nus. Ester ficou olhando boquiaberta, sem se mexer.
Ela o abraçou, toda sensual, mas Noah a afastou e falou algo bruscamente. Foi quando ele cheirou e arfou, e os dois olharam na direção de Ester, porque haviam captado seu cheiro. Ester estava horrorizada, olhando para eles com os olhos arregalados. Ela sentiu seu sangue ferver, arfou e andou em direção a eles.
— Ester! — Noah gritou.
Shay rosnou e seus olhos cintilaram e se colocou em posição de saltar, mas Ester não se importou e caminhou até Shay.
— Olha, mulher, você está me irritando! Noah é meu companheiro, pare de agir como uma biscate e se ponha em seu lugar!
— Isso, humana, venha para eu lhe quebrar o pescoço, assim eu posso ter Noah.
— Cale-se, Shay! Saia daqui agora! — Noah rosnou para ela.
Ela rosnou, mas não se moveu.
— Sou seu alfa e estou dando uma ordem, saia!
Ela rosnou novamente e saiu correndo entre as árvores, e Ester chegou à frente de Noah.
— Volte aqui, não tenho medo de você!
Noah rosnou e a pegou pela cintura, ergueu-a e a colocou na escada.
— Não provoque, Ester.
— Eu provocando? Ela que estava com aquelas mãos sobre você. E você, seu safado, estava aqui nu com ela!
Ele rosnou novamente, bravo, abaixou e a ergueu, jogando-a sobre seu ombro.
— Ah, solte-me! — ela gritou, tentando se soltar.
— Se acalme, mulher! Minha mulher tempestuosa, você vai aprender a me enxergar direito ou lhe darei uns tapas no traseiro.
Ela bufou.
— Bata-me e lhe arrancarei os olhos, já disse que não gosto desta coisa de BDSM.
— BD o quê?
— Pessoas que gostam de amarrar e bater, estas coisas. Eu não aprecio e levarei por outro lado, me entende?
— Porra, mulher, depois diz que fica louca comigo! E como pensa que devo saber o jeito que devo tratar você com suas manias e falas estranhas? Cale-se e se acalme, não baterei em sua bunda contanto que se comporte.
— Eu estava comportada, por acaso era eu que estava nua com um homem?
— Ele seria um homem morto se eu visse algo assim.
— Ponha-me no chão!
Ela deu alguns tapas em suas costas e traseiro, mas ele não lhe deu ouvidos e lhe deu um tapa no bumbum fazendo-a gritar.
— Quieta!
Ele subiu as escadas e entrou em casa. Ester se espantou quando viu quão bonita era, não era um luxo ostensivo, mas era mobiliada com móveis rústicos, uma lareira de pedras e um gigantesco tapete de peles.
Ele a virou segurando-a pelas costas e a soltou, fazendo-a cair sobre um sofá macio e ela gritou, tirou os cabelos da frente do rosto e olhou ao redor.
— Sente aí e não se mova.
— Pensei que havia dito que era civilizado. Onde está o Noah adorável e gentil de ontem à noite?
— Sou um lobo, um alfa, e não admito que me afrontem, me chamem de safado e que faça a loucura de enfrentar uma loba, puxando-a para briga. Como minha companheira deve aprender a lidar com os problemas diante da alcateia. Não pode chamar uma loba para a briga.
— Foda-se, não sou uma maldita loba! Não estou acostumada com seu estilo de vida, Noah. O que quer, que veja tudo como se fosse normal? Pode ser normal para você, mas no meu mundo duas pessoas nuas se agarrando no meio do mato, não é normal. Afinal, nós dois firmamos um compromisso.
Ele suspirou cansadamente.
— Shay fez isso de propósito, soube que estava vindo aqui porque Erick ligou dizendo que estava vindo. Ela deve ter ouvido a conversa e correu como loba até aqui. Eu ia me encontrar com você quando me deparei com ela. E eu achei muito bonito que minha linda companheira estava vindo me ver e, melhor, estava cheia de margaritas na cabeça.
— Ora, foram só umas tacinhas, estava feliz e eu quis divertir as mulheres, lhes dar um pouco de alegria.
— Sim e eu agradeço por isso, companheira. Acredite, minha linda Ester, eu estou orgulhoso do que fez hoje.
Ele se ajoelhou na frente dela e puxou-a para ele, ficando entre suas pernas.
— Essa Shay é uma abusada.
— Verdade, mas logo ela vai para a ilha, está bem assim?
— Desculpe, tem sido difícil para mim com este negócio de nudez e tudo mais. Nós não gostamos de ver nossos homens nus com outras mulheres, já passei por isso e é muito triste.
— Sei. Mas eu disse que sou leal a você, não disse?
— Disse.
— Precisa confiar em mim. Jamais tocaria outra que não fosse você.
Ela suspirou e pensou um momento.
— Ok, eu vou confiar.
— Assim como vou confiar em você que não vai me ferir.
— Não o faria.
— Eu gostaria de um daqueles seus abraços que eu adoro.
Ela sorriu e acariciou seu rosto. Deu-lhe um beijo nos lábios e o abraçou. Noah suspirou, a abraçando forte.
— Estou contente por você estar aqui, doçura.
— Também estou contente. Estava com saudade.
— Bom, eu também.
— Como será entre nós quando você for para sua nova casa?
Ele a soltou e a olhou com o cenho franzido.
— O quê?
— Você vai para sua ilha na Grécia.
— Você irá comigo.
Ela o olhou seriamente e puxou o fôlego.
— Em algum momento você pensou em me perguntar sobre isso? Eu acabei de abrir um negócio aqui, comprei uma casa nova.
Ele ficou olhando para ela seriamente, sem saber o que dizer, ela não iria com ele? Seu coração doeu. Deveria ter perguntado?
— Me deixaria?
Ela olhou bem para seus olhos e não conseguiu dizer que não iria, estava difícil pensar e negou com a cabeça.
— Você moraria comigo na ilha? Pode abrir seu negócio lá, darei tudo o que precisar. Não é uma ilha deserta, querida, é uma ilha com tudo que precisamos e fica próximo a outras cidades. Se for isso que tem medo.
— A ideia é bem agradável, confesso, mas não me pediu antes de dizer que eu iria. Não manda em mim, lobo mau.
— Posso levá-la sobre meus ombros.
Ela riu.
— Acredito que sim.
— Amanhã nós falaremos sobre isso, ok? Tenho muitas fotos aéreas e das novas casas, que lhe mostrarei. Agora eu só quero minha mulher cheirosa, toda bonita e embriagada de margaritas.
— Não estou embriagada — disse rindo.
Ele a beijou, empurrando-a contra o sofá. Ester gemeu pela intensidade de como seu corpo reagiu àquele beijo. Noah fez amor com sua boca, devorou-a. Ele retirou sua blusa e a jogou longe.
— Noah...
— Ester, eu vou te mostrar que eu não quero nenhuma outra mulher.
— Você é mau.
— Não, doçura, eu sou a melhor coisa pra você.
Capítulo 21
Jessy estava na cozinha, em sua casa no bosque, preparando comida para Lili, ela colocou o prato sobre a mesa e o talher.
— Venha comer, Lili — Jessy gritou e esperou, mas Lili não apareceu e não respondeu. — Lili, não está com fome, querida?
Ela, então, parou e cheirou o ar. Apreensiva, percebeu que havia um aroma na casa e foi até a sala.
— Lili? — Lili não estava no chão com os brinquedos. — Lili?
Jessy virou a cabeça rapidamente olhando para a porta e entrou na sua forma intermediária, rosnando alto. Em seguida, correu e parou bruscamente na varanda. Havia um homem, na verdade um lobo, com os cabelos rajados, lisos e longos, presos num rabo de cavalo e olhos amarelos. Estava parado no pátio em frente à escada com Lili no colo. A garotinha parecia calma, sem saber do perigo que corria.
— Diga oi pra mamãe, Lili. Admira-me que não tenha matado a filhote quando nasceu. Como pode criar uma criança humana?
— Solte-a!
Ele a cheirou.
— Sim, não é uma lobinha. Noah é realmente um péssimo alfa permitindo tais aberrações na alcateia. Joan tinha razão em mandar prendê-los.
— Quem é você? Solte meu bebê agora — ela rosnou com raiva.
— Só estamos aqui para uma visita — disse maliciosamente.
— Lili, olhe pra mamãe. — A pequenina olhou. — Lembra-se o que mamãe disse sobre homem mau? Ele é um deles.
Lili pensou por um segundo e depois olhou para o homem.
— Homem mau! — Lili gritou e com força enfiou o dedo no olho dele, que rosnou fechando os olhos fortemente pela dor e a soltou. Lili caiu no chão e chorou.
Jessy rapidamente saltou sobre o desconhecido com uma fúria descontrolada, ela rosnou e cravou as unhas afiadas em seu pescoço dilacerando-o, e quando o homem caiu, ela quebrou seu pescoço em uma torção rápida e brusca.
Jessy voltou para a forma humana, então pegou Lili no colo e a abraçou forte, tentando acalmá-la, já sofrendo com o pensamento que ela estivesse ferida pelo tombo.
Lili não se assustava quando via os lobos, nem mesmo quando estavam em sua forma Dhálea, que na verdade era aterrorizante. Jessy havia ensinado a ela desde pequena a conviver com eles, sem se assustar.
— Tudo bem, meu amor, tudo bem.
Ela se virou bruscamente sentindo o cheiro e outro lobo apareceu na mata, rosnando ferozmente. Jessy olhou com os olhos arregalados para ele. Estava tentando pensar rápido para se defender e proteger Lili, que estava agarrada em seu pescoço e chorava.
Logo o lobo levou uma enxurrada de balas e caiu. Incrédula, ela olhou para trás e viu Sasha parado com a arma automática apontada para o lobo e depois mirando ao redor para ver se via mais alguém. Então foi até ela, com passadas rápidas. Quando ele chegou tão próximo a ela, quase a tocando, ela deu um passo atrás, apertando mais Lili contra seu peito. Isso feriu Sasha.
— Você está bem? — ele disse, mas conteve a vontade de abraçá-la e apagar o terror estampado naqueles lindos olhos verdes.
— Sim, só assustada, ele estava com Lili.
— Graças a Deus eu cheguei a tempo.
— O que faz aqui, o que está havendo? — ela perguntou assustada.
— Eu vim falar com Noah e, quando entrei, o portão estava desativado e o interfone não estava funcionando. Precisamos dar um alerta, rápido. Vamos para dentro, Jessy! — ele disse e ela o olhou com os olhos arregalados e correu para dentro com Lili e ele a seguiu, fechando a porta. Sasha pegou o celular e ligou para Noah.
Konan estava digitando no computador e olhando as telas e soltou um palavrão. Ele pegou o telefone e ligou para Noah.
— Noah, temos um problema, as câmeras da frente estão desligadas. O interfone e o portão também. — Ele ficou ouvindo Noah falar. — Certo, vou verificar. Isso é estranho, pois o alarme deveria ter soado aqui, talvez seja só um curto-circuito, mas vou verificar rapidamente. — Ele desligou.
— Harley, ligue as câmeras de emergência, agora!
Eles ouviram o som de tiros ecoarem do bosque, os que Sasha havia disparado, e se olharam assustados.
— Merda!
Harley digitou rapidamente no computador. E, em seguida, um painel digital se abriu na parede e várias imagens apareceram, logo viram homens-lobos correndo pelo bosque e alguns pela estrada principal.
— Porra! Noah! Erick, invasão! Há vários lobos na propriedade! — Konan gritou no intercomunicador geral que avisava em todas as cabanas e nos cômodos da mansão, como um alto-falante.
— Quem são estes bastardos? — Harley perguntou com raiva.
— Não imagino, mas mate primeiro, pergunte depois — Konan rosnou.
— Oh crianças, querem brincar? Vamos testar meus brinquedinhos novos. Sasha estava louco para brincar com isso — Harley disse puxando outro notebook e digitando rapidamente.
— Mate todos, Harley!
— Pode deixar, vou acabar com estes bastardos.
Konan rosnou alto, se transformou em lobo e saiu da sala de controle.
Petrus sentiu o peito doer, não era a dor das garras do lobo que acabara de matar, que havia lhe cortado o braço. Ele havia entrado no bosque em busca dos intrusos e se deparou com um entre as árvores.
Ele olhou ao redor e cheirou o ar com força, fechou os olhos, centrando seu lobo e, após alguns segundos, os arregalou.
— Sami...
Então, ele correu.
Harley olhou para a tela do computador e avistou uma linha de quatro lobos se aproximando na frente da casa, então teclou os comandos.
Uma plataforma na parede do segundo andar da frente da mansão se abriu e um arpão, parecendo uma besta medieval, apontou dez lanças de metal prata de um metro de comprimento, com a ponta como de uma flecha. Harley programou quatro delas, que piscaram na tela do computador, como se fosse um jogo de RPG, buscando o alvo. E quando focou o coração dos intrusos como alvo, piscou em verde.
Harley acionou as lanças e elas atingiram os quatro lobos no coração, atravessando-os e todos caíram mortos.
Ele vibrou, trocou a tela e outra câmera focou o outro lado do jardim. Havia dois lobos se aproximando. Ele teclou os comandos e uma arma de tiro a longa distância saiu de um compartimento na parede e ele atirou, matando os dois.
— Isso está divertido, nem sabem o que os atingiu — disse rindo.
Harley continuou teclando e buscando alvos.
— Movimento perto do portão — ele falou no rádio.
Em sua forma intermediária, Noah saltou pelo bosque atacando dois de uma vez, destroçando a garganta de um e jogando o outro contra uma árvore.
Liam correu e se chocou com um dos lobos, travando uma luta, ambos lutaram em forma de lobo, morderam, arranharam e saltaram um sobre o outro, até que Liam abocanhou violentamente a garganta do outro e o matou. Ele rosnou, uivou e saiu correndo.
Noah chegou à entrada da propriedade, seguido de Petrus e Thorman. Pararam bruscamente quando avistaram um lobo em forma Dhálea, segurando Sami pelo pescoço à sua frente. Ela olhou com os olhos cheios de lágrimas para eles e choramingou.
— Como vai, Noah? — ele disse maliciosamente.
— Como, inferno, você chegou aqui, Galen? Onde está Joan? — Noah rosnou.
— Oh, Joan não mora mais na Alemanha, seus interesses agora estão focados em outro lugar. Cansou de caçar lobos para os humanos brincarem de cientistas.
— Foram vocês dois que nos entregaram para os humanos?
— Oh homem, nem imagina quanto de dinheiro conseguimos vendendo lobos.
— Vou matar você! — Noah rosnou, deu um passo à frente, mas não atacou. Não podia colocar a vida de Sami em risco.
— Seja razoável, alfa, só vim pela mulher, os deixarei em paz.
— Solte-a! — Petrus rosnou, tentando conter-se.
— Essa humana me pertence, somente vim por ela. Joan não tem nada a ver com isso. Ele nem sabe que estou aqui e provavelmente ainda não sabe da explosão do laboratório de Berlim. Essa foi realmente uma grande jogada sua.
— Joan sempre sabe de tudo. Acha que vou acreditar que não disse a ele que nos achou? Afinal, é seu capacho.
— Não trabalho mais com Joan, eu só estou aqui pela mulher. Não avisei a ninguém onde você está, não se preocupe.
Petrus rosnou.
— Como nos encontrou?
— A belezinha aqui tem um rastreador. Sabendo que o laboratório tinha ido pelos ares, nem imagina o meu alívio de ter implantado isso depois de tê-la mordido. Estranhei quando do nada ela veio parar aqui, tão longe de Berlim, mas então eu vim e observei. Imagina minha surpresa quando descobri que minha companheira estava com um bando de lobos e que foram vocês que explodiram tudo, não que eu me importe. — Sami gemeu. — Oh desculpe, querida. Eu achei que era necessário, um microimplante na sua nuca, nunca o sentiria, mas eu poderia achá-la caso algo acontecesse e, claro, tive sorte.
— Como não pensamos nisso? — Liam resmungou zangado quando se juntou a eles.
— Foi você que a mordeu? — Petrus perguntou.
— Sim, ela é minha. Agora vou pegar minha companheira e meus lobos e irei embora. Só isso.
— Homem, todos os seus lobos estão mortos. Se pensa que sairá daqui vivo, pense outra vez — disse Konan chegando e se enfileirando ao lado de Liam.
— Não é possível! — exclamou espantado, e Noah riu maliciosamente.
— Galen, você pode pensar que foram espertos em nos prender da primeira vez, e olha que fizeram um bom trabalho, mas se pensa que estaríamos aqui desprotegidos, errou feio. Você não vai sair daqui e Joan vai morrer quando eu colocar as mãos nele. Ninguém jamais terá nenhum dos meus outra vez. Foi um erro ele ter mandado você aqui.
— Já disse que Joan não me mandou, a única coisa que sei é que ele partiu do país há dois anos e depois disso não sei mais dele. Eu só vim por ela, deixe-me ir e tudo fica bem.
— Idiota, não sairá da propriedade com ela — Petrus disse.
— Você não merece viver, traiu os da sua própria raça.
— Apenas conflito de interesses. E ela é minha companheira, é lei. Ninguém tem o direito de interferir entre companheiros. Ela é minha propriedade.
— Esta é minha alcateia, e as leis sou eu quem faz. Ela pertence a mim e, portanto, ela fica e você morre, Galen.
Galen arregalou os olhos e olhou ao redor, esperando que algum de seus homens viesse em seu auxílio, mas ninguém apareceu. Ele ficou nervoso e apertou o pescoço dela fazendo-a gemer e as suas lágrimas escorreram pelo rosto.
— Machuque-a e arrancarei sua cabeça — disse Petrus.
— Ahhh! — falou olhando bem para Petrus. — Você a deseja, a quer pra você. Posso sentir suas vibrações daqui, lobo. — Petrus rosnou. — Você já foi montada por um lobo? — perguntou para Sami. — Deixou que este bastardo montasse você? Afinal, eu reivindiquei uma vadia?
Sami choramingou quando a sacudiu para mais perto dele e falou em seu ouvido:
— Quer virar uma bela loba, doçura? Ser minha companheira? Garanto que vai gostar de ser montada por mim, um lobo de verdade. — Depois de dizer isso, lambeu seu rosto de forma depravada, e Sami gemeu com nojo e terror.
— Prefiro morrer — ela resmungou.
Ele riu e seus olhos cintilaram, suas presas cresceram ainda mais, rosnou e mordeu violentamente o ombro de Sami, que gritou de dor.
Petrus rosnou de raiva e tentou impedi-lo, mas Liam o segurou, não podia atacar senão ele poderia matá-la.
Todos ficaram petrificados e com os olhos arregalados olhando ele soltar de forma brusca seu ombro dilacerado e recitar as palavras gaélicas, passando a magia para ela.
Sami foi atingida por uma rajada de vento e o choque foi tão grande que ela gritou novamente de forma aguda e desmaiou. Galen não a deixou cair, puxou-a para seu corpo, segurando-a pela cintura, como se fosse um monte de trapo.
— Porra! — Konan rosnou.
— Maldito, miserável, eu arrancarei sua cabeça! — Petrus gritou.
— É um maldito bastardo, Galen — Noah disse.
Com a boca cheia de sangue escorrendo por seu queixo, Galen olhou para Noah e riu.
— Oh, eu soube que tem uma nova companheira, Noah, uma humana doce e bonita.
Noah se retesou e trincou os dentes, cerrou os punhos e rosnou.
— Se tocar em minha companheira, eu esmigalharei cada osso seu.
— Ops... Isso não é nada, perto do que fizeram com sua fêmea, alfa.
Noah ficou em estado de choque, todos travaram e o olharam.
— O quê? — ele perguntou quase sem conseguir respirar.
— Agora mesmo há um lobo deliciando-se com sua pequena humana veterinária.
Noah rosnou tão alto e feroz que assustou a todos.
Neste instante, Galen saltou para trás com uma bala que o atingiu no ombro e caiu de costas no chão. Ele rosnou pela dor e soltou Sami, que caiu desacordada no chão. Eles olharam para trás e avistaram Harley sobre uma grande pedra com um rifle de atirador.
— Achei que gostaria de acabar logo com isso, alfa — Harley disse.
Petrus correu e pegou Sami no colo, afastando-a de Galen.
Noah rosnou e saltou sobre Galen, ficando escarranchado sobre ele no chão, socou seu peito e o puxou bruscamente, pegando seu coração na mão e depois uivou.
Noah sentiu seu coração destroçar, somente com o pensamento de Ester estar sendo machucada. Pensou que fosse sufocar e, então, gritou de dor.
— Ester!
Capítulo 22
Ester passou o dia na sua clínica atendendo aos seus clientes e já havia escurecido quando foi para casa.
Quando chegou, havia um buquê de flores sobre o capacho e ela correu para saber se era de Noah, mas era de seu admirador. Ela não sentiu mais nenhum prazer em receber flores do desconhecido, somente queria que fossem de Noah.
— Thor?
Ela estranhou que ele não veio recebê-la como sempre fazia. Ester foi até a cozinha, colocou a caixa de pizza e as flores na bancada de mármore, abriu o saco do mercado e colocou ração e água fresca nas vasilhas de Thor.
— Thor, onde você está, menino? Eu trouxe comida.
Ele não respondeu e ela deu de ombros, ele deveria estar dormindo no quintal dos fundos.
Ela colocou as flores em um vaso de água e leu o cartão que somente estava escrito: “Para alegrar seu dia”.
Aquilo era doce, mas tinha que achar uma maneira de dizer ao estranho que parasse, já não era divertido e Noah acabaria se enfurecendo com isso em algum momento. Sentiu-se egoísta, mas era o correto a fazer. Não entendia como um estranho podia enviar tantas flores e presentes sem exigir nada em troca. Nada normal.
Ela tomou um banho rápido e colocou sua camisola, encheu uma taça de vinho e bebeu dois goles de uma vez, colocou um enorme pedaço de pizza num prato e foi para a sala.
Ela sentou no sofá, colocou os pés na mesinha de centro e ligou a TV, respirou fundo, pegou o pedaço de pizza e dando uma enorme mordida, fechou os olhos, a saboreando.
Adorava fazer estas futilidades e comer porcarias quando estava cansada ou estressada, era um alívio desfrutar da liberdade e de sua casa. Simplesmente adorava sua casa.
Ela estranhou que Noah ainda não tivesse ligado ou chegado porque havia dito que viria passar a noite com ela, já que Ester preferiu estar em sua casa a estar na mansão.
Ela ia dar outra mordida quando ouviu um rosnado. Devagar olhou para o canto da sala e viu um lobo cinza se aproximando lentamente, arreganhando os dentes afiados. Ester sentiu seu corpo todo gelar. Ela não conhecia este lobo e ele não parecia nada amigável.
Lentamente, ela colocou os pés no chão, soltou o prato na mesinha e se levantou sem tirar os olhos dele.
— Calma. O que você quer aqui? — Ele rosnou novamente. — Olha, sou amiga de Noah e dos outros. Quer que o chame?
O lobo se transformou em um homem.
Ela ofegou vendo aquele desconhecido e deu dois passos para trás, batendo no sofá e teve que se equilibrar para não cair sentada.
Ele era enorme, todo tatuado e careca, sem contar que estava nu. O que só tornava as coisas piores, realmente Ester entrou em pânico.
Não havia visto um lobo careca, parecia que eles gostavam de ostentar os longos cabelos. Somente Thorman, Ronan e Zian tinham os cabelos curtos, mas isso era por causa dos laboratórios e Erick, porque circulava muito entre os humanos.
— Isso, querida, minhas suspeitas estavam certas, você está com os lobos. É a puta de Noah.
— Quem é você? — perguntou assustada quando se referiu a ela tão grosseiramente.
— Isso não importa e sim quem é você. Eu tenho a seguido, inclusive sei que está com o alfa, sinto o cheiro dele em você. Não achei que ele foderia uma humana, mas sempre soube que ele era um fraco.
Ester sentiu outra onda de pavor.
— E o que você tem a ver com isso?
Ele foi andando pela sala, emboscando-a lentamente.
— Tudo o que diz respeito a Noah me interessa. Ele me baniu de sua alcateia junto com Joan e Galen. Noah pegou a companheira de Galen dos laboratórios de Berlim e estamos recuperando.
— Oh, Sami — ela sussurrou horrorizada.
— Sim, e me encarregarei de mandar a fêmea de Noah em pedaços para ele.
— Bem, eu lamento informar que isso não é mais verdade. Eles mudaram-se para fora da cidade. E eu não sou mais a companheira dele.
— Acho que ele não lhe explicou exatamente qual é o vínculo de uma companheira. Não adianta querer me enganar, eu sei que eles moram fora da cidade em um lugar muito pitoresco.
Isso assustou Ester, mais do que já estava.
— Não sou sua companheira.
— Bem, se você não é sua companheira, é simplesmente a puta com a qual esquenta sua cama, então para que você me serve?
— Para nada. Então, é melhor você ir embora.
— Eu vou pegá-los e enviá-los de volta aos laboratórios e quanto a você, tem duas opções: pode ser levada com ele ou pode morrer agora.
— Não, obrigada, prefiro mais alternativas. Trair seu povo dessa maneira é horrível, como pode fazer isso?
Ester começou a andar tentando se afastar, pois ele lentamente vinha em sua direção, espreitando sua presa.
— Acha que me importo? Só me importo com o dinheiro.
— Certo, eu tenho dinheiro, podemos negociar. Quanto quer para ir embora e me deixar em paz?
— Você é bonita, eu acho que nós podemos nos divertir antes de eu quebrar seu pescoço.
Ester olhou ao redor em busca de Thor. Onde ele estava? Como tinha o deixado entrar?
— Não adianta procurar seu cachorro idiota, se é isso que está fazendo.
Assustada, ela o olhou.
— Onde está Thor?
— Oh, eu sinto muito por ele.
Ela ofegou apavorada e com os olhos arregalados.
— Você o matou?
— Ele estava me incomodando.
— Bastardo! — gritou com raiva e dor.
— O mesmo que farei com você.
Ela ofegou quando ele se moveu. Com um pé pulou no sofá e com o outro sobre o encosto, saltou sobre ele. Aquele era o único caminho para longe do lobo.
Ela bateu na parede e correu para a esquerda onde ficava a lareira, pegou o atiçador de fogo e girou.
Num salto, o homem pousou na frente dela com um grunhido feroz e ela o atacou com o atiçador, cravando a ponta afiada em seu ombro.
Num movimento muito rápido, ele se esquivou do segundo golpe. Ela tentou atingi-lo novamente, mas ele se esquivou e só o atingiu no braço, só lhe infligindo um pouco de dano e ele rosnou ferozmente.
Ester sabia que estava jogando com ela, pois já poderia tê-la destroçado se quisesse.
— Deixe-me em paz! — ela gritou e ele riu dela.
— Vamos, garotinha, vamos brincar um pouquinho, já que aprecia foder com lobos.
— Homem, se está se comparando à Noah pense novamente, você não chega aos seus pés. Gosto de lobos e não ratos.
Ele saltou ameaçando pular sobre ela e rosnou.
Logo um grande estrondo veio de um lado da sala. Um imenso lobo atravessou pela janela, estilhaçando os vidros e as madeiras e pousou com as quatro patas no interior da sala, soltando um rosnado feroz, muito zangado.
Noah.
Ester quase gritou de alegria, prazer e alívio quando o viu.
O homem virou-se para ele, transformou-se em lobo e grunhiu de volta. Oh, agora haveria uma briga feia e Ester tentou se afastar, mas estava encurralada na parede.
O lobo virou para ela, levantou nas duas patas e arremessou uma patada que acertou seu cotovelo e as costelas. Ester voou longe pela sala e aterrissou sobre a mesa de jantar que era inteira de vidro, e que estilhaçou em milhões de pedaços.
Quando viu Ester ser ferida daquela maneira fatal, Noah rosnou e saltou sobre o lobo. Ambos rolaram pela sala destruindo cada móvel que batiam. O som dos dois lobos lutando, grunhindo e destruindo tudo pela frente, mordendo e arranhando, era ensurdecedor até que Noah o mordeu violentamente, arrancando uma parte de seu pescoço.
Noah transformou-se em sua forma Dhálea e furiosamente deu dois puxões de um lado a outro e arrancou a cabeça do lobo, jogando-a longe. Sua fúria estava além dos limites.
Ele uivou por ter vencido a luta, então girou e num salto atravessou toda a sala, caindo na frente de Ester. Ele se transformou em homem e gemeu vendo ela no meio de tantos cacos de vidro.
Noah ignorou a própria dor, pois havia recebido mordidas, arranhões e sangrava, mas isso não era importante, Ester era.
Ela estava com sangue no corpo todo e podia ver seu braço dilacerado pelas garras do lobo.
Ele se ajoelhou ao seu lado ignorando os cacos e sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. Não poderia perder Ester. Ela estava com os olhos abertos, muda, respirava com um sopro de ar e o sangue saía de sua boca. Sua pele macia e sedosa estava cheia de cortes e cacos fincados por todas as partes de seu corpo.
Noah uivou e seu grito de desespero ecoou pela casa.
Logo Erick entrou correndo na casa com Liam e eles pararam bruscamente, com os olhos arregalados, olhando para a cena grotesca.
— Oh merda... — Erick resmungou e Liam nem conseguiu dizer algo.
— Doçura, você vai ficar bem. Por favor, aguente. — Ele olhou para Erick. — Erick, mande o helicóptero vir agora! Ela está muito ferida... Preciso que alguém recolha o corpo do maldito, e preciso de um médico em casa...
— Leve-a ao hospital humano.
— Não, Erick, eu não posso levá-la ao hospital, ela está com marcas de garras em seu corpo. Seria um desastre... Encontre alguém que mantenha a boca fechada... Aquela médica que é sua amiga. Pegue o endereço desta doutora e leve-a à mansão.
— Não pode sequestrar uma médica.
— Posso fazer o que quiser para salvar Ester!
— Eu irei, sei onde ela mora, uma vez segui Ester até ali em um dos meus momentos de guarda-costas para o pai — Liam disse.
— Se não for por bem, leve-a arrastada até a mansão. Agora Liam, ela está morrendo!
Liam girou e saiu correndo da casa.
Poderia levá-la até o hospital, teriam mais recursos, chamaria uma ambulância humana, mas então viriam as perguntas, os papéis e ele não queria tratar disso agora. E não permitiriam que ele ficasse com ela e isso ele não permitiria.
Seu lobo não permitiria que fosse afastado dela, nem por um segundo. Ele estava sob sua pele, insistindo em sair e arrancar mais uma dúzia de cabeças. Poderia ficar bravo e ferir algum humano. Estaria se expondo. Era uma péssima ideia. Levá-la à mansão era a única solução, a médica cuidaria dela e ficaria tudo bem. Assim ele esperava.
— Noah... — ela sussurrou.
— Sim, minha doçura, eu estou aqui, aguente firme.
— Ele sabia... sobre nós — ela sussurrou.
— Droga, eu sei! Não fale. Vai ficar tudo bem, eu juro, vai ficar tudo bem. Fique comigo, doçura, por favor.
Ele foi até o quarto, arrancou o lençol da cama e voltou à sala. Com cuidado a pegou no colo e a tirou do meio dos cacos, mas mesmo assim ela gemeu de dor. Seu corpo todo estava cortado, mas suas costas eram o pior.
Erick tentou ajudar, puxando os cacos fora; Noah cortou algumas tiras do lençol e foi amarrando nos cortes maiores para estancar o sangue.
— Estou... com frio — ela sussurrou, tremendo.
Ele a envolveu nos braços e a abraçou gentilmente.
— Vou aquecer você, aguente só mais um pouquinho. Fique comigo, amor. Morrerei se me deixar, entende?
E em muitos anos se mantendo firme, agora Noah sentiu seu mundo ruir, a garganta se fechar e os olhos banharem de lágrimas. Ele estava entrando em pânico e puro desespero.
Ele tinha sobrevivido ao puro terror, à perda de Laila, de seu filho não nascido, às torturas nos laboratórios, ao ver seu povo sofrer e tinha resistido. Mas ele não sobreviveria se perdesse Ester, sua amada, a outra parte de sua alma. Sua verdadeira companheira.
Erick estava ali, com o coração na mão, sentindo a dor fluir de Noah como uma rajada elétrica e não podia fazer nada. Ele apenas foi retirando os cacos fincados em suas pernas e amarrando as tiras.
O helicóptero não demorou a chegar e pousou no quintal dos fundos. Sorte que ela tinha um quintal imenso, senão teriam mais problemas. Não que Konan se importasse de pousá-lo bem no meio da rua. Ele podia jurar que havia batido um recorde de velocidade naquela geringonça.
Anos atrás, Noah havia se espantado quando perguntou quem gostaria de tirar brevê para piloto e Konan se candidatou, além de Liam. Ele adorava tudo que era radical e de tecnologia, principalmente armas, assim como Harley, um pouco atípico de seu estilo selvagem.
Harley entrou correndo dentro da casa e Noah ouviu vários grunhidos quando ele viu a situação e correu recolher o corpo quebrado do lobo.
Erick desdobrou a maca portátil que ele havia trazido e Noah colocou Ester nela e amarrou seu braço no seu corpo com cuidado.
Eles saíram rapidamente da casa em direção ao helicóptero. Ele pôde perceber que os vizinhos espreitavam nas janelas, mas não deu atenção.
— Rápido, estou ouvindo sirenes e os policiais estarão aqui logo, eles não podem nos ver — Erick disse.
Eles entraram e ajeitaram Ester e, em seguida, Harley jogou o corpo do lobo em um canto e logo Konan levantou voo.
Erick pegou o cilindro de oxigênio e colocou a máscara no rosto de Ester.
— Aguente, meu amor, aguente — Noah sussurrou para ela.
Ester o ouviu dizendo “Meu amor”, e aquilo soou como uma música em seus ouvidos.
Ela tentava ficar com os olhos abertos e cravados em Noah. Se morresse, a imagem dele era a última coisa que queria ver.
Uma lágrima escorreu de seus olhos, queria poder retribuir as palavras, dizer que o amava, que não queria morrer, mas ela não sabia porque não conseguia mais falar. Talvez estivesse em choque, pois se sentia amortecida e não sentia dor, na verdade nem sentia mais seu corpo.
Somente ficou ali olhando para ele, com os olhos vidrados, enquanto ele alisava sua bochecha sã com a ponta dos dedos e sussurrava palavras doces que aos poucos já não conseguia entender, tudo foi nublando e as palavras dele já pareciam muito distantes.
— Você vai ficar bem, minha companheira. Tudo vai ficar bem. Você é minha companheira para a vida, entendeu, Ester? Uma longa vida. Aguente por mim. Amo você, Ester, amo você.
E isso foi a última coisa que ela ouviu.
Capítulo 23
Logo que o helicóptero desceu no pequeno heliporto nos fundos da mansão, foi uma corrida contra o tempo. Noah e Erick levaram a maca até a clínica onde Jessy estava esperando na sala de operações.
Jessy estava assustada, na verdade apavorada com o telefonema de Erick enquanto voava, falando da gravidade dos ferimentos de Ester. E seu pavor só aumentou quando ela viu com os próprios olhos o estado em que Ester se encontrava.
Se Liam não conseguisse trazer um médico de verdade, eles estariam em sérios problemas. Jessy era uma iniciante na arte da enfermagem e não saberia o que fazer com tamanha gravidade.
Seu coração se compadeceu por Noah. Não queria ver seu irmão sofrer mais. Noah, Erick e Lili eram os únicos da família que lhe restava, e seu coração chorou quando viu o desespero puro cravado nos olhos de Noah. Ele parecia realmente atordoado. Ela faria seu máximo, por ele.
Enquanto Jessy preparava Ester, Liam chegou arrastando uma médica vestindo pijamas e com os olhos arregalados de pavor.
Ele tinha explicado por cima o que ela deveria saber, mas ela estava apavorada pelos seus olhos exóticos, seu cabelo branco e seu tamanho descomunal para entender tudo o que lhe disse.
Quando ela entrou na casa e viu mais daqueles homens diferentes, seu pânico só aumentou. Ela tinha gritado e tentado correr, mas Liam a pegou e a levou escadas abaixo.
Quando ela entrou na sala médica, Noah soltou um grunhido que retumbou pelo quarto e ela gritou e deu alguns passos para trás, mas chocou-se com Liam. Ela gritou apavorada e Liam a girou nos braços e a fez olhar para frente. Virna ficou ainda mais chocada quando viu Ester na mesa.
— Oh meu Deus, Ester! O que vocês fizeram a ela?!
Liam a virou novamente, a segurando pelos braços e ela gemeu quando olhou em seus olhos. O homem era lindo, mas aqueles cabelos e olhos brancos a aterrorizavam. Ele era enorme e curvava-se sobre ela, que media apenas 1,65m, e estava com os olhos cheios de lágrimas.
— Escute-me, doutora, sei que é amiga de Ester. Ela está muito ferida e nós somos amigos dela. Nós a trouxemos para que a cure. Você deve curar Ester e preciso que se acalme, me ouviu? — Liam disse firmemente, mas com calma para não assustá-la mais. Se a pobre mulher desmaiasse não lhes adiantaria nada. — Essa é Jessy e ela vai ajudá-la. Agora se acalme e vá para a mesa cuidar de Ester. Você entendeu o que eu disse?
— Mas não é minha especialidade...
— Pode tentar?
— Sim.
— O único motivo de você estar aqui é para ajudar Ester, ninguém vai machucá-la. Agora diga se me entendeu.
— Sim, eu entendi.
— Certo, agora respire comigo, devagar.
Ela fez o que ele disse, respirou, o acompanhando. Uma e outra vez.
— Tudo bem, agora vá.
Liam a soltou, Virna engoliu em seco e dirigiu-se até a mesa. Respirou fundo e fechou os olhos por um segundo. Então, ela assumiu uma máscara, esqueceu-se de tudo ao seu redor e focou-se em Ester, colocou as luvas e a touca que Jessy deu a ela e começou a tratar dos ferimentos.
Por mais de uma hora, ela e Jessy ficaram sobre Ester, fazendo de tudo para sanar os danos.
Noah não parava de andar de um lado para o outro no corredor. Erick havia falado com ele mil vezes para se acalmar e parar de andar, mas era o mesmo que falar para uma porta, ele não ouvia, apenas andava e rosnava.
Todos os lobos estavam ali, calados e apreensivos.
Noah focou em Petrus que estava escorado na parede com os braços cruzados, usando apenas uma calça de couro, o rapaz parecia realmente perturbado. Noah percebeu que ele tinha um curativo grande no braço. Provavelmente foi Jessy que o fez.
— Como está a moça? A tal Sami — Noah perguntou.
— Ainda dorme.
— Alguém precisa explicar o que ela é agora.
— Isso não a deixará feliz.
— Ela não tem alternativa e ela irá para a ilha conosco, terá nossa proteção.
— Isso é o que mais me apavora.
Noah olhou estranhamente para Petrus.
— O que Galen disse é verdade?
— Não se preocupe comigo, alfa. Quando for para a Grécia, eu voltarei para minha casa, com meus pais.
— Não ficará conosco? Sabe que você e Harley são muito bem-vindos.
— Eu sei e agradeço. Esta é a minha alcateia muito mais que a minha própria. Mas não ficarei na mesma ilha que Sami. Eu não acredito que ela ficará, pois quererá voltar para Berlim. Há um homem que ela ama lá e o quer de volta. Ela me odeia e me odiará mais agora que é uma loba.
— Não foi sua culpa — Noah disse confuso.
— Isso não importa.
Noah ficou aturdido com o que ele disse, mas antes que falasse mais, Petrus foi até o outro lado do corredor e sentou em uma cadeira.
Noah suspirou desolado devido ao fato de todos estarem se envolvendo de uma maneira absurda.
Ele foi novamente à frente da porta olhar para Ester. Tudo parecia estar correndo bem. Virna estava correndo contra o tempo, elas haviam virado Ester após ter operado suas costas e fechado todos os cortes e sanado os danos internos.
Virna estava terminando de operar o braço que estava quebrado em vários lugares e suturando as lacerações.
De repente, o monitor fez um som surdo e contínuo, avisando que Ester teve uma parada cardíaca.
— Merda! Desfibrilador, rápido! — Virna gritou para Jessy.
Ela rapidamente preparou o aparelho, mas quando Virna ia aplicar o primeiro choque, um rosnado feroz veio da porta que se mantinha aberta. Ela se assustou e girou; e, então, ela deixou cair as duas pás do desfibrilador no chão quando avistou Noah.
Ele estava usando uma calça preta de couro, descalço e sem camisa. Seu cabelo estava solto, lhe dando um ar mais selvagem.
Virna não percebeu, mas alguns deles haviam entrado na sala que era grande e espaçosa. Noah rosnou feroz novamente, num som que fez Virna saltar para trás, batendo na mesa que continha os instrumentos cirúrgicos.
Ela parou de respirar quando viu o homem saltar da porta de entrada e cair sobre a maca, agachado sobre Ester.
Virna ofegou apavorada e tentou se afastar quando viu que o rosto dele não era humano.
Noah se transformou, seus olhos cintilaram e suas presas cresceram, passou a mãos pela nuca de Ester, erguendo-a da maca, rosnou novamente e, então, mordeu seu ombro.
Virna gritou e tentou partir pra cima dele e empurrá-lo, mas Liam a puxou para longe, segurou-a enquanto ela gritava que ele parasse.
Logo, ele ergueu a boca ensanguentada e uivou. Um uivo de lamento, de raiva, de dor. Virna se encolheu entre os braços de Liam e olhou ao redor.
Todos os homens gigantes e exóticos que estavam no corredor e dentro da sala ficaram sobre um joelho, com a mão direita em punho sobre o coração e com a cabeça baixa em reverência. Jessy fez o mesmo.
Com o braço ao redor da cintura de Virna, Liam puxou-a para baixo, a segurando firme, e fez o mesmo movimento. Ela não entendeu nada, estava tão apavorada que pensou que seu coração pararia de bater.
Noah voltou ao normal, com a fisionomia humana, seu queixo estava sujo de sangue, mas não se importou, soltou um soluço, beijou os lábios de Ester e sussurrou:
— Volte para mim, companheira. Por favor, Ester, volte para mim, meu amor. Não permito que morra.
Ele começou a falar em gaélico, palavras que Virna não entendeu, mas parecia uma espécie de ritual e todos eles continuavam naquela posição que parecia uma reverência a alguém importante.
Um vento se abateu dentro da sala e parecia que uma névoa pousou sobre Noah e Ester, o vento rodopiou sobre eles e Virna podia jurar que havia raios coloridos dançando no ar. Logo tudo parou.
O aparelho deu sinal cardíaco, deu um pulso, logo outro e foi ficando mais forte, até que estabilizou com um batimento ritmado. Ester não se moveu ou abriu os olhos, mas estava viva.
Virna estava em choque, sentada sobre suas pernas no chão, com o braço enorme de Liam ao redor de si e olhava Noah embalar Ester como se fosse um bebê, balançando-a levemente, acariciando seus cabelos. Sussurrava coisas suaves que ela não podia ouvir, mas era doce, carregado de amor.
Foi então que Virna se deu conta, aquele gigante feroz e animalesco amava Ester.
Virna olhou para a sala e todos aqueles homens gigantes com cabelos exóticos e olhos com cores que jamais tinha visto, olhavam com alívio para os dois. Eles haviam levantado e não pareciam normais, eles deviam ser extraterrestres.
Liam levantou e a puxou do chão, mas continuou a segurando fortemente.
Um deles a olhou, ele tinha os olhos muito amarelos e ela ofegou. O homem era realmente estonteante.
— Desculpe tê-la jogado no nosso mundo de forma tão brusca, Dra. Virna Francis. Antes que pergunte quem somos, lhe responderei. Somos shifters de lobo. Esta é uma alcateia e aquele é Noah, o nosso alfa, e Ester é sua companheira, sua amada, e nossa alfa agora — Erick disse.
— Ele a mordeu — ela sussurrou.
— Isso salvou a vida dela, trouxe-a de volta. Agora ela vai melhorar e curar-se. Ele iniciou o processo, logo será uma de nós. Ele não vai soltá-la por algum tempo, sugiro que vá até a cozinha e beba alguma coisa. Pode tomar um banho e descansar em um dos quartos. Está segura, mas o que houve aqui, o que viu, é segredo. Mantenha o segredo e viverá.
Ela ofegou assustada.
— Preciso vê-la — ela sussurrou.
— Ela ficará bem agora. Como Erick disse, Noah não vai soltá-la, está mantendo um vínculo e sofre por ela. Temos que sair e deixá-los sozinhos. Logo, ele a deixará e você poderá examiná-la e terminar de cuidar dela. Venha, vou lhe dar algo para beber — Liam disse.
Liam a pegou pelo cotovelo e a tirou da clínica. Ela foi, mas mal acreditando no que tinha visto e ouvido.
Liam subiu as escadas praticamente arrastando Virna que estava em choque. Logo ela estava em uma cozinha enorme e sentada em uma banqueta. Ela olhou ao redor para ver a elegante, sofisticada e limpa cozinha. Uma coisa era certa, aquele povo estranho vivia no luxo.
Como Ester havia se metido com esta gente? Ele disse que eram lobos, e ela quase riu. Deveria ser um sonho ou algo assim, ela deveria acordar a qualquer momento.
Liam abriu a geladeira e pegou uma cerveja gelada e colocou em sua mão, pegou outra para ele e deu um gole. Sem dizer nada, ela bebeu um pouco e o líquido desceu suavizando sua garganta seca.
— Você é um lobo?
— Sim.
— Como pode ter olhos brancos?
— Sou um lobo todo branco.
— Pode ver bem?
— Sim, posso.
Ela o olhava contemplando cada centímetro dele. Era lindo dos cabelos até os pés. Era engraçado porque deveria correr aterrorizada diante da visão dele, mas o achava bonito.
— Pensei que isso era uma lenda. Quer dizer, você vira um lobo bonito ou aqueles lobisomens de filmes?
Ele riu e o coração dela disparou, a risada dele era deliciosa.
— Fez a mesma colocação que Ester quando falamos sobre isso. Somos os bonitos. Salvo o que viu lá embaixo.
— O que houve com Ester?
Ele grunhiu e ela apertou a garrafa na mão.
— Foi atacada por um lobo, um traidor de nossa gente, um dos responsáveis por nos capturar.
— Quem quer capturar vocês?
— Um louco sádico que quer fazer experiências conosco. Estamos escondidos. Logo iremos para nosso novo lar. O pai de Ester nos salvou, ela agora é a companheira de nosso alfa e uma boa amiga.
— Por que ele a mordeu?
— Ele iniciou o processo para que ela se transforme em loba. A primeira mordida estabelece um vínculo entre companheiros e troca de energia. Ele passa parte de sua magia para ela. Isso vai trazer longevidade a ela. Ela vai se curar dos ferimentos, vai demorar mais que nós, mas vai. Depois haverá mais outra mordida e, então, ela será uma de nossa espécie e terá a capacidade de transformar-se de loba a humana e vice-versa, sempre que desejar.
— O que fizeram ajoelhados?
— Nós a honramos e demos a nossa lealdade a ela. Ester será amada e respeitada como companheira de nosso alfa.
Ela assentiu novamente e não conseguiu dizer mais nada. Tomou outro gole da cerveja e só então viu que ainda estava de luvas, bata e a touca, e estava toda ensanguentada. Ela as tirou e embolou sobre o balcão, olhou para seu pijama, que estava ensanguentado também.
— Se o conselho médico me visse agora, eu perderia minha licença. Quebrei muitas regras esta noite para uma boa médica.
— Ester está viva, isso é o que importa.
— Não pela minha mão. Ela praticamente morreu ali e não pude fazer nada.
— Você fez o seu possível, ela estava muito ferida. Ela vai estar melhor pela manhã, mas você terá muito que consertar dela ainda.
— Quer dizer que não poderei ir?
— Sinto muito, mas ela precisa de você. Vai ter que jurar sua lealdade a nós, Virna. Caso contrário, não poderá sair daqui.
Ela o encarou com os olhos arregalados.
— Vão me matar?
— Não. Mas precisa entender que somos um segredo e você deve mantê-lo. — Ela assentiu e bebeu mais um gole da cerveja. — Amanhã você ligará para o seu trabalho e dirá que está doente.
Ela assentiu novamente. Estava em um tipo de piloto automático. Tomou mais alguns goles da cerveja e a colocou no balcão.
— Acho que poderia me deitar um pouco agora... — ela sussurrou.
Foi num salto que Liam pegou Virna antes que ela caísse no chão. Ele a pegou no colo e a levou para seu quarto, deitou-a na cama e retirou os cabelos de seu rosto. Ela era muito bonita. Seus cabelos eram compridos, avermelhados e ondulados; tinha algumas sardas no nariz e os olhos verdes como esmeraldas.
Liam não se deu por rogado e retirou seu pijama sujo de sangue. Prendeu a respiração ao vê-la somente de lingerie. Ela era perfeita. Sentiu vontade de acariciar seu corpo e beijar-lhe inteira.
Liam rosnou para si mesmo, foi até o banheiro, pegou uma toalha de mão, molhou na água quente e voltou ao quarto. Ajoelhou-se e ficou ali olhando para ela como se fosse um prato de um suculento filé.
Ele pegou sua mão e observou seus dedos finos. Era muito delicada, sua mão sumia dentro da dele. Com cuidado, ele limpou o sangue. Depois limpou uma mancha que havia em seu pescoço, no busto e depois na sua barriga.
Seus instintos ficaram em polvorosa e ele quis uivar. Então, ele se aproximou de seu pescoço e cheirou lentamente o seu perfume, com os olhos fechados. Seus cabelos tinham cheiro de frutas. Aquilo era puro êxtase.
Ele soltou a respiração e seu corpo reagiu violentamente. Estava excitado. Aquilo assustou Liam, porque estava agindo de modo estranho, como se estivesse embriagado. Em seguida, ele pegou uma manta e a cobriu, levantou-se num salto, parou na porta e ficou olhando para ela com os olhos arregalados.
Aquilo nunca havia acontecido com ele.
Ele saiu do quarto e fechou a porta, transformou-se no lobo branco e saiu correndo para o bosque.
***
Todos haviam deixado a sala médica e Noah estava sozinho com Ester. Ele ainda a mantinha nos braços, a embalando suavemente.
Extasiado, ele viu diante de seus olhos um dos cortes menores desaparecer. Ela já estava começando a regenerar-se.
O coração de Noah estava aliviado por ter conseguido trazê-la de volta, mas ainda doía, era como uma dor permanente, dilacerante, como se uma faca estivesse cravada ali.
Podia ter esperado que a médica tentasse trazê-la de volta com o desfibrilador, mas Noah entrou em pânico quando viu que seu coração havia parado. Ele não pensou, somente reagiu e fez a única coisa que sabia para ficar com sua Ester: mordê-la. Agora não havia volta, ela teria que aceitar o fato de que ele quebrou sua promessa. E Noah teria que lidar com isso, porque ele previa que as coisas não sairiam bem.
Noah suspirou cansado. Lentamente, ele a embalava contra seu peito e beijava seus cabelos.
— Sinto muito, doçura, sinto muito. Por favor, não me odeie pelo que fiz. Tudo ficará bem, eu prometo. Vou cuidar de você.
Capítulo 24
— O que está fazendo? Não deveria estar fora da cama — Noah resmungou.
Ester se virou e olhou para ele, que estava parado na porta do banheiro.
— Preciso de um banho. Vir disse que eu poderia tomar um banho com a ducha manual, para evitar molhar muito os curativos.
Noah rosnou e foi até ela.
— Poderia ter pedido pra mim.
— Estou apagada há três dias, deve estar cansado de me velar, Noah.
— Nunca cansarei de velar por você.
Ela sorriu e entrou no boxe. Ia fechá-lo quando viu que ele entrou atrás. Ela quase riu de como ele se despiu tão rápido.
— Pare! O que está fazendo?
— Vou ajudá-la com o banho.
— Não é preciso, posso fazer isso sozinha.
— Qual a graça de fazer isso sozinha quando eu posso tomar banho com você? — perguntou com um sorriso lindo que ela adorou e não o impediu.
Ele ligou a água e testou a temperatura, então ligou a ducha manual, pois assim poderia desviar a água dos curativos. Seu braço machucado estava bem enfaixado preso em uma tipoia.
Pacientemente, ele lavou seu cabelo enquanto ela ficava arqueada para baixo escorada em seu corpo, ela somente deixou que ele fizesse tudo. Suas mãos eram enormes, mas a tocava com delicadeza, com cuidado.
Simplesmente amou o cuidado que estava tendo com ela. Somente de sentir o toque dele, seu corpo estava em chamas.
Ele terminou o banho, enrolou-a na toalha e pegou-a no colo, tirando-a do boxe. Ele sentou-a na bancada de mármore e a secou.
Ele estava tão espantado de fazer aquilo, porque nunca na vida tinha tocado uma mulher com tanto cuidado, delicadeza. As lobas não eram assim delicadas e eram mais agressivas. Ester era diferente e ele adorava isso. Adorava cuidar dela.
Noah beijou seus lábios lentamente e ela abriu os olhos, que estavam semicerrados de paixão.
— Você é tão doce — ela sussurrou e sorriu.
— Doce? Isso é algo que ninguém nunca me chamou.
— É grande e brutamonte, mas agora está sendo um doce.
— Você é delicada, tenho medo de machucá-la.
— Não me machucaria.
— Já o fiz uma vez.
— Eu o perdoei por isso, estava enganado.
— Sei.
— O que aconteceu exatamente? Não consigo me recordar de tudo.
— Vamos conversar sobre isso depois. Agora precisa comer e descansar para se curar.
— Se pelo menos eu conseguisse não desejar você desse jeito descontrolado. Deve estar me dando alguma droga, um afrodisíaco talvez.
— Meu beijo é um afrodisíaco.
— Convencido, mas é — disse sorrindo.
Noah enrolou a toalha na sua própria cintura para bloquear um pouco a proximidade sexual. Ester não estava boa para sexo, mesmo que sentisse desejo.
Ele sabia que a magia dos lobos poderia aguçar o desejo sexual.
Os olhos verdes de Ester brilhavam de puro desejo. Sua atenção se centrou em seus músculos e o tocou no peito e ombro com a ponta dos dedos, delineando-o, com delicado prazer, e abriu um brilhante e faminto sorriso.
Noah odiava o que lhe tinha feito, mas não pôde evitar seu entusiasmo ao despertar seus sentidos e a necessidade que vinha com isso. Queria Ester, e seu lobo sabia disso o tempo todo, e tinha tratado de ignorá-lo. Mas agora o aroma selvagem de sua excitação o estava deixando com a mente confusa.
O lobo queria a sua companheira e Ester estava seduzindo-o descaradamente, o que a tornava extremamente sexy.
— Doçura, deve parar, pode se ferir.
— Estou bem, quero você, sinto saudades. É como se eu estivesse sem tocar você há meses.
— Deve ser efeito da magia. Vou levá-la para a cama.
Ele se afastou, mas ela o segurou.
— Só um beijo, por favor.
Ele se aproximou, cobrindo sua boca com a sua, e a beijou incessantemente. Beijos longos e prazerosos.
Quando Noah soltou de seus lábios, ele podia jurar que viu os olhos dela cintilarem, mas logo estavam normais, somente mais carregados de desejo. Nunca mais em sua vida poderia ser privado do gosto dela.
— Fica comigo, Ester. — Aquele apelo escapou de sua boca antes que pudesse segurar, estava desesperado. A voz dele era baixa, vibrando através do corpo dela como um trovão. — Eu a quero comigo, para sempre.
— Estou com você.
— Você não sabe quão difícil é para mim admitir isso. Tratei de fingir que você não me afetava, que eu estava fazendo as escolhas. Pensei que pudesse controlar a situação e o que sinto, mas eu não posso. Não quero perdê-la por causa de minhas tolices, por não saber lidar com você.
— Não vai.
— Fique, porque você quer e não porque é obrigada.
— Seu plano é me manter aqui contra minha vontade?
— Não. — Ele beijou seu pescoço e mordiscou sua orelha. Ester beijava seu peito, acariciando-o. — Mas eu adoraria a possibilidade de convencê-la para que fique. Algumas ataduras em minha cama seriam uma alternativa.
Ela riu levemente.
O fôlego dele era morno, tranquilizador e erótico contra sua pele. Ela se sentia em puro deleite, como um gatinho com um pote de leite.
Tinha sido uma experiência terrível, estranha, assustadora com aquele lobo maldito, mas agora a vida parecia estar fluindo pelo seu corpo, vibrando com todos seus sentidos aflorados, estava reaquecida.
— Convença-me a ficar aqui com você.
— Oh, doçura, não me tente, o que mais quero agora é estar dentro de você, mas está ferida, Ester.
— Estou bem.
Ela puxou-o com as pernas e ele rosnou.
— Droga, mulher, pare com isso, ou perderei a cabeça.
Ela riu.
— Eu amo você, Noah.
— Eu também te amo, Ester.
Oh, e o coração dele aqueceu e, então, ele a amou como um louco.
— Tive medo de perdê-la.
— Não vai me perder.
— Estava tão ferida.
— Estou bem agora, não parece tão grave.
— Isso porque está se curando rápido.
— Não falemos disso, me beije.
Ele segurou seu rosto e a beijou, de forma lenta e profunda. Depois a apertou no quadril, com a mão e, então, ela gritou. Porém, dessa vez foi diferente e ele a olhou com horror para sua cara de dor. Ele se afastou e olhou sua mão suja de sangue.
— Oh merda! Ester, perdoe-me.
— Não foi sua culpa, foi minha.
— Sou um asno, não devia estar fazendo isso, você devia estar na cama descansando.
Ele agora estava furioso, pegou o kit de primeiros socorros, limpou o sangue e colocou um curativo novo em seu corte do quadril. O dano tinha sido pouco, o que o deixou aliviado, mas agora corroía-se de remorso.
Ela pegou seu queixo e o fez parar e olhá-la.
— Pare, Noah. Eu estou bem, não me machucou. Não fique zangado assim, não estrague o momento, por favor. Estou celebrando que estou viva e aqui com você.
Ele suspirou rendendo-se.
— Eu devia cuidar mais de você.
— Você cuida de mim.
Ela o puxou e lhe deu um beijo suave, o acalmando.
— A médica briguenta irá cortar meu pescoço com o bisturi se souber disso.
— Virna não é briguenta.
— Querida, ela me parece uma gata selvagem nesses dias que está aqui cuidando de você.
— Noah, não é certo prendê-la aqui desse jeito. Ela tem uma vida lá fora, precisa ir.
— Não irá até você estar bem.
— Nós teremos que discutir isso, eu não quero prejudicá-la, não é certo.
— Discutiremos depois, agora a mocinha vai voltar para a cama.
Ele pegou o curativo antigo, olhou o sangue e rosnou, jogando-o no lixo. Ele rosnou por ser estúpido. Ela se encolheu e tapou os ouvidos com as duas mãos, gemendo.
— Você está bem? — ele perguntou preocupado.
— Estou ouvindo vozes e batidas de panelas e pratos, que vem da cozinha. Como estou ouvindo a conversa de alguém que está no andar debaixo? Há um intercomunicador aqui?
— Não. Droga! Olhe, você está sensível, deveria se deitar.
— Meu corpo está diferente, eu me sinto diferente. O que está havendo?
— Ester, não é hora para conversarmos sobre, precisa descansar. — “E eu deveria me bater por ser idiota”, ele pensou.
Ele a pegou no colo, levou-a para o quarto e a colocou na cama.
— Isso está errado, algo está errado comigo. Noah, conte-me o que há de errado comigo.
Ele sentou na cama e suspirou. Teria que falar, uma hora ou outra, ela deveria saber de tudo.
Ela ficou olhando para ele e de vez em quando tinha dificuldade de visualizá-lo, parecia que seus olhos o olhavam através de um prisma e seu ouvido dava um zumbido. Ela esfregou os olhos.
— Você está bem? — ele perguntou.
— Já tive isso algumas vezes, mas meu oftalmologista disse que não encontrou nada de mais, a não ser a mudança na cor de meus olhos. Mas isso está mais forte agora.
— Seus olhos mudaram de cor? — perguntou espantado.
— Às vezes sim, são verdes. Porém, de vez em quando ficam azuis. Às vezes, consigo ver coisas muito nítidas no escuro.
Ele suspirou.
— É estranho que isso tenha acontecido antes, mas no momento o que ocorre é normal.
— Normal, como? O que está acontecendo com meu corpo? Meus ferimentos estão cicatrizando rápido demais, sinto vertigens. Meus olhos ficam desfocados e meu ouvido dói se escuto um som alto.
— Isso é normal para nossa espécie. Com o tempo vai se acostumar e a visão não ficará mais desfocada e saberá selecionar os sons.
— Do que está falando?
— São as primeiras sensações para que seu corpo se acomode com a mudança, a magia está tomando conta de você e alterando seus sentidos, que ficarão mais aguçados: sua visão, seu olfato, e sua audição. Assim como está se curando mais rápido.
Ela o olhou em choque.
— E por que isso estaria acontecendo comigo?
— Bem, é que... Quando... Bem, quando você teve complicações, Ester, eu tive que tomar uma atitude, eu não poderia deixar você morrer.
— O quê? Mas não entendo.
— Eu a mordi.
Ela literalmente abriu a boca e arregalou os olhos de espanto.
— Você o quê?
— Desculpe, eu sei que eu havia prometido não mordê-la contra sua vontade, mas entenda, eu simplesmente não podia deixá-la morrer, então eu a mordi e salvei sua vida. Por isso está sentindo estes sintomas, a magia está correndo pelo seu corpo e alterando seus sentidos, você é parte de nós agora.
Ela respirou algumas vezes ofegante e fechou os olhos por um minuto. Tentava pensar, mas foi como se sofresse um blecaute.
Noah hesitou em continuar.
— Seu coração parou de bater enquanto Virna tratava de você.
— Mas isso não é verdade, não é? Você não me mordeu, está brincando comigo.
— Sim, doçura, eu mordi.
Ester ficou olhando para Noah tão aturdida e boquiaberta.
— Sei que parece ruim, mas eu salvei sua vida. Entenda isso.
— Quebrou sua promessa.
— Sim, e espero que me perdoe, mas eu faria novamente se precisasse salvar sua vida. Pode ficar zangada, doçura, eu mereço. Mas quero que saiba que prefiro que fique zangada comigo a assistir que morra sem lutar com todas as armas que tenho. Se você morresse, minha alma se partiria em tantos pedaços que não haveria meios de me salvar. Estaria morto também.
Ester ficou muda e pensativa. Na verdade estava em choque, jamais esperava ouvir tantas coisas num só momento. Queria xingá-lo, bater nele por quebrar sua promessa. Isso era algo importante. Confiar que não quebraria suas promessas era um dos pontos mais importantes no relacionamento. Saber que poderia confiar na sua palavra. Que não a trairia.
Como poderia ter um relacionamento sério se não podia confiar em suas promessas? Mas era uma questão grande então, salvar a vida dela era um bom motivo. Um sem precedentes. Devia sua vida a ele.
Ester suspirou tristemente e buscou toda a força que tinha para empurrar seu medo e sua decepção para longe. Ele tinha uma boa razão, mas mesmo assim tinha rompido uma promessa, invadido seu espaço e tirado suas escolhas. A vida era uma merda.
Só então olhou para ele, que a olhava com a esperança resplandecendo no olhar, esperando que ela cedesse.
— Desculpe. Sei que foi errado, doçura, mas foi necessário.
— Bem, mas foi só uma mordida, isso não me tornará uma loba, disse que deveria ser duas mordidas para tal — ela suspirou.
— Merda — ele sussurrou sem saber mais o que dizer e esfregou a barba nervoso.
— Noah, ok, eu sei que fez para me salvar, eu me feri mortalmente. Eu me lembro de estar aterrorizada por estar morrendo, eu queria gritar que não queria morrer e não conseguia falar e foi horrível. Entendo, eu acho que entendo isso.
Ela o surpreendeu e o abraçou.
— Ah, doçura, me desculpe.
— Tudo bem, só me abrace e diga que tudo vai ficar bem e não faça novamente.
Ele rosnou, mas ela não ligou.
— Tudo vai ficar bem, minha doce Ester, eu consertarei tudo. Sou um idiota que estraguei tudo, mas tudo vai ficar bem.
Ela gemeu novamente quando sua cabeça girou e seus ouvidos zumbiram, sua pele parecia estar formigando.
— Eu não me sinto bem, Noah.
— Calma, doçura, deite aqui. Isso já vai passar, precisa dormir e amanhã estará se sentindo bem melhor e, então, terminaremos esta conversa, ok? Há coisas que você precisa saber.
Ele a puxou para acomodá-la nos travesseiros e a cobriu.
— Sente dor, seu braço dói? Suas costas?
— Um pouco.
Ele pegou um analgésico e pingou algumas gotas em um copo de água e a ajudou a tomar.
— Pronto. Logo essa dor passará. Durma, minha doçura, precisa dormir agora. Quando acordar se sentirá melhor.
— Fique aqui comigo, não me deixe.
— Nunca a deixarei.
Ela sussurrou e ele suspirou, deitando-se ao seu lado e gentilmente a abraçou.
Ester ficou muda por um tempo e, então, soltou um soluço.
— Ele matou Thor — sussurrou, e Noah suspirou e beijou sua testa. Soube que ela estava revivendo suas memórias do ocorrido.
— Eu sei, amor, sinto muito. Esqueça tudo isso e durma.
Ela chorou baixinho, tentando conter suas emoções e Noah somente a segurou firme até que ela chorasse até cansar e dormisse.
Por todos os infernos, ele estava ferrado.
Ela havia dado o primeiro perdão, mas talvez não desse o segundo.
Capítulo 25
Ester estava parada na janela do quarto de seu pai. Ficou olhando os lobos correndo e brincando no jardim. Eles se embolavam, mordiam e uivavam, mas não era para ferir, era para brincar.
Eram lobos lindos. Ela então teve vontade de se juntar a eles e correr, brincar, sentir a liberdade que eles pareciam apreciar como algo divino.
Sentiu-se feliz por eles, por estarem desfrutando da liberdade, da natureza. Noah falava tanto da ilha, como se fosse seu paraíso particular. Deveria ser realmente lindo e gostaria de dividir esta alegria com ele.
Ester mordeu o sanduíche e continuou olhando-os pela janela e riu quando viu Lili correr entre os lobos imensos. Era tão irônico, animais selvagens perto de um bebê. Se alguém que desconhecesse a verdade, visse essa cena gritaria até a morte. A pequena ria e corria deles, e eles faziam de conta que iam pegá-la; estava linda com dois rabos de cavalo nas laterais da cabeça e com uma blusa vermelha, feliz como uma criança deveria ser.
Reconheceu um dos lobos, o negro, era Jessy que estava brincando com sua filha. Um branco, que deveria ser Liam e um com pelagem clara creme e dourada e fios prateados, que era Harley.
Konan estava como humano, parado em um lado com os braços cruzados, só observando; o homem sempre tinha a típica postura de um gigante guarda-costas. O outro negro com os olhos amarelos deveria ser Luca, pois era menor que os outros.
De um lado estava Erick conversando com Thorman. Ela olhou para o outro lado do campo e avistou dois lobos correndo, lado a lado, indo em direção ao bosque, ela reconheceu um deles, Ronan, então ao seu lado deveria ser Naya.
Ester sorriu, eles eram recém-libertos e isso deveria ser uma glória para eles correrem livres no campo, entre as árvores, e sentirem o cheiro da grama, respirar o ar puro. Ronan estava recuperado dos tiros, o que deixou sua companheira aliviada e feliz. Eles se amavam muito.
Ela voltou a olhar o grupo novamente.
Jessy corria e saltava na frente de Lili a fazendo rir. Ficou feliz por ver Jessy se soltar, ela estava aflorando e sorrindo mais. Ela era maravilhosa e merecia ser feliz.
Ester riu quando Harley se transformou em homem e agarrou Lili, erguendo-a do chão, e ela gritou e deu deliciosas gargalhadas.
Ester se imaginou com um bebê de Noah e seu coração se apertou.
O amava perdidamente e não poderia ficar sem Noah em sua vida. Ele já estava impregnado em sua pele e em seu coração. A sua única solução era ir com ele para sua ilha, ter uma vida ao seu lado e ser feliz.
Ela havia ficado acordada por um longo tempo pensando no fato de ela virar uma loba, só mais uma mordida...
Ester franziu o cenho lembrando-se do comportamento de Noah pela manhã, ele estava se esquivando dela. Porém, quando ela fez perguntas, ele desconversou e saiu do quarto dizendo que tinha assuntos para resolver.
Naquele momento, ela procurou por Noah entre os lobos e não o viu.
O que importava era que o amava e isso era suficiente para enfrentar tudo. Nunca foi covarde e teria que encarar a felicidade ao lado do homem que amava plenamente.
Ester colocou o resto do sanduíche que Dada havia lhe trazido no prato sobre a mesinha, tomou mais um gole do chá e foi para o banheiro. Lavou a mão, então tirou o roupão para colocar uma roupa. Mas quando se olhou no espelho levou um susto.
Seus olhos estavam azuis.
— Oh, meu Deus!
Ester se aproximou do espelho e ofegou. A cicatriz em sua bochecha esquerda havia sumido. Passou os dedos sobre ela, não havia nem sequer um arranhão. Ela girou e olhou suas costas.
As pequenas cicatrizes haviam sumido e somente as maiores estavam salientes, ela tentou retirar o curativo da maior para olhar como estava, mas não conseguiu alcançar e isso a irritou.
— Merda!
Ester vestiu a roupa e saiu do quarto. Ela olhou na biblioteca e Noah não estava ali, então foi para o imenso jardim e parou a pouca distância dos lobos, eles deveriam saber onde Noah estava.
Logo, um a um dos lobos, que a viram, foram parando de correr e ficaram imóveis.
Ester estranhou o comportamento deles, olhavam-na com os olhos arregalados.
Ela podia jurar que Erick a estava cheirando.
— Oh merda! — ele sussurrou com os olhos arregalados.
— O que está acontecendo comigo, Erick? Onde está Noah?
— Seja bem-vinda, alfa — Liam disse com um sorriso.
Todos se transformaram e ficaram ali, nus, olhando para ela. Ester se sentiu um ET. Todos a olhavam admirados e ela não entendia o porquê, mas pareciam felizes, mesmo estando espantados.
Bem... Deveria ser por causa dos seus olhos, ela ia perguntar, mas reparou em algo.
Menos um se transformou. A loba cor caramelo com mechas mais claras e olhos amarelos: Shay. Ela rosnou e deu um passo à frente.
— Pare Shay, deixe de ser irritante e invejosa! — disse Liam e Konan também rosnou irritado.
Ester ia ignorar a idiota da loba e perguntar onde estava Noah, mas Shay ficou furiosa com as palavras de Liam e que todos estivessem defendendo a humana.
Shay rosnou e correu em direção à Ester e quando saltou e ia atingi-la Ester gritou, saltou para trás, mas seu salto foi maior do que ela imaginou.
Ester saltou quase um metro acima do chão e uns três metros para trás, ela perdeu o equilíbrio e caiu na grama, assustada. Porém, ela sentiu algo revirar-se dentro dela, sua visão ficou turva e sua cabeça parecia que ia explodir.
Foi em uma visão rebuscada que ela viu Shay saltar sobre ela novamente, mas outro lobo saltou e interceptou-a, no momento que suas garras a atingiriam, jogando-a longe: Noah.
Ester estava desnorteada e contorcendo-se, tudo ficou negro e mil estrelas pipocavam na sua frente, até que abriu os olhos e tentou se levantar, mas cambaleou, caiu e, então, focou todos a olhando, em pé, nus, em uma visão de algum paraíso pervertido.
Mas ela notou algo estranho, eles estavam muito estupefatos, gigantescos olhando para ela, quer dizer, ela deveria estar deitada no chão, mas sentia que estava em pé. Era estranho, Ester tentou falar, mas saiu um grunhido.
— Oh, mas ela é uma loba muito formosa — Jessy disse admirada.
— Sim, muito bela, digna de ser a nossa alfa — Erick disse.
Loba? Ester ofegou assustada, tentou falar e levantar, mas caiu novamente.
— Ester, fique calma, doçura. Está tudo bem — disse Noah calmamente se aproximando dela.
— O quê? — Ester disse sem entender, mas ela grunhiu e engasgou.
— Você se transformou em loba, Ester. Fique calma, está tudo bem.
Só então ela se deu conta e olhou para si, deu alguns passos e cambaleou para trás quando percebeu que estava na forma de loba.
O pânico tomou conta dela e choramingou.
— Calma, Ester. Veja, tudo é igual, você mantém todos os seus sentidos humanos, pode nos entender e, se pensar, podemos ouvir você. Você comanda sua loba, lembre-se disso. Você é linda como loba. Seu pelo é cor creme, há fios dourados mesclados de fios prateados, há algumas finas mechas marrons sobre sua cabeça e orelhas. Seus olhos são azuis, bem claros, como os meus. Uma rara beleza. Venha, querida, se aproxime. Quero acariciar você.
Ester choramingou novamente e timidamente foi até Noah que estava de joelhos. Estava apavorada, seu coração batia tão violentamente no peito que doía, queria mordê-lo por fazer isso com ela, mas quando ele estendeu os dois braços, a única coisa que conseguiu fazer foi ir até ele.
Ela choramingou novamente e Noah sofreu ao ver que ela chorava.
— Calma Ester, está tudo bem, você pode voltar ao normal rapidamente, é só ordenar e voltará. — Ele a abraçou, acariciando seu pelo. — Diga a si mesma para voltar à forma humana, a magia fará o trabalho.
Então, Ester fechou os olhos e ordenou que voltasse a ser humana. Ofegou quando se viu nua nos braços de Noah. Ela soluçou e o abraçou forte, enterrando o rosto em seu pescoço.
Quando abriu os olhos e percebeu que estava nua na frente de todos, enfiou ainda mais o rosto entre os cabelos de Noah, se encolheu entre seus braços, envergonhada. Estava tão assustada que mal conseguia respirar.
— Shhh, está tudo bem. Aqui ninguém se importa com a nudez, eles a respeitarão sempre. É minha companheira, ninguém nunca irá tocar em você ou desrespeitá-la.
— Fale por você, olhe que vergonha, agindo como uma criança. Você não serve para ser nossa alfa, para ser uma líder nessa alcateia. Deveria ir embora daqui e nos deixar em paz! — Shay rosnou furiosa.
— Cale-se, Shay! — rosnou Konan.
Noah olhou furiosamente para Shay que sangrava no peito pela patada que havia recebido dele.
— Mais uma palavra, Shay, e eu juro que vou banir você. Da próxima vez que agredir minha companheira, eu mesmo lhe rasgarei a garganta. Saia da minha frente antes que eu mude de ideia e faça isso agora mesmo.
Shay rosnou, transformou-se em loba e saiu correndo.
— Ela nunca cansa — Jessy disse indignada.
— Seja bem-vinda, Ester — disse Petrus e, em seguida, todos disseram o mesmo.
Porém, ela olhou de relance e escondeu seu rosto novamente. Estava tentando se acalmar antes que tivesse um ataque.
Noah a pegou no colo e a levou para o quarto. Quando a colocou sentada na cama, beijou sua testa.
Logo pegou um copo de água e deu para ela beber, puxou a poltrona e sentou na sua frente. Ester tomou dois grandes goles e suspirou.
— Isso agora é permanente, não é? — ela sussurrou.
— Sim, é.
— Você disse que eu me transformaria somente depois da segunda mordida. Por que eu me transformei antes? — Noah suspirou e não respondeu. — O que há de errado comigo, por que eu me transformei, Noah?
— Eu sinto muito.
— Você mentiu para mim?
— Eu já havia mordido você antes.
Ester ficou boquiaberta olhando para ele.
— O quê? Quando?
— Quando você estava no hospital, quando sua mãe morreu.
Ela demorou a assimilar o que ele disse.
— Você disse que foi ali com meu pai.
— Foi ele que pediu para que eu a mordesse e eu a mordi.
— Meu pai pediu para você me morder? Por quê? — perguntou espantada.
— Você estava muito ferida e ele estava apavorado com a ideia de perder você, ele estava sofrendo por causa de sua mãe que havia acabado de morrer, eu devia muito a ele e acatei ao seu pedido.
— Simples assim? Ele pede, você me morde, depois some e me abandona, sem eu saber de nada?
— Nunca a abandonei, sempre estive por perto. Quando a mordi, soube que era minha companheira e aquilo me assustou como o próprio inferno. Eu já expliquei esta parte. Eu somente queria que ficasse segura e se recuperasse e tudo ficaria bem. Descobrir que era minha companheira não estava nos planos, apesar da minha fixação por você. Porém, antes disso as coisas foram acontecendo e saíram fora do meu controle.
— Chama isso de perder o controle?
— Sim, querida, eu perdi o controle. Eu sei que agora tudo parece muito errado, mas fizemos isso para o seu bem. Parecia bem na hora.
— Uma merda! — gritou. — Você foi tão idiota quanto meu pai! Como pôde mentir assim para mim, me ocultar isso depois que estamos juntos?
— Eu planejava contar.
— Quando? Quando faria isso, se nem depois que me mordeu pela segunda vez foi capaz de me falar a verdade?
— Estava com medo que me odiasse.
— Bom, estava certo. Eu o odeio agora.
Noah suspirou cansado e sentiu como se tivessem lhe cravado uma adaga no peito.
— Perdoe-me, é só o que posso dizer. Confesso que quando a mordi há um ano, eu não me importava. Não tinha a intenção de conviver com você, portanto você nunca saberia de nada, eu somente quis agradar Herbert. Eu pensei que devia isso a ele.
— E se importa agora?
— Meu Deus, mulher, você é tudo o que me importa! — disse exasperado.
Ester suspirou.
— Por isso, de vez em quando, meus olhos mudavam de cor. Por isso cicatrizava rápido. Eu até parei de usar meus óculos de leitura, porque de uma hora para outra comecei a enxergar bem... E tantos outros pequenos detalhes que agora percebo que é consequência disso.
— Eu não sabia que isso aconteceria, nunca havia mordido uma humana antes.
Ester gemeu e esfregou os olhos, sua visão estava nublada pelas lágrimas e todas aquelas sensações estranhas.
— Pois agora sou eu que não tenho a intenção de conviver com você.
— Desculpe, Ester — disse nervoso.
— Eu não estou pronta para te desculpar agora.
— Eu queria que viesse a mim livremente, me pedisse para mordê-la, transformando-a numa loba e dissesse que queria viver comigo por muitos anos. Estava lhe dando tempo para me amar. Se me amasse, viria.
Oh, então agora Ester o olhou com os olhos arregalados.
— Eu vou viver quantos anos?
— Eu não sei, mas deve viver mais uns duzentos a trezentos anos.
— Oh, meu Deus! — sussurrou.
Ester soltou a respiração devagar e piscou algumas vezes.
— Eu estava cogitando sobre isso esta manhã. Você estava conseguindo seu intento, bastava falar comigo em vez de fazer as coisas nas minhas costas!
— Então, meu amor, nós podemos resolver isso.
— Você devia ter me contado, não foi leal comigo!
Ester levantou da cama, foi até a cômoda e revirou a gaveta.
— O que está fazendo, Ester?
— Achando uma roupa, eu vou para casa.
— Não pode ir.
— Tente me impedir. Só me deixe... Deus, eu preciso respirar.
— Sua casa está cheia de policiais, você estava no noticiário. Foi dada como desaparecida, sem contar que sua residência está destruída. A polícia isolou o local, mandou que colocassem tapumes para tapar ali, para impedir que os assaltantes entrassem. Mas não pode ir lá.
— Maravilha, então eu vou para a minha clínica. Meus empregados devem estar desesperados pelo meu sumiço, tenho um quarto ali onde posso dormir ou vou para um hotel. Devo mostrar a todos que estou viva.
— Sua clínica foi destruída.
Ela parou bruscamente e o olhou com os olhos arregalados.
— O quê?
— Alguém colocou fogo nela no mesmo dia que você foi atacada. Acredito que foram os lobos de Galen.
Ester o olhou boquiaberta. Seu coração terminou de quebrar-se e ela pensou que fosse sufocar.
— Minha clínica pegou fogo? — sussurrou.
— Não sobrou nada. Sinto muito.
— Alguém se feriu?
— Não, não havia ninguém lá.
Em choque, Ester sentou lentamente na cama e as lágrimas escorreram pelo seu rosto.
— Ester, se acalme. Vamos para a ilha e lá você terá tudo.
— Conveniente agora, não é? Você me transformou em uma loba, perdi minha casa, minha clínica, meu cachorro. Tenho um companheiro que me traiu e pensa que vou saltitante e feliz para a sua merda de ilha.
— Sei que está chateada, mas sou seu companheiro, não há como negar.
— Não é meu companheiro neste momento, estou muito zangada com você para continuar ouvindo sua voz!
— Vai me negar?
— No momento eu quero que me deixe em paz! Quero que saia!
Noah ficou aturdido por um momento e depois suspirou tristemente.
— Ester...
— Saia daqui! — gritou jogando a blusa nele.
Noah suspirou e foi até a porta e parou.
— Sinto muito por não ter sabido lidar com a situação. A única coisa que eu sei é que eu amo você, Ester. Lembre-se disso acima de tudo. — Noah saiu do quarto e fechou a porta.
Ester abraçou a si mesma e chorou soluçando.
***
Noah saiu do quarto e desceu as escadas. Todos estavam no hall olhando para ele. Eles tinham o ouvido aguçado e tinham escutado tudo da conversa entre ele e Ester, estavam estarrecidos.
— Isso não é uma reunião! — Noah rosnou em advertência.
— Bem, mas queremos ajudar — Erick disse suavemente.
— Essa humana o rejeitou, o humilhou perante toda a alcateia!
— Shay! Acalme-se, tenho certeza de que ela nem sequer se deu conta que poderíamos ouvi-los aqui embaixo e ela está ferida ainda — disse Liam.
— Não deveriam ter ficado ouvindo meus assuntos! — Noah rosnou.
— Ela está assustada, mas é só um choque momentâneo, logo vai passar e ela perdoará você. Vai se acalmar — disse Jessy.
— Assim espero.
— Então, era esse o segredo que mantinha com Herbert? — Erick disse.
Noah suspirou, cansado.
— Sim, um que deveria ter confessado logo que ela entrou nessa casa.
— Talvez devesse comprar seu jantar. Dar algum presente ou dizer alguma frase, dizer coisas carinhosas. Eu não sei, pode ser que algo deste tipo a ajude a se acalmar, Noah, humanas gostam disso — disse Petrus.
— Talvez levá-la num jogo. As pessoas se divertem assistindo jogos — disse Konan.
— Acho que ela não gostaria de jogos, Konan — disse Liam.
— Ora vamos, vivíamos entre humanos. O que pode fazer para se desculpar?
De repente, todos sentiram um aroma diferente, olharam para trás e Virna estava nos fundos, escorada no batente da porta da sala, os ouvindo. Estava séria e com os braços cruzados.
Ela ficou vermelha sentindo todo o grupo de gigantes olhá-la. Ela descruzou os braços, fez uma carranca, virou as costas e saiu.
Noah suspirou.
— A médica humana está com raiva e não vai ajudar — disse Thorman.
— Não vai — Noah concordou. — Talvez devêssemos deixá-la ir embora.
— Se ela não nos aceita, irá nos trair e revelar nosso esconderijo.
— Ela é amiga de Ester, não irá nos trair.
— Acontece que nem Ester está feliz no momento.
— Ela deveria ser grata, afinal salvou sua vida.
— Ela não está zangada por isso — Noah disse cansado. — Está zangada porque eu omiti a verdade. Ester é minha companheira, ela sabe disso e devo esperar sua raiva passar. É muita mudança para ela, está abandonando seu mundo lá fora para ser uma de nós e perdeu tudo que possuía. Ela está certa de ficar zangada, pois eu não fui leal, não contei a verdade e ela se transformou em loba, sem nenhuma preparação.
— Bem, se ela não tivesse sido atacada, talvez não tivesse se transformado desse jeito — Petrus disse irônico olhando para Shay, que fez uma carranca.
— Ela somente está confusa e assustada. Ela lhe tem muito afeto, basta ver como olha para você — disse Jessy calmamente. — Ester realmente o ama, Noah, vai perdoá-lo.
— Uma humana não pode humilhar o alfa desta maneira — disse Shay. — Uma humana que faz isso publicamente deveria ser morta. Não deveríamos nos misturar com eles depois do que nos fizeram!
— Cale a boca, Shay, arrume suas coisas, está indo para a ilha — Noah disse.
— O quê? Morda-me! — disse revoltada.
— Sei que queria isso, mas já escolhi minha companheira e você deve respeitá-la. É meu último aviso.
Noah lhe deu as costas, transformou-se em lobo e saiu para o bosque.
— Se não parar com isso, Shay, vai acabar morta pelo alfa — Naya disse.
— Por causa de uma humana? Vocês permitiriam?
— Ela é uma loba agora, ele reclamou Ester como sua companheira e você vai ter que aceitar isso. Se desafiar a fêmea, vai morrer ou ser banida da alcateia. Está avisada — Erick disse.
— Essas humanas são brabas — Konan disse.
— Bem... Temos três mulheres furiosas presas nesta casa, se elas se unirem e se rebelarem, nós estamos fritos — Petrus disse.
— Acredito que sua humana não tenha aceitado muito bem o fato de ser uma loba agora? — Erick perguntou a Petrus.
— Ela não é minha humana. E não, ela jogou um vaso em mim — Petrus disse e suspirou cansado.
***
Dias antes...
Sami acordou, se virou na cama e sentou assustada olhando ao redor, mas ofegou quando avistou Petrus sentado na poltrona, no canto do quarto.
Ela esfregou os olhos que pareciam embaçados e tentou focar melhor.
— Não se preocupe, o lobo não está aqui para feri-la — Petrus disse. — Está morto.
Sami pensou um pouco, então colocou a mão em seu pescoço que continha um curativo.
— Ele me mordeu — sussurrou.
— Sami, eu preciso que preste atenção em mim. — Ela o olhou. — Galen a mordeu novamente e isso significa que será uma de nós agora.
— Uma de vocês? — perguntou sem entender.
— Uma loba.
Sami arregalou os olhos e ficou petrificada o olhando.
— Eu sou o quê?
— Tem a capacidade de se transformar em loba e vice-versa. Galen a transformou em uma shifter.
— Não é verdade, isso não existe.
— Olhe, querida, eu não queria ser a pessoa a ter que falar isso, mas é verdade. Não é um problema, você a controla. Ficará segura, irá conosco para a ilha e poderá ter uma vida tranquila ali.
— Ilha? Quer que eu vá para uma ilha?
— Sim. Estamos construindo um lugar bonito para vivermos.
Ela levantou da cama e o olhou furiosa.
— Eu não quero ir para nenhuma maldita ilha, quero ir para casa!
— Moça, é uma loba, entendeu? É mais seguro ficar com os outros. A ilha é segura, ninguém chegará a feri-la lá.
— Me ferir? Mais do que já fizeram? Você, bastardo, deveria sair deste quarto antes que eu me irrite ainda mais.
— Sami, não fui eu que a feri, que a mordi e a transformei, eu não entendo por que me odeia tanto, somente tento ser gentil e agradar você.
— A única coisa que tem tentado fazer, Petrus, é me levar para a cama. De todos os apelos que fiz, não mexeu uma palha para me ajudar a voltar para casa. Não está ajudando!
Ele levantou e ela deu um passo atrás.
— Tudo bem, realmente eu admito que sim, quero levar você pra cama, princesa, porque sinto uma atração absurda por você, e não tenho nenhuma vontade que vá embora, mas isso não muda o fato que precisa aprender a lidar com sua loba.
— Não há uma maldita loba e você, saia daqui!
Então, Sami pegou o vaso e jogou em Petrus, mas o rapaz desviou, fazendo o objeto se espatifar na parede. Ele a olhou aturdido, com os olhos arregalados.
— Quero falar com Ester! — ela pediu, falando entredentes.
— Ester está um pouco ocupada, querida, ela está muito ferida e não pode atender você agora.
— Então, me deixe sozinha.
— Por que quer tanto este homem de volta?
— Minha vida não te interessa.
Ela se virou e sentou na cama.
Petrus rosnou e saltou sobre ela, derrubando-a sobre a cama e a imprensou. Sami gritou de susto.
— Mocinha, você é como um maldito vulcão, talvez eu devesse esfriar esse seu fogo.
Petrus a beijou, ela empurrou, mas era inútil, porque ele era enorme e muito forte, e então ela parou de se debater, porque algo aconteceu dentro de si.
Petrus devorou sua boca em um beijo intenso, forte e que destruiu todos os pensamentos coerentes de Sami.
Quando ele soltou de sua boca, ambos estavam ofegantes e com o corpo quente, confusos.
— Por Zeus, mulher...
Petrus estava aturdido com seus desejos e a reação de seu corpo. Ele a beijou novamente, mas dessa vez foi um beijo suave, degustando a maciez de seus lábios, sentindo seu sabor.
— Deixe-me cuidar de você, Sami. Eu a quero muito.
— Mas eu não quero você, não sou uma de suas prostitutas.
Petrus rosnou, saiu de cima dela e saltou até a porta. Ela ficou aturdida, olhando para ele com os olhos arregalados.
— Oh, a gata gosta de arranhar? Então, ficarei longe se é o que quer. Agora me conte o que esconde, Sami, conte-me sua história que eu a ajudarei a ir para casa.
— Dane-se.
— Certo, se é assim que quer jogar... Você foi pega por Galen porque estava fugindo. Se estivesse dentro de casa, segura, ele não a teria pegado, pois nenhum deles entrou na mansão. A culpa foi sua de ter sido mordida novamente, docinho. Conviva com isso.
Ela segurou as lágrimas e não falou nada. A merda é que era verdade e quase tinha conseguido fugir, pois já havia chegado ao portão, então aquele monstro a pegou.
— Fale, Sami. — Ela continuou muda. — Como queira. O seu problema, Sami, é que não percebeu que nós somos os mocinhos e queremos ajudá-la. Acredito que gostará de ser prisioneira novamente até que abra esta linda boquinha.
— Eu nunca deixei de ser — sussurrou.
Petrus suspirou e saiu do quarto. Sami deitou na cama novamente e chorou, segurando seu pescoço. Era só o que faltava terem transformado ela em uma loba, já não bastava sua vida ser uma bagunça completa?
Ela abraçou o travesseiro, gemendo por seu corpo estar formigando e quente.
Capítulo 26
Dias depois...
Noah havia passado o dia com Erick resolvendo assuntos sobre a ilha e preparando a mudança.
Eles foram até a cozinha quando chegaram à mansão, pois estavam com fome e sentiram um cheiro de comida que estava, aliás, delicioso.
Ele e Erick pararam bruscamente quando viram que Ester estava na cozinha. Noah olhou ao redor procurando Dada, mas não a viu.
Ela estava no fogão, mexendo uma panela com uma colher de pau com uma mão enquanto segurava uma taça de vinho com a outra. Usava somente um vestido longo e leve de malha azul, com um coque despenteado e enrolado em um palito chinês e estava descalça.
Noah deliciou-se ao vê-la de cima a baixo e mal conseguiu conter um rosnado.
Uma música suave tocava num pequeno aparelho de som no canto da bancada, que ela acompanhava baixinho. Ela olhou para trás, e quando viu que era Noah parou bruscamente.
Seu coração disparou, ele estava todo vestido de couro negro, com os cabelos soltos e usava óculos escuros. Se não o conhecesse correria o risco de desmaiar.
— Er... Ester, o que está fazendo? — ele perguntou suavemente.
— Comida.
— Por que está cozinhando?
— Gosto de cozinhar quando estou nervosa.
— Onde está Dada?
— Dei folga a ela, disse que ia ver um filme.
— Ah, acredito que devo ir então, já que eu sou o motivo de você estar nervosa.
— Se veio aqui é porque está com fome.
— Sim, eu queria comer.
— Bem, como eu não fazia ideia de que você viria aqui comer, eu não envenenei a comida, portanto sente-se que lhe servirei um prato.
Noah olhou para Erick, que sorriu e deu de ombros.
Eles sentaram e Ester pegou três suplás e colocou no balcão, depois pegou os pratos, talheres e taças.
Noah retirou os óculos e colocou no bolso da jaqueta.
— Vejo que tirou a tala, seu braço está bom? — Noah perguntou.
— Vir disse que sim, ainda tenho curativos, mas não preciso mais da tala.
— Os sintomas incômodos passaram?
— Sim, já diminuíram bastante.
— Seus olhos continuam azuis.
— Sim, eu acredito que serão permanentes agora.
Ester abriu um armário e pegou outra garrafa de vinho e colocou na frente de Noah com o abridor.
— Por gentileza, pode abrir?
— Tomou a outra garrafa toda?
— Metade dela, algum problema com isso?
— Não.
Ele a estava olhando sem entender nada. Aquilo deveria ser normal? Ela estava agindo quase normalmente com ele depois de tantos dias o ignorando completamente, apesar das respostas sucintas.
— Hum... Eu pensei que ainda estava zangada comigo e não ia querer estar no mesmo ambiente que eu.
Ester suspirou.
— O que esperava, Noah? Não é todo dia que se descobre uma verdadeira lista de novidades que destroçam seu coração. Que você sai no quintal e se transforma em uma loba do nada, sem conseguir nem ficar sobre seus pés. Sem um maldito aviso da suposta pessoa que você deveria confiar plenamente. Mas, sim, eu agradeço por ter salvado minha vida. Sou emotiva, mas não quero ser acusada de ser ingrata. Eu disse que precisava de um tempo.
— Certo — ele não tinha nada a contestar, pois ela estava certa.
Noah abriu a garrafa de vinho e colocou o líquido nas taças.
Ester tirou uma forma do forno com um enorme assado e colocou na bancada de mármore, depois cortou fatias generosas e colocou nos pratos.
Com uma concha, pegou o molho de queijos na panela e despejou sobre a carne, colocou pequenas batatas assadas no prato e alguns aspargos cozidos e tostados na manteiga e os dois olharam para o prato com espanto.
— Uau, isso parece bom — Erick disse.
— Estava cozinhando para quem? — Noah perguntou espantado.
— Para mim. Minha mãe dizia que cozinhar acalmava sua alma. Eu concordo, aprendi com ela. Sempre que estou zangada ou triste, eu cozinho. Se não fosse veterinária, eu seria uma chef.
— Espero que tenha acalmado sua alma, doçura.
— Sim.
— Bem, Ester querida, eu estou imensamente agradecido por este mimo delicioso, mas eu vou comer no meu quarto e vocês dois podem desfrutar do jantar sozinhos e conversarem à vontade.
Noah rosnou e Ester somente ficou olhando Erick sair sem falar mais nada, levando seu prato e sua taça de vinho, logo ela suspirou.
— Não precisa comer na minha presença. Se eu a incomodo, eu posso comer na sala — Noah disse.
— Não me incomoda, por favor, prove e diga se gostou.
Ester sentou, cortou a carne e comeu. Noah estava espantado, sem saber exatamente o que fazer e comeu um pedaço de carne.
— Humm... Isso está delicioso.
— Obrigada.
— Espero que seu ódio por mim tenha diminuído.
— Sim, Noah, diminuiu. Eu estava assustada e com raiva naquele dia.
— E hoje?
— Hoje estou aqui jantando com você, acho que nós podemos acertar as coisas. Não sou perfeita, também cometo erros. Você não me aceitou como humana e eu não queria ser loba, no fim das contas nós dois nos desentendemos. Mas estamos aqui e teremos que lidar com a situação.
Noah estava aturdido e ficou olhando para ela com os olhos arregalados.
— Me perdoou?
— Estou no processo.
— O que posso fazer para ajudar neste processo?
— Primeiro: Virna está livre para ir embora, eu não quero ela presa aqui e não preciso mais dos seus cuidados. Se continuar aqui, ela vai perder seu emprego. E não se preocupe, ela não vai contar nada para ninguém, e quero que ajude Sami a voltar para casa. Segundo: Você vai me jurar que nunca mais, e eu disse, nunca mais, vai esconder qualquer coisa de mim ou mentir. Tem mais algum segredo que eu preciso saber, Noah?
— Não, Ester, não há nada.
Ela assentiu, comeu um pedaço de carne e tomou um gole de vinho.
— Temos um acordo? — ela perguntou.
— Feito, tem minha palavra de honra.
Ele queria dizer mais alguma coisa, mas calou-se. Eles comeram calados e quando acabou, Noah ficou olhando para ela.
— Dormiria comigo na minha cabana?
— Não, eu vou para o meu quarto e você vai para a sua cabana.
— Eu não acho certo dormirmos separados.
— Preciso de mais tempo, certo? Ainda não fizemos as pazes.
Noah suspirou cansado.
— Certo, doçura, eu entendo. Você sabe que eu realmente sinto muito, não sabe?
— Sim, Noah, eu sei.
— Ouvi dizer que sexo de reconciliação é divino.
Ester engasgou com o vinho e tossiu. Porém, depois de se recuperar, ela riu.
— Bom, pelo menos você riu. Tantos dias sem ouvir sua risada me deixaram triste — Noah disse.
Ester suspirou e secou a boca com o guardanapo.
— Também estive triste.
— Vamos dar andamento a este processo para voltarmos a ser felizes?
Ela assentiu e Noah tomou mais vinho, enquanto o alivio alcançava seu coração torturado; havia uma chance de reconciliação, isso era a glória, porque Noah quase ficou louco pensando que ela o deixaria.
— Como foi na delegacia?
— Tudo bem, eu já resolvi tudo e liguei para meus funcionários. O contador vai cuidar dos assuntos trabalhistas. Os policiais ficaram me olhando atravessado, acho que não acreditaram muito na minha história louca de assaltantes, mas me liberaram. Pelo menos, o seguro vai cobrir os prejuízos.
— Konan me disse que a levou para ver os escombros da veterinária. E que você chorou.
— Bem... Foi realmente difícil ver tudo destruído. Aquele era meu sonho que estava em cinzas no chão.
— Sinto muito.
— Eu sei.
— Oh, desculpe, nós seguimos o cheiro da comida e não sabíamos que era privado — Petrus disse entrando na cozinha com Liam.
— Não é privado, Petrus, podem se servir.
Ester pegou seu prato e o de Noah e colocou na lavadora de louças, pegou sua taça de vinho e ia sair da cozinha.
— Hum... Por acaso, vocês sabem onde está a Sami? Não está em seu quarto — Petrus perguntou.
— Ela tem um novo quarto no andar de cima. O que era de Kirian — Ester disse. — Não a quero lá embaixo, pois precisa de atenção. Petrus, por gentileza, poderia arrumar um prato de carne e uma taça de vinho e levar para a Sami?
— Sami prefere ver o diabo a mim — ele resmungou.
— Bem, vamos resolver o problema dela. Obrigada pela sua ajuda, Petrus. Boa noite.
Eles ficaram olhando ela sair.
— Se ela não te fincou um garfo nos olhos, deve estar melhorando de humor — Petrus disse.
— Sim, está — Noah respondeu.
— Bem, desconfio que Sami o faça.
Noah levantou da banqueta e bateu no ombro de Petrus.
— Paciência, amigo.
— Digo o mesmo, mas parece que este negócio de comida funciona.
Noah sorriu.
— Vou anotar isso — Liam disse rindo. — Talvez se eu levar um prato de carne e uma taça de vinho para Virna, ela fique mais feliz.
— Está interessado na médica, Liam?
— Eu? Não.
— Sei. — Noah sorriu e saiu da cozinha.
Ester entrou no quarto, tomou um gole do vinho e colocou a taça sobre a mesinha, e depois foi até a janela, ela se virou quando ouviu um ruído da porta e ficou olhando séria para Noah que havia entrado no quarto.
— Nós não vamos dormir juntos, Noah.
— Eu sei, só queria lhe dar uma boa-noite.
— Nós dissemos “boa-noite” na cozinha.
— Você disse, eu não respondi.
Ester cruzou os braços.
— Sabe como você saberá a verdadeira sensação de ser uma loba, Ester? Quando se transformar e correr no bosque. Deixar sua loba se conectar com o poder da natureza. Não se transformou novamente, não é?
Ela negou com a cabeça.
— Goste ou não, você é minha companheira e uma alfa para esta alcateia. É uma figura muito importante. Mesmo sem perceber, você já está tomando conta das mulheres. Procurando o bem-estar delas e dos rapazes. Você se preocupa com eles. Eles gostam de você e a respeitam, mas uma loba tem que mostrar força diante de todos para manter seu respeito.
— E você acha que eu sou uma fraca?
— Não. Você é forte e eu sei disso, eles também sabem, mas você ainda não sabe. Ainda não conhece o tamanho da sua força. Você será uma líder, Ester, será seguida, terá que tomar decisões, algumas muitas vezes difíceis. Tomar rédeas da situação, como fez hoje. Eu sei que errei com você e quebrei sua confiança em mim, mas não pense que eu cometerei o mesmo erro. Mesmo que não saiba, eu mudei por você. Estou tentando entendê-la e ser um bom companheiro. Se soubesse o tanto que me transformou desde que encontrei você, entenderia. Você mudou minha vida, assim como eu mudei a sua. Você é uma loba agora, precisa aceitar isso. Quando fizer isso, não terá nenhum medo e não há nada que não possa fazer. E eu sempre estarei ao seu lado.
Ele a puxou para seus braços, prendendo-a contra seu corpo forte. Ester ofegou, mas não tentou afastá-lo.
— É uma grande responsabilidade — ela sussurrou.
— Sim, mas eu confio em você, companheira. — Ele fechou os olhos e sentiu o perfume de seus cabelos. — Estes dias sem tocá-la foram o puro inferno, eu sinto saudades.
— Eu também sinto saudades.
— Talvez esteja na hora de resolvermos isso, lobinha.
— Me acha uma loba bonita?
— A mais linda de todas. Eu não quero que me diga adeus — ele sussurrou e acariciou sua bochecha.
— Não direi adeus. Ficar um dia sem abraçar você é muito ruim.
— Então, nos veremos amanhã e daremos mais um abraço.
— Daqueles que você adora? — ela sussurrou.
— Sim. Então, eu preciso de um desses agora.
Ela o ficou olhando e seu coração doeu. Como podia negar a ele o que ela mesma precisava? Ester sentiu vontade de chorar, mas segurou as lágrimas. Ela ficou na ponta dos pés e o enlaçou pelo pescoço com os braços.
Noah gemeu e a ergueu do chão, abraçando-a com todo o prazer do mundo, aspirando seu perfume, sentindo o calor de sua pele.
Ele passou o braço pelo seu traseiro e a fez enlaçá-lo com as pernas na sua cintura, ficando encaixada nele. E assim eles ficaram ali, por longos minutos no meio do quarto, somente sentindo o abraço.
Noah se afastou um pouco e tomou sua boca em um beijo longo e profundo, e então a soltou no chão.
— Obrigado pelo jantar delicioso, doçura. Amanhã virei reclamar meu abraço. Boa noite. — Noah beijou sua testa, deu meia volta e saiu do quarto.
Ester ficou olhando para a porta, então, ao mesmo tempo em que as lágrimas escorreram pelo seu rosto, ela sorriu.
Capítulo 27
— Onde pensa que vai, humana?
Virna se assustou e derrubou o copo que segurava na mão, que se espatifou no chão. Sentiu seu estômago embrulhar e um frio atravessou sua espinha, quando viu que era a Shay quem a espreitava na cozinha.
— Eu? Estava somente tomando uma água, estou esperando Liam e Ester, eles vão me levar para casa.
— Oh, mas não deveriam permitir uma médica humana, carniceira, deixar uma alcateia de lobos. Você deveria ser servida no jantar.
Shay deu um passo à frente, de forma predadora, espreitando-a. Virna sentiu o terror tomar conta dela, a loba não estava com boas intenções.
— Olhe, Ester me contou sobre vocês, sobre o que aconteceu nos laboratórios, e entendo, entendo que esteja zangada, mas nem todos os médicos humanos são maus. Eu sou amiga de Ester e nunca machucaria ninguém, minha missão é salvar vidas e não tirar, entendeu?
Shay deu outro passo à frente enquanto Virna dava um passo atrás.
— Essa cadela recém-nascida da Ester será a próxima.
Shay se transformou em sua forma Dhálea, rosnou ferozmente e Virna gritou apavorada. Tentou se afastar, batendo nas cadeiras do balcão, derrubando-as. Ela quase caiu, mas se segurou.
— Calma, eu não fiz nada contra você.
— Vou lhe mostrar como eu fui tratada pelos humanos. Farei você gritar e arrancarei cada membro do seu corpo.
Shay foi para cima de Virna, que gritou novamente, então ela viu Ester gritar e saltar, seu rosto estava transformado em uma coisa horrenda, seus olhos eram azuis muito claros e cintilavam, possuía presas longas e afiadas, e suas unhas eram como garras.
Ester rosnou e saltou sobre Shay, batendo nela com um soco no rosto, que a derrubou no chão, mas logo ela se levantou e rosnou para Ester.
— Bem, cadela, já que está aqui posso arrancar sua cabeça também.
— Corre, Virna! — Ester gritou e ela correu em pânico.
Shay desviou de Ester e tentou passar por ela e correr atrás de Virna e Ester rosnou e pulou sobre ela, jogando-a contra as duas portas de vidro que davam para o jardim. As duas portas estilhaçaram e Shay caiu na grama com um baque e se levantou, ignorando alguns cortes pelo corpo.
Logo um e outro lobo apareceram correndo e estavam apreensivos com o que estava acontecendo.
— Recue, Shay! Eu estou cansada de suas grosserias, de seus ataques e de sua língua venenosa. Seus ataques acabaram! — Ester gritou.
— Você não tem o direito de ser alfa.
— Isso não é você que decide.
— Não aceito você e a desafio pelo posto de alfa.
— Não! — Erick gritou. — Não permitirei um desafio, Ester é recém-transformada, você não pode desafiá-la, Shay.
— É claro que eu posso e acabo de fazer.
Noah se aproximou, abrindo espaço entre eles e rosnando furioso.
— O que está havendo aqui? — gritou.
— Eu desafio sua companheira, alfa.
— Passou de todos os limites, Shay! — Noah rosnou furiosamente.
— Não pode me impedir, e depois que eu matá-la, eu que serei a sua alfa e companheira.
Ester bufou desdenhosa.
— Garota, você realmente precisa aprender seu lugar, até quando vai rastejar implorando pela atenção de Noah? Ele não a quer, não percebe? Está sendo uma cadela invejosa e mal-amada, no sentido literal da frase.
Shay rosnou para ela.
— Vou matá-la.
— Pode tentar. Pensa que tenho medo de você?
Noah deu um passo à frente, mas Liam o segurou pelo braço.
— Se impedir, Noah, Ester estará desacreditada perante todos. Conhece a lei dos lobos — Liam sussurrou para Noah.
— Shay é muito mais forte e Ester não sabe lidar com sua loba ainda — Erick sussurrou.
— Ela sabe disso, por isso o fez, mas se interferir será uma desonra para Ester e para você, Noah — Liam disse.
Noah ficou ali, se debatendo, queria evitar que Ester fosse machucada ou morta, mas sabia que se negasse o desafio, ela estaria desacreditada como alfa para a alcateia inteira. Seu coração estrangulou e pensou que sufocaria, mas era o que tinha que ser. Depois, ele mesmo mataria Shay.
— Então, alfa, vai enfiar sua nova puta no bolso e protegê-la como uma criança chorona? Deixe-me provar que eu sou digna de ser alfa.
Noah rangeu os dentes.
— Eu aceito seu desafio. Eu vou lhe mostrar quão chorona posso ser e lhe mostrar que ninguém tira meu companheiro de mim — Ester disse.
Todos olharam espantados para Ester e Noah sentiu seu peito se apertar de pavor, mas por outro lado inflou de orgulho por ela aceitar um desafio tão temeroso.
Aquela era uma das situações nas quais ele odiava ser alfa.
Ester estava tremendo por dentro, nem sabia como travar uma luta, nem havia se transformado em loba novamente e nem sequer sabia como tinha ficado na forma intermediária. Mas seu instinto de salvar Virna saltou na frente e sua raiva de ser afrontada por aquela loba estúpida palpitava acima de tudo. Podia sentir sua loba pulsando para sair e lutar.
— Shay pare com isso, por favor! — Naya gritou assustada. — Todos nós sofremos, precisa acalmar sua raiva.
Shay não lhe deu atenção, se transformou em loba e saltou sobre Ester.
Ester se transformou também e as duas se embolaram e rolaram pelo chão, uma e outra vez. Shay mordeu, rosnou e arranhou Ester, que revidou com uma fúria que todos estavam espantados.
— Porra, ela é forte e rápida! — Liam disse com os olhos cravados nelas.
Ester estava ofegante e elas estavam longe da casa. Shay saltou, Ester se ergueu e com uma patada jogou Shay contra uma árvore.
O baque foi tão forte que lascas da madeira voaram, e Shay choramingou no chão e se ficou em forma de Dhálea.
Ester se transformou, foi sobre ela e colocou o pé sobre seu pescoço.
— Quer ser companheira do alfa? Vai ter que encontrar outra alcateia. Não permitirei tal afronta a mim, nem a Noah, e nem que machuque pessoas inocentes, ainda mais se for uma amiga minha.
— Você não é digna de ser alfa, é fraca.
Shay derrubou Ester e elas se transformaram novamente, rolaram, morderam, desta vez foi feroz e elas estavam se ferindo gravemente.
— Alguém tem que parar isso, elas vão se matar — Clere disse assustada.
Noah estava segurando-se, deu um passo à frente para impedir, mas isso seria um desastre e confiava em Ester. Confiava no poder de sua loba. Tinha visto isso quando Ester se transformou em loba e ele a tinha tocado, a força emanava dela. Foi quando Ester mordeu violentamente o pescoço de Shay, esta uivou, se debateu e caiu.
Ester se transformou em humana, estava ferida e ensanguentada em todas as partes de seu corpo. Seu queixo estava com muito sangue de Shay e respirava com dificuldade.
— Está banida, Shay. Saia da minha casa! — Ester disse.
Shay rosnou segurando o pescoço ensanguentado para estancar o sangue e olhou para Noah, que a olhava furioso, aquele era o alfa assumido, em seu total poder. Noah parecia até maior do que era.
— Não pode fazer isso. Ninguém vai honrá-la — Shay disse.
— Entendo que tenha desejado ter Noah como seu companheiro. Entendo que odeie humanos pelo que fizeram ao seu povo e a você. Entendo um monte de coisas. Só por isso, e somente por isso, não irei matá-la, mas não poderá mais viver entre nós. Arrume suas coisas e vá embora, encontre outra alcateia e outro lobo para reivindicar como seu. Não admito que tente me matar por coisas que não fiz.
Ester olhou para Noah que a olhava com admiração.
— Está certo, meu companheiro?
Noah assentiu com um sorriso lento de aprovação e caminhou à frente de todos e ficou ao lado de Ester. Shay continuou ali, estirada, de olhos arregalados, e com dificuldade ficou em pé.
Com sua voz firme e assombrosa, Noah falou formalmente a todos.
— Minha companheira solicita o banimento de Shay Machurst. — Ele ignorou os gemidos de protesto de Shay. — Pela minha autoridade, eu decreto seu banimento. Não será mais bem-vinda à nossa alcateia.
— Não! Não pode fazer isso, Noah! Não depois do que fizeram comigo!
Um torvelinho de emoções a rodeou e a sua ira só aumentou.
Ele pegou a mão de Ester, colocou um anel em seu dedo e mostrou a todos. Era um anel de ouro igual ao seu, de alfa, com um desenho de um lobo e alguns arabescos ao fundo e mais delicado do que o seu.
— Ester Klaus é minha companheira e isso jamais deverá ser contestado. Ester venceu o desafio e determino que Shay seja banida agora mesmo. Já não é uma de nós, não tem a minha proteção e nem a de nenhum lobo desta alcateia. Alguém para contestar?
Ninguém se pronunciou. Shay olhou de um a outro, com os olhos arregalados, estava assombrada e incrédula por ninguém defendê-la. Então, o ódio transbordou.
Shay rosnou e saltou sobre Ester, que estava distraída olhando para todos, derrubando-a no chão.
O baque no chão foi forte. Ela ofegou sentindo o ar fugir de seus pulmões, mas rosnou quando segurou Shay pelo pescoço, empurrando-a para evitar que seus dentes afiados alcançassem seu rosto que estava somente a alguns centímetros.
Ester quase não tinha mais forças para empurrar e rosnou alto, temeu por sua vida porque não conseguia mais resistir. Já sentia que seus braços falhavam ao empurrar Shay que avançava mais e mais.
Ester reviveu as palavras de Noah no dia anterior sobre ser a alfa.
“Você é forte e eu sei disso, eles também sabem, mas você ainda não sabe. Ainda não conhece o tamanho da sua força. Você será uma líder, Ester. Será seguida. Terá que tomar decisões, algumas muitas vezes difíceis. Tomar as rédeas da situação, como fez hoje.”
Então, se lembrou das palavras de Erick.
“Joan desafiou Noah para ser alfa. Este tipo de luta termina em morte, mas Noah o perdoou e o baniu. Noah se arrepende desta decisão até hoje. Um lobo dificilmente aceita este tipo de derrota, deseja vingança.”
E ela pensou em Noah, no doce e selvagem Noah, e em como o amava. E aquela loba não o merecia, porque ele merecia ser feliz. E ele era dela.
Ester rosnou, mudou para a forma intermediária e empurrou Shay para longe.
— Você nunca vai parar, Shay. Noah é meu companheiro e eu sou a alfa! — rosnou entredentes.
Ester puxou o ar, reuniu toda a força de suas entranhas, e com um puxão, virou a cabeça de Shay, puxou para sua boca e a mordeu novamente, Shay uivou engasgando pela dor e Ester deu outro puxão e destroncou seu pescoço e depois, rosnando, a empurrou para o lado, tirando-a de cima dela.
Noah estava estupefato, assim como todo mundo. Não havia nem sequer o som de uma respiração, todos ficaram ali, imóveis.
Ester voltou à forma humana, estava nua, toda machucada, mas se arrastou na grama, se ajoelhou e cambaleando ficou em pé, estirando-se em toda a sua altura, e olhou para todos os lobos ali presentes, que a olhavam de olhos arregalados.
Bem... Talvez agora eles todos saltassem sobre ela e a matassem.
Ester puxou o ar para seus pulmões, ignorou a dor dilacerante e falou altivamente:
— Mais alguém quer me desafiar?
Noah uivou alto e forte, exaltando aos quatro ventos seu orgulho por sua fêmea. Ajoelhou sobre o joelho direito e colocou a mão direita em punho sobre o coração, como haviam feito quando ele a mordeu. Um por um, os lobos o seguiram e logo após uivaram.
Ester sentiu vontade de chorar vendo todos ali a honrando, aceitando-a. Somente ficou com a garganta travada, com a emoção preenchendo seu coração, com dificuldade de respirar. Oh, aquilo era magnífico.
Então, ela olhou para o corpo de Shay no chão, que estava agora na sua forma humana, com o olhar perdido no nada. E, sinceramente, Ester se compadeceu dela. Shay havia deixado o ódio consumi-la. Podia ter buscado usufruir da liberdade e conseguir seu companheiro e ter paz, mas não, preferiu alimentar o ódio, ter poder e matar Ester.
Tudo cessou e Ester viu os lobos lentamente irem até Shay, pegarem o corpo dela e seguirem para o bosque.
Noah foi até ela e ficaram somente os dois ali. Ela o olhou e ele se abaixou até que seus olhos ficassem da mesma altura dos dela.
— Agora você é uma verdadeira alfa, Ester Klaus.
Ela acenou que sim.
— Eu a matei.
— Decisões difíceis devem ser tomadas, e esta foi a correta. Todos a honraram, doçura. Estou orgulhoso de você. Você descobriu a sua força, a força de sua loba.
— Ela não servia para você.
Ele sorriu, um sorriso lento e lindo que seus olhos chegaram a brilhar.
— Só você serve para mim, doçura.
— Amo você, Noah — ela sussurrou.
— E eu amo você, Ester. Venha, minha amada, vamos tomar um banho e curar estes ferimentos.
Ele deu um suave beijo em seus lábios, pegou-a no colo e a levou para dentro da casa.
Capítulo 28
Noah entrou no boxe com Ester no colo e cuidadosamente a colocou no chão, ligou o chuveiro e testou a temperatura da água. Ester gemeu quando a água bateu em seus ferimentos.
— Sinto muito, doçura, mas precisa se lavar, há grama e terra por seu corpo todo e depois farei os curativos. Há uns cortes feios, acho que deveria chamar a doutora para cuidar de você.
— Pobre Vir, deve estar apavorada com tudo isso.
— Acredito que ela ainda pense que somos aberrações e monstros.
— Se pensa, eu estou incluída agora.
— Ela é sua amiga.
— Sim, uma boa amiga.
— Esta mordida está feia — disse olhando seu braço.
— Da próxima vez que eu aceitar um desafio, não me permita. — Noah riu e colocou xampu em seu cabelo e gentilmente o lavou. — Gosto quando me dá banho — ela sussurrou.
— Gosto de dar banho em você, mas não quando está ferida.
— Isso arde — disse gemendo.
— Eu sei, vamos ser rápidos.
Noah enxaguou seu cabelo, passou condicionador e água limpa.
Ester gemeu e encostou a testa em seu peito. Logo a luz do banheiro piscou e Noah olhou para cima.
Ester o abraçou e se esfregou sedutoramente em seu peito, acariciando e beijando seu tórax.
Ele rosnou alto quando ela lambeu e mordeu seu mamilo.
— Você é tão lindo, tão másculo.
— Ester...
— Parece que meu corpo está queimando.
— Doçura, me olhe.
Ela abriu os olhos, levantou a cabeça e olhou para ele, e viu que seus olhos estavam cintilando.
— Merda!
— O que há de errado? — ela sussurrou.
Noah desligou a água, enrolou-a na toalha e a levou para o quarto. Ele sentou-a na cama e se ajoelhou na sua frente. A luz do quarto piscou.
— Ester, você precisa controlar sua magia.
— Não estou fazendo nada.
— Está descontrolada.
— Eu me sinto descontrolada e desejo você.
Ester praticamente ronronou e o abraçou, acariciando seu corpo.
— Está ferida, doçura, deveria deitar.
— Não, quero você.
— Porra, mulher, está em frenesi.
— Jura? — Ela riu.
Ele perdeu a direção de seus pensamentos quando ela segurou seu rosto e invadiu sua boca com um beijo que o deixou louco.
— Nós estamos fazendo as pazes? — ele perguntou em um sussurro, sem querer deixar seus lábios.
— Sim, e eu estou me vingando do seu frenesi.
Ela o puxou para seu corpo e Noah riu com gosto.
— Pode se vingar de mim o quanto quiser, sou todo seu, mas como seu protetor eu deveria prezar por seus ferimentos.
— Não... Como meu protetor deveria saciar meu desejo.
Ele rosnou quando ela alcançou sua ereção e o acariciou. Noah estava no seu limite há dias. E como ele poderia ter bom senso e se controlar com Ester, se ela estava fora de si? É que controlar dois excitados e perdidos de desejo era um pouquinho demais para ele.
— Ame-me, Noah, por favor. Preciso de você.
Ester se moveu ante a sensação de seus dedos que agarraram repentinamente seu mamilo, acariciando, apertando. Era como se milhões de correntes elétricas de prazer quase agonizante se rasgassem através de seu estômago e foram ao seu centro com uma sensação quase dolorosa.
Ela gritou em seu beijo, suas mãos agarravam seus ombros à beira de um prazer que ameaçava consumi-la. Nunca tinha conhecido alguém como ele. Nunca tinha provado um beijo tão pecaminoso, com tanta fome, tão cheio de necessidade. Ela nunca havia sentido seu corpo reagir e gritar por seu toque, sacudindo-a, com tal necessidade desesperada.
Noah sentia a mesma sensação, o mesmo desespero. Todos os pensamentos de perigo de machucá-la retrocederam. A situação não deixava que ele a empurrasse para longe dele.
Ester estava perdida naquela nuvem de prazer e somente havia seus braços que a sustentavam, sua língua que varria através de sua boca, que se enlaçava com a sua, e ela estava desamparada contra as sensações arrebatadoras que trabalhavam através de seu corpo.
Ela estava apenas consciente dele levantando-a em seus braços e movendo-a na cama, puxando-a mais para a beirada, sem deixar sua boca. E agora ela jurou que ele grunhia contra seus lábios.
O som era sensual e a deixou excitada. Assim que Noah tocou seu sexo, ela gritou.
— Mulher, doçura, o que é isso? Vai me matar — ele rosnou.
Ele a acariciou e entrou nela com os dedos e abocanhou um de seus mamilos na boca. Ester gritou em seu orgasmo.
Noah a olhou com uma cara malandra, um sorriso safado.
— Quando se lembrar disso amanhã vai bater em mim.
— Não, vou querer mais.
Noah a ergueu, sentou na cama e a colocou escarranchada em suas coxas, e Ester entrelaçou suas pernas em sua cintura.
Noah a penetrou profundamente, fazendo-a gemer. Ele a beijou de uma forma que extraiu milhões de sensações de cada parte de seu corpo.
Ela foi controlando a velocidade dos seus movimentos de vai e vem e ele a deixou dominá-lo.
Noah a olhou e seus olhos estavam incríveis. Ele liberou sua própria magia e as luzes piscaram, pois ambos se uniram através da magia.
Ele deslizou suas mãos por suas costas, deliciando-se com a pele suave enquanto seus dedos se enredaram em seu cabelo. Noah rosnou alto quando Ester o mordeu no ombro. Isso desencadeou a sua perda de controle e sua magia liberou de vez.
Os olhos de Noah cintilaram e suas presas cresceram. O tempo se turvou e ela ficou grata que ele a segurava, pois teria entrado em colapso e caído se não fossem por seus braços a segurando quando Noah também a mordeu. Quando ambos soltaram um do outro, rosnaram e alcançaram seu orgasmo, juntos.
As luzes piscaram e a lâmpada do abajur espedaçou, quando um vento forte adentrou no quarto. Noah a abraçou forte, a embalando. Amando-a, idolatrando-a, assim como ela o fez.
Estavam compartilhando a magia, o amor, estavam passando por um encantamento, que raramente algum casal de lobo conseguia atingir. O compartilhamento de duas almas criadas para estarem unidas. Uma sensação que, segundo a lenda, somente os companheiros de alma compartilhavam. Dividiam sua própria essência.
Noah rosnou e caiu para trás, sobre os travesseiros, trazendo Ester junto, sobre seu peito. Ester recostou-se para se pressionar firmemente contra o corpo dele, sentindo-se segura.
Estavam envoltos em êxtase, sustentaram-se um ao outro enquanto seus corações acalmavam e o quarto ainda parecia dar voltas. Ester nunca havia se sentido tão perto de outra pessoa em sua vida. E para Noah, que já havia visto, vivido e sentido tantas coisas em seus mais de duzentos anos de vida, aquele momento foi único, perfeito, que ele nem conseguia descrever. Nunca pensou que sentiria qualquer coisa parecida.
Realmente era como se fossem uma só pessoa, perfeitamente unidas, fisicamente e espiritualmente. Maravilhoso.
— Eu amo você, Ester — ele murmurou em seu ouvido. — Você é minha, querida, para sempre.
— Amo você, Noah, para sempre.
Ele a agarrou pelos quadris, desencaixou-a e, como se ela não pesasse nada, a virou, fazendo-a deitar na cama; depois puxou-a para seu corpo e a beijou nos lábios. Ambos ficaram ali, deitados, amortecidos, flutuando na névoa do prazer, de seus corpos e suas almas.
Ester ficou inconsciente, mas Noah não se preocupou, ela dormiria profundamente agora e ele soube que nunca, enquanto vivesse, poderia ficar sem ela. Agora estavam irremediavelmente unidos.
Após tentar centrar sua mente e comandar seu corpo, com muito sacrifício, Noah soltou-se dela e foi cuidar de seus ferimentos.
***
Petrus entregou um envelope à Sami que o abriu e arregalou os olhos.
— Para que é este dinheiro?
— O alfa enviou. É para que você se acomode até encontrar outro trabalho, já que ele destruiu o seu.
— Eu não preciso.
— Precisa, ainda mais se for verdade o que disse sobre precisar de dinheiro para trabalhar ali naquele inferno, Sami. A não ser que esteja mentindo.
— Oh, claro, pra você sim eu estou mentindo. Como que você me apoiaria, já que insiste que eu continue presa aqui? Se dependesse de você, não me deixaria ir.
— Não, não deixaria.
— Fico feliz que não depende de você, Petrus.
— O alfa fez uma promessa, e está fazendo isso para agradar Ester, mas eu juro que há algo muito errado nessa história, um furo, bem no meio.
— Só me deixe ir embora e me esqueça, ok?
Petrus esfregou os olhos e suspirou.
— Estamos indo embora também, Sami, esta será a última vez que nos veremos, já que não quer nos acompanhar.
Sami olhou para Petrus e engoliu em seco. Por um momento, Petrus sentiu que ela relutou em dar uma patada. Ele, então, deu dois passos, ficando na sua frente, e acariciou sua bochecha.
— Vamos para a ilha, Sami. É um lugar lindo e tranquilo, terá de tudo lá — ele sussurrou. — Precisa aprender a lidar com sua loba.
— Nunca haverá loba, nunca vou me transformar. Acredite, não permitirei.
— Não poderá fugir para sempre. Venha comigo.
Ela o olhou por um minuto e engoliu em seco, deu um beijo suave em seus lábios e sussurrou:
— Adeus, Petrus.
Ela pegou sua pequena bolsa que Ester havia lhe dado com algumas roupas e saiu do quarto.
Petrus suspirou tristemente.
— Adeus, Sami.
***
Virna estava sentada no chão do quarto, abraçada às suas pernas, encostada na cama, quando Liam lentamente entrou e foi até ela. Ela se encolheu quando o viu e escondeu o rosto.
— Está tudo bem? — ele perguntou.
— Pareço bem para você?
— Sinto muito que esteja assustada.
— Seu mundo é muito violento. Nunca imaginei Ester dessa maneira.
— Ela faz parte dele agora. Eu sinto muito que nos tenha em tão baixa estima.
— Não disse isso.
— Sim, basicamente disse.
— Só fiquei em pânico com aquela mulher... Aquela loba querendo me matar e depois com Ester brigando daquela maneira e...
— Foi necessário e ela salvou sua vida.
— Eu sei, e sou grata por isso, mas ainda não consegui assimilar isso.
— Ester e Noah se amam, são nossos líderes e serão amados e respeitados. Acredite, Ester estará segura e Noah fará de tudo para fazê-la feliz.
Liam estava agachado na frente de Virna, que ficou o olhando minuciosamente. Ele vestia uma calça jeans e uma camiseta preta e seus cabelos estavam soltos, caindo sobre seus ombros.
Liam realmente era uma visão deslumbrante, ao mesmo tempo que ele era assustador, ele tinha uma aura que parecia um ímã e uma beleza que prendia o olhar, ele tocava a alma. Virna nem conseguia definir os sentimentos que sentia quando o olhava.
— Você é tão diferente — ela sussurrou sem querer e ele fez uma careta. — Oh, desculpe, não quis dizer assim como saiu, quer dizer... — ela suspirou novamente. — Não disse para ofender.
— Tudo bem, eu sei que sou diferente, até mesmo entre os lobos.
— É bonito — Virna disse e mordeu os lábios.
Era uma idiota que não conseguia fechar a boca e falar sem pensar.
— Eu nunca a machucaria — ele disse.
— Você é tão gentil.
— Não fui gentil quando a arranquei de sua casa. Desculpe por aquilo, era uma emergência.
— Eu entendo.
— Você gostaria de ver meu lobo?
— Ver seu lobo? — Virna arregalou os olhos e arfou.
— Juro que não a morderá.
— Oh, bem... Sim... Eu acho — sussurrou.
Liam se transformou num piscar de olhos e Virna ofegou com os olhos arregalados. Ficou um tempo ali, olhando para ele, imóvel.
— Oh, meu Deus!
Um gigantesco lobo totalmente branco, com os olhos brancos estava diante dela. Era a coisa mais deslumbrante que já tinha visto. Salvo quando Liam estava na forma humana.
Virna estava em choque. Liam lentamente deu um passo à frente e depois outro, até encostar o focinho em seus joelhos e ele choramingou.
Com a mão trêmula, alcançou sua pelagem e lentamente o acariciou. Liam choramingou novamente, como se estivesse em puro deleite e ela estava com o coração disparando no peito. Sentir o pelo longo entre os seus dedos era maravilhoso, porque ele era macio e perfumado.
— Oh Deus, você é divino! — ela sussurrou extasiada.
Liam se transformou e estava sobre ela, nu e enorme. Virna ofegou assustada e escorregou no chão.
— Desculpe, querida, mas temos que ir agora. Noah está chamando para que eu a leve até o quarto para ajudar com os ferimentos de Ester. Ela vai precisar de pontos.
— Eu não o ouvi chamar.
— Eu o ouvi aqui na minha cabeça, nós lobos podemos fazer isso.
— Oh, verdade? Tipo ler os pensamentos?
— Mensagens diretas, sim.
Ele levantou e vestiu a roupa que havia ficado caída no chão e colocou as meias e as botas. Virna ficou ali no chão, olhando ele se vestir.
— Vocês devem perder muitas roupas por aí.
— Dada resmunga muito sobre isso e, sim, sempre perdemos roupas, mas procuramos voltar e pegar quando podemos. Gostaria que nossa mágica fizesse nos voltar vestidos, mas infelizmente nem tudo é perfeito.
— Gosta disso?
— Sou o que sou e gosto muito de mim.
Ele ofereceu a mão para ajudá-la a se levantar, mas Virna ficou olhando para ele como uma idiota. O homem tinha o corpo perfeito, músculos definidos e era lindo, e ela estava divagando como uma abestalhada, com a respiração presa nos pulmões.
— Virna... — ele a chamou novamente com a mão estendida.
Ela suspirou saindo do seu estupor e pegou sua mão, e Liam a ergueu do chão. Ele se abaixou e ficou com o nariz quase colado no dela, sorriu lindamente e ela gemeu, ele tinha covinhas na bochecha.
— Eu amei que me acariciasse, talvez possamos fazer mais disso em outro momento.
— Oh... — Ela ficou vermelha como um tomate.
— Venha. Primeiro Ester, depois sua casa.
Liam beijou seu nariz, segurou em seus ombros, girou-a e gentilmente a empurrou para fora do quarto.
***
Noah tirou os olhos de Ester que estava na cama, adormecida e coberta por um edredom, olhou para Virna que ainda o olhava carrancuda.
— Está feito? — ele perguntou.
— Sim, mas ainda não entendi direito porque fiz isso.
— Ela precisa dormir para se curar. Se acordasse estaria em frenesi e com dor, entendeu? Com isso, ela podia se ferir ainda mais e estaria se sentindo indisposta.
— Engraçado, eu não senti que estava preocupado com isso quando estava fazendo sexo com ela ao invés de consertar seu corpo fatiado como um bife.
— Entendo sua preocupação e sua indignação, mas há coisas que não entende sobre nós. Ela é uma loba agora, estava em frenesi e precisava de sexo, além de reivindicar meu lobo e me marcar, é um acontecimento natural para a nossa espécie.
— Oh, me poupe de suas explicações depravadas, já vi coisas demais por estas duas semanas. Será que agora posso ir embora?
— Sim, e ela pode contar com você quando eu não estiver aqui?
— Sim, eu já lhe disse. Estou indo, mas ficarei de olho nela.
— Obrigado, isso significa muito para mim.
— Não a está abandonando, não é? Diga que sim e furo seu bucho com o bisturi.
— Isso é meu assunto e dela.
— Hum, vocês lobos me dão nos nervos. Estou indo e pretendo não ficar ao redor de lobos nos próximos quinhentos anos.
— Ester é uma loba agora.
— Bem, abrirei uma exceção para ela e somente para ela.
Virna saiu bufando do quarto e Liam sorriu para Noah.
— Parabéns alfa, sua companheira é fabulosa.
— Obrigado, está pronto para ir?
— Sim, deixarei a doutora em casa e Sami no aeroporto e logo estarei de volta para nossa viagem. Tem certeza que vai deixá-la?
Noah olhou para Ester e suspirou.
— É uma decisão difícil, mas terei que deixá-la.
Capítulo 29
Ester acordou e se mexeu na cama, esfregou os olhos e bocejou, pois ainda estava sonolenta, se sentou e olhou ao redor, o quarto estava extremamente silencioso. Mas ela abriu a boca de espanto quando viu vários buquês de flores por todo o cômodo.
Eram diversos tipos de flores e ela riu. Foi até elas e cheirou, mas não viu nenhum cartão. Olhando ao redor, sorriu feliz, sentindo o perfume delas, que eram bem mais fortes agora que seu olfato estava mais aguçado.
— Oh Noah, obrigada, são divinas — sussurrou.
Ela foi até o banheiro e se olhou no espelho. Porém, arfou assustada e deu um passo atrás.
— Oh, meu Deus!
Vagarosamente, ela se aproximou do espelho e tocou sua face. Seus olhos estavam azuis, quase translúcidos, como os de Noah. Eles deveriam estar assim?
— Noah! — ela chamou, mas não obteve resposta.
Ela olhou para sua nudez e viu que havia vários curativos por todo o seu corpo. Virna deveria tê-la remendado.
Ester colocou o roupão e desceu as escadas. Quando chegou lá embaixo, olhou ao redor, mas tudo estava tão silencioso que parecia assustador.
— Noah?
Ester foi até a biblioteca e espiou quando abriu a porta. Erick estava sozinho, sentado atrás da mesa de carvalho, digitando no computador e falando baixinho no fone auricular em seu ouvido. Ela sorriu, pois parecia que ele estava falando sozinho. Ester ficou parada na porta e logo Erick sentiu a sua presença dela, olhou-a e sorriu.
— Falo com você depois, tenho uma visita agradável aqui. Qualquer pista do paradeiro de Joan, me avise. Tchau. Entre, por favor, Ester.
Ela entrou e ele tirou o auricular do ouvido, recostou-se e cruzou as mãos sobre o estômago, escorando os cotovelos nos braços da cadeira.
Ele ficou a olhando intensamente, ergueu as sobrancelhas e a cheirou, literalmente e descaradamente, até que Ester se sentiu desconfortável. Mesmo espantado, não deixou de encará-la.
— Por que está me cheirando, Erick?
— Oh moça, eu sinto um cheiro tão maravilhoso que poderia uivar.
Ester ficou vermelha como um tomate.
— Eu acredito que isso é deselegante.
— Desculpe por isso, mas foi extremamente necessário. Meus parabéns!
— Parabéns por quê?
— Ester, minha querida alfa, por favor, sente-se. Como se sente?
Ela parou e pensou um pouco. Depois se sentou na cadeira, em frente à sua mesa, e olhou os curativos em suas mãos.
— Parece que está tudo bem, exceto meus olhos. Isso é normal? Quer dizer, já haviam mudado, mas isso é assustador.
— Oh, estão magníficos e isso deve ser normal agora que é uma loba. Tome um pouco de água, deve estar com sede. Se estiver com fome, Dada está na cozinha preparando o jantar. Vou avisá-la que você despertou.
Ele se levantou, colocou água em um copo e deu a ela.
— Obrigada, realmente tenho fome.
Ela bebeu a água com gosto e depois o olhou.
— Virna foi para casa, assim como Sami, como desejou.
— Obrigada.
— Não está sentindo alguma dor?
— Não.
— Isso é ótimo, sinal que o sedativo ajudou muito.
— Sedativo?
— Você foi sedada.
— Por quê? — disse com os olhos arregalados.
— Você estava bem ferida. Noah não queria que acordasse e sentisse dores, por isso Virna lhe deu um sedativo para que dormisse e assim se curasse mais rápido. Ele já estava se sentindo culpado por ter feito sexo enquanto estava machucada.
— Oh Erick, precisa ser tão explícito? — disse envergonhada.
— Querida, a casa inteira soube, pois as luzes não piscaram somente no seu quarto e seus gritos e rosnados foram um tanto alto.
Agora Ester queria se enfiar debaixo da mesa e arfou.
— Pelo amor de Deus! — ela sussurrou e Erick riu.
— Desculpe, estou deixando você constrangida.
— Ainda bem que percebeu. Por que achou que me sedando curaria mais rápido?
— O metabolismo de cura dos lobos funciona mais rapidamente quando está em estado letárgico, como o sono profundo. A simples ideia de vê-la com dor, deixou Noah nervoso. Ele somente quis poupá-la.
Ela ficou pensativa por alguns minutos.
— Bem, eu não deveria ficar zangada com isso então?
— Não deveria.
— Por que me deu os parabéns?
— Porque eu captei um cheiro em você.
— Que cheiro?
— Ester, eu fico muito feliz em lhe dizer que você está prenhe.
Ester arregalou os olhos.
— O quê?
— Está grávida, esperando um filho de Noah.
Ela ficou ali, olhando para Erick sem respirar, depois colocou a mão no ventre e olhou abismada para ele.
— Oh, meu Deus!
— Sim, sim, isto é maravilhoso. Noah vai ficar muito feliz com isso. Você pode fazer estes exames que humanos fazem para ter certeza, se quiser. Acredito que daqui alguns dias já poderá obter o resultado, mas eu lhe garanto que isso é certo, meu nariz não falha nisso.
— Estou grávida? Mas eu tomo contraceptivo.
Erick suspirou.
— Eu acredito que depois que virou uma loba, seu contraceptivo não funciona mais. Seu metabolismo mudou, Noah a engravidou neste último contato físico que tiveram.
— Oh céus — sussurrou.
— Isso é maravilhoso.
— Onde está Noah?
— Ele não está.
— Oh... Ele vai demorar?
Erick suspirou novamente.
— Noah está na Grécia.
Ester arregalou os olhos para ele.
— O quê?
Noah viajou logo após Virna ter tratado de você. Foi preciso para resolver muitas coisas por lá. Como vocês andaram meio isolados um do outro, creio que muitas coisas passaram despercebidas por você.
— Ele me deixou? — perguntou espantada e com uma ponta de dor na voz.
— Momentaneamente.
— Ele me deixou?
— Ester, Noah não a deixou como está pensando, somente viajou antes.
— Por quê?
— Olhe, eu estou aqui para proteger você e temos que tomar algumas decisões sobre seus bens, Ester. Preciso que assine alguns papéis, me outorgue como seu advogado para tratar de algumas ações legais pra você.
— Por quê?
— Você vai querer ir para a Grécia para sua nova vida, não vai?
— Vou?
Ela não conseguia pensar direito, estava tão tonta com a notícia que ia ser mãe e que Noah estava na Grécia.
— Bom, depois de tudo, eu acredito que sim, não é verdade? Para isso precisa encerrar seus assuntos aqui, arrumar o que quer levar, fazer suas malas, pegar alguns pertences, dar um fim à sua casa, vendê-la, assim como esta. Ainda tem assuntos legais sobre sua clínica veterinária, seguro, etc. Eu cuidarei de tudo para você, mas preciso de sua autorização e assinaturas. Talvez queira se despedir de seus amigos.
Ester estava muito atônita para fazer sequer uma pergunta. Ela piscou algumas vezes e puxou ar para seus pulmões.
— Por que Noah me deixou e foi sem mim? Ele vai voltar?
Erick abriu uma gaveta e retirou um envelope.
— Ele deixou isso para você, deve estar explicando seus motivos aí.
Ela pegou a carta e ficou ali, sem ação. Erick levantou-se e estava saindo da biblioteca, quando parou e disse:
— Ester, ele não a abandonou, está esperando por você. Noah não a abandonaria nem que o inferno congelasse. Assim que estiver pronta, eu a levarei até ele. Mais uma vez, parabéns pelo seu bebê. Não contarei nada a ele, deixarei que você mesma dê esta notícia maravilhosa. Qualquer coisa não hesite em me chamar. Peço que não saia da mansão sem nos avisar, pois um de nós sempre a acompanhará, por segurança. Quem ficou na casa foi você, Dada, eu, Konan e Harley.
Ela ficou ali sem se mover, mal respirando depois que Erick saiu e a deixou sozinha.
Ele tinha ido para a Grécia sem ela? Não conseguia atinar porque ele faria isso. Não estava entendendo nada e, além disso, estava em choque por Erick dizer que estava grávida.
Deveria tomar outro sedativo e voltar a dormir. Talvez ainda estivesse dormindo e estava sonhando. Ester suspirou muito confusa, e estava se sentindo triste por Noah ter deixado ela para trás.
Ela olhou para os curativos em suas mãos e os retirou. Porém, ficou abismada quando viu apenas linhas finas, e as marcas de dentes em seu braço estavam quase cicatrizadas. Oh, céus! Aquilo era incrível!
Ela abriu a carta lentamente, com medo de ler o que estava escrito ali. Noah a estava deixando para sempre? Erick disse que não, mas estava com medo de ler que não a queria mais, que não a queria na Grécia.
Ester viu que estava chorando quando uma lágrima caiu sobre a carta. Ela secou o rosto, respirou fundo e começou a ler.
“Doçura,
De todo meu coração, eu espero que não se zangue comigo. A sedei para que não sentisse dor, pois quando acordasse o pior dos ferimentos já estariam sanados. Eu a deixei porque queria que se recuperasse rapidamente e que tivesse certeza de que realmente fizemos as pazes e que não foi somente o frenesi que entorpeceu sua mente.
Surgiram alguns problemas na ilha que precisavam de minha presença, então estava na hora de seguir com os planos e levei todos os lobos para começarem uma vida nova, exceto a equipe de sua segurança.
Sei que você não gostaria de fazer esta virada brusca sem tomar as próprias decisões como o que terá que deixar para trás. Eu sempre tirei todas as suas escolhas, e me desculpe se estou fazendo isso novamente, mas deveria ser feito e pensei que tinha coisas que deveria fazer sozinha.
Erick vai ajudá-la em tudo, é só dizer o que precisa e ele fará. Confio nele, pois ele daria sua vida para protegê-la.
Eu estou aqui preparando sua chegada, estou ansioso para que esteja pronta e venha logo, para que finalmente possamos começar uma nova vida juntos e em paz.
Mesmo eu estando aqui, meu coração está aí com você. Mesmo não me vendo, eu estou com você, Ester, como sempre estive.
Tenho uma surpresa para você, espero que goste.
Ansioso por sua chegada.
As flores são para alegrar seu dia e para que saiba que estou pensando em você, sempre.
Amo você, doçura.
Noah”
Seu coração disparou. Ele não a havia abandonado, e ao saber disso ficou aliviada.
E agora tinha chegado ao fim da linha. Deveria abandonar a Alemanha, e sua vida toda ficaria para trás. Ele tinha uma surpresa?
— Noah, às vezes, você me deixa louca. Acho bom ser uma surpresa e tanto, senão baterei em você. Oh Deus, e também tenho uma surpresa para você. Um filho. Será que ele ficará feliz?
Ester acariciou sua barriga, suspirou e outra lágrima escorreu pela sua bochecha e sorriu.
— Um filho, um filho de Noah.
Nunca havia sentido tanta emoção em sua vida. E a única coisa que queria agora era resolver tudo isso e ir para a Grécia o mais rápido possível.
Capítulo 30
Ester ficou olhando para as lápides dos túmulos de seus pais no cemitério da cidade, e estava segurando dois buquês de flores nas mãos.
— Nós enterramos seu pai aqui, Ester. Noah pensou que seria o seu desejo. No meio da noite, nós abrimos o túmulo e trocamos os caixões — Erick disse. — Seu pai iria querer ficar ao lado de sua mãe.
— Obrigada por isso. — Ela olhou comovida para a lápide.
As lágrimas escorreram pelo seu rosto e ela se ajoelhou, colocando os buquês sobre as lápides e retirando algumas folhas secas.
— Vou deixar você sozinha. — Erick se afastou para lhe dar um momento de privacidade, mas ficou a olhando de longe.
— Eu estou indo embora, mamãe, e agora que papai está aqui, sei que não ficará sozinha. Sinto muito sua falta.
Ela fungou e secou as lágrimas.
— Vocês serão avós de um lobinho. — Ela riu e chorou ao mesmo tempo. — Pena que ele não vai conhecer seus avós, mas eu vou contar tudo sobre vocês. Ele vai ter orgulho de vocês. Papai... Fiquei muito zangada com você, ainda não acho certo ter mentido assim, mas vou perdoá-lo por causa do que fez pelos lobos. Eu juro que vou fazer de tudo para o bem-estar deles. Não se preocupem comigo, eu vou ser feliz com Noah. Adeus, amo vocês.
Ester se levantou e secou as lágrimas novamente, depois caminhou até onde Erick estava e foram embora.
***
— Ester, aqui está seu resultado do exame. Eu não abri porque achei que você gostaria de ver — Virna disse e entregou-lhe o envelope.
Elas estavam jantando no restaurante de Annelise. Ester bebeu um gole do suco de laranja, abriu o envelope e leu o papel: Positivo.
Ester suspirou e engoliu em seco.
— Bem, nem precisava mais do exame porque já tenho certeza de que estou grávida. Oh, meu Deus!
— Parabéns então.
— Obrigada, estou muito feliz!
— Tem certeza de que está feliz? Este homem-lobo é bom para você?
— Sim, ele é perfeito e estou feliz com ele e agora com meu bebê.
— Se é assim, tudo bem, mas você poderia tirar estes óculos, está noite e estamos dentro do restaurante — Virna disse.
— Desculpe, mas eu não consegui ficar com as lentes e não posso ficar sem os óculos, não quero chamar a atenção.
— Lentes? Por que estaria usando lentes?
Ester olhou ao redor e ninguém estava olhando para elas e, então, ergueu os óculos e depois o abaixou novamente.
Virna arregalou os olhos e literalmente abriu a boca.
— Santo Cristo, como seus olhos ficaram assim?
— Eu sei lá, sou uma loba agora, eles mudaram — ela suspirou.
— E seus ferimentos?
— Estou curada, acredita nisso?
— Meu Deus, isso é incrível! É demais para minha cabeça.
— Nem me diga.
Virna olhou para trás e suspirou.
— Erick e Konan estão chamando mais atenção do que você, não se preocupe.
Ester riu e olhou para a mesa onde os dois estavam comendo uma montanha de bifes. As mulheres praticamente salivavam os olhando.
Mas eles estavam com as lentes de contato para disfarçar, o que não podiam disfarçar era seu tamanho e sua beleza.
— Esses lobos são quentes como uma fornalha, misericórdia! — Virna suspirou.
— Nem me diga.
— Você terá uma gestação de nove meses, certo?
— Erick disse que sim, como humana.
— Os lobos têm gestação de quanto?
— Três a quatro meses.
— Que medo — Virna disse e depois suspirou.
— Vir, eu quero lhe pedir uma coisa.
— O quê?
— Você iria para a ilha comigo?
— Ir para a Grécia? — perguntou espantada.
— Você foi demitida do hospital. Aquele idiota do seu chefe não vai voltar atrás e eu me sinto responsável. Se é somente para ter sua clínica, então pode ser em outro lugar. Como você é ginecologista, obstetra e também minha amiga, eu quero que acompanhe minha gravidez e poderá trabalhar lá. Eu falarei com Noah para arrumarmos um consultório para você.
— Não entendo de lobos, Ester.
— Mas entende de pessoas e eles são meio-humanos também, assim como eu sou agora. Por favor, diga que aceita. Eu me sentirei melhor se você estiver por perto para cuidar de mim e de meu bebê.
— Ele vai nascer um bebê, não é? Não quero levar uma mordida quando você parir.
Ester riu com vontade.
— Segundo Erick sim, será um bebê. Eles se transformam somente depois de um ano de idade.
— Ainda bem — disse rindo. — Temos que fazer um ultrassom para ver como ele está. Deve ser um e não uma ninhada de dez, né?
Ester riu novamente.
— Por favor, deve ser um. E então?
— Uau, bem, morar em uma ilha na Grécia até que parece tentador.
— Tentador? É maravilhoso, você sempre disse que gostaria de morar em um lugar quente com mar, vai recusar isso? É sua chance, por favor, diga que sim.
— Bem, se eu puder trabalhar lá, então sim, eu irei.
— Oh que maravilha, muito obrigada!
— Então, conversa primeiro com seu lobo, se ele concordar em arrumar um consultório para mim, então você me liga e eu faço minha mudança.
— Certo, falarei com ele assim que chegar. Estou tão eufórica para ir, está quase tudo pronto. Se ficar mais um dia longe dele, ficarei doente.
Annelise se aproximou da mesa com um doce sorriso.
— Gostariam de mais alguma coisa?
— Não, a conta, por favor. Estou muito satisfeita, sua comida é deliciosa.
— Obrigada, eu fico contente que tenham gostado, vou trazer a conta.
Ester fixou seu olhar no braço dela e com o movimento que ela fez com os cardápios que segurava nas mãos, pôde perceber marcas roxas em seus braços. Ester focou bem seu olhar em seu rosto e viu que ela estava com maquiagem. Porém, mesmo assim pôde ver uma marca roxa nele. Alguém havia batido nela.
Ela saiu e foi até o caixa e, em seguida, foi até uma mesa isolada. Ester rosnou quando avistou um homem com uma tala na perna. Ele falou com Annelise bruscamente e Ester rosnou novamente.
— O que foi? Céus, este barulho que faz é assustador — Virna disse.
— Aquele imbecil no canto é seu marido e ele bate nela.
Virna suspirou tristemente.
— Eu percebi as marcas.
Ester pagou a conta e se levantou da mesa enquanto Erick e Konan fizeram o mesmo. Quando estavam saindo, Ester parou.
— Esperem um momento.
Ela girou e foi até o canto do restaurante onde ele estava, que era longe das outras mesas. Ester parou bem perto deles e o homem a olhou.
— Boa noite — Ester disse suavemente, até dengosa. — Oh, coitadinho de você, está com a perna machucada. O que houve?
Ele a olhou de cima a baixo e com olhos carregados de luxúria. Ester sentiu muito nojo dele.
— Ah, um cachorro maldito e fedido me mordeu, já fiz duas cirurgias.
— Oh, um cachorro maldito e fedido. Que horror, pobrezinho!
— Ei, você é bonita, moça. — Descaradamente, ele flertou com Ester em público e ela ficou ainda mais furiosa.
Ele foi passar a mão em sua perna e Ester segurou sua mão.
— Quem é maldito e fedido aqui é você. Se bater em Annelise outra vez, eu lançarei uma alcateia inteira de lobos sobre você e, acredite, eles farão um estrago bem maior do que este cachorro que te mordeu. Não sobrará nada de você.
Ela apertou sua mão e ele gemeu.
— Ei! O que está fazendo?
— E eu mesma virei e quebrarei todos os seus dedos.
Ester apertou sua mão e quebrou um de seus dedos e soltou. Ele gritou e segurou a mão. Ester virou e seguiu até a saída do restaurante e Erick sorriu enquanto Konan rosnou de satisfação.
— Odeio covardes que batem em mulheres. Kirian deveria vir, levar Annelise e morder sua outra perna.
Virna estava boquiaberta e olhava Ester com os olhos arregalados.
— Santo Deus, mulher, você ficou feroz.
— Afinal, eu sou uma loba — disse dando de ombros e, em seguida, olhou para Annelise.
— Você deveria deixar este bastardo, há homem melhor pra você.
Ester saiu e todos a seguiram. Annelise ficou olhando com os olhos arregalados para a porta e depois para o marido que gritava por socorro.
***
Em seu quarto, Ester fazia suas malas. Estava guardando as últimas peças. Tudo estava encaminhado e seus pertences pessoais seriam enviados para a ilha assim como muitas coisas da mansão.
Uma transportadora havia acabado de sair levando os diversos carros. Eles ficariam em uma casa que Noah havia comprado em Atenas, que seria como uma marina para eles. Ela não tinha tido o trabalho de olhar a gigantesca garagem antes e ficou abismada com a quantidade de carros e estilos diferentes que eles possuíam. Aquilo valia uma fortuna. Inclusive, ela suspirou quando viu o carro de Noah ser colocado na cegonha.
Ester sentou na cama e sorriu ao guardar na mala as roupinhas de bebê que havia comprado. Ela não havia resistido.
Erick tinha rido muito dela e disse que na Grécia existiam lojas para bebês e que Noah a levaria para as compras, mas Ester fez questão de ir à cidade e fazer suas comprinhas.
Ela tinha ficado embasbacada perante as minúsculas peças como uma tola, e Erick não se importou de fazer sua vontade, ele tinha se divertido e até mesmo comprou um ursinho de pelúcia de presente.
Erick era um amor e ela riu muito de Konan que ficava rosnando de impaciência por ter que esperar.
Ele sempre repetia a frase: “Espero que minha companheira não seja humana”, e Ester ria dele, dizendo que ele encontraria uma pequena e delicada humana como companheira, só para ouvi-lo rosnar novamente.
Ela estava eufórica, porque naquela mesma tarde estariam voando para a ilha e não aguentava mais ficar longe de Noah e não poder contar a novidade a ele.
Dada deu uma leve batida na porta e entrou no quarto.
— Oh, senhora, olhe isso, acabou de chegar.
Ester se virou e olhou para ela que carregava um buquê de rosas. Ester sorriu e o pegou; e, em seguida, leu o cartão:
“Estou morrendo de saudades. Por favor, venha logo. Noah.”
Ela sorriu, cheirou as rosas e franziu o cenho quando olhou para a etiqueta da floricultura. Era a mesma que seu admirador enviava. Então, olhou para a letra desenhada do cartão, era a mesma do seu admirador, que na verdade era a letra de um funcionário da floricultura, já que os pedidos eram feitos por telefone. Ester parou bruscamente.
— Oh, meu Deus!
Ester soltou o buquê sobre a cama, saiu correndo e saiu da mansão. Então parou e olhou para o bosque.
Ela ia caminhar até a cabana de Noah, mas Erick disse que não afetava a gravidez se transformar, mas as lobas não se transformavam após o quinto mês. Ela não entendia o processo, mas se elas podiam Ester também podia.
Ester se transformou em loba e correu para o bosque. Ela correu entre as árvores, e sentiu o vento bater em seu pelo, e o cheiro do mato parecia mais intenso. A sensação do chão em suas patas era maravilhosa. A força que emanava da natureza como um todo era poderosa.
A liberdade que Ester sentiu foi incrível. Agora ela entendia o que Noah havia dito sobre correr no bosque e saber como realmente era ser uma loba. Estava amando. Ela correu, saltou e uivou, brincou entre os arbustos e árvores, e riu muito. A sensação era incrível. Quando ela chegou à cabana, se transformou em humana e começou a vasculhar nas gavetas e armários.
Ela encontrou uma caixa e viu que havia vários recibos da floricultura e alguns de uma joalheria, ela olhou cada um dos pedidos e as datas.
— Oh, meu Deus! Você é meu admirador secreto. Você que me mandou tantas flores e presentes por todo este tempo. Como fui tola em não ter percebido antes.
Ela estava boquiaberta e seu coração se encheu de amor por ele, não que ela achasse que seria possível amá-lo mais do que já amava.
Uma lágrima escorreu pela sua bochecha, estava chorando de alegria em saber que ele estava cuidando dela e ao mesmo tempo querendo agradá-la por tanto tempo. Sua carta disse que mesmo não o vendo, ele estava com ela, como sempre.
— Oh, Noah, eu amo você. Eu e nosso bebê estamos chegando.
***
— Alfa, eu sei que está ansioso, mas se fizer esse trajeto mais uma vez, o piso vai ceder — Liam disse com um sorriso.
— Eles já deveriam estar aqui, não? — rosnou.
— Você acabou de falar com Erick. Sabe que eles estão sobrevoando a Grécia, daqui a pouco estarão aqui.
— Ele disse que Ester estava enjoada no voo. Ela está doente?
— Deve ter sido somente uma vertigem por causa do voo.
— Ela disse que tinha uma surpresa pra mim, o que será?
— Eu não faço ideia.
— Será que ela gostará de minha surpresa?
— Ela amará.
— O banquete está pronto?
— Sim.
— Todos estão na praia para recebê-la?
— Sim.
— Que horas são?
— Cinco minutos a mais do que era da última vez que perguntou.
Noah rosnou e andou em círculos mais uma vez.
Capítulo 31
Ilha dos Lobos, Grécia, 2014.
Logo que aterrissaram no heliporto da ilha, Ester saiu do helicóptero com a ajuda de Erick. Konan e Harley desceram logo atrás com Dada.
— Está tudo bem, Ester? — Erick perguntou.
— Oh sim, eu estou bem, os enjoos passaram, somente estou muito nervosa.
— Bem, eles estão nos esperando na praia. Venha por aqui.
Ester o seguiu e quando chegaram à beira do heliporto, ela parou de andar e olhou para a vista.
— Oh, meu Deus!
— Bonito, não é?
— A visão de cima já me deixou inebriada. Mas assim, mais de perto, é simplesmente deslumbrante. Vocês têm razão, parece um paraíso.
Ela olhou para o mar azul límpido do Mediterrâneo, sentiu o cheiro maravilhoso e o clima muito agradável. O pôr do sol sobre o mar era a coisa mais linda que já tinha visto.
— Olhe para baixo, Ester.
Ela virou, olhou para baixo e avistou uma pequena praia e seu coração disparou. Havia uma escada de madeira que os levaria para a praia cuja areia era limpa e branquinha, e era beijada de vez em quando pelas ondas.
Homens, mulheres e crianças estavam reunidos ali.
Em toda a praia havia tochas acesas e que davam um ar rústico de luau. Havia uma mesa imensa com toalhas brancas e estava forrada de comidas de todos os tipos e muita carne. Havia bebida à vontade e tocava uma música.
A maioria deles estava usando roupas claras, calças cargo, camisas abertas no peito. Porém, alguns estavam com as calças enroladas nos tornozelos; já as mulheres usavam vestidos longos, outros curtos, mas todos variavam nos tons claros e eram leves. Algumas usavam flores nos cabelos.
— Oh, é uma festa! — Ester disse surpresa.
— É sua recepção, sua festa.
— Para mim?
— Muitos aqui finalmente vão conhecer sua alfa.
— Não me atacarão, não é? Não há mais nenhum lobo enraivecido a fim de rasgar a minha garganta?
— Ninguém a atacará, não há hostilidade como a de Shay, Ester. Está segura e Noah quer que seja feliz e esteja à vontade. Você é oficialmente sua alfa.
Ela suspirou e seu coração se apertou de emoção quando ela avistou Noah, em um canto da praia. Podia sentir os olhos dele sobre ela, assim como todos eles. Estava se sentindo um artefato em exposição. Ela tomou coragem e respirou fundo.
— Bem... Talvez eu deva fazer isso direito.
— Com assim?
— Pode levar minha roupa, Erick?
Ele sorriu lindamente quando entendeu sua intenção.
— Claro, alfa.
Ester se transformou em loba e lentamente foi descendo as escadas que entremeava as enormes pedras. Quando ela tocou a areia, engoliu em seco, mas se empinou na sua melhor postura e começou a andar, em direção à Noah.
Erick, Konan e Harley seguiam atrás dela, um ao lado do outro, como verdadeiros guarda-costas.
Haviam aberto um caminho entre a multidão, uns foram saindo da frente para dar mais espaço. Então, o olhar de admiração e os burburinhos sobre a fabulosa e majestosa loba que passava por eles, começaram a ser substituídos por olhares espantados, sussurros e risos. Ester sabia o que eles estavam captando: o seu bebê.
Noah estava com a garganta fechada de nervosismo, olhava Ester se aproximar em forma de loba e aquilo o encheu de orgulho. Ela estava mostrando sua posição, se impondo e era a visão mais bela que já teve na vida. Seu coração batia forte no peito.
Noah também estava com uma calça cargo bege, com uma camisa branca que estava aberta do colarinho até o peito, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e estava descalço.
Sua vontade era esquecer todo mundo, correr e agarrá-la em seus braços, mas se segurou. Deveria se comportar na frente da alcateia como um alfa e não como o tolo apaixonado que somente queria se jogar em seus braços e matar sua saudade.
Ester e Noah fixaram seus olhares e isso era como um ímã os puxando. Foi então que ele parou, arregalou os olhos e ficou estarrecido olhando para ela. Ester parou na sua frente e se transformou.
Assim como todo mundo, Noah ofegou e ficou paralisado a olhando, com os olhos arregalados. Ela estava diferente. Sem conseguir se segurar, ele tocou lentamente em seu cabelo.
— Eu acordei ontem e vi que ele estava assim, meus olhos também mudaram. Levei um susto quando me olhei no espelho, pois eu não parecia mais a mesma.
Ele tocou o seu novo cabelo, abismado com a beleza dos fios. Estava longo até a cintura e ondulado, era loiro com mechas caramelo e marrom, e fios platinados. Noah estava tão encantado que não conseguiu dizer nada quando olhou para os seus incríveis olhos azul-claros.
— Isso a deixou triste?
— Não.
Então, Noah deslizou os dedos por um de seus cachos e sua mão vagou até seu ventre e lentamente a tocou ali. Ficou olhando para sua barriga em choque, e Ester soube que ele estava tomando conhecimento de seu filho e colocou sua mão sobre a dele.
— Pode sentir o nosso bebê?
— Nosso bebê?
— Sim, Noah. Nós teremos um bebê.
Noah ficou tão petrificado que Ester ficou apreensiva. Ele não gostou da notícia?
— Noah?
— Vamos ter um bebê? — perguntou aturdido.
Ela sorriu e acariciou sua mão.
— Sim, nós vamos ter um bebê. Está feliz?
Ele continuou mudo.
— Sabe, você deveria dizer que sim, porque eu estou constrangida aqui, ainda mais que todo mundo está vendo minha bunda — ela cochichou.
Ela pôde ouvir as risadas. Ele olhou em seus olhos, ainda sério, então admirou cada pedacinho do rosto dela, o segurou entre as mãos e beijou seus lábios. E, em seguida, foram ovacionados por aplausos, urros e uivos.
Quando ele soltou de seus lábios, colocou os dois braços ao redor de seu quadril e a ergueu do chão uivando enquanto todo mundo bateu palmas. Ele a rodopiou, rindo, e Ester riu também, segurando-o pelos ombros.
Ele a abraçou forte, deslizando-a para baixo e envolvendo seu corpo em seus braços.
— Em honra de meu filho! Meu herdeiro! — gritou e todos uivaram. — Esta é Ester Klaus, minha companheira e nossa alfa.
Todos se ajoelharam com a mão no coração e uivaram em sua honra.
Emocionada, Ester chorou, riu e o abraçou, porque agora ele estava demonstrando o quanto estava feliz. Podia sentir seu coração pulsando contra o peito.
Depois, eles levantaram e fizeram uma algazarra, cumprimentando uns aos outros. Ester estava se segurando para não chorar como uma criança. Era emocionante.
— Liam, prepare tudo. Nós já voltamos — Noah disse, e a puxou pela areia.
— Aonde vamos? — ela perguntou aturdida.
— Você verá. Olhe, amor, esta é sua casa.
Ester olhou para cima e havia uma belíssima casa de dois andares construída sobre um penhasco baixo com pedras imensas. E no segundo andar havia uma gigantesca sacada com portas de vidro, e tudo isso de frente para o mar. Ela ofegou, embasbacada.
— Nossa, que lindo!
— Venha.
Ele a puxou para uma escada e, quando eles entraram na casa, ele a girou e a envolveu nos braços. Ela enlaçou sua cintura com as pernas e ele tomou sua boca com um beijo saudoso e carregado de paixão. Necessitava de seu abraço especial e os dois ficaram ali grudados.
— Oh, minha doçura. Estou tão feliz que finalmente está aqui.
— Nunca mais me deixe, meu amor — ela sussurrou.
— Nunca mais.
— Está feliz de verdade?
— Estou tão feliz que não cabe em mim tanta felicidade. Ter você aqui e saber que está gravida é... incrível.
— Amo você, Noah.
— E eu amo você, Ester. Santo Deus, eu quase morri de saudades.
— Deveríamos ter fugido assim da festa? — ela perguntou, e ele rosnou.
— Queria esquecer qualquer coisa e só estar aqui com você.
— Podemos fazer isso.
Ele suspirou.
— Não podemos.
— Por quê?
Ele a beijou novamente e a contragosto a soltou no chão. Pegou sua mão e a carregou pela casa, subiram uma escada e entraram num lindo quarto com decoração clássica.
Ela ofegou olhando ao redor, era muito bonito e espaçoso. Havia uma cama com dossel e cortinas de Voal. Sobre uma mesinha havia uma bandeja de frutas e um balde de gelo com champanhe, duas taças e muitas flores espalhadas pelo quarto.
— Este é o nosso quarto. Aqui do lado há um quarto de visitas, mas o transformaremos no quarto do nosso filho.
Ela sorriu. Ele pegou um vestido branco que estava sobre a cama e voltou até ela.
— Isso é para mim?
— Sim, doçura, nós vamos voltar para a festa.
— Vamos? — perguntou um pouco desanimada. — Pensei que poderíamos ficar aqui — ela disse fazendo beicinho.
— Mais tarde, prometo que serei seu por inteiro e passaremos a noite nessa cama matando as saudades.
— Bem, isso soa bom também.
Gentilmente, Noah a ajudou a colocar o vestido, que era leve e longo até os pés, tinha o decote transpassado e alças largas, havia uma faixa fina sob o busto, bordada de pequenas pedras. Era belíssimo e simples. Ele pegou uma tiara de aro triplo, prateada e ornada com algumas pedras em forma de flores, estilo grego, alisou seu cabelo carinhosamente com os dedos e a colocou na sua cabeça. Então, acariciou seu rosto e deu um passo para trás para olhá-la.
— Está tão linda, como uma pintura.
— E você também está bonito com esta roupa.
— Eu me sinto bem na praia, achei que roupas mais leves seriam melhores.
Ela sorriu disso. Couro realmente não combinava, mas ele continuava másculo, forte e poderoso como sempre.
— Você disse que tinha uma surpresa pra mim. A minha é o nosso filho.
— A melhor surpresa de todas. — disse beijando seus lábios docemente.
— Qual é a sua?
Ele puxou-a pela mão e a levou para a sacada, e ela ficou boquiaberta. Era alto ali e podia se ver uma grande parte da ilha que era maravilhosa e rodeada de casas. De um lado, havia algumas mais próximas, enquanto outras eram mais distantes, mas todas eram igualmente bonitas. E a vegetação era exuberante, com muitas árvores. Dali, Noah podia ver muita coisa.
— Nossa, isso é lindo.
Ele a levou para o canto da sacada e a colocou na sua frente.
— Vê aquela casa ali?
— Oh sim, que bonita! Quem vai morar ali?
— Ela é sua.
— Minha? — perguntou espantada.
— Ali está sua clínica. Amanhã, eu lhe mostrarei lá dentro, mas já que quer saber, essa é uma das minhas surpresas para você. Eu montei uma clínica veterinária para você, daquele lado é tudo equipado para animais. E daquele outro lado há uma ala somente humana, caso precisemos algum dia. Há tudo ali que precisa: aparelhos, remédios, comidas, tosa, banho, enfim, tudo. Quando os aparelhos médicos da clínica de seu pai chegar, nós arrumaremos aquela outra parte.
Ester se virou e olhou para ele com os olhos arregalados.
— Montou uma clínica para mim? — perguntou espantada.
— Você perdeu a sua, ficou triste e eu prometi que lhe daria tudo. Achei que ficaria feliz com uma clínica nova.
Ester mordeu o lábio inferior e tentou segurar as lágrimas e o abraçou.
— Oh Noah, obrigada.
— Faço tudo para vê-la feliz, doçura.
— Só de estar aqui já estou feliz.
— Talvez você possa inaugurar a clínica cuidando de Thor.
Ester se afastou e olhou para Noah.
— Não entendi.
— Thor! — ele chamou. — Vem aqui, garoto.
Ester olhou para dentro do quarto e ouviu um choramingo e um latido. Logo, um filhotinho de Husky Siberiano branco, com algumas mechas pretas, veio correndo desajeitadamente pelo quarto e foi até a sacada.
Ester tapou a boca com os dedos e deixou cair as lágrimas. Emocionada, ela pegou o pequenino no colo.
— Oh, meu Deus! É meu?
— Sim, doçura. É seu.
— Oh, obrigada!
Ela riu e, ao mesmo tempo, chorou brincando e acariciando o filhote de três meses com lindos olhos azuis.
— Eu o estava chamando de Thor, por causa do seu anterior que... Bem, se você quiser mudar o nome, tudo bem.
— Thor está perfeito.
Noah deixou que ela se deleitasse com ele por uns momentos, depois pegou o filhote de seu colo e o colocou no chão, e fez algo que deixou Ester zonza. Ele se ajoelhou na sua frente, segurou seu quadril com as mãos e beijou demoradamente sua barriga. Ester chorou e acariciou seus cabelos.
— Obrigado por me dar um filho — ele sussurrou. — Você não imagina o que significa para mim.
Ele suspirou e encostou a bochecha em sua barriga, abraçou-a e ficou ali, extasiado.
— Tudo está tão perfeito, como em um sonho.
— Quase. Há mais uma coisa.
— O quê?
— Quer se casar comigo? — Ester abriu a boca de espanto enquanto ele levantou a cabeça e olhou para ela. — Nosso povo não casa, nosso acasalamento já é uma formalidade. Usando meu anel de alfa, você já é minha esposa. Mas eu pensei que, como humana, sentiria falta de seu ritual. Quer se casar comigo?
Outras lágrimas escorreram pela sua bochecha.
— Sim! Claro que quero! É muita consideração sua fazer algo assim. Adoro quando meu brutamonte é doce.
Ele riu. Ela beijou seus lábios e ele a levantou e a embalou nos braços, num abraço forte e amoroso.
— Eu nunca pensei que pudesse ser tão feliz.
— Eu também.
Ele se afastou e secou gentilmente suas lágrimas e beijou novamente seus lábios.
— Então, vamos descer.
— Vamos ficar mais um pouquinho aqui, por favor.
— Quanto mais cedo oficializarmos a cerimônia, mais cedo podemos ter nossa noite de núpcias.
Ester olhou para ele com os olhos arregalados.
— Como assim?
— Ora, por que acha que há esta festa toda? É nosso casamento. Este é seu vestido de noiva.
— Nosso casamento? — Ester ficou olhando boquiaberta para ele. Em seguida, olhou seu vestido e novamente para ele.
— A menos que não queira se casar comigo. — Ela riu e o abraçou.
— O que estamos esperando?
Ele riu, pegou sua mão e saíram.
Quando voltaram para a praia, só então Ester percebeu que havia um pequeno altar com treliças de madeira branca, ornada de flores, e ali estava um padre. Ela pensou que ia chorar novamente.
— Ela aceitou seu pedido? — o padre perguntou sorridente.
— Sim.
Todos ovacionaram.
— Bem, então vamos iniciar.
Ester respirou fundo e suspirou, olhou para o lado e viu todos os lobos que já conhecia: Erick, Konan, Harley, Jessy com Lili, Kirian, Petrus, Liam, Luca, Naya e Ronan, Clere, Thorman, Zian e até Sasha e Dada. Todos estavam sorridentes e felizes.
E havia tantos outros rostos que não conhecia, mas estavam ali, os olhando e os apoiando. Ela agora teria que abrir mais seus horizontes e conhecê-los todos, e sabia que gostaria de cada um deles. Assim como já adorava os que estavam na mansão.
Ela olhou para Noah que sorria lindamente para ela, pensou em seu bebê e teve toda a certeza do mundo.
Aquele seria seu verdadeiro lar, com seu verdadeiro amor, e seria feliz.
E, então, Ester se sentiu profundamente grata por ter herdado o mundo mágico de seu pai.
Epílogo
Era um dia lindo de sol na ilha grega habitada pelos lobos.
Na praia em frente à casa dos alfas, havia uma grande tenda quadrada com teto de lona para bloquear o sol, cujas laterais eram de Voal branco que balançavam com a suave brisa marítima.
Havia um grande tapete no chão e muitas almofadas, uma cesta com comidas leves e frutas, e bebidas em uma caixa térmica.
No centro dela, protegida do sol, Lucian estava sentado em uma cadeirinha.
Lucian estava agora com seis meses, era um bebê lindo, adorável e muito feliz. Ele balançava os pezinhos e ria, e soltava gritinhos enquanto olhava seus pais brincarem na areia.
Ester e Noah estavam em forma de lobo, corriam na areia e saltavam dentro da água tranquila, se embolavam e corriam um atrás do outro. Thor corria atrás, latindo, querendo compartilhar a brincadeira e chamar a atenção.
Os dois correram de uma ponta a outra da pequena praia para ver quem corria mais e se jogaram na água cristalina e azul.
Ester se transformou em humana e ria enquanto Noah rosnava, a pegava nos braços, calando seu riso em um beijo profundo. E, em seguida, ficaram ali, abraçados e se beijando por alguns momentos, curtindo a água morna e suas carícias.
Com Ester nos braços, Noah saiu da água, foi para a tenda e a sentou no chão, depositou mais um beijo em seus lábios e sentou ao seu lado.
Ester pegou uma toalha e secou seu rosto, os cabelos e o corpo, depois pegou Lucian nos braços, beijando suas bochechas.
— Estava achando engraçado o papai judiar da mamãe, hein? — Ester disse e ele riu.
— Espere chegar sua vez e vai se divertir com Thor correndo nestas areias, garoto — Noah disse sorrindo para ele.
— Será o lobo mais lindo de todos — Ester disse cheia de orgulho e amor.
— E corajoso.
Com os olhos azuis como os dos pais e os cabelos castanhos com mechas loiras, o pequeno olhou para Noah e riu, soltando um gritinho, o que fez o coração do gigante desmanchar-se.
Ester nunca esqueceria o olhar tão carregado de amor e a emoção de Noah na noite em que seu filho nasceu e o segurou nos braços. Ele foi até a sacada de sua casa e uivou alto e forte. E cada lobo, por toda a ilha, retribuiu em júbilo com um uivo até que tudo se tornou uma sinfonia.
Noah e Ester ficaram na praia, brincando com a alegria de suas vidas, o lobinho que teria muitas aventuras para viver durante sua longa jornada.
Bônus do primeiro capítulo do segundo livro da série
OS LOBOS DE ESTER:
O DESPERTAR
Kira corria desesperada pela mata, já com a respiração difícil, sentindo como se algo estivesse entalado na sua garganta, impedindo-a de puxar o fôlego.
Cachorros... Cachorros selvagens haviam atacado e havia um homem que pode ouvir sua risada e falou algo zombando dela, mas já não conseguia lembrar exatamente o que ele havia dito.
Quando Olie, seu cão-guia, um adorável e dócil labrador cor de caramelo, avançou sobre os cachorros para defendê-la, Kira soltou a guia, e com isso perdeu completamente o seu senso de direção e de que lado ficava sua casa e a avenida asfaltada.
Se corresse sem rumo, estaria em perigo; porém, se ficasse e esperasse, aqueles cachorros iam mordê-la, ou pior, matá-la.
Então, ela apenas começou a correr.
— Olie! — gritou.
Ela ouviu um rosnado feroz, e logo após outro, que pareciam enraivecidos. Em seguida, um uivo, depois mais rosnados seguidos de risadas. Logo, ela reconheceu o latido de Olie e seu choramingo de dor e, então, ela ouviu outro uivo.
— Olie! — gritou com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Volte aqui, ceguinha. Vamos nos divertir. — Ouviu uma voz masculina no meio da mata, não muito distante dali.
Ela gemeu e começou a correr novamente, tropeçou em um galho e caiu, tentou levantar e sentiu algo lhe arranhar as pernas e as mãos, mas com dificuldade se levantou e foi tateando o ar para não se chocar em outra árvore de novo.
Ela ofegou e continuou tentando não soluçar, o que era quase impossível devido ao seu medo intenso, então começou a recitar alguma oração que sabia.
Kira ouviu barulhos atrás dela e se desesperou. Fosse quem fosse que a estava perseguindo, estava muito perto e se a alcançasse não seria uma coisa boa.
Kira estava cansada, assustada e não tinha nenhuma ideia para que lado estava indo.
Havia sido uma péssima ideia ter ido até a mata aquela horário, não que lhe importasse se era dia ou noite, pois tudo era uma interminável escuridão, e Olie conhecia muito bem o caminho e nunca haviam se perdido. Mas desta vez ela não teve sorte ao se deparar com estes animais perversos, que nunca haviam existido ali antes. Suas terras não eram grande coisa, mas nunca nada de mal havia lhe ocorrido ali, pelo menos até agora.
Ela ofegou quando ouviu um uivo vindo em sua direção, logo outro que parecia vir em sua frente. Parecia que a estavam rodeando e brincando com ela.
— Vamos, bonitinha, pare de correr. Seremos bonzinhos com você — disse uma voz rouca e horrorosa.
Kira gritou e correu ainda mais. Ela não tinha conhecimento de onde estava, enquanto continuava andando com passos incertos e rápidos, nem do Porsche prata que vinha do asfalto em sua direção.
Quando ela percebeu que a superfície do chão mudou e que havia saído da mata, não teve tempo de se orientar, somente sentiu o baque em sua lateral, que se rompeu, causando uma dor dilacerante através de seu corpo, antes de cair no chão.
Sua cabeça zuniu, ouviu o som de freadas e sua mente se apagou.
***
Após a aventura de caçar um bom restaurante em Atenas, observar os turistas passearem pelos monumentos espetaculares, tilintando flashes para registrar a belíssima cidade e ter como recordação a viagem de suas vidas, Erick e Petrus estavam voltando para a casa no litoral.
Era um local mais isolado que os outros, onde mantinham a marina e estavam hospedados por alguns dias para acompanhar a instalação de um novo sistema de segurança e a reforma do deque.
Erick dirigia seu Porsche prata e Petrus estava no carona. Ele tirou um pequeno computador e ficou olhando e digitando.
— Petrus, eu sei que vou me arrepender de perguntar, mas tenho reparado que frequentemente fuça aí neste aparelho e, às vezes, rosna. O que é?
— É privado.
— Posso tirar isso de você a tapas.
— Pode tentar.
Erick olhou para ele com o olhar atravessado e Petrus suspirou.
— Ok... É um novo rastreador que Sasha trouxe pra mim.
— Oh Sasha. Ele será morto ou fatiado por Jessy. Não sei onde Noah estava com a cabeça de trazê-lo para viver aqui.
— Ele é o melhor em segurança. Agora com Ester e o bebê, Noah está mais cauteloso.
Erick bufou.
— Cauteloso é um elogio. Noah mataria o próprio Zeus por Ester e Lucian.
Petrus riu.
— Isso sim.
— Não respondeu a minha pergunta, Petrus.
— É um rastreador.
— Você me disse isso, mas está rastreando o quê?
— Não é o quê.
— Quem, então?
— Sami.
Erick olhou para Petrus com os olhos arregalados.
— Homem, e por que, inferno, você estaria fazendo tal coisa?
— Isso é assunto meu. — Erick rosnou. — Cale a boca e dirija, vamos logo para casa que eu quero beber umas cervejas geladas.
Erick olhou para Petrus e suspirou. Porém, quando olhou novamente para a estrada escura, viu algo atravessar a frente do carro, no asfalto.
Ele girou a direção fortemente para desviar, mas mesmo assim bateu em algo. Ele tentou controlar o carro, até que o veículo rodopiou na pista fazendo os pneus cantarem no asfalto, enquanto ele freava. Quando o carro finalmente parou, estava na pista contrária.
Logo Erick olhou para trás e colocou o carro no meio fio. Por um milagre, seu cérebro conseguiu raciocinar e pensar que não seria uma boa ideia ficar no meio da pista, apesar de estarem no fim da estrada que dava na sua propriedade. Então, nenhum carro deveria vir daquela direção.
Petrus e Erick ficaram ali, petrificados por um momento, com os olhos arregalados.
— Estas estradas não são como as da Alemanha, Erick, tem que ir mais devagar.
— Eu estava devagar.
— Sei.
— Eu bati em algo — Erick disse.
— Talvez em um animal.
— De onde ele surgiu?
— Há alguns animais nesta pequena mata.
— Além de nós?
— Não foi engraçado.
Erick suspirou.
— Acho melhor descermos e verificarmos isso — Erick disse.
— Por que tenho o pressentimento de que isso não será uma coisa boa?
— Lamento dizer, mas sinto o mesmo.
Erick saiu do carro e Petrus fez o mesmo. Porém, quando eles deram alguns passos à frente, Erick congelou.
— Oh, merda!
Eles se aproximaram mais e os dois olharam horrorizados para uma moça caída no meio do asfalto.
— Você atropelou uma mulher! — Petrus disse aterrorizado.
— Chame uma ambulância, rápido!
Petrus tirou o celular do bolso e foi ligando, enquanto Erick se ajoelhou ao lado da moça e retirou os cabelos do rosto.
Ele arfou e gemeu, sentindo todo seu corpo se sacudir em um espasmo. A sensação foi como se um raio tivesse atravessado seu corpo. Que estranho.
— Droga! — ele gemeu nervoso.
— A ambulância está vindo — Petrus disse se aproximando. — Como ela está?
— Não há muito sangue.
— Ei, eu já vi essa moça.
— Conhece um de seus familiares, podemos chamar alguém?
— É a moça que vende artesanato, tem uma pequena lojinha na praça que fica no centro.
— Bem, e então?
— Ela é cega, Erick.
Erick olhou para ela com os olhos arregalados.
— Oh inferno! E o que uma moça cega fazia correndo no meio do nada e atravessa o asfalto desse jeito?
— Boa pergunta.
Erick e Petrus olharam para a mata e cheiraram.
— Sente isso? — Erick perguntou.
— Senti. Quer dizer, acho que senti algo. Estranho, parece familiar, isso é cheiro de... — Petrus disse cheirando o ar e indo em direção ao bosque.
— Petrus, deixe isso pra lá. Ela está sangrando muito no rosto, ligue outra vez e veja quanto esta ambulância vai demorar! – disse nervoso e Petrus parou, voltou para a estrada e pegou o celular novamente.
Erick estava muito atordoado para fixar sua atenção nisso, ele olhou para a moça novamente e tentou encontrar mais ferimentos pelo seu corpo, retirou um lenço do bolso e tentou limpar o sangue de seu rosto.
Ele sabia que cortes na testa sangravam muito, mas ver aquela pequena sangrando daquele jeito o estava deixando nervoso em demasia.
Era só o que faltava! Atropelar uma humana, e como se não bastasse ainda era uma coisa pequena e linda. Erick quase suspirou quando viu seu rosto.
Janice Ghisleri
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