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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A HIGHLANDERS CHRISTMAS KISS / Paula Quinn
A HIGHLANDERS CHRISTMAS KISS / Paula Quinn

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Enquanto o século dezoito anuncia uma nova rainha e um tratado que unirá os três reinos na Grã-Bretanha, os MacGregors de Skye vivem escondidos de seus inimigos, aninhados nas montanhas ao redor de Camlochlin. Eles são orgulhosos, ferozes, emergindo das brumas para atacar quando a honra e o dever para com a Escócia o chamam. Com o sangue do lendário laird da névoa fluindo em suas veias, os netos de Callum MacGregor não são menos problemáticos e aterrorizantes do que os guerreiros que vieram antes deles.
Na maioria das vezes, eles preferem lutar contra os clãs vizinhos e uma frota ocasional de corsários, em vez de cavalgar até a Inglaterra para chutar o traseiro de homens que usam perucas. Existem, no entanto, aqueles filhos mais audaciosos que são conhecidos por cavalgar arduamente pelos vales e ir direto para os bailes particulares de Londres ou bordéis espalhafatosos para atacar seus inimigos, enquanto suas cabeças nobres não usam peruca e seus traseiros não vestem calças. Plaids desafiadores tremulam sobre seus joelhos musculosos, e eles declaram seus nomes e fazem seus pontos na ponta de uma Claymore.
Ainda assim, alguns argumentariam que as filhas são piores.
Mas quer lutem no campo, no mar ou no quarto de dormir, eles vivem e amam com a paixão desenfreada e indomável que pertence apenas aos herdeiros das Highlands.

 

 

 

 

Temperance Menzie está começando a se apaixonar pelo misterioso e ferido Highlander que ela está cuidando para recuperar a saúde. Mas Cailean Grant tem um segredo sombrio, e apenas um milagre de Natal pode mantê-los juntos.

UM ESTRANHO SORRISO...
O Natal pode estar chegando a Linavar, mas Temperance Menzie está longe de ser alegre. Aflita pela morte de seu pai nas mãos dos Cavaleiros Negros, ela quase não viu o estranho ferido na floresta. E agora ela está determinada a dar a esse Highlander forte e taciturno a ajuda que ela não pode dar ao pai. Mas há um segredo escondido nas profundezas de seus olhos cinza-azulados. E Temperance não vai descansar até que ela descubra...

... E O BEIJO DE UM AMANTE
Um assassino de aluguel. Era a última coisa que Cailean Grant pensou que se tornaria, mas ser parte dos Cavaleiros Negros era sua única maneira de sobreviver. Agora, sua culpa cresce a cada dia, junto com seu desejo pela bela e corajosa moça cuidando dele para curá-lo. À medida que o Natal, a época dos milagres, se aproxima e a verdade sobre sua identidade ameaça vir à tona, Cailean deve arriscar a única coisa que lhe resta para perder o coração.

Glen Lyon Escócia
Inverno de 1711

Capítulo 01

— Precisa de um quarto para a noite, senhor? Uma cama?

— Nae.1

— Um banho quente então, talvez, para te livrar da poeira da viagem?

Cailean Grant olhou para seu cavalo e lançou um olhar mordaz para o rapaz que estava prestes a pegar as rédeas.

— Eu disse não.

O menino engoliu em seco e saltou para fora do caminho dos três cavaleiros que o seguiam. Cailean não olhou para a criança e não pediu perdão por não se importar. Não importava quais eram as circunstâncias. Ele mantinha as pessoas afastadas. Para o seu próprio bem, não o deles.

— Você deveria tomar banho. — Patrick MacGregor disse, alcançando-o. — Poderia lhe fazer bem aquecer os berbigões2 de seu coração.

Cailean não deu atenção a sugestão bem-humorada de seu primo, mas manteve os olhos na estrada gelada diante deles. Ele gostava de seus berbigões do jeito que eram. Frio. Vazio. Seguro.

— Acho que o garoto cagou nas calças. — Erik MacCormack riu na sela logo atrás deles, então chutou outro rapaz para fora do caminho.

— O quê? — Ele riu novamente quando Patrick o olhou com raiva. — As crianças abandonadas provavelmente vão nos roubar no momento em que tirarmos nossas bolsas.

— Elas ficariam desapontadas com a sua, Erik. — Disse o irmão de Erik, Dougal, cavalgando à sua esquerda.

Patrick aproximou seu cavalo de Cailean.

— Estes são os homens que você escolheu entre seus parentes? — Ele balançou a cabeça para ele. — Homens que expulsam crianças do caminho?

Cailean olhou por cima do ombro para os irmãos, que haviam chegado a Lyon's Ridge há duas semanas para se juntar ao bando de mercenários de Lorde Murdoch, os Cavaleiros Negros.

— Eles foram endurecidos pelos anos passado. — Cailean disse a ele, voltando-se para a estrada. — O que você espera deles, maneiras corteses?

— Você não pertence a eles, Cailean. Vamos voltar para casa.

Era uma conversa que eles tiveram muitas vezes. Cailean não queria voltar para casa e Patrick não iria embora sem ele.

— Eu pertenço a eles, Patrick. — Disse ele, e se virou para espalhar o olhar sobre os cavalos de carga que passeavam pelo mercado, carregados de grãos e outros produtos e liderados por camponeses das fazendas locais.

Ele tinha ido a Kenmore para comprar alguns vegetais frescos na esperança de comer algo diferente da merda servida pelo cozinheiro no Castelo Lyon’s Ridge. Se ele tivesse que consumir outra cenoura mofada, ele mataria alguém. Ele sentia falta da comida de Camlochlin. Ele sentia saudades de casa. Mas não podia voltar. Depois de Sage... e Alison, ele mudou muito para voltar agora.

Ele não se importava de Patrick viajar com ele para o mercado. A natureza fácil de Patrick e seus constantes sorrisos tranquilizadores faziam com que tudo parecesse trivial, exceto pela decisão de Cailean de se juntar aos Cavaleiros de Lorde Edward Murdoch. Patrick não aprovava bandidos de aluguel, mas era onde Cailean precisava estar, com homens que não se importavam com amor ou oscilando com palavras amenas ou qualquer outra coisa. Eles o deixavam sozinho na maior parte do tempo, exceto quando Patrick estava por perto. Patrick era muito querido por todos que o conheciam.

Cailean fora como ele uma vez, sorrindo para a vida e causando estragos nas garotas da aldeia. Mas essa parte se foi.

Viver em Lyon's Ridge o ajudou a esquecer o peso esmagador do que ele havia perdido, o que seus primos tinham: belas esposas em seus braços e cães leais a seus pés. Ele queria o mesmo. Ele havia perdido e com isso sua confiança de que nenhuma tragédia cataclísmica se abateria sobre ele ou sua família. Nada estava certo. Na verdade, parecia que as cartas estavam contra ele. Isso o transformou em algo mais duro, mais vazio e determinado a parar de sentir.

Ele ficou surpreso quando viu seu reflexo em uma bacia esta manhã. Sua aparência física havia mudado desde a morte de Alison. Seu cabelo estava comprido e caía de ambos os lados do rosto. Criou sombras ao longo dos planos magros e depressões de suas feições. Ele parecia tão sombrio e vazio quanto se sentia.

— Quanto você acha que ela custa? — Dougal perguntou, olhando a filha de um comerciante enquanto ela batia em um cobertor do lado de fora de uma loja de cutelaria com uma placa pintada representando facas entrecruzadas.

— Para o inferno com a moça. — Disse Erik, chamado de Vermelho pelos outros Cavaleiros, devido ao seu cabelo ruivo e herança Viking. — Minha barriga ronca. Eu quero comer!

Erik e Dougal MacCormack eram dois dos vinte Cavaleiros Negros a serviço de Lorde Murdoch. Os dois combinados não conseguiam reunir a compaixão ou a cortesia do ogro furioso.

Mas Cailean não se importava com eles, já que ele era o ogro.

Eles chegaram a uma loja com um barril em uma haste e pararam para uma caneca de cerveja.

— Podem entrar. — Disse Cailean, desmontando. — Quero comprar algumas coisas. Alcançarei todos mais tarde.

Ele os deixou para molhar a língua e se dirigiu para os vendedores lotados que vendiam de tudo, desde cebolas a procedimentos cirúrgicos.

Apertando o manto de pele mais apertado em torno dele, ele olhou por baixo do capuz para o sol inútil preso entre as nuvens escuras ondulantes, e resmungou. O sol não oferecia a ele nenhum calor, as nuvens lembrando-o de sua vida, cinza e ameaçadora.

Ele viu um vendedor vendendo maçãs e foi dar uma olhada.

Não era incomum que uma moça chamasse sua atenção. Afinal, ele ainda era um homem, embora não tivesse participado dos prazeres oferecidos a ele por nenhuma das moças do castelo.

Essa moça, entretanto... essa moça separou as nuvens.

Ela saiu de uma loja de tecidos próxima, vestida com camadas claras de lã creme. Seu rosto estava meio escondido sob um capuz combinando com o vestido, seu pulso estava enrolado na alça de uma cesta e um sorriso doce e satisfeito estava em seus lábios.

Por que ela estava tão feliz aqui na lama fria e o odor fedorento de esgoto no vento? E por que ela o atraiu como uma mariposa para uma chama? Ele se moveu para trás da barraca do vendedor, seus olhos curiosos fixos nela enquanto ela puxava o capuz e se curvava para dar um pedaço de pão a um cachorro perdido.

Algo no peito de Cailean suavizou um pouco com o gesto dela.

Olhos em tons vívidos de azul e envoltos em cílios exuberantes e escuros estavam fixos nos rostos das pessoas que ela cumprimentou quando levantou a cabeça. Inferno, a visão dela e o sol iluminava em uma centena de tons diferentes em seu cabelo cor de mogno esvoaçante dobravam um pouco seus joelhos.

— Ela é bonita.

Cailean se virou para Patrick mordendo uma maçã, os olhos verdes brilhantes de seu primo nela.

— Vamos cumprimentá-la.

Cailean o impediu de sair com uma mão em seu braço.

— Nae, eu não sou...

— Tão diabolicamente atraente quanto eu? — O sorriso de Patrick era largo e brincalhão. — Não deixe isso te atingir, primo. Poucos homens são.

Cailean lançou-lhe um olhar frio.

— Por que não está se afogando em cerveja com os outros?

Ele pagou pela maçã de Patrick e comprou uma sacola para si mesmo.

— E ouvir suas conversas terríveis de Deus e sobre a falta de higiene básica? Só consigo encontrar muito humor em conversas sem sentido. Não sou um santo, sabe.

— A coisa mais distante disso. — Concordou Cailean, então fixou os olhos na moça novamente.

— Quem é ela?

Cailean fechou os olhos quando ouviu a voz de Dougal atrás dele em seguida.

— Agora sim, há um traseiro que eu gostaria de enfiar no meu...

O punho de Cailean, batendo no queixo de Dougal, silenciou-o. Ele caiu de joelhos, mas não antes de Patrick pegar a bebida que Dougal carregava consigo e evitar que caísse no chão com seu dono original.

Patrick ergueu a caneca para seu primo.

— É bom saber que você ainda possui alguma decência. — Ele engoliu o que restou e jogou a caneca sobre o ombro.

Cailean o ignorou e o homem que desmaiou a seus pés, e sua carranca se aprofundou quando percebeu que a moça havia partido.

Depois de reanimar Dougal com um balde de água, eles compraram mais suprimentos de inverno e então se encontraram com Erik por algumas horas bebendo antes de voltar para o castelo.

Eles alcançaram a passagem na montanha acima do rio Lyon com a cantoria desafinada de Patrick para quebrar o silêncio invernal.

Cailean quase não ouviu o assovio da flecha perfurando o peito de seu primo.

Isso não estava acontecendo, Cailean disse a si mesmo enquanto chutava as portas do Castelo Lyon’s Ridge. Isso não era real. Patrick não tinha acabado de ser flechado por um agressor invisível. Cailean não o havia deixado inconsciente e mal respirando em seu cavalo e o puxou para o seu.

Saindo da chuva de neve que ele havia soltado das pedras acima da porta quando abriu, entrou com seu primo e melhor amigo pendurado, flácido, em seu ombro revestido com uma capa de pele.

Cailean mal conseguia ver através de seus olhos enevoados.

— Venham rápido! — Ele gritou pelos corredores, seu chamado alcançando o resto dos Cavaleiros Negros no grande salão. — Rapidamente! — Ele comandou com o coração batendo forte contra o peito. Ele se sentia mal de tanto terror, cheio até a borda de tristeza. Ele não. Não o leve! — Devemos ajudá-lo!

Eles iriam. Eles tinham que ajudar. Esses homens lutavam para viver. Eles estavam familiarizados com feridas e como costurá-las. Eles saberiam o que fazer.

— O que aconteceu? — John Gunns, um mercenário de Caithness, perguntou, alcançando-o primeiro. Mais dois homens apareceram e cuidadosamente removeram Patrick de seus ombros.

Brevemente livre do peso morto de seu primo, Cailean inalou um suspiro que esticou sua capa sobre o peito. Mesmo assim, seu coração se recusou a diminuir o ritmo frenético.

Ele ergueu as mãos trêmulas para o capuz e empurrou-o para trás. Cabelo escuro caiu sobre sua testa e bochechas encovadas. Ele o limpou de seus olhos.

— Estávamos voltando do mercado em Kenmore....

Seu olhar triste caiu para a flecha que se erguia do peito de Patrick enquanto os homens o carregavam para o grande salão. Cailean desviou o olhar, quase vencido pela necessidade básica de gritar, de correr... de cair de joelhos. Deus, por favor, não me deixe ver outra pessoa que amo morrer. Eu perecerei completamente. Não é suficiente que quase nenhuma parte de quem eu fui ainda permaneça?

— Ele ainda respira? — Sua própria respiração ainda estava difícil, congelando no ar gelado do castelo e flutuando diante dele. Ele não queria perguntar porque não tinha certeza se poderia aceitar a resposta. Mas precisava saber.

Isso foi culpa dele. Se ele tivesse deixado sua nova profissão como mercenário e voltado para casa em Camlochlin como Patrick queria que fizesse, nada disso estaria acontecendo.

— Ele respira. — Disse Cutty Ross, de Orkney, antes de passar seu braço enorme sobre a mesa no centro do salão cavernoso.

Eles colocaram Patrick na mesa e começaram a tirar suas roupas. As moças que trabalhavam no castelo ajudaram em trazer aos homens o que eles precisavam para diminuir o sangue.

Cailean olhou para todo o sangue. Ele sentia, ainda quente na nuca.

Ele deu um passo para trás, longe do trabalho de salvar a vida de Patrick. Sua respiração vacilou e suas mãos tremeram ao lado do corpo. Ele jurou que quem quer que tivesse feito isso morreria. Ele cavalgaria através de cada aldeia como uma praga que ninguém jamais esqueceria até que descobrisse quem era o responsável.

— Inferno. — Brodie Garrow de Ayr jurou. — Vai ser difícil sair.

Os músculos de Cailean se torceram em nós. Parte dele estava com medo do que ele se tornaria se perdesse seu primo. Patrick era mais do que isso. Ele era o amigo mais próximo e querido de Cailean, o único que conseguiu trazer um pouco de luz de volta à sua vida, e com ela um pouquinho de seu antigo eu. Ele passou os dedos pelos cabelos enquanto a mesma sensação de impotência que experimentara duas vezes antes o percorria. O que ele diria a Tristan e Isobel os pais de Patrick?

Seu sangue chiou em suas veias. Ele queria vingança. Ele desviou o olhar para o único homem que não se levantou da cadeira para ajudar. Duncan Murdoch, filho de Lorde Edward Murdoch de Glen Lyon.

— Vós conheceis esta terra e as pessoas que nela habitam. Quem poderia ter feito isso?

Duncan sorriu. Cailean queria arrancar seus dentes. O filho do lorde era um idiota ciumento e invejoso que odiava Cailean desde o dia de sua chegada, quando seu pai, Edward, começou a elogiar o Highlander por suas habilidades de batalha superiores às de seu filho. A antipatia um pelo outro aumentou depois que Cailean começou a visitar o solar do lorde para jogos longos e silenciosos de xadrez. Seu filho, Murdoch lhe disse, que nunca foi capaz de aprender o jogo. Apesar da natureza taciturna de Cailean, o lorde de Glen Lyon gostava dele. Mesmo assim, ele não aceitaria bem o fato de Cailean matar Duncan. Neste momento Cailean não dava a mínima.

— Se você não me responder. — Ele avisou, sua voz profunda e tensa, seus olhos brilhando por trás de fios de castanho escuro. — Eu estarei em cima de sua cadeira antes que alguém possa me impedir, incluindo você, e eu irei providenciar para que nunca mais fale.

Cutty pode tê-lo ouvido porque ele parou de trabalhar e se virou para olhar para ele, assim como Tavish Innes de Roxburgh. O que os outros mercenários fariam? Cailean se perguntou. Cutty tentaria matá-lo se ele fosse atrás de Duncan? Cailean havia dado sua lealdade a Edward Murdoch, não a seu filho. Ele veio aqui para escapar da memória de uma vida cheia de expectativas. Ele foi pago para lutar e proteger as terras de Murdoch. Não para dar a mínima para os homens que lutaram com ele. Mas hoje ele precisava deles para ajudar Patrick.

— Onde ocorreu o ataque? — Duncan perguntou a ele com um suspiro irritado.

— A flecha foi disparada da direção de Fortingall. Isso é tudo que eu sei.

— Os Menzies. — O filho de Lorde Murdoch disse a ele, seu sorriso retornando, desta vez com uma ondulação mais sinistra do que zombeteira.

Os Menzies. O lorde era inquilino em Linavar. Há décadas, inimigos dos MacGregors e Grants. Os aldeões mais próximos da passagem na montanha.

Imediatamente o coração de Cailean se voltou duro para eles.

— Por que eles tentariam matar homens inocentes?

— Porque, Grant. — Duncan zombou como se Cailean fosse muito estúpido para descobrir. — Tudo o que eles conhecem por aqui somos nós, os Cavaleiros Negros. Eles nos odeiam.

— Eles não sabem quem somos. — Argumentou Cailean. Ele queria ter certeza antes de se vingar. — Nós não estávamos usando nossos disfarces. Por que eles pensariam que éramos Cavaleiros Negros?

— Você quer conduzir uma investigação ou quer justiça, Grant?

Cailean não gostava dele. Em absoluto.

— Eu quero justiça.

O sorriso de Murdoch se alargou. Ele gostava de problemas. Ele também gostava de vinho e de uma mulher em particular. Cailean nunca perguntou o nome dela. Ele não se importava quem era. Ele sentia pena dela por ter um admirador assim. Nada mais.

— Quando você pretende partir? — Perguntou Duncan.

— Assim que Patrick estiver estável.

Murdoch riu dele.

— Seus sentimentos o enfraquecem.

Cailean abaixou a cabeça e olhou para Duncan por baixo das sombras de seus cílios negros.

— Venha comigo para o campo de prática e deixe-me provar que você está incorreto. — Um canto de sua boca se curvou em uma careta fria. — Seu pai provavelmente vai me agradecer.

— Eu vou te matar por isso, Grant. — Duncan prometeu. — Mas não esta noite. Vai escurecer em breve graças a esses dias curtos e estou bêbado. — Ele acrescentou, como se suas palavras arrastadas não fossem prova suficiente. — Amanhã, talvez.

Cailean encolheu os ombros, encerrando a conversa inútil. Duncan nunca o tocaria. Por mais que invejasse Cailean, ele sabia que a admiração de seu pai era justa. Cailean podia lutar com armas ou sem, um homem perigoso criado nas montanhas enevoadas do Norte.

Ele foi para perto da mesa onde os homens trabalhavam em Patrick, mas fechou os olhos, ainda incapaz e sem vontade de assistir ao resultado.

Três vezes ele sentiu a vida deixando pessoas e uma cadela que ele amava. Dois morreram em seus braços. Ele rezou para que Patrick não fosse o terceiro.

Sage primeiro, um cão que o havia escolhido entre muitos homens melhores em Camlochlin. Ela sabia que a vida dele precisaria ser salva um dia, e que ela morreria por salvá-la?

Alison. A primeira moça com quem ele se importou, aquela que roubou seu coração em um bordel. Ainda podia se lembrar de suas ondas castanho-avermelhadas caindo sobre seus seios enquanto faziam amor, sendo a primeira vez para ele. Lembranças dela o assombravam. Muitas coisas aconteceram. Foi por isso que ele desistiu de sua paixão por cozinhar e escrever, e deixou Camlochlin cinco meses atrás. Por que Patrick, que estava perfeitamente contente em se deitar com garotas nas Highlands, o seguiu até Glen Lyon com a esperança de levar algum sentido para ele sobre como matar pessoas indefesas por moedas.

Patrick não poderia morrer. Cailean poderia fazer qualquer coisa, mas viver o resto de seus dias na temida antecipação da próxima catástrofe se ele morresse?

— Parece que faria bem em se consolar com isso.

Cailean abriu os olhos e olhou para os montes leitosos e gigantes que balançavam embaixo dele. Ele ergueu o olhar para as bochechas igualmente redondas da mulher, untadas com pó carmesim. Madame Maeve em pessoa. A mulher viúva e encarregada das moças contratada por Lorde Murdoch para servir refeições e satisfazer outros apetites de sua guarda particular de vinte homens, incluindo Cailean e Duncan.

— Você parece cansado. Venha comigo para minha cama. Vou ajudá-lo esquecer e aliviar todo esse sangue.

Esquecer? Como ele poderia esquecer isso?

— Agora não, Maeve. — Ele praticamente rosnou para ela.

Ela fez beicinho com seus lábios vermelhos rubi para ele.

— Lindo Cailean. — Ela ronronou, e se aproximou dele. — O que quer que faça seus olhos arderem como ferro fundido e sua mandíbula se apertar como se estivesse levando tudo de você para não levantar sua espada para todos nós, seja o que for e de onde vier, segure-se. Compartilhe comigo esta noite.

— Outra hora, talvez. — Sua voz era baixa, tão profunda quanto as sombras que atormentavam seus dias e noites. Ele não tinha levado para cama nenhuma de suas meninas antes. Por que ela pensou que ele a levaria agora, quando seu primo estava possivelmente morrendo a três metros de distância? Uma pergunta melhor era: por que ele esperava mais alguma coisa das pessoas neste castelo maldito? Eles estavam sem alma e sem compaixão. O tipo de pessoa com quem ele escolheu estar. Esse tipo de homem ele se tornou.

— Você conheceu Marion? — Maeve perguntou, e gesticulou para uma moça que estava parada do outro lado do salão, observando o que estava acontecendo e torcendo as mãos.

— Ela é nova... e livre para você.

Ele olhou lentamente para Marion. Ela tinha belo cabelo castanho-avermelhado como o de Alison. Provavelmente foi por isso que ele decidiu ajudá-la.

— Ela está intocada? — Perguntou discretamente a Maeve. Quando a madame assentiu, Cailean enfiou a mão na capa e tirou uma pequena bolsa. — Vamos mantê-la assim, sim?

Sem saber que o sorriso que ele ofereceu enquanto a olhava nos olhos era tão praticado quanto o braço da espada, Maeve concordou com tudo o que ele queria. Claro que a bolsa de couro cheia de moedas que ele jogou em sua mão não doeu no seu bolso.

— Não a ofereça a mais ninguém. Na verdade, leve-a para Perth, para o castelo Ravenglade, e depois que eu enfiar minha espada no atacante de meu primo, cuidarei do restante de seu pagamento. Agora me deixe.

A madame fez uma reverência, exibindo seu amplo decote mais uma vez.

— Se você mudar de ideia e precisar mais cedo...

Ele não iria. Ele não queria conforto. Ele queria sangue.

 


Capítulo 02


Temperance Menzie olhou para o pai cavalgando ao lado dela, voltando de Kenmore para casa. Ele era alto e majestoso na sela, vestido com uma capa de lã e o sol refletindo na sua cabeça. Ele não tinha mudado muito desde que ela era uma criança, exceto pelas franjas cinza em suas têmporas e as rugas ao redor de seus olhos azuis. Ele ainda era forte e podia cortar lenha mais rápido do que qualquer homem na aldeia, incluindo seu querido amigo William, que era mais de uma década mais novo que ele.

Triturando gelo e neve abaixo deles, eles cavalgaram para o Oeste sobre a pequena ponte de carga para cavalos cruzando um riacho abaixo de uma cachoeira na margem sul do rio Lyon.

— O que você acha de um casamento de Natal entre você e seu noivo? — Seth Menzie perguntou, acelerando o passo de seu cavalo para falar com ela.

Temperance deu um suspiro longo e prolongado. Eles tinham que falar disso agora, em um dia tão lindo? William havia pedido sua mão apenas algumas semanas atrás. Ela disse que sim porque ele a convidou no baile da aldeia e respondeu o que era esperado dela, não tanto por seu pai ou vovó, mas por todos os outros no vilarejo. Não era o que ela queria, no entanto. Ela esperava discutir o assunto longamente com o pai, mas não teve coragem de desapontá-lo. Mas agora ele estava sugerindo um casamento de Natal!

Ela balançou a cabeça e uma mecha de seu cabelo castanho roçou seu rosto sob o capuz.

— Eu não quero me casar com William, papai.

Os olhos de seu pai brilharam na tarde animada quando ele os a olhou.

— Você conhece William desde que era um bebê. Achei que você queria se casar com ele.

— É porque ele é meu amigo mais querido que eu não quero. Ele é mais como um irmão para mim.

Seu pai ficou em silêncio, pensativo por um momento antes de concordar.

— Eu sempre achei... Eu quero que você seja feliz por ter o que sua mãe e eu tínhamos.

Ela sorriu, acompanhando o ritmo dele. Amor verdadeiro, o tipo que surge apenas uma, talvez duas vezes, na vida. Ela sabia que ele queria isso para ela. Temperance também queria.

— Eu sei que o amor verdadeiro é raro, papai. É por isso que prefiro não me casar com William.

Ele esticou os olhos sobre a neve que envolvia Munros à distância.

— Mas eu também quero que você esteja a salvo de Murdoch. — Ele disse suavemente... mas severamente. — Algum dia William será o líder de Linavar, tomando meu lugar. Ser sua esposa é a única maneira de garantir sua segurança de Duncan.

Ela se virou na sela para olhar para ele.

— Você me faria sacrificar sem nunca conhecer o amor verdadeiro para ser mantida a salvo? Quer dizer, papai, não há nenhuma garantia de que William ou qualquer outro homem pode me manter a salvo de Murdoch. Por que eu deveria me unir a ele?

— Porque eu peço a você. Ele manterá a paz aqui e desenvolverá boas relações com o lorde. E isso vai te manter segura, assim como eu fiz. Agora... — Ele ergueu a palma da mão enluvada para acalmá-la quando ela teria pressionado. — Eu farei um acordo com você, filha, sim?

Seus olhos azuis brilharam para ele.

— Bem, o que é? Quer dizer, se eu não tiver escolha.

— Eu vou concordar com o casamento, mas apenas no caso de minha morte. — Ele sorriu para ela. — Isso deve ter pelo menos vinte anos de distância.

Temperance o adorava e sabia que ele sentia o mesmo por ela. Ela podia ver em seus olhos quando ele os fixou nela. Ele nunca a culpou por tirar a vida da mulher que ele amava tão apaixonadamente.

— Obrigada, papai.

Eles cavalgaram por um grupo de faias e pinheiros velhos, com esquilos vermelhos e martas do pinheiro correndo para fora do caminho. Temperance amava Glen Lyon e Fortingall, com seus riachos cintilantes, fazendas e campos pitorescos à beira do rio. Mas não havia lugar mais bonito do que Linavar, situado em uma parte mais aberta do vale, alguns quilômetros a Oeste da ponte, onde o rio corria com mais suavidade. Lagos amplos e tranquilos eram o lar de cisnes selvagens e patos olhos-de-ouro, bem como um local para ocasionais corças beberem à tarde.

Quase em casa, Temperance colocou as mãos em volta das rédeas e estava prestes a chutar seu corcel para um galope, querendo chegar mais rápido.

— Encontre-me no salão depois de guardarmos nossas mercadorias. — Gritou seu pai. — Eu gostaria de ter uma palavra com você sobre algo que não pertence a William.

Ela voltou para ele.

— Alguma coisa séria?

Ele balançou a cabeça e sorriu, então a encorajou a ir. Ela prometeu que estaria lá, chutou os flancos de seu cavalo e disparou através do terreno coberto de neve em direção a casa.

Ela cavalgou forte com o vento batendo em seu rosto. Ela não queria se casar com William. Ela não queria ser uma esposa e ela não precisaria. Ela queria praticar arco e flecha e relaxar no canteiro de abóboras após o dia de trabalho, não se apressar em ir para casa e preparar o jantar para o marido. Ela amava a vida e estar ao ar livre, montando seu cavalo. Ela adorava cavar com as mãos o chão e fornecer comida para sua família. Ela adorava a majestade das quatro montanhas altas de quase três mil metros de Munros em torno da pequena aldeia de Linavar e noites estreladas, ao qual muitas vezes fez uma pausa para agradecer por elas.

Ela não sabia por que sua avó a chamara de Temperance. Não havia nada moderado nela. Ela não queria passar o resto de seus dias casada com seu velho e confortável amigo.

Seu pai havia lhe dado vinte anos. Muito tempo para definir seu próprio destino. Ela não sabia qual seria seu destino, mas não era esse o ponto, era?

Ela chegou em casa antes do pai, desmontou e desamarrou as bolsas e a cesta da sela. Ao se virar, sorriu para sua avó, esperando por ela nas portas, e então para sua gata, TamLin, ronronando em torno das botas da avó.

— Vejo que você não trançou o cabelo. — Vovó balançou a cabeça para ela e puxou um longo cacho para examiná-lo através de seu olho não são. — Você vai se arrepender quando eu estiver tentando tirar os galhos e outros tipos de coisas terrenas dele mais tarde.

Temperance riu, beijou a bochecha de Vovó e girou para fora de seu alcance. TamLin a seguiu para dentro de casa, querendo ser pega e miando bastante para isso.

— Acho que vi Duncan Murdoch bisbilhotando mais cedo. — Vovó gritou para ela. — Fique perto de casa hoje.

Duncan Murdoch. A única praga na vida quase perfeita de Temperance. Ele morava no castelo no topo de Càrn Gorm com seu pai, o lorde de Glen Lyon, e seus malditos mercenários, os Cavaleiros Negros. Duncan odiava seu pai porque seu pai a manteve longe de seus braços, tendo-a prometido a William para mantê-la fora do Lyon’s Ridge.

Por causa das boas relações de seu pai com o lorde, Duncan teve que pedir permissão a seu pai para persegui-la. Seu pai sempre recusou tais pedidos.

— Eu vou. — Temperance gritou de volta.

— Minha lã mais fina a manteve aquecida, moça?

— Como os braços amorosos da minha avó. — Temperance gritou por cima do ombro. Ela avistou o pai desmontando no jardim da frente e sorriu de volta.

— Encontramos tudo na sua lista, mãe. — Ele disse a avó, atraindo a atenção da velha quando ele entrou na casa.

Vê-lo é uma forma de acalmar o coração.

— Você é um bom filho, Seth. — Temperance ouviu avó dizer a ele. Ela concordava.

Ele teria sido um marido maravilhoso para uma de suas admiradoras, mas nunca se casou novamente depois de perder Sarah. Ele criou Temperance com a ajuda de sua mãe, e os três permaneceram contentes. Talvez muito contente.

Temperance deu de ombros e continuou seu caminho para dentro. Ela amava sua avó por se preocupar com ela. Ela estava certa sobre os emaranhados no cabelo de Temperance. Eles seriam dolorosos para sair. Uma simples trança a teria salvado da tortura, mas ela duvidava que trançasse o cabelo na próxima vez que cruzasse a montanha. Não que ela fosse rebelde. Ela amava como o vento batia suas ondas para trás dela como uma flâmula.

E oh, ela adorava voltar para casa.

A casa era bastante grande e suavemente iluminada por grandes lareiras brilhantes em cada cômodo e dezenas de velas com os dias mais curtos. As paredes eram finas, mas alinhadas com tapeçarias pesadas e coloridas costuradas por uma hábil avó com dedos mais jovem. Ramos de folhas perenes e azevinhos foram pregados acima da entrada de cada cômodo. Os cheiros de turfa, pinho doce e biscoitos de amora-preta encheram a casa e a puxaram para dentro. Uma cozinha se abria para a direita. Dentro havia um enorme forno de pedra e prateleiras cheias de potes de ferro e tigelas forjadas pelo seu amigo William, o ferreiro. Uma mesa de corte espaçosa ficava no centro da sala quente. Sacos de vegetais e frutas pendiam das vigas e ficavam em colunas de madeira para protegê-los dos roedores, não que houvesse algum com TamLin, a gata perigosa de Temperance, à espreita. Perigosa, isto é, para qualquer um que não a pegasse com rapidez suficiente.

Temperance beijou profundamente seu pelo depois de trocá-lo pelas bolsas de diferentes ervas e especiarias que ela trouxe para dentro. Não precisaram comprar frutas ou verduras, pois tudo era compartilhado dentro do povoado.

— Sentiu minha falta, Tam?

Ela beijou seu pelo sedoso novamente, então tirou um biscoito de uma tigela. Ela deu uma mordida. As bagas eram doces e deliciosas. Como tudo, eles cresceram em Linavar. Sua avó disse que suas safras eram tão saborosas porque foram colhidas com dedos felizes e agradecidos.

Temperance não sabia se a avó estava certa, mas ela correu de volta para pegar outro biscoito antes de seguir para o grande salão de jantar. Seu ambiente favorito na casa era suavemente banhado em tons clarete e dourado da lareira de pedra e as paredes de madeira polida refletindo a luz. As cadeiras e bancos duplos, feitas de madeira e almofadadas, foram construídas para o conforto e conveniência. Mesas feitas de cerejeira foram colocadas, algumas para bebidas, outras para jogos. Livros, cuidadosamente colocados em prateleiras de madeira que ela ajudou seu pai a fazer quando ela tinha oito anos, cobriam duas das paredes. As outras estavam enfeitadas com obras de arte que ela pintou. Ela adorava aqui, e hoje estava especialmente bonito, decorado para o Natal. Guirlandas de hera e louro da montanha, junto com azevinho fresco, enfeitavam cada manto e prateleira, e cada mesa também. A avó adorava cozinhar, e comemorar dias nos quais ninguém mais tinha ouvido falar dava a ela um bom motivo para fazê-lo. Nas duas últimas noites, eles haviam celebrado de tudo, desde o trabalho de parto de Maria até os sonhos dos magos. A própria pequena contagem regressiva da avó para o Natal, embora as celebrações de Natal fossem proibidas. Depois de festejar juntos e compartilhar risos, todos sairiam de casa e cantariam sob as estrelas.

Seu pai havia construído o salão grande o suficiente para caber todos. Como líder de Linavar, ele queria um lugar para as pessoas se reunirem nas noites frias de inverno, para reuniões ou festas. Como líder, ele também cuidava de todas as negociações com seu lorde e os mantinha a salvo. Ele se certificou de que todos recebessem porções iguais da colheita. Se havia disputas, ele as ouvia e as resolvia. Ele era justo, bom e muito amado.

Temperance ouviu a aprovação da avó dos rolos de tecido que seu filho carregava para dentro.

— Eles são adoráveis, Seth! Eu farei algo especial para Temperance. — Ela gritou feliz, sua voz o seguindo enquanto ele aparecia na porta e sorria para sua filha.

— Você estava certa sobre os padrões. — Ele disse a ela.

— E você estava certo sobre ramos de pinheiro. — Ela colocou TamLin no chão e pegou uma guirlanda nova.

Ele inspirou e acenou com a cabeça, então caminhou até o fogo da lareira e parou diante das chamas.

— Temp?

— Hmm? — Ela respondeu, ajustando o louro da montanha.

— Há algo que gostaria de discutir com você.

Ela ergueu os olhos. Por que ele parecia tão sério?

— Então, você mencionou isso antes.

Ele se voltou para o fogo enquanto ela ficava ao lado dele. Ele começou a falar, fez uma pausa e recomeçou. Ela sorriu para ele para aliviar o que parecia estar o deixando desconfortável. Mas seu próprio coração começou a disparar. O que fez com que o discurso deste líder real vacilasse?

— É Anne Gilbert.

Temperance continuou sorrindo, sem saber o que a vizinha, cinco fazendas adiante, tinha a ver com alguma coisa.

— Eu... ehm... eu me importo com ela.

Temperance piscou. Ele se importava com ela? Desde quando? Ela não percebeu que tinha falado em voz alta até que ele respondeu.

— Eu me sinto assim por ela há mais de um ano.

Enquanto ele falava, Temperance pensava na viúva. A Sra. Gilbert era bonita o suficiente, com cabelo escuro e uma boa figura. Mas...

— Eu gostaria de pedir a ela esta noite que fosse minha esposa.

Ele queria se casar com ela? Temperance não disse nada. Sua cabeça estava girando. Ela nem sabia que a Sra. Gilbert tinha encontrado a graça dele e agora ele estava querendo se casar com ela? Ele deve amá-la. Por que ele escondeu dela?

Ela sabia que havia centenas de coisas diferentes para perguntar, mas só conseguia pensar em uma.

— A avó sabe?

— Ela sabe. — Ele respondeu relutantemente. — Ela adivinhou primeiro e, quando perguntou, eu não neguei.

Seu pai queria ter uma esposa! Temperance tentou não pensar em como essa mudança nos arranjos a afetaria. O que mais a incomodava foi o fato de seu pai não ter confiado nela.

— Por que você não me contou?

Ele se virou para olhar para ela e riu, restaurando sua confiança em seu futuro.

— É tolice, eu sei, agora que te vejo, mas temo que você se sinta desprezada.

Tudo o que ela pôde fazer foi sorrir e balançar a cabeça.

— Eu gosto da Sra. Gilbert. Estou feliz por ela ter um marido tão corajoso e atencioso. Você merece ser feliz em sua vida, assim como o resto de nós.

Ela percebeu o brilho das lágrimas se acumulando em seus olhos enquanto falava.

— Você é tão parecida com sua mãe, Temp. Você e ela teriam sido grandes amigas.

Ele disse outra coisa, mas ela não ouviu. Ela correu para os braços dele e fechou os olhos contra o peito dele, grata nesta temporada de festas, fora da lei ou não, por seu pai.

— O que é isso agora? — A voz grave da avó surgiu atrás dela. — Venha, moça, temos comida para cozinhar antes do banquete.

Temperance engoliu em seco e se separou do pai.

— Avó, se eu não descansar da minha jornada de Kenmore, nunca vou ter outras noites depois disso.

— É a tradição. — Avó disse a ela, deixando-a passar. — E então começa o Hogmanay3. Se você não gosta, converse com seus ancestrais. Eles vão te dizer a mesma coisa. Da próxima vez, não escolha fazer essa viagem, quando sabe que vou precisar de você.

Temperance resmungou ao sair e duvidava que seus ancestrais tivessem algo a ver com um banquete chamado Censo de César. Mas avó estava certa sobre uma coisa. Seu cansaço era sua própria culpa. Ela sabia que ela e a avó tinham muito o que cozinhar. Os aldeões trariam comida com eles para colocar na festa. Mas a avó ainda insistia em preparar pratos frescos enquanto a colheita estava no auge.

— O que, — ela se virou para olhar para a avó atrás dela, — meus ancestrais me contariam sobre Anne Gilbert?

A avó a olhou e reconheceu a captura divertida de luz nos olhos de Temp. A velha deu-lhe um golpe do avental no traseiro.

Voltando para a cozinha, Temperance olhou ao redor e notou algo diferente. William não estava aqui. Ele não estava na montanha quando ela voltou para casa. Ele não estava na casa. Se ele estivesse na ferraria, ele a teria visto e saído para cumprimentá-la.

— O que você acha de Papai e Anne Gilbert?

— Acho que seu pai demora muito para tomar decisões. — Disse avó. — Venha aqui. Deixe-me trançar esse seu cabelo antes de começarmos a cozinhar.

Quando Temperance ouviu a voz de William quando ele entrou na casa um momento depois, tentou se virar para vê-lo, e a avó beliscou sua bochecha. Temperance cobriu o rosto e olhou para sua avó.

— Cozinhando agora. Falando mais tarde.

Temperance ansiava pelo dia em que teria sua própria cabana e não houvesse regras a serem quebradas. Até então, ela adorava viver com a avó. Seu coração aqueceu só de olhar para ela. Como seria morar com Anne Gilbert também?

Elas cozinhavam sopa de salmão com cenoura, pastinaga4, uma variedade de vegetais verdes folhosos e alho selvagem. Elas prepararam vários pudins de pão e crannachan5, feito com framboesas frescas, mel e uísque, também queijo crowdie e aveia. Mais comida do que precisavam.

A aldeia de Linavar era bastante pequena, com trinta e um habitantes. Trinta e dois, Temperance se lembrou, quando Lenore Deware, irmã de William, chegou com o marido e seu filho.

Mais comida chegou com os vizinhos de Temperance, e depois que mais velas foram acesas e copos foram colocados em cada mesa adornada com linho e azevinho, toda a comida foi servida.

Temperance sentou-se com a avó, seu pai, William, e a que breve seria sua madrasta, Anne Gilbert, na mesa dos Dewares. Ela tinha ouvido a voz de William mais cedo, quando estava indo para a cozinha. Ela não teve a chance de falar com ele. Ele realmente queria se casar com ela? E tão cedo? Ele não a olhou como um homem apaixonado, mas docemente, como um irmão que a adorava.

— Temp? — Ele perguntou, bebendo a cerveja que seu pai tinha oferecido. — Como estava Kenmore?

Ela sorriu e contou-lhe tudo sobre o mercado. Ela se perguntou se ela era uma idiota. William era ridiculamente bonito, com cabelos escuros e olhos castanhos grandes e luminosos que revelavam seu coração em muitos assuntos. Ele era leal e constante a seu pai, e tinha sido um bom amigo para ela durante toda a vida. Suas pernas eram longas e retas, o peito e os braços bem musculosos por baterem metais o dia todo na ferraria. Qualquer uma das moças de Linavar ficaria feliz em aceitá-lo. Mas a maioria delas o havia descartado anos atrás como sendo perdidamente apaixonado por Temperance.

Mas ele estava?

— Onde você estava mais cedo hoje, William? — A avó perguntou a ele, interrompendo os pensamentos de Temperance. — Minha neta estava preocupada com você.

— Eu não estava preocupada, avó. — Temperance a corrigiu com um breve sorriso em sua direção. — William é um homem adulto. Ele não tem que fazer um relatório de onde estava. — Ela olhou para seu melhor amigo e então franziu a testa. — Mas você parece um pouco pálido, Will. Você está se sentindo mal?

— Estou bem melhor agora que estou aqui. Foi uma longa viagem de ida e volta para Aberfeldy.

— Och, eu tinha esquecido que você foi lá para negociar. — Temperance disse. — Perdoe-me, Will.

Ele sorriu para ela e ergueu as mãos.

— Não há nada a perdoar.

Ela estava grata pelo coração amável de William e por ele não ter falado nada sobre um casamento de Natal.

A avó sempre disse que o amanhã teria suas próprias preocupações. Esta noite, Temperance queria aproveitar o banquete que preparou o dia todo e aproveitar o povo de Linavar. Beberiam, contariam histórias e ririam até altas horas da noite.

Quando todos seguiram o flautista, Angus MacDavies, para os campos atrás da casa para cantar em comemoração ao nascimento do Menino e agradecer pela colheita frutífera, Temperance ficou para trás em casa com William. Já era hora de ela contar a verdade. Ela não queria se casar com ele, e seu pai permitiria isso apenas depois de sua morte em vinte anos, esperançosamente mais.

Nenhum deles ouviu o som de cavalos trovejando no vale.

 


Capítulo 03


A cavalgada Càrn Gorm para o vale não demorou muito. Um frio cortante no ar produziu baforadas de branco dos narizes dos cavalos enquanto desciam a montanha. Fora isso, era uma noite clara. Enquanto cavalgavam, Cailean e os outros Cavaleiros Negros amarraram lenços pretos em volta do rosto e puxaram os capuzes. Para evitar que o que havia acontecido hoje com Patrick acontecesse com mais frequência, eles não deixariam ninguém saber quem eles eram por trás de suas máscaras. Mercenários contratados não eram apreciados. Quem os reconheceu? Por que Patrick foi ferido? Ele nem era um maldito Cavaleiro Negro.

Dali, Cailean podia ver uma procissão de luzes movendo-se na escuridão. Para onde as pessoas da aldeia estavam indo? Seu primo Patrick estava lutando por sua vida por causa de um desses Menzies e eles estavam desfilando pelo vale tarde da noite.

Cailean estava cansado de esperar. Ele queria uma recompensa e estava feliz por eles finalmente estarem a caminho para obtê-la.

Quando chegaram ao fundo do vale, ele olhou por ali.Não havia nada para ver além da escuridão e o pequeno aglomerado de fogueiras e lampiões a Oeste. Ele não tinha estado aqui antes, tendo chegado ao Castelo Lyon’s Ridge uma semana após a colheita, mas ele acreditava que as pessoas estavam nos campos.

Os Cavaleiros Negros procederam com mais cuidado ao entrarem no vilarejo, sem serem vistos, como uma maldição nos vendavais da meia-noite.

A primeira coisa que passou pelos ouvidos de Cailean foi o riso. Encheu o ar como provocações estridentes sobre o que ele deixou quando saiu de casa. Ele afastou os pensamentos de sua família.

Quando os Menzies ergueram suas vozes cantando, ele percebeu que provavelmente estavam comemorando o Natal. Ele os observou nas sombras, ignorando sua alegria e procurando por armas. Um deles tentou matar Patrick e ainda poderia ter sucesso.

Seu olhar percorreu os habitantes, procurando qualquer sinal de agressão.

— Seth Menzie! — Duncan gritou.

Duncan havia contado a ele sobre o líder de Linavar antes deles partirem. Menzie tinha paixão por desafiar o lorde a quem jurou fidelidade, e uma filha que Duncan planejava tomar como esposa um dia.

Cailean não se importava com o desafio de um homem ou com a futura noiva de um insensível lorde.

Algumas das mulheres ofegaram e choraram quando os mercenários mortais cobertos com mantos se aproximaram das fogueiras e ficaram visíveis. Cailean olhou ao redor para o medo em seus rostos. Bom, eles deveriam estar com medo.

— Duncan Murdoch. — O homem alto gritou de volta, dando um passo à frente. — Bem-vindo.

— Eu não preciso de suas boas-vindas nas terras de meu pai. E não fale meu nome.

— Claro. — Menzie concordou.

Então, Cailean pensou, Menzie sabia quem era Duncan por baixo de sua cobertura. Se Cailean tirasse a máscara, o líder da aldeia também o reconheceria como um dos homens que cavalgaram para Lyon's Ridge hoje? Seth Menzie sabia a identidade de todos os Cavaleiros Negros? O coração de Cailean instantaneamente se endureceu em relação a ele.

— Eu não quis desrespeitar, — Menzie continuou, parecendo arrependido, mas sem desviar o olhar ou abaixar o olhar. — O que posso fazer para você? Está tudo bem com o seu pai?

— Para começar, — Duncan zombou do topo de sua montaria, — não traga meu pai até mim. Se você contar a ele que estive aqui, voltarei e não serei tão indulgente. Agora, você pode me dizer o que está comemorando esta noite.

Cailean sabia perfeitamente o que eles estavam comemorando. A mesma coisa, que seus parentes provavelmente começariam a comemorar a qualquer momento. E daí? Murdoch não fez cumprir a lei no Natal. Eles vieram aqui para descobrir quem atirou em Patrick e vingá-lo. Ele lançou um olhar de advertência para Duncan e jurou a si mesmo que se tornasse isso pessoal, em vez de mantê-lo sobre Patrick, Cailean o levaria para o campo de treinamento e o espancaria até que ele perdesse os sentidos.

— Censo de César! — Uma velha com um olho remendado deixou escapar sua confissão. — Como você sabe perfeitamente bem, Duncan Murdoch! Os mesmos dias que celebramos há anos!

— Silêncio, velha! — Duncan gritou com ela, então olhou para Menzie novamente. — Por que você está celebrando César quando meu pai é o lorde aqui? — Gritou, provando para a pequena multidão que observava o quão idiota ele era.

— É um dos acontecimentos que antecederam o nascimento do Nosso Senhor. — Afirmou o líder, com os pés bem plantados na terra em que trabalhava.

— Você quer dizer o Natal?

Quando o líder assentiu, Duncan estremeceu de fúria.

— Então você está infringindo a lei, mais uma vez. Ano após ano você desafia as leis do país, Menzie.

— Quem se importa com isso, Murdoch? — Cailean manteve a voz baixa, mas mortal, para que apenas os homens mais próximos a ele pudessem ouvir.

Duncan o ignorou.

— O que você quer, Duncan? — Menzie gritou.

— Eu vejo em seus olhos. — Duncan disse, colocando seu sorriso impiedoso no líder. — O que você quer fazer comigo é bastante claro. Você quer atirar em mim, assim como atirou em um dos meus homens hoje. Você é um assassino...

— Eu estava em Kenmore. — Menzie o interrompeu, sua voz aparentemente calma, mas rouca. Ele olhou ao redor da luz do fogo em busca de alguém que evidentemente não encontrou.

— Você usou a passagem na montanha ao retornar? — Duncan perguntou a ele. Cailean esperou, prendendo a respiração, por sua resposta.

— Sim. — Disse o líder, erguendo o queixo como um garanhão orgulhoso.

Duncan fez um gesto para que Cutty desmontasse e segurasse o líder, depois voltou seu sorriso vitorioso para Cailean.

— Eu não disse que eram os Menzies?

Os Menzies. Durante anos, eles guerrearam com os MacGregors. Eles não haviam mudado, sempre procurando problemas. Agora eles haviam encontrado.

Cailean acenou com a cabeça para Cutty.

A adaga do assassino brilhou à luz da lua.

— Não! — A velha gritou, batendo inutilmente no braço de Cutty enquanto mais aldeões começaram a gritar. — Solte meu filho!

Cailean olhou horrorizado. A vingança era uma coisa. Matar o filho de alguém diante de seus olhos era outra.

— Papai! — Alguém gritou, correndo em direção a eles da grande casa senhorial. — Não o machuque! Papai!

Era a moça do mercado, aquela que Cailean admirara! Seu coração batia forte em seus ouvidos, seu estômago revirou por dentro, e ele soube naquele momento exatamente no que havia se tornado. O homem prestes a morrer era seu pai.

— Por favor, não faça isso! — Ela olhou diretamente para Cailean quando gritou. Um homem estava com ela, seu rosto branco como uma nuvem. Seus olhos em Menzie.

Cailean olhou para Cutty e gritou:

— Espere!

Ele não queria isso. Assim não.

Mas era tarde demais. Cutty deu um passo atrás do líder e passou sua lâmina pela garganta de Menzie assim que sua filha e seu companheiro os alcançaram.

Foi tão rápido que a mente de Cailean não terminou de entender quando o líder começou a cair. Ele caiu aos pés de sua pequena família.

O povoado explodiu em gritos. O som reverberou na cabeça de Cailean até que ele sentiu seu coração começar a bater forte em algum lugar lá dentro. Mas era o lamento angustiante da filha do líder que ele temia nunca esquecer. Pois o lamento subiu em direção aos céus, então desceu como uma flecha direto no peito de Cailean. Quaisquer fragmentos que restaram de seu coração foram completamente destruídos. O tempo desacelerou enquanto ele a observava cair de joelhos e arrastar o pai para os braços, de onde ele deu seu último suspiro.

Cailean não conseguia respirar. Ele queria vingar seu primo. Ele estava com sede de sangue. Mas ver a moça soluçando com o pai nos braços, da mesma forma que Sage e Alison morreram nos dele, o abalou profundamente. Ele conhecia a dor que contorcia seu rosto e a fazia gritar de algum lugar tão profundo, que até ela parecia não reconhecer o som que vinha dela.

— Não! Não! — Ela chorou. — Por favor, papai, não!

Cailean queria sangue e ele conseguiu.

Ele se sentia mal.

O tempo acelerou novamente e ele se moveu para bloquear o caminho de Duncan para a família.

— Nós precisamos ir. Agora.

— Provavelmente foi ele quem atirou em seu primo. — Duncan o lembrou friamente enquanto o choro da mulher enchia o ar.

Provável. Eles nem sabiam com certeza. Cailean suspeitou que, para Duncan, isso não tinha nada a ver com Patrick.

— Nunca saberemos agora, não é?

— Eles sabem. — Disse Duncan com um grunhido e um brilho nos olhos. Ele estava faminto por mais sangue. Ele estava faminto pela moça. Cailean sabia antes de abrir a boca.

— Ela vai confessar se eu a levar.

Cailean ergueu a palma da mão. Duncan sem dúvida a destruiria, se Cailean já não o tivesse feito. Ele arrancaria tudo o que restasse de seu coração alegre até que não houvesse mais nada além de miséria. Ela acabaria como todas as outras em Lyon's Ridge. Seus olhos gloriosos não iriam mais... Ele estava louco? Ele estava prestes a deixar seu coração governá-lo na noite em que mais precisava que seu coração permanecesse desapegado?

— Vamos sair daqui agora. — Ele tinha que ir. Ele tinha que fugir dos gritos, dos gemidos de uma filha que embalava o corpo inerte do pai.

— Nós iremos embora quando eu disser. — Duncan Murdoch rosnou para ele.

O olhar frio e cinza azulado de Cailean o fez recuar.

— Mova seu maldito cavalo, Murdoch, ou vou colocá-lo em suas ancas na frente de todas essas pessoas.

Duncan piscou e, sabendo que Cailean poderia fazer isso, disse aos homens que eles estavam partindo.

Cailean permaneceu nas sombras, observando as três mulheres que caíram sobre o corpo de Menzie. O resto dos aldeões chorava ou tentava ajudar. Ninguém poderia.

Seu olhar permaneceu nas mulheres... na garota despreocupada do mercado. Ele entendia como ela se sentia. Este era o pai dela, o filho da outra e provavelmente o marido da terceira. Cailean queria vingar Patrick, mas não havia considerado o custo de sua decisão.

Ele vigiou Patrick naquela noite e caminhou diante de sua cama o tempo todo. Ele não conseguia dormir. A culpa o corroeu, deu vida à besta escura que ele havia soltado.

— Patrick, — disse ele ao lado da cama de seu primo inconsciente. — O que eu fiz? Fui para Linavar para matar, nunca suspeitando que algo pudesse ser pior do que minha própria perda. Mas eu estava errado.

Och, eu estava errado. Infligir essa dor em outra pessoa é pior. É o inferno.

E Cailean precisava de expiação.

Ele também precisava saber que Seth Menzie não morreu à toa. Foi ele quem atirou em Patrick? Se ele tivesse, então houve justiça, não importa quão cruel, ou quanto Cailean se arrependesse agora, tinha sido feita. Mas se ele não tivesse... Cailean precisava saber.

Depois de garantias de que Patrick viveria, Cailean trocou sua capa de pele por seu plaid e trocou suas botas negras pelas botas de couro em que ele havia chegado. Ele partiu de manhã cedo. Ele jurou ao primo inconsciente que voltaria em algumas horas e que, quando Patrick estivesse bem o suficiente para viajar, eles partiriam de Glen Lyon. Mas havia coisas que ele precisava ver primeiro.

Ele freou seu cavalo e subiu na crista de Càrn Gorm. A névoa estava densa em torno de suas panturrilhas esta manhã e ele mal conseguia distinguir a fileira de luzes se movendo em direção a um campo à distância. Ele percebeu que era uma procissão de enlutados. Na noite anterior, eles haviam comemorado e agora estavam indo enterrar Seth Menzie.

E se Menzie fosse o homem errado? E daí se ele reconheceu Duncan em sua máscara? Ele conhecia o filho do lorde bem o suficiente, de acordo com Duncan. Que expiação Cailean esperava que eles lhe dessem? Eles provavelmente tentariam matá-lo. Mas ele estava coberto. Ninguém tinha visto seu rosto. A lógica disse-lhe para voltar ao castelo e sentar-se com Patrick. Mas ele argumentou consigo mesmo que só demoraria algumas horas.

E algo o trouxe de volta aqui. A necessidade de encontrar a verdade... e mais do que isso, a necessidade de consertar as coisas. Mas como ele poderia? Ele tocou as botas nos flancos do cavalo de qualquer maneira e desceu correndo as montanhas íngremes. Ele desmontou quando chegou ao povoado e amarrou seu cavalo a uma árvore. Seu coração batia forte enquanto ele avançava a pé.

Não era tarde demais para voltar. Ele não queria participar de mais nenhuma dor. Ele não queria ver nenhum dos aldeões, nem falar com eles. E se ela o visse? O que ele poderia dizer a ela? Ele não tinha motivo para estar aqui, mas permaneceu e ficou fora de vista quando a viu chegar com sua família. Ele foi um tolo por ficar quando eles começaram a homenagear seu ente querido morto. Och, o que ele se tornou para causar tanto sofrimento a uma família, não, a uma aldeia inteira? Ele era um monstro, muito sombrio para a lógica.

Temperance agarrou TamLin contra o peito e observou William e alguns dos outros aldeões abaixarem o caixão de seu pai no chão.

Ela não choraria. Ela não conseguia. Ela não tinha mais nada.

A manhã estava nublada e a terra estava dura devido à geada. Levou quatro horas para cavar um buraco grande o suficiente. Era como se o chão não quisesse seu pai. Temperance não queria deixá-lo ir. Ela queria abrir aquele caixão odiado e tirá-lo das garras da morte. Ela queria amaldiçoar William por ser tão determinado para conquistar o solo congelado, e oh... ela amaldiçoou os Cavaleiros Negros.

O coração de William está perdido para você. O que você pretende fazer sobre isso, Temp? Seu pai estava diante dela, alto e forte, seu cabelo escuro soprado pelo vento de um frio dia de outubro não muito tempo atrás. Seu sorriso era amplo, bonito e feliz. Ele estava sempre feliz e a ensinou a ser o mesmo. Isso acabou agora.

Perdoe-me, Temp. Suas últimas palavras, ditas em um sussurro estrangulado antes que sua vida o deixasse. Perdoá-lo pelo quê? Por morrer? Oh, mas não foi culpa dele! Duncan Murdoch e seu bando foram os responsáveis.

Como ela continuaria quando sentia como se seu coração tivesse sido arrancado de seu corpo?

Ela ergueu o olhar para seu amigo de infância. Seus ombros estavam pesados de exaustão, mas seu rosto mostrava apenas tristeza. William amava seu pai. Ele entendia sua dor e a dureza da verdade que, como ela, ele não estava lá para pará-lo.

Vinte anos se passaram em uma única noite. Ela teria que se casar com William agora. Ela e a avó precisavam da proteção de um homem. Quem melhor do que aquele que seu pai havia treinado como seu sucessor, caso algo acontecesse com ele? Algo aconteceu. Seu pai, seu doce e maravilhoso pai, estava morto e ela viu isso acontecer. Ela tinha visto aquele Cavaleiro Negro acenando em aprovação antes que seu amigo diabólico cortasse a garganta de seu pai bem na frente de sua pobre avó e Anne Gilbert. Ela nunca tiraria o sangue de seu pai de sua capa. Ela nunca esqueceria seu último suspiro, suas últimas palavras, enquanto ele a olhava. Ela não queria esquecer. Ela começou a chorar novamente, mas suas lágrimas foram levadas pelo vento. Ela nunca ouviria sua voz novamente, ou o veria curvado para o solo em seus campos. Ela nunca veria seu sorriso novamente, lançado sobre todos os que o saudaram, e suave e indulgente com ela.

Temperance ouviu enquanto a avó dizia algo bonito sobre seu filho. Havia muitas opções para escolher. A avó falou sobre sua justiça e consideração e muitos dos moradores concordaram enquanto enxugavam os olhos. Temperance mordeu o lábio e lutou para não chorar com eles quando a avó contou sobre sua lealdade e devoção inabaláveis, e falou sobre como ela iria sentir falta dele.

Foi a vez de Temperance falar. O que ela iria dizer? Havia mais do que apenas o peso da tristeza sobre ela. Havia raiva. Havia culpa por não ter estado lá para impedir Duncan de matar seu pai.

Não haveria mais risadas, não haveria mais brincadeiras com ele, a avó e os outros enquanto trabalhavam na terra. Acabou as conversas tarde da noite com ele sobre política e vida. Eles tinham tirado tudo dela.

Ela baixou o olhar para o caixão, agora colocada no lugar. Levou um momento para reunir forças para falar sem um soluço. Mas finalmente ela o fez.

— Eu vou matá-los, papai. Vou matar todos eles.

Ela fungou e começou a se virar para a avó para que ela pudesse sair. Ela teve o suficiente. Ela não aguentaria mais um instante.

O fato de William falar a sua vez a deteve.

— Eu juro não deixar Temperance cumprir sua promessa mais recente para você, meu amigo.

O quê? Ela se voltou contra ele. Ela não se importava se William era seu melhor amigo e seu prometido. Quem diabos ele pensava que era para prometer a seu pai que a faria quebrar seu juramento?

— William.

Ele a conhecia bem o suficiente para perceber o frio em sua voz, a faísca de desafio em seus olhos. Não importava se a avó deu-lhe um forte puxão e puxou-a para longe. Ela não precisava dizer mais nada. William sabia que ela estava furiosa. Ela terminaria isso mais tarde. Era a hora de ir. Havia muito a ser feito em preparação para a celebração desta noite. Era costume celebrar a vida de qualquer pessoa que enterrassem em Linavar. Hoje à noite eles celebrariam Seth Menzie. Depois disso, eles não celebrariam mais nada até o Natal e o Hogmanay.

Temperance ainda estava furiosa quando a avó a examinou com seu olho bom enquanto caminhavam juntas de volta para casa.

Temperance largou a gata e a observou correr à frente.

— Por favor, avó. — Ela argumentou, embora a avó não tivesse dito uma palavra. — Não venha dizendo que devo começar a me comportar como uma dama e parar de me defender.

— Quem falou nisso, moça? Você nunca vai me ouvir cuspir tal absurdo. Mas há um lugar para derramar suas paixões, e não é no enterro de seu pai.

Sim! Sim, a avó estava certa. Este dia não era sobre ela e William. Era sobre seu pai. Ela se desculpou com a avó e continuou em direção a casa.

— Temperance? — A avó gritou atrás dela, parando-a. — Manter-se ocupada e celebrar sua vida esta noite e nos dias que virão vai te curar. — Ela prometeu.

Temperance assentiu e continuou. E se ela não se curasse? O pensamento a assustou. Ela queria matar, não cozinhar. Ela nunca matou ninguém antes e não poderia simplesmente cavalgar até o Castelo Ridge em Lyon e começar a atirar suas flechas nos Cavaleiros Negros e esperar viver. Não. Ela tinha que inventar uma maneira de matar os mercenários e seu líder e garantir a vitória. Ela faria isso. A vida de seu pai custaria a deles.

Ela chegou em casa antes da avó, mas não entrou. Ela se virou ao som do vento uivante varrendo o vale coberto de gelo. Ela puxou a lã escura do manto mais apertado ao redor de seus ombros e olhou para o castelo de Murdoch à distância, envolto em névoa tênue. Ela odiava isso e todos nele. As pessoas de sua aldeia, seus amigos, não estavam mais seguros. Eles nunca estiveram. Se os mercenários do lorde podiam matar o líder de Linavar, o que os impediria de matar todos os outros? E quanto a ela? A vida que ela esperava era impossível agora, a menos que ela fizesse algo. Se ela não matasse Duncan, nunca estaria a salvo de seus desejos. Ela teria que se casar com William para se manter e a avó seguras.

Algo atraiu seu coração ansioso e sua gata para longe do castelo e para os campos enevoados.

— TamLin! — Ela gritou.

A gata continuou indo até que ela desapareceu na névoa. Temperance estava prestes a chamá-la novamente quando a avó a alcançou e levou em direção à porta.

— Ela virá em seu próprio tempo. — Disse a velha.

Temperance acenou com a cabeça e tentou ignorar o cabelo em pé de sua nuca. Ela correu para dentro e esqueceu tudo quando começou a cortar cebolas e uma variedade de outros vegetais para a celebração desta noite.

Como era costume para a avó, ela estava certa de que TamLin voltaria para casa. E manter-se ocupada ajudou Temperance a manter sua mente longe de seu pai e dos homens que o mataram. Por um tempo, pelo menos. Ela e a avó cozinharam o dia todo, preparando-se para o banquete. Uma vaca velha foi abatida e abundavam os pratos de carne fresca. A comida que os aldeões fizeram para a celebração da noite seguinte foi trazida e compartilhada na festa também.

Finalmente Temperance teve que descansar. A cozinha estava quente e ela saiu para tomar ar fresco. Ela pensou nos eventos da noite anterior. Os Cavaleiros Negros saindo das sombras como demônios do inferno. O medo a oprimiu, urgente e latejante. Ela não iria dormir esta noite, assim como não tinha dormido na noite anterior. Ela nunca havia sentido nada parecido antes. Esse medo. Eles não estavam seguros.

— Oh, papai. — Ela gritou, olhando para o céu de estanho. — O que devo fazer agora? O que será de nós se eu não me casar?

Ela ouviu um som no crepúsculo, à direita, em direção ao celeiro.

— Você deve deixar passar mais de um dia antes de decidir que tudo está perdido. — Disse um homem à sua esquerda.

Ela se virou e olhou para William, seus olhos escuros calorosos nela, como seu sorriso. Droga, mas ela o amava. Ela cresceu com ele. Ele, sendo alguns anos mais velho, havia assumido o papel de seu protetor quando ela tinha seis anos e Rodney Menzie havia zombado disso muitas vezes. William tinha arrancado dois dentes de Rodney e não negou sua culpa quando se apresentou ao pai dela, e ele foi punido por isso. Depois disso, eles se tornaram muito próximos e gostavam das coisas terríveis que fizeram juntos. Como mover colmeias para os canteiros de repolho, cebola e abóbora de seus vizinhos, e permitir que sapos e outros pequenos terrores entrem nas casas das pessoas pelas janelas abertas. Eles se safaram com a maior parte disso e cresceram rindo disso. Eles passaram todos os dias juntos, exceto pelos dois anos que ele passou na masmorra de Edward Murdoch. Como ela poderia não amá-lo? Ela ainda estava com raiva dele, no entanto. Ela estava tão ocupada que não teve a chance de falar com ele.

— Não é, William?

— Nae. Seu pai não gostaria se não houvesse esperança.

— Ele não tem mais uma palavra a dizer. Ele está morto! Ele nos deixou! — Tudo começou com um nó na garganta. Ela deveria ter sabido naquele momento que deveria se acalmar. Mas ela não queria ficar calma. Ela queria chorar e gritar palavrões que sabia. Ela queria desmoronar por um momento, apenas um momento, e sentir falta do pai.

— Ele gostaria que você permanecesse forte, exatamente como pretendo ser. — William se moveu para tomá-la nos braços.

Ela deixou, só porque queria ser abraçada por um forte abraço. Mas ela ficou em silêncio.

 


Capítulo 04


Temperance acordou cedo no dia seguinte e saiu de casa com TamLin. Ela teve o cuidado de não acordar a avó.

Esta era sua hora favorita do dia, quando o resto do mundo ainda estava dormindo, exceto por um falcão do rio cantando intermitentemente na aurora cinzenta. Ela não se importava com o frio. Isso ajudava a entorpecer tudo, e adorava o quão espetacular a terra parecia encharcada de um branco intenso.

Mas esta manhã ela não viu a beleza.

A vida dela mudou muito em um par de dias. Ela havia mudado. Ela sentia em sua barriga: um vazio a roendo, corroendo impiedosamente o resto dela. Ela se sentia assustadoramente imóvel, como se tivesse morrido com o pai. Ela não estava com fome e não conseguia dormir.

Apesar de toda a falta, porém, uma emoção permaneceu dentro dela, tornando-a desafiadora do orvalho frio em seus tornozelos que acelerou seu ritmo. Ela correu para o túmulo de seu pai e falou com ele por um tempo antes de ser distraída por uma lebre gigante. Com TamLin em seus tornozelos, ela perseguiu a lebre por cerca de cem metros, pensando que iria alimentá-la e a avó por pelo menos um dia.

Ocorreu-lhe, como várias vezes desde o dia em que seu pai a deixou, de que agora eram apenas ela e sua avó. Como elas viveriam? E a pobre Anne Gilbert também estava sozinha, chorando na arisaid6 de Temperance até que a lã pudesse ser torcida.

Ela não viu o cavalo à sua frente. Ela não sabia como, mas perdeu isso completamente. Tinha estado lá um momento atrás? Acabou de sair do nevoeiro? Ela correu direto para a pobre besta, assustando-a, e a si mesma ainda mais, antes de ricochetear no ombro maciço do cavalo e cair de traseiro no chão.

O cavaleiro saltou para o chão atrás dela e ajudou-a a se levantar.

— Você está ferida? — Ele perguntou, parecendo bastante preocupado.

Ela esfregou a cabeça.

— De onde você veio?

— Estou... eh... a caminho de Kenmore.

Um viajante, então? Eles não viam muitos viajantes através de Linavar. Ela tentou vê-lo melhor, mas a manhã ainda estava escura e tudo acima de seu nariz estava coberto pela sombra de uma manta de lã sobre sua cabeça. Um Highlander. Ela podia ver sua mandíbula, no entanto, quadrada e classicamente forte, seu queixo, marcado com uma covinha atraente que se acrescentava à curva de seu lábio inferior carnudo.

— É assim. — Ela engoliu em seco.

— Você está estável o suficiente para que eu possa soltá-la? — Seu hálito quente caiu contra seu rosto. Profundamente suave, sua voz ressoou em seus ossos como o som de um instrumento poderoso, tentando-a a fechar os olhos e suspirar de prazer.

Ela percebeu então que ele ainda estava segurando suas mãos. Não. Não, ela não era estável o suficiente.

— Sim. — Ela puxou as mãos e levou os dedos às têmporas. — Não acredito que esbarrei no seu cavalo! — Ela riu pela primeira vez em dois dias. — Normalmente não fico cega de coisas tão grandes.

— Coisa boa. — A ligeira inclinação de seu lábio superior a fez quer levantar os dedos e passá-los sobre sua mandíbula dura. — Senão, essas montanhas já teriam caído sobre você.

Sua voz a tomou como o vento dançando sobre as montanhas. Ela gostou do som disso.

— Foi a marcha fúnebre de seu parente que eu vi ontem?

— Sim. — Disse ela, acalmando-se, esquecendo-se de sua aparência misteriosa enquanto sua tristeza voltava. — Era meu pai.

Ele baixou a cabeça, deixando o resto do rosto na sombra.

— Por favor. — Ele fez uma pausa, então. — Aceite minhas mais profundas condolências. Meu coração dói com sua perda.

Ela não tinha certeza se era a sinceridade em sua voz ou a ternura nela que queimou sua garganta e a fez chorar.

Ela se recompôs rapidamente e riu novamente enquanto enxugava os olhos ardentes. Ela assegurou-lhe que não estava ferida, apenas maluca.

Ele balançou a cabeça em desacordo, mas não disse mais nada.

Ela queria fazê-lo sorrir, mas algo sobre a forma como sua boca era desenhada, como se fosse feita para trejeitos taciturnos e melancólicos, a convenceu de que ele não sorria facilmente.

William chamou seu nome e ela se virou para olhar para trás, para a casa à distância.

— Você deveria ir. — Quando ela se voltou para o estranho, ele já estava em sua sela e se virando para sair.

Ela não o viu até duas horas depois, quando ela e TamLin o encontraram de bruços e inconsciente ou morto, e sangrando justo onde seus repolhos cresceriam na próxima primavera.

Ela esperava que ele não estivesse morto.

Cautelosamente, ela se abaixou e se certificou de que ele ainda respirava. Depois de determinar que ele ainda estava vivo, ela subiu as saias sobre os tornozelos e disparou em direção a casa.

Dez minutos depois, ela voltou com William e a avó ao seu lado, e uma dúzia de outras pessoas atrás dela, com mais vindo. Ela não disse a eles que tinha falado com ele antes e que homem agradável era. Eles ficariam com raiva por ela ter parado para falar com um estranho. Mesmo se ele a tivesse ajudado depois que ela colidiu com seu cavalo.

— Ele foi esfaqueado duas vezes nas costas. — A avó informou, verificando-o com as mãos e seu único olho.

— Quem apunhalaria um homem pelas costas? — Temperance perguntou, e eles examinaram as montanhas até Lyon's Ridge. Duncan Murdoch, sim. Mas por que esse homem? Como ele conhecia Murdoch?

— Ele precisa de nossa ajuda. — A avó disse à pequena multidão. — Quem se oferece para ajudá-lo a levar para casa, dê um passo à frente.

— E se ele for um Cavaleiro Negro? — William deu um passo à frente, mas hesitou, levantando a palma da mão para impedir qualquer outro avanço. — Queremos ajudá-lo?

Temperance certamente não sabia, mas como eles saberiam quem era até que ele acordasse e contasse? Para que ele pudesse abrir os olhos, precisava se recuperar.

Além disso, ela não acreditava que ele fosse um Cavaleiro Negro. Ele era muito gentil, seu toque muito terno.

— O que importa se queremos isso ou não, William? — A avó perguntou a ele, provando que ela era mais indulgente do que o resto deles, parando na frente de Temperance para bloquear seu olhar. — Fazemos o que é certo.

Sim, eles faziam o que era certo. Isso é o que o pai de Temperance havia ensinado a ela. A vida a ensinou diferente, no entanto. Fazer o certo não salvou sua vida.

— E quanto a Marion? Fizemos bem por ela? — Ele perguntou a avó corajosamente. — Ela é um membro desta aldeia. Eles a levaram.

— Não sabemos se os Cavaleiros Negros são responsáveis pelo desaparecimento de Marion. — A avó respondeu com uma voz calma. — E lembre-se do aviso de Seth para tomar decisões com sua lógica e não com seu coração.

— Como posso negar meu coração. — Respondeu William. — Quando ele visa manter o povo de Linavar seguro?

Sim, Temperance pensou, ouvindo-o. Eles precisavam dele.

— Um temperamento estável e inteligência nos ajudarão, William.

Dispensando-o, a avó ordenou que o estranho fosse trazido para a casa. Temperance o seguiu e percebeu o brilho nos olhos de William ao passar por ele. Ele estava tão sério sobre tomar o lugar de Seth como líder? Ela esperava que sim. Ele foi o único que se preparou para a tarefa. Ele poderia fazer isso? Ele poderia manter o povo seguro de Murdoch e seus mercenários mantendo boas relações com o lorde? Ele ficou furioso quando Marion desapareceu algumas semanas atrás. Alguns suspeitavam que ela havia fugido com um homem de Fortingall ou Kenmore, mas William parecia tão certo de que Duncan e seus homens a haviam sequestrado. Ele tomaria o assunto em suas próprias mãos agora que Seth se foi?

— Você vai me ajudar na recuperação dele. — Disse a mais velha à neta, trazendo seus pensamentos de volta ao presente.

— Claro, avó.

A avó ofereceu a William um sorriso quando ele ajudou a carregar o estranho. Seria justo se casar com seu amigo? Ela não estava apaixonada por ele. O que a justiça importava? Eles faziam o que precisava ser feito. Ela precisava se casar com ele, e o faria. Afinal, era o que seu pai queria.

Quando eles finalmente chegaram em casa, William mandou os vizinhos de volta para suas casas, prometendo-lhes um relatório assim que tivesse um. Temperance preparou trapos limpos, água limpa, uma garrafa de seu uísque mais forte, uma agulha, um pouco de linha e sua tigela de carvalho envelhecido.

Eles o levaram para o quarto de Temperance, já que era o mais próximo da cozinha e de todas as ervas que avó precisava.

Temperance não se importava de dormir com sua avó por uma ou duas semanas. Nenhuma delas queria dormir no quarto de Seth.

Assim que o colocaram na cama, manchando a coberta com seu sangue, ocorreu a Temperance que ele poderia muito bem morrer naquele local. Ela não queria que ele fizesse isso. Não havia nada que ela pudesse ter feito por seu pai. Este estranho ofereceu a ela uma chance de curar pelo menos uma pequena parte de si mesma.

Ele a ajudou a se levantar. Ela o ajudaria a viver.

— O que mais você precisa de mim? — Ela perguntou enquanto sua avó tirava primeiro a claymore embainhada, depois o plaid e as roupas de baixo. Depois disso, ela o cobriu dos pés à cintura com o cobertor de Temperance. Ela o tinha virado de barriga já que ele foi apunhalado nas costas. O sangue cobriu a extensão de seus ombros, derramando de dois cortes profundos em sua carne.

Temperance recuou. O sangue a lembrava de seu pai. Ela duvidava que elas pudessem salvar este homem.

— Avó...

— Pegue minhas ervas, pomba. Traga-me manjericão, cravo, coentro, hissopo, lavanda, hortelã e sálvia. Preciso do meu almofariz e pilão. Você está ouvindo, Temperance?

— Sim, avó. — Temperance separou o olhar de suas feridas e repetiu a lista.

— Traga-me também suco de alface, flor de bryonia, flor de meimendro, suco de cicuta7, vinagre e um pouco de vinho, caso ele acorde.

Temperance saiu correndo, ocupada demais repetindo as listas da avó em sua cabeça para pensar em todo o sangue. Assim que voltou para o quarto, esperou enquanto a avó escolhia as quantidades precisas de tudo que ela precisava e, em seguida, fez Temperance colocar os ingredientes em sua tigela de madeira e cozinhar o cataplasma sobre as chamas das velas. Logo o cheiro de menta impregnou o ar e deu ao ambiente uma sensação mais aconchegante do jeito que a temporada de festas deveria ter sido, mas não parecia.

Querido Deus, como qualquer um deles celebraria o Natal e o Hogmanay sem seu pai? Este deveria ser um momento de alegria e amor compartilhados em torno de mesas decoradas e presentes de especiarias, novas ferramentas e artigos de couro. As casas deveriam ter sido preenchidas com os deliciosos aromas de bolos e pudins de Natal, tortas de carne picada e biscoitos amanteigados, não lágrimas.

Temperance pôs de lado seus pensamentos de alegria e sombriamente observou a avó trabalhar na limpeza das feridas do estranho, depois aceitar o ferro em brasa que William lhe deu. Ela finalmente desviou o olhar quando Avó abaixou o ferro e a carne do estranho estalou em seus ouvidos.

— Temperance. — A avó acenou para ela quando ela terminou. — Venha aqui e aplique o cataplasma. eus dedos e pulsos doem. Vou tirar uma soneca rápida.

— Eu?

— Sim, ou alguma doença se abateu sobre você também, que a impede de usar suas mãos? — Sem esperar por uma resposta, a avó empurrou a tigela para ela. — Venha agora, você está perdendo seu precioso tempo. Comece a tarefa e mantenha-o longe de infecções. Vou verificar mais tarde. Och, e esfregue um pouco dos meus óleos em sua pele e tenha uma bebida pronta se ele acordar.

Não foi nenhuma dificuldade. Na verdade, Temperance gostava de tocá-lo. Ela manteve seus sentimentos ocultos por trás de traços estoicos enquanto movia os dedos em torno de suas feridas. Ela estendeu as mãos lentamente nas costas, aplicando cuidadosamente a mistura, amaldiçoando a alma que tentou tirar sua vida. Imagine matar essa obra de arte. Deus, mas ele foi esculpido como um ídolo de argila seria pelos dedos de um mestre escultor habilidoso. Ora, quando ela o conheceu, ela não foi capaz de deixar de notar que até mesmo suas calças se encaixavam perfeitamente. Ela olhou para o perfil dele apoiado em seu travesseiro. Sem adornos por um capuz de lã ou sombras, seu rosto repousante a hipnotizava. Sua boca carnuda e sensual ainda fazia beicinho, mesmo em seu sono.

Temperance sentiu pena dele. Ele foi apunhalado pelas costas. Um covarde o fizera. O pior covarde que ela conhecia era Duncan Murdoch. Mas por que ele iria querer este homem morto, a menos que o conhecesse?

William a observava perto da porta. Ela limpou a garganta e parecia mais diligente em seu trabalho. Ele não gostava que ela tivesse que cuidar do estranho bonito, mas não podia impedi-la de fazer isso.

— Ele poderia ser um deles. — Disse ele quando ficaram sozinhos, conhecendo-a bem o suficiente para saber as coisas certas a dizer para fazê-la não desfrutar de seu dever. Que o estranho era possivelmente um Cavaleiro Negro.

— Ele pode não ser. Meu pai gostaria que eu o ajudasse até ter certeza de quem é o estranho. — Se ele fosse um dos mercenários de Murdoch, ela o mataria.

Depois que ela o curasse.

— Temp, — Seu amigo disse suavemente. Quando ela olhou para cima, ele desviou o olhar. — Devíamos falar sobre nosso casamento.

Seu coração parou. Agora? Ele queria conversar agora? É claro que ela concordaria com isso pelo bem de seu pai e a avó. Mas ela não queria discutir isso agora. Estranhamente, ele também não parecia querer.

— Isso pode esperar um pouco mais, Will?

— Claro, podemos fazer isso depois do Hogmanay.

Ela sorriu para ele. Ela só quis dizer sobre a conversa deles, mas adiar o casamento era bom.

— Eu preciso voltar para a ferraria. — Ele disse, e então saiu sem dizer outra palavra.

A sós com o estranho, ela deixou seu olhar vagar sobre ele, então mergulhou os dedos no pote de óleo e alcançou seu ombro. Ela nunca tinha visto um homem nu antes, e nunca um com músculos tão flexíveis e esculpidos. Agora que William se foi, ela não pode deixar de se aquecer nas costas deste estranho, os ombros largos, estreitando-se até a cintura. Och, mas ele era glorioso.

Ela tocou a pele dele com os dedos e esfregou suavemente. Ele era duro e majestoso como as montanhas fora de sua janela. Ela respirou fundo e começou de novo. O óleo estava derretendo com o calor de seu corpo, ou dela. Ela não sabia qual. Ela esfregou as palmas sobre a extensão de seus ombros e para baixo em seus braços longos e esculpidos, massageando o óleo curativo. Ele se sentia forte e capaz, e por um breve momento ela se perguntou como seus braços seriam ao redor dela. Ela desceu para seu pulso, sua mão e dedos. Era errado ela ter tanto prazer com os calos que cobriam sua palma, com a elegância simples de seus dedos? Tocá-lo despertou algo nela que William nunca havia despertado.

Ela espalhou as palmas curiosas sobre as costas dele, com cuidado para não tocar em seus ferimentos, e então desceu para sua cintura e a curva suave para cima de suas nádegas. Duas vezes ela teve que limpar a testa e até fez uma oração silenciosa para que ele não acordasse e a pegasse admirando-o com as mãos.

Ele tinha muitas cicatrizes, incluindo duas que pareciam recentes e um buraco de bala, digamos, de seis a nove meses. Sua claymore e plaid o identificavam como um Highlander, e apenas o bom Deus sabia todos os problemas em que os Highlanders se envolviam. Qual era o nome dele? O que ele estava fazendo em Linavar? Onde estava seu cavalo agora? Ele tinha sido roubado por seu belo garanhão? Por que ele foi apunhalado nas costas e não no peito? O que ele estava fazendo em seu canteiro de repolho? Todas essas perguntas e ela esperava que ele vivesse para responder.

Pouco depois, William voltou com Anne, que se ofereceu para ajudar. Will a tinha buscado porque queria Temperance longe do belo estranho? Ele estava com ciúmes? Ele nunca tinha estado antes.

Temperance aceitou a ajuda, decidindo que era melhor ficar longe do homem. A última coisa que ela precisava era uma distração de seus planos para matar Duncan e seus homens.

— Virá, Temp?

Ela assentiu e seguiu William para fora. No momento em que ficaram sozinhos, William se virou para ela.

— Não gosto que você esteja ajudando um Cavaleiro Negro.

— Ele não é um.

— Você não sabe disso. E a maneira como seus olhos ficam suaves quando olha para ele, Temp. — Ele balançou a cabeça para ela como se não a conhecesse.

— Você não está com ciúmes, está, William? — Ela perguntou curiosamente. — Se eu fosse sua esposa, o que ainda não sou, você teria o direito de se sentir como se sente, mas ainda assim odiaria.

— Não estou com ciúme, Temp. Mas você vai ser minha esposa, de acordo com os desejos de seu pai. — Ele a lembrou. Ele estava tentando manter a voz firme e calma, mas estava falhando. — Você é minha prometida e eu preferiria que você não bajulasse um homem que possivelmente poderia ser parte do grupo vil de bastardos invasores naquele castelo.

Bajular? Ela negaria, é claro! E maldição, ela não acreditava que o pobre homem deitado em sua cama fazia parte do grupo de Duncan. Se ele precisasse de ajuda, ela daria. Apesar das ordens de William.

— Eu digo a você que ele não é um Cavaleiro Negro. O que você viu é kilt. Ele é um Highlander, não um mercenário.

Ele a olhou com seus lindos olhos castanhos e ela viu seu coração ali, familiar. Ele queria mantê-la segura.

— E se ele for?

Ela lançou-lhe um olhar brincalhão por baixo dos cílios exuberantes.

— Se ele for, então você pode me ajudar a matá-lo.

 


Capítulo 05


Ela não tinha prometido a William que ficaria longe do estranho, então ficar sozinha com ele em seu quarto mais uma vez não a fez se sentir culpada.

Desta vez, ela o encarou de uma cadeira a alguns metros de distância. Alguém o havia virado de lado enquanto ela estava fora, expondo em toda sua glória o rosto mais atraente e belo que ela já havia visto, aqui ou em Kenmore. A lista de seus atributos agradáveis demoraria muito para ser considerada de uma vez. Ela deixou seu olhar sonolento demorar nas partes dele que ela não tinha apreciado antes, o jeito de sua testa, a ponta atraente de seu nariz, os cílios negros exuberantes que lançavam sombras sobre suas bochechas.

Qual era a cor de seus olhos? Ela se perguntou enquanto o dela se fechava. Ela adormeceu vendo-o respirar, perguntando-se quem ele era e por que diabos permaneceu aqui tempo suficiente para ser apunhalado. Ela sonhou que ele era o príncipe de alguma terra distante viajando para Linavar para se casar. Mas logo seus sonhos com seu belo estranho se transformaram em outra coisa.

Um homem estava sentado em um belo garanhão que nem ao menos estremeceu sob as coxas fortes de seu cavaleiro.

Ele usava uma capa de pele e botas de couro finas pagas por seu mestre, Lorde Murdoch. Ele parecia mortal e movia-se com a graça e a autoridade que haviam sido criadas nele, ao invés de erudito. Seu rosto estava envolto em linho preto, como o do resto dos assassinos ao seu redor. Seus olhos eram de prata ou era apenas o luar brilhando neles?

Ele acenou com a cabeça real, como um imperador dando ordem para matar. Para matar seu pai.

Ele gritou uma palavra, para parar, mas o pai dela, ainda, morreu.

— Espere!

Papai, espere!

Ela abriu os olhos, seu coração batendo como um aríete, um grito em seus lábios. Ela sentiu uma mão em seu ombro.

— Pronto, pombinha. — A avó confortou suavemente quando Temperance acordou de seu sonho intermitente. — Tudo ficará bem.

Como ela poderia dizer uma coisa dessas depois que seu único filho foi morto? Não, decidiu Temperance. Nunca ficaria bem novamente. Nunca.

— A febre do nosso paciente parece ter caído. — A avó a informou, em seguida, enxotou TamLin para fora da cama e sua neta para fora da cadeira. — Ele está se movendo. Eu suspeito que ele vai acordar em breve.

— Avó? — Temperance disse enquanto foi até ele. — Você viu o Cavaleiro Negro que deu sua aprovação para a morte de meu pai? Foi Lorde Murdoch?

— Estava escuro. — A avó balançou a cabeça. — Mas mesmo com as fogueiras acesas, eu não o reconheci.

Temperance assentiu. Não importava. Ela descobriria quem ele era eventualmente, e então o mataria. Agora, porém, o homem em sua cama precisava de ajuda. Ela ficou sobre o paciente, agora deitado de costas sobre as feridas. Ele precisaria ser entregue novamente ao sono.

Ele estava mais frio ao toque. Seu olhar deslizou sobre sua boca e ela quis amaldiçoar em voz alta com a plenitude dela, mesmo em repouso profundo. Ela beijou alguns rapazes aqui e ali. Se ela tinha que se casar com alguém, ele tinha que beijar bem.

Um pensamento indecente de beijá-lo, de tocá-lo mais, como correr os dedos pelos músculos que definiam sua barriga, a fez se sentir corada, e um tanto traidora, já que não o conhecia... e ele estava inconsciente.

— Você e William já marcaram uma data? — A voz da avó e sua pergunta tiraram a atenção de Temperance da visão completa do rosto do estranho.

Ela virou as costas para a avó e pegou seus unguentos.

— Temperance? — A avó perguntou da cadeira.

— Depois do Hogmanay.

— Você ainda não deseja se casar com ele? — A avó perguntou, obviamente ouvindo o desespero na voz de sua neta.

Temperance encolheu os ombros. Haveria muita conversa sobre seu casamento nos próximos dias. De alguma forma ela iria superar isso.

Ela não tinha falado com a avó sobre seus planos de vingança. Sua avó tentaria dissuadi-la e proibi-la. Mas ainda havia uma chance de não ter que se casar com um homem por quem ela não estava apaixonada. Se ela falhasse, se casaria com William para manter a avó segura.

— Meus dias de desejos acabaram. — Disse ela à avó, voltando-se para ela. — Vou fazer o que devo fazer.

— Bom. Precisamos de um homem por aqui para ajudar no trabalho.

— Eu sei. — Temperance pegou um dos recipientes da avó e começou a aplicar uma pomada nas feridas do estranho. Melhor apenas concordar por enquanto. — É só que eu sinto como um cavalo premiado em exibição. Homens, alguns deles meros meninos. — Ela lançou à mulher mais velha um olhar mordaz que ela nunca tinha dominado de verdade. — Vem aqui para comer e ver que tipo de esposa eu vou ser. Eu...

— Você não é um prêmio, querida. — Sua avó disse com uma risada leve.

Temperance deu a ela um sorriso amargo.

— Eu sei disso, avó. Eu só quis dizer...

— Alric de Ayr tem dezessete anos. Velho o suficiente para se casar. Você se recusa a se casar com William porque não o ama e a ameaça do filho do lorde não era tão séria quanto se tornou. Pensei em ajudá-la a encontrar um homem que você ama.

— Ele é dois anos mais novo que eu, a avó. Você...

A avó ergueu a palma da mão, parando-a.

— Só porque você tem um rosto bonito, não pense que todo mundo a quer apenas.

— Eu nunca disse...

A anciã cortou suas palavras mais uma vez.

— Os homens não estão alinhados fora desta porta. Eu praticamente tive que implorar a William para jantar conosco. Vocês são um deleite para mim, mas podem acabar sozinhos com a língua afiada e obstinada de vontade.

— E o que há de tão errado nisso? — Temperance perguntou a ela.

— Criança, — a avó a olhou com amor, — segurança não esqueça. Esqueça tudo o mais. Você realmente quer ficar sozinha pelo resto de sua vida? Você sabe que seu avô, meu amado John, morreu e me deixou uma jovem viúva para criar seu pai sozinha. Era uma vida difícil. Eu não quero isso para você. Você tem dezenove, sabe. Você não ficará eternamente jovem.

— Eu sei, avó. — Temperance disse a ela baixinho. — Mas eu quero amar apaixonadamente quando me casar. Isso é tão errado?

— Não, pomba, não é nada errado. Mas vivemos em um mundo difícil. Seu pai protegeu você o melhor que pôde de Duncan Murdoch, mas Seth se foi e devemos continuar a cuidar um do outro.

Porque Temperance amava a avó mais do que ela queria do seu próprio jeito, colocou o desafio teimoso de lado e conseguiu sorrir.

— Quando William concordou em vir?

— A qualquer momento agora. — A avó a informou.

— O quê? — Temperance se virou para a janela. — É hora do jantar? Há quanto tempo estou dormindo?

— Quem está contando as horas? — A avó perguntou a ela. — Você está tendo um momento difícil e o descanso é bom para você.

— E para você. — Temperance respondeu, percebendo que a avó preparou o jantar sozinha. — Você irá direto para a cama quando o jantar terminar e William partir. Eu cuidarei desta pobre alma enquanto você descansa.

A avó estreitou os olhos sobre ela. Temperance ficou tentada a se virar de novo, familiarizada com o poder do escrutínio da avó.

— Depois de se sentar por um tempo com William à mesa.

Temperance assentiu, sabendo o que ela precisava fazer.

— Vou deixar você orgulhosa de mim, avó. Serei irresistível.

— Temp. — Sua avó disse, levantando-se para sair do quarto. — Você tem orgulho suficiente de si mesma por nós duas. Irresistível! — Ela riu, e por trás dela e Temperance sorriu.

Ela sabia que a avó estava brincando com ela. A mente da avó ainda estava afiada como uma espada bem amada. E ela gostava de mantê-la afiada em sua neta. Ela obviamente notou que Temperance enrubesceu por causa do homem um momento atrás e claramente pretendia acabar com qualquer fantasia tola que Temperance pudesse estar sonhando.

— Nós conhecemos William. — Ela gritou, lembrando sua neta por cima do ombro antes de sair. — Nós não conhecemos este homem. Dê atenção a William, sim?

— Sim. — Temperance respondeu com uma voz suave. William era seu amigo mais querido e sim, ela pode ter acreditado que esteve apaixonada por ele uma vez, há muito tempo, quando todas as meninas começaram a notar a extraordinária profundidade e beleza de seus olhos escuros. Mas a brincadeira e o quase beijo, fizeram seu amor por ele mudar para o puramente não físico. Não havia calor consumindo todo o ar entre eles. Nunca existiu. William sabia disso, é por isso que ele nunca tentou beijá-la. Ela o amava, mas a ideia de se casar com ele a fazia se sentir mal.

— Patrick!

A voz do estranho a assustou. Ela colocou de lado suas pomadas e o confortou.

— Ora. Pronto. — Ela sussurrou enquanto TamLin se enrolava na curva do lado do estranho.

Ele não acordou, mas ela o acalmou. A voz suave dela desacelerou sua respiração e seu coração.

Quem era Patrick? Seu irmão? O homem que o apunhalou? Não tinha notado ninguém com ele quando ela bateu em seu cavalo. Ele estava sozinho. Mas se Patrick fosse o esfaqueador, isso significaria que o estranho deveria conhecê-lo.

Quando ele ficou agitado novamente, ela sussurrou sobre o cabelo escuro caindo sobre sua orelha. Desta vez, ele não ficou mais calmo. Ela tentou aplicar mais pomada e cantar um antigo hino de Natal para ele. Ela cantou sobre as mãos fortes e robustas do mestre construtor, então olhou para baixo para descobrir que estava segurando a mão do estranho, esfregando suavemente o unguento em cada um de seus dedos largos e em sua palma.

No mesmo instante, ela percebeu sua ousadia e também sentiu os olhos dele sobre ela. Ele havia acordado e estava olhando para ela em silêncio enquanto cantava. TamLin ronronou nas pontas de seus dedos, que lentamente a acariciaram.

— Você está acordado. — Temperance disse suavemente, feliz por ele estar. Os olhos que ela tinha se perguntado como deviam ser eram enormes e largos, da cor de um mar gelado. Ela sorriu, completamente seduzida por seu olhar. Pobre homem. Quem era ele? Quem o apunhalou pelas costas? Ela não queria questioná-lo agora. Ele precisava descansar.

Ele não falou, nem retribuiu o sorriso. Ele apenas a olhou, parecendo confuso e angustiado por mais do que seus ferimentos.

— Você está seguro agora. — Ela prometeu. — Tudo ficará bem com você.

Ele desviou o olhar dela, como se não acreditasse ou não quisesse. Ele fechou os olhos e voltou a dormir.

William Deware chegou como esperado. A avó fez Temperance abrir a porta e convidá-lo a entrar. Ela se sentia tola. William tinha estado na mansão mais vezes do que qualquer um deles poderia contar. Ele parecia especialmente bonito esta noite, vestido com calça preta e uma camisa cor de creme, com cinto largo em seus quadris. Ela sabia que deveria ser grata que um homem como William a considerasse uma esposa quando tinha tantas outras para escolher. Ele estendeu um monte de íris roxas de inverno. Ela estava grata por ele.

Mas seu coração se acelerou por causa de outra pessoa. Deus a ajudasse, ela estava prometida e não conseguia tirar um estranho inconsciente de sua cabeça. Tão grande e em forma como o Highlander era, havia algo sobre ele que rasgou seu coração, especialmente quando pôs os olhos nela, como se tivesse passado por algo muito difícil. Isso a fez sentir uma certa afinidade com ele. Ele tinha uma família que estava perdida, uma esposa que reivindicou seu coração e todo aquele corpo esculpido? E por que diabos ela esperava que ele não estivesse? Ela estava atraída por ele, tanto física quanto emocionalmente. William provavelmente a odiaria se conhecesse seus pensamentos.

— Eu sei que você gosta de urze. — Disse seu amigo mais querido, entrando com ela. — Já que você está sempre pulando nelas. — Ele riu brevemente. — Mas a urze de inverno está seca e quando tentei colhê-la, ela se desfez nas minhas mãos.

Pulando? Ele a via como um cavalo, prêmio ou não.

— Sim, William. — Ela disse, seu sorriso tão brilhante quanto o buquê que ela segurou em seu nariz. — É preciso um certo tipo de homem para lidar com urze. Talvez você aprenda um dia.

A avó beliscou seu lado e Temperance ganiu. William riu e tudo voltou ao normal. Exceto que não estava.

Havia um homem em sua cama que acalmava seu coração por um momento, embora William não o tivesse reivindicado inteiramente.

Qual era o nome dele? Ela queria ouvir como soava, como era sair de seus lábios.

Ela se lembrou de ter batido em seu cavalo e da rapidez com que ele saltou da sela para ajudá-la. Ela se lembrava de sua boca carnuda e sensual e de seu queixo com covinhas fortes. Seu hálito quente contra seu rosto e a cadência profunda e sedosa de sua voz quando ele falou com ela derreteram seus ossos.

Meu coração dói com sua perda.

A simpatia dele foi tão genuína que quase a levou a chorar histericamente de novo.

Ela comeu o delicioso assado da avó, codorna e sopa de abobora servida com pão fresco e mel, e vinho para acompanhar, e fez o seu melhor para manter o Highlander forte fora de seus pensamentos.

Ela se odiava por ter deixado o relacionamento dela e de William azedar. Ele era um bom amigo e merecia mais do que ela sentada aqui, desejando que estivesse de volta em seu quarto com outra pessoa.

— É bom passar um tempo com você novamente, William. — Disse ela. — Eu sinto que nós...

Um grito irrompeu de seu quarto. Ela olhou para ele e saiu correndo sem dizer uma palavra a avó ou William.

Ela alcançou a cama primeiro.

— Ele está queimando, avó! — Gritou alto, para que onde quer que a avó estivesse, ouvisse e respondesse.

— Pedaços de panos embebidos em óleos de minha garrafa!

Temperance correu para buscar o que precisava enquanto a avó gritava mais instruções. William observou da porta por um momento, então, sabendo o que era certo e fazendo isso, ajudou Temperance em suas tarefas.

O calor terrível dentro do paciente durou horas, com ele voltando a acordar e sumir no sono.

Uma ou duas vezes ele abriu os olhos e Temperance se viu acalmando-o, suavemente e com ternura. Finalmente, depois de muitos gemidos e gritos de delírio, a febre atingiu o pico.

Foram necessários os três, Temperance, avó e William, e toda a força que puderam reunir para o rolar o suficiente para trocar sua roupa de cama. Ele não podia ficar encharcado em seu próprio suor e correr o risco de pegar outra febre.

Eles cuidaram dele até a manhã seguinte, enquanto ele dormia e lutava contra os demônios em seus sonhos.

 


Capítulo 06


Cailean estava no inferno.

Seu corpo foi consumido pelas chamas. Eles vieram de dentro e de fora, esquentando seu sangue, queimando seus pensamentos e sua mente.

Ele não se lembrava de como havia chegado onde estava, mas sabia quem provavelmente o colocou aqui. Duncan Murdoch. O filho ciumento do lorde finalmente fez algumas besteiras e o matou. Cailean sabia, que Duncan o queria morto. E Duncan provou com Seth Menzie o poder que ele dava ao seu ódio. Agora ele tinha provado isso com Cailean também.

Ele estava morto.

Mas o fogo do inferno? Ele não queria acreditar. Ele sabia que não viveu uma vida exemplar, mas ele fez algo que merecesse a condenação eterna?

O calor o deixava louco, mas a verdadeira tortura era que de vez em quando ele era arrastado para fora da cova em chamas e tinha permissão para se refrescar na presença de um anjo. Ela cantou para ele e o carregou para fora do buraco escuro. O instinto o fez estender a mão para o anjo, uma parte escura e empoeirada de seu coração queria ir para ela, ficar com ela enquanto acalmava sua alma turva. Não. Ele não queria mais ninguém em sua vida. Ele não se permitiria deixar ninguém entrar. Nunca mais. Mas quem era ela? Ela era real?

Alguém forte prendeu seus pulsos. Ele não lutou, mas guardou suas forças para a próxima vez que viesse. Ele sonhava com ela repetidamente, ouvindo-a clamando durante a noite por orientação de um homem por cuja morte ele era responsável. Observando-a na névoa da manhã, segurando uma gata contra o peito e jurando a seu pai vingá-lo. Ele sonhou com outro homem segurando-a e, em seu sono, Cailean sentiu uma pontada de raiva. Finalmente, ele se lembrou dela completamente. Ela era filha de Seth Menzie. Aquela cujo lamento de partir o coração o arrancou da escuridão e o despertou de um pesadelo e o lançou em outro. Aquela que correu direto para seu cavalo e lhe trouxe um sorriso ao rosto.

O que ela estava fazendo aqui com ele, neste lugar de fogo, tão perto que seu hálito quente quase o queimou em brasas? Certamente este anjo de cabelo escuro não fez nada para ganhar um lugar aqui. Não, ele tinha que estar vivo. Isso não era o inferno. A presença dela deu-lhe esperança. Ele não morreu. Mas ele se lembrava do assassinato que ele instigou. Ele se lembrou de balançar a cabeça, dando seu consentimento para Cutty matar, e lembrou-se das sombras de sua casa nos últimos dois anos, desde que Sage morreu. O fogo lambeu sua alma, um lugar destruído que nenhuma pomada fedorenta poderia curar, onde ele mantinha aqueles que amava e perdeu. Um lugar que ele não queria perto de Patrick.

Ele tinha que tirar seu primo daqui antes que Duncan, ou quem quer que tivesse tentado matá-lo, tentasse novamente.

Por que ele não amarrou Patrick em seu cavalo e o levou para casa em Camlochlin? Por que ele permaneceu e voltou para Linavar para expiação?

Ele finalmente acordou na manhã seguinte. Se ele não estava morto, se recusava a se comportar como se estivesse.

Ele estava em uma cama, uma cama bem macia. A dor queimou suas costas, fazendo-o se sentir um pouco mal. A luz do sol entrando cegou-o. Ele ansiava por uma brisa fresca. Apenas uma brisa fresca.

Algo macio e sedoso se moveu por entre seus dedos. Uma pena? Uma pena, talvez? Seu coração se acelerou. Sentia falta de escrever, poemas, odes, qualquer coisa que seu coração pudesse produzir. Seu tio Finn era um bardo de Camlochlin, seu primo Darach também. Corria no sangue de Cailean.

Ele abriu os olhos e olhou para o enorme felino amarelo sob sua mão, régio e levemente interessado nele. Ele tinha visto a gata antes. Ele sabia seu nome.

TamLin.

— Você não deve se sentar ainda. — Uma voz suave à sua direita o informou.

Ele se virou para ver a filha de Seth Menzie se levantando de uma cadeira ao lado da lareira, de frente para a cama. Ela não tinha sido um sonho. O canto dela para ele tinha sido real. Sua voz terna e a sensação de seus pequenos dedos macios esfregando os dele, tudo era real.

Ele não queria estar aqui com ela. Ele desviou o rosto dela para esconder quem ele se tornou. A lembrança dela gritando e coberta com o sangue de seu pai não o deixaria esquecer.

— Eu sei que não estou perdoado.

— Perdoado pelo quê? — Ela perguntou suavemente.

Ela não sabia quem ele era, então.

Eles estavam sozinhos, exceto pela gata cutucando-o para acariciar sua cabeça macia. Ele a empurrou, como fizera quando ela o seguiu na névoa.

— Como você está se sentindo?

Sua voz era suave, com um tom frágil e uma nota de compaixão. Ele não merecia. Ela veio em direção à cama como algo saído de um sonho que sua mente febril havia conjurado. O que diabos ele estava fazendo aqui? Com ela? Porque ela? Talvez ele estivesse no inferno e sua lembrança estivesse aqui para assombrá-lo para sempre.

Ele quase se encolheu quando ela estendeu a mão para sentir sua febre. Ele não queria estar aqui. Não com ela.

— Fique tranquilo, Highlander. — Seu sussurro o levou a ela e ele virou a cabeça para olhar em seus olhos. — Você está seguro aqui.

Seus olhos eram grandes e azuis como o céu, profundos como milhares de oceanos.

— Onde fica aqui? — Ele perguntou.

— Linavar. — Ela sorriu e ele se amaldiçoou por olhar para ela em primeiro lugar. — Na casa do meu pai.

Ele voltou a tentar se sentar. Não. Era possível que um homem inocente estivesse morto por causa de seu desejo de vingança. Mas se Seth Menzie não era inocente, então ela sabia. Ela esteve em Kenmore com seu pai.

Cailean queria respostas. Ele precisava delas. Mas o que ele faria quando descobrisse a verdade?

Ele ficou alarmado ao descobrir que sua respiração era tão curta e seu pulso tão rápido, e ainda mais porque ela tinha algo a ver com isso. Bastava olhar para ela. Não era a ligeira curva de seu nariz sardento, ou a profundidade extraordinária em seus olhos. Em vez disso, era o inchaço vermelho deles e os resquícios de tristeza, o tipo com o qual ele estava muito familiarizado.

— Quem é você? — Ela perguntou a ele.

Ele tinha vindo aqui para contar coisas a ela. Coisas com as quais ele estava envolvido. Sobre a morte de seu pai. Mas quando tentou pensar no que dizer, seu coração disparou e sua mente ficou em branco. Ela tinha passado por muito. Se ela percebesse que cuidou alguns dias de um Cavaleiro Negro trazendo de volta à saúde depois que seu pai foi assassinado, provavelmente terminaria com ela o esfaqueando, acabando com o que Duncan não tinha conseguido, e enviando-o para seu destino escaldante.

Vir aqui foi um erro. Cada segundo que ela cuidava dele tornava mais difícil contar a verdade.

Ele não queria olhar para ela. Olhar para ela tornava difícil mentir. Em vez disso, ele baixou os olhos para a gata que havia voltado para o seu lado, seu olhar envolto em fios de cabelo escuro.

— Eu sou Cailean Grant.

— Cailean.

Ele a olhou por baixo da fuligem de seus cílios quando ela não disse mais nada. Ele achou estranho e um pouco cruel da parte dela simplesmente falar seu nome com um suspiro sussurrado.

— Quem me atacou? — Ele exigiu, protegendo-se contra a suavidade de sua respiração e a delicadeza de seus dedos quando ela os segurou contra seu rosto. Inferno, mas sua boca era bonita. Ele se pegou imaginando se um beijo dela teria um gosto tão doce.

— Eu esperava que você pudesse me dizer. Te encontrei em más condições. Quem fez isso fugiu. Você ainda está um pouco quente.

Claro que sim. Covardes que esfaqueavam homens pelas costas sempre corriam depois que o crime acontecia.

— Onde está minha espada?

— Você vai pegá-la de volta antes de sair. — Disse um homem, parando na porta. Ele cruzou os braços e os tornozelos. — Não sabemos se você é amigo ou inimigo.

Cailean se lembrava de tê-lo visto fugindo de casa com a moça na noite em que os Cavaleiros Negros vieram aqui.

Ele sabia que Cailean era um deles?

Ele morava aqui? Com ela?

— O que você está fazendo aqui em Linavar, Sr. Grant? — Ele perguntou. — Nossos clãs são inimigos. Talvez você seja um dos capangas de Murdoch?

Cailean deu-lhe uma rápida olhada. O homem parecia em forma e pronto para lutar, mais do que Cailean agora. Ele não podia contar a verdade, não enquanto ainda fosse incapaz de se proteger.

— Duncan Murdoch é meu inimigo. — Não era mentira.

— Você o conhece, então? — O homem perguntou desconfiado, e olhou para a filha de Menzie.

Sim, ele conhecia Duncan bem, mas não lhes contaria o quão bem.

— Fui convidado por Lorde Murdoch...

— Por que você seria um convidado dele? — A filha de Menzie o interrompeu, deixando-o ver e ouvir seu desprezo pelos Murdoch.

Por quê? Sim, era uma boa pergunta. Ele precisava de uma resposta melhor do que a verdade de que trabalhava para Murdoch.

— Vim para Glen Lyon para negociar com Murdoch.

Ele parou quando ela se virou, compreensivelmente odiando os Murdochs e a menção de seus nomes.

— Sr. Grant. — Disse o homem, atraindo a atenção de Cailean de volta para ele. — Meu nome é William Deware. — Ele deu um passo à frente, com os ombros retos, o queixo ligeiramente levantado com o orgulho e a confiança de um líder nato. — Deixe-me deixar o fingimento de lado e ir direto ao assunto. Você tem alguma intenção de nos fazer mal? Porque se você fizer isso, eu prometo, vou matá-lo primeiro.

Um canto da boca de Cailean se inclinou para cima. Ele gostava de coragem em outras pessoas. Ele balançou a cabeça, tranquilizando Deware sobre suas intenções.

— Nae. — Seu olhar encontrou o dela e ele jogou de lado seu bom senso ao se aquecer nas brasas de seus olhos, na curva resoluta de sua mandíbula. — Absolutamente nenhum.

Ele deslizou seu olhar de volta para Deware. Se alguém em Linavar atirou em Patrick, talvez essa mesma pessoa tivesse tentado matá-lo. Talvez seu agressor não fosse Duncan, o bastardo que era.

— E você? Você tem certeza de que meu agressor não é de Linavar?

— Ainda não sei, mas farei o meu melhor para descobrir quem é o responsável. — Prometeu Deware.

Cailean não queria que Deware saísse bisbilhotando, procurando respostas. E se ele os encontrasse?

— Por quê? — Ele perguntou. — Eu sou extremamente grato por sua preocupação. Mas por que se meter em problemas por mim? Quase não nos conhecemos.

— Não é por você.

Cailean sabia que não era. Deware não queria trazer os Grants e MacGregors contra ele. Ele estava feliz por Deware não tentar negar. Isso fez Cailean relaxar. Isso não significava que Cailean gostasse dele. Simplesmente significava que Deware não tinha medo de dizer a verdade e Cailean a admirava.

— E, por último, Sr. Grant. — Deware contornou a cama.

— Me chame de Cailean.

— Cailean, enquanto você era hóspede de Lorde Murdoch, por acaso viu uma moça dentro do castelo que parecia estar lá contra sua vontade?

Cailean pensou sobre isso e balançou a cabeça.

— Não, todas as moças do castelo parecem querer estar lá.

Deware parecia como se Cailean tivesse acabado de chutá-lo nas entranhas. O que era isso? Por que Cailean se importava? Ele se voltou para a moça, que o agraciou com um leve sorriso enquanto acariciava sua gata. Ele murmurou uma praga, perguntando-se por que a gata o havia escolhido para se agarrar, e o que um sorriso aberto de sua dona faria a ele.

— Você se lembra do que aconteceu com você? — Ela perguntou com sua voz de feiticeira.

— Nae. — Ele empurrou TamLin para longe. Ela voltou imediatamente.

— Você foi esfaqueado. — Disse ela, estendendo a mão para ele. Cailean parou de respirar quando ela começou a cutucá-lo e tocá-lo com dedos suaves. Levou a maior parte de sua coragem para não deixar seus pensamentos demorarem no aroma fresco e cítrico de seu cabelo enquanto ela o examinava, ou na respiração dela quando seus músculos se retesaram sob seus cuidados.

— Nenhuma das feridas atingiu qualquer órgão vital em você. — Ela continuou, deixando sua voz suave seduzir seus pensamentos já confusos. — Mas quem quer que tenha feito isso queria matar você e quase conseguiu.

— Se não fosse pela atenção constante de minha neta, você realmente estaria morto. — Uma mulher ligeiramente curvada por seus muitos anos de labuta entrou no quarto e caminhou diretamente para o lado da cama. Ela usava um tapa-olho, lembrando Cailean de um pirata que ele vira uma vez no convés do brigue8 de seu cunhado.

Ele tinha visto esta mulher na noite do assassinato. Ele presumiu que ela era a mãe de Menzie.

Isso seria uma tortura. Ele precisava se recuperar rapidamente e partir. Dizer a eles não ia ajudar em nada. Quem precisava de expiação de qualquer maneira?

— Então devo minha vida a ela. — Ele se virou lentamente para olhá-la novamente.

— Certamente que sim. — A velha conseguiu manter o tom amigável enquanto mantinha a voz severa. — Você vai se lembrar de sua dívida nos dias que virão, sim?

— Claro. — Ele escureceu sua expressão, sentindo-se ligeiramente insultado. — Um Highlander nunca esquece o que foi feito com ele, ou por ele.

— Ótimo. — Disse a anciã. — Recentemente sofremos uma grande perda e só queremos paz agora.

— Sim. — Ele desviou o olhar, afastou o cabelo dos olhos e os fechou. — Você perdeu seu filho. Sinto muito por sua perda.

— Sr. Grant, como você sabe que a avó perdeu o filho? — Deware perguntou.

— A Srta. Menzie me disse na primeira vez que nos encontramos.

— A primeira vez? — Deware lançou um olhar perplexo para ela.

Obviamente ela não tinha contado a ele sobre correr direto para o cavalo de Cailean. Droga! Seu cavalo. Duncan o havia levado de volta com ele, alegando tê-lo encontrado sem cavaleiro, sem dúvida, ou alguém em Linavar tinha a besta.

— Nós nos conhecemos antes dele ser atacado. — A moça explicou, lançando a Cailean um breve olhar de aborrecimento.

— Temperance, por que você não me contou?

Temperance? Reflexionou Cailean. Nome estranho. Ele disse isso silenciosamente em sua cabeça. Duas vezes. Que tipo de pessoa chama sua filha de uma virtude?

— Eu não disse, William, porque você iria apenas se preocupar comigo.

— Com um bom motivo! — Ele gritou.

Ela era a esposa de Deware? O que isso importava para ele?

— Você está constantemente saindo sozinha. — William continuou, ao que Temperance respondeu com menos contenção do que seu nome implicava.

A mulher mais velha deve tê-lo percebido observando sua neta enquanto ela discutia com Deware. Ela se inclinou para mais perto dele na cama e disse em voz baixa destinada apenas a seus ouvidos:

— Ela é sedutora, sim?

Ele acenou com a cabeça e não se incomodou em tentar negar.

— Sim. — Ele concordou, sua voz tão baixa quanto a dela. — Ela é isso.

E ela era... tão sedutora, olhos arregalados e sombrios. Mesmo quando ela estava com raiva, não havia nada malicioso em seu olhar. Quando ela olhou em sua direção e o pegou olhando, desviou o olhar antes dele. Velando-se sob exuberantes cílios negros, ela levou seus olhos para baixo, sobre a leve curva de seu nariz, o que indicava uma quebra em um ponto de sua vida. Ele gostaria de ouvir a história disso. Moça forte, ele pensou, então se aqueceu brevemente na plenitude de seus lábios, as curvas bem definidas de sua mandíbula e queixo.

A avó deu a volta em sua cama e ficou na frente dele, bloqueando sua visão de Temperance. Ele piscou e a olhou nos olhos.

— Ela está prometida a William. — A velha senhora o informou um pouco mais alto, puxando a atenção da moça para longe de seu prometido e de volta para eles. — Fomos atacados pelos homens de Lorde Murdoch e perdemos nosso líder. Sem um, sem William, vamos desmoronar sob o peso de nosso soberano. William é forte e ela estará bem protegida.

Desmoronar sob o peso? Que diabos Duncan os fez passar todos esses anos?

— Avó, — A voz de sua neta soou dura e mortificada. — Por que você está preocupando o Sr. Grant com minha vida ou com Linavar, por falar nisso? Ele está apenas passando por aqui. Não o sobrecarregue com nossos problemas. Ele tem o suficiente para pensar. Como quem o quer morto e por quê.

Cailean suspeitava que ele sabia quem o queria morto. Mas e se ele estivesse errado? E se fosse alguém de Linavar? Ele não poderia lutar em sua condição se fosse atacado novamente. Ele olhou para Deware, que o observava atentamente.

— Eu estarei indo hoje à noite. — Ele prometeu a avó. Ele teve bastante sangue e vingança. Ele queria levar Patrick para casa.

A avó lançou-lhe um olhar interrogativo, então o que possivelmente foi um sorriso.

— Oh? — Ela perguntou. — Você encontrou alguém que concordou em levá-lo embora?

Ele quase sorriu de volta. Cailean gostava do espírito agressivo da avó. Ele conhecia muitas como ela e já se sentia confortável perto dela. Ele queria dizer a ela que não precisava ser transportado. Mas, inferno, ele tinha certeza de que se jogasse as pernas para o lado da cama e tentasse ficar em pé sobre os próprios pés, cairia no chão.

— Você não está em condições de se mover. — Temperance repreendeu-o gentilmente, chegando mais perto até que suas mechas caíssem em seu braço. — Você mal consegue se sentar. Sério, avó, por que você discutiria sobre sua partida tão cedo?

— Porque, — a avó respondeu, — seus olhos caem sobre você como um homem que não dá a mínima para quem William é.

Deware parecia não dar a mínima para quem ele era para ela. Se ela fosse de Cailean, ele não ignoraria a ameaça de outro homem.

Ele teve que admitir que a avó estava parcialmente certa. Ele não conseguia tirar os olhos de sua neta e bem que tentou. Mas cada vez que ela lhe oferecia seu sorriso compassivo, sua barriga dava um no com algum sentimento há muito esquecido e indesejado. Desejo. E não apenas um desejo de tocá-la, beijá-la, mas um desejo de conhecê-la, de se permitir aproximar-se dela de uma forma ainda mais íntima. Ele lutou e enterrou bem fundo.

— Eu não sou um canalha para tentar roubar a mulher de um homem. — Ele assegurou a todos. — Sua prometida está a salvo de mim. — Disse ele a Deware, mantendo sua voz suave, sua expressão estoica. — Eu não a quero. — Ele não queria ninguém. Ele preferia permanecer desapegado e não afetado pelas tragédias que a vida trouxe. — Na verdade, — ele voltou seu olhar para Temperance a tempo de ver seus olhos azuis brilhando com sua declaração severa. — Eu irei embora daqui assim que puder.

— Sr. Grant? — Temperance rebateu rigidamente e se afastou da cama. — Eu ficaria feliz em encerrar seu tratamento e emprestar-lhe nosso melhor cavalo. — Seu frio descaso e seus olhos brilhantes só dispararam seu sangue. — Você pode ir agora.

Cailean sentiu-se tentado a se desculpar, a retirar tudo o que acontecera nos últimos dois dias.

Foi-se aquela garota despreocupada e murmurante que ele vira em Kenmore.

A moça que ele destruiu.

 


Capítulo 07


Danação, mas o Sr. Grant era um burro teimoso!

Quantas vezes Temperance teve que dizer a ele para não tentar sair da cama? Quantas vezes disse para parar de brandir uma espada invisível enquanto estava deitado? E quantas vezes ela entrou no quarto e o pegou fazendo uma coisa ou outra? Como suas feridas deveriam cicatrizar?

Ele explicou que sua constante — prática — horizontal o ajudou a recuperar as forças, mas ele parecia mais exausto do que nunca.

Quando ela disse, ele a olhou com um olhar gelado em seus olhos azuis acinzentados.

— Alguém me quer morto. Eu preciso ser capaz de lutar.

Seu estranho indefeso acabou por ser um imbecil teimoso. Ele era um Highlander com certeza. O plaid que tinha sido envolto em seu corpo rígido e ela sabia, por cuidar dele, o quão duro era. Havia mais do que isso, no entanto. Ele também se vestia de orgulho e arrogância, com uma capa extra de teimosia.

Ele não se parecia com nenhum comerciante que ela já tinha visto. Ele tinha um longo cabelo que o vento tocava. A sombra escura ficando mais densa em seu rosto a cada hora escondia seu queixo com covinhas deliciosamente doces e o fazia parecer mais selvagem e perigoso. Foram seus olhos, porém, a cor deles, a forma amendoada mal-humorada deles, e a combinação de inocência e escuridão neles, que capturaram seu coração.

Isso e vê-lo se aquecendo lentamente com TamLin.

— Fique em sua cama ou pedirei a William que o amarre, Sr. Grant. — Avisou ela uma tarde, enquanto ele passava a perna pela lateral da cama.

— Se você deseja que seu futuro marido tenha algum dente na boca, não fará tal pedido. — Ele parecia indiferente, mas quando a olhou, seus olhos brilharam como um raio dentro de anéis de cílios fuliginosos.

Temperance manteve sua posição. Ela não sabia por que se importava com o quão cansado e ferido ele estava. Ele deixou claro que queria ir na primeira chance que tivesse. Ele não gostava dela, não tinha nenhum interesse nela. E por que ele deveria? Ele nem mesmo a conhecia. E esse foi o gancho que perfurou com tanta força. Ele não queria conhecê-la. Mal tinha falado com ela desde o dia em que a avó disse a ele que estava prometida.

— Inferno. — Ele apertou os olhos e os cobriu com a mão. — O sol sempre preenche todos os cantos deste quarto maldita?

— Este é o meu quarto. — Ela o informou um pouco rigidamente enquanto se movia em direção aos frascos da avó. — Diga-me, — disse ela depois de um momento sem um pedido de desculpas dele, — como você vai lutar contra ele quando não consegue nem se levantar?

Ele tirou a outra perna da cama e colocou os pés no chão. Ele ficou em pé por um momento, dando-lhe tempo para contemplá-lo, descalço e com o peito nu, a altura e a largura dele se equilibrando sobre as pernas instáveis.

Temperance o observou cair de joelhos e veio direto para ele.

— Suas feridas mal estão curadas. — Ela apontou suavemente enquanto pegava um pote de que precisava. — William é forte. Ele forjou muitas coisas em sua ferraria, incluindo espadas. Não presuma que, porque ele vem de uma pequena aldeia, não pode lutar. — Ela fez uma pausa no caminho até ele para olhá-lo nos olhos. — Dou minha palavra, ele pode.

— Não te conheço, moça. — Ele rangeu os dentes para ela e puxou-se para a cama. Ele afastou os pés quando TamLin lambeu os dedos dos pés. — Então, infelizmente, sua palavra significa muito pouco para mim.

Ela quase sorriu com sua arrogância, mas poderia dizer que Cailean estava com dor e correu de volta para ele, mergulhando os dedos em um dos óleos da avó enquanto caminhava. Quando ela parou diante dele, ele desviou o olhar.

— Aonde dói?

Pode ter sido seu orgulho que o fez parar antes de responder. Mas finalmente ele cedeu e confessou em um sussurro gutural:

— Em todos os lugares.

— Seu corpo está dolorido com o calor. — Ela esfregou o óleo nas palmas das mãos e entregou-lhe o frasco. — Isso vai acalmá-lo. — Ela massageou seus ombros e passou os dedos em cada braço. Meu Deus, mas ele estava fortemente ferido. Ela gostava de senti-lo, a sua força. Ela tinha que manter seu juízo sobre ela. Seu futuro dependia disso.

— Quanto às palavras, — disse ela, tentando manter a cabeça clara, — também não confio na sua.

Ele endireitou sua coluna. Ela olhou para ele para encontrar seu rosto perto e seus olhos vasculhando-a enquanto se sentava na cama dela, com sua gata. Sensualidade que era ligeiramente ameaçadora e inteiramente vulnerável escorria de todos os poros.

— Vou me certificar de não fazer nenhuma promessa, então. —Suas palavras cortaram o ar entre eles e acenderam uma pequena brasa em seu ventre, em seu núcleo. Este homem tinha fogo apesar da geada envolvendo-o. Ela gostava de fogo. William não possuía nenhum, pelo menos não para ela.

Ela deixou cair as mãos para os lados e manteve a voz baixa quando falou.

— Então, deixe-me agradecer agora por nos poupar do trabalho de ser cordial até você ir embora, o que não deve demorar muito. Você tem minha gratidão por isso, Sr. Grant.

Ele ficou lá enquanto TamLin ronronava em seu colo, olhando para ela sem dizer uma palavra. Seus olhos estavam sombreados por sua sobrancelha pesada e fios de cabelo. Apesar do brilho assombrado de seu olhar, ele parecia algo mais selvagem do que dócil.

— Senhorita Menzie, você me entendeu mal.

Ela precisava permanecer firme contra o poder dele e por respeito. Ele não estava prestes a se desculpar, como seu tom terno sugeria.

— Eu entendo. — Ela ergueu uma sobrancelha cética e as bordas de seus lábios se ergueram com isso. — Então, você não está pensando porque eu não te ajudei a se levantar?

Ele imediatamente parou e trocou sua carranca por uma curva fria para cima de sua boca que era tão leve que ela quase não percebeu.

— Não seja tola, moça. Eu me levantei muito bem sem sua ajuda.

— Sim, bem, você conseguiu não desmaiar.

— Desmaiar? — A risada dançou nas frias superfícies cinzas de seus olhos, enviando um formigamento de fogo por suas costas. — Não seja ridícula, moça. Grants não desmaiam.

Ela sorriu com indulgência. Burro teimoso.

— Claro que não. Agora deite-se de bruços para que eu possa aplicar isso nas suas costas. — Ela esperou enquanto ele fazia o que ela pedia e mal se movia quando ele fixou seu olhar gelado nela antes que sua cabeça tocasse o travesseiro e fechasse os olhos.

Ela derramou óleo por toda a extensão de sua coluna até a borda inferior de suas calças. Sua carne estava quente e seus músculos estremeceu enquanto ela espalhava o óleo sobre as colinas e vales de suas costas.

— Inferno, isso é bom.

Ela estava quente, um pouco tonta com a sensação dele, o som profundo e rouco dele. Ela enxugou a testa com a mão oleosa e murmurou um leve xingamento.

— E se da próxima vez você cair e abrir esse seu crânio teimoso? — Ela perguntou, empurrando seus dedos profundamente em seus músculos. — Você sabe quanto tempo leva para limpar o sangue?

Ela tinha certeza de que o viu sorrir. Metade dele, pelo menos. O outro estava meio enterrado em penas do travesseiro.

— Isso é tudo que minha morte significaria para você, limpar meu sangue?

Ela não queria que ele morresse. É por isso que ela salvou sua vida. O lindo ogro nem mesmo agradeceu.

— Há mais, — ela admitiu, fazendo o seu melhor para não suspirar sobre todos os ângulos duros dele. — Quem quer uma cama em que alguém morreu? — Ela sentiu sua boca se inclinar em um sorriso mais profundo quando ele fingiu surpresa com seu insulto fingido. — Claro que não quero que você morra.

— Isso é gentil.

— Sua morte faria com que as pessoas procurassem por você. Uma vez que seus parentes descobrissem que você estava sob os cuidados de Menzie e morresse, eles matariam a todos nós.

Ele se apoiou em um cotovelo, então cerrou os dentes com a dor nas costas e sentou-se novamente, quase batendo nela.

— Você provavelmente está correta.

Ela desejou que ele não a olhasse... ou que ele nunca parasse de olhar. Ele não parecia zangado. Até mesmo o verniz indiferente em seus olhos havia caído como uma cortina. Mas, oh, qual era seu distanciamento em comparação com seu sorriso mais ínfimo?

Meu Deus, mas ele a estava distraindo. Ela tinha planos para fazer, coisas para ver para seu futuro. Ela tinha homens para matar e um caminho para escolher. Ela mesma escolheria ou tentaria. A única maneira de cumprir seu objetivo era matar a ameaça que a forçaria a se casar com Will. Ela não tinha dúvidas de que poderia fazer isso, contanto que ela não abandonasse seu ódio. Cailean estava dificultando as coisas, entretanto. Brigar com ele tornava difícil pensar em qualquer coisa além de sua língua afiada e como isso poderia ser sentido ao longo de sua pele. Tocá-lo... Ela deveria pedir a avó para terminar de cuidar dele. Ou Anne Gilbert... ou qualquer outra pessoa.

— Quando você vai se casar com Deware? — Ele perguntou, como se estivesse lendo seus pensamentos, ou talvez pudesse ler sua expressão miserável.

— Depois do Hogmanay. — Ela disse a ele, movendo-se para se sentar na cadeira ao lado da cama. — O que você estava fazendo na minha plantação de repolho quando foi atacado? — Ela perguntou, na esperança de desviar o assunto de suas próximas núpcias. Seu olhar o encontrou secretamente admirando sua forma.

— Eu estava esperando para ver você novamente. Para ter certeza de que você não foi ‘ferida por meu’ cavalo depois que bateu nele. Depois disso, eu pretendia retornar ao Lyon’s Ridge por meu primo e depois voltar para casa.

Sua preocupação a fez corar e pensar em seu rosto em vez de no rosto de seu inimigo. Ele era um estranho sem lugar em sua vida. E daí se ele estivesse preocupado com ela? Ou se seu olhar a fizesse se sentir um pouco tonta e calorosa? Em breve, os arranjos para seu casamento com William estariam em andamento, e se Cailean Grant continuasse distraindo-a de seus planos, ela estaria perdida.

— Você disse que pretendia voltar para o castelo por causa de seu primo.

— Sim, Patrick. Está correta.

Patrick, o nome que ele chamou em seu sono.

— Por que você planejou ir para Kenmore sem ele?

— Perdoe-me?

— Quando nos conhecemos. — Ela esclareceu. — Você me disse que estava a caminho de Kenmore. Você se lembra?

Ele assentiu, mas não disse nada.

— Por que você o deixou em Lyon's Ridge?

Ele parecia querer dizer algo... algo diferente do que saiu de sua boca.

— Ele estava... de ressaca de uma de suas noites selvagens e não tinha interesse em comprar vegetais frescos.

— E você tinha? — Ela perguntou, trabalhando duro para esconder seu leve sorriso. Seu pai adorava cozinhar com a avó.

— Sim, sou um mestre na cozinha.

— Você é? — Ele certamente não carecia de vaidade, ela pensou. — Pena que você está com pressa para ir. Eu gostaria de provar seus pratos e ver se você está somente cheio de si.

Ele riu, uma mistura curta e gutural de humor e arrogância.

— Eu adoraria vê-la desfrutá-los, mas devo voltar para o castelo.

— Para Patrick? — Temperance forneceu. Quando ele acenou com a cabeça, ela seguiu em frente. — Por quê? Ele está em perigo por causa de Murdoch?

— Ele poderia estar. Ele é um MacGregor, e as cabeças MacGregor são considerados de alto valor.

Sim, a proscrição contra os MacGregors. Ela tinha ouvido falar da perseguição nas Terras Altas, mas não sabia muito sobre isso.

— Ele viajou comigo, embora contra minha vontade. — Continuou o Highlander. — E agora, conforme as circunstâncias, e como eu temia, ele está sozinho no castelo de um assassino ganancioso.

Temperance assentiu. Sim, ele tinha Duncan Murdoch no ponto certo. Ele era um assassino ganancioso. Mas como o Sr. Grant sabia? Ele disse que era o convidado do lorde. Isso significava...?

— Ele te contou sobre isso? — Ela perguntou a ele, a voz dela tornando-se mais sombria. — Você era seu convidado. Duncan Murdoch disse a você que mandou matar meu pai?

Ele poderia ter sentido seu pavor e dito qualquer coisa, mas seu olhar disse a ela a verdade. Ela queria desviar o olhar, mas não o fez. Ela não conseguia. Ela queria saber.

— Você estava lá?

Ele desviou o olhar primeiro.

— Nae, Murdoch se gabava disso.

Ele se gabava. Temperance apertou as mãos. Como a vida de seu pai poderia significar tão pouco?

— Ele é um monstro.

— Sim.

— Tenho como objetivo matá-lo, e também aquele que acenou com a cabeça pouco antes daquele filho da puta assassino, — Ela fez uma pausa para limpar uma lágrima ou duas de sua bochecha. — matou meu pai.

Ele encontrou o olhar dela novamente, brevemente. A dor dela era tão tangível que ele sentia? Ele parecia um pouco triste, como se entendesse. Talvez ele não soubesse como confortá-la, e era por isso que sempre baixava os olhos para o chão.

Ela suspirou interiormente, esperando que ele, como William, não tentasse convencê-la a não se vingar. Bem, ele estaria perdendo tempo. Murdoch se gabava. Agora, mais do que nunca, Temperance sabia o que tinha que fazer. Ninguém iria impedi-la.

Quando ele ergueu o olhar mais uma vez, ela tentou não cair nas infinitas brasas de seus olhos.

— Como?

Ela encolheu os ombros.

— Eu poderia atirar neles com minhas flechas. Minha pontaria é boa. Pergunte ao William.

Ela pensou ter visto seu olhar escurecer, ou foram apenas as sombras que seu cabelo lançava sobre os olhos?

— Você já atirou em um homem antes? Não é tão fácil quanto você pensa.

— Foi fácil para o homem segurando sua lâmina contra a garganta do meu pai. — Ela rebateu, tentando deter a queimação de seus olhos transbordar em lágrimas. Por que ela estava tão tentada a chorar em seu ombro? Ele não ofereceu, mas algo em seus olhos a convidou a isso. Ele havia sofrido uma perda como ela. Ele entenderia sua necessidade de chorar apropriadamente por seu pai. — Não, nunca atirei em um homem, mas o faria se precisasse.

Ele assentiu e as sombras passaram.

— Eu acredito em você.

Ela sorriu ligeiramente. Bem desse jeito? Ele acreditou nela? Ele não estava curioso para saber quem iria ajudá-la? E se ela dissesse que não precisava de ajuda para matar os homens que mataram seu pai? Ele riria na cara dela? Ele estava tentando não fazer isso agora?

— Ele tem guardiões. — Ele apontou.

— Eu sei. — Ela disse a ele. — Seus Cavaleiros Negros.

Ele acenou com a cabeça novamente.

— Eu conheci alguns deles. Eles não vão morrer facilmente.

Ele os conheceu. Isso poderia ser útil.

— Como eles são? Conte-me tudo sobre eles como pagamento por salvar sua vida.

— Nada do que estou dizendo vai lhe trazer uma vitória contra eles.

Ele não sabia o que ela era capaz de fazer. Ela não era tola, acreditando que poderia lutar espada contra espada contra um mercenário corpulento. Ele a cortaria como um pedaço de carneiro. Mas havia outras maneiras de matar um homem. A avó a ensinou quais ervas podem fazer a tarefa por ela.

— Seu insulto velado de eu ser incompetente são palavras que vou particularmente gostar de assistir você engolir.

Um lado de sua boca se curvou para cima.

— Não haverá tempo suficiente para você desfrutar de uma quarta, possivelmente uma terceira respiração antes de cortá-la.

Ela queria jogar a cabeça para trás e rir. Discutir com ele foi um pouco estimulante. Até o desejo de esbofeteá-lo por seus insultos contínuos a emocionou.

Ela se levantou da cadeira e se aproximou dele, até que quase compartilharam a respiração. Ela o olhou diretamente nos olhos e tremeu com a força por trás deles.

— Então me ajude, Sr. Grant.

Ele fechou os olhos, dando-lhe um alívio. Ele estava considerando isso? Oh, com a ajuda dele...

— Você vai trazer a guerra aqui, Srta. Menzie. — Disse ele em voz baixa. — Eu não vou te ajudar a fazer isso.

Claro. Ela deveria ter adivinhado. Ela parecia louca, ou pelo menos tola. Mas ela não importava.

— Eles mataram meu pai, Sr. Grant. Ele não fez nada para merecer a morte e na frente de todas as pessoas que o amavam.

— Eu sei. — Cailean disse, sua voz ficando suave e pesada, como se ele estivesse lá com ela para assistir.

— O que você faria? — Perguntou ela, recuperando o fôlego com pungente tristeza. — O que você faria se alguém que você ama fosse tirado de você? Se ele morresse em seus braços? Você deixaria seu assassino ficar sem punição?

Ele não respondeu imediatamente. Ele simplesmente olhou nos olhos dela e balançou a cabeça.

— Nae. — Ele sussurrou, rangendo os dentes. — Eu não os deixaria viver.

 


Capítulo 08


Cailean se sentou. Ele precisava sair dessa maldita cama.

Ele precisava salvar seu primo e de alguma forma levá-lo de volta para Camlochlin, e tinha que se afastar de Temperance Menzie e de toda a conversa dela sobre matar os homens responsáveis pela morte de seu pai.

Ele era um desses homens. Ela o viu assentir. Ela o tinha visto na escuridão fria de seu desespero e ainda lhe sorria, lutava por ele e o tentava a lutar, mas não muito.

Quando ele abriu os olhos da primeira vez, queria que ela soubesse a verdade: que era de fato um Cavaleiro Negro, mas Patrick não era, e alguém de sua vila quase o matou. Mas a cada momento que se passava entre eles, ficava mais difícil confessar.

Ele não queria se importar se ela o odiava. Ele nunca deveria ter vindo aqui. Ele deveria apenas ter tentado esquecer. Mas ele era a causa de toda a sua dor, o tipo que entendia muito bem. Ele não tinha certeza se poderia viver com isso. Maldito Murdoch por esfaqueá-lo e colocá-lo aqui, indefeso, mas como castigo em observar o que aconteceu com a família que ele destruiu. Foi sua penitência por sua sede de sangue.

Inferno. Ele se dobrou ao pensar na morte de Patrick. Cailean sabia que tinha sido sua própria escolha morar no castelo como um forte guerreiro contratado, apesar da insistência de Patrick para que eles voltassem para as Highlands, o que colocou seu primo doente em seu leito. Cailean precisava salvá-lo.

Ele tinha que deixar a casa de Linavar e Seth Menzie e dar o fora da filha de sua vítima antes que acabasse ajudando-a a fazer o impossível e provavelmente matando os dois.

Não que ela o afetasse a ponto dele permitir que o convencesse a ajudá-la a matar Duncan Murdoch. Ele queria fazer isso um dia depois de chegar a Lyon's Ridge. E muito antes disso, depois que Alison morreu, ele prometeu a si mesmo nunca deixar cair o escudo que bloqueava em seu coração e aceitar ninguém dentro. A vida estava cheia de coisas inesperadas. Nada estava certo. Ninguém tinha felicidade garantida. Ele preferia permanecer distante, intocado e pragmático.

Mas ele não estava morto.

Temperance Menzie possuía um fogo que o atraía. Ele gostava da confiança que ela exalava quando estava cara a cara consigo. Ela era forte, bonita e quebrada. A última foi obra dele e por causa das circunstâncias, ele queria consertá-la. Ela o fez olhar para si mesmo, e o fez se importar quando falou sobre seu pai. Mas o que mais o assustava eram as palavras que queria escrever sobre ela e o fato de que ele queria escrever qualquer coisa. Já fazia muito tempo que nada ou ninguém o movia o suficiente para que ele pegasse pena e tinta. Ele tinha começado a se apaixonar por Alison, mas mesmo assim não se sentiu tentado a escrever sobre ela. Era muito cedo depois de perder Sage.

Mas desde que veio aqui, acordando sob os cuidados desta moça espirituosa, uma dúzia de vezes ele teve que cerrar a mandíbula para não pedir a ela uma pena e um pergaminho. Ele não estava pronto para deixar uma mulher acender suas paixões. Havia dias em que parecia que seus nervos estavam em carne viva e até mesmo o peso da respiração de alguém sobre ele era insuportável. Ele não sabia como liberar tudo que o assombrava. Ele não sabia se queria. Ele estava seguro em sua solidão.

Ele não deixaria a filha de Seth Menzie acender nada nele. E inferno, ela estava prometida. Foi sua lamentável imaginação que lhe disse que ela não parecia feliz em se casar com Deware? Ele não se importava. Ele não se permitiria importar. Ele não escreveria, nem cozinharia, nem amaria. Ele estava determinado a se proteger para não se apaixonar novamente, com medo de perder tudo. Ele precisava manter as pessoas afastadas para permanecer insensível. É por isso que os mercenários eram a melhor companhia. Ninguém realmente dava a mínima para ninguém. Na companhia deles havia um lugar perfeito para ele se esconder.

Mas seus demônios o encontraram na noite em que Seth Menzie morreu nos braços de sua filha. Ele lamentava ter causado aquela dor sobre ela. Ele não sabia como lhe dizer. Ele não quis isso para ela.

Ele moveu as pernas sobre a cama e colocou os pés no chão.

A senhorita Menzie ainda não tinha ido vê-lo esta manhã, mas sua gata não tinha ido embora.

Gatas, ele pensou enquanto esta se enrolava em seus tornozelos. Elas eram criaturas peculiares. Havia muitos delas em Camlochlin, mas tendiam a encontrar mais interesse na caça do que em formar qualquer tipo de vínculo com qualquer coisa ou pessoa. Mas TamLin parecia ter gostado de Cailean desde a manhã em que colocaram Seth Menzie no chão de sua tumba e a gata atravessou a névoa e o encontrou escondido atrás de uma colina.

Cailean teve cachorros a vida toda. Ele não sabia o que fazer com uma gata que ronronava.

Ele saiu da cama e se encolheu um pouco com a dor nas costas, mas não era insuportável. Ele deu um passo lento e hesitante, ignorando a tontura em sua cabeça.

— Não me olhe assim. — Disse ele, olhando para a felina que descansava na cama. — Eu não me importo com o que ela disse sobre sair da cama. Ela é sua ama, não minha.

TamLin miou.

Como diabos esse som poderia alertar alguém sobre o perigo, do jeito que o latido de um cachorro grande faria? Cailean quase sorriu ante a tolice daquilo e deu outro passo.

— Sr. Grant!

Sua voz aguda o estremeceu um pouco e ele agarrou a parede para não tombar. Ele se virou para lançar-lhe uma carranca, que ela ignorou.

— Volte para a cama! Posso não ser sua ama, mas ajudei a salvar sua vida. O mínimo que você pode fazer é seguir minhas instruções por um ou dois dias!

Ela estava brava. Seus olhos brilhavam em um tom mais vívido de azul safira quando ela estava com raiva. Ela também estava certa. Ele devia muito a ela. Mas Patrick... ele tinha que recuperar suas forças e tirar o primo de Lyon's Ridge. Ele nunca teve a intenção de ficar longe por tanto tempo.

— Senhorita Menzie. — Disse ele, girando o tornozelo. Maldição, ele não se importaria de olhar para ela por mais algumas horas. Ela usava uma camisa branca simples sob saias finas de lã esmeralda profunda. Ela havia feito duas tranças finas nas têmporas e as circulou ao redor da cabeça como uma coroa. Tecidas através delas estavam pequenas flores tão azuis quanto seus olhos. O resto de seu cabelo caía em ondas soltas e espalhadas pelas costas.

Ela pertencia a Deware.

Cailean empurrou o nó em sua garganta e continuou. Antes de Alison, ele era um pouco tímido com as garotas. Ele não era nada parecido com seu irmão Malcolm ou alguns de seus primos, que tinham um jeito tão fácil com o sexo mais belo. Ele sempre achava mais interesse em lutar, escrever e cozinhar. Ele nunca tinha estado com uma moça antes de Alison, e não houve nenhuma depois dela. Não mais.

— Estou grato pelo que você fez por mim, Srta. Menzie, mas...

— Você precisa de mais tempo para se curar.

Ele sabia que sim, mas se Duncan tivesse tentado matá-lo, o que o impediria de tentar matar Patrick também? Não importava como seu corpo se sentia, Cailean não podia deixar seu primo morrer. Ele rezava para que não fosse tarde demais.

Ele não disse a Temperance que havia outro motivo pelo qual ele queria dar o fora de Linavar. Não era certo já que ela o estava ajudando a se recuperar.

— Eu preciso ir.

Temperance olhou para ele por um momento, parecendo como se quisesse chamá-lo do maior idiota que já existiu, graças a ela.

Cailean queria agradecê-la por tudo que ela havia feito. Mas era bom que ele a deixasse sem dizer uma palavra. Ele não precisava deixar a força em sua mandíbula, ou a forma sedutora e o tom rosa de seus lábios, para não mencionar sua língua afiada, interessá-lo. O mais perigoso, porém, eram seus olhos tristes e comoventes, velados por trás dos cílios. Ele queria ajudá-la a se curar, mas ainda estava ferido.

— Você não precisa ir, — ela tentou novamente. — William já foi.

Ele parou de tentar se endireitar e a olhou, o sangue escorrendo de seu rosto.

— Onde ele foi?

— Para Lyon's Ridge para...

— Por que diabos ele iria lá? — O coração de Cailean disparou em seus ouvidos. Se Duncan não o matasse primeiro, Deware iria descobrir tudo, todos os segredos de Cailean. Eram segredos? Sim, inferno, eram. Cailean não estava pronto para Temperance descobrir que ele era um Cavaleiro Negro. ‘O’ Cavaleiro Negro. Ele não parou para ponderar por que se importava que ela soubesse a verdade ou não.

— Não há necessidade de levantar sua voz, Sr. Grant. William já esteve no castelo muitas vezes. Ele é o ferreiro de Linavar e comercializa seus produtos lá algumas vezes por ano. Ele...

Cailean não estava ouvindo. Ele deveria dizer a verdade antes que ela descobrisse por seu noivo. Ele abriu a boca, mas descobriu que não tinha coragem de dizer a ela.

— Seu noivo é uma idiota, Srta. Menzie. — Ele disse em vez disso. Um tolo que provavelmente tentaria matar Cailean em seu retorno a Linavar.

— Ele vai trazer seu primo.

— Se Murdoch não o matar primeiro. — Ele pegou sua camisa e a puxou sobre a cabeça e os ombros.

— Você ainda quer ir? — Ela veio para a frente, os braços cruzados sobre o peito, pronta para ficar cabeça a cabeça com ele. — Ele foi ajudar você e Patrick. Por que você é tão teimoso?

Quando sua cabeça estava livre da camisa encontrou seus olhos, ela estava lá para preencher sua visão. Por um momento, seus olhos se encontraram em uma batalha de vontades dela para que ele ficasse, ou para que fosse o mais rápido que pudesse.

— Você é tão teimosa quanto eu. — Ele fez uma careta para ela, tentando não permitir que as grossas franjas negras de seus cílios ou a inclinação de seu queixo o afetassem.

— Porque estou certa.

— Eu não estou discutindo com você sobre isso, moça. — Ele disse a ela, inclinando um pouco a cabeça para nivelar seus olhares. — Mas eu tenho que salvar meu primo, e provavelmente seu noivo também.

Ela apertou a mandíbula como se quisesse conter o resto de suas palavras. Ele baixou o olhar para a boca dela, lamentando tê-la silenciado.

— Você está nos deixando, Sr. Grant? — Felizmente, a voz da avó na porta o tirou de seus pensamentos.

— Eu estou, avó. — Ele se endireitou e se afastou de Temperance. — Obrigado por seu cuidado e a você também Srta. Menzie. — Ele não a olhou novamente quando a avó lhe estendeu a mão. Ele deu-lhe o braço e saiu do quarto com Temperance Menzie logo trás.

A casa girou ao sair e suas pernas pareciam um pudim quente, mas ele não se virou.

Ele olhou ao redor da casa espaçosa enquanto a avó o acompanhava até a porta, apreciando, como seu pai o havia ensinado, a habilidade magistral. Seth Menzie a construiu? Connor Grant, o pai de Cailean, ficaria impressionado. Como mestre construtor de Camlochlin, ele construiu muitas casas que eram inspiradoras. Ele tiraria seu chapéu para este se visse.

Um grande salão foi construído à direita e, quando Cailean passou por ele, olhou para o azevinho e o louro da montanha que decorava os arcos de madeira. Parecia e cheirava a época do Natal. Mas o louro estava secando, e a ausência do dono da casa podia ser sentida como um frio de dezembro infiltrando-se pelas paredes.

Cailean tentou se lembrar da alegria das festas em meio às teias que se acumulavam em sua cabeça. Ele engoliu o ar que parecia tão espesso quanto a espuma de um lago. De repente, suas costas pareciam estar pegando fogo. As chamas estavam irradiando de seus braços até a cintura.

— Não pensei que os Grants criassem tolos.

Ele conseguiu se segurar e até sorriu, sabendo de onde vinha o fogo de Temperance.

— Cada família tem alguns.

Ela concordou e se despediu dele na porta.

Ele se virou para sair e caiu no chão.

Cavalgando em direção à fortaleza envolta em nuvens da cor de estanho, William parou em sua montaria e afastou o medo que o cobria. Ele podia ver sombras de guardas patrulhando as ameias cinzentas da muralha de Lyon. Não havia nada caloroso ou convidativo sobre o abraço mortal de seu lorde. Ele rezou para que Marion não estivesse dentro ou, pior, na masmorra.

Ele conseguiu chegar à parede externa sem obstáculos e foi onde passou a noite. Apenas uma dúzia de comerciantes tinha permissão para entrar a cada dia. Quando finalmente chegou sua vez, ele exibiu as mercadorias que forjou em sua Ferraria, com um estalo de um cobertor carmesim, e as deixou no portão interno. Ele rapidamente se misturou à pequena multidão de mercadores, mantendo os olhos bem abertos em busca de qualquer sinal de Marion ou de qualquer pessoa que pudesse ser útil para levá-lo até ela.

Quatro horas, seis punhais e uma panela magistralmente forjada depois, ele conheceu uma copeira chamada Annie e pagou a ela com a moeda que ganhou com a venda de seus produtos. Em troca, ela deu a ele informações de dentro da fortaleza.

— Eu conheço uma moça chamado Marion. — Annie disse a ele enquanto enfiava seu pagamento entre o decote. — Uma das novas moças de Maeve, ouvi dizer.

— Maeve?

— Sim, ela é a madame da fortaleza.

— Madame?

— Sim, você sabe...

Ele ergueu a mão para detê-la. Ele sabia o que era uma madame. Mas Marion era uma de suas moças?

William teve vontade de arrancar o cabelo. Ele esteve aqui procurando por ela antes. Ele deveria ter olhado com mais atenção. Ela estava aqui, sendo forçada a...

— Eu tenho que encontrá-la! — Ele se moveu para empurrar Annie, mas ela o impediu. — Ela se foi.

— Foi para onde? — Seu coração palpitou por dentro.

— Bem, — Annie ajustou seu corpete. — De acordo com a fofoca de cozinha Maeve recebeu uma quantia em moedas para levá-la a Perth, a uma propriedade chamada Ravenglade.

— Pago por quem? — Ele perguntou, esperando que algum nobre rico não a tivesse pago por ela. — Um nobre?

Annie balançou a cabeça.

— Não, ela foi paga por um dos homens de Lorde Murdoch.

Não poderia ficar pior.

— Um Cavaleiro Negro? — Ele perguntou, nauseado. Ele mataria qualquer um deles que a tocasse. Para o inferno começar uma guerra.


— Era o primo de Patrick, eu acredito. Patrick MacGregor. — Ela corou ao dizer o nome dele. William mal percebeu.

Não. Não. Não podia ser. Sua respiração ficou mais curta e seu coração bateu ainda mais rápido.

— Cailean Grant? — Ele precisava ter certeza. Ele estivera certo o tempo todo? Ele rezou para que ele estivesse errado.

— Sim, Cailean. — Confirmou Annie, a criada da copa. — Esse é tão diferente de seu primo. Ele é taciturno e hostil. Já ouvi os homens falarem sobre como ele se senta sozinho à mesa e...

— Cailean Grant é um Cavaleiro Negro? — E ele deixou Temp e a avó sozinhas com ele?

— Sim. Um dos mais impiedosos dos vinte, segundo me disseram.

O sangue de William foi drenado e o deixou pálido e aterrorizado. Ele tinha que ir para casa e salvá-la. Temperance era sua responsabilidade. Ela sempre seria. O pânico o encheu. Grant não poderia ter enganado todos eles tão facilmente. E com que propósito?

— Você diz que ele é impiedoso? — A voz de William tremeu.

— Sim, informação de seus inimigos, sim. Por aqui ele é gentil, mas quieto. Oh, aí está uma das moças de Maeve agora! Ela saberá mais sobre sua Marion. — Ela apontou a moça para ele. — Será difícil entrar, então se você quiser saber mais, é melhor pegá-la agora.

Ele se virou para ver a garota caminhar até outro conjunto de portas. Ele tinha que tomar uma decisão, a mais difícil de sua vida. E ele tinha que se apressar.

William largou seus produtos aos pés de Annie e saiu correndo.

 


Capítulo 09


— Och, nae, o que diabos eu estou fazendo ainda aqui?

Ao sair do quarto, Temperance fez uma pausa e franziu a testa com a frustração na voz do Sr. Grant. Estava aliviada por ele ter acordado da febre pela segunda vez, mas, droga, estar aqui com ela era tão terrível? O idiota ia acabar se matando, insistindo em deixar seu leito de doente.

— Você está prestes a me agradecer por salvar sua vida novamente? — Ela esperou um momento, inclinando o ouvido em direção ao som dele.

— Tudo bem. — Ele finalmente concordou. — Obrigado por salvar minha vida novamente.

A ressonância plena e bela dele tirou o fôlego de seu corpo, mesmo enquanto sua lógica a lembrava de que ele não era nada mais do que um estranho. Um estranho tolo e teimoso.

Ela se virou para ele, agora acordado, sua barriga se contraindo enquanto tentava se sentar. Ele gemeu e apertou os olhos contra o sol ofuscante. Vê-lo jogou sua lógica aos quatro ventos. Ela não pode evitar, mas deixou seu olhar permanecer em seu corpo tenso. Ela sentiu essa tensão. Muito disso, de qualquer maneira, durante a noite e grande parte do dia seguinte. As últimas doze horas foram críticas, mas ele sobreviveu.

— Quanto mais você lutar, mais tempo vai ficar aqui.

Sua decisão de continuar vacilou e ele se apoiou nos cotovelos.

— O que estou fazendo aqui?

— Você desmaiou na porta.

— Ridículo. — Ele gemeu novamente e conseguiu se sentar direito. Ele esfregou a cabeça, como se tentasse se lembrar. — Deware... ele foi para Lyon's Ridge.

Sim, William havia partido e ela e a avó estavam preocupadas com ele, mas ainda não haviam alertado o resto dos aldeões. Não havia necessidade de incitar o pânico se fosse desnecessário. Ela rezou para que Duncan não o tivesse matado por tentar tirar Patrick MacGregor de lá. Mas William não era tolo. Ele conhecia alguns dos Cavaleiros Negros e já havia negociado no castelo antes. Ele usaria cautela.

Cailean Grant, por outro lado, não.

— Ele voltou?

Ele não sabia de nada. Ela poderia usar isso, ou melhor, para sua vantagem. Ela queria que este Highlander vivesse apenas para que pudesse pensar nele, duro e pronto, algumas noites enquanto ela estivesse deitada sozinha em sua cama. Ela não queria que ele morresse em sua cama ou em qualquer outro lugar. Ele precisava de pelo menos mais alguns dias, talvez até Hogmanay, depois que ela tivesse tempo de matar pelo menos os três homens responsáveis por matar seu pai. Duncan, o Cavaleiro que acenou com a cabeça, e aquele que segurou a adaga.

— Ele voltou, mas foi embora de novo. — Disse ela, apenas ligeiramente arrependida de tê-lo enganado. Se ele morresse, não faria nenhum bem a seu primo. — Mas ele me pediu para contar a você que conseguiu entrar na fortaleza e que seu primo está vivo.

William perdoaria sua mentira se soubesse por que ela fez isso. Para manter o Sr. Grant na cama um pouco mais, principalmente para o bem dele, parcialmente para o dela. Ela admitia que gostava de cuidar dele, esfregando-o com os óleos da avó, sentindo a força e o comprimento de seus músculos sólidos.

Ela sabia que ele queria ir embora. Ele partiria de sua vida assim que pudesse, e ela se casaria com William ou viveria sua vida como uma assassina. Não havia outras opções.

— Você tem sorte de estar vivo. — Disse ela. — Sua febre estava muito alta, como a primeira, e provavelmente cozinhou ainda mais partes de você. — Ela ergueu os olhos menos de um centímetro e deu um leve sorriso.

Seus olhos gloriosamente grandes e seu sorriso relutante revelaram que ele sabia que ela o estava insultando, e não se importava.

— Conte-me mais sobre Patrick.

Mais? Ela não sabia mais. Só que Cailean estava com medo de que Duncan Murdoch tentasse matá-lo por ser um MacGregor, agora que não estava lá para protegê-lo.

Tinha que ser o suficiente. Um highlander morto já seria ruim o suficiente. Dois entre MacGregors e Grants, eles buscariam vingança ainda pior.

— Bem, eu só sei o que William me disse. E é que ele conheceu seu primo e Patrick está vivo e bem.

— Ele conheceu Patrick? — Ele perguntou, parecendo um pouco apreensivo.

Ele não acreditou nela?

— Sim, — ela confirmou. Ainda bem que ela era bem versada na arte da mentira, tendo praticado com frequência quando criança, depois que ela e William foram pegos quebrando esta ou aquela regra.

— Talvez William tenha mais a dizer quando voltar. Você apenas descanse agora. Vou fazer um chá para você. — Ela se virou para ir embora.

— Ele voltou por Marion?

Ela parou e se virou para ele.

— O que você sabe sobre Marion?

— Apenas o que os olhos de William revelaram quando eu disse a ele que não a conhecia. Eu estava mentindo.

O que ele estava dizendo, ela precisava se sentar para ouvir? Ela decidiu que sim e sentou-se ao lado dele na cama.

— Você está me dizendo que Marion está em Lyon's Ridge?

— Sim, eu acho que sim. Eu não tinha me lembrado dela quando Deware perguntou sobre ela. Mas me lembrei dela como em um sonho. Havia uma moça no castelo chamada Marion.

Então William estava correto sobre o sequestro de Murdoch o tempo todo.

— E William se preocupa com ela?

Ele se virou para olhar para ela.

— Eu acredito que sim.

Por que ele estava contando a ela? Ela olhou dentro dos olhos dele e então desviou o olhar brevemente. O que ela faria se William amasse outra? Ela não se casaria com ele, é claro. Isso a deixaria aberta para Duncan, a menos que ela o matasse primeiro. E se Cailean Grant resgatasse seu primo e depois ficasse? Como seria beijar essa boca melancólica? Seria isso que o fazia sorrir?

— Você parece aliviada.

Ela não pôde evitar. Ela estava.

— Se você estiver correto, então ficarei feliz por ele. Ele é meu amigo mais querido.

— Mas você o ama.

Era tão óbvio? Ela balançou a cabeça.

— Não do jeito que eu quero amar um homem.

Sua voz era baixa, seus olhos em chamas.

— Como você quer amar um homem, então?

Ela sorriu e pensou por um momento.

— A maneira como meu pai amava minha mãe. Quando ela morreu ao me dar à luz, ele sofreu de uma loucura temporária. Ele não me olhou nos primeiros seis meses de minha vida. E então um dia ele o fez, e se apaixonou novamente.

Cailean olhou para baixo, velando seu olhar assombrado sob seus cílios grossos.

— Você merece mais do que um homem que ama outra.

— Não cabe a mim dizer o que mereço, Sr. Grant.

— Então deixe-me tentar. — Ele disse, e ela notou que sua mão estava perto o suficiente da dela na cama de modo que se ele movesse seu dedo mindinho tocaria o dela. — Você merece um homem cujas paixões transbordam por você e apenas por você, que valoriza sua honestidade e oferece a sua em troca.

Sim, era isso que ela queria, mas não tinha tempo para esperar por um homem assim.

— Não culpo William por não ter me contado. — Ela defendeu o amigo. — Ele estava seguindo os desejos de meu pai de que após sua morte, eu me casasse com ele.

Ele olhou para TamLin aninhada ao lado dele.

— Se eu pudesse... — Ele fez uma pausa e então começou novamente, finalmente erguendo o olhar para ela. — Se eu pudesse voltar e mudar o que aconteceu naquela noite, o faria.

Temperance achou que essa foi a coisa mais gentil que alguém disse a ela sobre a morte de seu pai. Ela lhe sorriu. Ele não sorriu de volta, mas ela tinha certeza de que notou uma ligeira mudança em sua expressão. Ele não ficou descontente.

Ele não permaneceu acordado por muito tempo depois disso. Ela foi gentil quando o cobriu. Seus contos sobre Patrick funcionaram, dando a Cailean um pouco de garantia de que seu primo estava bem e que ele não precisava ir atrás dele.

Mas e se Patrick MacGregor estivesse morto? E se William também estivesse? Onde diabos ele estava? Justo quando ela estava prestes a pedir a avó para enviar seus dois primos maiores e mais sagaz, Charlie e Jack, para Lyon's Ridge para encontrá-lo, William abriu a porta da frente e entrou, trazendo rajadas de neve com ele.

Muito feliz em vê-lo, Temperance correu para ele e pulou em seus braços.

— Onde você esteve? Você nos deixou preocupados.

— Grant ainda está aqui? — Ele perguntou a ela, e apertou-a contra ele com força suficiente para parar sua respiração. — Onde está a avó?

Temperance se desvencilhou dele e deu um passo para trás para dar uma boa olhada nele. Ele parecia bem o suficiente, exceto que suas roupas estavam sujas, junto com seu rosto, e seus olhos estavam fixos na porta do quarto dela.

— William, o que diabos aconteceu? Onde você esteve?

Ele não respondeu, mas se afastou e foi para o quarto dela.

Ela o seguiu, mas ele a advertiu para não entrar. Ela não aceitou muito bem o pedido e entrou no quarto logo atrás dele.

Cailean estava dormindo, parecendo um anjo em paz, mas não era hora de parar para admirá-lo. Sua aparência não impediu William de se mover em direção à cama.

— Grant! — Ele gritou, acordando-o.

— William. — Temperance puxou seu braço.

Ele a ignorou e olhou para Cailean, acordando.

— Acabo de voltar de Lyon's Ridge. Conheci uma jovem copeira chamada Annie. Conhece ela?

Cailean piscou os olhos sonolentos e balançou a cabeça.

— Ela me disse que seu primo Patrick está doente, mas se recuperando bem.

Cailean coçou a mandíbula e a olhou.

— Você não o viu, então?

Temperance praguejou baixinho. Agora Cailean sabia que ela mentiu. O que ele pensaria dela? Ela se sentia tão tola que mal conseguia olhar para ele, mas olhou. E ela estava feliz por ter feito isso, caso contrário, teria perdido a menor curva de seu sorriso, um toque de diversão em seus olhos, em vez de melancolia.

— Não. — William deu meia volta e fixou seu olhar duro e conhecedor nela, aparentemente suspeitando que ela mentiu. — Eu não o vi.

Temperance respirou fundo e enfrentou o que quer que estivesse vindo deles. Ela inclinou o queixo levemente e deixou a verdade voar, fixando os olhos em William.

— Eu estava tentando salvar a vida dele. Se eu tivesse contado a verdade, ele teria deixado este leito e provavelmente morrido. — Ela se virou para Cailean em seguida. — Você deveria estar me agradecendo.

Ele aquiesceu sem dizer uma palavra, inclinando a cabeça ligeiramente para ela.

— Você tem meus sinceros agradecimentos, mais uma vez, Srta. Menzie.

Seu coração desacelerou quase que instantaneamente e ela se perguntou como ele conseguiu acalmar seus nervos no espaço de uma respiração. Ela queria agradecê-lo por aliviar sua mortificação e por fazê-la sorrir em meio à falta de seu pai. Cada vez que o fazia, ela conseguia respirar um pouco mais fácil.

— Annie me falou muito sobre você. — Continuou William rigidamente, puxando o olhar de Cailean de volta para ele.

Os dois homens ficaram em silêncio por um momento enquanto algo se passava entre eles. Os dedos de William acabaram de se mover mais perto do punho de sua espada? Os olhos de Cailean... simplesmente se voltaram para ela? Temperance observou a interação silenciosa dos homens. O que diabos estava acontecendo?

— Eu vim correndo de volta aqui para ver seu... bem-estar. — William continuou. — Quando encontrei Kate, uma das moças de Maeve.

Cailean piscou para ele. Não foi muito uma reação, mas foi alguma coisa, na avaliação de Temperance. Ele reconhecia o nome. Quem era Maeve, ela se perguntou?

— Maeve é uma madame. — Disse William, virando-se para olhá-la como se tivesse ouvido seus pensamentos. — Marion seria forçada a ser uma de suas prostitutas.

— Seria? — Temperance perguntou com a voz trêmula. Ela rezou para que não fosse tarde demais para Marion. Pobre William, se o que Cailean suspeitava fosse verdade. — Ela está morta?

William balançou a cabeça.

— Não. Ela vive, ainda intocada por causa do Sr. Grant aqui.

Temperance lentamente se virou para olhar para Cailean, que estava sentado, fazendo uma careta enquanto se arrastava. Por causa dele?

— O que ele fez? — Ela perguntou baixinho, olhando para ele e a forma como a luz do sol batia em sua mandíbula.

— Kate me contou que você pagou generosamente a Maeve para manter Marion longe de outros homens, enviando-a para Perth, para um castelo chamado Ravenglade. Por quê? — William perguntou a ele em uma voz mais profunda e ameaçadora. — Por que Ravenglade? Quem está lá?

— Meu irmão e sua esposa. — Respondeu Cailean. — Quando eles souberem que fui eu quem a enviou, a manterão segura.

Temperance não se mexeu. Por que ele faria tal coisa? Marion estava intocada e viva por causa de Cailean. Ela queria sorrir para ele, inclinar-se e beijá-lo. Então havia um homem por baixo de todo aquela ogrice?

— Por que você a protegeu dos outros? — William exigiu baixinho. — Você tem intenções de ter relação com ela?

Cailean estava certo, então. William se importava com Marion. Temperance tinha pensado que ela estava querendo se estabelecer, e que William também estava querendo o mesmo. Todo o seu fogo e determinação para encontrar Marion eram mais do que apenas um desejo de manter Linavar segura. Era também por Marion. Pobre William, o que ele deve ter passando. Ela tinha pena de si mesma e dele por serem forçados a uma vida que não queriam, a fim de manter a paz com seu senhor. Nunca haveria paz se Temperance matasse o filho do lorde. A menos que...

Uma maneira de fazer isso sem que a culpa recaísse sobre ela surgiu em sua mente e sorriu para seu querido amigo.

Ela amava William, mas não iria se casar com ele. Ela não conseguiria. Ela não queria uma vida extraordinária, apenas uma vida digna daquela que sua mãe morrera para lhe dar.

— Não tenho interesse em Marion. — Disse Cailean a William. — Ela me foi oferecida e eu recusei. Ela me lembrou de alguém que conheci e parecia apavorada, então ofereci minha ajuda. Lembrei-me dela em um sonho, mas você não estava aqui para que lhe contasse.

William permaneceu quieto por um tempo, permitindo que o que o Highlander lhe dissera fosse absorvido. Quando isso aconteceu, ele exalou como se não o fizesse há semanas.

— Você tem meu agradecimento. — Disse ele a Cailean. — Eu devo muito a você.

Grant balançou a cabeça e continuou.

— Meu irmão é o conde de Huntley e lorde de Ravenglade. Marion está a salvo.

— William. — Temperance tocou seu braço. — Você deveria ter me contado sobre seus sentimentos por Marion.

— Por quê? — Ele fixou seus olhos belos e escuros nela e encolheu os ombros. — Nada teria mudado enquanto eu não tivesse a encontrado.

— E agora que você a encontrou?

Ele se virou para olhar para o Sr. Grant e balançou a cabeça.

— Nada muda ainda.

— Não, Will. Falamos sobre isso na noite em que meu pai foi morto. Eu disse a você o que meu pai havia dito.

— Sim, Temp, mas ele não conseguiu viver mais vinte anos. E eu também falei com ele mais cedo naquele dia. Eu prometi a ele que cuidaria de você.

Ela não se importava com as promessas das quais não tinha participado.

Ela não queria discutir. Agora ela queria sair do quarto para que pudesse refletir sobre o que havia de tão especial sobre esse ‘alguém’ que Cailean conhecera uma vez, cuja mera semelhança com Marion o havia compelido a salvá-la de ser atacada pelos homens de Lyon's Ridge.

Ela também queria escapar do esplendor assustador dos olhos de Cailean Grant. Eles caíam sobre ela com frequência, encobertos e indiferentes, parecendo desinteressados na maior parte. Mas eles continuavam voltando para ela, provando o contrário.

Ela se virou para a porta e pegou os olhos de Cailean mais uma vez. Seus olhares se encontraram e ela pensou que poderia ter visto suas narinas dilatarem um pouco, um brilho de algo quente em seus olhos frios como pedra. Ele sorriu para ela. O sorriso era suave, sutil, vindo de algum lugar profundo e genuíno. Deu-lhe esperança de que pudesse encontrar a felicidade novamente. Com ele.

Inferno, ela não queria se casar com William.

Se tivesse que se casar, preferiria alguém como... ela deixou seu olhar permanecer no rosto de Cailean.

 


Capítulo 10


Sozinho com Deware, Cailean observou-o caminhar diante de sua cama. O ferreiro parecia pálido. Gotas de suor brilhavam ao longo de suas têmporas. Cailean também se sentia um pouco doente. Annie obviamente disse a Deware que ele era um Cavaleiro Negro. Ele foi pego, sua verdadeira identidade revelada. Ele não tinha certeza se estava preparado para as acusações relacionadas à morte de Seth Menzie. Mas nenhuma delas veio.

Os olhos escuros de Deware pousaram nele e por um momento Cailean pensou que teria que lutar por sua vida.

— Você pode imaginar o que passou pela minha cabeça quando Annie me contou. — Deware parou de andar e olhou para ele. — Você mentiu para todos nós. Você é um Cavaleiro Negro e eu o trouxe aqui.

— Você salvou minha vida. — Corrigiu Cailean.

— Eu deveria matar você agora. Mas pelo que você fez por Marion...

Mesmo se recuperando de uma infecção perigosa, Cailean sabia que William não teria chance contra ele. O ferreiro não foi criado por Grants e MacGregors para ser um guerreiro. Ele se perguntou, entretanto, por que Deware não contou a Temperance o que ele descobriu.

— Eu sabia que você tentaria me matar ou apenas me deixaria morrer se soubesse a verdade. — Admitiu Cailean. — Eu sei o que aconteceu com ela e decidi deixar Lyon's Ridge e os Murdochs. Eu queria vir aqui primeiro para oferecer minha ajuda, mas alguém me esfaqueou. Peço que não conte à Srta. Menzie.

Deware piscou para ele e se aproximou. A seriedade de sua expressão obrigou Cailean a se preparar para pular da cama.

— Eu não serei o único a dizer a ela, Grant. Você irá. Por salvar Marion, vou conceder-lhe tempo. Mas saiba disso, eu vou estripa-lo enquanto dorme se machucar Temperance de alguma forma.

— Eu não tenho nenhuma intenção de machucar ninguém. Eu só quero me recuperar e ir embora.

— Quando você acha que estará pronto para sair daqui?

— Eu temo, — Cailean começou, — que desta vez pode demorar um pouquinho mais que a última. Haverá um longo caminho a percorrer para chegar em casa e não quero ficar doente de novo no meio do nada.

— É claro. — Concordou Deware. — Quando estiver pronto, peço que viaje para Perth e traga Marion de volta. Por favor. — Ele acrescentou quando Cailean estava prestes a recusar. — Como retribuição por salvar sua vida e trazê-lo aqui. Não posso deixar a aldeia sem mostrar a eles que suas vidas vêm depois das de Marion. Devo ficar e protegê-los.

Cailean admirava tamanha dedicação ao seu povo. Seu primo, o chefe do clã MacGregor, Rob MacGregor, dedicava sua vida ao seu povo, como qualquer grande líder deveria fazer. Ele faria isso. Ele traria Marion de volta. Ela estava em Perth. Não seria difícil.

— Vou trazê-la de volta.

— E então, — Deware concluiu com firmeza, — você deixará Linavar e não retornará.

Cailean olhou longamente para o líder de Linavar.

— Para que você possa se casar com Marion sem perder Temperance para mim.

— Eu não vou deixar Temperance perder seu coração para um Cavaleiro Negro, se é isso que você quer dizer. — Deware o assegurou. — Eu vou me casar com ela para manter ela e os outros protegidos de todos vocês.

Deware obviamente não estava ciente dos planos de Temperance de matar Murdoch ou Cailean.

Cailean olhou para a porta. Assim que estivesse bem o suficiente, iria buscar Marion, trazê-la de volta e então partiria daqui. Bom. Ele não queria que Temperance perdesse seu coração e ele certamente não queria perder o dele. Ele não estava preparado para suportar a perda de mais ninguém em sua vida. A vida a levaria embora. Ele sabia muito bem.

— Como quiser. — Ele concedeu. — Eu devo estar apto para partir no Natal.

— Você vai ficar o tempo que precisar. — A avó disse, entrando no quarto com uma bandeja de comida.

Cailean lançou-lhe um olhar afetuoso. Ele gostava da velha. Mesmo que ela acreditasse que ele era perigoso para Linavar, cuidava bem dele.

— Se continuar me estragando com sua culinária deliciosa, nunca vou querer ir embora. Posso sugerir me servir o leite da semana passada?

Sua pele envelhecida enrugou-se quando ela sorriu, pousando a bandeja.

— Eu deveria persegui-lo e jogá-lo para fora daqui com minha vassoura em seu traseiro, antes que Murdoch venha procurá-lo e nos acuse de sua condição. Mas, na verdade, estou cansada de dar a mínima para o Sr. Murdoch ou seu pai. Não vou jogar um homem indefeso na neve. Nossa obediência não os impede de fazer coisas vis e nem seus mercenários. Eles já provaram isso.

Cailean não conseguiu evitar que seus olhos se voltassem para Deware. Ele contaria a avó?

Cailean viera aqui para lhes contar a verdade. Mas a vergonha que isso trouxe tornou tudo mais difícil do que ele jamais poderia ter imaginado, então ele não disse nada.

Ele com certeza não queria que outra pessoa contasse a eles. Quanto antes ele saísse e pagasse sua dívida com Deware, maiores as chances de eles nunca descobrirem.

— Natal. Eu vou embora no Natal. É o quê? — Ele se voltou para Deware para confirmação. — Daqui a três ou quatro dias? Se isso for aceitável?

Deware assentiu, mas seus olhos já estavam se voltando para a porta. Cailean o seguiu e viu a Srta. Menzie parada sob a arcada. Ele se endireitou e, por um momento, deixou que a visão dela o afetasse totalmente. Ele sabia que não deveria, mas não conseguia desviar o olhar. A julgar pelo manto de lã em volta dos ombros e pelas belas bochechas rosadas, ela estivera trabalhando lá fora.

— É muito cedo. — Sua voz... ou seu olhar, encontrando e fixando-se no dele, acalmou sua respiração e confundiu seus pensamentos. Qual era o segredo que ele estava tentando esconder dela? — Você não vai querer partir tão cedo, não é, Sr. Grant?

— Não. — Disse Cailean. Enquanto Patrick estivesse seguro e se recuperando, Cailean não precisava correr para o seu lado. — Mas eu realmente não deveria estar recebendo...

— Você não pode partir no Natal. — Ela continuou. — O Natal é uma época bastante sombria. Não torne as coisas piores indo embora.

Ela ficaria triste por ele estar indo embora?

Ele curvou a boca um pouco em sorriso e esperava que ela não percebesse.

— No dia seguinte, então.

Ela balançou a cabeça.

— Vá embora depois do Hogmanay. — Ela veio até ele em uma lufada de ar doce e perfumada, como madressilva ou riachos e pinheiros. — É só mais um pouco, e pelo menos você estará aqui para comemorar conosco. Por enquanto, porém, você precisa de força e pode começar a comer.

Ele poderia fazer isso, especialmente se fosse pato da avó e ensopado com pastinaga. Ele decidiu que a febre tinha causado danos à sua cabeça, pois não se importava de ficar aqui um pouquinho mais.

— Talvez William, — Ela se virou para o amigo. — Possa nos dar licença por esta noite. Esgotar os seus pensamentos, às vezes, pode ser tão perigoso quanto cansaço e tensão em seu corpo.

Cailean não conseguia lê-la. Ela estava realmente preocupada com ele? Deware também parecia não saber, mas saiu do quarto sem dizer mais nada.

Quando ela se virou para sorrir para a avó, a velha mulher balançou a cabeça para ela.

— Vou ficar.

— Claro.

Cailean admirava Temperance por manter a graça, apesar da decepção que iluminou seus olhos enquanto ela gesticulava para que ele se virasse de barriga. Ela queria ficar sozinha com ele? Por que pensar nisso o emocionou e o fez querer correr... pular da janela?

Mas então ela abaixou o queixo e velou o olhar sob os cílios. Parecia como se o peso de todo o reino caísse sobre seus ombros.

Ele era o responsável.

Ele lhe entregou a tigela, e quando ela estendeu a mão, ele deixou seus dedos roçarem os dela.

— Obrigado por seu cuidado, moça. — Disse ele, mantendo a voz baixa, embora a avó parecesse estar prestes a tirar uma soneca em sua cadeira. — Eu não mereço isso.

Temperance ergueu o olhar para ele, uma inclinação inquisitiva de sua boca fazendo-o querer balançar a cabeça, como se ela não fosse real e ele precisasse provar isso, espalhando-a aos quatro ventos.

— Eu deveria ter me recusado a deixar você se convalescer na minha cama?

Ele queria desviar o olhar do fundo de seus olhos. Ele se sentia como se estivesse se afogando neles.

— Sim, você deveria.

— Por quê? — Ela perguntou.

— Porque eu não quero trazer mais problemas para você.

O sorriso dela se iluminou em algo glorioso, mas ele perdeu a maior parte dele quando ela o cutucou no ombro para fazê-lo virar de bruços.

Desta vez ele obedeceu e a deixou cuidar de suas feridas.

— Antes de tudo, — A respiração dela aqueceu seu ouvido quando ela se curvou para ele, — você salvou Marion e só isso merece meus cuidados. — Ela se endireitou e esperou que ele se virasse cuidadosamente. — Foi muito gentil de sua parte fazer isso. — Ela o empurrou suavemente e afofou seu travesseiro. — Você mencionou que ela o lembrava de alguém que conheceu.

O coração de Cailean parou. Ele mencionou isso?

— Alguém que você amava, talvez?

Ele não queria falar de Alison. Ele não queria se lembrar. Mas, inferno, ele se lembrava todos os dias. Ele queria paz e ousou olhar para um anjo para obtê-la. Ele não sabia por que ela o fazia querer contar tudo, por que pensava que poderia encontrar consolo em seus braços.

— Eu... ehm... — A avó roncou e seu olhar suavizou sobre ela. Ele queria se livrar das sombras amargas do passado? Talvez. — Eu estava começando a amá-la. — Foi mais difícil do que ele imaginou. Ele forçou um sorriso, esperando que fosse o suficiente para encerrar o tópico da discussão.

Não era.

— O que aconteceu com ela? — Temperance perguntou enquanto se sentava na beira da cama. Seus olhos arregalados, seu punho sob o queixo. Cailean gostava de vê-la sentada ali, confortável e pronta para desfrutar de sua noite com ele. Mas ele não mencionara Alison para ninguém. Até mesmo Patrick mal sabia algo sobre ela. Ele se sentou e apoiou os cotovelos entre os joelhos dobrados. Ninguém em Camlochlin, quisera criar Sage por que ela corria o risco de morrer, mas para ele tudo estivera bem, até... Não falar sobre as coisas as mantinha distantes e é aí que ele queria manter todas as emoções: de fora.

Mas elas o estavam destruindo.

— Ela foi baleada a caminho dos meus braços, onde... — Ele fez uma pausa, despreparado para falar dela. — Onde ela morreu, me dizendo que sentia muito.

— Oh. — Sua bela curandeira sussurrou, levando os dedos à boca. Seus olhos estavam arregalados e vivos. Eles o atraíram para olhar mais de perto, para talvez até mesmo cair em suas profundezas azuis. Cailean desviou o olhar. Ele não queria cair de novo.

— Eu não queria... — Ela começou, então fez uma pausa e tentou começar de novo. — Perdoe-me por...

Ele ergueu as mãos. Ele não queria que ela sentisse pena de nada.

— Não há nada para perdoar. Minha irmã na lei me diz para falar sobre isso, senão me comerá por dentro. Ela está certa.

Ela assentiu e a luz brilhou em seu olhar enevoado.

— Sim, — ela concordou no mais simples dos sussurros. — Eu posso ver em seus olhos.

— O quê? — Ele perguntou, tão suavemente. — O que você vê?

Ela procurou seu olhar e ele foi tentado a desnudar sua alma para ela.

— Eu vejo tristeza e raiva. Eu faria...

Ele baixou a cabeça e se inclinou para frente quando ela desviou o olhar.

— Você faria o quê?

— Eu gostaria de fazer você sorrir.

Ele queria sorrir. Sim, ela o fazia querer fazer mais que isso. Ele ficou surpreso com a facilidade com que ela afugentava seus demônios, como o tentava a rejeitar seus medos e deixá-la entrar. Ele sabia que era um tolo, mas se inclinou um pouco mais e roçou a boca na dela. Foi um breve toque tentador que enviou ondas de desejo percorrendo-o. Ele pensou que nunca poderia sentir tal necessidade novamente. Ela provou agora que ele estava errado. Ele se afastou antes que pudesse pressionar sua boca na dela e se deixar cair completamente sob o feitiço que ela estava tecendo sobre si. De qualquer forma, a avó poderia acordar a qualquer momento e acertá-lo na cabeça com um de seus potes.

— Perdê-la criou a armadura que você segura em volta do seu coração?

Sim. Ele queria dizer que ela estava certa.

— Fale-me dela. Qual era o nome dela?

— Alison, — ele se pegou dizendo. — Nós nos conhecemos em um bordel. O último lugar em que eu pensaria em procurar por amor.

Ele observou uma leve pincelada de listras vermelhas em suas bochechas. Ele queria sorrir. Inferno, ele estava contando a ela sobre Alison e queria sorrir.

— Ela era uma... moça de prazer? — Temperance perguntou, olhando para a avó para ver se ela ainda dormia.

— Sim, meu irmão me levou para o Fortune’s Smile para pagar por minha primeira... — Cailean a olhou e ela curvou a boca em sorriso, entendendo o que ele não disse. —...relação com uma mulher. — Ele forneceu de qualquer maneira.

Ele contou a ela como Alison estava determinada a vê-lo ficar bom depois que ele foi baleado e esfaqueado pelos Winthers de Newcastle. De acordo com seu irmão Malcolm, os ferimentos de Cailean foram muito graves, mas Alison nunca saiu de seu lado. Ela era a razão dele estar vivo.

— Ela estava apaixonada por você. — Temperance adivinhou em voz alta. — Quem atirou nela?

Ele disse a ela, a princípio com relutância. Mas então, à medida que ele se abria mais, ficava mais fácil contar a ela toda a história.

— Meu pai morreu em meus braços também. — Ela disse suavemente quando ele terminou. Ela baixou o olhar para esconder os olhos dele. Ele estendeu a mão antes que pudesse se conter e tocou o queixo dela com os dedos.

— Não se envergonhe de sua dor, senão se enterrará cada vez mais fundo até que se torne parte de você.

— Talvez eu queira que isso se torne parte de mim.

Ele balançou sua cabeça.

— Não, vai te transformar em mim.

As pontas dos lábios dela se transformaram em um sorriso sincero que o fez se sentir como se tivesse acabado de encontrar a grande montanha Blà Bheinn em Camlochlin.

— Não vejo consequência nisso, Sr. Grant.

Sou a razão pela qual seu pai está morto. Ele queria contar a ela. Ele queria contar a ela e então... entrar em um buraco e nunca mais sair.

— Você não vê a consequência de estar vazio e protegido por uma couraça?

Ele a observou sacudindo a cabeça. Ele observou cada nuance da respiração que ela inalou, o menor movimento de sua testa. Ele já a achava bonita, mas banhado pela luz das velas ela o fez querer escrever dez versos.

Mas ela não o conhecia, ou as coisas que ele fez desde que se tornou um Cavaleiro Negro. Se ela soubesse, o odiaria.

Não era isso que ele queria? Isso tornaria mais fácil ignorar o efeito dela sobre ele. Ele abriu a boca, talvez para finalmente dizer a verdade. Mas ela falou e o interrompeu antes que ele confessasse.

— Estar vazio, — ela disse a ele, — apenas significa que algo deve ser preenchido. Podemos preenchê-lo com pedra e argamassa ou com novos sonhos e esperança de felicidade. Pedra e argamassa em breve ficarão muito pesados para mantê-lo com você.

Cailean assentiu ligeiramente. Ficava mais pesado a cada dia. Mas ela estava errada sobre o vazio. Pedra e argamassa não poderiam preencher.

— Qual você escolherá? — Ele perguntou a ela. Não queria que ela se tornasse como ele.

— Eu ainda não decidi. Ainda estou com muita raiva para saber mais alguma coisa.

— Você cavalga? — Ele perguntou.

— Sim. Por que você pergunta?

— Cavalgar forte e rápido ajuda com a raiva. Deve ser uma besta forte para ser capaz de suportar tudo o que você tem a dar.

Ele percebeu o que havia dito e como deve ter soado para seus ouvidos quando uma mancha vermelha passou por suas bochechas. Ele não teve a intenção de dizê-lo, na verdade, ele pensava nela em sua cama.

— Temo que todas as nossas montarias sejam velhas e lentas. — Ela disse a ele. — A raiva que carrego requer um garanhão.

Seus pensamentos já estavam indo nessa direção, então ele os deixou seguir seu próprio caminho. Imagens encheram sua cabeça de suas coxas enroladas em torno de sua cintura e sua cabeça jogada para trás enquanto ela o montava até que estivesse exausta de prazer. Ele queria colocá-la em seus braços e envolvê-la forte. Ele queria olhar nos olhos dela e se perder em seu sorriso, beijá-la e pedir-lhe para tirá-lo do escuro. Ele queria pegar a mão dela e deixá-la conduzi-lo, e então queria libertá-la da tristeza que lhe causou.

— Talvez, — seu sorriso não pôde deixar de se prolongar quando ele falou. — Eu possa ajudar.

 


Capítulo 11


— Ele perdeu a mulher que amava, avó. — Temperance disse a sua avó no dia seguinte, quando ela voltou para a cozinha carregando um balde de água. Ela derramou um pouco em uma grande panela de metal, em seguida, ajudou a avó a colocar a panela sobre as chamas do grande forno aberto. — Ela morreu em seus braços, morta por um homem com uma pistola. Não é a história mais triste que você já ouviu?

A avó começou a picar cenouras e fez uma pausa para dar uma boa olhada em Temperance com seu olho são.

— Sim, muito triste mesmo.

— Acho que meu pai teria gostado dele.

— Sr. Grant é um sujeito muito agradável.

— Sim, — Temperance concordou, — ele é.

— E ele também é muito bonito.

— Oh? — Temperance pegou um talo de gengibre e começou a ralá-lo com uma faca. — Eu não tinha percebido. — Ela deixou a mesa e jogou o gengibre na panela, e observou a avó fazer o mesmo com suas cenouras.

— Então. — A avó voltou para a mesa de corte e começou com as cebolas em seguida. — Devo acreditar que você ficou cega?

— Não, claro que não, avó, mas estive ocupada cuidando dele. Não tive tempo de admirá-lo.

— Bom, então eu não tenho que me preocupar com suas histórias tristes ou seus sorrisos sedutores roubando seu coração.

Temperance parou de cortar ervas e olhou para sua avó do outro lado da mesa. A avó entenderia, não é? Ela amava Temperance tanto quanto qualquer pessoa poderia amar outra.

— Meu coração tem que pertencer a alguém para ser roubado. E caso você não saiba, o coração de William está perdido para Marion.

— Eu sei. — A avó a surpreendeu ao dizer. — Verdade, moça, você acha que deixei William sair desta casa sem me contar? Estou desapontada com ele por não ter nos contado. Minha preocupação é com você, minha pombinha. Eu não quero que você se case com um homem que ama outra.

— Eu também não quero isso, avó. — Temperance admitiu baixinho. Não era a avó quem sempre dizia que sua mãe morrera dando-lhe a vida e que Temperance deveria se certificar de que ela vivesse uma vida digna disso?

— Não há fogo entre nós, avó. Mas William ainda quer ir em frente. Pela a segurança da aldeia.

— Sim, eu sei disso também.

Temperance não pôde deixar de sorrir, apesar da perspectiva de seu futuro. A avó podia ser velha, ter um olho só e ser ligeiramente curvada, mas sabia tudo o que acontecia em Linavar e em sua própria casa. Ela até sabia sobre as próximas núpcias de seu filho Seth com a viúva Anne Gilbert. Ela era sábia, de espírito forte e muito amada por todos na aldeia.

— Vou falar com ele sobre isso.

Temperance largou a faca e correu ao redor da mesa para reunir sua avó em seus braços.

— Obrigada, avó. — Ela sussurrou amorosamente em seu cabelo grisalho. — Eu te amo.

A avó assentiu e fungou, fingindo que as cebolas a haviam afetado.

— Você também sabia, — Temperance perguntou, um brilho brincalhão voltando a seus olhos enquanto ela voltava a cortar, — que o Sr. Grant prometeu sua ajuda para trazer Marion de volta para nós?

— Eu não sabia disso. — A avó confessou, aguçando as orelhas enquanto colocava de lado as cebolas e pegava os restos esfolados e cortados de uma lebre assada.

— O irmão dele é o conde de Huntley e Cailean... O Sr. Grant garantiu a William que contaria com a ajuda de seu irmão.

— E por que Cailean... o Sr. Grant prestaria tal ajuda?

Temperance ignorou a pergunta de conhecimento da avó. Ela abriu a boca para dar uma resposta, mas percebeu que não tinha uma.

— Pode ser porque o Sr. Grant deseja remover William de seu futuro? — A avó perguntou. — Se o coração de William está perdido para Marion, trazê-la de volta garantirá nenhum casamento.

Temperance a seguiu até o forno com a bandeja de carne.

— Por que ele se importaria com o que William é para mim?

A avó lançou-lhe um olhar incrédulo, como se Temperance devesse saber a resposta. Ela se curvou para a panela e acrescentou a carne ao ensopado.

— Ele gosta de você, moça. Está claro de se ver.

Seria isso?

— Ele é muito cauteloso, avó. Acho que ele não quer cuidar de ninguém.

— Bem, se alguém pode mudar isso, é você, amor. — Disse a avó suavemente. — Mas não posso deixar de pensar que, se não fosse por Marion, você encontraria a felicidade com William. E você estaria segura. Isso é o que seu pai queria.

Temperance sorriu, lembrando-se da conversa com o pai na manhã em que voltaram de Kenmore.

— Ele conhecia meu coração e, lembre-se, foi ele quem me disse que o amor não aparece com frequência. Quando isso acontece, ele sempre disse, vale a pena custe o que custar.

O olhar da avó sobre ela suavizou.

— Prenda o cabelo para trás, criança. Para que não se incendeie. — Mãos delicadas, envelhecidas, enrugadas e inchadas nas juntas, alisaram os cachos grossos de Temperance, tirando as mechas pesadas de seus ombros.

— Eu sinto falta dele, avó.

— Eu também. — A avó esfregou os nós dos dedos na bochecha da neta, enxugando uma lágrima.

Temperance se inclinou e beijou o rosto dela, então olhou para Cailean parado na porta. Ela não o ouviu saindo de seu quarto ou entrando na cozinha.

— O que você está fazendo fora da cama? — Temperance se endireitou e o viu de pé. Maldição, mas ele parecia em forma e saudável de pé ali com sua camisa e plaid esticado sobre seus ombros largos, suas pernas longas e retas em suas calças de lã e botas.

— Eu me sinto inquieto. Não posso ficar na cama... — Ele entrou na cozinha, então parou quando Temperance enxugou os olhos. — Está tudo bem?

— Tudo está bem. — A avó assegurou-lhe.

Ele acenou com a cabeça, parecendo aliviado, mas quando se aproximou de Temperance, seu alívio se transformou em preocupação.

— Você estava chorando?

— Só um pouquinho. — Ela confessou, movendo-se em direção a ele. Ela parou apenas quando ficou cara a cara com ele. Ela estendeu a mão para descansar a palma contra a testa dele. Sem febre. Mas quando ela procurou o distanciamento frio em seu olhar firme, só conseguiu encontrar ardor. Ela não queria desviar o olhar. Ela queria se aprofundar, mesmo correndo o risco de afogamento.

— Meu pai, — ela explicou. Depois de perder Alison, ele entenderia como ela se sentia. — Eu estava apenas dizendo a avó como eu sinto falta dele.

Ele desviou seu olhar do dela por um momento. Quando ele voltou sua atenção para ela, ele vestiu o plaid de inverno sobre si mais uma vez.

— Alguém me disse recentemente, — disse ela enquanto ele se afastava dela e se dirigia para a saída mais próxima, — que me comeria por dentro se eu não falar sobre isso de vez em quando.

Ele parou na porta dos fundos e se virou para olhar para ela, algum tipo de batalha sendo travada por trás do inverno enganoso daqueles olhos.

— Ele estava correto.

Ele abriu as portas e olhou para o castelo por um momento, e então saiu.

Temperance fez um movimento para ir atrás dele, mas parou para olhou por cima do ombro para a avó. Ela não estava procurando por aprovação. Ela só queria que sua avó soubesse que estava indo. Nenhum protesto veio quando Temperance saiu correndo porta afora. O que havia de errado com ele? Ter mencionado seu pai tinha trazido de volta lembranças de sua Alison? Ela queria perguntar se ele achava que amaria novamente, mas não o fez. Na verdade, ela não disse uma palavra a ele. Ela apenas caminhou atrás dele, mantendo uma curta distância.

— Você vai me seguir até o Lyon’s Ridge? — Ele perguntou sem se virar.

— É para lá que você está indo, desarmado?

— Você me acha um idiota?

Ela permaneceu quieta e ele finalmente parou e se virou para lhe lançar um olhar duro.

— Você me insulta.

— Provavelmente não será a última vez.

Maldição, mas ele era completamente lindo quando parecia incrédulo, com certeza aliado aos anjos. Com seus grandes olhos e lábios largos fazendo beicinho, ele parecia quase a epítome da inocência. Mas nenhum anjo possuía uma mandíbula talhada em granito. Pureza e virilidade no mesmo homem sombrio e frio. Ela entendia exatamente o que uma mulher como Alison acharia mais atraente nele. Seria difícil para qualquer mulher não se apaixonar por ele. A questão era: como ele permaneceu puro em um castelo cheio de prostitutas?

Ele não saiu de seu caminho até que ela quase pisou nele. Ela o sentiu se curvar para inalar o cheiro de seu cabelo quando passou por ele.

— Bem? — Ela se virou para ele. — Onde estamos indo?

Voltando a meditar, ele abriu os braços diante dele e apresentou o vale coberto de neve para ela.

— Parece um bom lugar para limpar a cabeça.

Isso era. Era uma vasta terra onde as batidas do coração ecoavam nas montanhas e os gritos desapareciam com o vento.

Em vez de olhar ao redor para a vasta beleza que a rodeava, ela manteve o olhar nele. Ele era muito parecido com a terra ao redor dela, duro e congelado, o perigo vestido com uma magnificência brutal. Ela se perguntou se ele sempre foi tão sombrio. Teria Alison o mudado ou ele sempre foi sério e pensativo? O que traria outro sorriso aos lábios dele? O que o fazia rir?

Ela o observou enquanto ele se postava ao seu lado. Perto, tão perto que o calor de seu corpo a cobria e excitava seus sentidos. Como era possível que ela se sentisse mais segura ao lado dele do que nunca estivera? Ela traçou seu perfil esculpido com os olhos enquanto ele levava seu olhar sobre as quatro montanhas Munros. Ele inalou o ar fresco e frio e fechou os olhos.

— Suas feridas estão curando bem. Alguma dor?

— Nae.

— Eu disse algo que fez você fazer beicinho?

Ele abriu os olhos e se virou para encará-la totalmente. Ela tentou se concentrar no assunto em questão, mas por um ou dois momentos, tudo que ela pôde fazer foi ver o brilho de seu rosto. Ela pensou que seria melhor se mantivesse a boca fechada, pois o flash de seu olhar era como um relâmpago em uma tempestade.

— Posso garantir a você, não faço beicinho.

Ela revirou os olhos quando ele se virou novamente.

— Sabe, — ela continuou, — que algumas pessoas vivem a vida inteira sem encontrar o amor verdadeiro?

— Então?

— Então, em vez de ficar triste com o que você perdeu, considere ser grato pelo que teve.

Seus olhos varreram sobre ela como uma onda violenta, mas dentro da tempestade, um ponto de luz dançou através da superfície. O vento soprava em seu cabelo, batendo em seu rosto como tambor de guerra.

Ela não tinha a intenção de ser insultuosa. Ela estava apenas tentando ajudar. Inferno, ela sabia que o que sugeria era difícil, talvez a coisa mais difícil que um coração humano poderia fazer. Como é que alguém começa a transformar a tristeza em gratidão?

— Eu também devo fazer isso, — ela confessou. — Não sei como, mas vou.

Ela esperava que ele a advertisse, se afastasse dela, a acusasse de não entender.

Em vez disso, ele desamarrou o plaid do ombro e ofereceu-lhe um lugar por baixo da manta.

— Você não deveria ter me seguido. — Ele disse contra seu ouvido quando ela deu um passo para seu abraço protetor. — O dia está muito frio.

Ele provavelmente estava certo, e ela definitivamente não deveria ter aceitado sua oferta. Seu corpo contra o dela era quente, duro e inflexível. Seu sangue correu por suas veias como fogo líquido, deixando-a um pouco tonta.

Ela se perguntou se ele podia sentir seu coração batendo forte entre eles. O que diabos havia acontecido com ela? Ela nunca sentiu nada assim com William.

— Eu não estou familiarizada com o clima. — Ela disse, tentando manter seu tom firme. Ele estaria deixando Linavar em breve. Não havia motivo para ela se interessar por ele. — Temos um pouco de tempo antes de congelarmos até a morte.

Foi uma risada suave que ela ouviu acima dela, ou o vento sobre as montanhas? O som trouxe um sorriso em seu rosto quando ela inclinou a cabeça para olhar para ele. Ela o encontrou olhando para ela, seus olhos calorosos e seu sorriso... oh, a avó estava certa sobre seu sorriso. Isso a deixou sem fôlego.

— Na verdade, eu não me importaria tanto. — Ele disse a ela com todos os traços de gelo e todos os seus pensamentos pesados perdidos de sua expressão por enquanto, pelo menos. O que restou foi sua respiração superficial, um sorriso indelével que expôs um dente da frente ligeiramente torto e totalmente cativante, e olhos que a beberam e vasculharam sua alma até que ela tivesse a ponto de prometer qualquer coisa a ele. — Se estes fossem os meus últimos momentos nesta terra.

Ela queria perguntar a ele por quê. Isso tinha a ver com ela? A avó estava correta? Afinal, ele gostava dela? Mas sua coragem falhou. Ela se sentiu ansiosa de repente, sem controle de si mesma ou de suas emoções. Ela queria cair em seus braços e beijar sua boca, que acabava de confessar a declaração mais romântica que seus ouvidos já ouviram. Cada toque de seus dedos ao longo de seu ombro, seu pescoço, a tentava a fazer o oposto do que todos esperavam. Por um momento terrível, ela considerou viver com ele... ou sair com ele. Até onde ela o seguiria? Por que ele? Por que agora, quando seu pai se foi e ela não podia ouvir sua opinião no homem com quem ela pensou que poderia encontrar o amor verdadeiro, se tivesse a chance?

— Bem, eu já encontrei você meio morto duas vezes agora.

Ela deu um passo para longe, separando-se dele. Ela precisava. Ele a fez perder a cabeça, e se ela queria sobreviver aos Murdochs, precisava mantê-la no lugar. Eles já haviam levado Marion. Era apenas uma questão de tempo antes que a levassem também.

— Eu prefiro não ter que arrastar você de volta para casa. Eu ficaria exausta demais para correr se um grupo de Cavaleiros Negros aparecesse na colina. Então, vamos voltar.

— Decidi ficar em Linavar mais um pouco. Se estiver tudo bem para você.

Suas palavras fizeram sua barriga revirar.

— Vou trazer Patrick aqui para proteger o vilarejo comigo. — Sua voz ficou mais perto. — Vou devolver Marion aos braços de Deware e então... talvez possamos nos conhecer melhor.

Se a batida ensurdecedora de seu coração fosse qualquer indicação, ela não sobreviveria a isso. Ela não devia ter se importado muito, porque se virou para olhar para ele. Ela exalou a respiração que puxou ao vê-lo diretamente atrás dela. Tão perto, na verdade, que ela quase deu um passo direto para ele.

Ele ergueu os dedos largos para uma mecha de cabelo que havia caído sobre sua bochecha. Seu toque aqueceu seu interior, seu coração. Ela olhou em seus olhos e ele sorriu como se ela fosse mais do que apenas uma moça que o ajudou a se recuperar de seus ferimentos físicos. Ela queria cuidar mais do que isso. Ela queria curar seu coração.

Por um momento de tirar o fôlego, ela pensou que ele iria tomá-la em seus braços na charneca varrida pelo vento e beijá-la como uma mulher deve ser beijada: devagar, com maestria e com paixão.

Oh, como ela queria ser beijada como se fosse estimada, amada... por ele.

Em vez disso, ele a empurrou para fora do caminho e ficou no caminho do cavaleiro solitário que descia a montanha Munro vindo do Castelo Lyon’s Ridge.

 


Capítulo 12


— Não acredito em meus olhos! Cailean, seu filho da puta, é você?

Patrick.

— Patrick! O que ele estava fazendo aqui? Inferno, foi bom vê-lo. — Cailean disse enquanto seu primo cuidadosamente deixava sua sela. Ele se curou bem no castelo, mas por seus movimentos lentos era fácil ver que não se recuperou completamente.

— Como você está? — Cailean perguntou a ele. Seu primo era o homem que ele viera aqui para vingar. Ele esperava que Patrick não falasse muito. Ele teria uma conversa com ele sobre isso mais tarde. No momento, ele estava totalmente grato por seu primo e amigo mais próximo viver.

— Estou bem, — disse Patrick. — Embora obviamente não tão bem quanto você, eu vejo. — Ele voltou seu sorriso mais arrojado, um que lhe dera mais companhia feminina do que Cailean sabia, para Temperance, e pegou a mão dela.

Cailean lançou um olhar fugaz para o céu e então apresentou Temperance à seu primo ridiculamente atraente.

— Tenho a sensação de que já te vi antes. — Patrick olhou para Cailean e sorriu. Ele a reconheceu do mercado em Kenmore.

As bochechas de Temperance estavam tão vermelhas de frio ou de encanto por Patrick? Normalmente Cailean não se importava com quem Patrick levava para a cama. Desta vez era diferente, no entanto. Seus músculos ficaram tensos e endurecidos ao pensar nela com qualquer outra pessoa. Inferno, ele estava deixando acontecer. Temperance estava se tornando importante para ele e não queria que ela fosse. Mas ele temia que já fosse tarde demais. Ele quase a beijou. Ele queria abraçá-la e beijá-la pelo próximo século. Foram as febres. Ele tinha enlouquecido e cada vez que estava perto dela a loucura piorava.

— Eu ouvi muito sobre você, — Temperance disse a ele. — E eu adoraria ouvir mais. Venha, vamos descer para a casa onde está quente. Felizmente para você, Sr. MacGregor, chegou bem a tempo para o cozido de coelho da avó.

Cailean a olhou. Ela estava flertando com Patrick? Não o surpreenderia se ela estivesse. Com sua risada despreocupada, humor encantador e olhos que podiam mudar de esmeralda para topázio, a maioria das moças achava Patrick do seu agrado.

— Achei que você estivesse morto. — Patrick disse a Cailean, guiando seu cavalo e seguindo Temperance até a casa. — Duncan voltou com seu cavalo e nos disse que não havia mais nada em volta da besta, exceto uma poça de sangue.

O sorriso de Cailean era tão frio quanto o ar gelado. Ele tinha certeza de que foi Duncan quem o atacou.

— Não acreditei que você pudesse ser pego tão facilmente. — Patrick continuou. — Mas não havia nada que eu pudesse fazer até me recuperar. Então uma das copeiras disse à minha curandeira que um homem chegara de Linavar perguntando sobre mim. Eu sabia que tinha que ser algo a ver com você.

— Era William, — Temperance corrigiu por cima do ombro, com outro sorriso.

— William Deware. — Explicou Cailean quando seu primo fixou nele aqueles malditos olhos encantadores. — Seu prometido.

Ela se virou enquanto caminhava e lançou-lhe um olhar de decepção e confusão.

— Por enquanto. — Ela corrigiu.

Importava que ela não quisesse se casar com seu amigo de infância? Ou que seu noivo amava outra? Por que deveria? Ele e Patrick não ficariam aqui por muito tempo.

Cailean entendeu por que os casamentos eram arranjados. Aconteceu com frequência nas Highlands. Seu primo Adam MacGregor tinha o dever de se casar com Sina de Arenberg. Adam não gostava disso. Os casamentos eram um meio de alcançar a paz, adquirir terras, fortalecer uma aliança ou manter a segurança. Se era melhor para Temperance se casar com Deware, então talvez ele não devesse trazer Marion de volta.

— Que pena. — Disse Patrick em voz baixa quando ela voltou sua atenção para a casa e, em seguida, baixou o olhar para seu traseiro.

— Patrick. — Rosnou Cailean.

Seu primo voltou os olhos para Cailean e fez uma reparação rápida.

— Por você, quero dizer. Por piedade para você. — Ele sorriu, e Cailean sabia que logo todas as moças em Linavar estariam batendo na porta da avó.

E se a pessoa que tentou matar Patrick estivesse aqui? Era seguro para ele ficar em Linavar? A cada dia que passava, Cailean ficava menos certo de que o assassino de Patrick era da aldeia. Ninguém aqui o conhecia ou seu primo. Por que alguém atiraria flechas neles? Além disso, foi sugestão de Duncan. E se Duncan tivesse contratado alguém para fazer isso? Talvez a flecha que atingiu Patrick fosse destinada a Cailean, e a única coisa que Linavar tinha a ver com ela era fornecer a Duncan alguém para assumir a culpa.

Eles chegaram à casa e Temperance foi em direção ao pequeno estábulo. Cailean impediu Patrick de segui-la.

— Ela não sabe que eu sou um Cavaleiro Negro, Patrick. Você não deve mencionar isso. Você já ouviu falar sobre a matança aqui na noite em que foi baleado?

— Alguns sussurros aqui e ali. O líder de Linavar foi morto?

Cailean assentiu e olhou ao redor para se certificar de que estavam sozinhos.

— Seu pai. Duncan o acusou de atirar em você e fez Cutty cortar sua garganta... na frente dela.

A expressão de Patrick caiu.

— Och, inferno. Pobre moça. Você estava lá?

— Sim, eu estava.

Seu primo o examinou por um momento, conhecendo-o melhor do que ninguém.

— Você se culpa.

— Sim. — Cailean disse a ele. — E com razão. Eu dei a ordem para Cutty.

Seu primo desviou o olhar.

— Eu disse a você que este estilo de vida o deixaria se sentindo culpado do que odeia, mais cedo ou mais tarde. Espero que agora você esteja pronto para me ouvir e voltar para Camlochlin.

Cailean balançou a cabeça.

— Ainda não. Não posso deixá-los indefesos contra Murdoch.

— O que você pretende fazer, Cailean?

Cailean olhou para o estábulo e viu Temperance Menzie sair dele. Ele a ensinaria, a Deware e a todos os outros em Linavar como lutar, e então ajudaria Temperance a matar Duncan Murdoch.

— Eu vou ajudá-la.

— Primo. — Patrick colocou a mão no ombro de Cailean e apertou. — Não se envolva nisso. Eu não sei o que aconteceu naquele bordel que te deixou com tanta raiva, mas...

— Uma garota por quem eu estava me apaixonando morreu. — Cailean finalmente disse a ele. Sempre que Patrick havia perguntado no passado, Cailean sempre resmungava que não queria discutir o assunto. Ele queria esquecer isso. Mas ele não se esquecia. E agora, graças a Temperance, falar sobre isso não era tão ruim quanto pensava que seria.

— Sinto muito, primo. — Disse Patrick, parecendo genuinamente triste com isso.

— Está tudo bem? — Temperance perguntou, alcançando-os e olhando para cada um deles.

Cailean acenou com a cabeça e saiu em direção a casa.

— Eu estava apenas contando a Patrick sobre Alison.

Temperance se virou para o primo, surpresa.

— Você não sabia?

Patrick balançou a cabeça, tão surpreso quanto ela.

— Sim?

Os dois olharam para Cailean. Temperance parecia querer sorrir para ele, mas não o fez.

Patrick, por outro lado, ergueu uma sobrancelha castanho-avermelhada para ele e curvou a boca em um sorriso revelador.

Cailean o empurrou para frente no instante em que Temperance se virou.

Eles entraram na casa e foram recebidos por TamLin miando e o delicioso aroma da comida da avó.

— Estou sentindo cheiro de gengibre? — Cailean ergueu a gata em seus braços e seu nariz no ar e inalou. De fato, era gengibre, um de seus temperos favoritos. Havia outros flutuando pela casa: tomilho, salva, coentro, manjericão e salsa.

— Sim, colocamos um pouco no ensopado e a avó está fazendo hidromel de gengibre para o jantar.

Os homens a seguiram até a cozinha, onde Temperance apresentou Patrick a avó. Os dois se deram bem na hora.

— Como você soube que devia procurar Cailean aqui em Linavar? — A avó perguntou a ele depois que ela o acomodou em uma cadeira em frente a Cailean na mesa.

Patrick explicou como sua curandeira ouviu as fofocas na cozinha em Lyon's Ridge e levou para seu quarto.

— Uma vez que eu soube que alguém de Linavar tinha perguntado por mim, percebi que era meu primo, que Murdoch alegou estar morto.

— Ele é um verdadeiro demônio, aquele lá. — Avó murmurou, juntando-se a Temperance no serviço de servir.

— Aqui. — Cailean se levantou de seu assento. — Podemos pegar o nosso próprio alimento.

— Absurdo! — A avó repreendeu. — Você e seu primo são nossos convidados. Agora sente-se!

Eles falaram sobre tudo enquanto comiam, com Temperance e a avó bastante curiosas sobre Camlochlin e seus parentes. Cailean entendia sua curiosidade. Para a maioria das pessoas no reino, os MacGregors e seus aliados mais leais, os Grants, eram um mistério. Não mais do que contos sussurrados ao redor de fogueiras e ao lado da cama de crianças obstinadas, contos de fantasmas encapuzados que saíram das brumas para se vingar dos ímpios.

Patrick respondeu à maioria das perguntas com seu bom temperamento natural, parecendo hipnotizar as duas mulheres. Ele as fez rir do hidromel de gengibre e contos de piratas e uma certa caçada em outubro sobre as montanhas de Sgurr na Stri, quando seu primo Adam atirou nas costas de seu próprio irmão. O pobre Tamhas não conseguiu sentar-se por um mês.

Sim, Cailean se lembrava daquela noite. Ele sorriu e depois riu também. Fazer os corações ficarem leves era o presente de Patrick e, nos últimos quatro meses, esse presente foi o aborrecimento de Cailean. Ele não tinha vindo para Glen Lyon para se divertir. Ele veio porque estava farto do mundo e da maneira como funcionava. Ele se tornou um mercenário porque se isolar de todos e de tudo que amava era o único caminho.

Mas algo nele havia mudado. Ele estava gostando desta noite. Estar aqui o fez se sentir bem novamente.

— E seu avô, o demônio MacGregor. — O sorriso da avó desapareceu suavemente. — Por que ele odeia os Menzies?

— Foi há muito tempo. — Patrick disse a ela, sério. — Os Menzies eram os capangas contratados dos Campbells.

Cailean havia esquecido essa parte da história de sua família. Ele tinha ouvido isso muitas vezes quando a voz forte de seu avô enchia o grande salão de Camlochlin, contando como os Menzies marcaram o rosto de Rhona MacGregor durante a primeira proscrição.

— Bem, não somos mais esse tipo de Menzies. — Disse a avó, parecendo um pouco indignada.

— E nós, — Patrick respondeu com um sorriso parecendo ingênuo ou não, — não somos mais esses tipos de MacGregors, embora eu não queira fazer uma desonra para meus parentes que sangraram para manter nosso nome vivo. Qualquer cavalgada que fizermos abaixo das montanhas Granmpians agora é para pilhar uma ou duas moças, não para lutar.

Cailean estava levando a colher aos lábios quando sentiu os olhos de Temperance nele. Ele a olhou por baixo de seus cílios escuros. No passado, Cailean nunca se importou em se agrupar com Patrick como um libertino, embora nada pudesse estar mais longe da verdade.

Esta noite ele se importou.

— Não eu, — ele corrigiu, soando mais como um urso do que um homem, e então voltou ao seu ensopado.

— Ele não, — Patrick ecoou. — Nada vem antes de aperfeiçoar o golpe de sua lâmina, cobrir seus dedos com tinta ou a busca pelos ingredientes perfeitos para crepes de mirtilos e crème brûlée.

Cailean piscou quando Patrick sorriu para ele. Seu primo era agora o bardo de Camlochlin, contando detalhes que ele próprio preferia contar? Cailean não era contra, bater nele para calá-lo. Ele cresceu com uma dúzia de primos. Punhos às vezes eram trocados. Mas eles eram parentes e o perdão vinha com a próxima rodada de risos.

— Você sabe fazer crème brûlée? — A avó perguntou a ele, puxando sua atenção de volta para ela.

— Sim. — Ele disse a ela. — Meu irmão tem uma cozinheira francesa. Quando estive em Ravenglade pela última vez, ela me mostrou como fazer. — Ele sentiu os olhos de Temperance sobre ele. Quando ele deslizou seu olhar para ela, a encontrou sorrindo.

— Diga-me, Sr. Grant. — Disse ela, capturando sua atenção novamente com a delicadeza de sua voz e o arco sedutor de sua sobrancelha. — Se você não desceu das montanhas para ganhar o favor das moças, por que veio então?

Ele olhou para o rosto dela, seus olhos, perguntando-se como ela o fazia querer contar-lhe tudo. Ele queria dizer a ela que tinha vindo para Glen Lyon para fazer o que de melhor na luta. Lutar o ajudava a esquecer e alimentava a fera raivosa dentro dele.

— Por solidão, — confessou. Não era mentira. — E para cuidar de minhas feridas.

— Alison. — Ela respirou.

— E Sage. — Patrick acenou com a cabeça ao mesmo tempo.

— Quem é Sage? — Temperance fixou seus olhos enormes e adoráveis em Cailean.

Patrick respondeu por ele.

— A cadela dele. — Ele se virou para Cailean e lançou um sorriso para ele. — Leia para ela um daqueles pergaminhos que você carrega consigo.

— Pergaminhos? — Temperance perguntou.

— Podemos falar disso outra hora. — Interrompeu Cailean. Ele se cansou de falarem sobre ele. Os delitos de Patrick eram muito mais divertidos. — Conte às damas sobre seu pai e seu irmão mais velho, Lucan. Acho que Temperance e a avó gostariam de ouvir sobre suas nobres crenças.

Ele percebeu o quão naturalmente inteligente Patrick era quando seu primo se recostou em sua cadeira e direcionou seu sorriso mais radiante para eles.

— Honra, queridas moças. Meu pai aspira a viver uma vida digna de um conto de Thomas Malory. Como os heróis escrito por Malory, ele é o cavaleiro imperfeito, reformado pelo amor de sua dama.

— E seu irmão? — Temperance perguntou, gostando da história.

— Ah, Lucan, — Patrick suspirou melancolicamente. — Ele é o verdadeiro cavaleiro. É tudo muito chato se você me perguntar. — Ele bocejou e espreguiçou-se como se apenas falar sobre honra o cansasse. Cailean conhecia o efeito do tópico sobre Patrick. Isso o acalmava de uma forma ou de outra. — Receio que ainda não sou eu mesmo. Existe algum lugar onde eu possa descansar minha cabeça, querida avó?

— Claro, Sr. MacGregor. Venha. — A avó se levantou de sua cadeira. — Vou mostrar o quarto de Temperance, onde seu primo está hospedado. Você pode compartilhar a cama com ele.

— Você vai dormir no chão, Patrick. — Gritou Cailean, depois pegou sua caneca.

Ao lado dele, Temperance deu uma risadinha.

Cailean a olhou por cima da borda de sua caneca. Ela gostava de Patrick.

— Ele é muito charmoso.

— Sim, ele é. — Ela concordou. Ela sorriu para sua carranca profunda e apoiou o queixo no punho. — Mas não tão atraente quanto você.

 


Capítulo 13


Ele parecia especialmente bonito no cenário de crepúsculo e montanhas. Seu cabelo escuro chicoteou em seu rosto, eclipsando seus olhos azuis de aço.

Temperance não conseguia tirar os olhos dele enquanto caminhavam por um pequeno caminho que levava ao poço, cada um carregando um balde de pratos e potes e com TamLin em seus tornozelos. Depois que a avó e Patrick se recolheram, ela aceitou a oferta de Cailean para ajudá-la a limpar. Ela estava feliz por ter aceitado. Ela gostava de andar ao lado dele. Claro que ela gostava de cuidar dele enquanto ele estava deitado de costas ou de barriga. Mas quando ele estava de pé, sua força e virilidade aqueciam o sangue que corria em suas veias. Era a coisa mais estranha, mas estar perto dele, com ele, a fazia se sentir feminina... como uma mulher. Ela gostava. Ela gostava muito dele. Ela tentou impedir, mas não adiantou. Ela gostava que ele estivesse aqui. Ela não queria que ele fosse embora.

— Você vai me falar sobre a sua cadela, Sage? — Ela perguntou a ele quando chegaram ao poço.

Ele largou os baldes e ela fez o mesmo.

— Se você realmente quer saber. — Ele soltou a corda e jogou o balde nas profundezas do poço.

Ela sorriu, observando-o pegar água.

— Talvez não seja uma boa ideia. A expressão em seu rosto sugere que você prefere cair no poço do que falar nisso.

Ele a olhou e então lançou um sorriso que a deixou sem fôlego. Era uma coisa boa que não acontecesse com frequência, ou ela provavelmente desmaiaria a seus pés e se odiaria pelo próximo ano.

— Ela alcançava minha cintura. — Ele começou. — E era da cor do céu antes de uma tempestade. Outros podem discordar, mas não dou a mínima para o que dizem, Sage era a mais bonita de suas irmãs.

Ele puxou o primeiro balde de água pela borda do poço e despejou o conteúdo no balde dela. Então começou de novo.

Ela queria lhe dizer para não puxar muito, mas ele parecia perfeitamente capaz de erguê-la e carregá-la por uma montanha se quisesse.

— Sage costumava me olhar como se conhecesse cada parte de mim, o que eu estava pensando, com que humor eu estava. Ela me conhecia melhor do que qualquer outra pessoa. Mas eu não queria uma cadela pairando sobre meus tornozelos ou cascos de cavalo. Mas Sage tinha outros planos.

— Ela conquistou você. — Temperance respirou, incapaz de prender a respiração por mais tempo.

Ele fez uma pausa e fixou seu olhar em TamLin sentada aos pés de Temperance.

— Sim, ela me ganhou. — Ele confessou em um sussurro que abriu seu coração vazio para ela. — E ela me humilhou pensando como eu quase a rejeitei. Eu a aceitei, porém, nunca deixando passar pela minha mente que ela me deixaria em breve.

— O que aconteceu? — Ela perguntou, lavando os pratos do jantar na água limpa.

Ele encheu o balde e começou a lavar as panelas.

— Eu fui em uma aventura tola em Nairn com um par de meus primos para se reunir com três irmãs que conhecemos em Sleat. Fomos apanhados em casa com as moças. Seu pai nos amarrou e nos chicoteou completamente. Não creio que ele tivesse intenções de nos deixar viver. Sage estava comigo, esperando do lado de fora enquanto eu roubava meu primeiro beijo de Colleen Rose lá dentro. Depois que fomos capturados, Sage voltou para Skye, de alguma forma enfrentando a chuva e o granizo da estação. Ela levou meu pai e meus tios até nós e salvou a mim e a meus primos.

Temperance notou a queda em seu tom, sua cadência lenta e pesada com profunda culpa e arrependimento.

— Ela adoeceu pouco depois de voltarmos para casa. — Ele continuou, parando de trabalhar e desviando o olhar do dela. — Por um tempo as ervas da minha tia pareceram ajudá-la. Mas ela se debilitou rapidamente e... finalmente me deixou enquanto eu a segurava.

Temperance o observou com os olhos cheios de lágrimas quando ele voltou para sua tarefa.

— Não falo dela desde que morreu.

Ela assentiu, entendendo e sentindo-se honrada por ele ter compartilhado a história de sua cadela. Ele carregava muito peso nos ombros e ela queria ajudá-lo a se livrar disso.

Oh, se ela tivesse conhecido Cailean antes de seu pai morrer quando ainda era feliz. Como poderia ajudá-lo quando ela estava sofrendo sua própria perda?

Ficaram no poço limpando pratos e potes e sem trocar palavras. O silêncio não era estranho, mas reconfortante.

Não foi até que eles voltaram para a casa que Temperance falou novamente.

— Você acredita que a morte de Sage foi sua culpa.

— Sim. — Ele disse, virando-se para olhar para ela. — Foi culpa minha.

Temperance sorriu e pegou a mão dele. Ela entendeu que perder sua leal cadela e depois a mulher de quem cuidava, ambos deixando o mundo em seus braços, havia deixado cicatrizes profundas na carne sob sua grossa armadura. Ela suspeitava que ele segurava a armadura perto para permanecer intocado por qualquer coisa ou alguém novamente.

— Nem todos, — disse ela pensativa, — temos a sorte de ter um amigo que daria a vida por nós. Você é considerado abençoado. Pode não ser mais fácil, mas deve ser reconfortante saber que um animal tão nobre o achou digno de sua lealdade e de sua vida.

Cailean olhou em seus olhos, um sorriso melancólico puxando seus lábios.

— Essa é uma boa maneira de ver as coisas, uma maneira que não tinha pensado por mim mesmo.

— Eu gostaria de pensar assim. — Ela disse a ele, guiando seus passos novamente e caminhando ao seu lado. — Nossos parentes têm que nos amar. É seu dever sagrado. Como mulher, entendo perfeitamente como Alison juraria seu amor e lealdade a você. Mas Sage era uma cadela, a melhor prova de conhecer o caráter de um homem e, acredito, um juiz melhor do bem e do mal do que a maioria das pessoas. A vida e a morte dela falam muito bem por você.

Seu sorriso suavizou nela. Seus joelhos ficaram moles.

— Obrigado, moça. — Ele levou seus nós dos dedos aos lábios para um beijo que fez sua barriga vibrar. Ela já estava fraca e disposta, então quando ele a puxou para seus braços, não protestou.

— Como é, — ele perguntou pesadamente contra sua boca enquanto a curvava ligeiramente sobre a curva de seu braço, seus dedos acariciando sua têmpora, sua bochecha, — que você é capaz de banir meus problemas e curar minhas feridas com um aceno de seus dedos delicados?

Ela estremeceu em seus braços, seu olhar quente e rendendo-se ao dele, faminta e ansiosa por seu beijo.

Eles se encontravam em algum lugar entre a necessidade e o desejo, tocando, moldagem, cada um provando a paixão no outro. Fogo. Ele acendeu isso nela. Ele a segurou perto e com confiança, fazendo-a se sentir segura em seus braços fortes mais uma vez. Ele a beijou como se tivesse feito isso por anos, seus lábios macios e carnudos. Ela entregou sua boca à dele, segurando seu plaid com as duas mãos enquanto ele a esmagava em seus braços. Ela abraçou enquanto a língua dele percorria os cantos mais profundos de sua boca, enquanto as mãos dele se moviam sobre suas costas, suas nádegas, puxando-a para mais perto. Ela tinha certeza de que o vento uivante ao seu redor estava prestes a levantar ela e Cailean do chão e deixá-los à deriva sobre o vale gelado. Mas ela não estava com frio. Seu calor a envolveu, sua respiração a encheu. Seu corpo a envolveu como mil sussurros, dizendo coisas que ela sempre achou que deveria ouvir de Will, mas nunca ouviu. Ela se sentia desejada, estimada. Ela queria nunca mais deixar seus braços.

Ela não achava que nada poderia ser melhor do que seu beijo, mas estava errada. Observar os efeitos do beijo dela sobre ele quando Cailean se retirou foi melhor quando seus olhos começassem a se abrir, seus lábios mal-humorados entreabertos, sua respiração rápida e superficial, como se ele estivesse tão surpreso com a intimidade deles quanto ela.

Vê-lo apertar a mandíbula e reunir seus sentidos apenas a convenceu do domínio que ele tinha sobre seu corpo e como ela queria fazê-lo perder o controle.

A voz de William pôs fim à intimidade deles.

— Grant, solte-a!

Assustada, Temperance se afastou primeiro. Ela se virou para encontrar William olhando para Cailean. Ela estava prestes a lembrá-lo de que estava disposta e também era culpada, mas ele a interrompeu.

— Você a beija sabendo que ela será minha esposa? — William perguntou, seu tom cortando o vento.

— Sabendo, — Cailean respondeu calmamente. — Que se você tomá-la como esposa, vai condená-la a uma vida cheia de traição e arrependimento. — Quando William começou a protestar, Cailean levantou a palma da mão para detê-lo. — Vou embora logo depois do Hogmanay para trazer Marion de volta para você. Deve decidir o que fazer antes de eu retornar. Você não pode ter as duas.

William olhou para ele por um momento, então encontrou o olhar de Temperance. Ele desviou o olhar rapidamente e se virou para olhar para a casa. Temperance sabia o que se passava em sua mente. Todo mundo sempre achou que ele e Temperance se casariam. Ele moraria na casa de Seth, a casa onde o líder de seu pequeno vilarejo deveria morar. Era o que seu pai queria, embora nunca tivesse tentado forçá-la. Não era o que ela queria. E agora ela sabia que não era o que William também queria. A princípio ficou feliz por William ter encontrado seu verdadeiro amor. Ela tinha pensado com certeza que Will tomaria Marion como sua esposa. Mas ele insistiu em ainda tomá-la por esposa. Ela tinha que chegar a Lyon’s Ridge e acabar com isso de uma vez por todas.

— Não haverá razão para ficar depois que você trouxer Marion de volta. — William disse a Cailean rigidamente. — Temperance e eu vamos nos casar. Fiz uma promessa a seu pai de cuidar dela e pretendo fazer isso.

Temperance sentiu vontade de chorar. Ela não tinha nada a dizer sobre seu futuro? Ela tinha! Ela cuidaria de sua própria segurança!

— William, eu...

Ele ergueu a palma da mão, cortando as palavras de Temperance.

— Eu também peço que você evite colocar sua boca na minha noiva novamente.

Não! Ela queria beijar Cailean de novo e de novo. Em seus braços o mundo era um lugar melhor, um lugar onde ela se encontrava e a felicidade novamente. Cailean sentia isso também, ela percebeu pela reação dele ao beijo, sua promessa de ficar um pouco mais longo. Ela poderia fazê-lo ficar com ela ainda mais? Talvez para sempre? Eles reviviam um ao outro e ela não deixaria ninguém impedir. Nem mesmo William.

— William... e não ouse tentar me silenciar de novo. — Temperance cruzou os braços sobre o peito e plantou os pés firmemente no tapete de gelo. — Eu não precisarei ser mantida a salvo depois de matar Murdoch, e seu assassino contratado, e o bastardo que deu permissão para cortar a garganta do meu pai. Nem você nem Cailean podem me impedir.

— Eu não vou deixar você fazê-lo. — William gritou para ela.

— Eu não preciso de sua permissão. — Ela retrucou. — E se pensa por um momento que vou deixar me dar ordens, então, talvez, deva ir para Perth você mesmo, encontrar Marion e depois ficar lá com ela!

William parecia tão atordoado que por um instante ela quase se arrependeu do que havia dito.

Ele falou o nome dela, ou foi o vento uivante?

— Você não quis dizer isso.

Ele era seu melhor amigo. Ela não queria ferir seus sentimentos. Mas ela não queria que ele desistisse de seu coração para tentar mantê-la segura de Duncan Murdoch, que provavelmente não se importaria se ela fosse casada ou não. Ela não deixaria William fazer isso. Ela não podia se casar com ele.

— Eu falo sério. — Ela disse a ele, fazendo o seu melhor para soar dura. — Nós vamos ser amigos sempre, William, mas eu não vou me casar com você. Não estamos apaixonados um pelo outro, e eu quero isso no meu casamento.

Antes que ele pudesse discutir com ela, ela deixou os dois parados ali na neve recém caída e voltou para casa.

— Och! — Ela parou, se virou e gritou para ele: — E mais uma coisa, William! Muito obrigada por interromper o melhor beijo da minha vida!

Ela girou nos calcanhares para sair novamente. Com o canto do olho, ela viu Cailean sorrindo para ela.

— Como você pôde se apaixonar por outra pessoa quando cresceu com ela?

Deware se virou para ele com um olhar astuto.

— Ela é muito bonita, eu sei.

— Sim. — Cailean assentiu, mas havia mais nela do que seu rosto sedutor e sua forma bem torneada. A centelha de vida que ele vira nela no mercado, antes de perder o pai, o atraíra para a luz. Ela ainda o possuía. Ele via isso nela com frequência. Ele queria se dar ao luxo de falar com ela de novo, beijá-la novamente, olhar para ela até seu último dia na terra, mas inferno, pelo bem dela, ele deveria estar cavalgando todo o caminho de volta para Camlochlin.

— Depois do meu décimo quinto ano, — Deware disse a ele, — Temperance deixou bem claro que ela não tinha nenhum interesse em mim de forma romântica. Ela pediu que eu nunca a pedisse em casamento, a menos que não houvesse outra escolha.

— Então, — disse Cailean — ela não queria se casar com você? Inferno, que golpe deve ter sido.

Deware balançou a cabeça.

— Ela amava Archie Campbell naquele ano. Depois disso, foi Will Drummond e depois Ewan Frasier. Quando ela atingiu a idade de casar, entretanto, ela recusou todas as ofertas.

— Por quê? — Cailean perguntou, embora ele se odiasse por se importar com a resposta.

— Porque ela é muito obstinada para a maioria dos homens na aldeia e ela sabe disso. Ela não quer viver a vida miserável de uma esposa subordinada.

Cailean não pôde deixar de sorrir. Ela nunca ficaria feliz em obedecer às ordens de um homem. Ele esperava que ela nunca mudasse.

— O que vai acontecer quando ela descobrir que você é um Cavaleiro Negro? — Deware arruinou seu bom humor ao perguntar.

O sorriso de Cailean se desvaneceu. Ele apreciava as maneiras sinceras de William. Ele não gostava, mas apreciava.

— Eu... eu não vou ficar muito tempo. Não quero persegui-la, Deware. Só não quero que você arruíne a vida dela. Ela é muito... vibrante e viva para isso, certo?

Finalmente Deware concordou com a cabeça e voltou seu olhar para a casa.

— Eu nunca poderia fazê-la feliz.

Cailean não sabia ao certo por que Deware estava confessando isso a ele, mas não o impediu.

— Nós somos muito diferentes, ela e eu. Quero uma esposa que goste de seu papel e o desempenhe sem brigas ou reclamações. — Deware admitiu, então acenou com a cabeça quando viu o sorriso malicioso de Cailean. — Sim, precisamente, — ele concordou. — Ela passa os dias praticando arco e flecha e caçando pequenos animais nos meses de inverno, e no verão ela vagueia pela urze como se não se importasse com o mundo. Ela nunca levou o perigo do interesse de Duncan Murdoch por ela a sério até a morte de seu pai. Infelizmente, agora ela sabe.

Cailean não deixaria Duncan se aproximar dela. Não sobraria nada dela depois de um ano vivendo sob sua tirania. Mas quão mais feliz ela seria em um casamento sem paixão com Deware?

Determinado a resgatar e restaurar, se pudesse, a garota despreocupada que ele tinha visto no mercado em Kenmore, tinha que convencer Deware a não se casar com ela.

Não tinha nada a ver com o fato de ele a querer para si mesmo. Nada. Ele não a queria, não importava como ela conseguia fazê-lo se sentir melhor sobre Sage, ou o que ela quis dizer quando disse que, como mulher, ela podia entender como Alison tinha dado a ele seu amor e lealdade. Ou que ela lhe deu um beijo que o fez repensar sua vida, seu futuro. Nada disso importava. Ele ficaria aqui com Patrick e corrigiria seus erros, e então iria embora e voltaria para Camlochlin. Mas, inferno, ele gostaria de vê-la vagar pela urze.

 


Capítulo 14


Temperance apoiou os cotovelos na janela do quarto da avó e olhou para os dois bonitos Highlanders em seu pátio. Patrick estava cortando lenha enquanto Cailean pegava e levava até a porta.

Ele se moveu lentamente, cauteloso para não abrir as feridas ao erguer a madeira pesada. Ainda assim, parecia malditamente atraente levantando madeira até o ombro.

Seus olhos assumiram uma aparência sonhadora ao se lembrar do beijo dele na noite anterior. Oh, que beijo! Ninguém jamais agarrou sua boca e seu coração ao mesmo tempo como Cailean. Deus a ajudasse, sua boca era suave, firme e... possessiva. Como seria pertencer a ele? Pensar nisso a emocionou. Ela se imaginava cuidando de seus filhos enquanto ele estava fora lutando em batalhas, caindo em seus braços fortes quando voltasse para ela, sendo carregada para sua cama e o olhando, o coração martelando, enquanto ele deitava ao seu lado ou em cima dela. Ela estava louca, mas realmente não se importava. Por que ela deveria? O coração de William pertencia a Marion. William nunca a fez se sentir uma mulher desejável, porque não a desejava. Ela nunca teria o tipo de amor apaixonado por ele que seus pais haviam compartilhado, que seu pai sempre dizia para procurar.

E era o mesmo para Cailean. Ela tinha visto em seus olhos quando ele se retirou. Ela sentiu em sua respiração e em sua relutância em terminar o beijo.

Ele estava saindo depois do Hogmanay, mas voltaria. Ela se lembrou de seu aviso a William. Você deve decidir o que fazer antes de eu retornar. Você não pode ter as duas.

Por que ele se importava com o que William decidia se não estava interessado nela? Ele estava certo, William não poderia tê-la e a Marion.

Ela suspirou de alegria quando o sol indescritível pousou em Cailean, iluminando seu rosto, seus olhos, quando ele os ergueu de seu trabalho e a viu na janela.

Ele sorriu, mas desviou o olhar. Por quê? Por que ele sempre desviava o olhar, como se fosse culpado de algum crime terrível?

Ou era por causa de William?

Temperance deu um tapa na saliência profunda à sua frente. Quando William advertiu Cailean para se abster de beijá-la novamente, ela ficou tentada a lhe dar um tapa que ele não esqueceria tão cedo.

Ela tinha que matar Duncan para se salvar. Ela não podia se casar com Will, especialmente depois do beijo de Cailean. Ora, os efeitos durariam uma década, ela tinha certeza. Sua boca ainda formigava. Sua pele esquentava cada vez que ela pensava em seu toque, e seu sangue subia para sua cabeça tão rapidamente que se sentia um pouco tonta.

Patrick a chamou e ela acenou. Aquele era um perigo para as mulheres, sempre alegre, sempre charmoso e tão lindo.

Mas Temperance tinha olhos para seu primo, e apenas para ele. Quando ele a olhou novamente, desta vez com um olhar diferente, ela deixou a janela e correu para fora do quarto... e depois da casa. Ela não se importava se parecia ansiosa demais pela companhia de Cailean. Ela estava ansiosa. E ela não se importava com quem sabia. Para ela, o casamento estava cancelado, a menos que fosse para casar Will com Marion.

Ela queria conhecer o homem sob o escudo de gelo. Ela queria que ele a beijasse novamente, a abraçasse, a fizesse se sentir segura e verdadeiramente desejada.

Saindo, ela puxou a capa mais apertada ao redor dos ombros e esmagou a neve sob as botas enquanto ia até ele.

— Bom dia Cailean, Patrick! — Ela cumprimentou os dois homens com seu sorriso mais radiante.

Cailean quase tropeçou em seu pé. Ele se endireitou e as duas toras em seus ombros que haviam se soltado.

— Como está suas costas? — Temperance perguntou a ele, se aproximando. — Você realmente não deveria exagerar.

— Estou bem, moça. — Disse ele, lançando-lhe um sorriso que provou que era o melhor homem que ela já havia encontrado. — Você fez um bom trabalho me curando. Não se preocupe mais com isso.

— Oh, mas eu me preocupo. Eu te quero bem para que...

— Eu possa lhe deixar? — Ele inclinou seu olhar para ela.

— Nae!

— Não dê atenção a ele, moça. — Patrick gritou para ela, e baixou o machado em mais madeira. — Ele está apenas provocando você.

Cailean. Provocando?

Ela sorriu para seu Highlander e ele piscou para ela. Seus joelhos quase se dobraram sob ela.

— Por que, então, você me quer bem? — Ele parou, deixando-a terminar desta vez.

Ela não achava que poderia ser mas... Quando ela se tornou uma imbecil tão tagarela?

— Por quê? — Ela piscou e corou como a idiota que havia se tornado.

— Sim. — Ele ficou lá, olhando para ela com as duas toras apoiadas em seus ombros largos, o vento soprando seu cabelo em seu rosto. — Por quê?

Temperance olhou ao redor do pátio, esperando ver William aparecer e mandá-la voltar para casa. Ela não iria. Ela desviou o olhar para Patrick, que havia parado de cortar e parecia estar esperando por uma resposta também.

Tudo bem então: ela endireitou os ombros e pigarreou. Se eles quisessem uma resposta, teriam uma.

— Você é agradável de ter por perto.

— Ele é? — Patrick perguntou em dúvida.

— Sim. — Ela assentiu, mantendo os olhos e o sorriso em Cailean. — Ele é. Gosto de nossas conversas.

— Ora, isso há algo que todo homem quer ouvir de uma moça bonita. — Patrick riu e começou a cortar a madeira novamente.

— Também gosto dela. — Disse Cailean, ignorando seu primo.

— Talvez pudéssemos...

— Ele provavelmente não pode. — Interrompeu a voz da avó vindo de trás dela. — Ele e o Sr. MacGregor prometeram limpar o estábulo depois de cortar e juntar madeira, e depois disso vou precisar deles para limpar a neve da passagem da porta dos fundos até a frente da casa. Receio que esteja ficando perigosamente escorregadio para que eu ande.

— Claro, avó. — Temperance concordou. — Mas depois de todo esse trabalho, eles vão precisar de uma refeição saudável. Amanhã é véspera de Natal e todos no povoado estarão aqui. Não podemos jantar bem esta noite? Vou fazer torta de alcachofra e sopa de codorna.

A avó sorriu. Ao contrário de Temperance, ela adorava cozinhar e planejar refeições.

— Você não gosta de cozinhar, pomba.

— Och, mas eu não me importo. — Disse ela, com os olhos arregalados e sorrindo. — É o mínimo que posso fazer por nossos prestativos hóspedes. Eu irei... — Ela continuou, mas a avó já estava balançando a cabeça.

— Eu vou cozinhar, querida. Você pode ajudar. Venha. — A avó começou a voltar para casa, pegando a mão de Temperance.

Antes de deixar sua avó conduzi-la, Temperance se virou novamente para Cailean.

— Vejo você no jantar, então.

Ele sorriu e acenou com a cabeça e Temperance quase não teve forças para ir. Ela sentiu os olhos dele sobre ela como mares gêmeos e turbulentos. Quando ela chegou a casa, se virou uma última vez para olhar para ele e o encontrou ainda a olhando. Ela acenou e corou um pouco mais, ou talvez fosse apenas o ar frio manchando suas bochechas. Não importava. Ele fazia seu interior queimar. Ela esperava que ele a beijasse novamente esta noite.

— Temperance, — A avó chamou de dentro. — Feche a porta antes que todos nós congelemos até a morte. Entre. Eu desejo falar com você.

Temperance fechou os olhos e se preparou. Ela sabia sobre o que a avó queria falar. Ela já tinha falado com Will? Ela esperava que William não tivesse dito que tinha visto ela e Cailean se beijando ontem. E se ele tivesse dito? Como ela explicaria isso?

— Você gosta dele? — A avó perguntou a ela enquanto reuniam os ingredientes necessários para o jantar.

— Sim, — ela admitiu. Ela não queria ter essa conversa. E se a avó não achasse que Cailean era o melhor homem para ela? Era quase impossível ganhar uma discussão com a sábia anciã. E Temperance não queria perder essa.

— E quando ele voltar para suas montanhas, você irá com ele?

Temperance riu baixinho, mas de repente se sentiu mal. Ela deixaria Linavar? A avó? Ela balançou a cabeça.

— Ele não pediu, avó.

— Esperemos que não. Eu sentiria muito a sua falta.

— Och, avó, eu não te deixaria! — Temperance foi rápida em dizer a ela. Mas e se ela perdesse seu coração para Cailean completamente e ele pedisse-lhe para ir para sua casa nas Highlands com ele? Por que a vida dela tinha que ser tão complicada?

— Ele leva uma vida perigosa, pomba. Você me contou que ele disse que perdeu sua mulher por causa de uma bala de pistola.

— Não mais perigoso do que Linavar é com os Murdochs governando sobre nós. — Temperance respondeu calmamente.

— O diabo que conhecemos é melhor do que o diabo que não conhecemos. — A avó insistiu com a mesma calma.

— Mas são todos igualmente perigosos. — Entendia que a avó queria apenas o melhor para ela e Temperance a amava por isso, mas ela queria viver. Não se importava com o perigo. Ela se importava com a paixão, com as milhares de borboletas que despertavam em seu ventre ao ver Cailean, o fogo que a consumia quando o beijava.

— Eu me sinto segura com ele, avó.

— Tenho certeza que sua Alison se sentia segura com ele também, pomba. Até ela morrer. Dê-me aquele pote, sim?

Temperance fez o que ela pediu e então afundou na cadeira mais próxima e suspirou.

— Eu quero o que mamãe e papai tiveram. — Ela confessou, apoiando o queixo na palma da mão. — Eu nunca terei isso com William, e não tem nada a ver com Marion. Tem a ver comigo.

— Mesmo que isso signifique morrer nos braços do Sr. Grant a seguir?

— Todos nós vamos morrer, avó. Prefiro morrer nos braços de um homem que me ama fervorosamente do que nos braços de um homem que considera minha morte sua liberdade de casar-se com outra.

Finalmente a avó parou de cortar e assentiu.

— Venha me ajudar, pomba. — Ela disse ternamente. — Você prometeu a ele um jantar saudável. O que ele vai pensar se entrar e encontrar um prato vazio e uma moça com olhos vermelhos e inchados? Não é atraente, caso você não saiba.

Temperance se permitiu sorrir e se levantou da cadeira.

— Talvez, — disse ela com outro suspiro longo e prolongado, — meu pai nos dará um sinal que nos fará saber a quem devo prometer minha vida. Afinal, esta é a época dos milagres.

Elas concordaram e falaram de coisas menos sérias, como os lindos mantos de lã que Temperance prometeu ajudar a costurar.

Antes que Temperance percebesse, duas horas se passaram, TamLin havia roubado parte de uma codorna, e a casa estava impregnada de calor e dos aromas suculentos da comida da avó.

Ela ouviu os homens lá fora compartilhando risadas alguns minutos antes da porta se abrir. Ela decidiu que amava o som da alegria de Cailean. Ela queria ouvir com mais frequência.

Patrick entrou primeiro, deixando entrar o frio que varreu os juncos do chão em um redemoinho ao redor de seus pés.

TamLin, aparentemente feliz em ver o próximo homem a entrar, tanto quanto Temperance, pulou de uma cadeira e correu para cumprimentá-lo, miando enquanto se aproximava de Cailean.

Até a gata dela gostava dele, Temperance pensou. Talvez fosse esse o sinal que ela procurava. Ela sabia que não estava errada quando ele estendeu um feixe de urze de inverno com um cheiro doce. Cada haste estava perfeitamente intacta, sem uma única florzinha perdida.

Ela deu o sorriu mais brilhante que ela tinha desde que perdeu seu pai. Ela não poderia ter pedido um sinal melhor.

— Você sabe como colher urze. — Ela disse, aceitando sua oferta.

— É um requisito em Camlochlin. — Seu olhar a bebeu como o de um homem sedento por algo que não tinha nada a ver com sua barriga.

Com o coração batendo forte nos ouvidos e a respiração instável, ela se levantou na ponta dos pés e pressionou os lábios em sua bochecha, perto de sua orelha.

— Eu acho, — ela sussurrou para que apenas ele pudesse ouvir, — que meu pai enviou você para mim, Cailean Grant.

Ela se afastou, um pouco envergonhada por sua ousadia, e não viu seu sorriso sumir.

 


Capítulo 15


Na manhã seguinte Cailean entrou no grande salão de jantar, construído por um líder que tinha o feito para o seu povo, e decorado por uma moça que amava a vida e a celebração do Natal. Ele sorriu para as pinturas penduradas nas paredes, obviamente feitas pela mão de uma criança. Temperance. Ele gostava daqui. Ele podia sentir o calor. Ele quase podia imaginar Seth Menzie sentado na cabeceira de uma das grandes mesas retangulares.

Mas Seth Menzie não o mandou aqui, e Cailean precisava contar a verdade à sua filha.

Ele fechou os olhos e ouviu os ecos fantasmagóricos de risadas enchendo a grande sala, copos estalando em brindes à paz e prosperidade. Seria o mesmo aqui novamente? Ele sabia agora que Seth Menzie era inocente. O pai de Temperance não teria tido tempo de se desviar e atirar uma flecha nos homens que voltavam para Lyon's Ridge. Se ele tivesse, Temperance saberia sobre isso. Ela teria contado a ele. Ela não tinha motivo para não contar a ele. Ela já havia expressado seu ódio pelos Cavaleiros Negros. Ela achava que ele também os odiava. Não. O homem errado morreu.

Como ele poderia contar a ela? Como ele poderia fazer algo mais do que o que tinha feito na noite anterior? Incapaz de desfrutar do jantar que ela e a avó prepararam, se desculpou, alegando cansaço, e se retirou para a cama sem compartilhar outra palavra com ninguém. Ela estava errada. Seu pai não o enviou.

Era véspera de Natal, a Noite das Velas, quando as velas eram acesas e colocadas nas janelas para guiar a Sagrada Família em segurança. Ele pensou no Castelo de Camlochlin iluminando o vale, um refúgio do duro mundo ao redor. Ele imaginou seus parentes cantando e bebendo o quente ponche wassail, rindo juntos perto da lareira no grande salão. Sentia saudades deles enquanto respirava os aromas doces de pinho seco e louro da montanha misturados com os aromas perfumados de bolos de Natal e biscoitos de manteiga, juntamente com galinhas e tetrazes9 assando. Tortas de carne picada também estavam sendo assadas e oferecidas com canela, cravo e noz-moscada para simbolizar os presentes dados pelos três reis magos.

Com a insistência da avó para que o nascimento de Jesus fosse celebrado, apesar da recente morte de seu filho, os moradores chegariam esta noite com presentes e sorrisos.

Cailean deveria partir antes que a alegria começasse. Mas ele não queria ir. Não havia alegria em sua vida há muito tempo. Ele não queria isso.

O que mudou?

— Ah, aí está você.

Ele se virou ao som da voz de Temperance e sorriu para ela parada sob o batente da porta. Ele viu a bola de visco acima de sua cabeça e foi tentado a seguir a tradição e beijá-la. Recusar dava azar. Ele não achava que ela recusaria, no entanto.

Ele não fez isso porque Deware estava fazendo o que era necessário para manter Temperance fora dos braços do carrasco de seu pai.

— Eu estava explorando a casa e seus muitos cômodos. — Ele disse a ela. — Este é o meu favorito.

— O meu também. — Ela disse suavemente, e deu um passo em direção a ele, deixando o visco e vencendo seus desejos tolos. — Embora eu imagine que deve ser maravilhoso viver em um castelo.

Isso era. Mas ele havia esquecido. Ele havia esquecido muito, como o que significava ser feliz, se sentir afortunado por ter uma família que amava e pela qual morreria. Quase perder Patrick e encontrar Temperance o ajudaram a se lembrar.

Ele passou a mão pelo cabelo e a afastou do rosto. Por que demorou tanto para ver que infligir sua dor em outra pessoa era realmente devastador?

— O Castelo de Camlochlin é muito grande e meus parentes são amigos, mas não moro no castelo. Meu pai é um construtor e construiu nossa casa e muitas outras no vale. Ele apreciaria a mão de obra de seu pai.

Ela sorriu para ele e se aproximou.

Ele sentiu sua respiração parar.

— Talvez um dia eu veja as obras de seu pai como você viu as do meu.

— Talvez, — ele concordou, observando-a se aproximar. Por que ele estava dando a ela qualquer indicação de que poderia levá-la para casa? Ele fez uma careta e deu um passo para trás. Temperance era a tentação encarnada e se descobrisse a verdade sobre ele, o odiaria ainda mais por tomar liberdades com ela.

Ela parou, vendo sua inquietação, e não se aproximou.

— Você é um tipo diferente de homem, Cailean Grant. — Ela disse a ele, fazendo-o se sentir mais culpado do que nunca. — A maioria dos homens não se importaria com o pedido de William, especialmente sabendo que ele não está apaixonado por mim.

— Ele protege você.

— Sim, eu sei. — Ela não parecia feliz com isso. — Diga-me, tenho sorte de ter um amigo tão altruísta que desistiria de sua felicidade por mim? Sou egoísta porque prefiro vê-lo feliz com Marion?

— Não, — ele respondeu baixinho quando ela voltou a andar. Quando ela o alcançou, incapaz de dar mais um passo sem estar em seus braços, ele não se afastou, mas baixou os olhos para evitar olhar para seu rosto lindo e curioso.

— Devo me unir a ele por uma chance de segurança? Isso é justo para algum de nós?

— Não. Parece que não, — ele disse em uma voz baixa e grossa, ainda sem olhar para cima. Ele podia sentir a respiração dela nele, o calor de seu corpo tão perto. Não o irritava da mesma forma quando sentia outros estarem muito perto dele. Ele não se sentia mais duro e exposto. Ele podia ouvir o coração dela batendo... ou era dele? Ele queria tomá-la nos braços e beijá-la. Ele sabia que poderia amar essa mulher e que, acima de tudo, ele tinha que se proteger contra isso.

Ainda...

Ele estendeu a mão para tocá-la, esquecendo seus votos a si mesmo, esquecendo Deware e todos os outros. Ela cuidou dele no seu leito de morte e continuou a fazer isso todos os dias que ele passava com ela. Ele moveu os dedos sobre sua bochecha e mandíbula, desejando traçar a linha de sua boca, para pressionar seus lábios nos dela. Ela fechou os olhos e inclinou o rosto ao toque dele.

— Ele faz o que é melhor para você, moça.

Ela abriu os olhos novamente para olhar para ele.

— Ele faz? — Ela manteve a voz suave, como uma feiticeira lançando um feitiço sobre si, tentando-o embora ele tivesse certeza de que ela era tão pura quanto a neve recém caída.

— E se William não for o melhor para mim?

Ele não era. Mas Cailean era? Ele não poderia ser. Não com todos os seus segredos.

Olhar nos olhos dela acalmou seu coração e o fez bater freneticamente ao mesmo tempo. Seus lábios carnudos e corais o tentaram para liberar todos os cuidados, todas as preocupações, todos os seus medos e dúvidas, e apenas beijá-la.

— Temperance, há algo... — Ele tinha que contar a verdade a ela antes de fazer qualquer outra coisa. Patrick foi flechado. Duncan Murdoch culpou alguém em Linavar e Cailean exigiu sangue. Ela nunca o perdoaria. Por que beijá-la novamente e começar algo que acabaria mal? Ela nunca poderia amá-lo.

— Sim? — Ela perguntou suavemente. — O que foi, Cailean?

Ele desviou o olhar. Cuidar dela só levaria a mais sofrimento para ele.

— Nada. Eu... eu acho que Deware...

— Och, por favor, Cailean. — Sussurrou ela, e pressionou o dedo indicador nos lábios dele para silenciá-lo. — Não me diga que William é o melhor para mim. Eu sei que ele é um homem maravilhoso. Eu sei disso melhor do que a maioria. Mas isso não significa que ele é o melhor para mim do que... — Ela fez uma pausa e olhou nos olhos dele.

Que ele? Cailean queria perguntar a ela. Em vez disso, ele pegou a mão dela e deu um beijo em seu dedo. Ele não era.

— Não eu, moça.

Ela abriu a boca para falar, mas ele a deteve.

— Não eu. Eu não quero amor. É temporário e quando se vai, leva um pouco de você com ele e não tenho mais nada para dar.

— Você está com medo.

— Sim, estou com medo. Eu vi o que isso faz. Eu senti a destruição. Inferno, você também. Você perdeu seu pai, Temperance.

— Eu perdi, — ela concordou, e deixou sua mão cair ao seu lado. — Mas eu nunca trocaria um único dia que tive com ele por menos dor em sua morte.

— Eu trocaria, — ele disse a ela, dando um passo para trás. — Eu voltaria e faria as coisas de maneira diferente. — Por ela. Ele não deixaria Duncan Murdoch descer a montanha para matar seu pai. Ele faria tudo para salvar Seth Menzie, e então ele consideraria arriscar tudo para dar a esta moça seu coração.

Mas ele não podia voltar.

— Covarde. — Ela murmurou enquanto ele a contornava e se dirigia para a saída.

— Inferno, — disse seu primo, entrando e ouvindo-a. — Ninguém nunca o chamou assim e viveu. — Ele sorriu para Temperance e então estendeu a mão e agarrou o braço de Cailean antes que ele deixasse o local.

— Para onde você está indo?

— A cozinha.

— A cozinha, hein? — Patrick sorriu para ele. Cailean não sorriu de volta. Patrick o deixou ir e se virou para levantar a sobrancelha ruiva para ela. — Ele nem sempre foi um chato e teimoso no meu traseiro.

Temperance se virou para Patrick e sorriu.

— Diga-me como ele costumava ser, então.

— Parece que acabou de perder seu amigo mais querido. — A avó olhou para Cailean quando ele entrou na cozinha com TamLin em seus calcanhares. — Ah, Cailean, venha, me ajude a cozinhar.

Ela puxou um sorriso genuíno dele. Ele sentia falta de estar em uma cozinha. Quando jovem, quando não estava aprimorando suas habilidades de luta, aprendeu a cozinhar na cozinha de sua tia Isobel. Isso o acalmava. Depois que Sage morreu, ele parou. Ele quase parou tudo. Ele sentiu que era hora de voltar.

— Eu tenho dezenas de vegetais diferentes e quase todas as ervas que você provavelmente precisará.

Cailean assentiu e arregaçou as mangas, feliz em ensiná-la e ansioso para começar.

— Vamos começar com patê de salmão com manjericão e depois cremonese10. É uma torta de espinafre. — Ele começou a se mover pela cozinha, procurando por seus ingredientes, seu coração cauteloso esquecido. — Vamos precisar de espinafre, hortelã, ovos. — Ele colocou o que juntou na mesa de corte, então saiu novamente, às vezes seguindo as instruções dela. — Queijo, manteiga, groselha, canela e noz-moscada. Depois disso, faremos bouillabaisse. É um ensopado de peixe e tomate com ervas frescas. Você tem amêndoas? Nae? Irei ao mercado em Kenmore amanhã e comprarei alguns para que possamos fazer macarons11, e grãos de baunilha também, para o crème brûlée12.

Ele sorriu para ela novamente quando a pegou o olhando, sem fôlego como Cailean estava.

— Você parece mais feliz. — A avó apontou.

Ele deu de ombros enquanto trazia mais ingredientes para a mesa.

— Talvez eu seja.

Ela olhou para ele com seu único olho, sua expressão nele ficando suave.

— É a cozinha... ou minha neta?

— Ambas, eu acho. — Ele confessou, tentando manter seus pensamentos em Temperance sorrindo, e não no choro dela, coberta de sangue.

— Você me lembra do meu Seth. Ele também gostava de me ajudar a cozinhar e assar, só que nunca pronunciava palavras com tanta eloquência.

Com o sorriso desaparecendo, ele baixou o olhar e começou a preparar os pratos.

— Eu acredito que a língua francesa é uma das mais bonitas.

— Sim, — ela concordou, continuando a medi-lo com seu olho astuto. — Não sabe como tratar um elogio, — disse ela, trazendo-o de volta ao presente. — Eu gosto disso em você. É refrescante. Qualquer homem que se pareça com você deve estar acostumado a elogios.

Ele ergueu o olhar para o dela e, provando que podia ser tão charmoso quanto Patrick, deu-lhe seu sorriso mais sincero.

— A menos que os outros homens de onde eu venho sejam todos mais bonitos do que eu.

Ela riu e ele se juntou a ela.

— Você é mais inteligente do que seus olhos grandes e inocentes e seu sorriso sedutor sugerem. — Ela ficou séria cedo demais. — Como você está lutando? Como você manteria minha joia segura?

Ele parou de misturar e endireitou os ombros.

— Fui treinado todos os dias por guerreiros fora da lei. Eu posso lutar melhor do que a maioria. — Ele notou a leve inclinação de sua boca. — No que diz respeito a mantê-la segura, há duas opções. Ficar aqui e matar seus inimigos. Ou levá-la para casa comigo nas montanhas.

Cailean notou que seu sorriso estava sumindo e entendeu que levar embora a neta sem a avó a destruiria.

— Ela pode cultivar nas montanhas? — A velha perguntou.

Cailean pensou sobre isso e então balançou a cabeça. A maioria dos burgos e aldeias nas Highlands criavam gado, não vegetais.

— Não, assim como ela cultiva aqui.

— O solo está no sangue dela, herdado de seu pai. Ela não ficará feliz com pedras.

Cailean fixou os olhos em uma tigela de fermento em vez da avó. Quem disse alguma coisa sobre ele realmente decidir levá-la para casa? A avó tocou no assunto, não ele.

— Não precisa se preocupar se eu vou levá-la. Eu não quero uma mulher na minha vida.

— Eu não culpo você, — disse ela, golpeando-o com a mão cheia de pó de farinha. — Somos um grupo problemático.

Ele sorriu de novo, mas não concordou com ela. Ele simplesmente gostava de como ela o fazia se sentir em casa.

— Temperance era uma criança problemática? — Ele não deveria se permitir sentir curiosidade sobre a vida dela. Mas ele estava.

— Och, ela teve seus dias obstinados. Ainda tem.

Ele acenou com a cabeça em concordância desta vez.

— A mãe dela morreu enquanto a dava para nós, — avó disse a ele enquanto amassava um monte de massa. Ela sorriu suavemente para o passado distante. — Eu dei uma olhada nela e soube que era a única coisa que eu precisava na minha vida era ser uma avó feliz. Muitos dos moradores insistiram que eu trouxesse uma ama de leite. Eles temiam que minha pequena Temperance não prosperasse. Que ela iria definhar e morrer sem o leite da mãe. Tolos. Eu a alimentei facilmente com leite de cabra, um pouco de óleo de avelã para ajudar com problemas de estômago e uma bolsa com um bico.

Cailean ouvia, erguendo os olhos para sorrir de vez em quando enquanto triturava noz-moscada em um pequeno pilão.

— Ela não apenas prosperou. — A avó continuou, arrancando punhados de massa e moldando os pedaços em suas mãos, — mas ela cresceu e se tornou uma criança espirituosa. Och, ela era destemida, sempre se metendo em confusão com William. Seu pai a mimava muito.

— E você não teve nada a ver com isso? — Cailean brincou e jogou uma pitada de noz-moscada em um dos retângulos que fizera.

— Diga a verdade, avó. — A voz de Temperance na porta soou muito boa para seus malditos ouvidos. — Você tentou ser severa, mas cedeu mais vezes do que papai.

— Você ainda acabou bem, — a avó disse a ela, e voltou para sua massa. — Maioria dos dias.

Todos eles riram juntos. A sensação também era boa, assim como cortar ervas e esmagar nozes. Cailean achava que ele poderia estar pronto para se curar. Pronto para voltar para casa em Camlochlin.

Ele nunca mais veria Temperance.

Ele deixou esse pensamento de lado por enquanto, e quando tudo estava feito e guardado para as festividades da noite, ele pediu licença e saiu de casa.

Ele voltou uma hora depois carregando trouxas de louro fresco da montanha, galhos de folhas perenes e galhos de azevinho. Ele mesmo teria substituído todas as decorações secas e mortas, mas encontrou Temperance no salão, e quando ela lhe ofereceu seu sorriso mais radiante e grato, ele queria largar tudo e puxá-la para seus braços. Não tinha certeza do que estava acontecendo com ele, e tinha certeza de que isso o levaria à tristeza e ao desgosto, mas ela esgotou suas forças para lutar contra isso.

 

Capítulo 16


— Que nome se chama mesmo? — Temperance se sentou em uma das mesas bem decoradas e levou uma segunda colher de sua torta de espinafre à boca. Ela nunca tinha provado algo tão delicioso, exceto pela boca de Cailean Grant. Ela jogou seu olhar para longe dele e se conteve a tempo de suspirar.

— Espinafre cremone. — Cailean se inclinou em sua cadeira e disse isso perto de seu ouvido para que ela pudesse ouvi-lo durante as muitas conversas que estavam acontecendo na sala de jantar.

A cadência baixa de sua voz e a maneira sensual como ele falou a palavra estrangeira enviaram pequenos arrepios pela espinha de Temperance.

Desde que ela o encontrou na cozinha com a avó, ele parecia mais receptivo do que na noite passada ou esta manhã neste mesmo salão. Ela se lembrou de como ele manteve o controle sobre si mesmo enquanto ela o tentava. Pelo menos ela tentou tentá-lo. O que diabos ela sabia sobre homens sedutores? Ela certamente falhou com ele. De acordo com Patrick, muitas garotas também.

— Patrick me contou, — ela inclinou um pouco a cabeça para olhá-lo nos olhos. Ela quase se arrependeu de fazer isso, mas por outro lado, nunca quis desviar o olhar, — que você, ele e dois outros primos se encontraram em muitos problemas enquanto cresciam. Mas você e Patrick eram os rapazes mais perversos de todas as colinas. Você tanto planejava quanto lutava para sair de situações mais sérias. As moças não recusavam nada. Estou deixando alguma coisa de fora?

Ele ergueu o olhar dela para procurar seu primo de pé no centro de seis moças sorridentes de Linavar.

Pendurado nos dedos de Patrick havia um ramo de visco.

Ela viu seu sorriso se aprofundar em uma risada de algo que Patrick acabara de gritar para ele. Ele riu com ela e a avó antes também. Ela não esqueceria o som daquilo, profundo e marcante, ou como queimava suas terminações nervosas e a fazia querer passar o resto de seus dias obrigando-o a fazer isso com mais frequência. Era difícil acreditar que este era o mesmo homem sombrio que acordou em sua cama depois de ser deixado para morrer em seu canteiro de repolho.

Ele parava sua respiração. Agora ele parou seu coração, o fluxo de sangue em suas veias e pensamento lógico.

Na verdade, ela não conseguia pensar em nada além de beijá-lo. A boca dele a deixava louca, tão decadentemente cheia e convidativa, com aquela covinha profunda em seu queixo para acentuar seus lábios bem torneados. Ela gostava dele. Ela gostava dele mais do que deveria.

Quando ele voltou sua atenção para ela, seu sorriso a invadiu e a fez querer chorar por sua beleza impressionante.

— Ele aumenta.

— E de acordo com seu primo, — ela continuou, encorajada por seu bom humor, — eu devo acreditar que você pediu nada mais do que um beijo?

— É mais verossímil se eu atestar isso? — Ele perguntou.

— Por que você não faz isso? — Ela perguntou suavemente quando ele inclinou a orelha mais perto dela, roçando o cabelo em sua bochecha.

— Não quero filhos em cada vale, ou uma moça que só me fez sentir com a minha carne e sem o meu coração. Sempre quis que minha vida fosse repleta de paixão verdadeira.

Ela piscou em seu olhar, derretendo como as velas festivas ao seu redor.

— Isso é o que eu quero para minha vida também.

— Não é tarde demais para você.

— Ou para você, — ela rebateu, trazendo a colher de volta à boca.

— Isso...

— Espere! — Temperance ergueu a palma da mão no peito e fechou os olhos enquanto provava o que estava em sua boca. — Meu bom Senhor, o que é isso?

— Patê de salmão com manjericão. — Disse ele, sorrindo com a reação dela.

— Oh meu Deus! — Ela olhou para ele e teve vontade de beijá-lo porque ele cozinhava muito bem. — Eu nunca provei nada parecido.

— Você me lisonjeia, moça.

Ela acenou com a cabeça e sorriu, tirando a colher da boca.

— O que vai me dar por isso?

Ele observou a colher deslizar por seus lábios. Seu olhar aquecido enviou tremores por sua espinha.

— O que você quiser.

Och, ela gostaria de muitas coisas. O que exatamente ele estava oferecendo? Outro beijo? Mais? Ele não tinha dado mais as outras, exceto para Alison. Ele se entregou a Alison. E se ele amasse Alison demais para amá-la?

Ela poderia ter a sorte de ganhar seu coração? Ela queria tentar.

— Você vai me ensinar a falar francês?

Ela amava a maneira como seus olhos azuis de aço zangados percorreram seu rosto, seus traços, como se ele estivesse tentando gravar o olhar dela em sua mente. Talvez para lembrar mais tarde, quando ele deixasse Linavar.

— Oui, mademoiselle.

Ele tinha acabado de se aproximar? Eram manchas de prata em seus olhos? O que aqueles olhos expressivos estavam dizendo a ela? Esta noite eles não pareciam nem um pouco assombrados. Havia humor, uma brincadeira nele que ela não tinha visto antes. E desejo, quente e forte. Ela sentiu como um toque.

Ele pegou a mão dela e levou os nós dos dedos aos lábios.

— Mas só se você caminhar comigo sob as estrelas mais tarde. — A sombra de seu sorriso quando ele ergueu os olhos de seu beijo deixou seus nervos em chamas.

— Cailean. — A voz da avó arrastou Temperance de seu devaneio. — Venha. Minha... — sua avó parou quando ela os alcançou e estreitou os olhos sobre eles... principalmente em quão perto Temperance estava sentada dele. Ela estava praticamente em seu colo!

Mortificada, Temperance se afastou. Ela nem percebeu que tinha chegado tão perto.

A avó limpou a garganta e começou novamente.

— Perdoe-me, Cailean. Receio que devo tirar você de minha neta. Todo mundo quer conhecer o homem que fez o patê de salmão. Venha.

Ele se levantou e olhou para Temperance em busca de ajuda. Ela concordou com a avó nisto. Seus pratos eram leves, delícias aromáticas que encantavam o paladar. As pessoas queriam agradecê-lo, e a avó não iria deixá-lo desistir de aceitar.

O problema, de acordo com Patrick, era que Cailean se isolou de seus parentes, do mundo que ele conhecia.

— Seja você mesmo, — disse ela. — E eles vão adorar você.

Ele parecia desconfortável, mas deixou a avó arrastá-lo para longe.

— Esse é Patrick MacGregor?

Temperance se virou para William, que estava sentado no lugar de Cailean, e perdeu o olhar de Cailean se desviar de Flora Menzie de cabelos louros para ela.

— Sim, é ele. — Ela assentiu. — Onde você esteve nos últimos dois dias? — Antes que ele tivesse tempo de responder, ela apontou para o prato. — Will, você deve provar isso. — Ela pegou uma colher de patê e espalhou sobre um pedaço de pão cortado diagonalmente com uma crosta temperada.

— Eu tenho algo... — ele começou, então parou quando ela empurrou o pão torrado em sua boca. Ele mastigou. Seus olhos escuros se arregalaram. — Delicioso!

— Eu sei! Cailean que fez!

— Inferno, — William respirou, virando-se para encontrá-lo entre muitos rostos. — Ele é bom.

Temperance assentiu.

— Agora, o que você estava dizendo? — Seus olhos captaram a centelha de luz que parecia vir da inclinação dos lábios de Cailean ou do fundo de seus olhos, meio escondida sob seus cílios. Qualquer uma das possibilidades irritou Temperance igualmente, já que aquela centelha estava sendo dada à Srta. Jane Deware, sobrinha de Will.

— Eu estava dizendo que... Temp? Você está ouvindo?

Temperance piscou seu olhar para longe do sorriso resplandecente de Cailean, voltado para Jane.

— Claro, — ela o assegurou. — Mas você está demorando para dizer isso.

Ele suspirou e fixou seu olhar onde ela estava olhando.

— Você deve mandá-lo embora e esquecê-lo.

— Por quê? — Ela desafiou. Havia outra maneira! Will não precisava se casar com ela! — Por que devo?

— Porque ele é perigoso, — ele disse a ela. — Ele vai quebrar seu coração em pedaços.

Agora ela queria respostas. Isso ia além de Will ser super protetor. Soava como se ele soubesse coisas que não estava contando a ela. Ela perguntou a ele. Ele negou.

— Ele não vai ficar, Temp. Posso dizer que você gosta dele. O que você vai fazer quando ele for?

Ela fez uma careta, com raiva dele por arruinar esta noite festiva. Ela não queria pensar na partida de Cailean. Mas ele não tinha falado com ninguém sobre fazer de Linavar sua casa.

— Ele mentiu, — ele disse, lentamente voltando seu olhar para ela. — Ele mentiu sobre Marion. Eu cavalguei até Perth para encontrá-la para mim. Mas ela não estava lá. Conheci o irmão de Grant, o conde de Huntley. Ele não sabia quem ela era.

Ele havia cavalgado para Perth? Ele conheceu o irmão de Cailean?

— Como é o conde?

— Ele é um pouco assustador. Como se ele tivesse matado mais pessoas do que eu gostaria de saber.

E William tinha ido sozinho até ele?

— Você realmente ama Marion, não é?

Ele acenou com a cabeça, parecendo doente.

— E você acha que eu me casaria contigo quando ama tanto outra pessoa? — Ela sorriu para ele e pousou a mão em sua bochecha. — Não posso, meu querido amigo.

— Mas seu pai queria que você ficasse segura.

— Meu pai queria que eu também fosse feliz. Estou surpresa por ele não ter lhe contado isso quando falou com ele, poucas horas depois de mim.

Ele desviou o olhar.

— Não falamos de você por muito tempo.

— Eu pensei que você tinha. Do que você falou, então? — Ela perguntou curiosamente.

Mas ele não respondeu à sua pergunta.

— Você não vai encontrar a felicidade com ele. — Ele se virou novamente para olhar para Cailean, agora compartilhando sorrisos com Maryanne Menzie. — Ele tem segredos.

— Parece que você também, — ela rebateu. — Lamento que Marion não estivesse em Perth, mas isso não significa que Cailean nos enganou. A moça de Lyon's Ridge também mentiu? Talvez Marion...

Will balançou a cabeça, tentando impedi-la.

— Não é só...

— Pare com isso! — Ela o cortou. Ela não queria ouvir nada mais. — Que não haja mais conversa sobre casamento entre nós. Ele encontrará Marion e você se casará com ela. Isso e o que eu quero.

Ela se levantou e saiu da mesa. Ela não estava zangada com William. Ele não tinha feito nada além de tentar manter suas promessas e permanecer o que sempre foi: seu protetor.

Mas ela nunca o aceitaria como marido. Ela queria outra pessoa.

Ela não viu Cailean se afastando da bela Louise Wallace ao vê-la sair correndo do salão.

 


Capítulo 17


Cailean saiu da casa e correu o olhar sobre as montanhas iluminadas pela lua e os campos além. Ela estava aqui. Ele a observou sair do salão. Inferno, ele estava logo atrás dela. Para onde ela foi e por que saiu de casa sozinha? TamLin miou em seus tornozelos.

— Onde ela está? — Ele perguntou a felina. — Onde está sua ama? — TamLin respondeu esfregando o lado dela contra sua panturrilha. Cailean balançou a cabeça para ela. — Se você fosse um cachorro, saberia.

— Você está insultando minha gata? — Temperance apareceu ao lado dele, um sonho invernal ganhando vida.

Ele sorriu, olhando para ela com a luz da lua caindo em seus cabelos e a luz das estrelas em seus olhos.

Ele se lembrou que devia respirar. Inferno.

— O que você está fazendo aqui sozinha?

A inclinação de sua boca o tentou a fazer o mesmo e beijá-la.

— Você está com medo de que alguém possa me levar embora?

— Não, moça. — Ele se aproximou e passou o braço pela cintura dela. — Eu simplesmente a pegaria de volta.

Cedendo à atração que ela exercia sobre si, ele se curvou para beijá-la enquanto o ar soprava vindo de sua respiração. Ela se desvencilhou de seu abraço e se afastou, balançando os braços e gritando por cima do ombro:

— Foi difícil se afastar de suas muitas admiradoras?

Ele sorriu, seguindo-a.

— Não, e deixei uma delas enquanto ainda estava falando.

Temperance riu, enviando música pelo o ar.

— O que ela estava dizendo?

— Eu não sei.

— Qual era o nome dela?

Ele a alcançou e encolheu os ombros, roçando seu braço com o dele.

— Eu não sei disso também. — Ele pegou sua mão, já que estava tão perto, e entrelaçou os dedos nos dela.

Ela não se afastou, mas apertou sua mão. Quem era ela? Ele se perguntou, caminhando com ela sob as estrelas. Quais eram as coisas que lhe traziam felicidade, as coisas que a faziam cantarolar e sorrir para o sol? Seu desejo de conhecê-la e tudo sobre ela era irritante porque o assustava e era forte o suficiente para fazê-lo esquecer de si mesma.

Ele sorriu ao ver como ela balançou a mão entre eles.

— Eu sei que você gosta de perambular pela urze.

Ela desviou o olhar para ele.

— Você tem falado com William.

— Sim. — Ele teve que se inclinar para ver seu olhar quando ela o abaixou. — Isso te desagrada, moça?

— Ele não gosta de você. Isso me desagrada.

Cailean sabia que seu amigo tinha um motivo bom o suficiente. Mas ele não queria pensar nesse motivo agora.

Ela parou de andar e deixou seus braços parados ao lado do corpo.

— Ele foi para Perth, Cailean. Marion não estava lá.

— É melhor ela estar lá. Paguei prata a Maeve para levá-la. Deware não parece que não foi no lugar certo.

— Ele conheceu seu irmão.

Cailean sorriu.

— Isso não poderia ter sido agradável.

— Ele acha que você tem segredos.

Cailean queria contar a ela. Mas não esta noite.

— Todo mundo tem algo que mantém para si e não compartilha com ninguém. — Incluindo 'Maeve' aparecia.

— Você?

Seu coração batia loucamente. Ele era um dos homens que ela queria matar.

— Eu sinto falta de meus parentes. Faz muito tempo que não sinto falta deles.

Quando ela estremeceu, ele desamarrou o plaid e envolveu-a nele.

— Você não pode esperar para chegar em casa e vê-los novamente, então?

Seu sorriso ficou aquecido. Ele sabia o que ela queria ouvir.

— Eu posso esperar.

Seu suspiro de alívio foi alto o suficiente para fazê-la corar.

— Eles estão celebrando a véspera de Natal esta noite? — Ela perguntou, encostando a cabeça em seu ombro enquanto caminhavam novamente.

— Sim, eles são proscritos, lembre-se. Eles não se importam com a proibição da igreja no Natal.

— Nem meu pai, — ela disse a ele. — Minha mãe se apaixonou por ele na véspera de Natal, em uma noite muito parecida com esta, sob essas mesmas estrelas. Ele me contou a história disso todos os anos. Você gostaria de ouvir?

— Sim. — Ele queria, principalmente porque ela queria contar. Ele colocou de lado sua culpa e o fardo de não lhe dizer a verdade porque ela precisava falar do homem que amava para se curar da perda dele.

— Sarah Cameron morava nas margens do lago Loch Eil. Seu pai, Alistair Cameron, era tão mau quanto uma gata molhada. — Ela fez uma pausa para erguer a cabeça e olhar para ele. — Experimente dar banho em TamLin e você apreciará a decisão de meu pai de cortejar a filha de Alistair.

— Eu já sei. Por que você acha que eu tinha um cachorro?

A risada dela esquentou no seu interior os seus berbigões e ele a puxou para mais perto quando chegaram aos campos.

— Alistair achava que meu pai não era bom o suficiente para Sarah. Então meu pai começou a provar que ele estava errado. Ele trabalhou nos campos de Alistair por duas safras completas, colhendo mais safras do que os Camerons tinham visto em anos. O mais importante, porém, todas as manhãs ele deixava um ramo de urze no parapeito da janela da minha mãe. Era sua flor favorita.

Cailean ouviu, entendendo agora por que Temperance pensava que seu pai o tinha enviado a Linavar para ela quando Cailean tinha colhido urze.

— Meu pai tinha feito tudo que podia para cortejá-la, — Temperance continuou, — mas foi na véspera de Natal, enquanto eles caminhavam nos campos atrás de sua casa, que ela lhe disse que ele havia conquistado seu coração.

— Ela deve ter sido uma moça extraordinária para persegui-la do jeito que ele fez.

— De acordo com meu pai e avó, ela era. Ela morreu me trazendo ao mundo, então eu nunca a conheci.

Um aperto forte veio no peito de Cailean. Ele inclinou a cabeça para olhar para ela enquanto caminhavam.

— Eu estou pensando que você é muito parecida com ela. Meus parentes apreciariam sua afinidade com a urze.

Graças à conversa com a avó em sua cozinha esta manhã, ele não tinha parado de pensar em levar Temperance para casa e a avó também.

— Mas eu sou uma Menzie.

Essa era sua única preocupação? Nada sobre deixar Linavar, seus amigos ou sua agricultura?

— Eles aceitaram Fergussons, um inglês ou dois, piratas e até a monarquia. Eles não se importariam com quem você é, uma vez que saibam o que é para mim.

Ela parou de andar e puxou sua mão para impedi-lo também.

— O que sou para você?

O quê? O que ele disse? Ele percebeu rapidamente, franziu o cenho e sorriu, cedendo ao que seu coração estava lhe dizendo.

— Sim, — ele fez uma pausa, sem ter certeza do que dizer. Ele não queria cuidar dela, mas devia. Ele a deixou entrar, mas como ele poderia ter negado sua entrada? Ela havia passado por muito, graças a ele, e ainda assim ela sorria, ainda cantava, ainda tinha compaixão em ajudá-lo a se curar.

Ele começou de novo, estendendo a mão para ela. Ele a puxou para mais perto e passou os braços ao redor de seu corpo envolto em plaid, protegendo-a do vento.

— Você é minha vela no escuro. — Ele parou novamente para observá-la. E sorriu. — Sou melhor em colocar minhas palavras em uma pena do que pronunciá-las.

Seus olhos grandes e bonitos brilhavam com a neve cobrindo as montanhas. Ele queria se perder ali na esperança que iluminou seu olhar.

— Você está indo muito bem, — ela o assegurou suavemente. — Continue por favor.

Ele colocou de lado tudo em sua mente, exceto ela. O que sobrou o assustou profundamente.

— Eu não posso...

Ela esperou em silêncio enquanto ele lutava contra seu demônio interior por ela. Sua esperança começou a se transformar em decepção.

O fez sorrir ao pensar que a esperança dela era estar com ele e ela estava esperando para ouvi-lo dizer.

— Eu não posso tirar meu olhar de você, moça. Não importa o que eu esteja fazendo, meus olhos encontram o caminho para seu belo cabelo escuro caindo sobre sua mandíbula perfeita, a curva relaxada de seu lábio inferior que tenta minhas pernas segui-la para onde quer que você esteja. Fico acordado à noite imaginando suas suaves inalações de ar. Elas enchem meu coração com algo diferente de morteiro e fúria. Eu quero levar você comigo, mas não sou digno de seus sonhos. Ainda assim, quero estar neles, como você está nos meus.

— Você sonha comigo? — Ela disse sem fôlego. — Bem. — Ela fechou os olhos e separou os lábios quando ele baixou a cabeça para ela.

Ele moveu sua boca sobre a dela, deleitando-se na intimidade de beijá-la, capturando sua respiração curta e ansiosa. Seus sentidos ganharam vida e ele usou cada um deles para preencher dela. Ela tinha gosto de paixão e inocência. Quando ele deslizou sua língua sobre a dela, ela abriu os braços e os enrolou em volta do seu pescoço, cobrindo-os com seu plaid. Ele ouviu o coração dela batendo como tambores antigos. Ou era seu próprio coração que ele estava ouvindo? Ele recuou um fio de cabelo para que pudesse olhar para ela novamente. A visão de seus olhos sonhadores e querendo mais quase o deixou louco. Ele roçou o nariz em sua têmpora até seu cabelo, absorvendo seu cheiro, como a fragrância familiar de turfa e pinho.

— Você está me trazendo de volta à vida, moça.

Ele a beijou novamente, mal contendo a paixão que fervia dentro dele para ser liberada.

Eles voltaram para a casa quando começou a nevar. Eles estavam com frio demais para andar, então correram, rindo e quase caindo na neve duas vezes.

Apenas metade dos convidados permanecia, e a maioria deles achou muito interesse em suas canecas e em seu canto para notar o casal feliz entrando no salão de jantar.

A avó os notou, porém, e puxou Temperance para o lado.

— Onde você esteve, moça?

Temperance não mentiria para ela. Não sobre isso. Não sobre seu coração.

— Eu estava no campo com Cailean, avó.

Os olhos da avó se estreitaram sobre ela. Temperance se manteve firme, mas rezou para que a avó entendesse.

— Ele beijou você?

— Sim, avó. — Temperance sorriu e acenou com a cabeça. — Ele beijou.

— Você parece feliz com isso. — A avó dela não parecia feliz ou surpresa. O coração de Temperance afundou, mas ela não se intimidou. Exatamente como seu pai quando lutou por sua Sarah.

— Estou feliz, — ela disse, seu sorriso impenitente. — Ele faz-me feliz. Och, avó. — Ela deixou suas defesas caírem com um suspiro sem fôlego. — Você deveria ter ouvido as coisas que ele me disse. Ele me disse que eu era sua vela no escuro. Ele disse que quer estar em meus sonhos como eu estou nos dele.

A avó piscou e se virou para dar outra olhada em Cailean do outro lado do salão com Patrick.

— E William?

Och, pelo amor de Deus, ela estava cansada de ter essa conversa!

— Eu não estou apaixonada por William! — Ela percebeu que tinha gritado quando todos os olhos no salão se voltaram para ela, incluindo os de William.

Ela imediatamente se sentiu péssima. A última coisa que ela queria fazer era mortificar seu amigo.

— E ele não me ama. — Disse ela, mais baixinho, mas alto o suficiente para poupá-lo do constrangimento de parecer rejeitado.

A avó esperou que William falasse, talvez para negar a acusação de Temperance, mas ele não o fez. Na verdade, ele parecia bastante bêbado. Pobre homem. Sem dúvida, ele estava preocupado com Marion. Temperance pediria a Cailean mais tarde para se apressar e encontrá-la.

— Seu noivado com William acabou. — A avó disse a ela, afastando-se dos convidados. — Eu não vou permitir que você se case com um homem que está muito envolvido em suas canecas para lutar por você. Mas discutiremos Cailean Grant mais tarde.

Temperance fez o possível para não sorrir, mas estava transbordando de alegria. Seu noivado foi realmente dissolvido! Sem seu líder, e já que William estava fazendo pouco para assumir a posição, a palavra da avó era tão poderosa quanto a de Seth.

Ela não perdeu tempo em voltar para o lado de Cailean. Quando chegou lá, ele deu um passo mais perto até seu ombro descansou embaixo do dele. Eles riram com Patrick e quiseram tapar os ouvidos quando ele começou a cantar uma cantiga de Natal.

Temperance não tinha certeza de como conseguiu tirar os olhos de Cailean quando alguns dos aldeões chamaram sua atenção. Ela queria que ele a beijasse de novo, movesse as mãos sobre ela novamente, como ele tinha feito nos campos, como se conhecer todas as suas encostas e colinas fosse vital para sua existência.

Ela não queria que a noite acabasse, mas logo apenas um punhado de aldeões permaneceu. Anne Gilbert e William estavam entre eles.

A primeira começou a chorar pouco depois da meia-noite. A pobre Anne sentia falta de seu amor, o homem que pediu sua mão poucas horas antes de ser tirado dela. Nada poderia confortá-la, exceto o toque gentil da avó e a promessa de vê-la em casa.

Cailean se ofereceu para acompanhá-los até a casa de Anne e escoltar a avó de volta. Patrick colocou William de pé e prometeu levá-lo para casa sem que eles caíssem em um buraco e morressem de frio.

Eles deixaram Temperance sozinha, e enquanto ela arrumava as mesas, ela falou com seu pai.

— Você gostaria dele, papai. Ele pode colher urze sem estragá-la. Acho que é com ele que desejo me casar. Eu acho que é ele quem eu amo.

 


Capítulo 18


— Onde está a avó? — Temperance perguntou quando Cailean voltou com Patrick um pouco depois.

— Senhorita Gilbert queria que ela passasse a noite lá.

— E a avó concordou em me deixar aqui sozinha com você?

— Nae. — Ele disse a ela, removendo seu plaid e jogando-o em uma cadeira. — Ela concordou depois que Patrick jurou me manter longe de você.

Patrick lançou um sorriso alegre para ela e pegou uma caneca de uísque da mesa.

— Boa noite, então. — Ele disse a eles. — Provavelmente vou ver você amanhã depois do meio-dia. Estou saindo para encontrar Maryanne Menzie.

— Mas você deu sua palavra para a avó. — Temperance gritou quando ele abriu a porta. Não que ela quisesse que ele ficasse.

— Se você não contar, não direi a ela. — Respondeu Patrick, e saiu.

— Ele é um libertino imprudente. — Disse Cailean, aproximando-se dela.

— É Natal. — Temperance o lembrou quando eles estavam sozinhos.

— Então é isso. — Ele sorriu para ela, transformando seu interior em líquido. — Você quer comemorar comigo, moça?

— Eu não deveria. — Ela sussurrou honestamente. Mas oh, como ela queria.

— Nem eu deveria.


Eles riram juntos antes que ele pegasse sua mão e a puxasse para mais perto.

Ela olhou para ele, querendo correr os dedos sobre sua mandíbula eriçada e lábios carnudos e sensuais.

— Obrigada por uma noite maravilhosa. Nunca vou esquecer isso. — Sua voz ficou baixa, honesta e grata. Ela alisou o polegar sobre os dedos dele. — Eu... eu não quero que você vá embora, Cailean.

Ele a olhou nos olhos, fazendo-a duvidar de seus sentidos, de sua lógica. Ele tinha uma casa para onde ir, logo depois de Hogmanay. Ela foi uma tola por perder o coração para ele, mas já era tarde demais.

Curvando-se para ela, ele a beijou afastando os pensamentos restantes de sua cabeça. Seus lábios eram suaves, temperados com algo que ele controlava... algo que ela queria libertar.

Isso tinha que ser o que seu pai quis dizer sobre o amor. Isso a atingiu como um raio, dobrou seus joelhos, fez seu coração disparar só de pensar nele. Ela poderia amar Cailean Grant.

— Cailean. — Sussurrou ela enquanto ele se retirava, curvando-se para tomá-la nos braços e carregá-la para o quarto.

Temperance deveria tê-lo impedido. Mas ela não tinha intenção de fazer tal coisa. Esta noite ela percebeu que estava se apaixonando por ele. Queria contar a ele, como sua mãe contara ao pai na véspera de Natal. Ela se lembrou da maneira como ele a beijou enquanto o vento uivava ao redor deles. Seu sangue ainda chiava em suas veias. Deve ser por isso que ela segurou o rosto de Cailean com as mãos enquanto ele a carregava e puxava sua boca para a dela repetidamente.

Quando chegaram ao quarto dela, ele fechou a porta com um chute e puxou o ferrolho com uma das mãos. Ele usou a outra para mantê-la contra ele.

— Avó. — Ela se preocupou.

— Ela não vai voltar sozinha no escuro. — Ele a assegurou.

— Então. — Ela o puxou para si e o beijou novamente. — Nós temos a noite toda.

Ela o levou às pressas para a cama e o sentou.

— Espere aqui. — Ela saiu do lado dele e foi para a cômoda. — Eu tenho algo para você.

Ele esperou, sorrindo e sacudindo o mundo dela.

— Era do meu pai. — Ela disse a ele, trazendo uma caixa para onde ele estava sentado.

Ele olhou para a oferta dela e então aceitou. A visão de seus longos dedos desfazendo a seda ao redor da caixa escaldou seu sangue.

— Eu sei como você gosta de usar pena e tinta. — Ela esperou enquanto ele abria a caixa para revelar uma linda pena e um pequeno frasco de tinta preta. — Meu pai tentou aprender a arte de escrever, mas nunca conseguiu. Ele gostaria que você o tivesse.

Seus dedos eram largos e elegantes, segurando a pena perfeitamente. Seus olhos moveram-se lentamente sobre a pena lisa, observando a forma, a cor e o peso. Seus olhos pousaram nos dela quando ela começou a falar novamente.

— Esta é a primeira pena de um ganso cinzento. Ela retém sua forma o que não é frequente...

— Afiada. — Ele terminou, provando que estava familiarizado com a qualidade superior da pena. — Temperance.

Ele falou o nome dela e seu sangue escaldou suas veias. Sua boca ficou totalmente seca. Como em chamas o nome dela em seus lábios a fazia se sentir tão quente e devassa?

— Obrigado. O conjunto é realmente bom, mas... — Ele baixou os olhos, protegendo-os por trás dos cílios longos e escuros, e apertou a mandíbula.

Och, por que ela parou de beijá-lo? Ela queria pular em seu colo e beijá-lo até perder os sentidos.

— Eu não posso aceitar isso. — Disse ele calmamente.

— Claro que você pode. — Ela corrigiu, sentada ao lado dele na cama. — É um presente.

— Nae. — Ele o devolveu. — É muito bom.

Ele tinha que aceitar. Ela estava tão ansiosa para dar a ele. Seus olhos se arregalaram e ela os abaixou para esconder sua decepção.

— Você não gosta.

Ele colocou os dedos sob o queixo dela e sorriu quando ela encontrou seu olhar, expondo seu dente da frente ligeiramente torto.

— Se não fosse por você, seria a coisa mais impressionante que meus olhos já viu em muito tempo.

Seu coração disparou, fazendo-a tossir e suspirar.

— Então, por favor. — Ela empurrou a caixa de volta para as mãos dele. — Pegue e escreva algo para mim.

Deus, ela não podia acreditar que era tão ousada! O que havia acontecido com ela? Escrever algo para ela? Mas não era nisso que ela estava pensando desde que Patrick disse que Cailean escrevia?

— Você escreveu poemas ou canções sobre Alison?

Ele balançou sua cabeça.

— Nae.

— Estou muito ousada em pedir que você escreva algo para mim?

Ele olhou nos olhos dela e balançou a cabeça novamente.

— Não, moça. Mas era de seu pai, — Ele continuou. — Não posso aceitar. Vou encontrar outra maneira de escrever sobre você, Temperance.

Ele se levantou e foi em direção à porta. Ele sempre tentava ir embora quando falavam sobre o pai dela. Desta vez ela não o deixaria ir.

Ela se levantou e gritou por ele.

— Por favor, Cailean. Não vá.

Ela observou os ombros dele enrijecerem como se o peso de algo tremendo estivesse caindo sobre eles, e então se endireitarem como se estivesse resignado a suportá-lo.

Ele se virou para olhar para ela da porta. Seus olhos torturados chamando por ela e ela deu um passo mais perto.

— É melhor que eu vá, moça.

Melhor fugir dela? Por quê? O que havia de tão terrível nela?

Não! Ele estava com medo. Com medo de cuidar dela. Mas ela não podia deixá-lo ir, porque já se importava com ele.

— Você faz meu sangue correr em minhas veias, Cailean. — Confessou ela em respirações curtas e superficiais. — Por favor, não me exclua. Eu entendo o medo de perder alguém que você ama, mas eu... — Sua voz enfraqueceu quando ele veio até ela como se atraído por algo mais forte do que um ima.

Ele a tomou nos braços em uma respiração rápida e se rendeu. Arqueada sobre a curva de seu braço, ela olhou para ele com ansiedade inquieta enquanto Cailean alisava sua sobrancelha e inclinava sua boca para a dela.

— Você é forte, Temperance. Você me chama e eu não posso fazer nada além de segui-la.

Ele curvou a boca em um sorriso antes de beijá-la, fazendo-a se perguntar se ele realmente a seguiria até o limite.

Agarrando seu ombro sinuoso com os dedos de uma das mãos e enfiando os dedos da outra em seu cabelo, ela o puxou ainda mais perto, até que quase não conseguia respirar com o peso dele sobre ela.

Seus lábios não desapontaram. Eles se colocaram nos dela, consumindo-a ternamente em chamas que queimaram abaixo de seu umbigo. Ele mergulhou a língua em sua boca, com cautela no início, explorando suas sombras mais profundas.

Ela gemeu e tentou acalmar seus nervos. Eles estavam sozinhos em seu quarto atrás de uma porta trancada. Seu coração saltou e bateu forte. Ela estava pronta para seguir esse caminho com ele? Ela rejeitou a seu melhor amigo em busca de amor, o tipo de amor que seu pai lhe disse para procurar. Agora, livre de seu noivado, ela poderia moldar seu próprio futuro. Seu pai teria entendido, pois ele conhecia os desejos de seu coração melhor do que ninguém.

Ela estremeceu nos braços de Cailean quando ele a deitou na cama. Ela deveria dizer algo. Dizer a ele que ela nunca levou um homem para sua cama antes. Mas então ele a beijou novamente e todos os pensamentos de falar desapareceram.

Ele era tão grande e equilibrado sobre ela, tão poderoso quando deslizou um braço por baixo dela e a puxou para cima. Ela segurou quando ele mergulhou a boca e cravou os dentes na coluna de sua garganta.

Ela gostou de sua força e domínio. A noite em que ela ficou impotente enquanto seu pai caía a seus pés a tirou de seu poder feminino.

Ela o queria de volta.

Interrompendo o beijo, ela sorriu para ele e falou rapidamente, antes que perdesse a coragem.

— Venha aqui.

Ela o empurrou e se deslizou sobre ele. Com suas costas pressionadas contra o colchão e todos os músculos de sua dura frente pressionados contra ela, ele roubou o fôlego dela.

Encorajada quando ele não protestou, ela pegou seus dois pulsos e os prendeu sobre sua cabeça, amando o controle que Cailean permitia que ela exercesse sobre ele. Ele estava duro como uma montanha maldita abaixo dela e ela pressionou seus quadris contra ele um pouco mais forte.

Ele fechou os olhos e jogou a cabeça para trás para gemer, expondo os músculos tensos do pescoço. Em algum lugar entre suas coxas doía e a fazia querer mordê-lo.

Agindo puramente por instinto e desejo profundo por ele, ela passou a língua sobre a espessa coluna de sua garganta e sentiu seu pênis ficar mais duro entre suas pernas. Seu próprio ponto crucial inchou e latejou. Quando ele abaixou a cabeça, ela beijou seu queixo com covinhas e, em seguida, sua boca faminta.

Ela soltou seus pulsos e ele alcançou seu rosto e então o segurou em suas mãos. Ele a segurou por um momento, seu sorriso desaparecendo, o fogo em seus olhos escurecendo.

— O quê? — Ela levou os dedos à boca dele e traçou seus lábios. — O que é, Cailean? Conte-me.

E se ele dissesse que não gostava dela? Ela se levantou dele quando ele não respondeu. Mas ele a puxou para perto de novo, de volta contra si, para que eles ficassem lado a lado no suave brilho rosa dourado da luz do fogo.

— Eu... — ele começou, e então parou novamente, seus olhos fixos nos dela. — Temperance, eu... Och, inferno. — Ele fechou os olhos e ficou um pouco pálido.

Ela não queria que ele fosse embora, então não o empurrou. Em vez disso, ela sorriu e esfregou o polegar sobre o queixo com covinhas.

— Eu gosto do seu rosto.

Funcionou. Seu sorriso voltou. Ele cobriu a mão dela com a sua e beijou cada um de seus dedos.

— Eu gosto do seu também.

Ela sorriu, tentando muito não gritar em vitória porque ele realmente gostava de algo nela.

— Você me deixaria cortar sua barba amanhã?

— Eu deixaria você fazer o que quisesse comigo. — Ele sussurrou em uma voz áspera. — Salvo se isso puder machucá-la.

Então ele acreditava que ir mais longe com ela na cama poderia machucá-la. Ele estava certo. Poderia. Foi uma honra da parte dele e ela soube então que uma parte dela o amava por causa disso. Mas a outra parte o desejava, doía por ele, cada vez querendo mais dele.

— Arrumar você não vai me machucar.

Ele acenou com a cabeça, seu olhar da cor de nuvens de tempestade.

— Temperance?

Ela piscou.

— Sim?

— Não tenho certeza de que meu coração está aberto para o amor novamente.

— É terrível, então. — Ela sussurrou, seus olhares fixos um no outro. — Mas eu estou com ciúmes de Alison?

— Nae. — Ele balançou a cabeça e riu um pouco. — Nada sobre você é terrível. — Ele se inclinou e beijou-a, fazendo seus lábios formigarem quando ele se retirou.

— Você pode escrever isso para mim com o meu presente para você.

Ele sorriu para ela e revirou os olhos para o céu.

— Och, mas você é teimosa.

— Will me diz isso o tempo todo.

Ele se apoiou no cotovelo e apoiou a cabeça na mão.

— Diga-me quem você é, Temperance Menzie. Conte-me coisas que só Will sabe. Eu também quero conhecê-los.

Ela disse a ele entre beijos e em meio a risos e sorrisos íntimos.

— Sou agricultora, filha e neta de agricultores. Adoro a primavera, sujar as mãos e cultivar os alimentos que nos sustentam. Adoro a colheita no outono e o exuberante tapete de flora no verão. Até agora, o inverno era minha estação menos favorita.

— O que mudou sobre o inverno? — Ele perguntou, sabendo muito bem, como seu beijo íntimo revelou.

— Você mudou isso. — Ela disse a ele, olhando profundamente em seu olhar frio quando ele se retirou. — É menos sombrio, menos congelado e sem esperança. Você trouxe a vida de volta.

— Nae, moça. — Ele disse a ela calmamente, significativamente. — Você fez isso.

Querido Deus, ela queria uma vida com ele. Ela queria se agitar em seus braços, provocar uma tempestade que acreditava mais a cada dia que viria. Ela sentia falta do pai. Ela estava com raiva dos responsáveis por sua morte. Sua determinação de matar Duncan e os responsáveis pela morte de seu pai não mudou, mas Cailean a fazia esquecer. Ele deu a ela paz em um mundo violento. Seus braços eram seguros e ela não queria deixá-los.

Corajosamente, ela se moveu sobre ele. Ele mordeu o lábio inferior, então mergulhou a língua em sua boca e espalhou as mãos por suas costas e nádegas.

Ela podia sentir cada centímetro do pênis duro dele, e algo tão profundamente primitivo tomou conta dela, ela mal se reconhecia. Ela queria arrancar as roupas entre eles e fazer mais por seu eixo grosso do que esfregar-se nele.

Ela nunca tinha sido íntima de um homem antes, mas ela e Will, junto com alguns outros amigos deles, conversaram sobre isso nos meses de verão, quando se sentavam ao redor das fogueiras à noite. Ela sabia como os bebês eram concebidos e quem tinha que colocar o quê e onde. Algumas mulheres até gostavam com o homem certo, é claro. Temperance estava convencida de que Cailean era o homem certo. Ela queria se entregar a ele. Ela nunca sentiu nada parecido com o poder disso antes. Ela o queria dentro dela, enchendo-a. Afastando seus medos, ela puxou a saia e, antes que tivesse tempo de fazer qualquer outra coisa, ele a virou de costas e puxou a saia para cima sobre as coxas.

Ele não deu a ela o que seu corpo instintivamente queria, seu pau grosso e pesado. Ele a roçou com os dedos hábeis sobre seu botão apertado até que ela se contorceu e gritou seu nome.

Surpreendentemente, ele inclinou a cabeça para a parte superior da coxa dela. Ele beijou sua pele sensível e então lentamente, sensualmente lambeu e raspou os dentes contra ela até que ela não resistiu debaixo dele. Ela enrolou os dedos em torno de seus cachos e puxou seu rosto para mais perto para satisfazer uma necessidade tão primitiva que a corou. Oh, o que ele estava fazendo com ela? Sua boca a queimou até que ela se sentiu totalmente consumida pelas chamas. Ele bebeu dela, mordiscando um caminho torturante sobre ela novamente e de novo. Não demorou muito para que ela encontrasse a liberação na ponta de sua língua excitante.

No rescaldo, ela ficou envolta em seus braços.

Ela pensou em como seria na cama com um homem, um homem que acabara de compartilhar intimidades com ela, que a fazia grunhir, ofegar e tremer em seus braços. Um homem como Cailean Grant. Ela ficou tentada a dizer o que pensava dele, e não apenas como ele parecia, embora ele parecesse muito bem.

— Você gostou... — Ele não terminou, mas sorriu um pouco timidamente para ela.

Ela se lembrou de quando ele disse a ela que Alison havia sido sua primeira mulher.

— Gostei muito. — Respondeu ela, corando de novo, gostando de que ele não fosse um mestre em agradar as mulheres, embora tudo o que fizesse parecesse perfeito.

Ele beijou o topo de sua cabeça e não disse mais nada por um tempo. O som de sua respiração a embalou até a sonolência. Ela sentiu seu corpo mover-se em sua cama. Ele estava se aproximando ou se afastando, ela estava sonolenta demais para saber.

— Minha mais bela. — Ela o ouviu sussurrar, e suspirou, quase dormindo. — Há vários meses, sinto que morri em Newcastle com Alison... depois de Sage... mas você trouxe o fogo de volta para mim, Temp.

Ele a chamou pelo diminutivo do nome que seu pai sempre usara. Ela rezou para que não estivesse sonhando e, se estava, que nunca, nada a deixasse acordar.

 


Capítulo 19


Cailean estava sentado na pequena mesa no quarto de Temperance, a pena do pai dela em sua mão. Ele se virou para olhar pela janela que havia destrancado horas atrás. Havia aberto as venezianas para deixar um pouco de ar fresco entrar, mas não ajudava, e agora o sol estava quase alto. Ele se sentia como se estivesse queimando por dentro, prestes a entrar em combustão.

Ele examinou a segunda carta que estava escrevendo. A primeira era para seu irmão Malcolm em Ravenglade. A segunda era para Temperance. Ele enfiou os dedos pelos cabelos, afastando-os dos olhos. Ela acendera um fogo nele para escrever novamente. Ele queria lhe dizer que seus pensamentos para ela o consumiam, que agarrou seu coração cansado e o segurou renovado em suas mãos. Mas queria dizer enquanto ela estivesse acordada, então ele largou a pena. Seu olhar a encontrou em sua cama, ainda parecendo tão enlouquecidamente linda quanto na noite anterior. Ele não a acordou, mas saiu do quarto e se aproximou da avó, prestes a entrar.

— Eu pretendo ter uma conversa com seu primo. — Disse ela bruscamente. — Onde ele pode estar?

Cailean sabia exatamente onde Patrick estava, mas decidiu que era melhor não compartilhar.

— Eu preciso lhe dizer que não estou satisfeita em encontrá-lo em seu quarto com ela na cama? — A avó disse a ele quando entraram na cozinha.

— Ela está dormindo e totalmente vestida. — Cailean se defendeu, com um sorriso brincalhão.

— Eu sei. É por isso que você está aqui ainda bonito. Ela é minha pomba, Cailean Grant. Se você a machucar... — Ela fez um movimento de corte ao longo de sua garganta.

Ele encontrou seus olhos estreitos e fez o seu melhor para evitar que a lembrança do que ele tinha feito com sua neta aparecesse em sua expressão.

— Eu não deixaria nenhum dano acontecer a ela.

O sorriso dela iluminou-se e o dele a acompanhou.

— Deixe-me fazer alguns pãezinhos pretos frescos para a manhã de Natal. Isso levará apenas alguns minutos para preparar.

— Och, você me tenta sem piedade, avó. Mas estou indo para o mercado em Kenmore.

Ela ergueu a sobrancelha.

— Por quê?

— Presente... algo especial para sua neta. Eu quero começar cedo. Vou levar um de seus cavalos se estiver tudo bem. Devo estar de volta ao meio-dia. A propósito... — Ele alcançou uma dobra em seu plaid. — Você fará com que esta carta chegue a meu irmão em Ravenglade, em Perth. Vou pagar o entregador generosamente.

Ela assentiu com a cabeça e pegou a missiva e a moeda, em seguida, fixou seu olhar suave nele.

— Você se importa com ela, então, Highlander?

— Eu me importo com você, avó. — Ele pegou um bolinho de amora preta de uma das cestas da avó e se dirigiu para a porta dos fundos. — Mas estou me apaixonando por sua neta. — Ele fez uma pausa e se voltou para lhe oferecer um sorriso. — Não se preocupe. Não vou tirá-la de você.

Ele não esperou pela resposta dela, mas deixou a casa assobiando uma música que ouviu um anjo cantando para ele uma vez, quando ela o tirou do fogo do inferno.

Temperance abriu os olhos e sorriu quando seu sonho com Cailean começou a desaparecer. A noite passada tinha sido real? Ela sorriu e espreguiçou-se, depois passou a palma da mão sobre o local onde Cailean estava deitado em sua cama. Ela se sentou.

— Cailean? — Ela chamou suavemente.

Ela olhou para a janela sem veneziana e os raios da luz da manhã que cortavam o ar. Manhã. Seus olhos vagaram para a porta. A avó provavelmente estava em casa. Se ela estava, definitivamente checou sua neta.

Temperance ainda usava a camisola e o kirtle do dia anterior, mas onde estava Cailean? A avó o encontrou na cama de Temperance?

Ela se sentou e jogou as pernas para o lado da cama. A avó o expulsou? Ela saiu da cama e correu para a porta.

— Feliz Natal, avó! — Ela correu pela cozinha e deu a sua avó um beijo na nuca. — Como está Anne Gilbert?

— Não tão bem quanto você esta manhã, tenho certeza. Patrick MacGregor é um rufião desonroso.

— Sim. — Temperance corou, então olhou para TamLin miando a seus pés. — Cailean nos avisou no primeiro dia em que Patrick veio aqui. Você o viu?

— Patrick?

Temperance suspirou. A avó sabia perfeitamente a quem ela se referia.

— Cailean.

— Och, ele cavalgou para Kenmore falando de presentes.

Temperance piscou seus olhos sonolentos.

— Presentes? Para quem?

— Sim, querida. Ele está bastante interessado em você.

Temperance sorriu, pensando quando deitou na cama com ele e em todos os beijos que haviam compartilhado. Ele tinha lhe dado tudo que ela sempre quis. Ela queria girar, cantar e sorrir ao novo dia! Natal! Mas a avó sem dúvida perceberia sua alegria ridícula e se recusaria a deixar Cailean voltar para dentro quando ele voltasse.

Mas, oh, sua boca e o domínio dela. Ela corou e se virou antes que a avó visse.

Ela queria mais dele. Ela queria ficar acordada com ele a noite toda e falar com Cailean de novo e de novo... e então ela queria que ele a despisse e a explorasse. Ela queria fazer o mesmo com ele.

Ela queria saber o que tudo isso significava. Quão longe estava seu coração por ele? Ele permaneceria aqui em Linavar? Se o fizesse, provavelmente lutaria com Murdoch na próxima vez que o filho do lorde viesse. E Cailean provavelmente morreria.

Seu coração afundou e seu sorriso desapareceu. Ele não podia ficar aqui, não importava o quanto Temperance desejasse que Cailean pudesse. Não enquanto Duncan Murdoch estivesse vivo e houvesse uma chance de ele voltar e tentar matar Cailean novamente. Ela não tinha dúvidas sobre a culpa de Duncan na primeira tentativa.

Ela tinha que matar o filho do lorde. E assim por diante. Ela tinha perdido o pai para ele. Ela não perderia Cailean também.

Ela não queria que Cailean fosse embora. Ela sentia falta dele mesmo agora. Ela sentia falta de seu olhar cada vez mais caloroso, a atenção que ele mostrava a ela, a maneira como a ajudou a superar a perda de seu pai. Vê-lo pela casa. Vê-lo finalmente ceder ao riso e aos belos sorrisos despretensiosos.

Ela pegou uma tigela e caminhou até a panela ardendo no fogo.

— Por que você está se lamentando? — A avó perguntou, não deixando nada escapar de sua atenção.

— Eu não estou lamentando. Eu apenas...

Ela parou com a comoção vinda de fora e foi até a janela para investigar. O que ela viu parou seu coração.

— Avó. — Ela respirou, seus olhos fixos em Duncan Murdoch sentado no alto de sua sela enquanto se aproximava da casa. Doze cavaleiros encapuzados e mascarados cavalgavam atrás dele.

A avó largou o avental e foi até a janela.

— Vá para os fundos da casa, Temperance. — A avó ordenou, e foi para a porta. Ela parou ao alcançá-lo e voltou-se para a neta novamente. — Seu pai não está aqui para protegê-la. Fique escondida. Não saia.

Temperance percebeu as mãos da avó tremendo. A fúria a percorreu. Ela odiava Duncan. Ela odiava que Linavar vivesse na sombra de sua tirania. Ele tirou a vida de seu pai. Ele já deveria ter morrido por isso, mas Cailean entrou em seu caminho.

Ela estava feliz por Cailean ter ido para Kenmore e Duncan não descobriria que ele não tinha matado o convidado de seu pai naquele dia em seu canteiro de repolho.

Iria se desculpar com a avó mais tarde por não ter feito o que ela pediu, mas não estava disposta a deixar sua amada avó sozinha com Duncan Murdoch.

Primeiro, porém, havia algo de que ela precisava.

Ela caminhou pelo corredor para o quarto que estava compartilhando com a avó.

— Temperance!

A voz de Duncan gritando por ela parou seus passos e sua respiração. Ele tinha vindo para ela, assim como seu pai temia que o fizesse. Ela deveria ter se casado com William antes? Não, Duncan provavelmente o teria matado em seguida. Ela não queria que mais ninguém morresse. Apenas Duncan. E ela queria fazer isso sozinha.

Com uma resolução endurecida de manter seu juramento a seu pai, ela correu para a sala, agarrou seu arco e aljava de onde haviam sido colocados contra a parede e correu de volta para fora.

— Temperance. — Ele a chamou de novo, parecendo estar mais perto. Temperance fechou os olhos ao ouvir o som da repugnante voz dele. Aquele que acusou seu pai e depois o declarou culpado.

Ele estava logo atrás da porta. Onde estava a avó?

Não houve mais tempo para pensar quando Duncan abriu a porta com um chute. Ele parou quando viu Temperance parada do outro lado, sua flecha encaixada e pronta para voar.

— O que é isso? — Ele perguntou, seu sorriso intacto.

— Seu último dia na terra.

Ele riu enquanto a avó entrava correndo na casa atrás dele. Temperance a olhou, aliviada por vê-la viva.

— Abaixe esse arco, Purrance.

Temperance odiava quando ele a chamava assim. Era o nome que ele costumava chamá-la quando eram crianças e seu pai costumava cavalgar de Càrn Gorm para fazer negócios com o pai dela.

— Eu vou...

Ele ergueu a mão enluvada e seus cavaleiros correram para dentro da casa em seguida. Um deles agarrou a avó por trás e colocou a adaga reluzente em sua garganta.

Não! Temperance largou seu arco. A flecha escorregou pelo chão.

— Duncan, por favor! — Ela implorou, erguendo as mãos. — Por favor, não! — Não sua avó! Ela morreria se perdesse a avó.

Um dos cavaleiros de repente caiu no chão. O próximo dele caiu com a mesma rapidez.

Temperance viu Patrick no mesmo instante que a avó. Ele parou de balançar e ergueu a palma da mão para impedir qualquer movimento de alguém. Entrando pela porta em seguida, William também parou bruscamente quando viu a cena diante dele.

— Patrick? — Duncan inclinou a cabeça para olhar melhor para ele. — Eu me perguntava onde você tinha ido. O que diabos você está fazendo aqui?

Temperance não respirou. Ela rezava para que ele não mencionasse que Cailean estava vivo. Duncan certamente iria querer terminar o que começou com dois furos nas costas de Cailean.

— O que você acha que estou fazendo aqui? — Patrick falou lentamente. — O nome dela é Maryanne. — Ele ignorou Duncan quando o filho do lorde torceu a boca para ele.

— Mesmo um ferimento de flecha recente não pode mantê-lo no chão, hein?

— O que você está fazendo aqui, Duncan?

— Eu vim pela minha noiva.

Um som veio de William, como se o horror tivesse acabado de se instalar em suas entranhas. Mas quando Temperance o olhou de relance, ela notou que era para Patrick que ele olhava, não para ela.

Ela deslizou o olhar para seu arco e depois para a avó. Seu sangue corria por suas veias, o som correndo por seus ouvidos.

— Eu não vou me casar com você, Duncan. — Ela jurou.

— Oh, mas você vai. — Ele se aproximou. Seu sorriso se aprofundou com a crua intenção masculina. — E como eu sei que não houve nenhum voto de casamento, vou manter a promessa que lhe fiz quando você era apenas uma donzela na primavera, de ser o seu primeiro homem. Você se lembra, Purrance?

Ela afastou o rosto de sua mão quando ele a estendeu em sua direção.

— Lembro-me de ter batido em seu rosto com tanta força que afrouxei seu dente.

Ele riu, então parou quando a voz de Patrick soou.

— Duncan, por que você não parte antes que alguém se machuque?

— Isso não diz respeito a você, Patrick. Volte ao cio com sua prostituta. — Ele manteve os olhos em Temperance o tempo todo. — Se você não partir comigo, sua avó morrerá. Você quer isso, Temperance, tão perto de ter perdido seu pai?

Lágrimas encheram os olhos de Temperance e ela sentiu o gosto de sangue quando mordeu a língua. Ela estendeu a mão para Patrick, silenciosamente implorando para ele recuar. Ela não podia perder a avó.

— Solte a avó e eu irei com você.

Ele balançou sua cabeça.

— Não é sua escolha.

Ela iria com ele para salvar a avó. Mas o idiota achava que ela se casaria com ele? Ela o mataria na primeira chance que tivesse. Seu arco não adiantaria. Raiz de beladona esmagada faria isso acontecer. Era o veneno mais potente que avó permitia em casa. Havia muitas desta planta, uma vez que floresceu atrás da casa de Anne Gilbert. — Muito bem então, Duncan. Deixe-me pegar algumas das minhas coisas.

— Apresse-se, então. — Duncan permitiu com um aceno de mão. — E se você voltar com uma adaga ou pistola, só terá a si mesma como culpada pela morte desta querida mulher.

Temperance correu pelo salão, mas se voltou para a cozinha ao invés de seu quarto. Ela trabalhou rapidamente, reunindo o que precisava. Ela foi cuidadosa ao manusear a raiz seca de beladona, uma vez que até mesmo uma pequena gota em uma ferida era perigosa. Ela também enfiou alguns frascos menores de sementes de cicuta nos bolsos ocultos de suas saias.

Ela voltou com TamLin nos braços, em vez de uma bolsa de roupas.

— Dizer adeus a ela é mais importante do que qualquer coisa que eu possuo. — Disse ela a Duncan.

Ela olhou para o rosto coberto do bastardo segurando uma lâmina no pescoço da avó. Ele era o mesmo homem que matou seu pai? Ele tinha olhos castanhos escuros. Isso era tudo que ela podia ver, mas se lembraria deles.

— Não se preocupe comigo, avó. — Disse ela, jogando os braços em volta da avó. — Eu vou voltar para você. — Ela falou o último em um sussurro baixo.

— Ela virá conosco. — Duncan avançou e acenou para o captor da avó para trazê-la com eles. — Para garantir sua obediência, você entende. — Disse a Temperance.

O estômago de Temperance revirou enquanto ele levava ela e a avó para fora da casa. Ele gritou ordens para seus homens ajudarem seus dois mercenários caídos a montarem em seus cavalos. Pelo menos não havia mais uma faca na garganta da avó. Ela não queria a avó em Lyon's Ridge, mas pelo menos elas ficariam juntas e ela poderia ficar de olho nela.

Ela estudou os olhos do resto dos Cavaleiros Negros, procurando aquele com olhos prateados, o Cavaleiro que assentiu pouco antes... Onde ele estava? Quem era ele? Não importava. Ela o encontraria no castelo e ele sofreria com o resto. Ela teria que cronometrar o envenenamento da maneira certa para manter a si mesma e a avó seguras. Pequenas doses eram as mais seguras. Suas vítimas morreriam lentamente, sem apontar nenhuma culpa para ela ou a avó.

Ela passou por Patrick com um breve olhar, esperando que ele entendesse que não devia lutar, pelo bem da avó.

William a parou enquanto ela passava por ele.

— Há algo que devo lhe contar.

Ela entregou a ele sua gata.

— Cuide de TamLin para mim. — Ela o abraçou e sussurrou rapidamente em seu ouvido: — Diga a Cailean para não vir por mim. — Ele nunca poderia lutar contra todos os homens de Murdoch e viver. Queria lhe dizer que libertaria ela e a avó com seu veneno, mas Duncan deu um passo à frente e a puxou para longe.

— Seus dias de falar com ele acabaram. — Duncan disse a ela, e a empurrou junto.

Temperance se virou para encará-lo. Ele não permitiria que esse bárbaro matasse a avó, contanto que pudesse usá-la para controlar sua neta.

Ela não se preocupou em nunca mais falar com Will novamente. Ela empurrou seus sentimentos para longe e agarrou a fúria que controlou desde que seu pai morrera. Nada mudou. Ela decidiria seu próprio futuro, mesmo que isso significasse matar todos no castelo.

Ela se preparou e deixou o frio glacial consumi-la quando partiu.

 


Capítulo 20


Cailean puxou as rédeas do cavalo pouco antes de chegar em casa. Quando ele viu a multidão de aldeões amontoados ao redor da porta aberta, e a expressão abatida de Patrick ao ver seu primo, o coração de Cailean caiu. Algo estava terrivelmente errado. Ele saltou da sela e correu na direção deles.

— O que está errado? — Ele foi diretamente para Patrick. Ele se sentia mal pelo medo e pavor. Por que ela não estava aqui com eles? — Onde está Temperance? — Ele demandou.

— Onde diabos você esteve? — Patrick perguntou a ele com igual força.

— Patrick. — Ele chegou perto. A necessidade de segurar seu primo e sacudi-lo até que ele respondesse o oprimiu. — Onde está Temperance?

— Duncan veio e a levou, Cailean.

Cailean deu um passo atrás. Sua cabeça girou. Seu coração batia forte, tornando difícil ver qualquer coisa, exceto uma fúria cega e vermelha.

— O que você quer dizer que ele a levou?

— Ele pretende tomá-la como sua esposa. Ele...

— E você a deixou ir? — Gritou Cailean. Ele olhou em volta para os rostos apavorados ao redor dele, incluindo o de William. — Alguém tentou impedi-lo?

— Ele teria matado a avó. — Patrick tentou acalmá-lo. — Ele tinha uma dúzia de homens e uma lâmina na garganta da avó.

Por um instante, um poço de emoções ameaçou explodir dentro de Cailean. Ele sentiu a picada de umidade nas bordas dos olhos enquanto pensava em Temperance vendo uma lâmina na garganta de um amado parente novamente. Desta vez, sua avó.

Ele não deixaria isso acontecer. Ele não a deixaria perder a avó.

— Onde ela está? — Ele perguntou. — Onde está a avó?

— Ele a levou também. — Desta vez, William respondeu com a voz tensa, os olhos e o nariz vermelhos.

Cailean não precisava olhar para Patrick para entender o que Temperance significava para seu amigo de infância.

— Isso é tudo culpa minha. — Lamentou William. Ele se encostou no batente da porta para se apoiar quando pareceu desmoronar diante deles.

Cailean não tinha tempo para misericórdia agora.

Patrick tinha, no entanto.

— Você teria morrido e matado a avó junto se tivesse tentado lutar.

Deware balançou a cabeça e passou as mãos pelo rosto e depois pelos cabelos.

— Você não entende. A flecha... — Ele fechou os olhos e apertou a mandíbula, como se o que queria dizer se recusasse a ser dito. — Eu... eu acredito que era minha.

— Que flecha? — Patrick perguntou, levando a mão ao ferimento em seu peito. Finalmente a verdade desceu para ele. — Foi você?

Cailean queria matar alguém. Deware servia. Ele se moveu em direção a ele como uma tempestade mortal.

— O pai dela foi morto por atirar em um homem naquela tarde. — Ele alcançou Deware e parou perto dele. — Não me queria com ela porque eu era um Cavaleiro Negro quando, o tempo todo, foi você quem começou tudo.

Cailean queria bater nele, arrancar alguns dentes. Mas ele não era mais culpado ainda? Ele era um Cavaleiro Negro e covarde demais para contar a ela. Foi ele quem quis sangue por sangue naquela noite. Quando ele se inclinou para mais perto, Deware o encarou, aguardando seu julgamento.

— E fui eu quem deu a ordem aquela noite.

Ele não disse mais nada, mas voltou para sua montaria.

— Espere! Onde você está indo? — Patrick gritou para ele.

— Vou recuperá-las. — Gritou Cailean ao saltar para a sela. Ele parou por um momento antes de partir e se voltou para Deware. — Onde está TamLin?

— Na minha casa.

Cailean acenou com a cabeça, então virou seu cavalo em direção à colina.

— Falaremos outra hora sobre por que você atirou em mim. — Disse Patrick a William, e então correu atrás de Cailean. — Cailean, espere, estou indo com você.

Cailean parou e esperou que Patrick o alcançasse.

— Provavelmente haverá matança. — Cailean o avisou com uma voz tão fria quanto as montanhas cobertas de neve.

Eles frearam na beira coberta de neve da montanha Càrn Gorm. Cailean olhou em volta enquanto o vento batia em seu rosto e olhos. Nuvens escuras rolaram pelo céu de estanho, prometendo mais neve. Era dia de Natal e ninguém poderia ser pego comemorando.

O vento ecoou no silêncio como a risada de Temperance... como a confissão de William Deware. Cailean ainda não se recuperou disso. Algo sobre Seth Menzie o incomodava. Ele não conseguia pensar nisso agora. Ele sabia que tirar Temperance e a avó do castelo não seria fácil, mas nada precioso era fácil de alcançar.

— Você vai me contar o plano? — Patrick perguntou de sua montaria sob a alta parede externa. Em sua juventude, eles sempre tiveram um plano.

Cailean não tinha um agora. Ainda não. Ele queria matar Duncan.

— Eles vão nos deixar entrar. — Informou Cailean, examinando as ameias.

Patrick se virou para lançar-lhe um sorriso irônico.

— É isso? Vamos apenas atravessar as portas?

Cailean devolveu o olhar.

— Você tem algo melhor para discutir?

Patrick pensou sobre isso e encolheu os ombros.

— Não com algo apontado acima de minha cabeça.

— Murdoch! — O grito de Cailean perfurou o ar da noite, agitando o movimento e o som de cima. Vários guardas gritaram, exigindo saber quem estava lá. — Sou eu, Cailean Grant. Diga a seu senhor que voltei do túmulo!

Mais gritos irromperam da ameia.

— Cailean. — Disse Patrick, parando-o antes que os guardas pudessem deixá-los entrar. — Depois que você entrar, ela vai descobrir a verdade.

Sim, Cailean sabia que assim que Murdoch o visse, a verdade sobre quem ele era viria à tona.

— Eu deveria ter contado a ela desde o início. — Disse ele, apertando a mandíbula. Ela iria odiá-lo. O que ele faria se a perdesse? Ele não conseguia raciocinar. De alguma forma, ele a conquistaria de volta. Ele teve que conseguir. Mas primeiro ele a salvaria de se casar com Duncan.

Momentos se passaram antes que um pequeno grupo de homens armados aparecesse no portão.

— Grant? — John Gunns gritou do outro lado. — Mas você está morto!

— Estou muito vivo. — Corrigiu Cailean. — Deixe-nos entrar.

Gunns abriu o portão enquanto Cailean e Patrick desmontavam. Imediatamente eles foram recebidos por dez dos homens de Murdoch, todos curiosos sobre onde ele estava. Onde ele se encontrou com Patrick? Cailean prometeu dar-lhes respostas mais tarde. Agora ele precisava entrar no castelo.

— Onde está Duncan? — Ele perguntou a eles.

— Ele está com o pai no solar. — Gunns disse a ele. — Está trancado lá com a filha de Seth Menzie.

Cailean fez o possível para permanecer calmo.

— Um padre está com eles?

Gunns balançou a cabeça.

— Só eles e a velha de Linavar.

Eles estavam no solar. Cailean considerou arrombar a porta e levá-las de volta, mas nunca sairiam vivos. Ele precisava permanecer racional. Apenas tolos entrariam correndo. Elas estavam com Edward, então estavam seguras por enquanto. Ele a veria mais tarde, quando pudesse contar a verdade em particular. Não queria pensar agora no que diria a ela, ou em sua reação. Ele precisava pensar com clareza. Ele tinha planos a fazer. Primeiro ele tinha que ver quantos homens poderia enfrentar.

— Você vai nos dizer onde esteve? — Erik MacCormack perguntou, seguindo-o.

— Sim, mas primeiro eu preciso de uma bebida.

Os homens aprovaram com exclamações ruidosas. Patrick se juntou a eles, batendo palmas nas costas dos homens como se o tempo não tivesse passado.

O castelo estava fervilhando com sussurros de muitas moças e servos observando enquanto os dois Highlanders caminhavam pelo hall.

No caminho para o grande salão, Cailean ponderou o que faria a respeito de Duncan. Ele percebeu que matá-lo imediatamente não seria do interesse de Linavar. Isso apenas forçaria o lorde a declarar guerra contra eles. Ele queria manter o vilarejo seguro. Mas Duncan tinha que ser impedido e Cailean seria o único a fazer isso.

Seguindo o aroma de pão preto e o odor rançoso de cerveja, ele entrou no salão e olhou em volta. Olhou para mais alguns dos homens e se perguntou como ele iria matá-los se fosse necessário. Ele sabia que poderia matar pelo menos três de cada vez. Os mercenários de Murdoch eram homens qualificados, mas nenhum havia treinado com MacGregors e Grants desde que eles tinham seis verões. Cailean estava grato por nunca ter se aproximado muito dos mercenários, preferindo ficar sozinho. Seria mais fácil fazer o que fosse necessário para salvar Temperance.

— Grant? — Tavish Innes levantou-se da cadeira e semicerrou os olhos à luz suave do fogo. — Grant! — Ele chamou novamente quando teve certeza de que seus olhos não o estavam enganando. — Onde diabos esteve?

— Cailean Grant! — Brodie Garrow também deixou seu assento e correu em sua direção. — Disseram que você estava morto!

Sim, Duncan pensou que o tinha matado. Mas pelo menos, concluiu Cailean, esses dois não estavam envolvidos.

Ele sorriu para os homens e aceitou o assento que lhe ofereceram.

— Fui atacado e deixado quase morto. — Disse ele. — Mas não serei derrotado por um covarde.

— Quem? — Garrow perguntou, seus olhos escuros fixos em Cailean. — Quem te atacou?

Cailean poderia dizer-lhes a verdade? Ele queria, mas sabia que não devia, talvez todos os homens fossem leais a Duncan, então ele balançou a cabeça. Ele não faria nenhuma acusação, mas levaria os homens à verdade e veria onde eles se posicionariam depois disso.

— Eu não tenho certeza de quem. Eu estava a caminho de Kenmore e alguém me atacou por trás. Mas vou encontrar quem e depois farei que seja recompensado por tentar me matar. Por sorte, encontrei Patrick no caminho de volta para cá.

Enquanto comiam e bebiam, John contou a ele que Duncan fora buscar sua tão esperada noiva naquela manhã.

Cailean recostou-se na cadeira e levou a caneca aos lábios. Ele deslizou seu olhar sobre os homens.

— Portanto, na noite em que entramos em Linavar para vingar Patrick não teve nada a ver com o ataque contra nós. Duncan mandou matar o líder para que ele pudesse pegar sua filha.

— O que há de errado nisso? — Brodie Garrow argumentou. — Ela é uma mulher bonita. Eu teria feito o mesmo. — Ele riu e ergueu sua caneca para alguns dos outros que concordaram que Duncan tinha colhões.

O olhar de Cailean pousou sobre eles como o peso da lua, frio como aço. Exceto por John Gunns, Garrow e os outros não ficariam de braços cruzados se Cailean tentasse matar Duncan. Ele olhou para seu primo. Patrick acenou com a cabeça ligeiramente, lendo seus pensamentos. Cailean estava feliz por seu primo estar aqui. Se eles tivessem que lutar para sair vivos, o braço de Patrick os ajudaria a ganhar a vitória.

— Provavelmente foi algum canalha de Linavar que o atacou. — Avisou Garrow. — Assim como um deles atacou Patrick. Duncan disse que eles querem todos nós mortos e não vão parar por nada até ver nosso fim.

Cailean o olhou fixamente. Então, uma cidade de trinta fazendeiros sem treinamento estava planejando uma insurreição contra os assassinos mais habilidosos de seu lorde?

Ele poderia ter rido na cara dos homens, provando o que pensava das acusações de Duncan e o que pensava deles por acreditarem nele. Mas zombar deles não lhe traria vantagem.

— Nae, — Disse ele, balançando a cabeça. — Havia uma testemunha. — Ele se lembrou do que Patrick havia lhe contado sobre seu cavalo. — Disseram-me que meu agressor me deixou em uma poça de sangue e levou meu cavalo. Fui a Linavar em busca de minha montaria, mas a besta não estava lá.

— Duncan trouxe de volta o seu cavalo. — Disse John Gunns.

Bom. Deixá-los chegar às suas próprias conclusões ajudaria a convencê-los da verdade.

— Inferno, eu odiaria se vocês estivessem corretos. — Cailean disse a eles. — Isso significa que ele não tem consideração pela elite de seu pai e pode até ser capaz de tentar matar um ou dois de nós.

— Mas por que ele iria? — Erik perguntou, depois de engolir sua bebida e limpar a boca com a manga. Seus olhos encontraram o olhar de uma das garotas de Maeve. Seus dedos algemaram seu pulso e ele a puxou para seu colo.

Ellie, Cailean acreditava ser o nome dela.

Ellie riu e enfiou a mão livre nas calças do Red.

— Duncan não fez isso. — Tavish Innes disse a ele em voz baixa. — Sugerir isso pode causar problemas.

— Sim, beba o que está em seu copo. — Dougal ergueu o seu. — Vamos culpar o cansaço por sua conversa amotinada.

Sim, agora era isso que Cailean precisava ver. Quem era leal ao agitador no solar? Ele olhou ao redor. E quanto ao resto?

Ele fixou seu olhar duro em Dougal primeiro.

— Eu pareço cansado para você? — Em vez de mentir na cara dele, Dougal olhou para o irmão, que parou de grunhir quando ouviu o tom ameaçador de Cailean.

Ele empurrou o resto da bebida em sua boca.

— Eu acho que ele fez isso. — Ele fixou seu olhar em cada um deles, procurando por raiva ou ofensa e encontrando. Quando seus olhos pousaram em Gunns, o mercenário deu-lhe um aceno sutil.

Alguns gritos irromperam, nos quais Patrick subjugou com um pedido alto por mais jarras de bebidas em sua mesa e mais mulheres em seus colos.

Cailean não se importava se eles fossem até Duncan com sua acusação. Ele sabia o que fazer a seguir.

Ele se levantou de seu lugar e deixou a sala de jantar sozinho, deixando Patrick com a adorável moça em seus braços, e se dirigiu para os campos de torneio. Ele veria quem estava lá para descobrir quem mais poderia ter que matar em uma luta.

Ele parou quando chegou à porta esculpida e dirigiu seu olhar sobre os rostos, alguns virando-se para olhá-lo boquiaberto. Ele viu Cutty sentado em um banco de pedra, os olhos arregalados de medo ao reconhecer Cailean.

Atordoado, ele conseguiu se levantar, sacar uma adaga e arremessá-la em Cailean.

Chegou perto o suficiente do ombro de Cailean para rasgar sua carne.

— É um fantasma! — Cutty gritou, apavorado e estendendo a mão atrás dele para pegar uma das espadas contra a mureta.

Cailean ergueu as mãos ao sair das sombras para a luz.

— Calma, Cutty. — Ele disse com uma voz calma. — Os fantasmas sangram?

Ele desamarrou a camisa e a puxou pela cabeça e um ombro, expondo seu próprio ferimento recente.

— Eu sou real. — Ele disse, caminhando em sua direção. — Fui atacado na estrada e deixado morto por um ladrão que roubou meu cavalo. Ou, como fui corrigido recentemente, Duncan Murdoch. Você sabe alguma coisa sobre isso, Cutty?

Ele observou o mercenário se contorcer um pouco e gostou.

— Eu com certeza não o fiz. — Cutty jurou. — Eu o conheço e você não compartilha amizade, mas eu não tenho nada a ver com matar você.

Cailean não o deixaria escapar tão facilmente.

— Mas Duncan tentou, sim?

— Ele poderia ter sim. — Um canto da boca de Cutty se inclinou para cima. — Você ameaçou bater nele até deixá-lo sem sentido.

Sim, Cailean concordou, ele tinha. Ele gostaria de ter feito isso também.

— Matamos o homem errado naquela noite em Linavar.

Cutty encolheu os ombros.

— Acontece.

Acontece.

Mais uma vez, o desejo de Patrick de deixar esta vida para trás e voltar para Camlochlin infiltrou-se na carne de Cailean, e em seus ossos. Ele não nasceu para ser um mercenário frio e irracional. Ele foi criado para lutar e se defender com honra. Ele treinava desde os três anos, praticando defesa por dois dias da semana no pátio com a mãe e honra por três dias e meio com o pai. Quando ele tinha seis anos, começou a treinar com seus tios. Ele não tinha medo de lutar contra ninguém, a qualquer hora, mas suas paixões eram mais profundas com a pena, a faca de cozinha e às vezes o pincel. Ele parou de usar todos eles por um longo tempo e escolheu existir apenas na única coisa que era mais fácil de sentir raiva.

Até a noite em que Seth Menzie morreu.

— Por que você se preocupa com Menzie? — Cutty perguntou. — E por que você acha que ele era o homem errado?

Cailean não lhe contaria o que havia descoberto. William tinha que viver com a culpa do que ele causou, assim como Cailean.

— Porque, — Ele disse. — O líder do povo de Linavar nunca teria arriscado a ira do lorde. Havia respeito mútuo entre eles. Menzie assegurou-se de que seus fazendeiros produzissem uma boa colheita e abastecesse os cofres de Murdoch com bastante moedas. O lorde ficará zangado quando descobrir que Menzie está morto. Se ele já não sabe, graças às duas mulheres que Duncan tolamente trouxe para aqui hoje.

Ele observou as dúvidas de Cutty e o medo que se seguiu. Sim, Cailean teve uma parte nisso, mas Cutty fez a matança.

— O que você acha que ele vai fazer?

Cailean ergueu as mãos.

— Nós saberemos em breve, eu imagino. — Ele esperava que Cutty fugisse. Um Cavaleiro Negro a menos para lidar.

— É melhor eu mandar uma das garotas cuidar de meu ferimento. — Sem outra palavra, Cailean saiu do campo de torneio.

— Oh, querido. — Disse uma voz preocupada atrás dele. — Você está sangrando por todo o chão.

Cailean se virou, preparando-se para se desculpar. Sua boca se fechou e ele piscou como se esperasse que seus olhos o enganassem.

— Marion?

 


Capítulo 21


— Marion? — Cailean correu para mais perto dela e teve-lhe uma visão melhor na luz suave. Era ela! Então Maeve não a mandou para Perth. Não era de admira que William não a tivesse encontrado quando foi procurar. O que diabos ela estava fazendo aqui?

Antes que ele tivesse a chance de perguntar a ela, outra voz fez o ar gelado estalar.

— Grant! — Edward Murdoch parou na porta do solar aberta e então caminhou até ele. — Disseram-me que você tinha morrido. — Ele olhou para ele por cima de seu nariz grosso e então abriu um largo sorriso. — Você parece bem!

Apesar do terror que seu filho causou a Linavar, Cailean gostava do lorde de Glen Lyon. Ele era um homem grande e turbulento que sabia quando se acomodar para uma partida tranquila de xadrez. Ele era muito bom no jogo também, vencendo Cailean na metade das vezes.

— Venha. — Murdoch jogou seu braço sobre o ombro de Cailean. — Diga-me o que diabos aconteceu com você.

Cailean inclinou a cabeça, tentando dar uma olhada viu o ombro de Murdoch no solar. Temperance ainda estava lá dentro? Ele queria gritar o nome dela. Por um momento, parecia que seu coração existia para esse único propósito. Mas ele controlou aquela paixão do jeito que tinha feito antes... antes que Temperance Menzie o conduzisse gentilmente para fora da escuridão.

Em vez disso, ele invocou aquela escuridão agora. Ele precisava manter sua cabeça e não deixar seu coração levá-lo a um ataque de raiva que provavelmente o deixaria morto no final. Ele e Patrick contra dezenove não eram boas chances.

Ele fixou seu olhar em Murdoch.

— Meu lorde, pelo que sei, você tem convidados. Para onde foram levadas?

— Para o salão, por quê? Elas têm algo a ver com você?

— Sim, elas tem. — Cailean disse a ele com sinceridade.

O sorriso de Murdoch se desvaneceu em um olhar de preocupação, e então ele liderou o caminho.

Cailean olhou para o salão. Ele queria descobrir com o que Edward havia concordado, mas queria ir atrás dela também. Patrick estava lá.

Ele seguiu Murdoch para a câmara e tomou a cadeira normalmente reservada para Duncan. A cadeira onde ele se sentava e jogava xadrez e às vezes ouvia as preocupações do lorde sobre sua vil descendência.

— Quando eu abri meus olhos pela primeira vez. — Ele disse, observando Murdoch atravessar a sala para pegar as bebidas. — Eu pensei que estava no inferno. Fui apunhalado pelas costas e deixado quase morto.

— Onde?

— Isso ocorreu em Linavar, m'lorde.

— Ah, isso faz sentido. — Disse Murdoch, trazendo sua caneca para Cailean. — Depois que meu tolo filho mandou matar seu querido líder, eles se vingaram de você.

Ele sabia, então, que Duncan mandara matar Seth Menzie. Temperance e a avó provavelmente tinham contado a ele.

— Ninguém de Linavar fez isso. — Continuou Cailean, bebendo seu vinho. Estava bom e quente descer. — Tive várias febres depois que a infecção se instalou em minhas feridas. Se não fosse pelo cuidado que recebi das pessoas de lá, eu teria morrido. Eles salvaram minha vida.

— Alguma ideia de quem esfaqueou você, então?

— Eu só sei que meu atacante roubou meu cavalo.

Os olhos de Edward de sua cadeira pesada fixaram-se nele.

— Duncan encontrou seu cavalo.

Cailean assentiu.

— Sim, e ele mandou matar Seth Menzie para que pudesse pegar sua filha.

Cailean suspeitava que era difícil ouvir isso sobre qualquer filho. Murdoch ficou quieto por um tempo, contemplando tudo, sem dúvida.

— Duncan de fato trouxe a filha e a mãe de Menzie aqui e me pediu para concordar com o casamento entre ele e a garota.

— Você concordou? — Cailean lutou para se lembrar de respirar sem parar enquanto esperava.

— Ainda não. — Murdoch respondeu. — Embora isso assegurasse minhas boas relações com Linavar.

Cailean sorriu, com o coração acelerado.

— Boas relações quando a filha de seu líder morto é forçada a se casar com seu assassino? Você terá sorte se suas safras renderem uma única cenoura.

Os olhos de Murdoch se estreitaram sobre ele.

— O que você sugere?

Murdoch gostava dele. Ele era provavelmente um dos poucos homens no castelo que gostava. Cailean rezou para que o lorde concordasse com seu pedido e salvasse a vida da maioria de seus homens.

— Deixe-me devolver a Srta. Menzie e sua avó para Linavar para que ela possa se casar com um homem com quem as pessoas serão felizes.

Outra coisa pela qual ela o odiaria, mas Cailean tinha certeza de que ela preferia se casar com Deware do que com Duncan. Também sabia que ela nunca se casaria com ele uma vez que descobrisse que era o Cavaleiro Negro que assentiu na morte de seu pai.

— Você se preocupa tanto com minhas colheitas? — Murdoch perguntou a ele com uma peculiaridade duvidosa de sua sobrancelha grossa.

— Não. — Respondeu Cailean. — Seus cofres. Como serei pago se seus cofres estiverem vazios?

Isso pareceu acalmar o lorde por um tempo.

— Então, — ele disse depois de outro momento. — Você acha que Duncan esfaqueou você em Linavar.

— Sim, ele queria ficar lá depois que Menzie foi morto e eu ameacei lhe bater se ele ficasse.

— Bem, é bom que um de vocês tenha algum bom senso. — Murdoch disse, e olhou por um momento para a cadeira em que Cailean estava sentado. — Não importa o que ele fez, eu vou lidar com isso. Você me ouve? Eu gosto de você, Grant. — Murdoch recostou-se na cadeira e olhou para as chamas da lareira. — Sirva-me outra bebida.

Cailean fez o que lhe foi pedido. Ele sabia que Murdoch gostava dele. Ele usaria isso a seu favor.

— Não sou idiota. — Suspirou o lorde, parecendo mais velho do que Cailean jamais o ouvira. — Eu sei que tipo de homem é Duncan. Estou ciente de algumas coisas que ele é culpado de fazer. Ele aterroriza Linavar. Ele matou o líder deles, um homem que considerava um amigo.

Cailean acenou com a cabeça e entregou-lhe a bebida.

Edward aceitou e sorriu para ele.

— Você é um bom homem, Cailean. Você é mais justo do que Duncan e um guerreiro melhor. Às vezes eu gostaria de poder deixar tudo isso para você.

Cailean balançou a cabeça e encostou o queixo no peito.

— Eu não quero isso.

— Precisamente por que você deveria tê-lo. — Edward deu um gole em sua bebida e pousou o copo.

— Nae, — Cailean disse mais severamente. — Não vou tomar a herança de um homem enquanto ele ainda viver.

O lorde ficou olhando para ele enquanto Cailean se levantava da cadeira. Ele sabia exatamente o que seu mercenário das Highlands contratado queria dizer, então agarrou o pulso de Cailean antes de se virar para sair.

— Não o mate.

Cailean engoliu em seco, abaixou a cabeça e deu um passo para trás.

— Eu gostaria de cuidar da minha ferida.

— Vá. — Edward acenou com o queixo em direção à porta.

Cailean deixou o solar e caminhou em direção ao salão. Ele não se apressou, pois, o tempo estava se aproximando em que a terrível verdade seria revelada.

Temperance nunca havia estado no grande salão de Lyon's Ridge antes. Seu pai o tinha visitado muitas vezes no passado, mas nunca a tinha levado junto. Edward Murdoch sempre teve Cavaleiros Negros a seu serviço. A maioria não eram os mesmos homens que o serviam hoje, mas ainda eram todos grosseiros e duros.

Temperance odiava que a avó estivesse aqui sentada entre eles.

Ela ficou surpresa e preocupada quando viu Patrick entre os homens. Cailean estava aqui também? William? Ela esperava que não. Os homens que enchiam este salão pareciam ter matado homens por anos. Eles eram rudes e turbulentos e alguns já estavam dando socos enquanto algumas das moças servindo sua cerveja.

— Você parece um pássaro assustado. — Disse Duncan, sentado em frente a ela na mesa e parecendo bastante satisfeito consigo mesmo. — Olhos arregalados e ariscos no meio de um bando de corvos.

— Acontece que eu gosto de corvos. — Ela disse a ele, encontrando seu olhar escuro. — Estes são mais como abutres.

— Sim. — Ele concordou, olhando ao seu redor. — Você está correta. Aquele se parece com MacGregor? O que diabos ele está fazendo aqui?

A avó, sentada ao lado dela, não tinha falado muito desde que entraram no salão. Temperance adivinhava que a pobre querida estava cansada de encher os ouvidos de Edward Murdoch com coisas que ele não sabia, de como seu filho matou o dela.

— Sr. Murdoch? — Agora ela falou, seu olho não reparado perfurando os dele. — Me conte algo.

Ele deu a ela sua atenção, sua arqueada sobrancelha negra acentuando sua testa alta.

— O que é?

— O que o tornou tão vil?

Temperance olhou para ele, também esperando por sua resposta.

— Deixa para lá. — A avó ergueu as mãos desgastadas pelo tempo e se levantou. — Eu realmente não me importo. Eu gostaria de um cochilo, e se devo permanecer aqui até que esteja firmemente colocado em seu lugar, por favor, providencie um quarto para mim.

— Velha, você se esquece quem sou. — Advertiu Duncan. Temperance manteve os olhos nele. Se ele fizesse um movimento para machucar a avó, ela o mataria com a faca que tirou da cozinha da avó, agora escondida nas dobras de seu vestido. Ela não se importava em sair viva se a avó morresse.

— É você quem esquece, jovem Murdoch. — A avó não recuou. — Quando seu pai descobriu quem eu era, ele garantiu minha segurança. Você é vil, mas não idiota. Ou estou enganada?

Temperance tocou o cabo de sua faca de cozinha, mas o olhar impotente de Duncan não era uma ameaça.

— Você! — Ele gritou para uma moça em algum lugar acima da cabeça de Temperance. — Marion! Leve esta velha para um quarto!

Marion? Temperance e a avó trocaram um breve olhar, e então Temperance se juntou à avó para cumprimentar a amiga.

— William procurou por você em todos os lugares. — Temperance disse perto de seu ouvido quando ela abraçou a bela garota de cabelos ruivos.

Marion lançou-lhe um olhar relutante e cheio de remorso quando se separaram.

O sorriso de Temperance permaneceu enquanto a avó abraçava Marion em seguida. A pobre moça tinha vergonha de amar William. Temperance queria dizer a ela para não ter. Ela queria dizer a ela o quão feliz estava em vê-la viva e aparentemente bem, e o quão feliz isso deixaria seu melhor amigo.

Mas ela se virou para prender Duncan com seu olhar mais mordaz, odiando-o mais do que nunca.

— Você a sequestrou da aldeia.

Ele balançou a cabeça e enfiou na boca uma colher de ensopado de carneiro.

— Não eu. Foram os irmãos MacCormack.

— Venham. — Marion segurou os duas pelos braços. — Deixe-me encontrar quartos para vocês.

— Você fica. — Duncan apontou a colher para Temperance.

Ela abriu a boca para recusar. Ela queria ficar com a avó. Ela queria falar com Marion.

— Se você continuar a me desafiar. — Duncan advertiu. — Linavar irá sofrer. Eu vou cuidar disso. E lembre-se de que se você tentar deixar Lyon's Ridge, sua avó será punida. — Ele voltou seus olhos duros para Marion. — O que você está esperando? Tire essa velha da minha vista.

Temperance as observou sair do salão e então se virou para se sentar novamente. Seus olhos encontraram o olhar de Duncan abaixando perturbadoramente em seus quadris.

Ela olhou para o jarro de madeira na mesa entre eles. Ela poderia colocar um pouco de sua beladona antes que ele tornasse a encher sua caneca?

— As coisas vão correr muito melhor entre nós agora que seu pai não está mais aqui para negar todos os meus pedidos.

Talvez cortar sua garganta fosse mais satisfatório do que envenená-lo.

— Você é um tolo ainda maior do que qualquer um de nós pensaria se acredita nisso, Duncan. — Ela respondeu acidamente. — Você foi a Linavar para matá-lo sob o pretexto de que ele atirou em um de seus homens. Você acha que eu me importo se você morrer e apodrecer diante dos meus olhos?

— Ora, Temperance. — Ele fingiu um beicinho. — Seu pai não era nenhum santo. Ele realmente atirou uma flecha em um parente de um dos meus homens naquele dia. Seu sangue foi exigido.

— Ele não atirou em ninguém! — Ela insistiu. — Quem é o homem que o acusou? Aponte-me aquele que exigiu seu sangue.

Ela queria saber. Para o inferno com o veneno. Ela o cortaria de ponta a ponta.

As portas do salão se abriram. Alguns dos homens engasgaram com quem estava sob a moldura arqueada. Um ou dois até se benzeram.

Temperance se virou para olhar por cima do ombro e sentiu o coração subir até a garganta, levantando-a. Era Cailean! Seu Cailean! Ele tinha vindo atrás dela, e se ela não tivesse alguma preocupação sobre ele não ser capaz de enfrentar todos aqueles homens, o expulsaria agora. Seu olhar assassino, percorrendo Duncan, gelou seu sangue e derreteu seu coração ao mesmo tempo. Qualquer coisa vulnerável em sua boca e queixo se foi e foi substituída por aço esculpido.

Seu olhar encontrou o dela por trás das mechas soltas de seu cabelo escuro e Temperance não pôde evitar o sorriso que começou a se formar em seus lábios.

Ao vê-lo, Duncan também se levantou. Seu rosto estava pálido, sua mandíbula frouxa. Sua colher caiu no chão.

— Grant, você está vivo.

Cailean não respondeu, mas contornou outra mesa e se aproximou.

— Senhorita Menzie e eu estávamos falando sobre você.

 


Capítulo 22


Por preciosos três ou quatro momentos, Temperance não sabia por que Duncan havia mentido. Eles não estavam falando de Cailean. Eles estavam discutindo sobre o homem que tinha dado o sinal para matar seu pai. Ela se virou para rir das táticas de Duncan. Imagine Cailean sendo aquele que exigiu o sangue de seu pai! Foi a manobra mais patética que Duncan já inventou.

Ela abriu a boca para dizer isso, mas ele gritou para os homens espalhados em várias mesas:

— Vamos dar as boas-vindas ao nosso irmão que pensávamos estar morto.

Todos os homens gritaram saudações para ele, segurando suas bebidas e chamando-o de irmão.

— Não. — Ela não percebeu que tinha falado em voz alta. Ela olhou para Cailean. Não, ele não era um deles. Ele era o convidado do lorde. Era assim que os homens o conheciam.

— E, — Duncan continuou, erguendo sua própria caneca, — não é bom ver Patrick quase totalmente recuperado de ser atingido por uma flecha que quase o deixou morto?

O olhar de Temperance disparou para Patrick, mas rapidamente voltou para Cailean. Não poderia ser. Mas fazia sentido. Patrick foi atacado e Cailean buscou vingança.

Seu olhar suavizou sobre ela. Mas não foi amor o que ela viu em seus olhos. Era culpa. Ele foi atingido por isso. E para todos que o observavam, ele parecia um guerreiro mortal se desfazendo.

— Você é um Cavaleiro Negro. — Ela sussurrou em uma respiração que fez seu coração se despedaçar. Ela levou a mão à testa e tentou pensar com clareza. Cailean era um Cavaleiro Negro. Apesar dela lutar contra elas, seus olhos se encheram de lágrimas. Ela quase engasgou com a próxima pergunta, mas tinha que perguntar. — Foi você quem exigiu o sangue do meu pai? Aquele que assentiu?

Ele respirou e sua expiração pareceu durar para sempre. Finalmente, ele abaixou a cabeça e juntou as mãos diante de si.

— Sou.

Tudo ao redor dela tremeu. O chão se ergueu em uma onda para consumi-la. Seus joelhos foram os primeiros a ceder. Ela cambaleou para trás e caiu na cadeira. Tudo veio à tona: o cuidado que ela teve em salvar sua vida, os sorrisos que ela ofereceu a ele, os beijos que ele roubou dela, e todas as mentiras.

— Você conhece ele? — Ela ouviu Duncan perguntar a ela.

Sim, conhecia o sabor de sua boca, como sua língua se movia sobre a dela, saboreando-a em troca.

— Eu sonhei com ele uma vez. — Ela disse em uma voz baixa e calma que aguçou seu olhar e fez o sangue ferver. — Um demônio com olhos iluminados pela lua e sem piedade em sua alma.

— Isso soa como Cailean Grant para mim. — Duncan concordou. — Um demônio que não morrerá.

Como um raio o olhar de Cailean pousou em Duncan. Raios que procuravam matar. E finalmente ficou fácil para Temperance vê-lo como parte dos mercenários mortais ao seu redor.

Ela queria fechar os olhos e abrir a boca para gritar até que nada restasse dela. Estava prestes a acontecer e isso a deixou em pânico. Deus a ajudasse, ela se apaixonou pelo homem que matou seu pai! Ela o amava. Não, não poderia ser ele. Eles estavam todos errados. Ela amava esse homem!

— Eu desejo me recolher. — Disse ela friamente, sem levantar o olhar da mesa.

— Mas estamos apenas nos reencontrando. — Cantou Duncan.

— Eu... não estou me sentindo bem. — Ela contornou a cadeira e se dirigiu para as portas.

— Sente-se, Temperance. — Duncan ordenou, todos os traços de alegria sumidos. — Antes que eu comece a suspeitar de outro motivo para sua partida apressada.

— Deixe-a ir, filho. — Edward Murdoch gritou a seu filho enquanto saia do caminho dela. — Ainda não decidi se vou deixar você tomá-la como noiva. Até então, ela e sua avó podem se mover livremente, desde que não saiam sem minha permissão.

Antes de sair apressada, Temperance olhou por cima do ombro.

— Tenha cuidado, meu lorde. Meu pai tentou me manter longe dele e teve sua garganta cortada por isso.

Ela levantou a saia sem esperar pela resposta dele e correu para as escadas. Ela não sabia para qual quarto a avó foi levada. Ela não estava procurando por isso. Ela precisava ficar sozinha para assimilar todos os momentos passados com o assassino de seu pai.

Quando alcançou o terceiro patamar, dobrou no canto e encostou as costas na parede. Ela se sentia doente demais para se mover. Como ele a enganou tão completamente? Tão impensado? Não, Cailean. Qualquer um, menos Cailean. Ela fechou os olhos com força e cobriu a boca com a mão para parar os gritos ansiosos por liberação.

Não ouviu seus passos a seguindo, mas quando ele dobrou o mesmo canto e disse o nome dela, quase desabou no chão.

— Por favor, compartilhe uma palavra comigo.

Ela não queria olhar para ele ou ouvir sua voz sofrida. Mas ela abriu os olhos e enfrentou o monstro que pisoteara seu coração.

— O que você acha que pode me dizer?

Assim como ela suspeitou, ele não tinha mais nada a dizer. Ela se empurrou da parede e se afastou dele.

— Apodreça no inferno, Cavaleiro Negro.

— Temperance. — Ele chamou novamente. A dor em sua voz quase a fez parar.

Ela tinha que se afastar dele e correu para a próxima porta que encontrou. Empurrando-a, ela se atirou para dentro e se desculpou com a garota sentada em sua cama.

Temperance trancou a porta e então a olhou, sem pensar ou se importar com o que a garota pensava dela por invadir seu quarto e trancá-las lá dentro.

Ela não gritou ou lamentou da maneira que seu coração exigia. Ela não iria. Não pelo o assassino de seu pai.

Não! Ela estendeu a mão para a beira da cama e sentou-se quando seus joelhos tremeram e suas pernas fraquejaram.

— Moça, você não está bem? — A garota perguntou a ela, colocando a mão em seu ombro.

— Eu sou uma idiota.

— Todas nós somos. — A garota sorriu. — Eu sou Esmé.

Temperance assentiu e olhou para a porta.

— Ele matou meu pai.

— Oh, ora. Isso é terrível. Eu sou...

Temperance pegou uma tigela da mesa ao lado da cama e se abaixou. Ela se sentia mal, como se seu corpo precisasse se purificar de tudo o que tinha a ver com Cailean Grant. Não podia ser verdade! Não poderia ser! Ela riu com ele e ouviu seus contos de desgosto. Ela tinha acreditado nele sobre Sage e sobre Alison. Ela olhou em seus olhos entre beijos e se permitiu confiar nele. Ela o deixou distraí-la por ter perdido seu pai. Ela o deixou beijá-la e o beijou de volta. Ele a tocou como nenhum outro homem a havia tocado antes, e disse palavras em sua última véspera que ainda, mesmo agora, tocava como uma melodia em seu coração.

Mas agora a melodia se tornou uma ode de angústia e traição.

Instintivamente, ela lutou para negar a quebra de seu coração. Mas ele tocou sua alma de alguma forma também, e ela não podia negar os dois. Sua garganta doía com o peso de suprimir seus soluços. Tonturas e náuseas a dominaram.

Ela o deixou entrar em seu coração. Ela se apaixonou por ele. Ele poderia não ser o mesmo monstro que cortou a garganta de seu pai, mas era um monstro da mesma forma. Och, pai, me perdoe!

Por que ele foi a Linavar naquela manhã quando ela correu e esbarrou em seu cavalo? Ele tinha vindo para sequestrar para Duncan?

Antes que ela pudesse impedir, sua boca se abriu e um gemido tão carregado de tristeza escapou dela que ao lado dela Esmé enxugou seus olhos.

Ela ouviu a batida suave na porta, a voz melosa e suplicante atrás dela.

— Temp, por favor me perdoe. Eu...

Ela tapou os ouvidos com as mãos. Ela nunca iria perdoá-lo e nunca mais queria ouvi-lo chamá-la de Temp novamente. Era o nome de seu pai para ela. Se Cailean Grant dissesse novamente, ela cortaria seus lábios.

— Vá embora! — Ela gritou. Ela queria abrir a porta e enterrar a faca nele. Ele a enganou nos dois eventos mais importantes e colossais de sua vida, perdendo o pai e se apaixonando.

— Eu te odeio, Cailean! — Ela gritou na porta. Ela enxugou as lágrimas de seu rosto e se engasgou com o resto de suas palavras. — Fique longe de mim! Te odeio.

Ela se jogou no travesseiro de Esmé e chorou.

— Temperance, deixe-me entrar, por favor. — Ele implorou teimosamente.

— Eu vou te matar se fizer isso. — Ela prometeu, sem levantar a cabeça do braço, protegendo-se.

— Eu queria lhe dizer, mas estava com medo, moça.

— Me deixe em paz! — Ela gritou novamente. Não havia misericórdia nela. Em vez disso, suas palavras, sua voz, apenas a enfureceram ainda mais. Seu sangue fervia em suas veias. — Espero que alguém te mate. Espero que seja eu.

Ele finalmente deixou a porta e a deixou chorar em paz.

Esmé a deixou com a promessa de buscar Marion. Alguns momentos depois, a avó abriu a porta e correu para o lado de Temperance.

— Och, pomba, então você descobriu que seu Cailean é um Cavaleiro Negro.

Temperance se afastou de seus braços e a olhou.

— Sim, e aquele Cavaleiro Negro em particular. Você sabia que foi Cailean... Cailean quem levou Duncan e os Cavaleiros Negros para Linavar?

Avó acenou com a cabeça.

— Só depois que Marion me disse que foi Patrick quem levou um tiro de flecha naquele dia. Lembrei que eles tinham ido porque alguém havia levado um tiro. Quando Marion me disse que Cailean era um Cavaleiro Negro, deduzi quem ele era.

— Eu vou matá-lo, avó.

— Não, pomba, você não vai. Ele vai nos tirar daqui.

— Por que ele iria? — Temperance perguntou a ela. — Ele é a razão de estarmos aqui.

— É por isso que ele vai nos salvar. — Disse a anciã teimosamente. — Isso, e porque ele te ama.

Cailean estava sentado no salão, olhando para sua caneca. Os outros não o incomodariam, familiarizados com o cavaleiro sombrio e silencioso que estava sentado entre eles. Eles pensavam que ele não tinha mudado.

Mas ele sabia a verdade. Ele estava pior.

Ele não disse a ela quem era ou o que fez. Ele a deixou acreditar que era inocente. Ela tinha todo o direito de odiá-lo, mas ele não queria que o odiasse. Ele queria falar com ela, tentar reconquistá-la. Ele sabia que nunca poderia.

Ele nunca esqueceria a dor e a descrença esmagadora em seus olhos quando ela descobriu a verdade. Foi preciso toda a força que possuía para permanecer no salão enquanto ele mudava de um homem que ela gostava para o homem que teve uma participação na morte de seu pai. As lágrimas que ela derramou atrás daquela maldita porta trancada quase o destruíram completamente.

Havia tanto que ele queria dizer a ela. Ele não era digno de seu perdão, mas o queria. Ele precisava disso para viver.

— Sr. Grant?

Ele ergueu os olhos de sua caneca e conseguiu reproduzir um sorriso quando viu Marion de pé sobre ele, sua trança ruiva brilhante balançando em volta da cintura como uma espada de fogo. O que diabos ela ainda estava fazendo aqui? Algum dos Cavaleiros Negros, ou qualquer outro homem no castelo, a tocou?

— Você não cuidou do seu ferimento. — Ela notou, apontando para sua camisa manchada de sangue.

Por que diabos ele se importava com um corte em sua carne quando seu coração estava rasgado por dentro?

— Você deveria estar em Perth. Por que não foi?

— Depois que você deixou Lyon's Ridge, Maeve se recusou a me levar.

Ele rangeu os dentes. Ele teria uma conversa com a madame.

— Mas uma das moças dela disse a Deware que você tinha partido.

Seus olhos se arregalaram e sua respiração parou.

— William esteve aqui?

Seu olhar caiu sobre o cabelo castanho-avermelhado e a curva delicada de sua mandíbula.

— Sim, e então ele cavalgou para Perth para te encontrar. — Quando ela sorriu, seu coração afundou.

— Se você foi... contaminada por alguém aqui, mostre seu rosto para mim e eu irei...

O sorriso dela se aprofundou e então corou.

— Eu não fui contaminada.

Ele suspirou alto com alívio.

— Como você conseguiu recusá-los?

— Todos, exceto Lorde Murdoch, acreditam que eu carrego sífilis.

— Por que o Lorde não acredita nisso?

— Porque eu disse a ele a verdade que menti para ir a cama com eles. Eu disse a ele que só entregaria meu corpo ao homem que amasse. Ele prometeu me proteger. Acho que ele se importa comigo.

— Você ama Deware.

— Sim, eu o amo. Íamos contar a Temperance. Will sabia que ela não estava apaixonada por ele. Mas ela está apaixonada por você.

Se isso deveria fazê-lo se sentir melhor, não o fez. Na verdade, isso o fez querer quebrar sua caneca na lareira.

— E você a ama.

Sim. Sim, ele amava.

— Ela cuidou de meu corpo e me fez recuperar a saúde depois que me encontrou ferido em seu jardim. Ela cuidou de minha alma também, eu acho. Mas isso não importa. O que eu fiz não pode ser perdoado.

— Você não pode simplesmente desistir. — Ela insistiu.

Ele a olhou, sem se importar se ela visse todo o seu coração em seus olhos.

— Não pretendo, mas o que posso fazer para reconquistá-la?

— Lute. — Os olhos de Marion brilharam quando ela pegou sua mão. — Se você a ama, lute por ela.

Sim, ele se endireitou. Esse era o plano.

 


Capítulo 23


Cailean encontrou Patrick no campo de torneio de treinamento mais tarde naquele dia. Seu oponente era Brodie Garrow, um dos mercenários mais duros e experientes de Lorde Murdoch e um dos homens mais leais de Duncan. Cailean observou a luta com atenção, notando tanto os pontos fracos de Garrow quanto os fortes.

Ele queria matar Duncan. Ele ainda não o faria. Matar o filho do lorde de Glen Lyon machucaria o povo de Linavar. Ele pensou em matar Duncan e seu pai, e antes de conhecer Temperance ele poderia ter considerado isso. Mas apesar do que ele queria que os outros homens no castelo acreditassem, ele não era a mesma besta fria e independente.

Ele gostava de Edward Murdoch e não queria matá-lo.

Ele cresceu em um lugar onde a honra abundava e, embora tivesse sido enterrado sob o peso da dor e da culpa, ainda estava lá, incrustado profundamente.

Ele sentou-se no banco, momentaneamente preocupado com seu primo, quando Garrow se abaixou sob a lâmina de Patrick e voltou por trás dele. Ele esmagou sua lâmina pesada em cima da de Patrick, arrancando-a de sua mão. Agradecidamente, o pai de Patrick, Tristan, ensinou bem o filho a lutar sem espada. Na verdade, Patrick costumava lutar melhor apenas com as mãos e os pés, como fazia agora. Cailean viu seu primo derrubar o brutal Cavaleiro Negro, duas vezes com um golpe de sua bota nos tornozelos e joelhos de Garrow, e uma vez com um golpe cortante com o antebraço na garganta de Garrow.

Patrick deixou Garrow onde havia caído na grama e foi se sentar ao lado de Cailean no banco.

— Você deveria me deixar matá-lo.

— Você estava rindo com ele apenas há uma hora. — Cailean balançou a cabeça para ele.

— Qual a melhor maneira de desarmar um homem do que com a amizade? — Patrick perguntou sem um pingo de remorso. — Eu sorrio para eles, mas não significa nada. Eles sequestram garotas e as transformam em prostitutas. Eu sorrio para eles para não matá-los.

— MacGregor!

Cailean e Patrick se viraram para ver Edward Murdoch deixando o castelo e abrindo caminho para o campo de torneio para se juntar a eles.

— Se não fizermos isso, — Patrick se inclinou para perto de Cailean e falou rapidamente, — sua Temperance o fará. Eu disse a você o que a avó disse sobre ela. Ela está planejando matar alguns mercenários. Você provavelmente será o primeiro.

Cailean se lembrou das promessas de Temperance de matar os homens responsáveis pela morte de seu pai. Ele tinha que impedi-la de alguma forma. Não por causa de Duncan e Cutty. Nem por ele mesmo, mas por Linavar e por ela. Ela tinha muito a perder, a avó, Deware, Anne Gilbert. Ele não iria deixá-la colocar todos eles em perigo. Ele não a deixaria perder mais de seus parentes, seus amigos, por vingança.

O lorde de Lyon's Ridge olhou para Garrow levantando-se, a mão agarrada ao pescoço. Murdoch riu e voltou seu olhar para Patrick.

— Quanto você quer por mês na sua bolsa para lutar assim por mim?

Patrick sorriu sem o menor traço de astúcia, provando novamente ao primo como um MacGregor poderia ser inteligente e implacável.

— Eu já disse, meu lorde, — Patrick disse quando Murdoch os alcançou. — Esta não é a vida para mim.

Também não era vida para Cailean. Não mais. Ele estava pronto para viver novamente. Mas primeiro ele tinha que tirar Temperance, a avó, Marion e provavelmente uma horda de outras moças de Glen Lyon.

Murdoch deu um tapinha no ombro de Patrick.

— Pena. Eu provavelmente poderia tomar a Escócia apenas com vocês dois ao meu lado.

Ele deu um tapinha em Cailean em seguida, então o puxou para baixo de seu braço.

— É bom ter você de volta. Como está se sentindo? Você estava muito pálido quando o vi pela última vez.

— Estou bem. — Mentiu Cailean. Ele se sentia péssimo. — E ansioso por uma palavra com você.

— Se for sobre a Srta. Menzie, — Murdoch sorriu e o soltou para se sentar no banco. — Eu ainda não decidi o que fazer com ela. É sobre ela que você quer falar, não é? — Ele perguntou indulgentemente quando Cailean não respondeu imediatamente.

— Sim, é isso. — Admitiu Cailean.

— Você tinha ido para Linavar para vê-la quando Duncan o esfaqueou, estou correto?

Cailean sentou-se ao lado dele no banco enquanto Patrick permanecia de pé. Ele não tinha planejado confessar seu coração ao lorde de Glen Lyon, mas se ele fosse lutar por ela, Murdoch precisava saber o quão sério seria.

— Sim, sim. E depois que seu filho me deixou para sangrar até a morte, foi ela quem me trouxe de volta à vida.

— Você se preocupa com ela, eu entendo.

— Estou apaixonado por ela, meu lorde. — Corrigiu Cailean. Droga, mas era bom dizer isso, como correntes de um rio derretendo o gelo e lavando seu coração. Ele queria contar a ela. Ele queria contar a todos os homens do castelo. Ele a amava e mataria qualquer um que a tocasse.

— Então realmente temos um dilema, — Murdoch disse, olhando-o nos olhos. — Duncan a quer. Ele está apaixonado por ela há anos.

Cailean franziu o rosto e balançou a cabeça.

— Foi amor quando ele a observou vendo seu pai morrer? Quando ele ouviu sua angústia e em vez de cair de joelhos por trazer-lhe tanta tristeza, ele pretendia tirá-la do resto de sua família? Se Seth Menzie era seu amigo, então não condene a filha dele a uma vida com seu filho.

Edward cruzou os braços sobre o peito e exalou um suspiro alto.

— O que você pretende que eu faça, então, Cailean?

Aqui estava o que Cailean queria falar com ele sobre seu plano para afastar Temperance de Duncan.

— Deixe-me lutar por ela. Quando eu vencer, deixe-me levá-la de volta para Linavar com a promessa de manter Duncan fora de sua vida.

— Lutar contra quem? Meu filho? — O lorde jogou a cabeça para trás e riu quando Cailean assentiu. — Duncan não duraria o suficiente para o padre recitar uma oração por ele.

— Claro que não, — concordou Cailean. Ele provou isso várias vezes nos últimos quatro meses. — É por isso que lutarei com mais dez antes dele. Cinco hoje e cinco amanhã.

Patrick chutou uma espada do suporte e praguejou baixinho. Ele não concordava com o plano quando Cailean o apresentou pela primeira vez. Ele não tinha que concordar com isso. Cailean não precisava fazer isso. Ele esperava que lutar até ficar exausto e continuar, por ela, poderia aliviar sua vergonha.

— Você deseja enfrentar dez dos homens antes de lutar contra Duncan?

— Sim. — O sorriso de Cailean era tão inocente quanto o de seu primo. Era. Ele tinha que fazer isso. Era a única maneira. — Você gosta de esportes, senhor, não é?

— Você sabe que sim, — Murdoch disse, rindo. — Eu sei que você também. Você tem mais habilidade do que qualquer um aqui, mas dez homens?

— Sim. — Patrick entoou, a preocupação ainda marcando sua testa. — É uma loucura. M'lorde, você deve recusar.

Cailean franziu o cenho para ele. Ele estava começando a se sentir um pouco insultado. Patrick acreditava que iria perder? Perder Temperance?

Murdoch o estudou por um momento e então acenou com a mão.

— Eu vou permitir.

Cailean sorriu.

Patrick não.

— Se você perder... — Murdoch começou.

— Eu não vou perder.

— Mas você definitivamente vai ter seu traseiro espancado, — o lorde respondeu. — Ela vale a pena?

Cailean não hesitou.

— Sim, ela vale.

Murdoch parecia duvidoso, mas encolheu os ombros musculosos, então deu um tapinha no ombro de Cailean novamente antes de se levantar.

— Muito bem, então. Você lutará contra dez dos homens e depois com Duncan. Se você vencer, pode levar a Srta. Menzie de volta para Linavar e fazer o que quiser com ela. Vou informar os homens. Quem você tem em mente para enfrentar?

— Garrow, os irmãos MacCormack, Innes, MacRae e qualquer outro que deseje lutar contra mim. — Cailean disse a ele, e o seguiu de volta para dentro do castelo. Patrick também o seguiu, resmungando enquanto caminhava.

— Esses cinco são os homens mais leais de Duncan. — Murdoch apontou.

— Sim, eu sei.

Cailean pensou ter visto Murdoch sorrir levemente quando eles entraram no salão.

Não demorou muito para os homens responderem à convocação estrondosa de Murdoch para se reunir no grande salão para um anúncio, especialmente com o delicioso aroma de pãezinhos pretos frescos, torta de carne picada e peru assado flutuando pelo ar.

— O que é esse cheiro celestial? — O lorde perguntou, olhando ao redor com deleite antes de se sentar em uma das mesas.

— A mãe de Seth Menzie deve ter assumido o controle de sua cozinha. — Patrick o informou, sentando-se na mesma mesa.

Cailean teve o desejo de ir para a cozinha em busca da avó. Ele estava comendo em Lyon's Ridge por tempo suficiente para saber que seu cozinheiro nunca poderia conjurar aromas tão apetitosos. Ele sorriu. Era Natal e, ao preparar os pratos tradicionais de Natal, a avó iria se certificar de que Murdoch e seus Cavaleiros Negros soubessem disso. Conhecendo-a, ela provavelmente teria os homens cantando hinos proibidos até o final da noite.

Ele olhou ao redor. Temperance estava na cozinha com ela?

— Homens! — Murdoch bateu com o punho em uma mesa para chamar a atenção de seus homens. — Eu tenho um anúncio!

Os Cavaleiros Negros se aquietaram para ouvi-lo, mas Cailean parou de ouvir.

Cada som desapareceu dos ouvidos de Cailean quando Temperance entrou no salão com Marion.

Ela estava com o cabelo penteado para o alto da cabeça e as pontas soltas sobre os ombros. O estilo acentuava os ângulos suaves de seus traços, dava mais proeminência aos olhos safira, suavizava o queixo e o declínio doce do lábio inferior.

Cailean não conseguia tirar os olhos dela. Eles se voltaram com vontade própria.

Ele olhou para os homens em seus assentos, todos olhando-a cobiçosamente como se ela fosse a mais rara das joias, o que, claro, era, tendo sido mantida longe de todos eles por anos. Ele cerrou os dentes e endireitou a coluna. O primeiro a tocá-la seria o primeiro a morrer.

— Nosso irmão Cailean Grant ofereceu um desafio para dez dos nossos melhores, — Murdoch disse a eles. — Uma luta de dois dias, terminando com ele e Duncan, no campo de torneio. Cada um de vocês lutará do lado de Duncan. O prêmio irá para meu filho ou para Grant.

Uma rodada de aprovação ocorreu entre os homens. Do outro lado da mesa, Patrick balançou a cabeça para o primo. Temperance parecia ainda mais descontente, parando em seu lugar para olhar para ele.

— Hurra, Grant! — Tavish Innes gritou. — Você vai lutar contra nós todos de uma vez, então?

Murdoch ergueu as mãos.

— Como isso seria justo, Innes? — O lorde perguntou. — Ele vai lutar com um de cada vez, começando amanhã de manhã. — Ele leu os cinco nomes que Cailean havia solicitado, oferecendo as últimas cinco vagas a qualquer um de seus homens.

Patrick bateu com a palma da mão na mesa.

— O braço dele está ferido! Ele precisa de um ou dois dias para curar!

— Amanhã de manhã, — Murdoch insistiu. — Os primeiros cinco que participarão devem estar prontos.

— Qual é o prêmio? — Cutty gritou enquanto arrastava uma das moças de Maeve para seu colo.

Murdoch se virou para Temperance.

— Ela.

Cailean tinha certeza de ter ouvido Temperance proferir um juramento um momento antes de ir em sua direção.

— Bem-vinda, Senhorita Menzie. — Murdoch a cumprimentou quando ela parou diante de sua mesa.

Cailean levantou-se de sua cadeira, levando os outros a fazerem o mesmo.

— O que você acha do desafio de Grant? — Murdoch perguntou a ela, embora fosse claro por sua expressão zangada.

Ela disse a ele, no entanto.

— Acho que você deveria cancelar, — respondeu ela. — Eu não sou um prêmio para ser disputada.

— Grant discorda. — Murdoch disse com um sorriso curvando seus lábios.

— Eu não me importo com o que ele pensa. — Ela disse, arriscando a ira de Murdoch.

— Não quero que seja forçada a se casar com Duncan.

Ela olhou para Cailean quando ele falou. Seu coração vacilou um pouco. Pelo menos ela o estava olhando. Era um começo.

— Meu futuro não é da sua conta, Sr. Grant. Além disso, — ela abaixou a voz, mas não evitou que se tornasse um grunhido. — Eu posso pensar em homens piores para casar.

Inferno, ela estava bem, forte e bonita em seu ódio por ele. Ela o tentava a sorrir como um idiota cativado. Mas ele não fez isso. Ele não queria que ela o odiasse, e suas palavras doeram.

Ele nunca quis machucá-la. Mas tinha. Ele se sentia mal com o peso disso. Ela era alegria, inocência, uma chama na escuridão. Ele era o monstro que tirou tudo dela. Como ele poderia reconquistá-la? Ele duvidava que lutar com cem homens fosse o suficiente.

Ela voltou a fingir que ele não existia, o que levou Cailean mais perto da borda. Mas ele já esperava isso, não era? É por isso que ele não disse a ela a verdade. Ele sabia que ela o odiaria e queria evitar o inevitável. Mas a verdade o alcançou e agora ele tinha que enfrentar a feiura disso.

Ele não deveria se importar. De novo não. Ele jurou a si mesmo que nunca deixaria o amor entrar novamente.

Quão facilmente ele cedeu.

Teria sido a tristeza em seu olhar, que vinha de algum lugar tão profundo que parecia que nada poderia penetrá-lo? A angústia com a qual ele estava tão familiarizado, que o puxou para ela? Talvez no começo, mas ela o fez sorrir. Ela trouxe o riso de volta para ele. Ela o fez sentir novamente, quer ele quisesse ou não. Ele não estava disposto a deixar ninguém machucá-la... ou tirá-la dele.

Quando Murdoch lhe ofereceu um assento, ela recusou. Quando ele acenou com a mão para um dos servos trouxesse uma tigela, ela balançou a cabeça.

— Eu não estou com fome.

O lorde piscou para ela, então ofereceu a Cailean um olhar perplexo.

Cailean percebeu que Murdoch não tinha ideia de como lidar com uma moça que o desafiava. Ele também percebeu que Temperance estava desafiando o lorde por causa dele.

Ele se levantou de novo. Ele não queria ir embora. Ele queria se sentar com ela, falar com ela, olhar para ela.

— Longe de mim impedir uma dama de comer. Se minha presença a ofende, eu irei embora. — Ele sorriu para Murdoch e então para ela.

Ele se curvou e, sem outra palavra, deixou a mesa.

Antes de chegar à mesa de John Gunns, as portas se abriram novamente e Duncan Murdoch entrou no salão. Ele olhou em volta, viu Temperance sentada com seu pai e se dirigiu para lá.

Cailean entrou em seu caminho, impedindo-o.

— Onde está meu cavalo?

— Morto. — Duncan disse a ele com um traço de um sorriso que ele não se preocupou em esconder. — A viagem e o frio foram demais para a besta. Ele teve que ser abatido.

Cailean se aproximou dele. Ele nunca quis matar um homem tanto quanto queria matar Duncan.

— Se for essa a verdade, — ele avisou baixinho, mantendo seu temperamento controlado por enquanto. — Eu vou amarrá-lo na parte de trás de seu cavalo e deixá-lo arrastá-lo pelas montanhas até que não seja facilmente reconhecido. Então, novamente, depois que eu terminar com você amanhã no campo de torneio, não precisarei amarrá-lo em um cavalo.

— O campo de torneio? — Duncan o olhou como se nele tivesse acabado de brotar um par de chifres. — Meu pai não vai...

— Seu pai já concordou. Ele vai vê-lo cair de joelhos diante de mim e então não haverá mais dúvidas em sua mente de quem entre nós é o melhor guerreiro.

Ele sorriu levemente e bateu nas costas do filho do lorde. Duncan quase caiu para frente. Cailean o segurou e se abaixou para falar baixo em seu ouvido.

— Você não deveria ter me deixado vivo em Linavar.

 

Capítulo 24


— Eu deveria tê-lo deixado morrer.

Cailean desviou o olhar do rosto zangado de Temperance, o seu próprio estava marcado pela culpa e pelo arrependimento. Ele teria preferido a morte a causar-lhe tanta dor.

Eles estavam sozinhos no corredor: Marion, a escolta de Temperance, os havia deixado a pedido silencioso de Cailean um momento depois que ele apareceu das sombras, bloqueando seu caminho.

Temperance moveu-se para passar por ele no caminho para o quarto dela para passar a noite. Os dedos dele ao redor de seu pulso a pararam. O que ele poderia dizer? Ela estava certa. Ele merecia a morte como pagamento pela vida que tirou do meio dela. Ele sabia, porém, que não seria o suficiente.

— Eu sei a dor que causei a você, — ele disse a ela enquanto um buraco desolado e vazio, mais vasto que o anterior, o consumia. — Eu sei disso, Temperance. Não sei como dizer que sinto muito por ter sobrecarregado você com isso.

— Não! — Ela se afastou dele.

Ela nunca o perdoaria. Ele nunca iria perdoar a si mesmo, assim como não se perdoou pela morte de Sage ou de Alison.

— E o que você quer em lutar contra todos os Cavaleiros Negros? Você está louco?

Sim, ele estava realmente fora de si. Mas não teve nada a ver com sua decisão de lutar contra a elite de Murdoch.

— Eu luto por você, moça. Eu quero provar para você...

— Você não prova nada! — Seus lindos olhos azuis se fixaram nos dele. — Você acha que lutar contra uma horda de feras vai mudar o que você fez? Esta é a sua maneira tola de tentar reconquistar meu favor?

Ele balançou sua cabeça. Ele sabia que reconquistar o favor dela era impossível, mas não podia deixá-la prosseguir com seus planos.

— Vou tirar você e a avó daqui. Eu sei que você quer sangue por sangue, mas me ouça quando lhe digo, nada de bom virá da vingança. Isso só mudará quem você é.

— Eu agradeço essa mudança.

Ela não quis dizer isso. Ela não sabia o que era perder seu coração para tal escuridão. Ele sabia.

— O lorde vai matá-la se fizer mal a seu filho.

— E ainda assim você veio aqui para fazer exatamente isso. — Ela atirou de volta para ele.

Ele não se importava com sua própria vida, mas não iria deixá-la arruinar a dela com Duncan.

— Temperance, eu...

— Você queria sangue. — Ela o interrompeu. — Você levou seus amigos ao vilarejo naquela noite e os deixou matar meu pai. Ele era inocente, Cailean!

— Eu sei. — Ele disse suavemente.

Ele viu a mão dela chegando, mas ele permaneceu imóvel e deixou a palma dela estalar em seu rosto. A força de seu golpe inclinou sua cabeça para trás, mas ele voltou seu olhar torturado para a implacável moça.

— Qual deles o matou? — Ela perguntou, sua voz e sua mão tremendo. — Eu quero o nome dele.

Ele não ia dizer a ela que tinha sido Cutty. Ele não tinha dúvidas de que o mercenário estaria morto pela manhã se dissesse. Depois disso, ele duvidava de que fosse capaz de convencer Murdoch a não puni-la.

— Não prossiga com o que quer que pretenda fazer, eu imploro.

— Vá para o inferno. — Respondeu ela entorpecida.

Ele já estava lá. Ele se deixou apaixonar por ela e agora a estava perdendo também.

Ele a amava. E não era nada parecido com o que ele sentira por Alison. Era maior e mais poderoso do que qualquer coisa que ele sentiu no passado. Seu corpo tremia de medo. Como ele se recuperaria desta vez? Ele não iria. Ele não queria.

— Deixe-me levá-la de volta ao vilarejo. — Implorou ele. — Eu cuidarei de Duncan. Você nunca mais terá que se preocupar com ele novamente. Case-se... — Ele fez uma pausa, deixando que o pensamento dela com outra pessoa azedasse seu estômago. — Case-se com alguém que você ama e viva sua vida em paz.

Ele pensou ter visto lágrimas se juntando em seus olhos e brilharem no corredor à luz de velas. O desejo de tocá-la, de tomá-la nos braços, passou por cima dele. Ele não se mexeu. O medo por amá-la e perdê-la o paralisava.

— Eu não quero paz, Cailean. — Ela disse a ele, cobrindo suas palavras com gelo. — Quero vingança e eu a terei com uma dose cuidadosa de beladona. Lorde Murdoch nem mesmo saberá que seu filho está morrendo até que seja tarde demais.

Ele se aproximou dela, inclinando a cabeça para olhar para ela. Cada músculo, cada terminação nervosa doía por tomá-la em seus braços.

— Você vai me envenenar também?

Ela prendeu a respiração com a proximidade dele, então deu um passo para trás, aumentando a distância entre eles.

— Eu me importei com você e traí meu pai ao fazer isso. Fique fora do meu caminho, Sr. Grant, ou terei alegria em matá-lo.

Ele a deixou ir e a observou partir com o coração saltando aos olhos. Ele queria chamá-la de volta, ir atrás de qualquer coisa para mantê-la perto.

Ela não se virou, mas bateu a porta ao entrar no quarto.

Sem mais nada para fazer, ele girou nos calcanhares e se aproximou de Maeve.

— Você a ama. — Disse a madame, lendo o que estava claro em seus olhos.

O olhar de Cailean sobre ela se endureceu.

— Eu paguei generosamente para tirar Marion daqui e levá-la para Perth. Por que você não fez isso?

Maeve encolheu os ombros, dando salto para o decote.

— Eu com certeza não iria sozinha para Perth com uma moça muito jovem. Provavelmente teríamos sido atacadas na estrada e deixadas mortas ou levadas para algum lugar pior que o Lyon’s Ridge. Como você a teria encontrado então? Eu te fiz um favor, Sr. Grant. Mas me perguntei por que ofereceu tantas moedas por sua proteção. Temi que ela pertencesse a uma família poderosa, então espalhei a notícia de que ela havia partido. Isso não foi suficiente?

— Nae. — Ele rosnou. — Não foi. Ela ainda está aqui, e o lorde passou a gostar dela.

— Então? — Maeve argumentou. — Isso é uma coisa boa. Ela está a salvo dos outros homens. Mas me diga, — ela disse, mantendo a voz baixa. — Por que você se preocupa com Marion quando está claro que seu coração pertence à senhorita Menzie?

Ele não se importava se Patrick evidenciava o código de honra de seu pai... era o que todos os homens de Camlochlin representavam, Cailean acreditava na honra. Ele pode ter esquecido nos últimos meses, mas amava seus parentes por incutir a fé e honra nele.

— Decida onde você está, Maeve. Sequestrar moças e forçá-las a agradar aos homens é errado e vou fazer algo a respeito.

Ele a deixou no corredor sem outra palavra e caminhou para o quartel. Ele fez uma parada rápida no solar do lorde, certificando-se de que estava vazio, e recolheu alguns pergaminhos, uma pena e um pequeno frasco de tinta.

Ele não sabia o que dizer para Temperance, mas talvez escrever fosse mais fácil.

Arrastando uma cadeira para a janela de seu quarto, ele tentou escrever palavras para ela com a luz da lua e de uma única vela iluminando seu pergaminho. Não veio nada. Ele passou a mão nos cabelos por mais horas do que queria contar, desejando poder arrancar as palavras de sua alma. Finalmente, ele jogou a tinta e a pena contra a parede.

Alguém bateu na porta. Ele não queria companhia agora, mas pensando que poderia ser Temperance, pulou da cadeira e correu para a porta.

A avó estava do outro lado, esperando que ele a convidasse para entrar.

— Precisamos conversar.

Seu filho estava morto por causa dele. Ele não queria falar com ela. Ele não tinha certeza se poderia.

Assentindo, ele a deixou entrar.

Ela olhou a parede manchada de tinta e então voltou seu olhar para ele. Cailean se encolheu, cheio de culpa e arrependimento para encará-la.

— Antes de deixar Linavar, — ela começou calmamente, — você me disse que amava minha neta.

Sua barriga afundou enquanto esperava suas acusações justas.

— Avó, me perdoe. — Foi tudo o que ele conseguiu dizer. Seu coração nunca se sentiu tão pesado, exceto quando ele falou com Temperance.

— Por amá-la?

Ele balançou sua cabeça.

— Seu filho. Eu...

Ela ergueu a mão para detê-lo.

— Marion me contou sobre a noite em que você trouxe Patrick de volta ao castelo. Ele estava perto da morte. — Ela deu um longo suspiro e se sentou na cadeira onde ele tentara escrever algumas palavras para sua neta. — Eu sei o quão difícil deve ter sido. Você deveria ter nos contado a verdade, embora eu entenda por que não o fez.

Ela entendia? Ele queria que ela soubesse o quão difícil tinha se tornado dizer a verdade, primeiro por causa da culpa e do medo de que eles o matassem enquanto estava fraco e depois porque pensou em cuidar deles por Temperance.

— Cada vez que ela falava dele... — Ele fez uma pausa para passar as mãos pelo rosto, sabendo o que ela havia perdido e o que nunca poderia retribuir. Isso o estava deixando louco. — Cada momento que passei com ela cortou minhas defesas e vi com clareza a besta fria que me tornei, e um covarde, não importava o quanto eu quisesse dizer a ela a verdade, não poderia.

A avó ouviu o que ele tinha a dizer, derramando uma lágrima ou duas enquanto ouvia.

— Você pode entender, avó, mas isso não muda o fato de que sou responsável pela morte de Seth. Espero que um dia você possa me conceder perdão, mas entendo se se recusar a conceder.

— Eu te perdoo, Cailean. — Ela ofereceu a ele um leve sorriso. — É Natal. Coisas maravilhosas aconteceram neste dia.

Cailean a olhou, sentindo um pouco do peso saindo de seus ombros.

— Eu estou grata por você ter a intenção de salvar minha pomba de Duncan. — Ela continuou, puxando um pequeno lenço de sua saia e enxugando o nariz com ele. — Mas por que lutar contra dez homens? Isso é algum tipo de punição auto infligida?

Ele deu de ombros, sentando-se na beira da cama.

— Eu quero libertar Temperance de Duncan e pensei que lutar por ela poderia...

— Provar seu amor? — Ela terminou por ele, então balançou a cabeça. — Ela não precisa assistir você derrubar homens no chão, rapaz. Ela precisa que você lute por ela com suas palavras. Mostre a ela que você não é mais um Cavaleiro Negro. Sei que nunca deixarei minha moça se casar com um daqueles homens vis, mas é Temp quem precisa ser convencida.

Mas ele não era o mais vil de todos?

— Mostre a ela seu verdadeiro coração, — a avó aconselhou, — ou você ainda tem medo de compartilhá-lo?

Ele não estava com medo. Não mais. Não com Temperance.

— Eu quero uma vida com ela, — ele disse a ela, a ponta de arrependimento de que provavelmente era tarde demais cavando fundo em seu coração. — Eu não quero perdê-la.

A avó se levantou da cadeira e se dirigiu para a porta.

— Então talvez seja bom contar a ela.

Ele assistiu a avó sair. Poderia ser assim tão simples? Derramar seu coração para Temperance seria fácil? Não foi quando ele tentou escrever as palavras para ela. E se ele o fizesse e ela o rejeitasse, saísse de sua vida para sempre?

Ele se deitou na cama e jogou o braço sobre a cabeça. A avó o perdoou. Talvez Temperance também.

Afinal, era Natal.

 


Capítulo 25


— Eu não me importo se é Natal, eu não vou deixar você decorar meu castelo com vegetação da floresta!

Cailean entrou no grande salão e sorriu para a avó segurando galhos de folha perene contra o peito e olhando para Edward Murdoch com um olho só.

— Você se importa se voltar a comer pão mofado e carne de sabor horrível? — A avó desafiou.

Cailean fugou o ar adoçado com aromas de bolos de mel e pudim de laranja. Ele não ficou surpreso quando Murdoch deu a ele um olhar derrotado, provando o quão ruim a comida era por aqui.

— É melhor não lutar contra isso. — Disse Cailean. — Deixe-a seguir seu caminho. Ela não estará aqui depois que eu ganhar a competição.

— A comida dela está me fazendo querer que você perca. — Murdoch confessou, então acenou com a mão para ela terminar de decorar o salão. — Vou ter problemas com a igreja se eles descobrirem.

— Bah! — A avó respondeu. — Como se qualquer pessoa da igreja viesse aqui.

Murdoch olhou furioso para ela e então se virou para Cailean.

— Ela está me irritando a manhã toda por ser o dia de St. Stephen e que eu deveria deixar caixas de moedas na porta das pessoas de Linavar.

— Isso fortaleceria boas relações. — Cailean apontou, e foi até a avó para ajudar a pendurar um ramo na entrada.

— Você está pronto para os eventos do dia? — O lorde perguntou a ele. — Devo dizer que a senhorita Menzie não parece compartilhar seus sentimentos. Tem certeza de que deseja fazer isso?

— Sim, tenho certeza. — Disse Cailean. — Os homens estão prontos?

— Eles estão. A maioria já está esperando por você.

— Primeiro, — A avó apontou um dedo ossudo para ele, — você vai comer!

Cailean assentiu e olhou ao redor do salão procurando Temperance. Ele ficou feliz quando não a encontrou. Ele precisava ficar focado na tarefa em mãos. Ouvir o ódio dela poderia distraí-lo de permanecer vivo ou pelo menos de manter os dentes.

Logo, porém, sua barriga estava meio cheia e ele se levantou para deixar o salão.

Murdoch e a avó o seguiram para fora, com o Lorde se inclinando para ter mais algumas palavras com ele.

— Se você ainda sobreviver a luta, quando encontrar Duncan, eu pediria que você não o faça parecer um idiota.

Duncan Murdoch não precisava de sua ajuda para realizar essa façanha. Cailean concordou com a cabeça, mas guardou sua opinião para si mesmo.

Nuvens de estanho rolavam pelo céu claro da manhã, pressagiando mau tempo. Uma quietude de espera se estabeleceu no campo de torneio e treinamento onde os homens esperavam, alguns afiando suas espadas. Nenhuma das lutas deveria ser mortal, mas aqueles eram mercenários, e se uma oportunidade de ganhar a vitória se apresentasse, eles a aproveitariam.

Cailean avançou, sem se intimidar com o metal cintilante e o frio gelado que correu o ar e o uivo macabro do vento girando em torno dele.

Ele avistou Cutty, a quem lhe foi informado que enfrentaria na manhã seguinte. Cailean suspeitou que Duncan ordenou ao mercenário implacável para acabar com Cailean quando ele estivesse mais cansado.

— Você está realmente indo em frente com isso? — Patrick perguntou, correndo para ficar ao lado dele.

— Sim, e agradeceria sua confiança em mim. Eu não pratico todos os dias desde que era um bebê?

— Sim, todos os dias antes de você ser apunhalado pelas costas! — Patrick argumentou. — Você não está pronto.

— Eu vou ficar bem. Não vou perder. Pratiquei com esses homens durante quatro meses e nunca perdi para nenhum deles.

— Sim, é por isso que eles estão tão ansiosos para chutar seu traseiro esta manhã. Todos eles têm algo a provar.

Cailean estava cansado de tentar convencê-lo.

— Você viu Temperance? — Ele a procurou entre os rostos reunidos para assistir, mas não a encontrou.

— Sim, mas ela não fala comigo. — Patrick respondeu.

Cailean precisava parar de pensar nela. Ele olhou para os homens reunidos ao redor, prontos para lutar. Nenhum deles estava distraído. Quando ele treinou com eles no passado, ele era um homem diferente, mais frio, mais implacável, menos misericordioso. Ele tinha que ser esse homem hoje se quisesse salvar Temperance.

Ele ouviu Edward Murdoch citar as regras. Não desferir um golpe fatal. Se um oponente não pudesse mais se defender, ele seria retirado campo de torneio e o próximo homem entraria.

Cailean entrou no campo de torneio, o cabo de sua grande claymore agarrado com as duas mãos. Com um movimento de seu pulso, a lâmina dançou e brilhou sob um raio de sol perdido.

Erik MacCormack se adiantou.

Cailean sorriu.

— Ele é um idiota teimoso. — Temperance disse em uma respiração superficial, observando Cailean de sua janela.

— Isto é minha culpa. — Marion mordeu o lábio inferior. — Eu sugeri que ele lutasse por você, mas não foi isso que eu quis dizer!

Temperance não culpava sua amiga. O que lutar contra dez homens tem a ver com ela? Nada. Este era quem Cailean era: um Cavaleiro Negro. Ele gostava de empunhar sua lâmina. Inferno, parecia ser tão natural para ele quanto respirar. Ele possuía um ar inimitável de confiança. Cada nuance sutil de movimento, até mesmo a leve curvatura de sua boca quando ele encontrava um enorme mercenário ruivo, falava de um homem à vontade com sua habilidade, certo de seu poder devastador. Na verdade, ela não deveria se preocupar com ele. Por que ela se preocuparia? Ela o odiava. Ela não se importava se ele estava ferido. Isso a pouparia do trabalho de matá-lo.

— Ele gosta disso, — disse ela mais para si mesma do que para Marion. — Ele tem sede de sangue.

— Você conhece o Sr. Grant melhor do que eu. — Disse Marion, — Mas ele não me parece um vingador sanguinário.

Temperance sorriu benignamente ao lembrar do rosto de Cailean.

— Não deixe aqueles olhos arregalados e sedutores e a boca em formato de arco perfeito enganá-la de que ele é inocente, Marion. — Temperance sabia do que estava falando. Ele a enganou. — É o tipo de beleza que tem desviado muitas.

O sorriso de Marion se suavizou. Temperance não gostou.

— Será que ele é um mestre do disfarce tão talentoso?

Era uma pergunta simples que Marion lhe fez, mas Temperance não sabia como responder. Poderia ser? Ela se lembrou de sua emoção quando ele lhe contou sobre Alison, e depois, novamente, quando ele contou sobre Sage. Essa emoção tinha sido fingida? As palavras que ele lhe sussurrou enquanto ela ria com ele foram vazias? Seus beijos apaixonados foram sem sentido?

Ela se voltou para a janela quando o ruivo bruto lançou a lâmina com força suficiente para empurrar Cailean para trás. Ela cobriu os olhos. Ele era um idiota! Mal se curou de duas febres que haviam esgotado suas forças!

Observando por um espaço entre seus dedos, ela o notou apoiando os pés no chão, pronto para mais.

Ela fez uma careta para a avó, parada no frio com Patrick. Por que nenhum dos dois o parou? Certamente ele teria ouvido seu primo... e a avó! Ora, ninguém a desafiava!

— Och, bom Deus! — Ela pensou que fosse desmaiar quando seu oponente lançou a lâmina bem alto por cima do ombro e então a baixou com força em direção ao ombro de Cailean.

Temperance ficou olhando, horrorizada por estar prestes a ver Cailean perder um braço. Ela não queria se importar. Ela não queria assistir mais um segundo, mas não conseguia desviar o olhar. Este era o homem que compartilhou as partes mais profundas de seu coração com ela, o homem que trouxe de volta sua alegria enquanto o ajudava a redescobrir a dele. O homem que conquistou seu coração e lhe deu esperança pelo tipo de amor que ela sempre desejou.

O homem que ajudou a tirar seu pai dela.

Ele bloqueou, segurando sua claymore de lado e deixando o metal absorver a maior parte do impacto, então respondeu com uma rajada de golpes, sua espada se movendo com incrível velocidade e poder.

Seu oponente tentou desviar, mas Cailean mudou de posição repentinamente e sua lâmina girou e dançou no ar antes de enviar a espada do ruivo através campo de torneio. Cailean deu um passo rápido para frente e segurou a ponta de sua lâmina contra a garganta do seu oponente. Ele disse algo que Temperance não conseguiu ouvir, então olhou para os outros e gritou:

— Próximo!

Temperance observou mais três homens virem contra Cailean. Ele saiu vitorioso de tudo, mas percebeu que ele estava ficando cansado. De sua janela, ela podia ver sangue em sua bochecha, e seu braço parecia estar ficando rígido. Ela não foi a única que percebeu. Dois de seus oponentes o atingiram no mesmo local várias vezes, tentando derrubá-lo. Os Cavaleiros Negros não se contiveram, nem Cailean. Ele lutou como se sua vida dependesse disso.

Observá-lo a hipnotizou, roubou seu fôlego. Ela não queria considerá-lo bonito. Ela não queria acreditar que ele estava fazendo isso por ela. Ela queria sair e chamá-lo de idiota na cara dele.

Ela decidiu fazer exatamente isso.

Marion agarrou as capas delas e a seguiu quando Temperance saiu do quarto.

Elas saíram no fim da tarde cinzenta do castelo, assim que a neve começou a cair. Seguindo o caminho na parte de trás da escada externa, elas seguiram para a borda oeste do campo de torneio, a uma curta distância de onde o resto dos homens estavam.

Fergus MacRae, um grande e corpulento brutamontes que parecia estar escondendo mais três homens sob sua capa de pele, entrou no campo de torneio e apontou sua lâmina para Cailean.

O coração de Temperance bateu freneticamente quando viu que os olhos de Cailean não estavam em seu oponente de aparência mortal, mas nela.

Seus olhares se encontraram através da extensão de neve e por um momento ninguém mais existiu, exceto os dois, nada mais importava além de seus corações, doloridos e partidos.

A espada de Fergus MacRae voou pelo ar, a poucos centímetros da cabeça de Cailean.

Temperance ofegou, trazendo Cailean de volta ao presente. Ele mudou seu peso instantaneamente e bloqueou uma série de golpes poderosos que vinham para ele em rápida sucessão.

— MacRae vai cortá-lo como aquele delicioso peru que comemos na noite passada! — Um dos homens gritou.

Temperance se virou para encará-lo, e então escondeu seu sorriso satisfeito quando Patrick o golpeou na nuca com o punho.

— Não tente meu temperamento, Cutty. — Patrick o avisou. — Você ainda precisa ver o lado mais difícil de mim.

De pé com Patrick, a avó deixou o seu lado e se arrastou até a neta.

— Eu achei que você não viria assistir.

— Eu tenho assistido da minha janela. Ele luta bem, mas parece cansado.

A avó balançou a cabeça.

— Ele está revivido agora que você está aqui, pomba.

Temperance o observou enquanto o sol começava sua lenta descida, lançando-o em um brilho prateado assustador. Seu cabelo caiu em torno de seu rosto bonito. Ele afastou as mechas úmidas com uma mão e agarrou o punho da espada com a outra.

Temperance se odiou pela oração silenciosa que fez por ele. Se odiava por se importar com o homem que mentiu para ela, que a deixou se apaixonar por ele sabendo o que tinha feito. Ela lutou contra seus sentimentos com mais força do que jamais lutou contra qualquer outra coisa. Ele assentiu e a vida de seu pai terminou. Como ela poderia perdoá-lo? Como ela poderia derramar outra lágrima por ele sem trair seu pai ainda mais?

Incapaz de desviar o olhar, ela observou enquanto ele se preparava para o segundo ataque de MacRae. Ele evitou o que teria sido um golpe esmagador e então desviou, fazendo sua espada cantar. MacRae avançou novamente e esmagou sua lâmina contra a de Cailean, fazendo voar faíscas.

Temperance queria gritar para que eles parassem. Cailean mal podia segurar sua arma contra o violento ataque de MacRae. Ele lutou com o que parecia sua última gota de força.

Localizando uma abertura, MacRae lançou a parte plana de sua lâmina com força por baixo, nas pernas de Cailean. Com a velocidade e agilidade de um gato, Cailean deu um pulo. Ele pousou em uma posição agachada e, antes que MacRae pudesse golpear novamente, estava de pé, segurando a ponta de sua espada brilhante contra a garganta de MacRae.

Aplausos calorosos se ergueram de pelo menos seis dos homens assistindo, o mais alto vindo de Patrick. Temperance se lembrou de respirar e se esqueceu de novo quando Cailean embainhou a espada e caminhou em sua direção.

 

Capítulo 26


Cada parte dele doía, mas Cailean só conseguia pensar em uma única coisa quando deixou o campo de torneio. Ele manteve os olhos em Temperance enquanto tentava cortar a multidão de homens e até mesmo algumas das moças de Maeve enxameando ao redor dele.

— Hurra! Bem feito! — Vieram os gritos, junto com tapinhas nas suas costas.

Cailean assentiu e abriu caminho, tentando alcançá-la. Ela ficou de lado, seus cabelos escuros polvilhados levemente de um pó branco, seus olhos safira brilhando no início do crepúsculo.

Quando ela se virou para sair, ele ergueu a mão como se para impedi-la. Ela o viu e continuou.

— Você ainda tem o resto de nós para enfrentar amanhã, Grant! — Alguém gritou quando Temperance passou por eles. Seus ombros estavam rígidos quando ela voltou para dentro.

— Então você deveria passar a noite treinando. — Gritou Cailean de volta, abrindo caminho para fora da multidão.

Um homem estava em seu caminho.

— Você acha que vai tirá-la de mim, mas está errado.

Cailean fixou seu olhar gelado em Duncan.

— Saia da minha frente antes que eu jogue você por cima do muro.

O filho do lorde ergueu os lábios em um sorriso torto.

— Meu pai me disse que você a ama. Você é um Cavaleiro Negro. Ela nunca retornará seu afeto. Você está perdendo seu tempo aqui.

Cailean mal ouviu. Em vez disso, ele estudou Duncan mais de perto. O bastardo estava bêbado? Seus olhos pareciam desfocados, um pouco vidrados. Suas palavras foram arrastadas um pouco. Não! O coração de Cailean afundou. Não, ela não poderia ter feito!

— Eu a terei, Grant! Vou tomá-la como minha esposa e então vou fud...

Cailean já tinha ouvido o suficiente. Agarrando com os punhos o colarinho de Duncan, ele o ergueu e o jogou para fora de seu caminho. O filho do lorde caiu esparramado a alguns metros de distância, de cara no chão.

Vindo em direção a eles, Patrick riu do mercenário caído e acenou para ele quando Duncan olhou para cima.

— Vá! — Patrick gritou a seu primo. — Vou dar assistência a este.

Cailean acenou com a cabeça e continuou para o castelo. Inferno, ele doía todo. Seu corpo não se recuperou totalmente da infecção que o atingiu, devastando-o com febres. Mas era seu coração que mais doía.

Ele tinha que encontrar Temperance e dizer... maldição, havia tanto que ele queria dizer a ela. Mas primeiro ele precisava saber se ela havia envenenado Duncan.

Ele a encontrou a caminho do grande salão.

— Temperance, — ele chamou. Quando ela se virou para o olhar, ele fez uma pausa. Ele a amava, mas havia muito mais. A avó lhe disse para mostrar a ela seu verdadeiro coração. Ele ao menos soubesse onde encontrá-lo?

Sim, ele pensou quando a viu e que seu coração estava com ela.

Quando ela começou a se afastar dele novamente, ele correu em sua direção e agarrou seu pulso.

— Você envenenou Duncan?

Ela não respondeu, mas tentou se libertar de suas garras.

— Me solte. — Ela avisou.

— Me escute. Se ele morrer, seu pai irá matá-la!

— Eu não me importo! — Ela atirou de volta para ele. — Isso não é sua preocupação.

As pessoas estavam começando a entrar no salão. O coração de Cailean disparou dentro dele. Ele tinha que dissuadi-la dessa loucura antes que fosse tarde demais.

Abaixando a voz, ele a puxou para mais perto.

— Não há como voltar disso, Temperance. Depois de tirar a vida de um homem, você será transformada para sempre. Isso não é quem você é, moça.

Seus olhos se cravaram nele.

— Você não sabe quem eu sou ou o que sou capaz de fazer. Eu não sou boba. Eu só coloquei um pouco de beladona na bebida de Duncan. Ele vai morrer lentamente. Seu pai não suspeitará de nenhum jogo sujo.

Ele fechou os olhos e tentou pensar com clareza. Querido Deus, ela envenenou o filho do lorde e não tinha intenção de parar.

— E se ele souber? — Ele perguntou a ela baixinho, rapidamente, enquanto o salão se enchia de vozes e risos. — E se ele descobrir o que você fez e se vingar do povo de Linavar? E se ele matar a avó... William...

O horror em seus olhos o convenceu a continuar.

— Por favor, pare com essa loucura antes que seja tarde demais, Temperance.

— E quanto a você? — Ela perguntou acidamente, embora quando seus olhos caíram para o lábio inchado, seu olhar se suavizou. — Você vai continuar com essa tolice de lutar com mais Cavaleiros Negros amanhã?

— A fim de salvá-la de se casar com Duncan, sim, eu vou.

— Eu não preciso de você para me salvar. Eu posso me salvar.

Alguém chamou seu nome e ela se afastou dele e saiu correndo.

Droga! Cailean passou a palma da mão pelo rosto. Só havia uma coisa a fazer. Ele teria que salvar Duncan antes que Temperance o matasse.

Não demorou muito para encontrar Duncan naquela noite. O bastardo estava em seus aposentos particulares, em sua cama com uma das garotas de Maeve.

Cailean não se deteve ao ver os dois no auge da paixão. Ele os interrompeu com um grito vindo da porta, assustando a moça, que saltou do corpo de Duncan e se enrolou em seu lençol.

— A luta amanhã está cancelada, Murdoch. Encontre-me no campo de torneio agora. — Cailean exigiu em um tom frio. — Ou voltarei aqui e matarei você em sua cama.

Ele os deixou parecendo igualmente apavorados. Ele não parou quando ouviu Murdoch gritar para ele voltar. Não havia como voltar atrás.

Ele encontrou seu primo no caminho para as portas do castelo.

— Para onde você está indo a esta hora? — Patrick perguntou a ele, abandonando uma bela loira chamada Bess... ou Beth. Cailean se odiava por não saber.

— Vou acabar com os sentidos de Duncan Murdoch. — Disse Cailean, ignorando o suspiro da moça.

Ele esperou um momento enquanto Patrick dizia a moça para ir para o quarto dela e não sair até de manhã.

— Arrume suas coisas, — acrescentou Cailean, olhando para ela. — Patrick vai levá-la e quem mais quiser ir para Skye quando tudo isso acabar.

— Ele vai? — A moça perguntou, movendo seu olhar de adoração para seu primo. — Você vai?

Em vez de responder a ela, Patrick olhou para Cailean e a mandou embora.

— O que diabos você quer dizer com isso que falou a ela? Eu quero vê-las saíram de Lyon's Ridge. Nunca disse uma palavra sobre levá-las para Camlochlin. Cailean, maldito seja, ela vai pensar que me importo com ela!

— Não tenho dúvidas. — Cailean respondeu friamente, virando-se para continuar em direção às portas. — De que você iria para a cama com ela esta noite. Cuidar dela já deve ser um bom motivo.

— Bem, não é. — Seu primo argumentou, seguindo-o. — Não pode levar damas da noite para Camlochlin. Seremos atirados para fora pelos nossos traseiros.

— Eu não me importo.

— Eu me importo!

Cailean finalmente parou e se voltou contra ele.

— Eu pensei que você queria ajudá-las.

— Sim, mas podemos ajudá-las levando-as para outro lugar.

— Você realmente não possui nenhuma honra, não é, Pat. — Não foi uma pergunta e foi expressa com desprezo.

Isso não pareceu incomodar muito Patrick. Ele se apressou e deu um passo na frente de Cailean, bloqueando seu caminho até a porta.

— Talvez você esteja certo, primo, mas possuo uma mente racional, o que é mais do que posso dizer para você atualmente. Você vai fazer com que os Cavaleiros Negros queiram seu sangue se matar seu líder. Eles vão nos seguir até Camlochlin...

— Não pretendo matá-lo, embora não seja difícil. Pretendo salvar a vida dele.

— Do que diabos você está falando? — Patrick perguntou a ele. — Um dos rapazes bateu em sua cabeça com muita força?

Cailean parou e se virou para ele.

— Temperance, — Ele parou para olhar ao redor dos corredores e se certificar de que ninguém estava presente para ouvi-lo. Ele baixou a voz para um sussurro. — Ela o envenenou com beladona. Ela planeja continuar a drogá-lo com pequenas doses até que ele morra. Eu não sei o que seu pai fará se ela tiver sucesso. Não vou esperar para encontrar uma saída.

Patrick assentiu, entendendo agora.

— O que você planeja fazer?

— Vou machucá-lo o suficiente para colocá-lo em um leito de doente para que os sintomas que ele já começa a sentir sejam confundidos com os efeitos de uma boa surra. Preciso tirá-la daqui rapidamente, porém, antes que ela termine o que começou.

— Como você vai explicar a Lorde Murdoch por que levou seu filho para o campo de torneio esta noite em vez de amanhã?

Cailean encolheu os ombros.

— Vou descobrir isso amanhã.

Patrick balançou a cabeça e o seguiu para fora no escuro.

Eles esperaram em silêncio, iluminando o campo de torneio com tochas. Cailean não precisava particularmente ver para lutar. Ele havia treinado no escuro antes e se saído bem, melhor do que a maioria de seus primos, na verdade. Não demoraria muito.

— Patrick! — Duncan apareceu um pouco depois com Cutty ao seu lado. — Espero que você esteja aqui para colocar um pouco de bom senso com seu primo.

Patrick ergueu as mãos.

— Eu tentei.

O som da espada de Cailean deixando sua bainha cantou no ar e cortou a respiração dos presentes. Com um encolher de ombros, sua capa caiu no chão.

— Murdoch, — disse ele em voz baixa e mortal, — pare de tentar adiar o inevitável e prepare sua lâmina.

— Nós devemos fazer isso amanhã, Grant. — Murdoch apontou nervosamente.

Ele piscou rapidamente e Cailean cerrou os dentes. Com quanto beladona Temperance o drogou?

— Você tem medo de enfrentar Dougal MacCormack e Cutty primeiro? — Duncan riu e perdeu a espada que Cutty atirou para ele.

Inferno, Cailean se perguntou se Duncan seria capaz de lutar contra ele.

— A quer para você, — o bastardo esquelético disse enquanto pegava a espada do chão. — Mas eu vou tê-la. Você vai embora e ela será minha. Você não pode parar...

Ele não viu a lâmina de Cailean, embora ela brilhasse diante dele à luz da tocha. Ele foi capaz de bloquear... mas mal. Outro golpe o atingiu no braço. Foi mais uma fatia do que um golpe cortante. O sangue fluiu e Murdoch gritou, deixando cair sua lâmina. Ele caiu e Cutty correu para ajudá-lo.

— Me deixe em paz! — Duncan bateu com a mão. — Eu não preciso da sua ajuda! — Ele olhou para Cailean por um momento e então atacou.

Cailean sorriu e jogou a lâmina na grama ao lado da de Duncan. le não poderia matar o bastardo sem possivelmente começar uma guerra. Espancá-lo até deixá-lo sem sentido foi o que ele veio fazer.

— Sim, vamos lá, — ele rosnou, empurrando as mangas sobre os cotovelos. — Vamos em frente, então. — Ele lançou e seu punho atingiu a mandíbula de Murdoch.

Surpreendentemente Murdoch lutou, enviando um punho esmagador contra o rosto de Cailean.


Sim, agora era melhor assim. Cailean passou o pulso pelo nariz, limpando o sangue, e então avançou como um homem sem misericórdia. Vazio de tudo. Ele esperou para fazer isso por meses. Por tudo. Por Seth Menzie. Por Temperance e avó.

Ele tinha que admitir, entretanto, que não era exatamente uma luta justa. Os movimentos de Duncan eram lentos. Poder-se-ia culpar a beladona, mas Cailean havia praticado com Duncan no passado e não tinha sido melhor. O pai de Duncan sabia disso, e quando Cailean acabasse com ele esta noite, Duncan não seria mais capaz de negar esse fato.

Duas vezes Duncan lançou o punho e duas vezes Cailean evitou ser atingido. Patrick riu da linha lateral enquanto Cutty gritava os movimentos que Duncan deveria fazer.

Duncan não ouviu e foi atingido por uma enxurrada de socos que o empurrou para trás. Cailean pensou ter visto um dente voar para a direita. Um gancho de direita na mandíbula espirrou sangue no rosto de Cailean.

— Cailean! — Patrick gritou. — Ele tem uma adaga!

Sim, Cailean viu a pequena lâmina brilhar à luz do fogo quando Duncan a puxou de sua bota. Ele girou, mirando no rosto de Cailean, errou e acertou o peito de Cailean.

Bastardo, Cailean pensou quando sentiu a lâmina cortar seu plaid e a camisa por baixo. A ferida não era profunda, apenas um arranhão, mas acendeu um novo fogo em Cailean para acabar com Duncan. Um gancho de direita no queixo e outra combinação nas entranhas o deixaram de joelhos.

Cailean ergueu o punho mais uma vez e o mandou para a têmpora de Duncan.

Cutty saltou para frente enquanto seu amigo desabava aos pés de Cailean. Ele atingiu Cailean com um punho duro no queixo que o fez cambalear em seus pés. Mas ele não iria cair tão facilmente. Um chute estrondoso enviou Cutty cambaleando para trás. Demorou menos de um instante para o bastardo retornar. Cailean o pegou com uma esquerda cruzada e foi rebatido com uma direita, ameaçador.

Isso tinha que acabar agora. Cailean ainda estava cansado da competição do dia. Ele não queria ficar descuidado e perder. Lembrar-se do que Cutty tinha feito com Seth Menzie deu a ele a onda de raiva com que precisava terminar.

Seu próximo golpe quase deslocou a mandíbula do mercenário.

Assistindo-os, Patrick bocejou.

 


Capítulo 27


Temperance abriu os olhos com o brilho do sol de inverno iluminando seu quarto e Marion sentada ao lado de sua cama, torcendo as mãos nas saias.

— O que foi? — Ela se sentou, seu coração batendo tão forte contra o peito que pensou que deveria se deitar antes de desmaiar. Era Cailean? A avó? Patrick?

— Marion? — Ela estendeu a mão, tentando oferecer a Marion algum tipo de apoio. A pobre moça estava tão branca quanto a lã mais pura da avó. — Aconteceu alguma coisa? Diga-me por favor. É Cailean?

— É Duncan, — a amada de Will disse a ela, tentando tirar a saia do aperto da mão de Temperance. — Cailean o derrotou na última véspera no campo de torneio. Severamente. Duncan teve um nariz quebrado, duas costelas quebradas e perdeu um dente. Seu olho também parece muito ruim. Temo que a mandíbula esteja quebrada. Cutty disse a Lorde Murdoch que nunca viu um homem lutar como Cailean. Ele disse que era como se Cailean estivesse possuído pelo demônio. Ele disse que enquanto Duncan jazia sangrando e quebrado no chão, Cailean foi atrás dele e quase quebrou a mandíbula de Cutty.

O rosto de Temperance perdeu toda a cor. O que diabos Cailean pensava que estava fazendo? Ele a avisou para não machucar o filho do lorde e então quebrou os ossos de Duncan no campo de torneio antes do desafio deste dia. Por quê?

— O lorde está furioso, — continuou Marion, — mas, estranhamente, está mais zangado com o filho. Eu o ouvi gritar com Duncan e que seu filho passava muito tempo no cio e pouco tempo praticando.

Och, graças a Deus ele não ordenou a morte de Cailean, Temperance se consolou. Ela deixou a cama no instante em que suas pernas se sentiram fortes o suficiente para mantê-la de pé.

Idiota! Por que ele se arriscaria tanto quando ela tinha o veneno?

— Oh, mas há mais, Temp. — Marion disse a ela em uma voz trêmula, segurando as lágrimas. — Edward ainda quer que Cailean seja punido por lutar contra seu filho na calada da noite.

— O quê? Qual será o seu castigo? — Temperance perguntou com um suspiro fraco.

— Você deve cuidar do filho dele.

Temperance pegou seu vestido e soltou um suspiro de alívio por Lorde Murdoch não ter enforcado Cailean. Ela não deveria se importar, mas se importava. Ela não queria que Cailean morresse por causa dela, mas um instante depois seu sangue ferveu.

— Como ele está punindo Cailean me fazendo cuidar de seu filho? — Ela se sentiu mal. Ela não queria cuidar dele! — Eu não vou fazer isso!

— Oh, mas você deve. — Marion insistiu. — Edward mandou.

Temperance não se importava com o que o lorde havia pedido. Maldito Cailean por fazer isso. Ela esfregou a cabeça. Ela queria gritar. Ela pretendia matar Duncan silenciosamente e agora esperava-se que ela o trouxesse de volta à saúde!

— Edward perguntou a Cailean por que ele fez isso. — Marion continuou, observando Temperance pegar seu vestido e colocá-lo. — Cailean disse a ele que descobriu quem atirou em Patrick no caminho de volta de Kenmore naquele dia fatídico. Ele disse que foi Duncan.

Temperance pensou sobre isso enquanto vestia o vestido. Fazia sentido. Duncan era inteligente o suficiente para... Ela parou de pensar quando Marion começou a soluçar cobrindo o rosto com suas mãos.

— Há mais, então? — Temperance foi até a cadeira da amiga e se ajoelhou ao lado dela. — O que você não está me dizendo?

— Eu não acho que foi Duncan. Acho que foi Will quem começou tudo isso.

— Will? — Temperance ecoou, sem entender. O que diabo William tem a ver com tudo isso?

— Ele sempre me disse que se os Cavaleiros Negros me machucassem, ele atiraria com sua flecha em seus corações. Eu... eu acho que foi Will quem atirou em Patrick. Acho que ele atirou nele. Eu estava aqui naquele dia e Duncan também. Ele não saiu do castelo. Ele estava aqui, Temperance. — Marion chorou, seus lindos olhos verdes brilhando com lágrimas. — Eu sei que seu pai nunca teria atirado em qualquer um dos homens de Murdoch. As consequências seriam muito grandes e...

— Meu pai estava comigo, — Temperance disse em um sussurro baixo e vazio. William. Ela se lembrou de que ninguém o tinha visto naquele dia. Ele voltou mais tarde para a celebração. Ele não disse a onde tinha estado. Era possível que ele...? Ele sabia que seu pai tinha sido morto porque um dos homens de Duncan havia sido flechado. Ele sabia e nunca disse uma palavra.

Não. Ela balançou a cabeça, mas as lágrimas já estavam se formando na borda de seus olhos. Como isso pode estar acontecendo? Como ela poderia ter sido enganada pelos dois homens que amava?

— Oh, eu não deveria ter te contado! — Marion chorou ainda mais ao ver as lágrimas de Temperance. — Talvez eu esteja errada! Mas... mas ele me ama e às vezes é precipitado.

Sim, ele era.

— Por que ele não me contou? — Ela não esperava uma resposta de Marion, e seu amigo não tinha resposta para lhe dar.

Temperance enxugou os olhos. Ela estava bem e cansada de desculpas. Seu pai estava morto por causa de William e Cailean. Ela odiava todos eles. Ela riu, mas o som era vazio de alegria e cheio apenas de raiva.

— Oh, Temperance, o que você vai fazer? — Marion saltou da cadeira quando Temperance se dirigiu para a porta.

— Vou cuidar de Duncan e drogá-lo com veneno lentamente. Ele e os outros, e então eu vou pegar minha avó e tirá-la de Linavar.

Ela não esperou para ouvir a opinião de Marion sobre o assunto, mas agarrou seu sachê de ervas e saiu do quarto, o coração batendo forte e os dedos cerrados ao lado do corpo.

Ela não choraria. Ela acabaria com tudo isso. Ela também nunca se permitiria ser enganada novamente por qualquer homem!

Ela entrou no quarto de Duncan Murdoch alguns momentos depois com um sorriso no rosto e uma pequena bolsa de ervas mortais em sua mão.

Não deixou seu sorriso desaparecer quando ele exigiu saber onde ela estivera durante toda a manhã.

— Estou aqui agora, Duncan. — Ela cantou, entrando no quarto e indo para seu leito de doente.

Ela deu uma olhada rápida nele.

— Meu Deus, mas você está assustadoramente mal. O que aconteceu?

Ele a olhou com um olho. O outro olho estava fechado. A carne ao redor de ambos os olhos era roxa e um pouco azul, provavelmente devido ao nariz quebrado. A mesma cor feia manchava dois lugares em sua mandíbula. Havia dois ou três cortes em seu ombro e antebraço, causados, ela supôs, pela espada de Cailean. Após um rápido exame, ela descobriu que Marion estava certo: suas costelas também estavam quebradas.

Uma onda de orgulho e satisfação a percorreu por Cailean ter feito isso com ele. Ela fez o possível para não sorrir.

— Eu tive um encontro com um demônio. — Ele disse a ela. — Cailean Grant.

— O que você fez para que ele te batesse tão impiedosamente?

Ele encolheu os ombros um tanto delicados e então fez uma careta com a dor de se mover.

— Acho que tem algo a ver com seu pai. Ele não entende o que significa estar em uma posição de poder e ter um homem como Seth Menzie desafiando todas as suas ordens.

Temperance encontrou forças para não socá-lo no nariz quebrado.

— Meu pai, — ela disse com mais calma do que sentia, — não desafiou você. Mas não entendo por que o Sr. Grant brigaria com você por isso. Foi sua exigência de vingança que trouxe os Cavaleiros Negros para Linavar, não foi?

— Foi, de fato. — Ele verificou. — Mas depois que foi feito, ele ficou com raiva. Ele não achava que seu pai foi quem atirou em seu primo...

— Ele não estava errado.

Duncan ignorou sua interrupção.

— Ele prometeu lutar comigo e na noite passada acabou nisso.

Então Cailean ficou zangado porque Duncan mandou matar seu pai. Ela pensaria sobre o que isso significava mais tarde.

— Ele gosta de você, Temperance.

— Não seja idiota, Duncan.

Ele sorriu para ela, embora fosse mais como um rosnado horrível que ela queria riscar de seu rosto.

— E você se preocupa com ele, — ele falou lentamente. — Um Cavaleiro Negro. Você trai seu pai.

Ela se sentiu mal. Ele estava certo e ela se odiava por isso.

— Eu nunca poderia gostar de um Cavaleiro Negro.

— Você poderia se não soubesse que ele é um. — Ele riu, mas só por um momento antes dele ficar pálido com a dor nas costelas. — Você não sabia, não é? Ele nunca te contou.

— Eu não me importo com ele, Duncan. Espero que ele apodreça no inferno com você ao lado dele. Mas me diga antes que eu veja suas feridas, por que ele atacou Cutty depois de fazer isso com você? — Ela tinha que saber a verdade, e Duncan parecia estar gostando de contar a ela. — Foi Cutty quem cortou a garganta do meu pai?

— Você é uma garotinha perceptiva. — Ele sorriu novamente. — Aquele gosta de seu trabalho.

Temperance iria gostar do dela também.

Ela o deixou falar, embora ele não dissesse mais nada sobre seu pai ou aquela noite fatídica. Ele não estava arrependido. Na verdade, ele teve prazer em se livrar de seu pai. Ele pagaria por isso. Ela teria certeza disso. Ela mataria seu pai também, e Linavar finalmente estaria livre dos tiranos Murdochs.

Ela não o ouviu enquanto enrolava as bandagens em volta da cintura dele, um pouco mais apertado do que o necessário.

— É difícil respirar. — Queixou-se.

Bom. Ela esperava que ele sufocasse antes dela sair do quarto.

Prestando pouca atenção a ele, ela aplicou pomada em seus olhos e enfaixou também. Quando ela terminou, ela preparou para ele um gole de suas ervas, não muito. Ela queria que ele morresse lentamente.

— Beba. — Ela comandou. — Isso vai aliviar um pouco a sua dor.

— É veneno, minha querida? — Ele perguntou, olhando maliciosamente para ela.

Ela revirou os olhos e tomou um gole da bebida para provar que não era. Uma pequena quantidade não a machucaria.

Ela deu a ele um aceno estoico quando ele aceitou sua oferta. Ele bebeu e se acomodou mais na cama.

— Voltarei em uma hora para ver como você está.

Ele acenou com a cabeça e apertou a mão dela. Ela sorriu ao sair do quarto.

 

Capítulo 28


Cailean entrou no grande salão e viu Temperance sentada em uma mesa com Marion, Patrick, Cutty e John Gunns. Todos estavam bebendo. Seu sangue gelou.

O que diabos ela estava fazendo com Cutty? Ela sabia sobre ele, então? Certamente Patrick não a teria deixado envenenar a bebida do mercenário. E quanto a Duncan? Ele já estava morto? Deveria ir ver como ele estava, mas realmente não se importava se o bastardo estava com frio em sua cama. Nem que o lorde culpasse Cailean se ele estava. Talvez ele responderia se fosse acusado de que o bastardo delicado não foi capaz de sobreviver a uma surra. O Lorde deveria estar grato por Cailean ter ajudado a livrar Lyon's Ridge dele.

Mas matar os outros Cavaleiros Negros certamente faria com que Temperance fosse morta.

Ele caminhou em direção à mesa, parando quando Temperance o viu e se levantou da cadeira. Ele não a impediu ou disse uma palavra quando ela deixou a mesa com Marion logo atrás dela.

— Devo me preparar para bloquear outro golpe? — Cutty perguntou a ele enquanto Cailean se sentava à mesa.

— Só se você vier até mim de novo pelo bem de Murdoch. — Cailean prometeu, então olhou para Temperance e relaxou um pouco quando ela se sentou à mesa com algumas das garotas de Maeve. Ele desviou o olhar no momento em que ela sorria para a madame. Ele sentia falta do jeito que ela sorria para ele. Ele iria ver de novo?

— Eu acho que você quase quebrou meu queixo, seu bastardo.

— Você viverá. — Respondeu Cailean com benevolência. Era mais do que ele poderia dizer de Seth Menzie. Ignorando o sorriso com covinhas de seu primo ao lado dele, ele levantou a mão para um servo e pediu uma caneca de cerveja.

— Ela é uma garota interessante.

O olhar de Cailean mudou para Gunns.

— Quem?

— Senhorita Menzie, — John respondeu. — Ela tem todos os motivos para nos odiar, mas apenas se sentou aqui e compartilhou algumas histórias engraçadas sobre sua avó conosco.

— Ela fez isso? — Cailean perguntou para ele. — Vocês todos riram de quem Cutty matou?

— Inferno, — Cutty murmurou. — Você ainda não está falando sobre ele, está?

Cailean sorriu, embora fosse difícil para ele evitar terminar o que havia começado na noite anterior no campo de torneio.

— Destruir famílias me irrita, Cutty. O que você está bebendo?

— Ale. — O mercenário disse a ele.

Cailean olhou para a caneca na grande mão de Cutty. Temperance o serviu? Ele olhou para Patrick, mas nenhuma ajuda veio.

A serva voltou com uma caneca para ele e deu uma piscadela quando encontrou o olhar dela. Ele ofereceu a ela o mais breve dos sorrisos, mas foi o suficiente para fazê-la cair em seu colo.

— Posso pegar em outra coisa? — Ela ronronou, estabelecendo-se.

Seus olhos encontraram Temperance novamente a tempo de vê-la observando, os lábios apertados de raiva.

Ela estava com ciúmes? Talvez não fosse tarde demais. Isso lhe deu o menor vestígio de esperança e fez seu coração se sentir mais leve do que há dias.

— Nae. — Ele deu um leve empurrão na serva. Ela caiu nos braços de Patrick à espera e riu quando os lábios do belo Highlander caíram em sua garganta.

Sem lhes dar atenção, Cailean levou a caneca aos lábios, então parou e olhou para Temperance mais uma vez. Toda a cerveja estava envenenada? Ela disse que queria matar todos os Cavaleiros Negros. Ela tentaria matá-lo também?

Ele engoliu a bebida, mantendo seu olhar fixo no dela enquanto a cerveja descia. Se ele estivesse morto pela manhã, merecia.

Inferno, ele era um tolo miserável. Como ele pôde se permitir destruí-la? Se vivesse cem anos, nunca esqueceria as palavras dela para ele. Ele queria se levantar, jogar a cadeira para fora do caminho e correr para ela. Ele queria pegá-la em seus braços e beijá-la apenas mais uma vez e então entregar-lhe sua adaga e ordenar que ela enfiasse em seu coração. Se isso trouxesse seu pai de volta dos mortos, ele o faria em um instante.

Suas pernas doíam para ir até ela. Quando ela se levantou da cadeira e saiu do salão, ele não conseguiu sentar-se nem mais um instante.

— Vou dar um passeio. — Disse aos outros, deixando também a cadeira.

Ele a seguiu, não muito perto, virando os cantos um ou dois momentos atrás dela. Ela estava indo para o quarto de Duncan. Ele a observou, desejando tomá-la nos braços e prometer sua vida a ela. Quando ela desapareceu no quarto, ele esperou do lado de fora da porta. Ele odiava que ela estivesse cuidando do filho do lorde. Por isso, também ele tinha apenas a si mesmo para culpar.

Ele havia transformado Temperance no que ele tinha sido? Ela estava dando veneno para Duncan lá dentro? Inferno, ela estava indo para matá-lo e a todos. Ele encostou o ouvido na madeira fria, mas não ouviu nada. Se ela gritasse, ele chutaria a porta e a salvaria e para o inferno com as consequências. Ele pensou em fazer isso de qualquer maneira. Ele poderia agarrá-la e levá-la para Camlochlin antes que ela fizesse qualquer coisa de que se arrependesse. Ela estaria segura na ilha enevoada de Skye. Ele lutaria para ganhar seu coração, para consertar os pedaços que ele quebrou e prometer nunca machucá-la novamente.

Duas vezes ele se escondeu nas sombras quando ouviu passos no corredor. Ele sabia que estava arriscando muito, constantemente procurando por ela, mas agora não dava a mínima.

Seus dedos coçaram para escrever as palavras de seu amor, para pintá-la, tocá-la, rir com ela novamente. Ela tinha todo o direito de odiá-lo, mas pensar nisso o fez querer cair de joelhos e arrancar os cabelos.

Quando a porta finalmente se abriu meia hora depois, ele estava com as costas pressionadas na parede, em frente a ela quando, Temp saiu para o corredor.

Ele sorriu. Ele não pôde evitar, ela era tudo que sempre desejou e não podia deixá-la ir.

— Ele ainda vive? — Ele perguntou a ela o mais levemente que conseguiu.

— Por enquanto. — Ela enxugou as mãos em um pequeno pano que carregava, mas em vez de fugir dele, ela olhou para ele. Algo em seu olhar suavizou por apenas um momento, renovando sua esperança mais uma vez.

— Ele me disse que você estava com raiva dele naquela noite.

— Eu estava. — Disse ele em uma respiração suspensa.

— Você não queria que ele matasse meu pai.

Ele balançou sua cabeça.

— Eu não queria isso, Temperance.

— Foi você quem gritou para Cutty esperar.

Então ela soube que tinha sido Cutty.

— Sim, e quando seu pai caiu, seus gritos me arrancaram da escuridão.

— E me mergulhou nela em vez disso.

Inferno, ele nunca derramou uma lágrima antes. Ele conteve suas emoções quando Sage morreu, e novamente mais tarde, quando perdeu Alison. Mas agora sua garganta queimava e sua visão embaçava.

O que ele poderia dizer? Ele poderia acertar as coisas entre eles novamente?

— Agora está claro para mim por que sempre se calou quando falava de meu pai para você. Como você olhava para mim todos esses momentos que passamos juntos? Como você pôde ter me beijado, me tocado?

Ele tinha sido capaz porque a amava. Mas não foi o suficiente.

— Eu chamo você de idiota, — ela continuou, — mas ninguém foi mais idiota do que eu.

— Não, moça, — ele disse em uma voz baixa e desanimada, levantando os olhos.

— Como você pode? — Ela perguntou a ele, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas.

Ele se aproximou, pairando sobre ela, seu olhar escuro e angustiado, sua voz profunda e desesperada.

— Och, minha querida Temperance, gostaria que soubesse que reivindico total responsabilidade por tirá-lo de você. Não há como dizer como lamento minhas decisões naquela noite. Não há palavras suficientes para dizer o quanto estou arrependido. Mas, por favor, moça, permita-me tentar.

Ela balançou a cabeça.

— Não, eu...

— Os homens fazem coisas monstruosas por causa do medo, — disse ele rapidamente. Ele teve que lutar por ela. Ele teve que abrir seu coração para ela. — Eu sou um deles. Eu tinha esquecido quem eu era. Minha vida se tornou um esforço sem sentido para preencher um vazio que eu havia criado. Nada que toquei era escuro o suficiente. Deixei tudo o que amava e permiti que um monstro tomasse conta de mim. Eu não o reconheci até que o vi morrer em seus braços. Não digo isso para absolvição. Tenho plena consciência de que mereço seu desprezo. Eu daria a minha vida para trazê-lo de volta para você. Por você eu desistiria de meu último suspiro.

Ele nunca pensou que pudesse se sentir um monstro pior do que já se sentia, mas quando ela começou a chorar e cobriu o rosto com as mãos, soube que estava errado. Ele não se importava se ela o apunhalasse ou o envenenasse mais tarde por isso, ele tinha que abraçá-la.

— Minha querida e amada, — ele sussurrou perto de seu ouvido quando a tomou em seus braços. — Eu pensei que estava além do reparo, mas você me encontrou, moça. Você me recompôs, me consertando com seus sorrisos, seu fogo, e egoisticamente eu a deixei fazer isso. Em vez de dizer a verdade, peguei o caminho do covarde, porque cada momento que passei com você era como se renascesse, e eu tinha medo de morrer de novo. Perdoe-me. Perdoe-me.

Ele a abraçou enquanto ela soluçava em sua camisa e ele chorava com ela.

— Farei qualquer coisa... qualquer coisa para reconquistá-la. Por favor, diga-me que tenho uma chance.

Finalmente ela fungou e se afastou um pouco para olhar para ele.

— Por que você bateu em Duncan?

— Eu não poderia deixá-lo morrer por suas mãos.

— Então, em vez disso, você o deixaria morrer pela sua?

— Sim, moça. Eu te amo. Amo quem você é. Amo a alegria que vi em seus olhos, a maneira como ama sua família, a maneira como acredito que me amou. Eu quero tudo de volta. Ande comigo, — ele implorou, então respirou novamente quando ela assentiu.

Ela caminhou ao lado dele e seu coração se partiu com o pequeno tamanho dela tão perto. Eles caminharam em silêncio em direção ao quarto dela e, para sua surpresa e entusiasmo, ela o convidou a entrar.

— Devo me preocupar com minha vida? — Ele tentou soar despreocupado ao entrar.

— Eu vi o que você fez com cinco homens e Duncan. Você não tem nada a temer de mim.

Oh, mas ela estava errada. Ela, e somente ela, tinha o poder de matá-lo.

— Você poderia me envenenar, moça. — Ele circulou pelo quarto e foi até a janela. Olhando para fora, ele podia ver o minúsculo povoado à distância abaixo. A necessidade de proteger a todos nele tomou conta dele. Ele queria voltar... com ela.

— Eu poderia, — ela concordou, sentando-se na beira da cama. — Mas então eu não obteria respostas de você.

Ele se virou para olhar para ela.

— O que você quer saber? Pergunte-me o que quiser e eu direi a verdade.

— Cutty matou meu pai, sim?

— Sim. — Ele sabia que seria difícil, não, quase impossível confessar para ela, mas estava acontecendo agora e não estava preparado para a dor em seu olhar quando Temperance desviou o olhar, lembrando.

— Por que você voltou a Linavar depois?

Ela olhou para ele, seus olhos nublados e vazios. Ele foi até ela e se ajoelhou aos pés dela.

— Eu queria seu perdão e da avó. Eu assisti você enterrá-lo e sabia que nunca conseguiria.

Ela piscou e uma lágrima caiu em sua bochecha. Ele ansiava por enxugá-la. Para limpar tudo.

— Você estava lá naquela manhã?

— Sim, e naquela primeira noite também. Eu ouvi você falando com William. Eu o ouvi dizer para você ser forte e eu sabia... eu entendia o quão difícil é isso e como você se sentia sozinha.

— Sim, — ela sussurrou suavemente, seus olhos grandes e luminosos se enchendo de lágrimas novamente. — Eu não queria ser forte. — Ela enxugou os olhos, mas mais lágrimas vieram.

Ele entenderia. Ele sabia o que era ter o coração e a alma arrancados enquanto as pessoas ao seu redor viviam, rindo, sem entender verdadeiramente.

Ele estendeu a mão para afastar uma mecha de seu rosto. Mesmo se ela o rejeitasse ou o que fosse. Ele desejava confortá-la.

— Não precisa ser forte, moça. — Disse ele com ternura. — Você sofreu uma perda tremenda.

Ela não afastou a mão dele, mas levantou as próprias mãos, enterrou o rosto nelas e deixou que as lágrimas caíssem livremente.

Instantaneamente, Cailean a puxou para seus braços, movendo-se para se sentar ao lado dela na cama. Com cada movimento de seus ombros delicados enquanto ela puxava o ar, apenas para expelir novamente em um soluço angustiado, ele ansiava por confortá-la mais. Ele a deixou chorar, como ela precisava, abraçando-a, sussurrando ternas promessas de que tudo ficaria bem. Quando ela finalmente olhou para ele, o rosto molhado de lágrimas, ele sorriu suavemente e alisou seu cabelo.

— Eu te amo. Eu te amo e isso me assusta como o inferno. Eu quero viver minha vida com você. Eu quero ver você sorrir, ouvir sua risada, ouvi-la me dizer que me ama. Por favor, me perdoe, moça. Eu ficarei louco se você não perdoar.

Em vez de responder, ela ergueu os braços e os envolveu no seu pescoço. Sua boca estava tão perto, seu hálito quente em seu queixo. Seu corpo tremia contra ele, tentando-o a matar por ela, a morrer por ela.

Inferno, ele estava perdido.

Abaixando o rosto para o dela, ele beijou sua boca suave e puxou-a para mais perto dele. Ela respondeu com uma ansiedade que fez seu membro ficar duro. Ela era mais do que ele desejava, mais do que esperava, ou alguma vez mereceu. Ele a queria, cada parte dela, e não podia esperar mais.

Ele aprofundou o beijo e gemeu contra sua boca. Ela respondeu com igual fervor, passando as mãos sobre o pelo ao longo de sua mandíbula.

Como ela o perdoou tão facilmente? Ele não se importava. Seu coração saltou, seu sangue ferveu.

Ele a puxou para a cama e eles rasgaram as roupas um do outro Seu plaid e calça voaram pelo quarto, seguidos por suas botas, até que ele se deitou nu contra ela. Ele puxou seu vestido mais para cima até que eles tiveram que separar os lábios para levantar o vestido sobre sua cabeça, então ele baixou a boca para a dela novamente, inebriante de desejo por ela. Temperance continuou a chorar, mas agora, enquanto ele beijava suas lágrimas, ela sorriu e sussurrou as palavras que capturaram seu coração e o reclamaram para sempre.

— Eu te amo, Cailean. Eu perdoo você.

 


Capítulo 29


Temperance olhava de perto nos olhos de Cailean, observando-os escurecer de desejo, enquanto ele beijava sua boca, sua bochecha, sua orelha, seu doce hálito agitando os cachos de seu cabelo.

Suas lágrimas finalmente a purificaram da terrível tristeza de perder seu pai. Ela se sentia como se estivesse tendo o sonho mais maravilhoso. Ela não estava mais com raiva de Cailean. Oh, como ela poderia estar? Depois de sua declaração, ela o entendeu um pouco melhor. Ele a amava. Ele sofreu por suas ações, tanto que não foi capaz de dizer a verdade a ela. Sim, foi ele quem levou os Cavaleiros Negros ao vilarejo naquela noite, mas não queria a morte de seu pai. Ele tentou parar Cutty, mas sua chamada para esperar tinha chegado tarde demais. Ela entendia o monstro porque ela se tornou uma. As palavras que ele disse a ela soaram em seus ouvidos. Ele havia esquecido quem era depois de perder Sage e Alison. Ele deixou a escuridão e o medo assumirem o controle. Ela entendia. Ela deixou que o ódio e a raiva a consumissem. Ela queria matar. Ela queria a vingança jurada sobre o túmulo de seu pai.

Mas Cailean a salvou. Se ela soubesse a verdade antes, nunca o teria deixado ajudá-la a sorrir novamente. Ela teria se tornado a mesma besta fria.

Ele a salvou, assim como ela o salvou.

Mas ela se recusava a pensar nisso agora. Em vez disso, ela pensou apenas em seu corpo, duro e esguio sobre o dela, sua carne, quente tremendo sob seus dedos enquanto ela os corria sobre seus braços.

Seus beijos caíram em sua garganta enquanto suas mãos largas esculpiam sua forma, descobrindo-a, conhecendo-a de uma forma tão íntima que cada toque se tornava uma declaração de posse, um amor compartilhado e livremente. Ele ergueu a cabeça e a olhou, perdido em contemplação.

Ela deslizou os dedos pelas mechas macias de cabelo caindo sobre sua testa, as pontas dos dedos demorando em sua mandíbula forte e eriçada, seu queixo perfeitamente e com covinha.

O desejo em seus olhos a emocionava e assustava ao mesmo tempo. Ele traçou os contornos de seu rosto e fez uma parada, como se o que estivessem prestes a fazer o oprimisse tanto quanto a ela.

— Eu te amo, Temperance. — Ele sussurrou em uma respiração irregular. Ele parecia assustado com suas próprias emoções, como se nunca esperasse senti-las novamente.

Ela entendia seu medo e o que estava custando em sentir suas paixões novamente. Ambos precisavam de cura e só podiam obtê-la um do outro.

Ela o amava apesar de tudo. Ela nunca deixou de amá-lo. Ela precisava contar a ele.

— Eu te amo, Cailean. Eu te amo.

Com delicada maestria que acendeu pequenos fogos em seu ventre, ele beijou seu lábio inferior, então mergulhou sua língua em sua boca, provando-a, possuindo-a de uma forma que nenhum homem jamais fizera antes.

Ela podia sentir cada centímetro duro do pênis dele e algo tão profundamente primitivo tomou conta dela, que mal se reconheceu.

Ela queria se entregar a ele. Ela nunca sentiu nada parecido com o poder disso antes. Ela amava a força dominante que a prendia. Ela o queria dentro dela, enchendo-a.

Com ousadia nascida do puro desejo, ela ergueu as pernas e as envolveu nas coxas dele.

Seu sorriso lento e sedutor quase fez com que ela se desfizesse.

Agarrando-o perto, ela esfregou seu corpo contra o dele e então se assustou com a sensação de seu pênis pesado em sua entrada úmida.

Ele a olhou nos olhos.

— O que eu faria sem você em minha vida, minha amada? Eu morreria e mataria por você.

Seu coração respondeu quando ela arqueou as costas e se ofereceu a ele.

Observando seu êxtase com olhos velados e encobertos, ele a penetrou suavemente, sabendo que ela era uma flor que ainda não floresceu totalmente. Seus lábios foram gentis no início, sua língua acariciando, provocando o interior de sua boca. Os dentes dele traçaram a curva delicada de seu queixo, então desceram para o pescoço e mais abaixo, onde ele parou para mordiscar antes de encontrar febrilmente seus seios. Ele a beijou e chupou e a fez se contorcer embaixo dele. Ele deslizou as mãos por baixo dela, segurando suas nádegas com força, puxando-a para mais perto para tomá-la mais profundamente. Ele se retirou lentamente, então afundou dentro dela uma e outra vez, cada vez mais fundo do que a anterior.

Ela não estava preparada para a dor de ser dividida em duas por sua excitação substancial. Ela pressionou a palma da mão em seu peito para detê-lo, embora ela quisesse mais, ansiava por mais.

Ele diminuiu a velocidade e ergueu a mão dela para beijar seus dedos.

Posicionado acima dela, ele compartilhou sua respiração e a consumiu em seu abraço amoroso. Ele se moveu devagar, com paciência, e quando ela gritou de dor, ele sussurrou o quanto a amava repetidamente, acariciando seu rosto com as costas dos dedos.

Seu toque e suas palavras a fizeram estremecer em seus braços e alimentaram seu desejo.

Logo ela esqueceu a dor e relaxou em seu forte abraço, sentindo-se segura, sabendo que ele nunca a machucaria novamente ou permitiria que outra pessoa o fizesse.

Ela o observou, olhando profundamente em seus olhos com cada impulso lento de seu corpo.

— Você me trouxe de volta à vida, meu amor. — Ele disse a ela baixinho, sua voz cheia de emoção.

Ela sorriu, seu olhar nunca deixando o dele enquanto eles se moviam no ritmo da natureza, tornando-se um só corpo pulsante.

Ele empurrou com mais força, afundando mais profundamente, como as ondas de um mar tumultuado balançando-a para frente e para trás, até que ela estremeceu e se agarrou a ele.

Como ela poderia ter pensado que o odiava? Ora, ele significava mais para ela do que sua própria vida. Sua respiração ficou mais difícil enquanto seu prazer aumentava. Os músculos interiores dela se convulsionaram ao redor do membro dele, o coração de cada um acelerando com a visão do outro e se desfazendo.

Ela podia ouvir sua respiração, dura e superficial, como se ele estivesse lhe dando tudo o que tinha, tudo o que era devido. E então ele jogou sua cabeça maravilhosa para trás e fechou os olhos com força enquanto encontrava a liberação dentro dela. Ele caiu sobre ela e ofegou em seu pescoço e Temperance sorriu, fechando os olhos com o poder que ele havia lhe dado para agradá-lo.

À luz bruxuleante das velas, ele prometeu que não haviam terminado.

Por um tempo, eles ficaram envoltos nos braços um do outro. Temperance ouviu sua respiração, seu coração batendo contra seu peito, sua voz suave e profunda dizendo como ela o fazia se sentir.

— Eu nunca pensei que você iria me perdoar. — Ele disse a ela, seu hálito quente perto de sua boca.

— Eu também pensava assim. — Ela admitiu, olhando em seus insondáveis olhos azuis acinzentados. — Minha confiança em você foi destruída.

Ela traçou o dedo sobre a curva descendente de suas grossas e escuros sobrancelhas quando ele desviou o olhar.

Ela sorriu, amando-o ainda mais por causa de como ele parecia se derreter ao vê-la.

— Eu não sabia como você se sentia. Que você me amava e que estava sofrendo porque me machucou.

Ele fechou os olhos como se as palavras dela doessem.

— Meu amor parecia insignificante em comparação com o que eu tinha feito. — Ele disse suavemente, abrindo os olhos para olhá-la novamente.

— Então me diga, — ela disse suavemente, traçando as pontas dos dedos sobre o peito dele. — Você realmente daria sua vida por mim?

Ele correu as mãos pelas suas costas, sobre as nádegas nuas, prendendo-a mais perto.

— Sim, Temp, eu daria.

— Eu não quero que você faça isso. — Ela sussurrou, beijando seu rosto. — Quero passar minhas noites em seus braços e acordar com seu sorriso todas as manhãs. Eu quero...

— Sim? — Ele perguntou, passando a mão pela coxa dela.

Seu toque fez cócegas e ela enterrou o rosto em seu pescoço e riu.

— O que mais você quer, moça?

— Eu quero viver uma vida cheia de paixão e risos com você.

Ele mergulhou a boca em sua garganta e começou a beijá-la ali. Ela podia sentir seu desejo se renovado contra ela, enorme e pronto, e se entregou a ele.

Ele abriu com seus dedos hábeis suas coxas e acariciou seu botão até que ela se contorceu e gritou seu nome.

Esse toque, tão primitivo, tão inebriante, estremeceu até a alma.

Ele a moveu para deitar de costas e, em seguida, inclinou seu corpo para ela, fazendo um caminho escaldante de beijos sobre os bicos de seus mamilos eretos, parando ali para lamber e chupar até que ela agarrou um punhado de seu cabelo e ofegou.

Ele não parou, mas continuou, mais baixo. Ele beijou sua pele sensível e então lentamente, sensualmente lambeu e raspou os dentes contra ela até que ela estremeceu debaixo dele. Ela cravou as unhas nos ombros dele e arqueou as costas. Oh, o que ele estava fazendo para que ela se abrisse mais sob ele?

Seus beijos ficaram mais apaixonados enquanto ele lambia seu lugar mais íntimo. Ela tentou se esquivar, envergonhada por sentir tanto prazer com um toque tão escandaloso. Ele a manteve imóvel com suas mãos grandes e capazes e a puxou para sua boca quente. A fome dele a queimou até que ela se sentiu totalmente consumida pelas chamas. Ele bebeu dela, mordiscando um caminho torturante sobre ela novamente e novamente. Não demorou muito para que ela encontrasse a liberação na ponta de sua língua excitante.

Ela ficou exausta e tremendo ao lado dele.

— Cailean, — ela perguntou baixinho enquanto ele se deslizava ao lado dela mais uma vez, — outros homens e mulheres praticam essa intimidade?

Ele encolheu os ombros.

— Foi o que meu irmão me disse. Antes de se apaixonar por sua esposa, ele era conhecido por praticar muito e com muitas moças.

— E agora?

— Agora, — ele disse a ela, beijando uma mecha macia de seu cabelo. — Agora ele pratica apenas com ela.

— Talvez, — disse ela timidamente, — possamos praticar mais.

Ele sorriu, acendendo sua barriga com mil brasas.

— Podemos praticar quantas vezes você quiser.

Ela acenou com a cabeça e então riu ao som de sua barriga roncando.

— Primeiro eu gostaria de algo para comer. Eu adoro sua comida e da avó. A comida aqui é horrível.

Ele se levantou, deixando-a fria com sua ausência.

— Vou buscar frutas. O cozinheiro aqui não pode estragar isso.

Ela sorriu e observou-o se vestir, amando sua barriga lisa, braços e pernas musculosos.

Dando outro beijo em sua testa, ele prometeu voltar para ela em breve e saiu do quarto.

Cailean não conseguiu chegar à cozinha antes que Dougal e Erik o sequestrassem. Eles o mantiveram quieto com as pontas de suas adagas pressionadas perto de sua garganta enquanto o lorde aparecia diante dele, seus olhos escuros duros e impiedosos.

— O que diabos está acontecendo? — Cailean exigiu. Eles o tinham visto vindo saindo do quarto de Temperance?

— Cutty está morto. Ele foi envenenado. — Edward disse a ele. — E estou certo de que foi por sua mão. Diga-me que não é verdade e você terá sua liberdade.

Cailean fechou os olhos. Temperance realmente o envenenou então.

— Sim. — Disse ele, abrindo os olhos para olhar Edward Murdoch diretamente nos olhos. — É verdade.

 


Capítulo 30


Temperance não percebeu que tinha adormecido até que as batidas em sua porta a acordaram mais tarde naquele dia.

— Um momento por favor! — Ela gritou, pulando para fora da cama e correndo para se vestir.

A batida veio novamente, desta vez seguida pela voz impaciente de Patrick.

— Temp, rápido!

Imediatamente seu batimento cardíaco acelerou e ela correu para a porta para abri-la. Quando viu a expressão pálida de Patrick, sabia que algo estava terrivelmente errado. Onde estava Cailean? Por que ele não voltou para ela?

— O que é? — Ela exigiu. — Onde está Cailean?

— Na masmorra. — Patrick correu para o quarto dela e fechou a porta. — Ele foi feito prisioneiro pela morte de Cutty Ross.

— O quê? — Toda a cor sumiu de seu rosto. Não! Ela envenenou o assassino de seu pai no grande salão. Ela colocou beladona suficiente em sua caneca para ver a tarefa concluída ao anoitecer. Como eles sabiam que ele foi envenenado? Ela esperava que ele simplesmente morresse durante o sono.

— Não, Patrick, não pode ser! Fui eu quem o envenenou! Devo ir até o Lorde e contar a verdade a ele!

Ela tentou passar por ele, mas o braço de Patrick segurando-a era forte.

— Você não pode fazer isso, moça.

— Mas eu devo! Não vou permitir que Cailean pague pelo meu crime!

— Já falei com Cailean. É por isso que estou aqui. Ele a proibiu de confessar.

— O quê? — Ela praticamente gritou para ele. — Eu não me importo com o que ele está proibindo! Eu não vou deixá-lo...

— Temperance, me escute, — Patrick ordenou, pegando-a pelos ombros. — O lorde gosta de Cailean e vai poupá-lo. Mas você... — ele fez uma pausa e balançou a cabeça para ela, dizendo o que não queria falar. Ele disse mesmo assim. — Se você confessar, ele vai deduzir que você provavelmente envenenou seu filho também e será enforcada, e talvez a avó também. Você deve ficar em silêncio.

Lágrimas se formaram acima da borda de seus olhos.

— Oh, Patrick, não posso. O que será feito com Cailean? Ele será libertado, então?

Ela sabia a resposta antes que Patrick baixasse o olhar.

— Ele já confessou, moça.

Não! Ela recuou quando ele a soltou e caiu de costas contra a parede mais próxima, balançando a cabeça.

— Por quê? Por que ele...

— Para te salvar, — ele respondeu calmamente. — Talvez até para salvar o povo de Linavar. Edward pode não acreditar que você estava sozinha nisso. — Ele continuou mesmo enquanto as lágrimas dela caíam livremente. — Cailean está querendo... ele vai ser chicoteado amanhã ao meio-dia.

Açoitado? Meu Deus, não! Oh, o que ela fez? Ela era o monstro agora e Cailean iria pagar por isso!

— Não, Patrick. — Ela gritou. — Não posso deixar que ele faça isso por mim. Direi a Murdoch que agi sozinha. Eu direi a ele...

— Você não vai dizer nada a ele, moça. — Seus olhos verdes fixos nela, parando seus movimentos para fugir dele e ir para o lorde. — Cailean nunca me perdoaria, e nem eu tampouco. Ele vai receber as chicotadas e viver, e então todos nós vamos dar o fora daqui, como eu queria desde o início.

De repente, ela sentiu como se seu corpo existisse apenas para conter a crueza de seus soluços. Mas ela não podia desmoronar. Ela tinha que fazer algo para impedir isso.

— Eu quero vê-lo.

Ele balançou a cabeça.

— É muito perigoso.

— Patrick. — Ela se recompôs tanto quanto pôde e olhou para ele com o último resquício de força que possuía. — Encontre uma maneira de eu vê-lo ou irei ao lorde.

Sua hesitação durou apenas um momento antes dele assentir.

— Venha comigo. — Ele agarrou a mão dela e a conduziu para fora do quarto.

Eles correram pelos corredores, evitando olhares curiosos, e desceram as escadas, cada vez mais fundo nos corredores úmidos de Lyon's Ridge até que chegaram à caverna inferior mal iluminada.

Um homem estava de guarda diante do portão de ferro forjado que os separava da cela de Cailean. Ele parecia intimidador o suficiente, com um peito largo, braços grossos cruzados sobre ele e uma espada enorme balançando ao seu lado.

— Estou aqui para ver o prisioneiro. — Disse Patrick, aproximando-se.

O guarda olhou para ele com olhos sombrios e estreitos e balançou a cabeça.

— Lorde Murdoch me deu instruções para não deixar você vê-lo novamente.

O guarda era alto, mas vestido com seu plaid da Highland, a bainha pendurada em torno de suas panturrilhas musculosas e uma claymore ainda maior balançando a seu lado, Patrick era ainda mais assustador.

— Não me importo com o que seu lorde disse. Não só verei meu primo, mas você deixará seu posto enquanto eu o faço ou morrerá onde está.

O confronto durou apenas alguns momentos. O guarda viu algo na expressão normalmente amigável de Patrick que exigia obediência. Temperance suspeitava que era a mesma coisa que a maioria das pessoas via nos MacGregors e por isso eram proibidos. Ele desistiu, destrancou o pesado portão e foi embora, desaparecendo no corredor escuro.

No instante em que ficaram sozinhos, Patrick a conduziu para a cela de seu amado.

Cailean estava iluminado por uma única tocha acesa, seus pulsos algemados na parede atrás dele. Ele os puxou quando a viu, querendo ir até ela.

— Cailean! — Ela gritou, correndo para ele. Quando ela o alcançou, ela jogou os braços em volta do pescoço dele e beijou seu rosto. — Oh, Cailean, eu sinto muito! Você se machucou?

— Não, meu amor, não. Ninguém me machucou. — Ele não conseguia alcançá-la totalmente, mas sorriu.

Oh, ele sorriu! Isso fez Temperance querer gritar.

— Patrick me contou o que aconteceu. — Ela se virou para o primo de Cailean e o encontrou esperando do lado de fora do portão.

— Temp, olhe para mim, — Cailean sussurrou, e ela obedeceu. — Você deve partir. Se Murdoch descobrir que...

— Não! Eu não posso deixar você fazer isso!

— Você não vai me parar, moça. Está ouvindo? Murdoch gosta de mim. Ele não fará mais do que me punir, mas se ele suspeitar de você... Não vou correr o risco.

— Isso é tudo minha culpa! — Ela passou as mãos nas bochechas dele e o abraçou novamente. Oh, o que ela fez? — Eu nunca quis que você...

— Eu sei, meu amor. — A luz da tocha refletida em seus olhos, ele a olhou como se nada importasse no mundo além dela. — Mas agora você deve ir. Pegue a avó e vá com Patrick. Deixe Lyon's Ridge esta noite.

— Não! Não, não posso partir sem você! Eu não vou!

— Você deve fazer o que eu digo, — ele insistiu, sussurrando em seu pescoço quando ela se agarrou a ele novamente. — Por favor, eu não posso continuar neste mundo sem você. Não me condene a isso.

Ela finalmente concordou, afastando-se dele. Ela o ouviu chamar Patrick para vir e levá-la embora.

Mas era tarde demais.

Eles ouviram passos e se viraram para ver Edward Murdoch e dois de seus homens se aproximando. Temperance ficou na frente de Cailean, bloqueando-o de seu acusador. Ela viu Patrick lançar-lhe um olhar de derrota antes de ser atingido na cabeça por algo e cair no chão.

Não! Ela foi até o primo caído de Cailean e o sacudiu enquanto as lágrimas enchiam seus olhos. Isso era culpa dela! Ela queria contar ao Lorde, mas e se Cailean e Patrick estivessem certos? E se eles tentassem machucar a avó?

Cailean gritou e lutou contra suas correntes, sem sucesso.

— Se Patrick estiver morto...

O lorde balançou a mão diante do rosto como se espantasse uma mosca.

— Ele não está morto. Felizmente para ele, é querido, e John Gunns não desferiu um golpe letal. Você deferiu, John?

— Não, m’lorde. — Gunns confirmou. — Ele já se mexe. Ele tem uma cabeça dura.

— Aí está, viu? — Murdoch disse. Seu olhar se voltou para Temperance em seguida, enquanto ela se endireitava novamente. — Afaste-se dele, Srta. Menzie.

Ela balançou a cabeça.

— Não! — Ela estava cansada de viver sua vida com medo desses homens. Eles haviam tirado muito dela, da avó e de Linavar. Ela não se encolheria para os Murdochs nunca mais. — Cutty matou meu pai.

Atrás dela, ela ouviu Cailean murmurar um juramento rígido, mas endireitou os ombros e continuou.

— Ao comando do seu filho.

O Lorde acenou com a cabeça e ofereceu a ela um olhar arrependido.

— Eu realmente sinto muito por suas ações. Seu pai era um bom homem, Srta. Menzie. Mas não posso deixar os homens pensarem que não os protegerei nem mesmo de uma moça decidida a se vingar. — Ele lançou a ela um olhar triste. — Suspeitei que foi você quem envenenou Cutty. Se Cailean o quisesse morto, ele o teria matado com sua espada. Veneno é a arma de uma mulher.

— Murdoch, nae. — Cailean lutou contra suas restrições atrás dela. — Você está errado. Fui eu quem o envenenou.

Mas o lorde balançou a cabeça.

— Você assume a culpa porque a ama. Você me colocou em uma situação muito difícil, Grant. Os homens sabem que você confessou. Eles estão com raiva de mim por cancelar a luta com a qual você concordou e por permitir que você levasse meu filho para o campo de torneio sem retribuição. Eles esperam que você seja punido por isso. Se eu contar a verdade, eles vão voltar sua raiva contra ela. Eu te faço um favor em não contar a eles, porque eu gosto de você.

— Então me açoite diante deles. — Insistiu Cailean. — Mas deixe-me levá-la embora quando acabar.

— E deixá-la ir sem punição? Não, decidi que ela permanecerá aqui e ajudará nas boas relações com o povo de Linavar, casando-se com meu filho.

— Eu não vou me casar com seu filho! — Temperance disse corajosamente, desafiadoramente. — Ele matou meu pai!

O Lorde a ignorou e se virou para sair.

— Leve-a embora. — Ele ordenou a seus homens.

— Não me toque! — Seu comando foi emitido com tal veneno que Brodie Garrow, que a alcançou, parou.

Ele olhou por cima do ombro para Cailean.

— Ponha sua mão sobre ela. — Rosnou Cailean com intenção assassina. — E vou desmembrá-la no instante em que estiver livre.

Ninguém a tocou e ela se virou para Cailean com uma força totalmente nova em seus olhos.

Ela o veria novamente. Ela mataria Duncan e o veria cair aos pés do padre. Mas ela não se casaria com ele. Mesmo se isso trouxesse seu pai de volta, ela não o faria.

— Milorde, — ela ouviu Cailean chamar Murdoch antes de ser escoltada para longe. — Espere, eu gostaria de ter uma palavra a sós com você.

Mais tarde naquela noite, Temperance se sentou em sua cama com a avó, que a abraçava enquanto ela chorava. Amanhã, vinte chibatadas seriam dadas pelo Cavaleiro Negro Brodie Garrow à vista de qualquer um que quisesse assistir, exceto Temperance e a avó. Elas foram proibidas de testemunhar a punição e, em vez disso, foram colocadas em seu quarto com dois guardas postados do lado de fora da porta.

— É minha culpa, avó. Eu envenenei aquele Cavaleiro Negro. Não posso deixar Cailean levar a culpa por algo que ele não fez. Eu não estava lá para salvar meu pai. Talvez se eu não tivesse ficado para trás com Will, — William. — Och, querido Deus, avó... — Suas mãos tremiam e seu coração batia forte como um trovão quando a verdade óbvia ficou clara. — William atirou em Patrick.

— Então, Marion acredita nisso.

— Ele fez isso, avó, e papai sabia. — Ela se lembrou de William ter lhe contado que falara com o pai dela naquele dia. — Eu acho que William disse a ele o que fez. Acho que meu pai assumiu a culpa em vez de ver o homem que ele amou como um filho morto. Foi por isso que suas últimas palavras para mim foram para pedir meu perdão.

A avó ficou quieta por um tempo. Quando ela finalmente falou, sua voz era gentil e cheia de admiração.

— Meu Seth era o melhor dos homens.

— Sim, e William o deixou morrer. — Temperance respondeu com raiva.

— Não, pomba. William não estava lá para impedi-lo, e não acho que Seth gostaria que ele o estivesse. Você não deve ficar com raiva dele por não lhe dizer a verdade. — Ela ergueu a mão para impedir Temperance de dizer mais alguma coisa. — É hora de seguir em frente e não nutrir má vontade para com os outros. Isso apenas escurecerá seu coração.

Temperance assentiu, lembrando-se das palavras de Cailean sobre si mesmo e como a raiva quase o destruiu.

Nada que toquei estava escuro o suficiente. Deixei tudo o que amava e permiti que um monstro tomasse conta de mim.

Ela tentaria não deixar isso acontecer com ela, mas também não aceitaria um futuro comandado por Edward Murdoch.

— Eu não vou me casar com Duncan. — Temperance jurou para sua avó. — Eu não vou!

— Não, pomba, você não vai, — a avó prometeu. — Cailean se recuperará de seus ferimentos e você o tomará como seu marido. Será uma celebração maravilhosa com muitos pratos deliciosos, cantos e danças. — Sua voz e suas palavras, finalmente confortaram Temperance.

Até o amanhã chegar.

 


Capítulo 31


Cailean foi levado para fora no final da tarde seguinte, despido de suas armas, seu plaid enrolado em sua cintura nua e cordas em seus pulsos. Ele olhou para cima, sentindo o olhar dela perfurando o frio amargo e o aquecendo. Ele a viu em sua janela e decidiu que se seu plano não funcionasse e ele morresse hoje, queria que ela fosse a última coisa gloriosa que veria.

Ela ergueu a mão para ele e Cailean sorriu, perguntando-se como pôde ter a sorte de ter conquistado o coração dela. Ela o perdoou e tirou seu fardo das costas. Ela iluminou seu caminho para fora dos cânions mais profundos de seu coração. Ele não estava prestes a perdê-la para Duncan... ou mesmo para a morte.

Ele não morreria. Ele inclinou a cabeça para Brodie Garrow à sua esquerda. Ele mataria se precisasse, mas não morreria.

Patrick, à sua direita, permaneceu em silêncio enquanto caminhavam em direção ao poste de açoite.

Cailean olhou para os rostos na multidão que se reunira no pátio ao lado campo de torneio. Ele anotou a presença de cada Cavaleiro Negro e, o mais importante, Edward Murdoch.

Em apenas um momento, seu primo iria...

Patrick puxou uma adaga de seu cinto e a golpeou certeiramente entre as mãos de Cailean, libertando-o com um golpe poderoso.

Por uma fração de segundo Cailean olhou para baixo, esperando ver pelo menos um de seus dedos no chão.

Eles estavam todos intactos. Suas mãos estavam livres e ele as virou para Garrow enquanto Patrick arregaçava as mangas e preparava os punhos e a adaga contra o resto dos Cavaleiros.

Uma combinação de socos certeiros no nariz e na mandíbula e Garrow caiu como uma árvore. Cailean agarrou sua espada e correu em direção aos Cavaleiros. Ele lançou a lâmina de Garrow contra outros seis mercenários, levando golpes e desferindo golpes mais fortes enquanto avançava em direção a Edward.

Ele alcançou o lorde em três longas passadas, manejando a espada enquanto avançava. A lâmina cortava flocos de neve quando começou a cair ao redor dele, e parou na ponta da garganta de Murdoch. Tudo parou. Parecia que até a descida do sol fez uma parada no céu. MacRae e Gunns permaneceram fixos em seus lugares, chocados com a habilidade e ousadia de Cailean em lançar tal ataque a seu lorde.

— Acalme seus cães! — Cailean comandou, movendo-se para ficar atrás do lorde e empurrando a lâmina mais perto do pescoço de Murdoch. — Ou eu vou jogar sua cabeça para eles antes de matá-los e cavalgar para fora daqui com minha mulher.

— Você tem colhões, rapaz. — Disse o lorde com o mais leve dos sorrisos antes de gritar para seus homens encerrarem a luta.

— Como você acha que pode escapar? — Garrow gritou. — Você não pode lutar contra tantos homens.

— Eu sou um Grant. Você ficaria surpreso em saber contra quantos eu posso lutar. Agora recue enquanto eu conduzo seu lorde para o castelo.

Patrick ergueu a pistola que ele tomou de Fergus MacRae enquanto eles lutavam e armou apontando para a multidão, mantendo-os afastados, enquanto Cailean conduzia o Lorde para longe.

— Ele está vindo nos pegar! — Temperance proferiu e se afastou da janela. Ela encontrou os olhos da avó e sorriu. — Você o viu, avó? — Ela sentiu vontade de girar em um círculo. Ele tinha sido glorioso de ver, enfrentando cada homem que tinha vindo contra ele com músculos e golpes poderosos. Se ela pensasse que ele nunca se cansaria, teria o observado o dia todo.

E Patrick! Por que, ele derrubou mercenários endurecidos com um único soco? Ele tinha uma adaga, mas não usou nenhuma outra arma até levantar uma pistola no ar.

— Precisamos pegar Marion! — Temperance agarrou os ombros da avó e então correu para a porta.

Ela recuou quando ouviu vozes do outro lado. Eles estavam vindo! Ele estava vindo! Seu pulso disparou e suas pernas pareciam lama aquecida sob as saias.

Ela contou suas respirações enquanto esperava a porta abrir. Quando abriu e Cailean apareceu diante dela, ela não pôde evitar pular em seus braços. Ele escapou de sua punição. Ela queria chorar de alegria.

Erguendo o rosto da curva de seu pescoço, ela sorriu para Patrick, que estava conduzindo o lorde para o quarto com sua pistola apontada para a nuca de Murdoch.

— Você foi ferida?

Ela desviou o olhar para o rosto preocupado de Cailean.

— Não, meu amor. — Ela respirou, colocando seu rosto em suas palmas, em seguida, beijando a preocupação de sua boca.

Mas foi seu abraço forte e terno que acalmou seu coração turbulento. Aqui, em seus braços, era onde ela encontrava sua paixão, sua segurança, aquele tipo de amor que existia apenas uma ou duas vezes na vida.

A avó limpou a garganta e Temperance se afastou com um leve rubor quando ele a soltou.

— É bom vê-lo novamente, e ileso. — A avó lançou-lhe um sorriso atraente.

Sua avó gostava de Cailean. Isso arrancou um pequeno suspiro de alívio dos lábios de Temperance. A avó tolerava muitas pessoas, mas gostava de apenas algumas.

— É bom ver você também, avó. — Seu sorriso largo e aberto encantando sua avó. Ele permaneceu com um toque de malícia escurecendo seu olhar quando se virou para Lorde Murdoch.

Eles não trocaram palavras, mas Temperance de repente se convenceu de que o que ela havia testemunhado fora de sua janela não era o que parecia.

— Patrick. — Disse Cailean, virando-se para ele. — Vá buscar Marion e coloque-a sob sua incumbência. Estamos saindo em breve.

Em breve? Temperance pensou. Por que não agora? E por que Patrick enfiou a pistola no cinto e deixou Lorde Murdoch vagar livremente?

— Vamos nos reunir no solar. — Disse o Lorde. — Quem são seus amigos aqui, Grant?

Temperance olhou para Murdoch se sentando na beira de sua cama.

— Quem vai se reunir no solar? — Ela perguntou a ele, então olhou para Cailean. — O que está acontecendo?

Cailean pensou por um momento e depois respondeu à pergunta de Lorde Murdoch.

— Gunns, talvez, embora não tenhamos compartilhado muitas palavras. Por que você quer alguns dos homens conosco?

Murdoch olhou para ele, então piscou e balançou a cabeça.

— Você está em Lyon's Ridge há quase cinco meses e tem um amigo, você achou um, entre vinte?

— Eu não vim aqui para fazer amigos, — Cailean respondeu com um encolher de ombros.

Temperance se virou para lançara a avó um olhar questionador. Quando nem mesmo ela tinha respostas, Temperance pegou a mão de Cailean.

— O que está acontecendo? — Ela perguntou novamente. Ela viu seus olhos frios mergulharem nos dela e ficarem tão suaves quanto seu sorriso.

— Estou levando você para casa, moça, e Lorde Murdoch está nos ajudando a partir sem ter dezoito homens em nossos traseiros.

Qual casa ele quis dizer? A pergunta veio a ela de repente e com uma verdade entorpecente. Ele amava sua casa em Skye e ela amava a dela em Linavar. Onde ele escolheria morar? Não importava agora! Ele estava tirando ela e a avó de Lyon’s Ridge.

— Por que ele nos ajudaria? — Ela perguntou.

— Ele está salvando seus homens mais do que está nos ajudando. — Disse Cailean. — Mandei uma carta para meu irmão Malcolm antes de voltar aqui, contando a ele o que fiz, o que me tornei e como você me salvou. Contei a ele sobre Duncan Murdoch. Se o conheço bem, e conheço, ele deverá estar em Linavar pela manhã. Se não estivermos lá quando ele chegar, William dirá onde estou e o que aconteceu. Ele virá aqui e as coisas ficarão feias. Nós não queremos isso.

— Não, nós não queremos. — Murdoch concordou. — Mas eu te ajudo por causa dela. E eu admito que também tenho um motivo egoísta que discutirei com você mais tarde.

Cailean pareceu surpreso, mas não pelo fato deles terem enganado todos fazendo-os acreditar que seu lorde tinha sido feito refém. Ele e Lorde Murdoch haviam inventado essa farsa com antecedência. Com que antecedência?

— Minha principal razão para ajudá-la. — Murdoch a olhou. — É que seu pai foi meu amigo por muitos anos, Srta. Menzie. Ele falou de você muitas vezes durante nossas negociações. Ele amava Linavar, mas você sempre foi sua principal preocupação.

Temperance nunca parou para pensar que seu pai poderia ter falado dela para o Lorde.

— Ele sempre foi justo e honesto comigo. — Ele olhou para Cailean de pé ao lado dela e então voltou os olhos para ela. — E Cailean tem essas mesmas características. Ele seria um bom líder.

— Linavar já tem um novo líder. — Disse Cailean. — Um homem escolhido e treinado para o dever por seu amigo.

O lorde sorriu para ela.

— Entendeu? — Ele balançou a cabeça e acenou com a mão no rosto. — Sobre o seu pai, ele queria que você fosse feliz e ajudá-lo a conseguir isso é a última coisa que posso fazer por ele.

A avó juntou as mãos na frente do rosto e sorriu para o teto.

— Até a última vez que falei com ele. — Murdoch disse a ela. — Ele pensava que você ficaria feliz com William Deware. Grant me explicou por que não será assim. De qualquer forma, não poderia permitir que você, de boa-fé ao seu pai, se casasse com Duncan. Ele é um rapaz implacável e indiferente, que eventualmente precisará ser tratado. E se alguém pode manter o vilarejo seguro nesse meio tempo, é Cailean, liderando Linavar ou não.

— Meu lorde. — Disse Cailean. — Eu lhe disse que não estarei aqui.

Temperance se virou para prender avó com um olhar preocupado. Portanto, era o lar de Camlochlin. Quer ele a levasse com ele ou não, ela teria que desistir de algo.

A porta se abriu novamente e Patrick estava do outro lado.

— Vamos passar a noite ou vamos continuar com isso? — Patrick perguntou quando eles não se moveram instantaneamente.

Eles deixaram o quarto com Murdoch voltando ao seu lugar ao lado da pistola de Patrick e foram até o solar do lorde, pegando John Gunns no caminho.

Quando eles encontraram qualquer grupo de Cavaleiros Negros, Murdoch ordenou que seus homens se retirassem.

Quando eles alcançaram seu destino, Murdoch ordenou a Gunns para trancar a porta enquanto ele se sentava em sua cadeira ao lado da lareira. Os demais seguiram seu exemplo, encontrando cadeiras e bancos estofados para se sentar, exceto Cailean, que permaneceu de pé.

Ele se virou para o homem na porta.

— Gunns, você deve estar se perguntando o que está acontecendo.

— O pensamento passou pela minha cabeça.

— Lorde Murdoch nunca esteve em perigo. — Cailean disse a ele, e se dirigiu para a jarra em uma das mesas. — Ele está permitindo que a gente parta.

— Tudo o que você viu lá fora entre nós foi encenado. — O lorde acrescentou, gesticulando para Cailean servir-lhe uma bebida.

Temperance observou a cena com a sensação de estar em um sonho. Era estranho ver Cailean tão confortável no solar do lorde. Eles haviam compartilhado muitas conversas aqui?

— A luta? — Perguntou Gunns.

— Nae. — Patrick esfregou o ombro dolorido. — Aquilo foi real.

- Nenhum de vocês falta colhões. — Murdoch disse, aceitando a caneca que Cailean ofereceu a ele. — É por isso que peço aos dois que não deixem Glen Lyon, mas que jurem fidelidade a mim.

Patrick sorriu e desamarrou o manto.

— Eu já jurei lealdade a meu primo, Rob MacGregor, laird dos MacGregors de Skye.

— E você, Grant? — Murdoch fixou seu olhar em Cailean. — Eu tenho grandes aspirações para você. Fique aqui e me sirva.

— Você quer dizer servir a seu filho assassino. — Cailean o interrompeu. — Devo recusar.

— Duncan não estará aqui para sempre. Apenas fique por um ano, rapaz. — Murdoch pressionou. — Meu filho não vai descansar se você a levar embora. Temo que, em seu estado agitado, ele leve sua fúria a Linavar. Homens como Brodie Garrow e Tavish Innes, e muitos outros, ajudariam Duncan a sair do castelo se e quando ele quiser. Preciso de homens em quem possa contar.

Cailean ergueu a mão, impedindo Murdoch de ir mais longe.

O coração de Temperance retumbou em seus ouvidos. Ela queria que Cailean ficasse mais um ano. Mas e se ele recusasse? Ela iria embora com ele? Ela deixaria sua casa? Sua família e amigos?

— Vou servi-lo, lorde. — Disse ele, servindo-se de uma bebida e tomando o assento de Duncan ao lado do lorde.

— Cailean, nae. — Patrick gemeu, e enterrou o rosto na mão.

— Vou ficar aqui por um ano.

— Como um Cavaleiro Negro? — Murdoch perguntou com um sorriso esperançoso.

Cailean se virou para Temperance em uma cadeira perto da dele e esperou pela resposta dela.

Ela não ficou surpresa que o lorde quisesse que Cailean ficasse. Seu highlander não era apenas habilidoso, ele também era inteligente. Mas ela poderia amar um Cavaleiro Negro? Ela preferia que ele continuasse um mercenário por mais um ano, em vez de deixar sua casa?

— Sim, como um Cavaleiro Negro. — Ele concordou quando ela assentiu.

 


Capítulo 32


— Eu tenho algumas condições. — Cailean continuou de seu assento no solar privado do lorde.

Murdoch arqueou suas sobrancelhas.

— Oh? E quais são elas?

— Eu não irei residir aqui, mas em Linavar com os aldeões. Vou trabalhar com eles e sua colheita não vai falhar.

— Concedido. — Murdoch disse.

Cailean sorriu e, pela primeira vez em quase um ano, teve esperança de um feliz para sempre. Ele queria ficar sozinho com Temperance e perguntar se ela queria passar a vida com ele. Ele prometeu mantê-la a salvo de todos os perigos. Ele escreveria para ela todas as noites. Ele cozinharia suas refeições favoritas, e quando os dias acabassem, ele a levaria para sua cama e satisfaria todos os seus desejos.

— Quero que cada moça sob a direção de Maeve tenha a escolha de ficar aqui ou partir. Marion as está informando enquanto falamos. Qualquer moça que quiser ir embora deve nos encontrar lá fora.

— Mas os homens... — Murdoch tentou protestar.

— Você vai desistir das moças por uma safra completa. — Cailean disse a ele. — O que o comércio geralmente traz para você em valor? Os homens, — ele disse, sem esperar por uma resposta, — disseram-me que você enche toda a ala Oeste. Isso é um trabalho caro. Você está bem vestido. Come bem. Desistir de moças que não desejam estar aqui não é pedir muito.

Murdoch deu um tapa em sua coxa e riu para Cailean.

— Você tem medo de alguma coisa? Ofender-me pode ser um bom começo. Isso não fazia parte do acordo que combinamos quando você estava acorrentado em meu porão.

— Nem eu estava ficando aqui como um Cavaleiro Negro. — Cailean respondeu suavemente.

O Lorde olhou furioso para ele.

— Muito bem. Isso é tudo?

— Não, nós queremos... — Ele parou e se dirigiu a avó. — Que porcentagem de lucro ele obtém com nossa safra?

— Sessenta e três por cento. — Avó o informou.

O olhar de Cailean escureceu no Lorde.

— Eu acho que quarenta e oito é justo.

Edward se sentou e jogou sua caneca na lareira.

— Achei que as negociações fossem deixadas para o líder de Linavar.

— Ele não está aqui. — Respondeu Cailean, imperturbável. — Nós fechamos nosso acordo?

Murdoch resmungou em sua cadeira e então finalmente concordou.

— Sim, temos um acordo.

— Você já pensou sobre isso. — A acusação de Patrick não foi dita com raiva. — E sobre Camlochlin?

Cailean percebeu o olhar ansioso de Temperance e se lembrou das palavras da avó.

O solo está em seu sangue, herdado de seu pai. Ela não ficará feliz com pedras.

E se Temperance não ficasse feliz em Skye? E se ela se recusasse a ir com ele?

— Camlochlin ainda estará lá daqui a um ano. — Disse ele. Ele iria discutir isso com Temperance mais tarde. — Isso é o melhor para todos. E ninguém morre.

— Exceto Duncan, — observou John Gunns. — Matar um homem em uma luta é uma coisa...

Cailean se voltou para ele e se perguntou se teria sido sensato incluí-lo. Ele iria correndo para Duncan e contaria tudo a ele?

— Oh, eu não vou matá-lo, — Murdoch assegurou Gunns. — Ele é meu filho, pelo amor de Deus. Eu estava pensando em mandá-lo para o meu irmão no País de Gales.

— E qual é o meu papel em tudo isso? — Perguntou Gunns.

Sim, Cailean também se perguntou isso. Por que Murdoch queria saber quem eram seus amigos?

— Você não tem um papel, — Murdoch disse a ele, — você tem um lado para escolher. Meu ou do meu filho. Preciso de homens em quem possa confiar. Eu confio em um homem que chama Grant de amigo, embora eu esperasse que houvesse mais de um de vocês.

Gunns lançou um olhar de cumplicidade na direção de Cailean. Quando Cailean sorriu para ele em resposta, o mercenário deu um passo para trás, como se fosse a última coisa que ele esperava ver.

Murdoch continuou.

— Há algum outro entre os homens que ficaria contra Duncan e do meu lado?

Gunns pensou a respeito e balançou a cabeça.

— Eles são todos cortados do mesmo tecido.

O rosto de Murdoch ficou vermelho quando ele ouviu isso. Ele tomou um gole de vinho e passou a mão pela boca.

— Muito bem, então. É só você, Gunns. Lute ao lado de Grant por mim. Ou o enforcarei pela manhã.

— Que tipo de escolha é essa? — Cailean se voltou para ele com o cenho franzido.

Murdoch piscou para ele.

— O quê? Ele sabe demais! Ele vai dizer tudo a Duncan.

Gunns o interrompeu.

— Não direi nada a ele. Estava esperando o dia em que poderia fazer essa escolha.

— Então você está conosco? — Cailean perguntou, e deu um tapinha nas costas dele quando o mercenário assentiu.

— Então. — Gunns juntou as mãos, ansioso para começar. — O que fazemos agora?

— Nós esperamos. — Cailean disse a ele.

— Até quando?

— Até todos os homens adormecerem, é claro. Não há razão para lutar se não for preciso, sim?

Sim, ele era um homem diferente. Ele não tinha se tornado o que era antes. Ele renasceu como alguém melhor, mais sábio.

E foi por causa dela. Ele olhou para Temperance. Todos os traços de tristeza desapareceram dele. Ele se deleitou com a visão dela, esperançoso e desperto para tudo ao seu redor, principalmente ela.

— Você está realmente indo em frente com isso? — Patrick perguntou enquanto esperavam, interrompendo seus pensamentos.

— Se vamos tirá-las, sim?

— Sim, — Patrick respondeu. — Mas você não respondeu à minha pergunta. Você vai ficar aqui?

— Sim. Eu estou ficando com ela. Vá para casa, primo. Diga aos nossos parentes que sinto falta deles e voltarei em um ano, quando as coisas se estabelecerem aqui.

— Sim, desejo deixar este lugar sombrio. — Disse Patrick. — O desejo de lutar corre suavemente em meu sangue, mas prefiro viver e me aquecer em minha juventude fértil, na cama e no campo. Vou ajudar a resgatar qualquer um que precise ser resgatado, e então vou dar o fora daqui, com ou sem você.

Cailean assentiu e foi se ajoelhar diante da cadeira de Temperance. Ele a notou se contorcendo uma ou duas vezes e olhando para a avó como se houvesse algo pressionando em sua mente. Ele tinha uma ideia do que poderia ser.

— Meu amor, — ele disse suavemente. — Eu posso dizer a Murdoch que mudei de ideia. Eu sei como você se sente em relação aos Cavaleiros Negros.

Ela balançou a cabeça, pegando a mão que ele ofereceu.

— Eu posso viver com isso, contanto que ele nunca lhe peça para lutar contra alguém de Linavar.

— Eu recusaria se ele pedisse.

Ela sorriu para ele, mas depois baixou o olhar para suas mãos entrelaçadas.

— Eu não quero que você deixe Linavar.

Temperance pensou que ele iria embora sem ela? Ele queria lhe dizer que sua vida não significava nada sem ela nela, mas ouviu Murdoch dizer a Gunns para ir verificar os homens, embebedá-los se fosse preciso, mas fazer algo para fazê-los dormir mais rápido para que este negócio pudesse entrar em andamento.

Cailean deslizou o dedo sob seu queixo e trouxe sua atenção de volta para si. Ele queria olhar nos olhos dela quando contasse. Ele queria que ela visse o que ela tinha dado a ele.

— Temperance, eu te amo, moça. Não há palavras suficientes para dizer o quanto, então vou lhe mostrar, todos os dias, aonde você quiser estar.

Inferno, mas seus olhos, cheios de lágrimas, brilhavam como estrelas o guiando para casa. Normalmente suas lágrimas não o agradariam. Mas eles esboçaram um sorriso antes que ela as afastasse.

— Você se casaria com um Cavaleiro Negro? — Se ela dissesse não, ele diria a Murdoch que o negócio estava cancelado.

— Eu me casaria com você. — Ela disse, iluminando seu coração.

Ela se virou então para sua avó na cadeira ao lado dela, que obviamente estava ouvindo, e disse:

— Eu me casaria com ele.

Patrick, ouvindo do outro lado dele, deu um tapinha nas costas dele.

— Você tem sorte de tê-la encontrado, primo.

— Eu sei. — Ele se virou, ainda segurando a mão dela, e sorriu, captando seu olhar quando ela se levantou para abraçar a avó. Ele teve muita sorte. Ele teria sido tão misericordioso com alguém que matou seu pai? Mas era Temperance que tinha sido desde o início, resistente e cheia de vida, mesmo em seus dias mais sombrios. A chama que despertou seu coração de volta à vida.

Por um momento egoísta, ele quis negar o abraço da avó e puxar Temperance para um beijo. Apenas um beijo.

Logo ela seria sua esposa e ele teria mais do que isso.

Mesmo assim, ele queria um beijo.

Do outro lado da porta, que ninguém se preocupou em verificar depois que John Gunns a deixou ligeiramente entreaberta, Duncan Murdoch cerrou os punhos, amaldiçoou o pai até o inferno e voltou mancando para o quarto para pegar a pistola.

Uma hora depois, eles contornaram alguns corpos pertencentes aos mercenários de Lorde Murdoch. John Gunns os havia informado que, ficando impaciente ao esperar que fossem dormir sozinhos, ele colocou um pouco de valeriana, encontrada na cozinha, no vinho e lhes ofereceu. Não demorou muito para chegar o efeito depois disso.

Eles entraram no pátio e selaram os cavalos contra o vento forte. A avó cavalgaria no colo de Patrick, e Temperance com Cailean. John Gunns estava com eles depois que Lorde Murdoch insistiu que ele cavalgasse de volta para Linavar com eles.

— Onde estão as moças? — Naturalmente foi Patrick quem perguntou.

Elas chegaram com Marion enquanto ele falava. Temperance sorriu ao ver Esmé e Beth.

— Isso é tudo? — Cailean perguntou a Marion enquanto Lorde Murdoch a ajudava a subir na sela.

— As outras desejam ficar. — Ela o informou, ajudando Esmé a se sentar atrás dela.

Patrick puxou Beth para cima com uma das mãos e a colocou atrás dele. Na frente dele, a avó deu um tapinha na mão de Beth quando a moça envolveu a cintura de Patrick.

Temperance observou as moças libertas e jurou a Deus e a si mesma que amaria Cailean e cuidaria dele até o dia de sua morte, e provavelmente depois disso. Seu pai teria ficado feliz se ele amasse sua filha.

Cailean estava disposto a desistir de sua casa por ela. Ela poderia ser sua esposa e ficar em Linavar! Mas ela sabia que não iria. Ela não pediria a ele para fazer tal sacrifício por ela.

Oh, que tipo de amor era esse que a fazia querer fazer qualquer coisa para vê-lo feliz? Não era isso que ele estava fazendo por ela? Ela queria esse tipo de amor, mas não tinha ideia de como era poderoso. Isso a fez querer entregar cada parte de si mesma a ele, sabendo que ele iria valorizar tudo isso.

— Correu tudo perfeitamente.

Temperance olhou para Lorde Murdoch, e Cailean também.

— Graças a você, milorde. — Disse seu prometido, sorrindo.

Meu Deus, mas Temperance poderia se acostumar a ver aquele sorriso a cada momento de sua vida.

— Vá. — Disse Lorde Murdoch. — E mantenha seu irmão longe daqui. Você disse que ele estaria aqui pela manhã, sim?

— Se ele pensa que estou em perigo, sim. Se ele saiu no mesmo dia, ele deve estar aqui pela manhã. Não se preocupe, senhor. Vou dizer a ele que somos amigos.

Lorde Murdoch ergueu as sobrancelhas e sorriu.

— Dois amigos. Você está melhorando.

 


Capítulo 33


Edward Murdoch viu o último membro do grupo de Grant desaparecer na montanha Munro. Sem falhas, ele pensou, e sorriu na escuridão fria. Ele salvou Grant do chicote, a filha de Seth Menzie de Duncan e, possivelmente, ele mesmo de uma revolta com seu filho liderando o ataque. Havia apenas mais um pequeno detalhe a ser resolvido antes de tornar Duncan impotente e depois mandá-lo embora.

Quando não havia mais nada para ver, ele puxou a capa mais apertada em torno de si e saiu do pátio.

Ele entrou em seu castelo e olhou ao redor. Ele balançou a cabeça para os corpos espalhados pelo salão. Como tinha sido fácil para Gunns enganá-los. Como seria fácil para ele.

— Acorde! — Ele gritou, e começou a chutar os corpos. — Eu disse para acordar! Cada um de vocês, e então vão acordar seus irmãos!

— O que está acontecendo? — Erik MacCormack se levantou e esfregou a cabeça.

— Eu vou te dizer o que está acontecendo! Enquanto vocês dormiam, Grant e MacGregor partiu! Eu deveria reter o pagamento deste mês. De todos vocês!

— Nós iremos buscá-los e trazê-los de volta, meu senhor! — Outro Cavalheiro gritou. Alguns de seus camaradas concordaram. Ainda havia tempo para pegá-los.

— Você espera que eu envie um bando de homens inúteis que não conseguem segurar suas canecas para lutar contra aqueles dois? — Murdoch argumentou. — Ora, eles quase derrubaram todos vocês no sol poente. Não saberiam o que o atingiu na escuridão. Irão pela manhã. Pelo menos terão uma chance.

Eles concordaram e voltaram para suas camas, juntando o resto de seus companheiros enquanto caminhavam.

Murdoch sorriu.

Sem falhas.

— Pai?

O coração de Edward Murdoch afundou quando ele se virou para seu filho.

— Posso ter uma palavra? — Duncan segurava suas costelas enfaixadas com uma das mãos e erguia uma pistola com a outra.

O tiro ecoou, trazendo os Cavaleiros Negros de volta.

Cavalgando de volta ao vilarejo, Cailean pensou em como tudo tinha corrido bem. Ele ficou surpreso ontem em sua cela quando pediu a Murdoch para deixá-lo escapar e o Lorde concordou. Ele sabia que Murdoch gostava dele, e Seth Menzie era uma razão boa o suficiente para ele querer ajudar Temperance, mas Cailean tinha certeza que a chegada de seu irmão tinha muito a ver com a obediência inquestionável de Murdoch.

Ninguém com algum juízo na cabeça tinha medo dos MacGregors e Grants. Murdoch não era um tolo.

Eles haviam saído de Lyon's Ridge e nenhum sangue foi derramado. Seu tio Tristan teria ficado orgulhoso dele.

Ele estava voltando para casa com Temperance.

Casa. Linavar seria a casa de Cailean pelo próximo ano, e todos os anos que sobraram para ele depois disso, se isso fosse o que ela queria. Ele veria sua família novamente. Talvez ele levasse Temp e a avó para casa em Camlochlin no próximo Natal. Mas, por enquanto, o vilarejo era sua casa.

— Você está sorrindo de novo.

Ele olhou para a bela mulher montada em sua sela na frente dele.

— Graças a você, moça, — ele disse a ela. — Você me devolveu tudo o que meu coração sempre desejou.

— Espero dar a você ainda mais, — Temperance disse a ele, com um sorriso provocador curvando sua boca e enviando calor por seu corpo. — Eu não posso esperar para ficar sozinha com você. — Ela continuou corajosamente.

Ele também não podia esperar, mas eles precisariam de um padre. Ele tinha certeza de que a avó não aprovaria que eles compartilhassem um quarto, a menos que fizesse de Temperance sua esposa, o que ele planejava fazer assim que chegassem.

Eles chegaram ao vilarejo e o encontraram iluminado por tochas em todas as portas.

Quando a avó quase saltou do colo de Patrick, o Highlander riu e pegou seu corpo ossudo.

— Se você estiver correndo para sua cozinha, eu poderia querer uma caneca de hidromel de gengibre.

— Vou fazer um lote para todos nós. — A avó falou feliz no momento em que suas botas atingiram o chão.

— Gostaria de ver William. — Disse Marion, virando-se para ir.

— Fique aqui, moça. — Disse Patrick enquanto ajudava Beth a desmontar. — Gunns e eu vamos buscá-lo.

— Que homem atencioso. — Beth falou. — Ele não quer que Marion ande sozinha no escuro.

Patrick sorriu e piscou para Cailean, que o conhecia bem. Seu primo havia prometido a Deware que discutiriam a flechada quando voltasse. Cailean esperava que William chegasse com todos os dentes.

— E traga minha gata, por favor! — Temperance gritou a Patrick, então sorriu para Cailean enquanto ele a ajudava a descer da sela. — Ela vai querer vê-lo e nunca mais deixá-lo fora de sua vista.

Quando os pés dela tocaram o chão, ele a puxou para seus braços.

— E a ama dela?

Ela riu suavemente contra seu ouvido e puxou um leve gemido do fundo de sua garganta.

— Vou providenciar para que seu desejo seja atendido.

Ele colocou seus lábios nos dela, faminto por ela, ansioso para começar a compartilhar sua vida e sua cama com Temperance.

— Moças! — A avó chamou de dentro. — Venham para dentro antes que todas peguem uma friagem de morte.

Cailean afundou a testa na de Temperance enquanto Marion, Beth e Esmé corriam para dentro.

— Vai ser difícil manter minhas mãos longe de você até amanhã.

— O que tem amanhã? — Ela provocou, saindo para fora de seu abraço.

— Quando encontrarmos o padre.

— Você está tão ansioso por mim?

Ele a puxou de volta e a apertou contra ele, deixando-a sentir a evidência de seu desejo.

— Sim, moça, eu estou. Mas terei paciência por mais um dia.

Ela correu as costas da mão pela mandíbula dele, tentando além da razão para beijá-la. Mas ela se afastou dele.

— Levará mais dias do que isso. — Ela disse por cima do ombro. — A avó está planejando um casamento na primavera.

— Primavera? — Ele quase engasgou. Och, inferno, de jeito nenhum ele iria esperar até a primavera! Ele pensaria em algo. Ele tinha que pensar ou ficaria louco.

Ele a seguiu para dentro de casa, apreciando a vista à sua frente.

Ele entrou ainda cambaleando com o pensamento de meses antes que ele pudesse tomar Temperance como sua esposa. Ele respirou os aromas doces e familiares de azevinho e de louro do Natal e deixou-os acalmá-lo. Ele gostava desta casa. Ele gostou desde o momento em que saiu do quarto bem iluminado de Temperance e entrou em seu salão quentes.

Ele foi até a sala de jantar e acendeu o fogo da lareira. Ele acendeu mais velas e se virou para olhar ao redor do salão espaçoso. O calor encheu cada oco, vazando da madeira vermelho-escura, a pintura de uma criança pendurada nas paredes e alegres ramos de pinheiro e azevinho por toda parte.

A casa construída por Seth Menzie era íntima e convidativa, projetada por um líder que amava as pessoas que liderava.

Cailean gostaria de tê-lo conhecido.

Ele teria agradecido por ter criado uma filha como Temperance com um nome que, Cailean decidiu, combinava perfeitamente com ela. Cailean diria a ele que lamentava que sua liberdade tivesse custado a vida de Seth.

Mas agora ele tinha um futuro para ver. Ele percebeu que os aldeões não haviam feito sua festa de Natal.

Ele sorriu quando um novo plano surgiu em sua mente.

O som da risada de Temperance interrompeu seus pensamentos. Ele se esforçaria para fazer o que pudesse para fazê-la feliz todos os dias. Ele seguiu o som alegre até a cozinha e veio por trás dela, envolvendo um braço em volta de sua cintura.

— Como é possível, — ele ergueu o rosto do cabelo de Temperance e perguntou a ela e a avó, — que vocês só estão aqui há alguns momentos e já cheira tão bem?

A avó sorriu, de pé no forno, e mexeu o que quer que estivesse preparando tão tarde da noite.

— Uma cozinheira deve manter alguns de seus segredos, sabe.

Ele sorriu de volta, descobrindo que abrir seu coração para amar Temperance o havia aberto para amar os outros também. Ele largou Temperance antes de achar mais difícil fazer isso, e foi até o forno e a avó.

— Faltam apenas alguns dias para o Hogmanay.

— Eu sei. — Respondeu a avó, mexendo-se.

— Devíamos fazer algo grandioso no dia anterior, enquanto ainda é Natal.

Ela ergueu os olhos do caldo e estreitou os olhos para ele.

— Quão grandioso?

Ele sorriu para ela. De acordo com Temperance, a avó adorava festas.

— Tão grande quanto você quiser.

Ele sabia que a tinha então. Ele também sabia que era tortuoso interromper as alegrias de cozinhar para a aldeia sobre o argumento de uma velhinha, mas não queria esperar até a primavera!

— E que dia é que estamos comemorando? — Ela perguntou, esquecendo sua panela. — Deve ter um nome.

— Chame de Dia do Casamento de sua Pomba.

Seu sorriso desapareceu quando o dele cresceu.

— Você quer se casar com ela em dois dias?

— Nae. — Ele balançou sua cabeça. — Eu quero me casar com ela amanhã.

— Você é um idiota se acha que posso preparar para esse tipo de celebração amanhã!

Droga, agora o que ele deveria fazer? Só de olhar para Temperance, ele teve vontade de levá-la para a cama.

— Dois dias e nem uma hora antes!

Ela disse dois dias? O sorriso de Cailean voltou. Era melhor do que a primavera.

Ele se inclinou para beijar sua cabeça.

— Obrigado, avó. — Mas ela não estava ouvindo. Ele quase podia ouvi-la conjurando receitas em sua cabeça.

Todos eles ouviram a porta da frente abrir. Cailean foi o primeiro a se mover. Quando ele entrou no salão, embainhou sua espada e sorriu para Patrick, ou melhor, para o monte de pelos sob o braço de seu primo.

Deware o seguia de perto, junto com meia dúzia de outros que souberam de seu retorno e vieram recebê-los em casa.

Inferno, Cailean pensou enquanto se curvava para pegar uma gata correndo para seus braços, quem poderia imaginar que uma criatura tão inconstante o escolheria para amar?

Assim como Sage fez. Ele sorriu e beijou a cabeça da gata.

William passou correndo por ele e Cailean voltou para a cozinha para ver ao reencontro.

— Marion. — Quando ele a viu, o nome dela saiu da garganta de William como se doesse. Cailean sabia que William nunca teria amado Temperance como amava Marion. — Meu amor. — Ele correu para ela e a envolveu em seu abraço apertado. — Eu procurei por você. Oh, tenho você de volta! — Depois de um longo beijo e mais um ou dois momentos olhando em seus olhos, Will voltou sua atenção para Cailean e Patrick.

— Eu nunca poderei retribuir a você. — Ele soltou Marion o tempo suficiente para puxar Cailean para seu abraço. — Você a trouxe de volta para mim quando eu temia que ela estivesse perdida para sempre.

— Sim. — Cailean sabia como era bom ter sua vida de volta.

Deware se voltou para Temperance.

— Há algo que preciso lhe dizer.

— Que foi você quem atirou em Patrick? — Ela perguntou, com ternura a seu querido amigo. — Ou que meu pai sabia disso?

— Ambos. — Ele abriu a boca para dizer mais, mas o sorriso amoroso dela o deteve.

— O passado acabou, sim? Vamos fazer nosso próprio futuro agora.

Cailean não pôde deixar de se deleitar com a visão dela. Esta era a mulher que ele amava. Seu futuro seria brilhante.

Mas ele ainda não a tinha beijado.

 

Capítulo 34


— Por que Will e Marion não fazem seus votos conosco? — Temperance se virou para a avó. — Podemos?

A avó assentiu com um suspiro.

— Não vejo porque não. Salvo que isso nos roubará a festa do outro dia.

Cailean ainda estava pensando no que haviam dito quando alguém gritou do lado de fora. O que tornou tudo ainda mais assustador foi que gritaram o nome de Cailean.

— Todos fiquem onde estão! — Ele gritou, e se virou imediatamente para Patrick. Seu primo já estava a caminho da porta da frente para trancá-la.

Ele olhou pela janela e gritou para Cailean:

— Cavaleiros Negros!

Droga, ele pensava que Gunns os tinha sedado. Como eles chegaram aqui tão rápido? Seu sangue ferveu. Se eles queriam uma luta, ele iria lhes dar uma. Ele gritou ordens para todos os presentes. Patrick e Gunns ficariam com ele enquanto Deware permaneceria dentro, mantendo os outros seguros.

— Você não parece tão perturbado com isso. — Temperance veio até ele enquanto ele colocava duas pistolas em suas botas.

— O que há para ficar perturbado? Eu vou acabar com isso esta noite.

— Não vou deixar que levem mais ninguém. — Jurou ela, pegando seu arco e flecha do chão, onde pousaram no dia em que Duncan a levou. — Mesmo se eu morrer, irei sabendo que fiz tudo o que podia desta vez.

— Você não vai morrer. — Ele prometeu enquanto arrancava sua arma de sua mão.

Temperance puxou sua manga, seu rosto uma máscara de pavor.

— Bem, já que tem tanta certeza de que não vou, você vai? Morrer?

Seu sorriso era largo, infantil, com uma pitada de maldade bem no fundo.

— Não, eu também não vou morrer. Tenha fé em mim.

Ela assentiu.

— Eu tenho.

— Cailean! — Duncan Murdoch gritou do lado de fora. — Mostre sua cara ou eu queimarei esta vila!

Temperance levou as mãos à boca.

— Não deixe ele fazer isso, Cailean!

— Nenhum dano acontecerá a Linavar. — Ele jurou enquanto ela jogava seus braços ao redor dele e sussurrava que o amava.

Revigorado pelo afeto dela, ele saiu de casa e caminhou pelas sombras contra a parede lançada pelas tochas que iluminavam o pátio externo. De sua posição, ele podia ver os cavaleiros bem o suficiente, embora eles não pudessem vê-lo. Ele curvou a boca em sorriso para Fergus MacRae e os outros Cavaleiros Negros ao redor de Duncan.

Ele se virou quando ouviu Patrick saindo de casa, xingamentos saindo dos lábios de seu primo. Seus olhos se encontraram e Cailean assentiu. Eles não queriam matar aqueles homens com quem comeram e beberam por quatro meses, mas Cailean o faria. Se isso fosse o necessário para proteger a mulher com quem ele se casaria em dois dias, e a avó e seus convidados amontoados na casa, apavorados.

— Saia da escuridão e me deixe ver você. — Duncan exigiu de sua sela. Cailean, Patrick e Gunns mantiveram suas posições.

— Duncan, onde está seu pai? — Cailean o chamou.

O filho do Lorde ergueu sua pistola, tentando dar uma olhada melhor.

— Ficando frio no chão do castelo. Onde acha que ele estaria depois que me traiu e deu tudo o que era meu para você?

Cailean praguejou baixinho e sentiu sua determinação vacilar por um momento. Edward Murdoch estava morto? Não, ele esperava que não fosse assim. Agora, mais do que nunca, Duncan precisava ser detido.

Ele impediu Gunns de engatilhar sua pistola. Ainda não.

— Vocês vão protegê-lo depois que ele matou seu Lorde? — Ele gritou para os homens.

— Edward Murdoch está morto. Lutamos pelo homem que terá a chave dos cofres.

Patrick estava correto. Cailean não era um deles. Ele nunca poderia ser.

— Coloque a pistola no cinto, Duncan. — Ele avisou. — Antes de me tentar a matá-lo.

Duncan riu e apontou o cano na direção da voz de Cailean.

— Um de nós vai morrer esta noite, Grant, e não serei eu.

Cailean não esperou para descobrir se Duncan atiraria ou não. Ele alcançou sua adaga e com a velocidade da luz arremessou a lâmina na mão de Duncan.

A lâmina atingiu a pistola e a lançou na escuridão. Duncan gritou e os homens ao redor dele sacaram suas armas.

Cailean havia saltado para frente, pronto para arrastar Fergus MacRae de sua sela, quando outro cavalo veio disparado da escuridão e quase o esmagou sob as patas.

Cailean olhou para o cavaleiro e estava prestes a alcançar a pistola em sua bota quando viu um rosto familiar sorrindo para ele.

— Importa-se de sair do caminho, Cailean? Não vim até aqui para matar meu irmão.

Malcolm.

Seu irmão havia chegado, e com seus outros parentes, Cailean percebeu quando seus cavalos passaram por ele. Eles chegaram cedo!

O rosto de Cailean se abriu em um sorriso quando algo passou voando por sua orelha.

Envolto em seu manto de pele, Malcolm Grant gemeu como o perigoso urso ferido com o qual ele se parecia, e agarrou a flecha que se projetava de sua panturrilha.

Cailean se virou para ver quem havia disparado a flecha e encontrou Temperance perto da porta, com o arco na mão.

O que diabos ela estava fazendo aqui? O coração de Cailean ressoou em seus ouvidos, lembrando-o de que, embora se sentisse invencível antes, todos eram humanos.

Volte para dentro. Volte para dentro! Ele queria gritar com ela, mas Duncan ainda não a tinha visto e Cailean não queria revelar sua posição.

— Cailean! — Malcolm gritou para seu irmão quando Cailean saiu correndo. — Diga-me que não é a moça que você me escreveu.

Ele tinha que chegar até ela e levá-la de volta para dentro, mas os irmãos MacCormack bloqueando seu caminho pensavam de forma diferente.

Só havia uma maneira de passar por eles. Cailean pegou a pistola em sua bota.

— Vamos acabar com isso rapidamente, então.

Ninguém em Glen Lyon negaria que Duncan Murdoch era um tolo. Mas chegar a Malcolm Grant, conde de Huntley e Lorde de Ravenglade, com uma faca, era realmente imprudente.

Rodando em seu garanhão escuro, Malcolm atingiu o primeiro Cavaleiro Negro que entrou em seu caminho, derrubando-o da sela e no chão. O restante atacaram de uma vez, trazendo Patrick e Gunns, bem como Edmund MacGregor e Darach Grant, para a briga.

— Pare com isso antes de me forçar a machucar você. — Patrick tentou argumentar com Fergus MacRae enquanto os outros lutavam ao seu redor.

— Desculpas, Pat. — Fergus desembainhou sua espada. — Duncan deu um mês de salário pela sua cabeça, e eu poderia usá-lo. — Ele lançou, errou e gritou quando Patrick pegou seu braço, torceu-o para trás e o quebrou.

Darach Grant, um bardo quando não estava atacando seus inimigos, passou a lâmina de sua enorme claymore na barriga de Tavish Innes e depois perseguiu outro homem antes que o corpo de Tavish atingisse o chão.

Edmund MacGregor lançou um conjunto de claymores, uma em cada mão, e matou rapidamente mais três homens.

Temperance tentou apontar sua flecha em Erik ou Dougal MacCormack quando eles avançaram em Cailean. Eles o derrubaram enquanto ele tentava pegar a arma na bota. Quase instantaneamente os três se tornaram uma massa se contorcendo no chão. Ela não podia atirar sem correr o risco de acertar Cailean.

Erik acertou um soco na mandíbula de Cailean de uma posição vertical. Cailean respondeu com uma cotovelada na sua garganta. Ele se virou para Dougal em seguida e bateu com o punho fechado no seu nariz. Enquanto os irmãos estavam caídos, Cailean pôs-se de pé e limpou a boca ensanguentada.

Ele estava prestes a se voltar para Temperance quando outra pessoa o atingiu entre as omoplatas com algo duro, fazendo-o cair sobre um joelho. Ele ouviu outra flecha assobiar no ar e então ouviu seu atacante cair no chão atrás dele.

Temperance.

Inferno.

Erik se recuperou e lançou seu maldito punho novamente. Cailean deu um soco no queixo, balançou a cabeça e agarrou Erik pelo pescoço. Dougal tentou ajudar seu irmão, mas recebeu um punho esmagador no nariz por seu esforço. Cailean teve que se apressar. Ele pegou sua pistola e apontou o cano para o rosto de Erik.

— Eu não quero te matar. — Ele ergueu a pederneira caso fosse necessário.

— Grant! Não! — Dougal implorou a ele. — Não vamos lutar com você. Não faça isso.

O grito de Temperance quebrou o coração do guerreiro e o colocou de pé, esquecendo os MacCormacks. Duncan estava atrás de Temperance com um braço enrolado em sua cintura, a outra mão em seu cabelo.

— Duncan, deixe-a ir! — Cailean apontou sua pistola. Seu dedo estava firme contra o gatilho.

— Vá em frente e atire, Grant. Essa febre me assola.

— Esse é o veneno que te dei. — Temperance disse a ele. — Pagamento pelo meu pai.

Duncan a puxou pelos cabelos.

— Sua vadia.

Cailean disparou e a bala acertou o alvo. Os joelhos de Duncan atingiram o chão primeiro.

Temperance o seguiu, o brilho do punho da adaga nas suas costas.

Por um momento de estremecimento, Cailean não conseguiu se mover.

Ela não! Nae, ela não!

Ele largou a pistola e saiu correndo.

Ela não. Ele não podia perdê-la. Quando ele a alcançou, caiu de joelhos para pegá-la em seus braços.

— Temperance, meu amor, por favor. Por favor, não vá. — Ela não. Assim não.

Homens estavam começando a se aglomerar ao seu redor, mas ele não via quem eram. Ele não ouvia o que eles estavam dizendo. Ele tinha voltado em algum lugar no tempo e estava segurando Sage, Alison enquanto morriam. Mas isso, isso era muito pior. Isso era insuportável. Havia muita raiva nele para ele conter por mais tempo. William se aproximou e se moveu para tomá-la, mas recuou quando Cailean ameaçou matá-lo.

— Cailean. — Era Patrick, sua voz severa, mas cheia de tristeza. — Deixe a avó dar uma olhada nela. Acho que ela ainda respira. Venha, primo, deixe-a dar uma olhada.

Ele não queria deixá-la. Nunca. Mas se ela ainda vivesse... Ele se atrevia a ter esperança?

Ele olhou para os olhos da avó saturados de tristeza e luar, e a deixou examinar sua neta.

— Por favor, avó. — Ele implorou a ela, implorou a Deus. — Por favor, ajude ela. Ela não pode morrer.

A avó sorriu para ele e foi a coisa mais gloriosa que ele já tinha visto.

— Não é um ferimento sério, filho. Olhe, ela abre os olhos para te ver.

Ele olhou para baixo, embora fosse difícil ver através das lágrimas que turvaram sua visão.

— Temp... — Ele engasgou. Incapaz de dizer qualquer outra coisa, ele a puxou de volta contra seu peito.

— Você não vai se livrar de mim tão facilmente, Cailean Grant. — Ela disse a ele um pouco fraca. — Temos um banquete de casamento para participar.

Ele sorriu para ela, depois riu. Ela estava aqui. Ela era sua.Eles tinham um futuro juntos.

Um futuro em que ele confiava.

Finalmente.

 

Capítulo 35


Na manhã seguinte, Temperance ergueu os olhos da cama para os rostos que a encaravam. Meu Deus, cada um era mais bonito do que o outro. Claro que ninguém se aproximava de Cailean, embora no momento ele estivesse com uma aparência péssima.

Ela se lembrou de como ele lutou contra os Cavaleiros Negros. Ela nunca tinha visto um homem lutar com tanta determinação para vencer. Ele era um guerreiro de fato. E, ainda agora, ele segurava sua gata ternamente contra seu peito.

Ela pegou a mão livre dele, que estava ao lado dela, e apertou. Ele se inclinou e beijou sua cabeça.

— Nunca mais me assuste assim, Temp. — Seu tom era leve, mas ela sabia o que a ideia de perdê-la tinha feito com ele.

— É a primeira vez que ouço Cailean dizer que estava com medo.

Ela desviou o olhar para um homem com lindos olhos verdes mais cheios de malícia do que TamLin à espreita de um rato.

— Isso é o que as moças fazem com você, Cailean. Às vezes me pergunto se vale a pena toda a preocupação. — Continuou ele, apesar do tapa na parte de trás de sua cabeça dada pelo homem que ela acertou com sua flecha.

— Darach, — disso o maior com sangue seco em sua panturrilha. — Quando chegarmos em casa, vou perguntar a Janet se ela acha que vale a pena se preocupar com ela.

— Certamente não tanto quanto você com Emma.

Temperance olhou para Cailean e sorriu quando ele revirou os olhos para o céu. Este era seu irmão, o Lorde de Ravenglade, e seu primo, de quem ele havia falado.

Eles vieram para Linavar, e bem a tempo. Ela não tinha certeza se Cailean, em sua condição atual, e Patrick, que gostava muito dos mercenários para querer matá-los, poderiam ter triunfado sobre tudo.

— Ele sabia que você viria. — Temperance disse ao irmão de Cailean. Ela sorriu. Era difícil não rir. Meu Deus, mas ele era bonito, com covinhas sedutoras e olhos azul celeste eclipsados por mechas de cabelo castanho salpicadas de fios de ouro. — Obrigada. — Ela disse a ele suavemente enquanto ele mancava para frente. — E me perdoe por atirar em você.

Ele sorriu e encolheu os ombros largos.

— Não é nada.

— Ele provavelmente diria o mesmo se você atirasse no coração dele.

Darach piscou para ela quando Malcolm lançou a ele um olhar sombrio.

A porta se abriu e outro Highlander entrou com a avó. Este era tão glorioso de se ver quanto o resto, com suaves cachos dourados caindo sobre seu olhar gentil.

— Acabo de vir de Lyon's Ridge. O Lorde de Glen Lyon vive. Ele foi baleado, ao que parece por uma mão trêmula. Ele vai se recuperar. Patrick e um homem chamado John Gunns estão com ele.

Ele viu Temperance o olhando e veio até a beira da cama.

— Edmund MacGregor ao seu serviço, milady.

Ela corou, então parou quando encontrou o olhar de Cailean.

— Glen Lyon deve ter um novo Lorde. — Malcolm cutucou seu irmão no ombro. — Pegue o castelo. Vou falar com a rainha sobre isso e ganhar seu apoio.

— Você conhece a rainha? — Temperance perguntou a ele, os olhos arregalados.

— Ela é parente da nossa avó. — Darach disse a ela.

A cabeça de Temperance estava girando. Eles... Cailean era parente da rainha? Ela fechou os olhos para absorver tudo.

— Tudo bem, todo mundo fora! — Cailean se levantou da beira da cama e os empurrou para a porta. — Podemos discutir o futuro de Lyon's Ridge mais tarde.

Quando ficaram sozinhos, ele voltou para a cama e deitou-se ao lado dela. Ele soltou TamLin e pegou Temperance cuidadosamente em seus braços. Ela podia sentir seu coração disparado. Ela jurava que podia ouvir seu sangue correndo em suas veias. Ela sabia como deve ter sido para ele segurá-la em seus braços e temer que estivesse morrendo. Seu coração se partiu por ele.

— A avó disse que a adaga só arranhou minha pele. Estou bem, meu amor. — Disse ela, tentando fazê-lo se sentir melhor.

Não ajudou. Ele parecia mais angustiado do que na noite em que abriu os olhos pela primeira vez em sua cama.

— Temperance, perdoe-me pelo mal que aconteceu na noite passada.

— Não se atreva a dizer isso, Cailean Grant! — Ela o beliscou no braço com força suficiente para ampliar seu olhar. — Não quando eu estava apenas lembrando o quão completamente valente você pareceu para mim. Sua determinação de vencer foi feroz. Você não lutou apenas por mim, mas por toda a aldeia. Você é corajoso e heroico aos meus olhos, um orgulho a raça de homem como a sua, e você é meu.

Ele abaixou a cabeça para beijá-la, mas ela o empurrou. Se ele começasse a beijá-la, ela nunca o deixaria parar.

— Vá. Vá ver Lorde Murdoch. Eu estou bem. E vou descansar, eu prometo. Eu tenho que planejar com a avó e Marion sobre a celebração de amanhã. — Ela se sentou para mostrar a ele que estava bem, então o empurrou quando ele tentou beijá-la novamente.

— Cailean? — Ela o chamou antes dele sair. — Você vai fazer isso? Você vai assumir o papel de Lorde de Glen Lyon?

Ele balançou sua cabeça.

— Não, amor. Não quero ser o Lorde. Quero aprender a cultivar.

Cailean acordou no dia seguinte em um emaranhado de lençóis e uma gata ronronando perto de seu rosto. Abrir os olhos foi um erro. A forte luz do sol emanando de quatro venezianas abertas do quarto de Temperance doeu. Ele se lembrou de quando o sol era a coisa que mais odiava no quarto dela. Ele queria apenas escuridão, mas ela o colocou na luz, como uma planta murcha.

— Bom dia, Temperance! — Alguém chamou de fora. — Você está pronta para seus votos hoje?

— Estou ansiosa para fazê-los, Anne.

Cailean se apoiou nas palmas das mãos e se virou para sorrir, enquanto ela continuava a dobrar os lençóis limpos ao lado da janela.

— Como está suas costas, amor? Está boa para dobrar lençóis?

Ela sorriu, mas ele sabia que ela estava fazendo o possível para ser paciente. Desde que Duncan Murdoch colocou sua lâmina em suas costas, Cailean a idolatrava, talvez exagerando um pouco.

— Se estou disposta a me casar com você hoje, posso dobrar lençóis.

Ela ia se casar com ele hoje. Ela concordou em estar unida a ele aos olhos de Deus e seus parentes. Como um homem poderia ser tão afortunado?

— Como está Sr. Grant? — Anne Gilbert gritou.

Temperance olhou para ele e olhou para o céu enquanto Cailean se sentava e lançava as pernas, envolto em sua calça até os joelhos, sobre a cama.

— Ele acabou de acordar e já está testando minha paciência, Anne.

Ele a olhou e encheu o quarto com sua risada.

— Ela tem sorte de eu não a estar carregando por aí, Srta. Gilbert. — Ele falou olhando em direção à janela. — Ela é teimosa, sabe.

Alguns das amigas da Srta. Gilbert riram o que fez Temperance fazer uma careta.

— O que está errado? — Ele perguntou da cama, onde esticou os braços musculosos e o torso longo e tenso.

Seu olhar se espalhou sobre ele, quente de desejo, mas ainda um pouco taciturna.

— Acho que elas estão observando você por muito tempo.

Ele olhou para o raio de sol banhando a cama da segunda janela da direita. Ela poderia estar certa. Ele deslizou seu olhar para o dela e sorriu.

— Você está com ciúmes?

Ela abriu a boca para protestar, mas com um suspiro desistiu de tentar dobrar o lençol de linho.

— Não quero começar o dia dos nossos votos sendo mentirosa. Você é agradável aos olhos, meu amor. Se as mulheres ficarem olhando para você por muito tempo, entendo o que elas veem. Mas não gosto que vejam você na cama esticado como um príncipe lânguido. Essa é uma visão apenas para os meus olhos.

Ele se inclinou para frente e arrancou o lençol de suas mãos.

— Então o que você está tentando dizer é que está com ciúmes. — Ele a puxou entre suas coxas e sorriu.

— E você não tem? — Ela perguntou, tentando salvar sua dignidade.

— De quem eu tenho que ter ciúme? Ninguém olha para você além de mim. Não, se eles quiserem manter os olhos.

Ela riu, deixando suas terminações nervosas em chamas, então soltou um pequeno gemido quando ele beijou seu pescoço. Ele era um homem de muitas paixões. Sua alegria estava se tornando uma delas?

— Teremos que fechar as venezianas esta noite depois de nos casarmos.

— Vou construir um segundo andar. — Ele prometeu, o som abafado em seu cabelo.

Ela se retirou o tempo suficiente para olhar em seus olhos.

— Você pode fazer isso?

— Claro. Lembre-se de que eu disse que meu pai é um construtor. Meu irmão Malcolm é melhor nisso do que eu, mas sei o que estarei fazendo.

— Mais quartos seriam o ideal depois de termos nossos filhos.

— Oh? — Ele a puxou de volta e baixou a cabeça para mordiscar sua orelha. — Quantos nós temos?

— Eu gostaria de cinco ou seis. Eu não quero que eles fiquem sozinhos quando estiverem crescendo.

— Eles nunca estarão sozinhos. — Ele prometeu. — Meus parentes vão me visitar com frequência.

— Então, devo me casar com um Cavaleiro Negro.

— Você não pode voltar atrás agora. A avó cozinhou comida suficiente para duas semanas.

— Suponho que devo, se ela cozinhou tanta comida. — Ela mordeu o lábio, arrastando seu olhar para baixo. — Você não precisa se parecer com um, não é?

Ele sorriu, um pouco confuso com a pergunta dela, e balançou a cabeça.

— Bom, porque eu estive afiando a navalha de meu pai esta manhã.

Seu sorriso se aprofundou. Ele fechou as mãos com mais segurança em seus quadris.

— Isso soa bastante ameaçador.

Ela passou as costas das mãos pelas bochechas e mandíbula dele.

— Seu rosto é lindo demais para ficar coberto por esta barba. Seus olhos são muito expressivos para se esconder atrás de cabelos muito longos.

Por que ele se preocuparia com o cabelo? Ele se livraria de tudo se isso a agradasse.

Quando ela se afastou, ele estendeu a mão para pegá-la novamente. Ela riu e correu para a pequena mesa do outro lado do quarto, onde preparara uma pequena série de lâminas, sabão, uma tigela de água e alguns trapos. Ele observou seu traseiro, não que ele pudesse ver muito disso por baixo de todas as camadas de suas saias. O monte suave se balançando levemente enquanto ela trabalhava era o suficiente para deixar seus músculos tensos.

Quando ela girou nos calcanhares, uma grande bandeja em suas mãos, o cabelo escuro caindo em torno de seu sorriso, ele empurrou as palmas das mãos na cama, pronto para pular e encontrá-la no meio do caminho.

A porta do quarto se abriu, mantendo-o imóvel onde estava sentado.

— O café da manhã está pronto.

— Avó. — Temperance cumprimentou sua avó com um sorriso brilhante. — Eu estava prestes a fazer a barba dele.

A avó olhou para os dois com um olhar meio severo e depois assentiu.

— Tudo bem então. Vou deixar você com isso. — Ela saiu, fechando a porta atrás dela, sem outra palavra.

— Não questione. — Temperance riu de sua descrença atordoada quando ele se levantou para pegar a bandeja de suas mãos. — Eu disse a avó, — disse ela enquanto ele colocava a bandeja na cama, — que você é aquele que meu pai e minha mãe ficariam felizes se eu escolhesse. Quanto à avó, — Ela pressionou as mãos em seu peito quando ele a encarou novamente, e então o empurrou de traseiro na cama, — Ela está esperando por você há mais tempo do que eu. Ela está feliz por mim e não vai nos perturbar novamente.

Ele não sabia o que dizer depois de elogios tão grandiosos. Ele baixou o olhar e sentiu seu rosto ficar um pouco mais quente. Ele não gostou deles. Elogios. Como alguém deveria responder a isso?

Exceto para perguntar por que esperaram dois dias se a avó estava feliz por eles. Ele sofria por ela e isso o estava deixando louco.

Ela se colocou entre suas coxas e se inclinou para pegar o pano e a tigela.

Ele fechou os olhos e mergulhou o nariz para inalar o cheiro de limões e gengibre. Ele queria comê-la viva. Ele os abriu novamente a tempo de olhar para as costas dela e deixar seu olhar pousar em seu traseiro. Ele não a teve da maneira que sua mente estava gritando para que tivesse, mas manteve as mãos na cama. Quanto mais cedo eles terminassem o barbear, mais cedo poderiam se casar, e ela seria sua.

Ela se endireitou e entregou-lhe a tigela. Ela pegou o pano em seguida e enrolou-o no seu pescoço, respondendo ao sorriso caloroso dele tão perto do dela.

Quanto tempo demoraria um beijo?

Ela mergulhou a mão na tigela e molhou o rosto dele com a água aquecida pelo sol, dispersando seus pensamentos íntimos dela.

Ela fez de novo. Desta vez, ela deixou seus dedos permanecerem sobre a linha de sua mandíbula, e seus olhos se fixaram nos dele até que ele pudesse contar os diferentes tons de azul que viu. Foram quatro.

Finalmente ela piscou.

— Passe-me o sabão, por favor.

Ele se recostou e pegou o sabão e a navalha também.

Ela pegou a lâmina e ergueu-a contra a luz do sol.

— Você tem medo de que eu arranque seu coração?

— Isso é totalmente desnecessário. — Disse ele, erguendo o queixo para ela e expondo o pescoço. — Você só precisa pedir minha vida, e é a sua.

Seus olhos brilharam sobre ele e então ela sorriu.

— Eu não quero sua vida, apenas seu coração.

— Ele já é seu.

Ela passou o dedo sobre os lábios dele e depois o provocou mais um pouco com o mais breve dos beijos.

— Confia em mim, sim?

— Sim, moça.

Ela segurou a lâmina afiada em sua bochecha, na frente de sua orelha. Ela usou uma mão para puxar sua pele esticada e a outra para começar a barbear. Usando pouca pressão, ela o abaixou em um ângulo que cortou sua barba e não sua carne. Ela sabia o que estava fazendo.

Ele a observou se aproximando, seu olhar concentrado no que ela estava fazendo. Ele estudou a espessura de seus cílios, os contornos suaves de seu rosto. Ele saboreou o hálito doce dela caindo em seu rosto. Levou cada grama de força que ele possuía para não fechar os braços ao redor dela e puxá-la para um abraço. Mas depois da segunda passada sobre o queixo, ele perdeu a batalha.

Ele a tocou lentamente. Afinal, era seu rosto sob a lâmina. Ela fechou os olhos ao sentir os dedos dele ao longo de sua coxa.

Quando ela os abriu novamente, ele estava sorrindo.

— Moça, você ainda vai me matar.

Ele aproveitou a oportunidade quando ela tirou a lâmina para enxaguá-la, e fechou as mãos sobre as nádegas dela e apertou. Ele cerrou os dentes e balançou a cabeça para si mesmo porque não conseguia manter as mãos longe dela.

— Quase pronto.

Seu sussurro soou como um ronronar em seu ouvido.

Quase pronto, e depois? Seu cabelo, banho, café da manhã, vestir... tudo enquanto o padre esperava.

Ele ficou quieto, mas seu coração o traiu enquanto ela o passava pela terceira vez, mudando de direção para um corte mais próximo.

— Temperance, você é tão bonita, meu amor. — Ele disse suavemente enquanto ela se movia perto de seu queixo. — Eu não posso olhar para você sem querê-la, cada parte de você. Não posso esperar para ter você em meus braços, minha cama, para estar dentro de você.

Ela parou de se barbear e olhou em seus olhos.

— Eu me sinto da mesma forma.

— Então deixe-me cortar meu próprio cabelo e encontrar você no salão em uma hora. Sim?

 

Capítulo 36


A dupla cerimônia correu bem, embora tenha demorado um pouco mais do que Cailean gostaria. Seu casamento com Temperance e Will com Marion inaugurou o Hogmanay. Com suas muitas tradições, a noite seria longa. Ele sabia que não poderia levar sua esposa para a cama durante a celebração, então bebeu e cantou canções e construiu fogueiras nos campos com os aldeões. Jantaram torta de veado, bolinhos de massa, bolinhos de carne e haggis com molho de uísque, e engoliram tudo com Athole brose, uma bebida feita de aveia, mel, água e uísque.

Algum tempo antes da meia-noite, os aldeões voltaram para suas casas, mas apenas para aguardar seu primeiro visitante. Tradicionalmente, era um bom sinal de sorte se um homem alto e moreno fosse o primeiro a cruzar a soleira de alguém depois da meia-noite.

Cailean juntou pães pretos, sal e carvão para presentes e saiu com Temperance para bater nas portas e compartilhar a boa vontade enquanto os sinos da meia-noite tocavam por todo o povoado.

Mais tarde, os aldeões acenderam tochas e marcharam de volta para a casa de Temperance cantando velhas canções para um próspero ano novo.

Temperance o seguiu de volta ao salão, onde ele parou na entrada, sob o visco que secava, e finalmente a beijou.

Ah, ele poderia viver e morrer assim, beijando-a, saboreando seu hálito quente e doce, sentindo suas curvas gloriosas contra ele.

Inferno. Ele estava farto de comemorar. Ele não se importava se a festa não havia acabado.

Ele queria comemorar com sua esposa.

Ele a carregou para a cama deles, e a deitou com ternura. Ele ignorou os sons do último dos foliões da festa no salão. Portas e venezianas foram fechadas e trancadas. Eles estavam sozinhos. Finalmente.

— Como é, — Cailean perguntou, parecendo surpreso por um momento antes de passar a mão pelos cabelos curtos, — que um homem simples como eu se casou com a donzela mais corajosa e adorável do reino?

— Meu querido, — disse ela, deixando seu olhar percorrer cada centímetro dele, — não há nada de simples sobre você. — Sua respiração era curta e superficial enquanto ele tirava seu plaid. Sua camisa caiu em seguida, ondulando até o chão. — Isso me leva a considerar, — Sua respiração escapou por cima de seu ombro nu quando ele inclinou seu corpo para o dela, — Como um homem tão magnífico é agora meu marido.

Ele beijou sua garganta e puxou o decote do glorioso vestido de lã azul centáurea que a avó tinha dado a ela. Outra coisa a amar nele era que ele não sabia como tirar uma mulher de seu vestido.

— Os laços estão nas costas. — Ela disse.

Ele a virou de bruços, surpreendente e emocionado ao mesmo tempo. Ela riu das milhares de emoções que ele despertava dentro dela e ficou imóvel enquanto ele puxava seus laços s, libertando-a dos limites de seu vestido.

Ele trabalhou lentamente, tomando seu tempo para dar um beijo em cada centímetro de sua coluna que ele expôs. Ela estremeceu com sua língua, com seus dentes arranhando-a com ternura. Ela imaginou como seus lábios suculentos poderiam estar franzidos para devorá-la.

Quando ele alcançou a ascensão de seu traseiro, ele traçou seus dedos sobre sua parte inferior das costas.

— Você é sublime, — ele disse a ela em um sussurro gutural baixo que colocou suas terminações nervosas em chamas. — Sua visão me arrepia.

Ele puxou outro laço e ela engasgou quando ele puxou seu vestido e o jogou em uma pilha no chão.

— Seu som faz meu coração voar, e ele voa por sua causa, Temperance. — Ele se moveu sobre ela e se inclinou para passar a língua por sua carne trêmula. — Seu gosto, tão docemente libertino, me deixa louco de desejo.

Quando ele beijou seu traseiro, ela prendeu a respiração. Ele iria beijá-la lá novamente? Ela esperava que sim. Era perverso e a fazia se sentir selvagem.

Mas ainda não.

Ela gostava do que ele estava fazendo com ela agora. Suas palmas eram ásperas com calosidades que pareciam particularmente deliciosas enquanto ele passava a mão em seu traseiro. Quando ele se moveu para montá-la, ela se virou para olhá-lo por cima do ombro.

Seu sorriso, tão masculino e desejoso dela, a fez virar embaixo dele, molhada e pronta para o que quer que ele pretendesse fazer.

Ele puxou o lábio inferior entre os dentes e, em seguida, mergulhou a boca nos duros mamilos dela.

Ela arqueou as costas e passou os dedos pelos cabelos dele. Seu corpo doía por ele. Seus músculos se contraíram e então relaxou novamente quando ela segurou seu rosto e direcionou seus beijos para sua boca. Ele moveu sua boca carnuda sobre a dela, consumindo-a. Ela se abriu para a língua dele enquanto o fogo a percorria.

— Eu te amo. — Ele sussurrou, deixando sua boca e abrindo uma trilha quente em sua garganta, sobre seus seios, sua barriga trêmula, até seus quadris.

Ela fechou os olhos, seu corpo inundado de sensações, sabendo o que estava por vir e ansiando por isso.

Quando sua boca encontrou seu botão, o instinto a fez tentar fechar as pernas. Ele as separou e a lambeu, uma, duas e novamente, até que ela se abriu mais, convidando-o a tomar todo seu botão.

E ele tomou.

Ele chupou suavemente, provocando-a com a língua, os dentes, os lábios firmes e inflexíveis. Ela se contorceu embaixo dele, gemendo, querendo algo mais. Ela o queria, cheio e pesado, em cima dela, dentro dela.

Ela não podia contar a ele. Já era ruim o suficiente ela estar ofegante. Sua ousadia a mortificava, então ela se mexeu para longe dele.

Ele se levantou ficando de joelhos novamente e a olhou com preocupação enrugando sua testa.

— O que é isso?

— Tire suas calças. — Céus, era sua própria voz que ela ouviu saindo de seus lábios? — Quero dizer...

Sua leve carranca se curvou para cima em um sorriso lento e sensual que prometia prazeres perversos. Ele se ajoelhou sobre ela, desamarrando os cadarços em seu abdômen, seus olhos famintos e fixos nela. Ela observou com o mesmo desejo enquanto ele abaixava as calças sobre os quadris. Seus olhos se arregalaram e seu coração acelerou quando seu pênis saltou livre, grande e pronto.

Ele tirou as calças e elas caíram amontoadas ao lado da cama. Ele se inclinou para beijá-la, seu corpo pesado e dominante no dela. Ele acariciou seu rosto com as costas dos dedos, alisou o cabelo de sua bochecha, tudo enquanto olhava profundamente em seus olhos, como se ela fosse a coisa mais preciosa que já possuiu.

Ela amava a sensação dele, a amplitude dele. Ela mordeu o lábio, um pouco nervosa, pois se lembrava da dor, mas também do prazer, de suas estocadas.

Ele falou com ela enquanto abria suas pernas. Ele contou a ela sobre seu coração e como ela o havia colocado para bater novamente. Ele entrou lentamente, metodicamente, cuidadoso com ela.

Ela se sentiu bêbada de desejo, hesitante, mas depois ansiosa novamente, e ergueu as pernas para colocá-las confortavelmente em volta da cintura dele.

O quarto começou a se mover enquanto suas estocadas se aprofundavam. Ele se retirou quase até a ponta e afundou profundamente dentro dela uma e outra vez, ao ritmo de seu coração. Ela teve o cuidado de não arranhar suas costas e passou as palmas das mãos pelas laterais enfaixadas até as nádegas. Ela o abraçou, poderoso e tenso em suas mãos, enquanto ele se movia. A dor não veio e o prazer fluiu, jogando-a de um lado para o outro. Ela se empurrou para trás, apertando os quadris, puxando gemidos da garganta dele e dela própria.

— Cailean... eu... eu

Antes que ela pudesse terminar, ele se moveu na cama e a rolou. Ela olhou para baixo, surpresa e encantada, por seu rosto sorridente e a sensação dele embaixo dela.

Ela se sentia poderosa e no controle de cada movimento. Incerta sobre o que ela deveria fazer a princípio, se contorceu em cima dele. Ele gemeu, erguendo a cabeça para beijar seus seios. Com ele ainda profundamente dentro dela, ela começou uma dança que fez seu corpo tremer. Ela se ergueu sobre o comprimento dele e depois desceu novamente, mais forte, mais rápido, até que o mundo ficou vermelho e laranja e explodiu em chamas.

Ela se moveu sobre ele como se fosse feita de um líquido, encontrando todos os ângulos certos para tomá-lo mais fundo, para gritar de êxtase.

Quando ele segurou seu traseiro e se arqueou para tomá-la mais completamente, ela quase chorou de prazer. Ela sentiu seus músculos se contraírem, sentiu a onda de pura felicidade passando por ela.

Ela olhou para ele e encontrou seu olhar brilhante, observando-a. Ela esqueceu o nome dela, mas não o dele, e falou em uma série irregular de respirações enquanto eles se moviam mais rápido e encontravam alívio um no outro.

Mais tarde, ela estava enrolada em seus braços, mantida em seu abraço seguro. Ela beijou seu peito e pressionou seu ouvido contra ele para ouvir a música de sua respiração irregular.

— Cailean?

— Sim, amor?

— Você acha que eu serei uma boa mãe?

— Você será destemida, moça, exatamente o que nossos filhos precisam para crescer fortes e enfrentar o que quer que o mundo jogue sobre eles.

— Nossos filhos, — ela ecoou sonhadora. — Que aventura nossas vidas serão.

Ele olhou em seus olhos como se quisesse derramar cada pedaço de si mesmo nela. A peculiaridade ingênua de seu sorriso envolveu seu coração. Quando ele falou, cada palavra foi pronunciada com significado, enchendo-a de alegria por tê-lo para outro dia.

— Eu pretendo preencher meus dias com você, moça. — Ele prometeu em um sussurro. — Você continuará sendo minha primeira paixão, mas eu te aviso, eu tenho muitas. — Ele se ergueu sobre um cotovelo sobre ela. — Acho que vou escrever sobre você. Vou começar com seus lábios.

Ele olhou para eles e ela riu.

Depois daquele dia, o riso frequentemente enchia as montanhas em torno de Linavar.

Sim, o riso era o que Cailean Grant havia perdido em sua vida por tanto tempo, isso e Temperance em seus braços, em sua cama e em sua vida para sempre.

E uma gata.

Os cães de Camlochlin podem não gostar de TamLin, mas Cailean a amava muito.

 

 

 


Notas

 


[1] Nae - em gaélico sim
[2] Berbigões – moluscos. Cerastoderma edule, também conhecido como Berbigão, é uma espécie de molusco bivalve de água salgada, da família Cardiidae.
[3] Hogmanay é a palavra escocesa para o último dia do ano antigo e é sinônimo de celebração do ano novo à maneira escocesa. É normalmente seguido por mais comemorações na manhã do dia de Ano Novo.
[4] Pastinaga -A cherovia ou pastinaca, é uma raiz que se usa como hortaliça.
[5] Crannachan - O Cranachan é uma sobremesa tradicional da Escócia. Atualmente é feita de uma mistura de nata batida, whisky, mel e framboesas frescas.
[6] Arisaid – Túnica escocesa.
[7] Conium maculatum, conhecida pelo nome comum de cicuta, é uma espécie herbácea pertencente ao género Conium da família Apiaceae. A planta é conhecida por dela se extrair a cicuta, uma potente mistura de alcalóides, entre os quais a cicutina, utilizada na Europa desde a antiguidade clássica como veneno
[8] Brigue – barco a vela e veloz.
[9] O tetraz-grande é uma ave galiforme do grupo dos tetrazes. Mede aproximadamente 86 cm e apresenta coloração inteiramente escura e marrom, peito com reflexos verdes e manchas vermelhas ao redor dos olhos.
[10] Os cremoneses adoram acompanhar os assados e cozidos com a sua típica e famosa mostarda, que já era citada em livros desde 1604, feita com frutas variadas inteiras ou em pedaços grandes e que são preservadas em xarope e ressaltadas com mostarda em pó e óleo de mostarda.
[11] O macaron (se pronuncia macaRRon mas se escreve macaRon) é um pequeno biscoito feito com farinha de amêndoas, granuloso e molinho, de forma arredondada com em média de 3 a 5 cm de diâmetro. É uma especialidade em diversas cidades e regiões da França e por isso a receita e apresentação pode mudar de um lugar a outro.
[12] Crème brûlée é uma sobremesa feita com creme de leite, ovos, açúcar e baunilha, com uma crosta de açúcar queimado por um maçarico, deitando fogo a uma bebida alcoólica que se deita sobre o creme, ou com um ferrer próprio.

 

 

                                                    Paula Quinn         

 

 

 

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